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EAD

Educação à Distância

Novo Testamento IV

Módulo 10
Seminário Teológico Batista Independente do Sul - STBISUL
EAD – Educação à Distância

Apostila do Módulo 10: Novo Testamento IV

ETEDI – Educação à Distância

Participaram na compilação e revisão:


Prof. Andreu Nunes Monteiro, Pastor José Tomaz R. Lima,
Pastor Mário A. Oreste e Ulrich Schierz

Versão 1.0 / 2017


Pedidos p/ STBISUL
ead@stbisul.com
Fone (51) 3033-4141
Rua Pedro Lerbach 741 – Centro
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1
Índice

EPÍSTOLA AOS HEBREUS ..........................................................................03

QUESTIONÁRIO 1 ........................................................................................14

EPÍSTOLA DE TIAGO....................................................................................15

QUESTIONÁRIO 2 ...................................................................................... 22

PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PEDRO ...............................................................23

SEGUNDA EPÍSTOLA DE PEDRO ..............................................................29

QUESTIONÁRIO 3 .......................................................................................31

PRIMEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO ..................................................................32

SEGUNDA EPÍSTOLA DE JOÃO..................................................................37

TERCEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO ................................................................ 39

QUESTIONÁRIO 4 ......................................................................................41

EPISTOLA DE JUDAS ................................................................................. 42

QUESTIONÁRIO 5 ...................................................................................... 45

O APOCALIPSE ............................................................................................46

QUESTIONÁRIO 6 ....................................................................................... 64

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................67

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EPÍSTOLA AOS HEBREUS

O Nome da Epístola – "Hebreu" era o nome dado aos israelitas pelas nações vizinhas.
Talvez tenha derivado de Éber ou Héber, que significa "homem vindo do outro lado do rio"
(Jordão ou Eufrates) (Gn.10.21,24; 11.14-26; 14.13 Js.24.2). Abraão foi chamado de
"hebreu".

O Rio Jordão estabelece hoje a divisa entre


Israel e a Jordânia

Temos então várias designações para o mesmo povo:


- Hebreu: designa descendência;
- Israel: destaca o aspecto religioso;
- Judeu: da tribo de Judá ou habitante do reino de Judá.

Alguns desses termos foram mudando um pouco de sentido com o passar do tempo. O
"judeu", no Antigo Testamento, estava estritamente ligado à tribo de Judá. Depois do
cativeiro, a maior parte dos que regressaram a Canaã eram da tribo de Judá. Então,
"judeu" tornou-se quase um sinônimo de israelita, já que quase todos os israelitas eram
judeus. O termo tem esse mesmo sentido genérico até hoje.

O "hebreu" do Antigo Testamento era qualquer indivíduo israelita. No Novo Testamento,


esse termo passa a designar mais especificamente aquele israelita que fala aramaico e é
mais apegado ao judaísmo ortodoxo, em contraposição ao "helenista", que é o israelita
que fala grego e está mais influenciado pela cultura grega. Nesse sentido, veja Filipenses
3.5 e 2 Coríntios 11.22, em cujos textos o apóstolo Paulo cita com orgulho o fato de ser
"hebreu" , assim como eram seus pais.

Local de origem da carta – Talvez Itália (Hb 13.24).

Os destinatários – A epístola aos hebreus mostra que seus destinatários eram judeus
cristãos. Ao mesmo tempo em que o autor está se dirigindo a pessoas convertidas a
Cristo (Hb 10.19), ele dá a entender que elas tinham um passado de vínculo com o
judaísmo. Tais irmãos pertenciam a uma igreja, cujos líderes são anonimamente referidos
no capítulo 13 (versos 7, 17 e 24). A localização de tal igreja é objeto de especulação por
parte dos estudiosos e comentaristas. As sugestões mais comuns são: Roma, Jerusalém,
Antioquia, Cesaréia e Alexandria. Como se vê, as possíveis cidades eram grandes
centros. Jerusalém e Cesaréia eram cidades da Judéia. Nas outras, localizavam-se
grandes colônias judaicas. Naturalmente, em todas elas havia igrejas locais que contavam
com a presença de muitos judeus cristãos.

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Propósito da carta – A epístola parece ser uma resposta à heresia pré-gnóstica de um
tipo semelhante àquela combatida em Colossenses. Mas o ponto mais importante recai
sobre a preocupação com os judeus cristãos; há uma exortação contra a apostasia e a
volta ao judaísmo.

Autoria – A epístola não apresenta o nome do seu autor. Muitos são os que atribuem a
Paulo sua escrita. Em alguns manuscritos antigos encontra-se o título: "Epístola de Paulo
aos Hebreus". Evidentemente, o título traz a conclusão de algum copista ou autoridade
religiosa, visto que não faz parte do texto. Alguns "Pais da Igreja" atribuíam a autoria a
Paulo, sem dificuldades. Os defensores dessa hipótese utilizam as palavras de Pedro em
sua segunda epístola (3.15). A passagem informa que Paulo escreveu aos judeus.

Contudo, isso não encerra a questão, pois tal escrito pode ter sido a chamada “carta
aos hebreus”, mas pode também ter sido outra. A referência que o autor faz a Timóteo
(Hb 13.23) também é usada como argumento. Além disso, a epístola está dividida em
dois blocos: doutrinário (capítulos 1 a 11), e prático (capítulos 12 e 13). Isso nos lembra
o método paulino. No texto prático do capítulo 13, temos uma lista de admoestações
curtas, à maneira de Paulo. A doxologia (13.20-21) e a bênção final (13.25) também
reforçam a tese.

Especialmente Clemente de Alexandria (150-215 d.C.) e Orígenes (185-253)


preservaram a tradição de que Paulo seria o autor de Hebreus. Na Igreja Ocidental houve
resistências à autoria paulina até a última metade do século IV, mas foi a opinião conjunta
de Jerônimo e Agostinho que mudou a opinião das pessoas no ocidente.

Os comentaristas que se opõem à autoria paulina argumentam sobre a diferença de


estilo da carta aos Hebreus, quando comparada às epístolas paulinas. Alguns creditam a
autoria a Barnabé, Lucas, Apolo, ou Priscila.

Mesmo a autoria paulina de Hebreus sendo quase unânime na Idade Média, Tomás de
Aquino ousou dizer que Lucas tinha traduzido a epístola para um grego de excelente
estilo. Somente quando, na Reforma, incontáveis tradições antigas foram questionadas,
também esta foi submetida a um minucioso reexame. Calvino defendeu Clemente de
Roma ou Lucas como o autor, e Lutero propôs Apolo.

Aqueles que propõem Barnabé como autor assinalam que ele era um levita de Chipre
(At 4.36) e, portanto, membro do grupo helenista na igreja de Jerusalém. Durante algum
tempo ele foi íntimo colaborador de Paulo (At 9.27; At 11.30; At 13.1-14 e 2328).

Desde os tempos de Harnack, vários estudiosos vêm propondo que Priscila foi quem
escreveu Hebreus, talvez com seu marido Áquila (num papel menos importante); isso
poderia explicar a oscilação entre “nós” e “eu” no livro.

Contudo, é bem melhor reconhecermos nossa ignorância. Não sabemos quem


escreveu a carta; quase com certeza os primeiros leitores sabiam. Com toda
probabilidade, o autor era um judeu helenista que havia se tornado cristão, um crente da
segunda geração (Hb 2.3). Ele estava imerso na Septuaginta e, a julgar pelo vocabulário
e estilo grego excelente que revela, recebera uma boa educação.

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Data – A referência a Timóteo e ao fato de sua prisão faz a datação do livro se projetar
para o final dos anos 60 do primeiro século. Já que as epístolas paulinas não dizem que
Timóteo tenha sido preso, então é possível que a carta aos Hebreus tenha sido produzida
depois daquelas identificadas como de autoria paulina. O livro fala de um sacerdócio em
funcionamento no templo de Jerusalém (Hb 9.6-8; Hb 10.1 e 11). Isso nos faz concluir que
o livro não pode ter sido escrito depois do ano 70, data da destruição do templo. Portanto,
a datação, embora indefinida, fica entre 60 e 70 d.C.

Pano de Fundo –
a) Antigo Testamento: visto que o argumento inteiro da epístola gira em torno da
história e do ritual do Antigo Testamento, deve ser dito que o autor estava
profundamente influenciado pelo ensino bíblico;
b) Filonismo: no fim do século passado existia um forte movimento que supunha que
a mente do autor dessa epístola se firmava no pensamento de Filo, e que só era
possível compreender essa epístola sob o pano de fundo das exposições
filosóficas e alegóricas de Filo;
c) Tradições primitivas: alguns acreditam que esta epístola deve ser vista como um
desenvolvimento natural da primitiva teologia cristã. Há uma tentativa de ligá-la
com a catequese de Estevão (expansão além do templo físico). A idéia de
continuidade entre o velho e o novo concerto, o interesse pela vida terrena de
Jesus, a percepção que sua morte deve ser interpretada, e a mistura de apelos
presentes e escatológicos, são todos pontos básicos da primitiva tradição cristã;
d) Paulinismo: nesta epístola deve ser considerado que existem aspectos da teologia
paulina. Porém é inegável que existem algumas diferenças entre o autor da
epístola e Paulo, por exemplo, a maneira diferente de considerar Cristo em relação
à Lei, pois há ausência daquela luta contra a Lei. Entretanto, tais diferenças não
podem ser exageradas a ponto de rejeitar qualquer influência paulina;
e) O pensamento joanino: tem sido argumentado que a epístola aos hebreus fica a
meio caminho entre os apóstolos Paulo e João, conforme a linha de
desenvolvimento teológico. Os principais pontos de contato entre Hebreus e a
teologia joanina são o uso comum de paralelismo antitético, o conceito similar
sobre a obra sumo-sacerdotal de Cristo, a descrição de Cristo como um Pastor, a
alusão a obra propiciatória de Cristo e sua perfeição.

Características – O livro tem teor cristológico, ou seja, apresenta um verdadeiro


tratado sobre a pessoa de Cristo, principalmente no que tange a sua obra vicária.
O livro é apologético. Seu discurso é um forte pronunciamento em defesa da fé cristã
contra recuos ou desvios.

A carta aos Hebreus liga o Antigo e o Novo Testamento de modo brilhante. Temos na
obra os seguintes confrontos:
- valores da lei x valores da graça;
- símbolos x realidade;
- Antiga Aliança x Nova Aliança;
- passado x futuro (Hb 2.5).

TEMA – A superioridade de Cristo sobre os profetas, os anjos, a lei; sobre Moisés,


Josué, Aarão e sobre os sacerdotes (Hb 1.4; 6.9; 7.7,19 e 22; 8.6; 9.23; 10.34; 11.16,35 e
40; 12.24). A palavra-chave da epístola é: melhor (ou superior, ou mais excelente).

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Esboço
I – A glória e a superioridade de Cristo - 1.1 a 4.13.
II – O novo sacerdócio de Cristo - 4.14 a 8.13.
III – Contraste entre o velho e o novo - 9.1 a 10.39.
IV – A glória da fé - 11.1-40.
V – A vida de fé - 12.1 a 13.25.

ASPECTOS TEOLÓGICOS A DESTACAR

O problema (entre o passado e o futuro) – Os hebreus, a quem a carta foi destinada,


eram judeus que, tendo se convertido ao cristianismo, sentiam-se tentados a recuar,
retornando ao judaísmo. Isto se constituía um sério problema. Viviam um dilema e, com
isso, não cresciam espiritualmente (Hb 5.11-14). Estavam em uma situação de
paralisação espiritual. A carta pretendia mostrar a esses irmãos, que, afinal, já estavam
livres da antiga aliança. Tal propósito era de grande envergadura: se já era difícil provar
aos gentios convertidos que eles estavam livres da Lei, não menos árdua seria a tarefa de
demonstrar o mesmo princípio para os judeus cristãos, que, assim como acontece em
nossos dias, estavam presos ao passado. Deveriam apropriar-se das realidades da graça
que já eram presentes.

Veja-se a comparação:

O PASSADO O PRESENTE / FUTURO


Lei Graça, evangelho
Valores da lei Valores da graça
Templo (material) Igreja (espiritual)
Personagens: Moisés, Aarão, profetas, anjos Jesus e o Espírito Santo
Símbolos Realidades
Sombras Realidades
O visível O invisível
Aparência Essência
Material Espiritual
Transitório Permanente
Temporário Eterno
Realidade física Realidade espiritual
Cópia Modelo original
Figura Verdadeiro
Antiquado, envelhecido Novo
Terreno Celestial

Diversos elementos da Antiga Aliança podem ser comparados à maquete de uma obra
futura. Depois que a obra é realizada, o apego à maquete não tem mais sentido. Da
mesma maneira, a obra de Cristo: ela está consumada!

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Não precisamos mais ficar apegados aos símbolos do passado que apontavam para
Cristo. Não há mais necessidade de um “aio”, o Mestre Jesus, já chegou.

Os hebreus estavam hesitantes diante da graça de Deus e seus benefícios, assim


como seus antepassados estavam no deserto, hesitando diante de Canaã (Hb 4.1), O
retrocesso e até mesmo a apostasia eram perigos iminentes (Hb 4.1; Hb 6.1-6; Hb 10.38-
39). Isso está relacionado com incredulidade, desobediência e rebelião (Hb 2.1-3; Hb 3.12
e 16-19; Hb 4.11). Em lugar desse desvio, os hebreus são aconselhados a avançar com
ousadia (Hb 10.19).

O aspecto cerimonial da Antiga Aliança era algo grandioso, por exemplo: a grandeza do
templo e os belos trajes sacerdotais. Em contraste com isso, a Igreja da Nova Aliança
parece muito simples: não depende de um templo, embora possa utilizá-lo, nem de
vestimentas suntuosas para os ministros de culto. Não depende de grande número: “onde
estiverem dois ou três reunidos em nome do Senhor, ali Ele está presente”. Tudo tão
simples diante dos olhos daqueles irmãos hebreus, ainda apegados ao templo judaico e
suas cerimônias (mas precisavam se acostumar a viver sem ele, pois sua destruição
estava bem próxima – Hb 8.13).

O visível e o invisível (aparência x essência) – O ser humano, em geral, tem a


tendência de se apegar ao passado, e os hebreus não eram diferentes: apegavam-se ao
judaísmo. Por isso, muitos objetos acabaram sendo incorporados à prática religiosa que,
em princípio, é essencialmente espiritual. No Novo Testamento encontramos recursos
visíveis, por exemplo, os lenços de Paulo curavam (Atos). Contudo, é preciso ter cuidado
para não elaborar doutrinas e condicionamentos para a nossa fé a partir desses
elementos!

No Antigo Testamento, Deus usou recursos visíveis com restrições. Ele mandou fazer
a arca da aliança, a serpente de bronze e outros objetos, mas proibiu a fabricação de
imagens de escultura como representação de Deus ou de deuses (Dt 4.12 e 15-19). Deus
pode usar o visível, mas "bem-aventurados os que não viram e creram" (Jo 20.29). A
experiência de Tomé, ao ver o Senhor Jesus ressuscitado, foi autêntica, maravilhosa,
importante, mas melhor seria se ele não tivesse dependido disso. Sua fé não foi suficiente.

Em Mateus 8.5-10, temos o elogio de Jesus ao centurião que não dependia da


presença física do Mestre para que seu servo fosse curado. Tal fé, disse Jesus, não a
encontrou nem mesmo em Israel. Recursos visíveis (objetos ungidos, por exemplo, etc.)
podem até ser importantes para os neófitos na fé, mas é perigoso ficar dependente deles.
Quanto mais dependermos de elementos visíveis para sermos curados ou
abençoados, menor é a nossa fé. Ela não precisa de amuletos. Conforme o autor da
carta aos hebreus, nenhuma dependência de objetos sagrados, lugares físicos ou
sacerdotes terrenos! O destaque nessa carta é a fé, e o capítulo 11aponta para esse
objetivo; seus antepassados, os pais, juízes e profetas, viveram e serviram a Deus,
venceram pela fé e não por vista. A fé é certeza (Hb 11.1). Os leitores da carta deveriam
seguir tal exemplo, libertando-se de toda dependência visual contida no cerimonial judaico.

Portanto, pinturas, esculturas, a arquitetura e a música são alguns elementos que


ajudam a montar um cenário impressionante, mas não constituem essência espiritual
(Obs. 2 Tm 3.5).
O mundo espiritual é invisível para nós hoje, mas um dia poderemos vê-lo. Pela fé,
"vemos" o cumprimento das promessas. Um dia, porém, Cristo aparecerá (Hb 9.28).
Então, o invisível se tornará visível.

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Terra e céu – Utilizando os termos "terra" e "céu", o autor tenta fazer com que seus
destinatários mudem o foco de sua espiritualidade. Jesus já havia apresentado essa
ênfase em sua mensagem ao ensinar sobre o reino dos céus/tesouro nos céus, inclusive
na oração do “Pai Nosso”. Observem-se os textos abaixo:
- Hb 1.10 - terra e céu;
- Hb 4.14 - penetrou nos céus;
- Hb 7.26 - mais sublime que os céus;
- Hb 8.1 - assentou nos céus;
- Hb 9.23 - figura das coisas que estão no céu;
- Hb 9.24 - santuário no céu;
- Hb 12.23 - primogênitos inscritos nos céus;
- Hb 12.25 - Aquele que é dos céus;
- ]Hb 12.26 - terra e céus.

A realidade celestial – Para o escritor aos hebreus, o céu não é um lugar vazio,
envolto em névoa branca. Ele fala de uma cidade celestial, de um santuário celestial e
coisas celestiais, que se constituem em mistério para nós. Em destaque está o santuário
celestial, visto por Moisés no monte e que serviu de modelo para a construção do
santuário terreno. Portanto, os hebreus não deveriam ficar apegados ao santuário terreno,
mas ao celestial, onde Cristo entrou depois de oferecer sua própria vida como sacrifício.
Considerem-se os textos seguintes:
- Hb 3.1 - vocação celestial (passado). Deus nos chama;
- Hb 6.4 - dom celestial (presente). Deus nos capacita;
- Hb 8.5 - coisas celestiais (embora já existam, são futuras para nós);
- Hb 9.23 - coisas celestiais (futuras para nós);
- Hb11.16 - pátria celestial (futura para nós);
- Hb12.22 - Jerusalém celestial (futura para nós).

A solução – O problema dos hebreus consistia no apego a algo bom ("a lei é santa e o
mandamento é santo, justo e bom", Romanos 7), mas isto pode privar-nos daquilo que é
melhor. Esta, como já vimos é uma palavra chave na carta aos hebreus. As expressões
"superior", ou "tão superior", ou "maior" ou "mais excelente", variando conforme a
tradução, também são freqüentes e demonstram o pensamento do autor no seu esforço
por apresentar a superioridade de Cristo e do evangelho no confronto com a lei e a antiga
aliança, conforme demonstrado a seguir: melhor: Hb1.1-4; Hb 6.9; Hb 7.4 e19-22; Hb 8.6;
Hb 9.23; Hb 10.34; Hb 11.16; Hb 11.35; Hb 11.40; Hb 12.24; tão superior: Hb1.4; maior:
Hb 3.3; Hb 7.7; Hb 9.11; Hb 10.29; Hb 11.26; mais excelente: Hb1.4; Hb 8.6; Hb 11.4.

Os hebreus ainda estavam apegados aos personagens do Antigo Testamento: Abraão,


Moisés, Aarão, Josué, Davi, profetas, anjos, etc. Então, a epístola apresenta afirmações
contundentes sobre Cristo; e o autor saiu-se muito bem em sua apologia, embora não
fosse uma tarefa fácil, diante de um povo que tinha um pacto com Deus. Seus leitores já
conheciam a Cristo, porém, ainda não haviam compreendido plenamente sua
personalidade e sua obra. Ele é apresentado como:
 Filho de Deus – Hb 1.1; 4.14;  Sumo sacerdote – Hb 6.20;
 Autor da salvação – Hb 2.10;  Autor e consumador da fé. – Hb 12.2. etc.

A graça por Ele oferecida, a nova aliança, o evangelho e a Igreja, estão suficientemente
afiançados para que sejam aceitos sem hesitação. Jesus é o fiador e o mediador da nova

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aliança (Hb 7.22; 9.15). Embora humilhado, na condição de servo, obediente e sofredor,
fica claro, na exposição da carta que Jesus é superior a tudo e a todos (Hb 2.14-18).

Ao se falar no sacerdócio de Cristo, os hebreus poderiam levantar o seguinte


questionamento: Como Cristo poderia ser sumo sacerdote tendo nascido da tribo de Judá?
Os sacerdotes vinham da tribo de Levi. Por isso, o autor diz que Cristo era sumo
sacerdote da ordem de Melquisedeque, a qual é anterior e superior à ordem de Aarão,
que descendia de Levi. Para que esse impasse se resolvesse, eles deveriam entrar na
nova realidade apresentada por Cristo: a nova aliança com Deus, que é acessada por
meio da fé.

