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UM AMOR INFINITO...
ALWAYS MINE
SOPHIA JOHNSON
CAPÍTULO I
Escondia tudo, exceto os olhos e o maxilar. Parecia um falcão gigante, com olhos
verdes gélidos que a encaravam com insistência.
Uma faísca de reconhecimento causou em Lydia um pânico momentâneo.
Tocou a fronte, que latejava, e encontrou um pano quente e úmido. Sangue? Será
que esse homem estivera cuidando dela? Sentiu dedos em seu peito.
— Seu sapo idiota! Tire as mãos dos meus seios! — ela ordenou.
Uma gargalhada desviou-lhe a atenção para um segundo homem ajoelhado
a seu lado.
— Creio ser esta a primeira vez que uma moça compara você a tão humilde
criatura, primo — disse ele, rindo.
Damron segurou os braços de Lydia e ignorou seus esforços para se soltar.
— Você não ouviu? Eu disse para tirar as mãos de cima de mim! — Ela
olhou para o céu e murmurou:
— Quando a chuva parou?
— Não choveu hoje, sua malcriada.
— Por que você está fantasiado? Onde estão os guardas de verdade? —
Será que estava sendo promovido algum festival medieval que ela desconhecia?
— Fantasiado? — Damron se inclinou mais. — Guardas de verdade?!
Lydia lançou-lhe um olhar furioso, mas decidiu se acalmar.
— E melhor você se retirar antes que eu fique realmente irritada. — Ela
cerrou os dentes por causa da dor latejante em sua cabeça e tentou tirar os dedos
dele de seus braços.
O outro homem riu de novo.
— Connor. Não comece. — As palavras duras pareciam ameaçadoras.
— Calem a boca os dois! — Lydia gemeu. — Estou com uma dor de cabeça
absurda. Que diabos, por que não vão embora?
Damron a ignorou. Ninguém, muito menos uma mulher tão pequena e
insignificante, jamais ousara dar ordens a ele, o futuro lorde de Blackthorn. Seus
guerreiros e a escolta do rei estavam à sua volta, vendo e ouvindo tudo.
Esperou enquanto dez guerreiros saxões trazendo o emblema dos Sinclair
sobre seus escudos galopassem até eles. Não se aproximaram com as espadas
em punho, pois os soldados do rei estavam plenamente visíveis.
Um homem, que aparentava ser um lacaio, desceu do cavalo.
— Quem é esta mulher de tão péssimas maneiras? E por que está sozinha?
— Damron indagou.
— Milorde, esta é lady Brianna Sinclair. Ela vive com a irmã em Saint Anne
— esclareceu o lacaio. — A minha gentil senhora saiu antes de a escolta estar
preparada.
Lydia, ainda no chão, puxou o braço e bateu no tornozelo de Damron.
escocês e o futuro rei da Inglaterra, que bela dupla vocês formavam. — Ele riu. —
Você, com a sua eterna carranca, e William, sempre mal-humorado.
perda horrível, quando tanto ele quanto o primo tinham apenas onze anos de
idade.
— Mas, voltando à minha futura noiva, vou decidir por mim mesmo que tipo
de pessoa ela é — concluiu ele. — Espere por mim no salão principal. Vou ver
como Brianna está e irei para lá em seguida.
Lydia acordou num quarto escuro. Não sabia como, mas perdera suas lentes
de contato. Estreitou os olhos, tentando enxergar algo à sua volta, porém só via
vultos. Estava num quarto diferente de todos em que já dormira. Viu a madeira
entalhada nos pés da cama, que possuía dossel e cortinas verdes pesadas
amarradas às colunas.
Mais à frente, havia uma porta com dobradiças de couro e uma fechadura
estranha no lugar da maçaneta. Ao lado da porta, encontrava-se um baú de ma-
deira igualmente entalhada e um castiçal com duas velas acesas.
Sua dor de cabeça a lembrou de que estivera visitando as ruínas do Castelo
Blackthorn, quando ventos fortes de uma estranha tempestade a haviam derrubado
na trilha de pedras. Pelo menos achava que era isso o que acontecera, porque
imagens estranhas continuavam invadindo sua mente.
E como numa projeção de slides, as visões passaram diante de seus olhos.
Homens esquisitos galopando ao seu redor, o chão vindo ao seu encontro depois
de o cavalo tropeçar, o medo enquanto caía. Que estranho... nunca andara a
cavalo em suas visitas à Escócia...
De onde vinham essas visões? E aqueles homens gritando, quem eram
eles? E por que ela dissera "Deus me ajude"? De onde viera aquela memória?
Seria um sonho? Encolheu-se quando sentiu uma nova pontada de dor na cabeça.
Onde estava? Não conseguia reconhecer o quarto. Por que não a tinham
levado para a pousada, onde todos os funcionários do museu sabiam que ela sem-
pre se hospedava?
Ao ouvir um farfalhar de tecidos, Lydia virou a cabeça para o lado e viu uma
jovem sentada numa cadeira. Tinha cabelo escuro e olhos azuis. Seu rosto lhe era
estranhamente familiar, e parecia ter a mesma idade que ela. A moça se levantou
num salto e veio correndo para o seu lado na cama.
— Oh, Brianna, você se meteu em maus lençóis desta vez! — exclamou a
moça. — Aquele homem horrível disse que você fugiu, e eu pensei que fosse
morrer quando vi todo aquele sangue... Ele começou a dar ordens para todos nós
como se fosse o rei, e papai deixou...
— Parou de tagarelar por um instante para tomar fôlego. — Mamãe disse
que, depois que o homem deixou o pátio, parecia que papai iria arrebentar de tão
vermelho que ficou!
Brianna1? Essa moça certamente está me confundindo com alguém. Mas, de
repente, o medo travou-lhe a garganta. Santo Deus, ela está falando em inglês
antigo, e eu a compreendo perfeitamente! E aquele homem arrogante de antes...
Ele falou em francês normando, e eu respondi normalmente!
Embora tivesse diploma de mestrado em Lingüística Histórica e outro em
Genética, Lydia jamais pensara que algum dia usaria alguma dessas línguas, por
mais que gostasse delas. Agradeceu mentalmente a seus pais, ambos
historiadores renomados, por lhe terem incutido o amor pelas coisas antigas.
— Meu nome não é Brianna, é Lydia Hunter. Quem é você?
— Sou eu, sua prima Elise. Não está me reconhecendo? E claro que você é
Brianna. — A garota balançou a cabeça. —Você é uma Sinclair, não uma Hunter.
Está brincando? Será que, quando bateu a cabeça contra a pedra, seus olhos
foram afetados? Você dormiu por dois dias. Mamãe disse que a sua cabeça não
deve estar funcionando muito bem, mas não falou nada dos seus olhos...
Lydia continuou olhando para a tal Elise, que a examinava atentamente.
— Você ainda está piscando muito. Vai passar mal de novo? — perguntou a
jovem. — Eu vou buscar mamãe. — E saiu correndo.
Lydia tentou se erguer e conseguiu apoiar as costas na cabeceira da cama.
A tontura tinha passado e a dor de cabeça diminuíra para um latejar suave. Levou
a mão à testa e, ao olhar para seus dedos e mãos, achou-os diferentes. Olhou
para seus braços e achou-os mais estranhos ainda. Confusa, esfregou os olhos e
depois ergueu as cobertas. Jamais vira uma camisola daquele tipo, a não ser pelas
gravuras de roupas medievais que conhecia.
Estaria sonhando? Ou teria deparado com um festival medieval? Feliz por ter
chegado a essa conclusão plausível, começou a relaxar e a examinar melhor o
quarto.
Havia um biombo de madeira pintado com coloridos desenhos celtas num
dos cantos do cômodo. Deslizou para fora da cama e encolheu os dedos quando
sentiu o chão frio de pedras sob os pés. Tremendo a cada passo, conseguiu
chegar ao biombo e olhou atrás dele. Sobre um suporte, havia uma jarra de água e
uma bacia, com várias toalhinhas ao lado. Encaixada embaixo da bacia, estava
uma vasilha, que parecia ser um penico. Estremeceu e achou melhor voltar à cama
e esperar por Elise para que ela a levasse ao banheiro.
Nesse instante, um rapaz entrou, fechou a porta e veio em sua direção.
— Dê o fora! Não está vendo que este quarto está ocupado? — disse Lydia,
apontando para a porta, a irritação dando o tom exato que queria imprimir à voz.
Mas mesmo assim, não sabia por que, sua voz soava diferente, um pouco mais
aguda.
— Não tenha medo, lady Brianna, sou eu, Galan — falou o rapaz, que se
aproximou e segurou-lhe os ombros.
Antes que Lydia tivesse tempo de dizer algo, os lábios mornos dele tocaram
sua face. Ela o empurrou, mas o rapaz não se moveu.
De repente, a porta se abriu com um estrondo. Lydia deu um grito e tentou
descobrir quem havia entrado como um furacão.
Um homem enorme ocupava a entrada. Embora o cômodo estivesse muito
escuro para que conseguisse ver-lhe o rosto, só podia ser o sujeito que a abordara
na floresta. Ele usava a mesma fantasia de antes.
Estranho como tudo ali parecia ser muito mais autêntico do que qualquer
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 11
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
Ela mal deu um passo quando sua visão foi bloqueada por um peito enorme.
Olhou para baixo e viu duas botas próximas a seus pés.
Elise deu um gritinho assustado e recuou.
— Brianna, volte para o quarto. Deve ficar lá até que recupere a sua lucidez.
Aquela voz áspera e as ordens secas não deixaram dúvidas quanto a quem
estava falando. Tentou erguer a cabeça para ver-lhe o rosto, mas a pouca
distância não permitiu que o fizesse. Procurou manter-se calma, pois só olhar a
camisa que revelava o peito forte a fazia sentir os joelhos trêmulos. Porém, não iria
recuar um único passo, ou ele pensaria que a tinha intimidado.
— Pois saiba que eu estou lúcida — retrucou. — E pare de me chamar de
Brianna. Meu nome é Lydia.
Ela sentia na pele o calor vindo do corpo dele e, a cada vez que respirava,
acabava inalando o cheiro másculo e inebriante de sândalo e ervas. Que pena que
a personalidade arrogante não contribuía para melhorar o conjunto...
— Você precisa de descanso por causa da pancada — disse ele com voz
mais suave. — Qualquer pessoa que não consiga se lembrar do próprio nome está
doente da cabeça e tem que descansar. Volte para a cama. Caso contrário, eu
mesmo a levarei.
com força para afastar o "pensamento". Aquilo não podia ser uma lembrança;
como poderia se lembrar de momentos com Galan? Tudo não passava de um
sonho! O jovem terminou a canção e retomou o assento a seu lado.
— Galan, essa foi a canção mais linda que já ouvi
— Lydia o elogiou, tocando-lhe o braço. — Eu odiaria ter que...
De repente, o banco balançou perigosamente, quase a derrubando ao chão.
Lydia deu um pulo, assustada, acabou por perder o equilíbrio e caiu no colo de
Galan. Enquanto tentava se levantar, seu rosto bateu contra um peito firme como
uma rocha. Era ele de novo. Sabia disso pois já ficara frente a frente com aquele
tórax rijo e reconheceu as roupas. E o perfume. Inclinando-se para trás e
massageando o nariz, Lydia inclinou a cabeça para olhá-lo no rosto.
— Volte imediatamente para os seus aposentos.
— Ele lhe tomou o braço com força e quase a arrastou em direção às
escadas de pedra. Quando ela tentou se livrar daquela garra de aço, ele a apertou
ainda mais.
— Fique quieta, ou juro por Deus que vou carregá-la nos ombros.
Em virtude de somente havê-lo visto escondido pelo capacete normando no
dia anterior e também no escuro do quarto, não sabia direito como era o rosto do
homem. Não podia ser quem ela achava que era. Nem mesmo em sonho. Não
havia nenhuma névoa estranha os envolvendo como acontecera na loja do museu.
Lydia sentia o calor dele, seus músculos e o cheiro, que fazia o sangue correr mais
rápido em suas veias.
— Qual é o seu nome? Demon? Damion? — ela indagou. Não, não era
possível que ele fosse aquele do retrato!
— Damron — ele respondeu, impaciente. — Meu nome é Damron, e você
sabe disso muito bem.
— Damron de quê? Qual é o seu sobrenome? — Sua voz tremia, mas Lydia
precisava ter certeza.
— Meu nome é Damron Alasdair, do clã Morgan do Castelo Blackthorn. E
que diferença faz saber o meu nome completo?
— Não pode ser... você morreu! — Lydia se aproximou dele e agarrou-lhe os
cabelos perto das têmporas. Puxou o rosto de Damron para mais perto. — Como
pode estar aqui se está morto há séculos?!
Seu grito ecoou pelas paredes de pedra.
Damron subiu os degraus de dois em dois, querendo levar Brianna de volta
ao quarto o mais rapidamente possível, antes que ele resolvesse enfiar um pouco
de bom-senso goela abaixo daquela desarvorada.
Desde o primeiro instante em que a vira, galopando em sua direção, ela não
se mostrara em nada parecida com a donzela dócil e obediente que lhe fora pro-
metida. Havia enfeitiçado Galan e até tocara nele!
Chutou a porta pesada do quarto, batendo-a violentamente contra a parede,
pela segunda vez em pouco tempo. Ele cruzou o quarto e jogou-a sobre a cama.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 17
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
um frio na boca do estômago, mas sua mente ficou alerta quando ouviu a voz de
Damron.
— Você não é o que dizem ser. Ou tudo foi um teatro muito bem ensaiado,
ou aquela rocha fez mais estrago em você do que pensamos.
Ele afastou-lhe algumas mechas da testa. Traçou a linha do rosto com os
dedos e tocou-a nos lábios.
O perfume dele a enfeitiçava e fez com que suspirasse sem querer. Alguns
segundos ainda se passaram antes que ele, por fim, se afastasse.
Ao longo dos anos, Lydia aprendera muito sobre as famílias Sinclair e
Morgan. A mãe de Brianna havia morrido logo depois que ela nascera, e sua irmã,
Alana, cuidara dela. Quando Brianna tinha oito anos, o barão fundara a Abadia de
Saint Anne, fazendo de Alana a abadessa.
Damron Morgan era conhecido por sua força e determinação. Em seu
casamento com Brianna, ela lhe dera dois filhos homens, mas alguns anos depois
ela cometera suicídio, jogando-se de um parapeito do Castelo Blackthorn.
— De jeito nenhum — resmungou Lydia. Nunca acreditara nessa história,
pois Brianna vivera na abadia com a irmã e, devido à sua formação religiosa,
jamais colocaria sua alma imortal em perigo.
Mas a pergunta que precisava ser respondida era: como viera parar no corpo
de Brianna?!
Será que todos aqueles estranhos lampejos que tivera desde a infância nada
mais eram do que memórias de sua vida passada? Lembrou-se de quando, aos
cinco anos de idade, afirmara que lorde Damron pertencia a ela. Seu pai dissera
que ela havia proferido o nome dele de forma errada, que dissera "Demon" em vez
de "Damron".
Lembrou-se da sensação que havia tomado conta do seu ser quando pegara
o broche nas mãos, daquele rosto acompanhado de uma voz profunda que lhe fa-
lara por entre a névoa, implorando para que ela nunca o deixasse, para que ela
não o abandonasse. Tinha certeza de que era a voz de Damron, pois a reconhe-
cera minutos antes.
Quando ela havia caminhado sobre as muralhas do castelo, o vento soprara
com muita força, erguendo-a no ar por alguns segundos antes de jogá-la contra as
rochas. Sua cabeça batera em algo, e depois... trevas. Ouvira o grito da águia ao
longe e sentira o farfalhar das asas a seu lado.
Sem saber como, fora tragada por algum vácuo até que ouvira uma voz
dizendo: "Por favor, Senhor Deus, ajude-me!". A sensação se transformara em
algo semelhante a deslizar em um barranco e cair na água. Fora quando tinha
sentido outra pancada na cabeça, c mais uma vez... trevas. Ao acordar, havia
tentado obrigar o corpo a obedecer aos comandos da mente. Teria seu espírito
voltado a alguma vida passada?
Se tivesse sido Brianna numa vida passada, isso explicaria as imagens
estranhas que lhe vinham à mente e que não pertenciam a ela, Lydia.
Haveria um caminho de volta? Se estava realmente revivendo sua vida
passada, tinha certeza apenas de uma coisa. Não iria encontrar a saída da mesma
forma que Brianna fizera da primeira vez.
Horas depois, Lydia acordou com lágrimas rolando por sua face. Novamente,
o mesmo pesadelo que a assombrava desde criança: um homem oculto acusando-
a de traição; o brilho da lâmina de uma espada pronta para o ataque; e sua boca
se abrindo num grito mudo.
Alguém se mexeu a seu lado. Soube no mesmo instante que não estava em
sua cama, em sua casa. Um grito escapou de seus lábios. Elise se virou assusta-
da, e Lydia se forçou a permanecer imóvel. Começou a suar frio. Não havia mais
como ignorar que estava vivendo uma vida passada.
— O que foi, Brianna? Você está apavorada! — A prima se ergueu. — Por
que está chorando? Dormiu bem? Está com dor de cabeça?
— Não, não estou chorando; sim, eu dormi bem; não, minha cabeça não dói,
e eu não quero mais ficar na cama.
Alguém viera ao quarto para alimentar o fogo na lareira enquanto dormiam.
Havia também outros objetos na cômoda que não se encontravam ali no dia ante-
rior. Lydia aproveitou para acompanhar Elise enquanto a moça se levantava e se
dedicava à rotina matinal.
Vestiu-se com as mesmas roupas do dia anterior, não mais as achando tão
bizarras. Embora fossem mais confortáveis do que as roupas modernas, Lydia
ainda se sentia estranha sem lingerie. Determinada a aproveitar a chance que se
apresentava, chamou Elise.
— Venha, prima, vamos explorar os arredores. Elise passou correndo por
ela. Lydia só conseguiu
alcançá-la quando chegaram aos estábulos. Passou por várias baias vazias
até encontrar a da sua montaria, Sweetpea.
— Olá, meu amor — murmurou Lydia, e a égua ergueu a cabeça.
Uma sensação de calor e um formigamento na nuca anunciaram a presença
de Damron.
— Como vai o meu tesouro hoje? — disse ele, afagando Sweetpea. —
Como você é linda... Que pescoço elegante, que rosto bonito... — A respiração de
Dumron acariciava a orelha de Lydia, fazendo-a se arrepiar por inteiro. — E um
animal magnífico, suave como veludo, com um corpo maravilhoso. — Continuou
acariando Sweetpea. — Vai me dar crias excelentes, nobres e fortes.
— Aposto como não fala assim com mulher nenhuma — disse Lydia num
murmúrio.
Enquanto tentava ignorar o calor que lhe invadiu o corpo ao proferir aquelas
palavras, ela saiu apressada dos estábulos, sentindo o olhar penetrante de
Damron em suas costas.
Será que Brianna havia percebido que era com ela, e não com a égua, que
ele estivera falando?
Damron sentira o calor que emanara de Brianna e também o suave tremor
quando ela dissera em voz quase inaudível que ele não era capaz de ser gentil
com uma mulher.
Damron não tinha dúvidas de que, juntamente com a natureza agressiva que
Brianna demonstrava, havia ali também muita paixão pronta para ser libertada e,
com a ajuda de Deus, seria ela quem lhe daria uma prole forte.
Mas Brianna ainda não sabia disso.
Durante várias horas Brianna e Elise andaram pelos vários pavimentos do
castelo, subiram e desceram lances de escada e abriram um número absurdo de
portas para explorar seus interiores.
Quando chegaram ao último pavimento, saíram para a passagem que
circundava a muralha interna e ligava a casa principal à torre que abrigava a
criadagem e as despensas. O vento desarrumou-lhes os cabelos e moldou suas
roupas ao corpo. Lydia foi tomada por uma súbita onda de pânico, lembrando-se
da outra vez em que estivera no alto de um castelo e sentira o vento controlando
seu corpo. Apavorada, agarrou-se ao corrimão de madeira.
Sentiu-se observada e olhou para o outro lado, de onde Damron a fitava.
Virou-se de costas para ele, endireitou os ombros e seguiu Elise até a muralha ex-
terna. Antes de descer, parou por um instante para admirar a vista.
No canto extremo havia um pequenino grupo de árvores. Enquanto admirava
a vegetação, foi tomada por uma visão de si mesma rindo e correndo de Galan,
enquanto ele, também rindo, tentava alcançá-la. Quando Galan chegou a seu lado,
abraçou-a terna-mente e beijou-a na testa.
O que estava acontecendo entre Brianna e Galan?!
