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de mulheres
no Antigo Israel
Centro de Estudos Bíblicos – CEBI
Serviço de Publicações
Preparado por
CEBI – Região Amazônica
Organização
Francisco Jovane Rodrigues da Silva
São Leopoldo
2022
Direitos de publicação e comercialização do
Centro de Estudos Bíblicos – CEBI
Bibliografia
ISBN 978-65-86739-26-8 (e-book)
Capa
Fábio Martins Gomes de Melo
Revisão
Francisco Leandro Quenupe Campos
Introdução.......................................................................................................... 7
Sara e Agar.......................................................................................................... 9
Rebeca................................................................................................................... 13
Lia e Raquel........................................................................................................ 16
Tamar.................................................................................................................... 19
A esposa de Putifar.......................................................................................... 22
Raab....................................................................................................................... 27
Débora.................................................................................................................. 30
Rute e Noemi...................................................................................................... 33
ANA........................................................................................................................ 35
5
Micol...................................................................................................................... 38
Betsabeia............................................................................................................. 42
A viúva de Sarepta........................................................................................... 46
Josaba.................................................................................................................... 50
Hulda..................................................................................................................... 53
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Introdução
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De um lado, optamos por estudar a presença de algu-
mas mulheres no Pentateuco. São elas: Sara e Agar, Rebeca,
Lia e Raquel, Tamar, a esposa de Putifar; bem como as mulhe-
res presentes no Êxodo: as parteiras Sefra e Fua, a mãe e
irmã de Moisés e a princesa do Faraó. Por outro lado, estu-
damos também mulheres presentes na História Deuterono-
mista, que são os livros de Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e
2 Reis. Optamos por Raab, Débora, Ana, Micol, Betsabeia, a
viúva de Sarepta, Josaba e a profetisa Hulda. Incluímos, aqui,
Rute e Noemi, embora esta novela bíblica seja uma narrativa
pós-exílica inserida na obra deuteronomista pelos editores
finais da Bíblia Hebraica.
A motivação para o estudo da presença dessas mulhe-
res foi sobre o rumo que a ação delas demarcou para o futuro
de Israel. Nesse sentido, “se” e “então” tornou-se um refrão
durante nosso estudo, tal como você pode acompanhar na
sequência.
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Sara e Agar
1 O texto que segue foi elaborado pela Irmã Nilda (em memória).
10
dentro da casa patriarcal. Precisa sair, abrir caminho de vida
e liberdade. Essa segunda parte já abre caminho novo. Já apa-
rece o “Mensageiro de Deus”, do Deus da vida, por 4 vezes
(vv. 7.9.10.11). Aqui, a aparição de Deus é algo inusitado
naquela cultura patriarcal. Deus aparece a uma mulher afri-
cana e escrava. A pergunta do Mensageiro de Deus é muito
importante: “Agar, serva de Sarai, de onde vens e para onde
vais?”. Sua orientação é para que volte e se submeta a sua
senhora. Não será para a sua sobrevivência e de seu filho,
uma vez que uma escrava fugitiva não seria aceita noutro
clã, e no deserto gestante não sobreviveria? Volta para a casa
da opressão, porém com outra experiência, como veremos a
seguir.
Agar recebe, então, a mesma promessa de grande des-
cendência que Deus fez a Abrão (Gn 12,1-3). Agar, apesar do
desprezo de Sarai e da inação de Abrão, nunca ficou só, e foi
protegida. No deserto, na aridez, no abandono, na dificul-
dade, acontece o ENCONTRO. Agar, que já recebeu a visita de
Deus no seu mensageiro, agora vê o Deus da vida, no poço
(na fonte) que se faz visível a seus olhos. Deus se lhe revela
numa Epifania. A este Deus, Agar dá nome: “o Deus que vê”
(El Roy). É o Deus que dá nome ao filho “Ismael”, “o Deus que
ouve”. Esse filho recebe o nome dado por Deus, é um filho da
escrava, estrangeira, negra, explorada e excluída. Ele recebe
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a identidade do Deus da vida. Deus não é Deus apenas de um
único povo. Aqui, já percebemos uma abertura para a uni-
versalidade. Resgata-se o valor da identidade das pessoas
excluídas. Depois dessa experiência, Agar já não será mais a
mesma. Volta à casa de onde saiu, e aí Abrão confirma o nome
do filho que Deus lhe dera, Ismael.
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Rebeca
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ao rebanho e traze-me de lá dois belos cabritos, e prepararei
para teu pai um bom prato, como ele gosta”.
Aqui está o drama das culturas: Isaac queria e preci-
sava de um filho guerreiro para defender sua terra. Enquanto
Rebeca queria um filho para cuidar do rebanho da família.
