Resumo
O presente artigo aborda o conceito de gênero, enquanto instrumento teórico que permite uma abordagem empírica e analítica das
relações sociais. O objetivo é mostrar algumas das desconstruções sobre sexo, gênero e sexualidade, realizados nos âmbitos dos Estudos
Feministas, de Gênero e sobre Masculinidade. Mais do que isto, mostrar como as reflexões sobre gênero não podem estar desconectadas das
reflexões sobre sexualidade, e vice-versa. Concluímos com este estudo que gênero é uma construção cultural e social e, como tal, sua
representação e disseminação pelos meios comunicacionais é responsável pela construção de ideais sociais, valores, estereótipos e
preconceitos.
Unitermos: Gênero. Representação social. Relações sociais.
Abstract
This article discusses the concept of gender as a tool that allows a theoretical empirical and analytical approach of social relations.
The goal is to show some of deconstructions about sex, gender and sexuality, made in the areas of Women's Studies, Gender and
Masculinity on. More than that, showing how the reflections on gender can not be disconnected from the reflections on sexuality, and vice
versa. We conclude from this study that gender is a cultural and social construction and, as such, its representation and dissemination by
means communication is responsible for the construction of social ideals, values, stereotypes and prejudices.
Keywords: Gender. Social representation. Social relations.
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. http://www.efdeportes.com/
1/1
Introdução
Em primeiro lugar é importante definir as relações de sexo, gênero e sexualidade, com freqüência, que
são erroneamente usados como sinônimos. Quando conceituamos sexo, refere-se às características
biológicas de homens e mulheres, ou seja, às características específicas dos aparelhos reprodutores
femininos e masculinos, ao seu funcionamento e aos caracteres sexuais secundários decorrentes dos
hormônios. Sobre esta questão Bourdieu (2003) nos explica que há:
Definindo gênero, podemos dizer que se refere às relações sociais desiguais de poder entre homens e
mulheres que são o resultado de uma construção social do papel do homem e da mulher a partir das
diferenças sexuais.
O conceito de sexualidade refere-se ao dado sexual, que se define pelas práticas erótico-sexuais nas
quais as pessoas se envolvem, bem como pelo desejo e atração que leva a sua expressão (ou não) através
de determinadas práticas. Esse dado também é chamado por alguns/as de “orientação sexual”, e
comumente classifica as pessoas em “heterossexuais”, “homossexuais” e “bissexuais”.
http://www.efdeportes.com/efd176/o-conceito-de-genero-e-suas-representacoes-sociais.htm 1/11
04/02/2018 O conceito de gênero e suas representações sociais
Este artigo aborda a emergência e importância do conceito de gênero, enquanto instrumento teórico que
permite uma abordagem empírica e analítica das relações sociais. O objetivo é mostrar algumas destas
“desconstruções” sobre sexo, gênero e sexualidade, realizados nos âmbitos dos Estudos Feministas, de
Gênero e sobre Masculinidade, através de bibliografias nesta temática. Com isso, discutiremos o gênero,
seus conceitos e suas representações sociais, assim como a relação de gênero e sua condição divergente.
Acerca dos conceitos de gênero discutidos neste tópico iremos abordar a importância que está em
mostrar que certos modelos de conduta e expectativa para homens e mulheres são construídos socialmente
através dos tempos e não determinados pelo sexo. Estes são desenvolvidos a partir das relações durante
todo o processo de crescimento e desenvolvimento dos seres humanos, determinando papéis e funções,
impostos e adaptados ao período histórico, ideologia1, cultura e religião, acompanhando o desenvolvimento
econômico (SWAIN, 2001), simbolizando, portanto, uma retradução cultural do biológico, definido por
qualidades opostas atribuídas ao homem e a mulher.
O conceito de gênero é definido, segundo Alves e Pitanguy (1985), como uma construção
sociocultural, que atribui a homem e mulher papéis diferentes dentro da sociedade e depende
dos costumes de cada lugar, da experiência cotidiana das pessoas, bem como da maneira
como se organiza a vida familiar e política de cada povo.
