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Espiritualidade Cristã
Conceito de espiritualidade
Histórico da Filosofia Moderna com seus principais autores e conceitos.
E na segunda aula, vamos tratar acerca da espiritualidade de Jesus. Faremos também um resgate
histórico da espiritualidade cristã pontuando os principais momentos do seu desenvolvimento.
Objetivos
Este tema é tão rico que é impossível esgotar o assunto, mas nesta aula você poderá
compreender, de forma objetiva, os principais conceitos de espiritualidade.
Se você analisar as pessoas a sua volta, perceberá que o mundo pós-moderno reencontrou a
espiritualidade. Mas observando a história da humanidade perceberá que o iluminismo - com
seu mecanicismo “dogmático” - havia “profetizado” o fim da vida religiosa relegando-a ao nível
da infantilidade, já que a razão madura não necessitava mais da cosmovisão cristã para explicar
o mundo e a vida como um todo. Todavia, como podemos claramente constatar, o sonho idílico
dos iluministas foi frustrado pelo vazio ético e existencial gerado pelas guerras e pela
intolerância a vida humana referente ao gênero, etnia e credos, como foi o caso do advento do
Nazismo e das duas grandes guerras.
A racionalidade científica não conseguiu preencher o vazio do coração do homem. Abaixo, segue
uma tabela onde podemos visualizar melhor o desenvolvimento histórico da Filosofia Moderna
com seus principais autores e seus conceitos:
Empirista – séc. XVI Francis Bacon: Desenvolve seu sistema filosófico contra o
racionalismo de Descartes; a experiência é o seu método
epistemológico.
Iluminista – séc. XVII J.J. Rousseau: A razão é a esperança para todos os males da
sociedade; a ciência torna-se quase uma “religião”; contrária
a tradição e a religião como um todo, ela é considerada como
um pensamento pré-científico, portanto meramente
supersticioso;
1
SAYÃO, Luiz. Cabeças feitas: filosofia prática para cristãos. Ed. Hagnos. P. 37,38 (Essa tabela não foi
citada na íntegra, mas adaptada para fins dessa aula).
Logo após a crise da Modernidade surge, obviamente, o que costumeiramente ficou conhecido
como “pós-modernidade”, com as seguintes características:
1. Pluralidade
Não há uma verdade estabelecida como referência comum à sociedade civil como era, por
exemplo, numa sociedade tradicional como a Idade Média. Esse relativismo epistemológico e
subjetivo pode ser expresso no ditado: “o que é verdade e certo para você, não é verdade e
certo para mim”. Levando em consideração que a Bíblia é a norma para a construção de valores
éticos e morais, sob esse prisma ela é simplesmente relegada ao descrédito! Essa tolerância em
relação à filosofia de vida do outro é ideológica, ou seja, parece bom, mas mascara a realidade
do que de fato é bom. É inegável que o direito de dizer o que se pensa deve ser mantido. O fato
não está em proibir, mas em não se saber onde se pode encontrar a “verdade” para se viver
bem com Deus, já que até mesmo a ideia de Deus foi diluída nesse caldo cultural-religioso
conhecido como Nova Era, como veremos no momento propício.
2. Consumo sexual
3. Individualismo
Egocêntrico, narcisista e insensível à dor do outro. Nós nos tornamos o centro, ou melhor, “Eu”
me torno o centro. Como tudo é consumo, como o caso do sexo citado acima, também os “bens
simbólicos” vendidos nas igrejas são mais um produto na vitrine da fé para se adquirir mediante
uma “oferta” (ou pagamento?) que objetiva a satisfação pessoal, e caso o esperado não
acontece, como por ex. o milagre, muda de “igreja” (loja) e vai à procura de outra que possa
suprir seus desejos. Ou o caso de frequentadores de igrejas que não criam vínculos com
nenhuma denominação, mas absorve o melhor de cada uma delas, em busca de satisfação.
Quando voltamos os olhos para a Bíblia vemos claramente que Cristo buscará uma Igreja e não
uma pessoa! É necessário resgatarmos urgentemente a ideia de igreja do Novo Testamento,
como ajuntamento solene que como Corpo de Cristo tem autoridade sobre nós.
