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HISTÓRIA DA IGREJA II

Era Patrística

QUEM SÃO OS PAIS


DA IGREJA E POR QUE
PRECISAMOS
DELES?
Aula 1

Na “História da Igreja II” veremos um momento de transição da Igre-


ja, com bem menos perseguições, mas muitas heresias. Além disso,
pontos positivos e negativos acontecerão, nesse período, que in-
fluenciarão a Igreja mais adiante.
Fazendo uma breve revisão do período O
NOVO
anterior – a igreja cristã primitiva – es- TESTAMENTO
tudamos o surgimento da Igreja após DIZ QUE A LEI
a morte e ascensão de Jesus, com a DADA A MOISÉS
descida do Espírito Santo, formando a É PASSAGEIRA,
primeira comunidade em Jerusalém, regis- MAS NÃO DIZ
QUE TODO O
trada no livro de Atos. A partir dos relatos
ANTIGO
de Atos, entramos em um momento cha- TESTAMENTO
mado de “igreja apostólica”. É PASSAGEIRO.

Relembrando:
Igreja apostólica: usamos esse nome para falar dessa fase onde a igreja
ainda estava muito próxima ao legado dos apóstolos.

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Era Patrística

Essa é uma fase pouco conhecida, pois não há muitos relatos


sobre o que acontece com a igreja depois da morte dos apóstolos.
Sabemos que é uma fase de dura perseguição, de mudanças no
governo e na teologia da igreja.

DIFERENÇAS ENTRE PAIS APOSTÓLICOS


E PAIS DA IGREJA
• Documentos Pós-apostólico ou Pais Apostólicos:
• Sãos os documentos mais antigos, depois dos escritos do
Novo Testamento.
• Foram escritos por uma geração, depois dos apóstolos da
Bíblia.
• Chamados de “pós-apostólico” ou “pais apostólicos”, por
estarem próximos dos apóstolos.
• Eles eram líderes da época, uma espécie de “pastores”.
Lideravam e cuidavam da igreja nessa fase.
• É através de seus escritos que temos acesso aos
acontecimentos daquela época.

• Pais da Igreja
• São os líderes que aparecem na história da igreja.
• Normalmente são pastores, bispos ou grandes teólogos,
responsáveis por grandes mudanças.
• São os maiores responsáveis pelas doutrinas e teologia
da Igreja.
• Muitos são apologistas (Justino Mártir, Atenágoras de Ate-
nas, Teófilo de Antioquia).

Com a expansão do império Romano, que ainda era o poder polí-


tico, bélico e cultural da época (como veremos no mapa abaixo),
cresce o número de territórios que serão “cristianizados”, principal-
mente, após Constantino se tornar imperador de Roma. Então, nes-
ta transição de fases da História da Igreja, veremos mais regiões
terem grande importância no desenvolver da fé cristã.

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Era Patrística

ERA PATRÍSTICA
A era patrística constitui um extenso período da história

PAIS DA IGREJA = ERA PATRÍSTICA


(Outros termos = patrologia, patrística, padres ou pais da igreja)
Apesar da Era Patrística ser um período importante, entre a maioria
dos cristãos sabe-se muito pouco a seu respeito. Há uma tendência
de rejeitá-lo obtendo, assim, pouquíssimo estudo ou aprofundamen-
to nesse período do nosso passado. A resposta a esta negligência é
que alguns dos “pais da igreja” são considerados “santos” na igreja
Católica, e também por acreditarem que eles a fundamentaram.
No livro “Redescobrindo os Pais da Igreja”, de Michael Haykin, diz
que muitos evangélicos hoje, por serem “anticatólicos”, se tornaram
“anti-intelectuais” e “anti-tradições históricas” e com isso perdemos
muito de nossa história.

