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A PREGAÇÃO

EVANGELÍSTICA
E O CULTO1

A pregação evangelística tem sofrido do abuso verbal. Desde os


tempos antigos até a modernidade da TV, a pregação evangelística
tem sido definida fora da Bíblia e fora da igreja. Usando as palavras
do Evangelho, mas não o espírito, muitos evangelistas abusam do
Evangelho. Será que isto destruiu a base bíblica para pregar o
Evangelho? Toda pregação deveria ser evangelística? Ou somente
para pregadores especiais e ocasiões especiais?
Colocando o termo evangelístico como um termo genérico, a
pregação garante aos ouvintes dois importantes aspectos que este
artigo visa atingir:
1º.: O poder para alcançar a meta do sermão procede do Evangelho
de Jesus Cristo;
2º.: Um sermão evangelístico é dirigido para pessoas e situações
específicas.

PONTO NÚMERO 1
Pregar é proclamar uma mensagem. Nós sabemos que o centro
da mensagem é sobre Jesus Cristo. Mas nós também devemos
proclamar todo o desígnio de Deus: a glória da criação de Deus e
nossa responsabilidade como parte dela; aspectos morais e sociais com
os quais nós nos defrontamos; missões; mordomia; culto; comunhão;
e outros. Por causa de nossa responsabilidade em pregar sobre esse
tão variado leque de temas, nós algumas vezes esquecemos a

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“Evangelistic Preaching and the Sunday Service”. O primeiro artigo de uma série de seis, sobre
Pregação Evangelística. Fonte: Concordia Pulpit Resources, Volume 1/Part 3, May 26, 1991 –
September 1, 1991. Saint Louis, USA: Concordia Publishing House. Used with permission. All
Rights Reserved. Traduzido por Anselmo Ernesto Graff, professor de Missiologia no Seminário
Concórdia de São Leopoldo e ULBRA, Canoas.

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IGREJA LUTERANA

mensagem principal, ou fazemos dela um subtema no sermão. A crítica


mais comum aos sermões dos congregados e de outros pastores é:
“não tinha Evangelho”. Em outras palavras, não evangelizou.
Pregação evangelística sempre proclama o Evangelho. Em uso
popular hoje, pregação evangelística muitas vezes significa pregar
somente para descrentes com o propósito de conversão. Contudo, esta
definição não procede da Bíblia ou da igreja histórica. No Antigo
Testamento, as palavras no original podem significar “evangelista”,
“evangelizar”, e “boas novas e evangelho”, respectivamente (Sl 40.9, Is
40.9, 41.27, 52.7, 61.1, 2 Rs 7.9). O Novo Testamento contém somente
três referências à palavra evangelista (At 21.8; Ef 4.11; 2 Tm 4.5). A
palavra euvaggelisth/j é formada da palavra euvagge,lion “Evangelho” com o
final, thj, o que denota alguém que proclama o Evangelho. O Novo
Testamento muitas vezes usa o verbo euvaggeli,zw “evangelizar, proclamar
as boas novas”. Jesus lista evangelizar como parte de sua obra própria
(Lc 4.18, citando Is 61.1-2). Jesus também treinou seus discípulos para
evangelizar (Lc 9.6). Paulo freqüentemente classifica o evangelismo como
um dos seus deveres (como em Rm 1.15, 15.20, 1 Co 1.17, Gl 4.13).
Pedro diz que um profeta também evangeliza (1 Pe 1.12). Os livros do
Novo Testamento, as ferramentas para o evangelismo, são dirigidos a
indivíduos e a grupos de cristãos.
As passagens da Escritura onde estão essas palavras ocorrem,
indicam que a pregação evangelística está relacionada com todo o
conselho de Deus, não apenas conversão. Ela oferece o poder de Cristo
para alcançar o objetivo do sermão nas vidas dos ouvintes. A pregação
evangelística protege os sermões sobre aspectos morais e de
comprometimento, de se tornarem legalistas, e os sermões doutrinários
se tornarem somente intelectuais ou filosóficos. Pregadores
evangelísticos dependem da autoridade do Evangelho para alcançar
os objetivos de seus sermões.

