Você está na página 1de 272

Madeline Hunter

O Romântico
Amantes Indomáveis 5

Tradução/Pesquisa:GRH
Revisão Inicial: SandrinhaDD
Revisão Final: LyW
Formatação:Ana Paula G.
ARGUMENTO:
Julian Hampton é o quinto membro da série londrina, o enigmático e reservado advogado da família Laclere. Durante
toda sua vida esteve apaixonado por Penelope, agora Condessa de Glasbury. E, quando soube dos horrores que ela
havia suportado nas mãos de seu cruel marido, Julian foi o incentivador de sua fuga para Itália. Mas jamais se
esqueceu do amor de sua infância, da menina que resgatou anos atrás quando era somente uma criança e que floresceu,
transformando-se em uma bela mulher. Quando Penélope retorna em segredo para Londres, é a Julian que ela
recorre... Entretanto, sua confiança nele colocará tanto suas reputações, como suas vidas em perigo.
Penelope, Pen, Condessa de Glasbury passou os últimos anos de sua vida, fugindo de seu depravado marido. Incapaz
de conseguir o divórcio, não só porque seria repudiada pela sociedade, mas sim porque seu marido se nega a conceder
finalmente decidiu fugir da Inglaterra. Mas agora tem que retornar ao seu lar, esperando a ajuda de sua amada família
e do homem que sempre esteve a seu lado, quando precisou dele.
Julian Hampton, o solícito advogado de muitas das famílias ricas de Londres, não está interessado em nenhuma das
jovens casadouras da sociedade. É que o frio e reservado Julian tem um segredo que ninguém conhece: passou a maior
parte de sua vida adulta apaixonado pela única mulher, que está convencido que jamais poderá ter, uma mulher que
roubou seu coração quando era somente um rapaz, uma mulher a quem esteve escrevendo cartas e poemas de amor
que nunca enviou...
Portanto, não é surpreendente que Julian fique atordoado quando essa mulher aparece na soleira de sua casa pedindo
sua ajuda... Outra vez.
Tempos atrás, Pen procurou-o para ajudá-la a libertar-se de seu casamento não desejado. Casada muito jovem com o
Conde de Glasbury, por ordem de sua mãe, a vida de Pen muito rapidamente se transformou em um autêntico
pesadelo. As berrantes tendências sexuais de seu marido foram desviando-se de suas escravas sexuais para sua jovem
esposa e, depois de algum tempo de constantes humilhações, Pen recorreu a Julian em busca de ajuda. Este
chantageou sutilmente o Conde para que aceitasse a separação de fato; em troca, Pen poderia estabelecer-se em outro
país levando uma vida discreta que não manchasse o nome e a reputação de seu marido.

Entretanto, nas últimas semanas o Conde fez contato com Pen, que até nesse momento viveu em Nápoles, para lhe
reclamar seu ansiado herdeiro. As cartas do Conde se tornaram cada vez mais ameaçadoras; a jovem teme por sua
vida. Ela não está disposta a voltar e submeter-se às humilhações e abusos de seu marido, mas tem medo de envolver
nesse assunto seus irmãos, e que aconteça um derramamento de sangue... Assim decide pedir, outra vez, a Julian para
que a ajude a fugir para América.
Julian aceita, como sempre fez, e novamente mascara seus verdadeiros sentimentos, sob uma atitude de frieza. Agora
se encontra em uma autêntica encruzilhada, se a ajuda a fugir ao novo continente nunca voltará a ver o amor de sua

2
vida, e isso é o que mais teme neste mundo. Por outro lado, as leis inglesas são muito restritas quanto às causas do
divórcio. O adultério nos homens sempre foi permitido... Mas com as mulheres é diferente. Se uma mulher casada
comete adultério, o marido pode divorciar-se dela. Com esta premissa, Julian decide tentar convencer o Conde para
que se divorcie de Pen... E iniciar uma farsa pública como amantes para que essa possa divorciar-se. Entretanto, um
assassinato em estranhas circunstâncias, colocará Pen e Julian no centro das atenções ameaçando suas próprias
vidas…

Comentário Revisora Inicial SandrinhaDD:


Mais um livrinho para as românticas de plantão (...suspiros kkkk). Um amor platônico, um herói
super protetor e honesto. Mocinha casada com um sádico e vive fugindo de suas garras. Uma história muito
envolvente, com muito suspense e paixão. Boa leitura.

CAPÍTULO 01

Para um homem solteiro, não havia uma pessoa no mundo mais perigosa que uma mulher
felizmente casada.
Para essas mulheres, um homem sem compromisso, de posição e com propriedades era uma pedra
em bruta que sai das paredes da vida.
A sorte de sua própria união, dá-lhes a certeza de que essa pedra bruta deseja ser suavizada.
A mulher casada felizmente, está certa que essa pedra será muito mais feliz se estiver
cuidadosamente esculpida em um morteiro como seu marido.

3
Foi assim, que Julián Hampton encontrou a si mesmo sentado ao lado da faladora viúva Senhora
Morrison, quando participava do banquete da Viscondessa Laclere.
Ele não percebeu a forma especial, que a Viscondessa continuava progredindo em sua conversa,
mas tampouco perdeu o fio da mesma.
— Sua ocupação deve ser fascinante Sr. Hampton,— disse a bela viúva, quando terminou a
descrição muito detalhada de suas férias de verão em Brighton.
— Ser advogado é uma profissão muito aborrecida, na verdade. — Na verdade não era, mas o
mundo de lady Morrison nunca entenderia o porquê.
Ela riu e seus olhos brilharam. Virou-se e foi visível totalmente o rosto brilhante.
— Não posso acreditar, que qualquer coisa que se trate de você seja aborrecido, Sr. Hampton.
— Garanto que sou um homem completamente irrelevante. Aborreço tanto a mim mesmo, que
apenas consigo permanecer acordado.
— Bem, você não se aborrecendo de mim— disse ela com um sorriso significativo.
Ele se perguntou, sobre as razões que a viscondessa teria ao colocar em seu caminho a esta jovem
de cabelos dourados de pouca inteligência, de caráter submisso e loquacidade chata. Já que ele não tinha
perseguido às mulheres mais atraentes apresentadas até o momento, a Viscondessa e seus amigos
provavelmente acham que não se interessaria por uma companhia interessante em sua casa.

Já que a senhora Laclere abriu seu círculo, para uma mulher que provavelmente não gostava de
muito e só para o benefício dele, obedientemente submeteu à senhora Morrison a sua séria consideração.
Ela era atraente mais que suficiente e suspeitava que fosse agradável tê-la na cama. Tinha uma
fortuna respeitável e belos seios, revelados em parte pelo seu decote. Suas formas indicavam que era o
tipo de mulher que à maioria dos homens os gostaria. Ela era a imagem da esposa perfeita, para um
homem que procurasse assegurar a tranquilidade doméstica.
Infelizmente, ele não era esse homem.

4
Fez a ela, uma pergunta sobre seu filho e ela abordou o assunto com o entusiasmo, que toda boa
mãe devia mostrar. Embora, a maior parte de sua cabeça escutasse os contos das travessuras do menino,
em um canto renegado de sua mente escrevia uma carta à viscondessa Laclere.

Minha querida Senhora Laclere,


Estou muito agradecido pela preocupação que mostra por minha futura felicidade. O desfile de
mulheres qualificadas que você escolheu para que eu inspecionar durante os últimos meses foi
impressionante em sua variedade. Fiquei comovido, mais comovido profundamente, por sua amabilidade.
Eu infelizmente devo informá-la, entretanto, que sua busca é em vão, como é o da duquesa de Everdon e os
esforços mais sutis da senhora de St. John. Eu não me casarei. Portanto, respeitosamente lhe peço ser
liberado do jugo social que vocês colocaram para mim.
Seu servidor.

A senhora Pérez era a esposa de Raúl Pérez, um diplomático do jovem país da Venezuela, quem
vivia em Londres para promover os interesses econômicos de seu país. Eles estavam presentes no
banquete, já que estava sendo organizada pelo visconde Laclere, para celebrar a recente aprovação da lei
que aboliu a escravidão do Império Britânico, um evento de simbolismo transcendental para todos os
povos das Américas.

Julián tentou ignorar o fato, de que esta mulher casada tinha dado a entender de forma íntima,
que encontrava as pedras brutas das paredes muito atraentes e desafiantes.
Desejou esquecer esse comentário, mas logo chegou o momento de prestar atenção a outra
mulher, quando a conversa mudou para a direita.
— Seu inglês é excepcional, levando em consideração que recentemente se casou com seu marido
aqui em Londres,— disse a dama da direita.

5
— Estive estudando o idioma e seus costumes por anos. Disse a Raúl que não viria até que, eu
pudesse fazer com que se sentisse orgulhoso, e não parecer uma roda solta camponesa nas festas deste
tipo.
— Você obteve admiravelmente.
Enquanto ela explicava seus estudos, esse canto rebelde de sua mente divagava. Viu as cores
brilhantes e contraste nítidos de sua terra em sua cabeça. Águas cristalinas que se estendiam ao longo das
praias. Barcos piratas que se balançavam na superfície do mar, assim como homens atrevidos em terra
levando seus espólios, e a pele marrom das mulheres, vestidas de vermelho, laranja e azul. Observava as
discussões masculinas, por um pouco de ouro, pesadas espadas de metal enfrentando umas as outras, via
as tempestades e como o sopro do mar batia no navio com fúria sublime e...
— Você não é um homem muito dado às relações sociais, não é verdade senhor Hampton?
Sua voz gutural tinha uma tintura espanhol e as nuances de outras culturas mais primitivas. Seus
olhos escuros brilhavam de humor e sua pele, era da cor das amêndoas sem casca, parecia muito exótica
com seu vestido de noite tão britânico.
— Lamento não ter sido abençoado com facilidade natural nesse tipo de situação que muitos
outros desfrutam.
— Isso não é certo. Eu estive o observando no salão, não é falta de vontade. Simplesmente você
não se preocupa com isso, não duvido que você saiba que sua reserva é sempre mal-entendida, mas você
não se importa com isso de todas as formas.

— É mal interpretado? Gostaria de acreditar que não fosse perceptível em absoluto.— Disse ele.
— Os homens acham que você é orgulhoso, o mesmo que aborrecido como você diz.
— Talvez tenha razão em ambos os casos.
— As mulheres, em dúvida também, se perguntam o que passa nessa cabeça, e o que se
esconde debaixo dessa armadura de indiferença, e o que pensa enquanto observa o jogo da nossa comédia
humana na fase desta vida.

6
Ela emanava uma sensualidade que nada podia passar por alto, sem se importar com sua
armadura. Usava sua própria falta de reserva como uma bandeira, como uma forma de sua cultura mais
expressiva.
— É apenas isso que você deseja saber, senhora?
— Sim.
— Agradaria se confirmasse tudo isso? Revelando a verdade? Admitir as observações que surgem
com meu silencio?
— Ficaria encantada de saber.
Ele inclinou a cabeça com cumplicidade.— Eu acredito que...
— Sim? – Se animou ela.
— Acredito que vou deixar para um o próximo jantar.
Ela colocou seus olhos negros nele.
— Considero um grande triunfo, que você tenha se dignado a zombar de mim. Eu compreendo
muito bem os homens igual a você. Sua reserva é mais parecida com a de meu povo, do que você
imagina. O silêncio queima por dentro. Embora acredite que com o tempo, você poderá manifestar o que
pensa, com as palavras certas. Claro, que com o devido estímulo.
Ela estava mostrando de que estímulo se tratava. Sua perna pressionava a dele debaixo da mesa.
Julián tomou um gole de vinho e olhou fixamente para as velas chamejantes de Lady Laclere.

Minha querida Viscondessa…


Sua hospitalidade no banquete me afligiu. Raramente um homem deixa sua casa a noite e encontra
a si mesmo, durante horas sentado entre uma potencial esposa de considerável riqueza, beleza e
comportamento doce e também, com uma potencial amante de indubitável sensualidade de outro lado. As
oportunidades oferecidas foram verdadeiramente generosas.

7
Infelizmente, uma vida de tédio me esperara com a primeira e um marido zangado exigindo a
satisfação com a outra. Portanto, acho melhor me retirar de qualquer perseguição e com alguma dor, devo
rejeitar ambos os presentes.
Meus sinceros agradecimentos pela honra do convite, etc etc.
Julián Hampton

Naquela noite, de volta a sua casa em Russel Square, Julián se sentou em sua mesa de trabalho e
escreveu outra carta. Dessa vez, utilizou pluma e tinta.
Os acontecimentos daquela noite, fizeram com que as palavras fluíssem em uma corrente de
arranhões. Era uma corrida para aliviar a agitação do seu espírito que precisava se libertar, antes
que provocasse nele amargura e resentimento.

Meu incomparável amor,


Sete meses passaram, e temo que você nunca volte. Espero suas breves e incomuns cartas, como um
menino, desesperado por qualquer pequena indicação que se lembre de que eu existo, esperando provas de
que está cansada de viver, nessa terra estrangeira onde vive agora. Tenho lido suas cartas cem vezes,
procurando o menor indício de que voltará para casa. Uma parte de minha cabeça, não faz mais que
esperar diariamente, e logo não ficará nada dela que me sirva para atender meus deveres diários.
Uma palavra meu amor, é tudo o que procuro. Uma palavra que me permita conhecer que não
estará longe para sempre e que pelo menos terei sua presença e amizade em minha vida, mesmo se jamais
poderei ter sua paixão e seu amor.

A última frase ele escreveu mais lentamente. Era essencial escrever sua confissão. Tinha jurado a si
mesmo, na metade de sua vida atrás, que não faria ilusões com esta mulher.
Não se incomodou em assinar. Mais calmo agora, por estranho que parecesse, ele olhou para a
carta por um longo momento, depois cuidadosamente a dobrou.
Ao abrir a gaveta da mesa, olhou para a grossa pilha de papéis dobrados de maneira
similar. Algumas cartas eram assim, escritas em suas inquietações melancólicas ou em suas fúrias

8
explosivas. Outras tinham poemas ou histórias nas quais o amor florescia em mundos muito mais gentis,
onde os sentimentos eram mais profundos que nesse prático e pouco romântico costume da Grã
Bretanha.
As que estavam no fundo, eram as mais antigas, já mostravam mudanças na cor da tinta como um
marco de sua idade.
Havia passado um longo tempo da última vez, que tinha acrescentado qualquer coisa na gaveta. Por
que nessa noite? Por que nesse estado de ânimo se apoderou dele lavando-o às seguintes horas de
escuridão?
Talvez por causa das duas mulheres. Normalmente, não se importava de negar o que cada uma
oferecia, mas nessa noite, à medida que a noite avançava, se importava muito. O incomodava como um
inferno, fazer aquele papel de amante obcecado, pois era um papel que já não podia realizar. Durante
anos, achou que poderia ser, mas finalmente, sua desonestidade ao fingir que não esperava retribuição e
seu afeto havia o desagradado.
Então, provavelmente teve a ver com as mulheres. Cada uma o tentava a sua maneira. Era muito
tentador, no caso da senhora Pérez. Ele havia passado a noite, em um leve estado de excitação, mais o
agravante e que, só tinha alimentado a tormenta que crescia dentro dele.
Amanhã se ocuparia dessa parte da tempestade com um trabalhe eficaz e do caminho sem volta,
com alguma mulher profissional que não procurasse amor ou revelações.
Olhou para a carta que estava entre seus dedos. Uma decisão fria se apoderou dele. A queimaria?
Também as outras. Destruiria tudo, casaria com lady Morrison, teria uma aventura com a senhora Pérez e
viveria uma vida normal. Ele estava muito velho para ficar escrevendo cartas e poemas que jamais seriam
enviadas.
Olhou a pilha de papéis e depois às chamas na lareira.
— Senhor!
Julián apenas ouviu a saudação e quase não sentiu o empurrão em sua porta.
Saiu de um sonho, onde estava fazendo coisas escandalosas a doce viúva lady Morrison.
Entretanto, em seu sonho ela continuava falando através dele, assim não estava com pesar que o
tivessem interrompido suas fantasias.
— Senhor, lamento ter que despertá-lo, mas ela não irá...— O rosto de seu valete se abatia sobre
sua cabeça, tristemente angustiado, como se fosse um fantasma sob o brilho de abajur de noite.

9
— Batkin, de que demônios está falando?
— Eu só escutei as batidas na porta, porque meu quarto dá para a rua e minha janela estava aberta,
e como não durmo bem. Lá estava, aquele som. Sequer era forte. Bem, eu expiei com a cabeça e lá estava
essa pessoa na porta, então desci e vi que era uma mulher, uma senhora, e agora está aqui dentro e não
deseja ir embora.
Julián se sentou e seu ajudante de quarto ficou em plena vista. Apesar de ser tirado de sua cama,
Batkin parecia apresentável e perfeito, mas se um valete não podia estar apresentável rapidamente, quem
poderia?
— Qual é seu nome?
— Não quis dizer. Só insiste que ela deve falar com você imediatamente.
— Ela tem algum sotaque? Não acreditava que lady Pérez pudesse vir aqui na escuridão da noite,
com sua pequena coragem, mas nunca sabe. Levando em conta, que seu corpo estava levando um tempo
para recuperar-se de seu sonho, um lado escuro seu, esperava que ela tivesse se atrevido a fazer algo tão
ousado.
— Não, sua voz é de uma senhora Inglesa. Seu chapéu tem um véu que esconde seu rosto, assim
estou em desvantagem para descrevê-lo. Ela alega que é uma de suas clientes.
Julián virou seu corpo e se sentou na beira da cama. Duvidava que qualquer de seus clientes tivesse
negócios tão importantes, que não poderiam esperar até amanhã, mas nesta situação não tinha mais
escolha que reunir-se com ela.
— A envie para a biblioteca. Vou me vestir e estarei lá embaixo.

Meia hora mais tarde, desceu para a biblioteca um pouco irritado e intrigado pelo mistério dessa
invasão.
A dama em questão, estava sentada no sofá frente à lareira, com apenas seu chapéu visível quando
ele entrou. Só podia ver a coroa do chapéu verde com penugens de plumas azuis e a aba onde estava
pendurado o véu.
Mas ele sabia quem era.
As preocupações da noite anterior voltaram, só que agora como uma gloriosa profusão de euforia.
A condessa de Glasbury tinha retornado para a Inglaterra. Penélope voltou para casa.

10
Emoções contrastantes assaltavam a Penélope, enquanto estava sentada na biblioteca.
Fortes reações fortes a invadiram, sentia-se tão bem, que parecia que sua alma exalava
um profundo suspiro – era de alivio e segurança. Ela chegou ao porto depois de uma perigosa viagem pelo
mar.
Debaixo dessa paz, no entanto, se escondia uma dificuldade diferente, uma preocupação crescente
que o Sr. Hampton pudesse ficar aborrecido por sua presença em sua casa.
Penélope não podia ignorar que havia invadido a casa de um homem solteiro na escuridão da
noite. Era escandaloso. Mesmo senhor Hampton sendo seu confidente e conselheiro, continuava sendo um
homem solteiro.
Nunca viu onde morava antes. Havia se mudado para esta casa grande fazia cinco anos, mas ele
não convidava ninguém e ela nunca entrou tampouco, da mesma forma que ela nunca viu a casa onde
vivia, antes de comprar essa bela casa.
Nessa noite, tudo parecia há ela muito estranho. Afinal, ela o tinha conhecido desde quando eram
crianças. Ele era um bom amigo de seus irmãos e advogado da família, muitas vezes se viram nas festas
familiares. Sem dúvida, sua vida particular continuava sendo um mistério, tal como era em muitos outros
aspectos, ele era um enigma.
Uma grande aquarela na parede à esquerda, chamou sua atenção. Apesar da luz fraca, reconheceu
como obra de Turner. Era uma aquarela, suas românticas pinceladas se perdiam no mais amorfo de seus
óleos.
Não era o tipo de pintura, que pudesse esperar que o Sr. Hampton gostaria de ter. Sua clara
reserva implicava que, preferiria algo mais claro e trabalhos mais clássicos. Entretanto, ela sempre sentiu
que havia outras coisas mais escondidas nele, e essa aquarela aparentemente confirmava.
Ela sempre suspeitou que com Julián Hampton, as águas não só corriam profundamente, mas
também possuíam correntes invisíveis.
A atração potencialmente perigosa, por volta dessas profundidades à fez sentir-se sempre um
pouco incomoda com ele.
Encontrou outros pequenos toques que a fascinaram. Algumas almofadas Turcas e um grande vaso
pintado, que parecia Chinês. Teria escolhido o Sr. Hampton essas coisas ele mesmo? Ou seus amigos

11
Adrian Burchard e Daniel St. John, que viajaram para essas terras exóticas e teriam trazido para ele como
presentes?
A biblioteca a tinha distraído tanto, que se surpreendeu ao perceber que já não estava sozinha. Ela
sentia uma presença vital, como se um poder invisível começasse a afetar o ar.
Seu espírito reagiu da forma mais estranha, como fez há anos com esse conselheiro e amigo. Uma
calma indescritível passou através dela, mas outras emoções cravavam em seus instintos também.
Felicidade. Medo. Melancolia. Também havia essa coisa inquietante que não tinha nome, mas que a
deixava vagamente sem fôlego e em desvantagem. Ela virou seu corpo no sofá para olhar para a porta. Ele
estava ali, alto, moreno e forte, vestido como se acabasse de retornar de um jantar, embora suspeitasse
que o tivesse despertado de seu sono.

Havia passado muito tempo, desde que observou especificamente de como era bonito, mas o fez
novamente nessa noite. Talvez, porque ela não o tinha visto pela metade do ano. Seu cabelo escuro, seus
olhos ardentes e suas características nítidas criavam uma imagem muito romântica. Sua querida amiga
Diane St Jonh havia dito uma vez, que ele parecia como se fosse falar de poesia, se é que alguma vez se
dignasse a falar. Sua expressão era de curiosidade e expectativa. Percebeu que o véu continuava
escondendo sua identidade. Equilibrou seu quadril na almofada do respaldo do sofá e dobrou o véu do
rosto.
— Condessa.
A saudação não tinha nenhum tintura de surpresa. Ele reconheceu sua presença e deu boas vindas
como se eles tivessem planejado essa reunião previamente.
Ele se adiantou. Ainda retorcida no sofá, meia ajoelhada, ela estendeu sua mão. Ele se inclinou para
beijá-la.
Ela podia sentir seus lábios quentes através de sua luva. Pequenas ondas de prazer dançaram acima
de seu braço.
— Peço desculpas por aparecer a essa hora, Sr. Hampton. Sei que fiz algo imprudente, mas os
acontecimentos não me deixaram outra opção e eu não sabia para onde ir, ou a quem consultar. Ele não
era um homem que sorria com facilidade, mas fez agora. Era um sorriso bonito, mais que deslumbrante
era moderado e muito masculino.

12
Era um milagre que não usasse com mais mulheres, considerando a agitação juvenil que inspirou
nela.
— Ficaria ofendido se você tivesse considerado ir a outro lugar. Fez um pequeno gesto com seu
dedo sugerindo que se endireitasse no sofá. Enquanto ela fazia, caminhou em volta e se sentou
confortavelmente em uma cadeira acolchoada de cor de vinho, formando um ângulo de frente a ela.
Esses olhos penetrantes lentamente se fixaram nela.
— Solicitei um chá, mas você parece tão angustiada, que me pergunto se deveria tomar algo mais
forte.
— Um líquido mais forte que o chá, seria bem-vindo algumas horas atrás, mas agora já não é mais
necessário, disse.
O intenso olhar que recebeu a cravava incomodamente. Ela se perguntava, que conclusões estaria
tirando com sua inspeção. Talvez, que ela revelasse sua idade? Que já não mais bonita? Ele não a tinha
visto por meio ano e sem dúvida, ele estava percebendo essas mudanças que aconteceram.
— Não sabia que tinha retornado a Inglaterra. — Sua voz tinha um timbre maravilhoso. Sempre
teve.
Inclusive, quando era uma garota sempre amou escutá-lo.
— Laclere não me disse nada.
— Meu irmão não sabe que estou aqui. Ninguém de minha família sabe. Eu estou sozinha há
poucos dias aqui e estive hospedada no Hotel Mivert'S. Pensei que poderia me esconder ali, enquanto
planejava o que fazer, mas estava errada. Estou bastante certa, que fui reconhecida hoje apesar do véu.
Essa é a razão pela qual vim vê-lo nessa noite. Uma vez, que seja de conhecimento que retornei a
Inglaterra, tenho medo que minha situação se torne perigosa. Ela escutava sua própria voz, não tão
tranquila como a dele.
Ele baixou as pálpebras, de uma maneira que ela já conhecia. A cabeça que a tinha protegido
melhor que uma espada, estava afiando-se para assumir este desafio.
— Já que você arriscou nossa reputação e sua própria independência me visitando como fez, eu
presumo que você tem uma grande necessidade de ajuda milady. Diga o que é que está acontecendo.
Medo e frustração se ramificavam por dentro dela. Assim também como a culpa, pois ela precisava
tanto de ajuda, que tinha arriscado de verdade a reputação dele, por sua própria necessidade.

13
— Glasbury está tentando de me sequestrar, depois de todos esses anos, ele deseja que eu volte e
está exigindo que eu lhe dê seu herdeiro.

CAPÍTULO 02

O criado chegou com o chá. Penélope se sentia abatida por estar causando tal inconveniente ao
pobre homem, que teve que descer para cumprir tais deveres.
Depois de estarem servidos, o Sr. Hampton o dispensou.

14
Na qual significava, que eles poderiam falar livremente e sem ser ouvidos ou interrompidos.
Estavam sozinhos. De novo o desconforto pressionava por dentro. Era uma tolice.
Como um de seus clientes, ela teve muitas conversas em particular com o Sr. Hampton. Entretanto,
esta intimidade era sutilmente diferente. A sala e o estado de espírito geravam uma intimidade que a
atraiam e a confundiam. Ela não se sentia completamente como uma cliente procurando um conselho,
mas sim como uma mulher ousada que visitava um homem na noite.
A consciência de sua situação, era um fogo que queimava particularmente por dentro.
Nada na atitude dele fomentava essa sensação. Esse não era um homem que mostrava suas
opiniões em seu rosto. Se ele estava tão consciente, como ela de como isto era impróprio, nunca a
permitiria saber.
— O conde escreveu para Nápoles, enquanto estive lá com meu irmão e Bianca, — disse ela —
Possivelmente Vergil contou para você.
— Só de passagem. Ele não disse às razões que você teve para ficar lá, depois que ele e lady Laclere
voltaram.
— Que motivos lhe deu?
— Ele disse que você encontrou lá, uma sociedade mais amigável para uma mulher em suas
circunstâncias.
Ela sentiu que se ruborizava.
Essa era uma forma gentil de dizer. Ela suspeitava que seu irmão Vergil, visconde Laclere, aludiu os
homens que a rondavam em Nápoles, lhe oferecendo diversão e adulações.
— Foi mais do seu agrado?— Ele fez a pergunta casualmente, mas seu olhar se encontrou com o
dela diretamente.
— Sim.
— Então por que retornou?
— Eu comecei a acreditar que o conde enviou homens atrás de mim. Senti que estava sendo
seguida. Pensei que não era seguro permanecer ali.
Ele absorveu isso pensativamente. — O que havia nas cartas que escreveu para você?
— As duas primeiras chegaram ao inicio da minha visita. Eram as típicas notas desagradáveis, com
suas ameaças de cortar o apoio financeiro, se eu fizesse algo que pudesse desprestigiar seu nome.
— E as outras?

15
Só uma mais chegou, justo antes de voltarmos para casa. Essa era diferente. Ele exigia minha volta
ao casamento. Dizia que a lei estava do seu lado e que ele poderia forçar meu retorno, se eu não
entendesse as razões.
Dizia que queria o herdeiro que eu estou devendo. — Essas palavras saíram precipitadamente, cada
uma era tão repulsiva como o homem que as escreveu.
O Sr. Hampton se inclinou para frente, seus antebraços descansavam em seus joelhos e seu corpo
inclinado em um ângulo para ela. Por um momento, ela pensou que ele abraçá-la ou tocar em um gesto
para tranquilizá-la.
Ele fez isso uma vez antes, em outra reunião particular, quando ela estava tão angustiada que tinha
perdido a compostura.
Para sua surpresa ele se aproximou. Não tocou seu braço, entretanto. Mas sua mão cobriu a dela
onde descansava no joelho com um punho.
Deu-lhe um apertão tranquilizador, antes de quebrar o contato. O corpo dela reagiu como se não
pudesse deixá-lo ir. A quente pressão de sua palma e do aperto firme daqueles dedos continuavam ali,
invisíveis.
— Eu gostaria que tivesse me escrito contando tudo isso.
— Você disse que ele nunca se atreveria a fazer tal coisa, — disse ela com um pouco de
ressentimento. — Você disse que ele tinha muito a perder.
— E é assim. — respondeu ele.
É muito óbvio, que ele está considerando que era um blefe o que disse de expor publicamente tudo
o que eu sei.
— Não era um blefe e ele sabe.
— Então, ele está tão desesperado para ter um herdeiro, que está disposto a submeter-se ao
desprezo e ao escândalo?
A inquietação das últimas semanas voltaram. Ela se levantou e se afastou das janelas. — Assim que
cheguei a Nápoles, pensei que poderia estar mais segura ali. Então, faz um mês comecei a sentir que
estava sendo vigiada. Seguida. Eu vi um homem, napolitano ou árabe, sempre nas sombras quando saía.
— Poderia ter se confundido? Eu duvido que mesmo o conde, seja tão ousado para tentar
sequestrá-la.

16
— Você me disse há alguns anos, quando fizemos nossos planos, que era juridicamente impossível
que um marido fosse acusado de sequestrar sua esposa, pelo fato de ele ter direito sobre ela.
Ele havia dito muito mais do que isso, mas o restante parou no ar e não falaram. Havia
explicado que era também, legalmente impossível que um marido fosse acusado de violar sua mulher...
— Possivelmente tenha errado, mas já não existia paz lá. Não podia permanecer ali mais tempo,
depois disso. Reservei uma passagem e voltei para casa.
Instintivamente, ela afastou as cortinas e desceu seu olhar para a rua. Tornou-se um hábito, uma
precaução de presa. A rua estava silenciosa e vazia.
— Está você pensando voltar para ele?
Ela se virou, surpresa pela pergunta.
— Nunca! Eu não voltarei por essa razão. Na verdade, esse é somente um intervalo em minha
viagem. Decidi ir para a América. Lá nunca me encontrará. Desaparecerei nessa vasta terra e...
— Não. — A interrupção foi abrupta, firme e resolvida.
— Eu acho que é o melhor plano de ação. De fato, não posso pensar em outro.
— Eu não a aconselho. — disse ele.
— Não me importa seu conselho. Nós estamos além disso. A menos que você diga, que a lei me
protegerá dele, se não penso deixar a Inglaterra para sempre.
Ele não respondeu. Sabia melhor que ela, que a lei não poderia protegê-la. Era justamente ao
contrário. Somente a ameaça de expô-lo a um escândalo, tinha mantido o conde a raia, e evidentemente
ele decidiu que isso já não lhe importava.
— Eu desejo que você vá com meu irmão e consiga algum dinheiro, que de tal maneira eu possa
viver com isso, quando estiver na América.
— Já que você está em Londres, você mesma pode pedir.
— Não desejo que ele saiba onde estou. Se souber, o conde o confrontará e não quero que ele
tenha que mentir. Faça ele acreditar que eu continuo em Nápoles e que lhe pedi para que falasse por mim.
Assim, que eu tiver esses recursos, eu poderei...
— Laclere não é nenhum estúpido — Se dirigiu para ela. — Sei que suspeitará que algo está errado.
E exigirá saber a verdade.
— Você não deve lhe dizer o que Anthony está tentando fazer. Vergil poderia brigar com ele e isso
poderia criar um terrível escândalo e…

17
— Não acho que seu irmão se importe com os escândalos. Suas próprias opções na vida o
demonstraram.
—Não desejo que tenha brigas por mim. Não quero vê-lo lutando em duelo pela irmã quem fez um
desastre na sua vida, ao casar com um homem malvado por todas as razões erradas. Assim é como desejo
fazer. Simplesmente vá com ele e consiga o dinheiro.
Ele estava mais perto dela agora, olhava para baixo com aqueles olhos indecifráveis. Seu rosto
raramente mostrava seus pensamentos, mas em seus olhos poderia espiar sua cabeça. As mulheres o
achavam intrigante.
Havia acontecido muita discussão entre as damas, sobre Julián Hampton durante anos. As
profundidades ferviam como no inferno, ou era frio como o gelo?
Olhando agora em seus olhos viu alguma coisa, que fez com que seu coração caísse.
— Não vai me ajudar. --— Afirmou ela
— Não vou mentir a meu melhor amigo por você. Entretanto posso ajudá-la.
— Você conhece alguma outra maneira de conseguir esse dinheiro?
— Você não irá para a América.
— Eu acredito que essa decisão é minha, senhor.
— Você não tem família lá. Não tem amigos e nenhuma proteção.
— Mas eu escaparei dele lá.
— Se o Conde estiver tão seguro de que você está em suas mãos, deve ter uma razão. Eu
investigarei do que se trata e a eliminarei.
Ela se virou para ele.
— E enquanto você descobre isso, ele me encontrará. Não posso me arriscar a isso. Eu não voltarei
para ele. — A veemência de suas palavras ecoou ao redor deles.
— Eu descobrirei como estão às coisas e então, você poderá tomar suas decisões. Se realmente
estiver em uma situação de risco, avaliaremos quais são as opções.
Então você me ajudará a ir se for necessário?
— Vou fazer o que for necessário para assegurar que Glasbury jamais a forçará voltar para ele.
Agora, até que se entenda o que ele traz nas mãos, devemos encontrar um lugar mais seguro para
escondê-la, do que esse Hotel Mivert'S.
— Esse não é um lugar seguro. Não há nenhum lugar, que seja realmente seguro para mim.

18
— Sim, existe. Pelos próximos dias, você permanecerá justamente aqui, em minha casa.
A sugestão a deixou atônita. O Sr. Hampton a deixou aturdida com sua declaração. Ele se desculpou
e saiu da biblioteca. Assim que retornasse, ela deveria negar a ficar. Ela não podia ficar nessa casa. Se
alguém soubesse, se Anthony descobrisse que ela morava ali, seria a ruína para o Sr. Hampton. Não
deveria ser ela quem lhe mostrasse esse fato. Normalmente era o Sr. Hampton, quem avaliava todas as
eventualidades e seus custos.
Ele tinha aquele tipo de cabeça que instantaneamente calculava os fatos e cuidadosamente pesava
os riscos.
Ele retornou em poucos minutos.

— Se eu encontrar outro lugar mais seguro, levarei-a para lá, — disse ele adiantando-se a seus
argumentos — Nessa noite, esse é o único lugar.
— Diane me receberá.
— Com a família St. John, o tamanho de sua casa e a quantidade de empregados que possuem, sua
presença não será um segredo um só dia. Além disso, St. John poderia insistir em que seus irmãos
soubessem também, que você está com eles.
Ela tocou o véu que usava. — Eu poderia vestir isto, por todo o tempo de todo jeito. Além disso,
você também tem pessoal de serviço em sua casa.
— A Sra. Tuttle a governanta, a atenderá. Somente ela e Balkin saberão de sua presença nesta casa.
Há vários aposentos nessa casa que não são usados. Os criados não os abrem. Balkin está preparando um
agora mesmo. Você permanecerá secretamente nele até que eu descubra o que o Conde está tramando e
porquê.
Ela estava dividida entre a vergonha e uma profunda gratidão, que a deixava com vontade de
chorar. Esse último a inundava, lhe fazendo perceber o quanto estava cansada de ter medo e do bem que
se sentia, por estar aqui com um amigo.
— Permanecerá aqui e tudo ficará bem. — Ele estendeu sua mão. — Agora, por favor, enquanto
isso, senta e toma um pouco de chá.
— Vamos esperar até que Batkin termine. Conte-me tudo a respeito de Nápoles.

19
Não contou tudo a respeito de Nápoles. Descreveu a beleza da baía, suas colinas e suas saídas para
o Capri e Sicilia. Falou das pessoas que ficavam ao redor da corte do Rei e dos bailes e da ópera. Contou
muitas coisas, mas não tudo.
Percebeu o que ela evitava. Por exemplo, não mencionou nenhum homem sequer por uma vez.
Não havia indícios de que ela favorecesse a alguém. Sabia pela forma cuidadosa em que ela não indicava.
Bem, não ia dizer lhe nada a respeito de Witherby, de todas as formas. Ele aprendeu a conhecer seu
humor e suas maneiras, somente ao vê-la. Tinha visto, como as intenções de seu bom amigo davam frutos.
Tinha adivinhado na mesma semana, em que eles se tornaram amantes.
Esse amor foi outra decepção para ela, possivelmente pior que a do conde. Possivelmente, porque
tinha maturidade suficiente para apaixonar-se por Witherby. Quando soube de sua traição ficou arrasada.
—Então, como você pode notar eu gostaria de ter ficado, — disse ela, concluindo seu relato. — O
clima, a paisagem e a sociedade eram mais relacionáveis, a minha pessoa.
Ele jamais conheceu uma mulher madura que tivesse uma expressão tão natural, suave e aberta.
Ela era incapaz de dissimular ou mostrar arrogância. Seu grande coração não admitia a distância e a frieza,
que tais estratégias exigiam.
Seu rosto era suave em sua forma também, um pouco redondo mas graças a seus maçãs do rosto
altas não parecia tanto. Tinha faiscantes olhos azuis que inclusive agora, brilhavam como pequenas
estrelas brilhantes sob a noite negra de seu cabelo.
— Se está pensando ir para América, deve ter doído profundamente saber que tinha que deixar
Nápoles para sempre.
— Foi duro partir, mas sempre soube que isso poderia passar.
— Alguma vez pensou em fazer sua vida ali?
Ela deu de ombros.
— Nunca considerei que fosse definitivo. Com o tempo, esperava voltar provavelmente, antes que
chegasse o inverno. Há alguns projetos que tinha começado antes de partir da Inglaterra, que agora
requerem atenção.
Não deveria pressioná-la mais, mas desejava muito saber.
— Não tem nenhum amigo que lamenta deixar?
Ela tentou assumir uma atitude mundana e aborrecida, mas não pôde esconder com êxito que
sentia uma profunda tristeza.

20
— Jamais chorarei por um homem novamente, Sr Hampton.
Batkin apareceu na porta a tempo de lhe jogar um olhar significativo.
O aposento está preparado, Condessa. — Julián ofereceu sua mão, para que ela se levantasse.
Mostrarei-lhe onde fica se você me permitir isso.
— Confesso que prefiro que você faça isso. Envergonharia-me ter seu valete me escoltando, estou
certa que ele desaprova toda essa situação.
— Ele sabe que você é uma dama em perigo, assim como à Sra. Tuttle. Não haverá nenhuma
rejeição. Entretanto, evitarei sua vergonha totalmente dessa forma.
A ampla saia do seu vestido de sarja azul e branco roçou nas pernas dele, enquanto a
acompanhava. Era um vestido de cintura baixa, com um corpete justo e de mangas longas que adulavam
sua figura. Um lenço de linho cru, protegia a parte superior dos seus seios de seus olhos, mas não de sua
mente.
Seus belos olhos, tocavam tudo o que via, enquanto caminhava para a escada.
— É uma casa muito grande, Sr. Hampton. Surpreendeu a todo mundo, quando você se mudou
para cá.
— Acho que Russell Square é uma parte muito conveniente da cidade e está perto da associação
dos advogados.
Começaram a subir as escadas. Os abajures mostravam mechas de seu cabelo negro, escapando de
seu elaborado penteado e posando sobre seu rosto branco. Seu rosto mostrava sinais de fadiga por sua
preocupação e pela longa viagem, mas no entanto, sua expressão continuava sendo tão doce como
sempre.
— Com uma casa deste tamanho, penso que você deveria casar e começar uma família, — disse
ela.
— Receio que Lady Laclere está de acordo com você.
Ela riu. Era um som maravilhoso, um que o tinha encantado de escutar desde que era um garoto.
De repente, apesar de suas preocupações, ela era a Penélope que ele conhecia.
—Bianca esteve tentado lhe encontrar uma esposa?
— Depois que seu irmão Dante se casou, eu suspeito que fiquei condenado. Ela deve ter chegado à
conclusão que, se ele pôde ser induzido ao casamento, qualquer homem poderia.
— Está ela liderando essa batalha sozinha? Não tem tropas de apoio?

21
— Suspeito que a estratégia foi idealizada pela Duquesa de Everdon e pela Sra. St. John. E acho que
a esposa de Dante, desistiu por estar esperando um filho.
— OH, querido. Sofía e Diane também estão atrás de você. Definitivamente está condenado. Fui
parte desse exército e sei como poderoso pode chegar a ser. Deve alegrar-se de que não esteja
“oficialmente” na Inglaterra, pois se me unisse a elas, você não teria a menor chance.
— Minha querida senhora, sua participação só poderia me beneficiar. Se fato alguma vez, pensar
em me casar, sua aprovação será essencial para mim.
Ela parou nas escadas. — De verdade? Você valoriza tanto minha opinião?
— É obvio.
— Está me dizendo uma coisa muito agradável, Julián.
Julián.
Ela não se dirigia a ele assim, há anos. Duvidava que tivesse percebido o que acabou de fazer. Ele
lembrava com precisão do dia em que ela começou a dirigir-se a ele como Sr. Hampton. Foi na mesma
tarde, que ela foi a seu escritório procurando conselho sobre o conde. Ao escutar seu sórdido relato e ver
seu rosto de vergonha, soube que jamais voltaria a chamá-lo Julián novamente. As revelações que lhe fez
nesse dia, exigiam certa formalidade em suas relações futuras.
Ele a conduziu à porta do aposento no terceiro andar. Seu próprio aposento estava do outro lado
da casa no jardim, precisava dizer que ela estaria usando o melhor quarto privado da casa, já que ficava
conectado com o seu e era o único, que jamais seria usado por uma senhora nessa casa.
Afastou-se para que ela pudesse entrar. Ele ficou na soleira, enquanto ela percorria o quarto.
— Amarelo, verde e branco, — disse ela com admiração. — Parece um jardim de narcisos.
A decoração deste aposento e de todos os outros, havia sido fácil felizmente. Quando se enfrentou
com a decisão de como os decorar, simplesmente pensou no Penélope poderia gostar.
Ela passeava ao redor, inspecionando o tipo de móveis e outros detalhes. Percebeu que havia uma
camisola sobre a colcha da cama.
— Seu valete deve ter despertado a sua governanta, se pôde encontrar uma camisola para mim. Já
me transformei em um incômodo.
— Você não será nenhum incômodo. Eles estarão felizes de servi-la. Enviarei Batkin para buscar
seus pertences no hotel. Ele se assegurará de que ninguém saiba para onde foi.

22
Seus claros olhos azuis pareciam úmidos e sua expressão parecia um pouco preocupado. Desejava
tranquilizá-la de qualquer forma, mesmo não sendo para ele. Ao invés disso, permaneceu parado na
soleira da porta.
— Obrigada por fazer isso, — disse ela. — É imprudentemente generoso de sua parte.
Ele não achava que estivesse sendo generoso, se ela ficasse aqui pelo menos uma noite, sua
presença permaneceria ali para sempre. Assim, poderia senti-la sempre no ar e em todos os espaços de
sua casa.
A parte que dizia sobre sua imprudência era verdadeira. Permitir que ela permanecesse aqui era
totalmente arriscado para ambos.
— Será um escândalo se alguém souber, — disse ela, ecoando seus pensamentos.
— Não é tão escandaloso. Não é pior, por exemplo, que o assunto de Nápoles onde você e outras
senhoras no barco pescando.
Um rubor subiu do pescoço até seu rosto. Ela fez uma careta de desgosto.
OH. Soube que...
Embora os oficiais do navio que as resgataram mostraram a discrição de cavalheiros, vários dos
marinheiros que retornaram a Inglaterra, não foram.
– Todo mundo sabe?
– Se eu sei…, acredito que sim.
– Quero que saiba que isso foi algo bastante inocente. Fomos vítimas das circunstâncias. Quem
adivinharia que aquele barco de pesca, iria embora com todas as nossas roupas nele e nos deixaria
encalhadas, naquela enseada dessa forma?
— Foi assim como lhe disse.
— Usando apenas camisas, mais ou menos essa foi a história. Camisas úmidas, já que a mulher que
tinha se encarregado do barco de pesca, levou-as até a enseada para que pudéssemos tomar banho de
mar.
Pen saindo das águas frias do mar. Gotas de água deslizando pelo seu corpo e seus cílios molhados
brilhando no sol como pequenos diamantes. A roupa úmida colada em suas suaves curvas como um véu
transparente, e…

23
Se você for honesto, senhor Hampton, admitirá que a excursão à enseada pode ser considerada no
pior dos casos descritos como um pouco imprudente, um pouco teimoso, um pouco descuidado,
procurando mais palavras.
Um pouco travesso?— Continuou ele.
Mas não escandaloso,— disse Pen
Isso será um escândalo se outros o averiguarem. Asseguraremo-nos de que isso não aconteça.
Ela se ruborizou novamente e fez um gesto um pouco torpe com as mãos, como se tentasse pôr fim
à conversa.
Ele memorizava a imagem dela parada em sua casa.
— Boa noite, milady.
— Boa noite, Senhor Hampton.

— Julián! Sir Julián, me salve!


O grito veio da torre. Julián levantou o olhar para ver a pele pálida que saía por uma fresta, no alto
dos aposentos dos guardas.
— Estou aqui, Sir Julián. Ajude-me
Julián pegou sua estreita espada de madeira. — Já vou minha lady!
No topo das muralhas medievais em ruínas de Laclere Park, Vergil golpeou sua espada contra a de
Dante, enquanto lutavam pelo controle do castelo. O plano era que Julián se unisse a Vergil, para vencer
Dante e juntos resgatar à donzela presa por seu malvado tutor Sir Milton. Mas Vergil podia derrotar Dante
sozinho, e a lady chamava Julián em busca de ajuda.
Julián atravessava o pátio murado, pulando pelas pedras que tinham caído da fortaleza em
decomposição. Teve que se esquivar da pequena Charlotte, que tinha sido autorizada a juntar-se a eles,
mas só brincava de escudeiro de Vergil.
Ele ficou de pé em segurança no pátio, sustentando um cavalo invisível, gritando estímulos traidores
a Dante por cima de Vergil. Dentro da porta da torre dos guardas, Julián se apoiou na parede e escutou.
Vamos, lady Penélope chamou novamente, sua voz de menina ganhando maturidade na acústica das
pedras. Outro som lhe chamou também a atenção. Passos de botas nas escadas. O guardião do mal estava
descendo. As botas pararam. Preparou a si mesmo, Julián começou a subir a curva da escada de pedra.

24
Milton esperava na meio, com sua própria espada e um escudo na mão. Julián considerava em sua posição,
um ataque de desvantagem.
— Isso é o que acontece nessas escadas em curvas, disse Milton com um sorriso confiante.— O
invasor não pode usar sua espada, a menos que exponha seu corpo virando. — Arriscarei com golpes.— Os
Olhos escuros de Milton ficaram sérios. Era o mais velho dos filhos do visconde Laclere, era também o mais
bonito, mais ainda que Dante.
Ele e Julián tinham uma afinidade especial, já que ambos eram tranquilos e mais dados a jogos de
observação, que de participar das conversas estridentes dos outros. Milton havia deixado claro, que
enquanto que Julián ia a Laclere Park como amigo do Vergil, Milton o considerava como uma alma gêmea.
— Sempre deve considerar se qualquer prêmio vale receber os golpes, Julián.
— Eu não procuro meu próprio prêmio, a não ser a liberdade de minha lady,— disse Julián,
assumindo o papel de um cavalheiro medieval. Apesar da vantagem das escadas, Milton não podia
defender-se bem. Nunca esteve especialmente interessado nas atuais batalhas de seus jogos, mas sim, nas
estratégias. Golpeando a sua maneira Milton, Julián se aproximou correndo à torre dos guardas. Jogando
seu papel com entusiasmo, Penélope correu para sua proteção. Sua gratidão foi interrompida. Milton
apareceu na soleira. Julián colocou Penélope atrás dele, disposto a lutar novamente. Ela se encolheu perto
de seu corpo, escondida em suas costas e suas mãos em seus ombros. Seu contato o surpreendeu e o
incitou uma calidez agradável por todo seu corpo. O tempo se congelou por um momento, enquanto que
ele dava capacidade às poderosas sensações. Ele olhou para Penélope. Ela também havia ficado
congelada. Ela o olhou nos olhos com uma surpreendida e curiosa expressão.

Esqueceu-se de Milton, da espada e da própria torre. Deu a volta levemente, incapaz de deixar de
olhá-la, incapaz de quebrar a conversa silenciosa e surpreendente que estavam tendo e que nenhum dos
dois poderia reconhecer com palavras. Por último, Pen se afastou. Olhou atrás dele. Ele olhou na mesma
direção, para encontrar Milton observando-os. A própria expressão de Milton era tanto insondável como de
compreensão.— A torre é dela, Julián. A lady foi resgatada. Muito bem. Milton olhou para sua espada. Com
um pequeno sorriso, deixou-a cair no chão junto com seu escudo.— Acho que estou muito velho, para
continuar brincando esses jogos.

25
A lembrança veio a Julián, enquanto estava deitado em sua cama, sentindo a presença de Penélope
com tanta segurança, como se dormisse a seu lado. Um ano antes desse dia, nenhum deles havia sequer
notado esse toque. Poderia ter sido um de muitos, como as histórias que Julián criava para brincar na
fazenda. Nesse momento tudo mudou. Aos quatorze anos ele já tinha despertado antes, mas não dessa
maneira, não por uma mulher específica a quem conhecia e honrava. Aconteceu também, em um
momento crucial da amizade. Milton nunca mais brincou com eles novamente. Levou anos para Julián
perceber que seu longo olhar com Penélope tinha sido o motivo. Agora Milton estava morto e ela estava
casada. E aqui estava ele, deitado na cama, desejando que a mulher de outro homem, que dormia em um
quarto próximo. Ele ponderou sobre os acontecimentos da noite. Pen estava certa que as leis não a
protegeriam. Somente a combinação de sua coragem e a astúcia de Julián poderiam protegê-la.
Não sabia o que esperar na curva da escada que começou a subir. Mas como sempre, sua posição
no assunto poderia inibir a espada no braço que a sustentava, tão certo como essa parede que havia na
velha torre. Só sabia que uma coisa era certa. Glasbury nunca faria mal a Penélope novamente, enquanto
Julián Hampton vivesse e respirasse.

CAPITULO 03

26
Anthony, o décimo conde de Glasbury, tratou de ignorar o som na porta de seu vestiário. Não
gostava de ter seu prazer interrompido por nenhum tipo de distração, pelo menos uma de todas as
complicações que anunciaram em seus bem calculados planos. Agora simplesmente essa interrupção
aconteceu. César jamais interromperia com esse forte golpe. Sabia que não deveria provocar a ira de seu
amo. Apertando os dentes, engolindo a saliva, Glasbury se afastou do bonito e redondo traseiro, que
estava levantado para ser castigado. A excitação mais deliciosa nadava em suas entranhas, exigindo uma
maior estimulação. A submissão do corpo nu para obrigá-lo a obedecer a seus comandos o atraiu a passar
por cima da interrupção. Os golpes fortes continuaram na porta. Alguma coisa errada aconteceu. Não
podia haver outra explicação para esse barulho. Procurou provas através da névoa embriagadora para
poder achar certa claridade nos pensamentos. Olhou para bengala em sua mão e os vergões vermelhos nas
nádegas de sua escrava de prazer. Deveria deixá-la nesse estado esperando? Ela era nova e ele ainda não
tinha decidido se já fora o suficiente.
– Olha-me, ordenou ele. O cabelo negro levantou. O rosto se virou. Os olhos molhados lhe
devolviam o olhar. Não havia medo suficiente neles para despertar novamente sua paixão. Não via
nenhum sinal, de que ela tinha desfrutado disso. Bom. Ele não queria que suas parceiras tivessem prazer.
Fazia a submissão menos completa. Pegou um guinéu de seu bolso e jogou no chão. – Se vista e saía. Volte
na quinta-feira e haverá mais.
Ela pegou o guinéu quando se levantou sobre seus joelhos. Não havia dúvida de que ela o
compreendeu, mas apenas significava que haveria mais dinheiro. Ela parecia insegura de desejar retornar,
mas ele sabia que voltaria. Ela era uma puta e o pagamento era bom. Não era exatamente o mesmo
quando outros lhe pagavam é obvio. O controle se via comprometido se eles tinham mais opções. Mas
poderia fazer por um tempo. Ele a conduziria pouco a pouco e ela aprenderia o suficiente. Ele se afastou.
Em pouco momento, a mulher e o prazer estavam fora de sua cabeça e de seu corpo. Saiu do quarto para
encontrar César esperando no corredor.

César não usava seu uniforme, por isso deve ter sido levantado de sua cama por outro servo. César
era um escuro mulato, obedecia todas as ordens com precisão. Não mostrava nenhum medo às represálias

27
por esta interrupção. Ele permanecia impassível como sempre, uma atitude que reflete os pensamentos
torpes em sua escura cabeça. Era também, um reflexo das mudanças que vinte anos podiam fazer na
sensatez de um país de direitos e privilégios. Houve uma época, que César teria uma boa razão para ter
medo, mas agora esses dias ficaram para trás, a melhor época da vida de Glasbury, tinham terminado para
sempre. Os novos costumes eram terríveis.
Ele voltou, disse César. – O cavalariço chamou do jardim e me despertou.
— Veio sozinho?
– Sim.
– Maldito seja.— Onde está?
– Na biblioteca.
— Você volta para seu aposento. Eu não preciso mais você. Glasbury voltou a seu quarto e ali
encontrou sua escrava de prazer lutando para fechar seu vestido.
Não ajudou-a. – Desça em pouco minutos. Ele fez seu próprio caminho pela casa em silencio em
direção à biblioteca, onde o homem o esperava. O visitante se sentou em um sofá.
Seu rosto redondo, de expressão suave e insignificante em presença e tamanho. Ele tinha que olhar
de perto, para sequer perceber que este homem existia. A capacidade de ser invisível era um de seus
grandes talentos. Ele o olhou com olhos que revelavam uma astúcia profunda sem máscara anônima.
— Ela não estava lá, simplesmente disse.
Tinha que estar. A pessoa que a viu a conhece bem. Com véu ou não, a identificação não era
suscetível a engano.
— Disseram-me que não estava, quando procurei por ela.
— Eu não disse que nunca esteve ali. Encontrei-me com um empregado que trabalha a noite, que
diz que uma dama de sua descrição, sempre encoberta, esteve hospedada ali por alguns dias. Mas ela foi
embora e seus pertences foram recolhidos nessa noite. Eu devo ter perdido ela por uma hora, não mais.

Glasbury mal continha sua raiva. A cadela escapou outra vez. Mas entretanto, ele a encontraria. Ele
não toleraria mais a forma em que havia repudiado seus direitos. Ele não suportará mais a humilhação,
que havia se acumulado sobre ele com sua obstinação. Certamente, ela não pararia, enquanto utilizasse
seu nome para promover ideias repugnantes que diretamente o insultavam. Não toleraria mais isso.

