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CURITIBA
2018
2
UNIVERSIDADE UNYLEYA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MISSIOLOGIA
IVANETE PAULINO XAVIER
CURITIBA
2018
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Banca Examinadora
______________________________________
______________________________________
CURITIBA
2018
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Dedico este artigo a Família Xavier, família preta e cristã, especialmente a meu pai,
José Inácio Xavier (in memorian), que apesar de ter sido pai de 14 filhos, educou a todos
com príncipios bíblicos, e em especial a minha irmã Miraci Paulina Xavier, que não
mediu esforços para cuidar de minha filha, na minha ausência. Também ao meu amigo
Juvenildo Gildo Nhassengo, que apesar de ser africano e evangélico, desconhecia a
importância da África para a humanidade.
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AGRADECIMENTOS
A todos que de forma direta ou indireta contribuíram para a realização deste trabalho.
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RESUMO
O objetivo desta pesquisa objetiva-se pelo fato de ter nascido num espaço
evangélico, cantando na Escola Bíblica que meu coração era preto, que alvo mais
que a neve serei e que a cor do pecado era preto. Propõe-se uma aprofundamento
na história da África e nas Escrituras para resgatar antropologicamente e
culturalmente esta temática, tanto da antiguidade quanto atualmente. No capítulo 1
pretende-se abordar as questões relacionadas ao pensamento de Lopes (2006), e
Rodrigues (2017), que embasa os fundamentos bíblicos através da África Negra,
onde os personagens bíblicos se originaram, através da descendência dos filhos de
Noé, para desmistificar a idéia de maldição racial. No capítulo 2, procurarei abordar
em Valter Roberto Silvério (2013) e Rodrigues (2017), apresentar a África da
antiguidade, com suas hierarquia patriarcal e outras hierarquias de poder, que
preservaram suas tradições sem abandonar ou negar o passado. Pesquisar os
períodos das dinastias de faraós negros que onde ficaram no poder por 60 anos. Por
fim, no capítulo 3, pretende-se contar a história de alguns personagens Bíblicos,
tanto do Velho Testamento quanto do Novo Testamento para conhecê-los no seu
contexto histórico. Procurarei usar imagens para desmistificar a ausência de negros
na Escritura Sagrada. Objetiva-se com essa pesquisa, dar essa visibilidade na
parte da leitura bíblica, para excluir ou minimizar a sensação que o nosso Deus e o
Jesus Histórico, habita e reina somente para alguns, por falta de representatividade
bíblica.
ABSTRACT
The purpose of this research is objectified by the fact that I was born in an
evangelical space, singing in Bible School that my heart was black, that I target
more than the snow I will be and that the color of sin was black. It is proposed to
deepen the history of Africa and the Scriptures to anthropologically and culturally
rescue this theme, both from antiquity and today. In chapter 1 we intend to
address the questions related to the thought of Lopes (2006), and Rodrigues
(2017), which bases the biblical foundations through Black Africa, where the
biblical characters originated, through the descendants of the sons of Noah, to
demystify the idea of racial curse. In chapter 2, I will try to present in Valter
Roberto Silvério (2013) and Rodrigues (2017), to present the Africa of antiquity,
with its patriarchal hierarchy and other hierarchies of power, that preserved its
traditions without abandoning or denying the past. Search for periods of dynasties
of black pharaohs that where they stayed in power for 60 years. Finally, in chapter
3, we intend to tell the story of some Biblical characters, both Old Testament and
New Testament to know them in their historical context. I will try to use images to
demystify the absence of blacks in the Holy Scripture. The purpose of this
research is to give this visibility in the part of biblical reading, to exclude or
minimize the sensation that our God and the Historical Jesus inhabits and reigns
only for some because of a lack of biblical representativeness.
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO……..………….……………………………………….……..……....14
CAPÍTULO 1……………………………………………………………………………..19
CAPÍTULO 2……………………………………………………………………………..33
CAPÍTULO 3…………………………………………………………………………….52
CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………………….87
REFERÊNCIAS……………………………………………………………………….....92
14
INTRODUÇÃO
Este projeto de pesquisa nasceu no meu coração, a partir da minha vivência cristã,
dentro das igrejas evangélicas há 50 anos, sem nunca ter sido privilegiada em
participar de um estudo, uma palestra ou um seminário sobre os personagens
1
bíblicos negros. Cresci cantando na Escola Bíblica que “meu coração era preto” ,
2 3
que “alvo mais que a neve serei” e que a cor do pecado era preto .
O Brasil tem a maior população negra fora da África (aproximadamente 100 milhões
de pessoas), só fica atrás de Nigéria, país do continente africano. No entanto, a
baixa representatividade do negro em todas as esferas sociais, dificulta a visibilidade
1
Meu Coração Era Preto, mas Cristo aqui já entrou; Com seu precioso sangue, tão alvo assim o
tornou. E diz em sua Palavra que em ruas de ouro andarei; Oh! Dia feliz quando eu cri, e a vida
eterna eu ganhei.
2
Hino do Cantor Cristão nº 123 - Bendito o Cordeiro, usualmente usado na ministração no Culto da
Ceia do Senhor.
3
Disponível em: <https://br.pinterest.com/pin/650629477387235219/?lp=true>. Visualizado em:
17/08/2018.
15
Jesus. Ele viveu num contexto africano ou já era eurocentralizada? Sua ida ao
Egito após o nascimento, a sua vida na Palestina fazia parte da África? Por que a
invisibilidade dos personagens das histórias bíblicas sagradas? O fato da Etiópia ser
um país cristão mais velho do mundo é discutível para pensar em um cristianismo de
matriz africana? Pelo menos nove dos dezoitos líderes no cristianismo pós-Novo
Testamento eram Africanos. Dentre eles: Clemente, Orígenes, Tertuliano, Cipriano,
Dionísio, Atanásio, Dídimo, Agostinho e Cirilo. Agostinho é reconhecido como o pai
da teologia?
O povo do Norte da África e Egito eram de pele escura, antes da conquista dos
árabes. Qual o legado para os afrodescendentes nos dias de hoje? Marilene Chauí
(2003) afirma que “a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as
idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa
existência cotidiana; Jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado,
compreendido”.
Encontramos na História da África Negra que os núbios foram reis do Egito por 60
anos, entre 1916 e 1919, George Reisner da Universidade de Harvard embarcou no
racismo. A dinastia dos faraós negros foram vítimas de preconceito arqueológico. As
pirâmides de Meroé e o faraó Taharca. A história foi ignorada por muito tempo.
Recusava-se acreditar que pudessem ter sido negros. Somente a partir da década
de 1960 que começou a ser desmontada e arquivada em 2003, quando o
arqueólogo suíço Charles Bommet encontrou em território sudanês sete grandes
estátuas dos faraós negros, entre eles, estava Taharga, filho de Piye e 3º faraó
negro de 25ª dinastia egípcia e personagem da Bíblia, como Tiraca no contexto
bíblico, que ainda não era faraó (II REIS 19.9).
Portanto, nesta temática propõe-se desconstruir o racismo bíblico que nos foi
imposto através da classificação das três raças, sendo uma apresentada a
sociedade como amaldiçoada.
4
LOPEZ. Maciel Mana. Raízes afro-asiáticas do mundo bíblico - Desafios para a exegese e a
hermenêutica latino-americana. In: Raízes afro-asiáticas no Mundo ´bíblico. Revista Ribla n. 54.
Petrópolis. Editora Vozes, 2006. pág. 26 Abud. 26.
18
O oficial assírio soube que o rei da Assíria havia saído de Laquis e que
estava lutando contra a cidade de Libna. Então foi até lá para falar com ele.
