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FUNDAMENTOS

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FUNDAMENTOS

© 2018 Todos os direitos reservados à Comunidade Cristã Videira.

Editor / Revisão João Victor Caminha


Projeto capa Larissa Cavalcante e Levi Leal
Conceito de Capa / Projeto Gráfico / Diagramação Levi Leal

ccvideira.com.br
Impresso no Brasil.

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FUNDAMENTOS

Í N DIC E 5 I N T RODUÇ ÃO A BÍ BL I A

14 O PEN TAT E UC O

22 O S L I V RO S H I S T ÓR IC O S

31 A P OE SI A D O A N T IG O
T E S TA M EN T O

38 A PROF E C I A D O A N T IG O
T E S TA M EN T O

45 A A N T IGA A L I A NÇ A

53 O PER ÍOD O
I N T ER BÍ BL IC O

61 A V I DA E O M I N I S T ÉR IO
DE J E S US

68 O S E VA NGEL HO S:
U M PA NOR A M A

75
AT O S E O NA S C I M EN T O
DA IGR EJA

83
A S EPÍ S T OL A S D O NOVO
T E S TA M EN T O

89
PA NOR A M A DA S
EPÍ S T OL A S

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FUNDAMENTOS

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FUNDAMENTOS

Introdução à
Bíblia

SONDANDO O TERRENO

T O propósito da Bíblia;

T O processo de formação do cânon


bíblico;

T A Interpretação das Escrituras:


princípios hermenêuticos.

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FUNDAMENTOS

LANÇANDO OS FUNDAMENTOS

1. O propósito da Bíblia

“Deus decidiu colocar suas verdades eternas dentro de jarros tão frágeis chamados palavras. ”
Abraham Joshua Heschel

Qual o propósito das Escrituras Sagradas? Seria a bíblia um livro de histórias inspiradoras e grandes lições
morais a serem seguidas? Ou será que podemos assumir a Bíblia como um oráculo no qual consultamos em
tempos de dificuldade, esperando encontrar uma passagem que nos dê a orientação divina para uma decisão
importante que precisamos tomar?

Antes de estudar “como” a Bíblia foi formada, “qual” o seu conteúdo e “como” podemos nos apropriar desse
conteúdo, devemos entender o propósito deste livro: “para que” temos a Bíblia diante de nós.

O apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, nos dá essa resposta de forma clara:

“Por que desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes de torna-lo sábio para a
salvação mediante a fé em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3:15).

Segundo Paulo, as Sagradas Letras têm uma finalidade: fazer-nos entender (“...torna-lo sábio...” v.15) a
salvação (“...para a salvação...” v.15), que está centrada em Cristo (“...em Cristo Jesus...” v.15) e que só pode
ser vivida mediante a fé (“...mediante a fé...” v.15) no Cristo.

Podemos, então, concluir que: a Bíblia é um livro de SALVAÇÃO que aponta para CRISTO e que convoca
seus leitores à FÉ! Vamos, então, analisar cada um destes elementos separadamente.

1.1 A Bíblia revela o plano divino para a SALVAÇÃO da humanidade

A Bíblia é muito mais do que um livro contendo princípios éticos e histórias inspiradoras. O cerne da
mensagem bíblica é o plano de Deus para a salvação da humanidade. Neste ponto, é importante explicar o
que queremos dizer por “salvação”:

“A Salvação é muito mais do que meramente o perdão dos pecados. Ela inclui o amplo alcance do propósito
de Deus de redimir e recuperar a humanidade e de fato, toda a criação. O que sustentamos a respeito da
bíblia é que ela revela o plano integral de Deus.” (John Stott)

Na Bíblia identificamos que o plano integral de Deus para a redenção de sua criação está disposto como uma
peça contendo quatro atos:

• Criação: Deus criou todas as coisas para a Sua glória, em plena harmonia com Ele e uns com os
outros;
• Queda: A humanidade se rebelou contra Deus, o pecado passou a ser uma força operante sobre

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FUNDAMENTOS
a criação, rompendo a comunhão entre a criatura e o criador e trazendo caos e desordem para as
relações entre as criaturas;
• Redenção: O Deus criador decide sustentar a existência da criação rebelada e, por meio de Suas
alianças, da escolha do povo de Israel e finalmente por meio do Messias, Jesus Cristo dá passos para
readquirir para si a criação caída, sendo o ápice desse processo redentor a cruz e ressurreição de Jesus
Cristo;
• Consumação: Este é o clímax da história redentora, o ato que ainda não aconteceu, mas que se dará
quando o Cristo estabelecer de forma definitiva o seu Reino, julgar, banir todo o mal do universo e
restaurar a plenitude que Deus sempre intentou para a sua criação.

Podemos afirmar que aqui temos quatro palavras que resumem o drama Bíblico da salvação: criação, queda,
redenção e consumação.

1.2 A Bíblia aponta para Cristo como o centro do plano da salvação

Do início ao fim das Escrituras bíblicas, perceberemos que o plano redentor de Deus está centrado na figura
do Messias, Jesus Cristo. De modo que, não importa a porção da Bíblia que estamos lendo, seu propósito
último será nos conduzir a Cristo.

“De cada aldeia minúscula na Inglaterra — não importa em que região — sempre sai, com toda a certeza,
uma estrada para Londres. Embora talvez não haja estrada para outros lugares, certamente haverá uma
estrada para Londres. Da mesma forma, de cada texto na Bíblia há uma estrada que leva a Jesus Cristo”
(C.H. Spurgeon)

“A bíblia é essencialmente Cristocêntrica. O Antigo Testamento prenuncia e prefigura Cristo de muitas e


diferentes maneiras; os evangelhos contam a história do seu nascimento, da sua vida, das suas palavras
e obras, das sua morte e ressurreição. Atos descreve o que ele continuou fazendo e ensinando através dos
apóstolos que escolheram especialmente a propagação do evangelho e o estabelecimento da igreja, de
Jerusalém a Roma; as epístolas expõem a ilimitada glória da pessoa e da obra de Cristo, aplicando-a à vida
do cristão e da Igreja; O Apocalipse, por sua vez, descreve Cristo agora no trono de Deus, prestes a vir para
consumar a sua salvação e o seu julgamento. ” 2 John Stott

1.3 A Bíblia convoca os seus leitores à fé

As escrituras testemunham de Cristo, não para satisfazer nossa curiosidade, mas para extrair de nós uma
resposta de fé (cf. Jo 20:31). Portanto, à medida que lemos a Bíblia, compreenderemos o plano redentor de
Deus que nos levará inevitavelmente a Jesus; e diante dEle, a confissão do leitor deverá ser “nós cremos e
sabemos que és o santo de Deus” (João 6:68).

2 STOTT, John. A Mensagem de 2 Timóteo. São Paulo: ABU Editora, 2009, pag. 98.

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FUNDAMENTOS
2. O processo de formação do cânon bíblico

O termo “canonicidade” vem do grego Kanon, que significa, literalmente, régua. Na prática, o termo denota
“regra” ou “padrão de medida”. Os livros que formam o Antigo e o Novo Testamento precisaram passar por
alguns critérios e padrões (foram “medidos”) para que, então, fossem aprovados como “Palavra de Deus”.

Quando falamos de canonicidade, estamos lidando com a seguinte questão: “Quais livros devem ser inseridos
na bíblia como sendo inspirados por Deus? ”

2.1 O Cânon do Novo testamento

O Novo Testamento somente foi escrito, como o conhecemos tempos, depois da morte de Jesus e dos
apóstolos. Isso por dois motivos:

• Porque, no início, as igrejas tinham acesso aos ensinos de Jesus e acontecimentos da vida do mestre
através da tradição oral;
• Enquanto vivia os apóstolos e seus discípulos imediatos não era necessário transcrever seus ensinos.

Vale ressaltar que a escrita é algo marcante na cultura greco-romana. A cultura judaica é baseada na
transmissão ORAL. Logo, à medida que a igreja foi se tornando gentílica, a necessidade por um cânon do
Novo Testamento aumentou. O crescimento de grupos heréticos no seio da igreja também foi um fator que
pressionou a formação do cânon com o objetivo de preservar a pureza do evangelho pregado pelos apóstolos.

A primeira tentativa conhecida, de uma lista de Livros com autoridade, é o Cânon Muratório (175 d.C.). Porém,
a primeira Lista completa é a de Eusébio (Falecido em 340 d.C). Os critérios aplicados aos livros do Novo
Testamento para atestar sua canonicidade foram:

• Teste da apostolicidade: foi escrito por um apóstolo ou alguém ligado diretamente aos Apóstolos?
• Teste da origem: o documento deveria datar do primeiro século.
• Teste da aceitação: o documento foi largamente aceito pela igreja desde o início ou foi motivo de
controvérsia?
• Teste do conteúdo: há consistência doutrinária no documento: condiz com o ensino doutrinário dos
apóstolos?

Obs: Note que a igreja não criou o cânon assim como Isaque Newton não criou a lei da gravidade, simplesmente
“reconheceu” os livros que possuíam canonicidade.

2.2 O cânon do Antigo Testamento

As bases da aceitação do cânon no judaísmo não são tão conhecidas, em outras palavras, os critérios usados
pelos Judeus para afirmar a canonicidade de um livro não são claros como no caso do Novo Testamento.
Entretanto, podemos destacar alguns critérios fundamentais que formaram o teste de canonicidade para um
livro ser incluído no Antigo Testamento:

• O livro indica autoria divina? (i.e., o livro arroga a qualidade de revelação divina, dada através de
algum mediador?)
• Foi escrito por algum profeta ou alguém com um ministério profético reconhecido pela comunidade
de Israel?

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• Ele possui confiabilidade histórica? (i.e., ele fala acuradamente da história de Israel e sua relação com
Deus?)
• O livro era aceito largamente pela comunidade judaica?

Foi apenas no final do primeiro século, em torno de 90 d.C., no Concílio de Jâmnia, que líderes judeus fixaram
o cânon do Antigo Testamento. Note, porém, que o trabalho desse concílio foi apenas ratificar aquilo que já
era aceito por todos os judeus através dos séculos.

2.3. Os livros apócrifos

Nas Bíblias de edição da Igreja Romana, o total de livros é 73. São sete livros adicionais no Antigo Testamento,
além de quatro acréscimos ou apêndices a livros canônicos, totalizando onze livros. Estes livros foram
escritos durante o período de quatrocentos anos, entre Malaquias e Mateus, e correspondem a parte no qual
estudiosos chamam de “literatura do segundo templo”.

A Igreja Romana fundamenta a inserção desses livros no cânon bíblico por estarem presentes na septuaginta,
a tradução grega das Escrituras hebraicas, feita em Alexandria. No entanto, tais livros não foram inseridos
pelos Judeus palestinos do Concílio de Jâmnia (cf. “cânon do AT”). De modo que, a canonicidade dessa
literatura foi motivo de grande discussão da Igreja até 1546, quando no Concílio de Trento, no auge do embate
contra o movimento protestante, a Igreja Romana inseriu esses livros no cânon do Antigo Testamento de
forma definitiva.

Os protestantes permaneceram considerando como canônicos apenas os livros ratificados pelos judeus
palestinos no Concílio de Jâmnia, enquanto a igreja católica passou a inserir os livros apócrifos na Bíblia
Sagrada chamando-os de deuterocanônicos.

Além das razões históricas explicitadas acima, para não aceitarmos os livros apócrifos como canônicos basta
lermos seu conteúdo para percebermos que este não entra em harmonia com o resto das Escrituras, eles
trazem ensinos que divergem do ensino do evangelho e, apesar de terem valor histórico, não devem possuir
peso doutrinário.

3. A interpretação da bíblia

“A Bíblia é a palavra de Deus apresentadas em palavras humanas.” (George Eldon Ladd)

As Escrituras possuem uma natureza dupla: é a palavra de Deus (eterna, atemporal e divina) que nos foi
dada por meio das palavras de homens. Sendo assim, ela tem uma dimensão divina, mas também humana.
Quando falamos em dimensão humana, o que se quer dizer é que cada autor bíblico escreveu a revelação
divina em uma cultura específica, usando a linguagem própria de sua época e dirigindo-se a grupos sociais
que viveram em contextos históricos diferentes dos nossos.

Por essa razão, interpretar um texto bíblico requer tanto a consciência de que estamos lidando com um texto
inspirado por Deus, como, também, o entendimento de que cada texto bíblico é dotado de particularidades
históricas.

As implicações disso para uma interpretação saudável da Bíblia são as seguintes:

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3.1 Busque a iluminação do Espírito

As Escrituras, sendo inspiradas por Deus, somente podem ser discernidas corretamente com ajuda de seu
autor divino. Um dos papéis do Espírito Santo, segundo nos prometeu Jesus (João 16:13), é nos guiar a toda
verdade.

3.2 Procure pelo sentido natural do texto

O chamado sentido natural de um texto é o sentido mais simples que ele pode assumir. Descobrimos
tal sentido ao fazer a seguinte pergunta: “O que o autor tinha em mente quando escreveu o texto? Qual
mensagem ele desejava transmitir aos seus primeiros ouvintes?”.

Aqui encontramos um princípio importantíssimo: um texto bíblico não pode significar hoje o que nunca
significou para seus primeiros ouvintes.

Neste momento, é importante diferenciar significado e aplicação. Significado refere-se ao sentido original
do texto, ou seja, aquilo que significou para seus primeiros ouvintes. Aplicação é como tal significado aplica-
se a nós hoje.

Veja o diagrama a seguir e perceba esse conceito mais claramente:

ELES NÓS EU

• Eles – O que o texto significa para eles? O sentido original do texto;


• Nós – Como o texto se aplica a nós hoje? O sentido
atual do texto;
• Eu – O que o texto fala para mim? O sentido pessoal
do texto.

3.3 Compreenda o contexto

• O contexto literário

Estude toda e qualquer passagem dentro do seu contexto literário. O contexto literário consiste no que vem
antes e depois do versículo em análise, o livro no qual aquele texto se encontra, os escritos daquele autor e
finalmente o todo da revelação bíblica.

• O contexto histórico

É o “pano de fundo” histórico-cultural (público alvo, características daquele momento da história, intenção
e propósito do escrito) sobre o qual o autor bíblico compôs seu texto. É importante entender o contexto
histórico no qual a passagem que estamos estudando se encontra, assim, certos costumes, expressões,
atitudes, que a princípio parecem não fazer sentido no texto, ganham um significado mais claro.

3.4 Determine o tipo de gênero literário

A Bíblia contém vários gêneros literários: narrativa, profecia, poesia, parábolas, leis etc. Cada gênero literário
tem características próprias e, portanto, uma forma adequada de ser lido. Não atentar para o gênero de um

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texto pode levar o leitor a conclusões seriamente equivocadas.

3.5 Deixe que as Escrituras interpretem as Escrituras

Ao interpretar um texto bíblico não podemos fazê-lo isolando-o do resto das Escrituras. Lembre-se que as
Escrituras testificam de uma única mensagem, logo, toda e qualquer interpretação que vá de encontro “A
mensagem” da Escritura, como um todo deve ser descartada. Esse princípio interpretativo é chamado de
Princípio da harmonia.

3.6 Jesus deve ser a nossa chave hermenêutica suprema

Sendo Jesus a exata expressão do ser de Deus (Hebreus 1:1-2) e, portanto, o clímax da revelação divina, tudo
que concluímos sobre Deus, a partir das Escrituras, deve se alinhar com o que vemos e ouvimos de Jesus. Os
reformadores diziam: “Precisamos ler o verbo que se fez letra a partir do verbo que se fez carne”.

EDIFICANDO

1. Explique com as suas palavras o propósito da Bíblia Sagrada a partir de 2 Timóteo 3:15.

2. Destaque dois critérios usados na formação do cânon do AT e outros dois usados na formação do cânon
do NT.
Cânon do AT

Cânon do NT

3. O que são os livros apócrifos e por que eles não são inseridos na bíblia de edição protestante?

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FUNDAMENTOS
4. Aplicando os princípios de interpretação que aprendemos, analise as passagens abaixo completando o
quadro:

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FUNDAMENTOS

ANOTAÇÕES

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FUNDAMENTOS

O Pentateuco

SONDANDO O TERRENO

T Compreender o arranjo dos livros do


Antigo Testamento;
T Entender a narrativa do Pentateuco.

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LANÇANDO OS FUNDAMENTOS

1. Os livros do antigo testamento

O Antigo Testamento é uma biblioteca composta por 39 livros escritos por uma variedade de autores em um
período de 1000-2000 anos. A ordem em que eles se encontram em nossa Bíblia não é cronológica, mas sim
determinada pelo seu gênero literário: história, poesia & profecia.

Logo, podemos enxergar o AT da seguinte forma: Os primeiros 17 livros contam a história do AT, os 5 livros
centrais contam os sentimentos e a sabedoria do AT e os últimos 17 livros relatam os sermões pregados
pelos profetas do AT.

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EDIFICANDO

No mapa abaixo preencha os espaços em branco sinalizando as principais localizações geográficas da


história do antigo testamento.

2. O Pentateuco: uma introdução

O termo “pentateuco” refere-se aos primeiros cinco livros do Antigo Testamento (do grego pente, cinco;
teuchos, rolos). Há evidências bíblicas que confirmam que esses cinco livros juntos formam uma unidade
literária. O Antigo Testamento refere-se ao Pentateuco como “a lei de Moisés” (2 Rs 14:6) ou “livro da lei”
(Josué 1:8).

