Você está na página 1de 20

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

FISIOTERAPIA

Amanda Caroline da Silva Lins - 22005495


Ana Laura Passador - 22011003
Gabriela Picinato - 22000534
Valentina Goes - 22010955

Teologia e Fenômeno Humano: Relatório de Leitura - Antropologia


Teológica de U. Zilles

Campinas
2022
INTRODUÇÃO
O livro de Antropologia Teológica de Urbano Zilles, discute o homem a partir de sua
relação com Deus em busca de respostas para algumas questões da fé cristã. A obra aborda
diferentes visões do homem, como a renascentista que criou a imagem do homem como
exceção na natureza e dependente de si, a marxista que compreende o homem como
dependente da sociedade, e a contemporânea que argumenta o homem como a pluralidade de
suas experiências de vida em busca de uma compreensão mais abrangente de si. Logo, a partir
da antropologia teológica, U. Zilles discutirá a origem do homem e do mundo, a restauração
ou redenção do homem e do mundo em Cristo, e o destino do último homem e mundo. Dentro
da abordagem, observa-se que nem todas as questões da fé cristã são respondidas ou há
respostas concretas, já que o próprio homem é um mistério para si e busca sua própria
compreensão.
DIFERENTES PERSPECTIVAS ANTROPOLÓGICAS
Neste capítulo, o autor indaga as questões antropológicas ao usar como objeto de
estudo e problema, o homem. Deve-se compreender o homem como integrante da natureza,
porém evidencia-se a dificuldade de classificação em rótulos definitivos devido à maior
complexidade e incompreensibilidade do ser humano, assim dividindo a natureza em estudos
de ciência da natureza e humana. É importante destacar a diferença entre as ciências, já que na
ciência humana não se estuda os objetos como eles são, mas sim humanos em diferentes
facetas e perspectivas dentro da sociedade. Ela compreende principalmente a antropologia
física, cultural e filosófica, que busca o entendimento do ser humano a partir de seu corpo e
morfologia, da contextualização cultural de um agrupamento de indivíduos, e também
fundamentador e busca da concepção da vida. A antropologia filosófica é essencial por ser o
enfoque da busca da origem do homem, e esse raciocínio pode ser dividido em duas linhas de
pensamento, a antropologia biológica e teológica. A antropologia biológica argumenta que o
homem é o produto da evolução biológica, já a antropologia teológica refere-se à exposição
sistemática do conhecimento do homem dado pela graça divina.
A compreensão da existência humana determina metas e atitudes na vida de cada um,
que determina a dignidade humana e suas grandezas, ao incluir também suas fraquezas.
Apesar do ser humano ser facilmente destrutível por apenas ameaças naturais, reconhece o
privilégio do ser pensante que entende da própria morte, diferente do universo. Porém, mesmo
com a inteligência humana crescente e amplitude de conhecimentos contínua, sua própria
existência lhe permanece enigmática. O equilíbrio da grandeza e fraqueza de um indivíduo,
tende a exclusão da ignorância.
O homem ocupa o centro da reflexão filosófica e teológica, ou seja, de modo
antropocêntrico. O entendimento antropológico equívoco do homem parte de várias
perspectivas retratadas por Puebla, como o homem vítima de forças ocultas, do instinto
fundamental erótico e privado da liberdade, da arbitrariedade do Estado ou grupos que
usurpam poder, a redução da existência humana ao mundo material, e substituição dos
dogmas religiosos por dogmas em nome da ciência. As tendências retratadas afetam a própria
teologia, dificultando a busca de critérios para defender ideias humanitárias devido a
impossibilidade de gerar o senso comum. Logo, resultou na compreensão da antropologia,
que juntamente à ética, orienta o indivíduo a autorreflexão e integra-se a dimensão subjetiva
do homem.
O conhecimento do homem sobre o universo e a amplitude de conhecimentos
científicos formou o pluralismo das concepções de vida. O pluralismo fragmentou a
humanidade de forma a gerar a impressão de que não há como criar uma norma ou ideia que
seja unitária para todos. Isso afeta a teologia, já que a ideia do homem como criatura de Deus
torna-se indiferente. O ser humano permanece inquieto diante todas as concepções de vida,
constituindo uma percepção de si mesmo em relação ao mundo ou exerce influências na
percepção de outro.
O homem, diferente do animal, carece de instintos especializados, tornando-os seres
desadaptados e inseguros. Por outro lado, somos seres racionais e criativos capazes de criar e
se apropriar de culturas e línguas. O homem não nasce com as capacidades biológicas dos
animais, mas se cria, o homem não sabe voar mas criou os aviões. Logo, a partir do
conhecimento humano, o homem se tornou o animal mais poderoso. Na visão de Max
Scheler, o homem se difere dos animais pois ele é capaz de se distanciar do biológico e
dominar o seu meio. Segundo Ernst Cassirer, o homem se difere não por sua natureza
metafísica, e sim por seu agir.
