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II.

DIMENSÕES ANTRPOLÓGICA, CULTURAL E ÉTICA DO HOMEM

2.1.1. Natureza e Essência do homem


A natureza humana entende-se ao conjunto de traços distintos - incluindo maneiras de pensar,
sentir ou agir - que os seres humanos tendem a ter, independentemente da influência da cultura. As
questões sobre quais são essas características e, o quanto elas podem ser mudadas, o que as causa estão
entre as questões mais antigas e importantes da filosofia ocidental. Tais questões têm impactos
imensos em ética, política e teodiceia/teologia, bem como em arte e literatura. Os múltiplos ramos das
ciências humanas exercem um papel importante nesse debate.
Os ramos da ciência contemporânea associados com o estudo da natureza humana incluem a
antropologia, a sociologia, a sociobiologia, a psicologia, sobretudo a psicologia evolutiva, que estuda a
seleção natural na evolução humana e a psicologia comportamental. Nos últimos trinta anos, com o
avanço das ciências da informação e biologia genética, o debate "natureza versus meio" se reascendeu,
carregado de complexidades, com grandes impactos na política e filosofia do começo do século XXI.

Existem várias perspectivas ou pontos de vista em relação a natureza e essência fundamentais dos
seres humanos. A seguinte lista não é de forma alguma exaustiva: Naturalismo filosofico, Religião
abraamica, Religiões politeistas animistas, religiões espiritistas e a antropologia filosofica.
 Naturalismo filosófico, que inclui materialismo e racionalismo: Engloba um conjunto de
pontos de vista que os seres humanos são puramente fenómenos naturais; seres sofisticados que
evoluiram para o nosso actual estado através de mecanismos naturais, como a evolução.
Filósofos humanistas determinam o bem e o mal através do que seriam as "qualidades humanas
universais", mas outros naturalistas empregam esses termos como meros rótulos colocados em
quão bem o comportamento individual está em conformidade com às expectativas da
sociedade, e é o resultado da nossa psicologia e socialização.
 Religião Abrâamica sustenta que um ser humano é um ser espiritual que foi deliberadamente
criado por um único Deus, em sua imagem e existe um contínuo relacionamento com Deus. O
bem e o mal são definidos enquanto os seres humanos se amoldam ao caráter descrito na "lei de
Deus".
 Noções politeísticas animísticas descrevem os seres humanos como cidadãos em um mundo
povoado por outros seres espirituais inteligentes ou mitológicos, como deuses, demônios,
fantasmas, etc. Nestes casos, a maldade humana é frequentemente considerada como o
resultado de influências sobrenaturais ou corrupção (embora possa ter muitas outras causas
também).
 Tradições espirituais existentes como as variantes: a holística, panteística e panenteística
asseguram que a humanidade é a existência com deus ou como parte do cosmos divino. Neste
caso, a maldade humana é geralmente considerada como o resultado da ignorância desta
natureza universal Divina. Tradições deste tipo incluem a religião Dármica e outras formas de
filosofia oriental (incluindo Budismo e Taoísmo), e filosofia ocidental como Estoicismo,
Neoplatonismo ou cosmologia panteística.
 A Antropologia filosófica consiste na reflexão do que significa ser humano, busca a
compreensão de nós mesmos ultrapassando o vivido e explicar o ser humano como um todo
numa dimensão mais ampla e profunda. Nesta análise aparecem as duas concepções da
natureza humana: optimista e pessimista (o homem é bom ou o homem é mau por natureza).

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2.1.1.2. A Pessoa Humana
O ser humano é pessoa integral: Corpo com dimensão material e Alma com dimensão espiritual.
Uma das definições mais comuns da pessoa, é a de Boécio, que a define como “substância
individual de natureza racional”, isto é, o individuo concreto, como ser único, singular, individual e
íntegro que não se limita a um corpo objecto nem a um ente espiritual. O corpo é a identidade da
pessoa e corresponde à sua parte visível, enquanto a consciência (alma, razão) corresponde o lugar do
pensamento.
O princípio da dignidade da pessoa humana é um valor moral e espiritual inerente à pessoa, ou seja,
todo ser humano é dotado desse preceito, e tal constitui o princípio máximo do estado democrático e
de direito.
A dignidade da pessoa humana ganhou a sua formulação clássica com Immanuel Kant, na
"Fundamentação da Metafísica dos Costumes" de 1785), que defendia “as pessoas deveriam ser
tratadas como um fim em si mesmas e não como um meio (objetos), e que assim formulou tal
princípio: "No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço,
pode ser substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e
por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade." A dignidade da pessoa
humana abrange uma diversidade de valores existentes na sociedade.
Desta forma, preceitua Ingo Wolfgang Sarlet ao conceituar a dignidade da pessoa humana como a
qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de
direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer acto de
cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas
para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação activa e co-responsável
nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.
É relevante referir que o reconhecimento da dignidade se faz inerente a todos os membros da família
humana e de seus direitos iguais e inalienáveis, é o fundamento da liberdade, da justiça, da paz e do
desenvolvimento social.
A dignidade da pessoa humana, prevista no artigo 1º, da Constituição da República de Angola,
constitui um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. Sua finalidade, na qualidade de
princípio fundamental, é assegurar ao homem um mínimo de direitos que devem ser respeitados pela
sociedade e pelo poder público, de forma a preservar a valorização do ser humano.

2.2. Vínculos éticos da pessoa: AMOR, ÓDIO, SOFRIMENTO E INDIFERENÇA

2.2.1. AMOR
A palavra amor ( do latim amore) presta-se múltiplos significados na língua portuguesa, tais como
afeição, compaixão, misericórdia, atracção, apetite, paixão, querer bem, satisfação, desejo, libido, etc..
O uso do vocábulo, contudo, lhe empresta outros tantos significados, quer comuns, quer conforme a
óptica de apreciação, tal como na concepção vulgar, nas religiões, na filosofia e nas ciências humanas.
a) Na concepção vulgar o termo amor encontra variadas significações que são abordadas em
sentidos próprios definindo sentimentos e acções, tais como:
1. A atracção física e sexual, na relação entre indivíduos (como quando se diz "fazer amor");
2. Para designar as diversas relações interpessoais como a amizade, o amor entre pais e filhos, etc.
3. O sentimento de apego a seres inanimados, que nada mais é senão o "desejo de posse" - como
quando se diz "amor ao dinheiro", ou "aos livros", etc.
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4. Apreço a valores ideais (amor à justiça, ao bem, etc);
5. Apreço por certas actividades ou formas de vida (como quando se diz do amor a uma profissão,
ao jogo, à diversão, etc.);
6. Sentimento de apreço ao colectivo: amor à pátria, a um partido político, etc.;
7. Amor ao próximo, amor a Deus.

b) Perspectivas Religiosas
Nas religiões antigas apresentam visões diferentes de amor. No Hinduismo, o homem deve
procurar unir-se à divindade, por caminhos que passam, por cada vez mais, se libertar das coisas
materiais e descobrir as espirituais - dentre elas a prática da caridade; em suma, muitas outras
obras propõem os sentimentos passionais, como o impulso sexual, sejam sublimados em
sentimentos devocionais. No Judaísmo, o amor tem sua obrigatoriedade definida no Levítico,
19:18 - "Tu não deves tomar vingança, nem conservar ira aos filhos de teu povo - mas deves amar
ao seu vizinho (como alguém) a si próprio. No Shabat 31-A do Talmude Babilônico é narrada uma
história onde um gentio procura Hilel, e lança-lhe o seguinte desafio: resumir toda a Torá durante o
tempo em que conseguisse ficar em pé sobre um só pé; o sábio o repeliu, mas em seguida
respondeu-lhe: "O que for odioso para ti, não faça ao teu próximo, esta é toda a Torá; o resto é
comentário. Vá e estude-a! Enquanto algo que a doutrina de Buda “Budismo” rejeita que o amor
seja uma simples forma de afecto, mero sentimento, mas sim num conceito de puro amor cristão,
de humanitarismo e doçura tornando-se acção de auxílio e oferenda a deus.

O Cristianismo e doutrinas espiritistas apresentam o amor (caridade) como a base mesma do ser:
"Se não tiver amor, eu nada serei". “amar ao próximo como a si mesmo”. Allan Kardec escreveu
que "amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejariamos nos
fosse feito", a explicar a máxima cristã de "amai-vos uns aos outros como irmãos".
A compreensão da caridade, ou amor ao próximo necessitado, aproxima o Alcorão do Novo
Testamento (Cristianismo); nas escrituras do Profeta se lê (76: 8 e 9) que "E eles dão comida ao
pobre, ao órfão e ao cativo por amor a Ele. [Eles dizem:] Só os alimentamos pelo amor de Deus.
Não desejamos de você nem recompensa, nem gratidão", enquanto em Mateus (25: 31-46) se lê
que, no dia do Juízo, Deus perguntará a cada um o que fizeram por Ele, e esclarece que estava em
cada um que teve sede, e não deram água; estava doente, e não foram visitá-lo, etc…

 Todas as religiões convergem que a vida cotidiana é regida pelo Amor, o homem
vivifica a si mesmo e também as pessoas arredor. Isso porque Amor é Vida"; tal
sentimento constitui-se na própria natureza divina do homem, um legado que Deus
deu ao homem.