O Pentateuco abrange desde o começo da história humana até o surgimento do povo de Israel e a conquista
da terra prometida, sem, porém, incluir este último acontecimento. Assim, de Gênesis a Deuteronômio, o que
temos é uma única história com começo bem definido, uma trama principal complexa com muitas outras
tramas secundárias e um final decisivo.

Os judeus chamam essa porção das Escrituras de Torá, palavra que deriva do verbo hebraico para “ensinar”
o que sugere que ali estão os ensinos fundamentais para a vida.

O Pentateuco é, sem dúvida, a fundamentação teológica sobre o resto da Bíblia, por isso, devemos entender
seu conteúdo.

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FUNDAMENTOS
3. A narrativa do Pentateuco

Podemos resumir os fatos históricos que marcam o Pentateuco em três eras: A era da criação, a era dos
patriarcas e a era do êxodo.

3.1 A era da criação

A era da criação consiste nos onze primeiros capítulos do livro do Gênesis e aborda o tema da criação do
mundo, a queda humana em virtude do pecado, o juízo divino no dilúvio e a torre de babel. Vejamos cada um
destes acontecimentos com detalhes:

• Criação (Gênesis 1-2)

A narrativa do AT começa em Deus (“no princípio criou Deus...”) mostrando que Iavé é o Deus criador de todas
as coisas e que criou o homem de forma especial (à sua imagem e semelhança) com o propósito de refletir o
caráter do criador para a criação. Ao homem cabia dominar a terra, cuidar da criação e ser fecundo.

• Queda (Genesis 3)

Ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, a humanidade arrogou uma autonomia de Deus,
rebelou-se contra autoridade de seu criador e por consequência rompeu sua perfeita comunhão com Ele. A
humanidade recebeu então o juízo divino pelo seu pecado.

• Dilúvio (Gênesis 6-9)

O pecado teve um efeito progressivo na humanidade. Homicídios, conflitos e a quebra da harmonia que havia
na criação, a princípio, são algumas das consequências explicitadas no texto bíblico.
À medida que o efeito do pecado se agravou na criação, a impiedade humana tornou-se tão insuportável para
Deus ao ponto de ser julgada com um dilúvio.
Após o dilúvio, Deus fez uma aliança com Noé e prometeu não mais destruir a terra devido o pecado humano.

• Torre de Babel (Gênesis 11)

O orgulho humano, porém, não foi abatido com o dilúvio. Na tentativa de construir uma torre que tocasse os
céus, surgiu o episódio da torre de Babel, que recebeu como juízo divino a confusão das línguas.

3.2 A era dos Patriarcas


(Gênesis 12-50)

A partir de Gênesis capítulo 12, a narrativa


do AT volta-se dos temas universais
para um enfoque biográfico: a linhagem
de Abraão, Isaque e Jacó. Esses foram
os patriarcas e ancestrais do povo de
Israel. Vejamos os acontecimentos que
marcaram a era dos patriarcas:

• A Aliança Abraâmica

Deus se revelou a Abrão e fez um pacto


com Ele (Gênesis 12:1-3), prometendo

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uma terra próspera e uma descendência numerosa com quem ele também faria uma aliança (“...para ser o
teu Deus e da tua descendência” Gn 12:3).

• José do Egito

Abraão teve como filho Isaque e como neto Jacó. Dos doze filhos de Jacó vieram os patriarcas das tribos
de Israel. José se destacou, pois ao ser vendido pelos irmãos como escravo, terminou no Egito como um
poderoso governante. A descendência de Jacó movida pela fome e com a ajuda de José se estabeleceu no
Egito.

3.3 A era do êxodo


• A escravidão no Egito [430 anos] – (Êxodo 1-12)

O livro de Êxodo começa com a afirmação “entrementes levantou-se novo rei que não conhecia José” (1:18).
A nova dinastia egípcia escravizou os Israelitas por 430 anos. Deus chamou Moisés para libertar o povo da
opressão Egípcia e trazer a cabo as promessas feitas a Abraão.

• A Páscoa

Em Êxodo 12 encontramos a celebração da primeira páscoa, onde pela morte dos cordeiros os primogênitos
de Israel foram poupados da última praga que assolou o Egito. A páscoa foi a noite que antecedeu a saída do
Egito.

• O Êxodo (ÊXODO 13-14)

A libertação do povo de Israel se deu de forma milagrosa. Primeiro, com a morte dos primogênitos (a décima
praga), e depois, com a travessia do Mar Vermelho (Ex 14:10-20). O povo, porém, não foi diretamente à
terra prometida. Eles caminharam durante três meses em direção ao Monte Sinai onde, como Deus havia
ordenado, o Senhor os encontraria.

• A Aliança Mosaica ou Sinática [SINAI – 1 ANO] – (Ex. 19 & o Livro do Levítico)

Deus então renovou a sua aliança com a descendência de Abraão no Monte Sinai, segundo vemos em Êxodo
19. Deus requereu obediência do povo e deixou claro um sistema religioso a ser seguido baseado em: leis,
sacrifícios, um sacerdócio consagrado e um santuário específico para a adoração. Estudaremos com mais
detalhes a aliança sinática mais à frente neste curso.

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FUNDAMENTOS
• A sondagem da Terra prometida (Números 1-14)

O tabernáculo foi erigido (aprox. um ano após a saída do Egito), a primeira páscoa fora do Egito foi celebrada
e, sete semanas após a inauguração do tabernáculo, o povo se pôs em marcha para a terra da promessa
(Canaã). Números 1-10 mostra a organização do povo para sair de Sinai rumo a Canaã. Infelizmente ao
chegarem aos arredores da terra, dos doze espias que foram enviados para sondar a terra, dez disseram que
os gigantes eram invencíveis (Nm 14:33). A empreitada caiu no descrédito do povo.

• A peregrinação no Deserto (Números 15-36).

Deus condenou aquela geração, por sua incredulidade, a vagar quarenta anos no deserto para que todos
aqueles de 21 anos ou mais perecessem. A viagem para Canaã que deveria levar 1-2 anos acabou custando
quarenta anos para o povo. Alguns episódios ocorridos nesse período encontram-se em Números 15-36.

• A renovação da aliança nas planícies de Moabe (Deuteronômio)

Israel estava acampado nas planícies de Moabe, ao norte do Rio Jordão, prestes a iniciar o processo de entrar
na terra prometida. Nesse lugar, Moisés pronunciou suas últimas palavras na forma de três discursos que
visavam recordar os feitos do Senhor pelo seu povo, educar a nova geração quanto aos termos da aliança
(Deuteronômio significa “segunda lei”) e convocar o povo a manter seu compromisso com o Senhor ao entrar
na terra da promessa (cf. Dt 7:6; 10:12-13; 11:26-28; 30:15).

Em resumo:

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FUNDAMENTOS

EDIFICANDO
1. Classifique os livros abaixo assinalando “H” para os livros históricos, “T” para os livros da Torá
(Pentateuco), “P” para os livros poéticos e “PR” para os livros proféticos:

( ) Jeremias ( ) Provérbios ( ) Isaías ( ) Levítico ( ) Josué


( ) Eclesiastes ( ) Amós ( ) Salmos ( ) Cantares ( ) Êxodo
( ) Rute ( ) Gênesis ( ) 1 Reis ( ) Ageu

2. Enumere os fatos abaixo em ordem cronológica:


( ) Aliança sinática
( ) Morte de Moisés
( ) Aliança de Deus com Abraão
( ) Escravidão no Egito
( ) O envio dos 12 espias para Canaã
( ) Dilúvio
( ) A peregrinação no deserto

3. Explicite o livro do Pentateuco que relata os seguintes eventos


( ) A aliança de Deus com Abraão
( ) Os ritos e cerimônias da antiga aliança
( ) O recebimento dos dez mandamentos
( ) A escravidão no Egito
( ) O envio dos espias p/ sondar a terra prometida
( ) A peregrinação no deserto
( ) A torre de Babel
( ) A travessia do mar vermelho
( ) A renovação da aliança nas planícies de Moabe

4. Com duas palavras descreva os principais fatos e eventos das seguintes eras que marcam o
Pentateuco:

A. Era da criação:

B. Era dos patriarcas:

C. Era do êxodo:

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FUNDAMENTOS

ANOTAÇÕES

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FUNDAMENTOS

Os livros
históricos

SONDANDO O TERRENO

T Conhecer a narrativa dos livros


históricos;
T Apreender princípios de interpretação
das narrativas do Antigo Testamento.

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FUNDAMENTOS

LANÇANDO OS FUNDAMENTOS

1. Os livros históricos: uma introdução

O Pentateuco registra o nascimento do povo de Deus. Essa narrativa continua nos chamados “livros históricos”.
Esses livros são importantes principalmente por seu conteúdo histórico. Eles cobrem um período de tempo
de oitocentos anos, isto é, da conquista de Josué até o império persa onde viveu Ester.

Os livros históricos começam descrevendo a conquista da terra prometida, continua com um relato sobre o
período dos juízes, registra o início da monarquia, o período do reino unido e o fim do mesmo, com a divisão
em Reino do Norte e Reino do Sul. A narrativa tem como “final” o exílio tanto do Reino do Norte como do
Reino do Sul e registra o posterior retorno dos exilados sob a liderança de Esdras e Neemias.

Além de seu conteúdo histórico, esses livros também são importantes por aquilo que ensinam teologicamente.
Eles traçam a história do relacionamento de Deus com o seu povo e revelam um Deus de amor e misericórdia
mesmo quando o povo quebra sua aliança com Ele. Sendo assim, não são livros que registram apenas um
passado pouco relevante para nós, são na verdade um passado que deve nos fazer reconsiderar como temos
vivido nossa relação com Deus no presente.

2. A narrativa dos livros históricos

Podemos identificar nos livros históricos a continuação da narrativa do Pentateuco e segmentá-la por razões
didáticas em cinco eras: a era da conquista, a era dos juízes, a era do reino, a era do exílio e a era do retorno.
Vejamos com detalhes cada uma dessas eras.

2.1 A era da conquista

A era da conquista consiste na conquista da terra prometida pelos hebreus. Os registros dos acontecimentos
pertinentes a esse período encontram-se no livro de Josué.

• A liderança de Josué (Josué 1-5)

Antes de sua morte, Moisés já havia nomeado seu sucessor: Josué. Com ele ficou a tarefa de liderar o povo
de Israel nesse momento crítico da história dos hebreus. Seu primeiro desafio foi cruzar o rio Jordão, e a
semelhança do que aconteceu no Êxodo liderado por Moisés, as águas milagrosamente foram partidas e o
povo avançou.

• A conquista e divisão da terra (Josué 6-24)

A conquista da terra prometida começou pela vitória sobrenatural contra Jericó, onde os muros da cidade
ruíram de forma milagrosa (Josué 6).

A região de Canaã era caracterizada por reis individuais, não havia um poder centralizado. Josué avançou pelo
meio deles em direção ao mar mediterrâneo e prosseguiu com seu plano de conquista do Sul para o Norte.

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FUNDAMENTOS
Após sete campanhas militares bem-sucedidas, a
terra foi dividida por sorteio para as doze tribos que
tinham a responsabilidade de finalizar o domínio e
se estabelecer na terra. O livro de Josué encerra com
palavras parecidas com as do Deuteronômio, uma
convocação a manter a aliança (cf. Js 24:14-15).

2.2 A era dos juízes (Livro dos Juízes – I


Samuel 9)

Embora fixados na terra prometida, os filhos


de Israel não obedeceram a ordem divina de
exterminar por completo os canaanitas. Tal ordem
devia-se a necessidade de manter Israel longe das
práticas pagãs dos povos circunvizinhos que eram
abomináveis (cf. Deuteronômio 9:4). Eventualmente,
a cultura pagã penetrou as práticas religiosas dos
israelitas de forma que o povo deixou-se perverter
por tais práticas servindo os deuses canaanitas.
Durante esse tempo, o poder era decentralizado, e
os Israelitas eram governados por Juízes. A era dos
Juízes durou cerca de 150 anos.

• Os ciclos: repetições de rebelião e desgraça

Notamos na era dos juízes uma série de sete ciclos


onde cada ciclo possui cinco partes componentes:

• Rute
• Os juízes
Entre o livro de Juízes e o Livro de I Samuel
Os Juízes combinavam diversas funções: eram encontramos esse pequeno livro: Rute. Essa é uma
“líderes militares”, levantados para libertar Israel, história que não está diretamente ligada à narrativa
“líderes espirituais”, ungidos pelo Espírito Santo e do povo de Israel, mas que serve de contraste para
administravam a justiça em Israel em um tempo a inconstância espiritual do povo na era dos Juízes.
onde o poder político era descentralizado. Exemplos: Rute é uma linda história de uma moça não hebreia
Gideão, Jefté, Débora, Baraque, Sansão. Os juízes que perdeu tudo, mas que foi ricamente abençoada
eram aqueles a quem Deus levantou para intervir nos ao decidir ser fiel ao Deus de Israel. O livro é sobre a
ciclos de desgraça que foram mencionamos acima. soberania de Deus que cuida e provê o melhor para

24
FUNDAMENTOS
a vida do Seu povo.

2.3 A era do Reino (I Samuel - II Reis)


A era do Reino começa em 1 Samuel. Ele foi o último dos juízes, um sacerdote por chamado e profeta para
o momento. Foi a ele que o povo pediu “dá-nos um Rei, para que nos governe” (I Samuel 8:6). Samuel,
direcionado por Deus, ungiu Saul a primeiro Rei, marcando a transição entre a era dos juízes e a era da
monarquia.

•Reino Unido (I & II Samuel)


Durante 120 anos, todo o Israel existiu no regime de monarquia, sendo esses anos, divididos da seguinte
forma:
→ Saul [40 anos]: alto, bonito e popular. Saul começou o reinado com grandes vitórias, mas sua
desobediência a Deus custou-lhe o trono (1 Sm 15:23);
→ Davi [40 anos]: obteve êxito unificando Israel, deixando o país livre de inimigos e sendo um dos
principais autores de Salmos;
→ Salomão [40 anos]: agraciado com grande sabedoria, edificou o suntuoso templo de Jerusalém,
governou Israel em seus dias de glória, escreveu parte da literatura de sabedoria do AT, mas sucumbiu
a idolatria, pois suas muitas mulheres “lhe perverteram o coração...” (1 Rs 11:1-8). O coração de Salomão
não era de todo para o Senhor.

• Reino Dividido (1 Reis 12 - 2 Reis)


Salomão edificou o luxo de seu reinado à custa de uma elevada carga tributária. Ao fim de seu reinado, era
esperado que seu filho Roboão diminuísse tamanha opressão, porem agiu como um jovem tolo aceitando o
conselho de seus amigos inexperientes. Planejou tornar o julgo sobre o povo ainda mais pesado, ocasionando
uma revolta por parte de dez das doze tribos que, lideradas por Jeroboão, proclamaram independência à
dinastia de Davi. Dava-se início ao período do Reino dividido.

• O Reino do Norte

O Reino do Norte durou cerca de 200 anos, foi constituído pelas dez tribos que seguiram Jeroboão em sua
rebelião contra a dinastia de Davi. A capital do Reino do Norte era Samaria. A partir deste ponto, o Reino do
Norte é identificado nos livros históricos e na literatura profética como Israel ou Efraim.

Jeroboão I levou o Reino do Norte à apostasia, levantou altares idólatras e deu início a uma longa história de
infidelidade a Deus. Foram dezenove reis de nove diferentes dinastias, todos estes idólatras, com exceção
de Jeú, a quem o profeta Elias ungiu para limpar Israel da apostasia de Acabe e Jezabel, mas esse momento
durou pouco e o povo insistiu na idolatria, mesmo sendo advertido pelos profetas sobre o juízo divino.

O fim foi a destruição de Samaria pela Assíria, em 722 d.C., um ato visto pelos profetas de Israel como
cumprimento do juízo divino que já havia sido profetizado.

Profetas de destaque: Amós e Oséias (Cf. Amós 2:6-8, 3:2, 5:21-24, Oséias 6:6).

• O Reino do Sul ou de Judá

O Reino do Sul ou de Judá durou 400 anos e consistiu nas duas tribos (Judá e benjamim) que permaneceram
sob o governo da dinastia davídica. A capital do Reino do Sul foi Jerusalém.

O primeiro governante foi Roboão seguido pelos outros descendentes da dina stia davídica. Foram 20 reis,
dos quais apenas oito apresentaram um coração disposto a ser fiel a Deus, dentre eles destaca-se Asa,
Josafá, Ezequias e Josias que buscaram promover reformas espirituais em Judá, mas tais reformas foram
superficiais (Jeremias 3:10).

25
FUNDAMENTOS

O Reino do Norte, Israel, tinha sucumbido ao domínio da Assíria em 722 a.C. Durante a época destes eventos,
o Reino do Sul é advertido por Jeremias do cativeiro iminente, mas estes não deram ouvidos e insistiram
em sua apostasia o que resultou na destruição de Jerusalém em 586 a.C. pela Babilônia, como predito pelo
profeta.

Jeremias retrata bem em Lamentações a dor de tal catástrofe (Lm 1:1-12).

