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IBADEP

Instituto Bíblico da Assembleia de Deus Ensino e Pesquisa

www.IBADEP.com
Rua IBADEP, S/Nº - Eletrosul / Bairro IBADEP
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Fone/Fax: (44) 3642-6642
E-mail: ibadep@ibadep.com

Coord. Pr. M. Douglas Scheffel Jr.

Aluno(a):

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Livros Poéticos

Pesquisado e adaptado pela Equipe Redatorial para Curso


exclusivo do IBADEP – Instituto Bíblico da Assembleia de
Deus - Ensino e Pesquisa.

6ª Edição – Agosto/2012

Impressão e acabamento: Gráfica Lex Ltda

Todos os direitos reservados ao IBADEP

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Diretoria

CIEADEP
Pr. Perci Fontoura
Presidente

Pr. Isaias Cardoso dos Santos


1º Vice-Presidente

Pr. Antônio Batista Maia


2º Vice-Presidente

Pr. Daniel Sales Acioly


1º Secretário

Pr. Samuel Azevedo dos Santos


2º Secretário

Pr. Antonio Ferreira


1º Tesoureiro

Pr. Izaias Rodrigues Porto


2º Tesoureiro

IBADEP
Pr. M. Douglas Scheffel Jr.
Coordenador

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Direitos e Deveres
do Aluno

São direitos do aluno:

1. Estar devidamente matriculado no curso de sua escolha;


2. Conhecer o funcionamento do curso por meio da leitura e
aceitação do termo constante no sistema online do IBADEP;
3. Receber, mediante solicitação e pagamento de valor previamente
estipulado, a carteirinha de estudante;
4. Ter acesso ao sistema online do IBADEP, onde poderá acessar
seus dados bem como acompanhar o lançamento de suas notas
referentes as matérias estudadas;
5. Receber o certificado do curso que houver concluído com êxito,
mediante o atendimento dos padrões especificados no manual
do curso, bem como os abaixo mencionados.

5.1. O recebimento do certificado está condicionado a:


5.1.1. Conclusão do curso com aproveitamento de todas as
matérias dentro da média prevista no Manual Geral para
Cursos do IBADEP. Obs. As notas deverão estar lançadas
no Sistema Online do IBADEP;
5.1.2. Solicitação e preenchimento de requerimento específico
junto ao responsável pelo núcleo de estudos da igreja, que
deverá enviar o requerimento devidamente preenchido ao
IBADEP;
• O requerimento de certificado, bem como outros
documentos encontra-se também disponível para
download no endereço www.ibadep.com/downloads
• Alunos da modalidade de curso individual deverão
solicitar seu certificado diretamente ao IBADEP
mediante preenchimento e envio do requerimento;
5.1.3. Envio prévio de toda a documentação exigida, conforme
constante no Manual Geral para Cursos do IBADEP;

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São Deveres do Aluno:

1. Assistir às aulas e aceitar a orientação sadia da palavra de Deus,


individualmente ou através do Monitor(a); portando-se de forma
ética para com os professores e colegas de classe;
2. Honrar o nome de Deus, da Igreja, e do IBADEP, divulgando os
trabalhos do IBADEP e convidando novos alunos;
3. Submeter-se às provas e aos trabalhos previstos para o curso e
dedicar tempo ao estudo diário, conforme o previsto para cada
modalidade de curso;
4. Entregar toda a documentação exigida;
5. Atentar para os prazos de carência de cada curso, a fim de
que, em caso de desistência, possa retornar ao curso com
aproveitamento das matérias já estudadas;
6. Acompanhar suas notas junto ao monitor do núcleo ou
diretamente através o sistema online do IBADEP;
7. Estar ciente de que, será considerado concluinte, apenas o(a)
aluno(a) que possua, nos registros junto à sede administrativa
do IBADEP, todos os documentos exigidos e todas as notas
referentes às disciplinas que formam a grade curricular do curso
concluído, estando estas dentro da média prevista no manual
geral para cursos do IBADEP
8. Estar ciente de que a certificação do curso não implica na ascensão
do concluinte ao ministério, seja este como Pastor, Missionário,
Diácono ou outro; tal ascensão ministerial é prerrogativa da
igreja onde o concluinte servir como membro.
9. As convenções que adotam os cursos do IBADEP como pré-
requisito para a consagração de obreiros, poderá valer-se de
avaliação própria, contudo, o concluinte somente terá direito
a certificação do IBADEP se houver passado pelo sistema de
avaliação previsto no manual do curso que houver concluído.

Informações mais detalhadas poderão ser encontradas no


manual geral para cursos do IBADEP, disponível para download
no site www.ibadep.com bem como em todos os demais canais de
comunicação do IBADEP.

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Cremos

1. Em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas:


O Pai, Filho e o Espírito Santo. (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29).

2. Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível


de fé normativa para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14-
17).

3. Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e


expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os mortos e
sua ascensão vitoriosa aos céus (Is 7.14; Rm 8.34 e At 1.9).

4. Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glória


de Deus, e que somente o arrependimento e a fé na obra
expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode restaurá-
lo a Deus (Rm 3.23 e At 3.19).

5. Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em


Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra
de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus (Jo
3.3-8).

6. No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e


na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente
de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em
nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26 e Hb 7.25; 5.9).

7. No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro


uma só vez em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19;
Rm 6.1-6 e Cl 2.12).

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ix

8. Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa


mediante a obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário,
através do poder regenerador, inspirador e santificador do Espírito
Santo, que nos capacita a viver como fiéis testemunhas do poder
de Cristo (Hb 9.14 e 1Pd 1.15).

9. No batismo bíblico no Espírito Santo que nos é dado por Deus


mediante a intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar
em outras línguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46;
19.1-7).

10. Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito


Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana
vontade (1Co 12.1-12).

11. Na Segunda Vinda premilenial de Cristo, em duas fases distintas.


Primeira - invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da
terra, antes da Grande Tribulação; segunda - visível e corporal,
com sua Igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil
anos (1Ts 4.16. 17; 1Co 15.51-54; Ap 20.4; Zc 14.5; Jd 14).

12. Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo,


para receber recompensa dos seus feitos em favor da causa de
Cristo na terra (2Co 5.10).

13. No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os


infiéis (Ap 20.11-15).

14. E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tristeza e


tormento para os infiéis (Mt 25.46).

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Metodologia de Estudo
Para obter um bom aproveitamento, o aluno deve estar consciente
do porquê da sua dedicação de tempo e esforço no afã de galgar um
degrau a mais em sua formação.
Lembre-se que você é o autor de sua história e que é necessário
atualizar-se. Desenvolva sua capacidade de raciocínio e de solução
de problemas, bem como se integre na problemática atual, para que
possa vir a ser um elemento útil a si mesmo e à Igreja em que está
inserido.
Consciente desta realidade, não apenas acumule conteúdos
visando preparar-se para provas ou trabalhos por fazer. Tente seguir
o roteiro sugerido abaixo e comprove os resultados:

1. Devocional:
a) Faça uma oração de agradecimento a Deus pela sua salvação e
por proporcionar-lhe a oportunidade de estudar a sua Palavra,
para assim ganhar almas para o Reino de Deus;
b) Com a sua humildade e oração, Deus irá iluminar e direcionar
suas faculdades mentais através do Espírito Santo, desvendando
mistérios contidos em sua Palavra;
c) Para melhor aproveitamento do estudo, temos que ser
organizados, ler com precisão as lições, meditar com atenção os
conteúdos.

2. Local de estudo:
Você precisa dispor de um lugar próprio para estudar em casa.
Ele deve ser:
a) Bem arejado e com boa iluminação (de preferência, que a luz
venha da esquerda);
b) Isolado da circulação de pessoas;
c) Longe de sons de rádio, televisão e conversas.

3. Disposição:
Tudo o que fazemos por opção alcança bons resultados. Por
isso adquira o hábito de estudar voluntariamente, sem imposições.
Conscientize-se da importância dos itens abaixo:
a) Estabelecer um horário de estudo extraclasse, dividindo-

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se entre as disciplinas do currículo (dispense mais tempo às


matérias em que tiver maior dificuldade);
b) Reservar, diariamente, algum tempo para descanso e lazer.
Assim, quando estudar, estará desligado de outras atividades;
c) Concentrar-se no que está fazendo;
d) Adotar uma correta postura (sentar-se à mesa, tronco ereto),
para evitar o cansaço físico;
e) Não passar para outra lição antes de dominar bem o que estiver
estudando;
f) Não abusar das capacidades físicas e mentais. Quando perceber
que está cansado e o estudo não alcança mais um bom
rendimento, faça uma pausa para descansar.

4. Aproveitamento das aulas:


Cada disciplina apresenta características próprias, envolvendo
diferentes comportamentos: raciocínio, analogia, interpretação,
aplicação ou simplesmente habilidades motoras. Todas, no
entanto, exigem sua participação ativa. Para alcançar melhor
aproveitamento, procure:
a) Colaborar para a manutenção da disciplina na sala-de-aula;
b) Participar ativamente das aulas, dando colaborações espontâneas
e perguntando quando algo não lhe ficar bem claro;
c) Anotar as observações complementares do monitor em caderno
apropriado.
d) Anotar datas de provas ou entrega de trabalhos.

5. Estudo extraclasse:
Observando as dicas dos itens 1 e 2, você deve:
a) Fazer diariamente as tarefas propostas;
b) Rever os conteúdos do dia;
c) Preparar as aulas da semana seguinte. Se constatar alguma
dúvida, anote-a, e apresenta ao monitor na aula seguinte.
Procure não deixar suas dúvidas se acumulem.
d) Materiais que poderão ajudá-lo:
»» Mais que uma versão ou tradução da Bíblia Sagrada;
»» Atlas Bíblico;
»» Dicionário Bíblico;
»» Enciclopédia Bíblica;

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»» Livros de Histórias Gerais e Bíblicas;


»» Um bom dicionário de Português;
»» Livros e apostilas que tratem do mesmo assunto.
e) Se o estudo for em grupo, tenha sempre em mente:
»» A necessidade de dar a sua colaboração pessoal;
»» O direito de todos os integrantes opinarem.

6. Como obter melhor aproveitamento em avaliações:


a) Revise toda a matéria antes da avaliação;
b) Permaneça calmo e seguro (você estudou!);
c) Concentre-se no que está fazendo;
d) Não tenha pressa;
e) Leia atentamente todas as questões;
f) Resolva primeiro as questões mais acessíveis;
g) Havendo tempo, revise tudo antes de entregar a prova.

Bom Desempenho!

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Currículo de Matérias

qq Educação Geral
rr História da Igreja
rr Educação Cristã
rr Geografia Bíblica

qq Ministério da Igreja
rr Ética Cristã / Teologia do Obreiro
rr Homilética / Hermenêutica
rr Família Cristã
rr Administração Eclesiástica

qq Teologia
rr Bibliologia
rr A Trindade
rr Anjos, Homem, Pecado e Salvação
rr Heresiologia
rr Eclesiologia / Missiologia

qq Bíblia
rr Pentateuco
rr Livros Históricos
rr Livros Poéticos
rr Profetas Maiores
rr Profetas Menores
rr Os Evangelhos / Atos
rr Epístolas Paulinas / Gerais
rr Apocalipse / Escatologia

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Abreviaturas

a.C. – antes de Cristo.


ARA – Almeida Revista e Atualizada
ARC – Almeida Revista e Corrida
AT – Antigo Testamento
BV – Bíblia Viva
BLH – Bíblia na Linguagem de Hoje
c. – Cerca de, aproximadamente.
cap. – capítulo; caps. – capítulos.
cf. – confere, compare.
d.C. – depois de Cristo.
e.g. – por exemplo.
Fig. – Figurado.
fig. – figurado; figuradamente.
gr. – grego
hb. – hebraico
i.e. – isto é.
IBB – Imprensa Bíblica Brasileira
Km – Símbolo de quilometro
lit. – literal, literalmente.
LXX – Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento)
m – Símbolo de metro.
MSS – manuscritos
NT – Novo Testamento
NVI – Nova Versão Internacional
p. – página.
ref. – referência; refs. – referências
ss. – e os seguintes (isto é, os versículos consecutivos de um
capítulo até o seu final. Por exemplo: 1Pe 2.1ss, significa 1Pe
2.1-25).
séc. – século (s).
v. – versículo; vv. – versículos.
ver - veja

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Conteúdo

Capítulo 1
Livro de Jó 21

Capítulo 2
O Livro de Salmos 45

Capítulo 3
O Livro de Provérbios 71

Capítulo 4
O Livro de Eclesiastes 95

Capítulo 5
O Livro de Cantares de Salomão 121

Referências Bibliográficas 144

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A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e


dá sabedoria aos símplices.Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o cora-
ção; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR
é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos
igualmente, justos.
Salmo 19.7-10

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20 Livros Poéticos

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O Livro de Jó 21

Capítulo 1
Tema
Livro de Jó O Autor
Autor: •  A hipótese da autoria mosaica
Incerto. Talvez Moisés ou •  A hipótese da autoria de Jó
•  A hipese da autoria de Eliú
Salomão. •  Nenhuma dessas hipóteses?
Data: Data
Não especificada (do século •  Período interbíblico
•  Período de Salomão
V ao II a.C.). •  Período mosaico
Tema: •  Período de Jó
O sofrimento do piedoso e a A Origem Divina
Soberania de Deus. •  seu singular enlevo espiritual
•  A canonicidade do livro de Jó
Palavras Chave: A Excelência Literária
Pecado e justiça. A Estrutura do Livro
Quem Era Jó
Versículo Chave: •  A historicidade de Jó
Jó 1.21-22. •  Sua terra natal
•  A época em que viveu

J
ó é um dos livros sapien- •  A teologia de Jó
•  A Prosperidade de Jó
ciais1 e poéticos do Antigo O Testemunho de Deus a Respeito
Testamento, “sapiencial”, de Jó
porque trata profundamente de Ensinamentos Notáveis
relevantes assuntos universais
da humanidade; “poético”, Os ícones indicam
porque a quase totalidade do li-
vro está elaborada em estilo po-
ético. Sua poesia, todavia, tem
por base um personagem histó- Conceito Chave
rico e real (Ez 14.14,20) e um
evento histórico real (Tg 5.11).
»» Jó é citado em Ezequiel 14
e Tiago 5;
Muito importante
»» A doença dele pode ter sido
elefantíase;
»» O Senhor deu-lhe o dobro, a
família e a prosperidade lhe
Atenção e foco
1 .  Sapiência: Sabedoria divina.

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22 Capítulo 1 Livros Poéticos

foram restaurados, vendo quatro gerações de descendentes.

Através das experiências de Jó, estaremos enfocando


1 a problemática do sofrimento do justo. Trata-se de um tema
aparentemente difícil em decorrência de suas implicações
teológicas e filosóficas. No entanto, haveremos de constatar que
o crente fiel, até mesmo no cadinho1 da provação, reúne forças
para regozijar-se em Deus.
No ardor de sua angústia, professa Jó: “Porque eu sei que
o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra”
(Jó 19.25).

Tema

Transcendendo o drama humano, centra-se o Livro de Jó


nesta pergunta: “Por que sofre o justo?”.
Que o pecador sofra, todos entendemos! Mas o justo?
Aquele que tudo faz por agradar a Deus? Sidlow Baxter, diante
dessa incômoda temática, afirmou: “Atrás de todo o sofrimento
do homem piedoso está um alto problema de Deus, e atrás
de tudo isso está, subseqüentemente, uma inefável2 e gloriosa
experiência”.
Se a princípio é indesejável a experiência do sofrimento, o
seu propósito, de acordo com a vontade de Deus, é sempre
sublime. Foi o que experimentou o salmista: “Foi-me bom ter
sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos” (Sl 119.71).
William W. Orr resume assim o assunto central de Jó:
“Satanás acusou Deus de não ser correto na sua maneira de
tratar o homem”. Para justificar-se, Deus permitiu que Satanás
afligisse esse “abastado3 homem do Oriente”.
Gleason L. Archer Jr. faz uma interessante análise do tema
de Jó: Este livro trata com o problema teórico da dor na vida dos
fiéis. Procura responder à pergunta: Por que os justos sofrem?
Esta resposta chega de forma tríplice:

1 .  Fig. Lugar onde as coisas se misturam, se fundem. Crisol.


2 .  Inefável: Que não se pode exprimir por palavras; indizível. Fig. Encantador,
inebriante.
3 .  Abastado: Cheio de víveres, do necessário. Endinheirado, dinheiroso, rico,
abastoso.

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O Livro de Jó 23

1. Deus merece nosso amor à parte das bênçãos que concede;


2. Deus pode permitir o sofrimento como meio de purificar e
fortalecer a alma em piedade;
3. Os pensamentos e os caminhos de Deus são movidos por 1
considerações vastas demais para a mente fraca do homem
compreender, já que o homem não pode ver os grandes
assuntos da vida com a mesma visão ampla do onipotente.

Mesmo assim, Deus realmente sabe o que é o melhor para


sua própria glória e para nosso bem final. Esta resposta é dada
em contraste aos conceitos limitados dos três consoladores de
Jó: Elifaz, Bildade e Zofar.
Escreve Henry Hampton Halley: “Ao lermos o livro de Jó do
começo ao fim, devemos nos lembrar de que Jó nunca soube por
que sofria – nem qual seria o desfecho. Os dois primeiros capítulos
de Jó nos explicam por que isso aconteceu e deixam claro que
a causa de seus sofrimentos não era algum castigo por pecados,
mas, sim, a provação de sua fé – Deus tinha plena confiança de
que Jó seria aprovado. Entretanto, embora nós, leitores do livro
de Jó, saibamos desse desfecho, o próprio Jó nada sabia”.
Se Jó não sabia a razão de todo o seu sofrimento, aceitava-o
de forma resignada. Todavia, entre o aceitar e o compreender vai
todo um abismo de interrogações.
Pela fé aceitamos; nem sempre, porém, compreendemos. Foi
o que o Senhor disse a Pedro na cerimônia do lava-pés: “O que
eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois” (Jo
13.7). Enfim, Jó não compreendia por que estava sofrendo, mas
Deus sabia por que ele teria de sofrer. Será que Jó tinha ciência
da importância de seu sofrimento na história da salvação?
Depois de destacar o argumento do livro de Jó, ressalta
Warren W. Wiersbe que Deus usou o sofrimento do patriarca
para derrotar o Diabo. Aduz1 o pastor Wiersbe que os servos de
Deus, quais intrépidos2 soldados, acham-se em pleno campo de
batalha. Às vezes, porém, o campo de batalha acha-se dentro de
nós mesmos.
O enredo de Jó não se resume ao problema do sofrimento
humano; sua temática é transcendente; busca saber por que
1 .  Aduz: Trazer, apresentar (razões, provas, testemunhos, etc).
2 .  Intrépido: Que não tem medo; destemido, firme.

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24 Capítulo 1 Livros Poéticos

alguém como o patriarca é submetido a uma provação tão


grande e inumana1.
O Autor
1
A autoria de Jó é incerta. Alguns eruditos atribuem o livro
a Moisés. Outros o atribuem a um dos antigos sábios, cujos
escritos podem ser encontrados em Provérbios ou Eclesiastes.
Talvez o próprio Salomão tenha sido o seu autor. Possivelmente
Eliú (Jó 32.17) ou o próprio Jó.
F. B. Meyer diz: “O autor é desconhecido. O livro é singular
no cânon pelo fato de não ter nenhuma conexão com o povo
de Israel nem com suas instituições. A explicação mais natural
para isso é que seus eventos são anteriores à história de Israel”.
Quanto à autoria do livro de Jó, vejamos algumas hipóteses.

A hipótese da autoria mosaica


Algumas versões da Bíblia encimavam2 o livro de Jó com
uma informação, sugerindo que fosse Moisés o seu provável
autor. No entanto, que evidências encontramos na referida obra
que nos remetam ao grande legislador dos hebreus?
Segundo esta teoria, Moisés, durante o seu exílio de quarenta
anos em Midiã teria entrado em contato com diversos sábios
gentios que, mantendo-se incólumes3 à idolatria que, pouco a
pouco, ia destruindo o tecido moral e espiritual daquela região,
ainda eram capazes de citar oralmente o longo poema de Jó.
Mas, como não dominavam a arte da escrita, a história corria
o risco de vir a contaminar-se com elementos da cultura e da
religião local, até que se descaracterizasse por completo.
De acordo com esta hipótese, Deus inspira Moisés a registrar
a história de Jó por escrito, a fim de integralmente preservá-la.
Como fazê-lo? O Senhor inspira-o a criar o alfabeto a partir
dos ideogramas egípcios. Mais tarde, o alfabeto hebraico
seria assimilado pelos fenícios que, em suas várias incursões,
transmitem-no aos gregos, e estes aos romanos.
Até que ponto esta teoria é confiável? Desconhecemos
qualquer evidência, quer interna ou externa, que a corrobore .
1 .  Inumana: Alheio ao sentimento de humanidade. Desumano; cruel, atroz.
2 .  Encimavam: Colocar em cima de. Estar situado acima de. Ser o remate de.
3 .  Corrobore: Confirme, comprove.

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O Livro de Jó 25

O abalizado erudito Jacques Bolduc, num trabalho publicado


em 1637, sugere que a participação de Moisés, no livro de Jó,
limitou-se à tradução. Havendo ele encontrado no deserto de
Midiã, em um arameu já bastante arcaico, pôs-se a traduzi-lo 1
para o hebraico. E, assim, de forma providencial, inaugurou
Jó o cânon do Antigo Testamento, antecedendo ao próprio
Gênesis.

A hipótese da autoria de Jó
Embora vivesse o patriarca numa época bastante recuada,
talvez há mais de cinco mil anos, não lhe era desconhecida nem
a arte nem o ofício de escrever.
Num momento de lancinante1 dor, exclama: “Quem me
dera, agora, que as minhas palavras se escrevessem! Quem me
dera que se gravassem num livro! E que, com pena de ferro
e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha” (Jó
19.23,24).
Não podemos inferir destas passagens que fosse Jó um
escritor. O que ele demanda é que, naquele momento, houvesse
um escriba que, eficientemente, lhe registrasse toda aquela
discussão, a fim de que suas razões viessem a público.
Mais adiante, já esgotados seus argumentos, refere-se ele
novamente ao oficio da escrita: “Ah! Quem me dera um que
me ouvisse! Eis que o meu intento é que o Todo-Poderoso me
responda e que o meu adversário escreva um livro” (Jó 31.35).
Seja-nos permitido concluir que, naquele recuadíssimo
tempo, eram os discursos artisticamente gravados em lâminas
de argila que, endurecidas ao sol, perenizavam as filosofias
e máximas daqueles sábios. Outrossim, depreendemos que
algumas declarações, em virtude de sua relevância teológica,
filosófica e histórica, eram esculpidas com ponteiros de ferro
nas rochas, para que todos pudessem lê-las.
Naquelas tertúlias2, havia sempre um estenógrafo3 que, à
semelhança dos jornalistas atuais, tudo registrava.

1 .  Lancinante: Que lancina ou golpeia. Muito doloroso; pungente, aflitivo.


2 .  Tertúlias: Assembléia literária.
3 . Estenógrafo: Indivíduo versado em estenografia; taquígrafo, logógrafo.
Estenografia: Escrita abreviada e simplificada, na qual se empregam sinais que
permitem escrever com a mesma rapidez com que se fala; taquigrafia, logografia

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26 Capítulo 1 Livros Poéticos

Embora revelem tais passagens o modo como os antigos


escreviam, não nos indicam elas que fosse Jó um escriba, nem
que haja ele composto o livro que lhe leva o nome.
1
A hipótese da autoria de Eliú
Mencionar a hipótese de ter sido Eliú o autor do livro de Jó,
também é valido.
Apesar de não o declarar o texto sagrado, temos neste jovem
teólogo todos os elementos de um excelente escritor: amplo e
correto conhecimento de Deus, singular cultura geral, expressão
verbal incomum e inspirada paixão ao discursar. Levemos
conta também sua concentração. Ouviu atentamente a todos os
discursos, e depois, chegada a sua hora de falar, rebateu-os de
maneira enérgica e mui consentânea.
Consideremos, ainda, haver sido Eliú o único personagem
do livro de Jó, de quem temos uma genealogia básica. Declina-
lhe o texto sagrado o nome do pai e do avô: Eliú, o de Baraquel,
o buzita, da família de Rão (Jó 32.2). Simples coincidência? Ou
quis o jovem escritor assinar a obra de maneira modestamente
sutil e delicada?
Lembremo-nos de que há outros livros nas Sagradas
Escrituras, nos quais a rubrica de seus autores aparece de forma
bastante sub-reptícia1. Haja visto os Atos dos Apóstolos. Aqui,
só conseguimos identificar o médico amado através daquelas
seções que passariam à história como “nós”.
E os Evangelhos? Em Mateus, temos a assinatura de Levi?
Ou em Marcos a firma do primo de Barnabé? Ou em Lucas
algum sinal daquele tão solícito, companheiro de Paulo?
Se Eliú não é o autor de Jó, sua biografia foi preservada
de maneira altruística pelo escritor sagrado; e, caso tenha sido
ele o estenógrafo que a tudo registrou, temos alguém que,
corajosamente, compôs o livro, atestando-lhe a procedência
divina.
De igual modo atentemos para o fato de ter sido Eliú o único
a não sofrer qualquer reprimenda do Todo-Poderoso. Isto não
significa, porém, que, como autor, haja ele buscado preservar
a própria imagem. Mas, reunindo tantas qualidades espirituais

1 .  Sub-reptícia: Obtido por meio de sub-repção, ilicitamente; fraudulento. Feito às


ocultas; furtivo.

