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TEOLOGIA DE MISSÕES

SETEBISBA
Seminário Teológico Batista
Independente do Sudoeste da Bahia
2023.2
TEOLOGIA DE
MISSÕES

Apostila: TEOLOGIA DE MISSÕES


UM GUIA DO ESTUDO DA BASE BÍBLICA DE MISSÕES

Autor da Apostila: Pr. Lars Bertil Ekström – junho/2021


Revisão gramatical: Rosely de Lima Souza – abril/2022

Proibida a reprodução dessa apostila em seu todo ou em parte


sem a devida autorização J.E.T. – Junta de Educação Teológica
da CIBI.

Uso do SETEBISBA autorizado pela direção da JET - Jul/2023.

**Diagramação e correções por Paulo Sergio Mendes para


utilização na disciplina no SETEBISBA em 2023.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 5
1. ANTIGO TESTAMENTO 8
1.1.Teologia de Missões no Pentateuco 8
1.2.Teologia de Missões nos Livros Históricos 13
1.3.Teologia de Missões nos Livros Poéticos 17
1.4.Teologia de Missões nos Livros Proféticos 21
2. NOVO TESTAMENTO 33
2.1.O Ministério de Jesus como um Modelo 33
2.2.Teologia de Missões nos Evangelhos 37
2.3.Teologia de Missões em Atos dos Apóstolos 45
2.4.Teologia de Missões nas Epístolas Paulinas 48
2.5.Teologia de Missões nas Epístolas Gerais 78
2.6.Teologia de Missões em Apocalipse 81
3. TEMAS TEOLÓGICOS DE MISSÕES 92
4. TEOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS DE MISSÕES 95
4.1.Evangelical – Textos de Lausanne 95
4.2.Pentecostal 99
4.3.Ecumênico – Conselho Mundial de Igrejas 102
4.4.Católica Romana 103
5. TEOLOGIA SOCIAL DE DE LIBERTAÇÃO 107
5.1.Os instrumentos e as motivações da TL 107
5.2.Temas chaves da TL 108
5.3.Uma avaliação evangélica da TL 108
6. ORTODOXA 112
6.1.Teologia de Missão Ortodoxa 113
7. TEOLOGIA CONTEXTIALIZADA DE MISSÕES 114
7.1. Pressupostos de uma teologia contextualizada 114
CONCLUSÃO 117
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 120
ANEXOS 122
Avaliação de trabalhos 122

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Ementa
Curso Disciplina
MÉDIO EM TEOLOGIA (LIVRE) TEOLOGIA DE MISSÕES
Créditos Carga horária Código da Disciplina
4 64 horas
Instituição:
JET – JUNTA DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA DAS IGREJAS BATISTAS INDEPENDENTES
Descrição da Disciplina:

Esta apostila visa ser um guia geral do estudo de Teologia de Missões nos seminários e
cursos bíblicos vinculados à Junta de Educação Teológica. A carga horária prevista é de 64
horas/aula, equivalente a 4 créditos em nível superior (pós-secundário).

Objetivos:

• Conhecer o conteúdo missiológico do Antigo Testamento e do Novo Testamento,


formulando uma Teologia Bíblica de Missões;
• Identificar os principais tópicos de uma Teologia de Missões nos Evangelhos e nas
Epístolas do Novo Testamento;
• Compreender as implicações práticas de uma Teologia de Missões;
• Conhecer as principais teologias de missões das tradições cristãs; e,
• Refletir sobre uma teologia contextualizada de missões para os dias atuais.

Conteúdo prográmático:

• Definições de termos relativos à Teologia de Missões;


• Teologia Bíblica de Missões no Antigo Testamento;
• Teologia Bíblica de Missões no Novo Testamento;
• Teologias Contemporâneas de Missões; e,
• Teologia Contextualizada de Missões.

Avaliação:

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

INTRODUÇÃO

DEFINIÇÕES

Missão - Do latim missio, tradução do grego apostelo - que significa enviar. Apóstolo e
missionário são, portanto, sinônimos com base no significado original da palavra. Porém,
normalmente usamos o título de apóstolo para os discípulos de Jesus, e alguns dos líderes do
Novo Testamento, como por exemplo o apóstolo Paulo.

Missio Dei - Missão de Deus. A missão começa e pertence a Deus. Somos cooperadores com
Ele em Sua missão.

A missão da Igreja - É a tarefa dada à Igreja por Jesus Cristo quando envia os seus discípulos.
A missão da Igreja abrange diferentes áreas, sendo tanto uma comunidade terapêutica, como
também um agente do reino de Deus para a expansão do Evangelho. Podemos incluir na
missão da Igreja aspectos como evangelização, ensino, louvor e adoração, comunhão,
diaconia e ajuda aos necessitados, intercessão e oração pelos enfermos e, claro, missões. A
igreja é enviada por Jesus para dentro da sociedade, fazendo diferença a partir dos conceitos
e valores do reino de Deus, mas ao mesmo tempo, a igreja, também, é enviada para fora de
seu contexto, ao mundo todo, levando o Evangelho a todas as pessoas em todos os povos e
nações.

Missões – Usamos o termo missões, no plural, para definir o envio de pessoas e recursos para
comunicar o Evangelho e plantar igrejas em outras localidades. O objetivo é que uma igreja
seja formada em cada lugar, bairro, cidade, província e nação; que tenha a capacidade de
representar o reino de Deus em sua localidade e de engrandecer o nome do Senhor. A ênfase
está no envio, podendo ser, para um local próximo ou distante.

Missão holística. É o trabalho missionário realizado, local e globalmente, com base em um


Evangelho completo, que inclui todos os aspectos da vida e todas as dimensões do ser
humano: espiritual, física, psicológica, social e material. Em grande parte da literatura
missiológica é chamada de missão integral.
Missiologia - é o estudo da missão de Deus e das missões da igreja. A missiologia inclui uma
série de áreas, como: teologia da missão, história das missões, estratégia da missão, missões
transculturais, antropologia da missão, pedagogia da missão, contextualização, comunicação
intercultural, cooperação missionária, treinamento de missionários, ensino missionário na
igreja, cuidado integral do missionário, intercessão missionária, plantação de igrejas, tradução
da Bíblia etc.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Evangelizar/ Evangelização. São os termos que usamos para descrever a ação da igreja local
e do missionário no campo para comunicar as Boas Novas de Salvação.

Cristianizar - Colonizar - Civilizar. Estes são termos amplamente usados durante a expansão
missionária nos séculos de colonização europeia ao redor do mundo. Desde os
descobrimentos pelos países católicos (Espanha, Portugal e Itália) a ideia era cristianizar os
povos das terras conquistadas. O entendimento era que, ao serem colonizadas e
cristianizadas, as pessoas seriam mais civilizadas. Não havia compreensão ou respeito pelo
fato de já terem sua própria civilização. Os três “Cs” acompanharam as missões protestantes
e evangélicas durante os séculos 18 a 20, até que houve a independência das colônias e o
surgimento de uma Igreja nacional.

Uma definição geral de Missão:


Missão é a ação de Deus através da Igreja de Cristo, sob a direção e inspiração do Espírito
Santo, para que discípulos sejam enviados para novos lugares, para testemunharem acerca de
Jesus Cristo, com a finalidade de que pessoas sejam salvas e formem igrejas locais, para que
Deus seja glorificado e o Reino de Deus estabelecido.

O DESAFIO DE FAZER TEOLOGIA


• A necessidade de uma visão panorâmica das Escrituras, conhecendo o pano de fundo,
contexto histórico, significado original e o auditório e receptores da mensagem bíblica.
• Aproveitar-se da teologia elaborada ao longo dos séculos. Escutar os teólogos da Igreja e
conhecer a história da teologia.
• Ler o texto bíblico à luz da realidade atual e dentro do contexto em que vivemos.
• Estar atento à direção do Espírito Santo que “vivifica a palavra”.
• Possuir a Bíblia no idioma materno. Comparar, se possível, diferentes traduções.
• “A teologia se faz ao longo do caminho”! Não é em primeiro lugar um produto acadêmico.
• A Igreja fazendo sua teologia – o processo da teologização – uma teologia contextualizada

Texto Bíblico Contexto histórico

Contexto Receptor

TEOLOGIA E PRÁTICA MISSIONÁRIA


A importância dos conceitos teológicos para compreender a Missão de Deus e a tarefa
missionária da Igreja. Exemplos: Conceitos de pecado e de salvação; a singularidade de

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TEOLOGIA DE
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• Cristo; a possibilidade do ser humano em aceitar ou rejeitar a salvação; o papel da Igreja


e do cristão na divulgação do evangelho; a visão do Reino de Deus presente e eterno.
• O ensino bíblico-teológico no campo missionário. A formação de lideranças com boa base
bíblica. O Discipulado. A Tradução da Bíblia.

A MISSIOLOGIA E A TEOLOGIA
É natural que a história da missiologia, teologia de missões, se confunda com a própria história
da teologia de forma geral. No entanto, têm-se discutido qual é o primeiro, o original. A
teologia nasce da missiologia ou vice-versa Dentro da premissa que toda a teologia tem a ver
com o plano redentor de Deus, a missão de Deus, Missio Dei, os conceitos missionais tornam-
se os mais básicos e fundamentais de toda a teologia.

Reflexão:
1. Qual é a sua definição de missões
2. Quais são os desafios de se fazer teologia em nossos dias

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

1. ANTIGO TESTAMENTO

1.1 Teologia de Missões no Pentateuco


É importante levar em consideração a Bíblia toda quando vamos definir uma Teologia
Bíblica de Missões. É no Antigo Testamento que temos o fundamento para entendermos os
propósitos de Deus com sua criação, em geral; e com o ser humano, em especial. A história
da salvação nos dá princípios de como Deus age.
Acompanhar a atuação do Senhor junto ao povo de Israel nos fornece indispensáveis
ensinamentos quanto a missões.

1.1.1 Na criação – Gênesis 1 e 2


Estes dois primeiros capítulos falam sobre a criação e a relação do Criador com o ser
humano criado por Ele.

Deus, o criador, não é apresentado; sua existência é dada por natural e certa.
• Deus é um Deus dinâmico – sua palavra é “dynamis” – fala e acontece
• Deus não é estático – há uma constante criação
• Deus é sistemático – existe um plano por detrás de sua ação
• Deus é o Criador – o verdadeiro dono de tudo

Reflexão: Evolucionismo ou Criacionismo?


Há uma antiga discussão sobre evolucionismo e criacionismo. O problema não é tanto
se houve evolução; o que a ciência pode confirmar em suas descobertas arqueológicas. O
problema está na origem da vida, se houve um criador inteligente ou não. Acreditamos que
Deus está por detrás de tudo e que não houve evolução entre as espécies, principalmente,
não do ”macaco” ao ser humano.

O homem criado por Deus


• O homem é um ser espiritual – Gn. 2.7 – criado à imagem de Deus – Gn. 1.26
• O homem prestará contas diante do seu Criador – relação Criador e criatura
• O homem é um ser social, criado para relacionar-se com outros seres humanos e com o
resto da criação
• Existe uma unidade na criação e igualdade entre homem e mulher – Gn. 5.2
• O homem cria sua cultura – cocriador de Deus
• O homem é um vice regente – Gn. 1.26,28,29, cuja tarefa é renovada mesmo após a queda
• Para entender o propósito de Deus em seu plano de salvação e sua missão de resgatar os
seres humanos em um relacionamento com Ele por meio de Jesus Cristo, é importante
afirmar uma teologia da criação. O homem foi criado para viver na terra feita por Deus e
cuidar dela. A queda no pecado afetou todas as áreas da vida humana, incluindo a
natureza.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• A reconciliação com Deus reconecta o homem com seu Criador e a vida espiritual é
restabelecida; mas isso também tem implicações em outras dimensões do ser humano,
como as emoções e o relacionamento com outras pessoas (psicológico e social ); e com o
físico (corpo e natureza).

A Queda - Gênesis 3
O capítulo 3 nos ensina sobre a queda do ser humano na armadilha do inimigo,
Satanás. A consequência do pecado de querer ser igual a Deus e de desobedecê-lo é muito
grave.

Três constatações:
• Não há discussão sobre a origem do mal (explicação só no Novo Testamento)
• O homem torna-se um rebelde
• O homem nega sua responsabilidade

Ensinos Aplicados:
• O homem quer ser autônomo, independente – não obedece a Deus
• Deus procura o bem do homem – “Adão onde está você?”
• A graça de Deus (graça universal) impede a corrupção total
• Não podemos subestimar a força do pecado
• A conversão é uma nova criação, não uma melhoria da fachada
• A promessa de salvação – Gn. 3.15. No capítulo que descreve a queda está a promessa de
redenção do ser humano por meio da descendência de Eva. É a primeira profecia sobre
Jesus Cristo.

1.1.2 Na história geral

O dilúvio – Gênesis 6 a 9
Nos capítulos seguintes, vemos como o pecado afetou o relacionamento entre as
pessoas e o crescimento do mal entre os homens. O resultado é que Deus envia o dilúvio.

A razão do castigo de Deus


• O homem tinha ido longe demais em seu pecado
• Deus dá liberdade, mas exige um viver responsável
• O julgamento vem sobre os pecadores, mas a humanidade é preservada através de uma
família que é salva.

Ensinos Aplicados
• Em sua liberdade o homem pensa que pode viver sem Deus – humanismo
• Deus tem um limite estabelecido para o pecado
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Deus preserva a humanidade mantendo seu desejo de salvá-la


A aliança
• Uma aliança com toda a humanidade
• A tarefa sociocultural é renovada
• Deus continua com seu propósito de salvar a humanidade

A Torre de Babel – Gênesis 10 e 11


Três constatações:
• A iniciativa humana de construir uma cidade para não correr o risco de se espalhar
• desejo de ser uma força equiparada com o Criador
• A torre – o símbolo do poder de união do ser humano, nesse caso, contra Deus
• Diz o texto que Deus “desceu para ver a cidade”, mostrando que a torre não era tão alta
assim!

Ensinos Aplicados:
• A liberdade tem seus limites
• O perigo das tendências nacionalistas
• As diferentes culturas fazem parte do plano original de Deus

Reflexão: Quando chegamos ao final desta parte da história de Deus com a humanidade, é
importante notar que Deus ainda quer se relacionar com o ser humano. Seu plano é que o
homem preencha a terra e não fique em um só lugar tentando ser grande e forte confrontando
o Criador. Deus criou uma terra com diferentes climas e natureza diversificada com o intuito
de que o ser humano estivesse em todas as geografias. A confusão de línguas por ocasião da
Torre de Babel não foi uma maldição, mas o avanço de um processo que iria ocorrer de
qualquer forma com a extensão de famílias e nações a diferentes lugares do globo terrestre.
Portanto, as diferentes culturas que vemos hoje, assim como a diversidade das línguas, fazem
parte do desígnio divino e mostram a grandeza e a riqueza de um Deus Criador.

1.1.3 Na história de Israel


No capítulo 12 de Gênesis começa a história do povo de Israel chamado para ser o
canal das bênçãos de Deus para toda a humanidade. Deus criou um novo povo a partir de um
casal, Abrão e Sarai, mais tarde chamados de Abraão e Sara.
Vamos apenas considerar alguns poucos textos relacionados com a história da atuação
de Deus com seu povo, Israel.

A Chamada de Abraão – Gênesis 12


• Uma primeira resposta à necessidade de salvação da humanidade
• Uma chamada ao serviço – a tarefa é mais importante que o servo
• Uma benção com força dupla
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* Centrífuga - expansão - no sentido de que todas as famílias da terra serão abençoadas


por meio de Abraão. Israel fez pouco a esse respeito, embora houvesse ocasiões em que
o povo realmente representasse seu Deus para as nações.
* Centrípeta - atração - significa que haverá uma atração para vir ao povo de Israel para
ser abençoado. Vemos isso, por exemplo, quando as pessoas vão ao templo em Jerusalém
para adorar a Deus.
* A comparação com Atos 1.8 é interessante, porque é quando há uma reversão de
direção, a bênção para as nações partindo de Jerusalém.
• Abraão – sendo bênção e maldição aos outros
• O fracasso de Israel – “cuida apenas de sua própria horta”

Reflexão: Até que ponto Abraão conseguiu ser uma bênção? O que era preciso acontecer em
sua vida para que ele fosse o servo de Deus que o Senhor desejou e para o qual foi chamado?

Aplicação: A Igreja tem a dupla responsabilidade de ser uma comunidade atrativa e


terapêutica (centrípeta) ao mesmo tempo que proclama o Evangelho de Jesus Cristo a todas
as nações, abençoando todos os povos (centrífuga).

Ismael e Isaque - os filhos de Abraão


Nos capítulos 16, 17, 21 e 22 de Gênesis, temos a história dos dois filhos de Abraão,
Ismael e Isaque, com implicações importantes até os dias de hoje.

Os erros cometidos pela família de Abraão


Abraão não acreditou na promessa de Deus de lhe dar um descendente e aceita a
ideia de ter um filho com Hagar. Mesmo que Sara tenha proposto e aceitado esta solução, o
conflito surge entre Sara e Hagar. Abraão tem dificuldades em assumir a sua responsabilidade.

Atitude de Deus
Deus não rejeitou Ismael, mas ele não é a semente de Abraão que cumpriria a
promessa. Há, no entanto, uma comunicação de Deus com Hagar e um plano também para a
vida de Ismael e seus descendentes. O nome Ismael significa "Deus ouve", e vemos como
Deus, também, se preocupa com Ismael. Ismael é circuncidado junto com Abraão; Ismael
estava destinado a ser uma grande nação, mesmo com conflitos constantes.

Isaque era o filho da promessa e é a partir de sua descendência que o verdadeiro povo de
Israel é formado. E conhecemos a história dos patriarcas e a continuidade no Antigo
Testamento. José, filho de Jacó e neto de Isaque, é um excelente exemplo de alguém que foi
uma bênção para outra nação, neste caso o Egito, e consequentemente, também, para seu
próprio povo.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Reflexão: Israel contra Ismael hoje. Os árabes são considerados descendentes de Ismael, que
são em sua maioria muçulmanos. No Alcorão, a figura de Abraão é muito importante e ele é
chamado de pai. O conflito entre judeus e árabes é antigo e continua a ser um dos mais
preocupantes hoje, também. Além do problema étnico e histórico entre os povos judeu e
árabe, há, também, o confronto entre a fé muçulmana e o judaísmo. Uma questão importante
para as missões evangélicas hoje é a evangelização de árabes e outros grupos muçulmanos.
O que podemos aprender com a história de Ismael que nos ajudaria a comunicar o amor de
Deus pelos muçulmanos em geral e pelos árabes em particular?

O Êxodo e a reconstrução do povo de Israel


Após 430 anos de permanência e, em grande parte, escravidão no Egito, Deus
prepara Moisés para conduzir o povo de volta para a terra prometida.
• O estabelecimento no Egito de José e de sua família – Gênesis 37-50
• Moisés, o líder escolhido por Deus para libertar o povo – Êxodo 1-3
• A saída do Egito – Êxodo 13, 14
• A reconstrução de um povo – Êxodo 19
• A liderança de Josué – Deuteronômio 31, Josué 1

Temas teológicos e missiológicos:


• A relação entre o Criador, o ser humano e a criação
• A realidade do pecado
• A missão de Deus (missio Dei)
• A vocação do povo de Israel
• O êxodo como modelo de libertação
• A identidade do povo de Deus

Figura 1 Rota do êxodo Hebreu

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Fonte: (WordPress.com – mapa da Sociedades Bíblicas Unidas)


➢ Veja no mapa o caminho percorrido pelo povo de Israel até chegar a terra prometida.

1.2 Teologia de Missões nos Livros Históricos


Os Livros Históricos dão continuidade à história do povo de Israel a partir do fim de sua
caminhada de volta à terra prometida e aos desdobramentos já com as diferentes tribos de
Israel estabelecidas de acordo com a divisão dos territórios. Trata-se de livros importantes
para entendermos a forma como Deus trata o Seu povo, gerado em Abraão e liberto do Egito.
Existem princípios aplicáveis para a teologia e a atuação da Igreja, o povo de Deus hoje.
Escolhemos alguns dos livros e dos personagens deste rico material veterotestamentário.

JOSUÉ
Existe uma forte ligação entre o livro de Josué e o Pentateuco, principalmente a narrativa da
saída do povo de Israel do Egito. O livro de Josué completa o retorno de Israel à terra
prometida.

Contexto histórico
O povo está acampando junto ao Rio Jordão e Deus manda o povo avançar para conquistar a
terra de Canaã. Os capítulos 1 a 12 narram a conquista da terra, de 13 a 21 a distribuição das
terras para as tribos, e o livro termina com a necessidade do renovo de compromisso com
Deus.

A pessoa de Josué e a transição de liderança


Josué caminhou com Moisés desde o início.
• Êxodo 17 - Josué é mencionado pela primeira vez como um oficial do exército de Israel
• Êxodo 24 - Josué é auxiliar de Moisés e o acompanha ao Monte Sinai para receber os dez
mandamentos. Ele é apresentado como seu assistente
• Êxodo 33 - como seu jovem assistente
• Números 11.28 - Josué, filho de Num, um dos servos escolhidos de Moisés
• Números 14.6-9 – Um dos espias que creu no poder de Deus
• Números 27.18 - Quando Moisés pede a Deus que alguém seja o cabeça da comunidade,
Deus responde dizendo: Pegue Josué, filho de Num, que é um homem de grande espírito.
• Deuteronomio 34.9 – A consagração de Josué como novo líder do povo

Josué 24.14-18 – A renovação da aliança com Deus


Israel junto ao Rio Jordão, em Siquém esperando entrar na terra prometida. A necessidade da
renovação da aliança com Deus:
• Fidelidade: Os altos e baixos na caminhada do povo. A frequente busca por deuses
alternativos (estepes divinos). O Povo de propriedade exclusiva de Deus!

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Identidade: A identidade do povo de Israel estava diretamente relacionada com o Senhor


– o criador do povo – era na relação com Deus que o povo tinha sua razão e sentido de
existência. Precisavam saber a quem seguiam diante dos outros povos.
• Unidade: Manter o povo debaixo da mesma aliança assegurava a unidade do povo.
• Representatividade: Israel representava o Reino de Deus e tinha sido chamado para
divulgar o conhecimento acerca deste reino e deste rei.
• Utilidade – Serviço. Israel tinha sido vocacionado para servir a Deus e servir a humanidade
• Eu e minha casa serviremos ao Senhor!

Aplicação missiológica:
• A necessidade do povo de Deus obedecer ao Senhor em tudo, avançando dentro dos
propósitos e da missão de Deus.
• A importância do culto e da adoração
• O preparo de uma nova liderança
• Uma transição de liderança pacífica
• Uma liderança baseada nas Escrituras, com bom planejamento e organização
• Dependência total do Senhor para ter êxito

Reflexão:
1. Questão “problemática”: Existe guerra santa
2. Como fazemos a transição de liderança em nossas igrejas e em missões

1 e 2 SAMUEL
Contexto histórico
Os livros de 1 e 2 Samuel descrevem a transição entre o período dos juízes e o início da
monarquia em Israel. Começa com o nascimento de Samuel e segue narrando os reinados de
Saul e Davi. Os livros 1 e 2 Reis, assim como 1 e 2 Crônicas dão continuidade a este período
histórico de Israel. Os juízes tinham tido a função de orientar e dirigir o povo, principalmente
como líderes militares. Deus era visto como o verdadeiro Rei de Israel (Juízes 8.23). Agora, o
povo quer ter reis assim como os povos vizinhos.

O profeta Samuel
• Seu nascimento – 1 Samuel 1
• O cântico de sua mãe Ana – 1 Samuel 2.1-10
• O ministério de Samuel

A questão do Reino
• Os Israelitas pedem um rei – 1 Samuel 8
• O primeiro rei – Saul – 1 Samuel 10 a 31 – altos e baixos
O Reinado de Davi – 1Samuel 16 a 2 Samuel 24
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Antecedentes – a vitória sobre Golias


• A amizade com Jônatas – o filho de Saul
• Aclamado rei de Judá e ungido rei de todo o Israel – 2 Samuel 2 e 5
• A Aliança de Deus com Davi – 2 Samuel
• O fracasso de Davi – 2 Samuel 11
• Os filhos de Davi – Absalão, Adonias e Salomão

Temas teológicos e missiológicos:


• O Reino de Deus – compare Mateus 4.23 (o ensino de Jesus); Atos 1.6-8 (a dúvida dos
discípulos)
• A edificação do Templo em Jerusalém – centro de adoração dos judeus e dos povos
• A cobrança divina da liderança de uma nação – a seriedade e a recuperação
• O desafio cultural, religioso, político e social de Israel diante de outros povos.

Reflexão: Veja a importante sequência de líderes que marcaram a história de Israel e a fé dos
judeus: Abraão, Moisés e Davi. O que caracterizou cada um deles

NEEMIAS
Contexto histórico
O livro de Neemias refere-se ao tempo pós-exílio na Babilônia e foi escrito por volta do ano
430 a.C, provavelmente por Esdras. Neemias chegou a Jerusalém depois de Esdras. O decreto
de
Ciro (Esdras 1) possibilitou a volta dos judeus à Palestina e iniciou-se a reconstrução da cidade
de Jerusalém e do templo. Com a chegada de Neemias, os muros da cidade, também,
começaram a ser edificados. Era importante recuperar a cidade, o templo e os muros, mas
também a espiritualidade e a adoração a Deus após 70 anos de exílio.

O livro de Neemias pode ser dividido a partir de temas importantes que facilmente podem ser
aplicados missiologicamente:
• Visão e emoção ao ouvir da situação de Jerusalém – Neemias 1.1-4
• Oração e busca divina – Neemias 1.5-11
• Apresentação da situação ao rei na busca de recursos – Neemias 2.1-10
• Estudo e planejamento do projeto de reconstrução dos muros – Neemias 2.11-18
• Recrutamento de trabalhadores – Neemias 3
• Luta contra a oposição – Neemias 4 e 6
• Questões socioeconômicas na comunidade – Neemias 5
• Término da construção – Neemias 6.15-19
• Restabelecimento da vida religiosa e da comunidade – Neemias 8 a 12

Temas teológicos e missiológicos


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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Visão da necessidade e ação para responder. Fé e obras


• A busca por orientação divina e por recursos
• Projetos e planos de acordo com a visão dada por Deus
• O trabalho em equipe (compare a equipe missionária de Paulo)
• A realidade da oposição tanto humana como espiritual
• A importância de completar a obra e terminar bem – compare 2Timóteo 4.7
• A visão holística do Evangelho – o ser humano como um todo e a sociedade influenciada

Reflexão: Quais são as características do líder Neemias que mais lhe impressionam O que
essas características poderiam lhe ajudar em seu serviço ao Mestre

ESTER
Contexto histórico
O livro de Ester tem sido frequentemente negligenciado pelos cristãos enquanto é fortemente
apreciado pelos judeus. Trata acerca do povo de Judá no exílio da Babilônia e a opressão que
o povo sofria. Ester, uma órfã judia que acaba tornando-se rainha, sendo esposa escolhida por
Assuero, rei do Império Medo-Persa. Ester é usada por Deus para salvar o seu povo diante da
ameaça de Hamã de matar todos os judeus. O nome Deus não é citado no livro, mas fica
evidente o cuidado de Deus em favor do povo judaico.

Temas teológicos e missiológicos


• O desafio do povo de Deus de viver numa sociedade pagã e inimiga
• A confiança de que Deus estava com seu povo
• A coragem de uma mulher, assumindo grandes riscos e sendo bênção
• O segredo de que “Ester alcançou favor de todos” – Ester 2.15 (Almeida Revista e
Atualizada) – “Ester causava boa impressão a todos que a viam” (NVI)
• A oportunidade dada por Deus aos que galgam postos políticos de poder – Ester 4.14

A Festa do Purim (pur = sorte Ester 3.7)


Purim é a festa judaica que celebra a salvação dos judeus do extermínio na Pérsia antiga.
Perseguidos por Hamã, ministro-chefe do rei persa Assuero, os judeus contaram com o papel
fundamental de Ester, judia e esposa do rei, para escaparem ao extermínio planejado por
Hamã. Ao saber que o ministro-chefe do rei estava tentando manipulá-lo para que decretasse
a morte de todos os judeus no dia 13 de Adar, Ester, que mantinha sua origem judaica até
então em segredo, com inteligência e prudência conseguiu mostrar a Assuero que ele estava
sendo manipulado por Hamã. Após descobrir a verdade sobre as ações de Hamã, o rei persa
determinou a morte de seu ministro-chefe e decretou que os judeus passavam a ter o direito
de se defenderem contra seus inimigos e de adorar ao seu Deus. Assim, desde então,
anualmente, no 14º dia de Adar, conforme o calendário judaico, o Purim é celebrado.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

1.3 Teologia de Missões nos Livros Poéticos

Os chamados livros poéticos incluem uma variedade de textos que vão desde histórias de vida
e de confiança em Deus como a de Jó, cânticos e poesias como nos Salmos, sabedoria e
recomendações em Provérbios, reflexão filosófica e de experiência de vida em Eclesiastes, e
cânticos e declarações de amor em Cântico dos Cânticos. Costuma-se incluir, também, nesse
grupo de livros Lamentações de Jeremias. Os textos foram escritos durante um longo período,
desde os dias do rei Davi até a época do exílio na Babilônia.

Nem todos os textos são facilmente aplicados a missões, mas no seu todo mostram aspectos
importantes da vida com Deus que deveriam caracterizar o ser humano em todas as nações e
em todos os tempos. Neste estudo, vamos citar alguns textos, principalmente no livro dos
Salmos.

