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HISTÓRIA DA IGREJA - I

A Igreja Apostólica e o Início do Cristianismo

PREGAÇÃO
E EVANGELHO
NA IGREJA
APOSTÓLICA
Aula 5

Igreja Apostólica: Espontânea X Organizada


Existe uma tendência de olhar para a igreja em sua fase inicial e
interpretá-la apenas como uma igreja orgânica, espontânea, sem
uma estrutura organizacional e sem uma teologia consistente. Boa
parte desse pensamento visa chegar à conclusão de que o modelo
certo de igreja deve ser uma igreja sem nenhum tipo de estrutura
ou liderança humana. E sob este pretexto defende-se que aquela
era uma igreja simplesmente “guiada pelo Espírito Santo”, logo, não
havia necessidade da intervenção humana, ao mesmo tempo em
que ela era a “igreja perfeita”. Não podemos negar que quando
lemos o livro de Atos vemos uma igreja inspiradora, cheia de qual-
idades, de vitalidade e espontaneidade, frutos de uma poderosa
ação do Espírito Santo. Contudo, precisamos ter o cuidado de não
fazer uma leitura ingênua e descuidada. Apesar de todas as mara-
vilhas relatadas em Atos, veremos que houve desafios e problemas
na primeira igreja como, por exemplo, o caso de Ananias e Safi-
ra. Isso, de certa forma, nos consola e nos ensina. Pensamos: se a

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igreja primitiva teve problemas e, mesmo assim, ela avançou, os pro


blemas que temos em nossas igrejas também não nos impedirão de
avançar, e havemos de superá-los com a provisão do Senhor.
Outro ponto importante neste momento é entendermos que es-
tamos diante de uma igreja que está começando. Cada fase da
história vai apresentar novos desafios e necessidades para a igreja
de Cristo. Quando se diz que em Atos a igreja não era complexa
em sua teologia, não tinha liderança eclesiástica e esse é o modelo
certo de se fazer igreja, nós percebemos que além desta ser uma
leitura superficial, também é fruto de uma interpretação parcial que
não percebeu o contexto em que aquela igreja vivia. Se nós esta-
mos diante de uma igreja que está começando, então, talvez ela
não tivesse uma teologia tão definida e complexa, porque o mo-
mento não a exigia nem permitia. Se por um lado não nos é possível
adotar o livro de Atos como um manual sistemático de como fazer
igreja, por outro lado não podemos desprezá-lo, pois faz parte das
Sagradas Escrituras, e de acordo com 2 Timóteo 3.16,17: “Toda a
Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para
repreender, para corrigir, para instruir em justiça; a fim de que o
homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar
toda boa obra”. Grandes homens de Deus na história foram impac
tados e transformados com a leitura de Atos. Obviamente porque,
além de nos inspirar com as histórias do que fizeram os primeiros
cristãos, nos revela princípios divinos e definições sobre a vida cristã
e a vida da igreja.

Pregação Apostólica
Em Atos nós vemos a primeira igreja avançando por meio da pre-
gação do evangelho. As várias cartas do Novo Testamento apre-
sentam a coleção de ensinamentos dos apóstolos, mas apenas o
livro de Atos registra a pregação deles. Quando falavam em pú-
blico, os apóstolos voltaram a sua mensagem aos não convertidos
apresentando-lhes o evangelho de Jesus Cristo. Os apóstolos res-
ervavam as instruções doutrinárias e éticas para a igreja. Embora a
pregação fosse simples, ela não era simplista, muito menos inconsis-
tente. Ela era profunda, concreta, contextualizada, objetiva e cheia
do poder do Espírito. Em Atos temos relatos mais longos apenas das
pregações de Pedro, Estevão e Paulo, mas elas trazem o conceito
da pregação apostólica em termos gerais. C.H.Dodd resumiu a pre-
gação primitiva sob os seguintes tópicos:

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“Primeiro, a era do cumprimento começou a se mani-


festar. “Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel” (At
2.16). “Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela
boca de todos os seus profetas havia anunciado”
(At 3.18). “E todos os profetas, desde Samuel, todos
quantos depois falaram, também anunciaram estes
dias” (At 3.24). Os apóstolos declararam que a era
messiânica havia surgido no horizonte. Em segundo
lugar, esse surgimento da era messiânica aconteceu
por meio do ministério, da morte e da ressurreição
de Jesus, fatos sobre os quais há um breve resumo,
com provas extraídas das Escrituras, de que “tudo
aconteceu pelo determinado conselho e presciência
de Deus” (At 2.23). Em terceiro lugar, por causa de
sua ressurreição, Jesus foi exaltado à destra de Deus,
como o cabeça messiânico do novo Israel (At 2.33-
36; 3.13). Em quarto lugar, o Espírito Santo na Igreja
é o sinal de que o poder e a glória de Cristo estão
presentes. “De sorte que, exaltado pela destra de
Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito
Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis”
(At 2.33). Em quinto lugar, a era messiânica atingirá
rapidamente sua consumação no retorno de Cris-
to. “E envie ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi
pregado, o qual convém que o céu contenha até os
tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou
pela boca de todos os seus santos profetas, desde o
princípio" (At 3.20-21). Finalmente, o Kerigma sempre
termina com um apelo ao arrependimento, com o
oferecimento de perdão e do Espírito Santo, e com
a promessa de salvação, ou seja, da vida no século
futuro para aqueles que entrarem para a comuni-
dade dos eleitos. “arrependei-vos, e cada um de vós
seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão
dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.
Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos
filhos e a todos que estão longe: a tantos quantos
Deus, nosso Senhor, chamar” (At 2.38,39).¹
De maneira mais simples podemos resumir a estrutura da pregação
apostólica da seguinte forma:

1 C.H.Dodd, The Apostolic Preaching and Its Developments, Hodder & Stoughton Ltd, 1936, pags. 38-45.

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1. Narração do ministério público e dos sofrimentos de Jesus.