Destarte Suárez (2000), também corrobora com os autores acima descritos a qual ressalta
que o gênero demonstra a ligação entre homens e mulheres e a natureza com finalidade
mesmo que simbólicos, da igualdade entre eles. Neste sentido, o conceito de gênero é
compreendido como a desnaturalização do sexo, como características biológicas de cada
indivíduo, delimitando o poder entre os sexos.
Desse modo, as mulheres são vistas como passivas atribuindo-lhes as qualidades como
paciência, fragilidade, emoção, enquanto as qualidades ativas como agressividade, força,
dinamismo, que caracterizam o masculino. Assim, o conhecimento do gênero permite pensar
nas diferenças sem transformá-las em desigualdade2, ou seja, sem que as diferenças sejam
ponto de partida para a discriminação.
A mulher deve ser considerada uma parceira nas questões tanto sociais quanto
profissionais, visto que sua força traduz-se no emocional, quando gera e educa os filhos,
edifica o lar, sendo compreensiva com todas as questões do marido e de toda a família.
Cabral e Diaz (1999) ressaltam que as questões relativas à mulher são tratadas sob o termo
de gênero, construído socialmente buscando compreender as relações estabelecidas entre
homens e mulheres, os papéis que cada um assume na sociedade e as relações de poder
estabelecidas entre eles. Assim, desde pequena a mulher é conduzida ao papel que deve
desempenhar, sendo estimulada em brincadeiras consideradas tipicamente femininas, como
bonecas, casinha, entre outras. Os brinquedos infantis expressam as diferenças de sexo, mais
que os instintos naturais, uma convenção social.
Assim, podemos notar que as representações sociais se definem como uma categoria
social que retratam a realidade como ela é, e que serão discutidas em seguida.
significados para fenômeno da vida cotidiana3 (TEIXEIRA, 1999). De acordo com essa análise
entende-se que as representações sociais são construídas no dia-a-dia da vida social, a partir
de um processo sócio cultural local, entre os sujeitos sociais. Essa construção ocorre em
todos os espaços da sociedade.
Teixeira (1999) entende as relações sociais como a relação de dois mundos sendo o
primeiro da experiência individual, de onde resultam os comportamentos e percepções
advindas de processos íntimos, às vezes de natureza fisiológica. O segundo mundo, por sua
vez é propriamente o das relações interpessoais, explicando em função de interação,
estruturas e trocas de poder.
O ator social depende da sua história de vida, através dos conhecimentos de sua
experiência a determinado tema, aspecto ou situação de acordo com a história já existente.
Dessa forma, através da experiência adquirida anteriormente são construídos os símbolos e
significados que permitem aos indivíduos de um determinado grupo interpretar a ação
recebida frente às suas necessidades.
http://www.efdeportes.com/efd176/o-conceito-de-genero-e-suas-representacoes-sociais.htm 3/11
04/02/2018 O conceito de gênero e suas representações sociais
para que isso não ocorra existem regras que devem ser acatadas desde infância, nos tipos de
brincadeiras, nos modos, próprio de ser meninos e meninas.
Moreira (2012) e Carloto (2001) corroboram com a idéia de que as atividades masculinas
são distintas das femininas, em espaços produzidos pelas esferas domésticas e públicas. Cada
uma desta constitui-se num espaço pertencente a um dos gêneros, difícil de sobreporem. O
afastamento da mulher da esfera doméstica, seu lugar natural, é muitas vezes tido como uma
degradação moral, conseqüência da exploração capitalista.
Essa afirmação dos autores pode ser observada ainda na infância, constatando que as
meninas brincam com panelinhas, bonecas, de casinha, sendo motivadas através dos
brinquedos, a maternidade e cuidar do lar e da família, reprodução da prole. Os meninos
brincam com carrinhos, de bombeiro, polícia, caminhão, bicicleta, brincadeiras diretamente
ligadas a profissões, imputando a idéia de que, ao homem cabe a função de trabalhar para
sustentar a família.