Os assírios souberam que o exército dos egípcios, comandado pelo rei
Tiraca, da Etiópia, vinha vindo para atacá-los. Quando o rei da Assíria
soube disso, mandou uma carta para o rei Ezequias, de Judá. A carta dizia
assim: “O seu deus, em quem você confia, lhe disse que Jerusalém não vai
cair nas minhas mãos; mas não deixe que ele o engane. Você já ouviu falar
daquilo que um rei assírio faz com qualquer país que ele resolve destruir?
Por acaso, você pensa que poderá escapar? (BÍBLIA NTLH, 2000).
5
SILVÉRIO, Valter R. Síntese da coleção História Geral da África: século XVI ao século XX/
coordenação de Valter Roberto Silvério e autoria de Maria Rocha e Muryatan Santana Barbosa.
Brasília: UNESCO, MEC, UFSCar, 2013. 784p.
6
BÍBLIA SAGRADA. Nova tradução na linguagem de hoje. Sociedade Bíblica do Brasil. São
Paulo,2000.
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CAPÍTULO I
Começamos este capítulo com uma frase bem conhecida: “No Princípio criou Deus o
céu e a terra” (GÊNESIS 1.1). Pretende-se analisar que esta terra era o continente
africano onde tudo começou.
O mais antigo esqueleto recuperado data de 4,4 milhões de anos. Foi encontrado na
mesma região que a Lucy e recebeu o nome de Ardi, uma fêmea de
Australopithecus que media, aproximadamente, 1,20 m e pesava cerca de 50 kg. O
Australopithecus se ramificou para outras espécies de hominídeo, alguns ficaram
mais altos, desenvolveram o andar sob duas pernas, deixando os membros
superiores livres para agarrar objetos, passaram a controlar o fogo, a fabricar
instrumentos de pedra e madeira e a criar linguagens. Nesse trajeto da evolução
20
No princípio Deus criou os céus e a terra. Era a terra sem forma e vazia;
trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a
face das águas.Disse Deus: "Haja luz", e houve luz. Deus viu que a luz era
boa, e separou a luz das trevas. Deus chamou à luz dia, e às trevas chamou
noite. Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o primeiro dia. Depois disse
Deus: "Haja entre as águas um firmamento que separe águas de águas".
Então Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam embaixo do
firmamento das que estavam por cima. E assim foi. Ao firmamento Deus
chamou céu. Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o segundo dia. E
disse Deus: "Ajuntem-se num só lugar as águas que estão debaixo do céu,
e apareça a parte seca". E assim foi. À parte seca Deus chamou terra, e
chamou mares ao conjunto das águas…[...]. Esta é a história das origens
dos céus e da terra, no tempo em que foram criados: Quando o Senhor
Deus fez a terra e os céus, ainda não tinha brotado nenhum arbusto no
campo, e nenhuma planta havia germinado, porque o Senhor Deus ainda
não tinha feito chover sobre a terra, e também não havia homem para
cultivar o solo. Todavia brotava água da terra e irrigava toda a superfície do
solo. Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em
suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente
(GÊNESIS 1.31-2.7).
Sabe-se hoje que a humanidade teve seu início neste continente, portanto, foi aí
onde as grandes transformações que geraram o ser humano atual, se fizeram pela
primeira vez.
Fonte: anaburke
Portanto, podemos afirmar que o cristianismo também têm matizes africanas e não
nasceu na Europa mas sim na África como afirma Maricel Lopes:
Nota-se a presença maciça da população negra, mesmo entre o povo de Israel como
como mostra Lopes7:
Segundo a memória dos próprios israelitas, quatro das doze tribos de Israel
tem origem africanas. A primeira é a tribo de Levi; segundo Números 12,
uma parte desta tribo tem raízes cuchitas com Zípora, a mulher de Moisés.
A segunda pode-se encontrar no Sl 7.1: aqui vemos relação entre Benjamin
e pelo menos uma pessoa ligada a Cuch (Davi canta com referência a
Cuch); a terceira e quarta tribos estão referenciadas em Gn 41.39-56 onde
Efraim e Manassés tem raízes camitas. Encontramos mais uma tribo em
Gn. 38, na história de Tamar e Judá. No início deste relato, Judá parece
revoltado com o tratamento que os irmãos infligiram ao irmão José. Este
agora está na escravidão no Egito, e Judá se afastou dos outros 10 irmãos
e foi para território cananeu. O que fez lá? Nesta terra juntou-se com uma
cananéia, gerou três filhos dos quais dois morreram e o terceiro não foi
entregue à mãe conforme a lei israelita. Então Tamar volta à casa materna e
anos depois seduziu Judá, quando ficou óbvio que ele não tinha nenhuma
intenção de dar a ela um último filho. Então Tamar gerou de seu sogro Judá
filhos gêmeos que estenderam a linha judaíta. Então Tamar, a Cananéia,
passou a ser parte da linha davídica a partir dessa união. Aqui temos uma
tribo afrodescendente judaíta.
7
LOPEZ. M. M. Raízes afro-asiáticas do mundo bíblico - Desafios para a exegese e a hermenêutica latino-americana. In: Raízes
afro-asiáticas no Mundo bíblico. Revista RIBLA n. 54. Petrópolis: Editora Vozes, 2006.
25
Por muitos anos essas interpretações davam aos líderes eclesiásticos subsídios
para perpetuarem práticas racistas, mesmo que veladas, sem serem incomodados
ou confrontados pela bíblia que é “espada de dois gumes” como afirma em Hebreus
4.12. Quero pontuar as chamadas maldições contra negros e negras do Brasil.
vinho, se embriagou e ficou nú. Cam, ao encontrar o pai naquela postura, fez, junto
aos seus irmãos Jafé e Sem, comentários desrespeitosos sobre o pai. Os outros
dois filhos tomaram uma capa e cobriu a nudez do pai, andando de costas e rostos
desviados, sem que o visse a sua nudez. Assim, ao ser informado pelo seus outros
filhos da depreciação de Cam, amaldiçoou-o dizendo: “Maldito seja Canaã; seja
servo dos servos a seus irmãos. E ajuntou: Bendito seja o Senhor, Deus de Sem; e
Canaã lhe seja servo. Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e
Canaã lhe seja servo”. BÍBLIA SAGRADA, (2012).
Carl Von Linné, o Lineu, naturalista sueco, que fez a primeira classificação racial das
raças na diversidade humana, dividindo o Homo Sapiens em quatro raças:
A descrição dos viajantes que navegavam para as Américas, África e Índia era de
forma consistente em direção à cor da pele e de outras características físicas tais
como o tipo do cabelo, a semi ou completa nudez das populações nativas (Cole,
1972, p 64-65). Eram representadas como selvagens e/ou canibais, negros
selvagens, muitos rudes, também descreviam como bestas na pele de homens e
intermediários entre o homem e o macaco (Silvério, 1999).
No final do século XVIII, segundo Silvério (1999, p.53), a chave para o entendimento
das diferenças era dada pelo velho testamento. As diferenças visíveis da aparência
externa podiam ser interpretadas como: parte de um desígnio divino; causada pela
diferença de ambiente; ou originadas por um ancestral diferente. Em qualquer dos
casos, o significado dominante da palavra raça é o descendente.
Munanga (1994), lembra que entre os anos 70 e 80, ocorre um deslocamento nos
debates sobre racismo e anti-racismo. Ocorre uma racialização da cultura, da
religião, das tradições e das mentalidades, produzindo o surgimento do pluralismo
cultural. Para esse autor, a substituição da noção biológica de raça pela noção de
cultura implica um deslocamento da problemática e a aceitação por todos, porque
nele se esconde o racismo.