2. Atestado divino do ministério messiânico de Jesus pela res-
surreição.
3. Testemunho do Antigo Testamento provando ser Jesus o Mes-
sias.
4. Exortação ao arrependimento e à fé.

Sermões de Pedro
Pedro pregou cinco grandes sermões em Atos:
1. Pregação de Pedro no dia de Pentecostes - (At 2.2-14)
A primeira pregação apostólica aconteceu imediatamente após o
derramamento do Espírito Santo, no dia de pentecoste, e por cau-
sa deste acontecido. Essa festa judaica tem sua origem na aliança
que Deus fez com seu povo no monte Sinai, quando lhes entregou
a sua lei após libertá-los da escravidão no Egito. Ela celebrava a
colheita dos primeiros grãos no começo do verão, nela o povo
judeu oferecia pães amassados com o primeiro trigo colhido, em
ação de graças pela colheita que viria. A vinda do Espírito Santo
acompanha a ideia dos primeiros frutos. A ressurreição de Cristo
é a promessa da ressurreição dos crentes e o derramamento do
Espírito é a garantia disso. Os fatos do pentecoste também eco-
aram outras imagens do Antigo Testamento - As línguas de fogo e o
som de um vento impetuoso foram sinais famosos da presença de
Deus, especialmente ligados ao Monte Sinai (Êx 19) e o milagre da
comunicação em muitas línguas era uma reversão à maldição da
torre de Babel (Gn 11). O pentecoste significa que daquele ponto
em diante o evangelho iria alcançar todo o mundo, pelo poder do
Espírito. Todos os judeus, vindos de várias partes do império romano
que estavam em Jerusalém nesse dia, ficaram admirados com tal
fenômeno: como aqueles galileus estavam falando em suas línguas
maternas? Ao indagar como isso era possível, deram aos apóstolos
a oportunidade de compartilhar o evangelho. Pedro aproveitou a
abertura para se levantar com os outros apóstolos e dirigir a palavra
a todos ao alcance de sua voz. Esse sermão de Pedro é o primeiro
de muitos sermões e discursos em Atos. Suas palavras mostram o
modelo regularmente adotado na maioria das pregações apostóli-
cas descritas no Novo Testamento:

“Então Pedro deu um passo à frente com os onze


apóstolos e dirigiu-se em alta voz à multidão: “Ou-

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çam com atenção, todos vocês, povo da Judeia e


habitantes de Jerusalém! Escutem o que lhes digo!
Estas pessoas não estão bêbadas, como alguns de
vocês pensam, pois são apenas nove horas da ma-
nhã. Pelo contrário! O que vocês estão vendo foi pre-
dito há tempos pelo profeta Joel: ‘Nos últimos dias’,
disse Deus, ‘derramarei meu Espírito sobre todo tipo
de pessoa. Seus filhos e suas filhas profetizarão; os
jovens terão visões, e os velhos terão sonhos. Naque-
les dias, derramarei meu Espírito até mesmo sobre
servos e servas, e eles profetizarão. Farei maravilhas
em cima, no céu, e sinais embaixo, na terra: sangue
e fogo, e nuvens de fumaça. O sol se escurecerá, e
a lua se tornará vermelha como sangue, antes que
chegue o grande e glorioso dia do Senhor. Mas todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’.
“Povo de Israel, escute! Deus aprovou publicamente
Jesus, o nazareno, ao realizar milagres, maravilhas
e sinais por meio dele, como vocês bem sabem.
Ele foi entregue conforme o plano preestabelecido
por Deus e seu conhecimento prévio daquilo que
aconteceria. Com a ajuda de gentios que desconhe-
ciam a lei, vocês o pregaram na cruz e o mataram.
Mas Deus o ressuscitou, libertando-o dos horrores da
morte, pois ela não pôde mantê-lo sob seu domínio.
A respeito dele disse o rei Davi: ‘Vejo que o Senhor
está sempre comigo; não serei abalado, pois ele está
à minha direita. Não é de admirar que meu coração
esteja alegre e que minha língua o louve; meu corpo
repousa em esperança. Pois tu não deixarás minha
alma entre os mortos, nem permitirás que o teu San-
to apodreça no túmulo. Tu me mostraste o caminho
da vida, e me encherás com a alegria de tua presen-
ça’. “Irmãos, permitam-me dizer com toda convicção
que o patriarca Davi não estava se referindo a si
mesmo, pois ele morreu e foi sepultado, e seu túmulo
ainda está aqui, entre nós. Mas ele era profeta e
sabia que Deus havia prometido sob juramento que
um de seus descendentes se sentaria em seu trono.
Davi estava olhando para o futuro e falando da
ressurreição do Cristo, que não foi deixado entre os
mortos nem seu corpo apodreceu no túmulo. “Foi

