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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70082973025 (Nº CNJ: 0269211-71.2019.8.21.7000)
2019/CÍVEL

APELAÇÕES CÍVEIS. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL.
JUROS REMUNERATÓRIOS. Mostra-se possível a
limitação dos juros remuneratórios à taxa média do mercado
aferida pelo BACEN à época da contratação quando
verificada significativa discrepância na taxa pactuada.
REPETIÇÃO DO INDÉBITO E COMPENSAÇÃO DE
VALORES. Cabimento da repetição do indébito, na sua
forma simples, e da compensação de valores pagos a maior,
mediante operação de revisão judicial das cláusulas
contratuais abusivas.
ELISÃO DA MORA. Havendo comprovação de
abusividades no período anterior à inadimplência, a mora
deve ser descaracterizada para todos os fins.
LIMITAÇÃO DE DESCONTOS DE PARCELAS DE
EMPRÉSTIMO EM CONTA CORRENTE.
DESCABIMENTO. Nos termos da jurisprudência do STJ,
tratando-se de contrato com previsão de desconto das
parcelas em conta corrente, não incide a limitação prevista
na lei n° 10.820/2003, a qual somente se aplica aos contratos
com consignação em folha de pagamento.
LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS EM FOLHA DE
PAGAMENTO. Em face do entendimento firmado pelo E.
STJ, os descontos facultativos em folha de pagamento
referentes a operações bancárias não podem ultrapassar o
limite de 30% da remuneração bruta auferida pelo servidor.
DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DA JB
CRED S/A E NEGARAM PROVIMENTO AOS
DEMAIS RECURSOS.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70082973025 (Nº CNJ: 0269211- COMARCA DE PORTO ALEGRE


71.2019.8.21.7000)

BANCO ORIGINAL S A APELANTE

JB CRED SA SOCIEDADE DE CREDITO APELANTE


AO MICROEMPREENDEDOR

BANCO SANTANDER BRASIL S.A. APELANTE

CONFIANCA COMPANHIA DE SEGUROS APELADO

ALICETE RAMON APELADO

BANCO BMG S A APELADO


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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
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GJWH
Nº 70082973025 (Nº CNJ: 0269211-71.2019.8.21.7000)
2019/CÍVEL

ASSEHRGS - ASSOCIACAO DOS APELADO


SERVIDORES PUBLICOS DA SAUDE E
DOS TRABA

ABM BRASIL- ASSOCIACAO APELADO


BENEFICIENTE MUTUA ASSISTENCIAL
AOS SERVIDO

BANCO BRADESCO FINANCIAMENTO APELADO


S/A

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial provimento ao apelo da JB
CRED SA e negar provimento aos demais recursos.

Custas na forma da lei.


Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores
DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO E DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA.
Porto Alegre, 16 de dezembro de 2020.

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Relator.

RELATÓRIO

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)


Trata-se de apelações cíveis interpostas por BANCO ORIGINAL S A, JB
CRED SA SOCIEDADE DE CREDITO AO MICROEMPREENDEDOR e BANCO

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SANTANDER BRASIL S.A. contra a sentença que julgou parcialmente procedente a ação
revisional, tendo a decisão o seguinte dispositivo:
“III - FACE AO EXPOSTO: a) acolho a preliminar de
carência de ação e decreto a extinção do processo sem
resolução do mérito em relação a CONFIANÇA
COMPANHIA DE SEGUROS, com amparo no artigo 485,
inciso VI, do CPC, arcando a autora com o pagamento das
custas processuais por ela eventualmente suportadas e
honorários de advogado fixados em R$1.500,00 (artigo 85,
§ 8º, do CPC), acrescidos de juros moratórios de 1% ao
mês, contados com igual critério (art. 85, § 16, do Código
de Processo Civil), mas com suspensão da exigibilidade dos
encargos de sucumbência por litigar com gratuidade
judiciária;

