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e B ilI P a v n e

VENCER 0 MUNDO
E RECHACAR AS FORCAS DO MAL
QUE ATUAM EM TODA PARTE,
Essa é a convocação de Deus para todo seguidor
de Jesus Crista
ÉTEMPO DE GUERRA!
GUERRA ESPIRITUAL!
Com certeza, ou você é um guerreiro, ou uma
vítima nessa batalha que está-se travando nos céus
e na terra. Mas não se ganha essa peleja “no grito”,
como pensam alguns, ou “no peito e na raça”.
Só vencem as pessoas equipadas com as armas
de Deus e revestidas com a armadura de Deus.
Nessa luta sem tréguas, estão em jogo a alma,
a mente, o corpo, a família, a igreja, as cidades
e as nações.
Este livro nos ensina como vencê-la.
“Dean Sherman é um grande comunicador e trata
de um assunto explosivo e relevante para nossa época.
Este é um livro que você não pode perder!”
Loren Cmningham o- -
PRESJDENTE DAJOCUM INTERNACIONAL

Ècbtora Beíânia
Leitura para uma vida bem-sucedida
Caixa Postal 5010 ^ 31611-970 Venda Nova, MG
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Para Todo Cristão
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Bditora 8l) Beíânia


Leitura p ara u m a vida bem -sucedida
Cabia Postal 5010 - 31611-970 Venda Nooa, MG
Título do original em inglês:
Spiritual Warfare For Every Christian.
Copyright © 1990 by Dean Sherman.
Publicado originalmente por Frontline Communications
P, O. Box 55787, SeatÜe, WA 98155.
TVadução de Myrian Tblitha Lins
Revisão de Mima Maria de Alcântara Campos
Primeira edição, 1993
Tbdos os direitos reservados pela
Editora Betânia S/C
Caixa Postal 5010
31611-970 Venda Nova, MG
É proibida a reprodução total ou parcial
sem permissão escrita dos editores.
Composto e impresso nas oficinas da
Editora Betânia S/C
Rua Padre Pedro Pinto, 2435
Belo Horizonte (Venda Nova), MG
Capa: Kleber Faria e Jairo Larroza
Printed in Brazil
Para meu pai, Byron Sherman,
que sempre foi um exemplo de equilíbrio e persistência;
e para minha mãe, Viola Sherman,
que me ensinou a amar a Deus e a resistir ao diabo.
AGRADECIMENIOS

Agradeço primeiramente a Deus que, pela sua graça, permite-me apren­


der esses princípios e passá-los a outros, através de ensaios e erros. Sou
grato também a Loren Cunningham e aos outros colegas da JOCUM, pelo
constante incentivo e pela confiança em mim depositada nesses vinte e
três anos que trabalhamos juntos. Estendo minha gratidão ainda a todos
os membros do corpo de Cristo que bondosamente reconheceram ter sido
abençoados pelos ensinamentos que agora trago a público, e àqueles que
me incentivaram a escrever este livro para que outros pudessem inteirar-
se deles.
Meu agradecimento também a Bill Payn^ que com incansável dedi­
cação transformou mensagens orais em livro. Sou grato de forma muito
especial ao Pastor Mário Sassi e à igreja New Covenant Assembly, de Lon-
don, Ontário, Canadá, que o sustentou durante o período em que cola­
borou neste projeto.
Agradeço ainda a Warren Keapproth, que fez a transcrição das inú­
meras fitas que compunham o material; a Janice Rogers, que deu mais
de cem horas de trabalho na editoração do texto; a Jim Rogers e Jim
Shaw, do departamento editorial de “Frontline Communications”, no Tfe-
xas, que cuidaram da revisão, leitura de provas e composição do material.
Minha gratidão também a Juanita Barton, Bill Eaton, Pandora Pàtton,
Meredith Puff, Patrícia Rupprecht e Pam Warren.
Sou profundamente grato a minha esposa, Michelle, e a meus filhos,
TVoy e Cherie, por palmilharem comigo a estrada da guerra espiritual.
Dean Sherman
ÍNDICE

Prefácio...........................................................................................11
1. Uma Luta de Vida ou Morte....................................................... 13
2. A Grande Aventura.......................................................................21
3. Conheçamos Nosso Inimigo........................................................35
4. Os TVês Campos de Batalha.....................................................45
5. Um Bom Condicionamento Espiritual........................................59
6. O Mundo Invisível........................................................................73
7. A Hierarquia Satânica e Seus Planos de Guerra......................89
8. Como Exercitar a Autoridade que Deus nos D á .....................111
9. Se Deus é Amor, por que Permite Tántos Males?...................129
10. “Mas Livra-nos do Mal” .............................................................145
11. Será que a Oração Opera Mudanças?..................................... 155
12. Como se TVava Essa Guerra.................................................... 171
PREFÁCIO

Assim que terminei a leitura do manuscrito deste livro, ajoelhei-me


e dei graças a Deus por ele. Uma vez mais senti-me transbordar de um
grande sentimento de adoração ao meu amado Pai celeste. Seu caráter
é inigualável; seus desígnios, perfeitos.
Dean Sherman nos oferece aqui um estudo completo e equilibrado,
altamente esclarecedor, que ao mesmo tempo é de fácil leitura e tempe­
rado com senso de humor. Os ensinamentos que ele apresenta neste livro
devem ser incorporados ao fundamento de vida de todo crente Não vejo
a hora de lê-lo com minha família e recomendá-lo a meus amigos.
Dean é um amigo muito querido. E embora eu não tenha ouvido todas
as mensagens que ele pregou sobre esse tema, conheço-as bem, pois vi
0 autor aplicando-as na prática com profundo senso de responsabilidade.
Entretanto a aprendizagem dessas lições não foi fácil. Nesta obra estão
condensados vinte e três anos de lutas e vitórias no trabalho missionário,
como uma essência preciosa encerrada num frasco de perfume. E como
nós precisávamos dela! Este é um daqueles raros livros que todo crente,
seja ele quem for, deve possuir, ler e reler periodicamente.
John Dawson
CAPITULO UM

Corria o ano de 1970. Eu estava deitado no assoalho de tábuas de


nossa casa, em Porto Moresby, Papua-Nova Guiné. Fazia sete dias que
vinha orando e jejuando, buscando de Deus algumas orientações.
Havia já três meses que nos achávamos ali, e embora nossa equipe
da JOCUM estivesse testemunhando do evangelho, e pregando em cultos
ao ar livre nas feiras, os resultados eram muito escassos. Além disso, um
outro fato me chamara a atenção — algo que me deixou bastante preo­
cupado. Embora as igrejas da cidade estivessem sempre cheias, e hou­
vesse ali milhares de pessoas que professavam ter nascido de novo, muitas
delas se achavam dominadas pelo pecado. Inúmeros crentes continuavam
inclusive a praticar feitiçarias. E apesar de pregarmos contra isso, não
víamos mudanças. Ao contrário, sentíamos forte resistência à mensagem.
Havia alguma coisa errada. Então resolvi orar e jejuar, pedindo a Deus
que nos revelasse a solução.
Certo dia, quando estava deitado no chão orando, ouvi a voz de Deus
14 Batalha Espiritual

em minha mente. A resposta que ele me deu foi algo inusitado, inteira­
mente novo. Mas foi uma mensagem clara e nítida, como sempre acon­
tece quando ouço a voz divina.
Só 0 louvor poderá derrotar as forças do m al que controlam esta ci­
dade desde o inicio dos tempos. Ninguém nunca opôs resistência a elas.
Senti-me perplexo. Nunca havia pensado que as forças espirituais pu­
dessem ter controle sobre lugares. Em 1970, ainda não se ouvira falar
que os poderes das trevas dominavam localidades. Até então eu nunca
recebera nenhum ensinamento acerca da guerra espiritual. Sabia apenas
que algumas pessoas possuíam um ministério “especial” de expulsar de­
mônios. Continuei deitado, meditando sobre o que Deus acabara de revelar-
me, e foi nesse instante que me ocorreu um pensamento.
A igreja da Nova Guiné fora firmemente estabelecida, e se desenvol­
vera até certo ponto. Fazia muitos anos que havia missionários trabalhando
entre aquele povo, edificando a igreja de Jesus Cristo. E sua pregação
era ortodoxa; eles criam na Palavra de Deus. Mas, apesar de tudo. Deus
dissera que as forças do mal que pairavam sobre Papua-Nova Guiné nunca
tinham sofrido oposição. Concluí, então, que a igreja pode experimentar
certa medida de sucesso, mesmo quando não opõe resistência aos po­
deres das trevas. Fiquei estonteado só de pensar nas imensas possibili­
dades que entrevia nessa revelação.
Pedi a Deus que confirmasse a experiência, revelando-me se fora re­
almente ele quem me falara ou se aquilo fora produto de minha imagi­
nação. Relatei o fato a Tbm Hallas e Kaiafi Moala, os outros dois líderes
da missão na cidade, e eles também creram que a mensagem viera de
Deus. Mas era uma idéia tão inusitada que pedi ao Senhor outras con­
firmações.
Dias depois, um carro parou em frente de nossa casa e dele saiu um
americano alto e magro, todo agitado e encalorado.
— Glória a Deus, irmãos! disse ele dando-nos um vigoroso aperto de
mão. Eu estava procurando crentes nesta cidade. E sempre que descrevia
0 tipo de gente que queria encontrar, todos me indicavam esta casa. Gló­
ria a Deus!
Engoli em seco e olhei de soslaio para Tbm e Kalafi. Então o povo
da cidade identificou aquele exuberante evangelista conosco, hein? Mas
nós 0 acolhemos e convidamos para pregar algumas noites em nossa casa.
Um pequeno número de pessoas subiu o morro para assistir ao culto
e ouvi-lo pregar. Ele acompanhava o cântico dos hinos com um pandeiro.
E, ao orar, fazia-o em altos brados, suplicando a Deus que salvasse aquele
povo, que os curasse, e os enchesse do Espírito Santo.
Uma Luta de Vida ou Morte 15

Mas, apesar de ele ser um tanto diferente de nós, houve um fato que
nos convenceu de que indubitavelmente era um homem de Deus. Na se­
gunda noite, ele mencionou algo que foi a prova final. O evangelista se
achava à frente da pequena congregação, os olhos fechados, e a certa
altura disse em tom profético:
— É, 0 Senhor quer dizer-nos que o louvor é o fator decisivo que
irá derrotar as forças do mal que se acham sobre esta cidade!
Puxa! pensei. A mesma coisa que Deus me dissera quando estava
jejuando e orando.
Algumas semanas depois, passou por nossa missão um evangelista ho­
landês. Thmbém ele nos transmitiu uma mensagem direta de Deus:
“O segredo para se derrotar as forças das trevas é o louvor!”
Mais tarde recebemos a visita de um homem da Nova Zelândia, e ainda
de outro da Austrália — todos dizendo a mesma coisa. Quatro pessoas,
de quatro procedências diversas, tinham nos visitado com intervalos de
poucas semanas uma da outra, todas dizendo o mesmo que Deus havia
me falado quando estava deitado no chão orando. Não é preciso ter in­
teligência brilhante para perceber que era Deus quem estava-nos falando.
Então resolvemos colocar aquilo em prática; tomamo-nos quase fanáticos
no louvor. Houve dias em que louvamos a Deus em nossa pequena casa
a manhã toda. Marchávamos pelos cômodos, cantando em voz alta, gri-
távamos frases de louvor e caíamos de joelhos ou nos prostrávamos com
0 rosto em terra, louvando a Deus. E logo começaram a ocorrer mudan­
ças. Obtivemos muitas vitórias. Vimos pessoas sendo salvas, libertas, e
recebendo a plenitude do Espírito.
A mudança fez-se sentir também na evangelização de rua. Em vez
de encontrar corações duros, crentes nominais vivendo em pecado, vimos
pessoas chorarem em público, rompendo com a prática da feitiçaria. O
número dos convertidos aumentava de forma constante, e houve dias em
que tivemos uma congregação de até cinco mil pessoas. Todos os do­
mingos realizávamos no mar batismos de novos convertidos. Esse estado
de coisas durou três anos. Paralíticos levantavam e andavam; cegos re­
cobravam a visão. Num período de seis meses, foram criados em Porto
Moresby nove grupos de comunhão constituídos de crentes cheios do Es­
pírito. Estávamos no “sétimo céu”.
Entretanto pouco depois inamos conhecer toda a crueza mortal da
guerra espiritual. Satanás desferiu contra nós um ataque súbito e violento.
Em nosso grupo havia um jovem neozelandês de vinte e poucos anos
chamado David Wallis. No auge desse nosso avivamento espiritual, ele
e outros rapazes foram fazer um trabalho de evangelismo num povoado
próximo. O feiticeiro da localidade fez forte oposição a eles. Mas os jovens
16 Batalha Espiritual

se recusaram a deixar a cidade Então o homem aprontou um “despacho”


contra eles. Contudo nem David nem nós nos preocupamos muito com
aquilo. Outros feiticeiros já tinham preparado bruxarias contra nós, sem
nenhum efeito.
Depois de um mês e meio de trabalhos, eles regressaram a Porto Mo-
resby. David relatou-nos que quando estava no povoado tivera febre. Na­
quele momento sua temperatura estava normal, mas sentia-se esgotado.
Sugerimos que consultasse um médico, e ele replicou que sentia-se me­
lhor, e só precisava mesmo era descansar.
Todavia, apesar de ficar de repouso uns dois ou três dias, David
enfraqueceu mais. E a febre voltou. Um dia fui ao seu quarto para
ver como passava, e encontrei-o com febre alta, delirando, murmurando
palavras incoerentes. Imediatamente o levamos para o hospital. O diag­
nóstico que nos deram foi arrasador: malária cerebral em estágio adian­
tado.
— Como pode ser isso? indaguei. Ao que consta, a malária já foi er­
radicada desta região da Papua-Nova Guiné.
Mas eles garantiram que era aquilo mesmo. E os prognósticos não
eram nada animadores. O médico informou-nos de que essa era a pior
forma de malária, com pouquíssimas chances de sobrevivência. E mesmo
que David escapasse, ficaria com sérias lesões cerebrais, passando a levar
uma vida vegetativa.
Voltamos para casa e começamos uma ansiosa vigília de oração e je­
jum. Oramos a noite toda, numa dura luta, sob forte sensação de opres­
são. Anteriormente éramos capazes de orar horas a fio. Mas dessa vez,
apesar de nos acharmos diante de um problema tão grave, mal conse­
guíamos pronunciar algumas palavras. Eu tinha a impressão de que a oração
que saía de meus lábios caía no chão. Era como se todas as potestades
do inferno houvessem convergido suas forças contra nós, dirigindo toda
a sua furia contra o corpo de David Wallis.
De manhã, achei que tínhamos conseguido algumas vitórias no plano
espiritual. Corri ao hospital mas, quando lá cheguei, não encontrei David
em sua cama. Procurei a enfermeira-chefe e asperamente ela me informou
que ele fora transferido para a UTI. Estava sofrendo convulsões. E acres­
centou;
— Ele vai morrer e a culpa é de vocês. Com suas convicções religiosas,
vão causar a morte desse moço. E mesmo que ele escape, ficará preju­
dicado pelo resto da vida.
Tfentei explicar-lhe que havíamos procurado convencê-lo a consultar-se
antes, que não éramos daquelas seitas que não recorrem à medicina, mas
ela nem quis ouvir. Todo o pessoal do hospital parecia convencido de que
Uma Luta de Vida ou Morte 17

éramos uns fanáticos religiosos, e devíamos ser responsabilizados crimi­


nalmente pelo estado em que o rapaz se encontrava.
Voltei para casa atordoado. E se David morresse? Será que abriríam
processo contra nós? Mas, mesmo que não abrissem, será que iríamos
ficar mal vistos naquela cidade relativamente pequena a ponto de sermos
obrigados a interromper nosso ministério? E o que aconteceria com os
novos convertidos? Como ficaria a fé deles? Nós lhes havíamos garantido
que Deus opera milagres em nossos dias, e que, no nome de Jesus Cristo,
tínhamos autoridade sobre as forças das trevas.
O hospital ligou para a família de David, na Nova Zelândia, e o pai
dele foi ficar ao seu lado. A primeira vez que nos encontramos, não con­
versamos muito, mas ele fez questão de dizer que havia advertido David
a que não viesse trabalhar conosco, e concluiu:
— Disse para ele que vocês são um bando de irresponsáveis!
No segundo dia, quando fui ao hospital, disseram-me outra vez que
não havia mais esperanças para ele. Fui ao quarto. David achava-se in­
consciente, deitado na posição fetal, muito amarelo. Tinha várias sondas
ligadas ao corpo. O único movimento que fazia era o do tórax, erguendo-
se e baixando-se de leve, por efeito do respirador automático, que pro­
duzia um suave ruído sibilante. No mais, David estava imóvel, quase como
morto.
Reunindo toda a fé que consegui buscar em meu coração, clamei si­
lenciosamente a Deus, em desespero. Em seguida, senti o impulso de fa­
zer algo e fiz. Ajoelhei-me ao lado da cama e falei junto ao ouvido dele:
— Demônio do poder da morte, eu o repreendo em nome de Jesus
e ordeno que saia do corpo deste moço!
Assim que acabei de dizer isso, ouvi um forte rumor gorgolejante em
sua boca. E foi só. Voltei para casa e mais uma vez passamos a noite
em oração.
No à a seguinte retomei ao hospital e corri à UTI. Logo que entrei
dei com David sentado na cama. O tubo do respirador havia sido retirado,
mas ele ainda estava no soro. O pai dele virou-se e vi o desespero estam­
pado em seu semblante. Fitei os olhos do rapaz e só então percebi que
seu olhar tinha uma expressão de vazio.
— Estou aqui há um bom tempo, chamando-o pelo nome, disse o pai
com ar cansado, mas ele... nada; não responde.
Procurei a enfermeira-chefe e indaguei-lhe do estado de David.
— Está pior! afirmou ela.
— Mas como? protestei. Ontem ele estava deitado em posição fetal.
Hoje já está sentado e sem o balão de oxigênio. Está muito melhor. Tfem
de estar.
18 Batalha Espiritual

Ela mantinha a mesma opinião; ele não estava melhor. E nunca mais
voltaria ao normal. Era uma lástima o que acontecera ao rapaz, e tudo
por nossa culpa.
Voltei ao quarto e o pai dele saiu, deixando-me a sós com David. Ca­
minhei até ao pé da cama e percebi que os olhos dele, apesar da expres­
são vazia, acompanharam minha movimentação. Então disse:
— David, estamos orando por você, e Jesus tem a vitória!
Foi então que aconteceu algo de extraordinário. Se eu próprio não
tivesse visto e ouvido, não teria acreditado. Sem mover os lábios e sem
modificar a expressão vazia no olhar, David pronunciou a palavra “Ale­
luia!”, que ressoou como que na sua garganta. Saí dali e fui contar o fato
aos colegas da missão. Não havia dúvida de que Deus ouvira nossas petições.
Quando regressei no dia seguinte, David saíra da UTI. Embora esti­
vesse muito fraco, já estava conversando e caminhava com pequena ajuda.
Tive de conter-me para não dar pulos de alegria, gritando “Glória a Deus!”
para o hospital inteiro ouvir. Que pensassem que éramos fanáticos! Deus
nos dera a vitória.
Esse fato^ocorreu há vinte anos. Depois disso, David Wallis foi ser mis­
sionário na índia. Mas para mim aquela experiência não consistiu apenas
na cura de um jovem doente; houve mais que isso. Pela intensidade com
que oramos e jejuamos. Deus permitiu que participássemos nas mudan­
ças que^se operaram em Porto Moresby, uma cidade com 75.000 habi­
tantes. É claro que não éramos os únicos. Tfenho certeza de que havia
muitos outros intercessores lá. Mas com nossas orações colaboramos para
afastar as forças das trevas que impediam a evangelização daquela gente.
E numa localidade onde antes havia apenas cinco pessoas que podiam
afirmar que eram cheias do Espírito, hoje há cinco grandes igrejas caris­
máticas, bem como movimentos de renovação espiritual nas igrejas cató­
lica, anglicana e outras.
Quase sofrêramos uma “baixa”, mas Jesus nos havia dado a vitória.
E foi com essa experiência que nasceu meu interesse pela guerra espi­
ritual. Foi então que comecei a pesquisar o assunto. Passei a orar e a
examinar as Escrituras com relação à questão. Como estivesse realizando
um ministério itinerante, tive oportunidade de conversar bastante com
diversos missionários e líderes de igrejas. Além disso, notei grandes con­
trastes em vários dos lugares aonde ia. Em uma região, via um povo duro;
frio; em outra, às vezes até próxima da primeira, percebia grande cres­
cimento espiritual. Na fronteira entre o Quênia e a Somália, por exemplo,
é possível colocar a ponta do pé num país e o calcanhar no outro, mas
a diferença é gritante. No Quênia há dezesseis milhões de crentes, que
constituem a maioria da população. Ao passo que na Somália eles não
Uma Luta de Vida ou Morte 19

chegam a 1% dos habitantes, e grande parte do grupo é constituída de


estrangeiros que lá residem. Não posso deixar de ficar curioso.
Vi esse tipo de contraste também de uma cidade para outra, de um
bairro para outro e até de uma família crente para outra, e mesmo entre
indivíduos. Enquanto uns conseguem viver uma vida vitoriosa, outros vi­
vem derrotados. Será que havia aí algum fator — sem dúvida um fator
forte e decisivo — que escapava à nossa percepção?
Pouco a pouco fúi descobrindo a resposta. E me sentia grandemente
empolgado, à medida que ia estudando essas coisas, pois estava apren­
dendo que todo crente tem a possibilidade de levar uma vida vitoriosa,
de ganhar o mundo para Cristo, de libertar nações e cidades. Compreendi
ainda que essa era uma questão de extrema importância. Tbdos nós so­
mos convocados a participar de uma guerra, a guerra espiritual. Todos
temos de aprender a guerrear.
CAPITULO DOIS

Quem não gosta de assistir a um bom filme, ou a um animado pro­


grama de televisão? Ou quem não aprecia sentar-se numa poltrona con­
fortável para ler um bom livro, um daqueles que prendem o leitor até
a última página? Ou que tal estar na arquibancada de um estádio assis­
tindo a uma disputa esportiva em que os dois times estão jogando de
igual para igual? Quase todo mundo gosta de acompanhar o desenrolar
de uma narraüva ou assistir a uma competição difícil. Somos capa2es de
passar horas e horas vendo atores fingindo que são o que não são, e em
muitos casos até pagamos um bom dinheiro para ter esse privilégio. E
uma vez ali, sentimo-nos indignados quando o vilão da história triunfa
sobre o inocente. Ficamos a torcer pelo “mocinho", e quando afinal os
bons derrotam o mal, pulamos de alegria. O mesmo acontece quando
nosso time marca um gol: saltamos e gritamos de contentamento.
Tbdos nós, bem no fundo da alma, sentimos grande satisfação em ver
duas forças se defrontando, seja numa narrativa de ficção ou numa com-
22 Batalha Espiritual

petição esportiva. Por que será que há em nós tamanho interesse por
essas formas de entretenimento? A resposta é: nós apreciamos conflitos,
aventuras e situações de tensão porque fomos criados para participar do
maior de todos os conflitos — a luta entre o bem e o mal. Por natureza,
nós sempre tomamos partido de um lado ou de outro; nunca ficamos
neutros. O plano de Deus é que participemos desse conflito lutando pela
justiça. Sua intenção é que lutemos ativamente para destruir tudo que
corrompe o reino de Deus ou impede seu avanço; que nos empenhemos
em expulsar as forças das trevas.
Tfemos, assim, a possibilidade de participar de um grande combate,
da maior das aventuras. Podemos presenciar o bem triunfando sobre o
mal; podemos ver prisioneiros sendo libertos. E não se trata da trama
de um livro, nem do desenrolar de um filme, mas, sim, do plano de Deus
para a igreja. E tudo isso pode tornar-se realidade se aprendermos a en­
trar nessa guerra espiritual.
Infelizmente, porém, a maioria das pessoas que participa nessa luta
nem sabe que está nela. Todos os que nascem neste mundo acham-se
no meio desse conflito. E uma vez nele, ninguém pode ficar neutro
nem se isentar. Temos duas opções: ou somos derrotados pelas forças
do mal ou então engajamo-nos nessa guerra espiritual e saímos vito­
riosos: ganhamos almas para Deus, transformamos a sociedade, influen­
ciamos a História e colaboramos para o estabelecimento do reino de
Deus.
Muitas pessoas me dizem:
“Já que você prega tanto sobre a guerra espiritual, o diabo deve estar
furioso com você, hein!"
Mas, se eu pensar que me acho numa posição especial, arrisco-me
a tomar-me alvo dos ataques do inimigo ou a cultivar oigulho espiritual.
Não creio que Satanás esteja mais preocupado comigo do que com outros
crentes. Tbdos nós possuímos o mesmo potencial para ganhar ou perder
essa luta. Qualquer crente que assumir a vitória de Cristo e procurar sem­
pre pôr em prática os princípios da guerra espiritual, pode constituir uma
ameaça para o diabo, pode derrotá-lo.
Muitos me perguntam por que dou estudos sobre a guerra espiri­
tual. Na verdade, não creio que haja recebido nenhuma revelação ou
autoridade especial para isso, não. Deus não me delegou uma missão
específica para pregar essa mensagem. Támpouco falo do assunto por
me julgar um grande entendido nele ou por haver feito longos estudos
a respeito. De forma alguma. Não possuo nenhum dom nem chamado
especial nesse particular. Aliás, prego sobre vários outros tópicos com
0 mesmo entusiasmo que sinto ao falar sobre a guerra espiritual. E
A Grande Aventura 23

também não sou daqueles que, ao menor pretexto, estão expulsando


demônios, atribuindo qualquer situação problemática ou defeito hu­
mano a influências demoníacas.
Dou estudos sobre a guerra espiritual, primeiro, porque se trata de
um importante aspecto da vida cristã, que tem sido ignorado na obra de
evangelização do mundo. A igreja de Cristo simplesmente não está en­
frentando as forças das trevas como devia, nem vivendo vitoriosamente
pelo nome de Jesus e pelo poder do Espírito Santo.
Outra razão por que falo sobre esse assunto tem relação com meu
trabalho de aconselhamento espiritual. Tbnho notado que muitos crentes
estão permitindo que um inimigo já derrotado lhes roube a vitória que
Cristo conquistou para nós na cruz.
E, por fim, prego sobre a guerra espiritual porque, através dos séculos.
Deus sempre deu importância a essa questão. E continua a dar. Ele quer
que seu povo seja um exército poderoso, para exercer uma forte influência
no mundo e expulsar as forças das trevas.
Preparados ou Não, Estamos em Combate
Tênho percebido que muitos crentes simplesmente não têm o menor
interesse nesse assunto. Não se informam sobre o inimigo de nossa alma.
Nunca assistem a um seminário, não ouvem uma fita, nem lêem livros
como este. Alguns crêem que a batalha espiritual é somente para aqueles
que possuem um chamado ou dom especial para esse serviço, enfim, para
um pequeno grupo de crentes. Lembro-me de uma senhora australiana
que disse:
“Ah, não é de meu temperamento brigar, não.”
Entretanto a luta espiritual não tem nada que ver com temperamento,
nem chamado, nem dom, nem formação. No momento em que nos con­
vertemos, automaticamente entramos em combate. Não há o que escolher.
Aliás, nosso primeiro ato na guerra espiritual é reconhecer que estamos
envolvidos nela.
Quase todos os crentes acreditam que no Calvário Jesus derrotou o
inimigo. Contudo o reconhecimento mental de que Cristo venceu o diabo
e que temos autoridade sobre ele não basta. Apesar de sabermos que
Satanás foi derrotado, estamos constantemente deixando que ele nos der­
rube e leve vantagem sobre nós. Sentimo-nos mais como vítimas dele do
que como soldados vitoriosos, que é o que Cristo deseja que sejamos.
Mas 0 fato é que, na qualidade de filhos de Deus, nunca precisamos estar
na condição de vítimas. Se entendermos bem os princípios bíblicos que
regem a guerra espiritual e o modo como o inimigo atua, e se resistirmos
a ele, nós o derrotaremos.
24 Batalha Espiritual

“Foi 0 Diabo que me Tentou a F^er Isso!”


Como ocorre em muitos outros aspectos da vida cristã, a igreja está
precisando encontrar um ponto de equilíbrio em sua visão da guerra es­
piritual. Os crentes, de modo geral, estão num dos dois extremos: ou dão
importância exagerada ao diabo ou não lhe dão a menor atenção.
Tbdos conhecemos pessoas que conferem uma ênfase excessiva à guerra
espiritual. Enxergam demônios em tudo. Se a esposa é irritadiça, é um
demônio. Se o carro demora a pegar, demônio. Qualquer dificuldade, qual­
quer incidente é atuação demoníaca. Parece que todo mundo que conhe­
cem tem demônio. E tais indivíduos sabem até dizer quantos são e citar
0 nome deles. Para resolver qualquer problema, precisam expulsar de­
mônios; fazem isso a toda hora. Se alguém é desastrado, expulsam de­
mônio; está com os dentes cariados, expulsam demônios; aumentou a
prestação da casa própria, expulsam demônios. Agindo assim, apesar de
terem a melhor das intenções, tais crentes estão eximindo os outros de
responsabilidade, pois atribuem suas decisões erradas, seus atos egoístas
e pecaminosos a uma influência do diabo e suas hostes.
Além disso, muitos dos que adotam essa posição ignoram a vitória
que se acha à disposição do crente. Vivem constantemente em conflito
com os demônios, e por causa dessa excessiva preocupação com eles,
acabam criando conflitos com aqueles que os cercam. Todos os crentes
devem viver em constante vitória por intermédio de Jesus Cristo. Preci­
samos convencer-nos desse fato e parar de ver demônios em todo tipo
de situação e conduta.
Todos nós, seja qual for nossa área no ministério cristão, temos a ma­
nia de ficar batendo numa tecla só, numa mensagem ou atividade que
julgamos ter desenvolvido bem. Quando alcançamos vitórias na cura ou
libertação, por exemplo, ou quando descobrimos na Palavra de Deus uma
doutrina ou verdade nova que nos deixa empolgados, nossa tendência
é ficar insistindo nessa vitória, nessa mensagem, nessa fórmula ou nesse
ministério. E o problema é que fixando-nos numa idéia ou método único,
corremos o perigo de abandonar tudo o mais, de afastar-nos de outras
pessoas, de outros ensinos. Começamos a querer isolar-nos de outros cren­
tes, de outras mensagens, assumindo a seguinte atitude:
"Eu sei qual é a solução de todos os problemas; só eu sei o segredo
de tudo.”
Isso é orgulho espiritual.
Nenhum de nós está imune ao orgulho espiritual. Somos todos pro­
pensos a deixar-nos dominar pelo desejo de ter poder, de exercer controle
sobre outros, e ter o reconhecimento geral. Isso ocorreu comigo alguns
A Grande Aventura 25

anos atrás, quando ainda estava na Nova Guiné. Certo dia quando impus
as mãos sobre um homem para orar em seu favor, ele caiu ao chão
contorcendo-se e soltando espuma pela boca. Foi um momento de grande
comoção. Ordenei ao demônio que saísse dele, e ele saiu. Olhei para mi­
nhas mãos grandemente admirado. Que poder! Devia ter atingido um alto
nível de espiritualidade. Estava fazendo e acontecendo!
E 0 que aconteceu foi que fiquei mais empolgado com o processo
de libertação do que com a libertação em si, embora na ocasião não es­
tivesse consciente disso. E Satanás não se importou nem um pouco de
cooperar comigo. Nos meses que se seguiram, em todo lugar aonde eu
ia ocorriam manifestações demoníacas. Depois de algum tempo comecei
a perceber que aqueles por quem orava voltavam a tomar-se opressos.
E alguns nem experimentavam uma transformação de vida.
Ele me envolvera completamente. Certo dia, de repente, me dei conta
de que, se alguém fosse liberto instantaneamente, sem espalhafato algum
e sem a minha participação, eu me sentiria muito fmstrado. Isso não es­
tava certo. Precisamos estar atentos a esse tipo de atitude. Se estivermos
muito desejosos de ver uma manifestação sobrenatural, o diabo terá o
maior prazer em montar um “espetáculo” para nós. Mas Deus não tem
0 mínimo interesse em realizar sua obra apenas para satisfazer nossos
caprichos pessoais.
Eu creio firmemente que temos, sim, de libertar os opressos do de­
mônio. Mas nunca devemos ver a guerra espiritual como um fim em si
mesma. Ela é apenas um meio para atingirmos um objetivo. Tfenhamos
sempre em mente as prioridades de Deus, como fez Jesus quando estava
na terra. Deus tem dois interesses máximos: reconciliar os homens con­
sigo (evangelização mundial), e conduzir a igreja, o seu corpo, à unidade,
maturidade e perfeição.
E evidente que, no processo de atingir essas duas metas, encontra­
remos pessoas que se acham opressas pelo inimigo e que precisam ser
libertas. Então, obviamente, devemos libertá-las em amor. Mas depois va­
mos seguir era frente, mantendo os olhos nas metas de Deus. Em Marcos
16.15, Jesus ordena que preguemos o evangelho a toda criatura, e, nos
versos 17 e 18, acrescenta, quase como que fazendo um P.S., que temos
de expulsar demônios e curar enfermos. Portanto o objeto do interesse
de Jesus eram as pessoas necessitadas da bênção, não o shou) pirotécnico
do sobrenatural.
“Se Evitarmos Fálar do Diabo a Tbda Hora, Tãlvez Ele Vá Embora!”
Mas, por outro lado, ignorar os princípios da guerra espiritual é tão
errado quanto dar-lhes ênfase excessiva. Em todo lugar onde há crentes
26 Batalha Espiritual

que dão uma importância exagerada aos demônios, encontramos também


os que ocupam o outro extremo, que não têm interesse pelo assunto e
até ficam amedrontados com quem vê demônio em tudo. Essa ojeriza
pela questão, que aliás é até compreensível, leva-os a tomar uma posição
de negação do problema.
Um conhecido meu participou de um grupo que foi realizar um im­
pacto evangelístico em um grande país da Ásia onde a prática da feiti­
çaria e a atividade demoníaca são intensas. Esse meu amigo ficou bas­
tante surpreso quando o pastor da igreja que os hospedava, uma igreja
pentescostal, pediu-lhe que não pronunciasse as palavras “demônio” ou
“diabo” quando estivesse orando pelas pessoas. E explicou:
— Quando a gente fala sobre o diabo, tudo começa a dar errado. Além
disso, não queremos ser como aquela gente que vê demônio em tudo.
Essa atitude é até bem comum em certos círculos. Muitos crentes estão
convencidos de que se pensarem ou falarem muito sobre o diabo poderão
tomar-se mais vulneráveis aos ataques dele, como se reconhecer a exis­
tência de Satanás tivesse o condão de desencadear a atuação demoníaca.
Quando falam dele é sempre com uma rápida e vibrante declaração de
vitória. Expressam seu conceito a respeito dele em frases simplistas.
“Glória a Deus! Nós já somos vitoriosos! Amém?”
“Jesus derrotou o diabo há dois mil anos!”
“Ele é um leão, mas os dentes dele foram arrancados.”
E tem outra de que multa gente gosta:
“Já li 0 fim do livro (a Bíblia), e, no fim, nós ganhamos!”
Parece que não estão muito seguros desse fato e o repetem para se
convencerem disso.
Nossa vitória nunca foi questionada, nem está ameaçada. A obra que
Cristo realizou na cruz é para todos os tempos e todos os povos, para
aqueles que a aceitarem e abraçarem. Não precisamos ter medo de co­
nhecer nosso adversário. Um exército não perde nada em procurar saber
tudo que puder sobre seu inimigo. Podemos estar tranqüilos, confiantes
na vitória, e mesmo assim procurar conhecer melhor o diabo, saber das
táticas e estratégias que ele emprega.
O que não podemos fazer em hipótese alguma é ignorá-lo, fingir que
ele não existe, na esperança de que assim ele desapareça. Estamos agindo
como a criança que esconde o rosto e diz:
“Você não me acha! Você não sabe onde estou!”
O fato de alguém não acreditar na existência do diabo não fará com
que ele desapareça. Ele não vai deixar de incomodar-nos só porque o
ignoramos. No contexto da guerra espiritual, diferentemente de outras
situações, ignorar os fatos não implica em tranqüilidade, não. Nesse caso.
A Grande Aventura 27

0 desconhecimento pode resultar em opressão. 0 diabo opera nas trevas.


Quando desconhecemos o que se relaciona com ele estamos em trevas
e ele tem total liberdade de ação. Mas quanto mais luz lançarmos sobre
suas atividades, mais atrapalharemos sua atuação.
Podemos estar certos de que ele conhece muito bem os que entraram
na guerra contra ele, e está constantemente buscando informações a nosso
respeito. Ele nos conhece; sabe se estamos ou não testemunhando de
Jesus. Em Atos 19, temos a narrativa sobre um demônio que saltou sobre
alguns homens que desejavam expulsá-lo, e lhes disse o seguinte: “Co­
nheço a Jesus e sei quem é F^ulo; mas vós, quem sois?” Satanás conhece
aqueles que exercitam essa autoridade dada por Deus e os princípios da
guerra espiritual. E conhece também os que se limitam a fazer meras
declarações, porém carentes de convicção de vitória. Precisamos destapar
os olhos e encarar a realidade.
Em João 8 lemos o seguinte: “E conhecereis a verdade e a verdade
vos libertará”. Mas será que cremos de fato que a verdade nos libertará’
Se assim for, que verdade? Tbda a verdade? E quanto aos fatos que dizem
respeito aos poderes das trevas? Essa verdade também nos liberta’
Tildo que sabemos sobre o inimigo vem da mesma fonte que nos
informa a respeito de Deus — a Bíblia, a Palavra de Deus inspirada
pelo Espírito Santo. Ela afirma que toda escritura serve para nossa
edificação, e fala do diabo sem o temor de estar dando muita divul­
gação a ele E se a própria Palavra de Deus reconhece a existência
dele e tem interesse em revelar suas tramas, então nós precisamos es­
tudar atentamente as passagens bíblicas que fornecem instruções so­
bre nosso inimigo. O conhecimento da verdade a respeito dele pode
libertar-nos, sim. Não corremos perigo algum em sabermos o que a
Bíblia ensina sobre o diabo. O risco está justamente em desconhecer­
mos tais fatos.
Além disso, a Bíblia é a única fonte que pode dar-nos informações
fidedignas sobre os poderes das trevas. Nunca devemos adotar crenças
e idéias acerca do diabo baseadas em experiência própria ou em palavras
de demônios. Existem pessoas que alegam possuir um vasto conhecimento
do inimigo, mas se baseiam apenas em sua experiência de expulsão de
demônios ou em conversas com indivíduos possessos. Tbdo conhecimento
acerca da guerra espiritual deve provir da Bíblia. Tênhamos cuidado com
conceitos que não têm base bíblica.
Cientes do Diabo, mas Maravilhados Só com Deus
Muitas pessoas vivem com medo do inimigo. Ficam apavoradas só de
pensar no que o diabo possa fazer-lhes, ou a seus familiares, ou a sua
28 Batalha Espiritual

igreja. Certa vez, fui a um lugar onde já pregara várias vezes, e um pastor
me disse:
— Dean, estou preocupado com esse negócio de você falar demais
sobre a guerra espiritual. O povo não sabe com que está lidando.
E depois contou-me que sua igreja resolvera trabalhar com feiticeiros
e bruxos. De repente um dos diáconos começou a ter problemas no ca­
samento e acabou-se separando. Outro sofreu um ataque cardíaco, e ou­
tro quase teve um esgotamento nervoso. E concluiu:
— Você está incentivando os crentes a entrarem numa área muito pe­
rigosa.
Como respeito muito esse pastor, acatei suas palavras e comecei a orar
novamente e a examinar as Escrituras. Mas não achei na Bíblia base para
esse temor. Não encontrei na Palavra de Deus nenhum texto que nos oriente
a ter medo da guerra espiritual, ou que ensine que se fizermos oposição
ao diabo, ficaremos à mercê das forças malignas. Pelo contrário. A Bíblia
diz “Não temas!” mais de trezentas vezes. O Salmo 23.4 diz: “Não te­
merei mal nenhum, porque tu estás comigo”. (Ver também Hebreus 2.14,15.)
Satanás gosta de incutir medo nas pessoas. E esse medo ganha mais
força justamente porque não temos conhecimento de Deus. Se quisermos
ser vitoriosos nessa guerra espiritual, se quisermos ser equilibrados e ficar
livres do temor, precisamos estar cientes do inimigo, sim, mas sobretudo
maravilhados com Deus. A situação nunca deve ser o inverso. Nunca de­
vemos ficar maravilhados com o inimigo, e apenas cientes da existência
de Deus. Se não tomarmos cuidado, incorreremos no erro de estar sem­
pre falando sobre o grande poder das trevas e sobre o que o diabo está
frizendo.
Certa vez uma jovem veio dizer-me, toda entusiasmada, que na cida-
dezinha onde mora tinham descoberto trinta antros de feitiçaria. E minha
resposta foi:
— Que bom que não foram trinta e um!
Mas embora não devamos nunca ficar maravilhados com as atividades
do inimigo, precisamos aprender a enxergar suas tentativas de atuar em
nossa vida. Tbmos de saber identificar seus atos e dizer:
“feo é um ataque do inimigo.”
“É 0 diabo que está por trás disso!”
Aprendendo a reconhecer seus esforços para prejudicar-nos e àqueles
que nos cercam, saberemos como, quando e onde agir para neutralizá-lo.
Como podemos descobrir se um problema decorre da atuação do diabo,
e não simplesmente das circunstâncias? Como evitar a posição extrema
de ver demônios em toda e qualquer dificuldade? Simplesmente pergun­
tando a Deus. Não devemos ir logo dizendo que todo problema é causado
A Grande Aventura 29

pelo diabo, mas também não podemos descartar essa possibilidade. Pe­
çamos a Deus que nos revele o que está acontecendo. Ele prometeu guiar-
nos. O dom de discernimento de espíritos, mencionado em 1 Coríntios
12.10, é um dos recursos pelos quais Deus nos revela o que está-se pas­
sando na esfera espiritual, em determinado momento. (Hb 5.14.)
Por outro lado, precisamos estar maravilhados com Deus. Nosso maior
interesse deve ser procurar conhecer mais e mais ao Pai celeste. Se ti­
vermos muito conhecimento sobre o diabo, e pouco a respeito de Deus,
seremos derrotados, não apenas na guerra espiritual, mas também em
outros aspectos de nossa vida. Antes de estudarmos tudo que diz respeito
ao inimigo, vamos primeiro conhecer a Deus. Se estivermos cientes de
que Deus é soberano, infinitamente grande e poderoso, e ao mesmo tempo
bondoso e manso, com um amor e interesse imutáveis por nós, não te­
remos medo do diabo.
Outra verdade de que precisamos apropriar-nos é a da nossa posição
em Cristo. Satanás ataca aqueles que não têm consciência clara da situação
de que gozam em Cristo e de sua relação com Deus. Não basta afirmar­
mos que somos crentes. Tfemos de crer no que Deus diz a respeito de
nossa posição. Precisamos estar a par do que a Bíblia diz sobre nós, e
crer nisso firmemente para vivermos essa realidade na prática e termos
autoridade.
Têndo plena consciência de nossa verdadeira condição de filhos do
Deus vivo, tomamo-nos confiantes, e o inimigo é forçado a bater em re­
tirada. Milhares de crentes estão sendo diariamente manipulados pelo diabo,
derrotados que são pelas circunstâncias, por outras pessoas ou por con­
ceitos errados. Eles deviam era atuar com base na posição que têm em
Cristo, e, com humildade, porém, confiantemente, declarar ao diabo:
“Eu sei qual a minha posição em Cristo, e portanto. Satanás, você
não pode fazer nada contra mim.”
Compreendi isso quando estava estudando essa questão da guerra espi­
ritual na Palavra de Deus. Uma passagem do livro de Efésios ficou bem clara
para mim. Consideremos, por alguns instantes, os versos que se seguem.
“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.
Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes con­
tra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é con ta o sangue e a
carne, e, sim, con ta os principados e potestades, con ta os dominadores
deste mundo tenebroso, conta as forças espirituais do mal, nas regiões
celestes. Portanto, tom ai toda a armadura de Deus, para que possais re­
sista no dia mau, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabalá­
veis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade, e vestindo-vos da
couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz;
30 Batalha Espiritual
embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos
os dardos inflamados do maligno. Tbmai também o capacete da salvação
e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e sú­
plica, orando em todo tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos, e também por mim; para que
m e seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para com intrepidez
fazer conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em
cadeias, para que em Cristo eu seja ousado para falar, como m e cumpre
fazê-lo!’ (Ef 6.10-20.)
O verso 10 diz o seguinte: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Se­
nhor”. A expressão “quanto ao mais” indica que ser fortalecido no Senhor
vem depois de uma série de importantes princípios relativos à guerra es­
piritual. E 0 que está antes da expressão é todo o texto anterior de Efé-
sios, uma mensagem de vital importância. Paulo está-nos ensinando que
enquanto não nos apropriarmos de tudo que vem nesse texto anterior,
não podemos ser fortalecidos no Senhor. Então, se quisermos compre­
ender a expressão “quanto ao mais” e o que significa “ser fortalecido”,
precisamos conhecer os princípios apresentados nessa carta.
Watchman Nee escreveu um comentário sobre o livro de Efésios in­
titulado Sil, Walk, Stand (Assentar, andar, ficar firme). Vou tomar empres­
tado os termos desse título para ilustrar três importantes mensagens da
epístola. Nela Paulo estabelece os fundamentos básicos da vida cristã, em
três etapas: assentar, andar e ficar firme.

Assentar
Nos capítulos 1 a 3, 0 apóstolo focaliza nossa posição em Cristo e
a relação que passamos a ter com Deus. Fala da obra que Deus realizou
para nos perdoar e nos reconciliar consigo. Nesses capítulos há diversas
afirmações sobre a condição que passamos a ter como resultado do que
Deus fez. Deus abençoou-nos “com toda sorte de bênção espiritual”. Ele
“nos escolheu nele antes da fundação do mundo”, e “nos predestinou
para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo”. Ele “derra­
mou abundantemente” a sua graça sobre nós. Nele “temos a redenção,
pelo seu sangue, a remissão dos pecados”. Ele desvendou-nos “o mistério
da sua vontade”. Nele “fomos também feitos herança”. E fomos “selados”
nele. Nós estávamos mortos, mas ele “nos deu vida juntamente com Cristo”.
Ele nos purificou e nos perdoou. Fomos salvos “pela graça... e isto não
vem de vós... não de obras, para que ninguém se ^orie”. Antes estávamos
separados e distantes de Deus, mas fomos “aproximados pelo sangue de
Cristo”. E Jesus é a “nossa paz”, e por meio dele “temos acesso ao Pai
A Grande Aventura 31

em um Espínto”. Então já não somos mais “estrangeiros, mas concidadãos


dos santos, ...da família de Deus”.
Essa é nossa condição: depositários de todas essas maravilhosas bênçãos
de Deus. E o ápice disso tudo é que Deus “nos fez assentar nos lugares
celestiais em Cristo Jesus”. E bom demais para ser verdade, não é? E,
no entanto, a Palavra de Deus afirma isso. L^ndo o livro de Efésios, po­
demos ter uma inabalável certeza com relação a esses fatos. Contudo não
basta lermos esses versículos. O cristianismo não opera só em uma di­
mensão. Não nos adianta nada apenas crer num conjunto de doutrinas
escritas em papel; nunca adiantou. Tfemos de viver na prática aquilo em
que cremos. Têmos de abraçar essas verdades, crer nelas, e aprender a
nos assentar com Deus.
Estar assentado sugere três situações. Primeiramente, sugere a idéia
de reinar. “Os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça,
reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” (Rm 5.17).
O plano de Deus é que reinemos em vida. Então façamos a nós mesmos
a seguinte pergunta: estamos reinando ou sendo derrotados pelas cir­
cunstâncias e pelos ataques do inimigo?
Em segundo lugar, estar assentado indica uma obra concluída. Nós
só nos sentamos depois que encerramos um serviço. Então, nesse texto
de Efésios, Deus está dizendo que tudo que precisava ser feito para nosso
aperfeiçoamento já foi feito. A obra está concluída. Depois de consumar
a obra da expiação, de derrotar o diabo, de despojar todos os principados
e potestades, de haver-se afirmado como Rei dos reis, Jesus assumiu a
posição que lhe cabia por direito, e se sentou. Tãmbém nós precisamos
assumir essa posição — a posição que nosso glorioso Senhor e Salvador
conquistou para nós — e nos sentar. Nossa salvação está consumada. Te­
mos autoridade sobre o inimigo, pois Cristo a obteve para nós (Cl 2.10).
Por último, estar sentado lembra uma posição de descanso. E natural
querermos descansar depois de terminarmos um trabalho. Assim que per­
cebemos que 0 serviço concluído não poderá ser desfeito, sentimo-nos
descansados. Nós, os crentes, precisamos estar cada vez mais convencidos
de que somos preservados pelo poder de Deus; precisamos ter certeza
de que em Cristo estamos salvos e seguros, pois nos achamos assentados
com ele nos lugares celestiais.

Andar
A segunda parte da carta é Efésios 4.1-9. Nela Paulo explica a res­
ponsabilidade que 0 crente tem de viver de acordo com a Palavra e a
vontade de Deus. Assentar-nos é apenas uma faceta da vida cristã. Depois
32 Batalha Espiritual

que aprendemos a sentar-nos nos lugares celestiais “em Cristo”, isto é,


que reconhecemos a posição de que desfrutamos devido à grande obra
por ele realizada, é hora de aprendermos a caminhar.
Nossa vida não é estática, mas dinâmica, uma vida de movimento e
atividade. Tbdos nós vivemos no tempo. Levantamo-nos diariamente e to­
mamos decisões concernentes ao nosso viver: vamos fazer isso e aquilo,
atingir essa e aquela meta, e, se possível, vamos levar uma vida produtiva,
vivendo um dia de cada vez, um minuto de cada vez, tomando uma de­
cisão de cada vez, praticando um ato a cada vez. Sendo crentes, somos
salvos e santificados, mas ainda temos de viver segunda, terça, quarta,
quinta e sexta-feira.
O próprio livro de Efésios que diz “não (vem) de obras, para que nin­
guém se glorie”, contém também outras recomendações.
“Rogo-vos ...que andeis de modo digno da vocação a que fostes cha­
mados.”
“No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho
homem ...e vos revistais do novo homem.”
“Não se ponha o sol sobre a vossa ira.”
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe.”
“Longe de vós toda a amargura.”
(Ef 2.9; 4.1,22,24,26,29,31.)
A Bíblia nos convoca à ação, a uma ação responsável.
Através dos séculos, os cristãos têm estado divididos numa questão
e travam uma batalha teológica que ainda hoje persiste. Uma das partes diz:
“Vocês estão preocupados com obras. E todo esse esforço é inútil,
pois estão tentando obter algo que só Cristo pode conceder-lhes.”
E 0 outro lado responde:
“Vocês são irresponsáveis. Não estão-se preocupando com questões
do viver diário.”
É hora de pararmos de brigar e compreendermos que as duas posições
são corretas. Elas simplesmente refletem duas dimensões da vida cristã.
E verdade que não podemos fazer nada para obter o perdão de Deus
e a salvação. Não precisamos fazer nada para “reforçar” a obra que Cristo
realizou na cruz. Ele já fez tudo que tinha de ser feito, e cabe a nós ape­
nas aceitá-la ou rejeitá-la. Não é por esforço próprio que obtemos acei­
tação diante de Deus, ou nossa entrada no seu reino. Não podemos acres­
centar nada à obra que Deus realizou. A única coisa que podemos fazer
é nos assentar com ele.
Mas depois que aceitamos nossa posição em Cristo, é preciso andar
de acordo com os fundamentos estabelecidos por ele Tfemos de fazer tudo
que estiver ao nosso alcance para servi-lo, para viver em obediência, para
A Grande Aventura 33

andar na luz, andar no Espírito. Embora estejamos assentados nos lu­


gares celestiais devido à obra que Deus realizou, precisamos viver e nos
conduzir de maneira responsável, digna da posição que temos em Cristo.
Tèmos de andar.

