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Genético.
Alexandro Silva de Jesusa
a
Professor Adjunto I do Curso de Museologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Avenida
Professor Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife – Brasil.
alexandrosij@gmail.com
Resumo
Desde o século dezenove, as museo-lógicas vêm se deparando com gestos filosóficos
(Friedrich Nietzsche, Theodor Adorno) e literários (Gustave Flaubert) que não
hesitaram em afirmar a relação estreita e bifurcada da maquinaria museal e
patrimonial com a morte: a um só tempo, elaboração das perdas de um passado cada
vez mais próximo do que costumeiramente entendemos como presente e produção de
um mais de arquivo que resulta no imobilismo dos elementos vitais de uma cultura.
Recentemente(1) no entanto, a noção de patrimônio genético — que além de inaugurar
a possibilidade de uma nova relação entre os domínios do patrimônio, da economia e
dos usos, aponta para um novo protagonismo das comunidades tradicionais — é
anunciada como uma espécie de ultrapassagem dessa condição. Este artigo se
propõe como lugar de teste da consistência dessa promessa. Sua consecução urde
quatro1 proposições sobre: o dever de memória e a (im)possibilidade do pensamento
crítico; o capitalismo e a (im)possibilidade de uso; a relação entre ciência e tradição; o
deslocamento das memórias tradicionais para o arquivo. Essas proposições nos
permitem pensar, respectivamente, sobre a possibilidade efetiva de uma Teoria
Museológica Contemporânea, antecipar a tensão entre consumo e livre uso do
patrimônio genético, reavaliar a função antropológica - e das Ciências Sociais por
extensão - neste cenário, e determinar, assim, os efeitos da intervenção político-
científica nas comunidades tradicionais. Com isso, esperamos oferecer uma
perspectiva sobre a relação entre as museo-lógicas e a biodiversidade a partir de
pesquisas desenvolvidas dentro da nossa linha de pesquisa sobre políticas de
patrimonialização e museus em espaços pós-coloniais.
(1)(1)
De la memoria al archivo: proposiciones sobre el Patrimonio
Genético.
Alexandro Silva de Jesusa
a
Professor Adjunto I do Curso de Museologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Avenida
Professor Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife – Brasil.
alexandrosij@gmail.com
Resumen
Desde el siglo XIX, las museo-lógicas encuentran gestos filosóficos y literarios que
afirman la relación estrecha y bifurcada presente entre la maquinaria del museo y del
patrimonio y la muerte: al mismo tiempo, la elaboración de las pérdidas de un pasado
cada vez más cerca de lo que comprendemos como presente y la producción de
exceso de archivo que resulta en la inmovilización de los elementos vitales de una
cultura. Sin embargo, actualmente la noción de patrimonio genético – además de abrir
la posibilidad de una nueva relación entre los ámbitos del patrimonio, la economía y
los usos, apunta a un nuevo papel de las comunidades tradicionales - es considerada
como una especie de superación de esa condición. Este artículo está pensado para
colocar en prueba la consistencia de esa promesa. Para su logro, elige cuatro
proposiciones: el deber de la memoria y la imposibilidad del pensamiento crítico, el
capitalismo y la imposibilidad de uso, la relación entre la ciencia y la tradición, el
desplazamiento de los recuerdos tradicionales para el archivo. Esas propuestas
permiten reflejar sobre la posibilidad de una efectiva Teoría Museológica
Contemporánea, anticipar la tensión entre el consumo y el uso gratuito del patrimonio
genético, evaluar de nuevo la función antropológica – y de las Ciencias Sociales, por
extensión – en ese contexto, y así determinar los efectos de la intervención política y
científica en las comunidades tradicionales. Con eso, esperamos ofrecer una
perspectiva sobre la relación entre las museo-lógicas y la biodiversidad a partir de la
investigación desarrollada dentro de nuestra línea de investigación sobre las políticas
de patrimonio y museos en espacios postcoloniales.