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O Livro de Jó 27

e tantos predicados intelectuais e artísticos, seria o instrumento


perfeito para lavrar o diálogo que, até hoje, não foi superado
por nenhum literato.
Não seria de todo descabido estabelecer um paralelo 1
entre o livro de Jó e os diálogos de Platão. Quem escreveu
aquelas longas discussões, onde Sócrates expunha toda a sua
filosofia, esforçando-se por levar seus ouvintes a descobrir o
real significado da verdade? Tradicionalmente, a autoria de tais
diálogos é atribuída a Platão. Entretanto, quase não se nota a
presença deste naquelas tertúlias.
Não acontece o mesmo no livro de Jó? Aliás, o gênero
literário dos diálogos não nasceu com os gregos; tem a sua
origem naqueles rincões1 orientais, onde os sábios reuniam-se
para tentar resolver os problemas da vida.
Que evidências possuímos para corroborar a hipótese de
ter sido Eliú o autor do livro de Jó? Todavia, ajuda-nos ela a
centrar nossa atenção naquele jovem que, se não foi o autor
da obra, soube conduzir a questão de tal forma que o Senhor
Deus, utilizando-se de seu discurso como introdução, argüiu2 ao
patriarca o verdadeiro significado do sofrimento do justo.

Nenhuma dessas hipóteses?


Há os que dizem ter sido o livro de Jó escrito por Salomão.
Pois somente o sábio rei de Israel teria condições de reunir
tanto engenho e arte para compor semelhante poema. Outros
alegam que a obra foi escrita no período interbíblico por um
daqueles escritores que não faziam questão de se esconder
no anonimato nem de usar o nome de algum personagem de
primeira grandeza do passado.
Ora, como pôde o Senhor esconder, no anonimato, o maior
dos poetas? Era também sua intenção submeter o escritor à
prova da humildade? Deus tem razões que a razão humana
desconhece.

Data

Há três diferentes pontos de vista sobre a data da escrita


1 .  Rincões: Lugar retirado ou oculto; recanto.
2 . Arguiu: Examinar, questionando ou interrogando.  

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28 Capítulo 1 Livros Poéticos

deste livro. Talvez tenha sido escrito:


• Durante a era patriarcal (cerca 2000 a.C.). Pouco depois
da ocorrência dos eventos citados, e talvez pelo próprio
1 Jó;
• Durante o reinado de Salomão ou pouco depois (cerca
950 – 900 a.C.). Pelo fato de o estilo literário do livro
assemelhar-se ao da literatura sapiencial daquele período;
• Durante o exílio de Judá (cerca 586–538 a.C.). Quando,
então, o povo de Deus procurava entender teologicamente
o significado da sua calamidade (cf. Sl 137). Se não foi
o próprio Jó, o escritor deve ter obtido informações
detalhadas, escritas ou orais, oriundas daqueles dias, as
quais ele utilizou sob o impulso da inspiração divina para
escrever o livro na feição em que o temos. Partes do livro
vieram evidentemente da revelação direta de Deus (Jó
1.6-10).

À semelhança da questão anterior, não podemos estabelecer


a época precisa da composição do livro de Jó. Comecemos,
pois, pelas mais improváveis.

Período interbíblico
Pela antigüidade do livro, não acreditamos ter sido este
um produto da chamada era interbíblica. Isto porque, o
hebraico desse período já não tinha o mesmo grau de pureza
e de esplendor que encontramos no referido livro. Além disso,
Ezequiel, que profetizara por volta do século VI a.C., menciona
a obra que, infere-se, já era bastante conhecida em seu tempo
(Ez 14.20).

Período de Salomão
Tendo em vista a qualidade do hebraico usado neste período,
não são poucos os eruditos que defendem a hipótese de não
somente ter sido Jó escrito nessa época, como a possibilidade
de este ter a Salomão como autor. Caso o livro de Jó haja sido
escrito no período de Salomão, sua data de composição pode
ser situada entre o 10º e o 9º século. Esta foi a época áurea1 da
língua hebraica.
1 .  Áurea: Fig. Brilhante, magnífico; de grande esplendor.

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O Livro de Jó 29

Período mosaico
Não vai longe o tempo em que havia quase que uma
indiscutível unanimidade não somente quanto à autoria do livro 1
de Jó, como também respeitante à data de sua composição.
Ora, sendo Moisés o seu autor, a obra foi composta por volta do
século XV antes de Cristo. Foi a época de formação da língua
hebraica que, adotando o alfabeto, tornou-se um dos idiomas
mais perfeitos de todos os tempos.

Período de Jó
Finalmente, se o livro de Jó foi composto por Eliú, podemos
situar a época de sua composição por volta do século XXV a.C.
Nesse período, a escrita já era uma ciência bastante conhecida.
Aceita esta hipótese, duas conclusões podem ser tiradas:
»» Jó não foi escrito em hebraico, mas num idioma
pertencente ao mesmo tronco lingüístico;
»» Na sua composição, o autor sagrado certamente não
usou o sistema alfabético, e sim ideogramas emprestados
do Egito.
Encontrando a obra em Midiã, o exilado Moisés atualizou-a,
traduzindo-a para o hebraico.
Excetuando a primeira hipótese, as outras poderiam ser
acolhidas sem qualquer prejuízo à qualidade inspirativa da
obra. Isto porque, encerrado o cânon hebraico com Malaquias,
no século V a.C., não mais se admitiu a inclusão de qualquer
outro livro no Antigo Testamento como divinamente inspirado.

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30 Capítulo 1 Livros Poéticos

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas
1
1. É o tema do livro de Jó
a. o Comunhão com Deus em oração e louvor
b. o O sofrimento do piedoso e a Soberania de Deus
c. o A busca por algo de verdadeiro valor nesta vida
d.o Sabedoria para um viver justo

2. Quanto à autoria do livro de Jó é incerto afirmar que


a. o Alguns eruditos atribuem o livro a Moisés
b.o Talvez o próprio Salomão tenha sido o seu autor
c. o Possivelmente Eliú ou o próprio Jó tenha escrito o livro
d.o 0 A autoria de Jó é atribuído á Esdras

3. Não é um diferente ponto de vista sobre a data da escrita do


livro de Jó
a. o Período mosaico
b.o Período de Salomão
c. o Período pós-exílico
d.o Período de interbíblico

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

4. [ ] Jó é um dos livros sapienciais e poéticos do AT, “sa-


piencial”, porque trata profundamente de relevantes
assuntos universais da humanidade; “poético”, porque
a quase totalidade do livro está elaborada em estilo
poético
5. [ ] Transcendendo o drama humano, centra-se o Livro de
Jó nesta pergunta: “Por que sofre o justo?”

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O Livro de Jó 31

Anotações:

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32 Capítulo 1 Livros Poéticos

A Origem Divina
Não obstante as excelências estilísticas do poema, atentemos
1
para o fato de que não estamos diante apenas de uma obra-
prima da literatura universal, mas de um livro originado no
coração do próprio Deus. Vejamos por que Jó é de procedência
divina.

Jó é de origem divina por causa de seu singular enlevo


espiritual
Sentimos ser o livro de Jó de origem divina não somente por
causa de sua antigüidade, mas principalmente em virtude da
edificação que proporciona aos seus leitores. Quem suportaria
ler Homero, Hesíodo, Virgílio e Camões por mais de cinqüenta
vezes com o mesmo embevecimento1? No entanto, o livro de Jó
oferece-nos, a cada manhã, um singular enlevo espiritual.
Atentemos para a afirmação de Carlyle: “Eu classifico esse
livro... como uma das maiores obras já escritas com a pena”.
“Dá a impressão de que não é hebreu – nele reina uma
universalidade tão grandiosa, bem diferente de um ignóbil
2
patriotismo ou sectarismo”.
“Um livro nobre, o livro de todos os homens! É a nossa
primeira e mais antiga declaração acerca do infindável problema
– o destino do homem e os procedimentos de Deus com ele aqui
nesta terra. E tudo é feito em síntese tão livre e tão fluente; é tão
grandioso em sua sinceridade e simplicidade... Sublime tristeza,
sublime reconciliação; a mais antiga melodia coral, como que
entoada pelo coração da humanidade; tão suave e tão grande;
como a meia-noite do verão, como o mundo com seus mares e
estrelas! Não há nada escrito, penso eu, na Bíblia ou fora dela,
de igual mérito literário”.
William W. Orr, que se destacou como teólogo de grande
piedade, afirmou que o livro de Jó instiga-nos a analisar os
grandes temas da vida espiritual. Acrescenta Orr: “De todos
os livros da Bíblia, contém a maior concentração de teologia
natural, das obras de Deus na natureza”.

1 .  Causar enlevo, êxtase, a.


2 .  Que não tem nobreza; baixo, desprezível, vil, abjeto.

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O Livro de Jó 33

A canonicidade do livro de Jó
A inserção de Jó no cânon sagrado jamais foi questionada.
Não fora sua origem divina, ter-se-ia perdido facilmente como o 1
foram muitas obras primas da antigüidade. No entanto, o Senhor
conduziu os acontecimentos de tal forma que, preservando-o,
consola-nos hoje através do drama de seu virtuosíssimo servo.

A Excelência Literária

Ressaltando a beleza literária de Jó, escreve Michael D.


Guinan que este, além de haver sido escrito numa poesia mui
elevada, está repleto de expressões ricas e variadas. Acrescenta-
se ainda, destaca Guinan, que nesta porção sagrada “há
palavras raras e palavras encontradas uma única vez na Bíblia”.
Alguns hermeneutas chegaram a sugerir que o autor do livro
de Jó viu-se obrigado a criar diversos vocábulos para expressar
todo o drama vivido pelo patriarca. E não poucos estudiosos
tiveram de recorrer a outras línguas semitas, como o aramaico,
o árabe e o ugarítico, a fim de entender-lhe devidamente as
expressões.

Gênero literário
Jó é um poema cujo prólogo é desenvolvido numa prosa
vívida e envolvente, e cujo epílogo é também composto em
ritmo prosaico. Não falta poesia, contudo, nem ao prólogo nem
ao epílogo.
A obra toda segue o modelo semítico caracterizado por
antíteses, paralelismos, metáforas e outras riquíssimas figuras
de retórica. Foi por isso que Tenysson asseverou ser o livro de
Jó o maior poema já escrito. Se nos detivermos apenas nas
excelências literárias de Jó, poderemos vir a deixar de lado seus
ensinamentos espirituais, teológicos e morais; o poema é, de
fato, celestialmente único e divinamente inimitável.

Poesia e história
Apesar de seu gênero literário, não podemos ignorar: Jó é
um poema histórico, e nele nada foi hiperbolizado.
O autor sagrado foi exato em sua descrição, fiel em seu

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34 Capítulo 1 Livros Poéticos

registro e leal ao relato que testemunhara. Se houve mitos em


Homero; se, fantasias em Virgílio; se, exageros e devaneios em
Camões; se todos esses poetas, posto que poetas, distorceram
1 a realidade para valorizar uma rima, para tornar perfeita uma
métrica e para fazer sonhável uma realidade, o autor sagrado
manteve-se escravo daquilo que presenciara; em sua servidão à
prosa, contudo, não pôde evitar a mais perfeita poesia.

A Estrutura do Livro

A estrutura de Jó segue um esquema lógico e literariamente


perfeito. O livro foi escrito tendo em vista o seguinte esquema:
»» Prólogo. Composto numa prosa cristalina e vivida
sintetiza a existência de Jó antes de seu sofrimento, e as
dúvidas que Satanás levantara diante do Senhor acerca
de seu caráter.
»» Diálogo. Numa série de três diálogos, Jó discute com seus
amigos acerca do tema principal da obra: o sofrimento do
justo.
»» Monólogos. Dois são os monólogos do livro: o de Eliú
que, com autoridade, repreende o patriarca, afirmando-
lhe que Deus tem o inquestionável direito de provar os
seus servos, a fim de que estes alcancem à perfeição. E,
finalmente, o monólogo de Deus que, de forma indutiva,
leva Jó a compreender e a aceitar as reivindicações
divinas quanto à provação do justo.
»» Epílogo. Também composto em prosa, narra a
restauração completa de Jó. Espiritual e materialmente
torna-se o patriarca um homem muito melhor. Se antes
era perfeito no caráter, agora se torna um padrão a ser
imitado por todos os servos de Deus.

Quem Era Jó

Jó foi considerado pelo próprio Deus como um dos três


homens mais piedosos de todos os tempos (Ez 14.14). Não é
sem razão que, em hebraico, encerre o seu nome um significado
tão amoroso: voltado para Deus!

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O Livro de Jó 35

A historicidade de Jó
Dois autores sagrados comprovam-lhe a historicidade:
Ezequiel e Tiago (Ez 14.20; Tg 5.11). Laboram em grave erro, 1
portanto, os teólogos liberais1 que dizem não passar o patriarca
de uma mera ficção literária. As evidências bíblicas e históricas
atestam ter existido, de fato, o homem que se tornou conhecido,
universalmente, como o mais perfeito sinônimo de paciência.
Além das passagens supracitadas, que afiançam o fato de
ser Jó um personagem histórico e real, tem o testemunho do
próprio Deus. Testemunho este, aliás, dado em primeira mão
a Satanás (Jó 1.8). Por outro lado, não podemos confundir os
personagens do livro de Jó com os homônimos que aparecem
em algumas genealogias bíblicas. Há também os que supõem
ter sido Jó procedente da tribo de Issacar (Gn 46.13).

Sua terra natal


Localizada no Norte da Arábia, a terra de Uz ficava na
confluência de várias rotas importantes. E isso facilitou tanto as
incursões dos sabeus e caldeus às propriedades de Jó, como o
rápido deslocamento de seus amigos quando “combinaram ir
juntamente condoer-se dele e consolá-lo” (Jó 2.11).
Embora proviessem Zofar, Bildade e Elifaz de diferentes
lugares, não tiveram dificuldades em chegar a Uz.

A época em que viveu


Jó viveu num tempo em que a longevidade humana era
ainda prevalecente. Depois de todas as suas tribulações, teve o
patriarca uma sobrevida de 140 anos (Jó 42.16). Infere-se, pois,
haja sido de aproximadamente 200 anos a sua idade ao falecer.
Como o livro não faz qualquer menção aos pais da nação
israelita nem à destruição de Sodoma e Gomorra, entende-se
então que Jó tenha vivido numa época anterior à do patriarca
Abraão, entre os séculos XXV a XXIII antes de Cristo. Por
conseguinte, Jó nasceu depois do dilúvio, do qual faz referência
(Jó 22.16), e antes dos primeiros ancestrais do povo judeu.

1 .  Teólogos Liberais: Signatários do movimento iniciado nos Estados Unidos e Europa,


no final do século XIX, cujo objetivo essencial era extirpar da Bíblia todo elemento
sobrenatural, submetendo as Escrituras a uma crítica científica e humanista. Via de
regra, questionam e subestimam os milagres, as profecias e a divindade de Jesus.
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36 Capítulo 1 Livros Poéticos

A teologia de Jó
A teologia de Jó é de uma singular e impressionante
1 sublimidade. O patriarca acreditava firmemente em:
• O Deus Único e Verdadeiro a quem, por 31 vezes, chama
de Todo-Poderoso (Jó 5.17).
• A soberania divina (Jó 1.21; 42.2).
• O glorioso advento do Cristo: “Porque eu sei que o meu
Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra”
(Jó 19.25).
• Justificação1 pela fé. Este postulado acha-se implícito
na pergunta: “Como se justificaria o homem para com
Deus?” (Jó 9.2).
Profundamente reflexivo, Jó foi um teólogo de raríssimos
pendores; buscava sempre se aprofundar no conhecimento
divino. O seu livro traz ensinos dos mais profundos sobre a vida
cristã em geral.

A Prosperidade de Jó

Certa feita, afirmou o Senhor Jesus ser mais fácil a um


camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico
entrar no Reino dos Céus (Mt 19.24). Por este orifício, contudo,
passou Jó com todos os seus rebanhos, manadas e cáfilas2; sua
confiança não se encontrava nos bens materiais; centrava-se no
Deus que criou tanto o material quanto o imaterial (Jó 31.28).
O patriarca desfrutava ainda de um status digno de um
príncipe. Não obstante, perseverava em sua integridade; jamais
se deixou seduzir pela riqueza, fama e poder; era um homem
comprovadamente fiel a Deus.

Sua proverbial riqueza


Assim a Bíblia relaciona as riquezas de Jó: “E era o seu gado
sete mil ovelhas, e três mil camelos, e quinhentas juntas de bois,
e quinhentas jumentas; era também muitíssima a gente ao seu
1 .  Justificação: Estado, por meio do qual o homem passa do pecado ao estado
de graça, tornando-se digno da vida eterna. Neste processo judicial, o pecador
arrependido é declarado justo pelo Senhor Jesus Cristo (Rm 8.1).
2 .  Cáfilas:Grande quantidade de camelos que transportam mercadorias.

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O Livro de Jó 37

serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os


do Oriente” (Jó 1.3).

Seu status social 1


O ilibado1 caráter de Jó, aliado à sua proverbial riqueza,
guindaram-no a uma alta posição social. Embora não fosse rei,
era ele tratado como nobre (Jó 29.8). Seu elevado padrão de
vida espiritual era conhecido em toda aquela região.

O Testemunho de Deus a Respeito de Jó

Jó certamente não era perfeito. Deus, porém, via-o como o


mais singular dos mortais: “Ninguém há na terra semelhante a
ele” (Jó 1.8). A quem presta o Senhor semelhante testemunho?
Ao adversário que tudo faz por caluniar-nos e nos comprometer
a reputação (Ap 12.10).
O depoimento divino, contudo, é incontestável. Se Deus é
por nós, quem será contra nós (Rm 8.31). Jó tinha um caráter
notabilíssimo; sobressaía entre todos os seus contemporâneos.
Jó era um homem:
»» Sincero. Este é o significado etimológico da palavra
sincero: sem cera. Remete-nos este vocábulo à Antiga
Roma, onde os atores entravam em cena trazendo
máscaras de cera. O homem sincero, por conseguinte,
não é dissimulado nem vive a representar algo que não
é. Jó não era um mero ator; era um autêntico homem de
Deus (1Tm 6.11);
»» Reto. Era o patriarca, um homem justo, imparcial e
direito. Não se deixava comprar pelos poderosos, nem se
vendia aos ricos. Sua justiça era notória tanto diante de
Deus quanto diante dos homens (Gn 6.9).
»» Temente a Deus. A sinceridade e a retidão de Jó
advinham do fato de ele temer ao Senhor. Não somente
acreditava na existência de Deus, como tremia ante a
sua verdade e santidade. Sabia o patriarca estar o Todo-
Poderoso atento a todas as ações dos filhos de Adão (Ne
7.2).

1 .  Ilibado: Não tocado; sem mancha; puro, incorrupto.

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38 Capítulo 1 Livros Poéticos

»» Que se desvia do mal. Jó não se limitava a fugir do


pecado; fugia da tentação, pois esta induz o homem à
iniqüidade e à morte (Tg 1.13,14). Embora não houvesse
1 ainda qualquer mandamento escrito, tinha o patriarca em
seu coração as leis, os mandamentos e os estatutos do
Senhor (Rm 2.14).

Um Pai de Família Exemplar

Jó era um homem que se preocupava com o bem-estar


espiritual de seu lar. Todas as vezes que seus filhos reuniam-se
para se banquetearem, levantava-se ele, de madrugada, para
interceder e fazer sacrifícios por eles diante de Deus.
Temia que seus sete filhos e três filhas, seduzidos já pelo
vinho, ou já embaídos pela euforia dos festins, viessem a
blasfemar do Todo-Poderoso (Jó 1.5).

Ensinamentos Notáveis

A história de Jó nos traz mensagens distintas sobre as


necessidades e as expectativas do homem pecaminoso.
Tais necessidades e inquirições1 são relatadas como sendo
impossíveis de serem atendidas até que Jesus viesse para
preencher cada necessidade e responder a cada expectativa do
coração do homem.
• Há um clamor por um mediador, alguém que ponha a
mão sobre nós.
• Há um anseio por luz sobre o futuro – “Morrendo o
homem, porventura tornará a viver?”.
• Havia a necessidade de alguém para defender a sua causa.
Deus tem de agir – a provisão está em Cristo. “Porque ele
não é homem, como eu, a quem eu responda”.
• Há a necessidade de um redentor ou vindicador2 . “Porque
eu sei que meu Redentor (vindicador) vive”.
• Devemos ter um juiz, alguém diante de quem nosso
vindicador possa ir e defender a nossa causa.
• Devemos ter um livro de acusações para mostrar a culpa
1 .  Inquirição: Inquérito; averiguação, indagação.
2 .  Vindicar:Reclamar ou exigir, em juízo, a restituição de; reivindicar; reclamar.

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O Livro de Jó 39

que está em nós. A Bíblia é o que Deus escreveu.


• Há a necessidade de uma visão de Deus que nos dê um
senso da justiça de Deus e do valor humano, levando-nos
ao arrependimento. 1

Vê-se Deus eminente e minuciosamente a par do caráter
íntimo, bem como dos acontecimentos exteriores na vida de um
homem. Faz elogios rasgados à integridade deste homem (Jó
1.8); por sua vez, parece que a constante prática de Jó era um
oferecimento de sacrifícios contínuos a Deus, tanto por si como
por sua família (cf. 1Jo 1.7-9).
A resposta que a vitória da sua paciência nos dá, é uma
justificação mais do que suficiente da honorabilidade1 de Deus.
Jó adorou mesmo sob extrema adversidade.
Um grande problema da humanidade, a causa dos
sofrimentos humanos, é em grande parte deixado sem resposta.
Por quê? Porque nem sempre é possível dar a resposta.

1 . Honorobilidade: Merecimento, benemerência.  

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40 Capítulo 1 Livros Poéticos

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas
1
6. A estrutura do livro de Jó é formada por:
a. o Prólogo; diálogo; monólogos e epílogo
b. o Poemas acrósticos; decálogo e doxologia
c. o Prólogo; doxologia; epílogo e diálogo
d.o Poemas acrósticos; monólogos e decálogo

7. Os dois autores sagrados que comprovam a historicidade do


livro de Jó são:
a. o Jeremias e Pedro
b. o Isaías e Judas
c. o Ezequiel e Tiago
d.o Daniel e João

8. Não faz parte da teologia de Jó


a. o O Deus Único e Verdadeiro
b.o A soberania divina
c. o O glorioso advento do Cristo
d.o Justificação pelas obras

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

9. [ ] Jó certamente era perfeito. Deus via-o como o mais


singular dos mortais: “Ninguém há na terra semelhante
a ele”
10. [ ] Jó era um homem que não se preocupava com o bem-
estar espiritual de seu lar, pois, seus filhos eram seduzi-
dos pelo vinho e festins

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O Livro de Jó 41

Anotações:

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42 Livros Poéticos

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O Livro de Salmos 43

A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR


é fiel e dá sabedoria aos símplices.Os preceitos do SENHOR são retos e
alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O
temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR
são verdadeiros e todos igualmente, justos.

Salmo 19.7-10

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44 Livros Poéticos

44

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O Livro de Salmos 45

Capítulo 2
Os Autores
Livro de Salmos Data
Autor: A Divisão do Livro
Davi, Asafe, filhos de Coré e Características Principais
O Vocábulo Salmos
outros. Temas
Data: Compilação
100-300 a.C. Classificação
Uso Litúrgico
Tema: Títulos
Comunhão com Deus em Interpretação
oração e louvor. O Livro de Salmos ante o NT
Palavras Chave:
Júbilo, misericórdia (amor e
benignidade), louvor, inimi-
gos, senhor e justiça.
Versículo Chave:
Sl 23.

O
constante encanto e
atualidade dos Salmos
são devidos, principal-
mente, à intensidade espiritual.
Os salmistas são unânimes em Os ícones indicam
adorar a Deus, seja qual for o
modo, motivo ou variedade de
circunstâncias.
Cada um destes hinos, cada Conceito Chave
uma destas orações, é uma ex-
pressão ou um eco de uma vívi-
da relação pessoal com Ele. Foi
incorporada nestes poemas uma
Muito importante
qualidade dinâmica de vida. Por
detrás das palavras existe uma
experiência profunda e, para
além da experiência, encontra-
se uma manifestação de Deus. Atenção e foco

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46 Capítulo 2 Livros Poéticos

Cada salmo torna-se assim um sorvo1 da própria fonte da vida.


