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E-book

Direito Penal.

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Princípios.

Conceito.

De forma sintetizada, os princípios são normas escritas ou não, dotadas de maior grau de abstração
(em relação à regra), que consagram valores fundamentais.
Daí, surgem 3 características fundamentais sobre o conceito de princípios:

1) os princípios podem ser explícitos, seja na Constituição ou na legislação ou implícitos.

2) os princípios têm um maior grau de abstração, comparado as leis.

3) os princípios têm a consagração de valores fundamentais. Esses valores fundamentais


devem ser sempre perseguidos pelo ordenamento jurídico.
Essas 3 características de forma resumida, formam o conceito de princípios.

Caso haja um conflito entre dois ou mais princípio, resolve-se pela ponderação.

Existem doutrinadores que falam em “cedência recíproca”, indicando que ambos princípios terão que
“ceder” de alguma forma.

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Há um sacrifício parcial de ambos princípios. Logo, em caso de conflitos não se aplica a
regra do “tudo ou nada”, afastando 100% um ou outro princípio, mas haverá um sacrifício parcial,
a cedência recíproca de todos os princípios envolvidos.

Ronald Dworkin foi o responsável por desenvolver uma teoria que diferencia princípio
de regra.

Princípio ≠ Regra

O treocho de sua obra diz o seguinte: “As regras (lei/norma) são aplicáveis à maneira do
tudo-ou-nada. Dados os fatos que uma regra estipula, então ou a regra é válida, e neste caso a
resposta que ela fornece deve ser aceita, ou não é válida, e neste caso em nada contribui para a
decisão (ou seja, aplica ou não aplica). (...) Os princípios possuem uma dimensão que as
regras não têm – a dimensão do peso ou importância. Quando os princípios se intercruzam, aqueleque vai
resolver o conflito tem de levar em conta a força relativa de cada um.”

Aqui, Dworkin faz menção à ponderação, isto é, ao sacrifício parcial.


Ainda que predondere um princípio, ele deve levar em conta a força relativa daqueles que
sofreram um sacrifício maior.
Analisaremos agora os princípios em espécie.

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Princípios em espécie

-Princípio da Anterioridade.

Esse princípio é explícito na Constituição Federal de 1.988, conforme artigo 5º, XXXIX e XL
no Código Penal.

CF/88. Art. 5º (...)


XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal.
(...) XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
CP. Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.

O princípio da anterioridade consagra que a vigência de uma lei, atinge os fatos da


linha em diante e não os fatos anteriores, a não ser que seja para beneficiar o réu, razão em que irá
retroagir.
A anterioridade prevista na CF define que só haverá crime se uma lei anteriormente, quando

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promulgada, assim o definir.
Da mesma forma, a pena só será legítima e aplicável, se ela for previamente determinada.

Em síntese, sobre o princípio da


anterioridade:

A lei penal•só produz efeitos após entrar em vigência; A lei penal,


em regra é •irretroativa;

Somente retroagirá para favorecer o réu. Trata-se de uma exceção ao princípio da
anterioridade.

Obs.: Posso aplicar imeditamente lei em vacatio legis para favorecer o réu?

Tomemos como exemplo a lei de abuso de autoridade, que foi sancionada em setembro de
2019 e entrou em vigor em janeiro de 2020. Durante esse período, estava em vigência a lei
4.898/65. A partir de janeiro de 2020 vigora a nova lei de abuso de autoridade.
Desta feita, imaginemos que determinada autoridade praticou uma conduta descrita na lei
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4.898/65 que não encontrou correspondência na nova lei. Ocorreu assim, a denominada “abolitio
criminis”. Nesse sentido, podemos afirmar que a “abolitio criminis” que iniciou em janeiro de
2020 atinge essa autoridade imediatamente ou deve esperar a vigência da nova lei, para queseja
extinta a punibilidade pela “abolito criminis” ?

Para responder essa pergunta existem 2 correntes:

Doutrina minoritária clássica como Alberto Silva Franco, entendem que SIM, a “aboltio criminis”
poderá ser aplicada imediatamente, ainda no período de vacatio legis, uma vez que a “abolitio
criminis” seria inevitável.

A doutrina majoritária e moderna, como Cleber Masson, Damásio de Jesus, Guilheme Nucci e etc.,
entendem que NÃO, pois, durante a vacatio legis a lei não possui eficácia jurídica. É “mera
expectativa de lei”.
Logo, depois do período de vacatio legis a abolitio criminis estaria configurada.

Princípio da legalidade ou reserva da lei ou estrita legalidade.

Existem manuais de vários doutrinadores que diferenciam o princípio da legalidade da


reserva de lei ou legalidade estrita.

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Tecnicamente essa diferenciação é correta, visto que os princípios da reserva da lei e da
legalidade estrita dizem respeito a lei formal e material.
Já a legalidade pura, considera qualquer espécie legislativa que se encontra no artigo 59 da
CF/88.
CF/88. Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:
I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.

Embora haja essa diferenciação na doutrina, para fins de concursos, encontraremos as 3


nomenclaturas como sinônimos.
O inciso XXXIX do artigo 5º da CF, também nos traz a previsão do princípio da
legalidade.

CF/88. Art. 5º (...)


XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal.

O princípio da legalidade afirma que deve ser por lei a definição de crime e a previsão para
pena.
O artigo 1º do CP também traz o conceito de legalidade, quando diz que não há crimesem lei
anterior que o defina e nem pena, sem prévia cominação legal.

CP. Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.

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Qualquer tipo penal deve ser criado por lei. Qualquer mudança na pena, tambémdeve ser
feita por lei. Essa lei é lei em sentido formal e material, isto é, lei ordinária promulgada no âmbito
do poder legislativo e sancionada pelo Presidente da República.

Atenção! Para fixarmos o que já foi dito antes:

A denominação do princípio consagrada na doutrina é a de RESERVA LEGAL ou


ESTRITA LEGALIDADE – somente lei em sentido formal e material.

Legalidade refere-se a qualquer espécie legislativa do art. 59 da CF.

Obs.: Devemos tomar muito cuidado com os Mandados contitucionais de criminalização.


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Ao abrirmos o artigo 5º da CF/88, nos deparamos com alguns incisos que partem da
premissa que o que consta ali, já é crime. Há um aviso claro por parte do constituinte, dizendo ao
legislador, que aquilo já é crime, e que não há a opção em não tipificar tal conduta.
A doutrina denonimada isso como Mandandos contitucionais de criminalização ou
Mandados de criminalização.

Obs.: houve uma discussão recente no STF, onde se debateu acerca da homofobia e
transfobia, considerando que ambos seriam formas de preconceito de raça.
Após muito se discutir, prevaleceu no âmbito do STF, que a homofobia e a transfobia
estão abarcadas pela lei nº 7.716/89, lei dos crimes de racismo.
Dentre os embasamentos usados pelo STF, 1 foi que há um mandado de
constitucionalização de criminalização do racismo.
A homofobia e a transfobia se encaixam no conceito de racismo, por meio do
mandado constitucional de criminalização.

Alguns exemplos de mandados constitucionais de criminalização:

CF/88. Art. 5º (...)


XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão, nos termos da lei; XLIII - a lei considerará crimes
inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins,o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendoos mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

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Atenção especial para a Ação Declaratória de Omissão e o Mandado de Injução 4733,
onde o STF lançou do mandado de criminalização, para criminalizar a transfobia e a homofobia. Para
que houvesse atendimento ao princípio da reserva legal, o STF colocou tais condutas na abrangência
da lei 7716/89.

Obs.: Medidas provisórias em matérial penal é possível? Em atenção ao princípio da


reserva legal ou estrita legalidade, norma penal incriminadora, ou seja, que cria ou agrava tipo penal,
só pode ser criada por meio de lei em sentido material e formal, logo, não cabe medida
provisória.

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Mas, o STF já se manifestou no RE 254.818 do Paraná, que a medida provisória pode
versar sim sobre matéria penal, desde que não seja norma penal incriminadora e
seja

favorável MUITO
ao réu. CUIDADO!

Princípio da ofensividade ou lesividade.

Para esse princípio, somente haverá crime quando houver, ao menos, perigo de lesão ao
bem jurídico.
Observação doutrinária: a doutrina mais clássica como por exemplo Tourinho, considera
que só haverá crime, quando houver efetiva lesão ao bem jurídico.
Contudo, isso vai em confronto com os crimes de mera conduta e os com os crimes de
perigo abstrato, visto que nesse tipos de crimes não é preciso ter a efetiva lesão, isto é, alteração no
estado fático do bem jurídico, basta que tenha um perigo de lesão (ainda que esse perigo seja
abstrato).

A doutrina e a jurisprudência consideram os crimes de perigo abstrato constitucionais.

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Princípio da insignificância ou bagatela.

Antes de tudo, precisamos entender o que é tipicidade conglobante. É um teoria desenvolvida


e aperfeiçoada por Zaffaroni.
A tipicidade conglobante engloba 2 outras tipicidades: a formal e a material.

• A tipicidade formal é resumidamente, saber se a conduta praticada se adequa à


descrição típica da lei.
• A tipicidade material é a existência de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
e inexistência de antinormatividade. É a contrariedade ao ordenamento.

A junção da tipicidade formal + tipicidade material = nasce a tipicidade conglobante

Segundo Zaffaroni, a tipicidade para ser reconhecida, é preciso que ela seja analisada de forma
conglobante, verificando-se a presença da tipicidade formal e material.

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O princípio da insignificância está repousado sob a tipicidade material. Quando é
verificado a insignificância de uma conduta, tem-se a exclusão a tipicidade material.
Uma vez excluída a tipicidade material, resta apenas a tipicidade formal que, segundo a teoria
de Zaffaroni, não é o suficiente para configurar a tipicidade conglobante.

O STF formulou alguns requisitos para a incidência do princípio da insignificância ou


bagatela:
a) Mínima ofensividade da conduta do agente;
b) Ausência de periculosidade social da ação;
c) Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e
d) Inexpressividade da lesão jurídica.

Tais requisitos são muito criticados na doutrina, visto que a maioria da doutrina entende que
todos os requisitos são sinônimos.
Para fins de fixação desses requisitos o STF analisou: a conduta, a ação, o
comportamento e a lesão.

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• Criminisos reincidentes: em regra não aplica, só em casos excepecionais;
• Deve levar em conta a capacidade patriminial da vítima;
• Crimes contra Adm. Pública: não se aplica, pois, são bens indisponíveis. Súmula 599 do
STJ citada acima. HC 107.370 – peculato em valor irrisório, onde fora aplicado tal
princípio;
• Crimes da lei de drogas: não se aplica. HC 110.475 – uso de droga, aplicação do
princípio;
• Crimes de descaminho ou crimes federais contra a ordem tributária: até 20 mil reais,
incidirá tal princípio;
• Contrabando: não se aplica. Excepcionalmente o STJ já aplicou para importação de
medicamento proibido em pequena quantidade para consumo próprio – Edcl no AgRg no
REsp1.708.371/PR – Rel. Min Joel Ilan Paciornik;
• Crimes ambientais: STF excepcionalmente aplica;
• Posse de munição: CUIDADO! Tem manual que diz que não se aplica, mas STJ e STF
vem aplicando quando for pouca quantidade e houver ausência de prova de que o possuidor
integra organização criminosa;
• Atos infracionais: se aplica;
• Violência doméstica: não se aplica, Súmula 589, citada acima.

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A bagatela imprópria não tem previsão legal. Ela guarda relação direta com a inexistência de
legitimidade para imposição de pena. Aqui não há o afastamento da tipicidade, o crime é
devidamente caracterizado, mas deve ser feita uma análise da necessidade da pena.
A conduta bagatelar imprópria nasce como relavante para o direito penal, afastando- se a
bagatela própria. Ela é formal e materialmente típica. Mas, no caso concreto, revela-se inadequada a
aplicação de pena em razão dos seguintes fatores:

• Personalidade do agente;
• Colaboração com a justiça; (confissão)
• Reparação do dano;
• Reconhecimento de culpa;
• Ônus de ter permanecido preso preventivamente.

Qual é a consequência da bagatela imprópria? causa supralegal (pois não há previsão em


lei) de extinção da punibilidade.

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Princípio da individualização da pena.

Princípio da intranscendência

CF/88. Art. 5º (...) XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o
limite do valor do patrimônio transferido;

Na realidade, a previsão “nenhuma pena passará da pessoa do condenado” diz respeito ao princípio da
intranscendência, o qual será estudada mais a frente.
O que é importante no princípio da individualização da pena é que ele possui 3 destinatários, o
que alguns doutrinadores chamam de plano de desenvolvimento:

❖ Legislador ou Legislativo: ao descrever tipos penais, as sanções deverão ser


individualizadas (com mínimo e máximo de forma proporcional à gravidade do delito); PLANO
LEGISLATIVO.
❖ Juízes ou Judicial: ao aplicar a pena no caso concreto, o julgador deverá observar
as particularidades do apenado e dos fatos. PLANO JUDICIAL.
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❖ Administrador ou administrativo: na execução da pena, cada apenado deve ser
individualmente considerado. PLANO ADMINISTRATIVO.

Princípio da alteridade.

É aquele princípio que proíbe a incriminação de atitudes internas do agente (cogitação),


além de condutas incapazes de invadir a esfera de proteção de terceiros.
Ainda que a conduta seja exteriorizada, mas não for capaz de invadir a esfera de proteção de
bem jurídico de terceiros, não há que se falar em incidência do direito penal.
É um princípio desenvolvido por Roxin e explica a não incriminação da autolesão.
Ex.: tentativa de suicídio não é crime.

Princípio da adequação social.

Segundo esse princípio, não pode ser incriminado comportamento que não afronta o sentimento
social de justiça, isto é, o senso comum de justiça.

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Esse princípio funciona como causa supralegal (não há previsão legal) de exclusão datipicidade (falta
de tipicidade material – antinormatividade).
Segundo Zaffaroni:

Tipicidade material tem 2 facetas: efetiva e relevante lesão ao bem jurídico

antinormatividade

Princípio da intervenção mínima.

Segundo o princípio da intervenção mínima, o campo de incidência do direito penal deveestar


restrito às hipóteses em que a criminalização é indispensável para a proteção do bem jurídico. Trata-se
da indispensabilidade do direito penal.
Nessas hipóteses, os demais ramos do direito são insuficientes para a tutela pretendida

Tal princípio serve de apoio para o direito penal mínimo. O direito penal mínimo é
justamente a ação do direito penal em situações indispensáveis.
Existem 2 subprincípios que decorrem do princípio da intervenção mínima:

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❖ Princípio da fragmentariedade: um ato ilícito (obs.: existe ato ilícito civil,
administrativo e etc.) somente corresponderá a um ilícito penal quando expor a perigo valores
fundamentais para a vida em sociedade. Se for um bem jurídico de menor importância, o direito penal
deve ser fragmentado, não devendo incidir.

❖ Princípio da subsidiariedade: o direito penal somente deve incidir quando a tutela


do bem jurídico não for possível por outros ramos do direito.

Princípio da proporcionalidade.

O princípio da proporcionalidade diz a incriminação de condutas deve consistir em


vantagem para a sociedade. Para ser proporcional deve-se “sacrificar” o direito de alguém, no caso,
restringir a liberdade de alguém em favor da sociedade.
A proporcionalidade serve como limite e parâmetro para o legislador na incriminação em
abstrato e no estabelecimento de penas; (PROPORCIONALIDADE EM ABSTRATO).
Incide também na dosimetria da pena pelo juiz. O juiz deve aplicar a pena a partir da
proporcionalidade em abstrato, de forma concreta e proporcional às condições do agente e às
circunstâncias fáticas. (PROPORCIONALIDADE CONCRETA)
Incide ainda na execução da pena, que deve ser cumprida de maneira proporcional às
condições pessoais do apenado. (PROPORCIONALIDADE EXECUTÓRIA)
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Tal princípio possui um caráter duplo:

vedação ao excesso e vedação à proteção deficiente

Ex.: preceito secundário referente ao artigo 273 do CP (citado no slide seguinte).

O artigo 273 do CP que traz a previsão do crime de falsificação, corrupção, adulteração ou


alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, estabelece pena de reclusão de 10 a
15 anos.
Para o crime de tráfico de drogas previsto no artigo 33 da lei de drogas, é previsto pena de
reclusão de 5 a 15 anos.

A jurisprudência já pacificou o entendimento de que a diferença da pena mínima


do crime do artigo 273 e do artigo 33 da lei de drogas é desproporcional.
Como aplicar a pena mais severa ao artigo 273 do CP, se o grau de reprovabilidade
deste crime é menor, comparado ao crime do artigo 33 da lei de drogas?
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A fim de manter a proporcionalidade, a jurisprudência aplica o preceito secundário (pena)
do artigo 33 da Lei de drogas, no crime do artigo 273 do CP.

Princípio da intranscendência ou da personalidade.

Encontra previsão legal no inciso XLV do artigo 5º da CF/88, citado anteriomente.

CF/88. Art. 5º (...) XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação
de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

Esse princípio diz que a responsabilidade penal e suas implicações somente devem recair sobre o
autor do fato. Só responde por um crime, aquele que o praticou.
Essas implicações são, por exemplo, a reincidência.

A obrigação de indenizar, isto é, de reparar o dano do condenado, pode alcançar os


sucessores, mas limitado ao valor da herança.

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Princípio da responsabilidade penal subjetiva.

Segundo esse princípio, a responsabilidade penal somente pode recair sobre quem agiu
com dolo ou culpa. Inclui-se todas as modalidade de dolo ou culpa.

Se não houver o elemento subjetivo do tipo, não há como ter responsabilidade penal.

Princípio do “ne bis in idem.”

CADH. Art. 8º (...) 4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não
poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos.

Esse princípio veda a dupla punição pelo mesmo fato. Esse princípio não é absoluto, basta
analisarmos, por exemplo, a reincidência.
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A pessoa reincidente é punida pelo menos umas 5 vezes. Mas como assim? Imagine alguém
que é reincidente específico. Essa pessoa terá uma agravante na pena (1ª punição), terá vedação a
substituição da pena, conforme artigo 44 do CP (2ª punição), a depender do crime, essa pessoa terá
uma fração maior para progressão (3ª punição) e etc. Assim, percebe-se que esse princípio não é
absoluto.
É consagrado pelo Pacto de São José da Costa Rica (art.8º, 4) – proibição da dupla punição
pelo mesmo fato.
A fim de evitar ainda mais punições pela reincidência, fora criada a Súmula 241 do STJ que
é uma aplicação do princípio do “ne bis in idem”.
STJ. Súmula 241. A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e,
simultaneamente, como circunstância judicial.

Princípio da isonomia.

A isonomia material preceitua o tratamento igualitário dos iguais e desigual dos desiguais,
na medida da respectiva desigualdade.
Não adianta aplicar o mesmo tratamento às pessoas que não são iguais, que seria no caso, a
isonomia linear.
A isonomia material é justamente o tratamento desigual, aos desiguais, nas medida de suas
desigualdades.

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Questões.
CESPE - 2019 - TJ-DFT - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Remoção
Aplicado no direito penal brasileiro, o princípio da alteridade
a) determina que o juiz analise as especificidades do fato e do autor do fato durante o processo
dosimétrico.
b) assevera que a pena não passará da pessoa do condenado.
c) afasta a tipicidade material de fatos criminosos, ao definir que não haverá crime sem ofensa
significativa ao bem tutelado.
d) reconhece que o direito penal deve abarcar o máximo de bens possíveis para promover apaz.
e) assinala que, para haver crime, a conduta humana deve colocar em risco ou lesar bens de
terceiros, e é proibida a incriminação de atitudes que não excedam o âmbito do próprio autor.
Gabarito: E.
“Alter é um prefixo de origem latina e significa outro. Nesse contexto, alteridade é a capacidade de se
colocar no lugar do outro. No âmbito técnico-jurídico, alteridade está ligado ao fato de o direito penal
não proteger bens jurídicos que digam respeito ao âmbito do próprio autor. P. ex., o Direito Penal,
segundo esse princípio, não pode incriminar a conduta do homicida: se ele vier a morrer ou se sofrer
sequelas da tentativa do suicídio, só terá causado lesão a bem jurídico pertencente a ele mesmo - vida ou
integridade física.
FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto
Segundo entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça, INAPLICÁVEL o princípio da
insignificância
a) aos crimes ambientais e aos crimes patrimoniais sem violência ou grave ameaça à pessoa, se
reincidente o acusado.
b) aos crimes praticados contra a criança e o adolescente e aos crimes contra a ordem
tributária.
c) às contravenções penais praticadas contra a mulher no âmbito das relações domésticas e aos
crimes contra a Administração pública.
d) aos crimes de licitações e às infrações de menor potencial ofensivo, já que regidas por lei
especial.
e) aos crimes de violação de direito autoral e aos crimes previstos no estatuto do
desarmamento.
Gabarito: C.

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Súmula 589 do STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais
praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.
Súmula 599 do STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a Administração
Pública.

CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto


Acerca dos princípios constitucionais penais, julgue o item subsequente.
Nenhum dos princípios que regem o direito penal veda a criminalização, pelo legislador, da tentativa de
suicídio, embora, no momento, esta conduta não esteja tipificada.
Alternativas
Certo
Errado
Gabarito: Errado.
Princípio da alteridade: proíbe a incriminação de atitudes internas do agente (cogitação), além de
condutas incapazes de invadir a esfera de proteção de terceiros.

CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto


Acerca dos princípios constitucionais penais, julgue o item subsequente.
O objetivo do direito penal moderno é exclusivamente a proteção de bens jurídicos, de modo que é
vedada a criminalização de intenções, de pensamentos e de maneiras de viver, salvo se exteriorizadas de
modo a, no mínimo, colocar em risco os referidos bens jurídicos, especialmente aqueles consagrados na
própria Constituição Federal, como a saúde pública, o patrimônio e o meio ambiente.
Alternativas
Certo
Errado
Gabarito: Certo.

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TEORIA DA NORMA PENAL

Lei Penal (principal fonte do direito penal).

- Fonte imediata e formal do Direito Penal.

OBS. Mandados Constitucionais de Criminalização: Ex. ‘’XLII- a prática do racismo constitui crime
inafiançável e imprescritível, sujeito á pena reclusão, nos termos da lei’; assim delegando ao legislador
somente descrever a conduta do racismo, minudenciar a conduta, não cabe ao legislativo valorar se
racismo é crime ou se a sociedade compactua com esse ato.
É necessário ressaltar que Constituição possui um expressivo elenco de normas que, em princípio, não
concedem direitos, mas que, antes, determinam criminalização de condutas.
Citar, a escopo, as seguintes disposições constantes do art. 5º:
“XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
de reclusão, nos termos da lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e
os que, podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;”.

Também o art. 7o., inciso X, contempla norma clara a propósito:

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social: (...) X - proteção do salário na forma da lei,
constituindo crime sua retençãodolosa.

Em acepção idêntica dispõe o art. 227, § 4o., da Constituição:


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Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (...) § 4o. A lei
punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do
adolescente.

Também o art. 225, § 3o., dispõe de forma semelhante:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para presentes e futuras gerações. (...) §
3o. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Em todas essas normas é possível verificar um mandado de criminalização expresso,
tendo em vista os bens e valores envolvidos.
Estrutura da Norma Penal:
A estrutura da norma penal, é dividida em duas partes, normas primárias e normas secundárias.

Ex: Homicídio simples

Art. 121. Matar alguém: (PRECEITO PRIMÁRIO- A norma escreve a conduta que
ela quer reprimir)
Pena – reclusão, deseis a vinte anos. (PRECEITO SECUNDÁRIO - a pena cominada
para aquela conduta)
Características:

• Descritiva- descreve uma conduta.

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• Traz consigo uma proibição indireta
Karl Binding (ALE) – Teoria das Normas – ao praticar a conduta descrita no tipo
penal, o agente descumpre a norma, não a lei, visto que a conduta reflete exatamente o
descrito na lei. NORMA (proibição indireta) X LEI (descrição)
OBS: A lei é uma mera descrição da conduta, a norma é a proibição implícita e indireta
que ela trás consigo.
Classificação das normas penais:

• Incriminadoras – criam crimes e cominam penas, norma penal pura. Ex. art. 121 do CP.

• Não incriminadoras – não criam crimes nem cominam penas

i) Permissivas – legitimam e autorizam a prática de condutas típicas ( ex. art. 23 do CP –


excludentes de ilicitude).

Ex¹. João prática uma conduta típica, mas na ilicitude a lei permite a conduta típica,
assim é uma norma penal não incriminadora permissiva. Ex². Legitima Defesa.

ii) Exculpantes – indicam a não culpabilidade do agente ou a inimputabilidade.

Ex. art. 22 CP (‘coação moral irresistível’); art.342,§ 2 º CP (retratação ante da sentença


no crime de falso testemunho)

iii) Interpretativas – art. 150, §4 º CP - conceito domicílio e art. 327 CP- conceito e
funcionário público.

iv) De aplicação ou complementares – delimitam a validade norma incriminadora-

Ex. art. 2 º- Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
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v) Diretivas: estabelece princípios.

Ex.

Art. 1 º do CP – Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal.

vi) Integrativas: complementares a tipicidade.


Ex. art. 14, II, CP (tentativa), norma de adequação típica mediata ou subordinada.

a) Perfeitas – apresentam todos os elementos da norma penal. EX. Art. 121, 155, 157 CP.São
normas que apresentam todos os elementos, primários e secundários .

b) Imperfeitas – necessitam de complementação de outra norma ou de um ato administrativo


(leis penais em branco) ou por parte do julgador (tipos penais abertos).

OBS. Toda lei penal em branco é uma norma penal imperfeita mas nem toda norma penal
imperfeita é norma penal em branco, porque devemos lembrar dos tipos penais abertos, onde
trásgrande carga de subjetividade , que exige do operador de direito atividade interpretativa.

29
Ex. Tornou-se clássica a definição do penalista Nelson Hungria, em seus Comentários ao Código
Penal.
Mulher honesta não é somente aquela cuja conduta, sob o ponto de vista da moral sexual, é
irrepreensível, senão também aquela que ainda não rompeu com o minimum de decência exigida
pelos bons costumes.

Na definição de Luiz Regis Prado, "a lei penal estruturalmente incompleta, também conhecida como
lei penal imperfeita, é aquela em que se encontra prevista tão-somente a hipótese fática (preceito
incriminador), sendo que a conseqüência jurídica localiza-se em outro dispositivo da própria lei ou
em diferente texto legal"

São exemplos de normas penais incompletas aquelas previstas na Lei nº 2.889/56, que define e
pune o crime de genocídio.

LEIS PENAIS EM BRANCO

Franz Von Lisz (ALE) – ‘’ corpos errantes em busca de alma’’

- São as normas penais incriminadoras que necessitam de complementação por outra norma
penal ou por ato administrativo.

Lei penal em branco homogênea- complementada por norma de mesma natureza.


O seu complemento, é por uma norma da mesma natureza, assim, o espaço normativo de uma lei
ordinária penal sendo completada por outra lei ordinária, norma penal no mesmodiploma.

OBS. Homovitelina- norma e complemento estão no mesmo diploma. Heterovitelina-


norma e complemento estão em diplomas distintos
30
Lei penal em branco Heterogênea- complementada por norma de natureza diversa e emanada
por outro órgão.

Ex. : Lei 10.826/2003- Estatuto do Desarmamento

Lei 13.343/2006- Lei de Drogas, uma vez que esse conceito “droga” deve ser retirado de
uma Portaria expedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Lei penal em branco inversa- o preceito secundário precisa de complemento (Lei 2.889/56-
genocídio).

Norma penal em branco inversa é quando o complemento normativo se trata da sanção


(preceito secundário), não ao conteúdo da proibição. A lei penal incriminadora remete para outra
descrição do conteúdo sancionatório.

Lei penal em branco ao quadrado – norma cujo complemento também precisa de


complementação.

Lei penal em branco ao quadrado é quando tipo penal exige um complemento normativo para o seu
entendimento e este complemento faz referência a outro ato normativo. Trata-se de uma lei
duplamente em branco.

Ex. Lei 9.605/ 1998 – art. 38 – complementado pelo art. 6 º da Lei 12.651/12- Código Florestal –
complementado por ato do chefe do Executivo.

31
Interpretação da lei Penal

Quanto ao sujeito :
- Autêntica ou Legislativa
- Judicial
- Doutrinária

Exemplo, o artigo 327 do Código Penal dá o conceito de Funcionário


Público:

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo,emprego ou função pública.

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em


entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada
ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.

ATENÇÃO: Exposição de Motivos- Interpretação autêntica ou doutrinária?

RESPOSTA: Interpretação Doutrinaria. Não faz parte do corpo da lei, não


pode serconsiderado como interpretação autêntica.

Quanto ao método:

- Gramatical ou literal- considera o sentido literal das palavras.


- Lógica ou teleológica

32
Por exemplo, os artigo 319-A e 349-A do Código Penal dizem:

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu
dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano

Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de


aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização
legal, em estabelecimento prisional.

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Quanto ao resultado:
- Declaratória – o conteúdo da lei corresponde com o oque o legislador quis
dizer,nada suprimindo, nada acrescentado.
- Extensiva- a interpretação restringe ao alcance das palavras da lei para obedecer
avontade do texto.
- Restritiva- amplia-se o abarcamento das palavras para obedecer á vontade do texto.

Interpretação Progressiva
Evita a frequente mudança da lei – É adaptar a lei ás novas contingências;
Busca adequar a lei á realidade atual. Ex. Conceito de ato obsceno.

Interpretação Analógica
O legislador parte de exemplos e em seguida estabelece uma norma geral, não há
uma invenção de norma, incide em revelar o conteúdo da lei, quando esta utiliza

33
procedimentos genéricos.

Ex. Art. 121, § 2 º inciso IV – à traição, de emboscada, ou mediante


dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do
ofendido;

ATENÇÃO: Analogia: (Normas em sentido estrito que pode criar tipos penais,
diferente de analogia).
- Não é interpretação!

- É forma de integração de lacunas de lei.


- Somente aceita em normas não incriminadoras- princípio da reserva legal
- Decorre da necessidade de tratar igualmente duas situações
semelhantessendo certo que a lei só prevê solução para uma delas.

In Malam Partem- prejuízo ao autor do fato;

In Bonam Partem- beneficio ao autor do fato;

Analogia Legis- incidência de uma lei aplicável a casos semelhantes ,diante da


lacunalegislativa;
Analogia juris – incidência de princípio geral de direito aplicável a casos
semelhante.,diante da lacuna legislativa.

O STF enquadra homofobia e transfobia como crimes de racismo ao reconhecer omissão


legislativa
“A Lei nº 7.716/89 pode ser aplicada para punir as condutas homofóbicas e transfóbicas
Resumo

1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados

34
de criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as
condutas homofóbicas e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação
sexual ou à identidade de gênero de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido
este em sua dimensão social, ajustam-se, por identidade de razão e mediante adequação típica, aos
preceitos primários de incriminação definidos na Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo,
também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância que o qualifica, por configurar motivo
torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);
2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o exercício
da liberdade religiosa, qualquer que seja a denominação confessional professada, a cujos fiéis e
ministros (sacerdotes, pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e líderes ou celebrantes
das religiões afro-brasileiras, entre outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar,
livremente, pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, o seu pensamento e de externar
suas convicções de acordo com o que se contiver em seus livros e códigos sagrados, bem assim o
de ensinar segundo sua orientação doutrinária e/ou teológica, podendo buscar e conquistar
prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva liturgia, independentemente do espaço, público
ou privado, de sua atuação individual ou coletiva, desde que tais manifestações não configurem
discurso de ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a
hostilidade ou a violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade
de gênero;
3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de
aspectos estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de
poder, de uma construção de índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a
desigualdade e destinada ao controle ideológico, à dominação política, à subjugação social e à
negação da alteridade, da dignidade e da humanidade daqueles que, por integrarem grupo
vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém posição de hegemonia
em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e diferentes, degradados à
condição de marginais do ordenamento jurídico, expostos, em consequência de odiosa
inferiorização e de perversa estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão do
sistema geral de proteção do direito.
STF. Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin,

35
julgados em em 13/6/2019 (Info 944).”1

Lei Penal no Tempo

E a continuidade e sucessões de leis.

• Princípio da Continuidade das leis;

• Sucessão de Leis;

• Revogação

1. expressa- ocorre quando lei posterior declara expressamente a revogação da anterior.

2. tácita- embora a lei não declare expressamente que a lei anterior foi revogada, existe
incompatibilidade entre elas.

1
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A Lei nº 7.716/89 pode ser aplicada para punir as condutas
homofóbicas e transfóbicas. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ae581798565c3b1c587905bff731b86a>.
Acesso em: 03/11/2021

36
Conflito de leis penais no tempo. Direito Penal intertemporal:

Novatio Legis incriminadora – comportamento antes atípico passa a ser considerados como
crime- ‘’ neocriminalização’’.

Lex Gravior – Lei penal mais gravosa – irretroatividade.

Lex Mitior ou Novatio Legis in Mellius-

LEI 12.015/2009. NOVATIO LEGIS IN MELLIUS OU LEX MITIOR. TIPO ÚNICO. PENA MAIS
BRANDA. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA. PRECEDENTE.
APLICAÇÃO IMEDIATA. PROVIMENTO PARCIAL DO
RECURSO. 1. Após a apresentação das razões do recurso, veio a lume a lei n. 12.015, de 7-
agosto-2009, revogando o artigo 214 do Código Penal, que tipificava o crime de atentado violento
ao pudor. 2. Em que pese tenha sido revogado o tipo penal(art. 214, CP), seu conteúdo, hoje, passou a
fazer parte, como elemento constitutivo do tipo esculpido no art. 213, do mesmo codex, em
consonância com o princípio da continuidade normativo-típica. Precedente (HC 41619/ MG, MIN.
GILSON DIPP, Dj 6-6-2005, p. 357). 3. Passou a nova lei, que entrou em vigor em 10-agosto-2009,
a prever abstratamente o delito de estupro e atentado violento ao pudor como sendo tipo único. 4.
Tratando-se de processo em andamento, isto é, sem decisão transitada em julgado, é da competência
do relator fazer incidir a novatio legis in mellius ou lex mitior, de imediato, condenando o réu por
delito único, retroagindo a aplicação da lei mais benéfica.
5. Recurso parcialmente provido.
(Num Processo 2008 09 1 007563-8/ Reg. Acórdão 405483).

Abolitio Criminis- causa de extinção de punibilidade

37
OBS.Qual o juízo competente para aplicação da abolitio criminis ou novatio legis in mellius ?

Súmula 611 STF – ‘transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das execuções
a aplicação da lei mais benigna’’.

Retroatividade x Ultratividade :

Ultratividade: aplica-se a lei revogada aos acontecimentos praticados ao tempo de sua validade,
desde que seja ela mais favorável ao implicado do que a lei revogadora.

Retroatividade: aplica-se a lei revogadora aos acontecimentos cometidos antes de sua vigência,
desde que ela seja mais favorável do que a lei revogada.

Lei penal posterior e vacatio legis :

Se a nova lei for mais benéfica para o autor do fato, pode ser aplicada ainda durante a vacatiolegis ?

Duas Correntes:

1- Albert Silva Franco- Se a nova lei for mais benéfica aplica-se durante a vacatio.
Inevitabilidade da abolitio criminis.

2- Damásio de Jesus, Cléber Masson e Nucci- Durante a vacatio legis não possui eficácia jurídica. ‘’ Mera
expectativa de lei’’.

38
Combinação de Leis:

- Lex Tertia - está relacionado à aplicação da lei penal no tempo. É a combinação de duas leis (lei revogadora e
lei revogada).
- Sucessão de Lei no tempo

Ex.: Lei 6368/76 e Lei 11342/2006

Duas Correntes:
1. José Frederico Marques- admite a combinação de leis
2. Nelson Hungria, Heleno Cláudio Fragoso, Aníbal Bruno.

E O STF ?
1. Inicialmente não admitia a combinação.
2. Jurisprudência oscilou:
HC 95 435/RS. P / o acordão Min Cezar Peluso, 2 Turma info 574 HC 101.511/MG rel. Min Eros
Grau, 2 Turma info 574
3. Retomou a jurisprudência inicial

HC 97.221/SP Rel. Gilmar Mendes - 2 Turma- Info 605 RE 600.817/MS Rel. Min Marco Aurélio 1
Turma- info 635

STF é firme no sentido de que não podemos combinar leis, apesar dos entendimentos das
doutrinas e jurisprudências, o STJ sumulou o entendimento, sendo vedada a combinação de leis.

Súmula 501: É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da
incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação
da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis.

CPM - Decreto Lei nº 1.001 de 21 de Outubro de 1969


Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixade considerar crime, cessando, em
39
virtude dela, a própria vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de
natureza civil.
§ 2° Para se reconhecer qual a mais favorável, a lei posterior e a anterior devem ser consideradas
separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicáveis ao fato.

LEI PENAL EXCEPCIONAL E LEI PENAL TEMPORÁRIA

Temporária: já nasce com a vigência predeterminada.

Excepcional: sua vigência é definida pela existência ou permanência de determinadas circunstâncias,


de natureza atípica. Ex. o Presidente da República encaminha projeto de lei ao Congresso Nacional
para criminalizar certas condutas praticadas durante a pandemia do Covid-19, enquanto estiver
declarada pela OMS. Enquanto não cessada esta circunstância, a conduta tipificada em lei continuará
a configurar crime. Após o término da pandemia, e referida conduta deixará de ser crime.

São características comuns a estas leis:

Autorrevogabilidade: assim que encerrado o período definido (lei temporária) ou a circunstância


atípica (lei excepcional).

Ultratividade: aplicam-se as leis aos fatos ocorridos durante a vigência, mesmo após o período de
duração. Ex. no exemplo relativo ao Covid-19, caso o agente pratique conduta prevista como típica,
mesmo após o fim da pandemia estará sujeito às penas determinadasna lei excepcional.

CONFLITO DE LEIS NO TEMPO E NORMAS PENAIS EM BRANCO

Conforme já visto, em regra as normas penais em branco exigem complemento em seu preceito
primário, a exemplo da porte ou posse de arma de uso restrito.

40
Em caso de alteração do complemento da norma beneficiando o réu/autor do fato, deverá anorma retroagir?

Há duas correntes sobre esse tema:

1ª corrente: capitaneada por Basileu Garcia, defende que a alteração deve retroagir para
favorecer o réu.

2ª corrente: tem como principais expoentes Magalhães Noronha e José


Frederico Marques,sendo contrária à retroatividade.

Deve ser adotada corrente intermediária, ou seja, a resposta dependerá da normalidade ou


excepcionalidade das circunstâncias em que a conduta foi tipificada.

Destarte, podemos resumir da seguinte forma:

Circunstâncias normais: em regra, deverá retroagir em benefício do réu (ex. recente portaria
expedida pelo Ministério da Defesa passa a prever a pistola de calibre .40 como arma de uso
permitido. Sendo mais benéfico para o réu (antes era de urso restrito), deve retroagir para beneficiar o
réu.

Circunstâncias excepcionais: não deverá ocorrer a retroatividade, tendo em vista a anormalidade


que ensejou a criação da norma. Ex. norma penal relativa à pandemia do Covid-19. Cessada a
situação excepcional, a norma será ultrativa, ainda que alterado o complemento.

CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS

Ocorre quando para o mesmo fato é possível a incidência, em tese, de dois ou mais tipos penais. O
conflito é apenas aparente, pois ao aplicar os princípios abaixo descritos chegar-se-á ao tipo penal
adequado ao caso concreto.

41
São princípios solucionadores dos conflitos:

Especialidade: incidem características ou circunstâncias específicas faz incidir, desta maneira, um


tipo penal adequado a essas especificidades. Ex. art. 121, CP (homicídio) e art. 123, CP
(infanticídio);

Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.(...)
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o própriofilho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

42
Subsidiariedade:
a. Tácita: a norma não prevê de forma explícita, mas é possível ser visualizada. ex. art. 146, CP
(constrangimento ilegal) e art. 213, CP (estupro). Inegavelmente, o tipo penal do estupro abarca
o constrangimento ilegal, eis que a vítima é forçada a fazer ou deixar que se faça algo que ela
não deseja. Entretanto, o art. 146 é subsidiário ao art. 213, que tem caráter mais específico. Se
as demais elementares do crime de estupro estiverem presentes, devem ser aplicadas as sanções
previstas no art. 213. Do contrário, aplica-se o art. 146.

Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite,
ou a fazer o que ela não manda:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.(...)


Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou
a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

b. Expressa: ex. art. 132, CP (perigo para a vida ou saúde de outrem).

Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto eiminente:

Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constituicrime mais grave.

Consunção: os fatos mais graves e amplos absorvem os menos graves e menos amplos.

Possibilidades:

a. Crime complexo (há uma conjugação de condutas criminosas tipificadas de forma


independente. ex. o delito de roubo abrange o tipo penal relativo ao furto + ameaça e/ou lesão);
43
b. Crime progressivo (desde o início o agente tem o dolo de cometer o “crime-fim” e,
para tanto, precisa cometer o “crime-meio”, também conhecido como crime de ação de
passagem. Ex. Para cometer o homicídio, inexoravelmente o agente cometerá uma lesão
corporal de forma prévia);

c. Progressão criminosa (durante o iter criminis o dolo do agente é modificado. A


princípio, queria cometer uma infração penal mais branda e, durante sua prática, muda de ideia,
passando a cometer a mais gravosa. Ex. inicia a contravenção penal de vias de fato, passa para
lesão corporal e, alterando o dolo, comete homicídio).

d. Atos impuníveis (post factum e ante factum impuníveis): ex. Súmula 17, STJ.
“Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este
absorvido."

Se o agente falsifica um documento qualquer visando a prática, uma única vez, do crime de
estelionato, esse último absorverá a conduta relativa à falsificação, por ser este o “crime-fim”.

Um exemplo de post factum impunível é o agente que comete o roubo e, em seguida, vende o
produto do crime. Essa venda posterior não será punível, pois o auferimento de lucro configura
desdobramento lógico da conduta de roubar.

TEMPO DO CRIME

É o momento em que se considera praticado um crime. Há três teorias sobre o tema:

Teoria da atividade: o crime é praticado no momento da ação ou omissão da conduta.

Teoria do resultado: o crime resta praticado no momento de sua consumação.

44
Teoria mista ou da ubiquidade: para a ocorrência do crime, são considerados
tanto omomento da conduta quanto o do resultado.

O Código Penal adotou a teoria da atividade.

Art. 4º, CP - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado.

LEI PENAL NO ESPAÇO

Em relação à lei penal no espaço, devemos observar o conceito de territorialidade. O


CódigoPenal dispõe o seguinte:

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as


embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro
onde quer quese encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou
de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou
em alto- mar. (território brasileiro por extensão)

§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou


embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território
nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do
Brasil.

O território é o espaço em que um Estado exerce sua soberania. Para tanto devemos
observaressas dimensões:

45
Espaço territorial delimitado pelas fronteiras (solo) e o respectivo subsolo;

Mar territorial (12 milhas marítimas a contar da linha de baixa-mar do litoral


continentale das ilhas);

Plataforma continental (200 milhas marítimas, incluindo as 12 milhas do mar


territorial, correspondente à Zona Econômica Exclusiva);

Espaço aéreo: aplica-se a teoria da absoluta soberania do país subjacente, isto é, o


Brasilexerce total soberania no espaço aéreo acima de seu território e mar territorial;

Abrange navios e aeronaves particulares em alto-mar ou no espaço aéreo


correspondentea ele;

Também abarca navios e aeronaves públicos, onde se encontrarem.

Na hipótese de rios e lagos internacionais (que atravessam mais de um Estado), caso


sejam sucessivos, a parte de dentro do Brasil corresponde ao território brasileiro. Se forem
simultâneos, a questão deverá ser decidida em Tratados e Convenções.

Algumas questões decorrem dos conceitos supracitados. Podemos destacar:

• Direito de passagem inocente: navios mercantes ou militares de outras nacionalidades


podem passar pelo mar territorial brasileiro. Contudo, se submetem aopoder de polícia.

• Território brasileiro por extensão: conforme já demonstrado, o art. 5º, §1º, do CP


traz a seguinte previsão:

46
Art. 5º (...) § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro
onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
correspondente ou em alto-mar.

Extraterritorialidade

Não obstante a regra seja a da territorialidade (isto é, a aplicação da lei brasileira ao crime cometido em
território nacional), é possível, em determinados casos, a aplicação daextraterritorialidade.

Assim, a extraterritorialidade é a aplicação da lei penal brasileira aos crimes praticados no exterior. O Código
Penal Brasileiro adotou a teoria temperada ou mitigada, permitindo que a lei penal brasileira se aplique no
estrangeiro em determinadas situações.

Art. 7º, CP. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos noestrangeiro:

I - os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município,


de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;

c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliadono Brasil;

II - os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;

47
b) praticados por brasileiro;

c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em


territórioestrangeiro e aí não sejam julgados.

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a leibrasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro.

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileiradepende do concurso das seguintes condições:

a) entrar o agente no território nacional;

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade,
segundo a lei mais favorável.

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;

b) houve requisição do Ministro da Justiça.

Exceções à regra da territorialidade:

Princípio da personalidade ou nacionalidade: o foco é nos sujeitos passivo e ativo


docrime. Ex. art. 7º, I, “d”, e §3º, do CP.

48
Princípio do domicílio: leva em conta o local de domicílio do agente. Ex. art. 7º, I,
“d”,CP.
Princípio da defesa ou da proteção: o foco é na importância dos bens jurídicos
tutelados (pertencentes ao Brasil), e por isso independe do local da prática e dos sujeitos
envolvidos. Ex. art. 7º, I, CP.

Princípio da Justiça Universal (justiça cosmopolita ou competência universal):


casos em que os crimes devem ser reprimidos por todas as nações por força de tratados
internacionais. Ex. art. 7º, II, “a”.
Princípio da Representação (pavilhão ou bandeira): o foco é na origem da
aeronaveou embarcação. ex. art. 7º, II, “c”.

A extraterritorialidade poderá ser condicionada ou incondicionada, a depender da hipótese.

Incondicionada:

a. art. 7º, I e §1º, CP;

b. art. 2º da Lei nº 9.455/97 (Lei de Tortura).

Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em
território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob
jurisdição brasileira.

Parte da doutrina (a exemplo de Cleber Masson) entende que esta disposição da Lei de Tortura
éuma forma de extraterritorialidade incondicionada.

Condicionada: ex. Art. 7º, II , §§2º e 3º, já citados.

49
LUGAR DO CRIME

Há três teorias afetas ao lugar do crime:

• Teoria da atividade: local da prática da conduta.


• Teoria do Resultado: local onde o resultado ocorre ou deveria ocorrer.
• Teoria da Ubiquidade ou Mista: local onde a conduta é praticada bem como a do
local onde o resultado ocorre ou deveria ocorrer.

No que concerne ao local do crime, o Código Penal adotou a teoria mista ou da


ubiquidade,conforme se depreende da leitura de seu artigo 6º, in litteris:

Art. 6º. Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou
em parte, bem como onde se produziuou deveria produzir-se o resultado.

Há bastante relevância para crimes de espaço máximo ou crimes a distância (o iter criminis
envolve países diferentes). Ex. “A” atira em “B” na fronteira entre Brasil e Uruguai. “B”
corre para o lado uruguaio, onde vem a falecer. Aplica-se a teoria da ubiquidade, ou seja, a
lei penalbrasileira ou uruguaia.

Exceções à teoria da ubiquidade no direito penal brasileiro:

Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95):

Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração
penal. (teoria da atividade)

Lei de Falências e Recuperação Judicial e Extrajudicial (Lei nº 11.101/05):

Art. 183. Compete ao juiz criminal da jurisdição onde tenha sido decretada a falência,

50
concedida a recuperação judicial ou homologado o plano de recuperação extrajudicial,
conhecer daação penal pelos crimes previstos nesta Lei.

ECA (Lei nº 8.069/90)

Art. 147 (...) § 2º A execução das medidas poderá ser delegada à autoridade competente da
residência dos pais ou responsável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança
ou adolescente.

IMUNIDADES PARLAMENTARES:

Imunidade material: proteção quanto às opiniões, palavras e votos relacionados à


função.

Art. 53, CF. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de
suas opiniões, palavras e votos.

Natureza jurídica da imunidade: há três vertentes sobre a referida natureza jurídica. Vejamos:

a. causa excludente do crime: posição de Nelson Hungria;

b. causa pessoal de isenção de pena: posição de Aníbal Bruno;

c. causa de incapacidade penal por razões políticas: posição de José Frederico Marques

De acordo com o STF, trata-se de fato atípico.

• Imunidade formal: se subdivide em imunidade formal para a prisão e para o processo.

51
Para a prisão:

Art. 53, CF (...) § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não
poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão
remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de
seus membros, resolva sobre a prisão.

A regra é a impossibilidade de prisão. A exceção é a prisão em flagrante no caso de crime


inafiançável.

Observação: no caso do ex-senador Delcídio do Amaral, o parlamentar teve a prisão preventiva


decretada pelo STF em uma hipótese pontual, não podendo se afirmar que tenha demonstrado
uma mudança de paradigma do entendimento do STF.

Para o processo:

Art. 53, CF (...) § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido
após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por
iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros,
poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 35, de 2001)

Alcance subjetivo:

• Deputados federais e senadores, conforme já explicado;

• Deputados estaduais (art. 27, §1º, CF. Princípio da simetria).

Art. 27 (...) § 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as

52
regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração,
perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.

• Vereadores: apenas imunidade material! (art. 29, VIII, CF).

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício
mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a
promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do
respectivo Estado e os seguintes preceitos: (...)

VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do
mandato e na circunscrição do Município.

Observações finais:

• As imunidades parlamentares não podem ser renunciadas, pois pertencem ao cargo e nãoà pessoa;
• O parlamentar perderá a imunidade se for afastado para exercício de cargo no PoderExecutivo (ex. cargo
de ministro ou secretário);
• Atenção ao art. 53, §8º, da CF:
• Art. 53, CF (...) As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo
ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados
fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.

Questões

CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto


Julgue o próximo item, com base na Lei de Introdução ao Código Penal (LICP) e na jurisprudência dos
tribunais superiores.
No entendimento dos tribunais superiores, a conduta de posse ou porte ilegal de droga para consumo pessoal e

53
em desacordo com determinação legal e regulamentar não constitui infração penal, pois, nos termos da LICP,
constitui infração penal apenas as condutas que sejam sancionadas com penaprivativa de liberdade ou de
multa.
Alternativas
Certo
Errado
Gabarito: Errado, continua sendo infração penal, foi apenas despenalizado e não descriminalizado.

NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia


Sobre a aplicação da lei penal no tempo, assinale a alternativa INCORRETA.
Alternativas
A- O que determina se a lei é mais favorável ao réu e com isso pode retroagir é a sua aplicação ao caso
concreto (e não a análise da norma em abstrato).
B- Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude
dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
C- Segundo o critério presente em nossa legislação, o crime é considerado cometido no momento do
resultado, ainda que a conduta tenha ocorrido anteriormente.
D- Como regra, a lei penal se aplica aos fatos ocorridos durante a sua vigência, ou seja, em geral não
possui extra-atividade.
E- A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

Gabarito: C
A- Correta; “Retroatividade: aplica-se a lei revogadora aos acontecimentos cometidos antes de sua vigência,
desde que ela seja mais favorável do que a lei revogada.”
B- Correta;“ Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando
em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.” (CP)
C- Incorreta. “Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado.” (CP)
D- Correta.

54
INSTITUTO AOCP - 2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil
Em relação ao Direito Penal, assinale a alternativa correta.
Alternativas
A. A interpretação analógica consiste na aplicação, ao caso não previsto em lei, de lei reguladora de caso
semelhante.
B.A lei penal excepcional é aquela que tem o seu termo final explicitamente previsto em data certa do
calendário. É espécie de lei intermitente, sendo autorrevogável e dotada de ultratividade.
C. O princípio da consunção se concretiza em quatro situações: crime continuado, crime progressivo,
progressão criminosa e atos impuníveis.
D. Aos crimes conexos e aos crimes plurilocais, quanto ao lugar do crime, não se aplica a teoria da
ubiquidade.
E. No tocante aos efeitos de sentença estrangeira condenatória para a caracterização da reincidência no Brasil,
é imprescindível a sua homologação pelo STJ, não bastando apenas a sua existência e eficácia no exterior.
Gabarito: D
A. Incorreta.

55
Teoria do Crime
Na doutrina, temos um consenso de que é possível formalizarmos três conceitos distintospara
crime a depender do ângulo da análise.
Primeiro deles é o conceito formal o segundo conceito material e o terceiro e o mais
importante é o conceito analítico de crime.
Vamos começar então pelo mais básico que é o conceito formal de crime, e nada mais é do
que o conceito de crime segundo o qual corresponde a conduta considerada como crime pela norma
penal incriminadora, sob ameaça de pena ou seja é crime aquilo que a norma penal incriminadora diz
que é. E afirmando ser crime ela ameaça aqueles que incidirem naquela norma a uma pena.
Que pena seria essa? Estamos falando sobre crime, para ser crime você já sabe disso, masnão
custa repetir, as penas serão necessariamente de reclusão ou detenção, isolada alternativa ou
cumulativamente com pena de multa (isolada, alternativa ou cumulativamente com pena de
multa)
O crime tem sempre reclusão ou detenção.

Mas o cara que é flagrado dirigindo embriagado ele não vai preso depois da condenação, se
for a primeira passagem dele. De fato, não vai, mas a lei comina pena privativa de liberdade de
reclusão para quem dirige embriagado o artigo 44 do Código Penal possibilita a substituição dessa
pena por pena restritiva de direito, mas abstratamente a pena cominada para embriaguez ao volante é
de prisão reclusão.
Se estivermos diante de penas correspondentes à prisão simples ou multa isolada alternativa
ou cumulativa, estaremos diante do que muitos doutrinadores, chamam de Crime Anão, é uma
classificação ruim, porque não é crime é contravenção .
Contravenção penal é punida no direito brasileiro com prisão simples ou multa isolada
alternativa ou cumulativamente aplicada a aquela contravenção.
A classificação é ruim chamando de Crime Anão, tem autores que falam em Crime
Liliputiano uma referência da obra de Gulliver, mas crime liliputiano o crime anão é na verdade são
nomes ruins, erroneamente dados por parte minoritária da doutrina a contravenção penal.

56
Crimes X Contravenção
Confronto de cinco diferenças entre crime e contravenção. Comprovar que
não é a mesma coisa.

OBS: Você pode estar se perguntando em relação ao crime do artigo 28 da Lei 11.343/2006,
porque disse que crime tem que estar previsto a pena de reclusão ou detenção e se tratando de
contravenção penal, prisão simples e multa ou multa.
A pergunta que se fez a época pelo STF se haveria então ocorrido à descriminalização da
posse de entorpecente para uso pessoal, por que descriminalização? Porque não haveria pena de
reclusão ou detenção ou multa, para a posse de entorpecente para uso pessoal.
Na questão de ordem no recurso extraordinário 430 105, relatoria do Ministro Sepúlveda
Pertence- DESPENALIZAÇÃO, julgado antigo, mas que virou uma referência à classe, mas chegou
ao seu consenso de que não ocorreu descriminalização, mas sim a despenalização, e fez o legislador
foi não unir, é da mesma forma como ele pune os demais crimes o crime de posse de entorpecente
para uso pessoal, não deixou de ser crime houve tão somente a despenalização dodelito.
Conceito material: crime é ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos
penalmente relevantes.

57
Então o conceito material de crime ele avança, ele não é somente aquilo que a lei diz que é
crime, mas ele afirma que a toda e qualquer conduta seja ela comissiva ou omissiva humana, isso é
importante porque o sujeito ativo deve ser o ser humano na pessoa física em regra, mas ação ou
omissão é humana, ainda quando a pessoa jurídica responsabilizada deve haver uma ação
humana por detrás dela, a pessoa jurídica por si só ela não tem condutas, as condutas são
perpetradas por pessoas físicas que representam a pessoa jurídica de alguma forma.
Então essa conduta omissiva ou comissiva humana ela precisa lesar ou expor a perigo de
lesão ao bem jurídico penalmente relevante.
O mais importante que é o conceito analítico de crime, é aquele fato, conduta típica ilícita e
culpável é o conceito tripartite ou tripartido de crime, mas você precisa saber a evolução do
conhecimento e quais são as teorias, são três as teorias defendidas.
Teoria quadripartite ou quadripartida.

O conceito tripartite, amplamente aceito pela doutrina, é o que tem mais aceitação
pela doutrina mais referências pela jurisprudência dos tribunais superiores.

A criminalista de grande renome e defendem ou defendiam enquanto vivos, a teoria a


correta do conceito analítico de crime era bipartite.

58
Afinal, qual a teoria adotada pelo CP Brasileiro?

- Majoritariamente entende-se que foi a Tripartida ou Tripartite.

Sujeito do Crime
Sujeito Ativo do crime, no ordenamento brasileiro a maioridade penal é alcançada aos 18
anos, antes disso não se pratica crime, inimputabilidade não só é culpável só é sujeito ativo do crime
aquele que tem mais de 18 anos.

Já temos tipos penais ambientais que tem como alvo pessoa jurídica, lei de crimes ambientais
lei 9605/98, tipos penais considerando pessoa jurídica.
Na ausência de tipos penais que comporte a prática por pessoa jurídica, não temos ainda
crimes praticáveis por pessoa jurídica, nos moldes do parágrafo 5º art. 173 CF.
De acordo com a Constituição Federal, a pessoa jurídica pode ser sujeito ativo dos
crimes:

• contra ordem financeira e econômica


• contra a economia popular
• contra o meio ambiente lei 9605/98 já prevê tipos penais para pessoa jurídica
OBS: Dupla imputação ou sistema paralelo de imputação:

A imputação da PJ não exclui a responsabilidade de pessoas físicas. Possibilidade de


condenação de ambas.
59
Sujeito Passivo do Crime

Ex. Crime de tráfico, não tem como individualizar o sujeito passivo direto ou imediato, só
existe a sensação que o Estado foi afrontado, foi ofendido, esses são chamados crimes vagos.
Só a sujeito passivo mediato não conseguimos identificar o sujeito passivo imediato como é
fácil identificar, por exemplo, no crime de furto.
O titular daquele patrimônio que foi subtraído é o sujeito passivo imediato o Estado que tem
interesse que seus cidadãos não pratiquem crime é o titular do ius puniendi ele é o sujeito passivo
mediato.

Objeto do Crime
Objeto do crime nada mais é que o bem ou objeto contra o qual se dirige a conduta
criminosa.
• Objeto jurídico- é o bem jurídico protegido pela norma.
• Objeto material- pessoa ou coisa que suporta a conduta criminosa.
Ex. um furto de um carro, o carro é um objeto material.

Classificação de Crimes
Próprios, de mão própria de comuns:

60
Um crime próprio puro é aquele que se a gente não tiver presente aquela condição
específica, aquela condição especial, temos a tipicidade, não é crime é agora nos impuros se eu não
tiver presente aquela condição específica, ocorre desclassificação para outro crime.
No caso claro de crime próprio impuro é o Peculato apropriação, exemplo, se o cara não for
funcionário público se ele não souber, por exemplo, que aquilo é uma coisa pública ele praticao crime
de apropriação indébita, apesar da condição específica não estar presente, ainda assim a prática de
outro crime ocorre à desclassificação e não a atipicidade que ocorre nos crimes própriospuros.

