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PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

PROCESSO nº 0101942-24.2016.5.01.0079 (RO)


RECORRENTE: MAURICIO PESSANHA DA SILVA
RECORRIDO: SINDICATO NAC DOS TRAB EM ATIVID SUBAQUATICAS E AFINS
RELATOR: MARCOS DE OLIVEIRA CAVALCANTE

EMENTA
EXPULSÃO DO QUADRO DE ASSOCIADOS DE SINDICATO.
ILEGALIDADE. Ao ser interpelado sobre a ilegalidade da expulsão de
associado, incumbe ao Sindicato provar a violação às regras estatutárias.
As divergências com as decisões da Diretoria não implicam ato lesivo ao
ente sindical ou à categoria. Ademais, diante da unicidade sindical,
preceito não alterado pela reforma trabalhista, a expulsão do trabalhador só
pode ocorrer em situações gravíssimas, pois tal decisão o deixará sem
qualquer representatividade.

RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário nº


TRT-RO-0101942-24.2016.5.01.0079, em que são partes: MAURICIO PESSANHA DA SILVA,como
recorrente, e SINDICATO NAC DOS TRAB EM ATIVID SUBAQUATICAS E AFINS, como
recorrida.

Trata-se de Recurso Ordinário interposto pelo reclamante no ID 7733c5c


em face da sentença proferida no ID 8e0efbe pelo Juiz do Trabalho José Saba Filho, da 79ª Vara do
Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou improcedente o pedido.

Contestação no ID 1590543.

Ata de audiência no ID's b63bc19.

O recorrente sustenta, em síntese, que seria ilegal sua expulsão dos


quadros do Sindicato, porquanto violado o Estatuto.

Preparo no ID 92a02c5.
Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: MARCOS DE OLIVEIRA CAVALCANTE
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Contrarrazões no ID e7488e8, com preliminar de deserção.

Os autos não foram remetidos à Douta Procuradoria do Trabalho por não


ser hipótese de intervenção legal (Lei Complementar nº 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício
PRT/1ª Reg. nº 88/2017-GAB, de 24/03/2017.

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

ADMISSIBILIDADE

DA PRELIMINAR DE DESERÇÃO - REJEITO

Pugna o recorrido pelo não conhecimento do recurso em virtude de o autor


não ter efetuado o depósito dos honorários advocatícios a que fora condenado a ressarcir, diante da
improcedência do pedido. Invoca o entendimento contido na Súmula 161 do C.TST.

Rejeito.

Eis o teor da referida Súmula:

DEPÓSITO. CONDENAÇÃO A PAGAMENTO EM PECÚNIA (mantida) - Res.


121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

Se não há condenação a pagamento em pecúnia, descabe o depósito de que tratam os §§


1º e 2º do art. 899 da CLT (ex-Prejulgado nº 39).

É certo que a condenação do vencido no pagamento de honorários


advocatícios constitui uma condenação em pecúnia. Porém, no caso, o recolhimento dos honorários não
constitui pressuposto recursal pela natureza da verba. Neste sentido, destaca-se decisão do C.TST:

RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI 11.496/2007. AÇÃO DE


COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO
COM CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INEXIGIBILIDADE
DE DEPÓSITO RECURSAL. Discute-se a necessidade de comprovação do pagamento
do depósito recursal para fins de interposição de recurso ordinário interposto em face de
sentença que, ao julgar improcedente o pedido de contribuições sindicais nos autos de
ação de cobrança formulado pelo sindicato, deferiu pedido de honorários advocatícios no
importe de 10% sobre o valor atribuído à causa. Atualmente, prevalece o entendimento de
que a natureza jurídica do depósito recursal é garantir a execução numa reclamatória
trabalhista de natureza alimentar, e que os honorários advocatícios revestem-se de mero
consectário da sucumbência, não integrando a condenação para efeito da garantia do
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juízo, sendo um contrassenso exigir que este depósito seja feito em nome de sindicato,
que está juridicamente impossibilitado de ser titular de conta de FGTS. Há precedentes da
SBDI-1. Recurso de embargos conhecido e não provido.(Processo: E-RR -
0001495-79.2010.5.03.0015 Data de Julgamento: 03/04/2014, Relator Ministro Augusto
César Leite de Carvalho, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de
Publicação: DEJT 11/04/2014)

Rejeito a preliminar de deserção e conheço do recurso, por atendidos os


pressupostos de admissibilidade.

