Você está na página 1de 40

Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare

humanum est)

Aiken Renkel Afonso

Consequências Jurídicas do Facto

Universidade Mandume Ya Ndemufayo


1
Lubango, 25/06/2021
Faculdade de Direito
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Índice
ESTUDO DAS PENAS PARTE I
Penas .................................................................................................................. 4
1. Conceito ........................................................................................................... 4
2. Sentido que pode ser usado a palavra pena ...................................................... 4
3. Caracteres da pena ........................................................................................ 4
4. Classificação das penas .................................................................................. 5

MEDIDAS DE SEGURANÇA – PARTE II


Medidas de Segurança ........................................................................................ 11
1. Noção .......................................................................................................... 11
2. Natureza ..................................................................................................... 11
3. Objectivo ..................................................................................................... 11
4. O fim e as funções das medidas de segurança ................................................ 11
5. Diferença entre: penas, medidas de segurança e medidas de coacção ............... 12
c) Medidas de coacção ...................................................................................... 12
1. Classificação ................................................................................................ 13
6. Classificação das medidas de segurança ........................................................ 14

DETERMINAÇÃO LEGAL DA PENA – PARTE III


1. Determinação da medida legal da espécie da pena ............................................. 16
2. Determinação da medida legal da penalidade (pena aplicável) .......................... 16
2.1. Noção .......................................................................................................... 16
2.2. Estrutura ou classificação ............................................................................ 16
2.3. Indicação da penalidade ............................................................................... 17
3. Determinação da medida judicial da pena concreta a aplicar .............................. 18
3.1. Conceito ...................................................................................................... 18
3.2. Operações ................................................................................................... 18

CIRCUNSTÂNCIAS - PARTE IV
Circunstâncias ................................................................................................... 20
1. Noção .......................................................................................................... 20
2. Classificação ................................................................................................ 21

CONCURSOS DE CRIMES - PARTE V


Sistemas de punição ........................................................................................... 24

QUESTIONÁRIO - PARTE VI
QUESTIONÁRIO ................................................................................................. 25
Obras de consulta………………………………………………………………………….40

2
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Nota prévia

É com enorme prazer e satisfação, que escrevemos esta sinopse de


Direito Penal II, é importante chamarmos atenção que, não trata-se de
um material de apoio propriamente dito, apenas é uma sinopse
elaborado para socorrer o caso em concreto (exame ou recurso), ou seja,
o fim último é adequar a matéria ao modo de avaliação do professor.

Afastado de qualquer dogmatismo, procuramos apenas, dar o nosso


contributo nalgumas questões que nos parece, ser importante, face as
avaliações ao caso. Portanto aconselha-se ao caríssimo colega, auxiliar
nosso apontamento com os manuais descritos na parte final da presente
obra.

Aiken Renkel Afonso

Lubango, 25 de Junho de 2021

3
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)
Aiken Renkel Afonso – estudo da pena- parte I

1. Penas
1.2. Conceito

As penas constituem uma reacção organizada pelo Estado contra os


agentes de comportamentos, que põem em perigo ou lesam interesses ou
valores merecedores de tutela pena.

A pena é a sanção imposta pelo Estado, por meio de acção penal, ao


criminoso como retribuição ao delito perpetrado.

2. Sentido que pode ser usado a palavra pena


a) Pena, como espécie de pena
b) Pena, como pena aplicável, penalidade ou moldura penal abstracta
prevista no tipo legal do crime, corresponde à estatuição;
c) Pena, como concretamente individualizada.

3. Caracteres da pena
a) Legalidade
b) Igualdade
c) Pessoalidade

Legalidade - Feuerbach (1801), autor a quem é atribuída a formulação


latina – Nullum Crimen Nulla Poena Sine Lege, esta característica é vista
simultaneamente, como garantia da política do cidadão e como condição
da eficácia da sua teoria da coacção psicológica, artis.º 65.º n.º 2 CRA,
bem como art.º 1.º CP

Igualdade – a pena deve ser igual para todos os crimes do mesmo tipo,
cometidos em iguais circunstâncias, e com o mesmo grau de
culpabilidade (art.º 42.º CP).

Pessoalidade – a pena não pode passar da pessoa do condenado, não se


estendendo a terceiros (art.º 41.º n.º 3). Dito de outro modo, a
responsabilidade penal é pessoal e intransmissível (art.º 65.º n.º 1 CRA).

4
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Nos cassos de pena de multa à possibilidade da transmissão da


responsabilidade penal à terceiros.

4. Classificação das penas


1. Classificação legal
2. Classificação quanto ao objecto
3. Classificação quando a duração
4. Classificação quando a graduabilidade

1. Penas maiores
1. Código Antigo 2. Penas correccionais
art. 55.º a 57.º 3. Penas para funcionários públicos
CLASSIFICAÇÃO
LEGAL
1. Penas principais
2. Código Novo  Prisão
 Multa
Art. 39.º 2. Penas de substituição
 Multa;
 Prisão em fins-de-semana;
 Prestação de trabalho a favor da
comunidade;
 Suspensão da execução da pena de
prisão;
 Admoestação.
3. Penas acessórias
 Proibição de exercício de função;
 Suspensão de exercício de função;
 Proibição de conduzir veículos
motorizados;
 Expulsão do território nacional.

5
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

1. Penas corporais

Cód. Novo – só Prisão

2. Penas privativas da liberdade


CLASSIFICAÇÃO
 Maior
QUANTO AO OBJECTO Cód. Ant. Prisão
 Correccional
 Desterro
3. Penas restritivas da liberdade
 Degredo
 Multa
4. Penas pecuniárias 1. Pena fixa de suspensão de
direitos políticos
 Confisco
2. Pena de suspensão
temporária de direitos
5. Penas privativas de direitos civis políticos
3. Pena de demissão e
suspensão de emprego
1. Repressão Público
6. Penas humilhantes correccional
 Simples
2. Censura-aplica-se aos
 Severa
funcionários públicos
Mínimo – 3 meses (44.º)
L.N. – limites-----
Máximo – 25 anos (44.º)
CLASSIFICAÇÃO L.A.
a) Temporárias
QUANDO A DURAÇÃO

 Prisão perpétua
b) Perpétuas
 Desterro perpétuo

 Dissolução da pessoa colectiva


1. Fixas
 Pena fixa de Suspensão dos direitos
GRADUABILIDADE políticos
 Prisão
1. L.N.
 Multa
2. Variáveis ou Graduáveis
 Excepto a pena fixa de Suspensão
2. L.A.- dos direitos políticos
 Todas as penas são várias
 Ex.: Pena de suspensão temporária
de direitos políticos
6 Pena de demissão e suspensão de
emprego Público
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS QUANTO AO SEU OBJECTO

1. Penas corporais: eram as que incidem sobre o corpo do condenado e


lhe provocam dor e sofrimento físico.

