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JEFFERSON DE SOUSA SANTOS

IGREJA NEOPENTECOSTAL, TEOLOGIA DA PROSPERIDADE E A SUA


RELAÇÃO COM OS MAIS POBRES.

GUARULHOS
2022
JEFFERSON DE SOUSA SANTOS

IGREJA NEOPENTECOSTAL, TEOLOGIA DA PROSPERIDADE E A SUA


RELAÇÃO COM OS MAIS POBRES.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Teologia do Centro Universitário
de Maringá (UNICESUMAR).

Área: Teologia Pentecostal.


Assunto: Igreja Neopentecostal, Teologia da
prosperidade e a sua relação com os mais
pobres.

GUARULHOS
2022
1

RESUMO

O presente texto tem como objetivo promover uma reflexão acerca da relação da
Igreja Neopentecostal com os mais pobres, a sua visão em relação á Teologia da
Prosperidade e o quanto isso pode levar á segregação dos mais humildes. Esse
estudo se justifica por várias questões, dentre as quais cito: o cuidado bíblico com os
mais pobres, a visão da Teologia da Prosperidade em relação á pobreza, a relação
de Jesus com os mais humildes, o aumento significativo da pobreza na nossa
nação. Espera-se com este texto levar o leitor ás seguintes reflexões. Qual a relação
da Igreja com os mais pobres? Teologia da Prosperidade é bíblica? Pobreza é
maldição? Deus zela pelo pobre? O crente mais abastado deve cuidar dos mais
necessitados? Estamos excluindo os mais fracos do seio da Igreja? Existe uma
relação equilibrada entre a Teologia da Prosperidade e a pobreza? O quanto à
teologia da prosperidade é uma visão materialista? Enfim vamos analisar de forma
bíblica e coesa os pontos aqui expostos.

Palavras-chave: Humildade. Separação. Igualdade. Cuidado. Misericórdia.


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1 INTRODUÇÃO
Uma vida sem dores, sem necessidades e sem problemas, uma vida próspera
e abundante, seria bom demais, mas não é isso que a bíblia ensina, o artigo nos
leva á reflexão da Igreja Pentecostal contemporânea, a Igreja Neopentecostal e a
sua relação entre prosperidade e pobreza.
Trataremos nesse artigo, a mudança da Igreja Pentecostal clássica e de
segunda onda, para a Igreja Pentecostal contemporânea ou Neopentecostal antes
uma Igreja voltada á oração, busca pela santidade, cura e cuidado social, hoje
focada na Teologia da Prosperidade.
Esse tema foi escolhido pelo significativo aumento da pobreza na nossa
nação, dito isso, a onda da “Teologia da Prosperidade”, tem levado pessoas á busca
desenfreada pela riqueza, não de forma bíblica, mas sim de forma atabalhoada e
errônea, colocando Deus na parede, vendo as escrituras de forma materialista e
esquecendo-se dos mais humildes que sempre fazem e farão parte da Igreja bíblica.
Este artigo está subdividido em quatro tópicos: Deus zela pelo pobre. Fomos
chamados á cuidar dos mais pobres. Jesus e os mais humildes. Uma relação de
equilíbrio entre prosperidade e pobreza
Espero com esse artigo contribuir ao diálogo da relação da Igreja atual, com
os mais pobres e abordar que nem sempre prosperidade é somente riqueza, mas
sim o favor e a graça divina, e sabermos que é sim responsabilidade também da
Igreja cuidar e conduzir os mais necessitados.
.

2 IGREJA NEOPENTECOSTAL, TEOLOGIA DA PROSPERIDADE E A SUA


RELAÇÃO COM OS MAIS POBRES.
A bíblia é bem clara que sempre teremos o pobre no meio da terra, portanto é
papel da Igreja cuidar destes, aqui vemos uma relação íntima de Deus com os mais
humildes, segundo Snyder, (1997, p.43) “A fidelidade do povo de Deus era
continuamente medida pelo tratamento dado aos pobres. Todos esses ensinos
acerca dos pobres fazem parte da Palavra de Deus”.
“Pois nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno:
livremente, abrirás a mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre na tua
terra” (Deuteronômio 15.11).
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A Igreja Neopentecostal e a “Teologia da Prosperidade” tem um


relacionamento peculiar com o pobre e a pobreza, segundo esta visão ser pobre
pode estar intimamente ligado á maldições, desleixo, falta de foco, demônios e
outras coisas. Essa visão é amplificada com a “Teologia da Prosperidade”. Segundo
Pedroso (2015, p.157).
Deus é paz, bênção, vitória e, por isso, seria um paradoxo em alto
grau se o justo que permanece nele tivesse, necessariamente, de
sofrer indefinidamente. Na verdade, a grande atribulação do justo de
Deus é a de testemunhar os sofrimentos causados a outros pela
injustiça dos homens e ao ver tantos, pelo mundo, ainda sem os
preceitos de Jesus.