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esse Jesus que Deus ressuscitou, e todos nós somos


testemunhas disso. Ele foi exaltado ao lugar de hon-
ra, à direita de Deus. E, conforme havia prometido, o
Pai lhe deu o Espírito Santo, que ele derramou sobre
nós, como vocês estão vendo e ouvindo hoje. Pois
Davi não subiu ao céu e, no entanto, disse: ‘O Senhor
disse ao meu Senhor: Sente-se no lugar de honra à
minha direita, até que eu humilhe seus inimigos e os
ponha debaixo de seus pés’. “Portanto, saibam com
certeza todos em Israel que a esse Jesus, que vocês
crucificaram, Deus fez Senhor e Cristo!”. As palavras
partiram o coração dos que ouviam, e eles pergun-
taram a Pedro e aos outros apóstolos: “Irmãos, o que
devemos fazer?”. Pedro respondeu: “Vocês devem
se arrepender, para o perdão de seus pecados, e
cada um deve ser batizado em nome de Jesus Cristo.
Então receberão a dádiva do Espírito Santo. Essa pro-
messa é para vocês, para seus filhos e para os que
estão longe, isto é, para todos que forem chamados
pelo Senhor, nosso Deus”. Pedro continuou a pregar,
advertindo com insistência a seus ouvintes: “Salvem-
-se desta geração corrompida!”. Os que acreditaram
nas palavras de Pedro foram batizados, e naquele
dia houve um acréscimo de cerca de três mil pesso-
as”. (At 2.14-41 - NVT).
2. Pregação de Pedro após curar um paralítico na porta do tem-
plo (At 3.11-26)
A segunda pregação apostólica descrita no livro de Atos também é
precedida por um acontecimento sobrenatural. Pedro e João, como
de costume, estavam indo para o Templo orar e foram abordados
por um homem aleijado que lhes pediu esmola. A resposta de Pe-
dro é um clássico no cristianismo: “Não tenho prata nem ouro, mas
o que tenho, isto lhe dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno,
levanta e anda”. O homem que foi curado há muito tempo mendi-
gava naquele lugar e era conhecido por todos. Ao ser curado ele
entrou no Templo saltando e louvando a Deus em voz alta, o que
causou espanto em todos e atraiu uma grande multidão. Pedro
aproveitou a atenção dos ouvintes e mais uma vez lhes anunciou
Jesus Cristo:

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“Pedro, percebendo o que ocorria, dirigiu-se à mul-


tidão. Povo de Israel, por que ficam surpresos com
isso?”, disse ele. “Por que olham para nós como se
tivéssemos feito este homem andar por nosso próprio
poder ou devoção? Pois foi o Deus de Abraão, de
Isaque e de Jacó, o Deus de nossos antepassados,
quem glorificou seu Servo Jesus, a quem vocês traí-
ram e rejeitaram diante de Pilatos, apesar de ele ter
decidido soltá-lo. Vocês rejeitaram o Santo e Justo e,
em seu lugar, exigiram que um assassino fosse liber-
to. Mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou
dos mortos. E nós somos testemunhas desse fato!
“Pela fé no nome de Jesus, este homem que vocês
veem e conhecem foi curado. A fé no nome de Jesus
o curou diante de seus olhos. “Irmãos, sei que vocês
e seus líderes agiram por ignorância. Mas Deus assim
cumpriu o que todos os profetas haviam predito
acerca do Cristo, que era necessário ele sofrer essas
coisas. Agora, arrependam-se e voltem-se para Deus,
para que seus pecados sejam apagados. Então, da
presença do Senhor virão tempos de renovação, e
ele enviará novamente Jesus, o Cristo que lhes foi
designado. Pois ele deve permanecer no céu até
o tempo da restauração final de todas as coisas,
conforme Deus prometeu há muito tempo por meio
de seus santos profetas. Moisés disse: ‘O Senhor, seu
Deus, levantará para vocês um profeta como eu, do
meio de seu povo. Ouçam com atenção tudo que
ele lhes disser. Quem não der ouvidos a esse profeta
será eliminado do meio do povo’. “A começar por
Samuel, todos os profetas falaram sobre o que está
acontecendo hoje. Vocês são descendentes desses
profetas e estão incluídos na aliança que Deus fez
com seus antepassados ao dizer a Abraão: ‘Por meio
de sua descendência, todas as famílias da terra serão
abençoadas’. Quando Deus ressuscitou seu Servo,
ele o enviou primeiro a vocês, o povo de Israel, para
abençoá-los, fazendo cada um de vocês se afastar
de seus caminhos pecaminosos.” (At 3.12-26 - NVT).
3. Pregação de Pedro perante as autoridades e anciãos do povo
(At 4.8-12)

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Pedro e João foram convocados para justificar suas ações perante o


Sinédrio. Pedro respondeu que o poder com o qual o paralítico foi
curado era de Jesus. E não apenas isso, Pedro acusou o Sinédrio de
ser responsável pela condenação e morte de Jesus e mencionou o
poder de Deus para ressuscitá-lo dos mortos.