Há três temas principais deslizando através do Saltério 2.
1. Um encontro pessoal com Deus, envolvendo o princípio
da Sua existência real.
2. A importância da ordem natural das coisas, envolvendo
o princípio do poder criador, universal e sábio de Deus.
3. Um conhecimento consciente da história, envolvendo o
princípio da escolha Divina de Israel para desempenhar
um papel especial e benevolente entre os homens (cfr. Sl
2 48; 74; 78; 81; 105; 106 e 114).
O nome hebraico do livro é Tehillim, que significa “Cânticos
de Louvor”. Embora se manifeste, em certas ocasiões um
sentimento de confusão por causa de alguma injustiça
temporal (como em Sl 37 e 73), há uma expressão dominante
de esperança, não só no conceito messiânico de uma única
manifestação futura de Deus ao homem, mas também na
realidade e na eficácia do perdão divino do pecado (ver, por
exemplo, Sl 25; 51 e 70).
Há também um sentido profundo do caráter objetivo da
religião. Os salmistas tratam mais com Deus do que com os
homens, e lançam-se, para alcançá-lo, num abandono de si
próprios. Deus é conhecido como universal (Sl 65; 67), supremo
na natureza (Sl 29) e na história (Sl 78), constante (Sl 102) e,
acima de tudo, fiel, pessoal, gracioso, ativo e adorado (Sl 139).

Os Autores

Somando 150, os Salmos foram escritos por:


Davi. Segundo os títulos, escreveu 73 deles, era o espírito
bravo, corajoso, mas, sobretudo devotado a Deus. Gostava de
cantar e tocar instrumentos, cantando para Deus, pelo Espírito
de Deus;
»» Asafe. Um vidente (2Cr 29.30); autor de 12 salmos, foi
posto sobre serviço de canto na casa de Deus (Ne 12.46;
1Cr 6.32,39);
»» Salomão. Recebeu de Deus a maior riqueza e o maior
1 .    Sorvo:Ato ou efeito de sorver; sorvedura. Trago, gole, golo.
2 .  Saltério: Designação que os setentas (tradutores do Antigo Testamento em grego)
deram aos Salmos.

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O Livro de Salmos 47

grau de sabedoria de todos os tempos; escreveu dois


salmos, o 72 e o 127;
»» Moisés. Autor do Salmo 90. Além disso, há também o
seu “último cântico” que é registrado em Deuteronômio
capítulo 32;
»» Hemã. Filho de Joel e neto de Samuel; era profeta
e cantor-regente de um misto coral e orquestra o qual
participava seus 14 filhos e 3 filhas (1Cr 25.5,6), além
de outros cantores e instrumentistas (1Cr 6.33 e 15.19);
escreveu o Salmo 88;
2
»» Etã. Um dos compositores do coral-orquestra de Hemã,
que tocava instrumentos de metal (1Cr 15.19); era filho
de Zima e neto de Simei, aquele que amaldiçoou Davi
em Baurim (2Sm 16.5; 1Rs 2.8-44). Escreveu o Salmo
89;
»» Esdras. A ele se atribuiu a autoria de salmos que alguns
autores dão como anônimos;
»» Ezequias. Rei de Judá, filho de Acaz (2Cr 28.27; 29.30); é
tido como um dos autores dos Salmos;
»» Os filhos de Coré. Coré era descendente de Levi (Nm
16.1,2) e intentou uma rebelião contra Moisés. Os filhos de
Coré continuaram a serviço de Deus e se tornaram guias
de adoração em Israel, formando um grupo de cantores
no templo, cujas músicas eles próprios escreviam. A eles
se atribuiu a feitura de 11 salmos: 42 e seguintes;
»» Jedutum. Cantor-mor do tabernáculo (1Cr 25.1); era
um dos profetas que Davi separou para o ministério de
louvor, juntamente com Asafe, Hemã e outros (1Cr 25.5).
Muitos salmos são de fonte desconhecida. Os estudiosos
judeus os chamam de “salmos órfãos”.
As referências bíblicas e históricas sugerem que Davi (1Cr
15.16-22), Ezequias (2Cr 29.25-30; Pv 25.1) e Esdras (Ne
12.27-36, 45-47) participaram, em suas respectivas épocas,
da compilação1 dos salmos para o uso no culto público
em Jerusalém. A compilação final do Saltério deu-se mais
provavelmente nos dias de Esdras e de Neemias (450-400 a.C.).

1 .  Compilação: Coligir, reunir (textos de vários autores, ou de natureza ou procedência


vária).

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48 Capítulo 2 Livros Poéticos

Data

Os salmos, considerados individuais, podem ter sido escritos


em datas que vão desde o Êxodo até a restauração depois
do exílio babilônico. Mas, a coleção menor parece haver sido
reunida em períodos específicos da história de Israel: o reinado
do rei Davi (1Cr 23.5); o governo de Ezequias (2Cr 29.30); e
durante a liderança de Esdras e Neemias (Ne 12.26).
Esse processo de compilação ajuda a explicar a duplicação
2
de alguns salmos. Por exemplo, o Salmo 14 é similar ao Salmo
53.
O livro de Salmos foi editado em sua forma atual, embora
com diversas variações, na época em que a Septuaginta Grega
foram traduzidos do hebraico, alguns séculos antes do advento
de Cristo.
Os textos ugaríticos1, quando contrastados com os recentes
escritos do mar Morto, mostram que as imagens, o estilo e os
paralelismos de alguns salmos refletem um vocabulário e estilo
cananeus muito antigos. Assim, Salmos reflete o culto, a vida
devocional e o sentimento religioso de cerca de mil anos da
história de Israel. Mais de 1000 anos desde Moisés (1500 a.C.)
até Esdras (450 a.C.).
O salmo mais antigo conhecido vem de Moisés, no século
XV a.C. (Sl 90); os mais recentes provêm dos séculos VI e V
a.C. (e.g., Sl 137).

A Divisão do Livro

Os 150 salmos são organizados didaticamente em cinco


livros. Cada um desses livros termina com uma doxologia, ou
“enunciação de louvor e invocação a Deus”, e correspondem
mais ou menos aos cinco livros do Pentateuco (as divisões são
aproximadas):

Livro Descrição Salmos


1 Cânticos de Davi 1 ao 41

1 .  Ugaríticos: Referentes à antiga cidade de Ugarit (na atual Síria).

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O Livro de Salmos 49

2 Grupo devocional 42 ao 72
3 Grupo litúrgico 73 ao 89
4 Grupo anônimo 90 ao 106
5 Salmos escritos mais tarde 107 ao 150

Os salmos, não aparecem em ordem cronológica. O escrito


por Moisés, por exemplo, embora haja sido o primeiro a ser
composto, só aparece em nonagésimo lugar. Eles foram assim 2
dispostos para facilitar a liturgia no Santo Templo.

Características Principais

»» É o maior livro da Bíblia;


»» Contém o capítulo mais extenso (Sl 119.1-176), o capítulo
mais curto (Sl 117.1,2) e o versículo central da Bíblia (Sl
118.8);
»» É o hinário e livro devocional dos hebreus, e a sua
profundidade e largueza espirituais fazem com que este
livro seja o mais lido e estimado do Antigo Testamento,
pela maioria dos crentes.
»» “Aleluia” (traduzido por “louvai ao Senhor” em algumas
bíblias), um termo hebraico universalmente conhecido
pelos cristãos, ocorre vinte e oito vezes na Bíblia, sendo
que vinte e quatro estão no livro de Salmos.
»» O Saltério chega ao seu auge no Salmo 150, com uma
manifestação de louvor completo, harmonioso e perfeito
ao Senhor.
»» Nenhum outro livro da Bíblia expressa tão bem a gama
inteira das emoções e necessidades humanas em relação
a Deus e à vida humana. Suas expressões de louvor e
devoção fluem dos picos mais altos, da comunhão com
Deus, e seus brados de desespero ecoam dos vales mais
profundos do sofrimento.
»» Cerca da metade dos salmos consiste de orações de fé em
tempos de tribulação.
»» É o livro do Antigo Testamento mais citado no Novo
Testamento.

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50 Capítulo 2 Livros Poéticos

»» Os “salmos prediletos” da Bíblia, são:


1 23 24 34 37 84 91 103 119 121 139 150
»» Salmos 119 é único na Bíblia por:
• Seu tamanho (176 versículos);
• Seu grandioso amor à Palavra de Deus;
• Sua estrutura literária que compreende vinte e duas
estrofes de oito versículos cada, sendo que dentro de
cada estrofe, cada versículo inicia com a mesma letra,
2 segundo a ordem das 22 letras do alfabeto hebraico,
formando um acróstico1 alfabético.

A característica literária principal do livro é um estilo poético


chamado paralelismo, que utiliza mais o ritmo dos pensamentos
do que o ritmo da rima ou da métrica. Esta característica
possibilita a tradução da sua mensagem de um idioma para
outro sem muita dificuldade.
Salmo é uma espécie de historia cantada, com a finalidade
de louvor, exortação, ensino, gratidão, petição. Seu seguimento
monótono e sem inflexão de voz era interrompido no ato de
respirar, somente quando o cantor sentia-se impossibilitado
de continuar, mas, ainda assim, deveria obedecer à mesma
entonação do texto, sem demonstrar que fora interrompido.
O sinal para essa observação era a palavra “Selá” ou
“Selah”, com significado de “prossegue” ou “prossiga”. A
palavra “selá” significa, evidentemente, uma pausa musical;
portanto, não deve ser lida.
Muitos salmos eram acrósticos (a letra inicial de cada
versículo era uma letra do alfabeto), tais como os de números
9; 10; 25; 34; 37; 111; 112; 119 e 145. Salmos imprecatórios
impetravam2 a ira de Deus sobre os inimigos de Deus e do seu
povo. Estes incluem os números 52; 58; 59; 69; 109 e 140.
A música desempenhava papel de importância no culto do
antigo Israel (cf. Sl 149; 150; 1Cr 15.16-22); os salmos eram os
hinos do povo de Israel. Compostos com rima ou metrificação,
a poesia e o cântico do AT têm por base o paralelismo de
1 .  Acróstico: Composição poética na qual o conjunto das letras iniciais (e por vezes
as mediais ou finais) dos versos compõe verticalmente uma palavra ou frase.
2 . Impetrar: Rogar, suplicar, pedir, requerer.

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O Livro de Salmos 51

pensamento, em que a segunda linha (ou linhas sucessivas) da


estrofe praticamente faz uma reiteração (paralelismo sinônimo),
ou apresenta um contraste (paralelismo antitético), ou, de modo
progressivo, completa (paralelismo sintético) a primeira linha.
Todas as três formas de paralelismo caracterizam o Saltério.

O Vocábulo Salmos

A palavra salmos tem origem na tradução do Antigo 2


Testamento hebreu para o grego, no ano 200 a.C., feita por 70
sábios – A Septuaginta (LXX). Nesta versão os Salmos recebem
o título de Psalmói: cânticos entoados acompanhados de
instrumentos de cordas. No hebraico, o termo que corresponde
a salmos é Tehillim: louvores ou cânticos de louvores.

Saltério.
O livro de Salmos também é chamado de Saltério. Este termo
vem da palavra grega Psâlterion. É o nome de um instrumento
musical que, no AT, já era bem conhecido (Sl 33.2; 108.2 e
144.9).
Os títulos descritivos que precedem a maioria dos salmos,
embora não pertençam ao texto original, logo não inspirados,
são muito antigos (anteriores a Septuaginta) e importantes.
O conteúdo desses títulos varia, e forma diferentes grupos
de Salmos, como:
»» O nome do autor (e.g., Sl 47, “Salmo... entre os filhos de
Coré”);
»» O tipo de salmo (e.g., Sl 32, um “masquil”, que significa
uma poesia para meditação ou ensino);
»» Termos musicais (e.g., Sl 4, “Para o cantor-mor, sobre
Neguinote [instrumentos de cordas]”);
»» Notações litúrgicas (e.g., Sl 45, “Cântico de amor”, i.e.,
um cântico para casamento);
»» Breves notações históricas (e.g., Sl 3, “Salmo de Davi,
quando fugiu... de Absalão, seu filho”).
Em quase todas as bíblias atuais, dependendo da agência
publicadora e da respectiva versão e edição, cada salmo traz,
antes de tudo, uma epígrafe , elaborada por essas agências. É

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52 Capítulo 2 Livros Poéticos

evidente que essas epígrafes1 (bem como as demais através da


Bíblia) não são inspiradas.
Os salmos, como orações e louvores inspirados pelo
Espírito, foram escritos para, de modo geral, expressarem as
mais profundas emoções íntimas da alma em relação a Deus.

1. Muitos foram escritos como orações a Deus, como expres-


são de:
a. Confiança, amor, adoração, ação de graças, louvor e
2 anelo por maior comunhão com Deus;
b. Desânimo, intensa aflição, medo, ansiedade, humilhação
e clamor por livramento, cura ou vindicação.
2. Outros foram escritos como cânticos de louvor, ação de gra-
ças e adoração, exaltando a Deus por seus atributos e pelas
grandes coisas que Ele tem feito.
3. Certos salmos contêm importantes trechos messiânicos.

Temas

Os grandes temas dos salmos são Jeová, Cristo, a Lei, a


Criação, o futuro de Israel, e os exercícios no sofrimento, gozo
ou perplexidade de um coração renovado.
»» Os salmos mostram a atitude de um homem dirigir-se a
Deus por intermédio da poesia cantada e podem ser:
• Um elogio a Deus: Sl 23 e 103;
• Uma exortação aos circunstantes: Sl 1; 14 e 37;
• Uma recriminação aos que se esquecem de Deus: Sl
52;
• Uma forma de implorar o socorro de Deus: Sl 51.
»» O seu tema é principalmente o louvor: Sl 96 ; 100 e 103;
»» Alguns deles mostram a experiência do povo com o seu
Deus, e a esperança deles no Messias: Sl 2; 16 e 22.
»» Um tema importante é a pessoa e a obra de Cristo, Nosso
Senhor o sugere em Lucas 24.44.

Saltério, uma antologia2 de 150 Salmos, abarca ampla gama


de temas, inclusive revelações a respeito de Deus, da criação, da
1 .   Epígrafe: Título ou frase que serve de tema a um assunto; mote.
2 .   Antologia: Coleção de trechos em prosa e/ou em verso.

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O Livro de Salmos 53

raça humana, do pecado e do mal, da justiça e da santidade, da


adoração e do louvor, da oração e do juízo.
Alude1 a Deus de modo ricamente variado: como fortaleza,
rocha, escudo, pastor, guerreiro, criador, rei, juiz, redentor,
sustentador, aquele que cura e vingador; Deus expressa amor,
ira e compaixão; Ele é onipresente, onisciente e onipotente.
O povo de Deus é também descrito de várias maneiras:
como a menina dos olhos de Deus, ovelhas, santos, retos e
justos que Ele livrou do lamaçal escorregadio do pecado e pôs
seus pés na rocha, dando-lhes um cântico novo. Deus dirige
2
os seus passos, satisfaz seus anseios espirituais, perdoa todos
os seus pecados, cura todas as suas enfermidades e lhes provê
uma habitação eterna.
Um bom método para estudar o livro é fazê-lo pelas
categorias classificatórias dos salmos (algumas dessas categorias
se sobrepõem parcialmente):
• Cânticos de Aleluia ou de Louvor: engrandecem o
nome, a majestade, a bondade, a grandeza e a salvação
de Deus (e.g., Sl 8; 21; 33; 34; 103-106; 111; 113; 115;
117; 135; 145; 150);
• Cânticos de Ação de Graças: reconhecem o socorro
e livramento divino, em muitas ocasiões, em favor do
indivíduo ou de Israel como nação (e.g., Sl 18; 30; 34;
41; 66; 100; 106; 116; 126; 136; 138);
• Salmos de Oração e Súplica: incluem lamentos e
petições diante de Deus, sede de Deus e intercessão em
favor do seu povo (e.g., Sl 3; 6; 13; 43; 54; 67; 69-70; 79;
80; 85-86; 88; 90; 102; 141; 143);
• Salmos Penitenciais: enfocam o reconhecimento e
confissão do pecado (Sl 32; 38; 51; 130);
• Cânticos da História Bíblica: narram como Deus
lidou com a nação de Israel (Sl 78; 105; 106; 108; 114;
126; 137);
• Salmos da Majestade Divina: declaram com convicção
que “o Senhor reina” (Sl 24; 47; 93; 96-99).
• Cânticos Litúrgicos: compostos para cultos ou eventos
festivos especiais (Sl 15; 24; 45; 68; 113-118; estes seis
últimos eram cantados anualmente na Páscoa);
1 .  Alude: Fazer alusão, referir-se.

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54 Capítulo 2 Livros Poéticos

• Salmos de Confiança e de Devoção: expressam: a


confiança que o crente tem na integridade de Deus e no
conforto da sua presença; a devoção da alma a Deus (Sl
11; 16; 23; 27; 31-32; 40; 46; 56; 62-63; 91; 119; 130-
131; 139);
• Cânticos de Romagem: também chamados “Cânticos
de Sião” ou “Cânticos dos Degraus”. Eram cantados pelos
peregrinos, a caminho de Jerusalém para celebrarem as
festas anuais da Páscoa, de Pentecoste e dos Tabernáculos
2 (Sl 43; 46; 48; 76; 84; 87; 120-134);
• Cânticos da Criação: reconhecem a obra do Pai na
criação dos céus e da terra (Sl 8; 19; 33; 65; 104);
• Salmos Sapienciais e Didáticos (Sl 1; 34; 37; 73;
112; 119; 133);
• Salmos Régios ou Messiânicos: descrevem certas
experiências do rei Davi ou Salomão com significado
profético, cujo cumprimento pleno terá lugar na vinda do
Messias, Jesus Cristo (Sl 2; 8; 16; 22; 40; 41; 45; 68; 69;
72; 89; 102; 110; 118);
• Salmos Imprecatórios: invocam a maldição ou
condenação divina sobre os ímpios (Sl 7; 35; 55; 58; 59;
69; 109; 137; 139.19-22). Muitos crentes ficam perplexos
quanto a estes salmos, porém, deve-se observar que eles
foram escritos por zelo pelo nome de Deus, por sua justiça
e sua retidão, e por intensa aversão à iniqüidade, e não
por simples vingança. Em suma: clamam a Deus para Ele
elevar os justos e abater os ímpios.

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O Livro de Salmos 55

Anotações:

55

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56 Capítulo 2 Livros Poéticos

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas

1. Não é um dos autores de Salmos


a. o Asafe, um vidente, foi posto sobre serviço de canto na
casa de Deus
b. o Salomão, recebeu o maior grau de sabedoria de todos
2 os tempos; escreveu dois salmos: 72 e 127
c. o Os filhos de Core, executavam o serviço de Deus e se
tornaram guias de adoração em Israel
d.o Zedequias, rei de Judá; é tido como um dos autores dos
Salmos

2. A palavra “selá” ou “selah” em Salmos, significa:


a. o Um acorde musical
b.o Um aumento na entonação
c. o Uma pausa musical
d.o Uma complementação da rima

3. Salmos imprecatórios
a. o Invocam a maldição ou condenação divina sobre os
ímpios
b.o Eram cantados pelos peregrinos, a caminho de Jerusa-
lém para celebrarem as festas
c. o Narram como Deus lidou com a nação de Israel
d.o Engrandecem o nome, a majestade, a bondade, a gran-
deza e a salvação de Deus

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

4. [ ] Salmos possui um estilo poético chamado paralelismo,


que utiliza mais o ritmo da rima ou da métrica do que o
ritmo dos pensamentos
5. [ ] Salmos também é chamado de Saltério – um instrumen-
to musical já bem conhecido no AT

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O Livro de Salmos 57

Anotações:

57

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58 Capítulo 2 Livros Poéticos

Compilação
Sabe-se que existiram hinos, usados no culto em Babilônia e
no Egito, por muitos séculos antes de Abraão e José.
Embora fosse um caso notável se a salmodia hebraica não
apresentasse sinais de ter crescido de tal solo, uma semelhança
de estrutura literária, como por exemplo, o uso extenso do
paralelismo não é índice de igual riqueza e vigor espiritual. Neste
2 aspecto, os Salmos de Israel não têm rivais. Além disso, o seu
uso comum por parte de uma congregação de adoradores, bem
como pelos sacerdotes oficiantes, era uma prática desconhecida
em todos os lugares.
Quando os filhos de Israel estabeleceram o culto de Jeová,
na Palestina, fizeram-no no meio de um povo que possuía
um considerável depósito de poesia religiosa. Isto é indicado
pelas tábuas de Ras Shamra e está implícito nos cânticos de
júbilo e de maldição entoados pelos siquemitas no tempo de
Abimeleque (Jz 9.27). É a este período que devemos atribuir a
poesia israelita como o Cântico de Moisés (Êx 15) e o Cântico
de Débora (Jz 5). Estas poesias constituíram precedentes e
ofereceram incentivos para os salmos mais recentes.
A base do Saltério parece ser constituída por uma coleção dos
hinos davídicos. Davi esteve tradicionalmente associado com o
culto organizado (cfr. 1Cr 15 e 16) e os seus dons excepcionais
combinaram-se com a sua notável experiência espiritual.
O grupo principal pareceria ser Salmos 51-72, mas há outros
grupos davídicos, nomeadamente, 2-41 (omitindo o 33), 108-
110 e 137-145. Talvez nem todos estes sejam atribuíveis a Davi,
mas a sua composição marca o estilo e constitui o núcleo.
É presumível1 que tenha havido mais do que um centro
onde os hinos hebraicos foram colecionados, do mesmo modo
que houve mais do que uma “escola de profetas”.
Durante os séculos em que estes grupos se fundiram, algumas
repetições foram aceitas. Estas continham habitualmente
variantes, em que aparecia a palavra Eloim para o nome
de Deus, de hinos que se referiam a Deus como Jeová, mas
havia ainda outras diferenças ligeiras (cfr. 2Sm 22 e Sl 18). Os

1 .   Presumível: Que se pode presumir, supor, ou suspeitar. Provável, verossímil.

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O Livro de Salmos 59

principais salmos duplicados são o 14 e o 53; o 40.13-17 e o


70.
Pouco depois da constituição dos primeiros grupos davídicos
vieram associarem-se com eles duas coleções de salmos levíticos,
a de Coré (Sl 42-49). Alguns destes podem ter-se originado nos
principais regentes das escolas de cantores (cfr. 1Cr 6.31 e 39);
outros receberam os seus títulos como uma indicação do estilo
ou do lugar de origem.
Os salmos de Asafe são mais didáticos, dão maior
proeminência às tribos de José e fazem um maior uso da imagem
2
do pastor e do discurso direto por parte de Deus. A estes grupos
combinados foram acrescentados uns poucos salmos anônimos
(Sl 33; 84; 85; 87-89) e também o Salmo 1, introdutório.
Os salmos restantes, Salmos 90-150, revestem-se de um
caráter muito mais litúrgico e incluem vários grupos de hinos
que têm uma forte unidade tradicional, por exemplo, o Hallel
Egípcio (Sl 113-118), os quinze Cânticos dos Degraus (Sl
120-134), e o grupo final (Sl 145-150). Outros, como Salmos
95-100 (os cânticos sabáticos de alegria), estão obviamente
relacionados uns com os outros como estão também os Salmos
92-94 e 103; 104.
Moisés foi tradicionalmente associado com os Salmos 90 e
91, e há um fundo histórico comum para Salmos como 105;
106; 107; 135 e 136. A sua ênfase sobre o êxodo é equilibrada
por uma reverência profunda pela Torá, como se expressa no
Salmo 119 de uma forma hábil, mas devota.
Não é possível explicar como estes grupos de Salmos
chegaram a ser selecionados, coordenados e finalmente
combinados numa grande coleção. São poucos os que podemos
atribuir-lhes uma data definida; uns são de Davi, outros são
distintamente pós-exílicos. É absolutamente possível que muitos
tenham sido revistos através de séculos de uso litúrgico.

* Nota: alguns “Salmos” aparecem dispersos pelo


Velho Testamento, como, por exemplo, Êxodo 15.1-
21; Deuteronômio 32; Jonas 2; Habacuque 3 e
mesmo os oráculos de Balaão em Números 23 e 24.
Outra questão em que há grande diferença de opiniões é até
que ponto os Salmos se conservam ainda na sua composição

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60 Capítulo 2 Livros Poéticos

pessoal original e até que ponto foi composto para uso no culto
público? Alguns Salmos são tão íntimos e pessoais como o
amor e a morte (por exemplo, 22; 51; 139), mas foram mais
tarde adaptados para uso nos serviços do templo. Um exemplo
interessante disto acha-se no fim do Salmo 51.
Muitos Salmos, porém, foram compostos, sem dúvida, para
uso em cultos coletivos (por exemplo, 67; 115), e alguns dos
poemas hebraicos mais antigos eram deste caráter, como os
Cânticos de Miriã e Débora (Êx 15.20 ss. e Jz 5).
2 Deve notar-se também que Salmos em que aparece o
pronome “EU” podem não ter sido originalmente pessoais.
A sociedade hebraica encontrava-se de tal modo unida que,
o indivíduo podia identificar-se com o grupo a que pertencia,
e o povo, como um todo, podia ser considerado como uma
personalidade coletiva. Eis por que muitos Salmos, que parecem
ser pessoais, podem entender-se como expressões de uma
comunidade unificada por alguma experiência geral e falando
por meio de uma pessoa representativa.