SALMOS1
O livro dos Salmos é certamente um livro favorito de muitos leitores da Bíblia. Alguns salmos
sabemos, inclusive, de cor e outros usados como letra de hinos e cânticos que cantamos em
nossos cultos. Trata-se de um tesouro literário e poético inigualável na literatura. Em grande
parte, os salmos refletem a vida diária, a luta contra inimigos, tanto humanos como espirituais,
o desafio de combater o pecado pessoal, individual e coletivo e, principalmente, exaltar a Deus
em sua grandeza, misericórdia, providência e majestade.
Salmo 2
• Um salmo messiânico atribuído a Davi (Atos 4.25)
• A reação das nações (gentios) e dos povos contra o ungido de Deus (Messias)
• A fraqueza e finitude dos reinados terrenos e de seus governantes
• O sorriso (!) de Deus diante da ignorância humana
• O verdadeiro Rei é o ungido de Deus, que Ele chama de “meu Filho”
• Messias recebe as nações por herança e toda a terra por possessão
• Sábio é aquele que serve o Senhor com temor e se alegra nele com tremor

Temas teológicos e missiológicos


• Deus é o único Soberano Senhor de tudo e de todos
• A tendência humana é de se opor a Deus e crer que tem poder e capacidade para manter-
se sem o Criador
• Deus envia o Salvador do mundo na pessoa do Messias – a única salvação e solução para
a humanidade
• A conclusão daquele que entende a revelação divina é de servir e alegrar-se em Cristo

1
Recomendamos o estudo numa perspectiva missiológica dos Salmos elaborados pelo Pr. Paulo Mendes na Bíblia
Missionária de Estudo, publicado pela Sociedade Bíblica do Brasil (2014)
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Salmo 10
O salmo começa com um grito de desabafo: “Deus onde estás? Agora que mais te
necessitamos, tu te escondes? Não vês a situação de crise, de caos? Até quando os injustos,
os corruptos, os perversos, os aproveitadores e opressores vão poder continuar a agir?”
• Nos versos 2 a 11 temos uma descrição destes homens perversos
• A arrogância do ser humano perseguindo o pobre, vítima das tramas dos perversos.
• O perverso se orgulha de sua cobiça, de saber como enganar a outros e crendo que engana
o próprio Deus
• Ele pensa que Deus não está vendo – quem sabe nem acredita em Deus
• O pior é que parece prosperar – tudo vai bem para ele; leva vantagem e faz gozação,
ridiculariza os que não são espertos
• Pensa que, por não ser descoberto, tem seu futuro garantido, não será julgado pelo mal
que faz, a impunidade é certa

A descrição não é apenas do povo de Israel na época do salmista e rei Davi, mas do ser humano
como um todo. É um cenário triste e desesperador. Será que não tem solução? Qual a nossa
perspectiva quanto ao nosso próprio país? Ou em relação às nossas próprias vidas?
• Nos versos de 12 a 18 Deus é reconhecido como aquele que é o Rei eterno, aquele que irá
julgar o injusto, o perverso, o arrogante e egoísta.
• Inclusive, não só de indivíduos, mas de nações. Governos serão julgados.
• A maldade não irá durar para sempre. Deus tem visto a crueldade, a injustiça, a opressão,
o sofrimento daqueles que foram vítimas de pessoas maldosas e de sistemas injustos.

Temas teológicos e missiológicos


• Uma atitude pessoal de não se deixar levar pela perversidade; em outras palavras, não ser
aquele que gera a crise, seja ela qual for
• Uma atitude pessoal de lutar, não desanimar, mas crer num futuro melhor; não se deixar
levar pelas circunstâncias e emoções
• Unir-se com outros contra a crise
• Denunciar as injustiças, a corrupção, a maldade
• Confiar em Deus. Buscar ajuda no Senhor e ter a certeza de que Ele não deixará a maldade
impune

As crises vêm, em diferentes áreas, podemos sair enfraquecidos ou fortalecidos da crise. Há


riscos, mas também oportunidades!

Figura 2 – Crise

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Fonte: https://gaussconsulting.com.br/blog/crise-ou-seria-um-teste-recorrente-para-separar-o-joio-do-trigo/

Salmo 67
O salmo 67 era cantado por ocasião das festas das Primícias ou das Colheitas, também
chamadas de Pentecoste, 50 dias após a Páscoa. Celebrava-se o fruto da terra como bênção
de Deus que refletia tanto a esperança abraâmica (Gn 12.1-3) como a bênção araônica (Nm
6.24;26).
O salmo já contém em sua estrutura os pontos importantes que mostram a relevância e a
atualidade de sua mensagem:
1. Que Deus tenha misericórdia de nós e nos abençoe, e faça resplandecer o seu rosto sobre
nós,
2. para que sejam conhecidos na terra os teus caminhos, a tua salvação entre todas as
nações.
3. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te todos os povos.
4. Exultem e cantem de alegria as nações, pois governas os povos com justiça e guias as
nações na terra.
5. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te todos os povos.
6. Que a terra dê a sua colheita, e Deus, o nosso Deus, nos abençoe!
7. Que Deus nos abençoe, e o temam todos os confins da terra.

Temas teológicos e missiológicos


• A misericórdia de Deus e o seu desejo de abençoar e de salvar a todos
• A justiça divina que prevalecerá em todas as nações
• O objetivo de Deus de que todos se alegrem nele
• O povo abençoado que compartilha da bênção para outros

Salmo 96
Certamente poderíamos cantar parte desse salmo que tem servido de inspiração para vários
cânticos e louvores em nossos cultos a Deus. Destacamos os seguintes ensinamentos:

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Deus é um Deus para todos os povos, não apenas para um povo ou uma elite cristã
• Os feitos de Deus devem ser proclamados a todas as nações
• O Senhor é o único digno de louvor e honra e glória
• Sua majestade é caracterizada por sua criação, força e formosura, e o seu Reino é eterno
• Sua justiça prevalecerá assim como sua fidelidade ao seu plano e a suas promessas

Temas teológicos e missiológicos


• Um Deus universal, global
• A tarefa do seu povo de anunciar as boas novas a todos as nações
• O Reino de Deus presente aqui na terra e na eternidade

PROVÉRBIOS
O livro de Provérbios, escrito por Salomão, filho de Davi, geralmente não consta dos estudos
de Teologia de Missões. No entanto, assim como todo o texto bíblico, traz ensinamentos e
reflexões que nos ajudam a entender a relação entre o ser humano e Deus. A sabedoria de
Salomão foi uma dádiva de Deus em resposta ao pedido do jovem rei. (1Re 3.7-12). Salomão
não só recebeu o dom do discernimento e a sabedoria, mas também, riqueza e fama, que ele
não havia pedido; e promessa de vida longa se andasse nos caminhos do Senhor. (1Re 3.13,14)

A significância missiológica de Provérbios está, principalmente, na transmissão de valores do


Reino de Deus com base no temor ao Senhor. Esses valores afetam a cultura de uma sociedade
em todas as suas dimensões. E, cada povo, em cada tempo, tem a sua cultura que inclui as
camadas da cosmovisão, das crenças, dos valores e dos costumes. O início do livro já nos
desafia a sermos sábios e alinhados com os valores do Reino para sermos prósperos na vida.

Provérbios 1
1. Estes são os provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel.
2. Eles ajudarão a experimentar a sabedoria e a disciplina; a compreender as palavras que
dão entendimento;
3. a viver com disciplina e sensatez, fazendo o que é justo, direito e correto;
4. ajudarão a dar prudência aos inexperientes e conhecimento e bom senso aos jovens.
5. Se o sábio der ouvidos, aumentará seu conhecimento, e quem tem discernimento obterá
orientação
6. para compreender provérbios e parábolas, ditados e enigmas dos sábios.
7. temor do Senhor é o princípio do conhecimento, mas os insensatos desprezam a
sabedoria e a disciplina.

Temas teológicos e missiológicos


1. Os provérbios de um povo mostram os valores da cultura vigente
2. Temer a Deus é o princípio da sabedoria
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

3. Disciplina como resultado do discipulado cria condições de uma vida de acordo com o
padrão de Cristo

Reflexão
A arte tem sido uma forma de expressar as verdades e os fatos bíblicos. Como podemos usar
a arte hoje para comunicar o evangelho

1.4 Teologia de Missões nos Livros Proféticos

Os livros proféticos dividem-se em profetas maiores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel) e em


profetas menores (Oseias até Malaquias). No estudo da teologia de missões podemos
encontrar em todos estes livros textos aplicáveis tanto à Missão de Deus de reconciliar o ser
humano consigo, como a tarefa do povo de Deus em representar o Seu Reino e dar
testemunho do amor e da justiça divina. Iremos selecionar alguns textos que servem de
exemplo e que nos fornecem os principais temas dos livros proféticos do Antigo Testamento.

ISAÍAS
O livro de Isaías tem sido chamado do Evangelho do Antigo Testamento. Cerca de 700 anos
de Cristo, o profeta aponta para o Messias como o salvador de Israel e do Mundo. A partir do
capítulo 49, o profeta apresenta a figura do Servo do Senhor e prevê a restauração de Israel.
Os 4 cânticos do servo sofredor (42.2-4; 49.1-6; 50.4;7 e 52.13-53.12) apontam para a vinda
do Messias, o sofrimento e a morte na cruz em prol do seu povo e das nações.

O chamado de Isaías
A experiência do profeta Isaías é de viver no meio de uma nação que precisa de
transformação. O pecado invadiu e afetou todos os níveis e todas as dimensões da vida e uma
purificação é necessária; uma limpeza geral dos efeitos negativos da rebelião humana contra
Deus. No entanto, existe uma solução. O próprio profeta pode experimentar essa
transformação com o toque da brasa tirada do altar; o resultado é que a culpa foi removida e
o pecado foi perdoado. (6.1-8). É importante, no entanto, entender que a transformação da
relação entre Isaías e Deus não foi apenas para que ele se sentisse melhor e que sua vida
espiritual fosse restaurada, isto era importante, naturalmente, mas havia algo mais; sua
restauração foi com o propósito de servir ao Senhor Deus como um mensageiro das boas
novas de salvação para a sua nação e para as nações vizinhas.
Isaías foi chamado para:
• Denunciar o pecado de seu próprio povo e das nações vizinhas
• Apresentar o plano de salvação de Deus; as boas novas do Messias, a esperança de todas
as nações em todos os tempos

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Este é o tema de todo o seu livro descrevendo o pecado e mostrando o caminho da salvação.
Por esta razão, ele frequentemente retorna à expressão luz para as nações (gentios) em sua
mensagem profética. (Is 42.6; 49.6; 9.2; 60.3)

Temas teológicos e missiológicos


• Deus condena o pecado, tanto individual como coletivo, que existe no meio do seu povo
e no mundo como um todo. A palavra profética pode, portanto, ser tanto a favor,
reforçando os aspectos positivos de uma nação, como ser contra um povo (até o seu
próprio povo) denunciando o erro e o mal.
• A solução está na pessoa do Messias, o Cristo.
• Jesus busca no livro de Isaías a descrição de sua missão (Lc 4.18,19), citando Isaías 61.1;2
• A figura messiânica do Servo Sofredor faz forte contraste à ideia judaica de um Messias
político e guerreiro que reestabeleceria o reino de Davi.

Reflexão:
Qual é o caminho sugerido por Deus no profeta Isaías para a restauração de Israel e para a
salvação da humanidade

DANIEL
Estamos por volta do ano 600 a.C. e a Babilônia tem se estabelecido como o império
dominante. Nabucodonosor ordena que suas tropas invadam Jerusalém e que, entre outros
coisas, tragam jovens israelitas da corte real e da nobreza. Entre eles estão Daniel, Hananias,
Misael e Azarias, jovens judeus de herança e tradição, além de fiéis seguidores do Senhor, o
Deus único e verdadeiro. Eles tinham recebido desde a infância o ensino nas Sagradas
Escrituras e, mesmo levados à força a outra nação, decidiram permanecer fiéis.

O Encontro com uma nova Cultura


O desafio de Daniel, Hananias, Misael e Azarias não era apenas o fato de serem levados cativos
como escravos judeus à Babilônia; tinham, também, a árdua tarefa de se adaptarem a novos
costumes. A ordem de Nabucodonosor era de “ensinar-lhes a língua e a literatura dos
babilônios”. Eles receberam um treinamento de três anos e depois passaram a servir o rei,
sendo conhecedores da cultura local e os mais sábios.

Parece que três exigências de adaptação foram aceitas por Daniel e seus colegas:
• Aprender a língua e a cultura local.
• Assistir e servir ao rei. Não tinham muita opção neste item.
• Receber novos nomes. E aqui trata-se de algo um pouco mais polêmico e difícil. Tiveram
que trocar seus nomes, que todos se referiam de alguma forma ao nome de Deus em
hebraico El e Yah-weh, para receber nomes que continham referências aos deuses pagãos
da Babilônia. Daniel para Beltessazar (Bel era um dos deuses), Hananias para Sadraque
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

(que significa ter muito temor dos deuses), Misael para Mesaque (significa “que é como
deus, provavelmente o nome de um deus babilônio) e Azarias para Abede-Nego (que
contém o nome de outro deus Nebu – o mesmo em Nebucodonosor).

Mas há também três aspectos que eles rejeitam e aos quais não querem se adaptar:
• As iguarias do rei – principalmente a comida que era sacrificada aos ídolos e que continha
carne de animais imundos para os judeus.
• Deixar de adorar e servir ao Deus de seus pais Abraão, Isaque e Jacó.
• Adoração ao rei.

Na primeira questão conseguiram fazer um acordo que deu certo. Inclusive, “estragaram”, por
assim dizer, o cardápio dos outros. Na segunda questão, parece que não havia muito problema
em si, e tudo ia bem – Daniel chegou a ter o reconhecimento do rei quando conseguiu
interpretar a visão que os outros falharam em fazer, e Daniel dá seu testemunho – que tem
também uma surpreendente reação – veja 2.45b- 48.

O problema aconteceu com a terceira questão, quanto à adoração ao rei. (3.1-6). Os


astrólogos denunciam os judeus e conhecemos a história de Sadraque, Mesaque e Abede-
Nego na fornalha ardente. A confiança dos três é impressionante: 3.16-18. O rei foi obrigado
a reconhecer que havia alguém mais poderoso que ele e os três são promovidos dentro do
seu governo.

Mais tarde, é a vez de Daniel. Nabucodonosor já havia morrido, Belsazar que o havia
substituído também; e agora, o rei é Dario que faz um decreto, aconselhado por aqueles que
tinham inveja de Daniel, dizendo que nenhum deus poderia ser adorado e somente o rei seria
alvo de adoração por 30 dias. Daniel foi pego orando ao Deus vivo e verdadeiro e levado diante
do rei que o sentencia a cova dos leões; mas a história termina com as palavras do rei Dario.
(6.25-28).

Temas teológicos e missiológicos


• A Diáspora. Durante a história da humanidade, e pensando principalmente na história da
Igreja Cristã, a importância da migração forçada ou voluntária, tem sido imensamente
importante. A divulgação do evangelho tem ocorrido tanto através de leigos que deram
seu testemunho em terras estrangeiras como através de missionários oficiais que foram
enviados por igrejas e agências missionárias.
• O ensino e a formação de crianças e jovens, fazendo deles discípulos de Cristo.
• Os quatro jovens também tinham recebido boa educação “dominando os vários campos
do conhecimento”. Um bom preparo intelectual e profissional é de suma importância. A
influência na sociedade é diretamente proporcional ao preparo educacional, tanto teórico
como prático.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• A presença e o cuidado de Deus no meio do sofrimento e da perseguição.


• A apresentação do Filho do Homem (7.13,14) é uma importante profecia messiânica que
serve de base para o uso da expressão que Jesus usa com frequência acerca de si mesmo,
assim como na Grande Comissão.

Reflexão e aplicação:
1. Não são as circunstâncias que devem nos impedir a servir a Deus e sermos fiéis a Ele.
Outros exemplos são José e Ester.
2. A confiança que Hananias, Misael e Azarias tinham em Deus: “Se Deus quiser nos livrar,
Ele nos livra, mas mesmo que não o faça não vamos adorar outro deus ou outra pessoa,
mesmo que isto nos custe a vida”. É assim que nós pensamos? Buscamos a Deus para servi-
lo ou para que Ele nos sirva?
3. O fruto da obediência ao chamado de Deus não vem sem sacrifício.
4. Deus honra quem lhe serve com fidelidade. Inclusive, é possível galgar postos em governos
até corruptos e iníquos, dando bons frutos para o Reino de Deus, quando há integridade,
coerência entre palavra e ação e interesse pelo bem-estar de todos e não apenas de si
próprio.
5. O mundo precisa hoje de pessoas que estão dispostas a sair de sua zona de conforto e
apostar no Reino. Os campos que ainda não foram alcançados são os mais difíceis.
6. Parece que Nabucodonosor entendia mais de adaptação cultural que muitos de nós hoje.
Conhecer bem uma cultura e poder comunicar-se na língua local leva tempo. Temos bons
exemplos no apóstolo Paulo, que mostrou bom conhecimento da cultura e da religião
local, quando chegou em Listra (At 14) e em Atenas (At 17).

JONAS
Jonas poderia muito bem ser chamado de um missionário fracassado. Ou, de um missionário
que teve êxito, mas nunca compreendeu o seu sucesso.

Características de Nínive
A cidade de Nínive era um terror. Tinha sido fundada pelo poderoso Ninrode ou Assur quando
este deixou a Babilônia e foi para o norte; conforme Gênesis 10, onde Nínive é citada pela
primeira vez. Na cidade foi construído um templo a deusa Istar, ou Nina (que possivelmente
deu origem ao nome da cidade).

Nínive era a capital da Assíria, um dos constantes inimigos de Israel. Na época de Jonas, o povo
de Israel estava debaixo do jugo assírio. As atrocidades cometidas por seus dirigentes
deixariam qualquer Hitler ou Idi Amim verdes de inveja. Mesmo com o avivamento que
ocorreu como resultado da pregação de Jonas, a cidade voltou à sua “normalidade” e o juízo
de Deus levou à sua destruição final no ano de 612 a.C. com uma inundação 2.

2
O profeta Naum prediz a queda de Nínive, inclusive a forma como aconteceria. (Naum 1.8)
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Algumas das características de Nínive eram:


• Um lugar da onipotência humana, um confronto à criação de Deus. Era um lugar do
orgulho humano, do poder conquistador e opressor.
• A religiosidade de Nínive era baseada no culto a deuses pagãos, tratando-se, portanto, de
uma cidade idólatra. Os Assírios cultuavam deuses que personificavam os elementos da
natureza.
• Uma cidade que oprimia outras nações, saqueando e vivendo em luxúria.
• Uma cidade cheia de maldade (Jonas 1.3). O profeta Naum usa expressões como: cidade
sanguinária, repleta de fraudes e cheia de roubos, sempre fazendo vítimas. (Naum 3.1).
• Ao mesmo tempo era uma cidade moderna, com abastecimento de água, esgoto, bem
urbanizada, diríamos hoje. Oferecia conforto e segurança aos seus habitantes por sua
riqueza e sua força militar.

Resumindo, poderíamos afirmar que a cidade de Nínive tinha muitas das características que
encontramos em outros grandes centros urbanos na história e em nossos dias.

Jonas, o profeta
O vocacionado para a tarefa específica de apregoar o juízo contra ela, foi Jonas. Sabemos
pouco sobre Jonas, mas não há dúvida de que ele realmente existiu. (2Re 14.25) Em um
contexto de opressão política Jonas tem a árdua tarefa de profetizar contra os seus
dominadores.

A racionalização de Jonas é que Deus nunca cumpre aquilo que promete, principalmente não
em se tratando de castigar os infiéis, idólatras e opressores. De repente o pessoal se
arrepende e Deus, que é por demais misericordioso, “muda de ideia” e dá mais uma chance.
Jonas decide ir na direção oposta ao chamado.

Jonas dorme no porão do barco e sua fuga coloca os demais viajantes em risco; mesmo
havendo uma solene confissão de sua fé no Senhor Deus dos céus, que fez o mar e a terra
(1.9.), a teoria não encontra na prática sua consequência. Foram os marinheiros pagãos e
idólatras que tentaram resolver a questão e salvar a vida do profeta de Deus. Fizeram tudo
para mantê-lo vivo e chegar ao porto seguro, até que não foi possível e o lançaram ao mar.
Vendo que o mar se acalmou, os marinheiros entenderam o poder de Deus e o adoraram. No
fundo do mar, dentro do ventre do peixe, Jonas se arrepende e quer uma nova chance. Desta
vez iria cumprir a sua tarefa, independente do custo.

O ministério urbano de Jonas


A tarefa de Jonas era simples e complexa ao mesmo tempo. O conteúdo da mensagem era
direto e claro. Deus tinha contemplado a maldade da cidade e em 40 dias iria destruir a
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

gloriosa cidade de Nínive. A complexidade ficou patente quando os habitantes da cidade


começaram a se arrepender e a crer em Deus. Impressionante a instantânea resposta à
pregação! Inclusive o rei se converteu e decretou jejum para todos. Diz o texto que o próprio
rei completou a pregação do profeta Jonas, conclamando o povo a que deixassem os maus
caminhos e a violência. (3.8). E Deus constatou que de fato haviam deixado os seus maus
caminhos e resolveu não os destruir mais, pelo menos por um século. (3.9-10). Deus teve
misericórdia do povo em Nínive. Bem que Jonas desconfiava. Sua reação é quase infantil e
recebe de Deus o tratamento de acordo.

Temas teológicos e missiológicos


• As nações, assim como o povo de Deus, responderão diante do Senhor por suas atitudes
e ações. Existe um limite para a maldade e os impérios assim como seus governantes são
julgados na história.
• Deus vocaciona a Igreja a ser um agente do Reino e exercer uma voz profética na
sociedade, defendendo os princípios e valores do Reino.
• A ação divina, através do seu Espírito, acontece muitas vezes de forma surpreendente,
tocando os corações mais duros. Antes do profeta/missionário chegar a um determinado
lugar, Deus já está agindo.
• A obediência ao chamado é essencial para o cumprimento da missão.
• Perseguir, ameaçar e oprimir o povo de Deus é visto como uma perseguição ao próprio
Deus. (Compare com At 9.5).

Reflexão e aplicação:
1. Naturalmente, não podemos condenar Jonas. Provavelmente, faríamos o mesmo em seu
lugar. Ou será que não?
2. Quem sabe são situações drásticas com a de Jonas que nos fazem refletir sobre a vocação,
principalmente quando perdemos o controle da situação e realmente dependemos de
Deus para sobreviver como instituições e organizações.
3. Existem dois aspectos importantes na tarefa missional da Igreja em nossos dias: a de
denunciar o pecado e a de mostrar o caminho correto. Por um lado, temos a incumbência
de profetizar contra o nosso tempo, descortinando a falsidade, a injustiça, a opressão, o
mal em todos os setores da sociedade, inclusive dentro da própria Igreja. Por outro lado,
existe o papel de guia e de orientação a uma sociedade confusa e sem rumo. A repreensão
e a correção precisam andar de mãos dadas.
4. Se a denúncia do pecado requer esta encarnação e identificação com o humano (os
habitantes da cidade), a correção e a orientação no caminho certo exigem uma
identificação com o divino; e isto em dois níveis: o da iniciativa de Deus em prover a
salvação do ser humano e o da representatividade do Reino de Deus por parte da Igreja.
O primeiro nível fica evidente na história de Jonas. Se Jonas tivesse se colocado no lugar
de Deus e se identificado com o Senhor de misericórdia, que ele supostamente conhecia,
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

teria entendido a ação preservadora de Deus para com o povo de Nínive. O segundo nível
é mais complicado porque requer do vocacionado e da Igreja uma identificação com o
Reino de Deus e seus princípios.

Profetas da Reconstrução
Trata-se do período após o exílio na Babilônia e os profetas que atuaram antes do período de
silencio entre o Antigo e o Novo Testamento. Alguns aspectos importantes são:
• Estudo do período pós-exílio
• A formação do Judaísmo
• As mãos de Deus – a diretiva e a permissiva
• A importância da diáspora
• A reconstrução de Jerusalém e do templo
• Os profetas da reconstrução: Ageu, Zacarias e Malaquias
• Tempo de Zorobabel, Esdras e Neemias

AGEU
• Apresentado como “o profeta”. (Ed 5.1; 6.14)
• Possivelmente voltou com seus pais do exílio em 538 A.C
• Zorobabel é o governador de Judá
• Escreve as mensagens durante quinze semanas em 520 A.C
• Possivelmente era um sacerdote, mas não se sabe ao certo
• Não sabemos o que aconteceu com ele depois do ano 520 A.C
• Sua tarefa principal é incentivar a reconstrução física do templo
• Foi seguido por Zacarias

Temas teológicos e missiológicos


• A prioridade correta. (1.1-11)
o A reconstrução do templo
o Investindo em suas próprias casas
o As consequências da prioridade errada
• A resposta do povo e a promessa de Deus. (1.12-15)
• O desânimo. (2.1-9)
o Desanimados com o trabalho
o Um templo sem o esplendor do templo de Salomão
o A Palavra de Deus encorajando o povo
o A perspectiva global da adoração a Deus
o A glória do novo templo – presença de Cristo
• Relaxo e ativismo no serviço. (2.10-19)
o A necessária santidade nos sacrifícios – a impureza
o O esquecimento da pessoa de Deus
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

o As consequências da prioridade errada


o A promessa de Deus
• O medo. (2.20-23)
o O medo diante dos inimigos
o O poder de Deus atuando entre os povos
o A promessa de cuidado divino

Reflexão:
Quais desses temas em Ageu são atuais hoje O que é necessário para ter as prioridades
corretas em nossa vida pessoal, no ministério, na igreja e no trabalho missionário

ZACARIAS
• Apresentado como profeta. (Ed 5.1; 6.14; Zc 1.1)
• É possível que tenha sido de família sacerdotal. Fala das responsabilidades de um
sacerdote. (Zc 4)
• Suas mensagens são proferidas nos anos 520 A.C a 518 A.C
• Ageu incentivou a construção, Zacarias está mais preocupado com a parte artística do
templo, cheio de simbolismo
• O livro de Zacarias é mais profético e apocalíptico que o de seu contemporâneo Ageu. Seu
nome aparece nos capítulos 1 a 7, mas não de 8 a 14. Provavelmente os capítulos 9 a 14
são de outra autoria que seguem a tradição profética de Zacarias
• Além da questão da reconstrução do templo, Zacarias se envolve em temas da atuação
dos sacerdotes, justiça, misericórdia, julgamento dos inimigos de Israel e a vinda do Reino
de Deus.

Temas teológicos e missiológicos


• As lições do passado. (1.1-6)
o Um povo que não andou nos caminhos do Senhor
o O castigo merecido
o “Voltem para Deus” – arrependimento e conversão
• A promessa de restauração de Israel e de Jerusalém
o A misericórdia de Deus. (1.12-17)
o Não por violência, mas pelo meu Espírito. (4.6-8)
o Não desprezar os pequenos começos. (4.9-10)
o A condição de obedecer fielmente aos Senhor. (6.15)
• A verdadeira espiritualidade
o Justiça e misericórdia ao invés de jejuns. (7.1-6)
o A verdadeira justiça, misericórdia e compaixão. (7.9)
o O cuidado com a viúva, o órfão, o estrangeiro e o necessitado. (7.10)
o A desobediência que traz consequências. (7.11-14)
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• O futuro de Israel e de Jerusalém – capítulos 8 a 13


• A chegada do Reino de Deus – capítulo 14
• Apesar da esperança de futuro e reestabelecimento de Israel, existe um tom de
pessimismo em Zacarias.

Reflexão:
Como vocês definiria “espiritualidade” Que aspectos são importantes numa teologia de
missões quanto à espiritualidade tanto da ação missionária como do povo receptor do
evangelho

MALAQUIAS
• O nome Malaquias significa “mensageiro” e pode ser um pseudônimo.
• Não temos referências históricas de Malaquias nem referências no AT
• Há teorias de que Malaquias seria um pseudônimo de Esdras, mas não há por que não crer
que era um profeta de nome Malaquias
• Há indícios no texto de que se trata do período pós-exílio. (1.8; 2.10; 3.5,8), sendo temas
comuns com Neemias e Esdras, portanto um pouco mais tarde que Ageu e Zacarias
• Interessante que, dos 55 versículos no livro, 47 são na primeira pessoa, Deus falando

Temas teológicos e missiológicos


• Apresentação de Deus
o Amoroso. (1.2)
o Senhor de poder, dos exércitos
o Grandeza de Deus em Israel e além das suas fronteiras. (1.5,14)
o A santidade do nome de Deus. (1.6-14)
• A aliança de Deus com seu povo
o Deus trata Israel como filho. (1.6; 3.17)
o Ele quer a bênção do filho. (3.10-12)
o O pecado é quebrar a aliança. (2.8,10)
• A repreensão aos sacerdotes
o O relaxo no serviço ao Senhor. (1.6-14)
o A consequência para todo o povo. (2.1-4)
o A função sacerdotal. (2.7-9)
o Aliança com Levi. (2.4-8) (Compare com Jr 33.21)
• Questões familiares
o Filho honra seu pai, e o servo o seu senhor. (1.6)
o Casamento com mulheres que adoram deuses falsos. (2.11-12)
o Fidelidade matrimonial. (2.14-16)
• O dia do julgamento
o Cansando a Deus com palavras vazias e fazendo o mal. (2.17)
PÁGINA 29
TEOLOGIA DE
MISSÕES

o O precursor – João Batista – (3.1) (Compare Jo 1.21)


o A purificação na vinda do Senhor. (3.1-4)
o Os critérios do juízo. (3.5-17)
o A promessa aos fiéis. (4.1-5)
o Aspectos messiânicos e escatológicos

Reflexão:
De que forma este último livro do Antigo Testamento aponta para o Novo Testamento e a
vinda do Messias

1.4.1 Outros livros Proféticos


Incluímos alguns aspectos teológicos e missiológicos nos demais livros proféticos do Antigo
Testamento

JEREMIAS
• O chamado de Jeremias que mostra o plano de Deus para o seu ministério. (1.1-10). A
perspectiva global está presente na missão profética. (1.5,10). A vocação de Israel dada a
Abraão (Gn 12.1-3) que significa bênçãos às nações, ecoa no livro de Jeremias. (4.1-2).
• As instruções de viver como povo de Deus em outra cultura nos fornece princípios para
qualquer trabalho transcultural. (29.1-9)

EZEQUIEL
• O profeta Ezequiel afirma que todo pecado e toda rebeldia contra Deus serão alvos do
castigo divino. Ao mesmo tempo, anuncia a misericórdia e a compaixão de Deus. Como
“atalaia” (3.17; 33.2,6,7), o papel do profeta é vigiar e prevenir contra o pecado e
apresentar a salvação em Deus.
• O caráter missionário do livro está na afirmação de propósito salvífico de Deus de resgatar
toda a criação e de restaurar sua presença entre a humanidade. Jerusalém terá o nome de
“O Senhor Está Ali” (48.35)

OSEIAS
• O amor de Deus é um dos principais temas do profeta Oseias. A infidelidade de Israel e a
fidelidade e amor do Senhor é demonstrado no forte simbolismo que há na ordem divina
para o profeta resgatar Gômer da prostituição e se casar com ela. (1.2,3)
• O pecado humano fica evidenciado (4.1,2), assim com a necessidade de o homem
conhecer a Deus (4.6).

JOEL
• Há um forte apelo ao arrependimento no livro do profeta Joel (2.32), com eco na afirmação
do apóstolo Paulo em Rm. 10.13.
PÁGINA 30
TEOLOGIA DE
MISSÕES

• A promessa do derramamento do Espírito, citado por Pedro no dia de Pentecostes, é um


dos importantes textos missiológicos no livro. (2.26-31)

AMÓS
• Amós anuncia o Dia do Senhor (5.18) como um dia de “trevas e não de luz” devido ao
pecado de Israel. A expressão “prepara-te para te encontrares com o teu Deus” mostra a
importância de levar a sério a aliança com o Senhor.
• Há uma forte condenação, em Amós, de toda a forma de imoralidade, exploração dos mais
fracos, da corrupção e da injustiça. A condenação, assim como a possibilidade de salvação,
tem validade tanto para Israel como para as nações.
• Amós é, também, um exemplo de um profissional a serviço do Senhor que deixa o seu
trabalho “secular” para ser um profeta de Deus. (7.14)
• O profeta termina com a promessa de restauração do Reino de Israel. (9.11-15)

OBADIAS
• O profeta anuncia o Dia do Senhor quando as nações serão julgadas e haverá livramento
para o povo de Deus. (vs. 15-17)
• O reino de Senhor é previsto com um domínio absoluto de Deus. (v. 21)

MIQUÉIAS
• A ênfase do profeta está na responsabilidade social que serve de base para uma visão
integral do ministério e da missão.
• Um texto chave é 6.8: “Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige:
Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus.”
• Jerusalém e o templo como centro da revelação de Deus para chamar as nações para
aprenderem acerca do Senhor e do seu Reino. (4.1-5)

NAUM
• O senhorio e a soberania de Deus são enfatizados no livro do profeta Naum. A cidade de
Nínive, inimiga do povo de Deus será destruída após um século de “segunda chance” que
recebeu por ocasião do profeta Jonas. (2.1-3.19)
• As boas novas (1.15 – compare com Is 52.7) são anunciadas sobre os montes. Texto citado
por Paulo em Rm 10.15.

