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SOBRE O ÁLCOOL
Prefácio .............................................................................. 04
Introdução ............................................................................ 06
1. Buscando Respostas ......................................................... 09
2. O Encontro .................................................................... 15
3. O Dia Seguinte .............................................................. 23
4. Mais do que Primeiros Socorros ..................................... 35
5. Controversando em Família ........................................... 45
6. Abrindo um Parêntese .................................................... 52
7. Beber ou não Beber? ....................................................... 62
8. Da Teoria à Prática ........................................................ 77
9. Controversando ainda mais ............................................ 86
10. Um Novo Debatedor .................................................... 98
11. Aparando as Arestas .................................................... 111
12. Ainda não Acabaram as Discussões .............................. 127
13. Uma Noite Inesquecível ............................................... 138
14. Dúvidas, Dúvidas e mais Dúvidas ................................. 146
15. Encerrando a Controvérsia ........................................... 163
Conclusão .......................................................................... 181
Bibliografia ........................................................................ 184
PREFÁCIO
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humana? Se o álcool pode causar dependência, o que podemos
dizer sobre o uso continuo e indiscriminado de substâncias
como o café, por exemplo? A estes questionamentos, o Dr.
Bruno, um dos personagens desta ficção, apresenta argumentos
científicos que lançam luz sobre as densas trevas de nossas
dúvidas. Mas, o problema ético não se limita apenas à bandeira
sanitária do fato. Logo, surge outra mazela: o que o não crente
espera do cristão? O crente deve ser antissocial, contra
relacional e distante dos seus semelhantes? Ou ainda, o servo de
Deus deve descuidar-se das questões ligadas à santidade, a fim
de agradar os amigos incrédulos?
O livro tem a preocupação não apenas com as lides
teológicas e éticas em tela, mas também, com o compromisso
social da comunidade cristã diante de um o fato de magnitude
imensurável: o álcool tem destruído vidas, destroçado famílias e
desolado grande parte da nossa juventude.
Portanto, “Controversando com o Álcool” nos conduz ao
entendimento destas sentenças interrogativas por um caminho
aplainado, iluminado e amplo. Numa linguagem simples, porém
rica, o autor norteia-nos em doutrinas simples, como a graça e a
suficiência da cruz de Jesus Cristo à nossa salvação. Fala-nos de
perdão, reconciliação e família restaurada. E, ao mesmo tempo,
remonta o nosso compromisso ético e social em um mundo cada
vez mais secularizado e de aversão indescritível aos valores
cristãos.
5
INTRODUÇÃO
6
Onde houver um crente com mais tempo de Cristianismo, este
será alvo da investigação do novo convertido, que perguntará,
basicamente, o que fazer e o que não fazer, e como agir diante
dessa ou daquela situação. O grande problema é que, nem
sempre essa peregrinação é bem sucedida. Às vezes, ela só
contribui para o surgimento de novas dúvidas. Isto porque, nem
todos que possuem bastante “tempo de igreja” são dotados de
maturidade. Na verdade, há muita gente imatura.
A situação tende a piorar dependendo do
questionamento. Porque, quando se trata de temas polêmicos,
dificilmente a pessoa encontrará uma resposta consensual. Pois,
ainda que, a maioria dos cristãos concorde em pontos de
natureza teológica, tais como a Trindade, céu, inferno, e a
encarnação de Cristo, quando o foco muda para o
comportamento do crente, há muita divergência. Dessa forma,
se alguém decidir buscar uma resposta padrão para dúvidas
relacionadas a temas como sexo, linguajar, vestimentas, dízimo
e ao consumo de álcool, encontrará os posicionamentos mais
variados. O mais interessante, entretanto, é que cada um
apresentará sua posição de maneira apaixonada e com extrema
convicção.
Então, o que fazer? Foi justamente pensando nessa
pergunta que decidi escrever este livro. Isso não significa, no
entanto, que vou apresentar um padrão universal de respostas
para a pergunta central da estória. De maneira nenhuma! Não
tenho a pretensão de colocar-me como o dono da verdade. Sou
apenas mais um que a busco. Meu desejo é leva-lo a refletir
sobre diversos aspectos da nossa religiosidade, a questionar suas
convicções e olhar por diversos ângulos esse tema tão rico e
controverso.
Conquanto, o livro não seja uma autobiografia, confesso
que as desventuras do protagonista se assemelham às minhas
7
quando, no princípio da fé, peregrinava em busca de respostas.
Naquela ocasião, cada indivíduo que abordei contribuiu para a
formação de minhas convicções. Por isso, considero de suma
importância dar oportunidade de expressão a ambos os lados da
controvérsia. Todos devem ter espaço para apresentar e defender
suas interpretações, tanto os que concordam com o consumo
moderado do álcool, quanto quem discorda.
O consumo do álcool por parte dos cristãos é uma
questão que ainda divide opiniões. Ao longo do tempo duas
linhas arregimentaram um grande número de defensores, a
saber, a que aprova e a que desaprova. Todavia, mesmo após
anos de debate, ainda não há um consenso sobre o assunto.
Sinceramente, acredito que nunca haverá. Por isso, não tenho a
intenção de convencer ninguém. Quero apenas contar uma
estória que retrata experiências vivenciadas por todos.
É claro, porém, que o conteúdo da narrativa poderá
influenciá-lo tanto para um lado quanto para o outro. Mas saiba
que o objetivo desta obra, em hipótese alguma, é defender o
legalismo exacerbado de alguns nem tampouco sustentar um
posicionamento liberalista. Escolher qual a interpretação mais
coerente é tarefa sua. A única posição que o convido a assumir é
a de leitor. Mergulhe nessa estória, dialogue com os
personagens, reflita com eles! Para que, ao fim, não só o seu
intelecto seja robustecido, mas sua vida seja edificada. Boa
leitura. Deus o abençoe!
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BUSCANDO RESPOSTAS
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Controversando sobre o álcool
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Buscando Respostas
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Controversando sobre o álcool
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Buscando Respostas
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Controversando sobre o álcool
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O ENCONTRO
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Controversando sobre o álcool
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O Encontro
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Controversando sobre o álcool
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O Encontro
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O Encontro
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O DIA SEGUINTE
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O Dia Seguinte
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Controversando sobre o álcool
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O Dia Seguinte
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Controversando sobre o álcool
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O Dia Seguinte
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O Dia Seguinte
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O Dia Seguinte
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Controversando sobre o álcool
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MAIS DO QUE PRIMEIROS SOCORROS
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Controversando Sobre o álcool
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Mais do que Primeiros Socorros
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Controversando Sobre o álcool
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Mais do que Primeiros Socorros
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Controversando Sobre o álcool
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Mais do que Primeiros Socorros
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Controversando Sobre o álcool
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Mais do que Primeiros Socorros
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Controversando Sobre o álcool
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CONTROVERSANDO EM FAMÍLIA
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Controversando sobre o álcool
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Controversando em Família
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Controversando sobre o álcool
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Controversando em Família
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Controversando em Família
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ABRINDO UM PARÊNTESE
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Abrindo um Parêntese
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Abrindo um Parêntese
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Abrindo um Parêntese
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BEBER OU NÃO BEBER?
A
pós uma rápida conversa com o zelador da igreja, o
pastor, então, retornou ao gabinete, trazendo em uma
bandeja duas xícaras de café e alguns biscoitos. Ao ver
o pequeno lanche, o jovem sorriu e disse:
- Já vi que esse bate papo com o zelador rendeu, hein! Se
o senhor quiser ir lá mais vezes eu não ligo não!
- É, não foi bem sobre isso que fui falar com ele, mas
aproveitei e trouxe esse lanchinho pra gente. Mesmo assim, se
você quiser mais eu posso ir lá pegar.
- Que isso pastor, tô brincando!
- Tudo bem. Vamos retomar nosso assunto?
- Claro. Estamos aqui pra isso, não é?
