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EXPERIÊNCIA
RELIGIOSA
Prof. Thomas Heimann
INFOGRÁFICO
Reforça-se que religião implica uma relação em pelo menos dois
sentidos: vertical, em direção ao ser transcendente; e horizontal, em
direção a outras pessoas, que compartilham das mesmas crenças. Não
há, portanto, religião de um indivíduo só. Daí surge a diferenciação
entre o conceito de religião e espiritualidade. A espiritualidade diz
respeito a uma característica humana que designa toda vivência que
pode produzir mudança no interior do ser humano e redimensiona a
sua forma de se relacionar consigo, com os outros e com o cosmos.
Está relacionada com valores, significados e busca de sentido, que
podem ser encontrados em diferentes lugares, inclusive em si mesmo
(GIOVANETTI, 2005, p. 136).
No esporte, talvez até muitos dos leitores possam dar-se conta de que
praticam ritos religiosos: surfistas fazem o sinal da cruz antes de entrar
no mar, jogadores entram em campo com o pé direito, atletas apontam
para o alto e agradecem a Deus diante de conquistas, treinadores
usam a mesma roupa com que obtiveram um título etc. Crenças,
superstições e trabalhos religiosos são comuns no meio esportivo.
A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA
Você já teve alguma experiência religiosa? Curiosamente, muitos
alunos respondem negativamente a esse questionamento. Talvez
porque a ideia implícita seja de que uma experiência religiosa precise
ser um evento, algo grandioso, tais como revelações proféticas,
aparições de seres divinos ou angelicais, falar em línguas, sonhos
premonitórios, presenciar espíritos atuando em sessões mediúnicas,
ver demônios sendo expulsos em cultos de libertação, ter recebido
uma cura espiritual ou ter vivido uma experiência miraculosa.
REFERÊNCIAS
BENKÖ, A. Psicologia da religião. São Paulo, Ed. Loyola, 1981.
CRÉDITOS
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
INTRODUÇÃO
Nesse segundo capítulo teremos duas abordagens temáticas que vão
transversalizar o campo da religião e espiritualidade em sua relação
com a sociedade contemporânea.
FUNDAMENTALISMOS,
TOLERÂNCIA E FENÔMENOS
RELIGIOSOS NO CONTEXTO DA
GLOBALIZAÇÃO
Um dos conceitos marcantes do século XXI é o da Globalização. O
mundo globalizado, através dos meios de comunicação, em especial a
internet, permite a interação e conexão entre pessoas em quaisquer
partes do mundo. De certa forma, tornaram-se tênues as linhas que
demarcam nações, territórios, culturas e jurisdições. Vivemos todos em
uma espécie de “aldeia global”. A Globalização não é, portanto, um
fenômeno apenas da área da comunicação, mas mundial, das relações
sociais, econômicas, culturais, religiosas, enfim, das relações humanas.
Como vai dizer Odalia, muitas vezes, atitudes violentas são justificadas
sob o argumento do “pensar diferente”. O uso da violência se torna
algo corriqueiro, banal, assumindo contornos de normalidade ao dizer
que “o ato violento se insinua [...] como um ato natural cuja essência
passa desapercebida” (ODALIA, 2004, p. 23).
É óbvio e claro que cada ser humano pode e deve eleger as suas ideias
a respeito do Divino e do Transcendental. O que está em discussão é o
respeito à diversidade de pensamento, seja ele religioso, ideológico ou
moral.
Por mais paradoxal que possa parecer, a culpa pode cumprir funções
positivas e construtivas para a vida relacional. Ela nos auxilia
na prevenção de atos ilícitos ou prejudiciais, pois antes mesmo de
violar uma regra a culpa antecipatória já pode se fazer presente no
indivíduo. Uma segunda função é o ato da reflexão, pois após cometer
um ato que a sua consciência apontou como má, a culpa surge e pode
levar o indivíduo a uma autoanálise crítica das suas próprias ações.
A reparação, no sentido de pedir perdão e restituir concretamente a
quem lesamos também é um aspecto positivo da culpa. Por último, a
culpa pode levar o indivíduo a não mais cometer um ato que sua
consciência julgou ilícito e o fez sofrer, gerando uma mudança
positiva de comportamento.
INFOGRÁFICO
Um outro elemento que merece destaque nesse assunto que estamos
tratando é a relação existente entre a culpa e pagamento. Para o
psiquiatra suíço Paul Tournier, a culpa traz como consequência quase
inevitável uma ideia de pagamento, como se houvesse uma atitude
psicológica enraizada no coração humano que nos diz que "Tudo deve
ser pago". (1985, p.200).