4. Misticismo
Ao contrário do que supôs o Iluminismo, como já mencionado acima, a religião não foi superada
e está atuante e ativa na realidade brasileira, seja o cristianismo em seus desdobramentos, ou
o esoterismo da Nova Era. Porque num mundo com tanta tecnologia a espiritualidade está tão
em voga? Segue algumas considerações que intenciona responder a pergunta:
Bom, Pessoal, o que fizemos até o momento foi “ler os sinais do tempos”, a partir da
metodologia do teólogo Albert Nolan, como se segue:
Ler os sinais do tempo não é uma questão de olhar para o mundo a partir de fora, como se não
fizéssemos parte dele. Nós estamos inseparavelmente integrados na sua rede de relações. É o
nosso mundo, e nós só poderemos ter qualquer tipo de espiritualidade séria inseridos no nosso
mundo.3
Espiritualidade encarnada
Qualquer espiritualidade que não esteja envolvida com a vida, com as pessoas e com o mundo
não é espiritualidade cristã, antes é uma “fuga” e demonização da existência como pressuposto
para uma vida de santidade.
Referente ao hodierno percebe-se claramente, como já mencionado acima, que há nas pessoas
uma fome de espiritualidade, uma busca para encontrar sentido em meio ao caos cultural
instalado e a relatividade da grande narrativa do passado, como instituições, moral e princípios
éticos; de certa maneira tudo foi subvertido e deixado de lado.
“Nos últimos anos, tem crescido notavelmente o interesse pelo estudo geral da espiritualidade.
Um cinismo ressurgente sobre o valor dos bens materiais levou a uma atenção maior às
dimensões espirituais da vida. Um número crescente de evidências sugere que a espiritualidade
pessoal tem efeito terapêutico positivo sobre nós indivíduos, demonstrando maior
reconhecimento da importância da espiritualidade para satisfação e bem estar humanos.
Juntamente com um declínio gradual generalizado ao apego às formas institucionalizadas de
2
BERGER. L peter. O rumor de anjos: a sociedade moderna e a redescoberta do sobrenatural. Ed. Vozes.
p. 55
3
NOLAN, Albert. Jesus hoje: uma espiritualidade radical. Paulinas. p.17
religião na cultural ocidental, há um aumento caro no interesse popular pela espiritualidade,
incluindo as várias formas de espiritualidade cristã.”4
Podemos agregar ao “conceito de espiritualidade” seu aspecto “Terapêutico”, pois é por meio
do relacionamento com Deus que somos curados e tratados por sua presença graciosa.
Observamos isso claramente na práxis ministerial holística de Jesus. (Veremos isso de maneira
especifica na aula? – a espiritualidade de Jesus)
A partir do que discorremos até o momento podemos sugerir uma definição, dentre tantas
devido as suas vertentes, do que é “espiritualidade cristã, que “significa viver o encontro com
Jesus Cristo. (...) Refere-se como a vida cristã é entendida e às práticas devocionais explícitas
desenvolvidas com vistas a nutrir e sustentar esse relacionamento com Cristo. A espiritualidade
cristã pode, então, ser compreendida como a maneira pela qual indivíduos ou grupos cristãos
buscam aprofundar sua experiência com Deus.”5
Ao voltarmos os olhos a Jesus vemos que o Homem – Deus Espiritual por excelência não fazia
tal distinção, antes fazia da vida uma celebração a Deus, da natureza extraia exemplos, de uma
festa de casamento, faz um milagre. Como bem expressou Caio Fabio:
O que me espanta, no entanto, é o fato de que Jesus não fala uma única vez, nos quatro
Evangelhos, a palavra “espiritual”. Esse chavão não passou pela sua boca, por uma razão muito
simples: para Jesus, não havia uma vida espiritual; para Jesus a espiritualidade era a vida. Sobre
a vida ele falou muito, e o tempo todo; sobre espiritualidade, não.7
Portanto “ser espiritual” é viver a vida conforme Jesus a partir das práticas devocionais ou
exercícios espirituais que Ele mesmo deixou-nos como modelo. No bojo disso tudo haverá
crenças doutrinárias diferentes a partir de cada tradição religiosa8, valores éticos em comum e
4
McGRATH, Alister. Uma introdução à espiritualidade cristã. Ed.Vida. p. 19
5
Op. Cit. McGRATH. p. 21
6
MARASCHIN, Jaci. O que é formação espiritual? p. 8. Ed. Aste. 1990.