- Bom, então vamos lá. Se me lembro bem, da última vez
que conversamos falei a respeito da diversidade de
interpretações a qual a Bíblia é constantemente submetida, além
de salientar que o vinho na época de Jesus era misturado com
água. Foi isso mesmo?
- Foi, mas... depois daquele dia encontrei-me com o
Edmilson na rua e ele falou que, na Antiguidade, as bebidas
alcoólicas eram usadas com frequência nos ritos religiosos de
vários povos, inclusive entre os judeus. De acordo com ele, os
israelitas derramavam, por ocasião do sacrifício diário, mais ou
menos um litro de vinho sobre o animal oferecido a Deus. Com
base nisso, ele perguntou: “se o vinho fazia parte do culto
prestado a Deus, por que o crente não pode consumí-lo”?21
21
Cf. p. 31.
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Beber ou não Beber?
Além disso, ele disse que essa história de vinho misturado com
água é besteira, pois em 1Coríntios 11.20,21 a Bíblia mostra que
que havia pessoas que participavam da Ceia do Senhor e
ficavam embriagadas. Isso me deixou extremamente confuso.
Os argumentos dele pareceram muito convincentes.
- Aparentemente, são realmente convincentes. Porém,
quando olhamos de perto o primeiro ponto que ele ressaltou,
vemos que não faz tanto sentido assim; pois, o que tem a ver o
uso do vinho na realização de um rito com o consumo dessa
bebida? Se fosse assim, deveríamos beber o sangue dos animais
sacrificados também; o que seria um absurdo. O vinho era usado
no sacrifício por causa de sua associação com o sangue. Em
Gênesis 49.11 e Deuteronômio 32.14, esse vínculo simbólico
fica bem claro, visto que a Escritura, em função de sua
coloração avermelhada, chama o produto da vide de “sangue de
uvas”. Não foi por acaso que Jesus associou a bebida ao seu
sangue.
- Nossa! Nunca tinha pensado nisso.
- E tem mais: o derramamento do vinho era a oferta de
um dos produtos da terra, ou seja, uma dádiva divina, tal como o
azeite e a farinha. Isso não significa que a oferenda fosse
fermentada. Nada indica isso. Na verdade, o derramamento do
vinho sobre o animal era um ato de culto a Deus, não um
incentivo ao consumo do álcool. Seguir esse raciocínio é forçar
a barra.
- Depois desse esclarecimento tenho que concordar com
o senhor. Mas, e quanto ao texto de 1Coríntios 11.20,21?
- Veja bem, o texto que você mencionou não constitui
uma autorização bíblica para o consumo do álcool, mas trata-se
de uma crítica ao procedimento dos crentes coríntios. Eles
estavam usando bebida alcoólica na celebração da Ceia.
Acredito que no seu contexto cultural isso era até aceitável, pois
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Beber ou não Beber?
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Controversando sobre o álcool
menina de dez anos, a qual, por força da cultura, aos nove anos
foi obrigada a casar com um homem de trinta anos.
- Nossa! Não sabia disso! Que absurdo!
- É. Mas o pior de tudo é que, conquanto o homem
houvesse prometido à família que faria sexo com ela somente
quando a mesma completasse vinte anos, descumpriu a
promessa desde o início do casamento. Ainda que a menina
tenha tentado impedí-lo, ele a violentou. Desesperada, ela
procurou a justiça e solicitou seu divórcio, contrariando sua
tradição tribal. Mesmo tendo conseguido divorciar-se, no
entanto, quem recebeu uma indenização, no valor de duzentos
dólares, foi o marido, pois assim normatiza a cultura local. A
menina, que voltou a morar com os pais, passou a ser hostilizada
por ter desafiado os costumes locais. Ora, embora se trate de
uma questão cultural, não tenho dúvidas de que Deus não
aprova isso. Deveríamos, então, considerar uma atrocidade
dessas, normal? Acredito que, como cristãos, o que nos norteia
não é a cultura regional, até porque, em sua essência, o
Evangelho é uma contracultura. Nosso referencial é o texto
bíblico. Assim, mais importante é sabermos o que a Escritura,
não a cultura, nos diz a respeito. Porquanto, se o uso do álcool
for apenas uma questão cultural, não sendo, portanto, condenado
pela Bíblia, as demais condutas relacionadas à cultura não
podem ser proibidas; isso é claramente um absurdo.
- Concordo. Como o senhor ensina na igreja, a Bíblia é a
nossa única regra de fé e prática.
- É isso aí meu jovem! Muito bem!
- Obrigado pastor... mas eu fiquei com uma dúvida.
- Pode dizer.
- Conforme o senhor bem explicou, nenhum ser humano
deveria consumir álcool. Correto?
- Exato.
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DA TEORIA À PRÁTICA
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Da Teoria à Prática
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Da Teoria à Prática
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Da Teoria à Prática
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Da Teoria à Prática
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CONTROVERSANDO AINDA MAIS
A
pesar das circunstâncias do encontro que tivera com seu
pai, Cristiano levou Beatriz a um parque de diversões
para aproveitar o restante do sábado. Ela, empolgada,
acompanhou o namorado em todos os brinquedos, incentivando-
o a desfrutar plenamente de cada momento. Afinal de contas,
naquela semana eles não haviam tido muito tempo para lazer.
Algumas horas mais tarde, estando os dois já bastante
cansados, decidiram ir embora. Beatriz, entretanto, sugeriu que
passassem o restante do dia em sua casa, com o que Cristiano
concordou sem discutir. Seu único pedido foi que, antes,
passassem em um restaurante para almoçar; até porque, já eram
dezenove horas.
- Na verdade, você está me convidando para jantar; mas
tudo bem, vamos lá. Afinal, já faz um tempão que a gente não
passa tanto tempo junto, né? - Destacou Beatriz.
- Qual restaurante você quer ir? - Perguntou Cristiano.
- Tem um restaurante que meu primo sempre fala, aqui
pertinho. Eu gostaria de ir lá. Eles servem carnes exóticas; eu
sou doida para experimentar! Podemos ir lá?
- Claro meu amor! Você é quem manda!
Assim, o casal seguiu em frente, conversando e rindo,
lembrando-se das cenas cômicas que vivenciaram no parque.
Chegando ao restaurante, escolheram uma mesa localizada em
frente a uma TV. Logo que se acomodaram e fizeram seu
pedido, foram surpreendidos por Edmilson, primo de Beatriz,
acompanhado de Maria, sua esposa.
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Controversando ainda mais
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Controversando sobre o álcool
haverá outros que possuem o mesmo carro, mas vivem bem. Isto
porque, o problema não é o carro, mas a imprudência do
condutor. Com a bebida acontece o mesmo. O problema está em
quem bebe, não na bebida em si; o que precisa ser trabalhado é o
autocontrole do indivíduo.
- Concordo com você. O problema realmente está em
quem bebe; eu nunca disse o contrário. Da mesma forma,
acredito que a maconha não é um problema, é só uma planta. O
uso que se faz dela é que acaba sendo problemático. Não me
considero, portanto, formatado. Só não acho que beber seja algo
adequado à minha fé, e nem à minha saúde. Afinal, o álcool é
uma droga. Beber moderadamente seria o mesmo que fumar
maconha apenas socialmente.
- Aí você já está apelando! Nossa conversa é sobre o
álcool, não sobre maconha ou cocaína.
- Ora, mas não são todos reconhecidos como drogas?
Então, o que eu falei tem tudo a ver! Além disso, consumir
álcool funciona como um mau exemplo para os filhos e para
outros crentes. A própria Escritura nos orienta a pensarmos nos
outros antes de fazermos essas coisas. Em Romanos 14.21, por
exemplo, a Bíblia diz: “bom é não comer carne, nem beber
vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se
escandalize, ou se enfraqueça”. Por que eu continuaria, então,
com uma prática que pode levar outros ao tropeço? Seria muito
egoísmo da minha parte.
