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ESTRATIFICAÇÃO E DESIGUALDADE SOCIAL

A estratificação e a desigualdade social fazem parte das sociedades humanas, que são
divididas com base em critérios socialmente construídos.
Os bairros periféricos são exemplos concretos da estratificação e da desigualdade social.

A desigualdade social é, para a Sociologia, um grande objeto de estudo. Vários estudos


sociológicos mostram que alguns dos fenômenos sociais mais graves, como a violência, podem
estar relacionados com as relações desiguais estabelecidas entre os sujeitos. É comum pensar
que a desigualdade está relacionada apenas com a condição econômica das pessoas. Porém,
embora tenha grande impacto na realidade individual, a condição material é apenas uma das
inúmeras diferenciações que possuem valor social agregado e que podem influenciar positiva ou
negativamente a realidade de um sujeito. Atributos como gênero, idade, crença religiosa ou
etnia podem e são vistos dentro de um contexto valorativo, isso é, são vistos como
características aceitáveis, desejáveis ou repulsivas. É nesse contexto que se aplica o conceito
de estratificação social.
Uma forma simples de entender o que é a estratificação social é enxergá-la como um conjunto
de desigualdades que atingem diferentes sujeitos de uma sociedade, separando-os de alguma
forma dos demais. Um grupo de pessoas que pertence a uma camada mais pobre de uma
sociedade, por exemplo, acaba não tendo acesso aos mesmos serviços disponibilizados a uma
pessoa de melhor condição econômica. Isso também é visto de forma ainda mais clara na
composição e na organização da maior parte das grandes cidades. Os bairros periféricos, ou as
“periferias”, onde se encontra a maior parte da população mais pobre, estão localizados,
comumente, mais afastados dos centros das cidades.
Nesse sentido, as sociedades podem ser vistas como construídas em uma pirâmide hierárquica:
uma minoria favorecida encontra-se no topo e os menos favorecidos encontram-se mais
próximos da base. A estratificação, no entanto, não é característica exclusiva de nossa era
contemporânea. A desigualdade foi vista em diferentes épocas da história humana e segue
padrões de organização diferentes a depender do período e das convenções sociais. Esses
sistemas de estratificação estão divididos em quatro tipos diferentes: a escravidão, a casta, o
estamento e a classe.
 A escravidão é uma forma extrema de desigualdade. Nesse sistema, alguns indivíduos tornam-
se propriedade de outros, sendo tratados como objetos, sem força de ação ou vontade que não
seja a de seu senhor. Embora tenha sido formalmente erradicada, a escravidão ainda existe em
certas partes do mundo, inclusive no Brasil.
 O sistema de castas está associado principalmente às culturas indianas que partilham da crença
hindu referente à reencarnação. Esse sistema parte da crença de que os indivíduos estão
separados em diferentes níveis hierárquicos determinados desde o nascimento. Cada casta
possui um papel fixo a ser cumprido, e aqueles que não forem fiéis aos rituais e aos deveres de
sua casta renascerão em uma posição inferior na próxima encarnação. Não existe, portanto,
mobilidade entre as hierarquias de uma casta, que determina até o tipo de contato que cada
indivíduo pode ter com membros de outras castas.
 Os estamentos foram a forma de organização social de um grande número de civilizações no
mundo antigo. O mais famoso deles foi visto na era feudal europeia. Os estamentos feudais
constituíam estratos com diferentes obrigações e direitos, isto é, eram divididos em aristocratas
e nobres, que ocupavam o posto mais alto da hierarquia, o clero ou as autoridades religiosas,
que formavam outro estamento voltado exclusivamente para atividades religiosas, e os servos,
mercadores e artesãos, que compunham a plebe. Nesse sistema, cada estamento possuía
obrigações específicas: os nobres guerreavam; o clero cuidava dos costumes religiosos, e os
servos eram responsáveis pela produção dos bens consumíveis necessários.
 O sistema de classes possui maior complexidade e é muito diferente dos outros tipos de
estratificação. Embora não haja consenso entre os estudiosos do assunto, podemos definir,
resumidamente, uma classe social como um grande agrupamento de pessoas que dividem
condições materiais parecidas, condições essas que influenciam imensamente os demais
aspectos de suas vidas. Isso quer dizer que a condição econômica tem profunda influência sobre
as formas de diferenciação das classes. Diferentemente de outros tipos de estratificação, as
classes não são estabelecidas por intermédio de posição religiosa ou por posição herdada. Os
indivíduos possuem certa mobilidade na organização social, podendo ascender ou descender na
estrutura hierárquica. A esse movimento damos o nome de mobilidade social, uma importante
parte da dinâmica de uma sociedade.
Dois teóricos destacaram-se no campo de estudo da teoria de classes: Karl Marx e Max Weber.
Eles se pautaram na noção de que uma classe é constituída por um grupo de pessoas que se
assemelham em relação à posse de meios de produção. Existiriam então duas classes sociais
principais distintas: os industrialistas ou capitalistas e o proletariado. O primeiro detém os meios
de produção (indústrias, fábricas, manufaturas), e o segundo dispõe apenas de sua própria força
de trabalho para obter seu sustento.
Weber, entretanto, apesar de pensar como Karl Marx em relação à influência da realidade
material na formação de nossa sociedade, acreditava que haveria mais fatores, além da condição
material do indivíduo, que influenciariam a construção social. Para Weber, as teorias puramente
materialistas eram insuficientes para compreender a complexidade das relações sociais entre
classes. Dimensões da vida social, como a desigualdade social, não se resumiam puramente à
condição material de cada indivíduo. Era necessário observar, portanto, as demais variáveis que
afetariam a construção do sujeito social, como o status social, que é definido na relação de
diferenças entre grupos sociais e de acordo com o prestígio social conferido pelos demais. Essa
relação de status, por exemplo, vai além das separações econômicas, sendo determinado com
base no conhecimento direto de uma pessoa diante de interações em diferentes contextos. Isso
confere certo poder de ação ao indivíduo, além daquele determinado por suas posses materiais.