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Como este tema é bastante polêmico pois mexe com nosso imaginário,
apresentaremos uma pesquisa que foi recentemente, na maior investigação
científica jamais realizada sobre a diversidade genética da África, berço da
humanidade há cerca de 200.000 anos, pela Universidade da Pensilvânia, sob a
coordenação da antropóloga e geneticista Sarah Tishkoff. Esta pesquisa durou mais
de dez anos, incluindo a coleta de material genético de 3.194 integrantes de 113
populações da África. A conclusão da pesquisa foi que o homem moderno surgiu
numa região situada no sudoeste africano, precisamente, na fronteira entre Angola e
a Namíbia. Lúcio Flávio da Silveira Matos8, citou em seu artigo “O nosso berço”
que:
É ali que vivem hoje aproximadamente 100.000 pessoas do povo San, que
se sustentam essencialmente da caça e da coleta. É o povo africano de
maior variedade genética, a tal ponto que os pesquisadores da Universidade
da Pensilvânia foram levados a concluir que os antepassados dos Sans é
que deram origem à humanidade (MATOS, 2009).
Outras pesquisas já mostraram que uma distância crescente da África, leva a uma
sucessivamente menor diferenciação de genes das populações do nosso planeta.
Portanto, conclui-se ser a África o berço da humanidade, pois a população original
teve mais tempo para acumular variações no seu genoma, o que é denominado de
"efeito fundador". Assim, as populações mais distantes da África são descendentes
de grupos migratórios pequenos e relativamente recentes, o que é traduzido em
maior homogeneidade genética.
8
Disponível em: < http://kabiaka.blogspot.com/2009/>. Visualizado em 14/09/2018.
30
que um bando tribal de até 150 integrantes teria deixado a África, há 50.000
anos, cruzando o Mar Vermelho em direção à Ásia e daí conquistou o
mundo. Conclui-se que os africanos colonizaram primeiro o hemisfério
norte, bem antes de serem colonizados pelos povos brancos, os seus
descendentes (MATOS, 2009).
CAPÍTULO II
9
Disponível em: <https://www.significados.com.br/hegemonia>. Visualizado em: 22/09/2018.
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África não é um continente histórico; ela não demonstra nem mudanças nem
desenvolvimento, e o negro representa o homem natural em todo a sua barbárie e
violência; para compreendê-lo devemos esquecer todas as representações
europeias. (HEGEL, 1937 apud HERNANDEZ, 2008, p.21).
Esta era a ideia do africano por séculos e foi neste contexto, como um ser não
pensante, por ser diferente que foi considerado inferior racialmente. A força do
discurso hegemônico está presente nos debates referentes ao negro e sua história,
por meios de descrições que enfatizam situações de subserviência exploração, sem
a preocupação em demonstrar uma história da população negra muito além da
escravidão. Além disso, esse discurso atribui aos povos europeus a superioridade
cultural, política e econômica.
10
NAJARRO, Abidemi A. Anotação de aula ministrada pelo prof. nigeriano, no curso de extensão de História DA África e Línguas Africanas I. UFPR,
com sua religião, mesmo que seja evangélico, católico ou outra denominação. A
religião não é individual, mas coletiva e se o indivíduo não fizer parte da religião do
núcleo familiar, será excluído da comunidade.
Figura 7: Prof. Abidemi Adebayo Najarro e eu, na 52ª Festa da Independência da Nigéria em Curitiba
(2012).
Porém, para casar, o homem era obrigado a dar à família da noiva um dote, um valor
expresso em algum bem material destinado a compensar aquela família pela perda
de um membro, o que significava uma pessoa a menos para ajudar nos trabalhos
diários e menos uma mulher para reproduzir e dar continuidade à família.
Para o europeu, a poligamia era tida como modo de vida atrasada e que deveria ser
combatida pela religião, enquanto, para os africanos, a prática garantia-lhes a
ampliação do número de descendentes, além de laços de fidelidade e solidariedade
com outras linhagens ou clãs. Encontramos vários exemplos de famílias nas
Escrituras Sagradas constituídas nesse regime de poligamia.
diz a mulher africana. Segundo Kingsley, conheceu homens que prefeririam ter uma
só esposa, mais foram levados a poligamia por suas mulheres. Esse costume, ainda
prevalece em todos os povos africanos (SILVA, 2012, p.483).
Fonte: pibcuritiba.org.br
Quando falamos de Egito, logo vem à memória as Sete Maravilhas do Mundo, a qual
a Grande Pirâmide de Gizé, construída pelos egípcio há cerca de 4 500 anos é a
única maravilha antiga ainda existente11. A história dos egípcios é cercada de lutas,
batalhas e vitórias. E um egito negro incomoda muita gente. Há quem diga que
pensar num Egito Negro é “tudo confusão com os núbios”, “Não, não eram negros,
mas brancos de pele morena”. Os núbios era uma civilização negra também próxima
ao Nilo. Um erro desta natureza e magnitude pensa-se que não acontece por má fé
ou ignorância, só a irresponsabilidade intelectual e talvez o racismo explica.
11
Disponível em <https://m.brasilescola.uol.br/historia/sete-maravilhas-mundo.htm>. Visualizado em
20/09/2018.
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Impossível deixar pra lá que a África e em especial o Antigo Egito tem um papel
mais que central nessa estória. Foi o antigo egípcios que inventaram o papiro, mas o
reconhecimento vem para o grego Calímaco, que durante uma viagem à cidade
egípcia, “inventou” o primeiro sistema de catalogação de livros. Então, vamos
conhecer os núbios, os egípcios afrodescendentes.
Chama-se Núbia à região desértica atravessada pelo rio Nilo, ao norte do atual
Sudão, a centenas de quilômetros ao sul do Vale dos Reis, no Egito. Na Núbia vivia
uma população negra, de língua e origem étnica diferente dos egípcios. Os egípcios
chamavam a Núbia de Kush, nome usado durante toda Antiguidade até o século IV
d.C. A partir daí, com a ocupação do território por nômades chamados noba, a reo
passou a ser chamada de Núbia, terra dos noba, nome que chegou aos nossos dias.
12
Blogueira. Disponível em: <http://blogueirasnegras.org>. Visualizado em 18/09/2018.
42
Em torno de 3300 a.C., a Núbia formou o primeiro nomo13 do Alto Egito e, segundo
os especialistas contribuiu para a unificação do vale do Nilo.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nomo
Assim, Rodrigues (2017) cita que em 2300 a.C. o nome Kush surge, pela primeira
vez, em missões comerciais dos egípcios. A região servia como um corredor de
13 A palavra nomo deriva do grego nomos (plural: nomoi). Para se referirem a estas regiões administrativas os egípcios usaram primeiro a
palavra sepate mais tarde, durante o período de Amarna, qâb. Cada nomo tinha a sua capital, um emblema próprio, um número e uma
divindade tutelar, à qual era dedicado um templo. Cada nomo dispunha igualmente das suas próprias regras e de festas locais. A existência
de nomos no Antigo Egito remonta ao período pré-dinástico, quando várias cidades se uniram para formar um território unificado sob
determinado poder. À frente de cada nomo encontrava-se o nomarca (em egípcio, heri-tep a'a). Este cargo foi em geral hereditário, embora
em teoria o faraó podia nomear quem entendesse para desempenhar o cargo. Em geral, quando o poder real era sólido, era o faraó que
nomeava o nomarca. Em outros casos, como na altura das guerras civis ou de invasões estrangeiras, os nomos organizavam-se por si
próprios, colocando à frente do governo o filho do último administrador. Os nomarcas eram responsáveis pela organização do exército ao
nível local. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Nomo>. Visualizado em 22/09/2018.
