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ADORO ROMANCES EM E-BOOK APRESENTA!

UM AMOR INFINITO...
ALWAYS MINE
SOPHIA JOHNSON

Escócia, eterna paixão!


Dias atuais...
Lorde Damron não passa de uma presença poderosa e sombria nas ruínas do
Castelo Blackthorn. Mas o olhar penetrante no rosto retratado naquele quadro parece
hipnotizar Lydia Hunter, levando-a a se postar diante dele e se deixar transportar através
dos séculos, para tornar-se lady Brianna, a doce amada do senhor do castelo...
1072...
A natureza intrépida e intempestiva de Damron e sua atitude feroz nos campos de
batalha são de grande valia para dispersar rapidamente os inimigos. Ele precisa
reivindicar seu reino e sua noiva, mas só existe uma maneira de reivindicar o coração de
Brianna... Pois nem o intenso desejo nem a firme determinação de Damron são capazes
de sobrepujar a delicadeza e a doçura de Brianna...
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

CAPÍTULO I

Dias atuais baía de Tongue, Escócia


Desde a primeira vez em que o tinha visto, Lydia Hunter sentira-se atraída
pelo homem no desenho feito a tinta. Havia gritado por ele, chamando-o de "meu
lorde Demon", e chorado desesperadamente como se o seu coração tivesse se
partido.
Tinha, então, cinco anos.
Todo verão, ela deixava Nova York e voltava ao Castelo Blackthorn, nas
Terras Altas. Não sabia por que, mas tinha sempre de regressar para lá. A alma do
castelo chamava por ela, e a cada ano o apelo era mais forte. Agora, após um
divórcio traumático, a necessidade de retornar àquele lugar se tornara urgente.
Encontrava-se diante da imagem de Damron Alasdair Morgan, do clã
Morgan, um proprietário de terras do século XI. O retrato estava pendurado na
recém-pintada parede do Museu Blackthorn.
Sentindo que precisava gravar aquelas feições em seu coração antes da
próxima ausência de um ano, Lydia aproximou-se do quadro. O cabelo de Damron
era escuro, na altura dos ombros, e parecia estar sendo empurrado para trás pelo
vento. Sobrancelhas espessas e arqueadas emolduravam os olhos cínicos.
Os lábios eram sensuais, e o queixo, quadrado.
Lydia sentiu aquele olhar sobre si, encarando-a, acusando-a. Era como se
ele exigisse algo dela. Desejava tocar e acariciar aquele rosto. Acusou a mesma
dor no peito, a mesma incontrolável vontade de chorar que a tomava desde
criança.
— Por que você não conseguiu me amar? — perguntou.
As imagens confusas vinham com uma freqüência maior hoje. Certamente
não seriam memórias. As imagens eram de um homem que poderia se transformar
num demônio se sua ira fosse provocada. Agora, mais do que nunca, Lydia sabia
que ele estava implorando por algo, mas o que poderia ser?
— Mamãe, por que a moça está chorando?
A voz da criança quebrou o transe que o retrato de lorde Damron impusera a
Lydia. Será que ele sempre exerceria esse estranho poder sobre ela?
Seu suspiro triste respondeu à pergunta. Forçou-se a deixar a sala de
retratos e se dirigiu à loja do museu.
Ao reconhecer Lydia, a gerente da loja sorriu. Sem dizer nada, abriu uma
gaveta, tirou um objeto e colocou-o em sua mão: um broche antigo. Lydia o fitou e
ficou sem fôlego.

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— Onde o encontrou? — perguntou sem tirar os olhos do broche.


— Atrás de um cofre antigo que estávamos mudando de lugar, na semana
passada — respondeu a mulher. — Mas é estranho, pois ninguém se lembra de tê-
lo visto antes. — Franziu a testa. — É como se tivesse ficado escondido até que
chegasse o momento perfeito de ser descoberto. No instante em que o vi, percebi
que ele estava esperando por você.
O broche formigava na mão de Lydia, que o virou várias vezes, com a nítida
sensação de que a peça lhe era familiar. Estudou o círculo de nós celtas com a
cabeça de um falcão em cada lado. Embora pouco tivesse restado da inscrição em
latim, ela sabia perfeitamente o que estava escrito.
— "Com mão firme" — Lydia murmurou. — Era o lema do clã Morgan. —
Trouxe o broche para perto do coração e abaixou a cabeça.
— Como sei da sua fascinação pela história do Castelo Blackthorn, eu quis
oferecê-lo a você primeiro — disse a gerente com um sorriso.
— Obrigada. — A voz dela tremeu. Sentiu uma pontada na mão e olhou para
baixo. O alfinete que prendia o broche tinha um formato de mão segurando uma
adaga. Ignorou o finíssimo fio de sangue que escorreu em sua palma.
Queria o broche, não importava o quanto custasse. Precisava tê-lo. Pegou o
cartão de crédito e entregou-o à mulher, que se encaminhou para o caixa mais
próximo. Enquanto isso, lutava para controlar o tremor das mãos e tentava colocar
o broche no suéter.
Esfregou os olhos e prendeu a respiração, ficando paralisada quando uma
névoa vinda da sala de retratos a envolveu.
A nuvem cinzenta mudou de forma. Mãos masculinas, fortes e mornas,
cobriram as de Lydia e fixaram o broche acima de seu coração. Ele abriu a mão
dela, gemeu ao ver o sangue ali e baixou o rosto para tocá-la com os lábios. Com a
língua, limpou o sangue e depois a beijou na mão. Ele ergueu a cabeça e estudou-
lhe o rosto, sua respiração soprando como uma brisa suave na face de Lydia.
Durante todo o tempo, seus olhos verdes e intensos a mantiveram prisioneira. Ela
sentiu o coração disparar quando inalou aromas de sândalo e de outras ervas
aromáticas.
Ele chegou mais perto e seu corpo esbarrou no de Lydia. Ela arfou, sentindo
aquele corpo firme, seus músculos, seu calor... Será que perdera o juízo? Teria
imaginado aquilo? Mas então, teria também imaginado os sons... A voz dele, suave
como a brisa de verão, espalhando calor por seu corpo...
— Prometa que você sempre será minha, Brianna — ele pediu. — Prometa-
me! Prometa que nunca irá me... — As palavras desesperadas circulavam ao redor
de Lydia, indo e vindo.
Ela sentiu lágrimas rolando pelo rosto, e seu coração estava oprimido de
angústia.
— Eu prometo, nunca irei deixá-lo... por toda a eternidade — disse sem
hesitar, pois sabia que essa era a resposta que ele esperava.
E assim que ela proferiu aquelas palavras, a imagem de lorde Damron deu

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um suspiro e esvaneceu à sua frente, seguida pela névoa.


Vendo que a gerente a olhava com curiosidade, Lydia conseguiu se
recompor.
— Muito obrigada... por guardar o broche... para mim — ela gaguejou e,
forçando um sorriso, assinou o recibo.
Apressou-se em sair dali. Precisava de ar, que certamente iria clarear-lhe as
idéias e acalmar o coração acelerado.
O barulho de seus sapatos ecoava pela escadaria de pedra que conduzia ao
topo da torre. Ali era a parte mais intacta do castelo, onde também se encontravam
os antigos aposentos de lorde Damron. Aquele lugar sempre a acalmava; enquanto
caminhava por entre as ruínas, mantinha a mão fechada sobre o broche.
Sentia no fundo da alma que conhecia aquele lugar. Ao tocar as paredes de
pedra, teve a impressão de que elas lhe davam as boas-vindas. Nos restos da-
quele quarto, o conforto a envolvia com braços fortes, não importando em que
época do ano. O mais estranho era que hoje aquela sensação estava mais forte do
que nunca. Sua imaginação corria mais solta que o habitual, pois sentia uma
irresistível vontade de deixar aquele quarto e se dirigir ao pesado portão principal.
Outras pessoas poderiam se esconder dos caprichos do clima, mas Lydia se
encantava com o vento que soprava vigorosamente, quase arrancando suas
roupas, e com aquela névoa espessa.
Olhou para o penhasco e para as ondas que arrebentavam em sua base.
Um suspiro de apreciação pela beleza sombria daquele dia nublado passou por
seus lábios. Sua tristeza desapareceu e uma repentina felicidade a fez sorrir com
prazer.
Uma grande ave voava em círculos e foi baixando aos poucos. Mesmo de
onde estava, Lydia ouviu o grito agudo da águia.
O vento soprou mais forte e abriu seu casaco. Um riso cristalino escapou por
seus lábios. O cachecol se desprendeu, soltando-lhe os cabelos, e voou penhasco
abaixo. Sorrindo, ela jogou a cabeça para trás e estendeu os braços para o céu,
como se pedisse para a águia levá-la junto em seu vôo.
— Está na hora de vocês se encontrarem de novo e aceitarem seus
destinos. Venha!
Lydia ouviu a voz no vento. A névoa se transformou em aguaceiro. Trovões
retumbavam, raios riscavam o céu. Outra lufada de vento, mais forte que a
anterior, levantou-a em seus braços invisíveis. Será que ela podia voar como tinha
feito em seus sonhos?
Lydia não sentiu medo. Ouviu o chamado da águia e o ruído de suas asas.
Estava tão perto... Mas, de repente, o vento a soltou.
Seus braços balançaram à procura de equilíbrio. Suas mãos rasparam
contra a pedra fria e áspera. Seus pés buscaram o chão firme, mas só
encontraram um charco, e Lydia despencou novamente.
Caindo para trás, ela gritou e segurou o broche sobre o coração. Na queda,
sua cabeça bateu na pedra fria.
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Nortúmbria, norte da Inglaterra, 1072


— Por que os homens do rei William estão trazendo um escocês à Abadia
de Saint Anne? E por que não posso ir para Ridley? — Os olhos de Brianna
Sinclair se encheram de lágrimas.
— Não é do feitio de um rei dizer a uma mulher o que ele planeja—
respondeu a abadessa.
— Saberemos deles em breve.
— Por que tio Ridley não veio me buscar? Todos sabem que eu vou me
casar em breve com sir Galan em Ridley. E agora o rei William me proíbe de sair
do mosteiro até que esse escocês chegue! Por que, Alana? — Brianna olhou para
a irmã.
— Algo terrível está para acontecer, eu sinto! Você também sente...
— Acalme-se. Eu não sei por quê. Você está sob a proteção do rei. O
mensageiro disse apenas que você tem de ficar até que lorde Morgan chegue.
— E se o rei mudou de idéia e não quer mais que eu me case com Galan?
Esse tal de Damron de Blackthorn é um escocês. Eles desprezam tudo o que nós
valorizamos aqui na fronteira. Eu não irei me casar com um bárbaro! — Brianna
exclamou. — Papai foi morto por um escocês! Se não fosse por eles, eu já teria me
casado com Galan há muito tempo e teria lhe dado filhos.
— Sim, um escocês matou nosso pai. Mas os saxões também invadiram a
Escócia e mataram pais de família — respondeu Alana, abraçando sua jovem irmã.
— Eu não irei com ele. Eu quero Galan. Vamos nos casar antes que esse
bárbaro chegue.
Depois de participar das orações do meio-dia, Brianna saiu da capela e
olhou ao redor. Não havia ninguém por perto. Iria a cavalo para Ridley e se casaria
com Galan. Sweetpea, sua égua, a cumprimentou com um relincho alegre.
— Quieta, meu amor, senão eles nos ouvem.
Em alguns minutos, Brianna já tinha a égua pronta para cavalgar e a levou
para a entrada do estábulo. Mais do que tudo, não queria que os homens que seu
tio Ridley designara para protegê-la a ouvissem sair. Mas no momento em que
montou e ajustou os pés no estribo, um dos cavalariços veio correndo em sua
direção.
— Milady, alto! Há todo tipo de malfeitores na floresta. A senhorita deve
aguardar a sua escolta! — o homem gritou, agitando os braços.
Brianna não lhe obedeceu e foi embora. Cavalgou rapidamente por alguns
quilômetros até que saiu da floresta densa e entrou em campo aberto, rindo com o
triunfo, pois o Castelo Ridley estava próximo. Galan saberia como mantê-la segura.
De repente, escutou um barulho: o som de dezenas de cascos batendo na
terra. Seu riso morreu na garganta. Do lado oposto da clareira, uma tropa de guer-
reiros vinha em sua direção. Usavam os estranhos capacetes e escudos dos
soldados do rei dos normandos.
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Sua felicidade se transformou em terror. Puxou as rédeas com um tranco


para forçar Sweetpea a voltar para a segurança da floresta.
— Por favor, Senhor Deus, ajude-me!
Mal tinha terminado a prece desesperada, a égua tropeçou, e Brianna foi
atirada ao chão.
— Não conhece o modo de pensar do rei William, Connor? Já disse a ele
inúmeras vezes que não quero me casar novamente, e muito menos com essa
saxã branquela! — Damron gritou acima do som dos cascos dos cavalos.
O riso de Connor o acalmou. Seu primo e braço direito sempre fora capaz de
amenizar seu mau humor.
Adiante deles, um belo cavalo marrom saiu galopando da floresta. Damron e
Connor viram longas trancas se soltar de suas fitas e voar como uma cortina de
seda. Mesmo àquela distância, o som do riso da mulher chegou até eles. O que
teria causado tanta alegria? Mas no momento em que ela os viu, tentou forçar seu
cavalo a galopar de volta à floresta.
— Essa garota não tem juízo! — Damron gritou.
— Ela pode ferir o cavalo neste terreno! E por que está sozinha?
Nesse instante, o cavalo tropeçou, lançando-a ao solo rochoso. Damron e
Connor incitaram seus cavalos a galopar na direção dela.
Connor ajoelhou-se ao lado da jovem, enquanto Damron controlava a égua.
— Graças ao bom Deus, ela não aleijou a égua — disse Damron; em
seguida, olhou para a menina, cujas saias tinham subido acima dos joelhos. —
Umas boas palmadas no traseiro poderiam ensinar essa desmiolada a não ser tão
descuidada. — Empurrando o primo para o lado, ele se agachou ao lado dela. Sua
cabeça repousava numa pedra manchada de sangue. Damron virou-a para cima e
olhou para a pedra. — Pelas chagas de Cristo, Connor, veja! A pedra tem o
formato de um punho. — Pôs a estranha pedra na mão do primo. — Não o faz
lembrar-se do nosso lema "Com mão firme"? Esta menina é mesmo uma
desmiolada. Vou dizer ao senhor dela que use uma mão bem forte para castigá-la.
Damron rasgou algumas tiras da saia dela e limpou o sangue de seu rosto.
Ao examiná-la, sentiu montes suaves debaixo da túnica.
Não era uma menina, e sim uma mulher feita.
O grito da águia irritou os ouvidos de Lydia. Sua cabeça latejava e suas
pálpebras se recusavam a se abrir. Escutou vozes masculinas e o respirar suave
de um cavalo. Uma pálpebra se abriu o suficiente para que ela visse um rosto que
só podia ter vindo de sua imaginação.
— Oh, meu Deus... — sussurrou. Um homem se inclinou sobre ela.
— Não use o nome de Deus em vão! — disse ele. — Será que todos os
saxões são tão grosseiros assim?
Em sua visão turva, Lydia viu duas imagens idênticas de um rosto
demoníaco. Finalmente, os dois rostos se fundiram num só. Um capacete brilhante
e cônico com um protetor dourado para o nariz cobria a cabeça do soldado.
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Escondia tudo, exceto os olhos e o maxilar. Parecia um falcão gigante, com olhos
verdes gélidos que a encaravam com insistência.
Uma faísca de reconhecimento causou em Lydia um pânico momentâneo.
Tocou a fronte, que latejava, e encontrou um pano quente e úmido. Sangue? Será
que esse homem estivera cuidando dela? Sentiu dedos em seu peito.
— Seu sapo idiota! Tire as mãos dos meus seios! — ela ordenou.
Uma gargalhada desviou-lhe a atenção para um segundo homem ajoelhado
a seu lado.
— Creio ser esta a primeira vez que uma moça compara você a tão humilde
criatura, primo — disse ele, rindo.
Damron segurou os braços de Lydia e ignorou seus esforços para se soltar.
— Você não ouviu? Eu disse para tirar as mãos de cima de mim! — Ela
olhou para o céu e murmurou:
— Quando a chuva parou?
— Não choveu hoje, sua malcriada.
— Por que você está fantasiado? Onde estão os guardas de verdade? —
Será que estava sendo promovido algum festival medieval que ela desconhecia?
— Fantasiado? — Damron se inclinou mais. — Guardas de verdade?!
Lydia lançou-lhe um olhar furioso, mas decidiu se acalmar.
— E melhor você se retirar antes que eu fique realmente irritada. — Ela
cerrou os dentes por causa da dor latejante em sua cabeça e tentou tirar os dedos
dele de seus braços.
O outro homem riu de novo.
— Connor. Não comece. — As palavras duras pareciam ameaçadoras.
— Calem a boca os dois! — Lydia gemeu. — Estou com uma dor de cabeça
absurda. Que diabos, por que não vão embora?
Damron a ignorou. Ninguém, muito menos uma mulher tão pequena e
insignificante, jamais ousara dar ordens a ele, o futuro lorde de Blackthorn. Seus
guerreiros e a escolta do rei estavam à sua volta, vendo e ouvindo tudo.
Esperou enquanto dez guerreiros saxões trazendo o emblema dos Sinclair
sobre seus escudos galopassem até eles. Não se aproximaram com as espadas
em punho, pois os soldados do rei estavam plenamente visíveis.
Um homem, que aparentava ser um lacaio, desceu do cavalo.
— Quem é esta mulher de tão péssimas maneiras? E por que está sozinha?
— Damron indagou.
— Milorde, esta é lady Brianna Sinclair. Ela vive com a irmã em Saint Anne
— esclareceu o lacaio. — A minha gentil senhora saiu antes de a escolta estar
preparada.
Lydia, ainda no chão, puxou o braço e bateu no tornozelo de Damron.

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— Meu nome não é Brianna, eu sou...


— Nós não conseguimos alcançá-la, milorde — prosseguiu o lacaio. — E ela
tem o hábito de fugir da própria escolta.
O rosto de Damron ficou sério. Havia enviado o mensageiro na frente para
informar a abadessa de Saint Anne de que estava a caminho. Essa moça
impertinente era lady Brianna? Por que deixara o mosteiro? E por que estava indo
em direção a Ridley?
Então, essa donzela que o olhava de forma desafiadora era sua noiva
pretensamente dócil e obediente? Encarou aquela saxã com quem estava sendo
forçado a casar-se como se pudesse fazê-la sumir.
Montou de novo em Angel, jogou uma manta pesada sobre o colo e, com
uma expressão contrariada, fez um sinal para que Connor levasse Brianna até ele.
O primo conseguiu disfarçar bem o divertimento enquanto Damron a acomodava à
sua frente na sela. Ordenou rispidamente ao lacaio para que fosse adiante até
Ridley levar a notícia sobre a dama que se ferira.
Brianna gemeu de dor. Damron segurou as rédeas do garanhão para que
andasse num passo mais lento e analisou a mulher em seus braços. Tinha cabelos
castanho-avermelhados que caíam em cachos largos quase até a cintura. As
sobrancelhas escuras e arqueadas emolduravam os olhos de cílios espessos. O
nariz era pequeno e aristocrático, e os lábios, carnudos. Seu corpo miúdo era
frágil, delicado e recendia a rosas. Damron sentiu a raiva se acalmar e
involuntariamente puxou o corpo dela para mais junto do seu.
Não demorou muito, Brianna começou a se mexer, inquieta, e logo vomitou
em sua túnica. Ele xingou, mas limpou-lhe o rosto com mãos gentis.
Continuaram pela estrada que cortava o bosque e chegaram à área que
cercava o Castelo Ridley. Os guardas, que já os aguardavam, baixaram a pesada
ponte levadiça. Ao redor deles, soldados armados os observavam de cima dos
muros e do caminho até a entrada principal.
Enquanto cruzavam a entrada principal, Damron estudava cada centímetro
das muralhas e do caminho diante de si. Rostos o fitavam com raiva, e os soldados
crispavam as mãos nas espadas. Embora olhasse para a frente todo o tempo, ele
não perdeu nenhum detalhe.
Desconfiava da noiva que o rei estava lhe impondo. Lady Brianna parecia
ser bem diferente da donzela meiga e dócil que William havia descrito. O rei ainda
mencionara que um tal sir Galan de Ridley enviara uma petição solicitando
permissão para se casar. Teria ele pretendido desposar lady Brianna, e William se
esquecera de lhe dizer?
Quando adentraram o pátio principal, foram recebidos pelo barão Simon de
Ridley. Damron aguardou pacientemente enquanto o homem lia a carta do rei, que
informava que Damron teria autoridade completa sobre Sinclair e sobre Ridley. O
barão o olhou, desnorteado, certamente questionando as decisões do rei.
— Gostaria de saber mais sobre lady Brianna — anunciou Damron. — Ela
costuma ser desobediente e voluntariosa?

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— Lady Brianna sempre foi de maneiras gentis e obedientes, milorde —


respondeu o barão, indignado e surpreso. — Jamais desobedeceu ao pai, que
Deus o tenha. Sempre se portou como um anjo de candura.
— Então, talvez insista em ter vontade própria e não buscar orientação
masculina antes de agir.
— Não! — O barão arregalou os olhos. — Lady Brianna sempre foi
conhecedora de sua posição de dama.
— Por que, então, ela fugiu da abadia quando sabia da minha chegada?
— Desconheço o motivo, milorde — respondeu o barão, evasivo. — Talvez
quisesse fazer um pouco de exercício antes da sua chegada e tenha se assustado
com a presença dos seus guerreiros.
Damron finalmente perguntou o que queria saber:
— Lady Brianna costuma ficar sozinha com um dos seus cavaleiros, um tal
de sir Galan?
— Não, milorde. — O barão ficava cada vez mais agitado com a conversa.
— Eles nunca ficam sozinhos. Nossa pequena Brianna jamais ousaria se
comportar dessa forma.
Damron fez um aceno com a cabeça e viu que obteria mais informações
sozinho do que com o homem à sua frente. Mas pelo que já percebera, essa dama
era no mínimo obstinada. Ela poderia muito bem ter dobrado um homem bondoso
como o barão e se encontrado com Galan às escondidas.
Na noite seguinte, em seus aposentos, Damron percorria repetidas vezes o
trecho da porta até a janela.
— Qual é a sua opinião sobre tudo o que descobrimos, Connor? —
perguntou.
— Esta manhã, quando fui a Saint Anne, Alana, a abadessa, jurou pela
própria vida sobre a honra de lady Brianna. Ela acredita piamente que Brianna
fugiu por causa do medo do desconhecido... — Olhou para o primo. — O que será
que deu em William para aventar a idéia de que ela poderia se casar com sir
Galan? A donzela é valiosa demais para desposar um simples cavaleiro.
— Com certeza estava bêbado — declarou Damron com desgosto.
— Não se oponha tanto à ordem do rei William e do rei Malcolm, primo —
disse Connor, tentando apaziguá-lo. — Eles estão tentando estabelecer a paz nas
fronteiras. William poderia ter feito você de refém em Abernethy, mas, em vez
disso, ele propôs a união entre uma família escocesa poderosa e seu próprio lorde
saxão. Foi uma jogada muito inteligente. Só mesmo você para ver uma noiva
jovem, com tantas riquezas e virtudes como uma punição.
Damron continuava a caminhar pelo quarto.
— Você foi a escolha natural dele, que o tem em alta conta. — Connor
continuou. — Lembra-se do ano em que fomos acolhidos pela família de William?
Você conseguiu impedir aquele criado de esfaqueá-lo pelas costas e, em
agradecimento, ele o presenteou com o seu cavalo, Angel... Um futuro lorde

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 8


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escocês e o futuro rei da Inglaterra, que bela dupla vocês formavam. — Ele riu. —
Você, com a sua eterna carranca, e William, sempre mal-humorado.

Damron voltou a ficar pensativo e se recusou a lembrar daqueles anos logo


após a morte do pai. Naquela época, ele dividia o tempo entre a Escócia e a
Normandia.
— Essa "adorável jovem noiva" é uma saxã — Damron praticamente cuspiu
as palavras, como se fossem algum tipo de veneno. — E muito magra e fraca.
Como poderá sobreviver nas montanhas, onde até mesmo os verões são frios e os
invernos podem congelar o traseiro de um homem?
Ele não queria outra esposa. Já se apaixonara antes, e à primeira vista. O
rosto e as formas de sua Genevieve eram de rara beleza, mas sua personalidade
se guardara como se fosse um segredo profundo e obscuro... Ele não conseguiu
evitar um estremecimento.
Oito anos antes, ele e William tinham estado juntos na corte normanda.
Damron, que estava casado com Genevieve havia pouco tempo, fora visitar
parentes de sua mãe em Rouen e voltara ao palácio uma semana antes do
esperado. Viera praticamente voando para reencontrar sua amada, para lhe dar o
presente que trazia guardado no bolso: uma corrente com um minúsculo porta-
retratos cravejado de safiras. Era o aniversário de Genevieve, e Damron queria
fazer-lhe uma surpresa. No entanto, fora ela quem o surpreendera...
Ele não queria se casar novamente. Sabia que não podia confiar em
nenhuma mulher. A cicatriz em sua virilha era uma prova constante disso. E agora,
os reis Malcolm e William o estavam forçando a desposar Brianna. Sua amante,
Asceline, atendia às suas necessidades sexuais e sabia de seu lugar. Ele não
precisava de uma esposa.
Sacudiu a cabeça para espantar as imagens que ainda o assombravam, só
então percebendo que
Connor já ò chamara várias vezes.
— E então, o que decidiu fazer? — perguntou seu primo.
— Vou observá-la por uma semana — respondeu Damron. — Brianna
demonstrou um comportamento nada dócil, diferente do que William descreveu.
— Realmente, devo admitir que ela não pareceu aceitar bem a liderança de
um homem.
— O lado bom disso tudo é que, como agora serei o senhor destas terras,
poderei levar homens das tropas de Sinclair e Ridley até Blackthorn. — Ficou sa-
tisfeito com a idéia. — Deus bem sabe que precisamos de mais guerreiros para
aumentar o nosso exército, com aqueles idiotas dos Gunn querendo nos atacar o
tempo todo. Eles estão ficando cada vez mais audaciosos. Não quero mais ver
nossas famílias chorando e sofrendo porque não tínhamos homens suficientes
para protegê-las.
Imagens terríveis de seus pais e irmãos, juntamente com os pais de Connor,
invadiram a mente de Damron, provocando-lhe grande dor. Lembrou-se daquela

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 9


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perda horrível, quando tanto ele quanto o primo tinham apenas onze anos de
idade.
— Mas, voltando à minha futura noiva, vou decidir por mim mesmo que tipo
de pessoa ela é — concluiu ele. — Espere por mim no salão principal. Vou ver
como Brianna está e irei para lá em seguida.
Lydia acordou num quarto escuro. Não sabia como, mas perdera suas lentes
de contato. Estreitou os olhos, tentando enxergar algo à sua volta, porém só via
vultos. Estava num quarto diferente de todos em que já dormira. Viu a madeira
entalhada nos pés da cama, que possuía dossel e cortinas verdes pesadas
amarradas às colunas.
Mais à frente, havia uma porta com dobradiças de couro e uma fechadura
estranha no lugar da maçaneta. Ao lado da porta, encontrava-se um baú de ma-
deira igualmente entalhada e um castiçal com duas velas acesas.
Sua dor de cabeça a lembrou de que estivera visitando as ruínas do Castelo
Blackthorn, quando ventos fortes de uma estranha tempestade a haviam derrubado
na trilha de pedras. Pelo menos achava que era isso o que acontecera, porque
imagens estranhas continuavam invadindo sua mente.
E como numa projeção de slides, as visões passaram diante de seus olhos.
Homens esquisitos galopando ao seu redor, o chão vindo ao seu encontro depois
de o cavalo tropeçar, o medo enquanto caía. Que estranho... nunca andara a
cavalo em suas visitas à Escócia...
De onde vinham essas visões? E aqueles homens gritando, quem eram
eles? E por que ela dissera "Deus me ajude"? De onde viera aquela memória?
Seria um sonho? Encolheu-se quando sentiu uma nova pontada de dor na cabeça.
Onde estava? Não conseguia reconhecer o quarto. Por que não a tinham
levado para a pousada, onde todos os funcionários do museu sabiam que ela sem-
pre se hospedava?
Ao ouvir um farfalhar de tecidos, Lydia virou a cabeça para o lado e viu uma
jovem sentada numa cadeira. Tinha cabelo escuro e olhos azuis. Seu rosto lhe era
estranhamente familiar, e parecia ter a mesma idade que ela. A moça se levantou
num salto e veio correndo para o seu lado na cama.
— Oh, Brianna, você se meteu em maus lençóis desta vez! — exclamou a
moça. — Aquele homem horrível disse que você fugiu, e eu pensei que fosse
morrer quando vi todo aquele sangue... Ele começou a dar ordens para todos nós
como se fosse o rei, e papai deixou...
— Parou de tagarelar por um instante para tomar fôlego. — Mamãe disse
que, depois que o homem deixou o pátio, parecia que papai iria arrebentar de tão
vermelho que ficou!
Brianna1? Essa moça certamente está me confundindo com alguém. Mas, de
repente, o medo travou-lhe a garganta. Santo Deus, ela está falando em inglês
antigo, e eu a compreendo perfeitamente! E aquele homem arrogante de antes...
Ele falou em francês normando, e eu respondi normalmente!
Embora tivesse diploma de mestrado em Lingüística Histórica e outro em

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 10


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Genética, Lydia jamais pensara que algum dia usaria alguma dessas línguas, por
mais que gostasse delas. Agradeceu mentalmente a seus pais, ambos
historiadores renomados, por lhe terem incutido o amor pelas coisas antigas.
— Meu nome não é Brianna, é Lydia Hunter. Quem é você?
— Sou eu, sua prima Elise. Não está me reconhecendo? E claro que você é
Brianna. — A garota balançou a cabeça. —Você é uma Sinclair, não uma Hunter.
Está brincando? Será que, quando bateu a cabeça contra a pedra, seus olhos
foram afetados? Você dormiu por dois dias. Mamãe disse que a sua cabeça não
deve estar funcionando muito bem, mas não falou nada dos seus olhos...
Lydia continuou olhando para a tal Elise, que a examinava atentamente.
— Você ainda está piscando muito. Vai passar mal de novo? — perguntou a
jovem. — Eu vou buscar mamãe. — E saiu correndo.
Lydia tentou se erguer e conseguiu apoiar as costas na cabeceira da cama.
A tontura tinha passado e a dor de cabeça diminuíra para um latejar suave. Levou
a mão à testa e, ao olhar para seus dedos e mãos, achou-os diferentes. Olhou
para seus braços e achou-os mais estranhos ainda. Confusa, esfregou os olhos e
depois ergueu as cobertas. Jamais vira uma camisola daquele tipo, a não ser pelas
gravuras de roupas medievais que conhecia.
Estaria sonhando? Ou teria deparado com um festival medieval? Feliz por ter
chegado a essa conclusão plausível, começou a relaxar e a examinar melhor o
quarto.
Havia um biombo de madeira pintado com coloridos desenhos celtas num
dos cantos do cômodo. Deslizou para fora da cama e encolheu os dedos quando
sentiu o chão frio de pedras sob os pés. Tremendo a cada passo, conseguiu
chegar ao biombo e olhou atrás dele. Sobre um suporte, havia uma jarra de água e
uma bacia, com várias toalhinhas ao lado. Encaixada embaixo da bacia, estava
uma vasilha, que parecia ser um penico. Estremeceu e achou melhor voltar à cama
e esperar por Elise para que ela a levasse ao banheiro.
Nesse instante, um rapaz entrou, fechou a porta e veio em sua direção.
— Dê o fora! Não está vendo que este quarto está ocupado? — disse Lydia,
apontando para a porta, a irritação dando o tom exato que queria imprimir à voz.
Mas mesmo assim, não sabia por que, sua voz soava diferente, um pouco mais
aguda.
— Não tenha medo, lady Brianna, sou eu, Galan — falou o rapaz, que se
aproximou e segurou-lhe os ombros.
Antes que Lydia tivesse tempo de dizer algo, os lábios mornos dele tocaram
sua face. Ela o empurrou, mas o rapaz não se moveu.
De repente, a porta se abriu com um estrondo. Lydia deu um grito e tentou
descobrir quem havia entrado como um furacão.
Um homem enorme ocupava a entrada. Embora o cômodo estivesse muito
escuro para que conseguisse ver-lhe o rosto, só podia ser o sujeito que a abordara
na floresta. Ele usava a mesma fantasia de antes.
Estranho como tudo ali parecia ser muito mais autêntico do que qualquer
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 11
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

festival medieval em que já estivera. As roupas dos atores e os móveis do recinto


oram exatamente como ela vira nos livros. Mais interessante ainda era a facilidade
com que todos ali Calavam inglês antigo e francês normando.
— Se não deseja perder as mãos, aconselho que as tire de cima dela — o
homem ordenou a Galan, colocando-se em posição de combate.
Lydia sentiu a força do olhar possessivo do homem percorrendo seu corpo.
— Volte para a cama, Brianna. Deveria ter vergonha de si mesma!
Ela sentiu a pele pegar fogo ao perceber que os homens a estavam vendo
naqueles trajes transparentes.
Correu para a cama, arrancou o lençol e cobriu-se com ele até o queixo. A
humilhação deu
lugar à raiva.
— Meu nome não é Brianna! E como ousam invadir o meu quarto e me dizer
o que fazer? Esse rapaz pode estar sob o seu comando, meu amigo, mas eu não
estou!
Um grunhido selvagem veio do peito do homem que invadira o quarto. Lydia
sentiu um arrepio. Nesse momento, Elise voltou apressada.
— Brianna, eu encontrei... Oh! — Ela deu um gritinho e parou de repente.
Uma mulher elegante vinha atrás de Elise, trazendo uma vela num pequeno
castiçal. Se ia dizer alguma coisa, as palavras morreram em sua garganta.
— Venha! — O homem agarrou Galan pelo ombro, obrigando o rapaz a
acompanhá-lo.
— Eu trouxe mamãe — disse Elise em voz alta, indicando a mulher. — É sua
tia Maud, caso você tenha esquecido também o nome dela.
— Não grite assim, meu bem. Tenho certeza de que os ouvidos de Brianna
não foram afetados pela queda — falou lady Maud, com um brilho divertido nos
olhos. Entregou a vela à filha e virou-se para Lydia. Examinou-lhe o corte na testa
e franziu o cenho ao ver a área ainda inchada. — Ficará com um belo colorido
durante vários dias, mas podemos escondê-lo facilmente com uma franja.
— Meu nome não é Brianna, é Lydia — insistiu ela. Começou a se perguntar
se aquelas pessoas estavam compreendendo o que dizia, pois teimavam em
chamá-la de Brianna. E faziam isso com naturalidade, como se realmente
acreditassem ter algum tipo de relacionamento com ela.
— Sua cabeça ainda está doendo ou a dor já diminuiu? — perguntou lady
Maud.
Outro problema urgente a desviou do assunto.
— Eu preciso ir ao banheiro. Poderia me informar onde fica? — pediu Lydia.
— Banheiro?! — Lady Maud ergueu as sobrancelhas, sem compreender,
mas quando percebeu que Lydia se remexia nervosamente, entendeu a situação.
— Ah, claro, minha querida! — Indicou o biombo no canto e deixou o quarto
calmamente.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 12
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Um penico?! Não acredito! — O quarto era chique demais para ser de um


hotel barato. Por que não conseguia ter as conveniências modernas em seu
sonho? — Aposto que vou acordar deste pesadelo a qualquer momento e
descobrir que molhei a cama.
— Oh, não! Não me diga que você molha a cama!
— Elise gemeu.
Lydia espiou por detrás do biombo, e a tal prima correu para a cama à
procura de manchas úmidas.
Nesse instante, dois homens entraram trazendo uma banheira de madeira,
seguidos por criados carregando baldes de água. Após a encherem, colocaram o
último balde com água quente ao lado de um braseiro. Quando saíram, Lydia
examinou a banheira.
Que inferno... Eles realmente não têm banheiro, pensou.
— Algum problema? Venha, sente-se aqui dentro, assim poderei lavar o seu
cabelo — Elise orientou.
— Mamãe fez uma sopa deliciosa para você. Ela diz que sopa quente ajuda
a dormir. Você precisa dormir bastante para se recuperar e lembrar-se de que é
Brianna Sinclair.
— Eu não vou voltar para a cama — Lydia teimou. - E que cheiro doce é
esse? — Ela gelou, percebendo que nunca sonhara com um cheiro antes.
— Ora, francamente, Brianna, sua memória está piorando — Elise a
repreendeu, mostrando-se levemente irritada. — E o seu sabonete preferido, de
rosas.
Quando Lydia entrou na banheira, a água quente e calmante subiu e cobriu-
lhe os seios. Pegou um pano e o pote com sabonete e lavou o rosto. Elise insistiu
em lavar-lhe os cabelos.
— Eu consegui tirar o sangue e a sujeira — disse Elise, por fim. — Agora
incline a cabeça para trás, para que eu possa enxaguá-los.
Depois de sentir os cabelos limpos, Lydia tateou o estranho comprimento
das mechas. Seus olhos se arregalaram.
— Abra as janelas, por favor.
Elise levantou-se e foi abrir as portinholas, permitindo que a luz suave da
tarde entrasse.
Olhando para baixo, Lydia viu uma cortina de cabelos sobre os ombros.
Longos, castanhos, com mechas finíssimas de um vermelho profundo. Assustada,
recuou num salto e apoiou-se contra as costas da banheira.
— Meu... Deus! — Pela primeira vez, ela percebeu como estava diferente.
Examinou os próprios braços e as mãos. Ergueu as pernas rapidamente, jogando
água ao chão, e quase engasgou com a surpresa: suas pernas eram mais curtas e
suaves, delicadas até, como se jamais tivesse corrido ou andado de patins.
— Santo Deus, prima, o que está fazendo?! — Elise perguntou, alarmada. —

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 13


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Está tendo algum tipo de ataque? Preciso ir buscar mamãe!


— Não se atreva a sair daqui! — exclamou Lydia.
— Fique aí enquanto eu tento entender o que está acontecendo. — Com o
coração acelerado, forçou-se a acalmar a respiração. Olhou para as próprias
pernas e balançou a cabeça. Não podia ser. Apoiando-se nas beiradas da
banheira, levantou-se e olhou para baixo. Seus seios estavam menores, porém
perfeitos, com mamilos delicados e rosados, seguidos por um ventre liso e firme.
Seguiu o olhar e encontrou um tufo de pelos escuros. Quando seus olhos
depararam com as coxas roliças e sem nenhum sinal de celulite, sentiu os joelhos
ceder e caiu sentada novamente dentro da banheira.
— Santo Deus, Brianna, se não parar com isso irá se afogar!
— Deixe-me pensar, por favor! — Lydia sentia a mente dentro de um
turbilhão de emoções confusas. Tocou o rosto. Embora o nariz retilíneo fosse
familiar, o restante parecia ser bem mais delicado.
Jamais desejara ter um corpo diferente, então tudo aquilo só podia ser um
sonho. Mas mesmo assim, era muito real! Aquela dor de cabeça que não cedia, a
fome que estava sentindo, a textura de tudo o que tocava, o cheiro do sabonete de
rosas... E acima de tudo, o alívio que sentira ao usar o penico... Jamais sonhara
com nada daquilo.
Saiu da banheira, enrolou-se numa toalha branca e sentou-se ao lado de um
braseiro maior para tentar secar aquele cabelo todo. Pegou o pente de dentes
largos que Elise lhe estendeu e viu que teria mais trabalho do que pensara para
desembaraçar as mechas longas e encaracoladas. Com grande paciência,
conseguiu soltar os cachos, enquanto Elise procurava por algo no baú de madeira.
— Onde estão as minhas coisas? — perguntou Lydia. — Preciso trocar de
roupa. Você sabe se o hotel serve alguma refeição à noite?
Elise sacudiu as roupas que segurava à frente de Lydia e a encarou
insistentemente.
— Deus do céu, você não pode descer nesse estado. Não está enxergando
as roupas que deve vestir e se esqueceu do próprio nome. Eu não consigo enten-
der metade das coisas que diz, suas palavras são estranhíssimas. Será que foi por
causa da pancada na cabeça? Venha, deixe-me ajudá-la. — Ela disse isso tudo
muito rapidamente enquanto a ajudava a vestir um par de ceroulas de um tecido
delicado, e depois um vestido verde-água em forma de túnica. — Vou pedir à Sra.
Cook, nossa cozinheira, que lhe prepare uma refeição com sopa, pão e queijo —
anunciou, já destravando a porta.
— Espere um pouco! — exclamou Lydia. — Onde está minha lingerie? Acha
que vou andar por aí sem nada por baixo?
— Você não está nua — Elise deu um risinho e voltou para o lado de Lydia.
Ergueu-lhe a saia calmamente e apontou. — Veja, esqueceu que vestiu as
ceroulas? E não iremos descer. O escocês ordenou que você só deixe o quarto
quando ele disser que pode. — De repente, seu rosto ficou pálido, como se algo
terrível tivesse acontecido. — Oh, não, ele não vai bater em nós duas, vai?

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 14


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Lydia riu e encaminhou-se para a porta. Elise se adiantou e bloqueou-lhe a


saída.
— Brianna, você não pode sair do quarto — sussurrou ela com expressão
preocupada.
— Precisamos ter cuidado. O padre Jacob vai ler os proclamas no próximo
domingo.
— E vai proclamar o quê? Aposto que vai anunciar a nova lei de proibição de
mulheres no salão de jantar. Ora, por favor! — Dando um suspiro de puro
desgosto, afastou Elise gentilmente da porta.
Lydia achou as escadas tão estranhas quanto o quarto onde estivera.
Parecia com os inúmeros castelos que já tinha visto. Tudo à sua volta estava em
perfeitas condições, como se fosse novo. Havia tochas estrategicamente
colocadas ao longo do corredor, para que ninguém corresse o risco de tropeçar ou
cair no escuro. Mas era estranho que não existissem interruptores ou saídas de
incêndio como em qualquer edifício público...
A fumaça emitida pelas tochas exalava um cheiro esquisito, e Lydia parou de
repente. Já era a segunda vez que sentia um aroma nesse sonho maluco que
estava tendo.
Determinada a descer, prosseguiu, com Elise segurando-lhe a manga do
vestido, como uma criança teimosa.
Dezenas de homens e mulheres lotavam o grande salão, e todos
conversavam animadamente. Fascinada por todas aquelas indumentárias
brilhantes, Lydia não conseguia parar de olhar para os figurantes.

Ela mal deu um passo quando sua visão foi bloqueada por um peito enorme.
Olhou para baixo e viu duas botas próximas a seus pés.
Elise deu um gritinho assustado e recuou.
— Brianna, volte para o quarto. Deve ficar lá até que recupere a sua lucidez.
Aquela voz áspera e as ordens secas não deixaram dúvidas quanto a quem
estava falando. Tentou erguer a cabeça para ver-lhe o rosto, mas a pouca
distância não permitiu que o fizesse. Procurou manter-se calma, pois só olhar a
camisa que revelava o peito forte a fazia sentir os joelhos trêmulos. Porém, não iria
recuar um único passo, ou ele pensaria que a tinha intimidado.
— Pois saiba que eu estou lúcida — retrucou. — E pare de me chamar de
Brianna. Meu nome é Lydia.
Ela sentia na pele o calor vindo do corpo dele e, a cada vez que respirava,
acabava inalando o cheiro másculo e inebriante de sândalo e ervas. Que pena que
a personalidade arrogante não contribuía para melhorar o conjunto...
— Você precisa de descanso por causa da pancada — disse ele com voz
mais suave. — Qualquer pessoa que não consiga se lembrar do próprio nome está
doente da cabeça e tem que descansar. Volte para a cama. Caso contrário, eu
mesmo a levarei.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 15


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Eu não estou "doente da cabeça", como diz


— Lydia respondeu calmamente, como se estivesse falando com uma
criança. — E minha memória está ótima. — Desviou-se dele e seguiu adiante.
Ele pareceu prestes a protestar, mas ficou calado, pois o homem que se
identificara como Connor no dia anterior murmurou algo que ela não conseguiu
entender.
— Permita-me acompanhá-la, lady Brianna — ofereceu-se Galan, que
surgira a seu lado, estendendo o braço.
Galan acomodou-a à mesa principal e sentou-se ao seu lado. Várias
pessoas a separavam daquele homem desagradável e, se ela não conseguia vê-lo,
o oposto também acontecia.
Uma criada apareceu, com uma vasilha de água para que lavasse as mãos,
e depois lhe deu uma toalha para se secar. Um outro servo pousou uma tábua de
madeira com fatias grossas de pão preto entre ela e Galan e um prato rudimentar à
sua frente. Um banquete medieval? Sua imaginação estava cada vez mais criativa,
pensou Lydia. Tanto ela quanto Galan tinham ainda um cálice de prata, mas... não
havia talheres de nenhum tipo sobre a longa mesa.
Mais serviçais trouxeram bandejas com salmão grelhado e carnes de veado
e de javali assadas na brasa, fumegantes e guarnecidos com batatas cozidas e
cogumelos inteiros fritos.
Galan tirou uma faca de caça do bolso da calça e se .serviu de um grande
pedaço de salmão da tábua de madeira. Lydia não tinha a menor idéia de como iria
comer. Por que não sonhara com uma época em que já existissem garfos? Galan
murmurou algo e levou um pedaço de salmão à sua boca.
Inclinando-se para a frente, ela olhou para o centro da mesa. Confusa,
esfregou os olhos, pois não enxergava os rostos claramente. Deu um suspiro de
desânimo. Se sentia perfumes no sonho, por que não conseguia ter uma visão
decente? Daria qualquer coisa cm troca de suas lentes de contato. Estreitou os
olhos v viu o marido de lady Maud servindo-a de salmão na boca, da mesma forma
que Galan fizera momentos antes. Ao prestar mais atenção às conversas ao redor,
começou a se familiarizar com a linguagem arcaica.
A cada vez que Galan lhe dizia algo, Lydia sentia o olhar fulminante vindo do
Senhor Chauvinista no centro da mesa.
— Brianna, eu tenho uma surpresa para você
— Galan sussurrou em seu ouvido. — Trabalhei longas horas e com muito
afinco para agradá-la.
Sorrindo para ela como se não houvesse mais ninguém no salão, Galan tirou
um bandolim de dentro de uma sacola a seus pés, fez uma reverência e começou
a tocar.
Ele se dirigiu ao banco em frente à mesa principal e continuou a tocar e
cantar. Prestando atenção à letra, Lydia percebeu que era uma canção de amor.
Subitamente, sem saber como, ela viu uma imagem em sua mente: um
momento romântico, seu corpo abraçado ao de Galan, um beijo roubado. Piscou
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 16
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

com força para afastar o "pensamento". Aquilo não podia ser uma lembrança;
como poderia se lembrar de momentos com Galan? Tudo não passava de um
sonho! O jovem terminou a canção e retomou o assento a seu lado.
— Galan, essa foi a canção mais linda que já ouvi
— Lydia o elogiou, tocando-lhe o braço. — Eu odiaria ter que...
De repente, o banco balançou perigosamente, quase a derrubando ao chão.
Lydia deu um pulo, assustada, acabou por perder o equilíbrio e caiu no colo de
Galan. Enquanto tentava se levantar, seu rosto bateu contra um peito firme como
uma rocha. Era ele de novo. Sabia disso pois já ficara frente a frente com aquele
tórax rijo e reconheceu as roupas. E o perfume. Inclinando-se para trás e
massageando o nariz, Lydia inclinou a cabeça para olhá-lo no rosto.
— Volte imediatamente para os seus aposentos.
— Ele lhe tomou o braço com força e quase a arrastou em direção às
escadas de pedra. Quando ela tentou se livrar daquela garra de aço, ele a apertou
ainda mais.
— Fique quieta, ou juro por Deus que vou carregá-la nos ombros.
Em virtude de somente havê-lo visto escondido pelo capacete normando no
dia anterior e também no escuro do quarto, não sabia direito como era o rosto do
homem. Não podia ser quem ela achava que era. Nem mesmo em sonho. Não
havia nenhuma névoa estranha os envolvendo como acontecera na loja do museu.
Lydia sentia o calor dele, seus músculos e o cheiro, que fazia o sangue correr mais
rápido em suas veias.
— Qual é o seu nome? Demon? Damion? — ela indagou. Não, não era
possível que ele fosse aquele do retrato!
— Damron — ele respondeu, impaciente. — Meu nome é Damron, e você
sabe disso muito bem.
— Damron de quê? Qual é o seu sobrenome? — Sua voz tremia, mas Lydia
precisava ter certeza.
— Meu nome é Damron Alasdair, do clã Morgan do Castelo Blackthorn. E
que diferença faz saber o meu nome completo?
— Não pode ser... você morreu! — Lydia se aproximou dele e agarrou-lhe os
cabelos perto das têmporas. Puxou o rosto de Damron para mais perto. — Como
pode estar aqui se está morto há séculos?!
Seu grito ecoou pelas paredes de pedra.
Damron subiu os degraus de dois em dois, querendo levar Brianna de volta
ao quarto o mais rapidamente possível, antes que ele resolvesse enfiar um pouco
de bom-senso goela abaixo daquela desarvorada.
Desde o primeiro instante em que a vira, galopando em sua direção, ela não
se mostrara em nada parecida com a donzela dócil e obediente que lhe fora pro-
metida. Havia enfeitiçado Galan e até tocara nele!
Chutou a porta pesada do quarto, batendo-a violentamente contra a parede,
pela segunda vez em pouco tempo. Ele cruzou o quarto e jogou-a sobre a cama.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 17
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Ai, seu brutamontes! — ela reclamou.


Elise entrou no quarto correndo, quase esbarrando em Damron, que se
dirigia à porta.
— Deus do céu, Brianna, o que deu em você?! — Ela torcia as mãos,
prestes a chorar. — Todos ouviram você gritar que lorde Damron estava morto há
centenas de anos. Ele ficou furioso! Talvez a tranque numa torre, como fizeram
com nossa bisavó Elyn.
— Trancar-me?
De repente, Lydia sentiu as mãos ficar geladas e o coração disparar. Aquilo
não era nenhum sonho interativo sobre um castelo medieval... estava acontecendo
de verdade!
Nesse momento, lady Maud entrou no quarto.
— Acho que saiu da cama antes da hora, meu bem — disse ela. — Com
certeza, é por isso que está tendo esses rompantes de rebeldia. — Passou-lhe
uma caneca de prata. — Beba. Quando acordar amanhã, tudo estará do jeito que
tem que estar. Elise, meu amor, se ficarmos aqui conversando, Brianna não terá o
descanso de que tanto precisa.
Ao se ver sozinha, Lydia jogou o conteúdo da caneca pela janela. Não sabia
se aquela mistura era segura. Talvez lorde Damron tivesse ordenado a lady Maud
que preparasse algum tipo de poção para dormir. Precisava pensar, tentar
compreender essa situação estranhíssima antes que Elise voltasse para passar a
noite com ela.
Despiu-se e examinou as roupas que usava, prestando especial atenção à
textura do tecido. Sua ansiedade aumentava à medida que dobrava cada peça.
Por fim, enfiou-se na cama, determinada a fingir um sono profundo para quando
viessem vigiá-la.
Instantes depois, ouviu a porta ser destravada e alguém entrar. Não precisou
olhar para o visitante para saber quem era. O perfume marcante revelou-lhe a
presença.
Damron.
Ele se aproximou e a examinou tão de perto que Lydia pôde sentir a
respiração morna tocá-la na face, trazendo à tona uma lembrança que não sabia
possuir. A cena passou diante de seus olhos como se num filme acelerado. Era
muito mais vivida do que qualquer uma das recordações que já tivera. Nu, Damron
cobriu-lhe o corpo com o seu.
— Assim? — perguntou, roçando seus lábios nos dela.
Sua boca trilhou o caminho até o bico de um seio. Sensual e lentamente,
lambeu o mamilo e depois a fitou nos olhos.
— É assim que gosta? Você me ama, minha flor? Ela se recusou a
responder. Ele cerrou os dentes, fazendo com que uma cicatriz que cruzava o
maxilar embranquecesse.
Lydia sentiu ao mesmo tempo uma onda de calor percorrendo-lhe o corpo e

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 18


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

um frio na boca do estômago, mas sua mente ficou alerta quando ouviu a voz de
Damron.
— Você não é o que dizem ser. Ou tudo foi um teatro muito bem ensaiado,
ou aquela rocha fez mais estrago em você do que pensamos.
Ele afastou-lhe algumas mechas da testa. Traçou a linha do rosto com os
dedos e tocou-a nos lábios.
O perfume dele a enfeitiçava e fez com que suspirasse sem querer. Alguns
segundos ainda se passaram antes que ele, por fim, se afastasse.
Ao longo dos anos, Lydia aprendera muito sobre as famílias Sinclair e
Morgan. A mãe de Brianna havia morrido logo depois que ela nascera, e sua irmã,
Alana, cuidara dela. Quando Brianna tinha oito anos, o barão fundara a Abadia de
Saint Anne, fazendo de Alana a abadessa.
Damron Morgan era conhecido por sua força e determinação. Em seu
casamento com Brianna, ela lhe dera dois filhos homens, mas alguns anos depois
ela cometera suicídio, jogando-se de um parapeito do Castelo Blackthorn.
— De jeito nenhum — resmungou Lydia. Nunca acreditara nessa história,
pois Brianna vivera na abadia com a irmã e, devido à sua formação religiosa,
jamais colocaria sua alma imortal em perigo.
Mas a pergunta que precisava ser respondida era: como viera parar no corpo
de Brianna?!
Será que todos aqueles estranhos lampejos que tivera desde a infância nada
mais eram do que memórias de sua vida passada? Lembrou-se de quando, aos
cinco anos de idade, afirmara que lorde Damron pertencia a ela. Seu pai dissera
que ela havia proferido o nome dele de forma errada, que dissera "Demon" em vez
de "Damron".
Lembrou-se da sensação que havia tomado conta do seu ser quando pegara
o broche nas mãos, daquele rosto acompanhado de uma voz profunda que lhe fa-
lara por entre a névoa, implorando para que ela nunca o deixasse, para que ela
não o abandonasse. Tinha certeza de que era a voz de Damron, pois a reconhe-
cera minutos antes.
Quando ela havia caminhado sobre as muralhas do castelo, o vento soprara
com muita força, erguendo-a no ar por alguns segundos antes de jogá-la contra as
rochas. Sua cabeça batera em algo, e depois... trevas. Ouvira o grito da águia ao
longe e sentira o farfalhar das asas a seu lado.
Sem saber como, fora tragada por algum vácuo até que ouvira uma voz
dizendo: "Por favor, Senhor Deus, ajude-me!". A sensação se transformara em
algo semelhante a deslizar em um barranco e cair na água. Fora quando tinha
sentido outra pancada na cabeça, c mais uma vez... trevas. Ao acordar, havia
tentado obrigar o corpo a obedecer aos comandos da mente. Teria seu espírito
voltado a alguma vida passada?
Se tivesse sido Brianna numa vida passada, isso explicaria as imagens
estranhas que lhe vinham à mente e que não pertenciam a ela, Lydia.
Haveria um caminho de volta? Se estava realmente revivendo sua vida

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 19


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

passada, tinha certeza apenas de uma coisa. Não iria encontrar a saída da mesma
forma que Brianna fizera da primeira vez.
Horas depois, Lydia acordou com lágrimas rolando por sua face. Novamente,
o mesmo pesadelo que a assombrava desde criança: um homem oculto acusando-
a de traição; o brilho da lâmina de uma espada pronta para o ataque; e sua boca
se abrindo num grito mudo.
Alguém se mexeu a seu lado. Soube no mesmo instante que não estava em
sua cama, em sua casa. Um grito escapou de seus lábios. Elise se virou assusta-
da, e Lydia se forçou a permanecer imóvel. Começou a suar frio. Não havia mais
como ignorar que estava vivendo uma vida passada.
— O que foi, Brianna? Você está apavorada! — A prima se ergueu. — Por
que está chorando? Dormiu bem? Está com dor de cabeça?
— Não, não estou chorando; sim, eu dormi bem; não, minha cabeça não dói,
e eu não quero mais ficar na cama.
Alguém viera ao quarto para alimentar o fogo na lareira enquanto dormiam.
Havia também outros objetos na cômoda que não se encontravam ali no dia ante-
rior. Lydia aproveitou para acompanhar Elise enquanto a moça se levantava e se
dedicava à rotina matinal.
Vestiu-se com as mesmas roupas do dia anterior, não mais as achando tão
bizarras. Embora fossem mais confortáveis do que as roupas modernas, Lydia
ainda se sentia estranha sem lingerie. Determinada a aproveitar a chance que se
apresentava, chamou Elise.
— Venha, prima, vamos explorar os arredores. Elise passou correndo por
ela. Lydia só conseguiu
alcançá-la quando chegaram aos estábulos. Passou por várias baias vazias
até encontrar a da sua montaria, Sweetpea.
— Olá, meu amor — murmurou Lydia, e a égua ergueu a cabeça.
Uma sensação de calor e um formigamento na nuca anunciaram a presença
de Damron.
— Como vai o meu tesouro hoje? — disse ele, afagando Sweetpea. —
Como você é linda... Que pescoço elegante, que rosto bonito... — A respiração de
Dumron acariciava a orelha de Lydia, fazendo-a se arrepiar por inteiro. — E um
animal magnífico, suave como veludo, com um corpo maravilhoso. — Continuou
acariando Sweetpea. — Vai me dar crias excelentes, nobres e fortes.
— Aposto como não fala assim com mulher nenhuma — disse Lydia num
murmúrio.
Enquanto tentava ignorar o calor que lhe invadiu o corpo ao proferir aquelas
palavras, ela saiu apressada dos estábulos, sentindo o olhar penetrante de
Damron em suas costas.
Será que Brianna havia percebido que era com ela, e não com a égua, que
ele estivera falando?
Damron sentira o calor que emanara de Brianna e também o suave tremor

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 20


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

quando ela dissera em voz quase inaudível que ele não era capaz de ser gentil
com uma mulher.
Damron não tinha dúvidas de que, juntamente com a natureza agressiva que
Brianna demonstrava, havia ali também muita paixão pronta para ser libertada e,
com a ajuda de Deus, seria ela quem lhe daria uma prole forte.
Mas Brianna ainda não sabia disso.
Durante várias horas Brianna e Elise andaram pelos vários pavimentos do
castelo, subiram e desceram lances de escada e abriram um número absurdo de
portas para explorar seus interiores.
Quando chegaram ao último pavimento, saíram para a passagem que
circundava a muralha interna e ligava a casa principal à torre que abrigava a
criadagem e as despensas. O vento desarrumou-lhes os cabelos e moldou suas
roupas ao corpo. Lydia foi tomada por uma súbita onda de pânico, lembrando-se
da outra vez em que estivera no alto de um castelo e sentira o vento controlando
seu corpo. Apavorada, agarrou-se ao corrimão de madeira.
Sentiu-se observada e olhou para o outro lado, de onde Damron a fitava.
Virou-se de costas para ele, endireitou os ombros e seguiu Elise até a muralha ex-
terna. Antes de descer, parou por um instante para admirar a vista.
No canto extremo havia um pequenino grupo de árvores. Enquanto admirava
a vegetação, foi tomada por uma visão de si mesma rindo e correndo de Galan,
enquanto ele, também rindo, tentava alcançá-la. Quando Galan chegou a seu lado,
abraçou-a terna-mente e beijou-a na testa.
O que estava acontecendo entre Brianna e Galan?!
A visão se foi tão rápido quanto viera. Lydia respirou fundo e se apoiou na
muralha, tentando se acalmar. Olhou à sua volta. A propriedade era linda: campos
verdejantes se estendiam até os limites com a floresta, e montanhas mais escuras
emolduravam o cenário à distância. Desfrutou da sensação maravilhosa de não ver
aviões circulando pelo céu, ou de carros barulhentos poluindo o ar e incomodando
os ouvidos ou mesmo de centenas de casas amontoadas nos arredores. O local ali
era infinitamente diferente de sua época...
— Brianna, venha! — Elise desceu as escadas correndo. — Mamãe disse
que Galan irá nos levar para um passeio especial que poderá ajudar a sua
memória!
Lydia a seguiu até os estábulos novamente. Nesse instante, Galan surgiu,
pôs as mãos em sua cintura e, apertando-a mais do que deveria, segundo ela, er-
gueu-a e acomodou-a na sela adaptada, como se já estivesse habituado a isso.
Fechando os olhos, Lydia torceu para se adaptar aquela estranha sela. Era
uma excelente amazona, c seu treinamento acabou por falar mais alto no momento
em que tomou as rédeas nas mãos.
A hora seguinte foi extremamente agradável. Pararam à beira de um lago
rodeado por salgueiros. Um servo que os acompanhara estendeu uma manta
nobre a relva para que se acomodassem, e depois se manteve a uma distância
discreta.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 21


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Galan soltou uma sacola que estivera amarrada à Mola de seu cavalo e
serviu pão de centeio, um pedaço generoso de queijo e pedaços de galinha
assada. Um pequeno galão de cerveja e três canecas completaram a refeição.
Enquanto comiam, Lydia teve a impressão de que alguém, além de Elise e
Galan, a observava, mas a cada vez que se virava para ver quem era, não
encontrava ninguém.
— A próxima semana será como uma eternidade, meu amor — Galan
sussurrou no ouvido de Lydia.
Era estranho, mas não se sentia desconfortável ao lado de Galan. A Brianna
que vivera pela primeira vez devia gostar muito dele, mas quanto? Teriam os dois
trocado carícias ou talvez feito algo mais?
De repente, Galan começou a beijar-lhe o pescoço.
Santo Deus! Qual seria o grau de intimidade entre os dois? Ela se retraiu.
Deu um pequeno grito e se pôs em pé com um salto.
— O que aconteceu? Foi picada por uma abelha? — indagou Elise.
Galan corou violentamente. Nesse instante, Connor surgiu ao lado deles,
vindo de trás de uma das árvores e surpreendendo Lydia. Então tinha sido ele todo
o tempo!
— Desculpe-me. Pensei que fosse algum lagarto ou uma aranha no meu
ombro... e me assustei.
Connor sorriu para Lydia, que retribuiu o sorriso. Ela percebeu que não havia
dúvidas de que ele vira que o motivo que a fizera saltar não tivera nada a ver com
um lagarto ou uma aranha.
No caminho de volta, Connor, de propósito, cavalgou a seu lado, forçando
Galan a ficar atrás com Elise.
— Gostou do passeio, milady... Claro, antes de ter sido mordida pelo lagarto
apaixonado? — perguntou ele, rindo.
— Ainda bem que não o feri — respondeu Lydia.
— Do contrário, poderia ter me atacado, não acha?
— Felizmente não a atacou. Eu teria de matá-lo por ter invadido um território
que não lhe pertence — disse Connor, agora com expressão séria.
Lydia achou que as palavras de Connor pareciam uma ameaça velada. Que
direito tinha ele de questioná-la?
— O "território" não pertence a ninguém, sir Connor — retrucou. — E qual o
motivo de o senhor estar no bosque?
— Eu tenho meus motivos, milady. E este território pertence a um senhor de
terras.
Enquanto passavam pelos portões principais da propriedade, Lydia
experimentou de novo a sensação de estar sendo observada. Olhou para cima e
descobriu quem era: Damron se encontrava no alto de uma das muralhas.
Sentiu a força daquele olhar como se fossem as mãos dele buscando os
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 22
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

segredos de seu corpo. Arrepios a percorreram, e ela, sem saber como, lembrou-
se daquelas mãos calejadas acariciando cada centímetro de sua pele enquanto a
despia ansiosamente.
Foi também invadida pela reação instantânea aquele toque: excitação!
Damron estivera supervisionando o treinamento da escolta saxã de Brianna.
Queria transformá-los cm guerreiros disciplinados, pois do jeito que eram hoje, não
passavam de um bando de frouxos. E não iria permitir que fossem tão tolos e
inocentes a ponto de perderem sua futura esposa de vista.
Ao ver Connor se aproximar, Damron desceu para encontrá-lo.
— O que ela aprontou? — perguntou.
— Não há com o que se preocupar, primo. Galan bem que tentou chegar
perto, mas Brianna não lhe deu a menor chance.
— Se ele abusar da própria sorte outra vez, irá se arrepender amargamente.
Ele se acha com muitos direitos, e não gosto disso. E se Brianna não for a donzela
inocente que me asseguraram que é, eu os mandarei pessoalmente para o inferno.
Os músculos em seu maxilar pulsavam de tensão quando foi encontrá-la e a
tirou de cima do cavalo. Depois que a pousou no chão, afastou-lhe os cabelos do
pescoço para examiná-lo. Lydia, mais que depressa, tentou se esquivar.
— Droga, tire as mãos de cima de mim! — Ao empurrá-lo, sua voz tremia de
indignação.
— Meu nome é Damron, não "droga" — disse ele.
— E pare de usar palavras estranhas.
— Damron, Demon, Droga, para mim é tudo igual — ela resmungou. Em
seguida, deu-lhe as costas e dirigiu-se às escadarias.
— Deus do céu, Brianna, achei que lorde Damron fosse espancar você! —
exclamou Elise, já a seu lado.
Ao passar pelas pesadas portas em direção ao solário, Lydia respirou fundo
e tentou se acalmar. Elise se sentou num banco almofadado e se pôs a dedilhar
uma harpa e a cantar. Lydia percebeu que sabia a letra da canção e acompanhou-
a.
Depois, Elise começou outra melodia, e Lydia se deu conta de que também
a conhecia, mas que não a ouvia fazia muito tempo. Enquanto cantava, sentia-se
mais confiante, e uma voz de soprano começou a fluir de seus lábios. Ficaram ali
até o fim do dia.
— Brianna ainda está agindo de forma estranha. — Damron caminhava em
seus aposentos, como se fosse um animal enjaulado. — David, o cavaleiro,
contou-me que ela hoje abriu portas, entrou em todos os cômodos do castelo,
analisou a mobília e olhou atrás das tapeçarias penduradas. Depois do passeio,
sentou-se com a prima no solário, e lá ficaram cantando até o final do dia. David
diz que a voz dela é muito bonita. Lembre-me de ordenar que ela cante pura mim.
Talvez tenha qualidades que eu ainda desconheço.
— Uma das melhores qualidades de Brianna é a coragem — disse Connor.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 23
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Não se amedronta com a sua cara feia como quase todos.