c) Perspectiva filósfica
A discussão filosófica sobre o tema tem início no questionamento da "natureza do amor". Qual é a
natureza do amor? Desta questão temos duas visões: a epistemológica do amor envolve a filosofia da
linguagem que passa pela expressão em palavras e teorias das emoções que ponderam, se for
meramente uma condição emocional está no âmbito da inacessibilidade por outra pessoa, quando
alguém afirma estar amando o enunciado independente de outras declarações é um enunciado não
proposicional, sua verdade está além de qualquer exame.
Se o amor não possui uma "natureza" que possa ser identificável ou acessivel, podemos contudo
questionar se temos a capacidade intelectual para compreendê-lo? o amor pode ser parcialmente
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descrito, ou insinuado, numa exposição dialéctica ou analítica, mas nunca compreendido em si
mesmo.
Neste sentido o amor está na categoria de conceitos transcendentais, aos quais os mortais (o senso
comum) mal podem compreendê-lo na sua pureza e possuem apenas a percepção do amor de desejo
físico, assim apenas compreendido na sua pureza por algumas pessoas como artistas e filósofos, afirma
Platão.
Alan John Lee identificou sete estilos básicos de amor que as pessoas usam nas suas relações
interpessoais:
1. Eros – eros (do grego erasthai) como um amor apaixonado e muitas vezes como sinônimo do
desejo sexual (do grego erotikos). Um amor apaixonado fundamentado e baseado na aparência
física.
2. Psique – um amor espiritual, baseado na mente e nos sentimentos eternos.
3. Ludos – o amor como um jogo; amor brincalhão.
4. Storge – um amor afectuoso que se desenvolve lentamente com base em similaridade.
5. Pragma – amor pragmatico que visualiza apenas o momento e a necessidade temporária do
agora.
6. Mania – amoraltamente emocional, inatável e romático.
7. Agape – define o amor de Deus para com os homens e dos homens para com Deus - sendo
extensivo também para o amor fraternal a toda a humanidade, corresponde a philia (filantropia)
denota não somente amizade, mas a lealdade à família, à comunidade, ao trabalho, etc.
Aristóteles (in: Ética a Nicômaco, Livro VIII) explica que é a ação que o agente pratica visando
o bem de outro, ao invés de a si próprio; amor altruista, amar por amar.

Entretanto, houve filósofos como Nietzsche que apresenta o amor e altruísmo como expressões
de fraqueza e autonegação e, portanto, são sinais de degeneração; em seu pensamento a busca
pelo amor é típica de escravos que, não podendo lutar por aquilo que querem, tentam consegui-
lo por meio do amor.
Na concepção do pensador de Genebra, Jean-Jacques Rousseau (o amor não admite corações)
o amor é filho da natureza e da liberdade. Para ele, o ser humano nasce bom e se perverte por
causa da vida social e do desenvolvimento cultural. A civilização e a cultura tornaram os seres
humanos egoístas e violentos, gananciosos e desordenados
d) Para a sociologia, o amor tem interesse na medida em que é um dos motivos para a constituição
da família, do casamento; dentre as teorias destaca-se a de Franz Müller-Lyer que indicou
como principais motivos para a união matrimonial: a necessidade econômica, o desejo de
procriar e o amor - evoluindo estes motivos das sociedades mais primitivas, passando pelas
antigas, até a sociedade moderna onde a mais importante razão da união familiar está no amor.
Para Stevi Jackson a institucionalização do amor no casamento e sua representação na ficção
romântica têm sido o foco de atenção considerável por estudos da sociologia e do feminismo,
enquanto o significado cultural do amor como uma emoção tem sido negligenciado.
A Psicologia descreve que o amor possui um mecanismo biológico que é determinado pelo
sistema límbico, centro das emoções, presente somente em mamíferos e talvez também nas
aves — a tal ponto que Carl Sagan afirmou que o amor parece ser uma invenção dos
mamíferos.

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2.2.2. ÓDIO
Ódio é o sentimento intenso de raiva ou rejeição. Traduz-se na forma de antipatia, aversão, desgosto,
rancor, inimizade ou repulsa contra uma pessoa ou algo. O ódio é o sentimento mais negativo que o ser
humano pode experimentar em sua vida. É ausência do amor.
Ódio gera dois comportamentos bem específicos, por um lado, a evitar o que é odiado e por outro lado,
a destruição do que gera ódio. Quando o sentimento de ódio é dirigido para um ser humano pode ser
materializado em insultos ou agressões físicas.

Ódio foi testado sob diferentes perspectivas, desde o científico até o religioso. Por exemplo, os
estudiosos do cérebro (Psicanálistas) têm analisado em áreas de detalhe do cérebro que são activadas
quando uma pessoa sente ódio em direcção a algo ou alguém, enquanto psicólogos tendem a
concordar que se trata de uma emoção intensa e profunda que pode ser considerada como uma
atitude ou disposição ao invés de um estado temporário, pois ele tende a ser um sentimento que
perdura por um longo do tempo.

Em religião, o ódio é visto de maneiras diferentes.Na tradição cristã, a Bíblia menciona a episódios de
ódio em vários de seus personagens mais notáveis e ao mesmo tempo condena o sentimento
repetidamente.

Mesmo que seja um sentimento bastante comum, o ódio é algo indesejável devido a suas
conseqüências desastrosas.

2.2.3. INDIFERENÇA
A Indiferença, do latim indifferentĭa, é o estado de espírito em que uma pessoa não sente inclinação
nem repulsa para com outro sujeito, objecto ou assunto. Pode tratar-se de um sentimento ou de uma
postura para com alguém ou algo que se caracteriza por não ser nem positivo nem negativo.
A indiferença, por conseguinte, é um ponto intermédio entre o apreço e o desprezo. Se alguém sentir
apreço, esse sentimento será agradável e activo; pelo contrário, se sentir desprezo, tornar-se-á em algo
que se pretende rejeitar. Ao mostrar-se indiferente, o sujeito torna-se apático a esse respeito.
Relativamente a determinados assuntos, a indiferença é vista como um problema psicológico ou
social. Há casos em que a pessoa indiferente pode ser acusada de insensível ou fria, como se tivesse as
emoções ou os sentimentos anestesiados.
Exemplo: se um homem for pela rua e se cruzar com uma criança ferida e, em vez de parar para lhe dar
assistência, continuar o seu caminho, o mais provável será condenado socialmente. Como parte da
comunidade humana, espera-se que as pessoas tenham empatia e possam demonstrar a sua
solidariedade quando alguém precisa de ajuda. Exepmlo a estória do bom samaritano – Lc. 10,25-37.
Neste sentido, para alguns filósofos, a indiferença é a negação do Ser já que supõe a ausência do
mesmo.
Quem é indiferente não sente nem age, mantendo-se à margem. O facto é que todos nós somos
indiferentes, uns mais outros menos, passamos ao lado de muitas coisas, realidades, factos e pessoas,
e em algumas situações até de nós mesmos.
A indiferença é a hostilidade em pessoa e é por si só o pior dos sentimentos humanos, que se pode
oferecer sem um pingo de arrependimento, aos nossos semelhantes. Quem usa de indiferença castiga
sobremaneira a outra pessoa sem que esta se possa defender, pois o indiferente não oferece abertura,
para uma conversação, já que se fecha na sua inimizade. O indiferente é uma pessoa rude e sem
amigos, vivendo só com a sua sem razão. A indiferença cria inimigos por onde passa e é inquietante o

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seu negativismo. O pior é que a pessoa indiferente no trato com o outro, tira prazer disso no seu
egocentrismo desumano e incansável, pois estas pessoas gostam de causar dano às pessoas de bem. A
indiferença maltrata sem uma única réstia de arrependimento, são indivíduos mal-humorados
e culpam tudo e todos por se basearem nesse sentimento preconceituoso e ávido de maus tratos. Quem
é indiferente basta-se a si próprio, ou assim o julga, e retira desse sentimento defeituoso um gozo
inesgotável, que gosta de apregoar aos sete ventos.

A indiferênça tem um poder devastador. Ela é a companheira doentia do dominador e opressor,


também dos que preferem as desigualdades, a violência, o ódio e a morte.

2.2.4. SOFRIMENTO
Reflectir sobre o sofrimento é antes de tudo fazer uma pausa na vida e tentar descobrir porque a
felicidade nos abanonou. Foi-se a felicidade, veio o sofrimento.
Assim, quando Sêneca, em "Cartas a Lucílio", afirmou que "os homens considerados felizes são, na
verdade, os mais infelizes", quis realmente afirmar que podemos disfarçar o sofrimento, mas não
negar sua existência.
Em resposta ao meu amigo, poderia ter lhe feito as seguintes perguntas: O que dizer de Sócrates,
sofrendo a ansiedade da morte, após ter bebido cicuta? E mesmo do "maldito" Maquiavel quando
torturado e exilado de sua terra devido a perseguições políticas? Que dizer de Schopenhauer, ofuscado
por Hegel e esquecido de todos seus compatriotas? De Kierkegaard, quando sua amada Regine Olsen o
rejeitou e, também, foi ridicularizado na Dinamarca? E até mesmo do estóico Sêneca exilado em
Córsega por cerca de dez anos? (creio não ser necessário falar de mártires como Giordano Bruno para
demonstrar que até mesmo os filósofos sofrem).
O certo é, conforme Eric Fromm, que diz "o homem é o único animal cuja existência é um
problema", e o seu existir muitas vezes é por sofrimentos, perturbações e desassossegos que o deixa
sem sentido - é aí que a vida perde a graça. Quando o sofrimento chega na soleira da vida humana, o
ser humano se revela frágil frente ao seu novo estado. Se era alegre, fica triste; se perdeu a pessoa que
amava, fica como um barco à deriva; se perdeu a saúde ao ser atacado por uma doença maligna, fica
debilitado; enfim, o sofrimento atinge o ser humano por meio de suas multifaces - doença, morte,
solidão, rejeição, desprezo... Tudo isso gera no ser humano alguma ponta de sofrer.
Haveria algum antídoto para combater ou curar o sofrimento? A ciência sempre procura soluções para
cura de doenças; mesmo àquelas que são incuráveis, busca um paliativo para aliviar os sofrimentos do
paciente. O "senso-comum" por sua vez - quando o sofrer é psicológico, empírico-sentimental - não
hesita em usar o chavão-clichê, o cura tudo, o quimbandeiro ou o espiritista: "o tempo é o melhor
remédio" ou "o tempo a tudo cura". Será? O tratamento dado pela filosofia é diferente, vejamos como
alguns de nossos filósofos enfrentam o problema:
a) Sócrates, ao sentir que seu julgamento resultaria numa condenação injusta, adverte: "Pois bem,
senhores juízes, vós também deveis estar dispostos à esperança em relação à morte, pensando
somente isso, que nenhum mal pode atingir o homem recto nem em vida nem depois de morto
(...)". Sócrates presume que deveria cumprir uma pena capital injusta, mas encara a situação
corajosa e resignadamente, pois sabia que o desespero não aliviaria em nada sua dor. Sofrer
além do sofrimento é agravar a situação. O certo é que Sócrates enfrentaria o sofrimento
resultante de uma condenação injusta e, consequentemente, a morte como um mártir. Suas
últimas e memoráveis palavras, após tomar o veneno, foram: "É chegada a hora de partir: eu
para a morte e vós para a vida. Quem de nós encontrará o melhor destino só Deus sabe".
b) Jesus Cristo, Lc. 23, 1-6, neste interrogatório de Pilatos para Jesus vemos a atitude Deste em
assumir o sofrimento que estava a ser infringido, visto que sendo uma pena injusta, manteve a
serenidade.