Para fins de entendimento do homem, tende a comparação ao divino, de modo que ao
revelar o divino revelaria também o homem. O homem se divide entre sua formação biológica
e o mundo empírico, inquieto em ambos os lados, já que permanece um enigma para si
mesmo. Enquanto uns o compreendem como um animal racional, a bíblia o descreve como “a
imagem de Deus”. Para o cristão, o homem deve ser abordado a partir daquilo que ele é em
relação com Deus, e a fé em Cristo, juntamente a outras ciências e antropologias, oferece
critérios fundamentais para obtenção da visão integral do homem.
A antropologia teológica e filosófica orienta para a autorreflexão com o objetivo de
compreensibilidade unitário do homem e sua essência, pela perspectiva do próprio sujeito. A
vida humana não se reflete em dados objetivos, mas sim em convicções fundamentais que dão
sentido a cada indivíduo.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ANTROPOLOGIA
O questionamento existencial do homem levou a criação de mitos e lendas, já que o
conhecimento lógico e empírico não são suficientes para elaborar uma resposta. Logo,
Sócrates construiu a filosofia dialética que tem como objetivo o conhecimento da natureza
humana, já que acreditava que a verdade é fruto do pensamento dialético. Na filosofia grega,
destaca-se o ser humano como racional, social e político, ao buscar sua essência
relacionando-o com os cosmos. Esse pensamento confronta com a tradição judaíco-cristã que
não busca a essência do homem, e sim sua salvação. Porém a concepção cristã-medieval usa a
bíblia como norma e os instrumentos conceituais da filosofia grega, gerando tensão entre o
pensamento e a tradição.
As expressões da fé bíblica variavam de acordo com o meio cultural. A escola de
Alexandria, a imagem de Deus não se refere ao corpo, e sim à alma, e devemos buscar nos
libertar da forma de homem para alcançar a semelhança.. Já na escola de Antioquia, o homem
é sujeito carnal que ao se orientar a Deus, revela sua imagem e semelhança. E por último, a
visão Ocidental apela à reflexibilidade, pois acredita que é no interior do homem que habita a
verdade.
Devido aos pensamentos e modelos filosóficos cristãos substituírem a filosofia grega,
o homem passou a ser fundamentado pelo ponto de vista religioso, e a fé acentuou a
singularidade e dignidade de cada.
O renascimento surgiu com o pensamento humanista, que ressalta a superioridade do
homem ao agir e transformar seu meio, ainda dependendo da ordem divina. Dessa forma, a
filosofia cristã é humanitário, tendo o homem como problema central e Deus como seu
princípio e fim. O pensamento humanista renascentista tem o propósito de unir o natural do
sobrenatural para fins da investigação sobre o homem, tendo como características principais a
afirmação do valor da dignidade e livre indagação da natureza do homem. Na transição para a
idade moderna, o cristianismo perdeu sua influência sobre o pensamento filosófico e voltou-se
a uma nova autocompreensão que ressalta sua autoconsciência.
Por outro lado, o iluminismo e a modernidade trouxe outras linhas de pensamento,
como a natureza completa do corpo e da alma que podem substituir uma sem a outra por
Descartes, e a disposição e a liberdade do homem de conhecer a Deus, a natureza e a si, por
Locke, contrapondo Descartes. O iluminismo tem como enfoque a polaridade do corpo e
espírito, cabeça e coração, em busca do conhecimento da realidade usando a razão. Na
modernidade, os pólos determinantes da antropologia se contrapõem, assim separando o
positivismo(dimensão corpórea) e o existencialismo(dimensão espiritual). A solução dessa
contraposição depende da filosofia.
Após o modernismo, a antropologia cessou a busca da essência humana e voltou-se a
sua constituição corpórea, condições naturais e formação histórico natural, logo acentuando o
estudo da antropologia física. Seus fundadores segregaram a antropologia física da
filosófica-teológica, e a exclusão da visão religiosa e filosófica, causou a não reflexão de
questões morais e políticas dentro do estudo antropológico.
Já a antropologia filosófica argumenta que faz parte da natureza humana criar cultura,
o mundo é manipulado por sua consciência, e o homem deve transcender a si mesmo. Devido
a carência humana de especialização, o homem possui a capacidade de transformar o meio, de
modo a criar sua própria cultura e instrumentos.
O homem possui direitos pelo fato de ser e eles são fundamentais para garantir uma
existência digna. Os direitos humanos tendem assegurar a liberdade, a é, a segurança e à vida,
porém não completamente, pois seu cumprimento depende da disposição de cada governo.
