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Como claramente se distingue do direito penal Executivo, ao qual pertence a
regulamentação jurídica da concreta execução da pena ou da medida de segurança
decretadas na condenação proferida no processo penal.
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SILVA, Germano Marques Da, Direito penal Português, Parte Geral I, Introdução a teoria da Lei Penal –
2001. p. 81 e SS
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aquelas cujo teor se apaga numa cláusula geral, que remetem o seu preenchimento para o
arbítrio do julgador, por serem incompletas.
Note-se a exigência da lei certa não consta expressamente nem na CRM, nem na lei
ordinária, mas é um postulado do princípio da legalidade, enquantro obstáculo ao arbítrio
da aplicação do Direito a casos concretos.
c) Nullum crimen, nulla poena sine lege scripta: sendo a lei do Estado a fonte das normas
que difinem as incriminações e as sanções, fica excluído o costume como facto normativo
relativamente a essas normas, ressalvando o costume internacional.
d) Nulla poena sine judicio: ao princípio da legalidade como garantia da liberdade dos
cidadãos, está estritamente ligado ao princípio da jurisdicionalidade segundo o qual a
competência para decidir a matéria penal e aplicar penas e medidas de segurança é
exclusiva da jurisdição. Assim, as decisões sobre o fundamento de qualquer acusação em
matgéria penal são da competência exclusiva dos orgãos judiciais, independenetes e
imparciais
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portanto, a culpa é o fundamento da pena. O Princípio da culpabilidade prevê certas
exigências:
- A exigência de dolo ou negligência e consequente afastamento da responsabilidade
objectiva ou responsabilidade pelo risco, pois esta responsabilidade é exigível no direito
civil, visto que, no direito penal ninguém pode ser responsabilizado criminalmente se não
tiver agido com dolo ou negligencia, isto é, para que a pessoa seja responsabilizada
criminalmente tem de ter tido uma falta subjectiva que pode ser a intenção de fazer
qualquer coisa ou um certo descuido ao fazer qualquer coisa, que em principio e
considerada licita;
- a outra exigência é de que, ninguém pode ser responsabilizado criminalmente se não
tiver uma certa sanidade mental que lhe possibilite a decidir com consciência e liberdade
(menores e dementes), pois, não se pode punir uma pessoa que não é censurável, posto
que ela não sabe o que faz. Nos termos do artigo 27 cp
- A necessidade de que a pena se refira a facto próprio (exclusão da responsabilidade
colectiva). Punicao das pessoas colectivas viola o principio da culpa será?
- A necessidade de ter em conta a situação concreta em que o agente se encontrava ao
tempo de cometer o crime, para que as circunstâncias concorrentes possam exercer o seu
papel excludente ou redutor da pena.
- A exigência de que a pena seja proporcionada a culpa do agente, e é, que entre o castigo
e o facto exista equilíbrio.
Assim, ninguém pode ser responsabilizado penalmente sem culpabilidade, e só é possível
punir à medida da culpabilidade.
2.4. O princípio da não retroactividade da lei penal (art. 57, 60/2 ambos da CRM e
artigo 8 do Cp)
As leis não podem ter efeitos retroactivos, excepto quanto beneficiam o cidadão (arguido
ou réu) e outras pessoas jurídicas. Ou seja, a lei penal só se aplica retroactivamente
quando disso resultar benefício ao arguido.
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2.5. O Princípio da humanidade das penas (art. 61/1 e 40/2 ambos da CRM artigo 59
do CP)
Segundo este princípio, são proibidas penas e medidas de segurança privativas de
liberdade com carácter perpétuo, incluíndo a pena de morte.
O poder punitivo deve ajustar-se simultaneamente ao humanitarismo que é a
manifestação do respeito pela pessoa e a necessidade social do castigo. O princípio da
humanidade das penas é o limite do poder punitivo do Esatdo, este postulado do sistema
penal é incompatível com sanções que atinjam a dignidade da pessoa, como a pena de
morte, as penas corporais e infamantes, as penas de privação da liberdade de duração
execessiva ou com carácter perpétuo ou de duração indefinida.
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2.9. Princípio da porporcionalidade ou da proibição de excessos
É um princípio geral do Direito, que preconiza o justo equilíbrio entre interesses em
conflito, obrigando o legislador, os juizes e demais operadores do Direito a ponderar os
interesses em conflito, para em função dos valores subjacentes e afins prosseguidos os
resolver segundo medida adequada.
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2.10. Princípio da subsidiariedade do Direito Penal
Assim, o princípio da subsidiariedade pode ser concebido em diversas acepções:
(i) Em sentido estrito: o Direito Penal só deve intervir quando a tutela conferida
pelos outros ramos do ordenamento jurídico não for suficientemente eficaz para acautelar
a manutenção dos bens considerados vitais ou fundamentais à existência do próprio
Estado e da sociedade (1ª vertente do princípio da intervenção mínima)
(ii) Em sentido amplo: a sanção penal seria preferível ainda nos casos de não
absoluta necessidade, mas sempre que a função estigmatizante, própria do direito penal
for útil para os fins de uma mais forte reprovação do comportamento e consequente mais
enérgica tutela do bem jurídico.
A este carácter subsidiário do Direito Penal, que se resume dizendo que o Direito Penal
intervém como ultima “ratio” no quadro do ordenamento jurídico instrumental, deve
opor-se um outro princípio que é:
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2.12. Princípio da intervenção mínima do direito penal
Exprime a ideia de que o direito penal há –de reduzir a sua intervenção só nos casos em
que seja absolutamente necessária em termos de utilidade social geral.
A referida ideia que responde ao critério de que a pena criminal só é admissivel quando
não haja outro mal menor que cumpa a mesma finalidade e tem duas manifestações:
a) Manifestação interna, segundo a qual deve prescindir-se da incriminação, sempre
que seja possível esperar similares efeitos preventivos da intervenção de meios menos
lesivos, nomedamente através de ramos de direito doutra natureza como direito civil,
admnistrativa, etc.. (coincidência com o princípio da subsidiariedade).
b) Manifestação interna segundo a qual deve prescindir-se de uma determinada sanção
penal sempre que possa esperar-se similar efeito preventivo doutra sanção menos
gravosa.
3. Posição do Direito Penal no mundo jurídico e suas relações com outros ramos
de Direito:
a) Direito Penal como ramo autónomo do Direito Público
O Direito penal é público, porque regula relações que se estabelecem não entre
particulares, mas entre o Estado, como titular do ius puniendi, por um lado, e os
particulares por outro.
O caracter público do Direito penal também se revela pela natureza indisponível das suas
normas, que acompanha a indisponibilidade dos interesses que elas visam tutelar.
O direito penal é autónomo na medida em que as suas normas fixam os pressupostos da
aplicação de reacções criminais, proíbem ou impõem concretamente as respectivas
condutas que descrevem e a violação destes comandos é que constitui ilícito criminal.
Assim, há que também considerar o Direito penal como conjunto de normas autónomas
que impõem sanções e ao mesmo tempo proibem ou impõem condutas, em vista a
proteccão de certos e determinados valores jurídicos: os valores jurídico-criminais.
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O Direito criminal estabelece de forma geral e abstracta quais os factos que devem ser
considerados crimes e quais as penas que lhe correspondem. Saber porém se num dado caso,
um certo agente praticou um facto, e qual a pena que lhe corresponde importa uma actividade
ou processo concreto para averiguar o caso. Ora o processo criminal seria o conjunto de
normas que fixam os termos e o processo de averiguar se, num dado caso, se verificou o facto
previsto na lei criminal e qual é a pena que lhe compete.
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Durante muito tempo, o problema da distinção entre o ilícito criminal e ilícito administrativo pós-
se em termos de encontrar um critério único.
Assim, o critério separador seria puramente quantitativo (FERRI): o ilícito administrativo seria
preenchido por bagatelas penais (ilícito de menor gravidade), ao passo que o ilícito penal seria
mais grave.
Para outros autores como ERIK WOLF o critério separador seria teleológico que domina a
cada um dos ilícitos. Assim, o estado quando recorre a sanções para a realização dos seus fins, os
delitos que daí resultam são criminais, ou simplesmente administrativo, consoante esses fins
sejam a realização de valores de justiça ou apenas a promoção do bem entre o bem estar e
progresso sociais.
Este critério deixa muito a desejar no aspecto da sua praticabilidade, pois haverá sempre
dificuldades de distinguir os fins que o Estado se propõe ao ligar uma sanção a prática de certos
factos.
Hoje porém reconhece-se que o problema não está tanto em encontrar um critério material único
de distinção entre o ilícito administrativo e o ilícito criminal da justiça, mas sobretudo em
conseguir caracterizar o ilícito administrativo com base nos seguintes critérios:
1º- Critério da configuração dos bens jurídicos protegidos: o direito criminal de justiça, visa
proteger com as suas incriminações, os valores ou bens fundamentais da comunidade, isto é,
aqueles interesses primários sem cuja observância a vida em sociedade não seria possível: a vida
humana, a integridade física, a liberdade sexual, a honra, o património etc.. dos cidadãos bem
como a constituição e desenvolvimento da família, a seguraça interna e exterior do Estado, etc..
Portanto o direito penal protege valores ou interesses fundamentais da vida comunitária ou da
personalidade ética do homem, ao passo que o direito criminal admnistrativo protege simples
valores da criação ou manutenção de certa ordem social, isto é, indiferentes a ordem moral.
Portanto, no ilícito criminal administrativo não estão em jogo valores ético sociais primários da
comunidade, mas a prossecução de finalidades de ordem policial ou de bem estar social.
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As sanções do ilícito admnistrativo visam o cumprimento de um dever, ao contrário do que
acontece com as verdadeiras penas, cujo fim é a reprovação e intimidação de quem os sofre e
mesmo a generalidade de pessoas. Já que os valores protegistos pelo ilícito criminal
administrativo são eticamente indiferentes, falta às sanções aquela fundamnetação ética que est’a
subjacente a toda pena.