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2.3. O HOMEM COMO PRODUTO DA CULTURA
O CONCEITO DE CULTURA (do latim cultura) é um conceito de várias acepções, sendo a mais
corrente, especialmente na antropologia, a definição genérica formulada por Edward B.
Tylor segundo a qual cultura é "todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte,
a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como
membro da sociedade"

2.3.1. Antropogênese

A Antropogênese refere-se ao surgimento e evolução da humanidade.


Já foram propostas diversas teorias que tentam explicar a origem do homem, tanto no
contexto científico, quanto por parte das religiões e na mitologia.
As primeiras tentativas do homem de explicar a origem do homem foram os mitos.
1. A mitologia grega, por exemplo, diz que Epimeteu foi encarregado de criar os homens, mas os fez
do barro, imperfeitos e sem vida. Então, seu irmão Prometeu, por compaixão aos homens, roubou o
fogo de Vulcano e deu-o aos homens para que estes tivessem vida. Zeus puniu Prometeu pelo roubo,
condenando-o a ficar acorrentado no Cáucaso, onde uma águia bicaria todos os dias o seu fígado, que
regenerava-se.
2. A ciência actual aceita a teoria da evolução, na qual o ser humano tem um ancestral comum com
os primatas superiores, tendo-se adaptado a hábitos terrícolas por bipedismo primário e desenvolvido
um cérebro mais complexo. Segundo os cientistas, a separação entre os ancestrais dos humanos e dos
outros primatas (como chimpanzés) - os parentes vivos mais próximos - teria ocorrido há cerca de 5
milhões de anos.
3. Na Bíblia, o livro do Gênesis narra a criação de Adão pelo Senhor Deus a partir do barro. Então o
homem pecou, seguindo o conselho da serpente tentadora, e comendo da árvore proibida, foi expulso
do paraíso pelo Senhor Deus. Assim começa a vida terrena do homem. Hoje,
muitos teólogos consideram esta narrativa alegórica não podendo ser interpretada literalmente.
4. Na Teosofia, filosofia esotérica fundada por Helena Petrovna Blavatsky e outros, rejeita-se a
descendência dos primatas em favor de uma origem da humanidade poligenética e astral. Esta teoria
tem suas raizes na filosofia oriental, particularmente o hinduismo e o budismo e influenciou as
chamadas ciências ocultas.
5. Segundo Blavatsky, em seu livro A Doutrina Secreta (1888), a origem e evolução do homem é
descrita em pergaminhos muito antigos, chamados de Estâncias de Dzyan, os quais ela teria tido
acesso e teria estudado. Segundo esta teoria, o Homem físico surgiu há 18 milhões de anos a partir de
seu molde astral, formando-se então a Raça que ela chama de Atlante. Para Blavatsky os primatas
superiores são antigas raças humanas que se degeneraram, e daí se explica as semelhanças fisiológicas
entre ambos.
Blavatsky não nega a teoria da evolução, porém não acredita que uma força "cega e sem objetivo"
possa ter criado o homem. Para ela, a criação do homem foi guiada pelas hierarquias divinas a partir de
um plano.

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2.3.2. O PASSADO CULTURAL DO HOMEM

Hoebel e Frost (1971:77) afirmaram que “para compreender a cultura humana deve-se conhecer as
fases pelas quais a humanidade se transformou, do antropóide dominado pelo instinto ao ser humano
adaptável culturalmente. Desde o tempo das origens primitivas da cultura, todo desenvolvimento
humano foi biológico e cultural. Nenhuma tentativa de estudar a humanidade pode ignorar este facto”.

O homem, através dos processos adaptativos, sofreu transformações que o levaram de um primata
desenvolvido ao homem moderno.

Fases de transformações da humanidade

Abrange os estágios ou fases através dos quais o homem evoluiu tanto física quanto culturalmente: 1.
Austrolopithecus, 2. Homo habilis, 3. Homo erectos, 4. Homo sapiens, 5. Homo sapiens sapiens.

Desenvolvimento Biológico do Homem

A evolução homínida foi gradativa e contínua, levando a modificações necessárias para o


aperfeiçoamento do género Humano. Como produto final, mas não acabado dessa sequência evolutiva,
sobreviveu apenas uma espécie e uma variedade denominada sapiens, da qual o homem moderno é o
actual representante. Seus ancestrais ficaram reduzidos a restos fósseis humanos.

Desenvolvimento Cultural do Homem

O desenvolvimento cultural do homem acha-se intimamente associado à sua evolução bio-psicológica,


o que lhe permitiu conquistas, cada vez mais aperfeiçoadas e complexas no mundo cultural.

Brace (1970:67), analisando a cultura como mecanismo primário de adaptação humana, diz: “a
mais singular característica do ser humano é a sua capacidade para partilhar da experiência
acumulada e transmitida pelos seus semelhantes. Esta deve, portanto, ser considerada a mais
importante forma de adaptação do homem”.

O Tempo e Evidências Fósseis

Os marcos cronológicos são tão amplos, que muitas vezes fogem ao entendimento do estudioso, mas é
essa amplitude que possibilitou o desenvolvimento bio-cultural através de um processo contínuo de
cerca de 5 milhões de anos.

A natureza, através de processos naturais de fossilização, preservou os ancestrais do homem como


testemunhos dos fenômenos evolutivos.

A Época Pliocénica

A época pleistocénica (primeiros sinais de existência do homem) testemunhou a evolução física e


cultural do homem, pelo seguinte:

a) Bipedismo (posição erecta);

b) Liberação das mãos;

c) Modificação funcional dos dentes;

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d) Humanização da face;

e) Aumento progressivo do volume craniano.

2.3.3. ESTÁGIOS DA EVOLUÇÃO HUMANA E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

Pleistoceno Inferior e Médio (de 1 milhão a 500.000 anos)

As provas concretas do desenvolvimento da cultura anterior à escrita encontram-se no Pleistoceno (de


2 milhões a 10.000 anos), e pertencem todas a uma importante época cultural: o Paleolítico ou Idade
da Pedra Antiga ou Lascada, que se estende de 1 milhão à 10.000 anos a.C.

a) Culturas do Paleolítico (de 500.000 a 10.000 anos)

Caracteriza-se pela presença do homem predador, como “apanhador de alimentos”. Aproveitando-se


das regiões favoráveis, desenvolveu actividades de coleta sistemática de vegetais, caça aos pequenos
animais selvagens etc.

Paleolítico Inferior (500.000 a 150.000 anos)

Suas raízes estão mergulhadas na época Vilafranqueana, com características eolíticas ou pré-
paleolíticas.

a) Homo habilis e os dois espécimes australopithecus (robustus e africanus)

b) Homo erectus, fóssil humano na sequência evolutiva entre o Australopithecus e o Homo sapiens.

Paleolítico médio (de 150.000 a 40.000 anos)

Caracteriza-se pela presença do Homo pré-sapiens ou sapiens e ocorre no início do Pleistoceno


Superior, cerca de 150 a 40 mil anos. A subsistência dependia ainda da caça e da coleta, mas as
técnicas de fabricação de instrumentos foram-se aperfeiçoando, permitindo designar esse Homo como
sapiens (inteligente).

Paleolítico superior (40.000 a 12.000 anos)

Teve duração relativamente curta, caracterizando-se, entretanto, por significativas mudanças que
afetaram profundamente o desenvolvimento cultural.

As culturas do Paleolítico Superior constituem tradições separadas, com características locais,


conforme os diferentes tipos de instrumentos:

a) Indústria Perigordiense (80 mil);

b) Indústria Aurignaciense (70 mil);

c) Indústria Solutense (40 a 30 mil);

d) Indústria Magdaleniense (35 a 20 mil).

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b) Culturas do Mesolítico (12.000 A 10.000 a.C.)

Esse período se caracteriza-se pelo recuo das geleiras no hemisfério Norte. Novos habitats foram
oferecidos ao homem com a flora e a fauna enriquecidas de novas espécies, favorecendo a inovação
cultural.

c) Culturas do Neolítico (10.000 a.C.)

Caracteriza-se por uma série de transformações iniciadas nos períodos anteriores e que tornaram
possível a sua ocorrência, são:

a) Colecta sistemática de vegetais

b) Produtor de alimentos

c) Polimento (civilidade, embelezamento)

d) Domesticação de animais

e) Aglomerados humanos

f) Cerâmica

Grandes mudanças ocorreram nos modos de pensar e agir do homem neolítico que, a partir de então,
tinham sua auto-suficiência assegurada.

Desenvolveu-se o culto à fecundidade e a mulher ganha status na sociedade.

Inicialmente desenvolvem-se grupos colectores e posteriormente de agricultores. Também com


actividades pastoris, com criação de ovelhas, cabras, porcos, bois etc.

Seus instrumentos eram muito aperfeiçoados, decorados e mesmo incrustados - embutir. De material
variado, com formas variadas e superfícies polidas.