MÉRITO

DA EXCLUSÃO DO QUADRO DE ASSOCIADOS DO SINDICATO - DOU


PROVIMENTO

O recorrente alega que a r. Sentença deveria ser reformada por não ter
apreciado corretamente as questões de fato e de direito. Sustenta que o sindicato violou o estatuto, mais
especificamente a regra contada no parágrafo 4º do artigo 9º, pois não fora notificado a comparecer a
nenhuma audiência. Acrescenta que, apesar de ter sido notificado para apresentar defesa escrita, tendo
respondido às acusações, tem o direito de acessar o judiciário para garantir seu direito, observados o
contraditório e a ampla defesa, com base no artigo 5º, incisos XXXV e LV da CRFB. Sustenta que o
Sindicato não trouxe aos autos prova dos alegados "atos lesivos e contrários ao estabelecido no estatuto
do sindicato de classe". Reafirma que a notificação está eivada de vício, porquanto assinada por pessoa
sem representatividade para tanto.

Eis o teor da decisão ora recorrida:

1. Pretende a parte autora, em apertada síntese, que seja reincluído no quadro de


associados do réu, bem como seja autorizado a participar dos pleitos eleitorais.

2. Insurge-se o demandado, também em apertada síntese, refutando integralmente a


pretensão autoral.

3. Extrai-se do conjunto probatório que o acionante foi regularmente notificado pelo


acionado para apresentar defesa escrita, tal como preconiza o Estatuto da categoria em
seu art. 9º, IV (Ids. 4533614 - Pág. 4, 261b347 e b5da583).

4. Destarte, não há falar em violação aos princípios da ampla defesa e do contraditório e,


tampouco, em nulidade da sanção que lhe foi aplicada, tendo em vista que lhe foi
devidamente oportunizada a defesa, enquanto a punição encontra-se prevista no estatuto,
não se vislumbrando qualquer ilegalidade que haja sido cometida pelo réu, que, ao revés,
atendeu aos ditames estatutários.

5. Não procede o pleito de nulidade da exclusão do quadro sindical e, por ancilar, não
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procede o pleito de reintegração.

Analiso.

O recorrente ajuizou ação em face do sindicato a que era filiado para


pleitear a declaração de nulidade de sua exclusão, postulando imediata reintegração aos quadros de
associados. Eis a causa de pedir:

Ressalta o autor que foi contratado pela empresa SERVIÇOS MARÍTIMOS


CONTINENTAL LTDA em , na função de mergulhador RASO B, sendo que também
sempre 07/12/2004 foi associado do réu, desde a data julho de 2003.

Insta destacar que o contrato de trabalho do autor, se encontra suspenso deste sua
aposentadoria por invalidez acidentária em 22/03/2008, por causa do acidente de
trabalho, junto ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) desde a data (doc. anexos).

Ocorre que em 17/03/2016, o autor recebeu do réu uma notificação extrajudicial,


explicitando que "em razão de reiterados atos lesivos e contrários ao estabelecido no
estatuto deste sindicato, que representa nacionalmente a categoria profissional.
diferenciada dos trabalhadores em atividades subaquáticas e afins (...)". Ou seja, sem que
imputasse e comprovasse qualquer fato que o autor tivesse praticado, além de não
mencionar local, data, ou quaisquer ofensas etc.

Assim, em resposta a notificação, o autor em 24/03/2016 enviou e-mail para o réu, apenas
mencionando que o representante vice-presidente (Souza Teixeira), que assinou a referida
notificação, era integrante da gestão 2013-2016, e não da gestão que a legitimou em
2010/2013, conforme mostra a notificação. (doc. Anexo).