- Então me responde uma pergunta.
- Pode fazer.
- Seguindo a sua linha de raciocínio, se não tivesse
ninguém por perto, você beberia?
- Não.
- Mas por quê?!? Não haveria o risco de levar alguém a
tropeçar!
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APARANDO AS ARESTAS
C
onquanto Cristiano não tivesse compartilhado o assunto
que desejava tratar, seu pastor já imaginava qual seria o
teor da conversa. Assim, tendo Chegado ao templo, a
dupla se dirigiu ao gabinete pastoral, onde o pastor, com um
sorriso no rosto, lhe perguntou:
- E aí, qual é o assunto? Não vai me dizer que ainda está
com dúvidas sobre o consumo do álcool.
- É exatamente isso! – Replicou Cristiano, sorrindo.
- Nem precisava falar. Esse foi o tema de nossos últimos
encontros. Era de se imaginar que ainda houvesse algumas
arestas a serem aparadas. Então me diga: o que suscitou novos
questionamentos? Você conversou com o Edmilson de novo?
- É, esse camarada não larga do meu pé! Estávamos eu,
Beatriz, Edmilson e Maria, sua esposa, num restaurante; e ele
teve a coragem de pedir uma garrafa de vinho, só para me
provocar. Aí iniciamos um debate que foi esquentando cada vez
mais. Por fim, a discussão acabou gerando problemas entre mim
e Beatriz.
- Mas ficou tudo resolvido? Vocês fizeram as pazes?
- Sim, graças a Deus!
- Então me diga: o que produziu as dúvidas em seu
coração?
- Ah, como sempre, o Edmilson fez umas colocações a
respeito de alguns textos bíblicos para as quais eu não tive
resposta.
- Cite uma.
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Aparando as Arestas
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- É yayin, Cristiano.
- Ah tá.
- Bem, esse termo, ao contrário de tirosh, é um tanto
quanto elástico, ou seja, ele aparece nas Escrituras significando
tanto o vinho embriagante quanto o não fermentado. Um
exemplo disso é Neemias 5.1869, onde se usa yayin para referir-
se a “vinho de todas as espécies”, isto é, com e sem álcool. O
mesmo termo é empregado em textos que se referem ao suco
fresco da uva recém-espremida. Vemos isto, por exemplo, em
Isaías 16.10, onde o profeta declara: “já o pisador não pisará as
uvas nos lagares”. Nesse texto, a palavra “uvas” é uma tradução
do termo yayin. Seguindo a mesma linha, Jeremias afirma: “fiz
que o vinho acabasse nos lagares; já não pisarão uvas com
júbilo”70. Ora, o vinho do lagar era o suco de uva recém-
produzido. Assim, mais uma vez yayin é traduzido como vinho
sem álcool. Contudo, em outros textos o termo é usado para
aludir ao vinho alcoólico71.
- Caramba!!! Conhecer essas variações, então, é algo
muito importante, né?
- Sem dúvida.
- Bem, aproveitando seu conhecimento, gostaria de
esclarecer mais algumas dúvidas.
- Prossiga meu jovem.
- O Edmilson afirmou que há textos na Bíblia que
incentivam o consumo do álcool. Naquela ocasião, ele
mencionou dois deles. São os próximos aí no guardanapo.
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“[...] E o que se preparava para cada dia era um boi e seis ovelhas
escolhidas; também aves se me preparavam e, de dez em dez dias, muito
vinho de todas as espécies; e nem por isso exigi o pão do governador,
porquanto a servidão deste povo era grande”.
70
Jeremias 48.33.
71
Juízes 13.4; Números 6.3.
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AINDA NÃO ACABARAM AS DICUSSÕES
A
o chegar a casa, Cristiano foi surpreendido por sua mãe,
que, depois de lhe dar um beijo no rosto, disse:
- Meu filho, temos visitas!
Tendo adentrado a sala, identificou quem eram os
visitantes: sua tia, Otília, e seu primo, Rafael, os quais já eram
evangélicos há muito mais tempo que Cristiano e sua mãe. Por
conta disso, Dona Odete estava transbordando de alegria.
Afinal, além de poder reunir-se com parte da família, agora eles
tinham um assunto em comum: a fé cristã. Por conseguinte, a
mãe do jovem, solicitou aos visitantes que pernoitassem ali, até
porque sua residência era muito distante. Cristiano, mesmo
cansado, alegrou-se com a presença de seus parentes, o que foi
evidenciado pelo abraço apertado que deu em seu primo, o que
era de se esperar, haja vista que, quando crianças, os dois
adoravam brincar juntos.
- Calma aí rapaz, vai me quebrar! - Disse Rafael, em tom
de brincadeira.
- Relaxa meu irmão, não sou tão forte assim - Respondeu
Cristiano, após soltar o primo.
- É, mas, com certeza você está bem mais forte do que
quando éramos crianças - Replicou Rafael.
- É verdade... O tempo passou, as coisas mudaram... -
Comentou Cristiano.
- Sem dúvida, muita coisa mudou! - Interrompeu sua tia.
- Eu me lembro bem daquele rapaz incrédulo, que questionava
Deus. Quem diria que ele se tornaria um servo do Senhor!
Aleluia! Só Jesus mesmo para transformar o coração de pedra
em coração de carne!
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com Deus”. Até porque, não há nada que eu possa fazer para me
salvar. A salvação, como Jesus disse, é impossível aos homens,
mas é possível para Deus83. Só pela graça de Deus podemos ser
salvos84. Não adianta frequentar um templo, ser bonzinho, dar
esmola, etc. Nada disso salva. Só Cristo. Por isso, não faço ou
deixo de fazer algo pensando em ir para o céu ou com medo de
ir para o inferno. Seria infantilidade. Faço o que faço porque
amo o meu Deus, que me salvou; quero agradá-lo em tudo.
Portanto, dou minha contribuição financeira e física para Sua
igreja porque O amo. Da mesma forma, quando deixo de beber,
o faço porque amo esse Deus maravilhoso e os seres que Ele
criou, e, como bom mordomo de Cristo, busco cuidar bem da
Sua criação.
- Concordo com você quanto à salvação, primo; porém
penso que restringir o consumo de álcool, apontando-o como
pecado, é errado. Trata-se de mais uma regra imperfeita imposta
pelas instituições evangélicas, e colocada no mesmo nível do
evangelho! É farisaísmo! Jesus criticou fortemente essa atitude.
Em Marcos 7.9-13, por exemplo, Ele denuncia o absurdo da
aplicação da regra da Corbã, a qual era posta acima da própria
lei, tal como fazem atualmente.
- Corbã? O que é isso?
- Desculpe primo, eu deveria ter explicado. Corbã é um
termo de origem hebraica, que significa “sacrifício”, “oferta”;
literalmente, “aquilo que é levado para junto do altar”. Os
fariseus usavam esse termo como referência a um voto feito ao
Senhor, a fim de se eximirem da responsabilidade de sustentar
os pais. Baseavam-se, para tanto, no trecho da lei que dizia que
algo consagrado a Deus não podia ser usado para fins seculares.
Um utensílio dedicado ao Senhor para o serviço no tabernáculo,
83
Lucas 18.27.
84
Efésios 2.8,9.
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que ser dizimista; para ser visto como consagrado, tem que usar
roupa social, etc. Você não vê que isso é uma alienação?
- Olha Rafael, eu te respeito muito, mas continuo
discordando. Até porque, já estou cheio desse papo de “erros da
instituição”. Pra mim, esse é o discurso de quem sofreu alguma
decepção em sua relação com a igreja e agora se volta contra
tudo e todos que se associam a ela; pessoas que, ao invés de
tentarem resolver seus problemas, optaram por criticar a igreja
de Cristo; entendendo que só existem dois extremos: o erro
institucional e desigrejamento.