“Cheio do Espírito Santo, Pedro lhes respondeu: “Auto-


ridades e líderes do povo, estamos sendo interroga-
dos hoje porque realizamos uma boa ação em favor
de um aleijado, e os senhores querem saber como
ele foi curado. Saibam os senhores e todo o povo de
Israel que ele foi curado pelo nome de Jesus Cristo,
o nazareno, a quem os senhores crucificaram, mas a
quem Deus ressuscitou dos mortos. Pois é a respei-
to desse Jesus que se diz: ‘A pedra que vocês, os
construtores, rejeitaram se tornou a pedra angular’.
Não há salvação em nenhum outro! Não há nenhum
outro nome debaixo do céu, em toda a humanidade,
por meio do qual devamos ser salvos.” (At 4.8-12 -
NVT).
4. Pregação de Pedro diante do Sinédrio (At 5.29-32)
Mesmo sendo proibidos pelo Sinédrio, os apóstolos continuaram
pregando e curando em nome de Jesus, o que levou a uma nova
prisão. Em sua defesa, mais uma vez Pedro acusou os líderes judeus
de assassinarem Jesus e proclamou a ressurreição:

“Em seguida, levaram os apóstolos e os apresenta-


ram ao conselho de líderes do povo, onde o sumo
sacerdote os confrontou. “Nós lhes ordenamos
firmemente que nunca mais ensinassem em nome
desse homem”, disse ele. “E, mesmo assim, vocês
encheram Jerusalém com esse seu ensino e querem
nos responsabilizar pela morte dele!” Pedro e os
apóstolos responderam: “Devemos obedecer a Deus
antes de qualquer autoridade humana. O Deus de
nossos antepassados ressuscitou Jesus dos mortos
depois que os senhores o mataram, pendurando-o
numa cruz. Deus o colocou no lugar de honra, à sua
direita, como Príncipe e Salvador, para que o povo
de Israel se arrependesse de seus pecados e fosse
perdoado. Somos testemunhas dessas coisas, e assim
é também o Espírito Santo, que Deus dá àqueles que

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lhe obedecem.” (At 5.27-32 - NVT).


5. Pregação de Pedro diante de Cornélio e seus convidados (At
10.34-43)
Por causa da visão que anteriormente tivera, Pedro estava disposto
a transmitir a mensagem do evangelho até mesmo aos gentios. Esse
sermão de Pedro é semelhante aos de Atos 2 e 5, apesar de conter
mais informações sobre a vida e os ensinamentos de Jesus do que
aos dirigidos aos ouvintes Judeus em Jerusalém:

“...Agora estamos todos aqui, esperando diante de


Deus para ouvir a mensagem que o Senhor mandou
que você nos trouxesse”. Então Pedro respondeu:
“Vejo claramente que Deus não mostra nenhum
favoritismo. Em todas as nações ele aceita aqueles
que o temem e fazem o que é certo. Esta é a men-
sagem de boas-novas para o povo de Israel: Há paz
com Deus por meio de Jesus Cristo, que é Senhor de
todos. Vocês sabem o que aconteceu em toda a Ju-
deia, começando na Galileia, depois do batismo que
João proclamou. Sabem também que Deus ungiu
Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder.
Então Jesus foi por toda parte fazendo o bem e
curando todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus
estava com ele. “E nós somos testemunhas de tudo
que ele fez em toda a Judeia e em Jerusalém, onde
o mataram. Penduraram-no numa cruz, mas Deus o
ressuscitou no terceiro dia e permitiu que ele fosse
visto, não por todo o povo, mas por nós que fomos
escolhidos por Deus de antemão para sermos suas
testemunhas. Nós fomos os que comemos e bebe-
mos com ele depois que ele ressuscitou dos mortos.
E ele nos mandou anunciar sua mensagem em toda
parte e testemunhar que Deus o designou juiz dos
vivos e dos mortos. É a respeito dele que todos os
profetas dão testemunho, dizendo que todo o que
nele crer receberá o perdão de seus pecados por
meio de seu nome”. Enquanto Pedro ainda falava,
o Espírito Santo desceu sobre todos que ouviam a
mensagem.” (At 10.33-44 - NVT).

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Sermão de Estevão
Alguns homens da sinagoga ficaram perturbados com a pregação
e ministério de Estevão, que o acusaram de conspiração e per-
júrio. O julgamento serviu de ocasião para a exposição de uma das
mais impressionantes pregações registradas no Novo Testamento.
O discurso de Estevão serviu de base teológica para o avanço do
evangelho em direção ao mundo gentio. David S. Dockery diz que
Estevão aborda três questões principais: A primeira é a reverência
exagerada dos judeus pela terra santa, da qual eles imaginavam
que era o único lugar onde Deus vivia e atuava. Estevão reconta
a história dos patriarcas mostrando que Deus atuou na vida deles
muito mais fora da terra prometida do que dentro. Em segundo
lugar, Estevão mostrou que Moisés, que os judeus veneravam tanto
como doador da lei, fora constantemente desobedecido pelos isra-
elitas. Por último, Estevão observou que Deus permitiu que Salomão
construísse o templo embora estivesse satisfeito no tabernáculo². O
discurso de Estevão culminou com palavras fortes contra os judeus,
chamando-os de teimosos e acusando-os de rejeitar os profetas, o
Messias e o próprio Espírito de Deus:

Estêvão respondeu: “Irmãos e pais, ouçam-me! O


Deus glorioso apareceu a nosso antepassado Abraão
na Mesopotâmia, antes de ele se estabelecer em
Harã, e lhe disse: ‘Deixe sua terra natal e seus pa-
rentes e vá para a terra que eu lhe mostrarei’. Então
Abraão saiu da terra dos caldeus e morou em Harã
até seu pai morrer. Depois, Deus o trouxe aqui para
a terra onde vocês agora vivem. “Mas Deus não lhe
deu herança alguma aqui, nem mesmo o espaço de
um pé. Contudo, prometeu que a terra toda perten-
ceria a Abraão e a seus descendentes, embora ele
ainda não tivesse filhos. Disse-lhe também que seus
descendentes viveriam numa terra estrangeira, onde
seriam escravizados e oprimidos por quatrocentos
anos. Mas Deus disse: ‘Eu castigarei a nação que os
escravizar, e, por fim, sairão dali e me adorarão neste
lugar’. “Naquele tempo, Deus deu a Abraão a alian-
ça da circuncisão. Assim, quando seu filho Isaque
nasceu, ele o circuncidou no oitavo dia. Essa prática

2 DOCKERY David S, Manual bíblico vida nova, São Paulo, Vida Nova, 2001, p.681.

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continuou quando nasceu Jacó, filho de Isaque, e


quando nasceram os doze filhos de Jacó, os patriar-
cas de Israel. “Os patriarcas tiveram inveja de seu
irmão José e o venderam como escravo para o Egito.
Mas Deus estava com ele e o livrou de todas as suas
dificuldades. Deus concedeu a José favor e sabedo-
ria diante do faraó, rei do Egito, e o faraó o nomeou
governador de todo o Egito e administrador de seu
palácio. “Então veio uma fome sobre o Egito e sobre
Canaã. Houve grande aflição, e nossos antepassados
ficaram sem comida. Jacó soube que ainda havia ce-
real no Egito e enviou seus filhos, nossos antepassa-
dos, para comprarem alimento. Da segunda vez que
foram, José revelou sua identidade a seus irmãos e
os apresentou ao faraó. Depois, José mandou trazer
para o Egito seu pai, Jacó, e todos os seus parentes,
75 pessoas ao todo. Assim, Jacó foi para o Egito e ali
morreu, bem como nossos antepassados. Seus corpos
foram levados para Siquém e sepultados no túmulo
que Abraão havia comprado por um certo preço
dos filhos de Hamor. “Aproximando-se o tempo em
que Deus cumpriria sua promessa a Abraão, nosso
povo se multiplicou grandemente no Egito. Então
subiu ao trono do Egito um novo rei, que nada sabia
a respeito de José. Esse rei explorou e oprimiu nosso
povo, forçando os pais a abandonarem seus filhos re-
cém-nascidos, para que morressem. “Por essa época,
nasceu Moisés, um bebê especial aos olhos de Deus.
Seus pais cuidaram dele em casa por três meses.
Quando tiveram de abandoná-lo, a filha do faraó o
adotou e o criou como seu próprio filho. Moisés foi
educado em toda a sabedoria dos egípcios e era po-
deroso em palavras e ações. “Certo dia, estando Moi-
sés com quarenta anos, resolveu visitar seus paren-
tes, o povo de Israel. Ao ver um egípcio maltratando
um israelita, defendeu o israelita e o vingou, ma-
tando o egípcio. Imaginou que seus irmãos israelitas
entenderiam que ele havia sido enviado por Deus
para resgatá-los, mas isso não aconteceu. “No dia
seguinte, visitou-os novamente e viu dois homens de
Israel brigando. Tentando agir como pacificador, dis-
se a eles: ‘Homens, vocês são irmãos; por que brigam

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um com o outro?’. “Mas o homem que era culpado


empurrou Moisés e disse: ‘Quem o nomeou líder e
juiz sobre nós? Vai me matar como matou o egípcio
ontem?’. Quando Moisés ouviu isso, fugiu e foi viver
como estrangeiro na terra de Midiã. Ali nasceram
seus dois filhos. “Quarenta anos depois, no deserto
próximo ao monte Sinai, um anjo apareceu a Moisés
nas chamas de um arbusto que queimava. Quando
Moisés viu aquilo, ficou admirado. Aproximando-se
para observar melhor, ouviu a voz do Senhor, que
disse: ‘Eu sou o Deus de seus antepassados, o Deus
de Abraão, de Isaque e de Jacó’. Moisés tremia de
medo e não tinha coragem de olhar. “Então o Senhor
lhe disse: ‘Tire as sandálias, pois você está pisando
em terra santa. Por certo, tenho visto a aflição do
meu povo no Egito. Tenho ouvido seus gemidos e
desci para libertá-los. Agora vá, pois eu o envio de
volta ao Egito’. “Era esse o mesmo Moisés que o povo
havia rejeitado quando lhe perguntaram: ‘Quem o
nomeou líder e juiz?’. Por meio do anjo que apareceu
a Moisés no arbusto em chamas, Deus o enviou para
ser líder e libertador. Assim, com muitas maravilhas
e sinais, ele os conduziu para fora do Egito, pelo mar
Vermelho e pelo deserto, durante quarenta anos.
“Esse mesmo Moisés disse ao povo de Israel: ‘Deus le-
vantará para vocês um profeta como eu do meio de
seu povo’. Moisés estava com nossos antepassados,
a congregação do povo de Deus no deserto, quando
o anjo lhe falou no monte Sinai, e ali Moisés recebeu
palavras que dão vida, para transmiti-las a nós. “Mas
nossos antepassados se recusaram a obedecer a
Moisés. Eles o rejeitaram e, em seu íntimo, voltaram
ao Egito. Disseram a Arão: ‘Faça para nós deuses que
nos guiem, pois não sabemos o que aconteceu com
esse Moisés que nos tirou do Egito’. Logo, fizeram um
ídolo em forma de bezerro, ofereceram-lhe sacrifícios
e começaram a celebrar o objeto que haviam cria-
do. Então Deus se afastou deles e os entregou para
servirem as estrelas do céu como deuses, conforme
está escrito no livro dos profetas: ‘Foi a mim que
vocês trouxeram sacrifícios e ofertas durante aque-
les quarenta anos no deserto, povo de Israel? Não,