Classificação

Estes 150 cânticos de adoração podem classificar-se de


variadas maneiras. Há poemas acrósticos, salmos de ação
de graças e de lamentação (ambos de caráter individual e
nacional), cânticos de confiança, cânticos para peregrinos,
hinos de arrependimento, orações dos falsamente acusados,
salmos históricos, salmos relativos ao Rei, salmos proféticos; há
hinos para festivais e cânticos relacionados com a ordem do
culto no templo.
A classificação tradicional judaica transparece na divisão do
Saltério em cinco livros, cada um dos quais terminam com uma
doxologia (Sl 1-41; 42-72; 73-89; 90-106; 107-150).
Este esboço, em cinco partes, era considerado como tendo
correspondência com os cinco livros de Moisés e pode presumir-
se que cada passagem do Pentateuco era lido em paralelo com
o Salmo que lhe correspondia.
Modernamente, tende-se para um esboço de classificação
inteiramente diferente, que se baseia no argumento de que
os Salmos devem as suas características principais ao uso que

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O Livro de Salmos 61

deles se fazia nos serviços do templo em Jerusalém. Que estes


eram importantes e preparados com esmero1, transparece de
passagens como 2Crônicas 29.27,28; 5.11-14; 1Crônicas 16.4-
7 e 36-42.
Os três grandes festivais do ano judaico duravam vários
dias e exigiam um uso intenso de cânticos no santuário. Este
era, de forma especial, o caso das festividades associadas com
a Festa dos Tabernáculos (cfr. Nm 29) e alguns salmos foram,
certamente, compostos para tais ocasiões (por exemplo, Sl 115;
118; 134).
2
Além disso, muitos salmos dão proeminência especial ao
tema de eventos reais, parcial na celebração de entronizações
e vitórias reais, mas, principalmente, para expressar a suprema
soberania de Jeová. Este significado simbólico é bem evidente
em Salmos 2; 24; 95-100 e 110.

Uso Litúrgico

A associação íntima do Saltério e do Pentateuco e a leitura


contínua da Torá fizeram, com o tempo, que certos salmos se
tornassem ligados há dias e ocasiões particulares.

• O Salmo 145 era usado em cada uma das três festividades


anuais (é provável que seja o hino referido em Marcos
14.26);
• O Salmo 130, com a expectativa e o desejo intenso por
perdão que o caracterizam, era usado no Dia da Expiação;
• O Salmo 135 era um hino habitualmente Pascal;
• Os velhos cânticos peregrinos (Sl 120-134) foram
adotados para a Festa dos Tabernáculos e, no tempo
do Templo de Herodes, eram habitualmente entoados
por um coro de levitas, de pé, nos quinze degraus que
ligavam os dois pátios do templo;
• Alguns eram tradicionalmente considerados sabáticos
(por exemplo: Sl 92-100), e cada dia da semana tinha o
seu Salmo habitual.

1 .  Esmero: Grande apuro no acabamento; perfeição, requinte. Correção e elegância


na aparência; apuro.

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62 Capítulo 2 Livros Poéticos

Títulos

Sabe-se que os títulos atribuídos a cerca de cem Salmos


são de data anterior à Septuaginta e merecem ser tratados com
respeito por causa da antiguidade da sua origem.
• O hebraico pode significar “de”, “para”, “pertencendo a”,
isto é, “aparentado com”. Estes títulos são de cinco tipos:
• Os que apontam para uma origem (por exemplo, Sl 18;
51-60; 90);
2
• Os que dão ênfase a um propósito especial (por exemplo,
Sl 38; 60; 92; 100; 102);
• Títulos que indicam melodias especiais para o hino (por
exemplo, Sl 9; 22; 45; 56; 57; 60; 80);
• Títulos que se referem ao tipo de acompanhamento
musical (por exemplo, Sl 4; 5; 6; 8; 45; 53; ver o Sl 150
em relação aos instrumentos musicais).
• Há, finalmente, títulos descritivos do tipo do Salmo, por
exemplo, Maschil – um Salmo instrutivo ou de sabedoria;
Michtam – para expiação. O significado de alguns termos,
por exemplo, Shiggaion, é obscuro1.

A palavra “Selah” que aparece em muitos Salmos (a maior


parte davídicos) indicava provavelmente uma mudança na
melodia de acompanhamento, ou um intervalo musical; ou, se
for tomada como assinalando uma pequena versão do Salmo,
pode ser, em si mesma, uma exclamação abreviada de louvor
(correspondendo ao uso moderno de “glória”).

Interpretação

A interpretação dos Salmos depende do nosso conhecimento


da condição da crença religiosa e da revelação ao tempo da sua
composição e da nossa própria experiência de Deus em Cristo.
Pensa-se muitas vezes que certas passagens se referem à
vida depois da morte (por exemplo, Sl 16.10; 17.15; 73.24;
118.17), e tanto quanto conhecermos o poder da ressurreição
de Cristo podemos ler tais declarações à luz daquela verdade. O

1 .  Fig. Difícil de entender; confuso; enigmático.

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O Livro de Salmos 63

salmista não conhecia tal certeza, embora compartilhasse com


o profeta um discernimento parcial de coisas maiores do que
podia expressar em palavras.
Certamente que estas passagens não se encontravam vazias
de esperança quando – primeiramente foram enunciadas,
mas a qualidade dessa “certeza” é que era variável. Constituía
principalmente uma inferência1 da experiência pessoal do autor
com Deus e a sua percepção de um propósito divino correndo
através da história. Ele tinha fé suficiente para vislumbrar a
promessa, embora esta estivesse muito longínqua.
2
As suas palavras podem incluir muitas vezes a esperança de
ser livrado de uma morte física imediata, mas não podemos
limitar a isso o seu significado.
O elemento de predição é mesmo mais forte na forma
profética, notado em alguns Salmos. É verdade que cada
predição tem de esperar pelo cumprimento antes de poder ser
completamente compreendida, mas existe, de algum modo
desde a sua primeira expressão. Por exemplo, Salmos 16.8-11 é
interpretado em Atos 2.25-32 e Salmos 2 é compreendido em
Atos 4.26 ou Hebreus 1.5 e 5.5, de uma forma que esclarece e
preenche completamente o que, na maior parte, podia ter sido
apenas parcial e esquemático na mente do salmista.
De fato, a origem da idéia pode ter para ele uma relação
secundária com a sua interpretação final. A revelação de Deus
em Cristo é o ponto central da história do mundo (cfr. Rm
8.19-22; Hb 9.26; ). Não é, pois, surpreendente que, à medida
que os séculos deslizam para o passado, tal verdade eterna
causasse em homens piedosos uma “advertência” crescente de
acontecimentos iminentes, e relacionados. O Senhor escolheu
Israel para certo propósito.
Do ponto de vista divino esse objetivo já estava cumprido
(cfr. Ef 1.10; 1Pe 1.20) e a corrente da experiência humana, sob
Deus, incluía recursos que tornavam possível a sua revelação.
Há dificuldade em reconciliar a bondade e a misericórdia
divinas com algumas das maldições encontradas no Saltério
(cfr. Tg 3.9-11). Pode-se notar quatro pontos:
1. Estas imprecações não estão no espírito do Evangelho, e,
contudo há também palavras ásperas no Novo Testamen-
1 .   Ato ou efeito de inferir; indução, conclusão, ilação.

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64 Capítulo 2 Livros Poéticos

to (por exemplo, Mt 13.50; 23.13-33; 25.46; Lc 18.7,8;


19.27; At 13.8-11; 2Ts 1.6-9; Ap 6.10; 18.4-6). O NT
condena as represálias humanas, mas ensina plenamente
que todos colhem as conseqüências da sua escolha (por
exemplo, Mt 7.22,23; 2Co 5.10).
2. O salmista pode não ter tido a intenção de revestir as
suas amargas palavras de sentido profético, mas na vasta
providência divina elas podem tornar-se verdadeiras (por
exemplo, At 1.20 cita Sl 69 e 109; Rm 11.9,10 cita Sl
2 69). Além disso, nem sempre é gramaticalmente possível
distinguir entre o significado de “que isto aconteça...” e
“isto acontecerá...”.
3. O salmista vivia sob a lei que ensinava a doutrina da retri-
buição (cfr. Lv 24.19; Pv 17.13). As suas imprecações são
orações para que o Deus justo faça como tem falado. Em
muitos casos, são prováveis que as maldições sejam cita-
ções que o salmista fazia do que os seus inimigos tinham
(falsamente) ditos a respeito dele.
4. Não somos autorizados a voltar a ler nas palavras impre-
catórias do Saltério qualquer rancor e crueldades pesso-
ais. Homens bons desejam a punição do mal: se mostrás-
semos simpatia para com aqueles a quem, na sabedoria
de Deus, lhes é permitido tornarem-se plenamente o que
desejaram ser (contra Deus), então estaríamos a partici-
par do seu pecado e da sua impiedade.

O Livro de Salmos ante o Novo Testamento

Há 186 citações dos salmos no NT, o que ultrapassa qualquer


outro livro do AT. É fato claro que Jesus e os escritores do NT
conheciam muito bem os salmos, e que o Espírito Santo usou
muitas passagens do livro nos ensinos de Jesus, bem como
em ocasiões em que Ele cumpriu as Escrituras como o Messias
predito: por exemplo, o breve Salmo 110 (com sete versículos)
é mais citado no Novo Testamento do que qualquer outro
capítulo do Antigo Testamento. Ele contém profecias sobre
Jesus como o Messias, como o Filho de Deus e como sacerdote
eterno, segundo a ordem de Melquisedeque.
Outros salmos messiânicos referentes a Jesus no Novo

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O Livro de Salmos 65

Testamento são: Sl 2; 8; 16; 22; 40; 41; 45; 68; 69; 89; 102;
109 e 118. Referem-se a:
»» Jesus como profeta, sacerdote e rei;
»» Sua primeira e sua segunda vinda;
»» Sua qualidade de Filho de Deus e seu caráter;
»» Seus sofrimentos e morte expiatória;
»» Sua ressurreição.
Resumindo: os salmos contêm algumas das profecias mais
minuciosas de todo o AT a respeito de Cristo e, a cada passo,
vemo-las fartamente entretecidas na mensagem dos escritores
2
do NT.

Anotações:

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66 Capítulo 2 Livros Poéticos

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas

6. São mais didáticos, dão maior proeminência às tribos de


José e fazem um maior uso da imagem do pastor e do dis-
curso direto por parte de Deus
a. o Os salmos de Moisés
2 b. o Os salmos de Coré
c. o Os salmos de Asafe
d.o Os salmos de Davi

7. A classificação tradicional judaica transparece na divisão do


Saltério em:
a. o 5 livros, cada um dos quais terminam com uma
doxologia
b. o 4 livros, cada um dos quais terminam com um acróstico
c. o 10 livros, cada um dos quais terminam com uma
melodia
d.o 7 livros, cada um dos quais terminam com um
paralelismo

8. O Salmo 110 não contém profecia sobre Jesus como:


a. o O Messias
b.o O morto que reviveu
c. o O Filho de Deus
d.o O sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

9. [ ] Davi esteve tradicionalmente associado com o culto or-


ganizado. Seus dons combinaram-se com a sua notável
experiência espiritual
10.[ ] Salmos é o livro do Antigo Testamento mais citado no
Novo Testamento

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O Livro de Salmos 67

Anotações:

67

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68 Livros Poéticos

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O Livro de Provérbios 69

A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR


é fiel e dá sabedoria aos símplices.Os preceitos do SENHOR são retos e
alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O
temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR
são verdadeiros e todos igualmente, justos.

Salmo 19.7-10

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70 Livros Poéticos

70

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O Livro de Provérbios 71

Capítulo 3
Sabedoria para a vida correta
Livro de Provérbios A sabedoria em Provérbios
Autor: O Autor
Salomão, com trechos •  Salomão
•  Os sábios
escritos por Agur e pelo rei •  Os homens de Ezequias
Lemuel. •  Agur, filho de Jaque
Data: •  Rei Lemuel
Data
Cerca de 970 a.C., com tre- Forma e Conteúdo
chos de 700 a.C. Os Provérbios de Israel e de Outras
Tema: Nações
Sabedoria para um viver Uso do Livro de Provérbios
Texto e Versões
justo. Comentário
Palavras Chave: O Livro de Provérbios Ante o NT
Temor do Senhor, sabedoria, Ensinamentos Notáveis
Aspectos Interessantes
entendimento, instrução e Chave de Compreensão
conhecimento.
Versículo Chave:
Pv 3.5,6 e 9.10.

O
AT hebraico era em re-
gra dividido em três par-
tes: a Lei, os Profetas Os ícones indicam
e os Escritos (cf. Lc 24.44).
Na terceira parte estavam os
livros poéticos e sapienciais, a
saber: Jó, Salmos, Provérbios, Conceito Chave
Eclesiastes, etc.
Semelhantemente, o Israel
antigo tinha três categorias de
ministros: os sacerdotes, os pro-
Muito importante
fetas e os sábios. Estes últimos
eram especialmente dotados de
sabedoria e conselhos divinos a
respeito de princípios e práticas
da vida. Atenção e foco

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72 Capítulo 3 Livros Poéticos

»» O livro de Provérbios representa a sabedoria inspirada


dos sábios.
»» O conteúdo de Provérbios representa uma forma de
ensino comum no Oriente Próximo antigo, mas no caso
deste livro, sua sabedoria é diferente porque veio da parte
de Deus, com seus padrões justos para o povo do seu
concerto.
»» O ensino mediante provérbios era popular naqueles
antigos tempos, em virtude da sua grande clareza e
facilidade de memorização e transmissão de geração em
geração.

Afinal, o que é provérbio? A palavra hebraica mashal,


traduzida por “provérbio”, tem os sentidos de “oráculo”,
3 “parábola”, ou “máxima sábia”. Por isso, há declarações longas
no livro de Provérbios (e.g., Pv 1.20-33; 2.1-22; 5.1-14), mas
há também as concisas1, mas ricas de sentido e sabedoria, para
se viver de modo prudente e justo.
A palavra “provérbio” significa um dito curto, incisivo2 e
axiomático3, particularmente apropriado para o ensino oral. É
por isto que o livro de Provérbios é um dos três livros bíblicos
chamados de “livros sapienciais” ou “livros de sabedoria” (os
outros dois são Jó e Eclesiastes).
Alguns colocam também Salmos e Cânticos nesta categoria,
mas a associação é indevida, porque apenas alguns trechos de
Salmos podem ser assim classificados e Cânticos merece ser
classificado à parte.
Estes livros sapienciais têm por finalidade “instruir em sábio
procedimento, em retidão, justiça e eqüidade4; para se dar aos
simples prudência, e aos jovens conhecimentos e bom siso5“
(Pv 1.3-4). Só os insensatos desprezam o seu ensino (Pv 1.7b).
Esta literatura sapiencial, no entanto, não se restringiu aos
hebreus. Vicejou6 largamente em todo o Oriente Antigo. No
1 .  Conciso: Sucinto, resumido.
2 .  Incisivo: Decisivo, pronto, direto, sem rodeios.
3 .  Axiomático: Evidente; manifesto, incontestável.
4 . Equidade: Disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um. Igualdade,
retidão.
5 .  Siso: Bom senso; juízo, tino, prudência, circunspeção.
6 .  Vicejou: Brotou, produziu, lançou.

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O Livro de Provérbios 73

Egito e na Mesopotâmia, por exemplo, há registros de obras


desta categoria, algumas muito famosas. Assim é que, escritas
em acádico1, encontraram-se obras sapienciais antigas de Ras
Shamra.
O texto de Sabedoria de Aicar é de origem assíria e foi
traduzido para diversas línguas antigas. O próprio livro de
Provérbios, tem trechos de um sábio egípcio assimilados em seu
conteúdo. Era, portanto, uma literatura internacional.
Sua preocupação, na maior parte das vezes era totalmente
secular, sem um sentido religioso, como diríamos hoje. No livro
de Provérbios mesmo, assim é com a maior parte. Mas não se
deve dizer como alguns precipitadamente o fazem que fosse
uma literatura profana.
Para aquelas culturas não havia muita diferença entre
sagrado e profano. Toda a vida lhes era sagrada. Todos os 3
aspectos da vida eram considerados por estes povos como
sagrados. É por isso que assuntos como trabalho, família,
bebida, finanças, relações sociais, sexualidade, disciplina de
filhos, vida doméstica e outros mais, são focalizados.
A linha da literatura sapiencial era esta: como viver bem a
vida que é um dom da divindade.
O propósito do livro está bem esclarecido em Provérbios
1.2-7:
»» Dar sabedoria e entendimento quanto ao comportamento
sábio, justiça, discernimento e imparcialidade (Pv 1.2,3),
de modo que:
• Os simples sejam prudentes (Pv 1.4);
• Os jovens sejam inteligentes e ajuizados (Pv 1.4);
• Os sábios sejam ainda mais sábios (1.5,6).
Muito embora Provérbios seja basicamente um manual
sapiencial sobre a vida de justiça e prudência, o devido
alicerce dessa sabedoria é “o temor do Senhor”, como está
explicitamente declarado em Provérbios 1.7.

Sabedoria para a vida correta


O tema central de Provérbios é “sabedoria para um viver
1 .   Acádico: Língua semítica da Mesopotâmia, atualmente extinta, atestada em
vasta literatura em escrita cuneiforme, e que se tornou língua franca do Oriente
Próximo por volta de 2000 a.C.

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74 Capítulo 3 Livros Poéticos

justo”, sabedoria esta que começa com a submissão humilde do


crente a Deus, e daí flui para todas as áreas da sua vida.

A sabedoria em Provérbios
»» Instrui a respeito da família, da juventude, da pureza
sexual, da fidelidade conjugal, da honestidade, do
trabalho diligente, da generosidade, da fraternidade, da
justiça, da retidão e da disciplina;
»» Adverte quanto à insensatez do pecado, das contendas,
dos males da língua, da imprudência, da bebedeira,
da glutonaria, da concupiscência, da imoralidade, da
falsidade, da preguiça e das más companhias;
»» Faz um contraste entre a sabedoria e a tolice, entre os
justos e os ímpios, entre a soberba e a humildade, entre a
3 preguiça e a diligência, entre a pobreza e a riqueza, entre
o amor e a concupiscência, entre o certo e o errado e
entre a vida e a morte.

O Autor

O livro é atribuído a Salomão (Pv 1.1), mas há nele também


outros autores, como Agur (Pv 30.1) e Lemuel, rei de Massá (Pv
31.1), que se pensa ser um pseudônimo de Salomão. Outros
autores estão subentendidos em Provérbios 22.17 e 24.23.
Assim como Davi é o manancial da tradição salmódica
em Israel, Salomão é o manancial da tradição sapiencial em
Israel (ver Pv 1.1; 10.1; 25.1). Conforme 1Reis 4.32, Salomão
produziu 3.000 provérbios e 1.005 cânticos.
A respeito de Agur e do rei Lemuel (Pv 30.1; 31) nada se
sabe, exceto que, pelos seus nomes, não eram israelitas. A
sabedoria é universal, não nacional.
Salomão, rei de Israel, era filho de Davi e de Bate-Seba.
Ele reinou por quarenta anos, de 970 a 930 a.C., assumindo o
trono quando tinha cerca de vinte anos de idade.
O título geral é “Provérbios de Salomão, filho de Davi”.
Em diversos pontos do livro, entretanto, ocorrem rubricas
que denotam a autoria de diferentes seções. Assim, há seções
atribuídas a Salomão (Pv 10.1) e aos “sábios” (Pv 22.17; 24.23).
Em Provérbios 25.1 existe uma interessante rubrica: “Provérbios

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O Livro de Provérbios 75

de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias,


rei de Judá”; o capítulo 30 é introduzido como: “palavras de
Agur, filho de Jaque”; e o capítulo 31 com os seguintes termos:
“Palavras do rei Lemuel”, ou melhor, de sua mãe.
Os rabinos diziam: “Ezequias e seus homens escreveram
Isaías, Provérbios, Cantares e Eclesiastes”; em outras palavras,
editaram ou publicaram esses livros. No que tange ao livro
de Provérbios é duvidoso que essa declaração rabínica esteja
baseada em outra coisa além da rubrica de Provérbios 25.1.
O ceticismo que desde o século I tem reduzido ao mínimo o
elemento salomônico, atualmente parece estar desaparecendo.
Anteriormente, a literatura de Sabedoria, como um todo, era
geralmente atribuída a uma data pós-exílica. Agora o devido
reconhecimento está sendo dado à poesia de Sabedoria, não
apenas nos escritos proféticos, mas também nos escritos pré- 3
proféticos (cfr. Jz 9.8 ss.).
Por exemplo, escreve W. Baumgartner: “Portanto, visto que
não pode ter surgido simplesmente como sucessor da Lei e da
Profecia, em tempos pós-exílicos, uma data tão posterior exige
cuidadoso reexame”. O resultado desse reexame, por parte
de eruditos críticos, tem levado, geralmente falando, a uma
conceituação mais séria sobre as rubricas.
Consideremos os autores nomeados nessas rubricas.

Salomão.
No livro de Provérbios, a sabedoria não é simplesmente
intelectual, mas envolve o homem inteiro; e dessa sabedoria,
Salomão, no zênite1 de sua fama, é a materialização.
Ele amava ao Senhor (1Rs 3.3); ele orou pedindo um
coração entendido para discernir entre o bem o mal (1Rs
3.9,12); sua sabedoria foi-lhe proporcionada por Deus (1Rs
4.29), e era acompanhada por profunda humildade (1Rs 3.7);
foi testada em questões práticas, tais como administração justa
(1Rs 3.16-28) e diplomacia (1Rs 5.12).
Sua sabedoria tornou-se famosa no Oriente (1Rs 4.30
ss.; 10.1-13); ele compôs provérbios e cânticos (1Rs 4.32) e
respondeu “enigmas” (1Rs 10.1); e muito de sua coletânea de
fatos foi tirado da natureza (1Rs 4.33).
1 .  Zênite: Fig. Auge, apogeu, culminância.

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76 Capítulo 3 Livros Poéticos

Existem vários elementos salomônicos em outras porções do


livro. Mas mesmo assim, essas coleções podem ser apenas uma
seleção inspirada dentre sua sabedoria, pois não existem cerca
de 3.000 provérbios em todo o livro de Provérbios (cfr. 1Rs
4.32).

Os sábios.
As nações do Oriente antigo tinham os seus “sábios”, cujas
funções iam desde a política do estado até a educação. (Quanto
ao Egito, cfr. por exemplo, Gn 41.8; quanto a Edom, cfr. Ob 8).
Em Israel, onde era reconhecido que “o temor do Senhor
é o princípio da ciência”, os “sábios” também ocupavam uma
função mais importante. Jeremias 18.18 demonstra que, no
tempo daquele profeta, os sábios estavam no mesmo nível
3 com o profeta e com o sacerdote como órgão da revelação de
Deus. Porém, assim como os verdadeiros profetas tiveram de
entrar em luta com profetas e sacerdotes movidos por motivos
indignos, semelhantemente, muitos dos sábios, transigiram1 em
sua função que era de declarar o “conselho de Jeová” (Is 29.14;
Jr 8.8,9).
Existem pelo menos duas coleções de “palavras dos sábios”
no livro de Provérbios (Pv 22.17-24.22 e 24.23-34). Talvez os
capítulos 1-9 que contém uma exposição do alvo e do conteúdo
do “conselho dos sábios”, venham da mesma origem.
É virtualmente impossível datar essas coleções. Provavelmente
representam a sabedoria destilada2 de muitos indivíduos que
temiam a Deus e viveram dentro de um considerável período
de tempo. Porém, muito desse material é de data antiga. E. J.
Young sugere que pode ser até pré-salomônico.

Os homens de Ezequias.
Por 2Crônicas 29.25-30 aprendemos que Ezequias
providenciou para restaurar a ordem davídica, no templo, bem
como os instrumentos davídicos e os salmos de Davi e de Asafe.
Não há dúvida que um reavivamento de interesse na
sabedoria “clássica” de Salomão foi outra conseqüência dessa
reforma, um reavivamento motivado, não pelo amor às coisas
1 .  Transigiram: Chegar a acordo; ceder, condescender, contemporizar.
2 .  Destilado: Caído gota a gota; Ressumada, gotejada, estilada.

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O Livro de Provérbios 77

antiquadas, mas pelo desejo de explorar novamente a sabedoria


de alguém que havia amado supremamente a Jeová. E assim, a
coleção salomônica dos capítulos 25-29 foi editada e publicada.
A. Bentzen apresenta a interessante sugestão que essa
coleção até aquele tempo tinha sido preservada, exclusivamente
em forma oral.

