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Teixeira de Freitas
2010
ANDRÉA REJANE GOMES SOUZA
Teixeira de Freitas
2010
Monografia intitulada: Os orixás e sua conexão com os filhos-de-santo na cidade de
Teixeira de Freitas, de autoria de Andréa Rejane Gomes Souza, apresentada ao
Colegiado de História do Departamento de Educação/Campus X/UNEB como
requisito parcial para a obtenção do título de licenciado em História, aprovada pela
banca examinadora constituída pelos seguintes professores:
_______________________________________________
Prof. Dr. Fernando Cesar Coelho Costa
DEDC-X/UNEB – Orientador
__________________________________________
Profª. Sayonara Oliveira Andrade Elias
DEDC-X/UNEB
___________________________________________
Profª. Especialista NarimanRomana Carvalho
DEDC-X/UNEB
Teixeira de Freitas-BA, 08 de março de 2010
Dedico esse trabalho ao meu pai João de Deus Souza, que foi
uma pessoa muito importante na minha vida e graças a ele sei
o significado de amar independente de laços de sangue.
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me fortalecido a cada momento que me senti fraca e incapaz de
realizar as atividades do dia-a-dia.
Plutarco
RESUMO
O presente trabalho consiste em um estudo sobre a inserção do candomblé na
cidade de Teixeira de Freitas e a relação entre os adeptos da religião afro-brasileira
neste município com os seus orixás, qual a representação desses orixás na
comunidade adepta do candomblé. Buscou-se por meio dessa, saber como os
candomblecistas entendem sua relação com a sociedade local. Realizado por meio
de levantamento teórico e entrevistas semi-estruturadas com sujeitos adeptos do
candomblé. Os resultados obtidos com essa pesquisa é que a religião afro-brasileira
tem em seu contexto uma relação de muita cumplicidade com suas entidades sendo
influenciados por eles em suas condutas sociais.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
1. O CANDOMBLÉ NO BRASIL ............................................................................... 11
1.1. ORIGEM DO CANDOMBLÉ .............................................................................. 11
1.2. CONCEITO DE NAÇÃO DENTRO DO CANDOMBLÉ ...................................... 13
1.3. DA PERSEGUIÇÃO A AUTO-AFIRMAÇÃO ..................................................... 15
2. A BAHIA DO CANDOMBLÉ ................................................................................. 19
2.1. OS RITOS DO CANDOMBLÉ BAIANO ............................................................. 19
2.2. OS ORIXÁS E SUAS REPRESENTAÇÕES ...................................................... 22
2.3. A PERSONALIDADE DO ORIXÁ DEFINE A CONDUTA DO FIEL................... 35
3. O CANDOMBLÉ EM TEIXEIRA DE FREITAS ..................................................... 40
3.1. A VISÃO QUE OS FILHOS DE SANTO TÊM DA SUA REGIÃO ...................... 40
3.2. A RELAÇÃO ORIXÁ E FILHO-DE-SANTO ....................................................... 42
3.3. O CONVÍVIO COM A SOCIEDADE LOCAL ...................................................... 46
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 48
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50
APÊNDICE ................................................................................................................ 52
ANEXO...................................................................................................................... 55
8
INTRODUÇÃO
Foi utilizado como critério na escolha das pessoas o fato que o babalorixá é o
membro que possui o poder legitimado pelos seus fiéis e por possuir um cargo que
lhe permite dirigir os bens sagrados de sua casa de culto e tem o conhecimento dos
fundamentos religioso que transmite a seus filhos e filhas-de-santo.
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1 O CANDOMBLÉ NO BRASIL
O candomblé surge no Brasil com a chegada dos negros escravizados que foram
trazidos da África para trabalhar nas lavouras no período colonial.
Essa instituição religiosa não foi organizada já no primeiro momento, ela foi sendo
gestada na medida em que os escravos sentiam necessidade de modelar a sua
cultura como forma de enfrentar o infortúnio da escravidão.