Por Lucas Oliveira


Graduado em Sociologia

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
Toda sociedade estratifica seus membros. Algumas pessoas possuem mais posses e mais dos
recursos que a sociedade valoriza. Estratificação social descreve a forma como diferentes
grupos de pessoas são colocados na sociedade. Em outras palavras, é o sistema hierárquico por
meio do qual a sociedade categoriza seus membros.
Em uma sociedade estratificada, as vantagens e recursos – propriedade, poder e prestígio – são
distribuídas de forma desigual. Geralmente, propriedade (riqueza), poder (influência) e prestígio
(status) andam juntos. As pessoas são, portanto, categorizadas hierarquicamente de acordo com
quanto possuem das vantagens e recursos da sociedade. O status das pessoas é frequentemente
determinado pela forma como a sociedade é estratificada, de acordo com os seguintes fatores:
 Riqueza e renda
 Classe social
 Etnia
 Gênero (masculino ou feminino)
 Status político
 Religião
A estratificação da sociedade depende do tipo de sistema que vigora – aberto ou fechado. Em
um sistema aberto, o status é obtido por meio de mérito e esforço. Isso é
denominado meritocracia. Em um sistema fechado, o status é atribuído, não adquirido. Esse
tipo de status depende de vários fatores: laços familiares (o sistema feudal na Idade Média),
fatores políticos (sociedades comunistas), fatores étnicos (o regime do apartheid na África do
Sul) e fatores religiosos (o sistema de castas na Índia).
Sistemas modernos de estratificação

Hoje, há três principais sistemas de estratificação: a escravidão, o sistema de castas e o sistema


de classes sociais.
A escravidão
O sistema mais fechado é o de escravidão, ou seja, a posse de seres humanos. A escravidão foi
um fenômeno bastante comum ao longo da história.
O maior exemplo desse tipo de sistema foi da escravidão dos negros nas Américas.
A escravidão dos negros é um dos capítulos mais tristes e vergonhosos na história humana. O
tráfico e a subsequente escravidão de seres humanos ocorreram por motivos econômicos. O
trabalho forçado e os maus-tratos resultaram no sofrimento e na morte de milhões de pessoas,
covardemente escravizadas pelos europeus.
Em 1518, a Espanha oficializou o tráfico de escravos para as Américas. A partir de então, ao
longo de quase quatro séculos, o tráfico de escravos cresceu continuamente. Os escravos
africanos eram trazidos para as Américas. A maioria era obrigada a trabalhar nas minas e
plantações; a minoria trabalhava como servos e artesãos. Quando o tráfico de escravos
finalmente chegou ao fim, em meados do século XIX, havia de 10 a 12 milhões de escravos nas
colônias europeias das Américas.
A escravidão ainda existe hoje: há aproximadamente 400 milhões de pessoas que vivem como
escravos, apesar de leis que proíbem a escravidão. Na Mauritânia, no Sudão, em Gana e em
Benin, a escravidão é praticada da mesma forma como era há 800 anos. Em outras partes do
mundo – Bangladesh, Índia, Nepal e Paquistão – a escravidão por dívida é um fenômeno
comum. Em alguns países na Ásia, a escravidão sexual – fenômeno em que meninas e moças
são obrigadas a se prostituir – é comum.

O sistema de castas
O sistema de castas é um tipo de estratificação social fechada, que cria uma sociedade estática,
destituída de mobilidade vertical. O sistema de castas apresenta as seguintes características:
hereditariedade (a condição de cada indivíduo passa de pai para filho); endogamia (as pessoas
só podem se casar com membros do mesmo grupo); predeterminação da profissão, dos hábitos
alimentares e do vestuário dos indivíduos de cada grupo; e rituais de iniciação (o pai transmite
para o filho os conhecimentos profissionais e os hábitos do grupo por meio de ritos fechados e
envoltos em mistério).