7
FABIO, Caio. Um projeto de espiritualidade integral. Sião. 1988, p. 30
8
Sobre o valor e a contribuição de cada tradição religiosa Richard Foster escreveu um livro volumoso
“Rios de águas vivas.”
um modo de ser no mundo, então cabe a vocês alunos absorver o que há de melhor em sua
tradição religiosa e confrontá-la com a espiritualidade de Jesus.
INDICAÇÃO DE VÍDEO
O Nome do Livro
Para que você possa se situar, vamos apresentar a origem do nome do livro. Êxodo - do grego
ἔξοδος, composto de ἐξ "fora" e ὁδός "via, caminho" - significa partida. Na tradição hebraica,
chama-se Sh'moth (שמות, literalmente "nomes").
O termo "Êxodo" deriva da versão Septuaginta Grega (LXX), que procurava intitular os livros a
partir do seu conteúdo. A sua autoria foi atribuída ao profeta Moisés, pela tradição judaico-
cristã. Esse livro – que dá continuidade ao livro de Gênesis - relata como Moisés conduziu os
israelitas do Egito até o Monte Sinai, onde Javé (YHWH) se revela para fazer uma aliança,
entregando a Moisés os dez mandamentos, ou seja, a lei, que deve ser obedecida, e como
recompensa Javé lhes daria Canaã (a Terra Prometida).
Há muitos relatos bem conhecidos no Êxodo, como a passagem pelo mar vermelho, a revelação
no Sinai, a entrega das tábuas da lei, Bezerro de ouro e o aparecimento de maná no deserto.
5. Instituição do Sábado.
6. Construção do Tabernáculo.
Você que está estudando sobre a Bíblia há de concordar que ela é um livro rico em experiências
religiosas.
Utilizaremos como referência para nossa aula o livro de Êxodo. Elegê-lo não foi por gosto
pessoal, mas por decisão acadêmica, já que os eruditos em Teologia Bíblica concordam que a
espiritualidade desenvolvida no livro citado é emblemática, ou para utilizar um termo teológico
constantemente utilizado em livros, “fundante”, “paradigmática”, “modelo”, ou em linguagem
psicológica “arquetípica”. “Paradigmática” e “fundante” referem-se à experiência primeira, que
serve de modelo para a posteridade. O relacionamento entre Deus e seu povo no êxodo foi tão
poderoso que “normatizou” uma via de espiritualidade.
De imediato podemos constatar que a presença de Deus em meio ao seu povo é algo original
quando comparado com a espiritualidade pagã dos povos vizinhos. Esses necessitavam de
objetos visuais (o deus deles também estava presente, mas não presentificado no ser!), o que
levou Moisés a abominar a idolatria dos “ídolos mudos”. Os deuses pagãos eram distantes,
antropomórficos e sublimados do inconsciente coletivo corrompido pelo pecado, ou seja, eram
apenas representações dos próprios desejos. Veja abaixo apenas alguns desses deuses, e o tipo
de espiritualidade que eles geravam:
9
Para uma lista mais completa do panteão do mundo bíblico ver “Enciclopédia, de Bíblia Teologia e
Filosofia” do R. N. Champlin.
procurando explicar que não somente o “povo da Bíblia”, mas todos os povos devem rememorar
os feitos de Deus do passado e atualiza-los existencialmente em suas vidas no presente.
A espiritualidade é pratica e tem a ver com a vida, como já observamos na aula 01, portanto se
na jornada estivermos cansados podemos beber da Palavra que nos sacia a vida toda, e se já
estamos bebendo podemos tomar muito mais até transbordar a tantos corações sedentos de
vida ao nosso redor. Por isso, o relacionamento de Deus com o seu povo no livro de Êxodo é
paradigmático para desenvolvermos nossa espiritualidade.
Precisamos ter em mente que Deus se relaciona com seu povo na história. A palavra-chave é
“relacionamento.” Ele se deixa conhecer em meio ao sofrimento do seu povo desde a libertação
do Egito até a peregrinação a Terra Prometida. Não importa onde eles estavam indo como
nômades Ele estava lá entre eles! Seja, na nuvem durante o dia, na coluna de fogo à noite, no
Tabernáculo, esse Deus se relacionava com seu povo.