b) acolho a preliminar de carência de ação por


ilegitimidade passiva ad causam e decreto a extinção do
processo sem resolução do mérito em relação a
ASSERHRGS – ASSOCIAÇÃO DOS SERVIDORES
PÚBLICOS DA SAÚDE E DOS TRABALHADORES EM
ESTABELECIMENTOS HOSPITALARES DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL, com amparo no artigo 485, inciso
VI, do CPC, arcando a autora com o pagamento das custas
processuais por ela eventualmente suportadas e honorários
de advogado fixados em R$1.500,00 (artigo 85, § 8º, do
CPC), acrescidos de juros moratórios de 1% ao mês,
contados com igual critério (art. 85, § 16, do Código de
Processo Civil), restando suspensa a exigibilidade dos ônus
sucumbenciais em função do deferimento da AJG;

c) julgo parcialmente procedente o pedido revisional (item


“g”, fl. 38), com a consequente manutenção da tutela
antecipada deferida à fl. 104, e determino que os contratos
firmados entre as partes rejam readequados, nos termos da
fundamentação, com a consequente compensação ou
repetição simples de valores cobrados a maior, apurando-se
o quantum respectivo em liquidação de sentença.
d) julgo, outrossim, procedente o pedido cominatório e
determino a limitação da soma dos descontos a 30% da
margem consignável em folha de pagamento e também no
pertinente a lançamentos de débitos na conta bancária
titulada pela autora.

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Verificada sucumbência recíproca (artigo 86 do CPC),


arcará a autora com o pagamento de ½ das custas
processuais e honorários advocatícios fixados em
R$1.500,00 para cada demandado que não foi excluído do
polo passivo (artigo 85, § 8º, do CPC) – com suspensão da
exigibilidade dos encargos de sucumbência por litigar com
gratuidade judicial - enquanto que os referidos réus, por sua
vez, pagarão a outra metade das custas do processo e verba
honorária de individual de R$1.500,00, verbas honorárias
que deverão ser corrigidas monetariamente desde esta data,
pelo IGP-M, e serão acrescidas de juros de 1% ao mês,
contados do trânsito em julgado da sentença (artigo 85, §
16, do CPC). É inadmitida a compensação dos encargos de
sucumbência, eis haver expressa vedação legal (artigo 85, §
14, do CPC).

No arbitramento dos honorários advocatícios considerei o


grau de zelo na elaboração das peças processuais, o local
da prestação do serviço - coincidente com aquele de
localização dos escritórios dos procuradores das partes,
circunstância a informar maior facilidade no cumprimento
dos mandatos outorgados - o trabalho realizado pelos
advogados e o tempo necessário para sua realização,
inclusive decorrente do necessário acompanhamento
processual, eis que ajuizada a ação em 06/05/2011(fl. 02).

Publique-se. Intimem-se. ”

Em suas razões recursais, o Banco Original sustenta, em síntese, a higidez do


contrato firmado. Aduz inexistir ilegalidade nas cláusulas contratuais, em especial, referentes
ao percentual dos juros remuneratórios e capitalização dos mesmos. Afirma não haver
incidência de comissão de permanência nos seus contratos com a apelada. No tocante à
limitação dos descontos em 30%, argui que no momento da assinatura do contrato havia
margem suficiente livre, pelo que pede a manutenção dos valores ajustados para cada
parcela. Requer o provimento do apelo.

Por sua vez, a JBCRED S/A argumenta que a apelada tinha plena ciência dos
termos da negociação, não podendo se valer da teoria da imprevisão para se esquivar do
cumprimento de suas obrigações. No mérito, sustenta a legalidade dos juros remuneratórios
pactuados, pedindo a sua manutenção. Subsidiariamente, afirma que a taxa aplicada em
sentença não pode ser utilizada como parâmetro, eis que não se trata de empréstimo
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consignado, mas com previsão de descontos em conta corrente. Dada a modalidade de


crédito, pede o reconhecimento do fato de que a presente relação contratual não está sujeita à
limitação de 30% previsto na Lei 10.820/03. No que se refere aos encargos moratórios, aduz
ser adequada a previsão contratual e pugna pela caracterização da mora do devedor. Pede
que eventual repetição do indébito seja precedida de compensação. No mais, requer o
provimento do apelo e a redução dos honorários sucumbenciais arbitrados em favor do
patrono da parte autora.