As habitações construídas com tijolos crus eram redondas, ovais e posteriormente rectangulares.

Suas principais características eram: descoberta do uso dos metais, organização de grupos humanos,
pré-escrita, em crescente harmonia que deu origem à História Escrita.

Somente com o advento da Idade dos Metais (cobre, bronze e ferro) é que o homem deixa de usar a
pedra como matéria-prima em suas manufacturas.

2.3.4. A CULTURA E O HOMEM

A cultura é dinâmica tal quanto o homem. Como mecanismo adaptativo e cumulativo, a cultura sofre
mudanças. Traços se perdem, outros se adicionam, em velocidades distintas, nas diferentes
sociedades, circunstâncias e espaços. Quatro mecanismos básicos permitem a mudança cultural:

a) A invenção ou introdução de novos conceitos;


b) A difusão de conceitos a partir de outras culturas;
c) A descoberta, que é um tipo de mudança cultural originado pela revelação de algo
desconhecido pela própria sociedade e que ela decide adotar.

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d) A globalização com os novos meios tecnológicos de comunicação.

A mudança acarreta normalmente em resistência. Visto que os aspectos da vida cultural estão ligados
entre si, a alteração mínima de somente um deles pode ocasionar efeitos em todos os outros.
Modificações na maneira de produzir podem, por exemplo, interferir na escolha de membros para o
governo ou na aplicação de leis.

A resistência à mudança representa uma vantagem, no sentido de que somente modificações realmente
proveitosas, e que sejam por isso inevitáveis, serão adotadas evitando o esforço da sociedade em
adoptar e depois rejeitar um novo conceito. O ambiente exerce um papel fundamental sobre as
mudanças culturais, embora não único: os homens mudam sua maneira de encarar o mundo tanto por
contingências ambientais quanto por transformações da consciência social.

2.4. O HOMEM PERANTE A SITUAÇÃO LIMITE: MORTE


Morte (do latim mors), óbito (do latim obitu), falecimento (falecer+mento), passamento
(passar+mento), ou ainda desencarne (deixar a carne), são sinónimos usados para se referir ao
processo irreversível de cessação das actividades biológicas necessárias à caracterização e manutenção
da vida em um sistema outrora classificado como vivo. Após o processo de morte o sistema não mais
vive; e encontra-se morto.

A morte faz-se notória e ganha destaque especial ao ocorrer em seres humanos. Não há nenhuma
evidência científica de que a consciência continue após a morte, no entanto existem várias crenças em
diversas culturas e tempos históricos que acreditam em vida após a morte.
a) Teorias pós morte.
Com notórias consequências culturais e suscitando interesse recorrente na Filosofia, existem diversas
concepções sobre o destino da consciência após a morte, como as crenças na ressurreição (religiões
abraâmicas), na reencarnação (religiões orientais, doutrina Espírita, etc) ou mesmo o eternal oblivion
("esquecimento eterno"), conceito esse comum na neuropsicologia e atrelado à ideia de fim
permanente da consciência após a morte.

b) Causas da morte
Entre os fenômenos que induzem a morte, os mais comuns são: envelhecimento biológico
(senescência), predacção, má-nutrição, doenças, suicídios, assassinatos, acidentes e acontecimentos
que causam traumatismos físicos irrecuperáveis.
c) Tipos de morte
A Morte já foi anteriormente definida como parada cardíaca e respiratória mas, com o
desenvolvimento da ressuscitação cardiopulmonar e da desfibrilação, surgiu um dilema: ou a definição
de morte estava errada, ou técnicas que realmente ressuscitavam uma pessoa foram descobertas: em
vários casos, respiração e pulso cardíaco são realmente reestabelecidos após cessarem. Em vista da
nova tecnologia, actualmente a definição médica de morte é conhecida como morte clínica, morte
cerebral ou parada cardíaca irreversível.
As cerimónias de luto e práticas funerárias são variadas. Os restos mortais de uma pessoa,
comumente chamado de cadáver ou corpo, são geralmente enterrados ou cremados. A forma de
disposição mortuária pode contudo variar significativamente de cultura para cultura.

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PERSPECTIVAS FILOSÓFICAS
Em filosofia se colocam duas perspectivas: 1. A morte é um facto que ocorre na ordem das coisas
naturais. 2. Sua relação com a existência humana: Início, fim ou possibilidade existencial.
1. A morte é um facto natural
Como facto natural igual aos outros, não tem significado específico para o homem, pois faz parte da
natureza biológica dos seres vivos. Por morte, entende-se o falecimento de um ser vivo, sem
referência específica ao ser humano.

2. Sua relação com a existência humana.


Se é entendida sem referência específica ao ser humano, apresentamos algumas visões filosóficas
sobre o tema: a de Epicuro (341 a. C. – 271 a. C.) - “quando nós estamos, a morte não está; quando a
morte está, nós não estamos”. Assim para ele não se pode temer a morte, nunca nos encontrará, quando
existimos ele nunca está; a visão de Russell (1872 – 1970), que concebe a morte como o fim absoluto
do ser humano; e, por fim, a visão existencialista de Sartre (1905 – 1980) que apresenta o absurdo da
existência, e consequentemente do próprio evento da fúnebre.

A morte é a possibilidade de ser a mais pessoal, a mais ímpar e a mais intransferível do ser-aí, pois é o
próprio Ser, do Ser-aí, é ser-para-a-morte (existir é morrer). A morte é o fim da existência, no seu
sentido autêntico de fim, pois sempre está presente na vida humana. A morte uma vez entendida como
possibilidade, leva o Ser-aí a tomar o primeiro passo em direção a uma existência autêntica. A
autenticidade significa tornar-se si-mesmo, tornar-se verdadeiro, pois o Ser-aí defronta-se com a
morte, que é libertadora.

2.5. A PROBLEMÁTICA DA ACÇÃO E DOS VALORES


O homem, ser pensante, está no mundo não de formar passiva mas sim de forma activa, porque ao
longo da sua vida realiza diversas actos voluntários ou involuntários e os mesmos actos são
valorativos.
2.5.1. Definição do Conceito de Acção Humana
A palavra acção tem vários sentidos. Por exemplo, no sentido económico, ela refere-se a participação
no capital de uma empresa; no sentido técnico refere-se as coisas que seres humanos fazem. Esta é a
acção que nos interessa para o nosso estudo. Mas, o que é a acção?
1. Acção é a execução de vontade livre, consciente e internacional; no perfeito conhencimento do
que fazermos e as suas consequências possíveis.
2. Acção é a interferência consciente, voluntária e internacional de um homem no curso normal
das coisas.
2.5.2. Actos do Homem e Actos Humanos
Segundo S.Tomás de Aquino (1225 - 1274), tudo quanto fazemos ou realizamos é parte da nossa
conduta, mas nem tudo o que realizamos constitui uma acção no sentido próprio. Assim, destinguiu a
relação “actos do homem” e “actos humanos”, apresentando as características seguintes:
a) Acto do homem ou acção do homem. Esses actos são dotados das seguintes caracteristicas:
- São actos realizados de forma involuntária, não livre e inconsciente ou sem poder de escolha;
- São actos não dotados de intenção ou propósito. Ex, Respeitar, sonhar, escorregar na casca de uma
banana sem termos visto, etc.
b) Acto humano ou acção humana. São dotados de seguintes características:
- São realizados de forma voluntária e consciente; quer dizer são realizados com o conhencimento
causa;
- São realizados de forma livre, podendo escolher entre várias possiblidades;
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- São realizados de forma internacional, isto é são actos dotados de uma intenção ou propósito.

2.5.3. ESTRUTURA DA ACÇÃO HUMANA


Compreende uma acção que se pode descrever mediante o uso de determinados conceitos que se
referem aos seus momentos constitutivos.
Nisto a estrutura da acção humana caracteriza-se pelos seus elementos constituintes, a saber:
a) Motivo: é aquilo que impulsiona a agir ou fazer algo ----Porque fazer?
b) Intenção: é a idealização do fim, antes de saber alcançado ------Que quer fazer?
c) Fim: é o objectivo desejado para alcançar ou atingir ---- Para que fazer?
d) Decisão: é a escolha que fizemos entre várias alternativas de acção- decidir a realização da
acção;
e) Meio: são os instrumentos que utilizamos para antingir o que projectamos;
f) Resultado: é a concretizaçao do nosso desejo;
g) Consequência: é o modo como o resultado da nossa acção afecta a nós e aos outros (Positivo
ou Negativo)