Damron sorriu. Se os seus planos para as próximas noites dessem certo,
logo saberia tudo sobre essa mulher tão intrigante.
Antes do amanhecer, Lydia acordou e forçou-se a ficar imóvel para não
acordar Elise. Precisava pensar. No dia anterior, tivera por diversas vezes a
sensação de extrema familiaridade com coisas com as quais não deveria ter.
Imaginara a princípio que era em virtude de ter lido tanto a respeito da época
medieval desde pequena. Mas agora tinha certeza de que era pelo fato de já ter
vivido aquilo antes.
Seu cérebro gritava as perguntas que sua boca não podia proferir. Como
isso foi acontecer? Como posso impedir que isso continue1? Será que voltarei à
minha época?
O som de cavalos no pátio a fez sair da cama e se dirigir à janela. Olhou
para baixo. A área estava iluminada por tochas colocadas ao longo das muralhas.
Vários cavaleiros se espalhavam pelo local, paramentados com suas cotas de
malha e capacetes. Um brilho branco do lado esquerdo chamou-lhe a atenção. Era
Damron, montando Angel, seu cavalo. Um segundo depois, o lorde ergueu o rosto
na direção da janela.
Ele a olhava com insistência.
Damron pressentira sua presença ali, embora não pudesse vê-la. Nervosa,
ela se afastou da janela. Ouviu o bater suave de cascos no chão, o ranger das
selas de couro e o burburinho das conversas contidas. Será que Damron e seus
homens estavam voltando para a Escócia? Respirou fundo. Quem sabe ela
também não acharia um meio de voltar ao seu tempo e corpo antes que se
encontrassem novamente...
Desse momento em diante, deveria pensar em si mesma como Brianna, ou
achariam que ela enlouquecera. Em que ano e mês lorde Damron e lady Brianna
tinham se casado? Começou a suar frio. Embora jamais tivesse experimentado
uma atração sexual tão forte como a que sentia por Damron, não podia desposá-lo.
Como poderia comprometer seu corpo e sua alma em uma relação se não sabia se
estaria ali pelo resto de sua vida ou se seria sugada de volta para o futuro a
qualquer instante?
Quando se sentia estressada, costumava sair no raiar do dia para cavalgar.
Aquelas primeiras horas em que o sol subia no horizonte lhe traziam paz de
espírito. Colocou uma túnica verde-escura, penteou os longos cabelos e amarrou-
os com uma fita. Jogou uma manta preta sobre os ombros e desceu para os
estábulos. O encarregado dali veio atendê-la.
— Por favor, arrume Sweetpea — ela pediu. — Quero cavalgar um pouco
antes de o dia raiar.
Pouco depois, ao dirigir-se à saída com uma escolta de quatro homens à sua
frente e outros quatro atrás, suspirou aliviada.
Deliciou-se em controlar a égua enquanto cavalgava pela floresta. Incitou
sua montaria num galope mais rápido e deixou os guardas para trás. De repente,
percebeu que não mais ouvia os cavalos de sua escolta. Entrou em pânico.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 24
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Oh, que droga! Será que me perdi de novo?! — Gritou. Mas como assim
"de novo"? Seus olhos se arregalaram com a lembrança que surgiu em sua mente.
Porém, o som de cascos de cavalo se aproximando chamou sua atenção. A
cerca de cinqüenta metros .atrás dela, Damron vinha a galope com Angel. O brilho
intenso naqueles olhos verdes e os lábios apertados numa fina linha de raiva
fizeram com que ele realmente parecesse com o "demônio", como ela o havia
chamado.
Enquanto Damron observava Brianna de onde se encontrava, ela incitou a
égua a um galope mais rápido, até que ficasse cerca de dez metros à frente dos
soldados da escolta. Realmente, os cavalos dos homens não eram páreo para a
égua Sweetpea. E Brianna lava mais uma vez colocando a própria vida e a do
animal em risco. Será que não tinha aprendido da primeira vez, quando a égua a
derrubara?
Ele instigou Angel a um galope, sentindo o corpo formigar pela tensão. Por
que ela deixara o castelo? Estaria indo a algum encontro amoroso com Galan? O
mero pensamento de que os dois eram amantes fez seu estômago revirar. A
traição de Genevieve ainda lhe consumia a alma e fazia sua desconfiança a res-
peito de Brianna aumentar. Não iria tolerar outro adultério. Mataria qualquer
homem que ousasse se aproximar de sua futura esposa.
O riso triunfante de Brianna chegou aos seus ouvidos. Quando alcançou os
guardas da escolta que a acompanhavam, ordenou com um sinal que voltassem
para o castelo. Assim que o último deles se afastou, Damron se aproximou dela,
tomou-lhe as rédeas das mãos e segurou os dois cavalos.
— Que inferno, Demon! — ela exclamou. — O que está fazendo aqui?
Sem responder, ele desmontou, tirou-a de cima da sela e a colocou à sua
frente.
— Está bem, eu sei, não precisa me lembrar. Seu nome não é Demon, é
Damron. Mesmo assim, não é motivo para ficar todo estressado. — Mexeu os om-
bros, mas quanto mais se movia, mais forte ele a segurava. — Solte-me, está me
machucando!
— O que pensa que está fazendo? — Damron rosnou. A proximidade de
Brianna fazia seu corpo reagir contra sua vontade. De repente, lembrou-se das
palavras estranhas que ela usara. — E que palavras são essas... "todo
estressado"? O que isso significa?
— Ora bolas, é só uma expressão.
Ele viu que a túnica moldava-lhe o corpo e que Brianna não usava as
ceroulas por baixo. Sentiu a raiva ferver no sangue.
— Estava com tanta pressa de encontrar o seu amante que não se
preocupou em se vestir adequadamente?
— Ora, seu escocês de mente poluída! — ela cuspiu as palavras como se
fossem flechas, e a cada uma delas cutucou-lhe o peito com um dedo. — É claro
que eu ia me encontrar com o meu amante! Na verdade, ia encontrar com um
monte deles e todos de uma só vez! Não os viu comigo? E pensar que eles

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 25


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

deveriam impedir que eu me perdesse...


— Não seja insolente, mulher desarvorada, sabe muito bem o que eu quis
dizer! Ia a um encontro às escondidas com Galan?
— Mas que diabos... Desarvorada?! Vou ser uma cm instantes se não parar
de me sacudir assim!
— Ela esmurrava-lhe o peito. Bateu com mais força ainda, até que Damron a
soltou de repente, quase a fazendo cair.
Adiantou-se para segurá-la, mas ela se virou, e Damron acabou agarrando-
lhe um seio. Ela gritou, dando um forte tapa em seu pulso.
— E a segunda vez que faz isso, e eu não vou tolerar.
— Sinto muito, Brianna, não tive a intenção de machucá-la. Se você se
comportasse de maneira adequada, não estaríamos passando por isso. — A voz
dele se suavizou enquanto, com os dedos, erguia-lhe o queixo.
— Ah, então agora a culpa é minha por você me agarrar? E me curvar e
implorar para que aperte certas partes de meu corpo é sua idéia de me "comportar
de maneira adequada"? Você é um tirano, isso sim!
— Eu jamais a machucaria de propósito! E se o fizesse, você não viveria
para contar a história, sua franguinha geniosa!
— Não grite comigo, seu porco chauvinista medieval! — Ficando na ponta
dos pés, ela preparou-se para atingi-lo no rosto, mas ele agarrou-a pelo pulso.
— Chega! — Damron gritou, sentindo que sua paciência estava por um fio.
Prendendo-lhe as mãos atrás do corpo, ele a puxou para si. Não conseguia
entender metade das coisas que Brianna dizia, ou o porquê daquele
comportamento tão explosivo.
Onde estava a noiva discreta, obediente e delicada que William descrevera?
Se não soubesse que se tratava dela, diria estar diante de uma impostora, e não
de Brianna Sinclair, protegida do rei.
Estudando-lhe o rosto corado, teve de admitir que era muito mais bonita do
que esperara. Sentiu a maciez de suas costas e, enquanto tentava manter seus
pulsos presos, precisou resistir à tentação de espalmar as mãos em suas nádegas.
Teria algum outro homem estado assim tão perto dela? Tentou encontrar a
resposta nos olhos de Brianna. Eram lindos... De um castanho-escuro, e
emoldurados por cílios tão espessos que com certeza roçariam-lhe o rosto quando
se beijassem.
Ah... Quando se beijassem... Olhou para os lábios dela e engoliu em seco.
Eram cheios e suculentos; maduros como uma fruta pronta para ser degustada.
Ela provavelmente percebeu seu desejo crescente de beijá-la, pois passou a língua
pelos lábios. Naquele momento, Brianna parecia doce e delicada, realmente a
donzela que William havia descrito. Damron sentiu o membro se intumescer de
encontro ao ventre macio.
Enquanto baixava a cabeça para satisfazer a urgência em beijá-la, caiu em
si e recuou. Iria esperar até que soubesse o que realmente havia entre ela e Galan.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 26


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Não se alimentaria com os restos de outro homem.


Desprezou a si mesmo por desejá-la tanto e, num só movimento, ergueu-a
pela cintura e colocou-a novamente sobre Sweetpea.
Quando Damron fixou seus pés nos estribos, ela viu um brilho de satisfação
nos olhos dele. Esse homem de carne e osso à sua frente não podia ser o mesmo
lorde Damron que ela vira no retrato e que lhe roubara o coração desde criança...
— Por que não usa uma sela apropriada para mulheres, milady? —
perguntou ele, aparentemente sob controle, mas ela se recusou a responder. —
Por que é tão cabeça-dura a ponto de cavalgar sua égua tão preciosa como se
fosse um guerreiro? Não se machucou o suficiente quando Sweetpea a derrubou
dias atrás?
Fechando os olhos, ela se deparou com memórias confusas. Damron tinha
razão. Quando Brianna havia fugido da abadia e galopado floresta adentro, fora
negligente. Seu rosto corou de vergonha.
— Responda. — Ele aguardava uma explicação.
— Se naquela ocasião eu tivesse montado com uma sela masculina, não
teria perdido o equilíbrio.
— Não tem sentimentos pelo animal magnífico que possui?
— Claro que sim! Jamais faria nada para feri-la. Como pode pensar isso de
mim?
— E a sua escolta? Por que tanto desprezo com aqueles cuja função é
protegê-la?
— O que quer dizer com isso? Eles já estavam acordados quando resolvi
sair, e me pareceram bem felizes em fazerem um passeio matinal.
— Não ficarão tão felizes quando eu os punir por terem perdido você de
vista, por colocá-la em perigo e por haverem facilitado o seu encontro com o
amante.
— O quê?! Eu já disse e repito: não estava a caminho de nenhum encontro
amoroso!
— Você saiu a cavalo em campo aberto, sem saber o que poderia encontrar
pela frente!
— Damron, por favor! Eles não fizeram nada de errado. Eu sempre gostei de
cavalgar livre e sozinha, mas se isso for causar algum tipo de transtorno a alguém,
não o farei mais.
Ele acenou com a cabeça, parecendo satisfeito com a promessa. Em
seguida, retornaram ao castelo.
Damron ouviu uma risada abafada atrás de si e se virou. Connor o fitava
com um olhar divertido.
— O que é tão engraçado? — perguntou, aproximando-se do primo.
— Você, claro — respondeu Connor. — Tem a expressão de um cavaleiro
frustrado, e milady estava tão furiosa que poderia matar um dragão. O que foi que

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 27


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

a deixou tão eriçada?


— Oras... Brianna não consegue se manter sob controle por muito tempo —
queixou-se Damron. — Eu a chamei de desarvorada, e ela quase esmurrou meu
nariz.
Connor riu novamente.
— Bem que o alertei que seria mais fácil ela bater em você do que o
contrário.
— Sabe o que ela disse? Que agarrei os seios dela de propósito e que sou
um porco "chuvanista". E eu nem sei o que é isso!
Naquela tarde, um pequeno exército de guerreiros escoceses chegou.
Damron olhou os homens do exército de Blackthorn que deixara com Mereck no
Castelo Sinclair, a antiga moradia de Brianna que seria sua após o casamento.
Assim que seu meio-irmão selecionou alguém para tomar conta da propriedade,
enviou os homens de volta a Damron.
Juntamente com seus guerreiros escoceses, havia vinte homens, escolhidos
a dedo por Mereck em Sinclair, prontos para combate, e os cinco cavaleiros
normandos de William, que tinham vindo com Damron como escolta. Connor e ele
estavam treinando os guardas saxões de Brianna. Embora ainda se ressentisse da
idéia de ter de se casar novamente, estava grato pela força extra que conseguira
para defender Blackthorn.
Sentiu, de repente, um formigamento na nuca. Sabendo-se observado, virou
e olhou para cima. Brianna se encontrava à janela do solário observando-os.
Damron fez um gesto de cabeça, ordenando-lhe que voltasse para dentro, mas ela
o ignorou. Connor suprimiu um riso. Damron xingou baixinho e ordenou aos
homens que o seguissem para o salão principal.
Brianna descia as escadas, linda numa túnica D mareia. Damron a viu
olhando pelo salão, parecendo interessada demais para o seu gosto.
Vendo Galan com o canto dos olhos, Damron deu um passo para o lado e
bloqueou a passagem, tanto para ele como para Brianna. Ela, por sua vez, tentou
dar a volta pelos dois, mas Damron a segurou pelo cotovelo e a conduziu para o
assento de honra ao lado dele.
— Poderia ao menos comportar-se com um pouco mais de dignidade
perante os meus homens? —A pergunta feita num murmúrio era uma ameaça
velada.
— Não precisa me dizer como me comportar, Damron — respondeu ela com
um sorriso falso.
Depois de acomodá-la a seu lado à mesa principal, ele pediu com um olhar
para que Connor se sentasse do outro lado, eliminando assim qualquer chance de
aproximação por parte de Galan.
Os serviçais logo trouxeram travessas fumegantes repletas de comida.
Cálices de prata foram colocados entre cada casal. Jeremy, o escudeiro de
Damron, serviu-lhes vinho.
Cautelosa, Brianna tomou um pequeno gole. Para sua surpresa, não era o
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 28
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

mesmo vinho, áspero de tão seco, que tomara dias antes. Este era mais escuro e
adocicado. Oh, daria qualquer coisa por uma marguerita ou uma boa dose de cuba
libre. Tinha a impressão de que para passar por esse jantar precisaria de algo mais
forte.
Estendeu a mão para se servir de pato assado, porém Damron segurou-a
gentilmente.
— Não, milady — disse ele. — Deixe-me servi-la como fez o seu jovem
admirador com tanto gosto.
Quando abriu a boca para protestar, Damron levou um pedaço suculento de
carne de pato a seus lábios. Ela não teve escolha a não ser aceitar.
— Eu posso comer sozinha, milorde. — Estendeu a mão para se servir de
outra porção de pato, porém ele, mais uma vez, segurou-a pelo punho, forçando-o
sobre a mesa.
— Sorria e comporte-se como manda o decoro, como uma donzela deve ser.
— Solte-me. Caso contrário, farei um escândalo tão grande que todos aqui
comentarão sobre ele durante um século inteiro — disse ela com um sorriso nos
lábios.
— Você me dá a sua palavra de que vai se comportar condignamente?
— Sim, se parar de me maltratar. — Para sua surpresa, Damron a soltou.
Ela respirou fundo, satisfeita, e continuou: — Lady Maud disse que você iria nos
deixar quando seus homens chegassem. — Indicou com um aceno as dezenas de
homens ali. — Esperarei ansiosa pela aurora.
— Milady nos fere profundamente com suas palavras — Connor comentou
de forma afetada, chamando-lhe a atenção. — Pensei que nossa partida fosse
entristecê-la. Blackthorn é por demais distante de Kidley. — Brindou-a com um
sorriso maroto.
Ela sabia muito bem da distância entre Blackthorn Ridley. O que ele estava
insinuando com isso? Antes que pudesse verbalizar a pergunta, Damron a serviu
de um pedaço de maçã, e ela pegou-o com os dentes. e quando ele passou o
cálice de vinho para que desse outro gole, ela quase esvaziou o conteúdo, sorrindo
ao ver a surpresa de Damron.
Ele pegou o cálice de volta e, com a língua, sensualmente, traçou a borda,
como se estivesse fazendo o mesmo em seus lábios. Ela o fitou, hipnotizada, e um
calor, que nada tinha a ver com o vinho, se espalhou por seu corpo.
Embora aquele jeito dominador de Damron lhe provocasse arrepios de raiva,
não podia negar a poderosa atração sexual que sentia por ele.
Nesse momento, lady Maud sugeriu que se fizesse um sarau. Ordenou que
os servos trouxessem a harpa c a colocassem no espaço em frente à mesa
principal. Elise tomou a mão de Brianna, e as duas se posicionaram ao lado do
instrumento. Cecília, irmã de lady Maud, tirou uma flauta do bolso da túnica.
Depois dos primeiros acordes de harpa, Brianna cantou uma canção sozinha.
Evitou olhar para Damron e fingiu que o salão estava vazio.
Quando ouviu a voz de tenor de Galan, levou um susto. Por que se lembrava
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 29
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

de uma voz de barítono, bem mais grave, cantando com ela? Manteve o olhar fixo
em Galan enquanto ele se aproximava, porém na memória profunda de sua alma,
era outro o homem que vinha em sua direção, e ele, sim, tinha a voz que ela
esperava. Quanto mais clara a visão ficava em sua mente, mais seu coração se
acelerava. Era da voz de Damron de que se lembrava.
Brianna acabou por se perder na melodia. Enquanto a paixão da música
aumentava, a dela seguia o mesmo compasso. Seu coração batia forte no peito e
seus olhos se encheram de lágrimas. Deu graças a Deus quando a música
terminou.
Depois de vários duetos animados com Elise, Galan começou a entoar uma
melodia conhecida:
Meu amor é cheio de graça e beleza, De pele alva e leve como uma pluma.
Seios que me enchem de alegria, E cabelos suaves como a bruma.
Quando sua voz se tornou um murmúrio e as notas silenciaram, Galan se
aproximou de Brianna e deu um beijo suave em sua testa. Ela não o empurrou.
Damron se levantou de um salto. Ela se virou na direção dele e piscou várias
vezes, tentando se concentrar no local onde se encontrava.
— Que Deus Nosso Senhor o acompanhe em sua jornada amanhã, milorde
— disse ela.
— Creio que levará meses até que nos encontremos novamente, não é
mesmo?
Damron brindou-a com um sorriso maligno. Ela fez uma reverência rápida e
deixou o salão quase correndo. O riso triunfante dele a seguiu, lançando uma
sombra de medo sobre seus ombros.
— Pensei que seria a primeira a se levantar esta manhã, prima. — A voz de
Elise, já vestida, estava marcada pela ansiedade. — Vamos, Brianna, padre Jacob
vai ler os proclamas hoje!
Brianna mal tinha terminado de enxugar o rosto, Elise a puxou para ajudá-la
a se vestir. Já completamente desperta, suprimiu um bocejo e imaginou uma xícara
fumegante de cappuccino bem cremoso, que sempre tomava no bar perto do
edifício onde trabalhava.
— Vamos! — Elise a apressou. — Não podemos correr o risco de padre
Jacob nos dar uma bronca por nos atrasarmos neste dia tão especial. — Agarrou-
lhe a mão e puxou-a castelo afora para o pátio principal.
— Mas o que há de tão especial hoje?!
— Os proclamas! Não me diga que esqueceu! Santo Deus, isso é pior do
que esquecer o próprio nome!
Passou o braço da prima no seu, conduzindo-a rapidamente em direção à
capela.
Brianna foi invadida por uma sensação estranha, rumo se sua memória
estivesse fora de seu alcance.
Na capela, a família Ridley já esperava pelas duas.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 30
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

O rosto de Galan brilhava de alegria. Ofereceu o braço a Brianna e


acompanhou-a para que se sentasse entre Elise e ele, num dos bancos forrados
de linho vermelho.
A missa foi longa e maçante. Quando a cerimônia chegou ao fim, padre
Jacob sorriu abertamente e ergueu as mãos ao alto.
— Meus irmãos, tenho uma obrigação agradabilíssima a cumprir —
anunciou. — Os proclamas de uma intenção de matrimônio. Brianna Sinclair e
Galan Ridley desejam que todos orem por eles, para que possam realizar a união
matrimonial em nome do Senhor — proclamou o padre. — Se alguém tiver algo
contra esta união sagrada, que fale agora ou cale-se para sempre.
— O quê?! — Brianna ficou em pé num salto. Todos na capela a olharam.
Atrás dela, uma voz retumbante soou como se fosse um trovão anunciando
uma tempestade que cairia ali mesmo, dentro da capela.
— Tenho seriíssimas objeções contra esse casamento, padre Jacob — disse
Damron. — Lady Brianna não pode se casar com Galan.
Brianna virou-se e encarou Damron, distante algumas fileiras. Quase gritou a
plenos pulmões que não poderia se casar com ninguém, mas achou por bem ouvir
o que ele tinha a dizer.
Damron estava vestido com o traje completo de um habitante das Terras
Altas. Ela percebeu que o broche que ele usava era apenas um pouco maior do
que aquele que ela comprara, ou compraria, na loja de antigüidades. O homem do
retrato no museu tomara vida à sua frente! Sentiu o coração disparar: Damron era
o homem mais bonito que já vira em toda a sua vida.
— O que quer dizer, lorde Damron? — A voz alarmada de Simon Ridley
quebrou o silêncio.
— O barão de Sinclair não assinou nenhum tipo de contrato com o senhor
antes da cessão dos direitos do feudo. E o rei William em pessoa nos deu a
aprovação de Galan para marido de nossa Brianna.
— Pois o rei mudou de idéia — Damron declarou. — Ele passou todos os
dotes e propriedades do barão para mim, e isso inclui lady Brianna.
Lampejos de memória cruzavam o cérebro de Brianna, que ouviu uma voz
distante dizer: O mensageiro do rei ordena que você se apronte para viajar quando
lorde Damron chegar.
Outros lampejos se seguiram: ela fugindo da abadia, cavalgando sozinha na
floresta, o susto, o chão vindo ao seu encontro... Mas sumiram a tempo de lhe
permitir ouvir Damron afirmar o absurdo de que ela era parte da barganha do
feudo, como se fosse um prêmio.
— Eu não pertenço a ninguém! — ela exclamou, contendo a fúria que quase
a cegava. Aquele chauvinista medieval falava dela como se fosse um pedaço de
terra ou uma cabeça de gado!
— Pertence, sim, milady — Damron disse com voz melodiosa e um brilho
malicioso no olhar.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 31


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— É propriedade minha há mais de quinze dias.


— Eu não sou nenhum tipo de propriedade que possa ser vendida ou
negociada.
— Ela se empertigou, em puro desafio. — Ninguém pode ter a minha posse.
— Mais uma vez, querida e adorável milady — continuou Damron, irônico —,
a senhora é minha propriedade. Nós estamos casados.
— O quê?! Como pode ser, se eu não me lembro de nada disso? — ela
indagou, tensa. — Está redondamente enganado, milorde. Se fôssemos de fato
casados, o senhor teria me dito quando me encontrou na floresta, dias atrás.
Brianna resgatara outras lembranças, mas por que não essa, que era tão
importante?
— Vocês são casados, sim, milady — interveio Connor. — Lorde Damron a
desposou, tendo a rainha Matilda representado a senhora, na presença do rei
William e do rei Malcolm. E, devo acrescentar, com a insistência deles.
— O quê?! Um casamento por procuração?! Por tabela?! — ela praticamente
berrou.
— Por tabela? — Connor não entendeu a expressão. Mas ela o ignorou e se
voltou para Damron.
— E quando esse tal casamento aconteceu? Pois, pelo que sei de
matrimônios assim, a noiva deve ser notificada antes.
— O casamento foi realizado na igreja da vila de Abernethy, quinze dias
atrás — Connor informou.
— Está me dizendo que se casou com uma mulher sem que ela tivesse
conhecimento?!
— Olhava para Damron sem acreditar. — Não é possível, isso é ilegal!
Respirando fundo, tentou se controlar. Que audácia! Damron não dissera
nada sobre o casamento para que pudesse estudá-la como se fosse uma égua
reprodutora que lhe fora dada de presente! Queria se certificar de que ela seria
digna da grande honra de desposá-lo. Esse homem era ainda mais arrogante do
que seu ex-marido!
— Seu neandertaloide! — ela gritou. — Está aqui há vários dias e nem
sequer me contou!
— Chegou bem perto dele e agarrou-o pelo colarinho. — Seu... Seu
pescoçudo arrogante! Olhe para baixo e fale comigo! Eu exijo que me explique
como essa coisa abominável aconteceu!
— Neandertaloide? Pescoçudo? Pare de falar estas palavras estranhas e
acalme-se! — Damron a segurou pela cintura. — Eu enviei dois mensageiros para
que a avisassem. Quando falei com a abadessa, ela me informou que o primeiro
deles jamais chegou. A única mensagem que a abadessa recebeu foi a de que
você deveria arrumar suas coisas e vir para cá. Brianna não perdeu tempo:
desferiu um soco em seu rosto e chutou-lhe as canelas. No segundo seguinte, ela
estava sobre o ombro de Damron, como se fosse um saco de roupa suja. Galan
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 32
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

tentou alcançá-los fora da capela, disposto a tirá-la dos braços de Damron, mas
Connor o impediu. Dois guerreiros se aproximaram e dominaram o jovem
cavaleiro.
— Ponha-me no chão! — Brianna socava as costas de Damron com toda a
força. — Seu brutamontes imbecil! Maldito arrogante!
— Mulher do inferno! — Ele finalmente colocou-a no chão. — Pare com esse
comportamento infantil, mocinha, caso contrário, irei tratá-la como uma criança,
dando-lhe uma bela surra!
— Puxou-a pela mão em direção do castelo.
Brianna teve que correr para acompanhá-lo.
Damron a levou para o solário pela entrada dos fundos do grande salão e
segurou-a pelos ombros, impedindo que fugisse. Pressionada de encontro a ele, foi
invadida pelo aroma daquele corpo másculo. Por um instante, esqueceu-se do
apuro em que estava metida.
— Você é protegida do rei, Brianna. Por que está tão surpresa que ele tenha
arranjado o seu casamento? Seu pai, que Deus o tenha, jamais teria procurado a
sua aprovação para lhe arranjar um bom casamento. — Damron suavizou o aperto
nos ombros dela.
— Não me surpreende que William tenha arranjado isso tudo. Era assim que
costumava ser feito. — Ela praticamente cuspiu as palavras. — Sem nenhum tipo
de consideração com os meus desejos ou com os meus sentimentos!
Pelo olhar vazio dele, percebeu que Damron não compreendia nada daquilo.
Naquela época, as mulheres não tinham direito a opinião. Se tivesse sido da
vontade do rei William, ele a teria casado com um velho gordo com apenas cinco
fios de cabelo, um número ainda menor de dentes e verrugas no nariz.
— Você disse que somos casados. — Ela ainda tentava se desvencilhar
daqueles braços fortes. — Mostre-me então alguma prova disso. Quero ver com
meus próprios olhos!
Em toda a pesquisa que havia feito sobre Damron, ela nunca vira nenhuma
menção a algum casamento por procuração. Sempre acreditara que ele tinha sido
um homem íntegro, de caráter firme e nobre. Não importava o quanto se sentia
atraída por ele; quanto mais pensava que Damron tivera a audácia de desposá-la e
nem ao menos se certificar de que ela sabia, mais ressentida ficava.
— Minha palavra é prova suficiente. Você pertence a mim, assim como
minha espada, minhas armas, minhas roupas e meu cavalo.
— Cavalo?! — exclamou ela. — Você considera a mim, uma mulher, da
mesma forma que a um animal?! — Estava ofendida. Mesmo seu marido traidor do
século XXI a considerava igual. —Vou pedir a anulação desse casamento.
Damron baixou o rosto até que as pontas de seus narizes se tocassem.
— Não vai haver anulação de coisa alguma, Brianna.
— Uma ova que não vai haver! — ela retrucou. — e se quando visse a sua
preciosa noiva, descobrir que ela era caolha e banguela? E se eu não fosse nada

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 33


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

do que esperava? Tenho certeza de que iria até William e exigiria que o casamento
fosse anulado!
— E você acha que me agrada com esse seu temperamento explosivo? —
perguntou ele com voz dura.
Milady está muito, muito longe de me agradar.
Por que as palavras de Damron lhe causavam tanta dor? Brianna piscou
várias vezes para afastar as lágrimas que surgiram de repente em seus olhos. Por
sorte, o barão de Ridley e sua família chegaram e a livraram da humilhação de
chorar diante de Damron'. Connor carregava inúmeros papéis. Brianna virou-se
para ele.
— Posso vê-los, por favor? — Pegou os papéis e dirigiu-se à mesa ao lado
da janela.
Desenrolou alguns deles e começou a lê-los, mas lembrou que na Idade
Média os homens não acreditavam que as mulheres fossem providas de
inteligência o suficiente para aprender a ler ou escrever. Quando Damron a olhou
com um quê de ironia, ela teve que se controlar para não chutar as canelas dele de
novo. Leu a caligrafia rebuscada e, aliviada, deu graças a Deus por sua mãe ter
tantas vezes pedido sua ajuda para decifrar documentos antigos.
No dia 12 de junho de 1072, a rainha Matilda representara Brianna Sinclair
na cerimônia de casamento. O rei William concedera a Damron os castelos de
Stonecrest e Ridley, as terras de Rothbury e Bellingham e várias outras
propriedades que antes haviam pertencido ao pai de Brianna, Cecil Sinclair.
As assinaturas de Matilda e William eram evidentes, assim como a de
Damron após seu juramento. Embora fosse muito incomum para a época, ele tinha
sido muito generoso para com Brianna no contrato de casamento. Caso viesse a
morrer, deixaria uma quantia considerável em dinheiro para ela, juntamente com as
terras de Rothbury, que não era muito distante de Stonecrest. Seu primeiro filho
herdaria seu título e terras na Escócia, e o segundo receberia o castelo de
Stonecrest e metade de seus bens na Inglaterra.
Ela estremeceu, lembrando que a antiga Brianna dera à luz dois filhos.
— Está satisfeita, milady, agora que sabe que o nosso casamento de fato
existe?
— Ainda posso pedir a anulação — ela sussurrou. — Nós não nos damos
bem, e a união ainda não foi consumada.
— Não haverá anulação alguma. — Embora a voz de Damron soasse calma
e suave, as palavras foram ditas com determinação.
— Você deixou bem claro que não o estou agradando — ela continuou. —
Não deseja encontrar alguém que seja do seu agrado?
— Partiremos assim que arrumar suas coisas — anunciou Damron,
ignorando completamente o que ela dissera. — A viagem até Blackthorn é longa, e
eu já estou afastado há muito tempo.
— Eu não vou embora daqui para um lugar no meio da Escócia com alguém
que mal conheço protestou Brianna. — Você esperou até agora, então não vai se
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 34
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

importar em esperar mais um pouco.


— Esperarei até o alvorecer. Assegure-se de que todos os seus pertences
estejam prontos. Caso contrario, partirá somente com as roupas do corpo.
— Venha meu bem — sugeriu lady Maud —, vamos arrumar as suas coisas.
Ela se viu num beco sem saída. Não tinha para onde fugir. De que iria
adiantar? Estava só, numa terra estranha, em outra época. Vagar sozinha pelos
campos seria suicídio.
Damron jamais aceitaria a anulação, pois tinha sido exatamente dessa
maneira que seu primeiro casamento terminara. Esse homem cheio de orgulho
jamais permitiria que outra mulher o envergonhasse.
E se deixasse Ridley e, no entanto, fosse ali onde deveria estar para voltar
ao seu próprio tempo? Sim, mas se encontrava na Escócia quando a tempestade
havia começado, e ela fora enviada ao passado. Talvez, para voltar, precisasse
estar no alto dos muros de Blackthorn novamente. Enquanto as mulheres a
ajudavam a arrumar seus pertences, Brianna se sentou no chão para abrir uma
fenda na parte da frente de duas túnicas, a fim de deixá-las apropriadas para
cavalgar.
Decidira que cavalgaria da mesma forma que os homens.
— Eu sinto muito que tenha ficado sabendo dessa turma — Damron disse a
Galan, no solário do barão. Mas devemos obedecer às ordens do rei.
— Nós iríamos nos casar — Galan murmurou, a dor transparecendo em
suas palavras.
— Não se pode questionar as ordens do rei, filho, não importam as
circunstâncias.
— Não tinha o direito de se casar com Brianna sem que ela soubesse —
continuou Galan.
— Não nos enviou nenhum tipo de comunicado sobre o fato e nem a
informou quando ela chegou aqui.
— Eu tinha o direito — retrucou Damron em voz baixa para não humilhar o
rapaz ainda mais.
— O rei William ordenou que fosse feito. E eu enviei um meu mensageiro,
mas ele nunca chegou ao seu destino.
William insistira no casamento por procuração, pois sabia que Damron iria
adiar a cerimônia o máximo possível. E, assim que se casara, ele havia protelado
ao máximo a data para buscar a noiva.
Damron tinha consciência do transtorno que cansara. Connor e ele estavam
discutindo sobre isso antes do episódio em que a égua de Brianna a lançam ao
chão. Sabia ter sido grosseiro casar-se com ela por procuração e não vir buscá-la
imediatamente.
Fora um choque enorme para Brianna. Ela havia planejado viver sempre
perto de Ridley. E agora estava insegura sobre seu futuro num lugar que muitos
ainda consideravam uma terra de bárbaros. Damron não podia culpá-la pela
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 35
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

reação que tivera, embota tivesse ficado furiosa sem motivos ao tomar
conhecimento de que havia se tornado propriedade dele A noção de
independência de Brianna era estranha Era dever de um marido conquistar, mas
ela se recusava a ser conquistada. Porém, como dizia o lema d< sua família "com
mão firme" ele iria controlá-la.
Damron e o barão passaram o restante da manha vistoriando as terras.
Damron inspecionou tudo e indicou áreas que precisavam de maior atenção. De
volta no castelo, o barão lhe assegurou que Galan ficaria encarregado de melhorar
as defesas. Após voltarem no solário, Damron conversou com Galan e falou de
seus planos. Com essas melhorias, seria impossível que a fortaleza de Ridley
fosse invadida. Não tinha dúvidas de que o rapaz faria um excelente trabalho.
Quando terminou com as instruções, Damron saiu para o pátio principal e se
dirigiu ao estábulo. Ordenou a um dos cavalariços que aprontasse Sweetpea para
a viagem. Enquanto o observava trabalhar, pensou em selecionar uma montaria
menor para Brianna. Queria a esposa inteira quando chegassem a Blackthorn.
Como se atraída por seus pensamentos, Brianna chegou apressada ao
estábulo, acompanhada por Elise. Surpresa arregalou os olhos e parou de repen-
so. Elise, que não a vira parar, deu um encontrão com ela, empurrando-a para a
frente. Teria caído se não fosse por ele. Damron segurou-a nos braços e a trouxe
para junto do peito, inalando seu perfume inebriante ao contato daquele corpo
quente excitou-o.
Elise o olhou, deu um gritinho e saiu correndo, baixando-os a sós.
— Será que você tem esse mesmo entusiasmo em todas as suas
atividades? — perguntou no ouvido dela, abraçando-a com mais força.
A voz rouca e o membro endurecido junto ao seu ventre revelaram a que tipo
de "atividade" ele estava «d referindo. Ela jogou a cabeça para trás com um olhar
de desdém.
— Se eu soubesse que estava aqui, seu ogro, teria corrido na direção
oposta! — Empurrou-lhe o peito com toda a força.
— Pode me chamar de ogro, se assim preferir, e eu agirei como um —
sussurrou Damron.
Quando os lábios dele tocaram a pele sensível abaixo de sua orelha,
Brianna sentiu um arrepio por todo o corpo.
— E por que veio correndo para o estábulo, posso saber? — Damron
perguntou.
— Vim me certificar de que Sweetpea estava sendo preparada devidamente
para a viagem.
— É bom mesmo que esteja aqui — disse ele. — Quero que escolha um
cavalo mais tranqüilo. — Damron relaxou a pressão das mãos nos ombros dela, e
Brianna se afastou rapidamente.
— Sweetpea é a montaria mais calma e tranqüila que existe. Se está
preocupado por causa da minha queda, digo-lhe que não é necessário. A égua só
não está acostumada àquela sela horrível da abadia que mais parece com uma

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 36


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

caixa, e não gostou das minhas saias. Ficou assustada.


— Nem pense em cavalgar com a saia erguida, mostrando as pernas para
quem quiser vê-las, como fez na floresta.
— Eu tenho roupas apropriadas para cavalgar, e nenhum pedacinho de pele
ficará à mostra — ela rebateu.
— Não vou permitir que nos atrase, milady. Não pretendo cruzar meia
Escócia a passos de tartaruga. Pelo contrário. Vamos galopar o mais rápido possí-
vel, e não creio que consiga acompanhar nosso ritmo. Prefiro que vá com algum
dos meus homens.
— Quer que eu vá na garupa?! — ela gritou. — Recuso-me a cavalgar sobre
o traseiro de um cavalo, atrás de um guerreiro malcheiroso! Quando chegarmos lá,
terei me transformado num hematoma gigante!
— Se eu ordenar que vá "sobre o traseiro de um cavalo" ou que vá atrás
dele segurando-lhe a cauda, você irá obedecer sem questionar. — Damron correu
os olhos pelo corpo de Brianna, fazendo-a sentir-se nua. — Tenho que pensar
primeiro na segurança de meus homens, e não no seu traseiro delicado ou em
quantos hematomas poderá adquirir.
— Está me dizendo que os seus homens são mais importantes do que a sua
esposa?! — Ela o fitou com desdém. — Eu não vou abraçar as costas fedorentas
de um guerreiro por mais de cem quilômetros!
— Acho que você ainda não compreendeu — disse Damron, encarando-a,
mas se divertindo internamente. — Fará como eu ordenar. Partiremos ao
amanhecer.
Damron viu o instante em que Brianna percebeu que a vontade dele era
mais forte e que seria obrigada a obedecer. E, para demonstrar seu poder, tomou-
lhe o rosto e beijou-a com paixão quase selvagem.
Com os olhos brilhando pela fúria contida, ela o empurrou. Aprumou-se e,
orgulhosa, virou-se e marchou para fora do estábulo.
Damron observou-a sair. Pensou no beijo que acabara de roubar. O calor
daquele corpo e o volume daqueles lábios junto aos seus fizeram seu corpo vibrar
de antecipação.
Não seria fácil quando fosse reclamar seus direitos de marido naquela noite.
Mesmo assim, quando o sol nascesse, Brianna já saberia como lhe dar prazer.
Brianna analisou o pesado baú de roupas ao lado da porta e suspirou. Tinha
alguns minutos para si antes de descer e se juntar ao banquete. Sentiu o estômago
se contrair.
O que, em nome de Deus, fazia uma mulher da Idade Média quando se via
casada com um estranho, sem ter tido prévio conhecimento disso? De uma coisa
tinha certeza: não poderia sair correndo do castelo.
Connor a chamou de fora do quarto e, depois de entrar, lhe entregou uma
caixa de madeira, adornada com símbolos celtas em ouro. Ela já vira caixas assim
guardadas em redomas de vidro em museus.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 37


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Milady, lorde Damron deseja dar-lhe este presente e solicita a honra de


que o use esta noite no banquete. — Após dizer isso, Connor se retirou.
O peso da caixa a deixou intrigada. O que haveria dentro dela?
— Vamos, abra logo! — pediu Elise a seu lado.
Ela se sentou na cama, abriu a tampa e ficou boquiaberta. Aninhado numa
almofada de seda azul, havia um cinturão feito de delicados discos de ouro. Cada
um deles era marcado em baixo-relevo com o símbolo chamado "disco duplo", que
representava a união entre duas famílias. Delicadas filigranas em ouro uniam os
discos uns aos outros. A fivela era feita de um disco maior, com as bordas
cravejadas de rubis e, no centro, uma safira.
— Oh, Elise, não é magnífico?! — disse Brianna, de repente tendo uma
idéia. — Lembro-me de que você tem uma túnica preta de seda. Poderia emprestá-
la para mim?
— Brianna, você está louca?! Lorde Damron espera vê-la vestida como uma
noiva, não como uma viúva! Um traje de luto vai deixá-lo com mais raiva ainda!
— Oh, mas aquela túnica é tão elegante! Vai fazer o contraste perfeito para
este cinto tão lindo. E, convenhamos, o que poderia ele fazer com tantos convi-
dados à nossa volta?
Ela começou a se vestir. Elise a olhava, incomodada, enquanto a prima
colocava a combinação e a túnica preta por cima. Quando movia os ombros, a
combinação aparecia discretamente pelo decote em "V" da túnica. Um véu
dourado, fixo na cabeça por uma delicada coroa também dourada, fluía sobre BCUS
cachos castanhos. Por fim, Elise a ajudou a colocar o presente de Damron na
cintura.
Quando o momento de se juntar ao banquete checou, Brianna e Elise
desceram.
— Milady — murmurou Connor —, lorde Damron a aguarda.
Todos os convidados se voltaram para ela, mas, acima de todos eles,
Brianna sentia os olhos verdes de Damron a medir da cabeça aos pés. Ele se
levantou da mesa principal, e um caminho se abriu à sua frente. Com um olhar
tenso, ele a examinou minuciosamente. Brianna sentiu a pele formigar e se
aquecer diante de uma análise tão explícita.
Damron exalava poder e força masculina. Intenso, inebriante.
Ela fitou aquele rosto anguloso e seu olhar :e fixou nos lábios cheios. A
cicatriz no canto da boca contrastava com o rosto bronzeado. Engoliu em seco e
percebeu que havia cometido um enorme erro.
Damron não estava com raiva. Estava furioso.
Talvez devesse ter pensado duas vezes antes de provocar seu orgulho.
Como reagiria um homem da idade Média ao ver sua noiva vestida de preto? Bem,
descobriria a qualquer momento. Mas uma coisa era certa: ele não ficara
encantado.
Ela endireitou os ombros, e seus olhos se encontraram. Ela ergueu uma

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 38


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

sobrancelha como se indagasse: "O que vai fazer?", e imediatamente sentiu a


resposta de Damron, embora ele não tivesse nem sequer mexido os lábios: "Esta
noite. Você verá esta noite".
O desafio de Brianna não o surpreendeu. E que desafio! Com lentidão
propositada, percorreu os olhos por seu corpo, despindo-a mentalmente. Estudou-
a. Parou um instante para admirar a beleza daquela cintura fina e o ventre liso.
Ficou satisfeito ao ver que ela estava usando o cinto que enviara de presente, cuja
ponta pendia sobre o ponto mais sensual de seu corpo.
Em seguida, olhou para os seios, moldados pelo vestido. Com todas as
fibras do seu ser focadas neles, Damron imaginou como seria sugar aqueles bo-
tões rosados e prendê-los suavemente entre os dentes. Molhou os lábios com a
ponta da língua, e eles se intumesceram como se estivesse de fato tocando os
mamilos delicados.
Sim... Brianna corresponderia rapidamente quando fizessem amor.
Genevieve jamais gostara desse jogo. Talvez desposar Brianna não tivesse sido
de todo ruim.
Ele cobriu a pouca distância que os separava e tomou a mão dela na sua.
— Estou vendo que está de luto — murmurou ele. — Por acaso é pelo seu
amor perdido?
— Quando ela não respondeu, prosseguiu: — Não? Hum, talvez, então, pela
perda iminente da sua inocência?
Brianna retirou a mão, assustada. Damron sorriu e conduziu-a para a mesa
principal. Virou-se para os convidados e ergueu a mão para chamar a atenção para
si. O barão de Ridley e a família estavam atrás dele.
— Senhores, senhoras, apresento-lhes minha esposa, lady Brianna —
anunciou. Voltou-se para ela e sussurrou: — Curve-se e confirme a nossa união,
Brianna.
— Sim, milorde — ela disse, curvando-se com elegância. — É agora que vai
colocar o seu pé sobre o meu pescoço?
— Não, milady — respondeu ele em voz baixa. — Prefiro no seu traseiro.
Os homens deram gritos de aprovação, felizes com a novidade. Os
convidados dos Ridley ficaram boquiabertos, pois tinham ido para o noivado de
Galan com Brianna.
— Em Londres, na presença dos reis William e Malcolm, eu me casei com
lady Brianna por procuração, e vim o mais rápido possível para buscar minha
adorável esposa.
O barão de Ridley ergueu sua taça e propôs um brinde:
— Na ausência de meu querido e saudoso amigo, barão Cecil Sinclair, eu
desejo à nossa adorada Brianna uma vida longa e feliz com lorde Damron de
Blackthorn. Que sua união lhes traga filhos fortes e saudáveis.
Outros brindes se seguiram. Cook, o cozinheiro-chefe, e muitos serviçais
trouxeram enormes quantidades e variedade de comida.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 39


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Pouco depois, as portas pesadas da entrada do salão se abriram com um


estrondo, chamando a atenção de todos. Uma forte lufada de vento agitou as
chamas das tochas e apagou as velas do lado da entrada.
Um homem da mesma estatura e físico de Damron e com uma expressão
ameaçadora, surgiu na soleira. Tinha o lado esquerdo do rosto pintado de azul, e
no lado direito havia uma cicatriz avermelhada vindo da raiz dos cabelos, passando
por sobre o olho e terminando no canto da boca. Vestia um manto longo adornado
com penas coloridas sobre a calça e túnica pretas. Ficou ali imóvel, com os punhos
apoiados nos quadris, e olhando intensamente para Brianna.
Damron se pôs em pé num salto, alerta, as narinas dilatadas, como se o seu
corpo todo estivesse pronto para o combate. Sentindo o olhar intenso do estranho
sobre si, Brianna também se levantou e acompanhou-o com os olhos enquanto ele
cruzava o recinto.
— Bleddyn, seja bem-vindo! — saudou-o o barão de Ridley em voz alta e
clara.
Tanto o barão quanto Galan e os outros cavaleiros de Ridley se inclinaram
em reverência. Elise batia palmas de pura alegria.
Quando Brianna o viu de perto, conseguiu analisar sua aparência selvagem.
Seus olhos se encontraram, e ela foi invadida por uma onda de conforto.
— Nathaniel — Brianna murmurou.
Não compreendeu a própria reação diante do homem à sua frente. Mas
sabia do fundo do coração, que era um amigo querido e que poderia confiar nele
mais do que em qualquer outra pessoa.
— Mo fear beog, minha pequenina! Que bom que chegou em segurança! —
declarou Bleddyn com os olhos cravados nela. — Eu vim assim que soube do seu
casamento, mas levei uma semana para chegar. — Inclinou a cabeça e sorriu. —
Não vai me dar as boas-vindas? — Inclinando-se por sobre a mesa, tomou o rosto
de Brianna nas mãos e pousou um beijo suave em seus lábios.
Tomado de raiva, Damron agarrou o pulso de Bleddyn. Seus olhares se
encontraram, e Bleddyn, num movimento suave de braço, tirou com tal facilidade a
mão que lhe prendia o pulso que parecia estar lidando com uma criança.
— Não há motivos para se preocupar, milorde — disse ele sem se alterar. —
Lady Brianna é como uma irmã para mim.
Enquanto a família Ridley o recebia com alegria, e cavaleiros e damas no
salão o saudavam pelo nome, Brianna abriu espaço para que Bleddyn se sentasse
entre ela e Connor. Quando Bleddyn passou por trás de Damron, fez um aceno de
cabeça e anunciou em voz baixa:
— Gostaria depois de falar com o senhor e com o barão. É urgente. — Ao
ver que Damron assentia, sentou-se ao lado de Brianna.
— Spencer — ela chamou o escudeiro de Damron —, por gentileza, mande
preparar uma travessa grande com comida suficiente para um exército.
Bleddyn, ao ouvir o pedido, sorriu abertamente.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 40


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— E o senhor, pretendia assustar nossos convidados normandos com os


seus modos galeses? Sabe que não estão acostumados a eles.
De repente, a mente de Brianna foi invadida por uma seqüência de imagens
de Nathaniel e ela. Era ainda criança e caíra do cavalo. Ele a pegara limpara a
sujeira e a colocara de volta sobre o cavalo, encorajando-a a continuar. Logo
depois, outra cena.
Nathaniel a tinha nos braços, enquanto ela chorava a morte do pai, com
Alana a seu lado. Sabia que era a irmã, pois trajava hábito. Reconheceu os olhos,
e um arrepio percorreu seu corpo: Alana tinha os mesmos olhos de sua mãe no
século XXI. Não havia mais dúvidas. Ela retornara a uma vida passada.
— "Senhor"? Para que tanta formalidade, pequenina? Não sou mais o seu
Nathaniel, que a seguia por todo lado e a ajudava a se levantar quando caía?
— ele reclamou, fingindo-se ofendido.
— Ela tem o costume de cair do cavalo? — perguntou Damron com voz
aveludada enquanto a olhava.
— Não, lorde Damron. Brianna cavalga melhor do que muitos homens — ele
explicou.
— Refiro-me a quando ela ainda era um bebê, aprendendo a andar. Tinha
dez meses e já desobedecia à irmã. Tentava sair andando sozinha a cada
oportunidade, mas depois de alguns passinhos, caía. — O rosto dele se suavizou.
— Então eu a seguia por todo canto para evitar que se machucasse. Mas se não
era rápido o suficiente para segurá-la, enxugava suas lágrimas com beijinhos, não
é, pequenina?
— Foi quando soube do seu dom? — perguntou Elise.
— Não. Fiquei sabendo anos depois — respondeu Nathaniel em voz baixa.
— Mas não precisa temer por Brianna, pois vou mantê-la segura.
O barão de Ridley aproveitou a oportunidade e fez um sinal para que o
entretenimento começasse. Damron voltou-se para Brianna.
— Coma, meu amor — sussurrou em seu ouvido.
— Quero que esteja sóbria esta noite.
A respiração dele fez cócegas em seu ouvido, e
Brianna sentiu um arrepio percorrê-la de cima a baixo quando Damron
mordiscou o lóbulo de sua orelha para depois lambê-lo. O sorriso dele era
puramente erótico quando se afastou e deixou a mesa, acompanhado de Connor,
Bleddyn e do barão.
Ela foi tomada de um forte tremor, para depois ser invadida por uma onda de
intenso calor. Damron era muito sensual! Se não recobrasse o controle de suas
emoções, como poderia resistir a ele? Sentiu no estômago uma forte pontada de
pânico.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 41


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

CAPÍTULO II

O barão de Ridley ofereceu uma taça de vinho a cada um dos homens


quando se sentaram ao redor de uma mesa.
— Eu vim o mais rápido que pude, assim que soube de sua intenção de
levar Brianna para a Escócia — Bleddyn começou sem rodeios.
— Se levou uma semana, como diz, para chegar a Ridley, como soube da
minha presença antes mesmo da minha chegada? — Damron questionou
perscrutando o galês com o olhar.
— Você acredita em bruxas ou feiticeiros? Ou talvez acredite que Lúcifer
tenha visitado alguém, com algum presente obscuro? — Bleddyn indagou, fitando-
o.
— Não tenho paciência para essas crenças ridículas — Damron respondeu
rispidamente.
— Deus abençoou alguns homens com o poder de cura, e a outros com o
poder de saber quando há perigos à espreita. Meu meio-irmão, Mereck, costuma
ouvir o que as pessoas estão pensando. Eu uso meus instintos para sentir se há
inimigos por perto. E como isso explica o fato de você saber sobre a minha
chegada?
— Em Stonecrest, quando recebeu a carta do rei William, ordenando que
viesse buscar sua noiva, senti seu extremo desagrado. Quando Brianna tentou
fugir de você, e Sweetpea a lançou ao chão, senti a raiva que você sentiu. —
Bleddyn hesitou antes de prosseguir:
— Eu quero levá-la pessoalmente para as Terras Altas. Vejo perigo para ela
no caminho, principalmente quando chegar a Blackthorn.
— Não confia que as minhas habilidades de luta sejam suficientes para
proteger minha esposa? — Damron estreitou os olhos, ofendido. — Ou está insi-
nuando que eu sou a ameaça que a espreita?
— Não! E não duvido de que sir Connor seja um fidelíssimo defensor —
desculpou-se o galês. — Eu também tenho um dom. Esse dom me alerta quando
há qualquer perigo rondando nossa querida Brianna. Se eu tivesse motivos para
acreditar que fosse você ou qualquer um dos seus homens, eu não teria nem
sequer permitido que ela deixasse Stonecrest.
Damron ficou boquiaberto. O galês era mesmo muito arrogante!
— E de onde vem esse perigo?
— Não sei dizer. — Bleddyn parecia sincero. — Mas eu vi o agressor. E
ainda uma sombra, sem nada visível que possa identificá-lo. Mesmo assim, eu sei
que irá acontecer, e por isso irei com vocês. Quando chegarmos ao seu castelo,
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 42
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

descobriremos que tipo de ameaça espera Brianna por lá.


— Bleddyn diz a verdade, lorde Damron — o barão falou pela primeira vez
desde o início da conversa. — Por diversas vezes, pressentiu que algo iria acon-
tecer a Brianna. Quando era menina, ele a salvou de se afogar em uma ocasião
em que ela escorregou no pequeno píer e caiu no lago. Depois disso, ensinou-a a
nadar. E quando Brianna era mais jovem, um
camponês desajustado tentou raptá-la. Não conseguiu levá-la por mais de
três quilômetros, pois Bleddyn os alcançou.
— Além das minhas habilidades com armas, tenho conhecimento nas artes
da cura — continuou o galês.
— Devo alertá-lo ainda que, se preferir recusar minha ajuda, eu os seguirei à
distância, de qualquer forma. Irei protegê-la com ou sem o seu consentimento. —
O tom da voz dele não deixava dúvidas.
A tranqüila demonstração de autoridade do galês irritou Damron ainda mais.
Não gostou da idéia de ter aquele homem escondido nas profundezas da floresta
enquanto rumavam para a Escócia. Ter Bleddyn, ou "Nathaniel", como Brianna o
chamava, ao lado parecia ser mais sensato.
— Poderá vir conosco, mas sob uma condição. E irá somente se a aceitar —
disse Damron.
— Não se iluda se acha que alguém pode nos acompanhar sem a minha
permissão. Deve me fazer um juramento.
— Não faço juramentos a ninguém — protestou Bleddyn, pondo-se em pé.
— Não sou um cavaleiro para pertencer a alguém. Descendo de uma família
antiqüíssima e governo minhas próprias terras no País de Gales. Sou superior a
você.
Com a mão no punho da espada, Damron também se levantou, num claro
desafio. O barão de Ridley, mais do que depressa, colocou-se entre eles.
— Bleddyn ap Tewdwr descende dos antigos druidas de Cymru e de
Cadwallon, rei de Gwynedd
— disse o barão, tentando apaziguá-los. — Alguns o chamam de místico por
causa das suas inúmeras habilidades. Talvez um voto feito entre iguais assegure o
que deseja, lorde Damron.
— Você jura que, deste dia em diante, até que a ameaça a Brianna não mais
exista, será leal a mim? — Damron estudou o rosto do galês. — Que irá proteger
minha esposa até o momento em que me peça para liberá-lo deste voto? —
Procurou por qualquer indício de má intenção nos olhos de Bleddyn.
Bleddyn tirou de dentro da túnica um talismã antigo preso a uma corrente de
ouro. Subitamente, as luzes no cômodo onde estavam ficaram mais brilhantes.
O talismã arredondado de estanho era marcado em baixo-relevo com
símbolos feitos pelos antigos druidas. Por toda a borda, havia pequenos cães de
caça saltando uns sobre os outros. Os cães simbolizavam o mundo espiritual. No
centro, havia um triângulo. O lado esquerdo da figura mostrava um salmão, sím-
bolo da sabedoria divina. Uma águia voava no lado direito, como o senhor dos
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 43
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

céus; e no fundo do triângulo, um lobo uivava, proclamando o portador do talismã


um grande guerreiro. No centro do triângulo, havia um poderoso relâmpago.
Segurando o talismã, Bleddyn repetiu as palavras exatamente como Damron
as dissera, olhando profundamente em seus olhos. Damron sentiu o corpo formigar
como se uma corrente de energia estivesse passando entre eles, até o momento
em que o galês guardou a jóia novamente.
— Eu, Damron de Blackthorn, juro que deste dia em diante e até o momento
em que a ameaça a Brianna não mais exista, você terá a minha proteção e a dos
meus homens. Serei leal a você até o momento em que me peça para liberá-lo
deste voto — ele falou olhando fundo nos olhos de Bleddyn. Depois acenou com a
cabeça, satisfeito com o que vira neles. —Agora vamos voltar ao banquete. Já
deixei minha esposa sozinha por tempo demais.
Quando regressaram ao grande salão, Damron ficou imediatamente tenso
ao deparar com Brianna sentada ao lado de Galan, rindo de algo que ele dissera.
Tinha a cabeça quase pousada no ombro do rapaz e o rosto corado de alegria.
Quando ela se voltou e se inclinou para dizer algo a Elise, a gola da túnica
deslizou, mostrando o início de um seio.
Damron se aproximou e segurou-lhe o pescoço com dedos de aço, fazendo-
a se levantar.
Brianna tentou se soltar, mas ele não se mexeu. Virou-a e enlaçou-a com um
braço para que não fugisse. Puxou-a de encontro ao peito e inclinou a cabeça
como se fosse beijá-la. Ela o olhou e viu a raiva transbordando daqueles olhos
quando Damron disse:
— Se dá valor à sua vida, nunca mais jogue seus encantos para outro
homem.
A ameaça atingiu-a como um raio. A mão dele segurava sua cabeça com
força, mas aos olhos do mundo, ele parecia um marido apaixonado, ansioso para
ficar a sós com a esposa.
Ela sentiu um misto de raiva e rebeldia borbulhar dentro de si. Não
conseguia se lembrar de nada nem de ninguém que a afetasse tanto, que lhe
provocasse tantas emoções conflitantes.
Os olhos de Damron brilharam quando ele removeu sua coroa e seu véu.
Baixou a cabeça lentamente e trouxe os lábios tão perto dos dela que Brianna sen-
tiu o calor deles mesmo sem tocá-los.
Damron... o homem do retrato, ali com ela, fazendo seus seios formigar,
implorando para ser tocados, acariciados, acelerando as batidas de seu coração. O
que ele estava esperando? Ela começou a tremer, e em instantes se viu arfando
de desejo.
Era isso que Damron queria...
Ele a beijou com lábios quentes, a língua mergulhando em sua boca para
conquistá-la, tomar o que era seu.
De repente, Brianna sentiu a raiva sobrepujar o desejo físico, por estar
sendo beijada daquela forma tão íntima em público.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 44


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Foi então que o beijo tornou-se lento e provocante. Com a ponta da língua,
Damron explorou-lhe os cantos da boca, para depois traçar o lábio inferior,
sugando-o e prendendo-o entre os dentes. Sem pressa, mordiscou-o
delicadamente. O beijo se aprofundou com uma paixão urgente, e Brianna sentiu
uma forte onda de calor entre suas coxas. Seus joelhos fraquejaram, mas Damron
a segurou, rindo baixinho.
O som da gargalhada de Connor e os gritos dos guerreiros batendo os
canecos de cerveja sobre as mesas chegaram aos ouvidos de Brianna. Damron in-
terrompeu o beijo e ergueu a cabeça.
Respirando fundo para se recompor, ela se segurou nos ombros dele. Como
Damron conseguira provocar aquela resposta passional em seu corpo com tanta
rapidez? Ela nunca correspondera daquela forma a homem algum, nem mesmo ao
seu ex-marido, Gordon, que era bom em termos de sexo. Já mais lúcida, tentou
colocar uma distância segura entre ambos.
— Tire suas mãos de cima de mim — ordenou por entre os dentes.
— Tem certeza de que é isso que quer? — Damron perguntou.
Vendo-lhe o rosto corado, os lábios dele se abriram num sorriso triunfante.
Brianna tinha certeza de que Damron percebera os tremores que a invadiram, a
maciez de seus lábios e a fraqueza dos joelhos. E tudo aquilo o havia agradado
muito.
Com um braço firmemente enlaçado em sua cintura, ele fez uma pequena
reverência para os convidados, agradecendo os aplausos.
Brianna viu o olhar dele se transformar de divertido para quente e sensual,
numa promessa muda da união física que ele esperava que acontecesse naquela
noite. Ela sentiu o coração pulsar na garganta. Como pudera ignorar o fato de que,
mesmo sendo um casamento forçado, Damron exigiria consumá-lo? Os homens da
Idade Média levavam a virgindade de suas noivas muito a sério. E se ela, Brianna,
não fosse mais virgem... uma terrível tragédia poderia acontecer no leito de
núpcias.
— Santa Maria Madalena! — exclamou, surpreendendo-se: desde quando
começara a evocar santos?!
— Não, Brianna, não é Santa Maria Madalena — Elise a corrigiu. —
Estamos no mês de junho. Santa Julita é a sua favorita deste mês. Sua memória
ainda está confusa?
— Faz muitos anos que não mistura os santos com os meses. — Bleddyn riu
e, vendo a expressão interrogativa de Damron, explicou: — Sempre que fica abis-
mada com alguma coisa, Brianna evoca sua santa favorita do mês em que
estamos. Elise e ela começaram essa "tradição" quando, crianças, eram
surpreendidas por um evento muito especial.
— Ah, compreendo... Mas ela tem evocado coisas diferentes ultimamente —
disse Damron, contrariado.
— O que foi que a aborreceu, querida esposa? — Inclinou-se para falar-lhe
no ouvido:

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 45


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Será a impaciência para irmos logo para a cama?


Com a ponta da língua, ele traçou toda a curva de sua orelha. Brianna não
conseguiu refrear o suspiro ofegante nem o frio no estômago. Realmente, estava
pensando na noite de núpcias, mas não com impaciência, e sim com medo. Por
que não se lembrava se ela e Galan haviam feito mais do que simplesmente se
beijar? Como poderia saber se acontecera algo entre ela e o jovem cavaleiro?
— Não tenha medo, Brianna — Nathaniel murmurou em seu ouvido ao vê-la
preocupada.
— Damron é o companheiro que Deus designou para você. Não o zangue
sem motivos, e ele sempre será bondoso.
— Como sabia o que eu estava pensando? — perguntou ela, alarmada, e
Nathaniel colocou um dedo sobre seus lábios para silenciá-la.
— Eu sempre li seus pensamentos. — Ele sorriu.
— Mas fique tranqüila, não vou me intrometer se não desejar a minha ajuda.
A estrondosa chegada do grupo de acrobatas, com som de flautas, rufar de
tambores e grito de um trompete galês fez qualquer bar de Nova York em noite de
final de basquete ou beisebol parecer coisa de criança.
Damron contraiu o maxilar enquanto observava Galan, cujos olhos jamais se
desviavam de Brianna.
— Esposa, gostaria que cantasse para mim, da mesma forma que cantou
ontem à noite — ordenou, olhando primeiro para Galan, depois para ela.
— Digamos que seja um adeus à sua inocência... e ao seu jovem amado.
— Por favor, Damron, não seja cruel — Brianna pediu. — Já está sendo
muito difícil para ele enfrentar tudo isso.
— Eu insisto. Será a última vez que cantará com ele. — Damron elevou a
voz sem mostrar um pingo de compaixão e virou-se para os convidados: — Caros
amigos, pedi a lady Brianna que cante para nós. É uma forma de dizer adeus ao
passado e de dar as boas-vindas ao futuro como minha esposa na Escócia. Sir
Galan a acompanhará.
Brianna e Galan cantavam muito bem. Suas vozes ficaram mais fortes à
medida que se envolviam nas canções. Quando o dueto terminou, Galan iniciou
uma melodia que não tinha cantado antes. Após as primeiras palavras, Damron
percebeu que era o adeus de Galan à mulher que ele amava.
Lamentou ter sido tão rude, mas era tarde demais. Viu uma lágrima solitária
rolar pelo rosto suave de Brianna e, quando Galan chegou à última estrofe, os dois
cantaram em perfeita sintonia.
A vida que planejamos não acontecerá Chegou a hora de dizer adeus
Nossos momentos serão os tesouros meus E seu amor sempre comigo estará
Conforme a melodia terminava, Galan tirou do pescoço uma corrente de
ouro que trazia junto ao coração. A luz das tochas brilhou nas pedras do pingente
enquanto ele colocava a corrente no pescoço de Brianna. Com as costas da mão,
acariciou o rosto marcado pelas lágrimas.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 46
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Ele também tinha os olhos marejados. Damron fez menção de se levantar,


mas suas pernas se recusaram a obedecer. Encarou Connor, achando que o primo
o estivesse segurando, mas não viu nada. Ninguém o estava tocando.
— Deixe-os, meu amigo — pediu Bleddyn em seu ouvido. — Deixe que se
despeçam. Estão sofrendo muito um pelo outro. Não interfira.
Então era o místico galês que o estava controlando! Mas como?
— Seja feliz, meu amor — disse Galan e pousou um beijo casto na testa de
Brianna. — Não se preocupe comigo...
Damron sentiu o sangue ferver enquanto ouvia as palavras dos dois.
— E nem você comigo... Nada de mau me acontecerá. — Ela passou os
braços em volta dele num abraço desesperado. — Não sofra por mim, comece
uma nova vida.
O salão explodiu num coro de gritos e assobios. Os homens batiam os pés
no chão e davam gritos de aprovação e incentivo. As mulheres delicadamente
enxugavam seus olhos úmidos pelas lágrimas. Brianna e Galan se inclinaram para
os convidados, agradecendo a ovação antes de retornarem às suas respectivas
mesas.
Damron se levantou, com as pernas agora livres, mas com o corpo tenso, e
segurou-a pelo braço.
— Nunca mais cantarei para você — murmurou Brianna.
Ela não o olhou ao pronunciar essas palavras, mas Damron sabia que eram
dirigidas a ele. Sentiu uma pontada de remorso. Seu pedido rancoroso lhe custara
muito. A beleza da voz dela teria sido seu maior tesouro.
— Está na hora de irmos para o quarto, minha querida.
Era chegado o momento de tomar sua esposa. De mostrar a ela o que
planejara fazer com aquela roupa preta que vestira para o banquete...
Brianna lutava para controlar os tremores de seu corpo, especialmente das
pernas. Não se tratava de nenhum medo virginal. Tivera uma vida sexual muito
prazerosa com o ex-marido, e esse tinha sido o único aspecto bom de seu
casamento.
Se tivesse conhecido Damron em sua época original futura, ficaria mais do
que feliz em ser sua esposa. E ansiosa para dormir com ele, que ocupara muitas
de suas fantasias ao longo da vida. No entanto, o Damron que ali estava era o
homem do retrato no museu.
O que a assustava era esse homem dominador e arrogante, ávido por
possuí-la. E também as circunstâncias... Tinha lido o suficiente sobre cerimônias
medievais para saber o que a esperava.
Quando ele viesse até o leito nupcial, estaria coberto apenas por um robe. E
acompanhado por membros da família e alguns nobres de alta estirpe, que ficariam
ali, assistindo, para tentar descobrir algum defeito nos dois, especialmente na
noiva. Mas se eles achavam que ela iria fazer parte de algum espetáculo medieval
de sexo explícito, estavam redondamente enganados! Não permitiria isso, nem que

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 47


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

tivesse de lutar com Damron!


Enquanto se aproximavam do quarto, lady Maud contava como haviam
preparado tudo para a noite de núpcias. Com certeza, achava que Brianna se
esquecera dos rituais, assim como do próprio nome.
— Espalhamos pétalas de rosas sobre a cama e fizemos trancas com fitas e
ramos de ervas para enfeitar as cortinas — informou. — Colocamos tigelas de
prata com sementes de frutas que plantamos aqui, para assegurar que sua união
seja abençoada com muitos filhos.
Brianna sabia que teria apenas dois filhos. Qual seria a reação deles se lhes
contasse isso?
— Os cálices de casamento estão sobre a mesa, ao lado da jarra de prata
com uma poção especial feita com vinho — explicou lady Cecilia. — Todas as noi-
tes, durante um ciclo completo da lua, vocês deverão tomar um cálice da poção
juntos. Ela ajuda o casal a conceber um filho dentro do período de um ano.
Elise abriu a porta do quarto, deu um pulo para trás e pôs as mãos na
cabeça.
— A noite de núpcias de Brianna foi roubada! — gritou ela.
— Não seja tola, meu bem, não se pode roubar uma noite de núpcias... —
lady Cecilia começou, mas se interrompeu quando olhou por sobre o ombro de
Elise.
As quatro se puseram em frente à porta, olhando abismadas para o interior
do aposento. Todos os preparativos para a noite de núpcias tinham desaparecido,
e nenhum dos pertences de Brianna estava à vista. Entraram e procuraram por
todos os cantos, mas apenas os pertences de Elise se encontravam ali.
Estavam tão absortas no problema que se assustaram quando a voz de
Damron encheu o quarto.

— Muito obrigado por terem acompanhado minha esposa até aqui, miladies.
Mas agora podem ir. Brianna está segura comigo.
— Milorde, isso não é apropriado! — lady Maud protestou. — Todos os
preparativos desapareceram, nós ainda não arrumamos a noiva para recebê-lo e...
— Não se preocupe, gentil senhora — Damron a interrompeu com
suavidade. — Fui eu quem mandei mudar todos os arranjos para que tudo ficasse
mais apropriado a estas circunstâncias. Minha esposa pensa que sou negligente, e
esta noite pretendo mudar isso. Estou ansioso para servi-la como um criado de-
votado. Fique tranqüila, serei cuidadoso.
Antes que Brianna dissesse alguma coisa, ele a pegou nos braços.
— Que droga, Damron, ponha-me no chão! — exclamou ela, irritada,
tentando se soltar.
— Por que sempre tem que provar sua masculinidade com força bruta?
— Dentro em breve você julgará minha masculinidade por seus próprios

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 48


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

meios. Garanto que sou muito bem dotado do equipamento necessário para
satisfazê-la.
Virou-se para as mulheres com um sorriso cristalino e fez reverência com
uma facilidade tão grande que parecia estar carregando uma criança nos braços.
— Minha esposa e eu lhes desejamos uma boa noite, miladies. Nos veremos
ao alvorecer. — Com passadas largas, deixou o quarto com a esposa nos braços.
— Ponha-me no chão, Damron! — ela ordenou, sentindo-se tomada pelo
pânico mais uma vez. Se não conseguia controlar algo tão simples assim, como,
então, seria capaz de demovê-lo de suas intenções?
— Não. Você virá documente. Caso contrário, eu mudarei de idéia. — De
repente, ele parou. — Ou prefere um ato público? Na Normandia, é comum chama-
rem testemunhas para o defloramento. É isso o que deseja? Normalmente, o
homem fica mais excitado quando prova sua masculinidade dessa forma.
Ela abriu a boca, apavorada. Santo Deus! Damron não teria a coragem de
fazer algo tão degradante... Ou teria?
— O que vai ser, então? — Ele a olhava intensamente. — Não estamos
muito longe das escadas. Posso chamar uma pequena platéia agora mesmo.
Com o coração prestes a saltar pela boca, ela tentava desesperadamente se
livrar daqueles braços.
— Então, é esta a sua decisão? — A voz de Damron estava carregada de
ameaça...
Ele jamais permitiria que alguém os visse fazendo amor. E sabendo que
Brianna sempre lutaria com ele em busca de controle, não se arrependeu de usar
essa ameaça tão baixa.
Imaginá-la nua, arfando de prazer em seus braços, fez seu membro se
enrijecer. Brianna pertencia a ele, mas longe da vista e das mãos de todos.
Ele virou num corredor que dava acesso às escadas, deixando-a ainda mais
tensa.
— Damron, por favor, não faça isso comigo! — ela quase gritou, em pânico.
— Acalme-se. Só chegamos ao nosso quarto. Quando deu um leve toque na
porta com a ponta da bota, Spencer a abriu, com um sorriso no rosto. Damron
entrou, colocou-a no chão e correu os olhos pelo quarto. Exatamente como
ordenara.
— Spencer, Jeremy — chamou seus dois escudeiros. — Muitíssimo
obrigado por terem seguido todas as minhas instruções à risca e tão rapidamente.
Podem voltar aos festejos. Spencer, só precisarei de você amanhã cedo.
Com sorrisos tímidos, ambos deixaram o quarto. Damron fechou a porta e
passou a trava.
Havia um enorme tapete em frente à lareira, onde um fogo acolhedor
aquecia o ambiente. Ao lado do tapete, uma mesa com cadeira combinando. A
jarra de prata com a poção e os cálices estavam numa outra mesa pequena ao
lado da cama, assim como a tigela de prata com as sementes que prometiam
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 49
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

fertilidade.
Damron observou as reações da esposa, que examinava cada um dos
elementos. Ao vê-la olhar para a cama e virar-se para o outro lado, corada, ele
sorriu. Mas seu entusiasmo esfriou no momento em que a luz incidiu sobre a
corrente que Galan dera a ela.
Contrariado, retirou a espada cerimonial e guardou-a no baú junto com as
outras armas. Brianna acompanhava todos os seus movimentos. Com lentidão
calculada, Damron tirou o broche do clã e a camisa, expondo o torso forte. Ela
piscou várias vezes, e suas mãos estremeceram quando olhou para aquele peito
de bronze e para os pelos que o cobriam.
— Logo você estará acostumada com o meu corpo, Brianna — disse ele. —
Poderia, por favor, me ajudar a tirar esta roupa?
— Eu prefiro tirar a roupa de uma cobra — ela resmungou.
— Não, meu bem — Damron riu maliciosamente —, não é uma cobra,
embora fique em pé quando deseja.
Brianna se manteve de costas, mas ele podia imaginar a intensidade do
rubor que lhe tomara o rosto. Spencer havia deixado o robe dobrado sobre o baú, o
Damron o vestiu. Em silêncio, aproximou-se dela por trás.
— Pode olhar agora. Não vou ofender seus olhos virgens. Vamos nos servir
de vinho. Vai acalmá-la e aquecê-la.
— O quarto está bem aquecido, e eu não estou com frio. — Brianna tentou
resistir.
— Hum... Então está tremendo por minha causa? — Ele sorriu triunfante.
— Quero vinho, sim, obrigada.
Com cautela, ela se virou e encontrou Damron já segurando duas taças e
trajando um robe preto aberto até a cintura. Vestido daquele jeito, era a imagem
perfeita do homem medieval. Ela respirou fundo e tentou aparentar calma e
segurança.
Quando ele lhe passou o vinho, tomou um grande gole, quase esvaziando a
taça. Ao baixar os olhos, viu que a masculinidade ereta estava ansiosa pelo "es-
porte de alcova", como diziam na Idade Média.
Como poderia evitar ser esposa de Damron, fisicamente falando? Não podia
fazer amor com ele. E se engravidasse? Não iria agüentar engravidar, ter um filho
para depois ser sugada de volta para o futuro. E, como Lydia, jamais tinha ido para
a cama com um homem pelo qual não estivesse apaixonada. Suas amigas sempre
a criticavam por ser tão antiquada. Intimidade física, para ela, estava vinculada a
relacionamentos duradouros.
No entanto, tinha de admitir... Apaixonara-se por Damron muito antes de o
destino interferir e levá-la ao passado. Embora o homem de carne e osso não
fosse tão fácil de amar quanto aquele das suas fantasias, não podia negar a
atração sexual que sentia por ele. Maior do que sentira por qualquer outro. Um
gemido baixo escapou de seus lábios. Não... Não podia permitir que Damron a
possuísse.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 50
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Deus do céu! E se cedesse e bem no meio de estarem fazendo amor, sua


alma decidisse voltar para o futuro? A pobre Brianna do século XI levaria o maior
susto de sua vida! Riu da própria idéia.
Nesse instante, Damron tirou a taça de sua mão e tentou puxá-la para junto
dele. Ela fincou os pés no chão, empacando como a mais teimosa das mulas.
— Pare! Precisamos conversar — ela disse, tentando soar o mais autoritária
possível.
— Eu não quero conversar... — ele protestou, aproximando-se mais. —
Quero fazer coisas muito mais interessantes com a minha boca... Coisas que vão
lhe dar muito prazer...
— Você me provou que estamos casados no papel, mas eu não me sinto
casada. — Deu um passo para trás. — Você esteve perante o padre, mas eu não.
— Mandarei chamar um padre, então, se isso a deixa com a consciência
tranqüila.
— Não nos casamos na presença dos nossos familiares — ela continuou. —
E até que o façamos, não poderei me entregar a você. Seria viver em pecado, e
isso eu não farei.
Gostou dessa idéia. Ele certamente iria entender a sensibilidade feminina.
Olhou para o lado para avaliar quanto de distância ainda havia até a parede...
Quase dois metros. Deu um passo largo para trás.
— De jeito nenhum! — protestou Damron, dando um passo na sua direção,
começando a ficar irritado. — Estamos a uma semana de distância de qualquer
lugar, e eu não quero esperar mais! — Avançou mais um passo, tentando agarrá-
la. Ela se esquivou para o lado.
— E nós mal nos conhecemos — Brianna argumentou. — Eu nem sei qual é
o seu prato favorito!
— Prato favorito?! Ora, Brianna, por favor! — Ela se esquivou de novo. — Eu
quero você na minha cama, e não um prato de comida.
— Pare! Minha irmã não está aqui! Não posso me deitar com você... Ela iria
considerar isso um pecado mortal! — Santo Deus, até aos seus ouvidos aquilo
soava ridículo.
— O quê?! Você quer sua irmã na cama conosco?! Ela ficou boquiaberta.
Será que Damron achou que ela estava sugerindo...
— Você sabe muito bem que minha irmã é uma abadessa — disse ofendida.
— Será que é tão depravado a ponto de pensar em algo tão devasso?
— Chega! Não vou mais tolerar este falatório! — Ele parecia muito zangado.
— Você está se negando a mim!
Damron a agarrou antes que ela conseguisse dar outro passo.
Não o zangue mais, Brianna. A voz de Nathaniel ecoou em sua cabeça. Oh,
não, será que o galês via e ouvia tudo o que estava acontecendo?

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 51


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Vá embora! Você disse que não se intrometeria se eu não o chamasse —


ela sussurrou sem raciocinar.
Eu não estou vendo você. Se me ordenar para não ouvir as suas palavras,
não ouvirei. Eu vou embora, foi a resposta suave de Nathaniel.
Damron a puxou para tão perto que seus narizes quase se tocaram.
— Ir embora? Não me intrometer? Você enlouqueceu? — ele esbravejou. —
Eu nunca falei que não me intrometeria se você não me chamasse. E lhe digo que
não irei! Entendeu o que eu disse? — Damron a ergueu pelos ombros.
— Não estou louca nem surda. Eu estava pensando em voz alta e dizia aos
meus pensamentos para que não se intrometessem. — Ela tentou improvisar. — É
como rezar em voz alta. Fazíamos muito isso na abadia. — Deu-lhe alguns
tapinhas no peito para acalmá-lo.
Como seu peito era forte! E como ele cheirava bem! Ela achou melhor seguir
adiante com a mentira, já que começara.
— Poderia me pôr no chão, por favor? — pediu com voz meiga. — Gostaria
de um pouco mais de vinho.
Sorriu o mais docemente que conseguiu enquanto Damron a colocava de
volta no chão. Suspirou aliviada ao ver que o volume sob o robe havia
desaparecido.
— Vamos... — ela insistiu. — Vamos relaxar um pouco.
Empurrou a taça nas mãos dele e sentou-se no tapete ao lado da lareira.
Damron respirou fundo e acabou por se acomodar na cadeira. Depois de vários
minutos, Brianna decidiu olhá-lo, e viu que Damron a fitava como se ela fosse
alguma criatura alienígena. Desejava fazer com que ele bebesse o bastante para
ficar sonolento. Enquanto se analisavam, ele mantinha o maxilar apertado, mas,
por fim, seu rosto se acalmou.
— Damron — começou Brianna —, você já venceu a batalha na capela, no
salão e neste nosso... encontro. Se me forçar a fazer amor, nossa vida juntos ter-
minará da mesma forma drástica que as outras.
— Que outras? — Ele pousou a taça sobre a mesa com tanta força que
quase a quebrou.
— O que sabe sobre o meu primeiro casamento? Quem tem enchido a sua
cabeça com coisas que não lhe dizem respeito?
— Ninguém disse nada sobre um primeiro casamento. — Tinha realmente se
esquecido de Genevieve! — Apenas presumi que um homem da sua idade já
tivesse sido casado ao menos uma vez. Oh, Santa Julia que me perdoe... —
Tentou mostrar preocupação. — Lamento por sua perda... Não desejava tê-lo
lembrado disso...
— Julita — Damron a corrigiu num resmungo.
— Bleddyn disse que é Santa Julita no mês de junho, não Santa Julia. E eu
não perdi nada, fiz o casamento ser anulado.
— Então, não deve ter sido um casamento feliz.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 52
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Sentiu a voz falhar quando ele se levantou da cadeira.


Damron andou até a janela e de volta à cadeira diversas vezes, claramente
considerando a situação e as coisas que Brianna dissera. De repente, pareceu ter
tomado uma decisão. Respirou profundamente e veio até ela, que se levantou.
Ficaram frente a frente.
— Eu sei exatamente o que está tramando. Quer me deixar confuso a ponto
de esquecer por que estamos aqui — ele a acusou. — Mas lhe digo que não vai
funcionar.
Tinha os olhos fixos nos de Brianna, que teve medo de que Damron
conseguisse ver todas as suas emoções. Mas em vez de brigar com ela, pôs as
mãos em seus ombros e virou-a de costas para ele.
— Eu não quero uma guerra no meu quarto — disse Damron com voz
controlada. — Quando venho para cá, anseio por descanso, conforto e por
esquecer os problemas lá fora, não para lutar mais uma batalha. Vou esperar para
deflorá-la depois que tivermos uma cerimônia perante um padre em Blackthorn.
Brianna não sabia se ficava aliviada ou ofendida com aquelas palavras tão
cruas.
— Absolutamente ninguém poderá saber que você ainda é virgem — ele a
avisou. — Se der alguma indicação, por mais sutil que seja, eu a tomarei à força,
onde quer que estivermos: seja no chão dos portões principais ou na mesa do
grande salão, não importa. Você irá perder a sua virgindade. Entendeu o que eu
disse?
— Você concorda em esperar até que cheguemos à sua casa e nos
casemos perante um padre, para só então me tomar como sua esposa de fato? —
Ela o olhou por sobre o ombro.
— E com isso poderemos nos conhecer melhor?
— Sim. E você compreendeu o que irá acontecer se quebrar esse voto de
confiança?
— Perfeitamente — ela respondeu, feliz consigo mesma. Tinha conseguido
fazê-lo mudar de idéia. Era só ter um pouco de paciência e encontrar os ar-
gumentos certos.
Damron colocou as mãos novamente nos ombros dela e virou-a para si.
Brianna estremeceu levemente.
— Não precisa me ajudar, consigo trocar de roupa sozinha — disse ela,
tentando fazer a voz soar firme.
— Não, minha querida. Você sabia que estaria me mandando um recado
quando escolheu este traje. E eu deixei bem claro o que achei dessa escolha. Se
não com palavras, com olhares. Prometi que iria despir você esta noite, e assim o
farei. — Ele deu um riso curto. — Deveria ter pensado nisso antes de me desafiar
assim.
Damron soltou o cinto com o qual a presenteara horas antes e passou as
mãos por seus quadris para retirá-lo. Brianna o acompanhou com o olhar enquanto
ele ia guardar a peça na arca onde estavam os pertences dela para a viagem.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 53
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Nunca vi ninguém se mover tão sensualmente quanto Damron! Ele é mesmo


assim tão sexy ou eu estou sob o efeito do vinho? Pensou, sentindo o desejo subir-
lhe pelo corpo como se fosse uma labareda.
Já fazia muito tempo desde que se sentira assim pela última vez. Mais
precisamente, na noite anterior à última "viagem a negócios" de seu ex-marido. Na
manhã seguinte, havia recebido uma ligação de uma amiga, que lhe contara tudo.
Será que os homens medievais eram tão infiéis quanto os do século XXI?
Pensando bem, talvez fossem até mais, pois dificilmente se casavam por amor.
— Obrigada pelo cinto, é lindo. — Ela se lembrou que não tinha lhe
agradecido pelo presente. — Nunca vi nada do gênero. Foi feito em Londres?
— Não, mandei fazer em Glasgow. E a caixa está com a minha família há
muitos anos. Foi feita por minha avó, cujo passatempo era entalhar madeira. — Ele
olhou com desprezo para o presente de Galan que Brianna ainda trazia no
pescoço. Se não estivesse tão aborrecido pelo atrevimento do cavaleiro, teria
achado o objeto bonito. — Você não se deitará comigo usando um presente dado
por outro homem — disse secamente. Com lentidão proposital, retirou a corrente
do pescoço dela, passando-a por cima da cabeça. Depois de depositar a jóia sobre
a mesa, voltou para terminar a tarefa que havia se proposto a fazer.
Brianna estava de frente para o fogo. Ele veio por trás dela, afastou-lhe os
cabelos dos ombros e soltou as fitas que prendiam a túnica.
Damron parecia ter experiência em despir uma mulher de todas aquelas
roupas. Seria por causa de sua ex-mulher? Ou por causa da amante? Ela não
conseguiu evitar uma pontada de ciúme. Teria ele mantido essa amante durante o
período de seu primeiro casamento? Sim, porque naquele tempo eram as amantes
que poderiam destruir um casamento. No século XXI, eram as colegas de trabalho.
Com a ponta dos dedos, Damron levantou a peça de seda e tirou-a
delicadamente. Brianna se sentiu levemente desconfortável naquela quase nudez
provocada pela exposição da combinação dourada. Em seguida, ele a levou para a
cadeira para que se sentasse, e ela cruzou as mãos sobre o vão entre as coxas.
Apoiando um dos joelhos no chão, Damron tirou os sapatos de seus pés,
ignorando seus esforços para se cobrir. Quando deslizou as mãos por debaixo da
combinação para retirar as meias, ela se encolheu e corou violentamente.
— Não se mexa, caso contrário acabarei rasgando as suas meias — ele
pediu.
— Se me passar a camisola, eu posso terminar sozinha — ela sugeriu,
levantando-se da cadeira. — Você vai dormir no tapete ou prefere que eu durma
nele? Para mim, não faz diferença...
— No tapete?! — exclamou Damron, rindo da ridícula sugestão. — Não.
Tanto eu como você iremos dormir na cama. Eu concordei em não tirar a sua ino-
cência, mas não prometi que não dormiríamos juntos. Deve estar achando que sou
um grande idiota para concordar com isso.
— Jamais pensei isso de você — protestou Brianna. — Pode ser um tanto
estranho em seu modo de pensar, mas idiota, nunca.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 54


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Damron foi até a cama e pegou a belíssima camisola que se encontrava ali
estendida. Olhou para Brianna, que voltara para a frente da lareira. As chamas
iluminavam cada centímetro daquele corpo com um brilho fantástico. Não
conseguiu suprimir um gemido. Queria explorar tudo o que via nela, mas precisava
se ater ao plano que engendrara enquanto discutiam.
Ela era diferente... E a única mulher que ele conhecia com personalidade
mais próxima à de Brianna era Meghan, irmã de Connor. Ambas tinham tempe-
ramentos explosivos, ataques de teimosia e de determinação. A abadessa Alana
havia falado em nome da honra de Brianna. Meghan e sua própria mãe eram
honradas, e ele jamais vira aquele tipo de dignidade em nenhuma das mulheres da
corte real. Teriam sido corrompidas pelos excessos da corte?
Quando dissera que queria paz no casamento, não estava mentindo. E havia
decidido esperar para ver que tipo de mulher Brianna era. Com certeza, era um
desafio... e aquele gênio forte o estimulava a querer conquistá-la. Mas para fazer
com que se entregasse a ele de livre e espontânea vontade... Precisaria ser mais
esperto que ela. Para as noites seguintes, planejava provocá-la e excitá-la de tal
forma que Brianna imploraria que ele a fizesse sua.
Chamou-a com o olhar. Ela não se mexeu. Faz um sinal com o dedo
indicador, pedindo que se aproximasse, mas não adiantou.
— Você fica deslumbrante diante do fogo, minha querida — disse Damron
com voz insinuante. — E na contraluz, a sua roupa desapareceu...
Suas palavras tiveram o efeito desejado. Com um misto de timidez e
embaraço, Brianna veio até ele. Quando Damron a despiu da combinação, os
seios ficaram à mostra pela primeira vez, e ela os cobriu com as mãos. Ele tentou
parecer despreocupado com a visão enquanto segurava a camisola sobre a
cabeça de Brianna e esperava. Ela hesitou por um instante, mas por fim ergueu os
braços e fechou os olhos. Quando terminou de colocar nela a camisola, virou-a
rapidamente para o outro lado para que não visse a evidência de sua excitação.
Enfiou as mãos naqueles cabelos sedosos, e seu peito foi tomado por uma
onda de prazer quando as mechas encaracoladas se espiralaram em seus dedos.
Tirou-os de dentro da camisola e espalhou-os sobre os ombros dela, ao mesmo
tempo olhando para a suave curva das nádegas sob o tecido fino. Sentiu a boca
ficar seca. Deu-lhe um tapinha de leve no ombro para avisá-la de que havia
terminado. Brianna se voltou para ele com uma expressão interrogativa no rosto.
Como Damron não disse nada e se dirigiu ao outro lado da cama, ela sentou-se na
beirada e esperou.
Ele serviu a poção especial da fertilidade nos cálices designados e deixou-os
sobre a mesa. A bebida feita com hidromel era forte, mas Damron não queria mais
impedi-la de beber e relaxar.
Brianna se assustou mais uma vez quando ele veio até ela, pegou-a no colo
e se dirigiu para a cadeira.
— Não precisa fazer isso, posso me sentar em outro lugar — disse.
— Como pode ver, milady, não há mais cadeiras neste quarto — Damron
respondeu.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 55


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Prefiro sentar no tapete. Adoro sentar no chão. Quando tentou se


desvencilhar do colo de Damron,
segurando a camisola para que ela não subisse, ela arrastou as nádegas
sobre as pernas dele. Um gemido escapou dos lábios de Damron quando ela,
mesmo «em querer, esfregou o corpo em seu membro enrijecido. Ainda mantendo-
a nos braços, ele deslizou na cadeira e sentou-se no tapete. Abriu as pernas e es-
ticou-as, deixando Brianna entre elas, e encostou-se no assento da cadeira.
— Não é necessário se privar de conforto, Damron. Eu posso me sentar em
outro lugar.
— Não, meu amor. Eu jamais permitiria isso. — A voz dele era suave e
aveludada.
Damron pegou os dois cálices, murmurou uma espécie de oração e passou
um a ela. Estudou-lhe os cabelos sedosos soltos sobre os ombros e propôs um
brinde.
— Que tenhamos um herdeiro forte, de olhos castanhos como a terra,
cabelos da cor das folhas de outono e a força dos nossos ancestrais. — E tocando
a borda de seu cálice no de Brianna, insistiu para que ela tomasse um gole da
bebida junto com ele.
Ela obedeceu e também fez um brinde:
— Que tenhamos uma filha saudável, de cabelos negros como a noite, olhos
verdes como as folhas da primavera e a sabedoria de nossas avós e bisavós. — E
mais uma vez os dois tomaram um gole da bebida.
— Não deveríamos beber isto, se não vai acontecer nada entre nós — ela
acrescentou, preocupada.
— Se não cumprirmos nada do que nos foi preparado para esta noite, iremos
ofender a pessoa que preparou a bebida.
Depois de muitos outros goles, Brianna por fim se recostou no peito de
Damron.
— Posso lhe falar sobre as pessoas que conhecerá quando chegarmos a
Blackthorn — sugeriu Damron.
— Gostaria de saber algo?
Ao ver que ela concordava, começou pelo avô, Douglas. Brianna ficou tão
entretida na conversa que, de fato, relaxou e continuou a tomar a bebida, sem
perceber que ele sempre mantinha o cálice cheio. Damron correu os dedos pelos
cabelos dela e espalhou-os sobre o próprio peito, como se fosse um manto de
seda. Brianna não o impediu.
Ele a manteve distraída enquanto descrevia todos os membros de sua
família. Ela se aninhou de encontro a seu corpo, oferecendo, mesmo sem querer,
uma visão arrebatadora dos seios sob o fino tecido da camisola que subira até o
meio das pernas. Enquanto ele explorava aquelas curvas suaves, roçava o polegar
sobre um dos seios. Eram pequenos, com mamilos que mais pareciam dois botões
de rosa; muito mais agradáveis que os seios fartos e pesados de sua amante.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 56


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Brianna se moveu e, sem que percebesse, fez o coração de Damron


disparar e seu robe se abrir mais entre as pernas. Ele precisou de todo o seu
autocontrole para não avançar sobre ela e possuí-la com avidez.
Ela não percebeu quando Damron deslizou a abertura da camisola por seu
ombro esquerdo. Ele continuou falando, parando vez por outra para beijá-la
levemente no pescoço e no ombro. Com a língua, percorreu o contorno da orelha,
que o havia enfeitiçado desde a primeira vez em que a vira, e prendeu o lóbulo
com os lábios, para depois sugá-lo sensualmente.
Quando ela tentou se afastar, Damron interrompeu o que estava fazendo e
continuou a contar a história de sua família, como se nada tivesse acontecido. Mais
tarde, tentou ir além. Foi descendo a mão pelo pescoço de Brianna e entre os
seios, para finalmente repousá-la sobre o ventre. Virou-a de forma que ela
apoiasse as costas em seu braço esquerdo, e manteve a mão direita onde estava.
Distraindo-a com as aventuras tragicômicas de sua prima Meghan, Damron
conseguiu aos poucos deslizar a camisola até a cintura de Brianna sem que ela
protestasse ou o impedisse. E continuava bebendo do cálice que ele mantinha
cheio.
Beijou-a inúmeras vezes na testa, no nariz e na face. Correu os dedos pelos
cabelos sedosos até a nuca, acariciando-a e fazendo-a relaxar ainda mais.
Brianna não se sentia tão relaxada desde que acordara no chão da floresta
com o cavalariço a seu lado. Enquanto ouvia a voz hipnótica de Damron contando
histórias da família, bebericava a mistura adocicada, sentindo seu corpo se
derreter.
Que bebida maravilhosa! Não era seca como o vinho e provavelmente não
tinha tanto álcool. Se tivesse, reconheceria os efeitos. Seu cálice estivera pratica-
mente cheio por toda a noite. Estava orgulhosa de si mesma por conseguir se
conter na bebida, como se esperava de uma dama naqueles dias. E tudo parecia
tão perfeito...
— Fale-me, esposa, de sua infância — sussurrou Damron.
Brianna manteve os olhos fechados e tentou se lembrar de fatos que poderia
contar, sem se comprometer. Se adaptasse algumas de suas memórias, poderia
encaixá-las na época certa. Decidiu falar sobre a primeira vez que o vira, mas sem
revelar que era ele.
— Quando eu tinha uns cinco anos, papai me levou para visitar um castelo
maravilhoso. Enquanto ele resolvia outros negócios, tive tempo de passear sozinha
e deparei com um solário magnífico. Havia muitos quadros pendurados numa das
paredes, e um em especial me atraiu. Era o retrato de um homem que trajava
roupas muito parecidas com as que você vestiu hoje. Mas eu não conseguia ver o
rosto dele. — Respirou fundo, tentando organizar as idéias, e continuou: — Ao lado
dos quadros havia um guerreiro de armadura. Fui até ele e, muito educadamente,
pedi que me erguesse para que eu pudesse ver o rosto no quadro, mas ele me
ignorou por completo! — Ela sorriu. — Foi então que percebi que não tinha me
ouvido por causa da armadura. Decidi subir nas suas pernas, pois assim poderia
falar com ele lá dentro. Não preciso dizer que eu e a armadura caímos no chão
com um estardalhaço. Eu gritei, porque tinha matado o homem invisível dentro da
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 57
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

armadura.
Brianna sentiu Damron rindo suavemente atrás de si, passando a mão em
seu braço.
— Quando papai me encontrou, eu disse "eu só queria vê-lo" e apontei para
o quadro. Papai me pegou nos braços, me ergueu até a pintura, e eu consegui ver
o retrato do homem pela primeira vez. De repente, eu gritei "ele é meu!" e comecei
a chorar copiosamente! Papai tentava me acalmar, mas eu não conseguia parar de
chorar e só repetia "por que ele não me ama?". Isso só passou no dia seguinte. A
partir daquele dia, todos os anos, eu pedia que papai me levasse de volta ao
castelo para que eu pudesse rever o retrato. Mas nunca mais derrubei nada...
Nesse momento, ela tomou consciência da boca e das mãos de Damron
percorrendo seu corpo. Sentiu uma forte fisgada de desejo. Os beijos dele eram
gentis, mas sensuais, e quando a beijou nos lábios, correu a língua por eles,
pedindo passagem.
Ela abriu os lábios com um suspiro. A língua de Damron era quente e doce a
explorar sua boca. Percebeu que nunca experimentara um beijo tão delicioso, tão
perfeito. E não seria nada demais trocarem alguns beijos... Afinal, eram casados.
Damron estava se mostrando um cavalheiro, mesmo com ela negando-lhe
uma intimidade maior. Quantos homens do século XXI concordariam em esperar,
quem sabe por semanas, até poder fazer amor com sua legítima esposa?
Sentiu o estômago se contrair quando ele tomou um seio na mão,
massageando-o devagar. Inclinou a cabeça para trás, e Damron beijou e sugou o
mamilo intumescido. Agarrou-o pelos cabelos e o puxou para perto.
Percebeu de repente que estava recostada ao corpo nu dele. Bem, quase
nu. E como sua camisola viera parar na cintura? Sentia a pele em brasa e um
intenso formigamento entre as pernas. Damron acariciava-lhe lentamente o sexo.
Tentou recobrar o controle, mas não conseguiu. O que ele estava fazendo
parecia tão certo, tão... delicioso... Um gemido escapou de seus lábios ao sentir-
lhe o membro contra a perna.
Sua intimidade pulsava em contato com a mão dele, implorando por mais
carícias. Sentiu o rosto pegar fogo quando agarrou o pulso de Damron e procurou
arrumar a camisola.
— Eu prometi que não iria tirar sua virgindade, mas não disse que não a
tocaria — ele resmungou. — Ao menos isso você deveria me permitir. Bem, já está
tarde e vai amanhecer daqui a pouco.
Ele a carregou para a cama e a deitou. Num movimento automático, Brianna
puxou as cobertas até o queixo. Sorrindo, Damron apagou as velas.
As brasas ainda vivas na lareira iluminavam o suficiente para que ela o visse
com clareza. Não conseguiu desgrudar os olhos de Damron enquanto ele tirava o
robe e o pousava sobre a cadeira.
Lembrando-se do comentário das criadas, desviou o olhar para a coxa
esquerda dele. Quase gritou de espanto ao ver a cicatriz, ainda avermelhada, que
ia do joelho até o alto da coxa. Como ele conseguira sobreviver àquele ferimento?

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 58


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Na Idade Média não havia antibióticos nem anti-inflamatórios...


Não pôde evitar olhar para o sexo de Damron. Ouviu-o rir e puxou as
cobertas até a cabeça, morta de vergonha por ter sido flagrada observando-o.
Sentiu a cama ceder quando ele se deitou.
— Brianna, não fique envergonhada. É perfeitamente normal ficar curiosa
pelo corpo do marido. Vamos, descubra-se ou vai sufocar aí embaixo.
Puxou-lhe as cobertas do rosto e pousou um beijo suave em sua testa.
Virou-se de costas para ela e se acomodou para dormir. Ela só relaxou quando
ouviu a respiração ritmada, indicando que ele adormecera. Só então se entregou
ao sono.
Na penumbra, Damron estudou o rosto da esposa adormecida. Quando a
tocara na intimidade, a expressão de deleite no belo rosto mostrara que seu plano
havia começado bem. E agora, o cansaço pelo dia tumultuado e a bebida forte a
haviam vencido. Ela dormia profundamente. Puxou-a para seus braços e para os
contornos de seu próprio corpo.
— Brianna, se deseja tomar seu desjejum antes de partirmos, sugiro que se
levante agora e se vista — disse Damron já de pé e completamente vestido para a
viagem.
— Se não tivesse me mantido acordada com os seus roncos — ela reclamou
—, eu teria dormido bem, e a esta hora também estaria pronta. — Levantou-se
enrolada nas cobertas e cruzou o quarto com graça e elegância.
— Roncos? Eu não ronco.
— Não? Deveria se ouvir dormindo. — Mais desperta agora, ela foi ao
reservado atrás do biombo, lamentando não ter a privacidade de um banheiro
moderno. Ouviu-o se movimentando pelo quarto, e depois a porta se abriu e
fechou.
Finalmente estava sozinha! Suspirou aliviada. Apressou-se na higiene
matinal e abaixou a cabeça enquanto recolhia os cabelos e os amarrava com fitas.
Saiu de trás do reservado ainda se arrumando e, se não tivesse visto as botas de
Damron, teria batido com a cabeça no peito dele. Não estava sozinha como
pensara.
— Mostre-me o que vai vestir — ordenou Damron.
— Quero ver se é apropriado.
— Por quê? Sempre me vesti muito bem — ela retrucou.
— E mesmo? Desde quando "vestir-se muito bem" significa andar a cavalo
com as pernas à mostra ou usar preto no próprio banquete de casamento?
Nesse momento, ela percebeu, horrorizada, que os lençóis da cama haviam
desaparecido.
— Santo Deus! Os lençóis sumiram! — exclamou.
— Eles querem a prova de que não sou mais virgem...
— Mordeu o lábio inferior, preocupada.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 59


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Calma, eu já cuidei disso. — Damron segurou seu queixo e a fez olhar


para ele.
— Mas agora você terá que vestir o meu presente desta manhã, minha cara
esposa.
— Jogou um manto sobre seu ombro, prendendo-o acima do peito com um
broche de prata.
Ela olhou para o broche: nós celtas, com a cabeça de um falcão em cada
uma das pontas, formavam um círculo. O alfinete era uma mão empunhando uma
adaga.
De repente, um lampejo brilhou em sua mente. Viu a imagem enevoada de
Damron nas ruínas do Castelo Blackthorn, e suas mãos prendendo aquele mesmo
broche em seu suéter. Cambaleou, quase perdendo o equilíbrio, e se agarrou no
braço dele.
Então aquilo que vira na loja de presentes havia sido uma memória antiga
deste exato momento? Somente um amor imenso e verdadeiro poderia cruzar
séculos de distância e se pronunciar daquela maneira. Segurou o braço de Damron
com força, lutando contra o medo que ameaçava dominá-la. O que aconteceria a
ela, a ele, se esse amor crescesse a tal ponto e, depois, ela fosse lançada
novamente para o século XXI? Um soluço desesperado escapou de seus lábios.
— Brianna, o que houve? — perguntou Damron, preocupado. — Não se
sente bem?
— Estou apenas cansada por ter dormido pouco. — Emocionada, cobriu o
broche com a mão trêmula e sentiu um calor se espalhar por seu corpo. A jóia
estava no lugar onde devia estar.
— Muito obrigada, Damron, é lindo. Guardarei sempre com muito carinho.
O rosto dele se suavizou ao ouvir aquelas palavras, e seus olhos brilharam
de alegria.
Quando os dois entraram no grande salão para o desjejum, todos os olhares
se voltaram para eles. As mulheres mostraram preocupação, mas os homens
gritaram boas-vindas e deram tapas camaradas nos ombros de Damron. Ele, por
sua vez, dava piscadas maliciosas em respostas aos comentários. Enojada,
Brianna franziu o cenho.
— Cuidado, meu bem — Damron sussurrou em seu ouvido. — Não faça
nenhum gesto do qual possa se arrepender.
E a brindou com um sorriso radiante. Para todos os efeitos, estava feliz com
a noite de núpcias. Conduziu-a até a mesa principal e esmerou-se em ajudá-la a se
sentar. Ela lhe deu um ligeiro tapa nas mãos, e sua testa franzida se transformou
numa expressão de raiva. De propósito, sentou-se com mais força no banco duro
para desacreditar as insinuações dele.
— Vá com calma, meu amor — Damron a advertiu com voz suave. — Está
dolorida e poderá se machucar ainda mais.
Ela ficou furiosa.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 60


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Brianna, está em condições de viajar assim tão prontamente? — lady


Cecilia sussurrou depois de terem terminado o desjejum, e Damron se unir a
Connor e Galan ao lado da lareira. — Eu lhe preparei um bálsamo para que faça
compressas duas vezes ao dia. Não fique triste, meu bem, nós mulheres sempre
conseguimos nos adaptar. No entanto, seria bom que não contrariasse seu marido.
Brianna agradeceu e guardou o pequeno pote de barro no bolso. Estava
selado com cera e o perfume era delicioso. Seria algum creme de beleza? Será
que Cecilia sabia da amante de Damron?
Minutos depois, foi a vez de lady Maud chegar ao seu lado e lhe dar outro
pote.
— Os homens são muito afoitos quando estão excitados, meu bem — disse
ela abraçando-a gentilmente. — Peça a ele que seja gentil nas próximas vezes.
— Cuide-se, Brianna — disse Elise, com os olhos inchados e vermelhos de
lágrimas, antes de abraçá-la fortemente. — Vou sentir muito a sua falta!
Brianna a abraçou e, com palavras de carinho e tapinhas nas costas, tentou
acalmar os soluços que sacudiam o corpo da prima.
Damron voltou naquele momento e clareou a garganta, mostrando a Brianna
que ela deveria se apressar nas despedidas. Quando saíram para o pátio aberto,
todos os moradores da propriedade os aguardavam para se despedir deles.
— Gostaria de conhecer a pessoa que fez a bebida nupcial que nos foi tão...
Encorajadora
— disse Damron com um sorriso.
Todos os olhares se voltaram para Brianna, que deu um beliscão no braço
do marido,
— Depois de saborear aquela bebida, não tive dúvidas de que teremos
nosso primeiro filho em menos de um ano — continuou ele. — Muitíssimo
obrigado.
— Seu cretino! Cafajeste! — ela disse baixinho e o beliscou com mais força,
para mostrar o quanto ficara irritada.
Damron a abraçou. Segurou-lhe o queixo e deu um sonoro beijo em seus
lábios. Quando ergueu a cabeça, a boca traiçoeira de Brianna quis segui-lo,
fazendo-o sorrir.
Um homem se destacou dos demais camponeses.
— Saiba que o senhor agora é famoso — disse-lhe Damron. — Muito
obrigado.
Como pode ver, ainda estamos sob o efeito da bebida. O senhor tem filhos?
— Tenho, sim, milorde — respondeu o homem. — Quatro meninos fortes e
uma linda menina, todos com menos de sete primaveras.
Damron deu um saquinho repleto de moedas ao homem que,
orgulhosíssimo, afastou-se quase flutuando.
Enquanto se despediam, Damron manteve o braço ao redor dos ombros de

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 61


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Brianna. Por fim, deixou que ela fosse se despedir de Galan, após um olhar de re-
preensão de Connor.
O cavaleiro tomou as mãos de Brianna nas suas e as trouxe aos lábios para
beijá-las.
— Cuide-se, Brianna — disse ele. — Se algum dia precisar de qualquer
coisa de mim, eu irei em seu auxílio o mais rápido que puder.
Pelo brilho que viu naqueles olhos ansiosos, soube que Galan seria capaz
de mover céus e terras por ela.
— Não se preocupe comigo, Galan — respondeu. — Nathaniel vai cuidar
para que nada de mau me aconteça. — Antes que pudesse dizer qualquer outra
coisa, Damron a chamou para que fosse até o cavalo dele, Angel.
Brianna parou onde estava.
— Você disse que eu poderia montar Sweetpea.
— Eu falei que iria pensar no assunto — respondeu Damron, que montou e
colocou um cobertor dobrado à sua frente, entre as coxas. Quando Connor ergueu
Brianna e a acomodou no pequeno assento, Damron continuou: — Está
confortável, meu bem? Não quero que fique ainda mais dolorida do que já está.
Ela o cutucou nas costelas com o cotovelo. Enquanto todos ainda faziam
votos de uma viagem segura, Damron instigou Angel a um galope. Manteve a mão
firme na cintura da esposa, enquanto ela se inclinava e acenava adeus até que
todos sumissem de vista. Era estranho que em tão pouco tempo ela tivesse se
afeiçoado ao povo de Ridley.
Sentiu um frio no estômago ao pensar o que poderia encontrar em
Blackthorn. No século XXI, ela sentia forte atração e empatia pelas ruínas. Qual
seria sua reação ao ver o castelo intacto, em seus dias de glória? E esse homem
ao qual precisava desesperada-mente resistir? Será que acabaria por se render a
ele de corpo e alma?
Depois de algum tempo, mexeu-se no assento, pois a cota de malha que
Damron usava a machucava nas costas. Incomodada, continuou a se mostrar
desconfortável, na esperança de que ele a deixasse cavalgar Sweetpea, que vinha
ao lado deles puxada por um escudeiro, mas sem ninguém sobre ela.
— Aquiete-se, Brianna — Damron reclamou. — Se desejava atrair a minha
atenção, conseguiu. Ficar esfregando o seu traseiro em mim me deixou bastante
interessado. Quer que tenhamos alguns momentos de privacidade na floresta? Só
nós dois?
— Vá sonhando! — ela retrucou. Tinha plena consciência de suas nádegas
junto à virilha dele, com o volume da masculinidade aumentando a cada segundo.
— Posso cavalgar Sweetpea?
— Não — foi a resposta seca de Damron. Dirigir um jipe velho sem
amortecedores por dez horas seguidas ainda seria mais confortável do que andar a
cavalo por cinco delas.
Brianna começou a sentir o urgente chamado da natureza. Tentou agüentar
até não poder mais, mas, por fim, agarrou Damron pelas orelhas e forçou-o a olhar
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 62
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

para ela.
— Pare este maldito cavalo agora! — exclamou.
— Não grite comigo! Se precisa de privacidade, é só pedir — disse ele. — E
encontraremos Bleddyn logo após a próxima curva no caminho.
E era verdade, pois, de fato, após cerca de cem metros, Bleddyn os
aguardava na fronteira com a Escócia.
Damron a colocou no chão. Assim que se viu livre, Brianna dirigiu-se para o
interior da floresta a fim de aliviar sua necessidade. Quando estava terminando de
ajustar as roupas para voltar, os dois potes de bálsamo que ganhara se chocaram
levemente, fazendo um barulho seco. Lembrou-se da preocupação estampada nos
rostos das mulheres ao dá-los a ela, e a expressão assustada de Elise. De repente
tudo fez sentido... Sentiu a cabeça zunir de tanta raiva.
Furiosa, saiu da floresta gritando por Damron. Connor veio correndo em sua
direção, temendo que tivesse sido atacada por algum javali. Ela o ignorou,
passando por ele como se não o visse. Foi diretamente até Damron, o homem que
queria esganar.
Tentou agarrá-lo pelo peito, mas não conseguiu por causa da cota de malha.
Frustrada, pegou as trancas ao lado das têmporas dele e puxou-as com toda a
força.
— Controle-se, Brianna! — Damron a levou até a margem do riacho, longe
das vistas dos outros guerreiros.
— Você decepou uma galinha e jogou o sangue dela nos meus lençóis? —
Ela estava furiosa.
— Se dá valor a sua vida, nunca mais fale comigo nesse tom! Eu mesmo fiz
um pequeno corte na minha mão com a espada, mas derramei mais sangue do
que o necessário... Acho que passei a idéia de que tomei você com violência... —
Ele deu um sorriso e largou-a ali, antes que Brianna tivesse tempo de absorver a
informação.
Também Damron e seus homens entraram na floresta para atender aos
chamados da natureza. Nesse momento, Bleddyn estava diante de Brianna,
estudando-a com um sorriso aberto.
— Vocês homens são todos iguais — ela disse. Mas de repente se deu
conta do ridículo da situação e riu.
— Não é de admirar que as mulheres estivessem tão preocupadas comigo...
Antes que conseguisse fazer qualquer outro comentário, os guerreiros
retornaram. Damron montou Angel e fez um sinal para que ela viesse até ele nova-
mente. Brianna fez questão de ignorá-lo e caminhou em direção a Sweetpea. Mal
conseguira dar cinco passos quando se sentiu levantada do chão e, no instante
seguinte, já estava sentada sobre Angel, com os braços de Damron segurando-a
firmemente pela cintura.
— Você tem sempre esse costume de carregar as mulheres como se fossem
um saco de batatas? — ela protestou. — Já estamos muito longe de Ridley, eu
posso muito bem...
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 63
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Não me envergonhe na frente dos meus homens! — ele disse por entre
os dentes.
O olhar de Damron foi suficiente para que ela desistisse de continuar a
discussão. Bufou de raiva, mas voltou a olhar para a frente e tentou admirar a
paisagem. O meio de transporte podia ser lento e desconfortável, porém via-se
muito mais do cenário idílico das montanhas de cima de um cavalo do que seria
possível de dentro de um carro em alta velocidade.
A Escócia do século XI era belíssima. A floresta densa que cobria quase
tudo à sua volta havia praticamente desaparecido no futuro. Ela inspirou pro-
fundamente aquele ar limpo e fresco, lamentando o fato de que aquela beleza seria
perdida séculos mais tarde.
Estava ansiosa para conversar com Nathaniel. Será que ele sabia o que
estava acontecendo com ela? Será que acharia que era uma bruxa se soubesse
que vivera em dois séculos diferentes? Mas, se Nathaniel pensasse isso, não a
teria tratado tão bem, teria? Sentiu medo.
A resposta veio com a voz de Nathaniel em sua mente. Mal conseguiu evitar
virar para trás e olhá-lo. Ainda não tinha se acostumado com aquela habilidade
psíquica dele.
Não precisa ter medo de mim, minha pequena. Eu vim para facilitar a sua
existência nesta vida. Você conheceu muitas coisas que me interessaram. Eu vi
imagens de memórias de um tempo muito adiante do nosso. Os escoceses adoram
contos. Por que não tenta criar um para falar do seu tempo? Ninguém saberá da
verdade. Nós, galeses, sempre acreditamos que os druidas podiam viajar através
do tempo, e os escoceses têm suas próprias lendas.
Ao ouvir isso, ela relaxou, recostada em Damron. Então Nathaniel sabia que
sua alma voltara de uma vida futura? E quando estivessem em Blackthorn, ele lhe
contaria? Não ouviu nem sentiu nenhuma resposta vinda dele. Aparentemente,
Nathaniel interrompera o vínculo mental.
Brianna procurou ignorar o corpo forte e rijo de Damron atrás de si por quase
uma hora. Por fim, encostou-se mais nele, puxou a túnica para o meio das pernas,
jogou a perna direita por sobre o torso de Angel e sentou-se como qualquer
cavaleiro faria.
— Já que tenho de ir com você, quero o mínimo de conforto — resmungou
ela, mexendo-se sobre a sela para melhor se acomodar.
Algumas horas depois, pararam numa clareira, e Damron a retirou
cuidadosamente de cima de Angel. Segurou-a com o braço ao redor de sua cintura
suportando-lhe o peso, até que se estabilizasse. Com o olhar, indagou se estava
bem. Presumindo que ele queria saber se conseguia ficar em pé sozinha, Brianna
tentou firmar os pés no chão, mas suas pernas cederam, e ela gemeu. Segurou-se
no braço de Damron e foi esticando as pernas devagar, até que a circulação se
normalizasse e ela conseguisse se equilibrar a ajuda. Só então Damron a soltou e
foi cuidar do acampamento para aquela noite.
Jeremias, um dos cavaleiros, levou-a até a margem do rio, num lugar onde
um grupo de árvores a protegeria dos olhares masculinos. Ele ficaria montando

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 64


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

guarda a uma distância segura.


Ela olhou em volta, extasiada. Seus pais sempre a levavam para acampar, e
estava acostumada a tomar banho de rio. Tirou as roupas rapidamente e entrou na
água. Estava gelada! Banhou-se rapidamente, secou-se e se vestiu.
Pôs-se a caminho do acampamento, mas não avançou muito, pois percebeu
que havia tomado o rumo errado. Tentou voltar ao lugar de onde viera, mas tam-
bém não adiantou, pois perdeu a noção da localização da margem do rio.
Olhou ao redor, porém a paisagem parecia ser toda igual. A única coisa que
chegava aos seus ouvidos era o canto dos pássaros que se recolhiam nas árvores
para passar a noite.
— Jeremias? — gritou, chamando pelo cavaleiro. — Onde você está?
Segundos depois, o rapaz apareceu. Quando voltaram ao acampamento,
Jeremias contou a Damron que sua esposa se perdera a menos de cinqüenta me-
tros de distância de onde ele a deixara.
— Não tem senso de direção, Brianna? — indagou ele, divertido.
— Eu não me perdi —justificou-se. — Estava apenas procurando frutos
silvestres.
Percebendo que Damron não acreditara, resolveu ficar quieta e seguiu-o até
onde tinham estendido uni cobertor no chão para que comessem. Terminada a
refeição, Damron sugeriu que fossem dormir.
Quando entraram na tenda montada para eles, Brianna viu uma cama sobre
um estrado de madeira, que ocupava quase todo o espaço interno. Damron pediu
licença e saiu. Ela se despiu, ficando apenas com as roupas de baixo, deitou-se e
se cobriu.
Fingiu estar dormindo quando ele retornou. Ouviu o suave farfalhar de
roupas sendo retiradas e, por entre as pálpebras semicerradas, espiou o corpo
dele que, realmente, era muito bonito. Damron deitou-se ao seu lado e puxou-a
para perto enquanto fitava seu rosto corado.
— Brianna, você é minha esposa. Tem todo o direito de ver o meu corpo,
assim como eu tenho de ver o seu. — Colou os lábios nos dela.
Brianna sentiu o coração martelar no peito. Será que ele também o sentia?
Damron introduziu a língua em sua boca, para depois retirá-la, e repetiu os
movimentos várias vezes.
Os pelos do peito dele faziam cócegas em seus mamilos intumescidos,
mesmo por cima da peça fina que usava. Damron esfregou a palma da mão
lentamente sobre um mamilo rosado e se inclinou para sugá-lo.
Ela o agarrou pelos ombros. O ritmo de sua respiração aumentou quando os
carinhos dele ficaram mais ousados, e tentou empurrá-lo.
— Não, Brianna. Você não pode me negar isso — protestou Damron. — Eu
prometi que não iria possuí-la, mas não prometi que não iria beijá-la ou que não
desfrutaria dos prazeres que o seu corpo pode me proporcionar. E sei como fazê-la
esquecer até n pior das dores, meu amor. Quer que eu lhe mostre?

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 65


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Não, obrigada, eu não estou nem um pouco interessada.


Damron riu e continuou a provocá-la com beijos e carícias. Traçou com a
mão uma linha de fogo desde os seios até o vão entre as pernas. Delicadamente,
esfregou ali o polegar, excitando-a mais ainda.
Brianna foi sacudida por um tremor. Arqueou o corpo, pedindo mais, porém
quando um gemido escapou de seus lábios, Damron interrompeu as carícias Í; deu-
lhe um beijo casto na testa.
— Durma bem, minha esposa.
Com isso, aninhou-a nos braços e se acomodou para dormir. Aos poucos, a
respiração dele se tornou mais profunda. Brianna tentou se afastar daquele abraço,
mas ele a segurou com firmeza. Deu um profundo suspiro... e adormeceu.
Dias depois, Brianna, Damron e Connor tomavam café da manhã. Ela
evitava o olhar do marido e, se precisava falar algo, mantinha os olhos no peito
dele.
— Minha esposa — disse Damron, fitando-a com preocupação —, não
dormiu bem de novo? Sua mente
talvez esteja muito agitada, e isso está provocando •seus sonhos
perturbadores.
Connor quase engasgou ao suprimir uma risada, sendo imediatamente
repreendido pelo olhar severo do primo. Ela ergueu os olhos e franziu a testa.
— Estou muito bem, senhor meu marido — ela
murmurou em resposta. Era óbvio que estava cansada. Seria mais fácil lidar
com qualquer pesadelo do que com os sonhos eróticos que vinha tendo nos últi-
mos dias.
Damron concordara que ela cavalgasse Sweetpea, desde que ficasse bem
atrás dele. E no momento, conforme se aproximavam das montanhas Grampiam,
Brianna teve a sensação de que estava sendo observada de perto. Os outros
pareciam sentir o mesmo. Como se houvesse pessoas escondidas na floresta à
espreita.
— Bleddyn! — Damron chamou. — Também pressente alguma presença ao
nosso redor?
— Sim, cerca de trinta homens — respondeu ele. — O líder tem os cabelos
da cor do sol. Um homem forte e vigoroso numa túnica verde, e tem uma espécie
de cabeça de javali no escudo.
— Ah! — Damron relaxou. — É Eric, o herdeiro do clã MacLaren. O irmão
dele é o chefe do clã. — No instante seguinte, a espada de Damron brilhava ao sol.
— Eric! Chega desse joguinho ridículo de gato e rato! Apareça e venha nos saudar
ou desembainhe a sua espada e chame pela sua própria morte!
— Talvez seja a sua morte, Morgan. Não conhece os Campbell? —
respondeu o homem vindo de dentro da floresta, cavalgando em direção a Damron
com extrema confiança. — E você ainda aparece com uma bela donzela? Ela me
parece muito frágil e delicada para você. Não combina com as suas armas tão

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 66


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

pesadas. Posso aliviá-lo desse fardo.


Eric não deveria ter se mostrado tão confiante. Antes que conseguisse
prosseguir em seu discurso, Damron encostou a ponta da espada em seu pescoço.
— Pode tirar esses olhos famintos de cima dela!
— A ponta da espada fez um corte minúsculo na pele de Eric, e um fino fio
de sangue escorreu, antes que Damron se aproximasse dele e batesse em seu
ombro, num claro sinal de grande amizade.
— Você não era mesquinho assim quando fui acolhido pela sua família —
reclamou Eric.
— Não era — ele concordou. — Mas esta donzela frágil e delicada a quem
se referiu é na verdade minha esposa — Damron informou com os olhos
apertados.
— E, apesar de você ser neto do chefe dos Campbell e de nos prestar uma
ótima ajuda com a sua proteção, sugiro que se comporte. Caso contrário, eu o
matarei com minha espada sem hesitação.
Nas horas seguintes, Brianna aprendeu muitas coisas sobre os anos em que
Eric fora criado pelos Morgan. Enquanto o sol chegava ao seu ocaso e os
guerreiros montavam o acampamento para aquela noite, Eric se aproximou dela e
sorriu. Ele irradiava charme por todos os poros.
— Cara senhora, permita que me apresente devidamente. — Inclinou-se
com um sorriso sedutor.
— Eric MacLaren, irmão de criação de Damron. — Tomou-lhe o rosto nas
mãos e plantou um beijo sonoro em cada bochecha, fazendo-a rir de sua audácia.
— Desgrude esses lábios dela. Minha esposa não é nenhuma prima sua que
possa beijar
— Damron o advertiu com um misto de diversão e repreensão.
— Vá procurar a sua própria donzela para babar. Eric foi uma novidade
divertidíssima durante a noite em volta da fogueira. Contou inúmeras histórias a
respeito de Damron, Connor e dele próprio quando eram crianças e exploravam a
propriedade de Blackthorn. Em todas elas, obviamente, Eric era sempre o mais
valente, o que fazia Damron rir com vontade dos exageros do irmão de criação.
Naquela manhã, cavalgaram por diversas horas sem descanso, e Brianna
teve tempo de sobra para pensar e se preocupar.
Antes dessa viagem no tempo que fizera nas ruínas de Blackthorn, havia se
resignado a amar um homem que já morrera. Os sonhos com ele e os lampejos de
imagens dele a tinham feito por muitas vezes duvidar da própria sanidade mental.
Chegara a considerar a idéia de procurar ajuda psiquiátrica. Essa obsessão, como
ela mesma chamava, acentuara-se em virtude da grande decepção que sofrerá
com Gordon. Confiara cegamente no marido, que destruíra essa confiança sem
pensar duas vezes.
Sua alma ansiava pelo homem daquele retrato. O homem cujo rosto forte a
fascinara... Damron.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 67


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Santo Deus, e ali estava ela, com o homem de carne e osso, não o retrato! A
força da personalidade dele não permitia que o ignorasse ou que se mantivesse
afastada. O modo dominador a intrigava. A atração física entre ambos era a mais
forte que ela sentira em sua vida. Aliás, em suas duas vidas.
Apaixonar-se por Damron, e não saber se ou quando seria levada de volta
para seu tempo era mais do que poderia suportar.
Damron não conseguia parar de pensar em Brianna. Os dias de viagem
seguiam um padrão de períodos para cavalgar e paradas para descansar. As
noites também seguiam um padrão. De sensualidade. Ele via o desejo se
acumulando em Brianna, a vontade de se entregar aumentando a cada dia. Ela o
observava, o estudava, correndo os olhos por ele como se fossem dedos ardentes
explorando-lhe o corpo.
A noite, na tenda, despia-se diante dela. Depois a beijava e a acariciava
cada vez com mais audácia. Gostava de ver a reação dela e, se continuasse com
essa provocação sensual, dentro em breve Brianna se tornaria a amante quente e
apaixonada que ele queria em sua cama.
Mas antes precisava domar aquela personalidade forte que o desafiava a
todo instante. Ela agia como se acreditasse que homens e mulheres fossem iguais.
Que pensamento bizarro...
Durante as refeições, Brianna comia menos e parecia recolhida em seus
pensamentos. Tentava com todas as forças resistir a Damron.
Seu sono agora era leve e seu desejo por ele só aumentava, o que a dei-
xava alucinada. Tinha a constante preocupação de se apaixonar e de repente ser
tragada de volta ao século XXI. Não tinha com quem partilhar esse medo, ninguém
a compreenderia. E se sonhasse em fazer o menor comentário que fosse sobre
como chegara até ali, todos achariam que estava louca ou que era uma bruxa.
Desde o primeiro instante em que vira Brianna, o homem não tinha
conseguido desgrudar os olhos dela.
Ele era bem-vindo no grupo, pois estava entre os homens de Eric. Ao cair da
tarde, ele se escondeu atrás dos arbustos para espiá-la enquanto ela se banhava
no riacho.
Idiotas... Não sabem que aquele a quem procuram está entre eles... O galês
não irá me notar, tenho meus próprios truques. Ah, Damron, você não irá possuí-la,
não senhor... Dentro em breve, será nos meus braços que ela dormirá, será o meu
corpo que a aquecerá e o meu membro que a fará gemer de prazer... A barriga
dela vai crescer e até o dia em que der o último suspiro de vida, será minha!
Um trovão acordou Brianna, que se levantou da cama sem fazer barulho
para não despertar Damron e se esgueirou para fora da tenda. Respirou fundo o ar
fresco e ergueu o rosto para a noite e para a tempestade que caía à distância.
Vinha pensando muito numa forma de encontrar o caminho de volta. Como
faria para sobreviver naquele mundo tão primitivo? Já que fora levada até ali pelos
elementos da natureza, eles talvez pudessem ajudá-la a retornar...
Meu Deus, o que devo fazer? Damron não queria uma esposa como

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 68


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

companheira ou parceira. Queria uma mulher sem vontade própria para cuidar de
seu bem-estar. Ela jamais se sujeitaria à submissão. Como poderiam ser felizes se
a todo momento estavam se digladiando, cada qual querendo defender seu ponto
de vista?
Um raio caiu por perto, e ela arqueou o corpo em direção ao céu, com os
braços erguidos, chamando pela tempestade.
Damron acordou de repente. O brilho do relâmpago delineou a silhueta de
Brianna contra a tenda, erguendo os braços para o céu. Ele sentiu o coração dar
um salto quando viu um homem correr na direção de sua esposa, jogar uma capa
sobre a cabeça dela e pegá-la nos braços.
Saiu correndo de dentro da tenda, empunhando a espada. Nesse instante, o
raptor de Brianna se virou para ele, e os olhos gentis de Bleddyn brilharam na
noite.
— O que aconteceu?! — Damron gritou acima do estrondo do trovão.
— Eu acordei com uma visão de Brianna enfrentando a tempestade sozinha.
Ela é sonâmbula — Bleddyn respondeu enquanto os dois voltavam correndo para
a tenda. Ele a colocou em pé e cobriu-lhe os ombros com um cobertor.
— O que me diz disso, Brianna? — Damron indagou, visivelmente irritado. —
Quero a verdade.
— Como Nathaniel disse, eu sou sonâmbula. — Olhou rapidamente para o
galês em busca de ajuda. Mas ele tinha o cenho franzido e os lábios apertados em
clara desaprovação. Bleddyn sabia que ela havia desafiado os elementos da
natureza com aquele gesto. E estava furioso.
— Bleddyn, poderia nos deixar a sós, por favor? — pediu Damron.
O galês saiu sem falar mais nada.
— Agora, Brianna, por favor — começou Damron —, diga-me o verdadeiro
motivo de você estar lá fora desafiando a tempestade. E não me venha com a des-
culpa conveniente que Bleddyn apresentou.
— Você está nu. Vista alguma coisa. — Ela evitava olhá-lo e imaginava um
jeito de fazê-lo esquecer sua tentativa de desafiar os relâmpagos. — Não vou falar
enquanto estiver nu perto de mim.
Damron vestiu uma túnica.
Se ela dissesse que quisera testar se a fúria da tempestade poderia fazer
sua alma voar, Damron com certeza acharia que era uma bruxa. Então, preferiu
dizer:
— Eu não sei por que fiz isso.
Foi pior, pois ele ficou ainda mais furioso.
— Ainda estou esperando uma explicação.
— Está bem — disse ela, por fim. — Eu acordei de um pesadelo e não
consegui voltar a dormir. Achei que a tempestade ainda estivesse longe, então fui
lá fora para vê-la chegar. Desde pequena, adoro tempestades. Gosto de ver os

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 69


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

relâmpagos riscando o céu. Mas ela veio mais rápido do que pensei. Tive tanto
medo que não consegui me mexer, fiquei paralisada. Por sorte, Nathaniel me viu.
O resto você já sabe.
O rosto de Damron se suavizou aos poucos, e Brianna logo voltou a se
deitar, pois, se ele insistisse, poderia se atrapalhar com a explicação.
A tempestade se foi, deixando para trás um alvorecer lamacento. Durante
todo o dia, Damron observou o rosto pensativo de Brianna. Quanto mais cedo ela
aprendesse a ser uma esposa obediente, mais fácil e menos traumático seria para
ela.
Eric veio cavalgar a seu lado.
— Aqui me retiro da sua presença, Damron — disse ele.
Em seguida, ergueu a mão num sinal de adeus e esperou até que Brianna
os alcançasse. Tão rápido quanto uma cobra dando um bote certeiro, Eric se
inclinou, segurou o rosto dela com ambas as mãos e beijou-a nos lábios.
Antes que Damron pudesse reagir, Eric instigou o cavalo e levou seus
homens num trote rápido. Sua gargalhada soou acima do barulho dos cascos.
Rollo, primo de Eric, veio cavalgando até ele.
— Milorde, preciso de um afastamento. Planejei me casar já há algum
tempo, mas a moça não é da minha vila. Então preciso raptá-la.
— E sua dama concorda com isso? — perguntou Eric, erguendo uma
sobrancelha.
— Ela é muito recatada, mas ficará satisfeita com a escolha — disse Rollo.
— E depois de dormirmos juntos, ela não vai pensar duas vezes antes de aceitar.
Eric franziu o cenho. Percebera pelo comentário que a moça não estava tão
disposta a aceitá-lo como marido. Mas era assim que as coisas funcionavam com
os guerreiros. Os sentimentos de uma mulher não tinham importância alguma, pois
não duravam muito. Logo que percebiam isso, elas se resignavam e ficavam gratas
aos maridos.
— Vá, então, mas não maltrate a moça — Eric o liberou.
Rollo e seus homens se desviaram em direção a oeste, e Eric esfregou o
queixo, observando-os até sumirem na curva da floresta.
Os homens de Damron encontraram uma área excelente para passar a
noite. O lugar era lindo, a grama tão densa que mesmo um cavalo poderia cami-
nhar tranqüilamente sem fazer barulho, e o ar tinha um perfume marcante e
adocicado.
Spencer levou Brianna até uma pequena queda de água que, mais adiante,
formava uma grande piscina natural, e se afastou. Ela aproveitou para admirar o
cenário à sua volta enquanto se despia. Depois que tirou a última peça, inclinou a
cabeça para trás e inspirou profundamente o ar perfumado com o aroma dos
pinheiros. Estirou os músculos cansados e testou a água com a ponta do pé.
Estava fresca e cristalina. Não viu rochas soltas ou outros objetos. Mergulhou
naquela piscina e nadou até o fundo.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 70


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Que maravilha era nadar num local tão lindo! Voltou à superfície para
respirar e, por um instante, teve a impressão de ter visto alguém atrás da queda de
água, mas logo concluiu que era apenas imaginação.
Arqueou o corpo e mergulhou mais uma vez. Bateu os pés no fundo e tomou
impulso para voltar à tona. De repente, sentiu a água se agitar atrás de si. Foi
tomada pelo pânico quando mãos fortes a agarraram pela cintura, puxando-a por
debaixo da água. Pernas de homem roçaram as suas. Ela chutou e se debateu,
tentando se soltar, mas não adiantou, pois o agressor a segurou com ainda mais
firmeza. Desesperada para respirar, lutou, tentando se libertar. A luz do sol ilu-
minou através da água uma cabeça de cabelos claros. O homem bateu as pernas
vigorosamente, fazendo com que ambos deslizassem para cima.
Quando sentiu o rosto fora da água, ela tentou gritar por socorro, mas a mão
dele se fechou sobre a sua boca. Segurando-a com firmeza, o homem nadou em
direção à margem. Outro homem surgiu e jogou um cobertor sobre ela. Antes que
conseguisse se reequilibrar, os dois já a tinham imobilizado com a manta.
Alguém a levantou e a colocou em cima de um cavalo. Ela gritou o mais alto
que conseguiu.
Voando acima do acampamento, a águia Cloud Dancer deu um grito agudo.
Damron, Bleddyn e os guerreiros saíram correndo em direção à floresta e viram os
três homens a cavalo desaparecendo no lado oposto a eles. Segundos depois, os
escudeiros trouxeram as montarias para que a perseguição se iniciasse.
Quando conseguiram chegar mais perto dos raptores, Damron emitiu um
grito de guerra escocês. Bleddyn e Connor atacaram os dois primeiros homens,
enquanto Damron passava por eles em direção ao terceiro, que levava Brianna.
Com a espada, Damron conseguiu atingir o inimigo no queixo. Sangue jorrou,
caindo sobre o manto branco de Angel.
Cloud Dancer mergulhou em direção a um dos agressores. A única coisa
que conseguiu evitar a ave de arrancar o capuz e feri-lo na cabeça foi a adaga que
ele, muito habilmente, manteve acima de si.
Jogada no colo desse homem, Brianna foi balançando a cabeça até
conseguir soltar a boca da mordaça que a tampava. Em seguida, fincou os dentes
com toda a força na coxa de seu raptor, que urrou de dor.
— Maldita! — ele vociferou. — Vai se arrepender por isso!
Quando a águia atacou mais uma vez, ele já estava com a adaga em
posição de ataque, mas a ave desviou e escapou de ser atingida. Não havia como
fugir levando Brianna, pensou ele, e optou por salvar o próprio pescoço. Sem a
menor cerimônia, agarrou-a pelos cabelos e gritou:
— Você vai ser minha! Não se esqueça disso! Espere e verá! — Baixou a
cabeça e mordeu-a com força na face. Em seguida, jogou-a de cima do cavalo. Ela
caiu sobre um arbusto e rolou, desacordada, até o meio da estrada.
Damron gritou de fúria quando a viu caída no chão. Desmontou feito um
relâmpago e jogou-se sobre Brianna, usando o próprio corpo como escudo,
protegendo-a enquanto seus homens chegavam mais perto.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 71


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Bleddyn e Connor tinham voltado, seguindo Cloud Dancer, que dera outro
grito agudo chamando por eles.
Brianna estava de bruços. Quando Bleddyn cortou o cobertor e expôs suas
costas, viram a pele delicada já arroxeada em diversos pontos. Estendeu as mãos
para tocá-la, mas Damron segurou-lhe o pulso, impedindo-o.
— Não se preocupe, Damron, eu tenho o dom da cura — Bleddyn o
tranqüilizou.
Só depois de se assegurar de que não havia nenhum osso quebrado, o
galês a virou de frente.
As mãos de Bleddyn ficaram cobertas de sangue, e Damron sentiu o
coração dar um salto ao ver a lateral do rosto de Brianna ferida. Bleddyn limpou o
sangue com um pano, revelando as marcas de dentes.
— Antes de matar esse monstro com as minhas próprias mãos, vou soltar
meu lobo selvagem, Guardião, em cima do canalha — disse Damron. — Ele irá
sentir as presas de um demônio tão maldito quanto ele. Eu juro pelo meu Deus.
Enquanto Damron falava, Bleddyn tirou um pequeno frasco da bolsa presa
na sela de seu cavalo. Abriu-o com cuidado e encharcou cada ferida com o líquido
branco. Tinha de agir depressa, pois os cortes poderiam infeccionar rapidamente.
Quando chegaram de volta ao acampamento, Damron a carregou para
dentro da tenda e, com mãos trêmulas, acomodou-a na cama. Bleddyn pegou sua
sacola com ervas e o seguiu.
— Malcolm — disse o galês —, traga-me a maior quantidade de uísque
escocês que conseguir com os guerreiros.
Enquanto cuidavam de Brianna, viram as marcas horríveis de dedos no
pescoço dela. Seu maxilar tinha inchado bastante, e estava avermelhado e quente.
Bleddyn fez uma solução com folhas maceradas e água quente, mexendo-a
vigorosamente até que ficasse numa temperatura suportável. Damron levantou a
cabeça da esposa com cuidado, enquanto o galês colocava colheradas do líquido
morno em sua boca.
Com grande carinho, Bleddyn acariciava o pescoço de sua menina e
murmurava palavras em gaélico para que ela engolisse o remédio. Quando
Brianna abriu os olhos, o galês pediu a Damron que a segurasse com firmeza,
enquanto alcançava a jarra com uísque que Malcolm trouxera.
Damron prendeu a cabeça de Brianna entre os joelhos. Bleddyn verteu o
uísque nos ferimentos do rosto e nas feias marcas de unhas no pescoço. Ela deu
um grito rouco e desmaiou novamente. Aproveitando a inconsciência de Brianna, o
galês limpou cada ferimento com mais uísque e aplicou um bálsamo de pétalas de
calêndula sobre cada um deles. Se o bálsamo funcionasse como esperado, as
cicatrizes seriam mínimas, embora permanentes.
Damron ficou ao lado dela todo o tempo. Quando os outros guerreiros
retornaram, ele ordenou a Malcolm que revistasse os dois raptores mortos para
tentar obter alguma pista sobre suas identidades ou a quem estavam servindo.
Quando Malcolm voltou, relatou que os agressores tinham raspado as

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 72


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

barbas e os cabelos para não ser identificados. Não traziam nenhum tipo de jóias
ou itens que tivessem um entalhe ou brasão. Nem mesmo as armas que usavam
eram marcadas. Frustrado, Damron ordenou que jogassem os corpos no primeiro
barranco que encontrassem.
Jamais negara um enterro cristão a qualquer inimigo. Contudo, esses
monstros não tinham sido inimigos dignos de qualquer piedade.
Haviam ousado ferir sua esposa.
Bleddyn observou o céu, procurando por Cloud Dancer. Quando a águia
gritou, o místico assobiou e ergueu o braço. Com um bater majestoso de asas, a
ave pousou em seu antebraço.

Os dois trocaram assobios curtos e rápidos, então Bleddyn apontou para a


árvore ao lado da tenda, e a águia foi pousar num galho mais forte. Seus olhos
dardejavam por tudo o que se movia à sua volta.
— Aquele que ainda está foragido se escondeu — informou o galês. —
Escapou para a parte mais densa da floresta, e Cloud Dancer não conseguiu vê-lo
do alto.
— Deus do céu, Bleddyn! — Damron explodiu. — Você disse que era capaz
de pressentir qualquer perigo que rondasse Brianna! O que aconteceu com o seu
"dom divino" de premonição?
— Os bandidos já estavam aqui antes de chegarmos — respondeu Bleddyn.
— Não consegui pressentir o líder porque o barulho da cachoeira encobriu os
pensamentos dele.
Damron lamentou não poder dar a Brianna tempo suficiente para se
recuperar, pois partiriam assim que o dia raiasse. O monstro que a atacara ainda
devia estar por perto e poderia voltar com mais homens para terminar o serviço.
Mas ele não teria essa chance.
Bleddyn fez outra mistura de ervas e uísque e forçou Brianna a ingeri-la. Em
segundos, ela parou de tremer e adormeceu. Mas durante a madrugada, começou
a delirar e a falar enquanto dormia.
— Por favor, Gordon, você prometeu... — disse com voz chorosa. — Você
nunca está aqui nos meus aniversários, e eu planejei um dia especial só para nós
dois...
Quem era esse tal de Gordon?! Com quantos homens Brianna se envolvera
antes dele? Damron tinha ímpetos de esmurrar alguém. Cerrou os dentes e passou
um pano úmido em seu rosto febril. De repente, ela abriu os olhos, mas seu olhar
vagava pela tenda, como se estivesse vendo o tal Gordon.
— Você nunca cumpre as suas promessas — disse, com o rosto banhado de
suor e lágrimas. — E ainda assim jura que me ama!
— Não se preocupe Damron — Bleddyn tranquilizou-o. — Eu coloquei
também sementes de papoula no elixir que dei a Brianna. Ela não tem a menor
idéia do que diz. Essa pessoa com quem está falando só existe em sonho.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 73


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

O comentário acalmou a raiva de Damron. Porém, momentos depois,


Brianna tornou a se debater.
— Você me fez vir para cá! — disse ela em delírio. — Eu sei que é minha
culpa, mas, por favor, mande-me de volta! — ela gritou e olhou no rosto de
Damron, como se o reconhecesse.
— Eu nunca vou mandá-la de volta. Você será minha para sempre. — Ele
não conseguia compreender a própria reação violenta diante do pedido de Brianna
para retornar à abadia.
— Nunca mais peça que eu a deixe partir. — Ele a pegou nos braços e a
colocou no colo.
Brianna explodiu num choro convulsivo. Os soluços a sacudiam
violentamente, e gemidos de puro sofrimento saíam de seus lábios. Vendo a
agonia em que ela se encontrava, Damron também soltou um gemido de
desespero.
— Santo Deus, seu galês místico! Dê-lhe alguma coisa antes que acabe por
se ferir ainda mais!
Bleddyn preparou outra poção e forçou-a a beber, murmurando palavras de
conforto que, de início, Damron não conseguiu ouvir. De repente, um nome
chamou sua atenção.
— Sim, meu bem — disse Bleddyn. — Gordon é fiel a você e está à sua
espera, mo maise, minha linda.
Damron ficou tão transtornado que agarrou o pescoço do homem, mas, ao
ver que ela sorriu e depois se acalmou, não soube o que fazer.
— Você chama Brianna de "meu amor" e "minha linda", mas ela não é sua, é
minha! — afirmou ele em voz baixa, porém áspera. — Você diz a Brianna para
voltar para esse outro amor, mas eu arrancarei o coração dele, se ela assim o fizer.
— Brianna tem sido "minha linda" e "meu amor" desde o dia em que nasceu
— respondeu Bleddyn. — Ela precisa da segurança de um amor incondicional,
agora que não tem Alana nem Galan nem o pai ou tios e tias para protegê-la.
Brianna tem somente a mim para dar esse amor. A papoula que coloquei na poção
a ajudará a se curar, mas também faz com que veja e ouça coisas que não existem
para ela. Assim, sua mente lhe dá um amor no qual se apegar.
De repente, Damron ficou surpreso com a intensidade de seus próprios
sentimentos. Desde o momento terrível em que soubera do perigo que Brianna cor-
ria, tinha sede de matar, e quando aquele monstro a ferira, havia sentido uma
necessidade primitiva, não somente de matar, mas de fazê-lo lentamente, para que
o maldito sofresse e agonizasse e morresse aos poucos diante de seus olhos.
Mas agora, a dor que ela sentia estava dilacerando seu coração. O
sofrimento e a saudade desse tal de Gordon torturavam-no. Seriam mesmo
alucinações causadas pela papoula na poção? Imaginar que Brianna poderia amar
outro tão profundamente acabava com toda a sua paz de espírito.
Brianna acordou na manhã seguinte com uma dor de cabeça absurda e com
o corpo tão dolorido que parecia ter sido atropelada. Ouviu os movimentos de

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 74


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Damron enquanto ele fazia os preparativos para prosseguirem viagem. Daria


qualquer coisa por um analgésico bem forte, pensou.
— Como está se sentindo, minha esposa? — A voz dele era áspera em
contraste com a mão gentil que a tocava na cabeça. — Depois de trocarmos os
seus curativos, iremos embora deste lugar amaldiçoado.
— Por favor, não grite — ela implorou. — Minha cabeça vai explodir. — As
palavras saíram arrastadas de sua boca, pois mal conseguia mexer o maxilar sem
que tivesse fisgadas de dor no rosto e no pescoço.
Bleddyn ajeitou as cobertas enquanto a ajudava a se sentar. Ofereceu-lhe
uma caneca de chá com uma mistura de ervas contra a dor. Depois examinou e
trocou cada uma das ataduras. Nenhum dos ferimentos apresentava sinais de
infecção.
— Brianna, conte-nos sobre os homens que a atacaram — pediu Damron.
— Milorde, eu não vi nada. Eu tinha mergulhado e estava nadando de volta à
superfície quando ele me agarrou pela cintura e me puxou para baixo — disse ela
rapidamente, pois as memórias vinham aos borbotões. — Houve um instante em
que acho que vi o cabelo dele se embaraçando com o meu, ou talvez fosse algo na
água. Mas era claro... talvez loiro. Quando o sujeito me tirou da água, eles me
embrulharam num cobertor.
— Mais alguma coisa? — Damron insistiu.
— O homem estava nu por baixo do manto que usava. Quando a águia o
atacou, eu mordi a coxa dele. Ele apertou o meu pescoço até que eu o soltasse.
— O que mais, meu bem?
— Ele disse: "Você ainda será minha!". Então se inclinou e... — Ela fez uma
careta. — Seus dentes eram tortos e podres, o hálito dele fedia quando me mordeu
no rosto...
Damron virou de costas e ficou na entrada da tenda, olhando para fora.
Depois de um longo tempo, voltou-se para a esposa e a ajudou a se levantar e a
se vestir. Quando terminaram, levou-a no colo até Malcolm, que já a aguardava
sobre o cavalo. Ela cavalgaria com ele, sentada sobre uma almofada e alguns
cobertores para seu maior conforto. Damron a ergueu para que Malcolm a
acomodasse.
— Encoste-se nele, Brianna — Damron orientou-a e depois se dirigiu ao
cavaleiro: — Não deixe que o cavalo se movimente muito; assim ela não sentirá
mais dores.
Não tinham percorrido nem um quilômetro quando ela começou a se sentir
sonolenta. Dormiu e só acordou quando pararam para descansar e dar água aos
cavalos. Depois de algumas horas, Damron a colocou para cavalgar sob a
proteção de outro cavaleiro, para que Malcolm também pudesse descansar.
Nos dias seguintes, eles seguiram para o Norte, ao longo da baía Cromarty
Firth, em direção a Ardgay. As montanhas não eram íngremes, mas eles procura-
vam ficar nos vales abertos sempre que possível.
Numa dessas manhãs, Brianna acordou e viu Damron já vestido, com
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 75
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

elegância. Estava realmente muito bonito. Bonito demais...


— Bom dia, esposa. Ficaria muito agradecido se pudesse se vestir o mais
rápido possível.
— E com isso, saiu da tenda.
Quando se uniu a Damron do lado de fora, já vestida, Brianna não teve que
esperar muito para
perceber que se tratava de um dia especial. De repente, um grupo enorme
de homens surgiu da floresta dando gritos de guerra.
— Santo Deus... — murmurou.
Nunca, em nenhuma de suas vidas, vira tamanha exposição de corpos
sujos, pele nua e cabelos longos.
— Esses homens vivem nos limites dos meus domínios, Brianna — informou
Damron.
— Não os deixe perceber que está amedrontada. — Em seguida,
apresentou-a ao grupo.
Os homens a estudaram, prestando grande atenção ao rosto ferido. Com
certeza estavam pensando que tipo de mulher ela seria por já ter apanhado do
marido em tão pouco tempo de casamento.Quando Damron terminou, os homens
bateram suas espadas de encontro aos escudos e gritaram: "Uma Morgan!". Ela
sabia que se tratava de uma saudação, mas, mesmo assim, era assustador.
Continuaram a viagem rumo ao Norte, cruzando um pequeno riacho ao final do
lago Loyal. Durante a passagem entre as montanhas Loyal e Stumanadh, Damron
ordenou que parassem para que Brianna pudesse esticar as pernas e se refrescar.
Dentro em breve chegariam a Kyle de Tongue, um estreito que separava as
terras onde se localizava o Castelo Blackthorn da baía de Tongue. O castelo em si
ficava no alto de uma colina, de onde era possível ver o estreito e a baía.
Damron ordenou que o gaiteiro, que sempre o acompanhava, ficasse à
frente para anunciar a chegada do grupo quando fosse o momento. Passaram pelo
topo de uma pequena colina e finalmente saíram da floresta, onde o terreno se
elevava suavemente por vários quilômetros. O caminho verdejante terminava numa
pequena vila, graciosamente ladeada por campos de plantações e pastagens atrás
das casas.
O castelo situava-se no centro de uma enorme clareira cercada por fortes
muralhas.
Brianna sentiu o coração disparar. Aquele castelo estava marcado em seu
coração e em sua alma, tanto com amor quanto com medo. No século XXI, passa-
ra inúmeros meses de sua vida explorando as ruínas. Mas nenhuma daquelas
expedições a tinham preparado para o momento em que viu o imenso castelo
diante de seus olhos.
Damron incitou Angel a um trote. Brianna, em sua égua, manteve o passo ao
lado dele. Enquanto subiam a trilha íngreme para a entrada do castelo, o portão
maciço foi içado. A entrada em arco dava para um pátio principal, onde outro
portão externo protegia a construção.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 76
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

As laterais da passagem ficaram apinhadas de homens. Nesse instante,


Damron e Connor deram gritos de guerra do clã Morgan. Ondas de excitação
tomaram o corpo de Brianna ao ouvir os cascos dos cavalos sobre a ponte
levadiça que fora baixada. Embora o castelo não passasse de ruínas no futuro, a
entrada pela ponte e pelo pórtico não tinha sofrido muito a ação do tempo.
Quando finalmente chegaram ao pátio principal, um grande número de
pessoas os aguardava nos degraus da entrada.
As portas pesadas do castelo se abriram, e uma mulher alta e belíssima
apareceu. Recolheu a barra da saia e veio correndo até eles, afastando as mãos e
braços que tentavam impedir seus passos. Brianna estudou a mulher, e sua
identidade ficou perfeitamente clara.
Era a amante de Damron.
Tinha o cabelo longo, liso e loiro puxado para trás num arranjo simples que
lhe acentuava as feições perfeitas. Seu rosto era pálido como uma porcelana
delicada, e os olhos de um azul límpido. A túnica vermelha que ela trajava,
bordada com fios dourados, se amoldava ao corpo de tal forma que os seios fartos
pareciam prestes a arrebentar o tecido e a se libertar a qualquer instante.
Até aquele momento, ela jamais se sentira inadequada. Mesmo depois de se
casar com Gordon, tivera diversos admiradores e por várias vezes se sentia in-
comodada com os assédios. Porém, agora, com o rosto machucado, depois de
viajar sobre o lombo de um cavalo por sabe-se lá quantos quilômetros, tinha cons-
ciência de que sua aparência não era das melhores. Desejou estar perto o
suficiente para colocar o pé na frente daquela mulher atrevida e fazê-la tropeçar e
cair de cara no chão.
Damron mal tinha descido de Angel quando a mulher se jogou em seus
braços e beijou-o nos lábios...
O pátio ficou em silêncio. Antes que alguém aparecesse para ajudá-la,
Brianna desceu do cavalo da forma mais graciosa e elegante possível. Em questão
de segundos, chegou ao lado de Damron e da mulher que ainda estava grudada
nele como uma sanguessuga.
— Devo presumir que é alguma prima sua senhor meu marido, ou alguma
amiga de longa data?
Finalmente ele conseguiu se libertar dos braços da outra.
— Ah, sim. Senhora minha esposa, permita que eu a apresente a lady
Asceline de Monceaux, da corte do rei William. E presumiu corretamente, ela é
uma amiga especial, da Normandia. Lady Asceline, esta é minha esposa, lady
Brianna.
Brianna sentia a raiva pulsando em suas veias. Pronto, agora tinha sua
resposta. Damron era exatamente como Gordon. Sem honra. E juntamente com a
raiva, veio a decepção, até mesmo o pesar. Como se tivesse recebido uma notícia
de alguma tragédia com algum ente querido.
Mas antes que pudesse dizer algo mais, um jovem gaiteiro também se jogou
nos braços de Damron. Seu corpo bem delineado mostrou que não se tratava de

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 77


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

um rapaz.
— Seu grande tolo! Não começou bem cumprimentando sua amiga antes de
apresentar sua esposa! — disse a moça.
— Meu nome é Brianna Sinclair. E você deve ser a irmã de Connor...
— Brianna Morgan, querida — Damron corrigiu-a. — E, sim, esta é Meghan,
minha prima.
Meghan estreitou os olhos e analisou Brianna. De repente, explodiu num
palavreado em gaélico e se virou para Damron:
— Seu idiota! Não tem vergonha nessa cara? — Deu um forte soco no
ombro dele, que não se moveu um milímetro.
— Não é nada do que está pensando, sua maluca! — interveio Connor,
segurando os braços da irmã.
— Um bandido tentou raptar Brianna. Foi ele quem a feriu. Damron não tem
culpa nenhuma nisso.
— Ah, tem, sim! — retrucou Meghan. — Era obrigação dele tomar conta da
esposa.
Sem dizer nada, Damron passou por Meghan e se dirigiu até uma mulher
corpulenta e de mais idade.
— Eu sou Phillipa, mãe de Damron — disse ela ao abraçar Brianna. — Estou
encantada em finalmente conhecê-la, minha filha.
— Eu também, milady — respondeu Brianna com uma leve reverência.
Sentiu a presença de Nathaniel atrás de si e apresentou-o como um príncipe do
País de Gales.
Olhou então para a imponente escadaria que ligava o pátio aberto à entrada
principal, no segundo andar. Degraus de madeira levavam a um primeiro patamar,
e os seguintes terminavam em frente a uma enorme porta de madeira, aberta no
centro. A última vez em que estivera na entrada do castelo, aqueles mesmos
degraus levavam para os restos da construção, onde apenas parte das paredes
externas tinham resistido. E agora sentia o coração descompassado pela
ansiedade.
À medida que Brianna entrava no castelo, olhava de um canto a outro,
ansiosa por conhecer aquela construção que amara por toda a sua vida passada.
Ou futura?
— Meghan, como as pessoas saberão que você é uma dama se insiste em
se vestir como um guerreiro? — lady Phillipa a repreendeu, e se virou para Brianna
com um sorriso: — Ela foi apelidada de "Guerreira de Blackthorn". É tão habilidosa
com a espada quanto nossos soldados. Na verdade, é melhor do que alguns deles.
Nesse momento, Damron se virou para a prima e franziu o cenho.
— Mocinha, está escondendo as suas curvas para se esgueirar para fora do
castelo e encontrar alguém às escondidas? — perguntou.
— Não, senhor — respondeu ela, irritada. — Tenho permanecido o tempo

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 78


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

todo no castelo, fazendo tudo o que tia Phillipa me pede. E trabalhei num projeto
que não... saiu conforme o que eu tinha em mente.
— Se tivesse saído conforme o que você tinha em mente, não pareceria tão
infantil — rebateu Asceline.
— Do que estão falando? — Damron quis saber.
— Quando recebemos a notícia de que você iria se casar — explicou a mãe
—, Meghan desenhou e bordou uma peça de tapeçaria para celebrar o evento e
presentear vocês...
— Sim, mas veja o horror que a peça ficou — Asceline a interrompeu com
um olhar vitorioso e mostrou a peça ao casal.
Os lábios de Brianna se abriram num sorriso, e Damron também sorriu. A
tapeçaria fora bordada em cores brilhantes, com árvores de vários tons de verde
ao fundo, com uma trilha saindo delas. Um céu azul-celeste com nuvens brancas
na parte de cima e, ao lado direito, um riacho prateado. Estava tudo realmente
muito bem-feito, exceto pelas pessoas e cavalos, que eram como "bonecos de
vareta"; representados apenas por traços retos. Brianna só conseguiu diferenciá-
los pelas cores dos cabelos; estavam ali ela, Damron e Connor, cavalgando na
trilha.
— É lindo! Muito colorido e alegre! — Brianna elogiou, com sinceridade. —
Vou adorar colocá-la num lugar onde eu possa vê-la todos os dias ao acordar. —
Tirou a peça delicadamente das mãos de Asceline e abraçou Meghan.
— Venha, Brianna, vou levá-la ao seu quarto, assim você poderá se
refrescar da viagem.
— Meghan sorriu e praticamente a empurrou em direção às escadas.
Quando chegaram a um quarto, ela disse: — Este é o quarto de Damron. Os
criados já trouxeram os baús com as suas roupas, e Mari será a sua dama de
companhia.
Ela se virou e viu Mari, que ficou horrorizada ao deparar com os ferimentos
no rosto de sua senhora, mas acabou por sorrir amavelmente.
— Agradeço pela companhia, Mari, mas eu não partilharei o quarto com
lorde Damron — ela informou. — Um quarto modesto será suficiente para mim.
— Isso não será necessário. Mari pode ir — Damron disse ao entrar, e fez
um aceno de cabeça para Meghan, ordenando que também se retirasse.
— Seu crápula, sem-vergonha! — Brianna praticamente vomitou as palavras
sobre ele.
— Se você acha que vou ficar neste quarto enquanto ela estiver aqui, está
redondamente enganado!
Se havia uma coisa que ela não podia suportar era um homem infiel. O
sofrimento que enfrentara com a traição de Gordon a ensinara a nunca mais
permitir que seu coração ou sua dignidade fossem afetados.
— Você vai partilhar este quarto e também aquela cama comigo! — ordenou
ele, muito sério. — Não faça birra!

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 79


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Birra? Você chama isto de birra?! — Ela estava furiosa. — Você deve
estar louco se acha que dormirá na minha cama após ter se deitado com aquela
vadia! Arrume outro lugar para dormir, porque comigo não será!
— Você vai dormir comigo esta noite, e em todas as outras. — Agora era ele
quem estava irritado. — Não pense que vou viver como um monge se continuar a
se negar para mim. Comporte-se e obedeça, a não ser que prefira sentir o peso da
minha mão no seu traseiro. E quanto à minha amiga, ela não lhe diz respeito. —
Ele saiu do quarto.
Por sorte, as paredes eram grossas o bastante para abafar a saraivada de
palavrões futuristas que Brianna soltou.
Damron quase derrubou Asceline no chão, pois ela estava do lado de fora do
quarto, esperando-o.
— Como se atreveu a vir sozinha da Normandia para cá, sem que eu a
tivesse chamado?
— Ele praticamente a empurrou escada acima, em direção ao quarto que ela
ocupava, no pavimento superior. Chegando lá, fechou a porta com um pontapé.
Asceline se virou e colou os lábios nos dele, mergulhando a língua em sua
boca.
— Sua diabinha! — Ele a afastou. — Ainda não respondeu por que veio para
cá, e sozinha!
— Porque sei que não consegue ficar por muito tempo sem ir para a cama
comigo. O seu casamento ridículo com essa saxã franzina nunca foi do seu
agrado. Só eu sei como satisfazê-lo.
Só de lembrar como Asceline, de fato, o satisfazia, Damron ficou excitado.
Mas antes que se encostasse nela, percebeu o que estava prestes a fazer, xingou
baixinho e deixou o quarto, furioso consigo mesmo.
Asceline trazia à tona o que havia de pior nele. Não pedira que ela viesse.
Sabia muito bem que não devia colocar a esposa e a amante sob o mesmo teto.
A verdade era que não a queria ali. Assim que terminasse de vistoriar
Blackthorn e de ordenar as providências necessárias, decidiria o que fazer com
Asceline.
Ouviu de repente os gritos irritados de seu avô, lorde Douglas, e apressou o
passo. Entrou no quarto que ele ocupava e o viu sentado, recostado em inúmeros
travesseiros. Tinha os olhos marcados por olheiras profundas, porém mantinha o
mesmo tom autoritário na voz.
— Não pense que vou esquecer o que me contaram sobre você — disse o
velho senhor enquanto Damron o abraçava afetuosamente. — Não vou culpar a
moça se ela o chutar para fora da cama depois de você ter cumprimentado sua
amante na frente dela!
— Não se meta nisso, vovô — pediu Damron. — Brianna vai aprender que
esse assunto não diz respeito a ela. Eu terei meus prazeres e terei meus herdeiros.
Mas eles não precisam, necessariamente, vir da mesma pessoa.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 80


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Damron acomodou-se para discutir com o avô os problemas que o


aguardavam em Blackthorn. Embora tivesse ficado ausente por dois meses, nada
mais sério, além do furto de algumas cabeças de gado, acontecera. Seus homens
tinham investigado o ocorrido, e os itens roubados haviam sido devolvidos pelos
próprios ladrões. Ele balançou a cabeça, desconsolado, ao saber que Meghan
liderara vários dos grupos de busca.
Segundos depois de Damron ter saído furioso de seu quarto, Meghan voltou
para fazer companhia a Brianna, que ficou maravilhada com o espírito livre e
independente da prima de Damron.
Uma hora mais tarde, depois de fazer várias perguntas e responder muitas
outras, Brianna estava ansiosa para conhecer "o ancião", como Meghan chamava
o avô afetuosamente.
— Lorde Douglas aguarda você, Brianna — anunciou Damron abrindo a
porta do quarto.
— Se conseguir se comportar como uma dama, e não como uma criança
birrenta, eu lhe agradeço.
— Traga as duas mocinhas e sejamos rápidos com isso! — lorde Douglas
gritou de seu quarto.
— Venha, não podemos contrariá-lo. — Meghan pegou na mão de Brianna.
Ao passar pelo primo, fez uma careta para ele.
Ao entrar no quarto, Brianna reparou nas janelas fechadas e nas peles de
animais, antes de seus olhos encontrarem os do homem que a avaliava com
curiosidade.
— Muito prazer em conhecê-lo, lorde Douglas — disse, fazendo uma leve
reverência.
— Meu nome é Brianna Sinclair.
— Brianna Morgan — Damron a corrigiu pela segunda vez em poucas horas.
— Venha aqui — pediu lorde Douglas —, deixe-me cumprimentá-la de
maneira apropriada.
— Indicou que ela se sentasse a seu lado na cama. Em seguida, afastou-lhe
gentilmente o cabelo para ver os ferimentos. — Vão sarar logo, mas essas
cicatrizes em meia-lua ficarão para sempre no seu rosto. Você revidou a mordida
do sujeito, minha criança?
— Eu não consegui libertar minhas mãos, senhor, então mordi a coxa dele.
— Ela franziu a testa e murmurou: — Tomara que a perna do bandido infeccione e
suas partes íntimas apodreçam.
Damron ficou boquiaberto com o comentário. Meghan apontou para o rosto
estupefato do primo e riu. Lorde Douglas explodiu numa gargalhada até tossir e se
recostar, exausto, nos travesseiros, com lágrimas nos olhos.
— Já o cansamos demais por hoje, senhor — disse Brianna. — Posso vir
aqui com lorde Bleddyn após o jantar? Vai gostar dele, pois é muito habilidoso com
seu dom de cura. Agora vamos deixá-lo descansar. — Ela fez um gesto para que

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 81


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Meghan e Damron a acompanhassem.


Damron levou Brianna para se sentar ao seu lado à mesa de jantar, com a
mãe ao lado dela. Quando todos os convidados se acomodaram em seus lugares,
ele a apresentou. Franziu o cenho quando Asceline fez uma careta irônica e se
sentou no banco à sua direita. Enquanto comiam, Damron procurou ignorar as ten-
tativas de sua amante em chamar-lhe a atenção.
— Há um lobo no quarto, pelo que ouço — Nathaniel avisou Brianna
enquanto se encaminhavam para os aposentos de lorde Douglas após o jantar. —
Seu nome é Guardião, e vai tentar intimidá-la com um rosnado e com os dentes à
mostra.
Quando entraram, Guardião ficou em pé, arreganhou os dentes e rosnou
ameaçadoramente. Fixou os olhos em Brianna e desceu da cama.
— Guardião? Como se ele fosse um anjo da guarda, não é isso? —
perguntou ela para lorde Douglas, que assentiu com um sorriso. — Sente —
ordenou. Apontando para o chão, mas o animal continuou a avançar. — Eu mandei
sentar, seu saco de pulgas! Antes que o bicho percebesse o que estava
acontecendo, ela agarrou-lhe a pele acima do pescoço. — Quando eu falo, você
obedece! — Empurrou-o para baixo. — E nunca mais rosne para mim. Já tenho
problemas demais para ter ainda que lidar com a sua desobediência.
Guardião colocou a língua para fora, e um ar de adoração se fixou em seus
olhos. Satisfeita, Brianna fez um aceno de cabeça e o deixou ali, deitado.
— Olá, vovô. Importa-se se eu o chamar assim? Ficou feliz quando ele sorriu
e negou com a cabeça.
— Este é lorde Bleddyn, que possui um maravilhoso dom de cura. Ele
preparou uma poção para aliviar a sua tosse.
— Eu não vou tomar poções de excremento de morcego, ranho de caramujo
ou urina de bode, se for isso do que esse remédio é feito. Não vou tomar nada que
venha das partes baixas de nenhuma criatura.
— Não, senhor — respondeu Bleddyn. — Eu usei sumo de cebolas,
cenouras e salsinha. Tem um sabor muito agradável e vai lhe garantir o descanso
merecido.
— Está bem, vou tentar. Se for melhor do que as poções de Phillipa, não irei
reclamar.
— Aproximou o rosto da caneca e cheirou o conteúdo. — Hum, o cheiro é
bom. — Tomou um gole e sorriu. — E o gosto também. Agora vá para o seu
quarto, Brianna, antes que Damron venha procurá-la. Quero ter uma conversa com
este seu amigo curandeiro.
— Deu-lhe uma piscadela enquanto fazia um gesto com a mão ordenando
que saísse.
Brianna deu um beijo estalado na bochecha de lorde Douglas e fez um
carinho em Guardião.
— Nós seremos amigos e vamos nos divertir muito juntos — sussurrou ela.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 82


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

O cão lambeu seus dedos e depois ficou observando-a sair.


— Conte-me tudo desde o dia em que William o forçou a aceitá-la como
esposa — pediu lorde Douglas, dois dias depois, sentado numa cadeira ao lado da
cama. — Brianna é uma moça muito bonita, tem personalidade e caráter fortes e,
sinceramente, não sei o que os está atrapalhando. Damron sempre desabafara
com o avô e não hesitou em contar sobre todos os confrontos que tivera com a
esposa. Quando começou a relatar sua estranha noite de núpcias, sentiu a voz
falhar, e lorde Douglas começou a rir.
— Não acharia tão engraçado, vovô, se fosse o senhor a estar tão excitado a
ponto de explodir — Damron reclamou.
— Então, seu casamento só será consumado depois que se casarem
perante um padre? — perguntou lorde Douglas depois de acalmar o riso. — Ora, é
simples: envie a data para os familiares dela e traga-os para a cerimônia, tudo por
conta dos Morgan. Case-se antes da próxima lua cheia. Nesse meio tempo,
seduza-a aos poucos. Brianna deve estar com medo de servi-lo na cama.
— Ela não tem medo de nada — disse Damron.
Um barulho os interrompeu. Brianna e Meghan entraram no quarto, seguidas
por um pequeno cortejo de servos. Quando ouviu o primeiro grito do avô, Damron
sorriu. Lorde Douglas estava prestes a experimentar a personalidade independente
de sua esposa.
Tanto Brianna quanto Bleddyn acreditavam que as tapeçarias empoeiradas,
as peles mofadas de animais e os tapetes embolorados no quarto do avô não
faziam bem para a sua saúde. Sem contar a fumaça do incensário e das inúmeras
velas que ele sempre exigia.
Damron deixou o quarto silenciosamente e se encostou na porta do lado de
fora. Escutou a explicação preocupada de Brianna e esperou pela explosão do
avô. Quando o ouviu urrar de raiva, sorriu e foi embora.
— Você vai fazer o quê?! — vociferou lorde Douglas.
— Enquanto eu estiver nesta cama, nunca!
— Não pode ficar nervoso assim, vovô, não faz bem para o seu coração. —
Brianna se manteve firme. Passou para ele um pequeno frasco e um copo.
— Tome um pouco deste uísque que foi feito especialmente para o senhor.
Os olhos de lorde Douglas flamejavam ao tomar pequenos goles da bebida.
Ele observou Brianna atentamente enquanto ela, com voz calma, porém firme,
dava ordens e instituía uma espécie de caos organizado. As peles emboloradas de
animais foram tiradas das janelas, assim como as cobertas de pele e a caixa com
penas de aves ao lado da cama. Todos os itens saíram voando pela janela em
direção ao pátio interno. A lareira foi esvaziada, lavada e raspada, assim como o
chão e as paredes. Horas depois, o cômodo recendia a sabão e a madeira
encerada.
Outros servos trouxeram roupas de cama limpas, lençóis de algodão e
mantas de lã entrelaçada com algodão grosso. Trocaram os travesseiros por
outros de ervas aromáticas, feitos pessoalmente por Bleddyn, e os colocaram

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 83


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

sobre a cama. Para substituir os incensários, vários braseiros de ferro com carvão
incandescente foram posicionados nos cantos do quarto.
Quando Bleddyn voltou ao aposento, Guardião entrou correndo pela porta e
se acomodou ao lado da cama, começando a se cocar vigorosamente, lançando
ao ar uma nuvem de pelos.
— Pare! — gritou Brianna, e o cão obedeceu. — Venha comigo, seu monstro
pulguento. Não vai estragar as coisas aqui depois de todo o trabalho que tivemos.
Puxou o animal para fora do quarto, acompanhada de perto por Meghan e,
quando chegaram aos portões do castelo, Malcolm as seguiu para protegê-las.
Correram em direção a um pequeno lago abrigado por árvores, a cerca de cem
metros de distância do castelo.
— Obrigada por vir conosco, sir Malcolm — ela agradeceu. — Mas agora
fique de costas até que terminemos.
Só depois de vê-lo obedecer, as duas tiraram as túnicas e ficaram apenas de
combinação. Meghan pegou uma barra de sabão e ajudou Brianna a levar
Guardião para dentro do laguinho. Brianna tossiu e tremeu. Talvez não tivesse sido
uma boa idéia entrar na água. Tinha a impressão de que iria pegar um resfriado,
mas agora era tarde demais. Aplicou quantidades generosas de sabão em
Guardião, e as duas o esfregaram por vários minutos. Quando haviam enxaguado
tudo, exceto a cabeça dele, Brianna fez uma espécie de penteado punk no cão,
arrancando risos de Meghan. Ela riu também, mas se contraiu pelo esforço, pois
seu rosto ainda doía.
— Que loucura é essa que está fazendo, Brianna? Ela deu um salto e
afrouxou a mão. Guardião escapou da água e se dirigiu a Damron, abanando o
rabo.
— Onde está Malcolm? — Brianna quis saber.
— Mandei que fosse avisar Bleddyn de que precisaremos dos seus serviços
de cura.
— Para quem?
— Para você — informou ele. — Você é muito frágil e não está acostumada
com o nosso clima frio. Quer ficar doente? Não pense que não a ouvi tossindo
agora há pouco. Saia da água já!
— Vire-se primeiro. Preciso pegar Guardião de novo e enxaguá-lo.
— Meghan, onde estava com a cabeça quando concordou em ajudá-la? —
indagou Damron.
— Ela não tem a resistência escocesa. Brianna, deixe que Meghan termine
essa tarefa. Por favor, saia da água.
— Brianna, eu concordo com ele. Vá trocar de roupa antes que pegue um
resfriado — disse Meghan, já saindo da água e chamando Guardião, que obede-
ceu imediatamente.
Quando chegaram ao castelo, Damron a carregou para o quarto, onde
Bleddyn já o aguardava, com a mesma poção que havia dado a lorde Douglas.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 84


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Damron se sentou, com ela no colo, na cadeira ladeada por dois baldes de ferro
repletos de carvões em brasa.
— Trate de beber tudo, Brianna — ordenou. — Não quero saber de ouvi-la
tossindo à noite e perturbando o meu sono.
O mel na poção aliviou a garganta de Brianna. Quando terminou a segunda
caneca da bebida, sentia-se aquecida, e sua tosse havia diminuído.

CAPÍTULO III

Dias depois, Brianna ainda não fora para o salão para a refeição da tarde,
quando Damron retornou dos campos de treinamento com os guerreiros. Ficou
preocupado, pois temia que ela tivesse piorado do resfriado. Subiu os degraus de
dois em dois e entrou no quarto correndo, para encontrá-la remexendo no baú de
roupas.
— O que está procurando, Brianna? Dinheiro? — ele indagou. — Não?
Armas, então? Não vai encontrar nada disso aí dentro.
— Estou procurando meu colar. Onde ele está?
— Está muito bem guardado. — Damron tirou uma bolsa de veludo do baú
atrás daquele em que ela estava procurando. — Você só pode usá-lo quando eu
disser que pode. — Virou-a de costas para ele e colocou a corrente em seu
pescoço. O pingente brilhou suavemente.
À noite, após o jantar, Brianna e Damron entraram no quarto. Uma
tempestade estava se formando nas colinas e se aproximava de Blackthorn.
— Aonde vai? Não vai se despir aqui? — ele perguntou ao vê-la se dirigir
para o local reservado, atrás do biombo. — Você não vai esconder o seu corpo de
mim, e não vai se esquivar dos meus carinhos.
Os olhos de ambos travaram uma batalha muda quando Damron colocou
uma cadeira embaixo da janela e sentou-se nela.
Brianna virou-se de costas e começou a se despir, tirando as peças pela
cabeça e jogando-as no chão sem cerimônia.
— Mari é sua criada, não sua escrava — disse Damron bem atrás dela. —
Recolha as roupas e deixe-as dobradas sobre o baú.
Ela se arrepiou inteira e agachou-se para pegar as roupas, tomando cuidado
para não tocá-lo. Depois de recolher as peças, dobrou-as e as deixou sobre o baú.
Ao ficar num pé só para tirar o sapato, perdeu o equilíbrio. Teria caído, não fosse
por Damron, que a agarrou pela cintura e a levou para a cama.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 85
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Você é assim desajeitada mesmo ou é essa a sua forma de me pedir


ajuda? — perguntou ele.
Damron se inclinou para segurar um dos pés dela e tirou-lhe o sapato.
Quando a mão dele subiu para soltar a fita que prendia a meia, Brianna sentiu o
coração disparar. Percebeu que Damron olhava, fascinado, para o tufo de pelos
que cobria sua feminilidade. Ele ergueu os olhos e a fitou com uma intensidade
que a fez sentir a boca seca.
— Você é muito bonita aqui, Brianna...
Um relâmpago cruzou o céu e iluminou o quarto, fazendo com que o desejo
estampado no rosto de Damron parecesse diabólico. Ele se virou e colocou o
castiçal com velas mais perto da cama. Em seguida, começou a tirar a própria
roupa, sem deixar de fitá-la.
Brianna se enfiou debaixo das cobertas e as puxou até o queixo.
Enquanto Damron dobrava as roupas que despira o as deixava sobre seu
próprio baú, ela teve tempo de observar as costas musculosas, as nádegas firmes
e enxutas e as pernas longas e esguias. Quando ele iria finalmente dizer-lhe como
ganhara aquela cicatriz horrível?
Sentiu uma suave lufada de ar frio quando ele afastou as cobertas para se
deitar.
— Quero olhar para você, minha esposa — murmurou Damron.
Ajoelhou-se ao lado dela e começou tocando-a nos dedos e plantas dos pés.
As mãos calejadas passearam com suavidade pela parte inferior de suas pernas,
subiram pelos joelhos e pararam no alto de suas coxas.
Ela sentia o coração martelando e prendeu a respiração. Desde quando seu
corpo começara a corresponder aos carinhos de Damron daquela forma? Estava
trêmula e pequenos espasmos a percorriam, como se estivesse com uma febre
muito alta.
No instante seguinte, as mãos dele se fecharam sobre seus seios. Damron
baixou a cabeça e beijou-a sensualmente, sugando o lábio inferior. Acariciou-a até
arrancar-lhe um gemido de prazer, colocando toda a sua resistência por terra. As
carícias se tornaram então mais urgentes e sôfregas.
Ele deslizou a boca por seu rosto, beijando-a no pescoço e colo. Com
lentidão calculada, foi descendo até que alcançou um dos mamilos rosados e
enrijecidos pelo desejo. Fechou os lábios quentes sobre um deles, circundando-o
com a língua e deixando-o úmido, para depois soprá-lo e fazer com que ela
estremecesse de pura excitação.
Brianna o puxou pelos cabelos para que se aproximasse mais. Seu corpo
estava claramente pronto para recebê-lo, mas ela resistia e o negava, mantendo as
pernas unidas.
Damron desceu a mão e cobriu-lhe os pelos escuros, abrindo caminho entre
as pernas com os dedos. Deliciado, suspirou de prazer, mas ao mesmo tempo se
amaldiçoou por haver feito aquela ridícula promessa na primeira noite em que
haviam dormido juntos. Agarrou-lhe os quadris, pressionando o membro rijo no

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 86


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

ventre, mas quando Brianna sentiu que ele ameaçava penetrá-la, esquivou-se.
Damron sabia que ela estava lutando para manter o controle. Por que diabos
se negava a ele e ao prazer que poderiam ter juntos? Não queria que ela
escondesse o desejo que sentia. Provocou-a, passando a esfregar a ponta do
membro intumescido no recôndito úmido e quente da esposa. Vendo-a arfar,
buscou com um dedo a pequenina e inexplorada entrada de seu corpo.
Ele sentiu ímpetos de urrar de orgulho quando o corpo de Brianna finalmente
a traiu. Beijou-a na boca para capturar seus gemidos de um êxtase que ela não
tinha como conter.
Quando seus tremores se acalmaram, ele a beijou no rosto, murmurando
palavras carinhosas. A cada vez que tentava falar, Damron a silenciava com mais
um beijo. Ele a aninhou e a confortou até que o sono a venceu e Brianna
adormeceu em seus braços.
Os relâmpagos e trovões continuavam a quebrar o silêncio da noite, e
Brianna acordou de repente.
Mesmo sem olhar para o lado, sabia que Damron não estava na cama.
Aonde teria ido? Levantou-se, vestiu uma capa e calçou os sapatos.
Quando abriu a porta e saiu para o corredor, Guardião também se levantou,
ao contrário da sentinela, que continuava roncando e não os viu irem em direção à
escadaria.
Ela queria ver a beleza da tempestade de cima da muralha e seguiu para o
lance seguinte de escadas, mas algo a fez parar... Gemidos... Vindos de um dos
quartos. Parou para escutar, e Guardião rosnou para a porta. De repente, um grito
de mulher em pleno êxtase cortou o ar, e Brianna percebeu tratar-se de Asceline.
Um poderoso gemido masculino, pontuando também o clímax, se seguiu ao dela.
Brianna começou a suar frio. Não... Não podia ser... Damron? Tinha vontade
de chutar a porta e ver quem estava ali dentro, mas Guardião se colocou entre ela
e a entrada. Empurrou-a com a cabeça, tentando encorajá-la a voltar para a
escadaria. Ela empurrou o cão para o lado e saiu correndo em direção aos
degraus, com os olhos já cheios de lágrimas.
Quando chegou às ameias, abriu a porta e foi recebida por uma rajada de
vento. Guardião tentava agora segurá-la, mordendo-lhe a barra da capa, mas ela
se inclinou contra o vento e seguiu caminho em direção ao pátio e à tempestade
que caía sobre a baía de Tongue.
A chuva chicoteava-lhe o rosto, e o vento erguia a bainha de sua capa. Os
relâmpagos caíam cada vez mais perto de Blackthorn. Guardião desistiu de segu-
rá-la e voltou correndo para dentro do castelo, uivando desesperadamente.
Damron parou de repente, com a mão ainda na porta principal, um pé nos
degraus do lado de fora. O pavor por Brianna esvaziou todo o ar de seus pulmões
quando ouviu o que parecia ser o gemido de algum animal fantasmagórico
ecoando pelas paredes. Virou-se para voltar correndo ao quarto e subiu os
degraus de dois em dois, praticamente voando em direção ao andar superior.
Guardião quase o derrubou ao encontrá-lo, deu duas voltas desesperadas

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 87


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

ao seu redor, com as patas arranhando o chão e escorregando ao mesmo tempo,


antes de sair correndo.
Damron o seguiu até as muralhas externas, e percebeu que Bleddyn estava
alguns passos atrás. Brianna estava na beira do penhasco, com os braços abertos,
desafiando a Deus e aos elementos. A beleza mórbida daquela cena fez o coração
de Damron dar um salto. Trovões ressoavam, a chuva caía furiosamente e os
relâmpagos riscavam o céu escuro com um espaço de tempo tão curto entre um e
outro que não havia um segundo de silêncio.
Os cabelos e a capa de Brianna flutuavam ao seu redor, como se ela fosse
um anjo negro.
— Lydia, não! — A voz de Bleddyn soou acima do som da tempestade e dos
uivos de Guardião. O místico deu um pulo e agarrou-a pela cintura. O vento erguia
sua capa enfeitada com penas de pavão ao redor de ambos. Seu antigo talismã
brilhou como se fosse uma centena de estrelas, e ele o segurou no instante em
que um relâmpago caiu sobre eles.
Foi como se o tempo parasse. O ar ficou com um cheiro estranho, forte.
Damron sentiu um arrepio na nuca e nos braços. Ficou ali, atônito, diante da cena
que se desenrolava à sua frente. Bleddyn e Brianna flutuando em pleno ar,
cercados por uma luz fortíssima. Seus corpos se desdobraram, como se houvesse
uma imagem espelhada de cada um deles. Uma aura azulada pairava em volta de
Brianna e luzes arroxeadas emanavam de Bleddyn, envolvendo a aura dela.
— Lydia, não! — Bleddyn gritou novamente.
Ele a chamara de Lydia? As duas auras se fundiram, como se estivessem
lutando uma contra a outra. Suas imagens cercadas pelas luzes se elevaram
acima de seus corpos. Damron entrou em desespero. Tinha a impressão de que
seu coração iria parar a qualquer momento. Tentou chegar perto deles, mas havia
uma espécie de barreira invisível que não o deixava prosseguir.
— Brianna! — Damron urrou.
Seu brado pareceu aplacar os trovões. Sem saber como, conseguiu chegar
ao lado de ambos, com os braços esticados e as mãos tentando agarrar qualquer
parte do corpo deles. Finalmente os alcançou, e os três caíram no chão de pedras,
com Brianna e Bleddyn presos em seus braços.
O dr. Christian MacKay olhou mais uma vez para o rosto inexpressivo de sua
paciente, na esperança de que aquele fosse o momento em que ela mostraria
algum sinal de melhora. Não conseguia entender a necessidade que sentia de
estar ali com ela. Passava todo e qualquer minuto que conseguia espremer de sua
vida turbulenta no hospital ao lado daquela cama.
Parava apenas para lanches rápidos, dormia míseras três horas e voltava
para ficar com sua paciente até o horário de fazer as visitas da manhã.
Tocou o rosto delicado com a ponta dos dedos. De repente, luzes estranhas
começaram a brilhar dentro do quarto e pararam na cabeceira da cama. Ele ficou
paralisado.
Sentiu o aroma de chuva no ar, encobrindo o cheiro impessoal de anticéptico

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 88


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

hospitalar. Devia estar tendo alucinações pela falta de descanso. Por que outra
razão veria pessoas vestidas daquela forma cercando sua paciente? Estavam
discutindo; ele via suas expressões e suas bocas se mexendo, mas não conseguia
ouvi-las. Uma delas, um homem com rosto de bárbaro e uma capa, mais parecia
um tirano medieval. E ela... linda... O cabelo desgrenhado caía em cascatas até a
cintura. E estava se fundindo com a sua paciente! Viu que o homem implorava,
desesperado, para que ela ficasse com ele.
De repente, os alarmes dos aparelhos começaram a tocar. Christian olhou
para a paciente e levou um susto: ela havia acordado e estava olhando fixamente
para ele! Ficou atônito, entorpecido até, como se tivesse levado um choque.
E levou um choque, pois percebeu que... ele a conhecia!
Sentiu uma urgência desesperada de tomá-la nos braços, como se sua alma
gritasse em sua mente, compelindo-o a se lembrar.
Christian agarrou as grades da cama e respirou fundo. Claro que a conhecia,
vinha tomando conta dela incansavelmente desde que havia sofrido um acidente,
numa tempestade estranhíssima, em que o vento forte a derrubara, e ela batera a
cabeça na rocha. Mas agora, acima de tudo, ele conhecia a alma e o coração dela
tão bem quanto conhecia a si mesmo. Como isso era possível? Balançou a cabeça
e esfregou is mãos no rosto. Com certeza tinha sido sua imaginação que lhe
pregara esse golpe em virtude da falta de descanso.
A imagem do homem numa capa chegou perto da mulher e disse algo que a
acalmou, fazendo com que eIa desviasse o olhar de Christian. Depois ela sorriu,
olhou para Christian de novo e apertou sua mão.
— Não! — Christian conseguiu dizer com voz estrangulada.
Ela apertou a mão dele ainda mais, como se o confortasse. E no momento
seguinte, desprendeu-se do corpo de sua paciente na cama e acompanhou o ho-
mem. Ambos o olharam, sorriram e simplesmente desapareceram.
Os aparelhos que a monitoravam retomaram seu ritmo normal e o cheiro
característico de hospital voltou a impregnar o ambiente. Sentindo o coração
pesado, Christian olhou para o rosto imóvel daquela mulher à sua frente. A
essência de sua paciente tinha sumido, mas o rosto dela estava estranhamente em
paz. Um sorriso suave curvava-lhe os lábios.
— Connor! — O grito de Damron se fez ouvir acima do barulho da
tempestade. Ele se ergueu do chão com Brianna nos braços. — Traga Bleddyn,
que está caído; e alguém, pelo amor de Deus, segure esse lobo enlouquecido!
Meghan correu para segurar Guardião pela coleira.
Damron passou pelas pessoas que haviam se aglomerado nas escadas,
gritando para que saíssem da frente. Connor voltou com Malcolm, os dois
carregando Bleddyn com grande dificuldade. O galês estava desacordado, e sua
cabeça pendia para trás. Ainda trazia o talismã firmemente preso na mão fechada.
Já de volta ao quarto, Damron tirou as roupas de Brianna e a enrolou nas
cobertas da cama. Connor e Malcolm deitaram Bleddyn no tapete ao lado da la-
reira e começaram a retirar sua capa e os sapatos, igualmente encharcados. De

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 89


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

repente, o místico agarrou o pulso de Connor e abriu os olhos, completamente


alerta. Respirou profundamente, levantou-se, foi até a cama onde estava Brianna e
colocou a mão em sua testa.
— Acorde, mo fear cridhe, meu amorzinho. Tudo está agora como deveria
estar...
— O rosto marcado do galês se suavizara ao ver sua protegida sã e salva.
Ela abriu os olhos e viu Damron. Suas emoções apareceram em seu rosto
molhado com a mesma velocidade que o relâmpago que a atingira. Confusão,
reconhecimento, compreensão. Olhou para Bleddyn e enfiou a cabeça no
travesseiro, envergonhada. Ele passou a mão por seus cabelos com carinho, en-
quanto ela era sacudida por choro e soluços.
— Ora, seu eqüino insensível! — Meghan deu um tapa na nuca de Damron.
— Não está vendo que sua esposa precisa de conforto e carinho?
Damron fulminou a prima com o olhar e tirou a própria roupa. Ela sorriu, sem
se importar com sua nudez. Antes de se deitar, ele embrulhou Brianna num outro
lençol e depois a trouxe para perto de seu corpo. Bleddyn fez um aceno de cabeça,
pedindo a todos que saíssem do quarto.
Lágrimas grossas caíram dos olhos de Brianna, rolando pela face até o
queixo. Ficou tensa quando Damron se levantou e a levou junto, sentando-se
numa cadeira, com ela no colo. Ele começou a beijar seus olhos.
— Não se atreva a me beijar depois de ter estado com aquela... com a sua
amante! Eu já disse: não poderá ter a nós duas.
— Eu não estive com Asceline — disse Damron.
— Jurei a você que não viria para a nossa cama depois de ter estado com
ela, e isso eu não fiz.
— Maldito! — ela gritou e o esbofeteou com força.
— Eu ouvi vocês!
Damron ficou imóvel por um instante, lívido.
— Nunca mais faça isso. E nunca mais me chame de maldito ou duvide da
minha palavra. E o que estava fazendo no alto da muralha com essa tempestade?
— Eu queria ver a tempestade chegando à baía de Tongue.
— Não minta, Brianna! — ele a advertiu. — o guardião veio correndo,
alucinado, até mim. Nunca a vi daquele jeito. Bleddyn percebeu imediatamente que
havia algo de errado.
— Não havia nada de errado! — ela protestou. Acordei me sentindo
sufocada, o quarto estava abafado. Abri a janela, mas não adiantou, então vi a
tempestade se aproximando e decidi tomar um pouco de ar.
— Você estava na beira do penhasco, debaixo da chuva, com os braços
estendidos, pedindo ao vento para ser levada, da mesma forma que fez durante a
nossa vinda para Blackthorn! — Damron a encarava, esperando sua resposta.
— O vento estava delicioso, fresco, queria senti-lo pelo meu corpo, só isso.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 90
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Você não está mexendo com magia negra, esta?


— Ora, claro que não. — Ela fechou os olhos, mas não antes que ele
pudesse ver uma sombra de medo neles.
Ao ouvir os gritos impacientes de lorde Douglas, Bleddyn foi até ele para
acalmá-lo, seguido por Connor e Meghan.
— Por que a nossa pequena Brianna estava lá fora na tempestade,
Bleddyn? — ele quis saber. — E por que diabos Damron não a manteve na cama?
— Porque Damron não consegue manter aquele membro insaciável dele
longe daquela francesa vadia! — respondeu Meghan. — Os grunhidos vulgares de
Damron devem ter assustado a pobre Brianna. Feche a boca, Connor, ou irá
engolir uma mosca!
— Vá já para o seu quarto! — Connor a repreendeu severamente.
— Meghan, você está enganada. — Bleddyn interveio. — Damron não se
encontrava com Asceline. Quando eu o encontrei, ele estava descendo a escadaria
principal.
Lorde Douglas repreendeu Meghan com o olhar, e ela se aproximou do avô.
A expressão dele era severa, mas os olhos brilhavam de puro divertimento.
— Desculpe, vovô — disse ela, dando-lhe um beijo no rosto.
— Não tive a intenção de chocá-lo.Soube disso, não?
— Eu sei, minha linda. Vá dormir. Daqui a pouco já estará amanhecendo. —
Ele fez um carinho no isto dela e sorriu. Quando a neta finalmente os deixa, lorde
Douglas se virou para Bleddyn. — E compreensível que um homem tenha uma
amante, mas não se pode esfregá-la no nariz da esposa. — A raiva pontuava a voz
do velho.
— Brianna não irá aceitar que Damron divida o coração com outra mulher.
Ele vai perdê-la — Bleddyn respondeu.
— Não é o coração que Damron está dividindo — Douglas o corrigiu. — E eu
a compreendo.
— Brianna exige que Damron lhe seja fiel, da mesma forma que ele exige
isso dela. Se Damron for infiel, Brianna não ficará em Blackthorn.
— E para onde ela iria? Não há lugar na Escócia ou na Inglaterra em que
consiga se esconder sem que ele a encontre.
— O coração de Brianna iria desaparecer, e somente a casca externa do seu
corpo ficaria. Ela nunca mais será a mulher doce que o senhor está aprendendo a
amar — Bleddyn sentenciou.
O místico sabia que, se Brianna não conseguisse vencer a batalha pelo
coração de Damron, ele não teria como negar seu pedido. Ela agora sabia que,
aliado à força do talismã e do relâmpago, Bleddyn tinha poder para enviá-la de
volta à sua vida no futuro.
Ao amanhecer, o olhar de Bleddyn percorreu o campo aberto entre as
construções do castelo e a floresta. Connor uniu-se a ele, mas nenhum dos dois

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 91


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

disse nada. A águia Cloud Dancer gritou no céu e veio voando em círculos,
anunciando um grupo de homens a cavalo que surgia de dentro da floresta.
O líder deles, um homem enorme, cavalgava sem sela. Tinha os ombros e o
torso protegidos por um casaco feito de peles de animais.
— Venha — disse Connor ao galês. — Vamos dar as boas-vindas a Mereck,
meio-irmão de Damron. Com certeza já deve ter ouvido falar do Guerreiro sem
Alma.
Enquanto Connor fazia as apresentações, o rosto de Mereck continuava
impassível, analisando Bleddyn com Cloud Dancer pousada em seu antebraço.
Mereck fez um aceno de cabeça e finalmente olhou para Connor.
— Onde está Damron? — perguntou. — Não é do feitio dele não estar
presente quando chego a Blackthorn.
Enquanto adentravam os domínios do castelo, Connor relatou rapidamente
os acontecimentos daquela noite. Mereck fez uma reverência solene a Bleddyn, ao
saber de sua participação crucial, pousou a mão nos ombros de Connor e subiu as
escadas de dois em dois degraus.
Parou diante da porta do quarto de Damron e bateu suavemente. Só entrou
depois de ouvir a permissão. Seu meio-irmão estava sentado numa cadeira com a
esposa no colo. Depois de se assegurar de que ela realmente dormia, Mereck se
aproximou da lareira, agachou-se e atiçou as brasas.
Nesse momento, Brianna sentiu a presença de uma terceira pessoa no
quarto e acordou.
— Damron, por que não me contou que tem um irmão? Vocês são muito
parecidos — disse ela.
— Tem olhos muito astutos, milady. A maioria das pessoas não nos acha
parecidos. Meu nome é Mereck, sou meio-irmão de Damron. Nasci poucas horas
depois dele.
— Horas? Não são gêmeos? — Brianna perguntou, surpresa, mas logo
compreendeu.
— Oh, meu Deus, lady Phillipa deve ter tido vontade de matar o seu pai.
— Não, mulher — disse Damron. — Ela sabia que isso não tinha nada a ver
com ela. A mãe de Mereck morreu no parto, e mamãe amamentou a nós dois. Ela
o acolheu como se também fosse seu filho, e meu pai ficou muito feliz com esse
ato de bondade. Ela o ama da mesma forma que ama a mim.
— Nada a ver com ela? Você realmente acredita que a amante dele nada
tinha a ver com a esposa? — Brianna levantou a voz. — Tinha tudo a ver com ela!
Provava que ele não a amava o suficiente para ser fiel! Aposto que, se a sua mãe
tivesse tido um amante, seu pai acharia que isso tinha a ver com ele.
— Se isso tivesse acontecido, ele teria tido o direito de matá-la — afirmou
ele, olhando-a friamente. — Ou, no mínimo, ele a teria trancado numa masmorra
pelo resto da vida. E, no dia em que meu pai soubesse desse amante, o homem
não teria chegado vivo ao anoitecer.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 92


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Brianna agarrou o lençol e saiu do colo de Damron num salto. Mereck a


olhou, parecendo fascinado.

— Então, se ainda não compreendeu, vou dizer mais uma vez: eu não vou
partilhar meu marido! Irei embora daqui. Meu corpo pode até ficar, mas não serei
eu dentro dele. — Sua voz tremia de raiva. — Se não acredita no que estou
dizendo, pergunte a Nathaniel. Se não fosse por ele, eu não estaria mais aqui.
— Você não vai a lugar algum sem a minha permissão! — Damron gritou.
— Pergunte a Nathaniel! — Brianna repetiu e se virou para sair do quarto.
— Não dê as costas para mim, mulher! — Ele a pegou pelo braço com
tamanha rapidez que ela acabou por soltar o lençol.
— Invejo você, irmão, por domar essa mulher — disse Mereck, olhando o
corpo de Brianna com aprovação. — Tendo uma esposa com esse fogo, não
precisa procurar conforto em nenhuma outra cama. — Deixou o quarto antes que
ele esboçasse uma reação.
Damron puxou-a de encontro ao corpo.
— Droga, Damron, solte-me, está me machucando! — ela exclamou.
Ele a calou com um beijo longo e ardente, antes de soltá-la.
— Agora pare de me tentar e vista alguma coisa. Não posso deixar Mereck
esperando.
— Não tenho a menor intenção de tentá-lo, milorde — retrucou ela com o
nariz empinado.
— Não o deixe esperando.
Damron a observou enquanto ela vestia a combinação. Brianna não
conseguiu deixar de notar a reação do corpo de seu marido e virou-se de costas.
— Vá se vestir também, seu pavão exibido — ela disse, enquanto se vestia.
Damron, por sua vez, ao perceber que ela o ignorava, pôs a roupa e saiu do
quarto.
Na hora da refeição do meio-dia, Brianna foi à frente dos homens que
auxiliavam lorde Douglas a ir para o salão. A poção de Bleddyn tinha feito maravi-
lhas pela sua tosse, e ele desejava fazer as refeições com a família.
Ela entrou de cabeça erguida no salão, entoando a melodia de uma canção
em homenagem a lorde Douglas. Uma voz de barítono começou a acompanhá-la,
acrescentando letras à melodia. Procurou, admirada, pelo dono da voz e encontrou
Mereck, que sorriu abertamente quando terminaram a canção.
— Sua voz é realmente tão bonita quanto me disseram, milady — Mereck a
elogiou.
— Mas por que não cantou a letra?
Ela deu de ombros, não querendo revelar que fizera um juramento de nunca
mais cantar na presença

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 93


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

de Damron.
— E onde você aprendeu a letra, Mereck? — ela
quis saber.
— Com o jovem Galan, de Ridley. Ele ia todas as noites até a torre norte e
cantava para as estrelas. Acabei criando o hábito de ir lá para encontrá-lo.
Os guerreiros ali presentes sorriam e se saudavam, contando vantagens de
seus feitos em batalhas. Todos, exceto Bleddyn, haviam se envolvido em algum
tipo de briga nos últimos dias.
Os homens sentados à mesa central pareciam ter feito um grande esforço
para tirar toda a sujeira de seus rostos, cabelos e mãos, mas mesmo assim o chei-
ro acre de suor era tão forte que Brianna torceu o nariz. Quando todos eles saíram,
ela se virou para
Meghan e confidenciou um plano que tinha em mente. As duas conversaram
com algumas das mulheres nas quais confiavam, e em poucos minutos todas elas
estavam rindo e concordando com Brianna.
Mais tarde naquele mesmo dia, Damron chamou os homens que estavam no
campo de treinamento para ir até o rio tomar um banho. Os mesmos de sempre o
seguiram, mas o restante voltou correndo ao castelo.
Após terem se banhado, Damron e seus homens regressaram ao castelo
com seus cavalos num trote tranqüilo. Ao se aproximarem da ponte levadiça, no
entanto, ficaram boquiabertos diante da cena diante deles. Os homens que tinham
ido na frente estavam gritando e xingando, recusando-se a passar pelo portão de
entrada.
E Damron logo viu o porquê. Todos os que passavam pela entrada recebiam
uma dose generosa de água com sabão, jogada pela abertura no teto, usada para
lançar óleo quente sobre possíveis invasores. O cheiro de rosas e lavanda pairava
no ar.
Não demorou muito para que ele encontrasse o mentor de tal façanha.
— Se quiserem jantar na presença de mulheres — gritou Brianna com voz
autoritária —, não venham até nós fedendo a suor, urina e sabe-se lá o que mais!
E vocês, do lado de fora do portão, voltem para o rio e tomem um banho. Caso
contrário, vou mandar capturá-los e serão lavados do mesmo jeito!
Ela se encontrava em pé no alto da entrada, com as mãos nos quadris e
uma criada segurando-a pela cintura.
— Parem de ser medrosos — continuou. — Estão preocupados que os seus
membros encolham com água e sabão? Não dói nada, e perceberão que isso até
vai melhorar suas vidas amorosas!
Ela não vira Damron, de tão entretida que estava com os guerreiros
malcheirosos embaixo da entrada. Meghan olhou para o grupo e o avistou, deu um
aceno atrevido com a mão e assobiou alto como um garoto.
— Brianna, desça daí agora! — Damron ordenou, mas ela simplesmente o
ignorou.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 94


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Vá, Guardião, vá! — ordenou Brianna.


O lobo passou correndo pelo portão principal. Com rosnados raivosos e
pequenas mordidas nos calcanhares dos guerreiros, Guardião conseguiu fazer
com que os homens passassem pela entrada e fossem molhados com água e
sabão. Aparentemente tinham menos medo da água do que do animal.
— Pronto, miladies! — exclamou Meghan. — Esta noite não precisarão
tampar seus narizes para esses fedorentos. — Fez uma careta para Damron,
mostrando-lhe a língua.
Ele viu seus homens tirando a roupa e se encaminhando para o bebedouro
dos cavalos a fim de se enxaguar. Enquanto faziam isso, gritavam imprecações a
quem quisesse ouvir. Outros se dirigiram ao poço, onde foram recebidos por
mulheres sorridentes, já com baldes de água em mãos para ajudá-los.
Em um piscar de olhos, Damron chegou onde Brianna estava. Agarrou-a
pela cintura e virou-a em direção à entrada do castelo. Segurando-lhe na nuca
pelos cabelos, ele a empurrou para que se apressasse. Mereck pegou Meghan e a
jogou sobre o ombro como se fosse um saco de grãos. Damron só soltou Brianna
quando chegaram ao hall de entrada do castelo.
— Nunca mais puxe o meu cabelo dessa forma, seu troglodita! — ela
vociferou, já com a mão fechada em punho para socá-lo no queixo, mas ele a
segurou em pleno ar.
— Não percebe que poderia ter caído dali e se quebrado inteira? — O tom
exasperado de Damron a fez se encolher. — E o que teria feito se os meus
homens decidissem resolver do modo deles essa provocação, ou seja, numa luta?!
— Ora, você com certeza os impediria — Brianna respondeu. — Eu não vou
tolerar uma manada de guerreiros teimosos e sujos empesteando o salão com
aquele cheiro!
— Você não tem o direito de fazer isso.
— Você não tem o direito — ela retrucou, imitando-lhe a voz — é de expor
as mulheres àqueles corpos imundos. Eles fedem!
— Brianna, se alguma vez tiver alguma outra idéia dessas, por favor, fale
comigo antes. Esses homens, embora me respeitem, são imprevisíveis. Nunca
mais faça algo desse gênero.
— Ah, sim, e isso vai ajudar muito! — disse Meghan ironicamente. —
Bleddyn e vovô são os únicos que não cheiram o dia todo a suor e urina!
— Primo, por favor, puxe o cabelo desta aqui também! — Connor pediu,
empurrando a irmã pelos ombros em direção a Damron.
Damron bufou e fez um sinal para que os homens o seguissem até os
estábulos, onde selaram os cavalos e foram em direção à floresta. Na primeira
oportunidade em que pararam, Bleddyn começou a rir discretamente, mas Connor
e Mereck explodiram numa gargalhada.
— Vocês viram as caras deles quando sentiram cheiro de sabão? — Connor
perguntou entre risos e lágrimas, enquanto diminuía o trote. — Ficaram com medo
de se tornarem um pelotão perfumado. Deus do céu, nunca ri tanto, quase urinei
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 95
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

nas calças!
— E vocês viram Angus protegendo suas partes?
— Foi a vez de Mereck rir. — Ele acredita piamente que um banho fará o
seu "tesouro" encolher!
— Mas, e quanto a Brianna, Damron? — perguntou Mereck. — Não vai puni-
la fisicamente, não é? Temos de admitir que ela realmente fez um favor a todos.
— Ela é a mulher mais rebelde de toda a Escócia — disse Damron. —
Talvez a segunda depois de Meghan. Mas mesmo assim, eu preciso que minha es-
posa me obedeça. Não posso permitir que conteste as minhas ordens ou que
discuta por qualquer motivo. Corro o risco de perder o respeito dos meus homens.
Naquela noite, durante o jantar, o delicioso aroma da comida não teve que
competir com o cheiro forte de suor dos guerreiros. No entanto, Brianna percebia
olhares raivosos vindos deles, assim como comentários feitos propositadamente
em voz alta. Ela pousou as mãos trêmulas no colo.
— Seu bode fedorento! Se acha que vai se deitar comigo com esse cheiro
está muito enganado! — grilou uma das mulheres antes de derrubar o conteúdo
de; uma caneca sobre seu último amante.
Outras mulheres fizeram o mesmo, e os homens tentaram acalmar suas
parceiras antes que a situação fugisse de controle. Meghan, porém, não se conte-
ve e se levantou.
— Seu bando de fedidos! — gritou ela. — Ficam o dia inteiro em meio à
urina e excremento de animais e esperam que as suas mulheres durmam com
vocês, como se isso fosse normal! Antes de nós os forçarmos hoje a um mínimo de
higiene, tenho certeza de que os seus corpos não viam uma gota de água desde o
último verão!
— Modere a linguagem, está falando como uma taverneira, não como uma
dama! — Connor a segurou pelo cotovelo, forçando-a a se sentar.
— Não me diga para calar a boca! — Meghan retrucou. — Eles estão
fazendo isso de propósito para envergonhar Brianna.
Damron tirou a adaga do cinto e colocou-a sobre a mesa com uma batida.
— Calem-se!— A voz dele sobressaiu em meio ao falatório.
— Lorde Douglas — disse Brianna, levantando-se. — Peço sua permissão
para deixar a mesa. Gostaria de ver Cloud Dancer antes de me recolher aos meus
aposentos.
Damron esticou o braço para forçá-la a se sentar.
— Ela não pediu a sua permissão, Damron, e sim a minha — disse lorde
Douglas e, em seguida, se dirigiu a Bleddyn: — Se pudesse acompanhá-la, eu fica-
ria muito agradecido.
— Obrigada, vovô — Brianna agradeceu. — Irei vê-lo amanhã de manhã. —
Reunindo toda a dignidade de que dispunha, deixou o salão, acompanhada do
galês.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 96


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Ela agradeceu a Bleddyn pela companhia quando ele a levou até a porta de
seu quarto. Deu-lhe um beijo de boa-noite e entrou. Em nenhum momento,
perguntou a ele o que seu marido estava planejando para puni-la.
Brianna sabia que Bleddyn era a chave para seu retorno ao futuro, embora
as ações dele tivessem claramente mostrado que a queria ali, naquele século. Ele
conhecia tudo a seu respeito: sabia do fato de ela não ter ninguém em sua vida no
futuro, nem pais, nem parentes, nem um amor esperando-a. Ninguém.
O que mais Bleddyn saberia? Será que estava a par do momento em que ela
achara que a vida não valia a pena e pensara em desistir? Qualquer pessoa teria
se desesperado na situação dela.
Quando surpreendera Gordon com a assistente, saíra correndo do escritório.
No entanto, ele a seguira até em casa e, em meio à acalorada discussão, posicio-
nara-se terminantemente contra o divórcio, afirmando que ela não tinha
capacidade de viver longe dele.
Sempre haviam tido uma vida sexual muito satisfatória, e Gordon tentara
dominá-la dessa forma. Ele a atirara na cama, enquanto lançava seu veneno sobre
ela. Chamara-a de tola e dissera que nunca a havia amado de verdade; e que a
reputação dela no campo da pesquisa genética tinha-lhe aberto inúmeras portas,
transformando-a em algo "aceitável" para ele.
Harvey era seu assistente no laboratório, e lutara boxe para manter a bolsa
de estudos durante os tempos de faculdade. No momento em que soubera que
Gordon a tinha seguido, fora até a casa deles e praticamente derrubara a
porta da frente com um chute. Quando vira Gordon batendo nela, pegara-o pelo
pescoço, esmurrando-o até deixá-lo inconsciente.
Ela só havia deixado o santuário de sua casa quando pudera usar óculos de
sol escuros o suficiente para esconder os hematomas que ainda restavam em seu
rosto. Gordon, por sua vez, não saíra do quarto do hotel por mais de dez dias. Não
voltara a dizer que contestaria o divórcio. Se tivesse feito isso, Harvey teste-
munharia contra ele por tentativa de assassinato.
Ela estremeceu com aquelas lembranças.
Bleddyn não a teria mantido ali se soubesse que Damron poderia ser
violento com ela, teria?
Quando Damron chegou ao seu quarto, encontrou-o vazio, mas soube que
Brianna estivera ali, pois sentiu seu perfume. Dirigiu-se aos aposentos de Meghan,
certo de encontrá-la lá.
— Onde está Brianna? Sua prima deu de ombros.
Em seguida, Damron passou pelo solário de sua mãe.
— Brianna não está aqui — disse ela com voz fria. Ele sabia que lady
Phillipa estava aborrecida com o que chamava de "atitude inflexível" do filho em
relação à esposa.
Damron saiu do solário e se dirigiu ao quarto do avô. Sentado na cama,
lorde Douglas jogava xadrez com seu servo e grande amigo Dudley.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 97


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Vovô, o senhor viu Brianna depois do jantar? — perguntou.


-— Não me diga que a menina sumiu novamente?! Deus do céu...
Já mandou verificar as muralhas e o penhasco?
— Brianna quer me desafiar de novo e se escondeu de mim. Ela precisa
aprender a me obedecer, porque não vou aceitar ter uma saxã rebelde como
esposa.
Guardião, que até aquele momento estivera deitado observando a cena,
ergueu a cabeça ao ouvir o nome de sua dona. Colocou a língua para fora e come-
çou a abanar o rabo alegremente.
— Guardião vá encontrar Brianna! — Damron ordenou, e os olhos do animal
brilharam.
A busca terminaria em breve.
Damron e o lobo saíram do quarto e foram até as muralhas, onde Guardião
percorreu todo o perímetro, cheirando e rosnando. Subiu as escadas e parou em
frente ao quarto de Damron e Brianna. Depois correu em direção ao andar de
baixo e parou diante do quarto de Meghan.
— Diabos, Guardião! — exclamou Damron, irritado. — Você deve seguir o
rastro de Brianna, não o meu!
O lobo continuou em seu caminho. Passou pela porta do quarto de banho
dos guerreiros e parou em frente à despensa. Quando sentiu Damron bater
amigavelmente em sua cabeça, abanou o rabo alegremente e se sentou ao lado da
porta.
Damron abriu a porta do pequeno cômodo e entrou. Olhou pelas prateleiras
e, em um espaço atrás de alguns sacos de farinha, viu a esposa, encolhida.
— Brianna, sei que está aí. Não me force a ir ' buscá-la. Acredite quando eu
digo que não há como me deixar ainda mais zangado do que estou agora
— disse com a voz suave como veludo.
— E quem diz que eu estava me escondendo? — perguntou ela, levantando-
se e saindo de trás dos sacos. — Eu vim para verificar se a farinha não contém
insetos ou outros bichos, e não ouvi quando você entrou.
Ela ergueu a saia até os joelhos para que pudesse passar pelos pequenos
barris empilhados no cômodo. Parecia uma presa prestes a ser atacada pelo
predador. Quando chegou à porta, Guardião se pôs nas patas traseiras e começou
a lambê-la, feliz por ter cumprido sua missão.
— Está bem! Vá agora com o seu dono, vá! — Ela o empurrou.
O lobo baixou as orelhas e deu um pequeno gemido, olhando-a agora com
olhos tristes. Colocou o rabo entre as pernas e abaixou a cabeça, mas não sem
derrubar um saco de farinha, levantando uma nuvem branca ao redor.
A túnica de Brianna se enroscou num arame que prendia um dos sacos, e o
tecido se rasgou, expondo-lhe as pernas até o alto da coxa. Corando violenta-
mente, soltou o tecido, sem se atrever a olhar para o marido.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 98


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Venha — disse Damron, estendendo-lhe a mão.


— Ainda não terminei minha tarefa aqui — ela resistiu, meneando a cabeça.
— Não viu a farinha toda espalhada pelo chão? Esses sacos devem estar furados
ou com as costuras soltas. Se eu não os marcar, nós provavelmente não teremos
pão neste inverno.
Num movimento rápido, ele pegou-a pelo queixo.
— Faça como quiser, Brianna, mas saiba que virá sempre que eu ordenar
que venha. E virá por bem ou por mal, a escolha é sua. — Deslizou a mão pelo
cabelo coberto de farinha e a puxou firmemente pela nuca, obrigando-a a
acompanhá-lo. Pela tensão que sentiu nos músculos da esposa, percebeu que ela
estava prestes a gritar com ele, enquanto seguiam pelas escadas e passavam pelo
salão, em direção ao quarto.
Quando encontravam alguém pelo caminho, ela fazia um aceno de cabeça e
cumprimentava a pessoa com voz alta e clara. Damron sorria como se estivesse
apenas apreciando tocar a nuca de sua esposa.
Assim que entraram no quarto, ele fechou a porta com um pontapé e disse:
— Não só você continuou com a sua desobediência, mas também ousou me
desafiar se escondendo de mim!
— Não se atreva a encostar um dedo em mim! Se fizer isso, eu jamais o
perdoarei! — Brianna gritou quando foi solta.
— Eu não vou pedir perdão! Eu exijo honra e obediência por parte de minha
esposa, e assim será!
Antes que ela esboçasse qualquer reação, ele agarrou a gola de sua túnica,
puxou-a pela cabeça e depois a arrancou num só movimento. A combinação foi um
pouco mais trabalhosa, pois Brianna tentou segurá-la de encontro ao corpo, mas a
peça teve o mesmo destino que a túnica.
Damron sentiu o coração disparado ao vê-la nua até as coxas alvas. Fitas
cor-de-rosa seguravam as meias brancas acima dos joelhos, deixando-a ainda
mais sensual.
— Não ouse dizer nada — ele falou. — Eu a avisei desde o primeiro dia para
não me desafiar.
Damron se sentou na beira da cama, fitando-a. E esperou. Brianna ergueu o
queixo e o olhou com altivez, cruzando os braços sobre os seios.
Quando ele a agarrou pela cintura, Brianna gritou. Ele a virou de costas e a
inclinou sobre as próprias coxas. Nesse instante, ela se transformou num tigre
selvagem, arranhando-o, tentando mordê-lo. Damron a manteve com firmeza em
seus braços.
Com a mão esquerda, segurou-lhe a cintura, sentindo o corpo reagir àquela
visão puramente erótica. Teve de reunir todo o autocontrole de que dispunha para
resistir à tentação de afundar o rosto naquela pele e dar centenas de beijos nas
lindas nádegas arredondadas.
De repente, percebeu que não tinha vontade de bater em Brianna, como

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 99


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

havia pensado a princípio. Mas por que ela o desafiara mesmo depois de ter sido
advertida? Todos os guerreiros de Blackthorn esperavam que ele disciplinasse a
esposa, e nenhum deles continuaria a respeitá-lo se falhasse. Não conseguira
domar Genevieve e jurara a si mesmo que jamais permitiria novamente que
qualquer mulher o fizesse de tolo. Cerrou os dentes para se concentrar.
Sua mão direita subiu e ficou parada no ar.
— Submeta-se a mim, Brianna. Jure obediência, e eu a perdoarei. — Ele
parou, em suspense, esperando que ela cedesse.
Mas esperou em vão. Por outro lado, não podia permitir que Brianna
vencesse aquela guerra de nervos. A vida em Blackthorn era difícil e perigosa. Se
uma mulher queria ser mantida em segurança, tinha de obedecer cegamente aos
homens de sua família, sobretudo ao marido.
— Solte-me, seu neandertaloide arrogante e presunçoso! — ela gritou,
debatendo-se.
Damron a apertou com mais força, olhou para aquele; traseiro adorável e
balançou a cabeça, desolado.
— Maldito! Chauvinista imbecil! — ela esbravejou, tentando apoiar as pernas
no chão para se impulsionar. — Se me bater, vou esmagar a sua cabeça com um
tijolo na primeira oportunidade que tiver!
Damron já vinha com a mão, mas parou no meio do caminho mais uma vez.
— Você não teria coragem... — Ele a virou em seu colo e encarou o rosto
irado da esposa.
— Bem, atreva-se e descobrirá! — Ela o fulminava com o olhar. —Você não
quer tolerar uma esposa independente, e eu não vou tolerar ser tratada como uma
criança travessa! — Agarrou as trancas de Damron e as usou como apoio para se
erguer.
— Que diabos, mulher, quer me deixar careca?! — Ele esfregou as
têmporas.
— E o que vou fazer, se não parar de agir como se fosse meu pai e como se
eu tivesse cinco anos de idade!
Brianna conseguiu se levantar e pegou a túnica do chão.
— Então concorde em me obedecer e a nunca mais me desafiar.
— Desde quando você é o rei para fazer esse tipo de exigência? — Só de
imaginar a idéia que Damron sugeria de obediência cega e inquestionável, sua
raiva se transformou em ira descontrolada.
Antes que percebesse o que estava fazendo, ela o esmurrou no nariz. Ao ver
a expressão estupefata do marido e o fio de sangue começando a escorrer para os
lábios, ela esfregou as mãos como se tivesse realizado o maior feito de sua vida.
Damron segurou o nariz ferido, ainda atônito com o que acabara de
acontecer. Brianna o fitou com tamanha intensidade que seus olhos pareciam duas
adagas prestes a atacá-lo.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 100


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Uma rápida batida na porta e a voz de Mereck do outro lado quebraram a


tensão, e Damron foi abrir.
— Venha comigo — disse Mereck olhando para o nariz ensangüentado do
meio-irmão e fazendo um movimento de cabeça em direção às escadas.
Nenhum dos dois disse mais nada até que chegaram às muralhas do lado de
fora.
— Diga-me, irmão — Damron começou —, por que foi me chamar?
Ele mal tinha terminado de proferir aquelas palavras quando Mereck o
esmurrou. Damron caiu no chão com um baque.
— Você ofendeu uma mulher de grande valor e orgulho — disse Mereck,
ajoelhando-se ao lado dele. — Ainda não aprendeu nada sobre a força de vontade
de Brianna? Sobre a dignidade dela?
Mereck era normalmente um homem de poucas palavras, e a atitude
surpreendeu Damron. Mas o que mais o surpreendeu foi que ele estava certo em
seu julgamento. Não lutaria contra o irmão, mas também não revelaria que não
tivera coragem de puni-la. Se os seus homens descobrissem, com certeza
considerariam isso uma falha grave em sua habilidade de manter o respeito de
todos ali em Blackthorn.
Ao ver que o irmão não dizia nada, Mereck continuou:
— Brianna espera respeito e honradez dos outros. Assim que ela se
acalmasse, teria saído sozinha de onde estava. Mas você a perseguiu e a caçou
como se fosse um animal selvagem! Brianna até se zangou com Guardião, por ele
ter traído a sua confiança e levado você até onde ela estava. O pobre lobo está
agora cabisbaixo e se recusa a comer.
— Damron, ele tem razão — disse Connor, entrando na conversa e parando
ao lado dos dois irmãos. — Brianna não é uma mulher de se render facilmente às
vontades dos outros, principalmente às suas. Ela é tão orgulhosa e digna quanto
um homem.
— Tenho certeza de que Damron agora percebe que errou em lidar com ela
da maneira que fez. — Foi a vez de Bleddyn dar sua opinião, surgindo sem que
ninguém percebesse sua aproximação. — Ela não irá perdoá-lo se contar aos
outros que a castigou como se fosse uma criança levada. Isso feriu muito a
dignidade de sua esposa. Mas, venha comigo. Já ordenei que selassem Angel e
Trovão. Precisamos conversar.
O som dos cascos dos cavalos sobre a ponte levadiça lembrava o de trovões
numa tempestade. Quando conversaram, Bleddyn não revelou todos os detalhes
sobre Brianna, mas disse que ela não era como as outras mulheres e que, se
ficasse infeliz, iria se transformar numa mera sombra do que havia sido antes.
— O quê?! — Damron estava tão indignado que seu grito chegou a assustar
os passarinhos e as pequenas criaturas da floresta que se preparavam para a noite
de descanso. — Não me diga que você também acredita nos antigos relatos de
acontecimentos estranhos, de pessoas desaparecendo de um lugar para depois
reaparecer em outro! Isso não passa de tolice!

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 101


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Sinto desapontá-lo, Damron, mas esse não é nenhum tipo de conto


fantástico. Ela não é diferente das outras mulheres? Você mesmo a questiona
sobre as palavras e expressões estranhas que ela usa!
Tentando compreender alguma coisa do que o místico dissera, Damron
passou a mão pelo rosto e correu os dedos pelos cabelos. Era verdade... Brianna
era diferente. Nenhuma outra mulher era tão bonita, inteligente ou desafiadora e
teimosa quanto ela. Nem mesmo Meghan.
— Sim, tem razão. — Damron balançou a cabeça como se isso pudesse
arejá-la. — Mas como ela iria mudar? Não compreendo como não seria a mesma
Brianna. — Ele sentiu um medo inexplicável.
— Na aparência, seria a mesma Brianna de sempre — o galês explicou. —
Porém, a mulher forte que conhecemos hoje se tornaria a esposa obediente que
Malcolm e William lhe prometeram. Dócil e tímida, sem vontade própria, pronta
para obedecer cegamente a todas as suas ordens, sem contestar.
Damron estremeceu. Não sabia por que, mas não mais desejava aqueles
atributos numa esposa. Não eram excitantes. Brianna não seria mais excitante. A
voz dela não mais encheria sua alma de desejo, e ela não despertaria a luxúria em
seu corpo com um simples olhar. E o pior de tudo: essa versão diminuída de sua
esposa não se transformaria na amiga e companheira que a Brianna de hoje com
certeza seria.
Sentiu um nó no estômago e um frio na espinha. Como poderia se assegurar
de que Brianna lhe seria leal? Genevieve também fora teimosa. Ele tinha as cica-
trizes que provavam isso.
No quarto, Brianna vestiu a camisola, deitou-se e puxou as cobertas até o
queixo.
Fechou os olhos e procurou pensar sobre como levaria sua vida dali por
diante. Embora Gordon a tivesse ferido fisicamente, Damron tinha feito muito pior:
ele ferira sua dignidade. Mas jamais iria lhe dar o gostinho de saber o quanto.
No salão, dois andares abaixo, Damron estava parado em frente à janela,
com uma caneca de cerveja na mão. Tinha esperança de que Brianna com-
preendesse que jamais seria uma esposa apropriada se continuasse a acreditar
que era igual ao marido. Como era possível para uma mulher estar tão redon-
damente enganada sobre seu papel?
Ele sabia que ainda não era hora de subir ao quarto para dormir. Tirou as
botas e esperou até bem mais tarde da noite para se dirigir aos seus aposentos.
Quando o dia amanheceu, o sol testemunhou Damron sentado na cadeira ao
lado da cama. Sem ter conseguido dormir a noite inteira, ele velava a esposa em
seu sono.
Bleddyn sugerira que ela mudaria completamente, mas como? De repente, o
coração de Damron deu um salto: e se o galês não tivesse lhe contado tudo o que
sabia?
Seria possível que a alma de Brianna pertencesse a uma outra pessoa ou a
um outro tempo? Era isso?

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 102


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Alguns dias depois, um cavaleiro chegou para avisar Damron que o povoado
vizinho tinha sido atacado por rebeldes errantes. Damron e Mereck inspecionaram
os equipamentos e armas dos guerreiros para se certificar de que estavam em
ordem.
Damron ordenou que todos os guerreiros besuntassem a face externa dos
escudos e capacetes com uma substância escura para que não refletissem a luz
do sol, o que prejudicaria seus companheiros.
No final da tarde, Damron encontrou Brianna no salão principal e a levou
para perto da grande lareira, onde se encontravam outros membros da família. Ali
estava também o padre Matthew, para quem ele fez um sinal.
— Silêncio, por favor — o padre pediu em voz alta. — Lorde Damron deseja
fazer um pronunciamento.
— Como todos sabem, minha esposa e eu nos casamos por procuração —
disse ele pousando uma das mãos no ombro de Brianna. — Mas ela sente a ne-
cessidade de uma cerimônia cristã adequada, na presença de um padre, com o
que concordo inteiramente. Assim sendo, mandei avisar os clãs e dentro de uma
semana nossos visitantes começarão a chegar. Quando todos estiverem aqui, nós
nos casaremos da maneira que Brianna tanto deseja.
Brianna levou um susto e o olhou, estupefata. Damron passou os braços ao
redor de seus ombros e deu-lhe um beijo suave nos lábios. Ela não reagiu, pois
ainda estava atordoada com a notícia.
Depois que os gritos de alegria dos presentes se silenciaram, o salão foi aos
poucos se esvaziando, enquanto os guerreiros se encaminhavam para o pátio
externo e as muralhas. Spencer, um dos escudeiros de Damron, trouxe-lhe uma
enorme espada e o escudo. Brianna teve uma forte sensação de desconforto, mas
não soube dizer por quê.
— Vai voltar logo, Damron? — perguntou.
— Não se preocupe, Brianna — assegurou ele. — Não ficará desprotegida.
Sempre haverá alguém por perto caso precise de ajuda.
— Não estou preocupada comigo, sei me defender.sozinha. Estou mais
preocupada com você e os seus homens. Está levando número suficiente de
guerreiros, caso haja mais rebeldes do que imagina?
— E você agora acha que eu preciso de instruções de batalha de uma
mulher, e ainda por cima saxã? — Damron retrucou com um tom zombeteiro na
voz e um brilho divertido no olhar.
Nesse momento, o padre Matthew apareceu ao lado deles e pigarreou. Em
seguida, ergueu os braços para o alto e fez uma prece, pedindo proteção para
Damron e seus guerreiros. Brianna passou uma taça para o marido e, com uma
voz mais trêmula do que esperava, repetiu as palavras do padre, oferecendo
também uma prece a Connor e a Mereck.
— Que Deus os abençoe e os traga de volta sãos e salvos — disse ela.
Sentiu um peso enorme no coração. Sabia que Damron poderia se ferir
gravemente ou até morrer nesse conflito.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 103


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Damron bebeu da taça que a esposa lhe dera.


— Não tenha medo, Brianna — disse ele, puxando-a para seus braços. —
Eu vou voltar. Há muita coisa entre nós que ainda precisa ser resolvida.
Segurou-a com firmeza e beijou-a apaixonadamente. Em seguida, montou
Angel num movimento rápido e elegante.
— Um momento, lorde Damron, eu vou com vocês — anunciou Bleddyn. Já
estava vestido com seu uniforme negro e montava Trovão.
Bleddyn também tinha feito a pintura de batalha no rosto: metade dele
pintado de azul-claro, fazendo com que a outra metade se destacasse ainda mais
e evidenciasse a cicatriz que se estendia da raiz do cabelo até o queixo.
Brianna aproximou-se dele e beijou-lhe o lado azul.
— Que Deus o acompanhe, meu Nathaniel — disse. — E volte logo para
casa, são e salvo.
Brianna e Meghan os observaram até que o último deles sumisse no
caminho, depois voltaram para o castelo silencioso.
— Tia Phillipa vai mandar preparar o grande salão para receber os feridos —
contou Meghan. — Vou providenciar para você uma faca afiada para ajudar a
cortar as roupas deles quando vierem. — Sua voz soava abafada, pois tinha a
cabeça enfiada no enorme baú de madeira. Tirou uma adaga de dentro dele,
entalhada com símbolos sagrados no cabo, e passou-a para Brianna.
— Fico feliz em ter uma adaga, Meghan, obrigada. Desde que aquele
maldito me agarrou na cachoeira, eu tenho vontade de ter algo do gênero para me
defender caso seja necessário.
Embora soubesse que a Brianna de antes morrera numa queda das
muralhas ou fora empurrada de cima delas, sabia que sua presença ali naquela
época poderia mudar o passado. A Brianna original tinha 4ido contida demais,
tímida demais, muito acostumada a obedecer e a ser submissa. Jamais teria lutado
ou reagido se algo desse errado.
Sentiu-se ainda mais confiante quando Meghan a ajudou a ajustar a bainha
apropriada para a adaga «•m sua coxa.
Na manhã seguinte, a luz do sol penetrava pelas janelas da cabana de ervas
e outros medicamentos de Bleddyn, o suficiente para que Brianna conseguisse
enxergar todos os potes de barro cozido meticulosamente identificados com
etiquetas escritas na letra rústica do galês. Olhou para os frascos com pós e
maços de ervas pendurado no teto. Nos anos em que estudara para ser
geneticista, havia também feito cursos de farmacologia. Selecionou porções
generosas de cada erva e outros pós que sabia que seriam necessários para os
curativos quando os guerreiros feridos começassem a ser mandados de volta da
batalha.
De novo no castelo, Meghan e ela prepararam poções, ungüentos e
cataplasmas para os ferimentos. Brianna ordenou que vários barris com água
limpa fossem levados e estocados no salão principal, e também que nas cozinhas
sempre mantivessem alguns perto do fogo para terem água quente sempre que

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 104


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

fosse necessário. Mal havia terminado de tomar todas as providências quando


ouviram o gemer das correntes do portão de entrada, que estava sendo içado para
receber os primeiros feridos.
Guerreiros que não conseguiam montar seus cavalos, devido aos
ferimentos, eram trazidos por seus companheiros. Estavam todos tão sujos de
lama e coágulos de sangue que Brianna teve de analisar os rostos atentamente a
fim de reconhecê-los. Sentia o coração quase estourando em seus ouvidos, até
que finalmente viu Damron no final da longa fila de feridos.
Os guerreiros que vinham ou eram trazidos para o salão faziam-na lembrar-
se de um pronto-socorro. Lorde Douglas passava por entre os feridos, chamando
cada um deles pelo primeiro nome e dizendo palavras de agradecimento e de
conforto.
— Coloque os feridos mais graves sobre as mesas perto da lareira principal
— Brianna instruía os homens assim que chegavam.
Bleddyn insistiu que todos os que iriam lidar com os feridos lavassem bem
as mãos com a poção anticéptica antes de começarem a tratá-los. Os aprendizes
de cavaleiros e criados mais jovens trouxeram baldes com água limpa.
Outros servos davam canecas de vinho forte aos feridos, para que
tomassem a maior quantidade possível antes de serem tratados, de forma a não
sentirem tanta dor.
Brianna dobrou as mangas da túnica que usava e lavou as mãos,
preparando-se para limpar um corte enorme no ombro de um dos guerreiros. Seus
movimentos eram rápidos e eficientes, entregando itens a Bleddyn antes mesmo
que ele pedisse. Fechou o ferimento com pontos muito bem-feitos e passou por
cima do curativo o ungüento que preparara. Quando terminou, fez um sinal para
Meghan envolver o ferimento com um pano limpo.
Bleddyn a chamou para a mesa seguinte, onde um homem trazia um longo
corte que vinha da lateral do joelho até o tornozelo.
Os ajudantes mais jovens estavam conseguindo manter um bom ritmo em
reabastecer os baldes de água limpa, e todos obedeciam às ordens de Bleddyn,
usando o sabão sem cerimônia. A cada vez que o galês ou Brianna utilizavam
algum instrumento cortante, como uma faca, tesoura ou agulha, eles o lavavam e o
desinfetavam com uísque.
O sol já se punha no horizonte quando cuidaram do último ferido. Bleddyn
chamou por Damron, Connor e Mereck para que viessem cuidar de seus ferimen-
tos, mas eles tentaram se esquivar.
Mereck se aproximou de Bleddyn, caminhando bem devagar. Meghan
agarrou Connor pelo braço e praticamente o arrastou até uma das mesas, onde o
deitou e procurou minuciosamente por ferimentos, por menores que fossem.
— São apenas alguns arranhões — protestou Damron, tentando se afastar
de Brianna. Ele tinha o rosto pálido e as roupas encharcadas de sangue.
— Sente-se! — ela ordenou com voz firme e apontou para a mesa.
Damron obedeceu. Embora ele tivesse dito que eram apenas arranhões,

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 105


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Brianna encontrou alguns cortes profundos no braço e no peito.


— Por que não veio direto para cá, Damron? — ela o repreendeu.
— Enquanto eu tiver um pingo de decência e respeito pelos meus homens,
jamais pedirei ajuda antes de ter cuidado deles primeiro — respondeu.
Nesse momento, Bleddyn terminou os curativos em Mereck e se juntou a
Brianna. Damron a observou enquanto ela cuidava dele. Parecia estar tão preocu-
pada com seus arranhões quanto estivera com os ferimentos graves de seus
guerreiros.
— Os líderes dos rebeldes se mantinham na retaguarda das tropas que
estavam em batalha
— disse Damron a lorde Douglas, que viera para o seu lado. — Nunca vi
tamanha relutância em revelarem suas identidades.
— Os Gunn sempre gostam de se exibir nas batalhas, mas hoje não vimos
nem sinal deles
— Mereck complementou.
— Talvez não desejem ser reconhecidos — sugeriu lorde Douglas.
— Sim, tive essa impressão — disse Damron, fazendo uma careta quando
Bleddyn tocou num ferimento em suas costas.
— Encoste-se em mim, milorde. — Brianna se aproximou dele e segurou-o
pelos ombros.
— A espada que o feriu devia estar muito mal afiada. Há algumas farpas
dela presas na carne e, se não as retirarmos, a ferida vai infeccionar.
— O líder deles era loiro. — Damron grunhiu quando Bleddyn tocou o
ferimento a fundo.
— Fiquei curioso, havia algo de estranho nos modos deles. — Naquele
instante, para seu embaraço, sua voz falhou. Para se distrair da tortura do galês
em suas costas, observou Brianna trabalhando. — Costura muito bem, milady.
Talvez possa ensinar esse ofício a Meghan. — Sorriu ao ver a prima bufar.
— O próximo corte que terá, primo, será na sua cabeça dura — disse
Meghan.
— E eu terei imenso prazer em fechá-lo com os meus pontos.
— Hum, não, obrigado. — Damron riu.
Quando a noite chegou, o salão principal se encheu de guerreiros
barulhentos, contando como tinham conseguido seus ferimentos e se exibindo para
as mulheres. Assim que saciaram a fome com a boa comida, foram levados para a
cama por elas, desejosas de lhes propiciar uma noite de intenso amor.
Brianna estava muito bonita. Tinha os cabelos soltos; Mari prendera apenas
algumas mechas perto das têmporas e da testa com fitas amarelas, para que seu
rosto delicado ficasse em evidência. Quando a viu se inclinando para Mereck para
dizer algo em seu ouvido, Damron ficou enciumado. Seu meio-irmão a fitou
enquanto ela falava, e depois balançou a cabeça e o olhou.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 106


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Santo Deus! O que Brianna falou para ele?


Asceline surgiu a seu lado, correu a mão por seu ombro e roçou os lábios
em sua orelha. Damron se esquivou e manteve os olhos fixos na esposa, que, por
sua vez, o fulminou com o olhar, mas não disse nada.
— Se ao menos você já tivesse desfrutado de sua esposa, iria perceber que
ela é muito mais quente e sensual do que essa francesa — disse Mereck em seu
ouvido. — Brianna lhe daria muito menos problemas se você lhe mostrasse os
caminhos da volúpia.
Aquelas palavras tiveram o efeito de um ferro em brasa em sua pele.
Damron levantou-se num salto e puxou Brianna com ele. Olhou-a com tanta
intensidade; que ela ficou atordoada. Quando ele falou, foi num murmúrio cheio de
fúria.
— Por que quebrou o juramento que me fez? Não acreditou em mim? — Ele
a segurava pelo pescoço e esfregava o polegar em sua nuca. — Não vai negar?
Sabe muito bem o que eu disse que aconteceria se você contasse a alguém que
ainda não tirei a sua virgindade. Contou ao meu irmão, e vai pagar pelo erro que
cometeu.
— Você acha que eu seria imbecil a tal ponto? — Ela tentou se livrar da
garra que agora a prendia no ombro.
— Sua esposa não me disse nada, Damron, mas as suas ações, sim —
Mereck entrou na conversa, também em voz baixa. — Você tem a expressão de
alguém que precisa desesperadamente de sexo — declarou friamente.
Damron ergueu Brianna e colocou-a no ombro, sufocando um gemido de
dor. Antes de sair, virou-se para o salão agora silencioso diante da cena.
— Meus amigos, continuem a festa — disse ele, forçando um sorriso acima
da dor. — Espero que me perdoem, mas estou ansioso para ficar a sós com minha
esposa. — Ele mantinha o braço preso na parte de trás dos joelhos de Brianna e a
inclinava ainda mais quando ela se debatia. — Vocês com certeza logo serão
acolhidos por suas mulheres esta noite — disse e se retirou.
Brianna esmurrou os quadris do marido durante o caminho até as escadas.
— Pelo amor de Deus, Damron, ponha-me no chão! Eu não disse nada a
Mereck!
Ele repetia a si mesmo: "Acalme-se! Não pode tratar uma mulher ainda
virgem da mesma maneira que trataria sua amante".
Quando chegou ao quarto, fechou a porta com um pontapé e pôs Brianna no
chão. Encarou-a sem dizer nada, e ela o olhou como se estivesse diante de um
alienígena.
— Dispa-se, Brianna.
Determinada a não ceder, ela cruzou os braços sobre o peito. Damron
arrancou a bainha e a espada e as jogou sobre o baú, depois tirou a camisa, botas,
as meias e o kilt.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 107


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Eu nunca deveria ter dado ouvidos às suas súplicas nestes meses todos
e ter me privado dos prazeres do seu corpo. Mas não vou mais esperar. Você será
minha agora!
Damron estendeu as mãos para puxá-la, e Brianna não se moveu.
Observava o rosto do marido, querendo acalmá-lo com suas palavras, mas
também tinha os pensamentos num turbilhão, lembrando-se de seus esforços
débeis de lutar contra Gordon. Quanto mais tentava se esquivar, mais ele
avançava, e o toque se tornava ainda mais repulsivo.
Não resistiu quando Damron lhe tirou a túnica e a jogou no chão. Ergueu o
queixo e o enfrentou com o olhar. Não se esquivou quando ele a despiu, deixando-
a apenas com os sapatos e com a faca presa à perna.
— Ora, Brianna — ele disse com um olhar zombeteiro —, então pretende me
atacar como fez Genevieve? — Ele tirou a arma da sua perna e a jogou para o
lado.
Brianna agarrou um lençol e se enrolou nele. Agora que sabia como Damron
conseguira aquela cicatriz, não era de admirar que não confiasse nela. Ou talvez
em mulher alguma. Ficou curiosa para saber o que havia acontecido entre ele e
Genevieve, mas aquele não era o momento para perguntar isso. Não quando ele
estava alterado daquela forma, acreditando que ela também o traíra. Respirou
fundo e endireitou os ombros.
— Damron, eu repito — disse o mais calmamente que conseguiu. — Eu não
quebrei o juramento que fiz a você. Jamais iria discutir com alguém um assunto tão
íntimo quanto a nossa vida sexual. Isso só diz respeito a nós dois. — Viu um
lampejo de dúvida no olhar dele. — Você já mandou avisar o seu povo para que
todos venham ao casamento, conforme prometeu a mim. Por que motivo eu
colocaria isso em risco? Especialmente quando fui eu quem fez essa exigência?
Damron se sentou na cama com os cotovelos apoiados nos joelhos e a
cabeça nas mãos.
— Damron — murmurou ela —, pode não acreditar em mim, mas realmente
acha que seu irmão mentiria para você?
Ele respirou profundamente e a fitou nos olhos. Tinha uma expressão tão
atormentada, tão vulnerável que ela sentiu o coração pesado.
— Não... — ele respondeu. — Mereck jamais mentiu em toda a sua vida.
Nem mesmo para evitar que levasse uma surra quando éramos pequenos. — Seu
rosto ficou pálido. — Vai precisar refazer alguns dos pontos. Carregá-la escada
acima não foi uma boa...
E antes que Brianna conseguisse ajudá-lo, ele tombou desacordado sobre a
cama, por causa da dor. Sabendo do orgulho do marido, ela decidiu não pedir
ajuda. Damron ficaria humilhado se alguém soubesse que havia desmaiado. Seria
melhor que todos acreditassem que ficara exausto por ter feito amor com a esposa.
Subiu na cama e o puxou até acomodá-lo com a cabeça no travesseiro.
Depois, penou para colocar as pernas dele por baixo das cobertas.
Não ficou surpresa ao ver que o corpo de Damron tinha finalmente se

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 108


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

rendido ao cansaço, obrigando-o a dormir. O esforço durante a batalha e o difícil


retorno a Blackthorn haviam exaurido suas forças. Obviamente os ferimentos e a
grande quantidade de vinho que tomara tinham contribuído. Sem contar subir as
escadas tendo-a no ombro.
Ela se vestiu e abriu a porta do quarto para chamar um dos criados.
— Traga uma jarra com água quente e panos limpos, por favor — pediu. —
Preciso trocar os curativos de lorde Damron.
Suspirou de alívio quando o criado voltou com os itens que pedira. Colocou-
os sobre a mesa e verificou meticulosamente cada um dos ferimentos. Consertou
alguns pontos que de fato tinham se soltado e pôs ataduras novas. Correu as
mãos pelos músculos do tórax dele, pelo abdômen firme e depois pelas pernas
fortes. Deu-se conta de que estava tocando e acariciando o corpo sensual de
Damron mais do que o necessário. Cobriu-o com a manta até o queixo e se deitou
ao lado dele.
Inalou o perfume másculo, que sempre tivera o poder de fazer seu coração
disparar, mesmo em sua vida no século XXI. Virou-se de barriga para cima,
colocou as mãos debaixo da cabeça e olhou para o teto do dossel da cama. O que
teria acontecido entre Damron e Genevieve que a levara a feri-lo daquela forma?
Fora por causa de algo que ele fizera, obrigando-a a agir em legítima defesa? Ou
pior ainda: ela agira num ataque de ciúmes?
Teria sido essa desconfiança que ele tinha, essa resistência em permitir que
outra mulher se aproximasse dele que fizera o casamento com a antiga Brianna
terminar em tragédia?
Na manhã seguinte, ao acordar, Brianna percebeu que estava sozinha na
cama.
— Bom dia, milady — saudou-a Mari. — Lorde Damron pediu que já
houvesse um banho quente à sua disposição quando acordasse.
— Hum, parece maravilhoso. — Pouco depois, entrou na banheira e
suspirou deliciada com a sensação da água quente em sua pele. Ela terminou de
se arrumar e prendeu os cabelos em duas trancas largas, amarrando-as atrás da
cabeça com uma fita amarela. De repente, ouviu um estrondo em algum lugar do
castelo ou do pátio; teria sido algum trovão? Haveria uma tempestade se
aproximando? Mas o quarto estava claro com a luz do sol...
Foi tomada por uma onda de pânico, ao pensar que o castelo pudesse estar
sendo invadido. Dirigiu-se até a janela para espiar o pátio interno. Viu nos homens
que estavam lá a mesma reação de confusão que tivera, mas todos olhavam para
uma janela no andar acima do seu. Voltou para dentro e saiu apressada do quarto
em direção às escadas. Pequenos gritos agudos e imprecações a levaram aos
aposentos de Asceline. A porta estava escancarada, como se alguém tivesse saído
às pressas. Brianna parou na soleira e olhou para dentro.
A cama da francesa tinha cedido bem no centro, dobrando ao meio e
prendendo a mulher dentro dela. Suas mãos se agitavam, tentando agarrar a
cabeceira, e as pernas estavam no ar, debatendo-se de encontro ao teto do
dossel, que a encobrira.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 109


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Quem estivera ali fazendo sexo com Asceline conseguira se livrar das
cobertas rapidamente e sair sem ser notado. Brianna deu de ombros e analisou i
situação da amante de seu marido. Nesse momento, Damron entrou no quarto,
seguido de Connor e Mereck. Meia dúzia de curiosos e criados do castelo c
Meghan chegaram logo depois. Meghan olhou por sobre os ombros das pessoas à
sua frente, viu a situarão ridícula em que Asceline se encontrava e não conseguiu
segurar uma gargalhada. Ao ouvi-la, a francesa gritou com ainda mais fúria.
— Pare com essa gritaria, mulher! — Damron elevou a voz.
Brianna sentiu um aperto no estômago. Teria ele subido as escadas logo
atrás dela ou estivera o tempo todo bem mais perto e apenas esperara o momento
certo para aparecer, para que ninguém desconfiasse de nada? Decidiu que não iria
perguntar-lhe onde estivera. Virou-se e deixou o quarto.
Damron e Mereck libertaram Asceline daquela situação humilhante e,
quando Damron viu as cordas cortadas da cama, olhou para o irmão. Os lábios de
Mereck se curvaram num sorriso, mas ele não disse nada. Damron sabia de sua
opinião em relação a manter uma amante quando se possuía uma esposa.
Porém, só discutiram o assunto quando estavam fora do castelo, perto das
muralhas.
— O que acha que aconteceu, Mereck? — perguntou Damron, rindo.
— Ah... Aquilo foi obra de Meghan e Brianna. Não sei dizer quem teve a
idéia, mas com certeza foi Meghan quem fez os cortes nas cordas. Isso é bem
típico dela. — Mereck riu, mas depois ficou sério.
— Concordo, porém não tenho intenção de puni-las por essa travessura —
declarou Damron. — Asceline tem um amante e está tentando convencer Brianna
de que eu ainda a visito regularmente.
— Que pena que o tal amante tenha conseguido se safar antes que
chegássemos. — Mereck riu de novo.
Nesse momento, um dos guardas anunciou que Eric MacLaren estava se
aproximando. Era o primeiro convidado a chegar para os festejos do casamento.
Nos dias seguintes, Brianna se ocupou, ajudando lady Phillipa com os
preparativos para receberem os convidados do matrimônio.
Certa vez, no final da tarde, Damron entrou no quarto enquanto ela tomava
banho. Ordenou que Mari buscasse mais água quente e, assim que a criada saiu,
tirou-a da banheira, enrolou-a numa toalha macia e colocou-a à sua frente. Secou-
a sem pressa e com extrema delicadeza. Quando as criadas voltaram com água
para que ele tomasse banho, vestiu-a com um robe e prendeu-o com um cinto.
— Venha, Brianna — pediu. — Gostaria que hoje você me banhasse.
Preciso agradar a alguém especial esta noite.
— Espere um momento — disse ela, já sentindo o sangue subir-lhe à
cabeça. Então ele queria agradar Asceline? — Vou usar um dos sabões especiais
de Bleddyn para lavar o seu cabelo.
Foi até o baú, de onde retirou dois frascos pequenos. Manteve-os próximos
ao corpo enquanto se posicionava atrás de Damron. Ele estendeu a mão para
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 110
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

inspecionar o que Brianna propusera usar. Tinha um aroma marcante de sândalo,


junípero e ervas. Damron aprovou o sabão, e ela o espalhou por suas costas e
peito, aproveitando a ocasião para lavar-lhe os cabelos com calma.
Enxaguou-os e pegou uma toalha para secá-los. Quando terminou, Damron
se enxugou, e Brianna se vestiu o mais rápido que pôde. Olhou-o com o canto dos
olhos, começando a se arrepender do que fizera.
Ao vê-lo pronto, ela sentiu o coração dar um salto dentro do peito, de tão
bonito que ele estava.
— Sente-se, milorde, preciso pentear seu cabelo e fazer as trancas.
Damron pareceu surpreso com aquela oferta, mas sorriu e agradeceu a
gentileza.
Assim que desceram as escadas, ela teve ímpetos de empurrá-lo de volta ao
quarto para consertar o que havia feito, mesmo que isso o deixasse ainda mais
zangado. Agarrou-o pelo braço e, quando abriu a boca para falar, sua voz foi
abafada pelo clamor das gaitas de fole que anunciaram a chegada dos noivos.
Tarde demais.
— Estão tocando uma marcha Sassenach em nossa homenagem — disse
Damron, sorrindo.
Quando Brianna viu os cavaleiros que se aproximavam, mal conseguiu
esconder a ansiedade. Esticou o pescoço para tentar ver quem eles traziam. Seus
tios Simon e Maud vinham no centro da escolta, e logo atrás deles, uma mulher
vestida de branco, com um manto na cabeça.
— Alana! — Soltou-se do braço de Damron e desceu os degraus correndo
com os braços estendidos para receber a irmã, mas Bleddyn a segurou pelos
ombros, enquanto todos os outros desmontavam dos cavalos.
A abadessa estava linda. O manto branco sobre a cabeça emoldurava-lhe o
rosto, preso em pequenas dobras até abaixo do queixo, descendo para as costas.
Tinha os mesmos olhos castanhos de Brianna e, a julgar pelas sobrancelhas, os
cabelos deviam ser da mesma cor. Em seu rosto, uma expressão de amor e paz
interior.
Brianna aguardou, ansiosa, que Alana, sua tia Maud e tio Simon chegassem
até eles. Jogou-se nos braços da irmã, chorando e rindo ao mesmo tempo e foi
preciso que sua tia interviesse pedindo atenção. Ela os saudou com a mesma
alegria e, quando finalmente conseguiu recobrar o fôlego e a postura, correu os
olhos pelos convidados, procurando por Elise e Galan.
— Lamentamos muito, filha, mas Elise e tia Cecilia não puderam vir — disse
Simon. — Elas foram para a Normandia com sir Galan. Eu o enviei para lá para
comprar um puro-sangue árabe e éguas para procriação, e Elise ficou encarregada
de comprar tecidos e temperos. Tenho certeza de que ficarão terrivelmente
desapontados por terem perdido esta visita.
— Venha, meu bem — Damron a chamou com um sorriso carinhoso —,
vamos voltar para dentro. Eu quis que tivesse estes primeiros momentos com a
sua família antes que entrassem.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 111


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Depois que todas as apresentações foram feitas, Brianna se voltou para a


irmã.
— Oh, Alana — disse —, senti tanta saudade de você, minha irmã!
— Você está muito diferente, pequenina — respondeu Alana, segurando-a
pelos braços e analisando seu rosto e corpo. Bleddyn estava por perto e observava
as duas irmãs conversando. — Não é mais a menina rebelde que precisava ser
vigiada o tempo todo.
— Quando Damron tossiu ligeiramente, ela o olhou.
— Eu vim para vê-la fazer seus votos de casamento perante Deus e os
homens.
Nesse momento, Asceline se manifestou, dirigindo-se a Damron:
— O que houve com o seu cabelo, milorde? Está agora unido aos selvagens
galeses e resolveu se pintar como eles?
Damron endireitou os ombros e ficou onde estava, como se fosse uma
estátua. Foi Bleddyn quem quebrou o desconfortável silêncio.
— Lorde Damron autorizou sua esposa a fazer mechas em seu cabelo à
moda galesa em minha homenagem, lady Asceline — disse, tentando amenizar a
situação. Virou-se para Damron e inclinou-se numa reverência solene. — Sinto-me
honrado com o seu gesto, milorde, e agradeço-lhe sinceramente.
— Não há de que, meu caro Bleddyn — respondeu Damron, entrando na
farsa para não passar vergonha. — Tenho grande respeito pelos seus costumes e
sempre irei honrar a você e ao seu povo. — Quando ele se virou para Brianna,
fulminou-a com o olhar. Ela, por sua vez, reconheceu imediatamente a fúria em
sua voz e sabia que haveria retaliação a mais aquela travessura.
E a vingança de Damron foi instantânea. Ele se virou e tomou Asceline pelo
braço para levá-la até a mesa, fazendo Brianna se sentir como se tivesse sido
esbofeteada na frente de todos. Mas que inferno!, pensou. Quando Damron
dissera que pretendia agradar a alguém, por que ela não controlara a própria raiva
antes de tirar conclusões? E agora provocara o que mais temia: ele estava dando
atenção para a amante.
A refeição passou rapidamente. Quando as bandejas com os doces foram
levados à mesa, Alana se voltou para a irmã.
— Brianna, por favor, cante para mim — pediu.
— Faz tanto tempo que não ouço você e Bleddyn cantando juntos!
— Sim, querida esposa — disse Damron ironicamente. — Cante para nós.

Ao ouvir o sarcasmo na voz dele, Brianna hesitou. Porém, Bleddyn veio em


seu socorro, ajudando-a a se levantar e tomando as rédeas da situação.
— Cante para Alana, minha pequena — disse ele.
— Ela não tem a alegria de ter você por perto, como nós, e dentro em breve
deverá retornar para a abadia. Não permita que o seu juramento a prive dessa

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 112


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

felicidade.
Ele se sentou numa banqueta já com o bodhran no colo. Quando os acordes
de um ataúde e a batida do instrumento tocado pelo galês entraram em sua mente,
Brianna sentiu como se a voz estivesse borbulhando em sua garganta e o volume
dela aumentou, preenchendo o ar com uma canção celta.
Damron a ouvia com tanta paixão e abandono que sentia o coração bater no
mesmo ritmo do bodhran. Os olhos de Alana brilhavam de puro deleite, e ela
sorria, feliz. Mantinha as mãos unidas em frente ao peito, como se estivesse
rezando.
Quando eles terminaram uma canção, começaram outra. Mereck se juntou
ao grupo, surpreendendo Damron. Com os olhos arregalados pela surpresa,
inclinou-se para a frente quando viu o irmão tomar a mão de Brianna, e os dois
começarem a dançar graciosamente ao sabor da música, enquanto continuavam a
cantar. A dança chegou ao fim, mas ambos embalaram na canção seguinte.
A noite caiu cedo demais para o gosto de Brianna. Ela se virou para
Bleddyn, com inúmeros questionamentos em sua mente, esperando que ele os
ouvisse. Gostaria tanto de ser feliz com sua vida como sua irmã era... Teria seu pai
construído a abadia para ela se soubesse que o jovem galês, a quem amava como
um filho, nutria esse sentimento pela filha mais velha? E Alana sabia que era
objeto do amor de Bleddyn. Se soubesse que o outro herdeiro saudável pelo qual
rezara tanto seria outra menina, teria seu pai feito a mesma promessa?
Era culpa sua o fato de Alana não ter a felicidade que tanto merecia.
Bleddyn a abraçou enquanto caminhavam de volta para a mesa.
— Não é culpa sua, mo maise, minha linda — disse ele, mostrando que
ouvira seu chamado. — Seu pai não sabia que o meu amor e o de Alana eram tão
fortes, quando ainda éramos jovens. Ele amava as duas igualmente, e nem por um
momento lamentou que você não fosse um menino. Se o seu pai pudesse ter
previsto todo o sofrimento por que passamos, garanto que não teria feito o
juramento que fez.
Brianna sentiu o queixo tremer, um prenuncio de que iria chorar a qualquer
instante. Suas pernas fraquejaram, e Damron se levantou imediatamente para
acudi-la, mas Alana também se adiantou e o tocou no braço, olhando-o com um
suave sorriso.
— Importa-se se eu acompanhar minha irmã ao seu quarto, milorde? —
pediu a abadessa.
— Brianna está muito pálida. Creio que a idéia de me agradar com o seu
canto foi demais para ela. Damron concordou com um aceno de cabeça e beijou
Brianna na face, mas não sem murmurar em seu ouvido:
— Conversaremos mais tarde, milady, — Seus olhos verdes pareciam duas
adagas.
— O que pretende fazer, Damron? — perguntou Bleddyn depois que as duas
saíram.
— Ensiná-la que ela simplesmente não pode me humilhar de maneira

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 113


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

alguma — respondeu ele por entre os dentes. — Se não fosse pelas suas
palavras, meus homens teriam percebido que eu sou um tolo que não consegue
controlar a própria esposa.
— Já parou para pensar que Brianna quis se vingar porque achava que você
estava se preparando para se encontrar com a francesa? — Mereck indagou,
entrando na conversa.
— Sim — respondeu Damron. — É bem provável que tenha sido isso.
Quando Damron chegou ao quarto, encontrou Alana saindo. Ela sorriu para
ele e desejou-lhe uma boa noite de descanso.
Damron parou ao lado da cama e olhou para o rosto adormecido de Brianna.
Tinha a face marcada por lágrimas secas e estava estranhamente imóvel. Ele
pegou a xícara da mesa-de-cabeceira, experimentou um resto de seu conteúdo e
concluiu que Alana devia ter ministrado algum calmante suave a Brianna.
Pegou o robe e se dirigiu ao andar de baixo para tentar tirar a tinta do
cabelo. E para pensar... Lembrou-se do olhar furioso de Brianna ao ver Asceline
presa na cama quebrada. E também quando ele lhe dissera que queria agradar a
alguém naquela noite.
Jamais havia conhecido uma pessoa de personalidade tão forte quanto
Brianna. Ela pensava mais como um homem do que como uma mulher indefesa.
Sorriu e balançou a cabeça. Bem, Meghan também tinha o mesmo gênio.
Jogou uma porção considerável de água no cabelo e se pôs a esfregá-lo.
Quando se deu por satisfeito, secou-o rapidamente e voltou para o quarto.
Chegando lá, despiu-se por completo, enfiou-se embaixo das cobertas e puxou
Brianna para perto.
Será que ela iria gostar quando os convidados começassem a chegar?
Sorriu ao se lembrar do belíssimo vestido que sua mãe e as criadas estavam
confeccionando sem que Brianna soubesse. Os preparativos para o banquete
estavam adiantados e sob controle. As cruzes flamejantes que reuniam seu povo já
tinham sido entregues e, para sua surpresa... Meghan não tinha revelado esse
segredo a ninguém! Em dois dias, ocorreria a cerimônia.
Decidiu que deslocaria Asceline para a vila, pelo menos até que conseguisse
dispor de uma escolta para levá-la de volta à Normandia.
O som das gaitas de fole executando a saudação cerimonial dos Morgan fez
Brianna acordar no alvorecer do dia seguinte. Foi até a janela e viu Meghan
acompanhada do gaiteiro-chefe, Angus, no alto de uma das muralhas, tocando as
boas-vindas a uma fila de visitantes que chegava ao castelo. A fila era tão longa
que quase alcançava o bosque. Precedendo cada grupo de convidados, um porta-
estandarte trazia o brasão da família que representava.
Mari entrou correndo no quarto, com o rosto corado e um largo sorriso.
— Minha linda senhora — disse ela —, precisa se preparar para receber os
convidados! Não temos uma celebração assim desde... — a criada parou por um
instante. — Não me lembro desde quando.
Da soleira da porta, Damron balançou a cabeça com um sorriso.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 114


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Dormiu tão rápido ontem à noite, milady, que não tive tempo de avisá-la
do horário da chegada deles. — Ao se aproximar da esposa, os lábios de Damron
se curvaram num sorriso. — Eles vieram para assistir à cerimônia de casamento
que você tanto desejou para unir nossas famílias. Depois do banquete, faremos
nossa união também à moda escocesa. — Ele se inclinou e beijou-a no ponto
sensível abaixo da orelha.
Brianna arrepiou-se. Não conseguia mais negar as ondas de desejo que
percorriam seu corpo, embora tentasse convencer a si mesma de que se sentia
excitada porque iria testemunhar uma autêntica reunião de um clã escocês. Mas,
claro, era mentira. Um simples olhar em direção à cama comprovaria isso, pois
ansiava por estar ali, nua, com Damron.
— Você vai se unir a mim de todas as maneiras possíveis, Brianna —
sussurrou ele.
— Sim, mas não hoje, certo?
— Não. Somente no domingo, daqui a dois dias — Damron esclareceu. —
Mamãe e as viúvas já terminaram o seu vestido de noiva, mas você precisa ex-
perimentá-lo antes. — O rosto dele estava iluminado por um sorriso quando saiu.
Brianna sentia o coração e a mente em conflito. O amor da antiga Brianna
por Damron havia perdurado por séculos a fio. Caso contrário, como seria possível
que ela, ainda criança no futuro, tivesse sentido que Damron lhe pertencia, desde o
primeiro instante em que vira o retrato dele no castelo? Tentou se acalmar ao
descer para o salão principal.
Alana veio recebê-la quando entrou no salão lotado, dando-lhe o braço.
Damron encontrava-se no tablado onde ficava a mesa principal, e Jeremy estava
ao seu lado. O escudeiro segurava um pesado cajado cerimonial, entalhado com
imagens do sol, montanhas, carvalhos, cervos e lobos.
Eric MacLaren era o primeiro da fila de convidados a saudar Damron e
demonstrar seu respeito. Veio até ele com passos largos, sorriu, tomou o cajado
das mãos de Jeremy e bateu-o no chão. O golpe foi tão forte que ecoou por todo o
salão, assustando Brianna.
— Eu, Eric MacLaren, representante do clã MacLaren, trago as saudações
do nosso chefe e os mais sinceros votos de uma união frutífera e duradoura! —
gritou ele.
— Os Morgan agradecem a você e ao seu clã — respondeu Damron.
Os dois tocaram o ombro um do outro com firmeza, e Eric se afastou, dando
lugar ao próximo da fila para que repetisse o ritual. Algumas saudações eram
breves, como a de Eric, enquanto outras, mais longas e elaboradas.
Brianna ouvia os nomes, e eles flutuavam em sua mente. Quando Meghan
se juntou a elas, ajudou Brianna e Alana a se lembrarem dos convidados e de
quais famílias representavam, pois a essa altura o salão já estava repleto.
— A maioria é composta de montanheses, e alguns são das terras baixas
centrais. Se o chefe do clã não quiser ou não puder sair dos seus domínios, pode
enviar um representante escolhido por ele, normalmente um dos herdeiros. Os que

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 115


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

vêm de mais longe não trazem as esposas, pois há o perigo de serem raptadas.
Na manhã seguinte, Damron acordou primeiro.
— Fique descansando esta manhã, Brianna — disse ele e deu-lhe um
sonoro beijo na testa.
— Deve guardar suas energias, pois precisará delas quando fizermos amor
esta noite.
Brianna dormiu até mais tarde e fez uma refeição leve. As viúvas entraram
em seu quarto trazendo o vestido de noiva e começaram a prova. Ajustaram-no em
seus seios e cintura e acertaram a bainha. Mari a ajudou a se vestir em tons
alegres de amarelo e prendeu seu cabelo com fitas da mesma cor, passando-as
pelas mechas como se fossem uma tapeçaria delicada. Mal tinham terminado
quando Damron veio buscá-la.
— Está linda, milady — murmurou ele. — Venha, temos de descer para a
refeição. Os convidados ficaram bebendo e conversando o dia inteiro e precisam
comer; caso contrário, irão começar a lutar sem motivo. Não tenho intenção de me
apresentar para o nosso casamento amanhã com o nariz quebrado. Já sangrou
muito ultimamente. — Riu e deu uma piscadela divertida.
Brianna sentiu o coração dar um salto ao vê-lo tão calmo e relaxado. Tinha
até feito uma provocação sobre ela tê-lo atingido no nariz! E tivera bastante
trabalho ao planejar todos os detalhes do casamento sem que ela soubesse.
Para sua alegria, Asceline não estava sentada à mesa principal, mas fora
acomodada numa outra abaixo do tablado, ao lado de um homem loiro do clã dos
MacLaren. Quando Brianna o olhou, ele a encarou. Ela sentiu um formigamento na
nuca e uma terrível sensação de mal-estar. O homem apertou os lábios e fitou as
cicatrizes em seu maxilar. Instintivamente, Brianna as tocou, quase sentindo as
mãos daquele sujeito nojento sobre si.
Depois que todos saborearam a refeição, acrobatas, músicos e outros
artistas começaram a apresentar seus números. Brianna virou-se para Damron.
— Milorde, quem é aquele homem sentado ao lado de Asceline? —
perguntou num sussurro. — É o irmão de Eric?
— Não, é Rollo, primo dele — respondeu Damron. O salão foi se tornando
mais barulhento à medida que os artistas começavam a discutir com alguns ho-
mens que já estavam bêbados. Damron fez um sinal às mulheres para que os
levassem para a cama. E mais uma vez surpreendeu Brianna quando ele próprio a
acompanhou até o quarto.
Depois de se despirem, Damron apagou as velas e fechou as cortinas da
cama. Deitou-se e puxou a esposa para seus braços, aninhando-a contra o peito.
— Durma, meu bem. Amanhã teremos um longo dia. — Beijou-a
suavemente na testa e logo ele mesmo estava dormindo.
Brianna finalmente relaxou e adormeceu.
Brianna acordou com o ruído de pessoas andando dentro do quarto. Quem
poderia estar ali no meio da noite? Olhou por entre as pálpebras semi abertas e viu
Alana se inclinando sobre ela.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 116
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Vamos, preguiçosa, senão irá se atrasar para o próprio casamento. — Riu


suavemente.
— Estamos aqui para ajudá-la a tomar seu banho e a se preparar para o
grande dia.
Ela sentiu o coração disparar, e sua boca ficou seca. Damron havia
cumprido o que ela exigira naquela noite em Ridley. Não tinha mais como se negar
a ele. Essa constatação foi como um soco no estômago. Se ela se entregasse a
Damron, como era a obrigação de uma esposa, será que sua alma ficaria ali para
sempre? Ou seria tragada de volta ao século XXI, deixando o coração e Damron
para trás?
— Pronto, meu bem — disse Meghan trazendo o biombo para dar a Brianna
mais privacidade durante o banho. — Mari já trouxe o seu desjejum e um pouco de
vinho para você se acalmar.
Assim que Brianna terminou o banho, a criada a enrolou numa toalha de
linho, e Alana usou uma escova de cerdas de madeira para desembaraçar seus
cabelos molhados. Quando terminou, usou pedaços de seda macia para enrolar os
cachos que havia separado.
— Estes seus cachos cor de avelã são capazes de enlouquecer de desejo
até o mais frio dos homens
disse Alana, surpreendendo as outras mulheres, especialmente Meghan,
que caiu num riso convulsivo. — Ora, meninas, sou uma freira, mas antes disso, 11
ma mulher.
Alana e Meghan prenderam as meias de Brianna com fitas cor de marfim.
Ajudaram-na a colocar os sapatos da mesma cor e a combinação, também na cor
marfim, porém de um tom mais marcante. A peça tinha mangas longas em forma
de sino, e as bainhas eram bordadas com pequenas rosas de um vermelho-escuro.
Lady Phillipa e lady Maud a ajudaram a vestir a túnica que servia como
vestido de noiva. As mangas fluidas tinham sido confeccionadas para deixar ape-
nas as bainhas da combinação aparecer nos pulsos e nas fendas laterais. Nessas
fendas, tinham sido bordadas lindas árvores antigas com fios azul-safira nos
troncos; as raízes curvas haviam sido feitas com pontos delicadíssimos.
O cinto com o qual Damron a presenteara, de rubis e safiras, acomodava-se
perfeitamente em seus quadris. Brianna tinha certeza de que as mulheres haviam
escolhido as cores do bordado para combinar com o cinto, de forma a destacá-lo.
— Você está uma noiva linda! — elogiou lady Phillipa, dando-lhe um suave
beijo na testa.
— Sinto tanto que seus pais não estejam vivos para presenciar este dia... —
disse lady Maud com lágrimas nos olhos.
Em vez de uma coroa, Meghan colocou uma delicada guirlanda de flores em
sua cabeça. As pequenas flores estavam presas com fitas azuis, vermelhas e
marfim, caindo delicadamente por suas costas.
Brianna sentiu a aproximação de Nathaniel e dispensou todas as mulheres
ali presentes, exceto Alana. O galês estava vestido todo de preto e tinha o rosto

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 117


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

pintado novamente, parecendo selvagem e atraente ao mesmo tempo. Ele sorriu


para Brianna, que percebeu que os olhos dele estavam úmidos. Quando o olhar
dele encontrou o de Alana, também os olhos dela ficaram marejados. Brianna
sentiu um forte aperto no coração e um grande pesar pelas duas pessoas à sua
frente, que haviam perdido tanto em suas vidas. Como um pai teria feito, ele
estendeu o braço para a noiva.
— Venha, seu impaciente marido está esperando. — Ele sorriu e abriu a
porta.
Guardião estava a postos, muito bonito depois do banho que tomara pela
manhã; fora enfeitado com uma coleira de fitas lilás e flores de lavanda, com a qual
ele não parecia se incomodar. O lobo balançou o rabo e abriu o caminho escada
abaixo. Alana vinha ao lado do animal, com Brianna e Bleddyn logo atrás. Quando
os três saíram de dentro do castelo para o pátio, foram recebidos por gritos de
alegria dos convidados, que os aguardavam para acompanhá-los até a igreja.
Connor os recebeu com um sorriso, segurando as rédeas de Angel. O cavalo
também estava enfeitado para a festa. Havia sido lavado e escovado e tinha a
longa crina trançada com fitas prateadas e pequenos guizos nas pontas das
trancas. A sela em seu dorso era cravejada de jóias.
Bleddyn ergueu Brianna como se ela fosse uma pena e sentou-a de lado na
sela. Connor puxou as rédeas suavemente, e o galês caminhou a seu lado.
Guardião abria a pequena procissão. Mantinha a cabeça erguida e olhava para
todos os lados, garantindo n segurança de sua adorada dona.
Simon Ridley escoltou as mulheres atrás de Brianna, e os moradores da vila
os seguiram, dando vivas e jogando flores para a noiva. A pequena multidão abriu
caminho para que Guardião e Connor levassem Brianna até Damron. Ao vê-la
chegando, ele desceu os degraus da entrada da igreja para recebê-la e levá-la
para dentro, mas nesse instante Mereck pôs uma das mãos em seu ombro.
— Não, irmão — disse ele. — Deixe que Bleddyn cumpra as tarefas que
seriam do pai dela.
Connor parou Angel, e Bleddyn deu um passo à frente para oferecer a
Damron um pé do par de sapatos pretos que Brianna calçara com o traje negro na
noite em que o desafiara. Damron sorriu com o gesto simbólico, pois o galês a
estava entregando e prometendo que ela desistiria da resistência mostrada até
então.
Para ele, nunca Brianna estivera tão linda quanto naquele momento em que
Bleddyn a conduzia degraus acima. Aos seus olhos, ela era a mulher mais bonita
que já vira em toda a vida.
Damron, Connor e Mereck se colocaram ao lado esquerdo de padre
Matthew, enquanto lorde Douglas e o barão de Ridley se posicionaram ao lado
direito.
Damron ficou tenso. Em instantes, Brianna seria sua esposa de fato. A
cerimônia perante o rei Malcolm, o rei William e a rainha Matilda não passara de
um acordo burocrático e não tinha o poder do ritual religioso do qual estava prestes
a participar.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 118


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Bleddyn levou a mão de Brianna para junto da de Damron. Ao segurar-lhe a


mão, ela o fitou intensamente, fazendo-o perceber que estava com medo. Damron
pediu a Deus que não fosse medo dele ou da noite de núpcias que estava por vir.
Padre Matthew deu início à cerimônia, proferindo cada palavra com calma e
clareza, de forma a que todos os presentes pudessem testemunhar a legitimidade
da união. Damron fez seus votos com voz forte e marcante.
Brianna sentiu um grande frio no estômago e a boca seca. Passou a língua
nos lábios e tentou se concentrar nos votos que padre Matthew dizia para que ela
repetisse. Engraçado como os votos de casamento pareciam não ter mudado tanto
ao longo do tempo.
Santo Deus, como poderia suportar ser tragada de volta ao século XXI
depois de ter jurado fidelidade eterna a Damron? E se engravidasse? Ter um filho
com ele e depois ser separada dos dois seria a morte em vida para ela. E quanto a
Brianna de antes, incapaz de encarar os perigos da Idade Média?

Quando repetiu as palavras do padre, sentiu a voz tremer. E ao jurar


obediência ao marido, acrescentou, de modo que só Damron pudesse ouvi-la:
— ...a menos que seja algo que eu considere absurdo. — Sentiu Damron
apertar-lhe os dedos.
Mereck passou ao irmão o par de alianças que Damron havia mandado
confeccionar para a ocasião. A aliança de Brianna era adornada com pequenos
rubis.
— Com esta aliança, eu a desposo; com o meu coração, eu a honro. —
Colocou a aliança no dedo anular, onde se encaixou perfeitamente. — E com o
meu corpo, eu a agradarei. — Ele a fitou intensamente. Brianna sentiu fagulhas de
energia fluindo entre ambos quando ele proferiu aquelas palavras. Corou
lentamente e baixou o olhar, fazendo-o rir com malicia.
— Agora é o momento de a noiva fazer o juramento de lealdade ao seu
marido e novo senhor — declarou lorde Douglas, dando um passo à frente. —
Depois disso, celebraremos a missa.
— Que juramento, vovô? — Brianna perguntou, alarmada. —Acabei de fazer
os meus votos...
— Claro que sim, minha filha — respondeu ele. Mas nestas circunstâncias
há um outro juramento ainda mais importante a ser feito.
— Que circunstâncias? — Ela se virou para Daimron com um olhar de
suspeita.
— Eu sou o herdeiro direto de um clã e estou me casando com uma saxã —
ele esclareceu depois de fitá-la por alguns segundos. — Isso não deve ser
encarado como uma ofensa, garanto-lhe que não é, mas serve apenas para
assegurar que você será uma Morgan fiel ao seu nome. — Damron a estudou por
um momento e continuou: — Agora, por favor, ajoelhe-se e tome minha mão.
— Ajoelhar-me?! Ah, não mesmo! — ela se recusou de imediato.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 119


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Damron pôs as mãos enormes sobre seus ombros, olhou-a bem no fundo
dos olhos e forçou-a a se abaixar. Alana quase gritou, assustada com a atitude do
cunhado, e Brianna decidiu não mais resistir por causa da irmã. Cerrou os dentes
quando seus joelhos tocaram o chão, e Damron tomou sua mão nas dele com
firmeza. E ali estava ela, de joelhos, com as mãos erguidas como em súplica.
— Mereck lera as palavras que você irá repetir — disse Damron.
Mereck pegou o papel e correu os olhos por ele, lançando depois um olhar
inseguro para Brianna. Mesmo assim, pigarreou e leu:
— "Eu, Brianna Morgan, juro fidelidade ao senhor meu marido, Damron de
Blackthorn."
Ela repetiu as palavras sem nenhuma dificuldade; tudo bem até agora,
pensou.
— "Juro honrá-lo de todas as maneiras e ser leal ao seu clã."
Como também não tinha conflito com isso, repetiu a frase.
— "Juro renegar quaisquer outros amores, seja em atos ou em
pensamento."
Desta vez, ela hesitou por um segundo, tentando compreender o motivo de
Damron querer tal promessa. Mas ao sentir as mãos dele apertando-lhe os om-
bros, repetiu as palavras. Porém, ao ouvir o último trecho...
— "Juro que irei obedecer-lhe cegamente, guardar meu corpo somente para
o meu senhor, e jamais abandoná-lo enquanto ainda houver um sopro de vida em
meu corpo."
Brianna fez menção de se erguer. Não conseguiu, pois Damron a forçou a
permanecer de joelhos. Ele segurou suas mãos, esperando que ela terminasse o
juramento.
— Prometa que jamais irá me abandonar, ou ficará de joelhos até amanhã
cedo — disse Damron em voz baixa, com um brilho determinado no olhar.
Ela acreditou.
— Eu juro que lhe obedecerei, desde que haja motivos plausíveis para isso,
e que seguirei o exemplo de meu marido de me guardar somente para ele. — Ela
ignorou a imprecação dita por ele em voz baixa. Como poderia repetir o voto de
jamais deixá-lo? E se Damron começasse a amá-la? Sentiu um nó na garganta, e
a dor fez com que pensasse na angústia que ele sentiria se ela desaparecesse de
repente. Um tremor a sacudiu por inteiro. Por fim, prosseguiu: — E juro que nunca
o abandonarei por vontade própria enquanto restar um sopro de vida em meu
corpo. — Terminou depois de respirar fundo.
— Não exija mais de Brianna do que ela pode sinceramente lhe dar —
Bleddyn sussurrou para Damron. — Não pode forçá-la a obedecer, mas, com o
tempo, pode conseguir que ela queira fazer isso. E, a única maneira de conquistar
sua obediência, você terá de descobrir sozinho, ou será o seu fim.
Damron a ajudou a se erguer e a tomou nos braços com extrema delicadeza.
Não estava arrependido de havê-la forçado a fazer o juramento. Embora não

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 120


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

conseguisse aceitar a idéia absurda de que Brianna viesse de um outro tempo, ela
já ameaçara abandoná-lo, e isso era algo que o atemorizava. Ele a forçaria a ficar.
Ele a desejava, a amava, e faria de tudo para mantê-la a seu lado.
Enquanto seguiam o padre Matthew para dentro da igreja, Damron passou o
braço pelo ombro de Brianna e a prendeu num abraço firme.
As portas foram deixadas abertas para que os que estavam do lado de fora
pudessem assistir à missa. Quando todos deixaram a igreja, as mesas ao longo do
pátio já haviam sido servidas com os pratos quentes. Assim, os habitantes da vila e
os convidados que tinham vindo com os clãs não precisariam esperar muito pela
comida. No salão principal do castelo, onde havia um número reduzido de
convidados, os servos começaram a servir as mesas já ocupadas.
Brianna ficou ao lado de Damron. Não protestou quando os amigos dele
vieram até ela e deram-lhe sonoros beijos nas bochechas. Na vez de Mereck,
Damron pisou forte no tablado, fingindo ter pisado no pé do irmão para repreendê-
lo.
— Sinto muito que tenha sido eu a ler seus votos de obediência — disse
Mereck depois de beijá-la na face.
— Muito pelo contrário, Mereck, fico feliz que tenha sido você — ela falou
com sinceridade.
— Mas como é possível uma esposa manter um juramento de jamais deixar
o marido, não importando as circunstâncias? Há coisas que não é possível
controlar, mesmo que se queira.
Não se podia dar início ao banquete enquanto os noivos não tomassem seus
lugares à mesa principal sobre o tablado. Assim, Damron levou a esposa até o
lugar que deviam ocupar. No entanto, Brianna tinha a sensação de que tudo o que
comia ficava preso em sua garganta, no nó de medo que a travava. Não conseguia
deixar de pensar no dia em que estiver a na loja de antigüidades do castelo
quando, em meio àquela estranha névoa, tinha visto as mãos de Damron colocar o
broche em seu suéter. A voz dele, carregada pela tensão, dissera: "Prometa que
jamais irá me abandonar", minutos antes de sua alma ser tragada para o século XI.
Aquelas palavras martelavam em sua mente, e seu coração deu um salto quando
ela percebeu que, mesmo séculos depois, havia respondido àquele apelo.
O tempo estava fresco, então, após o almoço, puderam passear ao ar livre.
Em determinado momento, Brianna se deparou com Asceline acompanhada
daquele sujeito asqueroso que vira antes. A francesa a fulminou com o olhar,
pegou o homem pela mão e desapareceu na multidão.
A noite foi chegando. Era a hora de reunirem as cruzes de madeira que
seriam jogadas na fogueira da cerimônia escocesa de casamento. Lorde Douglas
pediu silêncio às pessoas ali presentes.
— Chegou o momento da minha vida no qual eu não posso mais ficar
correndo por aí para manter a ordem ou para organizar batalhas — disse ele. —
Durante muitos anos, tenho treinado meu neto, Damron, pois vocês o elegeram
como o herdeiro do clã quando eu morrer. Porém eu não pretendo assistir a essa
passagem de poder quando já estiver no céu. Quero vê-la hoje e homenagear o
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 121
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

novo chefe do clã dos Morgan, Damron Alasdair, um Morgan de Blackthorn. E


amanhã será ele quem estará neste lugar e será a ele que vocês deverão fazer
seus votos.
— Vovô, não pode fazer isso! — protestou Damron em meio aos gritos de
aprovação dos habitantes do castelo. — Ainda tem muitos anos pela frente para
que possa liderar nosso povo.
— Não, meu neto. Por favor, não me negue esta alegria — lorde Douglas
contestou. — Posso ainda ter anos pela frente, como diz, mas quero desfrutá-los
brincando com os meus bisnetos e quero escrever minhas memórias como sempre
desejei. Não invejo o fardo que agora cai sobre seus ombros, mas saiba que
sempre estarei pronto para ajudá-lo.
Ao ver que Damron ainda hesitava, Connor passou a lorde Douglas a
enorme espada que pertencia ao chefe supremo do clã. As mãos de Damron
tremiam enquanto ele aceitava a espada do avô. Na seqüência, lorde Douglas deu
a Mereck uma pena de águia para ser presa à roupa de Damron. Com os olhos
cheios de orgulho, Mereck prendeu a pena por trás do broche que segurava o tartã
no ombro de seu meio-irmão.
— Posso ter a honra de ser o primeiro a jurar lealdade ao novo chefe do clã
Morgan? — pediu Mereck.
— Você será o primeiro quando viermos para cá à primeira luz da manhã —
respondeu Damron, abraçando o irmão. Voltou-se para o avô, pôs-se de joelhos e
beijou a mão do ancião. Depois ergueu a mão para silenciar os gritos da multidão
que assistia a tudo. — Temos ainda um pequeno ritual antes de eu levar minha
esposa para o quarto — disse ele, rindo ao ouvir os gritos dos guerreiros.
Tomou Brianna pela mão, e Meghan e Angus subiram na plataforma com
eles, tocando a marcha nupcial do clã. Connor passou ao avô uma adaga fina-
mente trabalhada.
— Minha querida Brianna, não tenha medo, pois não irei machucá-la—
assegurou o velho senhor.
—Vou apenas fazer um minúsculo corte no seu pulso e no de Damron e unir
vocês dois pelo sangue. Bleddyn se assegurou de que a faca foi devidamente
desinfetada, assim os cortes não infeccionarão. Confia em mim?
— Confio no senhor com minha própria vida, vovô — respondeu ela.
— Damron, dê-me o seu pulso esquerdo, que é o mais próximo do coração.
Damron obedeceu e estendeu o braço. Lorde Douglas fez um pequeno
corte, e o sangue fluiu livremente.
— Agora, filha, dê-me o seu pulso direito, pois assim a vida dele se unirá à
sua, e a sua à dele.
Ela também estendeu o braço. Um pequeno arfar indicou o momento em que
lorde Douglas fez o corte. Mereck uniu os dois pulsos, sangue contra sangue sobre
um pequeno pedaço do tartã do clã. Depois, pegou a tira de tecido e prendeu-a na
roupa de Brianna com o broche que Damron lhe dera de presente.
Meghan e Angus tocaram uma melodia alegre enquanto desciam os degraus
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 122
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

da plataforma. Damron e Brianna tinham dado as mãos, e seus dedos entrela-


çados pareciam estar colados com o pouco de sangue que cada um vertera em
nome daquela união.
Os gaiteiros, com Guardião à frente, lideravam o cortejo dos noivos, agora
oficialmente casados. Lorde Douglas, Mereck e Connor os seguiam na volta solene
que tinham de dar na plataforma, onde cruzes de madeira agora ardiam em
chamas.
A multidão se dispersou, e os gaiteiros os levaram para os portões do
castelo. Quando retornaram ao salão principal, todas as mesas já haviam sido
limpas, e as mesas extras, guardadas. Os longos bancos foram colocados lado a
lado encostados nas paredes, para que houvesse mais espaço para a série de
entretenimentos daquela noite.
Enquanto os convidados ocupavam seus lugares para assistir aos festejos,
Bleddyn se aproximou de
Damron e Brianna para soltar seus pulsos da tira de tartã. Limpou os cortes
cuidadosamente e aplicou um bálsamo para acelerar a cicatrização.
Damron pegou a esposa carinhosamente nos braços e a carregou escada
acima. Guardião vinha logo atrás deles.

— Mari — disse Damron —, ajude sua senhora a se despir. — Ele clareou a


garganta.
— Tenho receio de que, se eu for ajudá-la, corra o risco de estragar o
vestido de noiva, o que seria uma grande pena.
Damron fitou o rosto corado da esposa enquanto a colocava no chão.
Deslizou-a com lentidão propositada, e ela sentiu a excitação dele pressionar sua
coxa. Em seguida, ele trouxe o biombo para que ela tivesse um pouco de
privacidade ao se despir.
Pela primeira vez em sua vida, ele se sentia nervoso. Olhou pelo quarto e viu
a jarra com a bebida que trouxera de Ridley, feita pelo mesmo mestre de antes, as
taças sobre a mesa aguardando para ser usadas. Sorriu ao ouvir o comentário de
Brianna sobre a camisola feita especialmente para a noite de núpcias:
— É tão fina, tão delicada... Se eu a colocar na palma da mão, não sentirei
seu peso — disse ela, maravilhada com a peça.
Damron sentiu o sangue correr mais rápido nas veias só de imaginar aquele
corpo sensual na camisola que sua mãe e as viúvas tinham confeccionado com
tanto esforço. Enquanto sua esposa se preparava para ele, também ele se
preparava para ela, despindo-se. Vestiu o robe de seda e ajustou-o à cintura, mas
deixando boa parte do tórax exposto.
Finalmente Brianna saiu de trás do biombo, Damron forçou-se a mostrar
apenas o prazer de vê-la ali, naquele esplendor, mas seu coração estava dispa-
rado e seu membro adquiria vida própria.
— Você é linda, querida esposa, e hoje está mais linda do que nunca. —
Virou de costas para ela e ordenou a Mari que se retirasse.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 123
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Brianna ainda estava em pé, irrequieta, olhando pura todos os lados, exceto
para ele.
— Meu rosto ficou tão feio assim de repente, milady, que não consegue
olhá-lo? — ele perguntou, tentando não sorrir.
Ela não respondeu.
Damron serviu a bebida feita para a noite de núpcias na taça que deveriam
partilhar como parte do ritual e pousou-a sobre a mesa ao lado da cadeira. Brianna
estava tão insegura, tão vulnerável que nem parecia ser a mesma pessoa. Sentiu-
se encher de ternura quando a tomou nos braços e se sentou, acomodando-a
confortavelmente sobre o colo. Levou a taça até seus lábios antes de ele mesmo
sorver um gole.
— Acho que cumpri todos os seus pedidos para o nosso casamento, não,
minha esposa? — perguntou.
— Alana se encontra aqui conosco, assim como o seu Nathaniel, minha mãe
e toda a minha família. Estamos unidos pelos laços de três cerimônias. Será que
agora deixará de lutar contra mim e será uma esposa obediente e adequada? —
Teve vontade de se esmurrar ao perceber como suas palavras tinham soado
ridículas.
— Damron, você sabe que jamais serei a esposa omissa que espera que eu
seja — disse ela com calma. — Não é da minha natureza ficar sentada bordando e
conversando sobre amenidades com outras mulheres. E quanto a lhe obedecer
cegamente, conhece muito bem a minha opinião a respeito.
— Brianna, não espero que se curve a tudo o que eu digo. A única coisa que
exijo é a sua lealdade, e jamais permitirei que tenha um amante, como acontece na
corte real. E nisso terá de me obedecer.
— Eu não quero nenhum amante — ela assegurou. — No entanto, você me
insulta quando me faz parecer, diante de todos, inadequada para um homem
primitivo.
— Primitivo, eu?! — Damron parecia ofendido. — Pois saiba que sou um dos
homens mais bem instruídos de toda a Escócia! Sei ler e escrever, falo seis
línguas, já recebi mais títulos de cavaleiro do que muitos nobres, já ajudei a
planejar batalhas vitoriosas, já lutei e venci muitas outras, conquistei castelos e
tenho em minhas mãos o poder de decidir a vida ou a morte de centenas de
pessoas. — Ele ergueu o queixo ao dizer isso tudo. — Duvido que encontre qual-
quer outro homem como eu. Nenhum outro guerreiro é páreo para mim.
— Bleddyn é — sussurrou ela com simplicidade. Damron sentiu sua ereção
se desvanecer como por encanto. Suspirou, desolado. Era inútil. Sua esposa
jamais aprenderia a manter a boca fechada. Franziu o cenho enquanto
considerava o que ela dissera.
— Bleddyn não conta — respondeu. — Ele é galês, não escocês. — Pousou
o queixo sobre a cabeça dela antes de continuar: — Eu disse que lhe seria fiel
depois que se tornasse minha esposa de verdade. Já estivemos diante de um
padre e fizemos os nossos votos, mas em respeito a você, farei este outro: jamais
irei buscar conforto na cama de outra mulher, a menos que você se negue para
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 124
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

mim.
Ele sentiu o corpo de Brianna relaxar de encontro ao seu. Segurou-lhe a
nuca, prendeu seu lábio inferior entre os dentes e o sugou. Moveu depois os lábios
pelo rosto, pousando beijos suaves sobre as pálpebras. A cada vez que Brianna
fazia menção de abrir os olhos, ele voltava a beijá-los e mantê-los fechados,
murmurando todas as coisas que queria fazer com ela.
Deliciado com o prazer que estava proporcionando à esposa, ele acariciou a
pele sedosa dos braços até os ombros. Roçou os dedos em um seio e fechou a
mão sobre ele, pressionando e circulando o mamilo com o polegar. Quando
esfregou a palma nele, Brianna estremeceu, suspirando de prazer.
Embora tivesse vontade de simplesmente rasgar aquela camisola e
mergulhar naquele corpo, Damron obrigou-se a se controlar para prosseguir com
gentileza. Se tudo corresse do jeito que esperava, Brianna jamais aventaria a idéia
de deixá-lo, pois ainda se lembraria dessa noite mesmo quando fosse idosa e já
tivesse vários netos. Pousando o rosto na curva do pescoço delicado, ele a
acomodou melhor em seu colo, de modo que ficasse mais exposta aos carinhos de
suas mãos ávidas e de seus lábios famintos.
Brianna espiou por entre as pálpebras entreabertas. O robe de Damron tinha
se aberto de modo a revelar o peito largo e musculoso, pontilhado por pelos
negros. Sentia a ereção pressionando sua perna. Sabia que se olhasse para baixo,
veria o membro rígido lutando para se libertar do tecido que o cobria. A vontade
que sentia de olhar era quase irresistível.
Ela subiu as mãos para o pescoço de Damron e pressionou o corpo de
encontro a ele. Os dedos do marido se esgueiraram para debaixo de sua camisola
e tocaram levemente a pele sensível de suas pernas. No momento em que chegou
às coxas, ela ficou tensa. Ele sorriu com malícia e retirou-lhe a camisola, deixando-
a nua.
Vendo aquele corpo maravilhoso em seu colo, enrolado em seus braços,
Damron não conseguiu evitar os suspiros de prazer que brotaram de seu peito.
Desceu a palma da mão até o monte de pelos escuros de Brianna. Quando se
levantou da cadeira, levando-a nos braços, ela se agarrou aos cabelos dele,
puxando as mechas da nuca.
A cada passo, Brianna sentia o membro rígido de Damron resvalando em
suas nádegas, excitando-a ainda mais. Sem tirar os olhos dela, ele a deitou sobre
a cama e deu um passo para trás. Soltou o robe e tirou-o lentamente. Brianna
assistia a tudo fascinada. Era uma visão hipnótica.
Damron subiu na cama, e Brianna, um pouco temerosa, agarrou os lençóis
até o instante em que ele pousou o corpo firme e quente sobre o dela. Ele reiniciou
a sedução e, dessa vez, desceu a mão para a doce feminilidade da esposa,
tocando-a por inteiro. Por instinto, ela também o tocou intimamente, fazendo-o
arfar.
Brianna sorriu e retirou a mão, parecendo satisfeita em torturá-lo. Começou
a provocar-lhe o corpo da mesma forma que ele estava provocando o seu. Subia
as mãos para o abdômen e as descia lentamente em direção ao membro. E
quando Damron achava que ela ia continuar com a carícia, afastava as mãos, dei-
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 125
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

xando-o louco de desejo e frustração. Ele afundou o rosto entre seus seios e, a
cada vez que ele lambia ou mordiscava os mamilos, ela percorria com as mãos as
costas e as nádegas firmes.
Damron colou seus lábios aos dela, mergulhando a língua naquela boca
deliciosa. Deslizou o corpo novamente, aninhando-se entre as pernas afastadas.
Beijando-lhe os seios, enroscou os dedos na penugem que encobria o sexo,
desejando levá-la à loucura. Acariciou-a até vê-la se contorcer de prazer. Ao perce-
ber que ela se retesava num indício de que atingiria o clímax a qualquer instante,
retrocedeu com a exploração, levando as mãos a outros lugares. Assim que
percebia que Brianna havia se acalmado, voltava ao ataque sensual. Até que, por
fim, ela estava arfando, implorando por ele.
— O que quer de mim, meu amor? É isso? — Mergulhou a língua em sua
boca mais uma vez. Brianna correspondeu ao beijo, gemeu e se contorceu, mas
não disse nada. — Diga, meu amor, o que quer de mim?
Prestes a perder o controle, Damron a provocava, lambendo-lhe os seios,
mordiscando um mamilo endurecido de desejo e circulando-o com a língua até vê-
la gritar de prazer, ao mesmo tempo em que segurava o outro entre os dedos e
apertava-o gentilmente. Era muita tortura para Brianna, mas ela se mantinha em
silêncio.
— O que quer de mim? Responda... — Ele afastou-lhe as pernas um pouco
mais, acariciando as pétalas rosadas que protegiam sua entrada umedecida.
Molhou os dedos com as gotas de seu próprio desejo, que lubrificavam o membro
firme e levou-os até a feminilidade quente e inexplorada de Brianna.
— Hum... É isso... É isso o que quer de mim? — perguntou, esfregando o
polegar de encontro ao botão que proporcionava extremo prazer ao corpo
feminino, até que ela não agüentasse mais a pressão.
— Você, Damron... Eu quero você... — disse Brianna, finalmente se
rendendo.
— Abra os olhos, meu amor — ele pediu com voz rouca. — Quero que me
olhe e saiba a quem pertence deste momento em diante. — Segurou-lhe o queixo
para que o fitasse nos olhos.
Damron começou a penetrá-la devagar. Ela gemeu e segurou-o pelos
ombros, e ele recuou um pouco. Mantendo os olhos fixos nos dela, Damron
investiu mais uma vez. Ela fez uma careta de dor e se afastou. Ele seria grande
demais para ela? Quando se unira a Gordon, ainda virgem, não tinha tido
problemas para se adaptar.
— Calma, Brianna, olhe para mim — murmurou Damron. Ele investiu mais
uma vez, mas a barreira se recusava a ceder. Parou por alguns instantes e
esperou. — Entregue-se a mim, meu bem — pediu, suspirando.
Brianna notou a indecisão nos olhos dele, e tentou relaxar, esperando que
seu corpo se ajustasse. Quando ele ficou imóvel, parecendo que iria recuar, sua
tensão se aliviou. De repente, num único e vigoroso movimento, Damron a
penetrou de uma só vez.
Ela sentiu uma dor lancinante, gritou e cravou as unhas nos ombros dele.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 126
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Desculpe, meu amor — Damron sussurrou em seu ouvido. — Eu não quis


machucá-la, mas você é tão pequenina que achei melhor que fosse rápido, para
diminuir sua dor.
Ele se manteve imóvel por algum tempo, esperando que a dor atenuasse.
Quando Brianna assentiu, ele passou a se mover lentamente. Ao perceber que ela
não sofria mais, aumentou o ritmo. Brianna, por instinto, enlaçou as pernas nas
costas dele, erguendo os quadris para aprofundar aquela penetração gloriosa.
Por fim, ela contraiu os músculos internos e deu um grito que em nada se
parecia ao de minutos antes: um grito de puro prazer. Projetava os quadris em
direção a ele e arqueava o corpo para trás, ofegando, repetindo o nome do marido.
Outro grito escapou de seus lábios quando uma explosão de paixão e prazer
sacudiu seu corpo. Damron capturou-lhe a boca, sentindo que também ele estava
prestes a atingir o êxtase. Penetrou-a profundamente, movimentando-se cada vez
mais rápido, até chegar ao clímax e inundá-la com sua semente.
Descansou o rosto suado na curva do pescoço de Brianna, sua respiração
ainda entrecortada fazendo-lhe cócegas na orelha. Ficou assim, dentro dela, até se
acalmar por completo.
Quando se retirou delicadamente da esposa, rolou para o lado, trazendo-a
consigo, aninhando-a em seus braços. Murmurava palavras em várias línguas e a
beijava na testa, pálpebras e lábios. Brianna sabia que eram palavras de ternura,
pois reconheceu uma frase em espanhol:
— Mi alma, mi tormento.
Damron a manteve ali, aconchegada e segura, acariciando seus cabelos até
que ela adormecesse.
Por fim, as velas se acabaram, e ele também fechou os olhos, exausto, e
dormiu.

CAPÍTULO IV

Brianna ouviu Damron fechando a porta delicadamente ainda antes de


amanhecer. Espreguiçou-se e fez uma careta. Ao se lembrar da reação imediata
de seu corpo aos carinhos dele, sentiu-se corar. Embora o sexo com Gordon
sempre tivesse sido satisfatório, jamais sentira aquela paixão avassaladora que
Damron despertava nela.
Quando desceu, tentou disfarçar o corpo dolorido fazendo movimentos
lentos e calculados. Os homens sorriam e faziam piadinhas para Damron, dizendo
que, se ele não fosse gentil com a esposa, ela não seria capaz de se sentar para
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 127
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

as refeições.
Seguindo as ordens do dia anterior, os criados haviam limpado o chão de
toda a bebida derramada e afastado as mesas para que se criasse um espaço
onde os homens prestariam seus juramentos de fidelidade.
Damron já se encontrava ali, com o avô a seu lado. Mereck, conforme
prometera, era o primeiro da fila, ajoelhado, com as mãos entrelaçadas à do irmão
e o olhava intensamente.
— Juro por minha honra ser leal a você como meu lorde e senhor de
Blackthorn — disse ele em voz alta e solene. — Todos os meus atos e obras serão
em obrigação a você, e juro jamais feri-lo.
Depois que Damron ordenou ao meio-irmão que se erguesse, segurou-o
pelos ombros, e os dois se abraçaram, emocionados. Connor veio logo em
seguida, e depois lorde Douglas foi chamando os restantes, um por um. Cada um
deles se ajoelhava diante do novo senhor e jurava lealdade.
Ao final, foi a vez de Damron jurar proteger a eles e às terras com seus
soldados, sempre que necessário. A cerimônia foi encerrada, e todos se dirigiram
ao salão principal, onde comeram e beberam até cair.
Nos dias que se seguiram, Damron e Brianna atendiam aos visitantes
durante o dia e faziam amor à noite. Os convidados, relutantes em deixar a hos-
pitalidade do Castelo Blackthorn, foram aos poucos voltando para suas aldeias e
feudos.
Alana e os Ridley ficaram um pouco mais, pois a jornada até a Escócia tinha
sido muito longa, exatamente como seria o caminho de volta. Brianna adorava
estar com a irmã e a tia. Ela havia florescido em sua feminilidade, porém, conforme
as semanas transcorriam, passou a se cansar com mais facilidade.
O marido a amava com gentileza e sensualidade todas as noites, e insistia
para que ela repousasse após o almoço. Brianna às vezes notava um sorriso
naqueles lábios severos. Procurava proteger o coração e a alma ao máximo, pois
temia ser tragada de volta ao futuro tão inesperadamente como fora trazida dele.
Damron queria desfrutar de cada noite, mesmo sabendo que tinham uma
vida inteira pela frente.
Sabia que Brianna não estava se entregando totalmente, mas era orgulhoso
demais para perguntar o motivo. Achava razoável desejar que a alma dela
pertencesse somente a ele, mas não acreditava que deveria dar-se tão
completamente a ela. Era o dever de uma esposa amar seu marido e senhor, dar-
lhe herdeiros e se deitar apenas com ele.
Brianna finalmente aceitara seu papel de esposa, e Damron não queria que
nada a aborrecesse.
Numa manhã, já perto da hora do almoço, procurou por ela com uma idéia.
— Simon disse que meu falcão está entediado e precisa sair para se
exercitar — disse ele.
— Que tal reunirmos a sua família para uma caçada em conjunto antes do
jantar?
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 128
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Seria ótimo! — Os olhos de Brianna se iluminaram com a idéia. —


Meghan poderia trazer Simple. Alana não acreditou em nenhuma das histórias do
pequeno caçador que contamos a ela.
Naquela tarde, quando todos desceram, os cavalariços já estavam com os
cavalos prontos ao pé da escadaria externa, exceto por Sweetpea.
Brianna fitou o marido, pedindo uma explicação.
— Fiquei longe de você a manhã inteira, meu amor — disse ele. — Quero
que se sente comigo, assim poderei tê-la nos meus braços. — Damron a ergueu e
a acomodou na sela entre suas coxas.
Durante o passeio, Damron começou a falar em voz baixa, para que
somente ela o ouvisse.
— Brianna, eu quis afastar você e a sua família de Blackthorn esta tarde,
pois ordenei que Asceline fosse acomodada em outro lugar na aldeia. — Ao ver a
esposa ficar tensa, continuou: — Ela ficará lá somente até que eu possa dispor de
um número suficiente de homens para levá-la em segurança de volta à Normandia.
E esta é a última vez que falamos de Asceline.
Daquele momento em diante, o dia foi tranqüilo.
Brianna, Alana e Meghan passavam horas muito agradáveis juntas. Embora
Meghan preferisse mil vezes trabalhar nos estábulos a ficar numa sala envidraçada
bordando, ela esperava pacientemente enquanto as duas irmãs consertavam
roupas de Damron. Os dias favoritos de Brianna eram quando as três,
acompanhadas de Bleddyn, se embrenhavam no bosque à procura de ervas
medicinais ainda não cultivadas nos jardins do castelo. Damron não se opunha a
essas pequenas aventuras, pois a presença do galês e de Meghan, que fazia jus à
fama de Guerreira de Blackthorn, eram mais do que suficientes para proteger as
duas mulheres.
No dia em que Alana e os Ridley partiram para a Inglaterra, Brianna forçou-
se a manter um sorriso tranqüilo. Todos se levantaram cedo e, após o desjejum, já
estavam prontos para ir embora. Meghan e Brianna os observaram se afastar até
perdê-los de vista.
Nenhuma tarefa parecia árdua para Brianna. Trabalhava do nascer ao pôr do
sol. Todos os quartos recendiam a limpeza e a ervas frescas, pois em sua última
visita ao mestre das velas, levara consigo frascos contendo essência de lavanda,
rosas e lírios para que ele as adicionasse à cera.
Damron adorava quando o dia terminava, pois a esposa se mostrava cada
vez mais receptiva aos seus avanços noturnos. Mesmo assim, não se sentia intei-
ramente satisfeito, pois sempre havia aquele pequeno lampejo de medo nos olhos
dela, o que confirmava que Brianna escondia algo dele.
Brianna acordou uma manhã com o sol já alto. Prevendo o acúmulo de
trabalho por causa desse deslize, levantou-se rapidamente... e o mundo girou à
sua volta. Levou as mãos à boca para tentar impedir a náusea, porém Mari já
estava à espera com um balde.
— Deve comer um pedaço de pão primeiro, milady — disse a criada. Depois

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 129


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

de ajudá-la a se sentar, deu-lhe uma fatia de pão quentinho. — Seu estômago logo
vai se acalmar.
Brianna deu uma mordida no pão. Olhou para as mãos e começou a fazer
contas nos dedos. Mari suprimiu um sorriso.
— Meu Deus, não... Deus do céu, não... — sussurrou Brianna. Respirou
fundo de novo e gritou:
— Nathaniel!
Ele entrou no quarto pouco depois.
— Muito bem, vocês dois — disse ela com raiva. — Desde quando sabem
que estou grávida? E por isso que me tratam como se eu fosse feita de vidro,
forçando-me a comer pão antes de sair da cama, tomar mais leite do que agüento
e a dormir de tarde?
— Grávida?! — Mari perguntou alarmada. — Que doença é essa, Sr.
Bleddyn? Eu achava que milady estava prenhe!
— É a mesma coisa, Mari — explicou Brianna. Pousou a cabeça sobre as
mãos e gemeu de tristeza. — Nathaniel, o que eu vou fazer? — Seus olhos se
encheram de lágrimas.
Bleddyn a enrolou numa manta, tomou-a nos braços e sentou-se na beirada
da cama. Ninou-a como a uma criança e afagou-lhe os cabelos, tentando acalmá-
la.
— Mari, vá buscar lorde Damron — pediu ele. Quando a criada saiu, voltou-
se para Brianna. — Não suspeitou de nada quando a sua lua não se completou
desde a noite em que perdeu a sua inocência?
— Não. — Ela meneou a cabeça. — Tenho estado tão ocupada e
aconteceram tantas coisas nestes últimos dois meses que acabei perdendo a
conta. E deve saber que não existe nenhum calendário por aqui, onde eu possa
marcar os dias do meu ciclo. Nathaniel, o que vou fazer? Na minha época como
Lydia, perdi dois bebês, ambos antes de eu entrar no terceiro mês. Santo Deus,
tenho tentado manter a minha alma intacta; caso contrário, não sobreviverei se
tiver de deixar Damron. E se eu voltar para o meu tempo durante a gravidez ou
depois que a criança nascer? Não vou conseguir suportar... — Começou a chorar e
passou os braços pelo pescoço de Bleddyn. Não tinha mais como fugir: estava
desesperadamente apaixonada por Damron.
— Deixar-me, Brianna?! — perguntou Damron, entrando impetuosamente no
quarto. — Está pensando em me abandonar?! Será que odeia tanto assim a idéia
de ter um filho meu crescendo em seu ventre? Tenho esperado com paciência que
se decida a me contar que espera o meu filho. Achei que ficaria feliz!
O corpo de Damron estava tenso, e o seu tom foi duro. Brianna soluçou
ainda mais alto. Ele a tirou dos braços de Bleddyn, e o galês deixou o quarto.
As lágrimas de Brianna o desarmaram. Mesmo após todos os momentos
difíceis que lhe impusera, era por carregar o seu filho no ventre que ela chorava
daquela maneira. O medo apertou as mãos geladas em torno de seu coração.
— Você não me contou porque planejava me abandonar, carregando meu
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 130
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

filho e herdeiro dentro de você?


— Jurei... Ficar com você... até que a morte... nos separe, e eu jamais
quebraria essa promessa por vontade própria — respondeu ela entre soluços. —
Eu não... lhe contei... Sobre estar grávida... Porque eu não sabia!
De repente, algo ocorreu a Damron.
— Brianna, você sabe como os bebês são feitos, não? — Ele puxou a
bainha da camisa e enxugou-lhe as lágrimas, como se ela fosse uma criança. —
Eu achei que tivesse consciência de que o seu ciclo lunar não tinha se completado.
— Aconchegou-a ainda mais, beijou-a na testa e tentou fazer com que relaxasse.
— Não percebeu os sinais no seu corpo? Não notou como os seus seios ficaram
mais cheios e bonitos? — Ele desceu a mão, acariciando-a no ventre. — Não
sentiu o ventre mais arredondado e endurecido a cada vez que ia se banhar? Eu
pensei que você estivesse aguardando um momento mais propício para me contar.
Esqueci-me completamente da sua pouca instrução nesse assunto, por sua
vivência com as freiras em Saint Anne.
— Eu tenho estado tão atarefada com as minhas obrigações de esposa do
senhor de castelo que achei que estivesse atrasada por causa disso e por estar
estressada, digo, preocupada com a partida de Alana. E mesmo quando me sentia
enjoada, achava que era por estar estranhando a comida.
Bem, isso não era mentira. Sabia que sua menstruação estava atrasada,
mas acreditara ser pelo fato de que seu metabolismo ainda pudesse estar em cho-
que por tudo o que havia passado desde o dia em que acordara na floresta com
Damron e Connor pairando ameaçadoramente sobre ela.
Os enjôos, pensara, tinham sido provocados por ingerir comida que não fora
refrigerada, e o cansaço, pela preocupação. Sempre tivera sono em excesso ao
sentir-se estressada no século XXI, e até mesmo as mudanças em seu corpo
tinham parecido normais. Achou que estava engordando pelo volume extra de
pães, bolos e doces que todos ali a forçavam a comer.
Como havia sido tola! Todos os sinais de gravidez estavam lá, e ela não vira
nenhum deles!
— E agora que sabe, por que está tão triste? — perguntou Damron. — E
porque está gerando o meu filho, e não o de sir Galan? Você ainda o ama, não?
— Damron, eu não amo sir Galan... — disse Brianna. — E nunca desejaria
que ele estivesse no seu lugar... — Afundou o rosto na curva do pescoço do
marido e sussurrou: — Eu vou amar o seu herdeiro com todo o meu coração.
Lágrimas fluíram livremente por suas faces. Damron estava verdadeiramente
confuso, até que foi tomado por outra dúvida.
— Você está com medo do parto? Bleddyn disse que estará com você, e nós
sabemos que ele tem preparo para isso.
Brianna ergueu a cabeça, assustada.
— Ele andou recolhendo ervas especiais e tem se reunido com as parteiras.
Tem certeza absoluta de que tanto você quanto o bebê ficarão bem. E Alana
prometeu voltar em cinco meses. Assim ela poderá estar com você no último mês

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 131


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

da gestação. — Damron teve que se esforçar para não rir quando Brianna o
encarou.
— Será que todo mundo neste maldito país sabia da minha gravidez antes
de mim?
Ele meneou a cabeça,
— Claro que não — disse solenemente. — Pelo menos não todos...
Vejamos... Parte das mulheres, os casais que têm filhos, e talvez os pajens mais
velhos e as crianças adotadas do castelo — ele provocou. Riu ao ver a expressão
horrorizada da esposa.

Brianna lutou para encarar seu maior medo: ser arrancada dos braços de
Damron e transportada de volta ao futuro.
Passou a cuidar melhor de sua alimentação e, todo o dia, para se exercitar,
subia as escadas do térreo até o andar mais alto do castelo. Seus músculos
estavam firmes e alongados, como se estivesse indo à academia todos os dias.
Seus seios e ventre estavam ficando arredondados de forma proporcional, sem
exageros.
As novas funções de Damron o mantinham ocupado durante o dia inteiro, e
algumas vezes ele não comparecia às refeições. Mas à noite, quando estavam
deitados, fazia questão de compensar sua ausência, e era especialmente
carinhoso. A cada vez que notava alguma mudança no corpo de Brianna,
chamava-lhe atenção.
Numa dessas ocasiões, ele tinha o rosto pousado obre a barriga levemente
arredondada da esposa, e o bebê resolveu dar seu primeiro chute. Damron quase
gritou de pura satisfação, segurando-lhe os quadris.
— Sentiu isso? É meu filho! Ele me reconheceu e me cumprimentou!
No dia seguinte, antes de o sol atingir seu ponto mais alto, Damron e Mereck
vinham do depósito de armas e pararam ao ouvir uma discussão acalorada. O
olhar de Damron se dirigiu à entrada principal, onde Spencer tentava impedir a
entrada de uma mulher.
— Mas que diabos está acontecendo aqui? — Damron gritou.
— Parece que a sua amante rejeitada está disposta a arrumar confusão —
disse Mereck.
— Seria bom se resolvesse esse problema o mais rápido possível. Vou
afastar Brianna daqui para que não fique perturbada. — Continuou caminhando.
Damron cobriu a distância até a francesa com passadas largas. Puxou-a
pelo braço com força, fazendo com que se soltasse da luta que tentava travar com
Spencer.
— Fale baixo, senão eu mesmo vou calar a sua boca! — disse ele num tom
ameaçador. Praticamente a arrastou pelo pátio e só parou em frente à oficina do
carpinteiro.
Ao ver uma sombra na entrada, o carpinteiro e seu aprendiz suspenderam
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 132
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

seu trabalho. Damron pediu-lhes que saíssem e, em seguida, levou sua ex-amante
para dentro. Asceline ergueu o queixo, empinou os seios para a frente e abriu o
manto que vestia.
— Estou grávida, Damron. — Ela sorriu, triunfante. — Usei a precaução que
ordenou, mas mesmo assim, você, meu garanhão, plantou um bastardo no meu
ventre. E não irá rejeitá-lo.
— Realmente espera que eu seja tolo em acreditar que esse filho é meu? —
perguntou ele, olhando para a barriga avantajada. — Por que não veio até mim
quando percebeu que o seu ciclo não tinha se completado? Tem estado ausente
da minha cama por meses, e eu sei que tem um amante aqui em Blackthorn. Como
tem a audácia de dizer que o bebê é meu?
— Minha lua já estava atrasada quando você chegou aqui com a sua
noivinha saxã! — Asceline gritou. — E eu soube esconder. Não iria tolerar tomar
uma dessas poções bárbaras para livrá-lo da sua obrigação. Além do mais, se a
sua mulherzinha morrer no parto, este será o único herdeiro que terá — ela con-
cluiu com um sorriso de escárnio.
— Não se atreva a mencionar o nome de Brianna! — vociferou Damron. —
Volte para a vila. Vou preparar a sua partida imediatamente.
Asceline se dirigiu lentamente à porta com um sorriso vitorioso nos lábios.
Ele a puxou de volta para as sombras, chamou Spencer e ordenou que a levasse
pessoalmente de volta à aldeia.
Mereck já relatara ter visto Asceline se esgueirando mais de uma vez para
dentro da floresta com um homem de cabelos loiros, mas estivera longe demais
para reconhecer quem era. Damron chegara a se perguntar se não era Eric quem
usufruía os favores sexuais da francesa. Porém, não mais se importava com quem
ela se deitava.
Depois de Spencer ter levado Asceline, Damron foi até o poço, puxou um
balde de água fria, respirou fundo e mergulhou a cabeça nele. Esse bebê poderia
ser seu? Pelo tamanho da barriga, era bem possível que ele tivesse plantado sua
semente naquela noite na Normandia. Ou seria o fruto do caso de Asceline com
aquele homem loiro?
Como poderia saber antes de o bebê nascer? Era uma pena que seus
planos de enviar Asceline de volta à Normandia tivessem que esperar, pois o
tempo úmido e sujeito a tempestades o impediam de mandar uma mulher em
estado adiantado de gravidez numa viagem tão longa e cansativa por terreno mon-
tanhoso. Embora achasse que ela estava mentindo, a culpa o consumia. Sempre
fora cuidadoso, para não gerar uma criança que não tivesse certeza que fosse sua.
Mas, e se esse bebê fosse de fato seu? Não podia abandoná-lo.
Brianna pressentiu sua inquietude, pois despertou sobressaltada, buscando
por ele. Assim que o sentiu a seu lado, suspirou e voltou a relaxar até adormecer
novamente.
Uma noite, após os servos terem limpado as mesas, Bleddyn levou para o
salão seu bodhran, e Malcolm uniu-se a ele com um saltério, uma espécie de
citara. Os dois tocaram belas melodias. Logo depois Meghan foi acompanhá-los

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 133


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

com sua gaita de fole.


Damron lançou um rápido olhar em direção ao grupo e fitou Brianna. Num
ímpeto, decidiu fazer o que gostaria de ter feito desde o primeiro instante em que
ouvira a voz dela.
Caminhou até Meghan e pediu que tocasse uma determinada melodia. Ela o
olhou, surpresa, e sorriu.
— Até que enfim, primo! Por que demorou tanto?
Ao ouvir o primeiro som da belíssima voz de barítono de Damron, Brianna
voltou-se para ele. Era daquela voz que seu coração se lembrava. E pela forma
como o corpo dele se movia e os olhos pareciam acariciá-la, apesar de as palavras
serem alemãs, ela sabia que se tratava de uma canção de amor.
Sentiu o coração acelerado, e seu corpo correspondeu repleto da emoção
que ele extraía dela. A voz maravilhosa a envolvia, como dedos delicados tocando
sua alma.
Damron viu os sinais do desejo que transpareciam no rosto corado da
esposa. Não era o mesmo olhar de quando ela cantara com Galan.
Era diferente. Intenso, saudoso, envolvente.
Pousou o olhar nos seios de Brianna; os mamilos intumescidos eram visíveis
sob o tecido da túnica. Ansiava por segurá-la nos braços e tomá-los entre os
lábios. Cobriu a distância que os separava em apenas duas passadas. Ela ofegou
ao vê-lo pôr-se de joelhos e estender as mãos em uma súplica.
— Por favor, meu amor. Cante para mim — ele sussurrou.
O salão ficou silencioso. Homens e mulheres pararam o que estavam
fazendo e esperaram. Todos ali sabiam da promessa que Brianna fizera de não
cantar para ele. Brianna olhou para Bleddyn, que fez um aceno de cabeça e sorriu.
Quando se falou disso só mais tarde, os que estavam mais próximos a ela juraram
ter ouvido o místico dizer:
— Já está na hora de deixar de lado um juramento feito com raiva. Não
negue a vocês o prazer da cura com esse dom.
Brianna tomou a mão de Damron, e eles se abraçaram. Ele escutou
atentamente a canção de amor e saudade que ela cantou. Quando chegou ao
verso final, os músicos retomaram o início da canção, fazendo-a cantar outra vez.
A voz profunda de Damron ecoava suas palavras; o efeito foi impressionante.
Ele se sentia prestes a explodir de desejo. Seu olhar não abandonou o dela.
Suas mãos e braços moviam-se em gestos que se encaixavam na melodia,
parecendo querer saber como amá-la, como demonstrar que seu coração
pertencia a ela.
A melancolia marcava as palavras de Brianna. Damron sentia vontade de
gritar que jamais desejara causar-lhe dor. Segurando seus braços, ele entoou a
canção alegre que Meghan extraía de sua gaita de fole, e logo iniciou a próxima
canção. Era a história de uma mulher que amava um homem, mas que se
recusava a demonstrar. Ele desejava que a mulher o amasse. Um dia, foi
carregado de volta de uma batalha para casa, e não tinha vontade de viver sem ser
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 134
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

amado por sua esposa. Ao vê-lo retornar, ela lamentou ter mantido esse amor em
segredo, e jurou corresponder ao sentimento dele pelo restante de seus dias.
Ao final da música, Mereck sorriu e se levantou, unindo-se a eles. Quando
começou a entoar a canção que Galan compusera, Brianna fez menção de
protestar, mas ao ver que Damron os acompanhava, ela relaxou. Suas palavras
flutuavam para se fundir com as deles.
Com esses atos, Damron se esforçava para se redimir das atitudes
ciumentas que tivera em Ridley. Esta noite, eles se presentearam com algo
precioso: a união de suas vozes.
Damron pediu a Angus que tocasse na gaita de fole algo que pudessem
dançar. Mereck fez um aceno de cabeça para Meghan, que não gostou de ser
tirada do instrumento. Ele ignorou seus protestos e a puxou para o centro do salão.
Começaram a dançar, para que Brianna pudesse ver e aprender. Ela os observou
por alguns minutos antes que Damron a guiasse para ensinar-lhe os passos.
A maciez e o perfume inebriante da esposa faziam o corpo de Damron doer
de tanto amor. Quando ela finalmente afirmou estar exausta, ele se preocupou ao
notar as sombras escuras sob seus olhos. Aproximou-se dela e beijou-a na testa.
Para sua surpresa, ela ficou na ponta dos pés e beijou-o no queixo.
Seu coração se acelerou com aquele inesperado beijo em público. Ele a
tomou nos braços e carregou-a para o quarto.

Numa noite fria e tempestuosa, um mensageiro com roupas rasgadas e


cheias de hematomas no rosto chegou a cavalo, anunciando que um grupo de
guerreiros errantes tinha atacado uma das vilas de Blackthorn a cerca de dez
quilômetros dali. Damron e Mereck convocaram os cavaleiros e guerreiros e, antes
da primeira luz do dia, já tinham partido.
Quando o sol já estava alto, ainda não tinham visto nenhum sinal de luta ao
longo do caminho até a vila. Damron parou e ordenou que o mensageiro fosse le-
vado até ele. Spencer procurou-o, mas voltou dizendo que o homem ficara para
trás, alegando que seu cavalo pisara numa pedra. Ninguém o vira desde então.
Spencer encontrou sinais no chão de que um cavalo tinha deixado a trilha e
entrado na floresta.
Desconfiado de que havia algo de errado ali, Damron disparou de volta ao
castelo, temendo por Brianna. Ordenou aos homens que se apressassem em dar
água aos cavalos e voltassem a Blackthorn. Ele e Mereck ultrapassaram o grupo
rapidamente e retornaram pela mesma trilha pela qual tinham vindo.
Bleddyn caminhava pela floresta em busca de plantas que deveriam ser
colhidas apenas durante o alvorecer. Retirava-as da terra cuidadosamente e as
guardava numa pequena bolsa de tecido. As folhas das árvores começaram a
farfalhar e a sussurrar. Nesse instante, Cloud Dancer deu um grito lancinante no
céu. Bleddyn ficou imóvel, com todos os sentidos em alerta, e no segundo
seguinte, corria em disparada de volta ao castelo.
Dentro do castelo, David lutava para se manter acordado depois da última
caneca de cerveja. Por fim, acabou caindo de encontro à parede ao lado da porta
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 135
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

do quarto de Brianna. Guardião também mal conseguia manter os olhos abertos.


Nem homem nem cachorro ouviram os passos se aproximando.
Brianna escutou seu nome. Abriu os olhos e viu alguém parado ao lado da
cama.
— Acorde, meu amor — o homem sussurrou como Damron costumava
fazer.
— Meu Deus, Damron, aconteceu alguma coisa? Ele pegou uma xícara de
leite misturado com mel e verteu nela outro frasco.
— Beba isto, querida, pois quero fazer amor com você bem lentamente e
com muito desejo.
Brianna sabia que aquela não era a voz do marido. Tentou escapar para o
outro lado da cama e gritou:
— Saia daqui!
O homem a agarrou pelos cabelos, puxou-lhe a cabeça para trás e verteu o
líquido em sua boca. Brianna fincou as unhas nos pulsos dele e tentou cuspir, mas
o sujeito forçou-a a engolir. Em seguida, empurrou-a para que se deitasse
novamente e se arrastou por sobre a cama para colocar-se sobre ela e dominá-la.
Brianna lutou, sabendo que era o mesmo homem que ela temia encontrar de
novo. Deus me ajude!, pensou ela. Tentou gritar.
— Se não quer ferir o bebê, não lute comigo — disse ele com voz pastosa.
— Eu não falei, quando a peguei na cachoeira, que você seria minha?
Brianna o golpeou na virilha com o joelho. O homem soltou uma imprecação
e a manteve imóvel até que a droga fizesse efeito. Os movimentos dela foram se
tornando mais fracos, e seu corpo por fim relaxou. O agressor retirou a máscara
negra que usava e começou a beijá-la no rosto. Com extrema ansiedade, desceu
os lábios famintos até os seios avolumados de Brianna, sugando a pele com força
e deixando manchas roxas no caminho. Com os joelhos, abriu-lhe as pernas, en-
quanto retirava o membro de dentro da calça.
Nesse momento, Asceline entrou no quarto e o agarrou pelos ombros.
— Saia daqui, Rollo! — disse ela. — Aquele idiota apaixonado está voltando.
— Sua voz vibrava de ódio.
Dois homens entraram carregando um homem nu.
— Sua maldita! — Rollo afastou as mãos de Asceline. — Você disse que
Brianna seria minha! Eu não vou deixá-la para trás. Ela vem comigo!
— Seu imbecil! Ela atrasaria a nossa fuga! Quer a lâmina afiada de Damron
na sua garganta?
Asceline e os homens depositaram o homem nu ao lado de Brianna. Rollo
estava excitado, com a maior ereção que já tivera na vida. Seu olhar não
desgrudava do corpo de Brianna, e ele sussurrava frases obscenas enquanto sua
mão subia e descia rapidamente no membro. Jorrou sua semente nas coxas dela.
Antes do espasmo final, direcionou o último jorro sobre o membro flácido do
homem desacordado ao lado de Brianna.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 136
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Sua pequena vagabunda, explique isso para o poderoso lorde de


Blackthorn! — disse Asceline, rindo. — Vamos ver se agora ele não descarta você.
Os invasores passaram por David e Guardião, ainda inconscientes, e
correram pelas portas abertas e depois pelo pátio, saindo por uma porta lateral.
Damron e Mereck vieram a galope pelo caminho principal, gritando para que
os guardas baixassem a ponte levadiça e abrissem o portão.
Galoparam pátio adentro e só desceram dos cavalos quando estavam no
salão principal. Correram para o quarto e, ao deparar com Guardião e David
adormecidos, Damron sentiu como se tivesse sido esfaqueado no peito.
Escancarou a porta e entrou com a espada em punho.
Caminhou em direção à cama e abriu a cortina num só movimento. Olhou
para os dois corpos nus, dormindo lado a lado em sua cama e sentiu uma fúria
gelada. Não era possível! De novo, não!
— Tranque a porta, Mereck, e acenda todas as velas que conseguir —
ordenou com voz gelada. — Quero ver a cara deste maldito antes de derramar o
seu sangue.
Enquanto Mereck acendia as quatro velas de cada lado da cama, Damron
observava a cena: Eric estava deitado ao lado de Brianna, com a mão sobre um
seio dela. Sentiu o gosto amargo de bile na garganta, pois reconheceu o brilho do
sêmen nos corpos. Segurando a espada com ambas as mãos, ergueu a lâmina,
pronto para afundá-la no peito do homem que ali dormia.
— Espere! — O grito de Mereck o impediu de continuar. — Por Deus do céu,
há algo de muito errado aqui! Olhe para eles! — Ele segurou as mãos do irmão,
impedindo o ataque.
— Estou olhando, e não é uma visão que qualquer homem consiga suportar:
sua esposa, grávida de seu filho, e seu melhor amigo ao lado. Vejo o sêmen de
Eric em seu membro e sobre Brianna. — Sua voz saía com grande dificuldade. —
Isso é ainda pior do que a traição de Genevieve. Como vou saber se o filho que
minha esposa carrega é meu ou de Eric? — Jogou o lençol sobre Brianna, tirou
Eric da cama e o colocou no chão frio. Arrancou uma das cortinas da cama e
jogou-a sobre ele. — Amarre o maldito. Depois quero que descubra por que
Connor e os homens que deixamos de guarda não estavam cumprindo suas
obrigações.
Mereck fez o que o irmão ordenou e saiu do quarto. Bleddyn, que subia as
escadas, quase o derrubou no caminho. Marcus, de guarda na porta, abriu-a
apenas o suficiente para que o galês entrasse. Bleddyn correu os olhos pelo
quarto, vendo Eric no chão, e foi imediatamente para a cama. Sem dizer nada,
segurou Damron pelos ombros e o levou para o lado da janela. Em seguida,
aproximou-se de Brianna e começou a examinar-lhe o corpo.
— O pescoço, braços e pernas de Brianna estão moles, inertes como se ela
estivesse sob o efeito de alguma poção, mas alguém a feriu no rosto e nos seios.
— Observou as marcas de sucção. Depois pegou suas mãos e estudou-as. — Há
sangue em seus dedos e vestígios de pele embaixo das unhas.
Afastou-se dela e olhou para Eric, que estava inconsciente. Ajoelhou-se ao
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 137
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

lado dele e fez o mesmo exame. Virou-o de lado e encontrou um enorme he-
matoma em sua nuca.
— Damron, você ou Mereck fizeram isto? Conhece algum homem capaz de
fazer sexo após ter levado uma pancada forte o suficiente para matá-lo?
Damron segurou o lençol com tanta força que os nós de seus dedos ficaram
brancos. Queria desesperadamente acreditar nele. Lembrou-se de que Brianna
dissera que, ao quase ser raptada na cachoeira, vira o cabelo loiro de seu agressor
dentro da água. Olhou para os cabelos claros de Eric e para os vestígios de
sêmen.
— Explique-me como ele se satisfez, e como o seu jorro veio parar nas
coxas de minha esposa.
Bleddyn se curvou e pegou a xícara caída no chão. Cheirou o conteúdo e
testou o gosto das últimas gotas de leite com a ponta da língua.
— Alguém a drogou, e não vejo nenhuma marca de arranhão no corpo de
Eric. Aliás, nada que se assemelhe às marcas deixadas pelas unhas de Brianna.
Damron, tenso e imóvel, revelava o grande conflito que se desenrolava
dentro de si.
— Examine sua esposa. Verá que não há nenhum indício de que foi
possuída. — Bleddyn virou as costas quando Damron se inclinou sobre o corpo de
Brianna para examinar-lhe as partes íntimas.
Damron encontrou arranhões e pequeninos cortes, mas nada que indicasse
penetração ou vestígios de sêmen em sua entrada delicada. Sentiu-se aliviado,
mas logo depois, seu corpo ficou novamente rígido de ira. Correu para a porta e a
abriu.
— Mari, prepare um banho quente para a sua senhora — ordenou. Tinha o
rosto tenso, numa máscara de ódio.
Mari, pálida e trêmula, quase morreu de susto. Lady Phillipa fez menção de
entrar no quarto, mas o filho a impediu e fechou a porta. Quando a criada chegou
com a água, Damron bloqueou a porta com o corpo e passou os baldes de água
quente para Bleddyn.
Levou Brianna ainda desacordada para a tina. Banhou-a com todo o
cuidado, e suas mãos foram delicadas ao lavar a pele da esposa do toque nojento
do homem que tentara violentá-la. Sentiu um aperto no coração ao ver que não
conseguiria fazer desaparecer os ferimentos.
Depois de enfaixar a cabeça de Eric, Bleddyn virou-se para Damron e
balançou a cabeça, desolado pela cena que via diante de si.
— Pare amigo — pediu. — Se continuar esfregando a pele dela, irá
machucá-la.
Damron interrompeu-se e a embrulhou numa toalha aquecida. Sentou-se ao
lado da lareira com a esposa no colo. Bleddyn ajoelhou-se e encostou um pequeno
tubo no peito de Brianna para ouvir o lento batimento de seu coração. Por fim,
voltou a atenção para o ventre dilatado e, quando espalmou as mãos sobre a
barriga para sentir os movimentos do bebê, empalideceu.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 138
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

De olhos fechados, Bleddyn agarrou seu talismã com a outra mão. Por
vários momentos, um fluxo de energia pareceu fluir de suas mãos para o corpo
dela. Cada vez que Damron começava a falar, Bleddyn balançava a cabeça,
impedindo-o. Depois de algum tempo, ele ergueu os olhos.
— Sinto movimentos leves — disse. — Como se o bebê tivesse acordado e
estivesse se espreguiçando. Senti um pequeno chute. — Ambos riram, mas
Bleddyn voltou a ficar muito sério. — Damron, os que drogaram a nossa Brianna e
o bebê drogaram também os guardas e o lobo, e bateram muito seriamente em
Eric. Mas a sua volta estragou os planos deles. Planejaram arruinar as vidas de
Brianna e de Eric diante dos seus olhos. — Ele suspirou e acrescentou:
— Alguém queria que você matasse Brianna, ou que pelo menos a
rechaçasse.
— Não tenho dúvida de que sou odiado por um bom número de pessoas —
disse Damron com amargura.
— Santo Deus, se Mereck e eu não tivéssemos desconfiado, o maldito a
teria estuprado! Certamente é o mesmo homem que tentou raptá-la durante a
nossa viagem de Ridley a Blackthorn.
Bleddyn preparou uma poção que não prejudicasse o bebê para anular o
efeito do sonífero com o qual Brianna fora drogada. Enquanto o galês e uma das
sentinelas levavam Eric para uma cama improvisada no quarto de Connor, Damron
dava a poção a Brianna em pequenas colheradas.
Mantinha-a aninhada nos braços, com a cabeça encaixada sob seu queixo.
Quando a poção começou a surtir o efeito desejado, ela foi ficando inquieta.
Relutante em tirá-la de seu colo, Damron a pôs na cama e cobriu-a com as
mantas. Sentou-se ao lado dela, enquanto esperava que acordasse e contasse
quem a havia atacado.
Mereck voltou trazendo Guardião nos braços e deitou-o no tapete ao lado da
cama.
— Este aqui estará muito aborrecido quando acordar — disse. — É melhor
que esteja ao lado dela, assim ficará mais calmo. Aqui dentro dos domínios do
castelo, somente os guardas mais próximos do quarto foram drogados. Connor
ainda tenta lutar contra os efeitos da poção, mas tanto Meghan quanto David estão
dormindo como crianças.
Bleddyn foi cuidar dos outros que ainda estavam drogados. Mereck serviu
dois canecos com vinho e deu um para Damron, convidando-o a sentar-se com ele
à mesa. Observou-o tomar o vinho e, ao mesmo tempo, olhar com o cenho
franzido para a cama.
— Irmão, não pode desconfiar de Brianna! Não acredito que seja capaz de
pensar que ela o tenha traído.
Damron não respondeu. Apenas estreitou os olhos e o encarou.
— O que aconteceu com Genevieve? — insistiu Mereck. — Sei que Connor
conhece a história, mas eu nunca lhe perguntei nada. Pressenti seus pensamentos
sobre isso, porém eu não iria bisbilhotar em sua mente e descobrir o que você não

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 139


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

quer que eu saiba. — Vendo que Damron tinha esvaziado o caneco, serviu-o de
novo e prosseguiu:
— Talvez se sinta melhor se desabafar.
Damron se inclinou para trás na cadeira, e uma careta distorceu-lhe o rosto.
— Sim, talvez ajude. — Ele esfregou as têmporas, como se quisesse apagar
os pensamentos perturbadores de sua mente. Suspirou e, em seguida, inclinou-se
para a frente, com os braços apoiados nos joelhos.
— Genevieve e eu estávamos casados havia quase um ano. O rei William
tinha me enviado para Rouen numa missão e, na volta, parei para visitar a família
de minha mãe. Voltei da corte uma semana antes do esperado... Cavalguei
rapidamente para surpreender Genevieve. Queria presenteá-la com um medalhão
cravejado de pedras azuis, suas favoritas, pois era o dia de Santa Genevieve, sua
santa protetora. — Respirou fundo antes de continuar: — Tomei cuidado para não
assustá-la ao abrir a porta do quarto. Quando a vi, os primeiros raios da aurora
entravam pela janela e faziam com que seus cabelos claros ficassem de um
dourado pálido... Estava de costas para mim e nua. Sua pele brilhava com o suor...
— A voz de Damron falhou, e ele respirou fundo outra vez.
— Ela estava sentada sobre o amante, e o beijava sensualmente; ele estava
com as mãos em suas nádegas. Até hoje não sei em que momento puxei a
espada, mas só percebi quando a ponta da lâmina resvalou na bainha. Genevieve
virou-se e ficou me olhando. Gritei para que saísse dali. Ela gritou que era eu quem
deveria sair dali. Xingou-me de "escocês filho de uma vadia" e perguntou por que
eu não estava em Rouen com a família da minha mãe. Incrível como a sua voz
estava carregada de ódio... e Genevieve usava o próprio corpo para proteger o
amante. — Ele fechou os olhos por um instante. — Eu a empurrei para o lado e
ergui a espada, mas quando vi quem era o amante, gelei. Naquele mesmo
instante, outra pessoa surgiu debaixo das cobertas ao lado deles. Fiquei tão
chocado que a minha espada caiu no chão.
— Está me dizendo, Damron, que ela estava com dois homens?! Quem
eram eles? — indagou Mereck.
— Não! Era apenas um homem. Genevieve estava sentada sobre Danielle, a
mulher mais bonita e libertina da corte do rei William. E ao lado dela, com os olhos
arregalados de medo, estava Robert. — Vendo o olhar estupefato de Mereck,
Damron confirmou a desconfiança do irmão. — Sim, ele mesmo, o filho mais velho
do rei William. Nenhum dos dois seria um oponente digno para mim... uma mulher
e um fraco...
— Esvaziou o caneco mais uma vez e o estendeu ao irmão, pedindo mais
uma dose. — Fiquei completamente atordoado. Danielle se levantou da cama,
enrolou-se num lençol e passou por mim com a serenidade de quem acaba de
acordar depois de uma noite bem-dormida. Ainda teve o desplante de me jogar um
beijo quando saiu pela porta. Uma pequena multidão tinha chegado até ali, atraída
pelos gritos de Genevieve, mas ela passou também por aquelas pessoas, rindo.
— Pelo amor de Deus, irmão! Você não a matou?! — Mereck perguntou sem
conseguir acreditar.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 140


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Eu poderia ter matado para defender minha honra, e tinha todo o direito
de fazê-lo — respondeu Damron. — Mas a minha humilhação não terminou aí.
Nem mesmo com a vergonha de ver metade da corte no meu quarto e rindo à
minha custa. O pior golpe veio da própria Genevieve, quando despejou seu ódio
sobre mim, dizendo que eu não era homem o suficiente para satisfazê-la, que eu
lhe causava repulsa com os meus toques suaves e abraços carinhosos. Antes que
eu percebesse o que ela estava fazendo, Genevieve pegou a espada do chão e
investiu contra mim, provocando o corte que tenho, que vai desde a virilha até o
joelho. Fiquei sabendo mais tarde que ela queria me castrar. Só não o fez porque
Robert conseguiu desarmá-la.
— Se não estivesse ouvindo dos seus lábios, irmão, eu jamais suspeitaria
que foi uma mulher quem lhe fez esse ferimento. Como conseguiu escapar de mor-
rer? — O rosto de Mereck estava pálido.
— Foi Robert, mesmo naquela situação absurda, quem me ajudou.
Pressionou a mão sobre o ferimento e gritou por ajuda. O rei já estava a caminho e
chamou seu médico particular, que me salvou. Graças à influência do rei, a
anulação do casamento foi feita rapidamente e sem maiores escândalos.
Mereck ainda estava atordoado com aquelas informações.
— Damron, é realmente uma bênção que eu, e não você, seja conhecido
como impulsivo — comentou ele. — Se isso tivesse acontecido comigo, teria
matado a adúltera, a prostituta e provavelmente teria sido morto por haver
esquartejado o filho do rei. — Mereck meneou a cabeça. — E, baseando-me no
que acabei de ouvir, posso dizer com toda a certeza que Brianna é o extremo
oposto de Genevieve. É amável, gentil e muito, muito apaixonada por você para
nem sequer pensar em traí-lo. — Dito isso, ele se levantou. — Descanse agora,
irmão. Vou reunir os homens e inspecionar cada um deles, para verificar se alguém
tem algum tipo de arranhão que possa ter sido causado por unhas femininas.
Porém, como todos são leais a você, tenho certeza de que não encontrarei nada
além dos ferimentos provocados pelos exercícios. Fique tranqüilo, vamos descobrir
quem tramou isso tudo. — Deu um tapinha camarada no ombro de Damron e
deixou o quarto.
Damron se inclinou mais sobre Brianna para cobrir seus ombros nus. Ao
sentir-lhe o toque, ela gritou e tentou se arrastar para fora da cama.
— Acalme-se, sou eu — ele a tranqüilizou. Brianna tinha os olhos
arregalados e o agarrou pela túnica num gesto de pavor. Lançou os braços em
volta de seu pescoço, ofegando e tremendo.
— Conte-me o que aconteceu — pediu Damron.
— Alguém entrou no quarto, me segurou à força e me obrigou a tomar leite.
Quando tentei gritar, ele tapou minha boca com a mão.
— O sujeito disse alguma coisa? Você conseguiu ver o rosto dele? —
Damron a olhava intensamente, esperando que ela dissesse que conhecia quem
viera para a sua cama.
— Eu estava dormindo e ouvi alguém me chamando pelo nome. Quando
acordei, vi um homem com roupas escuras ao lado da cama.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 141


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Ele vestia algo além disso? — Damron quis saber.


— Uma espécie de máscara sobre a cabeça, talvez um manto — disse
Brianna, lembrando-se. — Ele me chamou de "amor", mas a voz não era a sua.
Quando comecei a lutar, o homem me xingou e disse que tinha me avisado aquele
dia na cachoeira que eu seria dele. Por um momento, pensei que pudesse ser Eric,
e ordenei que saísse. Mas ele me agarrou e me forçou a tomar o leite. Foi então
que vi seus olhos e soube que não era Eric. Esse homem tem os olhos muito
próximo um do outro e praticamente não tem cílios. Suas mãos são marcadas por
calos e cicatrizes, e seus dedos são curtos.
— E se tivesse sido Eric... você teria lutado do mesmo jeito? — Damron não
conseguiu evitar o ataque de ciúmes.
Brianna o empurrou e puxou o lençol, cobrindo-se.
— Você não merece uma resposta, Damron. Eu jurei ser fiel a você.
Nesse momento, Guardião acordou e andou meio trôpego pelo quarto.
Quando voltou ao tapete ao lado da cama, arreganhou os dentes e começou a
rosnar ferozmente. Os pelos de seu pescoço ficaram em pé enquanto farejava o
quarto procurando por algo.
Ao perceber os movimentos do animal, Damron estreitou os olhos. Correu
até ele e o segurou pela coleira, antes de abrir a porta. Mari, que esperava do lado
de fora, levou um susto.
— Mari, fique com a sua senhora — ordenou Damron. — Não a deixe
sozinha em nenhuma circunstância!
Damron soltou Guardião e o seguiu escada abaixo, pelo pátio dos fundos,
pelas muralhas internas e, por fim, para o portão lateral. O lobo farejava o solo
enquanto emitia rosnados selvagens. Em cada lugar que o animal parava, Damron
analisava o chão, esperando que os agressores tivessem deixado alguma pista
durante a fuga. Guardião começou a ganir baixinho, indicando que havia
encontrado algo. A grama estava amassada e cortada naquele local, e Damron
descobriu que fora ali que os invasores tinham deixado os cavalos esperando
antes de fugir.
Voltou para o pátio principal e enviou uma patrulha ao interior do bosque,
embora soubesse que já havia se passado muito tempo.
Depois que o sol se pôs, Damron foi ao quarto de Eric e o encontrou
acordado.
— Poderia me explicar como foi parar na minha cama, com a minha esposa
e completamente nu? — indagou.
— O quê? Na sua cama? — Eric sentou-se com grande esforço. — Nu?
Como assim?
— É o que estou lhe perguntando. — Os lábios de Damron estavam
comprimidos numa linha fina.
— A última coisa de que me lembro é de subir as escadas para as muralhas
externas para me encontrar com a filha de Cook — disse Eric, nervoso com a
acusação infundada. — Alguém me atacou por trás quando cheguei. — Ele olhou
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 142
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

em volta, perplexo. — Onde estão as minhas roupas?


— Devem estar onde você as tirou — respondeu Damron com desdém.
Muito pálido, Eric tentou sair da cama.
— Não sei como pode acreditar que eu poderia ofendê-lo dessa forma,
Damron. — Sua voz estava cheia de mágoa. — Marcus disse que, se Mereck não
o tivesse segurado, você teria me matado com um único golpe da sua espada, sem
ao menos querer saber da verdade. — Ele conseguiu chegar perto de um balde,
sobre o qual se inclinou para vomitar.
— Minha espada não o teria atingido, Eric — Damron o tranqüilizou. — Eu
teria voltado à razão antes de a lâmina atingir sua pele. — Aproximou-se do amigo
e segurou-lhe os ombros até que seus espasmos se acalmassem. Ajudou-o a
voltar para a cama, limpou-lhe o rosto suado e ajudou-o a beber mais da poção
que Bleddyn tinha preparado para ele.
Ficou com Eric até que ele adormecesse. Quando voltou para o próprio
quarto, David e Guardião guardavam a porta e Meghan estava sentada ao lado de
Brianna. Fez um sinal de cabeça, pedindo que a prima saísse. A cama cedeu um
pouco com seu peso quando se deitou ao lado da esposa. Percebeu que, mesmo
dormindo, ela chorava e gemia de desespero. Abraçou-a até que seus murmúrios e
gemidos cessassem. Sentiu o bebê chutando a barriga de Brianna, recusando-se a
descansar. Num impulso, deitou a cabeça sobre o ventre da esposa e começou a
cantar uma canção de ninar que sua mãe cantava quando ele era pequeno.
Aos poucos, tanto Brianna quanto o bebê foram se aquietando.
Brianna não procurava Damron ao longo do dia, e durante as refeições,
mantinha-se calada e reservada. A noite, sentia como se um interruptor tivesse
desligado sua paixão. O toque do marido não a excitava mais como antes.
Ele ainda não descobrira quem atacara Brianna. Ordenara a Mereck que
interrogasse os homens, pois seu meio-irmão tinha o dom de ouvir os
pensamentos de outras pessoas. Porém, Mereck não conseguira encontrar
ninguém que tivesse visto ou ouvido algo que pudesse indicar quem a atacara.
Isso torturava a mente de Damron dia e noite.
Observava os homens à sua volta e se irritava com os menores detalhes. Se
o cavalariço não conseguia deixar Angel pronto e aguardando quando ele saísse
ao pátio, gritava com o garoto até fazê-lo chorar.
Brianna sentia a alma estilhaçada. Como Damron fora capaz de acreditar,
mesmo por um momento, que ela pudesse ser tão leviana e traiçoeira quanto
Genevieve? Perguntou-se.
Contudo, de repente, conseguiu compreender. Damron tinha motivos de
sobra para duvidar dela. Desde o início, não havia sido inteiramente honesta. E o
marido percebera que escondia algo dele, que ela não lhe revelava seu amor. Mas
como poderia ter-lhe dito que viera de quase dez séculos no futuro? Qualquer
homem medieval iria pensar que era louca ou que estava possuída pelo demônio,
como Elyn, a bisavó de Elise. Ou pior ainda, poderia achar que era uma bruxa.
Brianna foi ficando cada vez mais apática e falava cada vez menos. Em

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 143


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

nome do bebê, continuava a fazer suas caminhadas diárias e dedicava todas as


refeições e a energia de que dispunha para o ser que crescia em seu ventre.
Damron fazia de tudo para agradar a esposa. Passava todas as noites ao
lado dela e não a atormentava mais com seu ciúme. Ela passou a dormir mais tran-
qüilamente, e as sombras sob seus olhos começaram a se atenuar. Nos dias mais
claros, ficava a maior parte do tempo ao ar livre, sempre acompanhada de
Guardião, que se mantinha tão perto que por diversas vezes esbarrava em sua
saia. Brianna já estava no sétimo mês de gestação, quase entrando no oitavo.
Era fim do outono, e a bela paisagem de folhas que haviam feito da floresta
um festival de cores já tinha mudado, com todas as folhas caídas, transformando
as árvores em esqueletos.
Num desses dias, após seu descanso vespertino, Brianna e Meghan
caminhavam ao longo das muralhas mais altas, com David atrás delas. Cloud
Dancer patrulhava o céu, voando bem alto. O vento estava mais frio do que o
normal, e Meghan desceu até os quartos para buscar capas mais pesadas.
Brianna viu quando Mereck entrou nos domínios do castelo, passando pela
ponte levadiça e depois pelo portão principal. Não muito longe dele, um movimento
chamou-lhe a atenção. Ela colocou a mão sobre os olhos para tentar ver do que se
tratava.
Viu uma mulher com um falcão enorme sobre o braço, caminhando com
cuidado, mantendo-se atrás de uma carroça, onde parecia querer se esconder.
Brianna sentiu todos os pensamentos desaparecer ao notar-lhe o estado adiantado
de gravidez. Teve a sensação de levar um soco no estômago ao olhar para o rosto
dela e reconhecê-la imediatamente.
Asceline.
A mulher retirou o capuz e as amarras do falcão e ergueu o braço em triunfo.
O som de seu riso cristalino chegou ao parapeito onde Brianna se encontrava.
Em questão de segundos, o falcão localizou sua presa e mergulhou sobre
ela.
David gritou e se jogou para a frente. Meghan, que retornava para o
parapeito, largou as capas no chão e correu na direção de Brianna. Guardião latiu
e deu um salto para o ar, rangendo os dentes enquanto lutava para alcançar o
falcão.
Em pé entre as duas aberturas no muro, Brianna se inclinou para proteger a
barriga e ergueu os braços para defender a cabeça. O falcão veio em sua direção
em alta velocidade e tentou pegá-la com as garras afiadas. A rapidez e o peso da
ave acabaram por empurrá-la para a frente contra a borda da muralha. Ela gritou.
Nesse momento, Cloud Dancer também mergulhou, gritando. Alarmado com
a presença da águia, o falcão soltou o punho de Brianna. Ela tropeçou e, com as
mãos, buscou algum tipo de apoio que a impedisse de cair do muro e despencar
de uns cinco metros.
Meghan se jogou e a enlaçou pelos quadris. David se inclinou ainda mais,
quase ele mesmo caindo, mas conseguindo segurá-la pelos ombros e trazê-la de

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 144


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

volta em segurança.
Bleddyn e Damron correram pela porta de acesso, a mesma porta pela qual
Guardião agora passava para descer. Em menos de um minuto, o lobo já estava
no pátio, rosnando ferozmente.
Logo atrás dele, Mereck vinha a cavalo e, com um rápido movimento,
enlaçou Asceline e a trouxe para junto dele.
Mas não era só Asceline a quem Guardião buscava. O vento trouxera o
cheiro familiar do homem que atacara Brianna no quarto, semanas antes. O culpa-
do, vendo o animal correr em sua direção, montou o cavalo e tentou fugir, mas
havia uma carroça carregada de feno bem à sua frente. O cavalo empinou e jogou
o homem ao chão. No instante seguinte, Guardião já estava sobre ele, com a
perigosa mandíbula escancarada, pronta para o ataque. Ao mesmo tempo em que
as presas afiadas de Guardião se fechavam no pescoço do agressor, Cloud
Dancer jogava o falcão, morto, ao lado deles.
Damron correu para o quarto carregando Brianna nos braços. Deitou-a,
desmaiada, na cama. Meghan, que nunca demonstrara medo antes, estava pálida
e trêmula.
— David, vá buscar minha bolsa preta na cabana dos medicamentos —
ordenou Bleddyn. — Está sobre a mesa no fundo da cabana. Rápido!
David saiu correndo. Lady Phillipa tocou Meghan do ombro e levou-a para
outro quarto.
— Venha, meu bem, e diga a todos que esperem nos aposentos do seu avô
— disse a mãe de Damron. — Irei ter com você quando souber mais de Bleddyn.
Após todos terem saído, lady Phillipa se apressou em ajudar Damron. Ele
alisou os cabelos de Brianna, e os músculos em seu maxilar saltavam como se
estivesse fazendo um grande esforço para não chorar.
— O coração está batendo muito fraco — disse Bleddyn.
O rosto dele não mudou de expressão em momento algum enquanto
examinava Brianna e a tocava em locais específicos, buscando reações muscula-
res. Passou a mão por debaixo dos quadris dela, e, ao ver que não havia manchas
de sangue, indicando a possibilidade de um parto prematuro, suspirou aliviado.
David, arfando e quase sem fôlego, entrou correndo e entregou a bolsa para
o galês.
— David, vou lhe pedir mais um favor — disse Bleddyn ao rapaz. — Traga-
me duas pequenas toras de madeira resistente, pois precisamos calçar os pés da
cama. É importante mantermos a parte de baixo do corpo de Brianna num nível
acima da cabeça.
Bleddyn cuidou dos cortes e arranhões no braço e no rosto e, em seguida,
procurou por outros ferimentos. Não tendo encontrado nenhum, misturou algumas
ervas com água quente e verteu pequenas quantidades nos lábios dela.
— Devemos esperar até que acorde. — Ele se afastou da cama para que
lady Phillipa cobrisse Brianna com um cobertor grosso.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 145


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Damron assistia a tudo calado. Esse terrível atentado acontecera por sua
culpa. Teria sido melhor ter jogado Asceline de cima de um precipício a ter-lhe
dado a chance de ferir Brianna. Ergueu os olhos, ansioso, quando Mereck entrou.
— Coloquei Asceline sob forte guarda armada — disse ele. — Estão em
todas as entradas e janelas. Ela não tem por onde escapar, e nunca mais colocará
os pés em Blackthorn.
— E o homem que Guardião matou? Quem é ele? — indagou Damron.
— Nem eu nem Connor pudemos identificá-lo — respondeu Mereck. — O
lobo dilacerou o rosto dele de tal forma que não tínhamos certeza de quem era.
Mas quando vimos seus cabelos longos e loiros, perguntamos a Eric se o
conhecia.
— E? — Damron esperou pela resposta com a respiração em suspenso.
— Eric também teve dificuldade em reconhecê-lo. Os cabelos e o formato da
testa pareciam ser de Rollo, primo dele, porém não tinha certeza. Mas depois de
ver a fivela do cinto que o sujeito usava, Eric confirmou que de fato era seu primo
Rollo.
— Havia algo mais que pudesse identificá-lo?
— Hum... sim — respondeu o amigo. — Pequenas cicatrizes no alto de uma
das coxas. Marcas em forma de meia-lua. Encontramos o homem que tentou
raptar Brianna a caminho daqui.
Pouco antes de os primeiros raios de sol começarem a brilhar no horizonte
anunciando a chegada de mais uma manhã, as pálpebras de Brianna se agitaram.
Porém, ela se refugiou na escuridão de sua mente e resistiu às vozes que a
chamavam, especialmente a de Damron, que dizia seu nome enquanto lhe aca-
riciava o cabelo.
— Eu sinto muito, Brianna, não é o que está pensando — murmurou.
Ela afastou a cabeça e abriu os olhos.
— Não? O que exatamente não é o que estou pensando, Damron? — Sua
voz estava fraca.
— Eu vi a mulher que, teoricamente, você deveria ter mandado embora. Ou
será que não vi? Não é ela que está grávida e de mais tempo do que eu? —
Brianna meneou a cabeça. — O que Asceline fez só foi surpresa para você. Sua
crueldade vai além da dela. Você fez um juramento de me honrar e de me
proteger, e mesmo assim, a manteve aqui. — Fitou-o nos olhos. Uma enorme
tristeza se apossou de Damron, pois só agora percebia o tormento que enchia a
alma de Brianna.
— Beba isto, meu bem — Bleddyn falou suavemente ao lado de Damron. —
Vai fortalecer o sangue que sai de você e corre para o bebê. — Ele ergueu-lhe a
cabeça, e ela sorveu a bebida amarga.
Brianna estava muito cansada. Seus olhos se fecharam, e ela adormeceu.
— Vou cuidar para que Brianna durma bastante até que recupere todas as
suas forças. — A voz de Bleddyn era deliberadamente calma.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 146


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Não vai prejudicar o bebê? — Damron perguntou, notando a preocupação


em suas palavras.
— Se algo vier a prejudicar o bebê, milorde, não virá das minhas mãos —
respondeu o galês. — Precisamos manter o bebê seguro até que ela cresça o
suficiente para agüentar os rigores do parto.
— "Ela"? Como sabe que é uma menina? — indagou Damron.
— Brianna pressente que é uma menina. Tem falado com ela e cantado para
ela todos estes meses — esclareceu Bleddyn. — Santo Deus, homem, você ainda
não percebeu que Brianna não é como as outras mulheres? Você, que está mais
próximo dela, é o que a conhece menos.
Damron estremeceu e a observou. Felizmente, Brianna já não estava tão
pálida e fraca, e quando pousou a mão sobre o coração dela, sentiu que batia mais
forte.
Bleddyn se sentou à mesa do quarto e escreveu uma carta para Alana,
pedindo que viesse o quanto antes. Abriu a janela e assobiou algumas vezes,
chamando Cloud Dancer, que foi silenciosamente até o peitoril da janela. O místico
prendeu a carta na perna da águia, depois acariciou-lhe a cabeça e as costas o
murmurou palavras num tom agudo em seu ouvido. Cloud Dancer respondeu com
outros sons estridentes e, em seguida, alçou voo para o céu escuro.
Por vários dias, Brianna dormiu profundamente, acordando apenas para se
aliviar e para tomar os caldos preparados por Cook. Quando terminava e ingeria a
poção que Bleddyn lhe servia nos lábios, ela suspirava e voltava a dormir. Damron
e Bleddyn se revezavam para estar sempre a seu lado.
Damron ficava irritado quando suas funções o obrigavam a sair do lado de
Brianna. Se antes se jogava de corpo e alma em todas as tomadas de decisões ou
resolução de conflitos para defender Blackthorn, agora resolvia tudo rapidamente e
voltava correndo para saber se o estado da esposa tinha melhorado, mas sempre
a encontrava adormecia.
Num desses dias, começou a suspeitar que ela, ao ouvir seus passos
apressados nas escadas, fingia estar dormindo. Decidiu retirar as botas antes de
começar a subir a escadaria principal, e a encontrou acordada.
Quando, finalmente, conseguiu falar com Brianna, ela foi educada, mas não
havia emoção em seus olhos nem em sua voz. A única vez que demonstrou
alguma emoção foi quando Guardião reclamou e lambeu-a, pedindo-lhe que
acariciasse sua cabeça. Depois de ter feito isso, Brianna cantou uma cantiga de
suave melodia para o lobo, e logo depois adormeceu.
No dia em que Cloud Dancer retornou, Bleddyn apanhou da perna da águia
a resposta do barão de Ridley e leu que iriam começar a viagem na manhã
seguinte, depois de buscar Alana em Saint Anne.
Damron e ele removeram os calços debaixo da cama de Brianna, que
melhorava a olhos vistos. Seu ventre continuava a crescer, enquanto seu rosto
ficava mais pálido e tenso. Seu olhar refletia os sonhos perdidos e a melancolia
que trazia no peito. Voltou a fazer as caminhadas nas muralhas e olhava sempre
na direção do que seria a Inglaterra, ou para as águas da baía de Tongue.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 147
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Damron a vigiava de perto, com os punhos cerrados, igualmente sofrido.


Estaria ela saudosa de sua vida antes de conhecê-lo? Ele nunca a deixaria ir, pre-
cisava de Brianna perto de si. Jurou que algum dia ela aprenderia a não odiá-lo.
Cloud Dancer patrulhava as florestas e, numa manhã bem cedo, começou a
circular os parapeitos e a gritar, anunciando que os convidados estavam passando
as fronteiras para dentro dos domínios de Blackthorn. Damron insistiu que Brianna
ficasse dormindo até que os Ridley se aproximassem mais. Ficou no quarto para
ter certeza de que ela dormia realmente, ou, pelo menos, que se mantinha deitada.
Ela movia a cabeça, irrequieta, e lágrimas escapavam de seus olhos. Damron se
ajoelhou no chão, ao lado da esposa, sentindo ele mesmo os olhos arder com o
pranto reprimido. Inclinou-se perto de seu ouvido e acariciou-lhe os cabelos.
— Quero que me jure, Brianna. Prometa! Prometa que nunca vai me deixar!
Eu não posso viver sem você, eu te amo demais — implorou. Pressionou a face
contra a dela e cantou para confortá-la. Seu peito doía, apertado com as emoções
que não podia libertar. O guerreiro dentro dele desejava ardentemente a distração
das batalhas, para lutar, matar e aliviar tanto o medo quanto a dor que o afligiam.
Na manhã seguinte, Brianna despertou e viu que Mari já preparara um
banho quente para ela. A criada fiel, que nunca deixara de lhe proporcionar confor-
to, estava feliz e radiante quando entrou no quarto. Brianna relaxou na tina e,
depois que terminou o banho, Mari a ajudou a vestir uma combinação longa verde-
escura e uma túnica marfim.
Damron entrou no quarto e pousou as mãos nos ombros da esposa.
— Brianna... Você é a mulher mais linda de toda a Escócia — elogiou,
sincero. — Parece uma fada que habita as florestas ou as profundezas dos lagos.
Pode despedaçar o coração de um homem com a sua beleza — ele sussurrou
suavemente, porém com amargura.
— Eu nunca quis "despedaçar" o coração de ninguém — respondeu ela com
o mesmo tom suave de voz.
— Tudo o que sempre desejei foi amar e ser amada.
— Não pode dizer que não é amada, minha esposa. Não há nenhum homem
ou mulher em nosso clã cujo coração você não tenha conquistado. — Damron
sorriu. — Meu avô a ama como se fosse uma filha de sangue, e mamãe fala de
você como se fosse o bebê dela. Você é considerada uma irmã para todos que
vivem aqui. Venha, vamos encontrar Alana. Ela está na passagem das muralhas
externas e ansiosa para ver o seu lindo rosto. — Ele a carregou e desceu cuidado-
samente as escadas até o pátio.
Quando Alana chegou perto deles, Damron colocou a esposa no chão. Alana
abriu os braços, e Brianna, com um gemido rouco, atirou-se neles. A irmã a abra-
çou com grande carinho, alisando-lhe os cabelos opacos e sem vida e repousando
a mão em suas costas. Alana olhou para os lados, procurando por Bleddyn, e
quando o viu, soluçou baixinho, e seus olhos se encheram de lágrimas.
Ao ouvir esse som inesperado vindo de Alana, Damron ficou tenso de medo.
— Venha, minha querida — disse a abadessa com voz controlada —, ficará
feliz em saber quem mais veio para lhe trazer amor e alegria.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 148
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Brianna percebeu que Damron estava tenso atrás de si. Não importava onde
ele se encontrasse, sentia como se um fio invisível estivesse amarrado entre
ambos, e ondas fortíssimas de tensão fluíam de seu marido. Confusa sobre o que
poderia ter causado essa tensão, ela olhou por cima do ombro de Alana. Seu tio
Simon e tia Maud estavam à frente do grupo, mas havia alguém mais atrás deles.
Nesse instante, seus olhos encontraram os olhos azuis de Galan.
— Chega, Alana, já abraçou a minha Brianna por tempo demais — disse
Galan, estendendo os braços enquanto se aproximava.
Damron sibilou por entre os dentes, mas Galan não lhe deu atenção. Com os
braços fechados ao redor de Brianna, ele pousou o rosto sobre a cabeça de sua
amada de infância e fechou os olhos, trancando a dor dentro deles. Antes de se
afastar para falar com ela, colocou uma expressão cômica no rosto.
— Nunca imaginei que veria a minha Brianna tão gorda. Acho que não
consigo mais erguê-la nos braços sem destruir as minhas costas — ele falou, com
um riso igualmente ensaiado.
— Deve ter sido uma maçã o tanto que você comeu para ficar assim.
Brianna riu e, por alguns segundos, seus olhos se iluminaram.
— Que vergonha, Galan. E pensar que Elise e eu éramos duas tolas para
acreditar em você! — ela brincou. — Você e seus amigos devem ter rido muito a
cada vez que nos recusávamos a comer uma maçã!
— Venha cumprimentar seus tios, Brianna, e depois iremos para o salão —
Damron sugeriu a seu lado. — Está ficando cansada.
Após seus tios a cumprimentarem, emocionados, Damron tomou Brianna
nos braços e só a pôs no chão novamente quando chegaram perto da lareira
maior, no salão.
O tempo estava límpido, porém muito frio, e Damron colocou uma manta
grossa sobre as pernas de Brianna. Ela suspirou com prazer, sentindo o calor.
Galan sentou-se aos seus pés com os joelhos dobrados e os braços cruzados
sobre eles.
Damron notou então que a esposa estava usando o presente de despedida
que Galan tinha lhe dado antes de deixarem Ridley, a corrente de ouro com o
pingente dos dois pequenos cavalos, que repousavam entre seus seios. Sentiu os
músculos do maxilar saltando, mas decidiu engolir o ciúme. Não queria fazer nada
que pudesse tirar aquele sorriso do rosto da esposa.
— E como estão todos? — perguntou Brianna. — Eu sabia que Alana havia
planejado vir, mas esperava que Elise também viesse.
— Creio que Elise não agüentaria o ritmo da viagem. Você sabe que ela mal
consegue montar Buttercup — tia Maud respondeu com um sorriso. — Lynette de
Wycliffe foi a Ridley para uma visita. Cecilia estava muito feliz em ter as duas ali
para cuidar.
A noite prosseguiu agradavelmente, mas Damron não conseguia deixar de
perceber as expressões nos olhos de Bleddyn e Alana. O rosto doce da abadessa
tornou-se impassível quando ela o encarou. Ele ficou tão desconcertado que se

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 149


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

sentiu corar, algo que nunca acontecia. Não sabia como, mas sua cunhada de
certa forma parecia sentir tudo o que havia ocorrido desde a última visita.
Depois de algum tempo, o ambiente no salão começou a ficar tenso e
silencioso. Meghan se levantou e sugeriu que precisavam alegrar o ambiente com
música. Pegou sua gaita de fole ao lado da lareira, e Bleddyn sorriu ao pegar seu
bodhran.
— Venha, Brianna, cante comigo e me dê as boas-vindas à sua casa —
murmurou Galan. — Escolheremos apenas canções alegres e as músicas galesas
de que você tanto gosta.
Damron não podia acreditar que, com apenas algumas palavras gentis,
Galan conseguiu que Brianna se unisse a eles para cantar. Cerrou os punhos até
que os nós de seus dedos ficassem brancos. Forçou um sorriso agradável,
determinado a não deixar que seu ciúme arruinasse o momento. Levantou-se e
colocou um banquinho entre os músicos para a esposa.
Galan começou com uma canção alegre, que o obrigava a cantar
desafinado, fazendo Brianna rir bastante. Depois, ela cantou sozinha sua melodia
favorita. Mereck se uniu a Galan e colocou o braço sobre os ombros do rapaz.
— Galan, vamos cantar aquela balada que se tornou famosa até mesmo
aqui nas montanhas — ele pediu.
Bleddyn começou as primeiras batidas rítmicas, e todos reconheceram a
canção que Mereck apresentara quando viera pela primeira vez de Stonecrest. Era
a canção composta por Galan. Suas vozes se fundiram enquanto cantavam diante
de Brianna, prestando-lhe uma sincera homenagem.
Ela se juntou a eles no último verso. Tristeza e dor transpareceram em sua
voz. Damron percebeu a solidão e o medo que Brianna mantivera escondidos por
tanto tempo. Quando suas vozes se calaram, ele a tomou nos braços e a manteve
aninhada ao peito enquanto cantava a canção de amor alemã de que ela gostava
tanto.
Pouco mais tarde, Brianna se despediu da família ao seu redor.
— Estou com tanto sono que tenho receio de adormecer e começar a roncar
como Damron... — Ela riu. — Vou me retirar. Até amanhã.
— Roncar, Brianna?! Eu não ronco. É imaginação sua. — Damron sorriu
para ela e se virou para acompanhá-la.
Quando Bleddyn chegou ao quarto de Brianna com a poção que devia lhe
ministrar antes de dormir, Damron e Mari já a tinham acomodado sobre os
travesseiros macios, e ela só estava aguardando sua chegada. Conversaram sobre
a noite agradável que haviam tido, enquanto Brianna bebia a poção. Ao terminar,
Bleddyn beijou-a na testa.
— Nathaniel — ela sussurrou —, peça a Alana para nos encontrar na sua
cabana de ervas depois do desjejum. Eu tenho muito a dizer, e vou precisar de
vocês dois ao meu lado quando o fizer.
— Fique tranqüila, meu amor, estaremos lá com você. Agora precisa
descansar. — Ele a tocou na face e deixou o quarto.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 150


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Damron se deitou e a tomou nos braços. Aconchegou as cobertas sobre


seus ombros e cantou suavemente até que Brianna adormecesse.
Na manhã seguinte, logo depois que o sol surgiu, Brianna sentiu a presença
de Alana no quarto e despertou. Olhou para os serenos olhos castanhos da irmã e
se admirou de como Alana parecia sempre estar em paz com o mundo. Agora mais
do que nunca, Brianna precisava de sua orientação. Meghan entrou correndo no
quarto, cheia de energia.
— Connor e eu vamos mostrar o castelo a Galan e depois iremos caçar —
disse ela muito rapidamente. — Eu concordei em levar Simple, pois Galan não
acredita que o falcão é tão deselegante quanto Alana lhe contou.
Depois que Brianna se vestiu, Meghan e Alana a acompanharam até o salão
principal, uma de cada lado, segurando-a pelo cotovelo para ajudá-la a descer as
escadas sem perder o equilíbrio.

Damron e Galan conversavam ao lado da lareira, e Brianna ouviu Galan rir


de algo que Damron disse. Bleddyn veio até ela para lhe dar as boas-vindas.
— Estou tão feliz por ver Damron e Galan juntos, Nathaniel — Brianna
murmurou. — Damron foi muito agradável com ele. Fiquei surpresa. Pensei que
ainda levaria muito tempo até que deixasse de odiá-lo.
— Eles ainda serão grandes amigos, meu bem. Não tenha receio por Galan
— disse o galês. — Você parece muito melhor esta manhã. Quando os outros
tiverem ido para a caçada, vamos nos reunir como pediu.
Brianna o brindou com um largo sorriso no mesmo instante em que Damron
a viu e veio em sua direção. Ele se apressou para tomar-lhe o braço e sugeriu que
todos assumissem seus lugares à mesa.
As ajudantes de Cook trouxeram várias tigelas com mingau fumegante,
queijos, carnes frias, maçãs frescas e uvas provenientes da França. O aroma do
pão recém-assado fez Brianna ficar com água na boca. Um dos criados a serviu de
leite e depois serviu a cerveja fraca para Damron. A filha de Mari colocou uma
tigela menor com gemada perto de Brianna. Essa era uma das muitas coisas que
Bleddyn insistia que ela comesse todos os dias.
Brianna ficou boquiaberta ao ver o item seguinte que lhe foi trazido para o
desjejum. Cook veio até ela com uma travessa, mas esta não estava repleta de
carnes ou legumes como de costume. Galan riu ao ver a surpresa em seu rosto.
— Pensei que talvez fosse gostar desta fruta especial. Bleddyn me contou
que antes de deixar Ridley, você tinha ouvido falar dessa fruta chamada laranja.
No final da minha última viagem, vi um navio sendo descarregado e, dentre as
mercadorias, havia grandes caixotes de frutas de cor amarela. Quando descobri o
que eram, convenci o comerciante a me vender o maior número possível que eu
pudesse guardar antes que se estragassem. E zarpei no mesmo dia.
— Oh, Galan, obrigada! — disse Brianna, emocionada. — E realmente um
presente maravilhoso o que você trouxe. Vou manter uma no bolso para poder
desfrutá-la sempre que puder.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 151


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Damron serviu mingau numa tigela e acrescentou manteiga e nata antes de


colocá-la diante de Brianna. Ela agradeceu e, pela primeira vez em muitos dias,
sorriu para ele. Damron a observou comer tudo e, quando a viu terminar, passou-
lhe uma caneca de gemada.
— Deus do céu! Não tenho espaço para tudo isso — Brianna protestou.
— Então vamos esperar até que tenha, milady — ele respondeu. — Bleddyn
disse que você deve comer bem para se fortalecer.
Damron fez um esforço para suavizar as linhas do próprio rosto ao tocá-la
nos cabelos. O bebê estava sugando muito de sua energia vital, pois até mesmo
seus cabelos, antes tão cheios de vida, tinham perdido o brilho. Não se
enroscavam mais nos dedos dele como antes. Ficaria muito feliz quando o bebê
nascesse.
Depois que todos terminaram de comer, Brianna selecionou duas laranjas e
colocou uma em cada bolso da túnica. Damron a carregou pelas escadas até o
pátio e a observou enquanto se despedia do grupo que ia caçar. Viu a expressão
triste em seu rosto e tentou tranqüilizá-la.
— Calma, meu bem — ele falou. — Dentro em breve voltará a fazer tudo do
que sempre gostou, inclusive andar a cavalo.
— Não se preocupe, Damron — disse ela, tocando-lhe o rosto com carinho.
— Não estou descontente por ficar em casa hoje. Alana e eu iremos visitar Bleddyn
em seu herbário.
Alana aproximou-se, e Damron fez um aceno de cabeça. Olhou para os
homens que se alinhavam, aguardando suas ordens. Depois de beijar a esposa na
testa, caminhou em passadas largas até os homens e ordenou, num grito seco,
que todos o seguissem, e rápido, até o salão principal para receber as ordens do
dia.
Brianna sentiu o braço reconfortante de Alana em sua cintura enquanto as
duas entravam na cabana limpa e perfumada de Bleddyn. As ervas exalavam os
aromas marcantes de alfazema, hortelã, alecrim e sândalo que pendiam dos
inúmeros varais. Cubas, vasos, frascos e pratos guardavam todos os tipos de
ingredientes. A quantidade de ervas que Nathaniel tinha recolhido, secado e
armazenado nos últimos meses deixou Brianna admirada.
Ele levara até ali uma pequena cama, que encostou na parede para que
Brianna pudesse se sentar e se recostar confortavelmente. A luz do sol fluía livre-
mente pela janela, fazendo com que o quarto ficasse quente e aconchegante.
— Pronto, minha pequena. Agora vamos conversar — disse Nathaniel com
voz límpida e calma.
Ele tentou poupar Brianna do sofrimento enquanto relatava rapidamente a
Alana os sórdidos acontecimentos daquela noite em que a irmã havia sido
drogada, e Eric atacado.
Falou sobre o terrível dia em que Asceline tentara usar o falcão para feri-la e
de como eles tinham lutado para ajudar Brianna a recuperar a saúde. Quando
terminou o relato, Bleddyn olhou para Brianna, mas ela fitava apenas as próprias

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 152


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

mãos.
— Chegou a hora de ouvir você, minha irmã — disse Alana com sua habitual
voz serena.
— Conte-nos tudo, pois eu suspeito que haja muita coisa se passando com
você sobre as quais não sabemos.
Brianna estendeu a mão e segurou a de Alana. Respirou fundo e começou.
Seu olhar permanecia desfocado enquanto falava sobre a viagem de sua alma do
século XXI.
— Tudo começou no dia em que fugi de Saint Anne e caí, batendo minha
cabeça numa rocha. O dia em que Damron me trouxe a Ridley... — Ela contou o
que havia acontecido nos últimos meses. A voz tremia e seus olhos estavam turvos
enquanto fitava a irmã e seu protetor. — Algo aconteceu com o bebê naquela noite
em que alguém tentou desonrar a mim e a Eric. Percebi isso quando recobrei a
consciência. O bebê estava quieto e seus movimentos ficavam mais fracos a cada
dia. Eu abraçava a barriga e cantava para a minha filha, dizia o quanto a amava.
Tentei lhe dar meu apoio em todos os sentidos. — Seu rosto espelhava a agonia
da mente quando descreveu o dia em que Asceline enviara o falcão para cima
dela. — Naquela ocasião, eu senti o exato instante em que minha filha perdeu as
forças para continuar. E ela não se moveu novamente. — Ela respirou fundo e
alisou a barriga com carinho. — Eu sei que vão dizer que não tenho como saber o
que acontece dentro do meu corpo, mas o fato é que eu sei. Na minha vida como
Lydia, sofri exatamente a mesma terrível experiência. Esperei, rezando para que
estivesse errada, porém não estou. Minha barriga continua aumentando porque o
ninho do bebê se descolou do meu ventre. — Ao ver o olhar chocado dos dois,
ergueu a mão, pedindo que a esperassem terminar. — A barriga está aumentando
porque estou sangrando por dentro. O bebê, ou o ninho, bloqueou a saída do meu
ventre e impede que todo o sangue se derrame. — Apertou os olhos para segurar
as lágrimas. — Meu organismo está sendo envenenado aos poucos. Em breve,
minha barriga vai inchar de tal forma que parecerá que é o bebê querendo nascer.
Eu terei uma reação de brotoejas e pruridos pelo corpo, que vai parecer com
alguma doença contagiosa. Por fim, meu organismo vai querer expelir o conteúdo
do meu ventre para tentar me salvar. — Ela se acomodou melhor na cama. — Vou
dizer tudo o que precisam saber para que possam me ajudar quando chegar a
hora.
Alana e Bleddyn continuavam calados, pela primeira vez sem saber o que
dizer.
— Eu agradeço a Galan de todo o coração pelas laranjas — Brianna
continuou. — A parte interior da casca dessa fruta possui um remédio natural que
fortalece os vasos sangüíneos. Vai me ajudar muito para tentar sobreviver. —
Inspirou profundamente e estremeceu. — Na minha vida no futuro, eu estudei a
história de Blackthorn e descobri que darei dois filhos a Damron, e assim será. —
Cerrou os dentes para sufocar a vontade de chorar com o pavor de passar pela
angústia de perder outro filho.
Pela primeira vez desde que Brianna começara a falar, Bleddyn fez um
aceno de cabeça, compreendendo o que ela dissera.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 153


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— O que Brianna falou é verdade — declarou ele, com os belos olhos cheios
de sofrimento.
— Vi em sua mente tudo o que dizia, assim como o que devemos fazer
quando chegar a hora. Devo acrescentar, porém, que vamos fazer mais por ela do
que o médico que quase a matou como Lydia.
A porta se abriu com um estrondo, soprando uma corrente de ar frio pela
cabana. A silhueta de Damron surgiu na soleira, delineada contra a luz vinda de
fora. Ele entrou rapidamente e fechou a porta.
— Vim me certificar que minha esposa não está se cansando demais —
disse. Seu olhar tenso varreu o cômodo, mas relaxou ao constatar que Brianna es-
tava bem acomodada e seu rosto era banhado pela luz do sol. Seus lábios se
curvaram num leve sorriso quando a viu morder a parte branca da casca da la-
ranja. — Que desejo estranho você tem, Brianna.
— Para mim, é a melhor parte da laranja, Damron. — Ela sorriu.
Damron se sentou no chão e puxou-a para o colo. Tirou a laranja de suas
mãos e terminou de descascá-la com grande destreza. Ao limpar a casca com os
dentes, Brianna fez uma careta, e ele riu. Enlaçou-a com um braço, enquanto a
outra mão percorria-lhe a barriga dilatada, disfarçadamente apalpando para
perceber os movimentos do bebê.
O coração de Damron disparou. Quase em pânico de tanta preocupação,
fitou Bleddyn nos olhos.
— Bem, minha querida — disse Damron —, acho que Alana concorda
comigo que está na hora de regressarmos e de você descansar. Está aqui por
tempo demais, e eu preciso voltar para as minhas obrigações.
Brianna se perguntou por que a voz dele subitamente revelava tensão. Será
que suspeitava de que o bebê já estava morto? Iria culpá-la por isso? Seus
pensamentos correram soltos enquanto ela se levantava, e Damron a tomava nos
braços.
— O quê? Não vai reclamar do meu peso? — perguntou ela, brincando. —
Quero ver quando estiver em idade mais avançada, se não irá reclamar. —
Cutucou-o no peito e sorriu para ele.
— Você realmente acredita que eu não ouvi quando resmungou uma vez
que "o maldito homem tem uma queda por carregar mulheres"? — Damron riu
baixinho. — Eu gosto de ter minha mulher perto de mim, não notou? — Antes que
ela pudesse responder, baixou a cabeça e beijou-a. — Hum... o sabor dessas
laranjas nos seus lábios os torna ainda mais doces.
Damron saiu para o pátio principal e virou-se para Alana.
— Vamos levar Brianna para visitar seus lugares favoritos. — Ao chegarem
ao topo da escadaria que conduzia às muralhas externas, ele a colocou no chão.
— Que vista linda, não acha? — Damron esperou que admirassem o pequeno lago
onde Brianna ia todos os dias.
Percebendo que ela já tinha visto o suficiente, colocou o braço em torno de
sua cintura e seguiu para o local seguinte, de onde se tinha uma visão ampla do

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 154


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

campo aberto e dos caminhos que levavam à Inglaterra. A cada parada, Damron a
surpreendia por saber a localização de seus lugares favoritos.
Quando estavam no meio do caminho sobre as muralhas, ele insistiu que
Brianna voltasse para o quarto e descansasse um pouco antes que o restante de
sua família voltasse da caçada. Carregou-a para descer as escadas de madeira, e
pediu que Alana trouxesse o próprio almoço para o quarto de Brianna e lhe fizesse
companhia. Com os braços em volta do pescoço de Damron, Brianna beijou-lhe o
ponto sensível abaixo do maxilar.
— Se não lhe der muito trabalho, milorde, poderia levar a mim e a esta
barriga enorme para o nosso quarto? — ela pediu com um sorriso.
— Acho então que Bleddyn terá que me preparar um tônico, milady —
respondeu ele. — Meus pobres músculos mal conseguem agüentar o esforço.
— Pobres músculos? Nem no inferno, meu senhor — falou Alana, rindo. —
Você a carrega como se ela fosse uma pluma!
Damron parou por um instante e voltou-se para encará-la, incrédulo.
— "Nem no inferno"?! — ele repetiu. — Que linguagem é essa, irmã?
— Acho que assustei meu cunhado — disse Alana com um suspiro
exagerado.
Brianna aninhou o rosto no tórax de Damron para desfrutar do som da
risada. Ele tinha uma voz bonita de barítono e uma risada que ela ouvia muito
raramente. Quando chegaram ao quarto, Damron a acomodou confortavelmente
na cama, e as duas irmãs começaram uma discussão bem-humorada sobre o que
seria melhor comer num dia frio como aquele: mingau quente com creme ou uma
tigela fumegante de sopa de carne com legumes.
Damron fechou a porta e voltou imediatamente para a cabana de Bleddyn.
Damron e o galês adentraram a floresta e só pararam onde Damron achou
seguro. Desceu do cavalo e, ainda sem dizer nada, amarrou o animal numa árvore.
Só então se voltou para Bleddyn. Estava cansado das meias-verdades do protetor
de Brianna. O que mais ele sabia sobre ela e ainda estava escondendo? Seus
alertas de que Brianna não era como as outras mulheres, que ela poderia deixá-lo,
mas, mesmo assim, ainda estaria ao lado dele não faziam o menor sentido. Como
ela poderia se tornar uma esposa mansa e dócil e, apesar disso, continuar sendo
Brianna? Damron queria respostas. E as queria agora.
— Vamos. Quero que me conte tudo. — Damron andava ao redor de
Bleddyn como se fosse um lobo à espreita de uma presa. Cada músculo em seu
corpo estava tenso. — Você disse que Brianna não é como as outras mulheres e,
contudo, tanto você quanto ela têm escondido a verdade. Eu ainda não terminei. —
Ele o interrompeu quando Bleddyn fez menção de falar.
— Esta manhã, quando a tive no meu colo, toquei sua barriga e senti que há
algo terrivelmente errado. Como posso ajudá-la se não sei contra o que estou
lutando?
— Brianna tem medo de lhe contar tudo — Bleddyn disse.
— Medo? Não... Brianna não tem medo de homem nenhum — respondeu
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 155
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

Damron com um suspiro impaciente.


— Nem mesmo se ela acreditasse que o próprio marido acharia que está
louca ou que é uma bruxa? — perguntou Bleddyn. — Que ele poderia trancafiá-la
numa torre distante?
— Mas o que Brianna poderia me dizer de tão inacreditável?
Bleddyn começou seu relato, e Damron sentiu como se seus pés estivessem
profundamente enterrados no chão, deixando-o incapaz de se mover. As palavras
do galês caíam sobre ele como uma chuva gelada. Sentia como se tivesse milhões
de agulhas espetando seus braços e a cabeça.
E então, quando Bleddyn contou que Brianna, a mulher sem a qual Damron
não conseguia viver, poderia de alguma maneira ser transportada para um futuro
distante, ele sentiu como se tivesse sido marcado por ferro em brasa. Balançou a
cabeça e deu um passo para trás.
— Não! Sua alma? Sua alma seria diferente? Como assim? Ela iria se tornar
aquela garota tonta que fugiu da Abadia de Saint Anne? — Damron andava de um
lado para o outro enquanto Bleddyn explicava como a alma de Brianna havia
amadurecido ao longo dos séculos e a transformado na mulher maravilhosa que
ele conhecia hoje.
Damron não queria somente a casca do que seria a Brianna do século XI.
Ele queria a sua amada Brianna. Tinha de ficar com ela para sempre.
Sentiu a angústia rasgando-o ao meio, fazendo sua mente quase explodir.
Sem perceber, tirou a espada da bainha de suas costas e, com rugidos de frustra-
ção que fez todas as pequenas criaturas da floresta fugir, golpeou as árvores e
galhos à sua frente como se estivesse em plena batalha. Seus cabelos voavam,
chicoteando-lhe o rosto e os olhos, e ele rugia como um animal ferido.
Por fim, os seus rugidos e a respiração entrecortada acabaram por se tornar
um choro convulsivo, e Damron caiu de joelhos aos pés de Bleddyn, lançando o
corpo à frente, com a testa pousada no chão coberto de folhas. Não soube dizer
quanto tempo ficou ali, com o rosto pressionado na terra, encharcando o solo da
floresta com suas lágrimas. Os soluços foram aos poucos se acalmando, e ele
pareceu estar absorvendo as informações de Bleddyn.
Angel o tocou no ombro, e Damron ergueu a cabeça, forçando-se a ficar de
joelhos. Olhou à sua volta e percebeu que estava sozinho. Bleddyn se fora, dando-
lhe privacidade. Embora tivesse rezado até que sua mente ficasse entorpecida, ele
olhou para o céu escuro com uma última oração.
— Senhor, eu imploro. — Um pedido, não mais do que isso.

Damron estava sempre ao alcance de Brianna, ajudando-a em tudo o que


precisasse e demonstrando uma grande preocupação amorosa. Quando iam dor-
mir, aninhava-a em seu peito, e se ela ficava irrequieta, cantava até que
adormecesse. E enquanto ela dormia, sussurrava inúmeras vezes o quanto a
amava, o quanto precisava dela ao seu lado.
— Prometa-me! Prometa-me que nunca vai me deixar... — implorava

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 156


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

incansavelmente.
Toda essa atenção especial do marido às vezes a embaraçava, pois ele
insistia em dar-lhe pessoalmente o banho antes de dormir. Não confiava em mais
ninguém para ajudá-la com a tarefa e tinha até dispensado Mari disso. Damron a
banhava, observando silenciosamente as mudanças em seu corpo. O rosto de
Brianna estava mais pálido, suas veias eram visíveis. Embora o ventre e os seios
estivessem maiores, o restante de seu corpo estava mais magro e enfraquecido.
Uma noite, enquanto a enxugava, Damron viu uma pequena erupção nas
costas dela, e sua mão praticamente congelou com o susto. Ele engoliu o medo
que ameaçava travar-lhe a garganta e continuou a secá-la com a toalha macia.
Vestiu-a com uma camisola leve e a deitou na cama, pedindo ainda que não se
mexesse. Saiu do quarto em passadas largas para ir chamar o galês, mas quase
colidiu com ele do lado de fora. Os dois se comunicaram com apenas um olhar, e
Damron sentiu o sangue gelar nas veias. Deixou que o místico entrasse primeiro e
depois ficou ao lado de Brianna, na cama. Ela mostrou um braço, e eles viram que
as erupções já tinham se espalhado até ali. Alana chegou segundos depois.
Damron se ajoelhou ao lado da cama, segurando a mão da esposa contra o peito e
fitando-a nos olhos.
— Não tenha medo de mim, meu amor — pediu ele. — Bleddyn me contou o
seu segredo, mas eu sabia que você não queria falar sobre isso. Sei há vários dias
que algo terrível está acontecendo com o seu corpo, e quero ajudá-la a enfrentar
isso. Por favor, não me exclua.
— Meu querido — disse Brianna, engolindo o nó na garganta —, eu sei que
já percebeu que o nosso bebê não se mexe mais há mais de quinze dias. A culpa é
toda minha, e o meu corpo não quer se render. Eu queria tanto a nossa filha que o
meu organismo se recusou a deixá-la partir. Mas não posso lutar contra isso por
mais tempo. Estará tudo acabado pela manhã.
— Há quanto tempo sabe disso, meu amor? — Damron perguntou.
— Desde o dia em que fui atacada pelo falcão. — A voz baixa de Brianna
estava cheia de tristeza, e lágrimas grossas rolaram por sua face quando ergueu o
rosto para ele.
— Eu peço perdão por isso, meu amor, mas naquele dia o nosso bebê nos
deixou, e foi minha culpa! Prometa-me que irá enterrá-la em solo sagrado. Peça ao
padre Matthew que reze pela sua alma, e que Nathaniel faça a cerimônia antiga
para que ela encontre o seu lugar no céu... Nossa filha, Faith, precisa ter o registro
que cada geração manterá vivo. Quando cada um de vocês se for, terão ensinado
suas famílias a manter intactos os nomes, datas de nascimento e morte para que
todos possam saber, mesmo séculos depois. Ninguém será esquecido.
Brianna gemeu quando seu ventre sofreu uma grande contração. Vinha
sentindo espasmos menores nos últimos dias, e sabia que o momento estava
chegando. Bleddyn foi até a porta, onde Connor e Malcolm estavam de guarda.
David já o esperava com uma mesa coberta com um pequeno colchão feito de
ervas. Bleddyn trouxe a peça para o centro do quarto, e lady Phillipa cobriu o
colchão com um tecido macio. Alana trouxe uma mesa menor, com pilhas de
panos limpos que já tinham sido preparados para esse dia.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 157


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Obrigada por me amar como se eu fosse sua filha, lady Phillipa — disse
Brianna. — Nathaniel e Alana irão lhe explicar tudo depois, mas seria melhor que
ninguém mais entrasse no quarto. — Ela gemeu com outro espasmo. — Diga a
todos que eu os amo muito. Por favor, chame Mereck; preciso falar com ele. —
Beijou a face da sogra e sentiu o gosto salgado de lágrimas.
Logo depois, Mereck entrou e foi direto até ela.
— Minha irmãzinha, como posso ajudá-la? — perguntou ele.
— Damron precisará da sua força — disse Brianna. — Saiba que o amo
como a um irmão, quando peço que fique aqui conosco. É contra os costumes dos
homens assistirem às mulheres no parto, mas eu não sou como as outras
mulheres.
— Farei o que puder para ajudá-los — Mereck prometeu.
Brianna tentou sorrir em meio a uma nova onda de dor. Cerrando os dentes,
segurou a mão de Damron com força.
— Precisamos mover você, minha pequena — disse Bleddyn.
Damron ergueu Brianna nos braços, sem saber ao certo como colocá-la
sobre a mesa, de forma que nem a cabeça nem as pernas ficassem penduradas,
pois a superfície era curta demais.
Bleddyn indicou como queria que a deitasse, com apenas a cabeça e o
tronco sobre o colchão. Ele colocou um travesseiro macio embaixo do pescoço de
Brianna e acomodou as pernas em estranhas extensões encaixadas no final da
mesa, cobrindo-a depois com um dos lençóis já previamente esterilizados.
Damron começou a protestar, mas Brianna o impediu.
— Nathaniel fez esta mesa seguindo minhas instruções e meus desenhos,
meu amor — disse ela. — Acredite, isso vai me ajudar.
Bleddyn trabalhava rapidamente e organizava tudo no quarto. Embora
soubesse que Brianna iria recusar, havia preparado um forte chá de papoula para
quando a pior parte do parto chegasse, e ela precisasse lutar contra a dor. Tanto
ele quanto Alana tinham tudo pronto. Damron ficou horrorizado quando viu o
equipamento que o galês mantinha protegido sob os panos esterilizados. Ele os
olhou como se fossem instrumentos de tortura.
— Alana — Brianna sussurrou, e a irmã imediatamente se aproximou. —
Quer saber de uma coisa maravilhosa?
— O que, meu amor? — Alana perguntou, tirando os cabelos grudados da
testa da irmã.
— Você será minha mãe no futuro. Eu a reconheci da primeira vez em que a
vi, e eu te amei no mesmo instante — disse ela com lágrimas nos olhos. — Pro-
meta que, se qualquer coisa ameaçar a sua abadia, você vai desistir dessa vida
que teve de abraçar por minha causa. Papai não tinha o direito de enclausurá-la
naquele lugar, e eu tenho certeza de que ele iria querer que você e Nathaniel
fossem felizes juntos.
— Eu prometo, meu bem. :— Alana se virou para Bleddyn com uma

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 158


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

expressão preocupada.
— Ela está queimando de febre.
— Mereck, por favor, fique atrás de mim e não se preocupe com os meus
gritos — Brianna pediu. — Alana e Damron, fiquem um de cada lado, e façam o
que eu disser, sem questionar.
Os três mal tinham se colocado em posição quando Brianna foi acometida
de mais um espasmo. O lado direito de seu ventre inchou e ficou duro como pedra,
enquanto o esquerdo estava flácido e murcho.
— Damron, massageie o lado esquerdo da minha barriga. Alana, pressione o
direito. — Quando eles obedeceram, Brianna ofegou até o espasmo diminuir e a
barriga voltar à forma arredondada.

Damron sentiu uma enorme ânsia de vômito, mas respirou fundo até se
sentir melhor e perceber que Mereck tinha o braço em volta de seu ombro para
confortá-lo. Damron o olhou sem dizer nada e, antes que alguém soubesse o que
ele pretendia fazer, retirou os travesseiros das costas de Brianna e jogou-os no
chão. Sentou-se atrás dela, com as pernas pendentes para os lados e aconchegou
o corpo da esposa junto ao seu. Segurou as mãos dela nas suas e pediu a Mereck
que ocupasse seu lugar ao lado de Brianna. Damron sentia cada dolorosa
contração que a assolava em seu próprio corpo, e tentava transmitir-lhe suas
forças.
Um grito de agonia surgiu de seu corpo, de sua alma. Um grito que Lydia
nunca se permitira dar, mas que Brianna liberou. O clamor reverberou por todo o
quarto e pelas profundezas da floresta. Era um som tão primitivo que Guardião e
os cães do castelo começaram a uivar. Os lobos e outros animais da floresta
silenciaram e depois ecoaram com suas vozes primitivas a dor que a alma de
Brianna sentia.
Os gritos não diminuíram até o momento em que ela percebeu que seu
corpo não tinha nada mais a fazer. Abriu os olhos e fitou Bleddyn. Estava ofegante,
mas precisava falar.
— Por favor, Nathaniel, deixe que Alana limpe o bebê, pois quero segurá-lo
nos meus braços essa única vez — ela pediu com voz entrecortada.
Bleddyn concordou e entregou carinhosamente o pequenino corpo para
Alana, que mordeu o lábio, mas fez como Brianna pedira. Quando terminou de
limpá-lo, enrolou-o num pano.
Lutando contra os soluços que a sacudiam, Brianna piscou ao ver o pequeno
embrulho em seus braços. Era uma menina, perfeitamente formada, de cabelos
negros como os do pai. Encostou seu rosto no dela e a beijou, murmurando
palavras que emocionaram a todos ali presentes.
— Oh, meu amorzinho... Eu amei você desde o momento em que foi
colocada no meu corpo. Estou tão triste por não ter conseguido mantê-la segura...
Mas não se preocupe. Espere por mim, que em breve estaremos juntas
novamente. Eu prometo. — Brianna gemeu e sussurrou para Damron: — Eu sinto

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 159


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

muito, meu amor. Ela teria sido uma filha maravilhosa... Sua alma vai agora
encontrar outra, e eu rezo para que ela espere para ser sua filha.
Damron tocou a cabeça pequenina e o corpinho miúdo, e o beijou
ternamente, com lágrimas nos olhos antes de devolvê-lo à esposa. Alana tomou o
bebê dos braços de Brianna quando ela ficou inconsciente.
Os ombros de Damron começaram a tremer com os soluços que ele não
mais conseguia evitar. Mereck segurou Brianna para que Damron pudesse se
levantar da mesa, pois agora Bleddyn a queria completamente deitada. Damron se
pôs ao lado da esposa, tocando-a nos cabelos, enquanto Mereck mantinha um
braço em seu ombro.
Bleddyn e Alana trabalharam rapidamente. O galês costurou o corte que
havia feito no corpo dela e, quando terminou, não usou nenhum dos tratamentos
conhecidos, como lama, teias de aranha ou outras misturas estranhas de ervas.
Brianna possuía um vasto conhecimento dos medicamentos do futuro, e lhe
transmitira tudo o que sabia. Assim, Bleddyn já tinha prontas poções de arnica,
beladona, alecrim e outras ervas, que a ajudariam na recuperação. Apesar de
saber pouco ou quase nada sobre muitas delas, fez o que aprendera com Brianna.
Quando terminaram, substituíram o colchão ensangüentado por outro limpo,
e Alana a banhou da cintura para baixo, enrolando depois panos esterilizados em
seu corpo e trocando as compressas com freqüência. Manteve esse ritmo até que
o sangue de dentro de seu ventre diminuísse.
Enquanto isso, Damron e Mereck ergueram os pés da cama de Brianna mais
alto do que na primeira vez, semanas antes. Quando tudo estava pronto, eles
levaram a mesa onde ela estava deitada para o lado da cama e, com grande
cuidado, a acomodaram sobre o colchão elevado. Brianna permaneceu
inconsciente por todo o tempo.
Depois, Damron tomou o corpo de sua filha nos braços e a encarou por
longos momentos para depois erguer os olhos marejados para o céu. Ele tremia
como um homem que havia muito tempo estava nesta terra, com a dor e os
arrependimentos atormentando-lhe a alma.
Por fim, Alana o convenceu a deixá-la levar a pequenina para ser sepultada.
Ela saiu do quarto e foi se encontrar com as mulheres da família, que a esperavam
no quarto de Meghan. Elas banhariam o bebê e o vestiriam com as roupas que
Brianna fizera meses antes. Quando o sol surgisse, o levariam para descansar ao
lado do pai e dos irmãos de Damron. O padre Matthew era um homem bom e não
faria qualquer objeção, pois não acreditava que os natimortos não deveriam ser
enterrados em solo sagrado, como outras pessoas.
O primeiro vislumbre da aurora surgiu, e Mereck conseguiu persuadir
Damron a sair do lado de Brianna por algum tempo. Lady Phillipa ficou com ela. No
cemitério do clã dos Morgan, uma rocha de meio metro de altura marcaria a
presença do bebê.
As gaitas de fole de Meghan e Angus entoaram o lamento pela perda da
criança. Padre Matthew rezou uma missa em intenção de sua alma e abençoou o
pequeno pedaço de terra onde ela seria colocada. Em seguida, Bleddyn fez o ritual
galês, conforme Brianna pedira. O místico tocou seu bodhran e cantou suas
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 160
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

orações para a pequena alma a quem Brianna nomeara Faith, que significava "fé".
A cada vez que Brianna abria os olhos, Damron levava a seus lábios elixires
ou poções que Bleddyn havia preparado, de acordo com as orientações dela, para
aliviar as dores pós-parto. Na tarde do terceiro dia, Damron se permitiu dar um
suspiro de esperança, pois as erupções na pele da esposa começaram a
desaparecer.
Ele só saía de seu lado quando era estritamente necessário e a viu começar
a esboçar os primeiros sinais de melhora.
Nas longas horas dentro do quarto, Damron soube por Bleddyn dos detalhes
da vida de Brianna no futuro. Embora ela raramente abrisse os olhos, falava
durante o sono com as pessoas de sua outra vida, e ele logo começou a
reconhecer os nomes. O corpo de Brianna estava se curando, mas sua mente
parecia estar se afastando deles.
— Não nos abandone, Brianna — Bleddyn ordenou com voz firme. —
Apesar de Asceline não ser mais amante de Damron, e de você não ter morrido ao
cair do parapeito, você ainda não terminou de cumprir a tarefa que Deus lhe
designou aqui.
Brianna balançou a cabeça e agitou os braços, como se estivesse
conversando com ele em seu sono.
— Vai virar uma covarde e fugir? — Bleddyn a provocava para tentar acordá-
la. — No seu século, você leu que Brianna daria dois filhos fortes para Damron e
Blackthorn. Filhos homens. Nunca houve menção a uma filha. Embora isso quase
parta o seu coração, você sabia que esta criança não estava predestinada a
sobreviver.
— Eu sei que todos aqui me amam, mas não é suficiente — disse ela em
seu sono. — Sem um laço que prenda a minha alma, jamais serei feliz aqui. —
Brianna suspirou. — Damron, eu peço perdão por havê-lo decepcionado. Achei
que uma mulher forte poderia lhe proporcionar a felicidade de que tanto precisa.
Damron a tomou nos braços e começou a niná-la.
— Por Deus, Brianna — disse ele. — Você nunca foi uma decepção para
mim. Você é a mulher que todo homem sonha para si.
— E mesmo assim você manteve a sua amante! — Ela bufou, mais parecida
com a mulher que Damron amava. — Não. Eu desafiei os séculos e perdi. Você
sabia que eu te amei por todos estes anos? — Seu rosto mantinha uma expressão
melancólica. — Olhe o esboço que vovô fez de você, quando não sabia que estava
sendo observado, e verá a amargura em seu rosto. No meu tempo, eu vou ver
esse desenho de novo. Jamais me esquecerei de você, meu marido.
Bleddyn explicara o que deveriam fazer se ela começasse a se afastar
novamente. Deitado na cama, ele segurava a mão direita de Brianna. Damron
levou a mão esquerda dela até seu coração, enquanto os dedos de Mereck se
fecharam sobre o pulso esquerdo do irmão.
Bleddyn a levaria até seu tempo futuro, pois, se a forçasse a permanecer ali,
ela nunca seria feliz. Brianna precisaria decidir se queria ficar no futuro ou retornar

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 161


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

com ele. Quando ela começasse a partir, Damron deveria tentar convencê-la a
ficar. Se ele falhasse, e ela o levasse junto, Mereck não deveria romper o elo com
o irmão até que eles retornassem em segurança.
Alana e Mereck iriam vigiá-los e impedir que qualquer pessoa entrasse no
quarto.
Brianna fitou profundamente Damron, deu um suspiro profundo e fechou os
olhos mais uma vez.
— Não, Brianna, não vá! Eu não posso viver sem você! — Damron gritou. —
Prometa-me! Prometa-me que nunca irá me deixar!
— Pelo amor de Deus, Damron — Bleddyn o repreendeu. — Mantenha a
alma de Brianna dentro do alcance de sua voz! Quanto mais baixo falar, mais perto
ela terá de ficar para ouvi-lo.
O estômago de Damron se contraiu quando ele viu uma aura azul subindo
lentamente do corpo de Brianna, cercada pela aura arroxeada de Bleddyn. Sentiu
como se o seu coração estivesse sendo apunhalado. Com lágrimas nos olhos e a
voz trêmula, colocou sua alma numa canção. Pouco depois, o som da gaita de fole
de Meghan veio através da porta. A luz azul parou de subir, oscilou, e Brianna
mexeu as pálpebras.
A voz de Damron, de início rouca de dor, ficou mais forte à medida que
entoava a canção de amor favorita da esposa. Ela gemeu com a angústia de tentar
fazer sua aura azul passar pela essência de Bleddyn, mais poderosa. O corpo do
místico estava calmo e sereno ao seu lado na cama. Damron estava determinado.
Deitou-se do outro lado de Brianna e apertou-lhe a mão. Queria que sua mente
lutasse por ela da mesma forma que Bleddyn fazia.
Aonde quer que Brianna fosse, ele também iria.
Ao lado da cama, Alana rezava, e Mereck implorava para que eles ficassem.
As três auras se uniram, decididas a permanecer juntas. A aura púrpura da alma
avançada de Bleddyn e a azul-clara de Damron envolviam a aura azul-escura de
Brianna. Os três corpos ainda se encontravam na cama. A voz de Damron flutuou
pelas paredes do castelo enquanto as três lindas luzes desapareciam.

Os sons dos monitores de Lydia mudaram com a aceleração dos batimentos


cardíacos. O dr. Christian MacKay levou um susto e acordou num salto. Já estava
ali havia quarenta e oito horas sem descanso e devia ter cochilado por alguns
minutos. As duas estranhas auras estavam de novo em volta de sua paciente. O
médico sentiu um leve formigamento na pele ao perceber a fraca presença de uma
terceira aura, que flutuava fora de seu campo de visão.
Christian assistiu à luta entre as luzes coloridas que flutuavam ao redor de
Lydia. Por fim, a aura azul mais escura pairou sobre o corpo de Lydia até se fundir
com ele. Viu que a outra, de um azul-celeste puríssimo, estava determinada a levá-
la de volta. Era a aura de um homem, mas não sabia explicar como sabia disso.
Lydia abriu os olhos e o encarou. Depois de alguns segundos, ela piscou e
sorriu.

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 162


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

— Ah, Damron — disse. — Você estava aqui todo o tempo, não?


Christian não sabia quem era esse Damron, mas era óbvio que era
importante para Lydia.
— Sim, amor — respondeu o médico. — Estive aqui o tempo todo cuidando
de você. Ficou doente, mas está começando a melhorar.
— Eu estou tão triste por ter perdido o nosso bebê, querido...
— Eu também estou, meu amor. Continue falando comigo e me diga o que
está sentindo. — Os olhos amorosos dela e o som de sua doce voz o tocavam no
coração.
Notando-lhe a expressão confusa, ela percebeu que não se tratava de
Damron, mas de alguém em seu próprio tempo que se parecia muito com ele.
Fechou os olhos para descansar após a longa luta.
A aura de Bleddyn pairava, agitada. Lydia discutia com ele mentalmente,
mas Bleddyn não a deixava. De repente, Christian saiu do quarto, com uma
expressão vazia no rosto. Ela soube que havia sido Bleddyn quem o forçara a sair.
Seu coração deu um salto. A voz forte de Damron chegou aos seus ouvidos,
chamando por ela, implorando que voltasse para ele. Lydia sabia que Damron não
podia aparecer enquanto Christian estivesse presente. Uma alma não podia se
mover através do tempo e se encontrar com seu outro corpo, a menos que se
fundisse com ele. Se Damron fizesse isso, eles mudariam a história para sempre.
Damron ficaria como ela ficara no século XXI, em coma, e na Idade Média ele não
sobreviveria.
A essência de Damron começou a falar com ela.
— Meu amor, sei que a sua alma está sofrendo — disse ele. — E a minha
jamais terá paz sem você. Você jurou no nosso casamento que nunca iria me
deixar voluntariamente enquanto restasse um sopro de vida no seu corpo. Você
não pode quebrar essa promessa, Brianna. Por favor, meu amor. Eu não posso
viver sem você...
Bleddyn continuou a súplica:
— Sua vida como Brianna ainda pode ser concluída, minha pequenina. Volte
conosco para Alana e para todos aqueles que amam você. Ainda pode cumprir
tudo o que está destinada a fazer lá. Neste tempo futuro, apenas poucos dias
passarão para Lydia. Quando o seu tempo na Escócia terminar, você vai despertar
novamente neste quarto.
A cor da aura de Damron começou a desvanecer. Lydia prendeu o fôlego.
Alguns segundos depois, Christian retornou.
O médico viu que a aura roxa ainda pairava sobre sua paciente, mas não se
surpreendeu. Olhou para Lydia, intrigado com os olhos dela quando encontraram
os seus. Ela deu o mais lindo e doce sorriso que ele já vira. Fitou-o intensamente e
de repente a mente de Christian foi invadida por uma seqüência de imagens.
Uma mulher com roupas estranhas sorria para ele da mesma forma que
Lydia fazia agora. Seus cabelos eram castanhos, longos e encaracolados. Seus
olhos eram grandes e escuros, e ela estava deitada embaixo dele! Christian olhava
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 163
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

fundo naqueles olhos, enquanto ambos se enlaçavam num abraço apaixonado.


Estavam fazendo amor, e seus corpos explodiam de prazer. Christian sentiu um
espasmo sacudi-lo com as emoções que o invadiam. Como era possível ver e
sentir essa memória? Balançou a cabeça e olhou para Lydia, fascinado.
— Não se preocupe, meu querido, não vou ficar longe por muito tempo —
disse ela com um sorriso confiante no rosto.

— Tome conta deste corpo que é de Lydia, pois eu voltarei em breve.


Os monitores tornaram a disparar freneticamente, em um ritmo que equivalia
aos próprios batimentos cardíacos de Christian. Suas mãos estavam trêmulas
enquanto ele via a aura azul sair do corpo de Lydia mais uma vez, cercada pela
aura roxa. Sabia que aquela não era a aura do homem que a amava, mas de
alguém que a levara até ele. Ouviu o eco da voz dela chamando o homem.
— Estou indo, meu amor. Estou chegando! Outra voz ecoou pelo quarto,
fazendo Christian estremecer.
— Eu sempre amarei você, Brianna! Jamais a deixarei, através da vida, do
tempo, da eternidade!
A voz aumentou, e Christian soube que esse Damron chamava a mulher
amada, pois cantava como se o seu coração fosse explodir de saudade:
Meu amor, minha alma está em suas mãos. Dê-me apenas um sinal de que
me ama. Permita-me amá-la como tanto desejo, Para sempre em minha alma, o
meu tormento.
Damron e Bleddyn estavam deitados ao lado de Brianna, respirando com
grande dificuldade, como se tivessem lutado uma grande batalha.
— Damron, o que está acontecendo? — A voz de Mereck tremia. Ele ergueu
a cabeça do irmão e levou um cálice de vinho a seus lábios.
Alana esperou pacientemente que Bleddyn acordasse. Quando ele,
lentamente, abriu os olhos, virou a cabeça para olhar Brianna.
Os longos cabelos castanhos estavam espalhados sobre o travesseiro, e
tanto Bleddyn como Damron repousavam a cabeça sobre eles. O místico baixou o
olhar e viu a própria mão ainda segurando o talismã com tamanha força que o
objeto lhe cortara a pele. Seu sangue escorria por entre os dedos e pelo pulso.
Sem dizer nada, pegou o pano limpo que Alana lhe deu e o enrolou na mão ferida.
Então, com infinito cuidado, levantou-se da cama e soltou o emaranhado de fios
castanhos que haviam se prendido ao broche em seu ombro. O rosto de Brianna
estava ligeiramente corado.
Bleddyn se levantou da cama e foi até o corpo de Damron, que ofegou e se
levantou. Seus olhos se arregalaram pelo pânico. Ao ver Brianna ainda imóvel,
empalideceu.
— Ela está conosco ou não, Bleddyn?
— Santo Deus, Damron, o quarto estava tão carregado do que pareciam ser
relâmpagos, emitindo fagulhas para todo o lado... — disse Mereck, em cuja voz

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 164


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

percebia-se o medo.
Mas a atenção de Damron dirigia-se a Brianna.
— Brianna, meu amor. Fique comigo! Você será sempre minha — ele
gritava, segurando-a pelos ombros.
Ela respirou profundamente e estremeceu de leve. Estava tão cansada! Sua
mente queria apenas escapar de todas aquelas memórias e sentimentos. Manteria
aquela "Brianna" trancada na parte mais obscura de sua mente, até que achasse
seguro trazê-la de volta.
— Com mil demônios, abram esta maldita porta! — uma voz bradou do lado
de fora do quarto. — Vocês não têm o direito de nos manter longe de Brianna! —
Era Meghan, que batia na porta com algum tipo de objeto pesado.
— Meghan, abaixe esse martelo antes que se machuque! — Connor
ordenou. — Não vai conseguir quebrar esta porta de carvalho!
Quando a voz de lorde Douglas surgiu, acalmando a todos e pedindo para
que abrissem a porta, Bleddyn olhou ao redor do quarto para se certificar de que
nada ali pudesse denunciar a viagem que suas almas tinham acabado de fazer.
Verificou Brianna uma vez mais e colocou a mão no ombro de Damron.
— Não aperte a mão dela com tanta força, ou irá machucá-la — disse ele, e
foi abrir a porta.
Meghan entrou correndo no quarto e foi para o lado de Damron. Tirou
mechas de cabelo da testa de Brianna e olhou para as pessoas dentro do
aposento, com os lábios apertados. Eles não a deixariam de fora do que
acontecera ali.
— Damron, você parece ter ido ao inferno e voltado — Connor disse cheio
de compreensão, ao olhar para o rosto exaurido do primo. — Se o seu grande
corpo cair em cima de sua pequena esposa, vai prejudicá-la mais do que se
descansar no meu quarto por algumas horas.
— Não vou sair daqui até que Brianna esboce algum movimento — Damron
teimou.
Porém, o esforço que fizera para encontrar a alma de Brianna e trazê-la de
volta havia sugado todas as suas energias. Mereck o pegou pelo braço e o levou
para o quarto de Connor, que ficava ao lado, evitando que desmoronasse em cima
de Brianna. Damron dormiu antes que o irmão terminasse de tirar suas botas.
Nos três dias que se seguiram, Damron dormiu pouco e não saiu do quarto.
Por várias vezes, Brianna gritava, pedindo para que alguém cuidasse de sua
filhinha. Ele acariciava-lhe os cabelos, corria os dedos por seu rosto e murmurava
palavras de carinho.
— A febre cedeu, não há motivos para ela não acordar — disse Bleddyn, alto
o suficiente para que Brianna pudesse ouvi-lo se assim o quisesse. — Acho que
ela está se escondendo da própria dor. Já lhe dei várias poções para secar seu
leite, mas nenhuma delas surtiu efeito. Estamos amarrando panos em seus seios
para conter o leite. — Fez um sinal para que Damron o seguisse a um canto do
quarto. — Se quiser trazê-la de volta mais depressa, tente acalmar sua mente

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 165


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como fez antes — sugeriu.


Quando ele deixou o quarto, Damron trancou a porta e se aproximou da
esposa.
— Minha pequenina, não se esconda de mim — sussurrou várias vezes em
seu ouvido.
— Eu desejo ouvir sua linda voz cantando para mim. Cuidarei para que o
descanso do qual precisa seja repleto de pensamentos bons e de amor.
Sua voz finalmente chegou até Brianna, que se mexeu suavemente, como
se o ouvisse. Quando Damron acariciou-a no rosto, ela deu um suspiro.
Ele a abraçou e cantou as canções que sabia que a confortariam, com o
rosto próximo ao dela. Não importava que fossem em alemão e que Brianna não
compreendesse o significado. Ouvia-o. Quando Damron terminou, murmurou mais
uma vez o quanto precisava dela.
Lágrimas escapavam de suas pálpebras fechadas, e ele as secou com
beijos carinhosos. Passaram a noite assim, com o marido serenando sua mente e
Bleddyn vertendo elixires em seus lábios. Damron falava de sua tristeza pela perda
da doce Faith e de como desejava que Brianna voltasse para ele.
Dentre aquela névoa de semiconsciência, ela se lembrou de como Damron
havia tentado arduamente ajudá-la no parto, e das lágrimas de tristeza que ele
derramara ao segurar o bebê morto.
Será que Damron realmente precisava dela?
Na manhã seguinte, Brianna percebeu que havia gente no quarto. Logo
depois, uma grande confusão se formou do lado de fora. Damron escancarou a
porta, e repreendeu as pessoas pelo barulho que certamente perturbava sua
esposa. Joana, criada de Asceline, encontrava-se ali, cercada por Alana, Meghan,
Connor, Mereck e lady Phillipa. A criada parecia ter corrido uma grande distância e
apertava contra si um pequeno embrulho. Uma criança recém-nascida.
— Quando lady Asceline viu que era uma menina, mandou que eu a
afogasse no lago — disse ela, horrorizada. — Fez as malas e fugiu durante a noite,
dizendo que o senhor poderia ficar com a... — Os olhos da criada se encheram de
lágrimas. — Não vou repetir o nome que ela disse, milorde. Simplesmente desapa-
receu, aquela mãe desnaturada! O bebê não para de chorar, nem se alimenta.
— Por que não procurou uma ama de leite na vila? — perguntou Damron.
— E o senhor acha que não fiz isso? — rebateu a criada sem sentir medo
dele. — Mas ela chuta, esperneia e vira o rosto para qualquer uma que lhe ofereça
o seio. Estão todas dizendo que a criança é uma renegada, e que se derem o peito
a ela, seus próprios filhos morrerão de fome. Imagine! — Joana suspirou. —
Cheguei a dizer que, se não ajudassem, o senhor iria expulsá-las de Blackthorn, e
elas voltaram a tentar, mas a pequenina recusou todas as amas de leite...
Brianna sentiu-se de repente muito alerta. Lutou para sair do canto escuro
em que sua mente se encontrava e, concentrando-se no choro do bebê, abriu os
olhos. Vendo Mari a seu lado, puxou-lhe a túnica.
— Louvado seja Deus! — exclamou a criada. — Milorde, ela acordou. Não a
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 166
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

deixe escapar novamente!


Damron correu até o lado da esposa, que ergueu a mão para silenciá-lo.
— Por favor, Damron — ela sussurrou, esforçando-se para se sentar. —
Traga o bebê aqui. Eu vou amamentá-lo.
— Você ainda está doente, meu bem. Não sabe o que está dizendo.
— Deixaria uma criança morrer por causa da mãe horrível que ela teve? —
Sua voz não passava de um murmúrio, mas estava carregada de indignação.
— Traga o bebê. Por favor. Uma renegada, que coisa mais ridícula de se
dizer!
— Bleddyn... — Damron se virou para o galês, que assistia a tudo calado. —
Diga-lhe que ela não pode fazer isso! Ela não sabe o que está querendo fazer. —
A preocupação com sua esposa e com a criança marcavam seu rosto.
— Acho que a nossa Brianna sabe o que quer fazer — respondeu Bleddyn.
— Leve a criança até ela e deixe que Brianna decida.
Alana colocou mais um travesseiro nas costas da irmã e sussurrou:
— Seja bem-vinda.
Brianna deu um sorriso frágil enquanto estendia os braços para receber o
bebê de Joana. Colocou-o junto ao peito e, com a ajuda de Alana, despiu a criança
até que ficasse nua sobre o pequeno cobertor. A menina deu um grito mais alto,
seu rostinho vermelho se contorceu e seus olhos se fecharam com força. Batia os
bracinhos e as pernas. Tinha vários tufos de cabelo negro na cabeça, e era tão
miúda que não devia pesar mais do que três quilos. O bebê interrompeu o choro
para, sem cerimônia, molhar o cobertor e o ventre de Brianna, fazendo-a inclinar a
cabeça para trás e rir. Viu mãos se aproximar para tirar o bebê dali, mas ela as
impediu de continuar.
— Não! Ela vai molhar tudo de novo depois de estar alimentada e,
pobrezinha, está morrendo de fome — disse Brianna. — Alguém, por favor, solte
estes panos ao redor de meus seios. Estou tão cheia de leite que vou explodir. —
Os tecidos estavam ensopados do leite que não podia ser contido. Ela refletiu
sobre os desígnios de Deus.
Damron usou sua adaga para libertar-lhe os seios e afastou o tecido
molhado.
— Eu não estou lhe pedindo isso — disse ele. — Sei como está sofrendo,
meu amor.
— Eu sei, mas por favor se apressem antes que ela fique mais fraca.
Alana lavou os seios da irmã com água morna. No instante em que Brianna
começou a murmurar para a criancinha, ela parou de chorar, inspirou profunda-
mente e fitou-a nos olhos.
O coração de Brianna se alegrou. Ela sentiu uma enorme felicidade, pois
sabia que seu bebê tinha ouvido sua prece.
— Não chore, pequenina. Não vou deixar ninguém tirá-la de mim —

ADORO ROMANCES EM E-BOOK 167


SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO

sussurrou. — Pronto, veja como está com fome...


Enquanto falava, ergueu a cabeça da menina, acomodando-a sobre seu seio
esquerdo.
A boquinha minúscula procurou pelo bico, mas não conseguia se prender a
ele. Esforçando-se, a criança a olhou, desesperada. Com calma, Brianna segurou
a boca do bebê e a manteve sobre o bico do seio, até que, após algumas
tentativas, ele se pôs a sugar corretamente. Brianna sentiu uma forte dor e
estremeceu.
Damron fez menção de pegar a criança, porém os braços protetores de
Brianna o impediram. Ele se sentou na beirada da cama, vendo sua esposa
amamentar uma menina que podia ser sua filha bastarda. Queria gritar que a filha
deles deveria estar ali. Foi tomado por uma onda de dor.
Brianna se concentrou no corpinho quente da criança contra seu peito.
Quando se sentiu satisfeita, a criança soltou o bico sozinha, deu um suspiro de sa-
tisfação e adormeceu. Enlevada, Brianna sorriu e pôs a menina sobre o ombro
para fazê-la arrotar. Bateu suavemente em suas costas até ouvir o som carac-
terístico. Voltou a deitá-la e a viu relaxada no sono, satisfeita e em paz.
— Seu nome será Serena — disse. — Veja como está calma, agora que
suas necessidades foram preenchidas. Alana, por favor, cuide dela para mim.
Encontrará roupinhas no meu baú.
Brianna deitou a cabeça no travesseiro e, embora estivesse exausta, tinha o
coração repleto de esperança. Observou as mulheres limparem e trocarem a roupa
de Serena, depois estendeu os braços para segurá-la mais uma vez.
— Damron, você ainda não cumprimentou esta coisinha linda. Ela era muito
pequena para vir ao mundo. Precisará de todo o carinho e cuidado que pudermos
lhe dar. Segure-a perto do coração. Serena vai ouvi-lo batendo e saberá que não
está sozinha. — Ao ver que Damron não estendia os braços, Brianna o chamou de
novo. — Venha. Serena é um bebê especial. E embora não tenha saído do meu
corpo, eu sinto o amor por ela crescendo em mim. Prometa que nunca vai deixar
que alguém a tome de nós.
— Eu prometo, meu amor — respondeu ele. — Mas como pode amá-la
sabendo de onde ela veio?
— Sua mãe entende — Brianna disse e colocou a menina nos braços de
Damron.
A princípio, ele pareceu prestes a se recusar a segurá-la. Porém, seus olhos
logo se suavizaram. Ele afastou o cobertor e olhou para o bebê adormecido com
ternura.
— Tenho certeza de que sua mãe amou Mereck no momento em que o
segurou. Ele é uma parte de seu pai, assim como Serena pode ser uma pequena
parte de você.
Damron ergueu a cabeça de repente, encontrando seu olhar.
— Sim, mas minha mãe amava meu pai loucamente — ele sussurrou.
— E eu não lhe disse o quanto amo você? Que o amei ao longo dos
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séculos? Se eu não o tivesse amado de corpo e alma, eu teria retornado a este


tempo?
Um soluço rouco rasgou a garganta de Damron.
Ele colocou a criança ao lado de sua esposa e abraçou as duas, beijando
Brianna incontáveis vezes no rosto.
— Meu amor... Como eu desejei ouvi-la dizer essas palavras! Tem alguma
dúvida de que eu também amo você?
— Meu caro lorde Demon — ela disse com um sorriso. — Seu amor se
revelou no timbre da sua voz. Quando tentou me segurar neste tempo, eu o ouvi
no seu pedido para que eu não o deixasse. Como eu poderia ignorar nossos
corações implorando para ficarmos juntos? Já desperdiçamos muito tempo, mas
vamos recuperá-lo. Com um amor tão grande entre nós, como poderíamos deixar
de fazer isso?
— Eu vou amá-la para sempre, Brianna. E quando o nosso tempo nesta vida
terminar, nós vamos nos reencontrar e nos amar infinitas vezes.
Brianna sentiu-se aquecida por uma onda de paz e felicidade. Pousou a
palma da mão no rosto de Damron e sorriu para ele.
— Exatamente como me prometeu meu amor. Nosso amor vai viver para
sempre em nossas almas. Por toda a vida, por todos os tempos... Por toda a
eternidade.

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