43
comércio entre o Egito e a África tropical desde pelo menos 3100 a.C. e através da
Núbia chegavam ao Egito marfim, madeira de ébano, ouro, cobre, animais exóticos,
peles de leopardo, ovos e plumas de avestruz provenientes da África tropical. As
relações entre os dois povos eram pacíficas indicando intercâmbio cultural e
cooperação, incluindo casamentos mistos. Durante o Médio Império (a.C. 2040-1640
a.C.), o Egito começou a se expandir em direção à Núbia visando controlar as rotas
comerciais e o acesso direto às suas riquezas. Guarnições militares foram erguidas
ao longo do rio Nilo, ao sul da Segunda Catarata. Por essa época, florescia na Núbia
o reino de Kerma (a.C. 1700-1500 a.C.) que se tornou um império populoso
rivalizando com o Egito. Por volta de 1550 a.C., ele foi absorvido pelo Império
Egípcio.
Mas a conquista não significou a submissão do reino núbio, ao contrário, ele foi
tratado como vice-reino e administrado pela própria elite núbia. Jovens núbios foram
levados para Tebas onde receberam educação egípcia, como atesta a múmia de
Maiherperi. O reino núbio de Kerma manteve-se sob influência direta do Egito por
cerca de quinhentos anos, absorvendo sua cultura, suas práticas religiosas e
funerárias e adotando a língua e a escrita egípcias. A produção de ouro da Núbia
cresceu significativamente nessa época sendo inteiramente revertida para o Egito.
14 Os egípcios e os núbios deram a essa organização política o nome de “Kush”, tradicionalmente usado para a região do Médio Nilo desde
o Médio Império. Como o nome é encontrado na Bíblia, os autores de língua inglesa usam o adjetivo “cuxita”, enquanto na tradição
historiográfica francesa a dinastia correspondente – a XXV do Egito – é chamada de dinastia “etíope” . Não refere-se a Etiópia atual.
44
Fonte: <https://ensinarhistoriajoelza.com.br/africa-1-reino-de-kush/>.
No meio desta batalha sangrenta encontramos um rei que foi coadjuvante como
personagem bíblico negro. Trata-se de Taharga, filho de Piye e 3º faraó negro da 25ª
dinastia egípcia e como personagem da Bíblia, encontramos com o nome de Tiraca
no contexto bíblico de Isaías 37.9, onde diz: “Ora, Senaqueribe foi informado de que
Tiraca, o rei da Etiópia, saíra para lutar contra ele. Quando soube disso, enviou
mensageiros a Ezequias com esta mensagem:”, onde ele ainda não era faraó.
Notabilizou-se como guerreiro e chefe militar antes mesmo de virar faraó. O contexto
diz:
Ao ouvir o relato, o rei Ezequias rasgou as suas vestes, pôs roupas de luto e
entrou no templo do Senhor. Ele enviou o administrador do palácio,
Eliaquim, o secretário Sebna e os sacerdotes principais, todos vestidos com
pano de saco, ao profeta Isaías, filho de Amoz. Eles lhe disseram: "Assim
diz Ezequias: Hoje é dia de angústia, de repreensão e de humilhação;
estamos como a mulher que está para dar à luz filhos, mas não tem forças
para fazê-los nascer. Talvez o Senhor seu Deus ouça todas as palavras do
comandante de campo, a quem o senhor dele, o rei da Assíria, enviou para
zombar do Deus vivo. E que o Senhor seu Deus o repreenda pelas palavras
que ouviu. Portanto, suplique a Deus pelo remanescente que ainda
sobrevive". Quando os oficiais do rei Ezequias chegaram a Isaías, este lhes
disse: "Digam a seu senhor: ‘Assim diz o Senhor: Não tenha medo das
palavras que você ouviu, das blasfêmias que os servos do rei da Assíria
lançaram contra mim. Ouça! Eu o farei tomar a decisão de retornar ao seu
próprio país, quando ele ouvir certa notícia. E lá o farei morrer à espada’ ".
Quando o comandante de campo soube que o rei da Assíria havia partido
de Láquis, retirou-se e encontrou o rei lutando contra Libna. Ora,
Senaqueribe fora informado de que Tiraca, rei etíope do Egito,(grifo meu)
estava vindo lutar contra ele, de modo que mandou novamente mensageiros
a Ezequias com este recado:(II REIS 19:1-9).
"Digam a Ezequias, rei de Judá: Não deixe que o Deus no qual você confia
o engane, quando diz: ‘Jerusalém não cairá nas mãos do rei da Assíria’.
Com certeza você ouviu o que os reis da Assíria têm feito a todas as
46
Fonte:< https://ensinarhistoriajoelza.com.br/africa-1-reino-de-kush/>.
Por isso, quando Esarhaddon (681-669 a.C.), rei assírio, tomou a cidade de Mênfis,
comemorou a vitória registrando o fato em uma grande estela de pedra. Nela gravou
a sentença:
Sua rainha, seu harém, seu herdeiro e o resto de seus filhos e filhas, seus
bens, seus cavalos, seu gado e suas ovelhas em números incontáveis eu
levei para a Assíria. Arranquei do Egito a raiz de Kush.” (Estela de
Esarhaddon, c.670-660 a.C.)
fundiu-se aos costumes núbios e foi preservado por muito tempo depois do
desaparecimento do Egito Antigo uma vez que o reino de Kush sobreviveu por mais
mil anos.
A ciência tem sido um instrumento usado para identificar e testificar algumas história
e personagens bíblicos. Na Biblical Archaeology Review15, o acadêmico Lawrence
Mykytiuk, professor associado da Universidade Purdue, elaborou uma lista dos
personagens históricos do Antigo Testamento que ficaram registrados em
documentos arqueológicos. Trata-se de colunas de pedra, selos de argila, recibos,
tabletes ou inscrições funerárias que ainda existem após 2.000 ou 3.000 anos,
apesar de guerras, terremotos, depredações e saques. Mykytiuk constatou que, com
os conhecimentos atuais, a partir de provas arqueológicas materiais, se pode
demonstrar a existência de 50 personagens bíblicos. Tiracá (=Tirhakah = Taharqa)
é encontrado nesta lista.
O Vale dos Reis, no sul do Egito, é uma necrópole real que abriga as tumbas da
nobreza egípcia: faraós, rainhas, príncipes, grandes sacerdotes e altos funcionários
da corte. A tumba KV36 pertence a um nobre egípcio chamado Maiherperi18. As
inscrições na tumba e o Livro dos Mortos junto à múmia informam que Maiherperi
cresceu na corte, levado para lá quando criança ou nascido de uma concubina do
faraó. Foi educado como um príncipe e, adulto, tornou-se conselheiro ou
guarda-costas do faraó Tutmés IV (18º dinastia, c.1401/1397 – c.1391/1388 a.C.).
Seu apelido era “Leão no campo de batalha”, talvez uma alusão às suas qualidades
guerreiras.
17 ______.
18 Forbes, Dennis C. Tombs, Treasures, Mummies: Seven Great Discoveries of Egyptian Archaeology. p.104 KMT Communications, Inc.
1998. ISBN 1-879388-00-7
49
Figura 13: Múmia de Maiherperi, nobre de origem núbia, séc. XIV a.C.
Foi sobre o Rio Nilo que, nos anos 1960, os arqueólogos encontraram vestígios de
antigas comunidades sedentárias. Os registros datam de 15 mil anos e são a prova
mais antiga da civilização egípcia. Além de serem personagens historicamente
importantes, os faraós negros do Egito deixaram para a posteridade monumentos
fantásticos – como as pirâmides de Nuri ou Meroë, bem menos conhecidas e
visitadas que as egípcias.