Abstract
Since the nineteenth century, the museum-logics have coming across with
philosophical (Friedrich Nietzsche, Theodor Adorno) and literary (Gustave Flaubert)
gestures that don not hesitated to affirm the thigh and bifurcated relation of the
patrimonial and museum machinery with death: at the same time, the elaboration of a
past more and more closer than what normally we understand as present and the
production of a plus of archive, which results on the immobilism of vital elements of a
culture. Recently, nevertheless, the notion of genetic patrimony – that goes farther
inaugurating the possibility of a new relation between the patrimony, economy and
uses domains, indicates a new protagonism of traditional communities – has been
announced as a kind of overcoming of that condition. This article has the aim of being
the locus of testing this promise. Its making demands four propositions about: the duty
of memory and the (im)possibility of critical thought; the capitalism and the
(im)possibility of usage; the relation between science and tradition; the traditional
memories displacement to the use of archive. Such propositions allow us to think,
respectively, on the effective of a Contemporary Musicological Theory, forestall the
tension between consume and free usage of genetic patrimony, reevaluate the
anthropological function – and of the social sciences for extension – in this scene, and
determine, thus, the effects of political scientific intervention on traditional communities.
On that way, we hope to offer a perspective on the relation between museum-logics
and the biodiversity since researches developed within our research line about
patrimonialisation and museums in post-colonial spaces.
Sobre isso nos apoiaremos na dúvida de Zbynek Zbyslav Stránský (2008), aquela
incapaz de se decidir sobre a museologia ser ciência ou apenas trabalho prático, como
sintoma do ainda não da Teoria Museo-lógica Extemporânea2. Pois nosso esforço,
aqui, consiste em demonstrar em que condições torna-se (im)possível fazê-la viger.
Por isso, interessa-nos, fundamentalmente:
1. que essa dúvida tornada pública em 1980 no idioma inglês, tenha conhecido sua
tradução na língua portuguesa em 2008 (ou seja, na madrugada de hoje ou, no
2
Seja o que for esta teoria por vir, deverá assumir a função intempestiva que Friedrich Nietzsche
reclamava para a filologia clássica: “Não sei que sentido [ela] poderia ter hoje, senão aquele de exercer
uma influência intempestiva, quer dizer, agir contra a época, por conseguinte, sobre esta época e,
esperamos nós, em benefício de uma época vindoura" (NIETZSCHE, 2005, p.70).
máximo, de ontem), na forma de um visitar de novo3. Registre-se, desde agora, que
não lemos este re-visitar como algum tipo de cortesia ou afeição que se prestasse a
uma história. Pensamos, ao contrário, que esse ter em vistas novamente possui o
sentido de uma urgência, ou melhor, que a urgência da dúvida ainda nos pressiona;
2. que essa mesma indecidibilidade esteja ligada à constatação, no nível scholar, de,
na maioria dos casos, uma "base teórica relativamente fraca" , que ocupa, mesmo nos
centros especializados, "o segundo plano"4. Tratar-se-ia, assim, de uma teoria positiva,
isto é, festiva, sem potência, talvez — e aqui estamos nos apropriando de seu
diagnóstico livremente —, para constituir seus delineamentos.
A dúvida de Stránský diria assim, apenas o fato de uma teoria inconsistente, jamais
saída de seu esboço, sem nada nos revelar em que ponto esta sua condição se cruza
com a exigências que informa a museologia em seu plano técnico; esclarecer essa
relação será a única chance para validarmos nossa proposição. E é neste ponto que
se torna necessário reclamar o sentido forte do trabalho de tradução, que não é outro
senão escrever de novo, nos termos de uma re-invenção. A dúvida de Stransky deve
sofrer, portanto, uma re-elaboração, que é o mesmo que dizer que ela precisa ser
duvidada.
3
O texto Museologia: ciência ou apenas trabalho prático, de Zbnek Z. Stránský foi publicado no idioma
português pela Museologia e Patrimônio, revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Memória
e Patrimônio da Universidade Federal do Estado do rio de Janeiro (UNIRIO). Cabe destacar que se
tratava da primeira edição da Revista e que a seção onde o artigo aparece aprece sob a rubrica
Revisitando.