Mais difícil é a distinção entre ilícito criminal administrativo e as medidas de segurança, uma vez
que as medidas de segurança pertencendo em princ’ipio ao direito criminal de justiça, não
possuem carácter de reprovação como as penas e nem têm como estas, fundamento ético-jurídico,
enquanto não supõem e nem se baseiam na culpa do deliquente. Antes a função das medidas de
segurança é de pura defesa social, aproximando-se nessa medida das sanções administrativas.
Seja embora assim, certo é que elas pressupõem o cometimento pelo agente de um facto
objectivamente criminoso e podem deste modo continuar a ser estudadas dentro do direito
criminal. De masi, as medidas de segurança podem estar sujeitas a jurisdicionalização comum
através da forma especial do processo de segurança, pelo que também neste ponto elas se
afastarão das sanções administrativas.
3º- Quanto a competência para aplicar sanções.
No domínio processual as sanções do ilícito administrativo não são aplicadas pelos tribunais, mas
pela autoridade administrativa – caracterizada assim pela falta de jurisdicionalização, ao passo
que as sanções do ilícito criminal são sempre aplicadas pelos tribunais.
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O ilícito disciplinar difere-se do ilícito criminal de justiça no plano material, na medida
em que não há no ilícito disciplinar tipicização integral, antes se traçando normalmente
uma norma geral, uma cláusula delimitativa integral, antes se traçando normalmente uma
norma geral, uma cláusula delimitativa que abranja não só as faltas dos deveres
propriamente profissionais dos funcionários, mas mesmo as faltas da vida particular dos
mesmos funcionários, sempre que estas últimas sejam de natureza a repercurtir-se no
serviço.
O ilícito criminal de justiça difere-se também do ilícito criminal no plano processual: no
ilícito disciplinar trata-se da avaliação de interesses que não são da colectividade, mas o
de um grupo de pessoas de um certo serviço público. Por isso, não deve o seu julgamento
ser entregue aos tribunais comuns, mas sim a pessoas ou entidades hierarquicamente
superiores aos infractores e que estejam em condições de enquadrar a falta na orgânica e
funcionamento próprios dos respectivos serviços, de modo a perfeitamente determinar o
se e o como da punição disciplinar. Portanto o processo disciplinar é autónomo em
relação ao processo criminal comum.
4. TEORIA DOS FINS DAS PENAS2
4.1. Introdução
O Direito Penal pode encontrar legitimação a partir de duas ideias fundamentais:
- Da teoria do bem jurídico3;
- Da teoria dos fins das penas.
No âmbito dos fins das penas, pode-se distinguir, fins de duas naturezas: fins mediatos e fins
imediatos:
- Como fins mediatos das penas tem-se os fins do Estado;
- Como fins imediatos das penas tem-se a ideia de retribuição e de prevenção.
O Direito Penal é um ramo do direito produzido pelo Estado e como tal, deve em última
análise prosseguir fins imanentes a esse mesmo Estado.
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Eduardo Correia, V. I, pág. 39-75
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O Prof. Figueiredo Dias define bem jurídico como, expressão de um interesse de uma pessoa ou da comunidade,
integridade do Estado, vão-se sentar na própria pessoa ou na comunidade. Os bens jurídicos são uma combinação de
valores fundamentais, por referência à axiologia constitucional. São bens jurídicos fundamentais por referência à
Constituição, aqueles que visam o bom funcionamento da sociedade e das suas valorações éticas, sociais e culturais.
V.g: São bens jurídicos: Vida; Integridade física; Honra; Liberdade; Propriedade; Património em geral;
Liberdade de movimentação; Liberdade de decisão etc..
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A finalidade das penas pode ser vista não so numa óptica mediata de finalidades a prosseguir
pelo próprio Estado, mas numa óptica formal e abstracta.
Duas finalidades podem ser prosseguidas com os fins imediatos das penas:
1) Ideia de retribuição;
2) Ideia de prevenção:
a) Geral;
b) Especial.
As penas servem para retribuir o mal a quem praticou o mal, esta é a teoria retributiva das
penas: tem uma finalidade retributiva.
Ou então poder-se-á dizer que as penas servem para fazer com que as pessoas em geral não
cometam crimes, uma finalidade de prevenção geral.
Ou dizer que as penas servem para que a pessoa que é condenada a uma pena e que a tenha de
cumprir não volte ela própria a cometer crimes, tem-se aqui uma finalidade de prevenção
especial.
A estas ideias subjacentes aos fins das penas, há que distinguir entre:
- Teorias absolutas das penas;
- Teorias relativas das penas.
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1) Ou porque esse indivíduo é segregado, isto é, enquanto está a cumprir pena tem a
impossibilidade de reincidir;
2) Ou então, já não assente na ideia de segregação, mas numa ideia de regeneração, de
recuperação ou de ressociabilização, através de um tratamento que lhe será submetido no
âmbito do cumprimento da pena.
O Direito Penal é chamado a retribuir um crime, mas é concebido com uma ideia de prevenir
(teoria da prevenção geral). O objectivo da pena é essencialmente o objectivo de exercer uma
influência na comunidade geral – ameaçar quem cometer um crime, pois ao cometer fica
submetido a uma determinada pena – prevenir a prática de crimes.
Füerbach, cria a “teoria psicológica da coacção”, as infracções que as pessoas cometem têm,
um impulso psicológico, a função da pena é combater esse impulso de cometer crimes.
Intimida-se as pessoas, com esta coacção para que os cidadãos em geral não cometam crimes.
Esta prevenção geral divide-se em:
- Prevenção geral positiva, revelar à comunidade o que acontece se praticar um crime;
- Prevenção geral negativa revelar a intimidação.
Aparece a teoria da prevenção especial, tem também a ideia de prevenção, mas a prevenção já
não é0 a comunidade em geral, mas sim a prevenção do indivíduo, ou seja, que o agente não volte
a cometer um crime. Pretende evitar a reincidência.
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aespondente as esses comportamentos; os fins das penas seriam predominantemente de
natureza, de prevenção geral;
2) Fase da condenação: fase em que o indivíduo que cometeu um crime vai ser julgado e
quando o juiz lhe comunica a pena aplicável, momento da retribuição;
3) Fase da execução da pena: em que a finalidade da pena estaria aqui numa óptica de
prevenção especial, de recuperação ou ressociabilização do delinquente.
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O Código penal moçambicano, aprovado pela Lei n. 35/2014 de 31 de Dezembro é o principal
diploma legislativo que serve como fonte de direito penal, para além da legislação penal
extravagante.
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b) Legislação penal extravagante
Não são só crimes os factos contidos no Código penal, mas também os crimes previstos e
punidos em legislação penal extravagante. Ex: C estrada, lei tutelar de menores, lei de energia
c) Costume
Em direito criminal não há possibilidade do costume ser fonte autónoma de incriminação. Ele
só pode constituir conteúdo de uma disposição legal, quando esta se refira a ele como
elemento do seu preenchimento. O que poderá acontecer maxime, quando se trate de
conceitos normativos de que a lei se serve ao descrever os seus tipos legais de crime. V.g. a
noção de pudor.
d) Tratados internacionais
Os tratados internacionais só obrigam os órgãos do Estado e os particulares, quando forem
recebidos na lei interna (art. 18 CRM). V.g., Tratado de extradição
e) Assentos
Os assentos do Tribunal Supremo só pode atribuir-se uma função interpretativa, mas quanto a
incriminação os assentos não podem ser fontes do direito criminal, porque tal coisa brigaria
com o princípio «nullum crimen sine lege».
O artigo 9 do CP dispõe que « não é admissível analogia ou indução por paridade, ou maioria
de razão, para qualificar qualquer facto como crime, sendo sempre necessário que se
verifiquem os elementos essencialmente constitutivos do facto criminoso que a lei expressamente
declarar».
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CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina-1963, pág. 142 e SS
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O artigo 9 do CP exclui a possibilidade de fazer uma interpretação extensiva como base de
qualificação criminosa. A segunda parte do artigo exige para se poder qualificar um facto como
criminoso que se verifiquem «os elementos essencialmente constitutivos do facto criminoso, que
a lei expressamente declarar». Isto é confirmado pela primeira parte do artigo, onde se proibem
argumentos de maioria ou identidade de razão para qualificar um facto como criminoso. E
estes argumentos são aqueles que se empregam na interpretação extensiva.
O art. 207 do CP dispõe que « aquele que sem concerto com o fabricador e sem que seja seu
cúmplice, passar a dita moeda, notas, inscrições ou obrigações falsificadas ou a puser à venda,
será condenado a prisão maior de dois a oito anos».
O artigo 209 dispõe que «se em qualquer dos casos declarados nos artigos antecedentes, o
passador teve conhecimento da falsidade, só depois recebido a moeda como verdadeira, a pena
será a de multa».
O artigo 207 pune o que passar moedas, notas, inscrições e obrigações falsificadas e o artigo
209 prevê o caso especial de o agente só ter tido conhecimento da falsidade depois de ter
recebido a moeda, estabelecendo penas menos grave..
Sendo certo que o artigo 209 refere-se unicamente a moeda é legítimo perguntar se se tratar de
inscrições ou obrigações?
Neste caso é permitida a interpretação extensiva do artigo 209, entendendo se que o termo
moeda, pode se estender a inscrições ou obrigações, referidas no art. 207, ambos do CP.
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2º- Outra limitação ao princípio da proibição da interpretação extensiva refere-se a utilização de
conceitos normativos, v.g., os conceitos de propriedade alheia, documento, cheque, escritura
pública, empregado público , etc.. A lei criminal quando utiliza conceitos de outros ramos de
Direito, quer naturalmente aceitá-los e recebê-los com o sentido que eles possuem no ramo de
direito a que pertencem. E, por conseguinte, tem de aceitar os resultados a que se chegue pelos
métodos de interpretação permitidos nesse ramo de direito.