Profetas de destaque: Isaías, Miquéias e Jeremias (cf. Miqueias 6:6-8, Jeremias 22:13-17).

2.4 A era do exílio (Jeremias, Ezequiel & Daniel)

A era do exílio para o Reino de Judá começou em 586 a.C. com o cativeiro da Babilônia, fato este já mencionado.
O domínio babilônico durou 70 anos.

Apenas uma parte do povo de Israel foi exilado (os mais competentes e nobres), como vemos no livro de
Daniel.
Durantes esses anos, os profetas tiveram a função de exortar o povo a perceber a razão de estarem no
cativeiro e a mudarem seus caminhos. Ezequiel inspirou o povo a esperar um tempo de restauração que se
concretizou por volta de 539 a.C. quando o Rei Ciro (a nova potência internacional eram os Persas) permite
o retorno dos exilados. Jeremias por outro lado, exortou o povo a viver da melhor forma possível, com fé e
fidelidade no tempo de exílio (cf. Jeremias 29), enquanto a promessa de restauração não se cumpria.

2.5 A era do retorno (Esdras, Neemias & Ester)

Enquanto os judeus estavam exilados na Babilônia, a Pérsia cresceu e se tornou a potência militar dominante
naquela região. A pérsia conquistou a Babilônia, e em 539 a.C., sob o governo do Rei Ciro, começou a era do
retorno. O retorno do Exílio se deu em três estágios:

• Sob a liderança de Zorobabel (Esdras 1-6)

Em 538 a.C., o Rei Ciro permitiu o retorno de um grupo de exilados judeus, sob a liderança de Zorobabel para
a reconstrução do templo, o qual é inaugurado em 515 a.C.
Profetas de destaque: Ageu e Zacarias.

• Sob a liderança de Esdras (Esdras 7-10)

Não adiantava ter o templo reconstruído se a espiritualidade do povo também não fosse, da mesma maneira,
reconstruída. Grande parte dos exilados não conheciam a lei de Moisés, assim, em 458 a.C., o sacerdote
Esdras retornou a Jerusalém com uma outra comitiva de exilados e deu início a uma reforma espiritual. Ele
dedicou-se em ensinar o povo sobre a lei do Senhor, e a exortá-los para obedecê-la e praticá-la.

26
FUNDAMENTOS
• Sob a liderança de Neemias (Livro de Neemias)

Durante os setenta anos de cativeiro, a liderança de Judá foi levada para o exílio e a cidade de Jerusalém
caiu em abandono. A destruição da guerra e a negligência deixaram Jerusalém em um estado de ruína. Após
a restauração do templo e da reforma espiritual promovida por Esdras, ainda havia algo a ser reconstruído:
as muralhas de Jerusalém. Os muros serviam para a segurança da cidade, sem muros Jerusalém estava
vulnerável aos ataques estrangeiros. Em 445 a.C., Neemias, então copeiro do Rei Artaxerxes, da Pérsia,
recebeu permissão para voltar a Jerusalém e reconstruir suas muralhas. Nesse momento, o retorno estava
completo.

• O livro de Ester

Quanto ao Livro de Ester, por que ele se encontra


em nossa Bíblia? Ester conta uma história que se
deu durante o reinado de Xerxes (486-465 a.C.), uma
geração antes dos eventos registrados em Esdras-
Neemias. O livro fala de como Ester, uma moça judia
que se tornou esposa do imperador Persa, foi usada
por Deus para evitar o genocídio dos Judeus instigado
por um membro da corte real: Hamã.

• Os livros das Crônicas

Até o momento, percorremos todos os livros históricos com exceção de dois: 1 e 2 Crônicas. Como estes dois
livros se encaixam na narrativa que temos construído? Para aqueles que leem 1 e 2 Crônicas, fica claro que
muitos fatos mencionados em 1 e 2 Samuel e nos livros dos Reis repetem-se em 1 e 2 Crônicas. A razão para
isso é simples: Crônicas foi escrito (provavelmente por Esdras) após o exílio da Babilônia com o propósito
de fazer uma retrospectiva de séculos da história de Israel, para lembrar o povo lições importantes que o
passado deixava para o presente: a necessidade de lealdade, a aliança com Deus, o valor do templo e da
adoração, a benção divina como consequência da obediência e o juízo como consequência da desobediência.
Crônicas reconta o passado, a fim de transmitir uma mensagem de esperança, assim como de exortação
para os judeus no período pós-exílio.

3. Princípios hermenêuticos para ler as narrativas do antigo testamento

O Pentateuco e os livros históricos, quando somados, resultam nos 17 livros que narram a história do povo do
Antigo Testamento. O gênero literário que mais encontramos nesses livros é a narrativa, e, portanto, vale a
pena pontuar alguns princípios hermenêuticos que devem nos ajudar a evitar erros interpretativos em nossa
leitura dessas histórias:

• Geralmente uma narrativa do Antigo Testamento não ensina diretamente uma doutrina.

Não podemos transformar a história de alguém ou um fato ocorrido em uma doutrina.

• Uma narrativa do Antigo Testamento, geralmente, ilustra uma doutrina ou doutrinas ensinadas de
modo proposicional em outros textos das Escrituras.
• As narrativas registram o que aconteceu, não o que deveria acontecer, logo, nem sempre elas têm
uma moral ou lição a ser seguida.

Cuidado! Muitas vezes o que encontramos nas narrativas são exemplos a não ser seguidos, pois a maior parte
dos personagens do Antigo Testamento está longe de serem perfeitos.

27
FUNDAMENTOS
•Em última análise, Deus é o herói de todas as narrativas bíblicas.

Precisamos apreender a enxergar nas narrativas do Antigo Testamento o caráter amoroso, misericordioso e
bondoso de Deus, que intervém na história socorrendo os seres humanos fracos e incapazes.

EDIFICANDO

1. Explicite o nome do Livro onde os seguintes eventos são encontrados:


( ) A conquista da terra prometida
( ) A reconstrução do templo pós-exílio
( ) O governo de Sansão, Jetfé e Gideão.
( ) A reconstrução das muralhas
( ) A esclha de Saul para reinar
( ) O cativeiro babilônico

2. Complete o quadro abaixo com as características de cada Reino:

3. Ordene os eventos abaixo em ordem cronológica:


( ) O período dos juízes
( ) A conquista da terra prometida
( ) O reinado de Davi
( ) O Reinado de Roboão
( ) A divisão da terra prometida
( ) O cativeiro babilônico
( ) O Reinado de Saul
( ) A reconstrução do templo e das muralhas de jerusalém
( ) O cativeiro assírico
( ) O Reinado de Salomão

28
FUNDAMENTOS
4. Complete o quadro abaixo com as eras que correspondem as descrições ao lado:

29
FUNDAMENTOS

ANOTAÇÕES

30
FUNDAMENTOS

A poesia
do Antigo
Testamento

SONDANDO O TERRENO

T Entender a poesia hebraica e os


livros poéticos;
T Compreender os princípios
interpretativos para cada um dos livros
poéticos.

31
FUNDAMENTOS

LANÇANDO OS FUNDAMENTOS

1. Uma introdução aos livros poéticos

A poesia é uma canção da alma. Sempre que existiram grandes civilizações, ela foi escrita, e a poesia de
Israel está entre as melhores. Quando usamos a expressão “livros poéticos” estamos nos referindo aos livros
de Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. A poesia aparece em outros livros do Antigo
Testamento, mas nesses cinco livros há longos trechos poéticos.

Nos Salmos, encontramos adoradores expressando a Deus seus corações em oração; em Provérbios de
Salomão, vemos versos que destilam sabedoria para a vida; em Eclesiastes, o pregador discursa abertamente
sobre a natureza dessa vida; em Jó, nossas lógicas são confrontadas pelo inexplicável; e em Cantares, as
metáforas descrevem o amor de um casal.

2. Tipos de poesia no Antigo Testamento

Os três grandes tipos de poesia hebraica são:

• A Poesia lírica — para ser acompanhada por música, como uma canção. Ex: Salmos.
• A Poesia instrutiva — para ensinar princípios de vida por meio de máximas sucintas. Ex: Provérbios
e Eclesiastes.
• A Poesia dramática — uma narrativa que conta uma história em forma poética. Ex: Jó, Cantares.

3. Características da poesia hebraica

As duas principais técnicas literárias usadas na poesia hebraica são:

3.1 Paralelismo: Em vez de combinar sons, um poeta hebreu estava mais preocupado em combinar
ideias através de uma técnica chamada de paralelismo.

Exemplos de paralelismos:

Ex 1: Paralelismo sinônimo

“Mostra-me Senhor, os teus caminhos, ensina-me as tuas veredas.” (Salmo 25:4)

Ex 2: Paralelismo Antitético

“Pois o Senhor aprova o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios leva à destruição!” (Salmo 1:6)

“O filho sábio dá alegria a seu pai, mas o tolo despreza a sua mãe.” (Provérbios 15:20)

3.2 Figuras de linguagem: Como os poetas hebreus queriam que as imagens mentais surgissem na
cabeça do leitor, uma primeira consideração era criar imagens visuais, que eles conseguiam com
vívidas “figuras de linguagem”.

32
FUNDAMENTOS

Dentre as figuras de linguagem destacamos:

• Comparação: “Protege-me como à menina dos teus olhos.” (Salmo 17:8)


• Metáfora: “O Senhor é o meu pastor.” (Salmo 23:1)
• Hipérbole: “De tanto chorar inundo de noite a minha cama.” (Salmo 6:6)
• Pergunta retórica: “Quem poderá descrever os feitos poderosos do Senhor, ou declarar todo o louvor
que lhe é devido?” (Salmo 106:2)
• Personificação: “O sol sabe quando deve se pôr.” (Salmos 104:19)

4. Panorama geral dos livros poéticos

Estudaremos um panorama geral do conteúdo dos livros poéticos pontuando questões chaves como autoria,
as temáticas principais e princípios interpretativos.

4.1 Salmos: louvor em público

O título hebraico para o livro de Salmos é Tehilim, e significa louvores. O livro dos Salmos é de fato o livro
dos louvores. O livro consiste em uma coleção de 150 salmos que estão divididos em cinco “livros” menores:
Salmos 1-41, 42-72, 73-89, 90-106 e 107-150.

Os autores dos salmos são os mais diversos. Muitos contribuíram para essa coleção de hinos e orações.
Vejamos alguns autores:

• 73 dos 150 Salmos são assinados por Davi (ainda que alguns sugerem que Davi não escreveu todos,
sendo alguns desses salmos escritos para Davi ou em homenagem a Davi);
• O Salmo 90 é escrito por Moisés;
• 2 salmos são escritos por Salomão (Sl 72 e 127);
• Outros autores: Asafe e os filhos de Coré.

É importante notar também que, assim como hoje em dia, há músicas de diferentes perfis e estilos. Os salmos,
também, contam com estilos variados. Podemos destacar pelo menos sete tipos diferentes de Salmos:

33
FUNDAMENTOS
Podemos perceber que os Salmos são de vários tipos e cada tipo de Salmo possui uma forma (estrutura)
característica e tinha uma função específica na vida espiritual de Israel. Por exemplo, os Salmos de gratidão
eram ideais para serem utilizados em momentos de ações de graças, já os Salmos de lamento, ajudavam o
adorador a, honestamente, abrir o coração para Deus e expor seus desafios.

Em suma, os Salmos eram utilizados na devoção dos israelitas, era uma oportunidade para o adorador
expressar seu coração a Deus utilizando palavras que foram inspiradas pelo próprio Deus.

Os salmos continuam sendo um tesouro de auxílio espiritual para os cristãos. Assim como suas palavras
foram usadas pelos Israelitas em suas orações e louvores, também devem servir de inspiração para nossa
devoção. Não importa qual seja a condição de seu coração, alegre ou triste, há um Salmo que pode ajudar
você a expressar o seu coração a Deus.

Algumas orientações importantes para a leitura dos Salmos são:

• Identifique o tipo de Salmo (confira a tabela acima) que você está lendo;
• Veja se há indícios do contexto em que o Salmo foi escrito. Isso pode explicar o estado de espírito do
compositor e esclarecer o sentido de determinadas partes do Salmo;
• Cada Salmo deve ser lido como uma unidade literária, isto é, os Salmos estão unidos em um mesmo
livro, mas são independentes um do outro.

4.2 Jó: sofrimento e soberania de Deus

Jó foi um homem muito rico e devoto, cuja fortuna foi repentina e dramaticamente revertida. Ele perdeu sua
saúde, sua riqueza, sua família e mergulhou em um profundo sofrimento.

O livro apresenta, em “poesia dramática”, as lutas internas de Jó, e uma série de debates que Jó teve com
três amigos tentando ganhar uma perspectiva apropriada sobre o sofrimento e a soberania de Deus. No final,
Deus revela Sua majestade e poder. Apesar de as perguntas de Jó nunca serem respondidas, ele se submeteu
voluntariamente à soberania de Deus, e suas fortunas foram restauradas e duplicadas.

O livro pode ser dividido da seguinte maneira:

O livro de Jó fala das situações que fogem a lógica simplista de que boas coisas acontecem com boas pessoas,
e contribui para a tentativa teológica de conciliar a soberania divina e o sofrimento humano (Teodiceia),
estabelecendo verdades fundamentais como:

• Nem todo sofrimento tem explicação e é “justo”;


• Os caminhos de Deus são superiores ao nosso, logo, nem sempre entendemos como Deus exerce

Sua soberania e, por isso, sua justiça não nos cabe questionar.
Jó certamente é uma história que nos ensina que a fé por vezes deve conviver com a ausência de respostas.

4.3 Provérbios: sabedoria e habilidade para viver

O propósito dos Provérbios é transmitir sabedoria ou habilidade para viver. Mais especificamente, eles

34
FUNDAMENTOS
mostram sabedoria prática, discernimento, autodisciplina e coragem moral. Essa “poesia de instrução” é
escrita em máximas curtas e concisas, focando no relacionamento de alguém com Deus e outras coisas —
dinheiro, moral, discurso, dedicação, honestidade etc. A mensagem é que uma vida de sabedoria e justiça
deveria substituir uma vida de loucura e injustiça.

4.4 Eclesiastes: a futilidade das buscas temporais

O livro de Eclesiastes (Eclesiastes 12:9-14) vem a nós através de um editor que compilou os ensinos e OS
provérbios de um Rei Israelita que se intitula Qohelet (“agregador”, “pregador”). Esse termo hebraico não
aparece em nenhum outro texto do AT, seu significado é incerto, mas parece denotar o papel de um mestre
ou pregador numa assembleia. Muitos identificam esse “pregador” com o Rei SalOmão, atribuindo, portanto,
Eclesiastes à sua autoria, porém isso é incerto.

O propósito desse pregador fica claro no lema repetido ao longo do livro: “Vaidade de vaidade, diz o pregador;
vaidade de e vaidade, tudo é vaidade” (Ec 1:2, 12:8).

A palavra para vaidade no hebraico é hebel que significa “sopro”, “vapor”, “sem sentido”. O livro mostra
como os prazeres, riquezas e conquistas dessa vida são fúteis (Eclesiastes 1:14,15; 2:11, 3:22), enfatiza a
transitoriedade da vida presente, postula a morte e o juízo divino como as únicas certezas que podemos ter
e, por fim, estabelece que a vida sem Deus no centro não tem sentido algum.

Depois de rever a futilidade das buscas temporais, o “pregador” conclui, nessa “poesia de instrução”, que só
existe uma coisa que pode satisfazer o homem: “Tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos.” (Ec 12:13)

4.5 Cântico dos Cânticos: o manual do casamento feito por Deus

Cântico dos cânticos é um livro bíblico singular. Sua autoria e data de composição são desconhecidas.
Trata-se de um poema de vários episódios, que retrata e celebra o amor sexual entre um homem e uma
mulher. O livro tem muitas imagens vividas e intensas, mostra o sexo como um dom divino a ser desfrutado
no contexto da fidelidade conjugal. Desse modo, Cântico dos cânticos entra na revelação divina trazendo a
perspectiva divina sobre o amor entre um homem e uma mulher.

EDIFICANDO

1. Complete o quadro abaixo associando o nome do livro com sua temática chave:

35
FUNDAMENTOS
2. Os versículos abaixo foram retirados dos livros poéticos. Identifique o livro poético de onde cada
versículo foi extraído a partir da temática e linha literária que o versículo segue:

( ) “Por isso desprezei a vida, pois o trabalho que se faz debaixo do sol pareceu-me muito pesado.
Tudo era inútil, era correr atrás do vento.”

( ) “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento, mas os insensatos desprezam a sabedoria


e a disciplina.”

( ) “e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor deu e o Senhor tomou; bendito
seja o nome do Senhor”

( ) “Beija-me com os beijos de tua boca, por que melhor é o teu amor do que o vinho”.

( ) “Responde-me quando clamo , ó Deus da minha justiça, na angústia tens aliviado. Tem
misericórdia de mim e ouve a minha oração”.

3. Com suas palavras descreva como cada um dos livros poéticos contribui para a sua fé. Para que serve
cada um deste livros em sua caminhada com Jesus?