Esta visão alega que seria um antagonismo, Deus sendo rico, que sua Igreja
seja pobre isso tanto na esfera espiritual, quanto material. Na visão de Pedroso,
(2015), “A Teologia da prosperidade nos impede a pensar em uma Teologia para os
miseráveis”. Portanto sendo Deus o dono de toda riqueza, fica inviável que a sua
igreja seja pobre materialmente. Ainda segundo Pedroso (2015, p.158).
Com nossas palavras e pensamentos, atraímos ou repelimos os
fatores. Devemos assumir a responsabilidade pelo nosso futuro.
Agindo dessa maneira, deixaremos o estado desconfortável que nos
encontramos.

Portanto nessa visão nossos “pensamentos” atraem ou repelem fatores


correspondentes á prosperidade, isso nem sempre é um fato, levando em conta
fatores como: acesso ao conhecimento, educação e infraestrutura, portanto nem
todo estado de pobreza é gerado, apenas por pensamentos, ações, maldiçoes e
afins, como citado no início desse ponto, o pobre sempre estará conosco, aqui fica
evidenciado que é papel da Igreja cuidar destes, e que mesmo que estes não sejam
prósperos como diz essa “Teologia’, o favor de Deus está com eles.
“O rico e o pobre se encontram; a um e a outro fez o SENHOR” (Provérbios
22.2). Ou seja, prosperidade e pobreza, não são condicionais para demonstrar o
favor e o cuidado de Deus, para com seu povo.

2.1 DEUS ZELA PELO POBRE


Deus tem uma relação íntima com os mais necessitados, a bíblia cita isso de
forma clara em Salmos 68.5. “Pai dos órfãos e juiz das viúvas é Deus em sua santa
morada”. Isso posto, é inegável a importância de não desprezarmos os mais
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humildes e apenas acharmos que o estado destes, é apenas fruto de maldições


hereditárias e outras coisas. A bíblia tem mais de 100 citações, em relação ao pobre
e a pobreza, isso demonstra claramente a preocupação divina com esse estado
humano, segundo Keller (2018, p.246).
Jesus, o Deus-homem, era dono de uma fortuna infinita. Mas, caso
se apegasse a ela, morreríamos em nossa pobreza espiritual. Essa
era a opção se permanecesse rico, morreríamos pobres. Se
morresse pobre, nós nos tornaríamos ricos. Nossos pecados seriam
perdoados, e seríamos admitidos à família de Deus. Paulo não
estava transmitindo a essa igreja um mero preceito ético, exortando-
os a pararem de amar tanto o dinheiro e a se tornarem mais
generosos. Antes, ele apresentou um resumo do evangelho.

O texto do Salmo 68, verso 05, nos mostra um Deus zeloso, pelo órfão e pela
viúva, ou seja, um Deus que se preocupa com o pobre. Segundo Carriker (2022),
“Em teofanias e hagiofanias, Deus se revela aos mais pobres e humildes, ou seja, o
favor de Deus não é monopolizado”.
No Brasil há um aumento significativo da pobreza, segundo estudos da FGV,
o Brasil tem aproximadamente 29,6% da sua população vivendo com menos de
meio salário mínimo, em um país com índices altíssimos de pobreza, como fica a
nossa visão em relação á dignidade humana e o zelo de Deus para com os mais
pobres? A bíblia diz em Isaías, 58. 7-11.
Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, e
recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras,
e não te escondas do teu semelhante? 
Então, romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem de-
tença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR será a tua
retaguarda;  então, clamarás, e o SENHOR te responderá; gritarás
por socorro, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o
dedo que ameaça, o falar injurioso;  se abrires a tua alma ao faminto
e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua
escuridão será como o meio-dia. 
O SENHOR te guiará continuamente, fartará a tua alma até em
lugares áridos e fortificará os teus ossos; serás como um jardim
regado e como um manancial cujas águas jamais faltam.