Destaca ainda o autor que o estatuto do referido sindicato, preconiza em seu artigo 9ª,
§4º, que "a aplicação das penalidades sob pena de nulidade deverá proceder a audiência
do associado (...)", sendo assim, foi violado este dispositivo, haja vista, que na data de
14/04/2016, o autor recebeu do réu outra notificação, comunicando que aquele estava
excluído dos quadros de associados ao SINTASA, tendo inclusive com este ato, obstado
que o autor pudesse participar das eleições sindicais, do ano de 2016.

Importante ainda ressaltar que o autor jamais foi notificado, para comparecer a qualquer
assembleia sindical.

Assim, deverá ser CONCEDIDO LIMINARMENTE A TUTELA DE URGÊNCIA, para


que o réu seja obrigado, a fazer a REINTEGRAÇÃO do autor nos quadros do sindicato
réu (SINTASA), inclusive deferindo a participação do autor nas eleições sindicais do ano
de 2016, e nas eleições posteriores, haja vista, que conforme mencionado acima, o autor
está sendo prejudicado nos seus direitos de associado, sob pena de multa diária no valor
de R$ 1.000,00 (um mil reais).

Em defesa, o sindicato afirmou que cumpriu os ditames do Estatuto para o


procedimento de exclusão do associado. Sustenta que o contraditório foi garantido, mas que o autor optou
por se defender por mensagem eletrônica, meio inadequado, e que se ateve a questionar objeto que não
guardava nenhuma relação com as questões contidas na notificação extrajudicial. Sobre a conduta do
autor, afirma que ele, "de forma desmedida e infundada passou a lançar diuturnamente em redes sociais
informações levianas e sem qualquer senso de responsabilidade". Destaca decisão proferida pelo Juízo da
1º Vara de Macaé, que condenou ora autor como litigante de má-fé.

A notificação extrajudicial se encontra no ID 261b347. O sindicato narrou


os motivos que levavam ao procedimento de expulsão e conferiu ao associado um prazo de dez dias para,
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querendo, apresentar defesa escrita que deveria ser postada, via correios, com aviso de recebimento. O
documento foi assinado pelo senhor Jairo Souza Teixeira, vice-presidente. Eis as razões apresentadas pelo
Sindicato:

Ao longo de 06 (seis) anos, o NOTIFICADO, vem adotando conduta que atenta contra a
dignidade da DIRETORIA eleita em regular processo eleitoral, visando macular a
imagem e honra do NOTIFICANTE, lançando em redes sociais e correios eletrônicos
informações ardilosas e maledicentes de forma veemente e gratuita.

Insinua e estimula o conflito entre trabalhadores e integrantes da categoria profissional,


com o propósito único de semear dúvida sobre a conduta da atual Diretoria, sem qualquer
elemento convincente e/ou prova cabal, e, portanto, sem qualquer responsabilidade social.

(...)

Nem se diga que a conduta do NOTIFICADO seria justificada por uma posição opositor,a
já que esta é bem vinda, mas deve ser revestida de lealdade e verdade, princípios não
evidenciados na conduta empregada pelo notificado.

(...)

O NOTIFICADO propõe a divisão, a separação, acarretando o enfraquecimento da força


conjunta que possui o trabalhador.

A resposta se encontra no ID b5da583 e foi enviada por correio eletrônico.


O autor alegou a ilegitimidade do vice-presidente para assinar a notificação, nos seguintes termos:

"O SINDICATO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM ATIVIDADES


SUBAQUÁTICAS E AFINS SINTASA, doravante denominado, NOTIFICANTE,
pessoa jurídica inscrita no CNPJ sob o nº 30.012.447/000141, sediada na Avenida
Franklin Roosevelt, nº 115, Grupo 1024, Centro Rio de Janeiro RJ CEP 200.21120, neste
ato, legitimamente representado por sua Diretoria eleita para o triênio 2010-2013,
vem respeitosamente a presença do Sr. Mauricio Pessanha da Silva, doravante
denominado, NOTIFICADO, apresentar a presente, NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL,
em razão de atos lesivos e contrários ao estabelecido no ESTATUTO deste Sindicato, que
representa nacionalmente a categoria profissional diferenciada dos trabalhadores em
atividades subaquáticas e afins, pelo que articuladamente passa a expor."