Salmos

Provérbios

Cantares

Eclesiastes

36
FUNDAMENTOS

ANOTAÇÕES

37
FUNDAMENTOS

A profecia
do Antigo
Testamento

SONDANDO O TERRENO

T Compreender a literatura profética


do antigo testamento;
T Estudar princípios hermenêuticos
que norteiem uma leitura coerente dos
profetas do antigo testamento.

38
FUNDAMENTOS

LANÇANDO OS FUNDAMENTOS

1. O papel da profecia no cumprimento dos propósitos de Deus

Antes de adentrar nos livros proféticos, precisamos entender o significado da profecia no Antigo Testamento.
Para tanto, faz-se necessário revisitar a história de Israel que já estudamos e, então, perceber onde os
profetas se encaixam nessa história.

O Pentateuco descreve o surgimento de Israel. Deus escolheu Abraão, fez uma aliança com ele e com sua
descendência. A descendência de Abraão tornou-se escrava no Egito por 430 anos. Foi nesse momento que
Deus levantou Moisés como o líder do processo libertador que culminou na saída do Egito pelo Mar Vermelho.
O povo, então, caminhou em direção ao Monte Sinai, onde Deus entregaria a Seu povo, seus mandamentos e
ordenanças, que constituem os termos da aliança entre Iavé e seu povo.

Os israelitas, porém, não foram leais a sua aliança com o Senhor. No deserto, peregrinaram 40 anos por sua
desobediência. Quando, enfim, Josué liderou a conquista da terra da promessa e tomou a terra, porém a
infidelidade não acabou. Os israelitas se perverteram com os deuses Canaanitas.

O tempo passou, do período dos Juízes ao período da monarquia, o Reino deixou de estar unificado para estar
dividido e, tanto no Reino do Norte como no Reino do Sul, a história foi a mesma: a aliança com Deus não foi
mantida, a idolatria foi vivida e institucionalizada por reis ímpios que assumiram o trono de Israel e Judá. O
povo, então, colheu a consequência de seu pecado: O cativeiro assírico e babilônico aconteceram. A questão
surgiu: será que Israel voltaria para o seu Deus em algum momento? Será que a descendência de Abraão
deixaria a falsa religião para servir ao Deus dos seus antepassados?

Foi nesse contexto que Deus levantou profetas para Israel e Judá, homens que seriam a voz de Iavé convocando
o seu povo ao arrependimento e a santidade.

“Os profetas falam porque são compelidos por uma força inexplicável que se entende ser a convocação de
Javé” Walter Brueggemann

2. Quem são os profetas?

Quando falamos “os profetas” estamos nos referindo aqueles indivíduos que viveram entre 800 a 450 a.C. e
que possuem livros em nossa Bíblia com seus nomes. Esses são chamados, pelos estudiosos, de profetas
clássicos.

É importante mencionar isso, pois outros já haviam exercido um ministério profético em Israel. Os três
principais foram: Moisés, Samuel e Elias. Eles lançaram os fundamentos para a profecia clássica.

Os profetas clássicos podem ser divididos de duas formas:

2.1 Divisão por extensão do livro: Profetas maiores e menores.

Na história recente, os livros proféticos tiveram duas designações: profetas maiores e profetas menores.
Os maiores são os primeiros cinco Livros Proféticos: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel. Os

39
FUNDAMENTOS
profetas menores são os doze restantes. Os profetas maiores são chamados assim porque são livros mais
longos, enquanto os outros são chamados “menores” porque são mais curtos.

2.2 Divisão cronológica: Pré-Exílio, Exílio e pós-Exílio

Os Livros Proféticos também podem ser divididos por categorias cronológicas: Pré-Exílio, Exílio e pós-Exílio.

A maioria dos livros proféticos ocorreu antes do Exílio. Três profetas, Ageu, Zacarias e Malaquias, profetizaram
durante o retorno (pós-Exílio). Destacam-se Daniel e Ezequiel como os dois profetas que profetizaram
durante o período do Exílio (Jeremias também exerceu parte de seu ministério durante o cativeiro babilônico).
Dos profetas que profetizaram antes do Exílio, três o fazem principalmente para Israel (o Reino do Norte),
sete principalmente para Judá (o Reino do Sul) e três para outros países.

Vemos no quadro a seguir uma síntese dessa divisão cronológica dos livros proféticos:

3. A mensagem dos profetas

3.1 As obrigações da aliança

Em resumo, os profetas eram porta-vozes de Deus que conclamavam o povo de Israel a cumprirem sua
aliança com Deus.

A aliança Sinática possuía “estipulações” (mandamentos) e “sanções” (bênçãos). O povo deveria manter-
se fiel a Deus e a Sua aliança com ele. Logo, não encontramos “novidades” nas mensagens dos profetas
do Antigo Testamento. Eles eram “pregadores” que lembravam o povo daquilo que Moisés já havia dito: as
bênçãos decorrentes da obediência e as maldições decorrentes da desobediência.

Duas características dessa parte do ministério do profeta eram:

• Expor o pecado e chamar as pessoas a assumir um estilo de vida com moral mais alta, segundo o
padrão da lei de Moisés;
• Avisar sobre o juízo eminente caso as pessoas não se arrependessem.

40
FUNDAMENTOS
3.2 O dia do Senhor

Outro aspecto da mensagem dos profetas era o dia do Senhor. Esse conceito muitas vezes refere-se a um
tempo de julgamento imediato, enquanto em outras passagens, refere-se a um julgamento escatológico. O
Dia do Senhor inclui três elementos: o julgamento divino para com os descrentes, a purificação do povo de
Deus e a salvação desse povo. Portanto, o dia do Senhor era uma mensagem de confronto e convocação ao
arrependimento para os infiéis e uma mensagem de esperança para os fiéis.

3.3 A vinda do Messias

Messias significa “o ungido”. No Antigo Testamento havia três categorias de pessoas que eram ungidas: reis,
sacerdotes e profetas. Ser ungido era ser escolhido para ser um instrumento divino para o povo de Deus.
O Messias, no profetismo hebraico, seria aquele escolhido para estabelecer o Reino de Deus sobre o Seu povo.
Os profetas hebreus, mais do que qualquer outro grupo, ascenderam a chama da expectativa no coração do
povo pela vinda do Messias.

4. A profecia e o futuro

O ministério do profeta, às vezes, incluía “prever” (contar o futuro) certos fatos, mas esse não era o principal
ofício do profeta, apesar de muitos naturalmente associarem o profeta com a figura de um vidente.

Profetizar significa fundamentalmente proclamar os ensinamentos de Deus às pessoas. Dessa forma


notamos que nos livros proféticos:

• Menos de 2% da profecia do Antigo Testamento é messiânica;


• Menos de 5% descreve a era da nova aliança;
• Menos 1% descreve fatos ainda vindouros em nossa época;2

Os profetas anunciavam o futuro, mas, comumente, era o futuro imediato de Israel, Judá e outras nações que
existiam em derredor, e não o “nosso” futuro.

É verdade que, por vezes, nos deparamos com profecias no Antigo Testamento que possuem seu cumprimento
em Jesus ou ainda em um evento escatológico, ou seja, na consumação do Reino de Deus. Estes são textos
que possuem uma dupla aplicabilidade, ou seja, ao mesmo tempo em que se referem a um evento de sua
época, também estão fazendo referência a uma promessa messiânica ou a um evento escatológico.

Porém é importante perceber que estes casos não se tratam da regra e sim da exceção, e que somente
sabemos esse significado secundário de um texto profético quando o mesmo é explicitado por algum dos
autores divinamente inspirados do Novo Testamento.

5. Como ler os textos proféticos do Antigo Testamento?

Os livros proféticos requerem um estudo cuidadoso. Com frequência pessoas abrem passagens dos textos
proféticos e pensam que poderão com uma leitura superficial obter um entendimento profundo e coerente
do texto. Isso é um engano!

Porque os livros proféticos possuem mensagens especificas para públicos específicos, em um tempo
específico, devemos analisar alguns elementos para termos uma compreensão adequada dos textos proféticos.
Usaremos o modelo “ELES-NÓS-EU” que já aprendemos nesse curso para nos guiar na compreensão de um
texto profético:

2 Entendes o que lês p.218

41
FUNDAMENTOS

EDIFICANDO

1. Descreva a função do profeta no antigo Israel.

2. Correlacione as colunas abaixo relacionando os textos bíblicos com as temáticas presentes nos
textos proféticos:
(A) Dia do Senhor
(B) As obrigações da aliança
(C) A vinda do Messias.

( ) Amós 5:11-15
( ) Isaías 7:14
( ) Sofonias 1:14-16
( ) Zacarias 9:9
( ) Amós 5:18-20
( ) Jeremias 7:3-7

3. Classifique os profetas abaixo em: (A) Pré-exílio, (B) Exílio e (C) pós-Exílio.
( ) Ageu ( ) Daniel ( ) Oséias ( ) Isaías ( ) Jeremias ( ) Malaquias
( ) Sofonias ( ) Amós ( ) Ezequiel ( ) Obadias ( ) Naum ( ) Habacuque
( ) Jonas

42
FUNDAMENTOS
4. Preencha o quadro abaixo analisando o texto profético de Oséias 5:8-10 segundo o modelo
“ELEs-NÓS-EU”.

43
FUNDAMENTOS

ANOTAÇÕES

44
FUNDAMENTOS

A antiga
aliança

SONDANDO O TERRENO

T Compreender a antiga aliança e seus


elementos;
T Entender a relação da Antiga Aliança
com a Nova Aliança.

45
FUNDAMENTOS

LANÇANDO OS FUNDAMENTOS

A expressão “antiga aliança” refere-se a aliança selada entre Deus e os israelitas no monte Sinai, e, por essa
razão, é também chamada de “aliança sinática”. Compreender os aspectos dessa aliança é fundamental para
o nosso entendimento da história redentiva, pois esta aliança foi o fundamento do relacionamento entre
Deus e os israelitas no Antigo Testamento.

Deus já havia feito uma aliança com Abraão (Gênesis 15) e renovado a mesma com Isaque e Jacó. Agora, no
Monte Sinai, com a descendência de Abraão (o povo de Israel) esta aliança estava ganhando um novo formato.

1. O conceito de aliança

Uma aliança (hb. berith, gr. diatheke) é um pacto, no contexto bíblico trata-se de um pacto entre Deus e os
homens. A primeira vez que essa palavra aparece na bíblia é em Gênesis 6:18 referindo-se ao pacto que Deus
fez com Noé.

Em uma aliança existem dois elementos básicos: promessas e estipulações. As promessas consistem nas
sanções resultantes do cumprimento da aliança, as estipulações referem-se aos termos que devem ser
cumpridos (como as cláusulas de um contrato).

Na aliança sinática, as promessas e estipulações foram detalhadas por Deus e entregues aos israelitas através
de Moisés. As estipulações correspondiam as leis, ordenanças que deveriam ser cumpridas e a promessa
era que Deus daria aos israelitas a terra de Canaã (Êxodo 19:4; 23:20,23) e que Ele seria o seu Deus, que os
adotaria e os guardaria como seu povo (Êxodo 19:6; Dt 5:2).

Portanto, obediência às leis significava lealdade à aliança com Deus, o que resultava em bênçãos, a
desobediência, por outro lado, significava a quebra da aliança e, por consequência, resultava em maldição
(Cf. Deuteronômio 28).

Uma vez entendendo o conceito e os elementos básicos da aliança de Deus com o povo de Israel, iremos
aprofundar nosso entendimento sobre essa aliança analisando cada um desses elementos.

2. A lei Mosaica

Já vimos que a lei mosaica, assim chamada porque foi dada por Deus aos israelitas por intermédio de Moisés,
expõe as condições da aliança selada entre Deus e o seu povo no Sinai.

A obediência de Israel a lei devia fundamentar-se na misericórdia redentora de Deus e na sua libertação
do povo (Êxodo 19:4), em outras palavras, a lealdade de Israel a aliança deveria ser movida por gratidão,
amor (Deuteronômio 6:5) e fé. Perceba que em toda a bíblia sagrada estes são os fundamentos de um
relacionamento com o Deus vivo e verdadeiro.

A lei revelava a vontade de Deus quanto à conduta do povo (Êxodo 19:4-6) e, assim, tinha como objetivo
ensinar Israel a viver segundo o padrão e o caráter santo do Deus que os resgatou do Egito. Note que a lei
não foi dada para salvar os Israelitas, ela foi dada ao povo que já havia sido salvo, portanto, seu papel era
santificar os salvos.

46
FUNDAMENTOS
Podemos dividir as leis da antiga aliança em três categorias:

2.1 A lei moral

A lei moral trata das ordenanças determinadas por Deus para um santo viver (Êxodo 20:1-17) e corresponde,
por exemplo, aos dez mandamentos e outros princípios e valores éticos que encontramos espalhados em
toda a lei.

2.2 A lei civil

A lei civil trata da vida jurídica, social e política de Israel como nação (Êxodo 21:1-23; 33);
Essas leis regiam a sociedade Israelita. Portanto, consiste em leis trabalhistas, leis sobre a propriedade, leis
que promoviam o direito do pobre (levítico 19:9-10), infrações que deveriam ser punidas com a sentença de
morte (Êxodo 22:18-20), o calendário e as festas de Israel (Êxodo 23:14-19) e outras leis que são estranhas a
nós pelo simples fato de serem específicas para aquela sociedade.

2.3 A lei cerimonial

A lei cerimonial trata dos ritos e cerimônias associados ao culto ao Senhor (Êxodo 24:12-31:18) o que inclui:

• As ordenanças referentes ao sistema de sacrifícios (Levítico 1-16);


• Leis sobre o sacerdócio (Levítico 9-10);
• As ordenanças referentes ao lugar de culto, o tabernáculo (Êxodo 25:1-27:21);
• As leis de purificação (Levítico 11-15).

Sobre os aspectos pertinentes a lei cerimonial e o culto na antiga aliança, vamos aprofundar os três elementos
que constituíam o culto dos Israelitas: os sacrifícios, os sacerdotes e o santuário.

3. O culto na antiga aliança


3.1. Os sacrifícios

Os sacríficos eram parte do ambiente cultural de Israel. No antigo oriente próximo, os sacrifícios eram
usados vastamente pelos mesopotâmicos no relacionamento com suas divindades e, por essa razão, não era
estranho para os israelitas ter sacrifícios como parte de sua adoração.
A lei mosaica prescrevia vários tipos de sacríficos. Em Levítico 1-7 encontramos pelo menos 5 tipos de
sacrifícios, conforme o quadro abaixo:

Levítico não deixa clara a teologia por trás dos sacrifícios. De modo geral os três primeiros (queimados,

47
FUNDAMENTOS
cereais e pacíficos) eram apresentados conforme o adorador desejasse. Os últimos dois (sacrifícios de pecado
e culpa) eram usados para oferecer expiação.

Expiação é a eliminação da impureza causada pelo pecado. Ela resulta na remoção da culpa, na concessão
do perdão e na restauração de relacionamento entre o pecador e Deus. Para haver expiação deveria haver
derramamento de sangue. Aqui, vemos um princípio estabelecido por Deus: o dom da vida em si, e não uma
dádiva menor deveria ser sacrificada com a finalidade de fazer expiação pelo pecado. O animal sacrificado
resgatava o pecador da morte que esse merecia, ou seja, funcionava como um substituto do adorador.

3.2. O sacerdócio

Semelhante aos sacrifícios, os sacerdotes eram comuns no mundo antigo. O sacerdote era um mediador
entre Deus e o povo nos atos litúrgicos porque o povo não era puro e santo o suficiente para se aproximar de
Deus, o sacerdote colocava-se diante de Deus como um representante do povo.
Deus designou a tribo de Levi para o Sacerdócio. Arão e seus descendentes seriam os sacerdotes e os demais
levitas assistiam no serviço do templo (Levítico 9-10).

3.3. O santuário

Na antiga aliança, havia um lugar específico para a adoração. Era o lugar em que Deus habitava no meio do
seu povo.

Deus deixou instruções claras de como o tabernáculo (que literalmente significa “lugar de habitação”) deveria
ser construído (Ex 25-27, 35-40) e este passou a ser durante o tempo que Israel peregrinou no deserto o
principal lugar de adoração.

Veja como era a disposição física do tabernáculo e seus diversos componentes:

4. A Lei e os Cristãos

Aprendemos os diversos elementos que compunham a Lei Mosaica. Mas agora a pergunta que precisamos
responder é: Até que ponto essa Lei se aplica a nós hoje? Sendo a lei de Moisés parte da palavra de Deus, não
seriam todas essas ordenanças ainda válidas para nós?

A lei mosaica consistiu nos termos da antiga aliança, sendo assim, não podemos assumir que tais leis sejam
um mandamento direto para nós que estamos em uma nova aliança selada pelo sangue de Cristo.

Segundo o apóstolo Paulo, a lei funcionava como um tutor temporário para o povo de Deus até que Cristo
viesse (Gálatas 3:19, 22-26). A lei ensinou o homem o que era o pecado (Rm 3:20), revelou a tendência
inerente do ser humano de transgredir a vontade de Deus (Romanos 5:20) e despertou, assim, o homem para

48
FUNDAMENTOS
uma necessidade de misericórdia, graça e salvação.

Com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, aqueles que creem em Cristo e se unem a Ele pela fé já não estão
mais debaixo da lei (Romanos 6:14, 7:4), pois Cristo selou com seu povo uma nova aliança (Hebreus 8:6) que
substitui a anterior.

