ADMOESTA00

Precisamos pregar a Palavra

Robert S. Folkenberg
de Deus — dela em nosso planejamento e então firmada na Palavra. Pode ser expositi-
Presidente da Associação Geral da procuramos meios de ilustrar o ser- va — isto é, pode tomar uma passagem
Igreja Adventista do Sétimo Dia
mão. Não começamos com material específica e deixar que ela esclareça
ilustrativo e depois saímos à procura ponto por ponto, mostrando seu signi-
m vez de minha costumeira de um texto para dar validade à ilus- ficado e aplicação para a vida. Ou
E coluna De Coração, tomei a
decisão de escrever algo dife-
rente nestes três meses. Partilharei al-
tração. Esse uso da Bíblia não propi-
cia um texto mas um pretexto!
A pregação bíblica está enraizada e
pode ser tópica — ou seja, construída
em torno de muitos textos ou passa-
gens, em vez de só um, mas partindo
gumas de minhas profundas convic-
ções sobre a pregação dos Adventistas
do Sétimo Dia. Visto que em muitas
de nossas igrejas, ao redor do mundo,
anciãos e outros obreiros voluntários
são convidados para pregar na manhã
de sábado, partilharei essas preocupa-
ções com os leitores da Revista Ad-
ventista, e com nossos pastores por
meio da revista O Ministério.
Minha primeira convicção é a se-
guinte: precisamos de pregação bí-
blica.
"Que pregues a palavra", escreveu
o apóstolo Paulo: "instes a tempo e
fora de tempo, redarguas, repreendas.
exortes, com toda a longanimidade e
doutrina" (II Tim. 4:2). Estas pala-
vras constituem minha esperança e
minha oração pelos adventistas.
atualmente. Se tais palavras se torna-
rem uma realidade em nosso meio,
nosso povo, onde quer que seja, será
fortalecido e motivado a viver por
Cristo e servi-Lo.
O que é pregação bíblica?
A pregação bíblica coloca a Palavra
de Deus no centro. Nada de psicolo-
gia ou fatos da atualidade; nada de
história ou ilustração. Por vezes as
ilustrações de um sermão são tão po-
derosas que constituem tudo o que os
ouvintes relembram — eles conservam
a história mas não o que era objeto da
ilustração!
Não; devemos fazer com que a Bí-
blia e sua autoridade sejam o centro
de tudo. Isto quer dizer que começa-
mos com a Bíblia e vamos através
Revista Adventista. Março 94
da Palavra e focalizando-a sobre um
assunto definido. Há outras formas de
sermão, como as narrativas, mas qual-
quer que seja o tipo de sermão, a Pa-
lavra de Deus modela a apresentação
na pregação bíblica.
Pregação bíblica significa nos incli-
narmos diante de uma autoridade
mais alta. O pregador não tenta mos-
trar quanto sabe acerca de determina-
do assunto; não procura impressionar
por meio de palavras de sabedoria ou
entreter mediante anedotas hilariantes.
A Palavra, não o pregador, ocupa o
centro da plataforma.
Por favor, ninguém me entenda
mal: Não quero dizer que a pregação
deva ser monótona. Não defendo ser-
mões melancólicos e sem graça. A
pregação bíblica pode e deve ser viva,
animada e interessante; pode e deve
empolgar tanto o pregador quanto os
ouvintes. A Bíblia é viva — ela fala de
vida! E a pregação bíblica deve ser
necessária, prática e relevante. Mostra
que ela significa tomar seriamente a
Bíblia hoje.
Por que precisamos de pregação bí-
blica?
Porque a Palavra, não o mundo,
deve modelar nossos valores, atitudes
e motivos. Vivemos em uma socieda-
de bombardeada por uma filosofia se-
cularista e materialista. Não podemos
evitar essa força persuasiva, por mais
que nos esforcemos. A resposta não
consiste em evitar mas em nos fortale-
cermos por meio das Escrituras.
"Sendo de novo gerados, não de se-
mente corruptível, mas da incorruptí-
vel, pela palavra de Deus, viva, e que
permanece para sempre", escreveu o
apóstolo Pedro (I Pedro 1:23). A Pala-
vra traz nova vida; a Palavra sustém a
nova vida. Protegidos e alimentados
pela Palavra, podemos prevalecer em
meio aos perigos dos últimos dias.
Um dos últimos capítulos de O
Grande Conflito intitula-se "Nossa
Única salvaguarda". Diz Ellen White:
"Mas Deus terá sobre a Terra um
povo que mantenha a Bíblia, e a Bí-
blia só, como norma de todas as dou-
trinas e base de todas as reformas. As
opiniões de homens ilustrados, as de-
duções da ciência, os credos ou deci-
sões dos conselhos eclesiásticos, tão
numerosos e discordantes como são
as igrejas que representam, a voz da
maioria — nenhuma destas coisas, nem
todas em conjunto, deveriam conside-
rar-se como prova, em favor ou contra
qualquer ponto de fé religiosa. Antes
de aceitar qualquer doutrina ou pre-
6 Revista Adventista, Março 94
ceito, devemos pedir em seu apoio um
claro 'Assim diz o Senhor'." (Pág.