Ex.: açoites, penas de morte vergastadas ou chicotadas e cortamento dos


membros.

Dito de outro modo, as penas corporais são as que atingem o direito à


vida ou integridade física. Estão proibidas pela nossa Constituição nos
termos do art.º 30.º e 59.º

2. Penas privativas da liberdade: é a pena de prisão, que priva o


condenado de direito a liberdade.
3. Penas restritivas da liberdade: não há na nossa lei nenhuma pena
principal que consista simplesmente na restrição da liberdade, mas
essa restrição entra na estrutura de todas as penas acessórias e nas
penas substitutivas;
4. Penas pecuniárias: é a pena que atinge o património do condenado.
O nosso sistema prevê apenas a pena de multa.
5. Penas privativas de direitos civis: profissionais ou políticos: são
penas que privam o condenado de direitos dessa natureza. No Código
Penal estão previstas nos art.º 201.º, por outro lado as penas
acessórias, podem ter a natureza de penas privativas de direitos,
como é o caso da proibição do exercício de cargo ou função (art.º 64.º)
e proibição de conduzir veículos motorizados (art.º 67.º).
6. Penas humilhantes: eram as penas infamantes como as de
pelourinho baraço e pregão, que não se compadecem com os fins das
penas e pertencem actualmente ao direito antigo.

Classificam- se como reprovação ou censura ao agente, podendo


considerar-se como tais a reprovação prevista como correccional no art.
56.º n.5 L.A. e a censura especialmente aplicável aos funcionários
públicos prevista no art. 57.º L.A.

7
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

A pena de censura pode ser:

1. Simples
2. Compostas

Esta distinção não tem interesse prático no campo de aplicação, por não
serem até hoje definidas as formalidades diferenciadoras a que se refere
o 66.º L.A. parágrafo único.

CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS QUANTO A SUA DURAÇÃO

a) Perpétuas;
b) Temporárias

As primeiras são de duração indefinida. É o caso das penas privativas de


liberdade (prisão perpétua) e restrições de liberdade ( v.g. desterro
perpétuo que já não existe) absolutamente indeterminada.

Entretanto, a Constituição de 2010, proíbe as penas ou medidas de


segurança privativas ou restritivas da liberdade com carácter perpétuo
ou duração ilimitada. O mesmo conteúdo foi transportado para o Cód.20,
proíbe as chamadas penas perpétuas, conforme lê-se no número 1 do
art.º 41.º desde diploma.

Assim, a duração das penas respeitam a seguinte regra:

1. A pena de prisão tem, em regra, a duração mínima de 3 meses e a


duração máxima de 25 anos.
2. Em caso algum, ainda que por efeito de reincidência, de concurso de
crimes ou de prorrogação da pena, pode esta exceder o limite máximo
de 35 anos.
3. A contagem dos prazos da pena de prisão é feita segundo os critérios
estabelecidos na lei processual penal e, na sua falta, na Lei Civil.

CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS QUANTO A SUA GRADUABILIDADE

a) Fixas e
b) Variáveis ou Graduáveis

8
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

As penas podem ser fixas ou graduáveis. As penas do nosso sistema


aplicáveis às pessoas singulares são todas variáveis, mas das aplicáveis
às pessoas colectivas uma é variável (multa) e outra é fixa (dissolução).

2. Pena de multa

A pena de multa também chamada de pena pecuniária, ao contrário da


pena de prisão, não quebra os laços do condenado com o seu meio
familiar e profissional, evitando assim um dos mais fortes efeitos
criminógeno da pena privativa de liberdade e de ressocialização e
estigmatização que a esta andam ligadas.

A pena de multa constitui um dos objectivos mas marcantes da reforma


penal angolana de 2020. Conforme consta ‘’Se ao crime forem aplicáveis,
em alternativa, pena privativa e pena não privativa da liberdade, o
Tribunal dá preferência à segunda, sempre que esta realizar de forma
adequada e suficiente as finalidades da punição,’’ art.º 69.ºCP.

A pena pecuniária tem também os seus inconvenientes, a começar pelo


peso desigual que tem para os pobres e ricos. É de ter em conta ainda
que a pena de multa pode ter um efeito secundário criminógeno, que é o
incitamento a que o agente cometa novos crimes para compensar a perda
pecuniária que o pagamento da multa lhe acarretou, que se tome em
conta a situação económico-financeira do condenado.

2.1. Duração da pena de multa

A pena de multa é fixada em dias, de acordo com os critérios


estabelecidos no n.º 1 do artigo 47.º, sendo, em regra, o limite mínimo de
10 dias e o máximo de 360.

Cada dia de multa corresponde a uma quantia entre 75 Unidades de


Referência Processual e 750 Unidades de Referência Processual, que o
Tribunal fixa em função da situação económica e financeira do
condenado e dos seus encargos pessoais.

9
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

2.2. Critério de conversão entre a prisão e a multa

Quando a pena de prisão aplicada não for superior a 6 meses, é


substituída pelo mesmo número de dias de multa ou por outra pena de
substituição não privativa de liberdade. (prestação de trabalho a favor da
comunidade, suspensão da execução ou admoestação), a menos que
reais necessidades de prevenção se oponham à substituição (artigo 45.º).

a- Pensa de substituição

São penas de substituição, tal como o próprio nome sugere, aquelas


aplicadas em vez de uma pena principal. Essa é a razão das penas de
substituição (que não se confundem com a pena alternativa à prisão, que
no nosso Código Penal é unicamente a pena de multa).

b- Penas acessórias

São penas acessórias ou secundárias aquelas que não resultam de uma


aplicação ope legis, mas de uma decisão ponderada do juiz, atendendo a
vários factores como as circunstâncias concretas da infracção, a
personalidade do agente e os interesses públicos a preservar com a sua
aplicação, pressupondo sempre a fixação na sentença condenatória de
uma pena principal ou de substituição.

Em outras palavras, as penas acessórias pressupõe a fixação na


sentença condenatória de uma pena principal ou de substituição,
estando previstas quer na parte geral quer na parte especial do C.P.