A típica frase "Essa ele me paga!", muitas vezes repetida por nós em
inúmeros e variados contextos e situações, expressa o que estamos
aqui afirmando. Todas as faltas, erros, delitos e pecados parecem exigir
um pagamento, cujo preço geralmente será proporcional ao tamanho
do erro. Na prática da confissão católica, por exemplo, a penitência que
é atribuída pelo sacerdote ao fiel normalmente será proporcional à
gravidade do seu pecado.
CULPA E RELIGIÃO
Já vimos que muitas religiões também têm na culpa um de seus
aspectos fundantes sendo, por vezes, até utilizada como instrumento
de domínio das igrejas sobre os fiéis. Como diz Tournier (1985, p. 202),
para apagar o passado de culpas e pecados, uma expiação
(pagamento) deve ser feita, sendo esse o sentido de quase todos os
ritos e sacrifícios praticados nas diferentes religiões. Espera-se que eles
garantam a libertação da culpa descartando o débito que deu origem
a ela.
Porém, quem não consegue perdoar acaba por fazer um pacto com o
agressor, no qual só vai aumentar sua própria dor e sofrimento,
ficando prisioneiro dela. Por isso é que se diz que perdoar é libertar-
se, pois quem perdoa rompe os laços com o mal feito a si, eliminando
o poder e domínio daquele que cometeu a ofensa.
CRÉDITOS
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
INTRODUÇÃO
Quem sou eu? Como foi que tudo veio a existir? Por que existe tanto
sofrimento? Existe um propósito no Universo? Se Deus existe, como
faço para ser salvo? O que acontece depois da morte? - essas são
algumas questões presentes em todas as culturas humanas. São
questões existenciais, pois lidam com a existência humana. Elas
formam a base de todas as religiões e, por conseguinte, de toda a
cultura humana. Conforme Gaardner, “não existe nenhuma raça ou
tribo de que haja registro que não tenha tido algum tipo de religião”
(2013, p. 11).
RELIGIÕES DO ORIENTE
Vamos encontrar, nesta seção, quatro grandes religiões: Hinduísmo,
Budismo, Confucionismo e Taoísmo. De cada uma podemos tirar lições
transmitidas por séculos e vividas por seguidores que buscavam
sentido para a vida entre essas religiões e filosofias.
HINDUÍSMO
O Hinduísmo não tem fundador, nem credo fixo. Na verdade, o
Hinduísmo é o conjunto de religiões que se originam das interações
entre o povo nativo do vale do rio Indo e os povos indo-europeus, que
chegaram na região 4 mil anos atrás.
Um hindu crê que, depois da morte, sua alma renasce numa nova
criatura, humana ou animal. O que determina a próxima existência é
o carma, que aponta para o movimento de “ação e reação”: o que você
faz nesta vida determinaria sua próxima existência. Veja que a visão
cíclica também está presente na forma como o Hinduísmo explica o
sofrimento e a libertação dele. A esse ciclo de nascimento, morte e
renascimento dá-se o nome de Samsara, a roda da vida. Para se libertar
da Samsara, o hindu deve dedicar-se a ações nobres. O que determina
a próxima existência é o carma, que aponta para o movimento de ação
e reação: o que você faz nesta vida determinaria sua próxima
existência. Também há no conceito de carma a ideia de ordem natural
das coisas, da existência que deve ser aceita para que o indivíduo
aprenda e evolua.
As Castas
Desde tempos imemoriais, sempre houve quatro varnas (cor em
sânscrito). De acordo com o RigVeda (textos sagrados hindus),
as varnas se originam do sacrifício do deus Purusha: da boca, nasceram
os brâmanes (classe sacerdotal); de seus braços, vieram os guerreiros;
de suas pernas, surgiram os agricultores e artesãos; e de seus pés, os
servos. Havia também os dalits (intocáveis), que teriam nascido do pó
das unhas de Purusha.
Três deuses
Até o momento, você já ouvir falar sobre Shiva, o deus destruidor, e
Brahman, o deus criador, que permeia todo o universo, mas o
Hinduísmo também tem um terceiro grande deus: Vishnu, o deus
sustentador.
Brahman
conhecido como o Deus criador, Senhor da Sabedoria, cultuado pelos
sacerdotes. Todos nascem dele.
Vishnu
o deus mantenedor da criação.
Shiva
deus renovador, senhor da vida e da morte, o deus dos iogues,
retratado como um asceta, traz a doença e a morte, mas também a
cura.
