Você está na página 1de 210

REDIMINDO A SEXUALIDADE

Como Deus faz novas todas as coisas

1a Edição - Junho de 2021

2a Edição - Março de 2022

Av. São Luís Rei de França, Copyright © 2022, Mac Feitosa e Samia Feitosa.
40, Turu
São Luís - MA
65.065-470 Publicado por: ACASA PUBLICAÇÕES
Tel: (98) 99156-2798
acasapublicacoes@gmail.com
Para os textos bíblicos, foi usada a versão NAA
Capa: (Nova Almeida Atualizada), exceto indicação con-
Simon Nunes trária.
Revisão:
Lívia Rudakoff PEQUENOS TRECHOS DESTE TEXTO PO-
DEM SER CITADOS OU REPRODUZIDOS,
Edição e Diagramação: DESDE QUE MENCIONADA A FONTE, COM
Cleydson Freitas ENDEREÇO POSTAL E ELETRÔNICO.

A posição doutrinária da Missão Cristã Casa do Pai é expressa em sua confissão de


fé, disponível em: www.missaocristacasadopai.org/acasa/. Como editora, zela-
mos para que as obras publicadas reflitam sempre essa posição. Existe a possibili-
dade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos
que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta
editora represente endosso integral de todos os pontos de vistas apresentados.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Feitosa, Mac
Feitosa, Samia
Redimindo a Sexualidade / Mac Feitosa; Samia Feitosa . - 2. ed. - São
Luís: aCasa Publicações, 2022.
210 p.; 14 x 21 cm.

ISBN 978-65-00-41272-7

1.Cristianismo. 2. Sexualidade. 3. Família. 4.Casamento. I. Título

DA-2022-019247
À Helena e Clara, nossas filhas.

Que vocês cresçam andando pela fé, guardando a


bendita esperança do Evangelho e amando ao
Senhor com todo o coração, até que Ele volte.
A Bíblia não fala sobre sexualidade. Ela grita!

- Andréa Vargas
A cruz vazia e o túmulo vazio são a única
esperança para refazer famílias à vontade de Deus.

- Dr. David Merkh


SUMÁRIO

Prefácio .................................................. 13
Apresentação ........................................... 17
Introdução .............................................. 19

1. O chamado à santidade e pureza .................. 22


2. Pecados sexuais ...................................... 34
3. Confissão e perdão .................................. 59
4. O problema da pornografia ........................ 72
5. O Evangelho e a homossexualidade .............. 83
6. Traumas sexuais ..................................... 93
7. Pureza, virgindade e a glória de Deus ........... 110
8. Feminilidade bíblica ............................... 121
9. Masculinidade bíblica ............................. 146
10. Defraudação emocional ......................... 163
11. Uma palavra aos solteiros ....................... 172
12. O plano de Deus para o sexo ................... 181
13. Avançando em oração ........................... 192

Apêndice I ............................................. 199


Apêndice II ............................................ 208
PREFÁCIO

O mundo pós-moderno, a relativização


de valores e a ignorância de causa têm
gerado discussões acerca de vários assun-
tos, sendo um deles a sexualidade. Infelizmente,
por termos tirado a Bíblia desses debates, temos
construído esse tema sobre princípios e valores um
tanto quanto deturpados.
A sexualidade é um assunto em alta em nos-
sos dias. Esse tema está em pauta nas redes sociais,
nas escolas, faculdades e, principalmente, na grande
mídia. Através de todos esses meios, recebemos
bastante informações acerca da sexualidade. Em
contrapartida, apesar de vermos esse tema em alta
em todos esses meios, a impressão que eu tenho
é que a Igreja se silenciou em relação a ele. Não
vemos a Igreja discipulando a nossa geração com
relação à sexualidade e isso abre precedentes para
que haja uma deturpação dessa que é uma das prin-
cipais áreas da vida.
Na mesma proporção que vemos o assunto em
alta em vários meios de comunicação, percebemos
esse mesmo assunto sendo cada vez mais deixado de
lado na Igreja.

13
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Vemos crescer o debate sobre sexualidade em


vários lugares, mas ao mesmo tempo que vemos
uma escassez de ensino nas igrejas locais acerca das
abordagens bíblicas sobre este assunto, o que torna
a nossa compreensão mais obscura ainda, fortale-
cendo a sexualidade como tabu social e não como
um projeto de Deus.
Infelizmente, estamos deixando que a grande
mídia, as redes sociais e tantos outros ensinem esta
geração a respeito da sexualidade, enquanto que
está sobre a Igreja a responsabilidade de trazer cla-
reza sobre esse tema. Somente a Igreja poderá aces-
sar verdades saudáveis que foram estabelecidas pelo
próprio Deus acerca da sexualidade.
Se assim não for, teremos uma sociedade
vivendo cada vez mais uma crise de identidade
sexual e isso tem promovido sérias distorções na
maneira que muita gente tem vivido.
Precisamos entender que é papel da Igreja
também ensinar sobre um padrão bíblico e correto
da sexualidade. Não podemos separar a sexualidade
da espiritualidade. Esses dois temas estão consisten-
temente relacionados. Quando vemos a sexualidade
como uma área que também precisa ser redimida,
restaurada e discipulada, iremos começar a ver um

14
P R E FÁ C I O

resgate da verdadeira masculinidade e feminilidade


na nossa sociedade.
O nosso propósito com este material é muni-
ciar a Igreja com ferramentas preciosas da parte de
Deus para que ela tome seu lugar de autoridade
para remir a sexualidade da nossa geração e não
mais deixar essa lacuna para que outros venham dis-
torcer esta que é uma área importantíssima de todo
ser humano.

Rogério Ribeiro
Pastor sênior da Missão Cristã Casa do Pai

15
APRESENTAÇÃO

E ste livro nasceu de um curso de sexualidade


ministrado para jovens e adultos em nossa
igreja local (Missão Cristã Casa do Pai). Ele
foi escrito e produzido com o seguinte propósito:
trazer clareza e cura na área da sexualidade para
nossa a geração atual. Cremos que é necessário falar
e ensinar sobre sexualidade em nossas igrejas e nos-
sos lares. Não basta apenas falar para os jovens que
eles devem se manter puros sexualmente. É preciso
apontar o caminho bíblico para a pureza e as Escri-
turas estão longe de silenciar sobre este tema.
Além disso, queremos oferecer aqui um guia
para jovens e adultos desejosos em liderar suas
famílias de forma bíblica, mas que não sabem como
fazê-lo. Ao longo dos anos, temos visto muitas famí-
lias sendo restauradas e ajustadas: homens redes-
cobrindo o seu papel de sacerdote e líder do lar;
mulheres aprendendo sobre sua identidade feminina
nas Escrituras; homens e mulheres jovens desejando
casar com a motivação correta. Tudo pela graça de
Deus e para a glória Dele.
Cremos que cada pessoa que se dedicar em ler
este material será abençoada e instruída, pois temos

17
REDIMINDO A SEXUALIDADE

visto o impacto e a eficácia destas verdades na vida


de inúmeras pessoas.
Antes do início de cada capítulo, possuímos
uma sessão chamada “pensamentos iniciais”. Reco-
mendamos que essa parte seja lida e respondida
antes da leitura de cada capítulo. O propósito é que
você perceba qual era o seu entendimento sobre
aquele tema e aquelas questões antes da leitura e,
após ler o capítulo, como o livro afetou sua percep-
ção sobre o assunto. Leia-os e os discuta em grupo.
Sugerimos que, sempre que você terminar de ler,
dedique alguns momentos em oração e louvor,
colocando seu coração e sua mente diante de Deus.
Por fim, indicamos a leitura deste livro apenas
para maiores de 16 anos.

18
INTRODUÇÃO

R edimir é reorientar e reorganizar, à luz


do Evangelho, aquilo que, ainda que não
seja mal em si mesmo, pode estar sendo
mal administrado por causa dos efeitos do pecado
na mente e no coração do ser humano. Isso signi-
fica que todas as áreas da vida humana precisam da
redenção de Cristo e devem ser submetidas ao seu
senhorio. Deus nos criou como seres espirituais e
corpóreos1. A queda introduziu a morte espiritual e
a depravação no mundo e em seus habitantes. Jesus
morreu na cruz, não apenas para perdoar os nos-
sos pecados e salvar a nossa alma, mas também para
redimir e restaurar quem nós somos por inteiro. A
redenção é integral, ou seja, ela é espiritual e mate-
rial. Tim Keller escreveu: “Deus criou o mundo
com todas as suas cores, sabores, luzes, sons, com
todas as formas de vida que convivem em sistemas
interdependentes. O mundo encontra-se agora des-
figurado, maculado e dilapidado, mas Deus não des-
cansará enquanto não o restaurar”2.

1 Em Eclesiastes 12:7, está escrito: “e o pó volte à terra, de onde veio, e o espí-


rito volte a Deus, que o deu”. Esse texto aponta para duas dimensões huma-
nas: material (pó) e imaterial (espírito).
2 Timothy Keller, O Deus Pródigo. São Paulo: Vida Nova, 2018.

19
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Dessa forma, a nossa sexualidade se mostra


como algo que precisa ser urgentemente entregue
nas mãos do seu Criador para que Ele a conserte,
ajuste, cure e renove. Esta é a proposta deste livro:
abrir espaço para que a redenção de Cristo possa
atingir uma das áreas mais complexas de homens e
mulheres em nossos dias.
É muito perceptível que a sexualidade, em
nossos dias, é uma das áreas que mais atrasa o nosso
avanço em Cristo e nos puxa para trás em nossa cami-
nhada cristã. Desânimo, vergonha, fraqueza e decep-
ção são alguns dos sentimentos que nascem em nosso
coração quando caímos e ficamos presos a algum
pecado de natureza sexual. Entretanto, a Escritura
afirma que: “onde o pecado abundou, superabundou
a graça” (Rm 5:20). Em outras palavras, isso significa
que, em Cristo, a liberdade é superior ao cativeiro, a
cura é mais profunda que a ferida, a esperança é mais
forte que o medo, a salvação é mais poderosa que a
perdição, o perdão e misericórdia são maiores do que
o pecado e a culpa.
Parafraseando o poeta John Donne, oramos
para que a nossa sexualidade não nos mate nem
morra, mas seja redimida e glorifique a Deus.

20
PENSAMENTOS INICIAIS

Maria possui um emprego difícil e está frustrada com


Deus. Faz meses que ela ora para que Deus mude o seu
chefe e faça com que ele seja uma pessoa mais paciente e
compreensiva. Os clientes também são pessoas difíceis. Ela
precisa desse emprego, mas sente que as coisas ao seu redor
não estão agindo em favor dela. Por que Deus não responde
as orações de Maria e a ajuda?

Carlos está bastante desanimado. Há vários anos, ele ora


para que Deus converta os seus pais. Ele acredita que se
sua família fosse toda cristã, ele seria um filho melhor que
buscaria mais a Deus, honraria mais aos seus pais e seria
mais obediente. Porém, as coisas parecem só piorar. O que
será que está errado?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 1 e as atualize após a leitura:

1. O que você ganhou de Jesus por meio da cruz?

2. Qual é a prioridade de Deus para a sua vida?


1
O CHAMADO À SANTIDADE E PUREZA

“O maior milagre que Deus pode fazer é tirar


um homem profano de um mundo profano,
torná-lo santo, colocá-lo de volta em um
mundo profano e mantê-lo santo.”
– Leonard Ravenhill

N este capítulo, iniciaremos nossa cami-


nhada em busca de cura, redenção e
reforma em nosso estilo de vida. Mais
do que mudança de hábitos, desejamos um coração
novo e radicalmente transformado pelo poder do
Evangelho. Exatamente por isso que as boas novas
serão o nosso ponto de partida.

Você entendeu o Evangelho?


Há pessoas que, de fato, estão genuinamente
interessadas em Jesus, mas, por algum motivo, ainda
não compreenderam muito bem a mensagem do

22
O CHAMADO À SANTIDADE E PUREZA

Evangelho. São pessoas com um desejo sincero por


Deus, mas que não entenderam claramente quem Ele
é e para o que Ele nos chama.
Imagine uma pessoa em um quarto escuro:
ela deseja sair desse cômodo, mas esbarra em vários
móveis, se machuca e não sabe para qual direção
seguir. É dessa mesma forma com alguém que deseja
conhecer a Deus, mas não entendeu as boas novas.
A pessoa se encontra perdida, confusa, com medo e
insegura, pois falta com que a luz do Evangelho seja
acesa para revelar a sua condição, a origem das suas
dores e o caminho a ser seguido.
Em poucas palavras, o Evangelho é a Grande
História do que Deus falou, fez e prometeu fazer, por
meio de Seu Filho Jesus Cristo, para reconciliar con-
sigo mesmo todas as coisas que estão nos céus e na
Terra.
As Escrituras afirmam que a humanidade foi
criada por Deus e para Deus. Ele nos criou para
vivermos eternamente como seus filhos, trabalhando
e criando tudo para a sua glória e desfrutando da sua
bondade e amor. Entretanto, os seres humanos se
alienaram de Deus (se separaram dele) quando Adão
e Eva decidiram se rebelar e desobedecer ao Senhor.
Sobre isso, o pastor John Piper escreveu:

23
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Escolha qualquer pessoa má na história. É assim que


somos, se provamos de Deus e então viramos as costas
ao Criador do universo que está nos oferecendo isto
livremente, ao custo da vida do Seu Filho. Portanto,
desejo que saibam o que é o mal. O mal é provar
de Deus e preferir outra coisa. E a razão pela qual o
mundo está na condição em que está é porque Adão
e Eva cometeram esse mal e todos nós o herdamos, e
nascemos amando outras coisas mais do que a Deus.3

A partir da queda da humanidade no pecado,


Deus começou a agir redentivamente para salvar um
povo para ser dele. Para realizar isso, Deus enviou
profetas ao longo da história humana que anuncia-
ram a vinda do Messias, o Salvador do mundo. Até
que, finalmente, o Filho eterno de Deus se tornou
um ser humano, nasceu da virgem Maria, viveu uma
vida sem pecado e de perfeita justiça que nós deve-
ríamos ter vivido, morreu na cruz em nosso favor
para destruir o poder do pecado e da morte sobre a
Criação, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia e
subiu aos céus para se assentar em seu trono e reinar
sobre tudo e todos.
Mas antes de ir, Ele prometeu vir uma vez mais
para restaurar todas as coisas, julgar os vivos e os

3 John Piper. “Uma coisa só é do mal se prejudicar outras pessoas?”. Dis-


ponível em: <https://coalizaopeloevangelho.org/article/uma-coisaso-e-
-do-mal -se-prejudicar-outras-pessoas/>.

24
O CHAMADO À SANTIDADE E PUREZA

mortos, destruir os inimigos de Deus, cumprir a vin-


gança de Deus contra o pecado e estabelecer a pleni-
tude do Reino de Deus na Terra. Por fim, o Messias,
Jesus Cristo, irá restaurar todas as coisas e iniciará
a Nova Criação, um universo perfeito, sem pecado,
sem a presença do mal, sem miséria, doença, choro
ou morte. Tudo será como Deus planejou que fosse.
Todo ser humano, independente de crer ou
não, está inserido nessa Grande História. Ser cristão,
porém, é participar dessa narrativa divina como filho
de Deus, como seus cooperadores, como seu povo.
Os que rejeitam o Evangelho e a Jesus são partici-
pantes dessa mesma história como inimigos de Deus
e são condenados pelos seus pecados. Mas, por meio
da fé em Jesus, podem encontrar reconciliação em
sua cruz:

“Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja. Ele é


o princípio, o primogênito dentre os mortos,
para ter a primazia em todas as coisas. Porque
Deus achou por bem que, nele, residisse toda a
plenitude e que, havendo feito a paz pelo san-
gue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse
consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a
terra, quer nos céus.”
- Colossenses 1:18-20

25
REDIMINDO A SEXUALIDADE

A prioridade de Deus
Fomos salvos por Deus da condenação do
pecado e da morte eterna. Éramos inimigos do Cria-
dor, mas, por meio de Cristo, fomos adotados como
seus filhos. Mas o texto bíblico que citamos ante-
riormente não para por aí. O apóstolo Paulo explica
depois para o que fomos salvos:

“E vocês que, no passado, eram estranhos e


inimigos no entendimento pelas obras más que
praticavam, agora, porém, ele os reconciliou
no corpo da sua carne, mediante a sua morte,
para apresentá-los diante dele santos, incul-
páveis e irrepreensíveis.”
- Colossenses 1:21-22

De acordo com essa passagem, o objetivo


da reconciliação com Deus, mediante a morte de
Cristo, é a apresentação da Igreja diante do Senhor
em um estado de santidade, justiça e integridade. Por
isso que, em outra carta, o apóstolo declarou: “Pois a
vontade de Deus é a santificação de vocês: que se abs-
tenham da imoralidade sexual; que cada um de vocês
saiba controlar o seu próprio corpo em santificação e
honra” (1Ts 4:3-4).

26
O CHAMADO À SANTIDADE E PUREZA

Em Romanos 8:28, está escrito: “Sabemos que


todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo
o seu propósito”. Mas qual é esse propósito de Deus
para o qual os cristãos foram chamados? Qual é o
bem para o qual todas as coisas cooperam? O versí-
culo seguinte esclarece tudo:

“Pois aqueles que Deus de antemão conheceu


ele também predestinou para serem conformes
à imagem de seu Filho.”
- Romanos 8:29

Fica claro, portanto, que o propósito de Deus


para todos os cristãos é que eles se tornem seme-
lhantes ao seu Filho Jesus. Aquilo que acontece para
o nosso bem é tudo que coopera para sermos mais
parecidos com Cristo.
Assim, antes de lhe enviar para as nações, antes
de lhe entregar um ministério, antes de lhe dar um
cônjuge, antes de qualquer coisa, o principal projeto
de Deus para a sua vida é lhe fazer mais parecido com
o Seu Filho. Se essa é a prioridade de Deus, também
deveria ser a nossa.
Sobre isso, o pastor Paul Tripp escreve:

27
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Mas é Jesus o meu terapeuta ou o meu Redentor? Se


ele for o meu terapeuta, ele satisfaz as necessidades que
eu defino. Se ele é o meu Redentor, ele define minhas
verdadeiras necessidades e se dirige a elas de maneiras
muito mais gloriosas do que eu teria previsto. [...] Ele
é o Santo que vem para nos purificar, encher-nos e nos
mudar. Ele não faz isso seguindo a nossa agenda. Ele
não está a serviço dos nossos caprichos. Ele nos ama
demais para meramente nos fazer felizes. Ele vem para
nos fazer santos. Haverá muitas ocasiões em que ele não
nos dará o que pensamos que precisamos, mas, em vez
disso, ele nos dará o que ele sabe que precisamos.4

Por isso, devemos permitir que o nosso Reden-


tor determine as nossas prioridades e, de acordo com
a Sua Palavra, a principal é esta: santidade. Todavia,
muitos cristãos dão atenção a certas coisas, algumas
realmente importantes, mas acabam fazendo isso com
a intenção de desviar o foco da santificação. Muitos
focam em atividades ministeriais ou no trabalho para
não terem tempo para pensar em seu relacionamento
com Deus, no próprio caráter, na forma como se com-
porta na família e no estilo de vida que estão levando.
Se agirmos assim, seremos como o filho mais velho da
parábola dos dois filhos perdidos, pois ele vivia em casa,
trabalhando como um escravo, mas, mesmo assim, não
conhecia o coração do seu pai (Lc 15:11-32).
4 Paul David Tripp e Timothy S. Lane, Como as pessoas mudam. São Paulo:
Cultura Cristã, 2011.

28
O CHAMADO À SANTIDADE E PUREZA

Além disso, é possível focarmos nas circunstân-


cias e situações ao nosso redor para desviarmos o olhar
do nosso coração e do nosso comportamento. Acaba-
mos orando frequentemente para que Deus mude as
coisas ao nosso redor, como se a solução para o nosso
pecado estivesse fora de nós. Condicionamos a nossa
santidade à determinada situação. Dizemos ou pensa-
mos coisas como: “Se o meu emprego fosse melhor,
eu teria mais tempo e oraria mais”; “Se o meu côn-
juge fosse mais cuidadoso, eu seria uma pessoa mais
paciente”; “Se os meus pais fossem cristãos, eu não
faria certas coisas”; “Se eu tivesse menos problemas,
meu relacionamento com Deus seria melhor”. Ao
invés disso, deveríamos pedir para Deus que Ele use
as situações e as pessoas ao nosso redor para mudar
quem nós somos e nos fazer mais parecidos com Jesus.
Não paramos para pensar que talvez o propósito de
Deus não seja, primariamente, mudar as circunstân-
cias atuais da nossa vida, mas usá-las para nos mudar e
nos moldar conforme à imagem de Seu Filho.
Experimente essa mudança de perspectiva: a
prioridade de Deus não é mudar as coisas ao seu redor
para lhe dar uma vida mais confortável e tranquila. A
prioridade de Deus é usar tudo em sua vida para mudar
quem você é – o seu coração e o seu comportamento

29
REDIMINDO A SEXUALIDADE

– para que você se torne mais parecido com o Filho


Dele. Isso muda tudo. Muda as nossas orações, muda
as nossas ações e reações, muda a forma como lida-
mos com o pecado, muda a nossa vida.

Uma nova história e um novo poder


O que recebemos de Jesus por meio da cruz?
As Escrituras declaram o seguinte sobre a nossa nova
vida em Cristo:

“Porque nele [em Jesus] habita corporalmente


toda a plenitude da divindade.Também,
nele, vocês receberam a plenitude. Ele é o
cabeça de todo principado e potestade. Nele
também vocês foram circuncidados, não com
uma circuncisão feita por mãos humanas,
mas pela remoção do corpo da carne, que é a
circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados
juntamente com ele no batismo, no qual vocês
também foram ressuscitados por meio da fé no
poder de Deus que o ressuscitou dentre os mor-
tos. E quando vocês estavam mortos nos seus
pecados e na incircuncisão da carne, ele lhes
deu vida juntamente com Cristo, perdoando
todos os nossos pecados. Cancelando o escrito
de dívida que era contra nós e que constava

30
O CHAMADO À SANTIDADE E PUREZA

de ordenanças, o qual nos era prejudicial,


removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz.
E, despojando os principados e as potestades,
publicamente os expôs ao desprezo, triunfando
sobre eles na cruz.”
- Colossenses 2:9-15

Nessa passagem, o apóstolo Paulo ensina que,


por meio da fé no Evangelho, nós:
- Recebemos a plenitude em Cristo (v. 9-10).
- Somos vivificados em Cristo (v. 11-13).
- Fomos libertados em Cristo (v. 14-15).
De acordo com o pastor Paul Tripp, isso quer
dizer que a plenitude que recebemos em Cristo con-
siste em duas coisas: perdão dos pecados e uma nova
vida5. Ele continua explicando que, na Palavra de
Deus, não existe uma separação entre a nossa nova
história em Cristo do nosso novo poder em relação
à nossa luta contra o pecado e a carne. Se você rece-
besse de Deus uma nova história sem um novo poder
para a caminhada com Cristo, logo você cairia vez
após vez nos mesmos pecados. E se Deus lhe desse
um novo poder sem uma nova história, você poderia

5 Ibidem.

31
REDIMINDO A SEXUALIDADE

até mudar de comportamento no presente, mas ainda


permaneceria condenado por causa dos seus pecados
passados que não teriam sido perdoados e apagados6.
Mas Paulo afirma que Ele nos deu a plenitude em
Cristo, ou seja, nos deu tudo o que precisamos: uma
nova história e um novo poder.
Dessa forma, tudo que é necessário para uma vida
nova, santa, justa e pura está em nós, mas não vem de
nós mesmo; é algo que nos foi dado em Cristo. Rece-
bemos o perdão dos nossos pecados, fomos adotados
como filhos de Deus e ganhamos o poder de lutar con-
tra a carne. É por isso que a santidade é possível. Ela
não nasce de nós mesmos, mas é uma capacidade e um
desejo que Deus planta em nosso coração. É a partir da
plenitude que recebemos em Cristo que deve nascer
todo o nosso esforço. Pedro escreveu:

“Por isso, irmãos, trabalhem ainda mais ardua-


mente para mostrar que, de fato, estão entre os
que foram chamados e escolhidos. Façam essas
coisas e jamais tropeçarão. Assim, sua entrada
no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo será acompanhada de grande honra”
- 2 Pedro 1:10-11

6 Ibidem.

32
PENSAMENTOS INICIAIS

Ana deseja entender melhor o motivo de certas práticas


serem pecaminosas. Ela sabe que adultério, poligamia e
masturbação são pecados, pois foi ensinada assim. Mas ela
não consegue explicar o porquê dessas coisas serem erradas.
Onde a Bíblia fala sobre isso?

Lucas é um novo convertido. Ele entende que muitas coisas


que fazia antes eram pecados, mas não saberia dizer quais
especificamente. Na verdade, ele só fazia o que sentia von-
tade de fazer, por que isso seria errado?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 2 e as atualize após a leitura:

1. Por que os desejos sexuais precisam ser regulados?

2. Como resumir o ensino cristão sobre o sexo?

3. Qual pecado você gostaria de abandonar hoje?


2
PECADOS SEXUAIS

“Podemos resumir a ética cristã sobre o sexo


da seguinte forma: o sexo é para ser usado no
casamento, entre um homem e uma mulher.”
– Timothy Keller

A sexualidade é algo bom criado por Deus


nos seres humanos. Semelhantemente a
como nossa alimentação precisa de disci-
plina e orientação para que possamos viver bem, a
nossa sexualidade também necessita. Na verdade,
o sexo precisa ainda mais de direcionamento que
a alimentação, pois ele afeta o coração e a alma,
não somente o corpo, pois o pecado exerce uma
influência enorme sobre o sexo, distorcendo-o7.
Dessa forma, para guiar o seu funcionamento,
Deus estabeleceu leis e princípios que devem nortear

7 Timothy Keller e Kathy Keller, O significado do casamento, São Paulo: Vida


Nova, 2012.

34
PECADOS SEXUAIS

a conduta sexual de cada homem e mulher. Essas leis


criacionais são identificadas nas Escrituras. Elas são
semelhantes a um manual de instrução que explica
como algo funciona e deve ser utilizado para cumprir
o seu propósito. Cada estrutura criacional de Deus
possui leis que devem conduzi-las (casamento, famí-
lia, igreja, educação, cultura, política, etc.)8. Quando
uma dessas leis são quebradas, a Bíblia chama isso de
pecado. Em 1 João 3:4, está escrito: “Todo aquele
que pratica o pecado também transgride a lei, por-
que o pecado é a transgressão da lei”. Mas quando
cada criação de Deus funciona de acordo com as leis
e padrões estabelecidos por Ele, elas alcançam a ple-
nitude da sua beleza, bondade e propósito.
Neste capítulo, veremos um panorama bíblico
de vários pecados e violações das leis estabelecidas por
Deus para o bom funcionamento e deleite da sexuali-
dade humana.

Sexo pré-nupcial e prostituição


Em alguns países da Europa, a prática da prosti-
tuição foi legalizada e recebeu o status de “profissão”. No

8 “Estrutura”, “leis criacionais” e “direção” são conceitos muito úteis desen-


volvidos por Albert Wolters em A Criação Restaurada (Editora Cultura
Cristã).

35
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Brasil, a prostituição ainda é crime, mas cada vez mais


vem se discutindo a ideia da legalização dessa atividade
em nosso país. As pessoas usam termos como “profis-
sionais do prazer” ou “acompanhantes” para se referi-
rem as pessoas que comercializam o próprio corpo.
Em contrapartida, precisamos entender que o
sexo não é somente um momento de prazer físico
que você pode ter com quem quiser e quando qui-
ser, mas um ato de união total, um compromisso,
uma aliança. Quando Paulo diz que quem se une
a uma prostituta torna-se um corpo com ela, ou
uma só carne (1Co 6:16), ele estava ensinando que
o sexo não é uma mera busca pela satisfação entre
duas pessoas, mas uma união tão singular (física e
espiritual) que os envolvidos se tornam um só.
Timothy e Kathy Keller, na obra O Significado
do Casamento, explicam o seguinte:
O casamento é uma união tão profunda entre dois
indivíduos que eles se tornam praticamente uma só
nova pessoa. [...] Essa aliança une todos os aspectos da
vida das duas pessoas. [...] A instrução bíblica é para
que você não se una fisicamente a alguém a menos que
esteja disposto a se unir a essa pessoa também no âmbito
emocional, pessoal, social, econômico e legal. Não se
desnude nem se torne vulnerável fisicamente diante
de outra pessoa sem se tornar vulnerável também em

36
PECADOS SEXUAIS

todos os outros sentidos, pois você abriu mão de sua


liberdade e assumiu o compromisso do casamento.9

Em suma, as Escrituras ensinam que o sexo só


deve ser realizado e desfrutado em um ambiente de
aliança: o casamento. O homem e a mulher envol-
vidos em uma relação sexual devem estar dispostos
a se unirem em todas as dimensões da vida. Violar
esse padrão bíblico é ofender ao Criador, ferir o
próximo e machucar a si mesmo.
O pastor Augustus Nicodemus pontua:
Não devemos de maneira alguma diminuir a mulher
ou o homem que acabam enveredando pelo caminho
da prostituição; o próprio Jesus disse que as prostitu-
tas e os ladrões entram no reino de Deus à frente dos
fariseus e dos escribas (Mt 21.31) – evidentemente,
uma referência a indivíduos arrependidos de seus peca-
dos. Mas não podemos ratificar seu comportamento
pecaminoso, pois a Bíblia afirma a prostituição como
pecado (1Co 6.12-20).10

Lascívia, masturbação e vício em pornografia


O sexo não é, primeiramente, um meio
para obter felicidade e satisfação pessoal. Isso não

9 Timothy Keller e Kathy Keller, O significado do casamento, São Paulo:Vida


Nova, 2012.
10 Augustus Nicodemus, Sexo e santidade: viva sua sexualidade como Deus a
planejou. Rio de Janeiro: GodBooks, 2020.