Não devemos esquecer que não havia no Brasil Colônia uma única cultura africana,
que eram várias etnias com modos de vida e culturas diferentes mesmo vindos do
mesmo continente. O que ligava esses grupos tão variados era um traço comum a
todas as religiões africanas a “herança cultural africana, largamente compartilhada
pelas pessoas importadas por uma nova colônia” (JUNIOR, 2006, p. 107). Ou seja,
múltiplas nacionalidades que viviam um presente comum e que estavam ligados por
uma herança cultural comum mesmo não tendo uma cultura homogênea.
1
Termo utilizado no candomblé para identificar os grupos que participam da casa-de-santo.
12
O candomblé tem por base a alma da natureza. Os sacerdotes africanos que foram
trazidos da África como escravos trouxeram na sua bagagem cultural um vasto
conhecimento sobre os Orixás que foi se desenvolvendo aqui no Brasil. Organizado
hierarquicamente o candomblé tem um sacerdote que tem conhecimento dos bens
sagrados e um corpo de fiéis que buscam ocupar seu lugar dentro do grupo, assim
vai se formando um campo religioso onde as disputas acontecem pelas posições e
conhecimento dos bens sagrados.
têm sua posição bem demarcada na estrutura social. Nesse espaço se dá o jogo das
relações entre os que detêm o saber do conhecimento sagrado e os leigos, havendo
uma concorrência pelos bens simbólicos. Esse jogo está inserido “no individuo
biológico, permitindo a produção, reprodução e a difusão de uma infinidade de atos
de jogo que estão inscritos no jogo em estado de possibilidades e exigências
objetivas”. (BOURDIEU, 2004, p. 82)
2
Os iorubanos habitavam o sudoeste da Nigéria e o sul de Benin. Os reinos iorubas floresceram ao sul do rio
Niger.
14
Na Bahia a maior influência vem dos candomblés Keto (iorubá) e angola (banto) que
é encontrado também em outras partes do país. VERGER, abordando a questão
dessa preeminência dos nagôs de Keto nos antigos candomblés da Bahia, escreve:
Da nação Keto vieram às normas para a religião afro, predominando os seus ritos,
panteão e mitos. As divindades nagôs, que são os Orixás também foram inseridas
ao candomblé Angola que tem no início do século XX a formação da umbanda.
Do candomblé adotam os orixás, a forma de liderança que esta nas mãos do pai ou
mãe-de-santo e o segredo do recolhimento iniciático.
Uma nação de candomblé identifica-se por professar a mesma crença, pela forma
que faz seus cultos, pela prática dos rituais, pela língua, pelos mitos nos quais
baseia seus ritos, pelo toque dos tambores, as músicas, pelo vestuário dedicado aos
orixás, pelas folhas sagradas que usa em suas iniciações e magias, enfim, por toda
prática, símbolos e cultura material herdado dos antepassados, esses são laços
culturais que une uma nação de candomblé. Pela relação cultural que acontecia na
África, os vários grupos étnicos que viviam lá, já chegavam ao Brasil já mais ou
menos misturados, o que significa que não há uma religião afro com uma só cultura,
que elas foram se mesclando a medida que se encontram, mesmo antes de
chegarem aqui.
Mas este homem subjugado a uma nova cultura não se satisfez só em obedecer ao
seu carrasco, ele buscou reconstruir sua identidade reformulando suas crenças e
práticas religiosas que foi possível pela mescla de várias nações africanas que aqui
se encontravam.
Durante os séculos XVII a XIX a história da religião afro-brasileira foi contada por
pessoas que não participavam da mesma, é a partir do preconceito que se tinha
sobre ela que começamos a ver registros policiais, pois são nesses registros que
encontramos ocorrências sobre invasões a determinado terreiro ou prisão de
pessoas que faziam adivinhações e curandeirismo. Segundo Verger (1981) os
primeiros registros sobre as religiões africanas no Brasil, datam de 1680, a partir de
anotações feitas pela Santa Inquisição.