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vocês carregaram o santuário de Moloque, a estrela


de seu deus Renfã, e as imagens que fizeram para
adorá-los. Por isso eu os enviarei para o exílio, para
além da Babilônia’. “Nossos antepassados levaram
com eles pelo deserto o tabernáculo, construído de
acordo com o modelo que Deus havia mostrado
a Moisés. Anos depois, quando Josué comandou
nossos antepassados nas batalhas contra as nações
que Deus expulsou desta terra, foi levado com eles
para seu novo território e ali ficou até o tempo do rei
Davi. “Davi encontrou favor diante de Deus e pediu
para construir um templo permanente para o Deus
de Jacó, mas foi Salomão quem o construiu. O Altís-
simo, porém, não habita em templos feitos por mãos
humanas. Como diz o profeta: ‘O céu é meu trono, e
a terra é o suporte de meus pés. Acaso construiriam
para mim um templo assim tão bom?’, diz o Senhor.
‘Que lugar de descanso me poderiam fazer? Aca-
so não foram minhas mãos que criaram o céu e a
terra?’. “Povo teimoso! Vocês têm o coração incircun-
cidado e são surdos para a verdade. Resistirão para
sempre ao Espírito Santo? Foi o que seus antepassa-
dos fizeram, e vocês também o fazem! Que profeta
seus antepassados não perseguiram? Mataram até
aqueles que predisseram a vinda do Justo, a quem
vocês traíram e assassinaram! Vocês desobedeceram
à lei de Deus, embora a tenham recebido das mãos
de anjos.” (At 7.2-53 - NVT).

Sermões de Paulo
Paulo pronunciou diversos sermões em Atos, mas apenas dois con-
stam de forma mais substancial. Por onde passava Paulo sempre
começava seu ministério pregando na sinagoga. Muitos judeus fica-
vam impressionados com a mensagem que ele pregava e queriam
ouvir mais. Os líderes judeus, invejosos e irritados com o sucesso
de Paulo incitavam a massa para rejeitá-lo, não lhe deixando ou
tra alternativa a não ser apresentar o evangelho aos gentios, além
dos judeus que quisessem aceitá-la. Via de regra isso resultava em
perseguição e na necessidade de ir para outro lugar de ministério,
onde o modelo se repetia.
1. Pregação de Paulo em Antioquia da Pisídia (At 13.16-41)

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HISTÓRIA DA IGREJA - I
A Igreja Apostólica e o Início do Cristianismo

O discurso de Paulo na sinagoga em Antioquia da Pisídia serve de


exemplo do evangelho anunciado por Paulo. A apresentação da
mensagem que ele faz é muito parecida com a de Pedro e a de
Estevão. Em todos os casos a mensagem era conduzida para provar
que Jesus era o Messias prometido no Antigo Testamento, que ele
ressuscitou depois de ser crucificado e que aqueles que criam em
Jesus tinham acesso ao perdão dos pecados e à reconciliação com
Deus:

“Depois da leitura da Lei e dos Profetas, os chefes


da sinagoga lhes mandaram dizer: "Irmãos, se vocês
têm uma mensagem de encorajamento para o
povo, falem". Pondo-se de pé, Paulo fez sinal com
a mão e disse: "Israelitas e gentios que temem a
Deus, ouçam-me! O Deus do povo de Israel esco-
lheu nossos antepassados, e exaltou o povo durante
a sua permanência no Egito; com grande poder os
fez sair daquele país e os aturou no deserto durante
cerca de quarenta anos. Ele destruiu sete nações
em Canaã e deu a terra delas como herança ao
seu povo. Tudo isso levou cerca de quatrocentos
e cinquenta anos. "Depois disso, ele lhes deu juízes
até o tempo do profeta Samuel. Então o povo pediu
um rei, e Deus lhes deu Saul, filho de Quis, da tribo
de Benjamim, que reinou quarenta anos. Depois
de rejeitar Saul, levantou-lhes Davi como rei, sobre
quem testemunhou: ‘Encontrei Davi, filho de Jessé,
homem segundo o meu coração; ele fará tudo o
que for da minha vontade’. "Da descendência desse
homem Deus trouxe a Israel o Salvador Jesus, como
prometera. Antes da vinda de Jesus, João pregou
um batismo de arrependimento para todo o povo
de Israel. Quando estava completando sua carreira,
João disse: ‘Quem vocês pensam que eu sou? Não
sou quem vocês pensam. Mas eis que vem depois de
mim aquele cujas sandálias não sou digno nem de
desamarrar’. "Irmãos, filhos de Abraão, e gentios que
temem a Deus, a nós foi enviada esta mensagem
de salvação. O povo de Jerusalém e seus governan-
tes não reconheceram Jesus, mas, ao condená-lo,
cumpriram as palavras dos profetas, que são lidas
todos os sábados. Mesmo não achando motivo legal