10
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Aiken Renkel Afonso – Medidas de segurança- parte II

MEDIDAS DE SEGURANÇA
1. Noção
2. Natureza e fins
3. Objectivo
4. Classificação
5. Diferença entre as penas e medidas de coacção

1. Noção

Tal como as penas, as medidas de segurança constituem uma reacção


organizada pelo Estado contra os agentes de comportamentos que põem
em perigo ou lesam interesses ou valores merecedores de tutela penal.
São meios de tutela ou defesa da sociedade (art.º 40.º do CP).

2. Natureza

As medidas de segurança são reacções contra situações de perigosidade


criminal.

3. Objectivo
1. Evitar que o agente perigoso em situação de perigosidade criminal,
cometa crimes no futuro (40.º n.º 3),
2. Promover a ressocialização do delinquente (40.º n.º 1).
4. O fim e as funções das medidas de segurança

O fim, no sentido de verdadeiro objectivo ou fim-ultimo as medidas de


segurança é a protecção dos bens jurídicos criminais.

Assim a refere o n.º 1 do art.º 40.º do C.P., as medidas de segurança visa


a protecção de bens jurídicos essenciais à subsistência da comunidade e
a reintegração do agente na sociedade.

Funções, objectivos imediatos ou fins-meios, assentam na prevenção


especial de recuperação social do inimputável perigoso, através do

11
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

tratamento da anomalia psíquica (caso dos inimputáveis) ou da correcção


da tendência criminosa (caso dos imputáveis perigosos por tendência) e,
ainda, de inocuização ou neutralização da perigosidade criminal do
infractor, através do internamente, enquanto aquela perigosidade
persistir.

5. Diferença entre: penas, medidas de segurança e medidas de


coacção

a) Penas
 As penas são reacções contra o crime;
 As penas pressupõem e exigem a culpabilidade do agente, que
funciona como razão justificadora e critério de medida.

b) Medidas de segurança
 São reacções contra situações de perigosidade criminal;
 As medidas de segurança são aplicadas em conformidade com a
espécie e duração da perigosidade e tem de se mostrar
estritamente necessárias para a realização do objectivo de defesa
da sociedade.

c) Medidas de coacção

São meios de reacções necessários para a realização dos fins processuais


que estiverem na base da sua aplicação.

Assentam substancialmente dentre outros os princípios da legalidade ou


da tipicidade, da adequação e da proporcionalidade.

12
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

1. Classificação
a) Medidas de Coacção Pessoal
b) Medidas de Garantia Patrimonial.

1. O termo de identidade e residência


2. Obrigação de apresentação periódica às autoridades
MEDIDAS DE COACÇÃO PESSOAL 3. A proibição ou obrigação de permanência em determinados locais e
proibição de contactos com determinadas pessoas
ART. 260.º n.º 1 C.P.P 4. A caução
5. A interdição de saída do País
6. A prisão preventiva domiciliária
7. A prisão preventiva.

MEDIDAS DE GARANTIA  A caução económica


PATRIMONIAL
 O arresto preventivo
ART. 260.º n.º 2 C.P.P.

2. ENTIDADES COMPETENTES PARA A APLICAÇÃO 262.º C.P.P.

As medidas de coacção e de garantia patrimonial são aplicadas pelo


magistrado do Ministério Público ou pelo juiz, nos termos do presente
Código, devem ser as necessárias e adequadas às exigências do caso
concreto e proporcionais à gravidade da infracção.

3. PRESSUPOSTOS DE APLICAÇÃO – 263.º C.P.P

Nenhuma medida de coacção, à excepção do termo de identidade e


residência, podem ser aplicadas se, no momento da sua aplicação, se não
verificar:

a) Fuga ou perigo de fuga;

13
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

b) Perigo real de perturbação da instrução do processo no que


respeita, nomeadamente, à aquisição, conservação e integridade da
prova;
c) Perigo, em função da natureza, das circunstâncias do crime e da
personalidade do arguido, da continuação por este da actividade
criminosa ou de perturbação grave da ordem e tranquilidade
públicas.

Nenhuma medida de coacção e de garantia patrimonial deve ser aplicada,


havendo fundadas razões para crer na existência de causas de extinção
da responsabilidade criminal do arguido.

6. Classificação das medidas de segurança

Nos termos n.º 4 do art.º 39.º do C.P., as medidas de segurança


classificam em:

a) Internamento;
b) Suspensão da execução do internamento;
c) Interdição de actividades;
d) Cassação da licença de condução de veículos motorizados,
e) Interdição da concessão de licença de condução de veículos
motorizados;
f) Cassação de licença de porte de arma;
g) Interdição de concessão de licença de porte de arma.

Estas encontram-se enquadradas nas chamadas medidas de segurança


privativas de liberdade e nas medidas de segurança não privativas de
liberdade, como serão a baixo discriminadas.

1. Medidas de segurança privativas da liberdade

As medidas de segurança privativas de liberdade, são exclusivamente


aplicáveis a inimputáveis (pessoas sem capacidade de culpa). Desde logo,
o internamento em estabelecimento de cura, tratamento ou
segurança, quando por força da anomalia psíquica e da gravidade do

14
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

facto praticado seja de recear que o internado venha a cometer outros


factos da mesma natureza (artigo 101.º e 587.º CPP).

A aplicação da referida medida, constitui uma forte restrição do direito


fundamental do inimputável à liberdade, direito que merece a mesma
protecção constitucional e jurídico-penal que é reconhecida ao imputável.

2. Medidas de segurança não privativas da liberdade

As medidas de segurança não privativas de liberdade: interdição de


actividade (artigo 110.º); cassação de licença de condução de veículo
motorizado (artigo 111.º); interdição da concessão de licença (artigo
112.º); cassação de licença de porte de arma e interdição de
concessão (artigo 113.º) obedecem, todas elas, à mesma ideia de
segurança da comunidade, face a uma situação de perigo causada pelo
agente, que se pode repetir e é de recear que se repita.

A primeira aplica-se a quem for condenado por crime cometido com grave
abuso no exercício de profissão, comércio ou indústria ou com grave
violação dos deveres inerentes (artigo 110.º); a cassação de licença de
veículo motorizado, a quem for condenado por crime praticado na
condução desse tipo de veículo ou com grosseira violação dos deveres
que competem a um condutor (artigo 111.º); a cassação de licença de
porte de arma, ao que for condenado por crime cometido com utilização
de arma (artigo 113.º), desde que se verifiquem os pressupostos
estabelecidos, respectivamente, nos preceitos referidos.

Qualquer uma destas medidas de segurança pode, igualmente, ser


aplicada a quem, tendo cometido o facto típico e ilícito descrito naqueles
artigos seja absolvido por falta de imputabilidade.