O hindu comum não dirige suas orações aos três grandes deuses, mas
aos milhares de divindades locais. Quase todas as aldeias têm a sua
própria divindade local. Além disso, há uma infinidade de deusas.
Segundo Gaarder (2013, p. 48): “Alguns adotam a teoria de que essa
abundância de deusas não passa da expressão de uma grande e
poderosa divindade feminina, a “Rainha do Universo” ou “Deusa-Mãe””.
A importância das deusas na religião indiana é visível pela escolha da
“Mãe Índia” (Bhárata Mata ou Bharthamata) como a divindade nacional
do atual Estado da Índia.
BUDISMO
O Budismo teve início com o príncipe Siddartha que cresceu em meio
à fortuna e ao luxo. Aos 29 anos, ele teria tido o primeiro contato com
um velho, um doente e um cadáver. Ao mesmo tempo, ele teria visto
um alegre asceta. Dessa comparação, ele concluiu que a vida de
conforto não concede plenitude à existência.
Tipos de Budismo
Depois da morte de Siddartha, o Budismo se dividiu em duas
tendências: o Theravada (“a escola dos antigos”), predominante no sul
da Ásia e o Mahayana (“grande veículo”), predominante na China,
Coréias e Japão.
Confucionismo
Confúcio nasceu em 551 a.C em uma China devastada pelas guerras
civis. Depois de tentar reformar o país pela via política, se estabelece
como professor particular. A filosofia de Confúcio não dedica muita
atenção às grandes perguntas existenciais, mas à vida diária e a busca
por harmonia. Ele está mais preocupado com uma visão política
pragmática do que com o destino da alma após a morte. Ele teria dito:
“quando não se compreende nem sequer a vida, como se pode
compreender a morte?”.
Ensinos
Confúcio buscava o tao, a harmonia predominante do Universo, que só
pode ser alcançada com conhecimento e compreensão. Nesse ponto,
o estudo da tradição era capaz de ensinar ao ser humano as regras
éticas corretas, as celebrações rituais corretas e seu lugar correto na
sociedade. Para Confúcio, os conceitos de uma atitude correta em
todas as esferas são piedade filial, respeito e reverência.
YIN/YANG
Uma das principais características do taoísmo é a sua noção da
relatividade de todos os valores e, como ideia correlata, a identidade
dos opostos. Nesse aspecto, o taoísmo está ligado ao tradicional
símbolo chinês do yin/yang:
Essa polaridade resume todas as oposições básicas da vida: bem/mal,
ativo/passivo, etc. Mas as metades, embora estejam em tensão, se
contemplam e se equilibram com a outra. “A vida não se dobra sobre
si mesma, e chega, completando o círculo, à percepção de que tudo é
um e tudo está bem” (SMITH, 2001, p. 210).
Quer conhecer mais desse conceito? Leia neste link e assista esse
vídeo.
RELIGIÕES ABRAÂMICAS
O que Cristianismo, Judaísmo e Islamismo têm em comum? Seus
seguidores adoram somente um Deus, Senhor e Criador de tudo. As
três religiões possuem origem no patriarca Abraão, por isso também
são chamadas de religiões abraâmicas. Neste capítulo, estudaremos o
Judaísmo e o Islamismo.
JUDAÍSMO
O Judaísmo possui muitas narrativas que são compartilhadas pelo
Cristianismo e Islamismo.
Diáspora e Perseguição
Em 722 a.C., os assírios devastaram Israel, e em 587 a.C, Judá cai sob
domínio babilônico. Os habitantes de Judá tiveram a permissão de
voltar a sua terra em 539 a.C. Daí em diante, passaram a se tornar
conhecidos como judeus. A partir do século IV a.C., a região de Judá é
conquistada pelo Império Romano e em 70 d.C., Jerusalém é destruída
pelos romanos, o que leva o povo judeu a se dispersar pelo mundo. O
povo judeu se dispersa pelo mundo de novo.
Os escritos sagrados
O chamado cânone judaico reconhece 24 livros divididos em três
grupos: - Torah (a Lei de Moisés); - Nevim (os Profetas): os livros
históricos e proféticos; - Ketuvim (os Escritos): os demais livros.
ISLAMISMO
O Islamismo é a religião que mais se expande no mundo e abarca 15%
da população mundial (GAARDER, 1998). Islã, em língua árabe, significa
“submissão”. O muçulmano, aquele que segue o Islã, submete sua vida
à Alá, e tem Mohammed (Maomé) como o grande profeta.