2.5.4. Condicionantes da Acção Humana


A acção humana é obra da vontade do homem não estando este necessariamente determinada a
realizar um certo acto, dependendo unicamente de si, mas também dos limites próprios da nossa
condição humana, social e natural.
Há limites absolutamente claros: Exemplo, é impossivel ir de Luanda à Lisboa em cinco minutos,
mesmo que tenha vontade; é impossível andar despido em plena cidade; Não está no nosso poder
evitar a morte. Assim sendo é de referenciar que as condicionantes da acção humana podem ser
enquadradas nos grupos seguintes:
a) Condicionantes Biogenéticas, Psicossociais e económicas- São as circunstâncias da
estrutura fisica, biológica, psiscológicas, históricas, sociais e económicas que não nos permitem
a realização do nosso projecto. Tais elementos indicam que somos portadores de uma herança
biológica determinada de um património genético que nos é dado e que condicionará
positivamente ou negativamente a nossa existência. Esta bagagem biológica que herdamos
delimita e circuscreve a amplitude das nossas escolhas. As normas sociais bem como a
condição económica por outro lado constituem condicionantes. Ex: uma fragil constituiçao
fisica impedir-me-a de ser um basquetebolista. A falta de dinheiro impedir-me-á a realizar
certos intentos.
b) Condicionantes especiais e temporais – A nossa acção é limitada pelo espaço e tempo e
condições naturais em que nos encontramos. Exemplo, se um familiar residente da Namibia
nos convida para visitá-lo e se nos decidirmos deslocar para lá temos de aceitar um conjunto de
condicionantes: A destância, as condições climatéricas, etc.
2.5.6. Os Valores: Caracterização Geral
O termo valor provem do latim “valore” que significa aquilo que uma coisa vale ou qualidades
existentes nas coisas ou seja valor é uma qualidade estrutural que tem existência e sentido em situações
concretas. Assim, valor é fruto de uma síntese objectiva e douta objectiva.
- Realidade objectiva (objectivismo axiológico): O valor é um bem em si mesmo. Só há valor onde há
bem;
- Realidade subjectiva (subjectivismo axilogico): O valor é a apreciação de um bem por um sujeito (
para que se dêem os valores é necessário que exista a sua captaçao por um sujeito humano). Os valores
que existem para sujeitos dotados de faculdade estimativas.
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2.5.7. CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS VALORES
a) Características
Os valores têm propriedades ou características fundamentais, dentre elas salientam-se as seguintes:
- Bipolar: se as coisas são aquilo que são, os valores desdobram-se num polo positivo e num polo
negativo;
- Herarquia: é essencial a todo valor ser inferior, superior ou equivalente a outro valor. Isto indica que
os valores devem ser herarquizados numa tábua de valores;
- Durablidade: refere-se à capacidade de permanência no tempo.
- Divisiblidade: um valor é tanto mais quanto mais pode ser partilhado, sem se destruir.
- Satisfação: refere-se à capacidade de propor prazer;
- Relatividade: um valor quando é mais relativo, mais desce na escolha de valores.

b) Classificação
Os valores encontram-se associados aos objectos da realidade natural e humana. Como o ser humano é
constituído por sensibilidade e espiríto, corpo e alma, assim os valores classificam-se: Sensíveis ou
materiais e Esperituais.
a) Valores sensíveis ou materiais
- Agradável e do prazer, estes abragem todas as nossas sensaçõ es de prazer e de satisfação bem
como da fonte. Ex: O alimento, a bebida, etc.
- Vitais ou de vida, referem-se ao vigor do nosso corpo da nossa força fisica e espiritual, da saúde, da
felicidade, do amor etc.
- Utilidade, dizem respeito a todas as coisas que nos servem para satisfazer as nossas necessidades
vitais, tais como, Vestuário, da habitação, meios de transporte, dos electrodomésticos, meios de
comunicação e dos próprios instrumentos que servem para que a criação destes bens.
c) Valores Espirituais
Valores espirituais diferem-se dos valores sensiveis pela sua imaterialidade e absuluta condicional
validade. Assim são:
- Religiosos referem-se ao sagrado ou divino. O sagrado é ao mesmo tempo valor e ser, quer dizer, é
uma realidade, valor ao mesmo tempo.
- Estéticos são os que se referem aos ideias do belo, do feio, do sublime, do trágico, do amável, da
harmonia, da elegância etc.
- Éticos ou Morais- referem-se aos ideias do bem e do mal, da bondade, da lealdade, da amizade, da
honestidade, da solidariedade, da liberdade, da verdade, etc.
- Políticos – dizem respeito a justiça, a igualdade de diretos, a liberdade de expressão e de associação,
etc.
- Teoréticos- dizem respeito a posse do conhencimento e da verdade e contrapõem-se à ignorância, ao
erro e a falta de interesse pela verdade.
Assim, todos os juízos verdadeiros são valores possitivos e os falsos, são valores negativos.

2.5.8. Objectividade e Subjectividade dos valores


Será que as coisas são desejadas porque têm valor ou têm valor porque as desejamos? Por outras
palavras trata-se de saber se os valores são algo de subjectivo ou se existirão critérios valorativos que
possam ser universalmente aceites. Assim, temos as correntes:
a) Concepção Objectivista de valor (objectivismo axiológico) defende que o valor existe
independentemente de um sujeito ou de uma consciência valorativa; atribui ao valor um

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carácter ontológico; o que a espécie humana faz frente ao valor é reconhecê-lo como tal e
considerar as coisas valiosas como coisas que incorporam o valor.
b) Concepção subjectivista de valor (subjectivismo axiológico) defende que o valor deve a sua
existência, o seu sentido e validade às reacções do sujeito que valoriza; reduz o valor à
valoração realizada pelos sujeitos humanos; o valor depende de sentimentos de agrado ou
desagrado, do facto de serem ou não desejados, da subjectividade humana individual ou
colectiva.
Como superar posições tão redutoras? Por mais divergentes que possam ser as nossas opiniões sobre as
coisas ou o valor que lhes atribuímos, não há dúvida que há pontos fulcrais sobre os quais todos
sentem necessidade de estar de acordo. O nosso dever é procurar valores Intersubjectivamente aceites
e prescrevê- los de forma racional e universal. Por exemplo, a declaração dos direitos humanos aceite
em mais de 130 países.

2.5.9. OS VALORES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO


Um dos temas que mais interesse desperta no nosso mundo contemporâneo - é o dos valores. Porque?-
Porque as estrelas polares dos valores máximos que haviam inspirado a civilização humana desde a
sua origem, alimentaram o seu desenvolvimento material e espiritual, começaram a desaparecer da
cultura e da vida social dos povos em consequência do desenvolvimento da Ciência, da tecnologia, da
militalizaçao, da economia e da supra industrialização moderna.
2.5.10. CRISE DOS VALORES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO E EM ANGOLA
Os valores máximos e perenes como: a verdade, a bondade, o amor ao próximo, a irmandade etc,
deixaram hoje de brilhar nas nossas consciências e foram substituídos pelos valores mais negativos,
tais como: o poder da força e da riqueza, a mentira a injustiça, a violência , a desonestidade, a falta da
solidariedade etc, só para citar estes. Em consequência disso, hoje andamos tacteando no mundo
confuso, desorientado e sem direcção.
O nosso mundo contemporâneo vive hoje problemas difícies de se corrogir porque ultrapassaram a
fraca capacidade dos próprios homens que na sua ambição desmedida, engendraram esses problemas.
Os coloçais problemas que resultaram da acção humana, vigente no nosso mundo contemporâneo, são
essencialmente: a poluição atmosférica e sonora causada pela supra industrialização moderna, a
pobreza que afecta a maioria da população, o aborto, a droga o desreispeito aos direitos humanos, a
globalização das economias mundiais, os conflitos étnicos, a ecologia, etc…
2.5.11. RESGATE DOS VALORES CÍVICOS E E MORAIS EM ANGOLA
Nas nossas ruas registamos o atropelo cruel, e sem dó, dos mais elementares valores morais, como o
respeito, a tolerância, a honestidade, o amor, a justiça, o bem, a verdade, o trabalho, a lealdade e
responsabilidade, etc... Os jovens bebem de dia e de noite de forma irremediável. Com a bebida vem a
prostituição e droga, e isto tudo combinado provoca a violência, agressões, pancadaria e toda a
podridão que vemos no dia-a-dia. Esta é a realidade actual que vivemos. Daí vermos tanta coisa
incrível que vai desde bebés nos contentores de lixo, pais que engravidam as filhas, mães que
enterram vivos seus filhos, filhos que matam os pais, pais que matam os filhos, rapazes e raparigas que
se envolvem em drogas, adolescentes que engravidam precocemente, promiscuidade entre professores
e alunas nas escolas, pastores que violam fiéis, etc…
Para o resgate de valores morais e cívicos em Angola, o processo de educação aparece como o factor
primórdial de recuperador de valores perdidos.
Assim, Rafael Yus Ramos (2002), apresenta 4 pilares da educação do século XXI:
 Aprender a ser (incluindo a educação para a saúde, educação emocional e educação para o consumo);
 Aprender a fazer (Educação para a vida activa; desenvolver a competência para vida, ou seja
conhecimento em acção);
 Aprender a conhecer (estudar, memorizar, resolver, etc.);

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 Aprender a viver juntos (educação ambiental, educação para democracia, educação para
solidariedade, educação intercultural, educação para a paz, educação para a igualdade, educação
cívica, aceitação e respeito das normas cívicas, capacidade de desenvolver projectos comuns, etc,
Diante da grandeza desta tarefa, é evidente o reconhecimento de que ela não pode ser realizada apenas
pela educação formal (Escola). No entanto, se entendemos a educação como um processo de
assumpção social, que deve ser assumido pela sociedade toda, da família aos grupos mais complexos
da sociedade; aí sim, o resgate dos valores morais é uma tarefa conjunta e transversal de toda
sociedade (família, estado e todos os parceiros sociais – Igrejas, associações civicas, etc.). O resgate
dos valores morais e cívicos é uma tarefa da sociedade Angolana que deve ser assumido por todos
individual e colectivamente de maneira contínua e continuada.

2.5.12. DIMENSÃO ÉTICA-POLÍTICA DOS VALORES


A sociedade e a política tem como função aplicar a ética, portanto é óbvio que é essencial que
respeitem os valores éticos, visto que se isto não acontecer não será possível as pessoas serem felizes.
Eles permitem aos indivíduos realizar-se e viver como pessoa
A política como ciência exige o uso da inteligência, de método e de conhecimento e como arte requer
sensibilidade e imaginação na governação e direcção dos Estados. Tem um carácter profundamente
realista e prática, procurando servir a totalidade das áreas relacionadas com o ser humano e todo o
homem.

Sendo a ética entendida como “a ciência da Moral" e tem por objecto os "juízos de valor, no que se
refere à distinção do bem e do mal" nas acções humanas. Diante dessas justificativas, alguns afirmam
ser a ética e a política incompatíveis.

Então, não seria possível que um homem, neste caso, um político seja ético? Sim, é possível. Acredito
que um político ético não seja apenas aquele que tem êxito em suas acções, que almeja sem pensar na
conduta utilizada para atingir tais objetivos. Mas sim aquele que pensa no colectivo, que possui
virtudes e é habilidoso e ousado em pensar e agir pela melhoria do coletivo.