Fundamentos da nova proposta – A fé e o invisível podem parecer propostas


bastantes vagas e propiciadoras de infinita especulação imaginativa, o que de fato têm
ocorrido muitas vezes. Assim, muitas religiões e seitas têm surgido ao longo do tempo.
Diante da pergunta: qual é o fundamento da nossa fé, o autor responde que “a fé é o
fundamento das coisas que se esperam” (Hb 11.1). O fundamento da nossa fé é aquilo
em que cremos. Pela fé aguardamos que um fato aconteça. Então vem a questão crucial:
o fato que se espera foi prometido por Deus? Se a resposta for positiva, então nossa fé
está fundamentada na promessa, na palavra de Deus. Se a resposta for negativa, então
estamos esperando algo que não virá.
Quando Pedro andou sobre as águas, seu passo de fé estava firmado na palavra de
Jesus que lhe disse: Vem! O mesmo ocorreu na pesca milagrosa. Pedro disse: "Sobre a
tua palavra lançarei as redes" (Lc 5.5). Portanto, a fé verdadeira é fundamentada na
Palavra de Deus cujas promessas se cumprem em Cristo, que é “o autor e consumador
da nossa fé”. Para ilustrar o conceito dos fundamentos, observe-se o quadro a seguir:

O que se espera (FUTURO) O que não se vê (ETERNO)


AÇÃO HUMANA
(obediência ou desobediência)
FÉ (Hb 4.2,3; Rm 10.17)
(esperança ou expectação)
PALAVRA DE DEUS
(ordem e/ou promessa de benção ou maldição)
VONTADE DE DEUS

O que se espera, MAS NÃO VEM. O que não se vê E NÃO EXISTE


AÇÃO HUMANA
FÉ OU PRESUNÇÃO
PALAVRA DO HOMEM OU DO DIABO?
(promessa ou ordem)
VONTADE DO HOMEM OU DO DIABO
(imaginação, mentira, ou falso entendimento da palavra de Deus)

Poderíamos desenhar um esquema semelhante a este em representação de questões


legítimas de execução da vontade humana no mundo natural. Nesse caso não
incluiríamos o diabo. O homem pode ter seus desejos, fazer seus planos, empenhar sua
palavra, promover suas ações e fazer com que o que se espera venha a se concretizar.
Contudo, isso não funciona do mesmo modo no mundo espiritual, a não ser que a
vontade de Deus seja a base (1Jo 5.14-15).

Podemos aplicar fé sobre tudo que pedimos a Deus? Apenas quando o nosso pedido
estiver coerente com a sua palavra. Algumas vezes pedimos algo que não está contra a

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Bíblia, mas pode estar contra o plano específico de Deus para cada um de nós. Por
exemplo, se alguém pede que Deus lhe dê riqueza, isso não está contra a Bíblia. Por
outro lado, o Senhor nunca prometeu que todos os seus filhos seriam ricos materialmente.
Se alguém pede, deve fazê-lo com fé. Porém, se tal pessoa não tiver recebido uma
palavra específica de Deus, então sua fé pode ser como uma parede construída sobre a
areia. Veja como foi diferente o caso de Salomão. Deus lhe disse: "Pede-me o que
quiseres". Então, se ele tivesse pedido riqueza, sua fé estaria totalmente fundamentada.
Fez melhor pedindo sabedoria. É o que precisamos para fazer os próximos pedidos.

Às vezes pensamos que estamos fundamentados na palavra quando, na realidade,


trata-se de um falso entendimento da mesma. Por exemplo, em Atos 16.31 Paulo disse:
"Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa". Muitos usam esse versículo para
esperar ou "cobrar" de Deus a salvação da família. Contudo, tal palavra foi dirigida
especificamente ao carcereiro de Filipos e não se trata de uma doutrina, a qual possa ser
aplicada genericamente. Um entendimento errado conduzirá à frustração. Toda a minha
família pode se converter ao Senhor, mas isso não tem nada a ver com Atos 16.31, pois
aquele texto não traz uma promessa para nós. O próprio Paulo escreveu aos Coríntios:
"Como sabes tu, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, como sabes tu, ó marido, se
salvarás tua mulher?" (1 Co 7.16). No caso do carcereiro, creio que Paulo falou por uma
revelação específica destinada àquela família. O mesmo Deus pode revelar hoje. Só não
podemos fazer uma regra a esse respeito.

Quando Pedro andou sobre as águas, a palavra de Jesus foi dirigida especificamente a
ele. Os outros discípulos não poderiam descer do barco. Nós também não estamos
autorizados a fazer viagens a pé pelo oceano.

Muitos citam Mateus 6.33 da seguinte forma: "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua
justiça e as outras coisas vos serão acrescentadas". Desse modo, poderíamos esperar de
Deus tudo o que pudéssemos pedir e imaginar. Essa distorção às vezes acontece quando
se fazem músicas com os versículos. Para encaixar na melodia, o versículo é mudado.
Então as pessoas aprendem dessa forma. Contudo, a Bíblia diz: "Buscai primeiro o reino
de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas". O significado é
bem mais restrito do que normalmente se diz. "Estas coisas" são as que Jesus mencionou
no versículo 25: comida, bebida e vestuário. É verdade que Deus pode nos dar
infinitamente mais. Contudo, o versículo não está prometendo isso. Não podemos ver ali
casas luxuosas, carros, navios, empresas, etc. Seria muita criatividade da nossa parte.

A fé precisa estar fundamentada na palavra. Precisamos, portanto, entender a palavra


(Dn 10.1) e saber a quem ela foi dirigida. Observe que, em Hebreus, os vocábulos
"palavra" e "promessa" ocupam lugar de destaque. As palavras "fé" e "esperança" do
mesmo modo. A "incredulidade" é condenada. Nesse caso, a fé na promessa é
substituída pela expectativa do castigo, a qual é chamada de "expectação terrível" (Hb
10.27). Várias outras palavras, e suas derivações, são encontradas no texto de Hebreus,
por exemplo:

Palavra(s) – Hb 1.3; Hb 2.2; Hb 4.2 e12; Hb 5.13; Hb 6.5; Hb 7.28; Hb 10.28; Hb 11.3; Hb
12.19 e 27; Hb 13.7 e 22. Temos nessas passagens, quase sempre, a palavra de Deus.
Aparecem também as palavras dos anjos, das testemunhas e do próprio autor da carta:

promessa(s) – Hb 4.1; Hb 6.12,13,15 e 17; Hb 7.6; Hb 8.6; Hb 9.15; Hb 10.23 e 36; Hb


11.9,13,17,33 e 39; prometido – Hb 11.11; Hb 12.26; fé – Hb 4.2-3; Hb 6.1 e 12; Hb
10.22 e 38; Hb 11.1,3,4-9,11,13,17,20-25,27,29-31,33 e 39; Hb 12.2; Hb 13.7; creia – Hb

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11.6; esperança – Hb 3.6; Hb 6.11 e 18; Hb 7.19; Hb 10.23; esperando – Hb 6.15;
esperam – Hb 9.28; Hb 11.1; esperando – Hb 10.13; esperava – Hb 11.10; expectação
- Hb.10.27; incredulidade – Hb 3.12 e 19; obediência – Hb 5.8; desobediência e
desobedientes – Hb 2.2; Hb 3.18; Hb 4.6 e 11; Hb 11.31.

Para os irmãos do primeiro século, a palavra escrita de Deus era apenas o Antigo
Testamento. A carta aos hebreus está bem fundamentada nessa porção das Escrituras.
Afinal, não pretende negar o Antigo Testamento, e sim mostrar o seu cumprimento em
Cristo e no evangelho.

Citações do AT na Epístola aos Hebreus

Hebreus Antigo Testamento


1.5 a Salmo 2.7
1.5 b 1 Samuel 7.14; 1 Crônicas 17.13
1.7 Salmo 104.4
1.8-9 Salmo 45.6-7
1.10-13 Salmo 102.25-27
2.6-8 Salmo 8.4-6
2.12 Salmo 22.22
2.13 Isaías 8.17-18
3.7-11 Salmo 95.7-11
3.15 Salmo 95.7-8
4.3 Salmo 95.11
4.4 Gênesis 2.2
4.5 Salmo 95.11
4.7 Salmo 95.7-8
5.5 Salmo 2.7
5.6 Salmo 110.4
6.14 Gênesis 22.16-17
7.17 Salmo 110.4
7.21 Salmo 110.4
8.8-12 Jeremias 31.31-34
10.5-9 Salmo 40.6-8
10.16-17 Jeremias 31.33-34
10.30 Deuteronômio 32.35

11
10.37-38 Habacuque 2.3-4
11.4-37 Diversos episódios do VT
12.5-6 Provérbios 3.11-12
12.20 Êxodo 19.12-13
12.26 Ageu 2.6
13.5 Deuteronômio. 31.6-8; Josué 1.5
13.6 Salmo 118.6

É digna de destaque a leitura messiânica que o autor faz dos textos citados. Temos,
portanto, sólida base, para ver Cristo no Antigo Testamento. É bastante forte a expressão
do autor ao escrever: "Assim, pois, como diz o Espírito Santo." (3.7-11). As palavras
seguintes são do Salmo 95, escrito por Davi e dão claramente a entender que se trata de
um texto inspirado pelo Espírito Santo.

Exortações – O autor da epístola mostra o problema dos hebreus e a solução necessária.


Por isso apresenta várias exortações, ou seja, expressões imperativas que pretendem
induzir à ação. O passado precisa ser abandonado, o futuro deve ser focalizado, crido e
realizado.

A epístola contém exortações que podem ser agrupadas da seguinte forma:

Para evitar o pior Para deixar o passado Para conquistar o presente


/futuro
Não abandone - Hb.10.25 Deixemos - Hb.12.1 Esforcemo-nos por entrar - Hb.4.11
Não se endureça - Hb.3.8 Saiamos - Hb.13.13 Cheguemo-nos - Hb.4.16
Temamos - Hb.4.1 Tendo intrepidez para entrar - Hb.10.19
Aproximemo-nos - Hb.10.22
Guardemos - Hb.10.23
Consideremo-nos - Hb.10.24
Corramos - Hb.12.1
Prossigamos - Hb.6.1
Sirvamos - Hb.12.28
Ofereçamos - Hb.13.15
Conservemos - Hb.4.14
Retenhamos - Hb.12.28
Apeguemos - Hb.2.1

Seja qual for a situação, importa “não abandonar a congregação”, nem "endurecer o
coração". O pecado e o embaraço precisam ser abandonados a fim de que, livre de todo
peso, o crente possa avançar na direção que o Senhor lhe apresenta. Os hebreus são
estimulados a sair de uma situação indesejável e entrar na nova realidade proposta. Eles
estavam deslocados em relação ao propósito de Deus, estavam distantes. Por isso são
convidados a se aproximar do trono da graça.
12
Não se pode seguir a Cristo de longe. Eles também estavam lentos em sua jornada
espiritual (5.11-12); por isso o autor os convida a "correr" (12.1), pois o plano de Deus é
urgente.

O verbo "cheguemo-nos" encontra-se na voz reflexiva. Indica um tipo de ação em que


nós somos, ao mesmo tempo, sujeito e objeto. Isso significa algo pessoal e intransferível.
Nosso posicionamento espiritual não pode ser decidido ou resolvido por outra pessoa.
Jesus já veio e já subiu "abrindo um novo e vivo caminho" (Hb 10.20). O caminho está
aberto. Agora, entrar, caminhar, correr, aproximar, são ações que dependem de cada um.
É interessante observar os verbos mencionados: seu tempo, modo e pessoa. A maioria
deles se encontra conjugada na primeira pessoa do plural, mostrando que o autor
incluía sua própria pessoa em tudo o que estava dizendo. Aí está uma nota de humildade.
É uma atitude desejável para os que pregam, ensinam ou lideram. Os verbos
"retenhamos", "apeguemos", "guardemos" e "conservemos" mostram claramente que algo
podia ser perdido pelos hebreus. O risco da apostasia está evidente em todas essas
expressões.

13
QUESTIONÁRIO I

EPÍSTOLA AOS HEBREUS

1. Dê o significado das palavras abaixo:

Hebreu: ________________________________________________________________
Israel: __________________________________________________________________
Judeu: _________________________________________________________________

2. Qual o propósito da carta aos Hebreus?


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

3. Fale sobre as características do livro de Hebreus.


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

4. Segundo a carta aos Hebreus responda:

a) Em que se fundamenta a fé verdadeira?


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

b) O que é a realidade celestial?


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

14
EPÍSTOLA DE TIAGO
Autoria – De acordo com o primeiro versículo da
epístola, o nome do autor é Tiago, que se
apresenta como "servo de Deus e do Senhor
Jesus Cristo". "Tiago" é a forma grega do nome
hebraico "Jacó", que significa "suplantador". Em
princípio pode parecer que a autoria esteja clara e
bem definida. Entretanto visto que o Novo
Testamento menciona várias pessoas com o
nome de "Tiago", surge a questão de qual deles
teria sido o autor da carta. No mínimo, quatro
personagens distintos levam o nome de Tiago: a)
o maior, irmão de João, filho de Zebedeu (Mt
10.1-4); b) o menor, filho de Alfeu (Mc 15.40); c) o
irmão de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.3); d) o pai de
Tiago, o Maior Judas (Lc 6.16; At 1.13).

Em Atos 1.13-14, três estão presentes, mas o texto fala de um certo Judas, que era
filho de Tiago. Não fica claro se esse Tiago era um dos três já citados ou se poderia ser
um quarto personagem. As passagens dos evangelhos que citam Tiago, geralmente estão
se referindo ao irmão de João. Sua morte é mencionada em Atos 12.2, pois bebeu o
cálice predito por Jesus em Mt 10.38-39. Não sabemos o que aconteceu com o filho de
Alfeu. A partir daí, existem outras referências que citam Tiago, em Atos e nas epístolas,
que, normalmente, se referem à pessoa do irmão de Jesus. Em Gálatas, Paulo fala de
seus contatos com Tiago, irmão do Senhor, que estaria em Jerusalém. Com base nesse
texto, os outros também são associados, por dedução, à mesma pessoa. Isso é bastante
aceito pelos críticos e parece coerente.

Quem segue essa ligação de textos acaba por atribuir ao irmão de Jesus a autoria da
epístola em epígrafe. Alguns comentaristas preferem não seguir essa tendência e se
abstêm de apontar o autor.

Considerando que Tiago, irmão do Senhor Jesus, tenha escrito a carta, pode-se
destacar algumas informações sobre sua pessoa, servindo-se do Novo Testamento, da
tradição eclesiástica e de algumas conjecturas.

Tiago não cria em Jesus antes da crucificação (Jo 7.5). É possível que sua conversão
tenha se dado após a ressurreição de Cristo, quando este lhe apareceu (1 Co 15.7).
Juntou-se, então, aos discípulos (At 1.14), tornando-se apóstolo (Gl 1.19) e uma das
"colunas" da igreja em Jerusalém (Gl 2.9). Sua liderança obteve grande destaque,
conforme se observa em Atos 12.17; At 15.13-29; |At 21.18 e Gálatas 2.12. Tiago veio a
ser chamado "o justo", por sua integridade, e "joelho de camelo" devido às marcas que
possuía em virtude de suas constantes orações. Segundo Flávio Josefo, o irmão de Jesus
morreu em 63 d.C. Sendo pressionado pelos judeus para que negasse a Cristo, e tendo
permanecido firme em suas afirmações, Tiago foi arremessado de um lugar alto nas
dependências do templo. Não tendo morrido com a queda, foi apedrejado até a morte.

Data – Alguns acreditam que a carta foi escrita antes do Concilio de Jerusalém (At 15),
que provavelmente aconteceu no ano 48 a 49 d.C. Sento assim, a carta foi escrita entre
os anos 45 e 48 d.C. Alguns comentaristas sugerem um período posterior. Aqueles que

15
identificam Tiago, o irmão do Senhor, como o autor, atribuem à carta uma data perto do
fim de sua vida, em 62 d.C.

Local de origem – As teorias do local de origem estão intimamente relacionadas com as


várias concepções quanto à datação. Os que acreditam em uma data mais tardia (entre
45 a 48 d.C.) afirmam que foi escrita de Jerusalém. E aqueles que preferem uma data
posterior (62 d.C.), afirmam ter sido escrita em Roma, quando Tiago estava prestes a ser
martirizado.

Destinatários – Esta carta não foi dirigida a uma igreja específica, mas destinada às 12
tribos da dispersão. Alguns acreditam tratar-se de judeus cristãos que se encontravam
dispersos entre várias nações (Tg 1.1; Tg 2.2). Alguns argumentos em favor dessa
compreensão: a) a maneira natural de mencionar o Antigo Testamento (Tg 1.25; Tg 2.8-
13); b) a referência ao lugar onde os destinatários se reuniam dando a idéia de uma
sinagoga (Tg 2.2); c) o uso disseminado de metáforas do Antigo Testamento e do
judaísmo.

Entretanto, outros teólogos, como Russell Shedd, acreditam que a expressão “às doze
tribos” provavelmente não se refere a judeus como raça, mas aos crentes em Cristo, que
se tornaram o verdadeiro Israel de Deus (Gl 6.16; Fp 3.3). Em 1 Pe 1.1 “dispersão”
também se refere a gentios cristãos.

Características – No aspecto teológico, a carta tem como tema principal “a religião


prática”, e dois versículos podem ser considerados como textos-chave da carta (Tg 1.27 e
Tg 2.26). Seu teor é prático, rigoroso e direto; tem estilo semelhante ao sermão da
montanha e usa muitas ilustrações. Apresenta diversos preceitos morais. A carta contém
108 versículos, dentre os quais 54 mandamentos.

Paralelos entre a carta de Tiago e o Sermão da Montanha:

Assunto Tiago Sermão da Montanha


Juramento 5.12 Mt 5.34-37
Resposta à oração 1.5; 5.16-18 Mt 7.7
Prática da palavra 1.22 Mt 7.24-27
Julgamento 4.11 Mt 7.1

O uso de ilustrações:

Tiago, como bom pregador, utiliza de forma magistral as ilustrações como meio de
representar, de modo claro, as verdades ensinadas. Tal recurso ajuda a entender o
ensinamento e também a fixá-lo na memória.
A epístola faz referencia a fatos/personagens reais, eventos hipotéticos, elementos da
natureza e até as obras das mãos humanas para expressar suas idéias. Por exemplo:

 Fatos/(personagens) reais: Abraão (Tg 2.21-23); Raabe (Tg 2.25); Jó (Tg 5.11);
Elias (Tg 5.17-18);
 Eventos hipotéticos: o pobre e o rico na sinagoga (Tg 2.2-4); o irmão necessitado
(Tg 2.15-16);

16
 Elementos da natureza: o mar e as ondas (Tg 1.6); a figueira (Tg 3.12); a videira
(Tg 3.12); o vapor (Tg 4.14); o bosque e o fogo (Tg 3.5); os cavalos (Tg 3.3);
 Obras das mãos humanas: os navios e o leme (Tg 3.4); vestes e anel (Tg 2.2-3);
 Figuras de linguagem: a língua é um fogo (Tg 3.6); a cobiça concebe e dá à luz o
pecado. Este gera a morte (Tg 1.15); vossos vestidos estão comidos de traça (Tg
5.2).

Em alguns textos, não é fácil saber se o autor usa determinada palavra com sentido
figurado ou literal. Por exemplo, as "guerras" em Tiago 4.1.

Esboço –
I – Prefácio e saudações (1.1)
II – As provas e tentações (1.2-18)
III – A prática da palavra de Deus (1.19-27)
IV – A acepção de pessoas (2.1-13)
V – A fé e as obras (2.14-26)
VI – Os males da língua (3.1-18)
VII – Várias exortações práticas (4.1 - 5.20)

Propósito da carta – Estava havendo desavenças entre os cristãos, e Tiago queria


corrigir este comportamento. Esses conflitos eram gerados pelo desnível social: alguns
muito ricos, enquanto a maioria era muito pobre. Havia acepção de pessoas, e os irmãos
falavam mal uns dos outros (Tg 2.1-13; Tg 3.1-18). Tiago argumenta em duas frentes
principais: a) a prática da Palavra de Deus (Tg 1.19-27), e b) as obras que autenticam a fé
verdadeira (Tg 2.14-26).

ASPECTOS TEOLÓGICOS A DESTACAR

Provas e tentações – Tiago introduz o assunto com palavras de impacto: "Tende


grande gozo quando vos forem enviadas várias provações" (Tg 1.2). Isso não faz parte do
pensamento moderno, que procura o menor esforço e o maior prazer.

A epístola mostra que as tentações e provações são elementos presentes e


importantes na vida cristã. Tiago afirma que a prova da fé produz a paciência (Tg 1.3).
Tudo o que Deus permitir de negativo (aos nossos olhos) em nosso caminho terá um
propósito e produzirá alguma virtude em nós. É preciso saber isso para se ter uma atitude
positiva diante daquilo que Deus nos envia ou permite. Isso, evidentemente, se sairmos
vencedores desse processo.

É importante discernir entre prova e tentação e suas respectivas origens. Tiago diz que
ninguém pode dizer que é tentado por Deus (Tg 1.13). Deus prova o crente, mas não o
tenta. A tentação vem por fatores externos (Tg 1.14-17). A isca é exterior. A tentação está
no apetite do peixe. Casos diferentes foram às experiências de Adão, Eva e Cristo. Como
não tinham pecado, a tentação foi totalmente exterior (Gn 3; Mt 4).