Observa-se também a relação da igreja com os direitos humanos, que ao longo da história se
mostrou muito restritiva e hostil, e sua concepção vem mudando a priorizar a liberdade à
própria fé em conformidade com a dignidade transcendente do indivíduo. É importante
ressaltar que junto aos direitos, o ser humano deve exercer suas responsabilidades, e sem a
coexistência do direito humano e responsabilidade, a sociedade não se extenderá por tanto
tempo.
ANTROPOLOGIA E COSMOVISÕES
A visão do homem sempre está dentro de uma cosmovisão, que é um conjunto de
interpretações globais do homem e do mundo, que visam fornecer orientações práticas para a
nossa conduta.
Cosmovisão representa uma tradução da palavra alemã Weltanschauung. Para
Heidegger, essa palavra caracteriza o moderno e, assim, o sujeito se coloca como centro do
mundo.
O homem moderno afirma sua autonomia, dizendo ser capaz de estabelecer a maneira
com a qual ele se relaciona com o mundo. Já o homem grego se vê jogado a um destino
trágico sem seu alcance de controle pelos deuses. E o homem medieval oferece sua crença a
uma providência divina.
A imagem central da cosmovisão é o homem, incluindo a concepção de valores
objetivos, normais e sentido para sua ação. Cada ser humano possui sua cosmovisão, sendo
originária de uma cultura junto com os traços individuais.
Existe duas classificações de cosmovisão e são elas:
Cosmovisão imanente: se opõe a visões antropológicas cristãs. Nessa categoria está a
interpretação materialista do mundo e se apresenta como a única interpretação científica
verdadeira. Aqui o postulado se classifica como algo ilusório, sendo o marxismo a
cosmovisão imanente mais desenvolvida. Essa corrente ideológica política define o homem
como um ser social coletivo que atinge sua plena realização na sociedade através do
comunismo. Marx faz inúmeras críticas a diversos tipos de alienações, como, por exemplo, a
política. -> Assim, na esquerda hegeliana, foi desenvolvida a ideia de humanismo, com o
intuito de renovar as coisas já existentes. Para Marx, a essência do ser humano está em seu
trabalho, deixando de ser necessário a teoria de um Deus Criador. O marxismo clássico se
estende com Adorno e Horkheimer, e tal filosofia possui o objetivo da plena realização do
individualismo. Marx desenvolveu a filosofia do materialismo histórico, sendo classificado
como “materialista” algo em que a matéria que está se movimentando representa o elemento
constitutivo fundamental do Universo. O idealismo se opõe ao conceito material, sendo as
essenciais incorpóreas ou ideias o que constituem a realidade. No marxismo, o homem é seu
próprio criador. Nesse contexto e considerando um contexto mundial capitalista e burguês, o
assalariado trabalha como forma de suprir um objetivo alheio, perdendo sua própria essência
humana. A ideia fundamental das ideias de Marx é o homem ser seu próprio criador e sua
principal crítica ao capitalismo é a perversão do trabalho (sendo um trabalho forçado, não
possuindo um salário que proporcione uma melhora de sua vida e outras coisas). Na
compreensão marxista, o comunismo possui representações tanto humanistas como
naturalistas.Um dos conceitos mais importantes na crítica marxista é a alienação. Se alienar
significa vivenciar o mundo e você de maneira passiva e receptiva. Marx elabora três aspectos
para o conceito de alienação e se baseiam na relação do trabalhador com o produto, com seu
próprio corpo e com a sociedade onde ele exerce ou exercerá seu trabalho. A totalidade
opõe-se à alienação, servindo como uma forma de mostrar o que a sociedade capitalista possui
homens, de todas as classes, alienados. Contudo, a situação do proletariado chega ser a de
miséria. Como uma solução, ele defende que a propriedade privada dos meios de produção
tenha seu fim e, assim, se isso de fato acontecer, a exploração do trabalhador será superada. O
homem utópico surge da crítica de religião feita por Marx e essa crítica se encerra com a ideia
de que “o homem é o ser supremo para o homem”, sendo que não cabe a este ser humilhado/
desprezado por outro homem ou por um deus. Com isso, o humanismo de Marx é considerado
ateu e, para a fé cristã, o Deus da esperança é o Deus da libertação concreta. -> Nas décadas
de 1960 e 1970, as ideias marxistas possuem um grande alcance e adesão nos países da
América Latina. Um exemplo é a revolução cubana que gera uma inspiração ao marxismo,
onde estudantes e intelectuais viraram admiradores. Porém, isso gerou uma aceleração nas
transformações culturais devido a dependência que a América Latina tinha, naquela época, em
relação aos Estados Unidos. Também esses países se encontravam numa situação
economicamente e socialmente injusta, possuindo uma parcela minoritária que tinha o
domínio absoluto sobre a maioria dos bens. Com a busca de promover uma transformação
global com o intuito de gerar mais humanização e uma justiça mundial, surge a “teologia da
libertação”. -> Marx possui o objetivo de suprimir o domínio da natureza sobre o homem
como o domínio do homem sobre o homem e, para isso acontecer, a sociedade não deve
possuir classes. Nesse contexto, o homem se enquadra apenas como um produto das relações
econômicas. -> A visão imanentista da realidade é herdada da corrente iluminista.