No crime de mão própria eu não tenho como ser coautor de um crime de falso testemunho, por
exemplo, porque só a testemunha pode praticar os verbos do núcleo do tipo penal.
Apesar de não admitir coautoria admite participação porque a participação ela tem duas modalidades
auxílio material, mas também pode ser para auxílio moral em instigação induzimento.
Ex. um advogado instiga uma testemunha a mentir, ele pode ser participe em crime de falso
testemunho.
Simples e Complexos
Simples é aquele que se encaixa em um único tipo penal. Exemplo, crime de furto de
coisa alheia móvel, art. 155 CP- furto.
Crimes complexos na verdade é união de dois ou mais tipos penais e o exemplo clássico é o
crime de roubo.
Obs.: Crimes famulativos- são os crimes individualmente considerados no crime complexo,
que compõem a sua estrutura.
Crimes materiais, formais e de mera conduta:

61
Crimes instantâneos, permanentes, instantâneos de efeitos permanentes e a prazo :

Os mais tranquilos são os instantâneos e permanentes, porque são intuitivos.

Instantâneos é aquele crime cuja consumação se dá em um momento determinado, não


seprotrai no tempo. (ex. furto)
Permanentes- crimes cuja consumação se prolonga no tempo, em razão da vontade do
agente. (ex. posse e porte de arma de fogo, lavagem de dinheiro, sequestro).
Instantâneos de efeito permanente- a consumação se dá em um momento determinado,
mas seus efeitos subsistem. (ex. estelionato previdenciário).
A prazo, a consumação exige a fluência de um prazo. (ex. lesão corporal grave pela
incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias).
4.5 Crimes plurissubjetivos, unissubjetivos e eventualmente coletivos

Crime de Dano e de Perigo

Crime de dano- crime só se consuma com a efetiva lesão do bem jurídico (ex. lesão
corporal)
Crimes de perigo- para a consumação do delito basta a mera exposição do bem jurídico
auma situação de perigo.
• Crimes de perigo abstrato ou presumido- consuma-se com a simples prática da conduta, não se
exige a comprovação do perigo. Há presunção absoluta de exposição ao perigo. Ex. Tráfico de
drogas, crime contra a saúde pública, mas não precisa provar, de forma presumida e absoluta ocorre a
exposição ao perigo.
• Crimes de perigo concreto- o perigo deve ser efetivamente demonstrado para que o crime se
62
consuma.
Crimes Unissubsistentes e Plurissubsistentes
Unissubsistentes, a conduta (o inter criminis) não pode ser fracionada, há um único ato de execução.
Não admitem tentativa.
Plurissubsistentes, a conduta é composta por dois ou mais atos, podendo ser fracionado. Admite
tentativa.

Crimes comissivos, omissivos e de conduta mista:

Crimes de conduta mista: tipo penal composto de duas fases: uma positiva e outra omissiva
(apropriação de coisa achada- art. 169 CP).
Apropriação de coisa achada.Art.169. Parágrafo único.
II- quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixandode restituí-la ao dono ou
legítimo possuidor ou de entrega-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.

Crimes Transeuntes e Não transeuntes


Crimes Transeuntes: são os que não deixam vestígios.

Crimes não Transeuntes: deixam vestígios (art. 129- lesão corporal)

Crimes a Distância, Plurilocais e em Trânsito

63
Crimes à Distância (de espaço máximo): conduta e resultado ocorrem em países diversos. Crimes
Plurilocais: Conduta e resultado se dão em comarcas distintas.
Crimes em trânsito: uma parte da conduta ocorre em um país, sem produzir resultado. (Ex. carta com
ofensas enviada a outro país)

Crimes Mínimo, Menor, Médio, Elevado e Máximo Potencial Ofensivo

Outras classificações:
Crime multitudinário- crime praticado pela multidão durante tumulto

Crime vago- crime em que o sujeito passivo é entidade destituída de personalidade jurídica. Ex.
sociedade. (tráfico).
Crime habitual- crime que se consuma com a prática reiterada e uniforme de vários atos. (ex.
exercício ilegal da medicina art. 282 do CP)

Crime habitual X habitualidade criminosa :


- Na habitualidade criminosa as condutas se repetem, mas configuram crimes
individualizados.
(Ex. indivíduo que falsifica CNHs reiteradamente- faz do crime hábito de vida).
Quase-crime: sinônimo de crime impossível (art.17 do CP)

64
Crime intenção: o agente persegue um resultado desnecessário para consumação do delito (ex.
extorsão)
Crime mutilado de dois atos ou tipos imperfeitos de dois atos- o indivíduo pratica um delito com a
finalidade de obter benefício posterior. Ex. falsidade documental e posterior prática de estelionato.
Crime falho: sinônimo de tentativa perfeita ou acabada. O agente esgota todos os maios de execução
a seu dispor e não consegue consumar o delito por circunstâncias alheias à vontade dele.
Crime progressivo- é delito que para ser consumado exige do agente a violação de outra norma
penal incriminadora menos grave (crime de passagem). (ex. homicídio e lesão corporal)
X PROGRESSÃO CRIMINOSA

• Variação do dolo de agente, realizando crime menos grave e decidindo, na sequência praticar outro ou
outros crimes mais graves.
Crimes parcelares: são os crimes que compõe o ‘’crime continuado’’. São eles individualmente
considerados.
Crimes de hermenêutica: resultantes da interpretação do operador do direito. Cunhado por Rui
Barbosa. Lei 13.869/2019. Art.1º§2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e
provas não configura abuso de autoridade.

Questões
NCE-UFRJ - 2005 - PC-DF - Delegado de Polícia
Segundo a redação do artigo 18, I, do Código Penal ("Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado
ou assumiu o risco de produzi-lo"), é possível concluir que foi adotada:
A - a teoria do assentimento;B - a teoria da representação;
C - as teorias do assentimento e da representação;D - as teorias do assentimento e da vontade;
E - as teorias da representação e da vontade
Gabarito: D
Dolo direto - Teoria da vontade

Dolo indireto (Gênero) tem como espécies dolo alternativo e dolo eventual - Teoria do assentimento ou
consentimento

NCE-UFRJ - 2005 - PC-DF - Delegado de Polícia


65
NÃO ocorre nexo de causalidade nos crimes:
A - de meraconduta;
B - materiais;
C - omissivos impróprios;
D -comissivos poromissão;
E - dedano.
Gabarito: A
Crimes de mera conduta não exigem qualquer resultado naturalistico, exigindo- se apenas do agente a conduta
sem qualquer efeito. Ex: crime de porte de arma de fogo

Conceito analítico de crime.

Teoria Tripartite (tripartida) segundo a qual, crime é todo fato TÍPICO + ILÍCITO +
CULPÁVEL.
Boa parte dos doutrinadores chama cada elemento do crime de substratos. Logo, se
denominarmos por exemplo, o elemento culpabilidade de substrato do crime, estaremos nos referindo
à culpabilidade como conceito analítico de crime.
Em que pese haver outros conceitos doutrinários, como vistos na aula passada, (bipartite e
quadripartite) a Teoria Tripartite é amplamente utilizada e aceita.

Fato típico.
66
Agora daremos estudo a cada substrato do crime. O 1º é o fato típico.

O fato típico é a conduta (ou fato) que se adequa perfeitamente a um tipo penal. O fato
típico é composto por 4 elementos, quais sejam:
• Conduta: é um elemento fundamental. A partir da conduta teremos a análise acerca das teorias
do crime. Todas as teorias foram desenvolvidas a partir daí.
• Resultado
• Nexo de causalidade
• Tipicidade

Genericamente falando, conduta típica é uma conduta que se adequa perfeitamente a um


tipo penal e que gera um resultado naturalísitco.

Assim, se gera um resultado naturalístico, existe um nexo de causalidade entre a conduta e o


resultado. Por esse motivo, o nexo de causalidade também é um elemento do fato típico.

O nexo de causalidade une a conduta ao resultado.

67
A tipicidade é a adequação perfeita da conduta em um tipo penal.

Conduta.

Vamos agora começar a análise das Teorias.

Teoria causal (naturalística).


Segundo esta Teoria, conduta é o comportamento humano voluntário que produz
modificação no mundo exterior. A teoria causal trabalha com a noção de comportamento humano.
Essa teoria foi trazida por 3 penalistas alemães Franz von Liszt (ALE – 1851-1919), Beling
(ALE – 1866-1932) e Radbruch (ALE - 1878-1949), entre o final do século XIX e início do século
XX. Foi uma doutrina que influenciou fortemente o nosso Código Penal de 1940.
No Brasil, foi adotada por Aníbal Bruno, Magalhães Noronha, José Frederico Marques,
Basileu Garcia e Nelson Hungria.
No causalismo notamos uma influência das ciências naturais no direito penal – leis da
causalidade. E porquê? Pois, estamos tratando de comportamentos humanos que modificam o
mundo exterior, sem análise da intenção, da finalidade. Basta a observação de uma ação humanaque
modifique o mundo exterior.
Para o causalimo, a conduta típica depende somente da circunstância de o agente produzir o
resultado, independentemente de dolo ou culpa.
O dolo e a culpa para o causalismo, estão no último substrato do crime, isto é, na
culpabilidade.

68
Há que se ressaltar algo interessante tratado por Cléber Masson em seu Manual. O mesmo
aborda a questão da “fotografia”. É como se fotografasse um determinado momento e aquilo fosse

suficiente para a adequação típica.

Não vai ser analisar, se por exemplo, ao lesionar alguém, qual era a intenção (se era se
defender, negligencia ou dolo por exemplo).

Se não há análise do dolo e da culpa, a teoria causal consagra a responsabilidade


69
penal objetiva?
Se estamos tratando de uma conduta como típica, sem analisar dolo e culpa, a
responsabilidade está sendo imputada de forma objetiva?
Resposta: Não. Dolo e culpa eram analisados na culpabilidade.

A teoria causalista não defende a responsabilidade objetiva. O dolo e a culpa podem não ser
analisados em primeiro momento, mas são analisados na culpabilidade. Assim, a responsabilidade
não será objetiva e sim subjetiva. É analisado a intenção do agente.

A culpabilidade no causalismo é composta de imputabilidade e culpabilidade


dolosa ou culposa (haja vista que o dolo e a culpa no causalismo são analisados na culpabilidade).

Já no finalismo, o potencial conhecimento da ilicitude, a imputabilidade e


exigibilidade de conduta diversa, são elementos da culpabilidade.

A partir daí surge uma diferenciação entre o dolo do causalismo e o dolo do finalismo.

Ao dolo no causalismo é dado o nome de dolo normativo (deriva da norma e não da


análise da conduta propriamente). No finalismo o dolo é natural (é entendido a partir da observação
da conduta do agente).

70
A teoria causalista, como dito, surgiu na Alemanha, mas influenciou grandemente o
Código Penal Brasileiro.
Tanto a doutrina brasileira, quanto a doutrina alemã, criticam a teoria causal em diversos
pontos, dentre tais críticas, destacam-se dois pontos que são os mais importantes:

Para o causalimo, conduta é ação humana que gera um resultado naturalístico, ou seja, uma modificação no
mundo exterior. E as condutas omissivas? E os crimes formais e de mera conduta?

Quando o causalimo fala em ação humana, comportamento ativo humano, ele não faz
referência expressa às condutas omissivas. E como isso seria resolvido?

A omissão é uma conduta relevante para o direito penal, mas segundo o causalismo
(já que ele segue leis naturais de relação de causalidade) é preciso que tenha um
comportamento ativo do ser humano, que gere um resultado no mundo exterior para que seja
possível falar em conduta.

Também existem outros questionamentos no tocante aos crimes formais e de mera conduta.
E porque? Nesse tipos de crimes, o resultado naturalístico não é necessário para a consumação.

Nos crimes formais, apesar do tipo penal prever o resultado, não é preciso o
alcance desse resultado para se consumar o delito. Os crimes de mera conduta, por sua vez, o
resultado nem descrito no tipo penal está. Daí nascem as críticas pela teoria causalista.

A conduta humana não pode ser afastada do elemento anímico (vontade).

71
A segunda crítica diz respeito à vontade do agente. O que isso quer dizer? Não dá para
observar uma conduta humana, sem pensar na intenção do agente. Não dá para tratar o dolo e a
culpa no terceiro substrato e não analisá-lo no primeiro substrato.

1.1.1.1. Teoria Neokantista

72
Com isso, encerramos em parte a teoria causalista. E porque em parte? Pois, existe uma
teoria que embora pouco falada, é basicamente uma teoria causalista, porém possui um avanço maior.
Trata-se da Teoria Neokantista. Essa teoria complementa a teoria causalista, isto é, ela não
nega a teoria causalista. Foi criada por MEZGER e também possui origem Alemã (1853 - 1962).

E qual foi a contribuição de MEZGER para o causalismo? Ele enxerga na conduta não
apenas uma ação, um comportamento positivo, mas meramente um comportamento humano.

Para ele a omissão é um comportamento humano. É um comportamento negativo, mas não


deixa de ser um comportamento.

Assim, a Teoria Neokantista veio para sanar as críticas trazidas pela Teoria Causalista.

1.1.2. Teoria Finalista.

73
A teoria finalista também foi idealizada por um alemão Hans Welzel, na década de 30.

No Brasil essa teoria é amplamente aceita na doutrina, mas inicialmente foi abraçada pelos
penalistas: Heleno Cláudio Fragoso, Damásio de Jesus e Mirabete.

Todas as teorias aqui já vistas, partem do pressuposto do conceito de conduta. Na


teoria finalista a conduta é um comportamento humano consciente, voluntário e dirigido a um
fim.

Quando a consciência, voluntariedade e a finalidade são analisadas, consequentemente o


dolo e a culpa saem do substrato da culpabilidade e passam a ser analisados no substrato da
conduta.

Assim, passamos a analisar o dolo e a culpa naturais, ou seja, na conduta típica.


A expressão culpabilidade vazia é uma referência doutrinária à culpabilidade na teoria
finalista. E porque vazia? Porque o dolo e a culpa foram retirados da culpabilidade e trazidos à
conduta, isto é, esvaziou-se a culpabilidade.

74
Para termos mais conhecimento acerca do esvaziamento da culpabilidade e para melhor
diferenciarmos, é necessário analisar os elementos da culpabilidade, segundo a teoria finalista, quehoje
são os consagrados na doutrina.

São elementos da culpabilidade para a Teoria Finalista:


• Imputabilidade
• Potencial conhecimento da ilicitude
• Inexigibilidade de conduta diversa

NÃO CONFUNDAM! No finalismo, existem mais elementos na culpabilidade, apesar dela ser
chamada de culpabilidade vazia.

O Código Penal Brasileiro adotou a teoria causal ou a teoria finalista?

75
No intuito de analisarmos a reposta, é válido verificarmos o que diz o artigo 20 do CP.

Erro sobre elementos do tipo


CP. Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se previsto em lei.

A ausência de dolo, leva à exclusão do fato típico como um todo e não só da culpabilidade. A
partir dessa interpretação nós conseguimos subentender, que o dolo está presente na conduta e não
na culpabilidade.

Assim, grande parte da doutrina entende que, com base na redação dada pelo

artigo 20, o nosso Código Penal é eminentemente finalista.

Obs.: O CPM tem uma disposição expressa dizendo que a teoria adotada é a teoria
causalista. Há uma discussão doutrinária muito intensa no sentido de que, se realmente o código
penal militar é causalista ou se esse dispositivo já foi superado.

Embora exista essa discussão, o que prevalece na doutrina é que o direito


penal como um todo segue a teoria finalista.

76
Quais são as críticas formuladas ao finalismo?

• Se a conduta é um comportamento humano, voluntário e dirigido a um fim, como


ficam os crimes culposos?
Vale relembrar que nos crimes culposos, o resultado obtido não era o desejado. A conduta não
foi dirigida para aquela finalidade e sim para finalidade diversa.
Dessa forma, os finalistas respondem a essa crítica entendendo que o problema não é o fim
a que a conduta se dirige, mas sim o meio que foi escolhido.
Ex.: alguém que deseja limpar a sua arma (a conduta é lícita, especialmente se a arma for
legalizada). Limpar a arma é uma finalidade lícita, mas a pessoa acaba por disparar
acidentalmente e lesiona alguém. (Aqui o meio escolhido foi ruim. Logo, o problema não está na
finalidade e sim no meio. E qual foi o meio escolhido? posição da arma, companhia de outras
pessoas, ele foi imprudente e negligente).

1.1.3. Teoria Social da Ação.

77
Mais uma teoria que foi desenvolvida por penalistas alemães, aqui no referido caso, por
Wessels (1923/2005) e encampada por Jescheck (1915/2009).
Segundo essa teoria, é necessário observar o aspecto social da conduta, ou seja, a suaadequação.
A Teoria Social da Ação entende que as teorias anteriores eram insuficientes, pois, desconsideravam o
que para ela é fundamental: o aspecto social.

78
Essa teoria não visa a superação da teoria finalista, mas sim sua complementação, ao afirmar
que conduta continua sendo um comportamento humano voluntário, psiquicamente dirigido a
um fim socialmente reprovável.

A teoria social da ação continua admitindo que é necessário ter uma finalidade, ou seja, o
dolo e a culpa precisam ser analisados no fato típico, mas além disso é preciso que seja socialmente
reprovável.

Ex.: Jogo do bicho não se aplica o princípio da adequação, visto que o fato de várias pessoas
apostarem não faz com que o crime seja socialmente aceito.

1.1.4. Teorias funcionalistas.

Ambas tiveram origem também na Alemanha, na década de 1970.

79
Entendem que a conduta deve ser entendida de acordo com as funções do direito penal.
Não tem como analisar uma conduta se não levar em consideração as finalidades do direito penal.

Tanto Roxin quanto Jakobs pregavam que todo a dogmática penal fosse estudada sob
a ótica da função do direito penal.

As 2 principais correntes no funcionalismo são:

• Funcionalismo Teleológico ou moderado - (Claus Roxin)


• Funcionalismo Radical ou Sistêmico - – Günter Jakobs (ALE)

1.1.4.1. Funcionalismo Teleológico ou Moderado – Claus Roxin (ALE).

Prega a superação de que o finalismo viria do pensamento segundo o qual o


direito penal tem como função a proteção de bens jurídicos essenciais.

80
Segundo Roxin, é preciso diminuir o alcance que a tipicidade formal possui.

Se a função do direito penal é tutelar bens jurídicos essenciais, então, a


intervenção mínima deve norteá-lo.

A função do direito penal é proteger bens jurídicos essenciais. O entendimento para o direito
penal tem que ser a intervenção mínima. O direito penal só vai intervir quando o bem jurídico for
essencial e quando a lesão for relevante, se a lesão for irrelevante, o direito penal nãodeve agir.

Assim, somente condutas materialmente relevantes devem ser típicas.

Aqui, nasce a origem do princípio da insignificância.

Nota-se com isso uma grande influência da política criminal no direito penal.

É um traço fundamental!

Obra de Claus Roxin – Política Criminal e Sistema Jurídico-Penal de 1970.

Essa obra originou o Funcionalismo Teleológico ou Moderado. Para Roxin a finalidade do


direito penal passa pela escolha dos bens jurídicos essenciais. Quem faz a escolha dos bens
jurídicos essenciais é a política criminal.

81
O Funcionalismo Teleológico ou Moderado entende que a conduta é um comportamento
humano voluntário, causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado pelo direito penal.
O que inova em relação ao finalismo é a relevância e a essencialidade do bem jurídico
tutelado.

Para ROXIN, o crime tinha 3 substratos:

FATO TÍPICO + ANTIJURÍDICO + RESPONSABILIDADE

Roxin não trata da culpabilidade, mas coloca como substrato do crime a responsabilidade.
Essa responsabilidade seria composta pelos mesmos elementos, quais sejam:

Imputabilidade;
Potencial consciência da ilicitude;
Exigibilidade de conduta diversa;

82
Necessidade de pena. (Aqui existe um traço marcante da Política Criminal)

E onde Roxin coloca a culpabilidade? Para ele a culpabilidade não era substrato do crime,
mas era um mero “limite funcional da pena”, assim denominada “culpabilidade funcional”.

Assim, o que é a culpabilidade funcional? É a culpabilidade segundo a doutrina de Roxin


no Funcionalismo Teleológico ou Moderado que deixa de ser substrato do crime e passa a ser
entendida apenas como limite funcional.

1.1.4.2. Funcionalismo Sistêmico ou Radical – Günter Jakobs.

83
Baseado na noção de sistemas sociais do filósofo alemão Niklas Luhmann

Para Jakobs o direito penal tem como função regular as relações sociais e garantir a
manutenção do sistema.

É uma teoria bastante polêmica, pois fala em manutenção do sistema.

Preocupação do direito penal: higidez das normas e manutenção do sistema.


Então, para Jakobs, a conduta é o comportamento humano voluntário causador de um resultado,
evitável, violador do sistema, frustrando as expectativas normativas.

Para ele não há culpabilidade funcional, mas a culpabilidade volta a ser o 3º substrato do
conceito analítico de crime. Nesse ponto ele contraria radicalmente o funcionalismo de Roxin.

Baseou o Direito Penal do Inimigo – tratamento recrudescido contra os inimigos


dos sistemas, que praticam determinados crimes.

2. Código Penal Brasileiro.

84
Com base no estudo acerca das teorias, vale a pena novamente frisar que o CP adota a
teoria finalista.
Contudo, a doutrina e a jurisprudência trabalham e desenvolvem conceitos do funcionalismo
moderado de Roxin.
Ex.: irrelevância da lesão – atipicidade material – princípio da insignificância.

Questões.

CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - Prova 1


Considerando a Parte Geral do Código Penal e a jurisprudência dos tribunais superiores aplicável, julgue o item
a seguir.
O funcionalismo radical, defendido por Gunther Jakobs, baseia-se na premissa de que a função do direito penal
é a proteção dos bens jurídicos, sendo a conduta um comportamento humano voluntário causador de relevante e
intolerável lesão ou perigo de lesão do bem jurídico pela norma penal.
Alternativas
Certo
Errado
Gabarito: Errado.
Prega a superação de que o finalismo viria do pensamento segundo o qual o direito
penal tem como função a proteção de bens jurídicos essenciais.
Segundo Roxin, é preciso diminuir o alcance que a tipicidade formal possui.
Se a função do direito penal é tutelar bens jurídicos essenciais, então, a
intervenção mínima deve norteá-lo.
A função do direito penal é proteger bens jurídicos essenciais. O entendimento para o direito penal
tem que ser a intervenção mínima. O direito penal só vai intervir quando o bem jurídico for essencial e
quando a lesão for relevante, se a lesão for irrelevante, o direito penal nãodeve agir.

CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - Prova 1


Acerca dos princípios constitucionais penais, julgue o item subsequente.

85
Para o STF, de acordo com o princípio da culpabilidade, somente é possível imputar crime a pessoa jurídica se,
simultaneamente, o ilícito penal for imputado à pessoafísica que tenha sido o autor material da conduta.
Alternativas
Certo
Errado
Gabarito: Errado.

CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - Prova 1


Acerca dos princípios constitucionais penais, julgue o item subsequente.
O objetivo do direito penal moderno é exclusivamente a proteção de bens jurídicos, de modo que é vedada a
criminalização de intenções, de pensamentos e de maneiras de viver, salvo se exteriorizadas de modo a, no
mínimo, colocar em risco os referidos bens jurídicos, especialmente aqueles consagrados na própria
Constituição Federal, como a saúde pública, o patrimônio e o meio ambiente.
Alternativas
Certo
Errado
Gabarito: Certo

NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia


A Constituição da República proíbe as penas de morte (salvo em caso de guerra declarada) e as consideradas
cruéis (art. 5º, inc. XLVII, alíneas ‘a’ e ‘e’, respectivamente), além de assegurar às pessoas presas o respeito à
integridade física e moral (art. 5º, inc. XLIX). Tais preceitos constitucionais expressam o princípio penal da:
Alternativas
A- humanidade.
B- intervenção mínima.
C- insignificância.
D- adequação social.
E- lesividade.

Gabarito: A

86
Como dito, toda vez que uma questão falar sobre influência da política criminal e direito
penal, é porque a questão está tratando do funcionalismo moderado de Roxin.
Nesse caso, só pelo nome do autor já dá para saber a questão.
Gabarito: Letra B.

A finalidade da pena, conforme o funcionalismo sistêmico do Jakobs, é a prevenção geral


implementada pela sensação de segurança decorrente da regular aplicação e execução das penas, e do
índice de ressocialização dos condenados.
Segundo Jakobs, o direito penal tem como função manter o sistema e regular as relações
sociais. Para ele é importante que a lei seja aplicada rigorosamente.

87
Conduto, a questão está errada, pois, o índice de ressocialização dos condenados, não tem
relação com o pensamento de Jakobs.
Gabarito: Errado.

Gabarito: D.

Aqui temos o sistema e a norma como protagonistas. Trata-se da alma da teoriafuncionalista


sistêmico ou Radical de Günter Jakobs.

88
3. Causas de exclusão da conduta.

Quando podemos considerar que não houve conduta

1- Caso fortuito e força maior – fato da natureza ou de origem desconhecida que gera
efeitos imprevisíveis, os quais não se pode evitar. Assim, não há que se falar com conduta.
2- Involuntariedade. O conceito de conduta é comportamento voluntário e consciente,
assim, se não houver voluntariedade, não há conduta.
E quando não há voluntariedade? Em três momentos:

2.1 Inconsciência completa;

2.2 Movimentos reflexos;

2.3 Coação física irresistível (vis absoluta).

89
2. Involuntariedade:

2.1 – Inconsciência completa – Ex.: sonambulismo e hipnose. São momentos em que o


corpo humano realiza movimentos, mas é totalmente inconsciente.

2.2 – Movimentos reflexos – reação automática do corpo humano a um determinado


estímulo.

Obs.: Movimentos reflexos x ações em curto-circuito (atos impulsivos)

• Movimentos reflexos: é um ato fisiológico reativo, sem vontade. Ex.: pessoa em


coma, e por exemplo, o médico estimula o joelho dele e, ao estimular ele acaba lesionando o médico.

90
• Ações em curto-circuito: o segundo é um ato voluntário, impensado e impulsivo,
com vontade.

2- Involuntariedade:

2.3 – coação física irresistível – força física externa que impede o agente de

determinar seus movimentos de acordo com sua vontade. Ex.: salva-vidas amarrado, não
consegue salvar uma pessoa, isto é, não consegue deixar de se omitir.

Obs.: Coação física irresistível (vis absoluta) x Coação moral irresistível (viscompulsiva)

• A coação física se irresistível, exclui a conduta, pois deixa de ser voluntária.


• A coação moral se irresistível, exclui a culpabilidade, em razão da
inexigibilidade de conduta diversa. Há conduta, mas a vontade não é livre. Ex.: ameaça de matar um
filho em troca que a pessoa realize determinada conduta típica

91
Bom, nós iniciamos a aula falando dos elementos do fato típico, que são:

FATO TÍPICO:

1. Conduta
2. Resultado
3. Nexo de causalidade
4. Tipicidade

Encerramos agora o elemento conduta e a seguir estudaremos o elemento resultado.

4. Elemento Resultado.

92
O resultado é a consequência provocada pela conduta do agente. Há dois tipos de
resultado:

Classificação:

1. Jurídico ou Normativo – lesão ou exposição a perigo de lesão do bem jurídico


tutelado pelo direito penal. É a violação da norma penal.
A conduta típica praticada, gera sempre o resultado de violação da norma.

2. Naturalístico ou material – é a alteração no mundo exterior provocada pelaconduta do


agente.

Pergunta: Existe crime sem resultado? Depende. Se estivermos falando sobre


resultado naturalístico, certamente há (crimes formais, crimes de mera conduta). Todavia, se
estivermos falando de resultado normativo, sempre terá um resultado, pois, toda conduta típica
viola norma penal. Trata-se de uma consequência jurídica.

93
Teoria do CrimeAula 3
SUMÁRIO

1. Nexo Causal ou Relação de Causalidade 2


1.1. Conceito analítico de crime 2
2. Conceito de Nexo de Causalidade 3
3. Teorias para definição da relação de causalidade 4
4. Teoria adotada pelo Código Penal 6
5. Concausas 9
6. Omissão penalmente relevante 16
7. Questões19

Nexo Causal ou Relação de Causalidade.

1.1. Conceito analítico de crime.

94
Só para contextualizar o nosso tema, vamos iniciar agora o estudo acerca do nexo causal, que
está dentro do fato típico, ou seja, da conduta típica do conceito analítico de crime (conceito
tripartite).

Nas aulas anteriores, nós já abordamos o elemento conduta e o elemento resultado. Hoje nós
iremos aprender sobre o nexo de causalidade, que é o 3º elemento do fato típico.

2. Conceito de nexo de causalidade.

95
O nexo de causalidade nada mais é do que o elo de ligação entre a conduta do agente e
o resultado naturalístico.

Ao falarmos de resultado naturalístico, estamos trantando, por consequência, de crimes


materiais.
A relevância da discussão do nexo causal se dá nos crimes causais. E porque? Para os crime
materiais a ocorrência do resultado naturalísitco é necessário para a consumação.
Nos crimes formais, ainda que haja previsão do resultado naturalístico no tipo penal, a
simples prática da conduta, independente ou não do resultado naturalístico, já é suficiente para a
consumação do delito.
Com ainda mais razão, essa discussão perde a importância nos crimes de mera conduta.

Vale ressaltar: a relevância da nossa aula de hoje é para os crimes materiais que, por
consequência, são grande parte dos crimes previstos no Código Penal.
A expressão “relação de causalidade” é sinônima. O Código Penal adotou a expressão
relação de causalidade, conforme o teor do artigo 13 do CP.
Relação de causalidade
CP. Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somenteé imputável a quem lhe deu
causa. Considera-se causa a ação ou omissãosem a qual o resultado não teria ocorrido.

Ao analisarmos o artigo 13, verificamos que o CP usa as palavras “resultado” e “causa”

96
em uma relação de causa e efeito.

3. Teorias para definição da relação de causalidade.

Teoria da Equivalência dos Antecedentes (teoria da conditio sine qua non):

Causa é todo fato humano sem o qual o resultado não teria ocorrido, quando ocorreu e
como ocorreu (aquele resultado).
Tudo aquilo que estiver na linha temporal de causa, será considerado, portanto, como causa
daquele resultado.
Parte da doutrina entende que a teoria da equivalência nos leva a um regresso infinito, pois,
por exemplo, quando um indivíduo atira contra outro, se considerarmos o fato humano, ou seja, a
pessoa humana que fabricou a arma, ela seria uma causa daquele resultou naturalísticomorte.
Se considerarmos o nascimento da vítima ou o nascimento do agente, ambos seriam fatos
humanos que teriam relevância fática para aquele resultado morte.
Assim, percebemos que essa é uma teoria importantíssima, pois ela é a base de todas as
teorias para definição da relação de causalidade, mas ela por si só, não resolve boa parte das
situações da vida real.

97
Teoria da Causalidade Adequada:

Causa é um fato antecedente necessário e adequado à produção do resultado.

Essa teoria considera toda a cadeia causal que antecede o fato e analisa uma a uma, a fim de
verificar se aquela causa era necessária e adequada para produção do resultado.
Ex.: mãe que da à luz a uma criança (está dentro da cadeia causal antecedente). Dar à luz a
uma criança é uma causa adequada para a morte por disparo de arma de fogo? Com certeza
não.
Assim, a teoria da causalidade adequada, seleciona as causas antecedentes para análise. Não
é qualquer causa que esteja naquela cadeia causal que será adequada e necessária para aquele
resultado naturalístico.

Como o Código Penal aplica a teoria da Equivalência dos Antecedentes?

Há no direito penal brasileiro, um desdobramento do tipo penal. Falamos em “tipo penal


objetivo” e “tipo penal subjetivo”. Assim, terá que ser analisado se existe um nexo de causalidade
subjetivo, o qual chamamos de causalidade psíquica. Além de ter havido um antecedente, é preciso
que o agente que praticou aquela causa, tenha agido com dolo ou culpa.
Voltando ao exemplo da arma de fogo, quando, lá atrás, a arma de fogo foi fabricada,
entende-se que a fabricação se deu com o dolo de, por exemplo, João matar José? Não. É lógico
que ao se fabricar uma arma de fogo, pressupõe-se que ela pode ser utilizada contra um indivíduo,
mas no caso hipotético, não há o dolo em relação a vítima José. Assim, não há que se falar em
causa adequada, necessária e também não há a causalidade psíquica ao produzir a arma de
fogo.

Teoria da Imputação Objetiva:


É uma das teorias para definir a relação de causalidade entre conduta e resultado
naturalístico.

98
Por ora, o que vocês precisam saber acerca da teoria da imputação objetiva é isso. Tendo em
vista que ela é uma teoria bem específica, optei por trabalha-lá separadamente em uma aula própria.

Teoria adotada pelo Código Penal.

Relação de causalidade
CP. Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu
causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. TEORIA DA
EQUIVALÊNCIADOS ANTENCEDENTES – Conditio sine qua non

A priori, melhor seria entendermos que o Código Penal não adotou somente 1 teoria, mas sim
2 teorias. Para o CP, majoritariamente usa-se a teoria da equivalência dos antecedentes, porém,
existem situações em que é aplicada a teoria da causalidade adequada.
O artigo 13 do Código Penal é a alma da teoria da equivalência dos antecedentes.

99
Conditio sine Condição sem a qual não teria ocorrido
qua non o fato.

Quais seriam as causas que estariam na linha temporal causal de um resultado?


Qualquer manual de direito penal fará menção ao Processo Hípotético de Eliminação de Thyrén.

Esse processo ficou consagrado como um método de seleção de causas que estão presentes
na linha temporal causal.
E como funciona isso? Mentalmente, você excluíra um fato humano da linha temporal
causal. Se o resultado naturalístico ainda sim, ocorrer da forma como ocorreu, é sinal que aquilo não
era uma causa antecedente.
Se por outro lado, você retirar aquela causa, e o resultado naturalístico (naquela eliminação
mental) for alterado ou deixar de existir, estaremos diante de uma causa relevante.
Ex.: fábrica de arma de fogos. Se você retira, hipoteticamente, a produção daquela arma,
certamente aquele fato não aconteceria da forma como aconteceu. O agente poderia se valer de outra
arma de fogo, de uma arma branca ou de outro meio qualquer, mas, sem dúvidas, aconteceria de uma
forma diferente.
E como excluir a fabricação da arma de fogo como causa, sem usar a teoria da
causalidade adequada (abordada anteriormente)? Além desse processo hipotético de eliminação
de Thyrén, é preciso analisar a presença de dolo ou culpa na conduta – causalidade psíquica
(imputatio delicti). É a possibilidade de imputar um crime a alguém em razão da presença do
dolo ou da culpa na conduta.

100
A teoria da equivalência dos antecedentes atende a muitas situações, mas não consegue
exaurir a todas possibilidades, sendo então necessário o Processo Hípotético de Eliminação de
Thyrén para saber se aquela causa está na linha de desdobramento causal ou não, e ainda será
necessário analisar se naquele caso concreto, há a presença de dolo ou culpa, a fim de aplicar a
causalidade psíquica.

101
Superveniência de causa independente
CP. Art. 13 § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando,
por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.
TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA.

A superveniência de causa relativamente independente, ou seja, relativamente independente


quer dizer que em alguma medida ela depende da conduta do agente. Essa causa exclui a
imputação quando, por si só, produziu o resultado. E ai, os fatos anteriores, serão imputados a quem
os praticou.
O §1º do artigo 13 do CP é pura expressão da teoria da causalidade adequada. Veja-se que
estamos falando de uma causa praticada pelo agente (a conduta do agente) e uma outra causa
relativamente independente a esta conduta que exclui a imputação.
E porque causalidade adequada? Porque a causa mais adequada para o resultado
naturalístico é a causa relativamente independente superveniente e não mais a conduta
praticada pelo agente.

Concausas.

102
As concausas estão previstas no §1º do artigo 13 do CP. Concausa é a superveniência de
causa que concorre para o resultado.
São classificadas como concausas dependentes ou independentes.

• Dependentes: aquelas que dependem da conduta do agente para produzir o resultado.


Está intimamente ligada com a conduta do agente.
• Independentes: aquelas que são capazes de produzir o resultado por si só. Não estão
ligadas a conduta do agente.
As concausas independentes ainda são subdivididas em absolutamente independentes e
relativamente independentes.

• Absolutamente independentes: totalmente desvinculadas da conduta do agente e


produzem por si só o resultado. São completamente desvinculadas da ação humana.
Localizando essas concausasa no tempo, elas podem ser preexistentes,
concomitantes ou supervenientes.

103
O slide acima trata de alguns exemplos de causas absolutamente independentes,
preexistentes, concomitantes e supervenientes.
São exemplos de concausas absolutamente independentes preexistentes: A dispara contra
B de forma letal, mas B morre envenenado por C, que havia ministrado o veneno momentos antes dos
tiros de A.

Trata do disparo de arma de fogo por uma pessoa que anteriormente foi envenenada. A
causa da morte foi o envenenamento e não os disparos. Neste caso o envenenamento é uma
concausa preexistente (anterior) aos disparos, que por si só é capaz de produzir o resultado.

Concausas absolutamente independentes supervenientes: A coloca veneno em dose letal


na bebida de B, mas antes de fazer efeito, C, um desafeto de B, aparece e efetua dezenas de disparos
de arma de fogo, levando B a morte.

104
É um exemplo contrário das preexistentes. Se nada fosse feito por 3º, certamente esse
veneno levaria a vítima a morte, mas antes de concluir o efeito do veneno, alguém mata a vítima com
disparos de arma de fogo.
O disparo de arma de fogo configura causa superveniente, absolutamente
independente que por si só é capaz de produzir o resultado.

105
O efeito jurídico de todos esses exemplos é o rompimento da cadeia causal. Dentro de todos
os exemplos citados, o agente sempre vai responder pelos atos que praticou, qual seja: tentativa
de homicídio.

Em todos os exemplos a vítima morreu, ou seja, se consumou o resultado naturalístico


morte, mas não pode ser imputado a ele, pois, houve uma quebra da cadeia causal, isto é, uma
concausa absolutamente independente que por si só foi capaz de produzir o resultado.

Vale a pena uma reflexão sobre o artigo 13 do CP, para verificarmos que nesse caso, não
haveria a solução adequada com a Conditio sine qua non. Temos que nos vale da teoria da
causalidade adequada, para chegar a conclusão de que houve um rompimento da cadeia causal,
respondendo o autor somente pelos atos praticados.
Se aplicássemos a teoria da Conditio sine qua non, na maioria dos casos, poderia ser
excluída a responsabilidade penal. Exemplo: A dispara contra B no mesmo momento que o teto
desaba na cabeça de B. Se A dispara contra B, mas ele morre em razão do desmoronamento, se
retirarmos a conduta de A, o resultado morte aconteceria da mesma forma. O disparo não tem relação
causal com desmoronamento do teto. Assim, chegaríamos a conclusão de não responsabilidade
penal.

Nesse caso, a teoria da causalidade adequada nos traz a possibilidade de


responsabilizar o agente por tentativa de homicídio.

106
Vamos continuar falando das concausas independentes. Mas agora, as relativamente
independentes.
São relativamente independentes, pois se originam da conduta do agente. Só existem em
razão da atuação do agente (só existem em razão daquela conduta). Mas não se estão na linha de
desdobramento causal esperado. Podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes.
Vejam: na absolutamente independente não há qualquer relação com a conduta do agente. Na
relativamente independente, ela se origina da conduta do agente, mas não é uma causa esperadana linha
de desdobramento causal.
Relativamente independentes Preexistentes – presente antes da ação do agente. Ex.: A atira
em B com intenção de matar, mas acerta somente de raspão. Mas B era hemofílico e morre de
complicações hemorrágicas.
Há alguma dúvida de que as lesões de B tiveram origem na conduta do agente?
Nenhuma, mas é naturalmente esperado na linha de desdobramento causal que, por exemplo,
você mate alguém que é alvejado de raspão? Não. Aqui há uma concausa, uma doença
preexistente (hemofilia) e em razão dessa doença a vítima morre.
Relativamente independentes Concomitantes – ocorre simultaneamente à conduta. Ex.: A
decidido em matar B aponta a arma de fogo para ele que, assustado, corre para uma via de grande
movimentação e morre atropelado.
O fato da vítima ter corrido para uma via de grande movimentação, se originou da
conduta do agente? Sim, não há a menor dúvida quanto a isso, o que faz dessa concausa ser
relativamente independente.
Faz parte da linha de desdobramento causal natural, alguém que aponta arma de fogo
para outra pessoa, e essa pessoa corre para uma via movimentada e morre atropelada? Não, não
faz parte, daí o relativamente independente.
Efeito jurídico – De acordo com a teoria da equivalência dos antecedentes, o
agente responde pelo resultado em ambos os casos, em relação as concausas relativamente
independentes concomitantes e preexistentes.

107
Apesar de não estar na linha de desdobramento causal esperado, o resulado naturalístico
adveio da sua própria conduta. Logo, há uma causalidade adequada.
O fato por si só da vítima ser hemofílica, faria com que ela morresse naquele
momento? Em hipótese alguma, o óbito só ocorreu em razão da conduta do agente.

Trata-se de uma concausa posterior a conduta, mas que se originou na conduta do


agente e não está necessariamente no desdobramento causal esperado.
Relativamente independentes – originam-se da conduta do agente. Só existem em razão da
atuação do agente. Mas não se estão na linha de desdobramento causal esperado. Podem ser
preexistentes, concomitantes ou supervenientes.

108
Relativamente independentes Superveniente - que por si sós produzem o resultado - o
resultado naturalístico não se imputa ao agente. Ex.: A atira em B para matar que sobrevive e

109
permanece internado no hospital. Dias depois o hospital pega fogo e ele morre. Aqui adotou-se a
TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA, e não a teoria da equivalência dos antecedentes.

Pode ser imputado o resultado morte ao agente que disparou contra a vítima? De
acordo com a teoria da causalidade adequada não. E porque? Pois, o fogo por si só produz o
resultado. O fato do agente ter atirado inclui na linha de desdobramento causal, alguém estar
sujeito ao risco de morrer de incêndio no hospital? Não, seria diferente por exemplo, se ele
morresse de complicação média 1 mês depois.
Relativamente independentes Superveniente - o que não produzem resultado por si só
- o resultado naturalístico se imputa ao agente. Ex.: A atira em B para matar que sobrevive e precisa
de atendimento médico. Ao chegar no hospital público a demora no atendimento o fez falecer. Aqui
adotou-se a TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES.
A negligência do atendimento do hospital por si só causaria o resultado? Não, era
preciso que ele tivesse uma razão que o levasse ao hospital correndo risco de morrer.
Nesse caso adota-se a teoria da equivalência dos antecedentes, a qual não descarta a
responsabilização penal do agente.

O artigo 13 §1º fala somente da causa relativamente independente que por si só,

produz resultado e exclui a imputação. Já a causa superveniente que não produz resultado por si
só, não afasta a imputação. Assim, leia-se o §1º a contrario sensu, ou seja, não será excluída a imputação,
quando ela por si só não for capaz de produzir o resultado.

110
Nas 3 primeiras linhas nós tratamos das 3 concausas: absolutamente independentes
preexistente, concomitante e superveniente. Se a causa não tiver qualquer relação com a conduta do
agente (absolutamente independente) sempre haverá romprimento do nexo de causalidade. Não
haverá impunidade, pois, o agente responderá pelos atos que ele praticou.
Nas concausas relativamente independentes concomitantes e preexistente, por ser
relativamente independente, há uma relação da concausa com a conduta do agente. Em razão disso, se
ela for preexistente ou concomitante, o agente responderá pelo resultado.
Quando a concausa é relativamente superveniente, deve ser avaliado se a conduta é capaz de
produzir o resultado por si só. Se sim, ela também romperá o nexo de causalidade e passa- se a se
assemelhar à concausa absolutamente independente. Agente responderá pelos atos praticado.
Se ela não for capaz de produzir o resultado por si só, o agente responderá por ele, visto que
a concausa não foi responsável exclusivamente pelo resultado, mas sim a conduta inicial do
agente.

Omissão penalmente relevante.

111
Trata-se do §2º do artigo 13 do CP.

Crítica: o professor Fábio Ribeiro não acha o nome “omissão penalmente relevante”
adequado, pois, a omissão penalmente relevante tem consequências penais. Assim, teria que ser
tanto a omissão própria quanto a imprópria.

• Omissão própria: o tipo penal descreve um comportamento omissivo – ex.: art. 135
do CP, crime de omissão de socorro.
CP. Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; ou não pedir, nessescasos, o socorro da autoridade pública.

O artigo 135 do CP descreve uma “inação”, isto é, uma omissão própria.

• Omissão própria: o tipo penal descreve uma ação. A agente ao permanecer inerte
quando podia e devia agir, pratica omissão penalmente relevante. NEXO DE EVITAÇÃO (nome
adotado pela doutrina).
Nesta omissão, o tipo penal não descreverá um comportamento omissivo, mas sim uma
ação, ou seja, o agente deveria agir para impedir ou evitar o resultado naturalístico, mas não o faz.
Relevância da omissão
CP (...) § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente deviam e podia agir para evitar o
resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
112
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência doresultado.

Obs.: alguns doutrinadores como Masson, entendem que a figura do garante


estaria presente apenas na alínea B. Por outro lado, outros doutrinadores como Rogério Greco,
entendem que as 3 alíneas indicam a figura do garantidor.

Art. 13. § 2º (...) a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: trata-se da
obrigação legal;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado: é o que o
doutrinador Masson chama de “garantidor” ou “garante”.
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado: é o quea
doutrina denominada como “poder de ingerência”.

Exemplos:
113
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: ex.: médico que se omitee
deixa de atender um paciente que chega em estado grave, porém reversível ao pronto socorro.
O médico, apesar de obrigado legalmente, a tomar todas as medidas possíveis, se mantém
inerte. Responderá pelo resultado morte, em razão da sua omissão.
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; (GARANTE
- Masson): ex.: guia de escalada que, mesmo após ter levado o grupo ao local predeterminado, decide
levar todos a outro lugar OU pai que querendo dar um mergulho no mar, pede ao indivíduo ao lado
para olhar seu filho por alguns minutos. (ambos exemplos citados por Rogério Greco).
No primeiro exemplo, o guia tem a obrigação de garantir a segurança de todos, porém,
chegando no local pretendido, ele sugere que as pessoas vão para outro lugar. No meio do caminho
acontece um acidente com uma das pessoas. O guia como garante, responderá pelo resultado. No
segundo exemplo, quando a pessoa aceita olhar o filho do pai, ela se coloca na posição de garantidor.
Qualquer omissão após essaanuência, passa a ser penalmente relevante.
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado
(INGERÊNCIA): ex.: alguém que acende fogo no acampamento para cozinhar e não apaga depois,
permitindo que se inicie um incêndio.
Essas são as possibilidades, previstas em lei, da figura do garantidor, quando se considera que
a omissão é penalmente relevante.
Questões.

1. Segundo a teoria da equivalência dos antecedentes, causa é um fato antecedente necessário e


adequado à produção do resultado.
a) ( ) Certo

b) ( ) Errado

114
Gabarito: Errado.

Trata-se da teoria da causalidade adequada.

Para a teoria da equivalência dos antecedentes, causa é todo fato humano sem o qual o resultado não
teria ocorrido, quando ocorreu e como ocorreu (aquele resultado).

2. O §1º do artigo 13 do Código Penal é a exata expressão da teoria da causalidade adequada.


a) ( ) Certo

b) ( ) Errado
Gabarito: Certo.

Como visto, o §1º do artigo 13 do CP é pura expressão da teoria da causalidade adequada. Veja- se
que estamos falando de uma causa praticada pelo agente (a conduta do agente) e uma outra causa
relativamente independente a esta conduta que exclui a imputação.

1) Teoria da Equivalência dos Antecedentes (teoria da conditio sine qua non): ela simplesmente coloca
em uma linha de desdobramento causal todos os fatos antecedentes que de alguma forma contribuíram
para aquele resultado. E, ai, se resolve,por exemplo (se você assistiu a aula 3 vai lembrar) no processo
hipotético de thyrém, que na verdade é você excluir da linha de desdobramento causal um
determinado fato para ver se aquele resultado aconteceria da forma como aconteceu. Isso levaria a
alguns absurdos, como, por exemplo, a incriminação ou ao menos o reconhecimento da relação de
causalidade do fabricante de uma arma de fogo, por exemplo, e um homicídio praticado com
determinada arma.

115
O legislador optou pela Teoria da Equivalência dos Antecedentes e resolve essa questão analisando o
tipo subjetivo. O que é um tipo subjetivo? Analisar se há dolo ou culpa, que estabelece uma relação
psíquica, um elo psíquico entre o agente e aquele resultado. O resultado é desejado ou é obra da
negligência, imperícia ou imprudência do agente.
Art. 13, CP:

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu
causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

2) Teoria da Causalidade Adequada: é mencionada pelo Código Penal, especialmente, na forma de


garantidor. Trata, também, todos os antecedentes ao resultado, mas entende que só pode ser
considerado como causa se for necessário e adequado a produção do resultado. Não é cem por cento
eficiente, mas, aqui, também, há o dolo e a culpa, a analise do tipo subjetivo resolve os problemas.

Ainda, temos uma terceira teoria que não foi consagrada no Código Penal, mas que é muito discutida
na doutrina, temos poucos julgados, mais especificadamente do STJ que fazem referência a Teoria da
Imputação Objetiva.

Teoria da Imputação Objetiva

A Teoria da Imputação Objetiva não começa em 1970, mas ela foi moldada em 1970 por
Claus Roxin na forma como a gente a conhece hoje. Pode-se falar que é a teoria moderna da
imputação objetiva.

Em 1970, Claus Roxin escreve um ensaio chamado “Reflexões sobre a problemática de


imputação no direito penal” e desenvolve e aprimora nesse ensaio o que a gente compreende hoje
como teoria da imputação objetiva.

Qual é a inovação da teoria da imputação objetiva conforme proposta por Claus Roxin?
116
Bom, a gente viu no início da aula que no finalismo adotou-se, e o nosso Código Penal é
finalista, a teoria da equivalência dos antecedentes e, também, a teoria da causalidade adequada.
Assim, você lembra também que o tipo penal no finalismo ele é subdividido em tipo objetivo e tipo
subjetivo.

No tipo objetivo a teoria da equivalência dos antecedentes resolve todos os problemas, no


processo de eliminação hipotética de thyrém, basta excluir da cadeia causal um determinado
antecedente para saber se o resultado ocorreria como ocorreu. Se não ocorrer como deveria ter
ocorrido ou como ocorreu isso significa que não se trata de um antecedente, ou seja, não é uma
relação de causalidade. Se ocorre como a forma ocorreu é sinal que você retirando aquele
antecedente não há qualquer interferência no resultado e, portanto, não pode ser considerada uma
causa antecedente. Por outro lado, se você retira aquele antecedente e o resultado não ocorre da forma
como ele ocorreu é sinal que ele tem relação direta com ele de causalidade. Só que isso leva, como já
visto anteriormente, a alguns absurdos, responsabilidade penal objetiva quase. Como, por exemplo, o
fabricante da arma de fogo ser responsabilizado pelos homicídios praticados com aquela arma de
fogo.

E, com isso, desdobra também o tipo penal subjetivo, que passa a analisar o liame, uma
ligação psíquica entre o agente e o resultado por meio do dolo e da culpa.
Na Teoria da Imputação Objetiva Roxin da um passo a frente, que é muito bem aceito por
alguns, mas rechaçado por outros. Ele acrescenta ao tipo objetivo duas elementares, ou seja, não
basta a mera relação de causalidade. É preciso que aquele antecedente tenha criado um risco, que esse
risco seja proibido, e que o risco seja realizado no resultado. Roxin chama isso de nexo normativo.
Estamos falando de relação de causalidade, também conhecida por nexo de causalidade. E aí, então,
quando você estabelece um tipo subjetivo lá no finalismo e reconhece a presença de dolo ou culpa
você ta falando em um nexo psíquico, nexo subjetivo.

Roxin inclui duas outras elementares ao tipo objetivo e estabelece um nexo normativo a partir
do momento que você cria um risco que é proibido pela norma e esse risco tem que estar realizado no
resultado. Veremos as duas elementares nos seus pormenores.

117
Só para a gente sintetizar e entender a diferença das teorias do finalismo e das teorias de
relação de causalidade no finalismo e a o teoria de imputação objetiva foi feito esse quadro abaixo:

O conteúdo, um lógico é a teoria da imputação objetiva, no finalismo a gente viu que em


noventa e nove por centos dos casos será utilizada a teoria da conditio sine qau non, nos valendo do
processo de eliminação hipotética de thyrén. Beleza? O tipo objetivo, também chamado de causalidade
objetiva, no finalismo é o nexo físico, o que o processo de eliminação hipotético de thrén resolve. O
problema é chegarmos a um processo de regresso infinito, exemplo, a mãe do atirador estaria na linha
de desdobramento causal, e, fisicamente, na causalidade objetiva, ela seria
alcançada.

Na Teoria da Imputação Objetiva além desse nexo físico é preciso ter um algo a mais, que é o
que Roxin chamou de nexo normativo, o qual é a criação ou incremento de um risco proibido e a
realização desse risco no resultado.

E na causalidade psíquica ou subjetiva, que é o tipo subjetivo, em ambas as teorias, tanto


na equivalência dos antecedentes quanto na imputação objetiva teremos a analise do dolo e da
culpa.

A diferença, o cerne da divisão das teorias esta na causalidade objetiva. Não é isso? Na
causalidade objetiva, o tipo objetivo, em que Claus Roxin, acrescenta duas outras elementares, criação

118
e incremento de um risco proibido e realização do risco no resultado.

Um pequeno parentese para você resolver de vez e entender onde esta inserida a Teoria da
Imputação Objetiva. Lembre-se que essa teoria nos moldes que a gente estuda hoje, pelo Claus
Roxin, é uma tentativa de resposta para se estabelecer o nexo de causalidade, a relação de causalidade
entre conduta e resultado. Não tem nada a ver com responsabilidade penal objetiva. Na
responsabilidade penal objetiva não é analisado dolo ou culpa. Já na teoria da imputação objetiva
são analisados o dolo e a culpa. Na verdade, o que se tem na imputação objetiva é uma forma de
limitar a responsabilidade penal, decidindo quando há relação de causalidade ou não. Então,
vejam que a responsabilidade penal objetiva amplia a responsabilização e a teoria da imputação
objetiva ela restringe a responsabilização. Apesar de ambas ostentarem um adjetivo objetiva não são
sinônimos e são bem diferentes.

Pressupostos da Teoria da Imputação Objetiva

119
Lembrando que, Claus Roxin, acrescenta elementares ao tipo objetivo do finalismo. Temos,
então:
1) Criação ou aumento de um risco

2) O risco criado ou aumentado deve ser proibido

3) O risco deve ser realizado no resultado

Primeiro, o que é risco para a Teoria da Imputação Objetiva?

É algo que aparentemente é muito complexo, mas se você entender, me acompanhar, você vai
ver que você consegue matar qualquer questão com esse raciocínio.

Risco são ações que geram uma possibilidade de lesão ao bem jurídico por meio de uma
prognose póstuma objetiva. Aqui que entra o pulo do gato, o nome assusta, mas quando você vai ao
médico você diz a ele o que esta sentindo e ele faz então a diagnose, com base no que ele recebe ele diz
o que houve pra trás, ou seja, que você pegou a doença x e, então, te passa um tratamento.Se a doença
foi muito séria o paciente pergunta ao médico “qual é o prognóstico?”, ou seja, como será dali para a
frente. Quando diagnosticado com uma doença grave, o médico fala que o prognóstico é que você
mantenha o tratamento por um ano, com expectativa de vida de três anos, por exemplo. O médico
faz com a informações que ele tem, uma futurologia, mas com bases
sólidas, não é uma mera tentativa de adivinhação.

Então, prognóstico é o oposto temporalmente a diagnóstico. No diagnóstico você observa


as informações e faz uma referência ao passado, já no prognóstico não com base naquelas
informações você faz uma referência ao futuro.

Vejam, então, que o risco é uma ação que gera uma possibilidade de lesão ao bem jurídico por
meio de uma prognose. Se é prognose estamos falando de uma análise em relação ao futuro. Póstuma,
e aí entra uma questão, você sabe que o adjetivo póstuma é em relação a morte, posterior a morte.
Então, porque que é póstuma? Porque ela é feita pelo juiz, o juiz se coloca no lugar do agente. O
120
agente no momento em que ele decide cometer um crime ou uma conduta, melhor dizendo, ele faz
um prognóstico. O juiz tem as informações do ambiente, de vontade, da parte psíquica, com base
naquelas informações ele estabelece um prognóstico. Se eu fizer isso eu vou alcançar o resultado que
eu quero ou se eu fizer isso eu vou expor aquele bem jurídico a perigo? Por que é póstuma? Porque o
juiz, em momento posterior, e não naquele momento em que o agente atua postumamente, analisa a
conduta do agente. E por que é objetiva? Porque não vai levar em consideração as individualidades
daquele agente, ele vai tomar por base o conhecimento do homemmédio.

Então,

1) Prognose é a situação do agente no momento da ação para antever a possibilidade de lesão.


Assim, o prognóstico é uma antevisão. Quando o médico fala você tem um prognóstico de vida com
alguma qualidade de três anos, ele está fazendo uma antevisão. A prognose é porque é o agente
vislumbrando, antevendo, a possibilidade de lesão ao bem jurídico.

2) Póstuma, porque é a análise feita pelo juiz a posteriori, ou seja, feita depois.

3) Objetiva, porque ela não é subjetiva, se não seria analisado individualmente cada agente. Então, é
objetiva, porque parte do conhecimento do homem médio.

Então, risco para a imputação objetiva é aquela ação que gera uma possibilidade lesão ao bem
jurídico por meio de uma prognose póstuma objetiva.

121
Esse slide, colocado a cima, é muito importante e deve ser analisado com cautela. É
fundamental que você saiba o que é prognose, póstuma e objetiva. Imagina só uma questão discursiva
que não seria das mais complexas, se você soubesse isso, porque tem questões que mesmo que você
saiba o conteúdo, ela é complexa. Mas se você sabe isso, o que está no slide, ela não seria das mais
complexas. Então, se você for fazer uma prova de segunda fase, uma prova discursiva e o
examinador vier com a seguinte questão: defina prognose póstuma objetiva conforme a teoria da
imputação objetiva, noventa e cinco por cento dos candidatos deixaram em branco, outros quatro por
cento vão tentar escrever alguma coisa e vão errar, e um por cento vai saber exatamente o que é
prognose póstuma objetiva, em que contexto ela está inserida de risco na imputação objetiva e vai
acertar.

122
Bom, então, quando falamos em criação ou aumento de um risco, caso uma conduta diminua
o risco não há responsabilidade penal segundo a teoria da imputação objetiva. Roxin traz um exemplo
que é repetido nos manuais, que é o seguinte: imagine que o individuo A visa furtar
1.00 marcos (moeda alemã à época), mas B o convence a furtar somente 100 marcos. A conduta
de B não será punível na participação no furto, uma vez que a ação de B diminui o risco de lesão.
Esse exemplo é altamente discutido, mas é trazido por Roxin. Logicamente, que no finalismo ele não
responderia se ele dissesse não furte, agora se ele fala não furta 1.000, furta só 100, da mesma forma
ele está estimulando a prática do crime, então, no finalismo ele responderia por participação na forma
do artigo 29 do Código Penal, em razão da instigação.

Assim, foi dito que não é qualquer risco criado ou aumentado que é relevante para a teoria da
imputação objetiva, o risco tem que ser proibido.

Então, vou falar agora de um exemplo clássico de quando se estuda excludente de ilicitude que
é a luta de boxe. Sabe-se que em uma luta de boxe há lesões corporais recíprocas entre os praticantes.
No finalismo resolvemos isso no campo da ilicitude, haveria o exercício regular do direito a pratica
desportiva e a lesão corporal, portanto, é excluída não na tipicidade, mas na ilicitude, causa
excludente de ilicitude.