Prova é teste. Tentação é indução ao erro. Toda tentação pode ser vista como prova.
Contudo, nem toda prova é tentação. Por exemplo, se Deus nos permite passar por uma
situação de dificuldade financeira, isso pode ser uma prova para demonstrar se
continuaremos confiantes e fiéis ao Senhor ou não. Se, em meio a tudo isso, aparecer
uma oportunidade de ganho ilícito, isso será uma tentação. Estar no deserto é prova.
Oferta de "pedras no lugar de pães" é tentação (Mt 4.3).

17
A prova e a tentação revelam o que há em nossos corações. São formas de manifestar
o que somos interiormente. Tal demonstração não serve para que Deus nos conheça,
pois ele já nos conhece plenamente. A prova e a tentação mostram para nós mesmos a
nossa natureza e fraquezas que talvez não conhecêssemos.

A religião prática – Confrontando a epístola aos Hebreus com a de Tiago, verificamos


que aquela contém uma ênfase sobre a fé. Os destinatários precisavam se livrar da
dependência que tinham em relação aos elementos visíveis do judaísmo. Os valores
invisíveis e celestiais são enfatizados. Tiago também escreve aos hebreus. Porém, seu
discurso tem uma ênfase diferente, pois quer enfatizar o visível. Enquanto a epístola aos
Hebreus fala do céu, Tiago "põe os pés no chão" e convida o cristão a encarar
necessidades e desafios do dia-a-dia. Nisso não existe nenhuma contradição. Os hebreus
não deviam depender de elementos visíveis, tais como o templo, os sacerdotes e os
sacrifícios, para estabelecer ou manter sua relação com Deus. Por isso a fé no invisível é
enfatizada. Entretanto, nosso cristianismo não pode ser invisível. Ele precisa se
manifestar através de ações no mundo físico. Nessa parte entra a ênfase de Tiago sobre
o valor das obras.

Tiago enfatiza o valor do caráter cristão. Sua carta não se aplica à exposição
doutrinária, mas ao apelo veemente à prática de toda doutrina cristã já conhecida. O
conhecimento da palavra é importante, mas o processo não pode parar nesse estágio,
pois até os demônios crêem. O autor mostra que, na prática, há contradições entre a fé
professada e a conduta cristã. Algumas contradições observadas por Tiago:

A palavra é ouvida mas não praticada (Tg1.23);


Confessa-se religiosidade, mas não se refreia a língua (Tg 1.26);
Há reunião em nome de Cristo, mas existe acepção de pessoas (Tg 2.1-4);.
Alguém tem fé, mas não tem obras (Tg 2.14);

Deseja-se o bem ao próximo, mas não se pratica esse bem (Tg 2.15-16);
De uma mesma boca procede bênção e maldição (Tg 3.10-12);
Alguém se considera sábio, mas tem inveja e sentimento faccioso (Tg.3.13-16);
Deseja-se ser amigo de Deus e, ao mesmo tempo, amigo do mundo (Tg 4.4);
Sabe-se fazer o bem, mas não se faz (Tg 4.17). Assim, mesmo cobiçando nada se
tem; e embora pedindo nada se recebe (Tg 4.2,3).

ALGUMAS EXORTAÇÕES CORRETIVAS


Pedir sabedoria a Deus (1.5)
Ser pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para irar-se (1.19).
Rejeitar toda a imundície, receber com mansidão a palavra (1.21)
Ser cumpridor da palavra e não somente ouvinte (1.22).
Mostrar, pelo bom trato, as obras em mansidão de sabedoria (3.13)
Sujeitar-se a Deus (4.7).

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Resistir ao Diabo (4.7)
Chegar-se a Deus (4.8)
Limpar as mãos (4.8)
Purificar os corações (4.8)
Sentir as misérias, lamentar e chorar (4.9)
Ser paciente (5.7)
Orar (5.13)
Cantar louvores (5.13)
Confessar as culpas uns aos outros (5.16)

A prática proposta por Tiago pode ser traduzida pela expressão "boas obras". Isso
inclui: ações a favor do próximo - "... cuidar dos órfãos e das viúvas em suas
dificuldades ..." (Tg 1.27), não somente não fazer o mal, mas efetivamente fazer o bem;
bom comportamento: "... e não se deixar corromper pelo mundo" (Tg 1.27); obediência:
não somente conhecimento da Palavra, fé em Deus e rituais, que podem apresentar uma
religião falsa se não traduzir, na prática, aquilo que a palavra manda.
Observe-se que em todos os capítulos do livro há ocorrências dos termos "sabedoria",
"sábio" ou conjugações do verbo "saber" (Tg1.3 e 5; Tg 2.20; Tg 3.1,13,15 e 17; Tg 4.4,14
e 17; Tg 5.20). Por isso esta carta também ter sido considerada por alguns como o "livro
de sabedoria" do Novo Testamento, a exemplo dos livros sapienciais do Antigo
Testamento, principalmente Provérbios.
O cuidado com as palavras – Além das obras, Tiago enfatiza a importância do
conteúdo da fala. Crer na Palavra de Deus implica falar de acordo com essa mesma
Palavra e também agir desse modo (Tg 2.12). Daí, as admoestações em relação à língua:
não falar precipitadamente, ser tardio em falar (Tg 1.19).
Uma vez falada, a palavra não pode ser recolhida. Portanto, é bom refletir antes de
falar. Assim, evitam-se ofensas, pedidos mal feitos (Tg 4.3), planos incertos (Tg 4.13-15)
e até mesmo votos que não podem ser cumpridos (Ec 5.4-6); não falar demais - a isso
correspondem as expressões "frear", "refrear" e "domar" a língua. (Tg 1.26; Tg 3.1-12);
não mentir - o crente preza a verdade (Tg 3.14); não amaldiçoar (Tg 3.10); não acusar
a Deus (Tg 1.13); não usar palavras vazias em lugar da ação necessária (Tg 2.16).
Esse falar vão pode até ser uma oração. Ao invés de somente orar, em muitos momentos
é preciso também agir. É preciso agir. Ex. Moisés diante do Mar Vermelho (Ex 14.15);
não falar mal nem julgar os irmãos (Tg 4.11). Se existe um problema a ser resolvido
com uma pessoa, então não adianta comentar o fato com outros. Talvez, o mal falado até
seja verdade. Contudo, ainda assim trata-se de maledicência. Mesmo que o irmão esteja
errado, não deve ser difamado. Cam, o filho de Noé foi amaldiçoado por ter espalhado a
notícia sobre a nudez de seu pai. Os filhos Sem e Jafé tomaram a providência de cobrir a
nudez paterna e por isso foram abençoados; não reclamar dos irmãos (Tg 5.9); Não
jurar em lugar de todas essas coisas, o crente deve orar, cantar louvores e confessar
seus pecados (capítulo 5 a partir do versículo 13).

Sintetizando, Tiago ensina:


 a Palavra de Deus deve ser ouvida e recebida;
 a fé deve ser depositada em Deus e em sua palavra;
 o falar e o agir, devem ser coerentes com a Palavra.

19
Observe-se o quadro abaixo:
Ouvir Crer Falar Agir
(a palavra) (fé) (o falar certo e o errado) (boas obras)
(inclusive oração e louvor) (em benefício do próximo)
(manifestação da sabedoria)
1.18,21,25 1.6 1.5,13,19,26 1.4,22-27
2.14-26 2.3,12,14,16 2.12,14-26
3.1-12,14 3.13-17
4.311-12,13-15 4.17
5.4,9,10,13,14,15,17,18 5.20

Arrependimento e juízo – Diante de uma realidade religiosa tão contraditória, e tendo em


vista o juízo divino, Tiago convida seus leitores ao arrependimento.

Juízo, justiça e termos derivados Convite ao arrependimento, ao choro e à


confissão
1.20; 4.7-10
2.4,9,12,13,21,23,24,25 5.1,15-16; 5.19-20
3.1,18
4.11,12
5.6, 9,12, 16

A fé e as obras – Um dos assuntos mais polêmicos que envolvem a carta de Tiago é o


confronto entre fé e obras. Nela fala-se mais das obras, já que o autor observou a
gravidade da ausência das mesmas na vida religiosa do povo. É como um médico que
está indicando um reforço alimentar para suprir a falta de determinado nutriente, sem,
contudo, menosprezar os outros.

A fé é importante, como é demonstrado em Romanos e em Hebreus. Entretanto, se fé


não produzir evidências visíveis, será como um plano nunca realizado, como árvores
infrutíferas. Obra é fruto do Espírito (Tg 3.13,17; Gl 5.22). A fé se mostra superior nessa
questão porque a salvação depende dela. “Pois vocês são salvos pela graça,...” (Ef 2.8).
"Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado" (Mc 16.16).
Certamente ninguém será condenado pela falta do batismo e sim pela falta de fé.
Entretanto, aquele que tem fé deverá manifestá-la através de atos de obediência,
inclusive batizando-se. As obras devem ocorrer de acordo com os recursos e o
tempo que Deus tiver concedido ao homem. A fé é superior porque produz as obras e
não o contrário. (Tg.2.14).

Conflito aparente entre Tiago e Paulo – "Vejam que uma pessoa é justificada pelas
obras e não apenas pela fé" (Tg 2.24). "Pois sustentamos que o homem é justificado pela
fé, independente da obediência à lei" - Paulo, em Romanos 3.28.

Lendo estes dois versículos, pode-se pensar que Tiago e Paulo estão se contradizendo.
Martinho Lutero tinha essa posição e chegou a usar a expressão "epístola de palha" com
referencia a esta carta. Há quem diga que Tiago tenha escrito para atacar Paulo e seus

20
ensinamentos. Tais hipóteses atentam contra a inspiração divina das Sagradas Escrituras.
Na verdade, os dois autores estão escrevendo sobre um assunto abrangente, mas sob 2
pontos de vista: a) Paulo (Romanos) combate a tese judaizante daqueles que exigiam dos
gentios o cumprimento da lei mosaica. b) Tiago, por sua vez, enfatiza o valor prático de
uma fé que se traduz em obras. Não há contradição, pois ambos escreveram inspirados
pelo mesmo Espírito de Deus!
Imagine que alguém entra no prédio de uma escola e queira logo apresentar trabalhos
de pesquisa, fazer provas e exercícios. Será que a direção acadêmica aceitará tudo isso?
De maneira nenhuma. Se o indivíduo não está matriculado, ainda não é aluno da escola.
Então, não tem nenhum valor qualquer trabalho apresentado por ele. O que é necessário?
A matrícula, o compromisso, o vínculo. Assim, depois de matriculado, imagine que esse
novo aluno resolva ficar em casa, totalmente alheio aos seus deveres escolares.
Certamente a direção da escola irá procurá-lo para cobrar tudo o que ele deveria estar
fazendo. Assim, antes de sermos cristãos, de nada servem as nossas boas obras.
Entretanto, agora que estamos salvos pela fé, precisamos executar as obras como fruto
normal de um cristianismo autêntico e sadio.
Em Romanos 3, Paulo apresenta a futilidade das obras da lei no plano de salvação.
Em outros escritos seus, o apóstolo deixa claro o quanto valoriza as boas obras de modo
geral. Não que elas possam nos salvar. "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isso
não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef
2.8-9).
Quando escreveu a Tito, Paulo colocou nas boas obras a maior ênfase da carta (Tt 2.7
e 14; 3.1,8 e 14). Contudo, no mesmo texto, o apóstolo deixa claro que as obras não
salvam (Tt 3.4-5).
Considerando suas epístolas de modo geral, Paulo enfatiza a fé, sem desvalorizar as
obras. Tiago enfatiza as obras, sem desvalorizar a fé. De fato, ambas as coisas são
importantes. A fé sem as obras é morta. Da mesma forma, as obras sem fé são obras
mortas (Hb.6.1).

Glossário de termos na Carta de Tiago

 Improperar - censurar (1.5);


 Dobre - dupla face (versão católica); vacilante (Thompson) (1.8);
 Andrajoso - esfarrapado (2.2);
 Estrado - tablado ou piso acima do nível do chão (2.3);
 Deferência - respeito. (2.3);
 Régio - real (do reino). (2.8);
 Argüido - censurado. (2.9);
 Peçonha - veneno (3.8);
 Jactância - orgulho (4.16)
 Jornal - salário por um dia de trabalho (5.4);
 Cevaste - engordaste (5.5)
 Presbíteros - anciãos, pessoas maduras, pastores (5.14).

21
QUESTIONÁRIO II

EPÍSTOLA DE TIAGO

1. Qual o propósito da carta de Tiago?


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

2. O que Tiago fala com relação à “Provas e Tentações”?


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

3. Tiago mostra que, na prática, há contradições entre a fé professada e a conduta cristã.


Exemplifique cinco delas.

1. __________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

2. __________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

3. __________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

4. __________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

4. O que Tiago diz a respeito do “cuidado com as palavras”?


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

22
PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PEDRO
Texto chave – 4.1

Palavra chave – Sofrimento (1.11; 2.20; 3.17; 4.19; 5.1,9, 10).

Autoria – Apesar de ter sido considerado homem


inculto e iletrado (At 4.13), Pedro escreveu uma
epístola de alto nível. Talvez esse rótulo advenha
do fato de Pedro não ter freqüentado as
universidades gregas da época, nem ter sido um
escriba ou doutor da lei. Contudo, isso não
significa que fosse analfabeto e ignorante. Se lhe
faltava muito da vasta cultura grega, o mesmo não
se pode dizer quanto ao idioma, pois o grego era
falado por todas as classes sociais. Além disso,
falava o aramaico e talvez o hebraico.

Como todo bom judeu, Pedro tinha conhecimento


da lei de Moisés e demais Escrituras do Antigo
Testamento. A forma do seu texto pode também
O apóstolo, Pedro
ter sido influenciada pela mão de Silvano, que foi
seu amanuense (1 Pd 5.12).

A autoridade do autor fica evidente. Além de ser apóstolo (1 Pd 1.1), Pedro foi
"...testemunha dos sofrimentos de Cristo, ..." (1 Pd 5.1). Seu ensino estava, portanto, bem
fundamentado, sendo digno de aceitação. Além de Silvano, também Marcos estava na
companhia de Pedro quando escreveu a primeira epístola (1 Pd 5.13).

Existem teorias que negam ser o apóstolo Pedro o autor da carta. Mas, independente
dos diferentes pressupostos o argumento é de que a carta foi escrita por um grupo de
homens que remonta à tradição de Pedro, era uma “escola petrina”. Estas teorias
ensinam que tal grupo utilizou o nome de Pedro na carta para dar autoridade e
credibilidade ao escrito. Esta prática, comum da época, é chamada de autoria
pseudônima.

Data – A data de sua morte estaria situada entre os anos 64 e 68 d.C. (cf. BRUCE,
2003), período no qual escreveu a carta. Supõe-se que Silvano, fazendo papel de um
amanuense, escreveu a carta, que foi ditada por Pedro (1 Pe 5.12); mas a autoria do
Pedro fica evidente. Além de ser apóstolo (1 Pe 1.1), Pedro foi testemunha das aflições
de Cristo (1 Pe 5.1 ). Seu ensino estava, portanto, bem fundamentado, sendo digno de
aceitação. Os comentaristas sugerem datas entre 63 a 68 d.C. para os escritos de Pedro.
Especificamente para a primeira carta, o ano mais indicado é 64.

Local da escrita – Alguns estudiosos divergem quanto ao local da autoria da primeira


epistola de Pedro. Todavia, acredita-se que Pedro tenha escrito de Roma, pois usou o
nome Babilônia em referência à capital que dominava o mundo daquela época, a cidade
de Roma. Babilônia era um sinônimo de domínio, de império e de poder. Por isso
especula-se que Pedro usou o termo Babilônia para referir-se a Roma. Um bom
argumento é o de que a época de sua carta foi também a de sua morte, que, segundo
Orígenes, aconteceu em Roma. Outros estudiosos, mais conservadores, tomam o texto
de 1 Pedro 5.13 como sendo realmente a região babilônica, à beira do Eufrates, e
23
sugerem que Pedro tenha evangelizado e lá implantado uma igreja: "Aquela que está em
Babilônia, também eleita ...”.

Destinatários – Referindo-se ao destinatário, o primeiro versículo da epistola já orienta


a quais regiões, ela é destinada: "Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia" (1 Pe 1.1). Alguns
supõem que sejam igrejas fundadas pelo apóstolo Paulo, porque passou por aquela
região durante sua primeira viagem missionária (At 13.13; At 14.28). Outros sugerem que
foram pessoas evangelizadas no episódio de pentecostes (At 2.10) e, voltando para casa,
expandiram a mensagem, formando comunidades cristãs. Também especula-se que
Pedro poderia ter ido até a região e implantado igrejas.

O grupo para quem Pedro escreve é formado de gente de origem judaica e de outros
de origem gentia ou pagã. Só isso já aponta para potenciais dificuldades, sempre
inerentes em grupos de formação cultural heterogênea, como era o caso dos judeus.

Durante algum tempo, Pedro foi contrário à evangelização dos gentios. Vemos,
portanto que, por ocasião do envio dessa epístola, tal problema já tinha sido superado.
Agora Pedro já aceita os gentios e os considera tão dignos do evangelho e do reino de
Deus quanto os judeus. O apóstolo chega a tomar palavras ditas a Israel no Antigo
Testamento, aplicando-as aos gentios que fazem parte da igreja. "Antes vocês nem
sequer eram povo, mas agora são povo de Deus; ..." (1 Pd 2.10). Outros textos
desenvolvem esse paralelismo entre a Igreja e Israel, citando o sacrifício e o templo numa
nova perspectiva (1 Pd 1.19; 1 Pd 2.4-5). A epístola foi dirigida aos irmãos que moravam
em regiões por onde Paulo passou e fundou Igrejas.

Por que Pedro escreveria para eles? Isso faz com que alguns entendam que, quando
essa epístola foi produzida, Paulo já teria morrido. O fato de Silvano e Marcos, antigos
companheiros de Paulo, estarem com Pedro também é usado como argumento a favor
dessa hipótese.

Circunstância – A carta foi escrita numa época de grande perseguição imperial contra
a igreja após o incêndio em Roma. No livro de Atos, os principais perseguidores eram os
judeus. No período em que Pedro escreveu, os perseguidores passaram a ser os gentios
(1 Pe 4.3,4 e 12). Esta primeira carta foi escrita para os cristãos que viviam em cinco
províncias romanas que ficavam numa região que hoje faz parte da Turquia. Os leitores
estão enfrentando sofrimentos e perseguições por causa da sua fé, e o apóstolo mostra
que os sofrimentos servem para provar que a fé que eles têm é verdadeira (1 Pe 1.7).
Várias expressões usadas por Pedro apontam nessa direção: “... entristecidos por todo
tipo de provação...” (1 Pe1.6).

 2.11, conflito interno à pessoa - “paixões carnais que fazem guerra contra a alma”;
 2.12 os “gentios” falam dos crentes - “como malfeitores”;
 2.20 os “servos” entre eles são - “esbofeteados” e “afligidos”;
 3.14 ameaças contra os cristãos – “não vos amedronteis, portanto, com suas ameaças”;
 3.17, sofrimento pelo bem – “é melhor que sofrais por praticardes o que é bom”;
 4.4 difamação – “por isso difamando-vos, estranham”;
 4.13 sofrer como Cristo - “sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo”;
 5.9 Sofrimento coletivo – “sofrimento iguais aos vossos estão [...] em vossa irmandade”.

24
A primeira carta de Pedro revela ser uma escrita para dentro de uma situação de
conflito. O autor usa a expressão “várias provações”, para dizer que o sofrimento
acontece de varias formas (a palavra “várias” provém de um antigo termo grego, poikolos,
que significa “diversificado”, ou “muito colorido”).

Características – O conteúdo da Carta é exortativo, consolador, cristológico,


cristocentrico. Observa-se que Tiago quase não cita Jesus em sua carta. Pedro, porém,
cita-o a todo momento. Aquele que o havia negado, agora tem no seu nome a base de
sua doutrina. Pedro apresenta Jesus como:

o Fonte de esperança - 1.3;


o Cordeiro do sacrifício - 1.19;
o Pedra angular - 2.6;
o Exemplo perfeito - 2.21-23;
o Aquele que levou nossos pecados - 2.24;
o Sumo pastor - 2.25;
o Bispo das nossas almas - 2.25;
o Aquele que está assentado à destra de Deus - 3.22.

Realidades preciosas para Pedro

o Provas - 1.7;
o Sangue - 1.19;
o Pedras - 2.4;
o Cristo - 2.6;
o Espírito manso - 3.4

Propósito da carta (firmar, orientar, confortar) – Pedro oferece uma palavra de


esperança, menciona os fundamentos da fé cristã e o que Deus tem para nós no futuro.
Quando as tribulações se multiplicam, é oportuno lembrar, para renovação da fé e do
ânimo, as seguintes verdades: a obra de Cristo no passado (1 Pe1.3) e a herança cristã
no futuro (1 Pe 1.4-5). Em tais circunstâncias, é necessário que nos lembremos de quem
somos. Pedro destaca essa realidade espiritual, utilizando enfaticamente o verbo ser:
"Antes... nem... eram povo... agora são... povo de Deus, ..." (1 Pe 2.9-10). "... que
mediante a fé, são protegidos pelo poder de Deus..." (1 Pe 1.5). "... na edificação de uma
casa espiritual..." (1 Pe 2.5).