Agur, filho de Jaque.


Não sabemos quem foi Agur. É possível que devêssemos
traduzir a palavra que aparece como “oráculo”, em Provérbios
30.1, como “de Massá”. Massá era uma tribo árabe que
descendia de Abraão por meio de Ismael (Gn 25.14), e as tribos
orientais eram famosas por sua sabedoria (1Rs 4.30). Mas isso
de modo algum pode ser mantido com certeza.
3
Rei Lemuel.
A mãe desse rei aparece como a originária da seção de
Provérbios 31.1-9, mas ele é igualmente um personagem
desconhecido, embora também se possa traduzir como “de
Massá” a palavra que aqui surge como “profecia”.
Não precisamos supor que ele tenha sido o autor do
magnífico poema da Esposa Perfeita (Pv 31.10-31), que forma
um apêndice ao livro de Provérbios.

Data

Cerca de 970-700 a.C. A maioria dos provérbios teve


origem no século X a.C., porém a provável data mais antiga
para a conclusão deste livro teria sido o período do reinado de
Ezequias (isto é, cerca 700 a.C.).
A participação dos homens de Ezequias na compilação de
Provérbios (Pv 25.1-29.27) talvez remonte a 715-686 a.C.,
durante o avivamento espiritual liderado por esse rei temente
a Deus. É possível que os provérbios de Agur, de Lemuel e os
outros “sábios” também tenham sido compilados nesse período.
O que dissemos sobre as coleções individuais é bastante.
Mas, quando foram elas reunidas, formando um livro conforme
o conhecemos agora? O tempo mais recuado para isso é
fixado pela referência aos homens de Ezequias: enquanto que

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78 Capítulo 3 Livros Poéticos

o conhecimento que Ben Sira (cerca de 180 a.C.) demonstra


sobre o livro significa que já era obra estabelecida e venerada
em seus dias. Além disso, não temos evidência externa.
Talvez o tempo mais provável de sua publicação tenha sido
pouco depois do retorno dos exilados, no estabelecimento dos
quais “Esdras, o escriba”, desempenhou tão importante papel,
quando Israel desejava que “o temor do Senhor” dominasse sua
educação.

Forma e Conteúdo

A palavra traduzida “provérbio” (mashal) se deriva de uma


raiz que parece significar “representar” ou “assemelhar-se”. Sua
significação básica, portanto, é uma comparação ou símile.
3 Seu germe1 pode ser uma analogia entre os mundos natural e
espiritual (cfr. 1Rs 4.33 e Pv 10.26).
A mesma palavra é apropriadamente traduzida como
“parábola” em Ezequiel 17.2. Esse termo, entretanto, também
denotava afirmações onde nenhuma analogia é evidente e veio
a designar um dito expressivo ou máxima (cfr. 1Sm 10.12).
Porém, os provérbios deste livro não são tanto máximas
populares como a destilação da sabedoria de mestres que
conheciam a lei de Deus e estavam aplicando seus princípios a
todos os aspectos da vida.
O título do livro, na Septuaginta – Paroimiai – que pode ser
latinizado para obiter dicta, dá uma boa idéia de seu conteúdo.
São palavras para os caminhantes que estão buscando palmilhar
pelo caminho da santidade.
O livro inteiro é composto em forma poética, geralmente aos
pares. Os capítulos 1-9 e 30-31 são discursos poéticos ligados e
de alguma extensão. No resto do livro os provérbios são em sua
maioria breves, como máximas independentes, todos os quais
completos em si mesmos.

Os Provérbios de Israel e de Outras Nações

Assim como a lei dada por intermédio de Moisés não

1 .  Germe: O princípio, a origem ou a causa de qualquer coisa.

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O Livro de Provérbios 79

significou que todo o tesouro comum de leis semíticas tinha de


ser abandonado, semelhantemente a sabedoria de Salomão e
de outros homens não ultrapassou todas as lições aprendidas
pelos filhos do Oriente.
Mas no caso da lei e da sabedoria igualmente o que era
comum a Israel e a seus vizinhos foi revolucionado pelas sanções
divinas e pela sua adoção, na vida de um povo que tinha uma
relação especial para com Deus. Mas, quando o peso devido
é dado a isso e ao fato que Agur e Lemuel talvez não fossem
israelitas, não necessitamos aceitar os argumentos daqueles que
vêem no livro de Provérbios empréstimos em grande escala das
fontes não-israelitas.
Evidência sobre isso se pode freqüentemente encontrar nos
paralelos entre a “Sabedoria de Amen-em-ope”, do Egito, com
Provérbios 22.17-24.34, e a difícil sentença: “Porventura não te 3
escrevi excelentes cousas...?” é reescrita como “trinta coisas”,
como na obra de Amen-em-ope, que tem trinta capítulos.
Visto que os egiptólogos diferem tanto sobre a data do
livro, é perigoso fazer afirmações dogmáticas. Precisamos notar
apenas que Griffith, o descobridor, datou-o de cerca de 600
a.C., quando então os “sábios” já agiam em Israel durante
séculos.
Há bons motivos para acreditar-se que Amen-em-ope fez
empréstimos dos Provérbios. A reputação mundial de Salomão,
que levou a rainha de Sabá a investigar sua sabedoria, é um
dos primeiros exemplos do modo como a sabedoria tornou-se
uma ponte pela qual Israel penetrou no mais alto pensamento
de seus vizinhos.
Mas, enquanto seria inverídico dizer que os provérbios
egípcios são destituídos de profundo sentimento religioso, em
suas sanções ficam muito aquém da literatura canônica de
Sabedoria. “Não te debruces na balança, nem falsifiques os
pesos, nem causes danos às frações da medida”, diz Amen-em-
ope (capítulo 16). Nosso livro, entretanto, diz: “Duas espécies
de peso, e duas espécies de medida, são abominação para o
Senhor, tanto uma cousa como outra” (Pv 20.10). E isso faz
toda a diferença.

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80 Capítulo 3 Livros Poéticos

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas

1. É certo afirmar que


a. o O livro de Provérbios representa a sabedoria inspirada
dos sacerdotes
b. o A palavra “provérbio” significa um dito curto, incisivo e
axiomático, particularmente apropriado para o ensino oral
c. o Tema de Provérbios: comunhão com Deus em oração e
louvor
d.o Os livros poéticos e sapienciais fazem parte da primeira
divisão do AT hebraico, a saber: a Lei

3 2. É coerente dizer que: Provérbios é atribuído


a. o Exclusivamente a Salomão
b.o Apenas a Salomão e ao rei Lemuel
c. o A Salomão e outros
d.o Somente a Salomão, ao rei Lemuel e a Agur

3. Quanto à forma que foi escrito Provérbios, é incerto dizer


que
a. o É composto em forma poética, geralmente aos pares
b.o Os provérbios são em sua maioria breves, como má-
ximas independentes, todos os quais completos em si
mesmos
c. o Os capítulos 1-9 e 30-31 são discursos poéticos ligados e
de alguma extensão
d.o Vários são os provérbios com a estrutura literária em:
epílogo, diálogo e prólogo

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

4. [ ] A literatura sapiencial se restringiu apenas aos hebreus,


devido a grandeza da sabedoria de Salomão
5. [ ] Muito embora Provérbios seja basicamente um manual
sapiencial sobre a vida de justiça e prudência, o devido
alicerce dessa sabedoria é “o temor do Senhor”

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O Livro de Provérbios 81

Anotações:

81

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82 Capítulo 3 Livros Poéticos

Uso do Livro de Provérbios


O Reitor Wheeler Robinson descreveu a sabedoria
do Antigo Testamento como “a disciplina pela qual era
ensinada a aplicação da verdade profética à vida individual
à luz da experiência” (Inspiration and Revelation in Old
Testament, pág. 241). É isso que torna o livro perenemente
relevante. Trata-se de um livro de disciplina: toca em cada
departamento da vida e demonstra que ela é alvo do
interesse direto de Deus.
A sabedoria não consiste da contemplação de princípios
abstratos que governem o universo, mas de uma relação com
Deus em que um reverente conhecimento produz conduta
consonante1 com aquela relação, em situações concretas. O
3 homem que rejeita isso é, francamente, um insensato.
E a sabedoria precisa dominar a vida inteira; não apenas
a devoção de um homem, mas também sua atitude para
com sua esposa, seus filhos, seu trabalho, seus métodos de
negócio e até mesmo suas maneiras à mesa.
Já foi admiravelmente dito que “para os escritores de
Provérbios...” religião significa um bem formado intelecto
a empregar os melhores meios de realizar as mais altas
finalidades. “A debilidade, a superficialidade, os pontos de
vista e os propósitos estreitos e contraídos, encontram-se do
outro lado”.
Há ampla evidência que nosso Senhor, estando na Terra,
amava esse livro. De vez em quando encontramos um eco
de sua linguagem em Seu próprio ensino: por exemplo, em
Suas palavras acerca daqueles que procuram os principais
assentos (cfr. Pv 25.6,7), ou na parábola dos homens sábio
e insensato e suas casas (cfr. Pv 14.11), ou na parábola do
rico insensato (cfr. Pv 27.1).
A Nicodemos Ele revelou a resposta da pergunta
apresentada por Agur, filho de Jaque (cfr. Pv 30.4 com
Jo 3.13). E Ele relembra aqueles que, à semelhança dos
“insensatos” sem discriminação do livro de Provérbios, não
reconhecem a Ele ou à Sua mensagem de que “a sabedoria

1 .  Consonante: Que produz, ou tem consonância; cônsono.

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O Livro de Provérbios 83

é justificada por seus filhos” (Mt 11.19). Nosso Senhor, de


fato, usou em Suas parábolas exatamente o método de
ensino encontrado no livro de Provérbios.
O termo hebraico mashal é mais bem traduzido para
o grego como parabolê, “parábola”; e a mesma palavra
grega pode traduzir o termo hebraico hidhah, “enigma” ou
“adivinhação”. Por isso, em Marcos 4.11 vemos que, para
aqueles que não O reconhecem, tudo quanto está ligado ao
reino aparece na forma de enigmas, que ouvem, mas não
podem interpretar.
Teria sido devido à companhia de nosso Senhor que
Pedro derivou seu gosto pelos provérbios? Seja como for,
suas epístolas demonstram uma íntima familiaridade com o
livro de Provérbios (cfr. 1Pe 2.17 com Pv 24.21; 1Pe 3.13
com Pv 16.7; 1Pe 4.8 com Pv 10.12; 1Pe 4.18 com Pv 11.31; 3
2Pe 2.22 com Pv 26.11).
Paulo também cita e reflete esse livro (cfr. por exemplo,
Rm 12.20 com Pv 25.21 ss.), e quando o apóstolo fala sobre
“Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1.24),
Provérbios 8 lança um rico significado a essas suas palavras.
Hebreus 12.5 ss. nos ordenam que não nos esqueçamos
da “exortação que argumenta convosco como filhos”, e que
não desprezemos o castigo do Senhor. A citação é tirada de
Provérbios 3.11 ss. E isso nos fornece um quadro sobre a
verdadeira natureza do livro de Provérbios – um estudo a
respeito da disciplina paternal de Deus.
As afirmações como as parábolas de nosso Senhor
precisam ser ponderadas para poderem ser plenamente
apreciadas e provavelmente é melhor considerar cada
afirmação de Provérbios separadamente, lendo apenas
algumas de cada vez. “Um número de pequenos quadros,
acumulados sobre as paredes de uma grande galeria não
podem receber muita atenção individual de um visitante,
especialmente se ele estiver fazendo uma visita apressada”.
Por outro lado, é importante relembrar que cada afirmação
faz parte de um corpo completo de ensinamento. Tirar um
provérbio completamente fora de suas relações para com o
todo e buscar aplicá-lo a qualquer situação, pode enganar
muito.

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84 Capítulo 3 Livros Poéticos

Texto e Versões

Há muitas dificuldades e pontos obscuros no texto


hebraico, particularmente na principal seção salomônica,
como já era de se esperar num documento tão antigo.
Recentes descobertas filológicas , no entanto, nos advertem
contra correções apressadas.
A Septuaginta nos fornece menos ajuda aqui que em
certos livros, visto que tem um caráter literário todo seu.

Comentário
Embora Provérbios, como os Salmos, não seja fácil
de resumir como outros livros da Bíblia, há seções com
3 estrutura definida. É o caso principalmente dos capítulos
1-9, com sua série de 13 discursos apropriados para os pais
em relação aos filhos quando estes atingem a adolescência.
Com exceção de três desses discursos (ver Pv 1.30; 8.1; 9.1),
os demais iniciam por “meu filho” ou “meus filhos”.
Esses treze discursos contêm numerosos preceitos
importantes no âmbito da sabedoria para a juventude. A
partir do capítulo 10, Provérbios contêm diretrizes de peso
a respeito dos relacionamentos familiares (e.g., Pv 10.1;
12.4; 17.21,25; 18.22; 19.14,26; 20.7; 21.9,19; 22.6,28;
23.13,14,22,24,25; 25.24; 27.15,16; 29.15-17; 30.11;
31.1-31).
Provérbios é um livro, sobretudo prático, mas contém
conceitos profundos de Deus. Deus é a personificação da
sabedoria (e.g. Pv 8.22-31) e o Criador (e.g. Pv 3.19,20;
8.22-31; 14.31; 22.2); Ele é descrito como onisciente (e.g.
Pv 5.21; 15.3, 11; 21.2), justo (e.g. Pv 11.1; 15.25-27,29;
19.17; 21.2,3) e soberano (e.g. Pv 16.9,33; 19.21; 21.1).
Provérbios termina com uma solene homenagem à mulher
de caráter nobre (Pv 31.10-31).
O que Salmos é para vida devocional, Provérbios é para
a vida prática. No seu método de ensino, é intimamente
relacionado ao Sermão da Montanha e à Epístola de Tiago.

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O Livro de Provérbios 85

O Livro de Provérbios Ante o Novo Testamento

A personificação da sabedoria no capítulo 8 é semelhante à


do logos (“O Verbo”) de João 1.1-18. A sabedoria:
• Está empenhada na criação (Pv 3.19,20; 8.22-31);
• Está relacionada à origem da vida física e espiritual
(3.19; 8.35);
• Tem aplicação prática à vida reta e moral (8.8,9);
• Está disponível aos que a buscam (2.3-5; 3.13-18; 4.7-9;
8.35,36).
A sabedoria de Provérbios tem sua expressão plena em
Jesus Cristo, a pessoa “maior do que Salomão” (Lc 11.31), que
“para nós foi feito por Deus sabedoria...” (1Co 1.30) e “em
quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da
ciência” (Cl 2.3). 3
Ensinamentos Notáveis
Oito características principais assinalam o livro de Provérbios:
1. A sabedoria da parte de Deus não está primeiramente vin-
culada à inteligência ou a grandes conhecimentos, e sim
diretamente ao “temor do Senhor” (Pv 1.7). Daí, sábio é
aqueles que andam com Deus e observam a sua Palavra. O
temor do Senhor é um tema freqüente através do livro de
Provérbios (Pv 1.7,29; 2.5; 3.7; 8.13; 9.10; 10.27; 14.26,27;
15.16,33; 16.6; 19.23; 22.4; 23.17; 24.21);
2. Boa parte dos sábios conselhos expostos em Provérbios as-
semelha-se ao aconselhamento que um piedoso pai ministra
a seus filhos;
3. É o livro mais prático do Antigo Testamento, pois abrange
uma ampla área de princípios básicos de relacionamentos
e comportamentos corretos na vida cotidiana – princípios
estes aplicáveis a todas as gerações e culturas;
4. Sua sabedoria prática, seus preceitos santos, e seus princí-
pios básicos para a vida são expressos em declarações bre-
ves e convincentes, de fácil memorização e recordação pela
juventude como diretrizes para a vida;
5. A família ocupa um lugar de vital importância em Provér-
bios, assim como ocupava no concerto entre Deus e Israel
(cf. Êx 20.12,14,17; Dt 6.1-9). Pecados que violam o propó-

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86 Capítulo 3 Livros Poéticos

sito de Deus para a família são expostos abertamente com a


devida advertência contra eles;
6. São os destaques literários de Provérbios, a saber: o farto
emprego de linguagem expressiva e figurativa (e.g., símiles
e metáforas), paralelismos e contrastes, preceitos1 concisos2
e repetições;
7. A esposa e mãe sábia, retratada no fim do livro (cap. 31)
são incomparáveis na literatura antiga, quanto à maneira
elevada e nobre de abordar o assunto da mulher;
8. As exortações sapienciais de Provérbios são os precursores
do AT às muitas exortações práticas das epístolas do NT.

Aspectos Interessantes
Talvez o maior de todos os provérbios é 3.5,6. Excelente
3 versículo para a vida. O escritor demonstra ter grande
conhecimento da natureza: formigas, aranhas, coelhos.
Respeito pelos pais é assunto ao qual se referem muitos
provérbios.

Chave de Compreensão
Na estrutura de Provérbios, Deus reconhece a capacidade e
as limitações da mente humana. Sua finalidade, portanto, era
ensinar a sabedoria para viver bem: “Ouça também o sábio
e cresça em ciência, e o entendido adquira habilidade, para
entender provérbios e parábolas, as palavras dos sábios, e seus
enigmas” (Pv 1.5-6).
Provérbios ensina, portanto, a sabedoria. Mas, que é
sabedoria?
»» Não se deve confundi-la com erudição, que é acúmulo
de informações e dados, mas que nem sempre garantem
que a pessoa saberá viver;
»» Não se deve confundi-la também com saber acadêmico.
Há pessoas muito bem preparadas academicamente e
absolutamente insensatas;
»» Sabedoria, no conceito bíblico, não tem a ver com
escolaridade, capacidade intelectual, domínio de
1 .  Preceito: Regra de proceder; norma. Ensinamento, doutrina. Ordem, determinação,
prescrição.
2 .  Conciso: Sucinto, resumido. Breve, lacônico. Preciso, exato.

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O Livro de Provérbios 87

tecnologia ou saber científico. Não é livresca1 nem de


bancos escolares.

Para defini-la bem, vejamos o termo hebraico mais comum


para designá-la. É hokmah. Entendemos bem este termo
quando observamos o verbo “ser sábio”, que é hakham e traz
a idéia de “agir sabiamente, estar instruído, ser experiente”.
Embora seja usado no sentido de domínio de alguma técnica,
seu uso predominante é moral, no sentido de sabedoria para
viver acertadamente, ter uma vida ajustada, equilibrada, de
bom senso.
A sabedoria de Provérbios é para se entender bem as regras
da vida feliz e praticá-las. O livro pretende mostrar o caminho
para uma vida feliz.
Isto quer dizer que responde a esta questão: “como viver 3
bem, de forma equilibrada?”. Ao longo do seu conteúdo,
duas maneiras ficam bem delineadas: pela observação e por
revelação.
Pela observação da vida, pela observação de pessoas que
erram (os exemplos do iracundo2, do preguiçoso, da mulher
rixosa3, do filho insensato), de pessoas que acertam (o justo,
o sábio, o amigo fiel, a boa esposa), por entender os mais
velhos (ouvir o pai, a mãe, o ancião, o sábio), por fugir do mal
(a prostituição, a bebida forte, a preguiça, a ira, a contenda,
a exploração do próximo), por seguir o bem (a instrução,
o trabalho, a honestidade, a obediência) etc. Também pela
revelação. Não há declarações explícitas como “assim diz o
Senhor” ou “veio a mim a palavra do Senhor”, mas por todo o
livro transparece a idéia de que ele é mais que um almanaque
de farmácia com declarações pífias4 como “se não sabes
nadar, não queiras mergulhar”. Ele não é um receituário de
banalidades, mas vem de Deus.
A sabedoria é dom divino: “o temor do Senhor é o princípio
do conhecimento...” (Pv 1.7). Está em consonância com a
palavra de Jesus: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da

1 .   Livresca: Adquirida por meio de livros, sem experiência própria.


2 .   Iracundo: Irado, colérico, enfurecido.
3 .   Rixosa: Bulhenta, desordeira, brigadora, brigona, rixadora.
4 .   Pífias: Reles, grosseiras, ordinárias, vil

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88 Capítulo 3 Livros Poéticos

terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as


revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu
agrado” (Mt 11.25,26).
As verdades profundas de Deus não pertencem aos sábios
e entendidos aos olhos humanos, mas aos pequenos a quem
Deus, em sua graça, quer revelar. Há, portanto, um componente
espiritual na sabedoria bíblica. Ser sábio é andar nos caminhos
de Deus. Por isto vem o conselho: “Confia no Senhor de todo
o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento”
(Pv 3.5).
O homem deve ser sábio pelo que aprende de Deus. “Não
sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do
mal” (Pv 3.7).

3 Anotações:

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O Livro de Provérbios 89

Anotações:

89

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90 Capítulo 3 Livros Poéticos

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas

6. Quanto à sabedoria é incerto afirmar que


a. o Consiste da contemplação de princípios abstratos que
governam o universo
b. o É dom divino: “o temor do Senhor é o princípio do
conhecimento...”
c. o O homem que a rejeita é, francamente, um insensato
d.o Precisa dominar a vida inteira; não apenas a devoção
de um homem, mas também sua atitude para com sua
esposa, seus filhos, seu trabalho, seus métodos de negócio
e até mesmo suas maneiras à mesa
3
7. Quanto às características principais de Provérbios, é incoe-
rente dizer que
a. o É o livro mais prático do AT, abrange uma ampla área
de princípios básicos de relacionamentos e comportamen-
tos corretos na vida cotidiana
b. o A sabedoria da parte de Deus no livro, está primeira-
mente vinculada à inteligência ou a grandes conhecimentos
c. o O temor do Senhor é um tema freqüente através do
livro de Provérbios
d.o A família ocupa um lugar de vital importância em Pro-
vérbios

8. Provérbios nos ensina que há duas maneiras para vivermos


bem e de forma equilibrada. Através da
a. o Erudição e da provação
b. o Cultura e da sabedoria
c. o Observação e da revelação
d.o Ciência e do intelecto

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

9. [ ] Sabedoria é erudição, um acúmulo de informações e


dados, que sempre garante a pessoa a viver
10.[ ] Não se deve confundir a sabedoria com o saber acadê-

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O Livro de Provérbios 91

mico. Há pessoas muito bem preparadas academicamente e


absolutamente insensatas

Anotações:

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92 Livros Poéticos

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O Livro de Eclesiastes 93

A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é


fiel e dá sabedoria aos símplices.Os preceitos do SENHOR são retos e alegram
o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do
SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros
e todos igualmente, justos.
Salmo 19.7-10

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94 Livros Poéticos

94

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O Livro de Eclesiastes 95

Capítulo 4
O Autor
Livro de Eclesiastes Data
Autor: Aspectos Interessantes
Salomão. Eclesiastes Ante o NT
A Vaidade Daquilo que Foi Experimen-
Data: tado
Cerca de 935 a.C. •  Tudo é vaidade
•  Prazeres e riquezas não produzem
Tema: a felicidade
A busca por algo de verda- A Vaidade Daquilo que foi Observado
deiro valor nesta vida. •  Tempo próprio para tudo
•  Os males e as tribulações da vida
Palavras Chave: A Sabedoria Prática
Vantagem, vaidade, debaixo •  Vários conselhos práticos
do sol e aflição de espírito. •  Gozando os bens que Deus dá
•  Sete coisas melhores
Versículo Chave: Normas Para uma Vida Feliz
Ec 2.11,13 e 12.13-14. •  Valores morais
•  Pensamentos pessimistas

E
clesiastes é um livro dife- •  A loucura é causa de muitas
rente dos demais livros da desgraças
•  Façamos o que é bom no tempo
Bíblia, principalmente os oportuno
do AT. Ele não apresenta uma Conclusão
história como Juízes ou Crônicas,
nem ao menos é um “hinário”,
tal como os Salmos, ou uma co- Os ícones indicam
letânea de oráculos, como alguns
livros proféticos. Trata-se de um
livro “diferente”.
É uma reflexão acerca da Conceito Chave
vida e dos problemas humanos.
Mas somente uma reflexão pura
e simples. Ele se envolve tanto
com os problemas humanos, que
Muito importante
alguns chegaram até a dizer que
essas reflexões foram feitas por
um homem que não conhecia a
Deus em sua plenitude.
Houve mesmo quem dissesse Atenção e foco

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96 Capítulo 4 Livros Poéticos

ser o seu autor um incrédulo da vida após a morte, pois não a


menciona nem uma vez sequer.
Eclesiastes é fruto de um movimento de sabedoria que in-
fluenciou a fé em Israel, a partir do reinado de Salomão. Salo-
mão, ao assumir o trono, modificou o conceito de reinado até
então existente em seu país.
Saul e Davi exerceram um governo do tipo semita, em que
o rei é um conquistador. Das reformas que Salomão fez, uma
foi a da instituição de escribas oficiais, cuja função era escrever
a história (do ponto de vista do rei, é claro), as leis e também as
palavras de orientação ao povo, palavras de sabedoria e voltadas
para o ensino moral e religioso. Esses escribas influenciaram mui-
to a religião em Israel, especialmente após o exílio da Babilônia.
O título deste livro no AT hebraico é koheleth (derivado de
“kahal”, “reunir-se”). Literalmente, significa, “aquele que reúne
uma assembléia e lhe dirige a palavra”. Este termo ocorre sete ve-
zes no livro (Ec 1.1,2,12; 7.27; 12.8-10) e é geralmente traduzido
por “pregador” ou “mestre”.
A palavra correspondente no grego da Septuaginta é ekkle-
siastes, e dela deriva o título “Eclesiastes” em português.
4 A visão geral ou frase-chave é: “debaixo do sol” com a tris-
te ressalva: “vaidade de vaidades, tudo é vaidade”, mostrando
como um homem, sob as melhores condições possíveis, buscou
alegria e paz empregando os melhores recursos humanos. Ele po-
deria conseguir da sabedoria humana, dos bens, do prazer mun-
dano, da honra do mundo; tudo para concluir que as coisas são
vaidade e canseira de espírito. Foi tudo o que um homem, com o
conhecimento de um Deus santo e que trará todos a julgamento,
aprendeu da natureza vazia das coisas “debaixo do sol” e do de-
ver do homem de temer a Deus e guardar os Seus mandamentos.
Embora Salomão fosse um rei incomum e mui dotado, per-
mitiu que o pecado tivesse domínio. Suas alianças matrimoniais
desviaram-lhe o coração da sincera adoração de Deus, e resulta-
ram na inutilidade da vida e inanição1 da alma.
Não temos registro do seu arrependimento desse pecado;
possivelmente este monólogo fosse a expressão do seu arrepen-
dimento.