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Motivos pelos quais precisamos estudar os pais da Igreja

“O estudo dos pais da igreja, como o estudo da história


da igreja em geral, informa os cristãos sobre os seus
predecessores na fé, aqueles que ajudaram a moldar
suas comunidades cristãs e, assim, as tornaram o que
elas são” - Michael A. G. Hykin

“Lembrai-vos dos vossos líderes, que vos pregaram a


palavra de Deus; observando-lhes atentamente o re-
sultado da vida, imitai-lhes a fé.” (Hebreus 13.7 – A21)
1. Estudá-los é praticamente a mesma coisa que estudar o desen-
volvimento das principais doutrinas cristãs.
2. Muitos dos grandes pensadores da Reforma, que costumamos
estudar como Lutero, Calvino (ou até mesmo John Owen), têm
suas obras e pensamentos baseados nos escritos dos pais da
Igreja. Por exemplo, muito do que Lutero vai falar é inspirado
nas obras de Agostinho. Então muito da teologia e da doutrina,
que conhecemos hoje, surgiu lá atrás com os pais da igreja.
3. Há muito tesouro escondido no que falavam que nos ajuda-
riam nos dias de hoje. Os pais da Igreja eram mestres da teolo-
gia e a maioria deles surgiu numa época quando a igreja estava
sendo bombardeada com muitas heresias e acusações. Grande
parte do que escreveram era para preservar a fé. Muito dos
seus escritos teológicos são relevantes para nós, hoje.
Por exemplo:
• Justino, o mártir – considerado o primeiro apologeta. Escreveu
“Diálogo com Trifo” – uma obra convencendo um judeu que
Jesus era o Messias.
• Orígenes – um dos primeiros a escrever sobre o livro de Canta-
res e enxergar aquela poesia como uma alegoria de Jesus e a
igreja.
• Atanásio – defende a divindade de Jesus.
• Agostinho – fala sobre o pecado e o poder da graça na vida de
um cristão.
• João Damasceno – escreve contra o Islamismo em “Diálogo en-
tre um sarraceno e um cristão”. Também defende a trindade e
a divindade de Cristo.

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Estes são assuntos extremamente relevantes para os dias de hoje,


por isso, a importância de ler cada um deles.

4. Possibilitam enxergar a história da igreja de uma forma mais


real e humana. Ou seja, é o momento da Igreja em que dois
estudos importantes se encontram:

História Geral da Igreja + História do Pensamento Cristão


(os fatos) (história da teologia)

Ao estudar a história de uma doutrina, isso ajuda a perceber como e


porque ela surgiu, bem como as suas implicações e contexto. Cada
um desses homens tinham desafios em sua época e é muito impor-
tante percebê-los em seus contextos históricos. Suas vidas e obras
nos ajudam a entender melhor as épocas da igreja.
Exemplo:
Para entender bem sobre a fase de perseguição da igreja, os relatos
no livro de Atos não nos fornecer muitos detalhes (mostram apenas
um pequeno período inicial), por isso, a importância de ler a história
e obras de Policarpo de Esmirna ou de Inácio de Antioquia.
Por que surgiram?

“Preserva o modelo das sãs palavras que de mim ou-


viste na fé e no amor que estão em Cristo Jesus; guar-
da o bom tesouro com o auxílio do Espírito Santo, que
habita em nós.” (2 Tm 1.13,14 – A21)

Toda a história do povo de Israel e do Antigo Testamento cresce ao


redor da Palavra escrita, ou seja, da Lei. É muito forte a tradição do
ensino passado para as gerações através de registros e documen-
tos. De igual forma, os apóstolos faziam no Novo Testamento atra-
vés de cartas, pois tinham preocupação em conservar a sã doutrina.
E como no tempo de Atos, principalmente depois da morte dos
apóstolos, a Igreja enfrenta uma fase de sérias provações. Grandes
heresias e falsas doutrinas se levantavam com força naquela época.
Influência grega e também pagã rondam perigosamente as verda-
des e doutrinas bíblicas. Muitos foram os desafios dessa época que
resultaram no surgimento dos Pais da Igreja. Veja a seguir:

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DESAFIOS:

• Estado contra a igreja (perseguição);


• Surgem calúnias contra os cristãos;
• Surgimento de heresias;
• Aumenta o número de cristãos (muitas conversões);
• Desafios culturais.

