Você está na página 1de 3

AS EXÉQUIAS CRISTÃS

1680. Todos os sacramentos, principalmente os da iniciação cristã, têm por fim a última páscoa do cristão,
que, pela morte, o faz entrar na vida do Reino. Então se cumpre o que ele confessa na fé e na esperança:
«Espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há-de vir» (14).

I. A última Páscoa do cristão

1681. O sentido cristão da morte é revelado à luz do mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo, em
quem pomos a nossa única esperança. O cristão que morre em Cristo Jesus «abandona este corpo para ir
morar junto do Senhor» (15).

1682. O dia da morte inaugura para o cristão, no termo da sua vida sacramental, a consumação do seu novo
nascimento começado no Baptismo, o definitivo «assemelhar-se à imagem do Filho», conferido pela unção
do Espírito Santo e pela participação no banquete do Reino, antecipada na Eucaristia, ainda que algumas
derradeiras purificações lhe sejam ainda necessárias, para poder vestir o traje nupcial.

1683. A Igreja que, como mãe, trouxe sacramentalmente no seu seio o cristão durante a sua peregrinação
terrena, acompanha-o no termo da sua caminhada para o entregar «nas mãos do Pai». E oferece ao Pai, em
Cristo, o filho da sua graça, e depõe na terra, na esperança, o gérmen do corpo que há-de ressuscitar na
glória (16). Esta oblação é plenamente celebrada no sacrifício eucarístico, e as bênçãos que o precedem e o
seguem são sacramentais.

II. A celebração das exéquias

1684. As exéquias cristãs são uma celebração litúrgica da Igreja. O ministério da Igreja tem em vista, aqui,
tanto exprimir a comunhão eficaz com o defunto, como fazer participar nela a comunidade reunida para o
funeral e anunciar-lhe a vida eterna.

1685. Os diferentes ritos das exéquias exprimem o carácter pascal da morte cristã e correspondem às
situações e tradições de cada região, até no que respeita à cor litúrgica (17).

1686. A Celebração das Exéquias – Ordo exsequiarum – da liturgia romana propõe três tipos de celebração
das exéquias, correspondentes aos três lugares em que se desenrolam (a casa, a igreja, o cemitério), e
segundo a importância que lhes dão a família, os costumes locais, a cultura e a piedade popular. O esquema
é, aliás, comum a todas as tradições litúrgicas e compreende quatro momentos principais:

1687. O acolhimento da comunidade. Uma saudação de fé dá início à celebração. Os parentes do defunto


são acolhidos com uma palavra de «consolação» (no sentido do Novo Testamento: a fortaleza do Espírito
Santo na esperança (18). Também a comunidade orante, que se junta, espera ouvir «as palavras da vida
eterna». A morte dum membro da comunidade (ou o seu dia aniversário, sétimo ou trigésimo) é um
acontecimento que deve levar a ultrapassar as perspectivas «deste mundo» e projectar os fiéis para as
verdadeiras perspectivas da fé em Cristo Ressuscitado.

1688. A liturgia da Palavra, aquando das exéquias, exige uma preparação, tanto mais atenta quanto a
assembleia presente pode incluir fiéis pouco frequentadores da liturgia e até amigos do defunto que não
sejam cristãos. A homilia, de modo particular, deve «evitar o género literário do elogio fúnebre» (19) e
iluminar o mistério da morte cristã com a luz de Cristo ressuscitado.

1689. O sacrifício eucarístico. Quando a celebração tem lugar na igreja, a Eucaristia é o coração da
realidade pascal da morte cristã (20). É então que a Igreja manifesta a sua comunhão eficaz com o defunto:
oferecendo ao Pai, no Espírito Santo, o sacrifício da morte e ressurreição de Cristo, pede-Lhe que o seu filho
defunto seja purificado dos pecados e respectivas consequências, e admitido à plenitude pascal da mesa do
Reino (21). É pela Eucaristia assim celebrada que a comunidade dos fiéis, especialmente a família do
defunto, aprende a viver em comunhão com aquele que «adormeceu no Senhor», comungando o corpo de
Cristo, de que ele é membro vivo, e depois rezando por ele e com ele.

1690. O adeus («a Deus») ao defunto é a sua «encomendação a Deus» pela Igreja. É «a última saudação
dirigida pela comunidade cristã a um dos seus membros, antes de o corpo ser levado para a sepultura» (22).
A tradição bizantina exprime-o pelo ósculo do adeus ao defunto:

Nesta saudação final, «canta-se por ele ter partido desta vida e pela sua separação, mas também porque há
uma comunhão e uma reunião. Com efeito, mortos, nós não nos separamos uns dos outros, porque todos
percorremos o mesmo caminho e nos reencontraremos no mesmo lugar. Nunca nos separaremos, porque
vivemos para Cristo e agora estamos unidos a Cristo, indo para Ele... estaremos todos juntos em Cristo»
(23).

“A última Páscoa do cristão

A cruz representa Cristo e o amor que Ele tem por


nós.
A cruz é poderosa e tem força de vitória. Sim, nela, temos salvação e vida. Quem nela permanecer terá a
vida do Evangelho, a vida de Cristo neste mundo e, a vida eterna. A cruz tem, dá, traz e oferece a vida de
Cristo. Quem vive dela, quem vive o mistério da cruz, terá sua vida revestida de Cristo, por dentro e por
fora. Estes somos nós, os batizados, como afirma São Paulo: “pois todos vocês, que foram batizados em
Cristo, se revestiram de Cristo” (Gl 3,27).

Muitas pessoas gostam de levar uma cruz, pendurada no pescoço; outros a têm em casa, nos seus espaços de
vida. Óbvio, não deve ser só mais um pendurico. Deve ser, isto sim, sinal da vida de Cristo abraçada; deve
ser sinal do mergulho na vida ressuscitada de Cristo.