Na imputação objetiva esse risco criado, ele não é proibido e sim tolerado, de certa forma até
incentivado, porque é uma prática de esporte. Então, se não há risco proibido não há que se
123
falar em relação de causalidade. Se não é relação de causalidade é atípico. Assim, a ocorrência de
lesões, no contexto da pratica desportiva é atípica segundo a teoria da imputação objetiva, porque não
seria um risco proibido.

E, por fim, o terceiro pressuposto é que o risco deve ser realizado no resultado. Aqui, a
expressão utilizada pelo Roxin, da forma como foi traduzida para o português não é tao auto
explicativa. Vamos tentar entender agora o que significa o resultado deve estar dentro do alcance do
tipo.

o resultado deve estar dentro do alcance do tipo significa que quando praticado aquele tipo
penal o resultado esteja em uma linha de desdobramento esperada para aquela conduta.

O Rogério Sanches Cunha, no manual dele, traz um exemplo que nos permite fazer esse
quadro abaixo para entender melhor esse pressuposto:

124
125
Imaginemos, então, que uma pessoa atire em outra. A vítima, ainda com vida, é socorrida e de
ambulância é levada para o hospital. No caminho, a ambulância, a qual estava em alta velocidade, se
envolveu em um acidente, bateu em um poste. O paciente morre em consequência da batida. Como
fica a responsabilidade penal do atirador?

1) Teoria Finalista

Existe o nexo físico? Quer dizer se eu excluo a conduta do atirador o resultado aconteceria como
ocorreu? Certamente que não aconteceria, se o atirador não realizar os disparos, a vítima não se
lesiona, não seria socorrida em uma ambulância e não sofreria o acidente.

Então, os disparos foram causa de tudo. O atirador tinha o dolo de matar. E, assim, o atirador
responde por homicídio doloso consumado.

2) Teoria da Imputação Objetiva

O nexo físico esta presente. O atirador criou o risco ou aumentou esse risco ao realizar os disparos. É
um risco proibido. Agora, esse risco esta realizado no resultado? Ou seja, é previsível que alguém que
atire e alguém que recebe esse disparo de arma de fogo morra em uma colisão com o poste? Não. E ai,
então, ele só responde pela conduta dele, que é a tentativa de homicídio. Apesar da vítima falecer ele
não responderia, segundo a teoria da imputação objetiva, por homicídio consumado, porque os disparos
não forama causa imediata da morte da vítima.

126
Nós vimos, segundo a doutrina do Roxin, a moderna teoria da imputação objetiva que foram
incluídas duas novas elementares, são elas: criação ou majoração do risco proibido e realização desse
risco no resultado. Essa nova, que chamamos de nexo normativo, também é denominada causalidade
normativa, em contraposição à causalidade natural física da teoria finalista.

Isso pode cair em concurso para você explicar o que é a causalidade normativa. E se você não
tiver isso muito claro na sua cabeça, você se perde. Porque na causalidade normativa de forma avulsa,
você vai ter que, antes de começar a fazer a questão, se lembrar que faz referência a teoria da
imputação objetiva, que a teoria da imputação objetiva é uma das teorias que explica a relação de
causalidade e que ela inova em relação a teoria da equivalência dos antecedentes ao criar duas novas
elementares, um tipo objetivo. Quais são elas? Criação ou majoração de um risco proibido e a
realização desse risco no resultado. Essas duas novas elementares denominam-se causalidade
normativa.

Segunda e última pílula, essa aqui, eu acho mais difícil, mas tem livro falando sobre isso e tem
examinador maluco para tudo. Quando a gente fala em causalidade na imputação objetiva a gente já
viu que não basta aquela relação física, certo? A causalidade natural, aquela mera relação de causa e
efeito entre conduta e resultado. E isso, segundo alguns doutrinadores, aproximaria o direito penal
com a física quântica, ou seja, extrapolaria a questão física de causa e efeito. E, com isso, então,

127
passou-se a falar no denominado direito penal quântico, que teria como traços marcantes a
causalidade normativa e a tipicidade material.

128
Então, está aqui dois conceitos um tanto quanto diferentes, causalidade normativa e direito
penal quântico, para você não ser surpreendido na hora da prova.

Meus amigos, como eu disse essa aula seria mais objetiva, mais enxuta, e eu decide fazer uma
aula exclusiva de Teoria da Imputação Objetiva porque eu sei que nem todo mundo tem interesse, a
depender da carreira que postula, em se aprofundar nesse tópico. Mas se você se interessa, aqui no
Instituto Fórmula, nós temos uma aula objetiva com tudo que você precisa para acertar qualquer
questão de concurso, exclusivamente da teoria da imputação objetiva.

Questões

1. (2019/MPE- GO – Promotor de Justiça) A respeito da teoria da imputação objetiva, na concepção


de Claus Roxins, assinale a alternativa incorreta:
A) A teoria da imputação objetiva, em sua forma mais simplificada, aduz que um resultado
causado pelo agente só deve ser imputado como sua obra e preenche o tipo objetivo unicamente
quando o comportamento do autor cria um risco não permitido para o objeto da ação , quando o risco
se realiza no resultado concreto e este resultado se encontra dentro do alcance do tipo.
B) Considere o seguinte exemplo : " A " deseja provocar a morte de " B " e , para isso , " A " o
aconselha a fazer uma viagem á Flórida , pois leu que lá , ultimamente , vários turistas têm sido
assassinados . " A " planeja que também " B " tenha esse destino . " B " , que nada ouviusobre os casos
de assassinato na Flórida , faz a viagem de férias e de fato é vítima de um delito e homicídio . " A "
deve responder pelo homicídio , pois sua conduta acabou incentivando " B " a fazer a viagem ,
criando , assim , um risco não permitido ( no caso , criou um perigo de morte juridicamente relevante
).
C) Ações que diminuam risco não são imputáveis ao tipo objetivo, apesar de serem causa do
resultado em sua forma concreta e de estarem abrangidas pela consciência do sujeito. Assim, quem
129
convence o ladrão a furtar não mil reais, mas somente cem reais, não é punível por participação no
furto, pois sua conduta não elevou, mas diminuiu o risco da lesão.
D) Imagine a seguinte a hipótese: dois ciclistas passeiam um atrás do outro, no escuro, sem
estarem com as bicicletas iluminadas, por mera falta de atenção e descuido. Em virtude da

130
inexistência de iluminação, o ciclista que vai à frente colide com outro ciclista, que vinha na direção
oposta, sofrendo este lesões corporais. O resultado teria sido evitado, se o ciclista que vinha atrás
tivesse ligado a iluminação de sua bicicleta. Diante dessa situação, pode-se afirmar que o ciclista que
vinha à frente deve responder por lesões corporais culposas, pois criou um risco não o permitido ao
dirigir sem iluminação, que acabou resultando na colisão. O ciclista que vinha atrás, todavia, não
responder· pelas lesões corporais culposas, já que este resultado não está· abrangido pelo fim de
proteção de norma de cuidado, afinal, a finalidade do dever de iluminação é evitar colisões próprias,
não de terceiros (colisões alheias).

Gabarito: B.

Sobre o tema, verifica-se o conhecimento do candidato sobre a teoria da imputação objetiva:


A) O item faz referência à presença das três condições que permitem a imputação do agente de acordo
com a teoria da imputação objetiva, quais sejam: 1) a criação ou aumento de um risco não-permitido;
2) a realização deste risco não permitido no resultado concreto; 3) o resultado estar dentro do alcance
do tipo/esfera de proteção da norma. Questão correta.
B) O conselho feito de "A" para "B" viajar para Flórida, com o intuito de que este seja vítima de
assassinato, não gera um risco não permitido pelo ordenamento jurídico. Assim, aplica- se ao caso a
teoria da imputação objetiva, não respondendo "A" pela morte de "B". Questãoincorreta.
C) O agente que age para diminuir o risco não responde pelo resultado típico, pois de acordo com a
teoria da imputação objetiva, apenas responde pelo resultado aquele que cria ou incrementa o risco
não permitido. Questão correta.
D) O dano no caso concreto não pode ser imputado pelo ciclista que vinha atrás. Neste caso,o resultado
não se encontra dentro do alcance da esfera de proteção da norma, pois o dever de cuidado
consubstanciado no emprego de iluminação não se estende ao outro ciclista quefoi vítima do acidente.
Cada ciclista tem o dever de cuidado apenas em relação a sua conduta, não a praticada por terceiros.
Questão correta.
131
2. (2019/TCE –RO – Procurador da Ministério Público de Contas) De acordo com a teoria da
imputação objetiva,

132
A) a culpabilidade penal tradicional é reformulada por uma categoria mais ampla, denominada
responsabilidade.
B) a função da pena e do direito penal é a proteção da ordem estatal justa.
C) um fato poderá ser considerado penalmente típico mesmo que não crie um risco
juridicamente relevante.
D) na verificação da criação de um risco juridicamente proibido, adota-se o princípio da
confiança apenas para os crimes de trânsito não intencionais.
E) o comportamento de vítima que se coloque em risco real ou potencial não interfere na
análise da imputação objetiva.

Gabarito: A.

Sobre o tema, verifica-se o conhecimento do candidato sobre a teoria da imputação

objetiva.
Essa teoria, desenvolvida por Claus Roxin, no início da década de 70, tem a finalidade
de limitar a responsabilidade penal do agente sem a necessidade de se analisar o elemento subjetivo
do autor. Tal finalidade é atingida com o acréscimo de um nexo normativo ao nexo físico já existente
na causalidade simples. Assim, a Teoria da Imputação Objetiva elenca fatores normativos que
permitem a imputação do resultado do autor, sendo imprescindível o aparecimento de mais três
requisitos:
1) a criação ou aumento de um risco proibido;
2) a realização deste risco não permitido no resultado concreto;
3) que o resultado se encontre dentro do alcance do tipo de proteção da norma

133
3. (2019/MPE – SC – Promotor de Justiça) A chamada “teoria da imputação objetiva” reúne um
conjunto de critérios pelos quais se restringe o âmbito da relevância penal dos fatos abrangidos pela
relação de causalidade, e que seriam imputáveis ao sujeito caso não fossemempregados esses critérios.

134
Gabarito: CERTO.

A teoria da imputação objetiva é criação de Claus Roxin, conceitua que no âmbito do fato típico,
deve-se atribuir ao agente apenas responsabilidade penal, não levando em consideração o dolo do
agente, pois este, é requisito subjetivo e deve ser analisado somente no que tange a imputação
subjetiva.

Esta teoria determina que não há imputação objetiva quando o risco criado é permitido, devendo o
agente responder penalmente apenas se ele criou ou incrementou um risco proibido relevante.

4. (2019/TJ – PR – Titular de Serviços de Notas e de Registros) No ano de 1970, o professor alemão


Claus Roxin escreveu um artigo em homenagem a Richard Honig. O artigo foi denominado
“Reflexões sobre a Problemática da Imputação em Direito Penal”. Com o referido texto, foi
estabelecida a base contemporânea da Teoria da Imputação Objetiva. Constituem critérios para
análise da imputação objetiva:
A) incremento do risco, não diminuição do risco proibido, criação do risco proibido e esfera de proteção
da norma.
B) dolo, culpa e imputação subjetiva.
C) imputabilidade, potencial conhecimento do ilícito e exigibilidade de conduta diversa.
D) legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento de dever legal e exercício regular de
direito.
E) ilicitude, culpabilidade e punibilidade.

Gabarito: A.

135
A questão requer conhecimento sobre a teoria da imputação objetiva de Claus Roxin. A
imputação objetiva significa atribuir a alguém a realização de uma conduta criadora de um risco
relevante e juridicamente proibido, que produza um resultado jurídico. Para responsabilizar alguém
pela prática de um fato é preciso que a pessoa tenha criado, ou incrementado, um risco proibido. Se o
risco é permitido não é crime. Os critérios para análise da imputação objetiva são: a diminuição do
risco, criação ou não de um risco juridicamente relevante, aumento ou falta do

136
risco permitido e proteção da norma como critério de imputação. A opção correta é a letra A. As
demais alternativas falam sobre excludentes de ilicitude e critérios para a classificação de um crime.

5. (2019/PC – AC – Delegado de Polícia Civil) Sobre causalidade e imputação objetiva, assinale a


resposta correta.

A) Para a teoria da imputação objetiva em Roxin. não há riscos juridicamente irrelevantes em ações
dolosas.
B) A teoria da equivalência dos antecedentes, adotada no Código Penal, é abolida pela imputação
objetiva, que renega a existência de uma causalidade natural.
C) A teoria da conditio sine qua non tem como consequência o regresso ad infinitum na análise dos
antecedentes causais, o que pode ser evitado, entre outras análises, pela imputação objetiva.
D) A imputação objetiva dispensa a realização do risco juridicamente desaprovado no resultado.
E) O Código Penal brasileiro - no que concerne ao nexo causal - adota expressamente a teoria da
causalidade adequada.

Gabarito: C.

A) ERRADA – Roxin afirma não haver ação perigosa quando o risco for juridicamente irrelevante (a
ação não gera uma possibilidade real de dano)
B) ERRADA – Há dois erros: a teoria da equivalência dos antecedentes não é abolida pela imputação
objetiva; e a teoria da imputação objetiva não renega a existência de uma causalidade natural (que é
base da teoria da equivalência dos antecedentes), mas apenas impõe limites por meio da verificação
de existência de relação de imputação objetiva entre a conduta e o resultado, de modo que a conduta
do agente tenha produzido um risco juridicamente relevante e proibido ao bem jurídico.
C) CORRETA – A teoria da conditio sine qua non é muito extensa, uma vez que permite o regresso ao
infinito na investigação do que seja causa. Exemplo: o fabricante e o comerciante da arma utilizada
em um homicídio deram causa física (naturalística ou material) ao resultado morte, pois se não
137
fossem a fabricação e venda da arma o resultado morte não teria ocorrido. Já para a teoria da
imputação objetiva, apesar de ter causado o resultado morte com sua conduta antecedente (fabricação
da arma), não responderá pelo resultado morte (não haverá imputação objetiva), uma vez que sua
conduta não criou um risco permitido.
D) ERRADA – Houve inversão do conceito. Segundo a teoria da imputação objetiva, o comportamento
e o resultado normativo só podem ser atribuídos ao agente quando a conduta criou ou aumenta ao
bem um risco juridicamente desaprovado e relevante.

138
E) ERRADA – acolheu-se como regra, a teoria da equivalência dos antecedentes. É o que se extrai do
art. 13, caput: “considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado nãoteria ocorrido”.

Teoria do Crime - Tipicidade

SUMÁRIO

Introdução 2
3. Tipicidade 2
4. Teoria dos Elementos Negativos do Tipo 4
5. Teoria da Tipicidade Conglobante 6
6. Adequação Típica 8
7. Classificação Doutrinária do Tipo Legal 9
8. Questões 11

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Tipicidade
É preciso contextualizar a tipicidade dentro do conceito analítico de crime.

Foi visto também, na primeira aula da teoria do crime, que prevalece no Brasil o conceito
tripartite de crime, conceito analítico tripartite. Segundo o qual, crime é conduta típica, ilícita e
culpável.
Tem-se a conduta em primeiro lugar que precisa produzir um resultado, que deve haver um
nexo de causalidade entre esse resultado e a conduta, e, além disso, essa conduta que produz
resultado, que tem nexo de causalidade com si próprio (com ela própria), deve corresponder, se
adequar a uma descrição a uma norma criminal incriminadora. Essa adequação da conduta ao que
está descrito na norma penal incriminadora é o que classicamente, genericamente é chamado de
tipicidade.
Quando a conduta praticada por alguém se adequa perfeitamente a conduta descrita, ao
modelo descrito, na norma penal incriminadora se está diante de uma conduta típica ou então a
tipicidade.
Essa mera adequação da conduta ao modelo descrito na norma penal nada mais é do que a
tipicidade formal.
Ainda há mais duas tipicidades reconhecidas na doutrina que são a material e a conglobante.
A conglobante é desenvolvida e idealizada por Raposo Zaffaroni, iremos falar dela no decorrer da
aula. Mas o ponta pé inicial para entender tipicidade começa com a tipicidade formal.
Tipicidade formal é o juízo de subsunção, que é para dizer que essa conduta praticada pelo
agente se adequa perfeitamente ao modelo de conduta descrito na norma penal incriminadora. Resulto,
artigo 155 do CP, crime de furto: subtrair coisa alheia móvel de alguém. Por exemplo: se você for a
uma papelaria e furta uma caneta, uma “bic” que custa R$2,00, certamente você subtraiu coisa alheia
móvel, que não te pertence. Se é alheia ela não te pertence. Então, não há duvida que há tipicidade
formal em sua conduta.
140
Agora é preciso analisar o grau de lesão a que foi exposto o bem jurídico. A tipicidade formal
analisa somente a subsunção da conduta ao modelo descrito na norma penal incriminadora. A partir do
momento que se considera uma conduta típica passa a analisar o grau da lesão, passa- se para a
tipicidade material.
Assim, quando há um furto de uma caneta de R$2,00 em uma papelaria grande, por exemplo,
pode-se afirmar, abstratamente falando, que a lesão ao patrimônio daquela papelaria é insignificante.
Não houve naquele caso concreto uma lesão relevante ao bem jurídico tutelado, que é o patrimônio da
papelaria. Quando se analisa a lesão ou um perigo de lesão ao qual foi submetido o bem jurídico
tutelado, na verdade, a análise será da tipicidade material. Quando se reconhece que alguém agiu,
praticou uma conduta formalmente típica, mas sobre qual se pode falar que incidiu o princípio da
insignificância, fala-se em atipicidade material. O fundamento para absolvição de alguém que pratica
uma conduta com incidência no princípio da insignificância é a atipicidade. O artigo 386 do CPP tem-
se os incisos que indicam que a sentença será absolutória quando, inciso III, for atípica a conduta.
Ora, mas como falar que uma pessoa que furta uma caneta tem a conduta atípica, a condutadele
não é típica, e sim, materialmente atípica, mas é formalmente típica. E para ser típica, segundo o
entendimento moderno, não basta a tipicidade formal. É preciso ter também a tipicidade material, ou
seja, a relevância, o perigo de lesão ou da lesão ao bem jurídico tutelado.
Então, quando o aluno tiver que fazer uma peça em uma segunda fase, uma sentença ou um
recurso, para fundamentar a sua absolvição daquele réu, por exemplo, o princípio da insignificância,
será feito com o fundamento no inciso III, do artigo 386 do CPP, e afirmará que aquela conduta é
atípica. E na fundamentação da sua sentença será dito como chegar à conclusão da tipicidade. Não é
porque não há um juízo de subsunção com a norma, porque há, mas, sim, poque ela é materialmente
atípica, em razão da insignificância da lesão ao bem jurídico tutelado.
Portanto, o conceito de tipicidade divide-se em:

➢ Tipicidade Formal: que é adequação entre a conduta praticada e o modelo descrito na lei penal
incriminadora (juízo de subsunção).
➢ Tipicidade Material: que é a análise da lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Relação
direta com o princípio da ofensividade e o princípio da insignificância.
E, assim, conclui-se que a tipicidade penal é igual a tipicidade formal mais a tipicidade
material.

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TIPICIDADE PENAL = TIPICIDADE FORMAL + TIPICIDADE MATERIAL

A tipicidade material é aceita no âmbito penal brasileiro. Há diversos julgados dos tribunais
superiores tratando sobre o princípio da insignificância em diversos crimes. Se aplica a crimes
patrimoniais. Não se aplica ao crime de tráfico de drogas e nem a crimes militares. A tipicidade
material é sempre analisada pelos tribunais brasileiros, seja para negar a tipicidade material ou para
afirmar a existência.

O próximo assunto é cobrado em provas de concursos. Fique atento!

Teoria dos Elementos Negativos do Tipo

A Teoria dos Elementos Negativos do Tipo é uma teoria que foi desenvolvida por um
penalista alemão, Hellmuth von Weber, e segundo ele as causas excludentes de ilicitude seriam
elementos negativos do tipo. Então, para o agente praticar o crime não basta que a conduta seja
típica, ilícita e culpável. Para a conduta ser típica não basta haver resultado, conduta, nexo causal e
tipicidade, seria preciso que ele não agisse em estrito cumprimento do dever legal, exercício regular
do direito, que são causas excludentes da ilicitude.
Para Weber, se o agente agiu no estrito cumprimento dever legal, por exemplo, que é uma
excludente da ilicitude, na verdade, não está compondo o que ele chama de tipo total do injusto,
então, seria atípica. Ele coloca a tipicidade e ilicitude em um espaço só e chama isso de tipo total
do injusto. Havendo qualquer excludente de ilicitude não se tem o chamado tipo total do injusto. E,
logicamente, percebe-se que não foi adotado no direito penal brasileiro, porque, por exemplo, quando
alguém age em legitima defesa isso não afasta a tipicidade da conduta, a condutaé típica, mas deixa de
ser ilícita.
Quando alguém mata uma pessoa em legítima defesa, ela faz exatamente o que está na norma,
“matar alguém”, a tipicidade é formal. A lesão é grave, certamente sim, tipicidade material, matou

142
alguém. Agora, se isso é feito contra um tarado, pela excludente de ilicitude da legítima defesa, não é
crime porque não é ilícito, apesar da conduta típica não se tem a ilicitude. É assim que funciona no
direito penal brasileiro.
Para Weber, ilicitude e tipicidade formariam uma coisa só chamado tipo total do injusto
e as causas excludentes de ilicitude seriam elementos negativos do tipo. Por que nessetipo total do
injusto? Porque caso existentes já confirmariam a existência do tipo total, se houver alguma causa
excludente de ilicitude, não há o tipo total do injusto.
Então, é preciso que não haja uma excludente de ilicitude, que não haja legítima defesa, que
não haja o estrito cumprimento do dever legal, que não haja exercício regular do direito para que
esteja presente o tipo total do injusto. Se é preciso que não haja essas causas de excludentes éporque é
um elemento negativo do tipo total do injusto.
Portanto, quando se fala em Teoria dos Elementos Negativos do Tipo são aqueles
elementos que não se pode ter no tipo penal para que confirme a existência dele. E quais são
esses elementos que não se pode confirmar? As excludentes de ilicitude, que é chamado de elementos
negativos do tipo.
Weber chama o tipo de tipo total do injusto, na medida em que ele transforma tudo em uma
coisa só. Ele diz que só há tipicidade se não houver causas excludentes de ilicitude, se tem tipicidade,
para Werber, automaticamente, tem-se a ilicitude.
Vejam, foi visto que tipicidade, segundo o finalismo do direito penal brasileiro, é conduta,
resultado, nexo causal e tipicidade, o segundo extrato do conceito analítico de crime é ilicitude.
Para o direito penal brasileiro, a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal e o
exercício regular do direito, por exemplo, são causas que não afetam a tipicidade, porque se tem a
conduta, o resultado, e o nexo de causalidade, e a tipicidade (seja ela formal ou material), mas afeta a
ilicitude.
Já para Werber, para ter tipicidade, não se pode ter as causas excludentes de ilicitude, porque
elas são elementos negativos do tipo. Se estiverem presentes já afastam o chamado tipo total do
injusto.
Assim, a partir do momento que para se ter a tipicidade, na visão de Werber, é preciso quenão
haja nenhuma excludente de ilicitude e se há tipicidade automaticamente há ilicitude.
É algo que parece muito nebuloso, já há uma certa resistência quando é visto que não é
aplicado ao direito penal brasileiro, mas, as vezes, é necessário mostrar ao examinador o
conhecimento de uma teoria que não é aplicada no direito penal brasileiro até para comparar da forma

143
como se aplica no direito penal brasileiro.
A melhor forma de mostrar para o examinador que se sabe como funciona o direito penal
brasileiro é comparando uma teoria dessa, por exemplo, com a realidade teórica do direito penal
brasileiro. Será falado que Werber entendia que a tipicidade e a ilicitude formavam um tipo penal, um
tipo total do injusto. Então, se tinha tipicidade automaticamente se tinha ilicitude, mas isso não se
aplica ao direito penal brasileiro, porque aqui a causa excludente, a legítima defesa e o estrito
cumprimento do dever legal, exclui a ilicitude e não a tipicidade. Com isso você mostra ao
examinador que você domina o assunto.

Teoria da Tipicidade Conglobante


A Tipicidade Conglobante foi idealizada pelo argentino Eugênio Raúl Zaffaroni.

Segundo Zaffaroni, não basta aquela tipicidade formal. É preciso que seja analisado a
antinormatividade da conduta. E o que é antinormatividade? Não é só contrariedade a lei, na

144
verdade, quando se é praticado uma conduta formalmente típica não se contraria diretamente o
comando legal. Porque se você abrir o Código Penal no artigo 121 está escrito “matar alguém”, não
está escrito “não matar alguém”.
Assim, a antinormatividade não é necessariamente se contrapor a uma lei específica.
Sabe-se que o comando da norma penal é indireto. Então, quando você mata alguém, você contraria o
comando indireto da lei. Mas não é a contrariedade a norma penal incriminadora que Zaffaroni fala.
De acordo com Zaffaroni, a antinormatividade refere-se a todo ordenamento, ao que ele
chama de ordenamento conglobado, que é a chamada Teoria da Tipicidade Conglobante. Não
basta a contrariedade a normal penal, tem que ser contrário ao ordenamento como um todo.
Assim, para Zaffaroni, tipicidade legal é igual a tipicidade formal mais a antinormatividade
(tipicidade conglobante).

TIPICIDADE LEGAL = TIPICIDADE FORMAL + ANTINOMATIVIDADE (tipicidade


conglobante)

A consequência não deve apenas ser decorada, mas deve sabe como aplicá-la.

O exercício regular do direito e o estrito cumprimento do dever legal são causas excludentes
da ilicitude. Certo?
Assim, caso um oficial de justiça arrombe a casa de uma pessoa comandado, com auxílio de
força policial, para fazer uma busca e apreensão. Ele pratica uma conduta formalmente típica, porque
violou um domicílio, mas é antinormativo? Ele está contrariando o ordenamento jurídico?Certamente
que não.
No pensamento tradicional do direito penal brasileiro, esse oficial de justiça ou os policias que
arrombaram a casa para fazer a busca e apreensão, agiram amparados por uma causa excludente de
ilicitude.
Mas, se for seguido o pensamento de Zaffaroni, é deslocado o estrito cumprimento do dever
legal, do oficial de justiça, da ilicitude para a tipicidade. Porque para Zaffaroni a conduta desse
oficial de justiça não será contrária ao ordenamento jurídico.
A Constituição diz que o domicílio é inviolável, salvo se não tiver mandado. Assim, o
145
ordenamento respalda a ação do oficial de justiça. Que no conceito clássico do direito penal brasileiro
age amparado por uma causa excludente de ilicitude. Para Zaffaroni a conduta dele não

146
é lícita apenas, ela não é típica. Porque ela só é formalmente típica, mas ela não é antinormativa. E,
portanto, não se tem a tipicidade legal, a tipicidade conglobante.

Adequação Típica
Certamente essa expressão já foi vista quando se fala em tentativa, no artigo 14, inciso II, do
Código Penal.

Art. 14, inciso II, do CP:

Art. 14 - Diz-se o crime:


II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.
A adequação típica é um procedimento por meio do qual a o enquadramento de uma
conduta a descrição genérica em abstrato e previsto em lei da norma penal incriminadora. É o
jogo de encaixe de peças.
A adequação típica é quando você pega a conduta e ela se encaixa perfeitamente no modelo que
está descrito de forma genérica, abstrata, na norma penal incriminadora. Essa adequação típica se
subdivide-se em dois tipos:
1) Adequação típica por subordinação imediata: a conduta se enquadra diretamente, sem necessidade
de qualquer outra norma.
Essa subordinação é feita diretamente com a norma penal incriminadora sem necessidade de outra
norma.
2) Adequação típica por subordinação mediata ou por extensão: a conduta não se enquadra
diretamente na descrição da norma penal incriminadora, necessitando de outra norma para tanto. Ex.:
art. 14, inciso II, do CP (tentativa) e art. 29 do CP (participação)
É preciso uma outra norma para que a adequação típica se concretize.

147
Classificação Doutrinária do Tipo Legal

O conceito normalmente é mais decoreba, mas se você procurar entender sobre o tema é
possível que consiga descrever de uma forma mais intuitiva.
A intenção aqui não é exaurir toda a classificação doutrinária. Está no material aquelas que são
passíveis de serem cobradas em concurso público.
Primeiramente, temos o tipo fechado e o tipo aberto, aqui a questão é o tipo de
subjetividade do tipo penal, vejamos:
1) Tipo fechado: tipo que descreve minuciosamente a conduta.
Exemplo: subtrair coisa alheia móvel, o que é subtrair? Subtrair coisa alheia móvel. São conceito
objetivos, retiram a subjetividade da adequação típica.
2) Tipo aberto: compete ao julgador, caso a caso, complementar a tipicidade mediante juízode valor.
Exemplo: violação de domicílio. O que é domicílio? A lei diz o que é, mas já da um grau de
subjetividade para o julgador.
Os tipos penais da lei de abuso de autoridade, são tipos abertos em sua grande maioria, porque ele
fala que é preciso ter a intenção de se autopromover ou de prejudicar terceiros. Além de ver a
tipicidade formal, a adequação da conduta ao descrito na norma, é preciso verificar a intenção do
agente se é para prejudicar alguém ou se autopromover, tornando otipo mais aberto, mais subjetivo.
Não é proibido ter tipos abertos. Mas o ideal é que quando mais fechado o tipo seja, melhor.
Outros tipos são o simples e o misto, a quantidade de núcleos descritos na conduta no tipo
penal vai definir se é um tipo simples ou misto:
1) Tipo simples: descreve conduta com um único núcleo. (Ex.: art. 155 do CP – “subtrair”)
Se eu tenho um único verbo, um único núcleo daquele modelo de conduta descrita na norma penal
incriminadora, tem-se o tipo simples.
2) Tipo misto: descreve dois ou mais núcleos. São chamados também de crimes de ação múltipla ou

148
crimes de conteúdo variado.

149
Esse tipo se divide em mais dois tipos:
2.1) Tipo misto alternativo: mesmo descrevendo duas ou mais condutas, a prática de mais
de uma delas, configura um único crime (art. 180 do CP – “receptação” e tráfico)
2.2) Tipo misto cumulativo: a prática de mais de uma conduta descrita no tipo acarreta
concurso material.
É um tipo mais raro. Por isso, o aluno deve se atentar a esse tipo misto cumulativo, pois deve ser o
mais cobrado em provas.
Exemplo clássico é o artigo 244 do CP, abandono de incapaz.

Art. 244 do CP:

Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18
(dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos,
não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia
judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou
ascendente, gravementeenfermo: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo
vigente no País.
Por fim, há ainda os tipos congruente e incongruente:
1) Tipo congruente: há concordância entre a vontade do agente e a conduta descrita na norma penal
incriminadora
Exemplo: a intenção é matar alguém e na norma penal incriminadora está descrito “matar alguém”,
que é dolosamente. Há uma concordância entre a vontade do agente e o modelo de conduta descrita
na norma penal incriminadora.
2) Tipo incongruente: não há concordância entre a vontade do agente e o fato descrito na lei penal. Ex.:
crimes preterdolosos, lesão corporal seguida de morte. Nessa conduta a intenção, o dolo, é lesionar, e
acaba por matar culposamente. Há uma discordância entre a vontade do agente, que é apenas lesionar,
e acaba matando a vítima de forma culposa.

150
Meus amigos, sobre tipicidade era isso que tinha para ser falado. É uma aula um pouco
mais curta, mas bastante intensa. Há bastante conteúdo para você fixar e estudar! Façam
questões para fixar essas teorias. Espero ter ajudado e espero vê-los em outras aulas aqui no

Instituto Fórmula. Um grande abraço e bons estudos! ☺

Questões

1) (TJ-MS – Juiz Substituto) Em relação à tipicidade penal, correto afirmar que

A) é excluída pelos chamados princípios da insignificância e adequação social,


ausentes tipicidade formal e material, respectivamente.
B) o consentimento do ofendido, às vezes, pode afastar a própria tipicidade da condutae,
em outras, constituir causa supralegal de exclusão da ilicitude, segundo entendimento doutrinário.
C) o erro sobre elemento do tipo exclui o dolo e, por isso, incide sobre a ilicitude do
comportamento, refletindo na culpabilidade, de modo a excluí-la ou atenuá-la.
D) é afastada nas hipóteses de crime impossível e arrependimento posterior.
E) o dolo, segundo a teoria finalista, constitui elemento normativo do tipo.

GABARITO: B

A) ERRADA. O conceito analítico do crime não é um estudo pronto e acabado, em


relação ao qual não existam discussões. Estas existem, tanto no plano doutrinário quanto no plano
jurisprudencial. Os princípios da insignificância e o da adequação social são reconhecidos como
formas de se interpretar os tipos penais de maneira a terem um alcance menos amplo. Se
reconhecidos, a atipicidade se configuraria, mas não por ausência da tipicidade formal, que é aquela
que se limita a prever uma conduta como criminosa, mas sim da tipicidade material. Este conceito
estaria relacionado à busca pela intenção do legislador na descrição típica e à efetivação de uma lesão

151
ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido. Portanto, a aplicação dos princípios da insignificância e
da adequação social importaria no afastamento da tipicidade material. A tipicidade formal, contudo,
estaria presente mesmo diante da aplicação dos princípios mencionados.
B) CERTA. Segundo a doutrina, o consentimento do ofendido pode sim se configurar
em uma causa supralegal de exclusão da ilicitude, bem como pode se configurar em excludente da
própria tipicidade. Se a ausência do consentimento é parte da definição do crime, em estando ele
presente, a tipicidade estaria afastada. É o caso do estupro. Para haver o crime, é preciso que a
relação sexual não seja consentida. Neste caso, o

152
não consentimento integra a definição do crime, de forma que se ele existir, não haverá tipicidade.
Contudo, há situações em que o consentimento importará em excludente da ilicitude e, por não estar
relacionado no artigo 23 do Código Penal, seria uma causa supralegal de exclusão da ilicitude. A
doutrina costuma citar como exemplo o crime de dano. Se o dono de um bem autoriza que a coisa seja
danificada, a tipicidade estará presente, já que a ausência de consentimento não integra a definição do
crime, mas a ilicitude não, desde que se trate de bem jurídico disponível.
C) ERRADA. O erro sobre elemento constitutivo do tipo pode excluir o dolo e a culpa,
se for escusável ou inevitável, ou pode excluir apenas o dolo, se for evitável ou inescusável. É o que
está previsto no artigo 20 do Código Penal. Uma vez que os elementos DOLO e CULPA integram a
CONDUTA, que por sua vez é elemento da tipicidade, o instituto do erro sobre elemento do tipo ou
erro de tipo incriminador temrepercussão na TIPICIDADE e não ilicitude ou na culpabilidade.
D) ERRADA. A tipicidade é afastada no caso de crime impossível (art. 17 do CP),
mas não é afastada no caso do arrependimento posterior, previsto no artigo 16 do Código Penal. Este
último instituto se configura em uma causa de diminuição de pena para determinadas situações (crime
sem violência ou grave ameaça + devolução da coisa ou reparação do dano + antes do recebimento da
denúncia).
E) ERRADA. O dolo, segundo a teoria finalista, constitui elemento subjetivo do tipo e
não normativo. O dolo normativo era o que compunha a culpabilidade, em função da teoria causalista.
Ele era considerado normativo porque ele englobava o conhecimento da ilicitude. A teoria finalista
retirou o dolo da culpabilidade, deixando nela o potencial conhecimento da ilicitude, e levando-o para
o campo da tipicidade, desprovido de caráter normativo.

2) (PC-ES – Assistente Social) João subtrai para si um pacote de bolachas no valor de R$ 10,00 de um
grande supermercado e o fato se encaixa formalmente no art. 155 do Código Penal. Em virtude da
inexpressividade da lesão causada ao patrimônio da vítima e pelo desvalor da conduta, incide o
princípio da insignificância que tem sido aceito pela doutrina e por algumas decisões judiciais como
excludente de
A) punibilidade.
B) tipicidade material.

153
C) culpabilidade.
D) ilicitude formal.
E) executividade.

GABARITO: B
A questão em comento pretende aferir os conhecimentos dos candidatos a respeito da consequência
jurídica do reconhecimento do princípio da insignificância ou da bagatela.

154
Além da tipicidade formal (subsunção do fato à norma), para a configuração da tipicidade é
necessária uma análise materialmente valorativa das circunstâncias do delito, de modo a se perquirir
se a lesão ao bem jurídico foi penalmente relevante, ou seja, se a ação é digna de tutela penal ou pode
ser resolvido no âmbito de outras esferas.
Assim, o reconhecimento da insignificância exclui a tipicidade material (conduta atípica).

3) (TJ-PR – Titular de Serviços de Notas e de Registros) “Mas o que possibilita a ‘visão científica no
Direito Penal’? O conceito de crime, mais especificamente um conceito denominado analítico,
porquanto ‘analisa’ o crime em partes. É este, na verdade, o conceito mais importante do Direito
Penal” (BACILA, 2011). Com base no texto, assinale a alternativa que apresenta o elemento do
conceito analítico de crime que descreve a conduta proibida pela norma penal.

A) Imputabilidade.
B) Culpabilidade.
C) Tipo subjetivo.
D) Tipo objetivo.
E) Potencial conhecimento do ilícito.

GABARITO: D

A função primária do tipos penais é descrever objetivamente uma conduta proibida pelo direito penal,
os elementos que compõem o tipo penal dividem-se em: objetivo esubjetivo.
O objetivo corresponde ao comportamento descrito no preceito primário da norma, porém
desconsidera o estado anímico do agente – não analisa sua intenção. O elemento objetivo pode ser
dividido em descritivo e normativo. O elemento objetivo descritivo é aquele reconhecido de forma
imediata, dispensa conceitos prévios, e foca na materialidade do fato - ação indicada pelo núcleo do
tipo penal (verbo). Exemplo: Artigo 121, do Código Penal, o elemento objetivo descritivo é "matar".
Já o elemento objetivo normativo vai depender de uma valoração do aplicador da lei. Pode ser
jurídico, aquele em que a valoração prévia está na própria norma, por exemplo: conceito de

155
funcionário público está no Artigo 237, do Código Penal. Ou extrajurídico, aquele que a valoração está
fora da norma, por exemplo: conceito de ato obsceno nãoestá no
ordenamento jurídico. O subjetivo reúne todas as
características subjetivas direcionadas à produção de um tipo penal objetivo. Este tem como finalidade
investigar o ânimo do sujeito que praticar um tipo penal objetivo, ou seja, sua função é averiguar o
ânimo e a vontade do agente. Dito isto, o enunciado requer o elemento do conceito analítico de crime
que descreve a conduta proibida pela normal penal. Conforme o que foi dito anteriormente, a resposta
da questão é o elemento objetivo normativo (letra d), aquele que se preocupacom a ação indicada pelo
núcleo do tipo penal.

156
4) (TJ-SP – Administrador Judiciário) A doutrina dominante define tipicidade como

A) a adequação de um ato praticado pelo agente com as características que o


enquadram à norma descrita na lei penal como crime.
B) um juízo de valor negativo ou desvalor, indicando que a ação humana foi contrária
às exigências do Direito.
C) a voluntária omissão de diligência em calcular as consequências possíveis e
previsíveis do próprio fato.
D) um juízo de reprovação pessoal que recai sobre o autor do crime, que opta em
praticar atos ou omissões de forma contrária ao Direito.
E) uma ação delitiva de maneira consciente e voluntária.

GABARITO: A

A tipicidade, na lição de Francisco de Assis Toledo na sua clássica obra Princípios Básicos de Direito
Penal é "... a subsunção, a justaposição, a adequação de uma conduta da vida real a um tipo legal de
crime". Vale dizer: é a correspondência integral (adequação) entre a conduta (ato praticado pelo
agente) e o fato típico (norma descrita na lei penal como crime). Diante dessas considerações, tem-se
que a alternativa corretaé a correspondente ao item (A) da questão.
Passemos à análise do conteúdo concernente aos outros itens:
Item (B) - o juízo de valor negativo ou desvalor, indicando que a ação humana foi contrária às
exigências do Direito, corresponde à antijuridicidade ou ilicitude. A ilicitude, nas palavras de
Francisco de Assis Toledo, na obra mencionada na análise do item anterior é "... uma relação ou
propriedade que se atribui ao fato típico penal. Com isso queremos dizer que o termo ilicitude
exprime a ideia de contradição, de antagonismo, de oposição ao direito".
Item (C) - A assertiva contida neste item diz respeito à culpa, que pode ser definida como a vontade
direcionada a descumprir o dever objetivo de cuidado de modo a não observar diligência exigível a
fim de evitar resultado típico que poderia ser previsto pelo agente.
Item (D) - O juízo de reprovação pessoal que recai sobre o autor do crime que pratica conduta
157
contrária ao direito corresponde à culpabilidade. Com efeito, a culpabilidade é a censura ou
reprovação que incide sobre a pessoa que praticou um ato típico e ilícito de modo a considerá-la
culpada pela prática de um crime.
Item (E) - Uma ação delitiva de maneira consciente e voluntária nada mais é que uma conduta dolosa.
O dolo, portanto, é a vontade livre e consciente de realizar os elementos constantes do tipo penal.

5) (TJ-SC – Técnico Judiciário Auxiliar) Durante uma tragédia causada pela natureza, Júlio, que
caminhava pela rua, é arrastado pela força do vento e acaba se chocando

158
com uma terceira pessoa, que, em razão do choque, cai de cabeça ao chão e vem a falecer.
Sobre a consequência jurídica do ocorrido, é correto afirmar que:

A) a tipicidade do fato restou afastada por ausência de tipicidade formal, apesar de


haver conduta por parte de Júlio;
B) a tipicidade do fato restou afastada, tendo em vista que não houve conduta penal
por parte de Júlio;
C) o fato é típico, ilícito e culpável, mas Júlio será isento de pena em razão da ausência
de conduta;
D) a conduta praticada por Júlio, apesar de típica e ilícita, não é culpável, devendo esse
ser absolvido;
E) a conduta praticada por Júlio, apesar de típica, não é ilícita, devendo esse ser
absolvido.

GABARITO: B
De acordo com todas as teorias aceitas no direito penal, quais sejam, a causalista, a finalista e a
social, o evento não configurou uma conduta penal. É que o fato narrado não constitui um
comportamento humano voluntário. O corpo de Júlio foi arrastado pela força do vento.
O choque do seu corpo com o da terceira pessoa ocorreu sem qualquer ingerência da vontade de
Júlio. Não houve, portanto, no fato ocorrido, nenhuma ação livre de Júlio cujo corpo só se
encontrava nas circunstâncias descritas em razão do vento desmedido. Com efeito, não há que se
falar em conduta penal. Não havendo conduta, o fato sequer pode ser considerado típico e, via de
consequência, fica prejudicada qualquer análise acerca da ilicitude e da culpabilidade.
Em face dessas considerações, há que se concluir que a alternativa correta é a constante do item (B) da
questão.

6) (PC-PI – Agente da Polícia Civil) Julgue os itens a seguir acerca da tipicidade, ilicitude,
culpabilidade e punibilidade.

159
I - Não há crime quando o agente pratica o fato em estado de necessidade.
II - Extingue-se a punibilidade pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes
contra a dignidade sexual.
III - Tipicidade é a conduta típica realizada.
IV - Para ser culpável, o agente deverá ser imputável.

A) Somente estão corretos os itens I e II.


B) Somente estão corretos os itens I e IV.
C) Somente estão corretos os itens I, II e IV.
D) Somente estão corretos os itens II e IV.
E) Todos os itens estão corretos.

160
GABARITO: B

Item (I) CORRETA - O estado de necessidade, disciplinado no artigo 24, do Código Penal
("Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício,
nas circunstâncias, não era razoável exigir- se"), configura uma causa excludente de ilicitude.
Considerando-se que, em seu conceito analítico, crime é o fato típico, ilícito e culpável, uma vez
configurado o estado de necessidade, não há crime.
Item (II) INCORRETA - Com o advento da Lei nº 11.106/2005, o casamento da vítima deixou de ser
causa de extinção da punibilidade nos crimes contra a dignidade sexual, conforme antes estabelecido
no inciso VII do artigo 107 do Código Penal hoje revogado.
Item (III) ERRADA - A tipicidade é a subsunção do fato ao tipo penal, vale dizer: tipicidade é a
correspondência integral entre a conduta e o fato típico. Segundo Fernando Capez, em seu Direito
Penal, Parte Geral, "O fato típico por sua vez é o fato material que se amolda perfeitamente aos
elementos constantes do modelo previsto no tipo". Ainda segundo o referido autor, são quatro os
elementos do fato típico, quais sejam: conduta (dolosa ou culposa); resultado; nexo causal e
tipicidade.
Item (IV) CORRETA - São elementos da culpabilidade a imputabilidade (capacidade de o agente
entender o caráter ilícito de sua conduta), o potencial conhecimento da ilicitude e possibilidade de
conduta diversa. Com efeito, para que esteja configurada a culpabilidade devem estar presentes esses
três elementos.

7) (IGP-SC – Perito Criminal Ambiental) É certo afirmar:


I. No concurso de pessoas as circunstâncias e as condições de caráter pessoal nunca se
comunicam.
II. Tipicidade conglobante é a comprovação de que a conduta legalmente típica está
também proibida pela norma, o que se obtém desentranhando o alcance da norma proibitiva,
conglobada com as restantes normas da ordem normativa.
161
III. O sujeito ativo, geralmente, pode ser qualquer um, mas em certos tipos são exigidas
características especiais no sujeito passivo. Quando qualquer um pode ser sujeito ativo, os tipos
costumam enunciar “o que” ou “quem”.
IV. O erro de tipo não afasta o dolo.
Analisando as proposições, pode-se afirmar:
A) Somente as proposições II e III estão corretas.
B) Somente as proposições I e IV estão corretas.
C) Somente as proposições II e IV estão corretas.
D) Somente as proposições I e III estão corretas.

GABARITO: A
A proposição nº I está errada. Conforme estabelece o artigo 30 do Código Penal, as circunstâncias e
condições de caráter pessoal somente se comunicam a coautores e partícipes quando forem
elementares do crime.
A proposição n° II está certa, em que pese sua redação um pouco confusa. A tipicidade conglobante
propõe a análise da questão da tipicidade penal com base na antinormatividade e na tipicidade
material. Assim, a conduta típica penalmente tem que ser proibida pela norma jurídica com um todo,
ou seja, globalmente considerada, já que o Direito é um só. Ademais, uma conduta somente será
típica se atingir o bem jurídico protegido de forma significativa, pelo que que lesões ínfimas não
ensejariam a tipicidade por aplicação do princípio da insignificância.
A proposição nº III está certa, mas a parte final da assertiva está mal redigida. O fato é que os crimes,
em regra, podem ser praticados por qualquer pessoa, pelo que são classificados doutrinariamente
como crimes comuns. Eventualmente, os crimes exigem uma qualidade especial do agente (Ex. ser
funcionário público; ser médico; ser parturiente; etc.), hipótese em que eles são classificados
doutrinariamente como crimespróprios ou de mão própria.
A proposição nº IV está errada. O erro de tipo, seja ele incriminador ou permissivo, seja ele evitável
ou inevitável, sempre afasta o dolo, havendo possibilidade de responsabilização penal por crime
culposo, quando se tratar de erro evitável

162
(inescusável ou vencível) e houver previsão da modalidade culposa do tipo penalconsoante dispõe
o artigo 20 do Código Penal.

Teoria do Crime – Dolo e Culpa

Dolo

Conceito analítico de crime:


Você deve se lembrar das primeiras aulas. E na primeira aula da Teoria do Crime foi falado a
respeito do conceito analítico de crime. Conduta ou fato típico, ilícito e culpável.

FATO TÍPICO (CONDUTA TÍPICA) + ILÍCITO + CULPÁVEL

Foi estudado, também, as teorias causalista (culpabilidade) e finalista (conduta típica). E o


Código Penal adota a Teoria Finalista (conduta típica).

O dolo foi tratado de forma diferente nas teorias causalista e finalista.


Caso se tente contextualizar (localizar) o dolo dentro do conceito analítico de crime há uma
grande diferença entre as teorias causalista e finalista.
Na teoria causalista você se recordar que foi falado que o dolo está na culpabilidade, no
terceiro substrato do crime. E veremos mais a frente que esse é o chamado dolo normativo.
Com o surgimento da teoria finalista, houve uma migração, segundo a doutrina, da
163
culpabilidade para a conduta típica (fato típico), que é denominado dolo natural.
É importante que você saiba, que na teoria finalista, que é a teoria adotada pelo Código Penal
brasileiro, o dolo está localizado no conceito analítico de crime dentro da conduta típica e, não mais,
na culpabilidade.
Para se entender o que é o dolo para o direito penal brasileiro é preciso passar por 03 (três)
teorias que são consagradas e previstas em todos os manuais de Direito Penal que você ler.

Teorias do Dolo

Fique atento! Nenhuma dessas teorias nega a anterior, ela apenas complementa. É uma
espécie de gradação.
A teoria da representação define o dolo, a teoria da vontade confirma essa definição, mas
acrescenta algo e a teoria do assentimento confirma a teoria da vontade e acrescenta algo não
previsto nas duas anteriores.
Teoria da Representação: o dolo exige apenas a previsão de um resultado. Não se preocupa
com a vontade do agente, mas apenas com a previsibilidade do resultado.
O dolo é somente, tão somente, a previsão de um resultado. Não há preocupação nem com
vontade e nem com previsibilidade de resultado. O que se preocupa é tão somente com a previsão
do resultado, basta a previsibilidade.
É preciso que o agente previamente represente, ou seja, preveja o resultado possível da sua
conduta.

Teoria da Vontade: além da representação, exige ainda a vontade do produzir o resultado.


Essa teoria da um passo a frente. Vulgarmente fala-se quase que como sinônimo dolo e
vontade. Por exemplo, quando se explica para um leigo o que é um crime doloso, um homicídio
doloso, é aquele que atirou com vontade de matar, esfaqueou com vontade de matar. É a vontade de
produzir um resultado.
Então, veja, essa teoria não nega a teoria da representação. É preciso além da representação a
vontade de produzir o resultado, mas ainda assim o agente precisa ter a previsibilidade daquele
resultado.

164
Assim, a teoria da vontade é a soma da representação com a vontade.

Teoria do Assentimento: o dolo não há apenas quando há vontade de produzir o resultado,


mas também quando se assume o risco de produzi-lo.
É quase que a teoria da concordância, conformidade. Quando você assente com alguma coisa
você concorda. E por que a doutrina usou essa expressão teoria do assentimento?
Além de prever a possibilidade de resultado, além da vontade, é preciso também que se
assuma o risco de produzir o resultado.

Então, há claramente aqui uma referência ao dolo eventual, que será conceituado nessa
aula.

Veja, mais uma vez, a teoria do assentimento não nega a teoria da vontade. Ela diz o
seguinte? É preciso ter vontade e também assumir o risco de produzir o resultado.
Quando você atira em alguém para matar é óbvio que você assumiu o risco de produzir o
resultado, você quer o resultado.
No dolo eventual, adiantando aqui, o agente atira, por exemplo, contra alguém, sabe que pode
matar, não sendo sua intenção, mas ele assume o risco de matar.
Há uma teoria, que ainda será estudada, que ajuda a identificar o dolo eventual. Mas, desde já,
pode-se entende que o Código Penal, em seu artigo 18, inciso I, adota tanto a teoria da vontadequanto
a teoria do assentimento.

Artigo 18, inciso I, do CP:

Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)


Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - doloso, quando o agente quis o resultado (Teoria da Vontade) ou assumiu o risco de produzi-
lo (Teoria do Assentimento);(Incluído pelaLei nº 7.209, de 11.7.1984)
Então, vejam, que antes do conectivo alternativo “ou” se tem a teoria da vontade
expressamente e após o “ou” a teoria do assentimento. Isso explica a possibilidade no direito
brasileiro de imputações tanto com o dolo direto (que exprime a teoria da vontade) como o dolo
eventual.
Lembrando que, no direito brasileiro, dolo direto e dolo eventual são tratados
165
praticamente da mesma forma. Quem mata alguém com o dolo direto ou com o dolo eventual
responde ao mesmo crime, artigo 121 do CP. Pode haver aqui alguma diferença na dosimetria
da pena, na individualização da pena, mas na tipificação, na consequência penal, imediata, na
responsabilidade penal, não há diferença.
Portanto, são 03 (três) teorias para explicar o dolo. São elas: teoria da representação, teoria da
vontade e teoria do assentimento. E elas não são excludentes entre si, uma não supera a outra, mas
apenas complementa. A Teoria da Representação para ela basta a previsibilidade do resultado. Na
teoria da vontade além do resultado é preciso ter vontade propriamente, praticar uma conduta que
desencadeia o referido resultado. E, por fim, a teoria do assentimento que além de prever resultado,
além da vontade de produzir aquele resultado, o agente precisa assumir o risco de produzir aquele
resultado.

Dolo natural e dolo normativo

No início da aula, foi falado que para contextualizar o dolo no conceito analítico de crime é
preciso voltar a primeira aula, em que foi estudado a teoria causalista. E segundo essa teoria o dolo
seria um elemento da culpabilidade. E no finalismo passou-se a entender o dolo como um dos
elementos da conduta. Então, desloca-se o dolo da culpabilidade, que é o terceiro substrato do
conceito analítico de crime, para o primeiro, conduta típica, porque ele é um elemento da conduta.
O dolo causalista é denominado dolo normativo.

• Dolo Normativo: teoria causalista – dolo como elemento da culpabilidade


Assim, se alguma questão de concurso falar em dolo normativo já se sabe que é um conceito superado.
E que é previsto pela teoria causalista, que o dolo é analisado no terceiro substrato do crime, que é a
culpabilidade.
• Dolo Natural: teoria finalista – dolo como elemento da conduta

Quando se fala em dolo natural, é aquele dolo ligado a vontade do agente propriamente e, por isso,
ele é analisado na conduta e não mais na culpabilidade. E,aqui, fala-se da teoria finalista. Portanto, é o
dolo natural e não mais o dolo normativo.
Fique atento, candidato! Há manuais de Direito Penal que tratam esse assunto em um
166
capítulo, porém não é eficaz para fins de concurso público. Então, de forma objetiva o que se precisa
saber é a diferença de dolo normativo e natural, onde eles estão localizados.

Espécies de dolo

Dolo direto e Dolo indireto

• Direto: a vontade do agente, propriamente dita, é voltada a determinado resultado.

Se o agente tem a intenção, o dolo, de matar alguém o resultado que ele quer, que ele tem vontade, é
a morte da vítima.
• Indireto: a vontade não é voltada a um resultado determinado. Aqui, não há vontade de obter o
resultado previsto em lei para determinado crime. Divide-se emdolo alternativo e dolo eventual.
▪ Dolo Alternativo: o agente deseja indistintamente um ou outro resultado com igual
intensidade.
O agente pratica a conduta almejando indistintamente, com a mesma intensidade, um ou outro
resultado.
Ex.: A atira em B com vontade de matar ou ferir, ou seja, A tem um dolo alternativo de resultado
morte ou resultado lesão corporal. Se B morrer, homicídio, até porque uma das intenções dele era a
morte. Se B não morrer, o A responde por homicídio tentado ou por lesão corporal? Já que ele
também tinha o dolo distinto de matar ou ferir?
Nesse caso, prevalece o resultado mais grave. Se ele tinha vontade de matar,sabe-se que há uma norma
de adequação típica mediata, que é o artigo 14, inciso II, do CP, que permite a tipificação dessa
conduta como um homicídio tentado. Então, se ele quis o mais grave, ele irá responder pelo crime
mais grave, que é o homicídio tentado.
Assim, o dolo alternativo é mais conceitual, na prática ele não gera tantas perplexidades, porque é
fácil a solução. Basta você saber que uma pessoa que almeja dois resultados distintos com a
mesma intensidade.
Pode cair como questão central do questionamento, descrevendo uma conduta, por exemplo, ou falar
que o agente atirou com a intensão ou de matar ou de ferir, com a mesma vontade, com a mesma
intensidade, para osdois resultados.
167
▪ Dolo Eventual:

No dolo eventual se tem a teoria do assentimento, que conceitua o dolo como a assunção do risco
de produzir o resultado. O agente pode até não desejar aquele resultado, mas ele assume o
risco. O agente irá praticar de qualquer jeito, se acontecer ele não se importa.
Existe uma teoria, a Teoria Positiva do Conhecimento, do Reinhart Frank, alemão, que consagrou tal
frase “seja como for, dê no que der, em qualquercaso não deixo de agir”.
Sabe-se que os doutrinadores brasileiros aperfeiçoaram a Teoria Positiva do Conhecimento e criaram a
“teoria do fod...”. Porque quando um agente pensa em praticar uma determinada conduta que pode
gerar um determinado resultado, mas ele não está nem um pouco preocupado e liga o “f...”, e, por isso,
virou a teoria do “f...”. É um incremento da Teoria Positiva do Conhecimento.
É claro que no concurso não irá cair a teoria brasileira e sim será cobrada a Teoria Positiva do
Conhecimento. Não é necessário que se decore a frase, mas é preciso entender que o agente prevê o
resultado, pode até não desejar, mas ele prevê, ele sabe que é possível que aquilo aconteça, mas
ele não liga para o fato de poder concretizar aquele resultado. Então, seja como for, não importa,
dê no que der, em qualquer caso ele não deixa de agir.
Uma questão bastante interessante, em relação ao dolo eventual, que é enfrentada na prática, e é um
erro muito grande tentar generalizar ou para um lado ou para o outro, é em relação aos crimes
nocivos no trânsito. É visto uma discussão muito grande na empresa e as vezes até para os operadores
do direito dizendo o seguinte, se o agente está em alta velocidadeé um dolo eventual, se o agente estava
embriagado é um dolo eventual, aumenta a chance de ser, mas não dá pra ser algo automático.
A análise, se há dolo eventual ou crime culposo, é feita caso a caso.

Infelizmente há diversos casos de embriaguez ao volante, o agente enche a cara, pega o carro e
dispara na via em uma velocidade de 150 a 180 km/h. Muitos desses casos vão a júri por dolo
eventual, dizendo que se o agente bebe exageradamente, pega um carro e dirige em alta velocidade,
ele claramente assume o risco de produzir o resultado. Mas há casos em que o atropelamento, por
exemplo, em alta velocidade, que continua como crime culposo. Essa análise não pode ser
generalizada, ela tem que ser feita casuisticamente, ou seja, caso a caso.

Dolo genérico e Dolo específico


168
• Genérico: a vontade do agente se resume à prática da conduta típica, sem qualquer finalidade
específica.
É o dolo clássico. É o agente que quer matar e atira em alguém e tem como vontade. como finalidade, a
morte de uma pessoa. Mas há dolos específicos, ou seja, que trazem consigo um especial fim de agir,
uma finalidade específica, que é o chamado elemento subjetivo do tipo, porque essa finalidade é
descrita no tipo penal e para que se tenha a concretização desse elemento do tipo é preciso de uma
conduta de um sujeito ativo. Então, elemento subjetivo porque depende do agente, afinal de contas é
a exteriorização da vontade dele.
Elemento subjetivo é o dolo específico.

• Específico: finalidade especial, elemento subjetivo do tipo

Exemplo: A Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869/2019) trouxe um grande debate


inicialmente. Essa lei aparentemente veio tornar mais difícil a vida das
autoridades, fechou o circo de determinadas condutas, mas ela logo de cara, no seu artigo primeiro,
parágrafo primeiro, traz uma norma que estende a todos os tipos penais da lei, que nada mais é do que
um elemento subjetivo do tipo, com o especialfim de agir, com uma finalidade específica. Ou seja, um
dolo específico.