601.)
Precisamos, hoje, de uma pregação
que não apenas estimule os adventis-
tas a estudar a Bíblia, mas que seja bí-
blica em si mesma. Que o pregador
modele a admoestação!
Precisamos também de pregação
bíblica porque somos a Igreja — a
Igreja remanescente. Não somos mais
uma organização, ou um clube de
amigos, ou uma corporação com uma
missão terrena. Somos o povo de
Deus. Nosso Chefe está no Céu, e an-
siamos por Seu breve retorno.
A Bíblia fala sobre quem somos, o
que Jesus quer que façamos e como
Ele deseja que vivamos. A Bíblia nos
ajuda a estabelecer e reter nossa iden-
tidade em um mundo que vê uma rea-
lidade bem diferente da nossa. A Bí-
blia nos mantém no prumo.
A pregação adventista deve cons-
truir e reafirmar a identidade do povo
de Deus. E só poderá fazê-lo se vier
diretamente da Palavra.
E a terceira razão pela qual precisa-
mos uma pregação bíblica: só ela tem
poder.
Em todos os países há comediantes
que, com seu poder de comunicação,
mantêm milhões e milhões de pessoas
sentadas diante dos aparelhos de TV.
Mas o poder de nossa pregação
deve ter uma fonte diferente. "Porque
Cristo enviou-me, não para batizar,
mas para evangelizar; não em sabedo-
ria de palavras, para que a cruz de
Cristo se não faça vã. Porque a pala-
vra da cruz é loucura para os que pe-
recem; mas para nós, que somos sal-
vos, é o poder de Deus. ... Visto
como na sabedoria de Deus o mundo
não conheceu a Deus pela sua sabedo-
ria, aprouve a Deus salvar os crentes
pela loucura da pregação" (I Cor.
1:17, 18 e 21).
A pregação bíblica muda vidas.
Deus trabalha através de homens e
mulheres para trazer Suas mensagens,
mas a glória e o poder não são prove-
nientes de recursos e talentos huma-
nos. O Espírito Santo, que deu origem
à Palavra no princípio, vem para for-
talecer a Palavra, ao ser apresentada
ao povo.
No panorama da Igreja, o que se
diz sobre a oração é verdade a respei-
to da pregação:
Muita Palavra, muito poder.
Pouca Palavra, pouco poder.
Nenhuma Palavra, nenhum poder.
Finalmente, a pregação bíblica dei-
xa com o ouvinte uma bênção que
pode ser prontamente relembrada para
refrescar-lhe a alma. Quando uma pas-
sagem é exposta e aplicada à vida diá-
ria, o povo a encontra novamente ao
ler a Bíblia, no estudo pessoal. Assim,
a inspiração e instrução do sermão,
mesmo que apresentadas muitos anos
antes, retomam e animam o coração.
Como podemos tornar-nos prega-
dores da Bíblia?
Somente despendendo tempo com a
Bíblia, até que ela nos modele e sua
visão de Deus e da vida se torne nossa
visão; até que nosso espírito entre em
harmonia com o Espírito. Não há ou-
tra maneira; não existe atalho.
Tenho ouvido muitos adventistas
lamentarem a falta de pregação em
nossas igrejas. Estaria a causa no fato
de muitos pregadores adventistas não
despenderem suficiente tempo com a
Palavra? Será que muitos pregam psi-
cologia ou sociologia ou coisa seme-
lhante por terem a mente cheia dessas
coisas — e não da Palavra de Deus?
Quando nossa mente estiver satura-
da da Palavra, ela virá em nosso so-
corro em cada situação. Não teremos
problema para encontrar o que pregar,
porque a Bíblia supre uma infindável
fonte de possibilidades.
A pregação bíblica relaciona a Pa-
lavra com a vida atual. Em certo sen-
tido, ela equilibra a Bíblia com o jor-
nal. Ela relaciona as verdades eternas
com as circunstâncias presentes, mos-
trando como o povo de Deus agiu no
passado em circunstâncias semelhan-
tes e, assim, direciona nossa resposta.
Um grande professor de homilética
salientou, certa vez, que todos os ser-
mões poderosos vêm de uma de duas
fontes: da experiência do pregador ou
de alguma necessidade que o prega-
dor tenha observado na vida das
pessoas. Desta maneira, a pregação
vigorosa não é um discurso, uma teo-
ria; ela soa com a experiência à medi-
da em que a Palavra se dirige às espe-
ranças e aos temores, às lutas e feridas
do povo de Deus.
No passado, os adventistas eram
conhecidos como o povo do Livro.
Não ouço mais isto, o que lamento
muito. Que cada um de nós procure
reverter essa tendência!
Procuremos fazer das Escrituras o
centro de nossa vida e estudo. E que
cada pregador adventista, pastor ou
obreiro voluntário, alimente o povo de
Deus com o sólido alimento da Pala-
vra. (Próximo artigo: Precisamos pre-
gar o evangelho. •