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HISTÓRIA DA IGREJA - I
A Igreja Apostólica e o Início do Cristianismo

para uma sentença de morte, pediram a Pilatos que


o mandasse executar. Tendo cumprido tudo o que
estava escrito a respeito dele, tiraram-no do madeiro
e o colocaram num sepulcro. Mas Deus o ressuscitou
dos mortos, e, por muitos dias, foi visto por aqueles
que tinham ido com ele da Galiléia para Jerusalém.
Eles agora são testemunhas dele para o povo. "Nós
lhes anunciamos as boas novas: o que Deus prome-
teu a nossos antepassados ele cumpriu para nós,
seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no
Salmo segundo: ‘Tu és meu filho; eu hoje te gerei’.
O fato de que Deus o ressuscitou dos mortos, para
que nunca entrasse em decomposição, é declarado
nestas palavras: ‘Eu lhes dou as santas e fiéis bênçãos
prometidas a Davi’. Assim ele diz noutra passagem:
‘Não permitirás que o teu Santo sofra decomposi-
ção’. "Tendo, pois, Davi servido ao propósito de Deus
em sua geração, adormeceu, foi sepultado com os
seus antepassados e seu corpo se decompôs. Mas
aquele a quem Deus ressuscitou não sofreu decom-
posição. "Portanto, meus irmãos, quero que saibam
que mediante Jesus lhes é proclamado o perdão dos
pecados. Por meio dele, todo aquele que crê é justi-
ficado de todas as coisas das quais não podiam ser
justificados pela lei de Moisés. Cuidem para que não
lhes aconteça o que disseram os profetas: ‘Olhem,
escarnecedores, admirem-se e pereçam; pois nos
dias de vocês farei algo que vocês jamais creriam se
alguém lhes contasse!’" (At 13.15-41 - NVI).
2. Pregação de Paulo em Atenas (At 17.22-31)
Atenas era um centro de estudo e filosofia grega. O discurso de
Paulo no Areópago foi uma tentativa de apresentar o evangelho em
um contexto diferente de qualquer outro que Lucas havia descrito
antes no livro de Atos. Esse discurso é uma obra prima de retórica
helenística. Aqui, Paulo não começou com o Antigo Testamento,
como estava falando para filósofos que nada sabiam da cultura ju-
daica, seu ponto de partida foi a filosofia e a literatura grega. Paulo
apresentou o evangelho mesmo em meio ao intelectualismo cínico.
Percebemos que Paulo, apesar de contextualizar a mensagem do
evangelho, não prejudicou em nada sua essência e poder visto que
alguns foram levados à salvação por sua pregação:

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HISTÓRIA DA IGREJA - I
A Igreja Apostólica e o Início do Cristianismo

“Todos os atenienses e estrangeiros que ali viviam


não cuidavam de outra coisa senão falar ou ouvir
as últimas novidades. Então Paulo levantou-se na
reunião do Areópago e disse: "Atenienses! Vejo que
em todos os aspectos vocês são muito religiosos,
pois, andando pela cidade, observei cuidadosamente
seus objetos de culto e encontrei até um altar com
esta inscrição: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o
que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu
lhes anuncio. "O Deus que fez o mundo e tudo o que
nele há é o Senhor do céu e da terra, e não habita
em santuários feitos por mãos humanas. Ele não é
servido por mãos de homens, como se necessitasse
de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o
fôlego e as demais coisas. De um só fez ele todos
os povos, para que povoassem toda a terra, tendo
determinado os tempos anteriormente estabelecidos
e os lugares exatos em que deveriam habitar. Deus
fez isso para que os homens o buscassem e talvez,
tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja
longe de cada um de nós. ‘Pois nele vivemos, nos
movemos e existimos’, como disseram alguns dos
poetas de vocês: ‘Também somos descendência
dele’. "Assim, visto que somos descendência de Deus,
não devemos pensar que a Divindade é semelhante
a uma escultura de ouro, prata ou pedra, feita pela
arte e imaginação do homem. No passado Deus não
levou em conta essa ignorância, mas agora orde-
na que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois
estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo
com justiça, por meio do homem que designou. E
deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os
mortos." (At 17.21-31 - NVI).