O Islamismo é classificado como uma religião revelada, pois Maomé,
o último e mais importante dos profetas, teria recebido revelações por
meio do anjo Gabriel, que dariam origem ao sagrado livro Corão (do
árabe al qur´rãn, que significa leitura). Por meio deste livro sagrado, o
muçulmano aprende a se submeter a Alá, o Deus onipotente e Criador
de todas as coisas. Etimologicamente, a palavra Alah se relaciona com
a palavra hebraica el, que é utilizada na Bíblia para nomear o Deus dos
hebreus.
Fonte: Pixabay.
A morte e Salvação
Influenciado pelo Cristianismo e pela cultura grega, o Islamismo ensina
que existem dois destinos após a morte: 1- o muçulmano vai ao paraíso
desfrutar dos seus deleites e contemplar o rosto de Alá; e 2- a alma do
infiel vai ao inferno.
REFERÊNCIAS
FLOR, Douglas Moacir. Judaísmo e Islamismo. in: Cultura
Religiosa. Canoas: ULBRA, 2017.
CRÉDITOS
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
INTRODUÇÃO
Em uma das disciplinas cursadas no doutorado, identificamos mais de
20 definições diferentes para a palavra cultura. Obviamente, elas
apresentavam inúmeros elementos comuns, mas também
características distintas. Analisadas a partir de uma certa perspectiva,
cada definição cumpria um papel: sustentar a argumentação do seu
proponente. Nessa tentativa, específicos elementos do conceito
costumam ser destacados de maneira que uma tese possa ser mais
bem articulada.
* Este capítulo considerará o período histórico compreendido entre a vida e obra de Jesus de Nazaré e os movimentos
reformatórios do século XVI. Os últimos cinco séculos de nossa história serão tratados no capítulo capítulo 5, o qual trará um foco
mais específico sobre a religiosidade brasileira.
O CRISTIANISMO E A CULTURA
OCIDENTAL
Essa tese sustenta que, mesmo que a humanidade não seja capaz de
alcançar um estado de perfeição, ela caminhará nessa direção. Esse
senso de futuro, de mudança de status, de algo a ser alcançado,
origina-se da perspectiva judaica e cristã. Nele, o futuro é o verdadeiro
foco da história. No ocidente, esse esquema teleológico ou
escatológico tornou possível que a história se tornasse universal,
dando a ela um significado existencial.
A historicidade de Jesus
No século passado, uma enorme especulação dominava as conversas
ao redor da pergunta: “Jesus realmente existiu”? Em círculos mais
céticos, sua história era encarada como um grande mito religioso, e os
relatos de sua vida como contos fantasiosos recitados por pessoas
ingênuas. No entanto, as pesquisas recentes têm demonstrado que há
consenso em um ponto: Jesus existiu! Se por um lado ainda há
discussão sobre os milagres que marcaram sua história de vida, a
comunidade científica hoje não nega que, há quase dois mil anos,
surgiu na região da palestina um homem que, impactando
profundamente a vida de centenas de pessoas, deu origem a um
movimento religioso que transformou a história do ocidente de tal
maneira que a dividimos em antes e depois de Cristo.
* Algumas opções sugeridas são: “Jesus, a História do Nascimento” (2006, direção de Catherine Hardwicke), “O Filho de Deus”
(2014, direção de Christopher Spencer), “A Paixão de Cristo” (2004, direção de Mel Gibson) ou “A Maior História de Todos os
tempos” (1965, direção de George Stevens).
Ensinamentos
Na época de Jesus, havia vários rabis. Eram como professores, mestres,
procurados por aquelas pessoas que desejavam aprender de sua
sabedoria. Mesmo pelos seus opositores, Jesus foi reconhecido como
rabi. Partindo da realidade dos alunos, ele transmitia mensagens
transformadoras. Grande exemplo disso são suas famosas
“parábolas”.* Com certeza, uma das mais conhecidas e significativas
dessas parábolas é a do Filho Pródigo, a qual muitos preferem chamar
de “A Parábola do Pai Amoroso”. Por quê? Leia o texto de Lucas 15
através deste link e tente responder você mesmo. Além disso, busque
compreender que grande verdade transcendente Jesus ensina através
dessa parábola. Uma dica: um conceito central na interpretação dessa
parábola é a palavra amor.
*Parábola é uma comparação. Nela, faz-se uso de personagens, objetos, lugares, situações do cotidiano das pessoas e, a partir
destes, são feitas comparações que transmitem mensagens transcendentes.
Jesus transmitia mensagens transformadoras.