RESULTADO:

• Estabelecimento de um governo da igreja mais organizado


(bispo singular);

• Surgimento e desenvolvimento dos Pais da Igreja;

• Preocupação em preservar o “bom depósito da fé”.

Características gerais

• São as gerações posteriores aos apóstolos bíblicos.

• Normalmente eram bispos de uma localidade.

• Foram grandes mestres. A maioria dos pais da Igreja era


ex-filósofos convertidos ao cristianismo. Conhecemos sobre
eles por causa dos escritos que deixaram.

• Curiosidade: é possível que nessa época houvesse atuação


de mulheres ou de outros homens com outras habilidades,
mas essas informações não chegam a nós, pois a História é
escrita através de documentos que são divulgados.

• Seguiam o estilo literário dos apóstolos.

• Seus escritos eram basicamente para a edificação pastoral,


prática da igreja e, principalmente, para defesa da fé contra
mentiras e heresias.

• Em uma época anterior à oficialização do cânon, usavam


bastante o Antigo Testamento e, principalmente, os escritos
dos apóstolos (Novo Testamento). Referiam-se a eles como
“palavra de Deus”.

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“Os ‘Pais da Igreja’ são, portanto, aqueles que, ao longo dos sete
primeiros séculos, foram forjando, construindo e defendendo a fé, a
liturgia, a disciplina, os costumes, e os dogmas cristãos, decidindo,
assim, os rumos da Igreja”.

Trecho de apresentação da Coleção Patrística, Editora Paulus.

Legado deixado por eles 1


• Defenderam o evangelho de heresias e enganos.
• Escreveram comentários abrangentes sobre a Bíblia.
• Publicaram sermões.
• Desenvolveram significado dos credos.
• Registraram a história da Igreja.
• Relacionaram a fé cristã com o melhor pensamento de sua
época.
Assim, esses homens foram de suma importância no período pós-
-pais apostólicos, para fundamentar os pilares práticos e doutriná-
rios da Igreja.

Ponderações a respeito deles


• É incrível perceber que já naquela época, eles eram homens
dotados de grande sabedoria e iluminação das Escrituras.
Eram pensadores avançados para o seu tempo. Como por
exemplo, o entendimento claro e profundo que tinham a
respeito do ministério e encarnação de Cristo.
• É um período onde há variedade de opiniões, logo não há
uma teologia heterogênea. Isso é possível por ser uma época
de formação e fundamentação da igreja.
• Os pais da igreja não são heróis, sem erros e defeitos. En-
contraremos diversas linhas. Alguns serão mais ortodoxos e
outros não. Podemos dizer até que alguns foram responsá-
veis por várias heresias que atingem até mesmo a igreja de
nossos dias.

1
Extraído de “Redescobrindo os Pais da Igreja”, de Michael Haykin

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Diante disso, como devemos nos relacionar com os Pais da Igreja?


• Precisamos entender que eles não são homens livres de
erros. É importante enfatizar que não são infalíveis.
• Seus escritos e obras não estão em pé de igualdade com as
Escrituras, ou seja, não possuem o mesmo peso que a Bíblia.
• Michael Haykin usa uma frase interessante ao falar sobre os
Pais da Igreja: “... eles são companheiros experientes sobre
as Escrituras.”. Nós podemos e devemos ouvi-los, mas en-
tendendo que podem errar. Devemos lê-los, mas sempre os
subjugando às Escrituras.
• É possível que um pai da igreja esteja certo sobre uma doutri-
na e errado sobre outra. Portanto, não devemos aceitar tudo
como verdade só por saber que foi escrito por um deles.
Este ponto é extremamente importante, porque é o que nos
diferencia dos católicos romanos.

CONHEÇA ALGUNS DOS GRANDES


PAIS DA IGREJA

CLEMENTE DE ROMA (35 -100)


O
NOVO • É o primeiro Pai da Igreja.
TESTAMENTO
DIZ QUE A LEI • Relator da morte de Paulo e Pedro.
DADA A MOISÉS
É PASSAGEIRA,
• Sua mais famosa obra, também considera-
MAS NÃO DIZ
QUE TODO O da a mais antiga fora do Novo Testamento,
ANTIGO é uma carta à igreja de corinto, conhecida
TESTAMENTO como "Clemente 1".
É PASSAGEIRO.