Artigo 1º, § 1º, da Lei nº 13.869/2019:

Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público, servidor ou
não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido
atribuído.
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo
agente com a finalidade específica deprejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou,
ainda, pormero capricho ou satisfação pessoal.
Então, só se tem o crime de abuso de autoridade, não importando qual seja a conduta descrita na lei,
se presentes ao menos um desses quatro especiais fins de agir, um desses quatro dolos específicos,
quais são: prejudicar outrem; beneficiar a si mesmo ou a terceiro; mero capricho; satisfação pessoal.
Se não tiver esse elemento subjetivo do tipo a conduta não é típica, porque não foram preenchidos,
169
não foram adequados, todos os elementos do tipo. Não basta ocorrer a prisão sem mandado, um dos
crimes previsto na Lei de Abuso de Autoridade, se ele não fizer isso com a finalidade específica de
prejudicar o preso ou de beneficiar a si mesmo de alguma forma, ou por mero capricho ou, ainda, por
satisfação pessoal.
Importante saber o dolo genérico, mas o professor Fábio acha difícil cair, pois é o tradicional dolo
clássico. Já o dolo específico é mais interessante para ser cobrado, porque há diversos tipos penais no
Código Penal ou Legislação Penal Extravagante, que trazem descrito um elemento subjetivo do tipo,
que fazem o especial fim de agir.

Dolo de primeiro grau e Dolo de segundo grau

Aqui, é uma questão interessante porque resolve algumas situações práticas.

• De primeiro grau (clássico): vontade direcionada a um resultado efetivamente perseguido,


incluindo os meios necessários para tanto.
Mais uma vez, o agente tem a intenção de tirar a vida de alguém, e no dolo de primeiro grau é tirar a
vida da pessoa, isso inclui inclusive os meios que ele se valeupara conseguir os resultados.
• De segundo grau: vontade dirigida a um dado resultado desejado, em que a utilização dos
meios escolhidos inclui “efeitos colaterais” de ocorrência praticamente inevitável.
Ainda há uma vontade dirigida a um certo resultado, só que esses meios escolhidos para obter esse
resultado gera efeitos colaterais. E esses efeitos colaterais tem o acontecimento muito provável,
quase que inevitável.
Exemplo clássico: quando o agente quer matar o seu desafeto se valendo de uma bomba. Ele sabe
que o desafeto dele estará em um voo e ele resolve colocar uma bomba no avião. Então,
inevitavelmente ele tirará a vida de tantas outras pessoas. O dolo em segundo grau inclui os efeitos
colaterais da conduta dele, que serão as mortes de tantas outras pessoas. E tem o dolo de primeiro
grau em relação ao alvodele.
Fala-se ainda na doutrina, não é muito bem recebido, são poucos os autores que admitem, em dolo de
terceiro grau. Por que que não admitem? Eles dizem o seguinte, se tiver algum desdobramento desses
efeitos colaterais, que seria o efeito colateral do efeito colateral, não deixa de ser um dolo em segundo
grau.
170
O exemplo de quem admite a existência de um dolo de terceiro grau, nesse caso da bomba no avião,
seria o caso de ter uma mulher grávida no avião. Ele responderia também pelo aborto. Na verdade,
todas essas consequências de efeitos colaterais seriam abarcadas pelo dolo de segundo grau.

Teoria dos indicadores externos (Windfried Hassemer)

Essa questão é muito levantada nos plenários de júri. Por que? Porque tanto a acusação
quanto a defesa quando querem mostrar para os jurados qual era a intenção do réu é sempre o
momento em que não é possível, logicamente, entrar na cabeça do réu para falar à vontade
dele. O que faz então acusação e defesa nesse momento? Eles se valem de elementos exteriores
de circunstâncias externas ao agente que demonstram o seu ânimo, a sua intenção. A
quantidade de disparos, o local dos disparos, a arma escolhida.

171
Assim, para que se pudesse identificar esse fenômeno interno do agente, que é o dolo, o
penalista, Windfried Hassemer, criou a teoria dos indicadores externos. Que é basicamente isso que
fazem promotores e defensores advogados dos Tribunais dos Júris. Por que?
Segundo Hassemer, é preciso que se olhe primeiro para a demonstração do perigo ao bem
jurídico, ou seja, se o agente efetivamente colocou em perigo o bem jurídico, já é um indicador de
que a vontade dele é efetivamente lesionar aquele bem jurídico.
Segundo, a visão do agente acerca desse perigo, ou seja, era possível ele prever que com
aquela conduta ele poderia acabar atingindo o bem jurídico.
E, terceiro, a decisão do agente sobre a realização do perigo atacando o bem jurídico.
Ele efetivamente atacou, de que forma ele atacou e se efetivamente atacou.

Assim, são indicadores externos que demonstram esse fenômeno interno na cabeça do
agente, que é o dolo.
Essa teoria é de fácil compreensão, fique atento!

Mas como você saberá se o agente tinha a intenção ou não de matar alguém? Você nunca,
jamais, poderá entrar na mente dele. A vontade, o animus, é um fenômeno interno, psíquico. E você
só poderá interpretar essa intenção a partir de sinais exteriores, de indicadores externos.
A teoria dos indicadores externos nos traz exatamente isso. Mostra quais são os indicadores que
se deve olhar para entender a intenção do agente.

Culpa
Elementos do crime culposo

Alguns doutrinadores oscilam com esses elementos, alguns acrescentam, outros retiram, mas
quase a unanimidade deles falam em 06 (seis) elementos. São eles:
A. Voluntariedade ou Conduta Voluntária

172
Aqui, não há muito a que ser dito. Só se deve prestar atenção que a conduta tem que ser voluntária.
Até porque se ela não for voluntária exclui-se a conduta.
E será vista essa diferenciação entre essa voluntariedade e resultado, que apesar da conduta ser
voluntária o resultado não é.

173
B. Violação do dever objetivo de cuidado

Esse é um dos elementos mais importantes do crime culposo. O que é o dever


objetivo de cuidado?
O conceito abordado pelo professor Fábio Ribeiro é o que consta na maioria dos manuais.

O dever objetivo de cuidado é o comportamento imposto pelo ordenamento jurídico a todas as


pessoas, visando o regular e pacífico convívio social.
Assim, o dever objetivo de cuidado é um comportamento, que é imposto por lei e para a pacificação
social.
Quando há violação desse dever objetivo de cuidado, a doutrina subdivide essas formas de violação
em 03 (três), são elas:
▪ Imprudência: ação intempestiva ou irrefletida sem a observância das cautelas necessárias.
Forma positiva da culpa, pressupõe um agir.
Ex.: é o agente que dirige e pratica uma manobra intempestiva, irrefletida, de forma brusca e sem
olhar para o cruzamento, sem olhar para ver se vem alguém. Entra em uma via sem dar a necessária
preferência a via principal e ele faz essas condutas de forma imprudente.
▪ Negligência: forma negativa da culpa, pressupõe uma omissão. Omitir a conduta cuidadosa que
as circunstâncias exigem.
Ex.: omissão na cautela de arma de fogo. O agente não age, não tem nenhuma ação positiva.
▪ Imperícia: denominada a “culpa profissional” – praticada no exercício da arte, profissão ou
ofício.
É quando o agente desrespeita uma técnica da sua profissão, por exemplo, e de forma imperita gera
um resultado culposo.
Cuidado com a expressão “culpa profissional”, pois para a maior parte da doutrina não é imperícia. É
a famosa “culpa da ciência”, isso será visto maisadiante. Inclusive exclui a culpa.

174
Ex.: um médico que aplica o tratamento a um paciente que tem câncer e esse tratamento é previsto
nos protocolos médicos, padronizados. Não é um tratamento eficiente e o paciente vem a óbito, o
médico logicamente não será responsabilizado, porque ele não agiu com imperícia. A culpa
profissional é a culpa da ciência. A falta de avanço tecnológico-cientifico para a cura de uma doença
que seja 100% eficiente, eficaz, não pode ser atribuída ao profissional.
Obs.: as modalidades de culpa devem estar minuciosamente descritas na denúncia.
Essa observação é muito importante! O candidato que fará concurso para promotor, uma peça prática,
por exemplo, e tiver que narrar uma denúncia de um crime culposo, terá que dizer se o agente agiu
com imprudência, negligência ou imperíciae descrever minuciosamente essas modalidades.
Por que tem que vir descrito na denúncia? A culpa é um elemento normativo do tipo e tem que ser
descrito a culpa, porque se não há atipicidade. Se a denúncia descreve uma conduta supostamente
culposa, mas não descreve como foi violado o devido objetivo de cuidado, ela descreve uma conduta
atípica. E, portanto, essa denúncia é inepta.
C. Resultado naturalístico involuntário

É sempre necessário que se tenha um resultado naturalístico, porque senão não há crimes culposos.
Todos os crimes culposos são materiais, se eles são materiais eles preveem o resultado naturalístico e
para a sua consumação é preciso que o resultadonaturalístico efetivamente ocorra.
Nos crimes formais há previsão de resultado naturalístico, mas não é preciso da ocorrência do
resultado para consumação do delito.
E os crimes de mera conduta, de consumação antecipada, não há nem previsão do resultado
naturalístico, basta a prática da conduta.
Então, por serem crimes materiais, é preciso o resultado naturalístico e é preciso
que ele ocorra.

D. Nexo causal: ligação entre conduta e resultado naturalístico.

E. Tipicidade: subsunção da conduta ao modelo descrito na norma.

175
Não há crime se não há aquela subsunção perfeita entre a conduta e o modelo penaldescrito na norma.
Tipicidade é o quinto elemento do crime culposo.

F. Previsibilidade objetiva

Esse elemento é bastante importante, junto com o elemento da violação do deverobjetivo de cuidado.
O que é previsibilidade objetiva?

É a possibilidade do homem médio prever a ocorrência de um resultado. E quando se fala em


homem médio (standard) é aquela pessoa mediana.
Não se aplica ao crime culposo a análise subjetiva do agente. Não se leva em consideração as experiencias
de vida de cada indivíduo.
A previsibilidade subjetiva, ou seja, que leva em consideração o perfil de cada um, vai ser relevante na
culpabilidade (potencial conhecimento da ilicitude)

Espécies de culpa

Culpa consciente: ocorre quando o agente prevê o resultado e acredita que ele não ocorrerá. O
resultado ocorre por erro de cálculo ou por erro na execução.
Aqui, é necessário que se faça uma comparação ao dolo eventual.

Na culpa consciente o agente prevê o resultado e no dolo eventual também. Só que no dolo
eventual o agente assume o risco de produzir o resultado e na culpa consciente não.
Na culpa consciente o agente prevê a possibilidade desse resultado, mas ele acredita piamente
que aquele resultado não vai ocorrer. Só que o resultado acaba ocorrendo por um erro de
dimensionamento daquela conduta, um erro de cálculo ou por erro na execução.

176
Culpa inconsciente: o agente não prevê o resultado objetivamente previsível, ou seja, há
previsibilidade objetiva do homem médio, mas mesmo assim ele não prevê e acaba chegando ao
resultado naturalístico involuntário.

177
No direito penal brasileiro o dolo eventual e o dolo direto trazem a mesma consequência
jurídica, mesma responsabilidade penal. Da mesma forma, no nosso ordenamento não há diferenciação
de consequência jurídica para a culpa consciente e culpa inconsciente.

Culpa própria: o agente não quer o resultado nem assume o risco de produzi-lo.

Até porque se ele assumisse o risco não seria culpa, e sim dolo eventual.

Culpa imprópria: após prever o resultado e desejar a sua ocorrência de resultado, pratica a
conduta por erro inescusável quanto à ilicitude do fato.
O agente pratica a conduta achando que a conduta é lícita, que aquele resultado não é ilícito,
antijurídico, porque ele está sob erro. Só que esse erro é inescusável, ou seja, um erro vencível contra
a ilicitude do fato.
Exemplo: caso do filho que volta de surpresa de viagem. Esse exemplo ocorreu no Estado do
Rio de Janeiro. Um filho que morava no exterior (já adulto) resolveu fazer uma surpresa para os pais
e voltando de viagem, sem avisa-los, chega no aeroporto pega o ônibus para a região serrana, e sem
querer causar alarde da sua chegada, ele pula o muro da casa do pais, o cachorro o reconhece e,
portanto, não late. Ele verifica que uma das portas da casa está aberta e ele entra na casa. Resolve
fazer uma surpresa entrando no quarto dos pais no meio da noite. O pai que dormia com uma arma de
fogo na sua cabeceira, de forma assustada, acorda e atira, matando o filho.
É uma história trágica, triste, mas que traz um exemplo de um pai que prevê o resultado
morte, afinal de contas ele atirou, ele deseja a ocorrência, porque para ele tinha um invasor na sua
casa, mas ele pratica amparado em uma falsa percepção da realidade quanto a ilicitude do fato. Ele não
estava agindo em legítima defesa. E acabou matando o seu filho. Então, há a culpa imprópria, porque
ela não recai sobre o resultado. E sim sobre a ilicitude do fato, a ilicitude da conduta. É uma questão
de política criminal. De punir ou não esse tipo de conduta.
Há há uma grande discussão em relação a punibilidade do pai que ainda não foi resolvida. O
fato é que a culpa imprópria recai sobre a ilicitude ou licitude da conduta e não propriamente sobre o
resultado. O resultado era perfeitamente previsível e desejado, havia dolo e não culpa na sua conduta.

178
A inobservância de um devido objetivo de cuidado foi contra a ilicitude da conduta.

Assim, a culpa imprópria é a inobservância de um devido objetivo de cuidado contra a


ilicitude do fato e não contra a possibilidade ou não de um resultado involuntário.

Compensação de culpas

Não existe compensação de culpas no direito penal brasileiro.

Se dois indivíduos praticam duas condutas gerando resultados em desfavor um do outro,


resultados naturalísticos involuntários, os dois praticam crimes culposos. Não há compensação de
condutas a fim de isenta-los de responsabilidade penal.

Exclusão da culpa

Caso fortuito e força maior

Excluem a voluntariedade da conduta e, com isso, acabam excluindo a própria culpa.


Alguém que age em razão de caso fortuito ou força maior não tem como inobservar o objetivo de
cuidado, por exemplo.

Erro profissional

É aquele falado na imperícia.

É preciso que se tenha muito cuidado! Esse nome é utilizado na doutrina, mas é um nome
ruim, porque o erro não é do profissional. Não é nem propriamente um erro, mas uma falta de
179
conhecimento da ciência, do estado da arte como um todo.
O exemplo que foi falado foi o do paciente que é tratado com o que há disponível na
medicina, mas não há um tratamento 100% eficaz e ele acaba morrendo. Não há nenhuma
inobservância das normas técnicas da profissão e não há que se falar em imperícia. Há o que a
doutrina de forma menos equivocada chama de erro da ciência. Mas a maioria dos manuais
falamem erro profissional.
Portanto, entenda que é um erro da ciência e não do profissional propriamente dito.

Risco tolerado

Quando se coloca alguém sob o risco de um resultado naturalístico de forma justificável,


como, por exemplo, o médico que sabe que precisa operar um paciente de forma urgente, mas ele não
tem ali os insumos necessários, os instrumentos necessários, mas é a única chance que ele temde tentar
salvar a vida daquele paciente. E, portanto, ele faz essa cirurgia de qualquer forma, sabendo que o
paciente pode vir a óbito. Se o paciente morre, não dá para falar que houve a imperícia, porque
aquele risco era tolerado, pois ele foi gerado pelo médico para tentar minimizar ou até mesmo afastar
o risco de um dado irreversível.
Princípio da confiança

É muito utilizado em crimes de trânsito, em situações de trânsito, inclusive, na esfera cível.


Por que?

O agente que respeita as leis de trânsito, as regras de trânsito, e, por exemplo, passa em um
cruzamento no sinal verde, ele confia que alguém que vem do outro sentido do cruzamento (sentido
transverso) vá parar no sinal vermelho. Portanto, a passagem dele está livre.
Se alguém fura o sinal vermelho e bate em alguém que passou no cruzamento por conta de um
sinal verde, em razão do sinal do princípio da confiança, por confiar que ninguém iria desobedecer às
regras de trânsito, esse alguém que passou no sinal verde a ele não pode ser atribuída uma conduta
negligente ou imprudente, seja ela omissiva ou comissiva.
Assim, o princípio da confiança serve para embasar a exclusão da culpa nesses casos.

180
Preterdolo (crime preterdoloso)
É um nome diferente, mas é para designar a ocorrência de crimes complexos, em que há
uma vontade no antecedente, um dolo no antecedente, e uma culpa no consequente.
Exemplo: o agente agride alguém com o dolo de machucar, lesionar, ou seja, ele dá um soco
que acerta o pescoço da vítima, com a intenção só de machucar, de lesionar. Mas por acertar uma
região muito sensível do corpo, apesar da intenção dele não ser mais do que machucar, ele acaba
fazendo com que a pessoa morra em razão das consequências daquele golpe.
Artigo 129, § 3º do CP: “ Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado,nem
assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.”

181
O que o legislador quis dizer aqui? Se não tinha o dolo direto de causar a morte e não o dolo
eventual ele será punido a título de preterdolo. Por que preterdolo?
Inicialmente ele tinha uma intenção e o resultado naturalístico não foi o desejado, foi mais
grave. Então, ele não pode ser responsabilizado por homicídio. Ele será responsabilizado pelo dolo
inicial e pela culpa do resultado morte. Então, há dolo no antecedente, que é a lesão corporal, e culpa
no consequente, que é a morte da vítima.

Essa é a parte da teoria do crime mais conceitual, mas é necessária para resolver diversas
questões de concurso.

Questões
1. (PRF – Policial Rodoviário Federal) No que se refere a aspectos legais relacionados aos
procedimentos policiais, julgue o item a seguir.
A negligência, como modalidade de conduta, é caracterizada quando o agente do delito
demonstra inaptidão técnica em profissão ou atividade.
GABARITO: ERRADO
O delito culposo ocorre, de acordo com o disposto no inciso II do artigo 18 do Código Penal, "...
quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia".
A imprudência é um comportamento positivo caracterizado como a realização de um ato despido do
cuidado necessário, ou seja, é a prática de uma conduta arriscada ou perigosa, cujo risco pode ter
como parâmetro de aferição o comportamento do homem médio.
A negligência tem um aspecto negativo, caracterizado pela abstenção de um comportamento
considerado exigível. Sendo assim, a negligência é a ausência de precaução ou a falta de adoção das
cautelas exigíveis por parte do agente.

182
A imperícia é que é revelação de inaptidão técnica em atividade, arte, ofício ou profissão,
consubstanciada na incapacidade, desconhecimento ou falta de habilitação para o exercício de
determinado mister que a pessoa se propõe a exercer.

2. (PRF – Policial Rodoviário Federal) No que se refere a aspectos legais relacionados aos
procedimentos policiais, julgue o item a seguir.
O crime culposo ocorre quando o agente não quer o resultado, mas assume o risco de produzi-lo,
admitindo-se, assim, a forma tentada, que é aquela em que, iniciada a execução, o crime não se
consuma por circunstâncias alheias à vontadedo agente.
GABARITO: ERRADO
De acordo com o disposto no artigo 18, inciso II, do Código Penal, "diz-se crime: (...) II - culposo,
quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ouimperícia".
Quando o agente não quer o resultado, mas assume o risco de produzi-lo, fica caracterizado o crime
doloso, na modalidade de dolo eventual, de acordo com a segunda parte do inciso I do artigo 18 do
Código Penal, que assim dispõe: "diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou
assumiu o risco de produzi- lo; (...)".
Além do mais, os crimes culposos não admitem tentativa, uma vez que a forma tentada pressupõe a
vontade livre e consciente (dolo) de atingir o resultado criminoso e, nos crimes culposos, os
resultados não são queridos pelo agente. Com efeito, a tentativa é incompatível com a modalidade
culposa. A assertiva contida neste item está errada.

3. (Prefeitura de Areal – RJ – Procurador Municipal) Conforme dispõe o Código Penal Brasileiro,


considera-se crime doloso, aquele em que o agente:
A) Produz o resultado por assumir o risco.
B) Produz o resultado por negligência.
C) Produz o resultado por imprudência.
D) Produz o resultado por imperícia.
GABARITO: LETRA A
A solução da questão exige o conhecimento da parte geral do Código Penal no que diz respeito ao

183
crime doloso. Segundo o art. 18, I, considera-se crime doloso quando o agente quis o resultado ou
assumiu o risco de produzi-lo. O dolo é a vontade de praticar aquela conduta prevista no tipo e duas
teorias são adotadas no Brasil sobre o dolo: a teoria da vontade, em que “age dolosamente a pessoa
que, tendo consciência do resultado, pratica sua conduta com a intenção de produzi-lo (ESTEFAM,
2018, p. 249)" e a teoria do consentimento em que “Aquele que, prevendo o resultado, assume o risco
de produzi-lo, age dolosamente" (ESTEFAM, 2018, p. 249).
Analisemos cada uma das alternativas:
A) CORRETA. Pela teoria do assentimento prevista no art. 18 do CP, considera-se
crime doloso quando o agente assumiu o risco de produzir o resultado.

184
B) ERRADA. Quando se produz o resultado por negligência, o crime é culposo, de
acordo com o art. 18, II do CP. A negligencia ocorre quando o sujeito não toma os devidos cuidados,
há uma atitude negativa.
C) ERRADA. Quando se produz o resultado por imprudência, o crime é culposo, de
acordo com o art. 18, II do CP. Imprudência é quando há o comportamento sem observar os devidos
cuidados.
D) ERRADA. Quando se produz o resultado por imperícia, o crime é culposo, de
acordo com o art. 18, II do CP. a imperícia é quando a pessoa deveria ter uma capacidade técnica
para o exercício de uma determinada profissão e não tem, é a faltade aptidão para o exercício.

4. (PRF – Policial Rodoviário Federal) Cleiton, policial rodoviário federal e professor decurso de direção
defensiva e ofensiva, viajava de carro com sua namorada, Gisele. Durante a viagem, Gisele reclamou
da alta velocidade empreendida pelo namorado e o alertou da possibilidade de causar um acidente,
tendo em vista o tempo chuvoso. Cleiton, por sua vez, respondeu que nada aconteceria, porque ele
era um profissional competente, de excelência, que ensinava outros policiais rodoviários federais a
pilotarem viaturas. Entretanto, durante uma curva, o veículo derrapou na pista molhada, o carro ficou
desgovernado, capotou e Gisele faleceu instantaneamente. Cleiton sofreu pequenas escoriações. A
perícia feita no local constatou excesso de velocidade.
A partir dessa situação hipotética, julgue o item seguinte. Cleiton agiu com
dolo eventual, devendo responder pela prática de homicídio doloso.
GABARITO: ERRADO
A proposição contida na questão demanda do candidato o conhecimento da diferença entre culpa
consciente e dolo eventual.
O dolo eventual se dá quando o agente, embora não queira o resultado, assume o risco de produzi-lo
após representar em sua mente que, da sua conduta, possa ocorrer o resultado típico, nos termos da
segunda parte do artigo 18, inciso I do Código Penal. Já na culpa consciente, o agente efetivamente
prevê o resultado, mas não o quer nem o aceita. Segundo Fernando Capez, em seu Direito Penal,
Parte Geral, "a culpa consciente difere do dolo eventual porque neste o agente prevê o resultado mas
não se importa que ele ocorra, ao passo que na culpa consciente, embora prevendo o que possa vir a

185
acontecer, o agente repudia essa possibilidade. Logo, o traço distintivo entre ambos é que no dolo
eventual o agente diz: 'não importa; dane-se', enquanto na culpaconsciente supõe: 'é possível mas não
vai acontecer de forma alguma'".
Na situação hipotética descrita no texto associado da questão, Cleiton, em razão da sua expertise de
professor de direção defensiva e ofensiva, acreditava sinceramente que nada de grave aconteceria
com ambos pelo excesso de velocidade por ele empregado na direção do veículo.
Com efeito, responderá pelo crime de homicídio na modalidade culposa, nos termos do artigo 121, §
3º, do Código Penal, em virtude da imprudência na direção do veículo.

5. (SAP-SC – Agente Penitenciário) De acordo com o Código Penal Brasileiro, é correto


afirmar:
A) A imperícia poderá ser considerada dolosa quando o agente, em razão de ofício ou
determinação legal, dá causa ao resultado.
B) O agente que assume o risco de produzir determinado resultado pratica crime com
culpa consciente.
C) Quando o agente não puder ser punido por fato previsto como crime doloso, ele
será enquadrado na conduta culposa similar.
D) Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver
causado ao menos culposamente.
E) Pratica crime culposo o agente que quis o resultado e deu causa por meio de
imprudência ou negligência.
GABARITO: LETRA D
A) ERRADO - imperícia é a revelação de inaptidão técnica em atividade, arte, ofício
ou profissão, consubstanciada na incapacidade, desconhecimento ou falta de habilitação para o
exercício de determinado mister que a pessoa se propõe a exercer. A imperícia só é relevante
quando causa um resultado. Não há que se falar em imperícia dolosa, pois, por definição, o agente
imperito não quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo, mas sim o provocou pelas razões
anteriormentemencionadas.
B) ERRADA - A proposição contida demanda do candidato o conhecimento da
diferença entre culpa consciente e dolo eventual.
O dolo eventual se dá quando o agente, embora não queira o resultado, assume o risco de produzi-lo
após representar em sua mente que, da sua conduta, possa ocorrer o resultado típico, nos termos da

186
segunda parte do artigo 18, inciso I do Código Penal. Já na culpa consciente, o agente efetivamente
prevê o resultado, mas não o quer nem o aceita. Segundo Fernando Capez, em seu Direito Penal,
Parte Geral, "a culpaconsciente difere do dolo eventual porque neste o agente prevê o resultado, mas
não se importa que ele ocorra, ao passo que na culpa consciente, embora prevendo o que possa vir a
acontecer, o agente repudia essa possibilidade. Logo, o traço distintivo entre ambos é que no dolo
eventual o agente diz: 'não importa; dane-se', enquanto na culpa consciente supõe: 'é possível, mas
não vai acontecer de forma alguma'".
A assertiva contida neste item corresponde, como se pode verificar, ao dolo eventual.
C) ERRADA - O crime doloso ocorre, nos termos do artigo 18, inciso I, do Código
Penal "... quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo." O artigo18, inciso II, do
Código Penal, por sua vez, diz que o crime é culposo "... quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia." Para que seja enquadrado como culposo, nos casos em o
agente não puder ser punido por fato previsto como crime doloso, é imprescindível que haja previsão
legal, nos termos do parágrafo único do artigo 18 do Código Penal que tem a seguinte redação: "salvo
os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o
pratica dolosamente".
D) CERTA - Nos termos explicitados no artigo 19 do Código Penal, "pelo resultado
que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menosculposamente".

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E) ERRADA - O agente que pratica o crime culposo não quer diretamente o resultado,
mas dá-lhe causa por imprudência, negligência ou imperícia.

6. (Prefeitura de Jacutinga – MG – Guarda Municipal) De acordo com o Código Penal, assinale a


alternativa CORRETA:
A) Diz-se do crime que o crime doloso, é quando o agente quis o resultado ou assumiu o
risco de produzi-lo, ou agiu com imprudência, imperícia ou negligência.
B) Pune-se salvo disposição em contrário, a tentativa com a pena correspondente ao
crime consumado, pois o agente já demonstrou sua vontade de cometer o ilícito penal.
C) Diz-se do crime que o crime consumado, é quando nele se reúnem todos os
elementos de sua definição legal.
D) Entende-se em legítima defesa quem, usando a força de forma excessiva, moderada
ou imoderada, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. GABARITO:
LETRA C
A) ERRADA. A primeira parte da assertiva está correta, mas a segunda parte está
incorreta. Conforme estabelece o inciso I do artigo 18, diz-se o crime doloso, quando o agente quis o
resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. A imprudência, imperícia e negligência são
caracterizadoras do crime culposo.
B) ERRADA. A punição da tentativa não se dá da forma como restou afirmado, mas
sim de acordo com o que estabelece o parágrafo único do artigo 14 do Código Penal: “Salvo
disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado,
diminuída de um a dois terços". Em regra, portanto, a pena do crimetentado deve considerar a causa de
diminuição de pena antes descrita, salvo se o próprio dispositivo legal que define o crime estabelecer
que a pena do crime tentado seria a mesma do consumado, tal como ocorre no crime previsto no
artigo 352 do Código Penal – Evasão mediante violência contra a pessoa.
C) CERTA. Embora haja um pequeno erro redacional no início da assertiva, ela repete a
determinação contida no artigo 14, inciso I, do Código Penal, esclarecendo os parâmetros para a
identificação de um crime consumado.
D) ERRADA. A assertiva não descreve efetivamente hipótese de legítima defesa, uma

188
vez que o artigo 25 do Código Penal estabelece: “Entende-se em legítima defesa que, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
outrem".

7. (MPE-GO Promotor de Justiça) A concepção de " dolo como compromisso cognitivo " (ou " dolo
sem vontade “) é uma vertente teórica que vem ganhando cada vez mais adeptos. Assinale a
alternativa que não está de acordo com as linhasgerais de uma teoria cognitiva do dolo:
A) Para que se possa falar em dolo, tem o autor de agir com conhecimento tal que lhe
confira o domínio sobre aquilo que está realizando. Ou seja, ao menos em parte o dolo acaba se
tornando uma questão de tipo objetivo. O autor tem de conscientemente criarum risco de tal dimensão
que a produção do resultado possa ser considerada algo queele, autor, domina.

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B) A imputação a título de dolo não tem relação com a postura volitiva psíquica do
indivíduo, pois dolo não é vontade, dolo é representação. A essencial diferença entre o dolo e a culpa,
portanto, equivale fundamentalmente à distinção entre conhecimento e desconhecimento do perigo
com qualidade dolosa.
C) Considerar decisiva para o dolo a vontade de quem atua significa, em última análise,
atribuir a quem atua a competência para decidir se há ou não dolo. Ocorre que não é o agente, e sim o
direito quem tem de exercer essa competência. Não se pode relegar ao arbítrios do autor essa decisão,
até porque o dolo, na concepção cognitiva, é presumido.
D) Se todo dolo È conhecimento, e a vontade não tem relevância alguma, não há mais
qualquer razão para diferenciar dolo direto (de primeiro ou de segundo grau) e dolo eventual. Afinal,
há apenas uma forma de dolo.
GABARITO: LETRA C
A) CORRETA - Um dos expoentes no que toca à concepção do "dolo sem vontade" é
Luís Greco que em seu artigo com o título de mesmo nome afirma expressamente que "... para que se
possa falar em dolo, tem o autor de agir com conhecimento tal que lhe confira o domínio sobre aquilo
que está realizando. Ou seja, ao menos em parte o dolo acaba se tornando uma questão de tipo
objetivo: o autor tem de conscientemente criar um risco de tal dimensão que a produção do resultado
possa ser considerada algo que o autor domina" (GRECO, Luis. Dolo sem vontade. In: SILVA DIAS
e outros [coords.]. Liber Amicorum de José de Sousa e Brito. Coimbra: Almedina, 2009, p. 885e ss.).
B) CORRETA - Outro expoente desta teoria, Eduardo Viana, entende que "a
imputação a título de dolo não tem relação com a postura volitiva psíquica do indivíduo, pois dolo
não é vontade, dolo é representação. A essencial diferença entre o dolo e a culpa, portanto, equivale
fundamentalmente à distinção entre o conhecimento e o desconhecimento do perigo com qualidade
dolosa". (VIANA, Eduardo. Dolo como compromisso cognitivo. São Paulo: Marcial Pons, 2017).
C) INCORRETA - No artigo com titulado "Dolo Sem Vontade", Luis Greco afirma
que "considerar decisiva para o dolo a vontade de quem atua significa, em última análise, atribuir a
quem atua a competência para decidir se há ou não dolo. Ocorre que não é o agente, e sim o direito
quem tem de exercer essa competência. Não se pode relegar ao arbítrio do autor essa decisão, doutro
modo — dito agora com base em nossos exemplos — todo aquele que conscientemente realiza uma

190
ação perigosa para a vida da vítima pode escapar da responsabilização por dolo, se tiver uma segunda
intenção incompatível com a morte da vítima, como por ex. a intenção de cometer um estupro".
(GRECO, Luis. Dolo sem vontade. In: SILVA DIAS e outros [coords.]. Liber Amicorum de José de
Sousa e Brito. Coimbra: Almedina, 2009, p. 885 e ss.).
D) CORRETA - No artigo com titulado "Dolo Sem Vontade", Luis Greco afirma que
"se todo dolo é conhecimento, e a vontade não tem relevância alguma, não há mais qualquer razão para
diferenciar dolo direto (em suas duas formas, de primeiro ou de segundo grau) e dolo eventual. Há
apenas uma forma de dolo". (GRECO, Luis. Dolo sem vontade. In: SILVA DIAS e outros [coords.].
Liber Amicorum de José de Sousa e Brito. Coimbra: Almedina, 2009, p. 885 e ss.).

191
8. (MPE-MG – Promotor de Justiça Substituto) Assinale a assertiva incorreta acerca do dolo:
A) O dolo alternativo é espécie de dolo indireto e apresenta-se quando o aspecto
volitivo do agente se encontra direcionado, de maneira alternativa, seja em relação ao resultado, seja
em relação à pessoa contra a qual é cometido o crime.
B) O nominado dolo de consequências necessárias é uma espécie de dolo indireto ou
mediato.
C) O erro sucessivo caracteriza hipótese em que o agente atua com dolo geral, isto é, o
agente, supondo já ter alcançado o resultado por ele visado, pratica nova ação que efetivamente dá
causa ao resultado por ele pretendido.
D) Para a teoria extremada do dolo, a real consciência da ilicitude é elemento do dolo,
enquanto para a teoria limitada do dolo, este é integrado pelo potencial consciência dailicitude.
GABARITO: LETRA B
A) CORRETA - De acordo com Rogério Greco, em seu Curso de Direito Penal,
Volume 1, Parte Geral: “O dolo indireto, a seu turno, pode ser dividido em alternativo e eventual. O
dolo indireto alternativo, nas lições de Fernando Galvão, 'apresenta-se quando o aspecto volitivo do
agente se encontra direcionado, de maneira alternativa, seja em relação a resultado ou em relação à
pessoa contra a qual o crime é cometido.' Quando a alternatividade do dolo disser respeito ao
resultado, fala-se em alternatividade objetiva; quando a alternatividade se referir à pessoa contra a
qual o agente dirige sua conduta, a alternatividade será subjetiva.
B) INCORRETA - O dolo direto de segundo grau é aquele em que o agente quer um
resultado principal, mas admite os resultados típicos secundários decorrentes da sua conduta,
considerados como consequências necessárias. Neste sentido, explica Fernando Capez, que o dolo de
segundo grau: "(...) abrange os efeitos colaterais da prática delituosa, ou seja, as suas consequências
secundárias, que não são desejadas originalmente, mas acabam sendo provocadas porque
indestacáveis do primeiro evento. No dolo de 2º grau, portanto, o autor não pretende produzir o
resultado, mas se dá conta de que não pode chegar à meta traçada sem causar tais efeitos acessórios
(ex.: querendo obter fraudulentamente prêmio do seguro (dolo de 1º grau), o sujeito dinamita um
barco em alto-mar, entretanto acaba por tirar a vida de todos os seus tripulantes, resultado pretendido
apenas porque inevitável para o desiderato criminoso (dolo de 2º grau)." Com efeito, a assertiva

192
constante deste item é falsa, pois, conforme visto, o dolo de consequências necessárias é uma
modalidade de dolo direto, qual seja,o dolo de segundo grau.
C) CORRETA - O erro sucessivo, aberratio causae e, ainda, dolo geral. A esse teor,
leciona Fernando Capez em seu livro Direito Penal, Parte Geral, que o erro sobre o

193
nexo causal, "... ocorre quando o agente, após realizar a conduta, supondo já ter produzido o
resultado, pratica o que entende ser um exaurimento e nesse momento atinge a consumação (ex.:
agente esfaqueia a vítima e pensa que a matou. Imaginando já ter atingido o resultado pretendido e
supondo estar com um cadáver em mãos, atira- o ao mar, vindo a causar, sem saber, a morte por
afogamento. Operou-se um equívoco sobre o nexo causal, pois o autor pensou ter matado a vítima a
facadas, mas na verdade matou-a afogada). Tal erro é irrelevante para o Direito Penal, pois o que
importa é que o agente quis praticar o crime e, de um modo ou de outro, acabou fazendo-o. O dolo é
geral e abrange toda a situação, desde as facadas até o resultado morte, devendo o sujeito ser
responsabilizado pela prática dolosa do crime, desprezando-se o erro incidente sobre o nexo causal".
D) CORRETA- De acordo com Francisco de Assis Toledo, em sua obra Princípios
Básicos de Direito Penal:
"A teoria extremada do dolo – a mais antiga – situa o dolo na culpabilidade e a consciência da
ilicitude no próprio dolo. O dolo é, pois, um dolo normativo, o dolus malus dos romanos, ou seja:
vontade, previsão e mais o conhecimento de que se realiza uma conduta proibida (consciência atual da
ilicitude). A teoria limitada do dolo quer ser um aperfeiçoamento da anterior, pois desta não diverge a
não ser em alguns pontos: substitui o conhecimento atual da ilicitude pelo conhecimento potencial da
ilicitude; além disso, exige a consciência da ilicitude material, não puramente formal."

9. (MPE-SC- Promotor de Justiça) No caso em que o sujeito realiza a conduta e prevê a possibilidade de
produção do resultado, mas não quer sua ocorrência e conta com a “sorte” para que ele não se
materialize, pois sabe que não tem o controle sobre a situação implementada, se configura um
exemplo de “culpa consciente” e não de “dolo eventual”, porque se o sujeito soubesse de antemão que
o resultado iria ocorrer, provavelmente não teria atuado.
GABARITO: ERRADO
O dolo eventual se dá quando o agente, embora não queira o resultado, assume o risco de produzi-lo
após representar em sua mente que, da sua conduta, possa ocorrer o resultado típico, nos termos da
segunda parte do artigo 18, inciso I do Código Penal. Nos casos de culpa consciente, o agente
efetivamente prevê o resultado, mas não o quer nem o aceita. Segundo Fernando Capez, em seu
Direito Penal, Parte Geral, "a culpa consciente difere do dolo eventual porque neste o agente prevê o

194
resultado, mas não se importa que ele ocorra, ao passo que na culpa consciente, embora prevendo o
que possa vir a acontecer, o agente repudia essa possibilidade. Logo, o traço distintivo entre ambos é
que no dolo eventual o agente diz: 'não importa; dane-se', enquanto na culpa consciente supõe: 'é
possível, mas não vai acontecer de forma alguma'".

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10. (MPE-SC – Promotor de Justiça) A especial finalidade da conduta (também denominada “dolo
específico”) é um elemento subjetivo do tipo existente em alguns delitos materiais, mas não é
compatível com os delitos formais.
GABARITO: ERRADO
O dolo específico, também conhecido como especial fim de agir, configura-se, segundo Fernando
Capez, em seu livro Direito Penal, Parte Geral, pela "... vontade derealizar a conduta visando a um fim
especial previsto no tipo". Difere do dolo genérico que, ainda segundo o autor, "é a vontade de realizar
a conduta sem um fim especial, ou seja, a mera vontade de praticar o núcleo da ação típica (verbo do
tipo) sem qualquer finalidade específica". Nos crimes em que há um elemento subjetivo do tipo, diz
Capez, "... a consciência e a vontade a respeito dos elementos objetivos, não basta, pois o tipo exige,
além da vontade de praticar a conduta, uma finalidade especial do agente". Não obstante essas
observações, como se trata de elemento que se afere no momento da conduta, a sua existência pode
ocorrer tanto em delitos materiais como em crimes de natureza formal. O que importa é, portanto, a
intenção do agente ao praticar a conduta típica e não a realização efetiva do resultado.

Erro de Tipo

O erro de tipo não é uma construção meramente doutrinária. Esse instituto tem
previsão legal no artigo do CP.

Artigo 20 do CP:

Erro sobre elementos do tipo


Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se previsto emlei. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
O que terá que ser entendido: o que é o erro, o elemento constitutivo do tipo legal. E será
196
compreendido na sequência que há a exclusão do dolo, mas permite a punição por crime culposo, se
previsto em lei.
O que é erro?

Erro é a falsa noção da realidade.

É diferente de ignorância, pois na ignorância não se tem uma percepção equivocada da


realidade. Há a falta total de conhecimento a respeito dela.
Enquanto no erro o indivíduo se engana, na ignorância o indivíduo ignora.

O erro de tipo é uma falsa noção da realidade acerca dos elementos constitutivos do tipo
penal.
Um exemplo, quando a pessoa subtrai um bem qualquer (uma caneta), pensando ser sua, mas
é de terceiro, o indivíduo recai sobre uma falsa noção da realidade, especificamente na parte do tipo
penal, que fala que o bem pertence a terceiros. O artigo 155 do CP diz: subtrair coisa alheiamóvel para
si ou para outrem. Esse alheia é um dos elementos do tipo penal do furto. Se o

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indivíduo pega a caneta achando que é dele, mas ela é alheia, ele tem uma falsa noção da realidade,confundindo a
caneta como sendo dele. Nesse caso, a conduta dele está eivada de erro de tipo.
É importante que se diferencie erro de tipo de erro de proibição. Não será estudando nesse
momento o erro de proibição, ficará para uma outra aula. Hoje será estudado apenas o erro de tipo.Mas
já se deve ter em mente e diferenciação dos institutos para não confundir.
Erro de Tipo X Erro de Proibição

Erro de tipo: a falsa noção da realidade recai sobre um dos elementos do tipo.

Erro de proibição: a falsa noção da realidade recai sobre a ilicitude da conduta. Se aquela
conduta é admitida ou não pelo direito penal. Se existe alguma norma em penal incriminadora que
torne ilícita aquela conduta.
É fundamental que o aluno saiba a diferença entre erro de tipo e erro de proibição. São
institutos bem distintos. A única coisa em comum entre eles é a noção de erro, a falsa noção da
realidade. No erro de tipo recai sobre os elementos do tipo penal, já no erro de proibição sobre a
ilicitude da conduta.

1. Espécies de Erro de Tipo


▪ Escusável, desculpável, inevitável ou invencível (aquilo que você não consegue
transpor, vencer): mesmo que o indivíduo tivesse agido com a cautelado homem médio não poderia
evitar a falsa noção da realidade.
Se é desculpável, caso leve em consideração o homem médio, é desculpável aos olhos do homem
médio. Assim, ele é inevitável e invencível. Ou seja, não tem como deixar de recair sobre naquela
falsa noção de realidade no caso concreto.
É importante saber que a análise do erro do tipo é casuística. Ou seja, caso a caso. Terá que se
visto individualmente cada conduta para ver se há erro de tipo escusávelou inescusável.
Escusa é sinônimo de desculpa.

198
Nesse erro, mesmo que o indivíduo, tenha agido com a cautela do homem médio ele não poderia
evitar a falsa noção da realidade. Por mais cautela que se tenha, o erro irá acontecer.

199
O indivíduo tinha dolo? Não.

▪ Inescusável, indesculpável, evitável e vencível (é possível transpor a falsa noção


da realidade): a falsa noção da realidade surge da culpa do agente que, caso tivesse empregado a
cautela que se espera do homem médio poderia evitar o erro.
Nesse erro, a falsa noção da realidade surge da própria culpa do agente, que se tivesse empregado a
cautela que se espera do homem médio poderia evitar o erro. Não foi adotada toda cautela necessária
para não cair em erro.
Tem dolo? Não, a questão é resolvida no campo da culpa.

Conclusão: o erro de tipo, sendo vencível ou invencível, sempre exclui o dolo.

Por isso, que o Zaffaroni diz que o erro de tipo “é a cara negativa do dolo”. Fique atento nessa
afirmação em caso de concurso com segunda fase.
O fato é que Zaffaroni chama o erro de tipo dessa maneira, porque se há erro de tipo não há
que se falar em dolo. Uma consequência inafastável de qualquer espécie de erro de tipo, escusável ou
inescusável, é a exclusão do dolo.
Fique atento! Erro de tipo sempre acarretará a exclusão do dolo, sendo ele um erro de
tipo vencível ou invencível.
Sabe-se que no erro invencível, mesmo que o indivíduo tome todas as cautelas esperadas
do homem médio, ele não teria como evitar a falsa noção da realidade. Então, ele não age com
dolo. Mas ele age com culpa? Ou ele tomou todas as cautelas que se espera do homem médio?
Ele também não age com culpa. Por isso, se fala em exclusão do dolo e da culpa no erro de tipo
escusável. E qual a consequência disso? Não há que se falar em punibilidade. Se não há nem
dolo nem culpa, então, fala-se em atipicidade.
Caso o erro de tipo seja vencível, foi visto que a falsa noção da realidade deveria de uma
culpa do agente, que não empregou a cautela esperada do homem médio. E a consequência
necessária do erro de tipo é a exclusão do dolo, mas, nesse caso, quando a falsa noção da
realidade advém da culpa do agente, o legislador permite a punição a título culposo, caso haja

200
previsão.

Por que caso haja previsão? Porque há hipóteses em que não há previsão de crime culposopara
aquela figura. Um exemplo é o crime de dano. O crime de dano só admite a modalidade dolosa. Se a
figura que subsiste é uma figura culposa de dano ao patrimônio de terceiros, essa conduta é atípica,
porque excluído o dolo não há como punir a título de culpa a conduta.

201
2. Delito putativo por erro de tipo
É uma nomenclatura esquisita, mas é um instituto tranquilo.

Tudo que é putativo é imaginário, é suposto. A pessoa acha que é real, mas não é. Não deixa
de ser também uma falsa noção da realidade.
No delito putativo por erro de tipo o agente deseja praticar um delito, mas por falsa noção da
realidade, pratica o indiferente penal. Aqui, o delito é putativo. No erro de tipo, pode-se ter a punição
a título de culpa, se o erro for vencível. Já, aqui, não se pode punir um delito que é putativo.
Exemplo: Mévio quer praticar tráfico de drogas, mas decide comercializar substância que não
está no rol estipulado pela Anvisa como entorpecente.
Assim, Mévio tem uma conduta atípica. Ele pratica imaginariamente um crime, na verdade não
existe. É um delito putativo por erro de tipo. Por que por erro de tipo? Porque é uma falsa noção da
realidade que recai sobre um elemento da figura penal.

3. Erro de Tipo Essencial X Erro de Tipo Acidental


Essencial: a falsa noção da realidade recai sobre elementares, circunstâncias ou qualquer
outro dado determinado pela figura típica. Discute-se se é escusável ou inescusável.
Acidental: recai sobre dados periféricos ou secundários do tipo. No erro acidental avontade
criminosa é manifesta.

4. Espécies de Erro Acidental


Há previsão de erros acidentais tanto na lei quanto na doutrina. No total são 05 (cinco)espécies
de erro acidental. Vamos a eles:
1) Erro de tipo acidental sobre o objeto (error in objecto)

Não há previsão legal. É discutido na doutrina apenas.


202
Exemplo: agente quer furtar joias, entra em uma loja e subtrai cordões dourados que depois descobre
não serem de ouro. Nesse caso, a falsa noção da realidade recai sobre o objeto. Ele quer joias, mas
acaba levando cordões dourados meramente, que não são deouro.

203
A repercussão pratica desse ato é menor, porque seja cordão dourado, seja joia, há conduta típica,
ilícita e culpável, há crime. Talvez, na dosimetria da pena, em razão do valor das joias haja um
incremento da pena, mas a diferença vai só até aí. Tanto em joias quanto em meros cordões dourados
se tem o crime de furto.
2) Erro de tipo acidental quanto à pessoa (error in persona)

Há previsão legal no Código Penal.

Artigo 20, § 3º, do CP:

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a
punição por crime culposo, se previsto em lei.
Erro sobre a pessoa
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se
consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o
agente queriapraticar o crime. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Aqui, é aquele exemplo que tem em vários manuais de direito penal. O indivíduo quer matar a mãe,
por exemplo, se confunde ao ver entra na própria casa uma amiga da mãe e acaba atirando achando
que era a mãe e mata uma terceira pessoa. Nesse caso, o agente responderá pelo homicídio da mãe.
Assim, a falsa noção da realidade recai sobre a pessoa. A pessoa confunde, acha que a conduta
recairá sobre uma determinada pessoa e pela falsa noção da realidade recai sobreoutra.
3) Erro de tipo acidental na execução (aberratio ictus) (pessoa x pessoa)

Nesse erro de tipo, a falsa noção da realidade recai sobre a própria execução. O chamado, pelo
próprio legislador, aberratio ictus.
O erro de execução está previsto no artigo 73 do CP.

Artigo 73 do CP:

204
Erro na execução
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir
a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa

205
diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no §
3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender,
aplica-se a regrado art. 70 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Preste atenção, pois parece a mesma coisa, mas não é. Quando se fala em erro in persona e quando se
fala em aberratio ictur, há uma grande diferença entre os dois.
No erro contra a pessoa se tem um alvo apenas, só tem uma pessoa presente na cena do crime. O
indivíduo confunde aquela pessoa com outra pessoa, que é o seu alvo.
No erro que recai sobre a execução (aberratio ictus), a pessoa que se quer atingir está na cena do
crime junto com uma segunda, terceira pessoa. E visando atingir o alvo, o indivíduo acaba atingindo
outra pessoa, uma espécie de bala perdida. Sendo que, ele pode atingir tanto o alvo quanto a terceira
pessoa. E, nesse caso, aplica-se a regra do artigo 70 do CP

Artigo 70 do CP:

Concurso formal
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos
ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas
aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto,
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Veja, também, a importância do artigo 61 do CP.

Artigo 61 do CP:

Circunstâncias agravantes

206
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o
crime:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - a reincidência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
a) por motivo fútil ou torpe;
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime;
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso
que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum;
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica; (Redação
dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício,
ministério ou profissão;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher
grávida; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade
pública, ou de desgraça particular do ofendido;
l) em estado de embriaguez preordenada.

O indivíduo quer matar o seu pai, só que o pai está na companhia de um amigo, quando eleatira a bala
desvia e acerta apenas o amigo do pai. Ele responderá por homicídio com a circunstância que agrava
a pena, prevista no artigo 61, alínea e, crime contra o ascendente? Ou ele vai responder pela morte do
homicídio comum do amigo do pai dele?

207
Certamente responderá com agravante do artigo 61, alínea e, porque o alvo dele era o pai. E por um
erro na execução, ele acaba atingindo terceira pessoa.
Caso o indivíduo, desse mesmo exemplo, atinja o pai e o amigo do pai e os dois vem a óbito. Ele vai
responder por dois homicídios na forma do artigo 70, concurso formal com uma conduta e dois
resultados naturalísticos. E um desses homicídios incidirá a agravante do artigo 61, alínea e, o
homicídio do pai dele.

208
No aberratio ictus há duas pessoas. Como foi fala no exemplo, quando o indivíduo acaba acertando
uma terceira pessoa tendo o seu alvo ao alcance.
Erro de tipo acidental na execução (aberratio ictus) X Erro sobre a pessoa

Erro na execução: vítima identificada corretamente, há falha na execução.

Erro sobre a pessoa: vítima identificado com o erro. A execução é perfeita. A pessoa que está na
frente é atingida, mas o indivíduo não queria acertar aquela pessoa, ele a identificou de forma
equivocada.
3.1) Aberratio ictus de resultado único: atinge somente a pessoa diversa da pretendida.
Responde como se tivesse atingido o alvo.
É o caso do agente que queria matar o pai e atinge terceira pessoa. Ele responde como se tivesse
matado o pai.
3.2) Aberratio ictus com resultado duplo: aplica-se a regra do concurso formal de crimes
do artigo 70 do CP.
É o exemplo que além do pai o agente também mata uma terceira pessoa.

4) Resultado diverso do pretendido ou aberratio criminis ou aberratio delicti (pessoa xobjeto)


Por erro ou por acidente, o agente atinge bem jurídico diverso do pretendido.

Artigo 74 do CP:

Resultado diverso do pretendido


Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime,
sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como
crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Veja, na aberratio ictus fala-se de pessoa X pessoa. O erro é na execução, o agente atinge terceira
pessoa, o alvo original era uma pessoa a o agente acerta outra pessoas.
209
Na aberratio criminis, o agente queria acertar uma pessoa, mas acaba acertando um objeto.Ou o agente
queria acertar um objeto e acabar acertando uma pessoa.

210
O alvo, descrito na coluna da tabela, também pode ser chamado de dolo.

Caso o agente queira acertar a coisa, mas acaba atingindo a pessoa, a consequência é que ele
responderá por homicídio culposo.
No segundo caso, o agente quer acertar a pessoa, mas acaba atingindo a coisa e não atingea pessoa. O
agente responderia por crime de dano culposo, porém não há previsão de dano culposo. E ele
responderá pelo o que? A conduta será atípica? Não. Ele responderá por tentativa de homicídio, pois
o crime que ele pretendia cometer era muito mais grave do que o crime de dano e não seria justo ele
não responder por não ter previsão de dano culposo na lei.
O terceiro caso tem como alvo a coisa ou a pessoa. E o agente atinge os dois, a coisa e a pessoa. A
depender do dolo do agente, de sua intenção, ele irá responder com base na regrado artigo 70 do CP, o
concurso formal.
5) Erro sobre o nexo causal

É um erro acidental que não tem previsão legal, porque a consequência pratica dele, também, é quase
nenhuma.
211
A doutrina discute o erro sobre nexo causal, mas, na verdade, o resultado desejado é produzido de
qualquer maneira.

212
Exemplo: o indivíduo atira em alguém que supõe ter assassinado. Pensando em ocultar o cadáver
joga no mar. Ocorre que a vítima ainda estava viva e morre afogada.
O dolo do agente era matar e ocultar o cadáver da vítima. Assim, o nexo causal esperado pelo agente
era a conduta de atira com o resultado de morte. Só que sem que ele soubesse,porque ele age sob erro,
na verdade, o que faz com que o resultado, que ele visava incialmente fosse concretizado, é a
segunda conduta. Portanto, o nexo real é o da segundaconduta.
De qualquer forma, se ele tivesse matado, em razão dos disparos, assim como, ele tivesse matado por
ter jogado a vítima no mar, o resultado seria um só, o homicídio. Por isso, que a repercussão pratica
desse erro acidental é um pouco esvaziada.

Com isso, conseguiu-se estudar todo o conteúdo de erro de tipo acidental. Encerra-se a aulacom
esse estudo das 05 (cinco) espécies do erro de tipo acidental. É uma parte da Teoria do Crime um
pouco mais conceitual, aparentemente mais complexa, mas se você conseguir destrinchar, você
consegue resolver qualquer questão de concurso.

Questões
1. (TER-PA – Analista Judiciário) Quanto ao "erro sobre elementos do tipo" e "erro sobre a
ilicitude do fato", analise as afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro
(V) ou Falso (F):
( ) Não cabe a incidência de erro de tipo nos crimes omissivos espúrios, em face do dever de agir para evitar o
resultado, levando-se em conta a relação de normalidade ouperigo do caso concreto.
( ) O erro relativo à existência de uma causa de exclusão de ilicitude consiste em descriminante putativa por
erro de proibição. Nesse caso, se inescusável o erro, afasta- se o dolo, subsistindo a responsabilidade por crime
culposo, se previsto em lei.
( ) Ao agente provocador que atua dolosamente deverá ser imputado, na forma dolosa, o crime cometido pelo
provocado. Já o agente provocado ficará impune, desde que escusável o seu erro.
( ) Incide sobre o ³error in persona´ a teoria da equivalência do bem jurídico atingido. Nesse caso, o agente

213
responderá pelo crime praticado, porém, no momento da aplicação da pena, serão consideradas as condições da
vítima virtual.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.
A) V, F, F, V
B) F, F, V, V
C) F, V, V, F
D) V, V, V, V
GABARITO: LETRA B
A primeira afirmativa é falsa. Os crimes omissivos espúrios são também chamados de crimes omissivos
impróprios ou comissivos por omissão. Eles decorrem da previsão ao artigo 13, § 2º, do Código Penal, havendo
a responsabilização penal pelo resultado porque o agente se omite quando deveria agir, por se encontrar na
condição de garantidor. Há possibilidade de erro de tipo nesta modalidade de crime, pois o agente pode errar na
percepção de alguma informação fática que o leve a não cumprir o seu dever de agir.
A segunda afirmativa é falsa. As descriminantes putativas podem ensejar o erro de tipopermissivo, quando o erro
recai sobre pressupostos fáticos de uma causa de justificação, e podem ensejar o erro de proibição indireto,
quando o erro recai sobre o entendimento quanto à existência ou os limites de uma causa de justificação. Em se
configurando o erro de tipo permissivo inevitável, exclui-se dolo e culpa; e em se tratando de erro de tipo
permissivo evitável, exclui-se tão somente o dolo, sendo possível a responsabilização do agente por crime
culposo, se houver a modalidade culposa do crime. Já em se configurando o erro de proibição indireto, sendo
inevitável,exclui-se a culpabilidade, e, se evitável, reduz-se a pena.
A terceira afirmativa é verdadeira. O erro determinado por terceiro está previsto no artigo 20, § 2º, do Código
Penal, configurando-se em hipótese de autoria mediata. Em função dele, haverá um agente provocador do erro e
haverá alguém induzido ao erro. Aquele que provoca o erro com dolo responderá efetivamente pelo crime
executado pela pessoa induzida a erro, a título de dolo, sendo certo que a pessoa induzida não será penalmente
responsabilizada, se o seu erro for escusável, podendo responder pelocrime na modalidade culposa, se o erro for
inescusável.
A quarta afirmativa é verdadeira. O erro sobre a pessoa encontra-se previsto no artigo20, § 3º, do Código Penal.
Por determinação do legislador, o cálculo da pena do agente será feito com base nas características e condições
pessoais da vítima virtual, que era aquela visada, pretendida pelo agente, ainda que a vítima real seja outra
pessoa.
Com isso, tem-se que as duas primeiras afirmativas são falsas e as duas últimas são verdadeiras, sendo está a
sequência: F – F – V – V.

214
2. (TJ-PA – Oficial de Justiça) Na confraternização de final de ano de um tribunal de justiça,
Ulisses, servidor do órgão, e o desembargador ganharam um relógio da mesma marca — em embalagens
idênticas —, mas de valores diferentes, sendo consideravelmente mais caro o do desembargador. Ao ir embora,
Ulisses levou consigo, por engano, o presente do desembargador, o qual, ao notar o sumiço do relógio e
acreditando ter sido vítima de crime, acionou a polícia civil. Testemunhas afirmaram ter visto Ulisses com a
referida caixa. No dia seguinte, o servidor tomou conhecimento dos fatos e dirigiu-se espontaneamente à
autoridade policial, afirmandoque o relógio estava na casa de sua namorada, onde fora apreendido.
Nessa situação hipotética, a conduta de Ulisses na festa caracterizou
A) erro de tipo.
B) excludente de ilicitude.
C) arrependimento posterior.
D) erro de proibição.
E) crime impossível.
GABARITO: LETRA A
Caracteriza-se ERRO DO TIPO ESSENCIAL.
☆ Perceptível quando o sujeito não possui consciência e vontade de cometer o fato.

☆ O DOLO é excluído da conduta.


☆ Porém, há uma diferença entre erro do tipo essencial escusável e inescusável:
~ Escusável - É o caso da questão. O erro é justificado, pois as embalagens dos relógios eram iguais e o
agente não tinha como prever que tinha pego, por erro, o relógio do desembargador. Aqui EXCLUÍMOS o
DOLO e a CULPA
~ Inescusável - O erro é injustificado. Erro que podia ser evitado pelo sujeito se tivessemaior diligência. Houve a
inobservância do dever de cuidado. Como consequência, haverá a EXCLUSÃO do DOLO, podendo
subsistir o crime CULPOSO (CULPA IMPRÓPRIA), desde que seja prevista a forma culposa no tipo penal.