Em seu recurso de apelação, o Banco Santander aponta para o fato de que a


sentença não teria especificado os parâmetros da revisão para os contratos não juntados aos
autos, limitando-se a aplicar a penalidade do art. 400 do CPC. Pede a retificação ou a
cassação da decisão omissa. Acerca dos descontos em folha de pagamento, pede o
afastamento da determinação de limitação. Quanto ao pleito revisional, aduz não haver
comprovação de ilegalidade no tocante a juros remuneratórios, capitalização, e encargos para
o inadimplemento, pelo que afirma ser descabida a descaracterização da mora. Requer o
provimento do apelo para que seja julgada improcedente a demanda.

Em sede de contrarrazões a Confiança Companhia de Seguros, em


liquidação extrajudicial, ratifica o pedido de concessão do benefício de gratuidade de justiça,
juntando documentos que entende comprobatórios da sua condição.
Subiram os autos, com contrarrazões, vindo conclusos para julgamento a
este Relator.
Tendo em vista a adoção do sistema informatizado, os procedimentos para
observância dos ditames do CPC foram simplificados, mas observados em sua integralidade.
É o relatório.

VOTOS
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Eminentes Colegas.
Os recursos estão em condições de ser conhecidos, pois preenchidos os
requisitos de admissibilidade.
De plano, confirmo a decisão de indeferimento da gratuidade de justiça à
Confiança Companhia de Seguros.
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Não obstante esteja em liquidação extrajudicial, a empresa absteve-se de


trazer documentos atualizados, além de haver demonstração de que ainda movimenta
vultuoso volume financeiro, o que a desqualifica para o benefício requerido.

Nesse sentido:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE
CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR ATO ILÍCITO. CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. GRATUIDADE DA JUSTIÇA. SEGURADORA
EM LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. NECESSIDADE
NÃO DEMONSTRADA. INDEFERIMENTO MANTIDO.
AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.(Agravo de
Instrumento, Nº 70084330075, Décima Segunda Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Lúcia
Carvalho Pinto Vieira Rebout, Julgado em: 30-10-2020)

Além disso, cumpre referir que o feito foi extinto sem resolução de mérito
em relação à seguradora.

Tocante à aplicação do Código de Defesa do Consumidor às relações


jurídicas que envolvem operações bancárias, a jurisprudência desta Corte e do STJ é pacífica
sobre a existência de relação de consumo entre o cliente e a instituição financeira, consoante
cristalizado no verbete sumular nº 297 do STJ, in verbis: O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras.
Destarte, considerando-se o disposto nos art. 6º, V e art. 51, VI, ambos do
CDC, mostra-se viável a revisão judicial das cláusulas contratuais.
Cumpre referir, entretanto, que o objeto da revisão se restringe somente às
cláusulas especificamente impugnadas na forma do art. 330, §2º, do CPC, sendo vedada a
revisão de ofício pelo Magistrado, conforme enunciado da Súmula 381 do STJ.

Dos juros remuneratórios

Concernente à aplicação dos juros remuneratórios, a jurisprudência é


pacífica no sentido de que não devem destoar significativamente da taxa média de mercado
para a modalidade. Essa média é disponibilizada mensalmente pelo BACEN, sendo
parâmetro adequado à análise contratual.