A igreja católica foi ferrenha em sua perseguição contra a religião de matriz africana,
contando com o apoio do governo para que os atos violentos de repressão fossem
efetivados contra os adeptos do candomblé. As leis católicas conceituavam como
feitiçaria os ritos utilizados pelos negros em suas manifestações religiosas, como
salienta Soares:
Dessa forma, predizer o futuro por qualquer artifício, rezar para ídolos, fazer
beberagens eram atividades que presumiam a intercessão de satã, portanto
deveriam ser punidas severamente e extintas. (SOARES, 1992, p. 134)
No século XIX o candomblé se reforçou por ter lideres que já tinham a sua liberdade
garantida desde que nascerá e que junto com os libertos estruturaram as religiões
afro-brasileiras. Novas leis foram estabelecidas pela República que foi implantada no
Brasil em 1889, mas ainda estava muito distante de contemplarem a questão do
negro e sua religiosidade ancestral.
No contexto atual, com leis federais, estaduais e municipais o negro e a religião afro-
brasileira continuam sendo perseguidos e desrespeitados, não com as mesmas
técnicas do passado, mas com uma metodologia mais sutil que utiliza os meios de
comunicação e uma forte campanha de marketing para disseminar a idéia que a
religião afro-brasileira é demoníaca. Os principais opositores do momento são as
18
2 A BAHIA DO CANDOMBLÉ
É por meio da iniciação que o candomblé se reproduz, pois após todo preparo e ritos
que a pessoa passa ela é elevada a um status religioso em que lhe é permitido abrir
o seu próprio terreiro. Prandi nos mostra que: “no sétimo aniversario, recebe o grau
de senioridade (ebômi que significa “meu irmão mais velho”) estando ritualmente
autorizado a abrir sua própria casa de culto”. (Prandi, 2003, p. 77)
Para se iniciar como cavalo dos deuses, a abiã precisa juntar dinheiro
suficiente para cobrir os gastos com as oferendas (animais e ampla
variedade de alimentos e objetos), roupas cerimoniais, utensílios e adornos
rituais e demais despesas suas, da família-de-santo, e eventualmente de
sua própria família durante o período de reclusão iniciática em que não
estará, evidentemente, disponível para o trabalho no mundo profano.
(PRANDI, 2003, p.77)
20
Isso significa que o lado econômico influência na escolha da pessoa, pois é preciso
estar preparado financeiramente para arcar com os custos necessários para se
tornar um fiel consagrado pelo poder dos orixás, porque se faz necessário a
preparação iniciática várias oferendas durante os cultos.
Quando falamos em iniciado, pessoas chamadas pelos orixás para ser filhos ou
filhas-de-santo, que serão orientadas pelos pais ou mães-de-santo, e também
chamados de babalorixá ou ialorixá, pensamos que nesse momento eles
conhecerão toda a liturgia sagrada do candomblé, mas Verger vem nos revelar que
não é tão simples assim:
Na primeira fase o iniciado tem que ter o contato com o seu orixá buscando a
personalidade escondida que lhe remete aos seus ancestrais divinizados buscando
a personalidade do mesmo, e segundo Verger “a identidade e o comportamento do
orixá podem se instalar livremente, sem obstáculos, e tornar-se-lhe familiar”.
(VERGER, 1980, P. 34)
importante é o ritual do bori, que é o rito para o fortalecimento espiritual do ori, que é
a cabeça que deve ser preparada para receber o orixá.
O status religioso do iaô muda na obrigação de sete anos, chamado decá, é quando
ele se torna um ebomi, ou seja, um pai ou mãe-de-santo legitimado para abrir sua
própria casa de culto e apto para iniciar novos adeptos. Para consagrar sua
autoridade como babalorixá ele recebe das mãos do seu pai ou mãe-de-santo
alguns símbolos sagrados dento do candomblé que são a peneira ou balaio de axé
contendo, entre outras coisas o jogo de búzios e a navalha que lhe conferem a
legitimidade como pai ou mãe-de-santo.
Esses ritos de iniciação são secretos, por isso as pessoas que não são iniciadas não
enxergam o lado sagrado do candomblé e o vêem como festa de tradições
folclóricas não conseguindo distinguir as várias religiões afro-brasileiras uma da
outra.