3. (CREA-PR – Agente Profissional – Advogado) A respeito do instituto erro sobre a pessoa, é


CORRETO afirmar que:
A) O erro quanto à pessoa contra quem se comete o crime isenta de pena o agente.
B) No caso de erro sobre a pessoa contra quem se comete o crime, considera-se apenas as
215
condições e qualidade da vítima.
C) O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado isenta de pena. Não se consideram,
neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o
crime.
D) O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se
consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria
praticar o crime.
E) O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena, mas considera-se
apenas as qualidades da vítima.
GABARITO: LETRA D
A) ERRADA. O erro quanto à pessoa não gera a isenção de pena do agente. Conforme estabelece
o § 3º do artigo 20 do Código Penal, o agente responderá como se tivesse atingido o bem jurídico pretendido,
considerando as condições e qualidades da vítimadesejada e não da vítima efetivamente atingida. A modalidade
de erro que enseja a isenção de pena é o erro de tipo invencível, inevitável ou escusável, fundado no artigo 20,
caput, do Código Penal.
B) ERRADA. No caso de erro sobre a pessoa, ao contrário do afirmado nesta proposição, não se
consideram as condições e as qualidades da vítima real, efetiva, mas sim da vítima desejada, pretendida.
C) ERRADA. Como já salientado anteriormente, o erro quanto à pessoa contra a qual o crime é
praticado não isenta de pena. A segunda parte da proposição está correta, mas a primeira parte está incorreta.
D) CERTA. É exatamente o que consta do § 3º do artigo 20 do Código Penal.
E) ERRADA. A primeira parte da proposição está correta, uma vez que o erro quanto à pessoa
contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. No entanto, está errada a segunda parte da proposição,
pois, como já destacado, não se consideram as condições e qualidades da vítima real, mas sim da vítima
pretendida pelo agente.
4. (MPE-MG – Promotor de Justiça Substituto) sobre a teoria do erro, marque a alternativa
incorreta:
A) Entende-se por erro de compreensão a situação em que conhece o sujeito a proibição e a falta
de permissão, e, sem embargo, não lhe seja exigível que entenda a regra que conhece; neste caso, estaremos
diante de um erro de proibição invencível, na forma de erro de compreensão.
B) O indivíduo que ofende a outrem, desconhecendo-lhe a condição de funcionário público, não
responde pelo crime de desacato, já que afastado o dolo quanto à elementar do tipo, mas subsiste o delito de
injúria, pois a honra do particular também é tutelada pela lei penal. Tem-se, na hipótese, um erro de tipo, que,

216
ainda que escusável, não exclui a criminalidade do fato.
C) O sujeito que crê que, se alguém lhe entrega o carro para conserto e não o retira dentro do
prazo, pode vendê-lo por sua própria conta, para se ressarcir do valor do serviço, incide em erro de proibição
direto, que, nos termos do artigo 21 do Código Penal, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-
la de um sexto a um terço.
D) Nos crimes omissivos, o erro que recai sobre os elementos objetivos do tipo é considerado
erro de tipo, mas o erro incidente sobre o mandamento terá repercussão em sede de culpabilidade.
GABARITO: LETRA C
A) CORRETA - O erro de compreensão se dá quando o agente, mesmo conhecendo a ilicitude
do fato, não a compreende em razão de pertencer a uma esfera cultural dissonante da que reina na sociedade em
que aquela norma penal vige, como, por exemplo, os silvícolas. Com efeito, não tem como comungar tais
valores. Esse erro de compreensão é, de acordo com a doutrina, uma modalidade de erro de proibição
invencível.
B) CORRETA - O crime de desacato encontra-se previsto no artigo 331 do Código Penal, que
assim dispõe: "Desacatar funcionário público no exercício da função ou em
razão dela". O crime de desacato é classificado, de acordo com Guilherme de Souza Nucci, em seu Código
Penal Comentado, como um "delito pluriofensivo, por atingir a honra de funcionário público e o prestígio da
Administração Pública". Com efeito, eliminando-se a elementar do tipo consubstanciada na qualidade de
funcionário público do sujeito passivo, permanece a intenção de lesar a honra da vítima e, via de consequência,
o crime de injúria, ainda que escusável o erro quanto a elementar do crime de desacato.
C) ERRADO - A conduta descrita nesta alternativa configura erro de proibição direto, pois recai
sobre a ilicitude, ou conteúdo proibitivo, de uma norma penal. Encontra-se, previsto no artigo 21 do Código
Penal, que assim dispõe "O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável,
isenta de pena; se evitável,poderá diminuí-la de um sexto a um terço".
D) CORRETA - Tanto no que tange aos crimes comissivos como no que tange aos omissivos, o
erro que recai sobre os elementos objetivos do tipo é considerado erro de tipo, ao passo que erro incidente sobre
o mandamento legal configura erro de proibição. Neste último caso, em razão de erro, o agente supõe estar
agindo de forma lícita e, portanto, a sua culpabilidade fica afastada pelo fato de o agente não ter potencial
consciência da ilicitude.

5. (MPE-SP – Promotor de Justiça Substituto) José e João trabalhavam juntos. José, o rei da

217
brincadeira. João, o rei da confusão. Certo dia, discutiram acirradamente. Diversos colegas viram a discussão e
ouviram as ameaças de morte feitas por João a José. Ninguém soube o motivo da discussão. José não se
importou com o fato e levou na brincadeira. Alguns dias depois, em um evento comemorativo na empresa, João
bradou “eu te mato José” e efetuou disparo de arma de fogo contra José. Contudo o projétil não atingiu José e
sim Juliana, matando a criança que chegara à festa naquele momento, correndo pelo salão.
Nesse caso, é correto afirmar que, presente a figura
A) do erro sobre a pessoa, nos termos do artigo 20, § 3°, do Código Penal, João deve responder
por homicídio doloso sem a agravante de crime cometido contra criança.
B) do erro sobre a pessoa, nos termos do artigo 20, § 3°, do Código Penal, João deve responder
por homicídio doloso, com a agravante de crime cometido contra criança.
C) aberratio criminis, artigo 74 do Código Penal, João deve responder por tentativa dehomicídio e
homicídio culposo sem a agravante de crime cometido contra criança, emconcurso formal de crimes.
D) aberratio ictus, artigo 73 do Código Penal, João deve responder por homicídio doloso sem a
agravante de crime cometido contra criança.
E) aberratio ictus, artigo 73 do Código Penal, João deve responder por tentativa de homicídio e
homicídio culposo, com a agravante de crime cometido contra criança, emconcurso material de crimes.
GABARITO: LETRA D
A presente questão visa confundir, sobretudo, o erro na execução (aberratio ictus, art. 73 do CP) com o erro
sobre a pessoa (error in persona, art. 20, §3º, do CP).
O erro na execução é um erro na pontaria do agente. Considera-se, para fins de resultado, as características da
vítima que se pretendia atingir (aqui, José), não daquelaque efetivamente alcançara (Juliana, no caso). Não havia
a intenção de se atingir uma criança, motivo pelo qual João não poderá ser responsabilizado por este caminho.
Joãodeve responder por homicídio doloso, mas sem a agravante por haver cometido contracriança.
Já no erro sobre a pessoa, o agente confunde as pessoa. Ocorre defeito na representação da vítima. Acha que está
atingindo quem de fato deseja, na atinge terceiro. Para fins de responsabilização, aqui se considera os
predicativos da vítima pretendida, não da vítima efetivamente atingida. Não
se trata desta hipótese porque João teve falsa percepção da pessoa pretendida, massim erro ao
executar a ação. Exemplo mais comum na doutrina de erro
sobre a pessoa é a hipótese de atingir irmãosgêmeos.
Note: a responsabilidade criminal nestes dois erros é a mesma. Pune-se pelas características da vítima que o
agente pretendia atingir (nossa vítima virtual: José). Por excesso, permita: caso João eventualmente também
acertasse José, além de Juliana, aplicar-se-ia as regras constantes no caput do art. 70 do CP, pois haveria

218
unidade de conduta com pluralidade de resultados. Por fim, não pode-se
confundir com a aberratio criminis, ou resultado diverso do pretendido, pois neste instituto ocorre desvio do
próprio crime. Pretende-se atingir um bem jurídico, mas acaba por ofender outro. Por isso fora iniciada tal
questão com os outros dois institutos mais parecidos e passíveis de dúvida.

6. (PC-ES – Investigador) Assinale a alternativa correta.


A) O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta
de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
B) Se o fato é cometido sob coação resistível, só é punível o autor da coação.
C) Se o fato é cometido em estrita obediência à ordem, ainda que manifestamente ilegal, de
superior hierárquico, só é punível o autor da ordem.
D) O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado isenta de pena.
E) O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo e não permite a punição
por crime culposo, ainda que previsto em lei.
GABARITO: LETRA A
A) Certo. Art. 21 do CP
B) Errado. Na coação IRRESISTÍVEL (física = exclui a conduta; moral= exclui a
culpabilidade), somente será punível o autor da coação (art. 22, CP); mas, sendo resistível, coator e coagido
responderão em concurso de pessoas, tendo o coagido direito a atenuante do art. 65, III, 'c', do CP.
C) Errado. Se a ordem é manifestamente ilegal, não deve ser cumprida, havendo punição para o
o superior e para o executor (art. 22 do CP).
D) Errado. O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado faz com que o agente
responda como se tivesse acertado a pessoa contra quem gostaria de ter agido (vítima virtual), conforme dispõe
o art. 20, §3° do CP.
E) Errado. Art. 20 do CP - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o
dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

7. (SEJUDH-MT – Agente de Segurança Socioeducativo) Segundo o Código Penal, o erro sobre


elemento constitutivo do tipo legal de crime:
A) é evitável se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era

219
possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.
B) surge em casos como estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever
legal ou exercício regular de direito.
C) ocorre quando alguém, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
D) exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
E) se dá quando o agente quis o resultado criminoso ou assumiu o risco de produzi-lo.
GABARITO: LETRA D
a) ERRADA. Na verdade, aqui se está a falar do erro de proibição evitável previsto no art. 21 do
CP, este erro de proibição incide sobre a ilicitude do fato, o agente pratica a conduta achando que ela não é
crime, considera-se uma excludente de culpabilidade.
b) ERRADA. A alternativa trata das hipóteses de excludente de ilicitude, que está prevista no
art. 23 do CP: não há crime quando o agente pratica o fato: em estado de necessidade; em legítima defesa; em
estrito cumprimento de dever legal ou noexercício regular de direito.
c) ERRADA. Aqui se está tratando do conceito de legítima defesa conforme art. 25 do CP:
Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão,
atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
d) CORRETA. O erro de tipo pode ser entendido como aquele que incide sobre os elementos
objetivos do tipo e nesse caso, exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei, de
acordo com o art. 20, caput do CP. Um dos exemplos clássicos da doutrina é quando uma pessoa maior de
dezoito anos mante relações sexuais com outra que julga ter quinze anos, quando na verdade ela tem 13, o que
resultaria no delito de estupro de vulnerável. Ou seja, o agente não queria praticar tal crime, mas teve uma falsa
percepção da realidade, errando sobre o elemento constitutivo do tipo, acaba praticando a conduta.
e) ERRADA. Aqui se trata do conceito de crime doloso previsto no art. 18, I do CP.

8. (Câmara Legislativa do Distrito Federal – Inspetor de Polícia Legislativa) Considerando o que


estabelece o Código Penal, associe as duas colunas relacionandoos conceitos com a sua definição.
I. Delito putativo por erro de tipo.

II. Aberratio ictus.

220
III. Erro de proibição.

IV. Aberratio criminis.


a. O agente percebe a realidade, equivocando-se sobre regra de conduta.
b. Acidente ou erro no emprego executório culminando por atingir bem jurídico diferente
do pretendido.
c. O comportamento do agente, subjetivamente, é criminoso, mas objetivamente o atonão se
enquadra no tipo penal.
d. Desvio no golpe ou erro na execução culminando por atingir pessoa diversa dapretendida.
A) I-a; II-b; III-c; IV-d.
B) I-c; II-d; III-b; IV-a.
C) I-b; II-a; III-c; IV-d.
D) I-c; II-b; III-a; IV-d.
E) I-c; II-d; III-a; IV-b.
GABARITO: LETRA E
Delito putativo por erro de tipo. O delito putativo é o mesmo que delito imaginário. O agente acha que está
praticando um crime, mas por incidir em erro sobre um dos elementos que compõe o tipo penal, o crime não
se configura. A descrição contida na letra “c" da segunda relação apresentada no enunciado corresponde ao
instituto.
Aberratio ictus. Expressão latina que traduz o também chamado erro na execução, previsto no artigo 73 do
Código Penal. É quando o agente visa praticar um crime contra uma determinada pessoa, mas erra e acaba por
atingir pessoa diversa da pretendida. A descrição contida na letra “d" da segunda relação apresentada no
enunciado corresponde ao instituto.
Erro de proibição. Encontra-se previsto no artigo 21 do Código Penal. Configura-se quando o agente erra
quanto à ilicitude de sua conduta. Não há erro quanto à realidade fática, mas sim quanto ao direito. A descrição
contida na letra “a" da segunda relaçãoapresentada no enunciado corresponde ao instituto.
Aberratio criminis. Expressão latina que traduz o também chamado resultado diversodo pretendido, previsto no
artigo 74 do Código Penal. O erro nesta hipótese se dá de uma coisa para uma pessoa. Assim, o agente pretende
atingir uma coisa, mas atinge uma pessoa. A descrição contida na letra “b" da segunda relação apresentada no
enunciado corresponde ao instituto.

9. (SEFAZ-RS – Assistente Administrativo Fazendário) O erro sobre elemento do tipo

221
A) caracteriza erro na execução.
B) é uma excludente de ilicitude.
C) isenta a pena, caso fosse inevitável.
D) exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
E) permite a diminuição de pena, nos parâmetros previstos em lei, caso o erro sejavencível.
GABARITO: LETRA D
A) INCORRETA - O denominado erro na execução ou erro de golpe (aberratio ictius), configura-
se quando o agente tem o iter criminis do delito por ele objetivado alterado em razão do erro na utilização dos
meios de execução. O erro de execução encontra-se previsto artigo 73 do Código Penal. Nesse caso, o agente
responderá comose tivesse atingido a pessoa que visava a atingir e não a vítima efetivamente lesada, nos termos
do disposto no artigo 20, § 3º, do Código Penal. A assertiva contida na questão está, portanto, errada. Já o erro
sobre elemento do tipo, cuja previsão legal se encontra no artigo 20, do Código Penal, ocorre quando "o erro
sobre elemento

222
constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei".
B) INCORRETA - A excludente de ilicitude torna o fato praticado pelo agente, ainda que típico,
lícito, ou seja, consonante com o ordenamento jurídico em geral, uma vez que o fato visa, ao invés de vulnerar
bens jurídicos, protege o bem jurídico mais relevantes no caso concreto.
C) INCORRETA - O erro de tipo se divide em duas modalidades: a essencial e a acidental. De
acordo com Rogério Greco, "ocorre o erro de tipo essencial quando o erro do agente recai sobre elementares,
circunstâncias ou qualquer outro dado que se agregue à figura típica. O erro de tipo essencial, se inevitável,
afasta o dolo e a culpa; se evitável, permite seja o agente punido por um crime culposo, se previsto em lei. O
erro acidental, ao contrário do essencial, não tem o condão de afastar o dolo (ou o doloe a culpa) do agente, e, na
lição de Aníbal Bruno, 'não faz o agente julgar lícita a ação criminosa. Ele age com a consciência da
antijuridicidade do seu comportamento, apenas se engana quanto a um elemento não essencial do fato ou erra
no seu movimento de execução'. Poderá o erro acidental ocorrer nas seguintes hipóteses: a) erro sobre o objeto
(error in objecto); b) erro sobre a pessoa (error in persona) – art. 20, § 3º, do Código Penal; c) erro na execução
(aberratio ictus) – art. 73 do Código Penal; d) resultado diverso do pretendido (aberratio criminis) – art. 74 do
Código Penal; e) aberratio causae".
D) CORRETA - Conforme verificado na análise do item anterior, o erro de tipo essencial, se
inevitável, afasta o dolo e a culpa; se evitável, permite seja o agente punido por um crime culposo, se previsto
em lei, como previsto expressamente no artigo 20, do Código Penal.
E) INCORRETA - Ora, como analisado nos itens acima, nos termos explícitos do artigo 20, do
Código Penal, o erro de tipo essencial, se inevitável, afasta o dolo e a culpa; se evitável, permite seja o agente
punido por um crime culposo, se previsto em lei." Vale dizer: se o erro for evitável, ou seja, vencível o agente
responde por crime culposo e não pela modalidade dolosa de forma mitigada.

10. (MPE-PB – Promotor de Justiça Substituto) O erro sobre elementos do tipo, previsto no artigo
20 do Código Penal,
A) exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
B) sempre isenta o agente de pena.
C) não isenta o agente de pena, mas esta será diminuída de um sexto a um terço.
D) não tem relevância na punição do agente, pois o desconhecimento da lei éinescusável.

223
E) se inevitável, isenta o agente de pena; se evitável, poderá diminuir a pena de um sexto a um
terço.

224
GABARITO: LETRA A
A) CERTO. Art. 20, CP: O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o
dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
B) ERRADO. Art. 20, § 1º: É isento de pena quem por erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima (DESCRIMINANTE
PUTATIVA ou ERRO DE TIPO PERMISSIVO - TEORIA LIMITADA DA CULPABILIDADE). Não há
isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo (CULPA IMPRÓPRIA:
ADMITE TENTATIVA POR SE TRATAR DE FATO DOLOSO PUNIDO CULPOSAMENTE A TÍTULO
DE POLÍTICA CRIMINAL)
C) ERRADO. O erro de tipo inevitável ou escusável exclui dolo e culpa (exclui a tipicidade) e
isenta o réu de pena. Já na hipótese de erro de tipo evitável ou inescusável (erro deriva de culpa), de fato o
agente não fica isento de pena, mas a consequência é que ele responderá pelo crime culposo. A questão
misturou o quantumde redução de pena de 1/6 a 1/3 do erro de proibição evitável (art. 21, CP).
D) ERRADO. De fato, de acordo com o art. 21, caput (1ª parte), do CP, que disciplina o erro de
proibição (e não o erro de tipo como apontado na questão), o desconhecimento da lei é inescusável. Todavia,
esse desconhecimento tem sim relevância na punição do agente, haja vista que se trata de uma hipótese de
circunstância atenuante (art. 65, II, CP), a ser considerada na 2ª fase da aplicação da pena.
E) ERRADO. A alternativa "e" estaria correta se a questão estivesse tratando do erro de
proibição, pois, de acordo com o art. 21 do CP "(...) o erro sobre a ilicitude do fato,se inevitável, isenta de pena;
se evitável, poderá diminuí-la de 1/6 a 1/3.

225
Teoria do Crime – Iter Criminis

SUMÁRIO

Introdução 2
19. I
ter Criminis
3
20. Tentativa 6

21. Espécies de Tentativa 9

22. Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz 11

23. Arrependimento Posterior 12

24. Crime Impossível 16

25. Espécies de Crime Impossível 16

26. Crime Impossível X Crime Putativo 17

27. Questões 18

226
Teoria do Crime – Iter Criminis

Iter criminis é uma expressão em latim, que em última análise quer dizer caminho do crime.
É todo o percurso levado a efeito pelo agente para consumar uma conduta criminosa.

O iter criminis é dividido em 02 (duas) fases

- Fase Interna: é a fase da cogitação, que é o momento em que o agente pensa, programa a
conduta criminosa. Não é a mesma coisa que premeditação. Premeditar significa arquitetar,
organizar. A cogitação é meramente o pensamento, a preparação interna da conduta criminosa.
- Fase Externa: há 03 (três) etapas, que concretizam o que havia sido planejado
anteriormente na fase interna.

227
Primeiro há a preparação, que se tem os atos preparatórios. Em regra, esses atos são
impuníveis.
A segunda etapa é a execução, que é o coração do iter criminis, que são os atos executórios.

E, por fim, a terceira etapa é a consumação, que é quando esses atos cessam, ou seja, tem-se a
consumação do delito.
Há, ainda, uma quinta etapa, mas que não pertence ao iter criminis, é chamada de
exaurimento. É, por exemplo, quando no delito de extorsão o agente obtém a vantagem. Sabe-se que
o crime de extorsão é um crime formal e que, portanto, a obtenção da vantagem é um mero
exaurimento, assim, não faz parte do iter criminis.
Assim, as etapas do iter criminis são: cogitação; preparação; execução; e consumação. O
exaurimento não faz parte do iter criminis. E as fases são a fase interna e externa.
Para fixação:

Cogitação: é a idealização do crime. Não é sinônimo de premeditação.

A premeditação é a organização, planejamento, divisão de tarefas.

É uma etapa da fase interna. Assim, é inalcançável. E, portanto, não é punível.

Preparação = atos preparatórios

Está na fase externa. E também é denominada de conatus remotus, que seria tentativaremota.
Nesse ato, o agente adota providências (externas) para que a conduta se realize. Como o nome
diz é preparação para a execução.
Então, no exemplo do homicídio, o indivíduo se dirige até o local onde a vítima está, municia a arma,
são atos anteriores a execução que mostram a preparação para a empreitadacriminosa.
Em regra, os preparatórios são impuníveis, salvo se a preparação para o crime seja crime autônomo.
Exemplo de crime autônomo são os petrechos para falsificação de moeda (artigo 291 do CP).

228
Artigo 291 do CP:

Petrechos para falsificação de moeda


Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Sabe-se que existe o crime de moeda falsa e mesmo que ainda não tenha ocorrido a falsificação da
moeda, apenas o indivíduo possua, adquira, forneça, ou fabrique, o maquinário para falsificar moeda,
o crime já é punível.
Execução = atos executórios

É a manifestação externa, concreta de condutas do agente para a prática do crimepretendido.


Quando iniciados os atos executórios, surge a punibilidade. Como
distinguir os atos preparatórios dos atos executórios?
Há 04 (quatro) teorias que respondem a essa pergunta. Fique atento, pois pode ser questão de segunda
fase de concurso público.
Vamos e elas:

1) Teoria da Hostilidade ao Bem Jurídico:

Os atos executórios são aqueles que atacam o bem jurídico. Já os preparatórios


não caracterizam afronta ao bem jurídico.

Se o ato for hostil, ou seja, se ele ataca diretamente o bem jurídico ele é um ato executório. Se não o fizer é
um ato preparatório.
Idealizada por Max Ernest Mayer. No Brasil, Nelson Hungria e José FredericoMarques adotavam.
2) Teoria Objetivo-formal ou Lógico Formal:
229
Os atos executórios são aqueles que se iniciam com a realização do núcleo (verbo)do tipo penal.
Idealizada por Franz von Liszt.

Veja, no artigo 121 do CP, qual o núcleo? É o matar. Então, quando o indivíduo inicia a conduta de
matar alguém, ele está deixando os atos preparatórios eingressando nos atos executórios.
Não resolve 100% dos casos concretos. Ainda fica muito fluído.

3) Teoria Obejtivo-material:

Os atos executórios são aqueles que se iniciam com a realização do núcleo (verbo)do tipo penal, bem
como os atos imediatamente anteriores, de acordo com a visão de terceira pessoa estranha ao
fato.
Idealizada por Reinhart Frank. É a adotada pelo
CP Português.
Mas ainda não atende 100% da necessidade pratica.

4) Teoria Objetivo-individual:

Os atos executórios são aqueles que se iniciam com a prática do núcleo do tipo (verbo), bem como
com a prática dos atos imediatamente anteriores, em conformidade com plano concreto do
autor.
Ou seja, se a intenção, o plano do autor era matar alguém, sabe-se que antes os atos imediatamente
anteriores ao início da execução do núcleo do tipo penal do homicídio, que é matar, serão
considerados também atos executórios.
Na pratica isso irá se estender quando esses atos não estiverem bem definidos. E, assim, defesa e
acusação irão discutir para saber se é uma conduta atípica, por ser um mero ato preparatório, ou se
efetivamente é uma conduta típica, ilícita e culpável.
É trazida por Hans Welzel. E defendida por Zaffaroni e Pierangeli. É a que vem
prevalecendo na doutrina e na jurisprudência brasileira.

230
Tentativa
Tentativa é a interrupção do iter criminis. Há a cogitação, a preparação e a execução, para
depois ter a consumação. Se o iter criminis é interrompido durante a execução se terá, na maioria das
vezes, tentativa.
A tentativa, na maioria das vezes, é a interrupção do iter criminis por circunstâncias
alheias à vontade do agente.
Por que na maioria das vezes? Porque na maioria das vezes as circunstâncias são alheias à
vontade do agente. Mas será visto que quando a interrupção do iter criminis na fase executória se dá
em razão da vontade do agente.

Artigo 14, inciso II, do CP:

Art. 14 - Diz-se o crime:


Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução (3ª etapa do iter criminis),
não se consuma (4ª etapa do iter criminis) por circunstâncias alheias à vontade do agente.
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Ou seja, é iniciada e execução, mas os atos são interrompidos antes da consumação por
circunstâncias alheias à vontade do agente.
O artigo 14, inciso II, do CP é uma norma de adequação típica mediata. Permite que a
tentativa seja punida. Não há como tipificar um homicídio tentado simplesmente com o artigo 121,
que diz apenas matar alguém. Caso o agente não mate uma pessoa, mas tente, é necessário uma outra
norma, que será justamente esse artigo citado. Assim, caso se consuma um homicídio, a norma de
adequação típica é imediata com o artigo 121 do CP.

Como deve ser punida a tentativa?

É uma pergunta interessante. Há algumas teorias para respondê-la.

Teoria subjetiva, voluntarística ou monista: o que deve ser considerado é o dolo doagente. Assim,
231
a punição do crime consumado seria igual ao do tentado.
Caso o agente atire contra alguém, essa pessoa não morre, mas ele tinha a intenção dematar, o que
importa é o seu dolo. Então, o crime consumado é igual ao crime tentado.
Não adota no direito penal brasileiro.

Teoria sintomática: punição em razão da periculosidade do agente. Possibilita a punição dos atos
preparatórios. A demonstração de periculosidade já seria consideradatentativa.
Idealizada pelo Escola Positiva de Ferri e Lombroso. Não adota
no direito penal brasileiro.
Teoria objetiva, realista ou dualista: pune-se a tentativa em razão do perigo proporcionado ao
bem jurídico. A tentativa deve receber punição inferior ao crime consumado, uma vez que o bem
jurídico não foi atingido integralmente.
Sabe-se que, no artigo 14, inciso II, do CP, há uma causa de diminuição da pena, que diz que se o
crime for tentado, deve-se diminuir a pena de um terço a dois terços.
O Código Penal brasileiro adotou, de forma bastante razoável e proporcional, uma punição inferior ao
crime consumado. A punição do crime tentado é inferior ao do crime consumado, porque o bem
jurídico não foi atingido em sua integralidade.
Essa teoria já se adequa bastante ao que se tem no Código Penal brasileiro.

Teoria da impressão ou objetivo-subjetiva: visa limitar o alcance da teoria subjetiva. A tentativa


passar a ser punível somente quando a conduta abale a confiança na vigência do ordenamento ou na
segurança jurídica.
Muito fluida, muito subjetiva, muito mais subjetiva do que a própria teoria subjetiva, porque deverá
ser analisado caso a caso, se houve abalo na confiança da vigência do ordenamento ou a segurança
jurídica.

Qual teoria o Código Penal Brasileiro adotou?

Regra: teoria objetiva, realística ou dualista.

Exceção: teoria subjetiva, monista ou voluntarística.

232
Veja o artigo 352 do CP, que é aquele crime em que o indivíduo tenta fugir com emprego de
violência de medida de segurança detentiva.
Artigo 352 do CP:

Evasão mediante violência contra a pessoa


Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança
detentiva, usando de violência contra a pessoa:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.
Esses crimes, que punem tentativa da mesma forma que o crime consumado, são chamados de
delitos de atentados.

Como calcular a pena da tentativa?

Sabe-se que é uma norma de adequação típica mediata. E, assim, vale-se do preceito
secundário do crime, por exemplo do homicídio, matar alguém (06 a 20 anos).
Mas o parágrafo único do artigo 14, inciso II, do CP diz que ela deve ser diminuída de um a
dois terços. Veja a figura abaixo:

Imagine um indivíduo que atire em outro. Sua arma tinha espaço para 06 (seis) munições e ele
disparou as seis vezes, ou seja, ele exauriu tudo que estava ao seu alcance. Atingiu a cabeça, tórax,
abdômen, só áreas de grande vascularização, área de letalidade imediata. Mas por um milagre a
vítima escapa, o agente chegou muito perto da consumação. Porém, não conseguiu. Certamente a
diminuição dele será na fração mínima, de um terço.
Agora, caso se fale em 06 (seis) munições e um disparo, uma vez só, tentativa branca, ou seja,
o agente atirou uma vez e não acertou a vítima. Mas ficou bem delineado que o dolo era realmente
233
matar a vítima. Nesse caso, em razão da quantidade de disparos, de não ter acertado nenhum tiro,
muito provavelmente a redução da tentativa se aproximará, se não for fixada, em doisterços.
A gradação intermediária é feita pelo juiz, na medida do percurso do iter criminis.

2. Espécies de tentativa
1. Tentativa Imperfeita ou Inacabada: as circunstâncias alheias à vontade do agente o impedem de
completar os atos executórios.
Exemplo: o agente tem seis disparos disponíveis na arma, mas as circunstâncias alheias a sua vontade,
por exemplo a chegada da polícia ou a reação de um terceiro, só permitem que o agente dê dois
disparos.
2. Tentativa Perfeita ou Acabada ou Crime Falho: apesar de esgotados os atos executórios, o
resultado desejado não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente.
O agente fez tudo que ele podia, exauriu os seus atos executórios, mas ainda assim ele não conseguiu
o seu resultado por circunstâncias alheias a sua vontade.
3. Tentativa Branca ou Incruenta: o objeto material não é atingido pela conduta.

4. Tentativa Cruenta ou Vermelha: o objeto material é atingido pela conduta.

O vermelho é associado ao sangue da vítima para dizer que o objeto material éatingido
5. Tentativa Idônea: o resultado é possível de ser obtido, contudo, porcircunstâncias alheias à
vontade do agente, não ocorre.
É a tentativa clássica.

6. Tentativa Inidônea: o resultado é impossível de ser obtido.

Trata-se do denominado crime impossível (artigo 17 do CP)

Artigo 17 do CP:

Crime impossível
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta

234
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)

Como foi dito no início da aula, nem sempre que se tem interrupção será classificada como
tentativa. Só há tentativa, com a interrupção do iter criminis, quando essa interrupção se dá por
circunstâncias alheais à vontade do agente.
Se a interrupção se dá por decisão ou vontade do agente se tem a desistência voluntária.

Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz


Está prevista no artigo 15 do CP.

Artigo 15 do CP:

Desistência voluntária e arrependimento eficaz


Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução (desistência
voluntária) ou impede que o resultado se produza (arrependimento eficaz), só responde pelos
atos já praticados.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Veja, nesse artigo 15, há dois institutos, são eles: a desistência voluntária e o arrependimento
eficaz.

Desistência Voluntária

O que impede a consumação é a vontade do agente, e não as circunstâncias alheias à


vontade do agente.
A doutrina chama a desistência voluntária de tentativa abandonada, ou seja, porque o
agente abandona os atos executórios, ou, ainda, como tentativa qualificada.
Já caiu em prova! Fique atento!

A expressão “ponte de ouro”, que será sempre associada a desistência voluntária, de Franz
von Liszt, que diz que o agente retorna a sua situação de licitude ou de menor reprovabilidade.
Por exemplo, o agente caminha para um homicídio, mas desiste. E a “ponte de ouro” traz ele

235
de volta para a lesão corporal.
E a expressão “ponte de prata” diz respeito ao arrependimento posterior.

Arrependimento Eficaz

Esse instituto pressupõe o exaurimento dos atos executórios.

O agente impede que o resultado se produza. Ele age em um determinado sentido, se


arrepende e age novamente em sentindo contrário para evitar que o resultado aconteça.
Só é cabível em crime materiais, porque são aqueles crimes que necessitam da ocorrência
de um resultado naturalístico para a sua consumação.
Caso não se tenha um resultado naturalístico para consumar o crime, não há resultado para
evitar a sua ocorrência.
O coração do arrependimento eficaz é o impedimento do resultado. Se o resultado
naturalístico não ocorre para consumar o delito, não há resultado para impedir.

Arrependimento Posterior
O artigo 16 do CP traz a previsão do arrependimento posterior.

Artigo 16 do CP:

Arrependimento posterior
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou
restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a
pena será reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Nesse instituto, o resultado já aconteceu. Será possível reparar o dano ou restituir a
coisa, porque o resultado naturalístico já aconteceu.
Requisitos:
Crimes sem violência ou grave ameaça;

236
Reparação do dano ou restituição da coisa;

Até o recebimento da denúncia

A expressão “ponte de prata” está ligada ao arrependimento posterior, de Franz von Liszt. E
é de prata porque somente a redução da pena, não dá para mudar a figura típica ou até mesmo tornar
atípico. É menos valiosa do que a “ponte ouro”.
• Cuidado com a violência imprópria.

A violência imprópria é aquela que está no final do caput do artigo 157 do CP.

Artigo 16 do CP:

Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a
pessoa, ou depois de havê-la, por qualquermeio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

É o caso do “boa noite cinderela”. O indivíduo dopa a vítima e quando ela está dormindo, ele
subtrai as coisas dela. Há violência real? Ameaça? Não, ele reduz a possibilidade de resistência
dopando a vítima.
Nesse caso, há uma grande discussão na doutrina sobre a possibilidade de arrependimento
posterior ou não. Por que?
Porque um dos requisitos para incidência do arrependimento posterior é a inexistência de
violência ou grave ameaça. E, aqui, surgem duas correntes:
1ª corrente: defende que essa violência que está explicita no artigo 16 do CP é uma violência
própria. E, portanto, não engloba a violência imprópria da parte final do caput do artigo157 do CP.
2ª corrente (é a que prevalece): o artigo 16 fala em violência, não fala propriamente em
violência. Fala violência genericamente. E a violência imprópria não deixa de ser uma
violência, tanto é que é chamada de violência imprópria. E, portanto, é incabível o
arrependimento posterior nos casos de violência imprópria.
• Cuidado, e se a restituição da coisa ou a reparação do dano for posterior ao recebimento da
237
denúncia?

Há uma circunstância atenuante, que está prevista no artigo 65, inciso III, alínea “b”, do
CP.

Artigo 65, inciso III, alínea “b” do CP:

Circunstâncias atenuantes
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
III - ter o agente:
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou
minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
Veja, que até o recebimento da denúncia pode-se falar em arrependimento posterior, redução
de um terço a dois terços da pena. Depois do recebimento da denúncia até o julgamento, pode-se falar
em circunstância atenuante do artigo 65, inciso III, alínea “b”, do CP.
Você se lembra que na tentativa o critério para quantificar a fração de redução era o percurso
do iter criminis, quanto mais próximo do final do iter criminis, menor a redução e quanto mais no
início do iter criminis, maior a redução.
E qual seria o critério no arrependimento posterior?

A doutrina e foi seguido pela jurisprudência fala em celeridade e voluntariedade. Se for por
100% vontade do sentenciado, que houve a restituição da coisa ou a reparação do dano, e se ele fez
logo na sequência do recebimento da denúncia, ou seja, celeridade, a diminuição da pena será maior.
Agora, se ele deixar para fazer as vésperas da sentença, depois do juiz ter o intimado para
saber se ele tinha condições de reparar o dano, a tendência é que a diminuição da pena seja na fração
mínima.
Tenha em mente o seguinte para escolher a fração do arrependimento posterior:
Celeridade + Voluntariedade.

238
• Cuidado, disposições especiais sobre reparação do dano

Súmula 554 do STF: o pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos,


após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

Então, ser for antes do recebimento da denúncia, de acordo com a súmula, obsta-se o prosseguimento
da ação penal.
2. Peculato Culposo:

§ 2º: se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena – detenção,


de três meses a um ano.
§ 3º: no caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.
O arrependimento posterior aqui não se aplica, porque a sistemática prevista em lei é muito mais
benéfica para o réu. Se ele reparar o dano até a sentença irrecorrível, a punibilidade é extinta. E se for
posterior a sentença irrecorrível, reduz a metade da pena imposta.
3. Lei 9.099/95: art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo
Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.
Parágrafo único: tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação.
4. Crimes tributários – pagamento integral do débito tributário – Lei11.941/2009
Art.69. extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no art. 68 (arts. 1º e 2º da Lei 8.137/90 e arts.
168-A e 337-A do CP) quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento
integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios, que tiverem
sido objeto de concessão de parcelamento.
Parágrafo único: na hipótese de pagamento efetuado pela pessoa física prevista no
§ 15 do art. 1º deste Lei, a extinção da punibilidade ocorrerá com o pagamento integral dos valores
correspondentes à ação penal.

239
Crime impossível
A doutrina chama o crime impossível de “quase-crime” ou tentativa inidônea. O artigo 17
do CP traz a previsão do crime impossível.
Artigo 17 do CP:

Crime impossível
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
Quando se pensa em crime impossível, sempre se lembra do agente que furta em um
supermercado, que é vigiado por câmeras de segurança, que é monitorado por seguranças nos
corredores, e ao passar pela frente dos caixas é abordado.
Há alguns julgados entendendo que realmente se trata de crime impossível e outros não.

No mundo teórico, dos manuais de direito penal, é um bom exemplo para se entender o que é
o crime impossível.

Espécies de Crime impossível


➢ Ineficácia absoluta do meio: refere-se ao meio de execução do crime, incapaz de produzir o
resultado em razão de sua essência ou de defeito.
Um exemplo clássico da ineficácia absoluta do meio é quando o agente que se vale de um documento
de identidade, uma CNH, grosseiramente falsificada, para a prática de um estelionato.
Então, o meio utilizado para ele, é a CNH, é absolutamente ineficaz para a prática, para a consumação
de um crime de estelionato.
A ineficácia absoluta deverá ser verificada caso a caso.

Impropriedade absoluta do objeto: o objeto material do crime é inexistente


antes do início da prática da conduta.

O agente que quer ocultar um cadáver, só que não é um cadáver, e, sim, uma pessoaviva ainda.
E a consequência do crime impossível é a atipicidade do fato.
240
Crime impossível X Crime Putativo
O termo putativo designa algo que é fruto da imaginação do agente.

O crime putativo ocorre quando o agente supõe estar praticando um ilícito penal, mas na
verdade pratica um indiferente penal.
É o caso, por exemplo, de um brasileiro que chega na Holanda e resolve fumar maconha. E
com convicção de que assim pratica o crime do artigo 28 da Lei 11.343, e ele nota que a polícia não o
aborda porque naquele país o consumo e o porte de droga para consumo pessoal é um indiferente
penal em determinados lugares.
Nesse caso, ainda que ele esteja convicto de que está praticando um ilícito penal, ele, na
verdade, pratica um indiferente penal, denominado crime putativo.
No crime impossível, a conduta do agente se adequa a tipificação prevista na norma penal
incriminadora, mas por ineficácia absoluta do meio ou do objeto, a conduta é atípica.
Já no crime putativo, a conduta do agente se quer é descrita na norma penal incriminadora.
É um indiferente penal.
Com isso, conseguiu-se estudar todo o conteúdo de iter criminis.

Ilicitude

Conceito
Contrariedade entre a conduta típica e o ordenamento jurídico.

Ilicitude Formal e Ilicitude Material

Formal: mera contrariedade da conduta com a norma penal


Material: caráter antissocial da conduta, contradição com as finalidades do direito penal.

241
Concepção Unitária
A doutrina tem uma concepção unitária do conceito de ilicitude.
Contrariedade à norma é inafastável do caráter antissocial.

Ilícito X Injusto
Ilícito: é a contradição entre conduta e ordenamento
Injusto: é a contrariedade entre o fato típico e a compreensão social sobre a justiça.

Assim, um fato pode ser considerado ilícito, porém justo pela sociedade.
Exemplos clássicos de condutas aparentemente tolerados por parte da sociedade: jogo do bicho,
venda de material pirata (artigo 84 do CP), violação de direitos autorais. As condutas são ilícitas, mas
não se trata propriamente dita de injusto penal.

Relação entre Tipicidade e Ilicitude


Se uma conduta é típica, qual a consequência disso para ilicitude? E se uma conduta é
ilícita, há consequência para a tipicidade?
Vejamos as teorias! As teorias vão em uma gradação, as vezes uma superando a anterior ou
complementando a anterior.
1. Teoria da Autonomia – (BELING)

▪ Tipicidade e ilicitude não guardam qualquer relação.

2. Teoria da Indiciariedade ou da Ratio Congnoscendi – (MAYER)

Teoria importante!

▪ A existência de tipicidade gera presunção relativa de que a conduta também é ilícita. O fato
típico gera indícios de ilicitude.

242
3. Teoria da Absoluta Dependência ou da Ratio Essendi – (MEZGER)

▪ Traz a ilicitude para o campo da tipicidade, criando o tipo total do injusto.

▪ A ilicitude é a essência da tipicidade.

▪ Injusto para Mezger é justamente a mistura entre tipicidade e ilicitude. O que é típico será
necessariamente ilícito, formando o que é chamado de tipo total do injusto.
▪ O que é tipo total do injusto? Visa identificar a relação entre a tipicidade e a ilicitude, estabelecendo
que a ilicitude é a própria essência da tipicidade, formando então um conjunto tipicidade ilicitude
denominado tipo total do injusto.

4. Teoria dos Elementos Negativos do Tipo

▪ O tipo penal é composto por elementos positivos e por elementos negativos. Estes últimos seriam as
causas excludentes da ilicitude.

Qual a teoria adotada no Brasil?

Majoritariamente entende-se que é a Teoria da Indiciariedade ou da Ratio Cognoscendi.A tipicidade


é indício de ilicitude, que gera uma presunção relativa de ilicitude.
Demonstração

Ônus da prova de quem alega agir sob causa excludente de ilicitude.

Temperamento ou mitigação da Teoria no CPP

Artigo 386, inciso VI, do CPP:

243
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na partedispositiva, desde que reconheça:
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22,
23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre
sua existência; (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
Causas Excludentes da Ilicitude ou Descriminantes ou Justificantes
No Código Penal há 04 (quatro) causas excludentes de ilicitude. São elas:
▪ Estado de necessidade;
▪ Legítima defesa;
▪ Estrito cumprimento do dever legal;
▪ Exercício regular de direito.

Estado de Necessidade

Artigo 24 do CP:

Estado de necessidade
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de
um a dois terços. (Redação dada pela Leinº 7.209, de 11.7.1984)

Requisitos:
a) Atualidade do perigo
Para o legislador somente o perigo atual.
E o perigo eminente? É preciso que se aguarde que o perigo se torne atual para sacrificar um bem

244
jurídico de terceiro ou já na eminência do perigo sacrificar o bem jurídico?
Há duas correntes. O assunto é muito controverso. O importante na prova é que o aluno demonstre
seu raciocínio jurídico das duas consequências.
1ª corrente: apesar do legislador não ter colocado explicitamente o perigo iminente, não é razoável
que se aumente a exposição do seu bem jurídico para você sacrificar o de um terceiro. Assim, o
perigo iminente equivale ao atual e exclui da mesma forma a ilicitude. 2ª corrente: não exclui a
ilicitude, porque não há previsão expressa na lei.

b) Perigo não tenha sido causado voluntariamente pelo agente


E a figura culposa? Quando o agente gera o perigo culposamente. Duas
correntes:
1ª corrente (Anibal Bruno, Basileu Garcia, Damásio, Heleno Claudio Fragoso – Direito Alemão):
Sim, pode mesmo que seja culposa a conduta.
2ª corrente (Francisco de Assis Toledo, Magalhães Noronha e Nelson Hungria): Não. Na conduta
culposa há voluntariedade no início da conduta, o que afasta a invocação do estadode necessidade.

c) Salvar direito próprio ou alheio

d) Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo

Não se pode sacrificar um bem jurídico de terceiro, se algum bem jurídico do agente estiver em perigo,
se ele tem o dever legal de enfrentar esse perigo.
Quem tem esse dever legal?
A doutrina oscila um pouco, alguns dizem que é apenas o artigo 13, § 2º, alínea “a”: aqueles que tenham
por obrigação legal o cuidado, a proteção e a vigilância.
Mas a maioria da doutrina entende que todas as alíneas do artigo 13 estariam incluídas nesse dever
legal de enfretar o perigo.

Artigo 13, § 2ª, do CP:

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
245
O dever de agir incumbe a quem:(Incluído pelaLei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

e) Inevitabilidade do comportamento lesivo

f) Inexigibilidade do sacrifício do interesse ameaçado

▪ Proporcionalidade entre bem protegido e o bem sacrificado.

Teoria Diferenciadora:
Se o bem sacrificado tiver valor menor ou igual ao bem jurídico salvo haverá estado de
necessidade justificante que exclui a ilicitude. Se o bem jurídico sacrificado tiver valor maior
haverá estado de necessidade exculpante, que exclui a culpabilidade (adotado pelo CPM – artigo 39)

Teoria Unitária
Não admite o estado de necessidade exculpante, somente o justificante. Se o bem jurídicosacrificado for
de maior valor pode haver redução de pena

246
g) Conhecimento da situação de fato justificante
▪ Elemento subjetivo (ciência prévia)

Observação
Estado de necessidade recíproco ou estado de necessidade contra estado de necessidade. É
possível?
A doutrina diz que sim. É o caso clássico de dois náufragos disputando um salva-vidas.
Legítima Defesa

Artigo 25 do CP:

Legítima defesa
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (Vide
ADPF 779)
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo,
considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que
repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante aprática
de crimes. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vide
ADPF 779)

Requisitos:
a) Agressão injusta
E a forma culposa? A agressão culposa pode ser considerada como injusta a fim de que se justifique a
legítima defesa?
- Luiz Flavio Gomes e Cleber Masson: o ataque pode ser doloso ou culposo e até de
inimputável, mas é legítima defesa.
- Rogério Sanches: se a resposta do ofendido se der contra uma conduta culposa, temos
247
estado de necessidade.

248
b) Atual ou iminente

c) Uso moderado dos meios necessários = de forma moderada.


Existe a possibilidade do excesso. Se o agente se vale de um meio que não é necessário, ou se apesar de
necessário, faz uso imoderado, desproporcional, ele excede.

d) Proteção do direito próprio ou de terceiros

e) Conhecimento da situação de fato justificante

Legítima Defesa Recíproca e Legítima Defesa Sucessiva

É possível? Não.

Uma das premissas para a ocorrência da legítima defesa é a agressão injusta. Imagine entãouma
situação que as duas agressões simultaneamente sejam injustas.
Portanto, não é possível. Se alguém inicia uma agressão, aquela agressão é injusta e nasce para
o agredido a possibilidade de reprimir aquela agressão através da legítima defesa. Assim, um dos dois
envolvidos irá agir em legítima defesa.
Pode-se falar em legítima defesa sucessiva se há excesso.

Na legítima defesa recíproca as condutas são simultâneas, já na legítima defesa sucessiva as


condutas são sucessivas, primeiro um agride, depois o outro se defende se excedendo, para depois o
primeiro se defender do excesso.

249
Estrito Cumprimento do Dever Legal

Artigo 23 do CP:

Exclusão de ilicitude (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 23 - Não há crime quando
o agente pratica o fato: (Redação dadapela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. (Incluído pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)

Exemplo:
Oficial de Justiça que invade domicílio para cumprimento de mandado de busca e apreensão.

Exercício Regular de Direito

Artigo 23 do CP:

Exclusão de ilicitude (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 23 - Não há crime quando
o agente pratica o fato: (Redação dadapela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. (Incluído pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)

Exemplos:
▪ Lesões em atividades esportivas
▪ Intervenções médicas ou cirúrgicas
▪ Ofendículos (meios de defesa da propriedade – deve ser visível) – exemplos: cerca elétrica, caco de
vidro no muro etc.

250
Qual a característica considerada indispensável para ser considerada um exercício
regular de direito?
A visibilidade. Não pode ser oculta, não pode ser uma armadilha.
A cerca elétrica normalmente é acompanhada de um aviso de cuidado.

4. Causas Supralegais de Exclusão da Ilicitude


Consentimento do ofendido
É quando o ofendido dispõe de algum bem jurídico dele, que seja disponível.

Requisitos:
✓ Deve ser expresso

✓ Deve ser livre

✓ Deve ser prévio ou simultâneo

✓ Aquele que consente deve ser plenamente capaz

✓ Deve recair sobre bem próprio.

5. Descriminantes Putativas
Descriminante é sinonimo de causa excludente e putativa é imaginária. Assim, é a Falsa
noção da realidade que faz o agente supor que existe causa excludente de ilicitude que, de fato,
não existe.
Pode recair sobre os limites da causa excludente:

Exemplo:

“A” desfere um tapa em “B” que pensa que está autorizado a revidar com um tiro.
251
Trata-se do denominado ERRO DE PROIBIÇÃO INDIRETO

Pode recair sobre a percepção da realidade:

Exemplo:

“A” encontra desafeto de madrugada que coloca a mão no bolso para retirar um lenço.
Assustado atira, supondo erroneamente que seria atingido.

Trata-se do denominado ERRO DE TIPO

Questões
1. (PRF) No que se refere a aspectos legais relacionados aos procedimentos policiais, julgue o
item a seguir.
Age em legítima defesa o policial rodoviário federal que, aplicando técnicas de defesa policial, causa
escoriações em um infrator que resiste à prisão.
GABARITO: ERRADO

A resistência à prisão pode configurar crime de resistência previsto no artigo 329 do Código Penal, que se
assim dispõe: "opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio".
A atuação do policial no sentido de efetuar a prisão de um infrator está albergada pelaexcludente de ilicitude do
estrito cumprimento do dever legal, prevista no inciso III doartigo 23 do Código Penal.
O estrito do cumprimento do dever legal é a causa excludente da ilicitude, que consiste na realização de um fato
típico que se justifica por força de uma obrigação imposta pela norma, como por exemplo, a atuação dos
agentes policiais em efetuar a prisão deum infrator.
Não se trata, com efeito, de legítima defesa como asseverado no enunciado da questão,razão pela qual a assertiva
está equivocada.

2. (PRF) No que se refere ao uso diferenciado da força, julgue o item a seguir.

252
A conduta de um policial rodoviário federal de, no exercício da função, atirar e causar lesão corporal em
alguém poderá não ser considerada crime se ele comprovar alguma causa de exclusão de
antijuridicidade.
GABARITO: CERTO

Ainda que um policial pratique um fato típico (conduta, nexo causal, resultado e tipicidade), ele poderá não ser
considerado crime, nos casos de atuação acobertada por causas de excludentes de ilicitude (legítima defesa,
estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de um direito).
Atenção! Quando um policial revida disparos de arma de fogo, matando o criminoso, a excludente de ilicitude
que incide nesse caso é a legítima defesa. A banca tenta confundir, fazendo com que o candidato marque como
sendo estrito cumprimento de um dever legal. Muito cuidado com isso!!!

3. (Prefeitura de Timon-MA) Em relação às excludentes de ilicitude é


CORRETO afirmar que:
A) Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual ou
iminente, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir- se.
B) Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele justa
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
C) O agente, somente em caso de exercício regular do direito, responderá pelo excesso doloso ou
culposo.
D) Não pode alegar legítima defesa quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
E) O Código Penal não conceitua a excludente do estrito cumprimento de dever legal.

GABARITO: LETRA E

A) art. 24: "Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir- se".
(ERRO: Ao falar em "iminente")

B) art 25: "Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios

253
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem".
(ERRO: Ao falar "justa agressão")

C)) O agente, em qualquer das hipóteses do artigo 23 do Código Penal (legítima defesa, estado de necessidade,
estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito), responderá pelo excesso doloso ou culposo
(ERRO= Ao falar "somente")

D) rt. 24 § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo"
(ERRO= Ao falar "legítima defesa")

E) Prevê a primeira parte inciso III do art. 23 do Código Penal que não há crime quando o
agente pratica o fato no estrito cumprimento de um dever legal .Quando o cumprimento do dever produzir
um fato típico, valemo-nos da excludente em estudo.

4. (PRF) Durante operação em rodovia federal, uma equipe da PRF abordou Pamela e solicitou a
apresentação de sua carteira nacional de habilitação (CNH) e do certificado de registro e licenciamento de
veículo (CRLV). Pamela entregou os documentos, mas estava muito nervosa, o que gerou desconfiança no
policial, que, ao consultar o
sistema, verificou que o veículo era clonado. Pamela alegou que tinha comprado o veículo de um amigo pelo
preço de mercado e que não sabia que o carro era clonado. O policial, por sua vez, solicitou que Pamela saísse do
veículo, mas ela se negou, então, o policial usou de força necessária para fazê-la cumprir a ordem. Em razão da
conduta de Pamela, o policial realizou uma busca pessoal nela, fazendo comentários sobre o corpo dela. Após a
revista pessoal, ele fez uma vistoria no veículo e revistou a mochila dela. Pamela ficou constrangida com a
atitude do policial. Em seguida, ela foi presa em flagrante.
A respeito dessa situação hipotética, julgue o item subsequente.
O policial rodoviário agiu sem excesso ao utilizar força para retirar Pamela, pois ele está amparado pela
excludente de ilicitude — estrito cumprimento do dever legal.
GABARITO: CERTO

Nos termos do § 2º do artigo 240 do Código de Processo Penal, cabe a busca pessoal "... quando houver
fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h

254
do parágrafo anterior."
Na situação hipotética no texto associado, o nervosismo de Pamela e o CRLV falso geraram a suspeita no
policial de que Pamela ocultasse consigo arma proibida ou objetivos mencionados nas letras mencionadas no
dispositivo transcrito.
Com efeito, o uso da força moderada para obrigar que Pamela saísse do veículo para a realização da busca
pessoal configura a excludente de ilicitude do estrito cumprimento do dever legal, previsto no artigo 23, III do
Código Penal, uma vez que, nos termos do artigo 301 do Código de Processo Penal cabe "... as autoridades
policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito". O estrito do
cumprimento do dever legal é a causa excludente da ilicitude que consiste na realização de um fato típico que
se justifica por força de uma obrigação imposta pela norma, como por exemplo, a atuação dos agentes policiais
nos termos do dispositivo transcrito. Sendo assim, a situação descrita não se enquadra de modo perfeito a uma
hipótese de estrito cumprimento do dever legal, estando a presente alternativa correta.

5. (PRF) A respeito do uso diferenciado da força, julgue o item a seguir.


Para que a conduta de um policial seja considerada em legítima defesa, ele deve usar moderadamente
dos meios necessários para repelir injusta agressão, que pode ser atual ou iminente.
GABARITO: CERTO

QUESTÃO QUE SERVE PARA REVISÃO COMBINA OS ART 23 E 25.

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato.

II - em legítima defesa.

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem
DICA!

--- > Legítima defesa: agressão, atual ou iminente.

--- > Estado de necessidade: perigo atual.

255
6. (SAP-SC) De acordo com o Código Penal Brasileiro, é correto afirmar:
A) É isento de pena o agente que comete um crime em estado de necessidade.
B) A legítima defesa estará caracterizada quando o agente pratica fato para salvar de perigo atual,
direito próprio ou alheio, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar.
C) Será isento de pena aquele que, ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato em razão de emoção ou paixão, ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
D) A embriaguez, quando completa e proveniente de caso fortuito, é considerada como uma
excludente de ilicitude.
E) Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.

GABARITO: LETRA E

A) ERRADO - A estado de necessidade é uma causa excludente de ilicitude prevista no artigo 24 do


Código Penal, que tem a seguinte redação: "Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para
salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou
alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se". Tratando-se de causa excludente da
ilicitude,quando constatada o estado de necessidade sequer há crime, não havendo falar-se em isenção de pena.
B) ERRADO - Nos termos do artigo 25 do Código Penal, "entende-se em legítima defesa quem,
usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
outrem". A assertiva constante deste item corresponde à definição de estado de necessidade.
C) ERRADO - Nos termos expressos no artigo 28, inciso I, do Código Penal, a emoção e a paixão
não afastam a imputabilidade penal. No caso da emoção, pode dar azo à atenuação da pena ou servir como
causa de diminuição de pena, desde que inserida, respectivamente, nas circunstâncias do artigo 65, III, "c" e do
artigo 121, § 1º, ambos do Código Penal. A isenção da pena ocorre no caso previsto no artigo 26 do Código
Penal, que assim dispõe: "é isento de pena o agente que, por doença ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardo, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se com esse entendimento".
D) ERRADO - A embriaguez fortuita afasta a culpabilidade descaracterizando a imputabilidade do
agente. Nessas hipóteses, aplica-se a regra do artigo 28, §1º, do CódigoPenal, que assim dispõe: “é isento de pena
o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

256
entendimento". A embriaguez fortuita não configura, portanto, excludente de ilicitude como afirmado na
proposição contida neste item, que está, com efeito, equivocada.
E) CERTO - Nos termos do disposto no § 1º, do artigo 24, do Código Penal, não se aplica a
excludente de ilicitude do estado de necessidade ao agente que tinha o dever legal de enfrentar o perigo, senão
vejamos:
"Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se. (...)
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.