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Nesse sentido, precedentes dessa Câmara:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO.
CRÉDITO EM CONTA CORRENTE. SENTENÇA DE
PARCIAL PROCEDÊNCIA. JUROS REMUNERATÓRIOS
Conforme entendimento do STJ, é possível a limitação dos
juros remuneratórios à taxa média de mercado, definida
pelo BACEN, quando presente abusividade, nos termos do
código de defesa do consumidor, ainda que vigente a lei nº
4.595/64. No caso concreto, não tendo sido constatada
abusividade, deve ser mantida a sentença ora apelada.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS É possível a capitalização
dos juros, inclusive em periodicidade mensal, bastando
pactuação. No ponto, recurso provido. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA É válida a cláusula contratual que prevê a
cobrança da comissão de permanência, calculada pela taxa
média de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil,
de acordo com a espécie da operação, tendo como limite
máximo o percentual contratado (Súmula nº 294/STJ). Caso
concreto, todavia, em que não se observa a expressa
pactuação de comissão de permanência, razão pela qual
deve ser afastada a cobrança de tal encargo. JUROS DE
MORA E MULTA Juros moratórios de 1% ao mês e multa
de 2%, em consonância com a jurisprudência do STJ.
REPETIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DO INDÉBITO.
Possível a (eventual) compensação e/ou repetição de valores
pagos a maior, na forma simples, como vedação do
enriquecimento ilícito do credor e consequência inerente à
revisão contratual. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA
Havendo abusividade constatada no encargo cobrado no
curso da normalidade contratual, conforme entendimento
exarado pelo STJ, é possível a descaracterização da mora.
ÔNUS SUCUMBENCIAIS. Ante o resultado do julgamento,
impositiva a redistribuição dos ônus sucumbenciais fixados
em primeira instância. Apelação cível parcialmente provida.
Unânime. (Apelação Cível Nº 70077927929, Vigésima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dilso
Domingos Pereira, Julgado em 26/06/2018)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. MONITÓRIA. Inviável que o pleito monitório
verse também sobre a contratação originária, pois
demonstrada a ocorrência de renegociação. Consoante
entendimento preconizado no Superior Tribunal de Justiça
e que vem sendo adotado por esta Câmara, mostra-se
possível a limitação dos juros remuneratórios à taxa média
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de mercado definida pelo BACEN, à época dos contratos,


quando constatada abusividade, nos termos do Código de
Defesa do Consumidor. No caso em exame, a taxa de juros
cobrada no contrato objeto de revisão, é significativamente
superior à taxa média do BACEN, razão pela qual cabível a
limitação. Precedentes desta Corte. Constatada a
abusividade de encargo cobrado no curso da normalidade
contratual, possível a descaracterização da mora, consoante
entendimento do STJ. DERAM PROVIMENTO AO
RECURSO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70077440220,
Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Walda Maria Melo Pierro, Julgado em 13/06/2018)

Na espécie, consideradas as taxas pactuadas, constata-se que efetivamente


houve cobrança abusiva nos contratos revisados pelo Magistrado de origem, sendo devida a
limitação da taxa de juros, conforme se verifica da seguinte planilha elaborada na sentença:

Contrato/ Instituição Ré Data do Taxa média de Taxa Pactuada


contrato juros (% a.m.) (% a.m)
JBCred (fl. 144) 07/04/2011 2,69 27,78
Banco Matone – Original (fl. 165) 23/08/2007 1,51 2,70

Quanto à capitalização dos juros, embora tenha sido abordada no recurso do


Banco Original, descabe referir, porquanto não foi determinado seu afastamento em
sentença.
Da mesma forma, não houve modificação nos encargos moratórios, pelo que
inexiste interesse recursal no pedido da JB CRED.

Da Compensação e Repetição de Indébito


Tendo-se operado a revisão judicial das cláusulas contratuais abusivas,
mostra-se cabível a repetição dos valores pagos a maior pelo contratante, na forma simples.
No que pertine à repetição do indébito, a jurisprudência do E. STJ firmou-se
no sentido de que ela é possível, de forma simples, e não em dobro, caso seja verificada a
cobrança de encargos ilegais, tendo em conta o princípio que veda o enriquecimento
injustificado do credor.

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Ante a determinação para repetição do indébito, disso decorre a


compensação dos valores pagos a maior, possibilitando evitar-se o enriquecimento sem
causa, a propiciar o afastamento da onerosidade excessiva e o desequilíbrio econômico do
contrato.
Portanto, mantida a determinação de repetição simples do indébito, bem
como de compensação dos valores pagos a maior com o saldo devedor ainda restante.

Da elisão da mora.
Nas hipóteses em que há cobrança de parcelas ilegais por parte do credor,
antes do inadimplemento, a mora fica descaracterizada para todos os fins. Nesses casos, na
realidade, é o ato do credor que causa a inadimplência do devedor, a qual é justificada pela
exigência de valores ilegais e indevidos.
Assim, no caso vertente, reconhecida a existência de encargos ilegais e
abusivos nos contratos entabulados entre as partes, durante o período da normalidade
contratual, persistirá a inocorrência da mora e a consequente inexigibilidade dos encargos
dela decorrente, até que, revisados os contratos e transitada em julgado a decisão, alguma
circunstância fática venha a permitir a incidência dos encargos moratórios.