37
REDIMINDO A SEXUALIDADE

significa que não exista alegria para os envolvidos,


mas que quando o sexo não é meramente um ins-
trumento de satisfação pessoal, mas um meio de
servir ao outro e honrar a Deus, isso resultará em
uma satisfação muito mais elevada.
A relação sexual é, talvez, o meio mais pode-
roso que Deus criou para ajudar você a se entre-
gar inteiramente a outro ser humano11. É o modo
designado por Deus para que duas pessoas digam
uma à outra: “Pertenço completa, inteira e exclu-
sivamente a você”. O sexo não deve ser usado para
dizer nada menos que isso12. Em outras palavras, o
sexo é um gesto de amor profundo que busca servir
ao outro.
A lascívia e a masturbação, por outro lado,
distorcem o sexo e o transformam em um gesto
egoísta, autocentrado e autodestrutivo. Tentamos
satisfazer o nosso coração com coisas pequenas
(sexo, bebidas e drogas) quando na verdade o que
precisamos é de algo muito maior, precisamos de
Cristo. Somente Ele pode nos dar a satisfação plena
e verdadeira.

11 Timothy Keller e Kathy Keller, O significado do casamento, São Paulo:


Vida Nova, 2012.
12 Ibidem.

38
PECADOS SEXUAIS

A Escritura afirma:

“Ora, as obras da carne são conhecidas e são:


imoralidade sexual, impureza, libertinagem,
idolatria, feitiçarias, inimizades, rixas, ciú-
mes, iras, discórdias, divisões, facções, invejas,
bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas.
Declaro a vocês, como antes já os preveni, que
os que praticam tais coisas não herdarão o
Reino de Deus”
- Gálatas 5:19-21

Fantasias sexuais
Uma das características mais marcantes dos
ensinamentos de Jesus era que Ele dirigia as suas
palavras não somente para o comportamento do ser
humano (suas atitudes), mas também para as motiva-
ções do seu coração. Afinal, “é perfeitamente possível
fazermos uma série de ações moralmente virtuosas
quando temos o coração cheio de medo, de orgulho
ou de sede de poder”13. Por isso, Jesus não se limitou
a tocar somente nas nossas ações, mas também nas
nossas motivações que existem por trás de cada ati-
tude. Ele disse:

13 Timothy Keller, Ego Transformado. São Paulo: Vida Nova, 2014.

39
REDIMINDO A SEXUALIDADE

“Vocês ouviram o que foi dito:‘Não cometa


adultério’. Eu, porém, lhes digo: todo o que
olhar para uma mulher com intenção impura,
já cometeu adultério com ela no seu coração”
- Mateus 5:27-28

Diante disso, pode-se afirmar que não temos


o direito de despir imaginativamente uma pessoa se
não estamos aliançados matrimonialmente com ela.
Em primeiro lugar, essa é uma intenção impura que
está guiando a sua mente, pois aquela pessoa não per-
tence a você, seja ela solteira ou casada. Além disso,
ficar criando fantasias na mente é cultivar intencional-
mente desejos que não poderão ser satisfeitos em um
futuro próximo, pelo menos não sem violar a Palavra
de Deus e ofender a Santidade do nosso Pai. A Bíblia
ordena: “Pelo contrário, revistam-se do Senhor Jesus
Cristo, e não fiquem premeditando como satisfazer
os desejos da carne” (Rm 13:14).
Alguns cristãos sentem-se profundamente sujos e con-
taminados por qualquer fantasia ou pensamento sexual
intenso. Outros se entregam livremente a esses exercí-
cios mentais. O evangelho não é legalismo [idolatria da
moral] nem antinomismo [rejeição da moral]. [...] Atri-
bui-se a Martinho Lutero a seguinte observação sobre
a tentação sexual: “Você não pode evitar que pássaros
sobrevoem sua cabeça, mas pode evitar que construam

40
PECADOS SEXUAIS

ninhos em seu cabelo”. Com isso, ele queria dizer que


não podemos impedir que pensamentos sexuais ocor-
ram; eles são naturais e inevitáveis. Somos responsá-
veis, porém, por aquilo que fazemos com esses pen-
samentos. Não devemos alimentá-los nem nos ocupar
com eles. (...) É importante obter o perdão segundo
os padrões do evangelho e ser purificado do pecado.
Muitas vezes, é a vergonha não resolvida por causa de
transgressões passadas que incita fantasias obsessivas no
presente.14

Homossexualidade
Deus estabeleceu a heterossexualidade como
o padrão para a união matrimonial entre duas pes-
soas. Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo fez
uma exposição sobre a queda dos seres humanos
no pecado. Ele ensina que a primeira consequên-
cia do pecado humano é a idolatria (Rm 1:21-23).
Em seguida, ele afirma que Deus entregou os seres
humanos idólatras aos desejos dos seus corações que
são impurezas e paixões vergonhosas (Rm 1:24-26).
Por fim, Paulo exemplifica essas paixões vergonho-
sas e impuras citando a prática da homossexualidade
(Rm 1:26-27).
Em seu livro O que a Bíblia ensina sobre a homos-
sexualidade?, o pastor e teólogo Kevin DeYoung vai

14 Timothy Keller e Kathy Keller, O significado do casamento, São Paulo:


Vida Nova, 2012.

41
REDIMINDO A SEXUALIDADE

escrever: “Por mais doloroso que possa ser, devemos


reinterpretar nossas experiências por meio da Pala-
vra de Deus e não permitir que nossas experiências
determinem o que a Bíblia pode ou não pode signi-
ficar [...]. O que achamos difícil de ouvir, mas que
o resto da Bíblia apoia e a maior parte da história da
igreja tem admitido: a atividade homossexual não é
uma bênção a ser celebrada e solenizada, e sim um
pecado que precisa de arrependimento, perdão e
abandono”15.
No capítulo 5, aprofundaremos mais sobre o
tema da homossexualidade à luz do Evangelho.

Incesto
A lei mosaica é frequentemente dividida pelos
teólogos em lei moral, lei cerimonial e lei civil. A
lei cerimonial se refere aos sacrifícios e práticas de
purificação entregues ao povo de Israel. Um exem-
plo de lei cerimonial é o sacrifício de animais exi-
gido para expiação e perdão de pecados (Lv 22:17-
28). Essa lei cerimonial se tornou ultrapassada e
obsoleta porque era apenas uma sombra do que
Jesus realizaria no futuro (Hb 9:12-14).

15 Kevin DeYoung, O que a Bíblia ensina sobre a homossexualidade?. São José


dos Campos: Fiel, 2016.

42
PECADOS SEXUAIS

A lei civil se refere as coisas que Israel deveria


viver como nação política. Um exemplo de lei civil
são as leis sobre roubos (Ex 22:1-5). Essa lei civil não
se referia à igreja do Novo Testamento, pois Deus não
nos chamou para sermos um país ou um estado polí-
tico, mas uma comunidade alternativa presente no
mundo, espalhados entre várias nações, mas que vive
a cultura do céu, aguardando a inauguração do Novo
Mundo que será governado por Jesus.
A lei moral, por fim, refere-se ao comporta-
mento moral de todo ser humano. Um exemplo de
lei moral é a condenação do casamento entre parentes
próximos (Lv 18:6-17). Essa lei moral não foi abo-
lida por Jesus e deve ser obedecida nos dias de hoje
por todos os cristãos, pois são princípios universais.

Distúrbios e compulsões
As Escrituras também condenam toda forma
de distúrbio sexual como zoofilia e semelhantes.
Deuteronômio 27:21 declara: “Maldito aquele que
tiver relações sexuais com um animal...”. Homens
são proibidos de “deitar-se” com um animal, e mulhe-
res são proibidas de “pôr-se perante” um animal para
“ajuntar-se” com ele (Lv 18:23).

43
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Levítico 18.23 descreve a bestialidade, quer praticada


por homem ou mulher, como tebel, um substantivo
usado para descrever a confusão das línguas em Babel.
Tebel é frequentemente traduzido como “confusão”.
Isso faz sentido. A bestialidade cruza os limites criados
entre animais e seres humanos. É, reconhecidamente,
uma “confusão”.16

Adultério
Além de proibições bíblicas explícitas (Ex
20:14; Lv 18:20; Mt 5:27-28; Hb 13:4), o adulté-
rio é uma prática pecaminosa, não somente porque
é a quebra de uma das leis criacionais para o casa-
mento (fidelidade ao próximo), mas também por-
que é uma profanação da imagem de quem Jesus é
diante do mundo (físico e espiritual). Vamos enten-
der isso.
A revelação bíblica aponta que o corpo humano
como meramente biológico não está de acordo com
toda a realidade, mas que os nossos corpos também
possuem uma natureza teológica. Ou seja, os nossos
corpos comunicam algo a respeito de Deus para a
criação. Após ensinar sobre a vida conjugal, Paulo
dá a seguinte declaração:

16 Peter Leithart. “Confusão Sexual”. Disponível em: <https://voltemo-


saoevangelho.com/blog/2016/08/ confusao-sexual/>.

44
PECADOS SEXUAIS

“Por este motivo, o homem deixará pai e mãe e


se unirá à sua esposa, e os dois se tornarão uma
só carne. Este é um mistério grandioso; refiro-
-me, contudo, à união entre Cristo e sua Igreja.”
- Efésios 5:31-32

Assim, o casamento torna-se um instrumento


de comunicação de Deus para o mundo, uma carta
viva, e o conteúdo a ser comunicado é a união de
Jesus com a Sua Igreja. Em outras palavras, o corpo
humano conta uma história – a História de amor de
Deus com seu povo. A audiência que assiste ao casa-
mento de duas pessoas não é composta apenas por
outros seres humanos, mas também por seres espiri-
tuais. Paulo irá escrever:

“E isso para que agora, pela igreja, a multi-


forme sabedoria de Deus se torne conhecida
dos principados e das potestades nas regiões
celestiais, segundo o eterno propósito que Deus
estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor.”
- Efésios 3:10-11

Assim, se o casamento é um modo de repre-


sentar na terra o relacionamento espiritual de Jesus
com a sua Noiva, quando um cônjuge comete adul-
tério contra o outro, o que está sendo comunicado

45
REDIMINDO A SEXUALIDADE

para os outros seres humanos, e até mesmo para os


seres espirituais nas regiões celestiais, é que Cristo
Jesus também é capaz de trair a sua Noiva e quebrar
a Sua aliança com ela. O adultério não ofende apenas
o cônjuge, mais do que isso, ele ofende ao Senhor e
Criador do universo. Portanto, adulterar é ferir ao
cônjuge e profanar a imagem Deus.

Poligamia
Apesar de haver casos de poligamia na narrativa
bíblica do Antigo Testamento entre homens como
Abraão, Jacó, Davi, Salomão e outros, as Escrituras
são coerentemente contra essa prática. O Comentá-
rio Bíblico Africano, um livro escrito por 70 teólogos
africanos que transmite um maior entendimento
da Palavra de Deus sob a ótica da cultura africana,
abordará esse tema também. Quem escreve sobre
a poligamia é a teóloga africana Isabel Apawo Phiti:
Na Bíblia, e em várias culturas africanas, o termo “poli-
gamia” se refere à situação em que um homem tem
várias esposas. Essa é a prática que examinaremos aqui.
Ao considerar a questão da Bíblia e a poligamia, a
primeira coisa que devemos fazer é lembrar que a
Bíblia contém o evangelho, mas ele é revelado no
contexto da cultura humana. É preciso, portanto,
fazer distinção entre o evangelho que conduz à
salvação e a cultura do povo com o qual Deus se

46
PECADOS SEXUAIS

relacionava. A poligamia era uma característica da


cultura dentro da qual o evangelho foi revelado.
(...) o plano original de Deus na criação era que
um homem se casasse com uma mulher. A poli-
gamia só surgiu depois da queda. Os patriar-
cas de Gênesis eram polígamos, mas devemos
observar que essa não foi sua escolha inicial.
(...) A poligamia não promove uma relação de
parceria entre o marido e as esposas. Os exem-
plos bíblicos deixam claro que as famílias políga-
mas eram repletas de conflitos entre as esposas e,
em alguns casos, também entre os filhos. A paz do
Senhor não estava presente em uniões polígamas.
(...) A maioria das teólogas africanas não apoia a poli-
gamia, pois é uma prática que desumaniza a mulher.
Constitui um desrespeito à dignidade da mulher como
ser humano pleno, criado à imagem de Deus. A poli-
gamia não valoriza a mulher como pessoa, mas apenas
em função dos filhos que pode gerar para o marido.
Várias denominações evangélicas apresentam a
monogamia como o ideal de Deus para o casamento.
Não obstante, muitas igrejas se mostram dispostas
a batizar convertidos polígamos e aceitá-los como
membros da igreja e participantes da ceia do Senhor.
A questão mais controversa é a possibilidade de um
polígamo convertido assumir cargos de liderança na
igreja. Há quem argumente que, de acordo com 1
Timóteo 3:2-7, nenhum polígamo pode ser líder na
igreja.17

17 Org. Tokunboh Adeyemo... [et al.], Comentário bíblico africano. São


Paulo: Mundo Cristão, 2016.

47
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Além disso, todos os ensinamentos e orienta-


ções bíblicas para o casamento sempre pressupõem
que o marido tenha somente uma esposa e que a
esposa tenha somente um marido. Alguns exem-
plos: 1 Coríntios 7:3; Efésios 5:22-30; Efésios 5:33.
Assim, da mesma forma que o adultério, a
poligamia também comunica algo sobre o relacio-
namento de Jesus com a Igreja. Um cônjuge polí-
gamo comunica aos céus e a terra que o Senhor
Jesus poderia ter outras esposas além da Sua Igreja.
A poligamia é idolatria sexual e profanação da ima-
gem de Cristo perante o mundo.

Violência doméstica
Em 2021, o Fórum Brasileiro de Segurança
Pública realizou uma pesquisa onde descobriu que
uma em cada quatro brasileiras acima de 16 anos
sofreu algum tipo de violência ao longo dos últimos
12 meses no país, o que representa um universo de
aproximadamente 17 milhões de mulheres vítimas
de violência física, psicológica ou sexual no último
ano (2020).18

18 Visível e Invisível​ : A Vitimização de Mulheres no Brasil. Dis-


ponível em: https://forumseguranca.org.br/publicacoes_posts/
visivel-e-invisivel-a-vitimizacao-de-mulheres-no-brasil-3ed/.

48
PECADOS SEXUAIS

As Escrituram, entretanto, afirmam que tanto


o homem quanto a mulher foram criados à imagem
de Deus (Gn 1:27). Portanto, um cônjuge agredir ao
outro é agredir a imagem que o próprio Deus colo-
cou de Si no mundo. A imago Dei (imagem de Deus)
confere dignidade e honra a todos os seres humanos,
independente de cor de pele, gênero, etnia, idade ou
posição social. O pastor R. C. Sproul escreveu algo
sobre isso:
O cristianismo ensina que a dignidade humana está
enraizada na santidade de Deus; reflete a dignidade de
Deus. Isso porque os seres humanos são feitos à imagem
de Deus (Gn 1.27). O Criador, que possui valor e digni-
dade infinitos, nos selou com valor e dignidade que são
derivados de seu próprio valor e sua própria dignidade.19

O casamento e o lar não são lugares para vio-


lência, agressão e humilhação. Ainda mais os lares
cristãos! A Bíblia afirma o seguinte sobre a relação de
marido e esposa no lar:

“Esposas, que cada uma de vocês se sujeite a


seu próprio marido, como ao Senhor.”
- Efésios 5:22

19 R. C. Sproul. “Seres humanos não são germes: uma defesa cristã da


dignidade humana”. Disponível em: <https://ministeriofiel.com.br/
artigos/seres-humanos-nao-sao-germes-uma-defesa-crista-da-dignidade-
-humana/>.

49
REDIMINDO A SEXUALIDADE

“Maridos, que cada um de vocês ame a sua


esposa, como também Cristo amou a igreja e
se entregou por ela.”
- Efésios 5:25

“Assim também o marido deve amar a sua


esposa como ama o próprio corpo. Quem ama
a esposa ama a si mesmo. Porque ninguém
jamais odiou o seu próprio corpo. Ao contrá-
rio, o alimenta e cuida dele, como também
Cristo faz com a igreja.”
- Efésios 5:28-29

“No entanto, também quanto a vocês, que


cada um ame a própria esposa como a si
mesmo, e que a esposa respeite o seu marido.”
- Efésios 5:33

“Esposas, que cada uma de vocês se sujeite a


seu próprio marido, como convém no Senhor.
Maridos, que cada um de vocês ame a sua
esposa e não a trate com amargura.”
- Colossenses 3:18-19

50
PECADOS SEXUAIS

“Igualmente vocês, esposas, estejam sujeitas,


cada uma a seu próprio marido, para que, se
ele ainda não obedece à palavra, seja ganho
sem palavra alguma, por meio da conduta
de sua esposa, ao observar o comportamento
honesto e cheio de temor que vocês têm.”
- 1 Pedro 3:1-2

“Maridos, vocês, igualmente, vivam a vida


comum do lar com discernimento, dando
honra à esposa, por ser a parte mais frágil
e por ser coerdeira da mesma graça da vida.
Agindo assim, as orações de vocês não serão
interrompidas.”
- 1 Pedro 3:7

Todo casal deveria reler constantemente essas


passagens bíblicas, perceber aonde estão em falta,
orar e se esforçar para se ajustarem à Palavra de
Deus.
No capítulo 8, onde abordamos o tema da
feminilidade à luz da Bíblia, explicamos o significado
do termo “complementarismo”. Em poucas pala-
vras, é o ensino de que homens e mulheres são iguais
em dignidade e complementares em seus papéis no

51
REDIMINDO A SEXUALIDADE

casamento. Efésios 5 enfatiza a liderança masculina


e a submissão feminina. Em um texto sobre com-
plementarismo e abuso doméstico, o pastor Jason
Meyer afirmou:
Complementaristas creem que o casamento
bíblico deve reproduzir o modelo do casamento
de Cristo com sua noiva, a igreja. Cremos que cada
gênero tem uma papel distinto para desempenhar
neste situação. Deus chama o homem para lide-
rar, amando sua esposa de uma maneira sacrificial e
conforme o exemplo de Cristo. Deus dá à mulher
a responsabilidade de receber essa liderança amo-
rosa e exemplificada por Cristo, de uma maneira
submissiva e respeitosa, como ordenado à igreja.
Hiper-chefia destrói esse quadro. O marido abusa da sua
chefia de uma maneira egoísta e a serviço de si mesmo.
Ele pode ser egoísta e servir-se a si mesmo através de
uma agressão disfarçada, que se recusa a fazer qualquer
coisa para servir à sua esposa ou família. Ou pode ser
egoísta e servir-se a si mesmo de uma maneira áspera,
opressiva e controladora. O senhorio que serve a si
mesmo não é o senhorio cristão, pois Cristo se entregou
por sua esposa. O senhorio áspero não é cristão, pois
Cristo não abusa de sua noiva. Não a trata cruelmente.
A noiva de Jesus floresce sob sua liderança servidora.
Hiper-chefia é exatamente o oposto. Longe de fazer a
esposa florescer, ela se torna um campo fértil para o
abuso doméstico.20

20 Jason Meyer. “Um manifesto complementarista contra o abuso domés-


tico”. Disponível em: <https://coalizaopeloevangelho.org/article/
um-manifesto-complementarista-contra-o-abuso-domestico/ >.

52
PECADOS SEXUAIS

Concluímos esse tópico com uma fala de Kathy


Keller, no livro O Significado do Casamento, sobre a
submissão feminina no casamento:
A esposa não deve obedecer ao marido ou ajudá-lo
fazendo aquilo que Deus proíbe, como vender drogas,
ou permitir que ele abuse dela. Se, por exemplo, ele a
agredir fisicamente, como “ajudadora forte” essa esposa
deve exercer amor e perdoar o marido de coração, mas
também deve tomar as providências para que ele seja
preso.21

Aborto
O aborto é uma das poucas pautas que une dife-
rentes igrejas e vertentes do Cristianismo como cató-
licos e protestantes, por exemplo. Em seu livro Con-
tra o aborto, o filósofo católico Francisco Razzo dá a
seguinte definição:
No contexto deste livro, para todos os efeitos, aborto
será sempre definido como decisão consciente e volun-
tária de uma mulher de interromper a gravidez em qual-
quer estágio e cuja consequência, reconhecida por ela e
por todos que colaboram com o ato, levará à morte de
uma pessoa. [...] Portanto, ser contra o aborto significa
não encontrar razões suficientes para aceitar a decisão
voluntária de uma mulher de interromper a gravidez.22

21 Timothy Keller e Kathy Keller, O significado do casamento, São Paulo:


Vida Nova, 2012.
22 Francisco Razzo, Contra o aborto. Rio de Janeiro: Record, 2018.

53
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Tendo como fundamento uma perspectiva


bíblica, a Igreja Cristã sempre foi majoritariamente
contra a prática abortiva. A Lei de Deus proibia o
assassinato intencional e planejado de pessoas inocen-
tes (Ex 20:13). No Salmo 139, o Rei Davi declara:
“Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ven-
tre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de
modo especial e admirável. Tuas obras são maravilho-
sas! Disso tenho plena certeza. Meus ossos não esta-
vam escondidos de ti quando em secreto fui formado
e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus
olhos viram o meu embrião; todos os dias determi-
nados para mim foram escritos no teu livro antes de
qualquer deles existir” (Sl 139:13-16). Davi está afir-
mando que, antes mesmo que ele nascesse, Deus já
tinha um relacionamento com ele e já o conhecia.
O pastor Luiz Sayão escreveu:
É impressionante como Deus gosta de nenês... A história
da redenção divina poderia concentrar-se em batalhas
ou em visões apenas, mas Deus faz questão de mostrar a
primazia do nenê.Toda vez que alguma coisa especial vai
acontecer lá está, adivinhe, o nenê... a grande verdade
é que o lugar do nenê é tão especial que Deus resolveu
invadir a história humana na figura de um nenê.23

23 Luiz Sayão, Agora sim! teologia na prática do começo ao fim. São Paulo: Hagnos,
2012.

54
PECADOS SEXUAIS

Em casos de estupro e abuso sexual, a mulher


violada não precisa de encorajamento e fácil acesso
a clínicas de aborto. Ela precisa de consolo, de um
abraço, de cuidado psicológico e emocional. O
aborto não traz a cura para uma vítima de estupro.
Abortar uma criança fruto de um estupro não é nada
mais do que fazer mal a alguém porque outra pessoa
fez um mal a você; é nada mais do que perpetuar uma
cadeia de maldade.
Por fim, para o cristão, não adianta apenas
ser contra o aborto. Outro ponto fundamental que
precisa ser levantado, e está diretamente conectado
com a temática do aborto, é a questão do abandono
paterno. O pastor Pedro Dulci escreveu o seguinte
sobre isso:
A vitória da seleção brasileira de futebol me lembrou
de uma reportagem que li no jornal El País entitu-
lada “A seleção dos filhos sem pais”. Na reportagem
víamos que seis dos 11 titulares da seleção cresceram
sem o suporte do pai biológico. E o pior é que a repor-
tagem continuava dizendo que esta é uma realidade
comum no país do futebol. De acordo com o Ipea,
40% dos lares brasileiros são chefiados por mulhe-
res, sendo que, em cerca de 12 milhões de lares, elas
não têm cônjuges para ajudar na criação dos filhos.
Nós precisamos falar de abandono paterno. Ele pre-
cisa ferir nossa consciência da mesma forma que faz o
aborto. Precisamos relacioná-lo não só com os abortos,

55
REDIMINDO A SEXUALIDADE

mas com altos índices de violência contra mulher, e


também com o crescimento de uma imagem de homem
que nada tem a ver com a masculinidade bíblica.
Com quem os nossos jovens estão aprendendo a ser
homens?! Quais são os homens que eles se espelham?!
Em outros homens que não tiveram auxílio do pai na
sua formação?! Esse ciclo gera valores deturpados.
Força física, temperamento explosivo, prosperidade
material nunca foram as virtudes distintivas exigidas de
um homem para que se entregasse a uma mulher assim
como Cristo se entregou à Igreja.24

Além do abandono paterno, outro ponto cru-


cial é a adoção de crianças e adolescentes órfãos. Infe-
lizmente, a igreja atual não levanta a bandeira da ado-
ção com a mesma intensidade que levanta a bandeira
de ser contra o aborto. Muitos sugerem “é melhor
que a mulher entregue o filho para adoção do que o
aborte”. Isso é verdade, mas estamos nos esforçando
para que a criança no abrigo encontre uma família e
um lar? A igreja primitiva entendia muito bem isso:
[A igreja primitiva] era uma comunidade comprometida
com a santidade da vida. Não era simplesmente que os
cristãos se opunham ao aborto. O aborto era perigoso
e relativamente raro. Uma prática mais comum era cha-
mada de “exposição infantil”. Bebês indesejados eram
jogados em montes de lixo, para morrerem ou serem

24 Pedro Dulci. “CONTRA O ABORTO, E MAIS O QUÊ?”. Disponível


em: <https://www.instagram.com/p/BzwcdzpDJVM/>.

56
PECADOS SEXUAIS

levados por comerciantes para a escravidão e prostitui-


ção. Os cristãos salvavam crianças e as acolhiam.25

Aqui, focamos nos motivos pelos quais o aborto


é uma prática pecaminosa. Sobre a cura e a redenção
para pessoas envolvidas nisso, recomendamos a lei-
tura do capítulo 6.

Conclusão
Neste capítulo, aprendemos um pouco sobre
práticas que ofendem a Deus e se encaixam na cate-
goria de “imoralidade sexual”. Identifique quais peca-
dos você cometeu ao longo da sua caminhada e em
quais você talvez ainda esteja preso e busque pelo
perdão e purificação que vem do Senhor:

“Lavem-se e purifiquem-se! Tirem da minha pre-


sença a maldade dos seus atos; parem de fazer o
mal! [...] O Senhor diz: Venham, pois, e vamos
discutir a questão. Ainda que os pecados de vocês
sejam como o escarlate, eles se tornarão brancos
como a neve; ainda que sejam vermelhos como o
carmesim, eles se tornarão como a lã.”
- Isaías 1:16, 18

25 Timothy Keller. “O Que Precisamos Aprender Com a Igreja Pri-


mitiva”. Disponível em: <https://coalizaopeloevangelho.org/
article/5-caracteristicas-da-igreja-primitiva-que-a-tornaram-singular/>.

57
PENSAMENTOS INICIAIS

Bruna é uma excelente líder de adoração e cantora. Infeliz-


mente, ela vem caindo em um mesmo pecado vez após vez há
algum tempo. Ela entende que deve ser transparente diante
de Deus e buscar perdão em oração. Mas ela acha que con-
fessar os seus pecados para outra pessoa não é tão importante
assim. Ela está certa ou errada? Por quê?

Mateus teve uma infância e adolescência difíceis. O seu pai


batia nele sem o ouvir, não dava atenção e era muito severo.
Mateus jurou que seria um pai totalmente diferente, pro-
meteu até que manteria seus filhos distantes do avô. Porém,
todos que observam ele com seus filhos notam as mesmas
coisas que o pai dele fazia. Por que isso acontece?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 3 e as atualize após a leitura:

1. Por que devemos confessar nossos pecados aos


irmãos em Cristo?

2. O que significa perdoar alguém biblicamente?


3
CONFISSÃO E PERDÃO

“Os pecados que escondemos são fortalecidos,


os pecados que confessamos são esquecidos.
A confissão cura as feridas da nossa alma,
renova o nosso coração aflito e promove uma
nova caminhada com o Senhor.”
– Autor desconhecido

N este capítulo, abordaremos a questão da


confissão de pecados e do perdão. Essas
duas práticas estão intimamente rela-
cionadas e são essenciais para nossa caminhada em
santificação.

Confessando para Deus


Nossos pecados devem ser confessados em
oração. Pode parecer fácil, mas nem sempre é, pois
requer tanto discernimento sobre quais são os nos-
sos pecados, como requer também transparência

59
REDIMINDO A SEXUALIDADE

diante de Deus. A cegueira espiritual nos impede de


discernir quais são nossos pecados e a vergonha nos
impede de sermos transparentes.
Quando Jesus ensinou sobre oração, ele disse
que os seus discípulos deveriam entrar no quarto e
orar. A palavra grega para “quarto” é Tamion que era
um cômodo das casas da época onde era comum
guardar coisas que não prestavam mais. O comenta-
rista Craig S. Keener escreve: “Há quem sugira que
o ‘quarto’ era uma despensa; na maioria das casas
não havia quartos privados, e só a despensa teria
porta”26. Por que somente o tamion possuía porta?
Porque o dono da casa não gostaria que os visitantes
descobrissem o que existe de pior na casa, não que-
ria mostrar toda aquela bagunça.
Dessa forma, é provável que quando Jesus
disse que seus discípulos deveriam orar no tamion,
ele estava se referindo mais do que ao local físico,
mas ao lugar do nosso coração onde nós guarda-
mos as piores coisas sobre nós, as que não prestam
para nada, mas que não conseguimos jogar fora.
Devemos entrar nesse lugar e falar com o nosso
Pai.