28
– Para onde levaram seus pertences?
— O gerente disse que não sabe. Não gostou muito que eu o despertasse, para perguntar a esse
respeito e expressou seu descontentamento por não me dar o que queria. Poderia tentar fazê-lo falar
se…
— Não, não podemos fazer isso. A polícia estaria envolta se as coisas ficarem difíceis.
— Então, o que quer que eu faça?
— Faça que seu colega mantenha a vigilância em sua casa, no caso de reabri-la. Farei você saber
quando o necessitar novamente.
Glasbury não esperava que a casa de Penélope reabrisse. Se ela não estava mais no hotel, ele sabia
provavelmente para a onde ela foi. Ela teria ido provavelmente se esconder atrás de seu irmão Laclere.
Bom, ele saberia como dirigir isso. Seus direitos de posse tinham sido comprometidos, de todas as formas
nestes últimos anos, mas não quando concernia a ela. Seria complicado brigar com sua família, mas seus
direitos prevaleceriam. Afinal, ela era de sua propriedade.

CAPÍTULO 04

29
Julián ficou surpreso quando recebeu pela manhã uma convocação a Laclere’s House. Deixou à
senhora Turtle encarregada da comodidade de Penélope, montou seu cavalo e chegou na hora marcada.
Ele foi levado ao escritório do visconde. A cabeça escura de Laclere subiu imediatamente da
contemplação de alguns documentos sobre a mesa, quando Julián entrou.— Estou esperando uma visita
inesperada. Pensei que deveria estar presente quando ele chegasse,— disse Laclere sem formalidade.
— Escrevi-lhe logo que recebi sua carta no correio da manhã.
— Alguém tão grosseiro para exigir uma audiência? É generoso de sua parte receber, quando se
trata de Glasbury.
Os olhos azuis de Laclere mostravam um brilho de preocupação.
– Eu não posso imaginar o que ele quer, já que ele e eu não falamos há anos. Suponho que se trata
de Pen obviamente.
Conversaram sobre o banquete, enquanto esperavam, evitando cuidadosamente o assunto das
intenções de lady de Laclere, no que concernia a certo solteiro. O visitante não demorou em chegar, mas
não era o conde de Glasbury. Tratava-se de Dante o irmão de Laclere que entrou no escritório e saudou
Julián.
Seu tipo físico e estatura, Dante era uma versão mais refinada de seu irmão. Onde as características
do visconde eram mais toscas, as de Dante eram suaves e perfeitas, como se o escultor tivesse polido
todas as arestas para dar tal efeito.
Dante passou os dedos pelo seu cabelo castanho, em um gesto que falava de seu desconcerto.
— Recebi uma carta de Glasbury nessa manhã. Disse que ia se encontrar com você e sugeriu que
eu participasse.
— O mistério é cada vez maior, disse Laclere.
— Mais do que você imagina. Encontrei com o transportador do correio entrando, quando cheguei
a minha casa.

— Se ele queria reunir-se com toda a família, deve ter planejado um anúncio espetacular. Disse
Laclere.
— Talvez tenha intenção de conceder o divórcio,— disse Dante.
— Um pouco tarde para isso, eu acho.

30
Julián não disse uma palavra. Ambos os homens aceitaram há muito tempo seus silêncios e hoje era
mais que conveniente. Charlotte entrou, olhando de forma muito similar a sua irmã mais velha, com seu
cabelo escuro, pele clara e estatura mediana. Ela sempre foi mais magra que Penélope e seus olhos eram
mais mundanos e sagazes. Não que Charlotte fosse dura em sua aparência e atitude, mas Penélope era
mais suave. Ela explicou que tinha recebido uma carta similar a de Dante.
— Considerei ignorá-la, já que não posso imaginar o porque quer que eu esteja aqui. Não se supõe
que estas coisas são muito importantes, para a participação de uma mulher?
— O conde quase fez eu me interessar por esse assunto— disse Laclere.
— Glasbury é muitas coisas, querido irmão, mas interessante, não é uma delas. – disse Charlotte.
— Voltou sua atenção para Dante.— Como está Fleur?
Dante sorriu daquele jeito fazia desmaiar às mulheres.
— Bonita. Serena. Eu é que vou perder dez anos antes que essa criança nascer.
— Não estará nesse estado por muito tempo. Porém, ainda falte muitos meses para isso,—
disse Laclere.
Depois deu uma olhada no relógio da estante atrás dele.
— É tarde. Não duvido, que Glasbury prefira caminhar como forma de exercício.
— Espero que seja o divórcio,— disse Dante. – Gostaria de ver Pen completamente livre dele.
A atenção de Charlotte deslizou pelo escritório e parou em Julián.
— Sabe do que se trata?
– Estou de acordo com seu irmão, é provável que tenha a ver com sua irmã.
— Isso é obvio. Sabes exatamente o que tem a ver com ela? Ela escreveu algo de Nápoles, que se
esqueceu de contar para um de nós?
— Se ela fez, é correspondência particular Charl, — Disse Laclere. — Você se beneficiaria com a
discrição de Hampton, assim também permita o mesmo para Pen.
Estou certo, que nenhum de nós, quer que toda nossa família saiba de todos os nossos assuntos
jurídicos.
Charl se retirou, não sem antes lançar um olhar firme e suspeito para Julián.
Glasbury chegou suficientemente tarde, para acentuar a ideia de que outros deveriam
esperar por ele e não o contrário.
Ele foi entrou no escritório uma hora e meia depois.

31
Não estava sozinho. Um homem de aparência elegante, mas comum o acompanhava. Esse outro
homem, ficou perto da porta como um servo e não avançou na festa armada pelo conde.
Julián apenas recebeu um reconhecimento por parte do conde, durante as saudações. No entanto,
não perdeu o aceno de cabeça em sua direção acompanhado por um sorriso petulante, que torceu por um
momento a boca flácida do conde.
Julián não deixou se intimidar, mas uma pequena fúria rodopiava em sua cabeça. Odiava Glasbury
e não apenas por Penélope. O homem encarnava toda a decadência e insensibilidade de quem herdava
privilégios. Ele exercia o poder de forma irresponsável e egoísta.
Recentemente, o conde tinha sido um dos poucos senhores que foram contra a abolição dos
escravos em um projeto de lei das colônias, porque era proprietário de algumas plantações nas Índias
Ocidentais e que serão afetadas economicamente.
Poucos homens no Parlamento, tiveram a ousadia de ficarem a favor a venda de seres humanos,
mas ele não se incomodou absolutamente.
Pior, era aquele sorriso que refletia triunfo. Era a expressão de um homem que sabia que tinha
ganhado um jogo. A preocupação de Julián por Penélope se aprofundou ainda mais.
Glasbury se posicionou ao lado da cadeira Laclere, para ter a oportunidade de olhar para baixo da
cabeça escura do homem sentado nela. Julian considerou que provavelmente, era a única chance do
conde fazer isso, já que Laclere era muito mais alto que Glasbury, quando ambos estavam de pé.
O corpo magro do conde assumiu uma rigidez militar. Com seu cabelo grisalho e rosto cheio de
rugas, parecia mais velho que eles, embora tivesse apenas mais dez anos do que Laclere.
— Não tenho tempo a perder com este assunto, por isso serei breve,— disse com toda a
pompa possível.
— Exijo saber onde ela está.
— Ela, devo presumir que se refere a nossa irmã. Penélope está em Nápoles, como você sabe. Você
escreveu para ela lá.
— Ela já não está em Nápoles. Foi vista ontem em Londres. Ouvir dizer que ocupou uma das
acomodações do hotel Mivert em sua volta, mas ela já não estava no hotel nessa amanhã.
— Estou certo que, aquele que a viu se enganou. Se minha irmã voltasse para Londres, ela não
precisaria ficar em um hotel, já que ela tem uma casa. Tentou procurá-la lá?
— A casa permanece fechada. Não houve nenhuma atividade que indique que está vivendo ali.

32
— Glasbury, garanto-lhe que ela está em Nápoles, mas se não estivesse, o que importa para você?
— Ela é minha esposa.
— De nome.
— Pela lei.
— Na verdade, não é sua esposa há mais de uma década.
— A lei é a única verdade que importa, como Hampton aqui pode explicar a você. Estou farto de
seus caprichos sobre o assunto.
— O que se supõe que isso significa? – perguntou-lhe Dante. — Tem planos para mudar a
realidade legal divorciando-se dela?
— Na verdade não. Eu decidi que nosso longo afastamento já não é mais aceitável. Laclere, exijo
que você a entregue.
Os olhos de Laclere refletiam surpresa. Julián pode ver com consternação que depois de todos
esses anos, o conde queria Penélope de volta.
— Não posso devolver o que não tenho.
— Se você está escondendo-a…
— Minha casa sempre estará aberta para ela e quando a visita não tem por que esconder-se. Mas
ela não está nessa casa, em Laclere Park, ou mesmo na Inglaterra.
— Eu exijo que prove. O homem na porta, o senhor Lovejoy é um inspetor da
da Polícia Metropolitana. Ele irá verificar essa casa, para ver se minha esposa está aqui.
— O inferno que vai,— disse Dante.
Laclere nivelou um olhar penetrante no senhor Lovejoy.— Trouxe a policia para minha
casa, Glasbury?
— Era necessário.
— Duvido que o Sr. Lovejoy está de acordo. Você não está procurando um criminoso. Um inspetor
da autoridade em uma situação ambígua, nas melhor das hipóteses. Não é mesmo, Hampton?
Julián se colocou em uma atitude profissional mais severa.
— Mais que ambígua. Suponho, senhor Lovejoy, que o superintendente é consciente de suas
intenções?
O senhor Lovejoy murmurou algo, sem se comprometer.

33
— Em qualquer caso, a palavra de um cavalheiro como Laclere é bom o suficientemente para a
policia, não é assim senhor?
Outro murmúrio foi acompanhado por um gesto vago.
— Não. Que se resolva agora – Disse Laclere, secamente.
Lovejoy, reconheceu a destituição quando o ouviu e se retirou do escritório.
Glasbury estava com o rosto vermelho.
— Quando eu descobrir que você está mentindo, eu ...
— Tenha cuidado Glasbury. A voz de Laclere se tornou feroz.— O insulto de trazer Lovejoy até aqui
não se justifica e não levo bem as acusações, de que sou um mentiroso.
O conde se virou para incluir Dante e Charlotte em seu pronunciamento final.
— Se algum de vocês a receber, não se esqueçam de mim. Se souber, que ela está vivendo em
qualquer uma de suas propriedades, farei lamentarem por terem interferido. Não tenham dúvidas, que
vou usar toda a força de meus direitos e minha influência sobre esse assunto.
Ele saiu do escritório.
— Vergil, temos que fazer alguma coisa,— disse Charlotte, com uma expressão mal recuperada do
choque.
— Pelo amor de Deus, espera de verdade obrigá-la a voltar.
— É pelo herdeiro,— disse Dante.
— Tem que ser, porque já tem quarenta e cinco anos. Como está sem filho, não tem como
consegui-lo com uma esposa que o deixou. Sempre achei estranho, ele a deixar ir antes de lhe dar um filho.

Laclere lançou um olhar a Julián.


— Sim, bom, acho que ele teve suas razões para tanta generosidade.
Charlotte não perdeu o tema levantado.
— Sabe quais foram essas razões, senhor Hampton?. Você negociou a separação. Foi um acordo
particular e você era o mediador.
Isso, atraiu também, a atenção espectadora de Dante nele. Julián tentou usar seu silêncio habitual,
mas suas expressões indicavam que não iria funcionar dessa vez.
— Senhora, fiz o que sua irmã me disse que fizesse. Tivemos sorte que o conde viu a retidão de
suas preferências e não a obrigou a permanecer em sua casa.

34
— OH, não venha com essa atitude de advogado para nós agora Hampton,— disse Dante.
– Você conseguiu uma atribuição e a sua liberdade. Existiu um fato de peso, pela qual o conde
concordou. O que foi?
Julián se negou a responder.
Charlotte lhe deu um olhar crítico.
— Bom, se você tiver alguma comunicação com a minha irmã, por favor diga a ela que é bem-vinda
em minha casa, e que Glasbury pode fazer o que quiser. Esse sapo não me assusta. Se trouxer o Sr. Lovejoy
em minha casa, direi aos criados para que joguem ambos para fora.
Partindo como um guarda do palácio, com a sombrinha como se fosse uma bengala, foi para a
porta.
— Se não tiver ido quando eu sair na rua, penso em lhe dizer eu mesmo. Homem insuportável.
O escritório ecoou suas palavras, pulsando com o oco do silêncio.
Dante riu.
— Parece que fui eclipsado por Charlotte. Sobra-me apenas repetir suas palavras. Hampton, se Pen
escrever para você, lhe diga que estará a salvo conosco. Glasbury necessitará de um exército para tirá-la.
Dante se despediu. Julián começou a segui-lo.
— Ainda não,— disse Laclere, parando-o.
Laclere continuava sentado na mesa, seu olhar em uma pena de escrever que manejava
distraidamente. Julián esperou, contando com sua amizade para economizá-lo de um interrogatório que
seria muito difícil.
— Não perdi o olhar que Glasbury deu à você quando entrou,— disse Laclere.
— Tampouco eu.
— Ela não está mais em Nápoles, não é verdade?
Julián não respondeu.
Laclere se encostou-se a sua cadeira.
— Você me disse anos atrás, que conseguiu a liberdade de Pen porque tinha grandes segredos,
mais que a maioria dos homens. Segredos que, suponho, não queira expor se ele ou ela procuravam o
divórcio.
— Eu disse isso? Que indiscreto de minha parte.

35
— Parece que os anos entorpeceram seu apreço, pela consideração de minha irmã por sua
reputação.
— Parece que alguma coisa aconteceu.

— Entretanto, você ficou em silêncio, enquanto ele esteve aqui. Não apontou que ela tem essas
cartas.
— Trato de não ameaçar os homens quando há testemunhas presentes.
— Espero que você encontre uma maneira particular, para lembrá-lo o custo que ele terá, quando o
mundo souber que Pen sabe dele.
— Penso fazer isso muito em breve.
Julián começou a sair, para poder atender a esse assunto imediatamente.
A voz de Laclere lhe chamou na porta.
— Se tiver qualquer contato com minha irmã, por favor, lhe diga que sempre estarei aqui para
ela. Todos estamos. Que não se preocupe e que nos importa um pepino as ameaças de Glasbury. Deixe-a
saber que o conde realmente precisará de um exército para tirá-la de nós.
— Estou certo que ela sabe de tudo isso.
Laclere o olhou. Em uma pausa que se prolongava em um silêncio eloquente. Julián esperava que
nada acontecesse entre eles, por não dizer o que sabia.
— Julián, se por alguma razão, minha irmã não pode ou não quer recorrer por nossa ajuda, confio
que você fará tudo o que pode por ela.
— Eu sempre farei Vergil.
A casa do senhor Hampton estava demonstrando ser um santuário muito confortável. Penélope
não se importava com sua reclusão. A senhora Tuttle garantiu sua comodidade pela manhã e depois,
aparecia mais ou menos a cada hora para perguntar se precisava de alguma coisa. Além de alguns livros da
biblioteca, Pen não pediu mais nada.
Seus baús haviam chegado durante a noite e ela deu um pequeno destinado a suas cartas e
documentos.
Sentada perto da janela que dava para um bonito jardim, estudou um documento longo que
chegou a Nápoles antes de ir embora.

36
Era para ser um panfleto criticando a situação jurídica das mulheres casadas. Ela e várias outras
mulheres, haviam contribuído com esse trabalho durante o último ano. Agora, com a recente aprovação do
projeto de lei para acabar com a escravidão nas colônias, havia chegado o momento, de pressionarem seus
pleitos. O país e o parlamento estavam em um estado de ânimo propício as reformas. Era o momento
da emancipação dos últimos humanos, que eram pouco mais que bens e imóveis em terras britânicas.
As mulheres casadas.
Lia atentamente esse projeto mais recente, escrevendo algumas mudanças. Precisariam esperar até
o próximo ano, antes de publicá-lo. Elas queriam que o país terminasse de digerir o recente projeto de
lei contra a escravidão, antes de considerar essa nova proposta, por isso, tinha a intenção de retornar no
final do outono e ficar atenta a sua elaboração final. Agora, poderia garantir a realização mais
rapidamente.
A não ser que tivesse que fugir do país, obviamente. Esperava que o Sr. Hampton estivesse certo e
que isso não fosse necessário. Ela estava ansiosa para ver concluído este projeto. Seu nome como
autora lhe daria peso. Também seria a única coisa que fez em sua vida, que valeria a pena.
Uma batida na porta na parte tarde, a distraiu de seu trabalho. Ela guardou o documento e abriu
a porta para encontrar o Sr. Hampton.
— Tem notícias? perguntou ela.
— Sim. Posso entrar?
— Desculpe, mas não podemos ir a biblioteca ou a sala de estar para termos nossa conversa?
— Não, não podemos.
Ela permitiu sua entrada e se sentaram em duas cadeiras estampadas na cor verde, perto da janela.
Ele parecia indiferente, ao local onde se desenvolveria essa conversa, mas ela não podia
ignorar completamente, que estava em seu quarto com a porta fechada.
Ele estava de costas para sua cama, mas ela podia ver claramente atrás dele, brilhante e
arejada com suas cortinas de flores. Havia dormido nessa cama na noite anterior e agora este
homem estava aqui. Era uma reação tola, mas assim que se lembrou da sensação de sua mão na sua na
última noite. A vitalidade que ela sentiu, quando ele beijou sua mão através da luva, voltou e dançou
dentro dela.
— Noticias? Obrigou a si mesma a olhar para ele e não só ver cama. O que provocou algumas
curiosidades alarmantes sobre o senhor Hampton, de como faria amor, ou se não fazia em absoluto.

37
Fazer isso com quem? E se não, era uma lástima, porque ela não podia negar que havia algo
interessante, sobre seu lado escuro e seu misterioso silêncio e…
— Glasbury visitou Laclere, disse ele, interrompendo sua repentina especulação sobre como seria
sem camisa.
— Também fez com que Dante e a baronesa viúva de Mardenford estivessem presentes. Ele exigiu
saber qual deles a tem como convidada. Se atreveu a forçar, em procurá-la na casa de Laclere.
— Vergil deve ter estado a ponto de jogá-lo para fora. E a pobre Charlotte. Foi muito desprezível de
sua parte tentar intimidá-la.
— Acho que Lady Mardenford está bem equipada para lidar com o conde, milady. Teve sorte
de que ela não o intimidasse, mas literalmente com sua sombrinha.
Ela riu imaginando isso.
— Viu, eu estava certa. Assim, eles não precisam mentir por mim, porque não sabem que estou
na Inglaterra.
— Isso é certo. Eles não precisam mentir.
— Sério?
— Não chegará a isso.
— Mas chegará, quando o conde souber que estou aqui. Finalmente, se perguntará onde me
encontrar.
— Como sue advogado, não tenho nenhuma obrigação de responder. Justamente o contrário.
Seu tom de voz fez seu coração pesar. Ele parecia muito sério. Muito sério e pensativo.
A cama desapareceu, assim como seus pensamentos tolos, sem sentido.
— Ele me encontrará. Se foi tão ousado para tentar procurar-me na casa de meu irmão, não se
renderá facilmente. Mesmo se eu me esconder para sempre nesse quarto, eventualmente saberá
que estou aqui.
— Eu procurei-o para lembrá-lo de algumas coisas que parece ter esquecido. Bom, ou não estava
em casa ou não quis me receber. No entanto, vou conversar com ele em breve. Isso vai colocar fim em sua
busca.
— Não vai fazer diferença. Já se esqueceu de tudo. Ele simplesmente não se preocupa mais por sua
exposição.

38
Ela se levantou bruscamente e virou-se para a janela. Percorreu pelo espaço abaixo, apesar de sua
cabeça saber que era jardim particular, que não implicava em nenhum perigo para ela. As lembranças
voltaram com força em sua cabeça. Os feios e antigos pensamentos, que havia aprendido há muito tempo
a negar. Cenas explícitas que mostravam a queda na degradação, em que havia vivido nos primeiros
anos de seu casamento. Ela foi tão ignorante, que sequer sabia que não era normal, mesmo que a
chocassem. Depois, o conde foi longe demais e percebeu o inferno que havia negociado. Mas, não foi o
prazer que o conde obtinha com a perversidade, o motivo que a fez conseguir sua liberdade.
Quando recorreu ao senhor Hampton para procurar seu conselho, ele fez várias perguntas que
revelaram grandes segredos, mais imperdoáveis que qualquer coisa que Glasbury fizesse com sua esposa.
O senhor Hampton ficou tão enigmático nessa reunião. Ela se dirigiu a ele, porque era um velho
amigo da família, porque sabia das leis e porque se ela confiasse a seus irmãos, um deles poderia ter
matado Anthony. O senhor Hampton foi tudo o que ela esperava, firme, sóbrio e carente de emoções, mas
ela não tinha deixado de perceber o fogo em seus olhos, que falava de seu desgosto sobre o que ouviu.
Felizmente, ele compreendeu a importância de seu testemunho, de maneira que ela não
conhecia. Suspeitava que ele tinha usado implacavelmente, essa informação para conseguir sua liberdade.
Agora sentia que essa liberdade estava escapando de suas mãos. O conde a queria de volta e dessa
vez, não haveria escapatória. Ela estaria a sua mercê e a raiva contida por anos, usará contra ela.
Ela começou a tremer por dentro. O tremor afetava sua alma, seu coração e com o tempo seu
corpo. Ela estava tão debilitada, que sua calma se rompeu.
Virou-se para que o senhor Hampton não visse suas lágrimas. Ela tinha dado ao pobre homem
problemas suficientes, sem esperar que também tivesse que lidar com isso. Ela lutou para acalmar o
pânico que ameaçava com deixá-la histérica.
De repente o sentiu de pé atrás dela. Podia sentir seu calor. Sua proximidade a distraiu o suficiente,
para que suas emoções não se apoderassem dela totalmente. Suas mãos posaram em seus ombros. Devia
ficar assombrada por isso, entretanto saboreou sua força e a forma em que a segurou.
Ela virou para olhá-lo no rosto. Ele apenas tocou seu rosto, mas daria no mesmo, ele inclinou sua
cabeça para cima para vê-la diretamente nos olhos.
— Disse que não vou permitir que o conde a leve de volta a força, querida senhora.
A expressão de seu rosto havia a hipnotizado. Enquanto olhava para baixo, fez sua promessa e por
um momento, viu a jovem que conheceu anos atrás. O garoto que tinha brincado com eles, estava falando

39
com a garota que ela foi antes. Ambos perderam-se no mundo quando amadureceram, assim como a
amizade fácil.
Agora, por um breve momento, tudo estava ali de novo e as razões para que ela confiasse nele,
estavam vivas entre eles.
A compreensão disso a comoveu tanto, que não pôde conter sua emoção. Fechou os olhos, mas as
lágrimas caíram de qualquer maneira, serpenteando por suas faces.
De repente, ela estava dentro de seu abraço reconfortante. Ela deu boas-vindas a essa
intimidade. Eram velhos amigos, depois de tudo.
Era uma sensação maravilhosa, que sentia. Seus braços a tranquilizaram tanto como suas palavras.
— O conde advertiu sua família. É bem possível que ele, por sua vez centre sua atenção em
mim. Você não estará a salvo aqui. Acho que seria melhor você sair de Londres— disse, enquanto se
aconchegava nele e ela via seu apoio e seu calor.
— Tenho uma propriedade na costa de Essex e quero levá-la cedo amanhã. Está isolada, mas tenho
que lhe advertir que é também bastante rústica. Por um dia ou dois, vai estar sozinha, até que eu possa
fazer outros arranjos. Você acha que pode fazer isso, ficar sem criados e sem comodidades?
Ela assentiu com a cabeça. Era capaz de suportar qualquer coisa, que significasse não viver sentindo
o conde atrás de cada um de seus movimentos.
Ela encontrou seus olhos e foi totalmente consciente de seus corpos tocando-se. Ficou ruborizada
e deu um passo para trás, fora de seus braços.
Ele não ficou desconcertado por isso, mas o senhor Hampton nunca ficava.
— Tenho que ficar em meu escritório por algumas horas. Eu despertarei antes do amanhecer, para
que possamos isso sair. Tudo bem, senhora?
— Sim, senhor Hampton. Estou de acordo.

CAPÍTULO 05

40
Rústica era a palavra adequada para descrever muito bem a casa de campo. A frente tinha uma
elevação baixa de terra, Julián conduziu a carruagem para uma pequena casa de pedra isolada. Nada mais
que o céu estava atrás dela e só algumas dependências e o som das ondas a cercavam.
Saíram de Russell Square em silêncio, na escura hora da manhã, muito antes que os criados de
Julián despertassem. Inclusive, à senhora Tuttle ou Batkin sabiam para onde eles foram.
— Você é proprietário desta casa— perguntou, enquanto a ajudava a descer da carruagem.
— Comprei-a faz alguns anos quando me estabeleci pela primeira vez.
— Procurou um refúgio da sua vida na cidade e das obrigações sociais?
— Eu só pensava nela como uma casa na costa. Sempre gostei do mar.
— Talvez, o leve no sangue. Afinal, um de seus tios foi um oficial da marinha e inclusive, chegou a
pensar em uma carreira para você mesmo. Alguma vez se arrependeu de não ter feito?
— Eu não gosto de pensar no passado. É muito inútil. As poucas coisas que faço no porto não têm
nada a ver com meu trabalho.
A casa era simples, mas atraente. Uma sala de estar e uma pequena biblioteca, fortemente
equipada de frente para o mar, entraram através de um jardim pela porta da cozinha. Uma pequena sala
de jantar e um dormitório completavam o restante do andar térreo.
Enquanto Julián voltava trazendo algumas das coisas que ela havia levado, ela caminhou pelas salas
com teto com vigas de madeira e paredes de gesso brancas. Os móveis eram simples e de bom gosto.
— É muito encantadora, chamou-o quando ouviu seus passos na cozinha. – Trouxe alguma vez os
criados aqui?
— Não.
— Nem sequer Batkin?
— Nem sequer Batkin.
Ele então ficou em silêncio. Só o som do mar e o vento se escutavam. A casa não estava fechada,
por isso, não tinha vindo aqui somente no verão. Não seria surpresa se soubesse que ele viajava até aqui
deliberadamente, quando alguma tormenta estava gerando, para assim experimentar a natureza em sua
máxima expressão primitiva.
Refez os passos até a sala onde o senhor Hampton acendia o fogo na lareira. Enquanto o observava,
ela considera por que ele sentia tanta atração por essa casa.

41
Essa atração vinha do passado. Lembrou-se de um verão, em que estava de visita a Laclere Park e
uma terrível tormenta aconteceu. Ela o encontrou na biblioteca de frente à janela, observando-a quase
em transe. Ele abruptamente a tinha deixado ali e depois o viu caminhar sob a tormenta como se a
emoção daquela fúria, o tivesse atraído sobre si mesmo.
— Isso deve isolar a dos efeitos da umidade,— disse, tirando o pó de suas mãos, enquanto se
levantava do lado da lareira.
— Vou fazer um na cozinha também e no dormitório, depois que você escolher o que prefere.
Deseja dormir aqui embaixo, ou acima? Os aposentos de cima são muito melhores.
— Eu esperava descarregar, não escolher aposentos. Vou subir e ver qual é mais cômodo.
— Vou acender o fogo na cozinha, enquanto você faz isso.
Ela subiu as escadas estreitas e encontrou três dormitórios. O que ficava de frente para o mar era
bastante grande e ela imaginou que deveria ser do senhor Hampton. Os outros dois ficavam na parte de
trás da casa e davam para uma pequena horta escondida dentro de seu muro de pedra.
Parou em um deles, examinando sua colcha limpa e cortinas brancas simples e o armário de pinho.
Era um dormitório para uma mulher.
Havia algo nele, um refinamento sutil, que o definia como feminino.
Ou talvez fosse o perfume do quarto o que lhe fez supor isso.
Ela sentiu seu rosto corar. Claro. Que estúpida era ela. Existia outra razão muito boa, para que um
homem da cidade tivesse um refúgio isolado, não muito longe de Londres. Um muito prático. E uma
excelente razão, para também não ter criados aqui.
Ela não sabia muito sobre o senhor Hampton, no que se referia a mulheres, salvo que havia muitas
especulações a respeito dele e muitas paqueras improdutivas, dos quais nunca pareceu perceber.
Parecia que as paqueras não tinham sido em vão depois de tudo. Pelo visto, tinha sido a discrição,
não a abstinência, o que manteve essa parte de sua vida oculta do mundo.
Ela passeava pelo dormitório e se perguntou, que mulheres teriam visitado esta casa e se conhecia
alguma delas.
Possivelmente, na atualidade havia uma senhora que usasse este quarto e o considerava seu.
— Você quer ficar aqui?

42
O Sr. Hampton ficou na soleira com seu grande baú em seus braços. Em seu pensamento, viu ele
entrar neste quarto para um propósito diferente. Era uma imagem emocionante e perigosa, uma imagem
alarmantemente e fácil se desenhou em sua cabeça. Seu coração subiu à garganta.
Quando ela não respondeu ele foi para dentro e colocou seu baú no piso perto do armário.
— Talvez não,— disse ela.
Ele se agachou para levantar o baú novamente.
— O quarto com vista para o mar é muito mais cômodo.— disse ele.
— Sim. Quero dizer, não. Esse é o seu, não é?
— Quando estou aqui sim, mas não vou estar, por isso pode ficar nele. Vai gostar. Você pode ouvir
as ondas claramente a noite, é como se estivesse dormindo sobre elas.
— Não acredito que ficaria cômoda em seu quarto, senhor Hampton.
— Como você preferir.— Colocou de novo seu baú no chão.
— Na verdade, estava pensando no quarto ao lado que é menor. Eu estaria mais cômoda ali.
Ele começou a recolher o baú, mas parou. Ele se endireitou.
— Por que é mais cômodo do que este?
— Acho muito encantador e acolhedor.
Uma profunda compreensão, piscou em seus olhos. Ele compreendeu as conclusões que ela havia
chegado. Era sua imaginação ou via um pequeno esboço de um sorriso neles, como se tivesse descoberto
algo divertido?
— Eu preferiria que usasse esse aposento, tem mais encanto que o menor.
Foi para a porta, deixando o baú onde estava.
– Você pode ver o caminho por esta janela. Quando estiver sozinha, pode achar reconfortante ser
capaz de ver que ninguém se aproxima.
Julián trouxe também seu pequeno baú e um pouco de água, deixou Penélope sozinha para que
pudesse se refrescar.
Julián se aproximou da sala de estar e olhou pela porta, do pequeno terraço de pedra que dava
para o mar.
O dia não estava frio, mas a forte brisa levava o vento salgado. Que soprou ao seu redor, fazendo
eco da energia das ondas do mar.

43
Ele amava a forma, que o som do ritmo do mar tirava os pensamentos de sua cabeça e provocava
um profundo conhecimento de si mesmo. Essas reflexões nem sempre continham palavras, mas as
conclusões surgiam da mesma forma. Não só pensava em Penélope quando visitava esta casa. De fato,
quase nunca fazia, embora ela jamais ter ficado ausente de sua alma. Provavelmente, pensaria nela
durante todo tempo a partir de agora, desde que ela caminhou de verdade por estes pisos e que depois
que apareceu neste terraço.
Ele imaginou à mulher no quarto acima, estabelecendo-se no dormitório onde tinha chegado à
conclusão, que era utilizado por suas amantes.
Não podia decidir se queria sentir sua eterna presença, neste canto de sua vida ou não.
O dia estava claro e podia ver muito longe ao sul, onde os mastros dos navios que se dirigiam pelo
Tamisa apareciam no céu. Ele esteve a bordo de navios, para saber se teria desfrutado de uma vida no
mar. Mas ele quis dizer o que falou para Pen. Não tinha remorsos, sobre o caminho que havia escolhido em
seu lugar.
Havia presumido isso, mesmo que isso significasse transformar-se em um advogado. Seu pai foi um
cavalheiro pobre, mas um cavalheiro de todas as formas e os filhos dos cavalheiros que ingressavam na lei,
presumisse que se transformassem em procuradores (advogados). Os procuradores não trabalhavam por
dinheiro, embora de forma indireta faziam realmente. Embora, o mundo permitisse essa pequena mentira,
assim os procuradores fingiam não manchar as mãos com o comércio. Os advogados, no entanto, eram
pagos diretamente e isso marcava a diferença para a maioria das pessoas.
Essa escolha tinha significado uma existência mais segura e suspeitava, que uma mais
interessante. Os procuradores entravam levianamente na vida de uma pessoa, depois saíam. Os advogados
ficavam ao lado de seus clientes até o dia que morressem.
O não teria sido útil absolutamente para Penélope, se não tivesse se transformado em um
advogado.
Sua mãe teve alguma ideia sobre o que poderia acontecer? Seria por isso, que lady Laclere o tinha
levado a um lado, no dia em que ele completou quinze anos para lhe propor esse rumo para sua vida?
Ela então, pediu a seu marido que pagasse sua matrícula universitária por dois anos e depois
conseguisse uma colocação como estagiário nas câmaras de seu antigo advogado.
Ela tinha falado nesse dia, devido sua preocupação com seu filho mais velho Milton e, sua
necessidade de um bom conselheiro, uma influência prática quando assumisse o título. Mas então, ela já

44
estava encaminhando sua atraente filha para o conde de Glasbury. Julián sempre se perguntou, se ela
suspeitava que sua filha também necessitaria de seu conselho nos anos seguintes.
Se fosse assim, casar Pen com Glasbury teria sido imperdoável.
— Quer comer antes de sair? Eu servirei alguns dos alimentos que trouxe para mim. Ele voltou-se
para ouvir a voz de Pen.
Ele estava na porta. Por um instante viu a menina – a mulher que teve a primeira temporada,
correndo para ele em outro terraço, emocionada por seu recente compromisso com um grande conde. Ela
ficou tão feliz, tão cheia de sorrisos brilhantes, que teve que sorrir com ela, apesar de ter sido o dia mais
solitário de sua vida.
Parecia ainda mais bonita hoje. Seu coque simples no cabelo, a fazia parecer mais jovem. Suas
curvas inclusive, pareciam as de uma garota inocente.
Voltou para a casa. Pen tinha colocado um pouco de presunto, queijo e pão sobre a pequena mesa
perto da sala que dava para a janela.
— Pensei que poderíamos ver o mar daqui, a sala de jantar na parte de trás é escura, disse.
Sentaram ambos ao lado da mesa. Julián sentiu a distração e o desconforto nela. — Ficará
bem aqui sozinha nessa noite?— perguntou-lhe.
— Claro. Eu sou uma mulher adulta. Não necessito de atenção como uma menina.
Seu tom era quase um desafio. Não era capaz de imaginar a resposta que esperava, assim não disse
nada.
— Estou achando que não foi prudente vir aqui. Eu deveria ter procurado outra solução, disse.
— Você precisava de um santuário.
— Não acho que esta casa deveria ser este santuário.
— Por que não?
— Estou preocupada com sua reputação. Se isso cair ao conhecimento, irão supor que sou sua
amante. Glasbury pensará isso e o arruinará.
Ela estava mentindo. Oh, claro que se preocupava realmente com ele, mas não era a razão deste
mau humor e dessa resistência agora.
— Entretanto,— continuou,— considerando as possíveis consequências de vir aqui me fez perceber
que tenho outra opção, no que respeita ao conde, além de fugir.
— Qual seria?

45
— Posso ter uma aventura e ser muito indiscreta. Acho então, que se divorciará. Poderia funcionar,
não acha? Ele sempre disse, que se eu fizesse isso nosso acordo acabaria, mas já que está tentando acabar
com ele de todas as formas…
— Você está bem? Percebo algo estranho. Você está sufocando ou…
— Estou bem.
— O que você acha? Funcionaria?
Tentou chamar seu desinteresse profissional.
— Eu acredito que seria induzi-lo a que se divorcie de você. Ter uma aventura que poderia pôr em
perigo a sucessão de seu título e o também o humilharia.
— Você acha que ele iria ao Parlamento? Eu gostaria de nada menos que minha total liberdade.
— Ele desejará voltar a casar-se e ter seu herdeiro, por isso iria ao Parlamento.
— Isso poderia funcionar. Não acha?
— É uma solução ao seu dilema. Eu o teria proposto anos atrás, se você tivesse mais idade e tivesse
sido menos meticulosa em sua honestidade.
Ela deixou de comer. Deixou o garfo.
— Você contemplou então essa possibilidade, que eu lhe desse provas de adultério para poder
divorciar-se de mim?
— Sim.
Suas pálpebras baixaram.
— Não foi só minha juventude e a honestidade o que o mantiveram em silêncio, acredito. Seu tom
definitivamente era uma provocação nesta ocasião.
— Você pensou que eu nunca seria capaz de fazer isso, não é? Por isso, nunca me expôs essa
opção.
— Você não queria divorciar-se dele usando o que conhecia dele, por isso julguei que não queria
um escândalo.
— Não só o escândalo, mas também o custo de ir ao Parlamento. As finanças de minha família não
podiam me apoiar nisso.
— Você poderia ter ido aos tribunais da igreja. Não precisava ser o Parlamento.

46
— A igreja era uma meia medida, e eu me salvei da humilhação e no final obteria o mesmo acordo,
que você sugeriu negociar. Melhor ainda, já que recebi algum apoio e não fui uma carga para minha
família.
— Não são os mesmos termos, senhora. Se tivesse ido à igreja, poderia estar divorciada agora e o
conde não poderia tocá-la.
Seu tom era firme, estaria condenada se aceitasse a responsabilidade da derrota, pelo curso das
decisões que ela havia tomado.
Ele a tinha aconselhado a pôr fim ao casamento. Esteve malditamente perto de lhe suplicar que o
fizesse.
O olhar dela caiu em seu colo e a atmosfera ficou pesada. Quando levantou o olhar novamente,
seus olhos tinham uma expressão de determinação.
— De todos os modos, esta opção de dar uma razão ao conde para divorciar-se de mim, não estava
dentro dos que enumerou naquele dia em seu escritório. Eu sei a verdadeira razão, e não é nenhuma das
que você admite.
— Asseguro a você que…
— Você concluiu que eu não poderia suportar estar com um homem, depois do que aconteceu
com Glasbury, você supôs que eu estava arruinada para sempre dessas intimidades.
Ela ruborizou profundamente. Ficou espantada por poder falar de assuntos tão delicados, quase
como estava surpresa por ouvir semelhante acusação.
Ela fingiu voltar a atenção para sua comida. Sua formação lhe impedia de dar uma resposta.
Menos mal, porque a réplica em sua cabeça, não era própria do tipo medido e profissional, que se
esperaria de seu velho amigo e advogado.
— Você aconselha o divórcio agora? Se divorciar-se dele significa fazer com que ele se divorcie de
mim— perguntou ela.
— Se não puder dissuadir ele de sua intenção, pode ser que seja a única opção.
— Eu vejo outras. Poderia partir para longe como pretendia desde o princípio.
— Ofuscando sua vida adulta como faz no momento. Vai dar a ele a vitória da destruição de seu
futuro?
— Eu ouvi dizer que a América é muito agradável. Viver ali não será minha destruição.

47
— Para desaparecer, terá que ir para dentro da fronteira, isso comparativamente verá uma
cabana como um Palácio. -
— Acho que você exagera. Suspirou.
— Bom, essas são todas as opções, suponho. A exceção de matá-lo, mas isso jamais faria é obvio.
Julián não disse nada.
Ele se levantou.
— Não há necessidade de tomar nenhuma decisão, até eu falar com Glasbury. Vou embora agora,
se estiver segura de que pode administrar-se por sua conta. Tenho compromissos em Londres que não
posso fugir, e além disso, pode aumentar a curiosidade deles. Entretanto, a visitarei amanhã.
— É uma viagem muita longa para fazer a cavalo, senhor Hampton. Não é necessário que viaje até
aqui todos os dias. Criará muitos inconvenientes para você. Inclusive a cavalo, levará muitas horas de ida e
volta.
— Voltarei amanhã pela tarde, senhora.
Ela o acompanhou à cozinha e saiu no jardim com ele. Não gostava de sair e deixá-la isolada e
sozinha. Não lhe importava a solidão e com frequência a buscava, mas sabia que isso era incomum.
Ela percebeu sua vacilação.
— Vou ficar bem. Agradeço por fazer isso para mim. Por ajudar. Tenho medo de ter soado muito
ingrata, enquanto conversávamos. Não sou e quero que saiba.
— Até manhã.
Aproximou-se da carruagem com sua acusação ainda na cabeça.
Ao invés de entrar, virou-se e voltou para onde ela estava.
— Nunca pensei que você estivesse arruinada. Nesse dia, vi que estava assustada, triste e chocada.
Sugerir que tivesse um romance naquele momento, teria sido inapropriado e sobre tudo insensível e cruel
de minha parte. Mas nunca pensei, que estivesse arruinada para sempre.
Ele virou para a porta.
— Bem, eu achei que seria assim, mesmo você não fazendo isso.

48
CAPÍTULO 06

Penélope estava lendo uma história dos antigos etruscos na biblioteca, depois que o senhor
Hampton foi embora. Quando o sol se moveu o suficiente para deixar em seu lugar a sombra, colocou de
lado seu livro e o debate sobre como preencher a solidão diante dela.
A tentação de procurar alguma evidência nesta casa da amante do senhor Hampton era muito
grande.
Sentia um desconforto estranho por dentro, queimando lentamente cada vez que olhava o
dormitório feminino acima. Sabia que era estúpido de sua parte. Era uma tolice supor, que sua vida estava
em branco nas áreas das quais não sabia nada. Se fosse assim, teriam sido meses e anos de abstinência,
quando ele não fazia mais que exercer a advocacia, participar das festas dos clientes e de vez em quando,
assessorar à condessa de Glasbury.
Aproximou-se da escrivaninha da biblioteca e olhou nas gavetas que definitivamente não deveria
ter aberto.
Pelo menos, se ela soubesse que não tinha uma amante atualmente, não se sentiria tão estranha.
A ideia de que uma pessoa invisível, jantou com ele a deixou de mau humor na sala de estar. Seria uma
amante encantadora, que o Sr. Hampton jamais veria como arruinada para os homens.
Ele tinha mentido sobre isso. Ao invés disso, optou por escutar suas palavras de outra
maneira. Talvez, ele realmente não achou que ela seria incapaz de tais intimidades novamente. Mas, não
duvidava que, seus olhos refletiam que sua vida estava em ruínas, que se sentia irremediavelmente suja,
no que se referia aos homens. É claro, que cada homem de seu mundo era ignorante dos sórdidos detalhes
de sua separação, por isso, não lhes importava muito.
Exceto o senhor Hampton, que não ignorava nada em absoluto.
Ela impulsivamente abriu uma gaveta. Uma pilha de papéis estavam ali. Lutando contra a culpa,
imaginando ouvir seus passos atrás dela, levantou a tampa e desdobrou um.
Ela leu as duas primeiras linhas e rapidamente a devolveu à gaveta e a fechou imediatamente.
Era um poema de amor escrito pela mão do senhor Hampton. Um rascunho, estava cheio de
alterações, antes da versão final que certamente teria enviado.

49
Bem, isso era tudo. Definitivamente havia tido amantes. Provavelmente estaria em Londres nesse
momento com alguma delas.
Pouco a pouco, enquanto passeava pelas salas, se obrigou a pensar na escolha que discutiu
hoje. Se ela praticasse o adultério e não mostrasse nenhuma discrição, o conde divorciaria-se dela?
Sua independência foi condicionada a não ter amantes. Se o escândalo judicial, de nenhuma
maneira envergonhar a Glasbury, todo o apoio financeiro terminaria e procuraria sua volta.
Ele não disse, mas entendia, que se houvesse provas de adultério as acusações dela ao contrário
não seriam um perigo para ele.
Agora, entretanto, o conde tinha quebrado o acordo de todos os modos, por isso outro assunto só
poderia forçar sua mão.
Sentou-se na mesa e pegou uma folha de papel em branco. Ela faria uma lista dos homens que
poderiam servir para realização desse papel. Ela escreveu o primeiro nome da lista.
Colin Burcbard.
— Ele é suficientemente atraente,— disse para si mesma. Sua voz soou forte na casa vazia.
—Posso pensar que gostará da diversão de um grande escândalo, já que não se preocupa muito
com que a sociedade diz. Ele desfruta de ser renomado em correspondência criminal. Todo ano
comentavam de sua notoriedade por isso.
— Ewan McLean.
Um escocês perigoso. Bonito e cheio de atrativos, como uma fruta proibida. Nada discreto
absolutamente. Já havia realizado um divórcio e tinha algo a dizer a respeito da experiência.
Entretanto, houve rumores a respeito dos fatos acontecidos em seus aposentos em Londres.
— Pode ser que seja muito aventureiro.
Ela claramente escreveu mais alguns nomes dos homens que tinham possibilidades. Ela olhou à
última.
Archibold Abernathy.
— Sim, Archie ficaria muito feliz por essa proposta. Ele esteve insinuando constantemente cada
ano.
Só que tinha dificuldades ao imaginar-se, fazendo coisas de adultera com qualquer destes homens e
mais ainda com ele.

50
Estudou a lista de seis nomes, perguntando-se como poderia explicar o plano claramente. Teria que
ser exposto como um assunto de conveniência.
Tentou imaginar como iria propor uma coisa assim.
— Senhor, poderia estar interessado em participar de um assunto sofisticado, onde exista a
intimidade física com afeto, mas não com amor? Você não teria absolutamente, nenhuma obrigação
comigo e você seria suficiente, uma evidência de meu jogo de adultério.
Infelizmente, a mulher em sua cabeça que praticava seu discurso, era muito mais mundana que a
Condessa de Glasbury. Una mulher adúltera era uma dessas mulheres inteligentes, seguras de si mesmas,
que se penduravam em três homens ao mesmo tempo.
Suspirando, molhou a pena novamente. Um ponto pairou sobre o papel, preparado para escrever
mais nomes.
Julián Hampton.
Ela na verdade não escreveu. Sua consciência e o bom senso pararam o impulso. Então, sentiu-se
surpreendida, pela forma em que seus instintos se aguçaram considerando essa ideia.
Imaginar a si mesma com ele não era difícil em absoluto. As imagens e as sensações através de seu
vestido, o calor e a emoção que provocava. Ela na verdade, o viu olhando para ela e sentiu suas mãos
acariciando-a.
Ela se levantou bruscamente e foi procurar seu livro. Foi para longe dessa lista, na sala de jantar,
onde encontrou um pouco de luz do oeste. Situada perto da janela, ela tratou de continuar lendo sobre os
etruscos.
Mas a imagem de Julián não iria deixá-la. Ela riu de si mesma.
Pobre senhor Hampton, ter que lidar com uma mulher cujo medo e solidão traziam para ela tolas e
inadequadas especulações.
No final da tarde, Julián bateu na casa de Glasbury em Londres.
Um homem alto e negro pegou seu cartão. Julián reconheceu o criado, da peruca branca, apesar
dos anos que passaram. Seu nome é César, um nome comum para escravos das plantações Inglesas. Era
um dos criados que Glasbury importou anos atrás de suas propriedades nas Índias Ocidentais.
César retornou e o acompanhou, até onde o conde estava no salão de Glasbury.
Pouca coisa havia mudado no ambiente, já que fazia muito tempo, das muitas vezes que Julián veio
chantagear o conde para a libertar Pen. Não foi uma chantagem real, ou penal, mas o efeito tinha sido o

51
mesmo. Se a permitisse sair de sua casa, de sua cama e lhe desse um subsídio, caso contrário ela o
arruinaria.
A atribuição do conde não foi generosa, mas calculada para assegurar-se de que sentiria com as
privações de sua decisão. A separação não foi sem custo algum para Penélope de outras formas
também. No entanto, Julián sabia que inclusive, se sua queda tivesse sido completa, ela teria insistido em
afastar-se desse homem.
De cabelo grisalho bem penteado, de terno e gravata representava a perfeição, o conde estava
sentado em um sofá pequeno, que o fazia parecer maior do que realmente era. Ele ofereceu uma cadeira
próxima para Julián.
— Lamento, não poder ter recebido você da última vez aqui,— disse o conde. – Fico contente por
ter voltado.
Sorriu. Charlotte tinha chamado ele de sapo no escritório de Laclere e havia alguma coisa em sua
boca frouxa, que o lembrou de uma rã.
— Seu desempenho na casa de Laclere fez necessário que eu comparecesse. Seu desejo que a
condessa volte para sua casa me surpreendeu.
— Verdade? Eu esperava que ela confiasse muito mais em você. Afinal, ela contou-lhe tudo.
— O que me surpreende, é que você acha que uma mudança de parecer tem algum
significado. Duvido que seus sentimentos tenham se suavizado, por isso a situação continua como estava
onde ela o deixou.
— Em minha opinião, a situação mudou consideravelmente. Suficiente, para que esse
distanciamento já não seja possível.
— Você pode escrever para ela ou comunicar pessoalmente.
— Já não sei onde está, não posso. Não me diga que ela está em Nápoles, já que estou certo que
retornou a Inglaterra. Você também sabe onde está. Afinal, você é seu confidente especial. Seu criado. Seu
correio negro de chantagens. A senhora chama e você corre igual a um cachorro bem treinado. Pode ser
que não tenha contato com seus irmãos, mas sem dúvida está em contato com você.
Glasbury ficou rígido e parou perto à lareira, como se permanecendo próximo a seu interlocutor
fosse desagradável.
— Ela tinha assuntos em Nápoles. Vários assuntos. Que compromete nosso acordo, como você bem
deve saber.

52
— Você tem provas disso?
— Recebi cartas suficientes, que descrevem seus amantes para encher a adega.
— Uma mulher em companhia de um homem em uma função pública não é uma prova.
— Eu sei que ela estava jogando de puta, maldita seja, não vou permitir. É intolerável. Ela é minha
esposa. Ela me pertence.
Ali estava. Então, Glasbury queria o casamento. Via Pen como uma propriedade.
A lei atual também, infelizmente.
— Não esqueça do que ela sabe sobre você,— disse Julián.
Glasbury virou e o olhou. Um brilho perigoso passou em seus olhos.
— E o que você sabe, é obvio. Só que você não tem estômago para usá-lo, apesar de ter ameaçado
que faria. Invertendo quando o custo pesou para você.
Julián recebeu esta alusão com silêncio. Ele sabia que anos atrás, alguém tentou chantagear
Glasbury com dinheiro usando esses segredos. Glasbury acusou Julián de ser essa pessoa e reiterou suas
ameaças. Quando a chantagem parou abruptamente, tudo parecia indicar que a interpretação de Glasbury
estava correta.
Só que não foi Julián absolutamente.
— A condessa tem a vontade de usá-lo, mesmo você achando que não,— disse finalmente. Repito o
que disse, quando entrei pela primeira vez: não mudou nada.
Glasbury caminhou de volta com passo seguro. E se sentou no sofá.
— Acredito que muitas coisas mudaram. O tempo por um lado. Ela tem uma história, mas quem vai
acreditar agora? Quem vai acreditar nas fantásticas acusações de uma mulher tão vaidosa e mimada, que
quebrou seus votos de casamento e negou a seu marido, um herdeiro? Uma mulher que viaja por toda a
Europa, como se ela não tivesse deveres aqui na Inglaterra? Una mulher que espera mais de uma década,
para revelar a fonte de sua grande infelicidade? Aos olhos do mundo Hampton, os anos têm feito na sua
história de dor muito pouco acreditável. Seu comportamento, tem feito que sua veracidade seja suspeita.
Havia algo em Glasbury, enquanto explicava sua invulnerabilidade. Criava uma aura escura, até que
Julián sentiu que estava vendo a alma nua e verdadeira do homem. Não era um espetáculo agradável.
Uma visão antiga e recorrente se introduziu no canto da cabeça de Julián. Ele enfrentando
Glasbury em um campo em Hampstead, com o sol avançando por cima das copas das árvores ao

53
redor. Outro homem se unia a eles e abria uma caixa, deixando a vista duas pistolas. O silêncio reinou até
que uma voz o tirou de seus pensamentos.
— Ela jogou muito, como você sabe.
— Eu sei o suficiente para ficar aborrecido com você.
— Ah, sim. Agora posso ver derramando sua infelicidade e suas palavras acusando-me. Não há
dúvida, de que não mencionou que ela é uma sócia bem disposta, em meus jogos. Que desfrutávamos
deles.
O corpo do conde dobrou sobre si mesmo e Julián imaginou suas pernas cedendo e caindo no chão.
— Vou ter ela de volta. Glasbury cravou em Julián um olhar muito confiante.— E finalmente, me
dará o herdeiro que negou. Se eu fosse você, não ficaria em meu caminho. Derrubar Laclere requer algum
esforço, mas sua destruição vai ser fácil.
— Já fui ameaçado por homens melhores que você Glasbury, assim não espere meu suor. Se seu
objetivo é um filho, lembre que a condessa já não é uma garota. Ela já tem quase trinta anos, e seu
primeiro filho pode colocá-la em perigo nessa idade.
— Sempre e quando a criança nasça vivo, o que me importa. A resposta plana e insensível congelou
Julián.
— E se essa criança não for um menino?
— Então vou querer mais, como outros homens.
— E se não conseguir um menino? Julián não esperou uma resposta à pergunta, mas ele não podia
ignorar as respostas obvias. Ao menos a pior delas, parecia muito possível do homem no sofá.
Julián se levantou para ir embora.
— Como já disse, deve escrever para ela com uma explicação de seus planos. Talvez, olhe sua
posição de uma forma mais amável do que eu. No entanto, não assuma que a história que ela conhece de
você, não acreditem. Se trata de uma história muito sórdida e convincente, além disso, nesses tempos
muitas coisas mudaram, incluindo a tolerância da sociedade com os homens iguais a você.

O nevoeiro pairava no período da tarde. A costa se transformou em um véu, pelo tipo de clima que
a chuva anunciava.
O céu estava tão baixo que parecia fundir-se com o mar. Somente a altura das ondas pareciam
romper a suave extensão.

54
Pen se sentou na mesa e tratou de trabalhar em seu projeto. Seu olhar se manteve à deriva
olhando a lista dos possíveis amantes que tinha feito.
Por último, para distrair-se durante a tarde, trouxe seu manto azul e saiu para o terraço de pedra.
Ela olhou pela extensão infinita, sem horizonte que marca a margem do mar ou do céu. O mar
soava abafado e o vento parecia quebrar-se com a atmosfera.
Viu que uma escada de pedra levava até o penhasco da praia. Uma pequena embarcação se
balançava nos redemoinhos a vinte metros mais abaixo.
Ela desceu as escadas estreitas e caminhou rumo ao sul na areia úmida, respirou fundo tomando
um pouco de ar e fazendo exercício. Quando uma grande onda salpicou seus pés, tirou os sapatos e
continuou em seu caminho com os pés descalços.
A areia sob seus pés lembrava a Nápoles. Havia caminhado tanto na costa com o jovem Paolo.
Filho mais jovem de um conde, Paolo dedicava sua vida a compor óperas medíocres e a entreter
damas estrangeiras com seu encanto. Sentia a areia e o calor no rosto. Sentir a água fria banhando sua
pele em um glorioso contraste.
A lembrança de Paolo a fez sorrir. Ele fazia adulações frívolas e dizia palavras de amor facilmente,
que não sentia de verdade. Mas eram divertidas de escutar. Nápoles estava cheia de homens como
Paolo. Ela esteve livre de preocupações, passeando com jovens à luz do dia e gozando da felicidade que
oferecia Nápoles.
A luz do teatro. A felicidade era superficial. Ela esteve representando um papel, como o que
brincava quando era uma menina com seus irmãos e representavam um épico medieval com o Julián sobre
as ruínas de Laclere Park.
Não. As brincadeiras da infância foram mais honestas.
O fio de uma onda trouxe frio aos seus pés e ela teve que brincar de correr perto do escarpado para
evitá-la. Olhou ao seu redor e percebeu que tinha caminhado muito mais do que achava.
Seu isolamento sua consciência soava como um sino. Nenhuma outra alma podia vê-la. A casa
inclusive, não estava a vista. Outra onda anunciou a maré cheia. E havia faixas da praia que ameaçavam ser
inundadas.
Girando nos calcanhares, rapidamente se dirigiu para a cabana.