Ficar Firme
Agora então chegamos a Efésios 6.10-20, que corresponde à terceira
etapa, “ficar firme”. E aí que recebemos a orientação de que necessitamos
para tomar posição contra o inimigo. Entretanto, se não estivermos se­
guros de nossa salvação, nunca conseguiremos resistir confiante e reso­
lutamente às potestades das trevas. Se não estivermos assentados e des­
cansados perante o Senhor, cientes de nossa posição em Cristo, confiados
na maravilhosa graça de Deus, que é poderoso para nos guardar de tro­
peços, se não estivermos andando com consciência pura, não consegui­
remos ficar firmes contra as forças espirituais do mal.
Infelizmente nós agimos da forma inversa: ficamos firmes e brigamos
quando se trata de preservar nossa salvação, e nos sentamos e ficamos
descansados quando é hora de combater os poderes das trevas. Se al­
guém tem dúvidas com relação a sua salvação, medite bem nas passagens
da Bíblia que revelam o que Deus fez, como Efésios, capítulos 1 a 3. Só
depois que essa verdade divina tiver penetrado bem em nossa alma e se
fixado nela, é que estaremos aptos a sentar e descansar em nossa salvação.
Por outro lado, quem nunca pensa em viver a vida diária de forma
responsável, precisa ler e meditar sobre Efésios capítulos 3 e 4, bem como
outros textos das Escrituras que falam sobre nosso dever de tomar de­
cisões corretas, em harmonia com a vontade de Deus.
Deus ordena que nos despojemos “do velho homem” e nos revistamos
“do novo homem”. Poderemos entender isso mais facilmente se o virmos
como 0 processo de tirar uma roupa e vestir outra. É um ato consciente.
Na vida secular, todos estamos acostumados a tomar as decisões adequa­
das e a fazer o que é certo. Escovamos os dentes após as refeições; tro­
camos 0 óleo do carro sempre que necessário; etc. Revestir-nos do novo
homem é mais uma dessas responsabilidades, é mais uma decisão certa.
E isso não é praticar obras; é a maneira correta de viver, depois de tudo
que Deus fez por nós.
Não podemos fazer nada para ganhar a salvação. Ela é um dom gra­
tuito de Deus. Mas assim que nos apropriamos desse dom precisamos
manter uma consciência pura diante de Deus. Em 1 João 3.21,22, lemos
0 seguinte: “Amados, se o coração não nos acusar, temos confiança diante
de Deus; e aquilo que pedimos, dele recebemos, porque guardamos os
34 Batalha Espiritual

seus mandamentos, e fazemos diante dele o que lhe é agradável”. Só então


nos achamos preparados para ficar firmes contra o inimigo.
Enquanto não estivermos perfeitamente descansados e certos de nossa
salvação, enquanto não andarmos “de modo digno da vocação a que fo­
mos chamados” (isto é, tomando as decisões justas em nosso viver diário),
não seremos capazes de fazer frente ao inimigo. Mas, depois que estiver­
mos, então achamo-nos em condições de “ficar firmes”.
Portanto, temos de ficar firmes, assentar-nos e andar ao mesmo tempo,
embora isso possa até parecer um ato de acrobacia. Só assim estaremos
preparados para marchar contra as potestades das trevas e derrotá-las.
Só assim poderemos ser “fortalecidos no Senhor e na força do seu po­
der”. Aí estaremos prontos para a guerra espiritual.
CAPITULO TRES

“Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra


os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso,
contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes" (Ef 6.12.)
Um bom soldado, quando parte para a guerra, vai muito bem prepa­
rado. Para começar está munido de todas as armas existentes para der­
rotar 0 inimigo. Além disso sabe exatamente tudo que deverá acontecer
no campo de batalha. E o mais importante; conhece bem a natureza do
inimigo e da guerra que irá travar com ele.
No verso 12, Paulo usa o termo “luta”, um esporte muito popular em
seus dias, fazendo uma analogia dele com a guerra espiritual. E de fato
existem muitas semelhanças entre a luta romana e o combate espiritual
do crente.
Ao contrário do que ocorre com outros esportes, na luta romana não
há tempo para se descansar e recuperar o fôlego. Assim que cada “as­
salto” se inicia, o atleta tem de ficar em constante estado de alerta. Pre-
36 Batalha Espiritual

cisa manter-se o tempo todo concentrado no que está fazendo; os mús­


culos sempre tensos. Se ele perder a concentração, mesmo que por um se­
gundo, pode dar ao adversário oportunidade de derrotá-lo, ou, quando
nada, pode perder a vantagem que obtivera sobre ele.
Da mesma forma, a guerra espiritual também é constante. Se há
uma coisa que eu gostaria de colocar na cabeça de cada crente é este
fato; nossa batalha é constante Essa guerra está sendo travada vinte
e quatro horas por dia, sete dias por semana e cinqüenta e duas se­
manas no ano. Satanás não tira folga nos fins de semana, nem nos
feriados, e nunca adoece Ele procura incessantemente corromper a
obra que Deus realiza em nós, e a que ele deseja operar no mundo
por nosso intermédio.
Quando afirmo que essa batalha é constante, não estou querendo di­
zer que temos de lutar para preservar aquilo que Deus realizou; não se
trata disso. Não precisamos lutar para alcançar a salvação. E pela graça
de Deus que estamos salvos. Tbmos de ficar firmes não para conquistar
a salvação, mas porque já a possuímos.
Como mencionei anteriormente, nossa vitória na guerra espiritual de­
penderá, em grande parte, de conhecermos bem a atuação do inimigo.
Não se trata de ficarmos lutando o tempo todo, mas de nos conscienti­
zarmos de que essa guerra é travada em todos os momentos de nossa vida.
Não Podemos Viver Numa Eterna Disneylândia
E possível que a maior vantagem que Satanás tem sobre os filhos de
Deus seja o fato de que ele é persistente, enquanto nós somos muito ins­
táveis. Nós, os crentes, somos por demais inconstantes. Vivemos momen­
tos de intensa devoção por Deus, alternados com períodos em que cons­
cientemente nos afastamos dele.
E 0 diabo tem visto inúmeras demonstrações da inconstância humana.
Ele já ouviu muita gente dizer:
“Agora vou buscar conhecer a Deus pra valer. Vou revolucionar o mundo
e realizar grandes coisas para Deus.”
Mas ele não está nem um pouco preocupado com essas momentâneas
“crises” de consagração. Ele sabe que no dia 1.® de janeiro muitos crentes
tomam a decisão de se dedicarem mais à oração e à leitura da Bíblia,
mas antes do final de fevereiro já desanimaram. Então ele fica tranqui­
lamente esperando que se passe aquela fase de poder e devoção a Deus,
e que “abaixemos a guarda”. Espera semanas, meses e anos se for necessário.
Quantas vezes ouvimos crentes fazerem afirmações do tipo:
“Nem sei bem como está minha situação espiritual.”
“Estou meio confuso.”
Conheçamos Nosso Inimigo 37

“Meu pastor não me ajudou. Meus amigos me abandonaram. Até Deus


me deixou na mão.”
“Estou passando uma fase muito difícil.”
“Eu estou precisando de uma pausa, de dar um tempo para pôr a
cabeça no lugad’
Seria bom se o mundo em que vivemos fosse diferente, se ele fosse
uma espécie de Disneylândia, onde pudéssemos tirar férias da vida e nos
afastar um pouco da batalha da justiça contra a injustiça. Mas não po­
demos. Ninguém pode tirar férias no exercício da fé. Não podemos deixar
nem Deus nem Satanás em “compasso de espera”. Jamais podemos dizer:
“Ah, vou parar um pouquinho. Deus compreende. Ele sabe de meus
problemas, do meu sofrimento. Vai deixar eu tirar um tempo para “tratar
os ferimentos.”
Deus realmente compreende nossa luta, nosso sofrimento e tristeza,
mas 0 plano dele é que vivamos em vitória e não em derrota. Ele nos
oferece sua graça para que sejamos mais que vencedores. E de fato Deus
compreende, mas Satanás nunca nos dá facilidade alguma.
Até Onde Vai a Malignidade do Diabo?
Não seria bom se o diabo nos deixasse em paz quando estamos pas­
sando por problemas graves? Eu até gostaria muito que ele o fizesse, mas
a verdade é que ele não deixa, não. Está sempre jogando “sujo”. Sua me­
lhor chance de nos derrotar é quando estamos caídos. Ele nos ataca com
mais determinação nos momentos em que estamos fracos, o que é bem
condizente com a natureza dele. Não esperemos nenhuma compaixão do
nosso inimigo. Não subestimemos a malignidade de Satanás, nem nos
esqueçamos de que suas intenções para conosco são as piores possíveis.
Satanás nos ataca incessantemente porque nos odeia. Deseja destruir-
nos totalmente. Nele não há o menor resquício de bem. E completamente
destituído de virtude e compaixão. A natureza dele é assim e nunca irá
mudar.
Pensemos nas mais malignas e grotescas formas de maldade que um
ser humano pode infligir a outro. Lembremos os fomos de extermínio
dos campos de concentração nazistas, ou os abajures feitos de pele hu­
mana. E os pavorosos métodos que alguns homens criaram para torturar
e matar uns aos outros: colocar uma pessoa sobre uma pilha de lenha
e atear fogo; amarrar braços e pernas a quatro cavalos que depois saem
galopando em quatro direções, esquartejando a vítima. Lembremos o ar­
quipélago Gulag, as igrejas de negros no sul dos Estados Unidos, onde
foram atiradas bombas, que causaram a morte de crianças inocentes. E
pensemos como pais podem estuprar uma criancinha de quatro meses
38 Batalha Espiritual

ou derramar água fervendo na cabeça de um filho. Os homens cometem


crueldades terríveis uns contra os outros; praticam monstruosos e obs­
cenos atos de violência. Tbdos os dias, em cadeias do mundo inteiro, tor-
turadores arrancam unhas e olhos de prisioneiros, ou os forçam a engolir
seu próprio excremento. Bruxos e feiticeiros, em seus covis, matam be-
bezinhos e os comem. Conheci pessoas num campo de refugiados da
Thilândia que me disseram que soldados cortavam a barriga de mulheres
grávidas e os fetos caíam na lama. E os familiares delas assistiam a tudo
apavorados, sem querer crer no que viam.
Sentimos repulsa e horror pelas terríveis maldades que os seres
humanos infligem uns aos outros. Quase todos nós vivemos muito dis­
tantes dessa realidade. Mas tais males foram perpetrados pelo diabo.
Satanás é muito pior do que se pode imaginar. E nós precisamos co­
nhecer melhor nosso inimigo. Da mesma forma como precisamos de
uma revelação sobre a bondade, a misericórdia e o amor de Deus, as­
sim também precisamos estar cientes do poder maligno e destrutivo
de Satanás.
O diabo não possui o menor senso de justiça e misericórdia. Quando
estamos caídos, ele nos pisa. E como um tubarão; ataca quando sente
cheiro de sangue. Ele é cheio de ódio, e tem prazer em atormentar-nos.
Sempre que nos vemos a braços com um problema grave — quando per­
demos 0 emprego, ou somos reprovados na escola, quando o marido ou
esposa nos trai, ou um ente querido morre num acidente de carro —
é aí que o diabo nos ataca com toda a sua força e ferocidade.
Quando uma tragédia se abate sobre nós, é natural que nos sintamos
arrasados e emocionalmente traumatizados. Mas é nesses momentos tam­
bém que precisamos estar ainda mais alerta, prevenidos contra o ataque
do inimigo.
Satanás está atento à nossa maior fraqueza, seja ela a lascívia, dúvidas
ou depressão. Ele espera pacientemente o momento mais propício para
agir e então lança sementes de destruição em nossa vida. Depois fica só
observando aquela planta criar raízes, enquanto nós, desapercebidos, só
nos damos conta disso quando já é tarde demais.
Precisamos, então, abrir os olhos para essa tática do inimigo, procurar
identificar as áreas em que falhamos anteriormente, e assim podermos
frustrar suas investidas. Sempre que passamos num cruzamento de rua’
ou numa curva de estrada onde sofremos um acidente, lembramos logo
os perigos daquele ponto. E, se estamos acelerados, reduzimos a marcha
e rodamos com cuidado. Devemos agir da mesma forma nas situações
em que caímos em pecado anteriormente, e desse modo nos fortalece­
remos e venceremos a tentação.
Conheçamos Nosso Inimigo 39

“Satanás nos Odeia e Sua Intenção é Destruir-nos.”


“O ladrão vem somente para roubar, matar, e destruir; eu vim para
que tenham vida e a tenham em abundância.” (Jo 10.10.)
Nesse verso estão sumarizadas a natureza e as atividades do diabo.
E isso que ele faz; rouba, mata e destrói.
Ele é ladrão e quer roubar de nós tudo que puder tirar-nos. Quer
roubar nossa saúde pois não deseja que vivamos nem mais um dia. Quer
roubar nossa produtividade, destruir nossos relacionamentos, nossa ale­
gria, nossa paz e nossa fé.
Quantas vezes dizemos:
“Nossa, tive um dia péssimo hoje!”
“A semana que passou foi horrível!”
“Esse mês foi totalmente irhprodutivo para mim!”
E exatamente isso que o inimigo quer. Ele quer acabar conosco,
roubando-nos um dia de cada vez. Quando aceitamos a tese de que ti­
vemos um “dia péssimo”, reforçamos sua rapinagem. Então precisamos
ficar alerta, atentos a isso. Não podemos deixar que ele roube nossos dias.
Isso seria o mesmo que cometer suicídio lentamente, pois a extensão de
nossa vida é a soma de nossos dias. Assim, sempre que nos virmos pres­
sionados por circunstâncias adversas, devemos dizer:
“Satanás, não vou permitir que você me roube este dia ou esta hora,
não vou deixar que tire minha alegria.”
Além disso, Satanás também é assassino; tem prazer em matar. Tbdo
que se relaciona com morte tem o apoio e o incentivo dele. É ele quem
inspira pensamentos tais como;
“Gostaria de nunca ter nascido!”
“Quem me dera estar morto!”
Ele gostaria muito de levar todos nós ao suicídio ou a matar alguém.
Muitas pessoas, até mesmo crentes, vez por outra pensam em acabar
com a vida. Mas todos os pensamentos suicidas provêm da mente des­
trutiva do diabo. Não estou afirmando com isso que tudo que nos acon­
tece é culpa dele, mas o suicídio é. Faz parte da natureza dele querer
destruir-nos. A autodestruição não é natural ao homem. O instinto^mais
forte que Deus colocou no ser humano foi o de autopreservação. É por
isso que os poderes das trevas se aproveitam dos momentos de desespero,
de aflição, para instilar na mente das pessoas idéias de suicídio.
Quando o diabo não consegue que nos suicidemos, leva-nos a buscar
formas de suicídio lento — fugas que provocam a autodestruição. Os mei­
os mais comuns de suicídio lento hoje em dia são as drogas e o alco­
olismo. Alguém pode pensar;
40 Batalha Espiritual

“Minha vida está insuportável; vou amenizar as coisas com isto aqui.”
Tál prática é uma forma de caminhar para o suicídio. O princípio, o
espírito da fuga é o mesmo do suicídio. O meio utilizado é diferente, e
em alguns casos pode até parecer inofensivo; pode ser o vício de comer,
de fazer sexo, de assistir a televisão ou até de fazer compras. Qualquer
prática que tiver por objetivo fugir da realidade é uma forma de suicídio;
é morte.
Além disso Satanás quer destruir-nos também através do pecado. Ele
nos tenta com atraentes promessas de felicidade. Se alguém é infeliz no
casamento, por exemplo, ele o leva a crer que poderá ser feliz com outra
mulher ou marido. Na verdade ele nunca teve a intenção de promover
nossa felicidade. Sempre que buscamos o sentimento de realização fora
dos limites do que é reto e justo, entramos no território dos poderes das
trevas. Quando cometemos um pecado, estamos dando ao inimigo per­
missão e oportunidade de operar em nossa vida. Ao pecar, favorecemos
0 propósito satânico de destruir nossa vida.
Satanás existe de fato. E sua natureza é maligna, sim; e tem mesmo
as piores intenções para conosco, e procura realmente interferir em nossa
existência. Quando entramos em seu território, estamos lidando com um
ladrão impiedoso, com um destruidor diabólico, e um monstruoso assassino.
A intenção dele é destruir nossa mente, nosso corpo, nosso caráter,
nossa reputação e nossos relacionamentos. Deseja ardentemente exter­
minar tudo que é bom e justo. Mas apesar disso há muitas pessoas que
acham que podem brincar com o pecado, que podem enredar-se com
os poderes das trevas. E pensam:
“Ah, Deus entende. Ele vai me perdoad’
Mas a questão não é se Deus entende e perdoa. O problema é que
ninguém pode “brincar” com a criatura mais perversa, mais horrenda,
mais destrutiva que existe no universo e sair ileso. No que diz respeito
ao pecado, sempre fazemos uma opção: ou nos posicionamos contra o
inimigo ou estamos ao lado dele.
Brincadeira Inocente ou Perigo Mortal?
Wõo se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou
a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem
feiticeiro; nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem con­
sulte os mortos; pois todo aquele que faz tal cousa é abominação ao Se­
nhor...” (Dt 18.10-12.)
No intento de nos destruir, Satanás lança-nos uma isca atraente e en­
ganosa. Seus planos, muito bem arquitetados, ele os aplica a todos os
Conheçamos Nosso Inimigo 41

seres vivos. Em algumas situações, eles os camufla muito bem; em outras,


como no caso do movimento Nova Era, age de forma bem ostensiva.
Nas últimas duas décadas, o ocultismo têm crescido e se alastrado
de forma incrível. E de certa forma esses modismos afetam a quase todos
nós. Diariamente, milhões e milhões de pessoas, ao café da manhã, exa­
minam 0 jornal para verificar o que diz seu horóscopo para aquele dia.
Os mais ricos podem dar-se ao luxo de mandar fazer um mapa astral,
ou consultar videntes. Em qualquer loja de variedades pode-se comprar
um baralho de tarô, tábuas de ouija, jogos de masmorras e dragões, e
revistas em quadrinhos com personagens demoníacas, que vão parar em
gavetas de escrivaninhas e até no meio de brinquedos. Em toda parte
há mulheres oferecendo seus serviços para ler a mão do consulente, pre­
dizer 0 futuro, prometendo felicidade e boa sorte na vida. E mesmo a
nível individual, muitas pessoas praticam toda espécie de crendices e sim­
patias.
O que inspira tudo isso é a crença de que existem dias bons e maus,
e que nós podemos saber quais os que são bons e os que não são. Na
ocasião em que John Lennon foi assassinado em Nova Iorque, alguns en­
tendidos nesses assuntos disseram que se ele tivesse procurado ler seu
horóscopo teria visto que aquele dia não seria muito bom para ele. E
afirmam que ele não deveria nem ter saído de casa.
Alguns acham que tais práticas são inofensivas; outros, que são pura
tolice. Tbnho certeza de que muitos textos de horóscopos nada mais são
que invenções de certos indivíduos dispostos a alimentar a curiosidade
dos crédulos. Esses infundados prognósticos que encontramos nos jor­
nais não têm nada de demoníaco. Contudo são abominação para Deus,
não por causa do conteúdo, mas porque os que os lêem estão-se expondo
à influência de Satanás.
O diabo tem de fato arquitetado planos para a vida de cada um de
nós. Precisamos nos conscientizar disso. Eu disse conscientizar-nos, e não
alarmar-nos. Precisamos saber que consultando uma fonte de informação
de origem sobrenatural, estamo-nos expondo à influência dos poderes
das trevas. O perigo está em deliberarmos consultar outra pessoa, que
não Deus, em busca de uma visão do futuro, que é algo aparentemente
inofensivo. Essa visão pode ser o começo do desencadeamento dos pla­
nos de Satanás para nossa destruição.
A prática do ocultismo era rigorosamente proibida no Velho Testa­
mento. Quem fosse surpreendido praticando feitiçaria, adivinhação ou ou­
tras atividades espiritualistas era levado para fora da cidade e apedrejado
até a morte. Deus condena severamente essas atividades.
Mas não é necessário tentarmos decorar uma lista de atividades proi-
42 Batalha Espiritual

bidas. Vamos aprender o seguinte princípio; qualquer atividade ou infor­


mação sobrenatural provém ou de Deus ou do diabo. Se vier de Deus,
nós a receberemos por intermédio do Espírito Santo, em nome de Jesus,
e ela estará em harmonia com a Palavra de Deus. Qualquer outro tipo
de ocorrência sobrenatural é abominação para Deus. E a razão disso é
que tudo que vem de Satanás — mesmo o que é aparentemente bom
— leva-nos à destruição e nos escraviza. Tciis práticas são erradas, porque
é Deus quem deve dirigir-nos, guiar-nos e informar-nos. Aquilo que nos
guia é nosso deus, e a Bíblia diz que não podemos ter outros deuses diante
de Deus (Êx 20.3).
Quem é Mais Indicado Para Revelar o Desconhecido?
É uma vergonha que o conhecimento do sobrenatural tenha sido re-
estabelecido no mundo por médiuns e videntes, quando a igreja tem esse
conhecimento há tanto tempo. Mas, infelizmente, ela prefere ficar folhe­
ando compêndios de teologia, para ver se Deus ainda atua no sobrena­
tural em nossos dias, ao passo que os videntes estão informando à polícia
onde se acham enterrados corpos de desaparecidos. Estou esperando o
dia em que a polícia irá ligar para os crentes e pedir:
“Será que vocês aí podiam orar pedindo a Deus que nos dê infor­
mações sobre esse ou aquele crime?”
A principal razão por que Deus não quer que consultemos outras fon­
tes sobrenaturais é que ele próprio deseja ser nossa única fonte de ati­
vidade sobrenatural. O Deus vivo nos ama e quer guiar-nos. Ele promete
isso na Bíblia. No Salmo 32, ele diz: “Instruir-te-ei e te ensinarei o ca­
minho que deves seguir”. E em João 10 Jesus afirma: “Minhas ovelhas
ouvem a minha voz”. A Palavra de Deus contém inúmeras promessas de
orientação, auxílio e correção. Por que não recorremos a Deus? Ele tem
planos para nós. E nos dará todas as informações e experiências sobre­
naturais de que precisarmos para a realização desses planos. Mesmo que
no momento não o entendamos, mesmo que vez por outra tenhamos di­
ficuldade em ouvir-lhe a voz, o fato é que podemos confiar no caráter
dele. Podemos crer que ele vai orientar nossos passos. Sua folha corrida
é impecável. Nunca decepcionou nem prejudicou ninguém. Tfem sido sem­
pre fiel, justo e bondoso. Podemos confiar nele de todo o coração.
Altos e Baixos
Tbdos temos nossos altos e baixos, emocionais e fisiológicos; é parte
natural da vida. Um exemplo disso é o ciclo mensal feminino. This flu­
tuações não são de natureza demoníaca. Contudo o inimigo sempre
procura tirar proveito delas, e portanto precisamos estar alerta. Não
Conheçamos Nosso Inimigo 43
devemos, pois, permitir nem que tais fases, nem o diabo estraguem
nosso dia.
O autor do Salmo 42, muitas vezes, ao acordar, sentia-se preocupado
e deprimido. Mas em vez de entregar-se a essas emoções, dizia: “Porém,
ó minha alma, não desanima! Não fique perturbada! Espere até Deus aginf’
(V. 11 — B.V.) Ele estava continuamente se reanimando em Deus.
O Senhor não espera que estejamos emocionalmente bem o tempo
todo. Tbdos estamos sujeitos a ficar tristes, deprimidos, meio por baixo.
Eu costumava pensar que quando me tomasse espiritualmente maduro
não mais teria altos e baixos. Então, certo dia, vi na televisão um desses
monitores eletrônicos que reproduzem os batimentos do coração, e com-
preendi que os altos e baixos são sinal de que o indivíduo está vivo. Quando
aparece no visor uma linha reta, o sujeito está morto. Ser espiritualmente
maduro não nos livra de nos sentirmos por “baixo” vez por outra. Ser
maduro significa, isso sim, saber conviver bem com os altos e baixos.
Lembremo-nos de que o inimigo muitas vezes nos ataca quando nos en­
contramos vulneráveis. Então precisamos aprender a nos reanimar uns
aos outros.
Um Radar Espiritual
Essa guerra espiritual exige que nos mantenhamos sempre em estado
de alerta, em constante vigilância para com as atividades do inimigo. Mui­
tas vezes somos advertidos por outros crentes:
“Não pense muito no diabo; não fale muito dele, não. Mantenha os
olhos fixos em Deus.”
E esse conselho é de certa forma válido. E claro que, literalmente,
não podemos manter os olhos no Senhor. Portanto, isso quer dizer que
precisamos estar atentos a Deus. Ele pode operar em nós e alcançar ou­
tros por nosso intermédio porque nos ama e está-nos guardando pelo
seu poder. Vamos, então, estar ligados em Deus, sempre conscientes de
como ele é e do que está realizando.
Contudo, já é hora de o corpo de Cristo dar ouvidos a outro conselho:
“Fique de olho no diabo”. A maioria dos crentes vê essa idéia com certa
inquietação. Não sei o que nos levou a concluir que, se fixarmos os olhos
no diabo, não poderemos mantê-los em Deus. Mas a verdade é que todos
podemos aprender a ficar constantemente conscientes do Deus vivo e ao
mesmo tempo cientes do que o inimigo está fazendo.
Se eu me visse de repente no meio de uma guerra, com granadas ex­
plodindo ao meu redor, iria procurar o coronel para pedir-lhe orientações.
Diria:
— Vejo que a batalha está bastante acirrada. Contra quem estamos
44 Batalha Espiritual

guerreando? Com quantos homens eles contam? Qual é o objetivo deles?


Em que direção estão-se movendo? Que üpo de munição utilizam?
E ele podería responder:
— Ah, nós não nos preocupamos muito com o inimigo. Não gostamos
muito de falar sobre ele. Não sabemos onde ele se encontra nem o que
está fazendo. Limitamo-nos a disparar nossos canhões e a lançar grana­
das de mão. Hoje já fizemos 17.000 disparos. Não é maravilhoso! Estamos
nos saindo muito bem, não estamos?
Que absurdo travar uma guerra com tamanha ignorância! Entretanto,
quantos crentes, cheios das melhores intenções, têm adotado esse tipo
de atitude desejando proteger-se dos ataques do inimigo. Mas desconhe­
cer 0 inimigo nunca será uma forma de proteção. Precisamos é ficar de
olho nele. Por outro lado, quem está sempre preocupado com ele mas
não fixa os olhos em Deus, também está-se arriscando a ter problemas.
Nós temos de manter os olhos no Senhor e também, sem medo, estar
atentos ao inimigo. Precisamos saber onde ele está e o que está fazendo.
Esse estado de alerta é bem semelhante ao de um radar. Para que
um radar cumpra seu objetivo, tem de estar constantemente ligado. Se
sua antena for desligada nos finais de semana, feriados. Natal, ano novo,
ou parar para revisões periódicas ou se o operador adoecer, o sistema
toma-se inútil. Assim também, se passarmos seis meses constantemente
atentos aos poderes das trevas, e baixarmos a guarda num dia, podemos
ter certeza de que o inimigo atacará nesse dia. Ele percebe quando es­
tamos prestes a relaxar nossa constante vigilância. Ele faz planos para
esse momento e depois procura tirar dele o maior proveito possível.
A mera existência de um radar, muitas vezes, serve para evitar um ata­
que de aviões inimigos. Assim também um constante estado de vigilância
pode frustrar as tentativas satânicas de causar-nos dificuldades. Estando
atentos, sempre que o diabo aparecer na tela de nosso radar, uma luzinha
vermelha irá acender-se e o alarme soar, alertando-nos para um ataque,
e, muitas vezes, frustrando o próprio ataque.
CAPITULO QUATRO

Pontes. Estradas. Pistas de pouso. Estações de rádio e televisão. Quando


uma nação se encontra em estado de guerra, certos pontos ^estratégicos
são intensamente fortificados contra os ataques do inimigo. E que, quem
estiver de posse deles, tem grande probabilidade de vencer o conflito. Nós
também temos três áreas estratégicas que precisamos fortalecer a fim de
resistir ao ataque do inimigo. São elas: a mente, o coração e os lábios.
Elas constituem posições decisivas que temos de proteger até o último
suspiro.

Primeira Area Estratégica — a Mente


Os pensamentos que passam por nossa mente provêm de três origens.
Primeiro, os pensamentos podem provir de nós mesmos. Deus nos criou
com a capacidade de produzir pensamentos. Tãis pensamentos são nos­
sos. Em segundo lugar, os pensamentos podem provir também de Deus.
Ele pode falar diretamente à nossa mente, quer o entendamos como uma
46 Batalha Espiritual

revelação, orientação, o dom da palavra de conhecimento ou simplesmente


a voz de Deus. A terceira fonte de onde podem provir nossos pensamen­
tos é 0 inimigo. Os poderes das trevas também falam ao nosso ouvido.
Infelizmente muitos crentes dão atenção ao que eles dizem, são influen­
ciados por eles e sofrem as conseqüências.
Mas alguém talvez indague como é que o diabo pode falar à nossa
mente. Se ele não é onipresente, como entender a mensagem bíblica: “Re­
sisti ao diabo, e ele fugirá de vós"? Em alguns casos, quando a Bíblia
fala de Satanás ou do diabo, está-se referindo ao seu império maligno,
e não especificamente a Lúcifer. Ele nunca podería estar em centenas
de lugares ao mesmo tempo, tentando as pessoas e instilando maus pen­
samentos na mente delas. São os anjos caídos (a Bíblia não nos informa
0 número deles) que estão executando suas ordens. O mais provável é
que 0 próprio Lúcifer não se ocupe pessoalmente com nenhum de nós.
Então acredito que quando a Palavra de Deus diz para resistirmos ao
diabo, está-se referindo aos seres espirituais que estão sob o comando
de Lúcifer. Mas, para simplificar a questão, neste livro, usarei apenas o
nome Satanás no sentido genérico, para designar um ou mais dos mem­
bros de seus exércitos.
Embora as potestades das trevas não sejam capazes de ler nosso pen­
samento — só Deus conhece nossa mente (SI 7.9) — elas podem colocar
idéias em nossa cabeça. O que foi que Jesus disse quando Pedro protes­
tou por ele haver dito que lhe era necessário morrer e que daí a três
dias ressuscitar? Jesus respondeu: “Arreda! Satanás” (Mt 16.23). O Senhor
não estava absolutamente dando a entender que Pedro se tomara ende-
moninhado. Evidentemente o apóstolo apenas expressara uma idéia que
Satanás lhe sussurrara ao ouvido.
Grande parte da batalha espiritual se passa na mente humana. TVavar
essa guerra, então, implica em reconhecer que tal ou qual pensamento
não é reto ou não se acha em harmonia com a verdade divina. Nem todos
os maus pensamentos provêm do diabo, mas ele pode tirar proveito deles
e acrescentar-lhes detalhes.
Certa vez, quando estava voltando de uma reunião de obreiros, de
repente me dei conta de que minha mente estava cheia de críticas e idéias
negativas sobre as pessoas com quem me reunira. Percebi também que,
na verdade, eu não tinha o menor interesse em criticá-las, ou em alimen-’
tar um espírito hostil para com elas. E no entanto minha cabeça estava
cheia de pensamentos negativos a respeito daqueles irmãos. Reconhecendo
que tais idéias provinham do inimigo, parei imediatamente.
Como 0 diabo gosta de depreciar as pessoas e destruir relacionamen­
tos! Ele tem prazer em encher nossa mente de acusações contra nosso
Os Três Campos de Batalha 47

cônjuge, contra nossos líderes e amigos, contra os indivíduos de deter­


minado país ou região, ou contra o próprio Deus. Ele é o "pai da mentira”
(Jo 8.44), e ainda “o acusador de nossos irmãos” (Ap 12.10).
Medo do Escuro
Deus é criador. Ele criou tudo que existe no universo, e o criou do
nada. Ele não possuía um estoque de matéria-prima para com ela formar
0 universo, não. Não existia nada aqui. O universo só passou a existir
depois que Deus o imaginou. E nós, que possuímos a imagem de Deus,
também somos criadores. Deus nos deu uma imaginação ativa. Embora
0 mundo em que vivemos tenha sido criado por Deus, o homem acres­
centou a ele elementos tais como o concreto, as lâmpadas, os automóveis,
os microchips, obras de arte, sinfonias, etc. O homem possui uma extra­
ordinária capacidade criativa, que lhe foi dada por Deus.
Mas essa fabulosa capacidade também pode ser alvo do ataque dos
poderes das trevas. O diabo está sempre instilando idéias falsas e erradas
em nossa mente. Abrigamos preocupações e temores com relação a coi­
sas que imaginamos irão acontecer, embora elas raramente aconteçam.
Muitas pessoas têm medo do escuro. Logicamente não têm medo da es­
curidão em si. O medo surge quando, não podendo enxergar o que há
ao redor, a imaginação começa a produzir idéias terríveis, irreais.
Quando damos ao diabo acesso à nossa mente, ele tem o maior prazer
em introduzir nela imagens que vão perverter nossa criatividade. Um exem­
plo disso é Tfed Bundy, um assassino que matou dezoito pessoas, e foi
executado na Flórida em 1989. Pouco antes de morrer, ele confessou ao
Dr. James Dobson que fora muito influenciado por leituras pornográficas,
impregnadas de violência.
Nunca foi intenção de Deus que abusássemos de nossa imaginação,
abrigando nela pensamentos impuros e malignos. Ele nos deu a imagi­
nação para que ela servisse à fé. Tfer fé é antever, pela imaginação, o que
Deus diz como se Já estivesse consumado. Quando enxergamos, com os
olhos da mente, a Palavra de Deus cumprida, temos fé. É isso que a Bíblia
está dizendo quando afirma que “a fé é a certeza...” (Hb 11.1).
“Porque, embora andando na come, não militamos segundo a carne
Porque as armas da nossa milícia não são comais, e, sim, poderosas em
Deus, para d e stm t fortalezas; anulando sofismas e toda altivez que se
levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento
à obediência de Cristo.’’ (2 Co 10.3-5.)
Tfenho visto pessoas ensinarem que o termo “fortalezas” designa sis­
temas ideológicos, tais como o humanismo, o islamismo, o comunismo.
48 Batalha Espiritual

e outras instituições e linhas religiosas. Contudo, nesse texto de Coríntios,


essa palavra não identifica fortes e complexas ideologias, sejam elas hu­
manas ou demoníacas. Indica as fortalezas da mente. TVata-se de castelos
no ar, que erguemos em nossa mente com pensamentos errados, idéias
de incredulidade, de depressão, de medo, e outros conceitos negativos.
Dentre as fortalezas mentais que as pessoas — crentes e não crentes
— têm em nossos dias, as duas mais comuns são pensamentos de infe­
rioridade e de condenação. O teor das idéias de inferioridade é mais ou
menos o seguinte:
“Você não é importante; não é inteligente; não tem boa aparência;
não está conseguindo subir na vida; não tem valor nenhum.”
São essas “alfinetadas” que nos levam a invejar outros e a querer igualar-
nos a eles.
Outras acusações que Satanás nos lança são:
“Você não está agradando a Deus; não é suficientemente espiritual;
não lê a Bíblia como devia; não ama a Deus.”
Tcds idéias nos fazem pensar que nunca conseguiremos atingir o ponto
em que recebamos a aprovação divina. Existem crentes que vivem cons­
tantemente sob condenação.
Se quisermos destruir tais fortalezas temos de fazê-lo através de uma
batalha espiritual — resistindo a elas e apropriando-nos do que Deus diz
a nosso respeito em sua Palavra.
Uma Sentinela Para a Mente
Os pensamentos podem ser como o alimento que levamos à boca.
É verdade que não paramos para analisar cada garfada que comemos.
Mas, se percebermos que alguma coisa está errada, que um dimento está
azedo ou uma fruta podre, imediatamente o cospimos fora. É assim tam­
bém que devemos agir com os pensamentos e imaginações que nos ocor­
rem, procurando até automatizar essa atitude.
Tbdo quartel tem sentinelas que, silenciosamente, ficam de guarda em
seu posto. Assim que percebem algum movimento desusado, logo pergun­
tam:
— Quem vem li?
Tãis homens acham-se preparados para resistir a qualquer um que queira
entrar indevidamente. Assim também precisamos colocar uma sentinela
à entrada de nossa mente, para checar as credenciais de todo pensamento
e imaginação que ali chegar, e resistir àqueles que não forem verdadeiros,
nem justos, nem vierem de Deus. O que não se enquadrar nesses critérios,
terá de ser barrado. E nisto que consiste a guerra espiritual: estar alerta
a todo e qualquer pensamento.
Os Três Campos de Batalha 49

A Bíblia diz: “Porque como imagina em sua alma, assim ele é” (P\
23.10). Uma das táticas que o diabo emprega é neutralizar o sucesso de
crentes genuínos. Sabendo que não pode impedir que eles vão para o
céu quando morrerem, Satanás se contenta em enfraquecer a vida deles
na terra. Ele os imobiliza, roubando-lhes os dias, meses e anos, levando-
os a pensar negativamente E infelizmente usando esse recurso, ele tem
conseguido derrotar milhares de crentes que poderíam ser vitoriosos.
Segunda Área Estratégica — o Coração
‘Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele
procedem as fontes da vida.” (Pv 4.23.)
A palavra “coração” na Bíblia tem diversos sentidos. Em relação à guerra
espiritual, vamos focalizar dois desses sentidos — atitudes e emoções.
A Palavra de Deus ensina que temos de proteger as partes mais im­
portantes do nosso corpo com a armadura de Deus. E tanto no sentido
físico como no espiritual, as partes mais vitais e mais vulneráveis são a
cabeça e o coração. Um soldado pode até perder um braço ou perna numa
batalha e continuar vivo. Mas se for ferido na cabeça ou no coração quase
sempre morre. No plano espiritual, nossa cabeça e coração são igual­
mente vulneráveis e necessitam de proteção redobrada.
Nós, os crentes, sempre nos posicionamos firmemente contra os atos
pecaminosos, mas não nos protegemos das atitudes pecaminosas com igual
empenho. Se ficássemos sabendo que um pregador que muito admiramos
é adúltero, homossexual ou ladrão, ficaríamos fortemente indignados. E
logo procuraríamos tomar alguma providência. Não iríamos mais ouvir
suas pregações, e faríamos tudo para que fosse afastado de seu cargo.
Entretanto, se ficássemos sabendo que um pastor é de gênio rebelde, brigão,
insubmisso, orgulhoso, arrogante e irritadiço, provavelmente nem toma­
ríamos conhecimento. Era possível até que disséssemos:
“E bom saber que ele também é humano, como nós.”
Entretanto o padrão proposto pela Bíblia não usa de tal complacên­
cia. Em Efésios 4.26,27, lemos o seguinte: “Irai-vos, e não pequeis; não
se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo”. É claro que
a ira não é nossa única atitude errada. Mas por esse verso e pelos que
se seguem podemos ver que, sempre que permitirmos que uma atitude
errada crie raízes em nós, estamos dando lugar ao diabo. E lembremos
que Paulo escreveu isso para os efésios, uma das igrejas mais equilibradas
do Novo Téstamento. Eles não eram problemáticos como os gálatas e co-
ríntios. Pelo contrário; seus membros eram crentes relativamente madu­
ros, consagrados e cheios do Espírito. E apesar disso o apóstolo achou
50 Batalha Espiritual

conveniente adverti-los a que não dessem lugar ao diabo. É verdade que


não afirmou que eles estavam fazendo isso, mas dá a entender que po­
deríam vir a fazê-lo. E o que podería acontecer aos efésios pode acon­
tecer conosco também. Aliás, existe uma grande possibilidade de que acon­
teça. Infelizmente a área de que mais nos descuidamos é a das atitudes,
bem como das palavras e atos delas decorrentes.
Escovar os Dentes e Corrigir Atitudes
É muito comum permitirmos que certas atitudes criem raízes em nosso
coração e se manifestem, sem que nada façamos. Se quisermos manter
0 inimigo longe de nós, temos de corrigir imediatamente as atitudes er­
radas que se manifestarem. Quando o apóstolo diz “Não se ponha o sol
sobre a vossa ira” não quer dizer que não iremos irar-nos. Está ensinando
que temos de resolver o problema da ira.
Não podemos simplesmente achar que todas as nossas atitudes erra­
das foram anuladas por ocasião de nossa conversão. A Bíblia ensina cla­
ramente que é de nossa responsabilidade gerir nossa vida dia a dia, tomar
decisões e corrigir as atitudes erradas.
Nós tomamos banho e escovamos os dentes todos os dias. Nunca pen­
saríamos em dizer algo assim:
“O crente não precisa praticar obras, portanto, se Deus quer que eu
vista a roupa, ele terá de vestir-me.”
Ou então:
“Se Deus quiser ver meus dentes limpos, ele terá de escová-los para
mim.”
Não; nós sabemos que tais cuidados são de nossa responsabilidade,
e estamos sempre atentos a eles. Sempre nos vestimos e nos aprontamos
antes de sair de casa, mesmo quando nos sentimos cansados, deprimidos
ou confusos.
Devíamos ter esse mesmo senso de responsabilidade no que diz res­
peito a atitudes erradas. Alguém talvez pense assim:
“Ah, hoje eu não respondo por meus atos e atitudes.”
Ou então:
“Se eu não tiver vontade de sorrir, nem de me arrepender, nem de
ser humilde, nem de ajudar outros, não preciso fazer nada disso.” ■
Tãl maneira de pensar é tão sem nexo quanto esta:
“Ah, 0 mês de fevereiro é muito difícil para mim. Não vou tomar ba­
nho. Agora só vou tomar banho de novo em março.”
Despojar-nos do velho homem e revestir-nos do novo (Ef 4.22-24) im­
plica em assumirmos diariamente a responsabilidade de corrigir nossas
atitudes. Não podemos ignorá-las argumentando que somos novos con-
Os Três Campos de Batalha 51
vertidos, ou estamos esgotados, ou não entendemos bem essas coisas,
ou seja por que razão for (Ef 4; Cl 3.8).
É muito importante que tenhamos uma vida responsável e coerente,
porque as forças das trevas podem se aproveitar de nossas atitudes para
atingir seus objetivos malignos. Se insistirmos em nos agarrar ao nosso
orgulho e rebeldia, não temos garantia alguma — nem mesmo de Deus
— de sermos protegidos dessas forças. Se abrigarmos amargura no co­
ração durante muito tempo, estaremos dando lugar ao inimigo (Mt 18.34,35).
E claro que isso não muda o fato de que fomos justificados pela fé e vi­
vemos sob a graça de Deus. Estamos falando é de fechar as portas de
nossa vida para o inimigo.
E fácil reconhecer quando alguém permitiu que brotasse em seu co­
ração “alguma raiz de amargura” (Hb 12.14,15). Tlido incomoda essa pes­
soa; ela é crítica, irritadiça. Todos aqueles com quem ela tem algum con­
tato ficam contaminados. Procura modificar suas circunstâncias, troca de
marido ou de mulher, muda de emprego, mas nada disso impede que te­
nha conflitos com aqueles que a incomodam.
Sempre que detectarmos em nós raiz de amaigura, precisamos erradicá-
la imediatamente. Quando uma árvore é pequena, é relativamente fácil
arrancá-la. Mas depois que cresce a tarefa se toma bem mais difícil. Suas
raízes já se aprofundaram e engrossaram. Se quisermos removê-la tere­
mos de cavar muito à sua volta, e, em alguns casos, é necessário utilizar
até tratores ou dinamite. O mesmo acontece quando permitimos que a
amaigura e outras atitudes erradas permaneçam em nosso coração. Então,
por tudo isso, vale a pena agir prontamente sempre que nos dermos conta
de que estamos abrigando amargura contra alguém. Não deixemos que
0 sol se ponha sem que tenhamos removido tal sentimento. Tbmos de
arrancá-la do coração antes que suas raízes cresçam e se aprofundem.
Quem abriga amargura, incredulidade, orgulho, ou um espírito de re­
belião, de insubmissão, não pode ter uma vida vitoriosa. Com freqüência
ouço crentes dizendo;
“Ah, acho que tenho um espírito meio rebelde, sabe. Não sou um “maria-
vai-com-as-outras”. Gosto de questionar tudo.”
Se 0 diabo não existisse, esse tipo de atitude até que poderia ser ino­
fensivo e bastante interessante Mas o problema é que os poderes das
trevas desejam nossa destruição, e tal atitude é como uma rampa escor­
regadia que nos conduz à derrota espiritual.
Muitas das pessoas que me procuram para aconselhamento têm dei­
xado que 0 diabo as jogue de um lado para outro, apesar de ele já estar
derrotado. Alguns deles foram salvos há muito tempo e certamente irão
para o céu. Mas o inimigo está sempre lhes criando problemas, em alguns
52 Batalha Espiritual

casos, diariamente. Eles têm problemas de personalidade, conflitos no ca­


samento e no relacionamento com outros. Isso acontece porque dão lugar
ao inimigo, recusando-se a modificar atitudes erradas. E não são poucos
os que agem assim; esse tipo de conduta é muito comum entre o povo
de Deus.
Quando Jesus derramou seu sangue na cruz por nós, ele obteve uma
vitória integral. Mas enquanto não corrigirmos as atitudes erradas que
abrigamos no coração não conheceremos essa vitória. Deus não cobra
de nós algo de que não temos conhecimento. Contudo, assim que ele
^ n t a nossas atitudes erradas, temos de corrigi-las pronta e completamente.
Vivendo em Humildade
“Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele,
em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre e k toda a vossa ansie­
dade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios e vigilantes. O diabo,
vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando al­
guém para devorar; resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos
iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo
mundo.” (1 Pe 5.6-9.)
Assim como é importante corrigirmos as atitudes erradas também é
essencial que corrijamos as emoções negativas. Nossas emoções em si
não são erradas. Deus tem sentimentos e nos dotou com emoções tam­
bém. E elas constituem uma parte vital de nosso ser. Sem elas nossa exis­
tência seria sombria, sem beleza. Contudo o diabo gosta muito de instilar
em nós emoções negativas. E ele exerce uma enorme influência sobre
esse aspecto de nossa personalidade.
Em 1 Pedro 5.6-9, temos a fórmula para corrigir emoções e atitudes.
A primeira orientação que encontramos aí é “humilhai-vos”. O que sig­
nifica humilhar-nos? Significa tomar a decisão de deixar que outros nos
vejam como realmente somos, nem melhores, nem piores. E quantas ve­
zes devemos humilhar-nos? Ora, quantas vezes tomamos banho? Quantas
vezes forem necessárias. E esse é o segredo da perfeição cristã — humilhar-
nos sempre que necessário.
A tese da perfeição cristã ainda é bastante controvertida na igreja
hoje Alguns dizem: “Ninguém é perfeito”. Mas o fato é que Jesus foi
perfeito, e ele está vivendo no coração e mente de cada crente A per­
feição de que fala a Bíblia não é ausência total de falhas. Ninguém
vive sem cometer um erro vez por outra. Quando a Bíblia diz que de­
vemos ser perfeitos, tem em mira nossas intenções e compromisso com
a verdade Tfer a perfeição bíblica é viver comprometido com a verdade
Sempre que praticarmos algo que fere a verdade precisamos corrigir
Os Três Campos de Batalha 53
logo 0 erro, arrependendo-nos dele e nos humilhando perante Deus
e os homens.
Viver a perfeição preconizada pela Bíblia não significa nunca ficar ir­
ritado ou ressentido com outros. Mas significa, isso sim, humilhar-nos
e corrigir tais atitudes assim que as percebermos. Esse quebrantamento
deve ser constante. É muito simples. É só dizer:
“Desculpe-me. Tive uma atitude errada, de orgulho. Perdoe-me.”
Humilhar-nos é corrigir todo erro que detectarmos em nós, tão logo
0 percebamos.
Deus promete que se nos humilharmos, ele nos exaltará. Contudo se
nos exaltarmos, ele diz também que nos humilhará (Mt 23.12). Ç)uem não
se humilha quando deve fazê-lo, na verdade está-se exaltando. É bem me­
lhor adotar a humildade como prática de vida. Cada vez que usamos de
humildade, vivemos logo em seguida um momento de exaltação. Deus
cumpre o que promete. Não devemos ter medo de nos humilhar.
Anulando os TVês Principais “Agentes” de Satanás
Se por um lado a Bíblia nos instrui a corrigirmos atitudes e emoções
erradas, por outro diz que não devemos nos deixar tomar de preocupações.
Tfemos de lançar sobre ele todas as nossas ansiedades. A preocupação
é sinal de incredulidade e temor. É impossível preocupar e confiar em
Deus ao mesmo tempo. Preocupar é duvidar de que Deus se interessa
em cuidar de nós e de que tem capacidade para tal.
Dentre as centenas de advertências que a Bíblia nos faz, essas duas
— humilhar-nos e não nos preocuparmos — são de importância básica
na guerra espiritual.
Muitos crentes ficam demasiadamente impressionados com o grandioso
e complexo império de Satanás. O ocultismo, a feitiçaria, as religiões e
filosofias orientais, o humanismo, a pornografia, as drogas, a violência,
e todos os males que podem existir são criados pelos poderes das trevas.
E esse horrendo domínio de trevas está tomando conta do mundo inteiro.
O crente que não estiver bem consciente de Deus e da dimensão de seu
reino poderá sentir-se impotente diante do inimigo.
E toda essa enorme e complexa estrutura se apóia em três agentes
de Satanás, que constituem a base de tudo que ele faz. Portanto, recha­
çando esses três elementos, estaremos desarmando o diabo e anulando
suas intromissões em nossa vida. São eles: orgulho, incredulidade e medo.
O reino de Satanás bem como o que ele é e faz se assentam sobre esses
três males. Nenhum crente deve dar lugar a eles.
Anulamos o orgulho, humilhando-nos; repelimos o medo e a incre­
dulidade lançando sobre Deus toda a nossa ansiedade.
54 Batalha Espiritual

Ser Sóbrio, Mas Ainda Assim Saber Sorrir


E 0 apóstolo continua a advertir-nos em 1 Pedro 5.8: “Sede sóbrios”.
Muitas vezes damos ao termo “sóbrio” apenas o sentido de não estar em­
briagado. Errado também é achar que ser sóbrio é ter sempre uma ex­
pressão séria.
Quando eu era criança, havia em nossa igreja um senhor que acre­
ditava que no domingo ninguém podia rir. Para ele, o domingo era um
dia santo, e não podíamos nos divertir. Tínhamos de estar sérios o tempo
todo. Algumas vezes ele vinha almoçar em nossa casa. Lembro-me de
que nós, as crianças, ficávamos prestando atenção, para ver se se descui­
daria e daria um sorriso. Mas nunca o fez, nunca feriu a própria consciência.
Entretanto, no que se refere à guerra espiritual, ser sóbrio significa
estar constantemente consciente da realidade. É não permitir a influência
de nada que possa deixar-nos alienados do que se passa ao nosso redor.
Se estivéssemos numa frente de batalha, com balas e morteiros zu­
nindo à nossa volta, correríamos a abrigar-nos numa trincheira. As balas
continuariam voando lá em cima, sobre a trincheira, mas nós estaríamos
relativamente seguros. E ainda que conscientes de estar envolvidos numa
guerra, poderiamos até relaxar um pouco. Mas, se esquecéssemos, por
um minuto que fosse, que estávamos num campo de batalha, era possível
que nos levantássemos e aí fatalmente seríamos atingidos.
Portanto, enquanto estivermos sóbrios, isto é, sempre cientes da situação
em que nos encontramos e do perigo em potencial, podemos desfrutar
da vida ao máximo, certos de que o Espírito Santo nos protege do perigo.
O crente tem a possibilidade de ser mais feliz do que qualquer outra pes­
soa no mundo. A vida é para ser apreciada. Mas onde quer que estejamos,
seja numa reunião social, num entretenimento, em conversa com alguém,
precisamos estar sempre conscientes da situação em que nos encontra­
mos. Não estamos num combate simulado, não; mas numa batalha de
verdade, onde não há período de aquecimento, nem fase de treinamento.
E guerra mesmo.
E a orientação seguinte que temos em 1 Pedro 5 é; “...e vigilantes”.
Tfemos de manter os olhos bem abertos, sempre atentos, para que pos­
samos reconhecer o que é operação do diabo.
O apóstolo nos diz, então, que devemos humilhar-nos, não nos preo­
cupar, ser sóbrios e vigilantes porque “o diabo, vosso adversário, anda
em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar”. Mui­
tas vezes nós nos esquecemos de quem é nosso verdadeiro adversário.
Pensamos que é nosso chefe, ou um colega de serviço que nos aborrece,
ou até nossa sogra. Não; nosso adversário é o diabo. Ele é o adversário
Os Três Campos de Batalha 55

de todos os crentes. Tfemos a tendência de pensar nos poderes das trevas


como algo meio nebuloso, uma força maligna que se infiltra na vida de
todo mundo, mas não nos ataca individualmente. Contudo Satanás obtém
mais sucesso quando ataca os crentes separadamente do que quando vai
contra a igreja como um todo.
Não Temamos Seu Rugido
Esse leão que ruge procura devorar os filhos de Deus, mas não pode
fazê-lo por causa do poder de Deus que nos protege. Ele sabe disso, e
embora não possa devorar o crente, tenta intimidá-lo com seu rugido.
E é 0 quanto basta para inibir uma atuação mais efetiva de nossa parte.
O rugido do leão, o peso de sua pata e suas garras afiadas infundem
medo. É muito fácil ter uma reação emocional quando nos vemos diante
de um rugido e nos sentimos ameaçados de morte. Mas, se por medo
dele deixamos de obedecer a Deus, expomo-nos a ser derrotados pelo diabo.
Satanás ruge, e nós damos um pulo. Ele ruge, e ficamos com raiva.
Ruge de novo, e nos entregamos à lascívia, ou ficamos deprimidos, ou
nos rebelamos. Estamos sendo guiados por Deus ou pelo rugido do leão?
TVocamos de emprego porque queremos ganhar mais. Casamo-nos por­
que nos sentimos sozinhos. Mudamo-nos para uma casa maior porque
precisamos de mais espaço para guardar nossos pertences. Deixamos
uma igreja porque estamos cansados dela, ou com raiva de alguém, ou
porque achamos que ela nunca vai melhorar. E a vontade de Deus, onde
fica’ Se tomamos decisões baseados apenas em nossas emoções. Deus
não está sendo nosso guia. Estamos sendo guiados pelo rugido do leão,
movidos por irritações, temores e orgulho. E assim saímos de uma po­
sição em que estaríamos protegidos, e nos colocamos onde o diabo pode
devorar-nos, e sem dúvida irá fazê-lo. Basta olharmos ao redor, para ver­
mos os templos vazios e os postos missionários que foram abandonados
por aqueles que se deixaram intimidar pelo rugido do leão.
Satanás é muito sagaz, e descobre facilmente os nossos pontos fracos.
E próprio de sua natureza tentar-nos e atacar-nos quando nos achamos
mais enfraquecidos. E quando determinada forma de ataque dá certo, ele
a utiliza até o fim de nossa vida. O objetivo dele é convencer-nos de que
toda vez que ele rugir, precisamos reagir de determinada forma. E nos
diz que somos assim mesmo, e não há nada que possamos fazer para
nos modificar. Mas é tudo mentira. Por mais forte que seja nosso vício,
hábito ou erro. Cristo tem poder para libertar-nos dele
Deus quer guiar-nos em tudo. Ele nos ama e sabe o que é melhor
para nós. Ele nos dotou com emoções e quer que sejamos equilibrados
emocionalmente Podemos rir, cantar, divertir-nos e alegrar-nos. E pode-
56 Batalha Espiritual

mos chorar, entristecer-nos e lamentar a perda de entes queridos. O plano


de Deus é que tenhamos equilíbrio emocional. Mas de forma alguma po­
demos tomar decisões com base nessas emoções. Tfemos de ser dirigidos
por Deus, não pelas emoções, nem pelo rugido do leão.
Os humanistas pregam a tese de que “devemos fazer o que nos faz
sentir bem”. Essa é uma mentalidade egoísta, anticristã, e contrária aos
princípios de Deus. Nossas decisões não podem ser baseadas no que sen­
timos. Pelo contrário; aquilo que determinamos por uma decisão da von­
tade é que deve influenciar nossos sentimentos. Tfemos de obedecer ao
ensino de Deus independente de como nos sentimos com relação a certa
verdade. Se obedecermos a ele, as emoções favoráveis virão depois.
Deus quer que assumamos uma postura firme;
“Não vou abandonar essa posição, por mais que eu queira ou que
meus sentimentos o exijam. Mesmo que me sinta deprimido, humilhado,
magoado, arrasado, decepcionado ou desiludido. Não arredo pé dela en­
quanto Deus não me der uma orientação clara nesse sentido.”
Precisamos mostrar para Deus e para nós mesmos que, aconteça o
que acontecer, só agiremos de acordo com a palavra do Senhor. Mesmo
quando nos sentirmos desesperados, quando formos vítimas de injustiça,
ou outros nos decepcionarem, e mesmo quando nossa vontade é desistir
de tudo, é fiigir, temos de permanecer firmes e esperar em Deus. Ele não
falhará. Precisamos dizer “Não” a nós mesmos, e “Sim” para Deus. Isso
é maturidade espiritual. O diabo só desistirá quando vir em nós essa ati­
tude resoluta.