A demonstração do zelo de Deus com os mais necessitados está no cuidado


da sua igreja, em relação as estes, a grande crítica a “Teologia da Prosperidade” é a
demonstração que pobreza é falta de fé, pecado, maldição e afins, ou seja, segundo
artigo da Lausanne Global Consultation on Prosperity Theology, Poverty, and the
Gospel, (2014). “De fato, entende-se que as pessoas são pobres porque não dão
dinheiro para Deus”. Esse artigo aborda a busca de equilíbrio entre a “prosperidade
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e a pobreza”, este artigo afirma ainda que esta teologia está embasada em dois
princípios: “primeiro é o ensino da semeadura e da colheita; o segundo é o de
reivindicar as promessas de Deus nas Escrituras”.

2.2 FOMOS CHAMADOS Á CUIDAR DOS MAIS POBRES.


A igreja tem um papel primordial no cuidado aos mais necessitados, isso é
uma ordem divina, segundo Snyder (1997) “Jesus colocou o mais pobre em um
lugar especial diante de Deus” e isso ele deixa claro no ensino aos discípulos.
Mateus 25.31-40.
Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos
com ele, então, se assentará no trono da sua glória;  e todas as
nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos out-
ros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas;  e porá as ovel-
has à sua direita, mas os cabritos, à esquerda;  então, dirá o Rei aos
que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na
posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. 
Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de
beber; era forasteiro, e me hospedastes;  estava nu, e me vestistes;
enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. 
Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com
fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? 
E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vesti-
mos? 
E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? 
O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre
que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o
fizestes.

Temos papel de protagonista no cuidado ao mais humilde, a Igreja deve ser a


voz, o auxílio, o braço e o condutor do mais necessitado, segundo Snyder (1997,
p.45).
Assim como o seu Senhor, a Igreja deve dar uma ênfase especial
aos pobres, Uma teologia bíblica para hoje deve refletir o interesse
bíblico pelos pobres. Uma igreja que procure ser neotestamentária
em espírito e prática precisa meditar sobre as implicações dessa
ênfase bíblica.
Essa verdade deve ser urgentemente afirmada hoje porque o
protestantismo contemporâneo está, em geral, negligenciando as
pessoas pobres.

A Teologia da Prosperidade é uma visão antagônica, daquilo que Jesus nos


ensinou e nos ensina através das escrituras e isso tem sido um tanto quanto
prejudicial á Igreja Pentecostal, segundo Stott (2005, p.23-24).
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Hoje vivemos em uma sociedade que adora o poder. Obviamente, a


situação não é nada nova. A cobiça pelo poder tem caracterizado
sempre o ser humano. Foi precisamente essa ambição que conduziu
a queda de Adão e Eva, já que Satanás os tentou a desobedecer em
troca de lhes dar poder. A sede de poder se expressa hoje em três
ambições humanas muito amplas: a ambição desmedida pelo
dinheiro, pela fama e pela influência.

A busca por riqueza e poder, são pilares desta “Teologia”, talvez focada em
visões terrenas e não celestiais. Colocamos Deus e a sua palavra na parede, como
diz Stott (2005), “os crentes atuais não podem confessar a sua fraqueza” e isso
também é visível no âmbito financeiro.
A Igreja tem papel transformador na vida das pessoas, ela é o agente de
Deus na vida das pessoas, sem esperança, pobres, desamparadas, ao invés de ser
agente de acusações, ela pode ter o papel de agente transformador na vida dos
mais pobres, não é maldição ser pobre e muitas vezes nem pecado é. Muitas vezes
pode até ser pecado, mas não por parte do pobre em si, mas por parte dos
governantes que não fazem políticas públicas, para melhoria destes.
Segundo Queiroz; Stetzer (2017, p.39), o evangelho tem um papel
transformador.
A transformação promovida pelo evangelho sempre leva a
mudanças amplas e profundas. O poder do evangelho alcança todos
os recônditos da vida e da sociedade, penetra em todos os lugares,
planta sementes e também dá frutos. As boas-novas de Jesus
mudam tudo.