55
Esteve a ponto de não ver o homem. O dia era tão cinza e não era mais que um borrão de uma
figura, no céu nublado. Estava no caminho acima do escarpado, de costas para ela, sem mover-se como se
olhasse para algo.
A casa era a única coisa visível da costa. Era a única coisa que o homem estaria olhando de lá.
O medo a puxou de volta. Disse a si mesma, que estava sendo muito paranoica. Certo, sem dúvida,
teria que caminhar e aparecer normalmente e não como se fosse uma fugitiva também.
Finalmente, ele se mexeu. Simplesmente desapareceu.
O medo outra vez a estremeceu. Alguém que acaba de caminhar de um lugar para outro ao longo
desse caminho, não poderia desaparecer. Continuaria seu caminho.
Olhou para cima e para baixo na praia. Muito mais ao sul, podia ver as casas de um povoado de
pescadores.
Talvez, ele tivesse saído dali, mas ela não acreditava. Parecia que ele usava um casaco e não é como
um pescador gosta de se vestir.
Ela chegou mais perto das rochas que salpicavam a margem de dentro da praia, longe das ondas
por isso, qualquer pessoa que procurasse abaixo do caminho do escarpado ou da casa, não poderia vê-la.
Ela deslizou pela parede do escarpado para a casa. A cem metros da casa, tinha um
ponto. Escondida atrás dessa barreira superficial, ela olhou a seu redor e olhou para seu santuário.
Um movimento atraiu seu olhar. Na escuridão, como uma sombra movia-se ao passar na beira do
terraço. Alguém estava dentro da casa.
Seu coração pulsava tão forte, que sentiu ele em seus ouvidos. Pensamentos de pânico
derramaram em sua cabeça, em uma confusão.
Ela e Julián deveriam ter ido embora naquela manhã. Esse homem era o conde. Ele estava
procurando ela, estava certa disso. Talvez, tenha entrado na casa e visto seus baús. Talvez, agora iria
utilizar o barco para procurá-la na praia.
A água fria verteu em seus tornozelos. O impacto da sensação, restaurou alguns de seus
sentidos. Segurando a saia e as anáguas, virou-se e correu de volta pela costa, procurando
desesperadamente, um lugar para se esconder.
Ela ficou perto da superfície da rocha, rezando para que não a tivessem visto do terraço.
O vento a seu redor, trazia o frio da noite. Penetrava direito em seus ossos, com a ajuda do frio do
terror.

56
Sentia a bílis que ameaçava deixá-la doente, lançou um olhar ao longo das rochas, enquanto
corria. Duas grandes rochas se projetavam.
Ela se apertou entre elas. Envolveu em seu manto com força ao redor dela e se sentou sobre uma
cama de areia atrás delas.
Os dentes apertados e o coração pulsando com histeria terrível de um animal encurralado,
enquanto esperava ser descoberta a qualquer momento, inclusive enquanto rezava por sua salvação.
—Não é de seu agrado, acredito.
A voz suave e feminina apenas penetrava nos pensamentos de Julián. Seu corpo poderia estar nessa
reunião, mas sua cabeça estava em uma casa de campo na costa, sentada perto do fogo com Penélope.
A revelação das palavras em sua despedida, continuavam repetindo-se em sua cabeça.
Ela havia pensado que estava arruinada por culpa de Glasbury. Durante anos acreditou.
Mas isso havia mudado. Finalmente, um homem tinha ressuscitado o que o conde havia
matado. Um homem que não sabia nada, do porque tinha abandonado o conde, que não tinha escrúpulos
sobre o adultério e que achava que nada poderia colocar em risco sua independência, que não havia
nenhum escândalo em volta dela.
Por que lembrava daquele assunto agora? Lembrar do seu amante, apesar do que tinha passado?
Provavelmente, ainda amava o homem. Se ela voltasse a esse assunto, provavelmente poderia
perdoar Witherby.
— A senhora Morrison. Não foi de seu agrado?— Diane St. John repetiu.
Ele virou-se para sua anfitriã. Tinha cabelos castanhos abundantes, olhos quentes e sentimentais,
possuía uma espécie de delicada beleza que se tornou mais interessante com os anos. Sua graça natural
conquistava o tempo, não importava como seu rosto fosse na batalha contra o mesmo.
Normalmente, ficava contente por participar das reuniões dos St. Johns. Nesta entretanto,
transformou-se em um fardo. Se não fizessem perguntas mais tarde, teria se desculpado e não participaria.
— Ela é muito bonita e encantadora,— disse Julián. Lady Morrison estava próxima. Sua boca se
mantém em movimento.
— Foi sua escolha, ou tenho que agradecer à lady Laclere pela apresentação?
Diane voltou a sorrir.— Eu disse que você reconheceria o jogo rapidamente. Fomos tão óbvias?
— Cheguei à conclusão, há um mês que certas damas dirigiram sua atenção à procura de uma
esposa para mim.

57
— Não necessariamente uma esposa. Existe certa preocupação de que possa estar sozinho, isso é
tudo.
Não, não era necessariamente uma esposa. Olhou para um canto da sala, onde lady Pérez estava
sentada em um sofá, rodeada de homens que riam e se abatiam sobre ela. Duas vezes lhe tinha chamado a
atenção e jogou um olhar longo e quente.
Ele não acreditava, que o tinha incluído essa noite em sua causa. Sua personalidade vivaz tinha
assegurado muitos convites, porque animava qualquer um nas reuniões. Havia causado sensação na
sociedade e pelo começo da temporada, sem dúvida, seria um acessório inclusive, da maioria das festas da
alta sociedade.
Diane percebeu sua atenção.— Daniel não acredita que ela seja da Venezuela,— confiou-lhe
secretamente. – Ele diz que seu sotaque é muito diferente do senhor Pérez. Ele acha que talvez, ela seja da
Guyana.
— Desde que seu marido passou algum tempo nessa zona do mundo, ele deve estar certo.
— Ainda assim, não está convencido de que ela seja a esposa oficial de Raúl Pérez. Que não
acredita que o senhor Pérez, permita sua mulher paquerar com essa liberdade, como tem feito. Além
disso, é óbvio que tem um pouco de ascendência europeia. Raúl é filho da elite crioula e muito meticuloso
com a linhagem de sangue de sua legítima ascendência.
— Uma amante?
— É possível. O que você acha? Está correto meu marido?
— Acredito, que as festas em Londres prometem ser muito teatral nos próximos meses se ela for,
mas acho que os dramas reais serão disputados em privado.
O olhar de Diana fez uma exploração lenta, como anfitriã do salão, para assegurar-se de que ela
não fosse necessária.
— É muito indiscreto que, nos perguntemos a respeito de sua felicidade e também por tentarmos
exercer influência?
— Sinto-me honrado. Se não cooperar, não é por falta de compreensão de sua bondade. Não
desejo procurar uma esposa, mas estou agradecido por ter tão bons amigos.
— Disse a Bianca e a Sofía que eu não acreditava que cooperaria,— confiou.— Eu disse que acho
que é um homem, que espera algo diferente do que possamos organizar.

58
Julián não tinha ideia de como responder a isso, assim não disse nada. Tampouco fez a proprietária
da casa. Ela ficou perto dele, entretanto, esperou um tempo para continuar a conversa. Essa era uma das
coisas que viu Diane sobre o St. John desde o inicio. Nem sempre se sentia obrigada a quebrar o silêncio.
Desta vez, entretanto, sentiu uma agitação nela, como se quisesse falar, mas se reprimia.
Finalmente, deu um passo mais perto.— Charlotte me falou de Glasbury. Nunca gostei desse
homem. Lembro a primeira vez, que vim a este país e Penélope se tornou minha amiga. Recentemente o
havia deixado e ele fez tudo o que pode, para que seus antigos círculos a deixassem de lado. Inclusive,
insinuou entre os novos amigos o que ela fez, por isso, sua presença seria inaceitável.
— A condessa sabia o que iria acontecer.
— Pen é uma das minhas mais queridas amigas. Ficaria muito tranquila, se soubesse que está sã e
salva e que Glasbury não a encontrou.
— Não tenho nenhuma razão para acreditar que não está segura.
Sua expressão se borrou.
— Por favor, então venha comigo. Tenho algo para lhe dar.
Julián a seguiu do salão, para o silêncio da ampla biblioteca. Se aproximou da mesa e pegou uma
carta selada de sua gaveta.
— Por favor, pegue isso senhor Hampton. Daniel possui propriedades na Inglaterra e na
Escócia. Esta carta contém informação sobre algumas de suas localidades e instruções às pessoas que
cuidam delas, para lhe dar boas-vindas, se por a caso for alguma vez de visita. Estas são casas preciosas,
isoladas que é possível que deseje visitar algum dia.
Julián aceitou a carta.— Não antecipo a visita, mas estou muito agradecido pelo convite.
— Você pode decidir que, um pouco de ar pelo país seja atraente algum dia. Com esta carta você
poderá desfrutar de um impulso.
— Você é muito generosa.
Naquele momento, a porta da biblioteca se abriu e o proprietário da casa entrou por ela, Daniel St.
John normalmente era ou muito distraído ou muito intenso. Nessa noite parecia o último. Seus olhos
escuros, afiados e sua boca dura sorriam a sua maneira, naturalmente sarcástica.
Ele era armeiro e financista de imensas riquezas, St. John era francês de nascimento, embora tenha
percorrido a maior parte do mundo. Seu passado era um mistério para todos, exceto para seus amigos
mais próximos. Bastava olhar seu rosto e concentrar a atenção, para ter a esperança para que nunca fosse

59
seu inimigo. Inclusive, sendo distraído não era indiferente, seu rosto parecendo um pouco cruel, advertia
que não podia jogar com um homem como ele. Julián suspeitava que seu êxito nos negócios, se devia a
sua inteligência com os números e o brilhantismo de suas estratégias. Só um parvo, conhecendo St John,
poderia considerar que seria parte de uma mentira ou fraude.
— Aqui está, Hampton. Os outros se juntarão a nós em breve. Desculpe-nos, Diane. Essa reunião
com Dante sobre o projeto de Fleur Durham será breve, prometo. Nossos hóspedes não saberão.
Diane foi embora. Julián deslizou a carta em seu casaco.
— É bom saber que é um bom amigo Hampton, e que confio em minha esposa totalmente. Outro
marido ficaria muito curioso sobre essa carta e seu conteúdo.
— Suspeito, que vou encontrar sua escrita nela quando abrir e não a dela.
— Sim. Bem, ela se preocupa com a condessa. Agora que fizemos uma tentativa para ajudar, vai ter
menos dificuldades.
St. John se aproximou da mesa e tirou um pacote selado.
— Ela não sabe nada disso, no entanto, preciso de sua discrição. Se ela for consciente de que senti a
necessidade de dar esse passo, só vai preocupá-la mais.
Julián pegou o pacote.— O que é isso?
— Uma lista de meus navios, portos de escala com a Grã-Bretanha e França, e as datas previstas das
saídas. Também tem uma carta minha, que poderá entregar a qualquer dos capitães, com as ordens de
proporcionar passagem à pessoa que o apresente.
Julián tocou a beira do pacote, pensativo.
— O que você sabe?
— Não muito mais do que os outros. No entanto, a condessa é uma mulher com um grande senso
de dever. Se ela abandonou a Glasbury, deve ter tido boas razões. Não é muito difícil supor quais poderiam
ser.
Ouviam passos cada vez mais perto da porta da biblioteca.
— Espero que você saiba que estou disponível, se alguma vez necessitarem de minha ajuda de
algum jeito.
Julián sabia. Tornou-se evidente, entretanto, que seus amigos mais próximos estavam convencidos
que Penélope estava de fato na Inglaterra e que Julián estava ajudando a escondê-la.
Infelizmente, Glasbury teria concluído a mesma coisa.

60
CAPÍTULO 07

Julián se dirigiu à costa antes do amanhecer do dia seguinte. Ele foi montando seu cavalo. A noite
era chuvosa, mas o tempo foi melhorando assim que amanheceu.
Quando se aproximou da casa de campo, se permitiu fantasiar um pouco, a saudação de Pen ao ver
que voltou. Levou seu cavalo ao estábulo, mas não viu o rosto de Pen na porta ou na janela. Não saiu para
saudá-lo. É obvio que não. Ela tinha mais coisas na cabeça, que o retorno de seu fiel advogado.
Ele cuidou de seu cavalo e foi para a casa. Seu silêncio parecia crescer à medida que se
aproximava. O clima era familiar, mas deslocado no dia de hoje. Agora, alguém morava na casa.
Assim que entrou, sabia que não estava certo.
Ela foi embora. Os aposentos ecoavam o vazio. Olhou no terraço, esperando encontrá-la. Subiu as
escadas, sabendo que não estaria ali.
Porém, seus baús estavam ali. Sua presença o gelou por um momento. O medo que ela tivesse sido
sequestrada durante sua ausência, fez seu sangue gelar.
Não, não acontecido isso. Ela havia se mudado. Levou escondido suas coisas de valor, deixando
seus baús e desapareceu. Não havia outra opção, que garantisse sua liberdade, por isso, foi pela escuridão
onde se sentisse segura.
Levando em conta seu encontro com Glasbury, não estava muito seguro, de que ela tomou uma
decisão ruim.
A alma dele se esvaziaria de todos os modos, como se fosse uma casa de quarto vago. Voltou a
descer, ressentindo o silêncio da casa como jamais fez antes.
Solitário. Que tipo de homem dava boas-vindas a uma coisa assim?
No terraço, olhava para a água abaixo.
Foi sem dizer uma palavra. Sem aviso prévio e sem despedir-se.
A maré da manhã estava baixa, o barco balançava no mar. Tirou seu casaco, cachecol, a camisa e
desceu os degraus de pedra. Ele se derramou através da espuma rompendo na areia e subiu no
barco. Pegou os remos e remou para o mar.

61
Com o exercício se sentia bem. Assim fez o sol com sua pele. Que ainda continha o restante do
calor do verão, mesmo com o vento tendo uma amostra da mordida do inverno. A tensão dos braços e das
costas, a luta contra as ondas aliviaram algumas das turbulências nele.
Talvez, ela só tenha tomado essa decisão, depois de sua partida ontem. Talvez, ela não se atreveu a
dizer-lhe, porque pensou que poderia interferir.
O mais provável é que não confiasse em sua decisão, porque ela não sentia necessidade. Era só
seu advogado. Seu servo. Seu correio escuro, como havia chamado Glasbury.
Tornou-se mais difícil levar os remos. Desejou estar em um dia de tempestade, com onda
maiores. Desejava a fuga que o exercício lhe dava, assim, sua cabeça estaria muito cansada para absorver a
verdade desoladora que cortava sua alma em pedaços.
Jamais voltaria a vê-la.
Uma onda grande capturou o barco e o levantou. Ele parou de remar e deixou que o levasse em
frente, voando e cambaleando nessa parede de água. Ele deu uma olhada na casa.
Seu olhar parou e correu de volta a esquerda. Uma mancha de cor azul chamou sua atenção. Azul
safira e não a cor do mar, as rochas cobriam embaixo de uma queda acentuada, pela trilha do penhasco.
A onda o levou para baixo e virou o barco. Remou para o sul pela costa com toda sua força,
rezando para que a capa azul não cobrisse uma tragédia.
Pen entrecerrou os olhos para o brilho mar. Ela achou que era um barco que remava para o
horizonte.
É obvio que não. Não fazia nenhum sentido. Uma pessoa sã não remava mar adentro.
A menos que a pessoa procurasse examinar toda a costa...
Esses homens esperaram até agora para ir procurá-la? Apesar do cansaço que tinha rasgado seu
espírito, o velho terrível pânico começou novamente.
Olhou para trás para a parte da areia, que tinha procurado na noite anterior. Que foi submersa
durante a maré alta.
Ontem a noite, se viu obrigada a subir nesta grande rocha, quando a maré ficou cheia. Ficou escuro
então, mas agora não estava escuro e ela estava visível e vulnerável.
O mar quis reclamar seu lugar, mas aparentemente já não aumentaria. Pelo menos, a maré ficou
baixa. Em poucas horas teria a praia para caminhar de volta à casa de campo, correndo o risco. O vento

62
úmido e frio tinha molhado sua roupa e seu manto úmido não oferecia muito conforto. Tirou ele de
qualquer maneira e tentou ignorar o frio que fazia bater seus dentes.
Procurou o barco novamente. Talvez, estivesse errada. Se não, não havia nada que pudesse fazer
agora, para não ser detectada. Estava tão cansada e se sentia tão miserável que sequer estava certa, que já
a importaria de ser encontrada.
De repente, o barco ficou à vista, muito claramente. Longo e escuro, movendo-se paralelo à costa,
vindo em sua direção.
O pânico aumentou.
Um grito a chamava pelo seu nome.
Seu coração deu um pulo. Lágrimas de alívio nublaram sua visão.
Era Julián. Ele havia dito que voltaria de tarde e aqui estava nessa manhã, tinha vindo procurá-la.
— Julián, — virou para chamar.— Eu estou aqui, Julián me salve.
O barco se aproximou. Podia ver seus braços tensos puxando os remos, os cabelos negros
flutuando no vento e seus fortes ombros resplandecentes de gotas de água. Pareceu tão magnífico que
esqueceu de seu risco.
Remava direto para ela, depois largou o remo e permitiu que o mar lhe trouxesse navegando sobre
as rochas submersas.
Chegou a três metros de dela. Se jogou na água, que ficou por cima de sua cintura, colocou o barco
entre as duas rochas e caminhou para ela.
Estava seminu, parecendo ser um Deus do mar caminhando através de seus domínios. Os músculos
dos ombros e do peito pareciam esculpidos, certamente muito bom para o papel.
— Como chegou até aqui?
— Tinha um homem e não me atrevi a voltar, escondi-me e depois, a maré subiu e fiquei presa.
Ele a levantou em seus braços, sem esforço. Braços fortes, lhe davam as boas-vindas e a
reconfortaram.
— Explique mais tarde. Seu vestido está molhado e você está gelada. Temos que estar perto do
fogo.
Nos poucos passos que ele deu, seu corpo foi se afrouxando tanto, que seu perigo e alívio minaram
os restos de seu espírito. Colocou sua cabeça em seu ombro.
O calor de sua pele e a segurança de sua força quase a derreteram.

63
Fez uma pausa e a olhou, seu rosto apenas a centímetros do dele, tinha tanto uma expressão
severa como de alívio.
Ele a colocou no barco como se fosse feita de porcelana e depois subiu empurrando de novo pelo
mar. Se sentou frente a ele, tremendo em sua capa molhada, enquanto ele remava para a casa.
Ela admirava, o movimento de seus músculos nus por este esforço. Provavelmente, devia olhar
para a água ou para o chão da embarcação, mas seus braços e o torso a tinham hipnotizado.
— Você veio me procurar, depois que não me encontrou na casa?
— Se estivesse feito, teria vestido uma camisa. Não era um repreensão, somente uma declaração
que dizia que não estava procurando por ela.
— Eu gosto de remar como exercício. Quando estou em Londres, frequentemente faço no Tamisa
pela manhã.
Ela estava muito cansada para sentir vergonha, mas conseguiu não olhá-lo tão descaradamente.
— Não achou estranho que não estivesse ali?
— Achei que tinha decidido abandonar a casa.
Que ela o pudesse ter deixado, não parecia lhe dar surpresa ou espanto para ele. Ele havia
simplesmente voltado para as atividades, que normalmente fazia ali.
— Tenho muita sorte, por ter me visto e que tenha percebido que estava presa pela maré.
— Vi o azul de seu manto. Não sabia como tinha chegado ali.
Não soava, como se estivesse ficado muito preocupado. Saiu para remar, viu o azul de seu manto e
foi investigar por curiosidade.
— Era minha esperança obviamente, de encontrá-la viva.
Um incômodo em sua voz, chamou sua atenção. Ela olhou em seus olhos e desviou sua atenção
para os remos.
Se havia se preocupado de fato, foi da pior maneira. Remou por volta pensando que poderia
encontrá-la morta, afogada no mar ou de uma queda. Talvez, não uma queda acidental.
— Eu jamais me feriria por causa dele, Julián.
Ele os levou às escadas de pedra, empurrou o barco na água rasa e o amarrou. Ajudou-a descer e
ela cambaleou pela rigidez que sentia nas pernas e pelo cansaço que havia roubado suas forças. Seus
braços a seguraram novamente. A levou pelas escadas à biblioteca.
Sentou-a em uma cadeira e se inclinou ao mesmo tempo, para acender o fogo.

64
— Ele morreu,— disse.— O fogo. Talvez, não tenha ficado aqui por toda a noite, depois de tudo.
— Quem?
Ela contou sobre o homem na casa.— Não me atrevia a voltar aqui, para não encontrá-lo me
esperando.
Acendeu o fogo com um rugido agradável e depois, a aproximou para que se esquentasse perto
dele. Se sentia tão bem que ficou sonolenta.
Escutava-o vagamente em seu estupor, enquanto se movia pela casa.
Uma mão em seu braço a tirou da névoa.
— Fiz um banho na cozinha perto do fogo. Uma tina quente. Você se sentirá melhor com isso.
Ela realmente não queria mexer-se. Roupa molhada ou não, sentia que chegava o alívio da dor
profunda e implacável do frio.
— Veem, Pen. Estou preocupado com você saúde.
Ela suspirou.— Se você insisti, senhor Hampton.
Obrigou-se a levantar. E encontrou seu nariz a uma polegada de seu peito. Ele tinha vestido uma
camisa. Que lástima.
Seu olhar foi para seu rosto. Um de seus raros sorrisos a saudou. Não era um completamente
suave.
— Então, eu sou o senhor Hampton de novo. Parece que só sou Julián, quando esquece de si
mesma.
— Eu sei que...
— Nos conhecemos mais da metade de nossas vidas Pen.
Ela não percebia que às vezes, lhe chamava de Julián.
— Não quero que me chame senhor Hampton, em uma conversa particular nunca mais.
Ele deu passo para o lado.— Desci algumas roupas secas para você. Estão perto da banheira. Se
precisar de outra coisa qualquer, simplesmente me chame.
Julián colocou a tina de metal perto do fogo e a tinha cheio com água quente. O fogo
imediatamente começou a filtrar o frio de fora dela.
Não podia ignorar o fato de que, um homem estava muito perto. Sabendo que estava ali, sentiu
uma lânguida excitação travessa. Quando se inundou para enxaguar o cabelo, imaginou que ouvia seus
passos se aproximando dela. Um alarme emocionante lhe atravessou.

65
— Não encontrei evidência de intrusos na casa.
Assustou-se ao ouvir sua voz e rapidamente, olhou por cima do ombro para a porta. Não estava
ali. Ele devia estar no outro lado.
— Você está certo?— perguntou ela.
— Do mesmo modo, não há marcas de rodas ou de um cavalo ou as impressões de pegadas que
não sejam as minhas.
— Não imaginei esse homem Julián.
— Não estou dizendo que você fez isso. No entanto, é comum que as pessoas que utilizem o
caminho do escarpado e cruzem o terraço, ao invés de caminhar em volta da propriedade. Isso acontece
inclusive, quando eu estou aqui.
— Então fiquei em perigo por nada mais que uma imaginação extrema.
Se viu alguém na casa, você teve uma boa cautela. Se o medo a manteve nas rochas toda a noite,
deveria ter esperado que eu aparecesse.
Essa conversa que acontecia, enquanto tomava banho nua a somente dez metros dele, criava uma
intimidade sedutora. Ela não deixava de olhar à porta, esperando ver que se movesse.
— Vou controlar meu medo no futuro Julián. Terei que aprender a fazer isso, não é?
— Acho que será mais fácil, eu ter certeza de que você não tenha medo Pen.
Ouviu um pequeno ruído. Fechou os olhos e esperou, que a mudança no ar lhe dissesse que ele
estava na cozinha.
Não chegou ninguém. Ela olhou para trás. A porta permanecia firmemente fechada. Provavelmente
se afastou, voltando de novo para a biblioteca.
É obvio que tinha feito.
Ela olhou seu corpo nu, avaliando o que um homem veria se entrasse enquanto se banhava.
Seus seios estavam cheios e firmes, sua estreita cintura era satisfatória para o estilo atual, apesar
de ter ganhado um pouco de peso, jamais foi capaz de perdê-los.
No entanto, não havia nada especial nela. Nada surpreendente, fisicamente ou de outra
maneira. Nunca foi o tipo de mulher, que fez os homens perderem a voz. A única coisa notável nela foi ter
abandonado um conde recém-casada e que não era o tipo de coisa, que provocava admiração.
Ela terminou de lavar a si mesma, consciente de que o homem na sala ao lado, poderia ouvir tudo,
mas com certeza não levava em conta. Havia se retirado, provavelmente naquele lugar privado onde seu

66
cérebro vivia a maior parte do tempo. Desnecessário dizer que, o senhor Hampton ou Julián, tinha se
perguntado alguma vez, de como seria sem roupa.
Passando o tempo, a água começou a esfriar-se e precisava sair. Ao pisar no chão, com o som da
água e das toalhas esfregando sua pele, ruborizou-se do muito que desfrutava sua consciência, de que ele
ouvia tudo, inclusive se ele não se importasse com ela. Foi o banho mais gostoso que havia tomado.
Pegou suas roupas. O vestido era um dos que se ajustavam ao corpo e agora ficava um pouco
grande, por isso não ficaria muito ridículo. Vestiu a camisa, saia, meias e conseguiu prender o vestido. Em
seguida, foi para a biblioteca.
Ele não estava ali. A sala estava vazia e começou a rir. Não só não havia escutado como também,
não ficou sequer na casa.
Uma manta estava no sofá. Ela entendeu o gesto. Ele concluiu, que ela queria descansar.
Se reclinou e colocou a manta em volta dela. Ele ficaria até que ela despertasse, estava certa. Ela
estava a salvo.
Ele ouviu cada movimento. Cada apresentação. Cada respiração.
Em sua cabeça, viu ela tirar a roupa, peça por peça, até que ficou nua com sua pele suave e de cor
rosa. Imaginou a plenitude de seus seios e a forma de suas curvas elegantemente esticadas quando entrou
na banheira.
De pé na biblioteca viu e ouviu tudo. O despertar de toda uma vida reclamava. Apertando os
dentes, obrigou-se a ter certo controle, mas a vontade de entrar na cozinha esteve a ponto de ganhar o
jogo.
Finalmente, para evitar que ela presenciasse esse furioso impulso, saiu da casa. Ele passeava ao
longo do caminho, observando novamente a evidência de uma visita ontem a noite.
Não havia dúvida, que alguém esteve ali. Pen não era o tipo de mulher que o medo a faria imaginar
uma coisa assim. Era óbvio que era uma pessoa da localidade, que usava o caminho do penhasco. Não
usava transporte ou cavalo e não havia indícios, de que se aproximou da casa pelo caminho.
Ele voltou novamente pelo jardim. A janela da cozinha lhe acenou. A tentação de olhar seu corpo o
tinha apertado novamente.
Ele riu de si mesmo. Ali estava ele, um homem adulto, estabelecido e respeitado, que queria jogar
uma olhada em uma janela, em uma mulher nua, igual a um colegial.

67
Ele não se aproximou da janela, mas sua cabeça viu lá dentro da cozinha de todo jeito. Pen
submersa em uma banheira, com seus ombros suaves, cabelos escuros e com os seios visíveis
encantadoramente. O calor da água tinham transformado sua pele brilhante e vermelha, e os bicos de seus
seios se endureciam com o ar fresco.
Tratou de lutar contra a imagem que provocava nele, mas não conseguiu. Durante anos lutou
contra a fome que o provocava. Havia aprendido se retirar para controlá-lo. Suas vitórias foram privadas e
sem sentido, sempre reconstruiu os muros de um jeito seguro em seu lugar.
Ele conseguiu se manter dono de sua vida. Agora, o perigo de Pen o fez vulnerável às reações mais
primitivas e já não conseguia dominá-las.
Perto do muro do jardim, fechou os olhos com uma fúria selvagem, enlouquecida. O desejo de
possuir e proteger se transformou em um impulso violento e sem sentido.
Ele sabia que jamais seria capaz de conter totalmente a paixão novamente.
O que significava que, no futuro, sua vida seria um inferno.
Ele estava lendo em uma poltrona perto da lareira, quando ela abriu os olhos. Usava calças e
casaco secos. Parecia relaxado e confortável. E muito bonito. O fogo brincava em seu rosto, por isso, seus
olhos pareciam mais profundos e escuros do que o normal. Os esculpidos planos de seu rosto, estava lindo
com as luzes e as sombras nítidas sobre ele.
Julián. Estava contente por ele ter insistido, que deixassem as formalidades. Ela não lembrava a
partir de quando tinham adotado.
Deixou o livro ao lado.— Sente-se melhor?
Ela se levantou e colocou a manta de lado. Olhou para as sombras da sala.
— Sim. Receio que dormi muito tempo. Parece que esta entardecendo e você deve iniciar a viagem
de volta, se quer chegar antes do anoitecer.
— Não tenho intenção de voltar hoje.— Disse com tanta naturalidade, como se isso não implicasse
em algo impróprio. Provavelmente, porque não era, pelo menos para ele.
— Acho que é melhor eu ficar aqui, até que decidas o que fazer e assim, poderei organizar o que
precise,— disse.— Do contrário, essa noite você poderá escutar que homem voltou e correr até o mar
tentando fugir.
— Não sou tão tola Julián.
— Não, você não é. Mas tem muito medo. Se eu ficar aqui, acredito que terá menos.

68
O que era verdade.
— Tem um quarto em cima dos estábulos. Vou usar esse.— disse ele.
Estava segura que seu bom julgamento, lhe falaria com mais claridade se não o visse ali, sentado
tão insuportavelmente bonito. Em vez disso, parecia um pouco tolo manter as aparências dadas as
circunstâncias. Eles estavam sozinhos aqui e onde ele dormisse, na verdade não faria nenhuma diferença
no mundo que conhecia. Tampouco representava algum perigo para sua virtude.
— Não sou uma colegial ruborizada. Se for ficar, deve estar confortável também. Enquanto, a
decisão a respeito de minha situação, pensei em tomar uma decisão amanhã.
— Bom, eu esperarei até que decida. Disse para meu secretário que dirigisse as coisas, em minha
ausência e organizei que outro advogado, trate de qualquer assunto que não possa esperar.
Levantou-se e devolveu o livro para sua estante. Enquanto caminhava de volta, passou perto da
mesa.
Seu olhar caiu sobre a superfície. Ele parou.
Estendeu a mão e endireitou o documento que estava na mesa.
— O que é isso?
— Um folheto. Estive usando o tempo aqui para trabalhar nele. Ele examinou a primeira página.
— Você está prevendo publicar uma declaração sobre as leis do casamento?
— É necessário que alguém iniciasse uma discussão a respeito.
Levantou o documento e o leu.
— Está bem escrito Pen.
Os olhos dela brilharam com o elogio.
— Não é só meu. Estive trabalhando nisso com algumas outras damas. A senhora Levaram e
algumas outras, em uma situação similar à minha.
— Tem a voz, de Pen. O mesmo tom das cartas que enviava para mim. A mesma música. Tem a
intenção de colocar seu nome nisso?
— Levarão mais a sério se o fizer. O nome da condessa lhe dará mais influência.
— Glasbury sabe algo disso?
— Não posso imaginar como poderia saber.
— Suspeito que o projeto é bastante bem conhecido em certos círculos de mulheres. Só precisa de
uma pessoa para espalhar o rumor até que chegue em seus ouvidos.

69
— Está insinuando que, minha participação nesse ensaio pode ser a razão pela qual está se
mexendo contra a mim?
— Levando em conta parte de sua linguagem, sim poderia ser a razão. Vamos a ver, como estava
dizendo uma frase por aqui? Ah, sim, aqui está “Leis que permitam às mulheres se protegerem de estarem
condenadas a uma vida de escravidão miserável, quando descobrem que seus maridos não são
cavalheiros decentes, a não ser vis e violentos fetos do demônio”. Uma passagem muito impressionante
Pen, muito poderosa.
— Não é como se na verdade o estivesse chamando em particular de vil e violento feto do
demônio. Está muito claro, que estava falando em termos gerais.
— É o motivo pela qual está dando às mulheres para que sejam capazes de deixarem seus maridos.
Você deixou seu marido. Por enquanto, supõe-se que era pelo seu jeito de ser. Portanto, está chamando-o
de vil e de malvado.
Ela bateu na almofada do sofá com tristeza.— Bom, ele é vil e malvado. Não espere que eu modere
minhas palavras Julián. As mulheres são escravas no casamento e isso deve mudar.
Ele deu um olhar novamente para os papéis, mas estava claro que não terminaria de lê-los.
— Suas experiências endureceram seu ponto de vista. Não são todas as mulheres escravas. As
mulheres de seus irmãos parecem muito felizes.
Esta foi uma das razões pela qual, nunca contou a seus irmãos a respeito desse projeto. Nunca
poderiam entender.
— Se uma mulher casada não é como uma escrava em um casamento, é só porque seu proprietário
é gentil. Seu estado está totalmente sujeito ao capricho de seu marido. Esse folheto será publicado,
querido amigo. Aconteça o que acontecer com Glasbury, esse ponto não será negociável.
Sem mais comentários ele se virou para deixar o documento sobre a mesa. Enquanto fazia, outra
folha que havia estava debaixo dessa chamou sua atenção.
Ela gemeu por dentro. Era sua lista de nomes, para sua relação de conveniência.
Ele a olhou.— Parece que você não cuidou só de levantar as armas, para libertar as mulheres
casadas da servidão.
— Sobre a possibilidade, de ficar na Inglaterra penso em planejar uma festa.
Ela não sabia por que tinha mentido, mas algo nos olhos dele provocou o impulso.
— Uma festa muito interessante. Somente convidados varões.

70
Isso era realmente muito embaraçoso.— Se você quer saber, eu estava considerando a opção de
uma aventura. Pensei que deveria considerar se tal coisa era possível ou sequer se vale a pena contemplá-
lo a sério.
— Então, esta é uma lista de candidatos prováveis.
Ele levou o papel perto do fogo, onde tinha mais luz para ler.
— Colin Burchard se sentirá honrado em saber que é um candidato.
— Na verdade, eu realmente não acho que ele seria conveniente.
Olhou o papel de novo.— Ewan McLean? -
— Bom, na verdade.
— Ewan McLean?
— Só foi uma...
— Nápoles deve ter sido mais agradável para você colocar McLean na lista.
— Não sei por que tanta desaprovação. Disse que era uma ideia digna de consideração.
— Eu disse que a ideia era algo que valeria a pena considerar, não que fosse com Ewan McLean. Em
primeiro lugar, eu não lhe permitirei a isso Pen. Ele definitivamente não é para você.
— Acho que sou eu quem deve decidir, quem é para mim e quem não.
— Ao inferno com isso.
Não tinha ideia do que isso significava, mas sua atitude e o tom de sua voz a irritou.
— É muito difícil escrever fazer lista. Principalmente, porque não será mais que um assunto de
conveniência. Eu não quero as complicações de um homem me professando um grande amor ou, que Deus
não queira, com vontade de casar-se depois do meu divórcio.
— Parece que planejou tudo, até no mínimo detalhe.
— Essa parte, sim. Se eu me livrar com este jogo, não tenho a intenção de me transformar em um
móvel novamente. Seria uma idiota para me casar de novo. E quanto a essa lista, é surpreendente
como poucos nomes pude juntar, sem submetê-los a prova primeiro.
— Submetê-los a prova?
Era quase um grito o que proferiu Julián. Fez com que ela mantivesse os ombros no encosto do
sofá.
— Bom, não realmente, literalmente “prová-los.”

71
— Talvez, deveria colocar um anúncio nos jornais. Podes colocá-lo em cima das fotos dos animais.
Solicitando um garanhão ou algo um pouco parecido.
Agora, ele estava fora da casinha e além disso, estava sendo muito grosseiro.
— Que esplêndida ideia,— respondeu ela— Mas porque sair com metáforas? A abordagem direta é
sempre melhor. Pode ouvir isso? Precisa-se de um cavalheiro, para um assunto de conveniência
temporário. Com boas referências de suas amantes anteriores. Deve estar disposto a ser nomeado em um
processo de divórcio. Deve ser apresentável, com experiência e ter um belo traseiro.
Seu olhar, disse-lhe que não achava nem um pouco engraçado.
— Não entendo porque está reagindo desta maneira Julián. Você concordou que este assunto era
uma solução simples. Ontem soava uma solução muito promissora.
Ele leu a lista uma vez mais com aparência irritada.
— Percebo que meu nome não está aqui.
— É um homem honrado, é obvio, e…
— Você se preocupa com minha reputação? Que generoso de sua parte. Caminhou para ela. Sua
expressão escura a deixou sem respiração.
— Entretanto, já que sou o único homem que, mostrou a vontade de arriscar-se sem ter medo do
risco, parece-me uma estranha razão para me omitir.
Estava agora na frente dela.
— Na verdade, demonstrei que estou disposto a arriscar tudo, inclusive sem obter o prêmio do
prazer. Se você decidiu conceder seus favores, acho que deveria pelo menos estar na competição, mesmo
que seja apenas por cortesia e nada mais.
Ele olhou para baixo. Ela não podia falar.
Eu também sou o único homem, que entende totalmente o que pede e o porquê Pen. O único que
sabe por que é necessário este assunto de conveniência e o que isso não significa.
Não era o velho amigo Julián quem a olhava, com esses olhos cheios de fúria, nem era o senhor
Hampton seu fiel conselheiro. Era um homem diferente, que estava a poucos centímetros dela,
obscuramente aborrecido, projetando uma aura que roubava seu ar e fazia acelerar o coração.
Ele colocou a mão em seu rosto. Ela o olhou em silêncio com assombro. Esse toque a fazia se sentir
muito bem. Masculino, quente e seguro.

72
— Talvez, não me incluiu porque não achou que poderia me desembrulhar bastante bem. Afinal,
nunca me submeteu a provas desse tipo.
Sua mão lhe ordenou a manter a cabeça firme. Uma antecipação sensual corria através dela.
A cabeça dele desceu e pressionou sua boca.
Não foi um beijo longo, mas a surpreendeu. Ela respondeu como se uma brisa sexual tivesse
entrado dentro dela. O beijo foi o suficientemente firme e o tempo suficiente para deixar claro, que não
era um beijo de amizade, tampouco um pedido.
Ele parou e se endireitou. Seu olhar lhe afetou mais que o beijo. Sequer podia piscar.
Em seguida, ele foi caminhando com calma até a porta do terraço como um homem que, de
repente, percebe que tem outros assuntos para resolver.

73
CAPÍTULO 08

Se o beijo era uma indicação de sua habilidade, Julián Hampton poderia muito bem ser absolvido.
Esse foi o primeiro pensamento lúcido que aconteceu na cabeça de Pen, quando recuperou certo
controle sobre sua agitada condição.
Sentou-se no sofá, tentando encontrar alguma explicação a essa repentina mudança em sua
amizade.
Não tinha ideia do que deveria fazer agora.
Levantou-se e olhou pela janela. Não estava no terraço.
Poderia pensar que se sentia insultada por aquele beijo, ou que agora ela suspeitava de suas
intenções. Aquele beijo poderia mudar tudo a respeito, de como ela via as motivações para sua ajuda e
proteção.
Ela não desejava perguntar se esse foi o caso dela.
Seu casaco estava à vista, assim pegou a manta e a envolveu ao redor de seus ombros. Ela foi ao
terraço para ver onde ele estava.
Julián não estava longe do último degrau da escada de pedra, em uma saliente faixa de areia da
praia, lançada pela maré. Era uma bela imagem em pé, cercado pelo mar, seu cabelo escuro em contraste
com seu casaco de cor clara. Seu corpo tinha uma postura casual, como se meditasse sobre os elementos e
como se as forças da natureza fluíssem através dele.
Ele não parecia ser alguém que nesse momento, desejasse a intromissão em sua solidão.
De qualquer forma, ela foi para as escadas e parou perto dele.
Ele não olhou para ela. – Devia ter ficado na casa de Pen.
— Eu não vou ofendê-lo. Estou bastante recuperada de meu teste.
— Isso não é o que eu tentava dizer. Olhou-a brevemente e depois voltou sua atenção para o mar.
— Não tenho a intenção de me desculpar, se for isso que você espera.
— Não há necessidade de fazer isso. Foi um impulso. Todos agimos muitas vezes sem pensar.

74
— Sim, pode ter sido um impulso. Também, pode ter sido a coisa mais intencional que eu tenho
feito em toda minha vida. Eu ainda não decidi qual foi.
Ela não sabia o que dizer sobre isso, mas se sentiu obrigada a dizer algo.
— Estou surpresa e isso é tudo. Lisonjeia-me também, sem dúvida, mas sobre tudo me surpreende.
Não fazia ideia de que, alguma vez pensasse em mim dessa maneira.
— Por que não poderia? Você é uma mulher atraente e os homens, habitualmente pensam nas
mulheres dessa maneira em todo caso.
Isso sem dúvida dava ao episódio uma cor diferente. Também explicava o motivo real para aquele
beijo. Algo comum que não tinha nada a ver com os impulsos, ou mesmo com o fato de que pensasse nela
dessa maneira.
O orgulho dele estava ferido. Sua masculinidade tinha sido insultada, porque a condessa de
Glasbury não o incluiu na tola lista de possíveis amantes, não lhe importava qual amante ela finalmente
escolhesse.
Bom, o que ela esperava? Podia ser um velho amigo, mas no final continuava sendo um homem.
— Julián , eu quis dizer quando se referia que não estava em minha lista, é que é um homem
honrável e o risco que seria para você esse escândalo. Quase escrevi seu nome, na verdade. Minha pluma
estava disposta a fazer, mas considerando tudo o que perderia, foi o que me fez parar. Claro, que a ideia
veio em minha cabeça, mas dadas as circunstâncias achei melhor não considerá-lo.
Ele parou na frente dela, entre ela e o mar, escutando com diversão. Estendeu a mão e
brandamente colocou dois dedos em seus lábios, parando sua intenção de acalmar seu orgulho.
— É muito amável de sua parte tentar explicar Pen. Também é um erro. Teria sido melhor, que não
falasse isso.
Ela pegou sua mão entre as suas.
— Eu achei que devia lhe dizer isso Julián. Eu não quero insultar ou machucá-lo por causa de uma
estúpida lista.
O olhar dele se fixou em suas mãos unidas. Seus olhos tinham pequenos relâmpagos que os
iluminavam.
— Tocar-me agora foi outro erro Pen. Um muito grande.
Ela sentiu como se estivesse dentro de uma névoa imprecisa, quando ele a puxou em seus braços e
a capturou em um abraço que a cobria.

75
Beijou-a de novo, mas foi diferente dessa vez. Definitivamente impulsivo. Perigosamente
furioso. Ela poderia ter controlado suas reações no último beijo, se tivesse realmente desejado. Esse beijo
lhe dava uma pequena escolha para a submissão.
A manta a envolvia, mas a força dele também cercava. Seu abraço apertado a mantinha tão
próxima, que ela podia sentir tudo dele. O peito de Julián pressionava seus seios e ele compreendia que,
ela estava desfrutando dos beijos em sua boca e em seu pescoço.
Ele parou e a olhou, não havia equívoco na forma em que a olhava. Não havia dúvida, da fúria
sensual de seus olhos. Tampouco podia ignorar a forma em que seus lábios se incharam e pulsavam por
seus beijos, como seu pulso batia frenético em seu peito e sob seu pescoço para seus seios. Essa pulsação
emocionante, transformou sua inicial surpresa em um sedutor alarme de êxtase.
Seu corpo inteiro reagiu, diante seu olhar audacioso. Os batimentos do coração, se transformaram
indubitavelmente em sexuais e seu ritmo batia seu sangue, sua cabeça e fisicamente em seus seios além
do estômago.
Ele sabia. Novas luzes dançavam em seus olhos com esse conhecimento. Não importava o
atordoamento que seu rosto pudesse mostrar, poderia dizer que seu corpo atuaria imprudentemente se
ele a beijasse novamente.
E ele fez, sem piedade. Despertou como se soubesse exatamente o que fazer. Cada beijo estava
calculado, para deixá-la impotente à escalada do prazer que prometia.
Um incrível prazer. Como um vento quente de prazer. Suaves correntes de fome fluíam sem
compaixão inundando-a em uma piscina de desejo. Seus seios cresceram fortes, cheios e sensíveis. A
umidade começou a grudar em suas apertadas coxas. Ela logo notou, que seus passos retrocediam para a
seca areia na base do muro do terraço. Ele olhou para baixo, como se a areia fosse a única opção que ela
teria para escapar.
Ele desdobrou a manta na areia e tirou o casaco. Ela abraçou seu calor durante o seguinte beijo.
Sentia-se muito bem enquanto ele a segurava, a felicidade que invadiu seu espírito a deixava sem defesas.
Os beijos a acalmaram. Eram doces, lentos e muito ternos. Seu corpo estava desfrutando tanto desse lento
prazer, que se arqueava pedindo mais. Ele se apoiou em um braço e a olhou, a imagem que ela viu dele
permaneceria em sua memória até seu último dia. O vento despenteava seu cabelo escuro e as mangas de
sua camisa. Seu olhar seguia as carícias de sua mão em seu rosto e pescoço.
— Deseja voltar à casa ?— perguntou ele.

76
Ela não pôde resistir de tocá-lo também. Acariciou o rosto que a olhava e os lábios que a tinham
beijado. Adorava a sensação de sua pele sob seus dedos. Suas intensas reações a confundiam, aterravam-
na e outra parte dela tremia com antecipação, reconhecendo exatamente o que desejava, mas a
consciência gritava dizendo que devia se retirar, antes de arriscar e complicar as coisas arruinando sua
amizade.
— Eu não sei exatamente o que é que desejo. — finalmente respondeu.
—Eu sim. — Suas carícias desceram por seu pescoço. Ela sentia brilhos de calor em sua pele.
— Melhor, você deveria ficar Pen e desfrutaremos do mar e de outras coisas também...
O beijo seguinte lhe disse o que poderia acontecer e o que não, mais que uma promessa era um
pedido e ela sabia que no fundo de seu ser, sempre seriam amigos. Ela não sabia o que desejava e ele não
tentaria tomar vantagem disso.
Não estava confusa, a não ser absorta nas sensações e nas mudanças. Quando perguntou se
desejava mais, ela não pôde negar.
As intimas carícias em sua boca, enviavam incríveis tremores por todo seu ser, incentivando seu
corpo, fazendo-a sentir impaciente por mais proximidade.
Suas carícias foram descendo ao lado e sentiu sua mão claramente. Sua mão se moveu de novo,
sobre a plenitude de seus seios com a mesma confiança, como se ele tivesse desempenhado assim,
milhares de vezes antes.
Só que nunca aconteceu e o inesperado poder do prazer que enviou ao seu corpo, a fez estremecer.
Desejava desesperadamente que continuasse tocando-a. Seu corpo se moveu instintivamente para animá-
lo. Inclusive, sua respiração soava a um ritmo que suplicava por mais.
O que sua mão fazia agora a estava matando, seus dedos encontraram seu mamilo através do
tecido e o acariciou enviando correntes de excitação para baixo de seu ser. Ela fechou os olhos tentando
controlar a loucura, que ameaçava destruir sua compostura. Devolveu o beijo, pedindo para aliviar o
aterrador desejo, que se construía dentro dela.
A mão dele se moveu para seu ombro, gentilmente a fez virar de lado. Sua decepção só durou um
momento, antes de sentir como ele desabotoava seu vestido.
Ele acomodou novamente a manta em suas costas, então lentamente foi baixando seu vestido e
sua camisa. Deslizou o tecido para baixo revelando seu corpo. Ela deu uma olhada, no que ele estava
vendo. Seus seios subiam nus em cima das roupas reviradas. Seu corpo estava completamente nu até a

77
cintura. Ele se apoiou em um cotovelo deixando-a totalmente vulnerável a seu olhar. A sensação de estar
nua e exposta era incrivelmente erótica.
Sua mão descansava no estômago dela e seu olhar escuro para sua pele branca.
— Você é muito bonita Pen. Perfeita e suave.
Baixou as pálpebras e viu a mão dele sobre ela. Seus seios cresciam sensíveis devido a sua
proximidade. Inclusive, o vento parecia despertá-los.
— Muito suaves, — murmurou ela. — Esse vestido precisa permanecer em cima, pois você
esqueceu de me levar o espartilho.
Ele acariciou onde deveria estar o vestido.
Não esqueci nada. Aqui não há mais ninguém além de mim. Não precisa de uma armadura
antinatural. — Fica bonita neste vestido e mais bonita com ele fora de seu corpo...
Tranquilamente, quase vagarosamente, ele traçou um caminho com seus dedos entre seus seios e
ao redor de seus mamilos. Eles se endureceram em resposta e uma coceira de antecipação ao que viria,
começou a deixá-la louca outra vez.
Acariciava-a como se tivesse todo o tempo do mundo. Ela apertou os dentes e tentou conter o que
estava acontecendo dentro dela.
Seus dedos roçaram gentilmente um mamilo. Ela teve que engolir um soluço. Ele o rodeou
suavemente e efetivamente até que ela pensou que começaria a gritar.
— Faz quanto tempo Pen? — Ele olhava sua mão, enquanto desenhava padrões nela e via como seu
corpo reagia.
— Quanto tempo faz que não a tocam? — Seu polegar esfregou a ponta de seu mamilo. A sensação
derrotou seu controle e ela se mexeu arqueando suas costas.
— Não faz muito tempo. — surpreendeu-se de poder falar, pois mal conseguia respirar. — Mas…
— Seus dedos continuavam com a suave tortura. — Mas o que?
— Eu precisava ser cuidadosa, certo? Ficar em guarda. Não podia confiar, ou correr riscos de perder
o controle.
Ele estava absorto em seus pensamentos, enquanto continuava lentamente despertando seu
corpo. Sua cabeça se inclinou sobre seu outro seio.
— Há quanto tempo não faz amor?

78
Ela podia tocar nele agora e deslizar seus dedos dentro de seu cabelo, enquanto ele dava beijos
suaves em seu seio.
— Quer dizer completamente?
— Sim. Completamente.
— Nunca. Desde que deixei o conde.
— Nem mesmo com Witherby?
Esse nome liberou uma corrente de tristeza, dentro de sua felicidade. Uma antiga humilhação e
uma decepção se deslizou através de seu coração. Estava surpresa de Julián mencionar Witherby agora,
entre todos os momentos.
Ninguém lhe havia mencionado ter conhecimento desse antigo amor. Nem Julián ou seus irmãos,
ninguém deveria saber.
— Não podia me arriscar a ter um filho. Glasbury poderia reclamá-lo como dele e tirá-lo de meu
lado e meu filho estaria condenado ao poder desse homem.
Ele parecia surpreso por sua resposta. Tinha concluído, que havia sido uma relação completa. Ela
esperou que todos tivessem acreditado nisso.
— Não, eu suponho que não se arriscaria a isso, — disse ele — Fazendo amor de forma
incompleta, não abandonar a si mesma, porque não confia nos homens. — Sua mão retomou o caminho
sinuoso.
— Confia em mim Pen?
Confiava? Seu corpo parecia que sim. Do contrário, estava traindo ela da pior maneira.
— Parece que sim.
— Fico feliz. — Ele beijou de novo seu seio. Dessa vez sobre a ponta do mamilo. Sua língua a
sacudiu fazendo-a gritar.
— Agora, não quero mais conversa, não desejo ouvir outro som que não seja o mar, o vento e seus
gritos de prazer.
Estava muito seguro de que ela gritaria. Usava sua boca e sua mão para derrubar qualquer controle
que ela ainda tivesse.
Seus seios ficaram cada vez mais sensíveis e ele provava cada um com sua língua e dentes. O
abandono fazia gestos em sua consciência, alimentada pelos prazeres que sugeriam que desse o controle
total para ele, para obter algo que não podia ter e que furiosamente desejava. Ela não podia lutar contra

79
isso, não queria lutar. Seu coração sabia que não precisa, não dessa vez. Seu corpo inteiro e sua cabeça
renunciavam neste momento o controle. Entrou em um lugar, onde somente as sensações mais puras
existiam, em um estado de prazer e desejo, de maravilhosas respostas físicas. Não ouvia o mar ou o vento.
Somente a pulsação de sua necessidade e seus próprios gemidos entravam em sua cabeça. Escutou sua voz
lhe perguntando mais uma vez, — Confia em mim Pen?
Uma nova carícia explicou sua pergunta. Descendo em seu quadril e coxas, pressionando sua
anágua. Seu corpo respondeu por ela, levantando-se para receber seu toque, se omitindo dos riscos,
esquecendo do perigo.
Ele pressionou seu centro quente entre suas pernas e ela quase desmaiou de alívio. Nada mais
importava agora, exceto que estava sendo tocada ali.
Cada sensação, cada emoção estava nesse lugar e gemeu mais de prazer. Sentiu uma nova nudez,
vulnerável, maravilhosa e uma mão quente e suave sobre suas pernas. Ela abriu seus olhos para ver a
queda de sua saia amassada e sua anágua em sua cintura.
Levantou-se de seu abraço e olhou onde ela poderia ver. Acariciava suas coxas mais lentamente
como fez com seus seios. Ele se virou para ela e ela o aproximou para beijá-lo loucamente, lhe dando livre
acesso a todo seu desejo sexual.
Ele continuou sua carícia para cima até que seus dedos tocaram o único lugar, onde se focava toda
sua essência. Um traço, um toque suave e lento, fez seus soluços ficarem presos em sua garganta. A
intensidade do prazer que sentiu, a impactaram. Ele beijava suas faces suavemente.
— Não perca a coragem agora. Se você se arriscar a se abandonar, poderá conhecer o que isso
realmente significa.
Tocou-a novamente, mais profundo. Ela se segurou nele com mais força, apertando suas costas
para conter essas pequenas sensações que agora a abandonavam.
— Abre as pernas Pen.
Seu corpo obedeceu. Desejava fazer isso. Inclusive, a impressão estava muito delicioso para
recusar. Ele derramou beijos lentos em seu rosto, nos seios, enquanto sua mão criava calafrios que subiam
através de seu sangue e depois desciam outra, vez para o mesmo lugar. A carne que ele acariciava pulsava
tão fortemente, que parecia o ritmo de sua própria vida. Agora, ela ouvia as ondas em sua cabeça,
misturadas com as lágrimas que já não conseguia conter. Chorava de prazer e frustração. Seu corpo
gritava por algo. A intensidade era cada vez maior e sua loucura mais envolvente.