Entretanto, tudo terminou dando certo para as duas tradi-
ções. Então: depois de alguns anos, ao se reencontrarem os
dois irmãos, Esaú sai correndo ao encontro toma-o em seus
braços e, chorando, beija-o. Jacó disse: aceita o presente que
te ofereço, porque Iahweh me favoreceu. Esaú aceita. Por
meio do perdão, os irmãos conseguiram a paz.
É fato que nenhuma mãe deveria amar um filho mais
do que outro. Às vezes, porém, nos vemos diante de uma
situação em que temos que decidir algo que está sendo dis-
cutido ou disputado entre dois filhos, para, então, tomar uma
decisão, e nunca decidir por gostar mais de um do que do
outro. Isto seria uma crueldade. Por que machucar psicologi-
camente um filho a vida toda?
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Lia e Raquel
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mais filho a Jacó, veio a surpresa. Depois de 9 meses, nasce
Zebulon. A mulher amada faz um tratamento com “Mandrá-
goras”, planta considerada afrodisíaca, e inesperadamente
vai gerar dois filhos para Jacó: José e Benjamim.
O relato tem ótica patriarcal e revela a situação humi-
lhante das mulheres naquela sociedade. Seu reconhecimento
pelos homens passa pela capacidade delas de gerar filhos
para eles. E as escravas Bala e Zelfa não passam de meras
posses de suas senhoras a fim de procriarem para o marido
delas. Enquanto isso, o olhar dos homens para as mulheres é
de desejo por sua beleza (cf. 29,17-18).
De um lado, Deus favorece Raquel com a superação
humilhante da sua esterilidade, tal como já fizera com Sara
e Rebeca (Gn 21,1-6; 25,19-28). De outro, reabilita Lia, pois
é a mãe de Judá, o filho antepassado da dinastia de Davi em
Israel, aquele de quem “o cetro não se afastará” (Gn 49,8-12;
cf. v. 10).
Nesta trama de disputas, quem ganhou foi Jacó (Israel),
tendo 12 filhos, 8 com as esposas e 4 com as servas. Mais
tarde, Josué, em homenagem a eles, vai dividir Israel em 12
tribos e vai dar uma porção de terra à geração de cada filho.
Distribuiu a 10 filhos e as outras duas para dois filhos de
José: Manassés e Efraim. Como Levi é a tribo sacerdotal, não
ganhou terra.
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Tamar
2 Este texto foi produzido por Nilva (em memória) e Ivoneide, de Porto
Velho, RR.
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sábia ao ficar com os pertences do sogro. Como todas as notí-
cias correm longe e rápidas, Judá, ao saber da gravidez de
Tamar, ordena que seja queimada. Tamar, então, mostra os
pertences do sogro.
Judá reconhece que sua nora foi mais justa do que ele ao
fazer cumprir a lei do cunhado. Embora estrangeira, Tamar
foi incorporada ao clã de Israel e, através de seu filho Farés,
tornou-se antepassada do rei Davi (Rt 4,12.18-22) e de Jesus
(Mt 1,3; Lc 3,33), o qual também carrega o sangue de muitos
povos.
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A esposa de Putifar
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Várias mulheres no Êxodo
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foi que Moisés conseguiu sobreviver às maldades do Faraó.
Mais tarde, também Séfora, a esposa de Moisés, salvá-lo-á
da morte (cf. Ex 4,24-26). Todas essas mulheres deram uma
grande contribuição para a missão que Moisés viria a desem-
penhar, isto é, libertar o povo hebreu do antro da escravi-
dão, sob a condução de Deus. O exemplo dessas mulheres nos
move a sempre defendermos a vida, em qualquer situação,
mesmo que seja necessário mentir.
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Raab
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E qual é a situação das “mulheres da vida” hoje? Por que se
prostituem? Como nossa sociedade as considera? Há hipocri-
sia e preconceitos nas condenações feitas a elas? Como Jesus
considerava as prostitutas (cf. Mt 21,28-32)?
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Débora
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Hoje, nós temos mulheres na Marinha, no Exército e na
Aeronáutica. E mulheres como ministras de Estado! Todas
preparadas para a guerra. No entanto, não é de guerras nem
de ódio que a humanidade precisa. Precisa de paz, de traba-
lho, de justiça, de perdão, de democracia.
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Rute e Noemi
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ANA
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muita fé e esperança, coloca-se na presença de Iahweh, que
restituiu a dignidade desta mulher.