Precisamos entender e exigir que a moral e a política estejam sempre juntas. Esta é a justificativa do
Estado existir com suas leis e seus preceitos, bem como o fim último do Estado – o bem comum. Da
mesma forma, devemos valorizar as figuras públicas que trabalham para preservar a ordem, punindo,
quando necessário, os que se utilizam de cargos públicos para benefícios individuais, prejudicando o
crescimento e o desenvolvimento do País.

Por isso, a política exige necessariamente uma reflexão filosófica, uma ética, visto que apenas a ética
pode indicar os princípios racional e universalmente válidos susceptíveis de fundamentar a acção
política, afastando o maquiavelismo – os fins justificam os meios..

2.5.13. NORMAS E VALORES MORAIS


As normas morais (sob a forma de deveres) orientam as acções humanas no que diz respeito às
relações entre as pessoas. Em cada sociedade há uma moral colectiva que é inicialmente aceite pelos
membros antes mesmo de qualquer reflexão sobre o seu significado, a sua importância e a sua
necessidade. Por exemplo: não roubar, faltar respeito é mal, cumprimentar os outros, etc…
Valores morais são conceitos, juízos e pensamentos que são considerados “certos” ou “errados”, os
grandes ideiais, dentre eles, o respeito, a tolerância, a honestidade, o amor, a justiça, o bem, o

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trabalho, a lealdade e responsabilidade, etc… e outros que vão surgir e inspirar cada pessoa,
principalmente, no seio familiar, pelo qual as relações com o pai, mãe, irmãos, avós, tios e todos
aqueles envolvidos, devem contar com a qualidade adequada para serem correctos transmissores dos
referidos valores a determinada pessoa na sociedade. Normalmente, os valores morais começam a ser
transmitidos para as pessoas nos seus primeiros anos de vida, através do convívio familiar e social.
Com o passar do tempo, este indivíduo vai aperfeiçoando os seus valores, a partir de observações e
experiências obtidas na vida social.

A moral tem assim um carácter social, visto que decorre da sociedade e responde às suas
necessidades. É marcada por normas, obrigações, interdições e penalizações sociais, como
reprovação, afastamento, etc..

2.6. ORGEM E NATUREZA DA CONSCIÊNCIA MORAL: LIBERDADE E


RESPONSABILIDADE
A palavra consciência significa conhencimento acerca de algo. A consciência e o dever moral são
modos de regulação de conduta das pessoas. Como? – consciência moral exige que a pessoa siga os
preceitos do bem e resista ao mal e o dever exige que a pessoa seja honesta, executa as suas obrigações
e prescreva a sua honra e dignidade.
A consciência moral é a faculdade que nos permite distinguir o bem e o mal, orientar os nossos
actos e julga-los segundo o seu valor.
Como se infere da presente definição, há três aspectos fundamentais na consciência que permitem o
funcionamento da mesma:
a) Discriminativo, que nos permite distinguir o bem e o mal;
b) Prescritivo, permitem-nos orientar o nosso comportamento, onde quer que estejamos;
c) Apreciativo, que nos permite emitir juízo de valores sobre as nossas acções em boas ou más.

2.6.1. Conteúdo da consciência moral


Constitui conteúdo da consciência moral, os elementos seguintes: Racionais; Afectivos e Activos.
a) Racionais ou juízos de valor, procedem e seguem as nossas acções; antes da realização da
acção, dizem-nos se deve ser evitado ou praticado; depois da realizaçao do acto, aprovam ou
reprovam conforme for julgado bom ou mau.
b) Afectivos, antes do acto, produzem na nossa consciência, sentimentos simpatia, antipatia ou
indiferença sobre o acto a realizar.
c) Activos, depois do acto, produzem no nosso interior, sentimentos de satisfação, de alegria, de
orgulho pelo bem praticado; vergonha, preocupação e arrependimento pelo mal praticado.
2.6.2. Sentimentos que acompanham os nossos actos
Destacam-se os seguintes: o renorso e o arrependimento.
a) Remorso é o sofrimento que se apodera e tortura a consciência, devido a falta cometida e que
ela (consciência) crê irreparável.
b) Arrependimento é o sentimento que envolve a consciência, devido o mal praticado mas, que ela
cré ser reparável. Quer dizer, o arrependimento envolve o mal de reparar a falta cometida e
quando não é possivel, então deve resgata-la através da prática de actos valiosos, o que implica
para tal, uma mudança radical no modo de agir, de pensar e de ser.

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2.6.3. Origem da Consciência Moral
O problema da origem da consciência moral foi tematizado ao longo da história, por diversos filósofos
e a resposta dada ao problema, divide os filósofos em duas grandes correntes: Inatismo, Empirismo e
Criticismo.
a) Inatismo, para essa corrente, a consciência moral já nasce com a pessoa pois segundo eles, a
capacidade para destinguir o bem do mal, existe realmente em todos os homens.
Critica; a tese do intismo sobre a origem da consciência, é errada porque a mente humana antes de
qualquer experiencia, é como um papel em branco. Diz locke:`` suponhamos que a mente é, como se
diz papel em branco, sem qualquer instrução, sem qualquer ideia. Como se chega então a te-la? (…) A
isto reponto com uma só palavra: com a experiência. Ela é o fundamento de todo o nosso saber.
b) Empirismo, esta defende que a consciência moral é adquirida, pois as regras morais são
variáveis de lugares à lugares e de época em época, por isso é uma propriedade adquirida
gradualmente, apartir de um estadio de indeferença e amoralidade. Alega ainda que o homem
tem de ajustar-se as exigências da vida social como a educação e a pressão social para poder
viver.
c) O Criticismo considera as duas correntes muito extremistas e defende que a consciência moral
resulta precisamente da conjugação dessas exigências sociais e a sua interiorização tornando-as
hábitos e costumes.

2.6.4. Características da Consciência Moral


Destacam-se:
a) Universalidade, o sentido do bem e do mal, é atributo de todo o ser humano.
b) Variabilidade, significa que a sensiblidade moral, difere em grau e nível de pessoa para pessoa.
c) Educabilidade, as pessoas influenciam-se tanto no bem como no mal. A influência da
comunidade na formação da Consciência moral.

2.6.5. O Valor Moral: Natureza e Características


a) Natureza
O valor moral não se identifica com outras classes de valores humanos, como possam ser os valores
económicos, políticos, estéticos, intelectuais, vitais, religiosos, etc.
Definem-se, do ponto de vista Ético, os valores morais são os grandes ideais que guiam as vidas e as
acções dos homens quer individualmente como colectivamente na sociedade. Tais como a verdade, o
amor, a bondade, a beleza, a justiça, a paz, a liberdade, a fraternidade, a igualdade, etc.
A natureza do valor moral deve ser procurada a partir da matéria na qual se sustenta – a acção
humana. Segundo a filosofia Aristótelica, o moral pertence à ordem da acção humana, isto é,
entra dentro da estrutura dinâmica do homem. Aristóteles afirma que existem três formas de
acção humana: a Especulativa (actividade racional e intelectiva), o Fazer (actividade artística,
técnica) e o Agir (a acção que fica dentro do sujeito que se manifesta no comportamento). Isto indica
logo que o valor moral pertence ao nível prático humano. Por isso, o valor moral tem por matéria as
acções livres, intencionais e conscientes do homem.

b) Características
- O valor Ético/Moral faz referências directa à subjectividade/interno, entendida como
intencionalidade, como liberdade e como compromisso interno.
- O valor moral é imperativo ético, isto é, impõe-se por si mesmo;
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- O valor Ético/Moral refere-se também ao sentido de relação com outros valores, pois todas as
ordens de valores têm uma inter-relação;
- O valor Ético/Moral é o valor que condiciona a pessoa na sua realização. Por ser o valor inerente ao
comportamento por meio do qual a pessoa expressa-se livre e responsável;
- O valor Ético/Moral aparece como a razão de ser do homem.

2.6.6. Juízo de Facto e Juízo de Valor


Quando avaliamos determinados factos ou acontecimentos que se produzem a nossa volta, emitimos
necessariamente um juízo de facto ou de valor.
- Juízos de factos: são aqueles que descrevem factos ou acontecimento sem, no entanto, emitir
um juízo valorativo de bom ou mau, de justo ou injusto etc. Ex: durante a segunda guerra mundial seis
milhões de Judeus morreram nos campos de concentração nazis. Pelo seu caracter, juizos de facto
podem ser verdadeiros ou falsos; podem ser comfirmados ou negados pela experiência mediante a
observação e experiência mediante a observação e exprimentação.
- Juízos de valor: São aqueles que julgam os factos acontecimentos e emitem um juízo
valorativo de bom ou mau, de justo ou injusto, etc. Ex: a morte de seis milhoes de Judeus nas mãos dos
nazis foi um acto criminoso e horrendo (horrizante, medonho), pelo seu caracter, os juizos de valor são
normativos.

2.6.7. LIBERDADE E RESPONSABILIDADE


A consciência moral, a liberdade e a responsablidade, são aspectos interdependentes e constituem as
condições necessárias para a realização de um acto moralmente livre.
 LIBERDADE
No sentido restrito, a liberdade é a possiblidade de poder escolher entre o bem e o mal.
No seu sentido amplo, a liberdade é o poder de agir por si próprio, sem nenhuma coacção interna ou
externa.

Tipos de Liberdade
Existem dois tipos: Liberdade de Decisão e liberdade de execução
a) A liberdade de decisão ou de consciência é o direito que assiste as pessoas em poder escolher
ou decidir internamente, de querer orientar o nosso comportamento para fins inteligentemente
escolhidos. È essa liberdade que domina as forças do medo, da paixão e do instinto, etc.. e se
molda o pensamento dos homens para transformá-los em pessoas humanas, com faculdade de
escolher bem para agir melhor e com conhecimento de causa.
b) A liberdade de Execuçao é o poder de agir ou não agir, sem ser impedido por forças externas.
Essa liberdade pode assumir várias formas, como a fisica é o poder que a pessoa tem em dispor
do seu ser-fisico, isto é do seu corpo; civil é o poder de agir dentro dos limites estabelecidos
pela lei ou pelo poder legislativo, instituido na sociedade; política é atributo que têm as
Naçoes soberanas de constituirem governo próprio e, para os cidadãos o poder que lhes assiste
na participação directa ou indirecta na vida da sociedade (direito de voto) e em poder exprimir
livre e publicamente as ideias, sob forma oral ou escrita.