O destino de identidades e atividades como a separação dos âmbitos de ação para homens
e mulheres, que estão valorizados de forma diferente, é a expressão social da desigualdade
(VELOSO, 2001). Desta valorização desigual surge um acesso também desigual ao poder e
aos recursos, o que hierarquiza as relações entre homens e mulheres.
Diante disso, o gênero constitui uma realidade complexa, não podendo, portanto, ser
considerado um conceito fixo (Saffioti 1999 apud
CARLOTO, 2001), mas constantemente
redefinido pelos indivíduos em situações na qual se encontram e que acabam por compor-se
em momentos históricos. De fato, quase sempre as mulheres são cerceadas em suas
necessidades e capacidades em função da diferença sexual.
Destarte Moreira (2012) considera que ambos os sexos são capazes de qualquer função,
sendo possível discorrer que não é a natureza, mas a sociedade que impõe à mulher e ao
homem certos comportamentos e normas distintas. O ser humano nasce sexualmente neutro
em atribuições e o meio social em que vive determina os papéis masculinos ou femininos,
instituindo assim o gênero, isto é, hierarquias socialmente constituídas.
http://www.efdeportes.com/efd176/o-conceito-de-genero-e-suas-representacoes-sociais.htm 4/11
04/02/2018 O conceito de gênero e suas representações sociais
A divisão de gênero inscrita na ordem dos espaços, bem como a oposição entre o meio
doméstico e o público, constitui a concordância espontânea entre estruturas sociais e
cognitivas, percebidas na diferença dos corpos, confere-se, assim, a base experimental da
dominância inscrita na natureza das coisas invisíveis e não questionadas.
Essa idéia é compartilhada por Moreira (2012), a qual acrescenta que, além do papel social
definido em feminino e masculino, as representações e imagem de gênero constroem os
corpos biológicos, não só como sexo genital, mas igualmente moldando-os e sujeitando-os às
práticas normativas que hoje se encontram disseminadas no ocidente. Nessa perspectiva, as
representações sociais são consideradas uma forma de construção da realidade, cuja
mediação atravessa e constitui as práticas pelas quais se expressam.
http://www.efdeportes.com/efd176/o-conceito-de-genero-e-suas-representacoes-sociais.htm 5/11
04/02/2018 O conceito de gênero e suas representações sociais
Nas lutas femininas as mulheres ousaram reivindicar por espaços e direitos em um mundo
culturalmente pertencentes aos homens, pois estes naturalmente sempre tiveram garantido
seus direitos. Elas conquistaram o direito ao voto, cidadania e no mundo do trabalho vêm
buscando igualdade de oportunidades, nada aconteceu por acaso, tudo foi conquistado
através de reivindicações.
O século XX foi importante para as mulheres na organização em defesa dos seus direitos.
A luta das mulheres contra as formas de opressão a que eram submetidas foi denominada de
feminismo e a sua organização em prol de melhorias na infraestrutura social foi conhecida
como movimento feminista. Esta também tem divisão dentro dela, pois o valor moral imposto
às mulheres durante muito tempo dificultou a luta pelo direito de igualdade. Foram
discriminadas pelos homens e também por aquelas que aceitavam o papel de submissão na
sociedade patriarcal4.
Deste modo, Carneiro (2012), mostra que a luta feminina é uma busca para a construção
de novos valores sociais, morais e culturais. É uma luta pela democracia, que deve nascer da
igualdade entre os sexos e evoluir para igualdade entre todos, suprimindo a desigualdade de
classe. A busca pela democratização das relações de gênero persistiu e com a Constituição
Federal de 1988 a mulher conquistou a igualdade jurídica (CARNEIRO, 2012).
A luta das mulheres foi contra a discriminação, violência, preconceito e ganha cada vez
mais visibilidade na sociedade. Isso é fruto das mobilizações, movimento, estudo e
participação efetiva das mulheres nos sindicatos, escolas, universidades, associações.