50
Fonte: F
ile: Aumagic.
Mesmo assim, foram solenemente ignorados ou subestimados por muito tempo. Só
nas últimas 5 décadas os arqueólogos passaram a creditar-lhes a devida relevância.
O motivo? Preconceito de boa parte dos arqueólogos que monopolizaram as
pesquisas sobre o Egito do final do século 19 até a década de 1950.
A dinastia dos faraós negros foram vítimas de preconceito arqueológico. As
pirâmides de Meroé e o faraó Taharca. A história foi ignorada por muito tempo. É
importante analisar a questão “cor da pele” em meio a todos esses fatos. Na
antiguidade, a cor não era fruto de preconceito. Os faraós negros tinham peles
escuras e isso não era um fator relevante. Pergunta-se, o que ocorreu para essa
omissão histórica?
Segundo Gonçalves (S.d., N.p), “A ascensão de faraós negros no Egito trouxe à tona
a supremacia de uma civilização africana dos pensadores e historiadores do século
XIX, que colocavam os povos africanos enquanto sinônimo de atraso”.
51
Kendall (G1, 2017), N.p) diz que o real motivo dessa história tão importante ser
latente, foi o racismo existente entre os estudiosos do século XIX e afirma que os
faraós negros foram “vítimas de preconceito arqueológico”.
CAPÍTULO III
Neste terceiro e último capítulo objetiva-se fazer uma leitura bíblica com um olhar
teológico, porém na perspectiva da africanidade. Uma Bíblia onde abriga o africano e
o afrodescente e a partir dela, aprender a analisar os contextos dos locais onde
estes personagens viveram e contribuíram com a história bíblica. Se coletivamente
os africanos foram marcantes, individualmente fizeram-se inesquecíveis no texto
bíblico.
Agar, foi uma das mulheres negras africanas da Bíblia. Agar era escrava de Sara,
esposa de Abraão, primeiro patriarca de Israel. Em meio a tantas fatos da vida de
Abraão relatadas em Gênesis, a história de Agar é quase ignorada em nossos
53
Fonte: projetoredomas
Ao continuar o exercício de olhar para o texto bíblico outra vez e resgatar a figura de
Agar, uma mulher negra que passou por uma história dolorosa de abuso e solidão.
Aprende-se com o choro dessa mulher preta que deu nome a Deus e reconheceu
como o Deus que ouve e que vê.
Abraão foi o pai dos crentes, para judeus e cristãos, seu primeiro antepassado na fé
(Gênesis 12.1- 4a), que teve a honra de ser considerado um dos dois amigos de
Deus, no Antigo Testamento (Isaías 41.8). Para os maometanos, ele foi um dos
quatro grandes profetas: Ibraim, Musa, Issa e Maomé. Seu primeiro filho, Ismael,
nasceu de sua relação com Agar, escrava egípcia, camita, portanto, negra, visto
como Gn. 10.6 e l Cr. 1.8 colocam Etiópia, Egito, Líbia e Canaã como filhos de Cam:
Sarai, a mulher de Abrão, não lhe tinha dado filhos. Ela possuía uma
escrava egípcia, que se chamava Agar. Um dia Sarai disse a Abrão: Já que
o Senhor Deus não me deixa ter filhos, tenha relações com a minha
escrava; talvez assim, por meio dela, eu possa ter filhos. Abrão concordou
com o plano de Sarai, e assim ela lhe deu Agar para ser sua concubina.
54
Isso aconteceu quando já fazia dez anos que Abrão estava morando em
Canaã. Abrão teve relações com Agar, e ela ficou grávida. Quando
descobriu que estava grávida, Agar começou a olhar com desprezo para
Sarai, a sua dona. Aí Sarai disse a Abrão: Por sua culpa Agar está me
desprezando. Eu mesma a entreguei nos seus braços; e, agora que sabe
que está grávida, ela fica me tratando com desprezo. Que o Senhor Deus
julgue quem é culpado, se é você ou se sou eu! (GÊNESIS 16. 1-5, NTLH)
Paloma Nascimento dos Santos (2017)19 chama a atenção para a condição de Agar,
“como escrava, não escolheu ter relações com Abrão, ela foi obrigada”. Numa
releitura do texto, os discursos que circulam nas comunidades de fé ou igrejas, Agar
é contada como a escrava perversa. Há uma inversão de justiça social,
considerando que ela era uma escrava.
Além disso, Deus sustentou, no deserto, essa mulher negra e seu filho e, mais
ainda, concedeu-lhe o privilégio de uma teofania, isto é, apareceu diante dela e lhe
falou (Gn 16..1-16; 17.23-27; 21.8-21):
Mas o Anjo do Senhor a encontrou no deserto, perto de uma fonte que fica
no caminho de Sur, e perguntou: Agar, escrava de Sarai, de onde você vem
e para onde está indo? Estou fugindo da minha dona – respondeu ela.
Então o Anjo do Senhor deu a seguinte ordem: Volte para a sua dona e
seja obediente a ela em tudo. E o Anjo do Senhor disse também: “Eu farei
com que o número dos seus descendentes seja grande; eles serão tantos,
que ninguém poderá contá-los. Você está grávida, e terá um filho, e porá
nele o nome de Ismael,pois o Senhor Deus ouviu o seu grito de aflição.
Esse filho será como um jumento selvagem; ele lutará contra todos, e todos
lutarão contra ele. E ele viverá longe de todos os seus parentes” Então Agar
deu ao Senhor este nome: “O Deus que Vê”. Isso porque ele havia falado
com ela, e ela havia perguntado a si mesma: “Será verdade que eu vi
Aquele que Me Vê?” GÊNESIS 16.7-13).
19
Disponível em: <http://projetoredomas.com/era-uma-vez-uma-preta-que-falou-com-deus/>.
Visualizado em 24/09/2018.
55
Para além de tudo isso, a história de Agar tem muito a nos dizer sobre Deus. Ela
conhece de perto o Deus que vê e ouve, que se relaciona com nossas dores, nos
protege e promete coisas maravilhosas, mesmo quando não conseguimos nos
mover. Como nós, cristãos, temos respondido às Agares de nossa época?
20
O termo raça caucasiano (também chamado de caucasóide) tem sido usado para denotar o tipo
físico geral de algumas ou todas as populações da Europa, Norte da África, Chifre da África, Ásia
Ocidental (Oriente Médio), Ásia Central e Sul da Ásia. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ra%C3%A7a_caucasiana>. Visualizado em 28/09/2018.
56
21
Walter Passos é teólogo, historiador, pan-africanista, afrocentrista e presidente CNNC – Conselho
Nacional de Negras e Negros Cristãos. Disponível em:
<http://cnncba.blogspot.com/2008/01/makeda-rainha-de-sabah.html>. Visualizado em 28/09/2018.
57
Após a visita por seis meses, ela preparou-se para partir e ele entregou um sinete
de ouro e os mais belos presentes que tinha no Reino de Israel. Quando ela partiu,
Salomão sonhou que o sol não mais brilharia em Jerusalém e chorou, com o
coração saudoso, refletiu sobre a existência e escreveu o livro de Eclesiastes.
Fonte: brasilescola
22 Disponível em:
<
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/mulheres-africanas-rainhas-guerreiras-e-lideres-espirituais/ -
Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues>. Visualizado em 28/09/2018.
23
Disponível
em:<https://princesadesaba.wordpress.com/2015/10/21/candaces-a-historia-das-rainhas-negras-de-c
uxe/>. Visualizado em 28/09/2018.