Então devemos desprezar por completo a lei de Moisés? Não. Haja vista que toda a Escritura é inspirada por
Deus e “útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução” devemos, então, analisar a
lei com cautela e perceber nela princípios ainda válidos. Para ajudar nessa análise observe o quadro abaixo:

Resumindo: Não façamos transposições diretas da Lei de Moisés para os crentes na nova aliança. As
ordenanças historicamente condicionadas a Israel prescreveram. Os princípios éticos e morais atemporais
que o novo testamento valida continuam.

Conclusão:

Para concluir, é importante termos uma visão geral de como a antiga e a nova aliança se relacionam. No
quadro abaixo, você poderá ver os paralelos e distinções entre o antigo e o novo concerto.

49
FUNDAMENTOS

EDIFICANDO

1. Complete os espaços em branco com os conceitos apreendidos na presente lição.

Uma aliança pode ser definida biblicamente como um entre Deus e os homens,

sendo a mesma constituída de dois elementos básicos: e .

A recompensa da obediência à aliança são as enquanto que a consequência da

desobediência são as . A lei de Moisés consiste nos da

aliança sinática, e pode ser dividia em Lei , e .

2. Diferencie a lei moral, civil e cerimonial e exemplifique (com referência bíblica) para cada.
Lei moral:

Lei civil:

Lei cerimonial:

50
FUNDAMENTOS
3. Assinale V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas:
( ) A lei de Moisés continua sendo um mandamento direto para os Cristãos haja vista que são palavras de
Deus.
( ) Na antiga aliança, as bênçãos aguardadas como resultado da obediência a lei eram bênçãos celestiais
e eternas.
( ) Os sacerdotes da antiga aliança eram da tribo de Levi.
( ) As leis cerimoniais da antiga aliança prescreveram, pois se cumpriram em Cristo Jesus.

4. Leia os versículos abaixo e analise até que pontos eles se aplicam aos Cristãos.

• Êxodo 20:14

• Êxodo 21:12

• Êxodo 22:18

• Levítico 4:27-29

• Levítico 19:27-28

51
FUNDAMENTOS

ANOTAÇÕES

52
FUNDAMENTOS

O período
Interbíblico

SONDANDO O TERRENO

T Compreender os fatos históricos que


marcaram o período interbíblico;
T Entender o contexto social, cultural e
religioso de Jesus Cristo.

53
FUNDAMENTOS

LANÇANDO OS FUNDAMENTOS

1. O período interbíblico: uma introdução

Entre o profeta Malaquias e Mateus houve 400 anos, o chamado “período do silêncio” (pois nenhuma voz
profética levantou-se nesse tempo) ou “período interbíblico” (pois se encontra entre os dois testamentos da
Bíblia sagrada). Para se compreender o cenário do mundo em que Jesus viveu e desenvolveu seu ministério
precisamos de uma rápida aula de história sobre o período interbíblico.

2. O contexto político: as sucessivas dominações

Durante os 400 anos do chamado período interbíblico, a palestina e os judeus foram submetidos a sucessivas
dominações estrangeiras, passando de uma dominação para outra. Vejamos cada uma delas com os fatos
históricos que marcaram cada período.

2.1 O Domínio Persa (539-331 a.C.)

A palestina foi dominada pela babilônia durante 586 a 539 a.C., quando então os Medo-Persas venceram
a Babilônia e passaram a dominar a região dos Judeus. O Rei Persa Ciro permitiu o retorno dos exilados
que gradualmente reconstruíram o Templo (com Zorobabel), fizeram uma reforma religiosa (com Esdras) e
restauraram as muralhas de Jerusalém (com Neemias). Os monarcas persas tratavam os judeus com especial
tolerância, permitindo-lhes adorar livremente a Deus e observar a lei de Moisés.

2.2 O Domínio Greco-


Macedônico (331- 63 a.C.)

Em 331 a.C., Alexandre Magno


derrotou o exército medo-persa e
a palestina passou a ser domínio
do Império Macedônico. Alexandre
estendeu seu domínio até o Egito,
Ásia menor, Babilônia e Pérsia,
alcançando até o norte da Índia. A
semelhança dos persas, os judeus
foram tratados com tolerância sob
o domínio macedônico.

Alexandre promoveu a difusão da cultura e do idioma grego em seu império e isso teve fortes implicações na
religiosidade judaica como veremos posteriormente.

Alexandre morreu com 33 anos (323 a.C.) e seu império foi dividido em quatro regiões que ficaram a cargo de
seus generais: Macedônia e Grécia (Cassandro), Trácia (Lisímaco), Síria e Babilônia (Seleuco), Egito (Ptolomeu).

2.3 A dominação egípcia: os Ptolomeus

A Judeia ficou presa entre os Selêucidas que governavam a Síria e os Ptolomeus que governavam o Egito. Por

54
FUNDAMENTOS
volta de 320 a.C. Ptolomeu I passou a dominar a Judéia. Os judeus ficaram aproximadamente um século sob
o governo dos Ptolomeus até que caíram sob o domínio dos Selêucidas.

Sob a dinastia ptolomaica o povo judeu vivia pacificamente, a colonização do Egito por parte dos judeus foi
incentivada, resultando, entre outras coisas, na tradução do Antigo testamento para o grego – A septuaginta.

2.4 O jugo Sírio: os Selêucidas

Em 198 a.C. os judeus caíram sob o domínio dos reis Sírios. Durante os primeiros anos de domínio Selêucida
foi dada aos Judeus a liberdade religiosa necessária para a prática de sua fé. Porém a situação muda em 167
a.C. quando Antíoco IV Epifânio ordenou a suspensão dos sacrifícios no templo, da observância do sábado e
das leis alimentares assim como proibiu a circuncisão e o estudo das Escrituras. O Clímax dessa campanha de
destruição da cultura judaica foi quando Antíoco fez um altar para Zeus no templo e uma porca foi sacrificada
no altar.

2.5 A revolta dos Macabeus

Não demorou para uma revolta acontecer. Matatias, um velho sacerdote, iniciou uma resistência à tirania de
Antíoco IV Epifânio, e foi sucedido pelos seus três filhos dos quais se destaca Judas Macabeus que em 164
a.C. purificou o templo de todas as profanações, retomou os sacrifícios e liderou a luta pela independência
dos Judeus até 128 a.C. (quase 40 anos de guerra) para conquistar a autonomia política. Quase um século de
independência sob a dinastia Asmonéia.

2.6 O domínio Romano

O período de independência inaugurado pela revolta dos Macabeus findou em 63 a.C. quando o general
romano Pompeu adentrou Jerusalém e tornou a Palestina em um protetorado romano.
Em 40 a.C., Herodes recebeu de Roma a incumbência de governar aquela região. Em 37 a.C. ele matou
Antígono, o último sacerdote-governante da linhagem dos Macabeus, e tornou-se “O Rei dos Judeus”.
Herodes Reina durante 33 anos sob a palestina. Ele tinha uma personalidade e muito polêmica. Mesmo sendo
um Idumeu pagão ele esforçava-se para ganhar a simpatia dos Judeus. Para tanto, fortificou e embelezou
Jerusalém e dentre seus feitos destaca-se a reconstrução do templo em 19 a.C.
Porém, Herodes era cruel. Ordenou a morte do próprio Pai, de sua mulher e esteve envolvido no assassinato
de três de seus filhos.
Era este o Herodes que reinava na Judeia quando do nascimento de Jesus.

55
FUNDAMENTOS
3. O contexto Social e cultural
Como vimos anteriormente, a palestina em que Jesus nasceu era dominada pelos Romanos. Vale ressaltar
algumas características sociais marcantes do ambiente em que Jesus viveu e desenvolveu seu ministério.

4. contexto religioso: O judaísmo pós-exílio


Desde o período do Exílio e durante os 400 anos relatados anteriormente, o judaísmo sofreu mudanças que
devem ser compreendidas a fim de entendermos o contexto religioso em que Jesus viveu:

4.1 Surgimento das Sinagogas

Durante o exílio na ausência do templo, os Judeus se reuniam em sinagogas, locais específicos para a adoração
e estudo da Torah. O culto na sinagoga envolvia orações, louvores e estudo das Escrituras hebraicas (cf.
Lucas 4:16).

4.2 Os Sacrifícios substituídos pelo cumprimento da Torah

Os sacrifícios foram substituídos pela obediência a Torah. A ideia baseia-se em textos como I Samuel 15:22.

4.3 Sacerdócio politizado e a corrupção religiosa

O sacerdócio tornou-se uma função política desde o retorno do Exílio. O Sumo sacerdote representava
politicamente os Judeus, era ele quem presidia o sinédrio um corpo legislativo formado por 71 membros
liderados a quem Roma dava poder sobre várias decisões locais. Assim, o sacerdócio tornou-se muito mais
comprometido com interesses políticos do que espirituais.

A religião institucionalizada como um todo estava corrompida, o templo tornou-se lugar de exploração e
comércio. A isso Jesus opunha-se vigorosamente (cf. João 2:13-18).

56
FUNDAMENTOS

4.4 O desenvolvimento da Tradição Oral e do Rabinismo

Os Judeus acreditavam que o exílio havia sido consequência da desobediência do povo, logo cresceu a ideia
de que devia se buscar guardar a lei com o máximo rigor. Os Rabinos dedicavam-se a interpretar a lei e buscar
aplicá-la aos detalhes cotidianos. Com o Rabinismo surgiu um conjunto de regras chamadas de tradição oral
(Talmude).

4.5 O surgimento de diferentes seitas judaicas

Nos dias de Jesus havia diferentes grupos judaicos, seitas que se relacionavam com todas as mudanças que
haviam acontecido na palestina de diferentes formas. Tais grupos aparecem constantemente nas páginas dos
evangelhos, vejamos os mais importantes grupos na tabela a seguir

4.6 A esperança messiânica e a vinda do Reino de Deus

O contexto de humilhação e opressão enfrentado pelos Judeus desde o exílio babilônico impulsionou
o surgimento de movimentos apocalípticos, que acreditavam que o mundo estava entregue aos poderes
malignos e que o povo de Deus sofreria até que Deus estabelecesse definitivamente o seu Reino.

A expectativa da vinda do Reino estava, na tradição judaica, ligada com o advento do Messias (Isaías 35,
61:1,2, Zacarias 12:1-9), essa figura que no profetismo hebraico é identificado como um descendente de Davi
(Oséias 3:5, Miquéias 5:2, Jeremias 30:9, Ezequiel 34:23, 37:24, II Samuel 7:12) que vem para libertar Israel e
reinar com justiça.

Nos tempos de Jesus, porém, os judeus já haviam perdido toda e qualquer esperança em um reino messiânico
histórico e esperavam a vinda de um Messias enviado pelo próprio Deus, um salvador que intervisse na
história e inaugurasse o Reino Deus de forma decisiva.

57
FUNDAMENTOS
De forma ilustrativa o pensamento escatológico dos Judeus podia ser resumido assim:

EDIFICANDO
1. Complete o mapa ao lado com a geografia dos
evangelhos

2. Escreva o nome do Império que dominou


a palestina ao lado da descrição que melhor
corresponda ao mesmo.

A cultura grega foi


difundida e a tolerância religiosa foi promovida.
Permitiram o retorno de alguns Judeus exilados para a reconstrução do
templo e dos muros de Jerusalém.

Colocaram fim ao tempo de independência inaugurado pela revolta dos


Macabeus e estabeleceram Herodes como governador da palestina.
Um de seus imperadores empreendeu uma campanha contra os judeus o que
culminou em um revolta liderada por Judas Macabeus.

3. Identifique nos evangelhos passagens que mostram os seguintes elementos do judaísmo pós-exílio.
Cultos em sinagogas:

A presença da tradição oral:

As seitas (Fariseus, Saduceus e etc):

O sacerdócio politizado e o templo corrompido:

4. De qual forma os grupos abaixo ainda estão presentes no cristianismo contemporâneo? Dê exemplos.

(a) Fariseus:

(b) Saduceus:

(c) Essênios:

58
FUNDAMENTOS

(d) Zelotes:

4. Escreva com suas palavras qual era a expectativa que os Judeus tinham para a vinda do Messias? Quem
ele seria? O que aconteceria?

59
FUNDAMENTOS

ANOTAÇÕES

60
FUNDAMENTOS

A vida e o
ministério de
Jesus

SONDANDO O TERRENO

T Entender a vida de Jesus de forma


cronológica;
T Compreender o ministério de Jesus:
Seus milagres, seus ensinos e sua paixão.

61
FUNDAMENTOS

LANÇANDO OS FUNDAMENTOS

1. A vida e o ministério de Jesus: Uma introdução

Chegamos ao clímax da nossa jornada nas Escrituras: Jesus Cristo. A lei apontava para a necessidade de um
salvador, os profetas anunciavam a vinda futura do Messias, os Judeus aguardavam o ungido de Deus que
inauguraria o Reino de Deus. De repente, em uma pequena cidade chamada Belém, nasce Jesus, o Cristo.

Os evangelhos não são biografias completas da vida de Jesus. Por exemplo, pouco se sabe de sua infância
e muitos fatos até mesmo de seu ministério não são relatados nos evangelhos. Mas eles contêm o que
precisamos saber a fim de assimilar um retrato fidedigno da pessoa de Jesus Cristo.

Na presente aula, iremos estudar em ordem cronológica a vida de Jesus, enfatizando os seus três anos de
ministério.

2. Um panorama da vida e do ministério de Jesus

2.1 O começo da vida de Jesus: Da infância ao batismo

Jesus é concebido de forma milagrosa por Maria, em Belém da Judeia. Depois de uma excursão ao Egito para
salvá-lo da tentativa de Herodes de matá-lo, Maria e José vão com Jesus a Nazaré. Ali Jesus cresce, aprende
o ofício de carpinteiro e vive uma infância e adolescência normal, até seus 30 anos quando então é batizado
no Rio Jordão por seu primo João Batista.

No batismo, os céus se abrem, o Espírito vem sobre ele e a voz do Pai é ouvida dos céus dizendo “este é o
meu filho amado” (Mateus 3).

Após isso, Jesus é levado ao deserto pelo Espírito onde jejua por 40 dias e é tentado pelo diabo.

2.2 O começo do ministério público: o ano da obscuridade

O início do ministério de Jesus foi um período de transição, durante o qual ele substituiu seu percussor João
Batista.

Jesus retorna do deserto, onde foi tentado, para a Galiléia onde realiza seu primeiro milagre nas bodas de
Caná.

Depois vai a Jerusalém para a páscoa, e, em uma atitude profética, expulsa os mercadores do templo
confrontando o sistema religioso e sua corrupção. Nicodemos, um fariseu renomado, fica interessado em
conhecer Jesus (João 3) e vai ao seu encontro na surdina da noite.

No mais, muitos discípulos de João Batista começam a seguir Jesus, as multidões começam a se avolumar, João
reconhece que “convém que ele cresça e que eu diminua” (João 3:30) e Jesus logo volta a Galileia passando
por Samaria e encontrando a mulher que precisava beber da água viva que o Cristo tinha para dar (João 4).

62
FUNDAMENTOS
2.3 A continuação do ministério de Jesus: o ano da popularidade

Jesus de volta a Galileia prega na sinagoga de Nazaré um discurso que não foi muito bem recebido pelos
Judeus (Lucas 4:18-22). Ele logo deixa Nazaré, vai a Cafarnaum e começa incontáveis jornadas pela Galileia
pregando o evangelho do Reino e fazendo muitos sinais.

“E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando
todas as enfermidades e moléstias entre o povo.” (Mateus 4:23).

Jesus ensinava com autoridade sobre como era a vida debaixo do Reinado de Deus (Mateus 5-7) e testificava
da chegada do Reino ao libertar pessoas dos poderes que as oprimiam:

“Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus.”
(Lucas 11:20).

O clímax da popularidade de Jesus foi quando ele multiplicou pães e peixes e alimentou 5000 homens e
mulheres. A multidão começou a afirmar “verdadeiramente este é o profeta que devia vir ao mundo” (João
6:14). À medida que o rumor se espalhava, as pessoas se determinavam em torná-lo o Rei que os libertaria do
domínio Romano, mas esse não era o projeto de Jesus logo ele tratou de fugir disso e “retirou-se novamente,
sozinho, para o monte” (Jo 6:14-15).

2.4 O fim do ministério de Jesus: o ano da adversidade

Não demorou para Jesus sair do clímax de ser entronizado para a tendência de ser rejeitado. Ele retorna a
Cafarnaum após os milagres da multiplicação e faz um duro discurso sobre ele ser o pão da vida e que aquele
que cresse nele deveria “comer de sua carne”. Não foi de se admirar que muitos o deixaram (João 6:52, 66).
A popularidade estava aos poucos se convertendo em adversidade.

Jesus, gradualmente, revela a seus discípulos sua vocação messiânica e as implicações disso:

“Então ele começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas e fosse
rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, fosse morto e três dias
depois ressuscitasse.” (Marcos 8:31).

Mas pediu o segredo dos discípulos, pois seu messianato não deveria ser tornado público antes do momento
devido. Ele começa então uma jornada em direção a Jerusalém (Lucas 9:51) passando por Jericó onde ele
cura o cego Bartimeu e encontra-se com Zaqueu.