HABACUQUE
O foco principal do profeta Habacuque é a fé e a fidelidade dos que creem em Deus. A justiça
se vive pela fé. O tema missiológico mais importante é essa ênfase do viver pela fé.

SOFONIAS
• Deus repreende toda a maldade e injustiça e todos aqueles que não buscam a Deus.
PÁGINA 31
TEOLOGIA DE
MISSÕES

• O juízo virá contra as nações e contra Israel. Semelhante a Amós, Sofonias anuncia a vinda
do “dia do Senhor”.
• A promessa messiânica está na presença do “rei de Israel” em Jerusalém, algo que se
cumpre com Jesus Cristo.

Cronologia do Exílio e Pós-exílio na Babilônia


• Os grandes Impérios relacionados com o Antigo Testamento (todos anos a.C.):
• Egito – 1600 A.C a 1200 A.C
• Assíria – 900 A.C a 607 A.C
• Babilônia – 606 A.C a 536 A.C
• Pérsia – 536 A.C a 331 A.C
• Grécia – 331 A.C a 63 D.C
• Roma – 63 D.C -
• Datas importantes:
• 612 A.C – Destruição de Nínive – Naum
• 605 A.C – Nabucodonosor captura Jerusalém – 2 Re 24.1
• Daniel é levado cativo para a Babilônia – Dn 1.3-6
• 597 A.C – Queda do Reino do Sul – Jeoiaquim e Ezequiel são levados para a Babilônia –
• 2Re 24.10-16; Ez 1.2
• 588 A.C – Nabucodonosor invade Jerusalém – 2Re 25.1,2
• 586 A.C – Jerusalém é devastada e o templo destruído – 2 Re 25.3-21
• 581 A.C – Nebuzaradão leva judeus cativos para a Babilônia – Jr 52.30
• 539 A.C – Ciro captura a Babilônia e Dario é feito governador – Dn 6.1-3
• 537 A.C – Os judeus têm permissão de voltar para Judá – Ciro governador – Ed 1.1-4. Os
judeus sob a liderança de Zorobabel retornam a Judá (primeiro retorno – Ed 2.1; 64-67) e
tentam reconstruir o Templo – Ed 2.68-4:4
• 520 A.C – A reconstrução do templo – tempo de Ageu e Zacarias – Ed 5.1-6:14
• 516 A.C – Dedicação do templo – Ed 6.15-18
• 458 A.C – Esdras conduz uma caravana de judeus a Jerusalém (segundo retorno, Ed 7,8)
• 445 A.C – Neemias é nomeado governador dos judeus na Palestina – Ne 1.1-2:10. Inicia a
reconstrução dos muros de Jerusalém
• 433 A.C – Época de Malaquias
• 432 A.C – Neemias retorna a Jerusalém após um tempo na Pérsia – Ne 13.6,31
• Seguem 400 anos de “silêncio” até o início do Novo Testamento

PÁGINA 32
TEOLOGIA DE
MISSÕES

2. NOVO TESTAMENTO

Estudar o Novo Testamento com uma perspectiva missionária é uma tarefa muito gratificante
e rica. Na verdade, todo o NT fala de missões; começando pela missão de Jesus, passando pela
formação de seus discípulos para a tarefa, e observando a continuidade da missão através da
Igreja que surge no dia de Pentecostes.

Destacamos que:
• O Novo Testamento mostra a continuação do desafio missionário do Antigo Testamento.
• Buscamos uma visão geral do Novo Testamento em termos da obra missionária da Igreja.
• Vemos o alcance da missão da Igreja segundo o modelo dado por Jesus Cristo - Lc 4.18,19

2.1 O Ministério de Jesus Cristo como um Modelo

Naturalmente, Jesus é nosso maior modelo em termos de missões. Ele foi enviado pelo Pai e,
da mesma forma, envia os discípulos e sua Igreja (João 20.21). Tanto a sua mensagem como a
sua ação são importantes para compreendermos o papel da Igreja nos nossos dias.

A Mensagem do Reino
A principal mensagem de Jesus foi a proclamação da chegada do Reino de Deus e os efeitos
da presença do Reino. Veremos mais detalhes em seguida sobre o Reino, pontuando no
momento apenas o seguinte:
• O Reino chegou – Mt 4.23
• As características do Evangelho do Reino – Lc 4.18,19
• A ética do Reino – Mt 5 a 7
• Os paradoxos do Reino – Lc 14
• A expansão do Reino – Mt 24.14

Princípios no Ministério de Jesus


• Baseado na Encarnação – Fp 2.5-11
• O princípio da humildade e do serviço – Mc 10.45
• Atendendo todas as necessidades do ser humano – Lc 4.18,19
• Fazendo da Igreja o agente do Reino na terra

As ordens missionárias de Jesus

Com base na Grande Comissão de Jesus aos seus discípulos, é possível elaborar uma Teologia
de Missões. São principalmente cinco textos nos Evangelhos e em Atos que falam diretamente
sobre o trabalho missionário, embora todo o Novo Testamento tenha implicações para o
trabalho missionário. Nas próximas páginas vamos ler e destacar alguns pontos de cada texto.
PÁGINA 33
TEOLOGIA DE
MISSÕES

O REINO DE DEUS
• A globalização está preparando a história para a chegada de um reino?
• As características da Aldeia Global – a “McDonaldização” do mundo
• Qual é a perspectiva cristã para o futuro?
• A mensagem de Jesus foi o Reino de Deus – uma mensagem global!
• O que isto tem a ver com missões? Era o tema da pregação de Jesus e, como também
veremos, de Paulo.

Pano de Fundo do Antigo Testamento


O conceito do Reino de Deus tem seu pano de fundo já no AT onde as palavras Reino e Rei são
utilizadas acerca de Deus e do Messias para descrever uma realidade divina, em contraste
com as nações e os governos terrenos. Deus é chamado de Rei em muitos dos Salmos
(47,93,96,97,99), mas também em Is. 6.5, Jr 46.18; 48.15; 52.57). O texto de Dn 7.14,27 é uma
das chaves para compreendermos o reinado de Cristo.

O Significado do Reino de Deus no ensino de Jesus

• Quanto ao uso da Expressão


No NT a interpretação do Reino relacionado com a Trindade Divina segue o mesmo
entendimento do Antigo. Só Deus Pai e o Messias podem ser considerados Reis no sentido
absoluto e exato da palavra. Todas os demais governantes derivam sua autoridade de Deus.
São, na melhor das hipóteses, reflexos da autoridade divinos e dependem totalmente da
delegação de poder do Senhor para manter seu governo.

O termo Reino de Deus é frequente nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas onde citações
de Jesus são comuns. Reaparece em Apocalipse, mas não é um termo comum nos demais
livros do Novo Testamento.

• Quanto ao Governo de Deus


Fica claro da explanação do NT que se trata do governo de Deus e não de um território
geográfico. Em outras palavras, é onde a vontade de Deus é feita; isto significa que não são
critérios humanos de limitações, por exemplo, a de identificar o Reino com a igreja como
organização.

• Quanto ao seu aspecto de tempo


Lembramos da pergunta dos discípulos sobre o estabelecimento do Reino, e Jesus responde,
em Atos 1.8, com a vinda do Espírito Santo e o avanço do Evangelho à pergunta deles. É,
também, algo que chegou com Jesus Cristo e que foi estabelecido entre a humanidade, mas
que somente virá de forma completa na volta do Senhor. O famoso “já, mas ainda não”.

PÁGINA 34
TEOLOGIA DE
MISSÕES

Usando a definição de George Ladd:3


O Reino é uma realidade presente (Mt 12.28), e ainda, uma benção futura (1Co 15.50). É uma
benção de redenção espiritual (Rm 14.17) que somente pode ser experimentada através do
novo nascimento (Jo 3.3) e ao mesmo tempo tem a ver com o governo das nações no mundo
(Ap 11.15). O Reino é a esfera na qual o ser humano entra agora (Mt 21.31), mas também a
realidade na qual o ser humano entrará amanhã (Mt 8.11). É ao mesmo tempo um presente
de Deus para o futuro (Lc 12.32), mas algo que já pode ser recebido no presente (Mc 10.15).

O que o Reino não é e o que é?


• Rm 14.17 – O reino não é comida, nem bebida, mas justiça e paz, e alegria no Espírito
Santo – o contexto é o de consideração uns pelos outros. Se a questão da comida prejudica
alguém, que isto não seja razão para discórdia, escândalo ou tropeço.
• 1Co 4.20 – O reino não consiste em palavra, mas em poder – a ideia é que não adiantam
muitas palavras e afirmações de boca para fora, mas o que caracteriza o reino é a
genuinidade daquilo que é dito numa demonstração de ação e de poder.
• Cl 1.13 – Existe o reino das trevas e o reino de Deus (do Filho) como um claro contraste ao
pecado, à morte e ao mal.
• João 18.36 – O reino não é deste mundo, diz Jesus, quando interrogado por Pilatos se ele
era rei.

Parábolas do Reino em Mt 13:


• Do semeador – a semente em diferentes solos – nem todos recebem;
• Do joio – o joio e o trigo serão separados um dia, mas crescem juntos;
• Do grão de mostarda – insignificante no começo, mas grande no fim;
• Do fermento – que influencia toda a massa;
• Do tesouro escondido – que vale a pena todo o sacrifício para obter;
• Da pérola – o mesmo, tão valioso que vale a pena vender tudo para comprá-la;
• Da rede – que apanha todo o tipo de peixes e depois eles são separados;
• Das coisas novas e velhas – existem aspectos antigos do Reino, mas também novos
ensinamentos dados por Jesus, que os judeus não conheciam.

Quem pode entrar no Reino?


A participação no Reino não é automática. Principalmente, os judeus achavam ter o seu lugar
no reino assegurado pelo fato que eram filhos biológicos de Abraão. Mas, era ao contrário; o
reino que os judeus achavam tão seguro lhes seria tirado, diz Jesus (Mt 21.43), devido à
rejeição a ele como o Messias.

3
Ver Ladd, George. Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1985. Uma nova edição do livro foi
lançada pela Editora Hagnos em 2020.
PÁGINA 35
TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Existe necessidade de conversão – Mt 18.3 – e a conversão exige uma atitude de


humildade, dependência e autenticidade, como o da criança;
• A conversão é vista como um novo nascimento pelo Espírito – Jo 3.5 - sendo condição para
fazer parte do reino – nascer para dentro dele.
• Os únicos que já estão automaticamente dentro do reino são as crianças – Mt 19.14
• O súdito do reino deve contar com a possibilidade de lutas e tribulações – At 14.22
• Ao mesmo tempo ele recebe o reino como uma herança sendo por Deus considerados
coerdeiros de Cristo. Deste reino, Deus nos constituiu sacerdotes (Ap 1.6; 1Pe 2.9) e com
Cristo reinaremos.
• Os que não entram no reino são:
o 1Co 6.9,10: ...nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem
sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem
roubadores herdarão o reino de Deus;
o Ef 5.5: ...nenhum incontinente (sensual) ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem
herança no reino de Cristo e de Deus.

Resumindo: Algumas características importantes do Reino são:


• O Reino de Deus é o governo absoluto de Deus, não um território geográfico ou uma nação
política;
o É o tema central da pregação de Jesus Cristo;
o É uma realidade na era presente, porém será manifestada de forma perfeita e
completa na era futura;
• O reino pode, ao olhar humano, parecer insignificante hoje, mas pode ter forte influência
na sociedade, dependendo da atuação do cristão e da igreja;
• O reino significa uma vitória completa sobre Satanás, o pecado e a morte. O ser humano
pode fazer parte desta vitória nascendo de novo, para dentro do reino. Isto exige uma
decisão radical quando todo o ser é oferecido a Deus;
• O resultado da participação do reino é a salvação e a vida eterna. Para a vida terrena
significa um desafio de vida justa, num desejo de cumprir a vontade do Rei, Jesus Cristo.
• O reino pode ser rejeitado pelo homem, porém um dia “todo o joelho se dobrará e toda a
língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor” (Fp 2.10,11);
• O reino precisa ser proclamado a todos os povos para que tenham a oportunidade de
glorificar a Deus e conhecer o plano de salvação. Igualmente os princípios do reino
precisam ser anunciados.

Reflexão:
Temos uma mensagem importante para compartilhar no mundo de hoje. Trata-se do Reino
de Deus – uma mensagem global, uma esperança global, um reino que engloba todos os
aspectos da vida e que Deus deseja que tenha dimensões globais alcançando a todos os povos,
raças, línguas e nações.
PÁGINA 36
TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Qual o conteúdo de nossa oração “Venha o teu Reino”?


• De que forma a Igreja ajuda a responder esta oração?
• Precisamos esperar a chegada escatológica do Reino, em toda a sua plenitude para ver as
características do Reino atuando em nosso meio?
• Até que ponto temos, como cristãos individuais e como igrejas locais, representado os
valores éticos, morais e espirituais do Reino?

► Um dia Cristo virá e estabelecerá seu Reino para todo o sempre!

2.2 Teologia de Missões nos Evangelhos

MATEUS
O Evangelho de Mateus se relaciona com o Antigo Testamento em muitas de suas afirmações
sobre Jesus Cristo. É um evangelho muito sistemático, dividindo as questões abordadas por
Jesus em cinco blocos, seguindo o modelo do Pentateuco:
• Capítulos 5 a 7 - O Sermão do Monte
• Capítulo 10 - O Envio dos Discípulos
• Capítulo 13 - Parábolas do Reino
• Capítulo 18 - Atitudes Cristãs
• Capítulos 24 e 25 - O Sermão Escatológico

Destacamos alguns textos importantes para a teologia de missões:


• O cumprimento do chamado a Abraão. (1.1-17)
• A genealogia de Jesus é dividida em 3 blocos de 14 gerações em cada, começando com
Abraão, e passando por Davi, chegando a José, marido de Maria. Ao mesmo tempo que há
continuidade de Abraão a Jesus, fica evidente que Jesus é filho de Maria, mas não de José.
Existe uma simbologia numérica, usando-se 3 (o número da Trindade e da Santidade) e 14
(o número de Davi no alfabeto hebraico – ‫ = דוד‬4+6+4).
• A pregação das boas novas do Reino, com repercussão nos países vizinhos. (4.25-27)
• Sal da terra e luz do mundo. (5.13-16). A visão global no ensino de Jesus.
• Princípios no envio de seus discípulos. (Capítulo 10)
• A confissão de Pedro e o estabelecimento da Igreja. (16.13-18)
• O evangelho do Reino pregado em todo o mundo para testemunho de todas as nações.
(24.14). O principal sinal escatológico.

A Grande Comissão de 28.18-20 é, sem dúvida, o texto mais conhecido e citado quando
pensamos no trabalho missionário. De certa forma, é também o mais completo e engloba as
três etapas da obra missionária: evangelização, implantação de igrejas e discipulado, como
veremos a seguir.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

É interessante fazer uma comparação com a "grande comissão" do inimigo – 28.11-15, onde
também temos:
• A mensagem - Jesus está morto, não ressuscitou.
• O testemunho - os soldados deveriam dizer que "enquanto dormíamos, vimos os
discípulos de Jesus roubarem o corpo"
• A motivação - o dinheiro que iriam receber
• A autoridade - tanto dos sacerdotes, chefes e anciãos como do próprio governador
• O resultado - eles obedeceram e afirmaram esta versão

A Grande Comissão de Jesus para seus discípulos é muito diferente!


Começa com a afirmação de Jesus de que Ele tem toda a autoridade no céu e na terra. Jesus
é o Messias, o Cristo, o Filho de Deus, o Senhor e Salvador, mas também a quem todo poder
e autoridade são dados. (Fp 2.9-11; Ap 1.13-18; 5.9-12 - e tantos outros textos que expressam
o poder e a glória de Cristo)

É com base na autoridade de Jesus que os discípulos são enviados - portanto ... vão. Não é
pela capacidade dos discípulos ou porque eles sabem das coisas, mas porque Jesus, que possui
toda a autoridade, os envia.

O verbo principal da ordem de Jesus é "fazei discípulos". É o único verbo no imperativo. Isso
significa que a função mais importante é justamente a de levar as pessoas a serem discípulos
de Cristo. Isso é feito onde estamos, independentemente da geografia ou das circunstâncias.
Os outros verbos no verso estão na forma verbal do particípio que adjetiva o verbo principal.
Podemos, portanto, traduzir com o gerúndio, sendo que fazemos discípulos indo, batizando e
ensinando.

Indo - fala sobre ir de encontro às pessoas, tanto próximas como distantes. Pode ser para o
vizinho ou parente, ou para um povo e cultura em outra parte do mundo. Não podemos
esperar que as pessoas venham até nós, mas é nossa obrigação procurar as pessoas onde elas
estão. Em outras palavras, é nosso trabalho evangelístico, levando as boas novas para aqueles
que ainda não conhecem a Cristo. Indo a todas as nações (grupos étnicos), a todos os povos
da terra.

Batizando - é o passo em que a pessoa aceita Jesus como Salvador e Senhor e deseja ser um
discípulo. Normalmente é o passo para entrar como membro do Corpo de Cristo e se tornar
parte da igreja local. Vemos aqui o aspecto de plantação de igrejas em que as pessoas se
converteram e agora fazem parte da comunidade dos salvos. O batismo é em nome do Deus
Triuno, o que mostra a cooperação e a participação do Pai e do Filho e do Espírito Santo na
missão.

PÁGINA 38
TEOLOGIA DE
MISSÕES

Ensinando a obedecer a tudo que Jesus ordenou. Este é o processo de discipulado que exige
exemplos vivos e concretos a serem seguidos. Não é uma transmissão teórica, mas sim,
modelos práticos na vida diária que servem de exemplo aos novos seguidores de Jesus.
Discipulado não é apenas um curso de batismo, mas um estilo de vida que dura a vida toda. O
que eles deveriam ensinar a guardar? Ensinamentos importantes em Mateus encontramos
nos discursos e nos exemplos de Jesus.

A Grande Comissão termina com a promessa de Jesus de estar com seus discípulos todos os
dias. Não há dúvida de que eles precisam da presença do Senhor para fazer o trabalho. Essa
presença será por meio do Espírito Santo, dando orientação, poder e coragem para obedecer
e cumprir as ordens do Mestre.

Temas teológicos e missiológicos


• O cumprimento profético do chamado de Abraão e da vocação de Israel.
• A mensagem do Reino de Deus (dos Céus).
• A preparação dos discípulos para dar continuidade à missão de Jesus.
• O papel da Igreja no combate às trevas e na representação do Reino.
• A perspectiva global do Evangelho e da Missão de Deus.
• As características na Grande Comissão do envio dos discípulos a todas as nações.
• A constante presença de Jesus Cristo no cumprimento da missão.

Reflexão:
1. Que aspectos são especialmente radicais nos princípios e valores que caracterizam o Reino
de Deus, e mencionados no Sermão do Monte, são desafios no cumprimento da missão
em nossa sociedade e no mundo de hoje
2. Se “fazer discípulos de todas as nações” é a principal tarefa da Igreja, de que forma isso é
feito no seu contexto local e denominacional
3. Um dos principais sinais escatológicos é a pregação do evangelho a todas as nações. Até
que ponto colaboramos com a chegada do Reino Eterno

MARCOS
Supõe-se que Marcos tenha o apóstolo Pedro como mentor e que seu Evangelho reflita o
caráter dinâmico do apóstolo. O Evangelho de Marcos é o mais curto dos quatro, com forte
ênfase na ação.

Alguns destaques do evangelho


• Escrito para gentios, mostrando o universalismo do evangelho de Cristo
• Jesus como homem de ação, harmonizando com as características romanas de ação, poder
e eficiência
• O exemplo de Jesus Cristo de humildade e serviço (10.45)
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Há uma ênfase nas duas naturezas de Cristo, divina e humana


• Jesus é Filho de Deus - sua natureza divina (1.1,11; 3.11; 5.7; 15.39)
o Tem poder sobre os demônios (que o chamam de Filho de Deus). (5.7)
o Tem poder sobre as enfermidades. (1.31, 40-45)
o Tem poder sobre o ensino e a lei. (1.27; 4.38; 7.37; 12.14)
o Tem poder sobre o pecado. (2.5)
o Jesus é o Senhor. (2.28; 16.19)
• Jesus é Filho do Homem - sua natureza humana. (.41,43; 2.10,28; 3.5; 8.12,33;
10.14,16,21,45)
o Filho de Maria. (6.3)
o Identificação com o Messias em três personagens do A.T.
o Filho do Homem. (Dn. 7,13,14)
o Grande Salvador/Libertador. (12.35-37; Zc 9.9)
o Servo Sofredor. (10.45; Is 53)
• A importância da Fé. (1.40; 2.5; 4.40; 11.20-26)
• As exigências do discipulado. (8.34-39; 9.33-50)

A Grande Comissão de 16.15-20 enfatiza os seguintes aspectos:


• Todos! Todas as pessoas e toda a criação. O evangelho significa boas novas para tudo o
que Deus criou. O fato do pecado ter sido vencido por Cristo tem implicações para a
natureza também. O apóstolo Paulo diz que até a natureza geme e espera ansiosamente
a libertação com a vinda definitiva do Reino. (Rm 8.19-22). A mensagem de salvação, no
entanto, é para todas as pessoas ao redor do mundo, transformando suas vidas e suas
comunidades.
• O duplo destino: salvação e perdição. O fato de haver duas possibilidades, dependendo da
resposta do ser humano à oferta da salvação de Deus, é algo muito sério.
• A lógica da fé: crer e ser batizado = salvo
• Os sinais que acompanham a expansão do Reino, superando e vencendo:
o barreiras espirituais
o barreiras linguísticas
o riscos naturais
o ataques de inimigos
o doenças e enfermidades

Temas teológicos e missiológicos


• Jesus, um salvador universal
• A mensagem global do evangelho
• A mediação de Cristo entre Deus e homem
• A proclamação confirmada pelos sinais do Reino

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Reflexão:
1. Como podemos alcançar equilíbrio entre a confissão de fé e a ação pela fé
2. O que significa para nós o exemplo de humildade e de serviço dado por Jesus
3. Até que ponto estamos dispostos a pagar o custo do discipulado

O EVANGELHO DE LUCAS

O Evangelho de Lucas foi escrito a partir da pesquisa feita pelo médico Lucas, um dos membros
da equipe de Paulo na segunda e terceira viagens do apóstolo. Sua intenção é ser o mais
correto possível em sua narrativa do Mestre Jesus.

A declaração de Jesus acerca de sua missão feita na sinagoga da Nazaré, citando o profeta
Isaías, demonstra a visão holística de sua tarefa e as características do Reino de Deus. É um
evangelho que leva em consideração o ser humano como um todo tanto na vida terrena como
na eternidade. (4.18,19). O texto torna-se o roteiro e as ênfases no ministério de Jesus, em
seu ensino e em suas ações e exemplos que deverão ser seguidos por seus discípulos.

Alguns destaques do evangelho


• Uma história completa de Jesus.
o Começa com sua infância (e a de João Batista).
o Termina com a ascensão.
o Continua em Atos dos Apóstolos com a surgimento da Igreja.
• Universalismo acentuado. O evangelho é global
o As boas-novas são para todos os homens. (2.14,32; 3.4-6)
o Os samaritanos são colocados no mesmo nível dos judeus. (9.54; 10.33; 17.16)
o A grande comissão é dirigida a "todas as nações”. (24.47)
• Interesse especial em pessoas.
o Lucas focaliza indivíduos. (Zacarias, Isabel, Maria, Marta e Maria, Zaqueu, Cleopas etc.)
o Os marginalizados na sociedade têm vez e são até citados em parábolas. (7.36-50;
19.8-10; 23.39-43 e parábolas: "filho pródigo", "os dois devedores" e o "publicano")
o Retratos de mulheres. Lucas menciona 13 mulheres que não são mencionadas em
outros evangelhos. A mulher está presente tanto no nascimento de Jesus, como em
sua crucificação e ressurreição.
o Há um interesse especial pelas crianças. São narradas as infâncias de Jesus e de João
Batista. Três vezes é usada a expressão "único filho". (7.12; 8.42; 9.38)
• Relacionamento social. (7.36-50; 11.37-44; 14.1-4; 10.38-42; 19.1-10; 24.13-32)
• Severidade para com os ricos e a riqueza em geral. (6.24-26; 12.13-34; 16.1-15,19-31)
• Escrito para gentios, deixando de lado parte o debate entre Cristo e o legalismo judaico. A
genealogia de Jesus deriva de Adão e não inicia em Abraão como em Mateus. (3.30)

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Coloca Cristo numa perspectiva mundial. (2.1,2). Mas o foco do ministério de Jesus está
em Jerusalém

A Grande Comissão em 24.44-49


• De acordo com as Escrituras. Importante para o historiador Lucas é o fato de que a obra e
a missão redentora de Jesus seguem e confirmam as Escrituras. O plano de salvação de
Deus tem sua continuidade na tarefa missionária dos discípulos.
• Para todas as nações - não há exceção. As boas novas de salvação precisam chegar a todos,
judeus, gregos, gentios e bárbaros.
• Testemunhas - mártires. A palavra usada para testemunhar é martureo. Pelo fato de
muitas testemunhas de Jesus terem sofrido o martírio, a palavra ganhou este significado.
• A promessa do Espírito Santo. Isso será melhor explicado por Lucas em seu segundo livro,
o livro de Atos dos Apóstolos.

Temas teológicos e missiológicos


• Um exemplo global que se encaixa na história da humanidade
• A preocupação holística do evangelho, do ser humano e da missão
• Enxergar as pessoas tanto individualmente como parte da sociedade
• O perigo das riquezas e os valores do Reino
• O testemunho do cristão que exige entrega total e fidelidade até as últimas consequências
• A presença do Espírito Santo no cumprimento da missão

Reflexão:
1. Qual a importância de situar a pessoa de Cristo e o Evangelho num contexto global
2. Até que ponto a declaração de missão de Jesus em Lc 4.18,19 é o nosso modelo de missão
3. O que Lucas tem a dizer sobre o materialismo em nossos dias

O EVANGELHO DE JOÃO
O Evangelho de João foi o último dos evangelhos a ser escrito. O apóstolo não só narra a
história de Jesus como, também, faz uma aplicação teológica dos ensinamentos e das ações
do Mestre. Vivendo e ministrando num contexto de forte repressão contra os cristãos dentro
do Império Romano e de surgimento de heresias; João defende as bases do Evangelho e do
ensino apostólico.

Características do Evangelho de João


• Simples e profundo ao mesmo tempo
• Uma clara mensagem sobre quem é Jesus Cristo – Eu Sou
• Os diálogos que aprofundam a compreensão de quem Jesus é
• Divisão do livro – prólogo, diálogos e milagres, revelação de sua messianidade, última
semana com seus discípulos, paixão, morte, ressurreição e comissionamento.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• A continuidade nas cartas de João e em Apocalipse

Temas teológicos e missiológicos (seguindo os capítulos do evangelho)


• Jesus Cristo como Deus – Cap. 1
O Logos divino
• A encarnação na humanidade – Cap. 1
Um modelo missional de encarnação
• Declarações da missão de vida de Jesus – Cap. 2
O primeiro milagre – apontando para a nova aliança em Cristo
• A Missio Dei – para salvar o mundo – Cap. 3
O amor de Deus por sua criação
• Novo nascimento – Cap. 3
O reino de Deus e o novo nascimento
• Evangelho para todos – Cap. 4
O diálogo com a mulher samaritana
• Confrontando aspectos culturais negativos – Cap. 5
Curando no sábado
• Delegação de responsabilidade aos discípulos – Cap. 6
A multiplicação dos pães e o discipulado
• Jesus, o Messias – Cap. 7
Confrontando a religiosidade
• Jesus – o Eu sou – Cap. 8
A eternidade de Cristo
• A cegueira espiritual – Cap. 9
A cura do cego de nascença
• O rebanho do bom pastor – Cap. 10
Eu sou o bom pastor
• A ressurreição e a vida eterna – Cap. 11
A ressurreição de Lázaro
• A revelação progressiva aos discípulos – Cap. 12
Jesus prediz sua morte
• A semana da paixão – humildade e serviço – Cap. 13
O lava-pés e a traição de Judas
• A promessa do Espírito Santo – Cap. 14
Jesus o caminho, e o ensino do Espírito
• Permanência em Cristo – Cap. 15
A videira verdadeira e os frutos
• A obra do Espírito Santo – Cap. 16
O conselheiro e o que convence o ser humano do pecado
• Unidade dos crentes – Cap. 17
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

A oração sacerdotal de Jesus


• A fraqueza dos discípulos – Cap. 18
A prisão de Jesus, traição e negação
• O cumprimento da missão – Cap. 19
Condenação, crucificação e morte de Jesus
• A vitória sobre a morte – Cap. 20
Ressurreição, primeiras testemunhas
• O envio dos discípulos – Cap. 20
A vocação missionária e o evangelho da esperança
• A restauração do vocacionado – Cap. 21
O encontro com Pedro e os outros discípulos em Tiberíades

A Grande Comissão de 20.19-23


• A primeira ordem missionária de Jesus após a ressurreição
• Sua ressurreição dá sentido à Grande Comissão
• envio significa seguimento – “mostrando as cicatrizes da cruz”
• sopro do Espírito dando condições ao ministério
• Os discípulos recebem autoridade

Reflexão:
1. O que significa para nós hoje as palavras de Jesus aos seus discípulos: “Assim como o Pai
me enviou, eu os envio”
2. Que características do ministério de Jesus são importantes como modelo para a missão da
Igreja hoje e para o trabalho missionário
Figura 3 - O batistério da Igreja do Apóstolo João na cidade de Éfeso

. Fonte: Foto de Bertil Ekström

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

2.3 Teologia de Missões em Atos dos Apóstolos

O livro de Atos dos Apóstolos, muitas vezes denominados atos do Espírito Santo, é um
importante livro para entender o início e o avanço da igreja e da obra missionária no primeiro
século da era cristã.