- É exatamente isso! A “igreja”, como você diz, têm
produzido mais decepcionados do que transformados. Com
certeza, tem algo errado! Há pessoas sendo excluídas do rol de
membros porque beberam um pouco de vinho ou foram a uma
festa “do mundo”. Isso é um absurdo!
- Acho que você está confundindo as coisas, primo. Em
momento algum, eu falei que a igreja não continha erros, e,
muito menos, concordei com exclusões baseadas nesses
motivos. Só considero inadequado um cristão consumir álcool.
Nosso amor a Deus e ao próximo deve nos levar a essa
concepção, visto que podemos servir de mau exemplo para os
mais fracos. Se eu não me engano, é exatamente isso que Paulo
diz, em Romanos 14.21: “bom é não comer carne, nem beber
vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se
escandalize, ou se enfraqueça”. Aliás, como certa vez disse um
médico que conheci, há pessoas que possuem uma predisposição
genética ao alcoolismo, de modo que correm o risco de se
tornarem dependentes, uma vez que comecem a beber. Então,
como eu não quero contribuir para a desgraça alheia, prefiro não
beber, e acho que todo cristão deveria pensar assim.
- Concordo com você. Não podemos ser pedra de
tropeço na vida de ninguém. Porém, penso que devemos ensinar
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desses, vai pensar o quê? Pode parar com essa discussão agora!
Eu hein! Você também Cristiano, pode parar com esse assunto!
Já está resolvido! Você não já conversou com o pastor Ricardo?
Então sossega o facho!
Após a repreensão de Dona Odete, os jovens
emudeceram por um instante, olharam um para o outro, e se
desculparam. Daí em diante, a família tratou de outros assuntos,
enquanto saboreava o delicioso jantar preparado pela anfitriã.
Cristiano, todavia, continuava cheio de dúvidas em relação ao
consumo do álcool, as quais estavam mais ligadas à
interpretação de textos bíblicos do que ao seu posicionamento.
Por conseguinte, não via a hora de encontrar-se mais uma vez
com o pastor Ricardo.
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UMA NOITE INESQUECÍVEL
A
pós uma agradável noite de sono, mais uma vez o jovem
levantou-se para ir trabalhar. Antes que saísse,
entretanto, sua mãe levantou da cama, foi ao seu
encontro e o abraçou. Surpreso, o jovem perguntou se havia
acontecido algo. Dona Odete, com um olhar contrito, respondeu:
- Eu só queria me desculpar, filho. Acho que fui um
pouco rude ontem, ao chamar sua atenção. Você me perdoa?
- O que é isso, mãe? - Respondeu Cristiano. - Não tem
nada do que se desculpar, eu é que me excedi. Por isso, sou eu
quem deve pedir desculpas. Perdoe-me a inconveniência e o
constrangimento que gerei. Realmente, preciso corrigir minhas
atitudes.
Tendo ouvido essas palavras, Dona Odete, com um
sorriso compassivo, o abraçou mais forte ainda e disse:
- Eu te amo, meu filho! Você é bênção do Senhor!
Assim, mãe e filho oraram juntos e agradeceram a Deus
por ter lhes dado um ao outro. Em seguida, Cristiano despediu-
se de sua mãe e foi para o trabalho. Chegando lá, foi logo
abordado por João Batista, que o cumprimentou, dizendo:
- E aí varão! A paz do Senhor!
- A paz - Respondeu Cristiano.
- Olha só, antes de a gente pegar no batente, eu quero te
fazer um convite: hoje, lá na minha igreja, vai ter um culto
abençoado; vamos receber um pregador que é fogo puro. Vamos
lá cultuar com a gente?
- Poxa João, eu não sou muito fã desse negócio de fogo
puro, prefiro um culto mais calmo.
138
Uma Noite Inesquecível
139
Controversando sobre o álcool
140
Uma Noite Inesquecível
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Controversando sobre o álcool
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Uma Noite Inesquecível
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Controversando sobre o álcool
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Uma Noite Inesquecível
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14
DÚVIDAS, DÚVIDAS E MAIS DÚVIDAS
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Dúvidas, Dúvidas e mais Dúvidas
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Controversando sobre o álcool
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Dúvidas, Dúvidas e mais Dúvidas
149
Controversando sobre o álcool
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Dúvidas, Dúvidas e mais Dúvidas
os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer
ao SENHOR teu Deus todos os dias.
E quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar
longe de ti o lugar que escolher o SENHOR teu Deus para ali pôr o seu
nome, quando o SENHOR teu Deus te tiver abençoado; Então vende-os, e ata
o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher o SENHOR teu Deus;
E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por
ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma;
come-o ali perante o SENHOR teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa;
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Controversando sobre o álcool
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Dúvidas, Dúvidas e mais Dúvidas
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Controversando sobre o álcool
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Dúvidas, Dúvidas e mais Dúvidas
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Controversando sobre o álcool
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Dúvidas, Dúvidas e mais Dúvidas
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Controversando sobre o álcool
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Dúvidas, Dúvidas e mais Dúvidas
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Controversando sobre o álcool
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Dúvidas, Dúvidas e mais Dúvidas
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Controversando sobre o álcool
162
15
ENCERRANDO A CONTROVÉRSIA
A
o chegar a casa, sua mãe logo lhe disse que preparasse
sua roupa para a Escola Bíblica Dominical. Dona Odete
estava muito feliz, porque aquele seria o primeiro
domingo em que sua família caminharia unida rumo ao templo
de sua igreja. Por conta disso, mostrava uma preocupação acima
do normal. Ela queria que tudo fosse perfeito. Cristiano,
percebendo a inquietação de sua mãe e compreendendo a causa,
procurou ajudá-la nos preparativos. Para sua surpresa, Jurandir
fez o mesmo.
Ao término da preparação, a família se reuniu para
realizar seu culto doméstico, orando, cantando e lendo as
Escrituras. Jurandir, embora não tivesse profundo conhecimento
bíblico, entendia que essa era a melhor maneira de manter a
família unida e fortalecer o relacionamento com Deus.
No dia seguinte, todos levantaram cedo. A empolgação,
nitidamente, os dominava. Dona Odete cantarolava hinos do
hinário de sua igreja, enquanto Jurandir procurava seus óculos.
Afinal, ele não queria perder nenhum detalhe das explicações
sobre a Bíblia. Cristiano também não conseguia esconder sua
alegria, evidenciada através de um sorriso constante. Parecia um
sonho!
Tendo aprontado tudo, a família pode, enfim, dirigir-se à
igreja. Chegando lá, encontraram Beatriz, que os esperava em
frente ao templo. Ao vê-los, a jovem abriu um sorriso de orelha
a orelha, tamanha era sua felicidade. A mesma reação se repetiu
quando os demais membros e o pastor Ricardo os viram. Cada
um fez questão de cumprimentar o mais novo membro do Corpo
de Cristo e congratular a família pela bênção recebida. A
163
recepção calorosa facilitou a integração de Jurandir àquela
comunidade de fé.
Depois de muitos apertos de mão, abraços e frases de
gratidão ao Senhor, Jurandir foi convidado pelo pastor a fazer
parte da classe de novos convertidos, enquanto Cristiano,
Beatriz e Odete dirigiram-se para suas respectivas classes. Ao
fim da EBD, a família, novamente reunida, pode participar do
primeiro culto juntos.
Naquela ocasião, o pastor da igreja havia convidado um
amigo para trazer a Palavra, o pastor Marcelo. O mais
interessante, entretanto, é que a mãe do pregador era vizinha da
família de Cristiano, ou seja, ele já era conhecido deles. Mesmo
assim, aquela era a primeira vez em que o ouviriam.
Ao assumir a palavra, o convidado agradeceu à igreja e
ao seu pastor pelo convite e glorificou a Deus pela conversão de
Jurandir. Na sequência, abriu a Escritura e leu o texto de 1Pedro
1.15, que diz: “mas, como é santo aquele que vos chamou, sede
vós também santos em toda a vossa maneira de viver”. Usando
esta passagem, ressaltou a importância da santidade, salientando
que esta diz respeito a todas as áreas da vida. Partindo desse
princípio, apontou algumas atitudes que contribuem
negativamente para a santificação. Dentre elas, destacou a
imprudência de alguns que argumentam em favor do consumo
moderado do álcool. Ao ouvir isto Cristiano, ficou ainda mais
interessado no sermão.