A interdição de concessão de licença de condução de veículos


motorizados (artigo 112.º) ou de licença de porte de arma (artigo 113.º,
n.ºs 2 e 3) aplicam-se, depois de decretadas as respectivas cassações, às
licenças posteriormente requeridas pelo condenado ou pelo inimputável.

15
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Aiken Renkel Afonso – determinação legal da pena- parte IV

1. FASES:
I. Determinação da medida legal da espécie da pena
II. Determinação da medida legal da penalidade (pena aplicável)
III. Determinação da medida judicial da pena concreta a aplicar

1. Determinação da medida legal da espécie da pena

A determinação da medida legal da espécie da pena é uma operação que


faz-se a partir da escala de penas, estabelecidas no art. 55.º L.A. (isto é
penas maiores e penas correccionais)

 Faz-se nas penas variáveis (entre os limites mínimos e máximos)


 Não faz-se nas penas fixas absolutamente indeterminadas

2. Determinação da medida legal da penalidade (pena aplicável)


I. Noção
II. Estrutura ou classificação
III. Indicação da penalidade
1. Noção

Penalidades são as penas aplicáveis cominadas nos tipos de crime que


quase assumem a forma de moldura penal abstracta variável, não
possuem todas elas, a mesmas estruturas.

2. Estrutura ou classificação

1. Simples
PENALIDADES 1. Mista
2. Compósita
o Paralela
2. Alternativa
o De valor ou âmbito diferenciado

1. Penalidade simples

16
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

É aquela constituída por uma só espécie de pena (ex. 349.º L.A. 147.º
L.N.).

2. Penalidade compósita

É aquela constituída por mais de uma espécie de pena.

2.1. Penalidade compósita mista

É aquela constituída por diversas espécies de penas, aplicáveis


cumulativamente. A aplicação cumulativa é obrigatória (ex.: prisão e
multa – 453.º L.N.).

2.2. Penalidade compósita alternativa

É aquela constituída por diversas espécies de penas, mais só se aplica


uma das espécies das penas na constituição da penalidade.

2.2.1.Penalidade compósita alternativa paralela

Quando as espécies de penas que se formam forem equivalentes, sendo


consequentemente indiferente aplicação de uma ou de outra (171.º).

2.2.2.Penalidade compósita de grau ou valor diferenciado

São aquelas que alargam o âmbito da penalidade, não sendo indiferente


aplicar uma ou outra das espécies alternativas. Aplicar-se-á a mais grave
ou a menos grave tendo em conta as circunstâncias.

As penalidades compósitas alternativas paralelas foram extintas pelo


Dec-Lei 39-688 de 5 de Junho de 1954.

3. Indicação da penalidade

A penalidade é indicada:

a) No tipo legal do crime, na estatuição ou


b) No preceito penal secundário da norma penal incriminadora

Formas de proceder a indicação:

17
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

1. Forma directa – é estabelecida no próprio preceito incriminador


(147.º)
2. Forma indirecta ou por remissão – remete a penalidade
estabelecida em outros tipos de crimes (453.º remete para 421.º
L.A., e 417.º remete para o 392.º L.N.).

Determinação da medida judicial da pena concreta a aplicar


1. Conceito

A penalidade ou medida legal da pena é normalmente uma moldura


dentro do qual ou a particular do qual ou a partir do qual deve, em
principio, determinar-se a medida concreta da pena que exprime o grau e
responsabilidade do agente do crime a apreciação do tribunal.

A determinação dessa pena, mais rigorosamente a sua individualização


concreta é feita pelo juiz daí que se chama de determinação judicial da
pena ou medida da pena, por contra posição a determinação legal da
medida da pena.

2. Operações

Determinação da medida judicial da pena concreta a aplicar, faz-se


mediante as seguintes operações:

a) Graduação da pena
 Noção
 Critérios
b) Agravação da pena
 Noção
 Caracteres
 Tipos
 Classificação

18
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Graduação da pena

1. Noção

Consiste em determinar a pena concreta dentro dos limites da


penalidade ou da moldura penal abstracta, sem se atender o valor
sintomático das generalidades das circunstâncias.

Em outras palavras, é a operação efectuada pelo juiz para determinar


dentro dos limites legais da penalidade e independentemente das
circunstâncias apuradas, a pena a aplicar ao réu julgado pelo crime que
cometeu.

1. Critérios

Grau de culpabilidade do delinquente determina-se:

 Pela gravidade do facto criminoso,


 Os seus resultados,
 A intensidade do dolo
 Grau de negligência,
 Os motivos do crime e a
 Personalidade do delinquente.

Agravação da pena

1. Noção

Agravação da pena é a operação levada acabo pelo juiz em função das


circunstâncias agravantes de carácter geral.

2. Caracteres
 Obedecem o princípio da legalidade
 São típicas
 E são apenas a descritas no art. 71.º n.º 1, sem prejuízo daquelas
que o código estabelece na sua parte especial.

19
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

3. Tipos

Podem ser:

 Relativas ao facto (crime) ou


 Inerente ao agente, e podem reforçar a ilicitude do facto ou
aumentar a culpabilidade do agente.

Aiken Renkel Afonso – circunstâncias - parte V

CIRCUNSTÂNCIAS

a) Introdução
b) Noção
c) Classificação

1. Introdução

A penalidade reconduz-se sempre aos limites das penas estabelecidas na


estatuição ou no preceito penal secundário do tipo legal do crime
aplicável.

Como são formados os tipos?

Os tipos são formados por um conjunto de elementos constitutivos


objectivos e subjectivos que formam a estrutura essencial ou
fundamental.

A estrutura essencial é a crescida e completa por uma estrutura


acidental (circunstâncias) que não pode ser ignorada pelo juiz.

A estrutura essencial define o crime.

A estrutura acidental é constituída por circunstâncias.

20
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

2. Noção

Circunstâncias – é uma estrutura acidental do crime que aumenta ou


diminui quer a gravidade do facto ilícito cometido quer o grau de culpa
do agente, quer os dois elementos ao mesmo tempo.

As circunstâncias qualificativas podem ser agravantes ou atenuantes,


podem ainda ser comuns ou especiais.

3. Classificação
1. Circunstâncias modificativas
2. Circunstâncias modificativas qualificativas
a) Agravantes
b) Atenuantes
c) Comuns ou gerais
d) Especiais

1. Circunstâncias modificativas

Determinam por força da lei (agaravação/atenuação legais) numa


penalidade a que se chama, medida legal extraordinária da penalidade.

Atenuação extraordinária é uma operação levada a cabo pelo juízo.