Textos chaves:
• As últimas palavras de Jesus para os discípulos. (1.6-11)
• O pentecoste e nascimento da igreja. (Cap. 2)
• A comunhão na igreja. (2.42-46; 4.32-37)
• O martírio de Estevão. (Cap. 7)
• A perseguição e dispersão dos crentes. (Cap. 8)
• A conversão de Paulo. (Cap. 9)
• A visão de Pedro. (Cap. 10)
• A Igreja em Antioquia. (11.19-30; 13.1-3)
• As viagens missionárias de Paulo. (Caps. 13 a 19)
• Paulo em Roma. (Caps. 27,28)

Personagens:
Pedro, Paulo, Estevão, Felipe, Barnabé, Priscila e Áquila.

A projeção: Jerusalém – Judeia – Samaria – Síria – Ásia – Macedônia e Acaia – Espanha


• A expansão segue o “mapa” dado por Jesus em Atos 1.8
• Jerusalém
• Judeia e Samaria – (Atos 8.1 -)
• Filipe e o Etíope – (Atos 8.26 -)
• Azoto – Cesaréia – Damasco – Lídia – Jope (Atos 8-10)
• Fenícia – Chipre – Antioquia – Cirene (Atos 11)
• Antioquia – Chipre – Ásia Menor (Atos 13)
• Europa – Acaia e Macedônia (Atos 16)
• Roma – (Atos 28) – Espanha?

A Igreja em Atos dos Apóstolos - O começo


• O grupo de 120 discípulos reunidos no cenáculo. (Atos 1)
• A vinda do Espírito Santo – o cumprimento da promessa de Jesus
• O nascimento da igreja. (Atos 2)
• Termos inicialmente usados: os irmãos (1.15); os que criam (2.44: 4.32); discípulos (6.1)
• Primeira vez o uso do termo Igreja (ecclesia) é usado em 5.11, depois em 8.1
• Chamados pela primeira vez de cristãos em Antioquia. (11.26)

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Crescimento numérico
o 120 pessoas – (1.15)
o 3.000 batizados – (2.41,42)
o 5.000 homens – (4.4)
o Número cada vez maior de homens e mulheres – (5.14)
o Número de discípulos crescendo rapidamente, e grande número de sacerdotes
obedeciam a fé – (6.1,7)
o As igrejas eram fortalecidas na fé e cresciam em número dia a dia – (16.5)
o Milhares de judeus creram – (dezenas de milhares) – (21.20)
• Há informação de historiadores que havia, nos anos de 80-85, cerca de 300.000 crentes e
no ano 300 – 8 milhões.

Características da Igreja em Atos – a natureza da igreja


• A natureza evangélica – baseada na pregação do evangelho
• A natureza espiritual – a presença e a ação do Espírito Santo
• A natureza global – cruzando fronteiras linguísticas, culturais e religiosas
• A natureza orgânica – a comunhão dos crentes – a família crescente
• A natureza transformacional – fazendo diferença na sociedade local
• A natureza apostólica – o esforço missionário e a plantação de igrejas
• A natureza holística/integral – a preocupação com o bem-estar de cada membro

Fatores que influenciaram o crescimento nos primeiros 800 anos da Era Cristã
Fatores favoráveis ao crescimento
• A atuação do Espírito Santo
• A disposição dos discípulos de ir e pregar
• A perseguição, espalhando os crentes
• A forte ênfase na pregação do Evangelho
• As facilidades de locomoção dentro do Império Romano
• A língua em comum – grego koiné
• Os leigos – líderes locais e “missionários profissionais”
• O estabelecimento do “ensino apostólico” e do Cânon Bíblico

Fatores que causaram problemas ao crescimento


• A perseguição de judeus e de romanos
• A falta de coragem de abandonar velhos usos e costumes judaicos
• A batalha espiritual
• A dureza do povo em lugares idólatras e/ou centros de poder político
• As divisões internas da Igreja

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• As heresias
• O casamento com o poder político
• O avanço do Islamismo

Temas teológicos e missiológicos


• A era entre a ascensão e a volta de Cristo
• A abrangência da missão
• A vinda, o poder e a condução do Espírito Santo
• Jesus, o único caminho da salvação – (4.12)
• As características da igreja – formação de uma eclesiologia bíblica
• A perseguição por causa da fé
• Um evangelho para todos os povos e todas as etnias
• A formação de conceitos de conduta cristã – (5.1-11; 15.28-29)

Princípios Aplicáveis para os nossos dias


• Um ensino coerente com a Palavra de Deus
• Sensibilidade à direção do Espírito Santo
• A unidade da igreja – baseados na mesma fé em Cristo
• A diversidade da igreja – espaço para opiniões e dons diferentes
• A mutualidade da igreja – o cuidado uns para com os outros
• A atuação evangelística e missionária da igreja
• A adaptação cultural sem comprometer os princípios bíblicos supra culturais
• A separação da igreja dos interesses políticos e econômicos – manter um papel profético
na sociedade
• A ampla participação dos membros – o sacerdócio universal
• Consciência do confronto espiritual
• Utilização dos meios de comunicação de nossos dias
• A coragem de utilizar novos métodos e estratégias

John Stott finaliza o seu comentário sobre Atos dos Apóstolos dizendo:
Assim como Evangelho de Lucas termina com uma promessa de missão para todas as
nações, Atos termina com a promessa de uma missão irradiando para todo o mundo,
a partir de Roma. Quando Lucas descreve Paulo pregando ´com intrepidez´ e ´sem
impedimento´, isso simboliza uma porta aberta, pela qual nós, hoje, precisamos
passar. Os Atos dos Apóstolos terminaram há muito tempo. Mas os atos dos
seguidores de Jesus continuarão até o fim do mundo, e a palavra deles vai se espalhar
até aos confins do mundo.4

4
Stott, John. A Mensagem de Atos – Até os Confins da Terra, p. 457
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Reflexão:
1. O desafio de um crescimento equilibrado da igreja: um crescimento em tamanho
(quantitativo), em conhecimento e sabedoria (qualitativo) e em harmonia dos diferentes
membros do corpo (orgânico).
2. A importância de não fazer teologia a partir de experiências apenas, mas de uma análise
mais profunda do contexto e da coerência com a Palavra de Deus como um todo.
3. A obra do Espírito Santo como fundamental para a missão e para o desenvolvimento da
igreja e da teologia.
4. De que forma damos hoje continuidade à divulgação do Evangelho iniciada pelos
apóstolos

2.4 Teologia de Missões nas Epístolas Paulinas

As epístolas do apóstolo Paulo são muito ricas em seu conteúdo teológico e prático. Sendo
escritas por um missionário com o intuito de divulgar o Evangelho e de fortalecer igrejas
plantadas nos diversos contextos étnicos e culturais dentro do Império Romano, a aplicação
missiológica é evidente. A teologia de missões recebe forte influência dos escritos paulinos.
Destacaremos os principais temas, aprofundando o estudo em algumas das cartas.

ROMANOS
A riqueza da Epístola de Paulo aos Romanos, em termos de temas doutrinários, éticos,
pastorais como missionários, é enorme. A missiologia paulina fornece princípios supra
culturais derivados tanto da teologia como da experiência do apóstolo que, assim como todo
texto bíblico, precisa ser entendido dentro do contexto histórico e cultural da época em que
as cartas foram escritas.

Temas Missiológicos
Cada tema proposto abaixo mereceria um estudo mais profundo e demorado e outros temas,
também, poderiam ser acrescentados.5 Incluímos uma pergunta de reflexão referente a cada
tema.

• A Vocação Missionária - 1.1,5


Paulo destaca no início de sua carta, como em tantos outros lugares, sua vocação apostólica.
Numa atitude elogiável, o apóstolo baseia sua vocação na condição de “escravo” (doulos) de

5
Além dos temas aqui citados e brevemente comentados, poderíamos acrescentar temas como: A situação
pecaminosa do mundo - 1.18-32; A integridade da fé - 2.29; Efeitos da justificação pela fé - cap. 5; A identificação
com Cristo no batismo - o discipulado verdadeiro - cap. 6; A lei e a graça - cap. 7; Aspectos cósmicos da redenção
- 8.18-25; O cristão e as autoridades - cap. 13; Os limites da liberdade cristã - sensibilidade cultural - cap. 14;
Mulheres no ministério apostólico - 16.1-7. Veja também a lista de temas propostos por George Peters em Teologia
Bíblica de Missões.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Cristo Jesus, renunciando a qualquer direito pessoal sobre sua própria vida (Compare 1Co 9).
A vocação, dramaticamente confirmada no caminho de Damasco, norteia todo o ministério
de Paulo.

Reflexão: O que significa para o cristão pessoalmente e a Igreja do Senhor coletivamente, a


vocação missionária? Até que ponto a “natureza missionária” da igreja local tem sua
correspondência numa atitude serviçal e numa “separação para o evangelho de Deus”?

• A Dívida aos Povos - 1.14,15


Têm-se discutido o que Paulo quer dizer com a expressão “sou devedor”. Alguns acham que
se trata da dívida que os judeus tinham para com os gentios de não terem divulgado o
conhecimento acerca de Deus como deveriam, segundo o chamado a Abraão. O povo de Israel
falhou grandemente em ser aquele povo sacerdotal que deveria ser um canal de benção a
todos os povos da terra. É possível que ele tenha isto em mente.

Outros pensam que se trata de uma dívida mais pessoal como perseguidor que tinha sido da
igreja, e que agora precisa pagar este erro percorrendo o mundo não atrás de crentes para
prender, mas de não-crentes para converter. Também poderia ser possível que Paulo sentisse
este peso em sua vida mesmo sabendo que o pecado em si já tinha sido perdoado.

Uma terceira alternativa, também interessante, é o pensamento de que Paulo está tentando,
através de sua vida, pagar de volta algo daquilo que Cristo fez por ele na cruz. Não
acrescentando algo a salvação pagando pelo pecado, porque isto é impossível segundo o
próprio Paulo, mas num gesto de amor e de solidariedade com seu Mestre estaria dando algo
de si. É impressionante o que ele diz em Cl 1.24: "Agora me alegro em meus sofrimentos por
vocês, e completo em minha carne o que resta das aflições de Cristo, em favor do seu corpo,
que é a igreja. "

A melhor explicação encontramos provavelmente na própria conversão e chamada de Paulo.


Esta incumbência, esta chamada realmente divina, o prendia. Era um compromisso de vida do
qual ele só se livraria com a morte. Uma dívida diante de Deus e diante dos homens que
somente poderia ser paga através de uma dedicação total a missões até o fim de sua vida.

Reflexão: Também somos devedores? Quem sabe temos a mesma responsabilidade do


apóstolo, tanto no sentido de termos sido escolhidos e abençoados para abençoar (1Pe 2.9)
como no sentido de sermos vocacionados para um ministério missionário.

• A Mensagem Transformadora - 1.16,17


Paulo foi possivelmente criticado por não ter chegado a Roma, o centro político do Império.
Ele se defende dizendo que tinha planejado esta viagem mais do que uma vez, porém não fora

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

possível até o presente momento. A desconfiança era de que teria vergonha da simplicidade
da mensagem que pregava. Parece, ao contrário, que tem muita convicção daquilo que crê e
prega.

A afirmação de Paulo é que ele não se envergonha porque trata-se de uma mensagem
transformadora - o evangelho de poder de Deus para salvação. O sentido da palavra dúnamis
(poder transformador, libertador, salvador etc.) mostra claramente que, para uma cultura de
poderio militar e de elevação da força bruta, o evangelho era algo revolucionário que não
ficaria para trás numa comparação.

A ênfase está, no entanto, na finalidade proposta pelo próprio evangelho: a salvação tanto do
judeu como do gentio. Não era uma demonstração de força, em primeiro lugar, mas um
resultado do amor divino concretizado numa profunda transformação do ser humano e do
seu contexto de vida.

Reflexão:
Aqui, Paulo introduz o tema teológico central de sua carta. É, segundo Timóteo Carriker, a
chave hermenêutica para a compreensão de Romanos.6 Toda a questão da “justificação pela
fé”, que virá num tema à parte, abaixo, tem uma tremenda implicação na teologia
missiológica, e não é menos importante numa aplicação ao contexto religioso latino-
americano.

• A Situação dos que nunca ouviram - 1.18-20; 3.23


Trata-se de outro tema difícil, mas crucial para as missões. Qual é a situação dos que nunca
ouviram falar de Cristo? Todos pecaram, e segundo as palavras do apóstolo, parece que
ninguém, sem exceção, tem condições de alegar inocência diante do Criador.
Odland afirma:
“Mesmo não tendo uma lei revelada da mesma forma que os judeus, os gentios tinham uma
lei, a da natureza, isto é, o que de berço receberam e através da educação e da experiência
desenvolveram e com isso têm culpa moral”.7

Stott segue a mesma linha:


“A base do juízo de Deus é o conhecimento moral universal. Todos têm algum conhecimento
moral, todos têm se rebelado moralmente e com isso têm culpa moral”.8

6
Carriker trabalha neste capítulo sobre Romanos com cinco chaves de interpretação de Romanos, sendo 4
geográficas (Roma, Jerusalém, de Jerusalém e arredores, e Espanha) e uma hermenêutica, com base em Rm 1.16.
Carriker, Timóteo. O Caminho Missionário de Deus.
7
Odland, S. Kommentar till Romarbrevet (Comentário da Cartas aos Romanos), p. 27
8
Stott, John. Guds Goda Nyhet (As Boas Novas de Deus), 1975, p. 35
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Esta lei, no entanto, que os gentios possuem não dá ao homem um conhecimento total da
vontade divina e neste aspecto o gentio está em desvantagem em relação ao judeu. Mas a lei
natural9 oferece elementos suficientes para se conhecer a Deus como criador e por isso não
há desculpas para a idolatria. Conhecendo a Deus como Juiz não há desculpa para as más
obras.10

Dependendo da compreensão deste tema, a motivação missionária pode ser alterada. Se


houver caminhos alternativos ou julgamento diferenciado, dependendo do conhecimento que
um povo tem do evangelho, pode-se chegar à conclusão de que é melhor não pregá-lo.

Existe, sem dúvida, níveis de conhecimento ou, conforme Henry, níveis de luz: “a luz da
natureza, dada aos gentios; a luz da lei, revelada aos judeus; e, a luz do evangelho, revelada
em Cristo Jesus”.11 Porém, qualquer que seja a luz ou o conhecimento, parece-nos que Paulo
afirma que é suficiente para declarar o homem sem desculpa por seus atos pecaminosos.

Toda a questão de “povos não alcançados”, tão em voga em nossos dias, carece de uma
definição clara destas declarações de Paulo!

Reflexão:
Outro tema ligado a isto, é o do chamado “fator Melquisedeque versus fator Abraão”. 12 Até
que ponto a revelação divina na natureza e na consciência do homem, ligado aos aspectos
culturais (At 14.16,17), cria pontos possíveis de contato para o evangelho ou até, podem levar
um povo a buscar a Deus?

• A Justificação pela Fé - cap. 4; 5.1; 1.17 e outros


Sendo o tema teológico central da carta paulina, a “justificação pela fé” é alvo de muitas
considerações ao longo da história da Igreja. A redescoberta feita por Martinho Lutero,
gerando a reforma protestante, enfatizou ainda mais a doutrina cristã expressa nesta verdade.
Ele diz:
A justiça de Deus é a que nos faz merecedores de sua grande salvação, ou
unicamente, através da qual, somos (considerados) justos diante dEle. Mestres
humanos têm colocado e inculcado a justiça do homem, isto é, quem é justo, ou
como uma pessoa se torna justa, tanto em seus próprios olhos como nos de outros.
Somente o evangelho revela a justiça de Deus, isto é, apenas por fé, que crê na
Palavra de Deus.13

9
Existe uma discussão se existe uma “lei natural” definida ou não. Por exemplo, Anders Nygren (Romarbrevet,
p. 131) discorda disso e crê que se trata apenas de uma forma natural de agir que, em alguns aspectos, concorda
com a lei revelada. Porém, é mais uma discussão sobre o que entendemos por “lei natural” do que se existe ou não
algo que é suficientemente claro para que o homem seja responsável por seus atos.
10
Compare Stott, 1975, p. 35
11
Henry, Matthew. Commentary on the Whole Bible. pp. 1757-1758.
12
Richardson, Don. O Fator Melquisedeque. p. 127
13
Luther, Martin. Commentary on Romans, pp. 40,41
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Não sobra espaço para uma justificação humana por obras ou merecimento pessoal, o que,
no contexto de Lutero e dos demais reformadores, era uma grande ofensa aos dogmas da
Igreja dominante. A situação na qual vivemos na América Latina, mas, também, em outros
lugares do mundo, não é muito diferente, apesar dos séculos que passaram. Inclusive, dentro
da própria igreja evangélica, existem conceitos de merecimento e de obras que precisam ser
realizadas para ter garantias de justificação.

Pensando no aspecto missionário, o tema é crucial, porque trata da resposta divina à


invocação do nome do Senhor como resultado da fé gerada pelo ouvir do evangelho.

Reflexão:
A questão é se nosso trabalho missionário tem, de forma genérica, ensinado, através da
pregação e da prática diária que a justificação em Cristo é pela fé, ou se temos transmitido
uma ideia de que o verdadeiro cristão é somente aquele que, também, incorpora os costumes
e as tradições ocidentais. Dizia Mahatma Ghandi, que podia aceitar o Cristo, mas não o
Cristianismo.

• A Segurança do Crente - 8.18-39


Pode ser um tema polêmico, se tratado dentro da discussão entre “predestinação” versus
“livre arbítrio”. Por outro lado, as afirmações que Paulo faz sobre a esfera do amor, o ambiente
no qual o cristão é inserido como “amado de Deus”, mostra que, podendo ou não perder a
salvação por decisão própria, a segurança que o crente tem é inigualável.

Se analisarmos todos os momentos de perigo pelos quais o apóstolo passou, vamos encontrar
que, apesar de “temor e tremor”, ele depositava sua confiança em Deus. Nada poderia
acontecer que não estivesse sob o controle do Senhor e, por isso, não o deixava angustiado
(Compare 2Co 4.8-10).

Em termos missiológicos, esta segurança é sumamente importante. Já que não há garantias


de ministério missionário sem sofrimento, a certeza de estar abrigado pelo amor de Deus, dá
ao enviado ousadia e conforto.

Reflexão
Uma interessante discussão aqui seria:
Em que depositamos a nossa confiança como obreiros do Senhor? Nas estruturas humanas e
financeiras ou primeiramente no próprio Dono de nossas vidas?

• A Situação dos Judeus - caps. 9 a 11

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Os capítulos 9 a 11 são considerados por alguns o clímax da carta aos Romanos. Tratam,
primordialmente, da situação dos judeus em relação ao evangelho e à recusa em aceitar a
Jesus como o Messias.
Várias lições nos são dadas ao longo da argumentação paulina. Em primeiro lugar, os gentios
não devem se vangloriar em sua aceitação de Cristo, porque foi a recusa dos judeus que
possibilitou que eles ouvissem o evangelho (11.11-25). Em segundo, que Deus tem um plano
para com Israel, mesmo que nós tenhamos dificuldade em precisar o que significa em termos
concretos, além da intenção de que o povo seja salvo (11.26-36). Em terceiro, a atitude
sacrificial do apóstolo, que está disposto a entregar sua vida e arriscar sua salvação a favor do
seu povo (9.1-5). Em quarto, que não é a descendência biológica que garante a salvação, como
se fosse algo hereditário que passa de pai para filho. “Deus não tem netos”, alguém tem dito,
e certamente a ideia de que cada pessoa precisa reconhecer a Jesus Cristo como seu Senhor
e Salvador, norteia todo o pensamento do apóstolo. Por último, temos que reconhecer a
soberania divina, que trata os povos conforme sua vontade, que sempre é justa, amorosa,
santa e coerente, independente do juízo que nós possamos fazer.

Reflexão:
Estas lições, além de outras que o texto nos traz, precisam ser analisadas na situação concreta
na qual vivemos. Deve-se pregar o evangelho aos judeus de hoje? A esperança de uma
salvação coletiva, como resultado de um reconhecimento geral de quem Jesus é, limita nosso
investimento missionário às comunidades judaicas em Israel e em outras partes do mundo?
Parece que Paulo não achava ruim quando um judeu aceitava a Cristo como fruto do seu
testemunho, mesmo que o apóstolo tivesse argumentos teológicos para entender a rejeição
de seus compatriotas.

• A não acepção de pessoas - 10.12


Debaixo deste tema podemos tratar as questões de racismo, etnocentrismo, exclusivismo
religioso, segregação racial, ufanismo cristão etc. Inúmeras formas que temos de separar
pessoas em categorias e classificá-las como mais ou menos dignas do esforço evangelístico ou
missionário. Facilmente criticamos os discípulos por não aceitarem os samaritanos como
pessoas no mesmo nível religioso, porém, com frequência, fazemos o mesmo.

Reflexão:
Algumas estratégias missionárias, inclusive, se baseiam na pressuposição que segregação é
mais eficiente em termos quantitativos. É o caso da “Crescimento da Igreja” (Church Growth
Movement) em sua versão original.14 Ao longo dos anos, as críticas ao movimento e seu

14
McGavran, Donald. Understanding Church Growth. Pp. 198 - 215. O autor mostra, com exemplos reais, que o
crescimento quantitativo tem sido maior onde não se cruzou qualquer tipo de barreira exceto o de crente/não crente.
Torna-se, portanto, um dos princípios básicos do movimento, mesmo que seus defensores têm tentado equilibrar
a questão com o tempo. Um exemplo disto é Juan Carlos Miranda em Manual de Crescimento da Igreja pp. 167-
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

amadurecimento, tem levado a uma ênfase no “crescimento equilibrado da igreja” incluindo


tantos os aspectos qualitativos e orgânicos como o quantitativo.

• A Lógica Missionária - 10.13-15


Chamado assim por sua forma de argumentação onde cada passo no processo de salvação
depende de um requisito anterior. Trata-se de uma sucessão de afirmações pelo apóstolo que
começa com a certeza da operação divina atendendo o clamor do pecador e termina no
agente missionário que envia o pregador.
A Lógica Missionária
A - Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo
B - Como, pois, invocarão aquele em quem não creram?
C - E como crerão naquele de quem não ouviram falar?
D - E como ouvirão, se não há quem pregue?
E - E como pregarão, se não forem enviados?

A sequência A à E pode ser invertida mantendo-se a veracidade da argumentação. Se alguém


enviar (no conceito de Paulo, a igreja), alguém poderá pregar e pessoas ouvirão o evangelho,
podendo assim crer e invocar com fé, sendo por Deus salvos.

Reflexão:
Qualquer falha na corrente lógica, coloca em risco o resultado final. A salvação é obra de Deus
e não falha. A fé, que vem pelo ouvir da Palavra (v.17), também é dádiva de Deus. O problema
está na parte humana do processo. Isto nos leva a uma responsabilidade como Igreja de Cristo,
diretamente comissionados a enviar e a pregar, para que todos possam ouvir e terem a chance
de invocar.
Orlando Costas, em sua exposição da missão a partir do contexto latino-americano e com forte
ênfase na integralidade do evangelho, não deixa de lado a importância da proclamação:
Se a Palavra da Escritura é o registro fidedigno do processo revelatório de Deus, a
Palavra do evangelho é a medula desta revelação. Por isto, Paulo afirma
enfaticamente que “a fé segue a mensagem, e a mensagem é o anúncio do Messias”
Rm 10.17, isto é, a boa notícia de Jesus, o salvador do mundo. A proclamação, o
anúncio, do evangelho é, portanto, uma tarefa fundamental da igreja.15

• A Entrega Total e o Corpo de Cristo - 12.1-8


Novamente, trata-se de uma compreensão de quem nós somos em Cristo e qual o nosso papel
no Corpo de Cristo. Uma entrega total como reconhecimento do senhorio do Mestre e uma

179. Na p. 169, ele diz: “Trata-se de uma pressuposição descritiva e não normativa. É fenomenológica e não
teológica”.
15
Costas, Orlando. Compromiso y Mision. p. 29. Outro que destaca a proclamação como parte vital do trabalho
da Igreja de Cristo é Alberto Barrientos em seu livro Trabalho Pastoral. Pp. 103-117. A proclamação tem sido,
sem dúvida, um dos pontos fortes da Igreja Latino-americana ao longo das últimas décadas. Certamente isto tem
contribuído para o forte crescimento da igreja, ao lado de outros fatores.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

aceitação da unidade do corpo na diversidade dos membros e na mutualidade de suas atitudes


e ações, caracterizam o verdadeiro discípulo de Cristo.

• A Avaliação do Ministério de Paulo - 15.17-33


Primeiramente, Paulo avalia seu ministério (v.17). Uma saudável atitude do apóstolo,
necessária para todo aquele que quer crescer. Nem tudo tinha sido alcançado, mas Paulo se
regozija por aquilo que Deus tinha feito por seu intermédio. Ele sempre reconhece que é
apenas uma engrenagem na máquina, outros também trabalharam e o crescimento é ação
divina (1Co 3.6).

Em segundo lugar, os sinais e prodígios fizeram parte de seu ministério (vs. 18,19). Não como
atração em si, nem como manifestação de seus poderes milagrosos, mas como um resultado
natural da pregação da Palavra e da ação do Espírito Santo.

Em terceiro, ele descreve a abrangência da obra missionária (vs. 19-24), num seguimento ao
esboço dado pelo próprio Cristo em At 1.8. Nesta caminhada ele ainda estava tentando
chegar até aos confins da terra, pelo menos para o lado ocidente, simbolizados por Espanha.

Em quarto, Paulo tinha uma visão holística de seu ministério (vs. 25-27). Sua tarefa de levar a
oferta dos irmãos da Acaia e da Macedônia para os pobres em Jerusalém, é visto como parte
de seu ministério. Ele tinha aprendido isto com Barnabé, por ocasião da fome em Jerusalém
(At 11.27-30). O homem todo, em todas as suas necessidades, precisa ser beneficiado pelo
evangelho e pela comunidade cristã.

Em quinto, Paulo espera a participação da igreja local em seu empreendimento (vs. 24,29). Já
mencionamos suficientemente, ao longo do texto, sobre este tema.

E, em sexto, a norma básica de Paulo para seu avanço missionário (v.20): “Sempre fiz questão
de pregar o evangelho onde Cristo ainda não fosse conhecido”. “Fazer questão” -
filotimoumenon - dá ideia de colocar sua honra em algo.
Champlin explica:
Essa palavra é tradução de um verbo grego que, originalmente significa “ser
encontrado como honrado”. Daí é que se derivou o sentido de esforçar-se ou ter
uma ação ambiciosa, como quem busca uma elevada honraria. O sentido, pois, é
“esforçar-se até ao ponto de receber honra”, um esforço suficiente para ser atingido
este alvo, receber honra.16

A mesma palavra é usada em 2 Co 5.9 (agradar a Deus) e 1 Ts 4.11 (esforçar-se). Em outras


palavras, Paulo não está colocando uma regra geral para todos em todos os tempos, mas uma
filosofia de trabalho que lhe é peculiar como apóstolo e desbravador em função do Reino de

16
Champlin, R.N. O Novo Testamento Interpretado. vol. 3, p. 864.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Deus. Ele se esforça, coloca seu prestígio e sua honra nisto, buscando desta forma agradar a
Deus através de seu ministério.

Reflexão:
O que este princípio tem a ver conosco? Será que podemos aprender algo como igrejas
brasileiras, deste conceito de Paulo? Significaria algo para a forma como invadimos os países
que, de repente, se abrem para o ocidente, numa louca competição pelas “almas”? E os
povos não alcançados, onde Cristo nunca foi anunciado terão sua vez?

• Para a Glória de Deus - 15.8,9; 16.24-27


O propósito final é a Glória de Deus. Piper inicia seu excelente livro Alegrem-se os Povos,
dizendo:
Missões não é o alvo final da igreja. Adoração é. Missões existe porque a adoração
não existe. Adoração é o alvo final, não missões, porque Deus é o definitivo, não o
homem. Quando esta era terminar, e os incontáveis milhões de redimidos se
prostrarem em suas faces diante do trono de Deus, missões não existirá mais. É uma
necessidade temporária. Mas a adoração existirá para sempre. 17

A tarefa missionária é de fazer Cristo conhecido a fim de que as nações glorifiquem a Deus,
que rendam a Ele todo o louvor e toda a adoração. Trata-se de uma das mais fortes motivações
para a obra missionária, que num círculo vicioso (com aspectos positivos) começa e termina
no louvor. A adoração é, usando os termos de Piper, “o combustível e o alvo das missões”. À
medida que povos adoram a Deus, a sua glória é manifesta entre as nações. Um dia, esta glória
será completa, quando representantes de todos os povos, tribos, línguas e nações estarão
diante do Cordeiro e junto com os seres celestiais estarão cantando:

Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e
louvor! ... Aquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória
e o poder, para todo o sempre! Ap 5.12,13

Reflexão:
É tremendamente importante guardar esta perspectiva no trabalho missionário e na reflexão
missiológica. Facilmente outros alvos e objetivos dominam nossa forma de pensar e de agir.
Interesses secundários e valorizações de métodos e estratégias tornam-se alvos finais ao invés
de serem instrumentos e canais para a realização da obra.

Aplicação
O caráter missiológico da Epístola de Paulo aos Romanos leva-nos a ler e estudar a carta com
novas “lentes”. Mesmo não forçando o significado de seu conteúdo e não lendo nas
entrelinhas o que possivelmente Paulo quis escrever, mas não o fez, o livro é suficientemente

17
Piper, John. Let the Nations be Glad. (Alegrem-se os Povos). p. 11
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

rico e claro para nos conduzir a uma longa lista de princípios missiológicos e de aplicações
práticas no ministério missionário.

Toda a interpretação precisa seguir regras básicas de compreensão exegética e histórica, na


busca de princípios. E toda a aplicação também precisa ser sensível ao contexto histórico e
cultural na qual será realizada, sem ferir os princípios supra culturais encontrados nas
Escrituras.

A utilização da carta aos Romanos como guia no estudo teológico/missiológico é uma das
melhores formas de trabalhar os conceitos missionários e de ser trabalhado pela Palavra. O
objetivo precisa ser este: fidelidade às Escrituras num estudo sistemático e coerente, e
abertura e sensibilidade para a atuação do Espírito, que vivifica a Palavra, na vida daquele que
se lança nesta aventura cheia de surpresas, que é o estudo de Romanos.

O alvo final é, em tudo, a Glória de Deus. Foi para este fim que Paulo escreveu a carta. Foi
visando o engrandecimento de Deus que ele queria visitar Roma e envolver a igreja no
empreendimento espanhol. Foi para glorificar a Deus que Paulo vivia e se esforçava em seu
ministério missionário. Esta é a maior das lições que precisamos aprender!

Figura 4 – Vista de Roma

Fonte: italiana.blog.br

1 e 2 CORÍNTIOS
O apóstolo Paulo chega à cidade de Corinto em sua segunda viagem missionária. (At 18). As
Cartas aos Coríntios são importantes, missiologicamente, porque se dirigem a uma recém-
plantada igreja no continente Europeu, que enfrenta as pressões externas da sociedade e o
desafio interno de ser uma comunidade que cresce de forma equilibrada em termos de
quantidade, qualidade e comunhão orgânica.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Figura 5- Segunda viagem missionária de Paulo

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/639370478324392809/

Corinto era uma importante cidade portuária cosmopolita que ficava no sul da Acaia (ainda
existe) com forte influência de todo o Império Romano, principalmente da filosofia grega e da
imoralidade resultante de uma religiosidade baseada num dualismo, separando o espiritual
do físico e desprezando o corpo.