Cerca de trinta minutos depois, o pregador devolveu a
palavra ao pastor Ricardo, o qual agradeceu a Deus por sua vida
e fez uma oração encerrando a programação. Alfim, antes de
sair do templo, Cristiano fez questão de cumprimentar o pastor
Marcelo, e compartilhar com ele um pouco da história de sua
peregrinação em busca de respostas coerentes no tocante ao
consumo de álcool por parte dos crentes. Ao ouvi-lo, o pastor
164
comentou que estava escrevendo um livro sobre o assunto, e
disse que, se fosse do seu interesse, eles poderiam conversar
mais naquele mesmo dia. Cristiano, empolgadíssimo, aceitou a
oferta. Assim, os dois marcaram de se encontrar após o almoço.
Tendo se despedido de todos, Cristiano e seus pais
retornaram regozijantes para sua residência. Chegando lá,
conversaram um pouco sobre o que fora ensinado na igreja.
Jurandir estava bastante entusiasmado. Não parava de falar
sobre o que vivenciara naquela manhã de domingo. Nesse clima
festivo, eles almoçaram e ainda falaram bastante acerca da
Bíblia.
Todavia, lá pelas duas da tarde, Cristiano pediu licença e
foi até a casa de Dona Ivone, a mãe do pastor Marcelo. Ao tocar
a campainha, logo foi atendido pelo pastor, o qual
imediatamente o convidou a entrar. Para surpresa de Cristiano, a
casa estava cheia. Era uma reunião familiar. Então, prontamente,
o jovem cumprimentou a todos e sugeriu ao pastor que se
reunissem em outra ocasião. Não obstante, ele não acatou sua
sugestão, dizendo:
- Fica tranquilo, meu irmão. A gente não vai demorar
tanto assim. Além disso, dificilmente haverá outra ocasião. Eu
nem moro aqui. Vim para pregar e visitar a família.
- Se é assim, então tudo bem - Respondeu Cristiano.
Ato contínuo, o pastor convidou o jovem para
acompanhá-lo até seu escritório. Ao adentrar o cômodo,
Cristiano imediatamente perguntou:
- Ué, o senhor não disse que não mora mais aqui? Como
tem um escritório montado para você?
- Ah, isso é coisa da minha mãe. Ela fez questão de
manter o ambiente do mesmo jeito que quando eu morava aqui,
para que sempre que a visitasse eu pudesse ler um livro,
165
preparar um sermão, ou, até mesmo, receber pessoas para
conversar.
- Poxa, que legal!
- É mesmo, minha mãe é uma bênção! Mas, me diga: em
que posso te ajudar?
- Bem, como eu falei, tenho peregrinado em busca de
respostas relativas ao consumo de álcool por parte dos cristãos.
Ao longo dessa busca, pude definir minha posição em relação a
isso. E, por sinal, é a mesma que a sua. O pastor Ricardo me
ajudou muito nesse processo. Ele é um homem de grande
conhecimento e sabedoria! No entanto, por falta de tempo, ele
acabou não esclarecendo todos os pontos que me incomodam no
que tange ao meu posicionamento. Na verdade, esse incômodo
diz respeito a uns textos bíblicos que alguns conhecidos meus
usaram para defender o consumo moderado de bebidas
alcoólicas. Por isso, aproveitei que compartilhamos das mesmas
ideias, e que o senhor está aqui do lado da minha casa, para
solucionar os questionamentos que me restam.
- Estou à disposição, pode falar.
- Bem, noutro dia lá no trabalho eu conheci um cara
meio doido, que me falou que bebia para a glória de Deus! A
fim de se justificar, ele usou o texto de 1Coríntios 10.31 e citou
o exemplo de um tal Spurgeon, o qual, segundo ele, afirmou que
fumava para a glória de Deus! O que o senhor me diz disso.
- Sem dúvida, Charles Spurgeon foi um grande pregador.
Sua eloquência lhe rendeu o título de “Príncipe dos Pregadores”.
As multidões afluíam para o ouvirem. Mesmo assim, não posso
fechar os olhos para o fato de que ele conservou até o fim da
vida o hábito de fumar, em média, um charuto por dia. Contudo,
cabe salientar que, tal como ocorria com ele, todos nós
cometemos erros. Isso faz parte da natureza humana. Já
nascemos na condição de pecadores. Quantas vezes nós
166
falhamos e tentamos justificar-nos recorrendo a textos bíblicos?
Se eu disser que nunca fiz isso, estaria mentindo. Portanto, ainda
que Spurgeon tenha fumado, vejo que isso não o torna pior do
que nós. Reconheço, porém, o fumo como uma prática
inadequada ao Cristianismo. Até porque, como poderíamos nós,
que pregamos a liberdade, consentirmos com algo que aprisiona
tantas pessoas? Apesar disso, penso que precisamos manter o
foco em Jesus, não em Spurgeon ou Wesley. Porque, no fim das
contas foi isso que todos os ícones do passado fizeram: seguir
Jesus, não homens.
- Foi mais ou menos isso que eu respondi. Eu disse que
esse tal de Spurgeon não é Jesus. Ele não é referência pra mim.
O fato de ele fumar não constitui uma autorização para fazermos
o mesmo.
- É isso aí. E quanto ao texto de 1Coríntios 10.31, é
importante deixar claro que Paulo estava estabelecendo um
princípio norteador para toda conduta cristã. Isto não significa
fazer ou deixar de fazer algo, mas encarar todas as ações da vida
como atos de devoção a Deus. Tudo o que fazemos e o que não
fazemos deve concorrer para honra e glória do Senhor. Não
creio que o fumo se enquadre nisso. Pois, se lermos o versículo
seguinte97, veremos que quando levamos outros a tropeçarem,
sejam crentes ou não crentes, não estamos glorificando a Deus.
O abuso da liberdade cristã pode levar muitos a cair ou se
escandalizar. Esse é o contexto no qual o texto que você citou
está inserido. Paulo explica que, por causa da consciência do
outro98, ou seja, por causa do que o outro pode pensar de mim,
97
“Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos
gregos, nem à igreja de Deus” (1Coríntios 10.32).
98
“E, se algum dos infiéis vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que
se puser diante de vós, sem nada perguntar, por causa da consciência. Mas, se
alguém vos disser: Isto foi sacrificado aos ídolos, não comais, por causa
167
devo deixar de comer ou beber algo. Esse outro poderia ser tanto
o pagão que servia o alimento sacrificado aos ídolos, quanto um
crente débil na fé. Por isso, conforme já disse, considero
totalmente inadequado ao cristão tanto o fumo quanto o
consumo de álcool. Essas coisas não trazem edificação alguma,
não promovem a glória de Deus! Pelo contrário, elas só geram
escândalos e tropeços. Não é à toa que a mesma sociedade que
rejeita a Cristo entende que um cristão não deve beber.
- Concordo plenamente. O problema é que esse cara de
quem eu falei usou ainda o texto de Romanos 14.22 e 23 para
defender seu raciocínio, argumentando que se alguém acredita
que algo é pecado, não deve praticar o ato, mas se nem a sua
consciência e nem a Bíblia o condenam, não há problema algum
em fazê-lo. O que o senhor acha disso?
- Acredito que a maior dificuldade está nos extremos.