A visão se foi tão rápido quanto viera. Lydia respirou fundo e se apoiou na
muralha, tentando se acalmar. Olhou à sua volta. A propriedade era linda: campos
verdejantes se estendiam até os limites com a floresta, e montanhas mais escuras
emolduravam o cenário à distância. Desfrutou da sensação maravilhosa de não ver
aviões circulando pelo céu, ou de carros barulhentos poluindo o ar e incomodando
os ouvidos ou mesmo de centenas de casas amontoadas nos arredores. O local ali
era infinitamente diferente de sua época...
— Brianna, venha! — Elise desceu as escadas correndo. — Mamãe disse
que Galan irá nos levar para um passeio especial que poderá ajudar a sua
memória!
Lydia a seguiu até os estábulos novamente. Nesse instante, Galan surgiu,
pôs as mãos em sua cintura e, apertando-a mais do que deveria, segundo ela, er-
gueu-a e acomodou-a na sela adaptada, como se já estivesse habituado a isso.
Fechando os olhos, Lydia torceu para se adaptar aquela estranha sela. Era
uma excelente amazona, c seu treinamento acabou por falar mais alto no momento
em que tomou as rédeas nas mãos.
A hora seguinte foi extremamente agradável. Pararam à beira de um lago
rodeado por salgueiros. Um servo que os acompanhara estendeu uma manta
nobre a relva para que se acomodassem, e depois se manteve a uma distância
discreta.
Galan soltou uma sacola que estivera amarrada à Mola de seu cavalo e
serviu pão de centeio, um pedaço generoso de queijo e pedaços de galinha
assada. Um pequeno galão de cerveja e três canecas completaram a refeição.
Enquanto comiam, Lydia teve a impressão de que alguém, além de Elise e
Galan, a observava, mas a cada vez que se virava para ver quem era, não
encontrava ninguém.
— A próxima semana será como uma eternidade, meu amor — Galan
sussurrou no ouvido de Lydia.
Era estranho, mas não se sentia desconfortável ao lado de Galan. A Brianna
que vivera pela primeira vez devia gostar muito dele, mas quanto? Teriam os dois
trocado carícias ou talvez feito algo mais?
De repente, Galan começou a beijar-lhe o pescoço.
Santo Deus! Qual seria o grau de intimidade entre os dois? Ela se retraiu.
Deu um pequeno grito e se pôs em pé com um salto.
— O que aconteceu? Foi picada por uma abelha? — indagou Elise.
Galan corou violentamente. Nesse instante, Connor surgiu ao lado deles,
vindo de trás de uma das árvores e surpreendendo Lydia. Então tinha sido ele todo
o tempo!
— Desculpe-me. Pensei que fosse algum lagarto ou uma aranha no meu
ombro... e me assustei.
Connor sorriu para Lydia, que retribuiu o sorriso. Ela percebeu que não havia
dúvidas de que ele vira que o motivo que a fizera saltar não tivera nada a ver com
um lagarto ou uma aranha.
No caminho de volta, Connor, de propósito, cavalgou a seu lado, forçando
Galan a ficar atrás com Elise.
— Gostou do passeio, milady... Claro, antes de ter sido mordida pelo lagarto
apaixonado? — perguntou ele, rindo.
— Ainda bem que não o feri — respondeu Lydia.
— Do contrário, poderia ter me atacado, não acha?
— Felizmente não a atacou. Eu teria de matá-lo por ter invadido um território
que não lhe pertence — disse Connor, agora com expressão séria.
Lydia achou que as palavras de Connor pareciam uma ameaça velada. Que
direito tinha ele de questioná-la?
— O "território" não pertence a ninguém, sir Connor — retrucou. — E qual o
motivo de o senhor estar no bosque?
— Eu tenho meus motivos, milady. E este território pertence a um senhor de
terras.
Enquanto passavam pelos portões principais da propriedade, Lydia
experimentou de novo a sensação de estar sendo observada. Olhou para cima e
descobriu quem era: Damron se encontrava no alto de uma das muralhas.
Sentiu a força daquele olhar como se fossem as mãos dele buscando os
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 22
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
segredos de seu corpo. Arrepios a percorreram, e ela, sem saber como, lembrou-
se daquelas mãos calejadas acariciando cada centímetro de sua pele enquanto a
despia ansiosamente.
Foi também invadida pela reação instantânea aquele toque: excitação!
Damron estivera supervisionando o treinamento da escolta saxã de Brianna.
Queria transformá-los cm guerreiros disciplinados, pois do jeito que eram hoje, não
passavam de um bando de frouxos. E não iria permitir que fossem tão tolos e
inocentes a ponto de perderem sua futura esposa de vista.
Ao ver Connor se aproximar, Damron desceu para encontrá-lo.
— O que ela aprontou? — perguntou.
— Não há com o que se preocupar, primo. Galan bem que tentou chegar
perto, mas Brianna não lhe deu a menor chance.
— Se ele abusar da própria sorte outra vez, irá se arrepender amargamente.
Ele se acha com muitos direitos, e não gosto disso. E se Brianna não for a donzela
inocente que me asseguraram que é, eu os mandarei pessoalmente para o inferno.
Os músculos em seu maxilar pulsavam de tensão quando foi encontrá-la e a
tirou de cima do cavalo. Depois que a pousou no chão, afastou-lhe os cabelos do
pescoço para examiná-lo. Lydia, mais que depressa, tentou se esquivar.
— Droga, tire as mãos de cima de mim! — Ao empurrá-lo, sua voz tremia de
indignação.
— Meu nome é Damron, não "droga" — disse ele.
— E pare de usar palavras estranhas.
— Damron, Demon, Droga, para mim é tudo igual — ela resmungou. Em
seguida, deu-lhe as costas e dirigiu-se às escadarias.
— Deus do céu, Brianna, achei que lorde Damron fosse espancar você! —
exclamou Elise, já a seu lado.
Ao passar pelas pesadas portas em direção ao solário, Lydia respirou fundo
e tentou se acalmar. Elise se sentou num banco almofadado e se pôs a dedilhar
uma harpa e a cantar. Lydia percebeu que sabia a letra da canção e acompanhou-
a.
Depois, Elise começou outra melodia, e Lydia se deu conta de que também
a conhecia, mas que não a ouvia fazia muito tempo. Enquanto cantava, sentia-se
mais confiante, e uma voz de soprano começou a fluir de seus lábios. Ficaram ali
até o fim do dia.
— Brianna ainda está agindo de forma estranha. — Damron caminhava em
seus aposentos, como se fosse um animal enjaulado. — David, o cavaleiro,
contou-me que ela hoje abriu portas, entrou em todos os cômodos do castelo,
analisou a mobília e olhou atrás das tapeçarias penduradas. Depois do passeio,
sentou-se com a prima no solário, e lá ficaram cantando até o final do dia. David
diz que a voz dela é muito bonita. Lembre-me de ordenar que ela cante pura mim.
Talvez tenha qualidades que eu ainda desconheço.
— Uma das melhores qualidades de Brianna é a coragem — disse Connor.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 23
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
— Oh, que droga! Será que me perdi de novo?! — Gritou. Mas como assim
"de novo"? Seus olhos se arregalaram com a lembrança que surgiu em sua mente.
Porém, o som de cascos de cavalo se aproximando chamou sua atenção. A
cerca de cinqüenta metros .atrás dela, Damron vinha a galope com Angel. O brilho
intenso naqueles olhos verdes e os lábios apertados numa fina linha de raiva
fizeram com que ele realmente parecesse com o "demônio", como ela o havia
chamado.
Enquanto Damron observava Brianna de onde se encontrava, ela incitou a
égua a um galope mais rápido, até que ficasse cerca de dez metros à frente dos
soldados da escolta. Realmente, os cavalos dos homens não eram páreo para a
égua Sweetpea. E Brianna lava mais uma vez colocando a própria vida e a do
animal em risco. Será que não tinha aprendido da primeira vez, quando a égua a
derrubara?
Ele instigou Angel a um galope, sentindo o corpo formigar pela tensão. Por
que ela deixara o castelo? Estaria indo a algum encontro amoroso com Galan? O
mero pensamento de que os dois eram amantes fez seu estômago revirar. A
traição de Genevieve ainda lhe consumia a alma e fazia sua desconfiança a res-
peito de Brianna aumentar. Não iria tolerar outro adultério. Mataria qualquer
homem que ousasse se aproximar de sua futura esposa.
O riso triunfante de Brianna chegou aos seus ouvidos. Quando alcançou os
guardas da escolta que a acompanhavam, ordenou com um sinal que voltassem
para o castelo. Assim que o último deles se afastou, Damron se aproximou dela,
tomou-lhe as rédeas das mãos e segurou os dois cavalos.
— Que inferno, Demon! — ela exclamou. — O que está fazendo aqui?
Sem responder, ele desmontou, tirou-a de cima da sela e a colocou à sua
frente.
— Está bem, eu sei, não precisa me lembrar. Seu nome não é Demon, é
Damron. Mesmo assim, não é motivo para ficar todo estressado. — Mexeu os om-
bros, mas quanto mais se movia, mais forte ele a segurava. — Solte-me, está me
machucando!
— O que pensa que está fazendo? — Damron rosnou. A proximidade de
Brianna fazia seu corpo reagir contra sua vontade. De repente, lembrou-se das
palavras estranhas que ela usara. — E que palavras são essas... "todo
estressado"? O que isso significa?
— Ora bolas, é só uma expressão.
Ele viu que a túnica moldava-lhe o corpo e que Brianna não usava as
ceroulas por baixo. Sentiu a raiva ferver no sangue.
— Estava com tanta pressa de encontrar o seu amante que não se
preocupou em se vestir adequadamente?
— Ora, seu escocês de mente poluída! — ela cuspiu as palavras como se
fossem flechas, e a cada uma delas cutucou-lhe o peito com um dedo. — É claro
que eu ia me encontrar com o meu amante! Na verdade, ia encontrar com um
monte deles e todos de uma só vez! Não os viu comigo? E pensar que eles
mesmo vinho, áspero de tão seco, que tomara dias antes. Este era mais escuro e
adocicado. Oh, daria qualquer coisa por uma marguerita ou uma boa dose de cuba
libre. Tinha a impressão de que para passar por esse jantar precisaria de algo mais
forte.
Estendeu a mão para se servir de pato assado, porém Damron segurou-a
gentilmente.
— Não, milady — disse ele. — Deixe-me servi-la como fez o seu jovem
admirador com tanto gosto.
Quando abriu a boca para protestar, Damron levou um pedaço suculento de
carne de pato a seus lábios. Ela não teve escolha a não ser aceitar.
— Eu posso comer sozinha, milorde. — Estendeu a mão para se servir de
outra porção de pato, porém ele, mais uma vez, segurou-a pelo punho, forçando-o
sobre a mesa.
— Sorria e comporte-se como manda o decoro, como uma donzela deve ser.
— Solte-me. Caso contrário, farei um escândalo tão grande que todos aqui
comentarão sobre ele durante um século inteiro — disse ela com um sorriso nos
lábios.
— Você me dá a sua palavra de que vai se comportar condignamente?
— Sim, se parar de me maltratar. — Para sua surpresa, Damron a soltou.
Ela respirou fundo, satisfeita, e continuou: — Lady Maud disse que você iria nos
deixar quando seus homens chegassem. — Indicou com um aceno as dezenas de
homens ali. — Esperarei ansiosa pela aurora.
— Milady nos fere profundamente com suas palavras — Connor comentou
de forma afetada, chamando-lhe a atenção. — Pensei que nossa partida fosse
entristecê-la. Blackthorn é por demais distante de Kidley. — Brindou-a com um
sorriso maroto.
Ela sabia muito bem da distância entre Blackthorn Ridley. O que ele estava
insinuando com isso? Antes que pudesse verbalizar a pergunta, Damron a serviu
de um pedaço de maçã, e ela pegou-o com os dentes. e quando ele passou o
cálice de vinho para que desse outro gole, ela quase esvaziou o conteúdo, sorrindo
ao ver a surpresa de Damron.
Ele pegou o cálice de volta e, com a língua, sensualmente, traçou a borda,
como se estivesse fazendo o mesmo em seus lábios. Ela o fitou, hipnotizada, e um
calor, que nada tinha a ver com o vinho, se espalhou por seu corpo.
Embora aquele jeito dominador de Damron lhe provocasse arrepios de raiva,
não podia negar a poderosa atração sexual que sentia por ele.
Nesse momento, lady Maud sugeriu que se fizesse um sarau. Ordenou que
os servos trouxessem a harpa c a colocassem no espaço em frente à mesa
principal. Elise tomou a mão de Brianna, e as duas se posicionaram ao lado do
instrumento. Cecília, irmã de lady Maud, tirou uma flauta do bolso da túnica.
Depois dos primeiros acordes de harpa, Brianna cantou uma canção sozinha.
Evitou olhar para Damron e fingiu que o salão estava vazio.
Quando ouviu a voz de tenor de Galan, levou um susto. Por que se lembrava
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 29
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
de uma voz de barítono, bem mais grave, cantando com ela? Manteve o olhar fixo
em Galan enquanto ele se aproximava, porém na memória profunda de sua alma,
era outro o homem que vinha em sua direção, e ele, sim, tinha a voz que ela
esperava. Quanto mais clara a visão ficava em sua mente, mais seu coração se
acelerava. Era da voz de Damron de que se lembrava.
Brianna acabou por se perder na melodia. Enquanto a paixão da música
aumentava, a dela seguia o mesmo compasso. Seu coração batia forte no peito e
seus olhos se encheram de lágrimas. Deu graças a Deus quando a música
terminou.
Depois de vários duetos animados com Elise, Galan começou a entoar uma
melodia conhecida:
Meu amor é cheio de graça e beleza, De pele alva e leve como uma pluma.
Seios que me enchem de alegria, E cabelos suaves como a bruma.
Quando sua voz se tornou um murmúrio e as notas silenciaram, Galan se
aproximou de Brianna e deu um beijo suave em sua testa. Ela não o empurrou.
Damron se levantou de um salto. Ela se virou na direção dele e piscou várias
vezes, tentando se concentrar no local onde se encontrava.
— Que Deus Nosso Senhor o acompanhe em sua jornada amanhã, milorde
— disse ela.
— Creio que levará meses até que nos encontremos novamente, não é
mesmo?
Damron brindou-a com um sorriso maligno. Ela fez uma reverência rápida e
deixou o salão quase correndo. O riso triunfante dele a seguiu, lançando uma
sombra de medo sobre seus ombros.
— Pensei que seria a primeira a se levantar esta manhã, prima. — A voz de
Elise, já vestida, estava marcada pela ansiedade. — Vamos, Brianna, padre Jacob
vai ler os proclamas hoje!
Brianna mal tinha terminado de enxugar o rosto, Elise a puxou para ajudá-la
a se vestir. Já completamente desperta, suprimiu um bocejo e imaginou uma xícara
fumegante de cappuccino bem cremoso, que sempre tomava no bar perto do
edifício onde trabalhava.
— Vamos! — Elise a apressou. — Não podemos correr o risco de padre
Jacob nos dar uma bronca por nos atrasarmos neste dia tão especial. — Agarrou-
lhe a mão e puxou-a castelo afora para o pátio principal.
— Mas o que há de tão especial hoje?!
— Os proclamas! Não me diga que esqueceu! Santo Deus, isso é pior do
que esquecer o próprio nome!
Passou o braço da prima no seu, conduzindo-a rapidamente em direção à
capela.
Brianna foi invadida por uma sensação estranha, rumo se sua memória
estivesse fora de seu alcance.
Na capela, a família Ridley já esperava pelas duas.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 30
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
tentou alcançá-los fora da capela, disposto a tirá-la dos braços de Damron, mas
Connor o impediu. Dois guerreiros se aproximaram e dominaram o jovem
cavaleiro.
— Ponha-me no chão! — Brianna socava as costas de Damron com toda a
força. — Seu brutamontes imbecil! Maldito arrogante!
— Mulher do inferno! — Ele finalmente colocou-a no chão. — Pare com esse
comportamento infantil, mocinha, caso contrário, irei tratá-la como uma criança,
dando-lhe uma bela surra!
— Puxou-a pela mão em direção do castelo.
Brianna teve que correr para acompanhá-lo.
Damron a levou para o solário pela entrada dos fundos do grande salão e
segurou-a pelos ombros, impedindo que fugisse. Pressionada de encontro a ele, foi
invadida pelo aroma daquele corpo másculo. Por um instante, esqueceu-se do
apuro em que estava metida.
— Você é protegida do rei, Brianna. Por que está tão surpresa que ele tenha
arranjado o seu casamento? Seu pai, que Deus o tenha, jamais teria procurado a
sua aprovação para lhe arranjar um bom casamento. — Damron suavizou o aperto
nos ombros dela.
— Não me surpreende que William tenha arranjado isso tudo. Era assim que
costumava ser feito. — Ela praticamente cuspiu as palavras. — Sem nenhum tipo
de consideração com os meus desejos ou com os meus sentimentos!
Pelo olhar vazio dele, percebeu que Damron não compreendia nada daquilo.
Naquela época, as mulheres não tinham direito a opinião. Se tivesse sido da
vontade do rei William, ele a teria casado com um velho gordo com apenas cinco
fios de cabelo, um número ainda menor de dentes e verrugas no nariz.
— Você disse que somos casados. — Ela ainda tentava se desvencilhar
daqueles braços fortes. — Mostre-me então alguma prova disso. Quero ver com
meus próprios olhos!
Em toda a pesquisa que havia feito sobre Damron, ela nunca vira nenhuma
menção a algum casamento por procuração. Sempre acreditara que ele tinha sido
um homem íntegro, de caráter firme e nobre. Não importava o quanto se sentia
atraída por ele; quanto mais pensava que Damron tivera a audácia de desposá-la e
nem ao menos se certificar de que ela sabia, mais ressentida ficava.
— Minha palavra é prova suficiente. Você pertence a mim, assim como
minha espada, minhas armas, minhas roupas e meu cavalo.
— Cavalo?! — exclamou ela. — Você considera a mim, uma mulher, da
mesma forma que a um animal?! — Estava ofendida. Mesmo seu marido traidor do
século XXI a considerava igual. —Vou pedir a anulação desse casamento.
Damron baixou o rosto até que as pontas de seus narizes se tocassem.
— Não vai haver anulação de coisa alguma, Brianna.
— Uma ova que não vai haver! — ela retrucou. — e se quando visse a sua
preciosa noiva, descobrir que ela era caolha e banguela? E se eu não fosse nada
do que esperava? Tenho certeza de que iria até William e exigiria que o casamento
fosse anulado!
— E você acha que me agrada com esse seu temperamento explosivo? —
perguntou ele com voz dura.
Milady está muito, muito longe de me agradar.
Por que as palavras de Damron lhe causavam tanta dor? Brianna piscou
várias vezes para afastar as lágrimas que surgiram de repente em seus olhos. Por
sorte, o barão de Ridley e sua família chegaram e a livraram da humilhação de
chorar diante de Damron'. Connor carregava inúmeros papéis. Brianna virou-se
para ele.
— Posso vê-los, por favor? — Pegou os papéis e dirigiu-se à mesa ao lado
da janela.
Desenrolou alguns deles e começou a lê-los, mas lembrou que na Idade
Média os homens não acreditavam que as mulheres fossem providas de
inteligência o suficiente para aprender a ler ou escrever. Quando Damron a olhou
com um quê de ironia, ela teve que se controlar para não chutar as canelas dele de
novo. Leu a caligrafia rebuscada e, aliviada, deu graças a Deus por sua mãe ter
tantas vezes pedido sua ajuda para decifrar documentos antigos.
No dia 12 de junho de 1072, a rainha Matilda representara Brianna Sinclair
na cerimônia de casamento. O rei William concedera a Damron os castelos de
Stonecrest e Ridley, as terras de Rothbury e Bellingham e várias outras
propriedades que antes haviam pertencido ao pai de Brianna, Cecil Sinclair.
As assinaturas de Matilda e William eram evidentes, assim como a de
Damron após seu juramento. Embora fosse muito incomum para a época, ele tinha
sido muito generoso para com Brianna no contrato de casamento. Caso viesse a
morrer, deixaria uma quantia considerável em dinheiro para ela, juntamente com as
terras de Rothbury, que não era muito distante de Stonecrest. Seu primeiro filho
herdaria seu título e terras na Escócia, e o segundo receberia o castelo de
Stonecrest e metade de seus bens na Inglaterra.
Ela estremeceu, lembrando que a antiga Brianna dera à luz dois filhos.
— Está satisfeita, milady, agora que sabe que o nosso casamento de fato
existe?
— Ainda posso pedir a anulação — ela sussurrou. — Nós não nos damos
bem, e a união ainda não foi consumada.