26 Craig S. Keener, Comentário histórico-cultural da Bíblia: Novo Testamento.


São Paulo: Vida Nova, 2017.

60
CONFISSÃO E PERDÃO

Por que devemos mostrar nossa bagunça inte-


rior para Deus? Ele já não conhece tudo que existe
ali? Sim, mas muitas vezes nós não sabemos. Portanto,
mais do que um lugar da casa, Jesus estava ensinando
a transparência no momento da oração.
O rei Davi, em um de seus salmos, escreveu:

“Enquanto calei os meus pecados, envelhe-


ceram os meus ossos pelos meus constantes
gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava
dia e noite sobre mim, e o meu vigor secou
como no calor do verão. Confessei-te o meu
pecado e a minha iniquidade não mais ocul-
tei. Eu disse:“Confessarei ao Senhor as minhas
transgressões”; e tu perdoaste a iniquidade do
meu pecado.”
- Salmos 32:3-5

A promessa de Deus para os que lhe confessa-


rem os pecados é o perdão e a purificação: “Se con-
fessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para
nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injus-
tiça” (1 Jo 1:9).
A Bíblia também diz o seguinte: “Quem é
semelhante a ti, ó Deus, que perdoas a iniquidade e
te esqueces da transgressão do remanescente da tua

61
REDIMINDO A SEXUALIDADE

herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre,


porque tem prazer na misericórdia. Ele voltará a ter
compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades
e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do
mar” (Mq 7:18-19). Se nos lembrarmos do que fize-
mos de errado e confessarmos, o Senhor esquecerá
dos nossos pecados e, assim, nós também podere-
mos esquecê-los. Não é que o conhecimento de Deus
diminuirá, Ele permanece onisciente, mas é que Ele
não levará mais em conta os nossos pecados em Seu
relacionamento conosco. O pecado esquecido por
Deus é um pecado apagado. Entretanto, só podemos
esquecer dos pecados que foram esquecidos por Deus
e Ele só se esquece dos pecados confessados por aque-
les que são parte do povo da Nova Aliança.

Confessando à Igreja
Uma das disciplinas espirituais é a da confis-
são, não somente à Deus, mas ao irmão ou irmã em
Cristo. A Escritura declara:

“Portanto, confessem os seus pecados uns aos


outros e orem uns pelos outros, para que vocês
sejam curados. Muito pode, por sua eficácia, a
súplica do justo”
- Tiago 5:16

62
CONFISSÃO E PERDÃO

Perceba que Tiago coloca a confissão e a oração


na mesma situação. Não devemos somente confessar
nossas transgressões, devemos também receber oração
dos irmãos a quem confessamos. A confissão sem ora-
ção se transforma em uma mera atividade terapêutica
e psicológica. A oração acrescenta a realidade do Evan-
gelho para aquela situação, colocando todos aos pés da
cruz a fim de sermos curados.
A escritora Vanessa Belmonte afirmou:
A confissão é uma disciplina difícil para nós, pois em
uma cultura de aparência, sentimos que precisamos
resolver os nossos problemas sozinhos e mostrar apenas
nosso sucesso. Isso acontece em todas as áreas: a dificul-
dade de lidar com o casamento, o problema no traba-
lho ou um pecado específico. Tememos que a exposição
leve ao julgamento e afastamento das pessoas. Às vezes,
tememos também olhar de frente para nós mesmos e
reconhecer nossos pecados, assumir que precisamos de
ajuda. Então, nos fechamos em nosso isolamento e lida-
mos com nossas dificuldades sem recorrer a algo que
o Senhor disponibilizou para nos ajudar: a confissão a
um irmão.27

Confessar os nossos pecados ao próximo não


é condição para salvação. Somos salvos e perdoados

27 Vanessa Belmonte. “Série Disciplinas Espirituais: #7 Confissão”. Dis-


ponível em: <https://vanessa-belmonte.medium.com/s%C3%A9rie-
-disciplinas- espirituais-7-confiss%C3%A3o-fff07c33c8da>.

63
REDIMINDO A SEXUALIDADE

exclusivamente pela graça de Deus, mediante a fé em


Jesus. Nossa aceitação diante de Deus depende unica-
mente de Jesus, não de nós mesmos ou do próximo.
Mas a confissão é uma prática de edificação coletiva.
Ambos os envolvidos são fortalecidos e demonstram
o quanto desejam viver em santidade ao Senhor. Um
autor pontua:
[...] todo cristão precisa perceber que a santificação
é um processo comunitário. É na cruz de Cristo que
recebemos o perdão dos pecados, mas a cura deles vem
da confissão mútua. Tiago escreve: “Portanto, confes-
sem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos
outros para serem curados. A oração de um justo é
poderosa e eficaz” (Tiago 5.16). Em outras palavras,
amigos espirituais podem nos ajudar a curar nossos
vícios que atentam contra a pureza sexual que o Senhor
espera de nós. Se você está nesse experimentando esse
dilema da impureza, procure entender que a confissão
de pecados e prestação de contas a amigos realmente
confiáveis é um método eficaz para te ajudar a vencer
o problema.28

Perdoados para perdoar


Ao sermos ofendidos ou feridos por alguém,
muitas vezes é difícil oferecermos o perdão pelas nos-
sas próprias forças. Precisamos que Deus nos ensine

28 Jean Francesco. “Pensando de forma cristã sobre pornografia e masturba-


ção”.Disponível em:<https://voltemosaoevangelho.com/blog/2020/06/
pensando-de-forma-crista-sobre-pornografia-e-masturbacao/>.

64
CONFISSÃO E PERDÃO

a perdoar como Ele perdoa. Jesus pediu ao Pai que


enviasse o Espírito Santo a nós e é por intermédio
do Seu poder que somos capacitados a perdoar como
Deus perdoa.
Cristo nos ensinou um princípio do reino sobre
o perdão que, apesar de simples, é extremamente
profundo. Antes de Jesus subir aos céus após sua res-
surreição, disse aos discípulos:

“E, havendo dito isso, soprou sobre eles e disse-


-lhes: Recebam o Espírito Santo. Se de alguns
vocês perdoarem os pecados, são-lhes perdoa-
dos; mas, se os retiverem, são retidos.”
- João 20:22-23

A autoridade eclesiástica para o perdão de peca-


dos não é uma prerrogativa exclusiva dos sacerdotes,
mas é um privilégio de todo cristão perdoar pecados
pelo poder do Espírito de Cristo da mesma maneira
que Ele o faz.
O salmista escreveu: “Se, no coração, eu tivesse
contemplado iniquidade, o Senhor não teria me
ouvido” (Sl 66:18). E o próprio Jesus ensinou: “se,
porém, não perdoarem aos outros as ofensas deles,
também o Pai de vocês não perdoará as ofensas de
vocês” (Mt 6:15).

65
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Perdoar aos outros não é algo opcional. Ou


perdoamos e, assim, obedecemos a Deus, ou deci-
dimos não perdoar e, portanto, nos rebelamos con-
tra Ele.
A imagem que a Bíblia usa para explicar os nos-
sos pecados é a de uma dívida. Todos os pecadores
estão em dívida para com Deus por causa das suas
transgressões; e a dívida do pecado é impossível de
ser paga por pecadores como nós. Mas Deus enviou
o Seu Filho que nasceu como um ser humano, viveu
uma vida de perfeita justiça, morreu na cruz levando
sobre si a nossa condenação e ressuscitou ao terceiro
dia, pois a morte não podia retê-lo.
Dessa forma, se Jesus morreu para perdoar a
dívida imensa e infinita que você tinha com ele, por
que você não pode perdoar ao transgressor a dívida
pequena e finita que ele tem com você?29
Perdoar é recusar-se a responsabilizar as pes-
soas pelo que fizeram conosco. Assim, o padrão do
perdão que devemos liberar é o mesmo do per-
dão que recebemos do Pai. Perdoamos ao próximo
assim como fomos perdoados por Deus. A Bíblia
ensina:

29 Timothy Keller, A Sabedoria de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2019.

66
CONFISSÃO E PERDÃO

“Portanto, como eleitos de Deus, santos e


amados, revistam-se de profunda compai-
xão, de bondade, de humildade, de mansidão,
de paciência. Suportem-se uns aos outros e
perdoem-se mutuamente, caso alguém tenha
motivo de queixa contra outra pessoa. Assim
como o Senhor perdoou vocês, perdoem tam-
bém uns aos outros.”
- Colossenses 3:12-13

Entenda uma coisa: sempre que você perdoar


alguém, será preciso lidar com o prejuízo e o custo
que o perdão trará para você. Nós nunca iremos
perdoar alguém mais do que fomos perdoados por
Deus.
Deus é maravilhoso em seu cuidado para
conosco! Decida verdadeiramente perdoar e a remo-
ver o lixo do seu passado. Experimente a profundi-
dade do amor de Deus em sua vida. Hoje mesmo
você pode ter uma liberdade de pensamento, paz no
coração e integridade nas atitudes.

Falsos perdões
Muitas vezes, declaramos “perdoar” alguém,
mas ao invés de lidarmos com o prejuízo da dívida

67
REDIMINDO A SEXUALIDADE

perdoada, agimos de maneira sutil para tentar extrair o


pagamento da ofensa que alguém cometeu contra nós.
Em A Sabedoria de Deus30, Tim Keller sugere
alguns conselhos para a prática do perdão verda-
deiro: Em primeiro lugar, recuse-se a ferir a pessoa
que você perdoou. Não fique lembrando a pessoa do
que aconteceu no passado. Não seja mais exigente,
controlador ou rude com essa pessoa do que é com
os outros. Não se afaste da pessoa a evitando ou tra-
tando-a com frieza. Somos tentados a fazer essas
coisas quando achamos que a pessoa ainda está nos
devendo algo por causa da ofensa cometida.
Em segundo lugar, não fale mal da pessoa
que você perdoou. Não insinue, fofoque ou calunie
alguém que você perdoou para diminuí-la aos olhos
de outros. Às vezes, fazemos isso sob a desculpa de só
querer “avisar” o outro ou para obter apoio.
Em terceiro lugar, não fique lembrando, em seu
coração, do mal que a pessoa lhe fez apenas para ficar
constantemente sentindo que ela lhe deve algo ou
para se sentir superior e melhor do que ela.
Dessa forma, você não perdoa alguém para
merecer o perdão de Deus. A Bíblia diz que devemos

30 Ibidem.

68
CONFISSÃO E PERDÃO

perdoar sempre porque temos um Deus perdoador.


Se paramos de liberar perdão é porque paramos de
receber o perdão do Senhor. Se o perdão que você
recebeu foi grande, por que o perdão que você dá
ao próximo é pequeno? Se for assim, provavelmente
você não acredita no perdão que Deus lhe deu ou não
tem consciência do quanto foi realmente perdoado.
Perdoar não é algo fácil. O único que tem
recursos para perdoar totalmente alguém é Jesus.
Por isso, precisamos receber o perdão dele pri-
meiro. Se você percebeu que ainda não consegue
perdoar alguém de verdade, a solução não é, pri-
meiramente, ir até a pessoa, mas ir até Deus e se
encher do perdão dado gratuitamente por Ele por
meio de Cristo. Somos perdoados para conseguir-
mos perdoar. A oração do Pai Nosso diz: “perdoa-
-nos as nossas dívidas, assim como nós também per-
doamos aos nossos devedores” (Mt 6:12). Ou seja,
receber o perdão de Deus não é apenas receber um
presente, mas receber uma nova mentalidade: uma
mentalidade perdoadora.
Perdoar é abandonar o pagamento da ofensa
feita a você por outra prioridade: o relacionamento.
Deus arcou com alto custo do nosso pecado para
ter um relacionamento conosco. Só iremos perdoar

69
REDIMINDO A SEXUALIDADE

verdadeiramente alguém, assim como fomos perdoa-


dos, se colocarmos o relacionamento e a paz de Deus
como prioridade para as nossas vidas. Uma oração
sugerida por um autor diz:
Senhor, meu perdão é superficial. Eu evito qualquer
ação de revanche que seja muito óbvia, mas, por den-
tro, mantenho o rancor em fogo brando. É muito mais
difícil rechaçar pensamentos de raiva e autopiedade,
lembrar que sou um pecador perdoado e orar since-
ramente por quem me defraudou. Mas, diante do teu
amor de alto preço por mim, resolvo pagar o preço.
Ajuda-me, Senhor. Amém.31

31 Ibidem.

70
PENSAMENTOS INICIAIS

Davi luta contra a pornografia há vários anos. Apesar de


não ter uma vida constante de oração e meditação nas
Escrituras, ele já tentou várias estratégias para lidar com o
seu vício. Já tentou identificar gatilhos que o fazem cair no
mesmo pecado. O que Davi está fazendo de errado?

Flávia lembra que seu vício em pornografia começou com


uma curiosidade que ela sentia de se conhecer melhor. Afinal,
ela já tinha ouvido de várias pessoas que é importante
conhecer o próprio corpo. Por que esse pensamento de Flávia
está errado?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 4 e as atualize após a leitura:

1. Onde está a origem do pecado e da imoralidade


de todo ser humano?

2. Como conhecemos a nós mesmos de verdade?


REDIMINDO A SEXUALIDADE

4
O PROBLEMA DA PORNOGRAFIA

“A Bíblia ensina que fomos salvos da penali-


dade do pecado, mas também salvos no tempo
presente do poder e prazer do pecado.”
– P. Andrew Sandlin

E m suas confissões, Agostinho de Hipona


confessou que era alguém viciado em sexo:
“De uma vontade perversa, veio a luxúria,
e a escravidão à luxúria tornou-se um hábito, e o
hábito, sendo constantemente alimentado, tor-
nou-se uma necessidade e me aprisionou em uma
dura escravidão”. Hoje em dia, milhares de cristãos,
homens e mulheres, se reconhecem nessa declara-
ção ao tentarem lidar com seus problemas com a
pornografia.
Nesta lição, falaremos sobre as falsas promessas
da pornografia, a origem do vício, a transformação

72
O PROBLEMA DA PORNOGRAFIA

que flui do Evangelho e a forma como adquirimos


um conhecimento verdadeiro de nós mesmos.

Uma falsificação
Deus é o criador da sexualidade humana.
Cantares – ou Cântico dos cânticos – é um livro
bíblico, inspirado pelo Espírito Santo, que celebra
poeticamente o amor que há no casamento entre
um homem e uma mulher:

“[Amado:]Você é fonte dos jardins, poço de


águas vivas que correm do Líbano!
[Amada:] Desperte, vento norte, e venha,
vento sul! Soprem no meu jardim, para que se
derramem os seus aromas. Que o meu amado
venha ao seu jardim e coma os seus frutos
excelentes!
[Amado:] Já entrei no meu jardim, meu amor,
minha noiva. Colhi a minha mirra com as
especiarias, comi o meu favo com o mel, bebi o
meu vinho com o leite.
[Poeta]: Comam e bebam, meus amigos; até
ficarem embriagados de amor.”
- Cantares 4:15-5:1

73
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Dessa forma, a Bíblia demonstra que há beleza


na sexualidade humana porque ela é uma criação
divina. Entretanto, quando o sexo é separado do
amor que flui de Deus, ele é falsificado e se torna
algo totalmente diferente daquilo que foi criado para
ser. Um dos resultados desta separação é a pornogra-
fia. Dentre várias coisas, a pornografia falsifica espe-
cialmente duas coisas: Primeiro, a pornografia é uma
falsificação do sexo. Nos EUA, os autores Mark Reg-
nerus e Jeremy Uecker escreveram um livro acerca
das opiniões equivocadas que os jovens adultos pos-
suem a respeito do sexo e do casamento. Uma dessas
crenças é:
“Pornografia não afeta o relacionamento” (p. 246). Os
autores argumentam que a pornografia “afeta prati-
camente os relacionamentos de todo mundo hoje em
dia”. Aqueles que usam a pornografia podem ter expec-
tativas absurdamente irrealistas a respeito da aparên-
cia física e do desempenho sexual. Regnerus e Uecker,
porém, vão ainda mais longe e mostram como a por-
nografia afeta os relacionamentos de todos atualmente,
quer a usem pessoalmente, quer não. Um número
significativo de homens que usam a pornografia expe-
rimentam uma diminuição do desejo de enfrentar as
dificuldades dos relacionamentos reais e do casamento,
o que reduz as opções de futuros cônjuges para as
mulheres. Os autores também argumentam que todas
as mulheres têm sido forçadas cada vez mais a adaptar

74
O PROBLEMA DA PORNOGRAFIA

seu comportamento sexual às imagens e ao estilo da


pornografia.32

Em outras palavras, a pornografia tem distorci-


damente discipulado a mentalidade e a imaginação de
muitos homens e mulheres, fazendo-os pensar que o
sexo real é aquilo que eles veem nas telas.
Em uma aula sobre sexualidade, o pastor Gui-
lherme de Carvalho cita uma pesquisa realizada em
2010 na Universidade de Princeton (EUA) pela psi-
cóloga social Susan Fiske. Esse estudo demonstra que
as imagens sensuais de certas partes do corpo femi-
nino, principalmente aquelas em que não aparecem
o rosto das mulheres, despertam as mesmas áreas
do cérebro masculino que tipicamente são associa-
das com o uso de ferramentas e objetos inanimados.
E, ao mesmo tempo, desativam as partes do cérebro
que estão associadas com relações sociais humanas.
O pastor Guilherme conclui afirmando: “De algum
modo, a nossa sociedade desenvolveu uma forma
de desassociar o interesse sexual da sensibilidade
moral”33. Em outras palavras, a pornografia separa a
sexualidade da moralidade.
32 Citado por Timothy e Kathy Keller em O significado do casamento, São
Paulo: Vida Nova, 2012.
33 Trecho da aula “Pureza e Impureza Sexual” do curso Fé e Sexo 1 (The
Pilgrim).

75
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Diante disso, precisamos que os nossos olhos e


a nossa mente sejam transformados pelo Evangelho.
Falaremos disso mais à frente.
Em segundo lugar, a pornografia também é
uma falsificação da intimidade. Deus criou os seres
para o relacionamento com Ele. O alvo do relaciona-
mento é ser um meio para que a intimidade aumente
constantemente. A comunhão diária é o solo onde a
intimidade é cultivada. A oração é a nossa principal
atividade de relacionamento e comunhão com Deus.
Diante disso, o Diabo tenta usar a pornografia para
dar uma falsa sensação de intimidade. Geralmente,
pessoas que viveram anos consumindo pornografia
possuem dificuldade em estabelecer uma vida de ora-
ção constante porque estão tão acostumadas a falsa
intimidade da pornografia que não conseguem per-
manecer na verdadeira intimidade da oração. Ansia-
mos por intimidade porque fomos criados para isso,
mas a pornografia nos faz ter medo da verdadeira
intimidade. O autor Edwin Louis Cole escreveu:
“Orar nos permite conhecer intimamente Aquele
a quem oramos, a pessoa por quem oramos, e com
quem oramos”34.

34 Edwin Louis Cole, Homem ao máximo, Pompeia: Universidade da


Família.

76
O PROBLEMA DA PORNOGRAFIA

Não é à toa que a metáfora usada nas Escrituras para


descrever a união espiritual de Jesus e a Igreja é a do casa-
mento. O casamento é o maior nível de intimidade real
que um ser humano pode ter com outra pessoa. Quando
Deus criou o casamento, Ele estava pensando em Cristo
e a Igreja, um verdadeiro relacionamento de intimidade.
A pornografia tenta falsificar tudo isso.

Entenda a origem
Por que as pessoas assistem e se viciam em por-
nografia? Há algumas razões que se repetem constan-
temente: tédio, curiosidade, solidão, cansaço, estresse,
rejeição ou a facilidade de acesso. É importante estar
ciente sobre os gatilhos que levam você a ver pornografia
para ajudar a evitar situações potenciais de tentação. Mas
o próprio Jesus ensina que a nossa impureza sexual pos-
sui uma origem mais profunda do que situações externas
ou as condições do nosso corpo. Ele disse:

“Pois é de dentro do coração dos homens que


procedem maus pensamentos, imoralidade sexual,
furtos, homicídios, adultérios, cobiça, maldade,
engano, libertinagem, inveja, blasfêmia, arrogância
e insensatez.Todas essas coisas más procedem de
dentro do homem e o tornam impuro.”
- Marcos 7:21

77
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Na antropologia bíblica, ou seja, nos ensinamen-


tos da Bíblia sobre quem é o ser humano, o coração
ocupa o lugar mais central de todos. Não é somente
o lar das emoções e sentimentos, como a maioria das
pessoas modernas imagina. Na perspectiva bíblica, o
coração é o lugar onde são definidas as nossas crenças
e a nossa adoração.
O teólogo e psicólogo holandêsWillem J. Ouwe-
neel escreveu:
O coração é a parte mais profunda, o próprio núcleo
interno, real e essencial, da personalidade humana.
Visto dessa maneira, o coração tem enorme importân-
cia religiosa. “Religião” (aqui definida como a adoração
e o serviço seja a Deus seja a um ídolo qualquer) não é
apenas uma questão de uma estrutura humana especial
ou de uma “parte” do homem. O coração está total-
mente inacessível à psicologia e só pode ser conhecido
por meio da revelação da Palavra de Deus.35

Em suma, a Bíblia ensina que Deus criou o


nosso coração como o lugar em que a nossa adoração
nasce e que ele foi totalmente afetado pelo pecado.
Desse modo, a queda não nos fez parar de adorar,
mas mudou a direção da nossa adoração. Deixamos
de adorar a Deus e passamos a adorar a nós mesmos
e outras coisas criadas.

35 Willem J. Ouweneel, Coração e Alma. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.

78
O PROBLEMA DA PORNOGRAFIA

O filósofo cristão G. K. Chesterton declarou:


“Todo homem que bate à porta de um bordel está
procurando por Deus”. O que ele estava dizendo
com isso é que todo ser humano que se entrega à
prática de prazeres desregulados está procurando
satisfazer o seu coração, porém, a satisfação plena
vem somente de Deus. Assim, eles estão bus-
cando por Deus, mas não sabem disso e se perdem
em caminhos tortuosos, como a pornografia, por
exemplo. Ao procurar por Deus sem ser por meio
do Evangelho, os seres humanos encontram apenas
ídolos.

A transformação do Evangelho
Em Mateus 5:29, Jesus ensinou: “Se o seu olho
direito leva você a tropeçar, arranque-o e jogue-o
fora”. Ele não estava dizendo que as pessoas deve-
riam literalmente arrancar os órgãos responsáveis
pela visão humana, mas estava apontando para uma
mudança de olhos. Se o seu olhar faz você pecar,
você precisa trocar os seus olhos:

“Os olhos são a lâmpada do corpo. Se os seus


olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio
de luz; se, porém, os seus olhos forem maus,
todo o seu corpo estará em trevas. Portanto,

79
REDIMINDO A SEXUALIDADE

se a luz que existe em você são trevas, que


grandes trevas serão!”
- Mateus 6:22-23

Seus olhos são maus? Arranque-os e troque-os


por olhos bons. Jesus se refere a amputação porque
estava dizendo que nossos pecados precisam ser tra-
tados de maneira radical e séria. Nossos olhos segui-
rão o nosso coração, portanto, para termos novos
olhos precisamos de um novo coração. Foi por isso
que Davi orou: “Cria em mim, ó Deus, um coração
puro” (Sl 51:10).
O Evangelho é poderoso o suficiente para nos
conceder um coração transformado que resulte em
uma vida radicalmente transformada. As coisas que
fazemos com os nossos corpos nascem em nosso
coração e é nesse lugar que Deus deseja escrever a
sua Lei.

“Porque esta é a aliança que farei com a casa


de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor:
Imprimirei as minhas leis na mente deles e
as inscreverei sobre o seu coração; e eu serei o
seu Deus, e eles serão o meu povo.”
- Hebreus 8:10

80
O PROBLEMA DA PORNOGRAFIA

Como conhecemos a nós mesmos?


É comum encontrarmos pessoas argumen-
tando que a prática da masturbação é saudável por-
que é uma forma de homens e mulheres conhece-
rem melhor a si mesmos, mas isso é falso. O teólogo
João Calvino declarou: “Sem um conhecimento de
si mesmo, não há conhecimento de Deus. Mas para
conhecer a si mesmo (e o mundo todo em geral),
deve primeiro existir um conhecimento de Deus.
Deus é conhecido melhor e anteriormente a qual-
quer coisa ou pessoa”36. Em outras palavras, conhece-
mos a nós mesmos por meio de um relacionamento
com Deus, não por meio do pecado. Como vimos,
a pornografia sempre contará mentiras sobre você e
sua sexualidade. Mas Deus, por meio das Escrituras,
dirá quem você realmente é e do que você realmente
precisa.
Em suma, podemos resumir toda a luta contra a
pornografia nisto: uma luta de adoração e confiança.
Confiaremos e adoraremos nossos próprios desejos
e impulsos ou confiaremos e adoraremos ao único e
verdadeiro Deus? O salmista declarou: “Em Ti, pois,
confiam os que conhecem o Teu Nome...” (Sl 9:10).

36 Citado por W. Gary Crampton no artigo “Calvino sobre Conheci-


mento”, traduzido por Felipe Sabino (Monegismo.com).

81
PENSAMENTOS INICIAIS

Jéssica foi criada em um lar cristão e viveu a infância e


adolescência na igreja. Sempre foi óbvio para ela que o ca-
samento é entre um homem e uma mulher. Porém, ao entrar
para a faculdade, ela se deparou com termos como “LGB-
TQ+”,“Poliamor” e até mesmo ouviu falar de “igrejas inclusi-
vas”. Por isso, ela tem se questionado se a heterossexualidade
é realmente a vontade de Deus para o casamento. A Bíblia
realmente condena a homossexualidade? Onde?

Ronaldo está em uma jornada de autodescoberta. Ele já se


envolveu em vários relacionamentos, se apaixonou muitas
vezes, iniciou e abandonou diversos planos, tudo que seu
coração determina, ele cumpre. O sonho de Ronaldo é “se
encontrar”. Mas por que ele ainda não conseguiu descobrir
sua identidade?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 5 e as atualize após a leitura:

1. O que determina a sua identidade? Por quê?

2. Com quais pecados você está lutando atualmente?


5
O EVANGELHO E A HOMOSSEXUALIDADE

“Ser cristão não nos torna menos propensos a


adoecer, enfrentar tragédias ou experimentar a
insegurança.Todos nós experimentamos desejos
sexuais caídos – heterossexuais ou homosse-
xuais... O que nos marca como cristãos não
é que nunca passemos por essas coisas, e sim
como respondemos a elas.”
– Sam Allberry

U m dos temas mais complexos e frequen-


tes dos nossos dias é o da homossexua-
lidade. Desde de discussões sobre como
abordar, evangelizar e receber pessoas da comu-
nidade LGBTQ+ em nossas igrejas, até desafios
que encontramos no discipulado e aconselhamento
quando cristãos que vivem há anos na igreja e come-
çam a questionar sua orientação sexual nos procu-
ram para conversar - quando procuram, pois muitos

83
REDIMINDO A SEXUALIDADE

preferem por se esconder ou procurar respostas


sozinhos. Essa será a temática tratada neste capítulo.

Por que é pecado?


Durante alguns anos, levantou-se a discussão
teológica de se as Escrituras realmente condena-
vam a prática homossexual em si ou se a condena-
vam somente em contextos em que tal prática era
associada a idolatria. Esse questionamento não durou
muito tempo, pois em seu extenso livro The Bible and
Homosexual Practice: Texts and Hermeneutics [A Bíblia e
a Prática Homossexual: Textos e Hermenêuticas], o
teólogo Robert A. J. Gagnon expôs de forma pro-
funda e difícil de discordar que a Bíblia claramente
condena a homossexualidade em qualquer circuns-
tância ou contexto.
Em Gênesis 2:24, está escrito: “Por isso, o
homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher, tor-
nando-se os dois uma só carne”. Duas leis criacio-
nais são bastante claras aqui. Primeiro, o casamento
deve ser heterossexual, pois a união é do homem
com a mulher. Em segundo lugar, o casamento deve
ser monogâmico, pois é o homem que se une com a
mulher (ambos estão no singular). Assim, o padrão

84
O E VA N G E L H O E A H O M O S S E X UA L I DA D E

bíblico para o casamento é a união total de um


homem com uma mulher em aliança.
Nos primeiros capítulos da carta aos Romanos,
Paulo está ensinando com base no livro de Gênesis
e explica que Deus fez o ser humano a sua imagem
e semelhança como homem e mulher (Gn 1:27),
portanto, quando os pecadores trocaram a glória
de Deus por ídolos (Rm 1:23), a imagem de Deus
que havia neles foi depravada e eles se esqueceram
do que significa ser homem e mulher. É por isso que
logo após falar sobre idolatria, Paulo cita o pecado da
homossexualidade:

“Por isso, Deus os entregou à impureza, pelos


desejos do coração deles, para desonrarem o
seu corpo entre si. Eles trocaram a verdade
de Deus pela mentira, adorando e servindo
a criatura em lugar do Criador, o qual é
bendito para sempre. Amém! Por causa disso,
Deus os entregou a paixões vergonhosas.
Porque até as mulheres trocaram o modo
natural das relações íntimas por outro, con-
trário à natureza. Da mesma forma, também
os homens, deixando o contato natural da
mulher, se inflamaram mutuamente em sua
sensualidade, cometendo indecência, homens

85
REDIMINDO A SEXUALIDADE

com homens, e recebendo, em si mesmos, a


merecida punição do seu erro. E, por have-
rem desprezado o conhecimento de Deus,
o próprio Deus os entregou a um modo de
pensar reprovável, para praticarem
coisas que não convêm.”
- Romanos 1:24-28

Quando os seres humanos perderam Deus, eles


também perderam a sua própria identidade. E por
não saberem quem Deus é, também não sabem mais
o que é ser homem e o que é ser mulher.
Para concluir, algumas observações bíblicas:
- Cantares, o livro bíblico que mais celebra
a sexualidade humana, foi escrito sobre o
amor de um casal heterossexual: o Amado e
a Amada.
- Todos os ensinos de Jesus e de Paulo sobre
o casamento no Novo Testamento giram
em torno de um padrão heterossexual de
casamento.
- As condições bíblicas para pastores e diáco-
nos exigem que todo líder seja marido de uma
só mulher (1Tm 3:2, 12).