Figura 6 - atual Corinto com as antigas ruínas

Fonte: https://www.turomaquia.com/o-que-fazer-em-corinto-grecia/

A cidade de Corinto era, portanto:


• Centro comercial, uma cidade rica e, em vários aspectos, a mais importante da Grécia.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Era habitada por romanos, gregos, orientais e judeus.


• Conhecida por sua imoralidade. Em tempos antigos tivera o templo de Afrodite. Nos
tempos de Paulo ainda havia o culto a Afrodite.

Ao chegar em Corinto, Paulo encontra o casal Priscila e Áquila que haviam sido expulsos pelo
Imperador Cláudio de Roma. Juntos eles fabricavam tendas para o seu sustento. Paulo iniciou
fazendo discursos na sinagoga da cidade, mas a igreja foi plantada quando decidiram reunir-
se na casa de Tício Justo, um homem temente a Deus (At 18.7); e com a chegada de Silas e
Timóteo que haviam permanecido na Macedônia.

A igreja de Corinto era:


• Fortemente pressionada pelos vícios e pela imoralidade da cidade.
• Composta por judeus e gentios.
• Fundada por Paulo em sua segunda viagem missionária (At.18).
• Ficou, provavelmente, sem ensino apostólico durante algum tempo surgindo ideias e
práticas errôneas.
• Seus membros se orgulhavam de sua cidade e tinham dificuldades em aceitar a autoridade
de Paulo.

Temas teológicos e missiológicos


• A pregação do apóstolo Paulo: Jesus Cristo crucificado. (1Co 2.2)
• A atitude do missionário diante do desafio de Corinto. (1Co 2.3-5)
• Cooperadores de Deus na obra missionária. (1Co 3.6-9)
• Fazendo tudo pelo Evangelho – renunciando aos “direitos”. (1Co 9.19-27)
• A centralidade da ressurreição de Cristo. (1Co 15)
• Cumprindo o ministério com fidelidade. (2Co 4.1-6)
• O tesouro em vasos de barro. (2Co 4.7)
• O ministério da reconciliação. (2Co 5.18-21)
• A generosidade do povo de Deus. (2Co 8 e 9)
• A defesa do apostolado. (2Co 10 a 12)
• “Fazedores de tendas” – o missionário bi vocacional

Reflexão:
Até que ponto estamos dispostos a renunciar aos nossos direitos para ser verdadeiros
cooperadores de Deus em Sua missão

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

GÁLATAS
Discute-se que eram esses gálatas e exatamente em que região viviam. Existem duas teorias,
a teoria do norte da Galácia e a teoria do sul da Galácia. No mapa acima a região é colocada
como mais ao norte da Ásia Menor.

O propósito da carta de Paulos aos gálatas é principalmente o de argumentar que a salvação


é somente pela graça e não por obras ou por seguimento aos costumes e preceitos judaicos.
Paulo quer fundamentar os gálatas na liberdade cristã e exortá-los a não voltar novamente a
um legalismo.

Temas teológicos e missiológicos


• A salvação pela graça. (1.6-9)
• O perigo do legalismo. (cap. 3)
• A liberdade em Cristo. (5.1-15)
• A vida pelo Espírito. (5.16-25)
• Fazer o bem a todos. (6.1-10)

Reflexão:
Qual a importância de pregarmos um evangelho baseado na graça e no amor de Deus e não
no cumprimento de leis ou regras que facilmente carregamos em nossa tradição eclesiástica

EFÉSIOS
A carta aos Efésios é a primeira das quatro “cartas da prisão”; escrita por ocasião da primeira
prisão do apóstolo Paulo em Roma. As outras são as cartas aos Filipenses, aos Colossenses e
a Filemon.
Figura 5- O grande teatro de Éfeso. (At 19.29)

Fonte Foto Bertil Ekström

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TEOLOGIA DE
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A cidade de Éfeso era a terceira mais importante do Império Romano, depois de Roma e
Alexandria, sendo a capital da Ásia (Menor). Era um centro de comércio com um grande porto
e tinha cerca de 500.000 habitantes. Era também um centro de magia e do culto a deusa
Artêmis (Diana). Paulo visitou Éfeso em pelo menos duas ocasiões (At 18.19-21; 19.1-20.31),
ficando três anos na segunda vez.

Barbara Burns diz sobre a importância missiológica da carta aos Efésios:


Efésios é uma carta extremamente importante para entender as bases teológicas e
práticas da obra missionária. Trata de assuntos teológicos e culturais, com valiosas
informações sobre os propósitos, o meio, a vida, o serviço e a mensagem missionária.
O evangelho não é apenas para os judeus, mas para os gentios – o mundo todo, que
tem que ser alcançado, seja qual for o preço. Jesus é o único meio de salvação –
Salvador, Redentor, Noivo e cabeça da Igreja.18

Temas teológicos e missiológicos.

• A Problemática do Ser Humano


o O que somos por natureza – desde o nascimento – (2.1-3). As três verdades
apresentadas que não queremos ouvir!
o “... estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”
o “... segundo o príncipe da potestade do ar... fazendo a vontade da carne e dos
pensamentos”
o “... por natureza, filhos da ira”
➢ Estávamos mortos – em nossos pecados e delitos
➢ Estávamos escravizados – sem liberdade

• A Troica malvada – as três influências maléficas: o mundo, a carne e o diabo


o Segundo o curso do mundo
o Segundo o príncipe da potestade do ar
o Segundo as inclinações da nossa carne
➢ Estávamos condenados – filhos da ira

 MAS DEUS:
o Estávamos mortos ..., mas Deus nos deu vida
o Éramos alvo de sua ira ..., mas Deus nos amou
o Éramos escravos ..., mas Deus nos deu um lugar no céu

• O que perdemos – (2.11-22)


Uma dupla alienação:
o Comunhão com Deus – estávamos fora (Cl 1.20-21)

18
Burns, Barbara. Introdução a Efésios na Bíblia Missionária da Estudo, p. 1218
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

o Comunhão com o povo de Deus – estávamos fora

• A vida sem Deus – (4.17-20)

• A Solução Proposta – A Reconciliação em Jesus Cristo


o A necessidade de uma solução definitiva – (2.1-3)
o A incapacidade do ser humano de solucionar seu problema – (2.9)
o A iniciativa de Deus no processo de Reconciliação através de Cristo – (2.4-7)
baseado em sua misericórdia, seu amor, sua graça e sua bondade!
o O requisito para a solução definitiva – (fé em Cristo). (2.8,9)
o A suficiência e a eficácia da solução em Cristo Jesus. (2.10-22)

Cristologia Paulina em Efésios


• A Segunda pessoa da Trindade Divina
A trindade está ativa na solução do problema do homem e do pecado. O texto de 1.3 deixa
claro que este é um projeto em comum que demanda a participação de Deus em sua
totalidade, Pai, Filho e Espírito Santo, sendo que a bênção espiritual deriva justamente da
atuação da terceira pessoa da trindade divina. Jesus Cristo é Deus e tem um papel central no
resgate da humanidade, mais do que isto, é o centro da teologia paulina. Em outras palavras
o evangelho de Paulo é profundamente Cristocêntrico, e poderíamos dar inúmeros exemplos
disto.

• O Cristo Cósmico – nele tudo irá convergir na plenitude dos tempos (1.10)
A esfera da discussão que Paulo faz relacionada com a necessidade do ser humano de ser salvo
é a das regiões celestiais (1.4), desfazendo as ciladas do príncipe da potestade do ar, do
espírito que atua nos filhos da desobediência (2.2), numa luta contra os principados e
potestades, os dominadores deste mundo tenebroso, as forças espirituais do mal, nas regiões
celestes (6.12). Trata-se, portanto, de uma guerra cósmica e universal que abrange muito mais
do que as questões terrenas e carnais.
Para fazer frente a esta luta cósmica é necessário um Cristo Cósmico que domina o universo
em todas as suas dimensões: o físico e o metafísico (no céu e na terra, e até no inferno – 4.9);
o tempo (desde uma eternidade até a outra – plenitude dos tempos); as áreas do ser humano
(físico, psicológico e espiritual); o espaço geográfico que conhecemos (longe e perto); na
história e fora da história da humanidade. Não há espaço, tempo ou outra dimensão onde
Cristo não tenha poder e autoridade. Todas as culturas e povos em todas as épocas – Cristo é
acultural, atemporal, eterno e universal, Jesus Cristo que é Deus em plenitude e perfeição. Se
o ser humano tem se alienado de Deus, Jesus Cristo é o oposto, alguém realmente integrado
à mais completa relação com o Pai.

• Aquele que veio (vindo 2.17) – Deus encarnado no meio da humanidade


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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Ao mesmo tempo Jesus Cristo é apresentado como aquele que está próximo ao ser humano.
Mais do que isso, aquele que se tornou homem – aquele que veio. Diz nosso texto base (2.17),
que vindo, evangelizou a paz. Jesus, homem, é a contrapartida de sua divindade e sua
universalidade.

A natureza humana de Jesus Cristo é mais importante do que muitas vezes entendemos. É
pelo fato que Jesus faz parte da humanidade e de sua história, que Ele se torna um possível
mediador entre Deus e o homem. Seu sacrifício, igualmente, é válido como expiação pelos
pecados do ser humano, substituindo a cada um de nós na cruz que merecíamos, como
“mortos em nossos pecados”.

Existe também todo um aspecto pedagógico na vinda de Jesus à terra. Seu exemplo de vida
tornou-se o padrão para todo aquele que deseja seguir a vontade de Deus e viver de forma
correta e santificada (Ef 4.20-24). Novamente, se o homem está separado e alienado em suas
relações com outros seres humanos, Jesus Cristo é o oposto – está profundamente ligado ao
ser humano, buscando um relacionamento contínuo e qualitativo, assumindo 100% sua
inclusão na humanidade.

• O Mediador entre Deus e o homem


Sendo divino e humano ao mesmo tempo, Jesus Cristo é o perfeito mediador entre Deus e o
homem (1 Tm 2.5). Em Efésios Paulo o descreve como o canal da bênção (1.3); o instrumento
da eleição (1.4); o critério de santidade (1.4); o alvo da predestinação do crente (1.5.); o
mediador da adoção (1.5); canal da graça (1.6) e o mediador da herança de Deus (1.11).

O que fica claro é que sem Cristo não há bênção nem esperança. Nele e com ele, a vida
abundante está garantida. É interessante notar quantas vezes Paulo usa a expressão em
Cristo, ou equivalentes. Seu Cristocentrismo chega ao extremo quando declara que “não vivo
eu, mas Cristo em mim” (Gl 2.20). A mediação entre Deus e o homem depende de uma entrega
total, de uma renúncia do ego, do egoísmo, do egocentrismo e da egolatria. Trata-se de
morrer para si próprio adquirindo, assim, a vida de Cristo.

• O Cristo Redentor (1.7)


De forma muito especial Paulo destaca nesta questão da mediação a redenção em Cristo
Jesus. Cristo como Redentor está naturalmente vinculado ao sofrimento, morte e ressurreição
de Jesus a favor de todos aqueles que creem. A discussão relacionada com a redenção é a
abrangência da obra redentora de Jesus. Não há dúvida de que Jesus morreu por todos os
homens, em todas as épocas, culturas e raças. No entanto a apropriação do efeito remidor é
a questão problemática. Há várias posições, a saber:

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Quadro de posições sobre o processo de salvação19

EXCLUSIVISMO OPORTUNIDADE DE INCLUSIVISMO OPORTUNIDADE DE UNIVERSALISMO


(Restritivismo) ACEITAR ANTES DA ACEITAR DEPOIS DA
MORTE MORTE
A Salvação é apenas para Todas as pessoas Aqueles que não Aqueles que não Todos serão salvos,
aqueles que ouviram terão a oportunidade ouviram o ouviram o evangelho por Cristo,
falar de Jesus e o de serem salvas evangelho podem durante sua vida independente se o
aceitaram pela fé, porque Deus revela o ser salvos se terrena, terão uma conheciam ou não, e
durante sua vida na terra. evangelho através de buscarem a Deus oportunidade após a se o aceitaram ou não.
anjos ou sonhos, ou por fé, de acordo morte. Ninguém será
logo antes da pessoa com a revelação que condenado
morrer. possuem. eternamente.
Base Bíblica Base Bíblica Base Bíblica Base Bíblica Base Bíblica
Jo 14.6 Dn 2 Jo 12.32 Jo 3.18 Rm 5.18
At 4.12 At 8 At 10.43 1Pe 3.18 a 4.6 1Co 15.22-28
1Jo 5.11-12 1Tm 4.10 1Jo 2.2
Defensores: Defensores: Defensores: Defensores: Defensores:
Augustino, Tomás de Aquino, Justino, o Mártir, Clemente de Orígenes, F.
João Calvino, Jacó Armínio, John H. John Wesley, Alexandria, Donald Schleiermacher G.C.
Jonathan Edwards e Carl Newman e Norman C.S. Lewis, Bloesch, George Berkower, William
Henry Geisler Pannenberg e John Lindbeck e Stephen Barclay e Jacques Ellul
Sanders. Davis.

➢ Exclusivismo: A Salvação é apenas para aqueles que ouviram falar de Jesus e o aceitaram
pela fé, durante sua vida na terra.
➢ Inclusivismo: Aqueles que não ouviram o evangelho podem ser salvos se buscarem a Deus
por fé, de acordo com a revelação que possuem.
➢ Universalismo: Todos serão salvos, por Cristo, independente se o conheciam ou não, e se
o aceitaram ou não. Ninguém será condenado eternamente.

O paradoxo está justamente nesta ambiguidade de universalismo inclusivista da obra


redentora na cruz, e a necessidade de uma aceitação pela fé desta obra de Cristo que se
caracteriza num exclusivismo. Deus é, naturalmente, soberano e nunca poderemos reclamar
de suas eventuais ações que poderiam contradizer este exclusivismo. Alguns creem que é
possível que Deus conte a busca pela verdade e pela salvação que povos e indivíduos possam
fazer diretamente ao Criador sem ter o conhecimento sobre a pessoa de Cristo.

19
Sanders, John, E Aqueles Que Nunca Ouviram?, p. 24

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Segundo Paulo nesta carta aos Efésios, no entanto, parece difícil conceber qualquer ação
divina sem a participação direta e intermediadora de Jesus Cristo e, portanto, se aceitarmos
uma posição que não seja puramente exclusivista, as exceções são certamente muito
limitadas. Se não for assim, as implicações missiológicas são incalculáveis e, principalmente,
as afirmações do apóstolo Paulo, o maior dos missionários, tornar-se-ão profundamente
problemáticas, assim como as ordens missionárias de Jesus.
A obra redentora de Cristo é, portanto, para todos os seres humanos. O pressuposto, como já
afirmamos, é que esta garantia de salvação exige uma tomada de posição de cada indivíduo,
pela fé em Jesus Cristo.

• A esperança de futuro através da fé em Cristo (1.12-13) e a construção baseada em Cristo


– a pedra angular (2.20)
Em Cristo inaugura-se uma nova era, uma nova comunidade, uma contracultura cristã, uma
nova edificação cuja pedra angular é o próprio Cristo. Este é justamente o mistério que é
desvendado – a nova realidade em Cristo Jesus. Uma nova raça é inaugurada através do
segundo Adão e temos a possibilidade de sermos feitos herança deste novo reino (1.9-14).

• Cristo, a garantia da glória de Deus Pai (1.12-14)


É importante também enfatizar que Jesus Cristo não atua somente em função do ser humano.
Sua função é também a de garantir a glória de Deus Pai. Nele Deus é glorificado. Inclusive a
visão é que os salvos em Cristo Jesus fazem parte do coro que louva a Deus e engrandece o
seu nome aqui na terra.

• Inclusão no Reino de Deus


Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e
membros da família de Deus. (2.19)

Há esperança em Cristo Jesus e na vinda do seu reino. Paulo diz que ele insiste em orar pelos
crentes para que conheçam a
• Riqueza da glória da herança dos santos (1.18)
• Suprema grandeza do poder de Deus (1.19)
• Suprema riqueza de sua graça (2.7)

É baseado nestas premissas que o crente tem esperança e uma perspectiva de futuro que vai
além desta vida terrena. A escatologia de Paulo inclui aspectos relacionados com a chegada
do Reino aqui na terra já com a primeira vinda de Cristo, seu ministério e obra redentora,
assim como com a vinda plena do Reino por ocasião da volta de Cristo.
• Aboliu a lei dos mandamentos na forma de ordenanças – a lei da morte. (2.15)
• Acesso a Deus. (2.18)
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TEOLOGIA DE
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• Deu vida em Cristo – salvação. (2.5)


• Criados em Cristo Jesus para boas obras – nova criação. (2.10)
• Concidadãos dos santos – uma nova família, um novo povo, um novo reino. (2.19)
• Habitação do Espírito Santo. (2.22)
• Inclusão no Reino

➢ Implicações da Escatologia para o Discípulo de Cristo


• Promover a Paz – em todos os sentidos. Orar pela Paz no mundo.
• Trabalhar pelo estabelecimento do Reino – agora e no futuro. Batalhar pela unidade da fé
e a edificação da Igreja
• Viver de acordo com os princípios do Reino – dar o exemplo que possa ser seguido
• Anunciar as boas novas de paz a todos – perto e longe. Lutar pela inclusão de todos.

Uma nova sociedade


John Stott diz:
Ninguém pode chegar ao fim de uma cuidadosa leitura da carta de Paulo aos Efésios
com um evangelho privatizado, porque Efésios é o evangelho da igreja. Expõe o
propósito eterno de Deus em criar, através de Jesus Cristo, uma nova sociedade que
se destaca num brilhante relevo contra o pano de fundo sombrio do velho mundo.
A nova sociedade de Deus é, pois, caracterizada pela vida em lugar da morte, pela
união e pela reconciliação em lugar da divisão e da alienação, pelos padrões sadios
da justiça em lugar da corrupção e da iniquidade, pelo amor e pela paz em lugar do
ódio e da contenda, e pelo conflito sem trégua com o mal em lugar de uma
convivência pacífica com ele.20

Reflexão:
1. A descrição que o apóstolo Paulo faz da situação sombria da humanidade é por demais
negativa? Como o humanismo responde a esta apresentação paulina? Se a descrição é
verdadeira o que isto significa para nós?
2. De que forma a “Troica malvada” (mundo, carne e diabo) atua em nossos dias? O que
podemos fazer para minimizar seus efeitos?
3. Se Cristo é tão central na teologia de Paulo, como isto se reflete na pregação e no ensino
bíblico em sua igreja local?
4. Quais são as consequências para o nosso trabalho missionário que Jesus Cristo é singular
e o único caminho de salvação?
5. Qual é o papel que a igreja local exerce numa sociedade marcada pelas previsões negativas
de futuro? Como apresentar o evangelho de esperança sem ignorar os problemas reais
que a humanidade enfrenta?

20
Stott, John. A Mensagem de Efésios – A Nova Sociedade de Deus, p.ix
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

6. Como viver inspirados e encorajados pelo futuro promissor do Reino e ao mesmo tempo
atuando a favor dos princípios deste Reino aqui e agora? Quais são as boas obras para as
quais fomos criados?
7. O que significa para você que a fé em Cristo é a construção de uma nova sociedade De
que forma você evidencia isto no seu dia a dia?

Figura 6 - Ágora – a praça do mercado em Éfeso

. Fonte: Foto de Bertil Ekström

FILIPENSES

“Se você deseja ir rápido, vá sozinho; se deseja ir longe, vá acompanhado”. (Provérbio


africano)

A epístola de Paulo aos Filipenses pode ser resumida na expressão “juntos em missão”. Mais
do que em qualquer outra carta, o apóstolo enfatiza a importância e a satisfação da
cooperação de uma igreja com o seu ministério missionário.

A cidade de Filipos era, sem dúvida, estratégica dentro do Império Romano, na rota entre a
Ásia e a Europa. O nome antigo da cidade era Krenides (as fontes). Em 358 A.C. foi invadida e
refundada pelo pai de Alexandre o Grande, Felipe II da Macedônia. A Via Egnatia levava ao
seu porto Neópolis. Era uma região famosa por seu ouro e de terras muito produtivas. Filipos,
assim como toda a Macedônia, foi subjugada por Roma em 168 A.C. No ano 42 A.C. foi palco
da batalha entre Antonius e Octavianus de um lado e Brutus e Cassius do outro. Após esta
batalha tornou-se colônia romana pertencente a província de Anfípolis e recebeu o nome de
Colônia Julia – que dava dignidade e privilégios à cidade, como aplicação da lei romana com

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

isenção de impostos, em alguns casos, e o famoso ius italicum – a posição legal de estar em
território italiano.

Paulo chega a primeira vez a Filipos vindo de Troas via o porto de Neápolis, durante sua
segunda viagem missionária, respondendo ao “chamado macedônico” (At 16.6-12). Havia na
cidade, na época, uma pequena colônia judaica, mas sem sinagoga. Os judeus e os tementes
a Deus se reuniam fora da cidade num lugar de oração a beira do rio Angites. Foi ali que Paulo
pregou o evangelho na Europa pela primeira vez, possivelmente no ano de 52 D.C.; a igreja
que surgiu permaneceu por muitos anos. O bispo Ignácio de Antioquia visitou a igreja por volta
do ano 100 D.C; por volta do ano 1000 D.C. a cidade tinha seu próprio bispado; e no ano
1411D.C havia ali um arcebispo. Hoje a cidade está em ruínas.

O clima religioso de Filipos era de sincretismo, numa mistura de devoção a deuses do panteão
grego e do panteão romano com o culto ao próprio imperador romano.

A Igreja em Filipos surge da conversão de Lídia, uma estrangeira de Tiatira, da província de


Lídia (de onde certamente vem seu nome), que ficava na Ásia Menor. Ela era vendedora de
tecidos tingidos com púrpura que eram importados de Tiatira, cidade famosa por seu
artesanato e produção têxtil. Era certamente uma temente a Deus que costumava estar com
os judeus orando perto do rio.

A segunda pessoa que foi alvo do evangelho libertador foi a jovem adivinhadora. Não temos
detalhes sobre o seu paradeiro depois da libertação, mas podemos presumir que ela também
se juntou a novel igreja; e o carcereiro e sua família. Um começo difícil, com perseguição, mas
também com sinais e milagres acompanhando a pregação das boas novas de salvação. Trata-
se do primeiro confronto entre cristãos e autoridades não-judaicas, sendo que os apóstolos
são acusados de perturbar a ordem e tentar introduzir costumes que não poderiam ser
praticados pelos filipenses porque são romanos! (At 16.20,21). Parece que aqui já há um
interessante paralelo com missões de hoje, no confronto do Evangelho com situações em que,
quer por mal-entendidos ou artimanhas planejadas, a radicalidade do Evangelho é refutada.

Figura 7 - Paulo e Silas na prisão em Filipos

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Fonte: http://manadiariodopregador.blogspot.com/2011/04/paulo-e-silas-na-prisao.html

É interessante o fim do relato deste início em Filipos em At 16.35-40. Paulo e Silas sabiam dos
seus direitos, como cidadãos romanos, e exigiram que os próprios pretores – os juízes – os
soltassem. O texto termina dizendo que eles foram para a casa de Lídia e, vendo os irmãos, os
confortaram e depois partiram para Tessalônica.

Paulo visitou Filipos também em sua terceira viagem missionária, a segunda pela Europa (At
20.6) tanto na ida como na volta da Grécia, mas sem detalhes fornecidos por Lucas em seu
relato. O que vemos na carta aos Filipenses, no entanto, é que uma relação muito especial se
desenvolveu entre o apóstolo e a igreja em Filipos.

Paulo entende a importância da Igreja na expansão do Reino e valoriza a participação das


igrejas em seu trabalho missionário. Um bom relacionamento com as igrejas é uma de suas
prioridades não só obtendo recursos, mas também zelando pelo crescimento qualitativo e
quantitativo das comunidades cristãs. Afinal, foi para ganhar pessoas para Cristo e vê-las
adorando a Deus em comunidade que Paulo trabalhou plantando igrejas.

Temas teológicos e missiológicos


• O amor de Paulo pela igreja – sua declaração de amor. (1.3-11)
A epístola de Paulo aos Filipenses é uma verdadeira declaração de amor à igreja. Há um tom
pessoal e de intimidade na carta que não vemos nas demais cartas enviadas a igrejas. Notamos
a alegria de Paulo ao escrever e a satisfação pelo carinho e pelo cuidado que a igreja lhe tem
dispensado. Este sentimento de Paulo certamente influencia a forma como a igreja vê o
missionário, inspira confiança e motiva a igreja a orar e a contribuir.

• A preocupação com o bem-estar da Igreja. (1.3-11; 23-26, 27-30; 2.12-16; 4.2-9)

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A preocupação de Paulo ao escrever para a igreja não é apenas a sua própria sobrevivência no
campo missionário, aliás, isto, é o de menos. Na verdade, a maior parte da carta versa sobre
o bem-estar da igreja em Filipos. Ao escrever para Roma, vemos a mesma preocupação:
“Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que
sejais confirmados, isto é, para que, em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos
por intermédio da fé mútua, vossa e minha” (Rm 1.11-12)

• O envio de Epafrodito – missionário de curto prazo. (2.25,30)


O envio de Epafrodito por parte da igreja de Filipos tinha o caráter e o objetivo de apoiar o
missionário Paulo. Um jovem que representa sua igreja e faz o papel da igreja como um todo
ajudando o missionário e cuidando dele. Infelizmente seu tempo com Paulo é curto e precisa
ser descontinuado devido a enfermidade.

Pensando no relacionamento de Paulo com a igreja em Filipos, podemos destacar dois


aspectos ligados a Epafrodito. Primeiramente que Epafrodito é a igreja em Filipos que está
junto com Paulo. A igreja toda não pode vir, e enviaram o jovem. Epafrodito é o “mensageiro”
da igreja e o “auxiliar” da igreja junto ao missionário. Mensageiro é a palavra apóstolos e
auxiliar é leitourgon – que significa alguém em serviço ou culto que beneficia o povo.21 Paulo
diz que “ele supriu a vossa carência de socorro para comigo”.

O segundo aspecto é o de envolver jovens no trabalho missionário. Não sabemos a idade de


Epafrodito nem o que aconteceu depois dele voltar a Filipos. Mas certamente a experiência
com Paulo o marcou e o fez um defensor da causa missionária em sua igreja. Quem sabe
assumiu como pastor de missões ou presidente do conselho missionário. As missões de curto
prazo têm sido de enorme bênção para as missões de longo prazo.

• A Igreja cumprindo sua vocação – participantes na missão. (1.5,7,27; 4.10-16).


Paulo vê o tempo todo a igreja como parceira na obra missionária e usa expressões que
denotam cooperação, parceria e sociedade.
o 1.5 Cooperação no Evangelho – koinonia
o 1.7 Participantes da graça comigo – syn-koinonia
o 1.27 Lutando juntos pela fé evangélica – syn-athlountes
Sejais unidos de alma – syn-psichos
o 2.18 Alegrai-vos e congratulai-vos comigo – chairete e syn-chairete
o 2.25 Cooperador – syn-ergon
o 2.25 Companheiro de lutas – sy(n)-stratioten
Companheiro de jugo – sy(n)-zyge – nome próprio ou descrição
Cooperadores meus – syn-ergon
Associando-vos na minha tribulação – syn-koinonesanthes

21
Shedd, Russell. Alegrai-vos no Senhor - uma Exposição de Filipenses, p.78
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Nenhuma igreja se associou comigo – e-koinonesen

Trata-se, em resumo, de uma cooperação e uma participação em todas as áreas: na graça e


na salvação em Cristo Jesus, na divulgação e na defesa do evangelho, nas tribulações e
perseguições, na oração e na luta espiritual, na união de pensamento e de propósitos, no
trabalho diário a favor do Reino e no sustento financeiro da obra e do missionário. O apóstolo
Paulo envolve a igreja em todo o projeto de missões!
▪ Lucros e dividendos. (4.17-19)
A parceria financeira também é importante. Paulo já afirmou que somente a igreja em Filipos
o apoiou numa determinada fase de seu ministério. Parece que o tempo na Macedônia e Acaia
o afastou um pouco das igrejas da Palestina e da Ásia Menor. Não sabemos exatamente o
quanto ele recebia de lá antes de ir para a Europa, mas certamente havia um apoio de algumas
das igrejas.

Quem sabe a nova estratégia e a mudança de continente tenha afetado este apoio. Não
sabemos, mas podemos imaginar que, principalmente, os de linha mais judaica ainda tinham
dificuldades em acompanhar missões para os gentios e ainda mais entrando em cheio no
centro da influência romana. A boa notícia, no entanto, é que a igreja em Filipos apoiou seu
missionário e o fez de forma convincente.

Há alguns princípios colocados pelo apóstolo Paulo:


o O missionário sabe viver tanto na fartura como na escassez. (4.12). Isto, porque ele
pode tudo naquele que o fortalece (4.13); não por condições próprias, porque
como humanos é muito difícil contentar-se na escassez
o A Igreja participa do sustento de seu missionário independente de sua condição
econômica – as igrejas na Macedônia (Filipos e Tessalônica) deram até daquilo que
não tinham. (2Co 8.1-5). Essa era a característica e a atitude destas noveis igrejas
na Macedônia.
o A igreja que investir na obra de Deus pode contar com o suprimento de Deus para
todas a suas necessidades. (4.19)
o Participar financeiramente da obra missionária significa fazer um investimento
rentável – veja os termos econômicos e as expressões contábeis de Paulo:
▪ dar e receber
▪ donativo
▪ aumente o vosso crédito
▪ pobreza e riqueza
▪ abundância e escassez
▪ Necessidades e estar suprido

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A argumentação de Paulo é interessante. A principal razão para que os filipenses participem


dando para a obra missionária não é o sustento em si do missionário ou do trabalho, mas o
investimento que fazem numa conta que dá bons juros e que aumenta o crédito! E, sem
dúvida há princípios espirituais envolvidos também nas finanças missionárias.

• Valorização de sua equipe. (2.19-30)


Dois membros da equipe de Paulo se destacam na epístola aos Filipenses: Timóteo e
Epafrodito. Timóteo é coautor da carta e já acompanhava Paulo por algum tempo. Timóteo
tinha sido recrutado para a equipe quando Paulo e Silas passaram por Listra no início da
segunda viagem missionária (At 16.3). A equipe era, agora, formada por Paulo, Silas, Lucas e
Timóteo. Timóteo havia acompanhado todo o transcorrer das coisas em Filipos e mesmo não
sendo preso (de acordo com o relato de At 16), certamente a experiência em Filipos havia
marcado o jovem missionário.
O que chama a atenção em Filipenses é a forma de falar acerca de Timóteo. Trata-se, segundo
Paulo, de alguém com um sentimento superior em relação a outros, que cuide dos vossos
interesses – “member care” – cuidado pastoral – cuidando do bem-estar dos irmãos. É
também um homem que não prioriza suas próprias coisas, não busca o que é seu, mas o que
é de Cristo Jesus. Ele tem caráter aprovado e é um imitador de Paulo.