Limitação de descontos

A autorização dos descontos consignados de pagamentos de empréstimos


está regulamentada pela Lei Federal n° 10.820/2003, nos seguintes termos:

Art. 1o Os empregados regidos pela Consolidação das Leis


do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n o 5.452, de
1o de maio de 1943, poderão autorizar, de forma irrevogável
e irretratável, o desconto em folha de pagamento dos
valores referentes ao pagamento de empréstimos,
financiamentos e operações de arrendamento mercantil
concedidos por instituições financeiras e sociedades de
arrendamento mercantil, quando previsto nos respectivos
contratos.

Art. 2o Para os fins desta Lei, considera-se:


(...)

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§ 1o Para os fins desta Lei, são consideradas consignações


voluntárias as autorizadas pelo empregado.
§ 2o No momento da contratação da operação, a
autorização para a efetivação dos descontos permitidos
nesta Lei observará, para cada mutuário, os seguintes
limites:
I - a soma dos descontos referidos no art. 1 o desta Lei não
poderá exceder a trinta por cento da remuneração
disponível, conforme definida em regulamento;

Contudo, o STJ tem firmado o entendimento de que se faz necessário


diferenciar os descontos consignados em folha de pagamento daqueles realizados em conta
corrente, ainda que esta seja utilizada para recebimento da remuneração, hipótese em que
não há falar na referida limitação.
Nesse sentido, segue a ementa do REsp nº 1.586.910:

“RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÕES DE MÚTUO


FIRMADO COM INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
DESCONTO EM CONTA-CORRENTE E DESCONTO
EM FOLHA. HIPÓTESES DISTINTAS. APLICAÇÃO,
POR ANALOGIA, DA LIMITAÇÃO LEGAL AO
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO AO MERO DESCONTO
EM CONTA-CORRENTE, SUPERVENIENTE AO
RECEBIMENTO DA REMUNERAÇÃO.
INVIABILIDADE. DIRIGISMO CONTRATUAL, SEM
SUPEDÂNEO LEGAL. IMPOSSIBILIDADE. 1. A regra
legal que fixa a limitação do desconto em folha é salutar,
possibilitando ao consumidor que tome empréstimos,
obtendo condições e prazos mais vantajosos, em
decorrência da maior segurança propiciada ao financiador.
O legislador ordinário concretiza, na relação privada, o
respeito à dignidade humana, pois, com razoabilidade,
limitam-se os descontos compulsórios que incidirão sobre
verba alimentar, sem menosprezar a autonomia privada. 2.
O contrato de conta-corrente é modalidade absorvida pela
prática bancária, que traz praticidade e simplificação
contábil, da qual dependem várias outras prestações do
banco e mesmo o cumprimento de pagamento de obrigações
contratuais diversas para com terceiros, que têm, nessa
relação contratual, o meio de sua viabilização. A instituição
financeira assume o papel de administradora dos recursos
do cliente, registrando lançamentos de créditos e débitos
conforme os recursos depositados, sacados ou transferidos
de outra conta, pelo próprio correntista ou por terceiros. 3.

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Como característica do contrato, por questão de