 RESPONSABILIDADE
Este conceito deriva do termo latino “respondere” que significa responder ou prestar contas sobre os
actos realizados. Assim, define-se a Responsabilidade é a obrigação de prestar contas sobre os actos
praticados por nós.
O termo pessoa deriva da palavra latina. “persona” que signica máscara para representar uma outra
personagem. Do ponto de vista filosófico –jurídico, pessoa é o indivíduo dotado de dignidade e
personalidade jurídica e sujeita à direitos e deveres morais e jurídicos.

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Tipos de responsabilidade
Existem quatro tipos: Retrospectiva, Prospectiva, Civil e Moral
a) Retrospectiva, destina-se a reparar o mal praticado anteriormente.
b) Prospectiva, destina-se a promoção do bem e está direccionado para o futuro.
c) Civil, refere-se ao compromisso de ter que responder perante o poder estatal, pelas
consequências e implicações dos nossos actos em relação à terceiros.
d) Moral, é a obrigação de responder perante a nossa consciência, pelas intenções e actos
praticados consciente ou inconscientemente.

2.6.8. Direito e Moral


No Direito, a lei é a regra escrita, feita pelo legislador, com a finalidade de tornar expresso o
comportamento considerado indesejável e perigoso pela sociedade. É o meio pelo qual a norma
aparece e torna obrigatória sua observância. Princípio da reserva legal, não há crime sem uma lei que o
descreva.
Na moral, a norma emana do próprio homem tendo em conta a valoração.
Assim, a lei jurídica é descritiva, heteronoma, bilateral e coersiva e a sua sanção é punitiva, equanto
que a norma moral é proibitiva, autonoma, unilateral e incoersiva e a sua sanção é moral.

Questionário para Trabalho prático


1. Diferencie acção humana e acção do homem.
2. Qual é a estrutura da acção humana?
3. Demonstre por exemplo a estrutura da acção humana.
4. Porque a ação humana é condicionada?
5. O que são valores morais?
6. A que nos referimos quando falamos de valores morais?
7. Porque é que os valores se classificam em sensíveis e espirituais?
8. Que valor fazem parte aos sensíveis e aos espirituais ?
9. Que diferença existe entre juízo de facto e juízo de valor?
10. O que se entende por norma moral?
11. Explica a diferênça entre lei e norma moral?
12. Como se promove os valores morais? A moral e o Direto são dimensões identicas? Justifique?
13. Formula dois valores que contenham uma norma moral e uma jurídica.
14. A capacidade valorativa é estrita a determinadas pessoas? Justifique.
15. Exponha alguns juízos de valor decorrentes das seguintes dimensões : Moral, Estética,
Religioso, Vital; Utilidade.

2.7. SOCIEDADE, LIBERDADE E PESSOA


Entre a sociedade, liberdade e pessoa existe uma interdependência dialéctica, visto que a sociedade só
existe havendo células familiares produtoras de pessoas, com liberdade de agir, sem nenhuma coacção.
Enquanto a pessoa não gozar das suas liberdades de agir não pode falar-se da existência da sociedade,
mas sim, de um aglomerado de pessoas sem a dignidade de constituirem sociedade.

2.8. Ética, Estado e Direito


A sociedade e a política tem como função aplicar a ética, por isso é essencial que respeitem os valores
éticos, visto que se isto não acontecer não será possível as pessoas serem felizes. Eles permitem aos
indivíduos realizarem-se e viverem como pessoas.

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 Moral: conjunto de princípios, valores (como o bem e o mal) e normas (sob a forma de
deveres) que orientam as acções humanas no que diz respeito às relações entre as pessoas. Em
cada sociedade há uma moral colectiva que é inicialmente aceite pelos membros antes mesmo
de qualquer reflexão sobre o seu significado, a sua importância e a sua necessidade. A moral
tem assim um carácter social, visto que decorre da sociedade e responde às suas necessidades.
É marcada por normas, obrigações, interdições e penalizações sociais. Mas cada pessoa só
assume plenamente uma dada norma moral se estiver convencido da sua justeza, só assim ela
adquire uma dimensão pessoal. Cada pessoa elabora, no decorrer da sua vida, de um modo
mais ou menos autónomo, uma moral própria, que pode ou não coincidir com a moral colectiva
na qual foi educado. Ética: disciplina filosófica que estuda a moral. É uma reflexão filosófica
sobre os fundamentos da moral. A ética é actualmente dividida em três partes fundamentais:
a)Ética Descritiva – descreve os fenómenos morais; b) Ética Normativa – procura a justificação
racional da moral; c) Meta-ética – reflecte sobre a própria ética.
 A Ética ou moral é o conjunto de comportamentos habituais e decorrentes numa dada época
histórica, numa determinada comunidade ou sociedade.
Como se pode depreender do exposto, a pessoa humana não se manifesta somente na sua natureza, mas
também na acção, ou seja, na prática humana, isto é, nos hábitos, nos costumes, na sua moradia e nas
instituições que ela cria para si mesmo.
A dimensão ético-moral não é a única dimensão do ser humano. Podemos analisá-lo enquanto
indivíduo, enquanto pessoa e enquanto cidadão, surgindo assim o Estado.
 Estado é a institucionalização do exercício do poder político e da autoridade para a
concretização dos fins que a comunidade definiu como bons = Conjunto das instituições que
exercem o poder político, tendo em vista a concretização dos fins que a comunidade definiu
como bens.
Os instrumentos do Estado para realizar os fins propostos são: o Sistema jurídico (constituição política
e códigos diversos – civil, penal, comercial, etc.), o Executivo (Governo), os Tribunais, a Polícia e as
Forças Armadas.
Para gerir os conflitos sociais e garantir o bem comum, precisamos de normas coercivas – as leis
jurídicas - e instituições com poder e meios para impor o cumprimento dessas leis (Estado).
 O que é o Direito como lei normativa? Conjunto de normas que regulam as relações entre os
cidadãos, estabelecendo também as formas de punição para a violação dessas normas. O
Direito torna-se: – garantia da liberdade do indivíduos, distingue o que é aceitável do que não
é aceitável; - Garantia da legalidade da ação Assegura a coexistência das liberdades; - Situação
de igualdade de todos os indivíduos; - Garantia das condições de coação. Objetivos do
Direito: Segurança,Justiça e Paz

2.9. ÉTICA AMBIENTAL/ECOLOGIA


Toda e qualquer acção que não interfira na autonomia ou na felicidade objectiva de terceiros é uma
acção ética ou neutra, e toda acção que cause prejuízo directo sobre a autonomia e a felicidade
objectiva de terceiros é, desde já, antiética. Por isso, não existe Ética de grupo A e Ética de grupo B,
existe tão-somente a Ética.
As questões éticas e de valores humanos tornaram-se fundamentais para a política e para a gestão do
desenvolvimento sustentável.
Fundado na responsabilidade para com a colectividade humana e, num sentido de solidariedade
amplo, nas relações de nossa espécie com as demais espécies vivas e com o ambiente que nos cerca, a

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ética ambiental se traduz em normas e leis, que constituem pactos e compromissos a serem cumpridos
por todos, para evitar que os conflitos e disputas sejam resolvidos de forma violenta.
No âmbito da Educação Ambiental, quando damos ênfase à Ecologia, estamos ressaltando o facto de
que cabe a espécie humana a responsabilidade pela preservação ou destruição da vida no
nosso planeta.

2.10. OS DIREITOS HUMANOS: DADOS HISTÓRICOS.


No seculo XVIII, surge pela primeira vez, o movimento dos direitos do homem encabeçado pelo
iluminismo, contra o absolutismo e arbitrariedade do poder existentes. O Iluminismo dá primazia a
conceitos fundamentais como liberdade, igualdade, justiça, fraternidade, etc… Acontecem as
revoluções: americana (1776) e francesa (1789).

Somente a dia 10 de Dezembro de 1948, após a 2.ª grande guerra, foi aprovada pela assembleia geral
das Naçoes Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Os Países que mais sofreram a
trágica experiência da 2ª guerra mundial (1939-1945), procuraram um meio para que os horrores da
guerra não se repetissem e numa plataforma comum, no respeito pela dignidade de toda a pessoa.

