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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70080776073 (Nº CNJ: 0049516-18.2019.8.21.7000)
2019/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL.
ABERTURADE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE E
CONFISSÃO DE DÍVIDA. PEDIDO DE INVERSÃO
DO ÔNUS PROBATÓRIO. EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. INTERESSE PROCESSUAL NÃO
DEMONSTRADO. VENDA CASADA.
INOCORRÊNCIA. REPETIÇÃO SIMPLES DO
INDÉBITO. DANOS MORAIS. NÃO
CONFIGURADOS. ELISÃO DA MORA.
POSSIBILIDADE.
A inversão do ônus da prova é regra de instrução e não de
julgamento, sendo, desse modo, inócua a decisão que dispõe
acerca da distribuição do ônus da prova após o fim da
instrução, carecendo os autores de interesse processual.
Precedentes.
VENDA CASADA. Ausente comprovação de que a parte
foi obrigada à contratação do seguro como condição de
acesso ao crédito bancário.
REPETIÇÃO DO INDÉBITO E COMPENSAÇÃO DE
VALORES. Cabimento da repetição do indébito, na sua
forma simples, e da compensação de valores pagos a maior,
mediante operação de revisão judicial das cláusulas
contratuais abusivas.
DANOS MORAIS. Rejeita-se o pedido de indenização por
danos morais, pois a situação narrada na inicial não
transcende os meros incômodos ou dissabores inerentes à
vida cotidiana e, desse modo, insuscetíveis de indenização
por dano à esfera pessoal.
ELISÃO DA MORA. Havendo comprovação de
abusividades no período anterior à inadimplência, a mora
deve ser descaracterizada para todos os fins.
DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70080776073 (Nº CNJ: 0049516- COMARCA DE PORTO ALEGRE


18.2019.8.21.7000)

JMD DISTRIBUIDORA LTDA - ME APELANTE

BANCO SANTANDER BRASIL S.A. APELADO

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GJWH
Nº 70080776073 (Nº CNJ: 0049516-18.2019.8.21.7000)
2019/CÍVEL

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial provimento ao apelo.

Custas na forma da lei.


Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores
DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI (PRESIDENTE) E DES. DILSO
DOMINGOS PEREIRA.

Porto Alegre, 26 de novembro de 2019.

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Relator.

RELATÓRIO
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Trata-se de apelação cível interposta por JMD DISTRIBUIDORA LTDA -


ME contra a sentença que julgou parcialmente procedente a ação revisional ajuizada por
BANCO SANTANDER BRASIL S.A., tendo a decisão o seguinte dispositivo:
“Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE
a ação revisional para DECLARAR que os juros
remuneratórios sejam limitados à taxa média do mercado,
definida pelo BACEN, no tempo da contratualidade;
CONDENAR a parte ré a restituir, de forma simples, as
quantias pagas em cumprimento às cláusulas inválidas,
acrescidas de correção monetária, a partir do pagamento, e
juros, contados desde a citação na demanda revisional; ou
apenas para o efeito de subtraí-las das parcelas vincendas;
– a título de sucumbência, CONDENAR as partes ao
pagamento das custas processuais pro rata e honorários
advocatícios arbitrados em R$ 500,00 em proveito de ambos
os litigantes (NCPC, art. 85, § 8º), corrigidos pelo IGP-M,

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desde a data da prolação da sentença até quando do efetivo


pagamento.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.”

Em suas razões recursais (fls. 377/392), a parte autora pede preliminarmente


a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita. No mérito, postula a inversão do
ônus probatório para que seja determinada a exibição de documentos pela parte ré. Sustenta a
ocorrência de venda casada. Pede que seja determinada a repetição em dobro do indébito,
bem como reconhecida hipótese de indenização por danos morais e por perdas e danos por
ter o banco deixado de movimentar automaticamente entre a conta principal e a conta
garantida a fim de evitar eventual saldo negativo em na primeira, gerando a cobrança de
juros. Aduz ser caso de determinação da retirada de seu nome de cadastros de inadimplentes
em acolhimento a pedido de tutela de evidência. Requer o provimento do apelo com a
consequente redistribuição dos ônus sucumbenciais.
Subiram os autos, sem contrarrazões, vieram conclusos para julgamento.

Tendo em vista a adoção do sistema informatizado, os procedimentos para


observância dos ditames do CPC foram simplificados, mas observados em sua integralidade.

É o relatório.

VOTOS

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)


Eminentes Colegas.

O recurso está em condições de ser conhecido, pois preenchidos os


requisitos de admissibilidade.