Cosmovisão transcendente: As religiões em geral e a metafísica possuem cosmovisões
transcendentes. Para a metafísica, é fundamental fazer a compreensão da realidade empírica a
partir de si mesma. Segundo Plotino, o objetivo da filosofia é a eudaimonia, ou seja, a meta da
vida é que a alma retorne a Deus. Assim, tal filósofo virou uma escala de degraus do Ser,
onde no degrau superior está o Uno (representa o todo e é de onde se origina todos os entes),
abaixo está o noûs e no degrau inferior está a alma. Essa escala representa o mundo
inteligível. Abaixo deste mundo estão os mundos empírico e corpóreo. Existe a possibilidade
de um contato cognitivo com o Uno, que se dá na forma de experiência mística. O noûs
(espírito universal) representa o primeiro ente, sendo designado por Plotino como uma
“pluralidade da unidade” e possuindo uma vida eterna. Já a alma do mundo, é o vínculo entre
os mundos espiritual e material. Com tudo isso, as ideias vão se realizar no tempo. Os corpos
são apenas passageiros, formados por matérias e formas. Assim, no mundo dos corpos sobra
apenas a abstrata matéria originária, pois toda realidade possui origem espiritual. Ciências
naturais precisam de uma referência de experiência sensível e, por isso, a metafísica e estas
não competem. Não existe um lugar que podemos ter uma visão externa para observarmos,
imparcialmente, a nós mesmos e a natureza. Mas também, a metafísica se inicia de sujeitos
que experienciam a natureza. Com isso, ela vai se basear em um mundo aberto e na liberdade
do indivíduo. Cada religião possui sua própria visão do mundo, sempre sendo transcendente.
Contudo, a metafísica e a religião se distinguem: a metafísica proporciona informações sobre
a realidade e as falas religiosas querem transformar em experiências tudo aquilo que abordam.
Outro ponto em que se diferenciam é que a metafísica gera teorias vindas de produtos da
racionalidade e a religião tem sua verdade garantida através da revelação divina. Também a
metafísica aborda a descrição teórica da realidade, possibilitando explicações. Já a religião,
não apresenta o desenvolvimento teórico da realidade transcendente empregada por ela
mesma. A última distinção entre elas é o tipo de fé. Uma convicção da fé é um paradigma de
cosmovisões, que serão justificadas pela comprovação na vida. Assim, a fé em Deus se baseia
em confiar nele, mesmo não conseguindo compreender sua essência, suas ações e seus
objetivos.
A imagem humana na globalização: As últimas décadas do século XX possuíram um
desenvolvimento muito acelerado, o que impactou as culturas, as sociedades e os seres
individualmente. Esse impacto se deu através da globalização. Existem tópicos considerados
fundamentais na imagem cristã do ser humano e são eles: a fundamentação bíblica, onde
encontra- se o antigo testamento e em Gênesis, é encontrado citações que afirmam que o
homem foi criado à imagem de Deus; a reflexão teológica, que reforça que o homem deve ser
criado à imagem e semelhança de Deus. Aqui, a imagem perfeita é o Filho de Deus feito
homem e a imperfeita é o homem na sua unidade e integridade de corpo e alma. Para
Agostinho, a imagem está no interior da alma, no que há de permanente e imortal, ou seja, na
memória (mens), na inteligência (notitia) e na vontade (amor), formando a contextura natural.
Tomás de Aquino acolhe o pensamento Aristotélico, que diz que o homem se transforma em
homem apenas por seus atos livres. Assim, o homem está em constante formação, sendo um
ser que possui aspirações e necessidades; e, as perspectivas de uma antropologia teológica,
onde, por exemplo, pesquisas antropológicas recentes como a biologia e a genética dão mais
ênfase a unidade do homem que a antropologia tradicional. As formas culturais sempre estão
em constante mudança causada por pressões das sociedades que competem entre si. A ação
humana é resultado de uma interpenetração de sistemas e o que falta nas pesquisas
antropológicas é a referência transcendental. O que é materialista e idealista vai reduzir tudo à
matéria ou ao espírito, assim, a transcendência define o que está no aquém do limite como
imanente e o que está além dele como transcendente. Portanto, a transcendência tem caráter
de fundamento, afirmando que o transcendente e o que é transcendido não possuem a mesma
natureza. Nesse contexto, a teologia afirma que o último sentido da existência humana e do
mundo é Deus.