As histórias de vida, desejos, angústias, denúncias e propostas saem da esfera doméstica e
ganha o mundo público. Entretanto, mesmo com todas as transformações ocorridas na
condição feminina, muitas mulheres ainda não podem decidir sobre suas vidas, não se
constituem enquanto sujeito e estão sendo lançadas á exclusão social por esse modelo
econômico injusto imposto pelo capitalismo.
A partir dos anos 1980, o movimento feminista imprimiu um caráter político às suas
demandas, além de um contínuo diálogo com o Estado e com a sociedade. Foi uma luta por
igualdade de leis, políticas públicas que contemplassem as necessidades de elaboração e
implementação de uma política nacional voltada para o combate da criminalidade, baseada
nas relações de gênero. Os movimentos feministas apresentaram-se como ameaça a
sobrevivência do homem. Assim, o acesso ao trabalho, liberdade sexual, o investimento na
educação, a conquista de cargos políticos, a diminuição do número de filhos e os casamentos
tardios vêm obrigando os homens a repensar a sua maneira de agir frente às mulheres e a si
mesmo (SARTI, 2004).
http://www.efdeportes.com/efd176/o-conceito-de-genero-e-suas-representacoes-sociais.htm 6/11
04/02/2018 O conceito de gênero e suas representações sociais
Desta forma, Sarti (2004), diz que a ideologia de feminilidade ultrapassa a porta da casa e
se verifica, também, no tipo de formação profissional da mulher, pois determinadas carreiras
seriam próprias da mulher na medida em que, se encaixaria à sua natureza.
Nas últimas décadas, as mulheres têm participado das conferências mundiais de forma
organizada como a Conferência de Beijing em 1995, ocorrida na cidade de Huairou, China, a
qual foi a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, promovida pela ONU. O tema desta
conferência, como nas outras do chamado ciclo social, com o lema de igualdade e paz,
discutiu vários temas pertinentes, entre eles pobreza, educação, saúde e violência, além dos
direitos humanos. A plataforma dessas conferências aborda também as iniciativas que devem
ser tomadas para promover as mulheres, no sentido de aumentar a participação destas, em
pé de igualdade com os homens, em todos os domínios da vida social. Este foi então, o
compromisso assumido pelas organizações governamentais presentes (ALVES, 2012).
As mulheres lutaram muito para conquistar seus direitos, essa luta tem sido histórica, pois
ao compreender como as relações de gênero estruturam o conjunto das relações sociais,
torna-se mais fácil a um grupo ou uma comunidade compreender o sistema a que pertence e
questioná-lo em função dos seus objetivos e propostas de crescimento e desenvolvimento.
Com este conceito, as relações que se formam a partir das dimensões sociais do sexo
perfazem as dimensões do gênero a partir das quais se desenvolverá todo o discurso,
inicialmente elaborado pelo direito de família, uma vez que é exatamente na instituição
familiar que desenvolve uma grande parcela, ou pelo menos a mais significativa da
construção dos papéis sexuais (MAGALHÃES, 2012).
Há mais de três décadas, a militância dos movimentos feministas encontrou seu referencial
empírico na denúncia da violência sexual contra a mulher. A ideologia de inferioridade
feminina justificou o autoritarismo masculino, interpretando a violência do homem contra
mulher como algo natural e, assim, fazendo com que a mulher não reconheça o tipo de
violência sofrida.