4
STRÁNSKÝ, 2008, p.103.
Ora, o que dá sentido ao como da prática e a vigência da teoria em questão é o dever
de memória. Trata-se, aí de um diagrama 5 político, ou, o que dá no mesmo, de uma
espécie de máquina abstrata de governo. E a forma mais avançada que esta sua
realidade abstrata se materializa entre nós (a maneira de políticas públicas), submete
a teoria de agora a condição de arconte, para o bem e para o mal, de uma agenda de
Estado. (pressente-se desde já que as coisas se passando dessa forma, haverá
implicações sobre a avaliação da função mediadora que alguns autores reclamam
para os cientistas sociais, em relação às distintas demandas em torno do patrimônio
genético).
5
Diagrama. 1. “mecanismo de poder levado a sua forma ideal; seu funcionamento, abstraindo-se de
qualquer obstáculo, resistência ou desgaste, pode ser bem representado como um puro sistema
arquitetural e óptico: é na realidade uma figura de tecnologia política que se pode e se deve destacar de
qualquer uso específico” (FOUCAULT, 1987, p. 170); 2. Definindo-se por meio de funções e matérias
informes, ele ignora toda a distinção entre conteúdo e uma expressão, entre uma formação discursiva e
uma formação não discursiva. É uma máquina quase muda e cega embora seja ela que faça ver e falar
(DELEUZE, 2005, p. 44).
6
É por isso, adiantamos que a teoria por vir deve levar em consideração o modo se sujeição nos espaços
decoloniais, ou de outro modo, aos lugares de encontro das estruturas (subjetivas, de acesso) de
colonização e das formas de descolonização.
7
KANT, 1993, p. 22.
8
De resto, o dever de Estado que prática museal e teoria de agora se acham submetidas, exige,
necessariamente, que a teoria por vir considere os gestos conceituais e afectivos que desde o Oitocentos,
se empenharam em desencobrir o Estado (ou seja, o imobilismo) no dever de memória.
Proposição 2: O caráter sacramental da experiência capitalista
opõe consumo a todo uso.
Por mais familiar que seja o seu nome, o uso não está de fato presente entre nós, em
sua atualidade viva. Para aqueles, entre nós, que acompanham a problemática sobre
a experiência (problemática que deverá se tornar nevrálgica para a teoria por vir) a
partir dos escritos de Walter Benjamin (1994), torna-se dispensável avisar que
começamos calçados em uma paráfrase. Em modo próprio, seu diagnóstico afirma o
desaparecimento do narrador e da arte de narrar (desaparecimento este, já podemos
pressentir, que coloca todo o pequeno mundo da arte-educação e o outro, um pouco
maior, da educação patrimonial, em maus lençóis). Se nos pareceu necessário
introduzirmos o desenvolvimento da proposição desta forma, é porque acreditamos
que o narrador e o uso possuem uma mesma data de desaparecimento. O que
queremos demostrar é que não se trata, nisto, de uma coincidência, e sim que o
narrador e o uso enquanto inatuais se acham submetidos aos mesmos dispositivos de
rarefação.
Tal tarefa nos exige que a relação entre capitalismo e uso seja avaliada através da
perspectiva de uma filosofia da cultura, especificamente, aquela que faz passar o
capitalismo por uma experiência religiosa. De saída, devemos esclarecer que o que
torna possível que o capitalismo seja traduzido nestes termos é o fato desta filosofia
fazer cessar a oposição convencional entre religião e secularização fazendo com que
a tensão se aplique entre religião e profanação.
É preciso [...] fazer uma distinção entre secularização e profanação. A
secularização é uma forma de remoção que mantém intactas as forças, que se
restringe a deslocar de um lugar a outro. Assim, a secularização política de
conceitos teológicos (a transcendência de Deus como paradigma do poder
soberano) limita-se a transmutar a monarquia celeste em monarquia terrena,
deixando, porém, intacto seu poder.