— Não haverá anulação alguma. — Embora a voz de Damron soasse calma
e suave, as palavras foram ditas com determinação.
— Você deixou bem claro que não o estou agradando — ela continuou. —
Não deseja encontrar alguém que seja do seu agrado?
— Partiremos assim que arrumar suas coisas — anunciou Damron,
ignorando completamente o que ela dissera. — A viagem até Blackthorn é longa, e
eu já estou afastado há muito tempo.
— Eu não vou embora daqui para um lugar no meio da Escócia com alguém
que mal conheço protestou Brianna. — Você esperou até agora, então não vai se
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 34
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
reação que tivera, embota tivesse ficado furiosa sem motivos ao tomar
conhecimento de que havia se tornado propriedade dele A noção de
independência de Brianna era estranha Era dever de um marido conquistar, mas
ela se recusava a ser conquistada. Porém, como dizia o lema d< sua família "com
mão firme" ele iria controlá-la.
Damron e o barão passaram o restante da manha vistoriando as terras.
Damron inspecionou tudo e indicou áreas que precisavam de maior atenção. De
volta no castelo, o barão lhe assegurou que Galan ficaria encarregado de melhorar
as defesas. Após voltarem no solário, Damron conversou com Galan e falou de
seus planos. Com essas melhorias, seria impossível que a fortaleza de Ridley
fosse invadida. Não tinha dúvidas de que o rapaz faria um excelente trabalho.
Quando terminou com as instruções, Damron saiu para o pátio principal e se
dirigiu ao estábulo. Ordenou a um dos cavalariços que aprontasse Sweetpea para
a viagem. Enquanto o observava trabalhar, pensou em selecionar uma montaria
menor para Brianna. Queria a esposa inteira quando chegassem a Blackthorn.
Como se atraída por seus pensamentos, Brianna chegou apressada ao
estábulo, acompanhada por Elise. Surpresa arregalou os olhos e parou de repen-
so. Elise, que não a vira parar, deu um encontrão com ela, empurrando-a para a
frente. Teria caído se não fosse por ele. Damron segurou-a nos braços e a trouxe
para junto do peito, inalando seu perfume inebriante ao contato daquele corpo
quente excitou-o.
Elise o olhou, deu um gritinho e saiu correndo, baixando-os a sós.
— Será que você tem esse mesmo entusiasmo em todas as suas
atividades? — perguntou no ouvido dela, abraçando-a com mais força.
A voz rouca e o membro endurecido junto ao seu ventre revelaram a que tipo
de "atividade" ele estava «d referindo. Ela jogou a cabeça para trás com um olhar
de desdém.
— Se eu soubesse que estava aqui, seu ogro, teria corrido na direção
oposta! — Empurrou-lhe o peito com toda a força.
— Pode me chamar de ogro, se assim preferir, e eu agirei como um —
sussurrou Damron.
Quando os lábios dele tocaram a pele sensível abaixo de sua orelha,
Brianna sentiu um arrepio por todo o corpo.
— E por que veio correndo para o estábulo, posso saber? — Damron
perguntou.
— Vim me certificar de que Sweetpea estava sendo preparada devidamente
para a viagem.
— É bom mesmo que esteja aqui — disse ele. — Quero que escolha um
cavalo mais tranqüilo. — Damron relaxou a pressão das mãos nos ombros dela, e
Brianna se afastou rapidamente.
— Sweetpea é a montaria mais calma e tranqüila que existe. Se está
preocupado por causa da minha queda, digo-lhe que não é necessário. A égua só
não está acostumada àquela sela horrível da abadia que mais parece com uma
CAPÍTULO II
Foi então que o beijo tornou-se lento e provocante. Com a ponta da língua,
Damron explorou-lhe os cantos da boca, para depois traçar o lábio inferior,
sugando-o e prendendo-o entre os dentes. Sem pressa, mordiscou-o
delicadamente. O beijo se aprofundou com uma paixão urgente, e Brianna sentiu
uma forte onda de calor entre suas coxas. Seus joelhos fraquejaram, mas Damron
a segurou, rindo baixinho.
O som da gargalhada de Connor e os gritos dos guerreiros batendo os
canecos de cerveja sobre as mesas chegaram aos ouvidos de Brianna. Damron in-
terrompeu o beijo e ergueu a cabeça.
Respirando fundo para se recompor, ela se segurou nos ombros dele. Como
Damron conseguira provocar aquela resposta passional em seu corpo com tanta
rapidez? Ela nunca correspondera daquela forma a homem algum, nem mesmo ao
seu ex-marido, Gordon, que era bom em termos de sexo. Já mais lúcida, tentou
colocar uma distância segura entre ambos.
— Tire suas mãos de cima de mim — ordenou por entre os dentes.
— Tem certeza de que é isso que quer? — Damron perguntou.
Vendo-lhe o rosto corado, os lábios dele se abriram num sorriso triunfante.
Brianna tinha certeza de que Damron percebera os tremores que a invadiram, a
maciez de seus lábios e a fraqueza dos joelhos. E tudo aquilo o havia agradado
muito.
Com um braço firmemente enlaçado em sua cintura, ele fez uma pequena
reverência para os convidados, agradecendo os aplausos.
Brianna viu o olhar dele se transformar de divertido para quente e sensual,
numa promessa muda da união física que ele esperava que acontecesse naquela
noite. Ela sentiu o coração pulsar na garganta. Como pudera ignorar o fato de que,
mesmo sendo um casamento forçado, Damron exigiria consumá-lo? Os homens da
Idade Média levavam a virgindade de suas noivas muito a sério. E se ela, Brianna,
não fosse mais virgem... uma terrível tragédia poderia acontecer no leito de
núpcias.
— Santa Maria Madalena! — exclamou, surpreendendo-se: desde quando
começara a evocar santos?!
— Não, Brianna, não é Santa Maria Madalena — Elise a corrigiu. —
Estamos no mês de junho. Santa Julita é a sua favorita deste mês. Sua memória
ainda está confusa?
— Faz muitos anos que não mistura os santos com os meses. — Bleddyn riu
e, vendo a expressão interrogativa de Damron, explicou: — Sempre que fica abis-
mada com alguma coisa, Brianna evoca sua santa favorita do mês em que
estamos. Elise e ela começaram essa "tradição" quando, crianças, eram
surpreendidas por um evento muito especial.
— Ah, compreendo... Mas ela tem evocado coisas diferentes ultimamente —
disse Damron, contrariado.
— O que foi que a aborreceu, querida esposa? — Inclinou-se para falar-lhe
no ouvido:
— Muito obrigado por terem acompanhado minha esposa até aqui, miladies.
Mas agora podem ir. Brianna está segura comigo.
— Milorde, isso não é apropriado! — lady Maud protestou. — Todos os
preparativos desapareceram, nós ainda não arrumamos a noiva para recebê-lo e...
— Não se preocupe, gentil senhora — Damron a interrompeu com
suavidade. — Fui eu quem mandei mudar todos os arranjos para que tudo ficasse
mais apropriado a estas circunstâncias. Minha esposa pensa que sou negligente, e
esta noite pretendo mudar isso. Estou ansioso para servi-la como um criado de-
votado. Fique tranqüila, serei cuidadoso.
Antes que Brianna dissesse alguma coisa, ele a pegou nos braços.
— Que droga, Damron, ponha-me no chão! — exclamou ela, irritada,
tentando se soltar.
— Por que sempre tem que provar sua masculinidade com força bruta?
— Dentro em breve você julgará minha masculinidade por seus próprios
meios. Garanto que sou muito bem dotado do equipamento necessário para
satisfazê-la.
Virou-se para as mulheres com um sorriso cristalino e fez reverência com
uma facilidade tão grande que parecia estar carregando uma criança nos braços.
— Minha esposa e eu lhes desejamos uma boa noite, miladies. Nos veremos
ao alvorecer. — Com passadas largas, deixou o quarto com a esposa nos braços.
— Ponha-me no chão, Damron! — ela ordenou, sentindo-se tomada pelo
pânico mais uma vez. Se não conseguia controlar algo tão simples assim, como,
então, seria capaz de demovê-lo de suas intenções?
— Não. Você virá documente. Caso contrário, eu mudarei de idéia. — De
repente, ele parou. — Ou prefere um ato público? Na Normandia, é comum chama-
rem testemunhas para o defloramento. É isso o que deseja? Normalmente, o
homem fica mais excitado quando prova sua masculinidade dessa forma.
Ela abriu a boca, apavorada. Santo Deus! Damron não teria a coragem de
fazer algo tão degradante... Ou teria?
— O que vai ser, então? — Ele a olhava intensamente. — Não estamos
muito longe das escadas. Posso chamar uma pequena platéia agora mesmo.
Com o coração prestes a saltar pela boca, ela tentava desesperadamente se
livrar daqueles braços.
— Então, é esta a sua decisão? — A voz de Damron estava carregada de
ameaça...
Ele jamais permitiria que alguém os visse fazendo amor. E sabendo que
Brianna sempre lutaria com ele em busca de controle, não se arrependeu de usar
essa ameaça tão baixa.
Imaginá-la nua, arfando de prazer em seus braços, fez seu membro se
enrijecer. Brianna pertencia a ele, mas longe da vista e das mãos de todos.
Ele virou num corredor que dava acesso às escadas, deixando-a ainda mais
tensa.
— Damron, por favor, não faça isso comigo! — ela quase gritou, em pânico.
— Acalme-se. Só chegamos ao nosso quarto. Quando deu um leve toque na
porta com a ponta da bota, Spencer a abriu, com um sorriso no rosto. Damron
entrou, colocou-a no chão e correu os olhos pelo quarto. Exatamente como
ordenara.
— Spencer, Jeremy — chamou seus dois escudeiros. — Muitíssimo
obrigado por terem seguido todas as minhas instruções à risca e tão rapidamente.
Podem voltar aos festejos. Spencer, só precisarei de você amanhã cedo.
Com sorrisos tímidos, ambos deixaram o quarto. Damron fechou a porta e
passou a trava.
Havia um enorme tapete em frente à lareira, onde um fogo acolhedor
aquecia o ambiente. Ao lado do tapete, uma mesa com cadeira combinando. A
jarra de prata com a poção e os cálices estavam numa outra mesa pequena ao
lado da cama, assim como a tigela de prata com as sementes que prometiam
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 49
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
fertilidade.
Damron observou as reações da esposa, que examinava cada um dos
elementos. Ao vê-la olhar para a cama e virar-se para o outro lado, corada, ele
sorriu. Mas seu entusiasmo esfriou no momento em que a luz incidiu sobre a
corrente que Galan dera a ela.
Contrariado, retirou a espada cerimonial e guardou-a no baú junto com as
outras armas. Brianna acompanhava todos os seus movimentos. Com lentidão
calculada, Damron tirou o broche do clã e a camisa, expondo o torso forte. Ela
piscou várias vezes, e suas mãos estremeceram quando olhou para aquele peito
de bronze e para os pelos que o cobriam.
— Logo você estará acostumada com o meu corpo, Brianna — disse ele. —
Poderia, por favor, me ajudar a tirar esta roupa?
— Eu prefiro tirar a roupa de uma cobra — ela resmungou.
— Não, meu bem — Damron riu maliciosamente —, não é uma cobra,
embora fique em pé quando deseja.
Brianna se manteve de costas, mas ele podia imaginar a intensidade do
rubor que lhe tomara o rosto. Spencer havia deixado o robe dobrado sobre o baú, o
Damron o vestiu. Em silêncio, aproximou-se dela por trás.
— Pode olhar agora. Não vou ofender seus olhos virgens. Vamos nos servir
de vinho. Vai acalmá-la e aquecê-la.
— O quarto está bem aquecido, e eu não estou com frio. — Brianna tentou
resistir.
— Hum... Então está tremendo por minha causa? — Ele sorriu triunfante.
— Quero vinho, sim, obrigada.
Com cautela, ela se virou e encontrou Damron já segurando duas taças e
trajando um robe preto aberto até a cintura. Vestido daquele jeito, era a imagem
perfeita do homem medieval. Ela respirou fundo e tentou aparentar calma e
segurança.
Quando ele lhe passou o vinho, tomou um grande gole, quase esvaziando a
taça. Ao baixar os olhos, viu que a masculinidade ereta estava ansiosa pelo "es-
porte de alcova", como diziam na Idade Média.
Como poderia evitar ser esposa de Damron, fisicamente falando? Não podia
fazer amor com ele. E se engravidasse? Não iria agüentar engravidar, ter um filho
para depois ser sugada de volta para o futuro. E, como Lydia, jamais tinha ido para
a cama com um homem pelo qual não estivesse apaixonada. Suas amigas sempre
a criticavam por ser tão antiquada. Intimidade física, para ela, estava vinculada a
relacionamentos duradouros.
No entanto, tinha de admitir... Apaixonara-se por Damron muito antes de o
destino interferir e levá-la ao passado. Embora o homem de carne e osso não
fosse tão fácil de amar quanto aquele das suas fantasias, não podia negar a
atração sexual que sentia por ele. Maior do que sentira por qualquer outro. Um
gemido baixo escapou de seus lábios. Não... Não podia permitir que Damron a
possuísse.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 50
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
Damron foi até a cama e pegou a belíssima camisola que se encontrava ali
estendida. Olhou para Brianna, que voltara para a frente da lareira. As chamas
iluminavam cada centímetro daquele corpo com um brilho fantástico. Não
conseguiu suprimir um gemido. Queria explorar tudo o que via nela, mas precisava
se ater ao plano que engendrara enquanto discutiam.
Ela era diferente... E a única mulher que ele conhecia com personalidade
mais próxima à de Brianna era Meghan, irmã de Connor. Ambas tinham tempe-
ramentos explosivos, ataques de teimosia e de determinação. A abadessa Alana
havia falado em nome da honra de Brianna. Meghan e sua própria mãe eram
honradas, e ele jamais vira aquele tipo de dignidade em nenhuma das mulheres da
corte real. Teriam sido corrompidas pelos excessos da corte?
Quando dissera que queria paz no casamento, não estava mentindo. E havia
decidido esperar para ver que tipo de mulher Brianna era. Com certeza, era um
desafio... e aquele gênio forte o estimulava a querer conquistá-la. Mas para fazer
com que se entregasse a ele de livre e espontânea vontade... Precisaria ser mais
esperto que ela. Para as noites seguintes, planejava provocá-la e excitá-la de tal
forma que Brianna imploraria que ele a fizesse sua.
Chamou-a com o olhar. Ela não se mexeu. Faz um sinal com o dedo
indicador, pedindo que se aproximasse, mas não adiantou.
— Você fica deslumbrante diante do fogo, minha querida — disse Damron
com voz insinuante. — E na contraluz, a sua roupa desapareceu...
Suas palavras tiveram o efeito desejado. Com um misto de timidez e
embaraço, Brianna veio até ele. Quando Damron a despiu da combinação, os
seios ficaram à mostra pela primeira vez, e ela os cobriu com as mãos. Ele tentou
parecer despreocupado com a visão enquanto segurava a camisola sobre a
cabeça de Brianna e esperava. Ela hesitou por um instante, mas por fim ergueu os
braços e fechou os olhos. Quando terminou de colocar nela a camisola, virou-a
rapidamente para o outro lado para que não visse a evidência de sua excitação.
Enfiou as mãos naqueles cabelos sedosos, e seu peito foi tomado por uma
onda de prazer quando as mechas encaracoladas se espiralaram em seus dedos.
Tirou-os de dentro da camisola e espalhou-os sobre os ombros dela, ao mesmo
tempo olhando para a suave curva das nádegas sob o tecido fino. Sentiu a boca
ficar seca. Deu-lhe um tapinha de leve no ombro para avisá-la de que havia
terminado. Brianna se voltou para ele com uma expressão interrogativa no rosto.
Como Damron não disse nada e se dirigiu ao outro lado da cama, ela sentou-se na
beirada e esperou.
Ele serviu a poção especial da fertilidade nos cálices designados e deixou-os
sobre a mesa. A bebida feita com hidromel era forte, mas Damron não queria mais
impedi-la de beber e relaxar.
Brianna se assustou mais uma vez quando ele veio até ela, pegou-a no colo
e se dirigiu para a cadeira.
— Não precisa fazer isso, posso me sentar em outro lugar — disse.
— Como pode ver, milady, não há mais cadeiras neste quarto — Damron
respondeu.
armadura.
Brianna sentiu Damron rindo suavemente atrás de si, passando a mão em
seu braço.
— Quando papai me encontrou, eu disse "eu só queria vê-lo" e apontei para
o quadro. Papai me pegou nos braços, me ergueu até a pintura, e eu consegui ver
o retrato do homem pela primeira vez. De repente, eu gritei "ele é meu!" e comecei
a chorar copiosamente! Papai tentava me acalmar, mas eu não conseguia parar de
chorar e só repetia "por que ele não me ama?". Isso só passou no dia seguinte. A
partir daquele dia, todos os anos, eu pedia que papai me levasse de volta ao
castelo para que eu pudesse rever o retrato. Mas nunca mais derrubei nada...
Nesse momento, ela tomou consciência da boca e das mãos de Damron
percorrendo seu corpo. Sentiu uma forte fisgada de desejo. Os beijos dele eram
gentis, mas sensuais, e quando a beijou nos lábios, correu a língua por eles,
pedindo passagem.
Ela abriu os lábios com um suspiro. A língua de Damron era quente e doce a
explorar sua boca. Percebeu que nunca experimentara um beijo tão delicioso, tão
perfeito. E não seria nada demais trocarem alguns beijos... Afinal, eram casados.
Damron estava se mostrando um cavalheiro, mesmo com ela negando-lhe
uma intimidade maior. Quantos homens do século XXI concordariam em esperar,
quem sabe por semanas, até poder fazer amor com sua legítima esposa?
Sentiu o estômago se contrair quando ele tomou um seio na mão,
massageando-o devagar. Inclinou a cabeça para trás, e Damron beijou e sugou o
mamilo intumescido. Agarrou-o pelos cabelos e o puxou para perto.
Percebeu de repente que estava recostada ao corpo nu dele. Bem, quase
nu. E como sua camisola viera parar na cintura? Sentia a pele em brasa e um
intenso formigamento entre as pernas. Damron acariciava-lhe lentamente o sexo.
Tentou recobrar o controle, mas não conseguiu. O que ele estava fazendo
parecia tão certo, tão... delicioso... Um gemido escapou de seus lábios ao sentir-
lhe o membro contra a perna.
Sua intimidade pulsava em contato com a mão dele, implorando por mais
carícias. Sentiu o rosto pegar fogo quando agarrou o pulso de Damron e procurou
arrumar a camisola.
— Eu prometi que não iria tirar sua virgindade, mas não disse que não a
tocaria — ele resmungou. — Ao menos isso você deveria me permitir. Bem, já está
tarde e vai amanhecer daqui a pouco.
Ele a carregou para a cama e a deitou. Num movimento automático, Brianna
puxou as cobertas até o queixo. Sorrindo, Damron apagou as velas.
As brasas ainda vivas na lareira iluminavam o suficiente para que ela o visse
com clareza. Não conseguiu desgrudar os olhos de Damron enquanto ele tirava o
robe e o pousava sobre a cadeira.
Lembrando-se do comentário das criadas, desviou o olhar para a coxa
esquerda dele. Quase gritou de espanto ao ver a cicatriz, ainda avermelhada, que
ia do joelho até o alto da coxa. Como ele conseguira sobreviver àquele ferimento?
Brianna. Por fim, deixou que ela fosse se despedir de Galan, após um olhar de re-
preensão de Connor.
O cavaleiro tomou as mãos de Brianna nas suas e as trouxe aos lábios para
beijá-las.
— Cuide-se, Brianna — disse ele. — Se algum dia precisar de qualquer
coisa de mim, eu irei em seu auxílio o mais rápido que puder.
Pelo brilho que viu naqueles olhos ansiosos, soube que Galan seria capaz
de mover céus e terras por ela.
— Não se preocupe comigo, Galan — respondeu. — Nathaniel vai cuidar
para que nada de mau me aconteça. — Antes que pudesse dizer qualquer outra
coisa, Damron a chamou para que fosse até o cavalo dele, Angel.
Brianna parou onde estava.
— Você disse que eu poderia montar Sweetpea.
— Eu falei que iria pensar no assunto — respondeu Damron, que montou e
colocou um cobertor dobrado à sua frente, entre as coxas. Quando Connor ergueu
Brianna e a acomodou no pequeno assento, Damron continuou: — Está
confortável, meu bem? Não quero que fique ainda mais dolorida do que já está.