A força da cruz

A cruz dá conforto, segurança, proteção, força, companhia – ela é companheira de vida. Mas, o que é a cruz?
Quem é, quando falamos em “força da cruz”? É Aquele que padeceu a morte na cruz, por amor a nós, em
Sua obediência ao Pai; é Aquele que se entregou por nós e que ressuscitou dos mortos, vencendo a morte,
matando a morte, na Sua morte. Cruz é, ainda, a vida entregue de Cristo. É o símbolo do próprio Cristo,
“que se humilhou por nós, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). É, por isso, toda a
vida de Jesus Cristo, vida entregue, vida ressuscitada e exaltada pelo Pai (Fl 2,9). Aquele que morreu na cruz
destruiu a nossa morte e, ressurgindo, restaurou a nossa vida (SC 5). Ela é o patíbulo donde pendeu a
salvação do mundo. É mistério, é o jeito de Deus ser, é a força de Deus, que aos nossos olhos é fraqueza
(2Cor 12,10).

Quando a Cruz é força? O Autor sagrado da carta aos Hebreus nos ajuda: “Embora sendo Filho de Deus,
aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos. E tornou-se a fonte de salvação eterna para todos que
lhe obedecem” (Hb 5,8-9). Então, ela é força na sua vida, se e quando você obedece ao Filho de Deus.
Vivendo no seguimento do Senhor Jesus, fazendo o que Ele diz, buscando ser como Ele, trazendo dentro os
Seus sentimentos e pensamentos, você escolhe a cruz como sua força e companheira de vida, você escolhe
deixar que a cruz de Cristo salve você. Ela não é algo mágico. É a vida doada de Cristo – em perfeita
obediência ao Pai –, que pede para fazer a mesma coisa (Lc 22, 42).
A salvação e a vida

A Cruz é sinal e reconhecimento da salvação dada por Deus por meio do seu filho Jesus Cristo. Por isso, é o
lenho da vida. Nela resplandece a vida, a nossa vida, a vida divina que nos foi merecida por Cristo. Beija-la
é beijar a vida de Cristo, é beijar o própria Cristo, é adorar o Filho de Deus que se entregou por nós, para
nossa salvação.

Termino destacando: “Na cruz, a salvação e a vida!”. Porquanto, chegamos à salvação por meio da cruz de
Cristo. Cruz de Cristo, sinal do amor de Cristo Jesus pela humanidade. É a força de Deus. Ela indica o
sentido da vida, a esperança do viver, um viver que não para na morte, mas, como Cristo, passa da morte à
vida. É a proposta de vida de Jesus: dar a vida, entregar a vida, viver, no amor do Pai, em favor dos outros.
A “cruz-entrega- no-amor- morte-ressurreição” é a fonte da vida.

Agarrar-se à Cruz é radicar-se na vida de “Cristo, que nos amou e se entregou por nós” (Gl 2,20). A cruz de
Cristo é um símbolo forte de esperança e vida, vida plena, vida de filho(a) de Deus. Assim, creio e sei que
Jesus me ama, pois Ele deu a sua vida por mim, por nós, na cruz. Ela representa Cristo e o amor que Ele tem
por nós. Fomos salvos pela cruz (Gl 2,20). Cruz é presente valente, divino: a vida de Cristo dada a nós. Cruz
é a força de Cristo.

Onde acontecem as exéquias?

A Celebração das Exéquias, aqui no Brasil, acontece, frequentemente, em três lugares: o velório municipal,
onde os parentes recebem os amigos do falecido; o cemitério, onde se sepulta o corpo do falecido; e a Igreja
onde se celebra a Missa do sétimo dia.

Nesses três lugares, muitos cristãos escutam a Palavra de Deus, especialmente os Evangelhos, e rezam. A
Palavra nos transmite o sentido da morte para o cristão, como acima lembrado. E a oração expressa a nossa
fé na “comunhão dos santos”. “Santos” são os santificados pelo batismo, que procuram viver sua fé de
maneira coerente. A morte não nos separa dos falecidos: nós permanecemos “em comunhão” com eles. Eles
estão em Deus e rezam por nós; e vice-versa. Na vida presente, muitas vezes, a fé é misturada com pecados
de fraqueza e egoísmo, que, mesmo assim, não rompem de maneira radical a comunhão com Deus e com os
irmãos. Então, logo após a morte, os cristãos vão completar sua conversão: e aqui encontramos a fé católica
na existência do Purgatório. Vivos e falecidos permanecem, pois, unidos, e rezam reciprocamente uns pelos
outros, para que a conversão total a Cristo seja completa.

A esse respeito, é bom lembrar a origem da palavra “cemitério”. Na língua grega koimeterion (κοιμητήριον)
significa “lugar de repouso”, dormitório. Sim, mas quem vai dormir, depois do descanso, levanta. E nós
levantaremos, no dia da ressurreição: para viver com Cristo, que destruirá a morte para sempre. A palavra
“cemitério” aponta, pois, para o sentido profundamente cristão da morte.

Quanto à Missa de sétimo dia, é importante lembrar que a Eucaristia é a celebração mais solene dos cristãos,
na qual anunciamos a morte do Senhor que ressuscitou, que nos ressuscitará e está presente na Eucaristia
como semente de ressurreição. Podemos, então, afirmar que este é o “momento forte” das exéquias cristãs.

Nos três lugares das exéquias, nós cristãos somos chamados a ser missionários, quer dizer, anunciadores da
morte-ressurreição de Cristo, que dá um novo sentido à vida e à morte. As exéquias são, pois, um “momento
de graça” para renovar a nossa fé e para proclamá-la.

Você também pode gostar