Os povos africanos cultuavam em sua terra natal centenas de divindades, sendo que
em cada região tinha o seu orixá especifico como já foi citado no capitulo anterior.
Aqui na Nova Terra esses deuses foram reduzidos e passaram a ser cultuado em
um único local, os terreiros de candomblé. No panteão de deuses os que mais se
destacam são os orixás, que na definição de Prandi são:
contrário o seu devoto poderá encontrar alguns percalços e para que não haja
nenhum mal entendido entre o orixá e o seus filhos-de-santo é necessário
conhecer todos os atributos do mesmo.
O que distingue um orixá do outro são as suas características que parecem como
expressões da sua personalidade. Para cada orixá há ritos, ornamentos, alimentos,
cores, cânticos específicos. Mesmo com tantas especificidades podemos encontrar
também algumas semelhanças entre alguns deles possibilitando assim a
classificação em grupos.
Os orixás têm uma ligação com família, cidade ou região, essa idéia vem desde o
tempo que os cultos eram feitos em África. Aqui no Brasil houve um reagrupamento
dessas divindades em um só lugar, o terreiro de candomblé. Mas esses não
perderam a sua característica de ligação com o seu familiar por meio da
incorporação. O iniciado que se encontra com o seu familiar por meio da
incorporação passa a tê-lo como referência para a sua conduta social. Para isso se
faz necessário que ele conheça tosos os gostos e o perfil do seu orixá, para que
através das oferendas possa mantê-lo satisfeito e em retribuição receberá
orientação e proteção no seu dia-a-dia.
EXU
Mensageiro entre os homens e os orixás e destes entre si. Está associado ao poder
de fertilização e à força transformadora das coisas. Guardião das encruzilhadas e da
entrada das casas. Espírito justo, porém vingativo. Entretanto, Exu possui um lado
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OGUM
Orixá da guerra e do fogo. Conhecido também como ferreiro é uma espécie de herói
civilizador africano à medida que conhece os segredos da forja necessários para a
fabricação de instrumentos agrícolas e de guerra.
Mito – Ogum teria sido o filho do rei Odudua, fundador da cidade de Ifé (o principal
centro divulgador da cultura iorubana) e conquistador de vários reinos.
OXÓSSI
Orixá da mata, caçador que retira desta seu sustento e o de sua tribo. Na África, era
cultuado pelas famílias reais da cidade de Kêto, da qual fora rei.
Mito – Oxóssi e Ogum aparecem como, irmãos, lembrando que também era função
dos caçadores combaterem os inimigos e, ainda, a importância dos instrumentos de
ferro forjado para a caça.
Ofá: Azul Quinta- Caça e porco Milho Terra São Jorge e Mata
arco-e- feira cozido São
flecha com Sebastião
de fatias
metal; de
eru: coco;
espanta frutas
mosca
de rabo
de
cavalo
OBALUAIÊ OU OMULU
Orixá das doenças, das epidemias, das varíolas e demais enfermidades contagiosas
e da pele.
Mito – Obaluaiê era muito mulherengo e não obedecia a nenhum mandamento que
fosse. Orunmilá advertiu-o que se abstivesse de sexo, o que ele não cumpriu. Na
manhã seguinte despertou com o corpo coberto de chagas e morreu em seguida.
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Oxum daria a Olodumaré todo o mel que quisesse desde que ressuscitasse
Obaluaiê. Olodumare aceitou a condição de Oxum, e Obaluaiê saiu da terra vivo e
são.
OXUMARÊ
OSSAIM
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Divindade das folhas, ervas e medicamento feitos a partir delas. Seu domínio é o
mesmo de Oxóssi, a mata.
XANGÔ
Rei de Oyó, uma das principais de língua ioruba, é o orixá do trovão. Xangô é
viril,violento e justiceiro. Castiga os mentirosos e os malfeitores.
Mito – Aparece como senhor dos raios e do trovão, aquele que solta fogo pela boca.