Ela o cutucou nas costelas com o cotovelo. Enquanto todos ainda faziam
votos de uma viagem segura, Damron instigou Angel a um galope. Manteve a mão
firme na cintura da esposa, enquanto ela se inclinava e acenava adeus até que
todos sumissem de vista. Era estranho que em tão pouco tempo ela tivesse se
afeiçoado ao povo de Ridley.
Sentiu um frio no estômago ao pensar o que poderia encontrar em
Blackthorn. No século XXI, ela sentia forte atração e empatia pelas ruínas. Qual
seria sua reação ao ver o castelo intacto, em seus dias de glória? E esse homem
ao qual precisava desesperada-mente resistir? Será que acabaria por se render a
ele de corpo e alma?
Depois de algum tempo, mexeu-se no assento, pois a cota de malha que
Damron usava a machucava nas costas. Incomodada, continuou a se mostrar
desconfortável, na esperança de que ele a deixasse cavalgar Sweetpea, que vinha
ao lado deles puxada por um escudeiro, mas sem ninguém sobre ela.
— Aquiete-se, Brianna — Damron reclamou. — Se desejava atrair a minha
atenção, conseguiu. Ficar esfregando o seu traseiro em mim me deixou bastante
interessado. Quer que tenhamos alguns momentos de privacidade na floresta? Só
nós dois?
— Vá sonhando! — ela retrucou. Tinha plena consciência de suas nádegas
junto à virilha dele, com o volume da masculinidade aumentando a cada segundo.
— Posso cavalgar Sweetpea?
— Não — foi a resposta seca de Damron. Dirigir um jipe velho sem
amortecedores por dez horas seguidas ainda seria mais confortável do que andar a
cavalo por cinco delas.
Brianna começou a sentir o urgente chamado da natureza. Tentou agüentar
até não poder mais, mas, por fim, agarrou Damron pelas orelhas e forçou-o a olhar
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 62
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
para ela.
— Pare este maldito cavalo agora! — exclamou.
— Não grite comigo! Se precisa de privacidade, é só pedir — disse ele. — E
encontraremos Bleddyn logo após a próxima curva no caminho.
E era verdade, pois, de fato, após cerca de cem metros, Bleddyn os
aguardava na fronteira com a Escócia.
Damron a colocou no chão. Assim que se viu livre, Brianna dirigiu-se para o
interior da floresta a fim de aliviar sua necessidade. Quando estava terminando de
ajustar as roupas para voltar, os dois potes de bálsamo que ganhara se chocaram
levemente, fazendo um barulho seco. Lembrou-se da preocupação estampada nos
rostos das mulheres ao dá-los a ela, e a expressão assustada de Elise. De repente
tudo fez sentido... Sentiu a cabeça zunir de tanta raiva.
Furiosa, saiu da floresta gritando por Damron. Connor veio correndo em sua
direção, temendo que tivesse sido atacada por algum javali. Ela o ignorou,
passando por ele como se não o visse. Foi diretamente até Damron, o homem que
queria esganar.
Tentou agarrá-lo pelo peito, mas não conseguiu por causa da cota de malha.
Frustrada, pegou as trancas ao lado das têmporas dele e puxou-as com toda a
força.
— Controle-se, Brianna! — Damron a levou até a margem do riacho, longe
das vistas dos outros guerreiros.
— Você decepou uma galinha e jogou o sangue dela nos meus lençóis? —
Ela estava furiosa.
— Se dá valor a sua vida, nunca mais fale comigo nesse tom! Eu mesmo fiz
um pequeno corte na minha mão com a espada, mas derramei mais sangue do
que o necessário... Acho que passei a idéia de que tomei você com violência... —
Ele deu um sorriso e largou-a ali, antes que Brianna tivesse tempo de absorver a
informação.
Também Damron e seus homens entraram na floresta para atender aos
chamados da natureza. Nesse momento, Bleddyn estava diante de Brianna,
estudando-a com um sorriso aberto.
— Vocês homens são todos iguais — ela disse. Mas de repente se deu
conta do ridículo da situação e riu.
— Não é de admirar que as mulheres estivessem tão preocupadas comigo...
Antes que conseguisse fazer qualquer outro comentário, os guerreiros
retornaram. Damron montou Angel e fez um sinal para que ela viesse até ele nova-
mente. Brianna fez questão de ignorá-lo e caminhou em direção a Sweetpea. Mal
conseguira dar cinco passos quando se sentiu levantada do chão e, no instante
seguinte, já estava sentada sobre Angel, com os braços de Damron segurando-a
firmemente pela cintura.
— Você tem sempre esse costume de carregar as mulheres como se fossem
um saco de batatas? — ela protestou. — Já estamos muito longe de Ridley, eu
posso muito bem...
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 63
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
— Não me envergonhe na frente dos meus homens! — ele disse por entre
os dentes.
O olhar de Damron foi suficiente para que ela desistisse de continuar a
discussão. Bufou de raiva, mas voltou a olhar para a frente e tentou admirar a
paisagem. O meio de transporte podia ser lento e desconfortável, porém via-se
muito mais do cenário idílico das montanhas de cima de um cavalo do que seria
possível de dentro de um carro em alta velocidade.
A Escócia do século XI era belíssima. A floresta densa que cobria quase
tudo à sua volta havia praticamente desaparecido no futuro. Ela inspirou pro-
fundamente aquele ar limpo e fresco, lamentando o fato de que aquela beleza seria
perdida séculos mais tarde.
Estava ansiosa para conversar com Nathaniel. Será que ele sabia o que
estava acontecendo com ela? Será que acharia que era uma bruxa se soubesse
que vivera em dois séculos diferentes? Mas, se Nathaniel pensasse isso, não a
teria tratado tão bem, teria? Sentiu medo.
A resposta veio com a voz de Nathaniel em sua mente. Mal conseguiu evitar
virar para trás e olhá-lo. Ainda não tinha se acostumado com aquela habilidade
psíquica dele.
Não precisa ter medo de mim, minha pequena. Eu vim para facilitar a sua
existência nesta vida. Você conheceu muitas coisas que me interessaram. Eu vi
imagens de memórias de um tempo muito adiante do nosso. Os escoceses adoram
contos. Por que não tenta criar um para falar do seu tempo? Ninguém saberá da
verdade. Nós, galeses, sempre acreditamos que os druidas podiam viajar através
do tempo, e os escoceses têm suas próprias lendas.
Ao ouvir isso, ela relaxou, recostada em Damron. Então Nathaniel sabia que
sua alma voltara de uma vida futura? E quando estivessem em Blackthorn, ele lhe
contaria? Não ouviu nem sentiu nenhuma resposta vinda dele. Aparentemente,
Nathaniel interrompera o vínculo mental.
Brianna procurou ignorar o corpo forte e rijo de Damron atrás de si por quase
uma hora. Por fim, encostou-se mais nele, puxou a túnica para o meio das pernas,
jogou a perna direita por sobre o torso de Angel e sentou-se como qualquer
cavaleiro faria.
— Já que tenho de ir com você, quero o mínimo de conforto — resmungou
ela, mexendo-se sobre a sela para melhor se acomodar.
Algumas horas depois, pararam numa clareira, e Damron a retirou
cuidadosamente de cima de Angel. Segurou-a com o braço ao redor de sua cintura
suportando-lhe o peso, até que se estabilizasse. Com o olhar, indagou se estava
bem. Presumindo que ele queria saber se conseguia ficar em pé sozinha, Brianna
tentou firmar os pés no chão, mas suas pernas cederam, e ela gemeu. Segurou-se
no braço de Damron e foi esticando as pernas devagar, até que a circulação se
normalizasse e ela conseguisse se equilibrar a ajuda. Só então Damron a soltou e
foi cuidar do acampamento para aquela noite.
Jeremias, um dos cavaleiros, levou-a até a margem do rio, num lugar onde
um grupo de árvores a protegeria dos olhares masculinos. Ele ficaria montando
Santo Deus, e ali estava ela, com o homem de carne e osso, não o retrato! A
força da personalidade dele não permitia que o ignorasse ou que se mantivesse
afastada. O modo dominador a intrigava. A atração física entre ambos era a mais
forte que ela sentira em sua vida. Aliás, em suas duas vidas.
Apaixonar-se por Damron, e não saber se ou quando seria levada de volta
para seu tempo era mais do que poderia suportar.
Damron não conseguia parar de pensar em Brianna. Os dias de viagem
seguiam um padrão de períodos para cavalgar e paradas para descansar. As
noites também seguiam um padrão. De sensualidade. Ele via o desejo se
acumulando em Brianna, a vontade de se entregar aumentando a cada dia. Ela o
observava, o estudava, correndo os olhos por ele como se fossem dedos ardentes
explorando-lhe o corpo.
A noite, na tenda, despia-se diante dela. Depois a beijava e a acariciava
cada vez com mais audácia. Gostava de ver a reação dela e, se continuasse com
essa provocação sensual, dentro em breve Brianna se tornaria a amante quente e
apaixonada que ele queria em sua cama.
Mas antes precisava domar aquela personalidade forte que o desafiava a
todo instante. Ela agia como se acreditasse que homens e mulheres fossem iguais.
Que pensamento bizarro...
Durante as refeições, Brianna comia menos e parecia recolhida em seus
pensamentos. Tentava com todas as forças resistir a Damron.
Seu sono agora era leve e seu desejo por ele só aumentava, o que a dei-
xava alucinada. Tinha a constante preocupação de se apaixonar e de repente ser
tragada de volta ao século XXI. Não tinha com quem partilhar esse medo, ninguém
a compreenderia. E se sonhasse em fazer o menor comentário que fosse sobre
como chegara até ali, todos achariam que estava louca ou que era uma bruxa.
Desde o primeiro instante em que vira Brianna, o homem não tinha
conseguido desgrudar os olhos dela.
Ele era bem-vindo no grupo, pois estava entre os homens de Eric. Ao cair da
tarde, ele se escondeu atrás dos arbustos para espiá-la enquanto ela se banhava
no riacho.
Idiotas... Não sabem que aquele a quem procuram está entre eles... O galês
não irá me notar, tenho meus próprios truques. Ah, Damron, você não irá possuí-la,
não senhor... Dentro em breve, será nos meus braços que ela dormirá, será o meu
corpo que a aquecerá e o meu membro que a fará gemer de prazer... A barriga
dela vai crescer e até o dia em que der o último suspiro de vida, será minha!
Um trovão acordou Brianna, que se levantou da cama sem fazer barulho
para não despertar Damron e se esgueirou para fora da tenda. Respirou fundo o ar
fresco e ergueu o rosto para a noite e para a tempestade que caía à distância.
Vinha pensando muito numa forma de encontrar o caminho de volta. Como
faria para sobreviver naquele mundo tão primitivo? Já que fora levada até ali pelos
elementos da natureza, eles talvez pudessem ajudá-la a retornar...
Meu Deus, o que devo fazer? Damron não queria uma esposa como
companheira ou parceira. Queria uma mulher sem vontade própria para cuidar de
seu bem-estar. Ela jamais se sujeitaria à submissão. Como poderiam ser felizes se
a todo momento estavam se digladiando, cada qual querendo defender seu ponto
de vista?
Um raio caiu por perto, e ela arqueou o corpo em direção ao céu, com os
braços erguidos, chamando pela tempestade.
Damron acordou de repente. O brilho do relâmpago delineou a silhueta de
Brianna contra a tenda, erguendo os braços para o céu. Ele sentiu o coração dar
um salto quando viu um homem correr na direção de sua esposa, jogar uma capa
sobre a cabeça dela e pegá-la nos braços.
Saiu correndo de dentro da tenda, empunhando a espada. Nesse instante, o
raptor de Brianna se virou para ele, e os olhos gentis de Bleddyn brilharam na
noite.
— O que aconteceu?! — Damron gritou acima do estrondo do trovão.
— Eu acordei com uma visão de Brianna enfrentando a tempestade sozinha.
Ela é sonâmbula — Bleddyn respondeu enquanto os dois voltavam correndo para
a tenda. Ele a colocou em pé e cobriu-lhe os ombros com um cobertor.
— O que me diz disso, Brianna? — Damron indagou, visivelmente irritado. —
Quero a verdade.
— Como Nathaniel disse, eu sou sonâmbula. — Olhou rapidamente para o
galês em busca de ajuda. Mas ele tinha o cenho franzido e os lábios apertados em
clara desaprovação. Bleddyn sabia que ela havia desafiado os elementos da
natureza com aquele gesto. E estava furioso.
— Bleddyn, poderia nos deixar a sós, por favor? — pediu Damron.
O galês saiu sem falar mais nada.
— Agora, Brianna, por favor — começou Damron —, diga-me o verdadeiro
motivo de você estar lá fora desafiando a tempestade. E não me venha com a des-
culpa conveniente que Bleddyn apresentou.
— Você está nu. Vista alguma coisa. — Ela evitava olhá-lo e imaginava um
jeito de fazê-lo esquecer sua tentativa de desafiar os relâmpagos. — Não vou falar
enquanto estiver nu perto de mim.
Damron vestiu uma túnica.
Se ela dissesse que quisera testar se a fúria da tempestade poderia fazer
sua alma voar, Damron com certeza acharia que era uma bruxa. Então, preferiu
dizer:
— Eu não sei por que fiz isso.
Foi pior, pois ele ficou ainda mais furioso.
— Ainda estou esperando uma explicação.
— Está bem — disse ela, por fim. — Eu acordei de um pesadelo e não
consegui voltar a dormir. Achei que a tempestade ainda estivesse longe, então fui
lá fora para vê-la chegar. Desde pequena, adoro tempestades. Gosto de ver os
relâmpagos riscando o céu. Mas ela veio mais rápido do que pensei. Tive tanto
medo que não consegui me mexer, fiquei paralisada. Por sorte, Nathaniel me viu.
O resto você já sabe.
O rosto de Damron se suavizou aos poucos, e Brianna logo voltou a se
deitar, pois, se ele insistisse, poderia se atrapalhar com a explicação.
A tempestade se foi, deixando para trás um alvorecer lamacento. Durante
todo o dia, Damron observou o rosto pensativo de Brianna. Quanto mais cedo ela
aprendesse a ser uma esposa obediente, mais fácil e menos traumático seria para
ela.
Eric veio cavalgar a seu lado.
— Aqui me retiro da sua presença, Damron — disse ele.
Em seguida, ergueu a mão num sinal de adeus e esperou até que Brianna
os alcançasse. Tão rápido quanto uma cobra dando um bote certeiro, Eric se
inclinou, segurou o rosto dela com ambas as mãos e beijou-a nos lábios.
Antes que Damron pudesse reagir, Eric instigou o cavalo e levou seus
homens num trote rápido. Sua gargalhada soou acima do barulho dos cascos.
Rollo, primo de Eric, veio cavalgando até ele.
— Milorde, preciso de um afastamento. Planejei me casar já há algum
tempo, mas a moça não é da minha vila. Então preciso raptá-la.
— E sua dama concorda com isso? — perguntou Eric, erguendo uma
sobrancelha.
— Ela é muito recatada, mas ficará satisfeita com a escolha — disse Rollo.
— E depois de dormirmos juntos, ela não vai pensar duas vezes antes de aceitar.
Eric franziu o cenho. Percebera pelo comentário que a moça não estava tão
disposta a aceitá-lo como marido. Mas era assim que as coisas funcionavam com
os guerreiros. Os sentimentos de uma mulher não tinham importância alguma, pois
não duravam muito. Logo que percebiam isso, elas se resignavam e ficavam gratas
aos maridos.
— Vá, então, mas não maltrate a moça — Eric o liberou.
Rollo e seus homens se desviaram em direção a oeste, e Eric esfregou o
queixo, observando-os até sumirem na curva da floresta.
Os homens de Damron encontraram uma área excelente para passar a
noite. O lugar era lindo, a grama tão densa que mesmo um cavalo poderia cami-
nhar tranqüilamente sem fazer barulho, e o ar tinha um perfume marcante e
adocicado.
Spencer levou Brianna até uma pequena queda de água que, mais adiante,
formava uma grande piscina natural, e se afastou. Ela aproveitou para admirar o
cenário à sua volta enquanto se despia. Depois que tirou a última peça, inclinou a
cabeça para trás e inspirou profundamente o ar perfumado com o aroma dos
pinheiros. Estirou os músculos cansados e testou a água com a ponta do pé.
Estava fresca e cristalina. Não viu rochas soltas ou outros objetos. Mergulhou
naquela piscina e nadou até o fundo.
Que maravilha era nadar num local tão lindo! Voltou à superfície para
respirar e, por um instante, teve a impressão de ter visto alguém atrás da queda de
água, mas logo concluiu que era apenas imaginação.
Arqueou o corpo e mergulhou mais uma vez. Bateu os pés no fundo e tomou
impulso para voltar à tona. De repente, sentiu a água se agitar atrás de si. Foi
tomada pelo pânico quando mãos fortes a agarraram pela cintura, puxando-a por
debaixo da água. Pernas de homem roçaram as suas. Ela chutou e se debateu,
tentando se soltar, mas não adiantou, pois o agressor a segurou com ainda mais
firmeza. Desesperada para respirar, lutou, tentando se libertar. A luz do sol ilu-
minou através da água uma cabeça de cabelos claros. O homem bateu as pernas
vigorosamente, fazendo com que ambos deslizassem para cima.
Quando sentiu o rosto fora da água, ela tentou gritar por socorro, mas a mão
dele se fechou sobre a sua boca. Segurando-a com firmeza, o homem nadou em
direção à margem. Outro homem surgiu e jogou um cobertor sobre ela. Antes que
conseguisse se reequilibrar, os dois já a tinham imobilizado com a manta.
Alguém a levantou e a colocou em cima de um cavalo. Ela gritou o mais alto
que conseguiu.
Voando acima do acampamento, a águia Cloud Dancer deu um grito agudo.
Damron, Bleddyn e os guerreiros saíram correndo em direção à floresta e viram os
três homens a cavalo desaparecendo no lado oposto a eles. Segundos depois, os
escudeiros trouxeram as montarias para que a perseguição se iniciasse.
Quando conseguiram chegar mais perto dos raptores, Damron emitiu um
grito de guerra escocês. Bleddyn e Connor atacaram os dois primeiros homens,
enquanto Damron passava por eles em direção ao terceiro, que levava Brianna.
Com a espada, Damron conseguiu atingir o inimigo no queixo. Sangue jorrou,
caindo sobre o manto branco de Angel.
Cloud Dancer mergulhou em direção a um dos agressores. A única coisa
que conseguiu evitar a ave de arrancar o capuz e feri-lo na cabeça foi a adaga que
ele, muito habilmente, manteve acima de si.
Jogada no colo desse homem, Brianna foi balançando a cabeça até
conseguir soltar a boca da mordaça que a tampava. Em seguida, fincou os dentes
com toda a força na coxa de seu raptor, que urrou de dor.
— Maldita! — ele vociferou. — Vai se arrepender por isso!
Quando a águia atacou mais uma vez, ele já estava com a adaga em
posição de ataque, mas a ave desviou e escapou de ser atingida. Não havia como
fugir levando Brianna, pensou ele, e optou por salvar o próprio pescoço. Sem a
menor cerimônia, agarrou-a pelos cabelos e gritou:
— Você vai ser minha! Não se esqueça disso! Espere e verá! — Baixou a
cabeça e mordeu-a com força na face. Em seguida, jogou-a de cima do cavalo. Ela
caiu sobre um arbusto e rolou, desacordada, até o meio da estrada.
Damron gritou de fúria quando a viu caída no chão. Desmontou feito um
relâmpago e jogou-se sobre Brianna, usando o próprio corpo como escudo,
protegendo-a enquanto seus homens chegavam mais perto.
Bleddyn e Connor tinham voltado, seguindo Cloud Dancer, que dera outro
grito agudo chamando por eles.
Brianna estava de bruços. Quando Bleddyn cortou o cobertor e expôs suas
costas, viram a pele delicada já arroxeada em diversos pontos. Estendeu as mãos
para tocá-la, mas Damron segurou-lhe o pulso, impedindo-o.
— Não se preocupe, Damron, eu tenho o dom da cura — Bleddyn o
tranqüilizou.
Só depois de se assegurar de que não havia nenhum osso quebrado, o
galês a virou de frente.
As mãos de Bleddyn ficaram cobertas de sangue, e Damron sentiu o
coração dar um salto ao ver a lateral do rosto de Brianna ferida. Bleddyn limpou o
sangue com um pano, revelando as marcas de dentes.
— Antes de matar esse monstro com as minhas próprias mãos, vou soltar
meu lobo selvagem, Guardião, em cima do canalha — disse Damron. — Ele irá
sentir as presas de um demônio tão maldito quanto ele. Eu juro pelo meu Deus.