CATEGORIAS FILOSÓFICOS-TEOLÓGICOS DA ANTROPOLOGIA
Algumas categorias como a consciência, a razão, a pessoa, a liberdade, a finitude e a
transitoriedade vão expressão a grandeza e o limite humano. O homem usa a observação e a
análise empíricas para estudar o fundamento biológico e, para o estudo do fundamento
espiritual, a reflexão é usada sobre as condições de possibilidade e implicações do saber.
Assim, é a espiritualidade individual que diferencia o homem de outros indivíduos.
A consciência: Quando o homem segue sua própria consciência, ele está modulando a sua
moralidade. Ela adverte, julga, impulsiona e orienta. Com ela, conseguimos diferenciar o bem
e o mal e entender porque devemos fazer o bem e evitar o mal. Sem ela, os humanos não
conseguiriam sobreviver ou evoluir. A consciência direta é a quando ocorre uma rápida
percepção da realidade que está nos nossos atos e a indireta é a reflexão sobre os próprios atos
internos (exemplo: sentir). Ela é caracterizada por ser relacional que permite acolher as ideias
alheias e até ser os outros, sem perder sua própria identidade. Sendo assim, a autoconsciência
ocorre quando o sujeito se concentra sobre seu ato e sobre si mesmo. O acesso que temos ao
mundo que está à nossa volta é através da percepção sensível, que é encontrada apenas na
consciência. No estoicismo romano, houve o surgimento da ideia ocidental de que a
consciência é um guia moral interior, que aprova ou desaprova nossos atos. A consciência
nada mais é do que a capacidade que o indivíduo possui de se sensibilizar pelo bem, assim, o
homem vive a vida de uma forma que foi confinada apenas a ele. Ela se relaciona com a
linguagem, sendo capaz de formular proposições e fundamental para sermos sujeitos e termos
os nossos conhecimentos. A consciência é então o centro dos valores, do sentir e do poder que
um humano possui; e, com ela, pode se construir a vida individual de uma forma responsável
e ao mesmo tempo libertadora.
A razão humana: Aristóteles caracteriza o homem como um animal racional para
diferenciá-los dos demais animais. A razão virou uma característica ocidental pois na
concepção filosófica- teológica, ela se sobrepõe ao instinto animal. Na filosofia duas correntes
se distinguem: o empirismo e o racionalismo (chegou em seu apogeu no iluminismo). A
primeira definição existente do homem é a de um ser vivo repleto de razão. Na antiguidade e
na idade média, a razão se dá pela capacidade de superar as relações centradas no eu. Na
modernidade, a razão representa algo racional, estabelecendo regras ao pensar. Assim, alguém
ou algo racional é definido por ser capaz de se orientar por aquilo que é objetivamente
correto. Por fim, a razão e a ciência juntas permitem que o indivíduo conheça, julgue e se
conduza, exercendo funções tanto negativas como positivas.
Pessoa: A noção do que é pessoa no contexto da teologia se elaborou entre os séculos
IV, V e VI, com o objetivo de explicar a fé em Cristo. Pessoa é um indivíduo que possui
consciência de si mesmo e que se determina como livre a si mesmo, ou seja, é um sujeito
capaz de consciência e de determinação de si mesmo. Ela se caracteriza por ter sua autonomia
quanto ao ser. Já a personalidade é a pessoa que afirma os valores para qual dirige todo seu
ser, sendo a realização do ser pessoal pelo próprio ser.
Liberdade: Somos agentes livres, sendo capazes de decidirmos sobre a vida, dentro de
certos limites. A liberdade está dentro da subjetividade e se enquadra como uma
autodeterminação. O ser humano é livre pra agir porém com certos limites, pois nossas ações
não dependem só de nossas capacidades físicas e espirituais. A liberdade espiritual faz parte
do ideal da autonomia e da autodeterminação do homem. A socialização impõe limites.
Embora existam as limitações e condições humanas e de sua existência, conseguimos a
experiência da liberdade. A liberdade se manifesta conforme nossa consciência e, dessa
forma, o homem constrói a si mesmo e o seu próprio mundo, sendo ela o centro da sua
dignidade.
Indivíduo e sociedade: O ser humano é um ser social. Aristóteles deu a característica
pro homem como um “animal social”. O ser humano faz parte de uma sociedade, onde ele
pode se desvincular desta devido a possuir uma personalidade própria, seguindo a procura de
novos vínculos. Essa relação está submetida a algumas alterações culturais. A sociedade
possui um valor próprio e único e a vida humana só se realiza plenamente dentro de uma
comunidade, com demais indivíduos. O indivíduo vai se tornando pessoa conforme vai se
transcendendo em direção a sociedade. A comunidade é humana quando reconhece o espaço
para a liberdade individual.
