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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70083959577 (Nº CNJ: 0034316-34.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

APELAÇÕES CÍVEIS. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL.
RECURSO DA PARTE AUTORA. DESERÇÃO.
AUSÊNCIA DE REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE
RECURSAL. ART. 1.007, DO NCPC.
Se a parte não é beneficiária da assistência judiciária
gratuita, bem como deixa de comprovar que se enquadra
nas hipóteses de isenção legal, dúvida não há de que a
ausência do preparo ocasiona a deserção do recurso.
Exegese do artigo 1.007, caput, do CPC. Na espécie, não
há nos autos comprovante de pagamento do preparo da
apelação, mesmo após a devida intimação. Não se
conhece, portanto, do apelo da parte autora, por se
tratar de recurso deserto. Precedentes.
JUROS REMUNERATÓRIOS. Mostra-se possível a
limitação dos juros remuneratórios à taxa média do mercado
aferida pelo BACEN à época da contratação.
REPETIÇÃO DO INDÉBITO E COMPENSAÇÃO DE
VALORES. Cabimento da repetição do indébito, na sua
forma simples, e da compensação de valores pagos a maior,
mediante operação de revisão judicial das cláusulas
contratuais abusivas.
NÃO CONHECERAM DO APELO DA PARTE
AUTORA E NEGARAM PROVIMENTO AO APELO
DA PARTE RÉ.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70083959577 (Nº CNJ: 0034316- COMARCA DE SANTO ÂNGELO


34.2020.8.21.7000)

ONDINA BORGES MACHADO APELANTE/APELADO

VIA CERTA FINANCIADORA S. A. - APELANTE/APELADO


CREDITO, FINANCIAMENTO E
INVESTIMEN

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

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GJWH
Nº 70083959577 (Nº CNJ: 0034316-34.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em não conhecer do apelo da parte autora e
negar provimento ao apelo da parte ré.

Custas na forma da lei.


Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores
DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA E DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO.
Porto Alegre, 16 de dezembro de 2020.

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Relator.

RELATÓRIO

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)


Trata-se de apelações cíveis interposta por ONDINA BORGES
MACHADO e VIA CERTA FINANCIADORA S. A. - CREDITO, FINANCIAMENTO
E INVESTIMEN contra sentença julgou procedente a ação revisional, tendo a decisão o
seguinte dispositivo:
“ANTE O EXPOSTO, com fulcro no art. 487, inc. I, do
NCPC, JULGO PROCEDENTES os pedidos formulados por
Ondina Borges Machado na ação que moveu contra a Via
Certa Financiadora S. A. - Crédito, Financiamento e
Investimentos, para fixar os juros remuneratórios do
contrato de crédito bancário – empréstimo pessoal n.º
3136440 conforme a média prevista pelo BACEN para as
operações de crédito com recursos livres - pessoas físicas -
crédito pessoal não consignado, qual seja, 122,58% ao ano.
Em consequência, condeno a ré a repetir o pagamento
indevido, no valor total de R$ 1.409,40 (hum mil,
quatrocentos e nove reais com quarenta centavos), de modo
simples, devidamente corrigido pelo IGP-M a contar do
desembolso de cada parcela, com juros de mora de 1% ao
mês a contar da citação.

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Sucumbente, deverá a ré arcar com as custas processuais e


com os honorários ao procurador da autora, os quais fixo
em 15% sobre o valor atualizado da condenação, com
fundamento no que estabelece o artigo 85, §2º, do NCPC,
levando em consideração a natureza e o valor da causa,
bem como o trabalho desenvolvido.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se. “

Em suas razões recursais, a parte autora se limita sustentar que os honorários


sucumbenciais devidos em favor de seu patrono foram arbitrados valor irrisório, insuficiente
para a finalidade de remunerar pelo serviço prestado, pelo que postula a majoração e a
fixação de honorários recursais.

Por sua vez, a parte ré na ação revisional sustenta, em síntese, a legalidade


dos juros remuneratórios, bem como pede o afastamento da determinação repetição do
indébito, salientando que a parte autora não comprovou a quitação integral do débito. Requer
o provimento do apelo com a consequente redistribuição dos ônus sucumbenciais.

Subiram os autos, com as contrarrazões, vindo conclusos para julgamento.


Tratando-se o recurso da parte autora de recurso que versa exclusivamente
sobre majoração de honorários, sujeito a preparo, conforme dispõe a norma do art. 99, § 5º,
do CPC/2015.