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responsabilidade criminal. Também a analogia é de excluir quando se trate de disposições
excepcionais.
NB: É permitida a analogia quando o direito criminal usa conceitos normativos doutros ramos
de direito (v.g., empregado público, escritura pública etc..), o seu sentido haverá de ser captado
com o socorro de todos os processos de interpretação ou integração admitidos pelo ramo de
direito a que tais conceitos originariamente pertencem.
Quando a situação de facto sugere a aplicação de vários preceitos, sem que a prova mostre
claramente se se verificam os elementos de um ou de outro deve considerar-se preenchido o
preceito que estabelece a sanção concretamente menos grave, por força do princípio de que a
aplicação da lei criminal deve , na dúvida, preferir-se a solução que traga uma menor limitação
da liberdade.
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Citado pelo Prof. Eduardo Correia, Direito criminal, V. I, pág. 150 e SS
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Eduardo Correia, Direito criminal, V. I, pág. 153 e SS
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A regra geral é de que as leis não podem ter efeitos retroactivos, excepto quando beneficiam o
cidadão. Ou seja, como regra geral as leis regulam para o futuro, não sendo aplicáveis com
eficácia retroactiva. Nisto consiste o princípio da irrectroactividade legal. Em termos gerais o
princípio da irrectroactividade pode ser excepcionalmente afastado pelo legislador ordinário (art.
12 CC).
Porém, no campo do Direito criminal, este princípio não pode sofrer excepções impostas pelo
legislador, sob pena de inconstitucionalidade material. Esta proibição legal representa uma
garantia com dignidade constitucional (art.57 CRM), procurando assegurar a protecção dos
direitos e liberdades individuais face ao poder punitivo do Estado. Sem prejuízo do carácter
irretroactivo, a lei penal adquire eficácia retroactiva quando a sua aplicação beneficia o
arguido (art. 60/2 CRM). Nisto consite o princípio da retroactividade da lei penal mais
favorável ao arguido. Trata-se do princípio que reveste diferentes situações jurídicas (vide o art.
6 do CP). Assim, o princípo da não retroactividade da lei penal apresenta as seguintes
excepções:
Art. 6/1ª – Excepção (caso de extinção ou criação por uma lei posterior de incriminações)
«A infracção punível por lei vigente ao tempo em que foi cometida, deixa de o ser se uma nova
lei a eliminar do número de infracções». Isto é, se uma nova lei deixa de incriminar certos factos
previstos numa lei anterior, ela deve aplicar-se retroactivamente. Tendo havido já condenação
transitada em julgado, fica extinta a pena, tenha ou não começado o seu cumprimento (art. 6/1ª
excepção).
Art. 6/2ª Excepção (o caso de modificações por leis posteriores da punição do facto ou da
pena)
Trata-se de casos em que um facto foi praticado no domínio de uma lei que estabelece para ele
certa pena, e no momento do seu julgamento esteja em vigor uma lei que estabelece para ele
punição diferente. Nestes casos qual é a lei aplicável?
1ª – Se a pena da lei nova é mais leve, deve sempre aplicar-se a lei nova
2ª – Se a pena da lei nova ser mais grave, entende-se que a lei nova não deve ser aplicada.
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Estas hipóteses encontram expessão no artigo 6 do CP segunda parte, ao estabelecer que,
«quando a pena estabelecida na lei for diversa das estabelecidas em leis posteriores, será sempre
aplicada a pena mais leve ao infractor, que ainda não estiver condenado por sentença passada
em julgado».
Esta exepção também encontra expressão no artigo 6 do CP, ao dispor que «as disposições da lei
sobre os efeitos da pena têm efeito retroactivo em tudo quando seja favorável aos criminosos,
ainda que estes estejam condenados por sentença passada em julgado ao tempo da promulgação
da mesma lei, salvo os direitos de terceiro». É o o princípio da lei mais favorável ao
deliquente. Apenas se limitam direitos de terceiros 8limitações patrimoniais de penas).
Se uma nova lei passa a exigir certos requisitos para imputabilidade tem de aplicar-se
retroactivamente, porque da sua aplicação resulta a exclusão da incriminação.
Inversamente, se uma lei nova deixa de exigir certos requisitos para imputabilidade, não pode ser
aplicada a um facto praticado anteriormente, sob pena de corresponder a uma incriminação ex-
novo.
Deve aplicar-se retroactivamente a lei que estabelece uma atenuante, pois tem como
consequência, uma pena menos severa. Inversamente não se pode aplicar retroactivamente uma
lei que cria uma agravante.
Passado um certo prazo depois da prática de um facto deixa de ser possível o procedimento
criminal, depois de certo prazo após a condenação deixa de possível executá-la. Assim, pode ser
que uma lei nova altere os prazos destas prescrições, por exemplo de 10 para 20 anos. Nestes
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casos qual é o prazo que deve atender-se, se já decorreu um certo prazo? Várias soluções têm
sido dadas:
a) Há que não admita a retrocatividade, defendendo a solução de que é de aplicar a lei
antiga;
b) Procuram outros encontrar uma solução intermédiária. Determinar-se-ia a fracção de
tempo já decorrido relativamente ao prazo da lei antiga e considerar-se-ia essa fracção de
tempo já decorrido relativamente ao prazo da lei nova.
c) E Outros pretendem distinguir a natureza substantiva ou adjectiva da prescrição para
decidirem.
4. Medidas de Segurança
A finalidade das medidas de segurança é reagir contra a perigosidade, que deve existir no
momento em que tais medidas se mandam aplicar. Pelo que não se pode falar em
retroactividade, mas em aplicação de uma lei a um facto que se verifica na sua vigência. A
lei que prevê estas medidas é sempre de aplicação imediata.
1. Sentido do problema
O problema da aplicação da lei penal no espaço procura saber até aonde se estende o
poder punitivo do Estado, ou seja, quais são os limites do poder punitivo dum
determinado Estado? Portanto, o problema fundamental do Direito internacional penal
continua a ser o da competência positiva de um certo sistema jurídico penal.
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Eduardo CORREIA, e Figueiredo DIAS, Direito criminal, Vol. I Reimpressão. Almedina 1963, pág. 164 e SS.
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O sistema jurídico penal moçambicano parte do princípio da territorialidade. Assim,
dispõe o nº 1 do artigo 53 do CP que “a lei penal é aplicável, não havendo tratado em
contrário a todas infracções cometidas em território ou domínios moçambicanos,
qualquer que seja a nacionalidade do infractor...”
O princípio da territorialidade levanta o problema da sede do delito, ora vejamos:
A aplicação do princípio da territorialidade pode dar a várias dificuladades, sobretudo,
nos casos de crimes permanentes e de delitos colectivo ou continuados.
Crimes permanentes são aqueles que a sua consumação se protela por mais ou menos
tempo, podendo essa consumação protelada ter lugar em vários países. Por exemplo, o
crime de cárcere privado – art. 330 CP.
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Ora, no estado actual das coisas, não havendo convenções internacionais, a adopção de
uma só solução unilateral poderia conduzir a impunidade. Basta simplesmente que um
dos diferentes países que o crime se projectasse se adoptasse critérios opostos. por
exemplo: um moçambicano em território nacional, por hipótese na fronteira, dispara um
tiro que vai ferir um indivíduo que se encontra em território Zimbabweano. A vítima
como consequência da agressão, vem a falecer na República Sul Africana. Suponhamos
agora que Moçambique adoptava a lei do lugar do resultado e que tanto no Zimbabwe
como na África do Sul se adoptava a lei do lugar da conduta do agente. Neste caso
nenhuma lei destes países se aplicaria e o crime ficaria impune.
Disto resulta que o critério aconselhável é o da solução Plurilateral, que considera a
sede do delito tanto o lugar da conduta como o do resultado (art. 46 corpo e § 1 º do
CPP)
Na verdade o artigo 46 do CPP, resolvendo o problema da competência territorial, supõe
uma solução plurilateral. Apenas se distingue no Direito moçambicano o caso do
encobrimento, mandando lhe aplicar a lei moçambicana quando praticado no país, sem
ao mesmo tempo considerar por ele abrangido o respectivo crime encoberto (§ 2º do art.
46 CPP). Por exemplo: um indivíduo rouba na Zâmbia e manda o objecto roubado para
Moçambique, para aqui ser escondido. Nesta hipótese aplica-se a lei moçambicana,
porque esta é uma forma de comparticipação criminosa, que se destaca nitidamente do
próprio crime. É uma comparticipação nos efeitos do crime (e não no crime).
Note-se que o Direito penal moçambicano não resolve uma dificuldade que pode surgir
relativamente aos crimes formais, ou seja, aqueles cuja consumação se verifica
independentemente do resultado. Por exemplo, o crime de envenenamento, P. P. pelo
art. 353 CP. Suponhamos que um agente subministra substâncias venenosas no Malawi
e a vítima vem a morrer em Moçambique. Por força da sua natureza formal deve o crime
considerar-se consumado no Malawi. Mas aqui há que distinguir duas hipóteses quanto a
aplicabilidade da lei penal moçambicana a este caso:
- Primeira hipotese: se um agente da infracção criminal subministra, por ex.emplo,
substâncias venenosas no estrangeiro e a sua vítima vem a falecer em Moçambique,
apesar de considerar-se consumado o crime no estrangeiro por força da sua natureza
formal, este resultado (morte por envenenamento em Moçambique) não deverá deixar de
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ser tomado em conta para aplicação da lei penal moçambicana, porque não se
compreenderia, aliás, que se alguém desse uma facada num país estrangeiro a um
homem, que por via disso, veio morrer em moçambique, se aplicasse ao facto a lei
moçambicana (art. 46 CPP), e já não se aplicasse quando o instrumento da morte fosse
um veneno.