7. (MPE-GO – Promotor) Assinale a assertiva correta no que se refere à legítima defesa:


A) É possível a legítima defesa contra pessoa jurídica, uma vez que esta exterioriza a suavontade por
meio da conduta de seres humanos, permitindo a prática de agressões injustas. Assim, o funcionário de uma
empresa que escuta, pelo sistema de som, ofensas à sua honra, pode destruir o alto-falante que transmite as
palavras inadequadas,a fim impedir a reiteração da conduta.
B) Se o agente, repelindo uma agressão injusta, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem, vem a
atingir pessoa inocente, por erro no emprego dos meios de execução (aberratio ictus),não estará ele amparado
pela legitima defesa . Exemplo: " A se defende de tiros " B ", revidando disparos de arma de fogo em sua
direção. Acerta, todavia, " C " , que nada tinha a ver com o incidente , matando-o. "A" deve responder pela
morte de " C ".
C) Considere o seguinte exemplo: " A " caminha pela rua, em direção ao ponto de ônibus, momento
em que é atacado por um cachorro de grande porte. Caso " A " efetue um disparo de arma de fogo, sacrificando
o animal, sua conduta estará amparada pela legítima defesa. Da mesma forma, caso o cachorro seja utilizado por
uma pessoa como um instrumento para atacar outra pessoa, funcionando como verdadeira arma para a agressão,
o ofendido poder· matar o animal em legítima defesa.
D) A doutrina é pacífica no sentido de que os ofendículos - meios defensivos para a proteção da
propriedade e de outros bens jurídicos, como, por exemplo, arame farpado, cerca elétrica e cacos de vidro sobre
muros - têm natureza jurídica de legítima defesa preordenada.
GABARITO: LETRA A

A) CERTO - A assertiva contida neste item está correta de acordo com o entendimento de Cleber
Masson em seu livro Direito Penal Esquematizado, Parte Geral, Volume 1, que trata do tema. Na referida obra, o

257
mencionado autor defende a vertente que entende ser possível a pessoa jurídica cometer crimes. Via de
consequência, esposa também ser possível a legítima defesa contra pessoa jurídica, nos exatos termos descritos
neste item da questão, senão vejamos: "É possível a legítima defesa contra pessoa jurídica, uma vez que esta
exterioriza a sua vontade por meio da conduta de seres humanos, permitindo a prática de agressões injustas.
Exemplo: o funcionário de uma empresa escuta, pelo sistema de som, ofensas à sua honra. Para impedir a
reiteração da conduta,pode destruir o alto-falante que transmite as palavras inadequadas".
B) ERRADO - Ao tratar da legítima defesa e da aberratio ictus, Cleber Masson em seu livro Direito
Penal Esquematizado, Parte Geral, Volume 1, afirma expressamente:
"se repelindo uma agressão injusta, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem, o agente atinge pessoa
inocente, por erro no emprego dos meios de execução, subsiste em seu favor a legítima defesa. Exemplo: “A"
se defende de tiros de “B", revidando disparos de arma de fogo em sua direção. Acerta, todavia, “C", que nada
tinha a ver com o incidente, matando-o. Incidirá ainda a justificativa se o agente atingir a pessoa almejada e
também pessoa inocente. No exemplo acima, “A" mataria “B" e “C". De fato, o art. 73 do Código Penal é
peremptório ao estabelecer que o crime se considera praticado contra a pessoa visada, permitindo a conclusão
de que essa regra se aplica inclusive para efeito de exclusão da ilicitude".
C) ERRADO - O ataque de um cachorro não é considerado uma agressão injusta, uma vez que
animal não possui vontade nem consciência e, portanto, não pratica uma agressão ("conduta humana que põe
em perigo ou lesa um bem jurídico juridicamente protegido" - Frederico Marques, Tratado de Direito Penal, v.
2). O ataque de um cachorro, com efeito, configura perigo atual. A conduta de quem repele o ataque com o
disparo de arma de fogo, matando o cachorro, configura estado de necessidade, nos termos do disposto artigo
24 do Código Penal.
D) ERRADO - A doutrina diverge acerca da natureza jurídica dos ofendículos. Fernando Capez
afirma que: "ofendículos – são aparatos facilmente perceptíveis destinados à defesa da propriedade e de
qualquer outro bem jurídico (ex.: cacos de vidro no topo dos muros, lanças nos portões, cercas elétricas, cães
bravios, etc.). Como se trata de dispositivos que podem ser visualizados sem dificuldade, passam a constituir
exercício regular do direito de defesa da propriedade, já que a lei permite até mesmo o desforço físico para a
preservação da posse (art. 1210, §1º, CC)".
Há, no entanto, quem os classifique como legítima defesa preordenada, uma vez que, embora preparados com
antecedência, só atuam no momento da agressão. De umaforma ou de outra, em regra, os ofendículos constituem
causa de exclusão da ilicitude. Não há, portanto, consenso quanto à qual excludente de ilicitude os ofendículos
se inserem, estando a presente assertiva equivocada.

258
8. (TJ-RJ – Juiz) “Espécie” de legítima defesa que a doutrina afirma ser inexistente, pois a situação
fática não é reconhecida como legítima defesa e não exclui a ilicitude de ação:
A) legítima defesa recíproca.
B) legítima defesa própria.
C) legítima defesa putativa.
D) legítima defesa de terceiro.
E) legítima defesa em proteção a quem consente com a agressão de terceiro a bemindisponível.
GABARITO: LETRA A

A) Correta. Legítima defesa real x legítima defesa real (legítima defesa simultânea ou recíproca) –
De acordo com Cléber Masson: "Não é cabível, pois o pressuposto da legítima defesa é a existência de uma
agressão injusta. E, se a agressão de um dos envolvidos é injusta, automaticamente a reação do outro será
justa, pois constituirá uma simples atitude de defesa. Consequentemente, apenas este último estará protegidopela
causa de exclusão da ilicitude".
B) Errada. Qualquer bem jurídico pode ser protegido pela legítima defesa, pertencente àquele que
se defende ou a terceira pessoa.
C) Errada. É admitida a legítima defesa putativa, hipótese na qual o agente, por erro, supõe estar
diante de uma situação de fato que, na realidade, não existe.
Conforme Guilherme Nucci: "Trata-se da reação promovida contra agressão imaginária, que, pelas
circunstâncias fáticas, autorizam supor a hipótese de erro justificável. Constitui descriminante putativa."

D) Errada. Qualquer bem jurídico pode ser protegido pela legítima defesa, pertencente àquele que
se defende ou a terceira pessoa.
E) Errada. É reconhecida a legítima defesa na hipótese em que, apesar do consentimento do
ofendido, trata-se de agressão de terceiro a bem jurídico indisponível.
Isso porque o consentimento do ofendido como tipo penal permissivo é admitido nos delitos em que o único
titular do interesse juridicamente protegido é a pessoa que aquiesce e pode dele dispor. Ou seja, é cabível
unicamente em relação a bens jurídicos disponíveis. Dessa forma, quando tal consentimento versa sobre bem
indisponível (ex: direito à vida), incide o interesse do Estado na sua tutela, de modo que não pode o particular
renunciar à sua proteção.

9. (MPE-MT – Promotor) De acordo com o ordenamento jurídico e o posicionamento dos


tribunais superiores acerca das excludentes de antijuridicidade.
259
A) embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado nos casos de estado de
necessidade, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
B) É cabível o estado de necessidade em crimes habituais.
C) é admissível a legítima defesa contra quem age em estado de necessidade.
D) não é admissível no direito brasileiro o estado de necessidade putativo.
E) somente é possível a responsabilização por excesso doloso de quem age em estrito
cumprimento do dever legal, nunca por excesso culposo.
GABARITO: LETRA A
A) CERTA- Nos termos explícitos no § 2° do artigo 23 do Código Penal, no caso de estado de
necessidade, "embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de
um a dois terços".
Sendo assim, a proposição contida neste item é verdadeira.
B) ERRADO - De acordo com a doutrina, a excludente do estado de necessidade não incide, via de
regra , aos crimes permanentes e habituais. Nesta linha, vejamos o que diz Cleber Massom no seu Direito Penal
Esquematizado, volume 1, Parte Geral: "Em regra, não se aplica a justificativa no campo dos crimes
permanentes e habituais, umavez que, no fato que os integra, não há os requisitos da atualidade do perigo e
da inevitabilidade do fato necessitado. A jurisprudência já reconheceu o estado de necessidade, contudo, no
crime habitual de exercício ilegal de arte dentária (CP, art. 282), em caso atinente à zona rural longínqua e
carente de profissional habilitado".
C) ERRADO - Não é cabível a excludente de legítima defesa em relação a condutas motivadas pelo
estado de necessidade. Quanto ao tema, é oportuno trazer a lição de Cleber Masson em seu livro Direito Penal
Esquematizado, volume 1, Parte Geral. De acordo com o autor, não é cabível legítima defesa em relação a
excludentes de ilicitude. Assim, não cabe legítima defesa real contra legítima defesa real, pois "(...) o
pressuposto da legítima defesa é a existência de uma agressão injusta. E, se a agressão de um dos envolvidos é
injusta, automaticamente a reação do outro será justa, pois constituirá uma simples atitude de defesa.
Consequentemente, apenas este último estará protegido pela causa de exclusão da ilicitude."
No que toca especificamente à legítima defesa contra o estado de necessidade, afirma o autor que "por idênticos
motivos aos ligados à não aceitação da legítima defesa real recíproca, é inadmissível a relação da legítima defesa
real com o estado de necessidade real, com o exercício regular de direito real, e, finalmente, com o estrito
cumprimento de dever legal real. O fundamento, vale ressaltar, é simples: se a outra excludente é real, não
haverá a agressão injusta da qual depende a legítima defesa real".
D) ERRADO - as denominadas "descriminantes putativas" estão previstas expressamente no artigo

260
20, §1º, do Código Penal, que assim dispõe, in verbis: "É isento de pena quem, por erro plenamente justificado
pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena
quando o erro deriva deculpa e o fato é punível como crime culposo".
O estado de necessidade, causa de exclusão da ilicitude, por sua vez, está previsto no artigo 24 do Código
Penal, que dispõe que: “Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual,
que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício,
nas circunstâncias, não era razoável exigir-se".
Cotejando-se as premissas acima transcritas, conclui-se que o estado de necessidade putativo ocorre quando o
agente, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe encontrar-se em estado de necessidade ou
quando, conhecendo a situação de fato, supõe por erro quanto à ilicitude, agir acobertado pela excludente.
E) ERRADO - De acordo com Fernando Capez, em seu Direito Penal, Parte Geral, o excesso de
legítima defesa "é a intensificação desnecessária de uma ação inicialmente justificada. Presente o excesso, os
requisitos das descriminantes deixam de existir, devendo o agente responder pelas desnecessárias lesões
causadas ao bem jurídico ofendido". Segundo o autor o excesso pode ser doloso ou consciente e, ainda, culposo
e inconsciente, senão vejamos: "
a. Excesso doloso ou consciente – ocorre quando o agente, ao se defender de uma injusta
agressão, emprega meio que sabe ser desnecessário ou, mesmo tendo conhecimento de sua
desproporcionalidade, atua com imoderação (ex.: para defender- se de um tapa, sujeito mata a tiros o agressor;
sujeito que apesar de imobilizar o agressor com um tiro, prossegue atirando até a sua morte; etc.). Em tais
hipóteses, caracteriza-se o excesso doloso em virtude de o agente consciente e deliberadamente valer-se da
situação vantajosa de defesa em que se encontrava para, desnecessariamente, infligir ao agressor uma lesão
mais grave do que a exigida e possível, impelido por motivos alheios à legítima defesa (ódio, vingança,
perversidade, etc.). Consequência – constatado o excesso doloso, o agente responde pelo resultado causado
dolosamente (ex.: aquele que mata quando bastava tão-somente a lesão responde por homicídio doloso).
b. Excesso culposo ou inconsciente – ocorre quando o agente, diante do temor, aturdimento ou
emoção provocada pela agressão injusta, acaba por deixar a posição de defesa e partir para um verdadeiro
ataque, após ter dominado o seu agressor. Não houve intensificação intencional, pois o sujeito imaginava-se
ainda sofrendo o ataque,tendo seu excesso decorrido de uma equivocada apreciação da realidade.
Requisitos – a) o agente estar, inicialmente, em uma situação de reconhecida legítima defesa; b) dela se desviar,
em momento posterior, seja na escolha dos meios de reação, seja no modo imoderado de utilizá-los por culpa
estrito senso; c)estar o resultado lesivo previsto em lei (tipificado) como crime
culposo. Consequência – o agente responderá pelo resultado produzido a título culposo".

261
10. (MPE-SC – Promotor)
No CP brasileiro, a situação correspondente ao estado de necessidade somente exclui a ilicitude do fato, e
por isso não afeta a culpabilidade da conduta.
GABARITO: ERRADO
O estado de necessidade está previsto como uma excludente de ilicitude, conforme o Artigo 23, I, do Código
Penal. Crime é o fato típico, ilícito e culpável, ao excluir a ilicitude, não é possível analisar a culpabilidade.
Além disso, a culpabilidade é do agente (agente culpável), e não da conduta. Neste sentido, a sentença está
errada.

Culpabilidade

Conceito analítico de crime


Conduta típica, ilícita e culpável.

Para o conceito tripartido: elemento do crime

Para o conceito bipartido: pressuposto para a aplicação da pena

Conceito

A culpabilidade é o juízo de reprovabilidade, de censura. Relaciona-se à necessidade de


aplicação da sanção penal.

Teorias sobre Culpabilidade


As duas principais teorias que estudaram a conduta foram a Teoria Causalista e a Teoria
Finalista. É lógico que entre elas há diversas diferenças, que foram tratadas na aula sobre o tema, mas
uma delas é que importa bastante.
No causalismo, o dolo e a culpa eram estudados na culpabilidade, no terceiro e último

262
substrato do crime. O dolo era chamado de dolo normativo.
Com o avanço teórico do finalismo, o dolo e a culpa se deslocam da culpabilidade para a
conduta típica, passando a ser chamado de dolo natural.

Portanto, a locação do dolo e da culpa é uma diferença importante para tais teorias citadas
acima.

Vamos tratar a partir de agora as teorias sobre a culpabilidade. Sobre o que é culpabilidade e
qual é a consequência desse conceito de culpabilidade.

5. Teoria Psicológica (Franz von Liszt e Ernst von Beling)

▪ Culpabilidade é a relação psíquica entre o autor e o resultado, tomando a forma de dolo ou culpa, ou
seja, dolo e culpa seriam espécies de culpabilidade.
▪ Culpabilidade se confunde com dolo e culpa premissas causalistas, em que dolo e culpa estão na
culpabilidade, e não na conduta típica.
▪ Dolo normativo

▪ Críticas: inexigibilidade de conduta diversa – há dolo, mas não há como imputar oresultado ao agente
✓ Culpa inconsciente: não há vínculo psicológico entre o agente e oresultado.

6. Teoria Psicológica Normativa (Reinhart Frank)

▪ Ainda pautada nas premissas causalistas.

▪ Dolo e culpa deixam de ser espécies para serem elementos da culpabilidade juntamente a
imputabilidade e a exigibilidade de conduta diversa.
▪ Aplicável somente à teoria causalista.

7. Teoria Normativa Pura da Culpabilidade ou Extremada da Culpabilidade

263
▪ Baseada no finalismo de Welzel.

▪ No finalismo, dolo e culpa migram para a conduta típica.

▪ Na conduta típica, não há análise de consciência de ilicitude. Passamos, assim, a ter o DOLO
NATURAL.
▪ Culpabilidade = imputabilidade + exigibilidade de conduta diversa + potencial conhecimento da
ilicitude (não é mais o conhecimento atual, mas sim potencial).

8. Teoria Limitada da Culpabilidade

▪ Baseada no finalismo de Welzel.


▪ Mesmas premissas da Teoria Extremada da Culpabilidade.

▪ Diferencia-se pelo entendimento quanto às descriminantes putativas, que é a causa excludente


de ilicitude imaginária.

Artigo 20, § 1º, do CP:

Descriminantes putativas (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)


§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de
fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa
e o fato épunível como crime culposo.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
o Na Teoria Extremada: erro de proibição.
o Na Teoria Limitada: erro de tipo ou erro de proibição, a depender das circunstâncias.

Qual a teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro?


264
Apesar da intensa discussão, a exposição de motivos do Código Penal aponta a Teoria
Limitada da Culpabilidade (item 19).

Item 19 da Exposição de Motivos do Código Penal:

19. Repete o Projeto as normas do Código de 1940, pertinentes às denominadas


"descriminantes putativas". Ajusta-se, assim, o Projetoà teoria limitada pela culpabilidade, que
distingue o erro incidente sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação do que
incide sobre a norma permissiva. Tal como no Código vigente, admite- se nesta área a figura
culposa (artigo 17, § 1º).
A exposição de motivos é uma doutrina, que indica uma espécia de interpretação autêntica.
O próprio legislador explica como ele acha que deve ser interpretado a lei.

Nesse caso, o próprio legislador diz que a adoção expressa pelo Código Penal é da Teoria
Limitada pela Culpabilidade.

9. Teoria da Coculpabilidade

▪ Imputa a Estado parcela de responsabilidade social pelas condutas de determinados criminosos em


razão da desigualdade social.
▪ Não adotada no Brasil, porém pode ser acolhida como atenuante inominada doartigo 66 do CP.

Artigo 66 do CP:

Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou
posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
Observação

Coculpabilidade às avessas

265
Crítica à seletividade do sistema penal.

Teria a presença da coculpabildiade às avessas, quando:

Abrandamento da sanção de delitos praticados pela elite econômica (crimes tributários, crimes do
colarinho branco, etc.)
Tipificação de condutas que só podem ser praticadas por pessoas marginalizadas (ex.
Contravenção penal de mendicância)

Elementos da Culpabilidade
A Teoria Extremada traz 03 elementos da culpabilidade, são eles:

▪ Imputabilidade;
▪ Potencial conhecimento da ilicitude;
▪ Exigibilidade de conduta diversa.

Imputabilidade

Possibilidade de se atribuir responsabilidade penal a alguém.


Dois elementos para a imputabilidade:
✓ Volitivo (domínio da vontade)
✓ Intelectivo (higidez psíquica)

Critérios para a fixação da imputabilidade:


h) Biológico: leva em conta o desenvolvimento mental, independentemente de possuir capacidade de
discernimento ou autodeterminação.

266
i) Psicológico: leva em conta somente se, ao tempo dos fatos, o agente tinha capcidade de
entendimento e autodeterminação.

j) Biopsicológico: inimputável é aquele que, em razão de sua condição menteal era ao tempo da conduta,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

Qual o critério utilizado pelo Código Penal?


Depende.

Artigo 26 do CP:

Inimputáveis
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

Nesse artigo, é utilizado o critério biopsicológico.

Artigo 27 do CP:

Menores de dezoito anos


Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às
normas estabelecidas na legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Já no artigo 27 é utilziado o critério puramente biológico.

267
Inimputabilidade e Embriaguez
Espécies
1. Não acidental (voluntária ou culposa)

Artigo 28 do CP:

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela


Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Embriaguez
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Aplica-se a essas hipoteses a Teoria da Actio Libera in Causa, que vai analisar o dolo e a
possibilidade de se ter um potencial conhecimento da ilicitude no momento em que ele começou a
beber.
Assim, entende-se que se havia o potencial conhecimento da ilicitude, quando ele começou a
ingerir alcóol, ele deve ser punido pela conduta e pelo resultado por ele causado.
A embriaguez culposa é quando o agente não tem a intenção de ficar bebado (de se
embriagar), mas, somente, beber um pouco. Age de forma negligente e acaba ficando bebado.
A embriaguez voluntária é quando o agente vai beber para ficar bebado.
Não se fala aqui de embriaguez preordenada, que é o agente que bebe para praticar crime.

2. Acidental (caso fortuito ou força maior)


▪ Desconhecimento dos efeitos da bebida ou quando o indivíduo é obrigado a beber.

Artigo 28, §§ 1º e 2º, do CP:

§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou
força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
268
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de
caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Imagine uma questão objetiva que diz o seguinte: “a embriaguez acidental, por caso fortuito ou força
maior, isenta o agente de pena” é uma afirmativa certa ou errada?
O professor Fábio Ribeiro diria que é uma afirmativa incompleta e, portanto, errada. A embriaguez
que isenta o agente de pena é a embriaguez acidental completa. A incompleta reduz a pena.

3. Patológica
A pessoa é viciada.
▪ Dependendo do grau do alcoolismo pode ser considerado inimputabilidade (artigo 26, caput, do CP).
Deve passar por perícia

Artigo 26 do CP:

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)

4. Preordenada
O indivíduo bebe com a finalidade de praticar crimes.

Artigo 61, inciso II, alínea “l” do CP:

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o
crime:(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

269
II - ter o agente cometido o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
l) em estado de embriaguez preordenada.

Potencial Consciência da Ilicitude

▪ Possibilidade de o agente compreender a reprovabilidade da conduta.

▪ Não se exige o conhecimento jurídico a respeito da ilicitude da conduta, apenas a compreensão de


que a conduta não está respaldada pelo ordenamento jurídico – uma percepção leiga valoração
paralela na esfera do profano.
▪ Francisco de Assis Toledo cunhou essa expressão com base nos estudos de Mezger e fazendo um
paralelo com o direito canônico.
▪ Profano é aquilo que não tem ligação com a religião (com a igreja).

▪ Valoração paralela na esfera do profano é o agente fazer juízo de valor não na esfera religiosa, mas na
esfera do profano (do leigo).
❖ Erro de Proibição
É a causa excludente do potencial conhecimento da ilicitude.

Artigo 21 do CP:

Erro sobre a ilicitude do fato (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta
de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

Duas hipóteses:
1- Indivíduo conhece a lei, porém ignora a reprovabilidade da sua conduta.
Exemplo: homicídio, eutanásia.

270
2- Indivíduo ignora a lei e a reprovabildiade da conduta.
Exemplo: produção de acúcar em casa.

Espécies:
a) Erro de proibição direto
Equívoco quanto ao conteúdo de uma norma proibitiva, seja porque não sabe de sua existência
ou porque não compreende sua abrangência.
Exemplo: holandês que fuma maconha no Brasil.

b) Erro de proibição indireto


O agente sabe que a conduta é típica, mas supóes que age amparado por uma causa excludente de
ilicutde.
Exemplo: traído que mata o traidor para defender a honra.

Exigibilidade de Conduta Diversa

Possibilidade de agir, no caso concreto, de acordo com o ordenamento jurídico.


Causas excludentes da exigibilidade de conduta diversa:
a) Coação moral irresistível
b) Obediência hierárquica

Artigo 22 do CP:

Coação irresistível e obediência hierárquica (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
O artigo 22 fala em coação irresistível e não fala moral. Por que é somente a moral que exclui
a exigibilidade de conduta diversa?
Porque a coação física irresistível exclui a voluntariedade da conduta.

271
Questões
1. TC-DF CESPE / CEBRASPE - 2021
No tocante à disciplina do direito penal, julgue o item a seguir.
Incidindo o agente em erro sobre a proibição de sua conduta pelo ordenamento jurídico, sem consciência
da ilicitude, seu comportamento estará isento de pena, em razão de uma excludente de punibilidade.
GABARITO: ERRADO
O correto seria: "Uma excludente de culpabilidade."

Para uma melhor visualização lembre do conceito de crime:(Analítico)Crime é :


I) Fato típico;

II) Ilícito;

III) Culpável. = Caso em questão= Observa-se as excludentes de culpabilidade.

1º) Ausência da potencial consciência da ilicitude = (Erro de proibição)

2º) Inexigibilidade de conduta diversa = (Coação MORAL irresistível e Obediênciahierárquica)


3º) Ausência de imputabilidade = ( Menoridade; doença mental; retardo; Embriaguezcompleta por caso furtuito
e força maior )

Adendo importante.

Erro de proibição= "Agente sabe o que faz, mas desconhece a ilicitude"

• Inevitável= Isenta de pena;


• Evitável= Redução de 1/6 a 1/3 da pena.

2. (TRE-PA IBFC - 2020)


Quanto ao "erro sobre elementos do tipo" e "erro sobre a ilicitude do fato", analise as afirmativas

272
abaixo e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F):
( ) Não cabe a incidência de erro de tipo nos crimes omissivos espúrios, em face do dever de agir para evitar o
resultado, levando-se em conta a relação de normalidade ouperigo do caso concreto.
( ) O erro relativo à existência de uma causa de exclusão de ilicitude consiste em descriminante putativa por
erro de proibição. Nesse caso, se inescusável o erro, afasta- se o dolo, subsistindo a responsabilidade por crime
culposo, se previsto em lei.
( ) Ao agente provocador que atua dolosamente deverá ser imputado, na forma dolosa, o crime cometido pelo
provocado. Já o agente provocado ficará impune, desde que escusável o seu erro.
( ) Incide sobre o ³error in persona´ a teoria da equivalência do bem jurídico atingido. Nesse caso, o agente
responderá pelo crime praticado, porém, no momento da aplicação da pena, serão consideradas as condições da
vítima virtual.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.
A) V, F, F, V
B) F, F, V, V
C) F, V, V, F
D) V, V, V, V
GABARITO: LETRA B
A primeira afirmativa é falsa. Os crimes omissivos espúrios são também chamados de crimes omissivos
impróprios ou comissivos por omissão. Eles decorrem da previsão ao artigo 13, § 2º, do Código Penal, havendo
a responsabilização penal pelo resultado porque o agente se omite quando deveria agir, por se encontrar na
condição de garantidor. Há possibilidade de erro de tipo nesta modalidade de crime, pois o agente pode errar na
percepção de alguma informação fática que o leve a não cumprir o seu dever de agir.
A segunda afirmativa é falsa. As descriminantes putativas podem ensejar o erro de tipopermissivo, quando o erro
recai sobre pressupostos fáticos de uma causa de justificação, e podem ensejar o erro de proibição indireto,
quando o erro recai sobre o entendimento quanto à existência ou os limites de uma causa de justificação. Em
se configurando o erro de tipo permissivo inevitável, exclui-se dolo e culpa; e em se tratando de erro de tipo
permissivo evitável, exclui-se tão somente o dolo, sendo possível a responsabilização do agente por crime
culposo, se houver a modalidade culposa do crime. Já em se configurando o erro de proibição indireto, sendo
inevitável,exclui-se a culpabilidade, e, se evitável, reduz-se a pena.
A terceira afirmativa é verdadeira. O erro determinado por terceiro está previsto no artigo 20, § 2º, do Código
Penal, configurando-se em hipótese de autoria mediata. Em função dele, haverá um agente provocador do erro e
haverá alguém induzido ao erro. Aquele que provoca o erro com dolo responderá efetivamente pelo crime
273
executado pela pessoa induzida a erro, a título de dolo, sendo certo que a pessoa induzida não será penalmente
responsabilizada, se o seu erro for escusável, podendo responder pelocrime na modalidade culposa, se o erro for
inescusável.
A quarta afirmativa é verdadeira. O erro sobre a pessoa encontra-se previsto no artigo20, § 3º, do Código Penal.
Por determinação do legislador, o cálculo da pena do agente será feito com base nas características e condições
pessoais da vítima virtual, que era aquela visada, pretendida pelo agente, ainda que a vítima real seja outra
pessoa.

3. (MPE-CE CESPE - 2020 - MPE-CE - Técnico Ministerial)


Mário, após ingerir bebida alcoólica em uma festa, agrediu um casal de namorados, o que resultou na morte do
rapaz, devido à gravidade das lesões. A moça sofreu lesões leves. A partir dessa situação hipotética, julgue o
item a seguir.
Porque estava embriagado, Mário deve ser considerado inimputável.
GABARITO: ERRADO
A questão toca na possibilidade de configuração da inimputabilidade penal em função do consumo de bebida
alcoólica. O tema é regulado no artigo 28 do Código Penal. No caso apresentado, observa-se que Mario
consumiu a bebida alcoólica voluntariamente, o que afasta por completo a tese da inimputabilidade penal, sendo
certo que esta somente poderia ser pertinente diante de um caso de embriaguez involuntária e completa. Vale
ressaltar a teoria da actio libera in causa, que justifica a responsabilização penal do agente que se embriaga
voluntariamente, estando sem condições de, no momento da ação ou omissão, entender o caráter ilícito do fato
ou dedeterminar-se de acordo com este entendimento.

4. (TJ-PA CESPE - 2020 - Auxiliar Judiciário)


A respeito da imputabilidade penal, julgue os itens a seguir.
I Os maiores de dezesseis anos de idade que ainda não tiverem alcançado a maioridade são considerados
relativamente incapazes no que tange à responsabilidade criminal.
II Emoção ou paixão não são causas de exclusão a imputabilidade penal.
III A embriaguez culposa anterior à prática de crime é causa de diminuição de pena, mas não
torna o agente inimputável.
IV O deficiente mental inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato é
inimputável.
Estão certos apenas os itens

274
A) I e II.
B) I e III.
C) II e IV.
D) I, III e IV.
E) II, III e IV.
GABARITO: LETRA CI - ERRADO
Art. 27 - Os menores de 18 anos são penalmente INIMPUTÁVEIS, ficando sujeitos às normas estabelecidas
na legislação especial.
II - CERTO

Art. 28 - NÃO EXCLUEM a imputabilidade penal:I - a emoção ou a paixão;


III – ERRADO
Art. 28 - NÃO EXCLUEM a imputabilidade penal:

II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.


§ 2º - A pena pode ser reduzida de 1/3 a 2/3, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou
força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
IV - CERTO

Art. 26 - É isento de pena o agente que, era, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retar#dado ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esseentendimento

5. (ITAIPU-BINACIONAL- NC-UFPR) No Direito Penal, imputável é aquela pessoa a quem é


possível atribuir um fato punível. De modo geral, qualquer pessoa é imputável, EXCETO na hipótese de:
A) embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior, menoridade, doença mental e
desenvolvimento mental incompleto ou retardado.
B) embriaguez preordenada, menoridade, senilidade e desenvolvimento mental incompleto ou
retardado.
C) embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior, menoridade, senilidade e
desenvolvimento mental incompleto ou retardado.
275
D) emoção, violenta paixão e embriaguez preordenada.
E) erro de tipo, erro de proibição e violenta emoção.
GABARITO: LETRA A
A) CERTA. Nesta alternativa são mencionados os casos que ensejam a inimputabilidade penal,
tratando-se da resposta correta, devendo, porém, se observaras informações antes destacadas.
B) ERRADA. A embriaguez preordenada não é hipótese de inimputabilidade penal, tratando-se,
inclusive, de agravante de pena, consoante o disposto no artigo 61, inciso II, alínea "l", do Código Penal.
Também a senilidade não é informação passível de ensejar a imputabilidade penal.
C) ERRADA. Dentre as hipóteses mencionadas, apenas a senilidade não se revela causa de
inimputabilidade penal.
D) ERRADA. A emoção e violenta paixão, por determinação expressa no artigo 28, inciso I, do
Código Penal, não excluem a imputabilidade penal. O fato de o agente praticar a conduta sob a influência de
violenta emoção pode ser tomada como circunstância atenuante de pena, nos termos do artigo 65, inciso III,
alínea "c", do Código Penal. A embriaguez preordenada, como antes já afirmado, se configura em agravante de
pena, prevista no artigo 61, inciso II, alínea "l", do Código Penal.
E) ERRADA. O erro de tipo, quando invencível ou escusável, é causa de exclusão do dolo e da
culpa, pelo que se trata de tema afeito à tipicidade e não à culpabilidade. O erro de proibição, se inevitável ou
escusável, se configura em causa de exclusão da culpabilidade, mas não por configurar hipótese de
inimputabilidade penal, mas sim por revelar a ausência do potencial conhecimento da ilicitude pelo agente. Por
fim, como já afirmado anteriormente, a emoção, ainda que violenta, não tem o condão de se configurar em caso
de inimputabilidade penal.

6. (MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça)


Sobre a culpabilidade, marque a alternativa incorreta:
A) Nas hipóteses de coação física ou moral irresistíveis há fato típico, mas é excluída a
culpabilidade. Só é punível o autor da coação, sendo a pena agravada. A coação moral irresistível constitui um
exemplo de autoria mediata. No caso de coação moral resistível, ambos (coator e coacto) respondem pelo
crime, porém o coator tem a pena aumentada e o coagido deve ser beneficiado com atenuante da sanção penal.
A coaçãomoral resistível não é exemplo de autoria mediata.
B) A obediência hierárquica, como dirimente ou eximente, só tem valor nas relações de direito
público. Não pode ser invocada, portanto, nos casos de obediência religiosa oufamiliar.
C) Pela teoria da coculpabilidade, adotada por Zaffaroni e Pierangeli, quando a sociedade é

276
desorganizada, discriminatória e excludente, ou mesmo marginalizadora, ou seja, quando ela cria condições
sociais que reduzem o âmbito de determinação e liberdade do agente, ela também contribui para o delito.
Assim, haveria coculpabilidade entre o autor da infração e a própria sociedade, devendo o juiz reduzir a pena a
ser imposta aoacusado.
D) A coculpabilidade às avessas, segundo ensina a doutrina, pode envolver a reprovação penal mais
severa quanto aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado poder econômico e que abusam dessa
vantagem no cometimento de delitos em regra prevalecendo-se das facilidades proporcionadas pelo livre
trânsito nos centros de controle político e econômico.
GABARITO: LETRA A
B) - A coação física irresistível (vis absoluta) exclui a conduta do agente, uma vez que o coagido perde de
modo absoluto a liberdade de agir, passando a funcionar como mero instrumento do coator. Por não haver
vontade, não se caracteriza a conduta e, porconsequência, o fato praticado pelo coagido nessa condição é atípico.
A coação moral irresistível (vis compulsiva) é uma causa de exclusão de culpabilidade que está prevista no artigo
22 do Código Penal, que assim dispõe: "se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a
ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem". Nesta
hipótese o fato é típico, mas o agente carece de culpabilidade. Na coação moral resistível existe crime, pois
houve vontade do agente, que é culpável, uma vez que, sendo resistível a ameaça, era exigível conduta diversa.
A coação moral resistível atua como uma circunstância atenuante genérica (artigo 65, III, c, primeira parte, do
Código Penal). A coação moral for resistível não afasta a culpabilidade do coagido, operando-se autêntico
concurso de agentes entre ele e o coator. Nessa hipótese, no entanto, a pena do coator será agravada (CP, art. 62,
II) e a do coagido será atenuada (CP, art. 65, III, “c", 1.ª parte). (Fonte: Cleber Masson, in Direito Penal
Esquematizado, Parte Geral, Vol. 1). Diante dessas considerações, conclui-se que a primeira parte da
proposição está incorreta.Cleber Masson, in Direito Penal Esquematizado, Parte Geral, Vol. 1, ao tratar da
obediência hierárquica, expressamente afirma que “a posição de hierarquia que autoriza o reconhecimento da
excludente da culpabilidade somente existe no Direito Público. Não é admitida no campo privado, por falta de
suporte para punição severa e injustificada àquele que descumpre ordem não manifestamente ilegal emanada de
seusuperior". Sendo assim, a proposição contida neste item está correta.
C) - Ao tratar especificamente da coculpabilidade em seu livro Direito Penal Esquematizado, Parte Geral, Vol.
1, Cleber Masson afirma que: "Todo ser humano atua em sociedade em circunstâncias determinadas, e com
limites de comportamento também determinados. Como há desigualdades sociais, a personalidade do agente é
moldada em consonância com as oportunidades oferecidas a cada indivíduo para orientar-se ou não em sintonia
com o ordenamento jurídico. Entra em cena a chamada coculpabilidade, assim definida por Zaffaroni e

277
Pierangeli: 'Todo sujeito age numa circunstância determinada e com um âmbito de autodeterminação também
determinado. Em sua própria personalidade há uma contribuição para esse âmbito de autodeterminação, posto
que a sociedade – por melhor organizada que seja – nunca tem a possibilidade de brindar a todos os homens
com as mesmas oportunidades. Em consequência, há sujeitos que têm um menor âmbito de autodeterminação,
condicionado desta maneira por causas sociais. Não será possível atribuir estas causas sociais ao sujeito e
sobrecarregá-lo com elas no momento de reprovação de culpabilidade. Costuma-se dizer que há, aqui, uma
“co-culpabilidade", com a qual a própria sociedade deve arcar'. Para esses autores, essa carga de valores sociais
negativos deve ser considerada, em prol do réu, uma atenuante inominada, na forma prevista no art. 66 do
Código Penal". Assim, a proposição contida neste item está correta.
D) - Em tópico específico em que trata das coculpabilidade às avessas, Cleber Masson,em seu livro Direito Penal
Esquematizado, Parte Geral, Vol. 1, tece as seguintes considerações: "“Na sequência da teoria da
coculpabilidade, surgiu a coculpabilidade às avessas, desenvolvida em duas perspectivas fundamentais.
Vejamos. Em primeiro lugar, esta linha de pensamento diz respeito à identificação crítica da seletividade do
sistema penal e à incriminação da própria vulnerabilidade. Em outras palavras, o Direito Penal direciona seu
arsenal punitivo contra os indivíduos mais frágeis, normalmente excluídos da vida em sociedade e das
atividades do Estado. Por esta razão, estas pessoas se tornam as protagonistas da aplicação da lei penal: a maioria
dos

278
acusados em ações penais são homens e mulheres que não tiveram acesso ao lazer, à cultura, à
educação; eles também compõem com intensa densidade o ambiente dos estabelecimentos penais. No
entanto, não é só. A coculpabilidade às avessas também envolve a reprovação penal mais severa no
tocante aos crimes praticados por pessoas dotadas de elevado poder econômico, e que abusam desta
vantagem para a execução de delitos (tributários, econômicos, financeiros, contra a Administração
Pública etc.), em regra prevalecendo-se das facilidades proporcionadas pelo livre trânsito nas redes de
controle político e econômico. Cuida-se da face inversa da coculpabilidade: se os pobres, excluídos e
marginalizados merecem um tratamento penal mais brando, porque o caminho da ilicitude lhes era mais
atrativo, os ricos e poderosos não têm razão nenhuma para o cometimento de crimes. São movidos
pela vaidade, por desvios de caráter e pela ambição desmedida, justificando a imposição da pena de
modo severo. Contudo, é importante destacar que, se de um lado a coculpabilidade poderia, ao menosem
tese, ser admitida como atenuante genérica inominada, com fundamento no art. 66 do Código Penal, a
coculpabililidade às avessas não pode ser compreendida como agravante genérica, por duas razões: (a)
falta de previsão legal; e (b) em se tratando de matéria prejudicial ao acusado, não há espaço para a
analogia in malam partem. Destarte, a punição mais rígida deverá ser alicerçada unicamente na pena-
base, levando em conta as circunstâncias judiciais desfavoráveis (conduta social, personalidade do
agente, motivos, circunstâncias e consequências do crime), com fulcro no art. 59, caput, do Código
Penal."

7. (FGV - 2019 - MPE-RJ - Analista do Ministério Público)


Antony, estrangeiro que reside no Brasil há dois meses, inicia em seu quintal uma plantação de
maconha, com a intenção de utilizar aquele material para fins medicinais, já que sua doença respiratória
melhora com o uso da droga. Ao tomar conhecimento de que seu vizinho, João, possui a mesma
doença, decide transportar o material até a residência de João, mas vem a ser abordado por policiais
civis. Após denúncia pela prática do crime de tráfico, durante seu interrogatório, Antony esclarece que
tinha conhecimento de que transportar maconha no Brasil era crime, mas acreditava na licitude de sua
conduta diante da intenção de utilizar o material para fins medicinais, esclarecendo, ainda, que essa
conduta seria válida em seu país de origem.Com base apenas nas informações expostas, Antony agiu:
A) em erro de proibição, podendo gerar reconhecimento de causa de redução de pena ou afastamento
da culpabilidade;
B) em erro de tipo, o que gera o reconhecimento de causa de diminuição de pena;
C) com desconhecimento da lei, o que não afasta a culpabilidade;
D) em erro de proibição, afastando a tipicidade da conduta; 279
E) em erro de tipo, afastando a tipicidade da conduta.
GABARITO: LETRA A
Nos termos narrados no enunciado da questão, Anthonhy praticou a conduta tipificada no
artigo 28, § 1º, da Lei nº 11.343/2006, senão vejamos:
"Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal,
drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às
seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos dasdrogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas
destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência
física ou psíquica.
(...)"

Não obstante, ao ter conhecimento do estado de saúde de seu vizinho, alterou o seu desígnio e, em
progressão criminosa, acabou praticando fato típico previsto no artigo 33, da Lei nº 11.343/2006, uma
vez que foi preso transportando a droga para terceiros.
Embora as condutas sejam típicas, Anthonhy, incide, no caso, um erro de proibição indireto, também
conhecido por descriminante putativa por erro de proibição, que ocorre quando o autor erra sobre os
limites ou a própria existência de uma causa de justificação (proposição permissiva). Para Anthony, de
acordo com a situação descrita, a prática das condutas previstas no artigo 28 e 33, da Lei nº
11.343/2006, para fins medicinais seria o exercício regular de um direito, o que afastaria a ilicitude do
fato. Assim, constatado o erro de proibição, aplica-se a regra prevista no artigo 21, do Código Penal,
que conta com a seguinte redação: "O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a
ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço".

8. (CESPE - 2019 - TJ-AM - Analista Judiciário - Direito)


Pedro, com vinte e dois anos de idade, e Paulo, com vinte anos de idade, foram denunciados pela
prática de furto contra Ana. A defesa de Pedro alegou inimputabilidade. Paulo confessou o crime,
tendo afirmado que escolhera a vítima porque, além de idosa, ela era sua tia.
Com relação a essa situação hipotética, julgue o item subsecutivo, a respeito de imputabilidade penal,
crimes contra o patrimônio, punibilidade e causas de extinção e aplicação de pena.
280
Se, em virtude de perturbação de saúde mental, Pedro não for inteiramente capaz de entender o caráter
ilícito do seu ato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, a pena imposta a ele poderá
ser reduzida.
GABARITO: CERTO

E-book

Direito Penal

281
Prof. Fábio Ribeiro
Assunto
Prescrição e Decadência

282
SUMÁRIO
Introdução 2
1. Decadência 3
2. Prescrição 5
3. Espécies de Prescrição 7
4. Prescrição da Pretensão Punitiva propriamente dita (em abstrato) 9
5. Questão sobre Prescrição da Pretensão Punitiva 10
6. Termo inicial para contagem do prazo prescricional 10
7. Causas de Interrupção do prazo prescricional 11
8. Causas Impeditivas da prescrição 15
9. Prescrição da Pretensão Punitiva Intercorrente, Superveniente 15
10. Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa 16
11. Prescrição da Pretensão Punitiva em Perspectiva ou Antecipada 16
12. Prescrição da Pretensão Executória 16
13. Prescrição e Atos Infracionais 18
14. Questões 19

1
Direito Penal
Prescrição e Decadência

Introdução

Olá, meus amigos! Sejam muito bem vindos a mais uma aula de Direito Penal aqui no
Instituto Fórmula! Hoje, daremos continuidade ao tema Teoria da Pena.
Hoje trataremos de um tema bastante importante. Vamos falar sobre prescrição e decadência.
O núcleo da aula de hoje é a prescrição.
Caso você queira tirar alguma dúvida a respeito do Direito Penal com o professor Fábio
Ribeiro entre em contato com ele pelo instagram @prof.fabioribeiro ou pelo e-mail
prof.fabioribeiro.df@gmail.com.

2
1. Decadência
Conceito
É a perda do direito de queixa ou de representação em razão do transcurso de tempo einércia do
titular.
Se não tiver uma regra especial, ou seja, se não tiver uma regra expressa, o
prazo decadencial em matéria penal será de 06 (seis) meses.
Regra geral de prazo decadencial

Artigo 103 do CP:

Decadência do direito de queixa ou de representação


Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de
queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses,
contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º
do art. 100 deste Código (queixa subsidiária), do dia em que se esgota o prazo
para oferecimento da denúncia. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Artigo 100, § 3º, do CP:

§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério
Público não oferece denúncia no prazo legal. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Termo Inicial
Ciência da autoria por parte do ofendido, nos casos de ação penal privada ou pública
condicionada à representação ou o dia em que se esgota o prazo para denúncia pelo MP, nos casos
de ação penal privada subsidiária da pública.
3
Como é feita a contagem do prazo?

Artigo 10 do CP:

4
Contagem de prazo
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos
pelo calendário comum. (Redação dada pelaLei nº 7.209, de 11.7.1984)

É um prazo penal ou processual?


É um prazo penal. Tomando como parâmetro a situação do ofensor, se o prazo for menor é
melhor. Portanto, a natureza é penal.

Observação:
O prazo decadencial é para o oferecimento da queixa, não para o recebimento.

Características
a) Preclusivo (uma vez ocorrendo a decadência há preclusão do exercício de direitos)
b) Improrrogável – não suscetível à suspensão ou interrupção.

➢ Decadência X Prescrição

5
6
2. Prescrição
A prescrição tem relação direta com o direito de punir (jus postulandi) estatal. O direito de
punir é ilimitado? Certamente que não.
O Direito Penal é um ramo do Direito Público que existe para limitar a atuação do Estado e
não para aumentar a atuação do Estado.
Por que ele limita a atuação do Estado? Porque estabelece balizas das quais o Estado não pode
abrir mão.
Assim, a prescrição estabelece limites temporais ao direito de punir.

Conceito

Prescrição é a perda da pretensão punitiva (efetivamente punir) ou


executória (implementar-se uma pena já aplicada) em razão da inércia do Estado.

Por que a prescrição é necessária?

▪ Segurança jurídica

▪ Estímulo à eficiência do Estado

▪ A demora gera inconveniência e impertinência da ação do Estado (imediatidade x função preventiva


da pena)

Natureza jurídica da prescrição

7
Causa de extinção da punibilidade (artigo 107, inciso IV, do CP)

Artigo 107, inciso IV, do CP:

Extinção da punibilidade
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209,de 11.7.1984)
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

8
Contagem do prazo prescricional

Artigo 10 do CP:

Contagem de prazo
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos
pelo calendário comum. (Redação dada pelaLei nº 7.209, de 11.7.1984)

Imprescritibilidade

O artigo 5º da Constituição Federal, nos incisos XLII e XLIV, faz menções a


imprescritibilidade de crimes.

Artigo 5º, incisos XLII e XLIV, do CP:

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à


pena de reclusão, nos termos da lei;

XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados,


civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

▪ Lei ordinária pode tornar um crime imprescritível?

Não há previsão constitucional. Só há previsão pro crime de racismo e pro crime de grupo armado
9
civil militar contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. E imagine quea partir de amanhã o
legislador edite uma lei dizendo que os crimes praticados no contexto de violência doméstica e
familiar seriam imprescritíveis. Essa lei seria possível? Seria constitucional?
A doutrina diz que não seria possível. A maioria dos manuais de direito penal tem a mesma opinião.
Não há uma polemica sobre o assunto.

10
Portanto, o entendimento é de que não é possível casos de imprescritibilidade fora da Constituição
Federal e configuraria um excesso do legislador a previsão de outra hipótese de imprescritibilidade
via lei ordinária.

3. Espécies de Prescrição
A primeira bifurcação é se a prescrição é punitiva (punir alguém) ou executória (executar uma
pena que já foi imposta a alguém).

a) Prescrição da Pretensão Punitiva (PPP)

Há 03 (três) subespécies consagradas pela doutrina e reconhecida na jurisprudência dentro da PPP. E


ainda uma quarta subespécie aceita por boa parte da doutrina e aplicada em grande escala na prática,
mas não admitida pelos Tribunais Superiores.
As 03 (três) subespécies consagradas na doutrina e na jurisprudência são:

✓ Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita (em abstrato) – artigo 109 do

Código Penal;

Artigo 109 do CP:

Prescrição antes de transitar em julgado a sentença


Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art.
11
110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime,
verificando- se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não
excede a doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não
excede a oito;

12
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a
quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo
superior, não excede a dois;
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.
(Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).
✓ Prescrição da pretensão punitiva superveniente – artigo 110, § 1º do Código

Penal;

Artigo 110, § 1º, do CP:

§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou


depois de improvido seu recurso, regula-se pelapena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter
por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de
2010).
✓ Prescrição da pretensa punitiva retroativa – artigo 110, § 1º do Código Penal.

Artigo 110, § 1º, do CP:

§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou


depois de improvido seu recurso, regula-se pelapena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter
por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de
2010).

E a quarta subespécie é:

13
✓ Prescrição da pretensão punitiva virtual ou antecipada ou em perspectiva –

criação jurisprudencial (Cuidado! Pois é amplamente utilizada no 1º grau, mas


não é aceita pelos Tribunais Superiores)
É a prescrição que no início do processo o sujeito é primário, tem bons antecedentes, já sabe que a
pena será mínima ou próxima disso, e ele já consegue antecipar qual será a pena ao final do processo.
E nesse juízo de probabilidade ou ate mesmo de possibilidade chega-se a conclusão que aquela pena
quando aplicada

14
em concreto ensejará a prescrição da pretensão punitiva superveniente ou retroativa. E
antecipadamente já se declara extinta a punibilidade.

b) Prescrição da Pretensão Executória (PPE)


Tem ligação com a execução da pena.

4. Prescrição da Pretensão Punitiva propriamente dita (em abstrato)


Está prevista no artigo 109 do Código Penal.

Artigo 109 do CP:

Prescrição antes de transitar em julgado a sentença


Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art.
110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime,
verificando- se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não
excede a doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não
excede a oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não
excede a quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo
superior, não excede a dois;
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.

15
(Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).
Observação importante! Isso geralmente cai em prova! O artigo 115 do Código Penal diz que
os prazos são reduzidos a metade se o criminoso era ao tempo do crime menor de 21 (vinte e um)
anos ou na data da sentença maior de 70 (setenta) anos.

Artigo 115 do CP:

Redução dos prazos de prescrição

16
Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do
crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta)
anos.(Redação dada pela Leinº 7.209, de 11.7.1984)

5. Questão sobre Prescrição da Pretensão Punitiva (PPP)


▪ Qual o menor prazo prescricional da pretensão punitiva?

Até pouco tempo atrás, em 2010, essa questão não tinha grande relevância. De 2010 para cá o
inciso VI do artigo 109 subiu de 02 para 03 anos e, portanto, o artigo 114 que trata da prescrição da
pena de multa hoje é o prazo prescricional mais baixo do Código Penal, que é de 02anos.

Artigo 114 do CP:

Prescrição da multa
Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá: (Redação dada pela Leinº 9.268, de 1º.4.1996)
I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada;
(Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de
liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente
aplicada. (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)

6. Termo inicial para contagem do prazo prescricional


17
Artigo 111 do CP:

Termo inicial da prescrição antes de transitar em julgado a sentença final


Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

18
I - do dia em que o crime se consumou; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do
registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e
adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a
vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta
a ação penal. (Redação dada pela Lei nº 12.650, de 2012)

7. Causas de Interrupção do prazo prescricional

Artigo 117 do CP:

Causas interruptivas da prescrição


Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: (Redação dada pela Lei nº7.209, de 11.7.1984)
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) - PPP
II - pela pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) - PPP III
- pela decisão confirmatória da pronúncia; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) - PPP
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;

19
(Redação dada pela Lei nº 11.596, de 2007). - PPP
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; (Redação dada pela
Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) - PPE
VI - pela reincidência. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) -
PPE
§ 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos
relativamente a todos os autores do crime.

20
Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção
relativa a qualquer deles. (Redação dada pela Lei nº7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a
correr, novamente, do dia da interrupção. (Redaçãodada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Jurisprudência: “Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição. Resumo

Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a
prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou
aumentando a pena anteriormente imposta.
A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela
inércia do próprio Estado.
No art. 117 do Código Penal, que deve ser interpretado de forma sistemática, todas as causas
interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado não está inerte.
Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão
condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente,
justificativa para tratamentos díspares.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1668298-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/05/2020 (Info
672).
STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.
STF. 1ª Turma. RE 1195122 AgR-segundo, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. acórdão Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 30/11/2020.”2

Observação

O que é interromper um prazo?

2
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/dc91cc9b6b3fc6325cf08272dbf9eb2f>. Acesso
em: 04/11/2021
21
É zerar o prazo, descontando-se o tempo já decorrido. É a recontagem do prazo,deduzindo
o tempo já passado.

Observação 2

O rol é taxativo?

Sim! A interrupção é prejudicial ao réu, a interpretação deve ser restritiva.

Observação 3

Súmula 709 do STF:

Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso
contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.

Nesse caso, qual será o marco interruptivo?

Certamente o recebimento realizado pelo segundo grau de jurisdição.

Observação 4

Se o juiz que recebe a denúncia era incompetente? Vale o recebimento como marco
interruptivo da prescrição?

22
Decisão de recebimento de denúncia tem caráter decisório (artigo 567 do CPP).

Artigo 567 do CPP:

Art. 567. A incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando
for declarada a nulidade, ser remetido ao juizcompetente.

Assim, conclui-se que:

▪ Se a incompetência for absoluta, o recebimento não interrompe;

▪ Se a incompetência for relativa, o recebimento interrompe.

Observação 5

Se em grau recursal a decisão de recebimento da denúncia for considerada nula, o que


acontecerá?
O recebimento que foi declarado nulo não servirá como marco
interruptivo da prescrição.

Observação 6

João foi pronunciado por tentativa de homicídio. No plenário do Júri a imputação foi
desclassificada pelos jurados para lesão corporal.
Nesse caso a pronúncia ainda valerá como marco interruptivo da prescrição?
23
Súmula 191 do STJ: “A pronúncia é causa interruptiva da prescrição,
ainda que o Tribunal do Júri venha a desclassificar o crime.”

Observação 7

O acórdão confirmatório da condenação interrompe a prescrição?

24
Sim! STJ – HC 138.088/RJ.

O acórdão confirmatório não perde a natureza condenatória, que, portanto, é um exercício de


jurisdição válida e que interrompe a prescrição da mesma forma que a sentença condenatória.

HC 138.088/RJ:

EMENTA: HABEAS CORPUS. ALEGADA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA.


INOCORRÊNCIA. ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DE SENTENÇA CONDENATÓRIA QUE
INTERROMPE O CURSO DO PRAZO PRESCRICIONAL. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA
PENA. POSSIBILIDADE.
1. A ideia de prescrição está vinculada à inércia estatal e o acórdão que
confirma a sentença condenatória, justamente por revelar pleno exercício da jurisdição penal, é marco
interruptivo do prazo prescricional, nos termos do art. 117, IV, do Código Penal. Acrescente-se que a
decisão proferida pelo Tribunal em sede de apelação substitui a sentença recorrida, consoante
reiteradamente proclamado em nossa legislação processual (art. 825 do CPC/1939; art. 512 do
CPC/1973; art. 1.008 do CPC/2015).Entendimento firmado à unanimidade pela Primeira Turma.
2. Manutenção da posição majoritária do STF. No julgamento do HC
126.292/SP (Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, DJe de 17/5/2016), o SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL concluiu que a execução provisória de condenação penal confirmada em grau
de apelação, ainda que sujeita a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio
constitucional da presunção de inocência. Esse entendimento foi confirmado no julgamento das
medidas cautelares nas ADCs 43 e 44 (julgadas em 5/10/2016), oportunidade na qual se decidiu,
também, pelo indeferimento do pedido de modulação dos efeitos. No exame do ARE
964.246 (Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, DJe de 25/11/2016), pelo rito da repercussão geral, essa
jurisprudência foi também reafirmada.
3. Habeas corpus denegado.1

25
1
HC-138.088/RJ Acessado em 13/04/2021: <
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=14120273>

26
8. Causas Impeditivas da prescrição

Artigo 116 do CP:

Causas impeditivas da prescrição


Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre: (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o
reconhecimento da existência do crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209,de 11.7.1984)
II - enquanto o agente cumpre pena no exterior; (Redação dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos
Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não
persecução penal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Parágrafo único - Depois de
passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o
condenado está preso poroutro motivo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O acordo de não persecução penal foi trazido pelo PAC (artigo 28-A do CPP). E estabelece um
negocio jurídico penal entre o autor do fato acompanhado de sua defesa técnica e o MinistérioPúblico.
Nem sempre as condições do ANPP são imediatas. O período que essas condições são cumpridas a
prescrição fica suspensa.

9. Prescrição da Pretensão Punitiva Intercorrente, Superveniente (pela pena em


27
concreto)
▪ Calcula-se tomando como parâmetro a pena em concreto aplicada na sentença.

▪ Pressupõe sentença penal condenatória e trânsito em julgado para a acusação.

28
10. Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa
▪ Calcula-se com fundamento na pena em concreto na sentença.

▪ Difere da intercorrente porque conta-se da sentença para trás.

▪ Ocorre entre a publicação do acórdão condenatório e o recebimento da denúncia.

Artigo 110, § 1º, do CP:

§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou


depois de improvido seu recurso, regula-se pelapena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter
por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de
2010).

11. Prescrição da Pretensão Punitiva em Perspectiva ou Antecipada


▪ Criação doutrinária.

▪ Fique atento, pois os Tribunais Superiores não aceitam essa prescrição.

Súmula 438 do STJ:

É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva


com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte
do processo penal. (Súmula 438, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, DJe
29
13/05/2010)

12. Prescrição da Pretensão Executória


É a perda do direito de executar uma sanção penal, em razão da omissão estatal durante um
determinado período.
▪ Baseada na pena em concreto.

30
Artigo 110 do CP:

Prescrição depois de transitar em julgado sentença final condenatória Art. 110 - A prescrição
depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos
prazos fixadosno artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado éreincidente.

Artigo 113 do CP:

Prescrição no caso de evasão do condenado ou de revogação do livramento


condicional
Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a prescrição
é regulada pelo tempo que resta da pena. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Termo Inicial

Artigo 112 do CP:

Termo inicial da prescrição após a sentença condenatória irrecorrível Art. 112 - No caso do art.
110 deste Código, a prescrição começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para aacusação, ou a que revoga
a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional; (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984) II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção
deva computar-se na pena. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

31
13. Prescrição e Atos Infracionais

Súmula 338 do STJ:

A prescrição penal é aplicável nas medidas sócio-educativas. (Súmula 338,


TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/05/2007, DJ 16/05/2007 p.
201)

Mas se lembre:

Artigo 115 do CP:

Redução dos prazos de prescrição


Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do
crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.(Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Jurisprudência: Redução do prazo prescricional para condenados maiores de 70 anos e


momento de aferição
Resumo

Para que incida a redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP, é necessário que, no
momento da sentença, o condenado possua mais de 70 anos. Se ele só completou a idade após a
sentença, não terá direito ao benefício, mesmo que isso tenha ocorrido antes do julgamento de
apelação interposta contra a sentença.
Existe, no entanto, uma situação em que o condenado será beneficiado pela redução do art. 115 do
32
CP mesmo tendo completado 70 anos após a "sentença" (sentença ou acórdão condenatório): isso
ocorre quando o condenado opõe embargos de declaração contra a sentença/acórdão condenatórios e
esses embargos são conhecidos. Nesse caso, o prazo prescricional será reduzido pela metade se o réu
completar 70 anos até a data do julgamento dos embargos. Nesse sentido: STF. Plenário. AP 516
ED/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 5/12/2013 (Info
731).
STF. 2ª Turma. HC 129696/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/4/2016 (Info 822).

Cuidado! O STJ entende que é possível aplicar a redução do art. 115 do CP no momento do acórdão
(ou seja, após a sentença), se a sentença foi absolutória e o primeiro decreto condenatório foi a
apelação. Ex: João tinha 68 anos quando foi prolatada a sentença; a sentença foi absolutória; o MP
apelou e o TJ reformou a sentença, condenando o réu; ocorre que, no momento do acórdão
condenatório, João já tinha mais de 70 anos; neste caso, será possível aplicar a redução pela metade
do prazo prescricional, conforme previsto no art. 115 do CP. Nesse sentido:
"a redução do prazo prescricional à metade, com base no art. 115 do Código Penal, aplica-se aos réus
que atingirem a idade de 70 anos até a primeva condenação, tenha ela se dado na sentença ou no
acórdão, situação que não ocorreu na hipótese”.
STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 491.258/TO, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro,
julgado em 07/02/2019.

Assim, o termo "sentença", mencionado no art. 115 do CP, deve ser entendido como "primeira
decisão condenatória, seja sentença ou acórdão proferido em apelação" (STJ. 6ª Turma. HC
316.110/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 25/06/2019).”3

14. Questões

(TCE-RJ) Considerando aspectos gerais do direito penal brasileiro, julgue o item subsecutivo.

3
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Redução do prazo prescricional para condenados maiores de 70 anos e
momento de aferição. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9996535e07258a7bbfd8b132435c5962>.
Acesso em: 04/11/2021
33
Nos crimes de falsidade documental, a prescrição só começa a correr na data em que o fato
tenha-se tornado conhecido.
GABARITO: ERRADO

Segundo o STJ:
A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem vir a se protrair no
tempo. A despeito dos efeitos que possam, ou não, vir a gerar, ela se consuma no momento em
que é praticada a conduta. Precedentes.
3. Diante desse contexto, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão
punitiva é o momento da consumação do delito, e não da eventual reiteração de seus efeitos.
(RvCr 5.233/DF, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 13/05/2020, DJe 25/05/2020) CUIDADO
COM ESTE :
Na falsidade ideológica, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão punitiva é o
momento da consumação do delito e não o da eventual reiteração de seus efeitos.
Informativo: 672 do STJ – Direito Penal.

(Prefeitura de Betim-MG) Segundo o Código Penal, assinale a alternativa correta.