Segundo Queiroz; Stetzer (2017), “fomos chamados para servir ao pobre e


ferido, devemos ter forte envolvimento com justiça social, devemos ao invés de se
afastar, se relacionar com estes, devemos despertar os nossos corações aos mais
pobres”.
Aqui cabe uma ressalva, existem Igrejas que fazem trabalhos magníficos com
os mais pobres, segundo Carriker (2022, p.239).
Na sua orientação pastoral em toda a América Latina foi dada
prioridade preferencial aos pobres. Interesse de missiólogos,
estudando o solo religioso que recebe a semente do evangelho, e o
trabalho de pastoralistas desenvolvendo uma “pastoral popular”.

Há um grupo na América Latina, preocupado com os mais pobres, grupo este


tem se levantado com trabalhos pastorais e desenvolvendo uma pastoral popular,
essa afirmação de Carriker, não fala exatamente sobre grupos Neopentecostais.
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Mais muitas destas denominações têm sim trabalhos voltados aos mais humildes, a
grande crítica na relação Igreja x Teologia da Prosperidade x Pobre, é a visão um
tanto seletivista da Igreja, uma falta de atenção teológica a este assunto, não só
uma visão social, mas sim uma visão hermenêutica sobre essa relação prosperidade
x pobreza.

2.3 JESUS E OS MAIS HUMILDES.


Jesus tinha um relacionamento profundo e amável com os mais humildes, seu
ministério terreno foi feito, não de forma totalitária, mas em boa parte com ênfase
nestes, o seu relacionamento com este grupo é visível em, Lucas 4.18.
O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para
evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos
cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os
oprimidos. 

O seu relacionamento, nos mostra o interesse bíblico neste grupo em


questão, Deus se importa com os mais necessitados e Jesus tinha papel primário no
relacionamento do Senhor com este grupo, quanto á isso, afirma Snyder (1997,
p.41).
Jesus veio pregando o Evangelho aos pobres. O antigo testamento
fala muitas vezes sobre o cuidado de Deus para com o pobre, o
órfão, a viúva, o oprimido. A renovação radical nos chama a atenção
para o interesse bíblico pelo pobre, pois aqui sentimos o coração de
Deus bater.

A relação de Cristo com os mais humildes é vista em várias citações bíblicas,


essa intimidade nos mostra que Deus não tem vergonha dos mais pobres, do
contrário, Ele demonstra preocupação com estes, e essa relação nos mostra que a
unidade da Igreja está em todas as classes sociais, vivendo de forma conjunta, seja
pobre, rico, enfim, todos em comunhão.
Se o nosso sentimento quanto Igreja é de nos envergonharmos dos mais
pobres, deixamos de cumprir a obra da grande comissão, segundo Stott (2019,
p.214).
No momento em que fico envergonhado de visitar a casa de outras
pessoas ou de convidá-las para a minha por causa da disparidade
entre nossos estilos de vida, algo está errado. A desigualdade
prejudicou a comunhão. Precisa haver uma igualização nessa ou
naquela direção ou em ambas.
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No que tange á esse relacionamento Cristo deixa claro, que devemos nos
relacionar em pé de igualdade com todos. Cristo tinha grande preocupação com
essa classe social e nos leva quanto Igreja á esse mesmo caminho, segundo Stott
(2019, p.215-216).
A situação atual da desigualdade Norte-Sul (“um abismo tão profundo
que, em seus extremos, as pessoas parecem viver em mundos
diferentes”) não é culpa de Deus (pois ele forneceu recursos amplos
na terra e no mar) nem é culpa dos pobres (já que a maioria nasceu
nessas circunstâncias, embora alguns governos possam ser
acusados de corrupção e incompetência), também não é
necessariamente nossa culpa (ainda que nossos antepassados
coloniais possam ter contribuído para criá-la). Nós nos tornamos
pessoalmente culpados apenas se aceitarmos que isso continue. Na
história de Jesus sobre Lázaro e o homem rico, não há indícios de
que o homem rico tivesse sido responsável pela luta do homem
pobre. No entanto, o homem rico tornou-se culpado por ignorar o
mendigo à sua porta, por não fazer nada a respeito de sua
destituição, por não usar sua riqueza para aliviar a necessidade do
homem pobre e por se conformar com uma situação de
grande desigualdade econômica que desumanizou Lázaro, mas que
o rico poderia ter remediado. Os cachorros que lamberam as feridas
do homem pobre demonstraram mais compaixão por ele do que o
homem rico. O homem rico foi para o inferno não porque tinha
explorado Lázaro, mas por causa de sua indiferença e apatia
escandalosa (Lucas 16.19-21).