Scott (1995) coloca a necessidade de rever se estamos no campo das relações assimétricas de poder
social, pois a concepção de que o poder social é unificado, coerente e centralizado, imobiliza qualquer
tentativa inovadora. Apóia-se no conceito de poder de Michel Foucault, entendido como constelações
dispersas de relações desiguais, discursivamente constituídas em diferentes campos sociais. Scott continua
nos explicando que esses campos são entendidos como processos e estruturas, que abrigam o conceito,
utilizado por Foucault: capacidade do ser humano de se autogerenciar no embate constante com as
múltiplas circunstâncias de vida:
[...] construir uma identidade, uma vida, um conjunto de relações, uma sociedade
estabelecida dentro de certos limites e dotada de uma linguagem – uma linguagem conceitual
que estabeleça fronteiras e contenha, ao mesmo tempo, a possibilidade de negação, da
resistência, da reinterpretarão e permita o jogo da invenção metafórica e da imaginação.
(Scott, 1995, p.86)
http://www.efdeportes.com/efd176/o-conceito-de-genero-e-suas-representacoes-sociais.htm 7/11
04/02/2018 O conceito de gênero e suas representações sociais
Para Scott, a questão da dominação de gênero não deve ser encarada como algo natural, ou
simplesmente explicável. No interior de cada situação social e histórica, podem-se identificar resistência e
múltiplas versões que, são mantidas, transformadas ou sustentadas, dependendo do aprofundamento
teórico empregado como lente para interpretar, avançar e elucidar essa dominação.
Como instrumento teórico para os estudos feministas, baseamos em Jacques Derrida, para realizar a
crítica aos estudos que postulam uma oposição binária entre masculino e feminino, homem e mulher,
levando em conta o contexto, a forma pela qual opera, reproduz e se mantém qualquer oposição binária,
desvelando sua construção hierárquica, em vez de aceitá-la como real ou evidente, ou como fazendo parte
da natureza das coisas.
A princípio vamos considerar as diferenças entre os gêneros homem e mulher e avaliar suas atuações ao
longo da história. Sob perspectiva biológica, as diferenças são evidentes, pois ao observar os corpos de
homens e mulheres conclui-se que não são iguais. A mulher possui traços mais finos e um órgão sexual
interno, o homem possui formas mais grossas e órgão sexual externo. As diferenças físicas podem ter
contribuído para a elaboração de posições sociais deferentes para cada gênero. Bourdieu (1996) cita muito
bem essas diferenças físicas quando narra a questão sexual em consonância com a dominação, ocasionada
pela filosofia social da época:
(...) fazer parte do sistema confere uma força sistematicamente que faz com que não se
escape facilmente desse gênero de pensamento. A ratificação social de fatos fisiológicos (a
ereção, pensada segundo o esquema do “inflar” que permite pensar todos os fatos da
fecundidade) conduz a fundar, numa razão mitológica, os traços mais arbitrários da
denominação masculina, e a estabelecer, por exemplo, a ligação entre a virilidade física e a
virilidade psíquica ou ética (...) (BOURDIEU, 1996 p.32).
As construções de valores a partir das características físicas estabelecem funções de gêneros sociais. As
mulheres por sua “fragilidade” física, consideradas doces e indefesas; o homem é tido o responsável pelo
trabalho, pela mente e pelo saber. Pelos conceitos apresentados já se considera que o homem, devido a
sua força, é capaz de liderar enquanto que a mulher deve segui-lo. A partir daí já se determina então, o
dominante e o dominado, historicamente as características físicas determinavam quem deveria liderar.
A intenção aqui, não é discutir quem é o mais forte ou quem tem mais capacidade de dominação, ou
tencionar que os gêneros são iguais e etc. Mas elaborar uma reflexão do que é o homem hoje e o que é a
mulher hoje mediante sua formação sociológica, biológica, psicológica, tentando mostrar como as reflexões
sobre gênero não pode estar desconectado das reflexões sobre sexualidade, e vice-versa.
Contudo, as diferenças entre homem e mulher já são evidentes após o nascimento, quando há pouca
influencia social. Anne Moir e David Jessel (1992, p.67) em seu livro “Brain Sex” oferecem explicações para
essas diferenças:
http://www.efdeportes.com/efd176/o-conceito-de-genero-e-suas-representacoes-sociais.htm 8/11
04/02/2018 O conceito de gênero e suas representações sociais
Após muitas pesquisas controladas, onde o meio ambiente e a aprendizagem social foram isoladas,
cientistas concluem que existe grande diferença neurofisiológica e anatômicas entre os gêneros.