A) A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, salvo se
decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
B) A pena pode ser reduzida em um sexto, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não era inteiramente capaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
C) No concurso de pessoas, se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de
um a dois terços.
D) São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo docrime, menor de
21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.
E) A prescrição da pena de multa ocorrerá em um ano, quando a multa for a única cominada ou
aplicada.
GABARITO: LETRA D
A) Errada. A lei penal apenas não retroage se for para prejudicar o réu. A lei posterior, que de
qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por

34
sentença condenatória transitada em julgado (art. 2º, paragrafoúnico do CP).
B) Errada. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de
saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (art. 26,
paragrafo único do CP);
C) Errada. Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um
terço.
D) Correta. São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, aotempo do crime,
menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos. (art. 115 do CP);
E) Errada. A prescrição da pena de multa ocorrerá em 2 (dois) anos, quando a multa for a única
cominada ou aplicada (art. 114, inc. I do CP).

(MPE-CE) Mário, após ingerir bebida alcoólica em uma festa, agrediu um casal de namorados, o que
resultou na morte do rapaz, devido à gravidade das lesões. A moça sofreu lesões leves.
A partir dessa situação hipotética, julgue o item a seguir.
O crime praticado por Mário contra a moça admite a extinção da punibilidade pela prescrição
e pela renúncia ao direito de queixa.
GABARITO: ERRADO

O crime praticado por Mario contra a moça se enquadra no tipo penal descrito no artigo 129, caput, do
Código Penal, inexistindo elementos para o enquadramento no artigo 129, § 9º, do Código Penal, uma
vez que não há informações de existir relação familiar ou doméstica ou de ter existindo entre eles este
tipo de relação. O crime de lesão corporal leve (art. 129, caput, do CP) é de ação penal pública
condicionada à representação, por determinação do artigo 88 da Lei 9.099/95. O crime admite a
extinção da punibilidade pela prescrição, dado que não se trata de crime imprescritível. Não se trata,
porém, de crime de ação penal privada, pelo que incabível a afirmação da possibilidade de renúncia ao
direito de queixa.

(TJ-MS – Juiz) No tocante à prescrição, correto afirmar que


A) cometido o homicídio qualificado para ocultar outro crime, a prescrição deste impede a qualificação
daquele.
B) os crimes mais leves prescrevem com os mais graves, se cometidos em concurso dedelitos.

35
C) é regulada pelo total da pena nos casos de evasão do condenado ou de revogação do livramento
condicional.
D) não se aplicam às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as privativas de
liberdade.
E) a sua ocorrência em relação ao crime de furto não alcança a receptação que o tinha como
pressuposto.
GABARITO: LETRA E
A) ERRADA. O artigo 108 do Código Penal preceitua que a extinção da punibilidade (a
prescrição é uma das causas de extinção da punibilidade) de um dos crimes conexos, não impede o
agravamento da pena do(s) outro(s) crime(s) resultante da conexão. Em sendo assim, ainda que o
homicídio seja qualificado pela finalidade de ocultar outro crime, mesmo que, em relação a este,
venha a se configurar a prescrição, a qualificadora do homicídio continua a ter aplicação.
B) ERRADA. O artigo 119 do Código Penal estabelece que a prescrição, no caso de
concurso de crimes, se dá de forma isolada. Vale ressaltar que, mesmo havendo concurso de crimes,
o juiz é obrigado a realizar a dosimetria da pena de cada um dos crimes de forma individualizada,
cumprindo determinação constitucional (princípio da individualização da pena). A prescrição deverá
ser examinada a partir da pena estabelecida para cada um dos crimes, não incidindo sobre a pena
totalizada.
C) ERRADA. De acordo com o disposto no artigo 113 do Código Penal, em havendo
evasão do condenado ou a revogação do livramento condicional, a prescrição da pretensão executória
será calculada com base na pena remanescente, ou seja, com basena pena que falta ser cumprida, e não
sobre a pena totalizada na sentença/acordão condenatório. Isto porque pena cumprida é pena acabada.
Se parte da pena foi cumprida, esta parte não pode mais repercutir na contagem do prazo
prescricional.
D) ERRADA. O artigo 109, parágrafo único, do Código Penal, é expresso em afirmar
que os prazos prescricionais a serem considerados para as penas restritivas de direito são os mesmos
fixados para as penas privativas de liberdade.
E) CORRETA. A primeira parte do artigo 108 do Código Penal, já mencionado
anteriormente, estabelece que a causa de extinção da punibilidade (tema que inclui a prescrição) de
crime que é pressuposto de outro não se estende a este. Em sendo assim, embora a receptação
pressuponha a ocorrência de um crime anterior (no caso, um furto), a prescrição deste não alcança o
crime de receptação.
36
(DPE-AM) Com relação à prescrição da pretensão executória,
A) ocorre com o transcurso do lapso prescricional da execução do crime até o recebimento da
denúncia.
B) no caso de evasão do condenado, regula-se pelo tempo que resta da pena.
C) tem como causa suspensiva a sentença de pronúncia.
D) é contada em dobro no caso de crimes hediondos.
E) começa a correr do dia em que cessou a atividade criminosa, no caso detentativa.
GABARITO: LETRA B
A) ERRADO - Nas hipóteses de prescrição após a sentença condenatória irrecorrível, o termo inicial
para a contagem do prazo é, nos termos dos inciso do artigo 112 do Código Penal: I - do dia em que
transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional
da pena ou o livramento condicional; II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o
tempo da interrupção deva computar-se na pena". Além disso, nos exatos termos do § 1º, do artigo
110, do Código Penal, "a prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a
acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma
hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa".
B) CERTO - De acordo com o artigo 113, do Código Penal, "no caso de evadir-se o condenado ou de
revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena". Com
efeito, a proposição contida neste item corresponde aos exatos termos do dispositivo legal que lhe
corresponde.
C) ERRADO - A sentença de pronúncia é causa interruptiva de prescrição, nos termos do inciso II, do
artigo 117, do Código Penal, e não suspensiva.
D) ERRADO - Não há previsão para contagem em dobro do curso do prazo prescricional nas hipóteses
de crime hediondo.
E) ERRADO - A assertiva contida neste item, aplica-se à prescrição da pretensãopunitiva, nos termos do
inciso II, do artigo 111, do Código Penal. No que tange à prescrição da pretensão condenatória, os
prazos começam a correr de acordocom os incisos do artigo 112, do Código Penal.

(MPE-MG – Promotor) Analise as assertivas sobre a prescrição e marque a alternativacorreta:


I. Os prazos fornecidos pelos incisos do artigo 109 do Código Penal servirão não só para o cálculo da

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prescrição, considerando-se a pena máxima em abstrato, como também para aqueles relativos à pena
já concretizada na sentença condenatória.
II. A prescrição superveniente ou intercorrente ocorre depois do trânsito em julgado para a acusação, ou
quando improvido seu recurso, tomando-se por base a pena fixada na sentença penal condenatória, e
permite a confecção do título executivo judicial.
III. O parâmetro para o limite da suspensão do curso do prazo prescricional, em caso de suspensão do
processo nos termos do artigo 366 do Código de Processo Penal, é aquele determinado pelos incisos do
artigo 109 do Código Penal, adotando-se o máximo da pena abstratamente cominada ao delito.
IV. Em relação às hipóteses previstas no artigo 117 do Código Penal, a interrupção da prescrição produz
efeitos relativamente a todos os autores do crime, exceto nos casosde reincidência e pronúncia.
V. As causas de aumento e de diminuição de pena influenciam no cálculo da prescrição, que deverá ser
feito considerando o percentual de maior elevação, nas hipóteses de causas de aumento de pena de
quantidade variável, e o de menor redução, nas hipóteses de causas de diminuição de pena de
quantidade variável.
A) As assertivas I, III e IV estão corretas.
B) As assertivas II, III, IV e V estão corretas.
C) As assertivas I, III e V estão corretas.
D) As assertivas I, II e V estão corretas.
GABARITO: LETRA C
Item (I) - CORRETO - Nos termos do artigo 110 do Código Penal, "a prescrição depois de transitar em
julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo
anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente".
Item (II) – ERRADO - O artigo 110, § 1º, do Código Penal, que regula a prescrição intercorrente ou
superveniente, "a prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela
pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se
o condenado é reincidente". No entanto, havendo a extinção da punibilidade, incluindo-se a
prescrição, são afastados todos os efeitos do crime. Com efeito, não há que se falar em título
executivo judicial.
Item (III) – CORRETO - Nos termos do artigo 366 do CPP, “Se o acusado, citado por edital, não
comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional,
podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso,
decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312." Por sua vez, a súmula nº 415 do STJ

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dispõe que, "o período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena
cominada".
Item (IV) - ERRADO -Nos termos do artigo 117, § 1º, do Código Penal, “§ 1º - Excetuados os casos
dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os
autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a
interrupção relativa a qualquer deles."
O caput do mesmo dispositivo assim dispõe: “Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: I -
pelo recebimento da denúncia ou da queixa; II - pela pronúncia; III
- pela decisão confirmatória da pronúncia; IV - pela publicação da sentença ou acórdão
condenatórios recorríveis; V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; VI
- pela reincidência."
Com efeito, as exceções à extensão dos efeitos da interrupção da prescrição a todos autores do crime
são os casos de reincidência e o início ou continuação do cumprimento da pena A pronúncia não está
entre as exceções legais. Assim, a proposição contida neste item está incorreta,
Item (V) - CORRETO Nos casos de cálculo da prescrição antes do trânsito em julgado da condenação,
se presentes concomitantemente causas de aumento e de diminuição de pena, a prescrição deve ser
calculada, conforme a teoria da pior das hipóteses, pela pena máxima abstratamente prevista acrescida
do maior aumento e diminuindo-se do percentual que menos diminui.

CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto


Com relação a aspectos diversos pertinentes aos prazos prescricionais previstos no CP, assinale a
opção correta.
Alternativas
A. Tais prazos serão reduzidos pela metade nas situações em que, ao tempo do crime, o agente fosse
menor de vinte e um anos de idade ou, na data do trânsito em julgado da sentença condenatória, fosse
maior de setenta anos de idade.
B. Em se tratando de criminoso reincidente, são aumentados em um terço os prazos da prescrição da
pretensão punitiva.
C. A prescrição é regulada pela pena total imposta nos casos de crimes continuados, sendo computado o
acréscimo decorrente da continuação.
D. A prescrição da pena de multa ocorrerá em dois anos, quando for a única pena cominada, ou no

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mesmo prazo de prescrição da pena privativa de liberdade, se tiver sido cominada alternativamente.
E. Na hipótese de evasão do condenado, a prescrição da pretensão executória é regulada pelo total da
pena privativa de liberdade imposta.
Gabarito: D
A.Incorreta “Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao
tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.”
B. Incorreta. “Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória
regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam
de um terço, se o condenado é reincidente.
§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou
depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter
por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.“
C. Incorreta. “Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a
pena de cada um, isoladamente.”
D. Correta. “Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá:
I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada;
II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for
alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada.”
E. Incorreta. “ Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento
condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena.”
(TJ-RO – Juiz) A respeito da prescrição penal, é correto afirmar que
A) a prescrição do crime de falsidade de assentamento de registro civil, antes de transitar em julgado a
sentença condenatória, começa a correr na data em que se consumou.

B) a prescrição da pena de multa dar-se-á em 2 anos, quando cominada ou aplicada cumulativamente ou


alternativamente à pena privativa de liberdade.
C) a prescrição do crime tentado, antes de transitar em julgado a sentença condenatória, regula-se pelo
máximo da pena privativa de liberdade cominada, reduzida de 2/3 (doisterços).
D) são causas interruptivas da prescrição o oferecimento da denúncia ou queixa; a pronúncia e o início
do cumprimento da pena, hipóteses em que todo o prazo começaa correr novamente.
E) a prescrição de crime de estupro de criança, antes de transitar em julgado a sentença condenatória,
começa a correr no dia em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, se não proposta ação penal em
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momento anterior.
GABARITO: LETRA E
A) ERRADO - Nos termos do artigo 111, inciso IV, do Código Penal, a prescrição, antes de transitar em
jugado a sentença final, começa a correr, em relação aos crimes de bigamia e de falsificação ou
alteração de assentamento de do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. A
proposição contida neste item diz que a prescrição começa a correr na data em que o crime se
consumou, o que é falso.
B) ERRADO - Nos termos do disposto no inciso II, do artigo 114, do Código Penal, a prescrição da
pena de multa ocorrerá no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade,
quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada.
C) ERRADO - No caso da prescrição pela pena em abstrato em um delito na forma tentada, deve-se
verificar a pena máxima cominada para o delito considerando o mínimo da causa de diminuição de
pena - de 1/3 (um terço) - prevista no parágrafo único do artigo 14 do Código Penal. Com essa
fórmula, atende-se ao parâmetro da pena máxima cominada estabelecido no artigo 109 do mesmo
diploma legal que disciplina prescrição pela pena em abstrato.
D) ERRADO - As causas interruptivas da prescrição, hipóteses nas quais os prazos voltam a correr em sua
totalidade, estão previstas no artigo 117 do Código Penal. Dentre as quais não se encontra o
oferecimento da denúncia. Nos termos do inciso I, do referido

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dispositivo, é o recebimento da denúncia - e não o seu oferecimento - que configura uma das causas
interruptivas do prazo prescricional.
E) CERTO - Nos termos do inciso V, do artigo 111, do Código Penal, a prescrição, antes de transitar em
julgado a sentença final, começa a correr, nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e
adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18
(dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. Sendo assim, a assertiva
contida neste item está correta.

2. (TJ-AM) Pedro, com vinte e dois anos de idade, e Paulo, com vinte anos de idade, foram
denunciados pela prática de furto contra Ana. A defesa de Pedro alegou inimputabilidade. Paulo
confessou o crime, tendo afirmado que escolhera a vítima porque, além de idosa, ela era sua tia.
Com relação a essa situação hipotética, julgue o item subsecutivo, a respeito de imputabilidade penal,
crimes contra o patrimônio, punibilidade e causas de extinção eaplicação de pena.
Em relação a Paulo, o prazo prescricional será reduzido à metade.
GABARITO: CERTO
Os prazos prescricionais são informados no artigo 109 do Código Penal, a partir da pena de cada um
dos crimes, salvo quanto ao crime de porte de droga para consumo próprio (artigo 28 da Lei
11.343/2006), para o qual se estabelece prazo prescricional diferenciado no artigo 30 da Lei de
Drogas antes mencionada. O fato de ser o réu, no momento da ação ou omissão, menor de 21 anos,
ou de ser ele, no momento da sentença, maior de 70 anos, importa em redução dos prazos
prescricionais pela metade, por determinação do artigo 115 do Código Penal. Assim sendo, uma vez
informado que Paulo contava com menos de 21 anos no momento da ação, o prazo prescricional, para
todas as modalidades de prescrição (pela pena em abstrato, pela pena em concreto retroativa ou
intercorrente, e executória) será reduzido pela metade.
3. (TCE-RO –Procurador) Antônio, ex-secretário de Estado da Educação, foi processado criminalmente
por dispensa indevida de licitação, o que havia gerado prejuízo financeiro ao erário, e condenado a
pena de 3 anos e 6 meses de detenção em regime inicial semiaberto, além do pagamento de 25 dias-
multa, no valor unitário de dois salários-mínimos. A pena privativa de liberdade foi substituída por
uma pena de prestação de serviço gratuito à comunidade e uma pena de multa de 30 salários-
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mínimos; a sentença foi publicada em 17/8/2014. Antônio apelou e o recurso foi improvido, sendo o
acórdão publicado em 20/9/2018, data em que Antônio tinha 66 anos de idade.
Considerando-se essa situação e a legislação penal vigente, assinale a opção correta.
A) A sentença deve ser modificada, pois, no caso em apreço, a pena privativa de liberdadesomente poderia
ter sido substituída por duas penas restritivas de direitos.
B) Em razão da pena aplicada e da idade do réu no momento da publicação do acórdão, houve
prescrição da punibilidade após a condenação.
C) É facultado a Antônio cumprir integralmente as horas de prestação de serviço à comunidade no prazo
de 1 ano e 6 meses.
D) A pena de multa deve ser paga obrigatoriamente em parcela única, no prazo de 10 dias após transitar
em julgado a sentença condenatória.
E) Em caso de descumprimento injustificado da pena de prestação de serviço, o restante da pena
converter-se-á em privativa de liberdade, respeitado o saldo mínimo de 30 diasde detenção.
GABARITO: LETRA E
A) ERRADO - De acordo com o que expressamente dispõe o § 2º do artigo 44 do Código Penal, "Na
condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena
restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma
pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos". Com efeito, é possível que a
pena privativa de liberdade seja substituída por uma pena restritiva de direito e multa, conforme fixado
na sentençadescrita.
B) ERRADO - No caso narrado, a prescrição regula-se pela pena aplicada nos termos do disposto no
artigo 110, § 1º do Código Penal, que conta com a seguinte redação: "A prescrição, depois da
sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso,
regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à
da denúncia ou queixa". Levando-se em consideração a pena aplicada na hipótese descrita ( 3 anos e
6 meses de detenção), a prescrição será de 8 (oito) anos, conforme dispõe o artigo 109, inciso

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V, do Código Penal. Entre a publicação da sentença e o acórdão condenatório (artigo 117, inciso IV
do Código Penal) não decorreu o referido prazo. No presente caso, também não incide o
benefício contido no artigo 115 do Código Penal,pois o condenado não alcançara os 70 (setenta) anos
de idade, senão vejamos: "São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era,
ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta)
anos." Em razão da idade do condenado na data da publicação sentença (sessenta e seis anos) e também
por motivo da pena aplicada, não incide a prescrição.
C) ERRADO - De acordo como disposto no artigo 55 do Código Penal, "as penas restritivas de direitos
referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração da pena privativa de liberdade
substituída, ressalvado o disposto no § 4o do art. 46". Conforme o disposto no artigo 46, § 4º do
Código Penal, por sua vez, "se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado
cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de
liberdade fixada". Assim, o mínimo de pena que Antônio poderia cumprir de prestação de serviço à
comunidade seria o de 1 (um) ano e 6 (seis) meses.
D) ERRADO - Nos termos expressos no artigo 50 do Código Penal, "a multa deve ser paga dentro de 10
(dez) dias depois de transitada em julgado a sentença. A requerimento do condenado e conforme as
circunstâncias, o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais". Há, portanto, a
possibilidade de parcelamento.
E) CERTA - Conforme expressamente previsto no § 4º do artigo 44 do Código Penal, "a pena
restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento
injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido
o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção
ou reclusão".

4. (MPE-SP – Promotor) Assinale a alternativa INCORRETA.

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A) Conforme entendimento sumulado, a lei penal mais grave é aplicada ao crime continuado ou ao
crime permanente, se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
B) Consoante o Código Penal, a prescrição da pretensão punitiva pela pena in abstrato é regulada pelo
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando- se nos prazos previstos no
artigo 109, podendo ter por termo inicial data anterior à dadenúncia ou queixa, independentemente do
que dispõe o § 1° do artigo 110, com a redação trazida pela Lei n° 12.234/2010.
C) Tendo em vista que o artigo 117 do Código Penal, nos incisos I, II, III, IV, V e VI, elenca as causas
interruptivas da prescrição, nesses casos, interrompida a prescrição, todo o prazo começa a correr,
novamente, do dia da interrupção.
D) Os princípios que resolvem o conflito aparente de normas são: especialidade, subsidiariedade,
consunção e alternatividade.
E) Na denominada cooperação dolosamente distinta, se algum dos concorrentes quis participar de crime
menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a metade, na hipótese de
ter sido previsível o resultado mais grave.
GABARITO: LETRA C
A) Correto. É o teor completo da Súmula 711 do STF. Essa súmula é
muito presente em provas do MP e da Magistratura. Note: Quanto à eficácia da lei no
tempo, adota-se a regra geral do tempus regit actum (aplicando a lei do tempo daquele fato). A
súmula traz previsão específica para crimecontinuado ou permanente.
B) Correto. Este item pode gerar dúvida pois mescla informação de dois artigos sequenciais no CP.
O que não o torna errado é o fato da assertiva se referir à pena em abstrato (também chamada de
'propriamente dita'). De fato, o art. 110 do mesmo código, em seu §1º, expõe essa impossibilidade do
termo inicial ser anterior à peça inicial, mas logo no início este parágrafo aponta: "A prescrição,
DEPOIS DA SENTENÇA CONDENATÓRIA COM TRÂNSITO EM JULGADO...", ou seja, é
para a pena

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concreta, aplicada pelo juiz - não em abstrato. Ademais, vale conferir
texto da Súmula 604 do STF.
C) INCORRETO. Logo, atende ao comando da questão. A própria lei traz a regra e, na sequência, a
exceção, o que motiva o erro enunciado. O art. 117 do CP lista os marcos interruptivos da prescrição,
mas, ao apontar diretamente o inciso V do artigo, a questão peca. Isso porque este inciso apresenta
ressalva, exposta no §2º: Interrompida a prescrição, SALVO A HIPÓTESE DO INCISO V deste
artigo, todo o prazo começa acorrer do dia da
interrupção. No caso do V, o cálculo do prazo prescricional se dará pelo restante da
pena. Basta fazer o seguinte raciocínio: pena cumprida é pena extinta. Se a pessoa cumpriu X tempo,
este precisa ser abatido em eventual recontagem. O cálculo será feito atravésdo
consequente abatimento. O art. 117, V e também seu §2º foram
exigidos de forma similar nas provas: TJ/AL- 15 e MP/SC-16.
D) Correto. Ao resolver provas objetivas é preciso ir "além dos olhos" e, paradoxalmente, cegar para
demais informações acumuladas em mente. Explica-se: existe debate sobre se a alternatividade é
forma de resolver conflito aparente entre normas, ou DENTRO da mesma norma, onde existiria
conflito por haver previsão de diversas condutas nucleares (ex.: art. 33 da Lei de Tóxicos, o mais
citado pela doutrina; art. 213, CP, em virtude do estupro conter muitas condutas possíveis, mas
representando tipo misto alternativo, ou seja, diversos verbos e a prática de qualquer deles ou de mais
de um deles configuram crime único - desde que haja o mesmo contexto fático e vítima). Então,
para além de se analisar se é método dentro ou fora da norma, deve-se observar como fora posto: "os
princípios que resolvem o conflito APARENTE DE NORMAS (não foi dito 'entre' nem 'dentro')".
Uma leitura globalizada desse item é o ideal, para que não se veja erro onde não há - o que por vezes
ocorre, em virtude da bagagem de informação que se traz.
E) Correto. Conteúdo expresso do art. 29, §2º do CP.A regra é a teoria
unitária ou monista, onde coautores e partícipes respondem pelo mesmo crime na medida de sua
culpabilidade (aproveitemos a oportunidade para

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lembrar que as bancas alteram, erroneamente, este vocábulo para "periculosidade"). Todavia, existe a possibilidade
da: a) participação de menor importância, diminuindo- se a pena de 1/6 a 1/3, constante no §1º do artigo; b)
cooperação dolosamente distinta, onde o indivíduo responde pelo crime menos grave ou, sendo previsível o
resultado mais grave, aumentar-se-á sua pena até metade, hipótese do §2º e da assertiva. A identidade de
crime, contudo, não importa automaticamente em identidade de penas. O art. 29, caput, do Código Penal curvou-se ao
princípio da culpabilidade, ao empregar em sua parte final a expressão "na medida de sua culpabilidade". Nesses
termos, as penas devem ser individualizadas no caso concreto, levando-se em conta o sistema trifásico
delineado pelo art. 68 do Código Penal. [...]
Também chamada de desvios subjetivos entre os agentes ou participação em crime menos grave, está descrita pelo
art. 29, ª2º, do Código Penal: ( ) Veda-se, destarte, a
responsabilidade penal objetiva, pois não se permite a punição de um agente por crime praticado exclusivamente
por outrem, frente ao qual não agiu com dolo ou culpa.[ ]
Essa previsibilidade deve ser aferida de acordo com o juízo do homem médio, ou seja, o resultado mais grave será
previsível quando a sua visão prévia era possível a um ser humano dotado de prudência razoável e
inteligência comum. TRECHOS DA SEGUINTE REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: MASSON, Cleber.
Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120º) - vol. 1 / Cleber Masson. - 13. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2019.

1. Conceito da Pena
Pena é espécie de sanção penal ao infrator da norma incriminadora, consistente na
privação de determinados bens jurídicos do agente.
Pena é sanção e tem como destinatário o infrator.

Basicamente quando se fala em pena privativa de liberdade o bem jurídico é a própria liberdade. E
quando se fala em pena restritiva de direito terá na pena pecuniária, por exemplo, o patrimônio;
prestação de serviço à comunidade, bem jurídico da livre inciativa.
E uma característica marcante e fundamental da pena é o respeito ao devido processo legal.O devido
processo legal é um pressuposto inafastável para a aplicação da pena.

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2. Princípios aplicáveis à pena
A maioria dos manuais de direito penal citam de 08 (oito) a 09 (nove) princípios. O professor
Fábio separou 09 princípios para serem trabalhados nessa aula.
A) Princípio da Reserva Legal ou Estrita Legalidade:

É um princípio constitucional e está previsto no artigo 5º, XXXIX, da CF.

Artigo 5º, inciso XXXIX, da CF:

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
Não pode haver pena, se não houver previsão em lei em sentido estrito. Pode ter pena em medida
provisória, por exemplo? Não, apenas lei em sentido estrito.
Nulla poena sine lege, ou seja, não há pena sem lei e essa lei é em sentido estrito.

B) Princípio da Anterioridade:

É um princípio constitucional e está previsto no artigo 5º, XXXIX, da CF.

Artigo 5º, inciso XXXIX, da CF:

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;

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Nulla poena sine praevia lege, ou seja, a pena deve estar previamente determinada em lei. A pena não
pode ser determinada em um momento posterior a conduta ou até mesmo a condenaçãodo indivíduo.
C) Princípio da Personalidade, Intranscendência da Pena ou Responsabilidade Penal:

É um princípio constitucional e está previsto no artigo 5º, XLV, da CF.

Artigo 5º, inciso XLV, da CF:

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e
a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limitedo valor do patrimônio transferido;
A pena deve recair somente sobre a pessoa do acusado, do condenado. E não pode recair em hipótese
nenhuma sobre a família, sobre pessoas próximas, ou, até mesmo, sobre a sociedade.
D) Princípio da Inderrogabilidade ou Inevitabilidade:

Caso presente os requisitos legais para imposição da pena estão presentes, a pena não pode deixar de ser
aplicado. Ou seja, não é uma faculdade do estado a aplicação da pena, é um dever.
Há mitigações. Isso não significa que o princípio foi afastado, que não existe mais o princípio da
inderrogabilidade da pena no direito penal brasileiro.
Da mesma forma, que no Processo Penal há mitigação do princípio da indisponibilidade da ação penal, a
transação penal, por exemplo, na teoria da pena, há mitigações ao princípio da inderrogabilidade da
pena.
Mesmo presentes os requisitos para aplicação da pena a lei prevê algumas exceções, são eles:

O recém criado ANPP (acordo de não persecução pena); sursis (suspensão condicional do processo) da
pena, a pena deixa de ser aplicada por suspensão da pena; TP (transação penal); colaboração premiada,
que em troca dessa colaboração pode até haver a não imposição de pena.
E) Princípio da Intervenção Mínima:

Esse princípio tem relação direta com a legitimidade da pena. Para que a pena seja legitima ela só deve
ser aplicada nos casos estritamente necessários para a tutela do bem jurídico.
Se ela não for estritamente necessária a intervenção dela passa a ser desnecessária e ela passa a ser uma
pena ilegítima.
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F) Princípio da Humanidade ou da Humanização das Penas
A pena deve respeitar os direitos fundamentais do preso.

Sabe-se que o sistema carcerário brasileiro está bem distante disso.

Então, isso é uma utopia? Pode ser que sim. Mas dependendo do ponto de vista, pode-se ter esseprincípio
como um parâmetro. Ao decidir, você como juiz, uma questão na execução penal, por exemplo, um
pedido feito pelo preso, em que o Ministério Público se opõe, o juiz pode decidir com base nesse
princípio da humanidade. É um ideal a ser perseguido, e não, necessariamente, será alcançado em sua
plenitude. Mas é um parâmetro que deve guiar todos os órgãos de execução penal.
G) Princípio da Proporcionalidade:

A resposta estatal deve ser justa e proporcional para reprovar adequadamente a conduta, sem excessos.
H) Princípio da Individualização:

A pena deve corresponder a características individuais do agente.

Esse princípio é aplicável tanto na norma em abstrato, ou seja, quando se coloca no preceito secundário
do crime qual é a pena, ela é individualizada de acordo com a gravidade em abstratodaquele delito.
E, também, é aplicada ao juiz no momento da sentença, que deverá individualizar a pena de cadaréu.
Duas situações:

1ª situação: dois réus são condenados por roubo, por exemplo, o juiz pode fundamentar a dosimetria da
pena do primeiro réu, analisando e passando pelas três fases, e ao final ele fixa a pena definitiva em 06
(seis) anos. E agora o juiz passa a analisar a dosimetria do segundo réu e diz que se vale da
fundamentação da dosimetria da pena do primeiro réu para fixar a pena do segundo réu no mesmo
patamar de 06 (seis) anos. O juiz pode fazer isso? Não pode, dentre outras razões, fere o princípio da
individualização da pena, do qual o juiz também é destinatário.
Assim, o juiz não pode se valer da fundamentação de um réu para a dosimetria da pena para o outro réu.
2ª situação: se um único réu, condenado por dois crimes, roubo com corrupção de menores, o juiz
fundamenta a pena para o crime de roubo e chega a pena de 06 (seis) anos; e vai no crime de corrupção
de menores e diz que se valendo das considerações feitas na dosimetria em relação ao crime de roubo,
fixa a pena da corrupção de menores em “x” anos, também não pode.
Essa segunda hipótese é mais comum de ser ver uma vez ou outra na pratica, porque o juiz ao aplicar,
50
por exemplo, concurso formal, ele sabe que irá precisar da pena mais alta para aplicar a
fração de aumento da pena, na forma do artigo 70 do CP. Então, o que faz o juiz assoberbado de
sentenças para fazer? Faz a dosimetria do roubo e passa por cima da dosimetria do segundo crime, só
fazendo referência a fundamentação da dosimetria do outro crime. Também não pode, por mais que ele
não vá somar as penas no concurso formal, por exemplo, ele precisa individualizar cada réu, cada crime
a pena exposta na sentença.
E por que se deve individualizar:

Porque as vezes há uma circunstância que é relevante para um crime, mas não é para o outro.

I) Princípio da Vedação ao bis in idem:

Esse princípio visa evitar a dupla punição pelo mesmo fato.

O princípio diz que é necessário vedar a dupla punição pelo mesmo fato.

3. Penas Proibidas no Brasil:


O artigo 5º da Constituição Federal no inciso XLVII prevê as penas proibidas no Brasil.

Artigo 5º, inciso XLVII, da CF:

XLVII - não haverá penas:


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;

Lembre-se que com o Pacote Anticrime, a pena unificada máxima passou a 40 (quarenta) anos.
Antes era de 30 (trinta) anos. Justamente essa limitação em atenção a vedação do caráter perpétuo da
pena.
Cuidado com a pena de trabalhos forçados. O assunto aqui é pena. O legislador não pode colocar,
por exemplo, como preceito secundário de um crime 06 (seis) meses de trabalhos forçados, asfaltando
51
ruas, algo assim. Isso é vedado pela CF e isso é o trabalho forçado. Não é a mesma coisa que pena
restritiva de direito.
A pena restritiva de direito caso o agente não cumpra, se for por uma impossibilidade física, o
juízo da execução pode até mudar essa pena para uma pena de outra natureza.
O que se fala aqui é a pena prevista em lei de trabalhos forçados.

52
Fique atento! Na LEP (Lei de Execução Penal), nos artigos 31 e 38, diz que o trabalho do presoé
obrigatório e que é dever do preso o trabalho. Trabalho obrigatório não é a mesma coisa que trabalho
forçado. Por que?

Artigo 31 e 38 da LEP:

Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas
aptidões e capacidade.
Parágrafo único. Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado no
interior do estabelecimento.
Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado, submeter-se às
normas de execução da pena.
Primeiro, trabalho obrigatório não é pena. Segundo, o trabalho obrigatório em regra é
remunerado. E, terceiro, permite remissão na pena, ou seja, ele será beneficiado pelo trabalho. Não é
forma de cumprimento de pena. É dever do preso e é obrigatório, mas caso ele não trabalhe não há
punição. Ele apenas deixa de receber dinheiro e deixa de receber o privilégio de remissão da pena.
Com relação as penas cruéis, há discussões a respeito de isolamentos (castigos) no sistema
carcerário brasileiro. Há quem diga que algumas celas configuram crueldade no cumprimento da pena,
mas apesar do Supremo Tribunal Federal ter declarado estado inconstitucional de coisas do sistema
penitenciário brasileiro, não há nenhum precedente apontando crueldade de pena no sistema carcerário
brasileiro.

4. Tipos de Pena:
Há 03 (três) tipo de pena do direito penal brasileiro, são elas:

a) Privativa de liberdade (reclusão, detenção e prisão simples) – P.P.L

b) Restritivas de direito – P.R.D

c) Multa – pode ser aplicada separadamente. Independentemente das demais

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5. Finalidades da Pena
A finalidade da pena é um ponto de contato do direito penal com a criminologia. O professor
Fábio não irá aprofundar esse tema no aspecto criminológico da matéria.

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a) Finalidade Retributiva: retribuição pela prática do crime. Funciona como um castigo, caráter expiatório.
Instrumento de vingança estatal. O estado se vinga da conduta do agente antinormativa.
b) Finalidade Preventiva: evitar a prática de novas condutas. Seja do próprio criminoso ou de terceiros.
▪ Prevenção geral: destinada ao controle da violência. Pune-se o agente como “alerta” atodos, para dar o
exemplo a terceiros.
✔ Prevenção geral negativa: criação de um contraestimulo à prática de crimes pela população em geral.
O condenado vira um instrumento de coação do corposocial. É a questão do exemplo.
✔ Prevenção geral positiva: visa reforçar a validade e a eficiência do direito penal. Ao mesmo tempo
que ela cria um contraestimulo, ela reforça a validade ea eficiência do direito penal.
▪ Prevenção especial (ao próprio agente): destinada à pessoa do condenado.

✔ Prevenção especial negativa: evitar a reincidência do condenado.

✔ Prevenção especial positiva: ressocializar o condenado para o retorno ao meioaberto.


A finalidade da prevenção especial positiva deixa muito a desejar. A cadeia não passa nem perto
de um lugar para que o agente saia melhor do que ele entrou.
O caráter de prevenção especial negativa em alguns casos funciona e em outros não.

Caso uma prova de segunda fase pergunte a respeito da finalidade da pena, o candidato deverá
discorrer sobre cada uma dessas expostas. E se a prova perguntar qual delas tem menos êxito no Brasil, o
candidato deverá eleger uma ou duas para discorrer a respeito. A mais evidente na visão do professor
Fábio é a prevenção especial positiva.
Obs.1: Teoria Agnóstica da Pena

Há um movimento bastante forte que diz que a pena não tem finalidade alguma ou muito pouco
serve para alguma coisa.
Aquele que é agnóstico é aquele que não tem credo, não tem religião. Na verdade, é uma crise
de confiança da pena. Teoria de confiança da pena, que é também chamada de teoria negativa da pena,
ou seja, que nega a pena.
Segundo essa teoria, a finalidade da pena, especialmente a de prevenção especial positiva
(ressocialização) não é eficaz.

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Indica que a única função da pena é a neutralização do condenado, isto é, o afastamento dasociedade.

6. Pena Privativa de Liberdade – P.P.L


Pena é a sanção que tem como destinatário o infrator da norma penal incriminadora
removendo algum bem jurídico dele.
Essa pena remove o direito de locomoção do sentenciado.

Espécies da P.P.L
⮚ Reclusão: regimes fechado, semiaberto e aberto
⮚ Detenção: regimes semiaberto e aberto
⮚ Prisão simples (LEP): regimes semiaberto e aberto

Forma de cumprimento dos regimes


⮚ Fechado: penitenciária
⮚ Semiaberto: colônia agrícola ou industrial ou estabelecimento similar
⮚ Aberto: casa do albergado

No Distrito Federal e em alguns outros Estados, não existe casa do albergado. E em alguns estados
talvez o número de vagas não seja suficiente. E qual foi a solução dada pelo sistema penitenciário do
Distrito Federal validade pela jurisprudência?
Quem está em regime aberto no Distrito Federal fica em prisão domiciliar. Não existe casa de
albergado e não seria justo (legítimo) manter o preso no semiaberto por inexistência de vaga de casa de
albergado. Uma parte com tornozeleira eletrônica e outra não.

Súmula Vinculante nº 56:

hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.


A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime
prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa

hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.


Fixação do Regime na sentença:

O artigo 33 do CP é um artigo importante para fixação do regime na sentença. Fique atento!

Artigo 33 do CP:

Reclusão e detenção
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi- aberto ou aberto. A de
detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.
(Redação dada pela Lei nº 7.209,de 11.7.1984)
§ 1º - Considera-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima
ou média;
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento
adequado.
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o
mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência
a regime mais rigoroso: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em
regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e
não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi- aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro)
anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos
critérios previstos no art. 59 deste Código.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do
cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do
ilícito praticado, com os acréscimos legais. (Incluído pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)
Fixação da pena
Artigo 59 do CP:

Fixação da pena
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da
vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;(Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;(Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de
liberdade;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra
espécie de pena, se cabível. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Qual o regime do condenado reincidente?

Em regra, fechado. Mas o que acontecia, o agente era condenado a 01 (um) ano e por ser
reincidente já iniciava em regime fechado. Assim, o STJ sumulou o entendimento sobre o assunto.

Súmula 269 do STJ:

É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes condenados a pena igual
ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.

Se todas as circunstâncias judiciais forem consideradas favoráveis, coma pena-base no mínimo legal,
o regime poderá ser mais gravoso?

Caso o crime tenha pena de 01 (um) a 04 (quatro) anos, furto simples, o agente pegou 01 (um)
ano, porque todas as circunstâncias judiciais foram consideradas favoráveis. Em regra, iniciaria no
aberto. O juiz pode estabelecer um regime mais gravoso? Súmula do STJ número 440:

Súmula 440 do STJ:


Súmula 440 - Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional
mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade
abstrata do delito.(Súmula 440, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, DJe 13/05/2010)
O que isso quer dizer? O juiz analisou as circunstâncias judiciais e são todas favoráveis ao réu,
nenhuma desfavorável, fixa a pena no mínimo legal, ele terá que colocar o regime compatível com a
pena segundo a escala do artigo 33 do Código Penal. Ele não poderá colocar um regime mais gravoso
alegando que o crime é grave abstratamente falando.

Fixação do Regime na sentença em crimes hediondos (Lei 8.072/90) eequiparados:

Falaremos dos crimes hediondos e dos crimes equiparados (3Ts, tráfico, terrorismo e tortura).
Artigo 2º da Lei 8.072/90.

Artigo 2º da Lei 8.072/90:

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de:
I - anistia, graça e indulto;
II - fiança. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado.
(Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)
§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em
liberdade. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de
2007)
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes
previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema
e comprovada necessidade. (Incluído pela Lei nº 11.464, de 2007)
O § 1º deste artigo determina que a pena imposta deve ser cumprida inicialmente em regime
fechado. Porém, no HC 111.840/ES – rel. Min. Dias Toffoli, Plenário 27.06.2012, foi declarado
inconstitucional o regime estipulado inicialmente fechado. Especialmente naquele denominado tráfico
privilegiado, que a pena dificilmente passa de 02 (dois) anos.
É possível, portanto, fixar um regime menos gravoso que o fechado.

Observação – cuidado especial para aqueles que tem o hábito de leitura de informativos. O HC
123.316/SE – rel. Min. Marco Aurélio, 1ª Turma 09.06.2015 – aceitou a aplicação do § 7º do artigo 1º
da Lei 9.455/97 (Lei de Tortura), ou seja, o início do cumprimento da pena do crime de torturaserá
no regime fechado.

Artigo 1º, § 7º, da Lei 9.455/97:


Art. 1º Constitui crime de tortura:
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena
em regime fechado.
Aqui, há uma aparente contradição entre julgados do STF. Lembrando, esse segundo que tratou
sobre o crime de tortura, é um julgado da 1ª Turma, não é do Plenário, como foi o de 2012, que redundou
na declaração de inconstitucionalidade do § 1ª, da Lei 8.072, da expressão incialmente fechado.
Portanto, tenha cuidado, candidato. A maioria dos livros não entra nesse mérito. Mas, prevalece,
nas provas de concursos público, o HC 111.840/ES, em que julgou inconstitucional a
obrigatoriedade inicial em regime fechado do cumprimento da pena.

7. Aplicação da Pena
A aplicação da pena nada mais é do que como o juiz deve manejar na sentença como fixar
uma pena a um réu condenado.
A grande dificuldade, para quem vai fazer prova de sentença na segunda fase, é a argumentação,
porque a estrutura da sentença, o que é preciso ser analisado está tudo no código. Se o candidato for
fazer a prova com o código ele terá todo o esqueleto da sentença previsto no Código Penal.
O Código Penal Brasileiro adotou o critério trifásico de aplicação da penal, assim são 03 (três)
fases. Veja o artigo 68 do CP.

Artigo 68 do CP:

Cálculo da pena
Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão
consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de
aumento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode o
juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais
aumente ou diminua.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Assim, a primeira fase será dada a pena-base de acordo com o artigo 59 do CP. A segunda fase
será de consideração as agravantes e atenuantes. E, por fim, a terceira fase será a de causas de
diminuição ou aumento de pena. Veja, que esse artigo 68 é didático.

Primeira fase: Fixação da Pena-base

Artigo 59 do CP:

Fixação da pena
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da
vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;(Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;(Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de
liberdade;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra
espécie de pena, se cabível. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Na primeira fase são 08 (oito) circunstâncias que deverão ser analisadas, que, por fim, nascerá a
chamada pena-base. E esta pena-base está restrita ao mínimo e ao máximo previsto em lei.
⮚ Culpabilidade: não é aqui aquele terceiro substrato do crime (conduta típica, ilícita e culpável).É o grau
de reprovabilidade da conduta, ou seja, o maior ou menos grau de reprovabilidade da conduta.
⮚ Antecedentes:
Súmula 444 do STJ:

Súmula 444 - É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a
pena-base. (Súmula 444, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, DJe 13/05/2010)
O RE 591.054 é um tema de repercussão geral no STF, que confirma esse entendimento. As ações
penais e os inquéritos policiais em curso não servem para agravar a pena.
O que pode ser considerado como antecedente (maus antecedentes)?

Qualquer condenação definitiva que não foi utilizada para fins de reincidência.Cuidado:
O agente praticou homicídio, na sequência, ainda em liberdade, meses depois pratica um furto. Passa a
ser processado pelos dois, mas a sentença com o trânsito em julgado do homicídio saiu primeiro. E
quando ele foi condenado na sentença do furto, o juiz não pode dizer que ele é reincidente, pois quando
ele praticou o crime de furto ainda não havia sentença do crime de homicídio. Mas ele pode ser
considerado uma pessoa com maus antecedentes, porque ele tem condenação definitiva por homicídio
anterior a sentença do crime de furto.
Assim, ele é tecnicamente primário, mas com maus antecedentes. Observe,
agora, o julgado de 2020 que o professor Fábio trouxe.

Veremos ainda nessa aula, que há o prazo depurador da reincidência. O agente é condenado por um
crime e cumpre a pena, após a extinção da punibilidade pelo cumprimento da pena, por 05
(cinco) anos o agente ainda é considerado reincidente, após esse prazo, 05 (cinco) anos após o final do
cumprimento da pena o agente deixa de ser reincidente e volta a ser primário. Esse é o famoso prazo
depurador de 05(cinco) anos, que está previsto em lei.
O que se argumentava era que para que não se tenha antecedentes perpétuos aplicar-se-ia, também, o
prazo depurador da reincidência aos maus antecedentes, sob pena de se ter um antecedente de 10 (dez)
ou mais anos atrás ainda prejudicando o réu.
O STF afastou essa polemica e disse o seguinte, o prazo depurador é para a reincidência. Para fins de
maus antecedentes isso não se aplica.
⮚ Conduta Social:
Comportamento do réu no ambiente familiar, no trabalho e na convivência social. Em regra, os
processos não possuem provas a respeito.
Será visto o comportamento do agente na sociedade. O processo quase nunca fala sobre isso, fala sobre
o fato do qual o agente é acusado, mas não fala como ele é na família, no trabalho, narua. Via de regra é
uma circunstância difícil de ser considerada em desfavorável.
Um argumento muito utilizado e aceito é o agente que pratica crime durante o recolhimento noturno, ou
seja, o agente ainda está cumprindo pena e, ainda, assim tem uma má conduta. Isso é aceito na
jurisprudência.
⮚ Personalidade do agente:
Retrato psíquico do réu. Expressões genéricas como “personalidade voltada para a prática de crime”,
mas esse tipo de expressão tem sido afastado pela jurisprudência do Tribunais Superiores, justamente
por serem muito genéricas e pouco dizerem a respeito da individualidadedo réu.
⮚ Motivos do crime:
Razão da conduta. Só podem ser analisados quando não fizerem parte do próprio tipo penal ou quando
não configuram uma qualificadora.
⮚ Circunstâncias do crime:
Aqui, entra várias coisas. Condições de tempo, lugar, local em que ocorreu o crime, condição da vítima
no momento, etc.
É uma carta em branco para o juiz poder analisar o crime no caso concreto.

⮚ Consequências do crime:
Não são aquelas consequências naturais, por exemplo, considerar que uma pessoa foi vítima de
homicídio e, portanto, como consequência do crime foi retirada a vida de um ser humano. Isso não é
levado em consideração, pois é o resultado naturalístico do crime de homicídio.
Agora, caso se esteja de frente com uma vítima de homicídio que era solteiro, sem filhos, sozinha no
mundo, e a outra vítima que era pai de três filhos, sustentava a mãe e a pessoa morre, sem duvida
nenhuma, as consequências foram muito mais gravosas no segundo caso do que no primeiro caso.
Então, nessa segunda situação, seria considerado uma circunstância desfavorável.
⮚ Comportamento da vítima:
Será neutro ou favorável. Jamais será desfavorável. Porque se o comportamento da vítima em nada
colaborou com a conduta do réu não há nada que se considerar nas circunstâncias judiciais, será neutro.
Mas, se por exemplo, a vítima deixa o carro aberto e o agente furta o carro dele, de alguma maneira o
comportamento da vítima contribuiu para a empreitada criminosa. E, então, será considerada favorável
a circunstância judicial.

Segunda fase: Pena intermediária

Parte-se da pena, pena-base fixada na primeira fase.

O momento para incidência das circunstâncias agravante ou atenuantes. E se


houver concurso de agravantes e atenuantes, como será feito?
O artigo 67 do CP responde a esse questionamento.

Artigo 67 do CP:

Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes


Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar- se do limite indicado
pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos
determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. (Redação dada pela Lei nº
7.209,de 11.7.1984)
O legislador coloca os motivos determinantes do crime como preponderante, personalidade do agente e
reincidência como sendo as de maior valor.
Então, havendo concurso entre agravantes e atenuantes a pena deverá se aproximar do limite indicado
pelas circunstâncias predominantes, preponderantes, que são os motivos determinantes do crime, a
personalidade do agente e da reincidência.
A doutrina, por sua vez, coloca ordem nas agravantes e atenuantes, a jurisprudência também
acompanha. A ordem é:
1) Menoridade e senilidade: se o agente era menor de 21 (vinte e um) anos de idade no
momento da conduta ou maior de 70 (setenta) anos no momento da sentença.
2) Reincidência: é a principal agravante.

3) Agravantes e atenuantes subjetivas

4) Agravantes e atenuantes objetivas

Falaremos agora sobre a reincidência.

O artigo 63 do CP diz que será verificada a reincidência quando o agente comete novo crime, depois
de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado porcrime anterior.
A Lei de Contravenções Penais também fala em reincidência no artigo 7º: verifica-se a reincidência
quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha
condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.
Observe o quadro abaixo:

Uma condenação pode servir ao mesmo tempo como mau antecedente epara reincidência?
É bom lembrar do princípio da vedação ao bis in idem. Se foi considerado como mau antecedente,
não pode servir para a reincidência e vice versa.
Veja a súmula 241 do STJ.
Súmula 241 do STJ:

A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e,


simultaneamente, como circunstância judicial.
Observação: na segunda fase a pena intermediária será limitada pelo mínimo e pelo máximo
cominado para o tipo penal.

Atenuante da Confissão Espontânea

É uma das atenuantes mais comum na prática. Observe o que diz o artigo 65, inciso III, alínea “d”, do
CP.

Artigo 65, inciso III, alínea “d”, do CP:

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:


III - ter o agente:
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;

A discussão que se coloca na prática é se a confissão parcial e a confissão qualificada valem como
atenuante.
A confissão parcial é quando o réu admite parcialmente a prática das condutas imputadas.

Imagine que o agente responda por um furto qualificado por arrombamento. E no interrogatório ele conta
que furtou, mas não arrombou nada. Ou seja, confessou parcialmente.
Outro exemplo, o agente furta e corrompe um menor. E no interrogatório ele fala que furtou, mas que
não havia menor com ele, ele fez tudo sozinho. Nega a corrupção de menores. Assim, é uma confissão
parcial.
O STJ, na confissão parcial, admite como atenuante.

Já a confissão qualificada é aquele em que o réu admite a conduta típica, mas alega em sua defesa
alguma causa excludente de ilicitude ou culpabilidade.
É o caso do agente, em um júri, que alega legítima defesa. Ele diz que foi ele que atirou ou que
esfaqueou, mas que fez em defesa própria.
A maioria diz que não deveria valer como atenuante. Mas há precedentes do STF que admite a
confissão qualificada. Fique atento, pois aqui a discussão é maior.
Observação: reincidência X confissão.
Aqui, há a chamada compensação. Por que? Foi visto que a personalidade do agente é uma das
preponderantes junto com a reincidência. Então, a confissão espontânea demonstra uma faceta da
personalidade do agente, que decide colaborar com o judiciário no deslinde da autoria. E, nesse sentido,
a jurisprudência vem aceitando a compensação, ou seja, a neutralização, da confissão com a
reincidência.
Mas o movimento seguinte foi: faz sentido compensar a confissão com o agente que tem um processo
registrado como reincidente. Há casos que o agente tem 15 processos, o famoso multireincidente. E,
nesse caso, a jurisprudência tem dito que não pode ser desconsiderada a confissão, mas vai preponderar
a reincidência em razão da multiplicidade de passagens.
Terceira fase: Pena definitiva

Nesta fase incidem as causas de aumento e diminuição de pena, de acordo com o artigo 68do CP.
O parágrafo único do artigo 68 do CP diz que “no concurso de causas de aumento ou diminuiçãoprevistas
na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo,
todavia, a causa que mais aumente ou diminua”.
Primeira consequência, se o aumento ou diminuição for de causas previstas na parte geral o juiz não
poderá se limitar. Mas, caso seja na parte especial, que está explicita no parágrafo único do artigo 68 do
CP, ele poderá se limitar a um só aumentou ou a uma só diminuição, prevalecendo a causa que mais
aumenta ou diminua.

8. Questões

1. (Prefeitura de Arapongas-PR – Guarda Municipal) De acordo com o Código PenalBrasileiro, julgue os


itens a seguir:
I. Considera-se regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança
máxima ou média.
II. Considera-se regime semiaberto a execução da pena em casa de albergado ou
estabelecimento adequado.
III. Considera-se regime aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar.
A) Todos os itens estão corretos.
B) Apenas o item I está correto.
C) Apenas os itens I e II estão corretos.
D) Apenas os itens I e III estão corretos.
E) Nenhum item está correto.
GABARITO: LETRA B

O item nº I está correto. De fato, conforme estabelece a alínea “a" do § 1º do artigo 33 do Código
Penal, a pena privativa de liberdade em regime fechado deve ser cumprida em estabelecimento de
segurança máxima ou média.
O item nº II está incorreto. Conforme estabelece a alínea “b" do § 1º do artigo 33 do Código Penal, a
pena privativa de liberdade em regime semiaberto deve ser cumprida em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar e não em casa de albergado.
O item nº III está incorreto. Conforme estabelece a alínea “c" do § 1º do artigo 33 do Código Penal, a
pena privativa de liberdade em regime aberto deve ser cumprida em casa de albergado e não em colônia
agrícola, industrial ou estabelecimento similar.

2. (Prefeitura de Conceição de Macabu-RJ – Procurador) O Código Penal Brasileiro define que as penas
privativas de liberdade deverão ser executadas de forma progressiva, segundo o mérito do condenado,
observados determinados critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso,
poderá, desde o início, cumprir sua pena em regime semiaberto, o condenado:
A) Não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos.
B) A pena superior a 8 (oito) anos.
C) Não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 2 (dois) anos.
D) Não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito) anos.
GABARITO: LETRA D
A) ERRADA. O condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro)
anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto, conforme estabelece a alínea “c" do § 2º do
artigo 33 do Código Penal.
B) ERRADA. O condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la
em regime fechado, conforme estabelece a alínea “a" do § 2º do artigo 33 do Código Penal.
C) ERRADA. O condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 2 (dois) anos,
também poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto, nos termos do que estabelece a alínea “c"
do § 2º do artigo 33 do Código Penal.
D) CERTA. O condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não
exceda a 8 (oito) anos poderá efetivamente, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto, tal
como estabelece a alínea “b" do § 2º do artigo 33 do Código Penal.
3. (Prefeitura de Areal-RJ – Procurador Municipal) O Código penal Brasileiro prevê as penas de multa,
privativas de liberdade e restritivas de direitos. Estabelece ainda que as penas privativas de liberdade
deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observado determinados
critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso, deverá começar a cumpri-la
em regime fechado, o condenado a penasuperior a:
A) 06 (seis) anos.
B) 08 (oito) anos.
C) 04 (quatro) anos.
D) 05 (cinco) anos.
GABARITO: LETRA B
A) ERRADA. Veja que em se tratando de pena privativa de liberdade, deverá começar a
cumpri-la em regime fechado, o condenado a pena superior a 8 (oito) anos, de acordo com o art. 33, §2ª,
alínea a do CP. No caso de pena superior a seis anos, poderá cumpri-la em regime semiaberto desde que
não reincidente, como afirma o art. 33, §2, alínea b.
B) CORRETA. o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em
regime fechado, de acordo com o art. 33, §2ª, alínea a do CP.
C) ERRADA. o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não
exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto, de acordo com o art. 33,
§2ª, alínea b do CP.
D) ERRADA. o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não
exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto, de acordo com o art. 33,
§2ª, alínea b do CP.

4. (TJ-MS – Juiz Substituto) Na aplicação da pena,


A) incidindo as causas de diminuição da tentativa e do arrependimento posterior, pode o
juiz limitar-se a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais diminua.
B) o juiz, na terceira fase do cálculo, ao fixar a fração de acréscimo pela causa de aumento
identificada, sempre atentará à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao
comportamento da vítima.
C) as qualificadoras, representando fatores de acréscimo assinalados em quantidades fixas
ou em limites, incidem na terceira fase do cálculo, não permitindo, contudo, a fixação da pena acima do
máximo legal.
D) se concorrerem duas qualificadoras em um mesmo crime, aceita a jurisprudência que só
uma delas incida como tal, podendo a outra servir como circunstância agravante, se cabível.
E) se reconhecido o crime continuado específico, aplica-se a pena de um só dos delitos, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços,
considerado o número de infrações cometidas, incidindo a extinção da punibilidade sobre o total da pena
imposta.
GABARITO: LETRA D
O cálculo (ou dosimetria) da pena privativa de liberdade é feito com base no sistema trifásico, que
estabelece a necessidade de fixação da pena base, na primeira fase; seguida da análise das circunstâncias
atenuantes e agravantes, na segunda fase; e por fim no exame das causas de diminuição e de aumento de
pena, na terceira fase. No que tange à pena de multa, é fixada, segundo a doutrina, por um sistema
bifásico (fixando-se primeiro o número de dias-multa e depois o valor do dia-multa), no entanto é
preciso observar que o número de dias-multa é calculado juntamente com a pena privativa de liberdade,
no contexto do sistematrifásico.

Introduzido o tema principal da questão, vamos ao exame de cada uma das proposições.
A) ERRADA. A determinação contida no artigo 68, parágrafo único, do Código Penal, é a
de que, em havendo concurso de causas de aumento ou de diminuição, previstas na Parte Especial, o
juiz pode proceder a um só aumento ou diminuição. As duas causas de diminuição de pena
mencionadas (tentativa e arrependimento posterior) estão previstas na Parte Geral do Código Penal,
pelo que devem ser aplicadas cumulativamente. Ademais, o arrependimento posterior é uma causa de
diminuição de pena a ser aplicada na terceira fase da dosimetria da pena, enquanto a tentativa, embora
tenha natureza de causa de diminuição de pena, não é considerada exatamente na terceira fase da
dosimetria da pena, mas sim em momento posterior à fixação da pena em concreto para o crime
consumado.
B) ERRADA. As chamadas circunstâncias judiciais, indicadas no artigo 59 do Código
Penal, são utilizadas como parâmetro para a fixação da pena-base, o que ocorre na primeira fase da
dosimetria. Não são consideradas, portanto, na terceira fase da dosimetria, tal comoafirmado.
C) ERRADA. As qualificadoras importam na fixação de novos patamares mínimo e
máximo de pena privativa de liberdade cominada. Elas são consideradas já na primeira faseda dosimetria
da pena, quando da fixação da pena base, sendo está fixada levando em conta já os patamares mais
gravosos estabelecidos para a modalidade qualificada do crime. A pena base deve ser fixada
necessariamente entre o mínimo e máximo indicados para o tipo penal qualificado, não podendo ser
maior nem menor.
D) CORRETA. Em havendo duas qualificadoras, apenas uma delas deve ser considerada
como qualificadora, sendo que a outra poderá ser tomada como agravante, se fizer parte do rol de
agravantes previsto nos artigos 61 e 62 do Código Penal. O crime é qualificado apenas diante de uma
qualificadora. É possível que a segunda qualificadora, caso não integre o referido rol, seja tomada como
circunstância judicial desfavorável ao réu, quando da análise das circunstâncias previstas no artigo 59 do
Código Penal, na primeira fase da dosimetria da pena. Este entendimento está consagrado nos tribunais
superiores.
E) ERRADA. O crime continuado específico é a hipótese prevista no parágrafo único do
artigo 71 do Código Penal. Neste caso, as penas são fixadas individualizadamente, para cada um dos
crimes praticados, e em seguida o juiz toma uma delas, se idênticas, ou a mais grave delas, se diversas,
aumentando-a até o triplo. A fração de aumento de 1/6 a 2/3 diz respeito apenas ao crime continuado
previsto no caput do artigo 71 do Código Penal. Ademais, no que toca à extinção da punibilidade, a
análise há de ser feita de forma individualizada, ou seja, considerando a pena fixada para cada crime e
não sobre o somatório das penas. No artigo 119 do Código Penal há previsão expressa de que, no caso
de concurso de crimes (e o crime continuado é um tipo de concurso de crimes), a prescrição, que é uma
causa extintiva de punibilidade, dever considerar a pena de cada um dos crimes, de forma isolada.

5. (MPE-CE – Promotor de Justiça) Cada um dos itens a seguir apresenta uma situação hipotética, seguida
de uma assertiva a ser julgada, acerca da aplicação de pena e do livramento condicional, considerando-
se o entendimento dos tribunais superiores.