Vamos ao Texto: “Elcana se uniu à sua mulher Ana, e
Iahweh se lembrou dela. Ana concebeu e, no devido tempo,
deu à luz um filho a quem chamou de Samuel” (vv. 19-20).
Nós precisamos sempre entender os sinais e o tempo de
Deus. Na maioria das vezes, nós fazemos o nosso tempo e
reclamamos da demora de Deus. E foi no devido tempo de
Iahweh que chegou o nosso Samuel, e Ana cumpre sua pro-
messa e consagra o filho a Iahweh. E foi assim, com muita fé
e esperança, que Ana deu ao povo de Israel o último juiz do
tribalismo (7,15-16), e o primeiro profeta a resistir contra a
instituição do reinado (3,20; 8,1ss).
Neste universo de mulheres discriminadas e humi-
lhadas, encontramos muitas histórias de lutas e vitórias,
que só acontecem por causa de sua fé e esperança em Iah-
weh, o Deus que escuta o clamor de seu povo e o liberta
(cf. Ex 3,7-10). Que luzes a perseverança de Ana nos ajudam
hoje a gerar vidas proféticas?
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Micol
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lado de outros homens que também salvaram Davi: Jônatas
(1Sm 19,2-7) e Samuel (1Sm 19,18-24).
A segunda personagem é Davi, homem justo, um tanto
mulherengo, mas que amava sua mulher, Micol. Por que
justo? Porque ele teve duas oportunidades para matar o rei
Saul enquanto ele dormia. Seu companheiro na fuga pegou a
espada e disse a Davi: “Agora, podes te vingar!” Davi lhe res-
pondeu: “Não posso matar o ungido de Iahweh”.
Já o rei Saul, perseguidor de Davi por ciúme do rei-
nado, é homem doente (provavelmente da mente), violento e
cruel. Passou a maior parte do seu reinado perseguindo Davi
e morreu do jeito que viveu: numa guerra violenta, pedindo
que o matassem.
Ontem e hoje, todos que defendem a vida são chamados
de justos. Em Mt 1,19, é dito que José é justo. É justo porque
defendeu a vida de Maria e a de seu filho ainda no útero de
sua mãe. Naquela cultura patriarcal, José podia tanto apedre-
já-la, como também podia mandar apedrejá-la, mas ele foi
justo, pois agiu em defesa da vida, foi além da letra da lei.
Quantas Micol e Davi já passaram pela humanidade em
defesa da vida! Nós, pessoas cristãs, temos o maior exemplo,
que foi o nosso próprio Jesus. De tanto defender a vida de
quem se encontrava na exclusão, seja por causa da opressão
dos romanos seja por causa da discriminação religiosa, Jesus
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foi perseguido e eliminado. Sua execução foi por uma causa
justa e, por isso, sua morte tem sentido. E nós, hoje, seríamos
capazes de mentir para salvar uma vida, de doar a nossa vida
por causas justas?
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Betsabeia
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Ora, o profeta Natã soube da notícia e convoca Betsa-
beia, a mãe de Salomão, e relata o que está acontecendo por
trás das cortinas do Palácio. Natã sabia que, num certo dia,
Davi, apaixonado por Betsabeia, teria prometido o trono para
Salomão (nas Escrituras, não há referência a essa suposta
promessa). Então, Natã disse a Betsabeia: queres salvar a tua
vida e a do teu filho? Procure o rei e peça que ele cumpra
a promessa que fez a você (vv. 12-13). E assim ela fez. Mas
o rei, já muito velho, ficou pensativo porque sabia que, por
direito, o trono era de Adonias.
Natã entra no aposento do rei e relata as atitudes de
Adonias, enquanto o pai ainda estava vivo. O rei Davi manda
chamar Betsabeia e diz: “Pela vida de Iahweh, como te jurei
que teu filho Salomão haveria de reinar depois de mim, assim
o farei hoje mesmo”. Disse Betsabeia: “Viva para sempre o
rei Davi, meu senhor” (vv. 28-31). O rei, depois de convo-
car o sacerdote Sadoc, o profeta Natã e Salomão, manda que
seu filho monte na sua mula e siga para Gion, o local onde
o sacerdote e o profeta irão ungir o rei de Israel. Depois da
cerimônia, todos gritavam: “Viva o rei Salomão” (vv. 32-34).
Se Davi tivesse respeitado o direito de Adonias à suces-
são, certamente a história da dinastia de Davi seria outra,
uma vez que Adonias representava os interesses mais ligados
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ao povo pobre do campo, enquanto Salomão representava os
interesses da elite citadina.