1 .  Inanição: Extenuado, vazio, oco.

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O Livro de Eclesiastes 97

O Autor

A obra inteira, portanto, é uma série de ensinos por um ora-


dor público bem conhecido. Crê-se, geralmente, que o autor
é Salomão, embora seu nome não apareça no livro, como em
Provérbios (e.g., Pv 1.1; 10.1; 25.1) e em Cantares (cf. Ct 1.1).
Vários trechos, no entanto, sugerem a sua autoria.
• O autor identifica-se como filho de Davi, que reinou em
Jerusalém (Ec 1.1,12);
• Faz alusão a si mesmo como o governante mais sábio do
povo de Deus (Ec 1.16) e como o escritor de muitos pro-
vérbios (Ec 12.9);
• Seu reino tornou-se conhecido por causa das riquezas e
grandezas (Ec 2.4-9).

Tudo isso se encaixa na descrição bíblica do rei Salomão (cf.


1Rs 2.9; 3.12; 4.29-34; 5.12; 10.1-8). Além disso, sabemos que
Salomão, vez por outra, reunia uma assembléia e discursava
diante dela (e.g., 1Rs 8.1).
A tradição judaica atribui o livro a Salomão. Por outro lado,
o fato de seu nome não aparecer declaradamente em Eclesias- 4
tes (apesar de sê-lo nos seus dois outros livros) pode sugerir que
outra pessoa auxiliou na compilação do livro.
Deve-se considerar que o livro é de Salomão, mas que por
certo foi compilado posteriormente na sua forma atual, por ou-
tra pessoa, assim como ocorreu com certas partes do livro de
Provérbios (cf. Pv 25.1).

Data

Cerca de 935 a.C. A versão final do livro de Eclesiastes foi


escrita por volta do século III a.C., período em que a Palestina
estava sob o domínio dos ptolomeus, reis do Egito, de origem
grega, e que tinham estabelecido sua capital em Alexandria.

Aspectos Interessantes
A “conclusão” (Ec 12.13,14) é ainda uma conclusão “debai-
xo do sol”.
Liturgicamente, Eclesiastes é um dos cinco rolos da terceira

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98 Capítulo 4 Livros Poéticos

parte da Bíblia Hebraica, os Hagiógrafos (“Escritos Sagrados”),


cada um dos quais era lido em público anualmente numa das
festas sagradas judaicas. Eclesiastes era assim lido na Festa dos
Tabernáculos.

Eclesiastes Ante o Novo Testamento


Possivelmente, apenas um texto de Eclesiastes é citado no NT
(Ec 7.20 em Rm 3.10, sobre a universalidade do pecado). Todavia,
não deixa de haver várias e possíveis alusões (Ec 3.17; Ec 5.15;
11.9; 12.14, em Mt 16.27; Rm 2.6-8; 2Co 5.10; 2Ts 1.6,7, em 1Tm
6.7).
A conclusão do autor, quanto à futilidade da busca de riquezas
materiais, Jesus a reiterou quando disse:
• Que não devemos acumular tesouros na terra (Mt 6.19-
21,24);
• E que é estultícia alguém ganhar o mundo inteiro e perder a
própria alma (Mt 16.26).
O tema de Eclesiastes, de que a vida, à parte de Deus, é vaida-
de e nulidade, prepara o caminho para a mensagem do NT, a da
graça: o contentamento, a salvação e a vida eterna, nós os obtemos
4 como dádiva de Deus (cf. Jo 10.10; Rm 6.23).
De várias maneiras este livro preparou o caminho para a re-
velação do NT, no sentido inverso. Suas freqüentes referências à
futilidade da vida, e à certeza da morte, preparam o leitor para a
resposta de Deus sobre a morte e o juízo, isto é, a vida eterna por
Jesus Cristo.
Salomão, como o homem mais sábio do AT, não conseguiu res-
postas satisfatórias para os seus problemas da vida através de praze-
res egoístas, riqueza e acúmulo de conhecimentos. Portanto, deve-
se buscar a resposta naquele de quem o NT afirma que “é mais do
que Salomão” (Mt 12.42), isto é, em Jesus Cristo, “em quem estão
escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.3).

A Vaidade Daquilo que Foi Experimentado

Capítulo 1: Tudo é vaidade.


O capítulo 1 tem duas partes. A primeira trata da idéia mate-
rialista da vida (Ec 1.1-11). Deste ponto de vista, a vida não ofe-

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O Livro de Eclesiastes 99

rece nenhum motivo inspirador (Ec 1.1-3), é por demais monó-


tona (Ec 1.4-10), e acaba no completo esquecimento (Ec 1.11).
Os versículos restantes tratam da sabedoria filosófica e dos
fatos da experiência (Ec 1.12-18), e aqui o escritor declara que
tanto a ciência (Ec 1.12-15) como a sabedoria (Ec 1.16-18) são
enfado e tristeza.
Eclesiastes 1.2 expressa o tema do livro, isto é, todos os em-
preendimentos humanos na terra não têm sentido nem propó-
sito quando realizados à parte da vontade de Deus, fora da co-
munhão com Ele e da sua obra de amor em nossa vida. O livro
também salienta que a própria criação está sujeita à vaidade e
à corrupção.
O autor procura aniquilar as falsas esperanças que o povo
deposita num mundo totalmente secular. Seu empenho é que o
ser humano perceba as sérias realidades do mal, da injustiça e
da morte, e que reconheçam que a vida, à parte de Deus, não
tem sentido e nem pode levar à verdadeira felicidade.
A solução do problema está na fé e na confiança em Deus;
é isto que dá sentido à vida; que dá real prazer em viver. De-
vemos atentar para além das coisas terrenas, i.e., para as celes-
tiais, a fim de obtermos esperança, alegria e paz (Ec 3.12-17; 4
8.12,13; 12.13,14).
A terra parece prosseguir no seu caminho predeterminado
sem indicar qualquer mudança (Ec 1.5-11). O ser humano não
pode buscar na natureza, sentido para a sua existência terrena,
nem pode, na terra, obter plena satisfação.
Eclesiastes 1.9 não quer dizer que não ocorrem novas inven-
ções, mas somente que não há nenhum novo tipo de atividade.
As aspirações, propósitos e desejos da raça humana permane-
cem os mesmos.
“Eu, o pregador... informar-me com sabedoria” (Ec 1.12-
18). O ser humano não consegue descobrir, por si só, qualquer
propósito na vida, nem consegue utilizar os recursos produzidos
pelo homem para endireitar o que está errado no mundo (Ec
1.15).
A solução consiste em algo superior à sabedoria humana, à
filosofia ou idéias humanas. Trata-se da sabedoria que vem do
alto (Tg 3.17), “a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual
Deus ordenou antes dos séculos” (1Co 2.7).

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100 Capítulo 4 Livros Poéticos

Capítulo 2: Prazeres e riquezas não produzem a felicidade.


Em Eclesiastes caps. 1 e 2 o rei fala pela experiência, e
em 3.1 a 9.16 por observação. Na primeira parte declara
que a procura da ciência (Ec 1.12-18), do prazer (Ec 2.3),
das riquezas (Ec 2.4-11), e dos bens da vida em geral é tudo
em vão.
“O prazer... e eis que tudo era vaidade” (Ec 2.1-11). Sa-
lomão relata como ele experimentou o prazer, as riquezas,
e as recreações culturais na busca da satisfação e do prazer.
Porém, nada disso lhe proporcionou real felicidade, a in-
satisfação em seu viver continuou (Ec 2.11). Somente em
Deus e na sua vontade pode o ser humano encontrar paz,
satisfação e alegria permanentes.
“Da sabedoria... da doidice” (Ec 2.12-17). Salomão ob-
servou que viver sabiamente na terra é vantajoso por algum
tempo, pois o sábio tem menos problemas do que o tolo.
Com a morte, porém, todas as vantagens ficam nulas.
Logo, a sabedoria terrena não tem valor permanente, no
sentido estrito.
4 “Eu aborreci todo o meu trabalho...” (Ec 2.18-23). O tra-
balho humano, se não for dedicado a Deus, não tem valor
permanente (ver Cl 3.23). Até mesmo os bens que o ser
humano deixa na terra depois da morte, podem ser leviana-
mente esbanjados por outra pessoa.

O escritor deste livro chega a duas conclusões (Ec 2.24-


26):
• Comer, beber e trabalhar – enfim, todas as atividades
da vida – podem trazer satisfação apenas se a pessoa
vive a sua vida para Deus. Somente Deus capacita o
ser humano a ter prazer na vida;
• Ele concede verdadeira sabedoria, conhecimento
e alegria aos que o agradam mediante a fé (cf. Ec
3.12,13,22; 5.18-20; 8.15; 9.7).

Devemos, portanto, entender que a vida é um dom de


Deus e que devemos confiar n’Ele para que o seu propósito
se realize em nós (ver Fp 2.13).

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O Livro de Eclesiastes 101

A Vaidade Daquilo que foi Observado

Capítulo 3: Tempo próprio para tudo.


Deus tem um plano eterno que inclui os propósitos e ativida-
des de toda pessoa na terra (Ec 3.1-8). O crente deve entregar-
se a Deus como sacrifício vivo, deixar que o Espírito Santo leve
a efeito o plano de Deus em sua vida e ter cuidado para não
se afastar da vontade de Deus, e assim perder a oportunidade
quanto ao propósito divino para a sua vida (Rm 12.1,2).
Ao lermos Eclesiastes 3.11, ficamos intrigados, pois, segun-
do a tradução João Ferreira de Almeida, afirma: “também pôs
no coração deles”, e na Versão Brasileira: “Também pôs no co-
ração deles a idéia de eternidade”.
A palavra hebraica “olam” é traduzida de vinte diferentes
maneiras no AT, e geralmente com o sentido de “duração”. É
certo que a “idéia da eternidade” está na teologia dos homens,
mas porventura está deveras na sua compreensão? No coração
do ser humano, Deus gravou o anseio inato pelas coisas eter-
nas.
O ser humano busca valores eternos já aqui nesta vida, na 4
sua imanente percepção de viver para sempre. Portanto, a vida
material, coisas seculares e prazeres deste mundo nunca satisfa-
rão plenamente o ser humano.
Poder desfrutar da vida e vivê-la sabiamente é uma dádiva
de Deus (Ec 3.13), que usufruímos somente quando deveras
andamos segundo os seus caminhos, em obediência a Ele como
nosso Senhor e Deus. Deste modo, Deus nos dispensa alegria
em tudo que empreendemos.
Neste mundo, a perfeita execução dos propósitos de Deus é
prejudicada pela injustiça e iniqüidade (Ec 3.16,17). Mas, neste
texto temos a certeza de que Deus, no seu tempo aprazado, jul-
gará os ímpios e recompensará os justos (cf. Rm 2.5-11).
Biologicamente, o ser humano morre como os animais (Ec
3.19), isto é, o cessar da vida física. Esse fato demonstra a fragi-
lidade do corpo humano, e deve nos conduzir ao temor de Deus
e à sua obediência (Ec 12.13).
Podemos entender melhor Eclesiastes 3.19,20, parafrase-

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102 Capítulo 4 Livros Poéticos

ando um pouco: “Como morre um, assim morre outro (fisica-


mente falando, porque): todos têm o mesmo fôlego, e homem
não tem vantagem sobre os brutos (tanto um como outro come,
bebe e respira para poder viver). Todos (no que se refere ao
corpo) vão para um lugar (a saber, debaixo do chão)”.
Mas, Eclesiastes 3.21 parece perceber mais alguma coisa, fa-
zendo uma pergunta e em 12.7 responde a sua própria pergun-
ta. E em Números 16.22 Deus é chamado o “Deus dos espíritos
de toda a carne”, e não somente dos crentes.

Capítulo 4: Os males e as tribulações da vida.


Podemos com vantagens contrastar o pessimismo de Salo-
mão, o homem mais sábio e rico do seu tempo, com a satisfação
do mais humilde crente que na sua simplicidade vive cada dia
confiando na graça divina, e “em tudo dá graça”, porque conta
haver algum lucro espiritual, mesmo no meio de prejuízos ma-
teriais.
Olhando em volta para um mundo que rejeitava os cami-
nhos de Deus, Salomão via opressão por toda parte. Via tam-
bém que os oprimidos não tinham ajuda (Ec 4.1). Hoje continua
4 a haver muita opressão no mundo, mas há consolo à disposição
do homem, porque nosso Deus é “o Deus de toda consolação”
(2Co 1.3).
Deus Pai consolava os seus, nos antigos tempos, quando
n’Ele confiavam (Sl 86.17; Is 51.3,12), Jesus ministrava consolo
e cura quando esteve na terra (Mt 9.22), e o Espírito Santo nos
foi prometido por Jesus, como “outro Consolador” (Jo 14.16).
O preceito bíblico para os crentes também é que eles consolem
uns aos outros (2Co 1.4).
Diligência no trabalho e aprimoramento profissional é mui-
tas vezes motivada por mera competição com o próximo e por
concorrência egoísta. Tais motivações são auto destrutivas (Ec
4.4-6). Deus quer, antes, que primemos pela moderação, fazen-
do boas obras, tendo uma maneira de viver santa e sossegada
e cooperando uns com os outros (Ec 4.9,10).
No versículo 8 ele lastima a triste sorte do solteiro, mas o
apóstolo Paulo, solteiro, velho e encarcerado, quando escrevia
da cadeia aos crentes filipenses, em cada capítulo fala em rego-
zijar-se. E também escreve: “O que é solteiro cuida das coisas do

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O Livro de Eclesiastes 103

Senhor, de como agradar ao Senhor” (1Co 7.32).


“Melhor é serem dois do que um” (Ec 4.9-12). Especialmen-
te quando há entre eles simpatia, tolerância, apreciação mútua,
altruísmo, cooperação e identidade de interesses.
O companheirismo tem muitas vantagens, pois Deus não
nos criou para vivermos isolados uns dos outros (Gn 2.18). To-
dos nós precisamos do amor, da ajuda e do apoio dos amigos,
dos familiares e dos irmãos na fé (At 2.42). Mesmo assim, tudo
isso é insuficiente sem a comunhão diária com Deus Pai, com o
Filho e com o Espírito Santo (1Co 1.9; 2Co 13.13; Fp 2.1; 1Jo
1.3,6,7).
Este contraste entre um jovem sábio e um rei velho e insen-
sato, que rejeita conselhos, demonstra quão lastimável é quan-
do um governante torna-se arrogante e fica sem condições de
ser líder e servo do seu povo (Ec 4.13-16).

Anotações:

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104 Capítulo 4 Livros Poéticos

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas

1. Eclesiastes
a. o É um livro basicamente idêntico aos demais livros da
Bíblia, principalmente os do AT
b.o Apresenta uma história como Juízes; em algumas partes
é um “hinário” e uma coletânea de oráculos, como alguns
livros proféticos
c. o É uma reflexão acerca da vida e dos problemas huma-
nos
d.o É fruto de um movimento de sábios que influenciou o
mundo, a partir do reinado de Saul

2. Liturgicamente, Eclesiastes é um dos cinco rolos da terceira


parte da Bíblia Hebraica, era lido na:
a. o Festa do Purim
b.o Festa da Páscoa
c. o Festa das Semanas
4 d.o Festa dos Tabernáculos

3. É o título do capítulo 3 de Eclesiastes


a. o Os males e as tribulações da vida
b. o Tempo próprio para tudo
c. o Prazeres e riquezas não produzem a felicidade
d.o Tudo é vaidade

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

4. [ ]Salomão foi um rei incomum e mui dotado, exemplar em


todos os aspectos, não permitiu que o pecado tivesse
domínio em sua vida
5. [ ] Eclesiastes afirma: a perfeita execução dos propósitos de
Deus é prejudicada pela injustiça e iniqüidade

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O Livro de Eclesiastes 105

Anotações:

105

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106 Capítulo 4 Livros Poéticos

A Sabedoria Prática

Capítulo 5: Vários conselhos práticos


Aqui encontramos conselhos bons sobre o procedimento na
casa de oração.
»» Convém “guardar o pé”, andar prudentemente, com
respeito e reverência;
»» Convém “chegar para ouvir”, porque Deus pode falar-nos
mediante o sentido de algum hino, ou pelo ministério que
Ele dá para a edificação da sua Igreja;
»» Não abrir a boca precipitadamente, lembrando que na
casa de oração fala-se “diante de Deus”;
»» Deve-se estar com reverência na casa de Deus (Ec 5.1), e
não com desrespeito;
»» Voto é uma forma de promessa solene diante de Deus,
que deve ser cumprida (Ec 5.4-6). É melhor deixar de
fazer determinado voto, do que fazer e não cumpri-lo;
»» O crente neotestamentário ao participar da Ceia do
Senhor (1Co 11.20), está também fazendo um voto de
viver em santidade e dedicado a Deus;
4 »» Buscar os prazeres do pecado depois de fazer tal voto a
Deus, atrai a si ira e juízo, pois significa que aquele voto
era realmente mentiroso. Mentir a Deus pode resultar em
castigo severo (e.g., Ananias e Safira, ver At 5.1-11).

Salomão, ao notar de novo a opressão dos pobres e a injustiça


a prevalecer, relembra aos opressores que Deus é o juiz supremo.
Ele está sobre todos, e Ele enunciará a sentença final no dia do
julgamento (Ec 5.8).
O dinheiro e a abundância de bens terrenos não dão, por si,
sentidos à vida e, portanto, não podem promover a verdadeira
felicidade (Ec 5.10-17).
Geralmente, o trabalhador honesto, ao chegar à sua casa depois
de um dia normal de trabalho, dorme tranqüilo, enquanto o rico
não consegue conciliar o sono, temeroso que alguma calamidade,
ou falha de sua parte, arruíne tudo o que tem. Mas, mesmo sem
qualquer prejuízo, o rico nada levará consigo ao morrer. É de
lastimar que tantas pessoas trabalhem tanto para enriquecer,
quando o principal é acumular tesouros no céu (Mt 6.19-21)

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O Livro de Eclesiastes 107

Capítulo 6: Gozando os bens que Deus dá


Aqui lemos do “homem a quem Deus dá riquezas” e,
contudo, não tem capacidade de gozar da abundância que
recebe. Em verdade há bem poucos “a quem Deus dá riquezas”,
geralmente o rico se enriquece pelo seu muito esforço, e, às
vezes, por oprimir o pobre; então ele não está na classe daqueles
a quem “Deus dá riquezas”.
Um moço rico é uma raridade (salvo por herança) porque o
moço ainda não teve tempo de trabalhar e ganhar dinheiro. A
riqueza mais legítima de todas é o resultado do próprio esforço,
e com o decorrer dos anos alguns podem adquiri-la.
Uma pessoa pode ter tudo que deseja para gozar a vida,
e não poder fazê-lo. O desfrute daquilo que alguém possui
deve ser conforme o seu correto relacionamento com Deus. Se
formos dedicados a Deus e ao seu reino, Ele nos fará desfrutar
das suas bênçãos materiais (Ec 6.2).
A morte em idade jovem é lamentável; mas também uma
vida longa não é garantia de que a pessoa desfrutará daquilo
que Deus lhe deu (Ec 6.3-6).
Uma vida cheia de aflição leva a pessoa a desejar que tivesse
morrido ao nascer e assim não sofrer tanto (cf. Jó 3). À luz da 4
eternidade, o que importa é que vivamos para Deus (cf. Ec
12.13,14).
Nosso Deus Onipotente conhece todas as coisas e sabe tudo
acerca dos seres humanos. Quão tolo seria o contender com
Ele! (Ec 6.10).

Capítulo 7: Sete coisas melhores


O pregador procura um remédio para pecados, tristezas e
perplexidades da humanidade:
1. Um bom nome, que é melhor do que o ungüento precioso.
Uma mulher muito perfumada nem sempre tem um caráter
nobre. Os vizinhos geralmente sabem o valor que uma pes-
soa tem. Um bom nome custa muito a ganhar, mas pode-se
perder num momento. A boa fama significa mais do que
uma boa posição social (Ec 7.1); trata-se da verdadeira in-
tegridade de caráter, tal pessoa exerce uma mais duradoura
influência no caráter do próximo do que aquela cuja preo-

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108 Capítulo 4 Livros Poéticos

cupação é somente posição social.


2. O dia da morte do crente é melhor do que o dia do seu
nascimento (Ec 7.1), pois marca o início de uma vida muito
melhor, junto a Deus (2Co 5.1-10; Fp 1.21-23;).
Mas visto que a pessoa não pode morrer sem ter nascido,
precisa conformar-se com o menor bem para gozar do me-
lhor. Mas se sabedoria “debaixo do sol” não pode encarar
a vida com mais satisfação do que isto é claro que necessita
ouvir um Evangelho que transforme tanto a vida como a
morte, de maneira que, para o cristão, “o viver é Cristo e o
morrer e ganho”.
3. A casa de luto é melhor do que a casa de festim. Porque na
casa de luto o crente pode provar, de maneira toda especial,
“as consolações de Cristo”, enquanto na casa de festim pode
esquecer-se de Deus, e cair no pecado, ou embriagar-se.
4. Melhor é a mágoa do que riso, porque a tristeza do rosto
torna melhor o coração. As provações da vida podem ter
muito valor para o homem espiritual, porque nelas é que
experimenta as consolações de Cristo, e é capacitado a con-
solar os outros (2Co 1.6).
4 Salomão contrasta o efeito benéfico da tristeza (Ec 7.2-6) e
do sentimento causados por uma sábia repreensão, com as
risadas inconvenientes e as piadas levianas dos tolos.
Uma repreensão oportuna e apropriada pode provocar
tristeza, mas geralmente ela leva ao arrependimento a
pessoa que a recebe.
Uma advertência a tais pessoas sobre os fatos da vida real
pode causar um tipo de tristeza que é melhor do que o riso
e os divertimentos.
5. A repreensão é melhor do que a canção, no caso de a can-
ção ser dos tolos. “Fira-me o justo, isto será uma mercê1;
repreenda-me, isto será como óleo sobre a minha cabeça”
(Sl 141.5).
6. O fim é melhor do que o princípio, quando o fim procura-
do é bom. “A esperança prolongada faz adoecer o coração,
mas o desejo comprido é árvore de vida” (Pv 13.12).
7. A paciência é melhor do que a arrogância, porque obtém
mais resultado; porque desenvolve boas qualidades espiri-
1 .  Mercê: Favor, graça, benefício.

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O Livro de Eclesiastes 109

tuais; porque agrada mais os vizinhos; porque tem a apro-


vação de Deus. Salomão nos conclama a perseverar no
alcance dos alvos ditados por Deus (cf. Fp 3.13,14), per-
correndo o caminho que Ele traçou, seja áspero ou suave
(7.8-14).