Na verdade, o conceito de amor pode ser usado para resumir os
ensinamentos de Jesus. Aqui, mais uma vez, percebemos a influência
do cristianismo no pensamento ocidental. Enquanto outras culturas
destacam outros princípios para o viver humano (a cultura japonesa,
marcadamente influenciada pelo Xintoísmo, aponta para a honra
como valor mais nobre, por exemplo), no ocidente, o amor é
reconhecido como o bem supremo na vida e nas relações humanas.
Diante disso, torna-se significativo refletirmos um pouco sobre o que o
amor significa em um sentido bíblico-cristão.
A expansão
Na primeira metade do século I, o Império Romano vivia um período
de relativa prosperidade. A cultura era dominada pelo helenismo e a
religião apresentava diversas formas de politeísmo. Havia segurança
na maioria das estradas que ligavam o Império e era grande a atividade
nos portos. O período ficou conhecido como Pax Romana. Dentro
dessa realidade, os judeus eram um povo que ainda mantinha, em
grande parte, traços distintos. Em geral, seus costumes e religiosidade
os diferenciavam do restante do Império. Muitos deles estavam
espalhados pelo mundo de então, como consequência da diáspora. Foi
nessa realidade que o Cristianismo do Novo Testamento floresceu.
A antiga moeda com duas mãos entrelaçadas representa a busca romana
por harmonia e paz no império. A imagem foi largamente utilizada durante
o período da Pax Romana. Fonte: Wikipedia
A mensagem cristã era transmitida de boca em boca através de
pessoas que, impactadas pela história da ressurreição de Jesus,
comprometiam suas vidas com a causa do Mestre judeu. Seus
seguidores se espalharam pelo mundo romano, e cada novo
convertido tornava-se um multiplicador dos ensinamentos de Jesus.
Entre os inúmeros missionários destaca-se a figura de Paulo. Com sua
vida dando uma volta de 180 graus, torna-se o mais importante
divulgador da mensagem sobre Jesus no mundo não judeu. Sua
incontestável convicção de fé alcançou o centro do Império, Roma.
Com o passar do tempo, o Cristianismo avançava cada vez mais.
Pessoas consideradas inimigas do estado romano, muitas vezes, eram
condenados à tortura ou morte sendo jogados em arenas com feras
selvagens. Esses condenados eram chamados de bestiários.
Fonte: Wikimedia
Alguns por questões religiosas, outros por questões políticas,
percebiam na mensagem de Jesus e no número de seus seguidores
uma ameaça em potencial. Isso ocorreu tanto entre líderes judeus
como entre líderes romanos. Nero, imperador romano, ao acusar os
cristãos pelo incêndio na capital do império (18 a 19 de julho de 64),
deu origem a um longo período de intolerância. O Cristianismo foi
declarado uma religião fora da lei. Seus seguidores eram passíveis de
prisão, tortura, confisco de bens e morte. A intolerância alastrou-se por
três séculos. Nesse período, houve momentos de calmaria e
tranquilidade para os cristãos. Em outros momentos, líderes romanos
promoveram verdadeiros derramamentos de sangue, como é o caso
de Décio e Diocleciano. No entanto, como registrou o historiador
Tertuliano, o sangue dos mártires era uma semente de cristãos.
Quanto mais eram perseguidos, mais aumentava o número daqueles
dos que seguiam a Jesus Cristo.
De perseguidos a perseguidores
Não era mais possível fugir de um fato: o Cristianismo era uma
realidade irreversível. Nações inteiras dentro do império já haviam sido
convertidas. Foi então que uma mistura de convicção religiosa e
interesses políticos causou uma reviravolta na situação do
Cristianismo. Galério iniciou, oficialmente, o processo de mudança. Em
311, ele promulgou um Édito de Tolerância, dando fim à perseguição
iniciada por Diocleciano. Em 313, no ocidente, Constantino fez do
Cristianismo uma religião lícita através do Édito de Milão. Em 380,
Teodósio tornou o Cristianismo a religião oficial do Império Romano
através do Édito de Tessalônica.
A Reforma Luterana
No início do século XVI, o papa Leão X sentia a necessidade de firmar a
autoridade e poder de Roma. Percebia a Igreja Romana enfraquecida
e via na construção da Catedral de São Pedro um movimento
importante naquela direção. Para tanto, precisava de recursos
financeiros, o que motivou a prática da venda de indulgências.
Assista ao documentário "Os caminhos de Lutero." Nele, Rogério
Enachev nos faz conhecer, através de um tour pela Alemanha dos dias
de hoje, elementos importantes da Reforma Luterana.