A Igreja se torna culpada, quanto mostra indiferença, apatia e abandono aos


mais humildes, Jesus sentia a dor do doente, a fome do faminto, a falta de acesso á
educação pelos mais pobres e a alienação da Igreja, esse relacionamento íntimo de
Jesus com os mais humildes, nos leva á reflexão, o quanto o Evangelho da
Prosperidade traz exclusão aos mais pobres? O quanto o Evangelho da troca afasta
de fato o que Jesus nos ensinou em relação aos mais pobres? O intuito deste artigo
não é exaltar uma “Teologia da Miserabilidade”, mas sim levar á reflexão da relação
Cristo x povo, Teologia da prosperidade x Materialismo. Quanto á essa relação o
artigo da Lausanne Global Consultation on Prosperity Theology, Poverty, and the
Gospel (2014), nos diz.
Precisamos de coisas materiais para viver, afirmo, mas o
materialismo corre em paralelo com a cobiça e a ganância. Isso vai
contra o cerne da verdade bíblica sobre como se espera que os
cristãos lidem com a riqueza. A Bíblia não endossa a pobreza, mas
ordena àqueles que têm condições, que estejam atentos às
necessidades dos pobres.
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A grande crítica a Teologia da Prosperidade, não é o fato de sermos


prósperos, mas sim uma busca de prosperidade pela ostentação, pelo materialismo.
Obviamente precisamos de bens materiais para sobreviver, mas a relação de Jesus
com os mais humildes, a visão de Deus em relação á receber, é totalmente diferente
do que é pregado por esta ala Teológica, no que tange á isso Jesus nos ensina com
a oferta da viúva (Marcos 12.41-44), que Deus se move não á base de troca, mas
sim segundo o nosso coração disposto, portanto prosperidade é gerada pelo alto,
não na autoridade do crente para com Deus, mas sim o contrário.
Segundo artigo da Lausanne Global Consultation on Prosperity Theology,
Poverty, and the Gospel (2014).
O que critico no evangelho da prosperidade, portanto, não é o
sucesso material na vida, mas o materialismo. Materialismo significa
viver para coisas materiais como se fosse um fim em si. Jesus deixou
vários ensinos sobre o materialismo. Dentre eles, o seguinte revela o
que Cristo pensa do materialismo: Não acumulem para vocês
tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e onde os
ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos
céus, onde a traça e a ferrugem não destroem e onde os ladrões não
arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também
estará o seu coração. […] Ninguém pode servir a dois senhores; pois
odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o
outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mateus 6.19-
21, 24).

Portanto a relação de Jesus com os mais humildes nos mostra que o seu
ensino, nunca foi pautado por materialismos, com o fim em si mesmo, mas sim pela
busca de coisas e valores eternos e o seu cuidado com os esquecidos da sociedade
nos mostra isto.

2.4 UMA RELAÇÃO DE EQUILÍBRIO ENTRE PROSPERIDADE E POBREZA


A bíblia é bem clara quando nos diz á respeito de dízimos e ofertas, o texto
mais claro sobre dízimos está em Malaquias 3.10.
Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja manti-
mento na minha casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exérci-
tos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós
bênção sem medida. 

A relação da Igreja Neopentecostal com os dízimos é uma relação de abertura


de portas, ou seja, uma relação de doação instantânea e colheita urgente, algo
quase mágico, isso vale tanto para o dízimo, quanto para ás ofertas, no que tange
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ás ofertas a visão da “Teologia da prosperidade” está pautada em II Coríntios 9.6. “E


isto afirmo: aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com
fartura com abundância também ceifará”.  Portanto quanto mais oferto, mais sou
próspero, mas essa visão esquece o que diz no verso seguinte. “Cada um contribua,
segundo proposto no coração”.
Essa relação Deus e prosperidade não estão profundamente ligadas á
valores, mas sim ao coração, como Pentecostal que sou acredito sim, na visão de
dízimos e ofertas, além do texto de Malaquias 3, uso também o texto de Jesus aos
fariseus e escribas, em Mateus 23.23. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas,
porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os
preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém,
fazer estas coisas, sem omitir aquelas”. Uma relação de equilíbrio está pautada, sim
na fidelidade nos dízimos e ofertas, não como moeda de troca, mas confiando no
favor de Deus e pautando e agrupando todas ás classes da Igreja, seja rico ou
pobre, pois o favor de Deus está com todos. A nossa luta por alguma causa ou
serviço deve ser assim como diz Bonhoeffer (2015, p.150).
Quanto mais isento e livre de interesses secundários pessoais for o
serviço prestado a uma causa, tanto mais ela recupera sua relação
original com Deus e o ser humano e tanto mais ela liberta o ser
humano de si mesmo. A causa á qual se oferece o supremo sacrifício
pessoal deve servir aos seres humanos justamente dessa forma.