2. Circunstâncias modificativas qualificativas

Circunstâncias modificativas chamam-se qualificativas porque


qualificam especializam sempre a penalidade geral, modificando-as nos
seus limites máximos e mínimos.

2.1. Agravantes

Circunstâncias agravantes: são aquelas que aumentam o máximo da


pena em abstracto. Dito de outro modo, são aquelas que alteram a
moldura penal elevando-a num dos limites ou nos limites máximo. Pós
agravar é tornar mais grave, mais pesado, mais difícil

2.2. Atenuantes

21
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Circunstâncias atenuantes: são aquelas que alteram a moldura penal


baixando-a num dos limites máximos ou nos limites mínimo.

Conforme a palavra atenuar significa, fazer com que fique ténue; ficar
menos denso; amolecer; enfraquecer; limitar

2.3. Comuns ou gerais

São comuns - as que alteram a medida legal dos crimes em geral ou a de


um conjunto de crimes da mesma natureza. (71.º n.º 1).

São circunstâncias modificativas de carácter geral: previstas na parte


geral do código, bem como as previstas no art.º 71.º

2.4. Especiais

São circunstâncias modificativas de carácter especial ou específicos: são


as que alteram as medidas legal do crime em especial.

Dito de outro modo, são aquelas previstas na parte espacial do código,


estas por sua vez, aplicam-se somente relativamente a certo ou certos
tipos legais de crime. Sucede nos de abuso sexual de menor de 14 anos,
art.º 192.º C.P., abuso sexual de menores dependente, art.º 194.º C.P.,
Recurso a prostituição de menor, art.º 197.º C.P. e o 198.º C.P. entre
outros.

I. Circunstâncias qualificativas agravantes comuns ou especiais

1. Circunstâncias qualificativas agravantes comuns (ex. reincidência


art.º 76.º, concursos de crimes art. 78.º crime habitual)

2. Circunstâncias qualificativas agravantes especiais – em razão dos


meios (148.º), em razão dos motivos (149.º), em razão da qualidade da
vítima (150.º, Sucede nos de abuso sexual de menor de 14 anos, art.º
192.º C.P., abuso sexual de menores dependente, art.º 194.º C.P.,
Recurso a prostituição de menor, art.º 197.º C.P. e o 198.º C.P. entre
outros).

II. Circunstâncias qualificativas atenuantes comuns ou especiais

22
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

1. Circunstâncias qualificativas atenuantes comuns – art. 71.º, 2

2. Circunstâncias qualificativas atenuantes especiais – art. 73.º, 156.º,


458.º, 337.º, 163.º e ss.

III. Pluralidade de circunstâncias:

1. Concursos de circunstância qualificativas agravantes;


2. Concursos de circunstância qualificativas atenuantes;
3. Concursos de circunstância qualificativas agravantes com
qualificativas atenuantes.
i. Concursos de circunstância qualificativas agravantes

Quando varias circunstâncias qualificativas agravantes concorrem no


mesmo crime, só uma delas, em princípio, a mais grave modifica a
medida da penalidade, funcionando outra ou outras como agravante
geral ou especial, art. 72.º

ii. Concursos de circunstância qualificativas atenuantes

Ocorrem circunstâncias qualificativas atenuantes no mesmo crime.


Aplicam-se todas pela seguinte ordem:

a) Concursos de circunstância atenuantes especial – primeiro as


ao facto e depois inerentes ao agente.
b) Concursos de circunstância atenuantes qualificativas comuns
– são todas elas inerentes ao agente.
iii. Concursos de circunstância qualificativas agravantes com
qualificativas atenuantes:
a. Circunstâncias qualificativas especiais relativas do facto
b. Circunstâncias qualificativas especiais relativa ao agente
c. Circunstância qualificativa agravantes comuns – havendo varias só
uma se aplica.
d. Circunstâncias qualificativas atenuantes comuns.

23
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Aiken Renkel Afonso – punição do concurso de crimes - parte VI

SISTEMAS DE PUNIÇÃO

1. Sistema do cúmulo material das penas


2. Sistema do cúmulo de absorção
3. Sistema do cúmulo jurídico

Sistema do cúmulo material das penas – somam-se umas as outras;

Sistema do cúmulo de absorção – aplica-se a pena correspondente ao


crime mais grave, que absorve a todos os outros.

Sistema do cúmulo jurídico – aplica-se uma só pena, que representa a


soma jurídica das penas parcelares aplicadas aos crimes correspondes.

Sistema adaptado em nosso sistema jurídico é a do cúmulo material das


penas, salvo melhor opinião.

24
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Imputabilidade em razão da idade

A imputabilidade penal adquire-se, sem prejuízo do disposto nos previsto


na lei, aos 16 anos de idade.

Os menores abaixo de 16 anos estão sujeitos à jurisdição dos Tribunais


de Menores e, em relação a eles, só podem ser tomadas medidas de
assistência, de educação ou de correcção previstas em legislação
especial.

A aplicação de penas aos menores com idade compreendida entre os 16 e


os 18 anos deve reger-se pelos seguintes princípios e normas
fundamentais:

1. Os limites, máximo e mínimo, das penalidades estabelecidas na Lei


Penal devem ser reduzidos em dois terços, para os menores com
idade compreendida entre os 16 e os 18 anos, à data do facto;

2. Em caso algum, a pena de privação da liberdade pode ser fixada


em medida superior a 8 anos, se o menor tiver idade compreendida
entre os 16 e os 18 anos, à data do facto;

3. Os menores cumprem as penas de privação de liberdade, sempre


que possível, em estabelecimentos próprios de recuperação, de
educação e de formação e, em nenhuma hipótese, juntamente com
os detidos ou presos adultos.
Ex.: Hué menor de 17 comete o crime de homicídio com a moldura penal
abstracta de 14 a 20 anos.

Atenuação

Limite mínimo 14 anos

Limite máximo 20 anos

25
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Limite mínimo, isto é, o limite

mínimo será 4 anos e 7 meses de prisão.

Limite máximo, isto é, o

limite máximo será: 6 anos e 7 meses de prisão.

Delinquentes adultos com menos de 21 anos

Diferente ocorre com os delinquentes adultos com menos de 21 anos


deve ser especialmente atenuada a pena, nos termos do artigo
73.ºremetendo para o 74.º

Exercício

Ex.: Oldair de 20 anos de idade, comete crime de homicídio com a


moldura penal abstracta de 14 a 20 anos.

Atenuação – arts. 73.º e 74.º

Limite mínimo 14 anos

Limite máximo 20 anos

Limite mínimo, isto é, o limite mínimo

será 11 anos e 2 meses de prisão.