“A igreja de Deus que se reúne em Roma para a igreja


de Deus em Corinto, aos que são chamados e san-
tificados pela vontade de Deus, por meio de nosso
Senhor Jesus Cristo: Graça e paz a vocês do altíssimo
Deus por meio de Cristo” – (I Clemente 1.1)

“Vamos olhar fixamente para o sangue de Cristo, e


ver como que o sangue é precioso para Deus, sangue

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que foi derramado para nossa salvação, e estabele-


ceu a graça do arrependimento diante do mundo in-
teiro” (1 Clemente 7.4)

INÁCIO DE ANTIOQUIA (35 - 110)


• Era bispo em Antioquia.
• Escreveu sete cartas: Policarpo de Esmir-
na, Efésios, Esmirniotas, Filadélfos, Magné-
sios, Romanos e aos Trálios.
• Foi martirizado, sendo devorado por
leões no Coliseu, em Roma.

“Escrevo a todas as Igrejas e anuncio


a todos que, de boa vontade, morro
por Deus, caso vós não me impeçais de o fazer. Eu vos
suplico que não tenhais benevolência inoportuna por
mim. Deixai que eu seja pasto das feras, por meio das
quais me é concedido alcançar a Deus.”

POLICARPO DE ESMIRNA (69 - 155)


• Foi discípulo do apóstolo João, por isso, é con-
siderado o último elo da igreja apostólica.
• Nascido em Esmirna na Ásia Menor, atual Tur-
quia.
• Segundo relatos de cristãos que acompanha-
ram seu martírio, após sentenciado a ser quei-
mado até a morte, colocaram fogo em Policar-
po, mas o fogo não o atingiu. Foi necessário que um soldado o ma-
tasse com uma espada, e ao fazer isso o soldado se queimou com
o fogo que estava ao redor do bispo.
Em sua mais famosa frase, após ser persuadido a adorar a César e
negar a sua fé para evitar o martírio, ele disse:

“Eu tenho servido Cristo por 86 anos e ele nunca me


fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu
Rei que me salvou? Eu sou um crente”!

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IRINEU DE LYON (130 - 202)


• Lutou contra heresias da época, principal-
mente o gnosticismo.
• Sua obra mais famosa é chamada “Contra he-
resias”.
• É considerado o primeiro teólogo sistemático
da igreja.

“Já temos mostrado que o Verbo, isto é, o Filho este-


ve sempre com o Pai. Mas também a Sabedoria, o
Espírito estava igualmente junto dele antes de toda a
criação” (Contra as Heresias IV 20,4).

TERTULIANO (150 - 220)


• Atuou como advogado da igreja diante das
autoridades romanas e, dessa forma, defen-
deu a fé cristã contra diversas heresias.
• Seus principais escritos foram: Apologia, a
prescrição contra os hereges, Contra Marcião,
Contra Praxeas (onde, pela primeira vez, é usada a palavra “Trinda-
de”) e O Testemunho da Alma.
• Era muito rigoroso e disciplinado, com isso rompeu com a igreja e
acabou por abraçar a heresia do montanismo.

“Você quer ser feliz por um instante? Vingue-se. Você


quer ser feliz para sempre? Perdoe.”

CIPRIANO DE CARTAGO (210 - 258)


• Primeiro bispo africano mártir, foi degolado
em 258.
• Debateu com o Bispo de Roma, Estêvão,
sobre a validez do batismo administrado aos
pagãos por cristãos hereges.
• Teve que lidar com o problema dos crisãos
que renegaram a sua fé diante da persegui-
ção e queriam voltar para a Igreja, após a perseguição de 248.