À medida que o tempo passava, as críticas de Jesus e seu embate com o sistema religioso de sua época
tornavam-se mais intensas. Jesus condenou a hipocrisia dos fariseus (Lucas 11:37-52), repreendeu os
saduceus pela sua ignorância nas Escrituras (Marcos 12:18-27) e suas afirmações “Eu sou...” (João 7:37-39,
8:12, 9:5, 8:58, 10:11, 11:25-26) perturbavam os religiosos. Por isso Jesus passa a ser alvo dos planos de líderes
judeus que diversas vezes tentaram prendê-lo e matá-lo (João 5:18, 7:30, 32; 10:39; 11:53, 57).

Os últimos dias de Jesus foram o clímax da tensão entre Jesus e os líderes Judeus. Jesus entra em Jerusalém
montado em um jumento (cumprindo a profecia de Zacarias 9:9. Cf. Mateus 21:5) e com gritos de “hosana”
é recebido. Os três dias seguintes foram de embates teológicos entre Jesus e os líderes judeus. Ele critica
duramente os fariseus (Mateus 23) denunciando a perversão de sua religiosidade.

Jesus sabia que a morte o aguardava (cf. Marcos 10:38, Lucas 12:50, Marcos 14:21, Gálatas 3:15, Zacarias
13:7), ele já havia compartilhado com os discípulos em vários momentos que sua morte era necessária para
sua missão (Marcos 9:12, 9:31, 10:33-34, 10:45). À medida que a tensão entre Jesus e os líderes religiosos

63
FUNDAMENTOS
aumentava, sua morte se aproximava.

Durante o tempo da festa da páscoa, quando Jesus e muitos outros Judeus estavam em Jerusalém, os líderes
religiosos foram finalmente capazes de provocar entusiasmo pela crucificação de Jesus. Eles o submeteram a
uma série de julgamentos sob falsas acusações (6 julgamentos ao todo, começando no sinédrio e culminando
em Pôncio Pilatos).

Jesus é então crucificado na sexta, sepultado naquela noite, mas na manhã de domingo, após três dias no
sepulcro, ele ressuscita dos mortos para ser eternamente o Senhor da Igreja.

3. O Ensino de Jesus

Ao longo de seu ministério, uma das principais atuações de Jesus foi ensinar. Nesse aspecto, ele se assemelhou
aos Rabinos (mestres) Judeus que ensinavam suas interpretações da Lei para os seus discípulos. O ensino
de Jesus ao mesmo tempo em que foi admirado por muitos, que viam em suas palavras uma autoridade e
revelação jamais vista, mas também foi um dos grandes motivos de perseguição a Jesus por parte dos líderes
religiosos.

Vamos entender então três dos principais temas que Jesus abordou em seu ensino.

3.1 Jesus e a Lei

Jesus ao mesmo tempo em que afirma que a lei é palavra de Deus, ele a reinterpreta em alguns pontos.
Podemos colocar assim:

• Jesus obedeceu a Lei (Mateus 17:27, 23:33), apelou para ela em seu ensino, e enxergou que sua
missão realizava a verdadeira finalidade da Lei (Mateus 5:17);
• Por outro lado, Jesus reinterpretou elementos do judaísmo como: O sábado (Marcos 2:23-28, 3:1-
6, Lucas 13:10-17), rejeitou práticas como os rituais de purificação (Mateus 15:1-30) e confrontou
ensinos da tradição oral dos Fariseus e escribas.

Em suma: Jesus discordou da interpretação farisaica da Lei, que valorizava excessivamente os aspectos
externos da religião e acabava desprezando a essência da Lei.

Além disso, Jesus reinterpreta a Lei enfatizando a justiça que começa no coração, erguendo assim o padrão
de uma mera observância externa da Lei (cf. Mateus 5) e resumindo a Lei em amar (Mateus 22:34-40).

3.2 Jesus e a graça

Jesus demonstrou perdão (mulher flagrada em adultério - João 8:8, ladrão da cruz - Lucas 23:30-43, Pedro
- Lucas 23:34), aceitou aqueles que a sociedade e a religião marginalizava (samaritanos, crianças, mulheres
e publicanos – cf. Lucas 18:9-14) e mostrou que somente cumprimos a Lei quando impulsionados pela
consciência da graça (Zaqueu em Lucas 19:1-10 e a Mulher pecadores de Lucas 7:36-50 nos mostra isso).

3.3 Jesus e o Reino de Deus

Jesus tinha como mensagem principal que “o reino de Deus está próximo” (Mc 1:15, Mateus 12:28), em outras
palavras, o tão esperado dia da salvação, predito pelos profetas acabara de chegar em Jesus, mas não como
muitos esperavam.

Vimos, anteriormente, que havia uma expectativa por parte de muitos Judeus que o Reino de Deus fosse

64
FUNDAMENTOS
estabelecido de forma decisiva a partir de uma intervenção sobrenatural de Deus na história através da vinda
do Messias. O ensino de Jesus sobre o Reino, porém, contrastava com essa expectativa. Jesus afirmou dois
aspectos sobre o Reino:

• O Reino já chegou – mediante a proclamação de Jesus, seu ministério, morte e ressurreição o Reino
se tornou uma realidade que invadiu a história. Por meio do arrependimento e da fé nos tornamos
cidadãos do Reino (Lc 17:20, 18:28-30; Jo 3).
• O Reino está por vir – O Reino ainda se consumará em um ponto mais à frente na história, ou seja,
aguarda um cumprimento futuro (Lc 21, 22:29).
Jesus sabia que Ele era o Cristo (título equivalente a Messias), mas não o tipo de Messias popularmente
esperado.

A missão dele era trazer o Reino de Deus, mas o Reino era espiritual (Mateus 2:2, Lucas 1:32, João 1:50) no
presente momento. Ele sabia que haveria uma glória futura (Mateus 25:4, 13:41-43), mas apenas depois de
sua morte quando ele sofresse como o Servo sofredor.

Por essa razão muitos desacreditaram em Jesus por ele não ser o Messias que se encaixava na expectativa
do povo. O projeto do Reino de Deus de Jesus diferia do projeto esperado por muitos.

EDIFICANDO

1. Localize no mapa ao lado as principais localizações


geográficas da palestina no tempo de Jesus, e descreva
de forma simplificada (com no máximo 4 setas) os
movimentos de Jesus do nascimento a morte.

2. Descreva, em termos gerais, os três anos do


ministério de Jesus:

O ano da obscuridade

O ano da popularidade

65
FUNDAMENTOS
O ano da adversidade

3. Diferencie a perspectiva de Jesus e dos religiosos de sua época sobre os seguintes assuntos:

(a) O uso da Lei de Moisés

(b) A vinda do Reino de Deus

66
FUNDAMENTOS

ANOTAÇÕES

67
FUNDAMENTOS

Os evangelhos:
Um panorama

SONDANDO O TERRENO

T Entender o que é um evangelho;


TCompreender as semelhanças e
diferenças entre os evangelhos;
TEstudar um panorama dos quatro
evangelhos;
TCompreender princípios de
interpretação para as parábolas de
Jesus.

68
FUNDAMENTOS

LANÇANDO OS FUNDAMENTOS

1. A origem, formação e propósito dos evangelhos

Após a ascensão de Jesus, as pessoas que se convertiam desejavam saber o que Jesus havia dito sobre
determinados assuntos. Isso levou os discípulos a recordarem e transmitirem aquilo que haviam observado e
apreendido com Jesus. Por um período de 30 a 40 anos os ensinos de Jesus foram transmitidos oralmente no
contexto da igreja primitiva. Contudo, com a morte de alguns discípulos, começa a surgir uma preocupação:
Preservar os ensinos de Jesus mesmo quando as testemunhas oculares da vida e do ministério de Jesus não
existissem mais. A resposta para essa questão foi a compilação de documentos escritos. Tais documentos
resultaram, posteriormente, no que hoje conhecemos como “evangelhos”.

Os evangelhos não se tratam de biografias da vida de Jesus que tentam cobrir todos os detalhes possíveis
de sua história, mas, sim, como o nome evangelho denota um testemunho sobre quem é Jesus (evangelho
deriva da palavra evangelion e significa “boa nova”). Por essa razão os seus autores, em vez de apresentar
todos os episódios da vida de Jesus, selecionaram, arranjaram e adaptaram (João 20:30,31; 21:25) fatos e
falas de Jesus para contar uma narrativa: Jesus é o Cristo de Deus e por meio dEle o Reino Messiânico chegara.

Os evangelistas, como qualquer autor, tinham seus receptores específicos, o público alvo de seus evangelhos.
As necessidades e o contexto dessas comunidades primitivas para quem eles escreveram influenciaram a
composição dos evangelhos e, por essa razão, a narrativa de Jesus como o Messias de Deus recebeu quatro
versões distintas: Os quatro evangelhos.

Ao lermos os quatro evangelhos, vemos que os três primeiros (Mateus, Marcos e Lucas) são muito semelhantes
em seu conteúdo, são os chamados evangelhos sinóticos (do grego synoptikos que significa “aquilo que está
em conjunto, que tem a mesma visão”), enquanto João apresenta uma abordagem bastante singular. A tese
mais aceita para explicar a semelhança dos sinóticos é que Mateus e Lucas tenham baseado seu evangelho
em Marcos e em mais outra fonte “Q” (da palavra alemã Quelle, “fonte”). De forma ilustrativa, essa hipótese
afirma o seguinte:

Marcos + Q = Mateus e Lucas

2. Um panorama dos evangelhos


Como vimos anteriormente, cada evangelista tinha preocupações específicas que influenciaram a composição
de seu evangelho. Para uma leitura coerente dos evangelhos é importante conhecer o contexto histórico de
cada um dos evangelistas, entender os receptores para quem ele escreve e assim compreender as ênfases
teológicas de cada evangelho.

2.1 Mateus

• Autoria e receptores

O primeiro evangelho é atribuído pelos pais da igreja ao apóstolo Mateus (ainda que os estudiosos se dividam
nesse assunto). Os receptores do evangelho de Mateus são provavelmente cristãos judeus comprometidos
com a missão aos gentios.

69
FUNDAMENTOS
• Ênfases e conteúdo

O evangelho de Mateus enfatiza Jesus Cristo como o Messias prometido no Antigo Testamento que cumpre
a esperança da vinda do Reino de Deus e estabelece em torno de si uma nova comunidade (a igreja), o novo
Israel que herdará as promessas de salvação preditas pelos profetas hebreus. Podemos concluir isso a partir
de vários aspectos presentes nesse evangelho:

◉ O evangelho começa com a genealogia de Jesus (Mt 1:1), enfatizando que ele é o filho de Davi (o
Messias) e filho de Abraão;
◉ Mateus apresenta o ensino de Jesus em cinco blocos (5:1-7:29; 10:11-42; 13:1-52; 18:1-35; 24:1-25:46)
fazendo, portanto, uma clara a alusão a Torá judaica que é composta de cinco livros;
◉ Jesus proclama a chegada do Reino (Mt 4:1-7:29) e escolhe 12 apóstolos (um paralelo com as 12 tribos
de Israel) para ajudá-lo na missão do Reino de Deus;
◉ Em vários momentos Mateus busca mostrar que Jesus é quem cumpre as profecias do antigo
Testamento (1:22, 2:15,17,23; 4:14; 8:17; 13:35; 21:4; 26:56 e 27:9). Essas passagens são sempre
introduzidas com o chavão “[...] para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta”.

Mateus mostrou que em Jesus a lei, o templo e a esperança messiânica se cumpriram. Esse é o evangelho do
Messias prometido, o evangelho do Reino.

2.2 Marcos

• Autoria e receptores

O evangelho de Marcos é atribuído a João Marcos, companheiro de Paulo (Cl 4:10) e depois de Pedro (I Pedro
5:13). O destinatário deste evangelho é a igreja em Roma.

• Ênfases e conteúdo

O evangelho de Marcos apresenta Jesus como o servo sofredor prometido em Isaías, que dá sua vida “em
resgate por muitos” (Mc 10:45).

O início do evangelho de Marcos é marcado pela proclamação de Jesus acerca da chegada do Reino de Deus
(1:16-3:6). Essa proclamação é acompanhada de milagres que conquistam multidões e também da escolha
daqueles que Jesus instruirá de forma mais profunda, os discípulos (3:7-8:21).

A partir deste ponto, o evangelho de Marcos foca na paixão de Cristo. Jesus começa a andar em direção a
Jerusalém (8:22-10:45), explica, algumas vezes, aos seus discípulos a natureza do seu Reino e, portanto, do
discipulado como um caminho de cruz e Ele mesmo, ao fim, exemplifica seu ensino ao ser preso e crucificado
(10:46-15:47) conforme Ele mesmo já havia predito.

A ênfase de Marcos no tema da cruz e do sacrifício do Messias faz com que esse evangelho seja chamado
por alguns de o evangelho da cruz.

2.3 Lucas

• Autoria e receptores

De acordo com a tradição muito antiga quem escreveu o evangelho de Lucas foi Lucas, o médico e antigo
companheiro do apóstolo Paulo (Cl 4:14).

70
FUNDAMENTOS
O evangelho é destinado a Teófilo (Lucas 1:1-3). Não sabemos ao certo quem foi Teófilo, mas podemos inferir
a partir do costume da época de encontrar no prefácio desse tipo de literatura o patrocinador da obra, que
Teófilo foi o patrocinador de Lucas-Atos.

Mas além de Teófilo o evangelho de Lucas tem como receptor os cristãos gentios que foram inseridos no
plano redentor de Deus por sua graça.

• Ênfases e conteúdo

Lucas fala de Jesus como o salvador de todos aqueles que como o Messias de Deus veio salvar o povo de
Israel, cumprindo as promessas do antigo testamento, mas também inserir os gentios nessa promessa de
salvação. Em Lucas, mais do que em qualquer outro evangelho, fica evidente um Jesus que acolhe todos os
tipos de pessoas, principalmente aquelas marginalizadas pela religião tradicional: publicanos, pecadores,
samaritanos etc.

Isso pode ser explicado pelo fato de Lucas ser o único autor gentio do novo testamento, sendo assim sua
leitura da obra de Jesus enfoca a relação de Jesus com os gentios.

Outra possível razão para essa ênfase gentílica dada por Lucas é a sua proximidade com Paulo, o apóstolo da
graça, com quem Lucas deve ter apreendido sobre a universalidade do amor e da graça de Deus.

2.4 João

• Autoria e receptores

O autor é o “discípulo amado” (Jo 21:24), o apóstolo João, filho de Zebedeu. Os receptores deste evangelho
provavelmente são comunidades cristãs que tinham o apóstolo João como um pai espiritual. Tradicionalmente
considera-se que sua localização tenha sido em Éfeso e nos arredores, portanto trata-se de cristãos gentios.

Esses cristãos estavam vivendo forte perseguição por causa de sua fé e João escreve o evangelho para que a
igreja permanecesse firme na fé de que “Jesus, é o Cristo, o filho de Deus” (João 20:31) e uma vez firmes nessa
fé “crendo tenham vida em seu nome” (João 20:31).

• Ênfases e conteúdo

João começa seu evangelho afirmando a divindade/humanidade de Jesus (1:1-18), falando do Cristo como o
verbo eterno de Deus (divindade) mas que se faz carne (humanidade). Ainda no prólogo de seu evangelho

João mostra que o verbo encarnado é o Messias prometido, o “cordeiro que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).
João estrutura seu evangelho em torno de 7 sinais, cada sinal aponta para algo que Jesus trouxe a humanidade:

71
FUNDAMENTOS

Cada sinal é seguido por discursos nos quais o Senhor foi desvendando a sua identidade messiânica. É nesses
discursos que Jesus enuncia as 7 famosas declarações “Eu sou”: “Eu sou o Pão da Vida” (Jo 6:25-59), “Eu sou
a Luz do mundo” (Jo 8:12), “Eu sou a porta” (Jo 10:9), “Eu sou o bom pastor 10:11-29), “Eu sou a ressurreição
e a vida” (Jo 11:25), “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6) e “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15:1-8).

Essas declarações levam muitos teólogos a considerarem o evangelho de João o evangelho onde Jesus
aparece de forma mais explícita como o filho de Deus, o Messias prometido.

Os temas mais recorrentes ao longo do evangelho de João são o AMOR e a VIDA. Vejamos como esses temas
permeiam o quarto evangelho:

Conclusão:
Podemos colocar os quatro evangelhos de forma comparativa no quadro a seguir:

72
FUNDAMENTOS

EDIFICANDO

1. Descreva o que é um evangelho? Em que sentido este se diferencia de uma biografia comum?

2. Defina qual dos evangelhos você usaria para evangelizar cada tipo de pessoa explicitada no quadro
abaixo:

73
FUNDAMENTOS

ANOTAÇÕES

74
FUNDAMENTOS

Atos e o
nascimento da
Igreja

SONDANDO O TERRENO

T Compreender o surgimento da igreja;


T Estudar um panorama de Atos.

75
FUNDAMENTOS

LANÇANDO OS FUNDAMENTOS

1. A era da igreja

O evangelho de Lucas e Atos compõe uma única narrativa. Atos é a segunda parte do relato de Lucas sobre
as boas novas de Jesus e como essas boas novas se espalharam de Jerusalém até Roma.