Corpo e alma: Esse dualismo busca esclarecer a ambivalência do homem a partir do
conceito de união de diferentes substâncias. Assim, tudo que engrandece o homem está
vinculado à alma, sendo esta parte de um corpo. Através do corpo ficamos associados com
todo o universo material , também é a forma de sermos no mundo e a forma de nos
comunicarmos com o resto do mundo. A junção de corpo e alma faz processos psíquicos
influenciarem processos ou estados físicos. A corporeidade é a origem da dependência e
transitoriedade e o corpo caracteriza a fragilidade do ser. O corpo nos une ao mundo material
e a outros homens. A união corporal plena é alcançada pelo amor entre os sexos. Contudo, o
homem não se limita apenas à existência corpórea porque ele também existe espiritualmente.
Historicidade e transitoriedade: Aqui as pessoas não estão apenas na história e os seus
passados fazem parte de suas concepções sobre si mesmas e de possibilidades dos seus seres
futuros. Nós somos e estamos vinculados ao tempo e nossa consciência vai além do momento
presente. Para o empirismo, as coisas e pessoas possuem um começo, um meio é um fim,
sendo que tudo é transitório. A transitoriedade vem de nossa existência, gerando um
sofrimento. A personalidade individual muda com o passar do tempo e mesmo assim
conservam a consciência da própria identidade.
A questão do sentido: A vida humana possui um valor intrínseco, sendo necessário
reconhecer o valor da vida em si e o sentido é algo que devemos proporcionar às nossas vidas.
Com isso, a vida de um indivíduo funciona num sentido de uma comunidade que possui sua
própria história.
ORIGEM DO HOMEM: CRIAÇÃO E EVOLUÇÃO
O capítulo começa criticando os “novos” ateus que se apresentam como “apóstolos”
da racionalidade científica contra a barbárie da religião, aqueles que querem defender a
ciência como um meio mais eficaz de se entender, do que apenas se basear no que está escrito
na Bíblia. Dawkins, Harris, dennet, Onfray e Hitchens acreditam que a religião é um transo
para a humanidade e para a ciência, todavia, a religião prende em algo não concreto e acabada
por consequência impedido a evolução da humanidade e da ciência, e a partir desta opinião
surge a dúvida criacionismo ou evolucionismo.
O criacionismo é a teoria ou crença religiosa na qual a humanidade, toda a vida na
Terra e no Universo são frutos da criação de um ser sobrenatural (Deus). A criação neste
capítulo é entendida como ex nihilo ( do nada),isto é, dom do ser é um dom livre de Deus,
quer dizer que o mundo existe por uma livre decisão de Deus.
O evolucionismo criado por Charles Darwin no século XIX tem o propósito de
defender a teoria do processo de evolução dos seres vivos, através de modificações lentas e
progressivas constantes ao ambiente em que atuam. Além disso, há uma precisão de que o uso
da ciência tem a capacidade de mostrar a verdade mais concreta através de seus estudos e
ferramentas.
No houveram e ainda há vários conflitos entre a visão do mundo e como é
testemunhada pela Bíblia e pela tradição da igreja e a visão do mundo como é elaborada pela
ciência moderna.
Michael Denton e Philip Johnson criam uma teoria chamada “Intelligent Design" que
baseia- se no pressuposto de que a evolução gera uma visão atéia do mundo e que, portanto,
os que creem em Deus devem se opor a ela, e que a teoria evolutiva tem fundamentos falhar
por que não consegue justificar a complexidade da natureza. Após a criação desta nova teoria
a ciência passou a respeitar mais seus limites, pois estavam duvidando da fé de quem crê,
assim como a teologia que também passou a respeitar seus limites.
Ainda há um empeço desde 1920 nas escolas sobre o que deve ser tratado com relação
à origem e ao desenvolvimento da vida e do homem, se partem para a ideia do criacionismo
ou do evolucionismo. O mais correto seria não partir para nenhum lado, pois os dois estão
incompletos e não existem comprovações, na Bíblia há muitas controvérsias nos primeiros
capítulos de Gênesis sobre a criação, e a ciência não tem nada comprovado de que o homem é
evolução de espécies.
Sendo assim este capítulo consiste em trazer uma abordagem de como é visto o criacionismo
e o evolucionismo e como isto ainda é uma interrogação para a sociedade, pois não existe um
certo ou errado.
UMA VISÃO CRISTÃ DO HOMEM
Neste capítulo mostra quanto nossa autoconsciência é determinada, por três
concepções independentes entre si: a primeira consiste em o homem como imagem de Deus,
pela tradição judaico-cristã; a segunda diz que o homem como ser dotado de razão, como
formulada pela antiga filosofia; já a terceira fala que o homem como produto de uma evolução
natural, como afirma a recente biologia. a terceira visão é uma determinação causal de nossa
conduta por hereditariedade e condicionamentos ambientais.