Terceira Área Estratégica — os Lábios


Nossa missão aqui no mundo é proclamar a verdade e reanimar os
irmãos, mas muitas vezes permitimos que nossos lábios se tornem instru­
mentos de destruição nas mãos do diabo. Muitas das pessoas que vêm
aconselhar-se comigo trazem mágoas profundas causadas por comentá­
rios maldosos a seu respeito, feitos diretamente a elas ou a terceiros. E
essas feridas morais são tão dolorosas quanto um ferimento físico.
Nossas palavras podem dar vida ou causar morte. Aquilo que dizemos,
aliado a certas atitudes do coração, resultam em “poder espiritual". Um
sermão ou palavra ungida e que traz revelação possui poder espirituál.
Se 0 pregador tem um coração reto, o Espírito Santo utiliza suas palavras
para abrir a mente e o coração do ouvinte para introduzir neles a verdade.
Assim, uma mensagem ungida pelo Espírito tem poder para transformar
vidas.
Então nossas palavras podem ser veículos nas mãos do Espírito Santo
Os Três Campos de Batalha 57

para comunicar verdade, justiça e vida. Mas também podem ser ferra­
mentas nas mãos do diabo para produzir mentira, acusação e morte. Como
a música, as palavras são apenas um meio. Em si mesmo, um meio não
é bom nem mau, é amoral.
E 0 fato de que as palavras têm poder não é novidade para a igreja.
Cremos que um grupo de pessoas pode fazer um pacto de oração entre
si e interceder por um enfermo que se acha no outro extremo do país,
a mais de mil quilômetros de distância, e isso pode alterar o estado do
doente. Nós cremos no poder da oração. Se alguém acha que as palavras
não têm poder, e que Deus vai fazer o que quer independente de nós,
então é melhor parar de orar. Mas a verdade é que quando oramos de
acordo com a vontade de Deus e segundo suas promessas, nossas pala­
vras têm poder diante dele.
De Onde Provêm Nossas Palavras?
Se com nossas orações podemos criar condições para que o poder
sobrenatural opere a cura de um enfermo que se acha distante, que tipo
de poder atraímos a nós quando nos reunimos para reclamar da vida ou
criticar os outros? Muitas vezes proferimos palavras inspiradas por uma
atitude de egoísmo e crítica, convencidos de que não estamos causando
mal a ninguém. Mas o fato é que elas têm poder, e nossos lábios comu­
nicam ou vida ou morte. “A morte e a vida estão no poder da língua;
0 que bem a utiliza come do seu fruto” (Pv 18.21). Davi fez a seguinte
oração: “Põe guarda. Senhor, à minha boca; vigia a porta dos meus lá­
bios” (SI 141.3). Precisamos fazer nossa essa oração de Davi.
Uma boa ilustração da importância de guardarmos os lábios é a his­
tória de Jó. Quando falamos em guardar os lábios não queremos dizer
que temos de ficar calados e engolir nossa raiva e sofrimento. Jó não ficou
em silêncio quando a tragédia se abateu sobre ele. Mas diz a Bíblia que
ele não pecou nem atribuiu a Deus falta alguma (Jó 1.22; 2.10). Essa afir­
mação é extraordinária pois ele não ficou calado, não. Ele dirigiu muitas
perguntas a Deus. Era como se estivesse clamando:
“Não estou entendendo nada! Se Deus é justo, por que está aconte­
cendo tudo isso comigo?”
Ele chegou a dizer o seguinte:
“Deus, 0 Senhor vai ficar desmoralizado por causa disso!”
Contudo, apesar de toda a sua franqueza, ele nunca transpôs os de­
vidos limites. Como diz meu amigo Tom Hallas, “Jó nunca desmereceu
0 caráter de Deus”. Satanás não teve lugar em sua vida, porque ele não
pecou com os lábios.
Será que Deus poderia dizer o mesmo a nosso respeito, isto é, que
58 Batalha Espiritual

nunca pecamos com os lábios? Será que continuamos a crer em Deus


quando as pressões da vida aumentam, quando nos sentimos confusos
ou sofremos? Somos cuidadosos com o que dizemos?
Uma Horrível Seqüência
São inúmeros os pecados que podemos cometer com os lábios. Sa­
tanás gosta muito de influenciar nossa conversa. E com freqüência o con­
segue, quando estamos reunidos com amigos. Tlido começa quando um
dos presentes faz um comentário simples, inocente, sobre alguém que
está ausente. Depois o comentário se transforma numa observação, e esta
passa a ser preocupação. A preocupação vira crítica, que por sua vez
vira acusação. Nós até procuramos dar a essa horrível seqüência um ca­
ráter espiritual. Usamos de palavras duras, revestindo-as com um toque
de “amor”.
“Precisamos orar muito pelo irmão João porque...”
“Só estou contando essas coisas para podermos orar de maneira mais
específica por ele...”
“Não estou querendo julgar a..., mas..’.’
“Fulano é um ótimo pastor, mas..’.’
Lemos em Tiago 3.10: “De uma só boca procede bênção e maldição”.
Isso significa que podemos abençoar outros com nossos lábios, ou então
contribuir para que sofram um ataque do inimigo.
Ainda outro mal que podemos causar com a boca é destruir o que
Deus está realizando em nosso meio. Quase todo grupo tem aqueles que
são especialistas em incredulidade. Vêem dificuldade em todos os planos
e projetos, vêem erro em tudo. E com sua influência negativa acabam
levando os outros a concluir: “Não vai dar certo”. Deus se ira contra aque­
les que estão sempre transmitindo visões negativas das coisas, como fi­
zeram os dez espias em Números 13, pois tal prática tolhe o povo de
Deus, impedindo que se faça o que ele deseja.
Então há poder em nossas palavras. Tlido que dizemos é carregado
de poder espiritual, negativo ou positivo. As palavras que brotam de nosso
coração podem macular a nós mesmos ou a outros. Tbmos de vigiar nos­
sos lábios. Isso exige disciplina, o autocontrole de manter a boca fechada
quando nosso coração está ansioso para dizer algo que não deve ser dito.
“Mas 0 que sai da boca, vem do coração, e é isso que contamina o ho­
mem” (Mt 15.18).
Se nos mantivermos vigilantes com relação à nossa mente, coração
e lábios, bloquearemos o acesso do diabo à nossa vida, e obteremos vi­
tória espiritual. Aí então estaremos preparados para iniciar a ofensiva.
CAPITULO CINCO

CiO
'UAL
“Diga 0 fraco: Eu sou forte.” (Jl 3.10.)
Já vimos que uma semelhança entre a guerra espiritual e o esporte
da luta romana é que em ambas temos de estar em constante estado de
alerta. Mas existem ainda outras semelhanças. Esse esporte exige do atleta
um bom condicionamento físico, mental e emocional. Aliás exige melhor
preparo físico do que a maioria dos outros esportes. O mesmo ocorre
com a guerra espiritual; o crente precisa estar no auge da sua forma es­
piritual.
“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu podetf
(Ef 6.10.)
Quando a Bíblia fala sobre a guerra espiritual, ordena que sejamos
fortes. E nela não há nenhum ensino no sentido de que só podemos
ser fortes após alguns anos de convertidos. Thmpouco diz que somos
60 Batalha Espiritual

uns “fracotes”, que nunca chegarão a ser fortes. Muitas vezes nós pró­
prios nos limitamos, ao menosprezar nossa posição em Cristo e o que
Deus realizou em nosso favor. Vamos desenvolvendo este tipo de men­
talidade pela influência de certos hinos, como o que diz: “Eu sou fraco,
mas tu és forte”. E no entanto o que a Palavra de Deus diz é “Diga
0 fraco: Eu sou forte” e “Sede fortalecidos”. Então se nós, que somos
fortes em Deus, insistirmos em dizer que somos fracos, estaremos ne­
gando essa verdade.
Não faz muito tempo, um membro do alto escalão do governo dos
Estados Unidos afirmou em público que as ordenanças de Jesus são ma­
ravilhosas, mas obviamente ninguém é capaz de vivê-las na prática. Muitas
pessoas julgam ser impossível viver o ensino bíblico, crendo que as metas
propostas pela Palavra de Deus são inatingíveis.
Mas essa idéia não condiz com a verdade. Acha-se em oposição
frontal à Palavra de Deus que afirma que somos novas criaturas em
Jesus Cristo. Entretanto quantos crentes afirmam que são fortes, hu­
mildes e santos.?
Deus Estaria Sendo Cruel Conosco?
Será que Deus nos dá ordenanças impossíveis? Será que ele nos daria
três pés de sapato ordenando-nos que os calçássemos, os três? Fico abis­
mado ao ver quantos crentes enxergam a vida cristã por essa perspectiva.
Seria o mesmo que ir movendo uma espiga de milho diante do focinho
de um jumento para obrigá-lo a correr. Ele nunca a alcança, pois ela está
sempre um passo à frente dele, mas mesmo assim continua correndo para
tentar pegá-la. Será que Deus teria uma atitude tão cruel conosco? Ou
será que de fato podemos viver como ele deseja que vivamos, e fazer o
que ele ordena?
O cristianismo não se restringe a uma crença ou a uma confissão de
fé; é uma experiência de vida. Todos os princípios bíblicos são praticáveis.
E podemos perfeitamente obedecer a todos os mandamentos divinos. Po­
demos alcançar todas as promessas de Deus. Se a Bíblia diz “Sede fortes”,
é porque podemos ser fortes; se ela diz “Humilhai-vos”, podemos humilhar-
nos. Se ela diz “Sede santos”, é porque podemos ser santos.
Obviaraente não obtemos nada disso por nós mesmos. Afirmar: “Sou
forte em mim mesmo”, é ostentar uma atitude de orgulho. E quem assim
pensa logo logo vai descobrir, através de sofrimento, que precisa de Deus
para ser forte. Deus é a nossa força. Se somos alguma coisa, se temos
alguma coisa, se somos capazes de fazer alguma coisa, é só por causa dele.
Achamo-nos envolvidos numa guerra espiritual, e se não reconhecer­
mos que podemos ser fortes, seremos constantemente derrotados. O crente
Um Bom Condicionamento Espiritual 61

que acha impossível ser como Deus ordena, nunca o será. Que tragédia!
Mas a verdade é que somos fortes. E não estou-nos gabando, não. Não
0 digo por orgulho, não. Reconhecer isso é ser humilde — estou con­
cordando com uma afirmação de Deus. Em Cristo, somos fortes.

O Condicionamento Espiritual
Para manter o condicionamento físico, o atleta tem de fazer ginástica,
corrida e levantamento de peso. Não basta ele ser forte; precisa exercitar-
se para manter a força. Do mesmo modo, na guerra espiritual também
precisamos conservar o condicionamento espiritual.
Existem muitos exercícios espirituais que o crente pode praticar para
manter a “forma”. O primeiro é conversar com Deus e ouvir sua voz. É
claro que uma oração rotineira, feita de forma ritualística, nunca irá
fortalecer-nos. A oração pode ou não nos tomar fortes; mas a comunhão
com Deus, sim. Nossas orações têm perdido o caráter de uma conversa
franca e sincera com Deus; às vezes não passam de mero palavreado. Mas
uma conversa íntima com o Deus vivo nos revitaliza e fortalece. Precisa­
mos entrar realmente na presença de Deus e conversar com ele, confian­
tes de que ele está interessado em nós e nos ouve. Além disso, temos
de nos dispor a ouvi-lo também. E é quando estamos em sua presença
que somos fortalecidos.
Em segundo lugar, devemos meditar na Palavra de Deus. Mas, como
no caso da oração, seria errado fazer disso um ritual religioso. Uma mera
leitura bíblica pode ou não fortalecer-nos; mas a meditação na Palavra
sempre nos fortalece. Thmbém comigo já aconteceu algo que ocorre com
muitos crentes: ler vários capítulos da Bíblia e no fim me dar conta de
não haver prestado a menor atenção ao que lera. E não tirei nenhum
proveito daquela leitura. E muito comum terminarmos nosso momento
de leitura da Bíblia apenas com o sentimento de havermos cumprido o
dever. Mas que proveito teremos se não meditarmos no texto, não o com­
preendermos; se não crermos nele e não aceitarmos sua mensageirf Aquela
leitura não passará de um ritual religioso.
Muitos de nós Já ouvimos milhares de sermões e lemos inúmeros tex­
tos da Bíblia. Mas a Pãlavra só opera mudanças em nós quando paramos
para meditar nela e examinar suas implicações para nossa existência.
Quando nos limitamos a lê-la, ela não tem significado nenhum para nós.
Ténho utilizado uma estratégia que tem-me ajudado muito a meditar
na Palavra de Deus. Todas as vezes que ouço uma mensagem ou leio um
texto bíblico, faço de conta que alguém está-me perguntando:
“Agora diga-me o que aprendeu nesse texto.”
62 Batalha Espiritual

Isso me obriga a refletir sobre a Palavra e às vezes tenho de relê-la


para recordar seu conteúdo. Assim, além de ler, também medito nele.
A TVansparência Espiritual nos Fortalece
Outra prática que precisamos cultivar para nos fortalecer é ter co­
munhão com os irmãos. Mas assim como acontece com a leitura da Bfclia
podemos fazê-lo apenas como um ato religioso. Tbdos nós sabemos o
que é ir à igreja, cumprimentar os irmãos, sorrir para eles e abraçá-los,
sem necessariamente sair dali fortalecidos. O objetivo de nos reunirmos
com outros crentes não é simplesmente nos encontrarmos com eles, e,
sim, nos relacionarmos com os seres humanos com quem temos maior
afinidade: nossos irmãos em Cristo.
O simples ato de ir à igreja em si pode fortalecer-nos ou não; mas
a verdadeira comunhão, sim. E a verdadeira comunhão baseia-se na trans­
parência e na sinceridade. Somos fortalecidos quando nos relacionamos
com outros em humildade. Por outro lado, se abrigarmos um espírito de
orgulho, de insubmissão, e afastarmos de nós os irmãos, por maior que
seja a freqüência com que vamos à igreja isso de nada nos aproveitará.
Um crente pode estar sempre rodeado de irmãos e ainda assim não ser
“conhecido” por eles. Entretanto se deixarmos cair nossas defesas na me­
dida certa, no lugar adequado, no momento certo. Junto às pessoas que
saberão entender-nos, aí poderemos gozar da verdadeira comunhão cristã.
Isso é que é ter transparência diante dos outros.
‘Exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama
Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pe­
cado." (Hb 3.13.)
A verdadeira comunhão tem de conter o ingrediente da exortação.
Têmos 0 dever de exortar uns aos outros, para evitar que os irmãos en­
dureçam 0 coração. Precisamos interessar-nos uns pelos outros e nos en­
volver mais entre nós, incentivando os irmãos a estarem sempre exerci­
tando mais fé, mais amor e obediência. Mas, para que o façamos, precisamos
ter um compromisso sério uns com os outros, bem como a disposição
de considerarmos o bem-estar dos outros um importante aspecto de nossa
experiência cristã (1 2.11,12; 5.11).
Tàlvez seja preciso que nossas igrejas percam um pouco de seu ce­
rimonial e passem a ser mais como um grupo de apoio. Nunca foi intenção
de Deus que vivéssemos a vida cristã isoladamente, sem o apoio de ou­
tros. Tbdos fazemos parte da família de Deus. Temos irmãos e irmãs que
nos amam e querem nos auxiliar em nossas lutas e provações. E preci­
samos fazer o mesmo por eles.
Um Bom Condicionamento Espiritual 63

Orando no Espírito Santo


‘São estes os que promovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito.
Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no
Espírito Santo...” (Jd 19,20).
Outro meio pelo qual podemos melhorar nosso condicionamento es­
piritual é orar no Espírito, orar em línguas. “O que fala em outra língua
a si mesmo se edifica...” (2 Co 14.4.) Embora algumas pessoas não creiam
no dom de línguas, o fato é que a Bíblia ensina claramente que pelo me­
nos uma bênção ele tra^ ao crente: orar no Espírito edifica e fortalece
nosso ser interior.
Outra maneira pela qual nos fortalecemos é a adoração a Deus. Ob­
viamente não adoramos a Deus apenas por causa da bênção que rece­
bemos. Nós 0 adoramos pelo que ele é. A verdadeira adoração sempre
nos fortalece, embora nem sempre o mero ato de cantar, bradar frases
de louvor ou levantar as mãos traga esse resultado. Muitas vezes confun­
dimos adorar a Deus, que é uma atitude do coração, com atos exteriores,
que não passam de ritual religioso. Adorar de fato a Deus é chegar com
intrepidez perante o trono com consciência limpa, e nos inclinar diante
dele. Adorar a Deus é ter um genuíno contato com ele.
Até Mesmo Novos Convertidos em Cristo Podem Ser Fortes
Vejamos agora alguns fatores que podem manter-nos fortes. Por que
precisamos ser fortes? Porque existe um diabo que ronda os fracos e os
que pensam que são fracos. Precisamos ser fortes porque a Bíblia assim
0 ordena, e porque ter força é um importante aspecto de nosso relacio­
namento com Deus. Ser forte é conhecer a Deus, amá-lo, conversar com
ele, ouvir sua voz, adorá-lo e assumir confiantemente a vitória por ele
conquistada.
Entretanto, sem que nos demos conta, estamos ensinando uns aos
outros que somos ftacos e que os novos convertidos, as “crianças em Cristo”,
são fracos também. Mas não é isso que a Bíblia ensina. O novo convertido
não é mais fraco que o crente experiente. O termo “criança” em Cristo
designa apenas imaturidade ou pouca experiência na vida cristã, e não
fi-aqueza e impotência espiritual.
E verdade que ainda existe muita coisa que não sabemos. Estamos
crescendo espiritualmente e necessitamos ser continuamente transfor­
mados para sermos conformes à imagem de Cristo. Nosso caráter está
sendo aperfeiçoado. Mas, estando nele, não somos fracos, de maneira
alguma. Pela força do Senhor somos fortes e precisamos nos levantar
firme e confiantemente contra o inimigo. “Por intermédio de quem
64 Batalha Espiritual

obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos


firmes.” (Rm 5.2.)
lémos de Aprender os “Golpes”
Outro aspecto da luta romana que ocorre também na guerra espiritual
é a necessidade de se conhecer os “golpes” próprios do combate. Não
é só pela força que um lutador derrota seu adversário. Ele usa também
0 conhecimento que possui sobre o combate em si. Se um lutador pro­
fissional, na minha faixa de peso, me desafiasse para um combate, não
tenho a menor dúvida de que ele me derrotaria, pois conhece os golpes
da luta. Um aspecto do treinamento de um atleta que começa a aprender
a lutar — e por sinal um aspecto muito importante — é justamente co­
nhecer os segredos do esporte. E se, em meio à luta, lhe sobrevier uma
dúvida, ele não pode simplesmente parar de lutar para ir consultar o ma­
nual. Tem de possuir um conhecimento quase instintivo das suas mano­
bras e golpes.
Isso se passa também na guerra espiritual. Nós somos fortes, mas além
disso precisamos conhecer também alguns detalhes básicos. Temos de
conhecer os golpes da guerra espiritual.
Já vimos que tanto a guerra espiritual como a luta esportiva são cons­
tantes. Sempre que menciono esse aspecto da guerra espiritual nos cursos
que dou sobre o assunto, algumas pessoas logo se mostram meio confu­
sas. Quando afirmo que a guerra espiritual é constante e que ninguém
está livre dela, percebo uma reação geral. Alguns dizem:
“Espere aí, Dean! Sempre ouvi dizer que o crente tem de descan­
sar na fé. Sempre me ensinaram que não temos de lutar nem nos es­
forçai*. Estou cansado de ouvir os pregadores dizerem: “Não precisa­
mos lutar, só descansar em Deus” ou então: “A luta não é nossa, mas
de Deus”.
Para algumas pessoas as duas idéias são conflitantes, mas não há con­
flito nenhum. Mesmo quando estamos constantemente em luta podemos
descansar. O segredo é conhecer os golpes.
Se eu fosse lutar com um campeão de luta romana, era provável que
ele nem precisasse tirar o paletó. O combate seria tão rápido e fácil (para
ele), que nem chegaria a cansar-se. Com poucos segundos me derrubaria,
sem precisar “suar a camisa”. Thlvez nem precisasse tomar banho após
a luta. Além disso, a faixa de campeão continuaria tranqüilamente em
suas mãos. Aliás, a vitória já seria dele antes mesmo de a luta iniciar-se.
E ele não precisaria pensar muito, nem se esforçar demais. Portanto, es­
taria descansado antes e depois da luta, e possivelmente até durante o
próprio combate.
Um Bom Condicionamento Espiritual 65

Descansar Durante a Luta


É verdade que a batalha é contínua. E se não reconhecermos isso,
seremos constantemente derrotados. O crente precisa conscientizar-se de
que está em combate todos os minutos da sua vida. Entretanto, se formos
fortes, se conhecermos os “golpes”, ela não nos causará dificuldades. Po­
demos viver todos os dias com toda segurança, capacitados para enfrentar
qualquer problema, qualquer circunstância e todos os ataques do inimigo.
A luta é constante, mas podemos ficar descansados na força que temos,
sempre confiantes em Deus.
O descanso da fé não implica em inatividade espiritual, não significa
que nada irá acontecer-nos e que não precisaremos reagir. O fato de que
a “peleja não é nossa, mas de Deus”, não quer dizer que podemos passar
a vida passivamente assistindo a televisão, esperando que Deus derrote
os poderes das trevas para nós. A afirmação “a peleja não é vossa, mas
de Deus”, que encontramos em 2 Crônicas 20, é seguida de uma ordem:
“Amanhã descereis”. Tfemos a responsabilidade de lutar contra o diabo
na força de Deus. Se formos fortes e estivermos inteirados dos golpes,
a luta é relativamente fácil. É apenas uma disciplina rotineira na qual po­
demos descansar.
“E foi por isso também que vos escrevi... para que Satanás não al­
cance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios." (2 Co
2.9-11.)
Paulo diz: “Pois não lhe ignoramos os desígnios (de Satanás)”. O pro­
blema é que muitos crentes os ignoram. Aprendemos a ignorar os desíg­
nios do diabo, a ignorar o próprio diabo e a interpretar o “descanso da
fé” como sendo passividade.
Podemos aprender a reconhecer os desígnios de Satanás. Podemos
distinguir os golpes dele em cada situação da vida, e neutralizá-los.
Podemos perfeitamente aprender a identificar os desígnios que ele tem
para destruir nosso casamento, para atrapalhar nosso relacionamento
com outros, ou para nos levar à depressão. É isto que chamamos co­
nhecer os golpes da luta: aprender a identificar os desígnios satânicos.
Primeiro nos inteiramos dos golpes do Inimigo, e depois aprendemos
0 contragolpe Desse modo liqüidamos o combate rapidamente
Assim que identificamos os desígnios do inimigo, eles perdem a
força. O mero fato de os reconhecermos nos dá a vitória. Ele nos der­
rota por causa de nossa fraqueza e desconhecimento de suas artima­
nhas. Mas quando nos fortalecemos e temos conhecimento de seus
desígnios, ele é derrotado.
66 Batalha Espiritual

Os Segredos de Deus Para Nossa Vitória


“Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém,
a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se re­
duzem a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora
oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória;
sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque,
se a tivessem conhecido, jam ais teriam crucificado o Senhor da glória."
a Co 2.6-8.)
Existe uma sabedoria que os poderes das trevas não conhecem, mas
que nós podemos conhecer se formos humildes diante de Deus. Essa sa­
bedoria, segundo o autor do livro aos hebreus, é para os adultos. Diz
ele: “Para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm suas faculdades
exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal” (Hb
5.14). A sabedoria secreta de Deus é para aqueles que estão aprendendo
a reconhecer os desígnios do diabo. Então podemos exercitar o enten­
dimento para reconhecer os desígnios dele, para sabermos distinguir o
que vem de Deus e o que vem do diabo. Pela sabedoria de Deus, po­
deremos ter discernimento para identificar a atuação do inimigo em nossa
vida e no mundo que nos cerca. Se esperarmos em Deus, aprenderemos
a conhecer seus golpes e a reconhecer as tramas que ele arma contra
nós. Assim teremos condições de reagir imediatamente.
“Eu já sei aonde é que o diabo está querendo me levar com isso. Mas
não vou deixar. Não vou dar lugar à depressão. Não vou criticar ninguém.
Não vou ficar irritado com minha esposa. Não vou entrar nesse relacio­
namento ilícito.”
Podemos aprender a enxergar seus desígnios e resistir a eles. Se apren­
dermos a reconhecer seus golpes, poderemos neutralizá-los, e desse modo
a luta espiritual se tomará uma prática tão fácil e rotineira quanto tomar
banho.
Apontando a Arma Para o Alvo Certo
“Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim, contra
os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso,
contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes" (Ef 6.12.)
Os pregadores, de modo geral, quando falam sobre Efésios 6.12, têm
a preocupação de dizer como e contra quem é nossa luta. Nossa luta
é contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo
e contra as forças do mal. Contudo nesse texto há uma outra verdade
igualmente importante. Ele revela como nossa luta não é e contra quem
não estamos lutando. Nossa luta não é contra carne e sangue. Mas nós
Um Bom Condicionamento Espiritual 67

temos a tendência de ignorar isso. Há muitos séculos a igreja vem-se es­


quecendo de observar esse importante princípio da guerra espiritual: não
lutar contra carne e sangue
É grande o número de crentes que não quer nem ouvir falar de guerra
espiritual. Acham estranha a idéia de resistir ao diabo ou repreender o
inimigo; isso lhes dá medo. Mostram-se relutantes em combater Satanás.
E no entanto todos nós somos peritos em brigar uns com os outros. Tb-
dos já caímos no erro de defender um ponto de vista de forma alterada,
ou já criticamos, repreendemos, ofendemos e condenamos outros. São
raros os crentes que nunca lutaram contra carne e sangue.
O grande problema é que a Bíblia proíbe que lutemos contra sangue
e carne. Ensina que nunca, sob hipótese nenhuma e em nenhum mo­
mento, devemos lutar contra carne e sangue.
A razão por que o diabo, apesar de vencido, está sempre derrotando
a igreja que se diz vitoriosa é que estamos constantemente lutando uns
contra os outros. Tfemos desperdiçado horas preciosas criticando outras
denominações, pregando sermões e escrevendo livros uns contra os ou­
tros, e enquanto isso perdemos a verdadeira batalha. Escrever livros, ar­
tigos e sermões contra outros cristãos nunca foi e nunca será condizente
com 0 espírito cristão. Estamos engajados em ferrenhas batalhas teoló­
gicas que ninguém vencerá. O diabo deve estar rindo de felicidade pois
é 0 único que sai ganhando com essa disputa.
E 0 que é pior é que não estamos lutando contra quem é o causador
desses problemas. Enquanto brigamos com nossos líderes porque eles
não fazem o que queremos, enquanto temos conflitos com irmãos por
causa de divergências de pensamentos e enquanto contendemos com co­
legas de ministério. Satanás está “correndo solto” na terra. E a culpa é nossa.
Pensamento Certo, Atitude Errada
Essa tem sido a história da igreja. As cruzadas, a inquisição, as mortes
pela fogueira, as perseguições, as divisões nas igrejas, tudo isso tem sido
feito em nome de Deus, de Jesus Cristo e da guerra espiritual. Entretanto
0 que precisamos entender é que nunca devemos lutar contra pessoas.
Mesmo que saiamos vitoriosos no confronto, na realidade estamos der­
rotados. Podemos estar certos naquilo que pensamos, e ainda assim abri­
gar uma atitude errada. Podemos estar defendendo uma doutrina certa,
mas, se para fazê-lo ferirmos irmãos, estaremos abrindo brechas para que
0 inimigo atue na igreja. Devemos, sim, atacar heresias, mas nunca aque­
les que as defendem. Enquanto ficarmos a combater seres humanos, nunca
venceremos nada.
Os fariseus faziam tudo certo. É duro aceitar esse fato, mas não há
68 Batalha Espiritual

como negá-lo. Eles compreendiam bem as Escrituras. Sua exposição dou­


trinária era perfeitamente correta. Sabiam se conduzir como bons judeus.
Eles eram os crentes de sua época, comprometidos com uma obediência
irrestrita à Palavra de Deus. E no entanto tinham tanto orgulho de sua
retidão que não reconheceram a Deus quando ele se manifestou em forma
humana. Jesus andou lado a lado com eles, conversou com eles, repreendeu-
os, mas eles não o reconheceram porque sentiam grande oigulho de ser
homens corretos. Jesus resistiu a esse tipo de atitude, atribuindo-a ao ini­
migo (Jo 8.44). Os fariseus crucificaram o próprio Deus, embora defen­
dessem a retidão e a espiritualidade.
Tbdas essas brigas entre nós, os conflitos carnais que temos tido atra­
vés dos séculos até hoje, só têm servido para fortalecer ainda mais o do­
mínio que Satanás exerce sobre a terra, sobre os perdidos e sobre o povo
de Deus. Nosso orgulho nos tem levado a uma batalha da qual sempre
saímos derrotados, mesmo que nossa participação nela seja mínima. Não
podemos lutar contra carne e sangue. Enquanto estivermos lutando con­
tra pessoas, não poderemos lutar contra o inimigo.
Tfemos aqui um ditado evangélico que diz: "Quem vive com o pensa­
mento sempre voltado para as coisas do céu, não tem serventia nenhuma
na terra”. E é verdade. Há crentes que são tão espirituais que não con­
seguem ser práticos, e acabam sendo irresponsáveis. Mas acho que já está
na hora de atentarmos para um outro fato: “Vivemos com o pensamento
tão voltado para as coisas da terra, que não temos serventia nenhuma
no céu”.
Existem dois reinos, o terreno e o celeste. O terreno é aquele que
vemos e tocamos — é o reino material. O celeste é o mundo invisível,
onde se trava a verdadeira batalha. Essa guerra já dura séculos e é cons­
tante. E travada todos os dias, o dia todo, enquanto dormimos, quando
estamos almoçando, quando assistimos a televisão, quando beijamos a
esposa. TVata-se de uma batalha entre as forças das trevas e as da luz,
que disputam o controle da vida dos homens na terra.
E às vezes nós estamos com o pensamento tão ligado na terra, bri­
gando no plano terreno, que não contribuímos em nada para a batalha
que ocorre nas regiões celestes. Estamos disparando nossas armas na di­
reção errada. Se não lutarmos no plano celeste, fatalmente lutaremos no
terreno. Se não batalharmos contra os poderes das trevas, lutaremos uns
contra os outros. Tbdos possuímos um forte senso de justiça e por isso
nos revoltamos sempre que vemos alguém cometer uma injustiça. E se
não dirigirmos essa revolta para as regiões celestes, se não resistirmos
ao inimigo e orarmos p^a que a situação seja corrigida, acabaremos
brigando com pessoas. E verdade que devemos atacar certas questões
Um Bom Condicionamento Espiritual 69
em nossa sociedade, mas nunca os homens. Mesmo que estejamos com
toda a razão, não é lutando contra carne e sangue que contribuiremos
para a expansão do reino de Deus. 0 avanço do reino divino só ocorre
mediante a operação de Deus, em resposta a nossas orações, e quando
agimos sob a orientação do Espírito Santo.
Será que Deus Resolve Mesmo?
Existe um hino muito conhecido que diz:
Oh, que paz perdemos sempre,
Oh, que dor no coração.
Só porque nós não levamos
Tildo a Deus em oração.
Se cremos de fato que o Espírito Santo pode tocar o coração das pes­
soas e tem um raio de influência muito mais amplo que o nosso, será
que não deveriamos, primeiramente, falar com ele sobre todas as nossas
preocupações, nossos interesses, sobre tudo aquilo que chama nossa
atenção? Infelizmente o que acontece, na maioria das vezes, é que só bus­
camos a Deus depois que todas as nossas tentativas fracassam e já ma­
goamos muita gente. E sempre agimos na convicção de que estamos certos.
Qual é nossa atitude diante de uma divergência de opinião? Será que
nosso primeiro impulso é orar, ou achamos que somos mais capazes, mais
persuasivos que o Espírito Santo? Será que sabemos lidar com os outros
melhor do que Deus? Seremos nós capazes de corrigir nossos filhos, mo­
dificar nosso cônjuge, ensinar nossos seguidores, repreender nossos lí­
deres ou resolver todos os conflitos melhor que o Espírito de Deus? Será
que Deus é tão capaz quanto nós, ou está tão interessado quanto nós
na solução do problema? Qualquer ato ou atitude que tomarmos em re­
lação a outros antes de intercedermos e orarmos de todo o coração, terá
sido inspirado por orgulho. Agimos motivados pela idéia de que somos
capazes de cuidar do problema melhor do que Deus.
Deus ama os outros mais do que nós podemos amá-los, e pode falar
ao coração deles melhor do que nós. Não há nem termo de comparação.
Se de fato créssemos nisso, estaríamos orando constantemente uns pelos
outros.

Cinco Lem bretes Im portantes


1. Orar antes de agir.
Precisamos orar antes de tomar qualquer atitude, mesmo nas situações
em que iremos exercer nossa autoridade de pastor, pai ou líder. Em minha
70 Batalha Espiritual
função de pai, tenho a responsabilidade de disciplinar e corrigir meus
filhos, mas sempre preciso orar antes de tomar qualquer atitude. Por ve­
zes, no ecercício da liderança, temos de repreender alguém. Entretanto,
antes de fazê-lo, devemos orar dando um tempo para que Deus opere
na situação. Não queremos dizer, porém, que Deus terá de fazer tudo
e nós, nada; não é isso. O que queremos dizer é que temos de orar, dei­
xando Deus operar primeiro, para que não haja o rompimento do rela­
cionamento. O Senhor poderá agir diretamente no coração da pessoa im­
plicada, ou então nos dará sabedoria para sabermos como agir.
2. Resistir ao inimigo e assumir posição de autoridade sobre ele.
Nosso problema não são as pessoas, mas, sim, os poderes das trevas
que tiram proveito de todas as situações, que procuram intensificar con­
flitos, dificultar reconciliações e destruir relacionamentos. Sempre que nos
encontrarmos diante de uma situação difícil devemos assumir uma posição
firme contra o diabo e expressá-lo verbalmente:
“Satanás, eu o repreendo. Você não irá controlar meu casamento, nem
meus filhos, nem meu pastor, nem esse meu irmão.”
Nós podemos embargar a atuação do diabo, e impedir que ele pre­
judique a operação de Deus na vida dos que nos cercam.
3. Recebendo uma crítica ou repreensão, procurar verificar se ela tem
fundamento, em vez de lutar contra carne e sangue.
Precisamos analisar, com^toda humildade, qualquer crítica, repreensão
ou acusação a nós dirigida. É possível que quem a fez tenha alguma razão
no que diz.
Admitir a possibilidade de estar errados é sempre uma forma de nos
deixar edificar por outros irmãos. Isso é humildade; é guerra espiritual.
Há vários séculos o oigulho vem prejudicando muito a igreja. O pen­
samento comum é:
“Eu estou com a razão; os outros é que estão errados. Eu sei a ver­
dade, os outros, não.”
Na realidade, nós nos enganamos em nossos conceitos, embora
muitas vezes não gostemos de admiti-lo. Mas mesmo quando nossas
posições são corretas e verdadeiras, precisamos dispor-nos a examinar
bem as teses dos outros. E embora eles possam estar enganados, não
podemos cair na defensiva, e de forma alguma devemos entrar em con­
flito com eles.
E se afinal percebermos que o argumento do outro está certo, nossa
atitude deve ser a de nos arrepender e acertar tudo. Agindo assim tomamo-
nos mais semelhantes a Cristo.
Um Bom Condicionamento Espiritual 71

4. Nunca perder a fé nem aceitar sentimentos de condenação.


Muitas vezes o que os outros nos dizem, quer estejam certos ou não,
leva-nos a vacilar na fé que depositamos na Palavra de Deus, a perder
a certeza da salvação, ou a confiança em nossa força e maturidade es­
piritual. Isso não deve acontecer. É comum nos perturbarmos emocio­
nalmente quando alguém discorda de nossos pontos de vista. Em muitos
casos, se a crítica é extremamente forte, podemos abater-nos diante de
nossos acusadores acatando tudo que dizem. E quando ela parte de lí­
deres, simplesmente nos curvamos e aceitamos suas determinações. É muito
fácil, nessas situações, começarmos a descrer de nós mesmos e de nossas
convicções. Podemos até vir a duvidar de Deus. Pensamos:
“Eles devem estar com a razão. Eu é que devo estar errado; estou
sempre me enganando. Já não sei mais em que devo crerí'
E perdemos a confiança.
O que temos a fazer, então, é orar acerca do que dizem — e que, por
vezes, afirmam ser uma revelação divina. Se o fizermos com humildade
e de coração aberto diante de Deus, e o Senhor não confirmar que deu
mesmo uma revelação a quem nos criticar, podemos rejeitar firmemente
tal mensagem. Em seguida, vamos deixá-lo nas mãos de Deus. Portanto,
nunca precisamos chegar ao ponto de perder a confiança nas coisas es­
pirituais; podemos permanecer sempre firmes na fé.
5. Preservar o relacionamento com os irmãos a todo custo.
Em Provérbios 18.19 lemos o seguinte: “O irmão ofendido resiste mais
que uma fortaleza; suas contendas são ferrolhos dum castelo”. Quem luta
contra homens não está levando a sério a batalha espiritual. Permitindo
rompimentos no relacionamento, deixando que uma divergência doutri­
nária cause divisões e que os problemas humanos nos afetem, não esta­
mos edificando o reino de Deus, nem combatendo o império de Satanás.
Na verdade estamos impedindo o avanço do reino de Deus e contribuindo
para o fortalecimento do reino das trevas.
A Ira Correta
Precisamos utilizar as armas que Deus nos dá, na situação certa, na
batalha certa — a luta contra nosso verdadeiro inimigo. Por que será que
Deus nos concedeu a capacidade de criticar, de discutir e de ficar irados?
É para que odiemos o pecado e o diabo, para que exercitemos ira em
oração e tomemos posição contra o inimigo. Mas quando, movidos por
orgulho, egoisticamente nos iramos contra irmãos, aí pecamos. Mas lem­
bremos que Deus também se ira, e ele nunca peca. A ira dele não é ego-
72 Batalha Espiritual

ísta nem é motivada por orgulho. Ele se ira por razões justas e a aplica
da maneira correta. Nós, porém, nos encolerizamos quando nosso orgu­
lho é ferido ou quando se frustram nossos intentos egoístas.
Se pudermos redirecionar nossa agressividade, dirigindo-a contra os
poderes das trevas; se pudermos conter as energias e emoções que es-
perdiçamos brigando uns com os outros e as utilizar para lutar contra
0 verdadeiro inimigo, muita coisa poderá mudar. Para começar, o império
satânico, que já deixamos ir longe demais, entraria em colapso. Se cada
um de nós tomasse a decisão de nunca mais contender com outro ser
humano pelo resto da vida. Satanás iria estremecer. Aí passaríamos a guer­
rear contra ele, em vez de brigar com os irmãos como vimos fazendo
há séculos. Compreenderíamos, enfim, que a nossa luta não é contra carne
nem sangue.
CAPITULO SEIS

Era um dia quente e úmido. Eu me encontrava num barraco de uma


favela na Papua-Nova Guiné, acompanhado de um intérprete, explicando
a uma senhora a existência do diabo e seus anjos. A certa altura, ela disse:
— Ah, 0 senhor está falando do...?
O intérprete explicou que ela mencionara um termo que seu povo usa
para designar demônios.
— Claro, continuou ela. Hoje de manhã mesmo havia três deles aqui
em minha casa. Olhe, até fiz um desenho.
E estendeu-me um papel com as figuras de uns seres horrendos, meio
humanos, meio animalescos.
Naquele dia entendi que eu nunca teria dificuldade para convencer
as pessoas de que ps maus espíritos exisüam, nem naquele país, nem em
outros lugares da Ásia, do Pacífico e da África. Aquela gente convive com
eles diariamente e muitas vezes os enxerga a olho nu. Hoje em dia até
mesmo nos Estados Unidos há muitas pessoas famosas que estão bus-
74 Batalha Espiritual

cando aconselhamento junto a videntes e médiuns que falam de coisas


do passado e até modificam a voz ao falar.
Entretanto, a maioria dos ocidentais ainda considera o mundo invi­
sível matéria de ficção: encaram os demônios da mesma forma como veem
0 Super-Homem, o camundongo Mickey e outros personagens de ficção.
Alguns admitem que eles até possam ser reais, sim, mas não como as
coisas que podemos ver, tocar, cheirar, comprar, vender, etc. Em vez de
classificar esses dois mundos como visível e invisível, ainda os conside­
ramos apenas como real e Irreal.
Mesmo nós, os crentes, apesar de reconhecermos que ele existe, ainda
achamos que ele não interfere muito em nossa vida. Convencemo-nos
de que não temos condições de conhecer o invisível, que há uma espécie
de parede divisória entre nós e esse mundo fantasmagórico, a impedir
nosso contato com ele. Aqui na terra, estamos com os pés no chão. Já
esse mundo invisível, pensamos, não tem nada de concreto. E aqueles
que lidam com ele são gente supersticiosa, mística ou esquisita.
Contudo, é essencial que travemos conhecimento com o plano invi­
sível. Como nossa batalha é travada nos lugares celestiais, não devemos
deixar que os interesses terrenos bloqueiem nossa consciência dele. O
mundo invisível interfere em todos os aspectos de nossa existência.
O Mundo Invisível é Mais “Sólido” do que Parece
O mundo invisível é tão real e concreto como o mundo material em
que vivemos. Aliás, ele é mais permanente e menos vulnerável do que
0 material. Se uma bomba atômica caísse em nossa cidade, por exemplo,
tudo seria destruído — os prédios, móveis, ruas, carros. E no entanto
0 mundo invisível de que fala a Bíblia não sofreria nem um arranhão.
Ele já existia antes que houvesse madeira e concreto, e continuará a exis­
tir mesmo depois que tais coisas perecerem.
O apóstolo Pedro sabia disso. Ele diz o seguinte em sua carta: “Virá,
entretanto, como ladrão, o dia do Senhor, no qual os céus passarão com
estrepitoso estrondo e os elementos se desfarão abrasados; também a terra
e as obras que nela existem serão atingidas. Visto que todas essas coisas
hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo
procedimento e piedade” (2 Pe 3.10,11).
Precisamos dar mais atenção ao mundo invisível. Acredito que todos
nós, diariamente, precisamos responder a duas perguntas.
• De que maneira meus atos, palavras e atitudes podem interferir no
mundo invisível hoje?
• De que maneira o mundo invisível está-me afetando neste momento}
0 Mundo Invisível 75
prática não apenas é correta, mas também é evidência de matu­
ridade. Adotando-a poderiamos melhorar sensivelmente nossa eficiência
na guerra espiritual. Reconheço que não é fácil fazê-lo, pois temos a ten­
dência de ignorar aquilo que não vemos. Mas nós, os crentes, contamos
com um excelente guia e um referencial absoluto no campo espiritual —
a Bíblia. Ela contém registros das atividades do mundo invisível. Nela
encontramos inúmeras menções aos lugares celestiais.
Podemos comparar o mundo invisível ao dos micróbios. Apesar de
não termos percepção sensorial dos bilhões e bilhões de seres micros­
cópicos que se encontram ao nosso redor, eles existem. E há outros exem­
plos. Estamos constantemente rodeados de sons musicais e de imagens
coloridas que não vemos. Só podemos ouvi-los ou enxergar tais imagens
utilizando um rádio ou um aparelho televisor. Dentro dos mundos existem
outros mundos. O fato de não podermos vê-los, tocá-los ou ouvi-los não
significa que não sejam reais. Se alguém hoje negasse a existência das
ondas radiofônicas, dos gases ou dos micróbios, por exemplo, simples­
mente porque não os vê, seria considerado ignorante ou tachado de louco.
Dentre os seres que povoam o plano invisível os principais são os an­
jos. Precisamos pensar um pouco sobre essa realidade. Estamos cercados
de anjos. Nas igrejas por onde passo, ouço constantemente as pessoas
falarem sobre demônios. São raros os que falam sobre os anjos, os nossos
grandes aliados na guerra espiritual.
O povo de Deus precisa aceitar — e aceitar amplamente — a existên­
cia dos anjos. Se eu dissesse, por exemplo, que em minha casa temos
um número x de cadeiras, ninguém diria que eu estava sendo místico de­
mais. Tbdos poderíam visitar-nos e constatariam que eu estava dizendo
a verdade, e iriam aceitar minha palavra. Mas se eu dissesse que, neste
exato momento, o leitor está rodeado de anjos, aí ele já não teria muita
certeza, e não se mostraria tão disposto a concordar. Se for crente, talvez
diga:^
“E, pode ser. Espero que sim. Tãlvez esteja mesmo.”
Mas precisamos ter certeza absoluta da realidade deles. Precisamos
reconhecer a existência dos anjos da mesma forma como aceitamos o
fato de que há certo número de cadeiras num aposento.
Vamos Acreditar na Bíblia Assim Como Acreditamos no que Vemos?
A razão por que é fácil crer que numa sala existe certo número de
cadeiras, mas não na existência dos anjos, é que esses objetos podemos
ver e tocar. Quando se trata de ter uma percepção clara das coisas, con­
fiamos em nossos olhos e nos outros sentidos. E no entanto não é sempre
que podemos confiar em nossa visão. Tbdos nós já passamos por situações
76 Batalha Espiritual

em que vimos certos objetos ou imagens, principalmente no escuro, e


depois verificamos que não eram aquilo que pensávamos. Quem viaja num
deserto, por exemplo, vê miragens. Quando estamos com sono, vemos
coisas se moverem, quando na verdade elas não se mexeram.
Será que podemos crer na Bíblia pelo menos na mesma medida em
que confiamos nos nossos sentidos? Na realidade, só podemos confiar
em nossos olhos até certo ponto. Na Bíblia, porém, podemos confiar ple­
namente. Por que, então, ao ver algumas cadeiras cremos que elas exis­
tem, mas não cremos quando a Bíblia diz: “O anjo do Senhor acampa-se
ao redor dos que o temem, e os livra” (SI 34.7)?
Alguns talvez indaguem se isso não seria uma metáfora de que Davi
lançou mão para designar a proteção divina. Poderia ser uma metáfora
se fosse a única passagem bíblica a mencionar anjos. Contudo, o fato é
que há muitos outros textos claros revelando que os anjos existem, que
Deus os envia ao mundo, que eles estão ao nosso redor e que atuam
em nosso favor. A Palavra de Deus fala dos anjos e de sua missão com
a mesma clareza com que fala da salvação, da expiação, da divindade de
Cristo, e de muitas outras questões nas quais fundamentamos nossa se­
gurança espiritual. Precisamos aceitar a existência do mundo invisível com
a mesma certeza com que aceitamos todos os outros ensinamentos bíblicos.
E por que a existência dos anjos é tão importante? Porque assim que
obtivemos a salvação passamos a viver na mesma esfera em que eles vi­
vem. “Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a
Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assem­
bléia” (Hb 12.22). A salvação é um “pacote” de bênçãos. Recebemos o
perdão dos pecados. Tbmamo-nos novas criaturas. As coisas velhas já pas­
saram. Passamos a ter um lar celestial. Somos filhos do Deus vivo. Achamo-
nos rodeados por incontáveis hostes de anjos todos os momentos de nossa
vida. Quantos crentes se acham constantemente conscientes desse fato?
Estamos cercados de anjos, e isso é tão certo quanto o chão em que pi­
samos. Não é absolutamente um conceito místico, esquisito ou duvidoso.
É muito real.
O que os Anjos Fázem?
E 0 que esses inumeráveis seres invisíveis fazem ao nosso redor? Será
que estão sentados em nuvens, tocando harpas ou batendo as asas? Não;
pelo que diz a Bíblia não é isso, não. Em Hebreus 1.14 lemos o seguinte:
“Não são todos eles espíritos ministradores enviados para serviço, a favor
dos que hão de herdar a salvação?” Eles estão atuando ativamente, a ser­
viço daqueles que hão de herdar a salvação, isto é, os crentes.
Você já agradeceu a Deus pelo ministério que os anjos exercem em
0 Mundo Invisível 77

seu favor? Poucos o fazem. Que pecado terrível cometemos quando re­
clamamos, lamuriamos ou somos ingratos a Deus! Imagine só o quanto
Deus nos dá. Como podemos ser ingratos e ainda nos queixar da vida,
sabendo que ele destacou anjos para estar constantemente a vigiar-nos?
Muitas vezes avaliamos a provisão e o amor de Deus por nós com base
nas coisas materiais que vemos e temos, esquecendo-nos de sua imensa
bondade e generosidade no plano espiritual.
“Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guar­
dem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para
não tropeçares nalguma pedra.” (SI 91.11,12.)
Muitas vezes imagino se, quando chegarmos ao céu. Deus não irá
mostrar-nos um videoteipe de nossa vida na terra. Seria muito interessante
ver como vivemos, não apenas no que diz respeito ao mundo visível, mas
também ao invisível. Acredito que veríamos que estivemos sempre cerca­
dos de anjos, que nos protegeram de muitos perigos e de ataques ini­
migos, e nos auxiliaram em nosso serviço cristão. Além disso, veríamos
que contamos ainda com a presença do Espírito Santo, ajudando-nos e
nos inspirando. Estou convencido de que nesse teipe veríamos que fomos
salvos de acidentes milhares de vezes. Mas será que ele mostraria que
fomos gratos a Deus, que estávamos satisfeitos com nossa vida? Ou nos
mostraria constantemente reclamando, enquanto o Espírito Santo e os
anjos faziam tudo que podiam para auxiliar-nos?
Os anjos fazem parte de nossa vida. Devíamos estar sempre conscien­
tes de sua presença, e ser gratos a Deus por eles. As Escrituras contêm
evidências até da existência de anjos da guarda. “Vede, não desprezeis
a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos
nos céus vêem incessantemente a face de meu Pai celeste” (Mt 18.10).
O termo “pequeninos” não designa apenas crianças, não, mas todos os
filhos de Deus, aqueles que confiam nele. O pronome “seus” indica que
cada anjo está incumbido de uma pessoa. Parece que todos nós temos
anjos que foram designados por Deus especificamente para cuidar de nós.
E eles se acham incessantemente contemplando a face de Deus, como
que aguardando a orientação divina.
Uma História Esclarecedora
“Quando ele (Pedro) bateu ao postigo do portão, veio uma criada, cha­
m ada Rode, ver quem era; reconhecendo a voz de Pedro, tão alegre ficou,
que nem o fez entrar, m as voltou correndo para anunciar que Pedro estava
junto do portão. Eles lhe disseram: Estás louca. Ela, porém, persistia em
afirmar que assim era. Então disseram: É o seu anjo.” (At 12.13-15.)
78 Batalha Espiritual
Em minha opinião, essa história é um dos textos bíblicos que forne­
cem revelações mais claras sobre anjos. Pedro foi preso por estar pregando
0 evangelho. E a igreja se pôs a orar por ele. O que se passou depois
é de tremenda importância: um anjo foi à sua cela.
Lembremos que isso não é ficção, não é história em quadrinhos, nem
é irreal. Aconteceu de fato com um ser humano, aqui mesmo, nesta terra.
Como foi que o anjo entrou na cela? Como foi que ele removeu as
correntes das mãos de Pedro? E como conseguiu sair daquela prisão jun­
tamente com 0 apóstolo? Não sabemos. Mas sabemos que nesse episódio
um ser do mundo invisível atuou no mundo visível. É igualmente impor­
tante observar também que as orações da igreja interferiram no mundo
invisível ocasionando a libertação de Pedro. Bastaria esse simples relato
bíblico para convencer-nos de que temos de orar em todas as situações.
Outro fato interessante nessa história é algo que tem que ver com o
reino invisível. Observemos que os irmãos, querendo explicar um acon­
tecimento em que não estavam acreditando, disseram uns aos outros: “E
0 seu anjo”.
Isso revela duas coisas. Primeira, os membros da igreja primitiva es­
tavam plenamente conscientes da existência do mundo invisível. Ao sa­
berem da chegada de Pedro, logo pensaram: “E o seu anjo”. Em segundo
lugar, sabiam que havia um anjo designado para cada pessoa. E aqueles
primeiros cristãos, que se achavam sob a liderança dos apóstolos, não
eram uns místicos, nem estavam envolvidos em práticas suspeitas, super-
espirituais. Pelo contrário; eram pessoas equilibradas, com os pés no chão,
para quem a presença de anjos era coisa normal da vida.
O Velho Tbstamento é um Livro de Ficção?
O Velho Tbstamento contém muitos relatos e evidências acerca do
mundo invisível. Mas muitas vezes nós evitamos examinar esses aconte­
cimentos históricos. A verdade é que nós, os crentes, vemos alguns deles
como ficção, embora não o confessemos abertamente. Os relatos sobre
milagres não têm muito que ver com nossa realidade diária, e os heróis
bíblicos nos lembram mais as personagens das histórias em quadrinhos.
Até mesmo o Deus do Velho Tbstamento assume proporções exageradas
em relação ao Deus em que cremos. Parece mais poderoso, mais atuante
na vida das pessoas. Vendo nosso mundo atual como uma realidade mais
palpável, achamos o mundo do Velho Tbstamento meio fantasioso.
E no entanto os eventos bíblicos são reais. Se nós não vivenciamos
tais fatos é porque nos distanciamos da verdade e da realidade.
Há um episódio da vida de Eliseu que apresenta mais ensinamentos
sobre os anjos.
0 Mundo Invisível 79

‘Tèndo-se levantado muito cedo o moço do homem de Deus (Eliseu)


e saído, eis que tropas, cavalos e carros haviam cercado a cidade; então
0 seu moço lhe disse: Ai! meu senhor! que faremos? Ele respondeu: Não
temas; porque m ais são os que estão conosco do que os que estão com
eles. Orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos para
que veja. O Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava
cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu.” (2 Rs 6.15-17.)
Eliseu era profeta e também o diretor da escola dos profetas. Certo
dia, a escola se achou completamente cercada por um exército inimigo.
Um dos alunos que viu aquele exército foi relatá-lo a Eliseu. Mas o profeta
não demonstrou o menor temor; manteve-se confiante. Sem pestanejar
disse ao rapaz:
— Não se perturbe com essa circunstância, pois os que estão do nosso
lado são em maior número do que os que estão com eles.
Ao ouvir isso, o rapaz podería ter pensado que Eliseu ficara louco.
Olhando para os lados constatou que não havia ninguém na casa, a não
ser ele e o profeta. E lá fora só estavam os inimigos. Mas Eliseu não estava
louco, não. Pelo contrário; achava-se mais consciente da realidade do que
seu amigo. Tinha consciência do mundo invisível.
Então orou e pediu a Deus que abrisse os olhos do rapaz. E de re­
pente 0 jovem viu o exército dos anjos. Aquilo não foi simplesmente um
sonho dado por Deus, nem uma projeção simbólica. Deus operou uma
mudança no seu sentido da visão, e ele conseguiu enxergar a realidade.
O moço viu “que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em
redor de Eliseu”. Posso imaginar como ele deve ter ficado espantado e
empolgado, e talvez até um pouco temeroso. Enxergara um mundo com­
pletamente novo para ele. Naquele momento, o mundo invisível era-lhe
tão real quanto o mundo material que ele estava acostumado a ver.
E 0 que Eliseu Viu?
Afirmam alguns que Eliseu possuía uma grande fé, pois viu com os
olhos físicos algo que outros não viam. Mas não é isso que diz a Bíblia.
E possível que ele não tenha visto o que o moço viu. Mas achava-se cons­
ciente do mundo invisível que o rodeava. O moço precisava convencer-se
daquela realidade; ele não.
Se nossa consciência do mundo invisível fosse mais aguçada, muitos
de nossos problemas seriam solucionados. Sei de muitos crentes que pa­
raram de realizar a obra de Deus porque se deixaram dominar pelo pes­
simismo. Acham-se derrotados por suas próprias palavras, vitimadas pelas
suas circunstâncias ou pelas de outras pessoas. Mas se confiarmos em
Deus não precisamos ser derrotados. E uma das maneiras pelas quais
80 Batalha Espiritual

podemos obter vitórias todos os dias é conscientizar-nos da presença des­


ses nossos maravilhosos aliados na guerra espiritual. Tbmos de estar cien­
tes disso nas vinte e quatro horas do dia, com a mesma certeza de que
vemos, ouvimos, cheiramos, tocamos e provamos.
Eliseu viveu esse tipo de realidade e nós também podemos vivê-la.
Então, quando nos virmos diante de circunstâncias difíceis, de adversi-
dades insuperáveis e inimigos impiedosos, não precisamos ser derrotados.
Támpouco devemos emitir palavras negativas que trazem a derrota para
nós e para outros. A única coisa que precisamos saber é que nosso ini­
migo se acha em desvantagem. “Mais são os que estão conosco do que
os que estão com eles.”