80
Seu espírito entrou em um lugar sem sentido e perigoso. Mesmo assim, o prazer crescia
pressionando cada vez mais alto, até que ela cambaleou na beira da sensação mais poderosa e mais
dolorosa. Ele a beijou forte, como se seu toque forçasse a última etapa. Seu grito saiu como a sensação de
ele tê-la penetrado, explodindo.
Depois desse raio impressionante, seguiu uma linda chuva de prazer e a paz fluía através dela,
pulverizando sua magia.
Ela estava tão adorável, que seu coração não podia suportar. O assombro dela correspondia ao seu
próprio. A praia parecia um lugar místico, separado do mundo real, um ponto pendurando entre os sonhos
e a realidade, entre o céu e a terra.
Seus suspiros e os suaves movimentos de sua pulsação pareciam as ondas do mar ao vento. Ele
percorreu com seus dedos a superfície de seu rosto, desfrutando da sensação de sua pele suave. Ele a
olhou como sempre desejou, devagar e cuidadosamente, seus olhos memorizaram cada detalhe para não
esquecer de nada. Tocou-a como tantas vezes imaginou fazer. Em seu rosto, ao redor da sua testa, sua
mandíbula e queixo. As pequenas rugas ao redor de seus olhos. Beijou-as também, elas eram o símbolo de
suas risadas, de sua doce disposição e de sua habilidade para ver o bem e ter esperança, sem se importar
com seus próprios problemas. Também, representavam as vezes que a tinha desejado. As festas, os
jantares, a solidão de seu quarto. Desejando-a como uma parte de sua própria existência, era algo que ele
não se lamentaria ou se arrependeria. Agora, que finalmente ele tinha provado o que tanto desejou. Sabia
que não deveria ter feito, mas não se importava com nada agora. Ela não disse nada, enquanto estava
deitada entre seus braços, era um abraço tão sereno que poderia ter ficado assim para sempre.
O pôr do sol e o vento frio, entretanto, lembrava-lhe que não deviam continuar ali.
Ela deixou-o colocar suas roupas e a cobrisse com a manta. Não fez objeção, quando apoiou suas
costas contra a parede e a atraiu novamente em um abraço ao seu lado. Juntos olharam as sombras da
tarde sobre as rochas e o oceano. Os olhos dele veriam essas imagens diferentes a partir de hoje em sua
cabeça, pela paixão de Pen.
Nunca escutaria o mar novamente sem escutar seus suspiros e seus soluços de paixão.
E a admissão de que não teve amantes, pelo menos não totalmente. Por ser o homem que a
desejava, ficou encantado de ter escutado, mas o amigo que conhecia suas desilusões não ficou. Com o
passar dos anos, esteve com muitos ciúmes das pequenas evidências dos amantes, mas ele não desejava
sua solidão e muito menos sua infelicidade.

81
— No que está pensando ? Não lhe incomodava seu silêncio, mas se perguntou por que estava tão
calada.
Ela se aconchegou para mais perto e apoiou sua cabeça em seu ombro. — Estava pensando em eu
que, realmente devo lembrar-me de colocá-lo em minha lista agora...
Ela tinha levado tudo muito bem.
— Perdemos completamente a cabeça, não é Julián? Penso que foi muito bom e acredito que a
intimidade com um bom amigo é melhor que com um grande amor. Por um lado há mais confiança.
Não ficou surpreso, de ela ter decidido que isso foi um impulso entre dois velhos amigos.
Possivelmente, assim era melhor.
— Também estive pensando, se fazendo uso dessa lista seria o melhor, ou deveria se encontrar
seguir outro caminho. O que acontecerá comigo se ele não reagir como nós esperamos que faça? Se
depois, de um romance público e embaraçoso ele não se divorciar de mim?
— Ele não será capaz de ignorá-lo. Não é um homem que gosta de aceitar tais coisas.
— Não, mas poderia decidir tratar o assunto de outra forma — Sua tranquila voz dizia como
profundamente esteve pensando em tudo isso.
Sim, ele é capaz de fazer isso. A indignação de Glasbury o levaria a tomar um passo definitivo, para
cortar essa relação.
Ela se liberou de seu abraço e ficou de pé. Sacudiu a manta — Tenho que decidir algo logo, não
posso fugir mais...
Não, ela não podia e não só pelo o que havia acontecido nessa areia.
Seu humor havia mudado. Ela saiu sutilmente, mais que fisicamente.
Ele ficou onde estava. – Eu vou dormir em cima do estábulo.
Com à luz da noite, ela o viu um pouco triste.
— Continuas sendo meu amigo, não é Julián? Vamos continuar como antes, não é verdade? Não
vamos permitir que o que aconteceu aqui mudo isso, certo?
— Claro que não.
Sua postura pareceu relaxar. – Então, não precisa dormir no estábulo.
— Então, vou a usar o quarto debaixo.
Ela riu um pouco.— Sim, será melhor.

82
Ele a viu subir pelas escadas de pedra. Dormir em baixo não era somente o melhor. Era
essencial. Ele nunca descansaria se utilizasse o quarto ao lado do seu nessa noite. Inclusive, duvidava de
que fosse capaz de permanecer em sua própria cama. Esta não era a noite, para pôr mais ainda a prova de
sua confiabilidade.
Voltou a olhar o mar ficando negro pela noite.
Ele tinha mentido para ela, quando disse que não havia mudado sua amizade.
Na verdade, mudou absolutamente.

83
CAPÍTULO 09

Pen se ajeitou em sua cama. Tentou dar um nome, ao que aconteceu com Julián.
Ela sabia que havia mulheres que, tinham romances com propósito de também obter prazer físico.
Seus breves encontros íntimos, foram apenas pequenos jogos e nada mais. Seus romances
incompletos, foram somente isso e nada mais, com exceção de Witherby. Ela teve experiência suficiente,
brincado com carícias roubadas e pequenos flertes. Mas isso, foi mais diferente que um entusiasmo
superficial. Sua relação de amizade com Julián tinha ido além disso. Agradável, mais íntima, ela acreditou
nele, mas isso tinha mudado tudo. Essa amizade estava confundindo suas reações de outras maneiras. Se
ela não o conhecesse há muito tempo, se sua história não fosse tão próxima há anos, a sensação de ter
sido beijada por ele, não seria tão assombrosa.
Afinal de contas, ele era um homem e ela uma mulher. Como ele dizia, porque teria que pensar
nela de outra forma?
Por que não deveria reagir a seus beijos? Se ela não fosse tão estúpida, ela deveria ter percebido
que, sua contínua proximidade nesses últimos dias poderia levar a esse comportamento. Todo mundo
sabia que os homens, se inclinavam para seus impulsos sexuais com a menor provocação.
Virou-se de costas e escutou o silêncio. Julián deveria estar dormindo profundamente, em seu
quarto no primeiro andar, diretamente abaixo do dela. Tentou escutar se roncava ou se mexia.
As lembranças dos seus abraços permaneciam em sua cabeça. Eram tão reais, que sentia suas
carícias novamente. A fantasia despertou. Seu corpo voltou a desejar suas carícias.
Não duvidava que a abstinência teve um papel muito importante também nessa noite.
Possivelmente, quando uma mulher passava muitos anos sendo adulada e tendo relações incompletas,
ficaria disposta a abandonar-se e baixar a guarda.
A beleza e a paz que ela tinha encontrado nessa paixão, tinha sido mais sedutora que do que
prazerosa. Ela foi tão inocente. Como se Glasbury não existisse. Jamais havia se sentido tão completa,
esquecendo todos esses anos passados.

84
Julián estava certo quando a repreendeu por não tê-lo incluído nessa lista. Se ela tivesse um
romance com ele, não precisaria lhe explicar nada. Sabia por que ela estava fazendo. Ele podia entender o
risco que teria com essa relação.
Poderia ter um romance carinhoso com um bom amigo e não uma relação superficial de simples
conveniência. Não seria humilhante e barato. Quando chegasse ao fim, eles poderiam continuar sendo
amigos.
Ela imaginou essa relação amorosa explicitamente. Imaginou caminhando através de sua porta com
seu peito nu como esteve no barco. Ela o sentia deitado ao seu lado na cama e tocando seus seios. Via-o
em cima dela e seu corpo imaginava ele entrando nela. A fantasia era tão intensa que sentiu uma excitação
que a transpassava. Ela pegou seu casaco. Desceria e o encontraria acordado, esperando-a. Só sabia que
ele estava pensando nela, tal como ela pensava nele. Até a casa de campo estava gemendo com o desejo
de completar que tinham começado na areia.
Poderiam ter esse romance e o conde se divorciaria dela. Seria livre.
Ela abriu sua porta. Novas imagens entraram em sua cabeça. Matando-a de antecipação. Congelou
sua mão no trinco da porta. Imaginou Julián sendo interrogado, na Casa dos Lordes quando o pedido de
divórcio fosse proposto. As acusações do pedido de Glasbury poderiam ser desumanas e cruéis, tratando
seu amante como um delinquente.
Os motivos de Julián poderiam ser impugnados. Sua falta de honra ficaria explícita. Os periódicos
imprimiriam também cada palavra e todos poderiam ler. Todo mundo. O escândalo se tornaria público e o
desprezo implacável. Muitos de seus clientes também o abandonariam. Outros advogados poderiam evitar
de fazer negócios com ele. Inclusive, o uso de seus serviços, por parte de seus irmãos se veriam
comprometidos. Se ele fosse chamado por um conde, por um comportamento criminoso com uma
condessa, seria sua ruína.
Era pedir demais, não importava a extensão do prazer que ele receberia com sua negociação. Ele já
tinha sido muito nobre e amável. Assim, como foram seus beijos. Ele estava oferecendo um resgate a uma
donzela em apuros, embora o malvado dragão pudesse queimá-lo horrivelmente, enquanto a salvava.
Esse era um problema seu e não dele. Seu erro juvenil e de sua vida desperdiçada. Era
indesculpável que ela o arrastasse em sua queda.
Retornou para a cama com uma tristeza em seu coração, que não entendia ou esperava.
Tentou concentrar-se em suas outras opções menos egoístas.

85
— Não sabia que cozinhava também.
Julián se virou ao escutar o som da voz de Pen. Não ouviu ela descer. Seus olhos olhavam os peixes
assando na frigideira, enquanto ele estava imaginando como Glasbury reagiria seu pedido de divórcio.
No caso de que, realmente chegasse ter um divórcio. Ele não pensava que poderia ter. Se Pen
tivesse um romance com Julián Hampton, de todos os homens, Glasbury desejaria fazer muito mais coisas,
que simplesmente destruir o amante de sua esposa.
Ela olhou por cima de seu ombro, sua presença próxima, fez com que seu sangue queimasse
novamente.
— Pescou-os nessa manhã? Deve ter se levantado muito cedo.
Muito cedo realmente, já que ele não tinha dormido quase nada. Ela tampouco o tinha feito. Ele
escutou seus passos no quarto de cima, durante toda a noite. Ouviu como passeava pelo seu quarto.
Silenciosamente o impulsionava a fazer isso. Seus dentes apertavam com a intensidade de seu desejo. Sua
cabeça estava exausta, pela batalha que levava contra o impulso de subir as escadas.
Cada um de seus passos acima dele, tinha enviado fragmentos nervosos através de seu crânio e de
seu sangue. Sua longa pausa o havia enlouquecido. Amaldiçoou energicamente, quando ela se deitou.
Ele deslizou os peixes em dois pratos e os levou a sala de jantar. Pen chegou trazendo o chá e o pão.
Ela estava muito bonita na luz suave que entrava pela janela do norte. Seu vestido nessa manhã era
mais da moda que o de ontem, verde com rendas marfim no pescoço e um trançado preto no corpo da
saia, que se ajustava em sua cintura estreita e depois se abria em uma saia cheia no quadril feminino,
que conhecia graças às carícias de ontem. Mangas com punhos bem fechados por uma longa fila de
botões.
Ela conseguiu entrar em seu espartilho e nas anáguas hoje. Havia sentido a necessidade de usá-los
como armadura.
Quando os passos acima pararam na porta, ele imaginou o que ela o faria.
— Decidi o que fazer Julián.
— Decidiu o que fazer ou o que não fazer?
— Eu não sei o que significa essa pergunta.
Sim, sim, maldita seja.
— Por favor, diga seu plano.

86
Ela colocou toda sua atenção em servir o chá para os dois.
— Não é realmente um plano. Só decidi qual vai ser meu próximo passo.
Não farei amor com Julián Hampton; isso era o que ele realmente já sabia.
Ele comeu o café da manhã, lhe permitindo decidir como daria uma explicação sobre o que tinha a
ver com ele. Esperou o turno dos eventos com silêncio, porque a reação dentro dele estava a ponto de
explodir com palavras não muito gentis.
— Eu não gostaria que Glasbury controlasse essa situação, disse ela. — Se ele ficar mal humorado,
eu serei obrigada a escolher entre a miséria ou o escândalo. Não é justo. Não comigo e tampouco com
quem eu escolha criar esse escândalo.
— O mundo não é justo. A lei do casamento certamente também não é. O ressentimento não
soluciona seu dilema.
— Não, mas na noite passada estava tão furiosa, que pude ver outra opção. Ele pensa que tem
tudo a seu favor, para estar seguro. Eu não acredito. O acha que seria minha palavra contra a dele. Não é
necessário. — Ela o olhou de frente — Cleo poderia apoiar minhas acusações.
Ele recostou em sua cadeira surpreso. — Não deseja me usar, mas deseja usar uma menina?
— Ela já não é uma menina.
— Ela estava meio louca quando a tiramos de lá.
— Isso faz anos que aconteceu. O tempo cura bastante. Possivelmente já esteja curada.
— Estou atônito com o que você considera a fazer.
— Ela pode desejar fazer isso. Pode ser que queira denunciá-lo. Você considerou isso? Eu acho que
ela deve lembrar daqueles anos com uma visão diferente agora. Se eu fosse ela, o odiaria e não teria medo
dele. Desejaria um pouco de justiça.
—Está pedindo por justiça Pen? Você vai se divorciar e o contará tudo? Ou só usará este
testemunho para que você e Glasbury continuem com o acordo, como foi todos estes anos?
Sua expressão disse tudo. Ela tinha pensado que com esta ameaça, Glasbury se retiraria e a deixaria
em paz.
Havia concluído que, mantendo a chantagem era a melhor solução.
A irritação estava em seus olhos. — Pensa que gosto de viver nesse limbo no qual eu vivo? Que dou
boas-vindas?

87
— Estou certo que não. Entretanto, também acho que se Glasbury não tivesse feito esse
movimento, você o aceitaria para sempre.
— Por que sou uma covarde?
— Não, porque isso significaria que ninguém mais seria ferido, exceto você. Mas acredito que ele
fará qualquer coisa para assegurar-se que você volte para ele, ou que fique livre para ter outra esposa.
Assim sendo, você deve pensar muito, antes de dar o próximo passo e ter certeza para continuar nesse
curso.
Ela se levantou.
— Meu próximo passo não requer que mantenha o curso, porque eu não o escolhi ainda. Só desejo
saber se esse caminho está aberto. Se Cleo tiver um preço, se poderia e deseja fazer.
Saiu da sala para garantir que não discutisse nada mais com ela.
Ele a deixou ir, porque uma tempestade estava se formando em sua cabeça.
Julián caminhou para o jardim, seu sangue fervia de raiva.
Ela ia fazer novamente. Voltaria para as meias medidas. Depois de tudo que fez antes, ela achava
que poderia funcionar novamente.
Ele foi ao estábulo e começou a trabalhar para se livrar do explosivo ressentimento que queimava
nele. Raramente se zangava. Podia contar a vezes com uma mão. A maioria dessas vezes estavam
relacionadas com Penélope.
Uma delas tinha sido o dia que soube que ela iria se casar. E o dia que confrontou
Witherby.
Mas a pior vez, entretanto, foi quando ela o visitou em seu escritório e lhe havia confiado a verdade
de seu casamento.
Ele era muito jovem na época, só tinha vinte e um anos e estava no processo de assumir o cargo de
um advogado mais velho, que tinha dirigido os negócios da família Duclairc por décadas. Entretanto, fazia
três anos que estava em seu estágio e faltavam mais dois e já cuidava da maioria dos assuntos legais do
trabalho nesse escritório e todos ali sabiam. Seu futuro parecia feliz e próspero.
Então, em uma tarde de inverno, a doce e boa Penélope entrou em seu escritório, sentou-se e se
dirigiu a ele como senhor Hampton e contou sua história.

88
Penélope estava envergonhada e assustada pelo que contava. Ele ficou atônito e o único que fez
foi escutar. Brigou duro consigo mesmo, para permanecer impassível, mas com cada palavra dela, ele
desejava mais e mais encontrar Glasbury e lhe dar uma surra sangrenta.
Eventualmente sua compostura se quebrava. Assim como seu coração, o lembrava ter tocado seu
braço com impotente tranquilidade, batalhando contra o impulso de tomá-la em seus braços e lhe jurar
que lhe daria a salvação.
Enquanto, ela chorava tirando tudo o que tinha em seu coração, as imagens finalmente entravam
em sua cabeça mostrando tudo o que ela descrevia e todos os detalhes que evitava dizer. Uma terrível
fúria fez estragos nele, quase saiu para pegar uma arma e ir matá-lo.
Ao invés disso, escondeu sua indignação e lhe enumerou suas opções como um maldito, lógico e
imparcial servo que se supunha que ele era. Certificou-se que ela entendesse que nada justificava viver no
inferno, um inferno que poderia ser pior.
— Agora que você sabe que isso não é normal, pode tratar de se divorciar, — explicou a ela.
Seus olhos se arregalaram.
— Eu acho que nenhuma corte, acreditaria que alguma mulher poderia cooperar com isso
livremente senhor Hampton.
— Há muitas mulheres que desfrutam de tais coisas madame.
— Seriamente? Você não pensa que Anthony poderia alegar que eu faço isso?
— Indubitavelmente ele faria.
Ela chorou de novo, entretanto, havia uma nova resolução em seus olhos.
— Então, eu tenho que ir embora, não é?
—Acho que isso está claro. Permita-me considerar suas opções nesse sentido.
Havia bem poucas malditas opções. Ela poderia tentar divorciar-se dele, alegando adultério e
crueldade. Um divórcio através do Parlamento poderia deixá-la livre para voltar a casar-se, mas as
mulheres quase nunca tinham êxito tentando obter.
O pior que para uma ação parlamentar procedia somente por duas provas: a primeira o divórcio
pela igreja e então se procede o divórcio civil contra Glasbury.
O Divorcio, através da igreja não permitiria nenhum dos dois casar novamente, mas ela tinha mais
chance ali, pois os juízes eram cada vez mais flexíveis em assuntos de crueldade. Uma mulher já não

89
precisava provar, que seu marido lhe oferecia uma vida de violência. Mas um divórcio deixando um conde
sem um filho, um detalhe que poderia afetá-lo negativamente.
De qualquer maneira seria muito público,— disse. – Eu li os depoimentos impressos em todos os
jornais. Não importa o quanto seja sórdido. Inclusive, no Times não encanta o espetáculo e o
lucro que generosamente oferecem.
— Acho que as circunstâncias, justificam a aceitação da vergonha condessa.
— Minha família vai sofrer por ela. Não importa quais sejam minhas justificativas, eles serão
afetados.
— Seus irmãos não se importarão.
— Mas Charlotte ainda é uma garota. Vai afetar todas as possibilidades de um bom casamento para
ela, quando for apresentada na sociedade.
As finanças familiares não estão boas e se for manchada, por um escândalo estará arruinada.
Não podia mentir como ele queria. Ele não podia prometer que sua irmã mais nova não sairia
machucada. Mas seu coração gritava em rebeldia, porque deixava de lado suas objeções e a proteção que
somente o divórcio lhe poderia dar.
— Para que fique segura, deve se divorciar dele. Se só o deixar, continuará a sua mercê.— Disse
com mais seriedade do que pretendia.
— A qualquer momento, pode apresentar um pedido para que seus direitos conjugais sejam
restaurados. Ele sequer precisa pedir. Ele pode obrigá-la a retornar ao seu lar, a sua cama e ninguém o
deterá.— Deve haver uma maneira de garantir que ele nunca faça isso. Não existe?
– Sim existia.
Ele tinha negociado duramente quando se reuniu com Glasbury. Tinha empurrado o homem sob
ameaças de um escândalo, para que a deixasse partir. Quando terminou a reunião tinha entregado a Pen a
metade da vitória que era o que ela havia escolhido. Não a liberdade, mas finalmente seu santuário. Um
santuário que agora estava ameaçado. Ele saiu do estábulo, limpou suas botas e lavou as mãos. Caminhou
pela casa. Foi ao terraço de onde se via a praia. Um ponto azul estava parado em um banco de areia. Sua
ira não tinha sido tão altruísta. Era em parte, possivelmente em grande medida, pela frustração de um
homem que queria tanto uma mulher, que faria qualquer coisa para poder tê-la. Ele viveu durante muito
tempo na torre de que tinham construído anos atrás, a que lhe tinha servido bem para sentir-se protegida.
Não podia culpá-la de querer tentar reparar essas paredes, ao invés de andar ao encontro do inimigo. Em

90
comparação com a segurança que tinha encontrado na fortaleza, a oportunidade de ter uma relação de
conveniência com seu amigo e advogado, não a atraía muito em absoluto. Desceu para à praia e se juntou
a ela.
Cleo ainda está em Yorkshire com a senhora Kenworthy,— disse. – Levarei você a ela.

91
CAPÍTULO 10

Depois que decidiram fazer a viagem, ficaram prontos ao mesmo tempo.


Julián cavalgou em seu cavalo até o povoado mais próximo Billings, para contratar um cocheiro que
fosse levar Pen e transportar seus baús.
O plano era alugar um quarto para passar a noite, em um lugar seguro na cidade, enquanto ele
voltava para Londres. Lá ele encontraria uma mulher para que viajasse como acompanhante de Pen, a fim
de preservar a sua respeitabilidade.
Decidiram ficar em um hotel pequeno, até chegar a Yorkshire e viajariam com nomes falsos. Ela
seria a senhora Thompson e Julián seu primo, sua escolta para um casamento no Distrito Lake.
Depois que Julián partiu, Pen caminhou pela casa e percebeu que se sentia um pouco triste ao
deixá-la. Ela havia redescoberto uma antiga amizade ali, que havia se escurecido nos últimos anos. Tinha
saído com o senhor Hampton e voltava com o Julián e ela sempre se lembraria desse retiro, como o lugar
mais belo que havia conhecido em de sua vida.
Ela recolheu seu tratado da mesa. Quando chegasse a Billericay o enviaria à Sra. Levanham.
Posteriormente, seus comentários se comparariam com os que as outras fizeram e o projeto final, ficaria
pronto. As lições que aprendeu no desastre de sua vida poderiam marcar uma diferença para outras
mulheres algum dia.
Em seu quarto, começou a guardar suas coisas em seus baús. Ela estava terminando com o grande,
quando ouviu Julián voltar. O som das rodas vinham pelo caminho, então uma batida na porta da cozinha
ouviu depois.
Colocou seus últimos pertences no baú e se aproximou da porta.
Na metade da escada, parou abruptamente. O alarme a deixou imobilizada.
Já podia ver as pernas do homem que a esperava. As roupas não eram de Julián.
As botas se dirigiram para ela e o restante do homem ficou à vista. Seu estômago adoeceu.
Glasbury lhe sorriu.— Bem-vinda de volta a Inglaterra, minha querida.

92
O pânico cresceu em sua cabeça. Ela deu meia volta para correr e esconder-se, apesar de saber que
não havia lugar para ir.
— Desce, Penélope.
Ela lutou para esconder seu terror. Ele desfrutaria vendo, mas não lhe daria essa satisfação de saber
o que sentia. Parou bem na base das escadas. Ele não se moveu, enquanto descia. Isso a forçou tocá-lo,
enquanto descia seu último degrau e fazia a volta ao redor dele. Ele a agarrou pelo braço.
— Nenhum beijo? Depois de todo esse tempo?
— Eu prefiro que não.
— Eu gostaria de um beijo querida. Ela olhou pela janela. Ele não havia trazido sua carruagem. Não
havia símbolos marcados nesta. Só um cocheiro que a dirigia e ele não usava as cores do conde...
— Peça para que um dos cavalos lhe beije. Se negarem, você pode fazer usar seus direitos com a
impunidade.
— Não só os cavalos Penélope. Tudo o que eu tenho.— Atraiu-a para mais perto e lhe deu um beijo
nos lábios.
Seu estômago se revoltou pela bílis e puxou o braço para livrar-se. Ele a deixou ir, mas sua
expressão disse que era sua escolha não dela.
Passeava pela cozinha, vendo tudo com desgosto.
— Então, Hampton a escondeu nesse casebre. Foi muito irritante ter que segui-lo. Teria sido mais
simples, se ele tivesse dito onde encontrá-la.
— Eu insisti para que não o fizesse. Como encontrou este lugar?
— Eu simplesmente mandei investigar as propriedades que possuía e depois quando me
informaram que tinham visto uma mulher ontem à noite aqui, soube que era você.— Olhou a próxima sala.
— Esteve vivendo aqui com você?
— Ele estava em Londres. Não há dúvida, que muitas pessoas podem testemunhar isso.
Ele se dirigiu à porta do jardim e fez um gesto para o cocheiro, para que subisse pelos baús,
enquanto isso Glasbury entrou na biblioteca.
Pen seguia o conde, desesperada olhando ao seu redor, todo tipo de provas que delatassem que
Julián esteve ali recentemente, com a esperança de poder esconder as provas do olhar do conde. Ela não
tinha ficado a sós com Glasbury desde que ela o deixou e estava apavorada. Um tremor visceral passou
através dela.

93
— Esse é um lugar tão rústico. Não há criados. Não tem conforto. Tenho certeza, que ficará aliviada
de poder estar de volta a Grosvenor Square.
— Não vou voltar para Grosvenor Square.
— É obvio que sim.
— Não de boa vontade.
— Sua vontade não me preocupa. Só meus direitos importam. Se você mostrar graça e obediência
para o qual foi criada, serei bom. Se me obrigar, a ter que arrastar você pelos cabelos, vou castigá-la.
Castigar. Ele gostava dessa palavra. Acariciou o som de sua voz, enquanto falava. Ele a olhou com a
boca frouxa em um sorriso cruel. Seus olhos refletiam lembranças dos castigos do passado.
— Por que agora Anthony? Depois de tantos anos, porque está tão decidido que eu volte agora?
— Você quebrou o acordo.
— Eu não quebrei.
— O mundo pensa que você fez. Assim, eu também. Além disso, recebi uma carta na primavera
passada. Um relatório anônimo. Que incluía uma cópia de um tratado estrangeiro, escrito por uma mulher
demente e delirante contra o casamento. Ele a olhou como se fosse uma menina estúpida.
— Achou de verdade, que eu ia cruzar os braços e permitir que minha esposa condenasse
publicamente, meu direito de controlar minha família e meu lar?
— Não há nenhuma só palavra nesse documento a seu respeito.
Cada maldita palavra diz respeito a mim.
— Dobrará minhas costas e eu ainda o publicarei.
— Asseguro a você que jamais fará.
Soava como uma ameaça. Um calafrio deslizou pela sua espinha dorsal.
Tornou-se mais difícil nos últimos anos. Mais cruel. As tentativas de esconder suas inclinações
pareciam ter sido abandonadas. Foi um erro ignorá-lo todo esse tempo. Fingir que não existia, ter perdido
de vista no que havia se transformado.
— Nego-me a acreditar, que correrá o risco do escândalo que simplesmente posso criar, porque
não deseja que o tratado seja publicado.
Ele sorriu de novo. Nunca gostou de seu sorriso. Inclusive, quando era jovem e estava entusiasmada
pela proposta de um conde, mas não se preocupou pelos sorrisos do conde.

94
— Eu não quero sua volta só por essa razão. Tem outras. A mais importante, é que meu sobrinho
está agora em sua terceira esposa e nenhuma delas deu a luz a um filho, tampouco nenhuma das escravas
das plantações.
Acredito, que o problema não é das as mulheres, mas o mais correto, que é dele.
— Deve estar furioso ao reconhecer que a nova lei obrigará a que todos os escravos agora sejam
libertados e que já não estão disponíveis, para pôr a prova as habilidades de reprodução dos homens de
sua família. Gostava de ir visitar a Jamaica. Arrumou uma viagem no ano passado, não é? Talvez, pense em
sustentar a escravidão por um tempo.
Haverá compensações para a situação das fazendas. Entretanto, não vão resolver as insuficiências
de meu sobrinho. Quando foi embora, convenci-me de que através dele a sucessão seria uma maneira
aceitável. Agora novamente, esse dever me corresponde . E a você.
Sua expressão se suavizou. Por um momento parecia suplicante, inclusive triste.
— Volte comigo e me dê meu herdeiro Penélope. Dê-me o filho que prometeu em seus votos.
— Estou assombrada de que jogue os votos diante de mim, como se sua posição fosse de uma
moral superior. Fui embora, porque não tinha a mínima decência humana. Se me quiser de volta, de
verdade, vais ter que me arrastar pelos cabelos. Mas deve ficar preparado, porque vou deixar que o
mundo inteiro saiba tudo o que tem feito.
Ele riu e negou com a cabeça. Suspirou.— É uma vaca estúpida. Como expliquei a seu representante
de chantagens, poucos lhe acreditarão, inclusive se tivesse a oportunidade de falar disso. A ninguém
importará agora de todos os modos. Tudo isso aconteceu há muito tempo no passado.
— Há outros que sabem. Não vai ser só minha voz.
— Ninguém da minha gente falará ao meu contrário. Meu controle sobre eles é total, sem importar
o que as novas leis digam.
Foi para ela. Ela se assustou e retrocedeu até ficar presa contra a janela.
— Seus baús já estão na carruagem.
— Vamos querida, é hora de voltar para casa.
— Não.
Ele estendeu a mão para ela. Ela tentou escapar, mas ele a agarrou seu pulso. Seu domínio se
fechou energicamente.

95
— Tinha a esperança, que poderíamos fazer isso com um pouco de dignidade, mas vejo que não
podemos. Teria sido melhor fazer isso em nossa casa, mas esta casa servirá. É o suficientemente privada.
Seus dedos a seguraram com tanta força, que seus olhos umedeceram. Ele parecia indiferente a sua
dor. Quase aborrecido.
Fazia muito tempo que ela tinha aprendido a reconhecer os sinais que dissessem o contrário,
entretanto, ela os via agora.
O rubor vagou em seu pescoço. As pálpebras de seus olhos ficaram pesadas. Gostava de machucar
às pessoas.
Apertou os dentes e se negou a gritar. Seu aperto ficou pior e pior até que seu braço ficou em
chamas.
— Os anos lhe fizeram rebelde. Muita liberdade deixam desastradas às pessoas de natureza
inferior, mas entretanto, isso será fácil de remediar. Sua vontade é uma coisa frágil. Nós dois já sabemos,
o quanto pode ser rapidamente dobrada e quebrada.
— Para uma mulher torpe, que estava dobrada e quebrada, pode se superar. Cuspiu as palavras à
direita de seu rosto.
Ele se ruborizou.
— Acho que estou contente de que tenha resistido tão estupidamente. Quanto antes aprenda qual
é seu lugar outra vez, melhor.
Seu apertão no braço se transformou em um tormento. Flechas saíram disparadas por suas veias
devido à pressão que exercia. Manchas negras ficavam à vista.
– Você se ajoelhará hoje em minha presença querida. Lembra-se de como fazer, não é?
As lágrimas corriam pelo seu rosto, mas ela não fez nenhum som. A dor tinha reclamado seu braço
inteiro e o ombro. Parecia estar invadindo seu peito e bloqueava a respiração.
Glasbury não repetiu seu comando. Continuou segurando seu braço, aumentando a dor, esperando
que sucumbisse a sua ordem para que mostrasse humildade.
Seria um erro se fizesse. Ela entendia o que ele realmente queria. Não a mera obediência. Queria o
controle que supusesse o medo. Seu prazer na degradação dos outros era complexo e escuro.
Seu corpo queria tanto alívio, que implorou que cedesse até sua alma, entretanto, sabia que
cederia assim que começasse a percorrer o caminho para a impotência novamente.

96
Julián quase não viu as marcas na estrada. Tinha conduzido vários metros pelo caminho até à casa,
antes que o significado das marcas penetrassem em sua consciência.
De repente, apareceram. Todo pensamento abandonou sua cabeça. Um estado de alerta, frente ao
perigo pulsava nele.
Parou o cavalo e olhou para baixo as marcas que havia no barro da rua.
As marcas estavam frescas, o que indicava que uma carruagem tinha passado por aqui faz algumas
horas. Quando montou em seu cavalo para Billericay, foi cuidadoso mais uma vez, em busca de sinais que
pudessem indicar que o homem que Pen tinha visto, havia chegado de carreta ou a cavalo. A falta dessas
provas foi a única razão pela qual a tinha deixado sozinha.
Soube imediatamente que tinha sido um erro. Alguém passou por aqui desde que partiu.
Ele amaldiçoou a si mesmo, desceu imediatamente e amarrou o cavalo em um arbusto baixo.
Depois da curva do caminho em frente, podia ver o telhado da casa.
Rezando para que não fosse muito tarde, com a esperança de que Glasbury não tivesse descoberto
essa propriedade, saiu do caminho e voltou à direita. Olhou para casa de campo, através dos arbustos e
das árvores finas.
Um movimento, chamou sua atenção ao passar atrás da curva do caminho. Um homem estava
sentado, apoiado em um tronco de uma árvore fina. Estava de costas para Julián e parecia decidido a olhar
para a estrada.
Julián olhou para a casa de campo. Podia ver agora, a parte superior de uma carruagem escura. O
recém-chegado não foi embora ainda. Se tinha deixado um guarda no caminho, sem dúvida Pen estava em
perigo.
O medo e a ira o cegaram por um momento. Medo por Penélope e raiva contra si mesmo. Então
sua cabeça limpou e só ficou uma determinação de gelo. Jogou uma olhada para o chão em seus pés e
levantou uma pedra de bom tamanho.
Dirigiu-se para o homem sentado de costas.
O cavalo relinchou e sua presa ficou rígida. O chapéu do homem virou em um ângulo para cima,
como se farejasse o ar como um cão. Ficou de joelhos e uma pistola apareceu em sua mão direita.
Não ouviu Julián até que foi muito tarde. Virou-se com surpresa e levantou a pistola antes que a
pedra caísse sobre sua cabeça. Não teve tempo de gritar, antes de cair de cara no mato.
Julián pegou a pistola. Encontrou outra pistola colocada na cintura das calças do homem.

97
Levou uma em cada mão, voltou para a estrada e foi para a casa.
Ele viu indícios de que outra pessoa entrou recentemente através deste caminho. Várias vestígios
de barro estavam no chão. A grama e os ramos do jardim estavam pisoteadas.

A auto-recriminação fazia estragos em sua cabeça. Pen tinha razão sobre o homem de ontem. Não
houve provas, porque o intruso fez o mesmo que ele nesse momento. Não se ouvia vozes vindo da casa.
Não havia gritos ou desordens. A carruagem apareceu abandonada, mas podia ver os baús de Pen
amarrados na parte de trás.
Atravessou o pátio para o transporte e olhou para dentro. O cocheiro descansava no assento, ele
bebia de novo de uma pequena garrafa. Ele era um homem gordo com cabelos brancos e ralos que saíam
por baixo de seu chapéu.
Viu Julián quando foi dar um gole. A princípio só franziu o cenho com curiosidade. Então viu o
canhão da pistola apoiada na beira da janela, apontando para seu estômago.
Os olhos do homem se arregalaram em choque e o líquido começou a cair por um lado de sua boca.
— Qual é seu nome. Perguntou Julián
— Harry. Harry Dardly. — balbuciou sem deixar de olhar a pistola.
Além de seu passageiro, você está sozinho?
— Havia outro homem, mas voltou para a estrada.
— Quem alugou essa carruagem?
Harry engoliu em seco.
— Não disse seu nome. É um homem elegante. Um cavalheiro que paga muito bem.
Isso soava como se Glasbury tivesse vindo pessoalmente. Possivelmente, alugou essa carruagem
anonimamente e sem usar seus criados e sua bagagem, não teria testemunhas.
O silêncio da casa deixou de ser tranquilizador.
Julián abriu a porta da carruagem. — Venha comigo.
— Agora Senhor? Você não precisa fazer isso. Eu ficarei aqui sozinho cuidando dos cavalos. Tem
minha palavra.
— Para fora.

98
Harry saiu pesadamente, afastando a distância entre ele e a pistola. Ficou lívido quando viu a outra
pistola, em sua mão esquerda.
Julián fez um gesto para que caminhasse para a casa. O olhar do homem era como se fosse levado
para a forca. Harry abriu o caminho.
— Harry, seu passageiro é o conde de Glasbury.
— Glasbury! OH, que inferno. Não quero ter problemas com um conde.
— Ali dentro, também está uma mulher. Se Glasbury a machucou de alguma forma, preciso de uma
testemunha.
— Testemunha!— Harry parou em seus calcanhares. — Não, não serei. Não desejo me colocar em
problemas, por falar contra um conde. Minha mulher me mataria se me arriscasse fazendo tal coisa.
Julián tocou o homem com a pistola. — Eu preciso que venha comigo, tenha coragem homem.
Com um olhar cada vez mais miserável com cada passo que dava, Harry entrou na cozinha.
Nenhum som os recebeu. Quando Julián olhou para a cozinha, viu que a mesma e as outras salas
atrás estavam vazias, apontou a Harry que seguisse para a Biblioteca.
O cocheiro entrou primeiro e ficou parado como pedra na entrada.
— OH, meu Deus, murmurou.
—O que você está fazendo aqui? Disse que esperasse até que o chamasse. A afiada voz era de
Glasbury.
Julián empurrou Harry para frente alguns passos e entrou na sala.
Uma fúria explosiva estalou em sua cabeça, quando viu o que estava acontecendo na biblioteca.
O bastardo tinha agarrado Pen pelo braço, em um aperto tão forte que os nódulos dos dedos
estavam brancos. Com o braço estendido estava tentando obrigá-la a se ajoelhar. O corpo de Pen se
inclinava de forma antinatural, resistindo à queda e para aliviar seu sofrimento.
E certamente ela estava sofrendo muito. Seu rosto perdeu toda a cor e seus olhos estavam
vidrados. Parecia a ponto de desmaiar. Entretanto, tinha uma forte determinação em sua expressão. Não
saíam sons por sua boca, não havia gritos ou suplicas.

99
Ela viu primeiro Julián . O conde estava tão interessado em sua vítima, que não percebeu que
Harry não tinha entrado sozinho.
Julián apontou sua pistola, para o coração do conde e a engatilhou. Apenas teve que se controlar
para não apertar o gatilho.
— Solte-a. — Sua voz soava estranhamente calma para seus próprios ouvidos. Seu cérebro foi o
que gritou a ordem.
Sua alma implorava para que Glasbury resistisse. O olhar deste se quebrou e por um momento,
pareceu estar muito assustado. Então fez uma careta de desprezo.
— Você não se atreveria...
— Não só me atreverei, mas como terei êxito. Liberte-a.
Glasbury vacilou. Os dedos de Julián acariciavam o gatilho.
Com uma expressão de desgosto e repugnância, Glasbury a soltou. Pen cambaleou para longe dele.
Glasbury olhou para o cocheiro.
— Essa é minha esposa e este homem está interferindo, afaste-o...
— Que o afaste? Eu?
— Pagarei você muito bem, pagarei agora.
— Ele tem duas armas, se por acaso vossa senhoria não notou.
— Ele não as usará.
— Que me crucifiquem se acha que vou averiguar. Harry cruzou seus braços em seu amplo peito,
deixando claro que não se moveria.
Julián estava olhando para Penélope. Um pouco de cor tinha retornado a sua aparência e parecia
mais estável.
— Condessa, ali fora há uma carruagem com seus baús amarrados, vá e me espere lá.
Os olhos de Glasbury brilhavam — Se você a levar de meu lado, estará interferindo em meus
direitos.
— Você perdeu todos seus direitos quando abusou deles. — disse Pen em voz baixa.
Quando passou pelo lado de Julián , lhe estendeu uma das pistolas.
— Pega isso, no caso de ele ter trazido outro homem, que acredito que está perdido.
Ela fez uma pausa e jogou um olhar sobre suas costas e de seu marido. Uma expressão profana em
seus olhos revelavam a tentação que sentia.

100
— Espere lá fora madame, — Julián disse firmemente.
Ela recuperou sua compostura. Passou pelo lado de Harry, com seu braço pendurando limpamente
ao lado. Harry viu a expressão de dor em seu rosto.
— Se estou correto milorde, você roubará minha carruagem e meus cavalos?
— Se você estiver de acordo com meu plano, terá a ambos hoje a noite e também seu pagamento
pelo uso.
— Bem, agora você pinta um quadro diferente.
— Isto é intolerável, — disse Glasbury — Eu aluguei essa carreta para o dia e…
— Vou deixar a carruagem no final do caminho. Os cavalos irão comigo um pouco mais longe, a
meio do caminho de Billericay. Pelo uso de sua propriedade, vou deixar cinco guinéus dentro da
carruagem.
— Isto é um roubo, se levar a carruagem vou fazer que o persigam como ladrão.
— Acredito, milorde, que me corresponde decidir se fui roubado. Nunca vi um ladrão que deixasse
cinco guinéus. — disse Harry.
— Ficaremos presos aqui idiota!
Somente por um dia. Harry será capaz de caminhar para buscar os cavalos e retornar aqui antes
que anoitecer. Julián saiu da biblioteca.
Agora, cavalheiros não quero vê-los deixar essa casa, quando for pelo caminho. A dama que está
me esperando, suspeito que está muito disposta a usar a pistola que lhe entreguei. Se não, não duvidarei
em usar a minha.
— Pare-o, idiota inútil — gritou Glasbury a Harry.
— Faça você. Ou os condes só são valentes quando se trata de mulheres? Burlou-se Harry com
desgosto. — Só lhe digo uma coisa, deve ficar feliz, por minha esposa não estar aqui presente.
Julián deixou Glasbury com a censura de Harry. Pen conseguiu subir no assento do cocheiro,
enquanto ele voltava à carruagem.
— Estamos roubando? Não parecia que lhe afetasse muito.
Ele subiu ao seu lado e pegou as rédeas.
— Estamos tomando emprestado, com o consentimento de seu proprietário.

101
Depois ele virou a carruagem e foi para o caminho, seu olhar caiu sobre ela, seu braço descansava
inerte em seu colo. Sua expressão era uma máscara estoica. Suas pálpebras escondiam a maior parte de
seus olhos.
— Lamento muito Pen. Culpo a mim mesmo.
— Aqui o único homem culpado não é você. Agradeço por ter vindo e pelo que fez. Não sei o que
teria acontecido se você não tivesse chegado.
Nada bom certamente. Se o conde quisesse somente levar sua esposa, poderia ter feito em sua
carruagem com toda a pompa e estilo, que gostava de demonstrar para chamar a atenção de todo reino.
O conde não foi capaz de resistir a oportunidade de ter Pen sozinha e isolada, entretanto, tentaria
lhe prejudicar de algum jeito desde o começo. O que significava, o quanto longe poderia ir, esse
pensamento se enrolava na cabeça de Julián. A imagem dela brigando contra a dor, se abatia em seus
pensamentos como um véu. Fogo e gelo enfrentavam uma batalha dentro de seu corpo. O impulso de
devolver e matar o canalha não o abandonava.
Ela tocou seu braço.— Sobreviverei, Julián. Mas dirija rapidamente, assim que chegarmos à estrada,
eu gostaria de colocar distância entre mim e o que aconteceu.
Não havia dúvida, que agora eles atuariam com rapidamente. Não só precisavam colocar distância
entre Pen e o que tinha acontecido. Tinha que levá-la para longe do conde de Glasbury.

102
CAPÍTULO 11

Eles mudaram de carruagem quando chegaram. Julián desenganchou os cavalos de marcha e


amarrou um na calesa, deixando a carruagem maior no caminho. Pen testou seu braço. Já não estava
insensível. O lugar onde Glasbury segurou palpitava. Entretanto, uma dor profunda estava em toda a
extremidade. Ela suspeitava que um enorme hematoma estava escondido pela manga. Julián parecia ter se
acalmado um pouco. Ela nunca o tinha visto tão zangado, como quando entrou na biblioteca. Ele parecia
muito perigoso e escuro, tanto que esperou que ele disparasse em Glasbury. Em sua dor e desespero, ela
esperou que de verdade o fizesse. Depois que colocou a arma em sua mão, estive tentada a fazer ela
mesma.
— Ainda quer ver Cleo? Perguntou Julián.
— Sim. OH, sim. É claro que sim.
Ela superou Glasbury antes e agora faria novamente. O mundo poderia não acreditar, mas poderia
escutar a história de Cleo: diante essa possibilidade, o conde se retiraria e nunca mais a tocaria de novo:
— Não pode permanecer em Billericay. Devemos fazer isso de outra forma. Vou ter que procurar
um lugar seguro para passar essa noite, onde eu tenha certeza absoluta que estará protegida. Enquanto
não estivermos bem longe de Glasbury, não ficará sozinha novamente.
— Não acredito que exista um lugar assim. Estamos ficando sem santuários.
— Há mais um.
Nessa noite, enquanto a luz desaparecia, a calesa rodava por um caminho cercado de árvores, eles
deixaram em liberdade os cavalos na metade do caminho a Billericay.
Tinha sido uma viagem exaustiva na calesa. O cavalo precisava descansar frequentemente e o longo
caminho estava cheio de pequenos buracos. Somente o conhecimento de que Glasbury estava separado
pela costa, fez com que Pen conseguisse ficar mais calma e com menos medo, embora muito impaciente
com seu progresso. Eles se aproximaram de uma velha cruz de madeira, situada pitorescamente perto de
uma casa.
— Acha que ele concordará com isto?

103
— Ficará adulado pela pergunta. Não duvidará em enfrentar a qualquer homem, que tente
interferir.
— É velho para isso.
Julián riu baixinho — Sua espada continua sendo insuperável Pen. Também cedeu e aprendeu a
usar uma pistola.
O homem de que falavam saiu pela porta de entrada, para vê-los melhor. Cabelos grisalhos, ossos
magros, estatura mediana, não dava indícios de uma força de aço. Entretanto, Pen o tinha visto treinar
com sabre e florete, sabia que a concentração e a precisão mortal, lhe davam essa forma de combater.
O senhor Corbet caminhava para a calesa. Saudou Pen com uma inclinação de cabeça.
— Condessa, sinto-me honrado. Julián, trouxeste a dama para mostrar suas habilidades? É um
pouco tarde, mas não importa.
— Não é uma visita social Louis. Tenho que deixar à condessa sob sua proteção até manhã. Não
espero nenhum problema, mas entretanto, talvez você possa mostrar suas habilidades se for necessário.
Os olhos de Chevalier brilharam com um sorriso contido e suave, enquanto ajudava Pen descer da
calesa.
— Pelo bem estar da dama, espero que não. Mas por minha própria diversão, não duvidaria. Faz
tanto tempo desde a última vez que o fiz, que agora não faço mais que dividir instruções para outros.
— Espero que não tenha lições para amanhã cedo, — Disse Pen.
— Não espero ninguém. Se alguém chegar inesperadamente, despacharei-o de volta. Sua pessoa e
sua reputação estão completamente a salvo.
Julián levou seus baús, para dentro da casa e os deixou no quarto indicado por Corbet. Pen recebeu
um pouco de vinho na sala, que ficava ao lado do grande salão de aulas pelo qual, Chevalier era famoso.
Louis a fez sentir-se bem-vinda e acolhida. Ela o conhecia há muitos anos, porque seus irmãos
Vergil e Dante eram seus alunos, assim como Julián, St. John e alguns outros conhecidos, ainda hoje se
reuniam para praticar com a espada.
Quando Julián se uniu a eles, Chevalier saiu discretamente, Julián pegou uma vela e a colocou em
cima da mesa que estava perto de sua cadeira.
Ele não parece muito curioso por essa intrusão — disse ela.
— Ele não pedirá explicações, ou dará conselhos a menos que o pergunte. Cuidará de você com sua
vida. Não tenho dúvida disso.

104
Ele pegou sua mão esquerda. Ela pensou que era um gesto de consolo. Gentilmente trouxe seu
braço e começou a desabotoar sua manga.
— Não estou certa se gostarei de ver isso, — disse ela.
— Eu sei — seus dedos desabotoavam cuidadosamente os botões menores. — Você me disse que
Glasbury não era violento com você.
Ela estremeceu quando ele chegou nos botões em cima da ferida. O aperto de Glasbury tinha
deixado pequenas protuberâncias em sua pele. — Não foi no passado. Isso foi minha culpa. Recusei-me a
fingir e o incitei a fazer isso, para ser honesta.
— Nunca mais diga isso novamente.— A culpa é só dele e não sua. Separou a manga aberta para
revelar o dano. Sua pele mostrava um hematoma escuro, como uma faixa grossa ao redor de seu
antebraço. A imagem dos dedos do conde eram claramente visíveis.
— Maldito bastardo. Julián contemplou o abuso apoiando em sua mão. – Você deve sentir uma dor
terrível.
— Não é tão doloroso. — Era uma mentira, embora a sensação do contato de Julián a distraísse de
sua dor. Um calor diferente, mais agradável subia por sua pele, enquanto sentia a firme palma de sua mão.
— Vou comprar algo para aliviar o inchaço.
— Não Julián , deve sair logo de Londres, eu posso cuidar disso e se precisar de ajuda pedirei a
Chevalier, atrevo-me a dizer, que ele sabe mais a respeito dessas feridas e lesões do que nós.
Ele se mostrava relutante. — Retornarei na alvorada com o que precisamos, para continuar a
viagem, — disse ele. — Espere-me algumas horas antes do amanhecer.
— Estarei preparada.
Ele beijou suavemente a feia ferida. — Aconteça o que acontecer Pen, prometo que ele nunca mais
fará mal à você de novo. Nunca.
— Glasbury me pegou de surpresa, sigilosamente por trás. — contou ela.
— Se um advogado é melhor que você Jones, o quanto bom você é?
Glasbury passeava pelo pequeno quarto ridículo, que lhe tinham dado na estalagem de Billings.
Esperar na casa de campo, enquanto Dardly recuperava os cavalos foi intolerável. Depois o cocheiro
insistiu que esperassem até manhã, para retornar a Londres. Agora estava preso nessa pocilga de
estalagem, sem seu valete ou roupa limpa. Os olhos de Jones pareciam duas pequenas fendas em seu rosto
de lua cheia.

105
– Eu vou encontrá-lo, assim retorne a Londres. Não duvide. Também, tenho uma dívida para cobrar
de Hampton. – Disse Jones, esfregando o cabelo com sangue seco em sua cabeça.
— É um idiota, acha que a levaria para Londres agora? Hampton não é a cabeça mais brilhante da
criação, mas não totalmente idiota.
— Se não vai para Londres, então para onde vai?—
— Ao diabo se soubesse. Também têm um dia de vantagem, por causa de sua negligência, poderá
segui-los não é?
Glasbury mal conseguia conter sua frustração. Ter ficado tão perto, de finalmente acabar com essa
alienação ilegal e humilhante, para que somente a incompetência de Jones e do cocheiro arruinassem.
Tomou mais do insípido vinho, que a estalagem tinha enviado com sua comida. Bebeu um longo gole.
O encontro com Penélope ocupava sua cabeça todo o dia, enfurecendo-o. Durante anos, foi
impotente por causa de suas ameaças, mas agora não. Muito em breve, ela compreenderia isso. Claro que
havia outras pessoas que sabiam. Sim, mas nenhum eram dos que falavam. O melhor do poder e da
riqueza, é que poderia comprar o silêncio com o medo e com o dinheiro. E comprar homens como Jones,
se fosse necessário.
— Bom, se ele não está a levando para Londres, precisamos esperar até que ela se mostre,— disse
Jones.— Não existe uma maneira, de varrer a terra com todos os caminhos, canais e aldeias da Inglaterra,
não é?
Glasbury tomou outro gole de vinho. Imaginou o rosto de Penélope na casa. Agressivo.
Uma provocação. Ela tinha mudado com os anos. Mas assim, gostava mais. Já não lhe atraía a
fragilidade, não existe vitória se seu oponente for fraco.
Sua resistência foi muito emocionante. “Existem outros que sabem. Minha voz não será a única.”
Lembrou de suas palavras. Viu sua expressão de confiança, quando o ameaçou.
Deixou seu copo na mesa e de repente, entendeu o significado de suas palavras. Claro, certamente,
ela não falava de suas escravas da Jamaica ou da Inglaterra. Não, esses ainda estavam sob seu domínio.
Riu entre dentes, já não se preocuparia com os incômodos de uma noite nessa estalagem.
— Eu sei para onde foram. Sei onde encontrá-la. Pode ser que inclusive, a pegue na estrada. Eu lhe
darei instruções amanhã. Você terá outro homem que lhe acompanhe. Isso deve acontecer sem incidentes,
sem notoriedade.

106
Jones se retirou e Glasbury se sentou na mesa. O vinho estava com melhor sabor e serviu-se um
pouco mais.
Quando disse que uma mulher nos acompanharia, pensei que significava certa maturidade,— disse
Pen.
Ficou de pé ao lado de Julián em frente a Casa de Cavalier, enquanto seus baús eram levados até a
parte de cima da carruagem contratada, que Julián havia trazido.
Liderando Chevalier e o cocheiro, havia uma jovem dama chamada Catherine Langton. Tinha os
cabelos loiros e pele branca, com uma constituição robusta tanto em sua aparência física, como em seu
comportamento e era uma cabeça mais alta que Penélope. Sua postura e as fortes ordens, mostravam que
não tolerava os tolos.
Chevalier desceu da carruagem e sacudiu suas mãos com firmeza. Os férreos olhos azuis de
Catherine, examinavam os laços no peito. Chevalier respondeu com uma expressão, que indicava que uma
só mais uma crítica implicaria em riscos.
Ela é uma mulher amadurecida,— disse Julián.
— Sabe o que quer dizer amadurecida? Pelo menos, não muito mais velha do que eu. Ela não deve
ter mais de vinte e cinco anos.
Catherine caminhou para a porta da carruagem, subiu, arrumou as cortinas a seu agrado e
esperou.
— Onde a encontrou?
— Chamei uma amiga sua a senhora Levanham ontem de noite e pedi uma recomendação. Sua
fama como mulher que abandonou seu marido, atrai outras mulheres em uma situação semelhante.
— Igual a mim.
— E igual a Catherine. Eu pensei que outra esposa infeliz do nosso lado, seria bem-vinda.
Entretanto, o marido de Catherine é um capitão de navio e estará de volta a Inglaterra algum dia, a
oportunidade de fazer uma viagem longe de Londres a atraiu muito.
— Ela é muito dominante.
— Não há dúvida de que é, devido suas circunstâncias. Ela agora faz seu próprio caminho.
Sua voz soava como se ele a admirasse. Por alguma razão, isso fez com que gostasse ainda menos
de Catherine.
— Sabe quem sou?