86
O E VA N G E L H O E A H O M O S S E X UA L I DA D E

Identidade
A sociedade em que vivemos tornou a sexuali-
dade central para a definição da nossa identidade. A
cultura, por meio de ideologias, filmes, séries, pro-
gramas de TV e etc, tenta nos convencer de que a
fonte da nossa identidade está em nossos desejos e
vontades, mas será que o Evangelho diz o mesmo?
Em seu livro Pregação, Tim Keller destrincha uma
narrativa cultural que existe na modernidade: a nar-
rativa da identidade37. Basicamente, a nossa socie-
dade ocidental contemporânea entroniza as nossas
paixões, sentimentos e desejos particulares. “Você é
aquilo que você quer/deseja ser”, esse é o lema da
nossa cultura. Mas há inúmeros problemas nisso. O
principal desses problemas que Keller pontua é que
os nossos desejos mais profundos muitas vezes se
contradizem. Ele usa a seguinte ilustração:
Imagine um guerreiro anglo-saxão na Grã-Bretanha
de 800 d.C. Ele tem dois impulsos e sentimentos inte-
riores muito fortes. Um deles é agressão. Ele adora
esmagar e matar pessoas quando elas lhe faltam com o
respeito. Vivendo em uma cultura de vergonha e honra
e de ética bélica, ele se identificará com esse senti-
mento. Dirá a si mesmo: “Este sou eu! É assim que eu
sou! Vou expressar isso”. O outro sentimento que ele

37 Essas narrativas culturais são mentalidades ou redes de crenças ocultas


que guiam a sociedade secular.

87
REDIMINDO A SEXUALIDADE

tem é de atração pelo mesmo sexo. Nesse sentido, ele


dirá: “Esse não sou eu. Vou controlar e suprimir esse
impulso”. Imagine agora um jovem que esteja
caminhando por Manhattan atualmente. Ele tem os
mesmos dois impulsos, ambos igualmente fortes, igual-
mente difíceis de controlar. O que ele dirá? No tocante
à agressão, ele pensará: “Não quero ser assim” e bus-
cará libertação na terapia e em programas de gestão
da ira. Ele refletirá, porém, sobre seu desejo sexual e
chegará à seguinte conclusão: “Este é quem eu sou”.
O que essa experiência mental nos revela? Basicamente,
que nossa identidade não é um produto simplesmente
interno... Na verdade, eles não estão simplesmente
“escolhendo ser eles mesmos”. Estão filtrando seus sen-
timentos, descartando alguns e abraçando outros. Eles
estão escolhendo ser o eu que sua cultura lhes diz que
podem ser.38

Dessa forma, nossos sentimentos e desejos


não são lugares seguros e confiáveis para encontrar-
mos a fonte da nossa identidade. Somos inconstan-
tes, contraditórios e instáveis. A afirmação da nossa
identidade precisa vir de fora de nós mesmos. Pre-
cisamos de reconhecimento externo. Mas as pessoas
ao meu redor – família e amigos – também não são
uma fonte totalmente confiável, pois são pecadores
como eu também sou. Deus, porém, de acordo com
as Escrituras, é um Deus santo, verdadeiro, fiel e
38 Timothy Keller, Pregação: comunicando a fé na era do ceticismo. São Paulo:
Vida Nova, 2017

88
O E VA N G E L H O E A H O M O S S E X UA L I DA D E

confiável. Por isso, o julgamento de Deus era o único


julgamento que importava para Paulo: “Mas a mim
pouco importa ser julgado por vocês ou por um tri-
bunal humano; nem eu julgo a mim mesmo. Porque
a consciência não me acusa de nada. Mas nem por
isso me dou por justificado, pois quem me julga é o
Senhor” (1 Co 4:3-4).
Tim Keller conclui:
A questão da identidade não é “quem sou eu?”, e sim
“de quem sou eu?”. Uma vez que a identidade sempre
decorre da aclamação e do reconhecimento de alguém
de fora de nós, quem quer que seja essa fonte, ou qual-
quer que seja ela, torna-se dona do nosso coração...
Somente se Deus nos chamar pelo seu nome, e se o
servirmos, seremos livres da escravidão, porque ele
nos ama por causa do que Jesus fez, e não pelo que nós
fizemos. Se ele nos chamar pelo seu nome – e se for-
mos dele – poderemos finalmente descansar em nossa
identidade de filhos de Deus.39

Portanto, nós não construímos ou conquista-


mos a nossa identidade, como sugerem alguns soció-
logos e filósofos modernos. Nós a recebemos de
Deus. Você precisa entender que pecado não é iden-
tidade. Você não é as suas tentações. Você não é as
suas obras. Você é aquilo que a cruz diz que você é:

39 Ibidem.

89
REDIMINDO A SEXUALIDADE

rebelde, mas foi amado. Culpado, mas foi perdoado.


Perdido, mas foi salvo. Inimigo de Deus, mas foi ado-
tado como filho. Jackie Hill Perry escreveu: “Talvez
as tentações ainda tenham voz, mas Deus também
tem voz. As Escrituras – inspiradas por Deus e eter-
namente úteis – têm a palavra final sobre a identi-
dade do santo”40.

O processo do discipulado
O Evangelho não chama pessoas gays para se
tornarem héteros. Isso é raso demais. Deus chama
pecadores para se tornarem seus filhos. A santificação
é o caminho para nos tornarmos as pessoas que Deus
nos criou para sermos: homens e mulheres com cora-
ção, mente e estilo de vida semelhantes ao de Jesus.
É comum que pessoas com problemas sexuais
vejam o pecado sexual como o único pecado que
elas precisam lidar. Isso acontece porque os pecados
sexuais nos cegam para os nossos outros pecados.
Pessoas que lutam contra atração pelo mesmo sexo
também precisam lutar contra o orgulho, a mentira,
o medo, a irresponsabilidade, a inconstância, a ira e
etc.Você não pode isolar um pecado, seja ele qual for,

40 Jackie Hill Perry, Garota Gay, Bom Deus. São José dos Campos: Fiel,
2020.

90
O E VA N G E L H O E A H O M O S S E X UA L I DA D E

e tratar exclusivamente dele porque enquanto você


faz isso, o Diabo trabalha para fortalecer todos os
outros. Você precisa reconhecer todos os seus peca-
dos e colocar todos eles diante de Deus. Novamente,
Jackie escreve: “Seguir a Jesus significa não apenas ter
a vida eterna, como também uma vida crucificada...
A vida crucificada é uma vida que persevera até o
fim, quando, de uma vez por todas, a cruz será subs-
tituída por uma coroa”41.

41 Ibidem.

91
PENSAMENTOS INICIAIS

Gabriel foi vítima de abuso sexual quando era criança. Ele é


cristão e entende que precisa vencer esses traumas e avançar
para algum lugar, mas para onde ele irá? Qual o destino de
Gabriel?

Marta ouviu as boas novas e decidiu se tornar uma seguido-


ra de Jesus. Mas ao olhar para o seu passado, ela lembra de
pessoas que a machucaram e feriram e não consegue sentir
nada que não seja raiva, desprezo e ódio por essas pessoas. O
que Marta pode fazer para lidar com essa situação?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 6 e as atualize após a leitura:

1. Qual a maior barreira para perdoar alguém que


lhe feriu?

2. O que é um sofrimento redimido?


6
TRAUMAS SEXUAIS

“Ainda não somos aquilo que um dia seremos,


mas estamos crescendo, indo passo a passo
nessa direção à vida verdadeira. Andar na luz
não é um passe de mágica.”
– David Powlison

O sexo e a sexualidade foram criados por


Deus, depravados e distorcidos pelo
pecado, mas podem ser redimidos e reno-
vados pelo Evangelho. Infelizmente, as feridas e
traumas que o pecado sexual e as violações deixam
em nosso corpo, mente e coração são profundos e
alguns nos acompanham por anos. Mas cremos na
Palavra de Deus e cremos que Ele, o Pai das luzes,
faz novas todas as coisas, não importa o quão gran-
des sejam as trevas.
Nesta lição, abordaremos alguns traumas da
área sexual que talvez você enfrente.

93
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Aborto
No capítulo 2, entendemos que o aborto é
pecado. Aqui, lidaremos com o trauma causado por
ele. E, sim, há cura para as pessoas envolvidas em
abortos, sejam pessoas que abortaram ou pessoas que
incentivaram e financiaram outras a fazerem isso. Há
redenção para uma multidão de pecados.
Em um artigo, o pastor Garrett Kell comparti-
lha o seu testemunho. Seu relato é longo, mas neces-
sário de ser lido:
Quando eu tinha 20 anos de idade [...] minha namo-
rada e eu descobrimos que ela estava grávida. Não
tínhamos planejado engravidar, mas ela engravidou.
Quando ela me deu a notícia, eu estava um pouco
nervoso, mas assegurei-lhe que iríamos descobrir
uma maneira de resolver a situação. Este vago assen-
timento foi seguido por uma pergunta que me levou
a um lugar em que nunca havia estado antes. Com
olhos temerosos, ela olhou para mim e pergun-
tou: “Você vai ficar comigo? Vai se casar comigo?”
Eu era jovem. Tinha esperanças, sonhos e planos. Tinha
toda a minha vida a minha frente; não estava pronto para
me casar ou para criar uma criança. Mas não tenho cer-
teza de que estivesse pensando sobre isso exatamente
desta forma, naquela época. Não sabia como pensar sobre
duras realidades. Eu só operava baseado no momento.
Disse à minha namorada não estava pronto para
me casar. Ela já sabia disso, mas as minhas palavras
o confirmaram. Uma pessoa amiga dela lhe deu os

94
TRAUMAS SEXUAIS

$400 que precisávamos para fazer “o procedimento”,


como as pessoas diziam. Eu estava junto quando ela
tomou a pílula. Estava junto quando demos des-
carga no vaso sanitário levando nosso filho. Estava
junto quando choramos, apesar de não sabermos
bem por quê. E às vezes, ainda sinto que estou lá.
Deus Interveio.
Penso sobre o fato de que nunca ouvi o riso do meu filho.
Nunca fitamos os olhares pela primeira vez. Nunca vi
um sorriso ou aplaudi primeiros passos. Nunca ouvi o
som de leitura ou suportei infindáveis perguntas
​​ sobre
por que o mundo é do jeito que é. Infelizmente, perdi
tudo isto porque não valorizava a vida do meu filho.
Meu filho teria 18 anos hoje. Eu estaria ansioso por
ligações sobre como a vida longe de casa está indo.
Às vezes penso sobre estas coisas. Mas não
me detenho nelas, porque Deus interveio.
Um ano após o aborto da minha namorada, um
amigo compartilhou as boas novas de Jesus Cristo
comigo. Comecei a ler a Bíblia e me convenci de
que Jesus realmente era quem dizia ser. Aprendi
que ele é o Salvador de pecadores, que morreu para
tomar nossa punição e ressuscitou para estender
o perdão. Pela graça de Deus, cri nessas verdades.
Um dos acontecimentos que o Senhor usou para me
despertar foi o aborto. Através da sua Palavra, ele me
mostrou que eu não era a boa pessoa que cria ser. Ao
contrário, eu era uma pessoa tão apaixonada por mim
mesmo, que concordei em acabar com a vida do meu
próprio filho, para manter a minha na direção que queria.
Mas é aqui que o evangelho brilha a luz na escuri-
dão com raios de esperança que dá vida. Isaías 53.5
diz sobre Jesus: “Mas ele foi ferido por causa das

95
REDIMINDO A SEXUALIDADE

nossas transgressões, e esmagado por causa das nos-


sas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava
sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.
[...] Amigo, não sei nada sobre você. Mas o Senhor
Jesus Cristo sabe. Ele sabe onde você esteve e o que fez.
Você pode ter uma história como a minha, ou pode ser
alguém que se gaba de que não tem tal tipo de pecado.
De qualquer maneira, a graça de Deus é suficiente para
cobrir sua transgressão e dar consolo em seu lugar.
Olhe para Jesus e encontre consolo, e, em seguida, dê
Seu consolo a outras pessoas que também necessitam
dele.42

A Planned Parenthood é a maior organização rea-


lizadora de abortos nos Estados Unidos. Em 2020,
essa empresa esteve envolvida em 374.871 abortos
no país. Atualmente (2021), Alexi Johnson é a pre-
sidente e CEO dessa empresa. Ela e toda equipe de
direção são responsáveis pela interrupção da gesta-
ção de centenas de milhares de crianças que são abor-
tadas ao longo dos anos. Mas aqui entra o Evangelho:
se ela e sua equipe se arrependerem de seus pecados
e colocarem a sua fé em Jesus, há perdão e graça para
eles.
Alguns anos atrás, saiu uma notícia de que os
casos de pessoas com Síndrome de Down haviam
42 Garrett Kell, “Encontrando o perdão após meu aborto”. Disponível
em: <https://www.thegospelcoalition.org/pt/article/encontrando-
-perdaeo-apos-meu-aborto/ >.

96
TRAUMAS SEXUAIS

cessado na Islândia. Isso porque 98% dos bebês que


era diagnosticados com essa condição eram aborta-
dos. Um crime cruel contra a humanidade. Mas há
redenção. Se os líderes políticos e judiciais da Islândia
se arrependerem de seus pecados e crerem no Evan-
gelho, existe salvação e restauração para eles.
Há graça para você também. O Senhor chama
você. Ele diz em Sua Palavra:

“Ah! Todos vocês que têm sede, venham às


águas; e vocês que não têm dinheiro, venham,
comprem e comam! Sim, venham e comprem,
sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por
que vocês gastam o dinheiro naquilo que não
é pão, e o seu suor, naquilo que não satisfaz?
Ouçam com atenção o que eu digo, comam
o que é bom e vocês irão saborear comidas
deliciosas. Deem ouvidos e venham a mim;
escutem, e vocês viverão. [...] Busquem o
Senhor enquanto ele pode ser encontrado;
invoquem-no enquanto ele está perto. Que
o ímpio abandone o seu mau caminho, e o
homem mau, os seus pensamentos; converta-se
ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se
para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.”
- Isaías 55:1-3, 6-7

97
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Abuso sexual
Abuso sexual é tudo aquilo que fere e viola a
sua intimidade antes do momento apropriado. Por
exemplo: acesso a pornografia na infância, ver os
pais tendo relação sexual, ser aliciado verbalmente
ou fisicamente e etc. A maioria das estatísticas apon-
tam que grande parte dos abusos sexuais ocorrem na
infância entre 1 e 5 anos de idade. Pesquisas mostram
que apenas 7,5% dos casos de exploração sexual
infantil no Brasil são denunciados43. Os responsáveis
pela campanha nacional de conscientização contra o
abuso e a exploração sexual infantil no Brasil, conhe-
cida como “Maio Laranja”, informam como é possí-
vel identificar uma criança que está sofrendo abuso
sexual44:
- Mudanças de comportamento: alterações de
humor entre retraimento e extroversão, agres-
sividade e vergonha excessiva, medo ou pânico.
- Proximidades excessivas: o abusador muitas
vezes manipula emocionalmente a criança para
ganhar sua confiança.

43 Todos esses dados foram compartilhados pela campanha nacional “Maio


laranja”. Para mais informações, recomendamos acessar: https://maiola-
ranja.org.br.
44 Ibidem.

98
TRAUMAS SEXUAIS

- Comportamentos infantis repentinos:


quando a criança ou adolescente volta a ter
algum comportamento infantil que já havia
abandonado anteriormente, isso sinaliza que há
algo errado.
- Silêncio predominante: a criança precisa
entender que ela não pode manter nenhum
segredo com algum adulto ou alguma criança
mais velha que não possa compartilhar com os
pais.
- Mudanças de hábitos súbitas: sono, falta de
concentração, aparência descuidada, e outros,
são indicativos de que algo está errado.
- Queda no rendimento escolar: queda injus-
tificada na frequência escolar ou baixo rendi-
mento causado por dificuldade de concentra-
ção na aprendizagem.
- Traumatismos físicos: os vestígios mais
óbvios em menores de idade são marcas de
agressão, doenças sexualmente transmissíveis e
gravidez.
- Enfermidades psicossomáticas: problemas
de saúde, sem aparente causa clínica, como
dor de cabeça, erupções na pele, vômitos e

99
REDIMINDO A SEXUALIDADE

dificuldades digestivas, que na realidade pos-


suem um fundo psicológico e emocional.
- Comportamentos sexuais: crianças que apre-
sentam um interesse por questões sexuais ou
que façam brincadeiras de cunho sexual e usam
palavras ou desenhos que se referem às partes
íntimas podem estar indicando uma situação de
abuso.
Se você conhece alguma criança ou adolescente
que está sendo vítima de abuso sexual e exploração,
ligue para o 190 e denuncie! A denúncia é importante
para que o abusador não volte a violentar a criança
ou o adolescente; para que outros não sejam sexual-
mente abusados; e para que aqueles que são abusados
não repitam, quando adultos, a violência sofrida.
O pastor e conselheiro bíblico David Powlison
escreveu o seguinte para vítimas de abuso infantil:
Você foi vítima de um erro terrível. Durante a sua
infância, época em que você era mais vulnerável, ao
invés de ser protegido, ajudado e consolado, você foi
abusado. Muito provavelmente, você foi abusado por
uma pessoa que deveria ser digna de confiança – um
membro da família, um professor, um vizinho, um trei-
nador, um pastor, um amigo. Ao invés de ser protegido,
você foi violentado. Foi tratado com malícia. Deter-
minada pessoa o usou, maltratou e tirou vantagem de

100
TRAUMAS SEXUAIS

você. Neste momento, você está se perguntando se a recu-


peração é possível.45

A resposta é: sim, cura e restauração são possíveis.


O convite de Jesus para redenção é tanto para os sexual-
mente imorais quanto para os que foram sexualmente
violados. Cristo deseja atrair para si os transgressores e
os feridos. Ele declarou: “Todo aquele que o Pai me dá,
esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o
lançarei fora” (Jo 6:37).
Experiências sexuais negativas como essas não
desaparecem simplesmente. Se não lidamos com elas,
elas se aprofundam, e causam todo tipo de problema. Às
vezes pessoas passam toda a vida com essas lembranças
guardadas no íntimo. Por isso, nunca experimentam ple-
namente o gozo do Senhor na área sexual.
Há alguns anos, temos abordado o tema do abuso
sexual em algumas escolas que nos têm dado espaço. O
Chat Escola é um projeto desenvolvido dentro das ins-
tituições de ensino, em turmas de adolescentes, onde
levamos a simplicidade do Evangelho através da con-
versa com alunos e professores. O nosso propósito é
ajudar adolescentes e jovens que já sofreram ou estão
sofrendo abuso sexual a confessar e buscar socorro, pois
entendemos que falar é o início do processo de cura.

45 David Powlison, Recuperando-se do abuso infantil. São José dos Campos: Fiel,
2017.

101
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Entendemos que o silêncio não significa que as coi-


sas estão bem. A necessidade de manter em silên-
cio uma situação abusiva é também entendida como
traumática. Dessa forma, a impossibilidade da pes-
soa que sofreu o abuso de revelar o que aconteceu,
juntamente com o medo de não ser compreendida
pelos adultos próximos, a leva, muitas vezes, ao iso-
lamento, o que fortalece ainda mais a vivência de
desamparo. O segredo está associado ao despertar
das primeiras curiosidades sexuais e à culpa.
Muitos jovens e adolescentes já comparti-
lharam conosco o quanto tem sido libertador falar
e pedir ajuda. Temos visto que os danos do abuso
sexual podem ser diversos e severos na vida dos
jovens, incluindo consequências físicas, cognitivas,
emocionais e sociais. Muitas adolescentes têm iden-
tificado o abuso sexual como um trauma para o resto
da vida. Diante dessa condição traumática e confli-
tuosa, instalada pela situação abusiva, misturam‑se
sentimentos de vergonha, medo e desamparo. Tais
sentimentos evocam a confusão que se organiza,
decorrente das ameaças, da culpa e do temor de
ser incompreendido no caso de uma revelação, o
que é bem evidenciado em algumas falas que temos
ouvido de meninas:

102
TRAUMAS SEXUAIS

Me sinto mal, porque é uma coisa que não quero fazer,


ainda mais porque isso é ruim.
(L, 14 anos)

Me sinto sozinha e envergonhada porque não consigo


falar para minha mãe, pois quem me abusa é o pai
dela... Quero ficar só na escola e não sair mais porque
a minha casa já não é mais um lugar de segurança.
(M, 13 anos).

É muito comum, depois do abuso sexual, as


pessoas lutam contra a vergonha, o ódio, a culpa e
a sensação de impureza por ter tido a pureza arran-
cada de maneira tão violenta. Lidar com lembran-
ças perturbadoras, depressão, baixa autoestima,
insegurança, dificuldades sexuais (quando adulta),
mágoas de quem a abusou. Se você foi abusado
sexualmente e até hoje não teve coragem de con-
tar para ninguém, queremos lhe dizer que a cura é
possível! Através da graça de Deus, você pode ser
completamente restaurado (a)!
O pastor David Powlison cita um exemplo de
história redimida:
Há alguns anos, eu aconselhei uma mulher de
35 anos de idade chamada Joann. Dos três aos
catorze anos de idade, ela sofreu terríveis abu-
sos físicos e sexuais nas mãos de muitos parentes

103
REDIMINDO A SEXUALIDADE

do sexo masculino. Por fim, ela foi salva por uma


assistente social e levada a um orfanato. Quando
me encontrei com ela, Joann estava casada, tinha
dois filhos e havia se tornado assistente social que
aconselhava crianças que haviam sido abusadas.
Ela não havia se esquecido de seu sofrimento e ainda
lidava com as consequências dele; porém, a sua his-
tória de vida ia além de seu abuso. Ela estava criando
um lar amoroso para o seu marido e os seus filhos,
bem como alcançando outras pessoas que estavam
sofrendo como ela havia sofrido. O sofrimento dela
não foi esquecido; foi redimido.46

Por isso, creia que os traumas deixados pelo


abuso sexual ficaram para trás. Descanse na reden-
ção proporcionada pela cruz. Assim como o após-
tolo Paulo, olhe para o chamado que Deus tem para
você:

“... uma coisa faço: esquecendo-me das coisas


que ficaram para trás e avançando para as
que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim
de ganhar o prêmio do chamado celestial de
Deus em Cristo Jesus.”
- Filipenses 3:13-14

46 Ibidem.

104
TRAUMAS SEXUAIS

Perdoe quem lhe feriu


As Escrituras dizem: “E, havendo dito isto,
soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espirito
Santo. Se de algum perdoardes os pecados, são lhes
perdoados; e se lhos retiverdes, são retidos” (João
20.22-23). Isso significa que para sermos capazes de
perdoarmos como Deus o faz, isso tem de acontecer
pelo poder do seu Espírito. Como escreve Westcott:
“Nada, superficialmente, parece mais simples do que
o perdão, ao passo que nada, se olharmos profunda-
mente, é mais misterioso ou mais difícil”.
Em um episódio de podcast do Desiring God,
o pastor John Piper disse: “Ser capaz e disposto a
perdoar cresce a partir da raiz de ser perdoado…
Quando me sinto mais culpado pelo horror do meu
próprio pecado contra Deus e contra Jesus, e quando
me sinto mais maravilhado com o meu próprio per-
dão, e mais atordoado com a magnitude do que cus-
tou no sofrimento de Jesus, sou menos provável ficar
com raiva daqueles momentos com aqueles que me
enganaram”.
Há um outro perigo também envolvendo a
vida sexual do casal e o trauma que isso pode gerar
nos filhos. As crianças enxergam no pai e na mãe a
figura de proteção e segurança. Ela não tem muita

105
REDIMINDO A SEXUALIDADE

noção do que se trata a situação. Tudo o que ela


conhece do mundo foi o pai e mãe que trouxeram.
Visualizar uma cena de sexo é como uma espécie
de agressão, uma situação de violência. Quando a
criança presencia uma cena de sexo entre os pais
é gerado uma formatação de um trauma sexual. A
leitura que ela faz é de que os grandes cuidadores
estão agindo de forma violenta e isso a choca em
vários sentidos.
Confira o seguinte esclarecimento:
Psicóloga clínica especializada em psicoterapia
do trauma e hipnose ericksoniana, Mariana Silva
Lima afirma que presenciar uma cena de sexo
entre os pais gera na criança uma formatação de
um trauma sexual. “A criança não tem muita noção
do que se trata a situação. Tudo o que ela conhece
do mundo foi o pai e mãe que trouxeram. Visua-
lizar uma cena de sexo é como uma espécie de
agressão, uma situação de violência”, assegura.
A psicóloga pontua que as crianças enxergam o pai
e na mãe a figura de proteção. “A leitura que ela faz
é que de que os grandes cuidadores estão agindo de
forma violenta e isso a choca em vários sentidos”,
diz. De acordo com Mariana Silva Lima, como a per-
cepção em relação ao mundo é ainda muito limitada,
os pequenos acabam formatando um ato de viola-
ção e, em muitos casos, um abuso sexual. “A maioria
dos pais não tem a noção real de que uma criança

106
TRAUMAS SEXUAIS

pequena vai entender aquela situação como abuso”,


pondera.47

Uma palavra aos pais


Muitos pais têm dificuldade de falar a respeito de
sexualidade com os seus filhos porque não se sentem
à vontade para conversar sobre estes assuntos íntimos
como casamento, namoro e sexo, optando por não
falar sobre isso em casa. Entretanto, o distanciamento
em relação aos filhos é um dos fatores que contribui
para sustentar o medo do filho de expor uma situação
de abuso ou dúvidas que ele enfrentar na sua cami-
nhada. O pai tem a responsabilidade de proteger e
guiar os seus filhos. Precisamos ver nossos filhos como
a boa terra onde estamos lançando sementes que pro-
duzirão muitos frutos nas gerações vindouras. Chegou
o tempo de nos arrependermos da nossa omissão e
sermos zelosos com a herança que Deus nos confiou.
Essa é uma responsabilidade que não podemos mais
deixar nas mãos de outros (tias do ministério infantil,
professores da escola, líderes na igreja e etc.).
Em Provérbios 22:6, está escrito: “Ensina a
criança no caminho que deve andar, e até quando

47 Disponível em: <https://www.uai.com.br/app/noticia/


saude/2013/12/02/noticias-saude,193371/presenciar-cena-de-sexo-
-dos-pais-pode-traumatizar-criancas.shtml>.

107
REDIMINDO A SEXUALIDADE

envelhecer não se desviará dele.” A Bíblia não diz que o


pai deve apenas ensinar o caminho, ele deve ensinar no
caminho, ou seja, ele deve guiar em todos os momen-
tos da vida. Este é o maior legado que um pai pode
deixar para os seus filhos: a fé em Cristo e a obediência
à Palavra de Deus. Como lemos no versículo acima, se
ensinarmos os filhos no caminho em que devem andar,
mesmo depois de muito tempo, eles não se desviarão
dele. É para isso que tenho [Mac] me gastado e entendo
ser o meu maior encargo neste tempo: que as minhas
filhas andem nessa direção dada por Deus.

108
PENSAMENTOS INICIAIS

Fernanda tem orgulho da sua “pureza”. Ela nunca teve


nenhuma relação sexual, nem compartilhou nenhuma foto
imprópria com ninguém. Porém, ela tem muitos pensamen-
tos e fantasias imorais. Além disso, ela não acha que ficar
com outros garotos seja algo necessariamente errado. Qual
o problema do conceito de pureza de Fernanda?

Eduardo e Carla são amigos há bastante tempo. Se consi-


deram até mesmo melhores amigos. Mesmo depois de Carla
ter se casado, ela e Eduardo continuaram muito próximos,
pois eram confidentes um do outro. Quais os perigos que
essa amizade pode gerar para ambos?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 7 e as atualize após a leitura:

1. O que significa ser puro?

2. Qual o plano de Deus para os cristãos em relação


ao casamento?
7
PUREZA, VIRGINDADE E A GLÓRIA DE
DEUS

“Você não pode evitar que os passarinhos voem


sobre a sua cabeça, mas pode evitar que eles
façam um ninho nos seus cabelos.”
– Martinho Lutero

N este capítulo, abordaremos o significado de


pureza e a sua relação com a virgindade.
Cremos que o Senhor criou o nosso corpo
para ser usado e cuidado de uma maneira que seja
para a sua glória.