T^ês Tipos de Anjos


A revelação bíblica acerca dos anjos mostra que eles podem assumir
três funções distintas.
1. Anjos Guerreiros
Uma das funções que os anjos podem exercer é a de guerreiro. São
os anjos que entram em combate. Em Daniel 10 e Apocalipse 12 encon­
tramos informação acerca daquele que é o chefe (príncipe) desse grupo.
Seu nome é Miguel, e acha-se associado com as hostes angelicais de Deus.
Parece que nos esquecemos que os anjos lutam. Acredito que antes
da publicação do livro Este Mundo Tbiebroso, de Frank Perretti, muitos
crentes nem cogitavam dessa realidade. E mesmo agora há bastante gente
que jamais pensa nela. Podemos até achar tal idéia meio estranha, uma
crendice medieval. Mas a Bíblia fala disso com clareza. Neste exato mo­
mento, os anjos estão guerreando nas regiões celestes. Isso é tão certo
quanto o fato de que Jesus morreu na cruz, e o de que obtemos a sal­
vação por intermédio dele.
No capítulo 10 de Daniel, temos um vislumbre do que se passa no
mundo invisível. O profeta estivera orando durante três semanas sem re­
ceber resposta. Isso em si já é bastante extraordinário. Nós, hoje, com
vinte minutos já teríamos desistido. E Daniel poderia ter desistido tam­
bém, mas perseverou em oração e jejum durante vinte e um dias, e teria
persistido até mais se não tivesse ocorrido algo de maravilhoso: apareceu-
lhe um anjo.
“Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia, em
que aplicaste o coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus,
foram ouvidas as tuas palavras-, e por causa das tuas palavras é que eu
vim. Mas o príncipe do reino da Pérsia m e resistiu por vinte e um dias;
0 Mundo Invisível 81
poràn Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu ob­
tive vitória sobre os reis da Pérsia.” (Dn 10.12,13.)
E mais adiante o anjo diz: “Eu tomarei a pelejar contra o príncipe
dos persas” (Dn 10.20).
Essa narrativa nos revela verdades notáveis. Primeiro, Deus ouve nos­
sas petições assim que começamos a orar. Mesmo que nos sintamos de­
sanimados, ou a resposta tarde a chegar, a verdade é que Deus ouve nossa
petição.
Esse relato de Daniel nos revela ainda que em atenção a nossas orações
Deus envia anjos em nosso socorro. Nós não dirigimos nossa petição aos
anjos, e, sim, a Deus, que então os manda até nós, atendendo à nossa
oração. Nossas petições chegam ao reino celestial e Deus envia a resposta
ao reino terreno.
Se alguém orou durante toda a semana pode estar certo de que os
anjos já se acham em ação em decorrência de sua petição. Nossas orações
não são meras palavras que mal chegam aos ouvidos de Deus, não. Elas
acionam anjos guerreiros que entram em combate a nosso favor, para aten­
der aos propósitos de Cristo.
Esse texto de Daniel revela ainda que os anjos lutam. Não temos co­
nhecimento de como é essa batalha, mas eles lutam. E com nossas orações
nós lhes damos apoio em combate. Não creio que utilizem raios laser
ou se ataquem uns aos outros com espadas. Mas é certo que eles em­
pregam algum tipo de força. Lemos em Hebreus 1.7 que eles são seme­
lhantes ao vento. Um anjo pode ser um vento de justiça atacando uma
força do mal. Não sabemos ao certo, e isso não importa muito. O essen­
cial é que saibamos que eles lutam, sim, do nosso lado, em resposta às
nossas petições.
2. Anjos Mensageiros
Outra categoria de anjos é a dos mensageiros, ou anjos que levam
comunicações. Parece que o principal dos mensageiros é o arcanjo Ga­
briel, que comunicou a Maria o nascimento de Jesus, e que conversou
também com Daniel e Zacarias. A Bíblia contém vários relatos de anjos
conversando com seres humanos para dar-lhes informações, advertências
ou fazer revelações.
Conheço muitas pessoas que já viram anjos ou receberam mensagens
trazidas por eles. Esses nossos contemporâneos não são mais místicos
do que Maria, Daniel ou Jacó, ou outros cristãos que tiveram a mesma
experiência através dos séculos. Deus não substituiu a atividade angélica
pela tecnologia, não. Reconheço que não sei explicar por que nem todos
82 Batalha Espiritual

OS crentes vêem anjos. É possível que nosso Deus, em sua sabedoria, es­
teja ciente de que, devido ao orgulho, talvez procurássemos nos relacionar
mais com eles do que com o próprio Deus invisível. Mas não podemos
negar que ele permite que muitos vejam anjos. Acredito que isso se dá
para que tais pessoas tenham uma prova inegável da existência deles e
do mundo invisível.
A Bíblia nos adverte a que não busquemos relacionamento com anjos
e — mais importante ainda — que não os adoremos (G1 1.8; Cl 2.18).
Se Deus quiser que vejamos anjos ou que conversemos com eles, isso
é com 0 Pai. O essencial para nós é que nos mantenhamos sempre cons­
cientes de que nos achamos rodeados de anjos. Jesus afirmou o seguinte:
“Bem-aventurados os que não viram, e creram” (Jo 20.29). E verdade que
ele se referia aos que creram nele, mas o princípio se aplica também nessa
questão. Tbmos de crer na existência do mundo invisível com base no
que Deus fala dele em sua Palavra, e não na possibilidade de vê-lo. Não
permitamos que o fato de não o vermos nos deixe em dúvida ou impeça
que creiamos nele.
3. Anjos que Adoram a Deus
A terceira atividade que os anjos exercem é adorar a Deus. Há anjos
que não fazem outra coisa senão cultuá-lo. A Bíblia fala de hostes an­
gelicais adorando ao Senhor. Em Apocalipse há uma cena em que milhões
e milhões de anjos, referindo-se a Jesus, proclamam: “Digno é o Cordeiro”
(Ap 5.11,12). Outra ocasião em que vemos anjos adoradores louvando a
Deus é a do nascimento de Cristo.

O Reino das Trevas


Na Bíblia não existe uma afirmação direta no sentido de que os anjos
adoradores tenham tido um líder, um arcanjo. Mas encontramos nela al­
gumas indicações dando conta de que houve esse arcanjo, e que era Lú-
cifer, aquele que depois veio a ser Satanás. Assim como Gabriel e Miguel,
Lúcifer andava na presença de Deus. “TU és o sinete da perfeição, cheio
de sabedoria e formosura... TU eras o querubim da guarda ungido, e te
estabeleci; permanecias no monte santo de Deus” (Ez 28.12,14). A Bíblia,
ainda o denomina “príncipe”, dando-lhe a mesma graduação dada a Mi­
guel e Gabriel (Ef 2.2).
Lúcifer era uma criatura belíssima. Possuía grande sabedoria. Parece
até que era um instrumento de adoração a Deus. Tinha acesso a Deus
e aparentemente ocupava uma elevada posição entre os anjos.
Mas certo dia foi expulso da presença de Deus e dos céus. Por quê?
0 Mundo Invisível 83

O que fizera ele de tão errado? Algumas pessoas nutrem certa pena do
diabo, e se se dispuserem a falar a verdade não poderão negar esse fato.
Dizem alguns que Deus se sentiu ameaçado pela perspectiva de ele destroná-
lo, e como era mais poderoso e mais forte, egoisticamente expulsou de
lá 0 “coitado” do Lúcifer.
Será que Satanás Pode Ser Salvo?
Essa idéia de que Satanás constituía uma ameaça para Deus é aceita
por muita gente. Mas a verdade é que ele nunca foi uma ameaça para
Deus. E, na realidade, foram os outros anjos que o expulsaram de lá (Ap
12). Satanás não merece nossa compaixão. Ele rejeitou a luz e o conhe­
cimento de Deus. Portanto repeliu exatamente o que podería levá-lo ao
arrependimento. Nunca poderá ser redimido.
Lúcifer foi expulso do céu por causa de suas próprias atitudes. E se
nós conhecemos o caráter de Deus podemos ter certeza de que ele se
entristeceu muito com as atitudes de Satanás.
Lúcifer afirmou: “Eu subirei ao céu; acima das estrelas (anjos) de Deus
exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas
extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei se­
melhante ao Altíssimo” (Is 14.13,14). Ele estava dizendo, em outras pa­
lavras, que seria outro deus, assim como o verdadeiro Deus. E até hoje
ainda não desistiu disso.
Admira-me muito ver quantas pessoas — inclusive crentes — pensam
que Lúcifer é outro deus. Acham que Deus é o Deus do bem e que Sa­
tanás é 0 deus do mal. Acreditam que ele se acha em pé de igualdade
com Deus, apenas em posição oposta. Satanás tem convencido muita gente
dessa mentira.
Simplesmente Não Existe Termo de Comparação
Essa idéia de que Deus e Satanás são iguais e se acham em campos
opostos, à semelhança do yin-yang das crenças orientais, é de origem
pagã. Na verdade, eles não se equivalem. Somente Deus é Deus. E o grande
Criador não-críado. É eterno e infinito. É onisciente (sabe todas as coi­
sas), onipotente (tem todo o poder), onipresente (está em todas as partes
ao mesmo tempo), e soberano (possui autoridade suprema). Lúcifer não
passa de um arcanjo que caiu, um ser criado, finito, cujo conhecimento,
capacidade e espaço são bastante limitados. Ele não sabe tudo, não tem
poder total. E só pode estar em um lugar de cada vez.
O que 0 cristianismo ensina sobre o universo é que existe apenas um
Ser supremo, incomparável. A idéia de que existiríam dois seres iguais,
cada um governando um reino, e que esses dois seriam opostos entre
84 Batalha Espiritual

si, e que ora um ora outro ocuparia a supremacia é tese do hinduísmo


e de outras religiões orientais. As forças do bem e do mal não são de
forma alguma equivalentes. Embora a Bíblia se refira a Satanás como o
“deus deste século”, o termo “deus” aí denota apenas sua posição de au­
toridade sobre seu reino maligno. O fato é que os anjos expulsaram Lú-
cifer dos céus e ele se tomou Satanás, criando então o seu reino das tre­
vas. Hoje nós lutamos contra ele no nome e na autoridade de Jesus.
Deus nunca lutou contra o diabo, nem vai lutar. Isso seria o mesmo
que uma formiguinha subir ao meu ombro e gritar para mim;
“Ei, moço! Quer brigar comigo?”
Como eu podería brigar com um inseto que mal consigo enxergar?
Como eu podería brigar com uma formiguinha* A única coisa que podería
fazer era bater a mão na roupa para jogá-la fora ou pisar nela. Apesar
de toda a arrogância e audácia dessa formiga ela nunca constituiría uma
ameaça para mim e para nada que possuo.
E a possibilidade de Deus brigar com Satanás é ainda mais absurda
do que a de eu brigar com uma formiga. Deus é infinitamente superior
em todos os aspectos, e nunca podería lutar contra Satanás. E por isso
que somos nós que temos de lutar contra ele, no poder de Deus.
Absurda também foi a idéia alimentada por Satanás de que podería
tomar-se igual a Deus. Um ser criado nunca podería tomar-se não-criado.
Um ser finito nunca pode tomar-se infinito. Deus é Deus, e não existe
no universo nada que possa nem remotamente ser semelhante a ele.
E se Alguém Acha que Lúcifer Foi Insensato...
Se era impossível que Lúcifer se tomasse semelhante a Deus, por que
então ele tentou? A resposta está no coração de cada um de nós. Tbdos
nós, em alguma ocasião, já tivemos a intenção de gerir nossa vida nós
mesmos. Tbdos já vivemos um momento em que resolvemos viver à parte
de Deus. Foi quando dissemos:
“Tbnho condições de cuidar de mim mesmo, e não preciso que nin­
guém venha me dar ordens.”
Na verdade, o que estávamos afirmando era:
“Posso ser semelhante ao Altíssimo. Sou a pessoa mais importante
do universo. Posso ser Deus.”
Tbdo ser humano vive um momento em que diz:
“Não preciso de Deus!”
Cada homem se vê como o ponto central do universo. Nós podemos
ir à lua, criar computadores, curar enfermidades, e julgamos poder resol­
ver todos os problemas da humanidade. Achamos que podemos aprimo­
rar a raça humana, começando por nós próprios. Não precisamos de Deus
0 Mundo Invisível 85

nem de religião. Somos muito importantes, e auto-suficientes. De repente,


aparece um câncer. Aí nos jogamos aos pés de Deus como uma criança,
suplicando o auxílio dele.
O que Satanás fez foi simplesmente ridículo. E nós, seres finitos, mi­
núsculos, que estamos sujeitos até mesmo a simples resfriados, bastando
uma parada cardíaca para que nossa vida termine, achamos que podemos
conduzir nossa vida sem Deus. E querer viver sem Deus é o mesmo que
querer ser Deus. Foi exatamente esse louco e absurdo orgulho que tomou
conta do coração de Satanás.
Nós Cremos nas Afirmações de Satanás
Já há muitos séculos esse nome “Satanás” vem apavorando os ho­
mens. E que 0 nome se tomou um forte símbolo de malignidade, em­
prestando ao diabo a imagem de um deus, como ele deseja. Até mesmo
os crentes por vezes se sentem meio abalados por certas idéias e imagens
que a palavra sugere.
A palavra “satanás”, ao pé da letra, significa adversário, ou “aquele
que faz oposição a”.* Na Bíblia há textos em que ela designa as hostes
satânicas e não apenas o indivíduo, Lúcifer. Mas o fato é que esse ser
chamado Satanás não passa de um arcanjo caído, que recebeu esse nome
por ter feito oposição a Deus. E ele é nosso adversário também. Tfemos
de pensar nele nesses termos — nada mais e nada menos que isso.
Satanás não está sozinho. Na ocasião em que foi expulso dos céus
levou consigo muitos outros anjos. Embora não saibamos quantos eles
são, sabemos que ele conta com um número definido de sectários, já que
não pode criar novos seres. O reino das trevas é constituído então de
Satanás e desses demônios, ou espíritos malignos. A Bíblia não contém
uma afirmação direta de que os anjos caídos seriam os demônios. Mas
temos bases lógicas para pensar que são. Se os demônios não forem esses
anjos, então não sabemos quem são. Contudo isso não importa muito.
Mais importante que sabermos a origem dos demônios é reconhecer a
realidade da existência deles.
Como já dissemos, não precisamos nos esforçar muito para convencer
as pessoas da maior parte das nações acerca da existência dos espíritos
malignos. Mesmo no chamado “mundo civilizado”, estamos sabendo que
um número cada vez maior de pessoas cultas e sofisticadas envolvem-se
regularmente em práticas em que há manifestações demoníacas. E não
estamos falando de gente supersticiosa, ignorante e mística, não. Isso está
acontecendo mesmo. Todos os crentes precisam estar cientes dessa re-
* Buck, Emory Stevens, ed., Interprefer’s D ictiom ry o f the Bible, Abingdon Press, 1962,
86 Batalha Espiritual
alidade. Quem não acredita no que afirmo, está enganando a si mesmo.
Portanto, o reino das trevas é constituído desses seres: Satanás (um
arcanjo caído) e grande número de anjos caídos, demônios e espíritos
malignos. A Palavra de Deus faz referência apenas a esses. E tais espíritos
são seres com personalidade. O que estamos enfrentando não é “o lado
negativo do poder”, nem uma força maligna impessoal, nem uma energia
cósmica, ou algo assim. Jesus, em suas confrontações com o inimigo, re­
preendeu maus espíritos — por vezes até citando nomes — e não uma
força maligna.
Fantasmas, OVNIs e Seres Extraterrestres
Nos últimos vinte anos, tem aumentado bastante o interesse por fan­
tasmas, OVNIs e seres extraterrenos. A Bíblia não fornece nenhuma in­
formação sobre isso; fala apenas dos seres que já mencionamos. No mundo
atual, existem muitos fenômenos ainda não explicados, mas acredito que
a Palavra de Deus contém todas as revelações do mundo invisível que
precisamos conhecer. Se ela não fala de alguma questão, então não pre­
cisamos saber nada a respeito. Minha opinião pessoal é que se ocorrem
fenômenos paranormais, sobrenaturais ou extraterrenos podemos atribuí-
los ou a anjos de Deus ou do diabo.
Os anjos caídos são seres com personalidade e por conseguinte pen­
sam, ouvem, comunicam, agem e reagem, e têm experiências. Sabemos
também que eles podem comunicar-se com os homens, já que são pes­
soas também. E a própria Bíblia revela isso. Eles falam à nossa mente.
(Lemos em João 13.2, por exemplo, que o diabo pôs no coração de Judas
Iscariotes o desejo de trair Jesus.) Eles ouvem o que dizemos, observam
nossas reações, e depois traçam seus planos e estratégias.
Se esses seres malignos escutam, então precisamos dirigir-nos a eles
quando os enfrentamos em luta espiritual. Alguns crentes talvez se sintam
meio relutantes em adotar essa prática. Mas a Bíblia ensina claramente
que temos de resistir aos poderes das trevas (Tg 4.7; 1 Pe 5.9). E como
é que resistimos a uma pessoa.’ Será que devemos urrar, fechar os olhos,
prender o fôlego ou brandir a Bíblia contra eles? Pelo que sei, a única
forma de resistirmos a uma pessoa — a não ser entrando em luta corporal
com ela — é proferir uma palavra de resistência. Nós, os crentes, temos
de nos dirigir diretamente a Satanás e aos poderes das trevas, repreendendo-
os e negando-lhes acesso à nossa vida. Jesus falou diretamente com o
inimigo. Dessa forma, demonstrou, pelo exemplo, que nós também de­
vemos resistir ao inimigo, dirigindo-nos a ele verbalmente. E lembremo-
nos de que ele disse que faríamos obras maiores que as dele.
Em Marcos 16.17, ele nos instruiu a que citássemos o nome dele em
0 Mundo Invisível 87

nosso confronto com o inimigo. Ele não disse que iria ele próprio enfrentá-
los por nós. Disse, isso sim, que em seu nome nós expeliriamos demônios.
Isso basta para que passemos a conquistar vitórias diárias sobre Sa­
tanás e suas hostes. Mas temos de aprender ainda outros fatos. Precisa­
mos reconhecer e combater algumas das estratégias que o diabo utiliza
no presente.
CAPITULO SETE

Agora já sabemos de que seres é constituído o reino das trevas —


de Satanás e dos demônios. Vejamos, então, como ele opera. Para usar
uma expressão bíblica não devemos “ignorar-lhe os desígnios” (2 Co 2.11).
Se fôssemos uma força policial, e estivéssemos querendo capturar deter­
minado criminoso, provavelmente inamos procurar conhecer sua maneira
de agir.
Satanás também tem um modo característico de agir. Nos ataques que
lança ao mundo ele utiliza três recursos.

Primeiro Recurso
Uma Hierarquia Satânica
0 primeiro recurso para a atuação satânica é mediante grupos orga­
nizados, cuja missão é supervisionar e controlar os eventos mundiais. Sendo
90 Batalha Espiritual

0 deus deste século, Satanás utiliza estratégias de longo alcance. Como


acontece em outras ordens de indivíduos, os que compõem a satânica
também desempenham funções diversas. A Bíblia fala de três grupos; do­
minadores, principados e potestades. Algumas versões da Bíblia podem
apresentar termos diferentes, mas o importante aqui é conhecer essas
funções e aprender a combatê-las.

Dominadores
A Bíblia fala de “tronos”, “domínios” e “dominadores”. Esses termos
designam “cargos” que os seres espirituais ocupam. Dominar implica em
impor uma opinião ou vontade a alguém. Precisamos entender como o
inimigo obtém acesso à terra para impor sua opinião aos homens.
Em Mateus 16, Jesus fala em “portas do inferno”. Nos tempos bíblicos,
as autoridades de uma cidade se sentavam à porta dela para tomar as
deliberações de interesse do povo. O equivalente moderno dessa situação
não seria a periferia da cidade, mas a prefeitura, a câmara, o congresso
nacional, ou qualquer outro ponto onde se tomam as decisões importan­
tes para o povo. E Satanás se infiltra nessas estruturas governamentais
para dominar os cidadãos por intermédio delas. E como é que ele faz
isso? Do mesmo modo como sempre o fez. Desde os tempos do jardim
do Éden, ele obtém acesso ao mundo através das decisões erradas e ego-
ísticas dos seres humanos.
Quando pensamos em governo ou em autoridades governamentais te­
mos a tendência de pensar apenas nos altos escalões. Mas a estrutura
governamental é bem mais extensa; abrange diversos níveis. Assim afeta
todos os aspectos de nossa vida. Tlido que nos diz respeito está sob o
cuidado de alguém do governo, desde o supremo tribunal federal até ao
funcionário da secretaria de segurança que emite carteiras de identidade.
Além das autoridades federais, estaduais e municipais, existem estruturas
de autoridades nas escolas, firmas, igrejas, sindicatos, clubes esportivos,
clubes sociais e na família. Até mesmo as tribos mais atrasadas, que ainda
vivem na idade da pedra, possuem estruturas governamentais — os chefes
e pagés da aldeia.
Rombos nas Muralhas
Se 0 termo “portas” tem que ver com as decisões feitas por autori­
dades, as “muralhas”, na Bíblia, simbolizam a proteção que a autoridade
confere à sociedade. E Satanás reconhece as estruturas legítimas que go­
vernam a sociedade Sabe que se elas estiverem atuando corretamente,
ele não poderá governar. As muralhas de proteção impedem sua entrada.
A Hierarquia Satânica e Seus Planos de Guerra 91

Mas, se elas forem derrubadas, ele poderá dominar, e dominará. Sem a


barreira das muralhas, ele pode infiltrar-se na sociedade. Então onde não
há autoridade ou submissão à autoridade, onde há rebelião e caos, ali
ele se infiltra e exerce seu domínio. O grau de domínio dele é diretamente
proporcional ao do desmoronamento das instituições. É por isso que ins­
tituições como 0 casamento, a família, a igreja e a escola estão sendo
alvo de duros ataques em nossos dias.
O melhor manual de informações acerca da guerra espiritual é o Velho
Tfestamento. As batalhas ali descritas, travadas no plano terreno, são exa­
tamente as mesmas que hoje travamos no mundo invisível. Satanás levan­
tou exércitos de carne e osso para invadir Israel e destruir a nação. E
hoje ele tenta destruir o povo de Deus usando estratégias bem semelhantes.
No tempo do Velho Tfestamento, o povo de Israel vivia em cidades mu­
radas. A finalidade dessas muralhas era impedir a invasão inimiga. Por­
tanto, se houvesse nela um rombo, por menor que fosse, os soldados ini­
migos podiam entrar, pilhar e matar seus habitantes. Quando Neemias
regressou a Jerusalém, antes de construir sua própria casa ou qualquer
outra edificação, preocupou-se em reparar as muralhas da cidade. Com
inimigos por todos os lados, os muros da cidade eram sua principal forma
de proteção, a prioridade máxima.
As cidades antigas ilustram perfeitamente a situação que vivemos no
presente em relação ao mundo invisível. Como aquelas comunidades do
Velho Tfestamento, as estruturas governamentais atuais também são cer­
cadas de muralhas. Embora invisíveis, essas muralhas de autoridade e pro­
teção são reais. E se elas forem derrubadas, as conseqüências serão de­
sastrosas. O diabo se acha ativamente empenhado em pôr abaixo tais muros.
E 0 faz de três maneiras.
Abdicando em Fávor do Diabo
O primeiro fator que contribui para a demolição dessas muralhas
é uma liderança ímpia. Quando as autoridades não vivem e não exer­
cem sua liderança de acordo com os princípios bíblicos e segundo a
vontade de Deus, as muralhas de seu poder começam a desmoronar.
Assim eles praticamente entregam o poder a Satanás, que passa a go­
vernar por intermédio deles. Se um juiz, por exemplo, for ímpio e cor­
rupto, está abdicando de seu poder, passando-o a líderes invisíveis, em­
bora não tenha consciência de que está entregando a outrem seu
domínio. Mas a verdade é que todos os que estiverem sob sua auto­
ridade estarão expostos ao ataque de Satanás. Isso ocorre em todas
as estruturas governamentais. Os maus governantes derrubam as mu­
ralhas de proteção e permitem que os dominadores do mundo invisível
92 Batalha Espiritual

assumam o controle. E podemos estar certos de que eles entram em


toda e qualquer brecha que encontrarem.
É por isso que em 1 Timóteo 2.1,2, Deus ordena que oremos por
“todos os que se acham investidos de autoridade”. O inimigo procura ata­
car aqueles que detêm posição de autoridade, pois deseja assumir o go­
verno. Grande parte da sociedade atual passa por uma crise de autori­
dade. E é preciso que fortaleçamos as muralhas da liderança. Precisamos
interceder pelos governantes e líderes de modo geral. E nós, os que ocu­
pamos posição de liderança, precisamos fortalecer-nos e exercer essa fiinção
com dignidade, para assim retardarmos o avanço do inimigo. Mas se, pelo
contrário, nos pusermos constantemente a solapar a autoridade, estare­
mos colaborando com o diabo.
Outro problema que contribui para a derrubada das muralhas de pro­
teção é a omissão dos líderes que não assumem plenamente sua função.
Infelizmente há muitos maridos, pais e professores omissos. Na medida
em que nos omitimos no exercício de nossas responsabilidades, criamos
um vácuo para que os dominadores das trevas assumam o comando em
nosso lugar. Muitos pais e mães, por exemplo, acham-se tão ocupados
que não têm tempo para os filhos, não lhes transmitem noções de moral,
nem os disciplinam, nem lhes comunicam sensação de segurança. Com
isso, os filhos se tomam vulneráveis aos ataques do mal.
O terceiro fator de destmição das muralhas — e também o mais co­
mum de todos — é a rebeldia. Nos cursos que ministro, tenho o costume
de pedir que levantem uma das mãos aqueles que já foram rebeldes para
com alguma autoridade. E são poucos os que não se manifestam. Tbdos
nós, desde as crianças até aos idosos, já nos rebelamos. E, infelizmente,
tal atitude é amplamente aceita, inclusive nos círculos cristãos. E para
justificá-la damos as seguintes desculpas;
“Ah, eu sou assim, e pronto.”
“Sou meio teimoso mesmo.”
“Não vou ser um “maria-vai-com-as-outras.”
“Gosto de ter meu espaço.”
“As vezes a gente tem de lutar por nossos direitos.”
“Gosto de ser o “advogado do diabo.”
“Isso é do meu temperamento, e não tem jeito.”
E; podemos inventar desculpas para defender nossa rebeldia, mas a ver­
dade é que pela insubmissão estamos abrindo grandes brechas nas muralhas
da autoridade Quando insistimos em manter “um pequeno traço de rebel­
dia”, somos fortemente tentados a desobedecer às autoridades em vez de
obedecer a elas; a fazer-lhe oposição declarada em vez de dar-lhes apoio,
e a rebelar-nos contra nossos líderes em vez de sermos submissos a eles.
A Hierarquia Satânica e Seus Planos de Guerra 93

O que é e 0 que Não é Rebelião


Em 1 Samuel 15.23 encontramos o seguinte: “Porque a rebelião é como
0 pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos
do lar”. Essa comparação é bastante séria. Precisamos entender que a re­
belião causa a destruição das muralhas. Com nossa atitude de rebeldia, es­
tamos dizendo o seguinte:
“Não preciso de regulamentos. Não tenho necessidade de que ninguém
venha me dizer o que posso ou não posso fazetí’
Então 0 espírito de rebelião é pura e simplesmente a rejeição da auto­
ridade; é 0 desejo de nos livrarmos de qualquer jugo que nos seja imposto.
E essa atitude é comparável à feitiçaria porque favorece a uma invasão de
Satanás. A rebelião e a feitiçaria, seja a nível individual ou governamental,
levam a um mesmo fim: ambas constituem uma ligação direta com os po­
deres das trevas.
“Tbdo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há
autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram
por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste
à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos conde­
nação. Porque os magistrados não são para temor quando se faz o bem,
e, sim, quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o
bem, e terás louvor dela.” (Rm 13.1-3.)
Esse texto não afirma que todas as autoridades sejam boas. Nem todas
0 são. Sabemos que há policiais, juizes, pastores, pais e presidentes cor­
ruptos. Mas a posição de autoridade é estabelecida por Deus. É da von­
tade dele que existam estruturas de liderança, e que todos nós nos su­
jeitemos àqueles que ocupam tais posições. O dirigente pode ser ímpio,
mas 0 cargo que ele ocupa existe para ser uma muralha de proteção da
sociedade
Pelo que ensina Romanos 13, a autoridade em si impede e retarda
a ação do mal. Ela impõe temor aos malfeitores. A nação que possui uma
forte estrutura governamental, mesmo que não seja cristã, limita bastante
a prática do mal. Uma família que se apega firmemente aos princípios
básicos familiares também retarda a ação maléfica. As muralhas de au­
toridade que cercam essas instituições detêm o avanço do diabo. Isso é
um princípio universal estabelecido por Deus, e se aplica a toda a hu­
manidade.
Desobedecer sem Rebelar
Será que isso significa então que temos de colocar a obediência às
autoridades humanas antes da obediência a Deus? Não. Vemos em Atos
94 Batalha Espiritual

4 que 0 apóstolo Pedro foi levado perante os sacerdotes por haver pre­
gado 0 evangelho. Mas a ordem que eles lhe deram contrariava frontal­
mente 0 mandamento divino. Então o apóstolo recusou-se a obedecer-
lhes. Preferiu obedecer a Deus a atender aos homens. Entretanto em ne­
nhum momento atacou a autoridade sacerdotal, nem assumiu uma atitude
de rebeldia. Existe uma grande diferença entre rebelião e desobediência civil.
Estar sujeito à autoridade não si^ifica também que temos de tomar-
nos pessoas sem opinião própria. Podemos perfeitamente posicionar-nos
contra a injustiça e o engano. Podemos discordar de outros, confrontá-los
e repreendê-los no Espírito de Cristo sempre que necessário. O que não
podemos é derrubar as estmturas ou fazer antagonismo a líderes simples­
mente por se acharem eles em posição de autoridade.
Satanás está atacando a família, os sindicatos e as nações enquanto
instituições. Quando damos lugar à rebelião e tentamos derrubar uma
autoridade, aliamo-nos a ele.
Entretanto identificar a intenção satânica de dermbar as muralhas é
apenas um lado do problema. Que providências vamos tomar em relação
a isso? Em Ezequiel 22.30, lemos o seguinte; “Busquei entre eles um
homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha...” Deus está pro­
curando pessoas que se disponham a tapar o muro pela oração interces-
sória. Já sabemos o que é o muro e o que são as brechas. O muro está
ao nosso redor, e as estruturas da sociedade estão-se desmoronando. Tb-
mos de tapar essas brechas intercedendo diante de Deus em favor de ci­
dades, famílias, escolas e indivíduos, e dessa forma estaremos impedindo
a entrada do inimigo.
Em Ezequiel 13.4,5 encontramos um desafio ainda mais sério no sen­
tido de que assumamos nossa responsabilidade de profetas e intercesso-
res. “Os teus profetas, ó Israel, são como raposas entre as ruínas. Não
subistes às brechas, nem fizestes muros para a casa de Israel, para que
ela permaneça firme na peleja no dia do Senhor”
As raposas gostam de fazer covis em muros velhos, em ruínas. Os cren­
tes estão fazendo o mesmo, enquanto a sociedade ao seu redor vai-se
desintegrando. Deus nos convoca a nos erguer e consertar os estragos
na muralha da sociedade, utilizando os recursos da guerra espiritual, da
oração e do envolvimento pessoal.

Principados
A segunda categoria de demônios dentro da hierarquia satânica é a
dos “principados”, por vezes chamados também de “espíritos territoriais”.
Os principados não são nem maiores, nem mais fortes, nem mais malig-
A Hierarquia Satânica e Seus Planos de Guerra 95

nos que os outros espíritos que compõem o reino das trevas. Eles não
possuem cinco cabeças e dez olhos, não. Os principados são simples­
mente seres que possuem uma ampla área de influência no reino satânico.
Para entendermos o sentido desse termo, vamos analisar as partes que
0 compõem. Um “príncipe” é um governante, um líder. O sufixo “ado”
designa conceitos geográficos e demográficos. A geografia é o estudo das
terras e a demografia o estudo dos povos e sua distribuição na sociedade.
O termo “principado” designa uma das mais importantes formas pelas
quais Satanás atua em nosso planeta. Ele distribui suas hostes pelo mundo
de acordo com planos bem traçados. O diabo não espalha suas tropas
ao acaso, não. Não pensemos que eles correm de um lado para outro
desordenadamente, colidindo uns com os outros.
A engrenagem do reino das trevas é tão bem cuidada e lubrificada
como 0 melhor maquinário bélico das principais nações. Satanás prepara
planos de batalha para cada área geográfica em particular e para cada
grupo humano. Suas estratégias para a índia, por exemplo, são diferentes
das que ele tem para Nova Iorque. Seu planejamento para os menores
abandonados da Colômbia são bem distintos do que faz para as prosti­
tutas de Amsterdã. Existem demônios específicos designados para áreas
e povos específicos.
Como qualquer general inteligente. Satanás começa a traçar seus
planos consultando um bom mapa. E ele enxerga os vários segmentos
do mundo. Vê nações, impérios, regiões, cidades e bairros. Leva em
conta a densidade da população rural e urbana. Conhece muito bem
as raças, nacionalidades, tribos, clãs e até famílias. Além disso, ele es­
tuda grupos lingüísticos, dialetos, heranças culturais e étnicas. Está
a par de todas as associações, organizações e clubes. Satanás conhece
bem seu adversário, conhece o campo de batalha, e se acha muito
bem preparado para a guerra.
Pegue um Mapa
E por isso que podemos colocar ura pé nura país quase totalmente
cristão e o outro numa nação onde há pouco testemunho de Cristo.
Muitos dos pastores ou missionários itinerantes percebem essa diferença
entre um lugar e outro. Numa cidade, nota-se claramente o avanço
do reino de Deus, podendo-se até sentir que a atmosfera ali é tran-
qüila, positiva. Em outra, temos uma nítida consciência de conflito,
de opressão e de domínio dos poderes das trevas. Sei de pessoas que
ao atravessar uma ponte de um lado de uma cidade para outro da mesma
cidade, tiveram percepção de mudanças na condição espiritual. Em
Los Angeles, certa vez, indo de um bairro para outro, senti que havia
96 Batalha Espiritual

entrado em um território espiritual antagônico. Reparei então que ali


havia mais lojas da “Nova Era”, mais redutos de seitas heréticas, e que
as igrejas eram poucas e bem menores. Tive forte sensação da presença
do mal e de uma ostensiva atividade demoníaca. Essa cidade, bem como
muitas outras, parecem atrair para si pessoas com tendências e idéias
afins.
Deus pode dar-nos esse tipo de percepção das influências espirituais
em certos locais, mas às vezes isso nem é necessário para se conhecer
0 que se passa em duas cidades. Basta compararmos os dados estatísticos
de uma e de outra, para vermos a diferença. Numa delas veremos altos
índices de assassinatos, violência, de viciados em drogas, de alcoolismo,
prostituição, pornografia, gravidez em adolescentes, aborto, adultério, di­
vórcio e suicídios. Na outra, os índices serão bem menores. E há diferença
também no numero de homossexuais, de seitas heréticas ou satânicas,
no índice de mortalidade infantil, de acidentes, enfermidades e até de
casos de loucura.
Satanás estabelece suas estratégias e faz a distribuição de suas hos­
tes de acordo com o mapa. Portanto quem quiser levar a sério essa
questão da guerra espiritual, precisa familiarizar-se com a geografia
e com os grupos demográficos do planeta. Nós os crentes precisamos
dedicar mais tempo ao estudo do atlas, do mundo e dos povos que
nele vivem.
Vamos Abalar o TVono Dele
Muitas das nossas atividades religiosas não causam a menor preocu­
pação a Satanás. Não é que estejamos sendo carnais ou fazendo coisas
erradas, não. Mas é que muitos de nossos esforços quase não o atingem.
Entretanto, quando passamos a orar de olhos num mapa e a dirigir nos­
sas orações para os lugares ou grupos demográficos que ele pretende pos­
suir e destruir, aí então atraímos sua atenção.
Parece esquisito orar por um país aonde nunca fomos? Parece estra­
nho interceder por uma pequenina tribo indígena sobre a qual vimos um
artigo numa revista? Isso mostra o quanto estamos desviados da rota certa.
Se quisermos obedecer à Grande Comissão, "Ide por todo o mundo”, nossa
primeira atitude, nosso primeiro compromisso no sentido de ganhar al­
mas para Cristo deveria ser a de orar pelo mundo todo. Todo crente tem
0 dever de orar pelos povos da terra.
Se passarmos a orar pelos países da terra, poderemos abalar o reino
do diabo e dificultar a realização de seus planos. Mas como podemos
orar por outros povos se não sabemos quase nada a seu respeito? Po­
demos estar certos de que Satanás já fez seus estudos e sabe muita coisa
A Hierarquia Satânica e Seus Planos de Guerra 97

sobre as populações do mundo. A igreja precisava estudar geografia e


ensiná-la ao crentes. Como poderemos orar por Siquim, por exemplo, se
nem sabemos que existe um país com esse nome? Devíamos saber que
Siquim é uma monarquia situada na Ásia, que faz fronteira com Butã.
E Butã também não é o nome de uma butique elegante num shopping
center qualquer, não. E outra monarquia, onde há pouquíssimos crentes.
E não há muitas pessoas que conheçam a localização de Moçambique,
por exemplo. Mas o diabo conhece, e há tempos vem desenvolvendo um
plano para desbmir esse país, mantendo-o em escravidão espiritual. Mau­
ritânia é outra nação pela qual raramente oramos, e talvez seja por isso
mesmo que haja tão poucos crentes lá. Não sabemos direito onde esse
país se localiza, nem como são seus habitantes. Podemos ter certeza, po­
rém, de que o diabo sabe.
Os poderes das trevas conhecem bem todos os grupos humanos e pos­
suem estratégias para todos eles. A única força que pode impedir o avanço
de Satanás é a igreja. Portanto, se quisermos desencadear uma guerra
espiritual a nível global, precisaremos orar geograficamente.
No capítulo 10 de Daniel, o profeta menciona o “príncipe do reino
da Pérsia”, um principado que dominava esse país. Pois saibamos que esse
principado ainda não se aposentou nem morreu de velhice, não. Prova­
velmente ainda está lá, atuando da mesma forma. Daniel menciona tam­
bém 0 príncipe da Grécia. E se existem príncipes da Grécia e da Pérsia,
logicamente existem também príncipes da Escócia, do Havaí, de Londres,
de Dallas, etc.
A demografia — o estudo dos grupamentos humanos — é outra ci­
ência que Satanás utiliza para formular suas estratégias e dispor suas hos­
tes malignas pelo mundo. Ele cria planos de ação definidos para cada
grupo. Ele tem táticas específicas para os refugiados, para os policiais,
para mulheres que sofrem abusos dos maridos, para telefonistas, para os
deficientes visuais, para empresários, enfim para todos os inumeráveis gru­
pos humanos, e já designou espíritos malignos para atuarem em cada um
dèles.
Um Jogo de Futebol a que Ninguém Quer Assistir
O confronto que há entre a igreja de Jesus e os poderes das trevas
é semelhante a um jogo de futebol. No jogo, temos dois times se enfren­
tando, um de cada lado, e as duas traves. O objetivo é colocar a bola
na rede da equipe adversária, e ao mesmo tempo impedir que ela faça
0 mesmo do seu lado. A igreja já está formada em campo, e tem um time
excelente. Tbmos pastores, co-pastores, pastores de jovens, pastores de
aconselhamento, pastores e diáconos de plantão, ministros de música, mi-
98 Batalha Espiritual

nistérios de apoio a idosos, departamentos disso e daquilo, diáconos, pres­


bíteros, escolas dominicais, estudos bíblicos, etc., etc. Conseguimos ela­
borar todos esses extraordinários planos e metas após inúmeras reuniões
de negócios e convenções.
Tildo isso é legítimo. Táis coisas, em si mesmas, não são pecaminosas,
nem carnais. Então, nosso time já está em campo, cantando o hino “Avante,
avante, ó crentes!”
No outro lado, estão os poderes das trevas. E se alguém pensa que
esse time conta apenas com uma formação sistemática, bem organizada,
está muito enganado. Eles possuem estratégias e tarefas específicas para
as mães solteiras, para os menores de rua do Brasil, para os motoristas
de táxi de Nova Iorque, para os povos de fala espanhola, para os imigran­
tes laosianos que se acham na Califórnia, para o elegante clube de tênis,
para aquela desconhecida tribo indígena da Amazônia, e muitos outros
grupos.
O único problema desse jogo de futebol é que ninguém está “suando
a camisa”. Eles dão a saída, e nós continuamos parados ali, estudando
nossa melhor formação, enquanto o diabo vai marcando gols um atrás
do outro. Ninguém iria pagar para ver uma disputa esportiva em que os
dois times estivessem em campo, mas não se confrontassem.
Quero fazer uma sugestão para que esse jogo fique mais interessante.
Sugiro que a igreja de Jesus Cristo procure descobrir o que o diabo vem
fazendo nesses últimos séculos, e depois comece a correr em campo im­
pedindo seu avanço.
E claro que a guerra espiritual não é um jogo de ftitebol. Mas não
há dúvida de que podemos impedir o avanço dos poderes das trevas. Po­
demos fazer frente ao nosso adversário e impedir que suas estratégias
funcionem. Para isso temos de orar por situações específicas. Vamos ata­
car os planos geográficos e demográficos do inimigo. Vamos partir para
a ofensiva, orando geograficamente e preparando estratégias específicas
para ganhar todas as regiões e todos os grupos humanos para Cristo. Há
muito tempo o inimigo vem sistematicamente criando o caos no mundo.
Vários países se acham debaixo do seu domínio, quase sem testemunho
de Cristo, porque a igreja não vem-lhe dando um combate específico. Nem
ao menos sabemos como Satanás opera na terra. Tfemos ignorado os, seus
desígnios.
Mas, por outro lado, estamos sabendo de regiões, onde antes havia
forte resistência ao evangelho, que hoje já apresentam uma mudança drás­
tica. Isso se dá porque alguns crentes estão orando geograficamente e
de forma específica. Um exemplo dessa situação é o Nepal. Em 1959 ha­
via naquele país apenas 29 crentes. Atualmente existem cerca de 100.000.
A Hierarquia Satânica e Seus Planos de Guerra 99

Guerra Espiritual aos Cochichos


Outro extraordinário exemplo dos efeitos da oração específica é o que
aconteceu na Romênia. Em 1983, Frank Barton (nome fictício) começou
a fazer viagens periódicas à Romênia como missionário não residente.
Ficou horrorizado com o que viu no país. Durante o governo de Ceau-
sescu, a polícia secreta matou mais de 60.000 pessoas. A crise econômica
era tão grave que em cada casa só se podia acender uma lâmpada à noite,
e assim mesmo por algumas horas. Nos hospitais havia tantas mortes de
recém-nascidos que o governo criou uma lei no sentido de que um bebê
só podería ser considerado pessoa após completar um mês de vida. Dessa
forma, esses óbitos não apareciam nas estatísticas oficiais.
Frank fez várias visitas ao país e numa delas Deus levou-o a travar
conhecimento com um pequeno grupo de crentes da cidade de Timiso-
ara. Esses irmãos reuniam-se secretamente nas casas uns dos outros, e
Deus começou a ensinar-lhes os princípios da batalha espiritual. O Se­
nhor orientou-os para que resistissem aos espíritos do medo e do terror,
que controlavam todos os aspectos da vida do país. Eles sentiram que
deveríam sair em pequenos grupos, à noite, fazendo caminhadas de oração*
peta cidade. Então Frank e os crentes da cidade saíam e paravam em
frente aos edifícios das repartições do governo e oravam repreendendo
os principados e potestades. E oravam em voz baixa para que a polícia
secreta não os ouvisse
Eles se sentiram meio ridículos, mas continuaram obedecendo a Deus.
Nos primeiros meses, a situação até piorou. Em fevereiro de 1989, dois
pastores desapareceram. Descobriu-se depois que tinham sido mortos pela
polícia secreta. Outros foram presos, mas os crentes continuaram a reunir-
se e a praticar a guerra espiritual. Certo dia. Deus lhes falou novamente,
anunciando que a vitória estava próxima.
Finalmente, a 23 de outubro de 1989, veio-lhes a palavra do Senhor
dizendo que naquela cidade iria acender-se uma chama que “incendiaria
toda a Romênia”. Como foi difícil para aquele pequenino grupo de cren­
tes, obrigado a orar secretamente e em voz baixa, acreditar em tal men­
sagem!
E a centelha começou a arder em Timisoara, exatamente como Deus
dissera. Tlido iniciou com a ordem de prisão domiciliar de Laszlo Tbkes,
pastor da Igreja Reformada, que foi emitida a 15 de dezembro de 1989.
Anteriormente, sempre que um pastor recebia uma ordem dessas, pouco
depois desaparecia. Mas dessa vez foi diferente. A notícia da prisão de
* Caminhadas de oração — a prática de se caminhar por uma cidade, parando em pontos
estratégicos para orar pelo lugar. (N. da T.)
100 Batalha Espiritual
Tokes se espalhou pela cidade, e em vez de se retraírem, na costumeira
reação de temor, os crentes se dirigiram para a casa dele, formando uma
corrente humana à porta. A polícia ameaçou-os, mas eles se puseram a
gritar cadenciadamente um dos primeiros lemas da revolução: “Sem medo,
sem medo! Liberdade! Liberdade!”
O número dos manifestantes foi crescendo. Alguns foram presos e tor­
turados. Mas dessa vez os restantes não se dispersaram, como acontecia
antes, e muitos outros — milhares e milhares de pessoas — vieram juntar-
se a eles. Muitos não-crentes também decidiram participar naquela resis­
tência juntamente com os evangélicos, e ninguém parecia ter medo de
nada. Alguns chegavam a aproximar-se dos soldados e apresentavam o
peito aos canos das armas, dizendo:
“Estamos vencendo! Abaixo Ceausescu!”
A imprensa informou que “centenas, talvez milhares de homens, mu­
lheres e crianças desarmados foram mortos em dezembro de 1989”, mas
as multidões iam-se tomando cada vez mais numerosas. Havia pessoas
que chegavam perto dos soldados, ajoelhavam e se punham a orar bem
à frente deles.
O fogo estava aceso. O exército se uniu ao povo e passou a lutar contra
a polícia secreta. E foi assim que, no Natal de 1989, o brutal domínio
de Ceausescu chegou ao fim. Os jornais do país noticiaram: “O círculo
de ferro do medo e do terror foi quebrado”. Medo e terror — exatamente
os nomes das forças espirituais que Deus citara alguns anos antes, quando
ordenara ao pequeno gmpo de crentes que orasse contra elas.
E isso é apenas um exemplo. Sabemos que muitos outros crentes
estavam orando não apenas pela Romênia mas por toda a Europa Orien­
tal. Durante os últimos trinta anos a igreja vinha orando especificamente
pelos irmãos dos países comunistas, que sofriam repressão. O que acon­
teceu naqueles países é uma prova de que se dirigirmos nossas orações
contra os principados e potestades, o poder deles se rompe. Entretanto
ainda precisamos continuar intercedendo para que Deus conserve essa
abertura que houve na Europa Oriental.