- Segunda hipótese: se um agente da infracção criminal, por ex, subministra substâncias
venenosas no estrangeiro e a sua vítima não vem a falecer, ou seja, se o resultado do
crime formal (por ex, morte por evenamento) não se verificar, apesar do crime estar em
contacto com o território moçambicano, não se aplicará a lei penal moçambicana, porque
por força da sua natureza formal deve o crime considerar-se consumado no estrangeiro e
punível provavelmente pela lei estrangeira onde a acção teve lugar. Com efeito a natureza
dos crimes formais resulta de uma ficção da sua consumação, quando o resultado não se
verifica8
O ter sido cometido qualquer dos elementos do crime em território moçambicano é o
fundamento base para a aplicação da lei moçambicana, mas o princípio da territorialidade
sofre uma ampliação e uma restrição:
8
Ob. Citada pág. 173
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- Restrição do princípio da territorialidade (art. 53 § 1º)
Não se aplica a lei Penal moçambicana em relação as infracções praticadas a bordo de um
navio de guerra estrangeiro em porto ou mar territorial moçambicano, ou a bordo de
navio mercante estrangeiro, quando o delito tiver lugar entre agente da tripulação
somente e não perturbar a tranquilidade do porto (art. 53 § 1º).
Esta restrição prevista no CP, não abrange aeronaves moçambicanos, mas a lacuna é
preenchida pelo art. 48 CPP, que abrange também aeronaves moçambicanos.
9
Ob. Citada pág. 75-76
27
interpretação restritiva no nº 4 do artigo 53 do CP, exigindo-se que o agente não tenha
sido julgado no estrangeiro.
28
Se já foi julgado no país onde cometeu o crime e aí não cumpriu inteiramente a pena,
volta-se novamente a julgá-lo tomando em conta a pena já sofrida (§ 3º do artigo 53 CP).
Tratando-se de crimes que correspondam penas de pouca gravidade, exige-se ainda que
haja participação especial da autoridade do país onde foi praticado o crime (§ 2º do
artigo 53 CP)
29
3. Extradição10
3.1. Conceito e evolução do instituto de extradição
Extradição – é o facto pelo qual um governo remete um indivíduo que se refugiou no seu
seu território ao governo de um outro Estado para que ele aí seja julgado ou cumprir a
pena que lhe foi aplicada.
Quanto a evolução, a extradição fez-se inicialmente por acordos particulares. Mais tarde a
partir do século XVII, começou a ser regulada por tratados internacionais. Modernamente
o sentido é para um tratado universal sobre a extradição, ou seja uma convenção
internacional em vez de simples tratados particulares.
10
Eduardo CORREIA, e Figueiredo DIAS, Direito criminal, Vol. I Reimpressão. Almedina 1963, pág. 183 e SS.
30
3.3. Condições de extradição
As condições de extradição são as seguintes:
a) A extradição não tem lugar relativamente aos indivíduos também autores de
crimes no Estado a que se pede a extradição.
b) A extradição não se aplica aos nacionais (art. 67 nº 4 da CRM).
c) Não se extradita com base em crimes políticos (art. 67 nº 2 da CRM ).
d) Nos tratados estabelecem-se os delitos que podem dar lugar a extradição.
31
3.5. Efeitos da extradição: a extradição tem como efeito a entrega do indivíduo ao
governo que pede a extradição.
3.6. Restrições a concessão de extradição: a concessão do pedido de extradição pode
conter certas restrições. Por exemplo, não é permitida a extradição por crimes a que
corresponda na lei do Estado requisitante pena de morte ou prisão perpétua ou sempre
que fundadamente se admita que o extraditando possa vir a ser sujeito a tortura,
tratamento desumano, degradante ou cruel (art. 67 n º 3 da CRM).
3.7. Relação entre extradição e direito de asilo
Existe uma relação entre a extradição e o direito de asilo. O direito de asilo pode ser
analisado em três dimensões:
a) Dimensão internacional: o direito de asilo é um direito ou poder dos Estados de
acolher e dar refúgio a quem seja perseguido ou ameaçado de perseguição por
outro Estado.
b) Dimensão pessoal: o direito de asilo pode ser visto como direito subjectivo do
perseguido para obter asilo e refúgio, e por outro lado, o direito do persguido de
não ser remetido ou devolvido ao país perseguidor.
c) Dimensão constitucional objectiva: o direito de asilo é um mecanismo de
protecção de valores constitucionais de democracia, liberdade social e individual,
da paz entre os povos, da defesa dos direitos humanos entre outros direitos
consagrados nas Constituições modernas.
Assim, quando um Estado concede o direito de asilo ao perseguido, confere-lhe um
estatuto de refugiado político, resultando daí alguns direitos que não podem ser
violados. Um dos direitos é o de que o estrangeiro persguido não pode ser expulso ou
extraditado, porque a extradição por motivos políticos não é autorizada (art. 67 n º 2
Conjugado com o artigo 20 nº 2 da CRM).
32
Entre as razões de expulsão podemos citar a entrada ilegal de estrangeiros num Estado
ou a sua permanência ilegal, normalmente depois de ter caducado o documento de
permanência nesse Estado.
11
Eduardo CORREIA, e Figueiredo DIAS, Direito criminal, Vol. I Reimpressão. Almedina 1963, pág. 189 e SS.
33
Também os juízes são irresponsáveis pelos seus julgamentos, ressalvadas as excepções
que a lei designar (vide os artigos 217 n º 2 e 218 nº 1 ambos da CRM e o artigo 10 nº 3
da Lei 24/ 2007 de 20 de Agosto ).
12
Vide art. 431 n º 1, 2 e § 1º do CP, redacção dada pela Lei nº 8/2002 de 5 de Fevereiro.
34
4.3. Excepções diplomáticas:
a) É costume e prática internacional que os Chefes de Estado estrangeiros, quando não
viagem incógnitos, e pratiquem actos criminais, não possam ser punidos, devendo apenas
ser convidados a retirarem-se ou a serem expulsos, pedindo-se depois reparações por via
diplomática.
b) É costume retirar o acordo aos diplomatas que praticarem delitos no país, fazendo-os
assim sair do território e permitindo que os respectivos países os julguem.
C) O mesmo se aplica aos agentes internacionais equiparados aos agentes diplomáticos e
ao pessoal oficial das missões diplomáticas.
13
Vide a obra do Prof. Eduardo CORREIA, Direito criminal, vol. I, Almedina, 1963 páginas 195 e seguintes.
14
Trata-se dum critério de definição, que determina os conceitos pela enumeração dos seus elementos e
explica as coisas decompondo-as nos seus elementos mais simples.
35
Tipicidade – é necessário que o comportamento humano coincida formalmente
com a descrição feita em norma incriminadora, para que possa integrar uma
ifracção criminal.
36
Nas infracções em que a lei exige evento ou resultado, sejam praticados por acção ou
omissão, exige-se uma relação de causa para efeito entre a conduta do agente e a
modificação exterior em que se consubstancia esse resultado.
Trata-se da questão da questão do nexo de causalidade entre a conduta e o resultado que
ao nível da doutrina existem duas teorias sobre a matéria:
2.1. A teoria da condição sine qua non ou da equivalência de condições
Assenta esta teoria no conceito de causa de STUART MILL, segundo o qual, causa é o
conjunto de todas as condições de que resulta um fenómeno. Daqui se pretende concluir
que cada uma das condições sem a qual se não verificaria o resultado, seria também
causa, e assim todas as condições seriam equivaletes para o efeito de a cada uma se poder
imputatar o resultado.
A causa do resulatdo do crime é constituída por todas as condições que lhe deram origem.
Condição seria todo o antecedente sem o qual o resultado se não teria produzido. Assim,
se uma determinada conduta criminosa foi condição sine qua non do evento criminal, este
deve considerar-se como efeito daquele, embora para o resultado do crime tenham
concorrido outras causas para além do acto ilícito ou conduta do agente.
Por exemplo, A foi agredido por B, tendo sido evacuado para o hospital, onde A veio a
morrer por um incêndio ocorrido no hospital. Segundo a teoria de equivalência de
condições, B será responsabilizado pela morte de A, embora para o resultado do crime
(morte) tenham concorrido outras causas (incêndio) para além do acto ilícito ou conduta
do agente (agressão).
Inversamente o agente do crime não será responsável pelo resultado, quando provar que
ele ocorreria, independentemente da sua conduta. Por exemplo, A fere mortalmente B
num comboio. Antes de morrer, há todavia um descarrilamento que lhe causa
efectivamente a morte. Neste caso, o resultado verificar-se-ia independentemente da
acção do agente.
2.2. A teoria da causalidade adequada
Segundo esta teoria, para que se possa estabelecer um nexo de causalidade entre um
resultado e uma acção, não basta que a realização concreta daquele se não possa conceber
sem esta: é necessário que, em abstracto, a acção seja idónea para causar o resultado.
Para que uma acção se possa dizer causa de um resultado é necessário que em abstracto
37
seja adequada a produzí-lo, ou seja, é preciso que o resultado seja consequência normal
da acção.
Pode se dizer que uma acção é adequada a produção do evento quando haja um juízo de
idoneidade , referido ao momento em que a acção se realiza, como se a produção do
resultado se não tivesse ainda verificado. Esse juízo deve se fazer segundo as leis, as
regras da experiência comum. Portanto, as idoneidade determina-se segundo as regras de
experiência normais e as circunstâncias concretas em geral conhecidas, sem se abstrair
daquelas regras ou circunstâncias que o agente, efectivamente conhecia.