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Descrição que ele mesmo fez de sua conversão:

“Quando ainda jazia como que numa noite escura,


parecia-me extremamente difícil e cansativo realizar
o que a misericórdia de Deus me propunha… Estava
ligado a muitíssimos erros da minha vida passada, e
não pensava que me podia libertar, porque cedia aos
vícios e favorecia os meus maus desejos… Mas depois,
com a ajuda da água regeneradora, foi lavada a mi-
séria da minha vida precedente; uma luz soberana
difundiu-se no meu coração; um segundo nascimen-
to restaurou-me num ser totalmente novo. De modo
maravilhoso começou então a dissipar-se qualquer
dúvida… Compreendia claramente que era terreno o
que antes vivia em mim, na escravidão dos vícios da
carne, e era ao contrário divino e celeste o que o Es-
pírito Santo já tinha gerado em mim”

CLEMENTE DE ALEXANDRIA (150 - 215)


• Foi um dos grandes filósofos, grande conhe
cedor da cultura e pensamento grego, buscou
combater o uso de mitologias com a busca filo-
sófica pela verdade.
• Foi o grande responsável pela helenização do
cristianismo, ou seja, o cristianismo com base na
filosofia grega.
• Sua principal obra é denominada: “Exortação aos gregos”.

“[...] se tu queres, recebe, tu também, a iniciação e


tomarás parte no coro dos anjos em torno de Deus,
enquanto o Logos de Deus se unirá a nossos hinos.
Este é o eterno Jesus, o único grande sacerdote do
Deus único que também é seu pai; ele ora pelos ho-
mens e os exorta: ‘Escutai, tribos inumeráveis’, mais
ainda aqueles dentre os homens racionais, bárbaros e
gregos; eu chamo toda a raça humana, eu, que sou o
criador pela vontade do Pai.” (Exortação aos Gregos,
XII 120, 02)

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ORÍGENES DE ALEXANDRIA (185 - 253)


• Escreveu quase seis mil obras.
• É considerado o pai fundador da alegoria na
igreja.
• É um dos criadores da heresia chamada “su-
bordinacionismo”, que dizia que Jesus é eter-
namente submisso ao Pai. E também é consi-
derado fundador do universalismo.

“Este cordeiro imolado se tornou realmente, de acor-


do com certas razões inefáveis, uma purificação para
todo o mundo em favor do qual, seguindo o plano
amoroso do Pai, ele aceitou a imolação, resgatando-
-nos por seu sangue daquele que chegou a possuir-
-nos (ou seja, Satanás), quando fomos vendidos como
escravos por causa de nosso pecado. E aquele que
conduzia este cordeiro para o sacrifício era Deus em
homem, o grande sumo sacerdote, que deixou isto
claro com as palavras: “Ninguém a tira de mim; pelo
contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho auto-
ridade para entregar e também para reavê-la. Este
mandato recebi de meu Pai” (Jo 10:18)”

(Comentário sobre João 1.29, em que afirma que João Batista se


refere à humanidade de Cristo.)

ATANÁSIO DE ALEXANDRIA (299 - 373)


• Foi um dos maiores combatentes do Arianismo.
• Era ainda muito novo quando teve notoriedade no
Concílio de Nicéia, tinha 23 anos e era diácono do
bispo de Alexandria.
• Chegou a ser exilado 5 vezes por combater o
crescimento do arianismo.

“A morte, uma vez vencida pelo Salvador e pregada


na cruz como que num pelourinho, será pisada por
todos os que caminham em Cristo. Prestando home-
nagem a Cristo, estes zombam da morte, não lhe dão

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Era Patrística

importância e repetem o que foi escrito sobre ela:


«Morte, onde está a tua vitória? Inferno, onde está
o teu ferrão?» (1Cor 15,55; Os 13,14). […] Será fraca
demonstração da vitória obtida pelo Salvador sobre
ela que os cristãos, crianças e jovens, desprezem a
vida presente e prefiram morrer a renegar a sua fé?
O homem teme naturalmente a morte e a dissolução
do seu corpo; mas, coisa extraordinária, aquele que
se revestiu da fé na cruz despreza este sentimento
natural e, por Cristo, já não teme a morte. […]”

BASÍLIO DE CESAREIA (329 - 379)


• Também chamado de Basílio Magno ou Basí-
lio, o Grande, foi bispo de Cesareia, na
Capadócia (atualmente cidade de Kayseri, na
Turquia).
• Além de sua obra como teólogo, Basílio ficou
conhecido por seu cuidado com os pobres e
necessitados.
• Foi um grande defensor da divindade do Espírito Santo.