Potestades
0 terceiro tipo de função exercida pelos seres satânicos é o das “po­
testades”, ou “fortalezas”. Elas têm que ver com os tipos de males que
existem no mundo e com os demônios designados para trabalharem com
esses pecados. Isso indica a existência de um esforço concentrado para
a intensificação de certos males.
Como é que um diabo já derrotado pode exercer tamanho controle
A Hierarquia Satânica e Seus Planos de Guerra 101
sobre a terra? Lembro-me de que, quando era garoto, ouvi certo pastor
que veio pregar em minha igreja dizer que o diabo já estava derrotado.
Disse ele:
“Jesus derrotou o diabo. Nós já somos vitoriosos. Ele está fora de com­
bate Acha-se desempregado.”
Quando terminou o culto e saí, ia pensando:
“Se Jesus derrotou o diabo há dois mil anos, por que será que ele
ainda está aqui na nossa cidade?”
Até eu, que era menino, via claramente que aquele diabo derrotado
estava agindo livremente.
É verdade que Satanás foi cabalmente derrotado, vencido, e para sem­
pre. E, se quisermos, até podemos comemorar tal vitória. Mas é verdade
também que esse diabo derrotado está atuando na terra hoje Como se
explica isso? Ele age em nossa sociedade na medida em que as pessoas
pecam e vivem egoisticamente A autoridade que ele tem lhe é dada pelo
homem que vive em oposição a Deus. Além disso existe ainda o acúmulo
dos pecados cometidos por todos os que pecaram antes, através dos sé­
culos. Somos nós, que pecamos e vivemos egoisticamente, que lhe damos
liberdade de ação em nosso meio.
A atividade satânica também é determinada pela natureza do pecado
que cometemos. De acordo com os pecados que praticamos, Satanás pode
coagir-nos ou influenciar-nos a pecar ainda mais. Para isso ele utiliza po-
testades com tarefas específicas. São forças demoníacas com a incumbên­
cia de agir de acordo com o tipo de mal praticado. Então existem as po-
testades da cobiça, do homossexualismo, da depressão, do medo, da
feitiçaria, e assim por diante. Essas potestades são tão numerosas quanto
os pecados cometidos pelos homens.
Não é que o demônio tenha um estoque de pecados, não. Ele não
tira a lascívia, por exemplo, das suas prateleiras e a joga sobre uma
cidade, forçando os seus moradores a se entregarem a esse pecado.
Não; não é desse modo que ele opera. Contudo é possível que os ha­
bitantes de uma cidade ou mesmo de um país coletivamente se entre­
guem à lascívia ou a outros pecados. Com a concentração de milhares
de indivíduos inclinados para determinado pecado, estabelece-se ali
uma potestade relacionada com esse pecado. E por isso que uma ci­
dade pode ficar conhecida como a “capital da pornografia”, enquanto
outra se torna famosa pelo ocultismo que ali floresce, e ainda outra
é um centro de jogatina.
Essas potestades podem ser designadas também para uma família, se
ela se inclinar para determinado tipo de pecado. Até mesmo as igrejas,
embora sejam representantes de Cristo, podem estar sob a influência de
102 Batalha Espiritual

uma delas. Uma igreja sempre cheia de conflitos e divisões pode se achar
sob a ação de uma potestade de conflito e divisão. Então tais demônios
podem ser incumbidos de influenciar países, cidades, povos, grupos, e
até indivíduos. Há casos em que uma situação problemática de um lugar
ou povo tem raízes num determinado tipo de prática pecaminosa que a
população adotava centenas de anos antes.
Quando entramos na guerra espiritual. Deus pode revelar-nos a na­
tureza da potestade envolvida em toda e qualquer situação. Ele pode dar-
nos — e nos dará — a identidade das potestades que se acham entrin­
cheiradas numa casa, cidade, ou nação. Mas o objetivo aí não é simples­
mente nos informar, e pronto. Não; assim que tivermos conhecimento de­
las temos de entrar em ação. Deus não o revela meramente para satisfazer
nossa curiosidade.

Tyês Providências que Precisamos Tbmar


1. Precisamos evitar a influência.
Se estivermos numa casa dominada pelo espírito de conflito, por ecem-
plo, precisamos ter o cuidado de não nos deixar envolver por ele. E por
causa disso que muitos crentes, ao conversar com mórmons ou testemu­
nhas de Jeová, se perdem e anulam o próprio testemunho. Eles começam
apresentando a verdade, mas daí a pouco são envolvidos por um espírito
de contenda. E pela contenda nunca conseguirão ganhar ninguém para
Cristo. Essas seitas operam sempre sob a influência do espírito de con­
flito. Para falarmos da verdade temos de estar sob a influência do espírito
da verdade
2. Ao orar, precisamos citar especificamente a potestade espiritual que
estiver atuando no problema.
Deus nos revela a identidade da potestade que está atuando na situação
pela qual oramos, para que possamos citá-la especificamente Assim po­
demos romper esses poderes em nome de Jesus, e pedir ao Espírito Santo
que intervenha e solucione o problema. Quanto mais específica for nossa
oração, mais efeito ela terá. Se percebermos, por exemplo, que determi­
nada família, há várias gerações, vem sendo dominada por certo espírito,
devemos mencionar o fato e em seguida orar ordenando que tal cadeia
seja rompida, em nome de Jesus. Se a área for mais abrangente, como
a de uma cidade ou país, será preciso que um grupo maior ore, por um
período mais longo, em unidade de espírito, para que o problema seja
solucionado.
A Hierarquia Satânica e Seus Planos de Guerra 103

3. Precisamos operar em espírito oposto ao do inimigo.


Operar em espírito oposto ao do inimigo significa tomar a atitude exa­
tamente contrária à da situação em que nos achamos. Se o lugar é do­
minado pela cobiça, por exemplo, agimos com liberalidade, obviamente
obedecendo a orientações de Deus nesse sentido. Se o espírito prevalente
for de depressão, vamos louvar a Deus e nos regozijar em tudo. Sempre
que adotamos a atitude contrária à do inimigo, reforçamos a influência
oposta e assim anulamos o poder dele. E Deus quer que estejamos em
guerra, constantemente, o dia todo, e não que resistamos ao inimigo ape­
nas vez por outra. Se vivermos diante dos homens e do inimigo sempre
em espírito contrário ao dos poderes das trevas, nós os derrotaremos e
modificaremos a situação prevalente.
Freqüentemente viajo com equipes de evangelismo a diversas partes
do mundo, e em cada lugar onde chegamos pedimos a Deus que nos
revele as potestades que predominam ali. Certo país tem o mais alto ín­
dice de suicídio do mundo. Muitos dos missionários que lá vão, retomam
para casa deprimidos, sem conseguir realizar muita coisa. Não é preciso
ter uma aguda percepção das realidades espirituais para se entender que
ali se acham alojadas potestades de depressão. Fizemos uma campanha
de evangelismo intensivo nesse país, e, após duas semanas de trabalho,
vários dos nossos missionários me procuraram dizendo:
“Estou-me sentindo muito deprimido.”
“Não estamos conseguindo nada.”
“Sinto-me inútil aqui.”
Quando não identificamos as potestades específicas que dominam de­
terminado lugar, podemos ser influenciados por elas.
Outro fato que precisamos saber acerca da estruturação dos seres
satânicos — dominadores, principados e potestades — é que essa divisão
não é fixa e rígida. Podemos compará-la a uma firma com vários vice-
presidentes, cada um com responsabilidades próprias. Assim também são
os dominadores, principados e potestades. As vezes, um principado pode
ser também um dominador e ter o controle de uma estrutura de auto­
ridade humana. Uma potestade pode ser também um principado, como
no caso daquelas que dominam a Romênia. Um mesmo demônio pode
ter várias funções.
Muitas das atividades demoníacas são funções que se interrelacionam
nas regiões celestes. Se pedirmos ao Espírito Santo que nos revele como
Satanás está agindo em determinada situação ou lugar, ele o revelará.
De posse da resposta, podemos atacar a atuação dele com orações es­
pecíficas. Assim Deus pode instruir-nos para que oremos contra um prin-
104 Batalha Espiritual

cipado que domina determinado país, ou contra um espírito que atua em


certas famílias, ou contra um demônio que está mantendo algumas pes­
soas na prisão do ateísmo. Orando desse modo frustramos os planos de
Satanás para a terra. Portanto, mais importante do que procurar conhecer
as complicadas categorias de habitantes do mundo espiritual é obedecer
a Deus e orar.

Segundo Recurso
As Forças das Trevas
Outro meio pelo qual Satanás ataca a humanidade são as forças das
trevas. A Bíblia fala em “dominadores deste mundo tenebroso” (Ef 6.12),
ao mencionar a atuação do reino de Satanás. Essas forças das trevas têm
duas atividades principais: mentem e obstruem o avanço da verdade.

Espíritos Enganadores
Precisamos entender que o diabo enviou um batalhão de espíritos de­
moníacos a este planeta expressamente para cegar o entendimento dos
homens. Esses seres nos enganam a respeito de tudo, disseminando men­
tiras, desde pequenas inverdades até grandes e elaboradas religiões falsas
como 0 hinduísmo, o islamismo e o budismo. Um espírito enganador, por
exemplo, é o anjo Moroni. Esse demônio, que se acha aquartelado na
cidade do Lago Salgado, nos Estados Unidos, está cegando o entendi­
mento de milhões de pessoas no mundo inteiro. Sabemos o nome desse
anjo porque ele apareceu a Joseph Smith. Mas acredito que haja muitos
outros demônios, cujo nome não sabemos, que estão incumbidos de atuar
nas principais religiões e seitas da terra. “... o deus deste século cegou
os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz
do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2 Co 4.4).
Muitos de nós acreditávamos em coisas em que não acreditamos mais.
Até certo ponto estávamos em trevas. Nossa vida é um processo em que
vamos obtendo mais e mais conhecimento da realidade, vamos reconhe­
cendo que certas coisas são mentira, e apropriando-nos das verdades da
Palavra de Deus. A intenção do inimigo é dificultar continuamente esse
processo, ocultando de nós a luz da verdade e cegando-nos com falsi­
dades. Ele está constantemente atirando à nossa mente uma rajada de
mentiras. Esses espíritos nos apresentam inverdades a respeito de Deus
— dizem que ele não existe, ou então que ele não nos ama, ou que não
é misericordioso. Além disso transmitem-nos conceitos errados acerca de
A Hierarquia Satânica e Seus Planos de Guerra 105

outras pessoas. Dizem mentiras a respeito de nós mesmos, levando-nos


a detestar-nos. Tlido isso são trevas.
Uma Forte Conspiração Baseada em Mentiras
Como já mencionei, algumas das mentiras do inimigo nos são apre­
sentadas sob a forma de complexas redes de idéias. As falsas religiões
e as filosofias enganosas ocupam posição destacada entre os homens. A
prolundidade e a sofisticação dessas crenças, bem como dos tributários
que com elas se unem para formar uma só caudal, demonstram que existe
uma forte conspiração para obscurecer o entendimento dos homens. E
a eficácia dessas mentiras está evidente em vários países e em grandes
grupos humanos. Em 1 Timóteo 4.1, o apóstolo Pãulo previu o apare­
cimento desses “espíritos enganadores e ensinos de demônios”.
Tbdas as seitas e religiões não cristãs do mundo são produto dessa
complexa rede de mentiras engendrada por Satanás. Esse sistema foi ge­
rado nas profundezas do inferno, tendo sido engenhosamente elaborado
com a finalidade de escravizar a mente humana. Nos últimos anos, tem
aparecido diversas seitas cujo invólucro é ocidental, mas que no cerne
apresentam idéias bem orientais. O chamado movimento “Nova Era” nada
mais é que^a mentira da “velha era” que o diabo apresentou à Eva no
jardim do Éden.
Nós podem os ser deuses, e criar nossa própria realidade, nossa pró­
pria verdade e moralidade Não temos de morrer—podemos reencctmar-nos.
Deus não é uma pessoa, mas uma força que se acha em tudo e em todos.
Qualquer um de nós pode descobrir essa energia divina que a tudo pe­
netra, submetendo-nos a uma maior e m ais profunda consciência de nós
mesmos.
Esse suposto conhecimento novo nada mais é que a velha treva. Suas
teses básicas são as mesmas de todas as falsas religiões que existem desde
0 início dos tempos. Hoje estamos vendo sua mensagem ser divulgada
em músicas, em programas de televisão, em filmes, nas tendências artís­
ticas e palestras filosóficas. Ele conquistou celebridades de Hollywood,
altos funcionários do Pentágono e penetrou até nas escolas primárias.
Nós, os crentes, precisamos nos preparar para identificar essa mentira
e combater sua influência na sociedada
Nem Política, nem Científica
Há outros sistemas que talvez não pareçam ter nenhuma relação com
0 assunto que estamos abordando, mas na verdade têm. Exemplos disso
são 0 comunismo e a teoria da evolução. Aquele que se posiciona contra
106 Batalha Espiritual

tais teses é logo tachado de fundamentalista direitista. Mas na realidade


0 comunismo e o evolucionismo não têm muito que ver com política ou
ciência. Seu conteúdo político e científico é mínimo; não passa de um
fino verniz. Então precisamos aprender a remover esse verniz e enxergar
tais ideologias pelo prisma da guerra espiritual. O comunismo é o sistema
político que mais procurou impedir o avanço do evangelho, acabar com
a igreja e destruir a fé da humanidade em Deus. Tbda filosofia ou ide­
ologia que faz oposição a Deus deixa de ter natureza política para per­
tencer ao âmbito espiritual.
Se tentarmos examinar os aspectos científicos da teoria da evolução
sob 0 ponto de vista da guerra espiritual veremos que eles praticamente
inexistem. Em vez de nos preocuparmos em debater sobre fósseis e es­
tratos geológicos, verifiquemos os efeitos dessa teoria na mente e coração
dos homens. A evolução é a fossa que produziu o comunismo, o huma­
nismo, 0 existencialismo e até o nazismo. E uma filosofia contrária a Deus,
que se apóia em arrazoados ridículos, e que é engenhosamente apresen­
tada como ciência. De todas as filosofias humanas surgidas neste planeta
a que mais almas tem destruído é a evolução. Nem um dos seus concor­
rentes, todos gerados no inferno, utiliza metade das mentiras ardilosas
que ela apresenta.
O crente deve ver as religiões, filosofias e ideologias como aspectos
da guerra espiritual. Em nossa condição de soldados espirituais, podemos
lutar contra elas orando e opondo-lhes resistência nos lugares celestiais.
Outra forma de agir com relação a elas é posicionar-nos ao lado da ver­
dade. Têmos de nos levantar contra todas as formas de mentira. Somos
os guardiães e pregadores da verdade.

Obstáculos à Proclamação da Verdade


Além de procurar difundir mentiras, essas forças satânicas tentam tam­
bém obstruir a proclamação da verdade. Existem demônios designados
para fazer frente à pregação do evangelho, embora nós não estejamos
conscientes disso. Podemos dizer que eles são os anti-evangelistas, pois
fazem tudo de que são capazes para impedir que o crente fale de Jesus
e que os incrédulos ouçam a mensagem do evangelho.
Muitos crentes só falam do evangelho quando têm oportunidade. Al­
guns dos que nos ouvem se mostram interessados e outros, não. As vezes
temos vontade de falar, e outras, não. Sabemos que temos o dever de
dar testemunho do evangelho, mas não demonstramos muito entusiasmo.
Por que será que isso ocorre? Por que a sensação de estranheza quando
pensamos em falar do evangelho? E por que, quando afinal falamos, quem
A Hierarquia Satânica e Seus Planos de Guerra 107
nos ouve não revela muito interesse? Será que existem forças das trevas
provocando essas atitudes em nós ou dificultando nossas tentativas de
pregar? Existe, sim, um sistema demoníaco tentando convencer-nos a não
pregar o evangelho. Eles nos dizem:
“Não fique falando da Bíblia. Você não é evangelista. Está sendo ri­
dículo. As pessoas vão rejeitá-lo. Que base tem para achar que você está
certo e eles errados? Não pregue, não.”
Duas Coisas que os Demônios Detestam
Depois da intercessão, as duas coisas que os poderes das trevas mais
detestam nos crentes são a humildade e o testemunho do evangelho. Nossa
atitude de humildade tem a virtude de arrancar as raízes do orgulho e
da mentira do coração daqueles que se acham sob o domínio de Satanás.
O diabo foi derrotado exatamente pela humildade de Cristo na cruz. Além
disso, eles detestam o evangelismo porque constitui uma invasão do ter­
ritório deles.
Nós podemos ter todo tipo de reunião, culto de louvor ou de teste­
munho. O diabo não liga a mínima. Mas se invadirmos seu território e
começarmos a libertar almas que se acham presas em suas garras, po­
demos preparar-nos para uma ferrenha guerra espiritual. Ele começará
a dizer-nos mentiras sobre nossa capacidade pessoal; procurará dominar-
nos pelo medo; prenderá nossos recursos financeiros para que não vamos
para o campo missionário. Fará tudo que lhe for possível para impedir
que preguemos o evangelho. Por isso, precisamos aprender a não esperar
que as oportunidades apareçam. Tfemos de passar à ofensiva e pregar o
evangelho com determinação.
Lemos em Lucas 10.2 que “A seara é grande, mas os trabalhadores
são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores
para a sua seara”. Nunca devemos achar que o evangelho está sendo am­
plamente pregado. Thmbém não podemos limitar-nos apenas a conclamar
mais pessoas a pregá-lo. Por maior que seja o número de crentes aten­
dendo ao “Ide” de Jesus, os trabalhadores ainda serão poucos, se os com­
pararmos com as forças das trevas que tentam atravancar a obra. Enquan­
to houver uma alma não salva, os trabalhadores serão “poucos”.
Mas não podemos deixar que isso nos desanime. E há uma coisa que
precisamos saber: temos de ver o evangelismo mundial como uma guerra
espiritual. O que podemos fazer, então? Apenas orar e repreender o diabo?
Quando entramos num aposento às escuras não podemos simplesmente
repreender as trevas; temos de acender a luz. Assim também, se quiser­
mos afastar as trevas espirituais do mundo, precisamos fazer tudo que
se encontra em nosso poder para acender a luz de Jesus Cristo. Tfemos
108 Batalha Espiritual

de difundir o evangelho cantando, pregando, escrevendo, usando o drama,


fazendo o que for necessário para proclamar a verdade de Cristo. Não
devemos rejeitar nenhum método de divulgação do evangelho, desde que
usado para proclamar a verdade. E ao mesmo tempo em que estamos
pregando o evangelho, não nos descuidemos também da guerra espiritual.
“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis, e sempre abun­
dantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não
é vão.” (1 Co 15.58.)

Terceiro Recurso
Ataques a Indivíduos
A terceira forma pela qual o reino das trevas atua é através de maus
espíritos. Tãis espíritos não têm em mira regiões geográficas, nem ideo­
logias como 0 comunismo, mas indivíduos. Eles procuram influenciar a
conduta de pessoas. No capítulo quatro, analisamos amplamente o modo
como tais forças atacam os homens — pela mente, pelo coração e pelos
lábios. Esses espíritos tentam os indivíduos para que pequem, e, se o con­
seguem, escravizam-nos.
O alvo desses demônios não são grupos, mas indivíduos. Já mencio­
namos os anjos de guarda. E possível também que haia demônios desig­
nados para cada um de nós. Mas não precisamos atemorizar-nos, pois
quem é crente acha-se protegido pelo poder de Deus. Não há dúvida,
porém, de que Satanás tem interesse em atacar indivíduos.
Os maus espíritos tentam influenciar nossa conduta. Ele está constan­
temente tentando pressionar-nos através do pensamento, de atitudes, dos
nossos desejos e vontade. Mas lembremos uma coisa: eles podem apenas
tentar influenciar-nos. Não nos obrigam a fazer nada. Na década de ses­
senta, havia na televisão americana um programa muito popular intitulado
The Devil Made me Do it (Foi o diabo que me fez agir assim). Pode até
ter sido um programa engraçado, mas não condizia com a realidade. Al­
gumas pessoas afirmam que o diabo as obriga a fazer isso ou aquilo, mas
na verdade tal não se dá. Até um cleptomaníaco, por exemplo, consegue
controlar-se. Se alguém estiver olhando para ele, não rouba nada.
A Caminhada Para a Escravização
Existe entretanto uma progressão. Todo erro começa com uma infíu-
ência. Somos tentados a fazer algo e sentimos vontade de fazê-lo. Nesse
ponto ou podemos orar a Deus pedindo o auxílio de sua graça, ou então
podemos ceder à tentação. Se cedermos a essa influência, nossa vontade
A Hierarquia Satânica e Seus Planos de Guerra 109
passa a inclinar-se na direção dela. A próxima vez que formos tentados
será mais fácil cair em pecado. E a cada vez que o praticarmos, toma-se
mais e mais fácil cometer o erro, pois nossa consciência vai-se cauteri-
zando. Podemos chegar, inclusive, ao ponto de achar que certo pecado
não é pecado. É por isso que um matador profissional é capaz de balear
alguém e depois ir jantar num belo restaurante. O assassinato tomou-se
para ele um ato banal.
Se cometermos continuadamente determinado pecado, criamos “há­
bitos pecaminosos”. E o hábito pode exercer um forte controle sobre nós.
A essa altura, podemos cometer dois erros. Primeiro, procuramos atribuir
aquele hábito à natureza humana, e acreditamos que não há nada que
possamos fazer para sanar o problema. Segundo, achamos que estamos
possessos. Mas isso não é verdade — não estamos possessos; ainda não.
TVata-se apenas de um hábito pecaminoso, profundamente arraigado como
outros atos que praticamos sem pensar.
Na Nova Zelândia, a mão de direção é no lado esquerdo da ma. Assim
que me sento ao volante do carro naquele país, logo percebo que estou
no assento da direita, e não no da esquerda. Quando arranco, afastando
0 carro do meio-fio, dirijo-me para a direita, mas tenho de estar constan­
temente lembrando que preciso permanecer no lado esquerdo da estrada.
Se eu cismar de rodar do lado direito, e um guarda me parar, não posso
dizer-lhe:
“Não está em mim, seu guarda! E um problema de criação. Há anos
que a minha família vem dirigindo do lado direito. E até aqui sempre vivi
em lugares onde se dirigia do lado direito. Afinal de contas, sou humano
também; tenho minhas fraquezas. Não dá para me modificar assim de
uma hora para outra. Será que não posso dirigir no meio da rua por uns
tempos até me acostumar?”
Não; não dá para fazer isso. Na primeira vez em que tive de dirigir
do lado esquerdo, consegui fazê-lo logo, e certinho. Ninguém teve de ex­
pulsar de mim o “demônio do dirigir do lado direito”. Era simplesmente
um hábito que eu formara havia muitos anos e que tive de superar. Os
hábitos pecaminosos podem estar profundamente arraigados em nós, mas
com a graça de Deus e com uma decisão de nossa parte, podemos superá-
los.
Entretanto, se não vencermos um hábito pecaminoso, podemos ficar
escravizados a ele. Nesse caso já existe um elemento sobrenatural. O ini­
migo está no controle de um aspecto de nossa personalidade. TVadicio-
nalmente, os evangélicos designam esse processo em termos de uma pro­
gressão: primeiro há uma obsessão, depois a opressão e finalmente a
possessão. Mas eu pessoalmente parei de empregar essa terminologia, pois
110 Batalha Espiritual

é difícil precisar onde uma termina e começa a outra. A palavra “possesso”


não aparece nos originais da Bíblia. O termo usado é “endemoninhado”.
É isso que chamo de estar escravizado.
Um homem pode estar escravizado em apenas uma área de sua per­
sonalidade; 0 diabo não domina todo o seu ser e atos. Mas seja qual for
0 tipo de prisão espiritual a que uma pessoa esteja sujeita ou a extensão
dela, 0 certo é que tal indivíduo precisa ser liberto em nome de Jesus.
A guerra espiritual, então, se dá em dois níveis: o mais amplo, ou cós­
mico, e 0 individual ou pessoal. Ao enfrentar o reino das trevas, fazemos
frente a dominadores, principados e potestades, no âmbito das nações,
grupos humanos e nas estruturas de governo. Podemos também ministrar
libertação a indivíduos por meio da oração, intercessão e do aconselha­
mento pessoal. Nesse caso, temos de nos posicionar contra as influências
malignas que podem estar atuando na vida deles ou na nossa. Além disso,
precisamos atuar com determinação na pregação do evangelho a fim de
levar a luz de Cristo aonde quer que haja trevas. E não é uma tarefa difícil,
se aprendermos a fortalecer-nos no Senhor. Podemos ser crentes cheios
da autoridade dada por Deus, obtendo vitórias em todos os aspectos de
nosso viver.
CAPITULO OITO

É possível que, ao tomarmos conhecimento de como são as hostes


satânicas, ao sabermos da sua dimensão e organização, nós nos sintamos
desalentados. Lembremos, porém, que Deus também tem seu exército,
que é ainda mais forte. Esse exército somos nós, os crentes, e você, leitor,
está incluído. Mas quem sabe isso o deixa ainda mais desanimado? Não
nos desalentemos; as perspectivas são positivas. Se não temos muita con­
fiança no exército divino — nos crentes — se não acreditamos em nós,
é porque desconhecemos nossa força como cristãos, e a autoridade pela
qual operamos.
Se eu perguntasse a alguém se o crente tem autoridade sobre os po­
deres das trevas, sua resposta provavelmente seria:
“Claro, irmão!”
Mas 0 que sucedería se essa pessoa se visse de repente diante de um
endemoninhado? Provavelmente iria chamar seu pastor, que por sua vez,
recorrería a outro pastor. O fato é que ainda não nos convencemos de
112 Batalha Espiritual

que nós temos autoridade. Sabemos disso intelectualmente; somos os pri­


meiros a reconhecê-lo. Mas na prática não exercitamos essa autoridade
pois, bem no fundo, temos dúvidas a respeito dela. E por que temos dú­
vidas? Porque, erroneamente, confundimos autoridade com emoção.
Falsos Conceitos de Autoridade
Há ocasiões em que saímos da igreja após o culto altamente confian­
tes. O estudo bíblico foi excelente; o culto, maravilhoso. Sentimo-nos for­
tes para enfrentar o diabo. Mas dois dias depois podemos até vir a duvidar
de nossa salvação. É que confundimos autoridade com sentimentos.
Algumas pessoas associam a idéia de autoridade com certo tipo de
personalidade. Dizemos que determinado homem "possui muita autori­
dade”. Na verdade, o que estamos querendo dizer é^que tal indivíduo pos­
sui uma personalidade que “lembra” autoridade. E possível que ele seja
alto, que tenha voz grave, que esteja sempre com a testa franzida, e que,
ao falar, se expresse com firmeza, os punhos cerrados. As pessoas aca­
nhadas e retraídas dizem:
“Ah, eu não sei impor minha autoridade.”
Mas a verdade é que nossa autoridade não se baseia em personali­
dade, nem em sentimentos. Não depende de nossa maturidade nem do
tempo que já temos de convertidos. Então todos os crentes precisam co­
nhecer as bases de sua autoridade,
O inimigo se empenha ao máximo para impedir que nos conscienti­
zemos de que temos autoridade. Ele nos convence de que autoridade é
sentimento, e assim, quando não nos sentimos confiantes, não agimos.
E quando temos dúvidas, não constituímos ameaça para ele. Portanto,
se não nos firmarmos no fato de que temos autoridade, ficaremos sempre
vacilando, É possível que a maior preocupação de Satanás seja a de que
um dia venhamos a ter certeza de nossa autoridade e imediatamente pas­
semos a exercê-la.
Neste capítulo veremos que nossa autoridade se baseia numa instituição
legal. E sendo uma instituição legal, não perde a validade quando nossa
fé vacila. Continua sendo realidade, como se fosse um documento regis­
trado em cartório. Aliás é um contrato oficial, válido e legítimo como um
casamento. Quando pergunto a alguém se é casado, ele logo responde:
“Sou” ou “Não”. Ninguém responde assim:
“Ah, não sei. Às vezes acho que sou; outras, acho que não.”
Quem é casado sabe disso o tempo todo, e possui, inclusive, uma cer­
tidão passada em cartório para comprová-lo. Se seus sentimentos, pen­
samentos ou personalidade mudarem, isso não altera em nada o fato de
que ele é casado.
Como Exercitar a Autoridade que Deus nos Dá 113

Nossa autoridade espiritual é tão real e legítima como um casamento.


E um fato real e não apenas um conceito.
Como Perdemos a Autoridade
Para entendermos melhor como essa autoridade funciona, temos de
voltar ao começo de tudo. Quando Deus criou o homem no jardim do
Éden, fê-lo diferente dos animais. Deu-lhe o livre-arbítrio e domínio ou
autoridade sobre tudo. Antes, só Deus tinha autoridade, mas ele delegou
parte dela ao homem, e nunca a “cassou”. É por isso que as pessoas estão
cometendo todo tipo de males, sem que Deus as detenha.
Alguém talvez ache que ao conceder sua autoridade ao homem, Deus
tenha limitado um pouco a sua soberania. Mas não limitou, não. Deus
sempre teve, tem e terá toda autoridade. Exerce controle total sobre tudo.
Ele é onipotente, e não há dúvida de que possui domínio ilimitado. En­
tretanto ele pode delegar partes de sua autoridade a outrem.
O presidente de uma grande empresa, por exemplo, trabalha com pes­
soas sob seu comando na função de diretores, gerentes, supervisores, etc.
A cada cargo desses correspondem certas responsabilidades e a autori­
dade de que éles precisam para se desincumbirem delas. A autoridade
que eles detêm é parte da do presidente da companhia. Túdo está sob
0 controle dele, mas ele delegou autoridade aos diversos funcionários.
Assim também Deus delegou autoridade ao homem, mas ainda se acha
no controle de tudo.
Quando Deus concedeu autoridade ao homem. Satanás se achava no
jardim, sob a forma de uma serpente. Então ele foi conversar com Eva
sobre a questão. Por quê? Por que ele teve todo aquele trabáho para enganá-
la? Em parte, porque queria desforrar-se de Deus, queria magoá-lo. Mas
não foi só por isso. Adão e Eva tinham algo que era de imenso valor para
0 diabo. Ele queria a autoridade que Deus conferira ao homem. Embora
estivesse neste planeta, não tinha nenhuma autoridade ou jurisdição so­
bre ele. E sabia que autoridade é um ato judicial. Por isso tentou Eva.
O que ele realmente disse a ela foi o seguinte:
“Por que você não me delega parte de sua autoridade?”
Satanás sabia que o homem poderia usar de forma certa ou errada
a autoridade que Deus lhe concedera. Fazendo-o desobedecer a Deus,
ele conseguiu usurpar sua autoridade Então do mesmo modo como Deus
delegara parte de sua autoridade ao homem, este a passou a Satanás.
Mas Satanás não possui completa autoridade sobre o mundo. Ele não
pode simplesmente assumir o governo dele. Hoje ele ainda opera exata­
mente como agiu no jardim do Éden, isto é, rouba dos homens a auto­
ridade que Deus lhes conferiu. É verdade que Adão deu sua autoridade
114 Batalha Espiritual

a Satanás, mas o diabo só pode utilizá-la através do próprio homem. Ele


só pode infíuenciar o mundo na medida em que um ser humano decide
pecar e desobedecer a Deus. Isso é o que poderiamos chamar de “equi­
líbrio do poder”.
Após 0 pecado, Deus repreendeu todos os implicados e disse: "E po­
rei inimizade entre ti (Satanás) e a mulher, entre a tua semente e a sua
semente; este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15
- I. B. B.).
Deus afirmou que iria ferir a cabeça de Satanás, não diretamente, mas
por intermédio da semente da mulher. A semente de Satanás, por sua
vez, iria ferir o calcanhar da humanidade. Isso estabeleceu as condições
para a deflagração da guerra espiritual. O diabo está operando através
da humanidade para realizar seus intentos no mundo. E Deus está ope­
rando por intermédio do homem para derrotar o inimigo. É isso que vem
acontecendo através dos séculos.
O Ataque a Crianças
O termo “inimizade” sugere contenda, briga. A “semente de Satanás”
seria, em tese, aquilo que ele gerasse. Como ele não pode ter filhos, sua
semente é tudo que ele consegue produzir no homem. A semente da mu­
lher são três coisas. Em primeiro lugar, são todos aqueles que nasceram
dela — a raça humana. O ataque de Satanás contra a semente da mulher
é dirigido primariamente às crianças.
Não é difícil ver como através da História e ainda hoje Satanás tem
sistematicamente procurado atacar as crianças, com o objetivo de destruí-
las ou de aprisioná-las. O ódio dele contra os pequenos é muito forte.
A criança é nova e inocente; é a “semente da mulher”. Desde os tempos
do Velho Tfestamento, quando os pais sacrificavam seus filhos ao deus Mo-
loque, atirando recém-nascidos nos braços do ídolo (previamente aque­
cido até ao ponto de incandescência), até às atrocidades cometidas nas
guerras, os abortos, o vício de drogas e a pornografia infantil que temos
hoje, as crianças sempre foram alvo do ataque de Satanás.
Em segundo lugar, a semente da mulher é referência aos filhos de
Israel, e, em terceiro, ao Senhor Jesus Cristo.
Deus afirmou que a semente de Satanás iria ferir o calcanhar do ho­
mem. Quem está com o calcanhar ferido não pode caminhar depressa
nem ir muito longe. E as conseqüências do pecado têm de fato ferido
0 calcanhar da humanidade. Quando envelhecemos, nosso cabelo embran­
quece ou cai. Passamos a ter rugas na pele e nossa vista perde a acuidade.
Nossas forças diminuem, e nossa mente fica mais lenta. Desde o momento
em que nascemos já caminhamos em direção ao túmulo. Em Romanos
Como Exercitar a Autoridade que Deus nos Dá 115

5.12 lemos o seguinte; “Portanto, assim como por um só homem entrou


0 pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte pas­
sou a todos os homens...” Isso é o nosso calcanhar ferido.
Por que Há Tánta Violência no Velho Testamento?
Deus disse a Satanás também que a semente da mulher iria ferir-lhe
a cabeça. Acredito que ele ficou bastante preocupado com essa ameaça.
E passou a ficar atento, procurando a semente. E de fato, Eva produziu
“sementes”. Teve dois filhos: Caim e Abel. E durante a fase de cresci­
mento deles. Satanás conseguiu influenciar Caim, mas não a Abel, pois
este era mais semelhante a Deus. Ciente de que a semente iria ferir-lbe
a cabeça, e de que ela constituía uma ameaça para ele. Satanás levou
Caim a assassinar Abel. Mas nem isso frustrou o plano de Deus. Depois
Eva teve outro filho. Sete, do qual proveio a nação de Israel e da qual,
finalmente, veio Jesus.
A história de Caim e Abel, na verdade, é a história da História. Aliás,
se olharmos o Velho Testamento pelo prisma da guerra espiritual, pode­
remos resumi-lo em duas afirmações.
• É o registro histórico de como Deus preservou a semente da mulher
na nação de Israel, para trazer Jesus Cristo ao mundo.
• E o relato das tentativas satânicas para corromper e aniquilar a se­
mente que iria ferir sua cabeça.
É por isso que existe tanta luta e violência no Velho Tfestamento. Desde
Adão e Eva, passando por Noé, Abraão, Davi e Maria, Deus estava pre­
servando a semente da mulher, enquanto Satanás se esforçava ao máximo
tentando destruí-la.
Muitos crentes fazem alguns questionamentos com relação ao Velho
Tbstamento, devido à violência e brutalidade que vêem nele. Há quem
até evite lê-lo, temendo que essa leitura possa levá-lo a duvidar da lon-
ganimidade divina, manifesta nas páginas do Novo Téstamento. Mas pre­
cisamos entender que as batalhas retratadas no Antigo Testamento tinham
por objetivo a preservação da semente da mulher, que finalmente iria tra­
zer Jesus Cristo ao mundo.
Uma Luta em Defesa da Humanidade
Em todo 0 relato do Velho Têstamento, vemos Satanás tentando cor­
romper a semente da mulher — que ele sabia estar nos filhos de Israel
— ou então destruí-la. Parece que todas as outras nações sempre guer­
reavam contra o povo de Deus. Por que será que os amalequitas, por exem­
plo, tentariam aniquilar os israelitas, se não fosse por incitação das forças
116 Batalha Espiritual

demoníacas que desejavam destruir a semente da mulher? Então a luta


para a preservação dela tinha de ser uma guerra humana. Por isso houve
tanto derramamento de sangue, sem a menor misericórdia para com quem
tentasse exterminá-la.
Tãis batalhas eram travadas no plano físico, na terra. Mas eram bata­
lhas de natureza espiritual também. Essa luta teve um aspecto físico por­
que a semente da mulher é física, e resultaria na manifestação física de
Deus na terra, que iria passar pela morte física na cruz. Portanto Satanás
buscava uma vitória no plano físico para destruir essa semente. Era uma
luta que decidiría a vinda do Messias ao mundo. Enfim, ela seria decisiva
para a salvação da humanidade.
Por que Eles Tiveram de Matar Criancinhas?
Por que Deus determinou que se matassem até crianças? E por que
às vezes ele ordenava que os israelitas aniquilassem um povo e deixassem
outro com vida? Será que Deus tinha seus dias de mau humor — agindo
com crueldade num dia e mostrando-se magnânimo no outro? Será que
era um Deus tão vingativo e colérico que por vezes perdia a calma?
Podemos responder essas perguntas de várias maneiras. Primeira, po­
demos duvidar do caráter de Deus, vendo-o como um ser cruel. Em se­
gundo lugar, podemos simplesmente ignorar o problema, recusando-nos
a considerar a pergunta, argumentando que não temos nenhuma dúvida.
E, por último, podemos confiar no caráter de Deus, convictos de que se
ele mandou que nações inteiras fossem aniquiladas deve ter tido boas
razões para isso.
Se Deus é justo em todos os seus caminhos e benigno em todas as
suas obras (SI 145.17), temos de reconhecer que mesmo quando castigava
os homens fazia-o com um propósito definido — um propósito vital.
Muitas das lutas narradas no Velho Téstamento tinham implicações
sexuais. No culto a Baal e Astarote, por exemplo, praticava-se a sodomia,
0 lesbianismo e a bissexualidade, e — o que é pior — tais atos eram or­
denanças religiosas.*
Conhecendo a fraqueza humana. Satanás tentou o homem para que
adorasse ídolos. E o culto dos ídolos quase sempre envolvia práticas se­
xuais. Utilizando o sexo e a perversão sexual, ele pretendia corromper
a semente antes que ela pudesse ferir-lhe a cabeça.
E possível que essa intensa atividade sexual causasse epidemias de
doenças venéreas, e grande número de bebês nascesse retardado, defor-
* Pratney, Winkie, Devil Take the Yom gest (O diabo quer as crianças). Huntington House,
1985.
Como Exercitar a Autoridade que Deus nos Dá 117

mado ou até morresse na infância. Uma epidemia de moléstia sexual­


mente transmissível, se não fosse controlada, podería dizimar cidades in­
teiras. Será que era por isso que Deus, algumas vezes, ordenava que Israel
destruísse totalmente uma nação inimiga? Houve casos em que ele man­
dou que se matassem todos os homens, mulheres e crianças e até os ani­
mais de determinado lugar.
Uma Medida Radical, um Ato de Misericórdia
Deus é sempre justo e benigno. Não podemos achar que no Velho
Tbstamento ele era cruel, e no Novo, benigno. Ele nunca mudou. Acredito
que algumas daquelas nações que se opunham a Israel estavam cheias
de enfermidades. Eram povos que viviam em total desobediência a Deus,
adoravam deuses terrivelmente ímpios, e o diabo os estava usando para
destruir Israel, talvez toda a raça humana. O único meio de livrar-se a
humanidade desse perigo, e, ao mesmo tempo, proteger a semente da
ameaça de corrupção, era eliminar tais tribos da face da terra. Era uma
medida radical, mas também um ato de misericórdia e de amor pela hu­
manidade.
Embora as tentativas satânicas de destruir e corromper a semente não
tenham surtido efeito, houve várias ocasiões em que o povo de Israel su­
cumbiu ao pecado, e por diversas vezes “seguiram outros deuses”. Con­
tudo sempre havia alguns que se mantinham fiéis a Deus, preservando
assim a semente. Afinal, quando chegou a hora. Deus cumpriu sua pro­
messa. Em Gálatas 4.4, lemos o seguinte: “Vindo, porém, a plenitude do
tempo. Deus enviou seu Filho, nascido de mulher...” (a semente da mulher).
Vendo Satanás que não conseguira destruir a semente da mulher an­
tes do nascimento do Messias, redobrou seus esforços para matar a Cristo
na infância. Então induziu Herodes a que matasse todos os meninos de
dois anos para baixo em Belém (Mt 2). E assim milhares de criancinhas
foram assassinadas em mais uma tentativa de destruir a semente. José
e Maria foram forçados a fugir para o Egito, salvando o menino Jesus
da morte certa.
Jesus foi morar em Nazaré onde se criou, mas não sabemos muita
coisa sobre sua infância e adolescência. Entretanto, podemos ter certeza
de que Satanás tentou destruí-lo, física e moralmente. A Bíblia revela, em
Hebreus 4.15, que Jesus “foi tentado em todas as cousas, à nossa se­
melhança, mas sem pecado”. Evidentemente, Satanás continuava com suas
tentativas de desvirtuar a semente. E Jesus foi de fato tentado. Não é ver­
dade que sua tentação tenha sido apenas uma encenação; não. Durante
sua juventude e maturidade, foi submetido a todas as tentações humanas,
todas as tentações por que nós passamos. Contudo prevaleceu sem pecado.
118 Batalha Espiritual

A Bíblia diz que Jesus foi batizado nas águas do rio Jordão, por João
Batista, seu primo. Assim que foi batizado, o Espírito Santo desceu sobre
ele em forma de pomba, e ouviu-se uma voz do céu que dizia: “Este é
0 meu Filho amado, em quem me comprazo”. Finalmente, após anos e
anos de batalha. Deus proclamava ao mundo que ali se achava o seu Fi­
lho, a semente da mulher.
As Violentas Tentativas de Satanás
Do rio Jordão, Jesus foi para o deserto para ser tentado. Era a pri­
meira vez que, na forma humana e como a semente prometida, ele se
encontrava frente a frente com Lúcifer, o arcanjo caído, e, provavelmente,
com outros seres demoníacos. O que se seguiu não foi um mero ritual,
mas uma luta encarniçada e ferrenha. Satanás exercitou toda a influência
que possuía para tentar corromper a semente que iria ferir-lhe a cabeça.
Jesus sujeitou-se a ser tentado. Depois de jejuar por quarenta dias,
0 diabo lhe sugeriu que transformasse pedras em pães. Tfentava-o a que
usasse seu poder espiritual para alimentar-se. Infelizmente há muitas pes­
soas que fazem uso do poder divino para operar milagres com objetivos
egoístas. Mas Jesus recusou-se a agir assim.
A segunda tentação foi que ele saltasse de um lugar alto, certo de
que Deus o ampararia e o protegeria. Seria um golpe publicitário, com
0 qual ele conquistaria a atenção do mundo. Assim sua importância fi­
caria evidenciada pelo fato de Deus sair em seu socorro. Multidões veriam
aquilo e, naquele mesmo dia, ele teria todos os discípulos que quisesse.
Essa tentação foi dirigida ao seu orgulho.
Alguns de nós muitas vezes agimos de forma a chamar a atenção dos
outros para nossa pessoa. Nós nos autopromovemos, exibimos talentos
e dons, e provocamos muita agitação. E tudo com o objetivo de conquis­
tar seguidores. Nós nos exaltamos demasiadamente, contrariando os pro­
pósitos de Deus para nós, na tentativa de mostrar ao mundo o quanto
somos importantes. Mas Jesus resistiu a essa tentação também. Ele iria
servir a humanidade dando a vida por ela, e não usando de artifícios para
conquistar sua atenção.
A terceira tentação foi a de obter autoridade. Satanás disse a Jesus
que lhe daria a autoridade que havia usurpado do homem, se o Senhor
0 adorasse Alguns argumentam que o diabo estava mentindo. Mas, na
realidade ele falava a verdade Se o oferecimento não fosse legítimo, a
tentação não teria sido real. E o fato é que, enquanto o homem estiver
vivendo no pecado e no egoísmo. Satanás terá essa autoridade
O diabo estava oferecendo ao Senhor o domínio, o controle, uma po­
sição de proeminência e de autoridade sem passar pela vergonha da cruz.
Como Exercitar a Autoridade que Deus nos Dá 119

E mais uma vez Jesus recusou. Iria derrotar o inimigo, não pelo poderio
humano, mas pela humildade Pela sede de poder, ninguém realiza os
propósitos de Deus. A igreja não precisa de um poder destituído de hu­
mildade Ela só deve buscar o poder de Deus através da humildade de Cristo.
Durante os três anos do ministério de Cristo, diz a Bíblia, ele foi alvo
de vários atentados. Mas conseguiu escapar de todos até encerrar seu
ministério. Quando chegou a hora certa, ele se entregou voluntariamente
aos pecadores, para que fizessem com ele tudo que suas mentes diabó­
licas pudessem maquinar. Em João 10.18, Jesus diz o seguinte, referindo-
se à sua vida: “Ninguém a tira de mim; pelo contário, eu espontanea­
mente a dou”.
Por que Jesus Téve de Sofrer Tãmbém?
Jesus deve ter sofrido todas as agressões que a mente humana, in­
suflada pelo inferno, poderia inventar, os crimes mais hediondos, mais
depravados, obscenos e torturantes. Nós não podemos nem imaginar
a dor e a humilhação a que ele foi submetido. Quando a Bíblia fala
do sofrimento e morte dele usa termos generalizados: desprezado, re­
jeitado, injustamente acusado e maltratado, foi chicoteado e escarne­
ceram dele. Por que Deus permitiu que Jesus passasse por sofrimentos
tão horríveis antes de ser morto? Será que além de morrer pelos nos­
sos pecados, sofreu tudo aquilo para que, como diz Isaías ao descrever
sua obra expiatória, “o castigo que nos traz a paz estava sobre ele”
(Is 53.5)? Jesus foi alvo de todo aquele ódio e rejeição e sofreu ta­
manha injustiça para que nós tivéssemos paz quando passássemos pela
mesma situação. Então, da mesma forma como recebemos o perdão
dos pecados e a purificação pela fé, assim também precisamos crer
que Deus nos dará paz nos momentos em que passarmos por humi­
lhações, injustiças e dor.
Tildo isso Jesus suportou por nós. Afinal, foi pregado a uma cruz e
sofreu uma morte lenta e dolorosa — por nossos pecados.
Diz a Bíblia que assim que ele morreu, desceu ao Hades. Existem
diversas opiniões acerca do Hades, mas parece claro que lá existem dois
lados. Um dos lados, o Paraíso, é o que Jesus mencionou quando disse
ao ladrão, na cruz: “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43). E nesse
lugar que o espírito dos justos aguarda a ressurreição. O outro setor é
para onde vai o espírito dos ímpios. Jesus esteve nos dois lados do Hades.
No Paraíso, ele pregou aos espíritos em prisão. Eles se encontravam pre­
sos porque Satanás detinha as chaves do pecado e da morte. Mas não
se achavam em tormento. Lemos em Efésios 4.8 que “quando ele subiu
às alturas, levou cativo o cativeiro”.
120 Batalha Espiritual

As Bases Legais de Nossa Autoridade


Mas Jesus foi também ao outro lado do Hades, ao domínio de Satanás.
Ali ele estabeleceu as bases legais de nossa autoridade. Ele removeu de
Satanás a autoridade que ele usurpara. Em Colossenses 2.15, lemos o
seguinte; “E, despojando os principados e as potestades, publicamente
os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Agora o Senhor Jesus
tem nas mãos as chaves da morte e do Hades, e o inimigo não se acha
mais no controle. O texto de Apocalipse 1.18 diz: “E aquele que vive;
estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho
as chaves da morte e do inferno”. Jesus tomou do diabo o direito de equi­
librar 0 poder neste planeta.
Foi por isso que Deus teve de tomar-se homem. Ele veio ao mundo,
primordialmente, para fazer expiação pelo pecado. Por ocasião da criação.
Deus dera autoridade a Adão por meio do livre-arbítrio. Mas este, usando
dessa liberdade, abriu mão da autoridade. Restaram então a Deus três
opções: eliminar o ser humano, retirar-lhe o livre-arbítrio ou então tomar-
se homem. Ele optou pela terceira, para que, como homem, pudesse re­
sistir à tentação durante trinta anos, rejeitar as sugestões do inimigo no
deserto, e deliberadamente entregar sua vida e render o espírito. Ele se
dispôs a humilhar-se a ponto de morrer, para que nessa condição pudesse
retomar a autoridade de que o primeiro homem havia deliberado abrir mão.
Outra forma pela qual Jesus estabeleceu nossa autoridade foi destmindo
as obras do diabo. Em 1 João 3.8, lemos: “Para isto se manifestou o Filho
de Deus, para destruir as obras do diabo”. As obras do diabo são o cal­
canhar ferido da humanidade, isto é, as conseqüências do pecado: do­
enças, sofrimento, depressão, ignorância, medo, mágoas, espírito ferido,
guerras, fomes e ódios — a soma de tudo que Satanás faz contra o ser
humano ou contra o mundo por intermédio deste. Jesus destmiu essas
obras.
Foi por isso que Jesus quis chamar atenção para o texto de Isaías que
fala dele mesmo. “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me
ungiu para evangelizar aos pobres (os necessitados); enviou-me para pro­
clamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr
em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor” ,(Lc
4.18,19). E 0 texto de Atos 10.38 diz o seguinte: “Como Deus ungiu a
Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder, o qual andou por toda
parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque
Deus era com ele”. Jesus curou, libertou, ajudou e abençoou a todos os
oprimidos do diabo que com ele estiveram em contato.
Quando Jesus, na cruz, destruiu as obras do diabo, capacitou-nos a
Como Exercitar a Autoridade que Deus nos Dá 121

fazer o mesmo — ajudar os oprimidos, os abatidos e os que sofrem. Antes


de subir aos céus, ele nos deu uma ordem no sentido de anular as obras
do diabo. Lembremos que a Grande Comissão contém as palavras: “Em
meu nome expelirão demônios... se impuserem as mãos sobre enfermos,
eles ficarão curados” (Mc 16.17,18). É assim que devemos utilizar a au­
toridade que Jesus, na condição de nosso representante^ recuperou para nós.
Nós Mudamos de Endereço
Todavia nossa autoridade não se baseia apenas no que Jesus fez ao
diabo, mas também no que ele fez por nós. Lemos em Colossenses 1.13,14
que Deus “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o
reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos
pecados”.
Precisamos entender que, antes de conhecer a Cristo, todos nós éra­
mos filhos do diabo, e pertencíamos ao reino das trevas. Tbdos estávamos
nesse reino. Ser crente não é simplesmente passar a pensar de forma di­
ferente e viver de outra maneira. Thmbém não é algo que recebemos como
herança genética. O que Cristo faz não é apenas transformar um homem
bom numa pessoa melhor. Todo aquele que se converteu a Cristo, num
certo sentido, encaixotou seus pertences e mudou de uma localidade para
outra. Foi liberto do pecado, do egoísmo, da morte, das trevas, da des­
truição e de si mesmo. Foi liberto do reino das trevas e transportado para
0 reino de Jesus Cristo. Então deveriamos lembrar disso todos os dias;
recordar-nos de que antes vivíamos nesse outro reino, e agradecer aquele
que nos tirou de lá.
Cada ser humano se acha em um desses dois domínios: ou está no
reino das trevas, ou no reino do Filho de Deus. Não existe território in­
termediário. O crente, aquele que já se arrependeu de seus pecados, que
crê na expiação realizada por Cristo, seguramente se acha no reino do
Filho de Deus. Precisamos estar sempre reafirmando para nós mesmos
que nosso novo lar é o reino da luz, e nunca duvidar disso. Indubitavel­
mente Jesus precisa continuar a operar em nosso coração após a con­
versão. Mas para que tal operação em nós surta efeitos precisamos estar
convictos de que fomos de fato transportados para o reino dele.
E Jesus não somente nos liberta, mas também nos capacita a viver
como ele deseja que vivamos. Pelo poder de Deus que habita em nós,
podemos obter vitória em qualquer situação. Em 1 João 4.4, lemos: “Maior
é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo”. Inúmeros
crentes, embora sejam realmente salvos, nunca experimentaram um mi­
nuto de paz ou vitória. E que ainda não aprenderam que o mesmo poder
que nos tirou do pecado capacita-nos a viver cada momento da vida. Como
122 Batalha Espiritual

poderemos derrotar os principados que dominam as nações se não con­


seguimos viver vitoriosamente nem até terça-feira?
Será que estamos convictos de que aquele que está em nós é maior
do que o que está no mundo? Estou convencido de que há muitos crentes
que não crêem nessa maravilhosa verdade. Quantos vivem resmungando
e reclamando da vida. Vêem-se como vítimas de seus líderes, de leis in­
justas, da igreja que freqüentam, do cônjuge, ou dos filhos. Na verdade,
0 que estão dizendo é: "Maior é aquele que está no mundo — nessas
circunstâncias em que estou vivendo — do que aquele que está em mim”.
Os crentes se deixam impressionar demais com a atuação do inimigo
no mundo. Certo homem me disse;
— Estive em Nova Iorque há poucos dias e fiquei pasmado com a
opressão que se sente lá. Percebi claramente a presença do inimigo ao
meu redor. Tive de sair logo.
Já vi pessoas discutindo sobre que país, lugar ou cidade é mais te­
nebroso e opressivo. Por que ficamos tão preocupados com a opressão,
se aquele que está em nós é maior?
O Jesus que Está em Nós Não Fica Menor Diante de Satanás
Parece que nós achamos que o grau de resistência do crente ante a
opressão é muito pequeno. Acreditamos que o jovem crente que entra
para uma universidade fatalmente sucumbirá ao erro. Pode ser. Se esse
estudante não estiver convicto de que dentro dele há um poder maior
do que o que há no mundo, maior do que todo o poder que o inimigo
puder usar contra ele, irá sucumbir mesmo.
Será que cremos de fato que Jesus e o crente são maiores do que
qualquer força que opera no universo? Existe algum lugar do mundo em
que as forças que nos cercam sejam maiores do que o Jesus que está
em nós? De que adianta ter Cristo em mim, e sua autoridade estar à mi­
nha disposição se não “agüento” meu emprego, não posso morar em Nova
Iorque, nem pregar o evangelho na zona de meretrício de Amsterdã, nem
andar pelas favelas de Bangcoc, nem entrar na casa de um hindu? O lesus
que está em nós não enfraquece face à opressão. O crente é sempre o
mais poderoso — em qualquer circunstância, em qualquer situação, em
qualquer problema. Esta sociedade secular, humanista e satânica é menor
do que aquele que está em todo crente.
Satanás sabe que se impedir que creiamos firmemente na autoridade
que Deus nos dá, ele nos coloca fora de combate. Nossas dúvidas, te­
mores e fraquezas nos manterão imobilizados. Então precisamos
conscientizar-nos de que o Espírito do Deus vivo habita em nós — uma
realidade que as mentiras de Satanás não podem anular. Mas se não acei-
Como Exercitar a Autoridade que Deus nos Dá 123

tarmos plenamente essa verdade — a de que maior é aquele que está


em nós — ela deixa de ser verdade. Estaremos acatando a mentira de
Satanás, seremos vítimas das circunstâncias e dos poderes das trevas.
Maior é aquele que está em nós. Isso ou é verdade ou é mentira. Esse
fato só será verdade para nós se crermos nele. Tfemos de verbalizá-lo para
0 inimigo. Tfemos de concordar com Deus e com o que ele afirma. Tbmos
de viver como ele quer que vivamos, confiados em que ele pode sustentar-
nos e nos sustentará.
“Quem nos separará do am or de Cristo? Será tribulação, ou angús­
tia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como
está escrito: Por am or de ti, som os entregues à m orte o dia todo, fomos
considerados com o ovelhas para o matadouro. Em todas estas cousas,
porém , som os m ais que vencedores, por meio daquele que nos amou.
Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos,
nem principados, nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes,
nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra aiatu ra poderá
separar-nos do am or de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor?’
(Rm 8.35-39.)
Jesus nos Devolveu a Autoridade que Havíamos Perdido
O Senhor nos deu autoridade. Em Lucas 10.19, lemos o seguinte:
“Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões, e so­
bre todo 0 poder do inimigo, e nada absolutamente vos causará dano”
(grifo nosso). Nós os crentes — cada um de nós — temos autoridade so­
bre todos os poderes do inimigo somados. Isso é por demais incrível, fa­
buloso. Tildo que se acha nas mãos de Satanás — demônios, antros de
feitiçaria, seitas, religiões, operações e influências dele — tudo está sujeito
a nós, pela autoridade que nos foi dada por Jesus.
Depois que Jesus ressuscitou, ele não subiu imediatamente para o céu.
Havendo retomado a autoridade das mãos de Satanás, foi procurar os
onze discípulos restantes. Aqueles homens — tão fracos, tão humanos
— tinham fugido desarvorados que estavam pelo medo. Pedro chegou
a negar que o conhecia. Mas Jesus, apesar de tudo, foi procurá-los. E
não os repreendeu, nem disse a Pedro:
“Eu 0 avisei.”
Pelo contrário; ele os reanimou e ainda fez algo de extraordinário.
Soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. Se de alguns per­
doardes os pecados, são-lhes perdoados; se Ihos retiverdes, são retidos”
(Jo 20.22,23). Entregou-lhes, então, a autoridade que havia tomado de
Satanás. Assim, legalmente, essa autoridade mudou outra vez de dono.
Voltou às mãos do homem.
124 Batalha Espiritual

Ilum inados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a es­


perança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança
nos santos, e qual a suprem a grandeza do seu poder para com os que
aem os, segundo a eficácia da força do seu poder, o qual exerceu ele
em Cristo, ressuscitando-o dos mortos, e fazendo-o sentar à sua direita
nos lugares celestiais, acim a de todo principado, e potestade, e poder,
e domínio, e de todo nom e que se possa referir não só no presente sé­
culo, m as também no vindouro. E pôs todas as cousas debaixo dos
seus pés e, para ser o cabeça sobre todas as cousas, o deu à igreja,
a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas
as cousas.” (Ef 1.18-23.)
Agora é Conosco
Agora 0 homem tem autoridade sobre o diabo, com base na obra
realizada por Cristo na cruz, e na sua ressurreição. O ser humano ain­
da pode se dobrar diante de Satanás, pelo egoísmo e pelo pecado.
Mas, hoje, em nome de Jesus Cristo, ele tem nas mãos o equilíbrio
do poder. O homem está de posse de toda a autoridade, desde que
se ache em relacionamento com Deus através de Jesus Cristo. Mas jun­
tamente com essa autoridade, tem também a responsabilidade de
exercitá-la para a realização dos propósitos de Deus. Se não repreen­
dermos 0 inimigo, ele não será repreendido. Se não o expulsarmos,
ele não irá embora. Essa tarefa é nossa. Satanás sabe que temos tal
autoridade, mas fica na esperança de que a ignoremos. Cabe-nos então
conscientizar-nos de que a possuímos, assim como ele já se acha cons­
ciente disso.
Precisamos exercitar essa autoridade em nome de Jesus. A polícia
da minha cidade, por exemplo, possui autoridade que lhe foi conferida
pela municipalidade E uma autoridade que os cidadãos comuns não
possuem. E os policiais apresentam-se fardados, e possuem um
documento de identificação — os símbolos de sua autoridade. E eles
detêm a autoridade o tempo todo, mesmo quando estão apenas cir­
culando pelas ruas ou param para tomar um cafezinho. Ocasionalmente
são chamados à cena de um crime onde podem exercer tal direito pren­
dendo um suspeito.
Suponhamos que um dia eu chegue em casa e perceba que há um
bando de ladrões ali, roubando nossos valores. Imediatamente chamo
a polícia, e daí a instantes eles comparecem ao local. Mas em vez de
começarem logo a agii; eles se enfileiram ao longo da calçada e se
põem a cantar músicas acerca do poder que possuem, e falar dele uns
para os outros. Enquanto isso, os assaltantes acabam de “limpar” mi­
nha casa e fogem. Essa cena pode parecer ridícula, mas não é assim
Como Exercitar a Autoridade que Deus nos Dá 125

que nós agimos? Conversamos sobre nossa autoridade; cantamos hi­


nos e corinhos em que falamos dela. Ficamos a proclamá-la em alto
e bom som. Mas não a exercitamos. Não há dúvida de que existe uma
grande diferença entre possuir autoridade e exercitá-la.