Um facto pode ser em concreto concreto, uma condição do resultado, sem que
normalmente , esse resultado, seja consequência desse facto, neste caso em que só em
circunstâncias anormais o resultado ocorreu, o facto não pode considerar-se causa dele.
Retomando o exemplo anterior: A foi agredido por B, tendo sido evacuado para o
hospital, onde A veio a morrer por um incêndio ocorrido no hospital. Segundo a teoria da
causalidade adequada, B não será responsabilizado pela morte de A, porque o facto
(agressão) pode ser em concreto concreto, uma condição do resultado (morte), sem que
normalmente , esse resultado, seja consequência desse facto, neste caso em que só em
circunstâncias anormais (incêndio) o resultado ocorreu, a agressão não pode
considerar-se causa da morte.
Note-se que a teoria da causalidade adequada foi perfilhada pelo Código civil
moçambicano nos artigos 563º e 483º, devendo entender-se que estas disposições têm
repercurssão do direito penal. São aplicáveis ao direito penal os princípios autorizados
por uma disposição de qualquer ramo de direito. Assim, nunca pode se verificar uma
responsabilidade penal, quando os factos sejam lícitos do ponto de vista do direito civil.
3. Culpabilidade
3.1. Noção de culpa
Culpa – é uma censura dum facto típico a pessoa do seu agente, ou seja, a culpa é uma
censura ético-jurídica dirigida a um sujeito por não ter agido de modo diverso.
Este pensamento está ligadoa aceitação da liberdade do agente a aceitação do seu poder
de agir doutra maneira. Assim, o pressuposto da culpa ética é a liberdade de cada um para
se autodeterminar de harmonia com os valores éticos juridicamente tutelados. A
consagração expressa desta ideia encontramo-la no artigo 26º do CP relativo a
38
imputabilidade ao estatuir que “ somente podem ser criminososos indivíduos que têm a
necessária inteligência e liberdade”. E também o nº 7 do artigo 44 do CP, que considera
a culpa como essencial a punição de todo o facto criminoso.
Antes de censurar alguém ou considerar o agente culpado por um certo facto seu, é
necessário averiguar se o autor é imputável, como importa ainda investigar, se a situação
exterior no quadro da qual foi tomada a resolução de levar a cabo a acção, não foi tal que
tivesse furtado ao agente a liberdade de actuar doutra maneira.
Assim, para censurar o agente por não ter actuado de modo diverso, e portanto, para o
tornar culpado pelo facto, será sempre necessário averiguar se ele, no caso concreto, tinha
a suficiente liberdade de autodeterminação, e assim será necessário investigar:
1º Dum ponto de vista endógeno, se o agente era imputável.
2º Dum ponto de vista exôgeno, se não havia quaisquer circunstâncias exeteriores, na
moldura das quais se desenvolveu o facto, que se configurassem de tal modo que
arrastassem o agente irresistivelmente para a sua prática, roubando-lhe toda a
possibilidade de se comportar difeferentemente.
3º Se o facto pode se imputar pessoalmente ao agente a título de dolo ou negligência.
39
3.2. Os elementos do juizo da culpa
Do exposto na noção de culpa, resulata que os seus elementos são: (a) a imputabilidade
do agente, (b) a sua actuação dolosa ou negligência, e (c) a inexistência de
circunstâncias que tornam não exigível outro comportamento.
3.2.1. A imputabilidade (lado enógeno do crime)
a) Noção de imputabilidade.
A imputabilidade tradu-se naqueleconjunto de qualidades pessoais que são necessárias
para ser possível a censura ao agente por ele não ter agido de outra maneira.
b) A idade como índice formal de imputabilidade.
O conjunto das qualidades acima referidas, é indiciado pelos Códigos e leis criminais por
uma certa idade mínima. Assim, no nosso Código penal nos artigos 41º e 42º nº 1e 43º
todos do CP estabelecem a idade necessária a imputabilidade, que actualmente é de 16
anos de idade. Assim, em relação aos menores de 16 anos só podem ser tomadas medidas
de assitência, educação ou correcção previstas na legisla,cão especial, que de maneira
nenhum se confundem com as penas. Vide o artigo 109º do CP.
Antes dos 16 anos são os menores absolutamente inimputáveis, não tendo as medidas que
se lhes aplicam carácter criminal.
A partir dos 16 anos os menores devem ser considerados imputáveis. Isto não quer dizer
que até aos 21 anos, a lei não considere uma certa graduação na imputabilidade, como
resulta dos artigos 39 nº 3, 107 e 108, todos do CP.
40
dois grupos as perturbações mentais: (a) doenças mentais e (b) doenças mentais, que
subdividem se por sua vez em débeis mentais, psicopatas15.
O elemento psicológico ou normativo: é preciso que as perturbações mentais produzam
efeitos que excluam a possibilidade de o agente se comportar de outra meneira. Certos
códigos penais exigem um puro elemento psicológico – a liberdade de
autodeterminação e outros exigem para al’em desta liberdade de autodeterminação a
consciência dos actos, não sendo imputáveis os que n~ao são capazes de avaliar a
ilicitude dos seus actos e agir segundo esta avaliação.
A censura ético-jurídica pressupõe a liberdade do agente, mas aceita que ela pode ser
limitada e excluida pela existência de certas circunstâncias endógenas da possibilidade do
deliquente. E sendo assim, o que é preciso provar não é a liberdade de determinação, mas
a existência de perturbações com tais efeitos que mecânico-causalmente a excluam. M o
juízo de imputabilidade deve se fazer só em concreto, isto é, em relação a um certo facto,
como a realização de um certo tipo legal de crime.
15
Para mais detalhes vide a obra do Prof. Eduardo CORREIA, Direito criminal, vol. I, Almedina, 1963 páginas
331 e seguintes.
41
3.2.2. Dolo e negligência
a) Noção de dolo16
Dolo – é o conhecimneto ou representação dos elementos de facto que formam o tipo
legal.
Para que a culpa do agente por um facto exista não basta a capacidade de ser objecto de
censura e a existência de um facto (imputabilidade), é necessário que este possa ser
subjectivamente imputado ao agente a título de dolo ou negligência.
Esta imputação subjectiva tem de se encarar como uma certa posição do agente para o
facto, capaz de ligar ao outro e de permitir a censura em que o juizo da culpa se traduz.
Quando pode dizer-se que existe dolo? Costuma a doutrina a doutrina apontar dois
elementos essenciais pra a existência do dolo: um elemento intelectual e outro volitivo ou
emocional.
O elemento intelectual: traduz-se no conhecimento das circunstâncias descritas nos tipos
legais de crimes , sendo costume distinguir o conhecimento material desses elementos e
o conhecimento do seu sentido ou significação.
Ou seja, o elemento intelectual traduz-se na exigência de que o agente conheça o tipo
legal de crime que a sua vontade visa realizar. As exigências contidas no elemento
intelectual do dolo são:
1. Conhecimento material do facto criminoso
O dolo exige antes de tudo o conhecimento dos elementos constitutivos do facto
criminoso. Assim, por exemplo, no homicídio a qualidade de homem da pessoa morta
(art349 CP), na falsificação de documentos, a qualidade do documento ou de certo
documento do objecto falsificado, no aborto criminoso, o conhecimento da gravidez da
pessoa que se faz abortar (art. 358 CP), o conhecimento da idade da vítima de estupro
etc...
2. Conhecimento dos elementos produzidos pela conduta do agente: o conhecimento
refere-se também aos elementos produzidos pela conduta do agente e traduz-se na sua
previsão ou representação. Assim, deve o agente prever no caso de homicício, que a sua
conduta resulta a morte de outrem.
16
Ibidem pág. 367 e SS
42
3. conhecimento do processo causal de onde resulta o evento: o conhecimento refere-
se ainda ao processo causal de onde resulta o evento, na medida em que tal processo é
elemento constitutivo do crime. A exigência desse conhecimento para que haja dolo,
resulta, por um lado, em geral, da circunstância de que a representação dos elementos
constitutivos do facto é essencial àquele grau de sobreposição da satisfação dos
sentimentos ou interesses próprios ao desvalor do ilícito e da pena.
E isso deriva, por outro lado, da própria lei, enquanto esta no artigo 44 nº6, estabelece
que justificam o facto “ os que praticam um facto cuja criminalidade provém somente
das circunstâncias especiais, que concorrem no ofendido ou no acto, se ignorarem e não
tiverem obrigação de saber a existência dessas circunstâncias especiais.
Os elementos a que estamos referindo, não abrangem as condições de punibilidade (é o
caso dum indivíduo estar enganado sobre a sua idade), e as condições objectivas de
punibilidade ou procedibilidade. Pouco interessa se o agente praticou o facto na
suposição de que o respectivo processo criminal estava dependente da denúncia ou
acusação particular do ofendido.
Note-se que o conhecimento do processo causal só deve considerar-se necessário,
quando ele for descrito como elemento constitutivo da infracção, caso contrário é
desnecessária a sua representação. Por isso, se A querendo matar B, o lança de uma
ponte ao rio para o afogar, mas B morre porque bate com a cabeça num pilar da ponte,
deve igualmente imputar-se o resultado ao agente a título de dolo.
43
4. Conhecimento de outras circunstâncias de facto
Para que possam imputar ao agente as cahamdas circunstâncias modificativas ou
agraventes, é necessário que estas sejam representadas pelo agente. Se por isso um
agente não sabe que aquele que mata é seu pai, não lhe poderia, salvo disposição expressa
da lei, imputar o crime de parricídio, mas só o crime de homicídio simples.
5. Conhecimento dos elementos normativos especialmente jurídicos, do tipo legal de
crime.
Um particular problema que se levanta relativamente ao conhecimento dos elementos
constitutivos da infracção, que o dolo exige, põe-se relativamente aos
elementosnormativos, e especilmente jurídicos utilizados pela lei. A lei fala em
documento, escritura pública, letra de câmbio, etc.. Ora para que exista dolo é
necessário que o agente conheça esses elementos jurídicos empregados.