59
Fonte: princesadesaba.wordpress
24
Reino Cuxe – Candaces (Rainhas-Mãe) Mulheres na História.
<http://ensinarhistoria.blogspot.com.br/2014/09/reino-cuxe-candaces-rainhas-mae.html>>.
Visualizado em 24/09/2018.
60
a herança guerreira das Candaces negras africanas pode estar presente em muitas
das mulheres negras que formam a população brasileira na contemporaneidade.
No Cântico dos Cânticos 1.5, fazem da noiva-rainha uma mulher morena, uma
mulher trigueira, uma mulher escura. Mas bons dicionários da língua hebraica nos
garantem afirmá-la uma mulher negra. Ela não diz: Sou morena, mas, Sou negra
(heb. Sh.hora ‘ani). E não diz: “Sou negra, mas sou formosa”; Diz: “Sou negra e
formosa” (heb. W.na’wah). A conjunção waw pode ter sentido adversativo, mas é,
normalmente uma simples conjunção aditiva. Pode-se, portanto, com fez a LXX,
traduzir: “Sou negra e formosa” – Mélaina elmi kai kalê.
25 Etnocentrismo é um conceito antropológico que ocorre quando um determinado indivíduo ou grupo de pessoas, que não têm os mesmos
hábitos e caráter social, discrimina outro, julgando-se melhor ou pior, seja por causa de sua condição social, pelos diferentes hábitos ou
manias, por sua forma de se vestir, ou seja pela sua cultura. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/>. Visualizado em 28/09/2018.
61
Sofonias é o único entre os profetas que têm seus antepassados citados até a
quarta geração. Charles Taylor Jr. afirma: “A razão é, sem dúvida, porque o
Ezequias mencionado é o rei daquele nome, que governara Judá de 715 a 687 a. C.
O nome Sofonias significa “o Senhor o escondeu” – isso representa algo de valor:
escondido pelo Senhor, o que sugere uma origem de família crente e fiel a Deus.
Logo no início de seu livro, Sofonias menciona parte de sua genealogia onde consta
62
que ele é neto do rei Ezequias. Isso garantia-lhe mais respeito e acesso à elite
dominante de Judá; Porém, sua descendência real não o impedia de pregar a
verdade contra as injustiças e os pecados da monarquia.
Fonte: institutoparacleto
Sofonias foi filho de um homem chamado Cusi; esse nome – Cush, em hebraico –
significa Etiópia, e Etiópia significa “a terra do povo de rostos queimados”, ou seja:
Não ouso afirmar que Sansão era negro. Apenas faço uma reflexão sobre o
contexto bíblico onde nos relata as suas enormes tranças. No livro de Juízes 16:13
encontramos: “então, ela o fez dormir, sobre os seus joelhos, e chamou a um
homem, e rapou-lhe as sete tranças do cabelo de sua cabeça; e começou a
26
Disponível em: <https://institutoparacleto.org/2013/05/04/o-profeta-sofonias-a-africa-e-a-arca-da-alianca/>.
Visualizado em 24/09/2018.
63
afligi-lo, e retirou-se dele a sua força”. Na maioria das vezes, o cabelo manipulado
para formar dreadlock, vai conseguir sete ou oito tranças grossas, como Sansão.
Fonte: wikipédia
Durante todo o tempo de seu voto de nazireato, a navalha não passará pela
sua cabeça, até que se completem os dias, em que vive separado em honra
do Senhor. Será santo, e deixará crescer livremente os cabelos de sua
cabeça.
Esse negro é, portanto, alguém em alta posição na corte, tendo acesso direto ao rei,
que o devia ter em alta consideração, e, por isso, atendeu seu pedido, embora fosse
em desafio à decisão dos príncipes, diante dos quais o rei se confessara sem
nenhum poder (Jr. 38.3, 7-13). Essa foi uma ação tão notável que o etíope recebeu,
em recompensa, um oráculo, por intermédio do próprio Jeremias, em que lhe era
prometido livramento, quando acontecesse a destruição de Jerusalém pelo exército
de Nabucodonosor. Sua vida seria poupada, porque ele confiara no Deus Eterno (Jr.
39.15-19). Quantas vezes você se lembra de ter estudado este texto, dando atenção
a este detalhe?
Os últimos cinco dias que Jesus Cristo foram emocionantes. Aconteceu a “Paixão de
Cristo”, celebrada todos os anos pelos cristãos, um episódio trágico até hoje
representado no mundo inteiro pelas comunidades cristãs. Neste texto, levanta-se
algumas questões na Paixão de Cristo. Uma questão relevante foi a participação de
Simão Cireneu. Lendo os textos bíblicos dos três evangelhos (Mateus, Marcos e
Lucas) que narram o episódio, refletimos que considera-se importante para nós
negros Cristãos.
Figura 22: Simão Cirineu
Fonte: http://av1611.net/4829
Simão vinha do campo, o soldado romano, ao ver, logo o obrigam a carregar a cruz,
ele resiste, como parte da nossa história e cultura, mais é forçado. Depois que ele
aceita levar a cruz se torna um aliado de Cristo, no percurso Simão começa a sofrer
também ao ver o sofrimento de Jesus, um Simão já envolvido com Cristo.
66
O homem que um dia carregou a cruz à força agora é um dos pastores da igreja, ele
assumiu a cruz. Quando os escravos negros foram trazidos forçados para a América
também foram obrigados a seguir a Cristo, eles também resistiram, mais logo
perceberam que seguir a Jesus Cristo não eram aquilo que os seus opressores
faziam, eles assumiram também a cruz, e descobriram um Cristo Salvador e
Libertador e já não mais o seguia obrigado, mais como participante da sua morte e
ressurreição. O Cristo que outrora era usado para escravizá-lo agora era o Cristo da
sua libertação da escravidão e racismo. Cansado de ver a história sendo contada
sem a participação da população negra e procurando olhar com olhos negros?
Lúcio de Cirene foi um dos fundadores da Igreja Cristã em Antioquia (na atual Síria),
de acordo com o livro bíblico dos Atos dos Apóstolos, mencionado por nome como
um membro da igreja na cidade após a morte do rei Herodes Agripa: “E na igreja que
estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão
chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o
tetrarca, e Saulo" (ATOS 13:1). Lúcio é indicado como fundador por uma inferência
numa passagem anterior:
67
Acredita-se que tenha sido o primeiro bispo de Cirene, colônia grega situada no
Norte da África (na atual Líbia).
Fonte: rafresco
Apesar de Cirene ter sido ofuscada por outras cidades e ter declinado a partir do
século V DC, deixou uma marca distinta na história da região. Judeus de Cirene
deixaram uma marca espiritual distinta através da sua proclamação do evangelho.
Não é uma coincidência que o Novo Testamento retrata os Judeus da Diáspora de
Cirene e outras cidades Helenísticas como de mente aberta e determinados em seus
esforços para proclamar Jesus aos Gentios. Os Judeus de Cirene foram
fundamentais para Antioquia. Além disso, eles, sem dúvida, contribuíram para a
proclamação do evangelho no norte da África. Homens como Tertuliano, Cipriano e
Agostinho saíram da igreja Africana, mas poucos hoje associam a fé desses homens
aos Judeus zelosos Cirene.
68
Não sabemos o nome, mas sabe-se que no ano 36 d.C, apenas cinco anos após o
Pentecostes, o cristianismo já havia penetrado no coração da África, na pessoa do
eunuco de Candace, rainha de Meroé27. A notícia que lemos no Atos dos Apóstolos
(8.26-39) é muito sóbria, mas apresenta elementos que nos permitem reconstruir
com razoabilidade o cenário histórico da conversão do primeiro negro ao
cristianismo.