Cinco Instrumentos Para o Exercício


de Nossa Autoridade
1. 0 Nome de Jesus
Precisamos entender bem o que se passa entre as hostes demoníacas
quando pronunciamos o precioso e poderoso nome de Jesus. Não se trata
de uma palavra mágica. Quem o emprega tem de estar totalmente sub­
misso a ele. Esse nome representa o próprio Jesus que fez os demônios
gritar apavorados, e suplicar que ele lhes permitisse entrar numa manada
de porcos. Foi o próprio Filho de Deus quem nos deu o direito de ci­
tarmos seu nome. Disse ele: “Em meu nome expelirão demônios” (Mc
16.17 — grifo nosso). Esse nome carrega em si o peso da vitória que ele
obteve na cruz e na ressurreição.
2. A Palavra de Deus
Outro instrumento que utilizamos para exercitar autoridade é a Pala­
vra de Deus. "Tomai também o capacete da salvação e a espada do Es­
pírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6.17). A Palavra de Deus não é me;
ramente um bloco de páginas impressas. Ela atua como uma espada. É
afiada, tem dois gumes, e opera eficazmente contra o inimigo. Quando
Jesus enfrentou Satanás no deserto, citou a Palavra de Deus várias vezes.
E nós também precisamos citar as Escrituras, como se usando uma arma
poderosa.
Certa vez, numa das minhas primeiras experiências de expulsão
de demônios, fiquei grandemente surpreso com o poder da Bíblia.
Estava orando por uma jovem na Austrália, em companhia de Frank
Houston. Minha suspeita de que ela estava pelo menos com um de­
mônio se confirmou, quando ouvi aquelas vozes características e es­
tranhos resmungos. Instintivamente citei 1 João 3.8 em voz alta,
dirigindo-me ao demônio:
“Para isto se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do
diabo.”
Assim que o disse, ela soltou um grito estridente, depois cuspiu e em
seguida gritou de novo. Fiquei admirado com a violenta reação do de­
mônio quando eu apenas citara um texto bíblico.
126 Batalha Espiritual

3. 0 Poder do Espírito Santo


O poder do Espírito Santo é um instrumento essencial para exercitar­
mos nossa autoridade. Lemos em João 20.22 que Jesus soprou sobre os
discípulos e disse: “Recebei o Espírito Santo”. Naquele momento estava-
lhes conferindo oficialmente a autoridade do Espírito. Mas depois ele lhes
disse que aguardassem em Jerusalém até que recebessem o dijnamis, o
poder. “Mas recebereis poder [d^namis], ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minhas testemunhas...” (At 1.8). O d^namis é a capacitação
necessária para pormos em prática a autoridade que possuímos. No caso
de um policial, por exemplo, ele tem autoridade da municipalidade para
aplicar a lei. Contudo precisa da força física para exercitar essa autoridade.
Lemos em Mateus 12.28, que Jesus disse o seguinte; “Se, porém, eu
expulso os demônios pelo Espírito de Deus...” E se ele os expulsava pelo
Espírito, também nós precisamos orar “em todo tempo no Espírito” (Ef
6.18), para podermos romper os poderes demoníacos e expulsá-los.
4. O Sangue de Jesus
O quarto recurso com que contamos para exercitar autoridade é citar
para Satanás o sangue de Jesus. “Eles, pois, o venceram (o diabo) por
causa do sangue do Cordeiro” (Ap 12.11). Ao fazê-lo, relembramos-lhe
que ele foi derrotado, quando Jesus derramou seu precioso sangue na
cruz, para expiação de nossos pecados. Com isso, foi revertido o sentido
da maldição que caíra sobre a humanidade e rompido o domínio que
0 inimigo exercia sobre os homens. A menção do sangue de Cristo parece
ter um efeito decisivo sobre o diabo. Ao mencioná-lo, estamos aplicando
a cada situação a derrota por ele sofrida, fazendo-a operar no presente.
O sangue de Jesus tem poder mesmo.
5. Reafirmar as Verdades Divinas
O último meio pelo qual podemos exercitar nossa autoridade é a pa­
lavra de testemunho. Lemos em Apocalipse 12.11 também que vencemos
0 inimigo pela palavra de testemunho. E o que vem a ser isso? Duas coisas.
Em primeiro lugar, é reafirmar os grandes feitos de Deus e os atributos
de seu caráter. O supremo desejo do diabo é levar-nos a descrer de Deus.
Ele diz muitas mentiras sobre o Senhor, tentando convecer-nos de que
ele não existe, ou de que não podemos confiar nele Para refutar tais men­
tiras, temos de dar testemunho do que Deus falou, do que fez, de como
é seu caráter, e das maravilhas que ele tem operado em nossa vida. Dessa
maneira, proclamamos o grande amor de Deus e suas poderosas obras.
Em segundo lugar, proferir a palavra de testemunho é dizer a verdade
Como Exercitar a Autoridade que Deus nos Dá 127

a nosso respeito — tanto a negativa como a positiva. Quando nos abrimos


para outros, quando falamos com toda sinceridade do que nos vai no co­
ração, em vez de encobrir nossas faltas, rompemos as trevas e nos ache-
gamos à luz. Desse modo derrotamos o inimigo, pois ele só opera em
meio às trevas da falsidade, do engano e da hipocrisia. Precisamos estar
sempre nos abrindo, revelando a verdade, falando do que vai em nosso
coração, e expondo nossas dificuldades uns para os outros. Tbmos de an­
dar na luz.
Já vi pessoas serem libertas e curadas simplesmente por haverem con­
fessado 0 que se passava em seu coração. Entretanto, para haver equilí­
brio, é essencial que verbalizemos também o outro lado. Precisamos pro­
clamar os fatos positivos a nosso respeito, isto é, nossa condição em Cristo.
Tbmos de citar para o diabo tudo que temos em Jesus. Podemos dizer:
“Fui lavado no sangue de Jesus e sou nova criatura em Cristo. Assim
tomei-me aceitável perante Deus para ser a Noiva do Senhor. E sou mais
do que vencedori’
Esse testemunho da verdade pode ser uma arma poderosa. Ela pul­
veriza as ameaças e acusações com que o inimigo está sempre abalando
nossa confiança em Deus, impedindo que exercitemos nossa autoridade.
Tfemos de enfrentar nosso adversário. Ele já está derrotado, mas en­
quanto não exercitarmos a autoridade que temos contra ele, e que nos
foi concedida por Deus, ele continuará ocupando o terreno conquistado.
CAPITULO NOVE

Se Deus é amor, por que existem tantos males na terra? Tbdos nós,
não importa quem somos nem o que somos, mais cedo ou mais tarde
fazemos essa pergunta. É uma das indagações básicas do ser humano.
Para o crente, ela é crucial. Se não encontrarmos uma resposta satisfa­
tória, podemos abrigar dúvidas no coração e até chegar a ter raiva ou
ressentimento contra Deus. Sabemos de crentes que ficaram arrasados
ao pensar que um Deus bom permite que pessoas sejam destruídas pelo
mal. O sentimento de confusão e frustração é tão intenso, que muitos
simplesmente deixam de seguir ao Senhor.
Os males do mundo constituem uma grande interrogação também para os
incrédulos, e os impede de crer em Deus. Certa vez. Charles Baudelaire, um
filósofo francês, afirmou:
“Se Deus existe, ele deve ser um diabo.”
Sempre que alguém se vê diante de uma tragédia, a “culpa” é de Deus.
As catástrofes inexplicadas são consideradas "atos de Deus”. Sempre que
há uma fome ou epidemia, a culpa é dele.
130 Batalha Espiritual

Mesmo nós, os crentes, fazemos perguntas que, veladamente, contêm


essa indagação.
“Por que meu sobrinho foi atropelado?”
“Por que minha esposa teve um derrame?”
“Por que meu filho nasceu com deficiência mental?”
“Por que um homem tão bom como ele tinha de morrer?”
A pergunta que realmente queremos fazer é:
“Por que Deus permitiu que isso acontecesse?”
E alguns talvez até a façam de forma mais direta:
“Por que Deus fez isso?”
Muitos crentes não chegam a expressar a pergunta. Limitam-se a abri­
gar um rancor silencioso, uma raiva controlada, embora exibam uma fa­
chada de fé. O que acontece é que lhes disseram que quem faz tais per­
guntas, no fundo, está duvidando de Deus. Assim passam a vida guardando
mágoa no coração, pois tá no fundo culpam a Deus por todos os pro­
blemas e calamidades que sucedem.
Uma Pergunta que Precisa Ser Respondida
Se não recebermos a resposta para essa pergunta, não poderemos ser
bons guerreiros na batalha espiritual. Se não entendermos por que o mal
existe, não saberemos resistir-lhe, nem orar para que ele seja afastado.
Se não estivermos convencidos de que Deus não tem culpa dos males
que há na terra hoje, não podemos ter plena confiança nele.
Muitas pessoas acreditam que tudo que ocorre no mundo é da von­
tade de Deus. O que tem de acontecer, acontece, dizem. Estão afirmando
com isso que o mal é inevitável. Tlido que já aconteceu, está acontecendo
e ainda irá acontecer deve ser da vontade de Deus. Mas isso é fatalismo;
não é um ensino cristão. Existem outras religiões que adotam essa visão
fatalística da vida e da vontade de Deus, afirmando:
“O que aconteceu era da vontade de Deus.”
Para esses, tudo que sucede é da vontade de Deus.
Um amigo meu que trabalhava numa região árida e desértica no
norte da África, desejava plantar árvores e construir açudes no lugar,
mas não encontrou quase ninguém disposto a ajudá-lo. Embora o pro­
jeto fosse beneficiar muitos dos seus habitantes, eles estavam hesitan­
tes, receosos de que talvez não fosse da vontade de Deus que houvesse
árvores ali.
Tãl çonceito não tem base bíblica. O cristianismo ensina que a von­
tade de Deus se acha revelada em sua Palavra. Os homens podem tomar
a decisão de obedecer ou não a ela (Js 24.15; Jo 3.19-21; Ap 3.20). En­
tendemos ainda que a oração pode alterar as circunstâncias. Portanto o
Se Deus é Amor, Por que Permite Tantos Males? 131

cristianismo tem uma explicação para a existência do mal na terra, sem


erroneamente responsabilizar a Deus por tudo que se passa.
Sabemos Quem é o Inimigo: Nós
A primeira causa da existência do mal na terra são os pecados do
homem. O mal, em seu sentido moral, não pode ser atribuído a Deus.
Se 0 mal existisse por culpa dele, não faria sentido ele exigir que nos
arrependéssemos, e o castigo aplicado ao pecador seria iqjusto.
Lemos em Romanos 5.12 que “por um só homem entrou o pecado
[o mal] no mundo”. Primeiramente, Adão e Eva erraram, ocasionando o
que chamamos de “queda do homem” ou “pecado original”. De lá para
cá, todos nós, com nossos pecados, endossamos o erro deles, aumentando
0 mal acumulado no mundo. E através dos séculos, bilhões e bilhões de
pessoas têm cometido pecados, aumentando os males da terra, deixando-
a no estado em que se encontra hoje. Tbdos nós contribuímos para esses
males, e, portanto, não devemos ter a menor dificuldade em compreender
por que eles existem.
O atual estado da humanidade é resultado do que a Bíblia chama de
“a maldição”. A maldição é conseqüência natural e lógica dos atos pe­
caminosos do ser humano.
De uma forma ou de outra, todos nós somos afetados pelos pecados
de outros e pelo mal existente no mundo. Tbdos morreremos, indepen­
dente de nosso grau de pecaminosidade ou santidade. Se uma criança
nasce deformada, isso não se deve necessariamente ao pecado de alguém,
mas à corrupção do mundo em que vivemos. Há^ aspectos da maldição
que não são trágicos; são apenas desagradáveis. É o caso, por exemplo,
de alguns terem de usar óculos, ou de nossos dentes cariarem, ou de
quebrarmos braços ou pernas. Mas há também aqueles que passam a vida
em uma cadeira de rodas, e outros que sofrem acidentes terríveis. Um
avião cai por não ter sido devidamente vistoriado, causando a morte de
centenas de passageiros. Criadores deixam seu rebanho devastar pastos,
e assim provocam uma fome que irá resultar na morte de milhares de
crianças. E assim por diante.
Ttxlo mal tem uma causa definida. Há situações em que a culpa é
de um indivíduo só; há outras em que o mal é causado por erros da co­
letividade. Em certos casos, o erro é de natureza moral; em outros, ele
é decorrente de falta de orientação.
E nós, os crentes, diante de uma aparente conivência divina, come­
çamos a ter indagações. Sabemos que Deus é soberano. Será que ele não
podería interferir e tomar alguma providência? POr que ele não intervém
com mais frequência? O que o impede de acabar com uma guerra, proteger-
132 Batalha Espiritual

nos de tragédias, e transfomar a terra, de uma hora para outra, num


lugar melhor de se viver? É verdade que foi o homem quem a deixou
nesse estado. Mas por que Deus não pode restaurá-la?
Essas perguntas não são simples. E como se relacionam muito de perto
com nossa fé, não podem ficar sem resposta. A resposta existe, e tem
muito que ver com o amor de Deus por nós.
Deus permite que o mal continue a existir porque nosso livre-arbítrio
é mais importante que o extermínio do mal. Deus criou-nos com o livre-
arbítrio; sem ele não seríamos humanos. Para que possamos gozar o tipo
de relacionamento que o Senhor quer que gozemos com ele e com os
outros, é essencial que tenhamos liberdade de decisão.
Uma Marionete Pode Amar?
Deus deseja profundamente ter um relacionamento conosco. Aliás, foi
esse justamente o motivo por que nos criou. Não que ele estivesse se
sentindo sozinho, ou meio enfastiado. Nada disso. Não havia nenhum va­
zio no coração de Deus. O homem não foi feito para atender a uma ne­
cessidade dele. Pelo contrário. Deus é que atende às necessidades do ho­
mem. O Senhor desejava ter um relacionamento conosco para que nós
pudéssemos conhecê-lo. Mas ele nunca podería manter um relacionamento
verdadeiro se fôssemos autômatos. Se fôssemos robôs, em quem ele desse
corda ou instalasse uma batería, não tería sentido lhe dizermos:
“Eu 0 amo. Senhor!”
Se não passássemos de fantoches que só soubessem corresponder ao
afeto de outrem pelo acionamento de um cordel, nunca poderíamos gozar
de um relacionamento verdadeiro com o Pai celeste ou com nossos se­
melhantes. Portanto, a base do relacionamento entre pessoas é a liber­
dade para decidir se vamos ou não retribuir o amor que outros nos devotam.
O livre-arbítrio é mais valioso do que a remoção do mal. Mas qual
é exatamente o valor dele? Imaginemos a seguinte cena: de um lado há
uma montanha de lixo formada por todas as guerras, fomes, atrocidades,
calamidades, violências, injustiças, egoísmo, perversões, ódios e angústias
que 0 mundo já produziu e ainda produzirá. Tbntemos imaginar os efeitos
do mal no mundo — uma imensa montanha de males horrendos. E tão
terrível que transcende nossa imaginação; mas tentemos imaginá-la. Agora
vejamos o outro lado. Suponhamos que Deus nos desse a opção de aca­
bar com todo esse mal, eliminando o livre-arbítrio do homem. O que será
que faríamos?
Deus já tomou essa decisão. Ele acha que vale a pena suportar todo
0 mal acumulado no mundo para que o homem tenha o livre-arbítrio.
Se Deus removesse nossa liberdade, nossa condição de seres livres — que
Se Deus é Amor, Por que Permite Tantos Males? 133

é exatamente o que nos toma seres humanos — estaria sendo mais cruel.
Nosso livre-arbítrio é muito mais valioso do que a eliminação daquela
montanha de males, mesmo sendo eles tão hediondos.
Acredito que todo crente que prega o evangelho já encontrou pela
frente a pergunta que encabeça este capítulo. Isso pode ter acontecido
numa esquina de ma ou numa sala de aula de universidade, e em outros
lugares. Seja onde for, é sempre difícil respondê-la. A indagação é:
“Se Deus é amor, se ele é tão poderoso, por que permite que haja
males no mundo? Por que permite que criancinhas inocentes morram?
Por que ele não pode deter o mal, ou proteger-nos das desgraças que
ocorrem no mundo?”
São perguntas válidas que merecem uma resposta inteligente, Na ver­
dade trata-se de uma proposição filosófica. O argumento levantado aí é
0 seguinte: ou Deus é amor mas não é poderoso, ou então ele é poderoso,
mas não é amor. Ou por outra, levando em conta o mal que existe no
mundo. Deus não pode nos amar e ser onipotente ao mesmo tempo. Ou
é um ou é outro.
Seria Deus Negligente?
Embora seja difícil encontrar uma explicação adequada, temos de re­
conhecer que 0 argumento tem certa razão de ser.
Suponhamos, por exemplo, que eu visse uma criança atravessar a rua
no momento em que ia passando um ônibus, e não fizesse nada para
evitar o acidente. Eu seria culpado de homicídio por negligência. Se eu
tivesse 0 conhecimento e a capacidade necessários para evitar a morte
do menino, e não fizesse nada, estaria cometendo um grave erro. Agora
vamos multiplicar esse acidente por milhões. Deus vê todas as coisas ter­
ríveis que estão para ocorrer no mundo, pois tem conhecimento de tudo.
Existem muitos aspectos do sofrimento humano que desconhecemos.
E é verdade também que desconhecemos muita coisa a respeito de Deus
e de sua infinita sabedoria, já que ele tudo sabe, e nós temos uma mente
finita. Não me julgo capaz de dar explicações plenas para o que C. S.
Lewis chamou de “o problema do sofrimento”. E creio que em certas si­
tuações não podemos fazer nada a não ser confiar no caráter de Deus.
Entretanto há questões para as quais nem mesmo o conhecimento do
caráter dele nos fornece respostas. Embora seja poderoso, ele deixa de
fazer uso de sua onipotência devido a fatores outros que são igualmente
importantes. Um desses fatores já foi mencionado aqui — é o livre-arbítrio
por ele concedido ao homem. E existem ainda outros, como o seu com­
promisso com a justiça.
Deus é justo, e não faz a menor concessão à injustiça. Ele é absolu-
134 Batalha Espiritual

tamente justo e imparcial. Nunca age de forma arbitrária. Portanto, se


fosse acabar com uma guerra teria de acabar com todas. Se fosse remover
um mal, teria de remover todos. Mas para isso teria de embargar o livre-
arbítrio de todos os seres humanos. E se o anulasse destruiría a possi­
bilidade de termos uma verdadeira comunhão com ele.
Alguns talvez digam:
“Por que Deus não acaba com tudo de uma vez? Valería a pena acabar
com tudo para eliminar o mal do mundo.”
Ele já fez isso. Mandou o dilúvio, e destruiu toda a terra, exterminando
todos os seres que não tinham compromisso com a justiça. Apenas oito
pessoas sobreviveram. Mas não seria sua última solução.
Nosso Deus é um Deus de amor, e se acha profundamente preocupado
com a condição do mundo e com os problemas humanos. Aliás ele se
entristece profundamente com tudo. Cada ato de maldade e cada injustiça
praticada no mundo, cada sofrimento e cada lágrima derramada contrís-
tam seu coração (Is 63.10; SI 78.40). Deus não está — nem podería estar
— simplesmente sentado deixando o mal grassar livremente. Seu amor
0 impele a envolver-se. Na verdade, ele nunca deixou de neutralizar o
mal. Com seu poder, ele pode fazer tudo o que for necessário para isso.
Mas devido ao seu senso de justiça, restringe seu poder, para não invadir
os limites da liberdade que deu ao homem (Mt 23.37; 1.23; Is 65.1-3).
Mas Deus não é apenas justo, poderoso e cheio de amor. Ele é sábio
também. E em sua sejbedoria, ele providenciou um meio para que o ho­
mem, fazendo uso de seu livre-arbítrío, liberte-se do cativeiro e do sofri­
mento deste mundo e passe a viver em comunhão com ele. Essa solução,
que vem do poder, do amor, da justiça e da sabedoria divina, é Jesus e
a cruz (Jo 3.16).
O Mal Não Vai Durar Para Sempre
Deus, em sua sabedoria, reconhece que o sofrimento humano é de
natureza temporal. Ninguém precisa tolerar o mal ou o sofrimento por
muito tempo. Em comparação com a eternidade, o tempo de vida que
temos neste planeta é insignificante. E comparado com o relacionamento
que teremos com Deus por toda a eternidade, o sofrimento humano as­
sume proporções ínfimas. Deus estabeleceu um meio para que o coração
e espírito do homem gozem liberdade, paz e vida. Isso supera qualquer
sofrimento que possamos ter de enfrentar neste mundo de tormentos,
inclusive as dores físicas. Deus criou um meio para que o homem se livre
das conseqüências de seu próprio egoísmo, do mal que ele causou a si
mesmo. Cabe ao homem, então, escolher a vida ou a morte. Ou conviverá
com o sofrimento temporal, mas conquistará a vida eterna, ou com o so-
Se Deus é Amor, Por que Permite Tantos Males? 135
frimento eterno, e a morte eterna. Ninguém precisa sofrer etemamente,
a não ser que o queira.
Vimos, então, que a permanência do mal na terra se deve ao fato de
que 0 livre-arbítrio humano é mais valioso do que a remoção do mal.
Deus deliberou resolver o problema do mal utilizando o livre-arbítrio do
homem, e não eliminando-o. Ele ainda está operando no sentido de res­
taurar nossa comunhão com ele e, por fim, remover completamente o
mal do mundo.
Vencedores, em Vez de Baixas de Guerra
Existe ainda outra razão para a permanência do mal na terra. É o
aperfeiçoamento do crente. Deus não ignora o fato de que foi o homem
quem introduziu o mal no mundo. O mal está aqui por uma decisão hu­
mana. Mas 0 Senhor está disposto a utilizar a existência do mal e o estado
de corrupção prevalente^no mundo para criar um povo que sobrepujará
0 mal e 0 combaterá. É por isso que a Bíblia emprega tantas vezes a
palavra “vencedor”. Tfemos de ser “vencedores”.
Para sermos vencedores, primeiro, temos de nos conscientizar plena­
mente de como este nosso mundo é mau e egoísta. Vivemos em um mundo
corrompido. O mal e o egoísmo se encontram em operação por toda a
parte, o tempo todo. Achamo-nos constantemente expostos a essa vida,
e sofremos as conseqüências dela. Portanto, não devemos assustar-nos
com 0 egoísmo que vemos por aí, nem nos surpreender com o mal que
há ao nosso redor. Nada disso deve abalar-nos. Pelo contrário; precisamos
estar cientes dessas coisas, sem contudo deixar-nos perturbar pelo mal
(Hb 11.24-26).
Deus lança mão de dois recursos para que os males deste mundo con­
corram para o nosso desenvolvimendo. Primeiro, eles constituem um
“campo de batalha” para nós. Não é intenção de Deus que nos tomemos
“baixas de guerra”. Mas se ficarmos confusos, irritados ou ressentidos com
0 mal é 0 que nos sucederá. Ele também não quer que “enterremos a
cabeça na areia”, ignorando o mal que nos rodeia. Quer que tudo que
está acontecendo neste planeta contribua para o nosso aperfeiçoamento
e não que nos derrote. O mundo é como é. Cabe a nós decidir qual será
nossa atitude diante dele. Podemos deixar que esse estado de coisas nos
fortaleça, que aumente nossa vontade de modificar a situação, ou pode­
mos deixar-nos derrotar por ele, sendo retirados de combate.
Deus utiliza as provações e tribulações por que passamos neste mundo
corrupto para nos aperfeiçoar. Precisamos entender que nesta vida en­
contramos, sim, aflições, provações e tribulações. Podenamos até fingir
que elas não existem. E há religiões que ensinam que devemos enxergá-
136 Batalha Espiritual

Ias como mera “ilusão”. Existem até mesmo crentes que afirmam que nunca
devemos fazer “confissões negativas”, para que não nos sobrevenham ma­
les. Mas os males acontecem, sim, e alguns não desaparecem por si, não.
E se orarmos pedindo para ser libertos deles e ainda assim eles conti­
nuarem, podemos tomar a decisão de deixar que sirvam de instrumento
para o nosso aperfeiçoamento espiritual. E claro que não temos de apreciá-
los, mas também não devemos permitir que roubem nossa vitória. Nem
sempre somos poupados dos males, mas sempre podemos obter a vitória
em meio a eles. A vitória já está em nosso coração. Tbr a vitória é ser
vencedor em toda e qualquer situação.
Se tivermos uma visão realista da vida, cientes de que passaremos por
aflições, provações e tentações, não nos sentiremos derrotados nem ar­
rasados quando elas nos sobrevierem. Quando enírentarmos um problema,
não devemos abanar a cabeça como quem diz:
“Por que isso foi acontecer comigo?”
Ao contrário, devemos tomar a decisão de aproveitar essas situações
difíceis para crescer e nos aperfeiçoar. Isso é ser vencedor.
Conheço inúmeros casos de “baixas” que não precisavam ter ocorrido.
São igrejas que se dividiram; crises financeiras que destruíram ministé­
rios; pastores que abandonaram a esposa por uma mulher mais jovem.
E as pessoas ficam abaladas e desiludidas. Começam a duvidar de Deus
e a culpá-lo pelos males que ocorrem. Algumas chegam a renegar a fé,
e param de servir a Deus. E isso não acontece apenas com os mais fracos;
abate, inclusive, pessoas que já presenciaram milagres, que já participa­
ram de ministérios poderosos, e receberam gloriosas evidências de que
Deus é fiel.
Tbr Vitória Não é Viver Numa Redoma à Prova de Bala
O grande problema dessas pessoas é que nunca aceitaram o fato de
que vivemos em um mundo pecaminoso. Elas acham que ser vitorioso
é não passar provações, aflições e tentações. Parece que criaram um uni­
verso irreal onde ser salvo significa estar livre de tudo que é ruim. E quando
dão de frente com a realidade acham-se totalmente despreparadas para ela.
Só podemos ter vitória à medida que aceitamos a realidade de que
vivemos num mundo corrupto, e que tomamos a decisão de utilizar as
circunstâncias negativas para nos aprimorar espiritualmente.
“A mados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós,
destinado a provar-vos, como se alguma cousa extraordinária vos esti­
vesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-
participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também na revelação
de sua glória vos alegreis exultando." (1 Pe 4.12,13.)
Se Deus é Amor, Por que Permite Tantos Males? 137
Os crentes a quem o apóstolo Pedro dirigiu suas cartas viviam cons­
tantemente sob a ameaça de perseguição e morte. E é provável que mui­
tos deles tenham lido essas cartas na prisão, aguardando o momento de
ser destroçados por leões no Coliseu romano, ou de ser queimados vivos
para servir de iluminação nas festas do imperador. O apóstolo ensina que
os sofrimentos por que nós, os crentes, passamos não alteram em nada
nosso relacionamento com Deus. E orientou-os a que se alegrassem em
meio àquelas circunstâncias.
Ou Somos Loucos ou Temos Conhecimento de Fatos TVanscendentes
Vivemos em um mundo corrompido. Deus permite que nos sobreve­
nham males. Mas não devemos estranhá-los. E se uma pessoa se alegra
em meio às tribulações, das duas, uma: ou é louca ou então conhece bem
a Deus e sua Palavra, e mais, está a par da condição do homem e do planeta.
Num dos versículos anteriores, Pedro diz que temos de glorificar a
Deus em tudo que fizermos e dissermos. Agindo corretamente, e tendo
a reação certa a todo instante, diante de cada situação, revelamos aos
que nos cercam a glória de Deus — o seu caráter. Se conhecermos bem
0 caráter divino, nós nos alegraremos em todas as circunstâncias, pois
sabemos que nenhum problema poderá desviar-nos do curso certo. Co­
nhecendo a Deus, sabemos que seu amor por nós é imutável. Suas in­
tenções e propósitos para conosco não se modificaram. Então podemos
regozijar-nos mesmo diante de desilusões, pois o Deus que está em nós
é vitorioso. E enfrentando as provações desse modo, damos aos outros
uma visão do caráter dele.
“Meus irmãos, tende por motivo de toda a alegria o passardes por vá­
rias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada,
produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para
que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes!’ (Tg 1.24)
Passar por “várias provações” e pela “prova de nossa fé” não é motivo
de alegria. Mas temos de encarar essas coisas assim. Mesmo quando pas­
samos por situações penosas, com sofrimentos físicos, mentais e emocio­
nais quase insuportáveis, podemos dizer:
“Isso é motivo de alegria para mim.”
Sabe por quê? Porque o fogo ardente que enfrentamos está produ­
zindo em nós algo de valor incalculável: perseverança.
Aqui no Ocidente, não entendemos muito de paciência, de tolerância
ao sofrimento. Nossa sociedade exige conforto e bem-estar. Quando
algo nos desagrada, logo damos um jeito de corrigir o problema. En­
tretanto, a maioria dos povos da terra não tem como modificar as cir-
138 Batalha Espiritual

cunstâncias de sua vida. Então são obrigados a aprender a suportá-la


como ela é.
Mas a verdade é que todos nós, sem exceção, temos de passar por
provações. E aqueles que aprendem a suportá-las com paciência saem
delas vitoriosos. A paciência é de valor inestimável. E uma das virtudes
mais preciosas que um ser humano pode ter.
Tfer paciência é passar por tudo que nos sobrevem, com alegria no
coração. Se pudéssemos ver a vida como Deus a vê, perceberiamos quan­
ta riqueza espiritual obtemos com a paciência. Assim podenamos de fato
sentir gozo em toda e qualquer situação.
Jesus não morreu na cruz para que evitemos os males da vida, mas
para que sejamos “vencedores”. Ele nos concede sua graça para que en­
frentemos positivamente todas as situações. O Senhor viveu sem pecado,
foi crucificado, sofreu uma morte dolorosa, desceu ao inferno, arrancou
das mãos de Satanás a autoridade e o poder do pecado, da morte e do
Hades, e depois ressuscitou, subiu ao céu onde se assentou à destra do
Pai, e encontra-se lá intercedendo por nós. Se isso não é prova de que
Deus nos ama, se isso não nos inspira a suportar qualquer provação para
virmos a ser como precisamos ser, então é melhor começarmos a pro­
curar outra religião.
Como é que podemos ser perfeitos, íntegros, sem faltar em coisa al­
guma? Suportando tudo com paciência, pensando:
“Isso é motivo de alegria para mim.”
TcJ atitude não é auto-sugestão, nem condicionamento mental. E sim­
plesmente 0 reconhecimento de que todas as situações da vida contri­
buem para nosso aperfeiçoamento. E reconhecer que estamo-nos tomando
semelhantes a Jesus que, com alegria, suportou sofrimentos por que ne­
nhum de nós irá passar.
E Deus está sempre ao nosso lado. Está sempre provocando revira­
voltas nos acontecimentos para que eles redundem em bênçãos e bene­
fícios para nós. É disso que fala Romanos 8.28. Deus está sempre atuando
nas circunstâncias de nossa vida para o nosso bem. Nossa parte é supor­
tar tudo com paciência e deixar que esta produza seu fiuto perfeito em nós.
Vamos examinar atentamente o capítulo 5 de Romanos para ver como
se opera esse processo.
“Justificados, pois, mediante a fé, tenhamos paz com Deus, por meio
de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igual­
mente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriemo-nos
na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos
gloriemos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz per­
severança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora,
Se Deus é Amor, Por que Permite Tantos Males? 139

a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nos­


sos corações pelo Espirito Santo que nos foi outorgado.” (Rm 5.1-5.)
Acatar de Coração as Desilusões
O que significa “gloriar-se nas tribulações”? Uma coisa é certa: não
é evitá-las, nem fingir que elas não existem. Não é procurar afastar todas
as circunstâncias negativas que nos sobrevenham. Támbém não é cerrar
os dentes com determinação, submetendo-nos a elas estoicamente. Gloriar-
se nas tribulações é aceitar de coração todas as desilusões, as situações
indesejadas, e todos os problemas que consideramos insuportáveis. E
regozijar-nos totalmente em meio às tribulações, alegrar-nos por elas e
não a despeito delas. Aos olhos do mundo, isso é loucura. Mas na verdade
é a atitude mais sensata que podemos ter se entendermos o valor incal­
culável da tribulação para nós.
O melhor testemunho que o crente pode dar para o mundo é suportar
com paciência as tribulações; é gloriar-se em todo o mal que o mundo
e 0 diabo possam colocar em seu caminho, e vencer esse mal. É nisso
que consiste a guerra espiritual — é fazer com que tais coisas cooperem
para o nosso bem, e não que venham a derrotar-nos.
Observemos ainda que nos versos 4 e 5 ele diz que a perseverança
produz experiência, firmeza de caráter. Esse é o propósito de Deus para
cada um de nós. Ele permite que passemos por tribulações para que pos­
samos desenvolver um caráter firme Este, por sua vez, produz a espe­
rança, e a “esperança não confunde”, pois já aprendemos que podemos
suportar qualquer coisa. Já suportamos outras provações, e nos sentimos
confiantes.
Deus não se acha indiferente a nós, não. Ele está-nos edificando, for­
talecendo, tomando-nos mais maduros, mais semelhantes a Jesus. Está
constantemente operando em nosso coração. E por isso que podemos
gloriar-nos nas tribulações.
“Recordar-te-ás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te
guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar,
para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus
mandamentos.” (Dt 8.2.)
Quando Deus guiou o povo de Israel para o deserto não ocasionou
apenas um fato histórico, não; esse acontecimento teve um sentido bem
mais amplo. Os eventos ali ocorridos contém uma série de ensinamentos
para nós, e mostram como Deus lida conosco.
Para o povo de Israel, o deserto era um deserto mesmo. Tbdos os dias
eles se deparavam com inúmeros perigos, e não desfmtavam nem do mais
140 Batalha Espiritual

simples conforto que tinham antes, quando eram escravos. O deserto não
era um lugar agradável, onde pudessem descansar ou refazer as forças;
de forma alguma. Era um lugar onde eles viam suas eneirgias se esvaírem
sob um sol escaldante e ventos inclementes; um lugar onde a água e o
alimento eram escassos.
Nascido e Criado no Deserto
Além disso, o deserto foi também um lugar de morte, pois toda uma
geração ali envelheceu e morreu. E com ela morreram também a fraqueza,
0 temor, a amargura e as murmurações. Por outro lado, o deserto foi um
lugar de vida, onde nasceu e se forjou toda uma nova geração. E essa
nova geração veio a constituir o exército de Israel. Eles eram fortes e co-
rcjosos; seu caráter ganhou têmpera naquele lugar árido. Como aqueles
homens conheciam apenas a escassez e o desconforto do deserto, tiveram
grande desejo pelo cumprimento das promessas de Deus.
Deus sabia muito bem o que estava fazendo quando os coiiduziu ao
deserto. E hoje ele ainda age da mesma forma com seu povo. E verdade
que nosso deserto não é uma região de areias e oásis, não. Mas nem por
isso é menos real. Nossas experiências de deserto são parte da vida que
levamos neste mundo corrupto. E todos nós, sem exceção, passamos por
elas.
Durante nossa existência terrena, atravessamos muitos desertos. E, se
não entendermos por que Deus permite que passemos por eles, ficaremos
com sentimentos de frustração e poderemos até abrigar amargura contra
Deus. Isso acontece principalmente àqueles que acham que, se tiverem
bastante fé não precisarão sofrer. Uma vez que fatalmente todos passa­
remos por esses “desertos”, quem raciocina desse modo irá concluir que
não tem fé, e abrigará sentimentos de condenação. Ou então acusará Deus
de não cumprir suas promessas. Jesus estava no deserto, portanto em cir­
cunstâncias adversas, quando venceu as tentações do inimigo. E nós tam­
bém temos de passar por nossos “desertos”, superá-los e assim revelar
ao mundo a vitória da fé em Cristo no viver diário.
Por que Deus nos conduz ao deserto? Primeiro, para nos humilhar.
É nesses momentos que nos lembramos do que somos e de quem Deus
é. Nada nos quebranta mais do que passar por um “deserto”. Tbma-nps
mais dependentes de Deus. Além disso, tomamo-nos alvo da atenção ge­
ral — todos ficam a par de nossa situação. E humilhante admitir para
os outros que estamos passando por momentos difíceis.
Tàlvez achemos a humilhação profundamente desagradável; o mundo
nos ensina a evitar tudo que nos humilhe. Mas Deus sabe que o melhor
para nós é vivermos em constante estado de quebrantamento. Por isso
Se Deus é Amor, Por que Permite Tantos Males? 141

nunca devemos tentar fugir do deserto ou evitar o quebrantamento, que


é altamente positivo. O que devemos evitar é o orgulho. Precisamos per­
manecer fiéis, confiar em Deus, suportar com paciência as tribulações,
e ser gratos ao Pai pelas experiências que nos quebrantam.
A Prova de Estrada
A segunda razão por que Deus nos leva ao deserto é provar-nos. Sem­
pre que compramos um carro novo, podemos crer que ele possui certa
durabilidade pois na fábrica já o submeteram a testes de resistência, se­
gurança e qualidade. Aliás os testes a que se submetem os carros são
muito mais rigorosos do que as condições em que o proprietário o usará
no seu dia-a-dia.
Deus também nos prova da mesma forma. Ele permite que passemos
por situações que expõem aspectos de nosso caráter. Diante de uma di­
ficuldade, aquilo que se acha em nosso interior vem à tona. As provações
revelam, para nós e para Deus, quais são nossos pontos fracos e fortes.
E 0 Senhor quer corrigir esses defeitos de fabricação ainda na linha de
montagem, e não no “uso diário” do ministério cristão.
Só no deserto é que ficamos sabendo o que de fato há em nosso co­
ração. Um crente pode passar quarenta anos indo à igreja, assistindo aos
cultos todos os domingos, cantando hinos e orando, e achar que está
tudo bem. Mas, se insistir em evitar passar pelo “deserto” nunca saberá
como é interiormente.
Às vezes podemos até ficar espantados pelas reações que temos ao
enfrentar situações adversas, ou quando sofremos alguma perda ou a vida
parece fugir ao nosso controle. Reagimos de diversas maneiras: sentimo-
nos incomodados, irritados, reclamamos da vida, e jogamos a culpa em
outros. Quanto mais forte for o nosso orgulho, mais dolorosa será a visão
do que há em nosso interior. Dominados pela soberba, seremos tentados
inclusive a negar as atitudes, emoções e reações que virão à tona. Mas
podemos também nos humilhar e reconhecer os erros que emergirem
de nosso coração, e corrigi-los na forma devida.
Como Agir no Deserto
• Agradecer a Deus de todo o coração por haver apontado os erros
que há em nossa alma.
• Arrepender-nos de todo pecado ou motivação menos digna, supli­
cando a Deus que nos perdoe por esses erros. É possível também que te­
nhamos de pedir perdão a outros.
• Buscar o auxílio divino para formarmos novos hábitos e atitudes.
• Resistir a todas as tentativas de ataque do inimigo.
• Não negar que estamos passando por um “deserto”.
142 Batalha Espiritual
• Não dar lugar ao sentimento de condenação que pode advir da visão
de nossos próprios erros.
• Dizer apenas: "Agradeço-te, Senhor, por me revelares o que está em
meu coração. Agora vou tomar providências para sanar o erro”.

O sentimento de condenação que Satanás nos impinge é uma sensação


vaga e generalizada, que nos paralisa. Já a convicção de pecados operada
pelo Espírito Santo aponta erros específicos, permitindo-nos tomar uma
atitude em relação a eles imediatamente. Se nos arrependermos e pedir­
mos perdão a Deus, essa convicção nos libertará.
Por que Tãntos Líderes Estão Caindo em Pecado?
Deus está à procura de líderes. Se há uma coisa de que o corpo de
Cristo está precisando hoje é líderes maduros, seguros e coerentes, e não
de mais homens para ocupar cargos. Precisamos de líderes que saibam
conduzir o povo de Deus com humildade e firmeza. Satanás desfechou
um violento ataque contra os líderes em todos os níveis da sociedade.
E eles estão sucumbindo: pastores, políticos, pais, pessoas em posição
de liderança. E quando um líder erra, as conseqüências são terríveis. Isso
não significa que tais pessoas não deveriam estar em posição de liderança,
não. O que acontece é que talvez não tenham sido provadas no deserto.
É possível que a fama e o dinheiro ou até mesmo suas convicções dou­
trinárias tenham impedido que fossem submetidas a provas que as teriam
fortalecido mais, firmado mais, ou revelado que se achavam desprepara­
das para o exercício da liderança.
Há milhares de crentes que estão sofrendo derrotas porque acredita­
vam que Deus iria poupá-los do deserto. Então, um belo dia, inespera­
damente se vêem nele, e é aí que “desabam”. Deus está à procura de lí­
deres que se disponham a submeter-se ao teste do deserto. E quanto maior
for 0 potencial de liderança do indivíduo, mais rigoroso será o teste.
E você que me lê agora, posso garantir-lhe que terá uma posição de
liderança. Não afirmo que terá um cargo. Mas garanto-lhe que terá uma
atuação como líder. Se você se dispuser a cultivar um caráter cristão,
submeter-se aos testes e for provado, o mundo o seguirá, seja qual for
sua habilitação, seu grau de cultura ou sua personalidade. Todos vão de­
sejar a bênção que possui. E você os conduzirá a Cristo pelo exemplo.
A igreja está precisando de líderes que permitam que Deus opere neles
de modo que possam ficar firmes em meio aos rigores da batalha, sem
trair nem decepcionar aqueles que nele buscam forças e estabilidade.
Todos temos de passar por “desertos” para saber se guardaremos ou
não os mandamentos de Deus. Quase sempre é no deserto que colocamos
Se Deus é Amor, Por que Permite Tantos Males? 143

tudo a perder; é onde falhamos miseravelmente. É no deserto que desen­


volvemos a tendência para cometer certos pecados; é mais fácil caminhar
na direção errada. Se alguém tem a tendência para a lascívia, ali ele fa­
talmente cometerá esse pecado. No deserto somos mais tentados a de­
sistir de tudo, a deixar-nos derrotar, a pecar e a abandonar a vontade divina.
Deus nos submete a essas situações não para que fracassemos, mas
para que prevaleçamos. Se formos fiéis e obedientes a ele, guardando seus
mandamentos no deserto, damos provas de que podemos vencer em quais­
quer circunstâncias. E é isso que Deus deseja de cada um de nós. Se
lhe obedecermos, mesmo nos momentos mais difíceis, provamos que re­
almente estamos vivendo para ele. Se, por outro lado, não guardarmos
seus mandamentos no deserto, na verdade não estamos vivendo para Deus.
O deserto é o ambiente que mais favorece o crescimento espiritual
do crente Se, ao passar pelo deserto, rejeitarmos o pecado, obedecermos
a Deus e resistirmos às tentações, estaremos dando demonstração de que
de fato possuímos um caráter cristão e de que estamos crescendo espi­
ritualmente. Entretanto, mesmo que falhemos, não devemos desanimar-
nos. Vamos arrepender-nos, humilhar-nos e tomar a decisão de vencer
pela graça de Deus. Nunca permitamos que o inimigo nos constranja a
fugir dessa “escola” que é o deserto.
CAPITULO DEZ

Certa vez, quando eu era jovem e estava iniciando o trabalho mis­


sionário, conheci um pastor mais velho numa cidade pequena, numa re­
gião montanhosa. Esse homem disse algo que me deixou muito espantado.
“Resolvi largar a cidade grande, Dean.”
Contou-me que tivera um ministério de sucesso numa das principais
cidades do país.
— Mas as cidades grandes são pecaminosas demais, continuou. E im­
possível viver para Deus lá. As pressões que sofremos para pecar são muito
mais fortes.
Fiquei abismado. Aquele homem arrebanhara alguns membros de sua
igreja e fora morar numa cidadezinha, no meio das montanhas, para fugir
à tentação. Resultado: aquela cidade grande perdera parte do seu “sal
e luz”. E apesar de tudo tenho certeza de que aqueles crentes não haviam
conseguido deixar o pecado para trás. O que mudou foi apenas o tipo
de tentação. As tentações sempre vão-nos assaltar, onde quer que vivamos.
146 Batalha Espiritual

A culpa de sofrermos tentações não é do bairro onde moramos, nem


das circunstâncias em que vivemos. Tãmbém não podemos pôr a culpa
em Deus. Em Tiago 1.13-15, lemos o seguinte:
“Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus
não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrá­
rio, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e
seduz. Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado;
e 0 pecado, uma vez consumado, gera a m orte”
Mas existe uma saída.
‘Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel,
e não perm itirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário,
juntam ente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais
suportarf’ (1 Co 10.13.)
Esse texto contém alguns ensinamentos importantes sobre a ten­
tação. A Bíblia ensina que a tentação não é pecado. Há muitas pessoas
que, ao ser tentadas, sentem-se impuras e abrigam um forte sentimento
de culpa. Mas a tentação em si não é pecado. Lemos em Hebreus 4.15
que Jesus “foi tentado em todas as cousas, à nossa semelhança, mas
sem pecado”. Se a tentação implicasse em erro, Jesus teria errado. A
diferença entre as duas coisas é a seguinte: na tentação o indivíduo
considera a possibilidade de pecar. Mas só peca quando decide ceder
a ela. Pecado não é apenas o ato errado que praticamos; os pensa­
mentos que abrigamos também o são. Precisamos de uma revelação
de Deus para entender que é possível sermos fortemente tentados, sem
contudo nos tornarmos impuros.
Em 1 Coríntios, Paulo fala das tentações como algo que nos sobre­
vêm. Isso quer dizer que elas são de procedência externa. Acham-se fora
de nós, “novas criaturas” em Cristo.
O texto de 2 Coríntios 5.17 diz o seguinte: “E assim, se alguém está
em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que se fi­
zeram novas”. O que significa ser uma “nova criatura”? Significa que o
pecado não faz mais parte de nosso ser. Se alguém acredita que é “la­
drão”, é “mentiroso”, nunca derrotará tais pecados. O diabo poderá
lançar-lhe tentações com base na sua crença de que tal erro é inerente
a ele. Ele lhe dirá:
“Você é assim mesmo. Já tem esse problema há trinta anos. É sua
grande fraqueza.”
Mas em vez de crer nas mentiras do diabo, devemos crer na Bíblia,
que diz que já nos tomamos novas criaturas.
"Mas Livra-nos do Mal“ 147

Não Somos os Únicos


Outro fato acerca da tentação revelado nesse texto de 1 Coríntios, é
que ela é humana. Toda pessoa é tentada. Não pensemos nunca que so­
mos os únicos a sofrer essa ou aquela tentação. Muitas pessoas acreditam
que são as únicas a ter maus pensamentos. No meu trabalho de acon­
selhamento, estou sempre ouvindo crentes dizerem:
— Sei que sou o único que tem esse problema. Assim que começo
a fazer meu momento devocional, de repente, minha cabeça é invadida
por maus pensamentos!
— Não! replico. Você não é o único. Esta semana vários outros me
disseram a mesma coisa.
Então sentem-se mais aliviados.
E por essa razão que os testemunhos públicos de confissão de pecado
e quebrantamento são importantes para o corpo de Cristo. Sempre que
alguém confessa um pecado, os outros se sentem reanimados, pois per­
cebem que não são os únicos a enfrentar aquele problema. Precisamos
nos abrir mais uns com os outros, falar de nossas dificuldades, de nossas
tentações, enfim, de nossas “cargas”.
Dou graças a Deus pelos amigos leais e chegados, meus colegas da
JOCUM. Há vários anos temos sido orientados a prestar contas de nossos
atos uns aos outros, revelando nossas lutas e tentações. Essa prática tem-
nos poupado de muitas quedas.
Há quem pense que os crentes mais espirituais não sofrem tentações.
Isso não é verdade. Qualquer homem de Deus que realmente possua ma­
turidade espiritual tem de reconhecer que sofre tentações. Mas, por outro
lado, é fato também que o diabo tem prazer em dizer-nos que somos muito
pecaminosos, e que os outros não são assim. Diz ele que somos os únicos
a agir como agimos. Afirma que todo mundo já recebeu a libertação de
seus pecados em Cristo. Só nós é que não. Somos diferentes, um caso
perdido. E diz que nunca seremos libertos. Tãis idéias são mentiras do
inimigo. Todos os crentes, do mundo todo, são tentados como nós. E a
verdade é que o fascínio que a tentação exerce sobre nós pode ser cada
vez menor.
A questão é que não enfrentamos apenas o pecado em si, mas tam­
bém a força que há por trás dele, e que nos impele a cometê-lo. Quando
resistimos à tentação, não pecamos, mas tal atitude não elimina a força
que há por trás dela. Para eliminá-la, temos de nos humilhar e expor o
problema diante de Deus e dos homens. Assim fazendo, conseguiremos
bloquear essas forças pela oração.
Tbnho um amigo, que embora estivesse exercendo o ministério cristão
148 Batalha Espiritual

em tempo integral, sentia-se fortemente tentado para o homossexualismo.