Por que pecamos tanto?


A impureza sexual não se encontra, inicial-
mente, na sexualidade do homem e da mulher. Ela
se encontra no coração humano. Não pecamos, em
primeiro lugar, por causa do excesso de sexualidade
ou excesso de desejo sexual que há em nós. Pecamos

110
PUREZA , VIRGINDADE E A GLÓRIA DE DEUS

e caímos na impureza por causa da ausência de algo em


nosso coração: o amor. O apóstolo Paulo escreveu:

“Não fiquem devendo nada a ninguém, exceto o


amor de uns para com os outros. Pois quem ama
o próximo cumpre a lei. Pois estes mandamentos:
“Não cometa adultério”,“não mate”,“não furte”,
“não cobice”, e qualquer outro mandamento que
houver, todos se resumem nesta palavra:“Ame o seu
próximo como você ama a si mesmo.” O amor não
pratica o mal contra o próximo. Portanto, o cum-
primento da lei é o amor.”
- Romanos 13:8-10

Em Romanos 13, Paulo afirma que se há amor,


então os outros pecados não são cometidos. Nesse sen-
tido, se desejamos abandonar o pecado, não é suficiente
tratar apenas do pecado, parando de fazer algo, mas é
essencial que outra coisa seja cultivada: o amor. Cultivar
o amor no coração é o que terá um impacto profundo
no restante da nossa vida, de quem nós somos e do que
fazemos. Se não cumprimos a Lei de Deus é porque falta
amor em nós – amor por Deus, pelo próximo e por nós
mesmos. Pouca obediência é resultado de pouco amor.
Porém, o único solo em que o amor pode ser verdadei-
ramente cultivado é o do relacionamento com o Pai.

111
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Deus é amor e, portanto, quem não ama a Deus não


sabe o que é o amor. Dessa forma, entendemos que
o pecado não é um fruto do excesso de tentação,
mas da falta de comunhão com Deus. Em outras
palavras, os nossos pecados são resultados da ausên-
cia de algo, não do excesso.
Jesus não estava livre das tentações. Hebreus 4:15
afirma: “... ele foi tentado em todas as coisas, à nossa
semelhança, mas sem pecado”. Cristo não caiu em
pecado porque Ele sabia como olhar com amor para
Deus, para Si mesmo e para cada pessoa ao seu redor.
Jesus não permaneceu sempre em santidade e pureza
porque as tentações e desejos eram inexistentes, mas
porque Ele tinha excesso de amor nele mesmo.
Assim, finalmente entendemos que os nos-
sos problemas com o sexo não estão na sexualidade
apenas, mas, principalmente, no nosso coração. O
pecado não nasce por causa da presença da sexuali-
dade, ela é uma boa criação de Deus, mas por causa
da falta do amor que nasce do relacionamento e inti-
midade com o Pai.

Lidando com as tentações


Não adianta você procurar explicações para um
pecado específico que vive caindo se você não tem

112
PUREZA , VIRGINDADE E A GLÓRIA DE DEUS

uma vida de oração. Jesus ensinou aos seus discípulos


que para afastarem a tentação, eles deveriam orar:

“E, voltando para os discípulos, achou-os dor-


mindo. E disse a Pedro: Então nem uma hora
vocês puderam vigiar comigo?Vigiem e orem,
para que não caiam em tentação; o espírito,
na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.”
- Mateus 26:40-41

E ao orarmos, devemos sempre confessar nos-


sos pecados ao Senhor, nos arrependermos e medi-
tarmos na santidade de Deus. Nos arrependemos em
oração ao sermos transparentes com Deus e nos dedi-
camos cada vez mais a oração para não precisarmos
nos arrepender novamente dos mesmos pecados.
Thomas Brooks, escritor do século 17, em seu livro
Precious remedies against Satan’s devices [Remédios
preciosos contra as artimanhas de Satanás], defende
o argumento de que Satanás nos tenta assegurando
que sempre é possível se arrepender mais tarde. “Mas
aquele que agora o tenta a pecar, dizendo que o arre-
pendimento é fácil, irá, muito em breve, levá-lo ao
desespero, e destruirá para sempre a sua alma, [e] lhe
apresentará o arrependimento como a coisa mais difícil
e penosa do mundo.48

48 Timothy Keller, A Sabedoria de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2019.

113
REDIMINDO A SEXUALIDADE

A importância da virgindade
Deus criou o sexo para ser desfrutado den-
tro da aliança matrimonial entre um homem e uma
mulher. Ao contemplar a mulher que Deus havia
criado, Adão não teve uma relação sexual com ela
de imediato. Antes da união física, o homem fez
uma aliança com a mulher e os votos desse com-
promisso são: “Esta é agora osso dos meus ossos, e
carne da minha carne; esta será chamada mulher,
porquanto do homem foi tomada” (Gn 2:23). Con-
fira o capítulo 12 para entender melhor esse ponto.
Além disso, Paulo afirma que aqueles que pos-
suem desejos sexuais devem se casar (1Co 7:8-9),
ou seja, “o caminho de Deus para satisfação sexual é
o casamento”49.
Portanto, a ensino bíblico é claro: o sexo foi
algo criado por Deus para ser praticado dentro do
casamento entre marido e esposa. Isso significa que
homens e mulheres cristãos devem se abster de toda
e qualquer relação sexual pecaminosa. Em Hebreus
13:4, está escrito: “Honrem o casamento e mante-
nham pura a união conjugal, pois Deus certamente
julgará os impuros e os adúlteros”. Os “impuros”

49 Augustus Nicodemus, Sexo e santidade: viva sua sexualidade como Deus a


planejou. Rio de Janeiro: GodBooks, 2020.

114
PUREZA , VIRGINDADE E A GLÓRIA DE DEUS

referem-se aos solteiros que praticam o sexo antes


do casamento. Os “adúlteros” referem-se aos casa-
dos que praticam o sexo fora do casamento.
Um autor destaca:
Se você realmente está interessado em descobrir se a
pessoa com quem vai se casar é a certa para você, lem-
bre-se de que sexo é a menor das suas preocupações,
porque a maior parte do casamento tem a ver com
relacionamento, amizade, companhia, afinidade de
espíritos, prazer de fazer atividades juntos, capacidade
de perdoar e ser perdoado, desejo de compreender o
outro, sintonia na criação de filhos, compartilhamento
de prioridades financeiras e outras questões de maior
impacto.50

Pureza é mais do que virgindade


O termo “pureza” tinha vários usos nos dias
do Novo Testamento. Ele era usado para designar a
roupa suja que foi limpa; também era usado ao se
referir ao trigo que tinha sido separado da sua palha.
Era usado para descrever o vinho ou leite que não
havia sido adulterado mediante adição de água.
O sentido bíblico de pureza significa destituído
de hipocrisia, ou seja, uma devoção não dividida. Sal-
mos 86:11 diz: “Dispõe-me o coração para só temer
o teu nome”. Jesus, em Mateus 10:28, afirmou: “Não
50 Ibidem.

115
REDIMINDO A SEXUALIDADE

temam os que matam o corpo, mas não podem matar


a alma; pelo contrário, temam aquele que pode fazer
perecer no inferno tanto a alma como o corpo”. Em
outras palavras, o nosso grande inimigo é o nosso cora-
ção dividido. Uma parte do meu ser quer conhecer,
adorar e agradar a Deus, mas uma outra parte quer algo
diferente. Romanos 7:22-23 diz: “Porque no tocante
ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas
vejo nos meus membros outra lei que guerreando
contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei
do pecado que está nos meus membros”. Portanto, o
coração limpo é o coração que não está dividido.
Paulo deixou a seguinte instrução:

“Quanto ao mais, irmãos, já os instruímos


acerca de como viver a fim de agradar a Deus
e, de fato, assim vocês estão procedendo. Agora
lhes pedimos e exortamos no Senhor Jesus que
cresçam nisso cada vez mais. […] A vontade
de Deus é que vocês sejam santificados: abs-
tenham-se da imoralidade sexual. Cada um
saiba controlar o próprio corpo de maneira
santa e honrosa, não com a paixão de desejo
desenfreado, como os pagãos que desconhecem
a Deus. Neste assunto, ninguém prejudique
a seu irmão nem dele se aproveite. O Senhor

116
PUREZA , VIRGINDADE E A GLÓRIA DE DEUS

castigará todas essas práticas, como já lhes


dissemos e asseguramos. Porque Deus não nos
chamou para a impureza, mas para a santi-
dade. Portanto, aquele que rejeita estas coisas
não está rejeitando o homem, mas a Deus, que
lhes dá o seu Espírito Santo.”
- 1 Tessalonicenses 4.1, 3-8

Sendo restaurado ao lugar de pureza


O plano original de Deus é que seus filhos
se casem virgens e glorifiquem a Ele dessa forma.
Mas, como vimos, Ele deseja mais do que isso, Ele
deseja que seus filhos se casem puros e ser virgem
não significa, necessariamente, ser puro. É impor-
tante ensinarmos nossos filhos e adolescentes a se
guardarem para o casamento. A virgindade é algo
precioso para o Senhor. Mas também é possível ser
puro mesmo após já ter perdido a virgindade peca-
minosamente. Edwin Louis Cole escreveu:
Pode ser que esteja pensando agora mesmo: “Meu
Deus, se ao menos eu pudesse ter de volta minha vir-
gindade!” Embora a virgindade física nunca possa ser
recuperada, o espírito e a glória da virgindade podem
ser restaurados. Deus o está chamando para uma vida
de excelência e integridade.51

51 Edwin Louis Cole, Integridade Sexual, Pompeia: Universidade da Famí-


lia, 2010.

117
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Por meio da oração e de um relacionamento


constante com Deus, sua mente e seu coração podem
ser purificados e santificados. Mesmo que já tenha
caído em pecado algumas vezes, você pode decidir
hoje consagrar o seu corpo, os seus pensamentos
e o seu futuro ao Senhor. As Escrituras declaram:
“Assim, pois, se alguém se purificar destes erros,
será utensílio para honra, santificado e útil ao seu
senhor, estando preparado para toda boa obra. Fuja
das paixões da mocidade. Siga a justiça, a fé, o amor
e a paz com os que, de coração puro, invocam o
Senhor” (2 Timóteo 2:21-22).
É importante entender, antes de tudo, que o sexo é
uma dádiva do Criador. Ele o criou para benefício,
prazer, deleite e multiplicação da humanidade. O
sexo é uma forma profunda de comunhão e relaciona-
mento, que serve de base para a alimentação e o forta-
lecimento de relacionamentos entre marido e mulher.
Trata-se, portanto, de algo muito bom. Quando pra-
ticado dentro da vontade de Deus, não é sujo, não é
pecado, não é complicado: é uma bênção!52

Portanto, é essencial que você conserve seu


corpo e seu coração em pureza; que os guarde do
pecado e das obras da carne. Colocar-se diante da

52 Augustus Nicodemus, Sexo e sexualidade: viva sua sexualidade como Deus a


planejou. Rio de Janeiro: GodBooks, 2020.

118
PUREZA , VIRGINDADE E A GLÓRIA DE DEUS

Palavra é fundamental para isso. A escritora Rosaria


Butterfiel afirmou:
O pecado interior é um parasita e devora tudo o que
você faz. A palavra de Deus é um veneno para o pecado
quando abraçada por um coração renovado pelo Espí-
rito Santo. Você mata de fome o pecado interior ali-
mentando-se profundamente com a palavra de Deus.
O pecado não pode permanecer onde há a palavra de
Deus. Portanto, preencha seu coração e mente com as
Escrituras.53

53 Rosaria Butterfield. “O beco sem saída do pecado sexual”. Disponí-


vel em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/2021/03/o-beco
-sem-saida-do-pecado-sexual/>.

119
PENSAMENTOS INICIAIS

Larissa é jovem, se casou e teve filhos. O seu marido possui


uma boa renda para sustentar a família, porém ela preferiu
continuar trabalhando e deixar os seus filhos às vezes na
creche, às vezes com a babá. Onde Larissa está
errando? Por quê?

Clara acredita que como Deus criou homem e mulher


iguais em honra e valor, não há motivo para que os papéis
dela e do marido sejam diferentes. A Bíblia ensina que ho-
mem e mulher possuem papéis iguais ou complementares?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 8 e as atualize após a leitura:

1. Quais os principais papéis da mulher no lar?

2. Quais as principais marcas da feminilidade bíblica?


8
FEMINILIDADE BÍBLICA

“Quanto mais femininas, mais os homens


serão masculinos e mais Deus será glorifi-
cado. Seja mulher, seja unicamente mulher;
seja uma mulher de verdade, em plena
obediência a Deus.”
– Elisabeth Elliot

N este capítulo, estudaremos alguns tra-


ços e marcas da feminilidade que pode-
mos identificar na Palavra de Deus.
Você, mulher, ore para que o Senhor lhe guie e
molde por sua Palavra para se tornar uma mulher
sábia. Você, homem, peça que o Senhor lhe apre-
sente uma mulher bíblica para se casar. Se você
já é casado, se esforce pastoralmente para que
sua esposa glorique ao máximo o Senhor com sua
identidade feminina.

121
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Complementarismo
Homens e mulheres são iguais em dignidade
e complementares em seus papéis no casamento e
na família. Esta visão bíblica dos papéis masculinos
e femininos é chamada de complementarismo. Isso
significa que o homem e a mulher possuem missões
e vocações diferentes no lar, mas que se complemen-
tam como peças diferentes de um mesmo quebra-ca-
beça. Um autor explica o seguinte:
O complementarismo ensina que Deus criou o homem
e a mulher iguais em valor e dignidade, segundo Gêne-
sis 1; mas ele também deu a eles diferentes papéis rela-
cionados um ao outro, segundo Gênesis 2. Esse equilí-
brio entre a igualdade e a diferença significa que alguns
aspectos do discipulado serão unissex, enquanto que
outros aspectos serão específicos para cada gênero...
De acordo com Gênesis 1, o homem e a mulher devem
ambos focar em trazer o domínio e senhorio de Deus
para a terra. Mas de acordo com Gênesis 2, eles têm
diferentes maneiras de fazer isso. O homem é orientado
ao Jardim, enquanto a mulher é orientada ao homem e a
ser uma auxiliadora idônea para ele. Ela deve empregar
toda a concentração de seus dons e talentos para promo-
ver o trabalho da administração dele. Ele, por sua vez,
deve administrar os dons dela com máxima efetividade,
e não enterrá-los no chão como o servo infiel.54

54 Jonathan Leeman, “Como homens e mulheres se complementam no


discipulado?”. Disponível em: <https://ministeriofiel.com.br/artigos/
como-homens-e-mulheres-se-complementam-no-discipulado/>.

122
FEMINILIDADE BÍBLICA

Assim, o complementarismo conclui que a


liderança sacrificial do marido é o chamado divino
para assumir a responsabilidade primária de dire-
cionar, proteger e prover o seu lar como um servo
de Cristo. A submissão bíblica para a esposa é o cha-
mado divino para honrar e afirmar a liderança do seu
marido, ajudando-o, a partir de seus dons, a realizá-
-la. “Uma auxiliadora que lhe seja idônea”, como diz
Gênesis 2.18.
O marido carrega uma missão dada pelo Senhor.
A esposa se submete a essa missão e coopera com ela.
Por isso, é fundamental que, antes do casamento, a
mulher tenha clareza do destino para o qual o seu
futuro cônjuge está caminhando.

A interdependência no casamento
Alguns movimentos feministas pregam que a
mulher deve ser independente do homem e considera
o casamento como um retrocesso porque, ao se casar,
a mulher se tornaria dependente do marido. Em con-
trapartida, a Bíblia afirma que “no Senhor, todavia, nem
a mulher é independente do homem, nem o homem é
independente da mulher. Porque, assim como a mulher
foi feita do homem, assim também o homem nasce da
mulher; e tudo vem de Deus” (1 Co 11:11-12).

123
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Gênesis 3 narra a queda da humanidade no pecado.


Após a rebeldia humana, Deus proferiu as maldições
que seriam a consequência do pecado e que acompa-
nhariam o homem e a mulher por todas as gerações:

“À mulher, ele declarou: Multiplicarei gran-


demente o seu sofrimento na gravidez; com
sofrimento você dará à luz filhos. Seu desejo
será para o seu marido, e ele a dominará.”
- Gênesis 3:16

A queda faria com que a mulher desejasse con-


trolar seu marido, mas ele lhe dominaria. Ou seja, há
pecado dos dois lados: do lado feminino, há o desejo
por controle (manipulação) do homem, enquanto do
lado masculino, há a liderança por intimidação. O con-
traste desse retrato da queda com a redenção de Cristo
no casamento é o de que a esposa deve se submeter ao
seu marido e o marido deve liderar servindo e amando
sacrificialmente a sua esposa.

O corpo feminino
Uma frase constantemente repetida na socie-
dade é: “Meu corpo, minhas regras”. Com isso,
muitos defendem que a mulher possui total auto-
nomia sobre o seu corpo, podendo fazer o que bem

124
FEMINILIDADE BÍBLICA

entender com ele e não deve nenhuma satisfação a


ninguém quanto a isso. Mas a Bíblia mostra uma visão
totalmente diferente:

“Acaso, não sabeis que o vosso corpo é o templo


do Espírito Santo, que habita em vós, prove-
niente de Deus, e que não sois de vós mesmos?
glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no
vosso espírito, os quais pertencem a Deus.”
- 1 Coríntios 6:19-20

Segundo a Palavra de Deus, o nosso corpo não


nos pertence, mas é propriedade do seu Criador. Por-
tanto, Deus é quem estabelece as regras que devemos
seguir. Ao declarar “meu corpo, minhas regras”, as
feministas estão negando a autoridade de Deus sobre
suas vidas. Mulher cristã, se o seu corpo é de Deus,
as regras são de Deus!
A escritora Kathleen Nielson, em O que Deus
diz sobre as mulheres, declara:
O corpo feminino conta as verdades sobre Deus: pri-
meiro, sobre Deus, o Criador. As Escrituras revelam
que Deus, em sua soberana bondade, criou as porta-
doras femininas de sua imagem com corpos prontos
para conceber e portar uma nova vida. Mesmo antes
da Queda, Eva foi projetada com a capacidade de dar à
luz filhos (Gn 1.28). O corpo feminino é distinto, feito

125
REDIMINDO A SEXUALIDADE

para complementar o corpo masculino como criação


de Deus separada e bela — refletindo, de modo vívido,
o poder de Deus criar a vida.55

Dentro desse contexto, o apóstolo Paulo


ordena o seguinte nas Escrituras:

“Da mesma forma, que as mulheres, em traje


decente, se enfeitem com modéstia e bom senso,
não com tranças no cabelo, ouro, pérolas ou
roupas caras, porém com boas obras, como con-
vém a mulheres que professam ser piedosas.”
- 1 Timóteo 2:9-10

Pedro, outro apóstolo, escreveu em uma de


suas cartas a seguinte instrução para as mulheres:

“Que a beleza de vocês não seja exterior,


como tranças nos cabelos, joias de ouro e
vestidos finos, mas que ela esteja no ser inte-
rior, uma beleza permanente de um espírito
manso e tranquilo, que é de grande valor
diante de Deus. Pois foi assim também que,
no passado, costumavam se enfeitar as santas
mulheres que esperavam em Deus...”
- 1 Pedro 3:3-5
55 Kathleen Nielson, O que Deus diz sobre as mulheres: feminili-
dade x feminismo. São José dos Campos: Fiel, 2018.

126
FEMINILIDADE BÍBLICA

Nessas passagens, os apóstolos não estão conde-


nando e proibindo o cuidado feminino com a beleza
exterior. O grande conselheiro bíblico Jay Adams
afirma o seguinte:
... aprenda a tornar-se tão fisicamente atraente quanto
possível. Se for preciso fazer um regime, faça-o; se não
souber escolher as roupas que lhe sirvam, ou não sou-
ber qual o melhor jeito de pentear seu cabelo, aprenda.
Contudo, não se deixe dominar pelo aspecto da apa-
rência física. Embora você deva ser tão atraente quanto
possível (a noiva deve se adornar para seu marido - cf.
Ap 21.2 e Ap. 19.7-8, os quais asseveram que a noiva já
se preparou para se encontrar com o noivo), não deve
dar valor excessivo à beleza física.56

O ponto principal dos autores bíblicos é:


“Não se vista como as pessoas soberbas/influentes/
sexualmente imorais de seus dias, uma vez que isso
oculta o seu comprometimento com Cristo; Não se
vista de forma que seu corpo chame mais atenção
do que suas obras como uma mulher piedosa”57. Ou
seja, Deus criou o seu corpo para revelar beleza,
mas não apenas isso. Ele o criou para revelar sabe-
doria, piedade e amor.

56 Jay E. Adams, A vida cristã no lar. São José dos Campos: Fiel, 2018.
57 Julian Freeman,“Quão reveladora a roupa de uma mulher cristã deve ser?”.
Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/2022/01/
quao-reveladora-a-roupa-de-uma-mulher-crista-deve-ser/>.

127
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Pergunta: Simplesmente, quão reveladora a roupa de


uma mulher cristã deve ser? Resposta: Muito reve-
ladora… de fato, as mulheres cristãs devem dese-
jar vestir-se da maneira mais reveladora possível. É
claro que o que elas devem revelar é algo diferente de
carne. Mulheres cristãs, além de ter a meta de “cobrir
o corpo”, deveriam ter como objetivo “revelar o evan-
gelho” quando escolhem as roupas toda manhã. [...]
Então, quão reveladora a roupa de uma mulher cristã
deve ser? Deve ser muito reveladora. Deve reve-
lar sua castidade, suas boas obras, sua humildade de
serva, e seu amor pelos outros que se recusa a fazer-se
muito de si mesma. Mas, principalmente, deve reve-
lar o evangelho que a salvou e que é o Senhor dela.
Um evangelho que se regozija em recusar a glória e
a liberdade devido ao amor ao próximo. A roupa de
uma mulher deve – e irá – revelar o seu Deus.58

O pastor Josemar Bessa disse certa vez: “O teu


corpo te frusta porque você pensa que ele é para
atração, e não para adoração”. Em suma, a coisa
mais importante a entendermos sobre essa temá-
tica (vestes femininas) é o seguinte: você se veste
de acordo com aquilo que você adora. Suas roupas e
suas fotos nas redes sociais são expressões externas
da adoração que há em seu coração. Talvez seu cora-
ção ame a aceitação e aprovação das outras pessoas;
talvez ele ame os olhares de desejo dos homens;

58 Ibidem.

128
FEMINILIDADE BÍBLICA

talvez ele ame a independência, ou seja, fazer o que


quiser sem se importar com nada; ou talvez ele ame
o Senhor Jesus e o Seu Povo. Antes de uma mudança
no guarda-roupa, precisamos de uma mudança no
coração.
Uma última nota do pastor Jay Adams:
Uma cristã cheia de vida, que irradia aquela beleza
interior do coração, é muito mais atraente para o tipo
certo de rapaz cristão (o único tipo que você deseja)
do que a jovem cheia de beleza estonteante, mas vazia
por dentro. Uma mulher que desenvolve suas capa-
cidades domésticas, que é razoavelmente atraente
e, por si mesma, uma crente vibrante é uma pessoa
irresistível!59

O papel da mulher no lar


Como dissemos anteriormente, homens e
mulheres possuem vocações diferentes e complemen-
tares na família. Abordaremos agora alguns papéis
femininos no lar.

Amar
Em uma passagem das Escrituras, o apóstolo
Paulo diz: “Do mesmo modo, quanto às mulheres
idosas, que tenham conduta reverente, não sejam
caluniadoras, nem escravizadas a muito vinho. Que

59 Jay E. Adams, A vida cristã no lar. São José dos Campos: Fiel, 2018.

129
REDIMINDO A SEXUALIDADE

sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens


recém-casadas a amar o marido e os filhos” (Tt 2:3-
4). O apóstolo está afirmando que as mulheres mais
jovens devem aprender a amar a família. Sobre isso,
o pastor Augustus Nicodemus destaca:
Amor é algo que se aprende. Paixão é dife-
rente: ou se tem ou não, mas amor é algo que
se aprende. É interessante notar que não há
nenhuma passagem da Bíblia que diga explicita-
mente “amarás teu namorado”, pois amor é pres-
suposto para o casamento e não para o namoro.
É o casamento que faz o amor e não o contrário.
Portanto, não é bíblica a argumentação de que se
pode terminar o casamento porque o amor acabou.
Essa é a desculpa mais furada do mundo, porque
o amor verdadeiro só pode existir dentro do casa-
mento. O que pode haver antes é uma atração, uma
paixão, um início de sentimento, mas, oficialmente,
amor mesmo é quando você cumpre os votos. Amar
é ser fiel à pessoa que escolheu e a quem dedica sua
vida. Isso é amor de verdade.60

Amar é fazer o melhor para o outro. Isso não


significa fazer tudo o que outro quer, mas agir em
seu benefício próprio. Como você tem expressado
seu amor pelo seu marido?

60 Augustus Nicodemus, Sexo e santidade: viva sua sexualidade como Deus a


planejou. Rio de Janeiro: GodBooks, 2020.

130
FEMINILIDADE BÍBLICA

Honrar
Em uma de suas cartas, Paulo ordena: “No
entanto, também quanto a vocês, que cada um ame
a própria esposa como a si mesmo, e que a esposa
respeite o seu marido” (Ef 5:33). A esposa deve
honrar o seu marido, jamais difamar ou manchar a
sua imagem falando mal dele ou o incitando à ira. A
mulher deve zelar pelo seu matrimônio, estar atenta
às possíveis ciladas e estar sempre em concordância
e harmonia com seu marido.
Quando há muitos conflitos e discordâncias
no lar e o marido parece muitas vezes irracional aos
olhos da esposa, ela será mais tentada ainda a falar
mal dele para outras pessoas. A Escritura declara:

“A mulher virtuosa é a coroa do seu marido,


mas a que envergonha o marido é como podri-
dão nos seus ossos. [...] Melhor é morar numa
terra deserta do que com a mulher briguenta
e geniosa.”
- Provérbios 12:4; 21:19

Submissão
Em seu comentário bíblico, o pastor David
Merkh inicia a temática da submissão feminina no lar

131
REDIMINDO A SEXUALIDADE

explicando o que não significa submissão61. Em pri-


meiro lugar, a submissão não é uma responsabilidade
exclusiva das mulheres: os cristãos devem submeter-
-se uns aos outros (Ef 5:18); os membros devem se
submeter aos seus líderes (Hb 13:17); todos devem
se submeter às autoridades governamentais (Rm
13:1).
No lar, existe um sentido em que nos submetemos
uns aos outros. Mesmo que a submissão seja atividade
específica exigida da mulher em relação ao marido,
a submissão mútua de Efésios 5:21 tem múltiplas
manifestações.62

Em segundo lugar, a submissão não significa


inferioridade da mulher. Pelo contrário, a submissão
é o modo funcional e prático que Deus definiu para
que a esposa refletisse a Cristo em seu casamento. As
Escrituras declaram:

“Tenham entre vocês o mesmo modo de pensar


de Cristo Jesus, que, mesmo existindo na forma
de Deus, não considerou o ser igual a Deus
algo que deveria ser retido a qualquer custo.
Pelo contrário, ele se esvaziou, assumindo a

61 David J. Merkh, Comentário bíblico lar, família & casamento. São Paulo:
Hagnos, 2019
62 Ibidem.

132
FEMINILIDADE BÍBLICA

forma de servo, tornando-se semelhante


aos seres humanos...”
- Filipenses 2:5-7

A teóloga e escritora Kathy Keller escreve o


seguinte sobre isso:
Essa passagem [Filipenses 2:5-7] ensina tanto a igual-
dade essencial da Primeira e Segunda Pessoas da Trin-
dade como a submissão voluntária do Filho ao Pai a
fim de obter a nossa salvação. Permita-me enfatizar
que Jesus aceitou esse papel de bom grado e de modo
inteiramente voluntário, como um presente para seu
Pai. Descobri aqui que minha submissão no casamento
é um presente que ofereço, e não um dever que me é
imposto.63

Em terceiro lugar, a submissão da esposa não é


para todos os homens em todos os contextos. Houve
quem ensinasse que toda mulher deveria ser submissa
a todo homem, mas os textos bíblicos declaram várias
vezes que a submissão feminina é da esposa para com
o seu marido (Cl 3:18; 1Pe 3:1; Ef 5:22; Tt 2:2-5).
O que isso significa? Significa que nenhum homem
pode esperar ou exigir submissão de uma mulher se
ela não for sua esposa, ainda que ele seja o namorado
ou noivo dela.

63 Timothy Keller e Kathy Keller, O significado do casamento, São


Paulo: Vida Nova, 2012.