Enquanto Damron falava, Bleddyn tirou um pequeno frasco da bolsa presa
na sela de seu cavalo. Abriu-o com cuidado e encharcou cada ferida com o líquido
branco. Tinha de agir depressa, pois os cortes poderiam infeccionar rapidamente.
Quando chegaram de volta ao acampamento, Damron a carregou para
dentro da tenda e, com mãos trêmulas, acomodou-a na cama. Bleddyn pegou sua
sacola com ervas e o seguiu.
— Malcolm — disse o galês —, traga-me a maior quantidade de uísque
escocês que conseguir com os guerreiros.
Enquanto cuidavam de Brianna, viram as marcas horríveis de dedos no
pescoço dela. Seu maxilar tinha inchado bastante, e estava avermelhado e quente.
Bleddyn fez uma solução com folhas maceradas e água quente, mexendo-a
vigorosamente até que ficasse numa temperatura suportável. Damron levantou a
cabeça da esposa com cuidado, enquanto o galês colocava colheradas do líquido
morno em sua boca.
Com grande carinho, Bleddyn acariciava o pescoço de sua menina e
murmurava palavras em gaélico para que ela engolisse o remédio. Quando
Brianna abriu os olhos, o galês pediu a Damron que a segurasse com firmeza,
enquanto alcançava a jarra com uísque que Malcolm trouxera.
Damron prendeu a cabeça de Brianna entre os joelhos. Bleddyn verteu o
uísque nos ferimentos do rosto e nas feias marcas de unhas no pescoço. Ela deu
um grito rouco e desmaiou novamente. Aproveitando a inconsciência de Brianna, o
galês limpou cada ferimento com mais uísque e aplicou um bálsamo de pétalas de
calêndula sobre cada um deles. Se o bálsamo funcionasse como esperado, as
cicatrizes seriam mínimas, embora permanentes.
Damron ficou ao lado dela todo o tempo. Quando os outros guerreiros
retornaram, ele ordenou a Malcolm que revistasse os dois raptores mortos para
tentar obter alguma pista sobre suas identidades ou a quem estavam servindo.
Quando Malcolm voltou, relatou que os agressores tinham raspado as
barbas e os cabelos para não ser identificados. Não traziam nenhum tipo de jóias
ou itens que tivessem um entalhe ou brasão. Nem mesmo as armas que usavam
eram marcadas. Frustrado, Damron ordenou que jogassem os corpos no primeiro
barranco que encontrassem.
Jamais negara um enterro cristão a qualquer inimigo. Contudo, esses
monstros não tinham sido inimigos dignos de qualquer piedade.
Haviam ousado ferir sua esposa.
Bleddyn observou o céu, procurando por Cloud Dancer. Quando a águia
gritou, o místico assobiou e ergueu o braço. Com um bater majestoso de asas, a
ave pousou em seu antebraço.
um rapaz.
— Seu grande tolo! Não começou bem cumprimentando sua amiga antes de
apresentar sua esposa! — disse a moça.
— Meu nome é Brianna Sinclair. E você deve ser a irmã de Connor...
— Brianna Morgan, querida — Damron corrigiu-a. — E, sim, esta é Meghan,
minha prima.
Meghan estreitou os olhos e analisou Brianna. De repente, explodiu num
palavreado em gaélico e se virou para Damron:
— Seu idiota! Não tem vergonha nessa cara? — Deu um forte soco no
ombro dele, que não se moveu um milímetro.
— Não é nada do que está pensando, sua maluca! — interveio Connor,
segurando os braços da irmã.
— Um bandido tentou raptar Brianna. Foi ele quem a feriu. Damron não tem
culpa nenhuma nisso.
— Ah, tem, sim! — retrucou Meghan. — Era obrigação dele tomar conta da
esposa.
Sem dizer nada, Damron passou por Meghan e se dirigiu até uma mulher
corpulenta e de mais idade.
— Eu sou Phillipa, mãe de Damron — disse ela ao abraçar Brianna. — Estou
encantada em finalmente conhecê-la, minha filha.
— Eu também, milady — respondeu Brianna com uma leve reverência.
Sentiu a presença de Nathaniel atrás de si e apresentou-o como um príncipe do
País de Gales.
Olhou então para a imponente escadaria que ligava o pátio aberto à entrada
principal, no segundo andar. Degraus de madeira levavam a um primeiro patamar,
e os seguintes terminavam em frente a uma enorme porta de madeira, aberta no
centro. A última vez em que estivera na entrada do castelo, aqueles mesmos
degraus levavam para os restos da construção, onde apenas parte das paredes
externas tinham resistido. E agora sentia o coração descompassado pela
ansiedade.
À medida que Brianna entrava no castelo, olhava de um canto a outro,
ansiosa por conhecer aquela construção que amara por toda a sua vida passada.
Ou futura?
— Meghan, como as pessoas saberão que você é uma dama se insiste em
se vestir como um guerreiro? — lady Phillipa a repreendeu, e se virou para Brianna
com um sorriso: — Ela foi apelidada de "Guerreira de Blackthorn". É tão habilidosa
com a espada quanto nossos soldados. Na verdade, é melhor do que alguns deles.
Nesse momento, Damron se virou para a prima e franziu o cenho.
— Mocinha, está escondendo as suas curvas para se esgueirar para fora do
castelo e encontrar alguém às escondidas? — perguntou.
— Não, senhor — respondeu ela, irritada. — Tenho permanecido o tempo
todo no castelo, fazendo tudo o que tia Phillipa me pede. E trabalhei num projeto
que não... saiu conforme o que eu tinha em mente.
— Se tivesse saído conforme o que você tinha em mente, não pareceria tão
infantil — rebateu Asceline.
— Do que estão falando? — Damron quis saber.
— Quando recebemos a notícia de que você iria se casar — explicou a mãe
—, Meghan desenhou e bordou uma peça de tapeçaria para celebrar o evento e
presentear vocês...
— Sim, mas veja o horror que a peça ficou — Asceline a interrompeu com
um olhar vitorioso e mostrou a peça ao casal.
Os lábios de Brianna se abriram num sorriso, e Damron também sorriu. A
tapeçaria fora bordada em cores brilhantes, com árvores de vários tons de verde
ao fundo, com uma trilha saindo delas. Um céu azul-celeste com nuvens brancas
na parte de cima e, ao lado direito, um riacho prateado. Estava tudo realmente
muito bem-feito, exceto pelas pessoas e cavalos, que eram como "bonecos de
vareta"; representados apenas por traços retos. Brianna só conseguiu diferenciá-
los pelas cores dos cabelos; estavam ali ela, Damron e Connor, cavalgando na
trilha.
— É lindo! Muito colorido e alegre! — Brianna elogiou, com sinceridade. —
Vou adorar colocá-la num lugar onde eu possa vê-la todos os dias ao acordar. —
Tirou a peça delicadamente das mãos de Asceline e abraçou Meghan.
— Venha, Brianna, vou levá-la ao seu quarto, assim você poderá se
refrescar da viagem.
— Meghan sorriu e praticamente a empurrou em direção às escadas.
Quando chegaram a um quarto, ela disse: — Este é o quarto de Damron. Os
criados já trouxeram os baús com as suas roupas, e Mari será a sua dama de
companhia.
Ela se virou e viu Mari, que ficou horrorizada ao deparar com os ferimentos
no rosto de sua senhora, mas acabou por sorrir amavelmente.
— Agradeço pela companhia, Mari, mas eu não partilharei o quarto com
lorde Damron — ela informou. — Um quarto modesto será suficiente para mim.
— Isso não será necessário. Mari pode ir — Damron disse ao entrar, e fez
um aceno de cabeça para Meghan, ordenando que também se retirasse.
— Seu crápula, sem-vergonha! — Brianna praticamente vomitou as palavras
sobre ele.
— Se você acha que vou ficar neste quarto enquanto ela estiver aqui, está
redondamente enganado!
Se havia uma coisa que ela não podia suportar era um homem infiel. O
sofrimento que enfrentara com a traição de Gordon a ensinara a nunca mais
permitir que seu coração ou sua dignidade fossem afetados.
— Você vai partilhar este quarto e também aquela cama comigo! — ordenou
ele, muito sério. — Não faça birra!
— Birra? Você chama isto de birra?! — Ela estava furiosa. — Você deve
estar louco se acha que dormirá na minha cama após ter se deitado com aquela
vadia! Arrume outro lugar para dormir, porque comigo não será!
— Você vai dormir comigo esta noite, e em todas as outras. — Agora era ele
quem estava irritado. — Não pense que vou viver como um monge se continuar a
se negar para mim. Comporte-se e obedeça, a não ser que prefira sentir o peso da
minha mão no seu traseiro. E quanto à minha amiga, ela não lhe diz respeito. —
Ele saiu do quarto.
Por sorte, as paredes eram grossas o bastante para abafar a saraivada de
palavrões futuristas que Brianna soltou.
Damron quase derrubou Asceline no chão, pois ela estava do lado de fora do
quarto, esperando-o.
— Como se atreveu a vir sozinha da Normandia para cá, sem que eu a
tivesse chamado?
— Ele praticamente a empurrou escada acima, em direção ao quarto que ela
ocupava, no pavimento superior. Chegando lá, fechou a porta com um pontapé.
Asceline se virou e colou os lábios nos dele, mergulhando a língua em sua
boca.
— Sua diabinha! — Ele a afastou. — Ainda não respondeu por que veio para
cá, e sozinha!
— Porque sei que não consegue ficar por muito tempo sem ir para a cama
comigo. O seu casamento ridículo com essa saxã franzina nunca foi do seu
agrado. Só eu sei como satisfazê-lo.
Só de lembrar como Asceline, de fato, o satisfazia, Damron ficou excitado.
Mas antes que se encostasse nela, percebeu o que estava prestes a fazer, xingou
baixinho e deixou o quarto, furioso consigo mesmo.
Asceline trazia à tona o que havia de pior nele. Não pedira que ela viesse.
Sabia muito bem que não devia colocar a esposa e a amante sob o mesmo teto.
A verdade era que não a queria ali. Assim que terminasse de vistoriar
Blackthorn e de ordenar as providências necessárias, decidiria o que fazer com
Asceline.
Ouviu de repente os gritos irritados de seu avô, lorde Douglas, e apressou o
passo. Entrou no quarto que ele ocupava e o viu sentado, recostado em inúmeros
travesseiros. Tinha os olhos marcados por olheiras profundas, porém mantinha o
mesmo tom autoritário na voz.
— Não pense que vou esquecer o que me contaram sobre você — disse o
velho senhor enquanto Damron o abraçava afetuosamente. — Não vou culpar a
moça se ela o chutar para fora da cama depois de você ter cumprimentado sua
amante na frente dela!
— Não se meta nisso, vovô — pediu Damron. — Brianna vai aprender que
esse assunto não diz respeito a ela. Eu terei meus prazeres e terei meus herdeiros.
Mas eles não precisam, necessariamente, vir da mesma pessoa.
sobre a cama. Para substituir os incensários, vários braseiros de ferro com carvão
incandescente foram posicionados nos cantos do quarto.
Quando Bleddyn voltou ao aposento, Guardião entrou correndo pela porta e
se acomodou ao lado da cama, começando a se cocar vigorosamente, lançando
ao ar uma nuvem de pelos.
— Pare! — gritou Brianna, e o cão obedeceu. — Venha comigo, seu monstro
pulguento. Não vai estragar as coisas aqui depois de todo o trabalho que tivemos.
Puxou o animal para fora do quarto, acompanhada de perto por Meghan e,
quando chegaram aos portões do castelo, Malcolm as seguiu para protegê-las.
Correram em direção a um pequeno lago abrigado por árvores, a cerca de cem
metros de distância do castelo.
— Obrigada por vir conosco, sir Malcolm — ela agradeceu. — Mas agora
fique de costas até que terminemos.
Só depois de vê-lo obedecer, as duas tiraram as túnicas e ficaram apenas de
combinação. Meghan pegou uma barra de sabão e ajudou Brianna a levar
Guardião para dentro do laguinho. Brianna tossiu e tremeu. Talvez não tivesse sido
uma boa idéia entrar na água. Tinha a impressão de que iria pegar um resfriado,
mas agora era tarde demais. Aplicou quantidades generosas de sabão em
Guardião, e as duas o esfregaram por vários minutos. Quando haviam enxaguado
tudo, exceto a cabeça dele, Brianna fez uma espécie de penteado punk no cão,
arrancando risos de Meghan. Ela riu também, mas se contraiu pelo esforço, pois
seu rosto ainda doía.
— Que loucura é essa que está fazendo, Brianna? Ela deu um salto e
afrouxou a mão. Guardião escapou da água e se dirigiu a Damron, abanando o
rabo.
— Onde está Malcolm? — Brianna quis saber.
— Mandei que fosse avisar Bleddyn de que precisaremos dos seus serviços
de cura.
— Para quem?
— Para você — informou ele. — Você é muito frágil e não está acostumada
com o nosso clima frio. Quer ficar doente? Não pense que não a ouvi tossindo
agora há pouco. Saia da água já!
— Vire-se primeiro. Preciso pegar Guardião de novo e enxaguá-lo.
— Meghan, onde estava com a cabeça quando concordou em ajudá-la? —
indagou Damron.
— Ela não tem a resistência escocesa. Brianna, deixe que Meghan termine
essa tarefa. Por favor, saia da água.
— Brianna, eu concordo com ele. Vá trocar de roupa antes que pegue um
resfriado — disse Meghan, já saindo da água e chamando Guardião, que obede-
ceu imediatamente.
Quando chegaram ao castelo, Damron a carregou para o quarto, onde
Bleddyn já o aguardava, com a mesma poção que havia dado a lorde Douglas.
Damron se sentou, com ela no colo, na cadeira ladeada por dois baldes de ferro
repletos de carvões em brasa.
— Trate de beber tudo, Brianna — ordenou. — Não quero saber de ouvi-la
tossindo à noite e perturbando o meu sono.
O mel na poção aliviou a garganta de Brianna. Quando terminou a segunda
caneca da bebida, sentia-se aquecida, e sua tosse havia diminuído.
CAPÍTULO III
Dias depois, Brianna ainda não fora para o salão para a refeição da tarde,
quando Damron retornou dos campos de treinamento com os guerreiros. Ficou
preocupado, pois temia que ela tivesse piorado do resfriado. Subiu os degraus de
dois em dois e entrou no quarto correndo, para encontrá-la remexendo no baú de
roupas.
— O que está procurando, Brianna? Dinheiro? — ele indagou. — Não?
Armas, então? Não vai encontrar nada disso aí dentro.
— Estou procurando meu colar. Onde ele está?
— Está muito bem guardado. — Damron tirou uma bolsa de veludo do baú
atrás daquele em que ela estava procurando. — Você só pode usá-lo quando eu
disser que pode. — Virou-a de costas para ele e colocou a corrente em seu
pescoço. O pingente brilhou suavemente.
À noite, após o jantar, Brianna e Damron entraram no quarto. Uma
tempestade estava se formando nas colinas e se aproximava de Blackthorn.
— Aonde vai? Não vai se despir aqui? — ele perguntou ao vê-la se dirigir
para o local reservado, atrás do biombo. — Você não vai esconder o seu corpo de
mim, e não vai se esquivar dos meus carinhos.
Os olhos de ambos travaram uma batalha muda quando Damron colocou
uma cadeira embaixo da janela e sentou-se nela.
Brianna virou-se de costas e começou a se despir, tirando as peças pela
cabeça e jogando-as no chão sem cerimônia.
— Mari é sua criada, não sua escrava — disse Damron bem atrás dela. —
Recolha as roupas e deixe-as dobradas sobre o baú.
Ela se arrepiou inteira e agachou-se para pegar as roupas, tomando cuidado
para não tocá-lo. Depois de recolher as peças, dobrou-as e as deixou sobre o baú.
Ao ficar num pé só para tirar o sapato, perdeu o equilíbrio. Teria caído, não fosse
por Damron, que a agarrou pela cintura e a levou para a cama.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 85
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
ventre, mas quando Brianna sentiu que ele ameaçava penetrá-la, esquivou-se.
Damron sabia que ela estava lutando para manter o controle. Por que diabos
se negava a ele e ao prazer que poderiam ter juntos? Não queria que ela
escondesse o desejo que sentia. Provocou-a, passando a esfregar a ponta do
membro intumescido no recôndito úmido e quente da esposa. Vendo-a arfar,
buscou com um dedo a pequenina e inexplorada entrada de seu corpo.
Ele sentiu ímpetos de urrar de orgulho quando o corpo de Brianna finalmente
a traiu. Beijou-a na boca para capturar seus gemidos de um êxtase que ela não
tinha como conter.
Quando seus tremores se acalmaram, ele a beijou no rosto, murmurando
palavras carinhosas. A cada vez que tentava falar, Damron a silenciava com mais
um beijo. Ele a aninhou e a confortou até que o sono a venceu e Brianna
adormeceu em seus braços.
Os relâmpagos e trovões continuavam a quebrar o silêncio da noite, e
Brianna acordou de repente.
Mesmo sem olhar para o lado, sabia que Damron não estava na cama.
Aonde teria ido? Levantou-se, vestiu uma capa e calçou os sapatos.
Quando abriu a porta e saiu para o corredor, Guardião também se levantou,
ao contrário da sentinela, que continuava roncando e não os viu irem em direção à
escadaria.
Ela queria ver a beleza da tempestade de cima da muralha e seguiu para o
lance seguinte de escadas, mas algo a fez parar... Gemidos... Vindos de um dos
quartos. Parou para escutar, e Guardião rosnou para a porta. De repente, um grito
de mulher em pleno êxtase cortou o ar, e Brianna percebeu tratar-se de Asceline.
Um poderoso gemido masculino, pontuando também o clímax, se seguiu ao dela.
Brianna começou a suar frio. Não... Não podia ser... Damron? Tinha vontade
de chutar a porta e ver quem estava ali dentro, mas Guardião se colocou entre ela
e a entrada. Empurrou-a com a cabeça, tentando encorajá-la a voltar para a
escadaria. Ela empurrou o cão para o lado e saiu correndo em direção aos
degraus, com os olhos já cheios de lágrimas.
Quando chegou às ameias, abriu a porta e foi recebida por uma rajada de
vento. Guardião tentava agora segurá-la, mordendo-lhe a barra da capa, mas ela
se inclinou contra o vento e seguiu caminho em direção ao pátio e à tempestade
que caía sobre a baía de Tongue.
A chuva chicoteava-lhe o rosto, e o vento erguia a bainha de sua capa. Os
relâmpagos caíam cada vez mais perto de Blackthorn. Guardião desistiu de segu-
rá-la e voltou correndo para dentro do castelo, uivando desesperadamente.
Damron parou de repente, com a mão ainda na porta principal, um pé nos
degraus do lado de fora. O pavor por Brianna esvaziou todo o ar de seus pulmões
quando ouviu o que parecia ser o gemido de algum animal fantasmagórico
ecoando pelas paredes. Virou-se para voltar correndo ao quarto e subiu os
degraus de dois em dois, praticamente voando em direção ao andar superior.
Guardião quase o derrubou ao encontrá-lo, deu duas voltas desesperadas
hospitalar. Devia estar tendo alucinações pela falta de descanso. Por que outra
razão veria pessoas vestidas daquela forma cercando sua paciente? Estavam
discutindo; ele via suas expressões e suas bocas se mexendo, mas não conseguia
ouvi-las. Uma delas, um homem com rosto de bárbaro e uma capa, mais parecia
um tirano medieval. E ela... linda... O cabelo desgrenhado caía em cascatas até a
cintura. E estava se fundindo com a sua paciente! Viu que o homem implorava,
desesperado, para que ela ficasse com ele.
De repente, os alarmes dos aparelhos começaram a tocar. Christian olhou
para a paciente e levou um susto: ela havia acordado e estava olhando fixamente
para ele! Ficou atônito, entorpecido até, como se tivesse levado um choque.
E levou um choque, pois percebeu que... ele a conhecia!
Sentiu uma urgência desesperada de tomá-la nos braços, como se sua alma
gritasse em sua mente, compelindo-o a se lembrar.
Christian agarrou as grades da cama e respirou fundo. Claro que a conhecia,
vinha tomando conta dela incansavelmente desde que havia sofrido um acidente,
numa tempestade estranhíssima, em que o vento forte a derrubara, e ela batera a
cabeça na rocha. Mas agora, acima de tudo, ele conhecia a alma e o coração dela
tão bem quanto conhecia a si mesmo. Como isso era possível? Balançou a cabeça
e esfregou is mãos no rosto. Com certeza tinha sido sua imaginação que lhe
pregara esse golpe em virtude da falta de descanso.