Naquela época, ensinava-se que a Igreja Romana possuía um “tesouro
de méritos” (boas ações) conquistado através da vida piedosa de Jesus,
Maria, os Santos Apóstolos, entre outros. Esse tesouro poderia ser
transferido para os fiéis da igreja através de uma Carta de Indulgências,
compensando com as boas ações dos santos o castigo que deveria vir
como consequência dos pecados cometidos. A lógica aqui presente
está associada ao Sacramento da Penitência, e pode representar um
conceito difícil para quem não está familiarizado com a teologia
romana. No entanto, grosso modo, a venda dessas Cartas de
Indulgência consistia em venda de perdão dos pecados, ou melhor
dizendo, isenção do mal que cada um deveria sofrer como
consequência do pecado. Era possível comprar indulgências até
mesmo para entes queridos já falecidos, garantindo a saída destes do
purgatório. Essa cultura surgiu durante o período medieval com forte
influência do pensamento religioso que se afastou da Bíblia.
INFOGRÁFICO
REFERÊNCIAS
BLOMBERG, Craig L. The Historical Reliability of the Gospels. Credo
Courses, 2007.
CRÉDITOS
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
INTRODUÇÃO
Neste capítulo, fazemos um corte histórico específico, o qual tem início
em 1500 e segue até os dias de hoje. Além disso, diferentemente do
capítulo anterior, que tratava do Cristianismo em uma perspectiva
mais universal, temos aqui um foco territorial que considera a história
do Brasil. Entre outras coisas, isso significa que não abordaremos a
religiosidade dos povos indígenas da Terra brasilis, termo comumente
utilizado para se referir ao período anterior à chegada dos
colonizadores portugueses ao que hoje chamamos de Brasil.
A REFORMA PROTESTANTE
CHEGOU AO BRASIL?
Tendo criado uma tradição teológica distinta do catolicismo, o
protestantismo é uma importantíssima manifestação da fé cristã. Sua
presença em solo brasileiro, no entanto, é tardia. Mesmo que haja
registros da chegada de um luterano em terras brasileiras em 1532, foi
somente no século XIX que um número mais expressivo de europeus
protestantes aportou no Brasil, em sua maioria fugindo de crises
econômicas e políticas e buscando melhores condições de vida na
américa.
Historiadora revela que a primeira igreja evangélica do Brasil foi criada por
índios da tribo potiguara convertidos por holandeses em
Pernambuco. Fonte: Wikimedia. Clique aqui para saber mais.
Também vieram ao Brasil cristãos de tradição protestante oriundos
dos Estados Unidos, os quais tinham como objetivo a adaptação à
cultura brasileira e o crescimento da fé cristã protestante em nosso
território. Eles já traziam em sua bagagem a experiência com
movimentos de renovação e avivamento ocorridos nos Estados
Unidos, os quais haviam trazido características próprias a esses grupos
de protestantes. Eles eram, em sua maioria, de origem batista,
presbiteriana, metodista e episcopal. Estavam mais abertos à cultura
do país e buscavam trazer para a fé cristã protestante o maior número
de pessoas possível.
OS MOVIMENTOS
PENTECOSTAL E
NEOPENTECOSTAL
O pentecostalismo surge nos Estados Unidos e chega ao Brasil no início
do século XX. Caracteriza-se por celebrações fervorosas, que buscam
evidenciar de maneira externa, visível, a presença do Espírito Santo em
cada crente. Logo no início, seus cultos traziam uma grande ênfase na
glossolalia, também conhecida como o dom de falar em línguas
estranhas. Tal prática era percebida como um sinal visível da presença
de Deus Espírito Santo na vida das pessoas. A ênfase nos dons do
Espírito e na glossolalia remetiam esse movimento ao evento bíblico
conhecido como o Dia de Pentecostes. Assim, ele passou a ser
conhecido como pentecostalismo.
O Pentecostes era uma festa judaica que ocorria 50 dias após a festa da
Páscoa celebrando as colheitas. De acordo com o Novo Testamento, nessa
festa, 50 dias depois da ressurreição de Jesus, o Espírito Santo desceu sobre
os discípulos em forma de “línguas de fogo” trazendo, entre outras coisas,
o dom de anunciar a mensagem de Jesus em várias línguas.