PONTO NÚMERO 2
Adicionar a palavra evangelístico aos sermões ajuda a lembrar o
pastor a dirigir o sermão a pessoas e situações específicas.
Simplesmente pregar pode ser um tiro no ar, ou no escuro; evangelizar
é atirar no alvo. Não basta apenas pregar. Nós pregamos alguma
coisa para alguém. Pregação evangelística é dar o Evangelho de Jesus
Cristo, a pessoas de acordo com suas reais necessidades.
O pastor de uma congregação é o melhor evangelista para os
membros de sua igreja e os cultos são as melhores oportunidades.

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A PREGAÇÃO EVANGELÍSTICA E O CULTO

Muitos pastores já pregaram evangelisticamente a maior parte de


seu tempo. Mas todos os que pregam devem freqüentemente reavaliar,
moldar e expandir a preparação e a proclamação do sermão.

QUATRO CARACTERÍSTICAS DE SERMÕES EVANGELÍSTICOS


1. As necessidades dos ouvintes: Pregar para as necessidades
reais das pessoas é uma necessidade básica da pregação evangelística,
porque isto coloca o poder do Evangelho onde ele é preciso. Pessoas
têm uma variedade de necessidades e o Evangelho é aplicável a todas.
Os pastores na congregação têm uma grande vantagem nesse aspecto,
pois eles conhecem seu povo e suas necessidades específicas.
Uma pesquisa feita por uma revista americana perguntou aos
congregados sobre o que esperavam de seus pastores. Uma freqüente
resposta foi de que eles queriam pastores que os conhecessem. Sermões
eloqüentes e profundos podem ser vistos na TV, mas só seus pastores
poderiam falar com eles. Do púlpito pastores podem mostrar que eles
entendem e se preocupam com seu povo. O Evangelho oferece perdão
para o que está errado e aceitação para o que é diferente. O teste real da
habilidade para ensinar uma doutrina é aplicá-la para uma específica
situação. Teólogos estão preocupados principalmente com a doutrina da
igreja. Pastores estão preocupados principalmente com a aplicação desta
doutrina na vida do seu povo. A idéia não é mudar a doutrina para que
esta se encaixe às pessoas, mas deixar que as verdadeiras necessidades
das pessoas determinem a agenda da pregação, confiantes de que o
Evangelho suprirá essas necessidades. O uso dos textos da trienal fornece
uma dieta bem balanceada da Palavra de Deus e a oportunidade para
falar sobre uma grande porção das necessidades humanas.
Em muitos casos, a relação entre pastores e membros é
estabelecida pouco a pouco, quando eles participam de batismos,
confirmações, doenças, morte, e outros acontecimentos na vida.
Experiências compartilhadas ajudam os pastores a serem mais sensíveis
às necessidades das pessoas. E sermões que mostram amor e preocupação
pelas pessoas farão com que elas falem com seus pastores. Pregação não
é um monólogo proporcionado pelo pastor para as pessoas, mas é parte
de um diálogo que continua nas reuniões, nas sessões de aconselhamento
e em outros lugares onde pessoas compartilham suas vidas.
2. Um sentido de urgência: Um sermão evangelístico tem um
sentido de urgência, que procede do Evangelho. Em nossas orações de
Advento, nós pedimos para Deus nos animar à vigilância. O perigo é
que a Lei muitas vezes impulsiona mais a pastores e membros do que