A parte apelante formula o pedido de gratuidade de justiça em seu recurso de


apelação, demonstrando que a sócia proprietária se encontra em situação de grave
enfermidade, juntando ainda comprovação de que o valor auferido não ultrapassa o limite
adotado por esta Corte para concessão do benefício pleiteado. Dadas as circunstâncias, tenho
que é caso de deferimento da AJG somente para fins de recebimento do presente recurso.

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Cumpre observar que o deferimento da assistência judiciária gratuita possui


efeitos que não retroagem a atos processuais anteriores à sua concessão (ex nunc), conforme
entendimento jurisprudencial consolidado no Resp nº 904.289:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. CONCESSÃO APÓS A
PROLAÇÃO DA SENTENÇA. POSSIBILIDADE. EFEITOS
EX NUNC.
1. O pedido de concessão da assistência judiciária pode ser
formulado em qualquer momento processual. Como os
efeitos da concessão são ex nunc , o eventual deferimento
não implica modificação da sentença, pois a sucumbência
somente será revista em caso de acolhimento do mérito de
eventual recurso de apelação.
2. O princípio da "invariabilidade da sentença pelo juiz que
a proferiu", veda a modificação da decisão pela autoridade
judiciária que a prolatou, com base legal no artigo 463 do
CPC, não impõe o afastamento do juiz da condução do feito,
devendo o magistrado, portanto, exercer as demais
atividades posteriores, contanto que não impliquem
alteração do decidido na sentença.
3. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 904289/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
Quarta Turma, julgado em 03/05/2011, DJe 10/05/2011)

Nesses mesmos termos tem decidido este Tribunal:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA.


REVISÃO DE CONTRATO. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA. BENEFÍCIO CONCEDIDO COM EFEITOS
EX NUNC. A parte agravante já teve o benefício deferido
pelo juízo à quo. Contudo, a concessão do benefício da
Justiça Gratuita ora deferida opera no modo ex nunc, ou
seja, os efeitos do benefício não retroagem para atingir as
custas processuais determinadas previamente ao seu
pedido. As custas processuais datadas anteriormente ao
pedido da benesse devem ser arcadas pela agravante.
NEGADO PROVIMENTO AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO, EM DECISÃO MONOCRÁTICA. (Agravo
de Instrumento Nº 70074373234, Décima Nona Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eduardo João
Lima Costa, Julgado em 14/07/2017)

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AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCESSÃO DO


BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA
POSTULADA APÓS A PROLAÇÃO DA SENTENÇA.
EFEITO RETROATIVO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Pedido de
concessão de benefício da assistência judiciária gratuita
formulado posteriormente à data da prolação da sentença.
2. Decisão que, ao conceder o beneplácito, determina a
suspensão dos ônus de sucumbência. 3. Embora o benefício
possa ser concedido a qualquer tempo e em qualquer grau
de jurisdição, seu deferimento possuirá efeito ex nunc, não
alcançando os atos anteriores ao momento da concessão.
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (Agravo de
Instrumento Nº 70072126774, Quarta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Antônio Vinícius Amaro
da Silveira, Julgado em 26/04/2017)

Inversão ônus probatório e pedido de exibição de documentos.


A parte apelante opõe-se à sentença que indeferiu a inversão do ônus da
prova. Entendo não haver claro interesse processual no caso em tela.
Isso porque, consoante entendimento do STJ, a inversão do ônus da prova é
regra de instrução e não de julgamento, sendo, desse modo, inócua a decisão que dispõe
acerca da distribuição do ônus da prova após o fim da instrução.

Nesse sentido, os seguintes julgados:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO


ESPECIFICADO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS.
CONSUMIDOR. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
COMPROVADA. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO CLARA E
PRECISA DOS RISCOS DO SERVIÇO A SER REALIZADO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PREJUÍZO MATERIAL
DEMONSTRADO. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO.
1. Caso em que a falha na prestação do serviço decorre da
ausência de informação clara e precisa prestada ao
consumidor, deixando a ré de cientificar o autor dos riscos
que poderiam ocorrer em seu veículo caso submetido à
prévia lavagem do motor, a fim que pudesse tomar a decisão
que lhe fosse mais conveniente. Não tendo, pois, a ré
comprovada alguma causa que a eximisse do dever de
indenizar, como a inexistência do defeito ou a culpa