Uma casa atingida pelo raio é uma casa marcada pela cólera de Xangô. No seu
aspecto divino, permanece filho de Oranian, divinizado, porem, tendo Yamase como
mãe e três divindades como esposa: Oiá, Oxum e Oba.
choca- no
lho de dendê
metal com
cama-
rão
seco
OXUM
Divindade da água doce dos lagos, fontes e cachoeiras e dos metais preciosos. Na
África esta relacionada com a fertilidade das mulheres e com a riqueza dela
decorrente, já que é pela procriação que se garante a continuidade das famílias e a
subsistência das comunidades.
Mito – Oxum era filha de Orunmilá. Um dia casou-se com Xangô, indo viver em seu
palácio. A rainha vivia preocupada com suas jóias e caprichos, aborrecido, Xangô
mandou prendê-la numa torre. Exu, que se transforma no que quer, chegou ao alto
da torre e soprou o pó sobre Oxum que, no mesmo instante, transformou-se num
lindo pombo chamado Adabá, ganhando a liberdade e voltando à casa paterna.
Nossa
Senhora
Aparecida
LOGUNEDÉ
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Orixá da caça, filho de Oxóssi com Oxum. E cultuado como “meji” ou “meta-metá”,
pois seis meses vive no domínio de sua mãe, as águas e seis meses vive no reino
do seu pai, as matas.
Mito – Logunedé era filho de Oxum e Oxossi. Foi criado por Oiá na beira do rio.
Logun, afeiçoado pela mãe, vez por outra ia ao palácio onde Oxum vivia. Logun
vestia-se de mulher, pois Xangô era ciumento e não permitia a entrada de homens
em sua morada.
Abebê:
leque
de
metal
amare-
lo
IANSÃ OU OYÁ
Deusa dos ventos, raios e tempestades, domínio que divide com seu marido Xangô.
Dona dos espíritos dos mortos.
Mito – Preparou roupas especiais para vestir os mortos (chamados egungum), que
assim poderiam voltar a Terra e falar com os seus descendentes.
OBÁ
NANÂ
Orixá da lama do fundo das águas. É considerada divindade anciã. Seu domínio é o
barro, ou a terra umedecida pela água.
Mito – Umedeceu a água que serviu de matéria-prima com a qual Oxalá criou os
homens.
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IEMANJÁ
Divindade das águas, tida como a mãe de todos os outros orixás, com a exceção de
Oxalá, Exu e Nanã, pois eles vieram primeiro.
Mito – ela é filha de Olokum, uma divindade que reina no mar. Ela casou com
Orunmilá e depois com Olofin, esses dois são divindades ligadas a uma espécie de
mundo divino anterior ao habitado pelos homens. Ela teve dez filhos, entre ele
Oxumarê e Xangô.
Mito – Oxalá foi designado por Olodumare (O Ser Supremo) para criar todo o
mundo, tendo para isso recebido o “saco da criação” e o poder de realização (axé).
Esqueceu-se de fazer as oferendas a Exu, que resolveu se vingar provocando-lhe
uma enorme sede. Desesperado ele se embriaga com o vinho de palmeira e
adormece. Olodumare, ao saber do ocorrido, envia o segundo deus criado depois de
Oxalá, para substituir o orixá embriagado. Ododua espalha, então, a substância do
saco sobre a superfície da água ate formar um monte onde coloca uma galinha, que
ciscando vai espalhando continuamente a terra até cobrir a superfície das águas.
Neste momento surgiu a cidade de Ifé, centro da religião ioruba. Como consolo,
coube a Oxalá modelar com o barro o corpo dos homens sobre o qual Olodumaré
soprou para dar-lhes a vida.
forma de desculpar-se ordenou que todos de seu reino vestissem roupas brancas e
buscassem água três vezes seguida para banhar Oxalá.
EUÁ
Mito – Euá, filha de Obatalá e Nanã, vivia em seu castelo como se estivesse numa
clausura. O amor de Obatalá por ela era muito estranho. A fama da beleza e da
castidade da princesa chegou a todas as partes, inclusive ao reino de Xangô.