Fonte: Wikimedia
Se espalhando por todo Brasil, especialmente a partir do trabalho da
Igreja Assembleia de Deus, que teve origem no estado do Pará, o
pentecostalismo se diversificou grandemente, atraindo inúmeros
adeptos. Essa diversificação deu origem ao movimento neopentecostal
que, mantendo a ênfase nos dons do Espírito Santo, desenvolveu um
discurso mais voltado para a cura. Além disso, as pregações de seus
líderes apontam para a mudança no status socioeconômico de uma
pessoa como uma evidenciação da presença de Deus em sua vida, o
que dá origem à chamada teologia da prosperidade. A Igreja Universal
do Reino de Deus se torna a grande representante desse movimento,
fortalecido por inúmeras outras denominações que acabaram
surgindo, como a Igreja Internacional da Graça de Deus, Renascer em
Cristo e Igreja Mundial do Poder de Deus. É a partir daí que surgem
figuras de reconhecimento nacional como Edir Macedo, R. R. Soares e
Valdemiro Santiago.
CULTOS AFRO-BRASILEIROS
Durantes os séculos XVI, XVII e XVIII o mundo viveu a maior migração
forçada de pessoas de sua história, também conhecida como diáspora
africana. Apesar de os números não serem precisos, acredita-se que
mais de 10 milhões de africanos, das mais diversas tribos e nações,
foram capturados e trazidos para as américas. A maior parte deles
aportou no Brasil, e aqui foram escravizados. Obviamente, essas
pessoas trouxeram consigo sua identidade religiosa e cultural e, no
meio de inúmeras adversidades, buscavam achar seu caminho em
uma terra estranha e inóspita.
ESPIRITISMO KARDECISTA
O espiritismo kardecista teve origem na França no séc. XIX com Leon
Hippolyte Denizard Rivail, mais conhecido como Allan Kardec. Kardec
seria, na verdade, um espírito iluminado que revelou através de Leon
a doutrina espírita. O espiritismo kardecista apresenta-se como um
movimento científico, filosófico e religioso, que busca através da
racionalidade evidenciar a existência de uma realidade que transcende
a matéria.
INFOGRÁFICO
REFERÊNCIAS
[1] “Vocês têm Deus brasileiro, também querem um Papa?” Portal
G1, acessado em 12. out.2019
INTRODUÇÃO
A humanidade é a única espécie ética no planeta, pois somente o ser
humano tem a capacidade de avaliar e julgar suas ações buscando
saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas. Cortella
escreve: “Só é possível falar em ética quando falamos em seres
humanos, porque ética pressupõe a capacidade de decidir, julgar,
avaliar com autonomia. Portanto, pressupõe liberdade.” (Cortella,
Mario Sergio. Qual é a tua obra? . Editora Vozes. Edição do Kindle. pos.
1043)
ÉTICA E MORAL
As palavras ética e moral, embora usadas muitas vezes como
sinônimos, possuem significados distintos. Apesar de não haver
consenso sobre a exata diferença entre os dois conceitos, para fins de
aprendizagem, podemos estabelecer a seguinte conceituação: A ética
trata dos princípios e valores que orientam a conduta de uma pessoa.
A moral é a prática dessa conduta ética. A ética trata dos princípios e a
moral da prática baseada nesses princípios. Por exemplo, você pode
ter um princípio ético de “preservar a vida humana”. E no dia-a-dia,
você aplica esse princípio na prática moral ao ajudar uma pessoa em
necessidade.
“Os latinos tinham uma expressão para “eu” que era ego. E usavam
duas para falar de não eu: uma é alter, que significa “o outro”, mas
usavam também alius, para indicar “o estranho”. Palavras em
português que vêm de alius: “alienado”, “alheio”, “alien”, “alienígena”.
Nos filmes de faroeste mais antigos, o nome que se dava para quem
não era daquele lugar era “forasteiro”, “estrangeiro”. Aliás, em inglês se
usa isso até hoje: stranger ou foreigner. Aquele que não é daqui, aquele
que não é como nós, aquele que é, talvez, menos. Visão de alteridade
é a capacidade de ver o outro como outro, e não como estranho. Há
pessoas que só conseguem olhar o outro como estranho, e não como
outro.
VALORES
O ser humano toma decisões com base em sua escala de valores. Por
exemplo, o presidente de um país escolhe enviar seus soldados à
guerra, pois na escala de valores dele “defender a pátria” está acima do
“não arriscar a vida dos soldados”. Outro exemplo é o pastor
Bonhoeffer que transgride leis para ajudar judeus a escaparem da
Alemanha nazista, pois na escala de valores dele “ajudar o próximo”
estava acima de “obedecer às leis do governo”.