Candace era o título da rainha de Meroé. No século VIII antes de Cristo, surgira, ao
longo do rio Nilo a sul do Egito, portanto na África negra, um império cujos
imperadores, entre 750 e 650, ocuparam o trono dos faraós. Empurrados ou
retirando-se para o Egito, transferiram a sua capital de Napata, na grande enseada
do Nilo, para 250 km mais a sul, onde surgiu a cidade que os historiadores gregos
chamaram Meroé. Daí, os reis de Meroé dominaram, servindo-se de um sistema
feudal, quase todo o território do atual Sudão, passando por períodos alternados de
expansão e de recessão.
27
éroe é o nome de antiga cidade na margem leste do rio Nilo, na Núbia, a região do vale
M
do rio Nilo que atualmente é partilhada pelo Egito e pelo Sudão, a cerca de 300 km a
nordeste de Cartum, que foi a capital do Reino de Cuche entre o século VII a.C. e o século
IV da nossa era. UNESCO. África negra. História e civilizações. Tomo I (até o séc. XVIII).
69
Fonte: annebbahia.blogspot
Fonte:annebbahia.blogspot
70
Neste contexto pode-se observar Paulo estava retornando de uma de suas viagens,
ao qual havia ministrado aos gentios, pessoas não israelitas, seus companheiros
rogavam que ele não fosse à Jerusalém, pois estava sob risco de ser assassinado.
E, vendo alguns israelitas, que Paulo estava no templo, o arrastaram para fora, e
queriam matá-lo. Foi quando chegou o tribuno da corte, com soldados e centuriões,
para conter a multidão. Tribuno, na Roma antiga, era um magistrado, eleito como
chefe de cada uma das tribos, que possuía atribuições de diversos caracteres, entre
elas, funções: administrativas, econômicas (cobrança dos tributos), militares
(recrutar as levas de contingente, que cada tribo deveria aportar) e civis.
71
Fonte: hebreunegro
Então, Paulo foi recolhido, a uma fortaleza, pelo tribuno. Em seguida, Paulo
falou-lhe, em grego (pedindo permissão para falar). O tribuno ficou surpreso, quando
ouviu Paulo falar com ele, em grego, e perguntou: "Não és tu porventura EGÍPCIO?
Paulo respondeu: EU SOU HEBREU ISRAELITA. O que isso quer dizer? Isso quer
dizer que Paulo foi confundido com egípcio, e nós já vimos que os egípcios antigos
eram um povo negro vermelho, então, Paulo era negro.
72
Quando ouviram que lhes falava em língua hebraica, escutaram-no com a maior
atenção. Continuou ele: Eu sou HEBREU, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me
nesta cidade, instruí-me aos pés de Gamaliel, em toda a observância da lei de
nossos pais, partidário entusiasta da causa de YAH como todos vós também o sois
no dia de hoje. Atos 22:2-3
Em 2004, Jesus foi eleito o maior ícone negro de todos os tempos, pelo jornal New
Nation, o que levou a um debate sobre a cor de sua pele. Disse o jornal29:
A história confirma que os hebreus eram negros, por isso, algumas das mais antigas
imagens de Jesus/ Yeshua30/ Yahushua31 mostram-no como um negro de pele bem
28
Disponível em:
<http://hebreu-suburbano.blogspot.com/2011/12/com-toda-certeza-apostolo-shaul-paulo.html#3y6hyk
wKclQAj6sC.99>. Visualizado em 25/09/2018.
29
Disponível em:
<https://docs.google.com/document/d/1bpZvfNw_QEOWVSyf06TLSTEcUYAC5TmFofif4ccwoLs/edit#
>. Visualizado em 25/09/2018.
30
Yeshua é um nome de origem judaica. O som da letra Y em hebraico Bíblico soa como um J,
Yeshua (Jesus) é uma variação nominal de Yeshoa ( = Joshua (Inglês) ou Josué (em Português) ,
outro variação é Yeseph ( Joseph = Inglês ou José = Português), Esta regra também inclue : Jonas,
Joel, João, etc )I Quando o nome se se refere a Jesus ( O Senhor ) geralmente vem acompanhado de
um adjetivo também em hebraico para distinção , por exemplo Yeahua, Yamashee ( Senhor Jesus )
ou Yeshua Elohin (Jesus, o Deus). Disponível em: < https://hebreuisraelita.wordpress.com>.
Visualizado em 24/09/2018.
31
Nome do filho do Elohim dos hebreus. Vertente do tetragrama sagrado yhwh ou do hebraico iod hev
vaw rev transliterado para Yaho primeiro nome do Deus dos hebreus dito a Moisés ( Moshes) Raiz do
nome do filho de Num que teve o nome mudado de Oshua (Oséias) para Yahushua que quer dizer;
Yaho salva ou é salvação. O mesmo nome que o anjo deu a Maryah e Yahosef pais do Mashyah dos
Yahudim ( judeus). Fonte: Disponível em: <https://www.dicionarioinformal.com.br/mashiach/>.
Visualizado em 26/09/2018.
74
Fonte: hebreuisraelita
32
A palavra Mashiach significa "ungido". Antigamente, quando um rei subia ao trono, ele era ungido
com óleo. Assim também, haverá um tempo no futuro em que um judeu que seja instruído e
descendente do Rei David será ungido como rei e construirá um Templo em Jerusalém, e reunirá
todos os judeus em Israel. Fonte: Disponível em:
<https://www.dicionarioinformal.com.br/mashiach/>. Visualizado em 26/09/2018.
75
Fonte: hebreuisraelita
Esta imagem etíope é do séc. XVII ou XVIII e retrata um Jesus de pele negra e
cabelo crespo.
Fonte: hebreuisraelita
76
Entretanto, esta imagem é bem mais recente, do ano de 1960. Pode-se observar
pelos traços negróides do nariz, do cabelo e da cor da pele que, segundo Censo do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010)33 - IBGE, identifica-se o fenótipo
étnico raciais da população negra neste afresco.
Fonte: hebreuisraelita
As figuras seguintes, apresenta uma Bíblia do ano de 1611, ilustrativa. Ela mostra
alguns personagens do Novo e Velho Testamento de uma maneira diferenciada, das
quais estamos acostumados a visualizar ou imaginar.
33
Disponível em: <https://censo2010.ibge.gov.br>. Visualizado em 26/09/2018.
77
Fonte: hebreuisraelita
Fonte: https://hebreuisraelita
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Fonte: https://hebreuisraelita
Fonte: https://hebreuisraelita
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Fonte: https://hebreuisraelita
Fonte: hebreuisraelita
80
Fonte: https://hebreuisraelita
Fottps: //hebreuisraelita
81
Fonte:hebreusisraelita
Fonte: hebreusisraelita
82
Fonte: hebreusisraelita
Fonte: hebreusisraelita
83
Fonte: hebreusisraelita
Fonte: judeusisraelita
84
Lança-se um olhar, ainda que rápido, sobre a Bíblia, num sentido mais amplo, para
uma verificação mais segura do testemunho das Escrituras Sagradas sobre o negro.
Temos na Bíblia o testemunho da presença do negro no quotidiano da sociedade
israelita. Temos, na Bíblia, o testemunho sobre a imagem dos negros como
pareciam aos olhos dos israelitas.