O autor lembra aos seus leitores o que Cristo fez por eles (1 Pe 1.2,3 e 19; 1 Pe 2.5 e
21; 1 Pe 3.18).

Esboço –
I – Natureza da salvação - 1.1-21
II – Crescimento do cristão - 1.22 - 2.10.

25
III – Vida cristã prática - 2.11 - 3.22.
IV – Exortações diversas - 4.1-19
V – Admoestações aos líderes - 5.1-14.

ASPECTOS TEOLÓGICOS A DESTACAR

Podemos delinear uma seqüência de pensamentos na epístola, embora os temas às


vezes se intercalem.

A natureza da salvação (1.1-12) – Salvos pela obra de Cristo: o autor começa sua
epístola falando sobre a salvação e a herança no céu. Os irmãos que estavam
padecendo perseguições poderiam questionar sobre o efeito de sua conversão. Talvez
alguns estivessem esperando uma herança na terra, uma vida tranqüila e próspera.
Deus pode dar todo tipo de bênção material, mas isso não é promessa de Cristo para
todo aquele que nele crê, pois depende da vontade de Deus para cada pessoa. O que ele
promete a todos nós é a vida eterna, uma herança nos céus.

Não devemos esperar conquistas materiais como efeito obrigatório do evangelho. O


resultado pode ser frustração. Por outro lado, nada impede que o cristão trabalhe para
conseguir o que lhe for lícito, assim como também fazem os não salvos. Entretanto, a
busca material não se tornará o objetivo principal da nossa vida ou da nossa fé.

O crescimento do cristão (1.13 - 2.10) – O que somos e o que devemos ser: Agora
que estamos salvos, precisamos do crescimento espiritual, que só é possível mediante
o legítimo alimento espiritual: a palavra de Deus (1 Pe 1.23-25; 1 Pe 2.1-2). A palavra
"portanto" (1.13), liga as duas seções do texto e aponta para as admoestações que
estariam relacionadas às conseqüências naturais ou necessárias ao bom andamento da
questão anterior. Observem-se principalmente as conjugações: "sois" e "sede" em
referência ao que já "somos" pelos méritos de Cristo e por nosso compromisso com ele;
observe-se também na palavra "sede" o modo imperativo indicando uma ordem, o que
devemos ser:

o santos (separados da corrupção do mundo) (1.15-16);


o sóbrios (conscientes, atentos e vigilantes) (1.13);
o obedientes (1.14).

Essas poucas palavras resumem tudo o que Deus espera de nós.

A vida cristã prática (2.11 - 3.22) – O risco do pecado, a necessidade de vigilância, de


oração e de serviço; comportamento; sofrimento e glória. Após a conversão, temos um
caminho pela frente: é a vida cristã prática. Pedro menciona situações e relações do
cotidiano. Ele estava consciente de que o pecado pode acontecer, embora não deva. É
um risco real, e o autor tinha feito a sua própria experiência, ao negar três vezes o seu
Mestre. Por isso nos aconselha a orar e vigiar (1 Pe 4.7; 1 Pe 5.8-9).

Outro item abordado é o comportamento. As falhas nesta área podem invalidar


nossas orações (1 Pe 3.7) e nosso serviço. Pedro menciona então a vida social e civil (1
Pe 2.12-17), familiar (1 Pe 3.1-7), profissional (1 Pe 2.18). Aconselha maridos, esposas e
servos.

26
O Sofrimento é o tema principal da epístola. Este elemento também faz parte da vida
cristã, situação vivida pelos destinatários da carta. Trata-se de algo necessário (1 Pe
1.6),embora pareça chocante. Por que Deus quer que soframos? Não é sofrer por sofrer,
mas é importante o resultado do processo. Existem virtudes que não serão adquiridas de
outra forma.

Pedro menciona dois tipos de sofrimento: um pelo evangelho (perseguição, tentações e


perseguições) e outro pelo pecado (conseqüências e punições). O sofrimento pela causa
do evangelho trará como conseqüência a glória. Esta é outra palavra importante na
epístola, indicando glória presente na vida do cristão, glória futura e também a vanglória
(1 Pe 1.24; 1 Pe 1.7,8,11 e 21; 1 Pe 2.12 e 20; 1 Pe 4.11,13,14 e 16; 1 Pe 5.1,4 e 10). O
sofrimento é de pequena duração quando comparado com a glória eterna que nos
aguarda (1 Pe 1.6; 1 Pe 5.10 e veja também Rm.8.18).

Diante do sofrimento somos levados a procurar seus motivos. Perguntamos: por que
está acontecendo isso? O que eu fiz para merecer isso? Assim, olhamos para trás em
busca da causa. O sofrimento pelo pecado pode ser assim compreendido. Podemos olhar
para trás e reconhecer nossa falha. Muitas vezes, porém, não conseguimos ligar o fato
presente ao erro cometido. No caso do sofrimento permitido por Deus, sem que tenhamos
pecado, devemos olhar para frente e perguntar: para que está acontecendo isso?
Mesmo que não possamos, em muitos casos, saber o propósito específico, sabemos que,
por meio delas, nossa fé cresce, nossa paciência e experiência se desenvolvem.

O ouro é retirado da jazida em estado bruto, cheio de sujeira e deformidades. Contudo,


não será rejeitado por isso. Da mesma forma, Deus nos resgata sujos e deformados, não
nos rejeitando por isso. Pedro compara as tribulações ao fogo, e por isso nossa fé precisa
ser formada. O fogo, por mais destruidor que seja, só destrói as impurezas do ouro. No
final do processo, o metal está limpo, brilhante, e muito mais valorizado. Assim acontece
conosco.

Em sua primeira epístola, Pedro menciona muitos termos negativos e outros positivos.
Não se trata de paradoxos, pois nossa vida realmente é assim. Todos os elementos
negativos do processo são necessários para que os positivos se manifestem. É uma
relação necessária. Sem morte não haverá ressurreição. Primeiro vem o fogo, depois o
brilho e o valor. Só não é necessário o pecado nem o sofrimento que dele advém, já que
não produz nenhum benefício, exceto uma lição que deveria ter sido aprendida de outra
forma. A seguir, algumas palavras negativas e positivas encontradas na primeira carta de
Pedro:

NEGATIVAS

o Sofrimento – 5.9;
o Fogo – 1.7;
o Provação – 4.12;
o Tristeza – 1.6; 2.19;
o Aflição – 4.13; 5.1;
o Vitupério – 4.14;
o Padecimento – 5.10

27
POSITIVAS

o Fé – 1.21; 5.9;
o Glória, honra – 1.7,8,21; 2.17, 20; 4.11, 14; 5.1,10;
o Esperança – 1.2;
o Alegria, exultação, gozo inefável – 1.8; 4.13;
o Amor - 1.20,22; 2.17; 3.8; 4.8;
o Misericórdia - 1.3; 2.10;
o Paz - 1.2; 3.11; 5.14;
o Graça - 1.2; 5.5,12;
o Louvor - 1.7; 2.14;
o Dias felizes - 3.10

Muitas vezes, as experiências negativas são presentes, enquanto que o benefício está
indicado para o futuro (1 Pd 1.4-5; 1 Pe 4.13; 1 Pe 5.1,4,6 e 10). Contudo, já no tempo
presente experimentamos a esperança, a paz, a alegria, o amor, a misericórdia, etc. A
glória, ou exaltação, são o principal elemento localizado no futuro, vinculado à segunda
vinda de Cristo.

Exortações diversas (4.1-19) – Neste bloco são incluídos diversos conselhos sobre
comportamento, amor mútuo, serviço e novamente sobre o sofrimento.

Admoestações aos líderes (5.1-14) – Pedro se dirige especialmente aos anciãos (os
presbíteros da igreja), dizendo que eles deveriam ser exemplo para o rebanho e não
dominadores. O líder não deve agir como se fosse dono das ovelhas, senhor de suas
vidas. Liderança não é manipulação nem opressão, mas orientação amável. A ovelha
deve ser vista como alvo de cuidado e proteção e não como fábrica de leite e lã,
embora ela os produza.

Pedras Vivas – O texto de Mateus 16.16-18 tem sido objeto de muitas discussões.
Seria Pedro a pedra fundamental da igreja? Em sua primeira epístola, o apóstolo diz que
todos os cristãos são "pedras vivas", e que Cristo é a principal pedra da construção que é
a igreja. Neste sentido, Pedro é uma pedra, como é o significado do seu nome, e,
juntamente com os demais apóstolos, faz parte do fundamento da igreja, cuja pedra
principal é Cristo, conforme declaração do próprio Pedro (At 4.11). Sem Cristo, a
construção não existiria. Afirmar em cima da declaração de Jesus a Pedro, conforme o
texto de Mt 16.16-18, que, com essas palavras o Senhor estaria conferindo ao apóstolo
posição de “chefe da Igreja” é simplesmente ultrapassar o verdadeiro sentido do texto.
Com outras palavras: é ler para dentro do texto bíblico algo que ele não contém!

A pregação aos mortos (1 Pe 3.18-20) – a) no versículo 18: “Pois também Cristo


sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a
Deus”, b) no versículo 19: “... no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão ...” e,
finalmente, c) no versículo 20: “...que há muito tempo desobedeceram, quando Deus
esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas
algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água, ...”.

28
Este é um dos textos das Sagradas Escrituras mais difíceis de explicar. A polêmica em
torno do seu significado não têm fim. São muitas as alternativas de interpretação e,
provavelmente a pergunta ou questão mais importante é esta: o que Jesus foi pregar
naquele lugar e com que objetivo? Seria para anunciar a sua obra na cruz e oferecer
perdão aos que não tiveram uma oportunidade para isto durante a vida terrestre? O texto
não diz expressamente que Jesus foi evangelizá-los para a salvação (o verbo usado
nesta passagem bíblica dá a idéia de “proclamação” mais do que “evangelização”). Por
isto, muitos comentaristas entendem que é disso que se trata: Jesus, tendo descido ao
Hades (o reino dos mortos) proclamou sua vitória sobre a morte. Nada é dito sobre uma
possível mudança de destino das pessoas que lá se encontravam.

29
SEGUNDA EPÍSTOLA DE PEDRO

Autoria – Já no primeiro versículo, o autor se apresenta como "Simão Pedro, servo e


apóstolo de Jesus Cristo". Pouco adiante, Pedro menciona que presenciou o episódio da
transfiguração (2 Pd 1.16-18; Mt 17.5). No capítulo 3, versículo 1, o autor se refere à
primeira epístola. A teoria de que a segunda carta de Pedro foi escrita por uma “escola
petrina” (discípulos de Pedro), é muito mais forte em relação á primeira carta.

Data – 64 d.C. (veja o comentário em 1Pedro)

Destinatários – Conforme o texto de 3.1 entendemos que os destinatários são os


mesmos da sua primeira carta: cristãos dispersos na Ásia Menor. O primeiro versículo do
livro parece sugerir que o autor pretendia que seu escrito tivesse um alcance maior: ele se
dirige "... receberam conosco uma fé igualmente valiosa: ...".

Temas e objetivos – Animar os irmãos (cap.1); denunciar os falsos mestres (cap.2);


falar sobre a segunda vinda de Cristo.

Textos-chave – 2.1 e 3.1-4.

Esboço
I – A vida cristã - uma palavra de estímulo - 1.1-21;
II – Os falsos mestres - denúncia - 2.1-22;
III – A segunda vinda de Cristo e o juízo - 3.1-18.

Aspectos teológicos a destacar - A segunda epístola de Pedro fala de dois caminhos.


Um deles é chamado de "caminho da verdade" (2.2), "caminho direito" (2.15) e
"caminho da justiça" (2.21). O outro caminho, o dos falsos mestres, é chamado de
“caminhos vergonhosos” (2.2) e “caminho de Balaão” (2.15). Pedro não está se
referindo àqueles que nunca conheceram o Senhor, mas fala de pessoas que foram
resgatadas (2.1), porém desviaram-se das veredas da justiça (2.15,20-21 e 22). O próprio
Balaão era um profeta verdadeiro até que, pelo interesse financeiro, desviou-se da
verdade. Em cada um desses caminhos temos: ponto de partida, modo de caminhar e
ponto de chegada, conforme fica evidente na epístola.

Destaque-se: a fé foi alcançada (1.1), mas ela não é um fim em si mesma. Pelo
contrário, é o início de uma jornada. Com diligência (ou zelo) (1.5), o cristão deve buscar:
virtude (bondade ou bom procedimento), conhecimento, temperança (ou domínio próprio),
paciência (ou perseverança), piedade, amor fraternal (fraternidade), amor (ágape).

Pedro utiliza, nesta segunda carta, diversas palavras que podem ser divididas em dois
grupos: ações divinas e ações humanas. O início da nossa caminhada se dá pela
operação do "divino poder" do Senhor (1.3). A partir daí, o homem tem muito a fazer. Pelo
seu poder, Deus nos ofereceu seus dons; nos chamou para sua glória e virtude; nos
deu promessas e nos fez participantes de sua natureza (1.3-4). Por trás de tudo isto
está a sua vocação e eleição (1.10).

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Com referência às ações humanas, Pedro se refere à: diligencia e zelo; bondade,
conhecimento, temperança, paciência, piedade, amor fraternal, amor ágape (1.5); além
disso, o cristão deve confirmar sua vocação e eleição (1.10).

Os tempos e modos dos verbos encontrados no texto ajudam a ver uma trajetória
traçada e uma ordem de avanço. Alguns verbos estão no passado, indicando o lugar de
onde saímos e aquilo que Deus já fez por nós. Alguns deles, no pretérito perfeito, indicam
ações consumadas por Deus. É algo que foi feito e não vai se repetir. Outros verbos estão
no gerúndio e indicam uma ação constante. É presente, mas ainda não foi encerrada. São
ações contínuas de Deus a nosso favor e ações contínuas da nossa parte em busca do
alvo. Outros verbos estão no futuro e apontam para o resultado desejado. Destacam-se
também aqueles que estão no modo imperativo e indicam ordem para que avancemos em
nosso caminho com Deus.

Os falsos mestres (denúncia 2.1-22) – No capítulo 2, o autor muda para um assunto


extremamente oposto ao que estava sendo tratado até então. Seu conteúdo é muito
semelhante à epístola de Judas. Agora o apóstolo passa a se referir aos falsos mestres,
seu caráter, suas obras e o consequente castigo. Esses são os que andam pelo "caminho
de Balaão" (2.15). Sabendo de sua morte iminente (1.14), o autor está preocupado com
aqueles que talvez o sucederão e aos demais apóstolos na liderança da igreja.

Os falsos mestres são caracterizados pelas seguintes referencias:

o Foram resgatados, mas desviaram-se (2.1,15 e 19-22);


o Contudo, continuam dentro das igrejas (2.1 e 13);
o Estão na liderança (2.2 - muitos os estão seguindo)
o Seu interesse primordial é o dinheiro. Assim como Balaão (2.3 e 14-15);
o São comparados aos anjos caídos, aos contemporâneos de Noé e aos habitantes
de Sodoma e Gomorra (2.4-6).

Observe-se que, tendo o mesmo ponto de partida, esses falsos mestres não chegam
ao mesmo final dos que permaneceram no caminho verdadeiro.

A segunda vinda de Cristo e o juízo (3.1-18) – Pedro encerra sua obra com um
capítulo escatológico. Após ter falado sobre dois caminhos, dois tipos de vida, o apóstolo
fala sobre a segunda vinda de Cristo (3.4) e, novamente, trás à tona o tema do juízo,
comparado ao dilúvio dos dias de Noé (3.7). Está em destaque a aparente demora da
"parousia" (este termo significa, na língua grega, “vinda, chegada ou presença” e se
pronuncia parussia). Pedro adverte que o tempo de Deus é diferente do nosso: "... para o
Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia" (2 Pe 3.8).

Com respeito a volta de Cristo, duas atitudes são recomendadas: fé e paciência. A


aparente demora de Deus é manifestação da sua misericórdia. Ele está dando tempo
para que muitos ainda se arrependam e se convertam (3.9). O cenário “apocalíptico”
desenhado pelo apóstolo, ao invés de um dilúvio, apresenta a figura de um fogo
destruidor (3.10,12). Céus e terra serão abalados e, semelhantemente ao texto de
Apocalipse 21.1, Pedro também fala de “novos céus e nova terra” (2 Pd 3.13; Is 65.17).

31
QUESTIONÁRIO III

EPÍSTOLA DE I PEDRO

1. Em que circunstância foi escrita à carta de Pedro?


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2. Fale sobre as características da I Epístola de I Pedro.


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3. Tratando-se dos aspectos teológicos o que diz a epístola de I Pedro com relação ao
Crescimento do Cristão?
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EPÍSTOLA DE II PEDRO

1. Cite os temas e os objetivos de II Pedro.


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2. Os falsos mestres são caracterizados por algumas referências. Cite-as.


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3. O que diz II Pedro com relação a segunda volta de Cristo?


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32
PRIMEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO

Autoria – O nome de João, o apóstolo, não é mencionado em suas três epístolas. Não
obstante, sua autoria foi confirmada por Policarpo, Papias, Eusébio, Irineu, Clemente de
Alexandria e Tertuliano. O nome João significa "graça de Deus". Era judeu, pescador (Mt
4.21), irmão de Tiago, filho de Zebedeu e Salomé (compare Mt 27.56 e Mc 15.40). Foi
chamado de “discípulo amado” (Jo 13.23; 19.26; 21.20). Foi o discípulo mais íntimo do
Mestre. Até no momento da crucificação, João estava presente. Isso mostra sua
disposição de correr risco de vida para ficar ao lado de Jesus. Apesar de ter fugido no
momento da prisão de Cristo, João voltou pouco tempo depois.

Jesus chamou João e Tiago de boanerges, "filhos do trovão", referindo-se ao seu


temperamento indócil, tempestuoso, violento (Mc 3.17; Mc 9.38; Lc 9.54). São várias as
citações a respeito de João nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Seu nome é
omitido no seu evangelho (Jo 20.2; 19.26; 13.23; 21.2). Encontram-se referências ao
apóstolo também em At 4.13; At 5.33 e 40; 8.14; Gl 2.9; 2 Jo 1; 3 Jo 1; Ap 1.1,4 e 9. Na
segunda e na terceira epístola, ele se apresenta como "o presbítero". Podendo se
apresentar como apóstolo, demonstrou humildade ao utilizar título mais simples. Em
Apocalipse, apresenta-se como "servo".

Após o exercício do seu ministério em Jerusalém, João foi pastor em Éfeso, onde
morreu entre os anos 95 e 100. Policrates (190 d.C.), bispo de Éfeso, escreveu: "João,
que se reclinara no seio do Senhor, depois de haver sido uma testemunha e um mestre,
dormiu em Éfeso."

Palavras chave – Conhecimento (ou saber), amor e comunhão.

Data de escrita da primeira epístola – Final do primeiro século, entre os anos 95 e 100
d.C.. Jerusalém já havia sido destruída e os cristãos estavam dispersos.

Parcial de uma das Cartas de João

Local de origem – Éfeso

Destinatários – Por não conter saudações, despedidas ou menção de nomes, tem-se


considerado que a carta foi destinada à Igreja em geral. O apóstolo trata carinhosamente
os destinatários como "meus filhinhos" (2.1,18 e 28; 3.7 e 18; 4.4; 5.21) e "amados" (3.2 e
21; 4.1,7 e 11). Isso parece indicar que, embora não tenha vinculado a epístola a uma

33
comunidade específica, o autor tem em mente pessoas conhecidas, as quais seriam as
primeiras a receberem aquela mensagem.

Característica literária – O apóstolo João tem uma característica de escrita bem peculiar,
e o quadro abaixo nos mostra as semelhanças dos temas desenvolvidos no seu
evangelho e nas suas cartas.

Tema Evangelho de João 1João 2João


Verdade 8.31-32 3.18-19 1.1-2
Vida eterna 3.16 5.11,12
Novo nascimento 13.34 2.8 1.5
Permanecer 15.4-5 2.28
Guardar 14.15 5.3 1.6
mandamentos

O Propósito da carta

A carta apresenta denúncia contra os falsos mestres mas também incentivo aos
verdadeiros cristãos. O autor é incisivo, direto, totalmente convicto. Suas afirmações são
muito fortes no sentido de apontar o erro e a verdade.

O propósito da carta, como também vimos no seu evangelho, está bem definido (João
20.31). A epístola foi escrita:

1 – “... para que a nossa alegria seja completa” - 1.4


2 – “... para que vocês não pequem” - 2.1.
3 – “... a respeito daqueles que os querem enganar” - 2.26.
4 – “... para que vocês saibam que têm a vida eterna” - 5.13.