Como o apóstolo Paulo, devemos aprender a estar contentes


– quer na abundância, quer na necessidade (Fp 4.12). Não
sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio (Ec
7.16). Este versículo deve ser interpretado à luz de Provérbios
3.7: “Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e
aparta-te do mal”.
Aqueles que dependerem das suas boas obras para a
salvação, e aqueles que se julgam sábios em si mesmos,
acabarão se arruinando. O homem necessita da justiça que
procede de Deus para regenerar seu coração, e igualmente,
da verdadeira sabedoria da parte do Espírito Santo, para
compreender a Palavra de Deus.
Não há homem justo sobre a terra, que faça bem e nunca
peque (Ec 7.20-22). Este versículo não contradiz a declaração
de Deus sobre a retidão de Jó (ver Jó 1.8; 2.3); pelo contrário, 4
exprime a verdade de que “todos pecaram e destituídos estão
da glória de Deus” (Rm 3.23; cf. 3.10-18).
Disse: sabedoria adquirirei; mas ela ainda estava longe
de mim (Ec 7.23-28). Os que buscam a verdadeira sabedoria
somente através do seu raciocínio, não a encontrarão. O
empecilho aqui provém da “mulher” do versículo 26, que é
a personificação da sedução, da imoralidade e da iniqüidade.
Ela é exatamente o inverso da mulher como personificação da
sabedoria, em Provérbios 8.1-4.
Os pecadores não conseguem encontrar a verdadeira
sabedoria porque estão dominados pela iniqüidade, mas os
que agradam a Deus mediante a fé e a obediência obtêm a
sabedoria divina e se libertam da escravidão do pecado.
Os versículos 25-29 de Eclesiastes 7, tratam de coisas que o
pregador achou, coisas procuradas e não procuradas. Que tipo
de homem ele procurou não está muito claro, mas ao menos
achou um em mil, mas procurando entre as mulheres, nem isso
encontrou. E, contudo, não está muito claro o que procurava.

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110 Capítulo 4 Livros Poéticos

Normas Para uma Vida Feliz

Capítulo 8: Valores morais


Neste capítulo temos três assuntos:
1. O dever dos súditos (Ec 8.1-5).
As potestades existentes são ordenadas por Deus. Isto quer
dizer que Deus tem determinado haver governo neste mundo.
Quem exercita o poder pode ser de Deus ou pode não ser. Por
isso a atitude do crente é a submissão ao governo civil.
Observa o mandamento do rei (Ec 8.2). O rei representa,
aqui, o governo humano, instituído que foi por Deus.
Governantes, quando servos de Deus, motivam o povo a viver
em retidão. A Palavra de Deus nos ordena a obedecer às leis
justas do governo (ver Rm 13.1; Tt 3.1; 1Pe 2.13-18).

2. O destino dos tiranos (Ec 8.6-8).


No governo de Deus vemos uma severa consistência, que
deve nos impressionar. Há motivo atrás de toda a providência
que o homem sábio há de discernir (Ec 8.6).

4 3. A demora da justiça (Ec 8.9-13).


A justiça permanece embora as piores iniqüidades
prevaleçam (Ec 8.9-10), e embora alguns confiados por causa
da demora pequem (Ec 8.11). Mas, afinal, chegará uma justa
retribuição a todos (Ec 8.12,13). Então a iniqüidade será julgada
e a justiça vindicada.
No mundo, comumente parece que o mal triunfa e que os
pecadores escapam ilesos, sem castigo (cf. Sl 73). Deus, porém,
nos assegura que chegará o dia do justo castigo dos malfeitores1
(Ec 8.13).

Capítulo 9: Pensamentos pessimistas


Salomão reconheceu que, por mais sábio que o homem for
não consegue pela sua sabedoria explicar todas as obras de
Deus ou os métodos da sua providência (Ec 8.17).
Eclesiastes 9.2 parece ser o gemido de um pessimismo

1 .  Malfeitor: Aquele que comete crimes ou delitos condenáveis; celerado, facinoroso,


facínora.

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O Livro de Eclesiastes 111

crônico: “Tudo sucede igualmente a todos”. Sim, com certeza,


todos podem apanhar a mesma infecção contagiosa, mas a
atitude e reação de cada um podem ser bem diferentes.
Salomão observa aqui, sob o prisma desta vida, que a morte
é inevitável. Sob este enfoque, não parece justo que a morte
sobrevenha a todos indistintamente, aos justos e injustos.
O versículo 5 certamente é conhecido “debaixo do sol”: “os
mortos não sabem coisa alguma, nem tampouco têm, daí em
diante, recompensa”. Com isso podemos contrastar o “partir e
estar com Cristo” do apóstolo Paulo.
Come com alegria o teu pão e bebe com bom coração o teu
vinho (Ec 9.7). Embora a morte sobrevenha a todos, e “que o
tempo e a sorte pertencem a todos” (Ec 9.11), nós que aqui
vivemos para agradar a Deus (1Ts 4.1; cf. Rm 12.2) devemos
continuar a desfrutar daquilo que Ele nos deu. O “vinho” (hb.
yayin) aqui referido significa, sem dúvida, o suco doce, de uva,
recém-espremido.
Faze-o conforme as tuas forças (Ec 9.10). Seja qual for a
tarefa que empreendemos, devemos realizá-la com todo esforço,
como para o Senhor (ver Cl 3.23).
Nos versículos 14 e 15 temos o incidente da cidade pequena 4
e o pobre sábio que a livrou. Ele sabia como fazê-lo, e mais
ninguém sabia, e ninguém cria que ele soubesse, por isso o
desprezaram e não o atenderam (Ec 9.16). Mas ele sabia como
livrar, e a livrou. A força da pequena guarnição1 (inteiramente
insuficiente) não era necessária: a sabedoria era melhor do
que o armamento (Ec 9.18), e há sempre alguns que querem
escutar o homem sábio, pois “a sabedoria é justificada pelos
seus filhos”. Ninguém se lembrava daquele pobre homem (Ec
9.15). Nesta parábola, uma pequena cidade estava sitiada por
um grande exército. A situação era certamente desesperadora
(Ec 9.14). Um sábio pobre, no entanto, elaborou um plano e
a cidade foi poupada. Tudo indica que outra pessoa recebeu
o crédito pelo livramento da cidade, e o sábio, talvez por ser
pobre, foi esquecido.
Podemos aplicar tudo isso a Cristo: pobre (2Co 8.9); sábio
(1Co 1.24); homem (Fp 2.7); desprezado (Is 53.3); Ele libertou a

1 . Guarnição: Aquilo que guarnece; guarnecimento.

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112 Capítulo 4 Livros Poéticos

cidade da alma humana do príncipe deste mundo (Hb 2.14,15).

Capítulo 10: A loucura é causa de muitas desgraças


Assim como mosca morta, pela putrefação, estraga muito
perfume (Ec 10.1), assim também um pouco de insensatez
pode destruir os bons efeitos de muita sabedoria. Os planos
podem ser ótimos, mas o imprudente pode com um só de seus
erros estragar todos eles (ver 2Rs 20.12-18).
Quem fizer uma cova cairá nela (Ec 10.8-10). A sabedoria
leva em conta os riscos e as dificuldades da vida com suas
tarefas cotidianas. O sábio evita danos, porque sabe o que pode
acontecer e se acautela dos perigos ocultos.
Notemos o versículo 16: “Ai de ti, ó terra, cujo rei é criança”
e apliquemo-lo aos nossos tempos, e digamos: “Ai da igreja local
que põe neófitos1 no governo!”. É um quadro crítico quando
os governantes e dirigentes são pueris2 e quando os executivos
com seus auxiliares iniciam o dia dando vazão a seus apetites,
provavelmente em bebedeiras (cf. Ec 10.17).

Capítulo 11: Façamos o que é bom no tempo oportuno


4 “Lança o teu pão sobre as águas” (Ec 11.1). Um dos sentidos
da palavra hebraica traduzida por “pão” é o grão usado em pa-
nificação.
A referência aqui pode ser ao costume egípcio de espalhar se-
mentes ou grãos sobre as águas que inundavam suas terras anual-
mente, quando o rio Nilo transbordava. Parecia que aqueles grãos
ficavam soterrados e esquecidos, mas no devido tempo surgia a
colheita. Podemos aplicar esse fato à nossa disposição de ser ge-
nerosos e prestimosos (Ec 11.2).
Quem observa o vento nunca semeará (Ec 11.4). Estamos num
mundo em que quem ficar aguardando condições ideais para dar
início a um empreendimento, nunca fará nada (cf. Mt 24.7-14).
Nunca haverá condições perfeitas durante a presente era.
Por todas essas coisas te trará Deus a juízo (Ec 11.9). Deus
quer que seu povo se alegre e que os jovens desfrutem da sua
juventude. Mas todo esse regozijo deve ser moderado pelo reco-

1 .  Neófitos: Principiante, novato.


2 .  Pueris: Ingênuo, fútil, frívolo.

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O Livro de Eclesiastes 113

nhecimento de que Deus responsabilizará cada um por seus atos


pecaminosos.

Conclusão (Ec 12)


O mancebo é exortado a regozijar-se e andar pelo caminho
do seu coração lembrando-se, porém, de que Deus afinal há de
julgar nosso procedimento.
Lembra-te do teu criador nos dias da tua mocidade (Ec
12.1-7). “Lembrar-se”, na Bíblia, sempre subentende ação;
e.g., quando Deus se “lembrou” de Abraão (Gn 19.29), Ele
interveio na sua vida para o seu bem. Por isso, lembrar-nos do
nosso Criador importa em agir da maneira que Ele estabeleceu
quando nos criou.
De Deus vem a vida, e com ela as oportunidades que nos
advêm com a juventude. É somente com a ajuda do Espírito
Santo que conseguimos “lembrar-nos” de Deus, à medida que
somos revestidos “do novo homem, que, segundo Deus, é
criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4.24); e devemos,
assim, viver antes que venha a morte.
Os versículos 3-7 apresentam um quadro vívido do processo
de envelhecimento do corpo físico, processo este que culmina 4
na morte. Há conforto, porém, no fato de que nossa pessoa
interior “se renova de dia em dia” (2Co 4.16).
O capítulo 12 pinta um quadro da velhice. A alegoria fala
de:
»»  Nosso espírito, alma, sentidos, e provações (Ec 12.2);
»»  Membros enfraquecidos, dentes cariados, e vista curta
(Ec 12.3);
»»  Pouco sono, e voz enfraquecida (Ec 12.4);
»»  Cabelo branco, e fraqueza geral (Ec 12.5); e então com
uma figura notável, descreve a dissolução final (Ec 12.6).
Corpo e alma, cada um tomando o seu destino (Ec 12.7).

Nesta descrição há alguma coisa ao mesmo tempo triste


e sublime, pois, embora o homem exterior pereça, o homem
interior pode e deve ser renovado diariamente, de maneira que
quando o corpo finalmente falece, o espírito possa gloriosamente
triunfar. “E lembrando-nos disto; a renovação espiritual não é
do corpo, mas por meio do corpo”.

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114 Capítulo 4 Livros Poéticos

O pó volte à terra... o espírito volte a Deus (Ec 12.7). Este


versículo faz uma distinção entre o aspecto da pessoa humana
que fica na terra, no momento da morte, e o que volta a Deus.
As palavras dos sábios são como aguilhões (Ec 12.11).
As sábias palavras da verdade, provenientes do único Pastor
divino agem:
»»  Como vara de ferrão (isto é, vara com aguilhão) para nos
conservar no caminho certo;
»»  Como pregos para fixar a verdade em nossa mente.

A Palavra de Deus, portanto, é muito mais valiosa do que


todos os livros do saber humano. Teme a Deus e guarda os seus
mandamentos (Ec 12.13). Todo o livro de Eclesiastes deve-se
interpretar segundo o contexto deste seu penúltimo versículo.
Salomão começou com uma avaliação negativista da vida
como vaidade, algo irrelevante, mas no fim ele conclui com um
sábio conselho, a indicar onde se pode encontrar o sentido da
vida.
A mensagem final do livro de Eclesiastes faz-nos lembrar de
uma verdade solene e inalterável: a prestação de contas do ser
4 humano perante Deus, por todos os seus atos. O Senhor julgará
a todos nós, crentes e incrédulos, isto é, todos os nossos atos,
bons e maus (cf. Rm 14.10,12; 2Co 5.10; Ap 20.12,13).

Anotações:

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O Livro de Eclesiastes 115

Anotações:

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116 Capítulo 4 Livros Poéticos

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas

6. É coerente dizer que: Eclesiastes 5 possui conselhos bons


sobre o
a. o Procedimento na casa de oração
b.o Andar sem vaidade
c. o Descontentamento com as coisas deste mundo
d.o Tempo determinado

7. É o capítulo de Eclesiastes que aborda valores morais, divi-


didos em três assuntos: o dever dos súditos; o destino dos
tiranos e a demora da justiça
a. o Eclesiastes 5
b. o Eclesiastes 6
c. o Eclesiastes 7
d.o Eclesiastes 8

8. É uma das frases mais conhecidas de Eclesiastes 12, a saber:


4 a. o Lança o teu pão sobre as águas
b.o Quem observa o vento nunca semeará
c. o Lembra-te do teu criador nos dias da tua mocidade
d.o Ai de ti, ó terra, cujo rei é criança

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

9. [ ]O dia do nascimento do crente é melhor do que o dia


de sua morte (Ec 7.1)
10.[ ]Há uma afirmação em Eclesiastes: melhor é o riso do
que a mágoa, porque a alegria do rosto torna melhor o
coração

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O Livro de Eclesiastes 117

Anotações:

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118 Livros Poéticos

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O Livro de Cantares de Salomão 119

A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e


dá sabedoria aos símplices.Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o cora-
ção; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR
é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos
igualmente, justos.
Salmo 19.7-10

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120 Livros Poéticos

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O Livro de Cantares de Salomão 121

Capítulo 5
O Autor
Livro de Cantares Ocasião e Data
Autor: Interpretação
Provavelmente Salomão. Considerações
•  O significado
Data: As Mensagens de Cantares
Cerca de 960 a.C. •  Acerca do amor humano
•  Acerca da religião
Tema: Características Especiais
O Amor Conjugal. Ensinamentos Notáveis
Palavras Chave: Aspectos Interessantes
Chave de Compreensão
Amor, jardim, casa materna. Cantares Ante o NT
Versículo Chave: Cristo Revelado
Ct 6.3 e 8.6-7. O Espírito Santo em Ação

N
o volume sagrado que
nos transmite a men-
sagem que incendeia a
esperança do amor de Deus,
Cantares de Salomão é o único
livro que tem o amor como seu
tema exclusivo.
O assunto é manuseado com
grande habilidade e introspec- Os ícones indicam
ção, numa série de dramáticos
cânticos, centralizada num úni-
co casal e ligada pelo apare-
cimento e reaparecimento de Conceito Chave
grupos subordinados, tais como
“as filhas de Jerusalém” (Ct 1.5;
2.7; 5.8,16), e “os guardas” (Ct
3.3; 5.7), bem como pela repe-
Muito importante
tição de estribilhos significativos
(por exemplo, Ct 2.7; 3.5; 8.4;
2.17; 4.6; 2.16; 6.3; 7.10).
Os cânticos são embelezados
pela rica imaginação oriental, e Atenção e foco

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122 Capítulo 5 Livros Poéticos

contém lindas descrições de cenas naturais.


Em nenhuma parte da Escritura a mente sem espiritualidade
pisa terreno tão misterioso e incompreensível como neste livro.
No entanto, os mais piedosos têm achado nele uma fonte de
gozo espiritual.
Que o amor do divino Marido seguisse todas as analogias
da relação matrimonial, parece mal somente às mentes tão
depravadas, que o desejo marital em si parece-lhes profano. A
interpretação é dupla:
Primeiro: o livro é a expressão do coração de Jeová para
com Israel, a esposa terrestre (Os 2.1-23, etc.), atualmente
repudiada, mas para ser restaurada; contudo, não é a nação
inteira, mas um restante (Is 10.21, etc.), o Israel espiritual dentro
de Israel (Rm 9.6-8). A segunda e mais ampla interpretação é
que apresenta Cristo, o Filho, e sua noiva celestial, a Igreja (2Co
11.1-4, etc.).
Neste sentido, o livro tem seis divisões:
1. A noiva contemplada em tranqüila comunhão com o
Noivo (Ct 1.2 – 2.7);
2. Um lapso1, e a restauração (Ct 2.8 – 3.5);
3. Gozo de comunhão (Ct 3.6 – 5.1);
4. Separação de interesse – a noiva satisfeita, o Noivo
trabalhando para os outros (Ct 5.2-7);
5. A noiva procurando e testemunhando (Ct 5.6 – 6.3);
6. Comunhão ininterrupta (6.4 – 8.14).

5 O título hebraico deste livro pode ser traduzido literalmente


por “O Cântico dos Cânticos”, expressão esta que significa “O
Maior Cântico” ou “Melhor dos Cânticos” (assim como “Rei
dos reis” significa “O Maior Rei”). É, portanto, o maior cântico
nupcial já escrito. Significa o melhor dos 1005 cânticos de
Salomão (1Rs 4.32); “Cânticos de Salomão” (latim). Um nome
alternativo, Cantares, deriva da Vulgata.
Os oito capítulos do livro fazem referência a pelo menos
quinze espécies diferentes de animais e vinte e uma espécies de
plantas. Esses dois campos foram investigados e mencionados
por Salomão em numerosos outros cânticos (1Rs 4.33).
1 . Lapso: Erro cometido por descuido, distração, ou esquecimento; engano
involuntário.

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O Livro de Cantares de Salomão 123

Finalmente, há referências geográficas no livro de lugares


de todas as partes da terra de Israel, o que sugere que o livro
foi composto antes da divisão da nação em Reino do Norte e
Reino do Sul. Salomão deve ter composto este livro no início do
seu reinado, muito antes de sua execrável1 poligamia.
Liturgicamente, Cantares de Salomão veio a ser um dos
cinco rolos da terceira parte da Bíblia hebraica, os Hagiographa
(“Escritos Sagrados”). Cada um desses rolos era lido
publicamente numa das festas anuais dos judeus. Este era lido
na Festa da Páscoa.

O Autor

Salomão foi um escritor prolífico2 de 1005 cânticos (1Rs


4.32). Seu nome consta no versículo inicial, que também
fornece o título do livro (Ct 1.1), e em seis outros trechos do
livro (Ct 1.5; 3.7,9,11; 8.11,12). O escritor também se identifica
com o noivo; é possível que o livro tenha sido originalmente
uma série de poemas trocados entre ele e a noiva.
O título pode significar que o livro de Cantares foi composto
por Salomão ou a respeito dele. A tradição uniformemente
favorece a primeira interpretação.
Alguns eruditos modernos, entretanto, têm mantido que
o grande número de vocábulos estrangeiros, encontrados no
poema, não ocorreriam na literatura de Israel antes do período
pós-exílico.
Outros, pensam que os contatos generalizados de Israel 5
com nações estrangeiras, durante o reinado de Salomão,
explicariam suficientemente a presença dessas palavras no livro.
Se esse ponto de vista for aceito, e, se for suposto que existem
apenas dois personagens principais nos Cantares, parece não
haver qualquer motivo substancial para pôr de lado o ponto
de vista tradicional sobre a autoria. Mas, se seguirmos Ewald,
o qual afirmava que existe um pastor amante em adição (ver
Interpretação), a crença na autoria de Salomão dificilmente
pode ser mantida, e é impossível dizer quem foi o autor do livro.

1 .  Execrável: Abominável, detestável.


2 .  Prolífico: Que tem faculdade de gerar; fecundante.

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124 Capítulo 5 Livros Poéticos

Ocasião e Data
Embora Cantares não forneça informações precisas sobre o
contexto, Salomão reinou em Israel de 970 a 930 a.C.
Linguagem e ideais similares também são encontrados na
oração que Davi fez no templo por Salomão e pelo povo durante
a entronização de Salomão (1Cr 29).
As referências geográficas decididamente favorecem uma data
anterior a 930 a.C. O autor menciona de maneira indiscriminada
localidades tanto do Reino do Norte como do Reino do Sul:
Engedi, Hermom, Carmelo, Líbano, Hesbom e Jerusalém. São
mencionadas como se pertencessem a uma única área política.
Nota-se que Tirza é mencionada como sendo uma cidade
de especial glória e beleza, e isto juntamente com Jerusalém (Ct
6.4). Se estas palavras tivessem sido escritas depois de Tirza ter
sido escolhida como primeira capital do norte depois de ter sido
rejeitada a autoridade da dinastia davídica, é difícil crer que teria
sido citada em termos tão favoráveis. Do outro lado, é altamente
significativo que Samaria, cidade fundada por Onri, algum
tempo entre 885 e 874, não tenha recebido nenhuma citação
em Cantares.
A julgar da evidência interna, o autor nada sabia duma
separação da monarquia hebraica em Reino do Norte e Reino do
Sul. Isto se reconcilia facilmente com uma data de composição no
décimo século, antes de 931 a.C.
Mesmo depois da volta do Cativeiro, nenhum judeu da
província da Judéia teria se referido de maneira tão indiscriminada
5 a localidades destacadas nas áreas não-judaicas da Palestina que
já estavam sob o domínio de gentios ou de samaritanos.
É verdade que a área inteira foi reunida sob o reinado dos reis
hasmoneanos, João Hircano e Alexandre Janeu, mas a evidência
dos fragmentos da quarta caverna de Qumran indica que
Cantares já existia na sua forma final, escrita antes do começo da
revolta macabéia em 168 a.C.
É interessante notar que mesmo um estudioso liberal como
R. Gordis sente que é justificável asseverar que Cantares 3.6-11
é “a poesia mais antiga da coletânea inteira, sendo composta na
ocasião de um dos casamentos de Salomão com uma princesa
estrangeira”.

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O Livro de Cantares de Salomão 125

Interpretação
Judeus devotos desde o primeiro século de nossa era têm
considerado os Cantares como uma alegoria que representa as
relações de Jeová com Israel. Já o rabino Akiba afirmou que
esse livro era um presente de inestimável valor para Israel e o
mais santo de todos os escritos sagrados.
A exegese cristã, desde os dias de Orígenes tem visto nas
cenas do livro a representação do amor de Cristo para com Sua
Igreja. Delitzsch mantinha que Cantares é um diálogo dramático
em que Salomão e a sulamita são os personagens principais.
Seu amor tipifica o amor de Cristo e da Igreja.
Ewald, conforme foi indicado acima, tomou uma diferente
linha de interpretação. Ele interpretou “o amado” como um pastor
amante de quem a jovem estava noiva, antes de ser capturada
e trazida para o palácio por um dos servos de Salomão. Depois
dela ter resistido com sucesso a todas as tentativas do rei para
conquistar sua afeição, ela é libertada e se reúne a seu amante,
com quem ela aparece na cena final.
Aqueles que adotam esta interpretação vêem em Salomão
um tipo do mundo, e vêem no pastor um tipo de Cristo. A jovem
representa a alma fiel que lealmente preserva a sua fé, seu amor
e sua obediência, a despeito da pressão da tentação, resistindo
a tudo como se visse o invisível.
Quanto a este ponto de vista, as diversas seções de Cantares
podem ser entendidas como segue:
• Cantares 1.2 – 2.7. A jovem relembra seu amado, no
palácio onde Salomão promete adorná-la de jóias; 5
• Cantares 2.8 – 3.5. A jovem relembra uma visita feita
certa ocasião por seu amado e um sonho que se seguiu
a isso;
• Cantares 3.6 – 4.7. A jovem é novamente visitada e
louvada por Salomão;
• Cantares 4.8 – 5.1. Imperturbável, a jovem relembra as
palavras de seu amado e antecipa seu dia de casamento
com ele;
• Cantares 5.2 – 6.3. A jovem relata um sonho e descreve
seu amado;
• Cantares 6.4 – 7.9. A jovem recebe mais uma visita
de Salomão, que faz nova tentativa de conquistar sua

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126 Capítulo 5 Livros Poéticos

afeição;
• Cantares 7.10-8.3. A jovem, mantendo sua lealdade a
seu amado ausente, anseia por sua companhia;
• Cantares 8.4-14. A jovem retorna para casa com seu
amado, e declara-lhe sua fidelidade.

Têm sido feitas tentativas para mostrar a existência de um


coro nos Cantares, mas não conseguem convencer devido à
ausência de indicações sobre isso no próprio livro.
A teoria de que os Cantares é uma coleção de cânticos que
eram cantados por ocasião das celebrações de casamento,
apesar de poder lançar alguma luz sobre a estrutura de certas
porções do poema, divide o relato por causa da evidente
unidade do livro.

Considerações

É o amor fiel visto numa mulher que, apesar de sujeita às


tentações de uma corte oriental, permanece fiel ao seu primeiro
amor. Ela, uma menina do norte, atrai a atenção do rei que a
traz para Jerusalém e lhe oferece todo tipo de persuasão para
que se torne a esposa do rei. Mas, após a recusa final lhe é
permitido retornar à sua terra e ao seu amor, um pastor que
vive no campo.

O significado:
5 »» Para os judeus daquela época era um apelo à pureza
de vida, um retorno àqueles relacionamentos que Deus
ordenou entre o homem e a mulher. Era um projeto
contra a poligamia que havia se tornado quase universal.
Na verdade, era considerada como uma apresentação
de toda a história de Israel. Havia freqüentemente se
afastado de Deus assim como aquela jovem fora tentada
a se afastar do seu amor.
»» Para os cristãos é apresentada como uma alegoria de
Cristo e Sua Igreja, O Noivo e a Noiva, a plenitude do
amor que une o crente e o seu Salvador. O crente não
deve submeter-se às tentações do mundo e ser infiel a
Jesus. Assim, a atitude da jovem ilustra a verdadeira

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O Livro de Cantares de Salomão 127

atitude cristã.
»» Para todo o mundo é mostrada a pureza e a constância do
amor de uma mulher e a devoção aos seus ideais. Fornece
um ideal que, se atingido da maneira própria, expulsaria
da sociedade humana todas as práticas monstruosas que
procedem de ideais indignos. Ele purifica a relação entre
os sexos e nos salvaria da ruína do pecado social.