praticidade, segurança e pelo desuso, a cada dia mais
acentuado, do pagamento de despesas em dinheiro,
costumeiramente o consumidor centraliza, na conta-
corrente, suas despesas pessoais, como, v.g., luz, água,
telefone, tv a cabo, cartão de crédito, cheques, boletos
variados e demais despesas com débito automático em
conta. 4. Consta, na própria petição inicial, que a adesão ao
contrato de conta-corrente, em que a autora percebe sua
remuneração, foi espontânea, e que os descontos das
parcelas da prestação - conjuntamente com prestações de
outras obrigações firmadas com terceiros - têm expressa
previsão contratual e ocorrem posteriormente ao
recebimento de seus proventos, não caracterizando
consignação em folha de pagamento. 5. Não há supedâneo
legal e razoabilidade na adoção da mesma limitação,
referente a empréstimo para desconto em folha, para a
prestação do mútuo firmado com a instituição financeira
administradora da conta-corrente. Com efeito, no âmbito
do direito comparado, não se extrai nenhuma experiência
similar - os exemplos das legislações estrangeiras,
costumeiramente invocados, buscam, por vezes, com
medidas extrajudiciais, solução para o superendividamento
ou sobreendividamento que, isonomicamente, envolvem
todos os credores, propiciando, a médio ou longo prazo, a
quitação do débito. 6. À míngua de novas disposições
legais específicas, há procedimento, já previsto no
ordenamento jurídico, para casos de superendividamento ou
sobreendividamento - do qual podem lançar mão os
próprios devedores -, que é o da insolvência civil. 7. A
solução concebida pelas instâncias ordinárias, em vez de
solucionar o superendividamento, opera no sentido
oposto, tendo o condão de eternizar a obrigação, visto que
leva à amortização negativa do débito, resultando em
aumento mês a mês do saldo devedor. Ademais, uma
vinculação perene do devedor à obrigação, como a que
conduz as decisões das instâncias ordinárias, não se
compadece com o sistema do direito obrigacional, que tende
a ter termo. 8. O art. 6º, parágrafo 1º, da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro confere
proteção ao ato jurídico perfeito, e, consoante os arts. 313
e 314 do CC, o credor não pode ser obrigado a receber
prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais
valiosa. 9. A limitação imposta pela decisão recorrida
é de difícil operacionalização, e resultaria, no comércio
bancário e nas vendas a prazo, em encarecimento ou até
mesmo restrição do crédito, sobretudo para aqueles que não
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conseguem comprovar a renda. 10. Recurso especial do réu


provido, julgado prejudicado o da autora (REsp
1586910/SP, Relator: Min. Luis Felipe Salomão, STJ,
Quarta Turma, julgado em 29.08.2017, DJE de
03.10.2017).”

Na mesma senda, recentes julgados desta Câmara:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO
CONFIGURADO. RAZÕES DISSOCIADAS E INOVAÇÃO
RECURSAL. NÃO CONHECIMENTO EM PARTE. NA
PARTE CONHECIDA. IMPOSSIBILIDADE DA
APLICAÇÃO DA LIMITAÇÃO DE 30% NO CASO.
EMPRÉSTIMOS COM DÉBITO EM CONTA CORRENTE.
I. Não assiste razão à demandante no que diz respeito ao
cerceamento de defesa, decorrente do juízo a quo não ter a
ouvido sobre a preliminar de ausência de interesse de agir
arguida pelo réu sem sede de contestação, uma vez que
ausente prejuízo, pois foi rejeitada. Princípio ne pas de
nullité sans grief. Outrossim, por força do art. 131 do
Código de Processo Civil, no qual vem insculpido o
Princípio do Livre Convencimento Motivado do Juiz, o
julgador não está obrigado a examinar todos os
fundamentos legais apresentados pelas partes, tendo em
vista que pode decidir a causa de acordo com os motivos
jurídicos necessários à sustentação de seu convencimento.
No caso em testilha, tem-se os documentos anexados se
mostraram suficientes para a análise do mérito, que versava
apenas sobre matéria de direito, não havendo que se falar,
ainda, em cerceamento de defesa. III. Sentença teve capítulo
em que analisou, expressamente, a questão da limitação em
30% atingir, ou não, os descontos efetuados em conta
corrente. Assim, o fato de o pleito não ter sido apreciado
antecipadamente não afasta o fato de que foi devidamente
enfrentado de forma definitiva IV. Acerca da ausência de
análise de todos os contratos, tenho que as razões não
atacam o que fora decidido pela sentença hostilizada,
trazendo, inclusive, inovação recursal, não podendo,
portanto, ser conhecido pelo juízo ad quem. Inteligência do
art. 1.010, II, do Código de Processo Civil. V.
Entendimento do STJ, firmado no julgamento do REsp nº
1.586.910, no sentido de não ser isonômico aplicar a
limitação prevista aos empréstimos consignados em folha
aos casos em que os descontos de prestações de obrigações
firmadas ocorrem posteriormente ao recebimento de
proventos. Ou seja, a limitação referida supra não se aplica
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aos empréstimos com débitos em conta corrente. VII. Os


honorários advocatícios devidos aos procuradores da parte
ré serão majorados, com fulcro no art. 85, § 11, do CPC
Conheceram em parte do apelo e, na parte conhecida,
negaram-lhe provimento.(Apelação Cível, Nº 70082631201,
Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Dilso Domingos Pereira, Julgado em: 16-10-2019)