Limite máximo, isto é, o limite

máximo será: 13 anos e 4 meses de prisão.

26
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)
Aiken Renkel Afonso – questionário - parte VI

QUESTIONÁRIO

1. O que o direito penal

Direito penal é a parte do ordenamento jurídico que estabelece quais são


os comportamentos humanos qualificados como crimes e os estados de
perigosidade criminal, define os agentes dos crimes e os sujeitos dos
estados de perigosidade e fixa as penas e medidas de segurança a serem-
lhes aplicadas.

2. Qual é o objecto do direito penal

Direito penal tem como objecto de estudo o crime, estado de


perigosidade criminal ou social, pena e as medidas de segurança.

3. Âmbito do direito penal

Direito penal substantivo, Direito penal executivo e Direito processual


penal.

3.1. Direito penal em sentido substantivo

É um conjunto de normas regras que se ocupam da definição das


infracções penais e da imposição de suas consequências (penas ou
medidas de segurança), este encontra-se no código penal. Ou seja esse é
o direito penal propriamente dito.

3.2. Direito penal em sentido adjectivo

Cuida o direito processual penal ou adjectivo - a aplicação, a realização e


concretização do direito penal ou do direito substantivo, este encontra-se
no código processo penal.

3.3. Direito penal executivo

27
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

É o direito constituído pelas normas que regulam a execução das penas e


medidas de segurança privativas de liberdade.

Dito de outro modo é a regulamentação jurídica, dos modos de realização


do poder punitivo estadual, nomeadamente através da instigação e da
valoração jurídica do crime indiciado ou acusado.

4. Direito penal objectivo ou ius poenale

Direito penal objectivo ou ius poenale – é conjunto de normas e


regras que se ocupam da definição das infracções penais e da imposição
de suas Consequências (penas ou medidas de segurança).

5. Direito penal subjectivo ius puniendi

Cuida o direito penal subjectivo – o direito de punir do Estado ou ius


puniendi estatal; isto é, o direito que o Estado possui de exigir que as
pessoas se abstenham de praticar uma conduta definida do crime.

6. O que são normas penas incriminadoras

Normas penais incriminadoras são as que descrevem condutas puníveis


e impõem as respectivas sanções. Ou seja definem os crimes e as
respectivas sanções.

7. O que são normas penais não incriminadoras

Normas penais não incriminadoras ou permissivas são as que


determinam a licitude ou a impunidade de certas condutas, embora
estas sejam típicas em face das normas incriminadoras.

8. O que são normas penais em branco

A norma penal em branco, em sentido próprio, é aquela em que a


descrição da conduta proibida requer um complemento extraído de um
outro diploma oriundo de uma outra fonte legiferante de hierarquia
inferior ou mero acto administrativo, para que possa efectivamente ser
entendido o limite da proibição ou imposição feitos pela norma penal,
uma vez que sem esse complemento torna-se impossível a sua aplicação.

28
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

As leis penais em branco são leis incompletas, necessitando para a


definição da norma penal de ser completada, sem o que falta a definição
do comportamento proibido ou imposto.

9. O que é o direito penal em sentido formal

É definido como um conjunto de normas jurídicas que regulam os


requisitos e as consequências de um comportamento punível ou sujeito a
medidas de segurança.

10. O que é o direito penal em sentido material

O direito penal substantivo ou material – estabelece, por forma geral e


abstracta quais os factos que devem ser considerados crimes e quais as
penas aplicar, saber porém se um dado caso, um certo individuo
praticou um facto e qual é a pena que se adequa a esse facto.

11. Direito penal nuclear

É um conjunto de incriminações que afiguram no código penal.

12. Direito penal primário

É também chamado de direito penal clássico ou de justiça


correspondente ao que contem no CP.

Dito de outro modo, o direito penal primário – é um conjunto de normas


penais incriminadoras e normas penais não incriminadoras que
encontramos no código penal (sinónimo de direito penal nuclear).

13. Direito penal especial

O direito penal especial não consagra uma disciplina directamente


oposta à do direito penal comum; consagra simplesmente uma disciplina
nova para certo número de crimes, agrupados em função de um
determinado núcleo de interesses ou bens jurídicos, e, por isso, cabe-lhe
bem também as designações de direito penal complementar e de direito
penal particular.

29
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

14. Direito penal secundário

É um conjunto de normas penais incriminadoras e normas penais não


incriminadoras que encontramos nas legislações complementar ou
extravagante. Ex.: lei dos crimes militares.

15. Bem jurídico-penal

Bem jurídico é definido como a expressão de um valor ou interesse, da


pessoa ou da comunidade, na conservação ou integridade de um certo
Estado, objecto ou bem em si mesmo socialmente relevante e por isso
juridicamente reconhecido como valioso.

16. O princípio da subsidiariedade

Fala-se do carácter subsidiário do direito penal para significar a ideia de


que só deve recorrer-se a este ramo do direito, como instrumento de
tutela de bens jurídicos, quando a incriminação for não só necessária,
mas também adequada.

17. O princípio da fragrnentariedade ou ultima ratio

O princípio da fragmentariedade é um aspecto do princípio da


subsidiariedade. Com efeito, se a opção penal deve representar a ultima
ratio é consequente que se recorra à previsão incriminadora só para as
agressões mais graves de um bem merecedor de tutela, para as quais o
interesse público impõe o meio extremo da punição penal.

18. O princípio da culpabilidade

O princípio da culpabilidade como fundamento e limite do direito de


punir.

A culpa pressupõe a consciência ética, isto é, a capacidade prática da


pessoa de dominar e dirigir os próprios impulsos psíquicos e de ser
motivado por valores e a liberdade de agir em conformidade, sem
admissão das quais não se respeita a pessoa nem se entende o seu
direito à liberdade.

30
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

O princípio em análise significa que a pena se funda na culpa do agente


pela sua acção ou omissão, isto é, em um juízo de censura do agente por
não ter agido em conformidade com o dever jurídico, embora tivesse
podido conhecê-lo, motivar-se por ele e realizá-lo.

20 Dolo

Dolo é conhecimento, representação e a vontade de querer, realizar o


crime.

21. Classificação do dolo

Dolo directo

O facto representado é o facto querido e o agente actua com vontade de


realizar esse mesmo facto. Ou seja, dolo direito verifica-se quando a
vontade do agente se dirige directamente, como objectivo imediato da
acção, à realização do facto típico que representou (art. 12.º n.º 1).

