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RESUMO
O artigo tem por finalidade analisar os documentos da patrística de uma forma analítica e
conduzir uma reflexão acerca da atuação dos dons espirituais nesse período. Considero
esse período de grande importância para a discussão da atualidade dos dons espirituais,
pois é ali onde os Cessacionistas afirmam cessar os dons espirituais. O principal objetivo
desse artigo é entender que os dons espirituais sempre estiveram presentes no seio da
igreja. Essa reflexão trará informações relevantes acerca de como os pais apostólicos viam
à atuação dos dons espirituais, expondo as ideias dos principais representantes dos pais
apostólicos e suas visões pneumatológicas.
ABSTRACT
The article has the criterion of patristic documents in an analytical way and to conduct a
reflection on the performance of spiritual gifts in this period. I consider this period of great
importance for the discussion of the actuality of spiritual gifts, as this is where cessationists
claim to cease spiritual gifts. The main purpose of this article is the sense that spiritual gifts
have always been present within the church. This reflection will bring relevant information
about how the apostolic parents saw the performance of spiritual gifts, exposing the ideas of
the main representatives of the apostolic parents and their pneumatological views.
1
Ministro do Evangelho, Bacharel em Teologia (Universidade Cruzeiro do Sul), extensão em Homilética
pela (Faculdade Batista FABAPAR do Paraná), extensão História da Igreja: origem à Reforma pela
(Universidade Cruzeiro do Sul), Doutrinas Bíblicas (Faculdade Batista Pioneira), Direitos Humanos
(Universidade Católica de Brasília), Didática do Ensino Superior (Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia). Áreas de pesquisa: Literatura Bíblica, exegese, História da igreja, Línguas de Religião e
Hermenêutica Pentecostal.
1 INTRODUÇÃO
2 Todas as referências bíblicas nesse trabalho foram retiradas da Versão Almeida Corrigida Fiel.
escritos nos céus (Lc 10:19,20).
Pelo menos 108 pessoas entre as quase 120 que estavam reunidas no cenáculo no
dia de Pentecostes receberam o dom do batismo com o Espírito Santo, isso porque não
vamos enumerar os apóstolos. “E naqueles dias, levantando-se Pedro no meio dos
discípulos (ora a multidão junta era de quase cento e vinte pessoas)” (At 1:15).
E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no
mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento
veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam
assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo,
as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito
Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo
lhes concedia que falassem (At 2:1-4).
Membros da igreja em Antioquia:
E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a
saber: Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém,
que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao
Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a
Saulo para a obra a que os tenho chamado (At 13:1,2).
Entre os convertidos anônimos de Éfeso: “E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio
sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam”. (At 19:6). Também entre
as mulheres cristãs de Cesareia:
E no dia seguinte, partindo dali Paulo, e nós que com ele estávamos,
chegamos a Cesaréia; e, entrando em casa de Filipe, o evangelista, que
era um dos sete, ficamos com ele. E tinha este quatro filhas virgens, que
profetizavam (At 21:8,9).
Entre os irmãos não identificados de Gálatas:
Aquele, pois, que vos dá o Espírito, e que opera maravilhas entre vós, o
faz pelas obras da lei, ou pela pregação da fé? (Gl 3:5).
Entre os irmãos em Roma:
De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada,
se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; Se é ministério, seja em
ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; Ou o que exorta, use
esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que
preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria. (Rm
12:6-8).
Entre os crentes de Corinto: ―De maneira que nenhum dom vos falta, esperando
a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo. (1 Co 1:7); Entre os cristãos em
Tessalônica ―Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias (ACF, 1Ts 5:19,20).
Devemos também tomar nota de 1 Coríntios 13:8-12 Aqui Paulo afirma que os
dons espirituais não "passarão" (vv. 8-10) até a vinda do que é "perfeitos". Se o "perfeito"
é de fato a consumação dos propósitos redentores de Deus expressos no novo céu e
nova terra após a volta de Cristo, podemos esperar que ele continue abençoando e
capacitando sua igreja com os dons até aquele momento.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo
línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em parte,
conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito,
então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava
como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo
que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque
agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face;
agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou
conhecido (1Co 13:8-12).
Um ponto semelhante é apresentado em Efésios 4: 11-13. Ali Paulo fala dos dons
espirituais (junto com o ofício de apóstolo) - e em particular os dons de profecia,
evangelismo, pastor e mestre - como edificação da igreja ―até que todos alcancem a
unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, à maturidade dos homens, à medida
da estatura da plenitude de Cristo (v. 13). Visto que este último com certeza ainda não
foi alcançado pela igreja, podemos prever com segurança a presença e o poder de tais
dons até que esse dia chegue.