Uns acham que ser cristão significa apenas deixar de praticar um
monte de coisas, porque creem que se as puserem em prática
perderão sua salvação; outros, por outro lado, entendem que a
liberdade que Cristo concede lhes outorga o direito de fazer o
que bem entenderem, pois já que essas coisas não salvam que
mal há em praticá-las? São dois pensamentos equivocados. O
capítulo 14 de Romanos, ao contrário do que alguns pensam,
não se trata de uma autorização para consumir álcool. Quem
pensa assim, deveria ler os versículos finais do capítulo 13, que
dizem o seguinte: “andemos honestamente, como de dia; não em
glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem
em dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas revesti-vos do
Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas
168
concupiscências”. Estes versículos provocaram um grande
impacto na vida de Agostinho, um dos maiores teólogos
cristãos, porque, ao lê-los, pode compreender a verdade, a qual
dissipou todas as suas dúvidas. Ele entendeu que precisava
vestir-se de Cristo, o que o levaria, naturalmente, a abandonar
sua vida devassa.
- Nossa! Não sabia disso!
- Interessante né?
- Muito.
- Mas, como eu falava, no capítulo 14 da carta aos
Romanos, o apóstolo estava tratando de um problema
semelhante ao que havia em Corinto; isto é, facções no interior
da comunidade cristã. Dois grupos, para ser mais específico: os
“fortes na fé”, que argumentavam em favor da liberdade cristã,
abrindo mão de todos os tabus dietéticos e dias santos, e os
“fracos na fé”, os quais ainda se mantinham apegados às
proibições do judaísmo. Uma das questões que mais os dividia
dizia respeito à carne que era vendida nos mercados pagãos. Os
fracos na fé, como não tinham certeza se o alimento havia sido
dedicado aos ídolos ou não, optavam pela abstinência de todo o
tipo de carne, ou seja, eram vegetarianos. Como a maioria
estava entre os “fortes na fé”, os fracos eram desprezados, vistos
como antiquados. Estes, em reação às críticas da maioria,
julgavam os fortes como liberais demais. Veja que a
controvérsia entre os crentes de Roma não focava o consumo do
álcool ou o hábito de fumar, o debate visava estabelecer um
padrão de conduta cristã em relação aos preceitos e tradições
judaicas. Não tinha nada a ver com o assunto que trato no meu
livro. Mesmo assim, podemos encontrar no texto princípios que
podem nos ajudar nessa questão. Isto porque, o apóstolo, a fim
de solucionar o problema, prescreve um remédio para aquela
comunidade: o amor. Ele mostra que, embora um pensasse de
169
um jeito e o outro de outro, o fator norteador não deveria ser
nem um lado nem outro, mas o amor fraternal.
- Como assim, pastor?
- O exercício do amor paulatinamente daria espaço para
a aceitação e o respeito mútuo. Isto é, o apóstolo recomenda que
os fracos não julguem os fortes, antes tentem amá-los como
membros da família de Cristo. Os fortes, da mesma forma,
sendo conduzidos pelo amor, e não somente pelo intelecto,
deveriam, mesmo sabendo que fazer isso ou aquilo não os
levaria para o inferno, ter o cuidado de não abusar da sua
liberdade, a fim de não escandalizar seu irmão ou fazê-lo
tropeçar. Por isso, ele diz, em Romanos 15.1 e 2: “mas nós, que
somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não
agradar a nós mesmos. Portanto cada um de nós agrade ao seu
próximo no que é bom para edificação”. Visto isso, creio que,
por amor ao próximo, devemos evitar o álcool, o fumo, e
qualquer outra droga.
- E quanto aos versículos 22 e 23 do capítulo 14?
- Ah, foi bom você perguntar, eu já havia esquecido!
Mas vamos lá! Esses versículos destacam o aspecto subjetivo do
pecado. Neles, Paulo ressalta que se alguém faz algo achando
que Deus desaprova aquilo, ainda que a prática seja lícita, o
indivíduo cometeu pecado, visto que, deliberadamente,
desprezou o preceito que considerava divino.
- Não entendi muito bem essa parte, o senhor poderia dar
um exemplo?
- Certamente. Vamos supor que, para você, usar
bermudas seja pecado. Porém, mesmo tendo essa convicção,
você decide usar. Ora, se você crê que isso é pecado, ainda que
de fato não seja, você pecou, pois decidiu fazer mesmo crendo
que estaria desobedecendo a Deus. Isto, no entanto, não dá ao
cristão a autonomia para decidir o que é pecado ou não, apenas
170
aponta para o pecado como algo que interfere em nosso
relacionamento com Deus, e não como uma mera relação de
faça ou não faça. Apesar disso, a Bíblia nomeia alguns pecados,
revelando que embora o crente tenha liberdade em Cristo, essa
liberdade tem limites; e uma das maiores limitações humanas é a
existência do outro.
- Como assim, a existência do outro?
- Ora, o simples fato de existir outra pessoa já me limita.
Eu tenho que conviver com a realidade de que não posso ser ela,
nem forçá-la a me amar e a me aceitar; e é justamente dessa
limitação que Paulo fala no capítulo 14 de Romanos. O meu
amor ao próximo deve limitar minhas atitudes, de modo que a
minha liberdade não o fira. Pensando assim, o apóstolo afirmou:
“bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras
coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se
enfraqueça”99. Esse mesmo princípio está presente em
1Coríntios 10.23 e 24, onde Paulo, tratando da mesma questão,
ou seja, comer carne sacrificada ou não, salienta que a liberdade
do crente encontra expressão quando este luta pelo bem-estar do
próximo. No versículo 23, ele diz que “nem todas as coisas
edificam”, porque, conforme já havia destacado no capítulo 8 da
mesma epístola, o que edifica de verdade é o amor, não o
conhecimento100. De que adianta saber que comer a carne
sacrificada não trará dano algum, se isso escandaliza tanto o
ímpio quanto o crente? É necessário amar ao ponto de nos
abstermos daquilo que pode levar o outro ao erro.
- Caramba, pastor! O senhor respondeu até o que eu iria
perguntar em seguida! O senhor é bom mesmo! Parece até o
pastor Ricardo!
99
Romanos 14.21.
100
1Coríntios 8.1.
171
- Ah, eu e o seu pastor somos amigos de longa data.
Estudamos juntos no seminário. Ele é um homem de Deus!
- É verdade. Aquele homem é uma bênção!
- Você acredita que um dia nós chegamos a debater
sobre esse mesmo assunto?
- Foi mesmo?
- É. Mas naquela ocasião eu não tinha esse
posicionamento. Depois de conversar muito com ele, mudei a
maneira de enxergar essa questão.
- Poxa, que impressionante!
- É rapaz, seu pastor é um homem sábio. Siga suas
orientações que você vai se dar bem.
- Amém!
- Bem, mas... voltando ao assunto, eu quero ainda falar
contigo sobre um texto bastante usado pelos defensores do
consumo do álcool: João 2.1-11. O Ricardo já falou contigo
sobre esse texto?
- Não, ainda não.
- Então vamos lá. Inicialmente, precisamos ter em mente
que considerar alcoólico o vinho produzido por Jesus em seu
primeiro milagre, traz diversas complicações. Pois, se olharmos
por esse prisma, o relato de João, além de não orientar a
abstinência, serve de respaldo para a embriaguez. Isto porque
João declara que a água, posteriormente transformada em vinho,
estava posta em seis talhas de pedra, nas quais cabiam dois ou
três almudes. Ora, o almude era uma unidade de medida que
variava entre 30 e 40 litros. Por conseguinte, Jesus teria suprido
a festa com aproximadamente 600 litros de vinho embriagante.
Seria o mesmo que dizer: aí galera, pode encher a cara!
- Caramba! Era muito vinho!
- É verdade. Mas a situação se agrava ainda mais por
conta da ocasião na qual ocorreu o milagre. De acordo com o
172
relato de João, o fato se deu em uma festa de casamento
realizada em Caná da Galiléia. Normalmente, tais festas
duravam sete dias101, podendo se prolongar por até duas
semanas. Sendo assim, se o vinho servido durante a celebração
fosse fermentado, os convidados já estavam bebendo há muito
tempo. Mesmo assim, Jesus dá mais vinho a eles!