A visão cristã do homem baseia-se na Bíblia e na tradição teológica dos Santos Padres,
do Magistério e dos teólogos, a Bíblia busca tratar o homem na sua relação com Deus, seja na
origem, seja a partir de sua criação . Já na visão da antropologia teológica o objetivo não é a
natureza do homem e sim sua relação com Deus.
Após a Bíblia ter criado à imagem de Deus conclui-se que a doutrina de que o homem
é criatura, ligada a essa doutrina está certa determinação de que o homem foi chamado à
existência por Deus para representá- lo dentro de sua criação, está doutrina inclui a convicção
de que toda a criação tem sua origem em Deus. É a base a qual os Padres de Igreja e os
grandes teólogos dos séculos XII e XIII construíram toda uma doutrina tendente a ilustrar a
iminente dignidade do homem e determinar suas relações com Deus e o mundo.
Afirma dizer que o homem foi criado à “imagem e semelhança de Deus” significa
existir uma proximidade entre Deus e o homem, e isso acaba acarretando um papel muito
importante para o homem ao qual ele pode não cumpri-lo com dignidade.
Na primeira narrativa chamada sacerdote consiste na culpa e na salvação, o hebreu
está ligado aos outros. Mas, por outro lado, não deve ser absorvido pela comunidade. Por isso,
homem e mulher devem se apaixonar com igual autonomia e dignidade na comunidade
conjugal. Na segunda narrativa cujo o nome dado é javista diz que Deus molda o homem do
barro da terra. Por isso Deus deriva o nome de primeiro homem da terra, além de expressar
que, dentro da criação ao homem cabe uma posição espacial, essas narrativas mostra como é
visto o criados à imagem de Deus
Como dito acima o homem não pode ser comparado à imagem de Deus, pois o homem
está destinado a pecar, a uma narrativa bíblica da criação que traça uma imagem do homem
que confirma as experiências de nossa vida, muitas vezes penetradas por dúvidas sobre a
própria identidade, por crescente agressividade e violência no âmbito da convivência e por
uma destruição ameaçadora do meio ambiente. A queda do homem no pecado é uma
etiologia, ou seja, uma tentativa de narrar a questão por que os homens não encontram o
mundo como correspondem à ordem original da criação, a partir desta etiologia mostra que o
fato de os homens não viverem em paz uns com os outros, por muitos considerarem o
ambiente no qual vivem como hostil. Embora o homem sempre persiga a tentação do mal, ele
é justificado pela misericórdia de Deus.
Entre um mar de pecados que o homem está destinado a nadar nele, existe uma dúvida
onde não muito falado no livro Sagrado que é a questão da sexualidade humana, Deus criou o
homem masculino e feminino, e essa diferença sexual atinge todos os elementos do corpo
humano, além de atingir seu âmbito psicológico. Para os que crêem o conjunto da existência
humana, exige compromisso com o outro, pois isso pode gerar um filho.
Na visão e tradição teológica a sexo era algo impuro para o culto de Deus, eram
proibida a prostituiçaõ, a pederastia, a sodomia e a sedução das virgens, a automutilaçaõ era
punida com a exclusão da comunidade, mas com a evolução do homem os teólos foram
entendo que a sexualidade humana é boa, pois o resultado era obra de Deus.
Por fim este capítulo ressalta que a antropologia uma visão do homem e da sua
humanidade baseada na teologia bíblica do homem criado à imagem e semelhança de Deus
como pessoa livre e responsável, mas o homem acaba caindo na tentação do pecado e acaba
violando a maneira de ser desejado pelo Criador desde o começo. Além disso, o autor mostra
como os seres humanos à sua imagem, pessoas capazes de amar como ele ama, o amor entre
Deus e o homem é também um dom livre e recíproco entre pessoas, o mesmo pode aplicar-se
ao amor humano entre homem e a mulher e os filhos são frutos desse amor
DESTINO DO ÚLTIMO HOMEM: À MORTE!
No capítulo “Destino último do homem: a morte!” diz principalmente sobre a morte,
dizendo que a ela não é um acidente vindo do exterior, mas uma possibilidade permanente.
Ela pode ser interpretada como sinal da finitude ou como sinal de uma existência autêntica. É,
então, a morte que dá sentido à vida. Fala também sobre a interpretação dos cristãos sobre a
morte, que eles a comparam com o nascimento, que nos túmulos dos primeiros cristãos na
Roma o registro do dia da morte estava como vere dies natalis, ou seja, como o dia do
verdadeiro nascimento. Para alguns materialistas coerentes, a morte é o fim de tudo. Para
hindus, budistas e reencarnacionistas em geral, é a oportunidade de uma nova existência neste
mundo ou em outro planeta. Entretanto, o cristianismo afirma que a verdadeira vida nasce
com a morte, para eles a morte não tira a vida e sim a transforma. Além disso, comenta-se
sobre o tempo, no qual se torna precioso quando descobrimos que a vida é limitada. Por fim, o
capítulo também trata sobre a Sagrada Escritura na qual nos ensina que Deus não quer a morte
e que ela é consequência do pecado.