2.10.1. Difiniçao de direitos humanos


Direitos humanos é tudo aquilo que é indispensável para o bem estar, o crescimento, a segurança da
pessoa humana e a sua realização. Os direitos humanos proclamam a dignidade da pessoa humana,
independentemente da sua origem, raça e condições sociais, etc.
Os direitos fundamentais do cidadão encontram-se na Declação Universal dos Direitos humanos e
estão plasmados na constituiçao de qualquer País e são organizados em quadro grupos, a saber:
- Direitos Pessoais
- Direitos judiciais
- Direitos Civis e Politicos
- Direitos Sociais
a) Direitos Pessoais
A Declaraçao Universal dos Direitos Humanos dedica os primeiros cincos artigos a pessoas e aos
direitos fundamentais. Ela põe o homem no centro de tudo, sujeito a direitos e deveres.
Artigo 1.º - “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir uns para com os outros com o espirito de fraternidade”
 Constituição da República de Angola. Artigo 2.º a 4.º - “A República de Angola é um estado
democrático de direito que tem como fundamento a unidade nacional, dignidade da pessoa
humana, o plurarismo de expressão, o respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais
do homem”.
Quer os artigos da Declaração Universal como os da Constituição de Angola, destacam em primeiro
lugar a pessoa entendida com as suas qualidades fundamentais: a liberdade, a igualdade e a
fraternidade.
 Liberdade significa que todo o homem nasce livre, isto é, capaz de fazer escolhas e concretizá-
las. Pelo facto,não pode viver no constragimento e no medo. Deve Ter condiçoes para
desenvolver a sua capacidade criadora e viver com dignidade.
 Igualdade significa que o nascimento é igual para todos. Por isso, o homem é igualmente digno,
quer trabalhe no escritório ou no campo, quer seja chefe ou simples cidadão, jovem ou adulto.
 Fraternidade significa a vontade de viver como irmãos. Irmão é aquele que ama o outro,
dialoga e tem confiança.
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Os primeiros artigos reflectem as bases de todos os Direitos Humanos e quando são violados, deve-se
recorrer aos tribunais.
b) Direitos Judiciais
Artigo 7.º “todos os homens são iguais perante a lei e têm direito a igual protecção pela lei sem
qualquer destinçao”.
 Constituiçao da República de Angola. Artigos 18.º à 28.º “ todos os cidadãos são iguais
perante a lei e gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, sem distinção
da sua cor, raça, etnia sexo, lugar de nascimento, religião, condição económica, etc.
Direitos Civis e Políticos
Artigo 3.º “todo o homem tem direito à vida, à liberdade e a segurança da sua pessoa”.
 Constituição da República de Angola. Artigo 21.º “ A lei protege a vida, a liberdade, a
integridade pessoal, o bom nome e a reputação de cada cidadão”.
 A vida é o maior bem que temos; viver é nascer, creser, pensar, trabalhar, comer, amar,etc.
Ninguem é dono da vida de si ou dos outros, por isso, nem o cidadão e nem o Estado pode tirá-
la ou limita-la.
 A liberdade significa que todo o homem é responsável e capaz de procurar o seu bem estar e de
colaborar na ordem do bem comum. A liberdade portanto, não significa a autorização de
libertinagem para praticar o que se quer, ser ladrão, de explorar e de fazer sofrer os outros.
 Segurança, significa que cada Sociedade deve garantir a vida e os bens de cada cidadão,
criando leis justas, conhencidas por todos e aplica-las correctamente. Os corpos de segurança
(Militares e Paramilitares), ao exercer as suas funçoes, não podem tornar-se instrumentos de
terror e de violência.

c) Direitos Sociais
Declaraçao Universal; artigo “todo homem como membro da sociedade tem o direito a segurança
social e pode reclamar a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensaveis a sua
dignidade”
 Constituiçao da República de Angola. Artigo 36.º “todo cidadão tem direito a liberdade física e
a segurança pessoal”.

Questionário para Trabalho Prático


1. Porque os valores desperta mais interesse no mundo contemporâneo?
2. Que valores deixaram de brilhar nas nossas consciências?
3. Os problemas do mundo contemporâneo são dificeis de se corrigir. porque? Identifica-os e diz
a sua causa.
4. Quando foi aprovada a Declação dos Direitos Humanos? E por quem?
5. O que são direitos humanos? E que proclamam?
6. Diritos pessoais. Comenta o artigo 1.º Delaração Universal dos Direitos Humanos conjugando-
o com a Constituição da República de Angola.
7. Explica os significados das expressões: liberdade, igualdade e fraternidade.
8. O que é a vida? E quem é o dono da vida? O que se entende por liberdade?
9. Que se deve fazer quando os direitos são violados

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2.11. A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA DO HOMEM
O ser humano, para além de ser um animal racional, é membro de uma sociedade, é um ser religioso.
A religão funciona como factor decisivo de integração social.
O facto religioso é universal e heterogéneo, pois nos coloca em contacto com uma extrema diversidade
de formas e manifestações.
Cada religião, ao configurar de uma maneira específica a relação de cada ser ao mundo, à sociedade
e aos outros, contribui decisivamente na constituição de comunidades culturalmente distintas, para a
identificação social e para a formação do sentimento de um nós (o povo eleito, a nossa fé, a nossa
igreja, etc.), e isto se traduz numa experiência - a experiência religiosa.
A experiência religiosa é uma relação entre o homem e o sagrado, realidade fundamental e misteriosa,
radicalmente diferente tendo em conta que o sagrado é o ``absolutamente outro`` que o homem não
pode dominar.
César T. Campomanes, diz que a experiência religiososa é a experiência de uma presença que envolve
o homem. Presença da transcendência. Isto é, de uma realidade que está para além do próprio mundo
mas que é vivida como sendo a verdadeira realidade, o suporte e o fundamento de tudo que existe.

2.11.1. DEFINIÇÃO DA RELIGIÃO


A palavra religião vem do latim “Religione” que parece derivar de religar (do latim ligo) que
literalmente significa culto prestado à divindade, ou seja, conjunto de perceitos e práticas pelas quais
se comunica com um ser ou seres superiores.
Segundo Santo Agostinho de Hipona, a Religião é religar o homem à Deus, após a queda de Adão e
Eva no paraiso que provocou um desligar. Para Cicero, o termo em estudo deriva de ler e de reler
(regere): aqueles que cumpriam cuidadosamente com todos os actos e, por assim dizer, os que reliam
atentamente foram chamados religiosos.
No sentido mais amplo o termo religião tanto pode ser designado a inanimado, a realidade
fundamental, como conjunto das suas manifestaçoes e técnicas organizados em sistema coerente de
crença e práticas próprios de uma determinada civilização ou cultuna; a crença numa garantia
sobrenatural oferecida ao homem para sua salvação.

2.11.2. Religiões no Mundo

As religiões são aqueles organizações que crêem em divindades. Costumam ser divididas
entre monoteístas (que crêem em apenas um Deus) e politeístas (que crêem em mais de um deus).

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2.11.2.1. RELIGIÕES MONOTEÍSTAS ABRAÂMICAS

Religião Fundador Crença Derivadas do Judaísmo Fundador Rederivadas

 Catolicismo
 Protestantismo
“DEUS  Cristianismo  Ortodoxia
ÚNICO”  Nestorianismo
- Baseado na vida e Cristo  Anglicanismo
ensinamentos de Jesus
 Restauracionismo
Abraão Cristo
Omnipotente
Judaísmo  Sunismo
Omnisciente
 Xiismo
omnipresente  Islamismo Maomé  Carijismo
 Wahhabismo
- Baseado na vida e
 Ismaelismo
ensinamentos do profeta
 Sufismo badismo
•Humanístico
•Israelitas negros
•Messiânico
•Reconstrucionista
•Samaritanismo

2.11.2.2. RELIGIÕES MONOTEÍSTAS NÃO ABRAÂMICAS


Religiões que acreditam em um só deus, porém um deus diferente daquele das religiões abraâmicas,
como Bramanismo, Hinduísmo, Xintoísmo, Budismo, Religião tradicional chinesa, Vixnuísmo,
Cientologia, Religiões de matriz africana, Religiões tradicionais africanas, Religiões afroamericanas,
Religiões afrocaribenhas, Religiões afrobrasileiras, Umbanda, Quimbanda, etc..

2.11.2.3. RELIGIÕES POLITEÍSTAS


O politeísmo, nativo na maioria das culturas do mundo desde a antiguidade, admite a existência de
vários deuses diferentes relacionados a diversos aspectos da natureza, da vida e do sobrenatural.
- Mitologias antigas
- Reconstructionista moderno, que é a reconstruçãos moderna de algumas dessas tradições mitológicas.
Como: Helenismo, Wicca, Xamanismo, Odinismo, Druidismo, Kemetismo.
2.9.2.4. Teísmo indefinido
Religiões que acreditam em poderosas entidades sobrenaturais não precisamente definidas como
divindades, como Satanismo, Luciferianismo e Ocultismo.

2.11.3. SAGRADO E PROFANO


Etimologicamente sagrado provem do termo latino `”sacer”que deriva de “ sancire”` que significa
tornar real, dar realidade a uma coisa (sacratu ou sacrum), ou seja aquilo que recebe o carácter de
santidade por meio de certas cerimónias religiosas. Por outro lado, define-se sagrado por oposição ao
profano, pois sagrado significa o que está delimitado, separado, apresenta-se como algo de proibição,

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intocável e inviolável. Não se lhe pode tocar sob pena de profanação. Por fim, sagrado é a realidade
suprema que a tudo o resto da realidade.
Em fenomenologia da religião, estas mediações sagradas são denominadas hierofanias, que são
manifestações sagradas que podem ser: lugares, tempos sagrados, acções sagradas, objectos sagrados,
textos sagrados, imagens sagradas ou elementos naturais.
a) Lugares sagrados: são lugares naturais (montanhas, rios, bosques), que pela configuração
podem traduzir um sentimento de veneração ao homem em que ele se sente mais próximo do
sagrado. Existem também lugares criados pelos homens para o encontro sagrado: Igrejas,
Mesquitas, Sinagogas locais de Peregrinação, Mosteiros, Pirâmides.
b) Tempos sagrados: São monumentos de grande intensidade religiosa para o homem reforçar a
sua relação com Deus. Ex: festas religiosas, comemorações de um personalidade religiosa,
nascimento, datas litúrgias (natal, quaresma, páscoa, etc,).
c) Acões Sagradas: São os rituais- Santa Missa, os Sacramentos, cultos, etc..
d) Imagens ou elementos Sagrados: são objectos e imagens consideradas sagradas ex: O sol, o céu
(transcendência), escada (ascensão espiritual), coluna (ascenção aos céus), etc.
e) Textos sagrado: Biblia Sagrada, catecismo, despertai, Alcorão, missal, catena, etc.

Todas estas manifestaçoes são realidades consagradas pelo homem como ponto de encontro com algo
que não é deste com a funçao de mediar o homem com o sagrado. Por isso, é de considerar que o
homem vive e interpreta a experiência do sagrado condicionado pelo contexto sóciocultural em que é
educado.

FIM

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