Nos cap. 1-14 encontramos o primeiro paradigma: Um Deus libertador. A ação de um Deus que
se importa com o sofrimento do seu povo e intervém concretamente (historicamente) na
libertação do jugo opressor de Faraó. Esse paradigma é rememorado hoje, pois Deus também
está interessado em libertarmos de todo tipo de opressão social, política, econômica ou
espiritual.
2. Ele luta em favor dos mais fracos e os livra da opressão, seja qual for, conforme diz
êx.2:23-25 – “Decorridos muitos dias, morreu o rei do Egito; os filhos de Israel gemiam
sob a servidão e por causa dela clamaram, e o seu clamor subiu até a Deus. V.24 Ouvindo
Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abrãao, com Isaque e com Jacó. V.25
E viu Deus os filhos de Israel e atendou para a sua condição.”
10
OTTO, Rudolfo. O Sagrado. Ed. Est. P?
Terceiro paradigma. Espiritualidade de esperança. Após a libertação do Egito Deus leva seu povo
para uma nova terra onde maná leite e mel: Canaã. Esse lugar é o descanso tão almejado do
cansaço acumulado da escravidão do Egito e da peregrinação no deserto que durou 40 anos!
Quarto paradigma. É um Deus que elege os seus. Uma vez eleito Deus não abandona seu povo.
Ele os enlaçou com amor eterno e mesmo diante dos seus pecados, como infidelidade e idolatria
com outros deuses, Ele manteve sua fidelidade até que suas promessas fossem cumpridas.
Moisés não entrou na terra de Canaã, mas com certeza encontrou descanso na Canaã celestial.
Todos esses paradigmas serão rememorados e atualizados na história bíblica.
A experiência em Ex.3 de Moisés na sarça ardente é um marco histórico e linear que liga a
espiritualidade dos patriarcas ao longo do restante da Bíblia, como foi descrito nos termos que
segue, pelo teólogo bíblico do Antigo Testamento, Gerhard Von Rad:
Na cultura bíblica o nome revelava o caráter e a essência da pessoa. Nesse caso Deus se revela
a Moisés como o Grande Eu Sou! O libertador poderoso que caminhará constantemente com
seu povo no Egito e no deserto. Até aqui temos visto que a espiritualidade do livro de Êxodo é
paradigmática para o povo de Deus.
Espiritualidade Profética
Nos dias de hoje todas as vezes que a Palavra de Deus é lida e pregada denunciando algum tipo
de prática pecaminosa, injusta e opressão estamos sendo profetas do Senhor.
Os atos de Deus no passado era a referência ética que capacitava o profeta a discernir o certo
do errado. Moisés era porta voz de Deus, e os profetas subsequentes reproduziam criativamente
o modo de ser de Moisés, mas o modelo primário permanecia: intimidade com Deus e convicção
ao anunciar a mensagem divina. Interessante que alguns estudiosos sugerem que a palavra
profeta em hebraico é “Nabi”, literalmente “alguém que ferver pela mensagem divina.” O
biblista Aldir Crocoli, oferece uma síntese preciosa da espiritualidade profética:
“Os profetas não criam uma espiritualidade nova, eles bebem da grande experiência
paradigmática de todo o povo bíblico e a atualizam. Denunciam tudo quanto contradiz a mística
que conferiu identidade e se concretizou na aliança de Deus com seu povo.
11
RAD, Gerhard von. Teologia do antigo testamento. Vol.1 Ed.Aste. p. 186
Cada profeta segundo seu contexto retoma a experiência bíblica fundante e confronta-a com a
realidade em que a nação está imersa. Cada profeta olha para a realidade que vive, compara-a
com a experiência “canônica” e depois fala em nome de Deus.12
Em suma os profetas:
2. Estão altamente comprometidos com o seu povo, por isso denunciam tudo aquilo que
pode contaminá-los.
Salmos. A grosso modo, o objetivo dos Salmos é lembrar os feitos do Deus vivo e libertador,
visando fortalecer a fé dos seus contemporâneos, estreitar a intimidade com o Deus dos
patriarcas, conscientizar que o Deus que fez uma aliança com eles os manterão firmes na jornada
dessa vida. É uma espiritualidade que brota do mais íntimo do ser, seja da dor ou da alegria da
vitória.