Assim como, praticamente, toda teologia é fruto do seu tempo; em relação aos
Pais da Igreja, não poderiam ser diferentes. Toda teologia, de alguma forma, denuncia
seu contexto, suas discussões, seus problemas vividos, suas histórias, controvérsias etc.
Tal teologia, portanto, se manifesta sintomática às suas circunstâncias. Sendo assim faz-
se temerário pensarmos, a partir dos pais, em uma teologia dogmática ou sistematizada
acerca de alguma doutrina.
Os pais apostólicos foram os primeiros depois dos apóstolos a se posicionarem e
darem testemunho escrito das doutrinas basilares do cristianismo. Kelly salienta que eles
não eram necessariamente intérpretes que se esforçavam a todo custo por desenvolver
ou mesmo compreender os pilares da fé cristã. Aliás, suas ações muitas vezes
demandavam certo grau de ingenuidade, pois não havia uma homogeneidade entre eles
a despeito das bases sobre as quais sua teologia estava sendo fundamentada ( KELLY,
1994, p. 22)
Os escritos neotestamentário não haviam dado, de forma direta, todas as
respostas que os cristãos precisavam. Assim, mesmo que os escritos apostólicos
contivessem todas as doutrinas essenciais da fé cristã, elas ainda não haviam sido
organizadas de maneira sistemática, de modo que os que vieram posteriormente não
tinham todas as definições tão claras ao seu alcance. Esta foi uma das principais razões
para o surgimento de diferentes interpretações por parte daqueles que sucederam os
apóstolos.
O período patrístico também foi importante para delimitar o espaço entre judaísmo
e o cristianismo. Algumas questões teológicas, como o fim da prática da circuncisão,
4 A PNEUMATOLOGIA NA PATRÍSTICA
4.1 NA DIDAQUÉ
A Didaqué, também chamada de Ensino dos Doze, estudiosos estima que sejam
escritos anteriores à destruição do templo de Jerusalém, entre os anos 60 e 70 d.C.
Outros estimam que foi escrito entre os anos 70 e 90 d.C., contudo são unânimes quanto
à origem sendo na Palestina ou Síria. Willy Rordorf, ― a Didaqué é uma "compilação
anônima de diversas fontes derivadas da tradição viva, de comunidades eclesiais bem
definidas (RORDORF, 2002), portanto a questão da datação equivale à questão das
datas das tradições ali registradas, que indubitavelmente remontariam ao século I d. C.
Quanto à sua autenticidade, é de senso comum que ele não tenha sido escrito
pelos doze apóstolos, ainda que o título do escrito lhes faça menção. Contudo,
estudiosos acreditam na compilação de fontes orais tendo recebido os ensinamentos
que resultaram na elaboração do texto. Também é senso comum que tenha sido escrito
por mais de uma pessoa.
O texto foi mencionado por escritores antigos, inclusive por Eusébio de
Cesaréia que viveu no século III, em seu livro "História Eclesiástica", mas
a descoberta desse manuscrito, na íntegra, em grego, num códice do
século XI (ano 1056) ocorreu somente em 1873 num mosteiro em
Constantinopla, o chamado Códex Hierosolimitanos” (BRYENNIOSs,
2008)
A Didaqué refere-se ao Espírito Santo apenas duas vezes e contexto das
instruções batismais:
Quanto ao batismo procede assim: depois de ditas estas coisas, batizem
em água correte, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Se você
não tem água corrente, batize em outra água, se não puder batizar em
água fria, faça-o em água quente. Na falta de uma e outra, derrame três
vezes água sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo (1995, p. 202).
Embora não haja outras referências direta ao Espírito Santo, sua atuação está
implícita nos versos 7, 8, 9 e 12 dos capítulos XI, ao tratar do profeta que fala sob
inspiração e do pecado imperdoável que, segundo os Sinóticos, é o pecado contra o
Espírito Santo. O verso sete diz: ―Não coloquem à prova nem juguem um profeta que
fala sob inspiração, pois todo pecado será perdoado, mas este não será perdoado (1995,
p. 202). Contudo, o didaquista aponta alguns critérios para se distinguir os verdadeiros
apóstolos e profetas dos falsos:
Quanto aos apóstolos e profetas, procedam conforme o princípio do
evangelho. Todo apostolo que vem até vocês sejam recebidos como o
Senhor. Ele deverá ficar mais de um dia ou, se necessário, mais outro.
Se ficar três dias, é um falso profeta. Ao partir, o apostolo não deve levar
nada, a não ser o pão necessário até o lugar em que for parar. Se pedir
dinheiro é um falso profeta (1995, p. 204).
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
8 REFERÊNCIAS