107
— Vamos utilizar nossos nomes falsos nos hotéis, mas não podia manter a farsa por muito tempo
com ela. Ela deve fazer isso esplendidamente Pen. Ela está disposta a atuar como donzela, mas é educada
e bem falada. A senhora Levanham me informou, que também tem um talento muito incomum.
— E qual é?
— É perita em armas de fogo. É uma excelente atiradora.
Guiou Pen para o transporte e a entregou à mulher formidavelmente jovem, a que esperava
dentro.
Catherine imediatamente, tirou uma manta e colocou nos pés de Pen. – O Senhor Hampton ficará
em cima?
— Parece que sim.
— Por que será? Tem espaço suficiente aqui.—
— Não sei.
— Não o conhece? É um estranho para você?
— Conheço o senhor Hampton desde que era menina. Ele é um velho amigo, entretanto não posso
ler seus pensamentos.
— Não precisa ler o pensamento de um homem, para conhecer seus hábitos e preferências.
Catherine falou bruscamente, sem rodeios, com o tom que Pen se aborreceria sempre.
– Ele gosta ficar fora das portas. Talvez, queira ver o campo e sentir o vento.
Após se despedirem de Cavalier, a carruagem tomou o caminho e foi para o noroeste. O dia
nublado aparecia como um pano úmido e amargo, Pen estava agradecida pela manta que envolvia seus
pés.
Olhou para baixo e reparou nos sapatos velhos de Catherine, aparecendo por baixo da saia e
anáguas. Ela se inclinou e arrumou a manta para que cobrisse seus pés e também as pernas de Catherine.
A expressão de Catherine caiu como se o gesto a surpreendesse. De repente, pareceu muito jovem
sem a expressão tão severa. Com algumas sardas no nariz e nas faces, na verdade parecia um pouco
menina.
Nivelou seus olhos azuis com os de Pen. Não se transformaram em gelo, entretanto, em alguns
poucos anos a mais poderia acontecer.
— Eu sei que você,— disse.— estranho você fugir de um conde. Deve ser difícil renunciar essa vida
de luxos.

108
— Não mais difícil ou mais audaz, que sua própria decisão. Pelo menos, eu tenho uma família e
recursos que você não tem.
— Batia em você?
Ela balançou a cabeça. O conde não tinha utilizava seus punhos nela, antes de ontem, nunca lhe
tinha feito mal dessa maneira. Os golpes foram de outras maneiras, mais perversos.
— Meu Jacob. Embebedava-se e me batia. Primeiro o aceitei porque era meu marido. Depois
porque eu tinha uma filha. Então um dia fui embora, mesmo que isso significasse perder minha preciosa
filha, porque era muito perigoso permanecer ali.
— Tinha medo por sua vida?–
— Medo pela dele. Levantei-me uma manhã roxa e ferida, com ódio em meu coração. Soube que se
voltasse a me ferir o mataria primeiro. Assim o deixei.
Ela contou sua história tão calmamente, que alguém poderia pensar que descrevia uma velha
história em sua vaga memória. Mas seus olhos a traíam, mostravam suas verdadeiras emoções. A tristeza e
a raiva brilhavam neles como chamas sem extingui-las.
— Não viu sua filha desde então?
— Ele a enviou para o norte com sua família, perto de Carlisle. Pensou que meu grande amor por
ela me obrigaria a voltar, ou possivelmente, me forçar a fazer ele mesmo. Estou segura enquanto estiver
no mar. Mas quando seu navio retornar a Inglaterra, vou desaparecer se puder.
— Deve ser difícil conservar um emprego.
Apenas mantenho-me. Entretanto, ainda não precisei vender meu corpo. Embora poderia fazê-lo se
precisasse. Afinal, vendi eu mesma para Jacob, não é? Se fiz com um homem que fez crescer meu o medo e
o ódio, suspeito que não me custaria fazer com um estranho.
Pen sabia que podia dizer algo moral sobre a virtude e o pecado, mas quem era ela para julgar uma
jovem mulher, pelas escolhas que fosse obrigada a tomar, especialmente quando ela mesma, havia feito
uma lista de homens com os quais ela poderia fazer “isso” com a intenção de achar uma saída para sua
liberdade.
Passaram por fazendas cinzas e inóspitas como o céu. Em poucos dias estariam em Grossington e
ela poderia ver Cleo. Perguntava-se em que tipo de mulher havia se transformado agora, com o passar dos
anos a temerosa menina que tinha sido.

109
Seria covarde por não ter escolhido um movimento audaz? Desejava ser totalmente livre. Invejava a
grande liberdade de Catherine, embora as duas permanecem unidas a seus maridos pela lei, Catherine
podia fugir do alcance de Jacob, podia desaparecer dentro da Grã-Bretanha. Enquanto que a condessa de
Glasbury não poderia. Para ela fugir e se esconder, significava deixar para trás tudo o que ela conhecia e
amava. E se parasse de brigar, significava também ferir sua família e amigos.
— O senhor Hampton é muito atraente, — disse Catherine.
— De fato.
— Toda mulher deve pensar. Embora silencioso. Acho que poucos homens podem permanecer tão
silenciosos. Geralmente eles falam, mas dizem coisas insignificantes.
— Acho que o senhor Hampton estaria de acordo com você.
Catherine alisou a manta sobre seus joelhos. Ela olhava seus longos dedos, para brincar com eles.
— Estão indo para uma festa? É esse o motivo dessa viagem?
Parece que Julián não explicou nada. — Tenho que fazer uma visita e o senhor Hampton está me
escoltando.
— Ah. Estou vendo. Estranho que usem diferentes nomes, mas isso não me corresponde comentar.
— Seus dedos continuavam fazendo traços e alisando a manta. — Você e eu compartilharemos o quarto
nas estalagens?
— Acredito que sim.
— O Sr. Hampton também ficará conosco nas estalagens?
— Acho que será necessário. Não deve se preocupar, se Jacob a encontrar não estará desprotegida.
— Posso cuidar de mim mesma milady. Entretanto, ter o Sr. Hampton por perto será muito útil,
pois durmo profundamente. Principalmente, depois de uma viagem e precisam trazer um canhão para me
despertar. É bom saber que ele estará por perto, se por acaso houver algum problema. Se alguém entrar
em nosso quarto durante a noite, eu ficaria completamente inconsciente disso. Pen entendeu o que
Catherine estava insinuando.
— Estou certa que ninguém entrará ou deixará o quarto durante a noite.
— Sim, milady. Entretanto, pensei que deveria saber o quanto profundamente eu durmo. Ela se
inclinou e pegou outra manta debaixo do assento. —Permita que lhe dê outra manta milady, na luz você
está muito pálida.
Estava muito óbvio, que Catherine Langton havia tirado muitas conclusões a respeito dela e Julián.

110
Primeiro, Catherine achava que sua presença, servia para prover respeitabilidade à escapada entre
um casal de amantes.
Segundo, ela havia decidido que não tinha interesse de interferir nessa escapada.
Ela possuía um admirável talento para se fazer invisível. Chegava tarde aos jantares e se retirava
cedo, assim ele e Pen poderiam ter tempo a sós. Quando descia da carruagem, antes de todos, encontrava
desculpas para deixar Pen no quarto por regulares intervalos de tempo na noite. Se ela e Julián tivessem
mesmo um romance, ele ficaria fascinado por lady Catherine.
Entretanto, desejava que ficasse bem claro que não era, embora adorasse a privacidade que podia
ter com Penélope de todas as maneiras.
Na terceira noite, quando eles jantavam no quarto de Pen na estalagem dos York, assim que
terminou de comer, Catherine se desculpou para sair.
Acho que vou tomar um pouco de ar, se não se importa milady.
— Está chovendo Catherine.
— Não me importo com um pouco de chuva. Tenho minha capa e ficarei debaixo do teto, sinto
necessidade de tomar um ar depois de ter viajado de carruagem todo o dia. —
Ela deixou o quarto e Julián se perguntava, se estava levando sua pistola com ela. Ele olhava através
da velas a perfeita pele de Pen, seus suaves lábios e sua expressão doce.
A vontade de se aproximar e acariciar seu rosto, estava a ponto de contrariar seu bom senso. Ele
amava a suavidade de seu rosto, seu corpo e seu grande coração.
Talvez, ela fosse uma mulher que precisasse de uma asa protetora, podia ver como agora ela era
muito cálida com o Catherine. Pen poderia nunca usar uma arma, mas podia realmente ser muito
desinteressada defendendo aos que mais precisavam.
— Vejo que fui muito rápida ao julgar Catherine. Estava certo senhor Hampton, ela é uma
companhia muito agradável para mim. Escolheu muito bem.
— Entristece-me ver que volta a se dirigir a mim, novamente com formalidade. Considerando o que
aconteceu na casa de campo, é um absurdo voltar a essa direção de novo.
Ela se ruborizou encantadoramente. O reflexo do fogo a iluminavam aumentando sua beleza. Seus
olhos também refletiam a verdadeira razão, pela qual havia sido tão formal. À medida que seu olhar
baixava, olhava ao redor do quarto com a consciência de que estavam sozinhos em seu dormitório. Ela

111
mexia nervosamente em sua mão, o cabo do garfo que estava perto. Ele sabia que tinha que ir, ou dizer
algo para fazer que se sentisse cômoda.
Mas as lembranças de seu corpo, seus seios firmes, os suaves lábios sob seus e seus quadris
levantando para receber suas carícias, invadiam seus pensamentos. A luz do fogo das velas, a cama
escondida atrás das cortinas, as mútuas lembranças do que haviam compartilhado, criavam um ambiente
que não tinha nenhum interesse em dissipar.
— Se aproximar da senhora Levanham pedindo ajuda, foi também muito inteligente. Ela sabia que
estava me ajudando?
— Eu não contei que a dama que precisava de uma companheira era a condessa de Glasbury, mas
acho que ela entendeu facilmente. Afinal, eu a conheci quando me enviou para aconselhá-la sobre a lei.
— Se eu soubesse que iria vê-la, teria aproveitado para entregar a ela meu ensaio com as revisões.
Enviarei amanhã antes de sairmos dos York.
— Prefiro que não Pen. Isso pode esperar até que tenha terminado essa viagem. -
— Não vejo a razão para atrasá-lo.
Julián olhou para seu braço esquerdo, que ainda não estava bom. — Quando falou com Glasbury
ontem, mencionou algo sobre esse projeto?
— Sim.
— Suponho que está aborrecido.
— Muito aborrecido. Eu lhe disse que o publicaria de todas as formas. Disse que essa era uma das
razões para me fazer voltar, além da necessidade de um herdeiro, mas não acho que tudo isso se deva só
por essas duas coisas, não realmente.
— O que é que você acha?
A expressão de Pen se tornou pensativa.
— Disse-lhe sobre suas terras na Jamaica e de como a nova lei o obrigaria a libertar seus escravos.
Um pouco parecido ao medo que passou por seus olhos, quando lhe disse isso. Uma raiva, talvez uma
faísca de ressentimento.
— A lei terá consequências econômicas. Mesmo com as compensações garantidas pelo
Parlamento, custará-lhe muito caro.
— Não acredito que sejam os efeitos financeiros, que o motivou reagir assim. Julián ele adora ter
escravos. Adorava ser dono dos direitos dos seres humanos e os ter submetidos a ele. O tentou recriar esse

112
mundo aqui na Inglaterra e depois que fui, ele visitava a Jamaica de vez em quando, para poder desfrutar
desse poder de novamente por um tempo. Agora, com a nova lei, isso terminou. Legalmente, nunca
poderá fazer de novo.
— Exceto comigo.
O quarto parecia sussurrar as palavras. Julián virtualmente ouvia em seu pensamento, essa frase
final que não expressou com palavras.
Ela estava certa, Glasbury poderia estar muito perto dos direitos sobre as vidas alheias que tanto
gostava, com sua esposa e filhos. Todos os homens podiam, mas muitos deles não exploravam esse poder.
Ela se levantou e caminhou para a janela. Olhava através das cortinas, como certamente fez quando
discutiu com Glasbury.
Até ontem, não tinha entendido realmente o que o motivava, não compreendia realmente o
quanto ele é malvado. Entretanto, em dois dias enfrentaríamos à evidência que deveria esclarecer.
— Pen tenho a sensação, que está um pouco perturbada por ter que ver Cleo. Ela inclinou a cabeça
para um lado e outro, olhando através da escuridão, seu fôlego embaçou um pouco o vidro.
— É que vê-la me faz ter lembranças, isso é tudo. Não é uma coisa, que algum dia possa esquecer
de verdade.
Sua voz era suave, mas seus olhos pareciam fantasmas. Estava agora mesmo lembrando, levantou e
se aproximou dela. Ele queria que ela nunca mais lembrasse. Cuidadosamente colocou suas mãos sobre
seus ombros e com gesto obrigou-se a ser tranquilizador e não possessivo. Queria abraçá-la e desterrar
suas preocupações. Queria lhe fazer o amor. Esteve pensando nisso há pouco mais de três dias.
— Vou falar com Cleo sozinho Pen. Não precisa vê-la.
Ela o olhou. Via-a vacilante, tentada. Ela balançou a cabeça negativamente.
— Eu era responsável por ela. Deveria ter compreendido isso antes. Se for mexer no passado, não
devo evitar presenciar o que significa para ela. Preciso saber se ela tem coragem de permanecer ao meu
lado, se houver necessidade.
Parecia tão preocupada e triste. Ele reagiu instintivamente e acariciou para baixo seus braços em
um impulso, de que? Conforto? Sedução? O corpo dela se flexionou em consequência e não se mexeu.
Uma preciosa cor percorria seu elegante pescoço até seus deliciosos lábios. Ele esperou um sinal, qualquer
sinal que lhe indicasse que suas carícias seriam bem-vindas. Ele era indiferente ao que era certo e ao que
não o era e estava tão faminto por ela, que as razões já não importavam.

113
Ela não se mexeu. Não se afastou de seu carinho. Seu belo pescoço o tinha hipnotizado. Estava
convencendo a si mesmo, que era uma sedução que não devia ser desonrosa, quando uma pequena
tumulto fora o interrompeu. Fora da porta, uma voz feminina chamava pedindo água. Os sapatos pisavam
na madeira em meio aos fortes murmúrios, a respeito da chuva fria e das ruas enlameadas.
Catherine tinha voltado e estava assegurando-se de que eles a notassem. Pen saiu de suas mãos e
correu para o outro lado do quarto.

114
CAPÍTULO 12

— O Sr. Hampton está esperando para partir agora?


Típico de sua irritante eficiência, querer saber tudo, Catherine estava ocupada planejando a manhã
até o último minuto, enquanto ela e Pen tomavam o café da manhã em seu quarto.
— Não falei com o senhor Hampton, desde que nos deixou ontem a tarde, assim não sei seu plano.
Depois da estupidez com que recebeu Catherine ao voltar ontem a noite, Pen sentia certa obrigação de
esclarecer que ela e Julián não tinham uma aventura, ou intenção de começar uma.
— O Sr. Hampton falou de um curto trajeto para o dia de hoje. Estamos perto de seu destino?
Pen passou uma má noite e uma manhã incerta. Sua conversa com Julián na noite anterior,
provocou reações nela que não podia classificar. Uma tristeza dilaceradora escurecia toda essa confusão e
não somente por Cleo. Suas carícias, sua proximidade, a maneira entristecedora em que seu espírito havia
esperado que abraçasse sua necessidade de consolo e a distração foi atraindo-a a abusar de sua amizade
da forma mais desprezível. Catherine se referia, à conclusão que tinha tirado que aconteceria uma festa ao
terminar a viagem.
— Devemos chegar hoje. Ficaremos um dia ou dois. Depois disso, não sei aonde vou. —
Possivelmente, para a América. Pode vir comigo também. Talvez, Julián aprove essa viagem se você for
abrindo o caminho para mim através do deserto.
Prepararam-se para a viagem, só para descobrir que a capa de Catherine se encharcada pela
caminhada da noite anterior na chuva.
— Use a minha azul e eu usarei a marrom, — Disse Penélope. Abaixou-se para procurar a roupa
dobrada em seu baú menor. Catherine a alisou com a palma da mão, a lã superfina e luminosa da cor
safira.
— Essa capa é muito bonita.
— Meu irmão me deu de presente.

115
— Não foi o Sr. Hampton e nem o conde, Pen queria acrescentar. Jamais o conde. Sua atribuição
sequer pagava sua casa de Londres se não fosse pela ajuda adicional de Laclere. Ajuda que foi concedida
quando deixou o conde.
O manto foi um presente, mas houve outros presentes menos evidentes que havia ganhado. Depois
que Laclere se casou e que suas finanças melhoraram, sua esposa Bianca tinha o costume de convidar Pen
para unir-se a ela a visitas às costureiras. As faturas dos vestidos de Pen chegavam a Laclere junto com os
de Bianca, coisa que ela não esperava era ficar na miséria, mas não foi fácil. Teve que se humilhar. Fui
reduzida a viver de caridade, não importa que outro nome bonito lhe deem para isso, mas era. Estava
sendo estúpida e ela sabia. Não existia concorrência com Catherine, para saber quem era mais miserável.
Catherine daria as mãos somente para recuperar sua filha.
A presença de Catherine se transformava em fastidiosa e irritante. Por um lado, Pen se deu conta
que, sua capa azul a deixava impressionante. Fazia ela parecer mais fresca e bonita e lhe deu cor em suas
faces. Se Julián já admirava Catherine por sua independência, perceberia também, do quanto era preciosa.
— A outra capa não está aqui. Por favor, peça para os criados trazerem de volta meu baú da
carruagem. Quando Catherine se foi, seus olhos azuis olharam brevemente para a parede ao lado do
quarto de Julián. O olhar não parecia cúmplice desta vez. Pen imaginava o homem que estava naquele
quarto, bonito, escuro, frio e magistral. Se ele tinha beijado a jovem, da mesma forma que beijou ela,
provavelmente estava apaixonada. Para Catherine a única preocupação seria a mudança de proteção.
Pen prestou atenção na desordem que tinha feito em seu pequeno baú, preocupada todo o tempo
e com uma tristeza latente. Ela não sabia a razão, mas estava amargo e desagradável nessa amanhã.
— Estará pronta para partir em uma hora? -
Olhou para a porta, Julián estava ali. Sim, bonito, obscuro e frio.
— Catherine deixou a porta aberta? Perguntou ela.
— Parece que sim.
— Bom, por favor, feche-a e vai embora. Não sou boa companhia para ninguém hoje.
— Por que?
— Não sei porque Julián. Só desejo que meu outro baú esteja aqui. Desejo dar um passeio e
tomar ar fresco. Talvez então, sentirei-me melhor. Fechou a tampa de seu pequeno baú.
— Quando encontraremos Cleo?

116
Ele apoiou um ombro no batente da porta, sem entrar ou sair.— Chegaremos a Grossington nessa
tarde. Pensei ir visitar a senhora Kenwortu amanhã, a menos que você prefira fazer de outra forma.
— Não há outra forma. Pela primeira vez, no que se refere a Cleo, não devo ser uma covarde.
Ela ficou em pé. – Vou buscar baú se não, minha alternativa é esperar um ano para que volte para
mim.
Ela lembrava coisas que não desejava lembrar. Admitiu isso, enquanto caminhava por um jardim
escondido atrás da posada. Cada quilometro mais perto de Cleo, trazia imagens que engendravam mais
culpa e humilhação.
Ela foi tão ignorante. Tão incrivelmente ingênua. Quando ela viu a casa de campo isolada em
Wiltshire, cheia de servos de pele escura, nunca suspeitou que viviam na Inglaterra como escravos, assim
como eram na Jamaica.
Não imaginava que Glasbury mantinha a propriedade isolada, para ele poder desfrutar dos criados
de um jeito, que não seria permitido a um criado Inglês.
Ela passou bem por um tempo, até que um ano depois começou a tratá-la como se fosse uma
escrava também.
A princípio o conde ditava ordens leves, mas sua raiva era mordaz e a atemorizava quando algo ela
fazia ele não gostava. Quando ele mandava ela trocar o vestido para o jantar, e depois não gostava sua
nova escolha, a fazia mudar uma e outra vez acompanhando de críticas sobre sua incompetência para ser
uma condessa. Ele encontrava defeitos em tudo e ela começou a ter medo de sua presença, se encolhendo
quando era foco de sua mira.
Isolou-a de seus amigos, dizia coisas terríveis sobre sua família e ficou furioso quando ela teve a
ousadia de contrariá-lo. Ao não ficar grávida, ele usava isso como um chicote contra ela também. Seu
medo crescia e sua alegria morreu. Ele desfrutava do que fazia. Finalmente, quando a tinha intimidado
tanto como a uma menina, começaram os castigos.
Ela parou de caminhar e ficou ali imóvel, vendo como as lembranças rompiam as barreiras que
havia construído a seu redor. Os castigos físicos tinham sido os menores dos males. Os rituais que exigia
eram os desagradáveis.
Ele não se limitava de bater simplesmente, mas sim a fazia esperar como uma menina preparando-
se para uma surra. Assim que chegava em seu quarto a obrigava a despir-se e caminhar para ele, deitava-a
em seu colo e usava sua mão em seu traseiro. Isso o excitava, levou muito tempo para entender. E depois,

117
os rituais se tornaram mais criativos e mais sexuais. Estremeceu-se diante a lembrança da primeira noite,
que a fez arrastasse até ele e por sua vez, pegou seu cinto e com a fivela a golpeou até fazê-la gritar.
Quando ele a teve implorando para que parasse, tomou-a como se fosse um animal submisso em que a
tinha transformado.
Ela tirou essas imagens de sua cabeça e se forçou a colocá-las nas sombras onde havia guardado.
Ela se saiu melhor que Cleo, pelo menos tinha fugido antes que o conde fosse mais longe, assim como fez
com a garota.
Um manto azul apareceu na porta do jardim, Catherine fez gestos para lhe indicar que a carruagem
estava pronta para partir.
Pen estava consumida, pela raiva que sentia contra ela mesma por ter sido tão dócil, deveria ter
confiado em alguém, sem se importar com a humilhação que teria sido para ela confessá-lo. Deveria ter
visto antes, que ela não era a única mulher nessa casa que se encolhia de medo.
Voltou caminhando preocupada com seus pensamentos, como quando ela partiu quando deixou o
conde.
Mesmo na carruagem ao lado do condutor, Julián podia sentir que ela estava inquieta.
Nessa noite ficou parado frente à janela, olhando para fora em silêncio. Do outro lado da rua podia ouvir
os ruídos das outras carruagens. O chão soava com um ritmo regular de pisadas que iam e vinham. Havia
dito a ele que tinha lembrando “ de coisas”.

Ele também estava acompanhando sua insônia, embora ela jamais soubesse. Durante duas horas,
escutou o ritmo de seus passos. “Ele sente prazer dando esses castigos” foram as palavras que ela usou
nesse dia, enquanto olhava decididamente um canto de seus aposentos para que não pudesse ver sua
reação. Supôs que ela passou semanas, tentando encontrar uma maneira de dizer isso sem ter que dizer
muito realmente. Entretanto, tinha sido eloquente a sua maneira. Ela não havia dito "ele me bate quando
está bêbado". Sua simples declaração se referiu a muito mais.
Parecia que o ritmo de seus passos que iam e vinham, nunca parariam. Finalmente, não conseguia
mais suportar. Saiu de seu quarto e brandamente tocou em sua porta que estava a poucos passos do seu.

118
A porta se entreabriu. Pen estava ali com sua camisola branca de renda e com sua bata em cima,
um xale azul envolvendo seus ombros e seios. Ele olhou em seus olhos e soube que ela caminhou pelo seu
quarto intranquila toda a noite.
Pressionou mais a porta com a palma de sua mão. Na escuridão do quarto, podia ver Catherine
dormindo em uma cama pequena contra a parede. Pegou a mão de Pen e a tirou do quarto e fechou a
porta. Ignorando sua resistência, arrastou-a para seu quarto.

119
CAPÍTULO 13

Ela cruzou seus braços sobre seu xale e pressionava suas costas contra a porta.
— Catherine diz que se um homem a assediasse, mandaria seu joelho em um local onde ele não
têm armadura.
— Se eu lhe perseguir espero o mesmo.
Ele caminhou afastando-se dela, porque desejava muito tocá-la. Estava tão adorável e tão feminina
em sua roupa de dormir. Imaginava tirando seu gorro de dormir e ver seu cabelo cair livremente sobre
suas costas.
— Ainda não dormiu Pen. Já é meia noite.
— Você tampouco está.
—Estive escutando você caminhar.
— Isso acontece algumas vezes quando eu não consigo dormir. — Continuava encostada na porta,
como se tivesse medo dele. — Tenho um motivo dessa vez é que ficarei sozinha manhã. Não pode me
afastar disso Julián. Não pode me proteger com escudo deste dragão. Afastou-se da porta. Sua expressão
ficou triste como se caminhasse sem rumo pelo quarto.
— Eu era a senhora dessa casa. Era a responsável, mas estava cega.
— Ele estava convencido que você estava aterrorizada.
— Não, Julián, eu cobri meus próprios olhos porque o que existia na frente deles, não fazia sentido
e era tão alheio ao mundo que eu conhecia. Lançou um olhar desafiante.
— Ele não queria que eu perdesse de nada. Assim em uma noite, quando castigou Cleo, ele me
obrigou a ser testemunha. Fiquei horrorizada. Chocada. Tremendo e insensível ao mesmo tempo. Eu não
compreendia tudo isso ainda, mas não podia mentir a mim mesma depois disso. Assim fui a você.
Ele sempre suspeitou que algo específico, havia acontecido para que ela fosse a ele e lhe confiasse
tudo o que contou em seu escritório. Uma noite de iniciação. Uma noite em que o conde mostrou a Pen o
tipo de prazer que ele queria. Não duvidava que ele havia pensado que ela já estava quebrada então. Mas
ele estava errado. A suave e inocente esposa tinha tirado uma força que o conde não esperava.

120
— Foi desagradável, — murmurou ela, falando mais para si mesma do que para ele. — Acho que
nesse dia desci para o próprio inferno.
— Você foi.
— Meu coração estava quebrado por ela. Mas um pensamento permanecia em minha cabeça e não
saía. Um muito egoísta. Que poderia ser sua. Que algum dia seria.
Ela se virou. Ele sabia que estava chorando. O coração dele estava fechado. Foi atrás dela e pôs suas
mãos em seus ombros. — Você a tirou dali Pen.
— Foi você quem fez Julián. — Deu a volta, mas não saiu de seu toque. — Adivinhou tudo isso, não
é? Sua imaginação pode ver tudo, não é assim? Seus olhos cheios de lágrimas presas. — Sempre soube de
tudo que ele fez para mim e para ela.
— Eu não insistirei em saber o que ele fez para você. Ele limpou com seu dedo uma lágrima que
descia por sua face. — Você foi só uma vítima. Uma doce e adorável menina que foi raptada pelo demônio.
Eu sinto desejo de matá-lo por isso, mas jamais mudei meus pensamentos sobre você. A reação dela
quase quebrou seu coração. Parecia agradecida, cética e terrivelmente vulnerável. As velhas imagens de
entrar com Glasbury em um campo de honra, retornaram em sua memória. Graças a Deus, ela tinha sido
forte. Graças a Deus, ela encontrou coragem para deixá-lo. E graças a Deus, essas experiências não a
arruinaram, ou a transformado em uma sombra, como transformou a pequena Cleo.
Seu dedo ainda descansava no rosto de Pen. Os olhos dela ainda cheios de confusão e de tristeza. O
quarto pulsava pela intimidade provocada por suas emoções. — Devo ir, — disse ela.
— Poderá dormir agora?
— Possivelmente não. —
— Então fique aqui. Esperaremos o amanhecer juntos.
— Não devo.
Ele não desejava que voltasse para seu quarto e continuasse com seus pensamentos e lembranças.
— Se não estiver sozinha, possivelmente o dragão ficará em sua guarida. Ele pegou sua mão e a
beijou. — Descansa aqui, em meus braços. Você retornará para seu quarto antes que Catherine desperte.
Ela não aceitou, mas tampouco negou. Quando ele deu um passo atrás para a cama, não houve
resistência real no corpo que ele guiava pela mão. Olhou à cama por um longo tempo.
— Se eu lhe assediar, ainda pode seguir as instruções de Catherine sobre joelhos em lugares
desarmados, — disse ele. Ela riu. O som musical quebrou através da tristeza e levantou a escuridão. Ela

121
tirou seu xale, dobrou cuidadosamente e o colocou em uma cadeira. A domesticidade dessa ação o deixou
em transe.
— Tem certeza que me levará para fora, antes que mesmo que os criados levantem?
— Prometo. Ela levantou a roupa de cama e subiu.
— Continuamos fazendo as coisas que não deveríamos, mas tem razão, não quero ficar sozinha
com meus pensamentos nessa noite. Havia uma confiança implícita em seus movimentos, enquanto ela se
acomodava na cama. Era de uma vez aduladora e divertida. As imagens que passavam por sua imaginação,
não eram nada confiáveis, mas esperava poder sobreviver nessa noite. Depois de uma vida de contenção,
algumas horas mais deveriam ser manejáveis.
Ela o olhou do travesseiro. — Não pensa ficar sentado na cama como uma enfermeira?
— Não.
— Não pensará descansar com casaco e com o lenço?
— Não. Ele tirou seu casaco e desamarrou o lenço.
— Não. Ele deslizou seu casaco para fora e foi começou a trabalhar com sua gravata. Depois apagou
a vela. O fogo se reduziu a cinzas, mas ainda dava um pouco de calor e toques de luz.
— Acho que deve tirar a camisa.
— Agora? Poderia ser conveniente se um de nós não estivesse vestido na cama. Há limites ao
cavalheirismo de qualquer homem.
— Sim. É obvio. Perdoe-me. Sempre é mais sensato do que eu Julián.
— Sensato, Ah sim? Tirou a maldita camisa. E se virou para encontrar seu olhar. Pelo menos ela
não parecia estar mais pensando em Glasbury. Sentou-se na cama e tirou as botas. Decidido não ser nem
mais um pouco sensato, tirou a calça, jogou na cadeira e se juntou a ela debaixo da manta. Seu corpo já
estava na condição de fazer sua noite uma tortura.
— Suponho que isso é muito arriscado e perigoso, — disse ela.
— Não corre perigo comigo. Isso não era muito verdadeiro.
— Isso não é o que eu queria dizer.
— Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão.
— Isso ajuda a não ficar sozinha. Estou contente também, por estar comigo manhã. Não acho que
eu poderia fazer de outra maneira.
— Você pode fazer algo se decidir que é importante. Já demonstrou.

122
— Não acredito que seja verdade. Se pensar nisso nunca atuei sozinha. Sempre há alguém para me
ajudar. Mas não desejo pensar ou falar mais disso nessa noite.
— Do que prefere falar então ?
Ela se levantou sobre seu cotovelo. — Que a mágica luz do fogo, dá um brilho especial aos
contornos de seu rosto, como se fosse uma pintura. Estendeu sua mão e riscou uma linha ao longo de seu
nariz, sobre seus lábios e desceu pelo queixo. O desejo começou a percorrer através dele. O toque de Pen
riscava linhas sobre seus ombros e nos músculos de seu peito. Moveu a manta para baixo com sua mão.
— O que está fazendo Pen?— disse ele com voz contida.
— Você me olhou, eu desejo olhar você. É mais atlético do que esperava. Não duvido que os remos
podem explicá-lo. — Seus dedos percorreram em cima de uma linha áspera em seu lado esquerdo. —
Como fez essa cicatriz? — É muito longa.
— Fiz isso alguns anos atrás em Hampstead.
— Não compreendo como um jogo de espadas na Sociedade do Duelo, pode ser tão perigoso.
Ela se referia ao grupo de amigos de Laclere, que se reuniam na casa de Chevalier para praticar com
espadas e pistolas. Julián fez parte deste grupo da universidade e ainda se reunia com eles
ocasionalmente, para continuar com sua velha camaradagem.
— Todos temos alguns arranhões. As espadas fazem isso.
— Isso é mais que um pequeno arranhão. — Sua mão traçou a cicatriz até o final sobre seu quadril.
Seu corpo reagiu proeminente. Ele moveu as mãos dela para trás e suprimiu as surpreendentes imagens
que conquistavam sua cabeça nesse momento.
— Está fazendo isso perigoso, apesar de minhas boas intenções. Inclusive, os velhos amigos não são
de pedra. Não sou todo o tempo completamente sensato.
— Não, não é. O que é um descobrimento muito interessante. Seus dedos e seu olhar se moveram
em cima de seu abdômen.
Ele pegou sua mão, segurando. — Está tentando me seduzir Pen?
— Não completamente, sussurrou. — Suponho que estou devolvendo o dragão para sua guarida
Julián. E estou lembrando, que também há bons momentos, bons amigos e que não estou arruinada para
tais coisas.
Bons momentos, mas não com ele. Outro lhe tinha mostrado que não estava em ruínas, muito
antes que Julián Hampton a beijasse.

123
Ele sabia muito bem, como fazer que todos os dragões se retirassem. Ponderava se ele se
atreveria a fazer isso e se teria a contenção que ela esperava. Não desejava mais jogos sexuais
incompletos. Fazer amor na praia tinha sido precioso, mas não desejava ser um mais dos homens que
roubavam carícias e beijos através dos anos. Homens que podia esquecer facilmente e ser relegado de
uma lista frívola de jogos de flertes, sem consequências e sem significado.
Se ela tivesse permanecido ali tranquilamente, poderia ter continuado com seu bom senso. Mas ela
se virou um pouco e seu quente fôlego caiu sobre seu peito e de repente, ele queria o que poderia obter se
não o fizesse.
Uma antecipação sensual alagava o silêncio entre eles. Sua mão ainda descansava sobre sua pele
debaixo da sua. Levantou-a e a beijou na palma da mão e sobre o pulso.
— Vamos pôr os dragões para dormir nessa noite se quiser.
Ela virou a cabeça e o olhou.— Não é justo para você, certo? Como disse antes, inclusive os velhos
amigos não são de pedra.
— Não é única coisa que quero. Não vou mentir a respeito disso. Mas será suficiente.
Levantou-a e moveu sobre suas costas, que de tal forma era a única recebia os brilhos do fogo
moribundo brilhando em cima dela. Deslizou seu gorro e seu cabelo caiu livremente para baixo. Ele tentou
lembrar quando tinha sido a última vez, que a tinha visto com o cabelo solto. Anos atrás quando ela era
uma menina, estava certo. Entretanto, frequentemente a via desta maneira em seu pensamento.
Percorreu seus cabelos até que se dispersaram no travesseiro. Tirou os laços dos arcos que mantinham a
camisola fechada. Ela olhou seus dedos por debaixo dos grossos cílios com as pálpebras abaixadas.
— Você me deixa sem fôlego Julián e sequer me deu um beijo ainda.
— Então você vai ficar sem fôlego quando eu tirar isso.
— Totalmente?
— Sim. Afinal de contas, havia esperança que isso pudesse acontecer completamente nessa noite,
pensou ele.
Ele levantou seu ombro para que pudesse deslizar para fora a roupa ver algumas polegadas mais de
seu corpo. Seu aroma lhe disse que havia despertado sua libido ao despi-la, pois sua expressão era de uma
mulher que estava na metade do caminho para o êxtase. Ela estava certa sobre o fogo. Tinha desenhado
uma linha brilhante em seu corpo. Ele fez como ela tinha feito com ele, traçou seu rosto, pescoço e depois

124
ao longo de seu peito e a curva de seus seios. Seus mamilos rosados se ergueram quando seus dedos os
cercaram e suas costas se arquearam sutilmente. Sua respiração era mais audível agora.
Suavemente circulou um mamilo com os dedos. – Você é muito bonita Pen. Não posso
imaginar paixão mais bonita que a sua. A mão dela pressionou sua nuca para baixo para aproximá-lo de
seu rosto.
Não só o dragão dorme quando fazemos isso Julián. Morrer por um tempo. É como se eu fosse uma
garota outra vez em Laclere Park e nada feio e triste tivesse acontecido.
Suas palavras o tocaram.
– Então voltaremos a Laclere Park Pen. Para quando eras uma garota e eu um rapaz. – Ele beijou
seu rosto.— É primavera, voltei ao lago e encontrei você ali sozinha, sentada no meio das flores.
Ela riu baixinho e fechou os olhos.— Sim, é primavera. É um dia quente, com céu azul e grandes
nuvens brancas. Há juncos em baixo das árvores. As folhas de carvalho, não estão no entanto. Onde estão
meus irmãos? Por que você está sozinho?
— Eles se foram com o mordomo comprar um cavalo. Eu escolhi ficar para trás.
— Para me ver sozinho?
— Possivelmente. Se você quiser.
— Acho que foi por a caso. Um impulso. Nós somos jovens a final. Não acredito que devemos falar
de uma sedução calculada.
— Atualmente, em minha história você me seduz.
Ela reagiu assombrada, mas um pequeno sorriso se derreteu em seus lábios. — Sou muito
travessa…
— Bom, não é nada novo. Quando conheci você, estava subindo o vestido à cintura para
poder entrar no lago e tentar pegar peixes com as mãos, assim foi em um verão em que eu e Vergil lhe
encontramos.
— Minha preceptora me fez permanecer em casa por uma semana, quando cheguei em casa com
os pés enlameados. Se eu levantar minha saia para entrar no lago, você vai ver muito das minhas pernas,
não acha?
— Ele deslizou a manta, para ver todo seu lado esquerdo até os dedos de pé. Observava enquanto
acariciava sua pele sedosa a até o joelho.— Muito. As pernas mais belas. Estou encantado.

125
— Então, depois de brincarmos no lago, nos beijamos. — ela sussurrou. — É meu primeiro beijo de
verdade. Ele a beijou.
Ela levantou o olhar e passou seus dedos no rosto dele.
– E para você? É seu primeiro beijo de verdade Julián?
— Sim, Pen. É minha primeira vez.
— Fico feliz. Beija-me outra vez Julián.
Ele já não era tão jovem, mas poderia fazer. Ela não era realmente sua primeira vez, mas ele a
acariciava com sua mão, como se nunca tivesse tocado outra mulher. A diferença estava em seu coração.
Cada beijo era novo e perfeito, uma revelação de emoções enterradas há muito tempo, assim como não
poderia ter futuro para eles, no passado tampouco houve. Ela só desejava matar os dragões por uma noite,
mas a alma de Julián se sacudia com o que estava acontecendo.
Seu corpo rugiu com impaciência, mas seu coração desejava um passo à eternidade. Ele controlava
sua fome e a beijava lentamente, escutando cada pausa e cada resposta que lhe dava. Pequenos mordidas
em sua orelha a fizeram estremecer. Beijos no pescoço a fez ofegar. Durante um longo e profundo
beijo ela se uniu a ele, aventurando-se a fazer sua própria invasão, pouco a pouco dentro de sua boca, lhe
fazendo saber que ela não era tão passiva. Ele beijou um seio e acariciou o outro, em transe por sua
suavidade. Memorizando a sensação de sua pele entre seus dedos, sua boca e um lado de sua loucura
estava cada vez maior. Um sonho de êxtase marcava sua expressão e seu respiração ofegante fluía em seus
ouvidos.
Ele se levantou sobre ela, para poder ver seu rosto e para lembrá-la sempre. Acariciou seus duros e
eróticos mamilos, enquanto observava com alegria seu prazer. Ela abriu seus olhos. Parecia envergonhada
por ele ver suas reações, mas depois pode ver como o calor entrou em seus olhos.
— Você gosta de ver o que me produz?
— Sim.
O olhar dela baixou lentamente sobre seu peito. — Então não se importará se eu jogar também. O
justo é justo.
Suas palavras infantis, o lembraram a fantasia que tinham compartilhado. Entretanto, não era a
mão de uma menina, que se movia para baixo de seus ombros acariciando seu corpo. Sua carícia o fez
apertar os dentes. Chamas ardentes atravessaram seu sangue e queimavam sua cabeça. Ela foi se
aventurando cada vez mais abaixo e sua cabeça começou a estalar. Em seguida ela tocou seu membro

126
ereto em sua cueca e deslizou suas mãos para dentro para acariciá-lo. A excitação dele se transformou
selvagem e perigosa, mas ela se manteve lírica e luxuriosa. Ele baixou sua cabeça para lamber e chupar
seus apertados mamilos de veludo. Firmou o corpo dela com sua mão, acariciando suas suaves curvas para
deliberadamente obrigá-la ao abandono.
Ela mordeu seu lábio inferior e ele pôde ver como uma poderosa tensão pulsava através dela, como
se cedesse ao controle de suas reações.
— Talvez, possivelmente não tenha que ser só “o suficiente” esta noite Julián. Só que dessa vez,
talvez...
Ele a olhou aos olhos, mal se atrevia a respirar, muito menos a falar. Entretanto, seu corpo não
ficou em silêncio. Gritou com ânsias caóticas que o liberasse de suas tênues ataduras.
— Possivelmente, se formos cuidadosos afinal não tem que ser tão injusto, — disse ela.
Um bom amigo não deveria lhe permitir decidir isso agora, aqui, enquanto ele sentia um atraente
prazer. Um homem honrado não podia lhe permitir abandonar o cuidado de toda uma vida, especialmente
em uma noite, quando as lembranças a tinham deixado tão vulnerável.
Mas seu próprio desejo o empurrava para muito longe de ser bom e honrado.
— Posso assegurar que seremos cuidadosos. — De algum jeito encontraria força para cumprir essa
promessa
— Tem certeza Pen?
— Acho que vou morrer se não fazemos. — foi toda sua resposta.
Ele a levou mais à frente do pensamento, além de todo julgamento. Afogou-a no prazer para
assegurar-se que não pudesse mudar de opinião. Seus gritos se fizeram frenéticos. Quando ele a acariciou
mais acima, entre suas pernas e a tocou intimamente, ela se uniu a ele em um estado de paixão onde não
havia nada cuidadoso, lento ou contido. Compartilhavam e negociavam, agarravam e mordiam entre beijos
e carícias mais eróticas.
— Sim, — sussurrava ela uma e outra vez até transformar-se em uma desesperada melodia de
assentimento e desejo. Ele se moveu em cima dela. Outro “Sim” fluiu em seu fôlego, mas de repente se
tornou envergonhada estranha, como se não soubesse o que fazer agora. Uma nota diferente soava em
seus suspiros.
Ele a desejava tanto que mal podia pensar, mas sua sutil vacilação restaurou um ponto de calma
em meio de sua fúria.

127
Com seus corpos apertados, de coração a coração, ele a olhou aos olhos, mais à frente do desejo e
viu a vulnerabilidade que quase tinha esquecido no calor da paixão.
— Está assustada Pen?
Ela o olhou.
— Não precisa ficar. Eu nunca a machucaria. Ele abriu suavemente suas pernas. Entrou devagar,
como se fosse realmente uma virgem na pequena fantasia que havia começado tempo atrás.
Ela reagiu como se fosse, com surpresa e mal estar inicial. Na continuação, seu corpo se relaxou e
ela o aceitou profundamente.
Era sua vez de ser surpreendido. A sensualidade era o de menos. Uma profunda alegria impregnava
seu ser e o intimidava. Fechou os olhos e saboreou todas as sensações, sem se mover. Nunca esteve tão
totalmente vivo em um momento de sua existência.
Quando levantou suas pálpebras, Pen o olhava com uma expressão preocupada que tocou seu
coração.
— Estou bem agora,— sussurrou. – Ficou quieto tanto tempo, que pensei que você não conseguia
seguir adiante com isso, com medo de mim.
— Eu não sou tão cavalheiro para fazer isso. Só estava desfrutando da sensação de sentir você.
— Oh. Igual o olho na tempestade, quis dizer.
— Suponho que sim.— Ele sabia disso. Como os ventos começavam a uivar de novo.
Se manteve a raia da loucura, tanto como podia. Se retirou e empurrou lentamente, desfrutando
da deliciosa sensação e dos suaves suspiros de suas respostas. Se ajoelhou e se apoiou sobre seus braços
para poder ver seu rosto, seu corpo e olhar abaixo como eles se uniam. Seu corpo não o deixaria continuar
assim por muito tempo. A urgência por terminar forçava suas demandas. Equilibrou seu peso em um
braço, agachou-se e deslizou seu dedo em sua fenda para acariciar seus clitóris. Foi a tormenta dela que
guiou o restante. Seus gemidos falavam de como o prazer a desenquadrava. Seus movimentos o
apertavam mais a cada vez. Seus quadris subiam e desciam procurando ansiosamente o alívio. A própria
paixão dele se tornou tão intensa e selvagem na resposta, que começou a levantar em um pico. Ele
endireitou suas pernas e as apertou juntas debaixo das suas.
– Não se mexa – quando empurrou a outra vez, os dedos dela se cravaram em seus ombros
encontrando a pressão que o acariciava mais eficientemente por dentro.

128
–Sim, sussurrou ela, começando seu transe musical de novo. Ela gemeu com prazer surpreendo
outra vez. Logo pequenos assentimentos exalavam com cada respiração.
Sua ascensão lhe disse o perto que ela estava e ele encontrou o controle para continuar. Quando
ela amorteceu seus gritos contra seu ombro e se estremeceu com seu orgasmo, ele finalmente cedeu às
demandas de seu corpo. Inclusive no meio do clímax, jamais esqueceu que era Pen quem segurava entre
seus braços. Sua presença só o embriagou de felicidade da mesma forma, que fizeram suas carícias e todo
o prazer que lhe acabava de dar. De algum jeito, nesse glorioso cataclismo de prazer, ele manteve sua
promessa e renunciou a sua união física derramando-se fora de seu corpo.

129
CAPÍTULO 14

Os dragões se retiraram para suas celas durante toda a noite. Embora Pen tenha deixado os braços
de Julián e voltado para seu quarto, ela não se incomodou. Somente começou a agitá-la quando o
amanhecer despertou. Mesmo assim, o passado permanecia vago e distante. As más lembranças não
podiam penetrar em seus pensamentos da noite.
Entretanto, quando estava colocando sua capa lembrou. Caminhando pelas escadas para unir-se a
Julián na carruagem a tirou de seu estupor.
Ela estava um pouco envergonhada quando viu Julián à luz do dia. Sua saudação foi formal e
correta, mas seus olhos mostravam calidez e um toque de conspiração brincalhão. Reuniu-se com ela na
carruagem e saíram da cidade. Sentou-se de frente a ela, sem dizer nada, como era sua forma habitual. Ela
foi quem se sentiu obrigada a falar da noite anterior.
— Não sei como me comportar hoje contigo Julián. A única coisa que posso fazer é não rir
bobamente.
— Sempre pensei que era um som encantador.
— Estou surpreendida comigo mesma. Parece que sou mais sofisticada do que pensava. Suponho
que minha longa abstinência teve a ver com perda de minha cabeça na noite passada.
— Não se necessita de uma longa seca para desfrutar de uma chuva de verão.
—Estou tendo dificuldades ao lembrar o quanto fui atrevida. Não acha? Alguma vez teve uma
relação sofisticada antes?
— Eu sozinho tive relações sofisticadas Pen.
— Bem. Pelo menos um de nós sabe o que fazer e que dizer no dia seguinte.
Ela esperou. Depois de uma conta de cinco, uma expressão um pouco desconcertada passou por
seu rosto. Então com diversão, percebeu que ela esperava que a guiasse.
— Bem Pen, normalmente, em algum momento dos próximos dias, se expressa alguma gratidão.
— Certamente, como vejo. Pois bem, então obrigada Julián.
Ele coçou sua testa, enquanto um sorriso dançava nos cantos de sua boca.

130
— Estou falando de expressar gratidão Pen, não isso.
— Eu assumi que ambos.
— Não normalmente.
Isso não ajudou muito a sua situação. Estava certa que havia também expectativas para a mulher.
Possivelmente, ela deveria esclarecer o assunto e lhe assegurar que não haveria cenas. Ela conheceu
mulheres que entendiam mal as coisas e construíam enormes expectativas sobre os romances casuais que
mantinham com outros homens.
— Julián quero que saiba que, não me comportarei infantilmente, ou que ficarei implorando ou
insistindo que continue com suas atenções. Não convencerei a mim mesma, de que foi outra coisa mais do
que realmente aconteceu.
Seu sorriso não mudou, mas em seus olhos brilhavam luzes penetrantes.
— E que foi que “aconteceu” realmente Pen?
A pergunta a desconcertou, mas ele estava certo, era necessário esclarecer. Ela pensou no que
experimentou com essa paixão antes e depois. Deixou algumas dessas reações de lado, porque não eram
nada adequadas.
— Acho que foi uma noite muito especial compartilhada entre dois amigos Julián. Um momento de
abandono a uma intimidade segura e sem reservas, para que eu pudesse ignorar o passado por um tempo
mais. Suspeito que tais coisas sejam estranhas acontecer entre um homem e uma mulher, possivelmente
aconteceu graças a nossa longa e antiga história.
Ele estendeu sua mão, levantou-a pela cintura e a colocou em seu colo.
— Extremamente estranho. Mas não tão momentânea, para que hoje eu não queira abraçá-la e
desfrutar do que compartilhamos, por um pouco mais de tempo.
Ele a segurou por quase todo o caminho até seu destino. Ela se sentia grata por estar em seus
seguros e solidários braços.
Essa sensação de tranquilidade acalmou a agitação que tinha pelo encontro que a esperava.
Quando a carruagem deixou a estrada e foi para um caminho através de algumas castanhos, ele a deslizou
de seu colo. Pararam em frente a uma modesta casa cercada por extensas plantações.
— Que bela deve ser aqui na temporada — disse Pen.
Julián pegou sua mão e a ajudou a descer da carruagem.
— A Sra. Kenworthy cuida pessoalmente. Os livros e isso, são suas grandes paixões.

131
— É uma mulher sábia?
— Ela era uma amiga de meu tio que o vigário e conversava com ele sobre qualquer assunto de
igual para igual.
— É por isso que acha que necessitaria de Cleo?
— Não, disse.
A razão pela qual estavam ali, não podia ser ignorada por mais tempo. Seu coração começou a
acelerar em um ritmo incômodo.
— Eu sabia que ela era uma mulher de bom coração e achei que podia ajudar à menina.
A criada aceitou o cartão de Julián e depois retornou para levá-los ao jardim dos fundos.
Encontraram à senhora Kenworthy flexionada cortando os caules mortos de um jardim herbáceo. Ela usava
um chapéu de homem feito de palha, com laço simples e um vestido largo verde sem enfeites.
Quando se aproximaram da mulher, ela se endireitou com cuidado, como se seu corpo se rebelasse
contra sua atividade.
— Isso realmente é uma surpresa maravilhosa. — Seus olhos claros foram para Julián com uma
cálida inspeção, como se fosse uma velha enfermeira — Julián , raramente vem por esses lugares, talvez já
faça oito anos desde a última vez, que veio com seu tio.
— Se você está dizendo que fui negligente com os velhos amigos, aceito a recriminação.
Apresentou Pen e a curiosidade da Sra. Kenworthy se viu obviamente picada.
— A condessa deseja falar com Cleo, — explicou Julián.
A Sra. Kenworthy piscou com força. — Você não recebeu minha carta?
— Em primeiro de janeiro? — Sim, eu respondi.
— Mas não a seguinte? Quatro meses atrás?
— Não recebi nada, madame.
A Sra. Kenworthy de repente, não parecia rígida ou velha para nada. Uma clara nitidez se via em
seus olhos.
Vamos para dentro, precisamos conversar, se você não recebeu minha carta, algo muito suspeito
está acontecendo.
— O que dizia a carta?
— Cleo está morta Julián. Ela se enforcou. — Sempre soubemos que estava em perigo certamente.

132
A Sra. Kenworthy passou para Pen uma xícara de café. Estavam sentados em um balde na
biblioteca abarrotada de livros e panfletos.
— Ela nunca esteve bem depois que chegou. Possuía uma profunda depressão. Mesmo depois de
viver comigo todos esses anos, ela agia como um cachorrinho que foi chutado e expulso.
Pen lembrava a forma que Cleo tentava parecer, pequena e invisível. Podia vê-la na casa do conde
em Wiltshire deslizando-se fora de uma sala, com a cabeça e os ombros encurvados.
As notícias de que Cleo estava morta a deixaram dormente. — Quanto tempo faz que aconteceu?
— Ela simplesmente se afastou desta propriedade, procurou uma árvore, a grande e velha
castanha que há na próxima curva da estrada, amarrou uma corda e saltou de um tronco. Eu escrevi para
Julián a respeito deste triste acontecimento. Enviei a carta através de um agente como requereu. Agora
me pergunto, se realmente seria seu agente afinal.
— Não era. Não tenho nenhum agente que pudesse tê-la contatado.
A Sra. Kenworthy suspirou profundamente. — OH, querido, acho que fui muito negligente. Receio
que a pobre mulher tenha morrido por minha culpa.
— Você não foi mais que generosa com ela e não foi nenhuma negligência. Entretanto, por favor
me fale a respeito, desse suposto meu agente.
— Ele veio na primavera passada. Disse que trabalhava para você, que você estava muito ocupado
em seus deveres, assim que o contratou para tratar de certos assuntos em seu nome. Assuntos tais como
este. Você havia enviado ele para falar com Cleo, para ver como estava passando. Disse que você
continuaria enviando dinheiro para sua pensão, mas que seria mais fácil se qualquer pedido ou notícia
enviasse a ele primeiro no futuro.
Pen não tinha se dado conta, que Julián mantinha Cleo. Havia dito que a Sra. Kenworthy a tinha
contratado em sua equipe de serviço.
— Ele se encontrou com ela? — perguntou Julián.
A Sra. Kenworthy ficou inquieta. — Sim. Permiti eles conversarem a sós. Ela era uma mulher
madura e era de índole pessoal. Obviamente eu podia vê-los da janela de meu jardim. Ela não mostrou
nenhuma reação a qualquer coisa que ele disse.
— Seu julgamento não pode ser criticado — disse Julián.
— Receio que você está errado. Foi na semana seguinte, que ela se suicidou. Pergunto-me agora, se
foi o que esse homem lhe disse, que a levou a fazer isso.

133
Um sentimento sinistro se espalhou através de Pen. Tinha muito medo que a Sra. Kenworthy
estivesse certa. O homem que tinha vindo foi enviado por Glasbury, sem dúvida nenhuma. Cleo poderia
muito bem, ter procurado refúgio na morte se tinha medo de cair nas mãos de Glasbury novamente.
Eu gostaria de ver o lugar onde a encontraram. — disse Pen.
Julian negou com a cabeça e levantou a mão em um gesto imperioso.
— Não, milady isso somente a angustiará mais.
— Exijo ver onde aconteceu senhor Hampton.
Ela parou debaixo da velha árvore, imaginando Cleo mais velha agora, mas ainda como uma jovem
vestida com roupa infantil. Ela se identificava com o desespero, que a tinha levado tomar essa decisão.
Suas horríveis suspeitas se cristalizaram em palavras.
— Glasbury sabia que ela poderia apoiar minhas acusações Julián. Escreveu a Nápoles me dizendo
que o acerto estava concretizado, depois do que tinha acontecido. Ele sabia que ela era uma ameaça,
antes que eu percebesse isso e compreendeu, como sua morte desamarraria suas mãos.
Julián parecia perdido em seus pensamentos. Não examinava a árvore da mesma forma que ela
fazia. Ele não olhava nada absolutamente.
— Meu Deus Julián, nós pensamos que o tínhamos derrotado e ele esteve observando ela a todo
o tempo. Possivelmente, desde que ela foi embora. Talvez, desde que eu fui.
O senhor Hampton, o advogado estava parado aqui, mas ela sabia que não estava desativado a
respeito disso. Suas reservas escondiam contemplações, que ela não podia ver, mas sabia muito bem, que
não era porque ele não estivesse afetado por esta tragédia. De sua parte, ela não podia ser tão silenciosa,
seu coração chorava com raiva e frustração.
— Esse homem certamente lhe disse que voltaria e ela era muito ignorante para entender que
Glasbury não tinha nenhum poder sobre ela. Isso a levou a tomar essa atitude. E o conde contava com
isso. Ela nasceu escrava e ainda pensava como tal. Depois de provar a liberdade e a segurança, certamente
desejava morrer antes de aceitar as algemas de novo. Eu teria feito isso também.
— Não acho que foi isso que aconteceu. — Seu tom de voz a fez virar para ele. Ele estava muito
aborrecido. Perigosamente furioso. — Esse homem não lhe disse que veio a pedido de Glasbury Pen. Disse
que veio de minha parte. A inconsistência pode ter vindo quando Cleo falou com a Sra. Kenworthy, algo
que havia lhe dito e fez em meu nome.