Jó. Considerado a Teologia subversiva porque não se encontra nos seus relatos o referencial
paradigmático.
Cânticos dos cânticos. Espiritualidade alegórica entre o amor poderoso de Deus por seu povo,
ou por sua igreja, a noiva.
Em suas leituras sobre livros de “espiritualidade” e com o advento do esoterismo irão encontrar
termos com significados amplos e difusos, tais como: “místicos”, “misticismo”, ou seu
equivalente “teologia espiritual”.
Místico – Alguém que tem experiência pessoal com Deus sem intermediários.
Normalmente tem visões, revelações, e êxtase espetaculares;
Teologia espiritual – Utiliza-se da razão para sistematizar suas experiências com Deus;
Não há problema algum em utilizar os termos acima desde que definidos previamente.
12
<http://www.estef.edu.br/arno/wp-content/uploads/2011/06/Espiritualidade-b%C3%ADblica-
Crocoli.pdf>.
INDICAÇÃO DE VÍDEO
Agora que você pôde compreender um pouco da espiritualidade no Antigo testamento. Assista
ao vídeo indicado a seguir. Com certeza as informações nele contidas vão enriquecer o seu
conhecimento. <https://www.youtube.com/watch?v=4Mio6zn-tks>.
VIDEOAULA 01
Utilize o QRcode para assistir!
VIDEOAULA 02
Utilize o QRcode para assistir!
Podemos concluir que o Deus que é apresentado no Antigo Testamento é visto como Aquele
que livrou Israel da escravidão e da idolatria no Egito e libertou o povo e o conduziu para um
lugar de destaque.
Pensem em uma sociedade, seja a da época de Jesus ou a nossa, e como ela tem vivido a
existência. Enquanto indivíduos de uma sociedade, tanto lá como aqui somos constantemente
instigados ao lucro em detrimento das pessoas. Aquilo que é chamado a coisificação do ser. Elas
se tornam objeto de lucro e consumo. A riqueza a qualquer custo é cobiçada e é o ideal de vida
da sociedade contemporânea de Jesus e a nossa. Diante da valorização do deus mamom, em
que os que tinham eram considerados, e os que nada tinham, desprezados, Jesus ensina que
“Bem- aventurado vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus” (Lc.6:20).
Bom, agora faça um breve exercício: imagine Jesus nos dias de hoje passeando pelas ruas das
grandes cidades ou passeando pelos “shoppings”. Qual a imagem que teria da nossa sociedade?
Provavelmente ele diria: “Eles são escravos do luxo, da vaidade, e do dinheiro. Eles não são
felizes. Os pobres é que são felizes”, conforme Lc.6:24 “Ai de vós, os ricos”. Jesus estava
relativizando o status da época e redefinindo o conceito de felicidade. Segundo Jesus,
precisamos ter compaixão e misericórdia dos ricos e não dos pobres, são eles que sofrem com
suas riquezas e não o pobre com sua pobreza.
Como isso pode acontecer? “Eles (os ricos) terão muita dificuldade em viver no mundo do futuro
(o Reino de Deus), onde tudo será partilhado.”15
INDICAÇÃO DE LEITURA
Leia com atenção os capítulos 5, 6 e 7 do evangelho de Mateus. Leu? Agora responda: Qual o
impacto dessas palavras em sua vida? (Há um fórum para isso, ok).
13
PETERSON, Eugene h. Espiritualidade subversiva. Ed. Mundo cristão.
14
NOLAN, Albert. Jesus hoje. Ed. Paulinas. p. 86
15
Ibid., p.87
A questão dos excluídos e marginalizados na cultura judaica é legitimada pela religião instituída.
Nesse grupo estão leprosos, pobres, pecadores (impuros) e a mulher. Usaremos como exemplo
a figura da mulher e o modo como Jesus a valorizou e a reintegrou à sociedade, dignificando-a.
Abaixo temos uma lista de como a mulher era vista na sociedade judaica:
3. A lei do amor
A religiosidade judaica dos fariseus e saduceus era “estéril”, mecânica e teatral. Jesus
confrontou esse tipo de espiritualidade vazia em seus diálogos travados com os “mestres da
Lei.” Eles estavam interessados no aspecto ritual da lei e nos desdobramentos das várias
correntes de interpretação acerca da mesma que imposta sobre o povo leigo os
sobrecarregavam com o “jugo dos rabinos” (Código de Santidade). Jugo é interpretação, por isso
o “jugo” de Jesus é leve, porque não é baseado em tradições humanas, mas em vida de
intimidade com Deus. As palavras de Jesus são “espírito e vida”, ou seja, transforma o ser, e não
mera alteração comportamental.