Na maioria das vezes, conseguia vencer a tentação, mas o impulso de co­
meter 0 pecado não desaparecia. E ele só obteve a vitória depois que
confessou essa luta a um seleto grupo de amigos fiéis. Eles oraram por
ele e o aceitaram em amor. De lá para cá, depois que ele se humilhou,
viu-se liberto da poderosa força que atua por trás desse pecado.
É possível que alguém abrigue o anseio interior de um dia ter uma
vida vitoriosa, livre de tentações. Acha que é a tentação que o impede
de ser santo como Deus deseja. Mas a remoção das tentações não nos
tomaria melhores crentes. Uma vida em que não tivéssemos de vencer
as tentações, não seria uma vida de vitória.
É Possível Não Pecar
Se dermos crédito às mentiras satânicas de que as tentações são muito
fortes e que não podemos resistir a elas, fatalmente pecaremos. Se achar­
mos que não temos a menor condição de vencê-las, a derrota é certa.
Mas 0 texto de 1 Coríntios 10.13 ensina que não somos tentados além
das nossas forças. Precisamos crer, sem a menor sombra de dúvida, que
a Palavra de Deus está dizendo a verdade ao afirmar que o Senhor não
permite que sejamos tentados além das nossas forças.
Pela graça de Deus, podemos resistir às tentações e obter a vitória.
Muitos crentes estão caindo em pecado porque ainda não entenderam
a condição de que desfrutam como novas criaturas em Cristo. Precisamos
dizer ao diabo: “O pecado não terá domínio sobre mim” (Rm 6.14).
A Bíblia ensina claramente que podemos ter uma vida vitoriosa (Ap
12.11). Se assim não fosse, como entender o poder da cruz e da ressur­
reição, que nos dá vitória sobre o pecado? Se fosse impossível não pecar,
a expressão "nova criatura” não passaria de meras palavras, pois, na ver­
dade, nada seria novo.
‘A ssim também vós considerai-vos mortos para o pecado, m as vivos
para Deus em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo
mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada
um os membros do seu corpo ao pecado como instrumentos de iniqui­
dade; m as oferecei-vos a Deus como ressurretos den te os mortos, e os
vossos membros a Deus como instrumentos de justiça. Porque o pecado
não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, mas, sim, da
graça!’ (Rm 6.11-14.)
Passemos a olhar mais para a justiça de Deus que há em nós do que
para nossa inclinação ao pecado. Mas observe que não estou-me referindo
aqui à “perfeição total”, na qual seria impossível pecar. Somente Jesus
viveu na terra sem pecado; mais ninguém. Enquanto não formos para
“Mas Livra-nos do Mal“ 149

O céu teremos sempre alguma coisa a corrigir: nossas atitudes, intenções


e atos. Mas, com o auxílio do Espírito Santo, podemos ir-nos tomando
mais e mais semelhantes a Jesus. E à medida que vamos crescendo es­
piritualmente, 0 pecado deve tomar-se cada vez mais raro em nosso viver.
O Senhor é poderoso para nos guardar de tropeços e nos apresentar ima­
culados, com exultação, diante da sua glória (Jd 24).
Há Uma “Saída de Emergência”
Outro fato que vemos no texto de 1 Coríntios 10.13 é que Deus “pro­
verá livramento”. O que seria esse “livramento”? O que deveriamos per­
guntar é Quem é esse livramento?
A vida de José contém muitos ensinamentos sobre essa “saída de emer­
gência” que podemos encontrar na hora da tentação. Durante toda a vida,
ele foi muito tentado, mas sempre venceu. A tentação mais forte foi a
que lhe sobreveio quando estava trabalhando para Potifar. Depois de al­
gum tempo, a esposa de seu patrão começou a gostar dele e certo dia
fez-lhe um convite: “Deita-te comigo”. A tentação aí não era simplesmente
a de cometer um pecado sexual, mas de fazer o que era mais lógico.
Recusando-se, ele praticamente cometia “suicídio profissional”. Bastava
que satisfizesse o desejo dela, e “estaria feito”. Se José pensasse apenas
em si mesmo, em sua própria posição, teria cedido. Não há dúvida de
que ele estava ciente das conseqüências de rejeitar a esposa de Potifar.
Mas mesmo assim resistiu.
E respondeu para a mulher: “Como, pois, cometeria eu tamanha mal­
dade, e pecaria contra Deus?” José vivia no temor do Senhor. E venceu
a tentação porque pensou em como Deus veria um ato desses.
Se levarmos em conta apenas o que os outros irão pensar, ou o fato
de sermos descobertos ou não, e se considerarmos apenas nossas neces­
sidades pessoais, nossos direitos, nossos desejos, nosso sofrimento, ou
qualquer outra coisa que não seja o coração de Deus, não venceremos
a tentação. Têmos de viver no temor do Senhor, de levar em consideração
0 coração de Deus. Peçamos a Deus o temor do Senhor que, segundo
Provérbios, “consiste em aborrecer o mal” (Pv 8.13).
Jesus ensinou-nos a orar assim: “E não nos deixe cair em tentação;
mas livra-nos do mal”. Se Deus estiver no pleno controle de nossa vida,
pode ajudar-nos a vencer as tentações, até as mais fortes.
Um Ataque Direto
Algumas vezes Deus permite que soframos um ataque direto do ini­
migo. Isso não quer dizer, porém, que o diabo possa roubar nossa sal­
vação, forçar-nos a pecar, ou possuir-nos contra nossa vontade.
150 Batalha Espiritual

Vejamos o que Paulo diz aqui. “E, para que não me ensoberbecesse
com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, men­
sageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte” (2
Co 12.7). Aí está o apóstolo Paulo, um crente cheio do Espírito, sendo
esbofeteado por um mensageiro de Satanás. Tbdo crente sofre e sempre
sofrerá ataques do inimigo. Na maioria das vezes em que Deus permite
que isso ocorra, seu objetivo é ensinar-nos a resistir à tentação.
Precisamos aprender a assumir uma posição firme, e resistir aos ata­
ques de Satanás. Em muitos casos, tais ataques ocorrem somente por
um certo período de tempo, como aconteceu a Jó. Mas há situações mais
raras, como a do apóstolo Paulo, em que Deus permite que ele seja de
caráter mais permanente, já que a graça divina nos basta, a nós todos.
Entretanto Deus não quer que aceitemos passivamente tudo que o diabo
nos atira. Se não aprendermos a resistir a Satanás, ele irá tomando con­
trole sobre nossa vida, e podemos viver assim muitos anos, até que lhe
façamos resistência.

Cinco Tipos de Ataques Satânicos


“Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades,
nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando sou
fraco, então é que sou forte.” (2 Co 12.10.) O diabo nos ataca de diversas
maneiras. Nesse texto de 2 Coríntios encontramos cinco das mais co­
muns: fraquezas, injúrias, necessidades, perseguições e angústias.
1. Fraquezas
É 0 ataque do diabo contra o nosso corpo. Se não entendermos isso,
damos-lhe oportunidade de afligir-nos constantemente no físico.
Não quero dizer, porém, que toda enfermidade provenha do diabo.
Aliás, com relação a essa questão, existem duas posições extremas na igreja.
Um lado defende a tese de que toda e qualquer enfermidade provém do
diabo. Tãl colocação não é verdadeira, a não ser que os que assim pensam
estejam querendo dizer que toda enfermidade vem do diabo devido à queda
do homem por ele engendrada. O outro grupo acredita que nenhuma
doença vem do diabo. Diz que nossas enfermidades têm explicação cien­
tífica, e é algo com que temos de conviver. Essa posição também é errada.
As doenças podem ser causadas por micróbios. E na maioria das
vezes não são mesmo provocadas pelo diabo, nem por pecados, nem
ainda são resultado de um castigo de Deus. São causadas por bacté­
rias, por vírus ou disfunções fisiológicas. São inerentes ao mundo em
que vivemos. Algumas moléstias são consequência de fraquezas con-
“Mas Livra-nos do Mal“ 151

gênitas. Eu, por exemplo, uso óculos, mas isso não significa que tenha
demônio. O corpo humano é finito e portanto sujeito a desgastes. Desde
a queda do homem, a fraqueza física vem sendo transmitida de uma
geração a outra.
As enfermidades também podem ser resultado da negligência de cer­
tos cuidados com o corpo, como, por exemplo, alimentação inadequada,
falta de exercícios físicos e repouso.
Entretanto, vez por outra, uma doença pode ter uma causa sobrena­
tural; pode vir de Deus. Até algum tempo atrás, eu costumava afirmar
que a enfermidade que aflige o crente nunca provém de Deus. Mas, lendo
mais a Bíblia, descobri que em algumas ocasiões isso acontece Vez por
outra, 0 Senhor lança mão de enfermidades para castigar fisicamente al­
guém. Entretanto, sempre que o faz, tal moléstia é um ato de misericór­
dia, com 0 objetivo de provocar o arrependimento e a restauração da­
quele filho. Nesse caso, se o crente se arrepende, quase sempre ocorre
uma cura imediata.
Certa ocasião, quando eu ainda era missionário na Nova Guiné, um
rapaz crente teve uma febre misteriosa que durou mais de um mês. Ora­
mos por ele insistentemente, dando-lhe tratamento médico ao mesmo tempo.
Mas nem nossas orações nem os medicamentos estavam surtindo o me­
nor efeito, apesar de na mesma época termos visto outros enfermos sendo
curados. Certo dia ele confessou que estava abrigando no coração uma
forte mágoa contra determinadas pessoas. E assim que o confessou foi
instantaneamente curado, sem que houvesse necessidade de orarmos por
ele.
E as enfermidades podem provir também do diabo. Precisamos resistir
aos ataques dele, dizendo:
“Satanás, eu me recuso a aceitar esse ataque. Ordeno-lhe, em nome
de Jesus, que vá embora.”
Quandò não temos certeza se se trata ou não de um ataque satânico,
podemos perguntá-lo a Deus. Ele é fiel e nos revelará a origem do pro­
blema. Seja qual for a causa da enfermidade, devemos sempre buscar a
Deus para conhecer os detalhes da situação e obter a cura.
2. Injúrias
Outra forma pela qual Satanás nos ataca são as injúrias, tentativas
satânicas de denegrir nossa imagem. O mundo está constantemente obser­
vando a igreja de Jesus Cristo. E sempre que o povo de Deus oferece
motivo para condenação, ele lhe aplica a injúria. Infelizmente, muitos cren­
tes, com seus pecados ou com suas constantes suspeitas e difamações
de outros irmãos, ajudam o diabo a afrontar a igreja.
152 Batalha Espiritual

Os meios de comunicação têm a maior presteza em divulgar nossos


atos de infidelidade, nossos escândalos e erros. O mundo sempre tenta
associar os crentes a qualquer seita estranha ou falso líder religioso
que apareça. Resistamos ao inimigo; não participemos dos ataques que
ele aplica à igreja para trazer-lhe injúrias. Um modo de bloquear seus
avanços é resistir às tentações que ele nos atira. Não demos lugar ao
pecado. Lembremos que ele está querendo utilizar-nos para lançar in­
júrias sobre a igreja. Outro modo de frustrar seus ataques, é recusar-
nos a passar adiante os boatos ou calúnias que ouvimos. E quem tra­
balha na publicação de livros ou revistas, deve ter o cuidado de não
atacar os irmãos em Cristo.
3. Necessidades
Satanás nos ataca também forjando necessidades, isto é, retendo aquilo
de que necessitamos. Os poderes das trevas dificultam a aquisição dos
recursos necessários para levarmos o evangelho aos perdidos. E uma das
principais estratégias que o inimigo utiliza para lançar descrédito sobre
Deus e sua fidelidade e impedir que sua obra avance. E infelizmente ele
tem tido grande êxito nisso. Muitos pastores e missionários lutam durante
anos e anos com problemas financeiros, e por fim acabam desistindo do
ministério. Mas temos de resistir ao inimigo, para que obtenhamos o di­
nheiro, os prédios, os obreiros e tudo de que necessitamos para a rea­
lização da obra de Deus. Temos de resistir e resistir até que ele desista.
A esperança de Satanás é que nós desistamos antes dele.
4. Perseguições
Outra forma de ataque satânico são as perseguições. Ele procura im­
pedir a pregação do evangelho lançando perseguição aos pregadores. A
história da igreja contém inúmeros relatos sobre prisão e morte de cren­
tes, e sobre outros tipos de perseguição com os quais o diabo tenta im­
pedir a pregação do evangelho de Jesus. Ele utiliza a perseguição também
para desanimar os crentes, e levá-los a desistir de perseverar com Deus.
5. Angústias
Por último, os poderes das trevas podem levar-nos a nos sentir ,an­
gustiados. Eles fazem cerco à nossa vida e nosso relacionamento com
outros, procurando persuadir-nos a desanimar, em vez de permanecermos
cheios de fé. Tfenta levar-nos ao desespero, ao pânico, na esperança de
que desistamos. Exerce forte pressão sobre nós para que abandonemos
a vida cristã, larguemos tudo, sintamo-nos esgotados, ou achemos que
não damos conta de viver ou de permanecer no serviço cristão.
“Mas Livra-nos do Mal“ 153

Está na Hora de Detê-lo


O diabo só obtém a vitória quando nós lhe permitimos; então pode­
mos resistir-lhe. Não pensemos, porém, que diante de nossa resistência
ele vá desistir facilmente. Ele conhece a natureza humana e está confiado
em nossa falta de persistência, na expectativa de que desistamos antes
dele, como tantas vezes fazemos. Mas, se lhe resistirmos com perseverança,
ele acabará desistindo. Não desistirá imediatamente, é verdade, mas afinal
entregará os pontos. Quanto mais determinados nos mostrarmos, menor
será sua determinação. Se nos convencermos de que temos a autoridade,
ele 0 perceberá e eventualmente irá parar de atacar-nos. Não podemos
nunca desistir, nem nos desanimar. A vitória é nossa, mas o preço a pagar
é a fé e a persistência.
Vivemos em um mundo que perdeu sua perfeição original. Achamo-
nos rodeados pelo mal, mas Cristo está em nosso coração. O fato é que
continuaremos a vivenciar experiências que prefeririamos evitar. Contudo
se reagirmos a elas da maneira correta, tais experiências servirão para
aprimorar-nos. Essa é a fórmula para adquirirmos força e caráter; e para
isso não existem atalhos. Somos provados com vistas à formação em nós
do caráter cristão. Somos sujeitos a tentações para que possamos fortalecer-
nos e passar a ter ódio do mal. Deus permite que Satanás nos ataque
para que aumentemos nossa dependência do Senhor, e desenvolvamos
uma “musculatura” espiritual. Nosso Deus nos convoca a que paremos
de ser vítimas e nos tomemos guerreiros valorosos em todos os aspectos
da vida.
CAPITULO ONZE

Uma guerra está sendo travada; uma luta dura e encarniçada. E o


palco dessa luta somos nós. Nossa vida é o campo de batalha. Forças
poderosas se acham em luta, guerreando pelo controle de nossa alma.
Além disso, nós também estamos sendo treinados para nos tomar sol­
dados. Thmos de lutar não somente por nós mesmos, mas também pelas
outras vítimas dos ataques de Satanás. Tfemos de ser guerreiros espirituais
a batalhar pelo reino de Deus como um todo.
O mundo em que vivemos acha-se grandemente contaminado pelo
mal. Segundo dados fornecidos pelo Bureau de Estatítiscas Criminais,
de Washington D. C., no ano de 1988, a cada vinte e cinco minutos ocor­
reu um assassinato nos Estados Unidos. A cada cinco minutos, uma mu­
lher é estuprada naquele país. A cada sessenta segundos uma criança é
espancada, e anualmente duas mil criancinhas são mortas pelos próprios
pais. Diariamente inúmeras vítimas inocentes são mortas por bombas, ti­
ros, incêndios e motoristas embriagados. As pessoas roubam, mentem e
156 Batalha Espiritual

fraudam. Os governos exploram ou oprimem seus cidadãos. Mesmo as


autoridades eleitas, homens em quem o povo confia, praticam secreta­
mente atos inconcebíveis. Nossos filhos estão sendo assediados pelas dro­
gas, pornografia, homossexualismo, suicídio e ocultismo. Milhões de in­
divíduos acham-se resignadamente à mercê da fome ou de doenças, que
irão destruí-los.
Fugir Apavorado ou Atacar Cegamente?
Esse quadro é terrível demais para nós. Não suportando tal situação
algumas pessoas simplesmente tentam ignorar o que se passa no mundo
para pensar só em fatos agradáveis. This indivíduos erguem uma espécie
de muralha ao redor de si mesmos, para se isolarem das realidades do
mundo. E muitos optam por essa solução para não enxergar a morte e
destruição que há ao seu redor. Para isso cercam-se de arte e música,
evitam passar pelos setores mais tristes da cidade, procuram não assistir
aos noticiários para não se sentirem deprimidos, e dessa forma vivem ale­
gres e contentes.
A outra reação, oposta a essa, é atacar o mal, atirando-se à luta numa
fúria cega. Os que assim agem acham-se conscientes das grandes injus­
tiças praticadas no mundo, embora não entendam a verdadeira origem
delas. Movidos pelo desespero, pela raiva, pela amargura, resolvem fazer
alguma coisa, qualquer coisa. Abraçam o humanismo, o movimento da
Nova Era, o marxismo, qualquer solução que se apresente como uma força
de combate radical às condições do mundo.
Há inclusive crentes que lutam de forma errada. Fazem doações e em­
pregam seu tempo e esforços na tentativa de melhorar as condições de
vida do ser humano. Embora bem intencionadas essas pessoas desconhe­
cem 0 método espiritual de combater o mal. Acham-se mais preocupadas
com a condição do homem do que com o coração de Deus. Participam
de protestos e boicotes, ou promovem campanhas educacionais. Mas de­
dicam pouco ou nenhum tempo à oração, ao evangelismo ou à guerra
espiritual.
Mas existe uma outra posição no meio dessas duas atitudes extremas.
Tfemos outra alternativa, além de fugir do sofnmento ou lutar cegamente
num ativismo frenético. Podemos tomar conhecimento das realidades do
planeta em que vivemos, sem ficar arrasados por elas. Podemos
conscientizar-nos do pecado que há no mundo e tomar providências para
detê-lo. Podemos tomar-nos guerreiros espirituais, que lutam para pro­
mover 0 avanço do reino de Deus. Foi para isso que Deus nos deixou aqui.
Nosso amadurecimento cristão principia quando ganhamos plena cons­
ciência da obra que Deus realizou por nós, e de tudo que temos em Cristo.
Será que a Oração Opera Mudanças? 157
Esse conhecimento é fundamental, mas não podemos parar aí. Só po­
deremos dizer que somos de fato crentes maduros depois que aceitarmos
nossa responsabilidade de expandir o reino de Deus. Estamos aqui para
lutar, e quanto mais depressa nos conscientizarmos disso, mais cedo co­
meçaremos a amadurecer espiritualmente. O cristianismo não consiste
apenas no que Deus fez por nós, mas também no que nós, na condição
de guerreiros seus, realizamos na terra por intermédio dele.

Defesa e Ataque
Nessa guerra, temos de assumir posições de defesa e de ataque. Tbdo
time de futebol tem um grupo encarregado da defesa. Esses jogadores
se esforçam o tempo todo para impedir que o time adversário entre em
seu campo. Uma boa defesa é aquela que sempre consegue impedir que
os adversários passem por eles. O mesmo ocorre na batalha espiritual.
Em Efésios 6.10,11, lemos o seguinte: “Quanto ao mais, sede fortale­
cidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura
de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo”. Ficar
firmes é defender a justiça e a verdade. Quem tem um compromisso com
a verdade e a justiça, tem de defendê-las tanto em sua vida particular como
no contexto mais amplo da sociedade em que vive.
Mas além da posição defensiva existe o ataque E aqui também as coi­
sas se passam como num jogo de futebol. Ao mesmo tempo que defen­
demos nosso território, avançamos para entrar no campo adversário. Nosso
objetivo é penetrar em sua defesa. Infelizmente, na luta espiritual, muitos
crentes só ficam na defesa. O grande anseio deles é “jogar para o empate”.
Não se acham dispostos a conquistar mais terreno para Deus. Sua única
preocupação é não permitir que o diabo marque muitos gols.
As Portas do Inferno Estão Prevalecendo
Em nossos cultos, ouvimos constantemente dizer que Deus está edi-
ficando sua igreja, que a igreja é poderosa, e que “as portas do inferno
não prevalecerão contra ela”. E todos dizemos:
“Amém! Que coisa maravilhosa!”
Mas, infelizmente, a verdade é que as portas do inferno estão preva­
lecendo. São incontáveis as pessoas, cidades, universidades, colégios, clu­
bes e famílias presas dentro das portas do inferno.
A Bíblia não diz que as portas do inferno vão cair automaticamente.
Os portões de uma cidade constituem fator de defesa, Não havendo ata­
que, eles continuam firmes, de pé. Precisamos conscientizar-nos de que
as portas do inferno não vão cair sozinhas. Será preciso que o corpo de
158 Batalha Espiritual

Cristo se tome forte e amadurecido, e tome a ofensiva nessa guerra. Tfe-


mos de avançar contra elas. Se as atacarmos elas não prevalecerão (Mt
16.18). E como é que as atacamos? Revestindo-nos de toda a armadura
de Deus e ficando firmes contra as ciladas do diabo.
A Bíblia contém relatos detalhados da história do povo de Israel. O ob­
jetivo dessas narrativas é ensinar-nos verdades espirituais. E é na experiência
dos israelitas, nas lutas que tiveram de travar para conquistar a terra pro­
metida, que aprendemos a assumir a ofensiva em favor do reino de Deus.
'São estas as nações, que o Senhor deixou para por elas provar a
Israel, isto é, a quantos em Israel não sabiam de todas as guerras de Ca-
naã, tão-somente para que as gerações dos filhos de Israel delas soubes­
sem (para lhes ensinar a guerra), pelo menos os que dantes não sabiam
disso." (Jz 3.1,2.)
Deus libertou o povo de Israel de seu cativeiro no Egito, num evento
histórico comparável à nossa experiência de salvação. Quando fomos sal­
vos, também fomos libertos de um cativeiro. Mais adiante, conduzidos por
Deus, os israelitas atravessaram o mar Vermelho. Podemos comparar esse
acontecimento ao nosso batismo. Em seguida. Deus os levou ao deserto,
onde seriam provados e tentados, onde sofreriam ataques de adversários,
para que saíssem dali renovados, revigorados e purificados. Tãmbém esse
tato tem seu correlato na experiência do crente. Deus conduziu o povo
de Israel ao deserto para descobrir se eles possuíam a têmpera necessária
para constituírem o povo de Deus. Não possuíam. Então, naquela região
árida, o Senhor levantou uma outra geração. Afinal, quarenta anos de­
pois, surgiu um povo forte, maduro e totalmente comprometido com o
Senhor, em quem ele podería confiar para a conquista da terra prometida.
Inimigos na Tferra Prometida
Com outro ato sobrenatural. Deus fez o povo atravessar o Jordão, e
afinal eles entraram na terra prometida. Haviam-se passado quase qui­
nhentos anos desde que Deus fizera a promessa a Abraão, mas agora,
finalmente, achavam-se em sua pátria, uma terra que manava leite e mel.
Que dia festivo deve ter sido aquele! E provavelmente eles acreditavam
que agora fossem gozar um período de paz, tranqüilidade e prosperidade.
Mas passado o momento de euforia, olharam ao redor, e perceberam que
não se encontravam sozinhos na terra. A pátria prometida estava cheia
de tribos hostis, guerreiras, que adoravam deuses estranhos. Descobriram
ainda que aquela gente não parecia propriamente disposta a entregar-lhes
as chaves da cidade, não.
É possível que o povo de Israel tenha até pensado que talvez tivessem
Será que a Oração Opera Mudanças? 159

chegado ao lugar errado. Será que Deus não conseguira cumprir a pro­
messa feita? Havia ou não havia terminado para eles o período de lutas?
E 0 descanso anunciado? Quem seriam aqueles povos estranhos, e por
que Deus permitira que eles permanecessem na terra prometida?
Não; Deus não fracassara. Era assim mesmo que a terra prometida
deveria ser. Em Juizes 3.1,2 Deus revela que deixou nações hostis na terra
propositalmente, para que Israel aprendesse a guerrear. Isso não quer di­
zer, porém, que o objetivo ali era que tais nações fossem para eles uma
espécie de saco de pancada, não. Deus tencionava também castigar aque­
las tribos, mas não iria fazê-lo de forma sobrenatural, como castigara an­
tes Sodoma e Gomorra. Preferiu puni-las através dos filhos de Israel. É
que seu povo tinha de aprender a lutar.
Nós Temos de Lutar
E nós, os crentes, temos exatamente a mesma experiência. Pela sal­
vação, entramos na terra prometida. Mas, uma vez nela, precisamos apren­
der a ser guerreiros espirituais. Tfemos de enfrentar nossas “tribos hostis”.
A Bíblia ensina que se nós não expulsarmos essas “tribos”, elas não vão
sair por si mesmas. E se não confiarmos plenamente em Deus, não conse­
guiremos expulsá-las. O próprio fato de as tribos adversárias estarem presen­
tes na terra obrigava os israelitas a manter os olhos sempre voltados para
0 Senhor. E Deus constantemente dizia a seu povo que se eles lhe obede­
cessem de forma irrestrita, nunca perderiam uma só batalha, nem o descanso
que gozavam nele. É o que ele está dizendo a nós também.
Assim como ocorreu com os filhos de Israel, nossa terra prometida
acha-se diante de nós, pronta para a ocupação. Deus já fez ao diabo tudo
que tinha de fazer na terra. O resto é conosco. Cabe-nos expulsar os po­
deres das trevas. Mas não podemos fazê-lo sem Deus. Ele também não
0 fará sem nós. É assim que as coisas se passam neste planeta. Precisa­
mos aprender a ser soldados. Tfemos de aprender a confiar totalmente
em Deus. Se vivermos com ele em obediência constante, não teremos
de perder nenhuma batalha. Mas somos nós que lutamos.
Se um dia, ao chegar em casa, eu vir que meus filhos deixaram o quar­
to deles em desordem, não posso absolutamente arrumá-lo; isso não seria
bom para eles. Tfenho é de obrigá-los a arrumar tudo para que aprendam
a ter responsabilidade. Nós também, com nosso pecado, aprontamos uma
enorme desordem nesta terra. E nosso Pai celeste, em sua sabedoria, já
avisou que nós mesmos temos de arrumar as coisas, embora ele possa
ajudar-nos.
O que Deus está tentando ensinar-nos é que temos responsabilidades.
Ele pode realizar a obra por nosso intermédio, mas não em nosso lugar.
160 Batalha Espiritual

Tfemos de evangelizar, de orar e resistir ao diabo. Se não resistirmos ao


diabo, ninguém mais o fará. Cheios do Espírito Santo, e pelo nome de
Jesus Cristo, com sua infinita graça e poder, podemos tomar-nos excelen­
tes guerreiros. Se alguém estiver esperando que Deus faça tudo nessa
guerra, está perdendo tempo. Não é assim que ele irá operar na terra.
Grande parte do que ele deve realizar aqui irá fazê-lo por intermédio de
seu povo. E já nos ensinou como devemos agir, e nos deu as armas a
ser utilizadas.

As Armas que Deus nos Dá


Como é que batalhamos nessa guerra espiritual? O método básico
é a intercessão. “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de sú­
plicas, orações, intercessões, ações de graça, em favor de todos os ho­
mens.” (1 Thi 2.1.)
Quando Paulo diz a Timóteo “antes de tudo”, está ensinando que a
oração deve ser a prioridade máxima da igreja. Orar é simplesmente ter
comunhão com Deus; é conversar com ele e ouvir sua voz nos dirigindo
ou inspirando. Todos os eventos ou movimentos importantes da história
da igreja foram resultado de oração. A influência que a igreja tem exercido
na terra — desde os dias do apóstolo Paulo, passando por João Wesley
e até nossos dias, com Billy Graham, por exemplo — é diretamente pro­
porcional ao empenho dos crentes na oração. Para o filho de Deus, a
oração deve vir “antes de tudo”.
Petições
Primeiramente Paulo menciona súplicas e orações. As súplicas são
petições contínuas. Acredito que todos nós já ouvimos pregadores dizendo:
“Deus está cansado de nossas petições.”
Mas a verdade é que não há na Bíblia nenhum texto que dê a entender
que Deus se irrite com nossas petições. Pelo contrário; ele ordena que
oremos. Ele incentiva a oração. Nosso Deus tem prazer em dar, e quer
0 melhor para nós. É verdade que precisamos aprender a pedir com a
motivação certa, mas devemos sempre apresentar-lhe nossas petições com
toda liberdade
Ações de Graça
Paulo fala também de “ações de graça”. São orações que expressam,
em fé, nosso reconhecimento de que Deus é Deus e está operando em
nós, por nós e por nosso intermédio para abençoar outros. Devemos afir­
mar confiantemente que ele fará aquilo que lhe pedimos, dizendo;
Será que a Oração Opera Mudanças? 161
“Graças te dou, Senhor, pois sei que irás atender-me. Obrigado, Se­
nhor, pois tu és justo. Obrigado, Senhor, pois tu és poderoso para fazer
infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos.”
Tbdos os pedidos que dirigimos a Deus devem ser feitos com contí­
nuas ações de graça. A cada oração de ação de graça que fazemos, es­
tamos atirando uma flecha contra os redutos de Satanás. Da mesma forma,
a cada reclamação ou confissão de incredulidade, estamos atraindo um
dardo para o nosso meio.
Intercessões
Quando Paulo fala de “intercessão”, está-se referindo a duas coisas.
Primeiramente, interceder é atuar e orar em favor de outrem. Nessa questão,
Jesus é nosso grande exemplo, pois é o grande intercessor. Ele teve uma
vida imaculada por nossa causa. Morreu na cruz, em nosso lugar, e no
presente continua diariamente intercedendo por nós (Hb 7.25). Sua vida,
morte e ressurreição foram atos de intercessão. Neste exato momento ele
se acha intercedendo por nós diante do Pai.
Em segundo lugar, interceder também significa “interpor-se”. A inter­
cessão sempre tem outros em vista, isto é, não fazemos intercessão por
nós mesmos, mas por terceiros, sejam eles indivíduos, cidades, países, ne­
gócios, grupos ou situações. São eles o alvo de nossa oração. Nós nos
colocamos entre Deus e o objeto de nossa intercessão, ou então entre
essa pessoa e o diabo.
Quando nos colocamos entre o objeto de nossa intercessão e Deus,
dirigimos petições específicas ao Senhor no sentido de enviar provisões,
proteção, orientação ou bênçãos para aquele indivíduo, lugar ou coisa
por que oramos. Podemos ainda nos colocar entre Deus e o objeto
de nossa intercessão para impedir ou adiar o castigo de Deus. Muitas
vezes Deus suspende punições a este mundo devido à nossa interces­
são por ele e por aqueles que aqui estão. Não que sejamos mais mi­
sericordiosos do que Deus. Claro que não. Ele está sempre desejoso
de demonstrar sua misericórdia sempre que possível. Mas nossas orações
fomecem-lhe uma base justa para retardar o castigo e dar mais opor­
tunidades aos pecadores para que se arrependam (Êx 32.32; 2 Pe 2.9;
Gn 18.16-33).
Constituímos Uma Ameaça Para o Diabo
Na condição de intercessores, nossa tarefa é colocar-nos entre o diabo
e a pessoa por quem intercedemos. Pela oração, atrapalhamos a obra que
Satanás quer realizar na terra. Intercedendo, nós desviamos seus ataques,
fhistramos seus planos e inibimos sua atuação.
162 Batalha Espiritual

É por isso que ele se empenha tanto para manter-nos preocupados


com nós mesmos. Os poderes das trevas tentam levar-nos a ficar tão
envolvidos em nossos próprios problemas que não tenhamos condições
de interceder por outros. Satanás quer imobilizar-nos pelo medo, de­
pressão, lascívia e materialismo. Acho que ele nem se preocupa muito
com 0 fato de orarmos, desde que o alvo dessa oração sejamos nós
mesmos. Mas ele se esforça ao máximo para impedir que intercedamos
e assim atrapalhemos sua atuação no mundo. Precisamos entender
claramente que, ao interceder, constituímos uma ameaça para ele. Pre­
cisamos reconhecer nossa importância como agentes de Deus aqui na
terra.
Para nos colocarmos entre o diabo e o objeto de nossa intercessão,
temos de resistir firmemente aos poderes das trevas. Nessa situação po­
demos fazer a seguinte oração.
Pai celeste, venho a ti, em nome de Jesus Cristo, pedir-te que produzas
convicção de pecado no coração dessa pessoa, levando-a a arrepender-se
Satanás, eu te repreendo em nome de Jesus Cristo, anulando a influência
que exerces na vida dessa pessoa em tais e tais áreas...
As palavras que empregamos não importam; o importante é fazer a
oração. Precisamos entender o que estamos realizando no mundo espi­
ritual e resistir a Satanás em nome de Deus, proibindo-o de agir.
Ligar e Desligar
Jesus disse o seguinte; “O que ligares na terra, terá sido ligado nos
céus; e o que desligares na terra, terá sido desligado nos céus” (Mt 16.19).
Nós podemos anular a influência do inimigo sobre aqueles por quem ora­
mos. (Isso é ligar.) E podemos orar para que venha o reino de Deus sobre
eles (desligar). O reino é simplesmente o espaço onde o Rei (Jesus) reina.
Para “desligar”, temos de orar para que aquele por quem intercedemos
receba as características específicas do reino — convicção de pecados,
graça, amor e revelação. Então, pela intercessão amarramos as forças de­
moníacas, impedindo-as de operar ou influenciar a vida daquele indiví­
duo, e "desprendemos” os anjos e o Espírito de Deus para que atuem
na vida dele.
Uma pergunta que muitas vezes me fazem é a seguinte:
“Témos de resistir ao diabo todas as vezes que intercedermos?”
Não. Haverá situações na intercessão em que precisaremos travar a
guerra espiritual, mas nem toda intercessão é guerra. Não precisamos re­
sistir ao diabo todas as vezes que oramos, mas haverá momentos em que
teremos de fazê-lo.
Será que a Oração Opera Mudanças? 163
É Você 0 Omisso?
Deus nos chamou para sermos soldados em nome de Jesus Cristo.
E se alguém, vez por outra, começar a achar-se insignificante neste pla­
neta, deve ler Isaías 59. Nos primeiros versos do capítulo, o profeta faz
uma descrição da sociedade que lembra muito a situação atual. Fala de
alarmantes índices de pecaminosidade, injustiça e males. E depois de des­
crever os erros do mundo, apresenta a reação de Deus. “O Senhor viu
isso, e desaprovou o não haver justiça. Viu que não havia qjudador algum,
e maravilhou-se de que não houvesse um intercessori' (Is 59.15,16.)
O profeta diz que o Senhor vê o mal no mundo e desaprova. Preci­
samos lembrar-nos de que Deus vê tudo. Nada escapa à sua percepção.
Quando vemos males e injustiças neste mundo ficamos tão perturbados
que até chegamos a pensar que Deus não se acha ciente dessas coisas,
como nós estamos. Mas na verdade ele está sabendo de tudo; dos pe­
cados, das palavras ásperas, dos pensamentos secretos, das injustiças. Vai
registrando tudo em sua mente infinita, e sente, com seu coração de Pai,
a dor de cada um que sofre. E também tem reações de caráter emocional
diante do que vê. Deus se entristece e desaprova com indignação os males
do mundo, aos quais, aliás, não pode fechar os olhos. Ele se desgosta
profundamente com tais erros.
Há muita gente que acredita que Deus é meio indiferente a tudo isso,
e que o que tem de acontecer, fatalmente acontece. Como já menciona­
mos, esse não é o pensamento cristão. E adotado mais pelos muçulmanos
que afirmam que tudo que se passa é da vontade de Alá. Se acharmos
que os terríveis males que ocorrem no mundo são da vontade de Deus,
perderemos o incentivo para interceder. O fato, porém, é que a Bíblia
ensina claramente que Deus detesta todos os males e todos os atos ego­
ístas praticados pelo homem.
E essa posição divina é a alavanca que temos para a intercessão. Po­
demos interceder porque sabemos que Deus não se agrada do modo como
as coisas estão-se passando, e deseja operar mudanças.
Lemos em Isaías 59.16 que Deus viu que não havia ajudador e
maravilhou-se de não haver um intercessor. Por que será que o Deus eterno,
onipotente e soberano, estava procurando um homem? Existe alguma coisa
que ele não possa fazer? Será que não podería deter o mal? Por que o
Tbdo-Poderoso precisaria de um homem?
Deus Támbém Faz Perguntas
Tbdo mundo — inclusive os crentes • diante das tragédias que acon-
tecem na terra pergunta:
164 Batalha Espiritual

“Por que será que Deus não dá um jeito nisso tudo? Onde é que ele
está*”
E a Bíblia diz que também ele está fazendo perguntas. Deus olha to­
dos os males e fica admirado de não haver ninguém intercedendo.
“Onde é que estão os crentes?” diz ele. “Como é que eles podem ficar
parados, sem fazer nada?”
Por que Deus está procurando um homem? Por que ele se admira
de não haver intercessores? Porque ele conhece a importância da inter-
cessão e da função que o homem deve exercer na terra.
Deus estabeleceu no universo certos princípios básicos irrevogáveis.
Ele só pode interferir nos problemas da humanidade se nós orarmos e
na medida em que o fizermos. E por isso que ele está procurando alguém
que interceda. E é por isso também que se espanta de não encontrar
intercessores. Ele é todo-poderoso. Ele nos ama e quer transformar o
mundo. Mas fica espantado e até chocado de nós não orarmos. Ele está
clamando a seu povo;
“Quero operar no mundo. Quero abençoar o homem. Quero salvar
almas. Quero proteger, prover as necessidades do homem e deter as in­
justiças. Por que vocês não intercedem?”
Precisamos nos convencer de que a oração altera o curso dos acon­
tecimentos. Ela pode modificar totalmente as circunstâncias. Nenhuma
outra atividade humana tem efeito semelhante. E a oração opera mudan­
ças porque Deus atende às nossas petições. Quando oramos. Deus opera.
Ele está bem ciente do que deseja realizar na terra e na vida daqueles
que nos cercam. É por esse motivo que nos revela sua vontade dando-nos
detalhes específicos. Ele quer que oremos segundo a sua vontade. Ele
chega a revelar-nos o que deseja que peçamos. Primeiro temos de esperar
em Deus. Em seguida, ele nos revela sua vontade e nós oramos de acordo
com ela. Por fim, ele atua.
Deus não se acha limitado, incapacitado de agir sem a oração do crente.
Ele pode fazer o que quiser, já que é soberano. Não se acha cerceado
pelo homem. Entretanto, ao que parece, ele decidiu incluir-nos na gestão
das questões do planeta. Decidiu que só atuará nos problemas humanos
na medida que orarmos. E não pretende eliminar esse intermediário. Exis­
tem certas áreas da vida humana em que ele só interfere se orarmos. Por
isso se espanta de não intercedermos, e com toda razão.
Por que oramos pouco? Acredito que é porque não estamos plena­
mente convencidos de que nossa intercessão vá mesmo alterar alguma
coisa. E as poucas vezes que oramos, quase sempre repetimos aquilo que
ouvimos outros dizerem. Áo orar, precisamos fazê-lo com a firme convicção
de que obteremos a resposta de nossa petição.
Será que a Oração Opera Mudanças? 165

Uma Oração Modelo, Não um Ritual


Os discípulos de Jesus lhe perguntaram como deviam orar, e Jesus
ensinou-lhes o “Pai Nosso”. Mas o “Pai Nosso” não é apenas uma oração.
E mais uma revelação acerca de como a esfera terrena interage com a
celestial, e a celestial com a terrena. Nela, Jesus está ensinando como
se ora com poder.
Em Mateus 6.9-13, a oração principia com as palavras: “Pai Nosso...”
Aí 0 Senhor nos dá permissão para nos aproximarmos de Deus sem te-
moi; numa atitude de sinceridade e intimidade, como de um filho para o Pai.
Em seguida ele diz: “Venha o teu reino, faça-se a tua vontade”. Creio
firmemente que Jesus não queria que disséssemos essas palavras apenas
por dizer. Desejava que o pedíssemos com todo fervor. Sua intenção era
que orássemos para que a vontade de Deus fosse feita mesmo e que seu
reino avançasse nesta terra. Ele queria que a vontade de Deus se cum­
prisse em todos os aspectos de nossa vida, em nossa família, na vida dos
amigos e conhecidos, nas cidades, países, em toda e qualquer situação.
“Venha o Teu Reino”
Podemos orar para que o reino de Deus se estabeleça na terra? Diz
0 livro de Apocalipse que um dia Deus irá estabelecer seu trono na terra.
Isso é verdade e todas essas palavras se cumprirão, quer nós oremos ou
não. Deus irá cumprir o que disse.
Entretanto existe um outro aspecto do reino de Deus — o reino que
se acha dentro de cada crente (Lc 17.21). E a esse reino que Jesus estava-
se referindo. Tbria sido crueldade da parte do Senhor se ele dissesse para
orarmos “Venha o teu reino” já sabendo que tal petição não teria valia
alguma. Mas o fato é que nossa oração tem valor, sim. Se não orarmos,
0 reino não virá. E como nós não oramos o suficiente, o reino de Deus
se acha dentro de apenas dois bilhões de pessoas na terra.
“Fáça-se a Tua Vontade”
A vontade de Deus está sendo feita na terra? É uma pergunta difícil.
Se respondermos “Sim”, então será que estanamos dizendo que o pecado
e 0 mal são da vontade de Deus? Mas, se respondermos “Não”, estaríamos
dizendo que ele não se acha no controle de tudo que acontece no planeta
terra? A resposta certa é “Sim” e “Não”. Deus não quer na terra nem
0 pecado, nem o mal, nem a morte, nem a destruição. Támpouco é de
sua vontade que Satanás domine e influencie vidas da forma como o faz.
Entretanto Deus ainda se acha no pleno controle de tudo. Está fazendo
exatamente o que disse que faria. Está executando seu eterno propósito
166 Batalha Espiritual

para o homem e é soberano para agir em qualquer área da vida humana.