Mulherengo como era Xangô planejou como iria seduzir Euá. Empregou-se como
jardineiro no palácio de Obatalá. Um dia Euá apareceu na janela e admirou-se de
Xangô. Nunca havia visto um homem como aquele. Não se tem notícia de como Euá
se entregou a Xangô, no entanto, arrependida de seu ato, pediu ao pai que lhe
enviasse a um lugar onde nenhum homem lhe enxergasse. Obatalá deu-lhe o reino
dos mortos. Desde então é Euá quem, no cemitério, entrega a Oiá os cadáveres que
Obaluaiê conduz para que Orixá-Okô os coma.
O fiel iniciado que recebe o orixá adquiri a personalidade dele, seu comportamento e
atitudes são relacionados com as da sua divindade, servindo como padrão de
conduta pra o seu dia-a-dia. Por isso faz-se necessário as oferenda e obrigações
que colocam o adepto sempre em contato com o seu orixá que o orientará e
protegerá.
A mulher do tipo dessa divindade costuma ser alta e robusta, grande, seios e
ancas fartas. É calma, sincera, digna, vaidosa e sensual; mãe esmerosa, mas
Iemanjá
é muito ciumenta e possessiva.
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As suas filhas são delicadas, graciosas, bonitas. Por ser meiga usa da sedução
para par atrair os homens. São emotivas, instáveis, alguma são ingênuas,
Oxum
outras preguiçosa chegando às vezes ser indecisas e mais dependentes.
É casta, devota, tímida, tem medo dos homens. Sem graciosidade, tem
dificuldades na sexualidade e no amor por falta de habilidade social e por ser
Euá
agressiva.
Nanã Mulher sem idade definida, desprovida de beleza e vaidade, mas com grande
resistência física. É praticamente assexuada, muito eficiente no trabalho. São
zeladoras dos bons costumes, mas são intolerantes e ranzinzas e reclamam de
tudo e de todos.
São mulheres cheias de energia, dinâmicas. Tem intensa vida sexual, gosta de
cores vibrantes, são ciumentas e não perdoam uma traição. Orgulhosas e
Iansã
quando apaixonadas se dedicam totalmente ao seu homem.
Para ser feito no santo o iniciado passa por vários ritos aonde vão adquirindo
conhecimento e experiência até estar pronto para desempenhar seu papel de filho-
de-santo. À medida que vai se preparando espiritualmente o iniciado precisa dispor
de recursos financeiros para arcar com os custos necessários que os rituais exigem.
Os orixás se mostram de várias formas para seus filhos e estão ligados a natureza
trazendo para o seu adepto a configuração de sua imagem que deve ser bem
identificada por eles, pois é através da representação dos mesmos que o fiel irá se
relacionar prestando suas oferendas e sendo do influenciados pelos seu orixás.
Sendo esta cidade formada basicamente por pessoas oriundas de outras regiões e
por sua proximidade com a BR 101, que facilita o fluxo migratório de pessoas que
chegam e que saem, que se estabelecem aqui ou não, ela é considerada por
algumas pessoas como uma cidades sem identidade. Mas onde há ser humano há
História e memória. E é em busca desta memória que nos propomos a conhecer
como a religião afro, em especial o candomblé, está inserida neste contexto local.
Para manter viva a memória do barracão ele cataloga todas as fotografias dos
eventos que acontece no local, já que segundo ele “no candomblé não é permitido
divulgação dos seus conhecimentos através de filmagens”. Essas fotos são só das
festas, pois os fundamentos da religião são passados em particular e com todo sigilo
para o iniciado.
Pertencer a “nação” Keto é motivo de orgulho para ele, pois o coloca em ligação
com a sua matriz africana alaketó que deriva de uma cidade em África chamada
Keto. Percebe-se na conversa com o pai-de-santo Jenilton o orgulho em fazer parte
dessa cultura religiosa que é considerada por ele como a mais tradicional, a mais
pura. Ou seja, aquela que busca manter a maior fidelidade possível com os ritos
praticados em África. Em uma das suas falas ele coloca que “esta é a única casa de
41
Esse depoimento vem a casar com o que diz Silva “candomblé é considerado pelos
seus participantes como mais puro ou superior aos demais porque nele teria sido
preservada a amor fidelidade às origens africanas”. (BARCELLOS, 2005, p. 30-31)
Se pensarmos nas adaptações e mudanças que esses cultos sofreram ao longo dos
tempos por necessidade de manter as suas raízes vivas é difícil compreender que
elas sejam tão puras assim como os seus fiéis acreditam, pois como foi ressaltado
no primeiro capitulo, ela recebeu influência de vários grupos étnicos tanto em África
quanto aqui no Brasil e não só da nação Keto.