133
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Em quarto lugar, a submissão não significa


escravidão. Ou seja, a mulher não deve obedecer
incondicionalmente ao seu marido; ela não precisa
fazer todas as tarefas da casa ou cuidar dos filhos sozi-
nha. O pastor Merkh escreve:
Alguns homens têm contribuído para esse quadro.
Interpretam a expressão “auxiliadora idônea” de
Gênesis 2:15-18 como se significasse “capacho efi-
ciente”, quando de fato significa que a mulher com-
plementa o homem – que ela é “diferente, mas seme-
lhante” ao homem, para socorrê-lo em suas horas de
necessidade. Certamente não justifica um homem
ficar deitado no sofá com o controle remoto na mão
gritando para sua esposa atarefada trazer um refrige-
rante da geladeira com uma fatia de limão!64

Por fim, a submissão feminina da esposa não


implica na autonomia masculina no lar. Em outras
palavras, não significa que a esposa deve ouvir as
decisões do marido sem ser consultada, dar sua opi-
nião e ponto de vista. Se um homem deseja fazer o
que bem entende e tomar suas decisões sem nenhum
conselho ou consulta, o caminho para ele não é o
casamento, mas a vida como solteiro – apesar de
que até solteiros sábios devem buscar o conselho da
comunidade (família e igreja).
64 David J. Merkh, Comentário bíblico lar, família & casamento. São Paulo:
Hagnos, 2019.

134
FEMINILIDADE BÍBLICA

Diante de tudo isso, portanto, como pode-


mos entender a submissão da esposa de maneira
bíblica? Em primeiro lugar, quando uma mulher
caminha em submissão ao marido, isso revela que
ela é uma mulher obediente a Deus, pois a submis-
são é um mandamento bíblico para a esposa, não
uma sugestão.
Em segundo lugar, a esposa deve encarar sua
submissão como um ato de louvor a Deus e como
um presente entregue ao marido. Em suma, ela deve
ser praticada voluntariamente e espontaneamente.
Em terceiro lugar, a submissão significa respei-
tar ao marido. Ou seja, assim como deve ser nossa
obediência para com Deus, a submissão deve também
ser algo prazeroso – isso requer uma obra sobrena-
tural de Deus no coração da esposa. Mais uma vez, o
pastor Merkh explica:
Mais uma vez, descobrimos que Deus está preocupado
com o coração da esposa. Submissão sem respeito é
como obediência sem honra – oca, vazia, hipócrita.
[...] Seu marido sente-se respeitado por você? Cite
algo em que você é a maior fã dele. Seu marido sabe
que você o respeita pelo tom de voz, pelos olhares e
pela linguagem corporal?65

65 Ibidem.

135
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Por fim, a característica mais importante da


submissão bíblica da esposa é que ela esteja alinhada
sob a autoridade do marido. Nada reflete menos
a Cristo e a Igreja do que um casal em constante
conflito e guerra. Jesus e Sua Noiva possuem um
relacionamento de amor, perdão, quebrantamento,
cuidado e sacrifício. Um casamento em que a esposa
e o marido se veem como “inimigos” está distante
de ser uma parábola adequada de Cristo e a Igreja.
A ideia de alinhar-se sob a liderança do marido, para
o bom funcionamento do lar, não é porque a mulher
é inferior, menos capaz ou menos perita. Não pode
haver dois chefes decidindo tudo no lar. De novo,
isso não significa autonomia do homem, mas que, em
última análise, a responsabilidade de liderar e decidir
é dele. A responsabilidade é dele, a culpa será dele,
e a mulher fica protegida quando entra debaixo da
autoridade dele. [...] Para o bom andamento do carro
da nossa família, mesmo que todos os “pneus” sejam
iguais (mesmo material, mesma fabricação), é neces-
sário que alguns andem na frente e outros, atrás. Os
da frente enfrentam os perigos da estrada primeiro,
mas também estabelecem a direção. Os de trás evitam
alguns dos “buracos da vida” (caso os “líderes” este-
jam desempenhando bem seu papel), mas às vezes não
têm a mesma visão da estrada dos da frente.66

66 Ibidem.

136
FEMINILIDADE BÍBLICA

Virtude
Ao falar da mulher sábia, a Bíblia diz: “Mulher
virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede
o de finas joias” (Pv 31:10). Nessa passagem, a marca
da feminilidade que é destacada em Provérbios é a
virtude. Essa palavra, do hebraico hayil, significa
“excelência”, “força”, “coragem” ou “capacidade”. Em
outras palavras, a virtude é um conjunto de caracte-
rísticas humanas desejáveis no caráter de alguém. Ao
longo de Provérbios 31, são feitas algumas descrições
(leia cada versículo citado a seguir). A mulher vir-
tuosa é alguém:
- Confiável (Pv 31:11).
- Que se alegra em servir a família (Pv
31:12-14).
- Que é uma boa administradora (Pv 31:15).
- Sábia (Pv 31:16, 26).
- Forte (Pv 31:17).
- Perseverante (Pv 31:18).
- Trabalhadora (Pv 31:19).
- Cheia de compaixão (Pv 31:20).
- Cheia de temor ao Senhor (Pv 31:30).

137
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Provérbios desenha a imagem da mulher


sábia como uma construtora, alguém que usa a sua
criatividade, dons e virtudes para edificar, princi-
palmente a sua família, para a glória de Deus. O
comentarista Derek Kidner escreve: “A mulher...
é aquela que ou edifica ou arruína o seu marido...
A estabilidade da família depende principalmente
da sua sabedoria feminina construtiva”67. Em outras
palavras, assim como é fundamental para o lar que
o marido lidere como Jesus, também é igualmente
essencial e necessário que a esposa seja uma sábia
edificadora na família. A vitalidade do lar depende
tanto do homem quanto da mulher estarem ajusta-
dos e em harmonia.
Elyse Fitzpatrick afirmou o seguinte:
A vida da mulher virtuosa não serve apenas como
um exemplo que me mostra onde eu errei; ela me
aponta também a maneira correta de viver. A mulher
virtuosa testifica que o propósito da minha vida não
é a satisfação ou o lucro pessoal, mas o serviço fiel
àqueles que o Senhor confiou aos meus cuidados. À
medida em que envelheço, quero me tornar conhe-
cida como uma mulher que é cada vez mais confiável

67 Derek Kidner, Provérbios: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova,


2017.

138
FEMINILIDADE BÍBLICA

e mais comprometida com o trabalho na vinha que


Deus me deu.68

Maternidade
Em uma de suas cartas, o apóstolo Paulo decla-
rou o seguinte:

“Porque, primeiro, foi formado Adão, depois,


Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher,
sendo enganada, caiu em transgressão.Toda-
via, será preservada através de sua missão de
mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santi-
ficação, com bom senso.”
- 1 Timóteo 2:13-15

Deus está chamando mulheres para se torna-


rem mães que irão mudar o mundo por meio dos
seus filhos. Nessa passagem, Paulo segue a história
da redenção – criação, queda e redenção. Primeiro,
ele fala da criação: “Porque, primeiro, foi formado
Adão, depois, Eva”. Em seguida, ele fala da queda:
“E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enga-
nada, caiu em transgressão”. Por fim, ele menciona
a redenção: “Todavia, será preservada (ou salva)
68 Elyse Fitzpatrick. “A mulher virtuosa no entardecer da
vida”. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/
blog/2019/03/a-mulher-virtuosa-no-entardecer-da-vida/>.

139
REDIMINDO A SEXUALIDADE

através de sua missão de mãe”. Em suma, Paulo está


querendo comunicar que a maternidade foi algo
que Deus entregou para as mulheres como um ins-
trumento redentivo, algo que revela a sua graça e
produz restauração.
A escritora Rachel Jankovic afirmou:
Maternidade não é um hobby, é um chamado. Você
não coleciona crianças porque você acha que são mais
bonitinhas que figurinhas. Não é algo para fazer se você
conseguir encaixar na agenda e achar tempo. Foi para
isso que Deus te deu seu tempo. Mães cristãs carre-
gam seus filhos em um território hostil. Quando você
está em público com eles, você está acompanhando e
defendendo objetos de desdém cultural. Você está afir-
mando publicamente que valoriza o que Deus valoriza
e que você se recusa a valorizar o que o mundo valo-
riza. Você se coloca à frente dos indefensáveis e dos
necessitados. Você representa tudo o que a sua cultura
odeia, porque você representa o entregar de sua vida
por outra – e entregar sua vida por outra representa o
evangelho. Nossa cultura simplesmente tem medo da
morte. Entregar sua vida, de qualquer forma, é ater-
rorizante. Curiosamente, é esse medo que impulsiona
a indústria do aborto: o medo de que seus sonhos vão
morrer, seu futuro morrerá, sua liberdade morrerá – e
a tentativa de escapar dessas mortes é correr para os
braços da morte.69

69 Rachel Jankovic. “Maternidade é um chamado”. Disponí-


vel em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/2021/10/
maternidade-e-um-chamado/>.

140
FEMINILIDADE BÍBLICA

Uma mulher que foi um exemplo de mãe foi


Susanna Wesley, mãe do avivalista John Wesley, fun-
dador do movimento metodista. Alguns dos méto-
dos que ela utilizou como mãe podem ajudar sua
família:
• Susanna mantinha um horário rigoroso em seu lar e
era disciplinada e metódica na direção de suas ativida-
des diárias.
• Seus filhos eram ensinados sobre a impor-
tância da confissão. Quando eles faziam algo
errado e o confessavam completamente, ela não
os punia, mas os louvava por sua honestidade.
• Ela sempre recompensava a obediência.
• Quando era necessário disciplinar seus filhos,
Susanna era moderada e gentil, mas muito consistente.
Ela nunca se permitia ser manipulada pelo choro.
• Barulho nunca era permitido em sua casa.
• Respeito pelos outros era uma obrigação. A
nenhuma das crianças era permitido invadir a pro-
priedade de um irmão ou irmã por mais insignifi-
cante que fosse. Um centavo ou 25 centavos não
podiam ser tocados se pertencessem a outrem.
• Todas as promessas feitas tinham de ser mantidas.
• Susanna não permitia que as crianças deixas-
sem a casa sem autorização.
• Conferências semanais eram realizadas com cada
filho, e ela os tratava de acordo com seus temperamen-
tos individuais. (Susanna gastava duas horas ininterrup-
tas todas as noites de quinta-feira com John Wesley.)
• Exercícios religiosos eram dados às crianças cedo
e à noite. Todos eram ensinados a orar em alta voz, e

141
REDIMINDO A SEXUALIDADE

a oração do Senhor era repetida cada manhã e noite.


• As crianças liam em voz alta as Escrituras todas as noi-
tes. Os filhos mais velhos liam para os mais jovens, e
grande parte da noite era gasta com cânticos de louvor.
• Orações com toda a família eram realizadas todas as
manhãs.70

O papel da mulher na igreja


Há muitas maneiras pelas quais as mulheres
podem servir no reino de Deus. Uma delas é por
meio da piedade. O Evangelho de Lucas conta sobre
Ana, uma profetisa que adorava a Deus continua-
mente por meio de jejuns e orações. Ana era uma
mulher profética que demonstrava isso por meio da
sua vida piedosa.
As mulheres também podem cooperar com o
propósito de Deus servindo em uma igreja local por
meio do ensino. As mulheres maduras devem ensinar
outras mulheres mais jovens (Tito 2:3-5). Além disso,
se ela se mantém em espírito de humildade, também
pode auxiliar o restante da igreja, incluindo homens,
a entender melhor as Escrituras (Atos 18:24-26).
Uma autora destacou:
[...] não é surpresa que a mulher tenha recebido
destaque no ministério da igreja primitiva (Atos

70 “Susanna Wesley”. Disponível em: <https://www.revistaimpacto.


com.br/biblioteca/susanna-wesley/>.

142
FEMINILIDADE BÍBLICA

12.12-15; 1 Coríntios 11.11-15). No dia de Pente-


costes, quando a igreja do Novo Testamento nasceu,
as mulheres estavam presentes com os principais
discípulos, orando (Atos 1.12-14). Algumas eram
conhecidas por suas obras (Atos 9.36), outras pela
sua hospitalidade (Atos 12.12; 16.14,15); outras,
ainda, pelo seu entendimento da sã doutrina e pelos
seus dons espirituais (Atos 18;26; 21.8,9). Até o
apóstolo Paulo ministrava regularmente ao lado de
mulheres (Filipenses 4.3). Ele reconheceu a fideli-
dade e o talento delas (Romanos 16.1-6; 2 Timóteo
1.5).71

Durante o primeiro século da igreja, as mulhe-


res profetizavam (Atos 2:17-18; 21:9), isto é, comu-
nicavam a mente e o coração de Deus no poder do
Espírito Santo. No Antigo Testamento, havia uma
mulher chamada Débora. Ela era bastante procu-
rada por causa dos seus sábios conselhos e direções.
Diante disso, as mulheres cristãs devem se esfor-
çar para conhecer as Escrituras e serem capazes de
comunicar humildemente qual é a vontade de Deus.

O papel da mulher na sociedade


Atos 9:36 diz: “Em Jope havia uma discípula
chamada Tabita, que em Grego é Dorcas, que se
71 Luciana Sborowski. “A Mulher e o seu Ministério”. Disponível em:
<https://voltemosaoevangelho.com/blog/2021/08/a-mulher-e-o
-seu-ministerio/>.

143
REDIMINDO A SEXUALIDADE

dedicava a prática de boas obras e dar esmolas”.


Dorcas era uma mulher notável, digna atenção,
apreço e louvor. Ela se distinguia por fazer obras e
dar esmolas. No verso 39, é dito que ela costurava
túnicas e vestidos para as viúvas.
A mulher cristã, inserida na sociedade, precisa
fazer tudo com excelência, não importando o serviço
que está prestando. Pode ser executiva, doméstica,
médica, professora, vendedora, diarista. Enfim, pode
trabalhar e cooperar em qualquer área.

144
PENSAMENTOS INICIAIS

Estevão é casado há alguns anos. Porém, há muita inter-


ferência da família de sua esposa no casamento deles. Há
algum tempo, ele deseja conversar com seus sogros e resolver
essas coisas, mas não consegue. O que falta em Estevão
para mudar isso?

Caio é pai de um filho de dez anos. O garoto passa muito


tempo no quarto ouvindo música e brincando no computa-
dor. Caio e sua esposa se preocupam muito, mas ele insiste
que se deve respeitar a privacidade do filho. Caio está dan-
do ao filho liberdade ou está perdendo o relacionamento
com ele? O que ele faria para se aproximar do filho?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 9 e as atualize após a leitura:

1. Quais os principais papéis do homem no lar?

2. O que o homem deve usar para liderar a sua casa?


9
MASCULINIDADE BÍBLICA

“Os homens cristãos, renascidos pela graça de


Deus, são declarados santos – não no sentido
de serem perfeitos, mas no sentido de serem
separados para Deus, como Adão foi ao jardim
antes do pecado.”
– Richard D. Phillips

A Bíblia diz: “Assim Deus criou o ser


humano à sua imagem, à imagem de Deus
o criou; homem e mulher os criou” (Gn
1:27). Isso significa que a masculinidade e a femi-
nilidade nasceram do propósito de Deus de colocar
a Sua imagem no mundo. Deus é refletido em uma
comunidade quando os homens e mulheres desta
assumem os seus papéis e abraçam os seus chama-
dos. Quando os homens não sabem ser homens e
as mulheres não sabem ser mulheres, a imagem
de Deus não é vista na comunidade da igreja.

146
MASCULINIDADE BÍBLICA

Portanto, buscar a masculinidade e a feminilidade


bíblicas é mais do que buscar ajustar o estilo de
vida das pessoas, é cultivar a imagem de Deus em
nossa comunidade e santificar o Seu nome para o
mundo.

O homem
Em seu livro Homens de Verdade72, Richard D.
Phillips explica que quase todas as respostas para
questões sobre o propósito de Deus para homens
e mulheres são encontradas da mesma forma: vol-
tando ao jardim de Gênesis 2. Nesse capítulo das
Escrituras, encontramos algumas verdades essen-
ciais sobre o homem e a identidade masculina.
Focaremos aqui em quem ele é e em como deve
cumprir a sua vocação73.

Quem ele é
A Bíblia revela, em seus primeiros capítulos,
que fomos criados para conhecer a Deus e torná-lo
conhecido. Richard D. Phillips explica:

72 Richard D. Phillips, Homens de verdade: o chamado de Deus


para a masculinidade. São José dos Campos: Fiel, 2019.
73 O Dr. Phillips ainda menciona outras verdades além dessas duas. Ele
escreve: “Gênesis 2 nos diz quatro coisas essenciais sobre o homem: quem
ele é, onde ele está, o que ele é e como deve cumprir sua vocação”
(Ibidem).

147
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Tanto em nossos corpos mortais como em nossos


espíritos imortais (aquele sopro de vida de Deus),
fomos capacitados a conhecer a Deus e chama-
dos a carregar sua imagem no mundo criado.
Deus nos deu uma natureza espiritual para que pudés-
semos carregar sua imagem como seus adoradores e
servos. Isso é quem somos como homens.74

Entretanto, a queda e o pecado distorceram a


imagem de Deus em nós e, ao transformar o homem
em alguém totalmente insensato, o tornou total-
mente diferente de Deus que é infinitamente sábio.
Romanos 1:21-22 diz: “Porque, tendo conhecimento
de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe
deram graças. Pelo contrário, se tornaram nulos em
seus próprios raciocínios, e o coração insensato deles
se obscureceu. Dizendo que eram sábios, se torna-
ram tolos”.
Mas Deus enviou o Seu Filho ao mundo para
nos salvar de nossa tolice. Os apóstolos afirmaram
que Jesus Cristo é “a imagem do Deus invisível” (Cl
1:15). O escritor C. S. Lewis disse: “quando o Verbo
se fez carne, vimos pela primeira vez um homem
de verdade”. Assim, Jesus é, em primeiro lugar, um
padrão de humanidade. Tanto homens quanto mulhe-
res devem buscar o caráter e a mente de Cristo para

74 Ibidem.

148
MASCULINIDADE BÍBLICA

as suas vidas. As Escrituras declaram: “Não mintais


aos outros, pois já vos despistes do velho homem
com suas ações, e vos revestistes do novo homem,
que se renova para o pleno conhecimento, segundo a
imagem daquele que o criou” (Cl 3:9
Ainda assim, Jesus também é um padrão espe-
cífico de masculinidade, pois Paulo comparou o
homem no casamento ao próprio Cristo (Ef 5:25).
Quem os homens devem ser? Os homens devem ser
parecidos com Jesus e aprender a liderar a sua família
da mesma maneira que Cristo lidera a Sua Igreja; e as
mulheres devem sempre avaliar se o seu pretendente
carrega as marcas de Cristo.

Como ele deve cumprir sua vocação


Os homens são chamados para serem líderes-
-servos. Gênesis 1:28 declara: “E Deus os abençoou e
lhes disse: Sejam fecundos, multipliquem-se, encham
a terra e sujeitem-na. Tenham domínio sobre os pei-
xes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo ani-
mal que rasteja pela terra”. Ao ser colocado como
governante da criação, o homem exerceria o princí-
pio da mordomia. O mordomo é uma pessoa que é
incumbida da direção de uma casa que não lhe per-
tence. Ele não é dono, mas o dono da propriedade

149
REDIMINDO A SEXUALIDADE

lhe confia tudo o que é seu para que o mordomo


gerencie, cuide e desenvolva.
Biblicamente falando, o mundo é a casa de
Deus (Sl 24:1) e Ele chamou os seres humanos para
exercerem mordomia sobre a sua criação: “O Senhor
Deus tomou o homem e o colocou no jardim do
Éden para o cultivar e o guardar” (Gn 2:15).
Com base no ensinamento de Gênesis 2, os homens
devem entrar no mundo que Deus criou como os
homens que ele nos fez para ser, senhores e servos sob
sua autoridade, a fim de que possamos cumprir nosso
mandato: cultivar e guardar.75

Em Salmos 115:6-7, a Escritura declara: “Que


vocês sejam abençoados pelo Senhor, que fez os
céus e a terra. Os céus são os céus do Senhor, mas
a terra ele deu aos filhos dos homens”. Em resumo,
nada do que possuímos é realmente nosso (Jó 1:21),
somos unicamente mordomos do que Deus colo-
cou em nossas mãos: nossos bens materiais, nossa
família, nosso ministério, nossos dons e, inclusive,
nossos corpos.
Essa é a vocação da humanidade como um todo,
tanto dos homens como das mulheres, mas espe-
cialmente dos homens. Deus colocou Adão em um

75 Ibidem.

150
MASCULINIDADE BÍBLICA

papel de liderança em relação a Eva, referindo-se a


ela como a “auxiliadora” de Adão (Gn 2.18, 20). Deus
fez a mulher para Adão, e foi Adão quem deu nome à
mulher, como havia nomeado todas as outras criatu-
ras; pois ele era o senhor do jardim, servindo e repre-
sentando o Senhor, seu Deus, que está acima de tudo.
Adão não deveria dedicar-se, portanto, a infindáveis
buscas por sua identidade masculina; ele deveria ser
o senhor e o guardião do reino criado por Deus, tra-
zendo glória ao Criador ao buscar espelhar a imagem
de Deus como um servo fiel.76

O papel do homem no lar


O homem foi chamado para liderar a sua famí-
lia, mas muitos ainda não possuem uma clareza de
como essa liderança deve acontecer de forma prá-
tica para a glória de Deus. Para ajudar nisso, o pastor
Voddie Baucham Jr. pontuou quatro ofícios que todo
homem deve exercer em sua família:
... é evidente que o jovem dever estar pronto para
representar sua família diante de Deus (como sacer-
dote), representar Deus diante de sua família (como
profeta), suprir as necessidades dos membros de sua
família (como provedor), e colocar-se entre a família
e todos os que lhe quiserem machucar (como prote-
tor). Esses conceitos são tão básicos que não deveria
ser necessário explicá-los. Entretanto, quando eu me
casei, não os compreendia tão bem, e muitos outros

76 Ibidem.

151
REDIMINDO A SEXUALIDADE

homens também não compreendem, então é bom que


sejam esclarecidos...77

Diante disso, iremos nos aprofundar em cada


um desses pontos a seguir e, no fim, acrescentar uma
quinta responsabilidade masculina.

Sacerdote
Ao instruir os homens de Éfeso, o apóstolo
Paulo escreve a Timóteo, o pastor daquela igreja,
o seguinte: “Quero, pois, que os homens orem em
todos os lugares, levantando mãos santas, sem ira
e sem animosidade” (1 Timóteo 2:8). Aqui, Paulo
ensina que os homens devem: orar sempre, viver em
santidade, ter domínio próprio e serem pacientes.
Em especial, os homens devem orar em casa
com a sua família e por ela. Um homem que não sabe
orar perseverantemente não sabe liderar sua esposa
e seus filhos.
De acordo com a Lei, era responsabilidade do
sacerdote manter o fogo do altar sempre aceso:

“Ordene a Arão e a seus filhos, dizendo: Esta


é a lei a respeito do holocausto: o holocausto

77 Voddie Baucham Jr, O que ele deve ser... se quiser casar com minha filha.
Brasília, DF: Monergismo, 2012.

152
MASCULINIDADE BÍBLICA

ficará sobre as brasas do altar toda a noite até


pela manhã, e o fogo do altar nunca poderá
ser apagado. O sacerdote vestirá a sua túnica
de linho e os calções de linho sobre a pele nua,
e levantará a cinza, quando o fogo houver
consumido o holocausto sobre o altar, e a colo-
cará ao lado do altar. Depois, despirá as suas
vestes e porá outras roupas; e levará a cinza
para fora do arraial a um lugar puro. O fogo
sempre ficará aceso sobre o altar; não deve ser
apagado. O sacerdote acenderá lenha no altar
cada manhã, e sobre ele porá em ordem o
holocausto, e sobre ele queimará a gordura das
ofertas pacíficas. O fogo queimará continua-
mente sobre o altar; não deve ser apagado.”
- Levítico 6:9-13

No lar, tanto o homem quanto a mulher devem


desenvolver uma vida de oração, mas ao homem tam-
bém é dada a responsabilidade de promover a cons-
tância de sua família diante de Deus.
Além de lutar pela sua família em oração como
um sacerdote intercessor, o marido também deve
orar com a sua esposa para que ambos possam se
conhecer intimamente. O escritor Edwin Louis Cole
disse:

153
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Quando um homem ora com sua esposa, goza


de maior comunhão com ela. A intimidade que
um casal experimenta durante um momento de
verdadeira oração é muito maior do que a da
união física. É que ela se dá no plano do espírito.
A mulher que ora pelo marido passa a ter com ele
uma comunhão espiritual que os une ainda mais. Passa
a conhecer melhor os problemas e dificuldades dele, e
assim pode ajudá-lo a resolvê-los.
O homem que não ora pela esposa pode até ter uma
boa intimidade física com ela, mas não edifica aquela
comunhão espiritual que resulta na verdadeira união.78

Profeta
Além de representar a sua família diante de Deus
como sacerdote, o homem também deve represen-
tar Deus diante da sua família. Ele deve ser como um
profeta para sua casa, ou seja, deve ser um porta-voz
que comunica a Palavra de Deus à sua esposa e aos seus
filhos. Ele deve prover o alimento físico e espiritual. Em
suma, o homem deve liderar a sua família na Palavra.
O avivalista George Whitefield deixa um alerta
aos homens:
No geral, as pessoas geralmente são muito liberais nas
injúrias contra o clero, e pensam culpar com justiça a
conduta do ministro que não dá atenção e não cuida

78 Edwin Louis Cole, Homem ao máximo. Belo Horizonte: Betânia, 2006.

154
MASCULINIDADE BÍBLICA

do rebanho do qual o Espírito Santo o tornou orien-


tador. Contudo, não poderia estar sujeito à mesma
censura, apenas em grau menor, o chefe de família
que não pensa nas almas confiadas a ele? Pois cada
casa é como uma pequena paróquia [igreja] cada chefe
de família é como um sacerdote, cada família como
um rebanho, e se qualquer um deles perece devido
à negligência do líder, das mãos deste será requerido
por Deus o sangue de quem pereceu.79

Provedor
Deus criou o trabalho antes da queda e do
pecado humano. Portanto, era da vontade de Deus
que o trabalho fosse o meio dos homens glorifica-
rem a Ele e servirem ao próximo. O salmista decla-
rou: “Bem-aventurado aquele que teme o Senhor e
anda nos seus caminhos! Você comerá do fruto do
seu trabalho, será feliz, e tudo irá bem com você”
(Sl 128:1-2). Sobre essa passagem, o pastor David
Merkh escreveu o seguinte comentário:
... o temor do Senhor representa uma reversão dos
efeitos da Queda, em que o trabalho virou frustração e
angústia (Gn 3:17-19). Como é bom desfrutar de um
trabalho feito “em nome do Senhor”!80

79 Citado em Voddie Baucham Jr, O que ele deve ser... se quiser casar com minha
filha. Brasília, DF: Monergismo, 2012.
80 David J. Merkh, Comentário bíblico lar, família & casamento. São Paulo:
Hagnos, 2019

155
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Assim, os homens devem ser os provedores de


seus lares, tanto do pão físico quanto do pão espiritual,
cuidando do corpo e do coração de sua esposa e filhos.

Protetor
Pedro não se referiu às mulheres como a parte
mais frágil (1 Pe 3:7) porque elas são inferiores, mas
porque são dignas de serem protegidas. Um homem de
verdade protege a esposa e os filhos de ameaças externas.
Em Provérbios 5:7-12, está escrito: “Agora, pois,
filho, dá-me ouvidos e não te desvies das palavras da
minha boca. Afasta o teu caminho da mulher adúltera e
não te aproximes da porta da sua casa; para que não dês
a outrem a tua honra, nem os teus anos, a cruéis; para
que dos teus bens não se fartem os estranhos, e o fruto
do teu trabalho não entre em casa alheia; e gemas no
fim de tua vida, quando se consumirem a tua carne e o
teu corpo, e digas: Como aborreci o ensino! E despre-
zou o meu coração a disciplina!”. Assim, um homem
fiel também deve proteger a sua casa da mulher adúl-
tera, pois ela “está atrás de todo homem para roubá-lo
de sua esposa”81.

81 Brian Croft. “Como você pastoreia e prepara seu filho adolescente para
a masculinidade?”. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/
blog/2019/05/como-voce-pastoreia-e-prepara-seu-filho-adolescente
-para-a-masculinidade/l>.

156
MASCULINIDADE BÍBLICA

Além da proteção contra ameaças de fora da


família, um autor pontuou um outro tipo de prote-
ção que o marido deve oferecer à esposa:
Certa vez, um amigo expressou seu despertamento
para essa verdade com as seguintes palavras: “Eu cos-
tumava pensar que, se um homem entrasse em minha
casa para atacar minha esposa, eu certamente resisti-
ria a ele. Mas, então, percebi que o homem que entra
em minha casa e ataca minha esposa todos os dias sou
eu, com minha raiva, minhas palavras duras, minhas
reclamações e minha indiferença. Como cristão, per-
cebi que o homem que eu precisava matar para pro-
teger minha esposa era eu mesmo como pecador”.82

Paternidade
Homens são chamados para ministrarem
paternidade aos seus filhos. Os pais biológicos
deveriam ser os pais de destino de seus filhos,
aqueles que firmam sua identidade e apontam o
caminho. Asher Intrater escreveu o seguinte sobre
paternidade:
Quando meus filhos eram pequenos, eu tinha o hábito
de pegá-los, aconchegá-los nos braços e embalá-los
enquanto lhes repetia vez após vez que os amava. A
constante ministração de amor parental a uma criança

82 Richard D. Phillips, Homens de Verdade: o chamado de Deus para a masculi-


nidade. São José dos Campos: Fiel, 2010.