A profanação implica, por sua vez, uma neutralização daquilo que profana9.
9
AGAMBEN, 2007, p. 68.
hoje, mais do que nunca, devemos levar a sério a relação entre consumo e
destruição).
E mais,
Pode-se definir como religião aquilo que subtrai coisas, lugares, animais,
ou pessoas ao uso comum e as transfere para uma esfera separada.
Não só não há religião sem separação, como toda separação contém ou
conserva em si um núcleo genuinamente religioso11.
Toda a nossa atenção deve recair, portanto, para essa indisponibilidade, para esse
por em reserva (que é uma operação, mais propriamente, técnico-religiosa) que
impede o uso livre e o uso comum de homens, lugares e coisas. Em todo caso,
sabemos que podemos ser acusados, aqui, de pouco critério em nome de uma
conveniência, que enfatizamos apenas os elementos que beneficiam o sentido de
nossa leitura, e que toda a nossa atenção deveria recair também para a
indisponibilidade dos homens, lugares e coisas para o comércio como característico
do gesto religioso, e que assim, os lugares sagrados (e o próprio lugar do sagrado)
continuariam antipáticos às casas dos mercadores. O que podemos dizer: o que se
passa com o capitalismo dá mostras que a insdisponibilidade comercial que os juristas
tomavam por essencial para a definição do religioso era apenas um acidente, e como
tal sua vigência dependia de uma sociedade para a qual as relações de consumo não
constituíam sua escolha original12.
10
Idem, p.65.
11
Id.
12
Neste sentido, ter em mente as analises que José Ortega Y Gasset sobre o papel do dinheiro nas
sociedades ocidentais de hoje e de ontem, possivelmente dará ao nosso argumento mais consistência.
ORTEGA Y GASSET, 2007. Especialmente A dinâmica do tempo.
Pressente-se para onde tudo isso deverá nos conduzir: certamente para o consumo
(mercado), onde, Agamben concluiu, "[...] agora tudo o que é feito, produzido e vivido
[...] acaba sendo dividido por si mesmo e deslocado para uma esfera separada que já
não define nenhuma divisão substancial e na qual todo o uso se torna duravelmente
impossível13. Mas não somente. Pois se tudo o que mostramos sobre a religião puder
ser asseverado, significa que o que chamamos, entre nós, de processo de
musealização (isso o termo deve dar conta do que acontece tanto no museu ou no
interior do IPHAN quanto das museo-lógicas de uma maneira geral), não é outra coisa
senão um procedimento religioso singular (e é exatamente por isso que não podemos
tocar nos objetos que a musealização, pela via do rito, consagra) que retira as coisas
da esfera do uso e as reserva indisponíveis. É por isso que de vez em quando
apanhamos alguém confundindo museu e mercado — e à essa confusão estão
sujeitos todos os tipos de museu e não apenas os museus de arte.
13
AGAMBEN, op. cit. p. 71.
14
BENJAMIN, 1994, p. 114.
como uma vassoura desfiada, como se costuma dizer, mero tateio, à
maneira dos que se perdem na escuridão, tudo tateando em busca do
verdadeiro caminho, quando muito melhor fariam se aguardassem o dia
ou acendessem um archote para então prosseguirem. Mas a verdadeira
ordem da experiência, ao contrário, começa por, primeiro, acender o
archote e, depois, com o archote mostrar o caminho, começando por
uma experiência ordenada e medida — nunca vaga e errática —, dela
deduzindo os axiomas e, dos axiomas, enfim, estabelecendo novos
experimentos15.
Saber que só pode ocorrer ocasionalmente, somente possível como pathos (pois
ocorrido no escuro, choca-se constantemente contra seus objetos) trata-se, aí, como
Agamben já observara, de uma condenação, em favor da ciência, da experiência
tradicional. Mas mesmo nos ensaios de Michel de Montaigne (2001), cuja topografia
constitui um dos mais belos cantos desta experiência que começa ver a si própria
passar (pois Montaigne escrevia tendo como horizonte seu próprio desaparecimento),
uma hierarquia sobre os modos de conhecer também testemunha uma positividade
favorável à ciência:
Não há desejo mais natural do que o desejo de conhecimento.