A espiritualidade de Jesus diz: “o sábado foi feito para o ser humano, não o ser humano para o
sábado” (Mc.2:27). As leis existem para nos direcionar e não para nos escravizar. Na cultura
judaica havia separação entre o sagrado e o profano, puro e impuro. Em Jesus essa distinção
dicotômica não existe. Enquanto a religiosidade judaica excluía os leprosos e prostitutas,
considerados ritualmente impuros, ele os incluía no seu reino. “Não é aquilo que entra pela boca
que torna o ser humano impuro. O que sai da boca é que torna o ser humano impuro.”
(Mt.15:11).
A religião coloca as leis e rituais acima das pessoas, Jesus coloca as pessoas acima da leis e dos
rituais. O primeiro gera modificação comportamental, o segundo é consciência transformada.
16
<http://www.abiblia.org/ver.php?id=1623&id_autor=66&id_utente=&caso=artigos> (Sugiro que leiam
esse artigo por inteiro).
A espiritualidade do Reino de Deus
A compreensão corrente na época de Jesus é que o Messias seria de ordem política e poderoso
o suficiente para destronar qualquer poder de dominação contra o povo judeu, Roma por ex. Na
prática, o messias seria político e ascenderia ao trono com poder e os judeus regidos por ele,
seriam os novos dominadores do mundo!
Ao contrário da expectativa messiânica - politica, Jesus não fez nada disso. Em vez de impor seu
poder em dominação optou por se entregar e revelar o Deus de amor, inaugurando
poderosamente o conceito relacional de Deus como Abba - “paizinho querido”. Deus na tradição
judaica era o Deus Santo que castigava todos aqueles que não vivessem sob a lei.
Essa expectativa sobre Jesus ser o messias político esperado confirma-se a partir do seu poder
milagroso. Na tradição judaica três sinais eram imprescindíveis para confirmar a identidade
messiânica. Jesus, realizou os três, os quais são:
1) A cura de um leproso;
Por isso, por vezes Ele ordena que diante dos seus milagres os beneficiários ficassem quietos e
nada contassem. Ele queria desbaratar a ideia equivocada de que era o messias político
esperado, ou um mero curandeiro que atraia multidões. No tempo oportuno Ele se revelaria
como o Messias que salvaria o povo dos seus pecados, não os libertando da opressão política,
mas da opressão do pecado, morrendo na cruz, e que a partir disso poderiam, por meio do
avanço do Reino de Deus que já está aqui e “ainda não”, na transformação de todos os tipos de
opressões.
Atividade profética
Os profetas no Antigo Testamento eram homens levantados por Deus para denunciar o pecado,
chamar ao arrependimento e trazer uma solução para o povo. Jesus denunciou o sistema
religioso opressor do seu povo conclamando-os ao arrependimento e ofereceu a si mesmo como
solução: “Eu dou a minha vida…” (Jo 10:17).
“Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua
companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do
Homem. Regozijai-vos naquele dia e exultai; porque grande é o vosso galardão no céu; pois
dessa forma procederam seus pais com os profetas.” (Lc.6:22,33)
Jesus, enquanto profeta, não estava vinculado à instituição religiosa judaica nem era
oficialmente seu representante. O profeta era audacioso em sua mensagem, tal como Jesus,
porque foram especificamente chamados para esse fim. Não é algo que se aprende em uma
“escola de profeta”, mas está relacionado com sua experiência profunda com Deus a partir de
um diálogo entre Eles. Deus fala! O profeta reproduz, e as vezes interpreta: “Assim diz o
Senhor!” (Jesus era ousado. Ele diz: “Eu, porém vos digo”) Mesmo diante das maiores
adversidades e perseguições o profeta não se cala. Ele continua a proclamar libertação aos
cativos e uma nova vida em Deus. O profeta lia os sinais dos tempos ou estava antenado nos
fatos mundiais. Sobre isto “ler os sinais do tempo” ver a aula nº01.