157
REDIMINDO A SEXUALIDADE

é a melhor forma de prepará-la para cumprir seu des-


tino no reino de Deus.83

CorrieTen Boom, uma cristã holandesa cuja famí-


lia se arriscava para esconder judeus durante a Segunda
Guerra mundial, e até mesmo foi enviada aos campos
de concentração nazista com seu pai e sua irmã, escreve
o seguinte:
Quando eu era garotinha, meu pai costumava
me colocar na cama à noite. Ele falava comigo,
orava comigo e colocava sua grande mão em
minha pequenina face. Eu nem me movia por-
que desejava sentir sua enorme mão sobre o meu
rosto. Era um conforto para mim.
Mais tarde, quando já estava no campo de concen-
tração, algumas vezes eu orava: “Pai celestial, pode-
rias colocar Tua mão em minha face?”. Então isso
me trazia paz e eu era capaz de dormir. Porque meu
pai mostrou-me seu amor paternal, eu pude mais
tarde entender o amor do Pai celestial. Pais e mães,
demonstrem seu amor para com seus filhos.84

O amor do pai terreno não substitui o amor


do Pai Celestial, antes, a paternidade terrena dos
pais prepara o coração dos filhos para desfrutarem
da paternidade celestial e perfeita de Deus.

83 Asher Intrater, Relacionamentos de Aliança. São Paulo: Impacto, 2019.


84 Corrie Ten Boom, Dia a dia com Corrie ten Boom. Curitiba: Publicações
Pão Diário.

158
MASCULINIDADE BÍBLICA

O papel do homem na igreja


Ao escrever para Timóteo, Paulo fala sobre o
padrão de comportamento que ele, como pastor e
líder, deveria ter naquela igreja ao lidar com diferen-
tes tipos de pessoas:

“Não repreenda um homem mais velho; pelo


contrário, exorte-o como você faria com o
seu pai. Trate os mais jovens como irmãos,
as mulheres mais velhas, como mães, e as
mais jovens, como irmãs, com toda a pureza.
Honre as viúvas que não têm ninguém para
cuidar delas.”
- 1 Timóteo 5:1-3

Ainda que sejam conselhos direcionados ao líder


da igreja, eles também fornecem princípios importan-
tes para os homens de forma geral, afinal, todos somos
membros da grande família de Deus. Dessa forma, na
comunidade cristã, o homem deve ser firme (exortar),
mas também bondoso e compassivo. Ele deve honrar
os que sofrem e tratar as mulheres mais velhas e mais
jovens com toda pureza.
Em outra carta, a característica que Paulo destaca
como louvável em dois homens, Timóteo e Epafrodito,
é o serviço sacrificial que nascia do caráter deles. Ele diz:

159
REDIMINDO A SEXUALIDADE

“Quanto a Timóteo, vocês conhecem o seu


caráter provado, pois serviu ao evangelho,
junto comigo, como um filho trabalha ao
lado do pai... julguei necessário enviar-
-lhes Epafrodito, meu irmão, cooperador e
companheiro de lutas, e, da parte de vocês,
mensageiro e auxiliar nas minhas necessi-
dades... Recebam-no, pois, no Senhor, com
toda a alegria, e honrem sempre os que são
como ele.”
- Filipenses 2:22, 25, 29

Em resumo, dentro da congregação, os


homens devem ter um caráter aprovado que se
manifesta em um coração disposto a servir sacrifi-
cialmente o próximo, além de exortar e encorajar
em mansidão, paciência e santidade.

O papel do homem na sociedade


No livro de Provérbios, o rei Salomão
levanta o seguinte questionamento em relação aos
homens:

“Muitos se dizem amigos leais; mas um


homem fiel, quem poderá achar?”
- Provérbios 20:6

160
MASCULINIDADE BÍBLICA

A marca da masculinidade que Provérbios des-


taca nesse texto é a fidelidade. Asher Intrater define
a fidelidade como a prática perseverante de manter
uma aliança sem infringi-la85. Isso significa ser leal
em seus relacionamentos, seja como funcionário,
chefe ou amigo. É assim que os homens de verdade
deveriam ser reconhecidos na sociedade.

85 Asher Intrater, Relacionamentos de Aliança. São Paulo: Impacto, 2019.

161
PENSAMENTOS INICIAIS

Alisson está solteiro, mas cultiva uma amizade íntima com


Carla. Ele está passando por um momento difícil,então
sua justificativa é que precisa apenas de uma amiga para
ouvi-lo e fazer companhia. Ela está há algum tempo já
planejando algumas coisas para o futuro sobre profissão
e família e deseja que Alisson esteja nesses planos, mas ele
ainda não tomou a iniciativa de levar a relação deles para
outra categoria. O que cada um deveria fazer?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 10 e as atualize após a leitura:

1. O que é defraudação emocional?

2.O que é auto-defraudação?

3. A amizade entre homens e mulheres precisa de


limites claros? Por quê?
10
DEFRAUDAÇÃO EMOCIONAL

“Não despertem nem provoquem o amor


enquanto ele não o quiser.”
– Rei Salomão

D urante a adolescência e início da fase adulta


é comum as pessoas agirem com imaturi-
dade e causarem feridas em si mesmo e em
outras. Na área de relacionamentos, um dos erros
mais frequentes é a defraudação. Ao falarmos de
defraudação emocional estamos falando de quando
uma pessoa alimenta sentimentos e expectativas
em outra sem a intenção de supri-los e firmar um
compromisso que futuramente culmine na aliança
do casamento. A auto-defraudação acontece quando
uma pessoa alimenta em si mesma sentimentos e
expectativas sem que a outra pessoa demonstre que
deseja um relacionamento.

163
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Amizade entre homem e mulher


A escritora cristã Chárbela El Hage de Salcedo
escreveu um artigo intitulado Limites de uma mulher
com o sexo oposto onde aborda algumas questões
importantes para os cristãos sobre relacionamentos de
amizade entre homens e mulheres. Segundo a autora,
os limites nos definem e nos protegem. Por meio dos
limites é que mostramos os nossos valores morais, nossa
integridade e nossas preferências. Ela escreve ainda:
Na vida relacional... há limites físicos e emocionais que
devemos colocar. Ao contrário das portas, esses limites
não podem ser percebidos visualmente. No entanto,
quando eles são violados, percebemos que eles existem
e que alguém os cruzou, e acabamos em uma situação
embaraçosa e possivelmente pecaminosa.86

A autora cita uma pesquisa da Universidade de


Utah onde as mulheres foram questionadas sobre a
possibilidade de ter um homem como melhor amigo.
Todas responderam que sim, mas quando questiona-
ram se ao seu amigo atual fosse dada a oportunidade
de namorá-las, ele aceitaria? Todas também disseram
que sim. Por isso, a autora escreve: “Com esse tipo
de proximidade emocional é inevitável que uma das

86 Chárbela El Hage de Salcedo, “Limites de uma mulher com o sexo


oposto”. Disponível em: <https://coalizaopeloevangelho.org/article/
limites-de-uma-mulher-com-o-sexo-oposto >.

164
DEFRAUDAÇÃO EMOCIONAL

partes envolva o coração, prejudicando assim o obje-


tivo inicial que era manter o relacionamento como
uma bela amizade”87.
Uma saída para isso é cultivar amizades íntimas
e profundas com pessoas do seu mesmo sexo.
Embora a amizade com o sexo oposto não seja proi-
bida nas Escrituras, elas também não as promovem. Os
padrões de amizade que vemos na Bíblia são entre pessoas
do mesmo sexo: Rute e Noemi, David e Jônatas, Pedro e
João, etc. As relações íntimas de discipulado como Tito 2
são descritas entre duas pessoas do mesmo sexo.88

Não é sábio que mulheres tenham amigos


homens como seus confidentes pessoais, nem o con-
trário. A maioria dos casos de adultério ou fornicação
começam com uma amizade que acaba envolvendo
muitas emoções e sentimentos.
Nossa conduta deve seguir a exortação
apostólica:

“... trate os jovens como a irmãos; as mulheres


idosas, como a mães; e as moças, como a irmãs,
com toda a pureza.”
- 1 Timóteo 5:1-2

87 Ibidem.
88 Ibidem.

165
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Os limites são necessários para que nossos


compromissos morais e de integridade fiquem cla-
ros. A Bíblia declara: “O sábio teme e desvia-se do
mal, mas o tolo encoleriza-se e dá-se por seguro”
(Pv 14.16).

Qual destino desse relacionamento?


Se um homem e uma mulher estão solteiros
e estão desenvolvendo uma amizade profunda, é
importante que ambos deixem claro as intenções
de ambos. Se não há planos para namoro, noivado
e casamento, o mais sábio seria frear e diminuir a
intensidade do relacionamento. Intimidade sem
compromisso é algo extremamente perigoso.
Faremos agora uma citação longa, porém
necessária, do livro O Significado do Casamento, onde
o pastor Timothy Keller compartilha sobre isso:
Se um relacionamento vem se arrastando há anos
e não há sinal de aprofundamento ou progresso
rumo ao casamento, é possível que a outra pes-
soa tenha encontrado um nível de relaciona-
mento (aquém da relação conjugal) no qual ela
recebe tudo que deseja e não sente necessidade de
entrar no estágio final de compromisso.
Kathy e eu observamos esse fenômeno quando ainda
estávamos na faculdade. Nós o chamávamos de “sín-
drome da namorada de baixo custo”, pois, com mais

166
DEFRAUDAÇÃO EMOCIONAL

frequência, a moça estava interessada em casar, e o


rapaz, não. Em alguns casos, o rapaz e a moça passavam
um bocado de tempo juntos. Isso significava que o rapaz
tinha uma acompanhante para ir com ele a eventos
(quando estava a fim de sua companhia), uma mulher
com a qual podia conversar (caso estivesse a fim de con-
versar) e uma ouvinte que lhe oferecia apoio (quando
ele enfrentava problemas, caso sentisse a necessidade
de se abrir). Se o relacionamento não incluía sexo, o
rapaz afirmava categoricamente para os outros que ele
e a moça nem estavam namorando, que não havia um
“envolvimento”. Se, por acaso, a moça questionava essa
situação, talvez ele protestasse: “Eu nunca disse que
éramos mais que amigos!”. Sua postura, contudo, era
injusta, pois os dois eram mais que amigos. Ele recebia
muito mais desse relacionamento do que de qualquer
amizade com outros rapazes. Desfrutava muitas das
vantagens do casamento sem o custo do compromisso,
enquanto a moça se retraía cada vez mais, definhando
interiormente.
Muito satisfeitos com nossa perspicácia de ver essa dinâ-
mica nos relacionamentos, jamais nos passou pela cabeça
que algo semelhante pudesse acontecer conosco.
Contudo, chegou um momento em nosso relaciona-
mento, quando já nos conhecíamos havia vários anos,
em que Kathy percebeu que era exatamente o que
havia acontecido, de modo que pronunciou o que veio
a ser conhecido na nossa família como o “discurso da
pérola aos porcos”. Embora fôssemos amigos chega-
dos e tivéssemos grande afinidade, eu ainda guardava
mágoas de um relacionamento anterior que havia
acabado mal. Kathy foi paciente e compreensiva até
certo ponto, mas chegou uma hora em que disse: “Não

167
REDIMINDO A SEXUALIDADE

aguento mais essa situação. Faz tempo que espero ser


promovida de amiga a namorada. Eu sei que não é essa
a mensagem que você quer transmitir, mas cada dia que
passa e você não me escolhe para ser mais do que uma
amiga, tenho a sensação de que passei por uma ava-
liação e fui considerada inadequada. Sinto que é uma
rejeição. Não dá mais para continuar na mesma, espe-
rando que algum dia você me veja como algo mais que
uma amiga. Não estou dizendo que sou uma pérola,
e não estou dizendo que você é um porco, mas uma
das razões pelas quais Jesus disse para seus discípulos
não lançarem pérolas aos porcos foi porque os porcos
não são capazes de reconhecer o valor de uma pérola.
Para eles, parece uma pedrinha qualquer. Se você não
consegue me ver como uma pessoa valiosa, não vou
continuar a lhe oferecer minha companhia, vivendo
só de esperança. Não posso fazer isso. A rejeição que
eu sinto, seja ela intencional ou não, dói demais”.
Foi exatamente isso que ela disse. E conseguiu cha-
mar a minha atenção. O resultado foi um período de
profunda autoavaliação. Algumas semanas depois, fiz a
minha escolha.89

Diante disso, o conselho é bem claro: não se


torne uma “imitação de cônjuge” para alguém que
deseja somente os benefícios da relação e não as
responsabilidades e compromissos. Marido e esposa
não são menos que amigos, mas são bem mais do
que isso.

89 Timothy Keller e Kathy Keller, O significado do casamento, São Paulo:


Vida Nova, 2012.

168
DEFRAUDAÇÃO EMOCIONAL

Se arrependa, perdoe e amadureça


A primeira atitude de alguém que reconhece
que defraudou pessoas e as feriu em relacionamentos
passado é o arrependimento. Para isso é necessário
humilhar-se e reconhecer os próprios erros.
Se a pessoa percebe que foi defraudada por
outras, sua atitude deve ser de perdão (confira o capí-
tulo 3 deste livro). Perdoe a pessoa por ter lhe ferido
para que você não carregue mais esse peso e acabe
ferindo outra pessoa em um relacionamento futuro.
Por fim, todos precisamos nos submeter ao
processo de amadurecimento:

“A mensagem que dele ouvimos e que anuncia-


mos a vocês é esta: Deus é luz, e não há nele
treva nenhuma. Se dissermos que mantemos
comunhão com ele e andarmos nas trevas, men-
timos e não praticamos a verdade. Se andarmos
na luz, como ele está na luz, mantemos comu-
nhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu
Filho, nos purifica de todo pecado. Se dissermos
que não temos pecado nenhum, a nós mesmos
enganamos, e a verdade não está em nós. Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de

169
REDIMINDO A SEXUALIDADE

toda injustiça. Se dissermos que não cometemos


pecado, fazemos dele um mentiroso, e a sua
palavra não está em nós.”
- 1 João 1:5-10

O discipulado bíblico tem como objetivo trans-


formar os cristãos, por meio do Evangelho, em pes-
soas leais, confiáveis, responsáveis, santas, justas e
parecidas com Jesus. Todos precisamos reconhecer
nossos erros e seguir por esse caminho.

170
PENSAMENTOS INICIAIS

Tiago se reconciliou há pouco tempo e tornou-se cristão


novamente. Ele estava namorando há alguns anos, mas
a sua namorava já deixou claro que não está disposta a
seguir o Evangelho também. Como Tiago deveria agir?

Sara está namorando com um jovem da sua igreja local. Am-


bos são cristãos desde criança e cresceram em lares cristãos.
Infelizmente, o Evangelho nunca foi levado muito a sério
por nenhum dos dois. Porém, nos últimos meses, Sara teve
experiências muito profundas com Jesus e está se converten-
do radicalmente ao Evangelho. O seu namorado, entretanto,
continua sem dar muita importância ao seu relacionamento
com Deus. Como Sara deveria se posicionar agora?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 11 e as atualize após a leitura:

1. Quais as principais características que uma pessoa


solteira deve buscar no seu futuro cônjuge?

2.Existe jugo desigual entre “cristãos”?


11
UMA PALAVRA AOS SOLTEIROS

“Se preservar até o casamento... vai lhe


ensinar a ser paciente e perseverante, amar a
pureza, apreciar a virtude e saber o que signi-
fica tomar a cruz e seguir Jesus.”
– Augustus Nicodemus

N este capítulo, daremos alguns conselhos


e direções bíblicas para aqueles que estão
em busca de um cônjuge. Ainda assim,
estas instruções também podem ser muito provei-
tosas para casais, seja para aperfeiçoamento do seu
relacionamento com o cônjuge, seja para ajudar na
instrução e educação dos filhos.

1. Encontre satisfação em Deus hoje


Somente através da união com Cristo você
encontrará paz, sentido e significado. Nunca se case

172
U M A PA L AV R A A O S S O LT E I R O S

porque está desesperado ou carente. Nas palavras de


Tim Keller, “o amor não é tudo que você precisa”:
Fazer do amor um ídolo pode significar permitir que o
ser amado explore e abuse de você ou talvez cause uma
terrível cegueira para as patologias no relacionamento
uma ligação idolátrica pode levá-lo a quebrar promes-
sas, a racionalizar indiscrições ou a trair outras alianças
a fim de se manter agarrado a ela. Pode motivá-lo a
violar todos os limites justos e adequados. Praticar ido-
latria é ser um escravo.90

2. Considere o dom de celibato


Em uma de suas cartas, o apóstolo Paulo
ensina: “Gostaria que todos os homens fossem como
eu. No entanto, cada um tem de Deus o seu próprio
dom; um, na verdade, de um modo; outro, de outro.
E aos solteiros e às viúvas, digo que lhes seria bom se
permanecessem no estado em que também eu vivo.
Mas, se não conseguem se dominar, que se casem;
porque é melhor casar do que arder em desejos”
(1Co 7:7-9). Em outras palavras, há o dom para o
casamento e o dom para o celibato. O pastor David
Merkh afirma que a mensagem central desse trecho
da carta paulina é que: “cada cristão deve buscar o
estado civil que mais lhe permita servir a Cristo e ao

90 Timothy Keller, Deuses falsos. São Paulo: Vida Nova, 2018.

173
REDIMINDO A SEXUALIDADE

seu reino”91. Ou seja, você deve se casar apenas se o


seu casamento trouxer boa fama para Deus e para o
seu Reino. Um autor pontua:
O celibato é apresentado na Bíblia com uma possibi-
lidade que deveria ser levada a sério por jovens cris-
tãos, pois muitas pessoas teriam sido mais felizes se
tivessem ficado solteiras. A realidade é que podemos
afirmar biblicamente que muita gente não tem o dom
de casar. É por isso que há tanta separação, porque
há casamentos demais e não se vê essa possibilidade.
Então, Paulo diz que, no caso daqueles irmãos e irmãs
de Corinto, o celibato seria a opção a adotar.92

Vale destacar que a motivação bíblica para


o celibato é o desejo de permanecer solteiro para
focar no serviço do reino de Deus. Muitos missioná-
rios e missionárias, pastores e teólogos ao longo da
história da Igreja seguiram por esse caminho, como
Agostinho de Hipona, John Stott, Helen Roseveare
e outros.

3. Busque a pureza antes do casamento


Não espere para resolver seus pecados e vícios
no casamento. A tentação sexual não acaba no dia
91 David Merkh, Comentário bíblico lar, família & casamento. São Paulo: Hag-
nos, 2019.
92 Augustus Nicodemus, Sexo e santidade: viva sua sexualidade como Deus a
planejou. Rio de Janeiro: GodBooks, 2020.

174
U M A PA L AV R A A O S S O LT E I R O S

do casamento. Se você permanece no pecado hoje,


você permanecerá pecando no matrimônio. Se você
cede à tentação agora, cederá também quando ela
vier em seu casamento.
As Escrituras ordenam:

“Cheguem perto de Deus, e ele se chegará a


vocês. Limpem as mãos, pecadores! E vocês que
são indecisos, purifiquem o coração”
- Tiago 4:8

O pastor Augustus Nicodemus explica:


[Honrar a Deus com o corpo significa] usar o corpo
da maneira que o Senhor determinou, de modo que
Deus seja honrado e glorificado, cumprindo o pro-
pósito pelo qual o Criador formou nosso corpo. Em
outras palavras, é viver uma santa e reta diante dele.
Talvez você tenha usado o corpo por toda sua vida
para satisfazer os desejos sexuais. É possível que venha
há muito tempo se envolvendo em imoralidade, por-
nografia, masturbação, relações com o namorado,
adultério ou prostituição. Se é o seu caso, saiba que
você está usando seu corpo de modo errado. Toda-
via, Deus pode perdoá-lo e lhe dar um novo começo.
Foi pago um alto preço na cruz do Calvário para que
você pudesse começar de novo, com um corpo limpo,
santo, purificado, reservado e dedicado a Deus e à sua
glória.93

93 Ibidem.

175
REDIMINDO A SEXUALIDADE

4. Procure por uma pessoa cristã


A Bíblia condena, de maneira clara, o relacio-
namento de união entre cristãos e não cristãos:

“Não se ponham em jugo desigual com os


descrentes. Pois que sociedade pode haver
entre a justiça e a iniquidade? Ou que
comunhão existe entre a luz e as trevas?
Que harmonia pode haver entre Cristo e o
Maligno? Ou que união existe entre o crente
e o descrente? Que ligação há entre o san-
tuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos
santuário do Deus vivo, como ele próprio
disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o
seu Deus, e eles serão o meu povo.”
- 2 Coríntios 6:14-16

Em outra passagem, Paulo explica a impor-


tância de casar-se com alguém que esteja no Senhor,
ou seja, em comunhão com Cristo:

“A mulher está ligada ao seu marido enquanto


ele viver. Mas, se o marido morrer, ela fica
livre para casar com quem quiser, mas somente
no Senhor.”
- 1 Coríntios 7:39

176
U M A PA L AV R A A O S S O LT E I R O S

As Escrituras afirmam que o temor do Senhor


é o princípio – o fundamento e o início – da sabedo-
ria. Dessa forma, é impossível se casar com alguém
sábio e maduro se essa pessoa não teme ao Senhor. É
impossível que o casamento e o lar de um casal em
jugo desigual seja sábio, pois falta o temor do Senhor
em uma das partes.
É importante pontuarmos que a ideia de jugo
desigual se refere ao desequilíbrio na devoção e na
espiritualidade de um casal. Jugo desigual é quando
um dos lados carrega mais peso do que o outro lado.
Isso acontece, explicitamente, entre um cristão e
um não cristão, mas também pode acontecer entre
um cristão maduro e outro imaturo ou quando um
lado leva o Evangelho a sério e o outro não dá tanta
importância assim à vida cristã. No caso de imaturi-
dade de um dos lados, é importante identificar se o
lado imaturo está disposto e deseja se submeter ao
processo de amadurecimento ou se a pessoa deseja
permanecer do mesmo jeito e não vê nada de errado
nisso.

5. Sinta atração pela pessoa toda


A atração física entre o casal é obviamente
necessária para o casamento. Porém, muitas vezes,

177
REDIMINDO A SEXUALIDADE

a beleza é enganosa porque supomos que o coração


e o caráter de alguém estão em harmonia com a sua
aparência. O sábio de Provérbios afirmou: “A beleza
é enganosa, e a formosura é passageira; mas a mulher
que teme ao Senhor será elogiada” (Pv 31:30).
Por causa disso, o pastor Tim Keller sugere
que os cristãos solteiros busquem uma atração mais
abrangente pela pessoa com quem irão se casar. Ele
escreve:
A atração pela beleza do amor de alguém, por sua cora-
gem, pelo coração de servo, por sua humildade, ale-
gria e paz devem ter um lugar de destaque. E devemos
também ser atraídos para o que essa pessoa está se tor-
nando, o que Deus está fazendo nela por meio do seu
Espírito.94

6. Ouça conselhos
Ainda que algumas culturas hoje em dia (e nos
relatos bíblicos) mostrem a prática do casamento
arranjado, a Bíblia não o ordena ou o prescreve como
o modelo ideal. Por outro lado, não podemos cair
no erro de achar que a escolha de um cônjuge é uma
decisão estritamente individual. Devemos buscar um
equilíbrio entre os dois extremos. O sábio de Pro-
vérbios afirma:

94 Timothy Keller, A Sabedoria de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2019.

178
U M A PA L AV R A A O S S O LT E I R O S

“O caminho do insensato parece reto aos seus


olhos, mas o sábio ouve os conselhos... Os pla-
nos fracassam por falta de conselho, mas são
bem sucedidos quando há muitos conselheiros.”
- Provérbios 12:15; 15:22

A escolha final deve ser das pessoas que irão


se casar, mas é sábio que durante a amizade, namoro
e noivado ambos estejam sendo acompanhados e
aconselhados por familiares, principalmente os pais.
Quando a família não for cristã, torna-se mais neces-
sário ainda que ambos sejam aconselhados por casais
maduros da comunidade de fé, a igreja local.
... ouça conselhos, não apenas sobre o possível cônjuge,
mas também sobre sua própria disposição para o casa-
mento. Se você está ouvindo apenas seu coração, e não
o conselho de outras pessoas, você deixou o caminho
da sabedoria.95

95 Ibidem.

179
PENSAMENTOS INICIAIS

Ricardo se tornou cristão recentemente. No passado, ele viveu


uma vida de muita prostituição e pecados na área sexual. Ele
entende e acredita que Jesus perdoou seus pecados, mas não
consegue imaginar que exista algo de bom ou santo no sexo.
Parece ser uma área unicamente de impureza. Ricardo não
consegue entender o que o Evangelho tem a ver com sexo.

Sandra ama muito seu marido e ambos estão casados há


alguns anos. Recentemente, eles descobriram que não podem
ter filhos biológicos. Estranhamente, isso os alegrou, pois
nenhum dos dois nunca gostou da ideia de morar em uma
casa com crianças. Assim, a adoção não faz parte de nenhum
de seus planos. Eles estão errados? Por quê?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 12 e as atualize após a leitura:

1. Qual a relação do casamento com o Evangelho?

2.À luz da Bíblia, faz sentido um homem e uma mu-


lher planejarem se casar sem o desejo de serem pais?
12
O PLANO DE DEUS PARA O SEXO

“Deus não modelou o casamento divino


segundo o casamento humano, mas antes o
casamento humano é uma sombra do casa-
mento divino.”
– Gerald Hiestand e Jay S. Thomas

A Palavra de Deus é a lâmpada que ilumina o


nosso caminho (Sl 119:105). Isso significa
que é ela quem nos dá clareza em ques-
tões que até então eram confusas ou obscuras. O
Evangelho é o que dá sentido a cada área da nossa
vida. Como alguns autores afirmaram: “A razão
primária porque muitos de nós não entendem ade-
quadamente o sexo é que muitos de nós não enten-
dem adequadamente como o sexo se relaciona ao
evangelho”96.

96 Gerald Hiestand e Jay S. Thomas, Sexo, namoro e relacionamentos: uma nova


abordagem. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2016.

181
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Em Efésios 5:31-32, o apóstolo Paulo declara:


“Eis por que ‘o homem deixará o seu pai e a sua mãe
e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só
carne’. Grande é este mistério, mas eu me refiro a
Cristo e à igreja”. Sobre essa passagem, Gerald Hies-
tand e Jay Thomas escreveram:
A unidade sexual dentro do casamento foi criada por
Deus para servir como prenúncio da unidade espiritual
que existiria entre Cristo e sua igreja. Como o grande
pai da igreja Agostinho uma vez escreveu: “é sobre
Cristo e a igreja que mais verdadeiramente se diz, ‘os
dois serão uma só carne’”.97

Além disso, a Bíblia registra: “Criou Deus o


homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou. Deus os abençoou e lhes
disse: Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e
subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do
mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais
que se movem pela terra.” (Gn 1:27-28). Sabemos
que Cristo é o Senhor da criação e que todas as coisas
foram criadas por meio dele. Portanto, longe daquilo
que a sociedade tenta impor, os cristãos devem ter
em mente que, como obra criada por Deus, o sexo é
bom. Deus o criou para construir um relacionamento

97 Ibidem.

182
O P L A N O D E D E U S PA R A O S E X O

matrimonial eficaz, com base no deleite mútuo. As


Escrituras revelam que toda a Criação de Deus foi
afetada, distorcida e depravada pelo pecado. Por isso
que o sexo, apesar de ter sido criado inicialmente
como algo bom, foi experimentado por muitos
como um instrumento de rebeldia contra Deus, prá-
tica imoral e, por consequência, nos deixou muitos
traumas e feridas. Mas a história não acaba aí. Cristo
veio ao mundo para salvar os pecadores e reconciliar
todas as coisas com Deus – inclusive nossa sexuali-
dade e nosso modo de lidar com o sexo. A promessa
bíblica é: “onde o pecado abundou, superabundou a
graça” (Rm 5:20).
Diante disso, o sexo é algo que exige responsa-
bilidade e entendimento (Pv 7.1-5). Por essa razão,
é fundamental compreendermos não só o poder que
existe no sexo, mas, principalmente, os propósitos e
princípios pelos quais Deus o criou. Timothy e Kathy
Keller escreveram:
Os gregos e romanos acreditavam que fazer sexo, assim
como comer, não era uma questão de moralidade, mas
apenas de apetite que precisava ser saciado. Diferen-
temente da alma, comida e corpo eram coisas tempo-
rárias. (“Deus destruiria tanto um quanto o outro”), e
portanto não tinham consequências espirituais. Paulo
discorda enfaticamente. Ele argumenta que o corpo
não é algo temporário- Será redimido e ressuscitado.

183
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Assim, o que fazemos com nosso corpo é de extrema


importância. Nosso corpo pertence ao Senhor e a
maneira de amarmos por meio do nosso corpo deve
ser alinhada com o modo de que Deus ama. Os ensina-
mentos de Paulo são relevantes em nossa cultura, que
em certa medida retomou essa visão mais antiga.98

O mundo retrata o prazer como uma paixão


instantânea que muda de amante para amante e de
fantasia para fantasia. Todavia esse tipo de prazer
realmente satisfaz? Ou ele na verdade aprofunda
nosso descontentamento? Quem clica em uma ima-
gem pornográfica e para, fica satisfeito? Quem fan-
tasia algo por alguns segundos e para, fica satisfeito?
A oferta do prazer mundano não consegue satisfa-
zer um coração que foi criado para um profundo e
duradouro prazer.