- Espera um pouco, pastor. O episódio narrado por João,
não poderia ter acontecido de manhã cedo? Ou, de repente, eles
poderiam ter começado a beber naquele momento. Dessa
maneira, os convidados estariam sóbrios ainda, e o que Jesus fez
não causaria tanto problema.
- Eu entendo. Contudo, deve-se analisar o seguinte:
dificilmente a falta de vinho teria sido observada no início de
um dia, até porque no final do dia anterior certamente alguém
verificaria o problema e procuraria saná-lo. Ademais, o texto dá
a entender que o término da bebida causou surpresa e desespero.
O próprio mestre de cerimônias deixa claro que o vinho
produzido por Jesus apareceu no final da festa. Tanto, que diz ao
esposo: “tu guardaste até agora o bom vinho102”. Logo, seguindo
a interpretação de que o vinho era alcoólico, os presentes já
deviam estar alcoolizados, e se ainda não estavam, Jesus
contribuiu significativamente para que ficassem. Até porque,
fornecer tamanha quantidade de bebida “no final da festa”, seria
o mesmo que dizer: “podem se embriagar”!
- É... eu não havia olhado por esse ângulo...
- É um ângulo que desfigura o Jesus que conhecemos.
Aliás, essa visão corrompe também outros personagens, porque,
se optarmos por essa interpretação temos de admitir que Maria,
serva exemplar, escolhida para ser o meio físico através do qual
viria o salvador, estaria lastimando a falta de bebida
101
Gênesis 29:27; Juízes 14:12.
102
João 2.10.
173
embriagante e, pior ainda, requerendo que Cristo pusesse um
fim àquela “catástofre”, produzindo mais vinho fermentado para
a “rapaziada” se embebedar. Além disso, deve-se observar que
tal pensamento leva, inevitavelmente, à conclusão de que Jesus
teria produzido vinho alcoólico como seu primeiro milagre, com
o intuito de manifestar a sua glória103, a fim de que a fé de seus
discípulos fosse reforçada e confiassem nEle como o Messias
prometido!
- Pastor, eu acho que a maioria das pessoas que defende
essa posição nunca refletiu dessa forma. Não é possível! Não
tem como imaginar Jesus optando por manifestar publicamente
sua divindade, através da milagrosa produção de centenas de
litros de vinho fermentado, para suprir a necessidade de alguns
beberrões! Pois, como poderia o mesmo Deus que produz no
crente o fruto do Espírito, o qual tem como uma de suas
características o domínio próprio104, contribuir para que alguém
perdesse o autocontrole? É um completo absurdo!
- Na verdade Cristiano, muitos nem querem refletir. O
que sempre quiseram, de fato, foi praticar as mesmas coisas que
o mundo faz e permanecer nos limites do Cristianismo. Por isso,
vemos pessoas transformando tudo quanto é procedimento dos
ímpios em atividades “gospel”. Tem cerveja gospel, danceteria
gospel, funk gospel, piercing gospel... só ainda não vi a
prostituta gospel, mas acho que não vai demorar muito para
aparecer.
- É desse jeito mesmo pastor. Eu conheço um rapaz que
afirma estar vivendo o verdadeiro evangelho, mas bebe, se
masturba, joga na loteria, e, ainda por cima, não frequenta
templo algum. Diz que, na igreja, estão todos errados. Só ele
103
João 2.11.
104
Gálatas 5.22.
174
está certo. Aponta os erros de todo mundo, mas quando eu fui
falar sobre a conduta dele, me deu uma patada.
- É... é difícil conversar com algumas pessoas, né?
- Põe difícil nisso!
- A melhor saída é amar, testemunhar e orar por ele.
Julgá-lo seria errado. Tente, com amor, levá-lo à sua igreja, por
exemplo. Tenho certeza de que o Ricardo vai cuidar bem desse
rapaz.
- Boa ideia, pastor! Vou convidá-lo essa semana!
- É isso aí. Mas, quanto ao texto do qual falávamos,
penso que é muito mais coerente com a divindade de Jesus,
compreender que Ele criou, de forma sobrenatural, o suco de
uva não fermentado, produto da uva espremida, o qual a criação
divina produz todos os anos, destaca a honra e a soberania de
Deus, além de ressaltar a glória de Cristo. Até porque, não dá
nem para imaginar o Senhor Jesus, dando seus primeiros passos
em seu ministério terreno, contrariando a vontade do Pai, o qual,
em Habacuque 2.15, declara: “Ai daquele que dá de beber ao
seu companheiro! Ai de ti, que adiciona à bebida o teu furor, e o
embebedas para ver a sua nudez!” Na verdade, afirmar isto
constitui uma afronta aos relatos das Escrituras de que o Filho
obedecia ao Pai. Vemos isso, por exemplo, em João 4.34,
Mateus 26.39 e Filipenses 2.8-9. Compreende a natureza
contraditória dessa linha de raciocínio?
- Sim. Mas ainda tenho uma dúvida.
- Pode falar.
- No texto, o mestre de cerimônias chamou o vinho que
Jesus produziu de bom, ressaltando que este, geralmente, é
oferecido quando os convidados já beberam bastante. Isso não
dá margem para uma interpretação que justifique o consumo do
álcool? Alguém, inclusive, pode entender que isso era feito para
que os convidados, com os sentidos entorpecidos pelo álcool,
175
não percebessem a diferença entre um bom vinho e uma bebida
inferior. Concorda?
- Esse questionamento é possível. Eu já o ouvi diversas
vezes. Entretanto, naquela época, o bom vinho, em hipótese
alguma, era o que continha mais álcool. Ao contrário do que se
pensa, os melhores vinhos eram aqueles cuja potência alcoólica
havia sido removida pela fervura, filtração ou acréscimo de
água. Além do mais, o comentário do mestre de cerimônias não
indica, necessariamente, que tal situação estava acontecendo
naquele momento. Era só uma observação com base em sua
experiência. Mas mesmo que pensássemos que ele fez menção
daquilo que ocorria ali, o verbo grego empregado é usado no
sentido de beber bastante, apontando para a saciedade, não para
a embriaguez.
- Caramba! O senhor também entende de grego?!?
- Sim. Eu e o seu pastor, estudávamos grego e hebraico,
juntos, na casa dele. A gente sempre gostou de idiomas.
Fizemos até um curso de inglês juntos.
- Poxa, que legal! Vocês são amigos mesmo!
- É, o Ricardo é um amigão.
- Então me diz aí, pastor: qual é o termo grego que
aparece no texto?
- Ah, é a palavra methusko.
- Não adianta, não consigo me acostumar com esse
negócio de grego e hebraico! É muito esquisito!
- Relaxa. Você se acostuma. Afinal, se você quer
conhecer mais sobre a Palavra de Deus, inevitavelmente, terá de
encarar esses idiomas.
- Deus tenha piedade de mim!
- Ah! Ah! Ah! - Riu o pastor diante do comentário de
Cristiano - Cristiano, você é uma bênção!
176
- Me ensine mais pastor, para que eu possa ser uma
bênção maior ainda!
- Tudo bem. Uma coisa que precisamos falar é que a
abstinência não é uma atitude de uns poucos crentes bitolados.
Até mesmo em outras religiões vemos esse tipo de
comportamento. Buda, por exemplo, ensinou que o caminho
para libertação do sofrimento passa pela abstinência de tudo que
anuvia a mente. Igualmente, o Alcorão, Escritura sagrada do
islamismo, proíbe o consumo do álcool, em quantidades
pequenas ou grandes. É claro que essas vertentes religiosas,
diferente de nós, valorizam as obras como meio de salvação.
Não obstante, o ponto que quero ressaltar é que não somos os
únicos a pensarmos assim. Estudos, inclusive, mostram que o
exercício da religiosidade está associado à menor frequência de
problemas relacionados ao álcool, sobretudo, entre os
adolescentes.