Isso fica claro no prólogo do livro de Atos, quando Lucas escreve: “Em meu livro anterior, Teófilo, escrevi a
respeito de tudo o que Jesus começou a fazer e a ensinar, até o dia em que foi elevado ao céu, depois de ter
dado instruções por meio do Espírito Santo aos apóstolos que havia escolhido” (Atos 1:1,2).

O evangelho de Lucas conta o que “Jesus começou a fazer e ensinar” (vers.1), agora em Atos vemos o que
Jesus continuou a fazer por meio do seu Espírito que operava em sua Igreja. Após a ascensão de Jesus era
tempo de a Igreja continuar a missão de Jesus nesse mundo pelo poder do Espírito Santo. Por essa razão o
livro de atos é chamado por alguns estudiosos de “o evangelho do Espírito Santo” ou ainda, “Atos do Espírito
Santo” pois ele consiste no relato do que o Espírito de Cristo operou através da igreja.

Lucas escreve o livro de Atos por volta de 62 d.C. O Livro cobre aproximadamente o período dos 30 primeiros
anos da igreja cristã. Claro que muitos fatos e eventos se deram ao longo de três décadas, bem mais do
que possivelmente poderia ser compilado em um livro. Portanto a conclusão é óbvia: Lucas inspirado pelo
Espírito Santo seleciona criteriosamente narrativas que irão não apenas manter registros de fatos ocorridos
no início do movimento Cristão, mas irão comunicar uma mensagem aos leitores: A TRANSIÇÃO (essa é a
palavra-chave) da Igreja de pequena e judaica para grande, dispersa (em várias cidades) e gentílica.

2. Panorama do livro de ATOS

Para fins didáticos vamos segmentar o nosso estudo panorâmico do livro de Atos em 8 partes: criação,
perseguição, crescimento, transição, primeira, segunda e terceira viagem missionária de Paulo,
julgamentos e prisão.

2.1 Criação: o nascimento da Igreja (Atos 1-2)

O local de nascimento da Igreja é Jerusalém. Depois de sua morte, enterro e ressurreição, Jesus instrui seus
discípulos a esperarem em Jerusalém até receberem o poder do Espírito Santo (At 1:6-8) e depois serem
testemunhas em Jerusalém (a cidade deles), Judeia e Samaria (as províncias ao redor) e nas mais remotas
partes da Terra (o resto do mundo). Então Jesus ascende ao céu diante de seus discípulos.

Logo depois disso, na festa judaica do Pentecostes, o Espírito Santo desce sobre os discípulos de Jesus.
Enquanto estão reunidos em uma casa, um som como uma rajada de vento violenta toma conta do lugar e
chamas de fogo caem sobre cada discípulo, que são cheios com o Espírito Santo. Eles começam a falar em
diferentes línguas estrangeiras, fazendo com que muitos judeus de várias partes do mundo possam ouvi-los
em seus próprios idiomas.

A partir do derramar do Espírito há um poderoso movimento de pregação do Evangelho. Pedro ao pregar ver
3000 pessoas de convertendo (Atos 2) e a cerne de sua pregação era: Jesus é o Messias enviado por Deus,
divinamente afirmado em sua vida pelos milagres que fez, em sua morte cumpriu o propósito de Deus, foi

76
FUNDAMENTOS
justificado por Deus ao ressuscitar, sendo assim era tempo de arrependimento pois esse Jesus havia sido
feito, Senhor e Cristo e em breve julgaria mortos e vivos. Quem cresse e fosse batizado receberia a benção
prometida a semente de Abraão - perdão dos pecados e o dom do Espírito (Atos 2:38).

2.2 Perseguição: o primeiro mártir cristão (Atos 3-5)

Quando Pedro e João começaram a pregar foram detidos e levados ao Sinédrio (Atos 4:1-2) o qual questionou
a pregação dos Apóstolos, mas os mesmos não pararam de pregar o evangelho (Atos 4:21, 33). Foram presos
novamente, desta vez colocados em uma prisão (Atos 5:18), mas foram libertos depois de açoitados (Atos
5:40).
A pressão externa foi uma arma satânica para impedir o avanço da pregação do evangelho desde o início da
igreja.

2.3 Crescimento e Martírio: organização da Igreja (Atos 6-7)

Com o número de convertidos aumentando, algumas medidas são tomadas para a organização da Igreja,
dando estrutura a suas atividades e responsabilidades. Pedro organiza um esforço de alívio para cristãos em
necessidade.

Aqueles que têm posses podem vendê-las e dar o dinheiro aos apóstolos, que o distribuem de acordo com
as necessidades. Diáconos são escolhidos para cuidar das necessidades materiais da Igreja, enquanto os
apóstolos dedicavam-se “à oração e ao ministério da palavra” (Atos 6:7).

Estevão, um destes diáconos, é preso pelos líderes judaicos por pregar sobre Jesus. Quando ele não se retrata
por falar sua mensagem, mas continua a repeti-la, os judeus o apedrejam até a morte, transformando-o no
primeiro mártir cristão. Esse incidente inicia uma série de perseguições contra novos cristãos, tão severa que
muitos deles precisam fugir de Jerusalém para salvar suas vidas. Quando fazem isso, levam a mensagem do
Evangelho com eles até as províncias próximas da Judeia e Samaria.

2.4 Transição: um missionário para os Gentios (Atos 8-12)

Vemos em Atos 8 Felipe levando o evangelho á Samaria. Essa missão foi o início do rompimento do cristianismo
com seu berço judaico.

Um fariseu zeloso, Saulo de Tarso, aprova aqueles que apedrejaram Estevão. Logo depois, ele está viajando
até Damasco para encontrar e perseguir outros cristãos quando Jesus aparece para ele vindo do céu, e Saulo
é convertido a fé no Cristo de Nazaré.

O profeta Ananias diz a Paulo que Deus estava chamando-o para ser apóstolo e um instrumento de Cristo
para os gentios (Atos 9:15).

Logo depois disso, o apóstolo Pedro tem uma visão na qual o Senhor diz que a mensagem do Evangelho deve
ser ouvida pelos gentios também. Esse acontecimento se dá em virtude de Cornélio, um gentio temente a

Deus, mas que ainda era “gente de fora” pela sua etnia (cf. Atos 10 e 11).

Isso marca uma transição na natureza da Igreja porque, até esse momento, a mensagem tinha sido
circulada exclusivamente entre os judeus.

Alguns dos que creram depois do martírio de Estevão, haviam rumado para Antioquia, pregado o evangelho
e feito muitos discípulos ali. A igreja enviou Barnabé para lá que por sua vez chamou Paulo para ajudá-lo. Foi
de Antioquia que as primeiras viagens missionárias aconteceram.

77
FUNDAMENTOS

2.5 Primeira viagem missionária: Galácia por dois anos (Atos 13-14)

Na primeira viagem missionária de Paulo, ele e Barnabé são escolhidos pelo Espírito Santo para viajar até a
Galácia e levar o Evangelho aos gentios vivendo ali. Eles partem de Antioquia, o ponto de partida para todas
as três viagens missionárias, e ficam na Galácia por dois anos, experimentando resultados encorajadores.
Depois que voltam a Jerusalém, um conselho (o concílio de Jerusalém cf. Atos 15:1-35) é realizado no meio
de muita controvérsia, que determina que os gentios não precisam se converter em judeus além de se
converterem em cristãos.

2.6 Segunda viagem missionária: Grécia durante três anos (Atos 15:36 - 17)

Paulo parte de Antioquia para visitar os crentes de sua primeira viagem. No entanto, recebe uma visão de
um homem na Macedônia (Grécia) e muda seus planos, indo para a Grécia com a mensagem do Evangelho
para os gentios ali. Ele viaja pela Grécia por três anos, visitando e pregando em Atenas (Atos 17) no famoso
discurso do Areópago.

Durante esse tempo dois anos foram dedicados em Corinto onde deu início a igreja a quem futuramente
endereçaria duas epístolas que temos como parte do cânon do Novo Testamento.

78
FUNDAMENTOS
2.7 Terceira viagem missionária: Ásia por quatro anos (Atos 18-21)

Novamente, Paulo parte para encorajar os crentes de suas primeiras duas viagens e espalhar a mensagem
do Evangelho pela Ásia. Ele consegue muito sucesso e muita oposição.

Em Éfeso passou três meses pregando na sinagoga e depois foi ao “auditório de tirano” e lá diariamente por
dois anos discorria sobre o evangelho. Uma média de 3120 horas semanais de pregação! Isso mesmo “todos
os habitantes da Ásia ouviram a palavra do Senhor...” (Atos 19:8-10).

Durante sua estadia em Éfeso recebe más notícias sobre a igreja em Corinto e escreve os textos que hoje
temos como I & II Coríntios.

Em Éfeso, toda a cidade é tomada por um levante por causa de sua visita (Atos 19:21-22). Os tumultos
pressionam Paulo a deixar Éfeso (Atos 20:1-2) e ir para Jerusalém mesmo sendo avisado de que será preso
se voltar a Jerusalém.

Antes de ir para Jerusalém Paulo passa pela macedônia e fica 3 meses em Corinto onde escreve na casa de
Gaio a epístola aos Romanos.

2.8 Julgamentos e prisão: prisão romana por dois anos (Atos 22-28)

Quando chegou em Jerusalém não demorou para líderes judeus em Jerusalém prenderem Paulo sob falsas
acusações. Durante os dois anos seguintes Paulo é mantido prisioneiro, ele é movido para Cesaréia, a capital
romana na área. Ali, é julgado por três homens: Félix, Festo e Agripa. Para impedir as injustiças no processo,
Paulo exercita seu direito como cidadão romano a apresentar seu caso perante César em Roma. Ele é levado
a Roma, o percurso foi tumultuado por um Naufrágio (Atos 27:1-28:10). Em Roma permanece por dois anos
em prisão domiciliar. Neste momento Paulo escreve as chamadas “epístolas da prisão”: Efésios, Colossenses,
Filipensesses, Filemon.

Paulo nunca é julgado em Roma. O texto de Atos encerra com sua prisão domiciliar em Roma (Atos 28:30-
31) mas sabemos que ele é liberto, retoma suas viagens por um ou dois anos. Visita Creta onde deixa Tito
cuidando dos crentes daquele lugar e em Éfeso deixa Timóteo como responsável.

Depois de um tempo Paulo foi preso novamente, mas desta vez não em uma prisão domiciliar e sim em uma
masmorra horrível de onde escreve sua última epístola II Timóteo onde exorta seu filho na Fé a permanecer

79
FUNDAMENTOS
fiel e comprometido com a causa do Evangelho.

A tradição afirma que Paulo foi decapitado em Roma em 64 d.C. como parte da perseguição de Nero.

EDIFICANDO

1. No mapa abaixo desenhe 4 setas que simbolizam os 4 principais movimentos do apóstolo Paulo segundo
o relato de Atos: Suas três viagens missionários e sua ida a Roma para julgamento.

80
FUNDAMENTOS
2. Complete o quadro abaixo:

3. Defina o que é pertinente a primeira (1) , a segunda (2) e a terceira (3) viagem missionária de Paulo

( ) Saindo de Antioquia Paulo vai a região da Galácia com Barnabé


( ) Paulo concentra-se em Éfeso durante 2 anos
( ) Paulo profere seu famoso discurso em Atenas
( ) Paulo escreve a epístola aos Romanos n casa de Gaio
( ) Paulo planta a igreja de corinto

81
FUNDAMENTOS

ANOTAÇÕES

82
FUNDAMENTOS

As Epístolas
do Novo
Testamento

SONDANDO O TERRENO

T Compreender um panorama histórico


das epístolas do Novo Testamento;
T Entender princípios hermenêuticos
das epístolas do Novo Testamento.

83
FUNDAMENTOS

LANÇANDO OS FUNDAMENTOS

1. O surgimento das epístolas do novo testamento

Com o crescimento do movimento missionário cristão e a consequente disseminação do evangelho, igrejas


começaram a surgir em lugares como: Corinto, Filipos, Éfeso etc. Tais comunidades de novos convertidos
careciam de orientação doutrinária e instruções sobre como na prática viver como o povo que foi reconciliado
com Deus por meio de Cristo. Para tanto os apóstolos e líderes ligados ao círculo apostólico foram compelidos
a escrever epístolas para diferentes comunidades, explicando o evangelho de Jesus Cristo afim de sanar
problemas doutrinários, combater falsos ensinos, corrigir problemas éticos e pastorais. Foi assim que as
epístolas do Novo Testamento surgiram.

Em cada epístola diferentes aspectos do evangelho são enfatizados, dependendo dos problemas que estavam
buscando ser combatidos na comunidade a qual a epístola se destinava.

Apesar das epístolas tratarem de problemas específicos e questões pertinentes a primeira geração de
cristãos, elas trazem ensinos que são universais (aplica-se em todos os contextos) e atemporais (aplica-se
em qualquer tempo) e, portanto, são de grande valia para a igreja ainda hoje.

“As epístolas tratam da interpretação e aplicação dos ensinos de Cristo às igrejas e líderes”

Vinicius Couto

2. Compreendendo as epístolas do novo testamento

O segredo de ler as cartas ou epístolas do NT é exatamente perceber que estas são documentos ocasionais,
ou seja, surgiram em função de algum tipo de ocasião que precisava de correção, um erro doutrinário que
precisava ser endireitado, ou um mal-entendido que precisava de luz.

Logo, para uma compreensão coerente das cartas e epístolas faz-se necessário primeiro uma reconstrução
do contexto histórico da epístola. Para tanto, devemos nos perguntar questões como:

• Quem é o Autor da epístola? Quem são os receptores?


• Qual o propósito do autor ao escrever a epístola?
• Qual doutrina está sendo combatida? Qual comportamento está sendo corrigido?

Em segundo lugar, devemos atentar para o fato de que talvez ao ler uma epístola neotestamentária iremos
nos deparar com alguma referência a um costume ou prática estranha para nós. Neste ponto devemos nos
perguntar:

• Isto tem alguma associação com a cultura da época?


• Há algum princípio atemporal nessa passagem que ainda pode ser aplicado a nós hoje?

Em terceiro lugar, devemos entender o contexto literário de cada parte da epístola. Isso significa perceber
as divisões presentes na carta, as transições entre um tema e outro e a linha de argumento que o autor está
seguindo. Neste ponto devemos nos perguntar:

84
FUNDAMENTOS
• Onde essa passagem se encaixa na linha de argumentação do autor?
• O que vem antes? O que vem depois?

3. A divisão das epístolas do novo testamento

Podemos dividir as 22 epístolas do Novo Testamento da seguinte forma:

Cronologicamente podemos dispor as epístolas neotestamentária na seguinte ordem na linha do tempo:

4. O conteúdo das epístolas do Novo Testamento

As epístolas do novo testamento são riquíssimas em seu conteúdo. Há muitos temas abordados nelas que
valeriam um estudo mais aprofundado, mas para fins introdutórios iremos pontuar aqui os principais tópicos
abordados nos textos epistolares neotestamentário.

4.1 A lei: guardá-la ou não guardá-la? Eis a questão!

A medida que o evangelho alcançou os gentios uma tensão surgiu na comunidade cristã: os cristãos judeus,
de modo geral, tinham certa resistência em relação aos cristãos convertidos do paganismo pois estes não
observavam costumes que pertenciam a tradição judaica como a guarda do sábado, as leis alimentares ou
a circuncisão.

Com isso, em algumas comunidades como na Galácia, alguns cristãos judeus buscavam persuadir os cristãos
gentios sobre a necessidade de guardar certos ritos e cerimônias da lei de Moisés.
O que deveria ser feito? Caso os gentios negligenciassem por completo certos princípios judaicos, a unidade
da igreja ficaria comprometida, por outro lado caso cedessem a guarda da lei a igreja caminharia para uma
judaização do evangelho, o que seria um retrocesso.

Romanos e Gálatas são duas Epístolas onde Paulo exaustivamente tratará deste assunto. O apóstolo deixa

85
FUNDAMENTOS
claro que a igreja não é, mas a comunidade sob a lei de Moisés, portanto toda e qualquer tentativa de judaizar
a fé cristã era sinônimo de “cair da graça” de Deus (cf. Gal 3:11; 3:24-25; 5:1-4; Rm 7:6; Fp 3:23).

Por outro lado, Paulo orienta como gentios e judeus podiam se respeitar, vivendo em harmonia e buscando a
unidade evitando na medida do possível escandalizar os irmãos na fé (cf. Rom 14:13-23).

4.2 A necessidade de perseverar ante as perseguições

A princípio os cristãos eram perseguidos somente pelos Judeus já que os Romanos enxergavam o cristianismo
como uma seita dentro do judaísmo e esta última era uma religio licita (religião permitida pelo Estado
Romano), porém, à medida que o cristianismo cresce e fica claro que este é distinto do judaísmo e que Jesus
é anunciado pelos Cristãos como o Kyrios (que significa Senhor, mesmo título dado ao Imperador Romano) o
cristianismo passa a ser uma religio ilicita pois a submissão exclusiva a Jesus confrontava as reivindicações
de César a soberania total.