Família
Após criar o homem e a mulher, Deus orde-
nou: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e
subjuguem a terra!” (Gn 1:28). Portanto, o pri-
meiro propósito de Deus para o sexo é a formação
de famílias.
Em um artigo, o escritor André Costa relata:
98 Timothy e Kathy Keller, O significado do casamento: um ano de devocionais
diários para casais. São Paulo: Vida Nova, 2020.

184
O P L A N O D E D E U S PA R A O S E X O

Em 2013 eu já estava de casamento marcado com


minha esposa. No verão que antecedeu a cerimônia
me deparei com a capa da TIME na mesa da cozi-
nha da casa de meus futuros sogros com o seguinte
título: Quando ter tudo significa não ter filhos.
A imagem do jovem casal deitado na praia – uma
expressão do hedonismo de nossa geração – fez-me
refletir muito.
A matéria da TIME estampou a inegável realidade de
jovens casais que querem todas as realizações pro-
fissionais, pessoais e afetivas e por isso mesmo não
encontram tempo em suas agendas para gerar vidas.
Depois de conhecer o mundo, ganhar promoção pro-
fissional, ter estabilidade financeira que julgam ade-
quada, o casal talvez já desenvolveu hábitos que não
mais se compatibilizam com filhos na casa. Ou pior,
o alarme biológico já tenha tocado e os filhos talvez
nem sejam mais uma possibilidade.
[...] Na vida real, o ser humano existe para ser-
vir. O filósofo dinamarquês Kierkegaard resumiu:
“a porta da felicidade abre só para o exterior; quem
a força em sentido contrário acaba por fechá-la
ainda mais”. Servir é um chamado para a vida! Qual
maneira mais sublime para um jovem casal servir no
mundo do que por meio da criação de pequeninos?
Minha esposa e eu sempre estivemos abertos para a
vida, ela engravidou com quatro meses de casados.
Foi a melhor coisa para nós. Filhos são uma benção
em nossa vida, porque nos lembram que não existi-
mos para nós mesmos. Também nos ajudam a entender
que preciso fortalecer a fé para educá-los nos cami-
nhos de Deus diante de um mundo cheio de incer-
tezas. Debaixo da autoridade do Criador, olho para

185
REDIMINDO A SEXUALIDADE

meus filhos e reconheço que é amado, honrando e


servindo minha esposa que farei com que sejam pes-
soas melhores. Dizem que é preciso conhecer bem
seu cônjuge para finalmente ter filhos. Certa vez ouvi
de um homem de Deus que você conhece melhor seu
cônjuge quando ele precisa acordar às 3 da madrugada
para trocar uma fralda. Ele estava certo. Foi vendo a
mãe que minha esposa é que passei a conhecer ainda
mais a mulher maravilhosa com quem me casei. E
espero que o contrário também seja verdadeiro.
Esse não é um texto normativo. Cada casal sabe da sua
própria realidade, das suas intenções e sinceridade.
Mas posso testemunhar que quando olho para pais e
mães que decidiram ter filhos para servir a Deus, sem-
pre os vejo cansados, mas jamais arrependidos.99

Dessa forma, fica claro que devemos não apenas


gerar filhos, mas pastoreá-los (1 Tm 3:4-5; Sl 127.3),
afinal, a vida de uma criança depende de cuidados:
necessita de amor, carinho, disciplina, sustento.
Inclusive, é de responsabilidade dos pais a educação e
a formação do caráter de uma criança (Pv 22.6). Sim-
plesmente “colocar filhos no mundo” sem se preocu-
par com isso é se desviar do principal propósito do
sexo. (1Tm 5.8). O pastor John Piper escreveu que
“o propósito de Deus ao fazer do casamento o lugar
de ter filhos nunca foi apenas o de encher a terra com

99 André Costa, “Quando ter tudo significa não ter filhos”. Disponível em:
<https://voltemosaoevangelho.com/blog/2020/07/quando-ter-tudo-
-significa-nao-ter-filhos/ >.

186
O P L A N O D E D E U S PA R A O S E X O

gente, mas o de enchê-la com adoradores do Deus


verdadeiro”100.
Uma pesquisa interessantíssima demonstra o
seguinte sobre o legado de um casal:
Em 1900, A. E. Winship estudou o que aconteceu a
1.400 descendentes de Jonathan e Sarah [Edwards] por
volta do ano de 1900. Ele descobriu que essas 1.400
pessoas incluíram 13 administradores de faculdades, 65
professores universitários, 100 advogados, um reitor
de uma faculdade de direito, 30 juízes, 66 médicos, um
reitor de uma faculdade de medicina e 80 funcionários
de cargos públicos, incluindo três senadores america-
nos, prefeitos de três cidades grandes, governadores de
três estados, um vice-presidentes dos EUA e um fis-
cal do Tesouro. Esses descendentes haviam escrito mais
de 135 livros e editado dezoito jornais e periódicos.
Muitos haviam ingressado no ministério, e mais de
100 foram missionários e outros integraram conselhos
missionários.101

Por isso, para evitar lares com filhos sem pro-


pósito e instrução, outro princípio de Deus para o
sexo é o compromisso em aliança, ou seja, o casa-
mento (1Co 7.2). Famílias e lares saudáveis nascem a
partir de casamentos saudáveis.

100 John Piper. Casamento temporário. São Paulo: Cultura Cristã, 2019.
101 Citado em Voddie Baucham Jr, O que ele deve ser... se quiser casar com
minha filha. Brasília, DF: Monergismo, 2012.

187
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Casamento
Nas Escrituras, o sexo é a consumação do
casamento. Ou seja, o processo de aliança entre um
homem e uma mulher, que se iniciou em oração,
aconselhamento, noivado, união civil, cerimônia e
celebração chega à plenitude e conclusão na primeira
relação sexual – os dois tornam-se uma só carne.
Alguém disse: “O casamento é mais que sexo, mas
não é menos que sexo”102.
Assim, é essencial que o sexo aconteça dentro
de um ambiente de aliança. No primeiro casamento
da história, antes de casar-se com a mulher, Adão fez
seus votos: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne
da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto
do homem foi tomada” (Gn 2:23). O comentarista
David Merkh explica:
Seria fácil passar por cima da profundidade dessa decla-
ração de identidade, compromisso, interdependência
e, acima de tudo, de aliança. O povo de Israel encon-
trou nessa declaração um paradigma para futuros votos
de pacto indissolúvel [...]. Quando as tribos de Israel
foram até Hebrom para tentar convencer Davi a ser
rei sobre todo o Israel, eles usaram as palavras de Adão
como a maneira mais forte que conheciam para declarar
lealdade pactual [2Sm 5:1]. [...] Note que, no caso de

102 Gerald Hiestand e Jay S. Thomas, Sexo, namoro e relacionamentos: uma


nova abordagem. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2016.

188
O P L A N O D E D E U S PA R A O S E X O

Adão e Eva, não havia “competição”, ou seja, terceiros


ameaçando a aliança. Mesmo assim, Adão achou neces-
sário e apropriado declarar sua devoção sincera e fiel à
sua esposa. Quanto mais nós devemos consagrar nosso
casamento!. [...] a aliança é o elemento fundamental
para constituir um casamento aos olhos de Deus!103

A Bíblia ensina que, no casamento, em aliança,


o corpo do homem pertence à sua esposa, e o corpo
da esposa pertence ao homem, e que um não deve
negar-se ao outro (1Co 7.4-5).

Proporcionar prazer ao cônjuge


Mais um importante propósito para o sexo é:
servir ao cônjuge, proporcionando-o prazer. A Escri-
tura ordena:

“O marido deve cumprir os seus deveres con-


jugais para com a sua mulher, e da mesma
forma a mulher para com o seu marido.
A mulher não tem autoridade sobre o seu
próprio corpo, mas sim o marido. Da mesma
forma, o marido não tem autoridade sobre
o seu próprio corpo, mas sim a mulher. Não
se recusem um ao outro, exceto por mútuo

103 David Merkh, Comentário bíblico lar, família & casamento. São Paulo:
Hagnos, 2019.

189
REDIMINDO A SEXUALIDADE

consentimento e durante certo tempo, para se


dedicarem à oração. Depois, unam-se de novo,
para que Satanás não os tente por não terem
domínio próprio.”
- 1 Coríntios 7:3-5

Sexo é dar ao outro o que lhe pertence (Ct


2.16). é por essa razão que o autoprazer, fruto da
masturbação, por exemplo, é uma deturpação do
sexo. O princípio bíblico do prazer sexual é propor-
cioná-lo não a si próprio, mas ao cônjuge (Ct 1.2;
Ct 4.10). Alguém declarou: “Quando aprendemos a
ver o mundo como um espelho da natureza de Deus
e seus propósitos, somos salvos do fim mortal da
autoabsorção; a vida tem um propósito mais alto que
nossa satisfação autônoma”104.

104 Ibidem.

190
PENSAMENTOS INICIAIS

Rafael já leu vários livros e ouviu muitas pregações e pa-


lestras sobre sexualidade, mas continua caindo nos mesmos
pecados. Essa inconstância tem entristecido e envergonhado
muito ele. O que Rafael deve priorizar para mudar isso?

Sofia está tentando orar mais, porém não consegue. Ela acha
a oração muito tediosa. O que ela deve mudar para desejar
orar mais?

Escreva respostas curtas para as perguntas abaixo


antes de ler o capítulo 13 e as atualize após a leitura:

1. Quais as suas dificuldade para orar mais?

2.Como você pode melhorar sua vida de oração?


13
AVANÇANDO EM ORAÇÃO

“Todas as coisas em mim encontraram o seu


lugar quando eu encontrei o meu lugar em Ti.”
- Agostinho de Hipona

S e queremos ser transformados pelo Senhor,


precisamos orar. É a intimidade e o con-
tato com o coração de Deus que irá mudar
quem nós somos. Muito contato significa muita
transformação, pouco contato significa pouca
transformação.

“Ora, este Senhor é o Espírito; e onde está o


Espírito do Senhor, aí há liberdade. E todos
nós, com o rosto descoberto, contemplando a
glória do Senhor, somos transformados, de gló-
ria em glória, na sua própria imagem, como
pelo Senhor, que é o Espírito.”
- 2 Coríntios 3:17-18

192
AVA N Ç A N D O E M O R A Ç Ã O

Isso quer dizer que o seu nível de comprome-


timento com a santificação e transformação de vida
é revelado pelo seu nível de comprometimento com
uma vida de oração constante. O escritor A. W. Tozer
declarou: “Uma vida cristã estagnada e infrutífera é
resultado da ausência de uma sede maior de comu-
nhão com Deus”105.

Orando sempre
Em outubro de 1885, o pastor Charles Spur-
geon pregou um sermão intitulado “Quando devemos
orar”106. O texto de Lucas 18:1, base do sermão, diz:
“os homens devem sempre orar, e nunca desfalecer”.
Em primeiro lugar, se orar sempre é um dever,
isso significa que também é uma possibilidade. É pos-
sível orarmos e orarmos sempre. Spurgeon afirma:
“Seus joelhos podem ser dobrados diante do altar de
Deus, mesmo que eles estejam calejados de tantas
quedas no pecado”107.
Além disso, a oração é mais que um dever, ela
é um privilégio e uma necessidade. “Nós devemos

105 A. W. Tozer, À procura de Deus. Editora Betânia: Curitiba, 2019.


106 Charles Spurgeon, Oração segundo as Escrituras: Volume I. Traduzido e
organizado por Augusto Magalhães (e-book).
107 Ibidem.

193
REDIMINDO A SEXUALIDADE

sempre orar porque nós sempre temos algum pecado


a confessar, nós sempre temos alguma coisa boa para
bendizer a Deus e nós sempre temos alguma necessi-
dade a ser suprida”108.
Por fim, o pregador conclui que a alternativa
à oração perseverante é o desfalecer. Ou oramos ou
desfalecemos. Spurgeon declarou:
Creio que todo homem que deseja ganhar almas – e
estou me referindo a muitos que estão liderando clas-
ses bíblicas, ou estão em missões, ou de alguma forma
servindo ao Senhor – irá desfalecer, estou certo que
irá – na administração de seu trabalho, a não ser que ele
se retire algumas vezes e coloque tudo isto aos pés do
Senhor e espere Nele.109

Tudo que não é começa e é sustentado pela ora-


ção em secreto está comprometido.

Dicas práticas
Em seu livro Crescendo em Oração, o autor
Mike Bickle dá alguns conselhos e dicas práticas para
desenvolvermos uma vida de intimidade com Deus e
crescermos em oração. Abaixo estão algumas de suas
recomendações e outras que acrescentamos:

108 Ibidem.
109 Ibidem.

194
AVA N Ç A N D O E M O R A Ç Ã O

- Tenha a sua visão de Deus moldada pelas Escri-


turas. A identidade de Deus é o maior atrativo para o
lugar de oração. Deus não é um juiz mal-humorado,
mas um Pai que deseja se revelar aos Seus filhos. A
revelação de quem Deus é fará com que você queira
orar.
- Determine um horário diário de oração. Cor-
rie Tem Boom dizia: “Não ore quando você sentir
vontade de orar. Tenha um encontro marcado com
o Rei e mantenha-o”. Esse compromisso definirá
quando você irá orar.
- Crie listas de oração. Muitas vezes precisamos
de foco e intencionalidade na oração, portanto, listas
de petições pessoais, intercessão por pessoas e causas
nos ajudam a determinar pelo o que orar.
- Não apenas leia os salmos, mas ore-os. As ora-
ções da Bíblia nos ensinam a construir melhor as nos-
sas próprias orações.
- Alguns homens de Deus ao longo da história,
como Sir Henry Havelock, relatam que sempre pas-
savam as primeiras duas horas do dia em oração e
leitura bíblica. Se precisavam fazer algo às seis ou sete
da manhã, sempre se levantavam duas horas antes.

195
REDIMINDO A SEXUALIDADE

- Outros preferiam ter horários de oração ao


longo do dia onde paravam tudo que estavam fazendo
e tinham um tempo a sós com Deus. Por exemplo:
acordar às 5h30 e gastar meia hora em oração. Depois,
às 9h, mais meia hora. Ao meio dia, um tempo de
leitura bíblica. Às 15h, mais meia hora de oração. Ao
fim da tarde, um pouco mais de leitura bíblica. Às
21h, mais meia hora de oração. Ao todo, isso resulta
em 2 horas de oração e 1 hora de leitura bíblica por
dia. Isso nos ajuda a manter um espírito de oração ao
longo do dia.

Ajude outros
Agora, após a leitura de todo este material, você
compreendeu muitas coisas sobre a vontade de Deus
para sua sexualidade e o caminho de restauração. Se
você se dedicar a viver e praticar cada lição apren-
dida, você, sua família e sua geração serão afetados
pelo Evangelho e produzirão muitos frutos. Além
disso, há pessoas ao seu redor que enfrentam as mes-
mas lutas e carregam as mesmas feridas que você. Tal-
vez alguém esteja, nesse exato momento, orando para
que o Senhor a ajude a vencer seus pecados, a sair de
prisões e viver uma nova vida. É possível que o Senhor

196
AVA N Ç A N D O E M O R A Ç Ã O

esteja lhe chamando para ser instrumento de ajuda e


transformação na vida de outras pessoas.
O apóstolo Paulo escreveu o seguinte:

“Que a palavra de Cristo habite ricamente


em vocês. Instruam e aconselhem-se mutua-
mente em toda a sabedoria, louvando a Deus
com salmos, hinos e cânticos espirituais, com
gratidão no coração.”
- Colossenses 3:16

O primeiro passo é sermos ricamente preen-


chidos e habitados pela Palavra de Deus. Leia as Escri-
turas! Nelas, tudo o que você precisa de sabedoria e
conhecimento para a santificação será encontrado.
Ore para que o Senhor lhe ajude a ajudar seus
amigos e irmãos que estão sofrendo a solidão e o
aprisionamento de uma vida pecaminosa. Um autor
escreveu:
Como temos uma longa lista de nossos próprios pro-
blemas, podemos facilmente achar que é melhor deixar
o cuidado com os outros a cargo daqueles que são mais
qualificados. Mas o reino de Deus opera de maneiras
algumas vezes inesperadas para nós. Aqui, os fracos e

197
REDIMINDO A SEXUALIDADE

humildes são aqueles que fazem o trabalho pesado do


cuidado pastoral.110

Todos nós somos incapazes, mas Deus prome-


teu dar o seu Espírito Santo aos que o pedirem e Ele é
quem atua nos corações, convencendo-os. Agradeça
a Deus por tudo que Ele fez por você, por tudo que
você viveu durante os dias de leitura e estudo deste
livro e peça que lhe use para ministrar santificação,
pureza e restauração na vida daqueles que buscam
mãos limpas e um coração puro para estarem diante
de Deus.

110 Edward T. Welch, Aconselhando uns aos outros: 8 maneiras de cultivar rela-
cionamentos saudáveis dentro da igreja. São José dos Campos: Fiel, 2019.

198
APÊNDICE I

COMO FALAR SOBRE SEXUALIDADE COM


SEUS FILHOS

Começando pelos pais


Crianças e adolescentes são pecadores caídos,
inclinados à carne e ao pecado desde o nascimento
por causa da natureza pecaminosa que há em seus
corações. Eles precisam do Evangelho, de Redenção,
de transformação e de mudança de coração. Mas,
antes de tudo, essa transformação precisa acontecer
nos pais. O pastor Paul Tripp, em seu livro A idade da
oportunidade, explica:
Se desejamos mesmo ser eficazes por Cristo nas vidas de
nossos adolescentes, é importante que sejamos honestos
a respeito de nossos próprios ídolos – as áreas onde nós
tendemos a trocar a adoração e o serviço ao Criador
pela adoração e serviço às coisas criadas. Muitas vezes,
ao procurarmos entender os conflitos do adolescente,
olhamos apenas para ele e para seus problemas. Na reali-
dade, é tempo de olharmos para dentro de nós mesmos
e perguntarmos: “O que de fato governa os nossos cora-
ções?” [...]. Será perda de tempo para nós, pais, pen-
sarmos em estratégias de educação para os adolescentes
sem antes examinarmos a nós mesmos.111

111 Paul David Tripp, A idade da oportunidade. São Paulo: Batista Regular
do Brasil, 2017.

199
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Por isso, aconselhamos que você sonde o seu


coração e a sua vida. Quais são os pecados do seu
coração? Quais as suas motivações para a educação
dos seus filhos? Que partes da sua devoção preci-
sam ser aperfeiçoadas (oração, leitura bíblica, jejum,
etc.)? Ore a Deus, leia a Palavra e seja moldado pelo
Evangelho para poder pastorear e discipular sua
família.

Antes de falar sobre sexo e sexualidade


Em primeiro lugar, é importante entender-
mos que o Evangelho e a Palavra de Deus devem
ser os principais fundamentos para toda e qualquer
conversa com os seus filhos, sejam crianças ou ado-
lescentes. Paulo afirmou que o Evangelho é o poder
de Deus (Rm 1:16) e o autor de Hebreus declarou
que a Palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante
do que qualquer espada de dois gumes, e que pene-
tra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e
medulas, apta para julgar os pensamentos e os pro-
pósitos do coração (Hb 4:12). Portanto, antes de
qualquer coisa, você deve evangelizar seus filhos,
ensiná-los sobre a autoridade da Bíblia na vida dos
filhos de Deus e lê-la com eles diariamente. Uma
ótima leitura sobre o Evangelho para crianças é o

200
APÊNDICE I

livro “A maior de todas as histórias” do autor Kevin


DeYoung112. Para adolescentes, recomendamos a
leitura de “O Enredo da Salvação” de Bernardo Cho113
e de “O Deus Pródigo” de Timothy Keller114.
Além disso, há alguns temas que precisam ser
abordados com a criança e com o adolescente antes
de falarmos diretamente do assunto da sexualidade.
Um deles é o tema da identidade. O que determina a
identidade de uma pessoa? Falamos disso no capítulo
6 ao discutirmos a questão da homossexualidade. Ao
discipular e pastorear seus filhos, deixe bem claro que
quem eles são é algo que depende exclusivamente e
unicamente do que Deus diz sobre eles. Nossos senti-
mentos, emoções, desejos e experiência não definem
nossa identidade.
Fale também com seus filhos sobre o pecado.
Explique que o pecado é toda desobediência ao que
Deus escreveu na Sua Palavra e tudo que nos leva para
longe da sua santidade. Mostre como as Escrituras

112 Kevin DeYoung e Don Clark, A maior de todas as histórias: como


o esmagador da serpente nos leva de volta ao jardim. São Paulo:
Geográfica Editora, 2017.
113 Bernardo Cho, O enredo da salvação: presença divina, vocação humana e
redenção cósmica. São Paulo: Mundo Cristão, 2017.
114 Timothy Keller, O Deus pródigo: recuperando a essência da fé cristã. São
Paulo: Vida Nova, 2018.

201
REDIMINDO A SEXUALIDADE

revelam que todos somos pecadores e precisamos


de um Salvador. Ensine seus filhos sobre o temor do
Senhor:
Existe um tipo de temor que é apenas medo do cas-
tigo (Js 2:14). Mas existe também um sentimento de
maravilhamento por alguém (Js 4:24), que resulta no
temor de fazer qualquer coisa que possa entristecer
ou desonrar a pessoa. É nesse segundo sentido que
devemos entender o verdadeiro “temor do Senhor”,
porque, quanto mais admiramos e louvamos o Senhor
com veneração, mais esse temor aumenta (1Cr
16:25)115.

E, por fim, fale com seus filhos sobre o coração.


Nós somos aquilo que amamos e adoramos aquilo que
amamos. Aquilo que nosso coração mais ama é o que
determina o nosso comportamento. Portanto, ensine
seus filhos a sondarem o próprio coração e a descobrir
o que eles mais amam. Se não for a Deus e a Jesus
Cristo, chame isso que eles amam de ídolo.Tedd Tripp,
em Pastoreando o coração da criança, explica:
A Escritura ensina que o coração é o centro de con-
trole da vida. A vida de uma pessoa reflete o que está
no seu coração [...]. O comportamento de uma pessoa
é a expressão do fluir do coração.116

115 Timothy Keller, A Sabedoria de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2019.
116 Tedd Tripp, Pastoreando o coração da criança. São José dos Campos: Fiel,
2017.

202
APÊNDICE I

A Palavra de Deus, o Evangelho, identidade,


pecado, o temor do Senhor e o coração. É sobre essas
bases que a conversa sobre sexualidade com seus filhos
deve acontecer.

Abordando o tema
É muito importante que você fale sobre sexo e
sexualidade com seus filhos. Em Provérbios 22:6, a
Bíblia afirma: “Ensine seus filhos no caminho certo,
e, mesmo quando envelhecerem, não se desviarão
dele”. O pastor William P. Smith escreve:
Em sua sociedade exageradamente sexual, é tentador
acreditar que, quanto menos se disser, melhor para
todos. Isso não é verdade. Não é que o seu filho ouvirá
menos, mas você terá permitido que todos, exceto você,
moldem o conteúdo dessas conversas. Seus filhos ainda
ouvirão por acaso, ou participarão daquilo que é dito na
escola, no pátio, nos grupos de ensino domiciliar, no par-
que e até na igreja. Eles ainda serão expostos ao conteúdo
sexual por meio da mídia, ainda que seja no outdoor da
rodovia ou nas prateleiras de revista do mercado, ficando
em silêncio, você os deixará perdidos neste mundo, des-
preparados para lidar com aquilo que enfrentarão.117

Na obra citada anteriormente, o autor com-


partilha a estratégia que usou com seus filhos para

117 William P. Smith, Como falar de sexo com o seu filho: com honestidade e
sinceridade. São José dos Campos: Fiel, 2017.

203
REDIMINDO A SEXUALIDADE

ensiná-los sobre sexo. Recomendamos a sua leitura


para uma compreensão mais ampla e profunda, mas,
em poucas palavras, o autor explicou para os seus
filhos a diferença entre biologia e intimidade. Diante
disso, ele afirma que o sexo é melhor entendido den-
tro do contexto da intimidade do que algo meramente
biológico.
O autor explica:
Deus criou o sexo para ser o conector físico mais pode-
roso, para o relacionamento humano mais especial e
mais íntimo que podemos ter nesta terra. É a forma
física de você se entregar da maneira mais livre e plena
para outra pessoa. É a expressão física de duas pessoas
aprendendo a compartilhar uma só vida (Gn 2.23-24).
[...] É um relacionamento tão especial e tão singular
que Deus diz ser o retrato da maneira como Jesus se
relaciona com a sua noiva, a Igreja (Ef 5.31-32).118

Seus filhos precisam entender o sexo no con-


texto da intimidade em uma perspectiva bíblica de
para o que Deus o criou.

Estratégias práticas
Responda as perguntas com sinceridade e pru-
dência. William P. Smith, mais uma vez, aponta:

118 Ibidem.

204
APÊNDICE I

Uma das maneiras mais fáceis de você começar a falar


sobre sexualidade e relacionamentos é levando os seus
filhos a sério quando eles lhe fizerem perguntas. As
crianças são naturalmente curiosas por cada aspecto
da vida. Ao responder às perguntas que fazem, você
lhes ensina que elas podem confiar em você – que
você se importará com aquilo que elas se importam.
[...] se eu recuasse ou parecesse desconfortável, eu
lhes demonstraria que nunca mais deveriam se sentir
à vontade para discutir um assunto assim comigo.119

As dúvidas dos seus filhos não desaparecerão se


você se recusar a respondê-las ou se der uma res-
posta superficial. Eles apenas não perguntarão mais
a você, mas a outra pessoa (amigos, internet, etc.).
Seus filhos precisam ver você como um lugar seguro
para serem transparentes quanto a seus questiona-
mentos e como uma fonte de sabedoria e orientação
para a vida.

Conecte o tema com as verdades bíblicas


Imagine seu filho ou filha lhe perguntando: “Pai
(ou Mãe), por que o meu amiguinho da escola tem
dois pais (ou duas mães) e não um pai e uma mãe
como eu?”. O que você responderá?

119 Ibidem.

205
REDIMINDO A SEXUALIDADE

Criação – Você irá lembrá-lo que Deus criou


o casamento e família para serem formados por
um homem e uma mulher, um papai e uma mamãe
(Criação).
Queda – Mas, infelizmente, o primeiro casal,
Adão e Eva, desobedeceram a Deus e o pecado
entrou no mundo. Uma das consequências do pecado
no mundo é que alguns homens, ao invés de se casa-
rem com mulheres, se casam com outros homens (ou
vice e versa). Essas pessoas preferem seguir o pró-
prio coração ao invés de seguir a Palavra de Deus.
Talvez você possa ler Romanos 1 com ele e explicar
que a homossexualidade é um tipo de idolatria por-
que a pessoa ama mais seus sentimentos e emoções
do que a Deus.
Redenção – Porém, assim como os pais do ami-
guinho da escola são pecadores, você e seu filho tam-
bém são pecadores que precisam do Salvador Jesus.
Explique para ele que você e sua família creem em
Jesus e obedecem a sua Palavra e os pais do amigui-
nho ainda não. Portanto, o que podemos fazer? Pode-
mos orar pela família do amiguinho para que ele e
seus pais creiam no Evangelho, sejam salvos e tenham
a vida transformada assim como vocês também tive-
ram. Você pode encorajar seus filhos a contar as

206
APÊNDICE I

histórias da Bíblia que ele tem aprendido com você e


compartilhá-las com seu amiguinho.

Envolva-os em sua vida espiritual e devoção


Leia a Bíblia com eles. Assista pregações com
eles. Jejue com eles. Louve com eles. Faça devocional
com eles. Vá com eles ao culto. Ore com seus filhos
e por seus filhos. Desenvolva uma vida espiritual e
envolva seus filhos nela.

207
APÊNDICE II

LEITURAS ADICIONAIS INDICADAS

Relacionamentos de Aliança – Asher Intrater (Impacto


Publicações)
Como as Pessoas Mudam – Paul Tripp e Timothy Lane
(Cultura Cristã)
Santidade – J. C. Ryle (Editora Fiel)
Crescendo em Oração – Mike Bickle (Orvalho)
O Significado do Casamento – Timothy e Kathy Keller
(Vida Nova)
AVida Cristã no Lar – Jay Adams (Editora Fiel)
O que ele precisa ser se quiser casar com a minha filha – Vod-
die Baucham Jr. (Editora Monergismo)
Homens deVerdade – Richard D. Phillips (Editora Fiel)
Feminilidade Radical – Carolyn McCulley (Editora Fiel)
O que Deus Diz Sobre as Mulheres – Kathleen Nielson
(Editora Fiel)

208
Com Toda Pureza – Tim Chester (Editora Fiel)
Recuperando-se do abuso infantil – David Powlison (Edi-
tora Fiel)
Cura após o aborto – David Powlison (Editora Fiel)
Garota Gay, Bom Deus – Jackie Hill Perry (Editora Fiel)
Deus é Contra os Homossexuais? – Sam Allberry (Editora
Monergismo)
Identidade e Sexualidade – Pedro Dulci (Editora
Monergismo)
O que a Bíblia ensina sobre a homossexualidade? – Kevin
DeYoung (Editora Fiel)
Pensamentos secretos de uma convertida improvável – Rosa-
ria Butherfield (Editora Monergismo)
Você é Aquilo que Ama – James K. A. Smith (Vida Nova)
Aconselhando uns aos outros – Edward T. Welch (Editora
Fiel)

Você também pode gostar