Entende-se que o autor estava bastante preocupado com a Igreja, em seu estado
presente e futuro. Os demais apóstolos já haviam morrido, e falsos mestres apareciam
por toda parte. Alertando os irmãos, o apóstolo ficaria mais tranqüilo e sua alegria seria
completa (1.4). Seu alerta é contra o pecado (2.1) e contra as heresias (2.26). São duas
portas para o diabo entrar nas vidas e nas igrejas. Embora as duas coisas estejam
intrinsecamente ligadas, as heresias apresentam um elemento muito perigoso. Todo tipo
de pecado deve ser evitado, mas se, eventualmente, cometermos algum, confessaremos
e seremos perdoados (1.7 e 9; 2.1). A heresia, entretanto, constitui-se um caminho de
afastamento de Deus. A heresia, do tipo mencionado por João, leva à apostasia. Então,
tem-se uma situação muito perniciosa em que à pessoa está errada, mas pensa que está
certa. Trata-se de um estado de pecado sem reconhecimento, sem confissão, sem
arrependimento e, consequentemente, sem perdão. Aquele que passa a crer numa
doutrina contrária à cruz, como pode ser perdoado? Não é que Deus se recuse a perdoá-
lo, mas a própria pessoa não acredita na única solução divina, que é o sacrifício de Cristo.
A reversão desse quadro é possível, mas muito difícil. O melhor é a prevenção contra as
heresias, e isso se faz através do conhecimento e apego à Palavra de Deus.

ASPECTOS TEOLÓGICOS A DESTACAR

Heresias – A situação da Igreja inspirava cuidados. Notamos isso pelo que se lê nas
cartas às sete igrejas da Ásia (Ap 2 e 3).As heresias grassavam em muitas comunidades.

34
Em Apocalipse, livro escrito na mesma época, João menciona as expressões "sinagoga
de Satanás" (Ap 2.9), "nicolaítas" (Ap 2.6 e 15), "doutrina de Balaão"(Ap 2.14), etc.
O gnosticismo, sistema que mistura idéias filosóficas, crenças judaicas e cristãs, era
uma das principais fontes de heresias da época. Assim, muitos cristãos se tornaram
gnósticos. Criam em Jesus, mas negavam a realidade de sua encarnação e morte. O fato
de se denominarem cristãos criava uma situação confusa. Quem eram os verdadeiros
cristãos? Os que criam de uma forma ou os que criam de outra?
João observou a necessidade de identificação, discernimento, definição e posicionamento.
Observemos as perguntas-chave que autor apresenta:
1- "Quem é o mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?" (1Jo 2.22).

2- "Quem é o que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de
Deus?" (1 Jo 5.5).

O autor está bastante interessado em mostrar "QUEM É O QUE". São usados


pronomes demonstrativos e indefinidos para apresentar especificações bem definidas que
permitem identificar os indivíduos em relação a Cristo. João usa repetidamente a fórmula:
"Quem não faz isso não é aquilo". ou "Quem faz tal coisa é outra coisa". Alguns exemplos:
o Aquele – cap. 2.6,11,17,22,23,26 e 29; cap. 3.4,6,17; 5.1,5,16 e18 (veja também
2 Jo 1.9);
o Alguém – cap. 2.1,15 e 27; cap. 4.20; cap. 5.16;
o Quem – cap. 4.7,8,9 e 10.
O mentiroso e o verdadeiro precisam ser identificados. Essa é a missão de João em
sua primeira epístola. O autor ajuda a identificar os personagens do cenário e a situação
dos próprios leitores no contexto da verdade e da mentira.

O exemplo clássico utilizado é o de Caim e Abel (1 Jo 3.11-12), representando dois


grupos de pessoas que estavam dentro da Igreja. O autor identifica quem está em
comunhão com Deus e quem não está. No quadro abaixo registram-se diversas
expressões da epístola através das quais é traçada uma linha divisória entre os dois
grupos, que podem ser chamados, alegoricamente, de "grupo de Abel" e "grupo de Caim".

"Grupo de Abel" "Grupo de Caim"


Vida (1.1-2; 2.16 e 25; 3.14-16; 5.11-13, Morte (3.14; 5.16-17)
16 e 20)
Verdade - 1.6 e 8; 2.4-5,8,21 e 27; 3.18- Mentira - 1.6 e 10; 2.4,21,22 e 27; 4.20;
19; 4.6; 5.7 e 20. 5.10; Erro - 4.6; Engano - 1.8; 2.26; 3.7
Verdadeiro (2.8 e 27; 5.20) Falso ou mentiroso (2.22)
Espírito da verdade (4.6) Espírito do erro (4.6)
Cristo (1.3, etc) Anticristo (2.18 e 22)
Amor ao irmão (2.10) Amor ao mundo (2.15)
Vítima de ódio do mundo (3.13) Ódio ao irmão (2.11; 3.15)
Luz - 1.5 e 7; 2.8-10. Trevas - 1.5-6; 2.8-9 e 11.

35
É possível passar de um lado para o outro. Esse trânsito pode ser chamado conversão
ou, no sentido contrário, apostasia. João disse que "... passamos da morte para a vida..."
(3.14). E o seu cuidado era para que não acontecesse o processo contrário com alguns
irmãos que, envolvidos pela heresia, pudessem passar da verdade para a mentira.
Identificando a heresia – A heresia é uma doutrina errada, mas isso pode não estar tão
claro no início. O que chega até nós é simplesmente uma doutrina. Esta deve ser então
identificada. Por meio dos parâmetros encontrados na epístola, o autor identifica a
doutrina, o mestre e o espírito que está por trás (2.22-23, 4.1-6). As chaves
identificadoras são:

o Relação com Cristo (2.22-23);


o Relação com os irmãos. (3.10,17);
o Relação com o mundo (2.15).

Estes são os "instrumentos" que ajudam a identificar a verdade e a mentira. Tais


indicadores são complementares entre si. Se alguém negar que Cristo é o Filho de Deus,
estará reprovado. Não está na verdade. Se alguém afirma que Cristo é o Filho de Deus,
mas nega sua encarnação e morte, estará reprovado. Se alguém diz ter uma fé correta a
respeito de Cristo, então o próximo teste é a relação com os irmãos. Se a pessoa odeia
os irmãos ou lhes nega auxílio nas necessidades, então estará reprovada. Se a pessoa
ama o mundo, anda segundo o mundo, vive de modo agradável ao mundo, pecando
habitualmente, então está do lado da mentira. As relações com os irmãos e com o mundo
constituem evidências visíveis do tipo de relação que temos com Cristo, uma vez que
esse vínculo é espiritual e invisível.

O objetivo dessas colocações não é sair julgando as pessoas dentro da igreja. Em


primeiro lugar, cada um deve julgar e purificar-se a si mesmo (1 Jo 3.3; 5.10; 1 Co 11.28 e
31; 2 Co 13.5; 2 Jo 1.8). Depois, é preciso saber julgar as profecias e as doutrinas
recebidas (1 Co 14.29; 1 Ts 5.20-21; 1 Co 10.15). Se uma doutrina é contrária a Cristo,
contrária à comunhão dos irmãos ou favorável ao mundanismo, então deverá ser
rejeitada. Finalmente, a vida de um mestre deverá ser avaliada para que se decida sobre
a sua doutrina. “Vocês os reconhecerão pelos seus frutos” (Mt 7.16). Muitos irmãos
podem apresentar uma série de erros, e até mesmo pecados por uma questão de
imaturidade, fraqueza, ignorância, etc. Não devem ser alvos de julgamentos, mas de
orientação. O objetivo de João era alertar contra aqueles que se colocavam como mestres
da igreja.

A questão de “estar” e “permanecer”:


No cenário da verdade e da mentira, é preciso localizar: onde estamos? João usa
diversas vezes o verbo "estar". Em algumas delas, ele se preocupa em "localizar"
espiritualmente as pessoas. Se guardamos a palavra e amamos os irmãos, isso indica
que "estamos" em Cristo. Quem não ama seu irmão, "está" nas trevas. Finalizando, o
autor diz que "estamos" em Cristo, que é o verdadeiro Deus. (1Jo 2.5,6, 9; 5.20).
É possível ter uma posição bem definida. Entretanto, ela será mantida? Um outro verbo
muito importante para João é "permanecer". A propósito, é bom lembrar o capítulo 15 do
evangelho de João:
"Permanecei em mim e eu permanecerei em vós"; "Se alguém permanece em mim e eu
nele, esse dá muito fruto;" "Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora;" "Se
vós permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós pedireis o que
quiserdes e vos será feito;" "Permanecei no meu amor...", etc.

36
Na primeira epístola, a ênfase continua nos seguintes textos: 2.10,14, 17, 19, 24,27 e
28; 3.6,9, 14, 15,17 e 24; 4.12-13 e 15-16. Em todos esses versículos aparece o verbo
"permanecer". Isso demonstra a preocupação do autor com a perseverança dos irmãos
no caminho da verdade. (veja também 2 Jo 1.2 e 9).

O problema do Gnosticismo:

João mostrou-se bastante combativo em relação ao gnosticismo. Esta palavra vem do


termo grego "gnosis" que significa "conhecimento". Os gnósticos criam e ensinavam que a
salvação da alma dependia do conhecimento de alguns mistérios, só revelados aos que
participavam de seus rituais de iniciação. O apóstolo usou, a propósito, a mesma palavra,
"conhecimento", para combater as heresias gnósticas. Tanto no evangelho como na
primeira epístola, ele mostrou o que realmente importa conhecer: a verdade, que é o
próprio Cristo, e o amor, que é o próprio Deus. O conhecimento sem amor pode causar
tragédias. A bomba atômica é um exemplo clássico.
O verbo "conhecer" aparece nos seguintes versículos: 1 Jo 2.3,13,14,18 e 20; 3.1,6,16,
19-20 e 24; 4.2,6-8,13 e 16; 5.2 e 20; 2 Jo 1.1. A carta destaca também a palavra "luz",
que, igualmente, é um símbolo do conhecimento: 1.5 e 7; 2.8-10. Outro verbo similar é
"saber". Essa palavra tem um sentido muito forte, pois não admite dúvida, insegurança,
medo nem ignorância. O comentário da Bíblia Thompson chama a primeira epístola de
João de "a carta das certezas". O autor usa o verbo "saber" de uma forma bastante clara
e determinada. (1 Jo 2.3,5,11,21 e 29; 3.2,5 e 14-15; 5.15). Ele diz: "Sabemos que somos
de Deus". Não estamos perdidos nem confusos. Sabemos quem somos, onde estamos e
para onde vamos.
O gnosticismo afirmava que o mal residia na matéria. Portanto, negavam que Deus
pudesse se encarnar. Em relação a Cristo, João escreveu: “... o que vimos com os nossos
olhos, o que contemplamos e nossas mão apalparam...” (1 Jo 1.1-3). Quer dizer, o
apóstolo estava afirmando insistentemente que o corpo de Cristo era matéria, pois
poderia ser tocado, como de fato o foi. Não se tratava de um espírito, uma aparição, como
os gnósticos afirmavam (1 Jo 4.2; 1 Jo 5.6).

Outras palavras, expressões e conceitos em destaque:

“Vida” (vida de Deus para nós por meio de Cristo): 1.1-2; 2.16 e 25; 3.14-16; 5.11-13,16
e 20;
“Mundo” (não amamos o mundo; somos odiados por ele; haveremos de vencê-lo): 1 Jo
2.2 e 15-17; 3.1,13 e 17; 4.1,3-5,9,14 e 17; 5.4-5 e 19.
“Verdadeiro” (mandamento verdadeiro - 2.8; luz verdadeira - 2.8. unção verdadeira- 2.27.
Jesus Verdadeiro - 5.20. Deus Verdadeiro - 5.20).
“Amor” (e verbo amar) 1 Jo 2.5,10,12 e 15; 3.1,10,14 e 16 (Jô 3.16); 3.17-18 e 23; 4.7-12
e 16-21; 5.1-3.
Veja também: 2 Jo 1,3 e 6; 3 Jo 1,6-7 Ap 2.3-4 e 19; Ap 3.9 e 19.

São da autoria de João alguns dos mais famosos versículos bíblicos sobre o amor: "Deus
é amor" e "Porque Deus amou o mundo de tal maneira...".
Na primeira epístola, o autor usa o verbo amar em diversas conjugações: ama, ameis,
amamos, amemo-nos, amado, amados, amou, amar-nos, amo, amar, ame, amemos. O
amor vem de Deus, através de Jesus. "Ele nos amou primeiro". Daí em diante, o amor

37
deve ter livre curso em direção aos irmãos, mas não em direção ao mundo. O amor deve
"circular como sangue" no Corpo de Cristo, que é a igreja.
“Comunhão”: 1.3,6-7.
“Mandamento”: (s): 2.3-4 e 7-8; 3.22-24; 4.21; 5.2-3.
“O que se diz e o que se é”: 1.6,8 e 10; 2.4,6 e 9; 4.20;
“Mandamentos de negação”: não ameis o mundo - 2.15; não creiais a todo espírito - 4.1.

O amor e a fé só são positivos quando bem direcionados.

38
SEGUNDA EPÍSTOLA DE JOÃO

Autoria: Apóstolo João; o autor não menciona seu


próprio nome. Apresenta-se como "presbítero", que
significa "ancião", conforme consta em algumas versões
bíblicas. Os anciãos, desde os tempos do Antigo
Testamento, eram os homens mais velhos, mais
experientes, e, por consequência, líderes do povo (Ex
3.16,18; 4.29; 12.21 etc.). Ao escrever seu evangelho e
epístolas, o apóstolo João já era idoso.

Data – Entre 90 e 95 d.C.

Propósito – Alertar contra os enganadores; combater a mentira.

Palavra-chave – Verdade.

Destinatário – A segunda epístola é dirigida a uma senhora e seus filhos. Tal mulher não
é identificada pelas escrituras. Há quem defenda a tese de que a "senhora eleita" seja
Maria, irmã de Marta, a qual estaria mencionada no versículo 13 do primeiro capítulo. Há
quem tome o termo "senhora" em grego, ”kuria”, considerando-o como nome próprio.
Outras hipóteses sugerem que João estivesse chamando de "senhora eleita" a uma igreja
específica ou à Igreja em geral. Nada disso se comprova. Seguindo a mais rigorosa
interpretação, não se pode afirmar qual tenha sido essa mulher. Apenas entende-se tratar
de uma senhora que, provavelmente era viúva. Caso tivesse marido, não seria natural
que o apóstolo lhe dirigisse diretamente uma carta. O texto parece indicar que em sua
casa aconteciam reuniões da igreja (1 Jo 1.10). De qualquer forma, trata-se de uma
mulher amada e respeitada por todos os irmãos que a conheciam (2 Jo 1.1).

Esboço

I – Saudações - 1-3.
II – O caminho da verdade e do amor - 4-6.
III – Os enganadores e como tratá-los - 7-11.
IV – Saudações - 12-13.

ASPECTOS TEOLÓGICOS A DESTACAR

Todas as epístolas de João foram escritas na mesma época. Nota-se na segunda, que
os assuntos da primeira ainda persistem na mente no apóstolo. Ele ainda se mostra
combativo em relação aos enganadores. Seu esforço é a favor da verdadeira doutrina de
Cristo (v. 5,6).

39
Nossa relação com a doutrina de Cristo

Cristo veio e nos deu sua doutrina, seu mandamento, que consiste no amor a Deus e
ao próximo. O amor determina nosso vínculo com Deus e com os irmãos. Já recebemos
a sua doutrina. A questão agora é: vamos andar nesse mandamento? O verbo "andar" é
muito utilizado por João e também por Paulo, indicando nosso modo de vida, nossas
decisões, nossos rumos, nossas ações. Se praticamos a vontade de Deus, então estamos
andando em espírito (Gl 5.16), andando com Deus (Gn 5.22 e 24), no caminho que é
Cristo (Jô 14.6).

Os enganadores ameaçam o êxito desse processo (2 Jo 7-11). Isso ocorre com


aqueles que abandonam o caminho da verdade e do amor, não permanecendo na
doutrina de Cristo (2 Jo 1.9). Os que se desviam perdem a recompensa, perdem o fruto
do seu trabalho e fazem perder-se o fruto do trabalho daqueles que os conduziram a
Cristo (2 Jo 1.8). João disse que alguns "vão além" da doutrina. Esta é uma forma sutil da
heresia: É preciso ser cuidadosos no sentido de não criar doutrinas extra-bíblicas, como
se a palavra de Deus precisasse de complemento. Os que lideram devem estar atentos
em relação ao que exigem de seus liderados. É muito perigoso ir além da palavra de
Deus. Ex: em Gênesis, ao repetir o mandamento divino, Eva lhe acrescentou as palavras:
"nem nele tocareis" (Gn 3.3). Paulo profetizou que nos últimos dias, surgiriam doutrinas
de demônios, proibindo o casamento e determinando a abstinência de manjares que Deus
criou para os fiéis (1 Tm 4.1-3). Tudo isso são “acréscimos” à palavra de Deus.

A doutrina gnóstica, tão influente nos dias de João, negava a humanidade de Cristo,
atribuindo-lhe apenas caráter espiritual. Era então um ensinamento espiritualista, o que,
aparentemente, demonstrava elevação, desapego em relação à matéria. Estava indo
muito além da espiritualidade bíblica, a qual não nos nega o provimento às nossas
legítimas necessidades físicas (1 Tm 4.1-3; Cl 2.16-23). O cristianismo mostra o espiritual
se encontrando com a matéria. "O verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1.14).

Palavras em destaque

o Verdade (2 Jo 1,2,3,4);
o Mandamento (2 Jo 4,5,6);
o Amor (2 Jo 3,6);
o Ensino (2 Jo 9,10);
o Permanecer (2 Jo 2,9);
o Anticristo(2 Jo 7).

40
TERCEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO

Autor – Apóstolo João

Data – Entre 90 e 95 d.C.

Tema – Caráter cristão.

Palavra-chave – Verdade.

Esboço –
I – Saudações - 1-4.
II – O bom exemplo de Gaio - 5-8.
III – Diótrefes - o ambicioso - 9 - 11.
IV – Demétrio - o cristão fiel - 12.
V – Considerações finais e saudações - 13-15.

Semelhança com 2 João – A epístola em estudo é de autoria do apóstolo João. Para


confirmação compare os versículos:

3 João 1 2 João 1
3 João 13-14 2 João 12
3 João 11 2 João 9

Destinatário – A terceira epístola de João é uma correspondência particular dirigida a um


irmão chamado Gaio, o amado. Este nome era bastante comum naquela época. Temos
sua ocorrência em At 19.29, At 20.4, Rm 16.23, 1Cor 1.14, além de 3 João. Contudo, tais
passagens não se referem sempre à mesma pessoa.
Não se tem muitas informações sobre Gaio, a quem João escreve. Entendemos que ele
não era o líder de sua igreja local. O versículo 9 indica que o líder é outro. Entretanto,
parece que era bispo em Pérgamo, e era uma pessoa proeminente que andava na
verdade (vs. 3,4).

ASPECTOS TEOLÓGICOS A DESTACAR

A questão da prosperidade – O verso 2 diz: "Amado, oro para que você tenha boa
saúde e tudo lhe corra bem, assim como vai bem a sua alma”. Este talvez seja o versículo
mais conhecido dessa pequena carta, o qual é muitas vezes utilizado como apoio para a
doutrina da prosperidade. Deve-se observar que a única certeza do texto está relacionada
à alma do destinatário, ou seja, seu bom estado interior. No mais, o verso expressa
apenas o desejo de João no sentido de que Gaio tivesse boa saúde e fosse próspero em
todas as coisas. Não temos ali uma promessa nem uma doutrina sobre prosperidade
material. Tal êxito depende do propósito de Deus para cada pessoa.

“Andar na verdade” (vs.3-4) – Tal expressão, tão importante para João, significa praticar,
viver de acordo com a verdade. O verbo andar foi também muito usado pelo apóstolo

41
Paulo em seus ensinamentos sobre a vida cristã (Gl 5.16,25; Ef 4.1; 5.15; etc.). Trata-se
do "procedimento" mencionado no verso 5.

Procedimento, testemunho e exemplo (vs.3,4,6,10,12) – A palavra testemunho tem


destaque em todos os escritos de João, desde o evangelho até o Apocalipse. Como
cristãos, damos testemunho a respeito do Senhor Jesus e isso vai gerar um outro
testemunho, que será dado a nosso próprio respeito. O procedimento será observado e
produzirá um testemunho positivo ou negativo. João se alegrou pelo testemunho dado
pelos irmãos a respeito de Gaio. Contudo, os estranhos também dão testemunho.
Nesse contexto, os "estranhos" são irmãos vindos de outros lugares. No verso 12, todos
dão testemunho, inclusive o próprio apóstolo e a própria verdade. Parece que a verdade,
nesse contexto, está relacionada à doutrina, a qual serviria como parâmetro para
confirmar determinado testemunho.
Vê-se, portanto, que as obras geram testemunhos a respeito de quem as pratica, e essas
mensagens circulam rapidamente estruturando ou derrubando a reputação de cada um.
A epístola destaca o procedimento de Gaio, Diótrefes e Demétrio. Daí surgiram
testemunhos positivos e negativos, fazendo com que essas pessoas se tornassem bons
ou maus exemplos, a serem imitados ou evitados.