Vida de oração
O relacionamento que Jesus tinha com o Pai era de “união mística”, ou seja, ele e o Pai eram/são
um! Como já mencionado, Jesus experimentou Deus como Abba, o pai todo cheio de amor. Jesus
como homem sentiu a relatividade e transitoriedade da vida e o fundamento do seu ser estava
baseado no Amor de Deus. No seu batismo, como homem precisava ouvir que Deus o amava:
“Esse é o meu filho amado em quem me comprazo”.
A necessidade humana de ouvir que somos amados fundamenta existencialmente o nosso ser
como o de Jesus! O Pai, nosso Abba, quer estreitar os laços de intimidade conosco. “Intimidade”
é o termo que expressa a profunda realidade espiritual entre Jesus e Deus: Pai querido. Esse Pai
foi bem ilustrado na parábola do “Filho pródigo.” Nela vemos amor irrestrito, um Deus que
acolhe em seus braços e perdão incondicional. Somente aqueles que experimentaram o amor
do Abba podem manter-se firmes diante de qualquer circunstância e caminhar ousadamente
nessa vida, como disse Branning Manning: “Deus o ama do jeito que você é não do jeito que
deveria ser, porque você nunca será como deveria ser.”18 Fomos “Aceitos na Aceitação do
Amado.”19
17
NOUWEN, Henri. oração. ed.? p.? Livro pequeno, mas vale cada página. Na aula? abordaremos um
tópico especifico sobre “oração.”
18
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19
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Espiritualidade cristã: aspectos históricos
Espiritualidade Judaica
O Deus vivo do Antigo Testamento exigia um modo de ser santo porque Ele é Santo (Lv.11:44,45).
Relacionar-se com Ele, mediante Sua autorrevelação transformava a vida interior. No Antigo
Testamento, os lugares por meio dos quais Deus se revelava tornavam–se sacralizados, como,
por exemplo, na teofania, no Vale de Jaboque - lugar em que Jacó (enganador) lutou com Deus
e foi transformado em “Israel” (príncipe de Deus).
INDICAÇÃO DE VÍDEO
Para compreender um pouco sobre a cultura judaica, ouça Ed René Kivitz falando a respeito dos
conceitos fundamentais da espiritualidade cristã, tendo como referência a relação de Jesus de
Nazaré com os seus talmidim. Clique em: <https://www.youtube.com/watch?v=4USgdgNto24>.
Esse período da história da Igreja ficou conhecido como “patrística”. (sec II ao VI). Os teólogos
precisavam expor o Evangelho em linguagem inteligível. A sociedade da época, então absorveu
nos sistemas teológicos, as filosofias gregas. Eles tentaram cristianizar tais sistemas filosóficos
aproveitando aquilo que era compatível com o Cristianismo, e combatendo as discrepâncias, os
quais são:
Gnosticismo - Segunda essa crença o Deus do Antigo Testamento era um deus mal e
imperfeito, chamado Demiurgo. Ele não tinha poder de salvar ninguém já que era
inferior ao Deus de Jesus no Novo Testamento que era todo bondade. Esse Deus bom,
de Jesus (O Pai bondoso), era perfeito, e sendo perfeito não poderia criar nada
imperfeito, como o Demiurgo fez com a criação do mundo e da humanidade no Antigo
Testamento, por isso, o Deus bom de Jesus enviou seu filho para salvar a humanidade,
mas Ele não veio em carne presentificada, mas numa espécie de “encarnação” virtual,
ou seja, parecia carne, mas não era.
Platonismo – As ideias são representações mentais não impressas pelos sentidos. Para
os platônicos as ideias estão vinculadas a alma antes de encanarem, ou seja, no Mundo
das ideias, numa realidade espiritual. Essa doutrina é conhecida como “anamnese”, ou
reminiscência. A alma recorda em si mesmo aquilo que já havia conhecido antes;
Aristotelismo. - É inerente ao ser humano conhecer as coisas, pois isso gera uma
satisfação intelectual, um prazer mental. O aristotelismo é focado nessa vida e
altamente racionalizado; A única maneira de conhecer a verdade é por meio do
intelecto.
Pais Apostólicos
20
FABIO, Caio. Um projeto de espiritualidade integral. Ed. Sião. p.20. Ver. SHEDD, Russell. Avivamento e
renovação. Ed. Shedd. Pgs. 23-56.