No 1º Testamento, nós vamos encontrar muitas histó-
rias de amor, e esta é uma delas. Quantas histórias iguais a
esta já aconteceram nas nossas vidas! Quantas articulações
foram feitas nos poderes do país para promover golpes con-
tra quem estava do lado do povo!
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A viúva de Sarepta
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mulher estrangeira, sem nome, pobre e viúva, a quem conse-
guiu restituir a cidadania, recuperando suas condições finan-
ceiras e ressuscitando o seu filho.
O texto bíblico não determina o tempo, mas diz: “Pas-
sado muito tempo, a palavra de Iahweh foi dirigida a Elias”
(cf. 1Rs 18,1). A partir desta convocação de Iahweh, inicia-se
a nova vocação de Elias: ele agora é o profeta do povo, ini-
ciando, dessa forma, o “Profetismo”, que se propõe a defen-
der aqueles que não têm justiça e nem voz. Ele descobriu
que, na casa do pobre há fome e morte, porque nas casas das
elites há acúmulo e injustiça, violência e opressão.
Jesus vai seguir esta linha profética de Elias e, por causa
disso, quase antecipam a morte dele (cf. Lc 4,25-26). Quando
assumimos ser profetas e profetisas do povo, podemos estar
preparados para a cruz das perseguições e das calúnias, pois
os poderosos, nos seus palácios de hoje, não vão aceitar as
denúncias proféticas, nem um povo que tem esperança. No
entanto, seremos bem recebidos pelas viúvas e outros sem
teto e sem voz.
Hoje, mais de 2.800 anos desde Elias, quase nada
mudou. O que importa é não ser profetas para legitimar
governos fundamentados na mentira, uma vez que o Diabo
é mentiroso e o pai da mentira (cf. Jo 8,44). Profetas assim
comem no prato dos poderosos. Importa é estar do lado
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certo da história, na mesma luta de Elias, superando a fome
e a morte, animando a esperança. Este foi também o lado de
Jesus, o profeta da Galileia.
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Josaba
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na defesa da vida do menino, pois a própria Josaba também
escondeu a ama anônima no quarto para cuidar do menino
(1Sm 11,2). Assim, também esta ama sem nome contribuiu
para a continuidade da dinastia davídica.
Depois de 6 anos, volta a dinastia de Davi com o rei Joás
(835–796 a.C.). Atalia foi morta pela espada, no palácio real.
E, assim, a dinastia de Davi foi até o reinado de Sedecias, em
587 a.C., quando Nabucodonosor, rei de Babilônia, deportou
o último rei e sua corte para o exílio na Babilônia. Até hoje, os
judeus esperam a vinda de um Messias descendente de Davi
para restituir sua dinastia.
Resumindo, embora vivamos mais de 2.800 anos desde
o reinado de Atalia, o sistema político de opressão sobre o
povo segue do mesmo jeito. É que, tanto no passado como
hoje, as estruturas do Estado são capturadas pelas elites e
colocadas a serviço de seus interesses. Dá-se bem quem
“comer no prato” das suas ideologias. Jesus diria “do fermento
deles” (cf. Mc 8,15). E o povo é massa de manobra e de explo-
ração. O sistema, portanto, continua cruel. Mas o exemplo de
Josaba, que salvou a vida do menino, anima nossa esperança
de reconstruirmos, em nosso país, a democracia golpeada.
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Hulda
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guerra, porém, não entendia a Lei de Iahweh. Por isso, pro-
curou quem a entendia e quem ouvia Iahweh. Ele encontrou
a pessoa certa, a profetisa Hulda. Ela fala com autoridade,
pois proclama a palavra de Iahweh, anunciando a ruína do
reino de Judá. Anuncia o fim da dinastia de Davi. No entanto,
típico da cultura patriarcal, ela é identificada por seu marido,
Selum (v. 14). Hulda é uma das mulheres a quem se aplica o
termo “profetisa”. As outras foram Miriam (Ex 15,20), Débora
(Jz 4,4), Noadias (Ne 6,14) e a companheira de Isaías (Is 8,3).
Então, Iahweh disse: “Mas porque teu coração se como-
veu e te humilhaste diante de mim ...” (v. 19). O rei Josias, a
partir da ação profética de Hulda, cumpriu as leis deuterono-
mistas contidas no livro encontrado. Então, o Livro da Lei foi
lido solenemente e, com autorização do rei, os sacerdotes ini-
ciaram a “Reforma Religiosa”. A centralização do culto unica-
mente no Templo de Jerusalém representou a destruição dos
santuários que ficavam no meio das comunidades, acusando
as suas práticas de idolatria (2Rs 23,4-15).
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Hoje, o exemplo de Hulda nos leva a perguntar:
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