134
Ela temia que ele estivesse correto. Se Julián tinha enviado uma mensagem a Cleo lhe dizendo que
retornaria, ela não teve mais nenhuma esperança. A não ser olhar para o velho castanho em volta do
caminho. Não qualquer árvore. Uma muito grande e antiga, conhecida por toda as pessoas da região. Por
que escolheu esta árvore? Um calafrio percorreu Pen pela espinha dorsal. Cleo não foi ali para suicidar-se,
a não ser encontrar-se com o agente do Senhor Hampton, quem a levaria dali para outro lugar seguro. Por
isso, a Sra. Kenworthy não tinha visto nenhum gesto de tristeza naquela conversa.
Pen estava errada em suas suposições, Glasbury não tinha visto Cleo todos esses anos, entretanto
ele esteve procurando ela e na primavera passada, a encontrou finalmente. Pen pensou a respeito, do que
ela conhecia do caráter verdadeiro de Glasbury. Viu sua casa com os servos escravos e viu sua expressão,
enquanto a feria na casa de praia. Ele poderia ter feito isso? Contratar alguém para matá-la? Sua cabeça
desejava desprezar essa ideia, mas seu coração conhecia a verdade.
— Julián, quando negociou minha liberdade com Glasbury o que ele lhe disse?
— Falei-lhe de seu abuso com os servos, especialmente da garota. Disse a ele que se não a
libertasse, você se divorciaria dele e isso tiraria a luz tudo o que acontecia ali e os crimes que ele havia
cometido.
— Especificou que esses crimes foram além do uso de Cleo?
— Não foi necessário. Ele entendeu. Sabia que um homem não podia ter escravos na Grã-Bretanha,
nem legalmente ou na prática. Ele sabia que seria desprezado publicamente, se soubessem sobre a
pequena plantação que tinha em Wiltshire.
Teria sido suficiente? Que soubessem que praticou outros crimes, alguns maiores que provocariam
uma queda maior de escândalo e desprezo, se caísse ao conhecimento? E se Cleo havia visto muito mais
que ela a condessa de Glasbury ? Ela afastou-se para que Julián não visse o horror que seus
pensamentos lhe estavam provocando.
Glasbury havia matado Cleo. Ela estava certa disso. Ele pode ter estado procurando por anos, desde
que tudo começou para poder eliminá-la. Cleo havia mudado para lá em nome de Julián e foi assassinada.
Pen de repente, se sentia terrivelmente vulnerável, inclusive com a presença de Julián , não podia
se sentir protegida. Mas ela não experimentou o pânico. Nem o terror. Com certa calma, percebeu o que
realmente agora enfrentaria.
Glasbury poderia ter êxito e forçá-la a voltar ou também poderia matá-la, assim não haveria
continuação de seu acordo. Ela não ganharia nenhum divórcio com sua história, mesmo se o provocasse a

135
divorciar-se dela. Ela se virou para olhar a Julián, mas com medo visceral. Se Glasbury descobrisse o que
aconteceu na noite anterior, o que poderia fazer? Uma queda do penhasco, enquanto Julián visitava sua
casa de campo? Um acidente a cavalo, enquanto galopava para Hampstead?
Ela esteve preocupada com a reputação de Julián e seu sustento.
Teria que ter se preocupado com sua vida.

136
CAPÍTULO 15

Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.


Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no
refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que
sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora
queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando
ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não
foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia
próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico
com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que
age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar
acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa
sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo
Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu
toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.

137
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os
homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse
sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse
à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me
protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos
anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos
crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse
problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um
centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou
trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente
alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava
que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não
podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão
temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente
não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma
lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que
não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará
segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen
permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse

138
dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua
guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e
tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa
quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na
biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto
transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito
ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela
fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o
que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine
permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela
sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em
sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de
Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos
sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua
camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos,
seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira.
Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que
seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?

139
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os
poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou.
Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim
pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a
incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação
selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que
experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela
abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu
pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a
segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e
intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito
ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou
sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e
deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu
ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e
terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos
para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava
sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele
estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo
quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis
tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele
a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em
seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.

140
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não
conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele
levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele
tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele
acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou,
parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase
louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única
realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de
seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as
pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a
beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a
felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão
havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha
abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa
estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da
vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente
me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem
convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que
admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos
como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra
tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.

141
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me
estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o
casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não
lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos.
Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem,
que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente
distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia
combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não
estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já
preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos,
com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando
começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas
que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.

142
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos
guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu.
Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram
na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou
sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro,
chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa,
para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua
lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam
lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus
combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby.
O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A
prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos
de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio
mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável
levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e

143
tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a
primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de
sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de
Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho
esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu
estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que
ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum
homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei
você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro.
Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não
acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado.
Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão
aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter
matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez
soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido
dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que
tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e
pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram
voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele
para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em
seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.

144
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele,
montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou
para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes
mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena
consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria
chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois
estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu
pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso
que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com
um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e
seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a
Londres.

145
CAPÍTULO 16

— Você vai dizer para onde vamos agora milady?


Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais
tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da
ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho
castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia
ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir
embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que
chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não
posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato
com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr.
Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a
dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma
briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o
coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está
entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas
estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo,
que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.

146
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar
um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que
poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia
tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito
tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não
acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool,
milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha
Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados
Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu
pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens
com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a
qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu
um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas
para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve,
iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam
ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à
medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez
anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito
ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma
mulher que tinha abandonado seu marido.

147
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal
como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só
falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o
propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão
nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular
sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua
melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de
Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus
pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um
calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente,
precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de
vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de
encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos,
como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde
compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas
seria a última.

148
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos
tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A
esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira
americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas
não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então
surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua
evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na
opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que
Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de
novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades
que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury
toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava
garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-
las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para
você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar
essa remessa bancária para ela.

149
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento
em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o
coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse
outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na
minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em
seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio
regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim,
sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere
acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito
mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos
importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha
irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as
circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se
soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua
cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga
torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e

150
depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o
ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é
ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã
nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou
permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de
um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda
mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família
verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.

151
CAPÍTULO 17

O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois
dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián
desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela
saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta
rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito
nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida.
Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente
na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi
suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do
medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras
racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.

152
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se
alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao
cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua
expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que
tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha
tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento
sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela
já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A
outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites.
Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o
olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra
maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.

153
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois
me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está
passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu
ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim,
enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco
todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar
um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e
esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um
pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de
tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar
Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos
trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora,
senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que
você deve saber.

154
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na
perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao
outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro
onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O
cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode
chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao
conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a
cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram
sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em
que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou
alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em
guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones,
quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma
indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está
familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.

155
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora
Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr.
Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que
vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste
mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma
prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as
velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte.
Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras
uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha
habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se
mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão
direita tinha uma pistola.

156
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior
insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e
com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo,
simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr.
Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade
com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um
homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa
perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no
peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da
noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.

157
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor
contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar
as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu
abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se
você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a
Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de
sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar
isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente,
a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.

158
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil
veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse
suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.—
Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas
preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação
que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito
dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury
era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno
povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse,
seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da
estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber
os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu
primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.

159
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me
interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o
homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de
despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que
Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se
desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo
justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua
própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não
aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas
flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um
conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...

160
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou
pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua
família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar
e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para
ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família,
ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi
substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava
parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse,
— admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para
decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha
apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele
vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a
respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que
ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser
às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma
amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo,
que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?

161
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América
mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era
mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um
lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma
passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão
necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães
dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer
segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas
palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também.
— Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das
nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar
novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um
homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína
que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.

162
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem
sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá
do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se
recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a
possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos,
mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei
olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão
dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim,
pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda
sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury
poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele
deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário
para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova
condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.

163
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo?
Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma
calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a
resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca
mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me
importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você
terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso
dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa
decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se
encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com
outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés
de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia
perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com
muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você

164
obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas
opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua
alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou
para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez
pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos
caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma
escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era
tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com
Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se
e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente
para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e
a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar.
Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria
provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam
descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com
antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto
poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam
gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.

165
CAPÍTULO 18

Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de
volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as
melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de
notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era
muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas
poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus
comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das
notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que
certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só
acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora
irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em
Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os
jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o
papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria.
Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque
esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.

166
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo
as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As
notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As
noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma.
Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e
parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu
brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da
parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o
lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão
apareceu na portinhola.

167
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen.
Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido
olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo?
Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para
unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você
pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos
toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se
alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus
criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens
estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que
fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse
danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.

— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.


Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o
braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse
Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou
explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.

168
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve
permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o
conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o
qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra
oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As
pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais
perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a
Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury
vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe
engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é
necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será
pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer
isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o
olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai
mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele.
Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens
suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos
conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta.
Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro

169
na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de
Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos
dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um
documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as
controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça,
enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao
lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar
de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas
costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre
interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou
Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas
fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo
que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora
com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.

170
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a
beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu
marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia.
Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele
não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se
fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu
como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia
havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não
podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade
de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar
comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e
adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação,
pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que
eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me
espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez.
Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma.

171
Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há
muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o
preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas.
Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para
você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas
ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo
significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo
iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a
diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece
agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito,
inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que
desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que
nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.

172
CAPÍTULO 19

Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e


carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade
rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que
a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe
encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a
dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se
acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de
Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen,
Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa
formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da
sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio,
embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não
estava por cima de seu uso.

173
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para
proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-
la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se
voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de
amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope,
com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que
solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós
e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as
boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia
ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em
meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me
considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal
ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo
isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais
do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os
pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente
forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.

174
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através
da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga?
Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade
de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam
com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de
Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos,
enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu
Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos
nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês
dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar
Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar
isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse
Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem
família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não
podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse
ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou
mal a fonte de resistência.

175
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta
com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar,
nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e
escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere
parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada
absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela,
obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia
dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um
grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais
popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel,
que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um
homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam.
Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de
realizar uma sedução.

176
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está
livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a
respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha
problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom
com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em
um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa
descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar
outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa
que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas
intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.

177
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na
luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se
casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco
entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já
tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco
tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? —
Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia
nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E
agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como
Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o
homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo
mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando
ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados
fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi
apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue
mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não

178
era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida
pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa
escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em
nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua
suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e
então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que
deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o
seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente
que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o
Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou
muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como
um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás
dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar,
mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que
estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu
silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles
pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que
era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele.
— E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção,
nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.

179
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta
se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e
ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso
suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa
noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse
primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra
sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente
escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação
moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais
voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já
estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço.
Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca
cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e
muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento
esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas
virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote
subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham
controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o
centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela
projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso
de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar

180
entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação.
Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais
aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti
completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha
apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra.
Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso
aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para
todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente,
— Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora.
Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. —
Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi
totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava
que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir
que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de
brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um
potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.

181
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas
haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no
passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não
muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que
tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu
respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e
feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser
essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não
esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la
desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use
as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.

182
CAPÍTULO 20

Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora
pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da
carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava
que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e
seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a
caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas
nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu
a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho.
As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada.
— Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou.
Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa
estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão
complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.

183
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno
ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no
futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos
interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta
se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem
necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue
atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez
esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio
causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e
como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais,
não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não
afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma
vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos,
poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e
calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?

184
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse
novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo
tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama
que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos
ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por
uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre
ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou
totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em
que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama.
A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não
podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e
sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava
encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade
compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para
que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite,
com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria
chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a
embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.

185
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela
compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a
carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor
poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu
que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen
levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de
intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se
mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas
horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente
nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele
se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na
escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava
mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido
essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe,
mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho
que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.

186
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite,
que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.

Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz
eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve
sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se
ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes
do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu
romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi
prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu
as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele
poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a
sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus
olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar,
mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua
consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A
escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não
se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua
saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para
frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado
com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem
por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.

187
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos
joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o
homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro
ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus
companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury
uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me
matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles
encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao
menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o
conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria
morto agora.

188
CAPÍTULO 21

As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora
reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi
organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que
certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu
escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais
para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais
indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse
que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem
ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos
formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. —
disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada
do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o
que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.

189
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse
assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação
nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no
caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si—
disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de
qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma
expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu
charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou
inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse
departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma
conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse
nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras
coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de
tempo,— disse Julián.

190
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se
moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a
Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que
Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam
na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na
sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o
tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as
caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma
raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o
fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele
está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos
assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam
que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a
colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente
foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados
inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição,
saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento
de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente
são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a

191
metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente
escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros
membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par
fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico
de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos
sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu
ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram
debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles
desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles
adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim
ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos
Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia
ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui.
Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria
hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não
permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.

192
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que
contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o
tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para
bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de
jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de
você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma
satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje
iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de
vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são
sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de
estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não
importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam.
Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na
mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas
você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O
que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?

193
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa,
antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava
perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas
escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que
Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa
ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do
casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o
nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o
objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto
começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu
nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos
que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a
distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha
por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a
deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que
fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.

194
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco
anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma
solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer
e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e
nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma
faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que
fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um
grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois
Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve
estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr.
Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se
só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-
la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de
documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas
rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.

195
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-
lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a
casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome.
Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em
Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer
um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao
capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos
capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a
tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu
instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida
por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava
nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a
atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si
mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.

Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha
reclamado, depois que voltou das docas.

196
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de
St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o
privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de
transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando
ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a
sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu
as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu
com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só
um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também
levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a
dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo,
embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela
duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter
os detalhes com Bianca.

197
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens,
transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás,
governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram
e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito
agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma
atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido
tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado
Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. —
Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em
Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora
compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a
paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua
e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um
particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança
que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.

198
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a
parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos
cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro
cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel
baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com
Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da
carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se
juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando
sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De
repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e
serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou
a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se
aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem
com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os
estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à
porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.

199
CAPÍTULO 22

Laclere se desfez dos policiais lhes assegurando que sua irmã estava em choque. Deu sua palavra
de cavalheiro, que a Condessa de Glasbury voltaria a Londres imediatamente, para atender os preparativos
do funeral de seu marido.
Ninguém na carruagem disse uma só palavra durante a volta à cidade, Julián manteve Pen em seus
braços durante todo o caminho. Embora sua voz estivesse tranquila, seu coração não estava. O conde
estava morto. Penélope estava livre e segura. Sua alma desejava especular o que isso poderia significar.
Pen descansava seus cabelos em seu ombro, esquentando-o como o calor do inverno, depois de um
magnífico verão.
Não se atrevia a liberar as emoções que estavam a ponto de explodir dentro dele. Preocupavam-lhe
as circunstâncias da morte de Glasbury. Quando chegaram na casa de Laclere, Julián desceu da carruagem
e encurralou Vergil assim que sua carruagem parou.
Levarei Pen para seu escritório, ninguém vai se juntar a nós, nem mesmo você. Envia uma
mensagem a Nathanial Knightridge e peça que venha aqui imediatamente. Quando chegar, por favor
mande ele para o escritório.
— Knightridge? Julián não está pensando…
— Vergil, só faça isso.
Julián tirou Pen da carruagem e rapidamente a escoltou ao escritório de Laclere. Ela estava tão
perturbada que ele teve que fisicamente sentá-la em uma cadeira.
Encontrou o suplemento de brandy de Vergil e lhe ofereceu. — Está aturdida, querida. Toma um
pequeno gole disso.
Ela obedeceu e um pouco de cor voltou para seu rosto.
— Estou me sentindo estranha Julián, como se estivesse intumescida e não acredito inclusive, que
entenda bem a notícia.
— Essa reação é normal, só descansa tranquilamente agora.

200
— Eu desejei tanto isso, meu Deus perdoe-me, algumas vezes desejei que estivesse morto. Era uma
admissão parecida como essa, feita enquanto estava em choque que ele queria evitar que outros
escutassem.
— Nem sempre podemos controlar nossos pensamentos, não deve se sentir culpada por eles agora.
Ela fez um valente esforço para recuperar-se. Ele podia ver como ela refazia as peças novamente e
as juntava.
— Julián esses homens. A polícia. Por quê nos seguiram para levar essa notícia?
Quando ele não disse nada, sua cabeça se inclinou pensativamente e uma compreensão dos fatos
entrou em seus olhos.
— Eles pensam que eu tive algo a ver com isso, não é?
— Eles vão fazer algumas perguntas, de todas as formas é claro, você não teve nenhum contato
com Glasbury desde que retornou a Londres, uma vez que eles confirmem que você não esteve fora dessa
casa sozinha, ficarão satisfeitos e tudo terminará assim.
— Exceto se estive. Saí sozinha.
— Desculpe?
— Tive que deixar a casa e sair sozinha, bom não realmente sozinha, mas sem a Bianca ou qualquer
criado.
— Diabos.
— Quando foi isso querida?
— Ontem à noite. — Jesus.
— Catherine procurou-me. Ela esteve aqui com sua filha e sabia que seu marido podia estar
procurando-as, assim as levei para o navio de St. John e lhe dei alguns dos meus documentos.
Descreveu-lhe os eventos dessa noite, o advogado nele escutava da mesma forma que um tribunal
faria. Ele viu o tempo e os buracos em sua história, que a faziam terrivelmente vulnerável.
— Quem mais sabe que fez isso, além de Catherine e o capitão do navio?
— Uma criada e um lacaio. E o cocheiro da carruagem de aluguel é claro. — Mais de um, o que
significava muitos, um poderia comprar, outros enviá-los para longe, escondê-los. Ela ainda parecia
aturdida, nada em sua expressão indicava que compreendesse o perigo.
Ele a levantou e se sentou novamente com ela em seu colo e a abraçou.

201
— Estou esperando que chegue um homem, só falará com ele antes de alguém mais. Enquanto não
chega, pensemos a respeito de coisas melhores. O que fará agora Pen? Seu objetivo era ficar livre dele e de
repente está.
Ela o olhou com um estranho assombro.
— Isso é o que não pude me acostumar ainda, acredito que não tenho a mínima ideia do que vou
fazer com essa liberdade. Nunca me atrevi a sonhar, de como viveria depois disso.
Ele a beijou na testa, seu coração estava agitado. Se ela nunca planejou ou sonhou com isso,
significava que nunca acreditou que pudesse acontecer.
— Obrigado, Condessa. Acho que tenho uma clara ideia dos fatos agora.
Pen se levantou para deixar o escritório. Nathanial Knightridge lhe dirigiu um sorriso tranquilizador,
Julián a escoltou para a porta e a entregou a Laclere que estava esperando do lado de fora. Julián fechou a
porta, antes que Lacrere pudesse pensar em entrar.

Knightridge estava muito confortável no escritório de Laclere, fez algumas anotações a mais em
uma folha que tinha usado, deixou a pluma e se sentou na cadeira. Era um homem alto, jovem e atlético,
com uma presença convincente. Seu escuro cabelo dourado emoldurava seu rosto, com olhos escuros que
atraíam a atenção do público com facilidade. Esses detalhes físicos, junto com uma tendência à
extravagância e um brilho inegável, o fizeram muito bem sucedido no Velho Bailey. Com seus só vinte e
seis anos de idade, Knightridge se transformou em um famoso advogado de defesa. Possuía um inegável
talento para a exploração de alguns movimentos e estratégias permitidas à defesa, para aconselhar em
processos criminais.
— Vou lhe dizer francamente Hampton. A palavra na sala foi um caustico veneno.
— Ele foi encontrado em seu armário e o sangue encontrado ali, indica que se produziu uma
hemorragia intestinal. Havia dois copos e uma garrafa de vinho também ali. Os restos de um dos copos
cheirava a algo mais do que vinho. Portanto, houve um convidado e o convidado o envenenou. Esse é o
pensamento da polícia.
— Suspeitam da condessa?
— A perseguição dela pelo caminho demonstra que sim. Ela pode entrar na casa por uma razão. É
provável que achem que se encontrou com ele, pretendendo uma reconciliação e depois cometeu o

202
assassinato. Se não fosse uma condessa e seu irmão, não fosse um membro do reino, ela já estaria na
prisão.
— É claro que fala sem rodeios.
— Se quiser que minta e ofereça uma falsa esperança, posso fazer. Mas isso não lhe ajudará, no
entanto.
— Não, não ajudaria. Julián olhou pela janela, sem ver nada.
Teria que tê-la obrigado a pegar um navio para os Estados Unidos. Ele deveria lhe suplicar de
joelhos, que fugisse na escuridão com ele e encontrassem um novo mundo para eles mesmos. Deveria que
lhe ter pedido para que fosse seu amante, sem desculpas quando considerava suas opções no cemitério de
Bruton.
Ela aceitaria? Poderia a proteção que lhe ofereceria ser suficiente para persuadi-la? Será que ela se
importava tanto, para sustentar uma relação de conveniência com ele para o resto da vida?
— Acha que ele fez isso? Knightridge falou com suavidade, como se discutissem sobre um batedor
de carteira.
— Diabos, é obvio que não.
— Então, deve manter a cabeça clara, do contrário não terá nenhuma utilidade para ela.
Ocorreram-me várias formas de defendê-la e abrir uma porta para uma apelação bem sucedida diante a
equipe do Rei.
Entretanto, se ela tratar de fugir e for surpreendida fazendo algo assim, será o laço que a levará a
forca.
Knightridge o olhou bruscamente, como se procurasse a segurança de que suas advertências
tinham sido escutadas. Julián aceitou a reprimenda em silêncio. Na verdade tinha começado a debater-se
como ajudaria em sua fuga.
— Se ela precisar de seus serviços, a defenderia?
— Não poderia resistir a aceitar. Não só por sua amizade, mas sim porque promete ser muito
dramático. As vendas dos desempenhos serão surpreendentes.
— Eu nunca negaria à você o drama ou a fama que receberá, mas lembre-se que estamos falando
da vida de uma mulher.

203
— Nunca me esqueceria disso meu amigo. Estamos falando também da vida de sua amante, certo?
Continuando sendo franco, isso é mais que um motivo. Se não pode confiar em mim para fazer o melhor
por ela, é melhor que o recomende outro homem.
— Não. Tem que ser você. Está decidido.
Knightridge dobrou sua página de anotações e se levantou.— Diga a sua família que se interponha
diante a polícia o maior tempo possível. Deve desmaiar cinco vezes ao dia ou o que seja que fazem as
mulheres quando estão angustiadas. Peça para que Laclere envie alguém a Marselha imediatamente, para
ver se a Sra. Langton pode voltar. Com sorte espero que tenha sido transferida para outro navio antes de
encontrá-la.
— É possível que se negue a voltar. Ela roubou sua filha e não vai querer correr o risco de ter que
devolvê-la.
— Deve fazer ela voltar. Vou colocar um anúncio nos jornais, enquanto isso, com a esperança de
localizar o cocheiro da carruagem de aluguel, que a condessa alugou na noite anterior. Acho que sua única
esperança de evitar a prisão é ele se apresentar.
— Sim, claro, é um bom primeiro passo. As pessoas costumam a fazer isso? Apresentar-se?
— Lamentavelmente eles cheiram qualquer assunto relacionado com um crime, ele quase nunca
aparecem. Mas vamos esperar o melhor.
— Não posso ficar.
Foram as primeiras palavras que Julián havia dito na última hora. O coração de Pen afundou e
ela se enrolou mais em seus braços.
Sua declaração tranquila lhe havia dito que essa seria sua última vez juntos sozinhos, por um longo
tempo.
Talvez para sempre.
— Meu irmão está muito preocupado.
— Laclere sempre se preocupa quando os que ama estão com problemas.
— Estou com mais problemas do que qualquer um de nós esteve antes, não é? Inclusive Dante,
nunca se viu envolvido em um desastre como esse.

204
Haviam feito de tudo, para melhorar a cara de sua precária situação, depois que
Nathanial Knightridge foi embora. Quando Julián explicou o assunto a Laclere e a Bianca, todos riram
achando engraçada a suspeita contra Pen.
Ela poderia ter se tranquilizado se não os conhecesse tão bem. Mas ela olhou através da
indiferença forçada de seu irmão e viu as luzes, de uma profunda preocupação nos olhos de Bianca.
E Julián foi muito cuidadoso com ela nessas últimas horas. Muito suave e
protetor. Extremamente doce, mas do jeito que se faz com alguém em seu leito de morte.
— Tudo ficará bem Pen.— Beijou-a como se nunca pudesse tê-la mais, o que quebrou seu coração.
— Se não pode passar a noite comigo, é porque não tem certeza que tudo ficará bem,— lhe
sussurrou.— Acha que poderá acontecer um julgamento e que as provas de que tive meu amante à cama,
justo após a morte de Glasbury soará como se estivesse dançado sobre seu caixão?
— Eu não acho que haverá um julgamento. Foi dito à polícia que está muito afetada para falar com
eles, no entanto, não posso me entreter aqui.
— Então tenho que fingir que choro sua morte?
— Deve se retirar totalmente da sociedade. Se isso se interpretar como duelo, que assim seja.
Ele não estava sendo honesto. Ela suspeitava que estava preocupado que acontecesse um
julgamento. Sem dúvida. Não tinha problemas em ver como sua ausência na noite anterior seria vista. Se o
condutor não fosse achado, nunca seria capaz de provar para aonde tinha ido.
Ela o manteve abraçado e fechou os olhos para que não existisse nada, exceto ele. Ela lhe fechou a
cabeça e o coração para todo o restante e habitou na segurança feliz de seus braços.
A doçura foi tocada pela incerteza que enfrentavam. Ela era capaz de bloquear o mundo, mas essa
intimidade estava encharcada com um medo intenso que nunca poderiam compartilhar isso de novo.
— Nem sequer poderá me visitar durante o dia?
— Eu sou advogado de sua família. Posso visitá-la durante períodos curtos.
Pelo menos o veria. Não podia ficar sozinho com ela, mas não desapareceria totalmente.
Essa ideia não a ajudou muito. Ela queria que a abraçasse desse modo durante os próximos dias. Ela
não sabia como ia sobreviver às noites e as horas de solidão imaginando o pior, sem o tê-lo ao seu lado.
De repente, todas as implicações de sua vulnerabilidade a inundaram. Se ela fosse julgada e
declarada culpada, inclusive o abraço de Julián não poderia manter o terror que se construía dentro dela.

205
— Pelo menos, não queimam mais na fogueira às esposas que matam seus maridos. Ou é diferente
quando se trata de um conde? É traição à pátria, então?
— Pen, não pense nisso.
— Talvez permitirão que eu tenha primeiro a misericórdia de um garrote, da mesma forma em que
foi feito com uma pobre mulher no norte, quando eu era uma menina.
— Querida, não deves pensar nessas coisas.
Ela não podia deixar de pensar. Prevendo a mesma sorte. Um tremor a sacudiu.
— Eu quero saber o que estou enfrentando. Talvez só vão me enforcar. Talvez minha condição
signifique que receberei uma corda de seda.
Ele a virou para que pudesse olhá-la nos olhos. – Não deve assustar a si mesma com essas
especulações. Eu não permitirei que sua vida corra perigo. Não vai a julgamento.
O tremor venceu sua compostura. Olhou de novo através de uma cortina de lágrimas. Ele a tomou
em um abraço apertado.
— Pen, prometo que você não vai ser machucada. Juro para você. Esse é um dragão que eu
definitivamente vou matar.
Ela engoliu as lágrimas quentes para que ele pensasse que ela acreditou.— Eu não espero que o
mate.
— Dessa maneira,— disse. Ele lhe mostrou onde colocar as pernas quando a guiou para baixo sobre
seu colo. Com suas anáguas em seu peito, sentou-a escarranchada e deixou suas pernas pendurando pela
parte de trás do banco.
Ele levantou seus quadris e entrou nela até ficarem unidos totalmente. A conexão era muito
estreita e profunda. Eles ficaram de frente um para o outro, sem mexer-se, simplesmente compartilhando
a sensação de como ele a enchia.
Ela memorizava a expressão de seu rosto, gravava em sua cabeça a calidez profunda de seus olhos
e a gravidade emocionante de seu desejo. Nesse olhar ela entendeu todos seus mistérios. Que absorve
tudo, não sabia que nome dar ao que viu, assombrada uma vez mais, como esse homem continha tais
paixões escondidas.
Ele a olhou o tempo todo, enquanto fazia amor. A medida que se mexiam, com o olhar exigia que
acreditasse nele, que a protegeria. Sua aura inteira lhe disse, que nunca permitiria que sua mulher
sofresse nenhum mau.

206
Ela se submeteu. Se deixou convencer um pouco mais. A medida que sua paixão se tornou furiosa,
entregou-lhe até seus temores.
Pela última vez ela era livre e segura, em um lugar onde só ela e Julián existiam, a
intimidade criava um escudo contra as coisas feias do mundo.

Os anúncios foram publicados nos jornais.


Não só um condutor de carruagem de aluguel se apresentou. Laclere fez correr a voz de que estava
oferecendo uma recompensa.
Sessenta e quatro condutores de cavalos de aluguel compareceram.
— Todos eles disseram que levaram a senhora da casa de Laclere naquela noite que o conde
morreu,— explicou Knightridge a Julián quatro dias depois.— A metade deles dizem que ela tinha outra
mulher com ela.
— Isso é uma hipótese previsível, já que as damas não saem sozinhas.
— Por desgraça, sim. O que é pior, pelo menos vinte dizem que a levaram a casa do conde de
Glasbury. Algo sem imaginação em suas mentiras e inclusive, sabendo que é seu irmão quem oferece a
recompensa, descrevem uma história que se ajusta aos rumores. Não se sabe se nosso homem está
inclusive entre eles, mas vou continuar com as minhas perguntas e tentar determinar isso.
— E o lacaio?
— Uma carruagem de aluguel é igual a outra no escuro.
Tinham se conhecido em um botequim em Smithfield, longe dos colégios de
advogados. Knightridge usava um casaco azul de montar a cavalo com um corte surpreendentemente
simples, por isso Julián supôs que tinha interrompido um dia de folga para essa reunião.
— Estou certo que algo se apresentará em breve,— disse gentilmente Knightridge.
Julián não perdeu o tom. Ele o tinha usado também com muita frequência em seus casos.— Pensei
que me livraria das mentiras e falsas esperanças.
— Estou tentando ser simpático.
— Preciso que seja honesto.
— Como quiser. Acho que manhã ou um dia depois vão exigir falar com ela. Também acho que será
presa.

207
— Sem dúvida, o próprio pessoal de Glasbury deve saber quem visita a casa.
— Se o fizerem, não estão dizendo. O que não ajuda à condessa, é claro. Se supõe que tratam
de protegê-la. Um deles, um velho cozinheiro, disse que o conde de vez em quando, recebia visitas que
nenhum deles via. O que faz parecer que Glasbury exigia isso, para que deixassem que a pessoa entrasse
sem apresentar-se. Não há indícios de que isso aconteceu é obvio, mas o vou usar em nosso beneficio.
Knightridge parecia que já estava planejando sua atuação nos tribunais.
— Como vê as coisas nesse ponto? Julián perguntou, muito certo que não queria ouvir a resposta.
— Casos como esses são muito públicos. Os jornais especulam que já foi decidido quem será o
jurado. Sua discrição recente foi sábia, mas receio que foi muito tarde. Eu vejo as dificuldades que
surgem. As opiniões das pessoas tem muito peso nesses casos. Os jurados e os juízes jogam como
audiência também. No entanto, é obvio que sabem que estão olhando muito atentos a St. James.
— Em outras palavras, a que quer dizer.
— Se fosse uma mulher sem nome e de classe baixa, acredito que poderia obter uma sentença
absolvição porque não há provas. No entanto, o romance público deixa claro que ela desejava ser livre e
isso afetará as coisas. A menos que algo novo se desenvolva, direi a você que não estou otimista.

Julián tinha entrado no botequim com um peso agasalhado no peito. Havia tido a esperança contra
todo senso racional, que Knightridge poderia lhe dar alguma confiança e aplacar seus próprios medos
crescentes. Em seu lugar, Knightridge só havia confirmado.
Imaginou Pen sentada na casa de Laclere. A viu enfrentando as perguntas e como a levavam. A
imaginou na prisão. Sentia seu medo como se compartilhassem a mesma alma.
— Sinto muito, Hampton. Sinto que deveria citar algumas poesias para acalmar você da angustia. O
problema com a poesia é que não resolve os problemas reais, não é verdade?
Uma resposta sarcástica estava se formando na cabeça de Julián, mas morreu antes de chegar a
seus lábios. Outra reação tinha substituído, organizou em sua cabeça a ideia que lhe havia apresentado. Na
verdade, nesse caso, a poesia poderia resolver o problema totalmente.

208
CAPÍTULO 23

Laclere entrou no escritório de Julián em Russell Square na noite seguinte. Sem dizer uma palavra,
se serviu de uma bebida. Se sentou perto da cadeira de Julián ao lado da lareira enquanto bebia.
Ele estava com uma aparência horrível. Desfocado e cansado. As rugas entre as sobrancelhas
pareciam agora permanentemente gravadas.
— A polícia são uns asnos,— murmurou.— Pergunto-me se foi prudente formar essa instituição,
quando tais homens estúpidos se sentem atraídos pelo dever. Esse Lovejoy é ofensivo. Acredito que a
morte do conde quer dizer que ele está fora do emprego privado, pela forma em que atua contra minha
irmã.
— Como Pen está passando?
— Ela é muito valente. Mais valente do que eu, com certeza. Estou enojado com todo o
assunto. Vejo o desenrolar de um futuro terrível para ela e não posso fazer nada para evitar.
Julián deixou ao lado o livro que estava lendo. – Na verdade, talvez possa.
— Por isso me pediu que viesse? Sim há um talvez, só me explique e vou fazer com segurança.
— Necessitará que você faça algo um pouco desonroso e que o admita.
— Para o inferno com a honra. Estamos falando da vida de minha irmã. Seja breve Hampton. Não
estou com humor para sutilezas.
— A maneira mais segura de evitar a detenção de Pen é oferecer outra pessoa à polícia em seu
lugar. -
— Sim, mas quem? Inclusive Knightridge não tem teorias sobre quem matou realmente Glasbury.
— Eu não fui para casa naquela noite, depois que nos separamos fora do clube Vergil. Tampouco fui
encontrar Penélope. Eu não estive em um lugar onde alguém me visse. Durante duas horas, eu estive
caminhando pela cidade sozinho. Mais tarde visitei sua irmã e o lacaio da noite pode confirmar a hora que
entrei em sua casa.

209
A expressão de Laclere caiu. Olhou para o fogo.— Não posso permitir isso. Não vou deixar que
sacrifique a si mesmo.
— Está certo do que está fazendo?
O olhar de Laclere se quebrou de novo nele.
Julián assumiu sua mais calma reserva a fim de que, os olhos de questionamento de seu amigo não
encontrassem a resposta. O ar do escritório ficou muito carregado.
— Há documentos incriminatórios, escritos por minha mão,— disse Julián.— Estão na gaveta
daquela mesa que está ali. Se tiver o menor motivo para suspeitar de mim, pode ser desculpado pela
oportunidade de olhar essa mesa, para ver se tinha algo que pudesse salvar a sua irmã. Julián se levantou
de sua cadeira.
— Diabos, não espere isso de mim.
— Eu espero.
— Isso...
— Desonroso? Ao diabo com a honra, é o que acabou de dizer.
— Isso é diferente. Você é inocente e é meu melhor amigo.
— Você não sabe eu sou inocente. Sobre a nossa amizade, se for isso que o detém, vou acabar com
ela antes que saia dessa sala.
Olharam-se em silêncio, sem mais protesto, Julián se dirigiu para a porta.
Uma hora mais tarde, Julián voltou para o escritório.
Laclere estava sentado à mesa lendo uma folha, outros papéis estavam empilhados na mesa. Vários
tinham sido deixados de lado em sua pilha de fichas especiais.
Levantou o olhar quando Julián entrou. Deixou cair o papel, afundou-se na cadeira e fez um gesto
para a pilha.
— Alguns desses são muito antigos.
— Sim.
— Encontrei aqueles onde é possível ver o desejo de matar Glasbury, obviamente.— Jogou uma
olhada aos que eram diferentes dentro de outro pilha.— Duelos e outras coisas. Na verdade, não um
assassinato.
— Vai ser suficiente. Eu acredito que deve pegar todas. A historia formará melhor meus motivos.
Terá convencer que não estou tentando ser cavalheiro, substituindo eu mesmo por ela.

210
Laclere levantou o jornal que estava lendo.— Deveria ter dezesseis anos quando escreveu
esse poema para ela. As cartas Julián, não tinha nenhuma ideia.
— Não?
Laclere deixou cair o papel.— Talvez, mas então Milton disse alguma coisa e eu pensei como
éramos jovens que isso tinha ficado no passado. Nunca suspeitei disso,— fez um gesto à pilha novamente
com espanto desconcertado.
— Eu pensei que passaria também. Eu contava com isso. Esperei por isso. Fiz todo o possível para
que passasse. No entanto, não consegui. Acha que sou um idiota?
— Claro que não. Deus, não. Surpreende-me e isso é tudo. Por sua lealdade e amor. Na verdade, eu
estou um pouco assustado.
— Amarre-os e os leve. É tudo o que necessitam as autoridades, além das informações do que
aconteceu no clube e minhas horas de solidão durante essa noite. A polícia se sentirá aliviada ao saber que
sou eu e não uma condessa. Facilitará as coisas para eles.
Laclere vacilou, depois começou a empilhar os papéis cuidadosamente.— Não percebi quanto
talento tem com a pluma, se é que devo dizer. Suas palavras são muito comovedoras. Os contos, os versos
e pensar que minha irmã esteve todos esses anos cercada de escritores e não sabendo que o melhor deles
estava de pé na frente dela, totalmente em silêncio sobre suas habilidades. Suponho que devia ter
adivinhado, tendo em conta as épicos pouco comuns que criava e que nos cativavam quando éramos
jovens.
— Essas são privadas e nunca tive a intenção de entregar aos olhos do público.
— Não serão mais privadas. Pode suportar isso?
— Sim.— Ele poderia suportar isso por ela.
Laclere amarrou os papéis em um pacote. Ele olhou por um momento e depois se levantou.— Vou
dormir essa noite e decidir o que fazer.
Julián sabia que Laclere queria contemplar sua escolha, mas os dois sabiam a decisão que
deveria tomar.
Laclere abriu a porta. Com a mão no trinco, se virou.— Eu sei porque está fazendo. Eu faria o
mesmo por Bianca. Mas não há necessidade de uma mentira entre nós. Podes admitir que não o matou.
Julián virou as costas para Laclere. Momentos depois, ouviu seu amigo fechar a porta atrás dele.

211
Pen estava sentada em um banco do jardim debaixo de uma árvore. O sol brilhava. O que levantou
um pouco seu ânimo. Ele fez mais não muito, para dissipar as nuvens dela, entretanto, espectros sinistros
se abatiam sobre ela, como uma tempestade que se aproxima do mar. Tentava conter seu pânico, mas
sempre estava ali ameaçando conquistá-la, era mais fácil manter sua compostura quando estava sozinha.
Ver seus irmãos preocupados, ver o estado de ânimo de seus amigos só fazia tudo mais difícil. A espera era
a pior parte. Lembrou de quando vivia com o conde e como ela sabia que chegaria para castigá-la. Estava
morto, mas ali estava ela, destinada a viver de novo com a antecipação repugnante da dor e da humilhação
que havia experimentado nessa época. A espera era pior que a realidade.
Logo a espera terminaria.
Laclere na noite anterior esteve tão silencioso, tão melancólico, que sua sensação de perigo
disparou. Em seguida, Dante chegou de visita e ele e Vergil desapareceram no escritório. Quando Dante
saiu, estava tão consternado que ela quis confortá-lo.
Um estado de espírito fúnebre se instalou na casa nessa manhã. Todo mundo sabia que a polícia
viria falar com ela hoje.
Ela não seria capaz de inocentar a si mesma e isso, a colocaria na prisão.
Nunca poderia sentar-se no sol no meio de um jardim novamente.
Seus olhos umedeceram. Ela se agarrou ao seu sentido de um fio fino. Procurou provas em seu
caminho de volta de algum tipo de controle.
O ruído da porta do jardim a fez saltar. Soou passos no caminho. Seu coração começou a bater
tão forte que sentia o batimento do coração nas têmporas.
A polícia deve estar aqui. Laclere estava trazendo-os.
Fechou os olhos e juntou sua dignidade. Para não prejudicar a si mesma ou a sua família. Ela devia
se comportar com o decoro apropriado para sua condição.
Os passos pararam na frente dela. Preparando-se ela abriu os olhos.
— Julián!
Ele sorriu e se sentou ao seu lado.— O dia está incrivelmente fora de época.
Ela levantou o olhar para o trajeto do jardim.— Não está com acompanhantes?
Seu braço a rodeou e se aproximou mais dela. – Não há acompanhantes.

212
Não tinham ficado sozinhos a mais de uma semana, desde aquele dia terrível. Ele não a havia
tocado, desde quando fizeram amor na biblioteca.
— Eu senti terrivelmente sua falta.— disse Pen.
— Meu amor sempre estará contigo, inclusive se não estiver.
Era a primeira vez, que utilizou essa palavra. Que fez brilhar seu coração só ouvindo. Se alegrou por
ele também pensar, que o que compartilhavam era amor. Ela sabia que para ele, não significava o mesmo
que para ela, mas só a palavra fez mais especial que usar a amizade, paixão ou o afeto.
— Eu sei. No entanto, é bom ter você agora comigo. Especialmente porque engoliu as palavras.
Ela não queria arruinar o pequeno oásis de paz que acabava de formar.
Ele acariciou seu ombro e deu um beijo em seu cabelo.— Lamento que tenha que sofrer por tanto
medo querida. Você não deveria ter. Não será mais questionada, espero, não hoje. Já não está sob
suspeita.
— Não estou? O que aconteceu?
— Centraram sua atenção em outra parte.
Seu coração deu um tombo, quebrou da melhor maneira. Um alívio glorioso resplandecia através
dela. Tirou seus braços ao redor de seu pescoço e lhe deu um beijo feliz.
Os dois sorriram ao mesmo tempo em que seus dentes bateram. Ela riu e o olhou. Seu humor
coincidia com o dela. Não podia lembrar de tê-lo visto tão feliz, ver tão claramente a luz de seu
coração. Quase infantil.
— Não posso acreditar nisso. Ontem a noite meus irmãos pareciam estar preparando-se para meu
velório. Inclusive nesta manhã.
— Knightridge acaba de enviar sua palavra a Laclere e eu acredito Pen, que agora está a salvo.
— Como me prometeu que seria. Acariciou a curva de seu pescoço e aspirou profundamente. Ela já
não precisava agarrar-se às lembranças de seu aroma e de sua força agora. Ela na verdade o tinha em seus
braços.
— Quando isso terminar, podemos voltar para a casa de campo Julián? Ficaria feliz. Só eu e
você. Quero fazer amor com você no quarto com vista para o mar. Você disse que o som das ondas era
muito nítido.
Ele se aproximou e afundou o rosto em seu cabelo. Se limitou a beber desses perfeitos e preciosos
minutos.

213
— Vamos para lá, assim que for possível.
Ela mal podia conter o quanto maravilhosa se sentia.— Continuo rindo como uma louca, mas é
como se estivesse realmente viva. O sol é mais quente e a brisa é mais fresca. Oh, Julián, esse é o dia mais
importante. Para ser verdadeiramente livre do medo. Ficar fora de todas as sombras, antigas e novas, não
sei o que fazer comigo.
Ele voltou a rir.— O que acha que quer fazer?
— Eu quero passar todo o dia contigo. Eu quero ir para algum lugar e correr em um campo e ficar
com o rosto vermelho e brincar como uma criança. Levantou-se e puxou sua mão.
— Vamos a Laclere Park. Lá poderemos esquecer de todo esses problemas por alguns dias.
Ele a puxou para trás e ela caiu em seu colo.— Não posso ir para Laclere Park. Tenho algo que devo
fazer no final do dia. Podemos ir a Hampstead, entretanto, à propriedade de Chevalier, lá tem um campo e
bosque. Isso seria bom o suficientemente para você?
Ela colocou o braço ao redor de seu pescoço e deu um beijo em seu nariz.— Qualquer lugar é o
suficientemente bom Julián, agora que sei que podemos ficar juntos.

Corbet Chevalier lhes deu as boas vindas. Ele serviu uma comida simples para eles, conversaram
amigavelmente, então aproveitaram tranquilamente das instalações vazias. Assim, que ela e Julián ficaram
sozinhos, Pen entrou na grande sala onde Laclere e seus amigos praticavam suas habilidades de duelo,
desde que estavam na universidade.
— Não tenho nenhum problema de imaginar todos vocês aqui,— disse enquanto examinava as
espadas penduradas na parede. – Afinal de contas, uma vez eu vi vocês.
— Isso foi muito feio de sua parte.
— Essa era a ideia. Não esperava ser descoberta. Ela riu ao lembrar.
— OH, como Laclere me repreendeu. Não era muito mais que um garoto e ronronou com
autoridade, como um padre. Graças a Deus Bianca o salvou, isso é tudo o que posso dizer.
A sala vazia ecoou seus passos. Viu os homens jovens da sociedade de duelo como os tinha visto
nesse dia, suas espadas se chocando, seus torsos nus brilhavam com o suor do exercício.
A maioria deles se apressaram a colocar as camisas quando se deram conta que ela e Diana
estavam vendo. Um deles lhe deu um fascinante e sedutor sorriso, enquanto o fazia. Não foi Julián.

214
O fantasma de Witherby de repente, estava a seu lado, exalando o encanto que o tinha feito tão
atraente. Sua lembrança já não a entristecia. Olhou agora para esse episódio do passado com indiferença
assombrosa. Olhou para Julián e supôs que estava lendo seus pensamentos.— Não vou chorar por mais
tempo Julián.
— Fico contente.
— Meu único arrependimento é que lamento não ter sido você, ao invés dele a me perseguir
naquela época.
— Teria percebido se eu tivesse feito?
— Não sei. Talvez não. Era muito jovem para entender. Muito jovem para apreciá-lo. Eu entretanto,
me sinto um pouco nostálgica e ciumenta, por nenhuma razão aparente, mas suponho que gostaria que
tivesse pensado em mim dessa maneira nessa época.
— Na verdade, eu pensava em você dessa maneira naquele tempo.
Ela riu.— Bom, talvez tenha feito em alguma ocasião. Como me disse, os homens têm o hábito de
pensar nas mulheres dessa maneira, em qualquer caso. Ela pegou sua mão e o arrastou até a porta.—
Agora, vamos ao campo, enquanto o sol ainda está alto.
Foi um dia perfeito, o melhor em sua vida, cheio de risos e brincadeiras. Brilhante pelo glorioso e
futuro que imaginou. Seus sapatos se enlamearam e sujou seu vestido, já que brincaram de alguns jogos de
sua infância. Desfrutaram de longos beijos e carícias entre as aventuras e fizeram o amor duas vezes em
cima da grama seca, alheios ao frio do ar e do chão.

Quando o sol começou a desaparecer, viajaram de volta a Londres na calesa de Julián.


— Estamos em um estado terrível – disse Pen, recolhendo um morango da saia em ruínas. Tirou um
pouco de grama do ombro de Julián.
— Não trocaria esse dia por nenhuma das roupas limpas do mundo,— disse ele.
— Tampouco eu. Eu gostaria que tivéssemos um pouco de vinho e assim poderíamos brindar por
muitos dias mais como este.

215
A cidade estava às escuras quando chegaram de volta a casa de Laclere. Julián ajudou Pen a sair da
calesa.
— Julián, esse transporte me parece familiar.— Fez um gesto para uma carruagem estacionada.—
Não é a que nos seguiu no caminho por volta de Laclere Park? A polícia deve ter vindo para falar comigo
hoje, finalmente. Por que esperaram se eu não estava aqui?
Julián olhou para a casa, para a carruagem da polícia e finalmente para ela.
— Ao entrar, quero que se retire imediatamente para seu quarto querida.
A alegria do dia desapareceu em um segundo. O medo da semana passada retornou como uma
onda de frio que se quebrou contra seu coração.
— Julián, mentiu-me essa manhã, quando disse que eu estava a salvo? Fez o que eu desejava para
que tivesse um último dia de liberdade sem medo?
Pegou seu rosto entre as mãos e a olhou.— Não menti. Agora vá para seu dormitório.
Prometa-me que vai lembrar o que eu disse no jardim: Meu amor estará contigo, inclusive se não
estou.
— Por que não estará comigo? Em primeiro lugar, diz que não vieram por mim, então porque diz
isso?
— Não estão aqui por você Pen. Eles estão me esperando.

216
CAPÍTULO 24

Fez o que Julián lhe pediu, retirou-se imediatamente para seu quarto. Então correu para o outro
quarto que tinha vista para rua.
Durante meia hora horrível ela esperou. A luz se derramou na escuridão quando a porta abriu e em
seguida Julián se aproximou da carreta da polícia, acompanhado por dois homens. Subiram na carreta e se
afastaram.
Não viu nada, exceto depois de um oceano de lágrimas gritou tão forte que doeu. Ela caiu no chão,
a dor a deixou sem fôlego, sucumbiu a todos os medos que esteve levando nos últimos dez dias.
A presença de outra pessoa invadiu o meio da sua miséria. Ela levantou o olhar e viu Vergil de pé a
dez metros dela, segurando uma lamparina. Colocou sobre uma mesa, se aproximou e se sentou no chão
com ela. Seu abraço só a fez chorar mais. Finalmente o pior passou, mas só porque ela estava exausta.
Então recuperou a compostura, embora não estivesse realmente calma.
— Você sabia, — ela sussurrou em seu ombro.
— Sim.
— Permitiu que me levasse hoje e fizesse de conta que tudo estava bem, você sabia que estariam
esperando-o quando retornássemos.
— Era como ele queria que fizesse.
— Ele se comportou tão feliz quando estava comigo, eu jamais imaginaria nem por um instante.
— Possivelmente porque ele realmente estava muito feliz por você.
Ela inalou profundamente e secou seus olhos, dessa forma podia ver o rosto de seu irmão.
— Não devia ter lhe permitido fazer isso. Deve ir e dizer a ele que eu não quero que faça.
Vergil puxou suas pernas e descansou suas costas na parede. — Acho que agora já não está em
nossas mãos Pen.
— Ele fez isso para me proteger.
—Se é assim, não vai escutar minhas súplicas para que não faça. Tampouco vou fazer
tal declaração. -
Não podia acreditar no que ouvia.— Está dizendo que aprova essa mentira?

217
— Você é minha irmã. Vou aprovar qualquer coisa que espero que a salve.
— Inclusive com a condenação de um inocente? Que é seu amigo?
Ele não respondeu. Nem seus olhos se encontraram. Ele parecia terrivelmente incomodado.
— Vergil, estamos de acordo que isto é um erro elaborado de sua parte, não é? Você concorda
que Julián é inocente, não é?
Para sua surpresa, ele não respondeu imediatamente. Na verdade parecia estar avaliando as
provas.
— Negou-se a me dizer que ele é inocente Pen.— Perguntei e tudo o que obtive foi seu maldito
silêncio. Mas, sim, acredito que é inocente. Não porque ele é meu amigo, ou porque acredito que é muito
bom. Na verdade, concluí que se ele acreditasse que estivesse em perigo, não duvidaria em matar.
— Espero que não tenha falado com a polícia sobre seu estranho caráter.
— Pen, ele esperava que fosse em um duelo. Seja qual for o motivo que deu à você para voltar a
Londres, no fim o que ele realmente esperava era que terminasse em um duelo. Ele disse à polícia que
forçou Glasbury a desafiá-lo para um duelo.
Um duelo. Uma revolta furiosa cresceu dentro dela. Em sua cabeça começou a formar uma
resposta mordaz à acusação de seu irmão.
Mas as lembranças chegaram a ela, as promessas de proteção de Julián, inclusive naquela primeira
noite em sua biblioteca jurou que Glasbury jamais a obrigaria a voltar. Farei o que for necessário. Quantas
vezes fez essa promessa com a confiança de terminar em um duelo?
Ela sempre concluiu que era só para tranquilizá-la.
— Vergil, se você acha que ele era capaz disso, por que acha que ele não fez?
— O veneno. Julián nunca usaria um método tão covarde. Se ele tivesse matado Glasbury, seria
colocando uma espada no coração do canalha.
— Não vai me ajudar, não é verdade?— Knightridge expôs a questão com uma irritação
considerável, enquanto caminhava ao redor da cela impacientemente. Era uma cela pequena, úmida, mas
Julián sabia que era uma das melhores de Newgate. Seus amigos tinham subornado o diretor, para garantir
que o novo recluso recebesse o melhor tratamento que a prisão podia permitir, tal como era. Sua condição
de filho de um cavalheiro e de advogado lhe permitiu também um pouco de respeito.