Sistema de castas na Índia


Na Índia, o termo usado para casta é jati, que significa "nascimento" ou "tipo". De acordo com
os textos sagrados hindus, cada indivíduo está predestinado a pertencer a uma casta. Cada casta
está associada a certas profissões e possui suas próprias regras de conduta e de prática religiosa.
Tais regras determinam com quem seus integrantes podem comer, com quem podem se associar
e que tipo de trabalho podem realizar. Um membro de uma casta superior era proibido de se
relacionar com alguém que pertencesse a uma casta inferior, a menos que se tratasse da
execução de uma tarefa diária.
Na Índia, inicialmente, havia somente quatro castas: os brâmanes (nobreza e clero);
os xátrias (militares); os vaixás (comerciantes, artesãos e camponeses) e os shudras (escravos).
Com o passar do tempo, tais castas se subdividiram.
Na sociedade indiana sempre existiram os párias (os intocáveis), atualmente conhecidos como
os harijansou haridchans. Estes são condenados à total marginalidade: na melhor das hipóteses,
permite-se que desempenhem trabalhos degradantes e mal remunerados. Infelizmente, apesar
dos esforços do governo indiano para eliminar as castas, estas continuam a existir, pois
determinações jurídicas institucionais não eliminam tradições arraigadas.
As regras complexas que controlavam o contato social entre as castas eram muito rígidas, mas a
Constituição indiana, em vigor desde 1947, introduziu certas medidas para banir a
discriminação. Contudo, não basta mudar a legislação para por fim às antigas divisões sociais e
religiosas. O sistema de castas continua a exercer um papel importante, especialmente no
interior do país.
O sistema de apartheid da África do Sul
Um país que costumava ter um sistema de castas é a África do Sul. O termo apartheid significa
“segregação” ou “divisão” e se refere à total separação das raças que havia no país. Essa política
foi posteriormente denominada "vida separada".
O regime racista da apartheid foi introduzido na África do Sul em 1948 e relegou os negros a
uma casta muito inferior a dos brancos. Durante o apartheid, a maioria negra era subjugada
pela minoria branca. Regras de segregação foram impostas: os negros eram proibidos de
frequentar os mesmos locais públicos que os brancos, de estudar nas mesmas escolas, de morar
nos mesmos bairros e de se casarem com brancos. Sob o regime do apartheid, os negros eram
proibidos de votar. Com a exceção daqueles que eram empregados por brancos, os negros do
país não podiam nem adentrar as áreas onde vivia a população branca. Os negros não podiam
nem mesmo percorrer o país livremente.
A luta de Nelson Mandela e de outros líderes em prol da igualdade dos negros na África do Sul
fez com o sistema de apartheid se tornasse ilegal. Contudo, ainda existe no país preconceito e
discriminação contra a população negra.

Classe social
Muitas sociedades, inclusive todas as industriais, possuem um sistema de classes. Em tal
sistema de estratificação, toda pessoa nasce já pertencendo a uma classe social, mas a
possibilidade de ascensão ou queda é muito maior do que em sistemas de castas ou em
sociedades escravistas. A ascensão ou queda social depende de vários fatores: esforço,
conhecimentos, talentos, sorte, etc. Em tais sociedades, o indivíduo tem liberdade de escolha de
carreira, não é forçado a se casar com ninguém e não é proibido de frequentar certos grupos
sociais. O sistema de classes é mais aberto que os outros dois sistemas de estratificação. É o
sistema que mais oferece mobilidade social vertical. De fato, a mobilidade social – a ascensão
ou queda social – é uma das principais características do sistema de classes.
Classe social refere-se a um grupo de pessoas que compartilham níveis semelhantes de riqueza,
influência e status. Pode ser mensurada de forma objetiva ou subjetiva. O método objetivo
classifica as pessoas de acordo com um ou mais dos seguintes critérios: profissão, nível
educacional e/ou renda. O método subjetivo pergunta às pessoas a que classe elas acreditam que
pertencem.
Em certas sociedades, a ascensão social é algo difícil de se alcançar.
A classe baixa
A classe baixa é tipicamente constituída por pessoas pobres, desempregadas e, em certos casos,
desabrigadas. Muitas delas não completaram o Ensino Médio, não recebem assistência médica,
não têm residência fixa, sofrem de insuficiência alimentar e estão sujeitas à violência. Quando
conseguem um emprego, é geralmente braçal (não especializado). São mal pagas e suas
perspectivas de progresso profissional são mínimas.
A classe média
A classe média é a do “sanduiche”. É constituída por pessoas que estão no meio da escada
hierárquica social. A classe média é dividida em duas subclasses, cada uma de acordo com o
nível de riqueza, educação e prestígio de seus membros. A classe média baixa é constituída por
pessoas que possuem menos riqueza e cuja profissão não é bem paga. Por exemplo, professores
e secretárias. A classe média alta é constituída por profissionais que são bem pagos por seus
serviços: médicos, advogados, engenheiros e dentistas.
A classe alta
A classe alta é constituída por pessoas ricas. Vivem nos melhores bairros, frequentam a alta
sociedade e mandam seus filhos para as melhores escolas. Geralmente, são pessoas com poder e
influência. Pertencem à classe alta os grandes empresários, banqueiros e proprietários de terra.

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