Ele deliberou que atuará nas questões humanas por intermédio do pró­
prio homem, atendendo às orações dos crentes.
Deus odeia o pecado. Ele se opõe a toda injustiça. Entretanto não
deseja que “nenhum pereça" (2 Pe 3.9). Pelo contrário; quer que todos
se salvem (1 Tln 2.4). Sabemos que nem todo mundo será salvo, mas mesmo
assim entendemos que esse é o desejo de Deus. Ele está ansioso para
realizar sua vontade na vida daqueles que o receberem. Contudo existem
muitos lugares e situações em que a vontade divina não está sendo re­
alizada. POr essa razão é que Jesus nos orienta a orar assim: “Venha o
teu reino, faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu”. Ele nos
recruta para desempenharmos o papel de um guarda.
‘Sobre os teus muros, ó Jerusalém, pus guardas, que todo o dia e toda
a noite jam ais se calarão; vós os que fareis lembrado o Senhor, não des­
canseis, nem deis a ele descanso até que restabeleça Jerusalém e a ponha
por objeto de louvor na terra." (Is 62.6,7.)
Embora o texto de Isaías 62 se refira a Jerusalém e a uma época di­
ferente, ele revela um princípio que pode ser aplicado a nós hoje. Tbdos
já ouvimos alguém dizer:
“Ao orar, devemos fazer nossa petição a Deus só uma vez. Ficar re­
petindo 0 pedido é sinal de falta de fé.”
Não é isso que a Bíblia ensina. Aliás, ela diz o oposto. Tfemos de pedir
e continuar pedindo até que Deus nos atenda ou diga que já oramos o
suficiente. E é possível até que, assim que fizermos a petição, ele nos ins­
trua a que paremos de orar, e passemos apenas a esperar, confiando nele.
O ponto central aí é buscar a Deus e obedecer ao que ele ordena.
Em Isaías, Deus diz que pôs “guardas” ou intercessores para orarem
0 dia inteiro e a noite toda, elevando sua petição a Deus repetidamente.
Ele diz que temos de fazer “lembrado o Senhor” — isto é, orar, e não
lhe dar “descanso” até que nos atenda. Deus pede que oremos incessan­
temente e que não paremos enquanto não obtivermos a resposta.
As Orações Bíblicas São Ousadas
Parece que muitos crentes têm medo de aborrecer a Deus com suas
petições. Fa^m orações vagas, dando a impressão de que querem apenas
apresentar-lhe sugestões.
“Ó Deus, sinto muito ter de incomodá-lo, mas... Sei que o Senhor
é muito ocupado, mas será que podería... Se não for muito incômodo...
Se for da tua vontade.. Se não for, eu compreendo... talvez... quem sabe..”
As orações que há na Bíblia não são assim. Os homens e mulheres
Será que a Oração Opera Mudanças? 167
da Bíblia conheciam a Deus e a sua própria posição diante dele. Sabiam
também que suas orações poderíam mudar as circunstâncias. Então fi­
zeram orações ousadas, dinâmicas, orações diretas e poderosas. Deus nos
deu permissão para orar com coragem e buscá-lo vigorosamente até que
nos responda.
E 0 próprio Deus quem diz: “Não me deem descanso”. E se o diz,
obviamente não vai-se sentir ofendido se orarmos com destemor. Poderá
corrigir-nos se o buscarmos com motivações erradas, mas, não sendo as­
sim, ele está desejoso de ouvir-nos e atender-nos. Vemos na Bíblia que
Neemias, Davi e outros exigiram que Deus os escutasse. Eles argumen­
taram com Deus, lutaram com ele. E não consta que esses homens o ti­
vessem feito por orgulho ou arrogância, não. Simplesmente sabiam que
Deus quería que o buscassem e que não o deixassem ter sossego. Orar
de forma destemida com pedidos específicos não é sinal de desrespeito.
E sinal de que conhecemos o caráter de Deus e de que sabemos o que
significa ser filho dele. Deus está-nos conclamando:
“Vamos lá, gente! Não me dêem descanso. Quero salvar almas, aben­
çoar, curar enfermos e operar no mundo. Vamos lá! Orem sem cessar!”
Uma Fé Provada
Existem alguns relatos bíblicos que nos perturbam um pouco, pois
não entendemos tudo que está por trás das situações focalizadas. Uma
delas é a história da mulher cananéia, narrada em Mateus 15.22,23.
“E eis que tona mulher cananéia, que viera daquelas regiões, clamava:
Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horri­
velmente endemoninhada. Ele, porém, não lhe respondeu palavra. E os
seus discípulos, aproximando-se, rogaram-lhe: Despede-a, pois vem cla­
mando atrás de nós.”
Por que Jesus agiu daquela maneira? Ele nunca cometeu pecado, nunca
teve uma atitude egoísta. Mostrava-se sempre justo e compassivo. Então
por que agiu de forma aparentemente fria com a mulher cananéia? Por
que não lhe deu resposta? Ali estava uma mãe desesperada, clamando
a Deus, e ele não lhe dava resposta.
Quantas vezes oramos e Deus não responde! Isso é penoso, mas o
fato é que a Bíblia ensina que Deus às vezes retarda a resposta. E quando
vemos que ele não responde, ficamos transtornados e atarantados. Então
dizemos:
“Esse negócio de oração para mim não funciona. Deus não me ama.
Não adianta. É melhor deixar para lá.”
E nossa fé até diminui.
168 Batalha Espiritual

Jesus não atendeu a mulher. Mas observemos um fato; ela pediu de


novo. Em vez de dar meia-volta e ir embora após a primeira tentativa,
ela insistiu com seu pedido. E finalmente Jesus lhe deu uma resposta.
Mas ao fazê-lo comparou-a a um cão. Era o tratamento que os israelistas
tinham para com os fenícios. Então será que Jesus estava sendo cruel
com ela? Era preconceituoso? Não. Estava apenas lhe relembrando a po­
sição que seu povo ocupava no meio dos judeus. Ele sabia que aquela
mulher tinha fé e estava provando-a. Ele dissera aquilo simplesmente como
“provocação”, para obrigá-la a dar uma resposta.
E no verso 27 temos essa resposta: “Sim, Senhor, porém os cachor-
rinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos”. A mulher
não era de origem judaica, não conhecia as histórias dos heróis bíblicos.
Mas sabia muito bem o que queria, e sabia também que Jesus podería
atender sua petição. E o Senhor elogiou a grande fé por ela demonstrada.
Ela revelara fé não ao fazer a petição, mas ao repeti-la, sabendo que Jesus
podería curar sua filha, e o faria. E ele curou.
Quem tem uma fé genuína não desiste facilmente, mas persevera. Orar
com fé não é orar uma vez só, mas orar até receber a resposta. Há oca­
siões em que Deus retarda o atendimento para obrigar-nos a orar mais,
pois a resposta dele depende de orarmos mais. Deus quer que o busque­
mos diligentemente, sem levar em conta as circunstâncias, sem nos preo­
cupar com a demora no atendimento.
Ignoremos Restrições; Oremos sem Acanhamento.
Em Lucas 11.5-9, Jesus narra a seguinte parábola:
“Disse-lhes ainda Jesus: Qual dentre vós, tendo um amigo e este for
procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois
um meu amigo, chegando de viagem, procurou-me, e eu nada tenho que
lhe oferecer. E o outro lhe responda lá de dentro, dizendo: Não me im­
portunes: a porta já está fechada e os meus filhos comigo também já estão
deitados. Não posso levantar-me para tos dar; digo-vos que, se não se le­
vantar para dar-lhos por ser seu amigo, todavia o fará por causa da im-
portunação, e lhe dará tudo o de que tiver necessidade Por isso vos digo:
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.”
Jesus era muito criterioso ao escolher os elementos de suas parábolas.
Mas veja só as incoerências que aparecem nessa história. Dificilmente al­
guém iria à casa de um vizinho, deçois de ele já ter-se deitado, para lhe
pedir emprestado algum alimento. É simplesmente algo que não se faz.
E insistir, depois de o vizinho ter dito “Vá embora”, é o cúmulo do atre­
vimento. Pois 0 homem da parábola, sem acanhamento nenhum, quebrou
Será que a Oração Opera Mudanças? 169
diversas convenções sociais. Mas foi por causa de sua persistência que
conseguiu o que queria.
E possível que poucos de nós tivéssemos a coragem de fazer o que
ele fez. E no entanto Deus apoia tal atitude, e até nos instrui a que a
adotemos quando se trata de orar. O sentido das últimas palavras, no ori­
ginal grego, seria o seguinte: “Pedi, e continuai pedindo; buscai e con­
tinuai buscando; batei e continuai batendo...” Então Jesus, ao narrar essa
parábola, estava ensinando que devemos ignorar as restrições naturais
que possamos ter. lémos de pôr de lado o acanhamento, e não permitir
que as convenções, sejam elas quais forem, nos impeçam de orar.
O Caso do Juiz Iníquo
Em Lucas 18.1-8, Jesus narra outra história.
“Disse-lhes Jesus uma parábola, sobre o dever de orar sempre e nunca
esmorecer. Havia em certa cidade um ju iz que não temia a Deus nem
respeitava homem algum. Havia também naquela mesma cidade uma vi­
úva, que vinha ter com ele, dizendo: Julga a minha causa contra o meu
adversário. Ele por algum tempo não a quis atender; mas depois disse
consigo: Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum,
todavia, como esta viúva me importuna, julgarei a sua causa, para não
suceder que, por fim, venha a molestar-me Então disse o Senhor: Con­
siderai no que diz este ju iz iníquo. Não fará Deus justiça aos seus esco­
lhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-
los? Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho
do homem, achará porventura fé na terrcE”
Se 0 povo de Deus não persistir em oração, será que Jesus encontrará
fé na terra? O Senhor narrou essas histórias para que entendéssemos a
importância de persistir em oração. Precisamos aprender a orar com in­
sistência, precisamos agarrar-nos a Deus, até receber a resposta, lémos
de orar e continuar orando, e abalar os céus até vermos a resposta de
nossas petições. Essa persistência não tem por objetivo “acordar” Deus,
nem implorar, nem fazer barganhas com ele, nem convencê-lo a nos dar
0 que pedimos. Ele já está convencido e desejoso de abençoar-nos, ajudar-
nos e salvar-nos. Isso é do caráter dele. Ele é que deseja acordar-nos e
convencer-nos.
Peçamos Exatamente o que Queremos
Além de ser persistentes em oração, precisamos também fazer orações
incisivas e específicas. Em Marcos 10.46-52, encontramos a história do
cego Bartimeu. Jesus estava saindo de Jerico quando o cego ouviu dizer
que ele iria passar ali. E logo se pôs a gritar em alta voz: “Jesus, filho
170 Batalha Espiritual

de Davi, tem compaixão de mim!” Alguns que se achavam por perto ten­
taram fazer com que ele se calasse. Estava perturbando uma ocasião tão
solene. Mas Bartimeu “cada vez gritava mais”. Então, além de não se calar,
ele passou a gritar mais alto: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!”
Afinal Jesus foi até onde ele se encontrava e perguntou-lhe: “Que queres
que eu te faça’”
Jesus gosta quando insistimos e não o largamos de mão, mesmo não
recebendo uma resposta imediata. Quer que insistamos e continuemos
orando. E quer também que façamos orações específicas. E hoje ele ainda
nos diz:
“O que você quer que eu lhe faça’”
E nós temos de dirigir-lhe petições específicas, detalhadas, e não orações
vagas, cheias de religiosidade, sem dizer a Deus exatamente o que que­
remos. Precisamos especificar o que pedimos, para que Deus nos dê res­
postas específicas. Reconheço que nem sempre sabemos definir com pre­
cisão todos os detalhes de nossa petição, mas procuremos especificá-la
ao máximo.
Tbdo crente deve orar com destemor, certo de que Deus responderá
todas as suas orações. Precisamos insistir, e não dar descanso a Deus
até que atenda nosso pedido. Vamos abandonar as tradições religiosas
e nos livrar de convenções para assim buscarmos a Deus em oração, com
inabalável determinação. Se nos convencermos de que Deus tem interesse
em operar nas questões humanas, oraremos assim. E se orarmos veremos
a mão de Deus operar. Veremos transformações acontecerem. E a oração
passará a ser um dos aspectos mais interessantes de nosso viver. Come­
çaremos a abalar o mundo. A sociedade sentirá o impacto de nossa fé.
As pessoas que nos cercam experimentarão mudanças. E nós nos tor­
naremos valorosos guerreiros da oração.
CAPITULO DOZE

A guerra espiritual ^não consiste apenas em fazer orações ou repre­


ender demônios, não. E todo um modo de viver. No capítulo anterior en­
fatizamos a importância da oração. Contudo, segundo Tiago 5.16 — “Muito
pode, por sua eficácia, a súplica do justo” — Deus associa a oração a
um viver justo, à maneira como vivemos. Em todos os atos que pratica­
mos, nós estamos ou dando lugar às forças das trevas ou repelindo-as.
Como já dissemos, o diabo, apesar de derrotado, pode agir no mundo
porque os homens pecam e vivem egoisticamente. A medida da atuação
satânica é diretamente proporcional à pecaminosidade humana. E o pe­
cado que lhe dá condições para atuar. Em Efésios 4.27, temos a seguinte
advertência: “Nem deis lugar ao diabo”.
No texto de Jeremias 5.1, Deus revela como é compassivo seu coração
e quanto vale um justo. Ali ele diz ao profeta: “Dai voltas às ruas; vede
agora, procurai saber, buscai pelas suas praças alguém, se há um homem
que pratique a justiça ou busque a verdade; e eu lhe perdoarei a ela”.
172 Batalha Espiritual

0 Senhor estava disposto a suspender o castigo que enviaria à cidade


toda se encontrasse nela um homem reto.
Em Gênesis 18.20-33, temos uma situação semelhante, agora com re­
lação a Sodoma e Gomorra. Abraão suplicou a Deus que não destruísse
as cidades, caso fossem encontradas nelas cinqüenta pessoas justas. Deus
aquiesceu, e em seguida Abraão baixou o número de justos para quarenta.
Deus concordou de novo. E outra vez Abraão sugeriu um número menor.
Por fim, 0 Senhor concordou em poupar as cidades se houvesse ali ape­
nas dez justos. Ele não estava barganhando com Abraão, pois sabia de
antemão quantos justos havia nelas. Mas nesse dia Abraão compreendeu
0 quanto Deus era misericordioso. Estava sempre disposto a perdoar; era
sempre compassivo. Pòr esse episódio, aquele homem entendeu — e nós
também — o valor de um justo.
A Influência do Justo na Sociedade
A história da igreja contém muitos relatos documentados de aviva-
mentos de grande alcance. Costumamos pensar que avivamento é um des-
pertamento que ocorre numa igreja. Mas o verdadeiro avivamento é aquele
em que toda uma cidade sofre mudanças. No despertamento que ocorreu
no País de Gales na primeira década do século XX, por exemplo, num
prazo de dois anos converteram-se mais de 100.000 pessoas. O clima mo­
ral do lugar mudou tanto que algumas tavemas faliram, e os policiais fi­
caram sem ter o que fazer. E cinco anos depois, 80% dos que se haviam
convertido ainda freqüentavam as igrejas.*
Por que esse tipo de despertamento espiritual não ocorre em todos
os lugares? Será que há avivamento num lugar porque Deus gosta mais
do povo dali do que do de outros? A Bíblia afirma que ele não faz acepção
de pessoas (At 10.34). Ele não prefere uma pessoa em detrimento de ou­
tra, nem favorece um povoado, cidade ou país mais do que a outro. Então,
por que às vezes uma cidade inteira se salva enquanto outras não?
O avivamento acontece da seguinte maneira. Deus, em sua soberania
e sabedoria, toma a iniciativa de tocar o coração dos homens. Alguns
— por vezes muito poucos — respondem positivamente a esse toque.
Quando uma grande porcentagem do povo de Deus de uma localidade
acerta a vida com ele e uns com os outros, criam-se condições ali, para
que 0 Senhor derrame sua bênção. Depois o avivamento se estende aos
perdidos, fora da igreja. Pela força da justiça do crente, o diabo é impe­
dido de atüar, o Espírito de Deus é derramado e opera convicção de pe­
cados em todos os que estiverem por perto. Assim, a mente e o coração
* Pratney, Winkie; R eviva! (Avivamento), Whitaker House^ Springdale, Pâ. 1983.
Como se Trava Essa Guerra 173
das pessoas abrem-se para o evangelho. Chega ao ponto de alguns se
salvarem sem que ninguém lhes fale de Jesus.
Isso tem acontecido inúmeras vezes na História. Assim é o avivamento
ocasionado por um viver santo, poderoso.
O Papel do Arrependimento na Guerra Espiritual
Jesus afirmou que somos o “sal da terra” e “a luz do mundo”. E ad­
vertiu ainda que o sal pode perder o seu sabor e que a luz pode ser es­
condida debaixo de um alqueire. Portanto o crente pode ser atuante ou
não. Podemos usar nossa luz como um farol para o mundo, ou podemos
escondê-la. Na condição de sal, se tivermos uma vida santa podemos mu­
dar 0 sabor do mundo ou então passar despercebidos sem causar nenhum
impacto ao nosso redor. Se orarmos por um irmão que está em luta com
determinado pecado, por exemplo, mas nós próprios estivermos cometendo
esse pecado, nossa intercessão não terá o menor poder. Mas, se nos ar­
rependermos e orarmos, poderemos destruir o domínio que o inimigo
exerce sobre outros, abrir caminho para um avivamento, ajudando a es­
tabelecer 0 reino de Deus na terra.
Foi durante a Copa do Mundo de futebol na Argentina que aprendi
0 quanto o arrependimento é importante na guerra espiritual. Eu, John
Dawson e Wick Nease estávamos em Córdoba, à frente de um grupo de
duzentos missionários, realizando um impacto evangelístico de âmbito na­
cional durante aquele torneio. Entretanto, embora os missionários saís­
sem às ruas todos os dias naquela cidade — cuja população é constituída
de descendentes de imigrantes alemães e italianos — todo o nosso esforço
estava sendo vão. Saíamos diariamente para dish ibuir literatura cristã, fa­
zíamos cultos de pregação ao ar livre e evangelismo pessoal. Mas nada
acontecia.
Então John, Wick e eu resolvemos orar. E Deus começou a mostrar-
nos que estávamos sofrendo resistência de uma fortaleza de orgulho. Em
seguida, o Espírito Santo revelou-nos que também nós abrigávamos or­
gulho no coração. Assim que nós três nos humilhamos uns perante os
outros, confessamos aspectos de nossa vida de que nos orgulhávamos e
pedimos a Deus que nos purificasse, começamos a perceber que fora por
isso que não conseguíramos êxito no trabalho em Córdoba.
Em seguida, reunimos os duzentos obreiros e confessamos nosso pe­
cado diante deles. Támbém eles responderam positivamente, e foi então
que Deus indicou qual devia ser a estratégia para o trabalho naquela ci­
dade. Tínhamos de ir em grupos de trinta pessoas às principais avenidas
e esquinas centrais daquela orgulhosa cidade, e nos ajoelhar em frente
dos restaurantes, das lojas mais elegantes, bem como diante dos prédios
174 Batalha Espiritual

do setor financeiro, para pedir perdão a Deus. E nós lhe obedecemos


e nos humilhamos diante dele pedindo-lhe que perdoasse nossos pecados
e os daqueles que ali viviam.
Ajoelhar numa via pública não opera nenhum milagre, a não ser que
tenha sido ordenado por Deus. Nós nos sentimos ridículos, mas obede­
cemos. E imediatamente começamos a ver mudanças. O povo de Córdoba
tomou-se mais sensível à nossa mensagem, e até desejoso de ouvir o evan­
gelho. Eles mesmos nos procuravam querendo saber o que deviam fazer
para ser salvos. Às vezes faziam fila para pegar a literatura que estávamos
distribuindo e alguns pediam que autogafássemos os folhetos.
O arrependimento é uma poderosa arma contra Satanás. A questão
toda é muito simples. Quando nos arrependemos, rompemos o poderio
das forças das trevas. Mas, se formos desobedientes, permitimos que o
inimigo opere. Obedecendo a Deus, detemos Satanás. Se operarmos em
incredulidade, favorecemos a atuação dele. Mas, se exercitarmos fé, nós
a anulamos.
Tbmar Posse de Tbrritórios
Sempre que vamos a um lugar e tomamos posse daquela área para
Deus, alguma coisa acontece. É claro que pegar um avião e viajar de fé­
rias, em si, não tem nada de espiritual. Mas quando viqjamos para de­
terminado lugar obedecendo a uma ordem de Deus, e vamos ali cheios
do Espírito e com um viver santo, causamos um impacto. Fazer uma ca­
minhada por um setor mais pecaminoso de uma cidade ou desembarcar
de um avião num país espiritualmente em trevas pode ser um ato de guerra.
Em Josué 6.1-20, há o relato de como Josué e os filhos de Israel to­
maram a cidade de Jericó. Eles caminharam em redor da cidade durante
sete dias. Nos primeiros seis dias, deram apenas uma volta em tomo dela;
no sétimo dia, sete voltas. Conhecendo a natureza humana, acredito que,
pelo meio da semana, alguns deles já deviam estar resmungando e per­
guntando por que Deus mesmo não derrubava as muralhas. Certamente
ele não ia querer que eles ficassem andando debaixo daquele sol quente
para realizar essa tarefa. Mas obedeceram. E marcharam todos os dias.
Após os sete dias de obediência — mediante um ato físico — as muralhas
ruíram. Será que elas caíram porque os filhos de Israel marcharam ao
redor dela?
Deus podería de fato ter demibado as muralhas a hora que quisesse,
mas ele tinha outras coisas em mente. Naquele sétimo dia, o povo de
Israel iria ganhar mais do que uma simples batalha. Pela obediência e
pela própria presença do povo de Deus, Israel repeliu os poderes das tre­
vas no reino invisível. Deus mostrou-lhes a importância de ir aonde ele
Como se Trava Essa Guerra 175
determinava que fossem, e fazer exatamente o que ele queria que fizes­
sem. Para que as muralhas de Jerico caíssem, foi necessário que primeiro
ganhassem a batalha no plano espiritual.
O papel do homem, na guerra que se trava entre a luz e as trevas,
não é ser mero observador passivo. Deus nos delegou autoridade e res­
ponsabilidades. Se sairmos a marchar ou a pregar. Deus irá operar. Ele
derrubou as muralhas de Jerico, mas só o fez depois que seu povo mar­
chou em tomo da cidade.
Como já mencionamos. Satanás faz uma distribuição geográfica de
suas hostes. Portanto, se quisermos produzir um impacto maior sobre
os principados de um lugar, é preferível que estejamos nesse local. É por
isso que a obra de missões é importante e que Deus chama filhos seus
para irem a outras nações, ainda que por curtos períodos.
Nesses últimos anos tenho acompanhado gmpos de voluntários a di­
versos países, para realizar trabalhos missionários de curta duração. São
gmpos constituídos de crentes comuns que querem ter uma oportunidade
de deixar seu impacto no mundo. Entretanto algumas pessoas têm ques­
tionado 0 valor de tais esforços, criticando o alto custo deles. Em vista
disso, tenho buscado a Deus muitas vezes, para reexaminar a validade
desse trabalho.
E 0 Senhor tem-me mostrado, segundo creio, que quando alguns cren­
tes comuns se unem aos de outros países, algo acontece no plano invi­
sível. Quando eles vão a outra nação dispostos a servir, amando uns aos
outros, pregando o evangelho, marchando, cantando, adorando e louvando
a Deus, desferem contra as forças das trevas um golpe que nunca lhes
fora dado antes. Não se trata simplesmente de viajar, mas de fazê-lo em
obediência a Deus. Isso abala seriamente as forças do mal.
Orações Localizadas
Ultimamente Deus tem orientado a igreja a utilizar a oração localizada
como uma estratégia da guerra espiritual. Muitos crentes têm realizado
caminhadas de oração. Andam pelas ruas de uma cidade, e param — se­
gundo a orientação do Senhor — nos setores onde são tomadas as de­
cisões importantes. Além disso, Deus tem dado a outros entendimento
acerca de "regiões celestes” espirituais, lugares que parecem ser redutos
de malignidade.
Precisamos ter sempre o cuidado de procurar saber de Deus qual deve
ser nossa estratégia em cada situação, em vez de adotar uma conduta
tradicional. Há casos em que podemos atacar as fortalezas imediatamente.
Mas há outros em que primeiro será preciso tomarmos algumas provi­
dências em obediência a Deus. No Velho Tbstamento, houve momentos
176 Batalha Espiritual

em que Deus orientou o povo a que tivesse um confronto direto com o


mal, como no episódio do monte Carmelo, de 1 Reis 18. Mas houve ou­
tras situações em que ele disse que iria expulsar os inimigos aos poucos
(Êx 23.29-30).
Muitas vezes é preciso fazer uma “limpeza” espiritual em um prédio
ou área, pois os pecados e práticas malignas do passado deixaram ali um
resíduo pecaminoso. Não é mera fantasia a idéia de que existem casas
mal-assombradas. Os maus espíritos como que se instalam em certos lu­
gares e é preciso expulsá-los dali em nome de Jesus.
Certa ocasião a equipe da JOCUM de Chiang Mai, Tãilândia, conse­
guiu alugar certa casa por um preço excelente, porque o povo do lugar
achava que ela era mal-assombrada. E de fato havia ali um demônio, mas
os nossos missionários o expulsaram, em nome de Jesus, e ocuparam-na
durante vários anos.
Em muitas partes do mundo, há lugares em que a própria terra foi
adorada, ou amaldiçoada, ou invocaram-se espíritos para ela. O que acon­
tece é que ali se instala uma fortaleza do mal. Mas a presença de forta­
lezas em certa área geográfica pode ter sido causada também pela prática
desenfreada de pecados nesse lugar. Sabemos que Deus tem ordenado a
alguns crentes que orem para que se libertem determinadas regiões.
É muito importante que estejamos sempre buscando a orientação de
Deus nessas coisas, deixando que ele dirija tudo. Nem todas as proprie­
dades, terrenos ou casas precisam ser “purificados”. Não devemos criar
doutrinas acerca de pedras e árvores e nos esquecer de que Jesus quer
salvar é as pessoas. Nós só precisamos romper o domínio de demônios
em determinados locais quando eles estiverem afetando a vida das pes­
soas que ali se encontram, exercendo uma influência negativa sobre elas.
Na qualidade de guardas de nossas cidades, nações ou instituições, po­
demos anular, numa ação diária, a influência maligna na sociedade.
“Manhã após manhã destruirei todos os ímpios da terra, para limpar
a cidade do Senhor dos que praticam a iniquidade” (SI 101.8.)
A Pregação Támbém é Guerra Espiritual
A pregação é outra forma de guerra espiritual. A única maneira certa
de dispersar a escuridão é acender a luz. Pregar o evangelho é o mesmo
que acender uma luz num ambiente escuro. Se há uma coisa que a igreja
tem de fazer é pregar o evangelho. E, para isso, devemos lançar mão de
todo e qualquer método de ação. Tbmos de empregar todas as formas
de apresentação da mensagem, sejam elas inovadoras ou antiquadas, desde
que praticadas em verdade e em amor a Cristo. Alguns crentes tendem
a rejeitar certos métodos de evangelismo, como por exemplo um jovem
Como se Trava Essa Guerra 177
pregador de cabelos longos, acompanhado de um conjunto de rock ou
um pregador de rua usando um megafone, Mas se há indivíduos que só
darão atenção à pregação do evangelho se for feita por esse método, te­
mos de utilizá-lo. E claro que devemos examinar tudo muito bem, e ve­
rificar se as práticas que adotamos estão prejudicando ou beneficiando
0 trabalho. Mas, em princípio, não devemos descartar nenhum método.
O diabo tenta de tudo para fazer-nos desistir de pregar o evangelho, pois
sabe que a pregação dessa mensagem afasta os poderes das trevas.
Nossa Reação às Adversidades e a Guerra Espiritual
Outra maneira de travar a guerra espiritual é ter a atitude certa diante
das adversidades. Os crentes podem sofrer sérias tribulaçÕes, como diz
a Bíblia: “Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra”
(SI 34.19). As aflições fazem parte de nosso viver neste mundo pecami­
noso. Ninguém está isento delas. O livro de Jó nos dá um exemplo das
calamidades que um justo pode sofrer. Mas a história dele mostra também
que podemos derrotar o diabo se tivermos a reação certa diante do mal.
Jó perdeu tudo e sofreu todo tipo de ataque espiritual e físico. Mas acabou
derrotando o diabo. Os ataques do inimigo não o destruíram. Mesmo em
meio a muito sofrimento e perplexidade, e embora não entendesse tudo,
ele afirmou com toda confiança: “Porque eu sei que o meu Redentor vive”.
Diante de um infortúnio, seja ele grande ou pequeno, precisamos estar
sempre lembrados que não temos uma visão total do quadro. Não sabe­
mos por que aquilo está-nos acontecendo. Mas, a despeito do que possa
sobrevir-nos, devemos afirmar:
“Deus é justo.” (1 5.18; Pv 3.5,6.)
Tbdas as vezes que passamos por circunstâncias difíceis ou dolorosas.
Satanás tenta convencer-nos de que Deus nos abandonou. E aí podemos
ter duas reações: ou ficamos amargurados e magoados, ou então confia­
mos totalmente no caráter dele As circunstâncias em que vivemos não
mudam o maravilhoso caráter de Deus. Nunca devemos acusar a Deus
insensatamente, nem pecar com os lábios. Não devemos nunca acusar
a Deus, nem criticá-lo, nem culpá-lo, nem insultar seu caráter, nem nos
queixar dele. Quando atacamos o caráter divino, estamos entregando a
vitória a Satanás.
Cada adversidade que sobrevêm ao crente é uma excelente oportu­
nidade para ele ter a reação certa, glorificar a Deus, exaltar seu caráter
e derrotar o diabo. Deus nos chama é para entrarmos numa guerra es­
piritual, e não para levarmos uma vida feliz e confortável. Nossa felicidade
está em conhecermos o caráter de Deus. Ele nos conclama a ser mais
que vencedores, e não a fugir do sofrimento. Conclama-nos a estabelecer
178 Batalha Espiritual

0 reino de Deus e resistir aos poderes das trevas. Deus podería tirar-nos
da terra assim que fôssemos salvos. Mas ele prefere deixar-nos aqui para
que nos tomemos guerreiros espirituais. Tfemos de adotar posturas po­
sitivas diante do sofrimento. Precisamos exercitar autocontrole e suportar
as tríbulações com a atitude certa, para anularmos os ataques do inimigo.
Libertar os Cativos
Outra forma de guerra espiritual é o confronto direto com indivíduos
endemoninhados, o que ocorre algumas vezes. Quando Jesus nos deu
a ordem de ir pregar o evangelho, ordenou também que expelíssemos
demônios em seu nome
E próprio do ser humano deixar-se escravizar, e portanto muitos pre­
cisam ser libertos. Nós temos autoridade para libertar cativos, e precisa­
mos usar dela sempre que necessário. Entretanto não podemos supor
previamente que todo e qualquer problema seja causado por demônios.
Em cada situação, devemos perguntar a Deus se há atuação demoníaca.
Em alguns casos, pode haver uma conjunção de fatores — o natural
e 0 sobrenatural. E possível que a pessoa a quem ministramos esteja abri­
gando no coração mágoas profundas que propiciaram a entrada de de­
mônios. Se assim for, além de expulsar os maus espíritos, será preciso
sanar essas mágoas em nome de Jesus. Mas é possível ainda que a di­
ficuldade básica seja a vontade do indivíduo. Será que ele realmente quer
ser liberto? Estará disposto a arrepender-se, a perdoar outros, a dar as
costas ao pecado e assumir um compromisso com a verdade?
Lado a lado com a libertação é preciso que haja arrependimento e
cura emocional. Os demônios são como mosquitos — ajuntam-se em fe­
ridas ou em matéria em decomposição. Então, de duas uma: ou ficamos
constantemente espantando as moscas ou tratamos de curar a ferida e
levar o indivíduo ao arrependimento para sanar o estado de deterioração.
E, depois de liberto, ele precisa ser edifiçado através da Palavra de Deus
para que assim possa permanecer livre. E assim que receberá forças para
resistir a outros ataques do diabo e viver uma vida vitoriosa.
Algumas pessoas têm a idéia de que a guerra espiritual consiste ape­
nas em libertar os opressos. Outros já dão mais ênfase à destruição de
fortalezas nos lugares celestiais. Outros ainda afirmam que travar guerra
espiritual é realizar as obras de Jesus — pregar, ensinar e praticar as ver­
dades bíblicas. E ainda outros ensinam que tudo isso é mera teoria. Acham
que devemos concentrar-nos mais em socorrer os necessitados, alimentar
os famintos, e protestar contra as injustiças sociais. Eu acredito que temos
de fazer todas essas coisas.
A destruição de fortalezas só tem valor se tiver por objetivo levar pes-
Como se Trava Essa Guerra 179

soas a Cristo. Tfemos de convir, porém, que, enquanto não repreendermos


esses poderes, certos indivíduos permanecerão totalmente surdos à pre­
gação. E alguns há que só poderão obter a vitória depois que forem rom­
pidas as cadeias que os prendem. Tfemos de adotar todas essas providên­
cias, através de orientações de Deus.
Em cada batalha que o povo de Deus travou no Velho Tfestamento,
serviu-se de uma estratégia diferente. E Jesus, ao curar enfermos, estava
sempre variando o método empregado. Portanto, nós também, em nosso
serviço cristão, procuremos não cair na rotina, mas façamos tudo que
0 Espírito de Deus nos disser.
O Jejum e a Guerra Espiritual
O jejum é outra arma poderosa a ser utilizada contra o inimigo. Em
Isaías 58.6, lemos o seguinte: “Porventura não é este o jejum que escolhi,
que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão,
deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo?”
No capítulo inicial deste livro, relatei a experiência que tive em Papua-
Nova Guiné, quando Deus me orientou sobre as providências a serem
tomadas para destruir as fortalezas espirituais alojadas naquele país.
Essa revelação me veio quando estava jejuando. Tãmbém na ocasião
em que fui a Sydney, Austrália, para ali abrir um trabalho da JOCUM,
senti que devia dirigir-me ao setor leste da cidade, onde havia poucos
crentes. Passei trinta dias em batalha espiritual: orando, jejuando e
caminhando pelas ruas daqueles bairros. Hoje existe na região diversas
igrejas grandes. Sei que não fui o único a orar para que ocorresse essa
mudança no setor leste de Sydney. Mas não tenho dúvida de que foi
após aquele período de oração e jejum, que as fortalezas espirituais
foram desbaratadas.
Antes de entrar para a JOCUM em 1967, eu era co-pastor de uma
igreja no Estado de Washington, cujo pastor titular era o Rev. James
Nicholson. Certo dia ouvimos uma fita em que estava gravada a expulsão
de demônio de uma menina. A situação era aterrorizante. Mas houve uma
parte daquela gravação que nunca esqueci. Num dado momento, um dos
crentes declarou que eles iriam jejuar e orar até que a menina fosse li­
berta. Nessa altura o demônio disse:
— Não! Não jejuem, não!
— Por que não? indagou o crente.
— Isso nos enfraquece, replicou o demônio.
Obviamente não vamos criar uma doutrina com base na palavra de
demônios. Mas tampouco precisamos ter medo de citar o que eles dizem.
A Bíblia contém registros das falas de demônios dizendo a Jesus que ele
180 Batalha Espiritual

era o Filho de Deus. De qualquer maneira, o jejum é de fato um positivo


aspecto da guerra espiritual.
A Contribuição e a Guerra Espiritual
Alguém talvez pergunte o que a contribuição tem que ver com a guerra
espiritual. Mas a Bíblia diz o seguinte em Malaquias 3.10-11;
“Trazei todos os dízim os à casa do tesouro, para que haja mantimento
na minha casa, e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não
vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós bênção sem me­
dida. Por vossa causa repreenderei o devorador, para que não vos con­
suma 0 fruto da terra; a vossa vide no campo não será estéril, diz o Se­
nhor dos Exércitos!’
Na atualidade, o diabo acha-se muito envolvido com a situação eco­
nômica do mundo. E esse envolvimento deverá ampliar-se ainda mais.
O livro de Apocalipse revela que, quando vier o anticristo, o diabo en­
carnado, ele assumirá o controle absoluto da economia mundial, e estará
na direção das instituições financeiras de toda a terra. Um aspecto desse
seu comando será a “marca da besta" (Ap 13.17), que terá relação com
0 comércio (compra e venda de bens).
Satanás se interessa muito por finanças. Ele sabe que o dinheiro es­
timula 0 egoísmo humano. Diz a Bíblia que o amor ao dinheiro é raiz
de todos os males (1 Thi 6.10). Esse amor à riqueza afeta todos os as­
pectos da existência humana. A cobiça é o alicerce sobre o qual Satanás
assenta seus esquemas econômicos. Assim, a maior arma que podemos
utilizar contra esse alicerce é um coração generoso. Quando os crentes
contribuem, frustram as tentativas satânicas de levar outros ao egoísmo.
A generosidade é contagiante e desfaz a obra do diabo. Se uma pessoa
contribui, a influência do seu gesto é ampla, expande-se como que em
círculos concêntricos. A cada doação, há um coração agradecido. E cada
coração agradecido estimula o desejo de dar. Toda contribuição dá início
a um ciclo que pode influenciar a muitos.
Deus não se preocupa com a quantidade de dinheiro que temos. O
que ele quer saber é se aquele dinheiro está ou não aprisionando nosso
coração. Ele não se preocupa com o quanto recebemos, mas o quanto
damos. O importante para Deus não é a riqueza, mas o coração dò ho­
mem. Um crente pode ser bilionário; isso não desagrada a Deus. Na ver­
dade ele não quer que seus filhos sejam pobres. Mas quer que eles es­
tejam de mãos abertas, mais desejosos de dar do que de receber.
Constantemente há missionários deixando o campo de trabalho por
falta de recursos financeiros. E ao mesmo tempo há igrejas e ministérios
Como se Trava Essa Guerra 181

que estão gastando milhões e milhões de dólares de forma irresponsável.


Mas não devemos parar de contribuir só porque existem obreiros cristãos
que gastam dinheiro de maneira insensata. A contribuição feita em obe­
diência a Deus é ura ato de guerra espiritual, bíblico, que derrota os po­
deres das trevas.
A União dos Crentes e a Guerra Espiritual
A união entre os irmãos é outra poderosa forma de guerra espiritual,
uma das mais fortes armas que podem ser empregadas no mundo invi­
sível. Jesus disse: “Se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a res­
peito de qualquer cousa que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida
por meu Pai que está nos céus” (Mt 18.19). Ele não está afirmando aí
que quando dois concordam. Deus se dispõe a atender, não. Refere-se
a algo que afasta os poderes das trevas. O diabo detesta a união. Vemos
isso claramente ao constatar o quanto ele procura fomentar divisões, des­
lealdade, críticas e facções entre o povo de Deus.
Sempre que brigamos ou contribuímos de alguma forma para o rom­
pimento de um relacionamento — seja de um casamento, de uma igreja
ou de grupos dentro do corpo de Cristo — estamos cedendo enormes
vantagens ao diabo. O lobo sempre procura dispersar as ovelhas para
ter maior facilidade em devorá-las. Precisamos tomar a firme decisão de
não participar de nenhuma divisão, seja ela qual for. Para isso, façamos
0 que for necessário; humilhemo-nos, acertemos o que estiver errado, per­
doemos, andemos a segunda milha, e sejamos tolerantes. Se nos esfor­
çarmos para manter a união, estaremos fechando a porta ao inimigo.
Em sua oração sacerdotal de João 17, Jesus pediu que fôssemos um.
Ele sabia o quanto a união é importante na guerra espiritual, e, no verso
15, pediu ao Pai que nos protegesse do maligno. Acredito que, sempre
que há desunião, tomamo-nos vulneráveis a diversos tipos de ataque do
diabo — desde doenças até morte.
Entretanto, se nos mantivermos unidos, solidários, honrando uns aos
outros, valorizando mais uns aos outros, tomamo-nos invencíveis. Isso
promove a multiplicação e ampliação das forças. O texto que diz “como
podería um só perseguir mil, e dois fazer fugir dez mil” (Dt 32.30), pode
ser um exemplo do que ocorre nos lugares celestiais, como resultado da
união do povo de Deus.
A Arma dos Sinais e Maravilhas
Quando lidamos com as forças demoníacas, tratamos com o sobre­
natural. Logo, devemos buscar manifestações sobrenaturais do Espírito
de Deus, e em particular os dons do Espírito revelados em 1 Coríntios
182 Batalha Espiritual

12. Em João 7, Jesus falou do Espírito como um poder que iria fluir de
nosso interior, à semelhança de um rio. E ele não afirmou que esse tipo
de poder seria raro, concedido apenas a alguns heróis espirituais esparsos
aqui e ali, não. Isso seria parte do armamento do crente para a sua par­
ticipação na guerra espiritual. Por essa razão é que o texto de Efésios
6.18 nos instrui a orar no Espírito, pois tal prática afeta as forças das
trevas. Tbda oração é uma forma de guerra espiritual, visto que por ela
0 Espírito Santo opera por nosso intermédio, afastando os poderes das
trevas.
Lembro-me de uma experiência que tivemos em Sydney na Austrália,
alguns anos atrás, quando pregávamos nas praias da cidade. Ali encon­
tramos oposição na pessoa de uma menina de doze anos. Apesar de tão
jovem, era endurecida, calejada pela vida das ruas, sendo a líder de um
bando de meninos de rua que a seguia. Todos os dias quando chegáva-
mos à praia Maroubra para pregar, ela vinha atrás de nós, gritando obs­
cenidades. E quando conversávamos com alguém, ela nos interrompia,
dizendo;
— Não escute o que eles estão dizendo, não. Esses caras aí são cheios
de...... !
Depois de alguns dias, resolvemos orar por ela de forma específica.
E na outra vez que fomos à praia, encontramo-la encostada a uma cerca,
fumando. Saímos do furgão e paramos perto do veículo para orar. Ela
veio em nossa direção, agredindo-nos com sua zombaria demoníaca. Mas
dessa vez, lain MacRobert a interrompeu, dizendo;
— Sabe qual é seu problema? Quando tinha três anos aconteceu isso
e isso com você...
E foi citando pormenores de acontecimentos da vida dela quando es­
tava com três anos, com seis, e daí por diante. Mencionou fatos especí­
ficos, inclusive problemas familiares e abuso sexual. Ela ficou boquiaberta,
e daí a pouco começou a chorar.
— Como é que você sabe dessas coisas? indagou.
Naquele mesmo dia ela e várias outras pessoas receberam o Senhor.
A força demoníaca foi desbaratada pelo exercício de um dom do Espírito
Santo, a palavra do conhecimento.
Não devemos hesitar em buscar as maravilhosas e poderosas manifes­
tações do Espírito Santo, que nos auxiliam nessa guerra e afastam os po­
deres das trevas.
Servir é Uma Forma de Guerra Espiritual
Servir os outros em amor é outro meio pelo qual travamos guerra es­
piritual, embora raramente encaremos essa prática como tal. Faz parte da
Como se Trava Essa Guerra 183
natureza do diabo roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Portanto, sempre que
socorremos aqueles que perderam bens, riquezas ou até a moradia devido
a guerras, desastres naturais ou outros tipos de tragédias, estamos desfazendo
as obras do inimigo. Prestar socorro material a alguém não é apenas praticar
0 evangelho social. E obedecer a um mandamento de Deus e entrar na guerra
espiritual. O socorro prestado em amor tem o poder de afastar os destrui­
dores que tentam semear entre os homens o desespero e a morte.
O inimigo dispõe de diversas estratégias para causar destruição, e dia­
riamente consegue destruir milhares de indivíduos. A igreja, como repre­
sentante de Deus na terra, pode restringir bastante a atuação dele, aten­
dendo às necessidades básicas da humanidade, lémos de dar pão aos
famintos, abrigar os desabrigados, visitar os refugiados e dar assistência
às vítimas de desastres naturais. Assim estaremos guerreando contra o
inimigo, que sempre procura tirar partido das adversidades.
Atos de Fé Praticados com Base na Palavra Rhema
Outra forma de guerra espiritual são os passos de fé. A fé não é uma
espécie de força emocional que vamos buscar lá no fundo de nosso ser,
na esperança de que Deus nos conceda a realização de nossos desejos,
não. Ter fé é crer na Pessoa de Deus e no que ele diz. Baseia-se na rhema
(passagens da Palavra que, mediante atuação de Deus, ganham vida para
nós), e no caráter dele revelado no logos (a Palavra escrita).
Lemos em Hebreus 12.2 que Jesus é o Autor e Consumador da fé.
Tbdo que Deus inicia, conclui. Quando ele diz que certo fato vai acon­
tecer, acontece mesmo. Entretanto, apesar disso, há situações em que,
para afastar os poderes das trevas, precisamos dar determinados passos
de fé — isto é, praticar atos em obediência a orientações que ele nos dá.
Moro em Kona, Havaí, próximo ao campus da Universidade das Nações,
pertencente à JOCUM. IVata-se de uma belíssima propriedade, situada
num terreno elevado, com vista para as águas azuis do oceano Pacífico.
A compra dessa propriedade é um exemplo de batalha espiritual, que exi­
giu vários passos de fé, alguns dos quais não fariam o menor sentido se
vistos apenas no plano natural.
• Deus ordenou aos membros da JOCUM, na ocasião, que dessem uns
aos outros objetos de valor pessoal. O objetivo disso era anular o espírito
de cobiça que caracterizava os concorrentes interessados na aquisição da
propriedade
• Durante algumas noites, os obreiros da missão teriam de dormir ao
relento com seus familiares, revezando-se uns com os outros. E ainda ou­
tros realizariam uma vigília de louvor. O objetivo era relembrarem-se de
que era sempre Deus quem lhes dava o teto que os abrigava.
184 Batalha Espiritual

• Quando Loren Cunningham, o diretor da missão, fosse receber a do­


cumentação da propriedade, teria de fazer ao juiz algumas declarações da­
das por Deus, que, do ponto de vista humano, pareceríam extremamente
ridículas.
Passaram-se três anos, e quando o advogado finalmente veio concluir
os trâmites legais, comentou:
— É, 0 seu Deus lhes deu a propriedade!
Fora Deus, sim, mas fora também os atos de fé que os membros da
JOCUM haviam praticado em obediência a ele.
Em 1 João 5.4, temos a descrição do poder da fé. “E esta é a vitória
que vence o mundo, a nossa fé.” Precisamos viver totalmente em depen­
dência de Deus, buscar sua Palavra, e esperar a revelação dele, a palavra
rhema. Precisamos aprender a ouvir sua voz e dar passos de fé. Derro­
tamos, assim, os poderes das trevas que sempre tiram partido da ignorância
e incredulidade humanas.
Precisamos tomar cuidado para não assumir uma posição de acomo­
dação onde simplesmente mantemos nossas tradições religiosas. Lemos
a Bíblia, freqüentamos a igreja, oramos e temos comunhão com os irmãos,
e apesar de tudo não nos dispomos a ouvir o que Deus nos diz, nem
a dar passos de fé. O risco da acomodação é que, pouco a pouco, vamos
perdendo as convicções sobre a Pessoa de Deus, e sobre o que ele diz.
Quando não exercitamos fé e não praticamos atos de fé, o mundo é que
nos derrota, em vez de nós vencermos o mundo.
Tildo que fazemos deve ser baseado na rhema de Deus para nós, pois
“a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10.17).
E assim que mantemos a fé sempre ativa. Exercitando fé com a expec­
tativa de que Deus opere, mantemos o inimigo à distância. Portanto assim
que recebermos de Deus uma palavra de orientação, devemos logo co­
meçar a^agradecer-lhe pela resposta, reafirmando continuadamente nossa
fé nele. E como lemos em Colossenses 4.2: “Perseverai na oração, vigiando
com ações de graça”.
Tbdos nós temos de viver pela fé. Precisamos viver em completa de­
pendência de Deus quer tenhamos um milhão de dólares ou estejamos
sem um centavo no bolso. Um banqueiro de Nova Iorque pode viver pela
fé tanto quanto um missionário que trabalha entre os índios da floresta
amazônica. Viver pela fé é estar sempre na dependência de Deus: esperai;
atentar, ouvir e depois agir. “Não só de pão viverá o homem, mas de toda
palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). Será que estamos vivendo
pela palavra de Deus, vivendo pela fé? Se estivermos, então estamos bar­
rando os poderes das trevas.
Como se Trava Essa Guerra 185
A Guerra Espiritual Através do Louvor
A Bíblia fala muito sobre o louvor como uma arma contra os poderes
das trevas. Em 2 Crônicas 20, encontramos uma narrativa sobre o rei
Josafá que tinha pela frente um poderoso inimigo. Mas em vez de enviar
contra ele soldados com lanças e espadas, ele “ordenou cantores para
0 Senhor, que, vestidos de ornamentos sagrados, e marchando à frente
do exército, louvassem a Deus, dizendo: Rendei graças ao Senhor, porque
a sua misericórdia dura para sempre. Tfendo eles começado a cantar, pôs
0 Senhor emboscadas contra os filhos de Amom e de Moabe, e os do
monte Seir que vieram contra Judá, e foram desbaratados” (2 Cr 20.21,22).
Quando os guerreiros do louvor entoaram louvores a Deus, o Senhor man­
dou anjos para lutar contra um adversário de carne e osso. Esses inimigos
visíveis foram derrotados porque, pelo louvor, os opositores invisíveis já
tinham sido desbaratados.
O louvor não é simplesmente um recurso para iniciarmos os cultos de
forma mais agradável. Tãmbém não é uma espécie de “aquecimento” espi­
ritual, nem um meio de se preencher um momento de espera, e menos ainda
uma mera tradição evangélica. Louvar não é apenas praticar uma atividade
como cantar e eiguer os braços, não. E adorar a Deus do fundo do coração.
Nunca devemos cultuar a Deus de forma mecânica, pois nesse caso a ado­
ração não tem sentido algum. O louvor exercitado de forma bíblica faz recuar
as forças das trevas, traz até nós os anjos de Deus para que lutem por nós,
e coloca a poderosa presença de Deus em todas as situações.
No Salmo 149.5,6, lemos o seguinte: “Exultem de glória os santos,
nos seus leitos cantem de júbilo. Nos seus lábios estejam os altos louvores
de Deus, nas suas mãos espada de dois gumes”. Esse texto descreve com
exatidão a obra que o Espírito Santo vem realizando na igreja nos últimos
anos. Tfem havido um renovamento do louvor e adoração a Deus, bem
como do ensino da Bíblia — a espada de dois gumes — nas igrejas mais
vibrantes e avivadas, no mundo todo.
O problema é que temos visto essas coisas mais como um fim em si
mesmas. Consideramos o louvor e o ensino bíblico como a essência de
uma vida cristã madura e equilibrada. Quando vamos à igreja — ou a
escolas, acampamentos, retiros, etc. — temos em mente apenas adorar
a Deus e receber (ou dar) ensinamento bíblico. Desse modo, estamos ig­
norando uma importante verdade bíblica — o louvor e o ensino não são
fins em si mesmos, mas, sim, meios para se atingir um fim. Praticamos
esses exercícios espirituais tendo em vista um objetivo maior. Se não en­
tendermos isso, corremos o risco de perder de vista nosso alvo, passando
a visar a nós mesmos.
186 Batalha Espiritual

A razão de louvarmos a Deus e ensinarmos a Bíblia não é nos sen­


tirmos abençoados e inspirados. O objetivo é "exercer vingança entre as
nações, e castigo sobre os povos; para meter os seus reis em cadeias, e
os seus nobres em grilhões de ferro; para executar contra eles a sentença
escrita” (SI 149.7-9). Com nosso louvor e pregação da Palavra de Deus,
fazemos descer o castigo de Deus sobre os reis das trevas, prendendo-os
com grilhões de ferro.
O louvor e o ensino da Palavra de Deus são atos de guerra espiritual,
que derrotam o inimigo e trazem ao mundo as forças da luz, com o ob­
jetivo de estabelecer o reino de Deus. A razão de nossa existência não
é termos igrejas grandes, cheias de gente feliz, não. E viver para Deus,
louvá-lo e pregar sua Palavra às nações e povos da terra. Assim estaremos
expulsando as forças das trevas e implementando todos os planos de Deus
para o homem.
A Oposição Verbal
Como já mencionamos, outra maneira de praticarmos a guerra espi­
ritual é repreender o inimigo diretamente. "Sujeitai-vos, portanto, a Deus;
mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (T^ 4.7). Umos de resistir fir­
memente ao diabo — como fez Jesus no deserto — fazendo-lhe oposição
verbal, citando a Palavra de Deus para contra-atacá-lo. Jesus ensinou-nos
que temos de amarrar o “valente” e depois roubar-lhe os bens (Mt 12.29).
O "valente” é simplesmente a influência demoníaca que estiver predo­
minando em determinada situação. Cabe-nos eliminar essa influência. Em
alguns casos, isso talvez implique na salvação de uma vida.
Alguns anos atrás, Darlene Cunningham, esposa do Loren Cunnin-
gham, fundador da JOCUM, viveu uma experiência que demonstra a im­
portância do que acabo de dizer. Na ocasião, eles ainda se encontravam
na Suíça, na primeira sede da missão. Certo dia Darlene estava na área
de serviço, cujo assoalho cimentado achava-se molhado. Ela estava reti­
rando algumas roupas da lavadora e passando-as para a secadora — am­
bas de capacidade industrial. Na Europa, a tensão desse tipo de máquina
é de 350v.
Em dado momento, uma peça caiu atrás da secadora, e Darlene, sem
saber que haviam descascado o fio da máquina, levou a mão no cantinho
para pegá-la. Assim que tocou no fio, sentiu um fortíssimo choque e ficou
agarrada nele, imobilizada, enquanto a corrente elétrica circulava por seu
corpo. Então clamou a Deus.
“Socorre-me, Senhor! Jesus, salva-me!”
Mas os choques continuavam. Ela compreendeu que se não fosse so­
corrida iria morrer e orou de novo.
Como se Trava Essa Guerra 187

“Senhor, por que não estás-me atendendo? Por que minha oração não
está resolvendo?"
Na mesma hora Deus lhe respondeu:
“Amarre o diabo, Darlene.”
Ela obedeceu e, assim que repreendeu Satanás, foi atirada contra a
parede do outro lado do aposento.
Darlene não morreu, mas durante vários dias seu coração bateu fora
do ritmo normal. Além disso, ela ficou com uma queimadura na palma
da mão, uma ferida de quase três centímetros, que mais tarde cicatrizou
sem deixar marcas. Contudo Darlene nunca se esqueceu da lição que pren­
dera naquele dia, na área de serviço.
A Última Arma
Somos uma geração de gente sem persistência. Hoje em dia, muitos
líderes estão desistindo do exercício da liderança; muitos casais terminando
0 casamento; crentes abandonando a igreja. Se nos magoamos em algum
trabalho, logo desanimamos e o largamos. Quando é que vamos entender
que isso é parte da guerra espiritual? “Com efeito, tendes necessidade
de perseverança, para que havendo feito a vontade de Deus, alcanceis
a promessa.” (Hb 10.36.) Satanás está sempre na esperança de que o povo
de Deus desista da luta, que não suporte os problemas da vida, ou as
tarefas de que Deus os incumbe, ou os transtornos do dia-a-dia.
O vencedor é aquele que nunca desiste da luta. Se nós persistirmos
até 0 fim, 0 diabo desistirá. Se ele souber que não desistiremos, acabará
desanimando. Muitas vezes a última arma que o crente emprega, e a única
que lhe garante a vitória, é afirmar;
"Prefiro morrer a desistir dessa luta!”
Ou então temos de citar o texto bíblico: “Eles, pois, o venceram por
causa do sangue do Cordeiro... e, mesmo em face da morte, não amaram
a própria vida” (Ap 12.11).
Essa arma, a persistência, é a que melhor convence o diabo de que
ele pode desistir. Mas, infelizmente, a maioria dos crentes entrega os pon­
tos a poucos passos da vitória final.
Se analisarmos as diversas formas pelas quais travamos a guerra es­
piritual, veremos que elas abrangem toda a mensagem bíblica e toda a
vida cristã. Seria maravilhoso se nossa existência pudesse resumir-se em
Deus, nós e um universo perfeito. Bastaria que permanecéssemos na pre­
sença dele, corrigindo nossas imperfeições e sendo transformados para
nos tomarmos semelhantes a Cristo. Não seria ótimo se nunca tivéssemos
de nos haver com o pecado, com o diabo, com os males do mundo e
com os problemas pessoais? E não estamos muito longe disso. E a pro-
188 Batalha Espiritual

messa futura de Deus a todos os crentes. Nossa vida será assim quando
formos para o céu. Mas ainda não é. E se alguém disser que a vida cristã
é assim no presente, neste planeta, está fugindo à realidade, o que é muito
perigoso. Vivemos em um mundo corrupto, e temos um inimigo terrivel­
mente mau e traiçoeiro. Sofremos provações, tribulações, tentações, e en­
frentamos todo tipo de adversidades. O mundo que nos cerca está per­
dido, acha-se espiritualmente faminto, e perece sob a tirania satânica. Não
podemos negar essa realidade^ nem fugir dela.
Contudo é uma situação temporária. A vida terrena não passa de um
pequeno lampejo, de uma ínfima fração de tempo em relação à eterni­
dade. E, no entanto, essa pequenina fração de tempo é o ponto focal
de Deus e de toda a criação. Embora a batalha que está sendo travada
no plano humano seja curta, é de importância crucial para o futuro. E
0 que está em vista aí não é a vitória, mas quem participará nela.
E nós somos os principais combatentes, com a responsabilidade de
decidir o futuro. Não quero dizer que Deus não tenha participação nessas
coisas, não. Ele é nosso Criador, nosso Senhor e o Salvador vitorioso.
E nossa força e nossa esperança. E é ele que nos garante a vitória sobre
as forças das trevas. Entretanto resolveu incluir-nos nessa luta. Delegou-
nos responsabilidades. Designou-nos para ser colaboradores dele no es­
tabelecimento de seu reino na terra e na destruição do império das trevas.
Ele está aguardando que seu povo se levante e se aproprie da vitória que
Cristo adquiriu na cruz. Ele quer que recorramos à cruz, isto é, que ore­
mos em nome de Jesus e apliquemos a vitória por ele conquistada no
Calvário a todas as situações, no tempo e no espaço.
A própria vida que vivemos acha-se inserida dentro da guerra espiri­
tual. Tlravar essa guerra é abraçar a verdade e viver diariamente compro­
metido com Deus e consciente do inimigo. É saber que Deus nos delegou
essa responsabilidade. Se nós não expulsarmos as forças das trevas, nin­
guém as expulsará. Se não repreendermos o inimigo, ninguém o fará. Se
não procurarmos diminuir os males do mundo, eles continuarão a expandir-
se.
A guerra espiritual não é apenas um aspecto da vida cristã; é toda
ela. Abrange tudo que fazemos. Ser crente é ser um soldado dessa guerra.
E ser um soldado da guerra espiritual é ter uma vida vitoriosa, coerente
com a mensagem cristã; é ter Cristo ao nosso lado.
0 AUTOR DESTE UVRO
E SEU MINISTÉRIO

Dean Sherman é o deão da Faculdade^ de Ministérios Cristãos da Uni­


versidade das Nações da missão JOCUM. É conhecido intemacionalmente
como preletor de estudos bíblicos. Desde 1970, tem dado cursos em con­
ferências para pastores, nas escolas preparatórias da JOCUM, e em igrejas
de quase todos os Estados Unidos e mais quarenta países. Seus ensinos,
gravados em fitas — de áudio e vídeo — já venderam em tomo de vinte
e cinco mil jogos, em dezessete línguas.
Dean foi um dos fundadores do trabalho da JOCUM na Nova Zelândia,
Ilhas Fiji, Tbnga, Austrália e Papua-Nova Guiné. Já foi membro do con­
selho diretor dessa missão na Ásia e Pacífico, e continua trabalhando como
assessor para assuntos da região. Dean Sherman reside atualmente em
Kona, no Havaí, com sua esposa Michelle e seus dois filhos, e participa
da direção das escolas de treinamento missionário. Além disso, realiza
diversas viagens com equipes de evangelismo, pela Ásia e países do Pacífico.
190 Batalha Espiritual

A JOCUM e a Universidade das Nações


A JOCUM é uma missão evangélica de cunho internacional e inter-
denominacional, com o objetivo de levar ao mundo o evangelho de Jesus
Cristo, através do evangelismo, do treinamento missionário e de ministé­
rios de socorro aos necessitados. A missão conta hoje com 7.000 obreiros
de tempo integral, e anualmente prepara cerca de 25.000 missionários
para realizar trabalhos de curta duração nos seus 390 pontos de trabalho
localizados em 100 países.
O objetivo principal da Universidade das Nações é preparar homens
e mulheres para ser divulgadores do evangelho a todos os povos de todas
as nações, em obediência ao mandamento de Cristo, dado em Mateus
28.18-20. Possui 150 escolas de treinamento espalhadas pelo mundo todo,
e seu corpo docente e estudantil é formado por pessoas de vários países.
A sede da universidade é em Kona, no Havaí, onde Dean Sherman mora
e leciona.

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