- Isso que o senhor falou me fez lembrar um trecho da
Bíblia que li esses dias, lá em Jeremias 35.18 e 19. O profeta
elogia os recabitas por sua abstinência do vinho.
- Excelente exemplo! No Antigo Testamento há vários
elementos que advogam em favor da abstinência. Porquanto,
naquela época era exigido dos reis, príncipes e juízes que se
abstivessem totalmente do vinho fermentado105. Da mesma
forma aqueles que buscavam um elevado nível de consagração a
Deus, como os sacerdotes106 e os nazireus107, deveriam observar
tal abstinência. Até na literatura extra bíblica encontramos
indícios da abstenção do álcool. O versículo 100 do Evangelho
de Filipe, por exemplo, fala de vinho misturado com água.
105
Provérbios 31.4-7.
106
Levítico 10.8-11.
107
Números 6.1-5.
177
- Espera aí, pastor. O senhor falou uma palavra que eu
não entendi muito bem: narizeu. Pode me explicar, por favor?
- É nazireu, Cristiano! Este termo era usado com
referência a todo israelita que fazia voto de dedicação ao serviço
de Deus. Essa consagração, normalmente, envolvia um estilo de
vida abstêmio, que podia ser permanente ou temporário. Dois
dos nazireus mais conhecidos são Sansão e João Batista. Se
você quiser conferir depois, basta ler Números 6.1-21.
- Ah, deixa eu anotar aqui... Números 6.1-21. Beleza!
Mas e essa literatura extra bíblica que o senhor falou? Deve ser
levada em conta?
- Bem, o texto que eu citei foi escrito, mais ou menos,
no século II d.C. É um texto duvidoso, assim como os demais
evangelhos extra bíblicos. Mesmo assim, creio que, de alguma
maneira, ele reflete os costumes que vigoravam na época de sua
redação. Esse aspecto pode sim ser levado em consideração,
ainda que não ponha um ponto final no assunto. Satisfeito?
- Sim. Completamente satisfeito. Conversar com o
senhor foi muito bom! Tanto, que já não resta mais dúvida
alguma. Os encontros que tive com o senhor e com o pastor
Ricardo foram extremamente esclarecedores. Agora entendo
que, embora acredite que a abstinência é o melhor caminho, não
tenho o direito de julgar o meu irmão que pensa diferente. Devo,
com amor, apresentar essa convicção através da minha vida.
Não preciso brigar com os outros. Até porque, o tempo que
perdemos em discussões infindáveis poderia ser mais bem
aproveitado se investíssemos na evangelização, anunciando
Jesus Cristo a toda criatura!
- É isso aí Cristiano! É essa visão que falta a muita
gente. A maioria prefere gastar tempo em discussões calorosas a
proclamar o evangelho. Parece que preferem massagear o ego a
fazer a vontade de Deus.
178
- É verdade. Espero que Deus use nossas vidas para
impactar essas pessoas!
- Vamos orar Cristiano?
- Sim.
Assim, os dois dobraram seus joelhos e clamaram ao
Senhor, rogando-lhe que despertasse cada cristão, a começar
deles, para a proclamação do evangelho. Aproveitaram a ocasião
também para agradecer-lhe pela oportunidade de tratar daquele
assunto tão importante para suas vidas. Terminada a oração, os
dois se abraçaram e o pastor conduziu o jovem até a porta,
salientando que teria de viajar e, por isso, não poderia continuar
a conversa. Cristiano não se importou, pois já estava mais do
que satisfeito pela tarde edificante que passara na companhia
daquele servo de Deus.
Após despedir-se, o jovem retornou à sua casa, onde se
deparou com uma cena que tocou seu coração: seus pais
deitados e abraçados, dormindo no sofá da sala. Cristiano ficou
parado ali, durante um bom tempo, só admirando e exaltando ao
Senhor por sua intervenção.
Então, ele dobrou os seus joelhos, mais uma vez, e
rogou ao Senhor para que fizesse dele um ganhador de almas.
Porquanto, seu desejo era ser instrumento de Deus para que
outras famílias pudessem gozar da mesma alegria que ele.
Naquele momento, sentiu o Senhor falar profundamente ao seu
coração, chamando-o para o ministério pastoral. Isso o fez
chorar copiosamente, pois se considerava indigno de tal tarefa.
Subitamente, por conta do alto volume do choro, sua
mãe acordou e foi ao encontro do rapaz. Ela o abraçou e
questionou a razão das lágrimas. Ele, então, contou-lhe tudo o
que acontecera. Odete, cheia de amor, disse:
- Filho, Deus é contigo! Se Ele te chamou, vai capacitá-
lo! Basta olhar para nossa família para ver como Ele tem
179
cuidado de nós! Ele te capacitou, até mesmo, para evangelizar
seu pai! Confia nEle!
Ao ouvir essas palavras, Cristiano se acalmou e
lembrou-se de um texto que ouvira, recentemente, na EBD, que
dizia: “tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós
começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo”
108
. Em seguida, agradeceu a sua mãe e disse que a amava.
Daí em diante, Cristiano, entendendo ter sido
convocado para o exercício do ministério da Palavra, seguiu
buscando cada vez mais conhecimento da Escritura, o que o
levou a “controversar” com outras pessoas sobre outros temas
polêmicos. Os detalhes dessas controvérsias, entretanto, não
narraremos aqui, até porque eles fazem parte de outra história.
108
Filipenses 1.6.
180
CONCLUSÃO
181
testemunho da fé cristã? Será que temos amado como Cristo
amou? A proclamação do evangelho tem sido nosso propósito?
Muito mais do que saber se devemos beber ou não,
precisamos responder a essas questões. De nada adianta deixar
de beber se não amarmos o próximo como a nós mesmos, se não
tivermos paixão pelas almas perdidas, se não amarmos a Deus
de verdade. Essa é a mensagem da estória que você leu. Não se
trata apenas de um manual para te dizer o que você deve ou não
fazer. Até porque, o evangelho não é uma lista de pecados; isto
seria uma notícia desagradável! Ao contrário, a mensagem de
Cristo são boas novas! Ele veio anunciar que, mesmo cheios de
pecado, podemos ser alcançados pela graça divina, por
intermédio dEle. É exatamente isso que acontece com a família
de Cristiano: um jovem cético, magoado pelo alcoolismo do pai,
e sua mãe seguidora de outra religião, a despeito de seus
pecados, são convencidos pelo Espírito Santo e se rendem aos
pés de Cristo. De igual modo, o pai do jovem, um homem
destruído pelo álcool é restaurado por completo ao receber Jesus
como Salvador. Aleluia!
Não há como permanecer impassível diante dessa
manifestação do amor divino. Por conta disso, o jovem pede a
Deus para que faça dele um ganhador de almas. Sabe, esse
deveria ser o desejo de todos nós. Ao invés de dedicar a maior
parte do tempo a nós mesmos, em prol da satisfação de nossos
desejos, deveríamos dizer: “eis-me aqui, envia-me a mim”.
Cristiano demorou mais de cem páginas para compreender isso;
e você, quanto tempo será preciso para atender ao chamado do
Senhor?
Desejo, sinceramente, que este livro sirva de base para
sua reflexão, não só a respeito do consumo do álcool, mas,
sobretudo acerca de sua postura em relação a Deus. Quanto a
beber ou não beber, creio que ainda há muito que controversar.
182
Porquanto, penso que nenhuma estória, artigo, pesquisa ou
palestra poderia por fim a essa polêmica. Mesmo assim, tenho
certeza de que Cristiano e seus amigos lhe fizeram repensar
alguns pontos. Se isto aconteceu, fico feliz, pois, assim como os
amigos do jovem protagonista contribuíram para a construção de
seu raciocínio, tive também o privilégio de conduzi-lo até este
momento de reflexão. Obrigado pela companhia. Deus o
abençoe!
183
BIBLIOGRAFIA
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Artigos da internet
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