O segundo é Epafrodito. Este é descrito como irmão, cooperador e companheiro de lutas,


mensageiro auxiliar dos filipenses junto à Paulo. Irmão, porque eles têm uma fé em comum e
fazem parte da mesma família, do mesmo corpo de Cristo. Cooperador – synergon, alguém
que gera sinergia, o efeito do trabalho conjunto é mais do que a simples soma dos esforços e
tem um efeito multiplicador. Companheiro de lutas – sustratioten, um soldado que fica
grudado em seu companheiro e se necessário dá sua vida por ele – o que Paulo inclusive diz
que Epafrodito estava disposto a fazer (2.30).

Poderíamos também refletir sobre Epafrodito como o missionário que teve que abandonar o
campo antes do tempo previsto. Certamente preocupado com a repercussão disto na igreja
em Filipos e pelo futuro de Epafrodito como obreiro, Paulo faz questão de afirmar estas
características positivas de seu caráter.

• Jesus Cristo, o modelo. (2.5-11)


O modelo ideal e exemplo perfeito de caráter não é Paulo, mas Cristo. Faz realmente sentido
inserir esta exaltação de Cristo neste contexto missionário, de exortação para que a igreja siga
o exemplo de Cristo, mas também, colocando Timóteo e Epafrodito como modelos de
obreiros que podem tranquilamente ser imitados.

Para um bom relacionamento na igreja e em missão há certos princípios. Se compararmos as


exortações de 2.1-5 aos filipenses com a descrição do caráter de Timóteo e de Epafrodito,

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MISSÕES

veremos que há claros paralelos. A teoria e os princípios encontram exemplos práticos nas
vidas de Timóteo e de Epafrodito.

Os princípios são:
o Pensar a mesma coisa – phronete. (Rm 12.16)
o Ter o mesmo amor – agape – várias palavras fazem também parte do contexto de
1Co 13
o Ser unidos de alma – syn-psychos – harmonia de mente, estarem preocupados com
a unidade.
o Ter o mesmo sentimento – phronuntes – mesmo que em 2.5 – ter uma mentalidade
transformada de acordo com Cristo
o Nada fazer por partidarismo ou vanglória, mas por humildade. (2.8 – sobre Cristo
humilhar-se voluntariamente e 4.12 sobre Paulo – estar humilhado).
o Considerar os outros superiores a si mesmo.
o Não ter em vista o que é seu, mas o que é dos outros

Reflexão
1. O papel da igreja na missão de Deus.
2. A cooperação entre a igreja e o missionário
3. Jesus Cristo como o modelo a ser imitado.

COLOSSENSES E FILEMON
Colossos era uma pequena cidade na região da Frígia, vizinha de Laodiceia e Hierápolis, no
vale do rio Lico. Entre os membros da igreja que surgiu ali estava Filemon e sua família.
Onésimo, escravo de Filemon, tinha fugido, mas Paulo o ganhou para Cristo e o encaminhou
de volta ao seu mestre.
A igreja foi fundada por um dos discípulos de Paulo, Epafras. A estratégia de Paulo era
estabelecer-se, por um tempo, numa cidade central e enviar obreiros, por ele preparados,
para plantar igrejas nas cidades vizinhas.

Figura 8 - Colossos

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Fonte: https://www.salusincaritate.com/2020/06/comentarios-sobre-carta-aos-colossenses.html

Temas teológicos e missiológicos


• A oração pela igreja visando o crescimento espiritual e o fruto prático. (1.9-12)
• Cristologia – a excelência da pessoa e da obra de Cristo. (1.13-20)
• O ministério do evangelho. (1.24-29)
• A divindade de Cristo e sua supremacia. (2.8-15
• O viver do cristão digno de Cristo. (3.1-17)
• Os deveres da família. (3.18-25)
• Na carta a Filemon vemos o cuidado pessoal do apóstolo tanto com Filemon como com
Onésimo.
• O resgate completo do ser humano.

Reflexão
1. A importância de uma Cristologia de acordo com as Escrituras.
2. A coerência entre a profissão de fé e a vida diária com Cristo.
3. O relacionamento entre patrão e empregado; na família e entre os membros do Corpo de
Cristo.

TESSALONICENSES
A cidade de Tessalônica era a capital da Macedônia e ficava na chamada via Egnátia que ligava
Roma ao Oriente. Recebia, portanto, influência tanto do restante do Império Romano como
de outras nações. Tessalônica possuía, também, seu próprio sistema de governo e abrigava
uma importante colônia de Judeus.

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TEOLOGIA DE
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Hoje a cidade de Tessalônica (ou Salônica) continua sendo uma bonita e importante cidade
portuária na atual Grécia, sendo a segunda maior do país.

Figura 9 - Tessalônica

Fonte: https://terrasantaviagens.com.br/tessalonica/

A Igreja em Tessalônica
• Paulo iniciou o trabalho quando passou por lá com Timóteo e Silas em sua segunda viagem
missionária (At.17.1-9).
• Como sempre, ele iniciou seu trabalho pregando na sinagoga da cidade.
• A Igreja era, certamente, composta por judeus e gentios.
• Mas a maioria era, provavelmente, de gentios que tinham sido idólatras (1.9).
• A igreja tinha demonstrado (1.3):
o O trabalho que resulta da fé
o O esforço motivado pelo amor
o A perseverança proveniente da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo

PRIMEIRA EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES


Propósito da carta
• Paulo quer expressar sua satisfação com o desenvolvimento e o progresso da congregação
(1.2-11).
• Defender-se de certos ataques (cap. 2).
• Encorajar os cristãos a perseverarem mesmo com perseguição (2.14ss).
• Mostrar a superioridade da moral cristã em relação à pagã (4.4ss).
• Explicar mal-entendidos sobre a parousia - a volta de Cristo (4.13.ss).
• Exortar à obediência aos líderes (5.12ss).

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Temas teológicos e missiológicos


• A propagação do Evangelho através da novel igreja. (1.7,8)
• A trilogia: fé, esperança e amor. (1.3)
• A Trindade Divina claramente expressa. (1.3-5)
• O viver que agrada a Deus. (4.1-12)
• A volta de Cristo. (4.13-5.11)

SEGUNDA EPÍSTOLA AOS TESSALONICENSES


Propósito da carta
• Continuar a encorajar os cristãos perseguidos (1.4-10).
• Exortar à fidelidade e a trabalhar para seu sustento (2.13-3.15).
• Corrigir falsas ideias sobre a volta de Cristo (2.1-12).

Temas teológicos e missiológicos


• A estratégia do inimigo. (2.1-12)
• Exortação à perseverança. (2.13-17)
• O perigo da ociosidade. (3.6-15)

Reflexão
1. O que caracteriza uma igreja missional, de acordo com as Escrituras?
2. E os convertidos seguiram o exemplo de Paulo. A importância de modelos a serem
seguidos!
3. Esperar a volta de Cristo, mas seguir trabalhando.

CARTAS PASTORAIS

As cartas pastorais são as últimas escritas por Paulo. A primeira carta a Timóteo e a carta a
Tito, provavelmente, no período entre as duas prisões em Roma e a segunda carta a Timóteo
já na segunda prisão, logo antes de ser martirizado, por volta do ano 67-68; fazem parte de
um processo de transição de liderança da primeira geração de líderes da Igreja Primitiva para
uma segunda geração. A preocupação de Paulo é a formação de igrejas saudáveis, tanto
espiritualmente como no relacionamento de seus membros, e a fidelidade dos pastores à sã
doutrina dos apóstolos. Assim como nas cartas dirigidas diretamente às igrejas, Paulo vê a
importância da igreja local e do seu bom funcionamento na sociedade.

As cartas pastorais não são diretamente “missionárias” num sentido de apelo à evangelização
ou a missões, mas falam, sem dúvida, sobre a participação da igreja na missão de Deus,

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

contribuindo para uma sociedade mais justa e uma igreja atuante e resistente no meio das
pressões de seu tempo.

TIMÓTEO
Em 2Tm 3.10 Paulo diz: “Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento,
propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança, as minhas perseguições e os meus
sofrimentos, os quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra”. Nota-se que Timóteo
logo se tornou um homem de confiança de Paulo e foi enviado a Corinto (1Co 4.17, 16.10)
para reforçar o ensino junto a igreja e resolver os problemas que haviam surgido. Mais tarde
Timóteo encontra-se em Éfeso para onde são dirigidas as cartas pastorais, mas Paulo o quer
consigo no final de sua vida em Roma (2Tm 4.21).

A pessoa de Timóteo:
• Nascido em Listra, filho de pai grego e mãe judia – bi-cultural
• Crente de bom testemunho e discípulo de Jesus. (At 16.1-2)
• Timóteo significa “aquele que honra a Deus”!
• Participou na equipe de Paulo na segunda viagem missionária. (At 16.3)
• Esteve com Paulo na prisão em Roma. (Fp 1.1)
• Enviado por Paulo à Éfeso para pastorear a igreja
• Mencionado e recomendado por Paulo em várias de suas cartas às igrejas. (Fp 2.19; Rm
16.21; 1Co 4.17) e cooperou com Paulo em várias das cartas. (1 e 2Ts, 2Co, Fp, Cl e Fm)
• Encarregado por Paulo em missões para Tessalônica. (1Ts 3.2) e para Corinto (1Co 4.17)
• Pessoa de alta confiança de Paulo e visto como seu sucessor

TITO
• Sabemos menos acerca de Tito, gentio de nascimento
• Possivelmente se converteu através da pregação de Paulo
• Acompanhou Paulo e Barnabé a Jerusalém, não sendo circuncidado. (Gl 2.1-5)
• Levou cartas de Paulo a Corinto e tratou da situação problemática lá. (2Co 7.6-16)
• Foi deixado em Creta por Paulo para pastorear a igreja. (Tt 1.5)

Temas teológicos e Missiológicos


• Mestres falsos e mestres autênticos. (1Tm 1, 2, 4 e 6; 2Tm 2.14-3.9; Tt 1)
• A ordem e o governo da igreja. (1Tm 5; Tt 2)
• O caráter e as qualificações de um líder. (1Tm 3; 4.6-16; 2Tm 1.6-2.13; Tt 3)
• Comentário de John Stott de 2 Timóteo – 4 exortações:22
o Capítulo 1 – Guarda o Evangelho!
o Capítulo 2 – Sofre pelo Evangelho!

22
Stott, John. A Mensagem de 2.a Timóteo: Tu, Porém.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

o Capítulo 3: Persevera no Evangelho!


o Capítulo 4: Proclama o Evangelho!

Aplicação Missiológica
• A necessidade de manter a fé e de ensino de acordo com a ortodoxia apostólica
• Jesus, o único mediador entre Deus e o homem. (1Tm 2.5)
• A importância de uma liderança qualificada e com credibilidade
• O cuidado com os diferentes grupos na igreja. (1Tm 5)
• O discipulado dos crentes. (2Tm 2.2)
• Fidelidade ao chamado. (2Tm 4.1-5)
• A universalidade da salvação oferecida por Deus. (Tt 2.11-14)
• A coerência entre a fé a as obras. (Tt 3.1,14)
• A importância de igrejas locais que influenciam a sociedade onde estão

Reflexão:
1. O legado de Paulo ao seu discípulo. (2Tm 1.6-14; 2.1-13; 3.10-17; 4.6-8)
2. Tu, porém! A exortação para ser diferente. (2Tm 3.10,14)
3. A humanidade dos servos de Deus. A fragilidade de Timóteo sendo jovem (1Tm 4.12; 2Tm
2.22; propenso a doenças (1Tm 5.23); caráter tímido. (1Co 16.10,11; 2Tm 1.7-8; 2.1,3;
3.12; 4.5).
4. As necessidades de Paulo. (2Tm 4.9-18)

2.5 Teologia de Missões nas Epístolas Gerais

HEBREUS
A Epístola aos Hebreus foi escrita, primordialmente, para a comunidade judaica,
possivelmente em Roma. (13.24). Dirige-se aos cristãos perseguidos pelos imperadores
romanos. A carta apresenta a pessoa de Jesus como o Messias, o autor e consumador da fé.
Existe uma constante comparação com o Antigo Testamento e a história de salvação através
do povo de Israel. (1.1-1; 3.1-19; 4.1-13; 4.14-10.31)

Propósito da carta
• Encorajamento no meio da perseguição (10.32-39).
• Advertir contra a apostasia, principalmente a volta ao judaísmo (2.1; 5.11-14)
• Motivar o avanço na fé e na proclamação do evangelho. (6.1-3)

Temas teológicos e missiológicos

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TEOLOGIA DE
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• Dualismo - o que está acima e o que está abaixo - o verdadeiro mundo celestial e o mundo
terreno transitório. Também o dualismo escatológico - o século presente versus o século
que virá. (caps. 8 e 9; 2.5; 10.37)
• Cristologia. A preexistência de Cristo (1.2,3); sua humanidade (4.14,15).
• O Sumo Sacerdote. Jesus Cristo é maior e melhor
• A Nova Aliança em Cristo é superior à Antiga Aliança
• A vida cristã, pela fé, perseverança, esperança, e paciência. (6.12)
• Os heróis da fé. Exemplos do Antigo Testamento. (cap. 11)
• A chave doutrinária é Cristológica. 13 vezes aparece a expressão "melhor" no contraste
entre a velha e a nova aliança.
o 7:19 - esperança melhor
o 7:22 - pacto melhor (aliança)
o 8:6 - ministério melhor
o 8:6 - promessa melhor
o 9:11 - tabernáculo melhor
o 9:23 - sacrifício melhor
o 10:34 - possessão melhor (bens)
o 11:16 - pátria melhor
o 11:35 - ressureição melhor
o 12:24 - sangue melhor
• O Evangelho apresentado de forma contextualizada usando retórica da época,
imagens do dia a dia e fazendo referência e comparação com aquilo que os leitores
conhecem.

Reflexão:
1. Qual a importância do exemplo dos “heróis da fé” para uma igreja perseguida ou
pressionada por uma sociedade hostil ao evangelho
2. De que forma a superioridade de Cristo pode ser apresentada em outros contextos
religiosos

TIAGO
Escrito por um “meio-irmão” de Jesus, a carta de Tiago reflete em grande parte os temas éticos
e morais do Reino de Deus expressos por Jesus no Sermão da Montanha. Tiago dirige sua carta
às comunidades cristãs em dispersão que, via de regra, estavam sofrendo perseguição por
causa da fé em Cristo. (1.1,2; 2.1,2). Trata-se de um dos primeiros livros do Novo Testamento.
Tiago foi martirizado no ano 62. (At 12.19)

Propósito da carta
• Encorajar os cristãos nas provações e nas perseguições.
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• Corrigir erros entre os cristãos judeus. Parcialidade (2.1-13); Fé sem obras (2.14-26);
Maledicências (cap. 3); Mundanismo (cap. 4).
• Incentivar os cristãos a viverem de acordo com sua confissão de fé como testemunho ao
mundo.

Temas teológicos e missiológicos


• A restauração da integridade pessoal e da maturidade humana. (1.4)
• A missão é comunitária demonstrada no acolhimento ao pobre. (2.5,6)
• Há muitas referências à natureza. (1.6,10,11,17,21; 3.3,4,5,7,11; 5.7)
• Alto padrão ético - "Tiago, o Justo", com seguidas referências ao Sermão do Monte.
• A doutrina de Deus
o Imutabilidade (1.17)
o Criador (1.18)
o Pai (1.27; 3.9)
o Soberano (5.15)
o Justo (1.20)
o Jamais tentado pelo mal (1.13)
o A quem o homem precisa se submeter em humildade (4.7,10)
o Legislador, Juiz, Salvador e Destruidor (4.11,12)
o Não tolera rivais (4.5)
o Doador de Sabedoria (1.5)
o Doador de Graça (4.6)
o Promete a coroa da vida aos que o amam (1.12)
• A missão holística e integral que se caracteriza pela coerência entre fé e obras.

Reflexão
1. Qual é o maior desafio pessoal e comunitário em ser coerente na vida diária e nossa
confissão de fé Como podemos viver de forma integral em nossos dias
2. Que aspectos do Sermão do Monte ecoam na Epístola de Tiago Dê alguns exemplos
3. O alto padrão ético e moral defendido por Tiago caracteriza os valores e princípios do
Reino de Deus. De que forma a Igreja pode viver e defender este padrão

1 e 2 PEDRO
As cartas do apóstolo Pedro foram escritas para as igrejas dispersas na Ásia Menor (1Pe 1.1)
que estavam sofrendo forte perseguição. O tema do sofrimento pelo evangelho é presente
em ambas as cartas e Pedro incentiva os cristãos a darem seu testemunho, vivido e falado,
mesmo sob o risco de serem perseguidos e mortos. As cartas são dirigidas tanto a judeus como
a gentios e tem um caráter exortativo com muitos imperativos.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

O Apóstolo Pedro é conhecido tanto dos Evangelhos como do livro de Atos dos Apóstolos e
sua caminhada, desde o chamado de Jesus, para ser um discípulo seu até sua liderança na
Igreja Primitiva é bem documentada. As cartas mostram vários aspectos de aprofundamento
teológico e compreensão da abrangência da missão da Igreja alcançando a todos.

Temas teológicos e missiológicos


• O sofrimento e a perseguição por causa do Evangelho (1Pe 1.6,7; 3.13-5.11)
• A resistência às doutrinas falsas para manter-se fiel ao Evangelho (2Pe 2.1-22)
• A esperança da Segunda Vinda de Cristo (2Pe 3.1-13)
• O crescimento na graça e no conhecimento de Cristo (2Pe 3.18)
• A natureza missionária da Igreja (1Pe 2.4-11)

A Natureza Missionária da Igreja


• Os fundamentos da Igreja de Cristo
➢ A pessoa de Jesus Cristo – o fundamento, a pedra angular (Mt 16.15-20)
o Pedro – “a pedra no sapato” na história da igreja, não confirmando que é sobre ele
que a igreja seria edificada
o A confissão e a confusão
o A interpretação do apóstolo Pedro
➢ Uma edificação espiritual - casa espiritual (1Pe 2.4-8)
o Construindo com pedras vivas – da mesma natureza de Cristo
o A edificação dinâmica
o As finalidades da construção
• A identidade da Igreja (1Pe 2.9)
➢ Uma raça eleita
o gerados por Deus, a origem em Deus – o novo nascimento
o eleição para uma tarefa
➢ Sacerdócio Real
o função sacerdotal – dupla representação
o a posição no Reino de Deus
➢ Nação Santa
o unidade – judeus + gentios
o santidade – separados para o serviço
o ethnos – ‘gentios santos’ !
➢ De propriedade exclusiva de Deus – povo – laos (ref. Israel)
o novo Israel, de e para Deus
o dedicação total – fidelidade ao Senhor

• A finalidade do povo de Deus (1Pe 2.9,10)


➢ A tarefa de proclamar
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

o as virtudes daquele que vos chamou


o das trevas para a sua maravilhosa luz
o agora como povo que alcançou misericórdia

Reflexão
1. A importância de uma teologia de sofrimento. O que você entende pela frase de Pedro de
“alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo” (1Pe 4.13)
2. De que forma a Igreja hoje pode ser coerente com sua natureza missionária descrita em 1
Pedro

1, 2 e 3 JOÃO
As cartas de João têm o objetivo principal de encorajar as igrejas no meio das dificuldades e
perseguições que os cristãos estão sofrendo. As crises teológicas e doutrinárias também
afetam as igrejas e o apóstolo João que ajudar a firmar os crentes em sua fé em Cristo e no
ensino apostólico. O aspecto pastoral também está bem presente, incentivando o amor entre
os membros e para com a comunidade de forma geral.

Expressões que conhecemos do Evangelho de João aparecem também nas cartas, como por
exemplo as antíteses em 1Jo:
• Luz e trevas (1.5)
• Verdade e Falsidade (1.6)
• Amor e Ódio (2.9-11)
• Vida e Morte (5.13)

Temas teológicos e missiológicos


• A encarnação de Jesus Cristo (1Jo 1.1,2)
• A comunhão com Cristo e com Deus Pai (1.3,4)
• O contraste entre a luz de Deus e as trevas do pecado
• O amor fraternal e a família cristã – “filhinhos”
• O perigo das heresias teológicas e doutrinárias
• A santidade dos filhos de Deus (1Jo 3)
• A fé que vence o mundo (1Jo 5.1-5)
• A rejeição dos falsos mestres (2Jo 7-11)
• A hospitalidade como virtude cristã (3Jo)

Reflexão
O apóstolo João ficou conhecido como o “apóstolo do Amor” por sua contínua ênfase no amor
de Deus e no amor entre as pessoas. Ao mesmo tempo ele é firme em relação às falsas

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

doutrinas e na rejeição aos falsos profetas e mestres. Como exercer tolerância e amor e ao
mesmo ser claro naquilo que é verdade bíblica

JUDAS
O principal significado missiológico de Judas está na forma como ele utiliza estórias populares
e a cultura local como analogias para comunicar-se com seus leitores. Sua ênfase na verdade
e a necessária defesa da fé em Cristo são ensinamentos que devem fazer parte de nossa
teologia de missões.

2.6 Teologia de Missões em Apocalipse


O livro de Apocalipse encerra o cânone bíblico descrevendo a realidade do fim do primeiro
século e descortinando eventos e realidades que farão parte do “fim dos tempos” e da
eternidade. Escrito pelo apóstolo João, provavelmente na década dos anos 90 D.C, relata as
visões que teve na Ilha de Patmos e as mensagens proféticas que recebeu de Deus. Apocalipse
significa “revelação”. O livro é escrito, primordialmente, para as sete igrejas da Ásia Menor.

Figura 10 – As Igrejas da Ásia

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/467037423838896715/?mt=login

Propósito do livro
• Exortar as igrejas assoladas por imoralidade e falsos mestres – 2.20
• Encorajar as igrejas diante da perseguição – 1.9 ; 2.2, 3
• Dar uma mensagem de esperança onde o mal é uma vez por todas vencido pelo bem.
Características do livro
• Dos 404 versículos do Apocalipse, somente 126 não contém citação ou alusão ao A.T.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• A linguagem nos lembra os escritos apocalípticos do A.T. e da literatura judaica.


• Literatura escatológica, ou seja, fala das coisas do fim
• Tem significação histórica, ou seja, está intimamente ligada à história do presente.
• Simbolismo: o uso principalmente de números que têm os seus significados.
• Dramatismo - característica marcante do estilo literário.

Métodos de Interpretação
Por ser o livro de mais difícil interpretação do N.T. e com uma forte linguagem simbólica,
têm-se surgido diversas formas de interpretação.

a) Método Preterista
Baseia-se na premissa que os livros apocalípticos são "panfletos para tempos difíceis".
Interpretado assim, o Apocalipse expressa a esperança dos cristãos primitivos da Ásia de que
brevemente seriam libertados dos seus sofrimentos sob o domínio romano. O livro cumpre
seu propósito fortalecendo e encorajando a Igreja.

b) Método Histórico
Vê o apocalipse como uma profecia simbólica da história da Igreja, desde Jesus até a sua volta.

c) Método Idealista
Vê um quadro simbólico da luta cósmica e espiritual entre o bem e o mal. Uma encenação
apenas de algo que acontece no mundo espiritual.

d) Método Futurista
Vê o Apocalipse como uma profecia de acontecimentos futuros colocada em símbolos. Há
duas correntes:

e) Dispensacionalista
Esta corrente interpreta as sete cartas como sete épocas da história da Igreja. Os capítulos 6
a 18 retratam o período da grande tribulação. O povo de Deus é Israel. A igreja não estará na
terra durante a tribulação (Há variações nesta teoria). Todos os símbolos são interpretados e
uma cronologia completa é feita dos acontecimentos.

f) Futurista Moderada:
Difere do dispensacionalismo em diversos pontos. Não vê necessidade de separar a Igreja e o
novo Israel. O povo de Deus que sofre a perseguição feroz é a Igreja. As cartas às igrejas se
referem a uma situação histórica. Concorda, no entanto, com o fato de o livro ser uma
descrição da consumação do propósito de Deus no fim dos tempos. Há em toda a literatura
apocalíptica na Bíblia uma tensão entre o presente e o futuro. Ex. Daniel.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

 A forma certamente mais lógica de se interpretar o Apocalipse é uma combinação


entre futurista moderado e preterista.

O estudo teológico e missiológico do Apocalipse


❖ Deve ser visto e lido como um todo – incluindo as cartas às igrejas
❖ Um encorajamento aos cristãos perseguidos pelo Império Romano e pelos judeus
❖ Um ambiente de forte devoção ao Imperador
❖ O seguimento à Cristo num tempo de ameaças tanto internas como externas
❖ Uma mensagem do estabelecimento completo do Reino – Esperança futura

As Sete Igrejas do Apocalipse

O fato que o livro do Apocalipse é primeiramente endereçado às sete igrejas da Ásia torna
importante o estudo das cartas mais específicas a cada igreja. Nessas cartas temos princípios
aplicáveis para as igrejas de todos os tempos e, naturalmente, para as igrejas atuais. Os
desafios que as sete igrejas enfrentavam se repetem ao longo da história da Igreja.

A estrutura das cartas:


❖ Uma descrição de Cristo, conforme o cap. 1, e adaptada à situação de cada igreja
❖ Um reconhecimento das coisas boas em cada igreja (menos em Laodiceia)
❖ Crítica e reprovação dos erros e desvios de cada igreja (menos em Esmirna e em Filadélfia)
❖ Promessa para o futuro para aquele que vencer

A Igreja de Éfeso (2.1-7)


• Cidade de Diana (Artêmis) – grande templo
• Uma das cidades mais ricas da antiguidade – cidade portuária com forte comércio e com
relativa liberdade dentro do Império Romano.
• Igreja fundada por Priscila e Áquila
• Paulo chegou lá em suas segunda e terceira viagens (Atos 18 e 19)
• A carta de Paulo aos Efésios

Figura 11 - A Rua de Curetes – principal de Éfeso antigo

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Fonte: Foto de Bertil Ekström


• Palavra-chave: Amor
Jesus diz: conheço:
o As obras, o labor e a perseverança
o Que não podes suportar homens maus e puseste à prova os falsos apóstolos
o O sofrimento pelo nome de Jesus, sem esmorecer
Mas:
o Deixaste o primeiro amor
o Lembra-te de onde caíste, arrepende-te e volte a prática anterior
o Ao vencedor – o alimento da árvore da vida no paraíso de Deus!

A Igreja de Esmirna (2.8-11)


• Cidade grande com mais de 250.000 habitantes
• Considerada a “Pérola da Ásia”
• Forte comunidade judaica
• O martírio do Bispo Policarpo em 155
• Vários templos pagãos
• Centro da adoração ao Imperador

Figura -12 - Os banhos públicos da era romana em Esmirna

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Fonte: Foto: Bertil Ekström

• Palavra-chave: Sofrimento
o Jesus diz: conheço o sofrimento e a pobreza
o Não temas, mas seja fiel até a morte
o Ao vencedor: não sofrerá dano da segunda morte

A Igreja de Pérgamo (2.12-17)


• Capital da Ásia Menor
• Templos a Zeus, Athena e Asclépio – o deus da medicina (simbolizado por uma serpente e
chamado de salvador)
• Centro acadêmico com escola de medicina, entre outros cursos.
• Culto ao Imperador Augusto
• Grande biblioteca com pergaminhos (livros feitos de couro de animais), que recebiam esse
nome for serem oriundos da cidade de Pérgamo.
• Palavra-chave: Verdade
o Jesus diz: conheço onde habitas – onde está o trono de Satanás
o Não negaste a fé – o martírio de Antipas
o Mas: aceitaste doutrinas falsas
o Arrepende-te!
o Ao vencedor: o maná escondido e um novo nome

Figura 13 - Templo de Asclépio – Centro acadêmico

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

. Fonte: Foto: Bertil Ekström

A Igreja de Tiatira (2.18-28)


• Cidade na Lídia – conhecida por seu comércio e tecidos de púrpura
• Templo ao deus do sol - Apolo
• Fortes sindicatos e clubes dos comerciantes e fabricantes
• Adaptação à corrupção e ao materialismo
• Prostituição e imoralidade

Figura 14 - Basílica cristã em Tiatira

. Fonte: Foto de Bertil Ekström

• Palavra-chave: Santidade
o Encorajamento pelas boas obras, amor, fé, serviço e perseverança
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

o Mas, deu espaço à imoralidade e se conformou com os pecados na sociedade


o Ao vencedor: autoridade sobre as nações e a estrela da manhã

A Igreja de Sardes (3.1-6)


• Importante cidade nos impérios Persa, Grego e Romano
• Reconstruída no ano 17 AD após um terremoto
• Muitos judeus e uma população de 100.000 habitantes
• Tinha uma falsa ideia de segurança e confiava em suas riquezas, sendo muito orgulhosa.
Foi invadida por inimigos devido à má vigilância. Os habitantes criam que estavam seguros
refugiando-se na parte alta da cidade. Porém, foram pegos de surpresa e por duas ocasiões
a cidade foi invadida e saqueada por exércitos inimigos.

Figura 15 - Cidade alta de Sardes

Fonte: Foto de Bertil Ekström

• Palavra-chave: Realidade
o Jesus diz: conheço tuas obras, tens nome de que vives, mas estás morto!
o Arrepende-te! Lembra-te do que tens recebido e ouvido e guarda-o.
o Sê vigilante, acorda!!
o Ao vencedor: roupas brancas e o nome no livro da vida

A Igreja de Filadélfia (3.7-13)


• Importante cidade ligando a Europa e a Ásia, a passagem entre o ocidente e o oriente
• Sofreu vários terremotos e vivia num constante temor de novas catástrofes
• Chamada de “pequena Atenas” por seus belos templos e construções
• Forte sinagoga judaica que perseguia os cristãos
• Palavra-chave: Oportunidade
o Jesus diz: Conheço tuas obras
o Uma porta aberta que ninguém pode fechar
o Fraca, mas fiel
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

o Será guardada na hora da provação. Guarde o que tens.


o Ao vencedor: coluna no santuário de Deus e receberá gravado o nome de Deus

A Igreja de Laodiceia (3.14-22)


• Cidade da Frígia, conhecida por seus tecidos pretos, colírio para os olhos, bancos e
comércio
• Ficava entre Hierápolis (fontes de água quente) e Colossos – no vale de Lico

Figura 16 - Vale do Rio Lico

Fonte: rosvaldooliveira.wordpress.com/2015/08/22/como-entender-a-cidade-de-laodiceia/

Figura 17 - Templo a Hermes, Zeus e Asclépio Rua Bizantina em Laodiceia

. Fonte: Foto Bertil Ekström

• Palavra-chave: entrega total


o Jesus diz: conheço tuas obras, que nem és frio nem és quente. A mensagem à igreja
usa a localização geográfica no vale do Rio Lico por onde passavam as águas
quentes de Hierápolis que se esfriavam à medida que chegavam a Colossos.
o Diz que é rica e que não precisa de coisa alguma, mas é infeliz, miserável, pobre, cega
e nua.
o Compre roupas e colírio!
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

o Sê zelosa e arrepende-te!
o Ao vencedor: Assentar com Cristo no trono

Mensagem às sete igrejas - resumo


ÉFESO: AMOR - viva o amor de Deus
Jesus é quem sustenta e está presente
ESMIRNA: SOFRIMENTO - seja fiel apesar da perseguição e do sofrimento
Jesus é o ressurreto que venceu a morte
PÉRGAMO: VERDADE - defenda a verdade
Jesus é o juiz com a espada afiada de dois gumes
TIATIRA: SANTIDADE - não se comprometa com os ideais e valores do mundo
Jesus é o filho de Deus que limpa de todo pecado
SARDES: REALIDADE - esteja atenta, não deixe o inimigo lhe surpreender
Jesus é aquele que dá vida a uma igreja morta
FILADÉLFIA: OPORTUNIDADE - aproveite as oportunidades, construa pontes, entre pela porta
aberta
Jesus é aquele que dá força e que tem as chaves de Davi em suas mãos
LAODICEIA: ENTREGA TOTAL - dê lugar ao Espírito, seja humilde, não morna
Jesus é a fonte de tudo e tem tudo aquilo que a igreja necessita e da qual depende
A TODAS:
Mantenha o ensino apostólico

Temas teológicos e missiológicos


• A participação de representantes de todas as raças, línguas, povos e nações diante do
trono de Deus, louvando e adorando ao Senhor. (5.6-14 e 7.9-12)
• Há também uma visão da eternidade onde todos os povos seguirão a vontade de Deus e
não haverá mais pecado (21.24,27).
• O objetivo da peregrinação e o conteúdo principal da mensagem do discípulo de Jesus é a
vinda completa do Reino de Deus, cuja participação depende da atitude assumida para
com Cristo.
• A revelação enfatiza a tensão entre o reino das trevas e o Reino de Deus, uma batalha que
ocorre tanto no reino espiritual quanto na vida diária do Povo de Deus na terra.