As cartas do Novo Testamento


O ensino apostólico não era feito apenas por meio de pregações,
mas também por meio de cartas. O Novo Testamento é, na sua
maioria, composto de cartas escritas pelos apóstolos para fortalecer
a igreja na verdade do evangelho. Ao escreverem, os apóstolos es-
tavam preocupados em que os crentes não se esquecessem do
verdadeiro evangelho e de suas implicações na vida prática. Muitos
falsos mestres haviam se introduzido na igreja e estavam modifi-

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A Igreja Apostólica e o Início do Cristianismo

cando a mensagem do evangelho misturando-o com heresias. Por


isso, os apóstolos se ocupavam da defesa do verdadeiro evangelho.
Pedro escreveu: “Mas entre o povo também houve falsos profetas,
assim como entre vós haverá falsos mestres. Às ocultas, introduzirão
heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou e tra-
zendo sobre si mesmos repentina destruição.” (2 Pe 2.1). Havia uma
batalha em relação ao evangelho. Os apóstolos estavam lutando
para manter viva a mensagem do evangelho mesmo em meio à
perseguição, porque entendiam que uma igreja sadia vem de um
evangelho sadio.
Preocupação dos Apóstolos em Preservar a Mensagem do Evange
lho
Quando olhamos para os escritos apostólicos no Novo Testamento
fica nítido o zelo dos apóstolos em relação à preservação da men-
sagem do evangelho:

“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos


pregue um evangelho diferente do que já vos prega-
mos, seja maldito.” (Gl 1.8)

“Mas temo que, assim como a serpente enganou


Eva com sua astúcia, também a vossa mente seja de
alguma forma seduzida e se afaste da simplicidade
e da pureza que há em Cristo. Porque, se chega
alguém e vos prega outro Jesus que não pregamos,
ou se recebeis outro Espírito, que não aquele que
recebestes, ou outro evangelho que não acolhestes,
vós de boa vontade o suportais!” (2 Co 11.3,4)

“Conforme te pedi, quando partia para a Macedônia,


permanece em Éfeso para advertires alguns de que
não ensinem outra doutrina.” (1 Tm 1.3)

“Se alguém ensina alguma outra doutrina e discorda


das sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e da
doutrina que é de acordo com a piedade...” (1 Tm
6.3)

“Preserva o modelo das sãs palavras que de mim


ouviste na fé e no amor que estão em Cristo Jesus;
guarda o bom tesouro com o auxílio do Espírito San-
to, que habita em nós.” (2 Tm 1.13,14)

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HISTÓRIA DA IGREJA - I
A Igreja Apostólica e o Início do Cristianismo

“O que ouviste de mim, diante de muitas testemu-


nhas, transmite a homens fiéis e aptos para também
ensinarem a outros.” (2 Tm 2.2)

“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de


que foste inteirado, sabendo de quem o tens apren-
dido.” (2 Tm 3.14)

“que não mudeis facilmente o vosso modo de pensar


nem fiqueis assustados por causa de espírito, palavra
ou carta atribuídos indevidamente a nós, como se o
dia do Senhor já estivesse bem perto.” (2 Ts 2.2)

“Assim, irmãos, ficai firmes e conservai as tradições


que vos foram ensinadas oralmente ou por carta
nossa.” (2 Ts 2.15)

“Irmãos, nós vos ordenamos, em nome do Senhor


Jesus Cristo, que vos afasteis de todo irmão que vive
de forma indisciplinada e em desacordo com a tradi-
ção que recebestes de nós.” (2 Ts 3.6)

“Portanto, tendo um grande sumo sacerdote, Jesus,


o Filho de Deus, que entrou no céu, mantenhamos
com firmeza nossa declaração pública de fé.” (Hb
4.14)

“Tende cuidado de vós mesmos para não destruir-


des o fruto do nosso trabalho, mas para que, pelo
contrário, venhais a receber plena recompensa. Todo
que vai além do ensino de Cristo e não permanece
nele, não tem Deus. Quem permanece no ensino,
esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem
vos visitar e não traz esse ensino, não o recebais em
casa, nem o cumprimenteis.” (2 Jo 1.8-10)

“Mas entre o povo também houve falsos profetas,


assim como entre vós haverá falsos mestres. Às ocul-
tas, introduzirão heresias destruidoras, negando até o
Senhor que os resgatou e trazendo sobre si mesmos
repentina destruição.” (2 Pe 2.1)

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A Igreja Apostólica e o Início do Cristianismo

“que se mantenha firme na palavra fiel, conforme a


doutrina, para que seja capaz tanto de exortar na
sã doutrina quanto de convencer os seus opositores.
Porque há muitos insubordinados, meros faladores
e enganadores, principalmente os da circuncisão. É
preciso fazê-los calar, pois, motivados pela ganância,
transtornam casas inteiras, ensinando o que não con-
vém. Um dos seus próprios profetas disse: Os creten-
ses são sempre mentirosos, animais ferozes, glutões
preguiçosos. Esse testemunho é verdadeiro. Portanto,
repreende-os severamente, para que tenham uma fé
sadia, não dando ouvidos a fábulas judaicas, nem a
mandamentos de homens que se desviam da verda-
de.” (Tt 1.9-14)

“Tu, porém, fala o que está em harmonia com a sã


doutrina (...) e que não furtem; em vez disso, devem
demonstrar perfeita lealdade, para que em tudo
mostrem a beleza da doutrina de Deus, nosso Salva-
dor.” (Tt 2.1,10)

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