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IGREJA LUTERANA

o Evangelho. Alguns pregadores parecem estar aborrecidos e por isso


pregam condenação e consideram esta atitude parte da pregação
evangelística, pois isto chamaria pessoas ao arrependimento. Mas a
condenação da Lei não alcança o real alvo do sermão evangelístico.
De novo, pastores têm uma vantagem. O sentido de urgência
vem do seu conhecimento imediato das pessoas sentadas nos bancos da
sua igreja. Eles sabem quem está com dor e por que – e assim eles zelam
por elas. Urgência não é criada pelos pregadores, mas pela condição dos
ouvintes. Pregadores facilmente podem ter um interesse secundário
relacionado à doutrina, liturgia, freqüência aos cultos, mordomia da oferta,
questões sociais, etc. Cada um desses itens pode ser importante, mas
nenhum deveria estar no centro do sermão – este lugar pertence a Cristo.
Aqueles que pregam devem sentir urgência porque sua
mensagem é de vital importância para seus ouvintes. O sermão está
incluído no culto porque o povo precisa ouvir a mensagem. Nunca se
deveria apenas preencher o tempo do culto no púlpito. Se você se
sentir vazio ou desmotivado, eu sugiro o seguinte: Vai e faz visitas a
membros, a pessoas inválidas e no hospital; converse com eles sobre
sua vida familiar, sobre eventuais vícios, seu trabalho, suas
dificuldades. Leia a Sagrada Escritura e veja como Deus deseja ajudar
cada uma dessas pessoas através de você. Vá ao púlpito confiante
que você tem a última resposta para os problemas que seus ouvintes
têm e que eles querem e precisam ouvir.
3. Uma resposta: Um sermão evangelístico exige uma resposta
dos seus ouvintes, não apenas alguma coisa para pensar. O sermão
contém o poder para mudar a vida dos ouvintes e eles devem responder.
De novo, o perigo é que a Lei possa ser usada para exigir essa resposta.
O poder para mudar vem do Evangelho, o qual habilita os descrentes a
crer e os crentes a servir. O pregador também deve evitar outras duas
armadilhas: Se a direção ou o pedido por uma resposta é muito vago,
então os ouvintes não saberão o que fazer. Por outro lado, se o sermão é
específico demais (“se você crê em Jesus, levante sua mão”), isto se torna
uma resposta automática ou treinada e com muito pouco valor.
A beleza da pregação evangelística é o poder do Espírito
capacitando os ouvintes a crer e a servir a Cristo. Mas o Evangelho é
resistível. Os ouvintes podem dizer não. Isto não é um não ao
pregador, uma vez que o Evangelho é bem apresentado. Isto é um
não a Cristo ou à ajuda que ele oferece. Muitas pessoas disseram
não a Jesus durante seu ministério, incluindo pessoas da sua própria
família. Mas a mensagem não se perdeu, nem o esforço dos que hoje

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A PREGAÇÃO EVANGELÍSTICA E O CULTO

pregam o Evangelho é em vão. Aqueles que dizem não agora podem


mudar no futuro. O Espírito Santo faz essa parte da obra. Alguns
irão simplesmente ignorar a resposta ao Evangelho. De novo, isto
não significa ignorar aquele que prega, mas o próprio Cristo. Muita
gente quer depender de suas próprias habilidades e hesitarão em se
sujeitar a um poder fora deles.
O próprio culto oferece muitas oportunidades para responder
ao convite do Evangelho. A confissão de fé nos Credos, as orações, os
hinos, as ofertas, e especialmente a Santa Ceia. Todas apresentam
aos presentes no culto a chance de responder sim ao Evangelho. Ao
aceitar o convite no culto, os ouvintes são habilitados a continuarem
respondendo ao amor de Cristo durante toda a sua vida.
4. Autoridade: A quarta qualidade dos sermões evangelísticos é
a autoridade. As pessoas que ouviram Jesus falar sabiam que ele era
diferente, “porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não
como os escribas” (Mt 7.29). É necessário tanto para aquele que prega,
bem como àquele que ouve, reconhecer a fonte desta autoridade.
Pastores têm autoridade por causa de sua posição e pessoa. Eles são
líderes, e líderes têm poder. A igreja tem autoridade – isto pode ser
posto em dúvida e atacado, mas ela está lá. A Escritura tem autoridade
como a Palavra de Deus. Mas Jesus Cristo é a maior autoridade –
“toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18), e ele é
a fonte da autoridade na Escritura, Igreja e pastores. Quando alguém
questiona ou investe contra estas autoridades, aquela pessoa deveria
ser referida à autoridade maior. Aqueles que ouvem o sermão
precisam ver o Salvador. Debates sobre outras autoridades muitas
vezes impedem a vista para muitos verem a autoridade maior. Jesus
falou a seus discípulos que os líderes do mundo se agradam em exercer
seu poder sobre outros, mas isto não deveria ser assim entre eles (Mt
20.25-26).

C ONCLUSÃO
Nós estamos cantando um hino antes do sermão. O pastor está
preparado para pregar. O sermão fará diferença na vida das pessoas?
Será que o pastor se dá conta que suas palavras são importantes,
necessárias e poderosas para operar mudanças na vida das pessoas?
O poder de Deus estará em ação no culto? Com a pregação
evangelística, a resposta é um enfático sim!

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