Observamos que o documento encaminhado foi ASSINADO pelo atual Vice Presidente
JAIRO SOUZA TEIXEIRA (Gestão 2013-2016) e não pelo Vice Presidente que
LEGITIMOU O ATO, Mário César da Silva (Gestão 2010-2013).

Diante da ciência dada a Categoria Profissional, por este sindicato, sobre o afastamento
do Sr. Mário César da Silva (Vice Presidente SINTASA 20102013) de suas funções junto
a este sindicato no ano de 2013, resta prescrita tal LEGITIMAÇÃO erroneamente
apontada acima! (grifo original)

Respondendo à notificação, afirmou também que solicitara


esclarecimentos sobre os gastos do sindicato, que teria gasto mais de R$3.000.000,00 com assistência
social de apenas 169 associados; que requereu cópias das fichas de qualificação profissional dos
candidatos à eleição de 2013-2016; que o estatuto do sindicato não se encontrava no "site" e na página do
"facebook"; que em ação anterior ficou estabelecido que o fato de o trabalhador estar aposentado por
invalidez não suspenderia a participação no sindicato.

A ata da reunião da diretoria ocorrida em 4 de abril de 2015 encontra-se no

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ID 67fb315. Nela consta a ciência do "e-mail" enviado pelo autor, registrando-se a irregularidade da
forma de comunicação, ao arrepio do regulamento interno. Decidiu-se pela expulsão, com a concordância
de todos os dez diretores presentes.

Vejamos se houve erro de procedimento.

Não prospera a alegação do autor de que deveria ser convocado para uma
audiência. Assim determina o Estatuto:

art.9º. Os associados estão sujeitos às penalidades de suspensão e de eliminação do


quadro social.

(...)

§3º - As penalidades serão impostas pela Diretoria.

§4º - A aplicação das penalidades, sob pena de nulidade, deverá preceder a audiência do
Associado, o qual deverá aduzir por escrito sua defesa no prazo de 10 (dez) dias,
contados do recebimento da notificação (ID 4533614)

Observa-se que o termo "audiência" está empregado no sentido de


oportunizar a defesa que, no caso, seria escrita, e não uma reunião presencial.

A nulidade apontada, com relação ao fato de constar na notificação que o


Sindicato estava representado pela diretoria eleita para o triênio 2010/2013 se trata de evidente erro
material, já que o documento foi produzido em 2016. O documento que se encontra no ID 3c094a0
noticia que o Senhor Jairo Souza Teixeira foi eleito vice-presidente no triênio 2013-2016.

Temos, portanto, que o autor não se defendeu na forma definida pelo


sindicato e contida na notificação. Portanto, não houve erro de procedimento no ato de expulsão. Resta
apreciar a questão da legalidade da decisão da diretoria.

Sobre os desentendimentos do autor com o sindicato, é válido destacar


decisão proferida nos autos da ação por ele ajuizada (RTOrd 00007098-29.2014.5.01.0281). Após a
prolação da sentença, tendo sido julgado improcedente o pedido de anulação da eleição para o sindicato, o
Juízo teve ciência de que o autor enviou à advogada do sindicato uma gravação do áudio da audiência,
com comentários indelicados ao final. Registrou a Juíza que, no dia da audiência, considerando foi
negado a um repórter gravar o ato, foi perguntado ao autor se ele estaria fazendo o registro, ao que
respondeu negativamente. Transcrevo parte do despacho da Juíza Neila Costa de Mendonça:

Compulsando os autos, verifica-se que este comportamento do autor é reiterado. Em outra


oportunidade, o reclamante pegou processo na Secretaria da Vara, sem qualquer
permissão, escreveu no verso de fls.162, tendo sido advertido pela diretora da Vara a
respeito do artigo 161 do CPC (atual art. 202 do NCPC) e que deveria utilizar a via
adequada caso estivesse insatisfeito. Em seguida, tentou retirar os autos do cartório para
realização de cópia, tendo sido impedido pela serventuária, com base no art. 2º do Ato
51/2008 deste Egrégio. Diante da negativa, insistiu em levar o processo, alegando estar
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exercendo o jus postulando, embora houvesse advogados regularmente constituídos nos
autos. Por fim, insatisfeito, ligou a câmera do celular e começou a gravar e tirar fotos da
serventuária. Ao ser advertido de que não poderia adotar tal conduta, afirmou que "Não
precisa de preocupar, não vou expor você, e se fizer isso, você sabe que pode me
processar, é apenas para identificar a pessoa" (certidão às fls.163 dos autos).

Não há dúvidas de que as atitudes tomadas pelo reclamante no curso da


ação anterior são reprováveis, tanto que lhe foi aplicada multa por litigância de má-fé.

Contudo, o sindicato não provou os fatos que justificariam a expulsão,


conforme exige o Estatuto:

Serão eliminados do quadro social os associados

a) que por má conduta, espírito de discórdia ou falta cometida contra o patrimônio moral
ou material do Sindicato, se constituírem em elementos nocivos a entidade.

Os elementos contidos nos autos demonstram que o autor tem problemas


com a ATUAL DIRETORIA DO SINDICATO, que permanece praticamente idêntica desde 2007 (ID
42533b1). Não há qualquer evidência de que o reclamante tenha atentado contra o patrimônio do
Sindicato, ou tenha enfraquecido sua categoria. É direito de qualquer associado interpelar o sindicato
sobre os gastos e o direito de ação é constitucionalmente assegurado. Incumbe ao Judiciário decidir quem
tem razão.

O trabalhador, ainda que aposentado por invalidez, não pode ser privado
de participar das atividades do seu sindicato e das decisões para sua categoria sem uma justificativa
razoável. Segundo laudo médico apresentado pelo réu, o autor tem grave déficit funcional da coluna
vertebral, tendo sido submetido a extensa cirurgia. Em razão disso, desenvolveu outros problemas físicos
e psicológicos, fazendo uso de remédios controlados (ID 772b703). A exclusão do quadro social do
sindicato, no momento mais difícil de sua vida, certamente não contribuirá para recuperação.

Também merece destaque o fato de que, diante da unicidade sindical,


preceito não alterado pela reforma trabalhista, a expulsão do associado só pode ocorrer em situações
gravíssimas, pois tal decisão o deixará sem qualquer representatividade. Ao trabalhador não é dada a
escolha de se unir a outro grupo sindicalizado, permanecendo totalmente à margem de sua categoria
profissional.

Ante o exposto, dou provimento ao recurso para, reformando a r.


Sentença, julgar procedente o pedido de reintegração ao quadro associativo do sindicato réu.

Defere-se o benefício da gratuidade de justiça ao trabalhador, diante da


declaração contida no ID aa53fe3.
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Conforme preconizam os incisos III e IV da Súmula 219 do C.TST,
condena-se o réu no pagamento de honorários advocatícios de 15% sobre o valor atualizado da causa, e ao
pagamento das custas de R$80,00, calculadas sobre R$4.000,00.

Acórdão
ACORDAM os Desembargadores que compõem a 6ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho
da 1ª Região, por unanimidade, rejeitar a preliminar suscitada em contrarrazões, conhecer do
recurso e, no mérito, dar-lhe provimento, para julgar procedente o pedido de reintegração ao
quadro associativo do sindicato réu, nos termos do voto do Exmo. Sr. Desembargador Relator.
Invertidos os ônus da sucumbência. O Desembargador Paulo Marcelo de Miranda Serrano
apresentou fundamentação diversa no tocante à unicidade sindical. Presente a Dra. Carla
Keiza S. Gomes.

Rio de Janeiro, 06 de março de 2018.

MARCOS DE OLIVEIRA CAVALCANTE


Desembargador Relator

arfc/

Votos

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