Dr. Godfrey Pearlson produziu um estudo que comprova as diferenças de tamanho nos cérebros; os
volumes calculados através de software desenvolvido por Dr. Patrick Barta, analisou 15 homens e
mulheres. Mesmo após observarem que o cérebro do homem e naturalmente maior do que o das mulheres,
ainda permanecia uma diferença de 5% nos volumes do LIP (lóbulo infero-parietal). Em geral o LIP permite
que o cérebro processe informações por meio dos órgãos de sentido, auxilia na atenção e percepção
seletiva (por exemplo, as mulheres são mais capazes de se concentrar em um estímulo específico, como
por exemplo, o choro do bebê à noite). (WILSON, 1992)
Estudos comprovaram que o LIP direito da memória esta relacionado a compreensão e manipulação das
relações espaciais e estabelecer relações entre as partes do corpo, bem como a percepção de sentimentos
e emoções. Por sua vez, o LIP esquerdo abrange as percepções de tempo e espaço e capacidade de
rotação mental de figuras tridimensionais. (op. cit.)
Um estudo anterior a este, também dirigido pelo Dr. Godfrey Pearlson, demonstrou que duas áreas nos
lobos frontais e temporais responsáveis pela linguagem são significativamente maiores nas mulheres, o que
comprova suas habilidades lingüísticas.
Os estudos demonstram a razão de as mulheres serem mais emocionais que os homens, e os homens
serem mais racionais que as mulheres, isolado de questões sociais.
Avaliando o aspecto biológico e cientifico nos certificamos que homens e mulheres nascem com
características peculiares que independem de sua classe social, educação adquirida e etc. Concluímos
também que cada gênero possui, por sua formação biológica, tendências que despertaram maiores e
menores interesses. Tendências femininas e tendências masculinas que vão além do interesse pela boneca
e o interesse pelo carrinho, desde a sua concepção.
Considerações finais
Todavia, ao pensarmos em gênero vamos encontrar um sistema disciplinário e normativo que define as
bases do papel da mulher e que tem determinado sua posição na sociedade ao longo da história humana, à
raiz de uma conseqüência biológica, a capacidade de gerar filhos. A partir disto, se estabelece um dos mais
importantes mecanismos de controle e poder, o controle da reprodução, que não podendo ser desvinculada
da mulher, determina “esse seu lugar social”.
A questão de gênero é, antes de tudo, uma construção social e uma realização cultural. Essa construção
sexista “masculino/feminino” coloca evidentemente o primeiro elemento em superioridade, propagando a
noção simplista de “homem dominante versus
mulher dominada”.
Conclui-se que gênero é uma construção cultural e social e, como tal, sua representação e disseminação
pelos meios comunicacionais é responsável pela construção de ideais sociais, valores, estereótipos e
preconceitos.
Notas
1. Um dos traços fundamentais da ideologia consiste, justamente, em tomar as idéias como independentes da realidade histórica e
social, de modo a fazer com que tais idéias expliquem aquela realidade, quando na verdade é essa realidade que torna
compreensíveis as idéias elaboradas. (CHAUÍ, 1986, p.10-11)
2. Na espécie humana, dois tipos de desigualdade: uma que chamo de natural ou física, por ser estabelecida pela natureza e que
consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito e da alma; a outra, que se pode
chamar de desigualdade moral ou política, porque depende de uma espécie de convenção e que é estabelecida ou, pelo menos,
autorizada pelo consentimento dos homens. (ROUSSEAU, 1988, p. 39)
3. À vida cotidiana é um conjunto de atividades que caracteriza a reprodução dos homens singulares que, por seu turno criam à
possibilidade da reprodução social. Isso significa que, na vida cotidiana, o indivíduo se reproduz indiretamente à totalidade social.
http://www.efdeportes.com/efd176/o-conceito-de-genero-e-suas-representacoes-sociais.htm 9/11
04/02/2018 O conceito de gênero e suas representações sociais
(CARVALHO, 1999, p. 26)
4. Engels (2002) cita uma variação de composição familiar, que é família patriarcal. Ela tem sua origem intrínseca ao surgimento da
escravidão, e tem sua organização baseada na formação de um grupo composto por homens livres e não livres, sob o poder de um
chefe, um senhor. É neste contexto que surge o termo famulus, que posteriormente dá origem a denominação de família.