I Flávio, processado e condenado pela prática de delito de tráfico ilícito de entorpecentes, confessou, em
interrogatório judicial, que possuía a droga para consumo próprio. Nesse caso, a confissão feita por
Flávio em juízo, ainda que parcial, não deve servir como circunstância atenuante da confissão
espontânea para fins de diminuição de pena. II Pela prática de delitos de vias de fato e ameaça em
contexto de violência doméstica e familiar contra sua ex-esposa, Joana, José foi condenado às penas de
vinte dias de prisão simples e um mês e cinco dias de detenção, ambas em regime aberto. Nesse caso, é
cabível a substituição da pena restritiva de liberdade por restritiva de direitos apenas em relação à
contravenção penal de vias de fato.
III Pela prática de delito de homicídio culposo no trânsito, na forma qualificada, por conduzir veículo
sob influência de bebida alcoólica, Marcos foi condenado à pena de cinco anos de reclusão, a ser
cumprida inicialmente em regime semiaberto. Nesse caso, em que pese o quantum da pena, é cabível a
substituição da pena privativa de liberdade por restritivade
direitos.
IV Pela prática de delito de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, Pedro, reincidente por crime de
roubo simples, foi condenado à pena privativa de liberdade de quatro anos de reclusão, em regime
fechado. Nesse caso, ante a prática de crime hediondo e a reincidência,Pedro não fará
jus ao livramento condicional.

Estão certos apenas os itens


A) I e III.
B) I e IV.
C) II e IV.
D) I, II e III.
E) II, III e IV.
GABARITO: LETRA A
I - CORRETO. Súmula 630 do STJ: “A incidência da atenuante da confissão espontânea
no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não
bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio”.
II - INCORRETO. Súmula 588 do STJ: "A prática de crime ou contravenção penal contra
a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilitaa substituição
da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
III - CORRETO.
Art. 44, CP. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade,
quando: I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido
com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for
culposo;
IV - INCORRETO. Ele não teria direito ao livramento condicional, se fosse reincidente em
crime hediondo ("reincidência específica"), o que não é o caso. Logo, cumprindo os requisitos previstos
no artigo 83 e seguintes do CP, bem como a LEP, nada impede que o agente possa ser beneficiado pelo
instituto mencionado:
Art. 83 – O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade
igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: (…) V – cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos
de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado nãofor reincidente específico em crimes dessa natureza.

6. (MPE-CE – Promotor de Justiça) com relação aos princípios e às garantias penais, assinale a opção
correta.
A) A proibição da previsão de tipos penais vagos decorre do princípio da reserva legal em
matéria penal.
B) Em nome da proibição do caráter perpétuo da pena, conforme entendimento do STJ, o
cumprimento de medida de segurança se sujeita ao limite máximo de trinta anos.
C) O princípio da culpabilidade afasta a responsabilização objetiva em matéria penal, de
modo que a punição penal exige a demonstração de conduta dolosa ou culposa.
D) O princípio da adequação social serve de parâmetro fundamental ao julgador, que, à luz
das condutas formalmente típicas, deve decidir quais sejam merecedoras de puniçãocriminal.
E) Conforme o princípio da subsidiariedade, o direito penal somente tutela uma pequena
fração dos bens jurídicos protegidos nas hipóteses em que se verifica uma lesão ou ameaçade lesão mais
intensa aos bens de maior relevância.
GABARITO: LETRA C
A) INCORRETA, porque a não previsão de tipos penais vagos decorre dos princípios da
taxatividade e da legalidade. Não é possível se submeter à sanção penal de qualquer modo, sem que a lei
disponha acerca da conduta exata que não pode ser por ele perpetrada.
B) INCORRETA, levando em consideração à Súmula 527 do STJ que diz: “o tempo de
duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada
ao delito praticado". Além disso, com a alteração da Lei 13.964/19, o tempo de cumprimento das penas
privativas de liberdade não pode ser superior a 40 anos.
C) CORRETA. O principal objetivo do princípio da culpabilidade é o completo afastamento
da responsabilidade objetiva, o que significa dizer que ninguém responderá por um resultado se não
houver causado o resultado com dolo.
D) INCORRETA, porque este princípio não tem como função despenalizar condutas, mas
sim entender quais as condutas sociais tem relevância para o Direito Penal.
E) INCORRETA, porque está é a descrição do princípio da subsidiariedade.

7. (TJ-PA -Oficial de Justiça) No que concerne às penas previstas no Código Penal brasileiro, assinale a
opção correta.
A) O trabalho externo não é admissível para os condenados em regime fechado.
B) A pena de multa deve ser paga no prazo máximo de um mês após o trânsito em julgado
da sentença.
C) São espécies de penas restritivas de direitos: interdição temporária de direitos, prestação
de serviço à comunidade e pagamento de multa.
D) As penas restritivas de direitos apenas serão aplicáveis em substituição à pena privativa
de liberdade fixada em quantidade inferior a dois anos.
E) A limitação de final de semana é uma das penas restritivas de direitos, devendo o
condenado permanecer em casa de albergado por cinco horas diárias aos finais de semana.
GABARITO: LETRA E
A) Art. 36, LEP: O trabalho externo será admissível para os presos em regime
fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou
Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e emfavor da disciplina
Art. 37, LEP A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento,
dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da
pena Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento,
dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da
pena
Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato
definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos
estabelecidos neste artigo.
B) Art. 50, CP: A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em
julgado a sentença. A requerimento do condenado e conforme as circunstâncias, o juiz pode permitir que
o pagamento se realize em parcelas mensais
C) Art. 43, CP As penas restritivas de direitos são: I - prestação
pecuniária;
II - perda de bens e valores;
III - limitação de fim de semana.
IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;
V - interdição temporária de direitos;
VI - limitação de fim de semana
D) Art. 54, CP - As penas restritivas de direitos são aplicáveis, independentemente de
cominação na parte especial, em substituição à pena privativa de liberdade, fixada em quantidade
inferior a 1 ano, ou nos crimes culposos
E) CORRETA.

8. (Prefeitura de Porciúncula-RJ – Procurador Adjunto) Assinale a alternativa que apresenta uma das
modalidades de Pena Privativa de Liberdade.
A) Perda de bens e valores.
B) Reclusão.
C) Limitação de fim de semana.
D) Multa.
GABARITO: LETRA B
A) ERRADA. A perda de bens e valores não é uma modalidade de pena privativa de
liberdade, mas sim de pena restritiva de direitos, estando prevista no inciso II do artigo 43 e
regulamentada no § 3º do artigo 45, ambos do Código Penal.
B) CERTA. A reclusão é uma das modalidades de pena privativa de liberdade, assim como
a detenção, ambas aplicáveis aos crimes, e a prisão simples, aplicável às contravenções penais,
consoante dispõe o artigo 1º do Decreto-Lei 3.914/1941.
C) ERRADA. A limitação de fim de semana não é uma modalidade de pena privativa de
liberdade, mas sim de pena restritiva de direitos, estando prevista no inciso VI do artigo 43 e
regulamentada no artigo 48, ambos do Código Penal.
D) ERRADA. A multa é uma pena pecuniária, prevista no inciso III do artigo 32 e
regulamentada nos artigos 49 a 52, bem como no artigo 60, todos do Código Penal.

9. (TJ-BA – Juiz Leigo) Acerca de penas, assinale a opção correta.


A) O trabalho do preso servirá tão somente a sua remissão na pena.
B) A reclusão e a detenção são consideradas penas restritivas de direito.
C) A execução da pena privativa de liberdade não superior a dois anos poderá ser suspensa
por dois a quatro anos.
D) É obrigatório o cumprimento da pena de reclusão em regime fechado ou semiaberto.
E) O condenado a pena igual ou inferior a quatro anos poderá, desde o início, cumpri-la em
regime aberto, ainda que seja reincidente.
GABARITO: LETRA C
A) INCORRETA - Além da remição da penal, o trabalho do condenado tem outros escopos,
nos termos do artigo 28 da Lei nº 7.210/1984, “o trabalho do condenado, como dever social e condição
de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva".
B) INCORRETA - De acordo com o artigo 32 combinado com o artigo 33, ambos do Código
Penal, as penas de detenção e de reclusão são consideradas penas privativas de liberdade.
C) CORRETA - Nos termos expressos no artigo 77 do Código Penal, "a execução da pena
privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos,
desde que" atendidas as condições constantes dos seus incisos.
D) INCORRETA - Nos termos expressos do artigo 33 do Código Penal, "a pena de
reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime
semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado".
E) INCORRETA - Nos termos do artigo 33, § 2º, alínea "c", do Código Penal, apenas o "o
condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início,
cumpri-la em regime aberto".

10. (SEAP-GO – Agente de Segurança Prisional) O Regime Disciplinar Diferenciado é uma modalidade
especial de cumprimento da pena no regime fechado, previsto no art. 52 da Lei de Execuções Penais.
Consiste na permanência do presidiário, provisório ou condenado, em cela individual, com limitações ao
direito de visita e do direito de saída da cela. Seja como sanção disciplinar (art. 52, caput) ou como
medida disciplinar (art. 52, §§ 1o e 2o ), a aplicação de tais sanções encontra críticas no que diz respeito
à sua constitucionalidade, pois a parcela mais crítica da doutrina brasileira afirma que o Regime
Disciplinar Diferenciado (Lei no 10.792/2013) não possui tipos penais bem definidos. Isso dificulta a
aplicação dos tipos penais aos presos que eventualmente pratiquem as condutas descritas
em lei, pois a excessiva indeterminação material dos termos origina imprecisão nas interpretações. Tais
argumentos se fundamentam no princípio da
A) culpabilidade.
B) ofensividade.
C) insignificância.
D) isonomia.
E) legalidade.
GABARITO: LETRA E
O Regime Disciplinar Diferenciado - RDD - está previsto no artigo 52 da Lei de Execução Penal. O
instituto pode ser aplicado aos presos condenados ou provisórios, com o objetivo de resguardar a
disciplina no âmbito prisional, possibilitando um tratamento administrativo mais rigoroso a
determinados presos. Ocorre que a regulamentação do instituto é muito criticada pela doutrina desde a
sua inserção no ordenamento jurídico brasileiro, em função da imprecisão de seus termos. O caput do
artigo 52 da LEP preceitua que "a prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, (...). Não há como se precisar o alcance da
expressão "quando ocasione subversão da ordem ou disciplinas internas". Trata-se de um conceito
jurídico indeterminado. O mesmo pode ser dito em relação ao § 1º do referido dispositivo legal, que
consigna: "O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou
condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do
estabelecimento penal ou da sociedade". O que pode ser tomado como "alto risco para a ordem e a
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade"? Também temos aqui um conceito jurídico
indeterminado. Por fim, o § 2º do mesmo dispositivo legal estabelece: "Estará igualmente sujeito ao
regime disciplinar diferenciado preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas
suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha
ou bando". Mais uma vez, estamos diante de um conceito jurídico indeterminado no que tange ao
trecho "fundadas suspeitas de envolvimento ou participação".
A partir destas considerações, vamos examinar cada uma das proposições.
A) ERRADA. As críticas doutrinárias antes destacadas não importam em inobservância ao
princípio da culpabilidade. Embora a palavra "culpabilidade" possa ser tomada em sentidos diversos, tal
princípio é interpretado pela doutrina como orientação para o afastamento da responsabilidade objetiva
no Direito Penal, dado que uma pessoa somente pode ser responsabilizada penalmente por uma conduta
que seja dolosa ou culposa.
B) ERRADA. As críticas doutrinárias salientadas também não dizem respeito ao princípio
da ofensividade ou da lesividade. Este princípio serve de orientação para somente se admitir tipos penais
que importem em efetiva lesão ou perigo de lesão aos bens jurídicos protegidos, quando eles integrarem o
patrimônio de terceiros.
C) ERRADA. Também não dizem respeito ao princípio da insignificância as críticas
doutrinárias sobre o instituto do regime disciplinar diferenciado. Este princípio se presta a reduzir a
amplitude dos tipos penais, com ponderações sobre a extensão dos danos causados aos bens jurídicos
protegidos pela lei penal, propondo a aferição da tipicidade material, e não se satisfazendo com a
configuração da tipicidade tão somente formal.
D) ERRADA. Tampouco dizem respeito ao princípio da isonomia as aludidas críticas, dado
que a isonomia é um princípio geral de direito, que propugna o tratamento igualitário àqueles
que se encontrem em igualdade de condições, e um tratamento diferenciado às pessoas, na medida das
qualidades diversas de cada um (igualdade material).
E) CERTA. As críticas doutrinárias em relação à regulamentação do instituto do Regime
Disciplinar Diferenciado estão fundamentadas na alegação de inobservância ao princípio da legalidade,
uma vez que um dos corolários deste princípio é a taxatividade, que impõe que as definições legais
sejam precisas, objetivas e induvidosas, especialmente quando para impor restrições às pessoas em
geral. À medida que as expressões anteriormente destacadas têm um alcance impreciso, vago, a
aplicação do instituto pode ser feita de formas diversas a partir da interpretação de cada julgador. Em
que pesem as críticas, não houve declaração de inconstitucionalidade dos dispositivos legais antes
destacados.

1.1. PENA RESTRITIVA DE DIREITO.

O objetivo da pena restritiva de direito é atender a tendência moderna do direito, evitando-


se a imposição de penas privativas de liberdade de curta duração, que não atendam às finalidades
da pena, isto é, o desencarceramento.
Segundo estudiosos das ciências penais, as penas de curta duração não atendem as
finalidades da pena. É melhor impor uma pena restritiva de direito.
As principais espécies das penas restritivas de direitos são: I) – prestação pecuniária e IV)
– prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas.

Características:

a) Substitutividade: será substituída pelo pena privativa de liberdade, daí seu caráter
substitutivo dessa pena.
b) Autonomia: não é acessória a nenhuma outra pena. Por si só é suficiente para
estabelecer uma punição à conduta.

Duração:

Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma
duração da pena privativa de liberdade substituída, ressalvado o disposto no § 4o do art. 46.

Art. 46 § 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena
substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada.
Conforme artigo 55, o tempo de cumprimento da PRD seria o mesmo que duraria a

PPL.

O artigo 46 §4º traz uma possível exceção: se PPL for superior a 1 ano é facultado ao
condenado, cumprir a pena substitutiva em menor tempo. Pode acelerar o cumprimento da PRD,mas
em um prazo nunca inferior a metade da PPL.

Obs.: O limite temporal não se aplica à prestação pecuniária e perda de bens e valores –
natureza patrimonial.

1.2. ESPÉCIES.

1.2.1. Prestação pecuniária.

Consiste no pagamento em espécie à vítima ou entidade pública ou privada indicada pelo


Judiciário.
Destinatários:
● vítima
● Entidade pública ou privada.

A prestação pecuniária não pode ser inferior a 1 salário mínimo, nem superior a 360
salários mínimos. Portanto há um teto e um piso.
O valor pago será compensado ou descontado em eventual reparação cível, caso seja
direcionada à vítima.

Prestação pecuniária ≠ da pena de

Obs.: a prestação pecuniária não deixa de ser uma pena pecuniária, mas a natureza delaé de
pena restritiva de direito.

1.2.2. Perda de bens e valores.


A característica marcante é que esses bens e valores que podem ser perdidos, têm origem
lícita. Não se trata do confisco do proveito do crime, mas sim decretação de perda de bens e valores
lícitos.
Como que o juiza vai indicar o valor ou a equivalencia de um bem ao valor desejado por
ele? Baliza: prejuízo gerado ou pelo ganho auferido, o que for maior será o teto.

1.2.3. Prestação de serviços à comunidade.

● Somente é aplicável às PPL’s superiores a 6 meses;


● Para cada dia de condenação, será atribuída uma hora de PSC.
● Quando a pena for superior a 1 ano, o sentenciado poderá cumprir em menor tempo,
porém não inferior à metade da pena (art. 46, par. 4º do CP) – mesmo raciocínio da prestação
pecuniária.
Ex.: indivíduo condenado em 2 anos, se quiser cumprir a PSC em menos tempo poderá,
desde que esse tempo não seja inferior a 1 ano.

1.2.4. Limitação de final de semana.

Na prática é pouco ocorrida.

Consiste na obrigação do condenado permanecer em casa de albergado ou instituição similar,


por 5h diárias aos sábados e domingos – art. 48 do CP.
Casa de albergado: estabelecimento indicado para o cumprimento de pena

em regime aberto.

Intenção do legislador: melhora social do apenado, mediante o comparecimento em cursos


e palestras desenvolvidos na casa de albergado.

1.2.5. Interdição temporária de direitos.


Existem 5 possíveis interrupções temporárias de direitos previstas em lei:

❖ proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que depende de habilitação especial;


❖ proibição de frequentar determinados lugares;
❖ proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo;
❖ proibição de inscrever-se em concursos, avaliação ou exames públicos;
❖ suspensão da habilitação para dirigir (REVOGADO PELO CTB)

Trata-se de hipóteses autoexplicativas.

1.3. Requisitos.

Substituirão as penas privativas de liberdade quando:

I) aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime
for culposo;
Obs.: Pena de 4 anos pode ser substituída? Sim, pois é igual a 4 anos e não superior.

Para os crimes culposos sempre será possível a substituição.

Obs.: pena privativa de liberdade não superior a quatro anos + o crime não for cometidocom
violência ou grave ameaça à pessoa (requisitos cumulativos).
II) o réu não for reincidente em crime doloso; Se houver condenação anterior em
crime culposo é possível.
III) a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado,
bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. (artigo 59
do Código Penal). As circunstâncias devem ser favoráveis.

Pergunta: Se o crime tiver emprego de violência o grave ameaça, mas for de menor potencial
ofensivo? Posso substituir a P.P.L. por P.R.D.?
R: Doutrina e jurisprudência entendem que SIM. Em atenção ao princípio daproporcionalidade
e razoabilidade. Cabe suspensão condicional do processo.

Pergunta: Pode haver substituição em crimes de violência doméstica?

R: Em razão do art. 41 da Lei 11.340/2006, as medidas despenalizadoras da Lei 9.099/95 não


se aplicam aos crimes de violência doméstica. Assim, incide a regra geral de cabimento em casos em
que não haja violência ou grave ameaça. Não caberá da mesma forma prestação pecuniária – art.
17 da Lei 11.340/2006.
O artigo 17 indica a impossibilidade de se punir um agressor sentenciado sobre a Lei Maria
da Penha, com a pena de prestação pecuniária. Entrelinhas, permite-se as demais penas restritivas
de direito.
Qualquer crime praticado em contexto de violencia doméstica não pode haver
substituição da PPL para PRD? Não, somente aqueles que forem praticados com violência ou
grave ameaça. Nos demais, haverá a substituição, ressalvo o disposto no artigo 17.
Súmula 588-STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave
ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva dedireitos.

Substituição da P.P.L pela P.R.D nos crimes de tráfico privilegiado (causa de diminuição de
pena). Há possibilidade -> STF HC 97.256/RS – Res. 52 do Senado Federal, decisão do STF tem
efeitos erga omnes.
1.4. Reconversão.

A PPL é convertida na sentença em PRD. Em casos de descumprimento a PRD será


reconvertida em PPL.
§4º A pena restritiva de direitos converte-se (leia-se reconverte-se) em privativa de
liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena
privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos,
respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.

§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal
decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena
substitutiva anterior.

No §5º se houver possibilidade fática, o juízo da execução penal poe deixar de reconverter a
pena PRD por aquela que seja cumprida anteriormente.
Com isso, a gente encerra nosso estudo sobre as penas restritivas de direito.

2. Concurso de crimes.

Situação hipotética: se uma pessoa é condenada por 2 crimes (sem violência e sem grave
ameaça, não é reincidente em crime doloso e as circunstâncias judicias são favoráveis) em concurso
material, no primeiro é condenado a 2 anos e no outro a 3 anos, unifica-se a pena e ele terá um total
de pena de 5 anos. Essa pessoa fará jus a conversão da PPL pela PRD? Não fará, o que permite a
substituição é o resultado final da pena.
Atenção! Não importa se individualmente, as penas dos crimes sejam menores do que 4
anos, se o somatório delas, no concurso material foi superior a 4 anos. Da mesma forma, se no
concurso formal, as penas individuais forem menores do que 4 anos, mas com a exasperação da
fração forem maior do que 4 anos, não será cabível a substituição.

2.1. Concurso material.

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido.
No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela
(reclusão).

Ex.: homicídio com posterior ocultação de cadáver = são 2 condutas, logo, aplicam-se
cumulativamente as penas privativas de liberdade (haverá a soma das penas). Trata-se do sistema do
cúmula material.
Os crimes podem ser idênticos: concurso material homogêneo Ou crimes
diferentes: concurso material heterogêneo.
Pena resultante se dá pelo cúmulo material.
Pergunta: Em caso de concurso material, como se dá a análise do cabimento de medidas despenalizadoras
ou substituição de PPL por PRD?
R: pela pena resultante do cúmulo material.

2.2. Concurso formal.

A primeira diferença para o concurso material é que agente pratica somente 1 ação ou
omissão.

Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos
ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas
aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto,
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.

Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código
(concurso material benéfico)

Concurso material benéfico: o nome é bastante criticado, pois não se trata de concurso
material e sim concuso formal, visto que envolve apenas 1 ação. A sistemática da pena do concurso
material aplica-se a pena do concurso formal. Se somada as 2 penas, der um tempo
menor do que o encontrado com o resultado da exaperação pela fração do concurso formal,
aplicar-se-á a soma das penas no denominado “concurso material benéfico”.
Soma das penas menor do que o resultado da regra do concurso formal.
● Pode ser homogêneo (crimes idênticos) ou heterogêneos (crimes de espécies
diferentes)
● Pode ser próprio (sem desígnios autônomos, isto é, não há intenção
individualizada para a prática dos dois crimes) ou impróprio (com desígnios autônomos) –
caracaterística do concurso formal.

Em casos de desígnos autônomos o sistema para imposição da pena será o do cúmulo


material. (concurso impróprio, é um concurso material “disfarçado”).
Não havendo desígnos automos (concurso material próprio), o sistema para imposição dapena
será o da exasperação.
A partir de 6 crimes a fração será sempre metade.
2.3. Continuidade delitiva.
Continuidade delitiva ou crime continuado.

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da
mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem
os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes,
se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquercaso, de um sexto a dois terços.

Ex.: pessoa que furta fio de cobre em dias variados, sempre sozinho, sempre a noite e com
ajuda de uma escada, ou seja, mesma circunstâncias de tempo e lugar = crime continuado.
A fração a ser aplicada aqui é de 1/6 a 2/3. A fração também leva em consideração o total de
crimes cometidos.
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo
único do art. 70 e do art. 75 deste Código.
Ex.: 3 homicídio dolosos praticados nas mesmas condições de tempo, lugar, maneira e
execução, há a possibilidade do juiz aplicar a pena do mais grave e exasperar essa pena até o triplo.
Obs.: Zaffaroni e Pierangeli entendem que a continuidade delitiva é um concurso
material atenuado, pois, em regra, existe um concurso material, mas diante das circunstâncias, há
uma atenuação da punição.

Requisitos:

❖ pluralidade de condutas; (+ de 1 ação ou omissão)


❖ pluralidade de crimes da mesma espécie;
❖ conexão espacial, temporal, modal;
❖ unidade de desígnios. (Deve haver uma uniformidade da intenção do agente,
unidade de desígnos.)

Crimes da mesma espécie: são crimes que têm o mesmo tipo penal.

Obs.: roubou e latrocínio podem gerar continuidade delitiva? Segundo a doutrina


majoritária e jurisprudência unânime não. Da mesma forma, roubo e extorsão não podem gerar
continuidade delitiva.

Fração: sistema da exasperação (1/6 a 2/3) a depender do


número de crimes. A escala é maior.
A lei penal mais grave aplica-se ao crime
continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade
ou da
permanência.

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Qual lei deve ser aplicado ao crime continuado? O raciocínio é o mesmo que se aplica ao
crime permanente.
Enquando não cessada a permanência a lei mais grave
será aplicada.

2.4. Prescrição e concurso de crimes.

A prescriçao da pretensão punitiva deve ser feito em cada crime, isoladamente. Não se
analisa pelo somatório das penas, mas vai incidir caso a caso, isoladamente.
Obs.: prescrição é uma das formas de extinção da punilibidade pelo decurso do tempo.

Bom pessoal, de forma bem objetiva e ao mesmo tempo bem completa, exaurimos a
matéria de concursos de crimes.

3. Limite das penas.


É importante estudarmos esse tema, pois, ele sofreu modificações pelo pacote anticrime.

O artigo 75 estabelece um limite total para cumprimento de pena no direito penal


brasileiro. Até o advento do pacote anticrime, o limite era de 30 anos.
O que significa unificar? Se a pessoa foi condenado em 25 anos em um crime e 28 em outro,
na execução da pena ele somente vai cumprir até 40 anos.
Qual é a base de cálculo 40 anos ou a pena “cheia” 53 anos? Certamente será a pena
“cheia”, 53 anos no nosso exemplo.
§2º: se o indivíduo já tiver cumprido algum tempo, será descontado.

4. Suspensão Condicional da Pena.


O momento da concessão da sursis é na sentença. Se o juiz não condenar o indivíduo a uma
pena (pena em concreto) não superior a 2 anos poderá suspender a execução.
O período de prova pode ser fixado de 2 a 4 anos. Nesse período ele vai cumprir outras
condições semelhantes as penas restritivas de direito.
Requisitos:

I. o condenado não seja reincidente em crime doloso;


II. a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício; (circusntâncias judicias).
III. Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.

Obs.: em um crime com violência ou grave ameaça não poderá haver a conversão da PPL
em PRD, mas poderá haver aplicação da sursis. Não há esse requisito.
§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício.
§ 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por
quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde
justifiquem a suspensão.

O §2º trata de uma outra exceção, são os chamados sursis etário e humanitário. Há uma
flexibilização dos tempos, a pena precisa ser não superior a 4 anos. O período de prova também é
aumentado que aqui será de 4 a 6 anos. Aplicam-se aos condenados maiores de 70 anos (sursis
estário) e em razões de saúde (sursis humanitário).
Art. 78 §1º: condições estabelecidas pelo legislador do que deve ser cumprido no primeiro ano
do prazo.
§2º: trata-se de um sursis especial para aquele que reparou o dano ou tem as

circunstâncias judiciais favoráveis.


Condições do sursis especial:

a) proibição de frequentar determinados lugares;

b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;

c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar


suas atividades.
Art. 80 - A suspensão não se estende às penas restritivas de direitos nem àmulta.

O pressuposto para a sursis é a condenaçao à PPL.


Natureza jurídica:

a) direito subjetivo do apenado – Rogério Greco. STJ HC 158.842 -> Não trata-se de
uma faculdade do juiz.

b) forma de cumprimento de pena – não deixa de ser pena, só é uma forma atenuada de
cumprimento de pena que evita a PPL.

Espécies de Sursis:

● Com período de prova de 2 a 4 anos.


a) Sursis simples – sem reparação do dano e/ou circunstâncias judiciais do art.
59 do CP não inteiramente favoráveis. (art. 77 c/c art. 78, par. 1º do CP) Tem que cumprir
requisitos no 1º ano.

b) Sursis especial (art. 77 c/c art. 78 par. 2º do CP) – não precisa cumprir por
exemplo, limitação de final de semana.

● Com período de prova de 4 a 6 anos

c) Sursis etário (art. 77, par. 2º, 1ª parte do CP)

d) Sursis humanitário (art. 77, par. 2º, 2ª parte do CP)

Pergunta: Sursis incondicionado, é possível? E por omissão na sentença?

Pela letra da lei não é possível sursis incondicionado. Mas, por exemplo, em caso de
omissão na sentença em que o juiz aplica o artigo 77, suspende a pena, mas simplesmente não indica
nenhuma condição, ocorrendo assim o trânsito em julgado. Daí, o processo chega na execução penal,
e verifica-se que faltam as condições. Parte da doutrina diz que coisa julgada é coisa julgada, logo, o
juiz da execução penal não vai poder impor nenhuma condição para o cumprimento do sursis. Por
outro lado, há uma parte considerável da doutrina que diz que as condições decorrem da lei, logo, se
o juiz do processo de conhecimento que deveria impor essas condições não o fez, compete ao juiz da
execução fazê-lo.
Papel de impor as condições é do juiz sentenciante, se ele não o faz deve-se abordar a
coisa julgada ou mostrar que a coisa julgada não é fundamental, pois, as condições estão previstas em
lei. (Questão aberta em provas).
A revogação pode ser tanto facultativa como obrigatória.

Revogação obrigatória:

I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso; Precisa intimar o indivíduo


antes de revogar? Doutrina majoritária entende que não, pois trata-se de fato consumado.
II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo
justificado, a reparação do dano; POLÊMICA!!! Parte da doutrina entende que se tratando de dívida
de valor, se ele frusta, embora solvente, a execução de pena de multa, isso deve ser resolvido com uma
dívida de valor. Outra parte da doutrina entende que pode sim revogar, mas se pagar ou reparar o
dano, pode restabelecer o benefício. Doutrina majoritária: entende que houverevogação.
III - descumpre a condição do § 1º do art. 78 deste Código Art.
78. (sursis simples). Nesse caso aqui, deve-se intimar o réu antes da decisão, pois ele deve
justificar e provar que cumpriu o requisito, sob pena de nulidade.
Revogação facultativa:

● A suspensão poderá ser revogada se o condenado descumpre qualquer outra


condição imposta ou é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por contravenção, a pena
privativa de liberdade ou restritiva de direitos.

Condenação irrecorrível por crime doloso -> revogação obrigatória.

Condenação irrecorrível por crime culposo ou contravenção -> revogação


facultativa.

Na revogação facultativa o juiz deve abrir vista para o contraditório e deve fundamentara sua
decisão.

Causa de revogação obrigatória descoberta após o transcurso do período de prova:

⮚ Corrente contrária: Se descobre eventual situação ocorrida após o período de


prova, segundo a corrente contrária, não terá nenhum efeito, pois a sentença é meramente
declaratória.
⮚ STF e STJ pensam em sentido contrário: por ser causa de revogação obrigatória,
os efeitos do advento de uma dessas hipóteses são automáticos. Por mais que tenha transcorrido o
período de prova, ainda que a decisão de revogação seja posterior ao período de 2 anos, pode ser
revogada a suspensão condicional do processo.

Hipóteses de prorrogação do período de prova:

§ 2º - Se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção, considera- se


prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo. (Prorroga-se o período de prova a fim
de verificar qual será a decisão do processo).
§ 3º - Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o
período de prova até o máximo, se este não foi o fixado. (Se fixou o período de prova em um
patamar mínimo intermediário, nas hipóteses de revogação facultativa, ao invés de
efetivamente revogar o benefício, pode ser prorrogado o período de prova até seu limite
máximo).

Bom pessoal, foi tranquilo? Foi um grande prazer ministrar essa aula a vocês!

Continuem firmes, bons estudos e até a próxima!


5. Questões.

1. Considerada a hipótese de reconhecimento probatório de um agente ter praticado um roubo com


emprego de arma de fogo contra duas vítimas que caminhavam na rua e, posteriormente, passados três
meses do crime anteriormente noticiado, em cidade diversa daquela onde ocorrera o crime anterior,
veio a praticar roubo simples contra vítima diversa da anterior, a fixação da pena deverá observar o
concurso

a) material na primeira conduta e crime continuado entre esta e a segunda.


b) material na primeira conduta e formal entre esta e a última.
c) formal pela primeira conduta e concurso material entre esta e a segunda.
d) formal pelas duas condutas.

Gabarito: C.

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido.
No caso de aplicaçãocumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
[...]
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos
ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas
aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto,
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.

2. Acerca da ação penal, das causas extintivas da punibilidade e da prescrição, julgue o seguinte
item.
Nos casos de concurso formal ou de continuidade delitiva, a extinção da punibilidade pela prescrição
regula-se pela pena imposta a cada um dos crimes isoladamente, afastando o acréscimo decorrente dos
respectivos aumentos de pena.
A) ( ) Certo

B) ( ) Errado.
Gabarito: Certo.

Súmula 497 STF: Quando se tratar de crime continuado, a prescriçãoregula-se pela pena imposta na
sentença, não se computando oacréscimo decorrente da continuação.

Art. 119 – No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada
um, isoladamente.

1. Livramento Condicional
Está previsto nos artigos 83 a 89 do Código Penal.

Artigos 83 a 89 do CP:

CAPÍTULO V
DO LIVRAMENTO CONDICIONAL
Requisitos do livramento condicional
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade
igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente
em crime doloso e tiver bons antecedentes; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime
doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - comprovado: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
a) bom comportamento durante a execução da pena; (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze)
meses; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano
causado pela infração; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de11.7.1984)
V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por
crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e
terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. (Incluído pela Lei
nº 13.344,de 2016) (Vigência)
Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais
que façam presumir que o liberado não voltará a delinqüir. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
Soma de penas
Art. 84 - As penas que correspondem a infrações diversas devem somar- se para efeito do
livramento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Especificações das condições
Art. 85 - A sentença especificará as condições a que fica subordinado olivramento. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Revogação do livramento
Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a pena privativa de liberdade,
em sentença irrecorrível: (Redação dada pelaLei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - por crime cometido durante a vigência do benefício; (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste
Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Revogação facultativa
Art. 87 - O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer das
obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a
pena que não seja privativa de liberdade.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Efeitos da
revogação
Art. 88 - Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a revogação
resulta de condenação por outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em
que esteve solto o condenado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Extinção
Art. 89 - O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em
julgado a sentença em processo a que responde o liberado, por crime
cometido na vigência do livramento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
Art. 90 - Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se
extinta a pena privativa de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

Natureza Jurídica
Há uma certa controvérsia a respeito da natureza jurídica do livramento condicional. Se
estamos diante de um benefício ou de um direito subjetivo do apenado.
Primeira dica: se você está diante de uma questão subjetiva que não trata sobre natureza
jurídica do livramento condicional, mas é preciso conceituar utlize a expressão “medida penal”. Em
relação a questão da natureza jurídica do livramento condicional o que prevalece, inclusive nos
tribunais superiores, é que se trata efetivamente de um direito subjetivo doapenado. Isto é, se
o agente preenche todos os requisitos de ordem objetiva e subjetiva previstos em lei, não é uma
faculdade, não é uma liberdalidade do juiz oferecer ou não o livramento
condicional. O juiz é obrigado a conceder o livramento condicional.

Conceito

Medida penal consistente na liberdade antecipada do preso, como etapa para a


soltura plena e do processo de ressocialização.

Liberdade no Livramento Condicional

A liberdade no Livramento Condicional é:

▪ Antecipada;

▪ Condicional;

▪ Precária (revogável).

Competência para apreciação e concessão


Juízo da execução penal.

Há quem diga e quem sustente, a possibilidade de o juiz de conhecimento na sentença


conceder livramento condicional em razão de detração, de prisão preventiva. Esse entendimento é
minoritário.

Requisitos para o livramento condicional

Está previsto no artigo 83 do Código Penal.

Há requisitos objetivos e subjetivos. Veja a seguir:

a) Objetivos:

a.1) imposição de pena privativa de liberdade igual ou superior a 02 (dois) anos;

Observação: o indivíduo é condenado a 01 (um) ano, 11 meses e 15 dias de reclusão. Possui


interesse recursal para aumentar a pena em 15 dias e viabilizar o livramento condicional?
□ Para o Rogério Greco SIM (um dos poucos que defende).

Para haver interesse recursal deve haver sucumbência, ou seja, o réu só pode recorrerse for para
melhorar a sua própria situação. E objetivamente (concretamente) só há como parâmetro para
aferição dessa condição melhor ou pior situação é a quantidadede pena privativa de liberdade.
Então, em hipóteses alguma, de acordo coma doutrina majoritária, seria possível um réu
recorrer para aumentar a própria pena.

a.2) o apenado deve ter cumprido:


✔ Mais de 1/3, se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; (para
a doutrina os condenados que tem maus antecedentes também)
Atenção: É preciso observar que não há menção do condenado de maus antecedentes. A doutrina
resolve essa questão com a interpretação mais benéfica possível para o apenado. Considerando,
então, que mesmo com maus antecedentes, ele teria direito aolivramento se ele não for reincidente em
crime doloso, quando atingir mais de 1/3 documprimento da sua pena.
✔ Mais de 1/2, se o condenado for reincidente em crime doloso;
✔ Mais de 2/3, se a condenação for por crime hediondo ou equiparado;

✔ Vedado, se o apenado for reincidente específico em crime hediondo ouequiparado.

b) Subjetivos:

Foi alterado pelo Pacote Anticrime. Fique atento!

Redação anterior ao PAC Redação do PAC

III – comprovado comportamento III - comprovado: (Redação dada


satisfatório durante a execução da pena, pela Lei nº 13.964, de 2019)
bom desempenho no trabalho que lhe foi a) bom comportamento durante a execução
atribuído e aptidão para prover à própria da pena; (Incluído pela Lei nº
subsistência mediante trabalho honesto; 13.964, de 2019)
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de b) não cometimento de falta grave nos
11.7.1984) últimos 12 (doze) meses; (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi
atribuído; e (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
d) aptidão para prover a própria subsistência
mediante trabalho
honesto; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
Há uma polêmica pelo acréscimo da alínea “b”, do inciso III, do artigo 83 do Código Penal.
Súmula 441 do STJ: “A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento
condicional”.
Há posicionamentos no sentido de que o STJ deve rever essa súmula 441. Porém, o professor
Fábio discorda.

Para ficar claro, livramento condicional e falta grave sempre tiveram negação. Isso não
mudou. A prática de falta grave impedir nos últimos 12 meses, impedir o livramento condicional
continua impedindo agora com expressa menção no artigo 83 do Código Penal.
Sumula 441 do STJ não tratava sobre requisito subjetivo. Tratava da consequência da falta
grave no requisito objetivo (temporal). Continua valendo normalmente, até porque enquanto requisito
temporal não houve qualquer alteração por parte do PAC.

Causas de revogação

⮚ Revogação obrigatória

Artigo 86 do Código Penal.


Artigo 84 do CP:

Soma de penas
Art. 84 - As penas que correspondem a infrações diversas devem somar- se para efeito do
livramento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

⮚ Revogação facultativa

Artigo 87 do Código Penal.

Efeitos da revogação

Artigo 88 do Código Penal.

Esse artigo ficou confuso. Vamos entende-lo.


A primeira parte grifada em amarelo diz respeito a condenação anterior ao livramento
condicional, ou seja, não houve desrespeito ao período de prova, o fato foi anterior ao livramento
condicional. E salvo nesses casos não se desconta a pena o tempo em que esteve solto o condenado.
A regra é descontar na pena o tempo que se esteve solto o condenado. Isso, se a condenação for
por crime anterior ao benefício daquele livramento condicional.
Se a condenação se der em razão de crime praticado durante o livramento condicional, não vai
se descontar, porque é uma punição.

Questão:

Extinção do Livramento Condicional

Artigo 89 do Código Penal.

2.
3. Efeitos da Condenação
Artigos 91, 91-A e 92 do Código Penal.
Artigos 91, 91-A e 92 do CP:

CAPÍTULO VI
DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO
Efeitos genéricos e específicos
Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984)
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo
crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro
de boa-fé: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico,
alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito
auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.
§ 1o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime
quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior. (Incluído pela Lei nº
12.694, de 2012)
§ 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão
abranger bens ou valores equivalentes do investigado
ou acusado para posterior decretação de perda. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012)
Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6
(seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens
correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível
com o seu rendimento lícito. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado
todos os bens: (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o
benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação
irrisória, a partir do início da atividade criminal. (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do
patrimônio. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por
ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. (Incluído pela Lei
nº 13.964, de2019)
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os
bens cuja perda for decretada. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias
deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde
tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem
pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento denovos crimes. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 92 - São também efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: (Redação
dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior
a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração
Pública; (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4
(quatro) anos nos demais casos. (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
II – a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da
curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do
mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado;
(Redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018)
III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a
prática de crime doloso. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de11.7.1984)
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente
declarados na sentença. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O artigo 91-A do Código Penal foi trazido pelo Pacote Anticrime. Fique atento!

Os artigos 91 e 92 tratam dos efeitos da condenação, efeitos genéricos e específicos


respectivamente, que são os denominados efeitos extrapenais.

Efeitos Penais

Os penais são aqueles mais óbvios na sentença.

Os principais penais são a imposição de pena privativa de liberdade, restritiva de direito,


pecuniária ou medida de segurança ao semi-imputável.
Os secundários penais são os efeitos acessórios ou indiretos. Como, por exemplo:

▪ Caracterização da reincidência;
▪ Configuração de maus antecedentes;

▪ Interrupção do prazo prescricional;

▪ Conversão da PPL em PRD;

▪ Impossibilidade de concessão de transação penal, suspensão condicional do processo eANPP.

Efeitos Extrapenais

⮚ Genéricos (artigo 91 do CP)


Para a maioria da doutrina (Cleber Masson) os efeitos genéricos seriam automáticos,
interpretando-se a contrário senso o parágrafo único do artigo 92.

Se os efeitos específicos, não são automáticos porque o parágrafo único assim expresso, e se em
relação aos efeitos genéricos o artigo 91 nada fala, é porque eles são automáticos, assim, decorrem de
lei.

⮚ Específicos (artigo 92 do CP)


4. Confisco Alargado:
O artigo 91 traz duas possibilidades de confisco. O primeiro o confisco do produto ou
instrumento do crime, ou seja, o confisco recai diretamente sobre ele. E depois, no § 1º, há o
confisco pela equivalência, que nesse caso o confisco não recai propriamente sobre o produto ou
instrumento do crime, mas em valores equivalentes a ele.

E o PAC trouxe a noção do que a doutrina denominou confisco alargado, que está previsto no
artigo 91-A do Código Penal.

Artigo 91-A do CP:

Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6
(seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens
correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível
com o seu rendimento lícito. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado
todos os bens: (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o
benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante
contraprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal. (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a
procedência lícita do patrimônio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por
ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. (Incluído pela Lei
nº 13.964, de2019)
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os
bens cuja perda for decretada. (Incluído
pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias
deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde
tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a
ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

O caput desse artigo é extremamente polêmico. Há posicionamento que o trata como


inconstitucional, porque é uma presunção de que esse descompasso aparente entre o patrimônio do
condenado e o que seria compatível com seu regimento lícito que isso seria equivalente ao produto ou
proveito do crime. Assim, são presunções, segunda Marcos Paulo Dutra, que levariama um confisco.
Os tribunais superiores não se debruçaram sobre isso ainda.

A maioria da doutrina entende que é viável o que é trazido pelo caput do artigo 91-A do CP e
que é constitucional.
Questão:
Há uma gradação. Quando é identificado e apreendido o instrumento do crime ou o produto do
crime é um confisco muito mais simples.
No segundo degrau, não é possível colocar a mão no proveito do crime e nem no instrumento
do crime, mas se tem o acesso ao patrimônio do sentenciado para buscar valores equivalentes a eles.
O terceiro degrau é justamente o confisco alargado do artigo 91-A do CP, que não é nem o
produto do proveito do crime, não é o valor equivalente, mas é sim um descompasso patrimonial entre
o que o sentenciado tem e do que ele deveria ter de patrimônio lícito.
Requisitos para o Confisco Alargado

a) Condenação a crimes com pena máxima cominada seja superior a 06 (seis) anos dereclusão;
b) Incompatibilidade do patrimônio do condenado com o rendimento ilícito

Inversão do Ônus Probatório

§ 2º do artigo 91-A do CP: “§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da


incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio. “
O professor Renato Brasileiro diz que não é inversão do ônus da prova, e sim uma mera
faculdade. Tanto é que o legislador fala o condenado poderá demonstrar.
Para a grande parte dos que ja debruçaram na doutrina sobre o PAC, não há propriamente uma
mudança, uma novidade aqui. Isso já seria a distribuição original do ônus probatório.
Da mesma forma que se alega legítima defesa, quem alega tem que provar, se a pessoa alega
que seu patrimônio é lícito, proporcional aos seus ganhos lícitos, ela tem que provar também. Não
haveria propriamente uma inversão do ônus probatório, porque esse ônus já seria do acusado.
Assim, para a grande maioria não há inversão do ônus probatório.

5. Reabilitação
Está previsto nos artigos 93 a 95 do Código Penal.

Artigos 93 a 95 do CP:

CAPÍTULO VII - DA REABILITAÇÃO


Reabilitação
Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao
condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da
condenação, previstos no art. 92 deste Código, vedada reintegração nasituação anterior, nos casos
dos incisos I e II do mesmo artigo. (Redaçãodada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 94 - A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que for extinta, de
qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e o
do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o condenado: (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - tenha tido domicílio no País no prazo acima referido; (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de
bom comportamento público e privado; (Redação dada pela Lei nº 7.209,de 11.7.1984)
III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta
impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da
vítima ou novação da dívida. (Redação dada pelaLei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido
seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários. (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Art. 95 - A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o
reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Natureza

Medida de política criminal assecuratória do sigilo dos antecedentes criminais e da suspensão de


determinados efeitos secundários extrapenais.
Requisitos

▪ Transcurso de mais de 02 (dois) anos desde a extinção da pena pelo cumprimento;

▪ Ressarcimento do dano, salvo se tenha demonstrado a absoluta impossibilidade de fazê-lo;

▪ Domicílio no país;

▪ Bom comportamento público e privado.

Revogação

Artigo 95 do Código Penal: “Art. 95 - A reabilitação será revogada, de ofício ou a


requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão
definitiva, a pena que não seja de multa. “

6. Medidas de Segurança
Diferenças em relação à pena:
Espécies de Medida de Segurança
▪ Detentiva – internação

▪ Restritiva – tratamento ambulatorial


Artigo 97 do Código Penal.
Artigo 97 do CP:

Imposição da medida de segurança para inimputável


Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato
previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Duração da Medida de Segurança

A indeterminação cessaria quando cessasse igualmente a periculosidade.

E o limite máximo?

Correntes:

1. Limite de 40 anos (artigo 75 do CP)

Artigo 75 do CP:

Limite das penas


Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40
(quarenta) anos. (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40
(quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo. (Redação
dada pela Lei nº13.964, de 2019)
§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova
unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido. (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

2. Limite de pena máxima cominada para o delito

6. Questões

1. (CODEVASF – Assessor Jurídico) Com relação ao direito penal, julgue o item a seguir.
Um dos efeitos da condenação é a possibilidade de decretação de perda, como produto ou
proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do
condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento
lícito, devendo o juiz declarar, na sentença condenatória, o valor da diferença apurada.
GABARITO: CERTO

Temos aqui uma das grandes novidades da Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrime): o confisco
alargado.
Segundo Vladimir Aras, o confisco alargado “é uma medida estatal que transfere ao Estado o
domínio sobre uma parte ou a totalidade do patrimônio do condenado pela prática de um crime do
catálogo que se mostre incompatível com seus rendimentos lícitos, fazendo cessar os direitos reais e
obrigacionais que sobre ele incidissem” (ARAS, Vladimir. Pacote Anticrime. Vol. 1. Ed: Conselho
Nacional do Ministério Público, 2020, p. 374).
Sob o enfoque legal, o art. 91-A do CP estabelece que “Na hipótese de condenação por infrações às
quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda,
como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do
patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. “
É importante dizer que o item foi um tanto quanto genérico, pois não mencionou que, para fins de
confisco alargado, é necessário que a infração a qual o agente está sendo condenado comine pena
máxima superior a 6 seis anos de reclusão. De qualquer forma, a parte final da questão reproduz o
teor do § 4º deste mesmo dispositivo, o qual prevê que cabe ao juiz, na sentença condenatória, declarar
o valor da diferença apuradae especificar os bens cuja perda for decretada.
Todavia, é preciso ter em mente que a perda aqui mencionada deverá ser requerida expressamente
pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença
apurada (§ 3º, do art. 91-A). Com efeito, nos casos em que cabe, deve o promotor descrever a conduta
criminosa (imputação criminal) e, também, indicar os bens do autor que acredita não serem
compatíveis com o seu patrimônio lícito (imputação patrimonial). Renato Brasileiro alerta para a
importância de serem feitas investigações patrimoniais, nas quais se deve fazer o rastreamento dos
ativos com o intuito precípuo de recuperá-los

2. (Prefeitura de Areal-RJ – Procurador Municipal) Segundo a teoria penal, a pena tem, além do
punitivo, o caráter pedagógico, este que é obliterado no desenvolvimento das relações de poder,
em um Estado onde o imperativo moral é o vigiar e o punir. Assim sendo, sobre a reabilitação do
Código Penal é INCORRETO afirmar:
A) A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao condenado o
sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação.
B) A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que for iniciada.
C) Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido seja instruído com
novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários.
D) A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for
condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa.
GABARITO: LETRA B

A) CORRETA. A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença


definitiva, assegurando ao condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação,
conforme art. 93 do CP.
B) ERRADA. reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em
que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de
prova da suspensão e o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o
condenado: tenha tido domicílio no País no prazo acima referido; tenha dado, durante esse tempo,
demonstração efetiva e constante de bom comportamento público e privado; tenha ressarcido o dano
causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba
documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida, de acordo com o art. 94 do CP.
O bom comportamento deve seguir durante todo o processo de reabilitação, e não somente no período
de2 anos necessário para fazer o pedido (NUCCI, 2014, p. 456).
C) CORRETA. Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde
que o pedido seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários, de
acordo com o art. 94, §único do CP.
D) CORRETA. A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do
Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena
que não seja de multa, de acordo com o art. 95 do CP.

3. (MPE-CE – Analista Ministerial) Acerca da ação penal, de causas de extinção da punibilidade e da


imposição de medidas de segurança, julgue o item subsequente.
O Código Penal estabelece que a desinternação ou a liberação de agente inimputável, pelo juiz,
será sempre condicional.
GABARITO: CERTO

As medidas de segurança são um tipo de sanção para as pessoas consideradas inimputáveis ou semi-
imputáveis, sendo assim, as sentenças serão condenatórias
impróprias, pois não impõem pena privativa de liberdade, mas pode propor tratamento ambulatorial ou
internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou outroestabelecimento adequado.
O artigo 97, §3º do Código Penal afirma que a desinternação, ou a liberação, será sempre condicional
devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 1 ano, pratica fato
indicativo de persistência de sua periculosidade. Analisando a questão, percebe-se que está correta,
pois traz a letra da lei quando afirmaque a desinternação ou liberação será sempre condicional.

4. (Prefeitura de Itajaí-SC – Assistente Jurídico) Quando não se tratar de crimes praticados com abuso
de poder ou violação de dever para com a Administração Pública, é correto afirmar que a perda de
cargo, função pública ou mandato eletivo corresponde também a efeito da condenação quando for
aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a:
A) 12 meses.
B) 2 anos.
C) 4 anos.
D) 5 anos.
E) 8 anos.

GABARITO: LETRA C

De acordo com os dispositivos constantes do artigo 92, inciso I, alínea “a", do CódigoPenal:
“Art. 92 - São também efeitos da condenação:
I- a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano,
nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos
nos demais casos. (...)".
A situação descrita no enunciado da questão se enquadra de modo perfeito à norma contida na alínea
“b", do inciso I, do artigo 92, do Código Penal.
Com efeito, do cotejo entre o narrado no enunciado, a norma pertinente e as alternativas constantes
dos itens da questão, conclui-se que a alternativa correta é a contida no item (C).
5. (DPE-BA) Consoante o entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça sobre a execução da
pena, “A ausência de suspensão ou revogação antes do término do período de prova
enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena."
A alternativa que preenche, corretamente, a lacuna do trecho acima é
A) do indulto
B) da comutação
C) do indulto de natal
D) do livramento condicional
E) da saída temporária de natal GABARITO:
LETRA D
A questão tem como tema súmula do Superior Tribunal de Justiça relativa a um dos institutos
mencionados nas alternativas apresentadas. O objetivo da questão é identificar o instituto que
complementa o texto da súmula contido no enunciado.
Trata-se da súmula 617 do Superior Tribunal de Justiça, que consigna entendimento a respeito do
instituto do livramento condicional. Por ela, o STJ posiciona-se pela possibilidade de extinção da
punibilidade em face do integral cumprimento da pena, sempre que, antes do término do período de
prova, não seja prolatada nenhuma decisão de suspensão ou de revogação do benefício do livramento
condicional. Este entendimento tem como fundamento o artigo 90 do Código Penal. Assim sendo,
estando um condenado em gozo do benefício do livramento condicional, e vindo a praticar nova
infração penal, deverá ser observado o disposto no artigo 145 da Lei de Execução Penal,
suspendendo-se o curso do livramento condicional, que somente poderá ser revogado após o trânsito
em julgado da sentença ou acórdão condenatório respectivo. Caso não tenha sido este o procedimento
adotado pelo juiz da execução, decorrendo o período de prova sem revogação ou suspensão, deverá
ser declarada extinta a punibilidade da pena em execução, não sendo possível a revogação do
benefício do livramento condicional após o decurso do prazo do período de prova, sem que tenha
havido a devida suspensão dele anteriormente.

6. (MPE-MG – Promotor) Marque a alternativa incorreta:


A) A extinção da punibilidade do crime principal não se estende ao crime acessório.
B) São efeitos automáticos da condenação tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo
crime, e a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes
dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem
igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra
tutelado ou curatelado.
C) Nos termos da Lei n° 7.716/1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor,
constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a
suspensão do funcionamento do estabelecimento particular porprazo não superior a 3 (três) meses; no
entanto, tais efeitos não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença.
D) É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou
inferior a 4 (quatro) anos, se favoráveis as circunstâncias judicias.
GABARITO: LETRA B

(A) - Nos expressos termos do artigo 108 do Código Penal, "A extinção da
punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro
não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede,
quanto aos outros, a agravação da penaresultante da conexão". Sendo assim, a assertiva contida neste
item está correta.
(B) - A "incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos
crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo
poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado", são efeitos
previstos no artigo 92 do Código Penal, e não são efeitos automáticos da sentença condenatória, nos
termos do parágrafo único do mencionado dispositivo, que tem a seguinte redação: "Os efeitos de que
trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença".
(C) - Nos termos explícitos do artigo 16 da Lei nº 7.716/1989 (Lei que define os crimes
resultantes de preconceito de raça ou de cor), "constitui efeito da condenação a perda do cargo ou
função pública, para o servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento
particular por prazo não superior a três meses." Sendo assim, a assertiva contida neste item está
correta.
(D) - De acordo com a súmula nº 269 do STJ, "é admissível a adoção do regime
prisional semi-aberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se
favoráveis as circunstâncias judiciais". Sendo assim, a assertiva contida nesteitem é verdadeira.
7. (TJ-AM – Oficial de Justiça) Julgue o próximo item, relativos a pena, sua aplicação e a medidas de
segurança.
É possível submeter o agente inimputável a tratamento ambulatorial se o ato criminoso por ele
praticado for punível com pena de detenção.
GABARITO: CERTO

A medida de segurança é a modalidade de sanção penal a ser aplicada ao doente mentalinimputável que
pratique fato típico e ilícito. É importante salientar que nem todos os doentes mentais são
inimputáveis, dado que o ordenamento jurídico brasileiro, neste aspecto, adotou o sistema ou critério
biopsicológico, em função do qual não basta serdoente mental, exigindo-se também que, no momento
da ação ou omissão, o agente não tenha nenhuma capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou
não tenha nenhuma capacidade de se comportar de acordo com este entendimento, nos termos do
artigo 26 do Código Penal. Se esta for a situação, o juiz aplicará ao réu a medida de segurança, que
pode consistir em internação ou em tratamento ambulatorial. Nos termos do artigo 97 do Código
Penal, a medida de segurança consistirá em princípio em internação, sendo que o juiz poderá aplicar
o tratamento ambulatorial se o fato típico e ilícito praticado pelo agente for apenado com pena de
detenção.

8. (MPE-GO – Promotor de Justiça) De acordo com o Código Penal, é incorreto afirmar sobre o
instituto da reabilitação:
A) A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao condenado o
sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação.
B) A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 5 (cinco) anos do dia em que for extinta, de qualquer
modo. a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do
livramento condicional, se não sobrevier revogação.
C) A impossibilidade de ressarcimento do dano causado pelo crime não impede a obtenção do benefício,
desde que o condenado comprove a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba
documento que comprove a renúncia da vítimaou novação da dívida.
D) A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for
condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa.
GABARITO: LETRA B

A) Está incorreta porque ela é a literalidade do Artigo 93, caput, do Código Penal.
B) É a única correta. Conforme o Artigo 94, caput, do Código Penal, "a reabilitação poderá ser
requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar
sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não
sobrevier revogação, desde que o condenado".
C) está incorreta porque está prevista no Artigo 94, III, do Código Penal.
D) está incorreta de acordo com o Artigo 95, do Código Penal.

9. (TJ-SC – Juiz) Conforme o Código Penal e a legislação aplicável, constitui efeito automático da
condenação criminal, que independe de expressa motivação em sentença,
A) nos casos de crime doloso sujeito à pena de reclusão cometido contra filho, tutelado ou curatelado, a
incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela.
B) nos casos de crimes praticados com violação de dever para com a administração pública, a perda de
cargo ou função pública, quando aplicada pena privativa de liberdade igual ou superior a um ano
C) nos casos de servidor público condenado pela prática de crime resultante de discriminação ou
preconceito de raça, cor, religião ou procedência nacional, a perda do cargo ou da função pública.
D) nos casos de condenação pela prática de crime falimentar, a inabilitação para o exercício de atividade
empresarial, pelo prazo de cinco anos após a extinção da punibilidade.
E) no caso de servidor público condenado pela prática de crime de tortura, a perda do cargo ou da
função pública e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
GABARITO: LETRA E
(A) Não é automático. Art. 92, II, parágrafo único do CP.
(B) Não é automático. Art. 92, I, “a” e parágrafo único do CP.
(C) Não é automático. Arts. 16 e 18 da Lei 7.716/89.
(D) Não á automático. Art. 181, §1º da lei 11.101/05.
(E) É automático. Art. 1º, §5º, lei 9.455/97
Consoante já decidiu o STJ, nos crimes de tortura, a perda do cargo ou da função pública e a
interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada constituem efeitos
automáticos da condenação criminal, sobre os quais não se exige expressa motivação em sentença.
Senão vejamos:
A determinação da perda de cargo público fundada na aplicação de pena privativa de liberdade
superior a 4 anos (art. 92, I, b, do CP) pressupõe fundamentação concreta que justifique o cabimento
da medida. (...) Por fim, registre-se que o tratamento jurídico-penal será diverso quando se tratar de
crimes previstos no art. 1º da Lei 9.455/1997 (Lei de Tortura). Isso porque, conforme dispõe o § 5º do
art. 1º deste diploma legal, a perda do cargo, função ou emprego público é efeito automático da
condenação, sendo dispensável fundamentação concreta. STJ, REsp 1.044.866- MG, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 2/10/2014 (Info 549).

10. (DPE-MG – Defensor Público) Segundo o entendimento que prevalece na jurisprudência, o


reconhecimento judicial da prática de falta disciplinar grave gera o seguinte efeito em relação à
contagem do estágio da progressão de regime e do livramento condicional:
A) Interrompe a contagem do estágio da progressão de regime e do livramento condicional.
B) Não interrompe a contagem dos estágios da progressão de regime ou do livramento condicional.
C) Interrompe a contagem do estágio da progressão de regime, porém não a do livramentocondicional.
D) Não interrompe a contagem do estágio da progressão de regime, mas, sim, a do livramento
condicional.
GABARITO: LETRA C

Em face do reconhecimento judicial da prática de falta disciplinar grave, pode-se interromper a


contagem do prazo para progressão de regime, mas não se mostra possível tal interrupção de prazo no
caso do livramento condicional.
Nesse sentido:
Súmula 534/STJ - A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo paraa progressão de
regime de cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração.
Súmula 441/STJ – A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional.

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