A imagem do homem numa capa chegou perto da mulher e disse algo que a
acalmou, fazendo com que eIa desviasse o olhar de Christian. Depois ela sorriu,
olhou para Christian de novo e apertou sua mão.
— Não! — Christian conseguiu dizer com voz estrangulada.
Ela apertou a mão dele ainda mais, como se o confortasse. E no momento
seguinte, desprendeu-se do corpo de sua paciente na cama e acompanhou o ho-
mem. Ambos o olharam, sorriram e simplesmente desapareceram.
Os aparelhos que a monitoravam retomaram seu ritmo normal e o cheiro
característico de hospital voltou a impregnar o ambiente. Sentindo o coração
pesado, Christian olhou para o rosto imóvel daquela mulher à sua frente. A
essência de sua paciente tinha sumido, mas o rosto dela estava estranhamente em
paz. Um sorriso suave curvava-lhe os lábios.
— Connor! — O grito de Damron se fez ouvir acima do barulho da
tempestade. Ele se ergueu do chão com Brianna nos braços. — Traga Bleddyn,
que está caído; e alguém, pelo amor de Deus, segure esse lobo enlouquecido!
Meghan correu para segurar Guardião pela coleira.
Damron passou pelas pessoas que haviam se aglomerado nas escadas,
gritando para que saíssem da frente. Connor voltou com Malcolm, os dois
carregando Bleddyn com grande dificuldade. O galês estava desacordado, e sua
cabeça pendia para trás. Ainda trazia o talismã firmemente preso na mão fechada.
Já de volta ao quarto, Damron tirou as roupas de Brianna e a enrolou nas
cobertas da cama. Connor e Malcolm deitaram Bleddyn no tapete ao lado da la-
reira e começaram a retirar sua capa e os sapatos, igualmente encharcados. De
disse nada. A águia Cloud Dancer gritou no céu e veio voando em círculos,
anunciando um grupo de homens a cavalo que surgia de dentro da floresta.
O líder deles, um homem enorme, cavalgava sem sela. Tinha os ombros e o
torso protegidos por um casaco feito de peles de animais.
— Venha — disse Connor ao galês. — Vamos dar as boas-vindas a Mereck,
meio-irmão de Damron. Com certeza já deve ter ouvido falar do Guerreiro sem
Alma.
Enquanto Connor fazia as apresentações, o rosto de Mereck continuava
impassível, analisando Bleddyn com Cloud Dancer pousada em seu antebraço.
Mereck fez um aceno de cabeça e finalmente olhou para Connor.
— Onde está Damron? — perguntou. — Não é do feitio dele não estar
presente quando chego a Blackthorn.
Enquanto adentravam os domínios do castelo, Connor relatou rapidamente
os acontecimentos daquela noite. Mereck fez uma reverência solene a Bleddyn, ao
saber de sua participação crucial, pousou a mão nos ombros de Connor e subiu as
escadas de dois em dois degraus.
Parou diante da porta do quarto de Damron e bateu suavemente. Só entrou
depois de ouvir a permissão. Seu meio-irmão estava sentado numa cadeira com a
esposa no colo. Depois de se assegurar de que ela realmente dormia, Mereck se
aproximou da lareira, agachou-se e atiçou as brasas.
Nesse momento, Brianna sentiu a presença de uma terceira pessoa no
quarto e acordou.
— Damron, por que não me contou que tem um irmão? Vocês são muito
parecidos — disse ela.
— Tem olhos muito astutos, milady. A maioria das pessoas não nos acha
parecidos. Meu nome é Mereck, sou meio-irmão de Damron. Nasci poucas horas
depois dele.
— Horas? Não são gêmeos? — Brianna perguntou, surpresa, mas logo
compreendeu.
— Oh, meu Deus, lady Phillipa deve ter tido vontade de matar o seu pai.
— Não, mulher — disse Damron. — Ela sabia que isso não tinha nada a ver
com ela. A mãe de Mereck morreu no parto, e mamãe amamentou a nós dois. Ela
o acolheu como se também fosse seu filho, e meu pai ficou muito feliz com esse
ato de bondade. Ela o ama da mesma forma que ama a mim.
— Nada a ver com ela? Você realmente acredita que a amante dele nada
tinha a ver com a esposa? — Brianna levantou a voz. — Tinha tudo a ver com ela!
Provava que ele não a amava o suficiente para ser fiel! Aposto que, se a sua mãe
tivesse tido um amante, seu pai acharia que isso tinha a ver com ele.
— Se isso tivesse acontecido, ele teria tido o direito de matá-la — afirmou
ele, olhando-a friamente. — Ou, no mínimo, ele a teria trancado numa masmorra
pelo resto da vida. E, no dia em que meu pai soubesse desse amante, o homem
não teria chegado vivo ao anoitecer.
— Então, se ainda não compreendeu, vou dizer mais uma vez: eu não vou
partilhar meu marido! Irei embora daqui. Meu corpo pode até ficar, mas não serei
eu dentro dele. — Sua voz tremia de raiva. — Se não acredita no que estou
dizendo, pergunte a Nathaniel. Se não fosse por ele, eu não estaria mais aqui.
— Você não vai a lugar algum sem a minha permissão! — Damron gritou.
— Pergunte a Nathaniel! — Brianna repetiu e se virou para sair do quarto.
— Não dê as costas para mim, mulher! — Ele a pegou pelo braço com
tamanha rapidez que ela acabou por soltar o lençol.
— Invejo você, irmão, por domar essa mulher — disse Mereck, olhando o
corpo de Brianna com aprovação. — Tendo uma esposa com esse fogo, não
precisa procurar conforto em nenhuma outra cama. — Deixou o quarto antes que
ele esboçasse uma reação.
Damron puxou-a de encontro ao corpo.
— Droga, Damron, solte-me, está me machucando! — ela exclamou.
Ele a calou com um beijo longo e ardente, antes de soltá-la.
— Agora pare de me tentar e vista alguma coisa. Não posso deixar Mereck
esperando.
— Não tenho a menor intenção de tentá-lo, milorde — retrucou ela com o
nariz empinado.
— Não o deixe esperando.
Damron a observou enquanto ela vestia a combinação. Brianna não
conseguiu deixar de notar a reação do corpo de seu marido e virou-se de costas.
— Vá se vestir também, seu pavão exibido — ela disse, enquanto se vestia.
Damron, por sua vez, ao perceber que ela o ignorava, pôs a roupa e saiu do
quarto.
Na hora da refeição do meio-dia, Brianna foi à frente dos homens que
auxiliavam lorde Douglas a ir para o salão. A poção de Bleddyn tinha feito maravi-
lhas pela sua tosse, e ele desejava fazer as refeições com a família.
Ela entrou de cabeça erguida no salão, entoando a melodia de uma canção
em homenagem a lorde Douglas. Uma voz de barítono começou a acompanhá-la,
acrescentando letras à melodia. Procurou, admirada, pelo dono da voz e encontrou
Mereck, que sorriu abertamente quando terminaram a canção.
— Sua voz é realmente tão bonita quanto me disseram, milady — Mereck a
elogiou.
— Mas por que não cantou a letra?
Ela deu de ombros, não querendo revelar que fizera um juramento de nunca
mais cantar na presença
de Damron.
— E onde você aprendeu a letra, Mereck? — ela
quis saber.
— Com o jovem Galan, de Ridley. Ele ia todas as noites até a torre norte e
cantava para as estrelas. Acabei criando o hábito de ir lá para encontrá-lo.
Os guerreiros ali presentes sorriam e se saudavam, contando vantagens de
seus feitos em batalhas. Todos, exceto Bleddyn, haviam se envolvido em algum
tipo de briga nos últimos dias.
Os homens sentados à mesa central pareciam ter feito um grande esforço
para tirar toda a sujeira de seus rostos, cabelos e mãos, mas mesmo assim o chei-
ro acre de suor era tão forte que Brianna torceu o nariz. Quando todos eles saíram,
ela se virou para
Meghan e confidenciou um plano que tinha em mente. As duas conversaram
com algumas das mulheres nas quais confiavam, e em poucos minutos todas elas
estavam rindo e concordando com Brianna.
Mais tarde naquele mesmo dia, Damron chamou os homens que estavam no
campo de treinamento para ir até o rio tomar um banho. Os mesmos de sempre o
seguiram, mas o restante voltou correndo ao castelo.
Após terem se banhado, Damron e seus homens regressaram ao castelo
com seus cavalos num trote tranqüilo. Ao se aproximarem da ponte levadiça, no
entanto, ficaram boquiabertos diante da cena diante deles. Os homens que tinham
ido na frente estavam gritando e xingando, recusando-se a passar pelo portão de
entrada.
E Damron logo viu o porquê. Todos os que passavam pela entrada recebiam
uma dose generosa de água com sabão, jogada pela abertura no teto, usada para
lançar óleo quente sobre possíveis invasores. O cheiro de rosas e lavanda pairava
no ar.
Não demorou muito para que ele encontrasse o mentor de tal façanha.
— Se quiserem jantar na presença de mulheres — gritou Brianna com voz
autoritária —, não venham até nós fedendo a suor, urina e sabe-se lá o que mais!
E vocês, do lado de fora do portão, voltem para o rio e tomem um banho. Caso
contrário, vou mandar capturá-los e serão lavados do mesmo jeito!
Ela se encontrava em pé no alto da entrada, com as mãos nos quadris e
uma criada segurando-a pela cintura.
— Parem de ser medrosos — continuou. — Estão preocupados que os seus
membros encolham com água e sabão? Não dói nada, e perceberão que isso até
vai melhorar suas vidas amorosas!
Ela não vira Damron, de tão entretida que estava com os guerreiros
malcheirosos embaixo da entrada. Meghan olhou para o grupo e o avistou, deu um
aceno atrevido com a mão e assobiou alto como um garoto.
— Brianna, desça daí agora! — Damron ordenou, mas ela simplesmente o
ignorou.
nas calças!
— E vocês viram Angus protegendo suas partes?
— Foi a vez de Mereck rir. — Ele acredita piamente que um banho fará o
seu "tesouro" encolher!
— Mas, e quanto a Brianna, Damron? — perguntou Mereck. — Não vai puni-
la fisicamente, não é? Temos de admitir que ela realmente fez um favor a todos.
— Ela é a mulher mais rebelde de toda a Escócia — disse Damron. —
Talvez a segunda depois de Meghan. Mas mesmo assim, eu preciso que minha es-
posa me obedeça. Não posso permitir que conteste as minhas ordens ou que
discuta por qualquer motivo. Corro o risco de perder o respeito dos meus homens.
Naquela noite, durante o jantar, o delicioso aroma da comida não teve que
competir com o cheiro forte de suor dos guerreiros. No entanto, Brianna percebia
olhares raivosos vindos deles, assim como comentários feitos propositadamente
em voz alta. Ela pousou as mãos trêmulas no colo.
— Seu bode fedorento! Se acha que vai se deitar comigo com esse cheiro
está muito enganado! — grilou uma das mulheres antes de derrubar o conteúdo
de; uma caneca sobre seu último amante.
Outras mulheres fizeram o mesmo, e os homens tentaram acalmar suas
parceiras antes que a situação fugisse de controle. Meghan, porém, não se conte-
ve e se levantou.
— Seu bando de fedidos! — gritou ela. — Ficam o dia inteiro em meio à
urina e excremento de animais e esperam que as suas mulheres durmam com
vocês, como se isso fosse normal! Antes de nós os forçarmos hoje a um mínimo de
higiene, tenho certeza de que os seus corpos não viam uma gota de água desde o
último verão!
— Modere a linguagem, está falando como uma taverneira, não como uma
dama! — Connor a segurou pelo cotovelo, forçando-a a se sentar.
— Não me diga para calar a boca! — Meghan retrucou. — Eles estão
fazendo isso de propósito para envergonhar Brianna.
Damron tirou a adaga do cinto e colocou-a sobre a mesa com uma batida.
— Calem-se!— A voz dele sobressaiu em meio ao falatório.
— Lorde Douglas — disse Brianna, levantando-se. — Peço sua permissão
para deixar a mesa. Gostaria de ver Cloud Dancer antes de me recolher aos meus
aposentos.
Damron esticou o braço para forçá-la a se sentar.
— Ela não pediu a sua permissão, Damron, e sim a minha — disse lorde
Douglas e, em seguida, se dirigiu a Bleddyn: — Se pudesse acompanhá-la, eu fica-
ria muito agradecido.
— Obrigada, vovô — Brianna agradeceu. — Irei vê-lo amanhã de manhã. —
Reunindo toda a dignidade de que dispunha, deixou o salão, acompanhada do
galês.
Ela agradeceu a Bleddyn pela companhia quando ele a levou até a porta de
seu quarto. Deu-lhe um beijo de boa-noite e entrou. Em nenhum momento,
perguntou a ele o que seu marido estava planejando para puni-la.
Brianna sabia que Bleddyn era a chave para seu retorno ao futuro, embora
as ações dele tivessem claramente mostrado que a queria ali, naquele século. Ele
conhecia tudo a seu respeito: sabia do fato de ela não ter ninguém em sua vida no
futuro, nem pais, nem parentes, nem um amor esperando-a. Ninguém.
O que mais Bleddyn saberia? Será que estava a par do momento em que ela
achara que a vida não valia a pena e pensara em desistir? Qualquer pessoa teria
se desesperado na situação dela.
Quando surpreendera Gordon com a assistente, saíra correndo do escritório.
No entanto, ele a seguira até em casa e, em meio à acalorada discussão, posicio-
nara-se terminantemente contra o divórcio, afirmando que ela não tinha
capacidade de viver longe dele.
Sempre haviam tido uma vida sexual muito satisfatória, e Gordon tentara
dominá-la dessa forma. Ele a atirara na cama, enquanto lançava seu veneno sobre
ela. Chamara-a de tola e dissera que nunca a havia amado de verdade; e que a
reputação dela no campo da pesquisa genética tinha-lhe aberto inúmeras portas,
transformando-a em algo "aceitável" para ele.
Harvey era seu assistente no laboratório, e lutara boxe para manter a bolsa
de estudos durante os tempos de faculdade. No momento em que soubera que
Gordon a tinha seguido, fora até a casa deles e praticamente derrubara a
porta da frente com um chute. Quando vira Gordon batendo nela, pegara-o pelo
pescoço, esmurrando-o até deixá-lo inconsciente.
Ela só havia deixado o santuário de sua casa quando pudera usar óculos de
sol escuros o suficiente para esconder os hematomas que ainda restavam em seu
rosto. Gordon, por sua vez, não saíra do quarto do hotel por mais de dez dias. Não
voltara a dizer que contestaria o divórcio. Se tivesse feito isso, Harvey teste-
munharia contra ele por tentativa de assassinato.
Ela estremeceu com aquelas lembranças.
Bleddyn não a teria mantido ali se soubesse que Damron poderia ser
violento com ela, teria?
Quando Damron chegou ao seu quarto, encontrou-o vazio, mas soube que
Brianna estivera ali, pois sentiu seu perfume. Dirigiu-se aos aposentos de Meghan,
certo de encontrá-la lá.
— Onde está Brianna? Sua prima deu de ombros.
Em seguida, Damron passou pelo solário de sua mãe.
— Brianna não está aqui — disse ela com voz fria. Ele sabia que lady
Phillipa estava aborrecida com o que chamava de "atitude inflexível" do filho em
relação à esposa.
Damron saiu do solário e se dirigiu ao quarto do avô. Sentado na cama,
lorde Douglas jogava xadrez com seu servo e grande amigo Dudley.
havia pensado a princípio. Mas por que ela o desafiara mesmo depois de ter sido
advertida? Todos os guerreiros de Blackthorn esperavam que ele disciplinasse a
esposa, e nenhum deles continuaria a respeitá-lo se falhasse. Não conseguira
domar Genevieve e jurara a si mesmo que jamais permitiria novamente que
qualquer mulher o fizesse de tolo. Cerrou os dentes para se concentrar.
Sua mão direita subiu e ficou parada no ar.
— Submeta-se a mim, Brianna. Jure obediência, e eu a perdoarei. — Ele
parou, em suspense, esperando que ela cedesse.
Mas esperou em vão. Por outro lado, não podia permitir que Brianna
vencesse aquela guerra de nervos. A vida em Blackthorn era difícil e perigosa. Se
uma mulher queria ser mantida em segurança, tinha de obedecer cegamente aos
homens de sua família, sobretudo ao marido.
— Solte-me, seu neandertaloide arrogante e presunçoso! — ela gritou,
debatendo-se.
Damron a apertou com mais força, olhou para aquele; traseiro adorável e
balançou a cabeça, desolado.
— Maldito! Chauvinista imbecil! — ela esbravejou, tentando apoiar as pernas
no chão para se impulsionar. — Se me bater, vou esmagar a sua cabeça com um
tijolo na primeira oportunidade que tiver!
Damron já vinha com a mão, mas parou no meio do caminho mais uma vez.
— Você não teria coragem... — Ele a virou em seu colo e encarou o rosto
irado da esposa.
— Bem, atreva-se e descobrirá! — Ela o fulminava com o olhar. —Você não
quer tolerar uma esposa independente, e eu não vou tolerar ser tratada como uma
criança travessa! — Agarrou as trancas de Damron e as usou como apoio para se
erguer.
— Que diabos, mulher, quer me deixar careca?! — Ele esfregou as
têmporas.
— E o que vou fazer, se não parar de agir como se fosse meu pai e como se
eu tivesse cinco anos de idade!
Brianna conseguiu se levantar e pegou a túnica do chão.
— Então concorde em me obedecer e a nunca mais me desafiar.
— Desde quando você é o rei para fazer esse tipo de exigência? — Só de
imaginar a idéia que Damron sugeria de obediência cega e inquestionável, sua
raiva se transformou em ira descontrolada.
Antes que percebesse o que estava fazendo, ela o esmurrou no nariz. Ao ver
a expressão estupefata do marido e o fio de sangue começando a escorrer para os
lábios, ela esfregou as mãos como se tivesse realizado o maior feito de sua vida.
Damron segurou o nariz ferido, ainda atônito com o que acabara de
acontecer. Brianna o fitou com tamanha intensidade que seus olhos pareciam duas
adagas prestes a atacá-lo.
Alguns dias depois, um cavaleiro chegou para avisar Damron que o povoado
vizinho tinha sido atacado por rebeldes errantes. Damron e Mereck inspecionaram
os equipamentos e armas dos guerreiros para se certificar de que estavam em
ordem.
Damron ordenou que todos os guerreiros besuntassem a face externa dos
escudos e capacetes com uma substância escura para que não refletissem a luz
do sol, o que prejudicaria seus companheiros.
No final da tarde, Damron encontrou Brianna no salão principal e a levou
para perto da grande lareira, onde se encontravam outros membros da família. Ali
estava também o padre Matthew, para quem ele fez um sinal.
— Silêncio, por favor — o padre pediu em voz alta. — Lorde Damron deseja
fazer um pronunciamento.
— Como todos sabem, minha esposa e eu nos casamos por procuração —
disse ele pousando uma das mãos no ombro de Brianna. — Mas ela sente a ne-
cessidade de uma cerimônia cristã adequada, na presença de um padre, com o
que concordo inteiramente. Assim sendo, mandei avisar os clãs e dentro de uma
semana nossos visitantes começarão a chegar. Quando todos estiverem aqui, nós
nos casaremos da maneira que Brianna tanto deseja.
Brianna levou um susto e o olhou, estupefata. Damron passou os braços ao
redor de seus ombros e deu-lhe um beijo suave nos lábios. Ela não reagiu, pois
ainda estava atordoada com a notícia.
Depois que os gritos de alegria dos presentes se silenciaram, o salão foi aos
poucos se esvaziando, enquanto os guerreiros se encaminhavam para o pátio
externo e as muralhas. Spencer, um dos escudeiros de Damron, trouxe-lhe uma
enorme espada e o escudo. Brianna teve uma forte sensação de desconforto, mas
não soube dizer por quê.
— Vai voltar logo, Damron? — perguntou.
— Não se preocupe, Brianna — assegurou ele. — Não ficará desprotegida.
Sempre haverá alguém por perto caso precise de ajuda.
— Não estou preocupada comigo, sei me defender.sozinha. Estou mais
preocupada com você e os seus homens. Está levando número suficiente de
guerreiros, caso haja mais rebeldes do que imagina?
— E você agora acha que eu preciso de instruções de batalha de uma
mulher, e ainda por cima saxã? — Damron retrucou com um tom zombeteiro na
voz e um brilho divertido no olhar.
Nesse momento, o padre Matthew apareceu ao lado deles e pigarreou. Em
seguida, ergueu os braços para o alto e fez uma prece, pedindo proteção para
Damron e seus guerreiros. Brianna passou uma taça para o marido e, com uma
voz mais trêmula do que esperava, repetiu as palavras do padre, oferecendo
também uma prece a Connor e a Mereck.