Os etíopes, os negros, eram vistos pelos olhos dos israelitas antigos, como homens
belos. As palavras lisonjeiras da diplomacia com que Isaías se refere a eles
transpiram admiração:
Como vai sofrer a nação que fica às margens dos rios da Etiópia, a terra
onde se ouve o zumbido de insetos! Esse país nos manda os seus
mensageiros que descem o rio Nilo em barcos feitos de junco. Mensageiros
velozes, voltem para casa! Voltem para o seu povo forte e poderoso, aquela
gente alta e de pele lustrosa; um povo de quem o mundo inteiro tem medo e
que vive numa região dividida por rios (ISAÍAS. 18.1-2).
Falam de sua alta estatura, de sua pele lisa, lustrosa, suave. Também nisso
concorre e concorda o mundo da cultura grega. Heródoto, diz a respeito dos etíopes:
“Dizem que os etíopes são, de todos os homens, os de maior estatura e de mais
bela compleição física. Entre eles, o mais digno de usar a coroa é o que apresenta
maior altura e força proporcional ao seu porte” (História, Livro III, cp. XX).
85
Mais do que isso, temos na Bíblia o testemunho bastante explícito sobre o lugar dos
etíopes, dos negros, no propósito universal e escatológico de Deus.
Mais significativo ainda é Amós 9.7. 0 SENHOR Deus é o Senhor de toda a história
humana e todos os povos são iguais diante dele. Israel não deve presumir ter mais
importância para o Senhor do que os etíopes, os negros: “Povo de Israel, eu amo o
povo da Etiópia tanto quanto amo vocês”. Os filisteus e arameus foram também
objetos do cuidado divino, e suas migrações foram igualmente dirigidas pela vontade
soberana do mesmo Deus que tirou Israel da terra do Egito e lhe fez a dádiva da
terra “que mana leite e mel”.
Um anjo do Senhor disse a Filipe: “Vá para o sul, para a estrada deserta
que desce de Jerusalém a Gaza”. Ele se levantou e partiu. No caminho
encontrou um eunuco etíope, um oficial importante, encarregado de todos
os tesouros de Candace, rainha dos etíopes. Esse homem viera a
Jerusalém para adorar a Deus e, de volta para casa, sentado em sua
carruagem, lia o livro do profeta Isaías. E o Espírito disse a Filipe:
“Aproxime-se dessa carruagem e acompanhe-a”. Então Filipe correu para a
carruagem, ouviu o homem lendo o profeta Isaías e lhe perguntou: “O
senhor entende o que está lendo?” Ele respondeu: “Como posso entender
se alguém não me explicar?” Assim, convidou Filipe para subir e sentar-se
ao seu lado. O eunuco estava lendo esta passagem da Escritura:
“Ele foi levado como ovelha para o matadouro, e como cordeiro mudo diante
do tosquiador, ele não abriu a sua boca. Em sua humilhação foi privado de
86
justiça. Quem pode falar dos seus descendentes? Pois a sua vida foi tirada
da terra”. O eunuco perguntou a Filipe: “Diga-me, por favor: de quem o
profeta está falando? De si próprio ou de outro?” Então Filipe, começando
com aquela passagem da Escritura, anunciou-lhe as boas novas de Jesus.
Prosseguindo pela estrada, chegaram a um lugar onde havia água. O
eunuco disse: “Olhe, aqui há água. Que me impede de ser batizado?” Disse
Filipe: “Você pode, se crê de todo o coração”. O eunuco respondeu: “Creio
que Jesus Cristo é o Filho de Deus”. Assim, deu ordem para parar a
carruagem. Então Filipe e o eunuco desceram à água, e Filipe o batizou.
Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe
repentinamente. O eunuco não o viu mais e, cheio de alegria, seguiu o seu
caminho. Filipe, porém, apareceu em Azoto e, indo para Cesaréia, pregava
o evangelho em todas as cidades pelas quais passava (ATOS 8. 32b-40).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegando ao final desta pesquisa deste projeto que nasceu a partir da minha
vivência cristã, dentro das igrejas evangélicas há 50 anos, sem nunca ter sido
privilegiada em participar de um estudo, uma palestra ou um seminário sobre os
personagens bíblicos negros. Como cresci num espaço cantando na Escola Bíblica
que “meu coração era preto”, que “alvo mais que a neve serei” e que a cor do
pecado era preto, justifiquei uma aprofundamento na história da África e nas
Escrituras para resgatar antropologicamente e culturalmente esta temática, tanto da
antiguidade quanto atualmente, incluindo as tradições, na evolução civilizatória
africana e nas dinastias de faraós negros e concluindo, com os personagens negros
na releitura bíblica, sob o olhar na perspectiva da negritude.
O Brasil sendo o segundo continente e país com a maior população negra fora da
África, tem uma baixa representatividade do negro em todas as esferas sociais,
dificultando a visibilidade e a equidade racial, a fim de possam exercer plenamente
os direitos. No caminhar desta pesquisa apreendeu-se que Bíblia tem a cor de todas
as culturas. Ela é contemporânea de todas as eras. É nela onde encontramos o
berço da humanidade. É nela que inspiramos as leis da nossa Constituição
Brasileira, portanto é nela também que buscamos e encontramos respostas para
nossos questionamentos.
88
Neste contexto histórico, procuramos apresentar um pouco das história dos núbios,
enfatizando a dinastia de faraós negros, em especial a 25ª dinastia com sua
brilhante atuação no mundo egípcio. Abordamos as recentes descobertas
arqueológicas que denunciam o racismo arqueológico nesta dinastia. Partindo
destes princípios esclarecedores, eu posso me autodeclarar uma pessoas cuxita, por
ser descendente africana.
Não queremos fazer isso apenas pinçando textos bíblicos nos quais apareçam
personagens africanas. Este até pode ser o primeiro passo, um exercício necessário
e interessante. Mas é preciso mais do que isso, é preciso olhar toda a Bíblia na
perspectiva da negritude. Porque essa é nossa experiência, ainda que negada:
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Não predenteu-se encerrar esse diálogo, pelo contrário, esta temática está apenas
no início dos debates entre os Movimentos Negros Evangélicos -MNE em todo o
Brasil. Movimento esse que tem como meta imediata, atrair voluntários e
simpatizantes em diversas localidades e a formação de núcleos regionais,
respeitando as especificidades e demandas de cada unidade. As pautas do MNE
são similares às de outros movimentos negros em diversos aspectos, com ênfase à
resistência ao racismo e criação de consciência negra, social, política, histórica e
cultural. A atuação, segue o modelo do pastor batista e ativista político Martin Luther
King Junior, e conta com a participação de várias igrejas evangélicas.
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REFERÊNCIAS
COSTA E SILVA, Alberto da. A enxada e a lança. A África antes dos portugueses.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
MACEDO, J.R. História da África. São Paulo - SP: Editora Contexto, 2013.
MOKHTAR, Gamal (editor). História Geral da África, II: África antiga, cap. 9.
Brasília: Unesco, 2010, p. 235-272.
SANTOS, J.F. dos. Relações brasil e áfrica para além da escravidão: ensino da
história afro-brasileira e africana numa perspectiva contra-hegemonia. In: LAIA, M.A.;
PALEROSI, D.M.; SILVEIRA (Orgs). Construindo a igualdade racial. II Prêmio de
artigos científicos. São Paulo: Prefeitura de São Paulo, 2012.
SHERIF, Nagm-El-Din Mohamed. A Núbia antes de Napata (3100 a 750 a.C.). In:
M’BOKOLO, Elikia. África Negra: história e civilizações. Lisboa: Vulgata, 2003.
UNESCO. História geral da África, II: África antiga/editado por Gamal Mokhtar. 2.
ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010. 108p.
SILVA, Fernanda Priscila Alves. Agar: A mulher que conversa com Deus. In: As
mulheres tomam a palavra: uma abordagem do processo de visibilização das
mulheres na história. CEBI, 2015.