Três dos entrevistados foram para o candomblé por vontade própria, entre estes há
um jovem de dezessete anos que disse que já nasceu dentro do candomblé e nunca
pensou em sair porque viu o quanto o candomblé era importante na vida das
pessoas. O jovem de 25 anos disse que foi levado ao candomblé por problemas
espirituais, por isso ele fez o santo.
Eles não podem fazer referência de quando foram iniciados, só nos informa qual é o
seu orixá. O segredo iniciático deve ser bem guardado, para conhecer é preciso
42
fazer o santo como eles dizem, ou seja, passar pelos ritos que levam ao
conhecimento sagrado.
Outro fato identificado e que me deixou surpresa foi que todos se dizem católicos
mesmo participando há vários anos do candomblé, ou seja, eles não a identificam
como religião. Prandi atribui essa atitude a perseguição que a religião afro-brasileira
vem sofrendo desde o início de sua formação aqui no Brasil. Ele coloca que:
Ele acrescenta também que essa atitude de auto denominar-se católico esta
relacionada à região, é uma característica local. A meu ver Teixeira de Freitas não é
uma região que as pessoas estejam abertas a compreender e aceitar o candomblé,
é uma questão cultural da nossa sociedade.
No segundo capítulo, vimos como os orixás se relacionam com seus filhos aqui na
terra a partir de conhecimentos teóricos. Pudemos entender toda relação familiar
43
Em relação a essa intimidade Lépine afirma que “o adepto estabelece uma relação
íntima com o seu orixá pessoal, que corresponde a um dos tipos culturalmente
definidos da personalidade, com o qual ele passa a identificar-se”. (Lépine, 2000, p.
60)
Todos os dias quem é feito no santo entra em contato com sua entidade, mas há
determinados momentos que comunicação com o orixá se dá através dos búzios,
para qualquer ato, decisão ou orientação é feita a consulta ao santo que é mediada
pelo pai-de-santo, e a partir das respostas é que serão tomadas as providências
orientadas pelos orixás, que também pode prever acontecimentos desagradáveis no
futuro da pessoa.
Para freqüentar o centro não é necessário fazer o santo, é possível participar, fazer
o jogo de búzios para identificar seu orixá, ser devoto e cumprir as obrigações com o
santo sem ser iniciado. O processo de iniciação se estende a quem deseja fazer
parte do corpo de sacerdotes do candomblé. Perguntei ao pai-de-santo Jenilton qual
é o numero de adeptos que freqüentam o centro, mas ele disse que não sabe
exatamente porque são muitos, mas nos dias de cultos ou festas não é possível o
encontro de todos, pois existem pessoas em várias localidades e até no exterior.
Eles vão aparecendo de acordo à ocasião da festa e conforme a necessidade de
orientação. Em relação às festas, seguem um calendário litúrgico que determina o
mês e data das festas.
A função do babalorixá segundo o Sr. Jenilton é a de zelar pelos orixás, zelar pelos
fiéis e orienta-los. Consultar através dos búzios para saber se o problema a ser
resolvido é com o orixá, se estiver tudo bem entre a pessoa e o orixá o mesmo
indicará a quem procurar para resolver o problema. Ex: se problema não for de
ordem espiritual, ele indicará que procure um médico ou outro especialista que
possa resolver.
Ele se coloca como orientador dos que o procuram, pois segundo ele “a sua função
não é separar os casais ou fazer mal as pessoas e sim ajudá-las”, e acrescenta, “o
orixá não aceita quem faz mal, busca é prosperar a vida da pessoa”.