— Que Deus os abençoe e os traga de volta sãos e salvos — disse ela.
Sentiu um peso enorme no coração. Sabia que Damron poderia se ferir
gravemente ou até morrer nesse conflito.
— Eu nunca deveria ter dado ouvidos às suas súplicas nestes meses todos
e ter me privado dos prazeres do seu corpo. Mas não vou mais esperar. Você será
minha agora!
Damron estendeu as mãos para puxá-la, e Brianna não se moveu.
Observava o rosto do marido, querendo acalmá-lo com suas palavras, mas
também tinha os pensamentos num turbilhão, lembrando-se de seus esforços
débeis de lutar contra Gordon. Quanto mais tentava se esquivar, mais ele
avançava, e o toque se tornava ainda mais repulsivo.
Não resistiu quando Damron lhe tirou a túnica e a jogou no chão. Ergueu o
queixo e o enfrentou com o olhar. Não se esquivou quando ele a despiu, deixando-
a apenas com os sapatos e com a faca presa à perna.
— Ora, Brianna — ele disse com um olhar zombeteiro —, então pretende me
atacar como fez Genevieve? — Ele tirou a arma da sua perna e a jogou para o
lado.
Brianna agarrou um lençol e se enrolou nele. Agora que sabia como Damron
conseguira aquela cicatriz, não era de admirar que não confiasse nela. Ou talvez
em mulher alguma. Ficou curiosa para saber o que havia acontecido entre ele e
Genevieve, mas aquele não era o momento para perguntar isso. Não quando ele
estava alterado daquela forma, acreditando que ela também o traíra. Respirou
fundo e endireitou os ombros.
— Damron, eu repito — disse o mais calmamente que conseguiu. — Eu não
quebrei o juramento que fiz a você. Jamais iria discutir com alguém um assunto tão
íntimo quanto a nossa vida sexual. Isso só diz respeito a nós dois. — Viu um
lampejo de dúvida no olhar dele. — Você já mandou avisar o seu povo para que
todos venham ao casamento, conforme prometeu a mim. Por que motivo eu
colocaria isso em risco? Especialmente quando fui eu quem fez essa exigência?
Damron se sentou na cama com os cotovelos apoiados nos joelhos e a
cabeça nas mãos.
— Damron — murmurou ela —, pode não acreditar em mim, mas realmente
acha que seu irmão mentiria para você?
Ele respirou profundamente e a fitou nos olhos. Tinha uma expressão tão
atormentada, tão vulnerável que ela sentiu o coração pesado.
— Não... — ele respondeu. — Mereck jamais mentiu em toda a sua vida.
Nem mesmo para evitar que levasse uma surra quando éramos pequenos. — Seu
rosto ficou pálido. — Vai precisar refazer alguns dos pontos. Carregá-la escada
acima não foi uma boa...
E antes que Brianna conseguisse ajudá-lo, ele tombou desacordado sobre a
cama, por causa da dor. Sabendo do orgulho do marido, ela decidiu não pedir
ajuda. Damron ficaria humilhado se alguém soubesse que havia desmaiado. Seria
melhor que todos acreditassem que ficara exausto por ter feito amor com a esposa.
Subiu na cama e o puxou até acomodá-lo com a cabeça no travesseiro.
Depois, penou para colocar as pernas dele por baixo das cobertas.
Não ficou surpresa ao ver que o corpo de Damron tinha finalmente se
Quem estivera ali fazendo sexo com Asceline conseguira se livrar das
cobertas rapidamente e sair sem ser notado. Brianna deu de ombros e analisou i
situação da amante de seu marido. Nesse momento, Damron entrou no quarto,
seguido de Connor e Mereck. Meia dúzia de curiosos e criados do castelo c
Meghan chegaram logo depois. Meghan olhou por sobre os ombros das pessoas à
sua frente, viu a situarão ridícula em que Asceline se encontrava e não conseguiu
segurar uma gargalhada. Ao ouvi-la, a francesa gritou com ainda mais fúria.
— Pare com essa gritaria, mulher! — Damron elevou a voz.
Brianna sentiu um aperto no estômago. Teria ele subido as escadas logo
atrás dela ou estivera o tempo todo bem mais perto e apenas esperara o momento
certo para aparecer, para que ninguém desconfiasse de nada? Decidiu que não iria
perguntar-lhe onde estivera. Virou-se e deixou o quarto.
Damron e Mereck libertaram Asceline daquela situação humilhante e,
quando Damron viu as cordas cortadas da cama, olhou para o irmão. Os lábios de
Mereck se curvaram num sorriso, mas ele não disse nada. Damron sabia de sua
opinião em relação a manter uma amante quando se possuía uma esposa.
Porém, só discutiram o assunto quando estavam fora do castelo, perto das
muralhas.
— O que acha que aconteceu, Mereck? — perguntou Damron, rindo.
— Ah... Aquilo foi obra de Meghan e Brianna. Não sei dizer quem teve a
idéia, mas com certeza foi Meghan quem fez os cortes nas cordas. Isso é bem
típico dela. — Mereck riu, mas depois ficou sério.
— Concordo, porém não tenho intenção de puni-las por essa travessura —
declarou Damron. — Asceline tem um amante e está tentando convencer Brianna
de que eu ainda a visito regularmente.
— Que pena que o tal amante tenha conseguido se safar antes que
chegássemos. — Mereck riu de novo.
Nesse momento, um dos guardas anunciou que Eric MacLaren estava se
aproximando. Era o primeiro convidado a chegar para os festejos do casamento.
Nos dias seguintes, Brianna se ocupou, ajudando lady Phillipa com os
preparativos para receberem os convidados do matrimônio.
Certa vez, no final da tarde, Damron entrou no quarto enquanto ela tomava
banho. Ordenou que Mari buscasse mais água quente e, assim que a criada saiu,
tirou-a da banheira, enrolou-a numa toalha macia e colocou-a à sua frente. Secou-
a sem pressa e com extrema delicadeza. Quando as criadas voltaram com água
para que ele tomasse banho, vestiu-a com um robe e prendeu-o com um cinto.
— Venha, Brianna — pediu. — Gostaria que hoje você me banhasse.
Preciso agradar a alguém especial esta noite.
— Espere um momento — disse ela, já sentindo o sangue subir-lhe à
cabeça. Então ele queria agradar Asceline? — Vou usar um dos sabões especiais
de Bleddyn para lavar o seu cabelo.
Foi até o baú, de onde retirou dois frascos pequenos. Manteve-os próximos
ao corpo enquanto se posicionava atrás de Damron. Ele estendeu a mão para
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 110
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
felicidade.
Ele se sentou numa banqueta já com o bodhran no colo. Quando os acordes
de um ataúde e a batida do instrumento tocado pelo galês entraram em sua mente,
Brianna sentiu como se a voz estivesse borbulhando em sua garganta e o volume
dela aumentou, preenchendo o ar com uma canção celta.
Damron a ouvia com tanta paixão e abandono que sentia o coração bater no
mesmo ritmo do bodhran. Os olhos de Alana brilhavam de puro deleite, e ela
sorria, feliz. Mantinha as mãos unidas em frente ao peito, como se estivesse
rezando.
Quando eles terminaram uma canção, começaram outra. Mereck se juntou
ao grupo, surpreendendo Damron. Com os olhos arregalados pela surpresa,
inclinou-se para a frente quando viu o irmão tomar a mão de Brianna, e os dois
começarem a dançar graciosamente ao sabor da música, enquanto continuavam a
cantar. A dança chegou ao fim, mas ambos embalaram na canção seguinte.
A noite caiu cedo demais para o gosto de Brianna. Ela se virou para
Bleddyn, com inúmeros questionamentos em sua mente, esperando que ele os
ouvisse. Gostaria tanto de ser feliz com sua vida como sua irmã era... Teria seu pai
construído a abadia para ela se soubesse que o jovem galês, a quem amava como
um filho, nutria esse sentimento pela filha mais velha? E Alana sabia que era
objeto do amor de Bleddyn. Se soubesse que o outro herdeiro saudável pelo qual
rezara tanto seria outra menina, teria seu pai feito a mesma promessa?
Era culpa sua o fato de Alana não ter a felicidade que tanto merecia.
Bleddyn a abraçou enquanto caminhavam de volta para a mesa.
— Não é culpa sua, mo maise, minha linda — disse ele, mostrando que
ouvira seu chamado. — Seu pai não sabia que o meu amor e o de Alana eram tão
fortes, quando ainda éramos jovens. Ele amava as duas igualmente, e nem por um
momento lamentou que você não fosse um menino. Se o seu pai pudesse ter
previsto todo o sofrimento por que passamos, garanto que não teria feito o
juramento que fez.
Brianna sentiu o queixo tremer, um prenuncio de que iria chorar a qualquer
instante. Suas pernas fraquejaram, e Damron se levantou imediatamente para
acudi-la, mas Alana também se adiantou e o tocou no braço, olhando-o com um
suave sorriso.
— Importa-se se eu acompanhar minha irmã ao seu quarto, milorde? —
pediu a abadessa.
— Brianna está muito pálida. Creio que a idéia de me agradar com o seu
canto foi demais para ela. Damron concordou com um aceno de cabeça e beijou
Brianna na face, mas não sem murmurar em seu ouvido:
— Conversaremos mais tarde, milady, — Seus olhos verdes pareciam duas
adagas.
— O que pretende fazer, Damron? — perguntou Bleddyn depois que as duas
saíram.
— Ensiná-la que ela simplesmente não pode me humilhar de maneira
alguma — respondeu ele por entre os dentes. — Se não fosse pelas suas
palavras, meus homens teriam percebido que eu sou um tolo que não consegue
controlar a própria esposa.
— Já parou para pensar que Brianna quis se vingar porque achava que você
estava se preparando para se encontrar com a francesa? — Mereck indagou,
entrando na conversa.
— Sim — respondeu Damron. — É bem provável que tenha sido isso.
Quando Damron chegou ao quarto, encontrou Alana saindo. Ela sorriu para
ele e desejou-lhe uma boa noite de descanso.
Damron parou ao lado da cama e olhou para o rosto adormecido de Brianna.
Tinha a face marcada por lágrimas secas e estava estranhamente imóvel. Ele
pegou a xícara da mesa-de-cabeceira, experimentou um resto de seu conteúdo e
concluiu que Alana devia ter ministrado algum calmante suave a Brianna.
Pegou o robe e se dirigiu ao andar de baixo para tentar tirar a tinta do
cabelo. E para pensar... Lembrou-se do olhar furioso de Brianna ao ver Asceline
presa na cama quebrada. E também quando ele lhe dissera que queria agradar a
alguém naquela noite.
Jamais havia conhecido uma pessoa de personalidade tão forte quanto
Brianna. Ela pensava mais como um homem do que como uma mulher indefesa.
Sorriu e balançou a cabeça. Bem, Meghan também tinha o mesmo gênio.
Jogou uma porção considerável de água no cabelo e se pôs a esfregá-lo.
Quando se deu por satisfeito, secou-o rapidamente e voltou para o quarto.
Chegando lá, despiu-se por completo, enfiou-se embaixo das cobertas e puxou
Brianna para perto.
Será que ela iria gostar quando os convidados começassem a chegar?
Sorriu ao se lembrar do belíssimo vestido que sua mãe e as criadas estavam
confeccionando sem que Brianna soubesse. Os preparativos para o banquete
estavam adiantados e sob controle. As cruzes flamejantes que reuniam seu povo já
tinham sido entregues e, para sua surpresa... Meghan não tinha revelado esse
segredo a ninguém! Em dois dias, ocorreria a cerimônia.
Decidiu que deslocaria Asceline para a vila, pelo menos até que conseguisse
dispor de uma escolta para levá-la de volta à Normandia.
O som das gaitas de fole executando a saudação cerimonial dos Morgan fez
Brianna acordar no alvorecer do dia seguinte. Foi até a janela e viu Meghan
acompanhada do gaiteiro-chefe, Angus, no alto de uma das muralhas, tocando as
boas-vindas a uma fila de visitantes que chegava ao castelo. A fila era tão longa
que quase alcançava o bosque. Precedendo cada grupo de convidados, um porta-
estandarte trazia o brasão da família que representava.
Mari entrou correndo no quarto, com o rosto corado e um largo sorriso.
— Minha linda senhora — disse ela —, precisa se preparar para receber os
convidados! Não temos uma celebração assim desde... — a criada parou por um
instante. — Não me lembro desde quando.
Da soleira da porta, Damron balançou a cabeça com um sorriso.
— Dormiu tão rápido ontem à noite, milady, que não tive tempo de avisá-la
do horário da chegada deles. — Ao se aproximar da esposa, os lábios de Damron
se curvaram num sorriso. — Eles vieram para assistir à cerimônia de casamento
que você tanto desejou para unir nossas famílias. Depois do banquete, faremos
nossa união também à moda escocesa. — Ele se inclinou e beijou-a no ponto
sensível abaixo da orelha.
Brianna arrepiou-se. Não conseguia mais negar as ondas de desejo que
percorriam seu corpo, embora tentasse convencer a si mesma de que se sentia
excitada porque iria testemunhar uma autêntica reunião de um clã escocês. Mas,
claro, era mentira. Um simples olhar em direção à cama comprovaria isso, pois
ansiava por estar ali, nua, com Damron.
— Você vai se unir a mim de todas as maneiras possíveis, Brianna —
sussurrou ele.
— Sim, mas não hoje, certo?
— Não. Somente no domingo, daqui a dois dias — Damron esclareceu. —
Mamãe e as viúvas já terminaram o seu vestido de noiva, mas você precisa ex-
perimentá-lo antes. — O rosto dele estava iluminado por um sorriso quando saiu.
Brianna sentia o coração e a mente em conflito. O amor da antiga Brianna
por Damron havia perdurado por séculos a fio. Caso contrário, como seria possível
que ela, ainda criança no futuro, tivesse sentido que Damron lhe pertencia, desde o
primeiro instante em que vira o retrato dele no castelo? Tentou se acalmar ao
descer para o salão principal.
Alana veio recebê-la quando entrou no salão lotado, dando-lhe o braço.
Damron encontrava-se no tablado onde ficava a mesa principal, e Jeremy estava
ao seu lado. O escudeiro segurava um pesado cajado cerimonial, entalhado com
imagens do sol, montanhas, carvalhos, cervos e lobos.
Eric MacLaren era o primeiro da fila de convidados a saudar Damron e
demonstrar seu respeito. Veio até ele com passos largos, sorriu, tomou o cajado
das mãos de Jeremy e bateu-o no chão. O golpe foi tão forte que ecoou por todo o
salão, assustando Brianna.
— Eu, Eric MacLaren, representante do clã MacLaren, trago as saudações
do nosso chefe e os mais sinceros votos de uma união frutífera e duradoura! —
gritou ele.
— Os Morgan agradecem a você e ao seu clã — respondeu Damron.
Os dois tocaram o ombro um do outro com firmeza, e Eric se afastou, dando
lugar ao próximo da fila para que repetisse o ritual. Algumas saudações eram
breves, como a de Eric, enquanto outras, mais longas e elaboradas.
Brianna ouvia os nomes, e eles flutuavam em sua mente. Quando Meghan
se juntou a elas, ajudou Brianna e Alana a se lembrarem dos convidados e de
quais famílias representavam, pois a essa altura o salão já estava repleto.
— A maioria é composta de montanheses, e alguns são das terras baixas
centrais. Se o chefe do clã não quiser ou não puder sair dos seus domínios, pode
enviar um representante escolhido por ele, normalmente um dos herdeiros. Os que
vêm de mais longe não trazem as esposas, pois há o perigo de serem raptadas.
Na manhã seguinte, Damron acordou primeiro.
— Fique descansando esta manhã, Brianna — disse ele e deu-lhe um
sonoro beijo na testa.
— Deve guardar suas energias, pois precisará delas quando fizermos amor
esta noite.
Brianna dormiu até mais tarde e fez uma refeição leve. As viúvas entraram
em seu quarto trazendo o vestido de noiva e começaram a prova. Ajustaram-no em
seus seios e cintura e acertaram a bainha. Mari a ajudou a se vestir em tons
alegres de amarelo e prendeu seu cabelo com fitas da mesma cor, passando-as
pelas mechas como se fossem uma tapeçaria delicada. Mal tinham terminado
quando Damron veio buscá-la.
— Está linda, milady — murmurou ele. — Venha, temos de descer para a
refeição. Os convidados ficaram bebendo e conversando o dia inteiro e precisam
comer; caso contrário, irão começar a lutar sem motivo. Não tenho intenção de me
apresentar para o nosso casamento amanhã com o nariz quebrado. Já sangrou
muito ultimamente. — Riu e deu uma piscadela divertida.
Brianna sentiu o coração dar um salto ao vê-lo tão calmo e relaxado. Tinha
até feito uma provocação sobre ela tê-lo atingido no nariz! E tivera bastante
trabalho ao planejar todos os detalhes do casamento sem que ela soubesse.
Para sua alegria, Asceline não estava sentada à mesa principal, mas fora
acomodada numa outra abaixo do tablado, ao lado de um homem loiro do clã dos
MacLaren. Quando Brianna o olhou, ele a encarou. Ela sentiu um formigamento na
nuca e uma terrível sensação de mal-estar. O homem apertou os lábios e fitou as
cicatrizes em seu maxilar. Instintivamente, Brianna as tocou, quase sentindo as
mãos daquele sujeito nojento sobre si.
Depois que todos saborearam a refeição, acrobatas, músicos e outros
artistas começaram a apresentar seus números. Brianna virou-se para Damron.
— Milorde, quem é aquele homem sentado ao lado de Asceline? —
perguntou num sussurro. — É o irmão de Eric?
— Não, é Rollo, primo dele — respondeu Damron. O salão foi se tornando
mais barulhento à medida que os artistas começavam a discutir com alguns ho-
mens que já estavam bêbados. Damron fez um sinal às mulheres para que os
levassem para a cama. E mais uma vez surpreendeu Brianna quando ele próprio a
acompanhou até o quarto.
Depois de se despirem, Damron apagou as velas e fechou as cortinas da
cama. Deitou-se e puxou a esposa para seus braços, aninhando-a contra o peito.
— Durma, meu bem. Amanhã teremos um longo dia. — Beijou-a
suavemente na testa e logo ele mesmo estava dormindo.
Brianna finalmente relaxou e adormeceu.
Brianna acordou com o ruído de pessoas andando dentro do quarto. Quem
poderia estar ali no meio da noite? Olhou por entre as pálpebras semi abertas e viu
Alana se inclinando sobre ela.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 116
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
Damron pôs as mãos enormes sobre seus ombros, olhou-a bem no fundo
dos olhos e forçou-a a se abaixar. Alana quase gritou, assustada com a atitude do
cunhado, e Brianna decidiu não mais resistir por causa da irmã. Cerrou os dentes
quando seus joelhos tocaram o chão, e Damron tomou sua mão nas dele com
firmeza. E ali estava ela, de joelhos, com as mãos erguidas como em súplica.
— Mereck lera as palavras que você irá repetir — disse Damron.
Mereck pegou o papel e correu os olhos por ele, lançando depois um olhar
inseguro para Brianna. Mesmo assim, pigarreou e leu:
— "Eu, Brianna Morgan, juro fidelidade ao senhor meu marido, Damron de
Blackthorn."
Ela repetiu as palavras sem nenhuma dificuldade; tudo bem até agora,
pensou.
— "Juro honrá-lo de todas as maneiras e ser leal ao seu clã."
Como também não tinha conflito com isso, repetiu a frase.
— "Juro renegar quaisquer outros amores, seja em atos ou em
pensamento."
Desta vez, ela hesitou por um segundo, tentando compreender o motivo de
Damron querer tal promessa. Mas ao sentir as mãos dele apertando-lhe os om-
bros, repetiu as palavras. Porém, ao ouvir o último trecho...
— "Juro que irei obedecer-lhe cegamente, guardar meu corpo somente para
o meu senhor, e jamais abandoná-lo enquanto ainda houver um sopro de vida em
meu corpo."
Brianna fez menção de se erguer. Não conseguiu, pois Damron a forçou a
permanecer de joelhos. Ele segurou suas mãos, esperando que ela terminasse o
juramento.
— Prometa que jamais irá me abandonar, ou ficará de joelhos até amanhã
cedo — disse Damron em voz baixa, com um brilho determinado no olhar.
Ela acreditou.