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exclusiva do consumidor ou de terceiro, impõe-se que arque


com o pagamento dos prejuízos suportados pelo autor. 2. A
situação delineada nos autos, conforme narrada na inicial,
não implicou violação a atributo da personalidade do autor,
e sim a configurar mero aborrecimento, contratem po e
dissabor a que estão sujeitas as pessoas nas suas relações e
ati vidades do cotidiano, tanto é que o episódio ocorrido não
trouxe desdobramentos e consequências de maior
gravidade. Ademais, diversamente do que alega o autor, não
há relação entre os primeiros consertos prestados pela ré
com o vazamento de óleo do motor. 3. Conhecimento do
recurso adesivo eis que, ao contrário do alegado, não
formalizado na peça das contrarrazões. 4. Agravo retido
interposto da decisão que indeferiu o pedido de inversão do
ônus probatório não conhecido por ausência de interesse
processual 5. Agravo retido manejado da decisão que não
acolheu a contradita de testemunha arrolada pela ré,
desprovido. 6. Verba honorária bem dimensionada na
origem, com aplicação dos honorários recursais, previstos
no art. 85, §11, do CPC. APELO E RECURSO ADESIVO
DESPROVIDOS. (Apelação Cível Nº 70076226695, Décima
Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Cláudia Maria Hardt, Julgado em 13/09/2018)

APELAÇÃO CÍVEL. AGRAVO RETIDO. AÇÃO


INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS. DANOS MATERIAIS.
ENERGIA ELÉTRICA. NÍVEIS DE TENSÃO ABAIXO DO
NÍVEL MÍNIMO RECOMENDADO PELO ANEEL. DANOS
MORAIS NÃO CONFIGURADOS. I. Na esteira da
jurisprudência do STJ, a inversão do ônus da prova é
regra de instrução e não de julgamento, sendo, desse
modo, inócua a decisão que dispõe acerca da distribuição
do ônus da prova após o fim da instrução como em sede
apelação. II. Afastada a preliminar de falta de interesse de
agir, tendo em vista o requerimento de ordem judicial
determinando à ora apelante a tomada de providências, o
que se afigura necessário e útil à postulante segundo o que é
descrito na petição inicial. III. Apurado o fornecimento de
energia elétrica abaixo do nível de tensão recomendado
pela ANEEL, deve a concessionária realizar o trabalho
necessário para normalizar e estabilizar o fornecimento de
energia elétrica. IV. Com relação aos danos morais, não há
prova nos autos de qualquer dano de ordem
extrapatrimonial, que dê causa à indenização. V. Danos
patrimoniais mantidos. Agravo retido não conhecido.
Preliminar rejeitada. Apelo parcialmente provido.
(Apelação Cível Nº 70077244226, Vigésima Primeira
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Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco


Aurélio Heinz, Julgado em 17/10/2018)

Enfatizo que, embora incida no caso o Código de Defesa do Consumidor, a


inversão do ônus da prova não é absoluta, cabendo à parte autora fazer prova mínima dos
fatos constitutivos do seu direito, como disposto no artigo 373, inciso I, do Código de
Processo Civil.

Quanto ao pedido de exibição de documentos, cumpre observar que a parte


apelante em momento algum logrou especificar o que pretende ver exibido, tratando-se de
pedido impreciso e demasiadamente genérico. Assim, inviabilizado o provimento no tocante
a este tópico.

Venda casada.

Na espécie, não restou comprovada a obrigatoriedade da contratação do


título de capitalização como condição à concessão do crédito.

Destarte, diante da ausência de provas que sustentem as alegações da parte


autora, não há falar em reconhecimento de venda casada no caso concreto, sendo legítima a
contratação.
Nesse sentido, em casos análogos, já decidiu esta Câmara:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE.
VENDA CASADA. Ausência de prova quanto ao
condicionamento da contratação do empréstimo à aquisição
de seguro. NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO.
UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70077348977, Vigésima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Walda
Maria Melo Pierro, Julgado em 16/05/2018)

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE
CONTRATUAL. PEDIDOS CUMULADOS DE REPETIÇÃO
DE INDÉBITO E DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. SEGURO PRESTAMISTA. VENDA CASADA
NÃO COMPROVADA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA
MANTIDA. I. A prova é uma faculdade atribuída às partes,
para que demonstrem ao juízo os fatos alegados. Na
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hipótese, não se desincumbiu o demandante do ônus da


prova do fato constitutivo de seu direito, ainda que
minimamente, em desatenção ao determinado no art. 373, I,
do CPC/2015. Assim, inexistindo prova de que o seguro
prestamista foi imposto à parte autora como pressuposto
para a concessão do empréstimo bancário, inviável declarar
a nulidade da contratação. II. A existência de prática de
ilícito por ação ou omissão, dolosa ou culposa, é
pressuposto básico para a possibilidade de condenação ao
pagamento de indenização por danos morais. Caso em que
não houve conduta das requeridas a ensejar tal condenação.
III. Majorados os honorários advocatícios devidos aos
procuradores das rés, com fulcro no art. 85, § 11, do
CPC/2015. Apelação cível desprovida. Unânime. (Apelação
Cível Nº 70075732180, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Dilso Domingos Pereira, Julgado
em 29/11/2017)