Assim, será necessário que o agente tenha conhecimento de que um documento produza
uma certa fé no mundo jurídico, se a lei utiliza a expressão autoridade, será preciso que
o agente saiba que quem lhe dá uma ordem tem o poder legal de mandar etc...
6. Conhecimento da significação, ou ilicitude dos elementos constitutivo
constitutivos do crime.
Numa primeira aproximação, o significado e o sentido do facto como um todo é essencial
para a existência do dolo. Este problema liga-se directamente, ao da relevância a atribuir
em direito criminal ao erro sobre a proibição.
O elemento volitivo ou emocional – traduz-se numa especial direcção da vontade, ou
seja, consiste numa certa conexão do facto com a personalidade do sujeito, numa certa
posição do agente perante o facto, e subdivide-se em:
1. Dolo directo: há dolo quando o agente quis o facto criminoso.
2. Dolo necessário: também há dolo quando o agente previu o resultado criminoso como
consequência necessária da sua conduta. Quando o agente representa o resultado como
fim a atingir, deve a sua representação como consequência necessária da actividade do
agente, conduzir a uma imputação a título de dolo.
3. o problema de dolo eventual ou indirecto
44
O agente pode não dirigir a sua actividade à produção de um facto, nem o representar
como consequência necessária da sua conduta, mas apenas o representar como possível
consequência da sua actividade.
Nesta hipótese tratar-se-á de dolo eventual ou de negligência?
Diversas soluções têm sido dadas aos problema:
1. A teoria da verosimilhança: segundo a qual a existência do dolo eventual dependeria
do grau de probabilidade com que a possibilidade da verificação do resultado é
representada pelo agente. Esta teoria não dá a solução satisfactória ao problema, uma vez
que o critério de probabilidade não dá qualquer indicação precisa sobre qual é ou o
quantum de possibilidade de que a representar-se implicaria a existência do dolo
eventual.
2. A fórmula positiva de Frank e a teoria de aceitação ou consentimento
Haverá dolo quando o agente expressamente tivesse consentido ou aderido ao resultado.
O agente deveria na hipótese de ter representado o resultado como possível, té-lo
expressamente consentido, pensado: aconteça o que acontecer eu não deixo de praticar a
minha conduta”. Neste sentido, a teoria de aceitação coincide com a fórmula positiva de
Frank. Critica: Esta teoria sempre devolve para a negligência consciente certas
hipóteses puníveis por dolo.
3. Fórmula proposta pela moderna doutrina alemã
Haverá dolo quando o gente suporta a possibilidade de verificação do resultado. Haveria
dolo eventual, quando ao agente aceita ou consente na produção do resultado.
4. Fórmula hipótetica de Frank.
Haverá dolo eventual quando pudermos concluir que o agente, que previu o facto como
possível efeito da sua conduta, não teria alterado, para o evitar, mesmo que previsse
aquele efeito como necessário.
45
Objecções a fórmula de Frank:
1ª Afirma-se que a fórmula hipotética de Frank resolve o problema da existência de dolo,
não por aquilo que se passou no espírito do agente, mas por aquilo que se passaria.
2ª Diz-se que saber o que se passaria na hipótese de o agente ter representado o resultado
como necessário é coisa que só pode determinar-se apelando para a sua personalidade.
5. Solução proposta:
A solução proposta é a de sustentar que se a realização do facto for prevista como mera
consequência possível ou eventual da conduta, haverá dolo, se o agente, actuando não
confiou em que ele se não produziria. Ou seja, o dolo só se excluirá, afirmando-se a
negligência consciente, quando o agente só actuou porque confiou em que o resultado
não se produziria.
Sempre que o agente representando o resultado, não tomou posição perante este, deverá
ser punido a título de dolo eventual
46
Por erro de tipo entende-se aquele que incide sobre elementos ou circunstâncias do tipo,
pressupostos de facto de uma excludente da ilicitude. Esta espécie de erro exclui o dolo
(evitável ou inevitável) e, por conseguinte, a tipificação de um delito doloso, sem contudo
eximir o agente da responsabilidade por crime culposo.
O princípio geral em matéria de erro sobre a factualidade típica é o de que erro sobre
um elemento constitutivo de um legal de crime exclui o dolo.
Mas há alguma hipóteses que levantam algumas particularidades, ora vejamos:
1º - Se o dolo exige o conhecimento material do facto criminoso, o erro do agente sobre
qualquer elemento exclui o dolo. Por isso, não actua dolosamente o agente que mata um
homem a distância, na convicção de que se trata de uma peça de caça, como não actua
dolosamente o agente que faz uma mulher grávida ingerir um abortivo, na convicção de
que se trata de açucar.
Mas os sutores de tais actos poderão ser punidos por negligência, que no caso concreto se
verificarem os requisitos de negligência e a lei previr expressamente a punição do crime
respectivo a título de negligência nos termos do artigo 110º do CP.
Assim, nos exemplos dados o agente que mata um homem a distância, na convicção de
que se trata de uma peça de caça, poderia ser punido pelo crime de homicídio
involuntário (art. 369 CP), mas não será punido o agente que faz uma mulher grávida
ingerir um abortivo, na convicção de que se trata de açucar, já que a nossa lei não prevê
a punição do aborto por negligência.
2º - Igualmente é relevante no sentido de excluir o dolo, o erro sobre o processo causal,
quando este seja o elemento constutivo do crime. Assim, será irrelevante o erro e
persistirá o dolo, quando A dispara contra B, que está a beira do precipício, um tiro
para o matar, e este para se desviar do tiro, dá um salto que o laça no precipício e que
lhe produz a morte.
3º - Mas o erro será relevante se A pretendendo envenenar B, lhe injecta penicilina, em
vez de um veneno, e este vem a morrer por problemas cardiácos. Neste caso haverá que
negar o dolo na realização do tipo legal de crime de envenenamento, já que o elemento
causal (emprego de veneno), é elemento constitutivo do crime de envenenamento nos
termos do artigo 353 § único.
47
4º - Se o erro recair sobre a existência de circunstâncias modificativas agravantes, ele
não exclui o dolo relativamente ao crime fundamental, mas só ao respectivo crime
qualificado. Por exemplo: se A estrupra B, mas sem saber que é irmão da ofendida,
deverá lhe ser imputado a título de dolo o crime de estupro do artigo 392 CP, mas não a
agravante modificativa do nº 1 do artigo 398 (estupro qualificado). O mesmo se dirá
mutatis mutandi, em relação ao erro que reciai sobre a existência de uma circunstância
atenuante.
5º - O erro sobre os elementos normativos do tipo legal de crime será um erro sobre a
factualidade típica, que exclui o dolo, por que o dolo exige a representação de todos os
elementos constitutivos do tipo legal de crime, sejam eles descritivos ou normativos.
48
a) invencível - aquele que não pode ser evitado pela diligência ordinária;
b) vencível - aquele que pode ser evitado pela diligência ordinária e não o foi por
negligência ou imprudência.
Efeitos do erro de tipo essencial: Tratando-se de erro de tipo essencial invencível
haverá exclusão do dolo e da culpa, em face do sujeito, após a utilização da diligência
ordinária não ter tido meios de evitar um resultado que não foi fruto de sua vontade, nem
decorrente de negligência ou imprudência.
Existem erros que incidem sobre circunstâncias (genéricos, agravantes, etc). Neste caso,
tais circunstâncias não incidirão no cômputo da pena, serão excluídas. O erro em relação
à condição integrante do tipo ensejará a desclassificação para outro delito (o erro pode
incidir sobre elementos e circunstâncias, desconfigurando um determinado crime, porém,
não eximindo o agente da responsabilidade por outro). Enfocando o erro de tipo essencial
vencível, é notada, também, a exclusão do dolo, não sendo, contudo, excluída a culpa, se
esta for prevista (art. 29, CP), persistindo desta forma, a punição a título de culpa.
2. Erro acidental
Erro de tipo acidental é aquele que, versando sobre elementos acidentais do delito ou
sobre a conduta de sua execução, não exclui o dolo, em face do sujeito agir com o
entendimento do caráter ilícito do seu comportamento.
O erro acidental apresenta-se sob diversas formas:
2.1. Erro sobre o objecto (error in objecto) –art. 29 nº3 CP
O objecto material que aqui é tratado restringe-se à coisa. O sujeito pensa estar sua
conduta recaindo sobre uma determinada coisa, enquanto, na verdade, recai sobre outra.
Tal erro não exclui o crime, pois troca de objectos não impede a tipificação do delito e
configuração do dolo.
Tratando-se de erro sobre objectos ou sobre as pessoas que constituem o objecto da
conduta criminosa, se os objectos da conduta, o que queria atingir e o que efectivamente
49
se atingiu, são tipicamente idênticos, a doutrina preponderante é no sentido de
considerar o erro irrelevante:
Por exmplo: se A queria matar Bou furtar-lhe 1000 MT, e por confusão, vem matar C
ou furtar a este aquela quantia, pratica sempre um crime doloso, nos termos do artigo 29
nº3 CP ao afirmar que não exime da responsabilidade criminal o erro sobre a pessoa ou
a coisa a que se dirigir o facto punível.
50
Crimes e contravenções
c) Diferenças entre crimes e contavenções
d) Regras privativas das contravenções
17
Vide Prof. Eduardo Correia, direito Criminal, II, páginas 316 e seguintes. Também foram utilizados
apontamentos de Direito Penal elaboborados por dr. Silvino Ribaué, Agosto de 2008.