APELAÇÕES CÍVEIS. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DE LIMITAÇÃO DE DESCONTOS,
CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO E EMPRÉSTIMOS
MEDIANTE DESCONTO EM CONTA CORRENTE.
RETORNO DO STJ. Revendo posicionamento
anteriormente adotado, tratando-se de contratos de
financiamento bancário com desconto das parcelas em
conta corrente, e não em folha de pagamento, não incide a
limitação consignável prevista na lei n. 10.820/2003.
Precedentes do STJ e desta Corte. Já para os contratos de
empréstimo consignado em folha de pagamento, incide a
limitação de 30% prevista na mencionada lei,
desimportando se posteriormente, tendo em vista a demissão
da autora, os descontos passaram a ser feitos em sua conta
corrente. Indenização por dano moral incabível, pois os
descontos foram oriundos de valores contratados pela
autora, não havendo comprovação de que prosseguiram
após o deferimento da liminar. DERAM PARCIAL
PROVIMENTO À APELAÇÃO DO RÉU E NEGARAM
PROVIMENTO À APELAÇÃO DA AUTORA. UNÂNIME.
(Apelação Cível, Nº 70075035147, Vigésima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Walda Maria Melo
Pierro, Julgado em: 25-09-2019)

Destarte, considerando o entendimento do STJ, exposto no julgamento do


REsp nº 1.586.910/SP, ao qual se alinha esta colenda Câmara, no sentido de não ser devido
tratamento isonômico entre os empréstimos consignados em folha e aqueles com previsão de
desconto em conta corrente, faz-se necessária a reforma da sentença para que a determinação
de limitação tenha efeito somente sobre os descontos efetuados diretamente em folha de
pagamento.

Assim, merece acolhimento o pedido da JBCred de afastamento da


determinação de limitação dos descontos realizados em conta corrente, uma vez que o
crédito não foi concedido mediante consignação em folha de pagamento.
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O Magistrado a quo determinou a limitação da soma dos descontos em folha


de pagamento ao patamar de 30% dos rendimentos brutos auferidos pela autora.
O art. 151, do Decreto estadual n. 43.337/04, alterado pelo Decreto estadual
nº 43.574/05, prevê o limite de 70% sobre a remuneração mensal bruta para a soma dos
descontos facultativos e obrigatórios do servidor.

Contudo, o STJ tem manifestado o entendimento de que o limite para


consignação é de 30% sobre os rendimentos brutos, em se tratando de descontos facultativos
referentes a operações bancárias, como no caso em pauta.
Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO


INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR
PÚBLICO. DESCONTOS EM FOLHA DE PAGAMENTO.
LIMITE DE 30% DOS VENCIMENTOS. POSSIBILIDADE.
AGRAVO INTERNO DA SERVIDORA A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. Esta Corte pacificou o entendimento de
que a autorização para o desconto em folha de pagamento
de prestação de empréstimo contratado não constitui
cláusula abusiva, porquanto se trata de circunstância que
facilita a obtenção do crédito com condições mais
vantajosas, contanto que a soma mensal das prestações
destinadas ao desconto dos empréstimos realizados não
ultrapasse 30% dos vencimentos do trabalho, em função do
princípio da razoabilidade e do caráter alimentar dos
vencimentos. Precedentes: AgInt. no AREsp. 194.810/RS,
Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJe
22.2.2017 e AgRg no REsp. 1.535.736/DF, Rel. Min.
HERMAN BENJAMIN, DJe 18.11.2015.
2. No caso, o acórdão recorrido concluiu que os
empréstimos foram autorizados pela Servidora, sendo
cabíveis os descontos no limite de 30%. Alterar tais
conclusões, tiradas à vista das provas realizadas nos autos,
implica o revolvimento do conteúdo fático-probatório da
demanda, providência vedada em recurso especial em razão
da incidência da Súmula 7/STJ.
3. Agravo Interno da Servidora a que se nega provimento.
(AgInt no REsp 1516181/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em
07/12/2017, DJe 15/12/2017)
1
Decreto estadual n. 43.337/04. Art. 15. A soma mensal das consignações facultativas e obrigatórias
de cada servidor não poderá exceder a setenta por cento (70%) do valor de sua remuneração mensal
bruta.
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Na mesma senda, julgados desta Câmara:


AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS
BANCÁRIOS. DECLARATÓRIA. LIMITAÇÃO DE
DESCONTOS EM CONTA CORRENTE. O STJ firmou
entendimento (RESP Nº 1.169.334/RS), de que os descontos
relativos a empréstimos efetuados na folha de pagamento e
conta corrente do servidor público não podem ultrapassar
30% dos seus rendimentos brutos, justamente com o objetivo
de evitar o endividamento desenfreado e garantir o mínimo
existencial à parte para o seu sustento e de sua família. No
caso, o desconto realizado pelo banco réu relativo ao
empréstimo consignado e debitado em conta corrente
ultrapassa a margem consignável de 30% sobre o benefício
previdenciário da autora, de modo que se impõe a
pretendida limitação. Modificação da decisão agravada
para conceder a antecipação da tutela. DERAM
PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
UNÂNIME.(Agravo de Instrumento, Nº 70081379331,
Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Walda Maria Melo Pierro, Julgado em: 26-06-2019)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS.
PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL REJEITADA. O
pedido deve ser extraído da interpretação lógico-sistemática
da petição, a partir da análise de todo o seu conteúdo, e não
apenas da rubrica específica. Precedentes do STJ.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AFASTADA.
A associação que atua como intermediadora da contratação
do empréstimo celebrado entre a instituição financeira e seu
associado é parte legítima para figurar no polo passivo da
ação que visa a limitação dos descontos. LIMITAÇÃO DOS
DESCONTOS EM FOLHA DE PAGAMENTO. SERVIDOR
PÚBLICO ESTADUAL. Os descontos totais (obrigatórios e
facultativos), em folha de pagamento de servidor público
estadual, podem ser de, no máximo, 70% sobre seus
rendimentos brutos. Entretanto, conforme os limites
estabelecidos na legislação vigente, os descontos
facultativos devem ser limitados a 30% sobre a
remuneração auferida. Precedente do Superior Tribunal
de Justiça (REsp nº 1.164.334/RS). No caso concreto, os
descontos decorrentes dos empréstimos consignados
extrapolam os parâmetros referidos, razão pela qual se
impõe a sua limitação. RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO
Improcede o pedido de restituição, em dobro, do valor
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descontado acima do limite legal permitido, pois inexistente


cobrança indevida, já que a autora expressamente anuiu
com a contratação. APELO PROVIDO EM PARTE.
UNÂNIME.(Apelação Cível, Nº 70081697450, Vigésima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dilso
Domingos Pereira, Julgado em: 12-06-2019)

Concernente à forma como deve ser calculado o valor a ser descontado por
cada instituição financeira, tenho que deve ser considerado o percentual original da parcela
de cada banco no somatório, apurando-se a limitação ponderada, devendo ser mantido o
mesmo percentual representativo inicial de cada banco após o recálculo do montante mensal
a ser descontado.
Diante do fato de que a composição dos descontos em folha é dinâmica e
dada a complexidade do cálculo, levando-se em conta que há diversos contratos simultâneos,
faz-se necessário que tal apuração se dê em liquidação de sentença.

Aplicação do art. 400 do CPC

Com relação ao recurso do Banco Santander tenho que se mostra descabido.


Ao contrário do alegado pela referida instituição financeira, o Magistrado a
quo delineou de forma suficientemente clara os parâmetros da revisão operada, não havendo
falar em omissão de sua parte.

Honorários sucumbenciais

Ademais, não há falar em minoração dos honorários devidos ao patrono da


parte autora, os quais foram arbitrados em valor condizente com complexidade da lide.

Pelo exposto, voto por dar parcial provimento ao apelo da JB CRED S/A,
somente para afastar a determinação de limitação dos descontos, negando provimento aos
demais recursos.

DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO - De acordo com o(a) Relator(a).

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DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70082973025,


Comarca de Porto Alegre: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DA JB CRED
S/A E NEGARAM PROVIMENTO AOS DEMAIS RECURSOS. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: WALTER JOSE GIROTTO

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