Da Compensação e Repetição de Indébito

Tendo-se operado a revisão judicial das cláusulas contratuais abusivas,


consistente na limitação dos juros remuneratórios, mostra-se cabível a repetição dos valores
pagos a maior pelo contratante, na forma simples.
No que pertine à repetição do indébito, a jurisprudência do E. STJ firmou-se
no sentido de que ela é possível, de forma simples, e não em dobro, caso seja verificada a
cobrança de encargos ilegais, tendo em conta o princípio que veda o enriquecimento
injustificado do credor.
Ante a determinação para repetição do indébito, disso decorre a
compensação dos valores pagos a maior, possibilitando evitar-se o enriquecimento sem
causa, a propiciar o afastamento da onerosidade excessiva e o desequilíbrio econômico do
contrato.
Portanto, mantida a determinação de repetição simples do indébito, bem
como de compensação dos valores pagos a maior com o saldo devedor ainda restante.

Danos morais
Não merece prosperar o pedido de indenização por danos morais.

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As situações narradas na inicial não transcendem os meros dissabores e


incômodos próprios da situação que, na espécie, não ensejam direito à reparação de danos
morais.

Não se pode admitir que a parte autora seja ressarcida por danos
extrapatrimoniais se o que ocorreu não passou de transtorno do cotidiano que deve ser
absorvido pela parte autora, não dando azo à reparação por danos morais, sob pena de
banalização do instituto.

Assim, não há qualquer elemento que indique que a situação tenha causado
maiores transtornos à parte autora, não ultrapassando a condição de mero aborrecimento ou
dissabor.
Ressalte-se que não há nos autos notícia de que a apelante tenha sido inscrita
indevidamente em cadastro de inadimplentes, pelo que não se pode reconhecer ocorrentes
danos morais fundados somente na abusividade de cláusulas contratuais, não se tratando de
hipótese de dano in re ipsa.
Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. REVISÃO DE CONTRATO. Consoante
entendimento preconizado no Superior Tribunal de Justiça e
que vem sendo adotado por esta Câmara, mostra-se possível
a limitação dos juros remuneratórios à taxa média de
mercado definida pelo BACEN, à época dos contratos,
quando constatada abusividade, nos termos do Código de
Defesa do Consumidor. No caso em exame, a taxa de juros
cobrada no contrato objetos de revisão, é significativamente
superior à taxa média do BACEN, razão pela qual cabível a
limitação. Precedentes desta Corte. Não há falar em dano
moral, haja vista não ter havido qualquer comprovação no
sentido de indução em erro ou má-fé por parte da instituição
financeira, razão pela qual não restaram demonstrados os
pressupostos para a configuração do dano moral, a saber:
a) ação ou omissão do agente; b) ocorrência de dano; c)
culpa e d) nexo de causalidade. NEGARAM PROVIMENTO
À APELAÇÃO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70080885577, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Walda Maria Melo Pierro, Julgado em
10/04/2019)

Improcede, pois, o pedido indenizatório.


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Da descaracterização da mora. Tutela de evidência.


Nas hipóteses em que há cobrança de parcelas ilegais por parte do credor no
período anterior à inadimplência, a mora fica descaracterizada para todos os fins. Nesses
casos, na realidade, é o ato do credor que causa a inadimplência do devedor, a qual é
justificada pela exigência de valores ilegais e indevidos.
Assim, no caso vertente, reconhecida a existência de encargos ilegais e
abusivos nos contratos entabulados entre as partes, persistirá a inocorrência da mora e a
consequente inexigibilidade dos encargos dela decorrente, até que, revisados os contratos e
transitada em julgado a decisão, alguma circunstância fática venha a permitir a incidência
dos encargos moratórios.

Ressalto que a descaracterização da mora do devedor implica a vedação à


inscrição ou manutenção do nome deste em cadastros de inadimplentes, ao menos no que se
refere à relação contratual objeto desta lide.

Pelo exposto, voto por dar parcial provimento ao apelo somente no sentido
de reconhecer a descaracterização da mora do devedor com a consequente vedação à
inscrição ou manutenção de seu nome em cadastros de inadimplentes em razão da relação
contratual em análise.

Por fim, em atendimento ao disposto no art. 85, §11, do CPC, majoro os


honorários devidos ao patrono da parte apelante para R$800,00.

É o voto.

DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).


DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI (PRESIDENTE) - De acordo com o(a)
Relator(a).

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DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70080776073,


Comarca de Porto Alegre: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: RADA MARIA METZGER KEPES ZAMAN

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