Epístolas como I Pedro, Hebreus e o Apocalipse foram escritas em um contexto de perseguição e seus
autores buscaram encorajar os cristãos perseguidos a perseverarem em sua fé (cf. I Pedro 1:6-9; Hebreus
6:4-12; 10:32-36; 12:1-3; Apocalipse 3:10-11; 14:12).

4.3 O combate as heresias e falsos ensinos

Muitas Heresias surgiram no seio da igreja e precisaram que os Apóstolos as combatessem veemente. Por
exemplo: o gnosticismo, crença que pregava que Cristo não tinha vindo a nós em natureza humana, foi
fortemente combatido por João (cf. I João 4:2-3), a libertinagem foi combatida por Pedro (II Pedro 2:1-3) e
Judas (Judas 4).

4.4 A separação dos costumes do paganismo Romano

A cultura greco-Romana carregava muitos valores que os cristãos gentios precisaram aprender a se
desvencilhar deles. Por exemplo: Fazer sexo com mais de uma pessoa, com pessoas do mesmo sexo ou
ainda com animais eram práticas comuns na Roma antiga.
Por essa razão Paulo ao escrever aos Coríntios e aos Tessalonicenses (duas cidades da Macedônia, uma
região de herança grega) ressalta a importância da pureza sexual (I Co 6:12-20, I Ts 4:3-4).

4.5 A esperança da vinda de Jesus e a comunidade escatológica

Os apóstolos entendiam que com Jesus e o Espírito o fim dos tempos já havia começado e que a igreja vivia
entre a inauguração do Reino e a vinda de Jesus que traria esse Reino a consumação.

Por essa razão em suas epístolas os apóstolos ensinam a igreja sobre aguardar a vinda de Cristo (Tito 2:13,
I Ts 5:1-3) mas também exortam a mesma a viver já aqui e agora como a comunidade que herdará o Reino
consumado. Todos os imperativos éticos, “faça” e “não faça” que aparecem nas epístolas refletem como será
a vida no Reino vindouro e, portanto, como a igreja já deve viver na presente era (cf. Tito 2:12-13, I Jo 3:2-3, I
Ts 5:4-6).

86
FUNDAMENTOS

EDIFICANDO

1. De onde surgiram as epístolas? Qual a melhor forma de compreendê-las?

2. Por vezes encontramos textos nas epístolas que estão ligados a particularidades históricas do público
para quem o texto foi escrito. Mesmo assim podemos apreender princípios atemporais com esses textos.
Nas passagens abaixo identifique os ensinos atemporais.
a) I Coríntios 11:4-7

b) Romanos 16:16

c) I Timóteo 2:9

3. Correlacione as colunas, associando os textos bíblicos com o conteúdo ao qual ele se remete:

a) A continuidade/descontinuidade da Lei ( ) II Tessalonicenses 2:1-4


b) A perseverança diante das perseguições ( ) Gálatas 3:24
c) O combate a falsos ensinos ( ) I Timóteo 6:3-5
d) A separação dos costumes do paganismo ( ) I Pedro 4:1-5
e) A esperança a vinda de Jesus ( ) Tiago 1:2-4

87
FUNDAMENTOS

ANOTAÇÕES

88
FUNDAMENTOS

As Epístolas
do Novo
Testamento

SONDANDO O TERRENO

T Conhecer um panorama do conteúdo


das epístolas do novo testamento.

89
FUNDAMENTOS

LANÇANDO OS FUNDAMENTOS
As epístolas do novo testamento foram as mensagens dos apóstolos as congregações cristãs (em alguns
casos a cristãos específicos como Tito, Filemon e Timóteo) do século primeiro. Nelas encontramos grande
parte do fundamento doutrinário da fé cristã. Portanto a importância desses textos para nós é óbvia.
Nosso objetivo aqui não será estudar a fundo cada epístola, mas sim compreender um panorama geral das
22 epístolas do novo testamento.

1. Primeiras epístolas de Paulo

I & II Tessalonicenses - Escrita por Paulo em torno de 53 d.C. quando estava em Corinto. Paulo fundara a
igreja em Tessalônica e agora estava reconhecendo a perseverança na fé desses novos convertidos ante as
tribulações que eles enfrentavam e encorajando-os a permanecerem firmes no evangelho que aceitaram. Os
principais temas são a santificação, a volta de Cristo, e a ressurreição dos mortos. Temas que pareciam ser
motivo de dúvida e discussão naquela comunidade.

Paulo escreve sua segunda carta aos Tessalonicenses logo após sua primeira. A razão para escrever II
Tessalonicenses este em corrigir erros doutrinários inseridos na comunidade através de uma “falsa epístola”
que chegara naquela igreja. O ensino principal de II Tessalonicenses é de cunho escatológico e busca acertar
fatos sobre a volta de Cristo.

I & II Tessalonicenses – Tema chave: A necessidade de perseverança na fé & a certeza da volta de Cristo.

Gálatas – Escrita por Paulo em Corinto no ano 57 d.C. Os Gálatas tinham sido evangelizados por Paulo,
todavia depois que Paulo partiu chegaram alguns cristãos chamados “judaizantes” com o discurso “se não
vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podereis ser salvos” Atos 15:1b). A palavra chave em
Gálatas é LIBERDADE. A ênfase é a suficiência de Cristo e sua obra para nossa salvação de forma que Paulo
em suma afirma “o homem não é justificado por obra da Lei, e sim mediante a Fé em Cristo Jesus” (2:16).

Gálatas – Tema chave: A libertação da lei pelo evangelho da graça.

2. Principais epístolas de Paulo

Romanos – Escrita por Paulo quando estava em Corinto por volta de 57 d.C. é escrita para uma comunidade
que vivenciava forte tensão entre judeus e gentios. Paulo busca explanar o evangelho de Cristo através
de um panorama completo do plano bíblico de salvação, incluindo da condição pecadora do homem até a
glorificação dos crentes. Por muitos é considerada a obra-prima de Paulo e da teologia do Novo testamento.

Romanos – Tema chave: Uma explanação do plano de salvação.

I & II Coríntios – Paulo escreve esta epístola em Éfeso por volta de 59 d.C. O apóstolo havia fundado a
igreja em Corinto tendo ficado lá por um ano e meio, porém com sua saída muitos problemas surgiram na
comunidade: partidarismo na igreja, litígios entre irmãos, perversão sexual, desordens maritais e distorções
no uso dos dons espirituais. Na epístola Paulo dá fortes orientações sobre a vivência prática da fé cristã
tratando de assuntos como a união dos irmãos, o casamento, a sexualidade, a ceia do Senhor, os dons
espirituais e a esperança da ressurreição (Cap.15).

90
FUNDAMENTOS
Já II Coríntios é escrita por Paulo no ano 60 d.C quando o mesmo se encontrava na Macedônia e é talvez
a carta mais pessoal do apóstolo Paulo, onde ele busca defender sua autoridade apostólica junto aquela
comunidade pois muitos da igreja em Corinto desafiavam a autoridade de Paulo.

I & II Coríntios – Tema chave: A resposta apostólica a problemas morais e de liderança na igreja coríntia.

3. Epístolas Paulinas da Prisão (escritas quando o apóstolo Paulo estava em


prisão domiciliar em Roma)

Efésios – A cidade de Éfeso era importante na Ásia menor, com um teatro para 50 000 pessoas e o templo
de Diana. Ali o apóstolo desenvolveu um sólido trabalho durante cerca de 3 anos. Em 62 d.C preso em Roma
Paulo envia esta carta afim de reforçar o evangelho que ali ele havia pregado. A ênfase é na identidade da
igreja, sua eleição divina, predestinação e benção, a salvação em Cristo, a vocação da comunidade do Cristo,
a unidade espiritual da igreja e o procedimento diário do cristão.

Efésios – Tema chave: A identidade do crente em Cristo e suas implicações práticas

Filipenses – Filipos era um importante centro militar. Nesta cidade Paulo havia fundado a igreja a quem
posteriormente ele enviaria esta epístola. Paulo na carta, se alegra de sua prisão por isso é chamada a carta
da alegria. Nela o apóstolo enfatiza a importância de a igreja conservar seu gozo em Cristo e sua unidade.

Filipenses – Tema chave: A importância de conservar a alegria e a unidade cristã.

Colossenses – A igreja em colosso não havia sido fundada por Paulo, mas precisou de algumas correções
doutrinárias vindas do apóstolo em 62 d.C pois naquela comunidade alguns ensinos heréticos surgiram.
Alguns teólogos afirmam que seria uma espécie de legalismo judaico com filosofia grega, um gnosticismo em
processo embrionário. Paulo enfatiza a divindade e humanidade de Jesus, sua supremacia na criação e sua
suficiência na reconciliação de todas as coisas com Deus.

Colossenses – Tema chave: A supremacia de Cristo

Filemon – Escrita em 64 d.C é destinada a Filemon um membro da igreja de Colosso. Filemon era um rico
Senhor de escravos. Um de seus escravos Onésimo, fugiu e converteu-se a pregação de Paulo e agora Paulo
intercedia por Onésimo pedindo que Filemon perdoasse o escravo pela fuga e o recebesse como irmão em
Cristo.

Filemon – Tema chave: Um pedido de misericórdia por um escravo fugitivo.

4. Epístolas paulinas pastorais

Tito – Paulo escreve esta epístola na Macedônia em 65 d.C para Tito que era colaborador de Paulo. Ele
estava exercendo o pastorado em Creta um lugar de pessoas difíceis, Paulo busca orientar Tito como ele
deve agir como Pastor exortando os cretenses afim de que se tornassem sadios na fé.

Tito – Tema chave: Instruções para um jovem pastor que exercia o ministério em Creta.

I & II Timóteo – Paulo estava na Macedônia e escreve a Timóteo em 65 d.C. Timóteo era o pastor da igreja
em Éfeso, um pupilo de Paulo. A ênfase da carta são as orientações do apóstolo para o jovem pastor Timóteo
sobre como ele deveria desempenhar o ministério: Defendendo o evangelho contra as heresias, escolhendo
obreiros qualificados segundo o padrão ensinado por Paulo.

II Timóteo é escrita por Paulo em Roma quando está preso no ano 67 d.C. Essa foi sua última prisão, o

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FUNDAMENTOS
apóstolo estava próximo da morte em uma masmorra romana, sendo assim o clima da carta é de despedida,
e de exortação pois Paulo encoraja Timóteo a permanecer firme em seu chamado e a defender a pureza do
evangelho.

I & II Timóteo – Tema chave: Instruções a um jovem pastor que exercia seu ministério em Éfeso.

5. Epístolas gerais ou universais

I & II Pedro – Pedro escreve tais epístolas em 65 d.C. e 66 d.C. sucessivamente. O público alvo eram os
crentes judeus dispersos pela Ásia que viviam em grande pobreza e sofrimento. I Pedro busca encorajar os
cristãos a permanecerem firmes em sua fé face as perseguições externas, já II Pedro encoraja os crentes a
permanecerem fiéis contra as heresias que surgiam no meio da comunidade cristã. Ambas as cartas pontuam
pilares importantes da fé cristã como a redenção pelo sacrifício de Cristo, o novo nascimento, a vida santa, o
novo comportamento social do crente e a esperança da vinda de Jesus.

I & II Pedro – Tema chave: Uma exortação a perseverança, a santidade e a guardar-se de falsos ensinos.

Judas – O autor é Judas, um dos irmãos de Jesus. Ele escreve esta carta em 67 d.C. A Ênfase da carta é
o estímulo para defender a fé do evangelho contra todo falso ensino e a conservar a pureza de sua fé:
“Mantenham-se no amor de Deus, enquanto esperam que a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo os leve
para a vida eterna” (1.21).

Judas – Tema chave: A defesa da fé do evangelho.

I, II & III João – O apóstolo João foi quem mais demorou a escrever dos apóstolos e quem mais viveu. Suas
epístolas ele escreve por volta de 95 d.C-97 d.C. I João tem um caráter mais epistolar, João busca combater
heresias como o gnosticismo, que afirmavam que Jesus não tinha vindo em carne, a libertinagem (frouxidão
moral) e afirma que a essência do evangelho é o amor por Deus é amor (4.8).

II e III João possuem um caráter mais pessoal. Em II João o apóstolo escreve a “senhora eleita” (uma possível
referência à igreja) exortando-a a não hospedar os que trazem falsos ensinos e em III João ele escreve a Gaio
para resolver problemas gerados por um irmão chamado Diótrefes que contestava a autoridade apostólica
de João.

I, II & III João – Tema chave: Ao amor de Deus e seu funcionamento na vida dos cristãos genuínos.

Tiago – Esse Tiago é um dos irmãos de Jesus, ele escreve para crentes judeus dispersos pela Ásia. Tiago
foi talvez o “pastor de Jerusalém”. Sua carta a temática principal é a fé que se traduz em prática de vida. O
cristianismo de Tiago não é teórico e sim prático.

Tiago – Tema chave: Um tratamento prático e incisivo da fé cristã na prática.

Hebreus - A autoria desta epístola é incerta, mas o seu conteúdo é tão rico e profundo que jamais questionou-
se sua inclusão no cânon neotestamentário. A epístola foi escrita em um tempo em que os Cristão sofriam
forte perseguição por sua fé, e muitos cristãos convertidos do judaísmo estavam pensando em voltar a sua
antiga fé judaica devido as pressões do momento. Hebreus é uma explanação de como a nova aliança é
superior à antiga e logo aquele que voltava a antiga religião judaica “pisou aos pés o Filho de Deus ...profanou
o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça? ” (Hebreus 10:29).

Hebreus – Tema chave: A superioridade da nova aliança em relação a antiga aliança.

O Apocalipse de João - Quando o apóstolo João estava exilado na ilha de Patmos (exílio político) em torno

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FUNDAMENTOS
de 96 d.C recebeu a revelação do apocalipse. Os dias eram de intensa perseguição contra os Cristãos. O
imperador Domiciano havia intensificado a perseguição contra os Cristãos e em meio a esse contexto de
sofrimento João que fora exilado recebe a revelação (significado do nome Apocalipse) onde Deus descortina
diante de João a real natureza dos enfrentamentos que a igreja passava: A batalha não era apenas entre
Roma e os Cristão e sim entre os poderes das trevas e o povo de Deus.

A natureza espiritual dessa batalha é mostrada através de muitas visões e simbolismos o que torna por vezes
o livro complicado de ser interpretado. A chave de sua hermenêutica está em entender o que o Apocalipse
foi para a igreja do século primeiro: uma mensagem de exortação a fidelidade e uma palavra de esperança
acerca da vitória final do povo de Deus.

Especulações sobre possíveis cumprimentos escatológicos dos simbolismos do Apocalipse não são o sentido
primário do texto.

Apocalipse – Tema chave: Uma palavra profética de exortação a fidelidade e esperança da vitória final de
Deus na história.

EDIFICANDO

O exercício a seguir será uma revisão do conteúdo apreendido em sala ao longo da


presente aula. Você deve correlacionar o nome da Epístola a descrição que é feita dela.

1. Primeiras epístolas de Paulo, epístolas da prisão e epístolas principais (aqui estão reunidas todas as
epístolas escritas por Paulo para IGREJAS que consta no novo testamento):

a. Colossenses fortemente doutrinária, com a mais completa doutrina da salvação


pela graça por meio da fé em toda a Bíblia.

b. Efésios fortemente prática, lidando com uma série de problemas específicos


na Igreja de Coríntios.

c. Gálatas escrito para alguns dos primeiros convertidos de Paulo, refutando o


legalismo.

d. 1 e 2Coríntios uma carta afetuosa de alegria apesar dos julgamentos.

e. Romanos a supremacia de Cristo é o tema principal.

f. 1 e 2Tessalonicenses cartas bastante pessoais lidando com questões específicas na


Igreja de Tessalônica, incluindo a vinda de Jesus e vida cristã prática.

g. Filipenses escrito a um dono de escravo, pede um tratamento brando a um


escravo que se tornou um cristão e está voltando para seu mestre também
h. Filemon cristão.

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FUNDAMENTOS

2. Epístolas Paulinas pastorais:

a. 1 2Timóteo duas cartas para um jovem pastor em Efésio. A primeira carta o


aconselha sobre questões da igreja local, e a segunda o encoraja a permanecer
forte na fé no meio dos julgamentos.

b. Tito escrita para o pastor da igreja na ilha de Creta, lida bastante com as
questões da igreja local, incluindo as qualificações dos líderes da igreja.

3. Epístolas Gerais:

a. Apocalipse fortemente doutrinário, esse livro baseia-se fortemente nas


verdades do Velho Testamento para ensinar as verdades do Novo Testamento a
uma audiência judaica. Seu principal tema é a comparação entre a antiga aliança
e a nova aliança.

b. 1, 2 e 3João um tratamento incisivo e prático do funcionamento apropriado da fé


cristã no dia a dia.

c. Hebreus escrito para crentes espalhados pela Ásia e Galácia, uma exortação
a perseverança diante do sofrimento e a vida santa.

d. 1 e 2Pedro cartas do apóstolo João lidando com o amor de Deus e seu


funcionamento na vida dos cristãos.

e. Tiago um livro breve, mas poderoso, avisando contra uma vida ímpia e
contra falsos ensinos.

f. Judas um livro fortemente profético, lidando com a natureza do fim dos


tempos, trazendo uma mensagem de exortação a fidelidade e esperança.

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FUNDAMENTOS

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