Reflexão
1. De que forma o livro do Apocalipse pode servir de encorajamento aos cristãos perseguidos
em nossos dias
2. Quais os principais ensinamentos que você tira das cartas às sete igrejas
3. A visão de pessoas de todos os povos diante do trono é uma forte motivação para o
envolvimento missionário.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

3. TEMAS TEOLÓGICOS DE MISSÕES

Nesse capítulo iremos sintetizar e sistematizar os principais tópicos de uma teologia de


Missões com base no estudo de teologia bíblica dos capítulos anteriores.

A) A autoridade das Escrituras


❖ A base e principal fonte da Teologia de Missões
❖ A formação do cânone bíblico
❖ Uma hermenêutica coerente
❖ Sola Scriptura – a suficiência da revelação bíblica
❖ A tradução da Bíblia – necessária para uma teologia contextual

B) A natureza de Deus
❖ Trindade Divina – Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo
❖ O eterno – a existência de Deus
❖ O soberano – dono de sua criação e do destino do universo
❖ O amor, a misericórdia e a graça de Deus
❖ O juiz – diante do qual o ser humano prestará contas
❖ A justiça e a santidade de Deus
❖ A vitória sobre o Mal
❖ A missão de Deus – Missio Dei

C) A criação
❖ A intenção de Deus na criação
❖ O relato da criação – mensagem principal
❖ O jardim criado para o ser humano e o retorno ao paraíso
❖ Os temas ecológicos hoje

D) O ser humano
❖ Criatura de Deus – a espécie humana distinta dos animais
❖ Criado à imagem e semelhança de Deus – um ser com escolhas
❖ As dimensões do ser humano determinando sua relação – corpo, alma e espírito
❖ A dependência do criador – o fôlego de vida
❖ O cooperador de Deus na criação e na manutenção da criação
❖ Responsável diante de Deus – prestará contas de sua vida
❖ A rebeldia do ser humano querendo ser independente do Criador
❖ Alvo do amor de Deus e do plano de salvação

E) A realidade do pecado
❖ A origem do mal

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

❖ A existência do Maligno, adversário de Deus


❖ O engano e a queda do ser humano
❖ A expulsão do Jardim e da presença de Deus
❖ O castigo do pecado é a morte
❖ A vitória sobre o Mal na pessoa de Jesus Cristo
❖ A influência do pecado na história da humanidade e em nossos dias

F) O plano de salvação de Deus


❖ Deus providenciando um caminho de retorno a Ele – Missio Dei
❖ O ser humano sendo alvo do amor de Deus
❖ A escolha de um povo para representar a Deus e o seu plano salvífico
❖ O cumprimento das promessas de Deus e sua fidelidade ao seu povo
❖ O Reino de Deus – “já e ainda não”

G) A pessoa de Jesus Cristo


❖ A divindade de Cristo – a eternidade
❖ A humanidade de Jesus - a encarnação
❖ A historicidade de Jesus Cristo – nascimento, ministério, morte e ressurreição
❖ O único e suficiente caminho de salvação
❖ O exemplo de vida – ensino e ações
❖ O Cristo exaltado e glorificado

H) A obra do Espírito Santo


❖ A divindade e eternidade do Espírito Santo
❖ As funções específicas do Espírito Santo
o Glorificar e apontar para Cristo
o Convencer do pecado, da justiça e do juízo
o Orientar os cristãos no seu dia a dia
o Interceder diante do Pai
o Dirigir o trabalho missionário
o Fornecer dons para a edificação do Corpo de Cristo
o Encorajar e dar força ao cristão

I) A natureza e o papel da Igreja


❖ O fundamento que é Jesus Cristo – a rocha e a pedra angular
❖ Uma “casa espiritual” – um organismo vivo
❖ Formado pelos discípulos de Jesus – o discipulado
❖ Uma comunidade terapêutica – força centrípeta
❖ Enviada para dentro da sociedade e para o mundo todo – força centrífuga
❖ O agente de Deus na comunicação do Evangelho

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

❖ Uma igreja missional e uma missão eclesial

J) O evangelho a todos os povos


❖ A Grande Comissão
❖ A mensagem do Evangelho – a pessoa de Jesus Cristo
❖ A abrangência da missão – a todos, em todos os lugares e em todos os tempos
❖ O tempo de missões – da ascensão de Jesus até sua segunda vinda
❖ A missão holística e integral – testemunho falado e vivido
❖ A finalidade da missão – a Glória de Deus e a salvação do ser humano

TODA A IGREJA LEVANDO TODO O EVANGELHO A TODO HOMEM EM TODO O MUNDO!

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

4. TEOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS DE MISSÕES

Estudaremos algumas das principais teologias de missões em diferentes contextos cristãos,


buscando, na medida do possível, apresentar suas doutrinas a partir de seus textos oficiais. O
intuito é de entender a ênfase de cada tradição cristã apresentada e de aprender com
perspectivas diferentes de descrever a Missão de Deus e a tarefa da Igreja.

4.1 Evangelical – Textos de Lausanne

Iniciaremos com a teologia de missões que nos caracteriza como evangélicos; há,
naturalmente, variações nos diferentes temas e nas ênfases dadas em cada contexto
denominacional.

A teologia de missões evangelical é, obviamente, baseada nos quatro pilares da teologia


evangélica, mesmo havendo diferentes visões dentro desses pilares.
• A autoridade da Bíblia,
• Jesus como o único caminho para a salvação
• Arrependimento pessoal
• Ação prática na evangelização e envolvimento social

A iniciativa de Billy Graham, para o que mais tarde se tornou o movimento Lausanne, é
importante. Em 1966, ele convocou uma conferência em Berlim, que foi o prelúdio da
Conferência de Lausanne de 1974 e do Movimento de Lausanne. É aqui, também, que o
anglicano John Stott entra e se torna o principal autor da Declaração de Lausanne. Um passo
importante é dado nesse processo, com uma clara perspectiva holística do evangelho e sobre
a missão.

Os objetivos do Movimento de Lausanne são:


• Dar uma orientação teológica baseada na Bíblia, acerca da motivação missionária e seu
conteúdo;
• Estimular os cristãos a uma responsabilidade maior pela evangelização que já vem
ocorrendo nas diferentes denominações e movimentos;
• Inspirar o cristão, individualmente, a um serviço intensivo de intercessão e de ofertar bem
mais para missões;
• Conscientizar os cristãos de que evangelização e ação social devem acompanhar um ao
outro; e,
• Possibilitar contatos bilaterais entre a cristandade evangélica para melhor planejamento
e cooperação.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

A Declaração de Lausanne tornou-se parte da teologia de missões dos evangélicos. Há uma


forte influência de teólogos latino-americanos como Samuel Escobar e René Padilla. Com
ênfase em um conceito de Reino de Deus, tanto sobre uma perspectiva escatológica e, talvez,
ainda mais sobre uma perspectiva do agora, ou seja, como o Reino de Deus é aplicado em
nosso mundo hoje. Ao mesmo tempo em que se enfatiza a necessidade de um anúncio de
salvação, sobretudo para os chamados povos não alcançados. A Igreja deve lutar por justiça,
paz, redução da pobreza, direitos humanos, etc.

Algo que tem preocupado os teólogos da missão evangélica, especialmente no Sul, é o


continuado modo colonialista do Ocidente de querer impor sua teologia à igreja no Sul.
Escobar fala, portanto, em auto-teologização, significando que a igreja local e nacional deve
ter o direito de buscar o seu próprio caminho na criação da teologia. Isso não significa que se
ignore a teologia ortodoxa histórica, porém que possa tirar suas próprias conclusões do
estudo das Escrituras. E, novamente, isso não é exclusivo dos cristãos evangélicos, mas
também é em grande parte a aspiração de outras tradições da igreja. E, aqui vem toda a
questão da obra e da direção do Espírito Santo.

Alguns temas importantes na teologia da missão evangélica hoje, de acordo com Michael
Goheen.23

1. Missão holística - um testemunho de vida, palavras e ações


2. Contextualização
3. Encontro com outras religiões mundiais
4. Missão metropolitana – missões urbanas
5. Evangelismo onde não há testemunho cristão

Goheen resume as tendências da teologia da missão nas últimas décadas referindo-se a uma
mudança de paradigma, com as seguintes características:
• A missão é “de todos e para todos”, em oposição a uma missão unilateral
• Missiologia que analisa, também, a cultura ocidental, em resposta a uma missão
transcultural apenas focada no hemisfério sul e no oriente
• Eclesiologia missional, em resposta à divisão entre missão e igreja
• Contextualização, como uma resposta ao evangelho ocidental exclusivo
• Missio Dei, em resposta a uma missão antropocêntrica
• Libertação, como resposta ao desenvolvimento
• Missão em fraqueza e sofrimento, em resposta à missão de força e poder
• Missão como parceria, em resposta à missão apenas de parte da Igreja no Ocidente
• Perspectiva holística da salvação, em resposta à salvação espiritualizada ou humanística

23
Goheen, Michael. A Missão da Igreja Hoje
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Unidade, em resposta às divisões e tradições eclesiásticas


• Teologia da religião, como uma resposta ao domínio do Cristianismo Ocidental
• Missão metropolitana global, em vez de missão no campo do Terceiro Mundo
• Missão pentecostal, além das tradicionais missões católica romana e protestante

Os textos do Movimento de Lausanne são, portanto, o melhor referencial de uma teologia de


missões evangelical, hoje. Por isso, incluímos os temas do documento mais recente, o
Compromisso da Cidade do Cabo, produzido em 2010.

O Compromisso da Cidade Do Cabo24

O Terceiro Congresso Lausanne sobre Evangelização Mundial (Cidade do Cabo, 16-25 de


outubro de 2010) reuniu 4.200 líderes evangélicos de 198 países e se estendeu a outras
centenas de milhares de líderes que participaram de reuniões, locais e online, realizadas em
todo o mundo. Seu objetivo? Trazer um novo desafio à Igreja global a fim de que ela
testemunhe de Jesus e de todo o seu ensinamento, em todas as nações, em todas as esferas
da sociedade e em todos os campos de reflexão. O Compromisso da Cidade do Cabo é fruto
desse esforço e se posiciona em uma linha histórica, tendo como base tanto o Pacto de
Lausanne quanto o Manifesto de Manila. Está dividido em duas partes. A Parte I estabelece as
convicções bíblicas, transmitidas a nós nas escrituras, e a Parte II ecoa o chamado para ação.

Parte I - Para o Senhor que Amamos: Confissão de Fé da Cidade do Cabo


1. Nós amamos porque Deus nos amou primeiro
2. Nós amamos o Deus Vivo
3. Nós amamos o Deus Pai
4. Nós amamos o Deus Filho
5. Nós amamos o Espírito Santo
6. Nós amamos a Palavra de Deus
7. Nós amamos o mundo de Deus
8. Nós Amamos o Evangelho de Deus
9. Nós amamos o Povo de Deus
10. Nós Amamos a Missão de Deus

PARTE II - Para o Mundo que Servimos: O Chamado à Ação da Cidade do Cabo

A) Testemunhando da verdade de Cristo em um mundo pluralista e globalizado.


1. A Verdade e a Pessoa de Cristo
2. A verdade e o desafio do pluralismo

24
Lausanne.org
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

3. A Verdade e o local de trabalho


4. A verdade e a mídia globalizada
5. A verdade e a arte em missões
6. A verdade e as tecnologias emergentes
7. A verdade e as arenas públicas
B) Construindo a Paz de Cristo em nosso mundo dividido e ferido
1. A paz que Cristo promoveu
2. A paz de Cristo no conflito étnico
3. A paz de Cristo para o pobre e oprimido: Escravidão e tráfico humano; Pobreza
4. A paz de Cristo para as pessoas com deficiência
5. A paz de cristo para as pessoas que vivem com o HIV
6. A paz de Cristo para sua criação em sofrimento

C) Vivendo o amor de Cristo entre pessoas de outras crenças


1. “Ame o seu próximo como a si mesmo” inclui pessoas de outras crenças.
2. O amor de Cristo nos chama ao sofrimento e até a morrer pelo evangelho
3. O amor em ação personifica e manifesta o evangelho da Graça/Strong.
4. O amor respeita a diversidade de discipulado
5. O amor alcança os povos dispersos
6. O Amor trabalha pela liberdade religiosa para todos

D) Discernindo a vontade de Cristo para a evangelização mundial


1. Os povos não alcançados e não incluídos
2. Culturas orais
3. Líderes Cristocêntricos
4. Cidades
5. Crianças
6. Oração

E) Chamando a igreja de Cristo de volta à humildade, à integridade e à simplicidade


1.Andar de maneira diferenciada, como nova humanidade de Deus
2. Andar em amor, rejeitando a idolatria da sexualidade desordenada
3. Andar em humildade, rejeitando a idolatria do poder
4. Andar em integridade, rejeitando a idolatria do sucesso
5. Andar em simplicidade, rejeitando a idolatria da ganância
F) Formando parcerias no Corpo de Cristo pela unidade em missões
1. Unidade na Igreja
2. Parceria em missão global
3. Homens e mulheres em parceria
4. Educação Teológica e missões

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Conclusão:
 Façam discípulos
 Amem aos outros

Figura 15 - 3.o Congresso Lausanne (Cidade do Cabo, 16-25 de outubro de 2010)

Fonte: https://lausanne.org/cape-town-2010-the-third-lausanne-congress-on-world-evangelization

4.2 Pentecostal25

Para nossa realidade brasileira, pode ser difícil separar uma teologia evangelical de uma
teologia pentecostal. Os pentecostais fazem, naturalmente, parte dos evangélicos. O
movimento carismático, que tem influenciado grande parte das igrejas cristãs no mundo, em
muito se aproxima de ênfases pentecostais, principalmente tratando-se da obra do Espírito
Santo.
No entanto, o movimento pentecostal mundial tem-se perfilado de forma mais contundente
nas últimas décadas e, com frequência, se apresenta hoje como uma quarta família cristã,
sendo as outras três o catolicismo, o movimento ecumênico e os evangélicos.

Uma teologia de missões pentecostal se caracteriza pelos seguintes temas:


• Tradicionalmente pouco elaborada e simples, baseada nas experiências pessoais e
coletivas, sem levar em conta à história da igreja ou à teologia da missão estabelecida.
• Ênfase no evangelho quádruplo: Jesus salva, batiza no Espírito Santo, cura os enfermos e
breve voltará.
• Desejo de compartilhar as experiências, numa perspectiva de que o tempo é curto e as
pessoas em todo o mundo precisam ser salvas. Esse foi o caso, por exemplo de Daniel Berg
e Gunnar Vingren, que viajaram já em 1910 para o Brasil sem qualquer sustento ou
preparo.

25
Em parte baseado em texto do Dr. Jan-Ake Alvarsson, teólogo e antropólogo do movimento pentecostal sueco,
incluído no livro Berörd – Samtal om mission i en föränderlig värld. Stockholm: Sveriges Kristna Råd och Svenska
Missionsrådet, 2019. Material produzido pelo Conselho Cristão Sueco e pelo Conselho Missionário Sueco.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• O início das missões pentecostais é contado a partir da Missão de Fé Apostólica em Azusa


Street - Los Angeles 1906.
• Devido à urgência da evangelização, o movimento tem sido fortemente empreendedor e
de inúmeras iniciativas de plantação de igrejas
• “O pentecostalismo se multiplica por meio da divisão”, tem sido a característica em muitos
países, com exceção na Europa.
• Na tradição pentecostal, sempre houve uma dimensão social, sendo que muitos vieram
de condições de pobreza.
• Nas últimas décadas, o preparo acadêmico dos pastores e dos missionários tem sido mais
enfatizado.
• Sendo o movimento evangélico que mais cresce no mundo hoje, notadamente na África
Sul-Saariana e na América Latina, a contribuição missionária é significativa.
• Uma visão de missões mais holística caracteriza a teologia pentecostal em nossos dias.

Crescimento da Igreja
Os primeiros passos dentro deste movimento foram tomados por Donald McGavran,
professor de Missões no Fuller Theological Seminary, Pasadena, EUA. O movimento tem
trazido novos aspectos à análise do evangelismo e de missões e se baseia nos seguintes
critérios:

• Não cruzar fronteiras de cultura, senão no trabalho pioneiro -evangelização em grupos


homogêneos;
• Investir a maior parte dos recursos onde há receptividade;
• Dividir a igreja em grupos menores;
• Incentivar a conversão de grupos e famílias inteiras;
• Treinamento de leigos; e,
• Investir em pesquisas sobre o crescimento.

O movimento tem sido fortemente criticado por só se preocupar com o crescimento


numérico, mas, ultimamente, os seus defensores vêm enfatizando o “crescimento equilibrado
da Igreja”, incluindo, além do crescimento quantitativo, também o qualitativo e o orgânico.
É importante, também, separar a questão da estratégica contextualizada e direcionada para
alcançar um determinado povo dos princípios fundamentais e bíblicos de uma igreja
multicultural e aberta sem distinção étnica, social ou geracional.

Movimento AD 2000 e Além


Em janeiro de 1989, foi realizada em Singapura, uma Consulta Global de Evangelização
Mundial para o ano 2000 e Além. Esta consulta deu origem ao movimento denominado AD

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

2000. O Movimento tem tido o propósito de: “Em um espírito de serviço, buscar motivar,
fomentar e fazer redes de homens e mulheres líderes eclesiásticos, que sejam inspirados pela
visão de alcançar os não alcançados até o ano 2000”, cumprindo assim a Grande Comissão de
Jesus.

Os objetivos principais deste movimento foram:


• Trabalhar, enfocando, particularmente, aqueles que não ouviram a Palavra de Deus;
• Dar a cada pessoa possibilidade real de ouvir a Palavra de Deus em um idioma que possa
entender. O alvo é que pelo menos a metade da população mundial professe sua fé em
Cristo;
• Estabelecer um movimento de plantação de Igrejas com orientação para missões, dentro
de cada grupo de pessoas não alcançadas pela Palavra de Deus; e,
• Estabelecer uma comunidade cristã marcada pela adoração, instrução na Palavra,
fraternidade, oração, discipulado, evangelismo, e de interesse missionário em cada grupo
humano.

O enfoque principal do Movimento Ano 2000 é a chamada “Janela 10-40”. Esta “janela”, que
fica entre as latitudes 10 e 40, ao norte da linha do Equador, também denominada de
“cinturão de resistência”, representa os países do norte da África, sul da Europa, Oriente
Médio e grande parte da Ásia. Nesta área, vivem 97% das pessoas menos evangelizadas, com
uma forte presença das grandes religiões não-cristãs: Islamismo, Budismo e Hinduísmo. A
janela 10/40 é também a região onde menos esforços evangelísticos têm sido empreendidos.

O Movimento AD 2000 e Além encerrou suas atividades no início de 2001, de acordo com o
planejamento feito por sua liderança. A influência do movimento, no entanto, continua
através de redes de trabalho que foram organizadas, e que se tornaram, em alguns casos,
organizações próprias. Um dos resultados mais positivos do movimento foi a forte ênfase na
evangelização dos povos não alcançados (povos étnicos) e na priorização da região mais
carente do mundo, a Janela 10-40. Certamente muitos povos foram alcançados e um avanço
significante foi dado na evangelização mundial.

Figura 18– Janela 10/40

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Fontehttp://redeevangelismo.comunidades.net/janela-10-40
4.3 Ecumênico – Conselho Mundial de Igrejas

Um novo documento do Conselho Mundial de Igrejas sobre missão e evangelismo

A Comissão de Missão Mundial e Evangelismo (CMME) tem trabalhado desde a Assembleia


Geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) em Porto Alegre em 2006 para produzir um novo
documento de missão ecumênica, o que você tem em mãos. O documento da missão foi
apresentado na Décima Assembleia Geral do CMI em 2013 em Busan, Coréia, após ser
aprovado por unanimidade pelo Comitê Central do CMI em Creta, Grécia, em 5 de setembro
de 2012. Uma vez que o Conselho Internacional da Missão (CIM) foi integrado ao Conselho
Mundial de Igrejas em Nova Delhi em 1961, havia apenas um documento oficial de política
sobre missão e evangelismo adotado pelo comitê central de CMI em 1982, Missão e
evangelismo: um documento ecumênico.

O propósito do trabalho ecumênico que agora foi feito é buscar atitudes, diretrizes e uma
visão para uma compreensão e prática renovada de missão e evangelismo em um cenário em
mudança. O documento é dirigido a um público que vai além das igrejas-membro do Conselho
Mundial de Igrejas e de suas organizações missionárias afiliadas, para que juntos possamos
nos comprometer com a vida em abundância para todos, guiados pelo Deus da vida!

O documento está dividido em:


1. Juntos pela vida: Introdução ao tema
2. O Espírito da Missão: A Respiração da Vida
3. Espírito de liberdade: missão desde as margens
4. Espírito da comunidade: Igreja em movimento

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

5. O Espírito de Pentecostes: Boas notícias para todos


6. A festa da vida: no final, reivindicamos

O capítulo sobre evangelismo incluído na Parte 5 foi escrito por evangélicos. A escolha de falar
sobre "O Espírito" foi em parte com os movimentos carismáticos dentro das igrejas
relacionadas ao Conselho Mundial de Igrejas e em parte com um "namoro" com as igrejas
pentecostais. Ao mesmo tempo, existe a consciência de que a Trindade deve fazer parte da
Igreja e da missão.

Comparando a teologia de missões evangelical e a ecumênica


O pensamento missionário evangélico e ecumênico se aproximaram nos últimos anos. Ao
mesmo tempo, ambas as linhas missiológicas incluem uma perspectiva sociopolítica
abrangendo questões como direitos humanos, justiça, igualdade, liberdade religiosa, diálogo
e cooperação com outras religiões, questões ambientais, compreensão cultural e
contextualização na teologia e prática, etc.

Em comparação com o Compromisso da Cidade do Cabo, o documento Juntos pela Vida


• tem uma ênfase mais forte em questões sociais e políticas;
• muitas vezes retorna ao termo "missão das margens" com o significado de ambas as
igrejas no Sul e da pobreza, marginalização na sociedade;
• não é tão claro que Jesus Cristo é o único caminho para a salvação, mas representa
a posição única de Jesus como o Salvador do mundo;
• é mais aberto ao diálogo com outras religiões e dá alguma abertura de que estas
também podem levar a Deus;
• maior ênfase na Igreja como uma instituição; e,
• maior ênfase nas questões ambientais.

4.4 Católica Romana26

A teologia de missões da Igreja Católica Romana apresenta, assim como em outros contextos
cristãos, uma grande variedade principalmente em sua aplicação. Há várias linhas de
pensamento mesmo que o Vaticano tem oferecido orientações e afirmações em vários
documentos oficiais.

O Concílio Vaticano II (1962-1965) foi de grande importância para uma abertura ao diálogo
com outras correntes cristãs e uma série de documentos têm sido produzidos nas últimas

26
Berörd – Samtal om mission i en föränderlig värld. Stockholm: Sveriges Kristna Råd och Svenska Missionsrådet,
2019. Material produzido pelo Conselho Cristão Sueco e pelo Conselho Missionário Sueco. Texto parcialmente
escrito pela teóloga católica sueca Katrin Amell.
PÁGINA 103
TEOLOGIA DE
MISSÕES

décadas. Além dos documentos do concílio, existe uma série de cartas posteriores de natureza
teológica missionária, por exemplo, circulares papais (encíclicas) e exortações apostólicas.

Ad gentes (Para os Povos)


É um decreto missionário que foi elaborado pelo Concílio Vaticano II. O destaque do
documento é a pessoa de Jesus Cristo como o Lumen gentium (a luz dos povos) e a tarefa da
Igreja é tornar Cristo conhecido por todos os povos. A missão e a unidade cristã estão juntas.
No documento é, portanto, repetidamente chamado a buscar cooperação com todos os
cristãos. O Conselho é frequentemente referido como o “decreto ecumênico”. A cooperação
visa uma reintegração dos cristãos debaixo da Igreja Oficial, usando-se o termo Unitatis
redintegratio. Ao mesmo tempo refere-se ao desejo de que a Igreja se integre nas culturas
locais.

Evangelii nuntiandi (Proclamação do Evangelho no Mundo de Hoje)


É um outro texto importante que fala sobre a proclamação do Evangelho no mundo de hoje.
Foi publicado no décimo aniversário do fim do Concílio, em 1975, e é uma atualização do
documento anterior com exortações de Paulo VI, e apreciado em contextos ecumênicos.

O atual papa Francisco parece ter esse documento como o favorito, sendo que o cita com
frequência. O documento começa com o personagem principal do evangelho, Jesus Cristo,
que foi o primeiro a proclamar a notícia sobre o reino de Deus. É a sua forma de pregar, viver
e morrer que deve ser o modelo para nós. Hoje é a tarefa da Igreja difundir o evangelho
enquanto ela mesma está constantemente em necessidade de ser evangelizada, sempre
reformanda. O evangelho é pregado principalmente por meio do testemunho na vida do
homem cristão.

Missão Redemptori (Missão do Redentor)


A encíclica "A Missão do Redentor" foi promulgada por João Paulo II em 1990. O título se
refere a Jesus Cristo, e o documento foi escrito com base num otimismo diante do terceiro
milênio, quando o papa, depois de 1989, parecia ver "uma nova primavera para o evangelho."
Mais pessoas pareciam se aproximar dos valores do evangelho. O Papa baseia-se nos
documentos anteriores mas também faz atualizações com base nos desafios da década de
1990. Isso inclui o crescimento populacional, a rápida urbanização, problemas de refugiados
e secularização em países tradicionalmente cristãos.

O texto termina com um capítulo completo sobre o Espírito como líder da missão. O Espírito
trabalha, não apenas nos indivíduos, mas também nas sociedades, história, povos, culturas e
religiões. Outro destaque é a ênfase no diálogo religioso num capítulo denominado “Caminhos
da missão”, onde o diálogo é visto como parte de missão evangelística da Igreja. No diálogo,
os cristãos testemunham sobre sua fé. Diálogo e pregação não são opostos, mas também não

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

são intercambiáveis. Em alguns lugares, onde a proclamação explícita não é possível, o diálogo
é uma forma de testificar de Cristo e de servir o outro.

Evangelii gaudium (A Alegria do Evangelho)


O texto é do Papa Francisco onde a ênfase principal está no encontro pessoal com Jesus Cristo
sendo a forma natural que deve levar o povo da Igreja a transmitir de bom grado a mensagem
para os outros, de coração para coração.
O Papa escolhe motivos esquecidos do Concílio Vaticano II e os desenvolve, por exemplo, que
a Igreja é um povo peregrino na caminhada e que os sinais dos tempos devem ser
interpretados à luz do evangelho.
Evangelii Gaudium expressa o desejo de renovação e uma série de reformas são propostas
para pavimentar o caminho para a "alegria do evangelho". A igreja é missionária por natureza
e ela será renovada pela sua missão. A missão não pode ser deixada para institutos ou órgãos
especializados. Todos devem estar envolvidos. A missão tem suas origens no Filho; e as
transmissões do Espírito Santo no mundo. Jesus diz: "Assim como o Pai me enviou, eu te
envio" (João 20:21). E é só com a ajuda do Espírito, força vital e motriz, que a Igreja pode
realizar a missão.

Reflexão a partir de uma visão evangélica


A teologia oficial de missões, ou da missão da Igreja, em muito se assemelha ao que
conhecemos em nosso contexto evangélico. No entanto, há doutrinas católicas que modificam
a interpretação dos textos oficiais e que precisam ser consideradas. Alguns exemplos são:

1. A autoridade das Escrituras. O Vaticano afirma a autoridade da Bíblia ao mesmo tempo


que as decisões dos concílios e dos decretos papais têm valor equiparado com as
Escrituras. Quando há uma divergência entre as encíclicas ou outros documentos oficiais
da Igreja em relação ao que a Bíblia diz, prevalecem as decisões dos líderes da Igreja como
sendo revelação ulterior e normativa. É nesse sentido que várias doutrinas foram incluídas
ao longo da história da Igreja de Roma, como, por exemplo, a ascensão da Virgem Maria,
a infalibilidade do papa em seu exercício, e a crença no purgatório com oração a favor dos
mortos.
2. O sincretismo com outras religiões. No intuito de dialogar e de contextualizar a mensagem
cristã nas diferentes culturas, ocorre facilmente um sincretismo onde valores importantes
do Evangelho são perdidos e elementos de outras religiões são incorporadas. O
catolicismo popular no Brasil, e em grande parte da América Latina, é um bom exemplo
disso.
3. O universalismo. Outro aspecto da teologia que influencia missões é a soteriologia católica
que afirma o universalismo, isto é, que todos serão salvos um dia, independente de terem
tomado uma posição favorável a Cristo ou mesmo terem buscado a Deus. Em parte, o

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

purgatório resolve isso, mas a doutrina baseada no amor e na compaixão de Deus elimina
qualquer possibilidade de condenação eterna, a não ser para Satanás e seus anjos.
4. A prática missionária. A história das missões católicas tem mostrado tanto momentos
positivos de proclamação do Evangelho e desenvolvimento de comunidades pobres, como
também de imposição política e religiosa, obrigando povos a se tornarem “cristãos”. Hoje
isso dificilmente ocorre, sendo que há maior consciência sobre o respeito aos direitos
humanos e outras formas de influenciar sociedades sem o uso da força.
5. Diferentes teologias. A Igreja Católica Romana, mesmo enfatizando sua unidade,
apresenta diferentes teologias que influenciam a forma como localmente e nacionalmente
a missão é exercida. No Brasil vemos pelo menos quatro linhas teológicas, a saber, a
teologia oficial e tradicional do Vaticano, a Teologia da Libertação, a Teologia Carismática
e a Religiosidade Popular.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

5. TEOLOGIA SOCIAL E DE LIBERTAÇÃO

Origem da Teologia da Libertação27

A origem de toda a teologia da libertação está na compaixão que brota da descoberta da


situação do ser humano no mundo de hoje. Por isso a Teologia da Libertação (TL) se torna um
enérgico protesto contra toda a forma de injustiça e opressão, seja ela a nível social,
humanístico ou religioso. Diz 28BOFF que a TL encontrou seu nascedouro na fé confrontada
com a injustiça feita aos pobres. A libertação precisa, para ser fiel ao seu manancial, ir além
de assistencialismo e de reformismo, modificando as estruturas injustas da sociedade.
Exemplos históricos são apresentados como precursores da atual TL. Entre eles, o de
Bartolomeu de las Casas, defensor dos indígenas no século XVI. O mesmo desafio vale para o
cristão de hoje: ser solidário para com os pobres e oprimidos.