Experimentamos todos os meios que nos podem levar a ele. Quando a
razão nos falta, empregamos a experiência , [...] que é um meio mais
fraco e menos digno [...]16.
18
DERRIDA, 2001, p. 8.
19
Ibid,, p. 17.
20
Ibid., pp. 15-6.
21
Ibid., p. 18.
medida em que esse termo indica simplesmente a exposição de uma
impossibilidade de usar, de habitar, de fazer experiência 22.
Durante muito tempo o dever de memória funcionou, por Necessidade, como o móvel
e o impensado da política de conservação e da teoria de agora. Hoje, porém, sua vida
de dispositivo começa a ser problematizada. E essa abertura exige que a teoria por vir
enxergue a si mesma como teoria sobre o arquivo, que não é outra coisa senão uma
teoria sobre suportes de memória ou memórias protéticas. Ela deverá se esforçar para
exercer um pensamento que almeje o lado de fora do Estado (e o significado disto não
ficará totalmente evidenciado para o campo museológico, enquanto a perspectiva
sobre os bens culturais de Jean-Jacques Rousseau continuar negligenciado), pois até
aqui, o engajamento da teoria de agora com o mesmo não lhe permitiu formar uma
gramática independente. Eis, portanto, o estado das coisas e o desejo de povir que a
primeira proposição fixa. Todas as outras proposições deveriam oferecer a teoria por
vir, a partir do conceito de patrimônio genético, ocasião de teste.
Firmamos (através da segunda proposição) uma oposição entre uso e consumo para
evidenciar que a analítica de uma teoria por vir não poderá sub-escrever a agenda
política determinada para o patrimônio genético. Ela não poderá sub-escrever ainda, e
pelo mesmo motivo, a mediação das ciências sociais, especialmente a mediação
museológica, nos desacordos de tal agenda. Em parte por que estamos tratando de
um lugar onde não há nenhuma mediação possível entre uso coletivo e consumo
capitalista; o esforço seria, dessa forma, inútil. O motivo mais importante, contudo, é
de natureza técnica e diz a disposição museológica (reservar indisponível), ou melhor,
diz seu partido. Tudo isso pressiona a teoria por vir: sua definição de patrimônio
genético deverá dar conta do jogo de cercamento do uso e de abertura para o
consumo.
22
AGAMBEN, op cit., 73.
23
JEUDY, 2005, p. 29.
Podemos, com o apoio da terceira proposição, desdobrar o que dissemos sobre a
intervenção museológica: no que concerne a sua relação com o modo de vida
tradicional — com o seu novo objeto, portanto —, não será possível nem mediação
nem proteção. E isso porque, seja como ciência ou apenas trabalho técnico, a
museologia é animada por condições que exigem a despossessão da experiência
tradicional. Por outro lado, seria preciso investigar a consistência desse objeto
tradicional que a museologia, hoje começa a fazer parte da posse. Em outras palavras,
a teoria deve se perguntar em que medida a museologia partilha, no fundo, de uma
invenção antropológica24 .
Todas essas coisas dizem, finalmente, um pouco mais. Diz que também que a
intervenção museológica como intervenção de arquivo, reduz ainda mais a vitalidade
deste seu objeto (e, lembremos, isso já aconteceu com a Antropologia). Pois aquilo
que, nos enunciados sobre a biodiversidade, torna a comunidade tradicional
“protagonista” é tão somente a crença de que tal comunidade possui um saber fazer
que se reserva fora, ainda, dos arquivos técnico-científicos. Quando essa condição
estiver superada, será o arquivo (museu) a nos dizer alguma coisa.
Referências Bibliográficas
24
A preocupação de Michel Argier (2011) com os modernos distúrbios identitários e as análises de Jeudy
sobre a maquinaria patrimonial já nos dizem alguma coisa a respeito.