“Pertence aquele que tem fome o pão que tu guar-


das; àquele que está nu a capa que tu conservas nos
teus guarda-vestidos; àquele que está descalço, os
sapatos que apodrecem em tua casa; ao pobre o di-
nheiro que tu tens guardado. Assim tu cometes tantas
injustiças, quantas pessoas às quais poderias dar.”

GREGÓRIO DE NISSA (334 - 395)


• Entres suas mais importantes obras estão: “A
Grande Catequese”; “Diálogo com Macrina so-
bre a Alma e a Imortalidade”; “Sobre a Virginda-
de”; “Sobre a Criação do Homem”; “Comentário
ao Cântico dos Cânticos e às oito bem-aventu-
ranças”; “Sobre o amor dos Pobres”; “Sobre a Divindade do Filho e
do Espírito Santo”; “A Vida de Moisés”.
• Bispo de Nissa era irmão mais novo de Basílio, bispo de Cesareia.

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HISTÓRIA DA IGREJA II
Era Patrística

• Era um grande pensador e estudioso. Dedicou-se ao estudo das


obras de Orígenes e Metódio de Olimpo. Foi o primeiro sintetizador
dos dogmas cristãos. Era adepto da cultura clássica de seu tempo,
um misto de platonismo, aristotelismo e estoicismo.

“Nós, que por cada palavra da divina Escritura somos


convidados à imitação do Senhor que nos criou na
sua benevolência, eis que desviamos tudo para nos-
sa própria utilidade, medimos tudo de acordo com a
nossa vantagem”.

GREGÓRIO NAZIANZO (329 - 389)


• Conhecido também por Gregório Teólogo ou
Gregório, o Teólogo, é amplamente considerado
como o mais talentoso retórico da era patrística.
• Filho do Bispo Gregório de Nazianzo, foi obriga-
do por este a se tornar bispo.
• Dentre suas obras e defesas seu principal assun-
to era a Trindade.

“Ontem eu estava crucificado com Cristo; hoje sou


glorificado com Ele. Ontem eu estava morto com Ele;
hoje estou vivo com Ele. Ontem, eu estava sepultado
com Ele; hoje ressuscitei com Ele.”

CIRILO DE JERUSALÉM (313 - 386)


• Combateu a doutrina gnóstica e o arianismo.
• Busca no A.T. anúncios e prefigurações do N.T.,
em oposição aos judeus, e mostra a unidade de
ambos os Testamentos, o que era rejeitado pe-
los gnósticos.
• É autor de 24 catequeses.

“Aprendei também diligentemente da Igreja quais são


os livros do Antigo Testamento e quais os do Novo”.

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HISTÓRIA DA IGREJA II
Era Patrística

JOÃO CRISÓSTOMO (344 - 407)


• Nasceu em Antioquia onde se converteu
até se tornar bispo e mais tarde tornou-
-se arcebispo de Constantinopla.
• A maioria de suas obras são comentários a
respeito do Antigo e do Novo Testamento:
explicou o Gênesis, comentou Isaías e os Salmos.
• O sobrenome Crisóstomo (boca de ouro) foi-lhe conferido três
séculos depois pelos bizantinos.

“Quando o amor de Deus obtém a vontade da alma,


produz nela um insaciável desejo de trabalhar pelo
Amado.”

AMBRÓSIO DE MILÃO (340 - 397)


• A fama de Ambrósio se tornou tão grande que,
a rainha dos bárbaros marcomanos, Fritigalda pe-
diu que o Bispo de Milão escrevesse um manual de
instruções sobre a fé cristã. Após ler o que Ambró-
sio escrevera Fritigalda decidiu visitá-lo, porém no
meio do caminho soube que o bispo falecera.
• Por ser muito forte em suas convicções e princípios, entrou em
conflito com autoridades e até imperadores da época.
Os relatos de como adquiriu o episcopado chegam a ser cômicos,
mesmo sabendo que após ser feito bispo, cumpriu plenamente suas
funções. Veja de acordo com os relatos de Justo Gonzales:

“O ano era 373 quando a morte do bispo de Milão


veio turbar a paz desta grande cidade. Auxêncio, o
bispo falecido, tinha sido posto, neste cargo por um
imperador ariano, que tinha enviado para o exílio o
bispo anterior. Agora a sede estava vaga, e a eleição
ameaçava transformar-se em um tumulto que pode-
ria ser sangrento, pois tanto os arianos como os nice-
nos estavam decididos a fazer com que um dos seus
fosse eleito. Para evitar derramamento de sangue,
Ambrósio, o governador da cidade, foi pessoalmente
à igreja onde seria realizada a eleição. Seu governo

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HISTÓRIA DA IGREJA II
Era Patrística

justo e eficiente lhe tinha conquistado as simpatias


do povo. Natural de Tréveros, Ambrósio era filho de
um alto funcionário do Império, e por isto esperava
que sua carreira política o levasse a posições cada
vez mais elevadas. Mas para que sua carreira não
fosse arruinada era necessário evitar uma desordem
violenta na eleição do novo bispo de Milão. Com isso
em mente Ambrósio foi à igreja, pediu a palavra e co-
meçou a exortar o povo com a eloquência que mais
tarde o faria famoso. À medida que Ambrósio falava a
multidão se acalmava, dando a impressão de que os
esforços do governador teriam bom êxito. De repente
um menino gritou: “Ambrósio bispo!”. Inesperadamen-
te o povo também começou a gritar: “Ambrósio bispo!
Ambrósio bispo! Ambrósio! Ambrósio! Ambrósio!”. Para
Ambrósio este grito da multidão podia significar o fim
de sua carreira política. Por isso ele abriu passagem
entre o povo, foi até o pretório e condenou diversos
presos à tortura, na esperança de perder sua populari-
dade. O populacho, porém, o seguia e não se deixava
convencer. Então o jovem governador mandou trazer
para sua casa mulheres de má fama, para assim des-
truir a opinião que o público tinha dele. Mas o povo
continuava na frente de sua casa, e continuava gri-
tando que queria que Ambrósio fosse seu bispo. Duas
vezes; ele tentou fugir da cidade ou se esconder, mas
seus esforços fracassaram. Por fim, rendendo-se à in-
sistência do povo e à ordem imperial, ele concordou
em ser bispo de Milão. Ambrósio, todavia, nem sequer
tinha sido batizado, pois nesta época muitas pessoas -
especialmente as que ocupavam cargos públicos ele-
vados - demoravam seu batismo até o final dos seus
dias. Por isso foi necessário começar batizando-o. De-
pois, no transcurso de uma semana, ele foi feito suces-
sivamente leitor, exorcista, acólito, subdiácono, diáco-
no e presbítero, até que foi consagrado bispo oito dias
depois, no dia primeiro de dezembro de 373.”

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HISTÓRIA DA IGREJA II
Era Patrística

JERÔNIMO, DE ESTRIDÃO (348- 420)


• Jerônimo nasceu em Estridão, na Dalmá-
cia (onde hoje é a Croácia).
• Tinha o hábito de tentar decifrar os escritos
dos apóstolos e mártires em suas catacumbas.
Também vivia isolado em cavernas e desertos.
• Por ser conhecedor de hebraico traduziu o Antigo e Novo testa-
mento para o latim mais popular. Por isso, sua grande obra foi cha-
mada de Vulgata (língua vulgar) Latina.
• Conta-se a lenda que Jerônimo tinha um leão, pois certa vez havia
tirado um espinho de sua pata. O leão, então, se tornou manso e
passou a acompanhá-lo (por isso em muitas pinturas ele aparece
com um leão e também pelo fato de ser eremita, com uma caveira).
*Obs: as datas mencionadas, principalmente as de nascimento, são
aproximadas e baseadas em cálculos não totalmente confiáveis.
Além desses, muitos outros homens foram extremamente impor-
tantes nesse período e alguns como Agostinho de Hipona, falare-
mos mais adiante.

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