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Mr.

Hunt, Eu Presumo
(Noivas Brincalhonas 10.5)
SINOPSE

Ele nunca se esqueceu dela...


Quando o General Collin Hunt é ordenado a tirar umas férias
muito necessárias, ele resolve se hospedar e descansar na
propriedade rural de seu irmão. Mas quando a única mulher que
ele já amou – e que friamente desistiu dela – aparece como
governanta dos filhos de sua cunhada, sua vida cuidadosamente
ordenada é virada do avesso.
Ela nunca vai perdoá-lo...
Quando Erienne Stone desafiou sua família e fugiu de sua
vida de privilégio, ela nunca esperou se encontrar com o homem
que a abandonou mais de uma década antes. Mas Lucy, Duquesa
de Claringdon, é uma mulher difícil de dizer não, mesmo quando
o coração de Erienne está em risco de quebrar totalmente de novo.
Uma casamenteira intrometida pode ser a chave para
sua segunda chance...
Após uma década de dor e mágoa, dois amantes malfadados
podem confiar na verdade em seus próprios corações?

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Capítulo Um
Londres, agosto de 1824

Lucy Hunt olhou para a pilha de cartas acumuladas em cima da


escrivaninha, que estava na sua frente. Ela balançou a cabeça. — Como
vou passar por tudo isso?
Seu marido, Derek, o Duque de Claringdon, caminhou atrás dela para
espiar por cima do ombro. — O que são?
— Pedidos de emprego. Deve haver uma centena delas.
— Para a posição de governanta? — Derek perguntou.
— Sim. Estou bastante impressionada.
— Não se preocupe. Vou ajudá-la a selecionar algumas dessas para
você entrevistar. — Ele pigarreou e pegou a primeira folha de pergaminho
da pilha. — Sra. Harriet Kindlewood. Anteriormente empregada por
cinquenta anos pelo Marquês de Dorset.
— Cinquenta anos? — Lucy exclamou. — Por que a pobre mulher
deve ter pelo menos setenta! Ela deve ter sido demitida agora.
Descartando a primeira carta, Derek pegou a próxima. — Senhorita
Patience Horville. Limpa, pontual, sem medo de disciplinar crianças
indisciplinadas, não importa quão jovem.
Lucy estremeceu. — Ralph e Mary tem apenas dois e três anos. Não
tenho certeza de quanta disciplina eles precisam. Além disso, descobri
que quando alguém tem um nome como Patience, geralmente não serve.
— Pelo menos ela é limpa e pontual, — respondeu Derek com uma
risada.
Lucy sentou-se e soltou um suspiro. — Seja sério, Derek. Estou doida
desde que a Srta. Langley saiu. Ela era uma excelente governanta.
Derek apertou os lábios. — Sim. É realmente uma pena que ela tenha
se apaixonado e se casado.
Lucy cruzou os braços sobre o peito e arqueou a sobrancelha para
retribuir o olhar dele. — Não é uma pena. Eu desempenhei um papel
significativo em fazer o casamento dela com o Sr. Benton. É uma pena
que ela tenha se mudado e nos deixado.
Um sorriso apareceu no rosto de Derek. — Talvez se você e Delilah
Montebank não estivessem sempre tentando casar todo mundo, teríamos
uma governanta com um mandato mais longo. De onde vieram todas
essas cartas?
— Pedi referências a todas as minhas amigas, mas nenhuma delas
tinha ninguém. Por isso, entrei em contato com o escritório de emprego
da Sra. Griggs. Os serviços dela são altamente recomendados.
— Não tem jeito, então, — respondeu Derek. — Nós apenas teremos
que passar por tudo isso e escolher algumas dessas para entrevistarmos.
Com um suspiro, Lucy pegou a carta seguinte do topo e a leu em voz
alta — Erienne Stone, anteriormente de Brighton, atualmente de Londres.
Mulher de boa família, procura posição como governanta. Capaz de
ensinar leitura, escrita, matemática, além de francês, história e geografia.
Treinada em música, arte, bordado e comportamento. Carinhosa e gentil.
Rigorosa quando necessário. Excelentes referências disponíveis.
— Erienne Stone? — Derek franziu a testa. — Você disse que ela
morou em Brighton?
— Sim. — Lucy baixou o papel sobre a mesa. — Você não a conhece,
não é? — Derek nasceu e foi criado em Brighton antes dele entrar no
exército de sua majestade e subir pelas fileiras para lutar em
Waterloo. Ele se tornou um duque por seus esforços.
— Deve ser uma coincidência, — ele respondeu, balançando a cabeça.
— Como você a conheceu? — Lucy perguntou.
— Ela era filha de um cavaleiro. Sir Robert Stone. Ela cresceu junto
conosco. Só que ela tinha uma vida muito melhor do que da minha pobre
família.
— Ela foi gentil com você? Ela não olhou para você, não é? — Lucy
perguntou.
— Ao contrário. Na verdade, ela e Collin... — A voz de Derek se
afastou. Ele esfregou o queixo como se estivesse pensando seriamente. —
Deixa pra lá. Não pode ser a mesma mulher. Ela já devia ter pelo menos
trinta anos e, de qualquer forma, tenho quase certeza de que a senhorita
Stone que eu conhecia se casou bem e se mudou para Shropsbury.
Os olhos de cores diferentes de Lucy brilhavam. — Espere. O que você
ia dizer? Sobre ela e Collin?
Collin era o irmão do meio de Derek. Os dois, junto com seu irmão
mais novo, Adam, haviam crescido filhos de um veterano do exército que
insistia que os três meninos se juntassem às forças armadas. Derek e
Collin realmente gostaram. Mesmo depois que as guerras terminaram,
Collin, que era um espião do Departamento de Guerra, permaneceu no
exército e agora era general. Adam, no entanto, estava atualmente
empregado como editor e felizmente casado com sua esposa, Cecelia. Mas
Collin era um solteirão confirmado aos trinte e cinco, o que deixou Lucy,
uma casamenteira dedicada, um pouco louca.
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— Eu não ia dizer nada sobre a Srta. Stone e Collin, — respondeu
Derek em um tom cauteloso. — Eles se cortejaram, eu acho. Não foi nada
sério.
Lucy arregalou os olhos. — Eles se cortejaram? Você está falando
sério? Nunca soube que Collin tenha cortejar ninguém. — Ela pegou a
carta da Srta. Stone e a encarou novamente. A testa dela franziu. —
Espere um momento! Esta não é a mesma mulher que...
— O que?
Lucy bateu na bochecha, tentando desesperadamente se lembrar dos
detalhes de uma conversa ocorrida há muitos anos. — Perguntei uma vez
a Collin por que ele parecia tão inclinado a se recusar a se casar.
— Ele não respondeu, não é? — Derek andou em direção à lareira,
cruzando os braços sobre o peito.
— Pelo contrário, ele estava bem embriagado naquela noite, o que é
raro para Collin, e foi também por isso que o procurei e fiz exatamente
esse tipo de pergunta naquela noite em particular.
Derek balançou a cabeça e deu um sorriso vago para a esposa, como
se ela fosse perfeitamente incorrigível. — Porque você pensou que teria
uma melhor chance de obter uma resposta dele?
— Precisamente, — disse Lucy. — E uma honesta.
Derek riu. — O que ele disse?
— Ele me disse que havia apenas uma mulher que ele amava. Uma
mulher em Brighton, alguém que ele conheceu quando era rapaz. — Lucy
levantou a carta e depois a apertou no peito. — Ele me disse que ela se
casou. Eu assumi que ela partiu o coração dele.
— Lucy. — Uma nota de aviso soou na voz profunda de Derek. Ele
parou de andar perto da cadeira dela e baixou a cabeça para encontrar o
olhar dela. — Não ouse pensar nisso.
— Pensar sobre o que? — Lucy enfiou o nariz no ar e piscou para ele
inocentemente. Várias vezes.
— Você sabe exatamente o que está pensando, — respondeu
Derek. — Independentemente disso, não importa. Estou certo de que essa
não pode ser a mesma jovem que conheci em Brighton. Talvez seja uma
sobrinha que tenha o nome dela.
— Possivelmente. — Mas Lucy já estava pegando uma folha de
pergaminho em branco para escrever de volta ao escritório de emprego da
Sra. Griggs.
Hughes, o mordomo, entrou na sala e pigarreou. — Sua graça, — ele
disse a Derek, — você tem um visitante. Lorde Swifdon chegou.
— Ah, sim, — respondeu Derek. — Mostre Julian ao meu escritório.
Eu estarei lá momentaneamente.
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O mordomo fez uma reverência e saiu da sala.
— Vou receber Julian agora, Lucy, — disse Derek com firmeza
enquanto o se dirigia para a porta. — Por favor, me prometa que você não
vai empregar uma governanta para cuidar de nossos filhos, apenas
porque você acha que ela conheceu Collin no passado.
Lucy mergulhou a pena no tinteiro que ficava do outro lado da mesa.
— Não pretendo fazer nada disso.
— Boa. — Derek parou no limiar. — Eu vou ajudá-la a selecionar o
restante das cartas mais tarde.
— Obrigada, querido, — disse Lucy, já curvada sobre o pergaminho,
rabiscando.
Derek lançou um último olhar duvidoso ao sair da sala, e um sorriso
satisfeito imediatamente se espalhou pelo rosto de Lucy em seu
rastro. Ela não tinha nenhuma intenção de contratar a mulher com base
no relacionamento passado da mulher com Collin, mas certamente não
faria mal descobrir se ela era a mesma jovem em questão, poderia?
Lucy curvou-se sobre o papel e escreveu uma pequena carta para a
Sra. Griggs, pedindo à mulher para marcar uma entrevista para dali a
três dias, com a senhorita Erienne Stone, antiga moradora de Brighton.

Capítulo Dois

Collin Hunt cruzou os braços sobre o peito e olhou com o semblante


fechado para o seu comandante, Senhor Treadway. — Você está me
forçando a sair?
— Estou forçando você a sair de férias. Não ligo para o que você faz
nas próximas quinzenas, mas você não estará trabalhando. — Treadway
recuou em seu assento e lançou um olhar duro a Collin. — Você está nisso
sem parar, sem sequer um dia de folga há anos. Está na hora de você dar
um tempo, Hunt.
Collin passou a mão na frente do uniforme de lã. Ele se afastou,
depois se virou para Treadway. — É porque eu bati em Cooper?

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— Cooper, Martin e Atwell pela minha conta. — Treadway arqueou
uma sobrancelha. — Sem mencionar o incidente com Lorde Benning na
semana passada.
Collin apertou o punho. — Inferno, Treadway, você sabe por que...
— Ele estava errado. Estou bem ciente disso. Eu concordo com você,
mas você deve admitir que a maneira como lidou com isso deixou algo a
desejar. Você precisa de um tempo, Hunt. E isso é uma ordem.
— Eu não quero uma pausa. — A declaração saiu da boca de Collin
através dos dentes cerrados.
— Eu não ligo, — veio a resposta divertida de Treadway. — Agora saia
do meu escritório e deste prédio. Não quero vê-lo novamente até depois
de primeiro de setembro.
— Como desejar, senhor. — Como seu subordinado, Collin bateu os
calcanhares, saudou o comandante, girou bruscamente e marchou para
fora do escritório. Ele virou à direita em direção ao seu próprio escritório,
em vez de à esquerda em direção à saída do prédio.
— Hunt! — veio a voz de Treadway de trás de sua mesa, como se o
homem pudesse ver através das paredes. Ele conhecia Collin muito bem.
— Não pare no seu escritório e pegue papelada. Saia. Agora!
Maldição. Collin virou-se mais uma vez e passou pela porta aberta de
Treadway na direção oposta, recusando-se a lançar outro olhar ao
homem.
Colocando as mãos nos bolsos do casaco, Collin saiu do prédio e
caminhou em direção a St. James, onde ficava seu apartamento. Pela
primeira vez, ele caminhou com a cabeça baixa, olhando para a calçada,
perdido em pensamentos.
Uma quinzena maldita? Sem trabalhar? Ele nunca seria capaz de
suportar isso. Ele estava servindo sua majestade no exército real desde
que ele tinha dezesseis anos. Ele lutou nas guerras, resgatou prisioneiros
e frustrou conspirações contra o governo enquanto trabalhava como
espião.
Agora ele era um general designado para o Ministério do Interior. E
embora a papelada que ele foi forçado a trabalhar hoje em dia não tenha
sido tão empolgante quanto seu tempo no continente, lutando contra as
forças Napoleônicas, ele ainda se sentia como se estivesse fazendo a
diferença, protegendo e defendendo seu país. Algo a que sua família
essencialmente dedicou suas vidas. Até Adam usou sua editora para
promover a causa dos militares e recrutar novos soldados.
Collin esfregou a palma da mão na nuca e chutou uma pedra na rua
empoeirada. Uma quinzena sem trabalhar? Isso seria possível? Quem era
ele sem o trabalho? Mais importante, o que diabos ele deveria fazer? Ele
poderia ir a Brighton visitar sua mãe. Ela gostaria disso.
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Mas Brighton trazia lembranças que não gostava, e ele não podia ficar
na companhia de sua mãe por tanto tempo. Ela tendia a falar sem parar
e perguntar repetidamente quando ele pretendia se estabelecer e dar-lhe
netos. Não importava que seu irmão Derek já tivesse dois filhos - Mary e
Ralph – e que Adam tivesse dois filhos - Frederick e Allan.
As mães tinham o hábito de querer netos de todos os seus filhos.
Collin já estava de mau humor. Visitar a mãe e ser incomodado não
ajudaria sua disposição. Não, ele tinha que encontrar outra coisa para
fazer. Umas férias, dissera Treadway. Fazer o que? Tomar as águas
termais em Bath? Collin ficaria entediado. Viajar para Dover e pegar uma
embarcação para Calais? Mas ele já tinha tido muito da França durante
as guerras, muito obrigado.
Havia apenas uma coisa que ele poderia pensar em fazer. Apenas
uma coisa que não o deixaria completamente louco. Seu irmão Derek, o
duque, geralmente se acomodava em sua propriedade rural nesta época
do ano. A casa era grande e confortável. Collin adorava a sobrinha e o
sobrinho e gostava bastante da cunhada alegre, Lucy. Ele apreciava a
companhia do irmão mais velho e de seus sábios conselhos. Além disso,
Derek estava sempre disposto a falar sobre política. Pelo menos Collin
seria capaz de aproveitar isso, mesmo que ele não pudesse fazer realmente
um trabalho.
Chegando à St. James Street, dirigiu-se ao prédio onde ficava seu
apartamento no segundo andar. Abriu a porta da portaria e subiu as
escadas correndo. Ele puxou a chave do bolso interno do casaco e soltou
um suspiro profundo. Bem. Ele teve pouca escolha. Ele iria tirar umas
malditas férias, na casa de campo de Derek.

Capítulo Três

Erienne Stone passou a mão sobre o peito, respirou fundo e ergueu


o outro punho enluvado para usar a aldrava de bronze que ficava na porta
da frente da casa do Duque de Claringdon em Londres.
Ela não esperava ser escolhida para uma entrevista para essa posição
em particular, e agora que ela estava aqui, olhando a porta laqueada preta
da imponente casa, seu interior estava uma massa de nervos. Ela

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considerou brevemente dar meia volta e retornar correndo para o
escritório da Sra. Griggs.
A Sra. Griggs era uma mulher agradável e eficiente, que prometera
ajudar Erienne a encontrar um trabalho adequado como governanta, mas
Erienne não sabia que a dama apresentaria suas credenciais à ilustre
casa do Duque de Claringdon.
O último local de trabalho de Erienne fora em Shropsbury, cuidando
dois filhos queridos do Barão Hilltop, um amigo de seu pai. Tinha sido um
período adorável, onde ela ficou nos últimos catorze anos, mas as crianças
cresceram, como costumam fazer. Lady Hilltop tentou ajudar Erienne a
encontrar uma nova posição, mas não havia ninguém na área precisando
de uma governanta.
Por fim, Lady Hilltop ajudara Erienne a levar sua pequena mala para
Londres e lhe dera uma excelente referência para apresentar à Sra.
Griggs. Essa Sra. Griggs possuía um escritório de empregos na cidade, e
os amigos de Lady Hilltop haviam recomendado os serviços da mulher.
Erienne havia partido em uma carruagem ao meio-dia para Londres. Isso
foi há apenas um dia, e agora aqui estava ela, indo para sua primeira
entrevista na casa da cidade de ninguém menos que o renomado Duque
de Claringdon.
Ela poderia não estar tão nervosa se não conhecesse o Duque de
Claringdon. Ou, mais corretamente, o conhecera em sua juventude. Mas
ela duvidava muito que a Sra. Griggs acreditasse nela se dissesse à dama:
“Não posso ir a uma entrevista na casa do duque de Claringdon porque já
estive loucamente apaixonado por seu irmão”. Parecia insano até para
seus próprios ouvidos, e ela sabia que era mesmo verdade. Além disso,
mesmo que a Sra. Griggs acreditasse nela, a mulher poderia questionar a
sanidade de Erienne por deixar escapar o irmão de um duque.
De qualquer forma, isso tudo foi há muito tempo, e Erienne precisava
de trabalho. Ela não estava prestes a identificar isso como um assunto
particular e problemático e recusar sua primeira entrevista. Além disso,
ela duvidava muito que o ilustre duque, o duque herói de guerra, o Duque
de Claringdon, como ele veio a ser chamado, se lembraria de uma jovem
de Brighton que esteve na companhia de seu irmão Collin uma ou duas
vezes. Era presunçoso de Erienne pensar que o duque se lembraria de seu
nome ou rosto, especialmente se ela chegasse à sua porta na tentativa de
conseguir emprego com ele. Além disso, a dona da casa, a duquesa,
provavelmente seria a entrevistadora de uma governanta para seus filhos.
Erienne tinha pouco com que se preocupar.
Então, por que seu estômago estava atado enquanto esperava a porta
da frente abrir?
Quando isso aconteceu, um mordomo de aparência distinta ficou
parado, olhando para ela. A casa do Barão Hilltop era pequena e muito
menos imponente. Os criados tinham sido todos amigáveis e relaxados
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em comparação com o que ela ouvira sobre os criados nas casas da classe
superior em Londres. Por que, precisamente, ela pensou que seria uma
boa ideia vir a Londres?
— Sim? — o mordomo entoou, olhando para como se ela fosse um
limpador de chaminés com um nariz sujo de fuligem.
— Eu... — Ela engoliu o nó na garganta e tentou novamente. — Eu
estou aqui para ver a Duquesa de Claringdon, sua graça. Eu tenho uma
entrevista marcada — ela se apressou a acrescentar.
— Seu nome?
Merda. Claro que ela deveria ter dado seu nome primeiro. Ela tem se
comportado como uma completa pateta. — Eri... Erienne Stone.
O mordomo piscou para ela lentamente, seu rosto não registrando
nem o reconhecimento do nome nem a intenção de enviá-la para a ala de
empregados. Aparentemente, os criados das melhores famílias eram
treinados para não demonstrar nenhuma emoção. Ela faria bem em se
lembrar isso para sua próxima entrevista, porque não tinha a intenção de
garantir essa posição em particular. Mesmo se lhe oferecessem, seria uma
tola em aceitar. Ela tinha vindo aqui para agradar a Sra. Griggs, para
ganhar alguma prática na arte da entrevista, e porque a soma de dinheiro
que a Sra. Griggs mencionou como pagamento por ser a governanta na
casa de um duque era uma quantia mais do que suficiente para pagar
pela cirurgia de Peter.
E muito bem... Se ela fosse completamente honesta, ela também
chegou a pensar se havia alguma possibilidade de saber notícia, por mais
pequena que fosse, sobre... Collin.
O pensamento havia roubado o fôlego de seus pulmões, mas ela não
pôde se conter. Ela simplesmente não podia. Estava errado e era loucura,
mas ela não tinha conseguido evitar vir aqui hoje. Os jornais geralmente
traziam notícias sobre o duque e sua esposa, mas ela havia descoberto
pouco sobre Collin ao longo dos anos. Ela não pôde evitar sua
curiosidade. Não porque ela ainda se importava com ele. Nunca isso. O
envolvimento deles um com o outro havia sido uma vida atrás. Mas
apenas porque ela... se perguntava sobre ele de vez em quando. Ele estava
feliz? Ele era casado? Ele tinha um filho com seus próprios cabelos
escuros e olhos verdes?
O mordomo ficou de lado e abriu a porta, espalhando os pensamentos
de Erienne. — Entre. Sua graça está esperando você, Srta. Stone.
Erienne quase se dobrou de alívio. Ela entrou no imenso saguão
revestido de mármore e tentou não olhar para a sala requintada. Uma
escada dupla feita inteiramente de mármore e madeira polida e lustrosa
serpenteava em ambos os lados do espaço cavernoso. Pisos de mármore
branco e brilhante se estendiam à sua frente até onde os olhos podiam
ver. Mesas de madeira altamente polida estavam colocadas em ambos os
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lados da sala com candelabros de ouro elaborados enfeitando os centros
de ambas. O lugar cheirava a limão e cera cara, e um enorme lustre de
cristal pendia do teto entre os dois lados da escada.
O interior era escasso, mas lindo e de bom gosto, muito distante da
pequena cabana no final da rua onde Derek Hunt e seus dois irmãos
haviam crescido em Brighton. Ela sempre soube que os irmãos Hunt eram
especiais, mas o sucesso de Derek fez lágrimas arderem em seus olhos.
Ela rapidamente as piscou.
Ciente de seu olhar, Erienne fechou a boca. Ela não tinha certeza de
estar vestida o suficiente para entrar nesta casa, muito menos solicitar
um emprego dentro de suas magníficas paredes. Ela tinha certeza de que
o uniforme do mordomo custava mais do que os quatorze anos de salário
que recebera enquanto trabalhava para a família Hilltop. Ela agarrou a
sua pequena bolsa simples de algodão branco e olhou para o vestido de
algodão branco que vestia e a peles de lã verde-clara. Seus sapatos
infantis também eram brancos e também utilizáveis, mas na semana
passada ela havia acrescentado pequenas fitas de cetim à blusa para
torná-la mais elegante. Agora ela nunca havia ficado mais aliviada por ter
tido tempo para fazer algo tão frívolo.
— Posso pegar seu casaco e luvas? — Não encontrando seu olhar, o
mordomo estendeu um braço rígido para os artigos.
Erienne rapidamente removeu os dois itens e os entregou ao homem,
que os colocou de lado cuidadosamente antes de dizer: — Por aqui. — Ele
caminhou como uma estátua ganhando vida em direção a duas grandes
portas de madeira presas ao saguão.
Erienne se arrastou atrás dele para acompanhar seus passos largos,
engolindo em seco e esperando que ele não tivesse ouvido o barulho pouco
atraente. Sem dúvida, os criados em uma casa tão refinada não faziam
coisas tão vulgares como engolir. Havia pouco com que se admirar na casa
dos Hilltops.
O mordomo bateu uma vez antes de abrir as portas e entrar. Erienne
o seguiu e tentou não olhar para a linda dama sentada no sofá no centro
da sala. A mulher tinha cabelos pretos e encaracolados presos em cima
da cabeça. Ela usava um lindo vestido verde esmeralda e um sorriso
iluminava seus belos traços.
— Sua graça, — o mordomo entoou. — Posso apresentar a senhorita
Stone?
Para surpresa de Erienne, a senhora levantou-se, correu até ela e
agarrou as mãos dela como se estivesse se encontrando com uma amiga.
— Srta. Stone, eu estava esperando você. Por favor, venha e sente-se
comigo.
Erienne não teve escolha senão seguir a mulher de volta ao sofá.
— Por favor, traga chá, Hughes, — disse a duquesa.
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O mordomo assentiu, curvou-se e saiu.
A duquesa voltou a sentar-se e deu um tapinha no espaço ao lado
dela para indicar que Erienne deveria sentar lá. Erienne se abaixou o mais
graciosamente possível para o sofá e piscou para a duquesa. As grandes
damas se levantavam e cumprimentavam as governantas em potencial de
maneira tão amigável?
Aparentemente, este foi o caso, mas foi totalmente inesperado. E
pedir o chá como se fossem apenas amigas sentadas para fofocar? Muito
inesperado mesmo. Erienne ouvira dizer que a Duquesa de Claringdon
era linda e animada, mas não esperava... isso. A senhora era linda, no
entanto. Isso era verdade. Ainda mais de perto. Ela tinha dois olhos de
cores diferentes, uma avelã, outro azul, e seu sorriso era amigável e
travesso.
Erienne cruzou as mãos suadas no colo e observou a bonita duquesa
com cuidado.
As próximas palavras da grande dama a surpreenderam. — Quantos
anos você tem, senhorita Stone?
— Perdão? — Certamente ela ouvira a mulher incorretamente.
— Espero que você não pense que estou sendo rude, — continuou a
duquesa, — mas me perguntei se você tinha a idade do meu marido.
A apreensão deslizou pela espinha de Erienne. — Eu fiz trinta e dois
este ano, sua graça.
A duquesa bateu um dedo bem cuidado na bochecha e estreitou os
olhos como se estivesse profundamente pensativa. — E você vem de
Brighton, correto? Foi o que sua carta de recomendação disse.
— Recentemente, eu vim de Shropsbury, — respondeu Erienne.
Brighton? A Sra. Griggs mencionou Brighton?
A duquesa franziu o cenho. — Você já foi casada?
Erienne franziu a testa. Essas não eram exatamente as perguntas
que ela esperava quando aceitou vir a essa entrevista. O que seu local de
nascimento ou principalmente seu estado civil tinha a ver com ser uma
governanta? — Eu sou altamente qualificada, sua graça. Passei os
últimos catorze anos com o Barão e Lady Hilltop. Eles escreveram uma
adorável carta de recomendação para mim. Você gostaria de vê-la?
— Sim. Claro que acredito que você é altamente qualificada como
governanta, Srta. Stone. É só que…
O mordomo interrompeu a duquesa quando entrou na sala com a
bandeja de chá. Enquanto ele colocava sobre a mesinha e arrumava tudo,
Erienne se mexeu desconfortavelmente em seu assento. Estranhamente,
a duquesa nunca desviou o olhar incomum do rosto de Erienne, como se

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a mulher a achasse como uma espécie de quebra-cabeça convincente para
ser transportado de um lado para o outro.
— Chá? — a duquesa finalmente perguntou a Erienne, amavelmente,
voltando sua atenção para a bandeja.
Erienne nunca fora servida de chá por uma duquesa antes, mas
achou que seria rude recusá-lo depois que a mulher se deu ao trabalho
de entregá-lo. — Sim por favor? — Surgiu como mais uma pergunta do
que um pedido.
Talvez as boas famílias de Londres fizessem esse tipo de coisa. A
amiga de Erienne, Rebecca, que trabalhava como empregada pessoal de
Lady Hilltop, já havia trabalhado em Londres anteriormente. Mas Rebecca
não havia mencionado nenhuma dessas coisas. Agora que Erienne
considerava, Rebecca trabalhara para uma viscondessa. Talvez uma
duquesa faça coisas como servir chá aos criados. Tudo parecia bastante
estranho e desconfortável, no entanto.
A duquesa serviu uma xícara de chá a Erienne. — Açúcar? — ela
perguntou.
— Sim, por favor, um cubo.
— Apenas um? — Os olhos da outra mulher se arregalaram. Ela
largou o cubo solicitado na xícara e o entregou a Erienne antes de servir
sua própria xícara e começar a jogar uma quantidade excessiva de cubos
de açúcar nele. — Adoro açúcar no meu chá, — explicou ela com uma
risada.
— Entendo — respondeu Erienne, erguendo as sobrancelhas. Merda.
Ela poderia se chutar por uma resposta tão desinteressante.
— Agora o que eu estava dizendo? — A duquesa levou a xícara de chá
aos lábios e tomou um gole. — Ah, sim, perguntei se você já foi casada.
Você já?
Erienne respirou fundo. Claramente, a mulher estava interessada em
seu passado. Muito bem. Talvez tivesse razão. Alguém tão grandioso
quanto a duquesa não gostaria de descobrir mais tarde que a governanta
que empregara para criar seus filhos tinha algum tipo de história sórdida.
— Eu não fui, — ela respondeu calmamente. Eu cheguei perto uma
vez. E eu queria desesperadamente. Ela balançou a cabeça. De onde
vieram esses pensamentos? Ela não os contemplava há anos. Estar perto
de alguém que sem dúvida conhecia Collin possivelmente foi o suficiente
para desenterrar más lembranças.
De repente, ela teve um impulso selvagem de correr pela porta. Ela
olhou em direção a ela e se forçou a engolir outro gole de chá. Ela sabia
não deveria ter vindo aqui. Ela precisava acabar com isso o mais rápido
possível, agradecer à duquesa por seu precioso tempo e sair. Tinha que
haver uma posição mais adequada, menos imponente, com um bom
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visconde ou outra pessoa disponível. Ela pediria à Sra. Griggs que a
enviasse para uma entrevista mais razoável na próxima vez.
— Hmm. Mas você é de Brighton originalmente, não é? — a duquesa
continuou.
Isso foi torturante. — Eu nasci lá. Sim. — Erienne concentrou-se em
tomar pequenos goles de chá femininos, um após o outro.
A duquesa estreitou os olhos em Erienne. — Você conhece meu
marido? Ele era apenas Derek Hunt quando morava em Brighton, é claro.
A xícara de chá de Erienne começou instantaneamente a fazer um
barulho no pires, e ela rapidamente a colocou na mesinha e cruzou as
mãos trêmulas no colo. Como ela deveria responder? Foi por coincidência
que a duquesa estava perguntando se ela conhecera Derek em Brighton?
Derek não poderia ter visto seu nome e lembrado dela, poderia? Maldita
Sra. Griggs por mencionar sua ligação com Brighton. Independentemente
disso, Erienne não tinha intenção de mentir para a bonita duquesa. Qual
seria o objetivo?
— Eu me lembro de Derek Hunt. — Ela olhou para fora, pela janela.
— E de seus irmãos. — Ela engoliu em seco. Essa admissão tinha sido
mais difícil do que ela esperava.
— Collin? — a duquesa acrescentou, sua voz quase sem fôlego. —
Você se lembra de Collin, não é? — Quando Erienne olhou para ela
novamente, os olhos da mulher procuraram atentamente o rosto de
Erienne, com o que ela só poderia descrever como... esperança?
Isso foi pior do que horrível. Foi torturante. Erienne respirou fundo e
pressionou a mão na cintura, que estava tremendo de consternação.
Esperava que ela conseguisse chegar à esquina antes de chorar. Foi uma
ideia horrível vir aqui.
— Sua graça, não tenho certeza de que seria a melhor pessoa para
esta posição.
Ela tentou se levantar, mas a duquesa estendeu a mão, colocou a
mão no braço de Erienne e apertou suavemente. — Não, por favor fique.
Não pretendia deixá-la desconfortável, Srta. Stone.
Com o coração batendo forte no peito, Erienne se forçou a sentar-se
novamente. Ela mordeu o interior da bochecha e rezou para que a
dignidade permanecesse calma. Como a Duquesa de Claringdon ouviu
falar dela? Como a grande dama soube de seu passado com Collin? Nada
disso fazia sentido. Certamente ela estava em um sonho e acordaria a
qualquer momento, de volta ao seu pequeno dormitório na propriedade
do Barão Hilltop, os pássaros cantando na árvore do lado de fora da sua
janela.
A duquesa colocou a xícara de chá de lado e puxou uma folha de
pergaminho da mesa à sua frente. Ela olhou para cima e para baixo e
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depois voltou para Erienne. — Você é altamente recomendada. Segundo
a Sra. Griggs, seu emprego anterior foi com um menino e uma menina em
Shropsbury.
Erienne soltou um suspiro de alívio. Ela podia respirar novamente
agora que a entrevista era mais habitual. — Sim, Timothy e Evelyn. Eles
são filhos adoráveis. Eu os adorava.
— Eu tenho um menino e uma menina, — disse a duquesa. — Mary
pode ser um pouco difícil de lidar às vezes. Mas ouso dizer que, com
apenas dois anos de idade, Ralph é quase tão charmoso quanto seu pai.
Erienne sorriu com isso. — Mary e Ralph. Esses são nomes
adoráveis.
Um sorriso iluminou os olhos incrivelmente coloridos da duquesa. —
Sim, nós os batizamos em homenagem à minha amada tia e ao meu irmão
que morreu na infância.
— Lamento ouvir isso — respondeu Erienne, olhando para os seus
sapatos. Ela sabia como era lamentar por um irmão. Peter ainda poderia
estar vivo, mas seus ferimentos haviam exigido sua fala e movimento.
— Você tem irmãos ou irmãs, senhorita Stone?
Erienne levantou a cabeça novamente para encontrar o olhar atento
da duquesa. — Eu tenho um irmão. Ele ficou gravemente ferido na
guerra.
— Ah não. Sinto muito — respondeu a duquesa, sua voz suavizando.
— Muitos bons homens foram feridos ou mortos nas guerras. Derek
conhecia muitos deles.
Erienne assentiu solenemente. Ela pegou sua xícara novamente e se
atreveu a tomar um gole. Ela precisava manter a conversa no tópico. A
duquesa não queria saber dos ferimentos de guerra de Peter. — Eu nunca
trabalhei em uma família tão boa assim, sua graça. Não tenho certeza de
que estaria qualificada para...
— Isso não importa para mim, — respondeu a duquesa. — Gostei
bastante do que você disse em sua carta sobre ser gentil, mas também
rigorosa. Mary precisa disso.
Erienne assentiu. — Sim, bem, eu tenho certeza que você recebeu
muitas outras cartas de mulheres muito mais qualificadas do que eu.
— A pilha de cartas tinha quase um palmo de altura, — admitiu a
duquesa com um meio sorriso.
A xícara quase caiu da mão de Erienne. — Você está falando sério?
— Inteiramente. — A duquesa suspirou. — Eu ainda não verifiquei
todas elas.

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Erienne ajeitou os ombros. — Espero que isso não me pareça mal-
educado, sua graça, mas por que, em nome do céu, você me escolheu para
entrevistar se você tem tantas candidatas para o cargo?
A duquesa enfiou um cacho escuro atrás de uma orelha e tomou
outro gole de seu chá açúcarado, deixando de esconder completamente
seu sorriso malicioso atrás da xícara delicada. — Porque você, Srta.
Stone, era a única candidata pela qual meu cunhado Collin
aparentemente foi apaixonado.

Capítulo Quatro

O cabriolé mal parou perto dos degraus da frente de Huntingdon, a


propriedade rural do irmão de Collin, quando dois criados apressados
saíram para pegar sua bagagem. Derek saiu a passos largos da casa atrás
deles. Ele parou ao lado do seu irmão e bateu nas costas dele. — Eu
pensei que você não estaria aqui até amanhã, Coll.
— Sim, aceite minhas desculpas pela minha vinda antecipada. Eu
pretendia passar mais um dia em Londres, terminando uma papelada,
mas Treadway me encontrou no meu escritório e levou embora a maldita
papelada. Eu tive que me esgueirar como um maldito espião.
Derek jogou a cabeça para trás e gargalhou. — Você é um espião e,
aparentemente, não é muito bom se não pode iludir Treadway.
— Eu não tinha ideia que ele me caçaria igual a um criminoso, —
resmungou Collin.
Derek riu novamente. — Isso soa como Treadway. Não se preocupe
por ter chegado mais cedo, no entanto. Acabamos de chegar hoje pela
manhã. Entre no escritório e tome uma bebida comigo.
Os lacaios saíram apressados com a mala de Collin, e Derek entrou
na casa. Atravessaram o saguão fino e desceram um corredor de mármore
até as portas de madeira escura do escritório. A casa grande cheirava a
limão e pinho. Obviamente, os servos estavam trabalhando duro para
prepará-la para a chegada de seu mestre.
Assim que entraram no estúdio, Derek foi imediatamente para o
aparador e serviu dois copos de conhaque. Ele entregou um a Collin antes
de se sentar atrás da grande mesa de mogno que enfeitava o centro da
16
sala. Collin aceitou o copo e foi até a janela. Apoiou um ombro na parede,
cruzou os pés nos tornozelos e olhou através do prado em direção ao lago
nos fundos da propriedade. Deus, era bom estar no campo. Um pouco de
seu ressentimento por Treadway diminuiu um pouco, por mais que Collin
tentasse se apegar a ele.
— Veio relaxar um pouco, não foi? — Derek perguntou, recostando-
se em sua grande cadeira de couro.
Collin suspirou e passou a mão pelos cabelos. — Eu não tive escolha.
— Ele tomou um gole de conhaque.
— O que exatamente Treadway disse a você?
Um sorriso sombrio apareceu no rosto de Collin quando ele olhou
para seu irmão. — Ele me disse que eu poderia fazer o que quisesse na
próxima quinzena, desde que não fosse trabalho.
— E então ele pegou você trabalhando? — Derek perguntou com um
sorriso.
Collin abaixou as sobrancelhas. — É ridículo forçar alguém a tirar
férias.
Derek inclinou a cabeça para o lado e olhou para o irmão. — Pode
fazer algum bem, você sabe.
Collin revirou os olhos. — Você não começa também.
Derek contemplou o líquido marrom em seu copo. — Estou apenas
dizendo que relaxar não é tão terrível assim.
— Também não é o que parece ser. — Collin tomou outro gole e, desta
vez, queimou em sua garganta e se estabeleceu quente em seu intestino.
— Estou satisfeito, pelo menos, por você ter decidido vir nos visitar.
Nós vamos nos divertir. Vamos caçar, andar a cavalo, jantar com a
nobreza local. Beber. — Derek levantou o copo com um sorriso.
Collin encostou a cabeça na moldura da janela e suspirou. — Sim,
decidi que, se devo passar um tempo longe do trabalho, devo visitar minha
sobrinha e sobrinho. — Ele olhou para a porta. — Onde está Lucy, a
propósito?
— Cuidando das crianças, — respondeu Derek. — Ela acabou de
contratar uma nova governanta, e tem estado ocupada mostrando à
mulher como ela gosta que o berçário seja administrado.
Collin virou a cabeça para olhar para o irmão. — O que aconteceu
com a outra governanta? Srta. Langley, não era?
Derek abriu um sorriso. — Ela se casou.
— Graças aos céus, — respondeu Collin. — Ela era uma jovem
adorável, mas tive a nítida impressão de que Lucy estava tentando me
combinar com ela. Isso me deixou desconfortável.

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Derek riu. — Você não estava errado. Lucy adora mesmo dar uma de
casamenteira, como eu tenho certeza que você mesmo percebeu. Ela
tentou combinar a pobre Srta. Langley com metade dos convidados do
sexo masculino que entraram nessa casa, antes que o Sr. Benton
aparecesse.
Collin olhou pela janela novamente. — Desejo-lhes felicidades.
— Eu também. Só espero que Lucy não tente fazer igual com essa
nova governanta.
Collin saiu da janela e caiu em uma das duas grandes cadeiras de
couro que davam para a mesa de Derek. Ele arrumou sua jaqueta. Ele
havia descartado seu uniforme e colocado roupas comuns, roupas que
por sinal raramente usava. Ele se sentiu estranho nelas. — Ela é
graciosa?
Derek tomou outro gole de conhaque. — Honestamente, eu não sei.
Ainda não a conheci. Lucy a contratou pouco antes de deixarmos Londres
e forneceu-lhe a tarifa para ela pegar a diligência até aqui. A mulher
chegou hoje pela manhã, nem uma hora depois de nós, e Lucy a levou às
pressas para os aposentos das crianças antes que eu tivesse a chance de
cumprimentá-la.
— Bem, a pobre mulher deve ter cuidado. Se ela não quiser se casar,
Lucy pode não ser a melhor escolha de empregadora para ela — disse
Collin, rindo.
— Tentei explicar a Lucy, muitas vezes, que não será fácil manter
uma governanta para as crianças se ela continuar casando-as uma a
uma. — Derek suspirou. — Mas Lucy parece não conseguir se conter. Ela
diz que é uma casamenteira no coração.
Collin entornou o resto da bebida. — Desde que ela não tente me
comprometer, eu estou bem com isso.
— Vou ter certeza de lembrá-la para deixar você em paz, — disse
Derek. — Agora, o que está na agenda para a próxima quinzena?
Collin suspirou e esticou as pernas na frente dele, olhando
tristemente para o reflexo da luz do sol em suas botas polidas. — Suponho
que deveria ver algo sobre relaxar. Para esse fim, pretendo ter uma estadia
completamente pacífica no campo, com absolutamente nada para me
preocupar.
Derek levantou o copo. — Eu vou beber a isso.

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Capítulo Cinco

Erienne olhou ao redor do magnífico dormitório que pertencia a Lady


Mary Hunt, a adorável, precoce, filha de três anos de idade da duquesa. A
criança era tão bonita quanto a mãe. Ela tinha o cabelo preto cacheado
da duquesa e os olhos escuros de seu pai. Lady Mary já se apaixonara por
Erienne, fazendo uma reverência perfeita e dizendo: — É um plazer
conhecê-la, senholita Stwone.
Erienne e Lucy entreolharam-se, escondendo seus sorrisos, enquanto
Erienne fazia uma reverência semelhante à pequena Lady Mary. — O
prazer é meu, Lady Mary. E posso dizer que você tem boas maneiras, de
fato.
— Te agladeço, — respondeu Lady Mary. Ela juntou as mãozinhas e
perguntou: — Você tem um Cau?
— Um Cau? — Franzindo a testa, Erienne olhou para Lucy em busca
de uma interpretação.
Lucy sorriu e balançou a cabeça. — Ela quer um cachorro. Ela está
pedindo um desde que ela consegue falar.
— Ah — disse Erienne, levantando as saias e agachando-se para ficar
ao nível dos olhos de Lady Mary. — Eu não tenho um cão, mas gostaria
muito de um. Eu adoro eles.
Lady Mary bateu palmas. — Oh, boum, — a menina exclamou. — Eu
quelo nomear meu cau de Cinderwella.
Erienne apertou os lábios para não rir. Ela percebeu que a garotinha
levou o assunto de procurar um cachorro e nomeá-lo muito a sério. —
Cinderela?
— Eu dei esse livro para ela em seu aniversário. Ela o adora —
explicou Lucy.
Erienne voltou sua atenção para Lady Mary. — Bem, acho que Ella é
um nome perfeitamente adorável para um cachorro.
— Eu adolo — disse Lady Mary, radiante.
Lucy colocou a mão no ombro da filha. — Vá brincar com Ralph e
Anna no canto, querida, — disse ela, apontando para onde seu filho e
uma babá estavam do outro lado da sala, perto de uma pilha de blocos de

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madeira. Ralph estava sentado ereto, balançando um dos blocos em seu
pequeno punho. Mary alegremente saiu correndo para se juntar a eles.
— Anna será sua assistente, — Lucy continuou orientando Erienne,
apontando para a jovem empregada. — Ela é a babá das crianças desde
que elas nasceram.
Erienne piscou. — Assistente?
— Sim. — Lucy acenou com a mão no ar. — Você sabe, para quando
precisar de alguns momentos de paz. Ou ajuda com as lições. Você
também terá uma empregada que serve suas refeições e as deles, e outra
empregada que lava suas roupas e as deles, e alguém que limpa os
quartos de vocês e...
— Não estou acostumada a ter ajuda. — Erienne nunca tinha ouvido
falar de tal coisa. Na Hilltop House, a ela e aos outros empregados tinham
sido servidas refeições pelos criados subordinados, mas esse tratamento
era a adição de qualquer ajuda que ela recebeu em sua posição. Ela
certamente nunca teve uma babá para ajudar a cuidar das crianças, ou
uma empregada para limpar o seu quarto ou para lavar sua roupa. Ela
era responsável por lavar a sua própria roupa na lavandaria todas as
semanas.
— Eu entendo, — respondeu Lucy. — Mas acho melhor se você
conseguir se concentrar nos estudos das crianças. Quero que os dois
comecem a aprender francês imediatamente.
— Claro. — Erienne não ia discutir com a duquesa a extravagância
de sua casa. Além disso, era lógico que em um lar tão bom haveria mais
empregados. Mas era mais uma razão pela qual ela ainda não estava
totalmente certa de por que havia aceitado essa posição. Ela alguma vez
se sentiria confortável aqui?
— Eles são filhos queridos, — disse Erienne. — E nunca vi camas tão
finas. — Ela gesticulou em torno do espaço cavernoso que era o quarto de
Lady Mary.
Lucy passou o braço pelo de Erienne. — Agora, deixe-me mostrar
seus quartos.
— Quartos? — Erienne ecoou.
Ela assumiu que teria um quarto, sem dúvida um adorável, mas na
Hilltop House, suas acomodações estavam limitadas a um único quarto
na área de serviço.
— Anna, nós voltaremos em breve, — Lucy chamou a ama, que
assentiu e continuou a brincar com as crianças.
Elas deixaram o quarto de Maria e passearam pelo corredor,
passando pelo igualmente grande quarto de Ralph até o final do corredor,
onde Lucy abriu uma porta larga para revelar um quarto que roubava o
fôlego de Erienne.
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— Este é o seu quarto de dormir — disse Lucy, passando a mão na
frente dela enquanto mostrava a Erienne o espaço enorme e decorado
elegantemente. O quarto era muito maior do que o que ela tinha ocupado
na residência dos Hilltop, decorado em tons de verde e lavanda. Sua cama
era uma coisa grande e extravagante, com uma tenda de cetim branca por
cima, um colchão novo, almofadas macias combinando e os melhores
lençóis brancos que ela já tocara. Flores frescas e velas de cera (sem sebo)
repousavam sobre a mesa de cabeceira. Erienne quis beliscar-se com
alegria.
Lucy apontou. — Por aquela porta está a sala de estar e ali está o
vestuário.
— Vestuário? Eu tenho meu próprio camarim? — Erienne não pôde
se conter. Ela levantou as saias e correu pela primeira porta. O camarim
tinha sua própria penteadeira com um banquinho estofado de cor lavanda
em frente a ele. O topo da mesa estava cheio de potes e garrafas, uma
escova de cabo de prata e um espelho combinando. Havia um grande
espelho no canto e um guarda-roupa quase o dobro do tamanho do que
ela havia recebido na Hilltop House.
Mantendo os lábios firmemente pressionados para esconder seu
espanto, Erienne se virou e caminhou de volta pelo quarto para a sala de
estar. Lucy a seguiu, observando com um leve sorriso.
A sala de estar era um espaço aconchegante, com um carpete
obviamente caro, e (oh, Deus!) Ela também tinha sua própria lareira nesta
sala, pelo amor de Deus. Uma cadeira de aparência confortável, com um
banquinho, estava ao lado da lareira, com uma pequena mesa ao lado. As
paredes estavam alinhadas com estantes caiadas de branco de todas as
coisas maravilhosamente bem-vindas. Uma infinidade de livros enfeitava
as prateleiras. Havia uma manta de cor creme espalhada sobre a cadeira,
e dois chinelos macios e forrados de pele estavam em frente ao banquinho.
Um serviço de chá banhado a prata descansava em cima da mesinha,
completando o pequeno espaço perfeitamente relaxante.
Erienne se virou para encarar Lucy e não pôde evitar a maravilha que
sem dúvida brilhava em seus olhos. Ela apertou as palmas das mãos nas
duas bochechas. — Esses quartos são além de magníficos, sua graça. Eu
não poderia...
— Ah, ah, ah. — Lucy apontou um dedo para ela. — Eu já te disse,
você deve me chamar de Lucy. Não mantemos formalidade com nossos
servidores de confiança nesta casa. E não ouse recusar esses aposentos.
Eles foram feitos para você. E bem merecidos. Você precisará de tempo
para si mesma depois de gastar muitas energias com as crianças.
Erienne exalou o fôlego. — Eu ia dizer que não poderia pedir mais.
— Excelente, — Lucy respondeu com um sorriso brilhante. — Estou
tão feliz que você esteja satisfeita.

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Erienne voltou para o quarto. Ela não percebeu a princípio, mas na
parede oposta havia uma pintura adorável de duas meninas brincando
em um campo florido e brilhante. Ao olhar para ela, seu coração inchou.
Ela sempre quis uma irmã, e seu sonho mais apaixonado era ter duas
filhas. Mas isso foi há muito tempo, quando ela se permitiu fazer coisas
como sonhar com casamento e ter seus próprios filhos.
Ela balançou a cabeça. Não adiantava contemplar o passado. Ela
deve olhar para o futuro. Essa não era sua máxima desde o dia em que
deixou Brighton para trás, enxugando as últimas lágrimas e se recusando
a derramá-las novamente por qualquer homem.
Acima de tudo, Collin Hunt.
— Vou deixar você olhar em volta um pouco, — disse Lucy. —
Encontro você no berçário quando estiver pronta.
Erienne assentiu alegremente e olhou em volta. Ela não se demorou
muito, mas apreciou os poucos minutos que teve, para explorar sua nova
casa. Ela esteve apreensiva em concordar com essa posição. Desde o
primeiro encontro com Lucy, ela recusou completamente mais de uma
vez. Mas a duquesa se recusou a aceitar um não como resposta. Não foi
até que Lucy mencionar uma quantia em dinheiro que Erienne raramente
sonhou em ganhar, que ela finalmente cedeu e disse à duquesa que
pensaria sobre isso. Afinal, o valor que Lucy havia oferecido pelo salário
de um mês era mais do que ela havia ganhado em um ano inteiro no
Hilltops.
Erienne seria uma completa tola em recusar o que a duquesa lhe
oferecia. Seu irmão precisou de cirurgia para remover uma bala das
costas e ela estava acostumada a enviar todo o seu dinheiro para casa. Ela
não podia deixar passar a oportunidade de pagar todas as contas médicas
de Peter, e mais algumas, devido ao fato de que ela poderia encontrar um
certo homem de seu passado se ela assumisse esse cargo de governanta
aqui. Isso teria sido totalmente egoísta da parte dela. Ela estava apenas
pensando sobre isso, no entanto, nem um pouco convencida de que
assumiria essa posição, mas havia descoberto com grande pesar que Lucy
Hunt podia ser extremamente convincente, quase ridiculamente, quando
ela queria ser. Ela enviava cartas a Erienne todos os dias implorando para
que ela aceitasse, além de presentes de vestidos, flores e livros. Ela até
escreveu para Lady Hilltop e pediu que ela escrevesse uma boa palavra
para ela.
A senhora escrevera um pós-comentário para dizer a Erienne que
perderia o juízo se ela recusasse uma posição na ilustre casa da Duquesa
da Claringdon. “Acho que toda a Hilltop House poderia caber em um
dormitório em Huntingdon.”
Mas agora que ela estava realmente aqui, o corpo de Erienne estava
cheio de nervosismo com a perspectiva de ver Derek. Lucy contou a ele

22
sobre ela? Ele tinha que se lembrar dela. De que outra forma Lucy sabia
quem ela era?
Erienne não tinha muita esperança (medo?) de ver Collin. Lucy havia
dito que ele trabalhava constantemente e morava em um apartamento em
Londres. Ele costumava ser encontrado em seu escritório em Whitehall,
nenhum dos lugares em que Erienne seria provável visitar em seu papel
de governanta dos filhos do duque e da duquesa. Ela supôs que poderia
enfrentá-lo eventualmente em algumas ocasiões festivas como o Natal,
mas isso estava muito longe.
Erienne se arrastou para ficar em frente à pintura das duas garotas.
Ela admitiu seu passado com Collin para Lucy, mas subestimou
significativamente o efeito que isso teve sobre ela, embora tivesse pedido
a Lucy que prometesse não tentar marcar um encontro. — Sei que isso
pode acontecer, mas eu não gostaria, de jeito nenhum, se você fosse...
arranjá-lo. — Ela pigarreou, esperando que a duquesa não fizesse muitas
perguntas pessoais sobre seu passado com Collin.
— Eu entendi completamente — respondeu Lucy, dando um tapinha
no ombro dela e dando a ela um olhar simpático que Erienne apreciou
muito.
Esse foi o fim de sua discussão sobre Collin, graças a Deus.
Agora, Erienne girou em um círculo, contemplando a deslumbrante
paisagem mais uma vez. As crianças pareciam bem-comportadas, o
salário era exorbitante e a suíte dela era magnífica. Ela pode até ter um
momento constrangedor com Derek no começo, e um dia ela pode ter que
sofrer um encontro torturante com Collin, mas ela se preocupará com isso
quando chegar a hora. Por enquanto, ela pretendia aproveitar cada
momento dessa nova posição gloriosa.
Lucy foi além de generosa permitindo-lhe alguns momentos para se
instalar. Ela deveria voltar. Ela não deve tirar proveito da generosidade da
duquesa. Erienne correu para o corredor, fechando a porta dos aposentos
atrás dela e voltou para o quarto das crianças.
Quando ela entrou na sala, ela parou, com a respiração presa na
garganta.
Collin estava parado lá.
O coração de Erienne bateu tão forte que seu peito doía. O homem
alto, de cabelos escuros, afastado dela, os ombros largos bloqueando Lucy
da vista dela, mas ela podia ouvir a voz da duquesa vindo do outro lado
dele. Espera. Não. Não era Collin. Ela fechou os olhos e soltou o ar
reprimido. Era Derek. Claro que era Derek, não Collin, parado ali. Os dois
irmãos simplesmente se pareciam muito. Ela tomou um gole fortificante
de ar por uma boa medida e endireitou os ombros.
— Sua graça? — ela chamou suavemente.

23
Lucy contornou o grande marido, com um sorriso largo no rosto
quando Derek se virou para Erienne.
— Ah, aqui está ela agora. Eu estava apenas contando a Derek sobre
você — disse Lucy.
Erienne abaixou o queixo, mas se forçou a encontrar os olhos de
Derek, que se arregalaram instantaneamente. A última vez que o viu, ele
tinha talvez dezessete anos de idade. De licença do exército, ele voltara
para casa para visitar sua família. Ele era um jovem alto e bonito, e agora
ele era maior e ainda mais bonito. Exceto por seus olhos escuros, ele se
parecia muito com Collin.
Os joelhos dela quase se dobraram. Por que ela fez isso consigo
mesma? O dinheiro e os aposentos realmente valiam esse lembrete
constante de Collin? Ela apertou os lábios. Dificilmente.
Lucy correu para o lado e passou o braço pelo de Erienne, como havia
feito tantas vezes antes. — Derek, posso apresentar a senhorita...
— Stone, — Derek terminou, seu olhar escuro estreitado nela. Seu
rosto estava completamente desprovido de emoção, mas suas narinas se
abriram.
Erienne concentrou-se em controlar sua respiração irregular. Ela não
tinha ideia se Lucy havia dito a Derek que havia contratado uma
governanta de Brighton, que ele conhecera uma vez. Provavelmente a
duquesa tinha, dado que Lucy já sabia o que Collin significou para
Erienne. Onde mais Lucy teria sabido sobre seu passado com Collin, se
não com Derek?
Mas Erienne também assumiu que Derek concordou com a decisão
de Lucy de contratá-la, ou ela não estaria aqui. Agora, olhando a carranca
óbvia no rosto do duque, Erienne percebeu que havia cometido um erro
grave. Ela não deveria ter assumido que Lucy havia dito ao marido que
havia contratado a garota que costumava amar Collin. Merda. Merda.
Merda. Isso foi terrivelmente estranho.
— Boa tarde, sua graça, — disse Erienne tardiamente, soltando sua
mais formal reverência.
Um músculo bateu na mandíbula de Derek. — Senhorita Stone, —
ele entoou. — Prazer em vê-la novamente. Já faz muitos anos. — Ele
apertou as mãos atrás das costas retas. Era óbvio que o homem havia
passado muitos anos em batalha. Ele chamava atenção, mesmo que
simplesmente se dirigisse à sua nova governanta.
Erienne teve que reprimir o desejo de se esconder atrás de Lucy. —
Muitos, muitos anos — ecoou Erienne, desejando que o chão se abrisse e
a engolisse.
Anna, a babá, estava fazendo um bom trabalho mantendo as crianças
ocupadas no canto, então Erienne não podia nem usar isso como
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desculpa para fugir e cumprir suas obrigações. Em vez disso, ela ficou
parada, imóvel como uma estátua, enquanto Derek se virava para a
esposa e dizia em um tom claramente entrelaçado de raiva: — Lucy, posso
falar com você? Em particular.

Capítulo Seis

Lucy bateu no ombro de Erienne e deu-lhe um sorriso encorajador


antes de seguir Derek para fora do quarto de dormir de sua filha Mary.
Eles andaram pelo corredor e dobraram a esquina, onde não seriam
ouvidos pelas duas criadas ou pelas crianças.
O músculo continuou a bater na mandíbula de Derek quando ele se
virou para ela e disse: — Você me prometeu que não escolheria uma
governanta com base em seu relacionamento anterior com Collin.
Lucy assentiu. — E eu não fiz. Encontrei-me com a Srta. Stone e
conversei com sua antiga empregadora, bem como com a mulher que a
recomendou no escritório de emprego. A senhorita Stone é altamente
qualificada. Ela fala francês fluentemente e...
— Lucy, — a voz de Derek era baixa e agitada, um tom que ela não
costumava ouvi-lo usar. — Você prometeu...
Ela cruzou os braços sobre o peito. — Eu nunca prometi
não contratar a senhorita Stone. Só prometi não contratar a Srta.
Stone apenas por causa de sua conexão com Collin. E eu lhe asseguro
que não foi assim. — Ela terminou sua frase com um firme aceno de
cabeça.
Derek passou a mão pelos cabelos e soltou um suspiro obviamente
frustrado. — Mas você está pretendendo jogar de casamenteira com a
senhorita Stone e Collin, não é?
Lucy levantou um ombro em um encolher de ombros. — Se acontecer
que eles se vejam, não posso evitar que os dois ainda tenham sentimentos
não resolvidos um pelo outro.
Derek estreitou os olhos. — Como assim, se isso acontecer? Claro que
isso vai acontecer.

25
Lucy colocou um cacho atrás da orelha e afetou uma expressão
pensativa. — É verdade. A Srta. Stone estava realmente preocupada com
a possibilidade de encontrar Collin, é claro, mas eu garanti a ela que
raramente o vemos.
Derek xingou baixinho e caminhou em direção a uma janela próxima,
onde olhou através do prado. — Inferno, Lucy. Collin está aqui.
Seus olhos ficaram redondos como pires. — O que?
Derek deu um breve aceno de cabeça. — Ele chegou hoje de manhã.
Ele escreveu uma carta para mim há pouco tempo, dizendo que Treadway
havia ordenado que ele tirasse férias. Ele ficará aqui pela próxima
quinzena.
Lucy apertou os lábios para não sorrir e inclinou o nariz no ar. —
Bem, você não pode me culpar por orquestrar isso, pois de alguma forma
você achou adequado não me informar que Collin estava chegando.
Derek bateu o lado do punho contra a parede. — Merda. Merda.
Merda. Escapou da minha mente. Além disso, eu sabia que você não
ficaria nada satisfeita com a visita de Collin.
— Claro que estou. Eu adoro Collin.
— Sim, mas agora você usará a visita dele aqui para dar uma de
casamenteira. Eu sei o que estou dizendo. Seus olhos já estão brilhando
de alegria e malícia, não preocupados como deveriam estar.
Lucy acenou com a mão no ar. — Eu não posso me culpar por como
meus olhos brilham, querido. Mas admito, estou satisfeita. Ainda mais
satisfeita agora, para ser honesta. — Ela esfregou as mãos.
— Oh, não, você não, — Derek avisou, seus olhos se estreitaram
nela. — Você não desiste do que quer facilmente.
Lucy piscou inocentemente. — Não vejo como você pode me culpar.
Eu não convidei Collin para vir até aqui. Ele veio por vontade própria. Isso
não tem nada a ver com minhas maquinações ou jogos, embora eu admita
livremente que é uma virada positivamente maravilhosa de eventos.
— Que inferno, Lucy. — Derek fez uma careta e voltou-se para a
janela. — Por que essas coisas sempre parecem acontecer quando você
pratica seus truques de casamenteira? Se você não tivesse contratado
uma governanta com quem Collin tivesse uma história, não precisaríamos
nos preocupar com o constrangimento iminente.
— Você está pensando em tudo isso de uma forma muito errada,
querido, — disse ela com um suspiro, colocando a mão nas costas dele e
dando um tapinha. — O mundo tem uma maneira de fazer as coisas
acontecerem exatamente quando elas devem ser feitas. Longe de mim
interromper a ordem natural de tais coisas.

26
Derek virou-se para encará-la e esfregou o queixo. — Suponho que
poderíamos tentar mantê-los separados enquanto Collin estiver aqui...
— Absurdo. Por que devemos fazer isso? Claramente era para ser
assim.
— Nem tudo deve ser, — disse ele secamente. — Algumas coisas são
erros e devem ser evitadas a todo custo.
Lucy colocou os braços em volta da cintura do marido e o apertou. —
Eu acredito que você está esquecendo como nos conhecemos, querido. Eu
estava tentando impedir que você cortejasse minha amiga mais próxima,
que não queria nada com você, e você estava tentando me convencer a
deixá-lo em paz. Se nosso namoro não fosse para ser, acho que Mary e
Ralph não estariam aqui agora.
— Isso é diferente. — Sua expressão severa suavizou quando ele
olhou para ela e colocou um cacho errante atrás da orelha. — Isso foi...
nós.
— Preciso lembrá-lo, então, de como Cass e Julian se conheceram
depois que ela fingiu ser uma pessoa inexistente chamada Patience
Bunbury? — Lucy voltou o olhar com as sobrancelhas levantadas. — Ou
como Jane e Garrett se apaixonaram porque dissemos a cada um deles
que o outro já estava apaixonado por eles, assim como Beatrice e
Benedick em Muito Barulho por Nada? — Ela fez uma pausa e bateu na
bochecha, procurando em sua mente por mais munição. — Eu poderia
continuar.
— Por favor, não. — Ele levantou as duas mãos em sinal de rendição.
— O fato é que, no entanto, não temos ideia do que aconteceu na época
com Collin e a Srta. Stone. E se eles nunca mais quisessem se ver? Você
mesma disse que a senhorita Stone expressou preocupação em ver Collin.
Lucy deu um passo atrás e deu outro encolher de ombros. — Existe
apenas uma maneira de descobrir o que acontece, e que é revelado
quando os caminhos se cruzam.
Derek recostou-se na parede e abaixou a cabeça. — Collin nunca vai
acreditar que não fizemos isso de propósito, você sabe.
— Ele ficará bem. Ele é um homem crescido, e você mesmo disse que
já faz anos. Além disso, ele pode partir se estiver ofendido pela presença
dela.
Derek soltou um suspiro e seus ombros se levantaram e relaxaram. —
Muito bem. Mas devemos lidar com isso delicadamente.
Lucy alisou as saias. — Delicadamente? O que você quer dizer?
— Quero dizer que você precisa informar a senhorita Stone que Collin
está aqui e eu preciso dar a notícia a Collin. Merda. Merda. Merda.

27
Capítulo Sete

Collin encurralou sua montaria para olhar através do vale em


direção à imensa floresta que ladeava a propriedade de Derek. A
propriedade gigante de vários acres ficava a um mundo de distância da
pequena cabana onde haviam crescido em Brighton. O pai deles era
militar, mas ele não havia subido na hierarquia. Pelo contrário, ele havia
recebido alta do exército por beber demais. Mas isso não o impediu de
começar a trabalhar com seus filhos para garantir que eles se tornassem
os melhores espécimes militares que poderiam ser.
Ele tinha sido particularmente duro com Derek, forçando o jovem a
tomar decisões rapidamente e sem piedade. Uma vez, ele jogou o veleiro
premiado de Derek e seu filhote de cachorro em duas direções diferentes
em um riacho com uma forte correnteza. Derek salvou o filhote, é claro,
mas a crueldade de seu pai em tornar seus filhos durões havia poucos
limites.
Ele conseguiu, é claro. Agora Derek era conhecido como o Duque de
Claringdon e estava ao lado de Wellington, parte integrante da vitória em
Waterloo. Por seus esforços, Derek recebeu um ducado e Huntingdon, a
grande propriedade que Collin agora observava.
Collin havia escolhido um caminho um pouco diferente. Ele também
subira rapidamente nas fileiras do exército, mas usara suas habilidades
de tomada de decisão não em batalha, mas em se tornar um dos espiões
mais talentosos do Departamento de Guerra. Ele fora essencial para
frustrar muitas das conspirações do imperador e correu um perigo
extremo atrás das linhas inimigas mais vezes do que queria contar. Ele
usou sua inteligência e astúcia para prever o que os franceses fariam a
seguir, e recebeu muitas medalhas e se promoveu várias vezes como
resultado de seu sucesso na carreira militar.
Quando as guerras terminaram, Derek se estabeleceu para se casar
e se tornar pai. Ele conheceu Lucy logo depois de voltar da Bélgica, e era
óbvio para quem via os dois juntos que eles eram um par perfeitamente
combinado.
Collin, no entanto, havia se dedicado novamente ao serviço militar de
sua majestade e continuado a assumir missões inglesas em solo nacional
e no exterior. O casamento não estava nas cartas para ele, e não era algo

28
em que ele se permitia pensar muito nisso. Ele havia chegado perto do
casamento apenas uma vez, e tinha sido uma das coisas mais dolorosas
que ele já experimentara. Ele não queria revisitar essas velhas emoções.
Isso não impediu, no entanto, sua mãe ou sua cunhada, Lucy, de
tentar colocar possíveis noivas em seu caminho. Ao longo dos anos, Lucy
o apresentou a dezenas de jovens, e ele sabia muito bem que ela esperava
que ele se apaixonasse loucamente por uma delas. Ele sempre as
mantinha à distância, no entanto. Perfeitamente educado, mas de forma
alguma indicava que ele gostaria de algo mais do que um conhecimento
de qualquer uma delas.
Pelo menos Lucy o apresentou a estranhas. Ele poderia facilmente se
desviar das tentativas de encontros de sua cunhada. Quando ele foi
visitar sua mãe, no entanto, ela inevitavelmente mencionaria... Erienne. E
se havia um assunto que Collin não discutia, não podia discutir, era
Erienne Stone.
Ele escolhera ir à casa de Derek em vez de visitar sua mãe por um
motivo. Ele fechou os olhos e respirou, seus pulmões cheios do ar limpo
do campo. Provavelmente foi bom para ele sair do ar carregado de carvão
de Londres por um tempo.
Sem pensar, passando a mão sobre a crina de seu cavalo, ele
considerou brevemente as tentativas anteriores de Lucy de combiná-lo
com a antiga governanta. A senhorita Langley era uma jovem doce e com
uma disposição adorável, mas ela, como todas as outras mulheres que
Lucy desfilara diante dele, não tinha os olhos azul-celeste ou o cabelo loiro
e sedoso da jovem que assombra seus sonhos desde então ele era um
rapaz de dezesseis anos.
Ele balançou sua cabeça. Felizmente, Lucy não tentaria combiná-lo
com a nova governanta. Sem dúvida, a pobre mulher não tinha ideia do
que estava se metendo ao se posicionar com a Duquesa de Claringdon. A
casamenteira de Claringdon deveria ser o título de Lucy, ele pensou com
um sorriso irônico.
Sua cunhada era uma pessoa difícil de lidar. Ela adorava perguntar
a Collin por que ele ainda não era casado. Por que ele não estava casado?
Ele disse a si mesmo todos esses anos que era porque ele estava casado
com seu trabalho. Seria injusto, até cruel, tomar uma esposa e deixá-la
em casa, dia e noite, sozinha, ou possivelmente apenas com os filhos
enquanto ele trabalhava tantas horas.
Mas havia mais do que isso, e ele sabia muito bem disso.
A imagem do rosto de Erienne saltou para sua memória. Ele sempre
pensava nela quando suas reflexões se voltavam para o casamento. Ela
era a única mulher com quem ele havia contemplado o casamento, a
única mulher com quem ele queria se casar, e ele foi forçado a deixá-la ir.
Ele tentou afastá-la de sua mente ao longo dos anos, tentou ignorá-la,

29
mas em momentos como esse, momentos malditos como este em que ele
não tinha seu trabalho para distraí-lo, as memórias voltavam à sua
mente.
Isso não importava. Erienne estava longe daqui. Ela era casada com
um Visconde e morava em Shropsbury, exatamente como deveria. Ela
provavelmente já tinha meia dúzia de filhos agora. Ela estava feliz? Ela já
pensou nele alguma vez? Merda. Claro que não. Uma mulher casada não
pensaria nele, não deveria pensar nele. Era ridículo até contemplá-lo.
O trotar de cascos chamou sua atenção e ele se virou para ver Derek
cavalgando atrás dele.
— Aí está você, — o irmão chamou enquanto puxava o cavalo perto
de Collin. — Eu não sabia que você tinha cavalgado para tão longe.
— O que mais eu tenho para fazer? — Collin respondeu com uma
risada.
— Vou levá-lo por todo o perímetro em algum momento, se quiser,
mas é melhor voltarmos para casa agora. Lucy e as crianças querem ver
você.
— Claro. — Collin assentiu e juntou as rédeas na mão enluvada.
Os dois se viraram e começaram um galope de volta para a casa.
— Parece que esqueci de dizer a Lucy que você estava vindo, — disse
Derek, com os olhos fixos no caminho.
Collin ergueu as sobrancelhas. — Lucy não está chateada, está?
— Não. Só que ela não teve a semana toda para aguardar a sua visita.
— Ah, bem, acho que vou fingir que foi uma visita surpresa, então.
— Sim, bem... — A voz de Derek sumiu.
Um aperto repentino e estranho tomou conta do estômago de Collin.
— O que foi? O que você quer dizer?
— Parece que, por eu ter me esquecido de contar a Lucy sobre a sua
vinda, isso causou um problema em outro lugar. — Derek ainda não tinha
encontrado seu olhar, um sinal claro de algum tipo de culpa.
As sobrancelhas de Collin se fecharam. — O que? Como assim?
Derek diminuiu a velocidade do cavalo. Collin fez o mesmo.
— Você sabe como certas coisas tendem a... acontecer quando Lucy
está envolvida? — Derek perguntou.
Collin cutucou sua bochecha com a língua. — Ela geralmente está
tramando algo, não é?
— Você poderia dizer isso, — respondeu Derek.
— O que é isso entao? — Collin perguntou, apreensão substituindo
sua suspeita. Algo estava errado. Ele podia sentir isso.
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Por fim, Derek encontrou seus olhos.
— Tenho uma coisa que preciso lhe contar, Collin. Algo que temo que
você não vai gostar.

Capítulo Oito

— C ollin? Hunt? Collin Hunt está aqui? Nesta casa? Agora mesmo?
— As palavras saíram da boca de Erienne em um ritmo destacado. Ela
sabia que parecia uma mulher louca pela maneira como as pronunciara,
mas não conseguiu se conter. A implicação do que Lucy tinha acabado de
dizer a ela afundou lentamente em seu cérebro, enquanto o pânico subiu
em sua garganta.
— Querida, você precisa acreditar em mim quando digo que eu não
planejava que isso acontecesse. — Lucy mordeu o lábio e olhou para o
lado. — Não assim tão cedo, pelo menos.
Erienne apoiou a mão na parede do quarto, com os joelhos fracos e
trêmulos. Quando Lucy voltou da conversa com o marido, pediu a Anna
para cuidar das crianças um pouco mais e depois fez sinal para Erienne
segui-la para fora do berçário.
Elas voltaram pelo corredor para o dormitório de Erienne e, uma vez
que chegaram no quarto, Lucy abriu a porta e a fez entrar. Erienne achou
o comportamento da duquesa um pouco estranho, mas não foi até Lucy
voltar-se para ela com um olhar preocupado que Erienne ficou realmente
preocupada. Ela tinha visto muitas expressões no rosto da duquesa desde
que a conhecera, mas a preocupação nunca foi uma delas.
— O que está acontecendo? — Erienne perguntou, seu coração
batendo mais rápido.
Lucy mordeu o lábio e torceu as mãos, duas outras coisas que
Erienne nunca tinha visto a duquesa fazer.
— Derek simplesmente... — Lucy pigarreou, — me informou de algo
importante que você deveria saber.
— Importante? Quão? — Mas o medo frio já começara a rastejar pela
espinha de Erienne. Mesmo antes de Lucy dizer as palavras, Erienne as
adivinhou.
— Acontece que Collin está aqui, — disse Lucy.

31
E foi quando Erienne deslizou pela parede para se sentar no chão
como uma boneca de pano. Sem dúvida, sua nova empregadora pensava
que ela era uma idiota, mas no momento seu corpo inteiro parecia sem
ossos. Sua respiração veio em jorros curtos que machucavam seu peito.
— Collin? Hunt? Collin Hunt está aqui? Agora? — ela repetiu o que
já havia dito, algo no fundo de seu cérebro levando as palavras como se
elas fizessem mais sentido ou parecessem mais reais se ela as repetisse
em voz alta.
— Sim. — Lucy assentiu. Ela se abaixou para sentar no chão em
frente a Erienne e espalhou suas saias verdes ao seu redor. — É verdade.
Eu sinto Muito. Percebo que isso é perturbador para você.
— Não estou chateada — Erienne deixou escapar. — Eu estou... — O
que em nome do céu ela estava? Ela não fazia ideia. Maravilhada? Não.
Triste? Absolutamente não. Chateada? Isso significaria que ela se
importava e não se importava. Surpresa. Sim. Era isso. Apenas surpresa.
Ela não esperava encontrar Collin tão cedo. Isso era tudo. Lucy prometeu
a ela que não precisava se preocupar com isso, e - não. Não. Ela também
não estava preocupada. Isso também implicava que ela se importava. E
ela não se importava.
— Querida, perdoe-me por apontar isso, mas o fato de você estar
sentada no chão ao ouvir as notícias esconde sua afirmação de que não
está chateada, — ressaltou Lucy.
Erienne encontrou seu olhar simpático. — Eu sinto Muito. Eu
estou... Estou apenas... surpresa. — Sim. Surpresa foi a palavra que ela
pretendia usar e continuar usando. Surpresa foi sua emoção e sua única
emoção.
— Eu sei que deve ser difícil para você pensar em vê-lo novamente
depois de tantos anos, — continuou a duquesa. — Mas, às vezes,
encontramos pessoas de nosso passado por um motivo e, embora possa
parecer desconfortável a princípio, talvez seja exatamente o que você
precisa. O destino raramente comete erros.
Erienne ficou em silêncio atordoado por um momento antes de dizer:
— Com todo o respeito a você e ao destino, Lucy, não tenho certeza do
que preciso no momento, mas tenho certeza de que não é isso.
Lucy estendeu a mão e apertou uma das mãos de Erienne. — Sua
pele está fria como a neve, querida. Por favor, acredite em mim quando
digo que Collin escreveu a Derek para dizer que ele estava vindo, e Derek
não mencionou nada disso para mim.
Erienne assentiu. Ela acreditava que a outra mulher estava dizendo
a verdade. Verdadeiramente, ela estava. Mas isso não tornou as notícias
menos... surpreendentes. — Foi por isso que Derek parecia zangado
quando me viu?

32
Lucy estremeceu. — Não exatamente. Você vê... eu falhei em dizer a
ele que a contratei, e nós dois percebemos que a possível reunião entre
você e Collin poderia ser... estranha.
Estranha? Essa era certamente uma maneira de descrevê-la. —
Entendo. Então isso significa... isso significa que... Collin não sabe que
eu estou aqui?
— Ainda não, — disse Lucy. — Derek foi encontrá-lo e contará a ele.
Com a notícia, Erienne encostou a cabeça na parede com um baque
sólido e fechou os olhos.

****
O ar tinha sido sugado do corpo de Collin. Ele não conseguia respirar,
mal conseguia pensar. Ele ouvira as palavras de seu irmão corretamente,
pelo menos ele pensava que tinha ouvido, mas, embora as palavras se
processassem repetidamente em sua mente, ainda não faziam muito
sentido.
— Lucy contratou Erienne Stone como governanta das crianças? —
ele repetiu entorpecido.
— Está correto. — Derek andava em frente à lareira do escritório, o
rosto cheio de arrependimento. — Eu Juro, Collin, que não fazia ideia de
que Lucy fizera isso até que fui encontrá-la depois que você chegou hoje
de manhã.
A mandíbula de Collin se apertou ainda mais. — Nós estamos falando
da mesma Erienne Stone que conhecíamos em Brighton?
Derek assentiu secamente. — Sim.
— Você tem certeza disso?
Derek cruzou as mãos atrás das costas. — Eu a encontrei. É a Srta.
Stone, de Brighton.
Collin estudou seu irmão através dos olhos estreitados. — Você não
pode me dizer que é uma completa coincidência.
Derek balançou a cabeça. — Eu não insultaria sua inteligência dessa
maneira. Lucy estava olhando cartas de possíveis governantas na semana
passada, e eu examinei algumas delas com ela. Quando vi o nome da
senhorita Stone, mencionei que a conhecia.
— Você mencionou que eu a conhecia, você quer dizer, — disse Collin
em voz baixa.
O irmão assentiu. — Sim. Me desculpe. Eu realmente nunca acreditei
que Lucy a contrataria. Eu até a fiz prometer que não escolheria a Srta.
Stone por causa da conexão dela com você.

33
Collin soltou um suspiro profundo. Ele ainda estava tentando
entender essa notícia incrível, e ainda não tinha certeza de como se sentia.
— Lucy é Lucy, Derek.
Derek abaixou a cabeça. — Eu sei. Eu realmente sinto muito. Se eu
tivesse alguma ideia, de que isso iria acontecer...
— O que? — Collin abriu um sorriso. — Você teria batido o pé no
chão? Não tenho certeza de que Lucy teria lhe escutado mesmo assim.
Derek suspirou e balançou a cabeça. — É verdade. Mas eu amo essa
mulher loucamente, não importa em que tipo de problema ela nos coloque
de vez em quando. Eu disse a Lucy que podemos manter você e a Srta.
Stone separados. Não deve ser muito difícil, e eu posso...
— Eri... — Collin pigarreou. — Stone sabe que estou aqui?
Derek soltou um suspiro. — Lucy está dizendo a ela agora.

Capítulo Nove

— E u insisto que você deve vir jantar conosco, — Lucy disse


enquanto Erienne ergueu-se do chão e fez seu caminho para a cama, onde
ela prontamente se jogou em cima do colchão.
Ela olhou para sua nova empregadora, subitamente ansiosa. — Você
está louca? — Merda. A pergunta surgiu de sua boca antes que ela
pudesse examiná-la. Lucy poderia ter lhe informado que Collin estava na
mesma casa, mas Erienne tinha pouca intenção de encontrá-lo de
propósito. E ela não tinha intenção de compartilhar uma refeição com ele,
pelo amor de Deus. Ela limpou a garganta. — O que eu quis dizer foi que
eu lamento se isso te desaponta, sua graça, mas não, eu absolutamente
não irei jantar.
Lucy assentiu. — Eu entendo que pode ser difícil no começo, mas
acho que é melhor você ver Collin e limpar o ar. Isso tornará a próxima
quinzena menos estranha para vocês dois.
— Não há nenhuma razão no mundo para a próxima quinzena ser
desagradável, — disse Erienne, fazendo o possível para parecer
indiferente. — Eu vou passar meu tempo com as crianças, e sem dúvida
34
ele vai passar um tempo com você e Derek. Há pouco motivo para nossos
caminhos se cruzarem.
Lucy lançou um olhar que indicava claramente que Erienne estava se
esforçando demais com a indiferença. — Você não prefere se encontrar
com ele logo de uma vez? Podemos ter uma boa refeição e todos ficaremos
bem. Isso não precisa ser estranho também.
Erienne endireitou os ombros. — Eu sou empregada como
governanta nesta casa. Participar de refeições como hóspede é
inadequado.
Lucy piscou para ela. — Quem disse isso? Você é a amiga de infância
de meu marido e seu irmão, e seu pai é um barão, de acordo com Derek.
Não há nenhuma razão no mundo para que eu não possa ou não deva
convidá-la para nossa mesa de jantar para compartilhar uma refeição com
velhos amigos.
— Prefiro que não. — Sua resposta foi sucinta e, esperançosamente,
poria um fim às críticas de Lucy.
— E se eu insistir? — Lucy rebateu.
Erienne pressionou as pontas dos dedos nas têmporas, onde uma dor
de cabeça se formava rapidamente. — Não consigo imaginar que Collin
gostasse de um jantar arranjado para nós.
— Absurdo. — Lucy cruzou os braços sobre o peito e fez um pequeno
barulho de bufo. — Você está sendo teimosa e ridícula. Na verdade, eu
diria que você está fazendo muito disso. Se o seu passado com Collin não
é nada, como você diz, por que você se oporia tão fortemente a um jantar
com ele?
Merda. As palavras da duquesa faziam sentido, faziam muito sentido,
e ela acabara de fazer o único argumento que Erienne dificilmente poderia
refutar sem parecer que se importava muito mais do que admitia para si
mesma.
— É apenas um jantar, — Lucy continuou. — Não precisa ser um
incômodo.
Erienne contemplou o assunto por um momento. Talvez fosse o
melhor a se fazer: Jantar, se cumprimentarem, fingir como se nada tivesse
acontecido e depois prosseguir o trabalho pela próxima quinzena.
Se tivesse sorte, talvez nem visse Collin novamente, ou apenas de
passagem.
Ela suspirou. — Muito bem, um jantar. Se você insiste.
Um sorriso triunfante se espalhou pelo rosto de Lucy. — Excelente.
Agora, você deve vir comigo aos meus aposentos. Vou pedir à minha
criada pessoal que arrume seu cabelo, e insisto que você use um dos meus
vestidos.

35
Erienne arqueou uma sobrancelha. — Isso soa muito como se eu
estivesse tentando aparentar demais.
— Você é uma velha amiga, e nós apenas vamos colocar um pouco de
vermelho nas suas bochechas e prender seu cabelo. Também emprestarei
algumas joias, se assim desejar.
— Lucy? — Erienne arrastou a palavra e lançou-lhe um olhar cético.
— Você não estaria tentando me deixar bonita, não é?
— Erienne, querida, você já é linda. Vou apenas fazer Collin desejar
não esperar tanto tempo para vê-la novamente.
E de repente, Erienne sabia que não poderia vencer. Lucy era uma
rajada alegre, soprando através do oceano pacífico de sua vida, e não
havia nenhuma maneira de parar as ondas que inevitavelmente lançariam
Erienne de um lado para o outro.
Relutantemente, ela se levantou e se viu arrastada pela duquesa para
fora do quarto e em direção aos aposentos da outra mulher. Erienne
duvidava muito que um pouco de ruge e um vestido bonito faria Collin
desejar ter qualquer coisa com ela.
Ela acabaria se arrependendo disso. Ela sabia que sim. Fazia muito
tempo desde que ela usara roupas elegantes e participara de um jantar
elegante com pessoas da sociedade. Será que ela se lembraria de como
fazer isso? E que tipo de conversa fiada ela poderia inventar durante o
jantar com Collin e Derek Hunt?
Só se podia imaginar o tipo de embelezamento que a duquesa lhe
reservara, mas Erienne já havia aprendido muito bem que Lucy sempre
conseguia o que ela queria e, aparentemente, naquele momento, Lucy
queria mesmo era fazer Erienne parecer uma bela dama em vez de uma
governanta.
Elas entraram nos aposentos da duquesa, onde Lucy começou a
arrastar Erienne pela mão em direção ao seu grande camarim. Ela abriu
as portas de vários guarda-roupas enormes para revelar vestidos de todos
os tecidos e cores pendurados dentro. O espaço parecia uma loja de
costureira. Erienne queria se virar e olhar para cada um dos adoráveis
vestidos.
— Eu acredito que você é do tamanho que eu era antes de eu ter
filhos. — Lucy enfiou as mãos nos quadris e avaliou Erienne. — Eu odiaria
que todos esses vestidos bonitos fossem desperdiçados. — Ela correu para
pegar uma linda mistura de cetim azul-gelo com detalhes prateados e uma
saia prateada de sarsnet1. — Isso combina perfeitamente com seus olhos.
Ah, e com diamantes, será requintado!
Erienne balançou a cabeça e mordeu o lábio para esconder um
sorriso. Ela não deveria estar gostando disso, mas não conseguiu se

1 Sarsnet - um tecido de seda fina da Itália e usado para roupas, fitas etc.
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conter. Em seu coração, ela ainda era uma garota que gostava de parecer
bonita de vez em quando. E a menção de diamantes a deixou um
pouquinho tonta.
— Eu tenho os sapatos prateados combinando mais adoráveis com
arcos nas pontas para combinar com isso, — continuou Lucy.
— Isso não é demais? — Erienne perguntou em um tom duvidoso.
— De modo algum. — Lucy balançou as sobrancelhas. — Você quer
ver os diamantes, não quer?
Foi oficial. Erienne era Cinderela e Lucy era sua fada madrinha. —
Muito bem, — disse Erienne, finalmente se interessando pelo assunto. —
Mostre-me os diamantes.
Lucy deu um pequeno grito de excitação. Ela chamou a empregada e
pediu à mulher que pegasse um colar e brincos combinando. Então ela
acompanhou Erienne até a penteadeira e a forçou a sentar-se.
— Acho que faremos um chignon2 em seu cabelo hoje à noite, não
é? Elegante, porém simples.
Ela pegou uma escova, arrancou os alfinetes do penteado reparável
de Erienne e começou a escovar os longos cabelos loiros.
— Oh, Lucy — disse Erienne rindo, fechando os olhos e recostando-
se. — Eu sei que vou me arrepender disso mais tarde, mas é divertido,
não é?
— Nunca se arrependa de um embelezamento, querida. E a diversão
ainda nem começou.
Erienne abriu os olhos e olhou para o seu reflexo no espelho. Ela
finalmente permitiu que um grande sorriso se espalhasse em seu rosto.
Ela era mais magra agora do que costumava ser. Ela era mais velha do
que costumava ser. Collin ainda a acharia atraente? Ainda o acharia
atraente?
— Então, — disse Lucy, depois que a empregada voltou com as joias.
Ela levantou o lindo colar e os olhos de Erienne se arregalaram de
espanto. — O que exatamente aconteceu entre você e Collin todos esses
anos atrás?

Um chignon é um penteado no qual o


cabelo de uma mulher é amarrado em
um nó folgado na parte de trás da
cabeça.

37
Capítulo Dez
Brighton, junho de 1807

Erienne jogou a livros escolares para o lado e voou até as escadas


para seu quarto. Tinha acabado de completar dezesseis anos e estava
entediada com o comportamento rígido de aprender francês e quando
preferia estar do lado de fora ao ar livre, respirando o perfume do mar, o
vento chicoteando seus cabelos. Mas hoje, hoje era um dia muito melhor
do que os longos e chatos dias anteriores, porque Collin estava de volta à
cidade. Ele esteve no exército por quase três anos e agora ficou de licença
por duas semanas. Ele escrevera para ela como prometera, cartas que não
eram de natureza pessoal porque sabia que os pais dela as liam.
Seus pais não ficaram muito satisfeitos com sua paixão por um dos
irmãos Hunt. Os meninos eram da família de um oficial do exército em
decadência que bebia demais e tratava mal seus filhos, mas isso não
impediu Erienne de se apaixonar loucamente por Collin. É claro que eles
eram apenas amigos a princípio, mas ela não conseguia se lembrar de um
momento em que não o admirava. Por volta do décimo terceiro
aniversário, quando Collin tinha dezesseis anos, pouco antes de partir
para o exército, eles começaram um jogo. Um deles escreveria algo em um
pequeno pedaço de papel, um desafio. Quaisquer que sejam as palavras,
o outro deve cumprir ou perder.
Collin havia lhe entregado um bilhete quando a viu na igreja naquele
domingo. Continha apenas seis palavras:
Encontre-me junto à árvore de sicômoro.
Ela não teve que perguntar qual sicômoro. Uma enorme enfeitava a
área atrás da igreja no pequeno bosque logo após o cemitério. Ela se
conteve e disfarçou a necessidade de usar o que fosse necessário para
evitar correr para a árvore.
Foi lá, quando eles enxugaram as lágrimas dos olhos e se despediram,
que Erienne se levantou na ponta dos pés e sussurrou no ouvido de Collin
que ela o amaria para sempre.
O primeiro beijo deles deveria ter sido no décimo sexto aniversário
dela, mas Collin estava fora em treinamento na época. Ela o escreveu no
código que eles desenvolveram. Cada décima palavra de suas cartas
indicava uma frase com seus verdadeiros sentimentos, e Collin prometera
a ela secretamente, escrevendo de volta no mesmo código, que ele a

38
beijaria pelo seu décimo sexto presente de aniversário, mesmo que
tardiamente.
Erienne estava tentando arranjar uma desculpa para sua mãe e a
governanta essa manhã em particular. Ela tinha começado a levar comida
e roupas velhas para o asilo nas tardes de toda quarta-feira, depois que
seus estudos terminavam, e ela pretendia fazer o mesmo hoje. Só que ela
planejava interromper sua visita com a Sra Elmsly e as outras damas do
asilo para encontrar Collin no local designado.
O peito de Erienne estava cheio de nervosismo enquanto ela escovava
o cabelo cinquenta vezes, enrolava-o em um chignon e prendia-o em cima
de sua cabeça. Ela passou as mãos alisando o vestido branco e beliscou
as bochechas para dar cor. Então ela correu para a cozinha para pegar a
cesta que Cook preparava toda semana para a casa dos pobres.
— Mãe, — ela chamou enquanto subia as escadas para o nível
principal da casa. — Estou indo ver a senhora Elmsly.
Um som afirmativo veio da direção do salão da frente, onde sua mãe
escrevia sua correspondência nas tardes de quarta-feira.
Erienne estava do lado de fora da porta da frente e no meio da rua
em minutos, uma emoção de liberdade correndo em suas veias.
Pouco tempo depois, ela chegou ao asilo, não muito longe da igreja.
Ela entregou a cesta a uma agradecida Sra. Elmsly e perguntou como
estavam todas as crianças, mas ela mal conseguia conter a empolgação e
não demorou muito para dizer: — Bom dia, Sra. Elmsly. Eu preciso voltar.
Ela não permitiu que a mulher protestasse. Em vez disso, Erienne
colocou o xale em volta dos ombros e saiu correndo pela porta. Ela desceu
a rua como sempre fazia, mas quando chegou à esquina onde ficava a
pequena igreja caiada de branco, seguiu para a esquerda em direção à
igreja em vez de seguir a direta, para a casa de seu pai.
Ela olhou em volta para garantir que ninguém a tivesse visto. Havia
algumas pessoas fazendo algumas atividades, e o Sr. Sanderson estava
pastoreando um pequeno grupo de ovelhas do outro lado da rua na
direção oposta, mas, ninguém parecia se importar para onde ela estava
indo. Ela correu ao longo da lateral da igreja e continuou passando pelo
bosque atrás do pequeno cemitério até avistar os galhos altos da árvore.
O sicômoro deles... dela e de Collin.
Ele estava lá, esperando por ela de uniforme, tão alto, bonito e formal
em sua jaqueta vermelha, calças brancas e botas pretas, polidas a brilhar.
O coração dela inchou.
Um galho estalou sob o chinelo e ele se virou para ela. Ele segurava
um buquê de flores silvestres nas mãos. Ela amava flores. Especialmente
flores silvestres. Branca, roxa e verde. Elas eram adoráveis. Assim que ele
percebeu que era ela, um sorriso largo se espalhou por seu rosto. Um
sorriso que a deixou sem fôlego. Collin sempre foi bonito, mas agora ele
39
era ainda mais. De pé alguns centímetros acima de um metro e oitenta,
ele tinha cabelos castanhos, um nariz perfeitamente reto e barras escuras
como sobrancelhas que repousavam sobre os olhos verde-jade que não
perdiam nada.
— Erienne, — ele respirou.
Ela correu para os braços dele, e ele a pegou e a girou.
— Eu senti tanto sua falta, Collin.
— Eu também senti sua falta. — Ele a colocou cuidadosamente sobre
os pés e segurou os cotovelos, olhando para o rosto dela. — Você está
linda como sempre.
— Você também, — ela respondeu com uma risada.
— Você recebeu minha última carta?
— Sim. — Ela assentiu. — Tenho certeza de que minha mãe não
conhece o código. Ela até comentou como nossas cartas soam iguais. Eu
acho que ela quis dizer chata.
— Iguais e sem graça, — disse Collin, rindo. — Precisamente como
pretendemos escrevê-las. — Ele fez uma pausa e o olhar em seu rosto
ficou sério. — Sinto muito, perdi seu aniversário.
O coração de Erienne pulou uma batida. Pronto, era isso. Ele agora
ia beijá-la. — Você pode fazer as pazes comigo.
— Como?
Ela pressionou um pedaço de pergaminho na mão dele, enterrando o
nariz no xale para esconder o rubor queimando suas bochechas.
Beije-me, dizia a nota.
Ele ergueu o olhar para olhá-la com amor brilhando nos olhos, depois
abaixou a cabeça na direção da dela e Erienne levantou os braços para
envolver seu pescoço. No momento em que seus lábios roçaram os dela,
um choque sacudiu através dela e se estabeleceu entre suas pernas.
Como se ele sentisse sua reação interior, ele a puxou contra seu corpo
duro, e Erienne gemeu. Os braços dela se apertaram ao redor do pescoço
dele e ela se agarrou a ele enquanto a língua dele deslizava entre os lábios
para explorar a boca dela. Ela não tinha pensado que um beijo poderia
ser tão invasivo - ou que ela iria gostar tanto da invasão. Então sua boca
se inclinou sobre a dela e o beijo se transformou em algo completamente
diferente. Ondas puras de luxúria atravessaram seu corpo quando Collin
a beijou várias vezes. Uma de suas mãos ásperas segurou sua bochecha
com ternura, enquanto a outra a segurou contra ele, de alguma forma
alinhando cada centímetro de seus corpos, embora ele fosse tão alto e ela
tão pequena. E ela seguiu todos os movimentos que ele fez, toda mudança
inquieta, como se estivessem dançando.

40
Quando ele caiu de joelhos na grama fria, ele a levou com ele, tão
firmemente emaranhados eram seus corpos. E quando o mundo se
inclinou e ela sentiu o chão macio e perfumado embaixo dela, ela não
pensou, não podia pensar, porque Collin estava em cima dela, seu peso
bem-vindo e quente. Eles se beijaram várias vezes, morrendo de fome
depois de tantos anos de desejo - e então o riso veio, nascido da pura
felicidade. Eles rolaram na grama, rindo e se abraçando, a luxúria se
fundindo em alegria, até que finalmente Collin a levantou e se jogou de
lado para encará-la.
— Eu gostaria de não ter que deixá-la novamente. — Ele estava
ofegante quando puxou um galho do penteado dela e o jogou fora.
— Eu gostaria que você nunca tivesse que partir novamente. —
Erienne traçou a linha da testa com dedo trêmulo, sua felicidade
desaparecendo com o pensamento de se separar dele.
Collin a puxou contra o peito e apoiou o queixo sobre a cabeça dela.
Eles ficaram assim, embrulhados nos braços um do outro, pelo tempo que
ousaram. O crepúsculo começou a cair quando Erienne murmurou: — É
melhor eu voltar.
Ela o viu mais três vezes durante aquelas duas semanas. Sempre
eram roubados momentos em que eles tinham que se dedicar ao dever e
à família, mas olhando para trás, ela reconheceu que seu último encontro
era um sinal do que estava por vir.
— Mamãe diz que minha estreia é a coisa mais importante que jamais
farei, e não posso desistir de meus estudos para não encontrar um marido
decente. Você pode imaginar? — Erienne não sabia por que ela havia
falado sobre sua estreia. Seriam pelo menos mais dois anos de folga. Ela
supôs que queria ver como Collin reagiria à noção de que ela seria
colocada no mercado de casamentos.
Suas sobrancelhas escuras se abaixaram. — Com quem seus pais
desejam que você se case?
Ela estava tão indiferente naquele dia, acenando com a mão no ar. As
palavras saíram de sua língua tão facilmente, como se não tivessem
significado. — Alguém qualificado, é claro. — Ela zombou da palavra
"qualificado". Nada disso importava para ela. Ela sabia que se casaria com
Collin desde que ela era uma menina. Ela não deu a mínima para o que
seus pais achavam melhor para ela.
— É claro, — disse Collin, mas um breve flash de mágoa destacou
suas belas feições.
— Collin? — Eles estavam descansando na grama perto da árvore
novamente. Ela virou-se para ele. — Você sabe que eu não ligo para nada
disso, não é? Minha estreia na sociedade e todo o resto.
— Você deve se importar, Erienne, — ele respondeu solenemente.

41
— Mas eu não me importo. Eu nunca me importei. Eu amo você. —
Ela colocou os braços em volta do pescoço dele e pressionou os lábios
nos dele. Ele retornou o beijo, apaixonadamente. Eles ficariam juntos
para sempre.
— Você também me ama, não é? — ela perguntou depois que o beijo
terminou, só precisando ser tranquilizada, para ouvi-lo novamente.
— Claro que sim, Eri.
— E nós vamos nos casar um dia, você e eu.
Sua única resposta foi puxá-la para mais perto e abraçá-la com força.

****
Eles continuaram sua correspondência cheia de códigos nos
próximos dois anos. Erienne retomou suas lições com a governanta e,
quando se aproximava o décimo oitavo aniversário, escreveu a Collin
sobre os preparativos para que ela fosse a corte fazer sua apresentação a
Rainha. Mamãe, é claro, aprovou essas cartas porque viu como Erienne
avisando o pobre Collin Hunt que pretendia se casar com alguém da
sociedade, como deveria. Mas no código das cartas, ela continuou
escrevendo coisas como, eu te amo, Collin. Sinto sua falta, Collin. Mal
posso esperar para te ver de novo.
Collin havia respondido com notícias de seu treinamento e
implantações e até de sua primeira promoção, que não impressionou os
pais de Erienne. — Ele ainda é um Hunt, — dissera a mãe, erguendo o
nariz como se cheirasse algo desagradável.
Quando sua estreia se aproximava, Erienne notou que as cartas de
Collin chegavam com menos frequência. Disse a si mesma que ele estava
preocupado com as atribuições dele, e ela estava terrivelmente ocupada
fazendo centenas de coisas tolas e sem importância, como escolher os
enfeites do vestido de baile e escolher as penas do cabelo para a estreia
no palácio. Ela escreveu essas coisas para Collin, enquanto as cartas dele
secavam.
Finalmente, no verão após seu aniversário de dezoito anos, depois
que ela estreou e passou a temporada repelindo ofertas de muitos
cavalheiros inúteis que nunca conheceram um dia de trabalho duro,
Collin escreveu para dizer que estava voltando para casa novamente.
A alegria diferente de tudo que ela já sentiu explodiu em seu peito.
Agora que ela era maior de idade, eles podiam se casar. É claro que seria
necessário convencer seus pais, mas Erienne estava confiante de que
juntos, ela e Collin os fariam ver o quão profundamente eles se amavam
e a intenção de passarem o resto de suas vidas juntos.

42
Na primeira noite após o retorno de Collin, Erienne encontrou o
pequeno pedaço de papel dobrado em um nó do lado de fora da janela do
quarto.
Encontre-me na árvore do sicômoro.
Naquela tarde depois da igreja, ela juntou as saias e correu para lá.
Collin estava lá, como sempre, mas agora com 21 anos e com a
aparência mais bonita do que nunca. Seu coração pulou uma batida. Era
isso. O futuro deles poderia começar. Eles nunca seriam separados
novamente. Ela correu para os braços dele e ele a girou como havia feito
dois anos atrás, só que desta vez quando a deixou cair na grama, ele
imediatamente a beijou até a cabeça dela girar também.
— Está na hora, — disse ela sem fôlego. — Hora de dizer aos meus
pais que pretendemos nos casar.
Ele a pegou de novo em seus braços e a beijou mais uma vez. Ela não
sabia disso na época, mas seria o último beijo deles. Deus, se ela
soubesse. Se ao menos fosse mais velha, mais sábia, teria lidado com a
coisa toda de maneira diferente.
— Eu amo você, Erienne, — ele respirou. — Eu vou te amar para
sempre.
— Eu também te amo, Collin. — Sua testa franziu quando ela olhou
para ele. O jeito que ele falou soou estranho, muito estranho.
Ele abaixou a cabeça. — Mas não podemos nos casar.
— O que? — A palavra saiu de sua garganta em um sussurro. Ela
tinha certeza de que não o ouvira corretamente. Ela não poderia ter.
— Não podemos nos casar, Erienne.
Ela procurou o rosto dele. Certamente ele estava apenas brincando
com ela. — O que? Por que não?
— Não seria justo para você.
— Collin... — Ela apertou a mão no peito, lutando por ar como se
estivesse se afogando. — O que você está dizendo? Você me ama, não é?
— Eu vou te amar para sempre, Eri. — Ele traçou a linha da bochecha
dela com um dedo, daquele jeito antigo e familiar dele.
Ela engoliu em seco. — Então por que você está dizendo isso? Por que
não podemos ficar juntos?
— Minha vida... no exército. É difícil e não vou ficar muito em casa.
Em breve serei enviado para o continente. Eu estarei em perigo.
Ela balançou a cabeça, impaciente. — Eu sei tudo isso, Collin. Você
me contou. Eu não ligo.
— Mas você vai se importar, Eri. Você vai se importar eventualmente.
Você merece alguém que a ame e esteja com você, que a trate como uma
43
princesa. Você merece um daqueles pretendentes que têm dinheiro e...
um título.
Sua garganta trabalhou quando ele engoliu em seco.
Lágrimas ardiam em seus olhos como agulhas. Ela lutou contra elas,
apertando sua mandíbula. — Você sabe que eu não ligo para títulos.
— Você merece o melhor, — ele disse baixo, virando-se para passar
as mãos pelos cabelos em um gesto de resolução firme, mas melancólica.
— Este não sou eu.
Lágrimas escorreram livremente por seu rosto. Esse melhor era ele.
Isso foi. Por que ele se recusou a acreditar nisso? Ela balançou a cabeça.
— Não faça isso.
— Eu devo ir. — Sua voz era plana, dura. Ele se virou bruscamente
para ela, agarrou a mão dela e pressionou um pequeno pedaço de papel
nela. E então, assim, ele se foi.
Ela abaixou a cabeça, lágrimas quentes apertando seus cílios, e
esperou até que ela não pudesse mais ouvir as botas dele esmagando os
galhos. Só então ela abriu a palma da mão e virou o minúsculo pedaço de
papel.
Três palavras. Cada uma rasgou seu coração novamente.
Deixe-me ir.

Capítulo Onze

Collin não conseguia se lembrar da última vez que esteve nervoso.


Inferno maldito, um espião experiente como ele não sucumbia a
nervosismo. Nunca. Mas, ao se sentar ao lado de Derek na sala de jantar
de seu irmão, esperando Lucy e Erienne se juntarem a eles no jantar, ele
se sentiu tão inquieto quanto quando era jovem, no dia em que beijou
Erienne pela primeira vez em baixo do sicômoro.
Erienne. Ele não podia acreditar que estava prestes a vê-la
novamente depois de todos esses anos. O dia em que ele disse que não
podia se casar com ela tinha sido o mais doloroso de toda a sua vida. Mas
ele sabia então – exatamente como sabia agora – que era a coisa certa a

44
fazer. A melhor coisa. Talvez não para ele, mas certamente para ela. Ele a
amava o suficiente para deixá-la ir. Ele teve que deixá-la ir.
Nos meses que antecederam sua estreia, ela escreveu para ele
contando tudo sobre os vestidos, sapatos e acessórios extravagantes que
sua mãe havia comprado para o baile de debutante que aconteceria em
Londres. Claramente, Erienne foi feita para essa vida. Seu pai era barão
e ela era linda e perfeita. Ela não deveria se desperdiçar com gente como
ele, o garoto da família ruim da cidade. Ele fora egoísta em amá-la. Ele
teve que deixá-la ir.
Ele começou a escrever com menos frequência, tentando se afastar
da alegria de sua correspondência regular, embora soubesse que quase o
mataria parar de receber suas cartas. Aquelas cartas foram as únicas
coisas que o levaram a dias muito sombrios. Ele trabalhou duro, fazendo
o possível para subir nas fileiras o mais rápido possível para ser digno de
Erienne, para ser alguém que seus pais poderiam aceitar, alguém que ela
pudesse se orgulhar. Mas naquele verão, após sua estreia, ele recebeu
uma carta do pai de Erienne, tirando todas as suas esperanças.
O Barão Stone havia começado a carta cordialmente. Ele perguntou
pela saúde de Collin e indicou ter ouvido que Collin estava se saindo muito
bem no exército. Mas rapidamente, o barão deixou bem claro o propósito
da carta.

Parece que Erienne tem uma paixão de estudante por você.


Acho que nós dois concordamos que ela deveria estar com alguém
do seu status. Simplesmente, ela recebeu várias ofertas de
casamento e recusou todas elas por sua causa, tenente Hunt. Isso
é em detrimento dela. A mãe dela e eu pedimos que você desista
da correspondência com ela, a fim de permitir a ela o espaço que
ela precisa para encontrar um marido adequado.

A palavra adequado afundou como uma adaga no coração de Collin.


Claro que ele não era adequado, e não importa quão alto ele subisse no
exército, ele nunca seria. Para os Stones, ele sempre seria o garoto Hunt
da pequena cabana em ruínas do outro lado da cidade.
Ele escreveu de volta, concordando com o Barão Stone que Erienne
merecia o melhor marido do mundo. Disse ao barão que ele contaria
pessoalmente a Erienne durante sua próxima licença, que estava
chegando. Ele se recusou a contar a ela em uma carta como um covarde.
O Barão Stone concordou com essa estipulação.
Na tarde em que Collin havia escrito, deixe-me ir, naquele pedaço de
papel e apertá-lo na mão de Erienne foi o pior dia de sua vida.
Ele partiu na manhã seguinte, voltou cedo para o exército porque não
suportava ficar tão perto dela e não vê-la. Pior, ele não confiava em si
45
mesmo na mesma cidade que ela. Ele poderia esquecer a si mesmo do
acordo de não vê-la mais e ir encontrá-la e dizer que estava louco e não
quis dizer uma palavra daquilo.

Ele tomou um gole de sua bebida. Queimou um caminho em seu


interior enquanto ele olhava pela janela da sala de jantar para a noite lá
fora. Ele não viu nada naquele vidro escuro a não ser seu próprio reflexo
e, pela primeira vez, reconheceu uma dureza em seus traços que sabia
que não foram colocados ali pela guerra dos homens, mas pela guerra
com seu próprio coração traidor.
Erienne Stone tinha sido a única coisa maravilhosa em toda sua
infância. Ela tinha sido a promessa que ele manteve em seu coração todos
aqueles anos, e ele foi forçado a deixá-la ir. Foi por ela, no entanto. Essa
foi a única coisa que o confortou. Ele sempre acreditou que um dia ela o
agradeceria por lhe dar a chance de viver a vida que ela realmente
merecia.
Sua boca torceu em um sorriso sem humor. Ele teve um momento de
insanidade, no entanto. Depois daquele dia, ele não recebeu mais
nenhuma carta dela, mas ele voltou para casa no Natal e correu para a
casa dela, querendo dizer a ela que tinha sido um tolo, querendo
perguntar se ela o perdoaria e se finalmente se casaria com ele.
Ele foi levado à sala de estar dos Stones pelo administrador da casa
e esperou com o chapéu nas mãos, as palmas das mãos suadas, antes de
Lady Stone entrar na sala, com o rosto tenso. — Tenente Hunt, — ela
entoou, não parecendo particularmente satisfeita em vê-lo. — A que devo
o prazer?
— Eu vim ver Erienne, — respondeu Collin.
— Erienne? — Um breve olhar surpreso passou pelo rosto da mulher.
— Sim. Ela está aqui?
Lady Stone compôs suas feições em uma máscara. — Ela não está.
— Posso esperar?
A senhora levantou o queixo. — Receio que você espere bastante
tempo, Sr. Hunt. Erienne não mora mais aqui. Ela se mudou para
Shropsbury.
— Shropsbury? — Uma mistura de surpresa e preocupação apertou
sua garganta.
— Sim. — O olhar da mulher caiu no chão. — Para viver com o
marido.
A declaração estripou-o. Collin quase dobrou de dor. — Ela se casou?
— ele perguntou para esclarecer as notícias ao seu próprio cérebro
tropeço.
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— Sim. — Lady Stone cruzou as mãos. Ela ainda não encontrou os
olhos dele.
— Com quem? Com quem ela se casou? — Ele não conseguia parar
de fazer a terrível pergunta.
— Ah... visconde Tinworth. Você conhece ele?
O nome não era familiar a Collin. Mas ele mal conhecia os melhores
de Londres. — Não.
— Eles são muito felizes juntos. Espero notícias de um bebê a
qualquer momento — acrescentou Lady Stone.
A mandíbula de Collin virou mármore. — Entendo. — Ele girou nos
calcanhares e foi em direção à porta. — Obrigado, Lady Stone. Eu devo ir.
Ele caminhou todo o caminho de casa sem casaco, chutando as botas
pela neve recém caída. Tinha sido uma loucura para ele tentar voltar
depois de todos esses meses. Erienne se casou com alguém da sua classe.
Ela estava fora de seu alcance. Como deveria ser, para o melhor.
Essa foi a última vez que ele tentou entrar em contato com Erienne
Stone.
E agora eles estavam prestes a se encontrarem novamente, uma
reconciliação infeliz dificilmente criada por eles. Por alguma razão insana,
ele decidiu usar seu uniforme para jantar hoje à noite. Como se as
medalhas penduradas em sua jaqueta pudessem protegê-lo de... o quê?
As decisões do seu passado? Ele apertou sua bebida. Deus, mas seus
nervos pareciam como se pudessem enrolar seu interior e estrangular um
grito de frustração total em sua garganta. Ele tomou outro longo gole para
sufocá-lo, incendiar aqueles nervos e destruir as emoções. Ele esvaziou o
copo.
E ele esperou.

Capítulo Doze

Finalmente, chegou o momento.


Esses momentos são sempre menos do que se espera, pensou Collin
mais tarde, e de alguma forma muito mais.

47
Ao menor sinal de movimento na porta da sala de jantar, Collin
imediatamente afastou a cadeira e se levantou para cumprimentar a
duquesa e, finalmente, Erienne.
Ela usava um vestido azul-gelo, digno de uma bela dama. O tipo de
vestido em que ele sempre a imaginava quando pensava nela morando em
Shropsbury.
Aparentemente, ela era uma governanta agora, no entanto. Ele meio
que esperava que ela estivesse usando um vestido de serviço com um
avental como os que ele viu a Srta. Langley usando uma ou duas vezes.
Mas Erienne estava ali, de cortar o coração, linda naquele vestido, e por
um momento ele pensou que aquela reunião, aquela em que ele usava seu
uniforme e ela um perfeito vestido azul-gelo, era como deveria ter sido o
tempo todo, se ele tivesse sido capaz de assistir a sua estreia, cortejá-la
como ele sempre desejou.
Ela estava mais magra do que costumava ser. Mas a mesmo pessoa,
seu adorável olhar azul brilhava em seus traços delicados. Havia leves
manchas escuras sob seus olhos, como se estivesse cansada. Diamantes
agarrados aos ossos frágeis de seu decote e diamantes correspondentes
pendiam de suas orelhas. Os cabelos dourados estavam arrumados e os
lábios, rosados e cheios, repousavam em linha reta, sem sorrir nem
franzir a testa.
Mas ele reconheceu a apreensão reunida nas linhas de seu rosto
familiar.
Ela olhou para ele e depois para longe, tão rapidamente que ele mal
tinha visto. Ele não teria notado nada se não a estivesse observando tão
de perto.
— Collin. — Lucy chegou ao seu lado da mesa e deu-lhe um
abraço. — É adorável ver você de novo. Faz muito tempo. — Ela se virou
para Erienne. — Você se lembra da senhorita Stone, eu acredito.
Ele limpou a garganta, não confiando em sua voz, mas não tendo
escolha. — Claro.
— Erienne. — Lucy voltou-se para encará-la. — Você se lembra do
General Hunt?
— General? — Os olhos assustados de Erienne brilharam para
encontrar os de Collin, e as palavras parecem morrer em seus lábios antes
de encontrá-las novamente. — Eu não fazia ideia.
— Sim, — disse Derek, estendendo a cadeira de Lucy, deixando Collin
apressado em torno da mesa e puxando o assento de Erienne. — Collin é
um funcionário de alto escalão no Ministério do Interior agora. É claro que
a posição chegou às custas de sua vida social.
Todos eles se sentaram. Derek na cabeceira da mesa, Lucy na outra,
com Collin à esquerda de Derek e Erienne à direita de Derek, diretamente
48
em frente a Collin. Os lacaios correram para colocar guardanapos no colo
e encher o copo de vinho para o primeiro prato.
Erienne manteve os olhos fixos no prato, embora seu queixo ficasse
sutilmente definido e teimoso que Collin reconheceu instantaneamente.
— Sim, — disse ela, — pareço me lembrar do Sr. Hunt, enfatizando sua
posição no exército sobre seus próprios interesses pessoais.
E lá se foi a luz quente do sentimentalismo que ele estupidamente
estava se permitindo. Collin pegou o copo de vinho já pela metade que
estava na frente dele e quase derrubou todo o seu conteúdo.
Os olhos brilhantes de Lucy olhavam de um lado para o outro entre
Collin e Erienne. — Sim, bem, Collin foi forçado a tirar férias. É por isso
que ele está aqui no momento, não é, Coll?
— De fato. — Ele não conseguia parar de olhar para Erienne. Apesar
de seu aparente estado de ressentida, ela era ainda mais bonita do que
era quando eles eram jovens. Mais ainda, com as pequenas linhas perto
dos olhos e dos lados da boca, carregadas de muitos sorrisos - e talvez
muitas carrancas. Ela parecia como se tivesse visto dor. Ele esperava que
não tivesse sido a causa disso.
— Um oficial General e de alta patente do Ministério do Interior —
ecoou Erienne enquanto os criados colocavam uma tigela de sopa de
tartaruga na frente de cada um deles. — Como você conseguiu isso, Sr.
Hunt?
— Anos e anos de trabalho duro, senhorita Stone.
— E a sua esposa? — A pergunta educada mas pontiaguda de
Erienne segurava a ponta de uma faca. — Ela está resignada com a
quantidade de tempo que você passa longe de casa?
— Eu nunca me casei, — respondeu Collin, encontrando seu olhar.
Era imaginação dele ou o alívio brilhava em seus olhos?
— Collin era um espião nas guerras, — acrescentou Derek em uma
tentativa óbvia de mudar de assunto.
O breve flash de preocupação passou pelo rosto de Erienne antes que
ela parecesse estudar suas feições. — Eu não sabia disso. Na verdade,
não ouvi nenhum detalhe da vida do Sr. Hunt desde a última vez que nos
vimos em Brighton. Quanto tempo faz? Quatorze anos agora? — Ela
tomou um gole profundo do copo de vinho.
Quatorze anos, um mês e dezesseis dias, pensou Collin, mas quem
estava contando? — Algo parecido. — Ele levantou a colher. — Por falar
em trabalho, — continuou ele, — fiquei surpreso ao saber que você foi
empregada como governanta, senhorita Stone.
— Sim, eu fui para a casa do Baron Hilltop no verão depois dos dezoito
anos, — ela respondeu docemente, como se os dois não soubessem

49
exatamente o que aquele verão significava para eles. — Eu estive lá desde
então.
Collin franziu o cenho, sua colher de sopa parou a meio caminho dos
lábios. — E o visconde?
— O visconde? — As sobrancelhas de Erienne se abaixaram. — Eu
nunca trabalhei para um visconde, apenas para o Baron Hilltop.
Collin tomou sua sopa em silêncio por alguns momentos, permitindo
que as notícias chegassem. Ela esteve em Shropsbury trabalhando como
governanta o tempo todo? Nunca se casou com um visconde? Ora, isso
significaria...
A mãe dela mentiu. Claro que sua mãe horrível mentira! E ele, o
jovem tolo que ele tinha sido, tinha acreditado nela. Mas por que Erienne
não se casou? Por que ela assumira uma posição de governanta em vez
de aceitar uma das ofertas dos muitos cavalheiros que a cortejaram
naquele ano?
Collin olhou sem ver a tigela de sopa e engoliu o caroço que se formou
em sua garganta. Ele tinha a terrível sensação de que sabia exatamente o
porquê.

Capítulo Treze

Erienne mal conseguia respirar. Estar assim tão perto de Collin


novamente, mesmo depois de todos esses anos, era demais. Ela não tinha
superado isso. Ela não estava acima dele na escala social. Ela nunca
esteve. E o que, em nome do céu, ele quis dizer, perguntando a ela sobre
um visconde?
Lucy poderia pensar que este pequeno jantar era uma boa ideia, mas
Erienne agora percebeu que era tudo, menos isso. Ela precisava fugir. Ela
olhou para Collin novamente. Ela tentava olhar para ele disfarçadamente
quando pensava que ele não estava olhando, mas ele continuava a
olhando-a. Doía olhar para ele, mas ela não conseguia se conter. Os anos
tinham sido nada além de gentil com ele. Ele era ainda mais bonito do
que na juventude, as maçãs do rosto mais pronunciadas, os olhos verdes
ainda mais pensativos e sábios, e tinha um ar de confiança e autoridade
sobre ele que não existia quando eram mais jovens.
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O homem agora era um General e um funcionário de alto escalão do
Ministério do Interior. Ela não estava surpresa, não verdadeiramente.
Assim como ela não ficou surpresa ao saber que Derek havia se tornado
um duque herói de guerra. Mas Collin não estava nos jornais do jeito que
seu irmão estivera. Suas façanhas não eram famosas por um bom motivo.
Ele tinha sido um espião.
Ela estremeceu ao pensar em quanto perigo ele provavelmente esteve
exposto ao longo dos anos. Sem dúvida, ele esteve em perigo mortal uma
ou duas vezes. Ele foi promovido ao posto de General e, pelo aspecto do
grande número de medalhas em sua jaqueta de lã vermelha, ele era
alguém muito importante. Ela não sabia muita coisa sobre o Ministério
do Interior, mas ser um funcionário lá significava que ele era valorizado e
poderoso.
— Quais são seus planos enquanto estiver aqui, Collin? — Lucy
perguntou, claramente tentando manter a conversa à tona.
— Minhas ordens são para relaxar, — respondeu Collin com o
fantasma de uma risada. — Não tenho certeza de que isso seja possível.
— Você deveria pescar. — Lucy sinalizou para um dos lacaios encher
novamente o copo de vinho de Collin. — O riacho está cheio de peixes
nesta época do ano.
Collin inclinou a cabeça. — Eu devo. — Ele olhou para Erienne. —
Eu também gostaria muito de ver as crianças.
Erienne congelou. Claro que ele gostaria de ver as crianças. Ela
tentou não imaginá-lo preenchendo o espaço do berçário com seus
ombros largos e sua presença atraente.
— Vá vê-los logo de manhã — disse Lucy alegremente. — Eles ficarão
encantados. Ainda não dissemos a eles que você chegou. Queríamos que
fosse uma surpresa.
— Eu vou fazer isso, — respondeu Collin. — Se estiver tudo bem para
você, senhorita Stone.
Erienne forçou um sorriso nos lábios. — É claro, — ela murmurou,
mas não podia mais jogar esse jogo em particular. Ela precisava se afastar
dessa mesa. Desse jantar. Ela não podia fingir que todos ali sentados
eram simplesmente velhos amigos reunidos.
Ela se levantou e descartou o guardanapo na cadeira. — Se me derem
licença, vou verificar as crianças agora. Obrigado por um jantar adorável,
sua graça.
Ela correu da sala antes que qualquer um deles pudesse fazer
qualquer movimento para detê-la. No seu rastro, ela ouviu o ranger das
pernas da cadeira quando os homens se levantaram, e sem dúvida aquela
expressão de consternação foi de Lucy, cujos planos de união de casais
haviam sido desperdiçados.
51
Erienne deu um suspiro de alívio quando chegou ao corredor. Sua
desculpa tinha sido uma razão velada para fugir, e o resto da mesa
também sabia disso, mas ela não se importava. Ela não podia se sentar
do outro lado da mesa com Collin mais um momento e ouvir histórias
sobre o quão bem-sucedido ele se tornara em uma carreira que escolhera
sobre ela.
Ela correu escada acima para o quarto das crianças. Anna estava lá,
guardando alguns dos brinquedos que as crianças haviam usado
antes. — Eles estão na cama, senhorita, — disse ela ao olhar
interrogativamente para Erienne.
— Obrigada, Anna, por observá-los enquanto eu estava no jantar. —
Ela abaixou a cabeça e saiu da sala. As crianças nem sequer precisavam
dela. O que ela deve fazer consigo mesma?
Ela voltou ao seu quarto e abriu a porta. A cama tinha sido arrumada
para a noite e haviam velas acesas em ambos os lados da extensão da
cortina. Um brilho suave veio da sala de estar e do camarim.
Ela caminhou até o provador e passou o olhar ao redor do
espaço. Sua bagagem havia sido desembalada anteriormente por uma
criada chamada Millie, que Lucy havia lhe apresentado como aquela que
Erienne deveria pedir o que precisasse. Seus vestidos de serviço, que eram
bem diferentes daquele que ela usava nesse momento, estavam
pendurados no guarda-roupa. Seus três pequenos retículos 3 estavam
alinhados sobre uma prateleira abaixo dos cabides dos vestidos.
Ela se curvou e pegou a bolsa que menos utilizava, puxou a corda
para afrouxá-la e vasculhou com os dedos dentro até localizar o pedacinho
de papel com a tinta borrada. Ela puxou e olhou para ele, um sorriso sem
humor tocando seus lábios enquanto esfregava o dedo entre as palavras
muito familiares.
Deixe-me ir.
As palavras que Collin escreveu para ela catorze anos atrás. Ela
manteve o bilhete todo esse tempo. Ela só olhava para isso em momentos
como esses, quando as lembranças dele a dominavam. Ela foi capaz de
impedir o homem de ir, mas ela manteve o pedaço de papel. Como foi isso
por ironia?
Lágrimas surgiram nos olhos de Erienne, mas ela rapidamente piscou
as afastando. Ela se recusou a chorar - não chorava desde aquele verão,
catorze anos atrás. Ela combinou de assumir a posição nos Hilltops sem
a mãe saber e deixou um bilhete para os pais. Sua mãe a escreveu logo
depois, implorando para que ela voltasse e escolhesse alguém entre seus

3 Retículo - Tipo de bolsa do sec. XVIII


52
pretendentes. Erienne precisava urgentemente se casar com alguém rico,
alegou sua mãe, porque os negócios do pai haviam azedado ultimamente
e, embora o nome deles fosse respeitável, sua fortuna estava diminuindo
rapidamente. Mas Erienne não conseguiu fazer aquilo. Ela não podia se
comprometer com um homem que ela não amava, mesmo depois que
aquele que ela amava havia pedido para deixá-lo ir.
Anos depois, quando seu irmão voltou da guerra gravemente ferido,
ela prometeu enviar para casa o máximo de seu salário que pudesse
poupar para ajudar nos cuidados com Peter. Foi a sua escolha de
permanecer solteirona que causou ainda mais dificuldades financeiras à
sua família, e ela não suportava permitir que seu amado irmão sofresse
como resultado disso.
Erienne empurrou o pequeno pedaço de papel de volta para dentro
do retículo e o devolveu à prateleira. Então ela voltou para o quarto e
olhou cegamente para a cama por alguns momentos. Ela sabia que dormir
seria quase impossível esta noite, mas ela se recusou a voltar para a sala
de jantar. Em vez disso, ela seguiu seu caminho pelo corredor até a escada
dos empregados nos fundos da casa, desceu ao andar principal e saiu.
Lentamente, contornando a lateral do prédio até os jardins bem
cuidados do lado de fora da biblioteca, ela respirou o cheiro de jasmim
que enchia o ar da noite do final do verão e fez uma pausa para se deleitar
enquanto passava por baixo de uma treliça coberta pela pungente videira.
A luz da lua brilhava nas folhas verde-escuras.
— Há um sicômoro à beira do lago. — A voz profunda de Collin soou
atrás dela na escuridão. — Eu convidaria você para irmos lá, mas algo me
diz que você recusaria.
Erienne fechou os olhos. A dor apertou seu coração. Lembrou-se da
árvore deles. — Você estaria certo, — disse ela sem se virar.
Cascalho triturou sob suas botas quando ele se aproximou. — Espero
que você não tenha deixado o jantar por minha causa.
O que ela poderia dizer sobre isso? Ela finalmente o encarou e o
encontrou parcialmente perdido na sombra. — Eu... precisava de um
pouco de ar.
— Você quer que eu vá embora daqui? — ele perguntou enquanto se
aproximava.
A pergunta a pegou de surpresa, mas ela se viu balançando a cabeça
bruscamente. — Esta é a casa do seu irmão. Eu nunca seria tão rude a
ponto de pedir para você sair.
— Eu sairia se você me pedisse, Eri. — Sua voz era suave, carinhosa.
Comovente e familiar.

53
Ela não aguentaria se ele a chamasse de Eri. Ela se concentrou em
respirar normalmente, puxando e soltando o ar devagar. — No jantar,
você perguntou sobre um visconde. O que você quis dizer?
— Não importa agora. Percebi que estava... mal-informado sobre o
seu paradeiro.
— Mal-informado? Por quem?
Seu olhar capturou o dela, seus olhos brilhando na escuridão. — Isso
importa depois de todos esses anos, Erienne?
Ela desviou o olhar e chutou uma pedrinha no caminho com o sapato.
Fez algo no peito dela doer ao ouvir o som do nome dela nos lábios dele. —
Suponho que não.
Ele estava perto o suficiente agora para que ela pudesse sentir o
perfume dele sob o jasmim, o cheiro familiar dele que ela lembrava de
todos aqueles anos atrás. Isso a catapultou de volta no tempo. Ela
apertou a mandíbula contra as memórias que ameaçavam dominá-la,
lutando para não se virar para fugir.
— Senti sua falta. — A entonação quente de sua voz enviou ondas de
choque percorrendo seu corpo.
Ela colocou os braços em volta de si mesma e engoliu em seco. — Por
que você me diz isso depois de todos esses anos? — Ela podia ouvir a
angústia em sua própria voz, mas não havia nada que ela pudesse fazer.
Ela sempre foi muito sincera com ele.
Ele deu um passo final em sua direção e o calor de seu corpo aqueceu
sua pele fria. — Porque é verdade, — ele disse suavemente. — Você está
com saudades de mim?
Ela não quis responder. Era injusto da parte dele lhe perguntar isso
agora. Mas negar seria mentira.
Ele se aproximou, sua sombra a envolvendo. Ele abaixou a cabeça e
levantou o queixo dela com um dedo. Todos os tijolos na parede que
cercavam seu coração por tanto tempo pareciam voar como muita poeira
em um vento forte.
Ele procurou o rosto dela na escuridão. — Eu machuquei você, não
foi, Erienne?
Ela se recusou a responder a isso também. Ela não lhe daria a
satisfação de saber com certeza. — Você me pediu para deixar você ir, e
foi o que eu fiz. — Era tudo o que ela daria a ele, tudo o que admitiria.
— Sinto muito, — ele respirou. — Por te machucar, e certamente me
arrependo por isso. — Ele fechou os poucos centímetros escassos entre
eles e a beijou. Os lábios dele se inclinaram ferozmente sobre os dela, e
ela se agarrou fortemente nas lapelas do casaco dele para se firmar. Eles
se beijaram assim, sem parar, antes de Collin se afastar dela, respirando

54
pesadamente. Ele pressionou a testa na dela. — Venha comigo, — disse
ele, puxando-a pela mão atrás dele enquanto se dirigia para as portas
francesas que se abriam na casa. — Eu conheço um lugar ainda melhor
do que a árvore do sicômoro.
Erienne se deixou levar, incapaz – ou talvez apenas pouco disposta –
de dizer uma palavra. Eles estavam indo a algum lugar para continuar se
beijando, e possivelmente para fazer algo mais. Ela sabia que não deveria
querer, não deveria acompanhá-lo, e ainda assim ela não podia fazer sua
boca falar em protesto ou seus pés pararem de avançar. Era como se sua
mente tivesse abandonado seu papel na tomada de decisões. Claramente,
seu corpo e seu coração assumiram o controle.
Collin a puxou para uma sala que um breve olhar mostrou ser uma
biblioteca e fechou a porta atrás deles. Estava completamente escuro lá
dentro, exceto pelo fogo na lareira do outro lado da sala. O fogo dava um
brilho suave ao grande espaço, mas não iluminava. Ele a levou até um
amplo sofá de couro no centro da sala e a puxou de volta para seus braços
para beijá-la novamente antes de levá-la para as almofadas. Ela se viu em
cima dele. Seu corpo estava duro, quente e ele cheirava tão bem. Ela não
conseguia ter o suficiente dele. Ele se sentou e tirou o casaco, nunca
deixando os lábios deles se separarem, e então a puxou sobre ele
novamente, desta vez enquanto ele se sentava em um ângulo na virada
do sofá para que ela estivesse metade em cima de seu colo. Era uma
posição muito imprópria... e ela adorava cada momento.
Seus lábios foram para o ouvido dela e ele chupou o lobo. — Deus,
Erienne, senti sua falta. Eu te quis todos esses anos — ele sussurrou.
Oh Deus. Se ele não falasse, seria mais fácil fingir assim. Ela
pressionou a boca contra a dele mais uma vez para silenciá-lo, então ele
falou de uma maneira diferente – do jeito de um amante.
Sem hesitar, a mão forte e áspera se moveu para a barra da saia dela
e a levantou. Ele as manobrou para que se deitassem lado a lado no sofá,
e sua mão subiu à junção entre as coxas dela. Ela deveria se afastar, pedir
que ele parasse, mas não conseguiu se forçar. Ela queria o toque dele,
desejava isso nos últimos catorze anos. Erienne conhecia o básico das
relações conjugais, mas não os detalhes – esses encantadores detalhes
que ela não imaginara que poderiam ser tão emocionantes.
— Posso tocar em você, Erienne?
— Sim. — Ela soprou a palavra e os dedos dele habilmente
empurraram para o lado sua saia e a roupa de baixo. O ar fresco roçou a
carne úmida e aquecida entre suas coxas e depois o toque dele, e ela
sacudiu com aquela carícia muito íntima e maravilhosa na dança circular
de - era o polegar? Tocava-a como um instrumento, incitando o prazer
mais inquieto a cada golpe, repetidamente.

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Erienne queria gritar, implorar para ele parar e nunca parar. A
cabeça dela caiu contra a lateral do sofá e ela fechou os olhos com
força. Suas coxas ficaram tensas e ela chorou no fundo da
garganta. Nunca em sua vida ela experimentara prazer igual, e o fato de
Collin Hunt dar isso a ela o tornava ainda mais agridoce. Então, de
alguma forma, seu toque também estava dentro dela. Um dedo longo,
talvez, deslizando dentro dela com tanta facilidade e sinuosidade que ela
mordeu o lábio para impedir o choro. Como esse prazer louco
aumentava? Pareceu tão maravilhoso.
A mão dele se moveu como se quisesse se retirar, e ela imediatamente
apertou as coxas ao redor dela, até que obedientemente recuperou sua
deliciosa e profunda profundidade dentro dela. Ela pensou que ele poderia
ter lançado uma gargalhada contra sua bochecha, mas então ele estava
sussurrando palavras quentes em seu ouvido, dizendo a ela como ela era
linda, macia e amável, e ela queria derreter. Nenhum momento poderia
ter sido mais perfeito, nenhum deleite mais surpreendente... até que o
polegar dele encontrou aquele outro ponto que ela havia esquecido,
circulou e acariciou, enquanto dentro dela... dentro dela, era um dedo ou
dois que tocavam as notas perfeitas e guiavam a música pelo corpo dela,
até que não era mais dela? Foi demais. A última coisa que ela se lembrou
foi a suave pressão do beijo dele em sua garganta curvada enquanto ela
se debatia em um prazer cego e sem sentido que ela nunca sonhara
existir.
Alguns minutos se passaram, durante os quais Erienne recuperou a
respiração, antes de sentir a suave retirada de seu toque. Em instante, a
insanidade do que ela tinha permitido passou por sua mente. O que, em
nome do céu, ela acabara de fazer?
Ela se levantou do sofá, endireitando as saias e se encontrando sem
fôlego, desta vez com humilhação. Ela se virou para encarar Collin,
embora não estivesse totalmente certa de que ele podia ver seu rosto no
brilho fraco da lareira.
Ela não estava brava com ele. Ela estava com raiva de si mesma.
Como no espaço de poucas horas ela permitiu que Collin Hunt se
arrastasse de volta ao seu coração e a tocasse assim, tão... tão
arbitrariamente e... e deliciosamente? Ela queria chorar de ódio. Ela
queria gritar.
Collin levantou-se lentamente e se aproximou como se quisesse tocá-
la novamente. — Erienne, eu...
O estalo da palma da mão em sua bochecha foi como um tiro de uma
pistola.
Ele não vacilou, como se soubesse que estava chegando, a explosão
de raiva que ela não podia mais conter. — Sinto muito, — ele murmurou.
— Eu não deveria ter...

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— Isso não foi por hoje à noite, — ela respondeu entre dentes. — Isso
foi por catorze anos atrás.

Capítulo Quatorze

Erienne estava sentada no berçário com as crianças na manhã


seguinte quando Lucy veio flutuando. Ela abraçou e beijou Mary e Ralph
antes de girar para Erienne. — Espero que você não esteja com raiva de
mim, querida, por sugerir o jantar da noite passada.
— Eu não estou. — Como ela poderia estar com raiva de Lucy? O
menor dos problemas com a noite anterior tinha sido Lucy insistindo que
Erienne fosse jantar.
— Estou tão feliz em ouvir isso, — continuou a duquesa. — Derek e
Collin se levantaram com o sol e foram passear, mas Collin pretende
visitar as crianças antes do meio dia.
— Tio Cawwin está aqui? — Mary perguntou, erguendo suas escuras
sobrancelhas.
— Sim, querida, seu tio Collin está aqui. Você o verá em breve.
Sorrindo, Mary bateu palmas.
— Ele viu Ralph apenas no batizado em Londres, — disse Lucy,
inclinando-se e pegando o filho. — Sem dúvida, ele ficará chocado ao ver
o quão grande você cresceu, Ralphie. — Ela colocou a criança no quadril.
A criança enfiou o dedo na boca e a roeu.
Lucy voltou-se para Erienne. — Tudo isso para lhe dizer, que você
pode começar suas aulas com as crianças hoje de manhã e depois levá-
las para fora um pouco antes da visita a Collin. Eu odeio vê-los presos no
berçário o dia todo, especialmente quando o dia está tão adorável lá fora.
Erienne assentiu. — Talvez nós poderemos brincar nas margens do
riacho.
— Parece uma excelente ideia. Certifique-se de levar Anna com você
— respondeu Lucy.
Depois que Lucy saiu, Erienne passou as duas horas seguintes
discutindo palavras muito básicas em francês com as crianças. Pararam

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para descansar e comer um lanche enviado por Cook. Às dez horas,
Erienne decidiu que Mary e Ralph tinham o suficiente para crianças da
idade deles.
— Escolha um brinquedo, — ela anunciou. — Vamos para o riacho.
Mary bateu palmas. — Vou levar minha boneca. — Ela correu pela
sala para pegar uma boneca de pano que estava em uma prateleira, os
cabelos uma bagunça de fios amarelos.
Erienne escolheu alguns blocos de madeira para Ralph e os colocou
em uma cesta junto com um cobertor. Ela chamou Anna e, com a babá à
frente, o pequeno grupo partiu para o riacho. Eles percorreram o lado da
casa e atravessaram o prado em direção a um bosque de árvores que
ficava perto do riacho.
Quando chegaram ao riacho, Erienne e Anna estenderam o cobertor
grande sobre a grama macia ao longo da margem e colocaram a cesta em
um canto como suporte para manter o cobertor preso ao chão. As crianças
sentaram-se no centro da colcha macia e brincaram alegremente com
seus brinquedos antes que Lady Mary perguntasse se poderia ir até a
beira do riacho para jogar uma pedra. Aparentemente, seu pai a havia
ensinado a fazê-lo da última vez que estiveram ali.
— Eu vou com você, Mary, — disse Erienne.
Ela se levantou e pegou a mão da menina.
Mary carregava a boneca firmemente sob o outro braço enquanto
marchavam em direção à beira da água. Quando chegaram, a criança
procurou a pedra perfeita. Erienne se inclinou para encontrar uma boa,
redonda e lisa para mostrar a Lady Mary como fazê-la pular sobre a água.
Erienne se virou por um momento quando um respingo roubou seu fôlego.
Horrorizada, Erienne se virou rapidamente nos calcanhares. Alívio a
inundou. Graças a Deus, Lady Mary não tinha caído. Era a boneca dela.
A menina apontou para o riacho, com lágrimas de angústia já
brilhando em suas bochechas.
Erienne viu a boneca sendo levada rapidamente rio abaixo e não
parou para pensar. Ela tirou os chinelos e pulou na água gelada. Foi um
choque para o corpo dela, mas tudo em que conseguia pensar era buscar
a boneca da menininha.
Ela era uma nadadora forte, mas a corrente era mais forte do que ela
imaginara. Ela seguiu em direção à boneca. Felizmente, o vestido tinha se
agarrado a um galho de árvore que caíra sobre o riacho, ou ela nunca a
alcançaria.
— Eu consegui, — ela gritou, saltando da água e acenando com a
boneca em direção a Lady Mary e os outros, que esperavam na margem
oposta a muitos metros de distância.

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Erienne mergulhou de novo na água para nadar de volta, mas sua
própria saia pegou no galho. Ela mergulhou mais fundo para localizar o
obstáculo e se libertar, mas a água estava escura e ela não podia ver muita
coisa. Ela tentou arrancar o tecido dos galhos, mas rapidamente
descobriu que havia muitos galhos afiados e espinhosos sob a superfície
que não eram visíveis da costa. Liberar-se não seria tão simples quanto
ela esperava.
Ela tentou voltar à superfície para respirar, mas os galhos se
enredaram mais em suas saias e a puxaram. Ela não conseguiu chegar
ao topo. O pânico começou a entrar e ela puxou desesperadamente a saia,
tentando rasgá-la com as duas mãos, qualquer coisa para se libertar. O
tecido era bem firme e não se mexia. Lutando contra seu crescente terror,
ela tentou quebrar os membros que estavam enredados em suas saias,
mas no momento em que seus dedos se fecharam ao redor do mais
próximo, ela percebeu que eram largos e fortes demais para quebrar.
Bom Deus, ela não poderia morrer assim, afogando-se em um riacho
que não podia ter mais de um metro e meio de profundidade. Por que ela
nadou a vida toda! Ela e Peter correram um para o outro de volta para a
costa, de longe no oceano, pelo amor de Deus. Ela não tinha mais medo
da água do que comer.
Mas não adiantou. Ela não conseguia se libertar e seus pulmões
pareciam quase explodir com o esforço de prender a respiração. Frenética,
ela tentou se despir do vestido. Ela tirou a coisa dos quadris quando
sentiu algo grande mergulhar na água ao lado dela.
Mãos fortes cercaram sua cintura e a puxaram com força. Aquelas
mesmas mãos rasgaram seu vestido, rasgando-o com violência dos galhos
das árvores. E então Erienne estava livre. Ela voltou à superfície e
arrastou pesados goles de ar em seus pulmões famintos.
Mas o esforço a cansou e, quando ela desabou, foi direto para os
braços de ninguém menos que Collin Hunt, que havia aparecido ao lado
dela.
Sem dizer uma palavra, ele colocou o braço debaixo do dela e nadou
rapidamente de volta para a costa, arrastando-a com ele.
Quando chegaram à parte rasa onde podiam ficar em pé, ele a
abraçou e a carregou para a margem, onde os outros se reuniram em um
pequeno grupo assustado. Ela estava encharcada, tremendo, vestida
apenas no seu camisão interno da cintura para cima.
— O que você estava pensando? — A voz de Collin estava cheia de
raiva e medo quando ele a colocou de maneira não muito gentil. — Você
poderia ter morrido.
Antes que Erienne tivesse chance de responder, Anna limpou a
garganta. — Eu vou... levar as crianças de volta para casa para lhe dar
tempo de se recuperar, senhorita Stone.
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— Espere, — Collin chamou. Ele alcançou atrás dele e puxou a
boneca de Mary de onde ela aparentemente estava escondida na cintura
de suas calças. Ele estendeu a boneca para a menina que correu para
pegá-lo com as duas mãos.
— Muito obligada, tio Collin — disse Lady Mary, com um enorme
sorriso no rosto, antes de voltar correndo para o lado de Anna.
A babá prontamente pegou as mãos das duas crianças, virou-se e
marchou obstinadamente em direção à casa sem olhar para trás.
Erienne afundou no chão e lutou para corrigir a respiração. Ela tinha
muitas coisas a dizer, mas primeiro precisava de ar, e não estava prestes
a desperdiçar nenhuma das suas preciosas respirações discutindo com
Collin sobre por que ela pensara ser perfeitamente seguro mergulhar em
um pequeno riacho.
No entanto, ela olhou para si mesma e notou que seu camisão era
praticamente transparente, com os mamilos em atenção. Ela puxou seu
camisão para afastar o tecido para longe de sua pele.
Collin marchou para onde eles haviam acampado apenas alguns
minutos antes e puxou o cobertor de debaixo da cesta. Ele voltou para
onde Erienne estava tremendo e a envolveu nos ombros.
Ela esperou até que seus dentes parassem de bater. — Obr...
obrigada, — ela finalmente conseguiu.
— Você poderia ter morrido, — ele repetiu, seu rosto gravado com
uma mistura de preocupação e raiva.
Erienne ficou sentada por um momento e contemplou a declaração.
Ele estava certo. Ela chegou perto da morte esta tarde. Era um
pensamento assustador, mas verdadeiro. Imediatamente a drenou de
qualquer raiva. — Eu não sei o que teria acontecido se você não tivesse
aparecido.
Ele se sentou no chão ao lado dela e procurou seu rosto. — Não estou
tentando ganhar elogios. Fiquei preocupado quando percebi que você não
podia respirar. Eu estava assistindo de longe e vim correndo quando...
Ela levantou a cabeça, os olhos procurando os dele. — Você veio
correndo para me salvar?
— Sim, — ele admitiu, parecendo positivamente infantil.
A gratidão tomou conta dela, mais poderosa do que a água do riacho
jamais poderia ter sido. Ela estendeu a mão e pressionou uma mão fria
na bochecha dele. — Obrigada, Collin. Sempre me considerei uma boa
nadadora. Suponho que nunca pensei que estaria em perigo.
Ele se abaixou de joelhos e puxou o cobertor com mais força em volta
dos ombros dela. — Você quer que eu te leve de volta para casa?
Ela inclinou a cabeça e considerou a oferta. — Não.
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— Você gostaria que eu chamasse Lucy?
— Não. — Ela apertou o nariz molhado e frio na colcha.
Ele franziu a testa. — Você quer que eu acompanhe você?
— Não.
Ele abriu um sorriso. — Você se importaria de me dizer o que gostaria
de fazer a seguir, então?
— Isso, — ela disse resolutamente, antes de puxá-lo para cima dela,
encharcando a camisa dele.

Capítulo Quinze

Na manhã seguinte, Collin acordou, se virou, e gemeu. Oh inferno


maldito. Ele beijou Erienne ontem. E no dia anterior. E feito mais que isso
em ambas as vezes. Quase haviam feito amor no leito do riacho ontem.
Oh, santo inferno, ela colocou a mão em torno de seu pênis, e ele precisou
de toda a sua força de vontade para não arrancar o que restava de suas
roupas e enterrar-se profundamente dentro dela.
Mas a mulher quase morreu, pelo amor de Deus. Afinal, Collin não
era tão patife para querer tirar vantagem dela em seu estado enfraquecido.
Em vez disso, ele se forçou a se afastar dela, enrolou o cobertor com mais
força ao redor dela, juntou a cesta e a levou de volta para a casa, onde
Anna já havia alertado as empregadas, que estavam esperando Erienne
com cobertores e um banho quente.
O que diabos havia de errado com ele? Ele estava perto de Erienne
por apenas dois dias e claramente não conseguia tirar as mãos dela. Ele
não tinha o direito de aparecer em sua vida novamente e causar estragos.
Ele obviamente a machucou quando partiu. Mesmo que ela não tivesse
admitido isso, ele podia dizer pelas coisas amargas que ela havia dito no
jantar, pelas lágrimas nos olhos no jardim, e então houve aquele tapa de
arrepiar que ela lhe dera na biblioteca.
Ele não podia culpá-la por odiá-lo. Ele também se odiaria se estivesse
na posição dela. Ele prometeu a ela amor e casamento e depois a deixou.
Não importava mais o por que ele tinha feito o que fez. Ela passou os

61
últimos catorze anos como governanta, uma posição claramente abaixo
dela.
Quanto ao motivo pelo qual ela o agarrou e o beijou no leito do rio...
isso era facilmente explicado. Ela tinha chegado perto da morte, e ele já
havia chegado perto disso com frequência suficiente para saber que um
sentimento de euforia geralmente se seguia a esse evento. Claramente eles
ainda estavam extremamente atraídos fisicamente um pelo outro. Ela
confundiu sua euforia com paixão, só isso. Ele não podia culpá-la por isso
também, e ele certamente não se importava. Mas dificilmente isso
significava que ela estava interessada em ter algo a mais com ele.
Ele olhou para o relógio em cima da lareira em frente à cama. Ele
prometeu se encontrar com Derek às sete. Collin jogou os lençóis e se
levantou da cama.

****
Quando Collin chegou aos estábulos, quinze minutos depois, seu
irmão estava de pé junto à montaria, consultando o relógio.
— Você está atrasado, — disparou Derek, com a cabeça inclinada
para o lado.
Collin sorriu para ele. — Sou um cavalheiro em férias pela próxima
quinzena, ou você não ouviu sobre isso?
— Ah, eu entendo. Esquecer de seu treinamento militar rígido tão
rapidamente.
— Eu desejo, — retornou Collin. — Agora, você não me prometeu algo
sobre me mostrar o perímetro da propriedade? — Mal podia esperar para
começar. Uma longa viagem era exatamente o que ele precisava para
limpar sua mente hoje.
Ambos montaram em seus cavalos e decolaram apressadamente
através do prado. Não foi até que eles estivessem muito longe da casa para
que Derek disse: — Você está bem?
Collin franziu o cenho. — Por que eu não estaria?
Derek deu de ombros. — Lucy parece pensar que algo aconteceu
entre você e Erienne no riacho ontem.
A cabeça de Collin se virou para encará-lo. — O que a faz pensar isso?
— Ela disse que Erienne parecia chateada quando voltou.
— Erienne quase se afogou, — disse Collin.
— Isso foi tudo o que aconteceu? — Derek rebateu.
Collin arqueou uma sobrancelha para ele. — Cuidado, sua graça. —
Fazia muito tempo que eles chamavam Derek de “sua graça”.

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— Você não pode nos culpar por pensar assim, — respondeu Derek.
Collin cutucou a bochecha com a língua e assentiu. — Basta dizer
que estou pensando em partir.
Derek chutou levemente as laterais do cavalo para ir mais rápido. —
Agora, isso é surpreendente.
— O que você quer dizer? — Collin chamou por ele.
— Eu nunca soube que você tivesse fugido de algo antes. Não importa
o quão difícil fosse.

****
Mais tarde naquela dia, Collin passou pela biblioteca vazia de seu
irmão. Ele já tinha lido todos os livros interessantes sobre história militar.
Ele estava tão desesperado por distração que estava olhando volumes
sobre jardinagem, todas essas coisas malditas e chatas.
Ele pretendia ir embora esta manhã, afastar-se de Erienne, dar-lhe a
paz que ela obviamente merecia. Mas então, malditamente Derek foi e
disse a única coisa que ele sabia que convenceria Collin a ficar. Que ele
não era de fugir das coisas difíceis.
E ele não estava, diabos. Então, por que ele queria fugir tanto disso?
Porque suas emoções estavam envolvidas. As emoções que ele mal
queria reconhecer que existiam, muito menos admitir, estavam lhe
causando problemas. Ele passou os últimos catorze anos dedicando-se ao
trabalho e ao país, sem se preocupar com coisas como amor e casamento
e tocando Erienne Stone novamente. E agora, por causa de Lucy e de seus
modos intrometidos, ele estava preso em uma casa com a única mulher
que provocou revolta em suas emoções.
Ele estava tão perdido em pensamentos que não ouviu a porta abrir.
Quando ele se virou, Erienne estava de pé perto do grande sofá de couro
no centro da sala, o mesmo grande sofá de couro onde ele a agradara duas
noites atrás. Inferno desgraçado. Esse pensamento não estava
ajudando.
Ela não tinha notado ele parado junto às estantes de livros no canto
mais distante da sala. Em vez disso, ela se inclinou para pegar um livro
na mesa em frente ao sofá. Ela estava usando um vestido escuro e um
avental. Vestida como uma serva. A imagem dela em seu vestido azul-gelo
encheu sua mente. Ela nunca deveria ter que se vestir como uma criada
novamente.
— Boa tarde, — disse ele. Então ele queria se chutar. Boa tarde foi
uma coisa chata e insignificante para se dizer. Além disso, a tarde não
estava particularmente boa. Estava confusa e tensa.

63
Erienne congelou. — Oh, — ela respirou, abraçando o livro contra o
peito. — Vim buscar um livro que Mary deixou aqui hoje pela manhã. —
Ela olhou para a capa. — Cinderela.
Ele cruzou as mãos atrás das costas e assentiu solenemente. — Já
ouvi falar sobre isso. Muito popular entre os pequenos, pelo que entendi.
— Outra coisa idiota a dizer. Quando ele se transformou em um idiota?
— É o favorito dela. — Erienne ficou lá por um momento, como se
procurasse algo mais a dizer, então pareceu decidir que a conversa havia
terminado e se dirigiu para a porta.
— Erienne, espere.
Ela parou, mas não se virou para ele. Ela ficou de frente para a porta,
com as costas retas.
— Você quer que eu Parta? — ele perguntou baixinho.
Ela deu um suspiro. — Você quer ir?
— Eu não quero deixar você desconfortável.
— Se alguém for, então esse alguém sou eu. Eu sou uma serva. Você
faz parte da família.
— Lucy não gostaria se eu fugisse de sua nova governanta.
— Derek não gostaria se eu fugisse do irmão dele, — ela respondeu
calmamente.
Collin riu e sentiu-se relaxar um pouco. — Talvez nós dois estejamos
sendo irracionais. E se nós concordássemos com uma trégua? Nós dois
ficaremos e tentaremos agir como seres humanos civilizados. Não precisa
ser difícil.
Erienne virou-se para encará-lo. — Concordo, — disse ela com a
sugestão de um sorriso. — Tudo pode ser bem simples. — Ela caminhou
até a mesa no canto e colocou o livro em cima. Então, de uma maneira
metódica, ela puxou um pedaço de papel da gaveta superior, arrancou um
pedaço e pegou a pena do tinteiro. Ela rabiscou algo rapidamente e agitou
o papel no ar para secá-lo. Então, pegando o livro novamente, ela foi até
ele, deslizou o papel na mão dele e saiu da sala.
Collin a observou partir. A porta se fechou atrás dela antes que ele
permitisse que sua atenção caísse no papel em sua mão.
Venha para o meu quarto hoje à noite.

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Capítulo Dezesseis

Erienne andava de um lado para o outro no quarto.


Já passava da meia-noite e ela estava vibrando com os nervos,
pulando a qualquer barulho. Ela não tinha visto Collin o resto do dia. Ela
permaneceu no berçário com as crianças, jantou lá com Anna e depois se
recolheu cedo, pouco tempo depois que as crianças foram dormir.
Ela cometera um erro terrível ao dar aquele bilhete a Collin? Ela não
ficou para ver a reação dele, mas pelo que sabia, ele pensou que era
completamente inapropriado. Ou talvez ele estivesse tentado, mas não
tinha intenção de realmente chegar à porta dela hoje à noite. Ele não tinha
acabado de dizer a ela que ambos poderiam agir como seres humanos
civilizados um com o outro? Não foi ele quem parou o que tinha acontecido
no riacho? A verdade era que ela não queria agir como um ser humano
civilizado ao seu redor. Ela não queria parar o que aconteceu no riacho.
Ela queria arrancar as roupas do homem e fazer amor com ele a noite
toda.
Ela passou toda a noite passada rolando e revirando-se, e finalmente
decidiu o que queria: uma noite com Collin. Talvez se eles passassem a
noite juntos, ela seria capaz de esquecê-lo de uma vez por todas. Talvez
ela pudesse bani-lo de seus pensamentos e do seu coração para sempre.
Ela permaneceu virgem todos esses anos. Ela não merecia uma noite
de paixão? Não era como se ela estivesse se guardando para o casamento.
Esse sonho havia desaparecido há muito tempo. Pelo contrário, ela
pretendia viver o resto de sua vida como solteirona e governanta. O que
mais importava sua virgindade? Ela poderia muito bem dar ao homem a
quem pertencia o tempo todo. O único homem que ela já amou.
Uma batida suave na porta a fez pular. Ela apertou a mão contra o
coração palpitante e se forçou a atravessar lentamente a sala e abri-la, os
pés descalços deslizando pelo tapete grosso.
Quando ela abriu a porta, Collin estava lá, com um pequeno buquê
de flores roxas e brancas em seu punho. Ela não pôde evitar sorrir.
— Eu não pensei que você viria, — ela respirou.
— Eu ainda tenho que perder um desafio.
Ela recuou para permitir que ele entrasse na quarto. — Suponho que
seja verdade, — disse ela, — mas não tinha certeza de que você gostaria
de participar deste.

65
Ela fechou a porta atrás dele, pegou as flores de suas mãos e as
pressionou contra o nariz. Suas pétalas macias e frias fizeram cócegas
nela, seu perfume fresco e doce. — Obrigada.
Collin estendeu a mão e passou a ponta do dedo ao longo de sua
bochecha. — Por que eu não iria querer, Erienne?
Ela respirou fundo e se forçou a encontrar os olhos dele. — Nós não
somos mais crianças. Convidei você aqui para fazer mais do que apenas
me beijar.
Seus olhos verdes brilharam como fogo. — E eu aceitei com o mesmo
propósito.
Ela foi até a cama e colocou as flores na mesa de cabeceira. Então,
sentindo que ele tinha mais a dizer, ela se virou para olhá-lo.
— Eu pensei... — Ele balançou a cabeça e pareceu reunir seus
pensamentos. — No riacho, pensei que você fosse tomada pelo que havia
acontecido. Quase se afogando, quero dizer.
— Eu estava, — ela concordou, — mas isso não significava que eu
não te queria. Eu sempre quis você.
Com a suave admissão dela, ele pareceu derreter um pouco. Suas
defesas, pelo menos. Toda a armadura escondendo suas emoções. A dor
cruzou suas feições e ele fechou os olhos e respirou fundo. Quando os
abriu, ele atravessou a sala para encontrá-la e a puxou para seus
braços. — Você tem certeza de que é isso que quer, Erienne?
— Eu nunca tive tanta certeza. — Claro, ela não tinha intenção de
lhe dizer que isso era tudo que ela queria. Uma noite. Uma noite para
lembrar para sempre. — Beije-me, — ela respirou.
Ele abaixou a boca na dela e a beijou suavemente a princípio. Mas
então a paixão suprimida por muito tempo surgiu entre eles, e ele
reivindicou seus lábios com uma possessividade que a levou aos dedos
dos pés.
Os braços dela deslizaram-se em torno do pescoço dele, e ele não
perdeu tempo puxando sua camisola para cima, passando varrendo sobre
sua cabeça, deixando seu cabelo selvagem e enrolando-se em torno de seu
rosto e ombros.
Juntos, eles trabalharam com pressa frenética para despir Collin de
suas roupas. Ele parou momentaneamente para se sentar na beira do
colchão e jogar suas botas, que atingiram o chão com muita suavidade,
frustrando suas intenções.
Quando finalmente os dois estavam nus – ele sem vergonha, seu olhar
percorrendo avidamente cada centímetro dela, e Erienne tremendo com
parte de timidez, parte de prazer e apreensão – ele a puxou para o colchão,
onde podiam se olhar maravilhados deleite-se com a sensação da pele nua
um do outro.
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— Você é lindo. — Ela traçou um dedo trêmulo ao longo da
musculatura fina de seu peito.
Ele riu. — Acredito que é o que devo dizer para você. — O olhar dele
escureceu ao passar pelo corpo dela. — Você é, a propósito, além de
bonita.
Ele se abaixou sobre ela. Sua cabeça escura se moveu para o mamilo,
e ele o mordeu gentilmente e deixou sua língua brincar com ele antes de
sugá-lo no doce calor da boca. Ela gemeu e arqueou as costas. — Collin,
— ela sussurrou.
Enquanto ela se contorcia alegremente, ele desviou a atenção, numa
trajetória lenta e pecaminosa, descendo em sua barriga, parando para dar
um beijo na pele macia e mergulhar a língua em seu umbigo, o que parecia
um ato tão explícito quanto o que Erienne compartilhara com ele antes
desta noite.
Até a boca de Collin encontrar o lugar dolorido entre as pernas dela.
Ela olhou para ele em uma névoa de luxúria, não totalmente certa do
que ele estava fazendo, apenas que isso envolvia seus lábios, sua língua...
e ela nunca queria que ele parasse.
Seus cabelos macios roçaram suas coxas enquanto ele gentilmente
cutucava e sondava com a língua para encontrar o local perfeito. Quando
ela soltou um suspiro, sentiu-o sorrir contra sua carne, e então sua língua
insistente causou estragos em seus sentidos, o prazer construído mandou
seu corpo buscar e seguir o toque quente de sua boca.
— Você tem um gosto tão doce, Erienne — ele respirou contra a pele
dela.
Ela afundou os dedos nos cabelos dele, as coxas tensas em ambos os
lados da cabeça dele. Ela estava sem sentido. A cabeça dela bateu contra
o travesseiro, as pernas se esforçando mais a cada golpe implacável da
língua dele.
Erienne fechou os olhos com força, agarrando cada sensação
selvagem, mas seus cílios se ergueram no instante em que ela sentiu o
lento deslizar do dedo dentro dela – primeiro numa tentativa de sondagem
e, depois, gradualmente, um ritmo sinuoso, entrando e saindo, deslizando
contra a umidade dela. Sua língua nunca vacilou em sua própria dança,
e de repente o prazer foi grande demais, e sua consciência disparou em
um tumulto de redemoinhos e cores quando seu corpo estremeceu sob o
ataque sensual dele, completamente separado de sua vontade.
Quando ela voltou a si mesma novamente, a mão de Collin estava
acariciando seus cabelos, seus lábios sussurrando contra sua orelha
coisas que ela nunca pensou que o ouviria dizer novamente. Coisas sobre
o quanto ele a amava, o quanto sentia sua falta e o quanto ele queria se
enterrar dentro dela.

67
Ele havia lhe dado um prazer indescritível duas vezes agora, algum
tipo de milagre de outro mundo que ela nem sabia que seu corpo era capaz
de experimentar. Mas ela não estava fazendo isso apenas por si mesma.
Ele também tinha sido negado a união sensual que ambos queriam todos
esses anos.
Ela sorriu e uma onda de poder feminino a agarrou quando ela se
apoiou em um cotovelo e o pressionou contra o colchão. Então ela se
moveu lentamente sobre ele, nunca quebrando o contato com seu olhar
quente. Para sua surpresa, ele capitulou, esticando os braços acima da
cabeça, entregando-se completamente a ela. Ela o beijou profundamente,
o suficiente para tirar o fôlego dele. Então ela desceu o corpo dele, o
mesmo caminho de deleite e promessa que ele lhe tinha feito, beijando
seu abdômen tenso até que ela alcançou o ápice de suas coxas. Sua longa
e dura masculinidade se destacava dos cabelos escuros ali. Ela o
envolveu, exatamente como havia feito no riacho.
Ele gemeu e fechou os olhos. — Erienne.
Ela se sentiu bêbada com o poder que seu toque tinha sobre ele. Eles
nunca haviam sido assim antes. Nus, despreocupados, capazes de fazer
o que quisessem um com o outro, como queriam. Ela pretendia tirar o
máximo proveito dessa liberdade.
Ela se abaixou até que sua boca pairou sobre o membro dele. Então
sua língua disparou para lamber a ponta. Seu corpo grande e forte
estremeceu. Ela sorriu para si mesma.
Ela tocou com a língua a ponta do membro duro dele novamente, mas
desta vez também deslizou a boca sobre ele, chupou um pouco e
imediatamente percebeu que havia descoberto algo surpreendente e talvez
primordial. O corpo dele deu um estremecimento selvagem e um calafrio,
um som indefeso retumbando em sua garganta.
O que tinha que significar que ele havia gostado.
— Diga-me o que fazer com você, Collin, — ela sussurrou
fervorosamente, deixando a carne quente e dura escorregar de seus lábios
para deslizar ao longo de sua bochecha. — Me diga o que você quer.

Collin abriu os olhos e olhou para Erienne. Ele nunca sentiu um


desejo tão avassalador. Seus sonhos nunca foram tão bons. Erienne
estava na cama com ele, nua e o desejando. Ninguém os impediria. Ela
pediu que ele lhe mostrasse o que ele queria. Isso era um sonho se
tornando realidade.
Ele não confiou em si mesmo para falar, então ele apenas pegou a
mão dela e cruzou os dedos em torno de seu pênis. Aqueles dedos frios,
suaves e graciosos. Seu toque quase o desencadeou como um rapaz não

68
experimentado. Ele engoliu e voltou a se concentrar, depois guiou o toque
dela em um deslizar suave, para cima e para baixo.
Erienne pegou o jeito rapidamente, e logo sua mão guia caiu para se
fechar em punho ao seu lado, seu corpo inteiro à beira de um clímax,
controlado apenas por sua vontade de se divertir com ela e curtir esse
momento.
E o tempo todo, ela assistia suas próprias ministrações com
admiração de olhos arregalados, um sorriso de alegria e maravilha nos
lábios, como se finalmente despertasse para os presentes íntimos que ela
poderia oferecer.
Quando sua respiração arrancou um fôlego esfarrapado em sua
garganta e seus quadris estavam empurrando para encontrar cada
deslizamento descendente de sua mão, ele agarrou seus dedos e os
afastou. Mas ela já havia aprendido o que ele gostava e rapidamente
entrou para substituir as mãos pela boca, chupando-o, retomando a
carícia devastadora de um momento anterior com os lábios, a língua e até
o leve arranhar dos dentes.
Collin agarrou o travesseiro de cada lado da cabeça e mordeu o
interior da bochecha com força, algo para impedir que ele viesse a gozar.
Ele queria fazer amor com ela da maneira certa, sentir seu corpo acelerar
novamente, levá-la ao clímax novamente, fazê-la gritar seu nome. Mas ele
não podia convocar a vontade de afastar a boca de seu pênis dolorido.
Ah Deus. Só mais um momento. Apenas mais um momento doce. Ou
dois.
Erienne apertou o pênis em seu punho e deslizou os lábios para cima
e para baixo, sua língua mapeando os sulcos e a textura dele. Quando ela
levou a ponta na boca novamente, o mais profundamente que pôde, os
quadris dele se arquearam do colchão e quase a derrubara da cama.
— Jesus, — ele gemeu, e com isso, ele quebrou o feitiço, agarrou-a
pela cintura e a puxou completamente em cima dele, finalmente
recuperando o controle.
Eles rolaram no colchão até que ela estivesse embaixo dele
novamente, e ele se acomodou no abraço entre as pernas dela.
— Eu quero você, — disse ele, beijando sua bochecha, sua orelha,
seu pescoço.
— Eu também quero você, — ela respirou, inclinando a cabeça para
trás para lhe dar melhor acesso à sua pele macia.
Collin ergueu-se sobre um joelho, afastou suas coxas e se posicionou
acima dela, seu pênis sondando seu calor úmido. — Você tem certeza,
Erienne?
— Sim, — ela sussurrou. — Tome-me.

69
Ele fechou os olhos e, sem mais distração, deslizou lento mas decidido
em seu calor úmido.
No meio do caminho, ele parou, lendo a gagueira das exalações dela
contra a orelha dele, contando o martelo selvagem dos batimentos
cardíacos dela contra o próprio peito. Ele deixou os lábios vagarem pela
bochecha, pela boca e pela testa.
Reconfortante. Esperando.
Somente quando as pontas de seus dedos, que estavam cavando com
força nos músculos de suas costas, relaxaram um pouco, ele deu um
último impulso firme e afundou com tudo dentro dela.
Ele levantou a cabeça para ler as feições dela. — Machucou? — ele
perguntou suavemente.
Ela revirou os olhos, pensativa, como se estivesse considerando. —
Apenas um leve ardor. — Então ela sorriu.
Esse humor se transformou em dor de prazer quando ele começou a
se mover dentro dela. Ela gemeu, seus cílios deslizaram fechados e logo
seus membros o envolveram, segurando-o mais perto enquanto seus
quadris se apoiavam nos dela, empurrando, pressionando, arqueando
contra ela.
Levou cada grama de disciplina para não vir, mas ele estava
determinado a conhecer a ascensão e o tremor de seu corpo no clímax
mais uma vez. A mão dele deslizou entre eles e ele encontrou o ponto de
inflamação do prazer dela com uma única ponta do dedo, desenhando
círculos, atraindo-a para o êxtase, mesmo quando ele se equilibrava no
limite de sua própria conclusão.
Por fim – e muito mais rapidamente do que ele poderia imaginar – as
mãos de Erienne se apertaram contra seus ombros e ela arqueou sob ele.
Seu corpo inteiro ficou rígido, sua respiração difícil momentaneamente
silenciosa, e então ela se apressou, estremeceu descontroladamente e
chorou o nome dele contra sua orelha.
Somente quando seus membros se afrouxaram ao redor dele, ele
deixou seu corpo se dirigir dentro dela enquanto procurava pela natureza,
bombeando nela de novo e de novo, até que ele também foi levado ao doce
esquecimento.
Eles ficaram como mortos por um longo minuto, cada um lutando
para recuperar o fôlego, cada um odiando separar-se um do outro, embora
a transpiração tornasse sua pele escorregadia e pegajosa, e o braço de
Collin ficou dormente sob as costas de Erienne.
Por fim, ela se moveu um pouco embaixo dele, e ele deslizou para o
lado e instantaneamente recuperou o abraço, passou os braços em volta
dela e descansou a cabeça na dobra perfumada do pescoço dela. Um
suspiro enorme e exausto escapou dos dois simultaneamente, um suspiro
70
de saciedade, libertação de anos de desejo, tensão, sofrimento e confusão.
Estava tudo atrás deles agora. Ele nunca a deixaria ir novamente.
Ele diria isso a ela pela manhã.

Capítulo Dezessete

Um único e penetrante raio de sol atravessava a janela, atingindo


Collin nos olhos e acordando-o. Ele se espreguiçou e bocejou, e então...
Maldição. Ele ainda estava na cama de Erienne e já era de manhã. Ele
teria que sair imediatamente e tomar cuidado com isso. Ele rapidamente
se virou para alcançá-la... e encontrou o espaço ao lado dele vazio e frio.
Ele se levantou e franziu a testa. Onde ela estava? Ela tinha ido ficar
com as crianças? Não era tão tarde, era? Ele passou a mão pelo rosto,
apertando os olhos para ver o relógio em cima da lareira. Mal passava das
seis da manhã. Certamente ela não estava com as crianças a essa hora.
Além disso, se ela foi ficar com elas, por que não o acordou e pediu que
ele fosse embora?
Um pedaço de papel na mesa de cabeceira chamou sua atenção.
Estava dobrado. Apoiando-se na cabeceira da cama, ele pegou o papel e o
analisou. Um pedaço menor de papel flutuou para pousar na colcha. Ele
ignorou por um momento.

C,
Eu tive que ir. Não posso permitir que sua adorável cunhada
faça mais por mim do que ela já fez. Eu nunca deveria ter vindo
aqui em primeiro lugar. A noite passada foi linda, e eu vou apreciá-
la para sempre. Eu espero que você também.
E

Ele amaldiçoou baixinho. Merda. Merda. Merda. Ela se foi. Mas por
que? Ele pensou que ela o queria. Ele pensou que ela tinha mudado de
ideia.
Ele pegou o pequeno pedaço de papel na colcha. Deixe-me ir.

71
Maldito inferno desgraçado. Ele apertou a mandíbula. Parece que ele
tinha pensado errado.

****
Uma hora depois, Collin estava limpo, vestido e sentado na sala de
café da manhã com Derek. Claro, ele não podia deixar transparecer que
sabia que Erienne se fora, mas era tudo em que conseguia pensar. Ele
não tinha dito mais de duas palavras para o irmão desde que começaram
a refeição.
Por que ela tinha ido embora? Ele tinha assumido que ela queria mais
do que apenas uma noite com ele. Como ele poderia estar tão enganado?
Ele era um maldito espião, pelo amor de Deus. Treinado para captar as
menores flutuações na voz e nos maneirismos das pessoas, suas menores
hesitações, suas menores pistas. Como diabos ele tinha interpretado toda
essa situação com Erienne?
Mas que desgraça maldita. Ele já sabia que isso ia acontecer. Ele
nunca interpretou Erienne porque a profundidade de seus sentimentos
por ela nublava seu julgamento.
Lucy entrou apressada na sala. — A Srta. Stone se foi. — Sua voz
continha uma mistura de raiva, frustração e uma pitada de acusação.
— O que? — Derek franziu a testa.
Lucy cruzou os braços sobre o peito. — Erienne deixou um bilhete
embaixo da porta do meu quarto dizendo que ela nunca deveria ter
aceitado essa posição e que ela sentia muito, mas estava voltando para
Londres. Aparentemente, um dos lacaios a levou para a estação de
compras esta manhã.
Lucy e Derek olharam para Collin, que continuou a mexer os ovos em
volta do prato em silêncio.
— Você não saberia nada sobre por que ela foi embora, Collin? —
Lucy finalmente perguntou, com as mãos nos quadris.
— Eu deveria? — ele falou lentamente, fazendo contato visual com a
cunhada.
— Eu ficaria surpresa se você não soubesse, — ela respondeu,
arqueando uma sobrancelha.
Collin apertou a mandíbula e jogou o garfo sobre a mesa. — Talvez
Erienne estivesse certa. Talvez ela nunca devesse ter aceitado essa
posição em primeiro lugar. — Ele sabia que suas palavras pareciam cruéis
e insensíveis, mas no momento ele não se importava. Ele ficou furioso
com Erienne por partir sem lhe dizer que ela pretendia ir. Ele pelo menos
tinha falado com ela pessoalmente quando a abandonou todos aqueles
anos atrás. Eles não eram mais crianças. Isso era sério.
72
— O que você disse para aborrecê-la? — Lucy exigiu.
— Por que você acha que ela foi embora por minha causa? — Collin
estalou.
— Já chega! Foi o suficiente. — A voz de Derek disparou pela sala
como um trovão. — Acho que todos podemos concordar que essa situação
estava preocupante desde o início. Sinto muito se algum de nós causou
dor à senhorita Stone.
— Tarde demais para isso — Lucy murmurou.
Collin estreitou os olhos. — O que isso significa?
Ela jogou a mão no ar, num gesto de absoluta impaciência. — Erienne
se foi, Collin. Você não vai fazer algo sobre isso?
— Gostaria que eu revisasse as cartas das outras candidatas a
governanta? — Collin rebateu.
Lucy deu meia-volta e saiu da sala. — Homens! — ela chamou
quando foi. — Vocês todos podem ser tão irritantemente obtusos!

Capítulo Dezoito

Erienne olhou ao redor do apartamento pouco triste que uma mulher


perfeitamente agradável chamada Sra Cartwright tinha acabado de lhe
mostrar. A turnê não demorou muito – o apartamento consistia em
apenas um quarto. Continha uma cama com um colchão irregular e dois
travesseiros limpos. Duas cadeiras precárias e uma pequena mesa
igualmente precária. Uma pequena cozinha com um fogão que parecia
questionável, na melhor das hipóteses, e um guarda-roupa em ruínas
empurrado contra a parede oposta que estava torto, sem uma das pernas
de madeira.
Erienne tinha tudo o que podia pagar com as economias de sua
posição nos Hilltops. Ela enviou o resto de seu dinheiro para Peter e não
ficou com Derek e Lucy por tempo suficiente para receber salário. Depois
de deixá-los tão de repente, ela não merecia o dinheiro nem a referência
deles.
Erienne olhou ao redor do quarto novamente. Estava muito longe de
sua linda suíte em Huntingdon e cheirava a uma mistura de poeira e
73
mofo. Lágrimas queimaram as costas de seus olhos, mas ela as piscou. —
Eu aceito, — ela informou a Sra. Cartwright. A mulher sorriu e assentiu.
Erienne entregou à mulher mais velha o dinheiro para o aluguel de
uma semana, e a Sra. Cartwright entregou-lhe a chave do seu duvidoso
novo lar.
— Vou pedir ao cocheiro que traga sua mala então, — disse a mulher
enquanto se dirigia para a porta.
Tudo o que Erienne pôde fazer foi assentir. — Obrigada, — ela
finalmente conseguiu.
A porta se fechou atrás da Sra. Cartwright e Erienne colocou os
braços ao redor do corpo. Ela se sentiu vazia e horrível durante todo o
trajeto de volta a Londres, e não estava se sentindo melhor agora que
tinha conseguido hospedagem para a noite.
Sentiria falta da pequena Lady Mary e do bonitinho Ralph. Esperava
que Anna não tenha ficado muito chateada por ela ter saído tão
repentinamente, ou por falar nisso, Lucy. A duquesa tinha sido tão gentil
com ela. Lucy imaginava-se uma casamenteira. Ela fez o possível para
reunir Erienne e Collin novamente – mas às vezes era melhor deixar as
coisas no passado. Foi uma lição muito difícil, que Erienne estava apenas
começando a entender.
Partir tinha sido a coisa certa a fazer. Pelo menos ela havia decidido
isso em sua longa e instável viagem de volta do campo. Ela estava certa
de ter feito a escolha certa. Então, por que ela se sentia tão... triste? Ela
teve que partir. Porque ela sabia, sem dúvida, que Collin a deixaria ir
novamente. Assim como ele fez na primeira vez, sem qualquer tentativa
de detê-la, e por fim, foi por isso que eles não deveriam ficar juntos. O
verdadeiro amor não deixava ir. E Collin tinha deixado ir. Duas vezes
agora, pela contagem dela.
Seu trabalho tinha sido mais importante para ele do que ela na
primeira vez. Talvez seu orgulho fosse o que o afastaria dessa vez, mas
não importava o motivo. Qualquer que fosse sua desculpa, o resultado
seria o mesmo. Collin não a amava o suficiente para lutar por ela, e ele
nunca a amou. Era triste e lamentável, mas era a verdade.
Ela não tinha ido embora para testá-lo. Nunca isso. Ela partiu porque
sabia em seu mais íntimo ser que nunca deveria ter aceitado a posição de
governanta na casa de Lucy e Derek. Ela sabia que estava errado e aceitou
de qualquer maneira, por cobiça pelo excelente salário que lhe havia sido
prometido, mas ainda mais, na esperança de ter um vislumbre de Collin
ou pelo menos ouvir algumas notícias dele.
Agora ela tinha feito muito mais do que isso.
Ela também foi embora por outro motivo. Ela nunca, em mil anos,
queria que Collin pensasse que passara a noite com ele porque esperava
mais dele do que isso. Não havia melhor maneira de deixar isso claro. Ela
74
não estava tentando forçar uma oferta de casamento dele ou apelar para
o sentimento de culpa ou dever dele. Ela o queria como uma mulher quer
um homem, e estava dizendo a verdade quando lhe escreveu a carta de
despedida dizendo que nunca esqueceria a noite passada. Ela apreciaria
essa lembrança para sempre. Era tudo o que ela teria dele pelo resto da
vida.
Agora ela precisava começar a esquecer de novo o passado e seguir
em frente com o futuro, urgentemente. Mesmo que desta vez fosse duas
vezes mais difícil.
Mas ela deve se concentrar em outras coisas primeiro agora. Depois
de se estabelecer aqui nessa pousada, ela faria uma visita à Sra. Griggs e
tentaria explicar sua situação pessoalmente a ela. Talvez se Erienne a
convencesse, sua empregadora poderia ter pena dela por abandonar seu
cargo em Huntingdon e a enviaria para uma entrevista em outra casa.
Ela iria passar por isso minuto a minuto, hora a hora, dia a dia, mas
não importava o que, ela não pensaria em Collin Hunt. Ela não faria isso.
E ela se recusava a se arrepender.

Capítulo Dezenove

A escuridão havia caído quando uma batida na porta de seu quarto


assustou Erienne. Ela começou a tentar desembalar o baú, mas, em vez
disso, estava olhando cegamente para o guarda-roupa frágil, perdida em
pensamentos. Ela se sacudiu, foi até a porta e perguntou: — Quem é?
Londres poderia ser um lugar perigoso para uma mulher solitária, e
embora ela fosse solteirona confirmada e viajasse sem empregada, ela não
estava prestes a abrir a porta para qualquer pessoa, especialmente à
noite.
— É Lucy Hunt. Posso entrar?
Erienne deixou escapar um suspiro assustado e imediatamente bateu
as mãos na boca, rezando para que a duquesa não tivesse ouvido o
barulho.
Merda. Ela odiava permitir que uma mulher tão grandiosa quanto a
Duquesa de Claringdon visse o apartamento patético que ela alugara. É

75
claro que, se Lucy chegara tão longe no prédio, sem dúvida ela já tinha
um bom palpite sobre o quão miserável seria o interior.
Erienne imediatamente destrancou a porta e a abriu.
Lá estava a duquesa, com suas belas botas de menina e casaco de
viagem, usando uma expressão que só poderia ser descrita como culpada
e arrependida. — Posso entrar? — ela perguntou suavemente.
— Claro.
Erienne se afastou e Lucy passou por ela no espaço. Ela não traiu
seus pensamentos quanto à aparência do lugar, mas as bochechas de
Erienne ficaram quentes de vergonha. — Sua graça...
— Agora, nada disso, — respondeu a duquesa. — Pedi que você me
chamasse de Lucy, e espero que você sempre me chame de Lucy.
— Muito bem. Lucy. — Erienne apontou para a pequena mesa e
cadeiras, o único lugar para se sentar. Sem hesitar, Lucy se aproximou e
sentou-se como se estivessem visitando o melhor salão. A duquesa
chamou Erienne para se sentar ao lado dela.
Erienne fez isso enquanto fazia um gesto indefeso. — Eu me
ofereceria para pegar seu casaco e chapéu e fornecer chá, mas...
— Não há necessidade. Não pretendo ficar muito tempo.
Erienne respirou fundo. — Sinto muito, você sentiu que tinha que vir
do campo para me encontrar. Deixei um bilhete.
— Eu li, — respondeu Lucy. — Encontrei você perguntando ao
cocheiro no posto de postagem onde você foi.
Erienne assentiu. — Sinto muito, Lucy. Verdadeiramente eu
sinto. Eu simplesmente não podia...
— Querida, sou eu quem lhe deve um pedido de desculpas. Como
meu marido gosta de ressaltar, às vezes posso ser um pouco... zelosa em
minha busca para garantir que o amor verdadeiro tenha sua chance. —
Ela se inclinou para frente para capturar o olhar de Erienne. — Receio
que, neste caso, falhei com você.
Uma pequena parte de Erienne, a que tolamente esperara que Lucy
tivesse dito que Collin estava fora de si e a queria de volta, morreu
rapidamente em sua alma. — Eu sabia que era um erro assumir a posição
e o fiz por ganância. É inteiramente minha culpa.
— Não era ganância, no entanto, era querida? Não acredito que você
assumiu a posição apenas por causa do pagamento. — Ela olhou para
Erienne com aqueles olhos de cores diferentes.
Erienne mordeu o lábio. — Eu mentiria se não admitisse que queria
saber mais sobre Collin.
— Queria vê-lo? — Lucy solicitou.

76
— Eventualmente. Eu nunca esperava que isso acontecesse tão
rapidamente, no entanto. Foi demais. Receio que estava muito fraca.
Lucy estendeu a mão sobre a pequena mesa e apertou a mão dela. —
Bobagem, Erienne. Pelo que vi, você é uma das mulheres mais fortes que
já conheci. Você deixou sua casa e uma vida de conforto para assumir
uma posição de serva, em vez de comprometer o amor verdadeiro. Não
conheço muitas mulheres que teriam feito isso.
Erienne olhou sem ver as tábuas de madeira empoeiradas. — Eu
nunca vi dessa maneira.
— Claro que não, querida. Pessoas fortes raramente reconhecem sua
própria força. Mas eu vejo. Eu vejo e admiro você por isso.
Lágrimas queimaram os olhos de Erienne. — Espero que você possa
me perdoar. Estou certa de que você encontrará outra governanta
rapidamente. Uma muito mais adequada do que eu já fui.
Lucy puxou sua bolsa sobre seu colo, abriu-a e retirou uma folha de
pergaminho dobrada. Ela entregou a Erienne. — Esta é uma referência
pessoal, assinada por Derek e por mim. Eu odiaria que eu prejudicasse
você por fazê-la assumir a posição conosco e causar problemas com a Sra.
Griggs. Pretendo visitá-la amanhã de manhã, falar muito bem de você e
garantir que você tenha todas as oportunidades de entrevistas para a
próxima posição adequada que se tornar disponível.
Erienne apertou os lábios. — Obrigada, sua... er, Lucy. Isso é muito
mais generoso do que eu mereço.
A duquesa se levantou e deu um passo em direção à porta. — Você
merece muito mais do que conseguiu, Erienne. E se meu cunhado não
fosse tão tolo, você entenderia.
Erienne tentou ocultar a resposta instantânea que surgiu em seus
lábios, mas eles tinham uma mente própria. — Como ele está? — Por que,
por que ela não conseguia parar de se importar com ele? Parar de se
perguntar sobre ele?
Lucy virou-se para ela, a simpatia brilhando em seus olhos. — Não
sei o que aconteceu entre vocês dois, Erienne, todos esses anos atrás ou
nos últimos dias, mas sei que em uma noite de bebedeira há pouco tempo,
Collin me contou sobre você e, eu sabia, sem dúvida, que ele a amava
desesperadamente.
Lágrimas deslizaram pelas bochechas de Erienne. Ela os afastou com
as costas das mãos. Lucy disse que amava. A palavra estava no passado.
— Espero que você saiba que essa é a única razão pela qual tentei me
intrometer nos seus assuntos, — continuou a duquesa. — Eu realmente
fiz isso pelas melhores razões.
Erienne deu um suspiro. Ela puxou um lenço do bolso e enxugou os
olhos. — Eu sei que você fez, Lucy. Eu sei.
77
Lucy voltou-se para a porta. — Eu devo ir. A carruagem está me
esperando, e preciso acordar cedo para visitar a Sra. Griggs antes de
voltar a Huntingdon.
— Obrigada por vir até aqui e me dar a referência, — disse Erienne,
levantando-se para segui-la até a porta.
— Você é mais que bem-vinda, querida. — E com isso, a duquesa se
foi.

Capítulo Vinte

Collin estava pescando no riacho na manhã seguinte quando Derek


o alcançou. Ele trouxe sua vara e um balde de isca. Quando jovens, os
irmãos passaram inúmeras horas pescando silenciosamente lado a lado.
A aparência de Derek parecia estranhamente como nos velhos tempos.
Derek pegou o anzol e jogou a linha na água. — Pegou alguma coisa?
— Ainda não, — respondeu Collin.
— Pena.
Era uma piada antiga entre eles. Quando crianças, sempre que a mãe
os procurava, perguntando se haviam pegado alguma coisa, e diziam não,
ela respondia com um "Pena". Quando crianças, isso os fez rir. Nenhum
deles riu hoje.
Vários minutos silenciosos se passaram antes de Collin finalmente
perguntar: — Lucy foi a Londres ontem?
— Sim. Ela voltará esta noite.
— Ela foi ver Erienne?
Derek olhou para o outro lado do lago. — Ela queria garantir que
Erienne tivesse uma referência decente. Lucy se culpa por tudo isso.
Collin lançou-lhe um olhar triste. — Engraçado. Eu poderia jurar que
ela me culpou.
Um meio sorriso apareceu nos lábios de Derek. — Ela culpa você por
ser um homem estupidamente tolo.
— Ela me culpa como um acusado, suponho.

78
Derek continuou a olhar através da água. — Eu nunca perguntaria
isso, é claro, porque sou homem e não perguntamos essas coisas a outros
homens, mas se Lucy estivesse aqui, ela gostaria de saber por que você
deixou Erienne ir.
— Eu não a deixei ir. Ela me deixou... novamente. — A voz de Collin
era fria como gelo, até para seus próprios ouvidos.
— Ela não deixou você na primeira vez, deixou? — seu irmão
perguntou. — Você disse a ela que não se casaria com ela.
Ele franziu o cenho para Derek. — Como você sabe disso?
— Lucy me disse que você mencionou Erienne uma vez quando estava
embriagado. Acho que você está esquecendo outra vez que esteve bêbado,
— acrescentou Derek, finalmente desviando a atenção da água para o
rosto de Collin. — Uma noite, catorze anos atrás, nós dois voltamos para
casa juntos. Você ficou fora por um tempo naquela tarde e fomos ao pub
da cidade. Você bebeu mais naquela noite do que eu já vi você beber. E
você me contou o que aconteceu com Erienne.
Collin xingou baixinho. — Deixá-la foi a coisa mais dolorosa que eu
já fiz na vida.
— Eu entendo, acredite em mim. Também entendo como é pensar
que você não é bom o suficiente. — Ele largou a vara e pegou uma pedra
do leito do riacho. — Depois de me tornar duque, demorou muito tempo
até que eu me sentisse à vontade em torno da aristocracia. Lucy foi a
única com quem me senti bem por um longo tempo. E isso é porque ela é
tão pouco convencional.
Collin soltou um suspiro. — O que você está tentando dizer, Derek?
— Estou dizendo que você e eu somos iguais. Nós viemos do nada e
sentimos que não merecemos nada por causa disso. Mas isso não é
verdade. Você se tornou o homem que é hoje, Collin, e merece tudo de
bom na vida. Incluindo amor.
Collin abaixou a cabeça. — Você não entende. Ela sempre foi boa
demais para mim.
— Ela sempre te amou. Ela vê quem você é, não de onde você veio.
Collin apertou sua mandíbula com tanta força que doeu. — Mas e se
eu não souber ser bom o suficiente para ela?
— Você já é bom o suficiente. Você sempre foi. É isso que significa ser
amado. — Derek deu um tapinha no ombro do irmão. — O que você quer,
Collin? Pela primeira vez na vida, pense no seu próprio desejo, no seu
próprio prazer, não no que se espera de você, nem no que você pensa que
não merece.

79
Collin balançou a cabeça e tentou retrucar, para acalmar a emoção
agitada no ar, mais as palavras capturadas no nó que se formara em sua
garganta.
— Você passou a vida inteira se negando tudo, — disse o irmão mais
gentilmente. — Você está mais interessado em sua papelada do que em
seus sentimentos. Acredite, eu entendo, mas quando você estiver no seu
leito de morte um dia... — Derek jogou a pedra na água, observou-a pular
e afundar, depois olhou para Collin novamente, com força. — A papelada
é um conforto frio, Coll. Pergunte a si mesmo, pela primeira vez... o que
você realmente quer?

Capítulo Vinte e Um

Exatamente um dia depois, Erienne estava sentada na sala de visitas


da Condessa em Marsden. A condessa tinha quatro filhos, com idades
entre seis meses e seis anos, e estava procurando uma governanta
adequada. A Sra. Griggs, depois de ter conversado longamente com a
Duquesa de Claringdon, achou conveniente enviar Erienne para esta
entrevista, e Erienne esperava, contra a esperança, que lhe oferecessem
o cargo. Ela gastou seu último xelim no aluguel desta semana e acabara
de receber uma carta de casa indicando que Peter havia tomado uma
decisão para piorar tudo.
— Suas referências são impecáveis, — disse Lady Marsden. — Você
fala francês fluentemente e...
A porta da sala de visitas da condessa se abriu e Collin Hunt entrou,
parecendo bonito e elegante em seu uniforme, suas fileiras de medalhas
brilhando à luz do sol que atravessava as janelas.
Bem.
Por um instante, ninguém se mexeu. Então Erienne engoliu em seco
e escondeu um sorriso involuntário.
— O que isso significa? — Lady Marsden olhou em volta como se
alguém lhe explicasse por que um homem estranho acabara de invadir
sua sala de estar.
O mordomo veio correndo atrás de Collin. — Minhas desculpas,
minha senhora, — disse o homem, parecendo como se nunca tivesse sido
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tão ofendido em sua vida. — Eu tentei detê-lo, mas este soldado insistiu
em ver... a Srta. Stone.
— A Srta. Stone? — a condessa repetiu, agarrando suas pérolas. Ela
se virou para Erienne e a encarou. — Por que o exército está atrás de
você?
Erienne só podia olhar para Collin. — O que você está fazendo aqui?
Ele marchou até ela e caiu de joelhos na frente do sofá onde ela estava
sentada. Então, como se ele e Erienne fossem as únicas pessoas na sala,
ele pegou as duas mãos dela e a olhou profundamente nos olhos. —
Desculpe interromper você assim, mas não pude esperar nem mais um
momento para dizer que te amo loucamente e que não posso viver minha
vida sem você. Quer se casar comigo, Erienne Stone?
A condessa rapidamente se abanou enquanto o mordomo parecia
horrorizado.
Lágrimas de alegria e tristeza reprimida queimaram seus olhos. —
Você está falando sério, Collin? Você não está aqui por culpa? — Ela
procurou em seu belo rosto até o mais fraco sinal de algo errado.
— Nunca. — Ele balançou sua cabeça.
— Dever? — ela perguntou em seguida.
— Absolutamente não. — Ele balançou a cabeça novamente.
— Porque Lucy te enviou? — ela finalmente perguntou.
A gargalhada de Collin encheu a sala. — Eu nunca fiz nada do que
Lucy me disse antes e não tenho intenção de começar agora. Estou aqui
porque fomos feitos um para o outro, e sempre fomos. Eu nunca vou
deixar você ir de novo.
Erienne riu. Então ela chorou. Então ela pulou, se jogou nos braços
dele e passou os braços em volta do pescoço dele. — Sim, Collin Hunt, eu
vou me casar com você. Casarei com você sempre que quiser.
— Excelente. — Ele deslizou um braço sob as pernas dela, levantou-
a e marchou em direção à porta.
— Srta. Stone? — a condessa esquecida chamou de seu assento no
sofá, agitando o lenço no ar. — Isso significa que você não está mais
interessada na posição de governanta?
— Está certa, Lady Marsden — respondeu Erienne por cima do ombro
de Collin, dividida entre lágrimas e risadas. — Eu mudei meus planos.
Agora estou pronta para casar com o General Collin Hunt, alto funcionário
do Ministério do Interior e o único homem que já amei.
— Entendo — Lady Marsden falou quando o casal recém-noivo entrou
no vestíbulo. — Talvez você deva informar a Sra. Griggs?

81
Erienne e Collin riram alto enquanto ele a carregava pela porta da
frente, descendo os degraus da rua e seguia para a carruagem que estava
esperando. Ele a ajudou a entrar e subiu logo atrás dela. Uma vez que a
porta foi fechada, ele a abraçou e a beijou até que quase ela não pudesse
respirar, o que foi bom, porque ela sempre imaginou secretamente que
poderia sobreviver apenas nos beijos dele.
— Você veio atrás de mim — murmurou Erienne depois que o beijo
terminou.
— Apenas corrigindo um erro que cometi catorze anos atrás, — ele
respondeu com um sorriso terno.
— Por que demorou tanto?
— Eu fui um tolo, — disse ele, levando a mão dela aos lábios, — mas
pretendo compensá-la o mais rápido possível.
Ela assistiu, hipnotizada, enquanto o beijo terno roçava suas juntas.
Então ela engoliu em seco e disse: — Você pensou que eu era casada em
Shropsbury, não é?
Collin deu um aceno solene. — Sua mãe me disse que você era.
— O que? — O horror tomou conta dela. Como a mãe dela podia dizer
uma mentira dessas, e uma que destruísse o futuro da própria filha por
tanto tempo?
— Eu vim procurar você naquele Natal, — disse Collin. — O Natal
depois que você partiu. Sua mãe me disse que você se casou com um
visconde e se mudou para Shropsbury.
Erienne apertou a mão na garganta, lágrimas brotando de novo nos
cílios ao pensar nele, tão jovem e esperançoso, chegando à casa de sua
família e se encontrando com o impenetrável muro de tijolos da justiça
que era sua mãe. — Isso foi horrível. Eu nunca soube.
— Na época, eu assumi que era o melhor. Eu pensei que não era bom
o suficiente para você, Eri. Eu ainda acho isso. Mas pretendo passar o
resto da minha vida tentando me tornar suficientemente bom.
Ela colocou os braços em volta do pescoço dele novamente. — Você
só precisa ser você mesmo, querido.
— Sim, bem, quanto a isso... Eu pretendo parar de trabalhar tanto e
tirar muitas mais férias.
Ela riu quando ele acariciou seu pescoço. — É isso mesmo?
— Sim, — ele disse levemente, e com total certeza. — Acho que estou
bastante preocupado com meu novo passatempo.
— E qual é? — Ela encostou a cabeça nas abas de veludo da
carruagem e fechou os olhos.
— Fazer amor com minha linda esposa.

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— Hmm. Eu gosto de ouvir isso.
— Lorde Treadway terá que administrar sem mim.
— Ele vai ficar bem, — respondeu Erienne.
— Eu concordo, — declarou Collin, empurrando o decote do vestido
para beijar a parte superior dos seios.
— Você vai mesmo fazer amor comigo em uma carruagem de todos os
lugares? — ela perguntou, um pouco escandalizada.
Ele arqueou uma sobrancelha. — Alguma objeção?
— Nenhuma, — ela disse com uma risada. — Continue, General.

Capítulo Vinte e Dois

O casamento ocorreu exatamente quatro semanas depois, logo que


os banhos foram lidos em Brighton. Os pais de Erienne compareceram,
mesmo que ela tivesse conversado com a mãe por sua decepção todos
aqueles anos atrás. Seus pais estavam dispostos a aceitar Collin em sua
família agora já que ele era um General, um espião muito valioso e um
funcionário do Ministério do Interior. Sem mencionar que ele era muito
rico.
Ele começou a pagar todas as contas da cirurgia de Peter; e até dera
dinheiro ao pai para fazer algumas restaurações necessárias na casa da
família. Derek enviou um exército de artesãos para concluir o trabalho.
Parecia que os meninos Hunt da pequena cabana do lado errado da cidade
eram o orgulho de Brighton nos dias de hoje.
A pequena dama Mary e Lorde Ralph estavam vestidos com elegância
para o casamento, e Lucy abraçou a noiva e o noivo muitas vezes. — Devo
admitir, — ela disse a eles após a cerimônia, — vocês dois me assustaram
mais do que qualquer casal na história dos meus esforços de encontros.
— Sim, bem, parece que vamos precisar de uma nova governanta...
de novo, — disse Derek com um suspiro.
Lucy sorriu e deu um tapinha no braço do marido. — Não se
preocupe. Guardei todas as cartas da Sra. Griggs.

83
As sobrancelhas de Derek se ergueram. — Você estava confiante de
que esses dois voltariam a ficar juntos?
— Eu mentiria se dissesse que não estava, — Lucy respondeu com
um encolher de ombros indiferente.
Com o braço apoiado confortavelmente no de Collin, Erienne
inclinou-se e confidenciou a sua amiga: — Suas convicções românticas
indestrutíveis são admiráveis, querida Lucy.
— De fato. — Collin acrescentou secamente, mas depois compartilhou
um sorriso gentil com sua noiva.
Derek parecia menos certo. — Muito bem, Lucy, mas da próxima vez,
você pode encontrar uma governanta que já seja casada, ou talvez uma
agradável viúva?
— Não posso fazer promessas. — Lucy piscou para ele.
— Sério, Lucy, quando mesmo você vai parar de dar uma de
casamenteira? — Perguntou Collin.
Lucy bateu um dedo na bochecha. — Suponho que morrerei
eventualmente. Talvez nesse momento eu considere a aposentadoria. Até
lá... minha amiga Delilah Montebank fez sua estreia, e o dela certamente
será o casamento do século.

Fim

84
Nenhum Outro Duque Exceto Você
(Noivas Brincalhonas 11)

Sinopse

Única senhora busca duque


Lady Delilah Montebank está de olho no Duque de
Branville. Mas existe apenas um problema: ele mal sabe que ela
existe. Mas isso não importa, pois ela tem um plano para
conquistá-lo com seu charme, sua inteligência - e talvez a poção
de amor que ela possua não prejudicasse sua causa...
Lord Thomas Hobbs, Duque de Huntley, acha ridícula a
missão de sua melhor amiga, Delilah, de se tornar duquesa. Ele
sempre disse que preferia desistir de todo o conhaque em
Londres do que se comprometer com uma pessoa por toda a
vida. Além disso, ele sabe que a poção do amor de Delilah não
pode conquistar Branville... desde que ela acidentalmente deu
a ele em vez disso. Mas talvez esta seja a desculpa que ele
precisa para mostrar a ela que ele sempre a amou...
Dalila não pode acreditar que ela deu a poção ao duque
errado. Por outro lado, Delilah poderia fazer muito pior do que
ganhar a mão de seu melhor amigo bonito. Será que o duque
certo esteve diante de seus olhos o tempo todo?

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Sobre a Série Playful Brides (Noivas Brincalhonas)

1 A Duquesa Inesperada (Playful Brides) - Valerie Bowman


(Lucy Upton e Derek Hunt – Duque de Claringdon)

2 A Condessa Acidental (Playful Brides) - Valerie Bowman


(Cassandra Monroe e Capitão Julian Swift – Conde de Swifdon)

3 A Lady Improvável (Playful Brides) - Valerie Bowman


(Jane Lowndes e Garrett Upton)

4 O Ladino Irresistível (Playful Brides) - Valerie Bowman


(Daphne Swift e Capitão Rafferty Cavendish)

4.5 O Herói Inesquecível (Playful Brides) - Valerie Bowman


(Cecelia Harcourt e Adam Hunt – irmão do Duque de Claringdon)

5 O Conde Indomado (The Untamed Earl (Playful Brides) By Valerie Bowman)


(Alexandra Hobbs e Owen Monroe)

6 O Senhor Lendário (The Legendary Lord - Valerie Bowman)


(Sarah Highgate e Christian Forester - Visconde de Berkeley)

7 Nunca Confie Em Um Pirata (Never Trust A Pirate - Valerie Bowman)


(Danielle LaCrosse e Cade Cavendish)

8 O Tipo Certo de Landino(The Right Kind Of Rogue - Valerie Bowman)


(Meg Timmons e Visconde Hart Highgate)

9 Um Duque Como Nenhum Outro (A Duke Like No Other - Valerie Bowman)


(Nicole Huntington Grimaldi e Mark Grimaldi)

10 Beije-Me No Natal (Kiss Me At Christmas - Valerie Bowman)


(Lady Regina e Daffin Oakleaf)

10.5 Mr. Hunt, Eu Presumo (Mr. Hunt, I Presume (Playful Brides) Valerie Bowman)
(Erienne Stone e General Collin Hunt)

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11 Nenhum Outro Duque Exceto Você (Playful Brides) Valerie Bowman)
(Lady Delilah Montebank e Lorde Thomas Hobbs, Duque de Huntley)

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