51
1. Conceito da aplicação da Pena (teorização geral sobre a sanção penal)
52
Existe também a chamada prisão processual, que ocorre ao longo do procedimento
criminal e tem natureza cautelar e provisória. Não se trata de uma pena, mas de uma
medida de prevenção e, em termos gerais a sua função é a manutenção da ordem
pública. As suas modalidades são: prisão preventiva, prisão temporária e prisão
em flagrante delito.
A prisão preventiva é aplicável quando o acusado pode atentar contra a ordem
pública, a instrução criminal, testemunhas, ou quando se verifiquem probabilidades
ou riscos de fuga. A prisão em flagrante delito ocorre nas seguintes circunstâncias:
quando o agente é encontrado a praticar o delito, quando acaba de cometer, quando é
perseguido logo após a sua prática, quando se encontram com instrumentos
indiciadores de ter sido ele o autor do delito. A prisão temporária cabe no curso do
inqueríto policial, quando imprescindível para as investigações, ou em crimes graves,
quando houver fundadas razões para a sua ordenação.
53
Quando dois ou mais agentes praticam o mesmo tipo legal de crime com os mesmos
resultados danosos, parte-se do princípio de que na avaliação e responsabilização das
suas actuações criminosas, não existem as mesmas condições subjectivas entre os
comparticipantes na actividade delitiva, devendo haver, por isso, uma
individualização da pena.
No ordenamento jurídico-penal moçambicano, este princípio está consagrado no
artigo 28 conjugado com 84 ambos do CP, com uma indicação criteriosa de como o
julgador deve fazer essa individualização. Determinado o tipo legal de crime
praticado, com os respectivos limites da pena, há que apurar a medida concreta da
pena, em cumprimento deste princípio da individualização sanção penal, como
consequência automática do juizo condenatório.
É na fase da individualização da pena que se determina o quantum ou a dosagem da
pena a ser aplicada ao condenado. Aplicar o princípio da individualização da pena
significa garantir ao agente o direito de ver reflectida na sanção a medida da sua
culpa, em atenção ao conjunto de circunstâncias do delito, o que signifiaca que o
indivíduo só pode responder pelo crime na medida da culpabilidade.
A medida da pena é estabelecida em conformidade com as circunstâncias agravantes
e atenuantes e com os factores de graduação da pena previsto no artigo 84 do CP,
designadamente a a culpabilidade, a gravidade do facto criminoso, os seus
resultados, a intensidade do dolo ou o grau da culpa, os motivos do crime, e a
personalidade do deliquente.
54
Num segundo momento, por ocasião da aplicação da pena (art. 84 do CP), o julgador
necessita de recorrer ao exame da culpabilidade para limitar a quantidade da pena. É
neste segundo momento que a culpabilidade funciona como factor de graduação da pena.
Na aplicação da pena, o exame da culpabilidade exige maior esforço do julgador, pois já
não se trata dum simples exame de constatação, mas sim de um exame de valoração ou
graduação.
Como factor de graduação da pena, a culpabilidade prevista no artigo 84 deve ser
interpretada de acordo com o seguinte sentido:
I. Infere-se do artigo 84 do CP que a culpabilidade é tanto maior
quanto maiores forem a gravidade do facto criminoso, os seus resultados, a
intensidade do dolo ou o grau de culpa, analisando-se também a maior ou menor
aceitabilidade dos motivos do crime, e a personalidade do deliquente.
II. Na fixação da sanção penal, a quantidade da pena depende do grau
de sensurabilidade ou culpabilidade do agente, quanto maior for a culpabilidade,
maior será a quantidade da pena.
III. A avaliação do grau de culpabilidade deve ter em conta o facto do
crime ter sido cometido com dolo ou mera culpa, avalaindo-se a intensidade do dolo
ou grau da culpa. Para uma boa avaliação da intensidade do dolo ou do grau da
culpa, o julgador deve considerar a posição do agente em face do bem jurídico
violado, de acordo com o seguinte: menosprezo total pelo resultado criminoso (no
dolo directo), indiferença perante o resultado (no dolo eventual), o descuido (nos
crimes meramente culposos).
IV. Quanto à personalidade, avaliam-se as qualidades morais e
sociais do deliquente, a sua maior ou menor sensibilidade ético-social, de acordo com
os padrões da moralidade e os valores da comunidade, punindo-se com maior
gravidade os deliquentes que revelem desvios de carácter demonstrativos de
perigosidade e menor sociabilidade. Neste sentido a culpabilidade será tanto maior
quanto menores forem os indíces de moralidade e sociabilidade do deliquente.
V. A gravidade do facto criminoso está intimamente relacionada não
só com o tipo de bem jurídico violado pelo infractor, mas também com os seus
resultados danosos. Significa que se pune com maior intesidade a violação de
55
interesses jurídicos com maior proteccionismo penal, tendo em especial o maior ou
menor dano provocado.
VI. Na avaliação dos motivos do crime, fa-ze uma triagem das causas
ou do móbil do crime, procurando-se apurar a maior ou menor aceitabilidade do
motivo por detrás da infracção. Há motivos que impurram ou arrastam quase
irresistivelmente o agente para o crime, mas há também motivos fúteis, situações
perfeitamente evitáveis, de tal forma não deixam de perceber a razoabilidade da
actuacção criminosa. Neste caso, quanto menor for a aceitabilidade do motivo maior
será a culpabilidade, castigando-se com maior gravidade os motivos fúteis ou
indisculpáveis.
3. Circunstâncias.
3.1. Noção de circunstâncias
A responsabilidade criminal é agravada ou atenuada, quando concorrem no crime ou
no agente,(circunstâncias) agravantes ou atenuantes. Esta agravação ou atenuação é
correlativa a agravação ou atenuação da pena (vide o artigo 30 do CP).
A doutrina define geralmente circunstância como tudo aquilo que pode ser
suprimido numa infracção criminal, conservando-se esta estruturalmente a mesma.
56
3.2. Classificação das circunstâncias
As circunstâncias podem ser:
a) Circunstâncias gerais ou modificativas
Num primeiro momento as circunstâncias podem ser gerais ou modificativas. As
crcunstâncias gerais são aquelas que somente têm a virtualidade para graduar a pena
dentro dos limites gerais abstractos. E serão circunstâncias modificativas quando
fazem que possa ultrapassar o limete geral ou abstracto ou descer a quem deste, ou
ainda aparecer um novo tipo de crime, qualificado e privilegiado, quando menos
grave.
b) Circustâncias agravantes ou atenuantes (vide os arts. 34 e 39 ambos do CP)
Quando ao efeito as circunstâncias podem ser agravantes ou atenuantes. A nossa lei
seguiu o sistema de enumerar taxativamente as circunstâncias agravantes (art. 34 do
CP) e, exemplificativamente as circunstâncias atenuantes (art. 39 do CP). Os efeitos
das agravantes e atenuantes quanto a medida da pena encontram-se regulados no
artigo 91 do CP.
c) circunstâncias reais (inerentes ao facto), pessoais (inerentes ao agente) e, de
natureza mista.
C.1. Circunstâncias reais ou inerentes ao facto/ objectivas (vide o art. 32, 34 e 39
todos do CP)
Entende-se geralmente que são circunstâncias reais, as que estabelecem a gravidade
do crime sob o aspecto de dano que produzem, isto é, sob o aspecto da ilicitude.
Podemos dar como exemplo de circunstâncias agravantes reais as previstas no artigo
34 do CP, designadamente as circunstâncias: 7ª, 9ª, 10ª, 11ª, 12ª, 13ª, 14ª, 16ª, 18ª,
19ª, 20ª, 28ª, 30ª, e 31ª.
d) Circunstâncias pessoais ou inerentes ao agente (vide o art. 31, 34 e 39 todos
do CP)
Circunstâncias pessoais são aquelas que atenuam ou agravam a reprovação do agente,
isto é, as que graduam a sua culpa pela prática do facto. Podemos dar como exemplo
de circunstâncias agravantes pessoais as previstas no artigo 34 do CP, designadamente
as circunstâncias: 3ª, 4ª, 8ª, 23ª, 26ª, 33ª e 34ª.
57
Note-se que são comunicáveis as circunstâncias relativas a ilicitude e incomunicáveis
as relativas a culpa ou à personalidade.
e) Circunstâncias de natureza mista
São aquelas que são simultaneamente objectivas e subjectivas. Para a aplicação do
regime de umas ou de outras deve-se observar a natureza predominante, se é natureza
objectiva ou subjectiva. Podemos dar como exemplo de circunstâncias agravantes
denatureza mista as previstas no artigo 34 do CP, designadamente as circunstâncias:
5ª (é mais subjectiva), 6ª, 17ª (objectiva), 22ª(objectiva), 24ª(objectiva), 27ª
(objectiva), 32ª(objectiva), 29ª(objectiva).
58
(1). Condenação do agente por sentença anterior com trânsito em julgado.
Relativamente a este requisito vale apena observar o seguinte:
Não são levadas em conta as condenações proferidas pelos
tribunais militares por crimes militares, nem proferidas por tribunais estrangeiros (§
4º do art. 35).
Não importa que a pena aplicada na sentença anterior tenha
sido ou não cumprida, basta o trânsito em julgado.
Contam para efeito de reincidência os crimes prescritos e
perdoados, mas não os amnistiados.
(2) Comissão de outro crime pelo agente da mesma natureza
É esta uma das questões mais discutidas, em torno do conceito de reincidência. É certo
que os crimes da mesma natureza não são só os previstos na mesma norma
incriminadora, mas também os que apresentam a natureza idêntica, sob o ponto de vista
objectivo e subjectivo.
Segundo a doutrina da Prof. Beleza dos Santos18, são crimes da mesma natureza para
efeitos de reincidência:
Os mesmos crimes sob o ponto de vista da ilicitude e da culpa.
Os crimes dolosos que têm em comum elementos que traduzem o mesmo fim
imediato do agente ou fins análogos, isto é, fins que são modalidades de um outro
fim criminoso.