Existem três níveis nos quais a reflexão libertadora ocorre: profissional, pastoral e popular.
Os níveis coincidem com a hierarquia da Igreja Romana e mostram como os diferentes níveis
de participação na Igreja se complementam. Mesmo reconhecendo que é no nível popular
que a verdadeira teologia libertadora acontece, a autoridade final é tripla: a Palavra da
Revelação, o Magistério e a grande Tradição. O verdadeiro teólogo da libertação é aquele que
vive com o povo e divide o sofrimento dos oprimidos, mas ao mesmo tempo é fiel à tradição
da Igreja Romana.

5.1 Os instrumentos e as motivações da TL

Os instrumentos usados pela TL para fazer sua teologia também são três: a mediação sócio
analítica, a mediação hermenêutica e a mediação prática. A primeira se utiliza da dialética
marxista, dizendo que só a usa de forma instrumental, porém chega às mesmas conclusões
quanto a necessidade de uma revolução, em certos casos até violenta. Faz-se uma clara
distinção entre classes trabalhadoras e coloca-se uma barreira entre "ricos" e "pobres" que
somente pode ser transposta através de uma inversão do status quo.

A segunda, trata da forma como se interpreta as Sagradas Escrituras. Toda a leitura bíblica
precisa ser feita a partir da situação do pobre, sendo mais importante o sentido atual do que
o textual. Os autores não fazem segredo de que existem certos textos e livros bíblicos que
são preferidos e melhor fundamentam a TL. São eles, entre outros, o Êxodo, os Profetas, os
Evangelhos, os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse.

28
Boff, Leonardo & Clodovis Boff. Como fazer Teologia da Libertação. Petrópolis: Vozes, 1991. A
apresentação da Teologia da Libertação nesta primeira parte baseia-se no livro dos irmãos Boff.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

A terceira, se refere ao processo prático, partindo de uma articulação coletiva e de ação, a


partir dos níveis pastoral e popular, buscando o que é historicamente viável e as estratégias
possíveis para se alcançar os alvos, mesmo que isto leve à violência.

As motivações para a TL em sua opção pelos pobres, podem ser resumidas em:
• motivação teológica - Deus sempre opta pelos pobres;
• motivação cristológica - seguindo o exemplo de Cristo que também optou pelos pobres;
• motivação escatológica - o juízo final dependerá da atitude para com os pobres (Mt 25);
• motivação apostólica - seguindo o exemplo dos apóstolos e da Igreja Primitiva; e
• motivação eclesiológica - a forma como a Igreja historicamente tem agido em relação aos
pobres.

Quem é o pobre?
Mas afinal, quem é o pobre? Os irmãos Boff dizem que podemos discernir entre dois sentidos
de pobreza. O primeiro é o que caracteriza o pobre socioeconômico, o oprimido pelos
sistemas injustos, principalmente o capitalista. O segundo, é o da pobreza evangélica, definida
como uma identificação do cristão para com os pobres, assumindo suas condições de vida.

5.2 Temas chaves da TL

Alguns temas-chaves abordados preferencialmente pela TL, que definem algo da essência de
sua teologia:
• A fé viva e verdadeira envolve uma prática libertadora;
• Deus vivo que toma partido pelos oprimidos contra o Faraó;
• Reino: o projeto de Deus na história e na eternidade;
• Jesus, o Filho de Deus que assumiu a opressão para nos libertar;
• Espírito Santo, "Pai dos pobres", presente nas lutas dos oprimidos;
• Maria, mulher do povo, profética e libertadora;
• A Igreja, sinal e instrumento de libertação;
• Direito dos pobres como direitos de Deus; e
• O comportamento do homem livre e libertador.

Naturalmente, todos estes temas são abordados de um ponto de vista de libertação


primeiramente social e política, ficando a questão espiritual para um segundo plano.

5.3 Uma avaliação evangélica da TL

Origens e variedades das teologias da libertação29

29
Conn, Harvie & Richard Sturz, Richard. Teologia da Libertação. Esta segunda parte tem como base a avaliação
que os evangélicos Harvie Conn e Richard Sturz fazem da Teologia da Libertação.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

A história da TL pode, inicialmente, ser dividida conforme sugerido por Enrique Dussel e citado
por Conn: 1962 a 1968 - o tempo do preparo; e 1968 a 1972 - a formulação da TL. Conn busca
as origens da TL nos anos 60 com o despertar crítico de vários autores latino-americanos
reagindo contra a crescente pobreza na América Latina e as injustiças existentes. É a partir de
Medelin, 1968, que o termo libertação adquire um sentido mais preciso e o contexto da
libertação é formado.

Gutierrez havia descoberto, em sua análise da sociedade peruana, a luta das classes e
encontrou no marxismo uma ferramenta que poderia ajudá-lo a explicar a situação. Cuba e
China eram, também, exemplos interessantes de revoluções "bem-sucedidas" e
frequentemente citados entre os latino-americanos. Havia, também, uma forte influência
europeia por parte da teologia política e da teologia da esperança. Mas, também, nos
EUA estava surgindo um movimento teológico de libertação, especificamente entre os negros.
A Teologia Negra, mais bem definida por James Cone, torna-se um claro paralelo à TL na
América Latina.
Os teólogos latino-americanos de destaque são: Gustavo Gutierrez, Camillo Torres, Hugo
Assmann, Juan Luis Segundo, Leonardo Boff e Miguez-Bonino.

Os Teólogos Brasileiros
Segundo Sturz, a teologia hoje denominada de TL, iniciou entre protestantes na década de
1960, e só mais tarde é levantada por católicos. O problema foi que "os teólogos protestantes
não receberam o respaldo de suas respectivas igrejas". Por isso, não puderam dar
continuidade à sua teologia da mesma forma que os católicos, publicando livros e criando uma
base para suas ideias. Rubem Alves é um bom exemplo disto. Excomungado da Igreja
Presbiteriana do Brasil, havia apresentado em seu doutorado a tese sobre a TL, com o nome
de "teologia da esperança humana". Na linha católica, se destacam Leonardo Boff, Hugo
Assmann e Clodovis Boff. Paulo Freire, com sua pedagogia do oprimido e Dom Helder Câmara,
pela popularização do movimento, recebem também menção.

Em Prol de Um Conceito em Comum


Conn resume alguns pontos centrais da TL:
1. A orientação da TL - a libertação dos oprimidos - uma teologia que parte "de baixo" e visa
uma transformação da situação oprimida dos pobres;
2. O domínio da TL - a situação concreta como contexto - o campo de trabalho e de reflexão
têm como base a situação real e concreta dos oprimidos. Trata-se de uma libertação "aqui e
agora".
3. O novo parceiro da TL - as ciências sociais - é com ajuda das ciências sociais que se pode
fazer uma análise correta e profunda da sociedade;

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

4. O método da TL - a reflexão sobre a práxis - a teologia desempenha um papel secundário


onde a práxis faz o papel principal;
5. A missão da TL - a hermenêutica da suspeita e da esperança - a teologia precisa levar a uma
suspeita da realidade e de suas causas, incluindo os pressupostos teológicos, buscando uma
transformação nas condições dos pobres, trazendo, assim, esperança para o presente e para
o futuro.

Conn afirma alguns pontos negativos da TL:


* Não se trata, de fato, de uma nova maneira de se fazer teologia;
* Ênfase sobre a dimensão coletiva negligenciando o aspecto individual de pecado e de
salvação; e
* O parceirismo entre a TL e as ciências sociais com uma direção muita clara para o marxismo.

Os pontos positivos, segundo Conn, são:


* Um desafio às ideologias conservadoras evangélicas;
* Buscar uma orientação mais universal na teologia evangélica;
* Necessidade de identificação com os pobres e oprimidos;
* Trabalhar a teologia a partir da situação concreta;
* A utilização das ciências sociais como complemento na análise da sociedade; e
* O desafio para mudanças, também por parte dos não pobres.
Conn vê na "abordagem contextual" de René Padilla uma combinação do melhor entre as
metodologias "histórica" e "popular". Quem sabe o meio termo, o equilíbrio a ser perseguido.

Uma Avaliação da Teologia da Libertação


Sturz destaca quatro elementos que contribuíram para o desenvolvimento do movimento em
nosso país:
1. A realidade socioeconômica da América Latina;
2. A realidade teológica norte-atlântica que foi importada para cá;

3. A influência do marxismo e;
4. A abertura dada pela Igreja Católica ao movimento.

Os grandes temas da teologia são abordados diferentemente pela TL dependendo de sua


importância para os objetivos da libertação.
• A Antropologia - ênfase na libertação coletiva - na classe dos oprimidos.
• A Soteriologia - visa a humanização do ser humano, o que significa livrá-lo da violência e
da opressão.
• A Cristologia - é fraca e só tem importância à medida que serve à libertação do ser humano,
utilizando-se o Jesus histórico como um exemplo de libertador e de revolucionário político
e social.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• A Hermenêutica - coloca o sociológico em primeiro plano, ficando o texto bíblico relegado


ao secundário.

Sturz finaliza com alguns desafios resultantes da TL:


* O desafio intelectual - de realmente analisarmos o conteúdo da TL verificando as verdades
e as falhas;
* O desafio sociopolítico - de nos envolvemos na luta pelos marginalizados, assumindo a
responsabilidade cristã na sociedade;
* O desafio religioso - nos tornando realmente servos de Deus e do próximo; e
* O desafio da relevância - termos uma mensagem que é atual e relevante para o homem de
hoje, em sua situação concreta.

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

6. ORTODOXA

As Igrejas Ortodoxas têm sua origem na divisão da Igreja que se acentuou no século IX,
gerando a Igreja Ocidental (com base em Roma) e a Oriental (com base em Alexandria e
Constantinopla). Hoje, cada país tem a sua igreja ortodoxa, sendo que em alguns países
existem duas ou três, dependendo dos diferentes grupos étnicos existentes e da história
política.

Segundo a interpretação geral da Igreja oriental, Deus vê de antemão o fim ao qual as pessoas
foram destinadas desde tempos imemoriais, mas não as amarra uma a uma a um destino que
Ele predeterminou e que não podem rejeitar ou alterar. O que Deus predestina não é o fim
que os indivíduos alcançarão, mas a condição da natureza humana. Ou seja, a predestinação
é o desígnio (ou ajuste) que Ele incorporou a essa natureza para que o homem possa escolher
ser participante da natureza divina. Ao mesmo tempo, a graça é o poder divino que atua em
cada homem desde o nascimento (ou seja, incorporado à sua natureza) e lhe dá a possibilidade
de escolha. Assim, o homem escolhe por sua livre vontade atender ou não ao desígnio de
Deus, para beneficiar-se da salvação, com base na capacidade (predeterminada) e na ajuda
(graça) que Deus lhe concedeu em sua condição humana.

A Igreja Ortodoxa Oriental carrega claramente a marca da tradição Joanina mais do que a
Paulina. Cristo não veio como objetivo final simplesmente para levar o pecado humano, mas
para restaurar a imagem de Deus no homem. As pessoas não são, simplesmente, chamadas a
conhecer Cristo, a reunir-se em torno dele ou a submeter-se à sua vontade: “são chamadas a
participar de sua glória”30. "De glória em glória" (2 Cor. 3:18) "define o processo pelo qual os
fiéis são santificados durante a vida presente, até a Parusia"31. Theosis é união com Deus, não
é deificação; é “um estado contínuo de adoração, oração, ação de graças e intercessão, além
da meditação e contemplação do Deus triúno e do amor infinito de Deus” 32. Com isso, a
distância entre o asceta, o clero e os leigos é acentuada.

Theosis se refere ao cancelamento da perda da imagem de Deus e à transformação da


existência anterior em uma nova criatura, em uma nova vida eterna. A salvação ou vida como
meta da missão não se limita aos seres humanos. Ele tem sua "dimensão cósmica". Toda a
criação está em processo de tornar-se a ekklesia, ou seja, o corpo de Cristo.
Segundo João Crisóstomo (que deu forma à ordem da liturgia eucarística que os ortodoxos
costumam celebrar), existe, além da Eucaristia, “o sacramento do irmão”, ou seja, o serviço

30
Anastasios de Androussa, O Propósito e o motivo da missão, International Review of Missions, 1965, vol. 54,
p. 285
31
Anastasios. Ibid., p. 286
32
Ion Bria. Sair em paz: Perspectivas ortodoxas sobre a missão, Conselho Mundial das Igrejas, Genebra, 1986, p.
9)
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

que os fiéis devem oferecer fora nas instalações da adoração, na praça pública e no altar do
coração dos outros. Assim, a igreja acaba englobando tudo.33

6.1 Teologia de Missão Ortodoxa34

• Há uma forte reação dos ortodoxos em relação às missões colonialistas que têm imposto
sua religião sobre outros povos, com frequência por conquistas sangrentas.
• Diante das diversas ameaças contra a vida, como conflitos, movimento migratório de
refugiados, questões ambientais, etc., temos como missão de afirmar e proteger a vida.
• Em geral, os ortodoxos se sentem mais confortáveis em falar sober a vocação e missão da
Igreja no mundo com conceitos como martírio, testemunho, ao invés de missão. O termo
tem um significado mais amplo do que isto, comumente significa "morrer pela fé". Na
teologia ortodoxa o uso é, em vez enfatizar o esforço humano, dar ênfase em imitar a
Cristo; a mediação de Deus.
• Este martírio tem uma grande relevância em nosso tempo, principalmente para os cristãos
do Oriente Médio e Norte da África, que sofrem perseguições recorrentes ao longo da
história e que, até hoje, perseveram em sua fé.
• A tradição ortodoxa enfatiza acima de tudo a liturgia como o componente mais importante
da missão da Igreja no mundo. Na liturgia ortodoxa é expressado, constantemente, e "de
novo e de novo", como o reino e a presença de Deus permeia toda a criação, em um
encontro entre o céu e a terra. Provavelment,e não é exagero dizer, para a Igreja Ortodoxa
durante longos períodos de perseguição sobreviveu, visivelmente, precisamente, por meio
de sua liturgia.

Reflexão
1. Quais os aspectos importantes que podemos aprender a partir do estudo das diferentes
teologias que têm influenciado a vida e a atuação da Igreja Cristã nessas últimas décadas
2. Quais são as fortalezas de uma missiologia evangélica para a missão de Igreja hoje”

33
Cf. Ion Bria, Martírio/Missão: O testemunho das Igrejas Ortodoxas hoje. Conselho Mundial de Igrejas, Genebra,
1980, p. 71
34
A formulação da teologia de missões ortodoxa baseada em texto de Misha Jaksic, bispo ortodoxo sérvio,
apresentado no livro Berörd – Samtal om mission i en föränderlig värld. Stockholm: Sveriges Kristna Råd och
Svenska Missionsrådet, 2019. Material produzido pelo Conselho Cristão Sueco e pelo Conselho Missionário
Sueco.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

7. TEOLOGIA CONTEXTUALIZADA DE MISSÕES

“A teologia se faz no caminho” é uma expressão frequentemente usada por teólogos do


hemisfério sul, referindo-se a um processo teológico que faz sentido à vida diária do cristão e
que se concretiza no caminhar com Cristo. Isto não significa menosprezar o trabalho teológico
feito ao longo dos séculos por pensadores cristãos e confirmado pela Igreja desde os tempos
dos apóstolos. O legado da tradição cristã e a sistematização da fé em doutrinas bíblicas e
teológicas em muito favorecem nossa compreensão das Escrituras e tornam-se um ponto de
partida para qualquer processo teológico.

Ao mesmo tempo é de suma importância que haja uma teologia contextualizada que
responde à realidade atual que, em muito, é diferente das gerações passadas. Novos temas e
novos desafios surgem constantemente que requerem uma resposta bíblica. A Igreja avança
para novos lugares e novas culturas que apresentam, pelo menos em parte, novas questões
tanto sociais quanto espirituais que precisam de uma avaliação e uma solução teológica. O
teólogo peruano Samuel Escobar, entre outros, tem proposto que, na obra missionária, é
necessário incluir um quarto “auto”, além dos três “autos” tradicionais de autogoverno, auto
expansão e autossustento. Este quarto “auto” seria justamente o de auto teologização.
O processo de fazer teologia deve, portanto, caracterizar a igreja em cada cultura e nação.
Aprende-se da teologia feita na história e em outros países, porém é importante que haja uma
reflexão bíblica e teológica em cada geração e nos diferentes contextos locais e nacionais. A
razão é que a Palavra de Deus é viva e dinâmica e torna-se relevante quando entendida e
aplicada nas situações concretas e atuais de seus leitores.

7.1 Pressupostos de uma teologia contextualizada

• A Palavra de Deus é traduzível para qualquer idioma e contexto cultural e histórico.


• Não é necessário ler a Bíblia nas linguagens originais para interpretá-la ou aplicá-la,
diferentemente, por exemplo, do Alcorão que somente é sagrado em seu idioma original,
o árabe. O Verbo que se fez carne, a encarnação do divino na humanidade, significa que o
Evangelho fala todas as línguas e se torna parte de qualquer cultura à medida que é
traduzido e aceito.
• O Espírito Santo vivifica a Palavra de Deus em todas as épocas e contextos, quando o leitor
busca a orientação divina e com sinceridade se deixa ser trabalhado e formado pelo
Evangelho. É, portanto, importante confiar na obra do Espírito Santo no processo de
entender as Escrituras e de elaborar a teologia.
• Cada contexto étnico, cultural e histórico tem suas características próprias, além de muitas
em comum com outros. O Evangelho tem o potencial de responder às questões relevantes
que surgem num determinado contexto. Com frequência temos tentado dar respostas a

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TEOLOGIA DE
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perguntas que ninguém fez ou que não são mais atuais, baseados naquilo que teólogos
têm discutido em tempos passados.
• O processo de teologizar é extremamente importante para o amadurecimento de uma
comunidade de crentes, proporcionando oportunidades de reflexão e apropriação do
texto bíblico. O processo em si pode ser mais produtivo e esclarecedor das profundezas
nas Escrituras do que o resultado final expressado de forma doutrinária.

7.2 A importância de uma teologia contextualizada

• Uma mensagem compreensível - a contextualização é importante, primeiramente, para


dar aos ouvintes da Palavra a chance de entender a mensagem. Evangelizar não é somente
recitar versículos bíblicos de cor, mas, sim, de explicar o conteúdo do evangelho de forma
compreensível.
• Uma mensagem relevante - o povo que recebe o evangelho precisa sentir que a
mensagem tem algo de atual e útil para o momento que vive.
• Uma liturgia contextualizada - a forma de expressar a fé e de realizar o culto a Deus
precisa ser contextualizada, dando possibilidade das pessoas se identificarem com a
adoração e as expressões litúrgicas. Existe em cada cultura elementos aproveitáveis na
adoração ao Criador.
• Uma teologia contextualizada - não no sentido de afastar-se das doutrinas básicas
bíblicas, mas na aplicação destas verdades para o seu contexto. Grande parte da
interpretação que seguimos hoje na América Latina, por exemplo, vem de contextos
completamente alheios ao nosso, com uma forte coloração de sua época e de seu
ambiente. Existem, sem dúvidas, doutrinas supra culturais que precisam ser detectadas e
preservadas. Porém, existem elementos culturais, tanto no texto bíblico como na
interpretação da Igreja durante a história, que precisam ser discernidos e contextualizados
com sabedoria.
• Uma eclesiologia contextualizada - dando a cada povo e a cada cultura a oportunidade de
formar o seu modelo de liderança, de governo e de disciplina.
• Em suma, pode-se dizer que o importante na contextualização é que cada povo, em cada
geração, em cada cultura, sinta que o evangelho lhes pertence. Que não se trata de algo
judaico, ou ocidental, americano ou europeu. Nem algo do homem branco ou apenas do
primeiro século. O positivo com a contextualização é justamente esta atualidade e
relevância do evangelho.

Perigos de uma contextualização sem critérios


Existem, naturalmente, perigos se a contextualização não for bem-feita e de forma criteriosa
com base nos princípios bíblicos. Dois desses perigos são:

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

• Sincretismo cultural - é um dos perigos mais citados pelos autores que tratam do assunto.
Diz Nicholls, “no debate contemporâneo sobre o evangelho e a cultura há dois tipos de
perigos sincretistas - sendo que um é cultural e o outro é teológico. Os antropólogos são
mais sensíveis ao primeiro, e os teólogos ao segundo.”35

Sincretismo cultural adota duas formas, segundo o mesmo autor. A primeira é a entusiástica
tentativa de utilizar acriticamente os símbolos e as práticas religiosas da cultura receptora
para expressar a fé cristã, criando uma fusão de crenças. A segunda, é a de forçar formas
culturais sobre os receptores querendo mudar sua cultura. Leva, também, a uma confusão e
uma mistura, onde no templo no domingo, as práticas "de fora" são seguidas; enquanto no
dia a dia continua a prática nativa.

• Sincretismo teológico e doutrinário


O sincretismo teológico e doutrinário leva a uma perda dos princípios básicos da fé cristã e
precisa ser evitado a todo o custo. Uma contextualização que chega a este ponto torna-se uma
traição ao Mestre da obra e à sua palavra.

Uma teologia contextualizada parte de um profundo conhecimento das Escrituras e da cultura


dentro da qual a reflexão teológica é feita. A tradução da Bíblia para o idioma local é
extremamente importante nesse processo, oferecendo ao leitor a possibilidade de interagir
de forma mais clara e direta com a Palavra de Deus. O modelo que Paul Hiebert propõe para
a contextualização missionária pode ser aplicado, também, no processo da produção de uma
teologia contextualizada, sendo que os princípios supra culturais da revelação bíblica são
respeitados, ao mesmo tempo que, os elementos positivos e até neutros de uma cultura são
aproveitados.36

Reflexão
1. Dê exemplos de linguagem que usamos que não comunica o conteúdo do evangelho para
pessoas que não conhecem o jargão do crente.
2. Como poderíamos contextualizar o Evangelho aos diferentes grupos que compõem a
sociedade brasileira? Dê exemplos concretos. Até que ponto é recomendável que se
contextualize a mensagem bíblica?

35 Nicholls, Bruce. Contextualização, p. 25


36 Ver Hiebert, Paul. O evangelho e a diversidade das culturas: um guia de antropologia missionária.
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MISSÕES

CONCLUSÃO
Tendências teológicas e estratégicas
Finalizamos este estudo da teologia de missões com um resumo das principais tendências
teológicas e estratégicas em missões durante as últimas décadas do século XX e as primeiras
do século XXI.37

• A Grande Comissão, isto é a ênfase na proclamação da mensagem de salvação foi a tônica


até 1950. Tratava-se principalmente de uma dimensão individual e vertical do
relacionamento do ser humano com Deus.
• O Crescimento da Igreja, numa dimensão social e eclesiológica, começou a ser enfatizado
na década dos anos 50. Um forte crescimento da igreja evangélica foi verificado em várias
partes do Mundo, como, por exemplo, no Brasil, na Coréia e no centro-sul da África. O
próprio Movimento de Crescimento da Igreja, que começou a surgir neste período,
contribuiu fortemente para esta tendência de prioridade no trabalho missionário.
• A Independência das Igrejas Emergentes, com a autonomia das igrejas nacionais em
muitos dos tradicionais “campos missionários”, culminou nos anos 60. Em alguns países
este processo já estava em andamento. Em outros, foi a partir do movimento de libertação
política dos colonizadores que, também, as igrejas passaram por este período de
nacionalização.
• O Desafio Ecumênico, com uma dimensão sociopolítica e de integração, chegou ao meio
evangélico na década dos 70. Por um lado, o Conselho Mundial de Igrejas estava se
fortalecendo na união de esforços ocorridos após a II Guerra Mundial. Por outro lado, a
convocação da Conferência de Evangelização Mundial em Lausanne, 1974, contribuiu para
afirmar a necessidade de um diálogo entre as igrejas e denominações evangélicas, assim
como com outras correntes cristãs. O pacto de Lausanne, assinado e adotado pela grande
maioria dos presentes à conferência, incluía um reconhecimento da carência de uma
atuação integral da igreja, com um equilíbrio entre a proclamação do Evangelho e a
atuação social e política.
• A Perspectiva do Reino de Deus, numa dimensão escatológica do “já e ainda não”
(presente hoje, mas vindo de forma completa no retorno de Cristo), enriqueceu o
pensamento missiológico a partir da década dos 70. A influência latino-americana foi
significativa na apresentação do tema por ocasião da Conferência de Lausanne e na
publicação de literatura.
• Uma Visão Trinitariana da Missão, a partir de uma dimensão carismática, também
começou a surgir nos anos 70 firmando-se na década posterior dos anos 80. O movimento
carismático “invadiu” tanto igrejas tradicionalmente pentecostais como não pentecostais,
gerando certa uniformidade na liturgia de culto e na adoração. Também no aspecto da
chamada “Batalha Espiritual” houve uma ênfase cada vez maior no reconhecimento da

37
A descrição destas tendências segue em grande parte uma palestra sobre o tema dada pelo missiológo sueco
Göran Janzon, em preleção feita em Örebro, Suécia, em 1998.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

realidade espiritual e do confronto contra o Mal no trabalho missionário. Certamente


houve exageros afugentando do tema igrejas e missões.
• Povos Não Alcançados, dentro de uma dimensão estratégica, tem sido a principal tônica
dos movimentos missionários das décadas de 80 e 90. Na verdade o tema não era novo e
já tinha sido enfatizado por missiólogos desde o início do século e reafirmado, por
exemplo, no Pacto de Lausanne. Porém, é principalmente a partir do surgimento do
Movimento AD 2000 que o termo se populariza e a vinculação com a chamada “Janela 10-
40” ocorre. Muitas denominações e agências missionárias têm hoje em sua declaração de
missão a preocupação em “alcançar povos não-alcançados”.
• Cooperação Missionária, ou parceira em missões, tem sido o principal tema da ideologia
missionária na década dos anos 90 e no início do século XXI. As chamadas “Alianças
Estratégicas”, que buscam parcerias com vistas a projetos ou povos étnicos específicos,
criam novas possibilidades de alcançar os povos mais remotos e de viabilizar esforços de
evangelização, ação social e de fortalecimento das igrejas emergentes como nunca antes.
• Reflexão Missiológica, numa necessária reavaliação do movimento missionário
internacional destes últimos anos e na busca de relevância para a Missiologia global, é
uma das principais tendências de nossos dias. Após um século de existência como uma
ciência definida, a Missiologia passa por profundas crises tendo sido “sequestrada”,
segundo muitos, pelas ideologias pragmáticas e empresariais do Norte. Em outubro de
1999, a Comissão de Missões da WEA (World Evangelical Alliance) convocou para uma
consulta sobre temas atuais em missões para a virada de século e milênio. Como resultado
da consulta vários grupos de trabalhos foram formados para aprofundar diferentes temas
missiológicos relevantes para os próximos anos de atuação missionária.38
• Igreja Missional e a Missão Holística, são dois temas fortes nas primeiras décadas do novo
milênio. A igreja missional é definida principalmente em função de alcançar a sociedade
da qual a igreja faz parte. No entanto, missiólogos evangélicos têm enfatizado que a
verdadeira igreja missional alcança tanto perto quanto longe; promove a missão de Deus
no seu contexto mais próximo como também participa da evangelização global. A visão
holística do evangelho e da missão tem sido atualizada por movimentos como o de
Lausanne e da Aliança Evangélica Mundial, conforme temos visto acima.
• Contextualização e Discipulado, são outros dois importantes temas no início da terceira
década deste milênio. Com a conversão de pessoas de outras religiões, têm-se discutido
até que ponto um novo convertido precisa deixar sua cultura e seus hábitos quando se
torna um cristão. Veremos mais sobre isso quando tratarmos do tema. Discipulado é,
provavelmente, o maior desafio desses próximos anos, buscando um aprofundamento e
uma coerência na vida do crente e de sua comunidade.

38
Os resultados e o material referente à consulta em Foz do Iguaçu estão reunidos no livro de Taylor, William
(ed.) Missiologia Global para o século XXI.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

Usando a figura do “Cristo Redentor” do Rio de Janeiro, concluímos que a teologia de missões
é, mais que qualquer outra ênfase, a mensagem do Evangelho transformador acerca de Jesus
Cristo. A missão de Deus, para a qual somos convocados para participar, trata da reconciliação
do ser humano com o seu Criador e da restauração de toda a criação afetada pelo pecado do
homem. Diz Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por
mim” (Jo 14.6).

Figura 19 - Cristo Redentor

Fonte: https://visit.rio/que_fazer/cristoredentor/

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TEOLOGIA DE
MISSÕES

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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WRIGHT, Christopher. A Missão do Povo de Deus – Uma teologia bíblica da missão da Igreja.
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TEOLOGIA DE
MISSÕES

ANEXO

Avaliação e trabalhos

Leitura obrigatória do livro “A missão do povo de Deus” de Christopher Wright.


Copie e responda, a primeira pergunta no fim de cada capítulo.

Trabalho
Artigo sobre um tema teológico de missões, usando textos bíblicos e fazendo aplicação ao
contexto atual no Brasil ou no mundo em geral. Formato de acordo com o padrão e normas
da ABNT. (5 a 8 páginas).

Bibliografia sugerida

BLAUW, Johannes. A Natureza Missionária da Igreja. São Paulo: ASTE, 1966.


BOSCH, David J. Missão Transformadora: Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão. São
Leopoldo: Sinodal, 2002.
BURNS, Barbara (ed.). Contextualização Missionária. São Paulo: Vida Nova, 2011
CARRIKER, Timóteo. O caminho missionário de Deus. São Paulo.
CARSON, D.A. Cristo & Cultura – Uma Releitura. São Paulo: Vida Nova, 2012
EKSTROM, Bertil (Ed.) A Igreja em Missão – Fundamentos e exemplos globais. João Pessoa:
Betel Publicações, 2017
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WRIGHT, Christopher. A Missão de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2014.
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