218
— Este é o problema com homens como você,— Knightridge estourou.— Quando finalmente caem
de amor, de repente, se transformam em verdadeiros estúpidos. Particularmente, sinto-me ofendido da
pouca confiança que tem em mim, até o ponto de inventar essas ridículas declarações que fez a polícia.
— Não disse quase nada. Não posso negar que não estava em casa naquela noite. Admiti que não
podia provar meus movimentos pela cidade. Neguei a responder às perguntas a respeito de minha relação
com a condessa
— Todo o país tem conhecimento.
— De todos os modos, como um cavalheiro me neguei a falar disso.
— Pelo menos negou que o matou, maldito seja?
— Claro. Todos no mundo não negam?
— Não fique impertinente comigo Hampton. Jesus. Knightridge ficou olhando para o chão.— Muito
bem, quero ter certeza que entende. Seus movimentos são suspeitos e não pode provar que não estava na
casa de Glasbury. Teve uma relação muito indiscreta com a condessa, mas o conde não fez nenhum
movimento para o divórcio que vocês esperavam. Pior ainda, ele deu entrada em uma petição de
restabelecimento de seus direitos conjugais. Ameaçando interferir no projeto no qual você investe e você
foi é o sócio com menos probabilidades de sobreviver ao golpe financeiro, se ele tivesse êxito. Houve uma
disputa pública nessa noite, teve que ser contido e pediu que tirasse satisfação.
Enquanto recitava os fatos, Knightridge franzia o cenho mais profundamente e mexendo a cabeça
com desalento.
— Eles também têm alguns documentos meus, assim parece.
— Documentos?
Julián os descreveu.
— Em alguns papéis, enquanto sofria de profundas melancolias, fantasiava matar a Glasbury.
— Maravilhoso.— Knightridge acelerou seu ritmo um pouco mais.— Tenho a intenção de averiguar,
a forma como se apossaram de seus papeis. Podem me conduzir a alguma parte.
— Preferiria que não o fizesse.
Knightridge cruzou os braços no peito,— Se for seu objetivo vão enforcá-lo.
— Não é meu objetivo que me enforquem, entretanto, não fará nada que possa mudar as suspeitas
de novo para a condessa. Nada. Deve mantê-las o mais afastado dela como for possível.

219
— Maldita seja, se for possível fazer. Ela está no meio de tudo, mas farei o que possa por você
Hampton. Sinto-me aliviado de que não se importe, em não escutar falsas esperanças, já que sequer posso
oferecê-las.
Como se perder Julián não fosse suficiente, Pen se viu obrigada a sair durante três dias. Seus
irmãos a colocaram em uma carruagem e a levaram a casa de campo de Glasbury em Cambridge Shire para
o funeral dele.
Lá teve que interpretar à viúva em um ritual público e a procissão de conhecidos, quando todos os
presentes a culpavam pela morte do conde. Seus irmãos estavam a seu lado, com os rostos esculpidos em
pedra, olhando a qualquer um que a olhasse por muito tempo.
Depois do enterro, depois das condolências corteses, depois que ela viu mais olhadas e sussurros
que nunca pensou que suportaria, retirou-se à biblioteca com Laclere e Dante. Ela tentou restaurar sua
compostura, para continuar mostrando-se como a anfitriã das pessoas que carregavam o caixão. Se sentia
como uma estranha nessa casa enorme. Nunca foi sua casa. Glasbury preferia a escura e isolada casa de
Wiltshire, quando estava no país. Nenhum hóspede a tinha visitado ali. Nenhuma festa foi realizada em sua
casa. Quando se retirou da vida da cidade, foi essa privacidade que permitiu a Glasbury desfrutar de um
tipo muito especial de esporte.
Dante e Vergil se sentaram com ela. Nenhum deles falava. Ela passou os minutos lhes perguntando
como estava passando Julián, imaginando os horrores da prisão. Continuou mordendo a língua com as
perguntas que seria muito dolorosas, para que seus irmãos respondessem.
A porta da biblioteca se abriu e um senhor de cabelo branco entrou. Era o senhor Rumford,
Advogado de Glasbury.
— Gostaria de saber se precisa de mim, milady. Se não, vou voltar para a cidade. Ele falou em um
tom cortante, como se estivesse fazendo esforço por esconder seu desgosto por ter que falar com ela.
— Você arrumou para que todos os empregados permaneçam em diferentes propriedades?
— Está tudo resolvido. Também informei aos que receberam legados e fiz as disposições
necessárias para as contas pelos meus serviços, se lhe parecer satisfatório.
Ela realmente não se importava. O Sr. Rumford era muito respeitado. Estava certa que dirigiria tudo
maravilhosamente.
— Suponho que o herdeiro já foi contatado,— Disse Laclere.

220
— Escrevi para seu sobrinho. Ele está na Jamaica, passará algum tempo antes que ele saiba sobre o
triste evento. Pode acontecer algum atraso também sua volta. As propriedades que tem lá, estão passando
por um pouco de confusão, enquanto se realizam ajustes para a emancipação dos escravos. Até que ele
chegue, é obvio, a condessa tem direito de usar todas as propriedades.
Se for muito valente, sua voz parecia dar a entender.
O Sr. Rumford se despediu.
— Seu tom de voz beirava a rabugice, não importando como corrigisse suas palavras,— murmurou
Dante.
— Ele não me conhece absolutamente Dante. Acho que o encontrei uma vez. Também acha que
sou responsável, não realmente uma cúmplice.
— Isso passará,— disse Laclere.— É o tipo de intrigas que cresce rapidamente e desaparece com o
tempo.
Isso não era certo. Ela poderia não ser o primeiro assunto do dia por muito tempo, mas ficaria
manchada para sempre.
O lugar que tinha esculpido para ela na sociedade se reduziria ainda mais, ela não tinha dúvida.
Nada disso devia lhe importar agora. O único que importava era o homem sentado em uma cela, de
uma fétida prisão.
— Quero ver Julián quando voltar a Londres,— disse.— Suborna quem for necessário, mas consiga
que eu entre lá.
Uma hora antes do amanhecer, Pen entrou na prisão de Newgate em companhia de Charlotte e do
Sr. Knightridge.
— O diretor tem dificuldades para permitir isso,— disse Knightridge.
É evidente que essa dificuldade pode ser influenciada por presentes e considerações. Pen se
perguntou quanto teria custado a Laclere.
— Geralmente, essas visitas só são permitidas antes da execução,— continuou Knightridge.
— Fala como se não estivesse de acordo, com que deixassem minha irmã vir vê-lo,—
disse Charlotte.
Apesar do seu véu preto e da fraca luz das tochas, Pen reconheceu a expressão de ressentimento
de sua irmã. Mas então, o tom de voz de Charlotte foi bem transmitido.

221
— Eu já vi homens inocentes serem enforcados, depois de lhes ter sido negado o consolo de amigos
e da família, senhora. Não lamento o privilegio de sua irmã. Eu só digo que não é justo.
— Então, coloque seus esforços nessa reforma, senhor. Minha irmã está
suficientemente angustiada e não necessita de suas conferências.
— Não é uma conferência, somente uma observação.
Os olhos de Charlotte se estreitaram. Abriu a boca para responder.
Pen pôs uma mão em seu braço.— Se tratava de uma observação ou de uma conferência Sr.
Knightridge, não me importa. Estou agradecida por você conseguir organizar esse encontro para minha
irmã. – A boca de Charlotte permaneceu bem fechada, mas seus olhos continuaram provocando-o.
Conduziu-as através de uma sala de recepção triste, através de uma pesada porta velha e para um
escuro escritório.
O homem dentro se limitou a assentir quando os viu eles. O Sr. Knightridge o apresentou como o
ajudante da guarda da prisão.
O diretor saiu. Os minutos passavam lentamente. Pen notou como suas emoções se distorciam
durante esse tempo.
— Pode parecer mudado quando o ver,— disse Knightridge.— está na prisão seis dias e isso afeta
um homem com rapidez.
Charlotte pegou sua mão para consolá-la. Pen deixou, mas encontrou mais conforto em seu
próprio coração. Sua desolação tinha clareado um pouco nesses últimos dias. De baixo da premonição
horrível, que crescia através do medo doentio, uma nova emoção havia surgido. A raiva.
O diretor levou seu prisioneiro. A respiração de Charlotte parou. Pen mal pode esconder seu
próprio choque. Julián estava acorrentado.
Ele se colocou de pé, alto e orgulhoso, exalando a mesma reserva que mostrava nas festas. Tinha
se barbeado, sem dúvida, outro privilégio que comprou com uma moeda escondida. Agia como se não
percebesse as correntes que impediam seu caminhar e limitavam seus braços.
— Nos deixe sozinhos,— Knightridge disse ao diretor.
— Não acho que devo.
— O prisioneiro está restringido, as damas são viúvas de nobres do reino e eu sou um
cavalheiro. Você não precisa se preocupar.
O diretor se foi, mas não contente.

222
Assim que a porta fechou, Julián se dirigiu a Pen.— Não deveria ter vindo.
— O Sr. Knightridge não vê perigo que eu lhe visite.
— Isso é certo, Hampton. Acho que a devoção da condessa a um amigo será bem recebida pela
sociedade. Seria vista como muito cruel se simplesmente o ignorasse agora.
— Pode ser mal interpretado,— disse Julián.— Disse para que não fizesse nada que pudesse
envolvê-la.
— É o advogado que vai me indicar o que fazer nos processos penais agora? Deixe-me ver como
salvar seu pescoço.
— Espero que não tenha intenção de salvar seu pescoço, colocando em risco o de minha irmã,—
disse Charlotte.
O Sr. Knightridge suspirou com paciência tensa, como se de repente, lembrasse que existiam certas
irritações das quais não podia prescindir.— Minha querida baronesa, você concordou que eu lhe
permitisse vir com sua irmã, não que interferisse. No futuro vou pedir que Lady Laclere seja sua
companheira.
— Você não permitirá nada senhor. Lembre que...
— Por favor, Charlotte. As críticas pode deixar para quando formos, se for necessário, mas não
quero desperdiçar o pouco tempo que tenho com Julián dessa maneira,— disse Pen.
— Se essa visita for mal entendida ou mal interpretada, não me importa Julián. Se alguns pensarem
que implica que sou cúmplice, que assim seja. Sempre e quando me permitirem vê-lo durante esse
período, eu o farei.
Com uma expressão satisfeita de vitória, que não fez nada para apagar o fogo de Charlotte, o
senhor Knightridge foi para a porta.
— Senhora, deve se juntar a mim, talvez podemos permitir que a condessa fique alguns minutos a
sós com o Sr. Hampton. Estou certo que só posso intimidar ao guarda por um breve tempo.
Seu olhar quando saiu lhe advertiu que seria muito breve. Assim que a porta se fechou, foi para
Julián e o abraçou.
— Não me repreenda. Não faça. Deixe que eu lhe abrace.
Ele não podia abraçar suas costas, mas lhe deu um beijo na cabeça.— Estou muito grato para
repreender.
— Não ficará preso por muito tempo, verdade? Não poderia suportar que...

223
— O vice diretor teme uma dramática fuga, por isso colocou em mim quando me trouxeram aqui.
Isso foi um alivio. Ela não queria imaginá-lo dia e noite acorrentado.
— Sei que não fez isso, Julián. Eu gostaria que não tivesse criado essa farsa.
— Não há farsa. Cada dado que têm é verdadeiro. Não criei nada.
— Então deve negar.
— Não tem como. No entanto, eles pensam que têm o suficiente.
Sim, eles fizeram. E isso era tudo o que lhes importava. Eles tinham seu assassino e não queriam
olhar mais à frente.
Não era isso o que tinha acontecido com ela? Julián a salvou simplesmente lhes dando outra pessoa
para ficar em seu lugar.
— Julián, você não fez isso, eu tampouco fiz, mas alguém fez.
— Não acredito que só você e eu sejamos os únicos sabiam o que ele era Pen. Pode ter dúzias de
pessoas que o queriam morto.
Dezenas de pessoas que o queriam morto, mas não dezenas de pessoas que podiam fazer.
A raiva foi crescendo de uma forma fria e determinada em seu coração.
Em algum lugar havia um homem dormindo em sua cama, enquanto que Julián adoecia na
prisão. O verdadeiro assassino caminhava livremente pelas ruas, seguro que outro ocuparia seu lugar na
forca.
Abraçou mais fortemente Julián, absorvendo o calor humano que teria que sustentá-la por vários
dias. Sua satisfação não provinha só de escutar os batimentos do seu coração e o sentimento de respirar.
Entretanto, uma firme determinação a tinha reclamado. Ela sabia o que deveria fazer. Já estava na hora,
dela levantar uma espada e um escudo.

224
CAPÍTULO 25

— Eu peço a todos que me ajudem,— disse Pen.


Ela estava sentada em seu salão, vestida com o traje preto fosco requerido pelo luto. Havia
finalmente retornado a sua casa no dia anterior, depois de ver Julián.
Seus amigos mais queridos de seu círculo a acompanhavam.
— Deus o que precisa,— disse Sofía.— Estamos a suas ordens.
— Não é um agradável dever, receio. Vocês podem optar por rejeitar.
— Duvido— disse Fleur.
— Se negarem, entenderei. O conde se foi, depois de tudo. Ele não pode defender-se. Eu só faço
isso devido a Julián.
— Ele não poderia defender essas coisas, inclusive se vivesse, assim deixa de ser tão amável,—
disse Charlotte. Ela era a única que já conhecia o propósito da reunião.
Pen tinha discutido com ela no dia anterior, assim que ficaram sozinhas. A reação de Charlotte foi
extrema, forte e cheia de um tipo de linguagem, que uma dama jamais deveria pronunciar.
— Acho que ajudaria Julián se soubessem porque deixei Glasbury. O Sr. Knightridge está de
acordo,— explicou Pen.— Quando as senhoras lhes pedirem todos os detalhes, talvez todas vocês devem
satisfazê-las. Especialmente você, Sofía. As melhores ouvintes de Londres a visitam.
— Se uma fofoca da duquesa lhe pode ajudar, vou encher seus ouvidos. Só me diga o que dizer.
Essa foi a parte difícil. A prática com Charlotte a ajudou. No entanto, ao descrever as terríveis
experiências, reconhecendo sua covardia por Cleo, seria difícil. Seu coração se contraiu com a ideia de que
o mundo inteiro soubesse.
No entanto, essas eram seus amigas. Não tinha necessidade de preocupar-se com suas reações. E
ajudaria a Julián.
— Soube no primeiro ano de meu casamento com Glasbury, que ele tinha expectativas de uma
mulher que não era normal ou honrosa.

225
Ela lhes disse o que queria dizer. Ela revelou mais do que havia dito algum dia a Julián. Por quinze
minutos, colocou em palavras as lembranças que ainda a faziam encolher-se.
A boca de Fleur se abriu na terceira frase e não voltou a fechar. Sofía parecia em estado de choque
e Diane a ponto de chorar. A expressão de Bianca se transformou em pedra.
Ela não teve que explicar suas suspeitas sobre a morte de Cleo. Ela podia as vê-las saltarem à
mesma conclusão, assim que souberam. Bianca assinalou em voz alta, a forma que a morte coincidia com a
data das intenções do conde para ela voltasse.
Charlotte notou suas reações com furiosa satisfação.— É um milagre que não a matasse Pen.
Bianca bateu os dedos cuidadosamente sobre o tecido rosa de Damasco, que cobria o sofá onde
estava sentada.— Se isso se tornar conhecido, muitos pensarão que Julián deveria tê-lo matado
também. Suponho que o senhor Knightridge o tenha antecipado.
— Acredito que sim,— disse Pen.
— Assim haverá dois julgamentos. Um em uma sala e outro nos salões de Londres, no café e nas
lojas,— disse Fleur.— Minha própria experiência é que esse último pode influenciar no primeiro.
— Foi ideia do senhor Knightridge revelar isso Pen?,— perguntou Diane.— Se for assim, é muito
brilhante em compreender os caminhos do mundo.
— Foi ideia da própria Pen,— Charlotte disse.— E o brilhantismo de Knightridge é muito mais a
sombra de sua arrogância, se me perguntarem.
Bianca começou a rir.— E se alguém não perguntar, dirá de todos os modos.
— Farão?— Pen perguntou. – É possível? É tão sórdido e terrível que...
— É obvio que podemos,— disse Bianca.— Cada uma a sua maneira. Nem todos os detalhes devem
entrar no jogo de dados. A imaginação preenche lacunas. Atrevo-me a dizer que a discrição será lançada
aos ventos, especialmente entre os homens quando estiverem sozinhos.
Pen contemplou suas mãos.— Tenho minhas próprias dúvidas, devo confessar.
— Sacrificou-se por discrição durante muitos anos, querida amiga,— disse Diane. Protegeu sua
reputação durante sua vida, com grande custo para si mesma. Depois do que disse a respeito dessa
menina, que de minha parte, não importa seu nome está em ruínas agora.
— Vamos fazer isso se der permissão ou não,— Charlotte disse.— Certamente estou pronta.
— Levante a testa Pen.
Laclere murmurou o aviso quando dirigia sua carruagem por Hyde Park.

226
Ela se alisou o tecido de algodão preto sobre sua saia e se pôs rígida em sua coluna vertebral. Todas
as cabeças volteavam em sua direção. Uma carruagem desacelerou ao passar, para que seus ocupantes
pudessem olhá-la.
Dante lhe ofereceu o braço. Laclere flanqueou seu outro lado. O vento agitava as fitas de seu
chapéu ao redor de seu rosto, enquanto caminhavam.
Só havia passado dois dias, desde que se reuniu com suas amigas, mas ela suspeitava que muitas
pessoas que percebiam sua chegada no parque já ouviram falar de seu casamento.
Seus irmãos, obviamente, haviam ouvido. Poderia se dizer que eles sabiam. Seus olhos se
incendiavam grosseiramente, cada vez que Glasbury era mencionado.
— Já fui assunto das fofocas antes, é obvio,— disse.— É um pouco diferente ser francamente
notável, mas não muito desconcertante.
Dante deu um tapinha no braço.— O mais difícil é a primeira vez, querida. Mas não pode se
esconder e deve ser valente. É a única maneira.
Nunca pensou em ficar escondida em sua casa. Se seus irmãos não tivessem vindo por ela nesse
dia, teria mandado chamá-los.
— Adrian viajou a Blackburn,— disse Laclere.— Sofía lhe contou do sequestro. Tem intenção de ver
se pode trazer Jones de volta a Londres.
— Duvido que o Sr. Jones admita ter matado Cleo.
— Estou de acordo, Adrian esclarecerá que foi sequestrada por ordem do conde.
— Isso só pode convencer o juiz, de que Julián tinha mais motivos para matar Glasbury,— disse
Pen.
— Vamos deixar que Knightridge diga como usá-lo. Receio que o juiz já tenha motivo suficiente para
condenar Julián. Se esse dado pode ser usado para demonstrar a defesa de uma mulher em perigo, pode
valer a pena o risco.
— Pen vai ao julgamento? – Dante lhe perguntou.

227
O horário foi publicado. Julián irá a julgamento em dois dias. O tempo se distorceu de novo, estão
pedindo uma execução rápida, com uma velocidade aterradora.
— É obvio que irei. É muito tarde para fingir que não é meu amante. Nós enfrentaremos a isso
juntos.

Multidões enchiam as ruas fora de Old Bailey onde se celebraria o julgamento. Os vendedores
ambulantes se juntaram para beneficiar-se da venda. Quando o transporte de Dante rodou para parar, um
rapaz correu para oferecer um panfleto que continha uma descrição horripilante do crime. A reação de
Dante foi tão fria, que o rapaz se ruborizou e saiu correndo para procurar outros clientes.
Pen saiu. O transporte de Dante não foi reconhecido, mas o traje de luto de Pen chamou a
atenção. A multidão em massa começou a se fechar sobre eles.
— Rápido, Pen. – Dante a tirou pelo braço e a apressou a entrar no edifício.
La sala estava cheia. Sua chegada à galeria causou um grande alvoroço. Os rostos a desafiavam
abertamente. Em um impulso, ela estendeu a mão e dobrou o véu do rosto.
— Todos sabem quem sou eu,— disse a Dante.— Esse véu é ridículo. Vamos a lhes deixar ver e
desfrutar do espetáculo para que valha a pena.
Dante tinha enviado na frente alguns serventes para guardar alguns assentos. Em seguida, outros
corpos foram saindo e se uniram a eles, Laclere chegou com Bianca e Fleur, e os St. Johns foram seguidos
por Charlotte.
Una nova comoção atraiu a atenção de seu grupo. Pen deu a volta, o corredor se abriu e uma
mulher de baixa estatura caminhou ao longo dela, com um vestido de cor maçã verde, com um xale
amarelo e um chapéu extravagante, com duas enormes colunas.
A duquesa de Everdon tinha chegado e se assegurava que todos soubessem. Sofía se sentou justo
ao lado de Pen e sorriu com malícia.
— Acha que haverá um relatório dizendo que usava muita roupa para um julgamento?
— É obvio que não. Sua elegância é sempre impecável. – O sorriso de Sofía indicou que sabia que
sua elegância não era celebre.
— Pensei em lhes dar um bom espetáculo. O chapéu também fará com que seja mais fácil para
Julián nos ver. Antes que Adrian fosse a Blackburn, disse que me assegurasse de me sentar ao seu lado
hoje.

228
O verdadeiro espetáculo era que uma duquesa tivesse vindo, nem todos os olhos exagerados por
volta dela, nem os sussurros ou os zumbidos conseguiam alterar agora, a compostura de bondade de seus
amigos.
— Duvido que antes, outro acusado tenha tido tantos partidários,— disse Pen.
— Acredito que houve alguns casos de traição à pátria em que se superaram,— disse Sofía. –
Parece que já estão se preparando para começar o julgamento. Pegou a mão de Pen.— Agora coragem.
Pen teve que admitir que o Sr. Knightridge era um advogado impressionante. Com sua altura
imponente, sua peruca e um vestido impecável, fazia parecer com que o juiz parecesse encolhido e
velho. Tinha um engenho fresco e usava tons insinuantes para interrogar às testemunhas, de maneira que
manteve entretida e também pôs de manifesto as ambiguidades na informação do caso.
A atitude de Julián resultou inútil para seu próprio caso. Sua reserva de hoje o fazia parecer
arrogante e inclusive frio. Sua falta de expressividade dava a sua história que várias bocas vinham
perseguindo.
O coração de Pen se quebrou, enquanto o via guardando sua dignidade apesar de ser exibido como
um animal em um circo. Ela imaginava a tortura que devia ser para ele, estar exposto no pelourinho
público, sem sequer poder anunciar sua inocência com força.
Ela sabia porque. Ele não queria que procurassem em outro lugar. Ele não queria que todas as
suspeitas voltassem para ela.
Tinha se fixado nela logo que entrou, mas jamais a olhou depois disso. Ela estava sentada no meio
de todos, com seu rosto estoico, mas com seu coração sangrando. Observou as provas que tinham contra a
ele e sentiu saindo de seus braços para sempre.
O promotor se aproximou de Julián com alguns papéis na mão.— Você odiava o conde, não é
senhor? Tanto que de fato desejava vê-lo morto. Esse documento está escrito por sua mão. Nele planejou
a morte de Glasbury. Há vários deles, escritos ao longo dos anos. Permita-me ler por você. Ele os
leu. Soavam como os registros em um jornal de notas. Em cada um, Julián revelava suas paixões mais
escuras, sua raiva e descreviam a morte do conde por sua mão.
A sala ficou silenciosa. O coração de Pen pulsava com força. Julián permanecia inexpressivo. Deu
uma olhada nos rostos da galeria e viu a forma em que o olhavam. Viam um homem sinistro, não um bom
e tranquilo. Inclusive, seus amigos pareciam surpresos pela tempestade que soava nas palavras que eram

229
lidas. Laclere em particular, tinha o rosto cinzento, como se soubesse que essas páginas poderiam selar o
destino de Julián.
Satisfeito com o efeito que tinha produzido, o promotor deixou o cenário.
Knightridge se levantou com o cenho franzido. Ele estendeu a mão para que o promotor lhe
entregasse as páginas.
– Todos estão datados. A tinta da data, é igual à tinta que aparece no texto, por isso podemos supor
que são da mesma data, em que foram escritos. Dois deles são de mais de dez anos e um terceiro tem data
de cinco anos. E em um momento, esse não é fácil ler, mas parece que foi o primeiro que foi escrito há
mais de quinze anos. Fez uma pose dramática com as mãos em seus quadris.
— Senhor, para um homem com inclinação para o assassinato, maldito seja, tomou muito tempo
para agir. — A risada estalou na sala, inclusive Julián sorriu.— Talvez eu não tramo tão lentamente as
coisas.
O público rugiu.
— De fato, talvez você não o fez. Sugiro que você não tramou nada.— Agitou as páginas e sua voz
retumbou.— Essas são as palavras de um homem indignado. Furioso. Sugiro que são os pensamentos de
uma alma, que estava torturada por um segredo que lhe queimava e encontrava a liberdade nesses
escritos, pois era a única forma que a honra lhe permitia. De fato senhor, não acredito que você tenha dito
a esse jurado, tudo o que precisaria saber sobre esse caso.
Julián não disse nada.
– A honra ainda lhe amarra. Farei-lhe algumas perguntas, entretanto, que não requerem nenhuma
falta à honra, o garanto. Você serviu todos esses anos como advogado da família do visconde Laclere, é
certo?
— Sim.
— Quando a condessa de Glasbury se separou de seu marido, procurou-o em busca de seu
conselho?
Julián não disse nada.
— Acredito que podemos assumir que sim. Acredito que também podemos assumir que lhe
confessou porque queria dar esse passo, que afetaria sua posição social e sua fortuna de forma drástica.
Acredito que podemos assumir senhor, que todos esses anos você conhecia os detalhes de seu
matrimônio, de uma forma que ninguém mais sabia. Um zumbido se moveu como uma onda através da

230
multidão. Pen sentia todos os olhares em cima dela. Knightridge estava mentindo, é obvio. Os dados eram
já conhecidos para todo mundo e ele era consciente disso.
Entretanto Julián não estava, ele olhou a Knightridge. — Você assume uma grande quantidade de
coisas. – disse.
— Talvez o faça. Talvez, o mero conhecimento dos maus entendimentos a uma boa mulher, não
seja o suficiente para levar em conta essas fantasias sobre sua morte.
Knightridge com fisionomia que mostrava uma profunda reflexão, passeava na frente do jurado.
Passou perto do promotor. Fez uma pausa e inclinou a cabeça.
— Eu diria que isso é uma pilha bastante grande de papéis o que tem ali. São todos esses papéis
contra ao Sr. Hampton? Mais conspirações e complôs contra Glasbury?
Para consternação de seu adversário, Knightridge arrancou uma grande quantidade de papéis e
retirou uma boa distância com eles. Com um floreio, abriu cada um deles e os leu rapidamente.
— OH, bem, bem, acredito que o jurado tem que conhecer esses. Pelo interesse da justiça, lamento
dizer que devem ser lidos. Falam do caráter do senhor Hampton e talvez inclusive, de suas intenções.
— O que terá ali?— sussurrou Sofía.
— Não tenho a mínima ideia,— respondeu Pen.
– Parece que ele supõe, que isso vai ajudar no caso.
Knightridge pegou uma grande página, com o braço estendido e preparado para começar.
— Vamos ver, esta carta está datada em dezesseis de abril de 1816. Você era novato nas leis nesse
tempo então, acredito eu. Imagino que talvez, só estava há dois anos na universidade. Desde que se
encontrava em seu poder, suponho que nunca a enviou. Limpou a garganta e começou a ler.— "Meu
incomparável amor...”
Era uma carta. Uma carta de amor. Uma bela carta, doce suave e cheia de nostalgia, escrita por um
jovem a uma mulher que não podia ter. Pen não podia afastar os olhos de Julián, enquanto escutava. Ela
não teve nenhum problema em imaginar-lhe então, cheio de promessas. Escutava-o dizer essas palavras e
o via sentado em um escritório, enquanto ele as escrevia.
Ela não tinha nem ideia que ele nessa época tinha um secreto amor. Perguntava-se se a garota o
teria ferido gravemente. Possivelmente, essa era a razão pela que nunca se casou. Knightridge terminou de
ler. Ele olhou a Julián e este lhe retornou o olhar. O coração de Pen estava agitado. Que duro deveria ser

231
tudo isso para uma pessoa tão privada como Julián. Knightridge abriu outra página, a sala ficou silenciosa
esperando escutar o que poderia ser lido desse papel.
— Janeiro 25 de 1822. 'Meu incomparável amor'—
Era outra carta de amor. Pen escutava encantada o lírico dessas palavras. Essa era um pouco
amarga. A metade da leitura, seu coração deu um salto. Um zumbido silencioso entrou em seus ouvidos.
Seu olhar se aguçou pela surpresa. Uma linha tinha saltado sobre ela. Uma referência. “A diferença da
legendária mulher que usava seu nome, seu marido não era Ulises, merecedor da lealdade eterna de uma
esposa.“ Uma pequena comoção estremeceu o salão quando alguns outros reconheceram a alusão. A
esposa do Ulises, herói grego antigo se chamava Penélope. A carta foi escrita para ela. Só podia olhar a
Julián com assombro. Como se sentisse sua atenção, ele virou seu olhar diretamente para ela. Knightridge
lia uma e outra vez. Mais cartas. Poemas. Expressões de desejo insaciável e amor não correspondido em
versos que a elogiavam como perfeita, bela e cheia de graça. Em outras ardia com a fúria de um homem
preso por uma devoção sem esperança. O mundo caiu ao seu redor, transformou-se nebuloso e distante.

Vagamente escutava as reações ao seu redor. Escassamente se deu conta, que todo mundo tinha
descoberto quem era a mulher. Não lhe importava, eles não eram importantes. Julián se limitou a olhar
para ela e para nenhuma outra parte. Knightridge continuou lendo, mas era como se Julián dissesse as
palavras ele mesmo, ele a olhou nos olhos, como se revelasse as profundidades escondidas dentro do seu
coração.

232
CAPÍTULO 26

— Estive magnífico, se me permite dizer. Knightridge se pavoneava, enquanto empurrava a porta


fechada e descansava seu peso nela, bloqueando os guardas que esperavam Julián e o fazer voltar para sua
cela.
Julián cruzou os braços e manteve sua distância. Se essa sala tivesse uma janela, ele a esmagaria.—
Tinha que ler todos?
— É obvio. Os homens estavam fascinados. As mulheres estavam chorando. Escutou o rugido
quando o juiz tentou interromper? Além disso, mediante a leitura todos eles atrasaram a finalização do
julgamento até manhã.
— O promotor teve a cortesia de não ler, apesar de que apoiaria seu argumento contra mim,
mostrando um motivo mais forte.
— Sabe muito bem, que os julgamentos penais não são só a respeito da lei. São espetáculos
teatrais. Há uma possibilidade, de que eu possa salvar seu pescoço, apesar de sua miserável atuação como
ator principal nesse drama. Não poderia ter sorrido mais?
— Tudo o que fiz foi envergonhá-la.
— Não me pareceu envergonhada. Laclere pode trazê-la aqui e você mesmo pode perguntar, se é
que poderei manter a raia os guardas por mais tempo.
Julián não estava certo se desejaria perguntar a ela alguma coisa, não tinha ideia do que ele poderia
dizer. Ela não parecia envergonhada, só parecia assombrada.
— Por que deseja que o julgamento continue amanhã?
— Use sua imaginação para algo mais, que poesia de amor bem escrita, vale dizer; Estou
esperando que essas palavras se espalhem, quero que toda a cidade as escute, as damas e os casais do
reino, os comerciantes e suas filhas, as criadas e os mendigos. Se estiver certo, e poucas vezes me engano,
amanhã as multidões gritarão por sua liberdade.
— Maravilhoso. Quando me enforcarem, a cidade brindará por mim e então, seguirão com seus
negócios.

233
— Não tenha tanta certeza. A respeito de sua execução, entre a evidência de seu casto e longo
amor, sua proteção e o conhecimento de como Glasbury a maltratava, eu espero...
— O que?
Knightridge parou com sua boca aberta e esboçou um sorriso cauteloso.
— Humm, claro, certamente você ainda não sabe nada a respeito disso. Deveria ter dito isso mas…
— Ilumine-me por favor. — disse Julián.
— É sobre todo esse assunto dos negócios de Glasbury.
— Os eventos que cercaram seu casamento, é o que queria dizer. Agora entendo por que
deliberadamente tirou esse ponto do julgamento. Se eu me livrar da forca por esse assunto de Glasbury,
vou fazer que me enforquem por matar você!
— Foi ideia dela, juro. Corrigindo: delas! Eu não imaginava quanto à história prejudicaria Glasbury
até que ela me perguntou se poderia ajudar, se soubessem a verdade. Fiquei atônito quando escutei todos
os detalhes. Se desejas gritar com alguém por essas revelações, grita com ela e não comigo.
— Mas parece que você não lamenta que ela o tenha feito.
— Isso mudou tudo Hampton. Você entrou na prisão como um canalha, mas entre essa história e
esses papéis, agora é um cavalheiro com armadura. Diabos, sim, estou muito feliz que ela tenha falado. É
uma mulher condenadamente valente, muitas das mulheres que conheço permitiriam com dor que o
enforcassem, sem admitir tais coisas.
Julián fechou seus olhos e lutou para conter seu temperamento. Ela continuava fazendo,
continuava se sacrificando pelos os outros. Ela passou anos nesse casamento, ao invés de permitir que o
mundo soubesse a verdade, mas agora ela tinha difundido a história para tentar salvá-lo.
Olhou por sua memória e via a sala da corte, enquanto Knightridge lia esses poemas. Ela estava tão
incrédula, tão surpresa, não estava irritada, mas incrivelmente perplexa, como se de repente, o mundo
tivesse cores que ela jamais tinha visto antes. Por alguma razão, isso só serviu para alimentar seu caráter
ameaçador. Seu amor não esteve isento de ressentimentos e raivas, eles agora se agitavam em sua cabeça.
Escutou vozes fora da porta. Os pedidos de Laclere se escutavam claramente através da porta de
carvalho. O visconde falava em seu tom mais intimidante, um que lhe dava o privilégio de ostentar com o
título. Ele entrou com Pen e Bianca, fecharam a porta a dois céticos, mas acovardados guardas.
— Eles só ficarão dóceis, por um pequeno período de tempo e Knightridge deve permanecer
conosco.

234
Pen aceitou a falta de privacidade com equanimidade. Julián lutou para acomodar-se a si mesmo.
Diabos, os jornais imprimiriam essas cartas amanhã, assim à presença de algumas pessoas nessa sala não
era nada em comparação com o que seria aquilo.
Laclere, Bianca e Knightridge se reuniram em um canto da sala pretendendo conversar. Julián
olhou para Pen. Ela agora não parecia perplexa. Uma mistura de calidez se via em seus olhos. Ela se
aproximou e pegou uma de suas mãos entre as suas pequenas e suaves palmas, depois a levantou e beijou.
— Julián, nunca em minha vida me senti mais honrada. Acredito que nenhuma mulher foi.
De repente, não havia mais ninguém nessa sala. Só Pen segurando sua mão, com um toque que
trazia a luz da primavera e brisa nesse espaço. Não havia agora tempestade dentro dele, não podia ter
enquanto o sorrisse dessa forma.
— Não tinha ideia, — disse ela. — Eu nunca imaginaria isso, certamente que não, você é um
homem tão honorável, que não deveria me seguir.
— Frequentemente lamentei essa honra. Estive perto de fazer isso por um lado. Somente o custo
para você me fazia parar.
— Eu fui uma maior parva, meu amor. Não só no passado, mas também nas recentes semanas.
Você me disse isso em Hampstead e eu ainda não entendia o que você realmente estava dizendo.
— Eu não esperava que você entendesse, só precisava dizer antes de nos separar.
Ela o olhou com profundas luzes que queimavam em seus olhos, sua expressão trouxe para sua
memória cada lembrança, que ele tinha visto em seu rosto. Era tão bela que seu coração queria explodir.
Ele a atraiu para seus braços, ela se apoiou nele encaixando perfeita e comodamente.
— Eu estava sentada lá, enquanto o Sr. Knightridge lia seus papéis, vi você através dos anos,
lembrando a formas em que me protegeu. Fui tão estúpida Julián, tão cega, por favor, diga que não
desperdicei o melhor de seu amor. Em algumas dessas cartas, soava tão zangado, tão perto de me odiar,
não o culparia se você o fizesse.
Ele levantou sua cabeça e a beijou. — Nunca a odiaria, minha raiva nunca foi contra você, a não
ser com o pequeno inferno que vivia dentro de meu coração. A raiva sempre passava e nunca me
arrependi de te amar, assim se tivesse morrido sem nunca beijar ou tocar você, jamais teria pensado como
um amor perdido.
Ela o olhou quando fez referência à morte, uma tristeza cruzou por sua expressão, mas uma rápida
determinação a encobriu.

235
— Estou muito feliz que tenha me beijado. Voltará a fazer frequentemente, estou segura disso em
meu coração.
Ele a beijou de novo, um longo e doce beijo, justamente enquanto a segurava entre seus braços,
ele acreditou que haveriam muitos mais abraços. As resplandecentes emoções que ela despertou nele,
escureceram qualquer perigo. Uma forte tosse quebrou sua paz. Pen virou a cabeça e Julián olhou por
cima, um punho estava batendo na porta, Laclere se aproximou com um olhar de desculpa. Ele e os outros
tinham escutado tudo, certamente, suas suaves expressões diziam que sim, mas isso não importou a
Julián.
Soltou Pen e gentilmente a colocou longe dele. As lágrimas transbordavam em seus olhos e ele
esteve a ponto de abraçá-la novamente. Laclere fez uma pausa e esperou para abrir.
— Amo você com todo meu coração Julián, — Pen sussurrou. Julián pegou sua mão e a colocou
sobre a de seu irmão. — Lembre que meu amor está contigo querida, embora eu não esteja.
Pen escutou essas palavras durante todo o trajeto para sua casa, elas ecoavam em sua cabeça
enquanto estava na biblioteca sentada com Charlotte, quem tentava distraí-la com uma conversa banal.
Ela seguia escutando sua irmã, vendo Julián enquanto repetia essas palavras desse dia. Havia tal tristeza
em seus olhos, como se esperasse que ela sozinha pudesse contar com seu amor e não com ele no futuro.
Julián não acreditava que pudesse abraçá-la de novo. Isso era impensável, ela não podia permitir
que isso acontecesse. Levantou-se do sofá.

— Charlotte, estou muito grata por me fazer companhia, mas devo pedir que vá embora. Preciso
sair.
— Mas você está de luto.
Eu não vou para uma festa. Vou à casa de Glasbury. Até que seu sobrinho volte da Jamaica é ainda
minha casa, segundo a lei.
— Pen, isso só trará lembranças ruins, que você espera conseguir fazer?
Devo ver esse vestiário e falar com os criados.
— Querida, o Sr. Knightridge falou com eles. Não podem dar mais informação que possa ajudar
Julián. Embora Knightridge seja um presunçoso e arrogante, ele é o que é e duvido que obteve toda a
informação que pôde sobre a investigação.

236
— Há muita diferença entre uma consulta feita por ele e a que eu posso fazer. Eu sou a condessa de
Glasbury. Por anos rejeitei pensar em mim dessa forma, mas possivelmente por um longo tempo mais,
deva ostentar essa posição e se eu sou a condessa, então nesse momento eles ainda são meus criados.
— Se está determinada a fazer isso, vou contigo. Não permitirei que esteja perto do fantasma
desse sapo sozinha.

237
CAPÍTULO 27

A carruagem de Pen parou na frente à casa de Grovenor Square. Ela não colocava os pés nessa
propriedade desde que havia deixado Glasbury. Só tinha tido vinte e um anos então, quando esteve ali.
— Quando deixei o conde, estava nessa casa,— contou a Charlotte,— o conde me viu partir, ele só
permitiu eu que levasse os objetos pessoais que havia trazido comigo quando me casei. Nada mais. Nem
dinheiro ou as joias que ele tinha me dado, nem os vestidos que tinha comprado.
— Ele desejava que você sofresse, pois pensava que retornaria em pouco tempo.
— Teria deixado ele, mesmo se tivesse que ir só com a roupa do corpo se fosse necessário, de todas
as formas, não desejava levar nada do que ele tinha dado, isso ele jamais entendeu.
Um lacaio as ajudou a descer, Pen caminhou para a porta, virou-se e reviveu o momento em que
ela saiu por essa mesma porta, há tantos anos atrás. Estava chovendo naquele dia, mas o sol de repente
brilhou em seu coração. Uma euforia se derramou por sua alma quando deixou a sombra desse lugar.
Quase correu à carruagem que a levaria para Laclere Park, Julián ficou parado ali esperando para escoltá-la
até que explicasse a seus irmãos, a pequena história que podia ser dita a respeito de sua escandalosa
decisão.
— Éramos tão jovens então, Julián assumiu um grande risco enfrentando a Glasbury por mim –
disse ela. — Não imagino o quanto colocou em jogo.
Charlotte tocou o sino da porta.
Um criado grande abriu a porta. Pen o reconheceu, quando ele se colocou a um lado e lhe fez uma
reverência, estava claro que a reconheceu também.
— César, é bom vê-lo de novo,— disse ela, como se entrasse em uma sala de recepções. Ele era um
dos muitos escravos, que Glasbury havia trazido de sua plantação na Jamaica. Ele e seu irmão Marcus
serviam como lacaios por anos, seguindo ao conde de propriedade a propriedade.
— Obrigado Milady. – ele se ofereceu para pegar seus casacos.

— Sabe se o novo conde voltou para a Inglaterra?


— Não temos nenhuma palavra até o momento.

238
César falou com a mesma formalidade que sempre usou, seu rosto não mostrava expressão e seus
olhos não revelavam nada. Esse enigmático sigilo não era usual nos criados, mas César e os outros ilhéus
sempre se mostravam severos e fechados, como se seus olhos fossem as janelas de sua alma e
deliberadamente os guardassem com uma tela para não vê-las.
— Ficarei aqui poucas horas – explicou Pen,— antes de ir desejo falar contigo a sós. Agora, me diga
quem mais esteve aqui que eu conheça, talvez seu irmão?
— Meu irmão assumiu outro posto na cidade. Além de mim, acho que só Cook é da época que você
esteve conosco.
— Julia? Ela está aqui agora?
— Abaixo, madame. Mudou-se aqui de Wiltshire faz alguns anos, quando o conde começou a
passar mais tempo na cidade.
— Preciso vê-la, não avise ela, eu irei em seguida procurá-la.
Ela levou Charlotte às escadas e desceram, Charlotte lhe perguntou.
— É ele um dos escravos dos que você falou? Como Cleo?
— Sim, mas César e seu irmão não parecia que lhes importasse muito. Eram muito devotos e
parecia que aceitavam sua situação, provavelmente eram os únicos nos quais Glasbury confiava realmente.
Sempre foram com ele a todas as partes, enquanto que os outros permaneciam em Wiltshire.
— Se for assim, eles devem saber que ele não podia tê-los aqui na Inglaterra legalmente. Devem
ter se informado da verdade.
— Depois que abandonei o conde, Julián forçou Glasbury a dizer a todos eles que eram livres na
Grã-Bretanha, mas isso foi antes e pelo menos outros criados falaram da lei a outros, como poderiam eles
saber?
— Se eu fosse um escravo e ainda não conhecesse o cheiro da liberdade, eu gostaria de saber
como é.
— Se conheceram, então escolheram ficar aqui. Ele deu a César e a Marcus um grau de certos
privilégios e autoridade. Era para eles uma posição segura. Talvez, fez com que suas correntes fossem
menos visíveis.
— Acha que César sabia o que acontecia com Cleo?
— Receio que todo mundo na mansão de Wiltshire sabia.
— Covardes!

239
Pen parou e se virou para sua irmã. — Sim. Da mesma forma que eu fui. Seu eu não vivesse com
medo Charl. Nunca saberá como se quebra o espírito, não pode entender e reza para Deus para que nunca,
jamais precise saber.—
A cozinha não estava vazia. Duas mulheres jovens estavam desengordurando as panelas em um
canto. Uma velha mulata estava sentada perto do fogão, com os olhos fechados e com as costas reta.
Alguns cabelos grisalhos escapavam de seu lenço vermelho amarrado na frente. Ela usava um longo
avental sobre a saia de seu vestido marrom simples.
— Julia?— Julia virou lentamente a cabeça. Ela fez um gesto às outras duas mulheres. Essas
deixaram suas panelas e saíram correndo da cozinha. Julia começou a levantar-se. Apertou as mãos contra
seus joelhos e se empurrou para cima.
— Não. Por favor, não. Eu sentarei com você. Pen levou um banco para a lareira e se sentou. Os
olhos vazios a olharam. Em branco, como César. Igual a Cleo. Os escravos desde jovens aprendiam a
esconder seus pensamentos. A sobrevivência dependia disso.
Charlotte ficou perto, mas justo onde Julia podia vê-la. Pen as apresentou. Julia lhe fez uma
reverência apropriada, mas carente de interesse.
Agora que ele está morto, você pode voltar. — Julia disse com surpreendente franqueza. — Até
que o próximo amo venha. — Um matiz em seu tom sugeria que o próximo amo, não seria melhor que o
último.
— Não penso voltar. Só vim essa noite para resolver alguns assuntos, nada mais.—
— Quais são esses assuntos?
— Sua morte, por exemplo. Ouvir falar que os criados não viram nada, que não sabem nada. Não
acredito que isso seja possível. Julia coçou a pele debaixo de um de seus olhos.
— Estávamos dormindo.
— Certamente seu ajudante de quarto sabe quem o visitou.
— O amo trazia convidados algumas vezes e não desejava que os vissem. Essa noite, enviou a seu
valete para longe.
— Quem recebeu seu convidado? Não acho que Glasbury se rebaixaria a receber.
Julia não fez nenhuma replica. — César poderia ter feito, mas foi para cama antes que qualquer
visitante chegasse.

240
Pen olhou nos olhos de Julia. Olhou-a dura e longamente, procurando luzes entre a tela, para ver
os pensamentos escondidos pela neblina.
— Eu também vou dizer algo para você Julia. Cleo está morta. Soube faz só um mês.
Julia posou seu olhar aborrecido sobre o coração. — Bem, a garota está melhor no céu, é um lugar
melhor e tem um amo melhor que a abraça agora.
Depois pegou uma vara e se inclinou para mexer o fogo. Enquanto o fogo queimava sob seu rosto,
Pen viu que alguma coisa se refletia no fundo desses olhos. Algo inesperado e confuso. Satisfação. Uma
profunda satisfação brilhava dentro dessa velha escrava.
— Ela sabe algo. Estou segura disso,— disse Pen a Charlotte, quando ficaram sozinhas na sala de
Glasbury.
— É óbvio, que não se importa por ele ter morrido e não posso dizer que a culpo.—
Pen estudou o dormitório. Estava igual ao restante da casa, passado de moda na decoração, cheia
de linhas bufantes e dourados do século passado. Glasbury não permitiu que ela mudasse nada. Não
confiava no julgamento dela ou em seu gosto.
Sua cama era uma ameaça. E o banco. O tapete sobre o qual a tinha tomado uma noite. Deu a volta
e se encontrou com a expressão de preocupação de Charlotte.
— Era outro mundo e outra mulher,— disse Pen, enquanto se dirigia para o vestiário.— Não me
olhe como se fosse a começar a delirar.
O vestiário era tão grande como o dormitório e continha sofás e cadeiras junto com armários e
gavetas. Tinha sido construído na época, em que as pessoas se entretinham em seus camarins. Pen podia
dizer imediatamente, que havia sido limpo a fundo. Não restou nada que indicasse o que aconteceu
naquela noite. Ela passeou ao redor dele de todos os modos, com a esperança de encontrar algum indício.
Acha que os criados poderiam ter feito?— perguntou Charlotte.
— Se jantou nessa noite, o veneno bem pode ter estado nesse alimento, não no vinho que tomou
depois.
— Por que agora, depois de todos esses anos? E se esteve aqui um visitante, isso vai prejudicar
Julián, pois encontraram duas taças de vinho. Glasbury nunca compartilhava vinho com um criado. Alguém
mais esteve aqui.
— Atrevo-me a dizer que essa pessoa nunca vai admitir. Se um visitante chega ao meio da noite e é
recebido pelo próprio conde, seu valete é mandado embora, é porque existe uma boa razão.

241
Infelizmente, é bem provável que esteja certa.— Charl tranquilamente abriu uma gaveta da
penteadeira. – Imagino que a casa recebeu cartas ou notas.
— O Sr. Knightridge se encarregou disso.
— É obvio que sim, o grande Knightridge.— Charl se aproximou do grande armário da parede do
fundo. Abriu suas portas e examinou as roupas do conde.
Empurrou a um lado algumas capas da manhã e ficou congelada. Ela arrumou rapidamente as capas
para trás. Pen o notou.
— O que foi? Está muito pálida.
Foi ao armário. Charl continuou alisando os casacos.
— Não foi nada. Na verdade.
Pen empurrou para um lado as capas. Pendurados na parte de trás do armário de Glasbury estavam
os chicotes, cordas, suas correias e todas as ataduras que usava.
— Knightridge não procurou muito a fundo, me parece,— disse Charlotte.
— Ele não estava procurando esse tipo de coisas.
— Talvez deveria ter feito.
Pen fechou o armário.— Acho que sei quem esteve aqui nessa noite. Eu sei que seus visitantes
eram secretos. Deixou de fazer quando trouxe Cleo. As mulheres que vinham aqui, eram prostitutas, desse
modo ele podia desfrutar de todas suas perversidades sem que ninguém o parasse.
Charlotte fechou os olhos e voltou a abri-los.— OH, Pen, você é muito boa para não ver mais coisas.
— O que quer dizer?
— Pode ainda ter sido um homem quem esteve aqui e não tem que ser necessariamente uma
prostituta. Recebi algumas fofocas ultimamente e pude saber que Glasbury não se limitava somente às
mulheres em seus jogos.
Pen estava na frente de César na biblioteca. Tinha deixado Charlotte no salão. Nessa reunião era
necessário que a fizesse em um lugar a sós.
Estava de pé alto e reto, impressionante dentro de seu libré. O conde tinha interpretado mal as
maneiras respeitosas e submissas de César, pelo contrário, ela sempre reconheceu um orgulho subjacente
em seu rosto e em sua postura.

242
Não tinha ideia de quantos anos tinha. Quarenta? Cinquenta? Talvez, a peruca escondia seus
cabelos grisalhos? Os habitantes das ilhas não revelavam sua idade no rosto, da mesma forma que os
ingleses. Julia, que em realidade era velha, provavelmente muito mais velha do que parecia.
— Não vou tentar fazer nenhuma pergunta, porque sei que não tem as respostas para elas, — disse
ela.
— Como deseja, milady.
— Meu desejo é que me escute e leve minhas palavras a seu coração. Penso que você sabe quem
visitou o conde nessa noite. Possivelmente, não diz por que tem medo que lhe vejam como um cúmplice.
Talvez, pretenda proteger o nome de Glasbury ou de alguém mais. Qualquer que seja a razão, eu acho que
tanto Julia como você, pelo menos sabem o que aconteceu e não querem contar.
— Nós não estamos mentindo.
— De todos os modos, não disse toda a verdade. — Ela caminhou para ele. — Um homem vai ser
julgado por sua morte e ele é inocente. O Sr. Hampton não fez isso e você sabe. Deixará que o enforquem?
César fez uma pose, que dizia claramente que se um inglês morria não se importava.
— Lembra-se de Cleo, César?
Isso o fez reagir. Um movimento passou através de seu rosto, antes de reassumir sua
impassividade.
— Foi Julián Hampton que a levou para longe do conde. Sabia? Antes que eu deixasse o conde, ele
fez Glasbury a entregar e se assegurou, que o conde nunca mais pudesse fazer tais coisas novamente com
um criado. Ele forçou o conde a dizer para vocês que eram livres, quando puseram o pé na Inglaterra, esse
é o motivo porque as coisas mudaram depois. Graças ao Sr. Hampton. Ele levou Cleo para uma mulher que
cuidou dela, e pagou para que a cuidasse todos esses anos. O homem que deixará que enforquem velou
pela segurança de Cleo e pela liberdade de outros, quando ninguém mais o fez.
Ele afastou o olhar, como se para manter a compostura precisasse olhar o gesso da parede atrás
dela.
Então ela teve a certeza, que esse homem sabia de alguma coisa que poderia ajudar a Julián, ele só
precisava dizer e o perigo desapareceria.
— Deve salvá-lo. Não de modo para proteger a si mesmo, se você vai ficar ou ir embora, seja o que
for que deseje, deve ir falar com o Sr. Knightridge e contar o que aconteceu aqui nessa noite realmente.
Ele se virou para olhá-la novamente, olhando através dela, não lhe ofereceu nada exceto o silêncio.

243
Sentiu-se derrotada, sua inabilidade para chegar a ele estava enlouquecendo-a, pensou por um
momento que começaria a gritar ou a chorar. A resposta para salvar Julián estava justo na frente dela e
não podia obtê-la. Por medo, por orgulho ou por ódio, César e Julia ignorariam suas preces.
Se as coisas estivessem contra Julián amanhã, ela nunca se perdoaria e tampouco a esse homem.
Lívida além do bom sentido, mordeu sua indignação e caminhou para a porta.
— Se enforcarem o Sr. Hampton porque você permaneceu em silêncio, não descansarei até que
encontre o motivo. Encherei meus dias e noites vazias, perseguindo toda a verdade.

244
CAPÍTULO 28

Na manhã seguinte, os vendedores ambulantes perto de Old Bailey vendiam muito jornais
novamente, onde descreviam as dramáticas revelações do dia anterior. Algumas das cartas de Julián e
dos poemas foram também publicados. Os espectadores entraram na sala cheios de expectativas. Levavam
os jornais, cujas histórias refletiam a simpatia da cidade com o prisioneiro romântico.
Quando Sofía chegou dessa vez, seu marido a acompanhava. Adrian Burchard havia voltado a
Londres na noite anterior, com uma carta do Sr. Jones admitindo que sequestrou a condessa de Glasbury
sob ordens de seu marido. Essa palavra havia se espalhado rapidamente, mesmo que ainda não tivesse
saído dos jornais.
— A opinião geral para Julián, no melhor dos casos deve ser condenado por homicídio involuntário
e não por assassinato,— Sofía sussurrou assim que se sentou ao lado de Pen.
— Participei de uma festa ontem à noite, onde várias damas insistiam que isso não era pior que a
própria defesa.
Adrian balançou a cabeça.
— À noite no White’s, vários homens comentaram que um canalha como ele precisava ser
assassinado, sem importar qual fosse seu título, ou com que método o fizesse.
Suas palavras tranquilizadoras não acalmaram Pen. Emoções turbulentas faziam estragos nela. Não
sabia se poderia suportar estar aqui hoje. Ela não esperava que todas estas opiniões da
cidade importassem em absoluto. O conde estava morto e alguém tinha que pagar.
Sabendo que havia pessoas que poderiam salvar Julián, estavam agora sentados na casa Glasbury, a
faziam enlouquecer. Passou a noite tentando pensar em algum argumento ou promessa que pudesse dar
coragem a Cesar para vir e falar. O amanhecer havia trazido um terrível medo em seu coração, que não
podia controlar.
O juiz e o jurado chegaram e Julián também entrou. O promotor tomou sua posição. O advogado
defensa não estava à vista.

245
— O Sr. Knightridge parece estar esgotado com as declamações de ontem. — disse o juiz
sarcasticamente. — Que pena.
Ele fez um chamado à ordem para começar o julgamento.
— Não resta nada mais que a soma dos fatos. O promotor começou a levá-lo para fora de novo.
Knightridge não poderia refutar de todas as formas, pois sua ausência não afetaria agora o resultado.
O medo de Pen se incrementou de todas as formas. Era como se Knightridge não desejasse estar
presente, quando seu amigo fosse condenado e deixar Julián parado aqui sozinho contra todas essas
acusações.
Quando o registro foi reduzindo-se, um rumor de vozes irrompeu a sala. Começou na parte de trás
da sala e pouco a pouco, foi se levantando até que abafou a voz do promotor.
O juiz pediu silêncio, sem nenhum resultado. Ele olhou para a fonte do distúrbio, sua boca se
franziu e suas pálpebras caíram.
Knightridge estava apertado entre os funcionários da corte. Ele se dirigiu para o juiz.
— Devo pedir sua indulgência, mas um assunto muito importante me atrasou.
— Nós não nos perdemos com a sua ausência senhor, você pode achar que é essencial para todos a
sua participação, pode estar certo que somos perfeitamente capazes de terminar esse julgamento sem sua
ajuda.
— Certamente, entretanto o julgamento não terminou ainda, uma pessoa veio para ver-me essa
manhã e me expressou seu desejo de dar toda a informação. Esta é uma história que deve ser escutada.
— Já temos tudo o que necessitamos. — Knightridge parecia ofendido, ferido, perplexo.
— Nega-se a receber um testemunho sob juramento que poderia dar luzes sobre os eventos que
aconteceram nessa noite? Se você requerer os precedentes antes de permitir tal informação tardia, eu
posso dar-lhe. O juiz o olhou com extremo desagrado, Knightridge respondeu com uma mistura de
inocência e altivez.
Foram os espectadores que resolveram suas diferenças, gritavam para que a nova evidência fosse
escutada. Outras vozes também concordaram. O alvoroço cresceu, diante da possibilidade de retroceder
suas prerrogativas, frente à ameaça de um motim o juiz decidiu pelo último.
Knightridge se virou para a porta da corte. Fez um gesto para alguém. Todas as cabeças viraram.
Uma mulher entrou na sala de audiência.
A senhora Pérez.

246
— Meu Deus, o que é isso?— murmurou Sofía.
Pen não tinha ideia alguma, ela estava tão atônita como todos os outros.
A Sra. Pérez caminhou para o juiz. Seu recatado vestido de marfim, contrastava com sua pele
amendoada. Seu chapéu estava muito sedado, somente seu xale parecia exótico, comprido e sedoso, azul
escuro com padrões de cor verde. Fluía sobre ela como água e fazia alusão às curvas ocultas pela roupa.
A luz que entrava por uma janela iluminava seu rosto, o fôlego de Pen ficou perdido, no teatro ela
não foi capaz de distinguir claramente os rasgos dessa mulher, mas agora pela manhã revelava sua
incomum e atraente beleza.
Com grande cepticismo o juiz se dirigiu a ela. — Você tem informação sobre esse crime madame?
— Eu tenho uma informação que deveria ser ouvida, não sei nada a respeito do crime.
— Realmente, isso é um desperdício — disse o juiz.
Eu sei por que o Sr. Mr. Hampton não esteve com o conde nessa noite, — ela continuou. — Ele
estava comigo.
Pen soltou a respiração, igual à Sofía e Dante. Assim fizeram todos depois de cinco segundos, toda a
audiência inalou audivelmente.
Pen olhava a mulher que estava na frente do juiz. Havia alguma coisa em sua expressão, algo na
forma em que se preparou para esse papel.
— É verdade, senhora? Você está dizendo que é amante do Sr. Hampton? Perguntava-me de
quantas mulheres esse homem necessita. — O juiz parecia encantado com sua pequena piada. Ninguém
riu.

— Ele não é meu amante. Ele foi para aconselhar-me. Meu marido estava a ponto de embarcar
para um investimento que me preocupava por ser potencialmente perigosa. Perguntei a Hampton se podia
me visitar, quando eu soubesse que Raúl não estaria em casa, assim eu poderia consultá-lo e meu marido
não saberia. Chegou à meia-noite e foi duas horas mais tarde.
— E ficou satisfeita com seu conselho? O juiz perguntou com um sorriso.— Contente com seus
serviços?
O público não captou a ironia. O drama era mais convincente que as insinuações do juiz, com suas
intenções de ser engenhoso.

247
A senhora Pérez fingiu não perceber o duplo sentido. Ela assumiu a atitude de uma mulher virtuosa
e incapaz de compreender essas coisas.
— Seu conselho foi muito bem recebido, obrigada. Eu fui capaz de convencer a meu marido de
retirar-se desse arriscado assunto.
— Por que não se apresentou antes?— O promotor interferiu.
— Isso parece muito suspeito. Talvez, você seja sua amante e agora mente para salvá-lo.
— Não disse nada antes, porque tinha medo que meu marido pudesse interpretar mal essa reunião.
Entretanto, Raúl viu minha crescente angustia e ao saber do segredo que tinha, insistiu que eu encontrasse
o Sr. Knightridge. — Ela baixou o olhar humildemente, como se a ordem do marido fosse à lei para ela.
— Seu marido acredita atualmente na inocência dessa reunião a meia noite?
— Minha donzela e meu mordomo estavam presentes para testemunhar minha inocência. Eles
estiveram na sala de desenho todo o tempo. Nunca me encontraria com um homem a sós, menos ainda
para tratar de negócios. De onde eu venho às damas não fazem isso.
Ela olhou para o juiz. — Se você deseja falar com meus criados, eles lhe explicarão como foi tudo.
— OH, sim, estou certo que eles farão. — O promotor levantou suas mãos para expressar sua
exasperação e incredulidade.
— Não acho que essa nova evidência vale como razão convincente— disse o juiz ao jurado. –
Alguém matou o conde de Glasbury e uma história muito tardia dessa mulher nos diz quem o fez ou quem
não fez.
O rosto de Julián parecia de pedra. Pen sabia a razão de sua raiva, se acreditassem na história da
Sra. Pérez e Julián fosse exonerado, a polícia tinha outra pessoa que podiam acusar muito facilmente.
— Se me permite falar, — O Sr. Knightridge disse muito politicamente.
— Receio que nós já o ouvimos falar o suficiente.
— Por favor, peço sua indulgência. A dama, de fato nos disse quem não matou o conde e eu
poderia ser capaz de jogar alguma luz sobre quem sim o fez.
Isso certamente chamou a atenção de todos, o cenho de Julián se aprofundou.
No centro de um novo cenário, Knightridge falou humildemente, como se estivesse fazendo uma
confidência ao juiz. Entretanto, seus espectadores estavam cada vez mais pendurados em suas palavras.
Sem dúvida Pen as escutava atentamente.

248
— Senhor, muito cedo nessa manhã, antes do amanhecer, acompanhei os membros da Polícia
Metropolitana de volta à casa de Glasbury. Fui informado, que se fizéssemos uma busca mais exaustiva nas
dependências do conde, poderíamos encontrar coisas importantes, que poderiam contribuir com luzes
sobre o caso.
Ele fez uma pausa e olhou para cima aos espectadores. Deu ao juiz um significativo olhar, que
indicava que, o que vinha a seguir seria muito embaraçoso.
O juiz o olhou como um homem que conhecesse o seu jogo, mas lhe daria o gosto.
— Vá em frente.
— Bem, em seu guarda-roupa, escondido por suas roupas, encontramos certos objetos que
sugeriam que seus visitantes secretos o visitaram, diremos que eles vinham a suas ordens e para cumprir
suas ordens como fosse. Ele viu positivamente consternado que seu dever requeria que abordasse o
indelicado assunto.
A cara do juiz avermelhou de vergonha e de raiva.
— A polícia tem agora esses objetos em seu poder. Possivelmente você deveria pedir que os
trouxessem para que possa verificá-las.
— Isso não será necessário.
— Não? Então estamos de acordo que a existência desses objetos, indica que terá que procurar o
assassino do conde, em outros círculos menos elevados que os vistos até agora?
— OH, meu Deus, ele é muito bom nisso, — sussurrou Sofía.
Sim, era muito bom.
O juiz olhava como um homem que fosse encurralado em um canto. Chegando até ali, Knightridge
continuou pressionando.
— Estamos de acordo que o testemunho dessa Dama exonera o Sr. Hampton e que o visitante do
conde era uma pessoa desconhecida para a polícia e não associada com o Sr. Hampton?
Esse sinal não foi passado por cima e os espectadores gritaram em acordo e pediam uma resposta.
As bochechas do juiz estavam inchadas, enquanto se debatia pensando na resposta. Finalmente exalou e
assentiu com a cabeça.
A galeria se tornou louca, Pen olhou para Julián, enquanto o estrondo crescia ao seu redor. Queria
agarrá-lo, abraçá-lo e chorar de alivio em seus braços. Ele devolveu o olhar, embora seu comportamento
não tivesse mudado, o fogo que havia em seus olhos a queimava. Luzes de vida e esperança queimavam

249
neles. Chamas particulares que só ela poderia reconhecer. O amor e a paixão de toda uma vida agora o
esperavam, se é que ela era o suficientemente valente para aceitá-los.

250
CAPÍTULO 29

— Você foi quem contou ao Sr. Knightridge sobre o guarda-roupa. — disse Pen.
Ela estava parada com Charlotte fora de Old Bailey, esperando por Julián. A multidão se dispersou,
mas algumas pessoas ainda circulavam a seu redor. Abaixo na rua se escutava um novo grito, um moço
oferecia notícias frescas descrevendo a conclusão de suspense do julgamento.
O juiz tinha recomendado ao jurado votar pela absolvição e eles rapidamente fizeram.
As formalidades estavam sendo atendidas, mas Julián sairia logo por essa porta.
Ela não podia esperar para vê-lo e abraçá-lo. Embora ali, também havia outras pessoas que
desejavam saudá-la, deveriam esperar para mais tarde, depois que ela tivesse Julián de novo perto dela.
— Certamente que disse, quando eles examinaram pela primeira vez seus aposentos, não
procuravam evidências que confirmassem a conduta aberrante de Glasbury. Suas revelações vieram depois
disso, agora com os detalhes de seu casamento bem conhecidos, eu me dei conta que Knightridge
necessitava somente aludir a eles, para abrir outras possibilidades na cabeça dos jurados.
— É tão brilhante como ele Charlotte, deve admitir que ele executou perfeitamente o jogo. Deixou
o juiz sem saída.
Charl riu. — Suspeito que a todos os juízes não gostam dele tanto como eu, se é que faz todos luzir
como tolos quando ele ganha.
A porta se abriu. Uma túnica apareceu.
— Aqui vem ele, espero que seja amável e lhe agradeça como merece.
— Sem você, Pérez e eu, ele teria perdido o caso, como me surpreendeu ao encontrá-la unindo-se
ao nosso batalhão.
Graças a Deus, seu marido foi compreensivo e honorável, é tudo o que posso dizer.
Pen tinha mais coisas a dizer sobre a Sra. Pérez e a ela em pessoa, mas isso seria em outro dia. Hoje
era para celebrar, Julián cruzou a soleira atrás de Knightridge. O sinal que lhe fez a deixou enjoada e
cambaleante.

251
Ele fez uma pausa e olhou para o céu, então fechou os olhos como se precisasse recuperar a
compostura frente a uma poderosa emoção. Quando os abriu de novo, era novamente o Sr. Hampton que
o mundo conhecia.
Contido, frio, reservado. Até que a olhou, um fogo intenso ardia em seus olhos. Revelavam tudo o
que havia em sua alma, ela viu o medo angustiante com que teve que lutar na prisão, quando se supunha
que o enforcariam e também, a exalação que deu por sua inesperada salvação.
Nesse momento, ela também compreendeu como nunca antes, sua resolução de protegê-la a todo
custo, ainda que dependesse de sua própria vida.
Ignorando o que Knightridge lhe estava dizendo e sem pensar nos olhos que ainda os estavam
olhando, com a esperança de ver mais espetáculo, Julián caminhou para ela abrindo seus braços. Ela não o
pensou duas vezes e correu ao encontro de seu esperado abraço.
Pen o levou para sua casa, ele foi incapaz de recusar, ainda estava chocado e não conseguia
absorver do todo o giro que tinha tomado às coisas nesse dia. O indulto o tinha deixado intoxicado de
alívio, embora o julgamento também, o deixou mais cansado do que imaginava.
Pen pegou sua mão, ordenou que lhes trouxessem um pouco de brandy e deu instruções para que
preparassem um banho.
Quando lhes levaram o brandy, serviu uma boa quantidade e depois serviu um menor em outro
copo.
Prometo não contar, começou ela, sinto que alguém aqui precisa de meus cuidados.
O espírito que ela esquentou, ajudou a colocar seu mundo novamente em seu lugar. Pen se sentou
em um sofá e tomou um gole. Estava muito contente e feliz.
Ele esperava não ter que dizer nesse momento, mas pensou que deveria fazer de todas as formas.
— Eu nunca visitei a Sra. Pérez e mais do que nunca naquela noite.
— Eu sei.
— Não imagino por que ela fez isso, ela não me deve nada e muito menos mentir sob juramento.
— Talvez, ela esteja apaixonada por você e não podia suportar a ideia de que o enforcassem. —
Pen afastou seu copo, levantou e se aproximou dele.— Qualquer que seja sua razão, estou extremamente
agradecida, amanhã iremos lhe agradecer. Mas agora veem comigo.
Puxou-o pela mão e o conduziu para fora da sala.
— Aonde vamos?

252
— Para um lugar onde eu possa cuidar você, assim não coloque objeções ou fale que é muito
indiscreto, pois agora sou muito conhecida e vou ser tão desavergonhada como quiser.
— Esse é um dos benefícios do escândalo, não é?
— OH, sim, eu aprendi isso desde o começo.
Ela o conduziu acima para seu quarto, indiscreto, era uma palavra que não conseguia descrever o
que estava fazendo no meio dia, com o completo conhecimento de todos os criados, lhe recordando disso
mais tarde. Hoje, não havia regras que ele estivesse inclinado a obedecer.
O banho estava preparado perto da lareira de seu quarto. Uma vaporosa banheira esperava em
cima de um grande plástico que protegia o tapete.
— Meu vestiário não é grande o suficientemente grande, — explicou ela — E eu pensei que você
gostaria de lavar a última semana que passou.
Ele ainda cheirava a prisão nele e ela provavelmente também, Julián não estava certo que um
banho pudesse tirar dele completamente esse aroma, estava em sua cabeça, junto com a miséria e o
desespero que impregnava um lugar como aquele.
Sentou-se e tirou suas botas.
O trinco da porta soou, ele se virou para ver. Pen não foi embora, só tinha fechado e assegurado à
porta. Moveu-se para ele e deslizou suas mãos para frente de sua jaqueta.
— Eu disse que desejava cuidar de você, pensou que isso significava, como uma mãe?
— Espero que algo mais que um banho esteja me esperando aqui.
— Sim, muito mais, mas primeiro eu cuidarei de outras formas. Ela deslizou seu casaco por seus
ombros e braços, jogando a um lado. Seus dedos procuraram o nó de sua gravata. Ele fechou os olhos e
descansou sua cabeça em seus seios. Os braços dela cercando-o e seu suave toque, despertaram o desejo
que começou a queimar como uma tocha. Ele voltou sua cabeça e a beijou na curva de seus seios. Com um
suave sorriso, ela começou a desabotoar seu colete. Cada pequeno toque o inflamava mais. Começou a
pensar que talvez o banho pudesse esperar.
Ela se mexeu na frente dele para afrouxar seus punhos e o pescoço. Pouco a pouco levantou a
camisa sobre sua cabeça, depois ela fez uma pausa.
Ele levantou a cabeça e a olhou com sua expressão de pálpebras pesadas, sensuais luzes brilhavam
nos olhos dela, estava desfrutando disso. Ela o pegou olhando-a, um belo rubor se estendeu por suas
faces. — Tem que parar agora, do contrário não vou poder continuar.

253
O desejo já rugia por dentro, alimentado pela liberação embriagadora que havia trazido o dia. Ao
despir de suas roupas, tornou-se erótico, entretanto, não lhe importava o atraso.
Ele se levantou, ela focou sua atenção trabalhando nos botões de suas calças. Ele centrou a sua, em
ver como a luz que passava através da janela fazia brilhar seu cabelo escuro.
Sua mão passou roçando em cima de sua ereção, seu rosto se avermelhou mais e teve problemas
para finalizar sua tarefa.
— Deseja ajuda Pen?
— Não. Eu posso fazer isso sozinha. — Soava mais como uma declaração de vontade do que de
competência. — Sonhei durante dias, o que eu faria quando o recuperasse de novo e esses botões não vão
me derrotar. — Consegui. As calças afrouxaram. Ela parou novamente.
— Nenhuma ajuda para nada?
Ela soltou uma gargalhada.
— Poderia me beijar. Isso ajudaria enormemente, isso é mais difícil do que eu pensei. Eu esperava
me sentir perigosa e sedutora, mas ao invés disso, sinto-me tola e covarde.
Ele deslizou sua mão atrás de seu pescoço e a atraiu para ele.— Você é tão perigosa, que eu estou
terrivelmente seduzido. Seu beijo lhe revelou quanto. Ele apenas se conteve de devorá-la, sua língua
varreu o veludo úmido de sua boca, imaginou outros veludos escondidos e lutou contra a urgência de
levantá-la e levá-la à cama. Mas não sucumbiu, porque não podia caminhar. Durante o beijo, Pen tinha
empurrado para baixo sua roupa de baixo e estava agrupada ao redor de seus tornozelos.
Seus olhos brilhavam vendo o próprio desejo dela. Pen beijou o pescoço e continuou descendo para
seu peito. A pressão cálida de seus lábios criava pontos de delicioso fogo.
Ela se afastou.— Se não for um banho absolutamente, deverá ser logo.
Ajoelhou-se para tirar de seus tornozelos e dos pés a roupa. Baixou o olhar para ela, enquanto
estava ajoelhada para atendê-lo. Igual a um criado para seu amo, ou uma dama a seu senhor. A postura
que tinha, poderia ser considerada como de submissão, era a filha de um visconde e viúva de um conde.
Provavelmente, ela nunca se ajoelhou de boa vontade na frente de alguma pessoa, exceto do próprio rei.
Não foi educada para humilhar-se no cuidado de alguém.
Julián tocou sua cabeça.— Sinto-me honrado, minha senhora.
Ela o olhou acima e seus olhos estavam nublados, levantou a cabeça e o beijou brandamente em
sua perna, depois em sua coxa. Então, o beijou intimamente, de uma forma que lhe fez apertar os dentes.

254
Ele levantou sua mão e a ajudou a levantar-se. Caminhou para a tina e entrou nela.
— Ainda está quente? — perguntou ela.
Se não estiver eu sim e acho que meu corpo voltará a esquentá-la rapidamente.
Começou a banhar-se, perguntando-se se ela sequer sabia o que tinha comprometido esse último
beijo. Ela se ajoelhou ao lado da tina, sem dúvida para ajudá-lo.
— Molhará seu vestido.
Não acho que um pouco de sabão e água o arruínem.
— Não há nenhuma razão para fazer isso. — Ele levantou sua mão e a levou atrás dela, depois
começou a desabotoar seu vestido.
Se é para ser perigosa Pen, deveria fazer bem.
Ela se contorceu para que pudesse despi-la mais facilmente. Ele se ajoelhou e terminou de despi-la.
Fez um gesto para a cadeira onde estavam suas roupas — Se colocar suas roupas sobre as minhas na
cadeira, não se molharão. — Assim poderia vê-la melhor. Ela se deu conta de seu plano, assim que se
levantou e saiu de seu vestido. Parecia bastante sóbria, enquanto deixava de lado rapidamente se
desprendeu de suas anáguas e um sorriso sensual suavizou sua boca enquanto deixava as tiras caírem.
— Eu gosto do jeito que está me olhando Julián. Sinto-me muito sedutora e perigosa agora. Quero
ver se posso ser devastadora e malvada também. Deve permanecer aí enquanto termino.
— Acredite em mim, sou incapaz de me mexer.
Ela deliberadamente demorou muito tempo para tirar a camisa. Zombou dele realizando uma
lenta revelação de seu corpo. O tecido desceu por seus seios cheios e cremosos que havia sonhado beijar,
passou ao longo da curva encantadora de sua cintura, ao redor de seus quadris e por cima do pelo escuro
aninhado debaixo de seu ventre. Finalmente, ficou nua e só a cobria uma transparente camisa de seda que
chegava aos joelhos, uma perfeita visão feminina, toda branca, rosada e suave.
Seu olhar nunca o abandonou. Sua expressão revelava sua excitação e outras coisas,
também. Estava triunfante e com um ar muito mundano.
Aproximou-se da banheira. Ela parecia incrivelmente erótica assim nua, a exceção da seda
branca. Os efeitos de sua sedução ao despir-se, estavam recolhidos nele com uma fúria
implacável. Quando chegou ao seu alcance, a puxou pelo braço para poder dar um beijo.

255
Ela se juntou a ele como se fosse o primeiro beijo em anos. Sua resposta foi tímida e vacilante ao
principio, depois apaixonada e agressiva. Ela se inclinou sobre a banheira, com as mãos nas bordas, os
braços ao lado de seu ombro.
Seus seios a centímetros de seu rosto. Beijou cada um de deles, depois moveu a língua para um dos
mamilos e com os dedos apertou o outro. A respiração dela se acelerou de uma maneira que ele amava,
em seguida deixou escapar alguns suspiros. Ela se mexeu um pouco para dar a ele um melhor
acesso. Julián sabia que seus seios eram muito sensíveis, por isso, a atraiu e a acariciou suavemente, de
alguma maneira que sabia que dava mais prazer para ela.
— É tão bom, — sussurrou ela entre profundos suspiros. — Essa noite quando estiver sozinha em
meu quarto, recordarei esse momento e não poderei dormir. Ela tocou seu rosto e o atraiu para poder
beijá-lo.
— Eu poderia ficar assim para sempre, mas hoje estou me ocupando de você, lembra?
Ela se endireitou e o olhou — Eu não terminei de me despir.
Levantou um pé e colocou na beira da banheira, justo perto do ombro dele, lentamente começou a
baixar sua meia. Não havia razão para que ele estivesse impaciente, mas estava.
Já estava no meio do caminho de enlouquecer e a descida dessa meia, quebrou sua resistência. Ele
aproveitou esse momento e beijou o lado de fora de sua coxa. Sentia uma paixão gloriosa rompendo
dentro dele. Uma magnífica agitação de fome, de prazer e uma necessidade indescritível de saciar-se
apoderaram de seu ser.
Ela baixou uma perna e levantou a outra, passando ligeiramente em cima de seu braço para manter
o equilíbrio. Essa posição a expôs muito mais, ele teve que apertar a mandíbula para controlar os brilhos
da luz sexual que atravessavam seu corpo e sua cabeça. Percebeu as mãos dela sobre seus joelhos, olhou-a
e a expressão lhe disse que percebeu que ele não estava olhando a meia em absoluto.
— É muito boa sendo devastadora e malvada Pen.
— Você é mais devastador meu amor. E justo agora, está sendo extremamente perigoso, na mais
emocionante das maneiras. Ela olhou para baixo seus cachos escuros e a pele rosada que ele estava
olhando. — Deseja me beijar ali?
— Sim. Incomodaria você?
— Talvez um pouco. Não é algo que eu tenha feito antes. Mordeu seu lábio inferior e de repente
pareceu muito jovem e inocente.

256
— Julián acredito que eu gostaria de experimentar coisas com você, que nunca tenho feito antes.
Ele terminou de lhe tirar a meia e usou esse tempo para controlar-se. Desceu o pé dela e se
levantou da banheira, não se preocupou em usar uma toalha, pegou-a em seus braços e a levou para
cama. Reclinou-se a seu lado e levantou os braços para contemplá-la, enquanto a luz que entrava pela
janela se deslizava sobre sua beleza. Maravilhou-se de como suave, sedosa e cálida era. Ela o atraiu para si
em um abraço, o primeiro e sensual abraço que lhe dava desde aquele dia que passaram em Hampstead.
Segurou-a totalmente em silêncio, sentindo sua pele contra a sua fez que lhe encolhesse o coração
maravilhosamente. Outro sentimento, comovedor, delicioso e agradecido, uniu-se ao caos poderoso que o
possuía. Não permaneceram quietos muito tempo. Demonstrando sua nova agressividade, Pen se dispôs a
ser devastadora, empurrou-o sobre suas costas e lhe beijou fortemente. Ela utilizou sua língua como fez
nele antes, mexendo-se sobre seu peito, provando sua pele até que a cabeça dele ficou em branco de todo
o resto, exceto da sensação de sua boca, de suas mãos e dos sons que ela fazia mostrando seu crescente
abandono. O desejo o urgia a tomá-la, mas a fome de possuí-la de uma forma diferente, falava mais alto.
Virou-a de costas, abriu suas pernas e ficou de joelhos. Pen o olhou com suas pálpebras baixas. Ele
começou a baixar lentamente e a prodigalizar beijos em seu estômago, depois em sua coxa. Levantou a
cabeça e viu que ela ainda o olhava. Ele acariciou suas coxas.
— Nunca fiz isso antes Pen, não é uma coisa que tenha compartilhado com outra.
— Eu adoro saber disso, me faz muito feliz. — sussurrou ela.
Ele ficou entre suas pernas e imediatamente se inundou em uma dança sexual, beijou a suave pele
dentro de suas coxas e a suavidade surpreendente de seu monte com seus cachos sedosos. Ela
instintivamente abriu as pernas mais amplamente. Acariciou-lhe as dobras úmidas, cor de rosa expostas
para ele e viu como ela relaxava e respondia a seu familiar toque. Seus ofegos de paixão e sua essência
feminina o estavam enlouquecendo. Um prazer primitivo, quase violento agitou sua consciência. Ele a
beijou degustando-a suavemente.
A respiração de Pen lhe indicou o perto que estava de sua liberação, beijou-a de novo, usando a
língua, deixando que seus gritos lhe guiassem para a busca de seu maior prazer. Ela instintivamente
dobrou os joelhos e levantou os quadris, convidando-o a lhe dar mais.
Estava perdido, absorto pelos mistérios que ia descobrindo, inconsciente de tudo exceto do
poderoso desejo e do prazer que alagava seu próprio corpo. Pen começou a lançar gritos frenéticos e isso
o motivou a explorar mais profundamente, fazendo círculos em seu sensível clitóris com sua língua. O

257
clímax dela o envolveu, soou em sua cabeça e estremeceu o quadril de Pen e pulsou até sua boca.
Enquanto o grito rouco do Pen fazia eco em sua cabeça, Julián se ajoelhou, levantou suas pernas em
direção ao seu corpo. Tomando seu quadril em suas mãos, ele entrou na doce calidez que tinha beijado.
Pen estava absorta nele, seu canal estreito estremecia ao redor dele e suspirava com desespero. Então ele
começou a empurrar mais duro, mais rápido e mais fundo. Ela começou a gritar de novo, unindo-se a ele
nessa sublime fúria de desejo até que ambos compartilharam felizmente o maior clímax de suas vidas.
Pen despertou nos braços de Julián, sob a suave luz do amanhecer, sentia-se flutuar em uma nuvem
de lânguida felicidade, enquanto escutava sua respiração. Valorizando o calor acolhedor de seu peito
debaixo do rosto e o pulso sutil de seu coração em seu ouvido.
Houve muitas inovações com Julián e os atos audazes da noite anterior só tinham significado como
metáforas para entender o restante. Foi seu primeiro dia de completa liberdade, desde quando estiveram
em Hampstead. E ontem à noite, foi a primeira fazendo amor depois de que ambos escaparam de todos os
perigos. A noite passada foi também a primeira relação sexual, depois que ela soube a verdade sobre o
amor que ele sentia por ela, há muitos anos.
Sentiu-se mal ao saber, que ele se preocupou por ela durante tanto tempo em silêncio. Outros
homens poderiam ter enviado cartas, ou a perseguindo procurando uma aventura perigosa e dolorosa.
Outros poderiam ter interpretado de poeta apaixonado em um cenário público. Alguns outros deixariam
que o mundo soubesse a respeito de sua paixão, sem esperança. No entanto, a tranquilidade com que
Julián dignificou seu amor foi muito mais romântico. Poderia ter se declarado a outra mulher, não tinha
dúvida disso, mas ele permaneceu silencioso para protegê-la de Glasbury.
Um raio de luz do novo dia se moveu sobre o rosto de Julián e o despertou. Seu braço se apertou ao
redor de Pen, como se precisasse assegurar-se que ela ainda estava ali. Ela permaneceu pressionada nele,
mesmo depois de saber que ele já estava totalmente acordado. Sentia seus olhos nela e depois um doce
beijo em sua cabeça.
— Que desejas fazer agora Pen?
Tinha muitas coisas para fazer hoje, mas mesmo assim poderiam esperar.
Agora queria viver essa encantadora satisfação.
No entanto, ela sabia o que significava realmente essa pergunta. Não estava só perguntando sobre
o dia de hoje, mas também dos próximos que viriam. Ele estava perguntando o que queria fazer com sua
liberdade.

258
— Hoje quero agradecer a mulher que o salvou,— disse.— Depois quero ir com você para a casa de
campo de novo. Nesse momento, no entanto, desejo fazer amor com você nessa incrível luz e gloriosa paz.
Eles fizeram lentamente, suavemente e perfeitamente. Depois, mandaram uma mensagem
a Batkin para que mandasse algumas roupas limpas de Julián. Ao meio dia se encontravam na sala de café
da manhã, bebendo café, lendo cartas e o jornal.
Uma das cartas havia chegado da França.
— Julián, chegou uma carta da Catherine. Escreve de Marselha, justo antes de partir novamente,
explicitamente me agradece pela ajuda dessa noite. Ele a leu.
O homem de Laclere deve tê-la perdido. Deve guardar isso. Embora esteja seguro que o manejo
que Knightridge fez com o juiz, significa que está fora de toda suspeita, entretanto se a polícia ficar
ambiciosa, isso deverá ser o suficiente.
Outra carta chamou a atenção de Julián, tinha chegado dois dias antes, mas se deu conta que ela
não a tinha aberto, depois de um momento ela abriu.
— Parece que preciso logo me encontrar com o Sr. Rumford, o advogado de Glasbury. — Disse
enquanto examinava a solicitação formal e abrupta que a chamava para ir ao escritório do solicitante.
— Devo verificar a propriedade que herdei como sua viúva. Acho que é uma mansão em
Northumberland, que nunca vi antes.
— Na época de meu casamento, pedi uma propriedade que proporcionasse uma vida campestre
com considerável elegância e estilo.
Ele sabia de tudo isso, já que era o advogado da família, deve ter desenhado esse acordo,
certamente sabia muito mais que ela.
Em outras palavras, não há incentivo para uma vida na cidade, depois disso. —
— Não penso assim.
— Parece que a generosidade de Glasbury com minha família, depois de nosso casamento foi
compensada por um pequeno estabelecimento para mim, no caso de sua morte. Ela colocou a carta de
lado.
— Não me importa. Considerando o quanto fui breve realmente como sua esposa, me sentiria
culpada aceitando mais.
— Tenho certeza que Laclere continuará ajudando você, se quiser manter sua casa de Londres.

259
— Não quero que Vergil continue me ajudando. Estou cansada de depender dele. Realmente,
depois de ser salva do alcance de Glasbury, eu não quero estar endividada com nenhum homem para meu
sustento.
Julián voltou sua atenção para o papel.
— Então, não serei tão tolo para me oferecer a ajudá-la. Entretanto, posso permitir isso e sempre
quando desejar.
O silêncio caiu sobre a sala do café da manhã, nada mais precisava ser dito sobre esse assunto e
tampouco se esperava que fosse falado, Pen não queria tocar nesse assunto agora.
Só desejava terminar com o passado, antes de falar sobre o futuro dos dois. Havia algumas
perguntas por exemplo, a respeito dos acontecimentos da última semana que precisavam de respostas.
Como se adivinhasse seus pensamentos, Julián baixou o jornal a Gazetta e assinalou.
— O relatório sobre as conclusões do julgamento, insinua que há muitas perguntas que
permanecem sem respostas.
— Algumas pessoas sempre se perguntarão se algum de nós o assassinou, não acha?
Suponho que sim, eles mais do que ninguém, se perguntarão se fui eu. Entretanto, vamos deixar
que conheçam a carta de Catherine. Isso colocará um ponto final sobre as especulações a respeito de você.
— Como se isso fosse a única conclusão, que lhe importasse.
— Não acha Pen?
A calma com que fez a pergunta, como se perguntasse pelo clima, incomodou-a.
— Não, porque eu estou certa que você não o matou e também que eu não fiz isso.
— Não pode estar completamente segura.
— Está errado. Eu estou completamente segura que você não poderia fazer isso.
— Então, você tem mais fé em mim do que eu mesmo tenho, pois não estou completamente
seguro que não poderia fazer. Tive muita vontade.
— Isso é outra história, não é?— Ela suspeitava que Vergil estava certo, quando concluiu que
Julián mataria para protegê-la. Mas, da mesma forma que os cavalheiros faziam, haveria só um
combate individual, não cometeria um assassinato.
Julián não contratriou a sua confiança, mas perguntou si mesma, se ele não pensaria se de verdade
acreditava nele. Isso era de muito mau gosto para perguntar-lhe.

260
Felizmente, não duraria muito tempo. Finalmente, ele entenderia que seu amor era tão profundo
que nunca poderia duvidar dele. Também se daria conta de que, inclusive se não sentisse amor, ela
nunca duvidaria de sua inocência. Além disso, ela sabia quem era o verdadeiro culpado.

261
CAPÍTULO 30

Julián parou a carruagem na bonita, mas modesta casa em Picadilly. Um criado desceu para se
encarregar de sua carruagem e Julián escoltou Pen até a porta. Um criado de pele escura pegou seu cartão,
não usava libré ou peruca, mas sua semelhança com o outro criado negro que ela conheceu era
inconfundível.
— É bom vê-lo de novo Marcus. César disse que você agora tinha outro emprego.
Marcus aceitou a saudação e o reconhecimento com um semblante agradável que alguém pensaria
que ele era surdo, entretanto isso para Pen não importou, pois sua atenção se centrou imediatamente na
voz da pessoa com a qual ela desejava falar.
Sons de intensa atividade desciam pela escada. No meio do ruído e da confusão, uma voz
dominante dava ordens em espanhol e sua voz era como um chicote no meio do caos. Marcus os deixou
para apresentar seus cartões. Esperava que essa mulher quisesse se pavonear um pouco, por sua grande
atuação e os atendesse.
Marcus se virou e os levou para uma biblioteca. As ligações que monopolizavam as
prateleiras pareciam do tipo que pudesse ser compradas em caixas em um leilão, para encher as
bibliotecas das casas de férias.
A Sra. Pérez esperava por eles, já não vestia o branco virginal, mas sim de um vibrante violeta, não
tinha uma atitude submissa e recatada, mas sim exsudava sua vitalidade magnética. Ela os recebeu com
um longo e conspirador sorriso. Aceitou as expressões de gratidão que Julián manifestou e lhes ofereceu
café, enquanto fazia educadas brincadeiras. Todo o tempo, ela mostrou uma atitude que sugeria que ela
acreditava que sua visita e toda a conversa que tinham era parte de uma grande piada. Julián assinalou
para um baú aberto perto da mesa.
— Sua casa está muito ocupada hoje, estão deixando a cidade?
— A Inglaterra é muito frio para mim, a umidade já começou a afetar minha saúde, assim
retornamos para o nosso país, onde o inverno não é tão sorvete.
— A sociedade sentirá muito sua decisão, espero que voltarão para a primavera a tempo para o
começo da temporada, — disse Pen.

262
— Poderia retornar, entretanto não posso garantir que voltarei a ver meus amigos ingleses de
novo. — Dirigiu um cálido sorriso a Julián. — Portanto, se houver algo que queiram discutir comigo,
aconselho-lhes a fazer agora.
— Além de agradecer novamente por seu testemunho a tempo, quero desejar uma viagem segura,
não tenho nada mais que me sinta obrigado a dizer – contestou Julián.
— As mulheres inglesas são muito complacentes com seus amantes Sr. Hampton. Eu concluí, que
você veio hoje para me pedir que assegurasse para a condessa que não esteve comigo naquela noite.
— Não vou exigir nenhum tipo de garantia,— disse Pen.— E como cavalheiro, o
senhor Hampton jamais lhe pediria que admitisse abertamente, que você é uma mentirosa e que cometeu
perjúrio. Os olhos da senhora Pérez lançou fogo pelos insultos.
Pen tomou um gole de café e depois baixou a xícara.— Eu, no entanto, não sou tão limitada
como ele. Certamente estou muito agradecida por sua mentira, ainda mais do que ele está, não deixo de
perguntar-me, o que a levou a fazer isso.
— Ele estava em perigo e não acreditei que ele fosse capaz de tais coisas, seria uma vergonha que o
enforcassem por algo assim, — Deu de ombros.
— Você é realmente uma mulher de coração muito generoso. — disse Pen.
— Sim, — confirmou Julián. — Claro que, ao servir de álibi, também se dava a si mesma. Se
condessa ou talvez eu, tinha motivos para pensar que teve algo a ver com a morte de Glasbury, agora
não podemos expressar nossas suspeitas a polícia, sem destruir também o testemunho que garantiu
a minha liberdade.
Esse pequeno discurso deixou Pen surpresa. Não tinha se dado conta, que Julián também
suspeitava.
— Muito bem, senhora,— disse Julián. – Muito inteligente.
A senhora Pérez começou a fazer beicinho com o insulto, mas pensou melhor. Ela
olhou de Pen para Julián e de volta a Pen de novo. Aqueles olhos obscuros cravados nela, como
se pesava o perigo em que estava.
— Como seu amante, falar disso, também coloca você m situação de risco.
— Você se preocupou, porque achou que eu trabalharia para conseguir a verdade , não é? É por
isso que você testemunhou. Eu disse a César que descobriria a verdade se Julián fosse enforcado. Por
isso, se encarregou de que não o enforcassem.

263
— Não me importaria se você averiguasse a verdade, sobre a morte de Glasbury, pois isso não era
uma penalidade para você. No entanto, se seu amante morresse, era possível que você buscasse vingança.
— Milady, a condessa pode saber tudo, mas eu não. Cheguei à conclusão, que você matou Glasbury
somente porque me pareceu estranho, você decidir mentir por mim. Não acredito que haja razão, pela
qual você desejasse a morte do conde.
Eu não admiti esse crime senhor, somente estou me protegendo se por acaso, a condessa desejar
me acusar disso.
— Por que ela faria isso? — Perguntou Julián.
— Olha-a Julián, — Pen disse. — Os olhos, e a forma de seu rosto. Ela me deslumbrou tanto no
teatro que perdi os detalhes. Mas na corte, recatada e modesta testemunha me era muito familiar, não só
pelos seus traços, a não ser por seu comportamento. Muito submissa, como se sua personalidade se
escondesse atrás de uma parede, lembrou ao César, Julia e todos os outros. Era o comportamento de um
escravo.
Julián examinou sua anfitriã com uma nova curiosidade. A Sra. Pérez começou a construir essa
parede que falava Pen com tanto conhecimento.
— Está relacionada com Cleo, não é verdade? Pen perguntou. — A semelhança estava ali.
— Você viu Cleo faz muito tempo, quando ainda era uma garota. Provavelmente não lembra como
se parecia. Talvez nunca lembraria, era somente uma escrava que lhe servia e nada mais. — disse-lhe a Sra.
Pérez.
— Se soubesse quanto tempo passou, é porque estaria interessada nessa casa e em seus criados.
Na verdade, já tomou um como seu empregado. Se minha memória não falha, eu vi o rosto de Cleo em
minha cabeça e sou muito consciente dos anos que passaram.
— O muro em seu rosto, já não estava em seu lugar, derrubou-se e a Sra. Pérez se sentou como um
vulcão que está a ponto de entrar em erupção.
— A condessa está correta? Você tem algum parentesco com Cleo? — Julián lhe perguntou.
A Sra. Pérez o olhou. — Era minha meio irmã.
Somente com essa declaração, Pen soube que estava certa em considerar que já havia resolvido o
mistério da morte de Glasbury.
— O conde visitou suas terras na ilha, vinte anos atrás. — disse a Sra. Pérez, em seu percebia-se o
desgosto.

264
— Ele viveu ali quando seu pai estava vivo, da mesma forma que seu herdeiro o tem feito nesses
últimos anos. Tinha desfrutado de sua vida ali, amava ser um Deus na terra, com escravos a quem podia
bater e quebrar várias vezes. Depois ele retornou novamente, ninguém estava contente de que tivesse
feito.
— Você ainda vivia ali por nessa época? — perguntou Pen.
— Só mais tarde que eu saí. Um visitante se fascinou por mim e comprou-me por muito
dinheiro. Quando morreu, fui embora. Fui para a Venezuela. Criei uma nova história nova para mim. Há
muitos como eu, que foram aceitos. Transformei-me em amante de homens com influência. Finalmente
encontrei um, que um dia me trouxesse aqui, para que eu pudesse ver minha irmã. Levantou-se e
caminhou a seu redor, suas palavras amargas choviam em suas cabeças.
— Ela era uma menina quando Glasbury a conheceu. Foi uma dos vários escravos que ele decidiu
levar para a Inglaterra. A liberdade, pensei. Eu sabia que ele a desejava. Eu acreditava que ia ser sua
amante quando fosse mais velha. Esperava uma vida melhor do que a que tinha. Todos nós pensamos que
era uma grande sorte que o amo a favorecia.
— Não sabia de seus gostos?
— Só soube deles quando cheguei aqui. Procurei minha irmã, esperando encontrá-la em uma vida
de luxo, com criados ao seu dispor. Ao invés disso, havia ido embora. Os outros escravos que se foram de
sua casa me contaram tudo. Eles sabiam que eu era um deles.
— Como soube que tinha morrido? Perguntou Julián.— Nem eu soube por vários meses.
— César descobriu. O conde era muito descuidado em volta de César. A familiaridade gera isso e
sabemos como usá-lo. César tinha aprendido a ler e viu a carta que informava a Glasbury da morte da
garota. Ele acreditou que o conde a tinha matado e eu acredito também.
— Então o matou por vingança,— disse Julián.
— Por justiça. Era fácil captar seu olhar. Eu já sabia que gostava das morenas. Sabia de suas
preferências em todas as coisas. Ela se afastou, mas Pen vislumbrou a expressão que ela tratou de
esconder. A viu e reconheceu. A senhora Pérez tinha pagado um preço muito alto para levar Glasbury até
sua morte.
— Se vocês falarem disso, não servirá de nada,— disse, virando-se bruscamente para desafiá-los.
— Seus criados nunca vão me entregar. Estão muito contentes por ele ter ido, feliz de que tenha
pagado por seus pecados com minha irmã e pelos outros. Falem com eles se duvidarem de mim. Eles

265
conhecem os grandes crimes cometidos com os escravos trazidos para cá, que lhes falou com outros da
liberdade em virtude do direito Inglês e depois não cumpriu.
— Tenho certeza, que outros não a trairão. Eles lhe ajudaram e são seus cúmplices,— disse
Julián.— Glasbury alguma vez desconfiou quem era?
— Nunca. Para ele, eu era só uma escrava da noite, comprada com um colar de pedras preciosas
que ele chamou um presente. Suas pálpebras desceram. – Mas contei para ele no final, quando já tinha
bebido o vinho. Assegurei-me de que ele soubesse antes de morrer.
— É obvio,— disse Julián.— Você queria ter certeza de que ele soubesse.
— Fala com desaprovação. Talvez, você ache que deveria ter feito uma oração por minha irmã e ter
ido contente. Talvez, deveria ter ido a esses policiais e pedido ajuda, com nada mais que uma história triste
como evidência.
— Eu acredito que o assassinato é errado senhora. Raúl sabe disso? É por isso que a está enviando
de volta o mais rápido possível?
— Escolhi deixá-lo, mas sim, Raúl sabe. Ele é um homem educado senhor Hampton. Ele sabe tudo a
respeito das leis morais ensinadas pelos filósofos. Mas também, compreende que há leis superiores que
aquelas. Se eu tivesse sido um homem, poderia ter desafiado Glasbury. Poderia ter enfrentado ele com
honra. Mas é negado às mulheres, devemos ter um homem que faça por nós, ou temos que encontrar
outras maneiras. E eu encontrei outra maneira.
— Uma forma para colocar em perigo uma mulher inocente,— Julián interpôs furioso.— Não me
fale de honra se contempla permitir que outro pague em seu lugar. Você tinha que saber, que as suspeitas
cairiam sobre a condessa.
A senhora Pérez parecia um pouco aborrecida.
— Não estaria em perigo,— disse a Pen.— Eu esperava que você permanecesse em Nápoles até que
terminasse. As autoridades assumiriam que uma prostituta teria feito, alguma das miseráveis que Glasbury
pagava, uma mulher que nunca encontrariam.
— Mas eu não estava em Nápoles quando fez isso. Você sabia.
— Eu não poderia demorar mais tempo. Não pensei que uma condessa pudesse enfrentar uma
pena de morte, mesmo que se suspeitasse dela. Eu acreditava que a aristocracia se ocupasse de si mesmo,
embora só fosse para silenciar qualquer escândalo.
— Você acreditou errado,— disse laconicamente Julián.

266
— Tampouco parecia se importar que o senhor Hampton estivesse no banquinho em seu lugar,—
disse Pen.
— Seu papel nos pecados do conde foi mal entendido, senhor Hampton. Por isso me
desculpo. Pensei que Glasbury conseguiu simplesmente vender Cleo para você, de maneira ilegal. Pensei
que você não era melhor que o conde. Depois que a condessa explicou a César o que realmente aconteceu,
procurei ganhar sua liberdade.
— E assim o fez,— disse Pen.— Por isso estou agradecida. A senhora Pérez lhe dirigiu um olhar de
mulher para a mulher. Com os olhos disse, que embora os homens pudessem fazer suas leis e regras, todos
sabemos como é realmente a vida.
Julián ofereceu sua mão a Pen para ajudá-la a levantar-se, era o sinal de que esta visita havia
terminado.
— Como eu já disse senhora, para expressar mais suspeitas contra ele seria
necessário destruir meu próprio álibi. Eu lamentaria, se a morte do conde caísse em um
dilema moral severo. Como estão as coisas, acho que é bom que você esteja deixando a Inglaterra antes
que minha consciência analise isso muito tempo. Se seus atos podem ser aceitos como necessários para
fazer justiça, deixamos que Deus decida.

CAPÍTULO 31

267
— Eu tenho falado muito, não é?— Pen sussurrou as palavras, enquanto se esticava no
ouvido de Julián para lhe dar um beijo.
— Não, em absoluto. Nunca me canso de sua voz.
Na verdade, ela esteve falando quase todo o caminho desde que deixaram Londres. Para qualquer
pessoa no mundo seria o suficiente, depois de um quilômetro e meio ficar falando. Entretanto,
essa era Pen e ela nunca o aborrecia. Os boatos sociais e as descrições da nova moda o cativavam se era
ela quem falava deles.
— É porque me sinto muito emocionada Julián. Não posso acreditar que ficaremos nos próximos
dias, sem absolutamente ninguém em volta de mim, exceto você. Meu Deus, me pergunto como vamos
preencher todas essas horas. – Sorriu com malícia.
— Bom por um lado, eu a ensinarei.
Ela se agarrou em seu braço.— Ensinar que patife?
— Como cozinhar.
— Cozinhar?
— Sim, não temos criados na casa, alguém tem que cozinhar. Se tenho uma mulher comigo, não
espera que eu faça tudo sozinho.
— Acho que viveríamos mais tempo se você o fizer. E se eu for uma aluna muito boa e aprender a
cozinhar, ensinará outras coisas também?
— Só se prometer ser uma aluna muito boa nesses tipos de coisas também.
— Tenho intenção de ser uma muito boa Julián.— Seus dentes brandamente se fecharam na orelha
dele.
— Mundana, perversa e descarada.
A casa de campo parece estar distante, disse rindo, enquanto se aconchegava nele e continuava
maliciosamente a tortura que deixou sua orelha em chama.
— Fica quieta ou vou ter que parar e tomá-la aqui mesmo na estrada.
— Atreveria-me a continuar, exceto que parece que uma tempestade vem para cá. Você adora
desfrutar das tempestades, não é Julián?
— Eu não diria que desfruto deles. No entanto, me impressionam.
— Quer dizer que fica impressionado por toda essa energia. Pelas forças terríveis desencadeadas,
que se mexem pela natureza em reposo com uma inesperada pressão e pela forma que a fria

268
racionalidade do homem é arrastada a um lado por seus poderes primordiais que darão suporte em nossas
vidas nesta terra. É isso o que quer dizer quando falas a respeito?
Ele olhou para ela. Ela chamou sua atenção e sorriu suavemente.— Assim foi como expliquei há
anos, quando éramos muito jovens. Essa lembrança voltou para mim uma noite, enquanto você estava na
prisão, quando o vento e a chuva atingiam minha janela. Eu podia ouvir você dizendo cada
palavra. Confesso que nunca compreendi até que fizemos amor. Uma grande paixão tem o mesmo
poder, não é?
— Com a pessoa certa sim.
Ele a levou para a casa antes que a tempestade chegasse. Debaixo das rajadas de vento, ele desceu
a bagagem e cuidou dos cavalos.
O céu ficou escuro e carregado de nuvens baixas, quando voltou para a casa, procurou Pen e a
encontrou no terraço, em volta de manto azul, o vento fazendo um alvoroço de seus cabelos.
Ele a abraçou por trás. Juntos, viram o surgimento das ondas agitadas do mar que agitavam o verde
escuro e branco.
Ela estava certa. Ele gostava de uma boa tempestade. A dinâmica agitava a parte
mais humana dele. As emoções que davam a uma pessoa de coração e alma estavam mais vivas na face de
uma natureza desenfreada.
Pen descansava em seu peito. – Meu rosto está ficando vermelho. O seu jamais fica, não importa
quanto você fica no frio ou no vento. Isso não é justo.
— Sempre achei você linda, com um rosto cor de rosa.
Ele olhou para onde seus braços estavam cruzados sobre o manto. – Não era para usar esse terrível
luto, pelo menos só quando estivesse em público? Parece fazer sentido, mas talvez não fale bem de mim.
— Disse que nunca chorarias por um homem novamente Pen e de todos, ele é o que menos
merece. Não tem que fingir.
— Eu teria chorado por você Julián. Teria me afligido para o resto de minha vida.
Isso o comoveu profundamente. Fechou os olhos e esfregou o rosto na coroa de seu cabelo.
— Eu queria vir aqui para poder fazer amor no mar,— disse.— Também porque poderíamos ficar
totalmente sozinhos. Mas também com a esperança de que estando aqui me ajudaria a tomar uma decisão
importante de novo, como aconteceu da última vez. Eu devo decidir o que vou fazer com a minha
liberdade, não é?

269
— Só há uma opção que realmente desejo Pen, mas viverei com a que decidir.
Ela se virou em seus braços e o olhou.— Que outra opção é a que quer?
— A que me dá o direito de cuidar de você. Entretanto, aceitei que essa não é a decisão que você
deseja. Depois de ter esperado tanto tempo, para sua independência.
— Você está me propondo casamento Julián?
— Apesar de minha posição se ver afetada pelo escândalo, ainda sou o assessor jurídico de
numerosas e importantes famílias. Nunca faltaria nada para você Pen. Também tenho alguns
investimentos que renderam muito bem e outros que prometem ser ainda melhor, em particular, o
projeto de Dante e Fleur Durham. Não viveríamos no estilo de Laclere ou do conde de Glasbury, mas não
terá que contar moedas de um centavo.
— Eu não preciso viver no estilo de meu irmão. Essa é uma proposta, então?
— Farei é obvio, mas eu aceitarei o que você preferir. Posso ver como o casamento para você é
pouco recomendável querida. Entendo se essa noção a deixa fria.
Ela riu.— Por Deus, fala muito senhor Hampton. Estou de acordo, que o casamento tem pouco a
recomendar. E não pode haver nenhuma desculpa o suficientemente boa para que eu volte a casar.
— Sim. Claro, estou vendo.
O vento levantou sua capa e essa voou para cima e voou para fora. o fazia parecer sem peso, como
um anjo tocando o pé na terra, depois de um voo.
— Não há boas desculpas, mas pode ter algumas boas razões,— disse ela.
— Posso lhe dar muitas.— Deu-lhe um beijo.— Essa é uma e há milhares mais, que você vai
gostar. A paixão é outra e a amizade.
— E estar apaixonado Pen. Essa é uma das melhores razões de todas para o casamento e eu estou
perdidamente apaixonado por você.
— Outra razão é amar um homem que é digno de seu amor. Isso muda tudo e foi o que eu
descobri. Então, está me propondo Julián? Por que se for assim, estou quase convencida.
— Eu estou fazendo e pressionarei para ganhar meu caso da única forma que sei.
A beijou dura e longamente, deixando que seu coração e sua alma liberassem seus ventos de
desejo e paixão revelarem sua eterna tempestade de nostalgia e amor.
Ela emergiu sem fôlego e sorriu. Suas pálpebras se levantaram.

270
— Acredito que seria uma grande tola se negasse meu amor. Seria uma idiota para arriscar
que mude de opinião.
— Eu nunca mudaria de opinião. Eu sou seu e estarei com você do jeito que você quiser.
— Como meu esposo Julián. Eu ficaria orgulhosa de ser sua esposa.
Beijou-a de novo, com profunda gratidão. A alegria embebia cada centímetro dele, uma
emoção perfeita e pura, afetada pela incredulidade.
Ela retrocedeu fora de seu abraço.— Vou entrar agora. Deve ficar aqui por um tempo. Quero que
saiba que você não tem que estar comigo cada minuto desse amor que compartilhamos. Não é obrigado a
renunciar os seus silêncios o a solidão completa. Não terei ciúmes desses momentos privados e não tenho
desejos de roubá-los.
Retornou para a casa. Ele olhou em direção do mar.
A tempestade se aproximava rapidamente. Não seria muito longa. A distância podia ver um brilho
de luminosidade divina correndo por entre as nuvens.
A água por baixo tinha se transformado em um caos. As ondas saltavam e estouravam. As mais
altas estouravam na parede do terraço, bem abaixo dele. A chuva começou, primeiro com gotas grandes e
depois em forma fluída.

Foi uma tempestade gloriosa com ventos espetaculares. Voou diretamente nele, agitando seu
corpo, sua alma e seu sangue. Achava impressionante como poucas tempestades o fizeram se fundir com
suas próprias emoções, da mesma forma que as tempestades grandes o fizeram em sua juventude.
Ele permaneceu em silêncio, mas outra voz falou em sua cabeça. Pen tinha sussurrado seu amor.
Embora tivesse ficado sozinho no terraço, estava em seu coração mais segura de que estava na casa,
aumentando a sua essência tinha com ele a glória. Um estranho momento chegou a ele, um instante
transcendente no qual sua consciência parecia unida ao poder da natureza.
Só poucas vezes no passado, tinha lhe acontecido e sempre quando estava em uma profunda
melancolia. Mas dessa vez, a alegria e a beleza o saturavam. Dessa vez o amor unificava sua alma com os
elementos.

271
— Julián.
Ele se virou e olhou para cima, uma janela de seu quarto estava aberta. Pen aparecia perto e o
olhava de lá. Despiu-se completamente e deixou seu cabelo solto. Os escuros cachos fluíam sobre seus
seios de marfim. Estava tão bela e perfeita, que cortou sua respiração.
— Estou aqui acima, Sir Julián. Veem e me cante uma canção ou leia um poema, valente cavalheiro.
Proteja-me durante essa feroz tempestade.
Ele se dirigiu até a torre do Castelo, desprendendo-se de sua armadura.
— Já estou chegando, minha senhora.

FIM

Série Amantes Indomáveis


1 – O Sedutor
2 – O Santo
3 – O Enganador
4 – O Pecador
5 – O Romântico

Ebooks distribuídos sem fins lucrativos e de fãs para fãs.


A comercialização deste produto é estritamente proibida

272

Você também pode gostar