Portanto a nossa visão Teológica, tanto em relação á “Teologia da


prosperidade”, quanto a sua relação com os mais humildes deve ser uma relação
sem interesses secundários, ou seja, a minha fidelidade não está pautada na troca
com Deus ou no que Ele pode me dar, mas na nossa relação original com Ele.
Devemos ser uma Igreja humana e equilibrada, Deus é sim um Senhor que
prospera, mas que a nossa visão não seja pautada no materialismo, mas sim em
uma relação equilibrada, sendo rico, cuidando dos mais necessitados, não os
segregando, sendo um com todos, entendendo que a minha prosperidade também é
para cuidar dos mais necessitados, cumprindo o que Jesus cobra dos fariseus em
Mateus 23.23, devemos exercer justiça, misericórdia e fé, não apenas uma busca de
prosperidade material, mas uma verdadeira ‘Teologia da Prosperidade” pautada em
Deus e no meu compromisso com o mais pobre.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após pesquisas e argumentações, quero enfatizar que uma Teologia da
Prosperidade equilibrada, é uma teologia pautada simplesmente na confiança e
favor de Deus, expressos pelo seu amor e graça, além disso, os mais pobres podem
sim participar de uma Igreja com esta visão teológica, o zelo de Deus com estes nos
deixa claro, além do compromisso social da Igreja com todos, e a relação de Jesus
com os mais humildes. Portanto uma verdadeira “Teologia da Prosperidade”, é uma
visão teológica pautada, primeiro na graça e no favor de Deus, segundo inclusiva,
todos podem fazer parte e nenhum é amaldiçoado, por ser pobre, terceiro, olhando
com mais carinho, não somente no que tange á assistência social, mas também com
uma visão teológica, que o pobre também é participante e próspero, segundo o
cuidado divino e o zelo da Igreja, portanto temos um compromisso teológico e
inclusivo, com estes, ou seja, somos um, independente de condição social.

REFERÊNCIAS:

BONHOEFFER, D. Ética. 11ª ed. Rio Grande do Sul: Editora Sinodal, 2015.

CARRIKER, T. Evangelho e Cultura: Leituras para a antropologia missionária. São


Paulo: E-book Kindle, 2022.

KELLER, T. Deuses falsos: as promessas vazias do dinheiro, sexo e poder, e a


única esperança que realmente importa. 1ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2018.

PEDROSO, C. Teologia da prosperidade. 1ª ed. São Paulo: Editora Eureka, 2015.

QUEIROZ, S; STETZER, E. Igrejas que transformam o Brasil: Sinais de um


movimento revolucionário e inspirador. 2ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2017.
Recurso digital.

SHEED, R.P. Bíblia Sheed. Traduzida por João Ferreira de Almeida. Revista e
atualizada no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova.

SNYDER, H. A. Vinhos novos, odres novos: vida nova para Igreja. 1ª ed. São
Paulo: ABU Editora, 1997.

STOTT, J. O cristão em uma sociedade não cristã: como posicionar-se


biblicamente diante dos desafios contemporâneos. Rio de Janeiro: Thomas Nelson,
2019.

STOTT, J. Sinais de uma igreja viva: As marcas de uma Igreja cheia do Espírito
Santo. Editora ABU, 2005.
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Prosperidade e Pobreza na Bíblia: A Busca do Equilíbrio - Lausanne Movement.


Disponível em: https://lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/prosperidade-e-
pobreza-na-biblia-a-busca-do-equilibrio. Acesso em: 11 de outubro de 2022.

Mapa da nova pobreza: Estudo revela que 29,6% dos brasileiros têm renda familiar
inferior a R$ 497 mensais | Portal FGV. Disponível em:
https://portal.fgv.br/noticias/mapa-nova-pobreza-estudo-revela-296-brasileiros-tem-
renda-familiar-inferior-r-497-mensais. Acesso em: 24 de outubro de 2022.

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