Dolo indirecto ou necessário

Verifica-se quando a realização do facto típico não é o objectivo final do


agente. Mas ele representa como consequência necessária da sua
conduta (art. 12.º n.º 2).

Ex.: Cambongue afunda o seu navio cheio de passageiros, para receber o


valor do seguro. Seu objectivo final é receber o valor do seguro. Ele sabe
que afundando o barco os passageiros morrerão, pelo que, quer essas
mortes como consequência forçosa da realização do seu objectivo.

Dolo eventual

Existe quando o agente representa como consequência possível da sua


conduta a realização.

Ex.: Aiken é assaltado um local onde se encontram muitas pessoas,


dispara sobre as pernas do assaltante Hué, para fazer parar, embora
tenha consciência do risco que corre de acertar em alguma das pessoas

31
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

que ali se encontram, decide apesar disso dispara ferindo Cambongue.


Aiken conformou-se com o perigo e a verificação do resultado.

Dolo específico

É denominado como dolo do tipo ou seja, é aquele que os elementos


constitutivos do tipo e a vontade de realizar são descritos de forma
vinculada pelo preceito penal incriminador.

Ex.: crimes sexuais – a vontade libidinosa, ou nos crimes de furto a


vontade de se apropria da coisa alheia.

22. Negligência

Negligência é o desprazer no agir, a falta de precaução, a indiferença do


agente, que podendo adoptar as cautelas necessárias, não o faz. É a
imprevisão passiva, o desleixo, a inacção (culpa in ommittendo)

23. Classifica a negligência

Negligência consciente

Verifica-se quando o agente não se conforma com o possível resultado


típico da sua conduta (art. 13.º n.º 1).

Diferença entre negligência consciente e dolo eventual

A distinção reside na conformação ou não conformação do agente ao


resultado. Dai hoje ser largamente dominante a teoria da conformação,
ou seja, haverá dolo eventual quando o agente torna a sério o risco de
lesão do bem jurídico, conta com ele e não obstante decide pela
realização do facto.

Negligência inconsciente

Dá-se quando o agente não chegou a prever a possibilidade de verificação


do evento ilícito (embora devesse e pudesse tê-lo previsto).

Negligência grosseira

32
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

É uma forma qualificada de negligência que ocorre quando à violação dos


deveres de cuidado e diligência que consubstancia a negligência simples
assumindo uma gravidade mais intensa. A negligência grosseira
corresponde assim a chamada culpa grave.

24. Acção relevante para o direito panal

Acção relevante para o direito penal, é o comportamento humano,


dominado ou dominável pela vontade, com reflexos no mundo exterior,
ou seja a acção tem de ser: típica, ilícita, culpável e punível.

Daqui resulta que do ponto de vista jurídico-penal não constituem acções


e, portanto, não podem consubstanciar a prática de um facto típico, os
factos resultantes de forças da natureza, os simples pensamentos, os
movimentos reflexos (por exemplo convulsões) e os actos realizados em
estado de hipnose ou sonambulismo, sobre os quais não há qualquer
domínio da vontade.

25. Elementos da teoria da infracção


a) Acção,
b) Tipicidade ou tipo,
c) Ilicitude,
d) Culpa, e
e) Punibilidade

26. Crime

Crime é um conjunto de pressupostos de que depende a aplicação ao


agente de uma pena ou medida de segurança criminais.

27. Crime em sentido formal

Crime ou delito é o facto voluntário declarado punível pela lei penal.

28. Crime em sentido material

33
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Materialmente, crime é todo o comportamento humano que lesa ou


ameaça de lesão (põe em perigo) bens jurídicos fundamentais.

29. Iter criminis

É o processo de realização do crime e está dividido em três fases que são:

a) Fase da resolução criminosa (cogitação)


b) Fase da preparação criminosa (actos preparatórios)
c) Fase da execução

Fase da resolução criminosa

É o propósito ou a decisão de cometer o crime ou também pode ser a


vontade de realização de um tipo ilícito.

A resolução criminosa não é o momento do iter criminis autonomamente


punível, ao não ser que a exteriorização da resolução criminosa constitua
só por si crime autónomo. Ex.: crimes de ameaças de morte.

Fase da preparação do crime ou seja actos preparatórios

São aqueles actos externos conducentes, a facilitar ou preparar a


execução do crime, que não constituem ainda começo de execução.

Os actos preparatórios podem ser: simples e autónomos.

Actos preparatórios simples- são os actos do dia-a-dia, e geralmente


não são puníveis

(Ex.: comprar uma faca, comprar uma caixa de fósforo, gasolina e


veneno de rato).

Actos preparatórios autónomos - são puníveis se constituírem crimes


autónomos.

(Ex.: 336.º São punidos com pena de prisão até 3 anos ou com a de
multa até 360 dias os actos preparatórios dos crimes previstos nos
artigos 316.º a 318.º, 320.º e 321.º, 323.º, 325.º e 329.º a 331.º).

34
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Fase da execução do crime

Pode ser execução acabada que da lugar ao crime consumado ou


execução incompleta que da lugar a tentativa (art. 20.º ao 21.º)

30. Residência

Reincidência responde, pois a um escopo de agravação da pena, em


função de reiterada actividade criminosa do agente. Trata-se de
circunstâncias modificativas agravante comuns.

Punição

Exercício

Ex.: Camulacamue jovens baixinho de 20 anos de idade, comete crime


de homicídio com a moldura penal abstracta de 14 a 20 anos.

Atenuação – art. 77.º faz-se apenas no limite mínimo.

Limite mínimo 14 anos

Limite máximo 20 anos

Limite mínimo, isto é, o

limite mínimo será 16 anos e 8 meses de prisão.

Limite máximo 20 anos mantem-se inalterável.

Concluindo o crime de homicídio em caso de reincidência terá como


limites:

 Mínimo 16 anos a 8 meses de prisão;


 Máximo à 20 anos de prisão.

31. Concursos de crimes

Quando um sujeito, mediante unidade ou pluralidade de acções ou de


omissões, pratica dois ou mais delitos, surge o concurso de crimes.

Punição do concurso sistemas:


35
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

1. Sistema do cúmulo material


2. Sistema da absorção
3. Sistema do cúmulo jurídico jurídica

Soma do cúmulo passos:

a) 1.º Passo - determinar os crimes e aplicar as penas concretas a


cada um deles;
b) 2.º Passo - soma da pena única, ou seja somar os crimes
determinados;
c) 3.º Passo - aplicar o cúmulo, isto, é o agente cometeu os seguintes
crimes:
1.º Passo
 Homicídio simples penalidade = 14 a 20 anos-pena concreta =14
 Homicídio qualificado penalidade = 20 a 25 anos-pena concreta =20
 Interrupção de gravidez penalidade = 2 a 8 anos-pena concreta = 8
2.º Passo

14 + 20 + 8 = 42 Pena única é 42 anos

 Limites menino 25 anos


 Limite máximo 42 anos

A pena única aplicável tem como limite máximo a soma das penas
concretamente aplicadas aos vários crimes, não podendo ultrapassar os
35 anos, tratando-se de pena de prisão e 900 dias, tratando-se de pena
de multa (art. 78.º).