Ou Yakekerê assumir essa função quem é feito no santo há no mínimo sete anos.
Existem várias funções dentro do terreiro e cada uma tem sua importância, pois é
imprescindível que todos desempenhem sua tarefa para o bom andamento da casa.
Aqueles que já tenham feito o santo, mas encontra dificuldades em realizar sua
tarefa será acompanhado por alguém mais velho até estar totalmente preparado
para assumir suas funções com segurança. Podemos perceber também que há
cargos definidos para o sexo masculino e para o feminino, mas também existem
cargos que podem ser realizados por qualquer um dos sexos.
Para quem não conhece e acreditava que era algo de badernas e desordem, pude
comprovar que existe um aparato bem montado e definido que coloca o candomblé
em ponto de igualdade em relação às outras religiões nas questões da fé,
organização e hierarquia.
46
De acordo com o babalorixá Jenilton a relação com a vizinhança é tranqüila, pois ele
não a incomoda e nem é incomodado por ela. O que se percebe na fala dele é que
não esta nem um pouco preocupado em ser aceito pelos outros, ele tem convicção
de sua religião e não vai fazer diferença o que o outro pensa.
Nos dias de festa fazem sua batucada, mas como essas festas não acontecem
todos os dias, só em ocasiões especiais, nunca recebeu reclamação em relação ao
barulho. Ao ser perguntado se já participou de festas junto com a igreja católica, ele
respondeu que não, pois na cidade as pessoas não estão preparadas para isso e
quanto ao preconceito, ele diz: “As pessoas é que se incomodam, que tem a
preocupação com eles, enquanto isso nos não discriminamos ninguém, qualquer um
que chegar a nossa porta é bem recebido independente de religião, conduta ou
posição social”.
CONSIDERAÇOES FINAIS
Para desenvolver essa pesquisa foi preciso superar algumas barreiras que estavam
dentro de mim. O trabalho do pesquisador histórico é diferenciado, pois quando
escolhe um objeto ele se despe de qualquer preconceito e com isso consegue
analisar o foco da sua pesquisa sem fazer juízo de valor, Bloch afirma “que é
fundamental criar uma distinção entre o historiador e o juiz, porque não é função da
pesquisa histórica julgar o passado, mas sim compreendê-lo”. Foi com esse olhar
que consegui efetivar nossa pesquisa em um local que entra em choque com os
nossos conceitos, mas que nos faz perceber que é preciso conhecer e analisar o
que nos é diferente para que possamos respeitar mesmo quando não
compreendemos.
O contato que tive com os meus colaboradores me fez compreender melhor como
se da o relacionamento dos mesmos com suas entidades, o que os teóricos
escreveram pude comprovar na fala de quem é feito no santo e sabe muito bem o
significado disso na sua vida. No imaginário popular acredita-se que o orixá desce
de qualquer forma em qualquer lugar e em qualquer pessoa, mas está longe da
verdade, pois quando a entidade vem a terra ele sabe que há alguém a sua espera e
que tem relações bem estreitas com ele.
O estudo sobre a religião afro-brasileira já vem sendo feito desde o século XIX, mas
é preciso que seja mais divulgado nas regiões do interior, tal como Teixeira de
Freitas para que se possa conhecer melhor e diminuir a descriminação em relação à
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mesma e a seus adeptos. Pois, enquanto religião, ela tem os mesmos preceitos que
as dominantes, que são a fé, organização e hierarquia.
REFERÊNCIAS
2. Município____________________
3. Estado ______________________
4. Nome:_____________________________________________________
Qual?_________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
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14. A que “Nação” de candomblé você faz parte? O que isso significa na sua
vida?__________________________________________________________
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______________________________________________________________
17. Os Orixás interferem na sua vida? ( )Sim ( )Não. Se a resposta for sim,
Como?________________________________________________________
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______________________________________________________________
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19. Ser do candomblé interfere na sua relação com pessoas que não são dessa
religião?_______________________________________________________
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FIGURA 2. Babalorixá Jenilton com seu orixá Oxum e acompanhado do seu pai-de-santo Rômulo
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