CONCLUSÃO
A antropologia teológica deve basear-se no testemunho histórico da revelação de Deus
ao homem na bíblia, porém, a visão unitária da Bíblia não exclui instâncias antagônicas que
tornam sua vida uma constante tensão e arriscada opção. Essa tensão vem do fato de durante
sua vida, o homem tem que fazer escolhas, renunciando certos caminhos a fim de traçar
outros, o que nunca é uma tarefa fácil. Além disso, esse tipo de escolha também se encontra
em esferas psicológicas, comunitárias, sociais e nas relações entre homens e mulheres. Essas
escolhas são onde as contradições nascem e fazem o homem ser um campo de luta e tensões.
O livre arbítrio é acompanhado de renúncias que devem ser feitas. Cada qual constrói sua vida
numa constante seleção de oportunidades.
Na visão cristã, os bens materiais são meios no caminho para Deus. A bíblia trata da
carne, coração, alma e espírito para expressar diferentes aspectos de uma realidade. Quando
se refere a carne, ela fala do corpo do homem como um todo, na sua dimensão transitória, no
seu vínculo com o universo material, dessa forma pode-se dizer que o pensamento bíblico
globalizante. Acerca da alma, ela aparece na bíblia como um componente do corpo, mas que
está diretamente relacionada com Deus. Corpo e alma são um conjunto unitário e pessoal do
ser humano, a alma precede o corpo, fica presa nele durante a vida e só é libertada após sua
morte. Acerca da criação do homem, a bíblia afirma que Deus o fez à sua imagem e que ele é
o único que faz com que o homem seja verdadeiramente, pois se Deus retira o seu espírito,
tudo retorna ao pó.
O homem por ser livre, é capaz de ceder ao pecado e fazer o mal. O pecado, na visão
da bíblia tem como consequência a morte. Mas, aquele que vence o pecado e suas tentações,
vence também a morte e terá vida eterna, como prometido. Com ele o cristão morre para
ressuscitar o glorioso. Cabe a cada cristão ser homem de maneira semelhante a Cristo, pois ele
é o homem novo. Todas as promessas de Deus irão se cumprir e somente aí ele estará presente
em tudo e todas as coisas.
DISCUSSÃO
A obra tem o enfoque sobre o estudo da essência humana que se dá pela análise de
diferentes perspectivas do homem, compreendendo que sua existência é enigmática e que a
teologia é fundamental para entender a sua ética e moral. Utilizou-se da antropologia para
diferenciar-se dos animais, de modo que o ser humano carece de especialização, porém sua
independência e racionalidade o torna transformador de seu meio. O homem tem a capacidade
de formar sua própria cultura e língua, afastando-os da natureza que se conforma com sua
origem biológica, já o ser humano é questionador. A busca por respostas de sua origem e
pessoa é contínua, tornando-os seres inquietos e também voltados à crença e à fé. A
religiosidade individual complementa sua busca, de modo que ao desvendar Deus, revelaria
questões de sua origem já que o homem é a imagem de Deus.
Ressalta-se o conflito entre a ciência e a religião, e a polarização das opiniões sobre
como o homem veio ao mundo, que ocorre há décadas. A ciência acredita que o homem veio
da evolução da espécie e a religião tem como base o livro Sagrado, e diz que o homem existe
porque Deus o criou.
A política atual reflete na polarização de ideias, e principalmente na segregação da
própria religião com a individualidade. Na democracia, o homem tem o direito de decidir seus
governantes a partir de eleições e a prática de votações. O homem atual é influenciado por
personalidades e a dualidade das posições, de modo que a sociedade é dividida em duas redes
de ideias principais, também segregando a própria humanidade. Para decidir a personalidade
eleita, o indivíduo deve analisar suas ações e como que cada indivíduo é capaz de transformar
o meio de modo que seja mais conveniente ao eleitor, e também analisa-se suas ideias,
atrelando a elas a religiosidade ou a não religiosidade. O período atual é marcado pelo certo e
errado, o homem se demonstrou júri de outros homens ao julgar suas ações e sua dignidade, e
a responsabilidade da escolha de um lado político. Um lado caracterizado pela religião e outro
não, logo a religião deixa de ser uma crença individual e se atrela à um sistema político e a
própria dignidade e valor do ser humano. A polarização de ideias sempre existiu, mas a
segregação exacerbada do homem e religião, dos homens em si, e das ideias em geral, diminui
o homem a ideias e ações limitadas desacelerando a evolução social de modo que a expansão
de ideias e transformações individuais são restritas.

Você também pode gostar