Gaio e Demétrio são apresentados como cristãos fiéis (vs.3-6,12). Diótrefes é visto
como ambicioso. Estava na liderança, mas João não o reconhece como tal. O apóstolo
diz que Diótrefes "gosta de ter entre eles a primazia." (v.10). Ele gostava de ser líder,
contudo não era vocacionado para aquele trabalho. Seu caráter se manifesta por suas
palavras e ações: profere palavras maliciosas; é rebelde contra as autoridades espirituais;
não recebe o apóstolo João na igreja; proíbe que os irmãos o recebam (e até mesmo
exclui da igreja quem o faz; v.10).

Gaio, que já andava na verdade, deveria se inspirar nos bons exemplos (v.11).

42
QUESTIONÁRIO IV

EPÍSTOLA DE I JOÃO

1. Fale sobre a autoria do livro de João.


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

2. Qual o propósito da epístola?


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

3. O que é o gnosticismo?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

EPÍSTOLA DE II JOÃO

1. Qual o propósito da epístola?


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

2. Transcreva o esboço da epístola.


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

EPÍSTOLA DE III JOÃO

Responda:

a) Quem é o autor desta epístola? _________________________________________


b) Data em que foi escrita? _____________________________________________
c) Qual o tema? _______________________________________________________
d) Qual a palavra chave? _______________________________________________

43
EPÍSTOLA DE JUDAS

Autor – O autor se identifica como “servo de Jesus


Cristo, e irmão de Tiago”. Na Igreja primitiva havia
apenas um Tiago que poderia ser referido dessa
maneira, sem qualquer outra especificação – “Tiago o
irmão do Senhor” (Gl 1.19). Isso aponta para a
identificação do seu autor com o Judas que é
enumerado entre os irmãos de Jesus, em Mt 13.55 e Mc
6.3. Segundo informações extra-bíblicas, Judas teve dois
netos que foram examinados e soltos por Domiciano,
quando o Imperador foi informado que pertenciam à
casa de Davi.
Judas, irmão de Tiago

Data – Entre 64 e 70 d.C.. Entretanto alguns sugerem que foi após a queda de Jerusalém
(v. 17).

Tema – Defesa da fé cristã.

Palavra-chave – Guardar.

Texto chave – v. 3 e 4.

Esboço –
I – Saudações (1-2).
II – Defesa da fé cristã (3-4).
III – Os deturpadores do evangelho (5-16).
IV – Instruções práticas (17-23).
V – Doxologia (24-25).

ASPECTOS TEOLÓGICOS A DESTACAR

“Guardados em Cristo Jesus” (v.1) – Estar em Cristo, expressão importante na


teologia de Paulo, é uma realidade espiritual que demonstra nosso vínculo com Jesus e
nossa posição espiritual. Trata-se de uma união mística. Estamos ligados a ele como os
membros se ligam ao corpo e este à cabeça ou como os ramos se ligam à videira. Judas
diz que estamos guardados em Cristo. Ele é o nosso refúgio, nossa fortaleza.

Lendo apenas os versículos 1 e 24, pode se pensar que a nossa situação atual e o
futuro dependem unicamente de Deus. Se assim fosse, não haveria necessidade de
tantas palavras de advertência na Bíblia. Contudo, o verso 20 muda a conjugação verbal
e exorta dizendo: "Guardai-vos no amor de Deus" (ou conservai-vos). O autor repassa
uma grande responsabilidade no sentido de o cristão manter-se na posição que alcançou
em Cristo mediante a salvação. Esse “estar em Cristo” pode ser comparado à condição
da família de Noé dentro da arca, a qual representou a salvação daquelas pessoas.

O problema central apresentado pela epístola de Judas é o caso daqueles que não
guardaram suas posições e se perderam, tornando-se exemplos do juízo divino (v.6). O
autor cita como exemplos: o povo de Israel no deserto, os anjos, Sodoma e Gomorra,
44
Caim, Balaão e Coré. Ele fala de experiências coletivas e individuais. Menciona desde
pessoas que conheciam bem pouco sobre Deus, passando por aquelas que conheciam
muito e chegando a mencionar os anjos, que viam a Deus face a face. O que todos
tiveram em comum foi a corrupção e a conseqüente destruição. É impressionante a
observação de que o povo de Israel, por sua rebelião e incredulidade, entra para uma lista
de exemplos ao lado de Sodoma e Gomorra. Da mesma forma, um profeta ganancioso,
Balaão, é mencionado juntamente com Caim, o irmão homicida. Isso mostra que, seja
qual for a nossa posição, devemos ser cuidadosos para não entrarmos nas listas
daqueles que não guardaram sua condição original e se corromperam. "Guarda o que
tens, para que ninguém tome a tua coroa" (Ap 3.11).

Heresia - caminho da perdição – Por que alguém deixaria sua posição de obediência
a Deus para se tornar um infiel? Tal pergunta fica muito difícil de ser respondida se
indagarmos a respeito da queda de Satanás. Daí em diante, um dos meios mais utilizados
foi a persuasão. Assim, os anjos foram levados, e também Adão e Eva. O infiel vai
propagando a infidelidade. Judas estava preocupado com essa prática, pois os hereges
se manifestavam dentro da igreja e ameaçavam a firmeza dos irmãos através de
doutrinas erradas. A epístola diz que eles "convertem em dissolução a graça de Deus"
(v.4). Aqueles falsos mestres transformavam a graça de Deus em libertinagem, como se a
misericórdia de Deus representasse conivência em relação ao pecado. O fato de Deus
não punir o pecador, imediatamente, significa que este tem oportunidade para se
arrepender. Contudo, isso não significa que o juízo foi esquecido. Caso não haja
arrependimento, haverá o castigo.

Os mensageiros do mal – Tais elementos são muito perigosos porque entram nas
igrejas (v.12) e conseguem posições de liderança e ensino (v.8,12). A sua aparência não
é ameaçadora. Pode até ser agradável. Contudo, seu procedimento denuncia seu caráter.
O autor usa muitas figuras de linguagem para mostrar tal realidade.

APARÊNCIA CARÁTER
Nuvens sem água
Árvores sem fruto, sem vida, sem raiz firme
Ondas bravias
Estrelas errantes
Rochas submersas
Pastores que apascentam a si mesmos

A aparência pode ser muito boa, mas o conteúdo deixa a desejar. Apresentam um
potencial muito grande, mas não usado como deveria. Por exemplo, a rocha, que poderia
servir como base em uma construção, encontra-se submersa, representando um perigo
oculto e fatal.

As figuras de linguagem falam de elementos que não se encontram fixos, não têm firmeza,
encontram-se em movimento constante: nuvens levadas pelo vento, árvores que não
estão presas por suas raízes, ondas do mar, estrelas cadentes. Os falsos mestres não
conseguem se firmar dentro da verdadeira igreja do Senhor. Assim, Judas apresenta o
caráter dos falsos mestres, o perigo de sua mensagem e o destino que lhes cabe, a

45
exemplo do que aconteceu com os rebeldes israelitas do deserto, e Sodoma, Gomorra,
etc.

Outra questão são os fracos na fé, que não devem ser vistos como falsos irmãos. Por
isso, Judas adverte que se deve ter compaixão daqueles que estão em dúvida (v.22).
Devemos salvá-los (v.23), tomando cuidado para não sermos contaminados com seus
erros, seja quanto à doutrina ou a prática. Judas não só adverte a respeito dos falsos,
mas tem uma expectativa positiva em relação aos verdadeiros irmãos. “Todavia, amados,
lembre-se do que foi predito pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo”. (v.17).
“Edifiquem-se, porém, amados, na santíssima fé que vocês têm, orando no Espírito Santo.
Mantenham-se no amor de Deus, enquanto esperam que a misericórdia de nosso Senhor
Jesus Cristo os leve para a vida eterna” (v.20-21).

Paralelo entre Judas e 2 Pedro – Finalmente, é interessante traçar um paralelo entre a


carta de Judas e a Segunda Epístola do apóstolo Pedro, pois há muita semelhança no
vocabulário usado por esses dois escritores.

JUDAS ASSUNTO 2 PEDRO


1:4 Falsos mestres 2:1
1:6 Anjos que pecaram 2:4
1:7 Sodoma e Gomorra 2:6
1:8 Contaminados e atrevidos 2:10
1:9 Contenda de anjos 2:11
1:10 Animais irracionais 2:15

1:11 Caminho de Balaão 2:17


1:12,13 Nuvens levadas pelo vento 2:18
1:16 Falando coisas arrogantes 3:2-5
1:17 Lembrai-vos das palavras 3:2
1:18 Escarnecedores dos últimos tempos 3:3

46
QUESTIONÁRIO V

EPÍSTOLA DE JUDAS

1. Qual o tema central desta epístola?


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2. Comente sobre os aspectos teológicos abaixo citados:

 Guardados em Cristo Jesus:


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 Heresia-caminho da perdição:
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 Mensageiros do mal:
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O APOCALIPSE

O Apocalipse desperta interesse em quase todas


as pessoas, principalmente nos últimos anos, por
ocasião da mudança de milênio. Cristãos ou não,
religiosos ou não, muitos são os que têm grande
curiosidade em relação ao livro. Entretanto, o
medo e a falta de compreensão acabam por
afastar o interessado. O que resta, normalmente,
são informações obscuras e bastante distorcidas.
Apocalipse, Armagedom, Anticristo, Juízo Final e
fim do mundo são temas reincidentes nos filmes
de Hollywood, que vão dando sentido lendário e
fantasioso aos assuntos extraídos das Escrituras.

Este estudo tem o objetivo de conhecer o livro sem a pretensão de desvendá-lo


completamente. Trata-se de uma introdução ao estudo do Apocalipse onde serão
apresentadas algumas linhas de interpretação sob diferentes enfoques. Quando
mencionadas algumas teorias a respeito de determinado ponto, isso não significa,
necessariamente, que esta ou aquela posição é por nós defendida, exceto quando
expressamente declarado.

O Apocalipse contém, logo no início, uma mensagem de bênção para os seus leitores.
"Feliz aquele que lê as palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o
que nela está escrito, porque o tempo está próximo" (Ap 1.3). O texto nada diz sobre a
compreensão, mas sobre o conhecimento. É desejável que entendamos o Apocalipse. Se,
porém, não entendermos, este não deve ser motivo para que o abandonemos.
Precisamos ler, ouvir, estudar e guardar o seu conteúdo. Pode ser que muitas de suas
profecias não sejam compreendidas antes de seu cumprimento. Contudo, uma vez
conhecidas, poderão também ser reconhecidas quando se cumprirem; assim,
reconhecendo, poderemos tomar as atitudes certas no momento certo. Jesus disse: "...
quando vocês virem ‘o sacrilégio abominável’... então, os que estiverem na Judéia fujam
para os montes" (Mt. 24.15). Portanto, quando certos fatos ocorrerem, os crentes poderão
identificá-los, caso estejam munidos do conhecimento profético.

O gênero apocalíptico – Esse foi um estilo literário que se destacou principalmente


entre os anos 210 a.C. e 200 d.C. Seu ambiente de origem era uma época de tribulação
para povo de Deus. Diante de circunstâncias que incluíam opressão, perseguição, exílio
ou domínio estrangeiro, os escritos apocalípticos traziam uma mensagem de esperança
através de uma linguagem enigmática. Seu objetivo era reanimar judeus ou cristãos,
trazendo-lhes profecias a respeito da futura intervenção divina para libertar o seu povo,
restituindo-lhe a glória usurpada.

Muitos "apocalipses" surgiram, tendo como principal modelo o livro de Daniel. Este foi
escrito durante o exílio babilônico e trazia uma mensagem sobre o Reino de Deus que
viria destruindo todos os reinos opressores. Daí em diante, muitos livros apocalípticos
foram produzidos. Um dos momentos de opressão vividos por Israel foi o domínio romano,
produzindo assim mais uma ocasião propícia a esse tipo de literatura, que muitas vezes
incluía profecias messiânicas. Diversos escritos desse tipo não foram reconhecidos como
canônicos. Como exemplos podemos citar: o Apocalipse de Baruque; Apocalipse de
48
Pedro; o Pastor de Hermas; a Assunção de Moisés; a Ascensão de Isaías; o Livro de
Jubileus; os Salmos de Salomão; os Testamentos dos Doze Patriarcas; o Livro de Enoque;
o segundo Livro de Enoque; o segundo e o quinto livro de Esdras.

O Apocalipse de João se encaixa perfeitamente nessa corrente literária. Contudo, seu


messianismo não se encontra vago como em outros escritos. Nele, o Messias é
claramente identificado como sendo o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Este é o
único livro desse gênero no Novo Testamento. Contudo, existem “blocos apocalípticos”
em outras partes da Bíblia. Por exemplo: Daniel 7 a 12, Isaías 13, 14,24 e 25, Ezequiel 1
e 28 a 39, Zacarias 9 a 14, Mateus 24, Marcos 13, Lucas 21, 1 Tessalonicenses 5 e 2
Tessalonicenses 2, bem como 1 Pedro 4.7 e 2 Pedro 3.

Características, conteúdo e autoria dos livros apocalípticos – Características e


conteúdo: mensagem de esperança, escatologia, intervenção divina, visões, símbolos,
criaturas estranhas, mensagem oculta, uso de pseudônimos, profecias e apelo à
imaginação.

O Apocalipse de João não se encaixa no quesito pseudônimo. Os escritores


apocalípticos normalmente não assinavam suas obras. Muitos colocavam algum outro
nome famoso e reconhecido, como Enoque, Salomão, etc., para darem mais credibilidade
ao livro. João, porém, colocou seu próprio nome, conforme vemos no livro (Ap 1.1,4 e 9-
11). Tal autoria é reconhecida pela maior parte dos críticos e comentaristas. Há quem
diga que alguém usou o nome de João, mas essa hipótese não tem muitos adeptos. Um
outro aspecto que diferencia o Apocalipse de João de outros livros similares é a
mensagem de vitória que atravessa todo conteúdo do livro, pois, em geral, os livros
apocalípticos eram bastante pessimistas. Desde o primeiro capítulo, mais do que mero
otimismo, o Apocalipse apresenta o Cristo vitorioso (1.12-18). Alguns detalhes do livro
reforçam a crença na autoria joanina. Jesus é apresentado como o Verbo de Deus e o
Cordeiro (Ap 19.7 e 13), exatamente como acontece no evangelho de João (1.1 e 29); a
palavra "testemunho" se destaca assim como acontece no evangelho e na primeira e
terceira epístolas. Nota-se, assim, "a mão" de João no Apocalipse.

O que é Apocalipse?
Esta palavra, de origem grega, significa "revelação". Revelar é mostrar, tirar o véu,
desvendar. Fala-se do Apocalipse como algo oculto. Porém, trata-se de uma revelação. O
livro revela que Deus tem um plano, cujo desfecho é a vitória de Cristo.

Pode-se não saber o que é a besta, mas sabe-se que ela será vencida pelo poder de
Deus. Esta revelação está clara e evidente no Apocalipse.

DADOS GERAIS

Autor – O apóstolo João - 1.1,4, 9-11;

Destinatários – As 7 igrejas da Ásia (em geral, fundadas por Paulo).

Data – 95 ou 96 d.C.

Local – Patmos, ilha vulcânica, rochosa e estéril, localizada a 56 km da costa da Ásia


Menor (Turquia). Para lá eram enviados os prisioneiros na época do imperador romano

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Domiciano (81 a 96). Outra hipótese defendida por alguns é a de que João tenha estado
lá em algum momento do governo de Nero (54-68).

Idioma – Grego (Ap.1.8; 21.6; 22.13).

Tema – Conflito entre o bem e o mal. A vitória de Cristo e a implantação do seu Reino.

Versículo-chave – Ap 1.7.

Versículo-esboço – Ap 1.19.

Características particulares – Único livro bíblico com bênção e maldição relacionadas


ao seu uso (1.3 e 22.18-19).

Classificação – Livro profético. (único do NT, embora haja conteúdos proféticos em


outros livros como em Mt 24, Mc 13, Lc 21, etc.).

Personagem central – O Cordeiro.

Destaques – verbo “vencer” (Ap 2 e 3; 12.11;


15.2; 17.4; 21.7); “testemunho” (Ap 1.2,9; 6.9;
12.11,17; 19.10; 20.4; 22.18,20); verbo “vir”
(referente à vinda de Cristo) (Ap 1.4,7,8; 2.5,16;
3.3,11; 4.8; 22.20).

GÊNESIS x APOCALIPSE

Existe um paralelo evidente entre Gênesis e Apocalipse, conforme se observa pelos itens
a seguir:

GÊNESIS APOCALIPSE
Início Fim
Criação da terra Nova terra
Criação do céu Novo céu
Criação do sol A Nova Jerusalém não precisa do sol
Vitória de Satanás Derrota de Satanás
Adão Cristo
Eva Igreja (noiva)
Entrada do pecado Fim do pecado
Maldição Fim da maldição
Bloqueado caminho à árvore da vida. Acesso à árvore da vida.

Circunstâncias e objetivo – Na época em que o Apocalipse foi escrito, a igreja estava


sofrendo muito por causa da perseguição do Império Romano. João estava preso em

50
Patmos e todos os outros apóstolos do primeiro grupo haviam morrido. Seria natural que
muitos começassem a questionar se aquele não seria o fim do cristianismo. Será que a
Igreja resistiria àquela fúria das forças do mal?
O livro de João vem mostrar o futuro: o castigo dos ímpios, a volta de Cristo, seu triunfo
juntamente com a igreja e o estabelecimento do Reino de Deus. O Império Romano não
prevaleceria contra os desígnios divinos.

A linguagem simbólica – A linguagem direta tem suas limitações. A transmissão de


uma mensagem complexa pode exigir uma infinidade de palavras e ainda assim ficar
obscura. Alguns fenômenos, experiências e elementos naturais não podem sequer ser
explicados de modo compreensível. Como explicar a um cego de nascença o que é cor?
Qualquer explicação, por mais correta e científica que seja não lhe dará nenhuma idéia a
respeito do assunto.

Como explicar um sabor, um cheiro ou um som? Nenhuma informação substituirá a


experiência. As palavras serão inúteis. Nesses momentos de dificuldade, sempre é
procurado um elemento de comparação. Busca-se algo que já seja do conhecimento do
ouvinte e é usada uma idéia a respeito do que se quer dizer, sem ter encontrado palavras
adequadas.

Se existe esse problema em relação a elementos naturais, o que dizer dos espirituais,
cuja essência nem sabemos definir? O espírito é uma realidade bíblica. Contudo, sua
definição ou identificação de "substância" é algo fora do nosso alcance. O que dizer então
de Deus, da trindade, do céu e das realidades celestiais? Por isso, a Bíblia usa tanto a
linguagem simbólica. Por outro lado, como se diz, "uma imagem vale mais que mil
palavras". Então, até mesmo lições relativamente simples são transmitidas através de
figuras, propiciando assim um recurso poderoso que leva a mensagem de forma
concentrada, fixando-a na mente do receptor.

Por exemplo, quando Jesus disse que era o "pão da vida" (Jo 6.35), ele buscou um
elemento do cotidiano dos seus ouvintes para mostrar que ele vinha suprir a necessidade
espiritual do homem. Quando a Bíblia fala em "reino de Deus", está buscando na
monarquia, sistema de governo comum naquela época, uma série de princípios existentes
na relação rei-súdito que deveriam existir na nossa relação com Deus. A linguagem
simbólica traz muito conteúdo em poucas palavras. Assim, se usamos o leão como
símbolo, logo nos vem a mente sua ferocidade, sua coragem, sua força, sua fome, sua
beleza, sua "majestade", etc. Se falamos em cordeiro, estamos destacando sua cor e sua
índole como símbolos de pureza, inocência, docilidade, submissão, etc.

Todos nós estamos bastante acostumados à linguagem simbólica. Utilizamos


diariamente tais recursos para enriquecer nossa fala. Estamos sempre fazendo
comparações implícitas ou explícitas de modo automático. Os escritos apocalípticos têm
ainda um motivo a mais para usar a linguagem simbólica: era a necessidade de
criptografar a mensagem, de modo que os inimigos nada compreendessem a respeito da
mesma. Só os destinatários poderiam decifrá-la.

QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO

Texto simbólico ou literal? – Este é um dos maiores dilemas que envolvem o estudo
bíblico. O que é literal e o que é simbólico? Encontramos ambos os casos dentro das
Escrituras. Então o problema se torna maior: como discernir o literal do simbólico? Tal

51
tarefa nem sempre é fácil e, em algumas situações, parece impossível, a não ser que
tenhamos uma iluminação divina.

A história de Adão e Eva é literal ou simbólica? Tais personagens são reais ou fictícios?
O profeta Jonas foi mesmo engolido por um peixe ou trata-se de uma parábola? Entende-
se como literais ambos os casos, uma vez que o próprio Jesus citou a história de Jonas
como fato e Paulo citou Adão e Eva da mesma forma. Contudo, isso não convence
àqueles que vêem toda a Bíblia como algo figurativo. Se todo o conteúdo bíblico for
simbólico, então anula-se o seu aspecto concreto. A Bíblia seria então comparável a
qualquer obra de ficção e o cristianismo seria lendário. Por outro lado, se todo o seu
conteúdo for considerado literal, então muitas passagens se tornarão inexplicáveis ou
absurdas. Por exemplo: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna." (Jo 6.54). Logicamente, Jesus estava utilizando linguagem simbólica. Muitos dos
seus ouvintes o interpretaram literalmente e o resultado foi o escândalo (Jo 6.52). Da
mesma forma, quando Jesus disse que Nicodemos precisava nascer de novo, aquele
doutor da lei tomou suas palavras de modo literal. O mesmo entendimento foi aplicado
sobre "derrubar o templo e reconstruí-lo em três dias". Precisamos de discernimento para
não cairmos no mesmo erro.