Em caso algum, ainda que por efeito de reincidência, de concurso de


crimes ou de prorrogação da pena, pode esta exceder o limite máximo de
35 anos (art. 44.º).

No caso em concreto passou os 35 anos. Quid iuris?

Faz-se uma interpretação correctiva ao art. 78.º, por força do art. 44.º,
assim a penalidade do cúmulo terá como limites:

 Limites menino 25 anos

36
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

 Limite máximo 35 anos

3.º Passo

 Limites menino 25 anos

 Limite máximo 35 anos

32. Crime continuado

Diz-se que há crime continuado “quando o agente, mediante mais de


uma acção ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e,
pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devendo o subsequente ser havidos como continuação do
primeiro (art. 29.º).

33. Tentativa

Tentativa é a realização incompleta do comportamento típico de um


determinado tipo de crime previsto na lei.

Dito de outro modo, há tentativa quando o agente praticar, com dolo,


actos de execução de um crime, sem que este chegue a consumar-se, por
circunstâncias alheia a sua vontade (art. 20.º).

Punição a tentativa

Salvo disposição em contrário, a tentativa só é punível se ao crime


consumado respectivo corresponder pena superior a 3 anos de prisão.

A tentativa é punível com a pena aplicável ao crime consumado,


especialmente atenuada. (no limite máximo atenua-se a um terço «1/3» e
no limite mínimo atenua-se um quinto «1/5» vid. art. 74.º).

Exemplo:

Exercício

37
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Ex.: Wilingui jovem preguiçoso de 20 anos de idade, comete crime de


homicídio com a moldura penal abstracta de 14 a 20 anos.

Atenuação – arts. 73.º e 74.º

Limite mínimo 14 anos

Limite máximo 20 anos

Limite mínimo, isto é, o limite mínimo

será 11 anos e 2 meses de prisão.

Limite máximo, isto é, o limite

máximo será: 13 anos e 4 meses de prisão.

Tentativa não é punível quando for manifesta:

 A ineptidão do meio empregado pelo agente;


 A inexistência do objecto essencial à consumação do crime.
34. Desistência voluntária

A desistência pressupõe que tenha o agente meios para prosseguir na


execução, ou seja, ele ainda não esgotou o iter criminis posto à sua
disposição. Ex.: sua arma possui outros projécteis, mas ele desiste de
dispará-los.

35. Arrependimento

É um acto inteiro revelador de uma personalidade feito o mal praticado e


que permite um juízo no comportamento futuro do agente por forma a
que, se vier a deparar-se com situações idênticas não voltará a delinquir.

36. Arrependimento eficaz

É caracterizado como uma causa de suspensão voluntária e livre do


resultado ou evento dos actos de execução completos e acabados. Ou
seja o agente executa de forma completa e acabada os actos que
deveriam produzir o crime consumado, porem por acto da sua vontade
evita que o resultado ou evento se produza.

38
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Dito de outro modo, subentende-se que o sujeito já tenha esgotado todos


os meios disponíveis e que, após terminar todos os actos executórios
(mas sem consumar o facto), pratica alguma conduta positiva, tendente a
evitar a consumação.

Ex.: o sujeito descarregou sua arma e, diante da vítima agonizando,


arrepende-se e a socorre.

37. Oblação voluntária

É acção de extinção do procedimento criminal nas contravenções quando


a lei admite ou seja, consiste no acto pelo qual o agente de forma
voluntária realiza uma conduta e, concomitantemente cessa a
procedimento criminal.

43. Prorrogação da pena

Prorrogação (dilação, prolongar), das penas são regras especiais de penas


relativamente indeterminadas, aplicação aos delinquentes por tendência
e aos alcoólicos e equiparados (84.º).

A prorrogação da pena aplica-se aos delinquentes por tendência e aos


alcoólicos e equiparados.

A pena de prisão efectiva pela prática de crime doloso, superior a 2 anos,


é prorrogada por dois períodos sucessivos de 3 anos, se:

1. O agente tiver cometido anteriormente dois ou mais crimes dolosos, a


cada um dos quais tenha sido aplicada prisão efectiva também por
mais de 2 anos;
2. Ao expirar da pena ou da primeira prorrogação for fundadamente de
esperar, atendendo às circunstâncias do caso, à vida anterior do
agente, à sua personalidade e à evolução desta durante a execução da
prisão, que o condenado, uma vez em liberdade, não conduzirá a sua
vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes.

39
Aiken Renkel Afonso – Direito penal II – Consequências Jurídicas do Facto (errare
humanum est)

Obras de consulta

Cristóvão Marcos Benga Chivela, Rui Matos Soares Chimaia e Aiken


Renkel Afonso - DIREITO PENAL II AS REACÇÕES CRIMINAIS.

Vasco Grandão Ramos – PENAS E MEDIDAS DE SEGURANÇA.

Orlando Rodrigues - APONTAMENTOS DE DIREITO PENAL, Escolar


Editora, Lobito, 2014.

Jorge de Figueiredo Dias - DIREITO PENAL PORTUGUÊS - AS


CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO CRIME, Coimbra Editora, Ed. 1.ª,
Coimbra, 2011.

Jorge de Figueiredo Dias - DIREITO PENAL: PARTE GERAL: tomo I.


2.ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2007.

Germano Marques Silva - DIREITO PENAL PORTUGUÊS-PARTE


GERAL III-TEORIA DAS PENAS E MEDIDAS DE SEGURANÇA, Verbo
Editora, Loures: 1999.

Germano Marques Silva - DIREITO PENAL PORTUGUÊS – Teoria do


Crime.

Germano Marques Silva - DIREITO PENAL PORTUGUÊS – TEORIA DAS


PENAS E DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA, 2ª Ed., Tomo III, Lisboa,
2008.

Américo Taipa Carvalho - DIREITO PENAL PARTE GERAL-QUESTÕES


FUNDAMENTAIS DA TEORIA GERAL DO CRIME, Coimbra Editora, 2.º
Edição, Lisboa: 2011.

40

Você também pode gostar