Intimado o patrono da recorrente para comprovar a necessidade da


assistência judiciária gratuita ou realizar o recolhimento do preparo recursal, transcorreu in
albis o prazo concedido.
Tendo em vista a adoção do sistema informatizado, os procedimentos para
observância dos ditames do CPC foram simplificados, mas observados em sua integralidade.
É o relatório.

VOTOS
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Eminentes Colegas.
Da análise dos autos, observa-se que não deve ser conhecido o presente
apelo da parte autora.
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Sabidamente, a falta de comprovação de preparo na apelação, no prazo


devido, implica a deserção do recurso, conforme dispõe o artigo 1.007, caput 1, do
CPC/2015.
No caso, a parte apelante foi intimada para que comprovasse sua
hipossuficiência ou que realizasse o preparo recursal, abstendo-se de cumprir efetivamente a
determinação. Assim, alternativa não há ante a inadmissibilidade do apelo, não devendo ser
conhecido deste, posto que deserto.
Nesse sentido, precedentes:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO
ESPECIFICADO. AÇÃO MONITÓRIA. NÃO-
REALIZAÇÃO DO PREPARO DO RECURSO MESMO
APÓS INTIMAÇÃO. DESERÇÃO. Indeferido o benefício da
AJG nesta Corte e não efetuado o recolhimento do preparo
pelo apelante, mesmo depois de intimado para tal, não
merece ser conhecida a apelação, ante a deserção, nos
termos do artigo 1007, do CPC. APELAÇÃO NÃO
CONHECIDA. DECISÃO MONOCRÁTICA. (Apelação
Cível Nº 70077216919, Vigésima Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Walda Maria Melo Pierro,
Julgado em 12/07/2018)

APELAÇÃO CÍVEL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA.


AUSÊNCIA DE REQUISITO EXTRÍNSECO DE
ADMISSIBILIDADE. DESERÇÃO. I. A fim de preencher
integralmente os requisitos extrínsecos de admissibilidade,
deve o apelo vir acompanhado do respectivo preparo.
Inteligência do artigo 1.007 do CPC/2015. II. Caso em que
o pedido de concessão do beneplácito da gratuidade da
justiça, incluído nas razões recursais, foi indeferido em
decisão prévia do relator. No entanto, devidamente
intimado, nos termos do art. 99, §7º, do NCPC, o recorrente
deixou de proceder ao recolhimento das custas, o que
configura a deserção do recurso. Não conheceram do
apelo. Unânime. (Apelação Cível Nº 70077609535,
Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Dilso Domingos Pereira, Julgado em 11/07/2018)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.


DESERÇÃO. AUSÊNCIA DE PREPARO. AFRONTA AO
1
CPC/2015. Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido
pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de
deserção.
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ARTIGO 1.007 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. O


recurso deserto é inadmissível, pois não observa os
pressupostos objetivos recursais artigo 1.007, caput, e § 4º
do Código de Processo Civil. NÃO CONHEÇO DO
RECURSO. (Apelação Cível Nº 70078142486, Décima
Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Alzir Felippe Schmitz, Julgado em 13/07/2018)

Destarte, não estando a parte apelante isenta de preparo por força de lei,
dúvida não há de que o recurso da parte autora não deve ser conhecido, por deserto, nos
termos do artigo 1.007, caput, do CPC/2015.

Não obstante, preenchidos os requisitos de admissibilidade do apelo da parte


ré, conheço do mesmo.

Tocante à aplicação do Código de Defesa do Consumidor às relações


jurídicas que envolvem operações bancárias, a jurisprudência desta Corte e do STJ é pacífica
sobre a existência de relação de consumo entre o cliente e a instituição financeira, consoante
cristalizado no verbete sumular nº 297 do STJ, in verbis: O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras.
Destarte, considerando-se o disposto nos art. 6º, V e art. 51, VI, ambos do
CDC, mostra-se viável a revisão judicial das cláusulas contratuais.