Observa-se, pois, que o termo famulus diverge em grande parte do que se entende hoje por família.
Referências
ALVES, J.A.L. Relações internacionais e temas sociais: a década das conferências. Brasília, 2001.
cap. 7.
ALVES, Branca Moreira; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. 5. ed. São Paulo: Brasiliense,
1985.
AMMANN, Safira Bezerra. Mulher: trabalha mais, ganha menos, tem fatias irrisórias de poder.
Serviço Social e Sociedade
, São Paulo, Ano XXIV, n. 55, p. 84-104, nov. 1997.
Anne Moir, David Jessel. Brainsex: a real diferença entre homens e mulheres. London: Arrow Books,
1996.
___________. Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Tradução de Mariza Corrêa. Campinas:
Papirus, 1996.
CARLOTO, CÁSSIA MARIA. O conceito de gênero e sua importância para a análise das relações
sociais. Serviço Social em Revista,
Londrina, v. 3, n. 2, p. 201-213, 2001.
CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. Estudos Avançados,São Paulo, v. 17, n. 49, Sept. / Dec.
2003.
GALEAZZI, Irene M.S. Mulheres trabalhadoras: a chefia da família e os condicionantes de gênero. In:
Mulher e trabalho.
GALEAZZI, Irene M.S (Org.). Porto Alegre: FEE, 2001. p. 61-68.
MAGALHÃES, Renato Vasconcelos. Discurso sobre o gênero na lei nº 11.340/06. Disponível em:
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9826. Acesso em: 13 set. 2012.
MOREIRA, Marilda Maria da Silva. Assédio sexual feminino no mundo do trabalho: algumas
Serviço Social em Revista,
considerações para reflexão. Londrina, v. 4, n. 2, 2002.
RAGO, Margareth. Entre a História e a Liberdade. Luce Fabbri e o Anarquismo contemporâneo. São
Paulo: UNESP, 2001.
_________. Já se Mete a Colher em Briga de Marido e Mulher. São Paulo em Perspectiva, v. 13, n. 4,
1999.
http://www.efdeportes.com/efd176/o-conceito-de-genero-e-suas-representacoes-sociais.htm 10/11
04/02/2018 O conceito de gênero e suas representações sociais
_________. Rearticulando gênero e classe social. In: COSTA, A.O.; BRUSCHINI, C. (Orgs.) Uma
Questão de gênero.São Paulo, Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992.
SARTI, C.A. O feminismo brasileiro desde os anos 70: Revisitando uma trajetória. Revista de Estudos
Feministas, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, 2004.
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. Porto Alegre,
v. 20, n. 2, p. 71-99, jul./dez. 1995.
SUÁREZ, M. Gênero: uma palavra para desconstruir idéias e um conceito empírico e analítico. In: I
Encontro de Intercâmbio de Experiências do Fundo de Gênero no Brasil. Gênero no mundo do
trabalho
. Brasília: [s.n.], 2000.
TEIXEIRA, V.L. O Trabalho Feminino numa Agricultura Familiar em Crise. Monografia. Universidade
Federal Fluminense, Niterói, 1999.
VELOSO, R. No caminho de uma reflexão sobre serviço social e gênero. Praia Vermelha, Rio de
Janeiro, v. 2, n. 4, 2001.
http://www.efdeportes.com/efd176/o-conceito-de-genero-e-suas-representacoes-sociais.htm 11/11