21
Problemas e perspectivas da espiritualidade. p.70
Apologistas. Usaram seu intelecto para defender o cristianismo contra as insurgentes
heresias do período.
Tertuliano - Defendeu ortodoxamente a doutrina da Trindade e a cristologia contra a
ideia equivocada da “doutrina da unidade de Deus.”
Justino - o mártir - Considerado o primeiro defensor do cristianismo frente a filosofia
pagã da sua época.
Polemistas. Utilizaram suas forças na refutação das heresias contra o cristianismo.
Irineu - Ele conectou a teologia grega e a latina com a ajuda de outro teólogo, Tertuliano.
Especificamente se dedicou a combater o gnosticismo
Cipriano - Bispo africano. Tratou basicamente de assuntos pastorais em seus escritos,
como rebatismo e reordenação.
Orígenes - Considerado o mais erudito apologeta do seu período. Dominava a filosofia
grega sendo capaz de refutar seus argumentos com maestria. A escola de Alexandria
está ligada a seu nome tal a influência exercida entre seus membros.
Jerônimo - Traduziu a Bíblia para o latim conhecida como Vulgata.
Crisóstomo - Cristianizou a filosofia grega resignificando alguns termos teologicamente,
como “caridade”.
Agostinho - Erudito nato combateu o maniqueísmo, donatismo e o pelagianismo com
afinco.
Eusébio de Cesaréia - Autor da primeira obra de história do cristianismo. Seu livro
“História eclesiastica”.
Espiritualidade Medieval.
Monasticismo.
No sec. IV os monásticos compreendiam que uma vida cristã autentica estava baseada na
santidade e essa por sua vez consistia em: fugir do mundo, celibato, vida intensa de oração,
jejum e contemplação. Essa vida ascética objetivava encontrar a união mística com Deus, ou
seja, a alma torna-se um com Ele, seria uma espécie de perfeição interior. Posteriormente,
começaram a viver em comunidade para fortalecimento mutuo e um princípio regulador e
organizacional começa ser estabelecido, agregam-se então outras práticas ascéticas, tais como:
obediência a regra do mosteiro, silêncio, jejuns longos e privação de carne e vinho.
Catolicismo romano
Martin Lutero (1483-1507) precursor da Reforma Protestante fixou suas 95 teses na porta da
igreja de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517. Suas ideias foram combatidas pelos Católicos
e aceitas por alguns príncipes que o protegeram. Foi excomungado já que era sacerdote católico.
Traduziu a Bíblia para o vernáculo. Permaneceu firme e resoluto em suas convicções teológicas
até sua morte.
João Calvino (1509 - 1564) reformador francês. Seu intelecto sistematizou a fé reformada em
sua clássica obra “As Institutas da religião cristã”. Sua teologia foi considerada tão profunda que
um sistema teológico foi desenvolvido em torno: calvinismo. Sua ênfase recai na salvação
mediante a fé, predestinação, a corrupção da natureza humana, e simplicidade litúrgica.
Centralidade na Palavra e com o auxílio do Espírito Santo, que ilumina a mente, para
compreender como viver a vida cristã;
Oração, meditação e contemplação como busca individual para santidade pessoal e
serviço a igreja e a sociedade;
22
Op., cit. McGrath. p.37-42
23
Ibid., p.44
24
Ibid., p. 44,45 e Op. cit., p. 22,23
Os exercícios espirituais objetiva conhecer a Deus, ter maior comunhão com Ele, adorá-
lo pelo que é, e não somente pelo que faz, e vivendo para sua glória!
INDICAÇÃO DE VÍDEO
Os pilares da reforma protestante - Rev. Hernandes Dias Lopes. Trata-se de uma mensagem do
Programa Verdade e Vida Acesse: <https://www.youtube.com/watch?v=zf8Lv2GF-Fk>.
VIDEOAULA 03
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VIDEOAULA 04
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Em nosso próximo encontro falaremos sobre a história dos avivamentos. Até a próxima aula!
Esperamos que este guia o tenha ajudado compreender a organização e o
funcionamento de seu curso. Outras questões importantes relacionadas ao curso
serão disponibilizadas pela coordenação.
Grande abraço e sucesso!