Muitas vezes, é a falta de fé que faz com que algumas pessoas considerem como
simbólico um texto literal. Por exemplo, a ressurreição de Cristo, para alguns, parece ser
tão inacreditável que podem acabar considerando-a um símbolo.

Encontramos na Bíblia diversas situações que envolvem o literalismo e o simbolismo:

Texto literal – É aquele que se refere a fatos. São histórias ou profecias. Se


desconsiderarmos seu caráter literal, estaremos anulando as palavras de Deus. Por
exemplo, a crucificação de Jesus está relatada em um texto literal (Mt 27).

Texto simbólico – É aquele que utiliza linguagem figurada. Por exemplo, a parábola do
filho pródigo (Lc 15).

Termo literal e simbólico alternadamente – Uma palavra pode ser usada literalmente
em uma passagem bíblica e como símbolo em outra. Por exemplo, as estrelas no Salmo
8.3 são literais. Em Apocalipse 1.20, as estrelas são simbólicas, representam anjos. Em
Apocalipse 9.1, a estrela é simbólica e parece representar uma pessoa ou um anjo. Em
Apocalipse 8.10-12, a estrela pode ser simbólica ou literal. Nesse caso, não podemos
afirmar com certeza. Vemos, portanto, que uma palavra pode ser usada de várias formas
na Bíblia. Isso mostra que não podemos estabelecer uma regra e achar que toda estrela
na Bíblia seja um símbolo.

Texto literal e simbólico simultaneamente – A história de Abraão é literal. O povo de


Israel está aí para comprovar isso. Aquele episódio de Abraão levando Isaque para ser
sacrificado é literal. Foi um fato histórico. Mas, ao mesmo tempo, usando de alegoria,
Abraão pode representar Deus, Isaque pode ser visto como um símbolo de Jesus e o
sacrifício podem representar a crucificação. Assim, um texto literal pode ter uma aplicação
simbólica. Desse modo podemos ver inúmeros fatos no Velho Testamento. É possível,
numa visão simbólica, extrair-lhes as lições sem negar-lhes o aspecto literal.
O batismo e a ceia mencionados na Bíblia são literais e ao mesmo tempo simbólicos.
São fatos ocorridos, mas sempre representando uma realidade espiritual. O mesmo
acontece com a ceia do Senhor.

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Símbolo com mais de um sentido alternadamente – Alguns termos, quando usados
como símbolos, podem ter um sentido em um texto e sentido diferente ou até contrário em
outra passagem. Por exemplo, o leão representa Cristo em um texto (Ap 5.5) e Satanás
em outro (1Pd 5.8). A "estrela da manhã" representa Cristo em um texto (Ap 22.16) e o
Diabo em outro (Is 14.12). Não temos nisso nenhuma confusão. Um símbolo é usado na
Bíblia como um recurso didático e não de forma mística, como se aquele animal estivesse
"consagrado" para representar sempre determinada pessoa. Não podemos, portanto,
estabelecer uma regra. Cada texto pode apresentar uma situação diferente. Existem,
porém, elementos na literatura ou na tradição judaica que nos permitem enxergar alguns
padrões de simbologia, conforme veremos na seqüência.

O simbolismo no Apocalipse – João viu realidades espirituais indescritíveis. Notamos


seu esforço para explicar o que estava vendo, ouvindo e sentindo. Ele faz diversas
comparações na tentativa de transmitir aos leitores suas impressões. Assim, os termos
"como", "semelhante" e o verbo "parecer" são utilizados para dar uma idéia das
extraordinárias visões do autor. Em outros momentos ele não faz comparações explícitas,
mas usa as figuras de forma direta, fazendo comparações implícitas.

o Algumas ocorrências de "como" – Ap 1.10 e 14-15; 2.18 e 27; 4.1 e 6-7; 6.1,6 e
12-13;
o Algumas ocorrências de "semelhante" – Ap 1.13; 2.18; 4.3e 6-7;
o Verbo "parecer" – Ap 9.19.

Os símbolos usados pelo autor eram bem familiares para os seus destinatários. Livros
selados, trombetas, carros puxados por cavalos, letras gregas, tudo isso era do
conhecimento das pessoas que receberiam o Apocalipse. Ao lermos, precisamos saber o
que cada coisa significa e qual era o seu sentido naquela época. Talvez não consigamos
isso para todos os itens envolvidos, mas este é o caminho a ser trilhado pelo intérprete.

Quando pensamos em livros, logo imaginamos blocos de páginas de papel envolvidas


por capas protetoras. Os livros mencionados em Apocalipse, porém, eram rolos de
pergaminho, peles de animais. Eram livros selados. Quando pensamos em selo, logo
imaginamos pequenos adesivos utilizados pelos correios. Porém, os selos do apocalipse
são lacres, a exemplo daqueles que os reis usavam para fechar suas correspondências,
de modo que as mesmas não pudessem ser violadas no meio do caminho. O selo tinha a
marca do anel do rei. Portanto, se alguém o quebrasse, não poderia fazer outro igual para
substituí-lo.

Estes são apenas alguns exemplos para mostrar que a interpretação do Apocalipse,
como também de outras passagens bíblicas, depende muito do conhecimento sobre a
antigüidade, principalmente do que se refere ao povo judeu, sua história, seus costumes e
tradições. Sem esse conhecimento, sempre correremos o risco das interpretações
anacrônicas. Não podemos interpretar o texto bíblico apenas com o sentido atual das
palavras ou com base no gosto ou na opinião pessoal. A hermenêutica agradece.
O simbolismo do Apocalipse utiliza como figuras: fenômenos naturais, cores, minerais
(pedras preciosas), animais, relações humanas e até nomes significativos da história
judaica como Jezabel e Balaão.

53
Fenômenos ou elementos naturais e seus significados

ELEMENTO SIGNIFICADO OBSERVAÇÃO


Ar Vida É nossa necessidade mais
urgente
Tempestade (raios, trovões, Perturbações na vida
relâmpagos, saraiva)
Fogo Purificação ou destruição
Pedras preciosas Algumas vezes representam
pessoas.
Mar Insegurança, perigo, algo sinistro. Oposto da terra firme.

Cores e seus significados

COR SIGNIFICADO OBSERVAÇÃO


Preto Luto, sofrimento
Vermelho (sangue) Morte ou redenção Relacionado a Cristo às vezes
Vermelho (púrpura) Realeza Roupa dos reis
Amarelo pálido Fome
Amarelo ouro Santidade de Deus Obs. elementos do
tabernáculo
Verde Esperança
Branco Pureza, justiça Trono, vestes, cabelos, etc.

Numerologia

A numerologia tem sido bastante valorizada atualmente devido à onda crescente de


misticismo que envolve nossa sociedade. Os números têm sido considerados elementos
de sorte e azar, e, por meio deles, muitos adivinhadores tentam prever o futuro das
pessoas. Alguns povos utilizaram as próprias letras do alfabeto como algarismos,
atribuindo-lhes valor numérico. Assim, um nome pode ser transformado em números e ter
seu valor totalizado. Isso ocorreu, por exemplo, com algumas letras do alfabeto romano e
também com o hebraico. O fato de se obter um valor para um nome não nos diz nada, a
não ser que os números representem algum valor moral ou espiritual, uma bênção ou
uma maldição.

A tradição judaica relaciona alguns números a determinados conceitos religiosos ou


cósmicos:

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Número Significado Sentido reforçado
1 Unidade
2 Fortaleza, confirmação
3 Divindade
4 Mundo físico
5 Perfeição humana
6 Homem, falha humana 666
7 Perfeição, plenitude
40 Provação
70 Sagrado
12 Religião organizada. 24, 144 mil
1000 Grande quantidade

A Bíblia utiliza muito o simbolismo numérico. O livro de Apocalipse usa tal recurso de
forma intensa, principalmente o número 7. Temos 7 igrejas, 7 candeeiros, 7 selos, 7 anjos,
7 trombetas, 7 taças, 7 espíritos, 7 estrelas, etc.

Alguns princípios de interpretação – Para entender um livro, precisamos lê-lo por


completo. Assim, teremos uma visão geral do mesmo. Perceberemos a intenção do autor
e a sua mensagem geral. Caso contrário, se lermos um verso aqui e outro lá de modo
desordenado, terminaremos com uma coleção de retalhos desconexos. Lendo todo o livro,
vamos descobrir que ele é auto-explicativo em alguns pontos, como se vê em
Apocalipse 1.20.

Podemos ler o capítulo 12, verso 5, onde o autor menciona o "filho varão", aquele que
"regerá as nações com vara de ferro". A comparação com 19.13 a 16 nos fará
compreender que aquele que "regerá as nações com vara de ferro" chama-se "Verbo de
Deus", "Rei dos reis" e "Senhor dos Senhores". Logo, o próprio texto já nos mostrou quem
é o "filho varão": o próprio Senhor Jesus. Tal conclusão também se utiliza do
conhecimento geral que temos da Bíblia. O Salmo 2 chama de "Filho" aquele que
"regerá as nações com vara de ferro". O livro de Hebreus, no capítulo 1, nos informa que
esse "Filho" é o Senhor Jesus. Além disso, o evangelho de João (1) nos diz que Cristo é o
Verbo que se fez carne.

Fizemos então um rastreamento de várias expressões que nos possibilitam uma


interpretação inequívoca sobre o "filho varão" de Apocalipse 12.

Outro exemplo: que dragão será aquele mencionado em Apocalipse 12.3? Se lermos
até o versículo 9, teremos a resposta. No capítulo 20, verso 2, a explicação é repetida. O
próprio texto diz que o dragão é o Diabo, também conhecido como "antiga serpente". Que
serpente é essa? Aquela de Gênesis 3. Observa-se, então, que existe uma "linguagem
bíblica" que muitas vezes permite que o texto de um livro possa ser interpretado por outro
livro bíblico.

Quem é o Cordeiro de Apocalipse 5? Não existe nenhum mistério sobre tal figura, uma
vez que João Batista apresentou Jesus como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do

55
mundo" (João 1.29), sendo ele o definitivo sacrifício tantas vezes representado pelos
cordeiros mortos durante as páscoas realizadas desde a saída de Israel do Egito (Ex 12).

O mesmo Jesus é chamado "Leão da Tribo de Judá" (Ap 5.5). A origem de tal
expressão encontra-se em Gênesis 49, quando Jacó, próximo da morte, abençoou cada
um dos seus filhos. Ao falar de Judá, Jacó profetizou sobre a vinda do Messias (Gn 49.8-
12).
É conclusivo, também, que se alguém não conhece a Bíblia de modo geral, não deve
se arriscar no terreno das interpretações apocalípticas. Precisa começar por Gênesis.

Outros exemplos:
A ceifa - compare Ap 14.16-20 e Mt 13.39-43.
Muitas águas – Ap 17.1 e 17.15
Noiva – Ap 19.7; 21.9-10; 22.17 e Ef 5.25-27.
O fundamento da Nova Jerusalém - Igreja – Ap 21.14 e Ef 2.20-21.

PRINCIPAIS CORRENTES DE INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE

Preterista – Este é o ensino que nos afirma que tudo que é profetizado no livro do
Apocalipse já aconteceu; que de fato tudo já acontecera antes do início do quarto século
da era cristã. O ponto de vista consiste em que o livro é uma profecia do que a Igreja
estava para suportar, primeiro dos judeus, e então do Império Romano
Portanto, não existem acontecimentos a se realizarem em nossos dias, e nem no futuro,
no livro do Apocalipse. Ele simplesmente nos encoraja contando-nos o que certa vez
aconteceu e como tudo conduz a um período glorioso quando o Império Romano tornou-
se cristão.

O ponto de vista preterista foi pela primeira vez proposto por volta de 1614, por um
sacerdote jesuíta, cujo nome era Alcazar. Esta teoria foi elaborada em reação ao ensino
dos pais protestantes que diziam ser o papado o anticristo, a segunda besta descrita em
Apocalipse, capítulo 13, e o pequeno chifre de Daniel, capítulo 7. Ora, aqui estava a
tentativa de Roma de negar aquela crítica e desviar a atenção do papado e de tudo que é
verdade a respeito dela.

Assim, para eles, o Apocalipse trata inteiramente apenas dos três primeiros séculos.
Com esta idéia, o papado deixou de ser a besta para ser a concretização gloriosa do
Apocalipse.

Futurista – Os futuristas projetam todo o cumprimento do Apocalipse para os últimos


dos últimos dias, às vésperas da consumação dos séculos. Afirmam que nada se cumpriu
nem está se cumprindo, mas tudo se cumprirá repentinamente no futuro e em um curto
espaço de tempo. Esta é a mais escatológica das interpretações, no sentido mais extremo
da palavra.

É importante observar que este ensino tinha como ponto de partida outro sacerdote
jesuíta, um homem chamado Ribera, que o propôs cerca de 1603 d.C. O que inspirou
Ribera foi desviar do papado e de Roma o enfoque do livro, e o direcionar diretamente
para o futuro, ao contrário do preterísmo. Contudo, houve também nos primeiros séculos
da era cristã, alguns pais apostólicos, que eram futuristas, mas não com as motivações de
Ribera.

56
O ponto de vista futurista foi adotado após 1830, quando foi ensinado por certos
membros das conferências proféticas, especialmente J. N. Darby. Posteriormente este
ensino foi mais popularizado pelas notas da Bíblia Schofield. Foi a partir da teoria futurista
que surgiu o Dispensacionalismo.

O livro do Apocalipse é lido da seguinte maneira pelos futuristas:


Cap. 1 – apresenta o relato da visão que fora dada a João (Ap 1.19).
Cap. 2 e 3 – desvenda a história moral da Igreja em períodos sucessivos, desde a o início
do primeiro século até o final da era da Igreja. As sete cartas às sete igrejas são profecias
de sete períodos sucessivos na vida da Igreja. Hoje, dizem, estamos no período da
condição de Laodicéia, e provavelmente o período de Sardes era aquele da Reforma.
Cap. 4 e 5 – daqui em diante as profecias só virão a lume, naquela última septuagésima
semana dos sete anos referidos em Daniel, capítulo 9, os quais jazem em algum futuro
desconhecido. (Ap 4.1).

É bom ressaltar que entre os futuristas existem os pré-tribulacionístas, e os pós-


tribulacionístas.

Histórica – Essa corrente defende a tese de que o Apocalipse vem se cumprindo


desde os dias de João até o fim dos séculos. São muitos os que concordam com essa
posição. Entretanto, surgem muitas dificuldades e divergências quando se tenta uma
identificação entre os fatos ou personagens históricos e os relatos apocalípticos.

Contudo é importante observar que no historicismo há 3 divisões principais:


a) O ponto de vista historicista eclesiástico: o qual afirma que o livro do
Apocalipse não mais é do que um sumário da história eclesiástica. A maioria
dos reformadores pregava esta idéia;
b) O ponto de vista historicista contínuo: esta teoria é semelhante a anterior,
mas sua peculiaridade é a ordem correta e contínua dos fatos, tudo em
ordem cronológica. Segundo este ponto de vista avalia-se que estamos
agora aproximadamente no tempo da sexta taça que é descrito no
Apocalipse, capítulo 16. Entretanto há grandes dificuldades nesta teoria,
pois o capítulo 10 e 11 descrevem o juízo final, mas o doze retrocede à
encarnação de Cristo;
c) O ponto de vista histórico espiritual, ou idealista: os adeptos dessa visão
se abstêm de fazer ligações entre as profecias e os fatos. Procuram apenas
extrair do Apocalipse as lições e os princípios morais ou espirituais ali
contidos.

Não devemos tomar uma postura extremista nessa questão, mas buscar uma visão
equilibrada, que pode levar em conta todas as quatro correntes de interpretação. Cremos
em um cumprimento histórico que, automaticamente, engloba a visão pretérita e a
futurista. Por exemplo, as cartas às 7 igrejas se referiam a problemas existentes nos dias
de João. Está cumprido. Entretanto, os princípios espirituais ali presentes são
perfeitamente aplicáveis aos nossos dias. Pela sua infinita sabedoria, Deus nos deixou
uma Palavra que não perde sua validade.

Devemos nos lembrar que um relato sobre fatos ocorridos nos dias de João pode
também ser uma profecia para outra época. Por exemplo, quando escreveu o Salmo 22, o
autor estava falando de suas próprias experiências e, ao mesmo tempo, estava
profetizando sobre os sofrimentos de Cristo. Vistas sob este ângulo, várias profecias
apocalípticas podem ter se cumprido na queda do Império Romano e terem ainda outro

57
cumprimento mais amplo nos últimos dias. A profecia de Jesus em Mateus 24 parece
estar ligada à destruição de Jerusalém e também aos últimos dias. "... então, os que
estiverem na Judéia fujam para os montes” e ”... que não passará esta geração até que
todas estas coisas aconteçam" (Mt 24,16 e 34).

Esboço do Apocalipse

I – Introdução e saudações - 1.1-8


II – Visão de Jesus glorificado - 1.9-20
III – Cartas às 7 igrejas - 2.1 a 3.22
IV – Cartas às 7 igrejas da Ásia
V – Carta à Igreja de Éfeso
VI – Carta à Igreja de Esmirna
VII – Carta à Igreja de Pergamo
VIII – Carta à Igreja de Tiatira
IX – Carta à Igreja de Sardes
X – Carta à Igreja de Filadélfia
XI – Carta à Igreja de Laodicéia
XII – Visão do trono no céu - 4.1-11
XIII – O livro selado e o cordeiro - 5.1-14.
XIV – Abertura dos 6 primeiros selos - 6.1-17.
XV – Os 144 mil selados - 7.1-8.
XVI – Visão dos santos na glória - 7.9-17
XVII – Abertura do sétimo selo. As quatro primeiras trombetas - 8.1-13.
XVIII – A quinta e a sexta trombetas - 9.1-21.
XIX – O anjo e o livrinho - 10.1-11.
XX – As duas testemunhas - 11.1-14.
XXI – A sétima trombeta - 11.15-19.
XXII – A mulher e o dragão - 12.1-18.
XXIII – A besta que subiu do mar - 13.1-10.
XXIV – A besta que subiu da terra - 13.11-18.
XXV – O cordeiro e os remidos no monte Sião - 14.1-5.
XXVI – Os 3 anjos e suas mensagens - 14.6-13.
XXVII – A ceifa sobre a terra - 14.14-20.
XXVIII – As 7 taças - 15.1 a 16.21.
XXIX – A grande Babilônia - 17.1-18
XXX – A queda da Babilônia - 18.1-24.
XXXI – As bodas do Cordeiro - 19.1-10.
XXXII – O cavaleiro do cavalo branco - 19.11-21.
XXXIII – O milênio - 20.1-6.
XXXIV – A derrota de Satanás - 20.7-10.
XXXV – Juízo Final - 20.11-15.
XXXVI – Novo céu e nova terra - 21.1-8.
XXXVII – A Nova Jerusalém - 21.9 a 22.5.
XXXVIII – Encerramento e saudação final - 22.6-21.

ASPECTOS TEOLÓGICOS A DESTACAR

Apresentação de Jesus no Apocalipse

- Fiel testemunha, primogênito dentre os mortos, soberano dos reis da terra - 1.5;

58
- Semelhante a filho de homem - 1.13;
- Filho de Deus - 2.18;
- Amém, testemunha fiel e verdadeira, princípio da criação de Deus - 3.14;
- Leão da Tribo de Judá, Raiz de Davi - 5.5;
- Cordeiro - 5.6;
- Cordeiro (e em muitos outros versos) - 6.1;
- Filho varão - 12.5;
- Cordeiro, Senhor dos senhores, Rei dos reis - 17.14;
- Fiel e verdadeiro - 19.11;
- Verbo de Deus - 19.13;
- Rei dos Reis, Senhor dos senhores - 19.16;
- Raiz, geração de Davi, brilhante estrela da manhã. 22.16

Cartas às 7 igrejas – Esta é a parte mais simples e, consequentemente, a mais citada


do Apocalipse. O livro foi enviado às 7 igrejas da Ásia e para cada uma delas havia uma
mensagem específica. As cartas seguem quase sempre este esboço:

- Destinatário: o anjo da igreja (seu líder);


- Autor: o Senhor Jesus;
- Conhecimento do Senhor sobre a igreja
- Elogio em relação às qualidades da igreja;
- Repreensão contra os erros da igreja;
- Aviso sobre a vinda do Senhor e o juízo divino;
- Conselho para solução dos problemas mencionados;
- Promessa aos vencedores.

A Igreja de Filadélfia não foi repreendida. A de Laodicéia não recebeu nenhum elogio.
Curiosamente, um sínodo realizado em Laodicéia no século IV negou reconhecimento ao
Apocalipse como livro canônico [Champlin].