CONSCIÊNCIA
A consciência desempenha um papel importante no sentido de coibir
ou incentivar a tomada de determinada decisão a partir de algum valor.
Consciência é a capacidade que temos de reagir ao certo ou ao errado,
a partir daqueles que são os nossos valores mais importantes.
Há, pelo menos, três respostas a essa questão: uma que afirma que o
ser humano já nasce tendo consciência; outra que diz ser ela imposta
pelo ambiente externo, ou seja, o ser humano e, consequentemente,
sua consciência, é moldado ao longo do tempo pelas condições
culturais externas; uma última, ainda, considera que o ser humano já
nasce com consciência, mas ela também recebe informações e
influência externas, sofrendo modificações ao longo do tempo.
ÉTICA RELIGIOSA
Vimos que a forma como organizamos nossa escala de valores ajuda a
determinar nossas escolhas. Mas, como uma pessoa constrói sua
escala de valores?
ÉTICA CRISTÃ
Jesus amplia a regra de ouro e ensina também o amor aos inimigos,
algo possível somente a partir do próprio amor de Deus em nós.
Conforme escreve João: “Nós amamos, porque Deus nos amou
primeiro.” Veja o vídeo:
Jesus ensina a amar os inimigos.
A chave para se compreender a ética cristã é o próprio amor de Deus,
que se revela nos seguintes pontos: a dança da Criação, queda em
pecado e a redenção da humanidade.
DANÇA DA CRIAÇÃO
Na teologia cristã, a Trindade mutuamente se relaciona em amor,
mesmo antes da Criação do mundo. Como fruto desse amor trinitário
e divino, o Deus Triúno cria o Universo e o ser humano. Isso significa
que, teologicamente falando, o ser humano foi criado para se
relacionar com Deus e uns com os outros. Em outras palavras, estamos
no mundo para amar e ser amado.
REDENÇÃO EM CRISTO
Se por um lado a perspectiva ética cristã tem como um de seus
princípios o fracasso humano em viver e agir de maneira correta de
acordo com o plano original de Deus, por outro lado, a ética cristã
também tem como princípio a fé na restauração, ainda que incompleta
aqui neste mundo, dessa capacidade de tentar viver de acordo com o
plano do Criador, de se buscar um comportamento que reflita o amor
a Deus, aos outros seres humanos e a toda a criação.
Fonte: Pxhere.
E essa restauração não é resultado de nenhum esforço ou exercício
ético humano, mas é uma iniciativa e ação do próprio Criador. A fé
cristã aponta para Cristo como redentor da humanidade. Conforme o
apóstolo Paulo ensina, Jesus, o Filho de Deus, esvazia-se e assume a
forma humana para morrer na cruz em lugar de toda a humanidade.
Por meio da morte de Jesus, o ser humano é reintegrado à dança da
Trindade.
FÉ ATIVA NO AMOR
Assim, a partir de amor de Deus, revelado em Cristo, o ser humano,
apesar de continuar imperfeito, é capacitado a amar a Deus e a amar
ao próximo, assumindo atitudes éticas pautadas no amor. Essas
atitudes são descritas nos Dez Mandamentos como orientações para a
vida humana movida pelo amor a Deus. Os primeiros três
mandamentos tratam da relação entre indivíduo e Deus. Os demais
mandamentos refletem sobre a relação entre os seres humanos.
Vamos ao texto dos mandamentos:
ÉTICA CRISTÃ APLICADA
Os cristãos estão cientes de que, hoje, grande parte da população,
senão a maioria, dentro de suas liberdades individuais, não faz parte
do cristianismo. Ainda assim, os cristãos entendem que seus princípios
éticos baseados no amor a Deus e ao próximo podem contribuir na
busca do chamado “bem comum”.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
A ética cristã prescreve que, por amor, a pessoa cristã procura exercer
sua responsabilidade em quatro esferas:
1- para com sua própria vida – cuidando de sua própria saúde física
e mental, grato a Deus pelo dom da vida que recebeu;
Clicando nos links abaixo você pode ver como a ética cristã lida com os
seguintes assuntos:
BIOÉTICA
ABORTO
EUTANÁSIA
PENA DE MORTE
SUSTENTABILIDADE
INFOGRÁFICO
REFERÊNCIAS
CORTELLA, Mário Sérgio. Qual é tua obra? São Paulo: Vozes, 2015.
WARTH, Martim Carlos. A ética de cada dia. Canoas: Ed. ULBRA, 2002.
VALLS, Álvaro L.M. O que é ética. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
CRÉDITOS
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado