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SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA DO NORTE

DO BRASIL
FACULDADE STBNB
Coordenação de
Teologia BACHAREL
EM TEOLOGIA
Filosofia da Religião

Professor: João Ferreira


Aluno: Paulo Ricardo Trindade da Silva

PROVA DE FILOSOFIA DA RELIGIÃO


1º- Explique em que consiste a chamada questão do elo perdido, ressaltando a
importância da religião como resposta a esse problema. Ao longo de sua gigantesca
obra, Sigmund Freud sempre se interessou por estudar os mais variados fenômenos
psíquicos e sociais partindo da clínica psicanalítica que inaugurou. Esta se constitui
fundamentalmente em um método de investigação e tratamento psíquico, cuja direção é
regida pela ética da singularidade. O psicanalista em seu ofício oferece uma escuta cuja
atenção é flutuante para deixar sempre aberta a possibilidade de que a fala do sujeito soe
estrangeira. A clínica freudiana, construída ela mesma a partir de articulações com
muitos outros campos do saber, insiste na aposta de que aquele que decide correr os
riscos e pagar o preço da empreitada possa ter algum acesso a essa alteridade radical
presente naquilo que possui de mais íntimo. É a abertura para este inominável, mas
além da fantasia que recorta com o sentido o mistério inesgotável da vida, que pode
aliviar o sintoma do neurótico que sofre pelo excesso de respostas. Partindo de sua
experiência clínica, Freud se aventurou por vários campos, costurando com o conceito
de inconsciente o elo perdido entre psiquismo e cultura. Entre eles, a religião, para a
qual ele construiu diferentes chaves de compreensão, sempre ocupou um lugar
significativo. O último grande escrito publicado por Freud em vida foi o texto sobre o
qual Betty Fuks se debruça, com elegante erudição, para dar prosseguimento ao seu
percurso de trabalho no campo da abordagem psicanalítica da religião. A autora sustenta
a importância do texto que contém a última versão do pensamento psicanalítico sobre
religião, valorizando sua relevância e magnitude clínica, teórica e política. Traçando
conexões entre diferentes tempos da obra freudiana, Betty Fuks explora os
desdobramentos da aposta feita por Freud de investigar a história de Moisés por meio
dos instrumentos de desvelamento dos processos inconscientes que construiu a partir da
técnica psicanalítica. Ao ler a história mosaica como lê o inconsciente, ou seja, tratando
os registros como uma rede de traços de memória, Freud constrói uma ficção teórica
que não deixa de manter um caráter científico, na qual retoma elementos de toda a sua
obra para fazer trabalhar. O que o levou a essa empreitada foi a busca de explicações na
religião judaica para o ódio aos judeus, que crescia assustadoramente com a ameaça
nazista na Europa da década de 1930. Entre as múltiplas origens do antissemitismo
identificadas por Freud, tais como a associação da circuncisão com o complexo de
castração e a crença judaica na eleição divina, destaco aqui a ênfase dos judeus na
impossibilidade de representação de Deus, que sem rosto e sem imagem é o estrangeiro
dos estrangeiros. Ex-timo a seu próprio povo, ocupa o lugar de um verdadeiro
continente estrangeirona economia libidinal dos homens. O judeu no texto de Freud
pode ser tomado como uma das figuras paradigmáticas do excluído, segregado pelo
horror à diferença que o constitui. O sujeito, que Jacques Lacan localizou na instância
do isso, insiste com o desejo inconsciente, provocando horror à instância do eu, que
constrói de si uma versão idealizada e hostiliza o sujeito, tratando-o como marginal. A
equivalência entre a constituição de um sujeito e de um povo se sustenta na medida em
que ambos delineiam seus próprios contornos a partir da alteridade, o que revela a
lógica paradoxal do inconsciente. Como Betty Fuks assinala, o texto de Freud é também
uma tentativa de responder ao porquê de a religião não ter desaparecido com o
Iluminismo. Considerada por ele uma ilusão, a religião foi a única que resistiu aos
ferozes ataques das luzes da razão. A autora aponta que Lacan, em Ciência e verdade,
indica que, quanto mais a ciência exclui o sujeito do inconsciente, mais a religião ganha
terreno. Ela mostra que a crítica de Freud se dirige a discursos fundamentalistas que
tentam impedir as pessoas de pensar por si próprias. A aposta freudiana consiste em
oferecer um lugar para o sujeito em análise que suporte a equivocidade das palavras e a
pluralidade de sentidos. A paixão pelo estranho, o inassimilável do saber inconsciente, o
desapego pelo idêntico e por verdades apriorísticas, levou a atrelar sua escuta à
inesgotável melodia da pulsão, um dos conceitos que instalou, e mantém no campo da
psicanálise o lugar inexpugnável da alteridade.

2º- Faça uma síntese das diferentes faces do ateísmo moderno, destacando a
afirmação de que o ateísmo não é uma terapia, mas uma saúde mental recuperada.
O ser humano, quase sempre, para entender e entender o mundo ao seu redor, procurou
uma resposta recorrendo aos deuses. É clássica a exortação: conhecer a ti mesmo,
encontrada em um dos frontispícios de um templo próximo a Delfos, sugerindo que o
homem não pode conhece, senão referindo a alguma extrema alteridade, algum além.
Contudo, após os efeitos e marcas que a modernidade deixou no mundo da fé,
poderíamos nos perguntar se semelhante modo de agir seria hoje validamente praticado,
ou mesmo possível de ser sugerido ao homem contemporâneo. Com a modernidade
inaugurada por Descartes, a pergunta antes dirigida aos deuses retorna ao seu emissor: o
homem. Desde então, é junto a si mesmo, tomado como sujeito, e à natureza concebida
como objetivável, que o ser humano procura encontrar sua medida e suas respostas:
Cogito ergo sum. Para os homens, desde então formados na razão e na confiança
construída sobre o valor do indivíduo e da subjetividade, as questões antes endereçadas
às religiões passam a buscar respostas no método científico. O mundo nascido das luzes
do século XVIII aprende então a desconfiar de toda explicação baseada em uma causa
transcendente, inverificável. É através do experimento que se procura, a partir daí, um
conhecimento assegurado, garantidor da objetividade através de um resultado
experimental reprodutível. Para este fim, foi necessário produzir uma enorme
uniformização do mundo acessível ao homem. Mundo que doravante vai se limitar
àqueles objetos passíveis de se ajustar às condições do modelo experimental. Esta
esquematização epistemológica produziu um enorme encurtamento das dimensões
originais da experiência humana, fazendo as experiências casuais, únicas e não
experimentalmente repetíveis, serem eliminadas da reconstrução técnica do mundo,
porquanto consideradas irracionais. O advento da Modernidade não foi um simples
momento da história humana, foi um horizonte, um modo de civilização característica,
homogênea, que se irradiou desde o ocidente, definido por oposição ao tradicional.
Assim, esta categoria afetou todos os domínios da civilização: estado, sociedade,
técnica, costumes, ideias, valores, arte, moral, religião.

3º- Dentro do que se denomina manifestação do mal, faça uma pesquisa sobre a
concepção do mal na cristandade medieval, a partir das fontes indicadas.
O cristianismo foi um enorme vetor de mudança na história humana, pois modificou
culturas, traços do imaginário, criou e transformou práticas, gerou conflitos, um vetor
que redirecionou o rumo da história, mas que acima de tudo é uma prática religiosa com
os seus próprios costumes. O cristianismo no seu processo de expansão e conquista do
território ideológico medieval usou da várias ferramentas, mas uma das principais foi a
pedagogia do medo, tal prática se aplicava no intuito de converter, de atrair para o bem
os indivíduos pertencentes a culturas distintas do cristianismo, nisto várias deidades se
tornaram demônios ou ingressaram no mosaico cultural que é a imagem do Diabo, com
isso a figura de Satã se tornou mais forte, ganhando um novo papel na história. A figura
de Satã existe desde própria criação do cristianismo, mas a sua força não se mantém a
mesma ao longo de sua história. A sua primeira
representação iconográfica é vista no século VI, mas a sua grande força ocorre nos
século XI e XII, graças ao surgimento de uma cultura escrita voltada para as
representações e práticas de Lúcifer, assim como da sua história bíblica e suas
intervenções em outras histórias. Tais escritos foram fundamentais para determinar a
atuação do Diabo e disseminar idéias bíblicas, como o Apocalipse e o Juízo final,
proporcionando uma separação entre abençoados e condenados, através de descrição de
práticas e do uso da pedagogia do medo. A proposta deste trabalho é justamente analisar
esses momentos da figura do Diabo, vendo sua evolução a partir do fator demonizador
promovido pelo cristianismo, como também da produção e da assimilação dos escritos
demonológicos que povoaram tão fortemente a mentalidade medieval e de épocas
posteriores, buscando identificar um elemento da história deste personagem, que acima
de tudo é histórico.

4º- Explique as principais diferenças entre a religião em perspectivas naturalistas,


destacando nisso a importância do pensamento de Rousseu.
A religião considerada em relação à sociedade, que é geral ou particular, pode também
dividir em duas espécies, a saber: a religião do homem e a do cidadão. A primeira, sem
templos, altares e ritos, limitada ao culto puramente interior de Deus supremo e aos
deveres eternos da
moral, é a religião pura e simples do Evangelho, o verdadeiro teísmo e aquilo que pode
ser chamado de direito divino natural. A outra, inscrita num só país, dá seus deuses,
seus padroeiros próprios e tutelares, tem seus dogmas, seus ritos, seu culto exterior
prescrito por
lei.Embora Rousseau tenha-se declarado cristão23 e escrito muito sobre religião, suas
reflexões consistem em um credo minimum que contém o básico e essencial das
religiões e, por isso, pode ser universalizado enquanto lição moral. O que Rousseau
chama de “perfeito cristianismo” não chega a ser um humanismo ateu, como já foi
discutido por alguns comentadores de Rousseau, mas um teísmo naturalista que
proclama mais o objeto da criação
do que propriamente seu Criador. Porém, por mais minimalista que seja, a religião não
pode ser desconsiderada, pois auxilia a moral rousseauniana e o ideal ético que
sustentam a consciência, a razão e a liberdade. Mas não se pode esquecer que, nesse
aspecto, Rousseau tem em mente o Deus da religião natural e não o Deus pregado pelas
instituições religiosas.Portanto, as abordagens religiosas de Rousseau tanto a natural
quanto a civil podem ser vistas como ações auxiliares da ação educacional e da política
em duas formas de atuação que podemos chamar negativa e positiva. A primeira tem
caráter preventivo e procura resguardar o homem natural da depravação e da maldade
em seu processo de desnaturação à medida que se socializa e amplia suas necessidades.
A segunda é reparadora e conta com as instituições, as leis e os governos para realizar
uma ação educativa que reconfigure o homem de tal modo que ele supere a contradição
entre natureza e cultura e seja um bom cidadão sem, contudo, neutralizar as disposições
da natureza. Tendo em vista o homem civil na perspectiva rousseauniana dos Discursos,
isto é, corrompido pelas ciências, pelas artes e pelo progresso das paixões, a ação
reparadora deve ser tão radical que possa ser chamada de um segundo nascimento no
qual o homem não renasce apenas para si, mas para os outros. A finalidade da
religião é, como dissemos, auxiliar o projeto de reconfiguração do homem, uma vez que
ela é capaz de inspirar no espírito humano a bondade e a virtude, para atender as
necessidades de compreensão mútua, civilidade e cidadania que a humanidade reclama
em sua condição civil.
O espiritualismo do vigário pode ser entendido também como a forma que Rousseau
procurou rebater os iluministas ateus, comentando que o que há de mais injurioso para a
Divindade não é pensar nela e sim pensar errado a seu respeito. Mesmo refutando as
abstrações filosóficas acerca da religião e as interpretações doutrinárias da Igreja,
Rousseau elabora esse minimalismo religioso com base nas regras áureas, na
contemplação da natureza e na busca interior de si mesmo. Para além da retórica, esse
teísmo concebido pelo padre saboiano se revela como o modo pelo qual Rousseau
fundamenta sua fé, resumida nos três artigos de fé: uma força move o universo; há
vontade e inteligência nessa força; e, o homem é livre em suas ações e animado pela
substância imaterial. Na base dessa religião está a dualidade e a complementaridade das
substâncias: assim como a alma imaterial e o corpo material se unem
na composição de nosso ser, o imaterial Natureza e o material natureza também se
complementam na formação da ordem existente e servem de pano de fundo da
construção de um plano moral. O homem goza do livre arbítrio e pode escolher entre o
bem e o mal, mas quando escolhe o bem, age segundo a ordem natural a qual opera na
interioridade humana pela voz da consciência. Como uma espécie de luz interior e eco
da alma , a consciência é o princípio inato de justiça e de virtude pelo qual julgamos
nossas ações e a dos outros O papel da consciência é extremamente valorizado por
Rousseau é visto como a forma de elevar o homem acima de sua própria animalidade a
níveis mais excelsos de cultivo da Natureza.

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