O estilo é em parte diálogo e em parte monólogo. O amor


entre eles é expresso de um modo sensual, bastante comum
entre os povos orientais. A maior parte dos indícios leva a crer
que foi escrito para comemorar as núpcias de Salomão e a filha
de Faraó.
É um tipo de drama com três personagens principais:
Salomão, a jovem sulamita e o seu amado. O tipo do livro é um
poema dramático.
Este livro foi inspirado pelo Espírito Santo e inserido nas
Escrituras para ressaltar a origem divina da alegria e dignidade
do amor humano no casamento. O livro de Gênesis revela que
a sexualidade humana e casamento existiam antes da queda de
Adão e Eva (Gn 2.18-25).
Embora o pecado tenha maculado essa área importante da
experiência humana, Deus quer que saibamos que a dita área
da vida pode ser pura, sadia e nobre. Cantares de Salomão,
portanto, oferece um modelo correto entre dois extremos
através da história:
»» O abandono do amor conjugal para a adoção da perversão 5
sexual (isto é, conjunção carnal de homossexuais ou de
lésbicas) e prática heterossexual fora do casamento;
»» Uma abstinência1 sexual, tida (erroneamente) como o
conceito cristão do sexo, que nega o valor positivo do
amor físico e normal conjugal.

Cantares de Salomão é uma história de amor, que glorifica


o amor puro e natural e focaliza a simplicidade e a santidade
do matrimônio.
O significado típico desta história pode inferir-se do fato de
que sob a figura da relação matrimonial se descreve o amor de
1 .   Abstinência: Privação, forçada ou não, de contatos sexuais; continência:

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128 Capítulo 5 Livros Poéticos

Jeová para com Israel (veja Is 62.4; Os 1-3), e o amor de Cristo


para com a Igreja (Mt 9.15; 2Co 11.2; Ef 5.25; Ap 19.7; 21.2).
Não é fácil analisar o conteúdo de Cantares de Salomão. Ao
invés de ele avançar de modo sistemático e lógico, do primeiro
ao último capítulo, movimenta-se numa série de círculos
interligados, que por sua vez giram em torno do tema central
– o amor.
Como cântico, tem seis estrofes1 ou poemas, cada uma das
quais trata de determinado aspecto do amor de noivado, ou do
amor conjugal entre o noivo e sua noiva (Ct 1.2-2.7; 2.8-3.5;
3.6-5.1; 5.2-6.3; 6.4-8.4; 8.5-14).
O estado virgem da noiva é descrito pela expressão “jardim
fechado” (Ct 4.12), e a consumação do casamento como entrar
no jardim para colher seus frutos excelentes (Ct 4.16; 5.1).
A maioria dos diálogos transcorre entre três tipos de
personagens: a noiva (uma donzela sulamita); o noivo, o pastor;
e um grupo de amigas da noiva e do noivo chamadas “filhas de
Jerusalém”. Quando a noiva e o noivo estão juntos, sentem-se
plenamente felizes; quando estão longe, anseiam pela presença
um do outro. O apogeu literário de Cantares acha-se no capítulo
8, versículos 6 e 7.

As Mensagens de Cantares de Salomão

Acerca do amor humano


O amor é a mais nobre expressão do coração humano. Aqui,
5 encontramos algumas lições fundamentais sobre ele:
• Sua base. É a satisfação mútua (Ct 2.2-3). O amor de
um complementa o amor do outro e faz com que o amor
de qualquer outra pessoa seja excluído;
• Sua força. É indestrutível (Ct 8.6-7) e é um fogo
inextinguível;
• Sua bênção. É uma fonte de alegria, descanso, paz, e
coragem;
• Sua grandeza. É a maior coisa no relacionamento
humano e também a maior na religião. Constitui o mais
alto valor definitivo da vida.
1 .  Estrofes: Grupo de versos que apresentam, comumente, sentido completo;
estança.

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O Livro de Cantares de Salomão 129

Acerca da religião
São três as sugestões:
• A nossa religião é primeiramente uma religião de amor.
Isso se tornará mais claro se aplicarmos a esse pensamento
a base, a força, etc., dadas acima;
• O amor humano é santificado pela religião que o encara
fora do círculo da luxúria1 ;
• A vida religiosa tem a sua melhor expressão nos termos do
amor humano, tais como afeto, auto-renúncia, fidelidade,
etc.
1 .   Luxúria: Incontinência, lascívia; sensualidade. Dissolução, libertinagem.

Anotações:

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130 Capítulo 5 Livros Poéticos

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas

1. É contraditório afirmar que


a. o Em Cantares, os cânticos são embelezados pela rica
imaginação ocidental, e contém lindas descrições de cenas
urbanas e rurais
b. o É o tema de Cantares: “o amor conjugal”
c. o Existe uma interpretação de Cantares como a expressão
do coração de Jeová para com Israel, a esposa terrestre,
atualmente repudiada, mas para ser restaurada; contudo,
não é a nação inteira, mas um restante, o Israel espiritual
dentro de Israel
d.o Há uma interpretação de Cantares que apresenta Cristo,
o Filho, e sua noiva celestial, a Igreja

2. O estilo de Cantares
a. o É em parte diálogo e em parte prólogo
b.o É somente diálogo
c. o É em parte diálogo e em parte monólogo
d.o É somente monólogo

3. Aponte para alternativa que falta com coerência


a. o Cantares é uma história de amor, que glorifica o amor
puro e natural e focaliza a simplicidade e a santidade do
5 matrimônio
b.o Cantares tem um conteúdo simples e fácil para análise.
Ele avança de modo sistemático e lógico
c. o Cantares foi inserido na Bíblia para ressaltar a origem
divina da alegria e dignidade do amor humano no casa-
mento
d.o Cantares nos ensina que a base do amor é a satisfação
mútua

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

4. [ ] A exegese cristã, desde os dias de Orígenes tem visto nas


cenas do livro de Cantares a representação do amor de

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O Livro de Cantares de Salomão 131

Cristo para com Sua Igreja


5. [ ] Em Cantares, o estado virgem da noiva é descrito pela ex-
pressão “jardim fechado”

Anotações:

131

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132 Capítulo 5 Livros Poéticos

Características Especiais
Na qualidade de poema hebraico, estes cantares passam
repentinamente de personagem para personagem, e de cena
para cena.
A identificação é feita geralmente pelos pronomes usados.
Nomes dos personagens principais: Noivo (masculino, Príncipe
da Paz) e sulamita, a noiva (feminino, Pretendente da Paz)
corresponde, por exemplo, a Júlio e Júlia, Mário e Maria.
Os laços matrimoniais são uma figura favorita usada por
muitos dos profetas e dos apóstolos para representar a relação
de Deus para com o Seu povo. Quatro características principais
assinalam Cantares de Salomão:
1. É o único livro na Bíblia que trata exclusivamente do
amor especificamente conjugal.
2. É uma obra-prima incomparável da literatura, repleta de
linguagem imaginativa, discreta, mas realista; tomada
principalmente do mundo da natureza. As várias metáfo-
ras e a linguagem descritiva retratam a emoção, poder e
beleza do amor romântico e conjugal, que era puro e cas-
to entre os judeus, o povo de Deus dos tempos bíblicos.
3. É um dos poucos livros do Antigo Testamento de que não
se faz referência no Novo Testamento.
4. Neste livro, consta apenas uma vez o nome de Deus, em
Cantares 8.6, mas a inspiração divina permeia o livro,
principalmente nos seus símbolos e figuras.
5
Ensinamentos Notáveis
A filha mais velha de uma família pobre era responsável pela
maior parte do serviço. Ela apascentava os cordeiros e lavrava
a vinha da família, que pertencia ao Rei Salomão. Um dia o
estranho partiu, prometendo voltar. Ela creu nele, confiou nele,
e esperou o cumprimento da promessa.
Aparentemente, ninguém mais na vila o esperava. Ela
esperou por muito tempo, e freqüentemente sonhava. E certo dia
ele voltou mesmo, à testa de gloriosa procissão, e proclamou-a
como sua esposa.
Outra interpretação, dada por algumas pessoas, é de que
a sulamita era a noiva de Salomão. Alguns argumentam que

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O Livro de Cantares de Salomão 133

deve ter sido a filha de Faraó; outros que era a bela Abisague,
com quem Salomão possivelmente casou-se no começo do seu
reinado (1Rs 1.3; 2.20-25).

Aspectos Interessantes
• Suném era uma aldeia na encosta sudoeste do pequeno
Hermom;
• Este livro era sempre lido na Festa da Páscoa dos Judeus;
• Alguns consideravam o livro como uma coleção de
cânticos para serem entoados numa festa de casamento.

Chave de Compreensão
Ao ler este livro o estudante deve recordar-se de que
está lendo um poema oriental, e que os orientais usam uma
linguagem clara nas mais íntimas das questões – uma clareza
de linguagem estranha e algumas vezes desagradável à maioria
dos ocidentais. Por mais delicada e íntima que seja a linguagem
em muitas partes do livro, deve notar-se que não há nada que
ofenderia ao mais modesto oriental.
Uma verdadeira apreciação do valor de Cantares é reservada
para aqueles cujo coração está inteiramente entregue a Cristo.
Para eles, a relação é bem inteligível, e as verdades, cristalinas.

Cantares Ante o Novo Testamento


Cantares de Salomão prenuncia um tema do Novo
Testamento revelado ao escritor de Hebreus: “Venerado1 seja
5
entre todos o matrimônio e o leito sem mácula” (Hb 13.4). O
cristão pode e deve desfrutar do amor romântico e conjugal.
Muitos intérpretes do passado abordam este livro
primordialmente como uma alegoria profética do amor entre
Deus e Israel, ou entre Cristo e a Igreja, sua noiva.
O Novo Testamento não se refere a Cantares de Salomão
sobre este aspecto, nem faz referência a este livro. Por outro lado,
vários trechos básicos do Novo Testamento descrevem o amor
de Cristo à Igreja sob a figura do relacionamento marital (2Co
11.2; Ef 5.22,23; Ap 19.7-9; 21.2,9). Daí pode-se considerar
Cantares de Salomão uma ilustração da qualidade de amor

1 .  Venerado: Ato ou efeito de venerar; reverência; respeito, admiração, consideração.

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134 Capítulo 5 Livros Poéticos

existente entre Cristo e a sua noiva, a Igreja.


É um amor indiviso1, devotado e estritamente pessoal, ao
qual nenhum estranho tem acesso.

Cristo Revelado

Em Cantares de Salomão, como em outras partes da Bíblia,


o jardim do Éden, a Terra Prometida, o tabernáculo com
sua arca da aliança, o templo de Salomão, os novos céus e
a nova terra estão todos relacionados com Jesus Cristo, logo,
não é apenas uma questão de escolher uns poucos versos que
profetizam sobre Cristo. A verdadeira essência da história e do
amor da aliança é reproduzida nEle (Lc 24.27; 2Co 1.20).

O Espírito Santo em Ação

De acordo com Romanos 5.5, “o amor de Deus está


derramado em nosso coração pelo Espírito Santo”. Baseado
em Jesus Cristo, o Espírito Santo é o poder de ligação e união
do amor. A feliz unidade revelada em Cantares é inconcebível à
parte do Espírito Santo. A Própria forma do livro como cântico e
símbolo é adaptada especialmente ao Espírito, pois Ele mesmo
faz uso de sonhos, linguagem figurada e o canto (At 2.17; Ef
5.18-19).
Um jogo de palavras sutil, baseado no “sopro” divino do
fôlego da vida (o Espírito Santo Sl 104.29-30) de Gênesis 2.7
5 parece vir à tona em Cantares. Isso acontece em “antes que
refresque o dia” (Ct 2.17; 4.6), no “assoprar” do vento no jardim
da sulamita (Ct 4.16) e, surpreendentemente, na fragrância da
respiração e do fruto da macieira (Ct 7.8).

Capítulo 1

Cântico dos Cânticos (1.1)


Este é o título que o próprio texto hebraico atribui a este
livro. Significa o melhor ou o mais grandioso dos cânticos. Dos
1005 cânticos que Salomão cantou (1Rs 4.32) este foi o único

1 .  Indiviso: Não dividido, não divíduo; indivíduo.

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O Livro de Cantares de Salomão 135

inspirado e escolhido por Deus para fazer parte do cânon.

Como as tendas de Quedar (1.5)


Estas tendas eram geralmente feitas de pêlos negros de
cabra. Quedar era uma tribo árabe, constituída de descendentes
de Ismael (Gn 25.13; cf. Is 21.16,17); por isso, alguns estudiosos
entendem que a noiva do livro de Cantares seria uma princesa
árabe.

“A vinha que me pertence não guardei” (1.6)


Os cruéis irmãos da donzela forçaram-na a guardar e cuidar
de suas vinhas, algo que ela nem fizera pela sua própria vinha.
Esse trabalho em pleno sol pode ser a razão de ela ter pele
escura, a contrastar com as beldades de Jerusalém; ainda assim,
o trabalho duro não extinguiu sua verdadeira beleza (v. 5).
Observando os versículos 5 e 6, fica difícil admitir a versão
de que a jovem aqui referida fosse a filha de Faraó (1Rs 3.1).
Essa donzela sulamita foi, sem dúvida, a princesa que Salomão
amou inicialmente, e com quem se casou, para então mais tarde
unir-se em casamento com outras mulheres, para selar alianças
políticas (1Rs 11.1,2).

“Amiga minha” (1.9)


O hebraico diz aqui literalmente ‘companheira’ (ver também
Ct 2.10; 4.1,7; etc). Era um termo carinhoso empregado antes
do casamento. A alusão a cavalos era, no contexto histórico da
5
época, um elogio.

Enfeites de ouro... com pregos de prata (1.11)


Em contraste com suas roupas humildes de pastora, ela seria
adornada com jóias de ouro e prata.

O meu nardo1 (1.12)


O nardo é um ungüento2 perfumado à base de uma erva
1 .   Nardo: Planta herbácea, da família das valerianáceas (Nardostachys jatamansi),
originária da Ásia, cujo rizoma, aromático, foi muito empregado pelos antigos em
perfumaria.
2 .   Unguento: Designação comum, outrora, a certas drogas ou essências com que se
perfumava o corpo.

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136 Capítulo 5 Livros Poéticos

aromática do Himalaia (uma das razões do perfume de nardo


ser tão caro, como se vê no caso descrito em João 12.1-7,
era por ser de procedência extremamente longínqua, pois o
Himalaia fica na Ásia Central, a milhares de quilômetros de
Israel, numa imensa cordilheira de difícil acesso).

“O meu amado é para mim um ramalhete de mirra” (1.13)


Mirra é uma resina aromática extraída da casca de
uma árvore balsâmica que cresce na Arábia e na Índia. O
ramalhete de mirra era provavelmente um saquinho de
perfume.
O texto hebraico do restante do versículo indica que a
mirra, e não o amado, é que permaneceria entre seus seios.
Noutras palavras, ela estaria pensando nele, o que a faria
sentir-se bem, assim como fazia a mirra.

“Cacho de Chipre” (1.14)


Trata-se do arbusto hena, cujas flores produzem uma
tinta alaranjada e de fragrância agradável.

“Olhos... como os das pombas” (1.15)


Esta comparação deve referir-se à inocência. A sulamita
não tem olhar sedutor, do tipo que suscita emoções impuras.

Capítulo 2
5
“Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales” (2.1)
Aqui fala a donzela sulamita; ela se compara às flores
simples dos campos, pois não está acostumada à aristocracia
1
de Jerusalém.
Sarom é a planície litorânea imediatamente ao sul do
monte Carmelo.

“Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs” (2.5).


Enfraquecida por problemas sentimentais (que
provavelmente incluía decepção), a noiva deseja reanimar-

1 .  Aristocracia: Grupo de indivíduos que se distinguem pelo saber e merecimento


real; casta, nata.

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O Livro de Cantares de Salomão 137

se com passas, um alimento bastante energético. ‘Confortar’,


aqui, equivale a ‘revigorar’.

“Que não acordeis nem desperteis o meu amor, até que


queira” (2.7)
Esta frase ocorre três vezes em Cantares de Salomão
(ver Ct 3.5; 8.4). É a noiva que a emprega, referindo-se à
intimidade física conjugal. Ela não quer que haja qualquer
intimidade até que a situação seja propícia, isto é, até que
ela e o noivo se casem.
Segundo a Bíblia, o único relacionamento sexual lícito é
o conjugal.

“O meu amado é meu, e eu sou dele” (2.16)


O amor que os dois enamorados têm um pelo outro é
genuíno e fiel. Não há desejo nem espaço para outra pessoa.
No casamento, deve haver tal amor mútuo e dedicação, que
a fidelidade conjugal seja da máxima importância na vida
do casal.

Capítulo 3

De noite... busquei-o e não o achei (3.1-4)


‘Noite’ está no plural em hebraico, o que quer dizer ‘noite
após noite’. A sulamita podia estar sonhando (v. 5), noite
após noite, que estava à procura do seu amado, mas não o 5
encontrava.

“Saí... e contemplai o rei Salomão” (3.11)


Devido à intercessão de Bate-Seba, mãe de Salomão, e
do profeta Natã, Salomão foi apresentado publicamente e
ungido rei (1Rs 1.22-39). “O dia do seu desposório1 ” é o
dia do seu casamento.
Tudo indica que quando Salomão foi apresentado ao
povo e ungido rei, já estava casado e usava a coroa com
que sua mãe o coroara. Neste contexto, estão as promessas
de Deus segundo o concerto.
1 .   Desposório: Esponsais, noivado.

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138 Capítulo 5 Livros Poéticos

Capítulo 4

“Tu és toda formosa... em ti não há mancha” (4.7)


A sulamita era bela e sem defeito. ‘Mancha’ também pode
referir-se a máculas morais; ela, portanto, é física e moralmente
pura.

“Amana... Senir... Hermom” (4.8)


Amana é o nome de uma montanha da cordilheira do
Antilíbano; na sua extremidade sul estão os picos de Senir e do
monte Hermom, a nordeste da Galiléia.

“Tiraste-me o coração minha irmã, minha esposa” (4.9)


‘Irmã’, aqui, significa ‘amada’; ‘esposa’ significa ‘noiva’. A
noiva amada deteve e cativou o seu coração.
• Observação: Nos tempos bíblicos, o noivado já era
parte do casamento, porém, os noivos só podiam vi-
ver como casal depois das bodas esponsais. Antes das
bodas, cada um vivia em casa de seus pais. Era esta a
condição de José e Maria, quando um anjo anunciou
a José o futuro nascimento de Jesus através de Maria.
Eles eram ‘desposados’, isto é, noivos segundo a Lei
(Mt 1.18).

“Jardim fechado” (4.12)


5 As três figuras de linguagem deste versículo salientam
a verdade de que a jovem sulamita permaneceu virgem e
sexualmente pura até casar-se.
Manter a virgindade e a abstinência sexual é o padrão bíblico
da pureza sexual para todos os jovens, do sexo masculino
ou feminino. Violar este padrão santo de Deus é profanar o
espírito, o corpo e a consciência, e depreciar1 o valor do ato da
consumação do casamento.

“Açafrão” (4.14)
Trata-se de uma planta cujas flores, de tom violeta, produziam
uma tinta amarela. Preparava-se um ungüento perfumoso,
1 .  Depreciar: Desvalorizar. Rebaixar, desestimar, desprezar, desdenhar, menoscabar.

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O Livro de Cantares de Salomão 139

misturando-a com azeite.

“Cálamo... aloés” (4.14)


O cálamo é uma especiaria aromática; aloés é uma madeira
aromática de Bangladesh e da China.

Capítulo 5

“Safiras” (5.14)
A safira é uma pedra semipreciosa, de um tom intenso de
azul-celeste. Ele é totalmente desejável (Ct 5.16). Tudo o que se
diz do noivo é precioso, desejável e encantador.

Capítulo 6

“Formidável como um exército com bandeiras” (6.4)


O noivo considerava que sua amada inspirava tanto apreço
e admiração quanto um exército com bandeiras; i.e., um
exército vitorioso.
Outros julgam que a expressão significa “magnífica como
um conglomerado1 de estrelas” (como a Via-láctea).

“Sessenta são as rainhas, e oitenta, as concubinas, e as


virgens, sem número” (6.8)
A classificação das mulheres de Jerusalém resume-se em três
grupos: rainhas, concubinas e virgens (hb. ‘alamoth’, virgens 5
em idade de casar). A sulamita, porém, não se compara com
nenhuma delas; ela é a única do seu tipo, e numa classificação
à parte.

“Volta, ó sulamita” (6.13)


Alguns interpretam o termo ‘sulamita’ como ‘mulher oriunda
de Suném’ (Js 19.18). Outros, que se trata de uma forma
feminina do nome Salomão, como um título, isto é, literalmente,
‘salomanita’, significando a noiva de Salomão.

1 .  Conglomerado: Conjunto, aglomerado, todo.

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140 Capítulo 5 Livros Poéticos

Capítulo 7

“Os viveiros de Hesbom... de Bate-rabim” (7.4)


Trata-se dos açudes extramuros de Hesbom, cerca de 8 km
a nordeste do monte Nebo. Bate-Rabim (lit. ‘filha de multidões’)
era sem dúvida o nome de uma das portas de Hesbom.

“Mandrágoras” (7.13)
Esta erva é considerada um afrodisíaco, isto é, um estimulante
sexual (cf. Gn 30.14-17).

Capítulo 8

“Duro como a sepultura o ciúme” (8.6)


No hebraico o termo aqui traduzido por sepultura é Seol.
Uma outra tradução para ‘ciúme’, neste versículo, é amor
intenso. Tal amor é duro, ou irredutível1 como o Seol, um lugar
do qual ninguém pode fugir (ver Sl 16.10).

“O amor é forte como a morte... as muitas águas não pode-


riam apagar esse amor” (8.6,7)
No gênero humano nada há mais poderoso ou belo do que
a expressão do amor mútuo entre um homem e uma mulher
que estão realmente comprometidos um com o outro.

5 “Toda a fazenda de sua casa por este amor, certamente a


desprezariam” (8.7)
Tentar adquirir amor por dinheiro é algo ridículo, pois é
impossível. Assim também, um casamento firmado em bens
terrenos, do marido ou da mulher, está fadado ao fracasso.

“Se ela for um muro... se ela for uma porta” (8.9)


Se a irmã mais jovem for um muro que resista à tentação,
as filhas de Jerusalém adorná-la-ão (isto é, a prepararão para o
casamento). Se ela for uma porta, que se abra à tentação, elas
farão tudo o que for necessário para protegê-la da corrupção.
1 .  Irredutível: Que não se pode reduzir. Indomável; invencível. Indecomponível.

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O Livro de Cantares de Salomão 141

“A minha vinha... está diante de mim” (8.12)


Em contraste às muitas vinhas de Salomão, sua amada
possui uma única vinha. Ele pode ficar com a renda de suas
vinhas, e os guardas podem ficar com a parte de cada um (v.
11), mas a vinha dela é algo melhor.

Anotações:

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142 Capítulo 5 Livros Poéticos

Questionário
Assinale com “X” as alternativas corretas

6. Cantares de Salomão
a. o É um dos livros da Bíblia que trata exclusivamente do
amor especificamente conjugal, os outros são: Oséias e
Efésios
b. o É um dos livros do Antigo Testamento mais referencia-
do no Novo Testamento
c. o Apenas não faz menção no nome de Deus, nem mes-
mo em símbolos e figuras
d.o É repleto de linguagem imaginativa, discreta, mas rea-
lista; tomada principalmente do mundo da natureza

7. O titulo hebraico do livro de Cantares pode ser traduzido


literalmente por
a. o “O Cântico dos Cânticos”
b.o “O Cântico de Sião”
c. o “O Cântico Excelente”
d.o “O Cântico Celeste”

8. Em Cantares há vários elementos naturais. Das alternativas


abaixo, assinale a correta
a. o Nardo: é considerado uma erva afrodisíaca, isto é, um
estimulante sexual
5 b.o Mirra: é um ungüento perfumado à base de uma erva
aromática do Himalaia
c. o Açafrão: é uma planta cujas flores, de tom violeta,
produziam uma tinta amarela
d.o Mandrágoras: é uma resina aromática extraída da casca
de uma árvore balsâmica que cresce na Arábia e na Índia

Marque “C” para Certo e “E” para Errado

9. [ ] Cantares de Salomão era sempre lido na Festa da


Páscoa dos Judeus
10.[ ] Alguns consideravam Cantares como uma coleção de
cânticos para serem entoados numa festa de casamento

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O Livro de Cantares de Salomão 143

Anotações:

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