Os crimes culposos que representam a infracção dos mesmos deveres ou de
deveres afins.
Para o Professor Cavaleiro Ferreira, são da mesma natureza os crimes que possam
reconduzir-se a mesma propensão criminosa, há um hábito psicologicamente orientado na
mesma direcção.
O Professor Eduardo Correia, in Direito criminal II, páginas 157 e SS, ensina que só a
homogeneidade objectiva pode ser considerada índice da perigosidade especial
correspondente a reincidência. Para este mestre a identidade das penas é requisito Da
identidade das infracções. Mas segundo a doutrina maioritária a diversidade de penas
aplicadas não obsta a verificação da reincidência.
18
Vide as anotações do Código Penal português, de Manuel Lopes Maia Gonçalves.
59
Exemplos:
o crime de abuso de confiança, de furto e de burla são da mesma natureza para efeitos
de reincidência, visto denunciarem a mesma especial tendência criminosa, que é a ilícita
apropriação de bens alheios, embora levado a efeito por processos diferentes, lesando
também o mesmo interesse jurídico que é o o direito de propriedade.
(3) O decurso de lapso de tempo inferior a oito anos desde a condenação anterior.
O Prof Eduardo Correia, Direito criminal II, pág. 181 e SS defende que é o momento em
que transita em julgado a 1ª condenação, que fixa o início do prazo de prescrição tanto da
1ª como da 2ª reincidência. Mas há orientações doutrinárias segundo as quais se
verificam 2ª e ulteriores reincidências, quando o agente pratica crimes da mesma natureza
num encadeamento em que o intervalo entre cada crime e a condenação anterior não
excede oito anos.
d) Efeitos da reincidência (na aplicação da pena)
Quanto a punição da reincidência serão observados os artigos 100º e 96§ único ambos do
CP.
O artigo 100º do CP preceitua quanto a agravação por reincidência somente para os
casos de aos crimes serem aplicáveis penas de prisão maior ou de prisão. Deve entender-
se que, quanto a todas outras penas graduáveis, a reincidência tem os efeitos de
agravante geral, e não agravante modificativa, pois pensar de outro modo seria aplicar
extensivamente uma disposição penal gravosa.
No caso de reincidência “se a pena aplicável for de prisão maior, a agravação
correspondente a reincidência será igual a metade da diferença entre os limites máximo
e mínimo da pena” (art. 100/1 CP).
Por exemplo: suponhamos que a pena aplicável é de 20-24 anos de prisão maior (art.
55/1 do CP). A agravação correspondente a reincidência será igual 24-20:2 = 4:2 = 2 anos
(dois anos). Portanto, a agravação correspondente a reincidência será de 2 anos.
60
Por exemplo: suponhamos que a pena aplicável é de prisão simples de 3 dias – 2 anos.
(art. 56/1 do CP). A agravação correspondente a reincidência será igual 3 dias + 2anos:2 a
2 anos+ 2:2 = 1 ano e 3 dias – 3 anos. Portanto, a agravação correspondente a
reincidência implicará a mudança da moldura penal, que passará de 3 dias – 2 anos para
1 ano e 3 dias – 3 anos
61
(1) Condenação do agente por sentença anterior com trânsito em julgado.
(2) Comissão de outro crime pelo agente que não seja da mesma natureza, e sem atenção
ao tempo que mediou entre a primeira condenação e o segundo crime ou,
(3) Sendo o segundo crime da mesma natureza com o primeiro, tenham passado mais de
oito anos entre a condenação definitiva pelo primeiro e a perpetração do segundo.
Note-se que os requisitos da sucessão de crimes que marcam a diferença com a
reincidência são o segundo e o terceiro requisito ( supramencionados).
Sobre aplicação da pena no caso da sucessão de crimes vide o artigo 101 do CP.
No caso de sucessão de crimes, se for aplicável prisão maior, e se a condenação anterior
tiver sido também em prisão maior, a agravação correspondente a sucessão de crimes
será igual a metade da diferença entre os limites máximo e mínimo da pena (vide o
artigo 101 corpo, conjugado com o artigo 100/1 ambos do CP).
A sucessão de crimes é circunstância agravante qualificativa quando o crime actual e o
anterior forem punidos com pena maior, nos outrs casos é circunstância agravante geral.
Quando funciona como qualificativa, fica sujeito ao regime do artigo 96 § único do CP. O
último período do nº 1 do artigo 100 não tem aplicação à sucessão de crimes, pois a
segunda reincidência não tem figura paralela na sucessão19.
Nos demais casos de sucessão de crimes agravar-se-á a pena segundo as regras gerais
previstas nos artigos 91 e 92 ambos do CP (art. 101 § único do CP).
19
Prof. Eduardo Correia, Direito criminal, II, pág. 197.
62
multa até dois anos. Atenua-se, porém, com a redução da duração da duração a dez ou
quinze anos. A agravação, ao contrário da atenuação, já é graduável.
63
6. Atenuantes20 (art. 39 do CP)
Ao contrário do que sucede com a enumeração taxativa das circunstâncias agravantes,
que é taxativa, é exemplifica a enumeração das atenuantes. Mas a atenuação há-de radicar
na mitigação do lado subjectivo ou objectivo da infracção, na culpa ou na ilicitude ou em
ambas simultaneamente. É bem expressivo, neste sentido, o texto do nº 23º do artigo 39.
20
Prof. Eduardo Correia, Direito criminal, II, pág. 378-380
21
Ibidem, página 307 e SS.
64
CAPITULO VIII ׃Concurso de crimes
1. conceito de concurso de crimes
Ocorre concurso de crimes quando um ou vários agentes praticam dois ou mais delitos,
mediante unidade ou pluralidade de açcões ou omissões.
O concurso de crimes não se confunde com o conflito aparente de normas, pois este
pressupõe unidade de facto e pluralidade de leis definindo o mesmo facto criminoso,
enquanto aquele pressupõe uma pluralidade de acções.
65
Efeitos da Condenação
1. Conceito e natureza.
a) Conceito: Os efeitos da condenação, seriam então todas as consequências
que resultam de uma sentença penal condenatória, consistindo na imposição da sanção
penal ao condenado, ou, se inimputável a aplicação de medidas de segurança.
b) Natureza: os efeitos das penas vêem regulados no artigo 74 e seguintes do
CP, e conforme o comando deste artigo, são taxativos. Ao condenar alguém pela prática
de um delito, o Estado-Juiz impõe-lhe a sanção penal que a lei prevê. Todavia essa
sanção, que pode ser pena de reclusão, restritiva de direitos, detenção e ou multa, não é
a única consequência da condenação penal. A condenação penal tem outros efeitos,
tanto de natureza penal (efeitos secundários) como de natureza extrapenal (efeitos
civis, administrativos, etc).
Os efeitos penais são também penas, e acrescem por força da própria lei, sem
necessidade de declaração nesse sentido na decisão condenatória, à pena ou as penas
aplicadas na decisão judicial. É o que resulta do artigo 83 do CP, ao estabelecer que os
efeitos das penas têm lugar em virtude da lei, independentemente da declaração
alguma na sentença condenatória. Portanto, esses efeitos produzem-se ope legis.
c) Efeitos da condenação de natureza penal (secundários/ específicos) /
efeitos penais da condenação.
Os efeitos penais de qualquer condenação vêm enumerados no artigo 75/1 do CP, os
efeitos penais das penas maiores no artigo 76 e, os efeitos penais de condenação em
pena correccional no artigo 77 todos do CP.
66
do crime. Portanto, a condenação penal, a partir do momento em que se torna
irrecorrível, faz coisa julgada no cível, para fins de reparação do dano. Tem natureza de
título executório, permitindo ao ofendido reclamar em juízo a indemnização civil sem
que o condenado pelo delito possa discutir a existência do crime ou a sua
responsabilidade por ele.
São efeitos genéricos extrapenais da condenação (art. 75/2, 3, 4 do CP):
Obrigação de reparar o dano sofrido;
Perda a favor do Estado dos bens e valores de origem ilícita
A obrigação de restituir ao ofendido as coisas de que pelo crime o tiver privado
Na obrigação de pagar as custas de processo e as despesas de expiação.
67
Os instrumentos do crime que, devem ser julgados perdidos a favor do Estado não
abrangem os objectos comprados com o dinheiro obtido pela fraude, ou seja, pela
realização do crime. Mas, como nº2 do art. 75 CP se opõe a que esses objectos sejam
entregues ao ofendido, terão eles que ser restituídos ao réu, a quem foram apreendidos,
sem prejuízo de poderem a ser vir a ser executados por quem nisso tiver interesse.
Para que estes instrumentos do crime possam ser declarados pelo tribunal, perdidos a
favor do Estado, são necessárias seguintes condições:
1ª) Que seja propriedade do réu ou do agente da infracção dolosa a que corresponda
pena maior;
2ª) Que o réu ou o agente da infracção, dono do instrumento, tenha sido condenado
definitivamente;
3ª) Que o ofendido, ou terceira pessoa, não tenha direito à sua restituição.
Os objectos apreendidos em processo penal, quando não forem declarados
perdidos a favor do Estado, devem ser mandados restituir, nos termos dos arts. 75˚., nº. 2,
do CP. e 450.˚§ 2.˚, do C.P.P.
No caso dos veículos que tenham servido de instrumento destes, são declarados a
favor do Estado segundo o artigo 63.˚ do Código da Estrada.
22
Para o caso de Moçambique são as Finanças
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3. Obrigação de restituir ao ofendido as coisas de que tenha sido privado.
Só devem ser entregues ao ofendido os objectos de que o mesmo tenha sido
privado em virtude da prática do crime. Encontrando se o objecto apreendido, o ofendido
deverá reclama-lo no prazo de três meses a partir da condenação; de outro modo
prescrevem para as Finanças.
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