Em algumas das cartas, percebemos uma relação direta entre a apresentação que o
Senhor faz de si mesmo e o conteúdo da mensagem.

Éfeso Candeeiro em 2.1 e 2.5


Esmirna Morte e vida em 2.8 e 2.10-11
Pérgamo Espada em 2.12 e 2.16
Filadélfia Porta aberta ou fechada em 3.7 e 3.8.

Nas outras cartas, essa relação não está tão clara. Talvez, tenhamos perdido um pouco
das características originais quando o texto foi traduzido.

Entre as teorias existentes sobre as 7 igrejas destacam-se as seguintes:

Teoria 1 - as 7 igrejas representam a história judaica. Observe a citação de Balaão,


Jezabel, sinagoga, etc. Não nos parece razoável essa suposição.

Teoria 2 - as 7 igrejas representam a história eclesiástica. Cada igreja representaria


um período da história da igreja desde o seu nascimento até a vinda de Cristo. Alguns
defensores dessa idéia chegam a dividir a história entre as igrejas. Uma das divisões
sugeridas é a seguinte: Éfeso (até o ano 100 d.C.); Esmirna (100-316); Pérgamo (316-

59
500); Tiatira (500-1500); Sardes (1500-1700); Filadélfia (1700-1900); Laodicéia (1900 -
fim). Tal possibilidade é bastante interessante, mas não encontramos fundamentos
suficientes para comprová-la. Por outro lado, a colocação de datas é bastante temerária.
Por mais razoável que possa ser tal interpretação, não podemos perder de vista o fato de
que a mensagem de Deus é para nós hoje.

Teoria 3 - as 7 igrejas são apenas aquelas da Ásia, às quais o Apocalipse foi


endereçado. Essa posição é literal e perfeita em sua afirmação. Contudo, se a
aplicabilidade das cartas fosse restrita àquelas igrejas, então não haveria motivo para que
tais mensagens chegassem às nossas mãos. Enfim, todo o livro de Apocalipse nos seria
estranho e inútil, pois foi originalmente destinado às 7 igrejas da Ásia. O entendimento
literário está exato, mas não podemos desconsiderar o peso simbólico do texto. O próprio
número 7, significando perfeição, totalidade ou plenitude, faz com que as 7 igrejas
representem a totalidade da igreja de Cristo em todos os tempos e em todos os lugares.

A adoração no Apocalipse – A adoração é elemento de grande destaque no


Apocalipse. O tema central é o combate entre o bem e o mal. Os seres humanos ou
celestiais demonstram seu posicionamento nesse conflito através da adoração que
prestam, seja ao Senhor Jesus (Deus), ou a Satanás (a Besta, o Anticristo). O assunto
aparece nos seguintes textos: Ap 4.10; 5.12-14; 9.20; 11.1,16; 13.4; 13.12; 13.15; 14.2;
14.9,11; 16.2; 19.4; 19.10; 19.20; 20.4; 22.8-9.

Amor e juízo – João, o discípulo amado, fez do amor um de seus principais temas,
seja no seu evangelho ou em suas epístolas. Em Apocalipse, porém, o amor de Jesus e
da igreja é mencionado apenas até o capítulo 3. Ao falar à igreja de Filadélfia, Jesus
declara: "Eu te amo." (Ap 3.9). Filadélfia significa "amor fraternal".

A partir do capítulo 4, o tom da mensagem muda completamente. Não mais se menciona


o amor de Deus, mas apenas sua justiça. A santidade divina foi afrontada pelo pecado.
Sua ira manifesta sua justiça através de guerras, pestes e catástrofes naturais.
Sabemos, porém, que o amor de Deus é eterno e sua manifestação ocorre através das
“bodas do Cordeiro” e da recepção dos salvos na glória.

VISÃO GERAL

Uma hipótese de interpretação – A experiência pessoal de João pode representar a


experiência da igreja. No início do livro ele se encontra vivendo sua própria tribulação,
preso e exilado. Então o Senhor Jesus vem até ele. No capítulo 4, João é arrebatado ao
céu e passa a ver o derramamento da ira divina sobre a terra. Assim, a vinda de Cristo
proveria socorro à Igreja atribulada, levando-a consigo no arrebatamento. Em seguida, a
terra ficaria submersa na Grande Tribulação.

Tal interpretação é frágil em sua consistência, pois o texto bíblico não diz que João
possa estar representando a Igreja. Os que defendem o paralelo na questão do
arrebatamento de João chamam a atenção para o fato de que a partir do capítulo 4 a
Igreja não é mais mencionada com este nome dentro do ciclo de visões do Apocalipse.
Supostamente, teria sido encerrado seu período histórico terreno representado pelas 7
cartas. Os fatos apresentados em relação à Igreja são bíblicos. A dificuldade está em
localizá-los em determinados símbolos e estabelecer-lhes a ordem de ocorrência.

60
De acordo com esta hipótese, que é muito aceita e essencialmente futurista, a
abertura do primeiro selo seria o início da Grande Tribulação (Ap 7.14), que incluiria os
selos, as trombetas, as taças e todos os flagelos destinados aos ímpios e às forças do
mal. No meio da cena encontram-se o dragão e as duas bestas tentando usurpar a glória
que é devida ao Cordeiro. O dragão é Satanás. As duas bestas são o Anticristo e o
Falso Profeta.

Durante a Grande Tribulação muitos seriam salvos e morreriam por sua fé. Enquanto
isso estaria acontecendo no céu às bodas do Cordeiro. Ao fim desse período, Cristo
desceria do céu para aniquilar a besta e o falso profeta. O dragão seria preso por mil anos
e nesse período Cristo reinaria com todos os santos sobre a terra. Estaria encerrada a
Grande Tribulação e inaugurado o milênio, ao fim do qual, Satanás seria solto e tentaria
novamente uma reação contra Cristo. Entretanto, seus agentes seriam consumidos antes
de iniciarem a batalha.

Na sequência ocorreria o juízo final, que será o julgamento de todos os homens.


Aqueles cujos nomes não se encontram no livro da vida serão lançados no lago de fogo,
onde serão atormentados eternamente. Em seguida, João vê a Nova Jerusalém. Essa
passagem é vista como uma descrição do estado eterno dos salvos. A cidade seria o
lugar onde viveremos para sempre com Cristo.

QUESTIONAMENTOS E OBSERVAÇÕES

Algumas dessas afirmações são amplamente aceitas. Tal arranjo escatológico pode
parecer bastante apegado ao texto. Contudo, observamos que essa interpretação contém
alguns pontos questionáveis e incertos. Outros parecem adequados.

A primeira dificuldade é entender o arrebatamento de João como arrebatamento da


Igreja, conforme já mencionamos. O arrebatamento de João ocorreu antes de serem
tocadas as 7 trombetas. Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses, disse que o
arrebatamento da Igreja aconteceria quando a última trombeta fosse tocada. Disse
também que a ressurreição dos santos acontecerá antes do arrebatamento. Encaixando
isso no quadro apocalíptico, teríamos o arrebatamento da Igreja junto com a ressurreição
no capítulo 20. Sendo assim, a Igreja teria participado ou, pelo menos, presenciado a
Grande Tribulação. Em Mateus 24, Jesus menciona a Grande Tribulação (v.21) antes do
fato que parece ser o arrebatamento (v.31). No meio da tribulação estarão os escolhidos
(v.22). Estes podem indicar toda a Igreja, mas alguns comentaristas dizem que são
apenas os que forem salvos durante o período.

Outro problema ocorre em relação à Nova Jerusalém do capítulo 21. Considerando a


hipótese de que o livro apresenta os fatos em ordem cronológica, então, ao chegarmos ao
capítulo 21, já teríamos passado pelo milênio e pelo juízo final.

A Nova Jerusalém descreve então o estado eterno dos salvos. Contudo, o texto cita
ainda nações que vivem fora da cidade santa, às quais se destinam as folhas da árvore
da vida, afim de que sejam curadas. Esses detalhes parecem ameaçar o quadro
escatológico descrito. Se os ímpios já estão no lago de fogo e os salvos estão na Nova
Jerusalém, que nações são essas que o autor cita? Uma solução proposta é que o relato
sobre a Nova Jerusalém se refira ao milênio e não ao estado eterno. Sendo assim, o texto
não se encontraria em ordem cronológica.

61
Observamos que o Apocalipse não contém as expressões: "juízo final", "Anticristo",
"milênio" ou "arrebatamento". Então, de onde tiramos tal vocabulário? Das interpretações
correntes, que, de tanto serem faladas, já se confundem com o próprio texto bíblico.
Sabemos que a idéia de "milênio" e "juízo final" encontra-se em outras palavras no
capítulo 20. O verbo "arrebatar" é encontrado em Ap.1.10; 4.2; 12.5,15, podendo ser
substituído dependendo da versão utilizada. Trata-se dos arrebatamentos de João, do
Filho Varão, e uma tentativa de Satanás no sentido de arrebatar a mulher. Outra situação
semelhante, mas com verbo diferente, trata da subida das duas testemunhas ao céu. Não
obstante, cremos no arrebatamento da Igreja, o qual se encontra de forma mais clara em
1 Tessalonicenses 4.17. Sobre o Anticristo falaremos de modo mais específico.
Todo esse questionamento, feito por comentaristas e teólogos, cria uma série de
correntes de interpretação designadas como: milenistas, pré-milenistas, amilenistas, pré-
tribulacionistas, pós-tribulacionistas, etc.

O Anticristo e o falso profeta – O único autor bíblico que usa a palavra "anticristo" é
João, mas não no Apocalipse. A citação é nas epístolas. Tal personagem escatológico é
normalmente entendido como sendo o "iníquo" ou "homem do pecado" ou "filho da
perdição" mencionado por Paulo (2 Ts 2.3,8). Da mesma forma, a besta que sobe do mar
(Ap 13) é identificada pelos intérpretes como o Anticristo. Embora o texto não diga isso, o
modo de agir da besta parece dizê-lo. Sua ação é, sobretudo anti-cristã. A besta quer
para si a adoração que é devida ao Cordeiro. Então, encaixa-se no perfil traçado por
Paulo.

Quem é o Anticristo? Alguns dizem que é um sistema político, mas a maioria dos
estudiosos o vê como sendo um homem. Isto é bastante coerente com as citadas
palavras de Paulo. O texto de 2 Tessalonicenses não é essencialmente simbólico. Então,
quando o apóstolo diz que é um homem, devemos entender literalmente. Afinal, aquela
Igreja já estava com muitos problemas de entendimento escatológico, e Paulo precisava
ser o mais claro possível.

Se o Anticristo é um homem, quem é ele? Não nos arriscaremos a responder tal


pergunta, mas muitos já o fizeram no decorrer da história. Sempre há quem queira
"eleger" um Anticristo. Quando João escreveu, ele poderia estar se referindo a Nero ou a
Domiciano, sem prejuízo do sentido escatológico da profecia. O culto ao imperador era
uma prática oficial no Império Romano. Domiciano, aquele que provavelmente mandou
João para Patmos, considerando-se um deus, mandou que imagens suas fossem
espalhadas pelo Império. Os que se recusavam a adorá-las eram condenados à morte.
Portanto, aquele imperador se encaixava no perfil do Anticristo.

O próprio João disse que muitos "anticristos" tinham se levantado (1João 2.18,22; 4.3;
2 João 7). Contudo, é bastante aceita a crença numa personificação do mal através de
um Anticristo escatológico, aquele que estará no mundo no dia da segunda vinda de
Cristo (2 Ts 2.8).

Hitler, alguns líderes religiosos e outros malfeitores da história foram apontados como
sendo o Anticristo. Porém, Jesus não voltou em suas épocas e o "cargo" ficou para outra
pessoa.

Embora não possamos identificar o Anticristo, conhecemos, contudo, as linhas gerais


do seu caráter e atuação. Através das interpretações mais aceitas, compreende-se que
ele poderá ser um líder político de projeção mundial. O atual fenômeno da globalização
seria ideal como preparação para um governo mundial. Os conflitos internacionais e a

62
fome seriam solucionados, por algum tempo, mediante um plano econômico
extraordinário. A besta que sobe do mar (Ap 13.2) receberá o poder do dragão (Satanás)
e em seu nome dominará sobre toda tribo, povo, língua e nação (13.7). A interpretação
desse texto é feita normalmente em relação com a profecia das setenta semanas de
Daniel (9).

Em todas as épocas da história, o poder político teve alguma ligação com o poder
religioso. Os déspotas eram avalizados pelo clero. Assim, o povo reconhecia a origem
divina da autoridade absoluta e permanecia submisso. Da mesma forma, o Anticristo
precisará do Falso profeta, que é a besta que sobe da terra. O Falso Profeta parece
representar o poder religioso que fará parceria com o Anticristo, talvez numa
manifestação ecumênica.

Babilônia x Nova Jerusalém – A Babilônia do Apocalipse parece ser a "sede de


governo do Anticristo". Nos dias de João, era uma referência a Roma (Ap 17.9,18), capital
do Império, lugar onde se encontrava Domiciano, que se fazia passar por deus.

A Babilônia representa a independência humana em relação a Deus, e isso significa


rebeldia. A origem de Babilônia foi Babel, lugar onde Ninrode, descendente de Cão,
construiu sua cidade, tornou-se célebre, e projetou uma torre para alcançar o céu por
suas próprias forças. Babilônia tem sua própria organização. Sua política (Ap.17.12) e seu
comércio funcionam muito bem.

O comércio, prática tão comum na vida humana, toma aspectos malignos quando se
comercializa o que não deveria ser vendido. Por exemplo, podemos mencionar o episódio
quando Esaú vendeu seu direito de primogenitura. Assim, o comércio da grande Babilônia
inclui uma abominável troca de valores. O ápice de tal negociação é expresso através do
comércio de almas humanas (Ap 18.13). A mais clara forma de comércio de almas é
através de uma falsa religião que se pratica apenas por motivos financeiros.

O que será a Grande Babilônia? Uma hipótese é que a cidade com esse nome, às
margens do Rio Eufrates, hoje reduzida a ruínas, venha a ser reconstruída e volte a ter
projeção mundial. Outra teoria associa a cidade a uma religião de alcance mundial.
Como religião mundial, alternativa plausível, a Grande Babilônia poderia ser vista como
uma falsa igreja, em contraposição à Nova Jerusalém, que desce do céu. João viu as
duas cidades e seus destinos. A Nova Jerusalém é a noiva. Babilônia é meretriz. A
Grande Babilônia será destruída pelos juízos divinos, enquanto a cidade santa será a
morada de Deus e do Cordeiro.

A Nova Jerusalém muitas vezes é tomada de forma literal. É vista como uma cidade
onde os salvos vão morar. Contudo, o texto é carregado de símbolos, levando a crer que
própria cidade é apenas um símbolo da igreja triunfante. Veja o paralelo:

NOVA JERUSALÉM IGREJA


Chamada noiva e esposa do Cordeiro (Ap Chamada noiva de Cristo (Ef 5.25-26).
19.7; 21.2,9; 22.17).
Possui 12 fundamentos (Ap 21.14) Fundada sobre os 12 apóstolos (Ef 2.19-21)

63
OS PARÊNTESES DO APOCALIPSE

O relato de João parece apresentar uma série de fatos que vão ocorrendo de modo
consecutivo, embora exista uma hipótese de que as várias visões apocalípticas se refiram
aos mesmos fatos históricos. Assim, as 7 trombetas, as 7 taças e os 7 selos seriam
diferentes versões dos mesmos juízos. Uma base para esse tipo de visão está em
Gênesis 41, onde "vacas" e "espigas" eram dois símbolos para um só fato.

De qualquer forma, o texto apresenta uma seqüência e esta parece interrompida em


alguns pontos. João interrompe a narrativa sobre as catástrofes mundiais para falar sobre
o anjo e o livrinho no capítulo 10; sobre as duas testemunhas no capítulo 11 e sobre a
mulher e o dragão no capítulo 12.

- Comer o livrinho significa tomar conhecimento das profecias acerca dos últimos
dias. O livro é doce na boca, mas amargo no ventre. A mensagem apocalíptica fala
de esperança e glória, mas também de grande tribulação;
- As duas testemunhas são objeto de muita polêmica. Eis algumas interpretações
sugeridas: "Moisés e Elias", "Enoque e Elias”. Os fatos mencionados no capítulo 11
fazem lembrar as experiências de Moisés e Elias, narradas no Antigo Testamento.
Contudo, tais testemunhas serão mortas. Os melhores candidatos então seriam
pessoas que nunca experimentaram a morte. Por isso, são sugeridos Enoque e
Elias.

Alguns eruditos se recusam a ver as duas testemunhas como dois homens. Daí
surgem outras hipóteses. Seriam elas o Antigo e o Novo Testamento? Tal sugestão
não parece razoável. Há quem entenda que as testemunhas sejam apenas um
símbolo da Igreja em seu papel de evangelização, com seu testemunho autorizado
e idôneo (sob o pano de fundo oriental de que todo ato jurídico deveria ser apoiado,
no mínimo por duas testemunhas);
O dragão do capítulo 12 é Satanás. A mulher, segundo muitos estudiosos,
representa a nação de Israel. Entretanto outros professores da Bíblia entendem
que essa mulher representa a “Jerusalém lá de cima”, que conforme escreve Paulo
é a nossa mãe (Gl 4.25,26). O Filho Varão é Cristo. O resto da semente parece
representar a Igreja.

As menções a Israel no Apocalipse constituem pontos de dúvida. Elas podem se


referir à nação de Israel ou simplesmente à Igreja, o "novo Israel". Assim acontece
com os 144 mil eleitos de Deus (Ap 7.4). São 12 mil de cada uma das tribos. Como
sabemos, tais números têm valor simbólico. Portanto, não faz sentido pensarmos
que 144 mil seja o número final dos salvos. Na seqüência do mesmo capítulo, João
vê os remidos de toda tribo, língua, povo e nação, cujo número era incontável (Ap
7.9).

64
CONCLUSÃO

O Apocalipse trata dos últimos lances da guerra histórica entre o bem e o mal. Satanás
usa suas últimas armas durante o tempo que lhe resta. Contudo, a vitória divina é
inevitável. Em meio a todo esse combate estão os homens, servindo a um dos lados.
A mensagem apocalíptica é um aviso divino para a humanidade. Não existe esperança
para as forças demoníacas, mas para os homens sim. Ignorar o Apocalipse seria como
rasgar uma notificação judicial sem tê-la lido. O prazo está se esgotando. Ainda que o
mundo dure mais 1000 anos, é o nosso tempo de vida que determina nossa chance de
deixar o mal e escolher o bem.

O arrependimento é também um tema em destaque no Apocalipse (2.5,16 21,22;


3.3,19; 9.20,21; 16.9,11). Deus poderia extinguir a raça humana em um instante. Porém,
ele manda seus castigos aos poucos, esperando que os homens sintam a culpa pelo
pecado e se arrependam. Devemos ouvir a sua voz enquanto temos tempo. Antes que o
juízo venha, existe uma porta aberta para o Reino de Deus através do nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo.

“O Espírito e a noiva dizem: “Vem”. E todo aquele que ouvir diga: “Vem”. Quem tem sede,
venha; e quem quiser, beba de graça da água da vida” (Ap 22.17).

65
QUESTIONÁRIO VI

APOCALIPSE

1. Fale sobre o gênero apocalíptico.


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

2. O que é o Apocalipse?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

3. Com relação ao apocalipse, preencha os dados abaixo:

Autor: .....................................................................................................................................
Destinatário: ...........................................................................................................................
Data: ......................................................................................................................................
Local: .....................................................................................................................................
Idioma: ...................................................................................................................................
Tema: .....................................................................................................................................
Características particulares: ..................................................................................................
.................................................................................................................................................
...............................................................................................................................................

4. Existe um paralelo evidente entre Gênesis e Apocalipse. Com base na apostila,


complete o quadro abaixo:

GÊNESIS APOCALIPSE
Início
Criação da terra
Criação do céu
Criação do sol
Vitória de Satanás
Adão
Eva
Entrada do pecado
Maldição
Bloqueado caminho à árvore da vida.

66
5. Dê a definição de:

 Texto literal:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

 Texto simbólico:
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

6. Com base na apostila preencha o quadro abaixo:

Fenômenos ou elementos naturais e seus significados

ELEMENTO SIGNIFICADO OBSERVAÇÃO


Ar
Tempestade (raios, trovões, relâmpagos,
saraiva)
Fogo
Pedras preciosas
Mar

7. Fale sobre Alguns Princípios de interpretação.


_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

8. Comente sobre a corrente de interpretação do Apocalipse chamada Preterista


delas.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

67
9. Comente sobre:

 O ponto de vista historicista eclesiástico:


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

 O ponto de vista historicista contínuo:


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

 O ponto de vista histórico espiritual ou idealista:


_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

10. Cite os aspectos teológicos destacados no apocalipse.

_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

11. Fale sobre:

a. Anticristo:
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

b. Falso profeta:
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________

68
BIBLIOGRAFIA BÁSICA

KEENER, Craig. Comentário Bíblico Atos; Novo Testamento. Belo Horizonte, Atos, 2004.
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Bíblia de Referência Thompson - Tradução de João Ferreira de Almeida - Versão
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