Dos juros remuneratórios


No tocante à aplicação dos juros remuneratórios, a jurisprudência é pacífica
no sentido de que devem estes ser limitados à taxa média de mercado para a modalidade.
Essa média é disponibilizada mensalmente pelo BACEN, sendo parâmetro adequado à
análise contratual.
Nesse sentido, precedentes dessa Câmara:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO.
CRÉDITO EM CONTA CORRENTE. SENTENÇA DE
PARCIAL PROCEDÊNCIA. JUROS REMUNERATÓRIOS
Conforme entendimento do STJ, é possível a limitação dos
juros remuneratórios à taxa média de mercado, definida
pelo BACEN, quando presente abusividade, nos termos do
código de defesa do consumidor, ainda que vigente a lei nº

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4.595/64. No caso concreto, não tendo sido constatada


abusividade, deve ser mantida a sentença ora apelada.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS É possível a capitalização
dos juros, inclusive em periodicidade mensal, bastando
pactuação. No ponto, recurso provido. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA É válida a cláusula contratual que prevê a
cobrança da comissão de permanência, calculada pela taxa
média de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil,
de acordo com a espécie da operação, tendo como limite
máximo o percentual contratado (Súmula nº 294/STJ). Caso
concreto, todavia, em que não se observa a expressa
pactuação de comissão de permanência, razão pela qual
deve ser afastada a cobrança de tal encargo. JUROS DE
MORA E MULTA Juros moratórios de 1% ao mês e multa
de 2%, em consonância com a jurisprudência do STJ.
REPETIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DO INDÉBITO.
Possível a (eventual) compensação e/ou repetição de valores
pagos a maior, na forma simples, como vedação do
enriquecimento ilícito do credor e consequência inerente à
revisão contratual. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA
Havendo abusividade constatada no encargo cobrado no
curso da normalidade contratual, conforme entendimento
exarado pelo STJ, é possível a descaracterização da mora.
ÔNUS SUCUMBENCIAIS. Ante o resultado do julgamento,
impositiva a redistribuição dos ônus sucumbenciais fixados
em primeira instância. Apelação cível parcialmente provida.
Unânime. (Apelação Cível Nº 70077927929, Vigésima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dilso
Domingos Pereira, Julgado em 26/06/2018)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. MONITÓRIA. Inviável que o pleito monitório
verse também sobre a contratação originária, pois
demonstrada a ocorrência de renegociação. Consoante
entendimento preconizado no Superior Tribunal de Justiça
e que vem sendo adotado por esta Câmara, mostra-se
possível a limitação dos juros remuneratórios à taxa média
de mercado definida pelo BACEN, à época dos contratos,
quando constatada abusividade, nos termos do Código de
Defesa do Consumidor. No caso em exame, a taxa de juros
cobrada no contrato objeto de revisão, é significativamente
superior à taxa média do BACEN, razão pela qual cabível a
limitação. Precedentes desta Corte. Constatada a
abusividade de encargo cobrado no curso da normalidade
contratual, possível a descaracterização da mora, consoante
entendimento do STJ. DERAM PROVIMENTO AO
RECURSO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70077440220,
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Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:


Walda Maria Melo Pierro, Julgado em 13/06/2018)

Na espécie, consideradas as taxas pactuadas no contrato (207,06% a.a.),


configuram-se as mesmas em cobrança abusiva, se comparadas à taxa média de mercado
aferida pelo Banco Central do Brasil para o respectivo período do contrato (122,58% a.a. 2).
Portanto, cabível a limitação da taxa de juros aplicável ao contrato, conforme determinado
em sentença.

Da Repetição de Indébito
Tendo-se operado a revisão judicial das cláusulas contratuais abusivas,
mostra-se cabível a repetição dos valores pagos a maior pelo contratante, na forma simples.
No que pertine à repetição do indébito, a jurisprudência do E. STJ firmou-se
no sentido de que ela é possível, de forma simples, e não em dobro, caso seja verificada a
cobrança de encargos ilegais, tendo em conta o princípio que veda o enriquecimento
injustificado do credor.
Portanto, mantida a determinação de repetição simples do indébito.
Embora a parte ré suscite o argumento de que não há comprovação de
quitação integral do débito, trata-se de inovação recursal, além de vir o recurso
desacompanhado quaisquer documentos aptos a amparar tal alegação.
Pelo exposto, voto pelo não conhecimento do recurso da parte autora e por
negar provimento ao apelo da parte ré.
Por fim, em observância ao disposto no art. 85, §11, do CPC, majoro os
honorários sucumbenciais devidos ao procurador da parte autora para 20% sobre o valor da
condenação.

É o voto.

2 Fonte: https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries
Parâmetro: 20723 - Taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres - Pessoas jurídicas - Capital de giro com prazo superior a 365 dias

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DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).


DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70083959577,


Comarca de Santo Ângelo: "NÃO CONHECERAM DO APELO DA PARTE AUTORA E
NEGARAM PROVIMENTO AO APELO DA PARTE RÉ. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: TAISE VELASQUEZ LOPES

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