— Eu juro que lhe obedecerei, desde que haja motivos plausíveis para isso,
e que seguirei o exemplo de meu marido de me guardar somente para ele. — Ela
ignorou a imprecação dita por ele em voz baixa. Como poderia repetir o voto de
jamais deixá-lo? E se Damron começasse a amá-la? Sentiu um nó na garganta, e
a dor fez com que pensasse na angústia que ele sentiria se ela desaparecesse de
repente. Um tremor a sacudiu por inteiro. Por fim, prosseguiu: — E juro que nunca
o abandonarei por vontade própria enquanto restar um sopro de vida em meu
corpo. — Terminou depois de respirar fundo.
— Não exija mais de Brianna do que ela pode sinceramente lhe dar —
Bleddyn sussurrou para Damron. — Não pode forçá-la a obedecer, mas, com o
tempo, pode conseguir que ela queira fazer isso. E, a única maneira de conquistar
sua obediência, você terá de descobrir sozinho, ou será o seu fim.
Damron a ajudou a se erguer e a tomou nos braços com extrema delicadeza.
Não estava arrependido de havê-la forçado a fazer o juramento. Embora não
conseguisse aceitar a idéia absurda de que Brianna viesse de um outro tempo, ela
já ameaçara abandoná-lo, e isso era algo que o atemorizava. Ele a forçaria a ficar.
Ele a desejava, a amava, e faria de tudo para mantê-la a seu lado.
Enquanto seguiam o padre Matthew para dentro da igreja, Damron passou o
braço pelo ombro de Brianna e a prendeu num abraço firme.
As portas foram deixadas abertas para que os que estavam do lado de fora
pudessem assistir à missa. Quando todos deixaram a igreja, as mesas ao longo do
pátio já haviam sido servidas com os pratos quentes. Assim, os habitantes da vila e
os convidados que tinham vindo com os clãs não precisariam esperar muito pela
comida. No salão principal do castelo, onde havia um número reduzido de
convidados, os servos começaram a servir as mesas já ocupadas.
Brianna ficou ao lado de Damron. Não protestou quando os amigos dele
vieram até ela e deram-lhe sonoros beijos nas bochechas. Na vez de Mereck,
Damron pisou forte no tablado, fingindo ter pisado no pé do irmão para repreendê-
lo.
— Sinto muito que tenha sido eu a ler seus votos de obediência — disse
Mereck depois de beijá-la na face.
— Muito pelo contrário, Mereck, fico feliz que tenha sido você — ela falou
com sinceridade.
— Mas como é possível uma esposa manter um juramento de jamais deixar
o marido, não importando as circunstâncias? Há coisas que não é possível
controlar, mesmo que se queira.
Não se podia dar início ao banquete enquanto os noivos não tomassem seus
lugares à mesa principal sobre o tablado. Assim, Damron levou a esposa até o
lugar que deviam ocupar. No entanto, Brianna tinha a sensação de que tudo o que
comia ficava preso em sua garganta, no nó de medo que a travava. Não conseguia
deixar de pensar no dia em que estiver a na loja de antigüidades do castelo
quando, em meio àquela estranha névoa, tinha visto as mãos de Damron colocar o
broche em seu suéter. A voz dele, carregada pela tensão, dissera: "Prometa que
jamais irá me abandonar", minutos antes de sua alma ser tragada para o século XI.
Aquelas palavras martelavam em sua mente, e seu coração deu um salto quando
ela percebeu que, mesmo séculos depois, havia respondido àquele apelo.
O tempo estava fresco, então, após o almoço, puderam passear ao ar livre.
Em determinado momento, Brianna se deparou com Asceline acompanhada
daquele sujeito asqueroso que vira antes. A francesa a fulminou com o olhar,
pegou o homem pela mão e desapareceu na multidão.
A noite foi chegando. Era a hora de reunirem as cruzes de madeira que
seriam jogadas na fogueira da cerimônia escocesa de casamento. Lorde Douglas
pediu silêncio às pessoas ali presentes.
— Chegou o momento da minha vida no qual eu não posso mais ficar
correndo por aí para manter a ordem ou para organizar batalhas — disse ele. —
Durante muitos anos, tenho treinado meu neto, Damron, pois vocês o elegeram
como o herdeiro do clã quando eu morrer. Porém eu não pretendo assistir a essa
passagem de poder quando já estiver no céu. Quero vê-la hoje e homenagear o
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 121
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
Brianna ainda estava em pé, irrequieta, olhando pura todos os lados, exceto
para ele.
— Meu rosto ficou tão feio assim de repente, milady, que não consegue
olhá-lo? — ele perguntou, tentando não sorrir.
Ela não respondeu.
Damron serviu a bebida feita para a noite de núpcias na taça que deveriam
partilhar como parte do ritual e pousou-a sobre a mesa ao lado da cadeira. Brianna
estava tão insegura, tão vulnerável que nem parecia ser a mesma pessoa. Sentiu-
se encher de ternura quando a tomou nos braços e se sentou, acomodando-a
confortavelmente sobre o colo. Levou a taça até seus lábios antes de ele mesmo
sorver um gole.
— Acho que cumpri todos os seus pedidos para o nosso casamento, não,
minha esposa? — perguntou.
— Alana se encontra aqui conosco, assim como o seu Nathaniel, minha mãe
e toda a minha família. Estamos unidos pelos laços de três cerimônias. Será que
agora deixará de lutar contra mim e será uma esposa obediente e adequada? —
Teve vontade de se esmurrar ao perceber como suas palavras tinham soado
ridículas.
— Damron, você sabe que jamais serei a esposa omissa que espera que eu
seja — disse ela com calma. — Não é da minha natureza ficar sentada bordando e
conversando sobre amenidades com outras mulheres. E quanto a lhe obedecer
cegamente, conhece muito bem a minha opinião a respeito.
— Brianna, não espero que se curve a tudo o que eu digo. A única coisa que
exijo é a sua lealdade, e jamais permitirei que tenha um amante, como acontece na
corte real. E nisso terá de me obedecer.
— Eu não quero nenhum amante — ela assegurou. — No entanto, você me
insulta quando me faz parecer, diante de todos, inadequada para um homem
primitivo.
— Primitivo, eu?! — Damron parecia ofendido. — Pois saiba que sou um dos
homens mais bem instruídos de toda a Escócia! Sei ler e escrever, falo seis
línguas, já recebi mais títulos de cavaleiro do que muitos nobres, já ajudei a
planejar batalhas vitoriosas, já lutei e venci muitas outras, conquistei castelos e
tenho em minhas mãos o poder de decidir a vida ou a morte de centenas de
pessoas. — Ele ergueu o queixo ao dizer isso tudo. — Duvido que encontre qual-
quer outro homem como eu. Nenhum outro guerreiro é páreo para mim.
— Bleddyn é — sussurrou ela com simplicidade. Damron sentiu sua ereção
se desvanecer como por encanto. Suspirou, desolado. Era inútil. Sua esposa
jamais aprenderia a manter a boca fechada. Franziu o cenho enquanto
considerava o que ela dissera.
— Bleddyn não conta — respondeu. — Ele é galês, não escocês. — Pousou
o queixo sobre a cabeça dela antes de continuar: — Eu disse que lhe seria fiel
depois que se tornasse minha esposa de verdade. Já estivemos diante de um
padre e fizemos os nossos votos, mas em respeito a você, farei este outro: jamais
irei buscar conforto na cama de outra mulher, a menos que você se negue para
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 124
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
mim.
Ele sentiu o corpo de Brianna relaxar de encontro ao seu. Segurou-lhe a
nuca, prendeu seu lábio inferior entre os dentes e o sugou. Moveu depois os lábios
pelo rosto, pousando beijos suaves sobre as pálpebras. A cada vez que Brianna
fazia menção de abrir os olhos, ele voltava a beijá-los e mantê-los fechados,
murmurando todas as coisas que queria fazer com ela.
Deliciado com o prazer que estava proporcionando à esposa, ele acariciou a
pele sedosa dos braços até os ombros. Roçou os dedos em um seio e fechou a
mão sobre ele, pressionando e circulando o mamilo com o polegar. Quando
esfregou a palma nele, Brianna estremeceu, suspirando de prazer.
Embora tivesse vontade de simplesmente rasgar aquela camisola e
mergulhar naquele corpo, Damron obrigou-se a se controlar para prosseguir com
gentileza. Se tudo corresse do jeito que esperava, Brianna jamais aventaria a idéia
de deixá-lo, pois ainda se lembraria dessa noite mesmo quando fosse idosa e já
tivesse vários netos. Pousando o rosto na curva do pescoço delicado, ele a
acomodou melhor em seu colo, de modo que ficasse mais exposta aos carinhos de
suas mãos ávidas e de seus lábios famintos.
Brianna espiou por entre as pálpebras entreabertas. O robe de Damron tinha
se aberto de modo a revelar o peito largo e musculoso, pontilhado por pelos
negros. Sentia a ereção pressionando sua perna. Sabia que se olhasse para baixo,
veria o membro rígido lutando para se libertar do tecido que o cobria. A vontade
que sentia de olhar era quase irresistível.
Ela subiu as mãos para o pescoço de Damron e pressionou o corpo de
encontro a ele. Os dedos do marido se esgueiraram para debaixo de sua camisola
e tocaram levemente a pele sensível de suas pernas. No momento em que chegou
às coxas, ela ficou tensa. Ele sorriu com malícia e retirou-lhe a camisola, deixando-
a nua.
Vendo aquele corpo maravilhoso em seu colo, enrolado em seus braços,
Damron não conseguiu evitar os suspiros de prazer que brotaram de seu peito.
Desceu a palma da mão até o monte de pelos escuros de Brianna. Quando se
levantou da cadeira, levando-a nos braços, ela se agarrou aos cabelos dele,
puxando as mechas da nuca.
A cada passo, Brianna sentia o membro rígido de Damron resvalando em
suas nádegas, excitando-a ainda mais. Sem tirar os olhos dela, ele a deitou sobre
a cama e deu um passo para trás. Soltou o robe e tirou-o lentamente. Brianna
assistia a tudo fascinada. Era uma visão hipnótica.
Damron subiu na cama, e Brianna, um pouco temerosa, agarrou os lençóis
até o instante em que ele pousou o corpo firme e quente sobre o dela. Ele reiniciou
a sedução e, dessa vez, desceu a mão para a doce feminilidade da esposa,
tocando-a por inteiro. Por instinto, ela também o tocou intimamente, fazendo-o
arfar.
Brianna sorriu e retirou a mão, parecendo satisfeita em torturá-lo. Começou
a provocar-lhe o corpo da mesma forma que ele estava provocando o seu. Subia
as mãos para o abdômen e as descia lentamente em direção ao membro. E
quando Damron achava que ela ia continuar com a carícia, afastava as mãos, dei-
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 125
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
xando-o louco de desejo e frustração. Ele afundou o rosto entre seus seios e, a
cada vez que ele lambia ou mordiscava os mamilos, ela percorria com as mãos as
costas e as nádegas firmes.
Damron colou seus lábios aos dela, mergulhando a língua naquela boca
deliciosa. Deslizou o corpo novamente, aninhando-se entre as pernas afastadas.
Beijando-lhe os seios, enroscou os dedos na penugem que encobria o sexo,
desejando levá-la à loucura. Acariciou-a até vê-la se contorcer de prazer. Ao perce-
ber que ela se retesava num indício de que atingiria o clímax a qualquer instante,
retrocedeu com a exploração, levando as mãos a outros lugares. Assim que
percebia que Brianna havia se acalmado, voltava ao ataque sensual. Até que, por
fim, ela estava arfando, implorando por ele.
— O que quer de mim, meu amor? É isso? — Mergulhou a língua em sua
boca mais uma vez. Brianna correspondeu ao beijo, gemeu e se contorceu, mas
não disse nada. — Diga, meu amor, o que quer de mim?
Prestes a perder o controle, Damron a provocava, lambendo-lhe os seios,
mordiscando um mamilo endurecido de desejo e circulando-o com a língua até vê-
la gritar de prazer, ao mesmo tempo em que segurava o outro entre os dedos e
apertava-o gentilmente. Era muita tortura para Brianna, mas ela se mantinha em
silêncio.
— O que quer de mim? Responda... — Ele afastou-lhe as pernas um pouco
mais, acariciando as pétalas rosadas que protegiam sua entrada umedecida.
Molhou os dedos com as gotas de seu próprio desejo, que lubrificavam o membro
firme e levou-os até a feminilidade quente e inexplorada de Brianna.
— Hum... É isso... É isso o que quer de mim? — perguntou, esfregando o
polegar de encontro ao botão que proporcionava extremo prazer ao corpo
feminino, até que ela não agüentasse mais a pressão.
— Você, Damron... Eu quero você... — disse Brianna, finalmente se
rendendo.
— Abra os olhos, meu amor — ele pediu com voz rouca. — Quero que me
olhe e saiba a quem pertence deste momento em diante. — Segurou-lhe o queixo
para que o fitasse nos olhos.
Damron começou a penetrá-la devagar. Ela gemeu e segurou-o pelos
ombros, e ele recuou um pouco. Mantendo os olhos fixos nos dela, Damron
investiu mais uma vez. Ela fez uma careta de dor e se afastou. Ele seria grande
demais para ela? Quando se unira a Gordon, ainda virgem, não tinha tido
problemas para se adaptar.
— Calma, Brianna, olhe para mim — murmurou Damron. Ele investiu mais
uma vez, mas a barreira se recusava a ceder. Parou por alguns instantes e
esperou. — Entregue-se a mim, meu bem — pediu, suspirando.
Brianna notou a indecisão nos olhos dele, e tentou relaxar, esperando que
seu corpo se ajustasse. Quando ele ficou imóvel, parecendo que iria recuar, sua
tensão se aliviou. De repente, num único e vigoroso movimento, Damron a
penetrou de uma só vez.
Ela sentiu uma dor lancinante, gritou e cravou as unhas nos ombros dele.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 126
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
CAPÍTULO IV
as refeições.
Seguindo as ordens do dia anterior, os criados haviam limpado o chão de
toda a bebida derramada e afastado as mesas para que se criasse um espaço
onde os homens prestariam seus juramentos de fidelidade.
Damron já se encontrava ali, com o avô a seu lado. Mereck, conforme
prometera, era o primeiro da fila, ajoelhado, com as mãos entrelaçadas à do irmão
e o olhava intensamente.
— Juro por minha honra ser leal a você como meu lorde e senhor de
Blackthorn — disse ele em voz alta e solene. — Todos os meus atos e obras serão
em obrigação a você, e juro jamais feri-lo.
Depois que Damron ordenou ao meio-irmão que se erguesse, segurou-o
pelos ombros, e os dois se abraçaram, emocionados. Connor veio logo em
seguida, e depois lorde Douglas foi chamando os restantes, um por um. Cada um
deles se ajoelhava diante do novo senhor e jurava lealdade.
Ao final, foi a vez de Damron jurar proteger a eles e às terras com seus
soldados, sempre que necessário. A cerimônia foi encerrada, e todos se dirigiram
ao salão principal, onde comeram e beberam até cair.
Nos dias que se seguiram, Damron e Brianna atendiam aos visitantes
durante o dia e faziam amor à noite. Os convidados, relutantes em deixar a hos-
pitalidade do Castelo Blackthorn, foram aos poucos voltando para suas aldeias e
feudos.
Alana e os Ridley ficaram um pouco mais, pois a jornada até a Escócia tinha
sido muito longa, exatamente como seria o caminho de volta. Brianna adorava
estar com a irmã e a tia. Ela havia florescido em sua feminilidade, porém, conforme
as semanas transcorriam, passou a se cansar com mais facilidade.
O marido a amava com gentileza e sensualidade todas as noites, e insistia
para que ela repousasse após o almoço. Brianna às vezes notava um sorriso
naqueles lábios severos. Procurava proteger o coração e a alma ao máximo, pois
temia ser tragada de volta ao futuro tão inesperadamente como fora trazida dele.
Damron queria desfrutar de cada noite, mesmo sabendo que tinham uma
vida inteira pela frente.
Sabia que Brianna não estava se entregando totalmente, mas era orgulhoso
demais para perguntar o motivo. Achava razoável desejar que a alma dela
pertencesse somente a ele, mas não acreditava que deveria dar-se tão
completamente a ela. Era o dever de uma esposa amar seu marido e senhor, dar-
lhe herdeiros e se deitar apenas com ele.
Brianna finalmente aceitara seu papel de esposa, e Damron não queria que
nada a aborrecesse.
Numa manhã, já perto da hora do almoço, procurou por ela com uma idéia.
— Simon disse que meu falcão está entediado e precisa sair para se
exercitar — disse ele.
— Que tal reunirmos a sua família para uma caçada em conjunto antes do
jantar?
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 128
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
de ajudá-la a se sentar, deu-lhe uma fatia de pão quentinho. — Seu estômago logo
vai se acalmar.
Brianna deu uma mordida no pão. Olhou para as mãos e começou a fazer
contas nos dedos. Mari suprimiu um sorriso.
— Meu Deus, não... Deus do céu, não... — sussurrou Brianna. Respirou
fundo de novo e gritou:
— Nathaniel!
Ele entrou no quarto pouco depois.
— Muito bem, vocês dois — disse ela com raiva. — Desde quando sabem
que estou grávida? E por isso que me tratam como se eu fosse feita de vidro,
forçando-me a comer pão antes de sair da cama, tomar mais leite do que agüento
e a dormir de tarde?
— Grávida?! — Mari perguntou alarmada. — Que doença é essa, Sr.
Bleddyn? Eu achava que milady estava prenhe!
— É a mesma coisa, Mari — explicou Brianna. Pousou a cabeça sobre as
mãos e gemeu de tristeza. — Nathaniel, o que eu vou fazer? — Seus olhos se
encheram de lágrimas.
Bleddyn a enrolou numa manta, tomou-a nos braços e sentou-se na beirada
da cama. Ninou-a como a uma criança e afagou-lhe os cabelos, tentando acalmá-
la.
— Mari, vá buscar lorde Damron — pediu ele. Quando a criada saiu, voltou-
se para Brianna. — Não suspeitou de nada quando a sua lua não se completou
desde a noite em que perdeu a sua inocência?
— Não. — Ela meneou a cabeça. — Tenho estado tão ocupada e
aconteceram tantas coisas nestes últimos dois meses que acabei perdendo a
conta. E deve saber que não existe nenhum calendário por aqui, onde eu possa
marcar os dias do meu ciclo. Nathaniel, o que vou fazer? Na minha época como
Lydia, perdi dois bebês, ambos antes de eu entrar no terceiro mês. Santo Deus,
tenho tentado manter a minha alma intacta; caso contrário, não sobreviverei se
tiver de deixar Damron. E se eu voltar para o meu tempo durante a gravidez ou
depois que a criança nascer? Não vou conseguir suportar... — Começou a chorar e
passou os braços pelo pescoço de Bleddyn. Não tinha mais como fugir: estava
desesperadamente apaixonada por Damron.
— Deixar-me, Brianna?! — perguntou Damron, entrando impetuosamente no
quarto. — Está pensando em me abandonar?! Será que odeia tanto assim a idéia
de ter um filho meu crescendo em seu ventre? Tenho esperado com paciência que
se decida a me contar que espera o meu filho. Achei que ficaria feliz!
O corpo de Damron estava tenso, e o seu tom foi duro. Brianna soluçou
ainda mais alto. Ele a tirou dos braços de Bleddyn, e o galês deixou o quarto.
As lágrimas de Brianna o desarmaram. Mesmo após todos os momentos
difíceis que lhe impusera, era por carregar o seu filho no ventre que ela chorava
daquela maneira. O medo apertou as mãos geladas em torno de seu coração.
— Você não me contou porque planejava me abandonar, carregando meu
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 130
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
da gestação. — Damron teve que se esforçar para não rir quando Brianna o
encarou.
— Será que todo mundo neste maldito país sabia da minha gravidez antes
de mim?
Ele meneou a cabeça,
— Claro que não — disse solenemente. — Pelo menos não todos...
Vejamos... Parte das mulheres, os casais que têm filhos, e talvez os pajens mais
velhos e as crianças adotadas do castelo — ele provocou. Riu ao ver a expressão
horrorizada da esposa.
Brianna lutou para encarar seu maior medo: ser arrancada dos braços de
Damron e transportada de volta ao futuro.
Passou a cuidar melhor de sua alimentação e, todo o dia, para se exercitar,
subia as escadas do térreo até o andar mais alto do castelo. Seus músculos
estavam firmes e alongados, como se estivesse indo à academia todos os dias.
Seus seios e ventre estavam ficando arredondados de forma proporcional, sem
exageros.
As novas funções de Damron o mantinham ocupado durante o dia inteiro, e
algumas vezes ele não comparecia às refeições. Mas à noite, quando estavam
deitados, fazia questão de compensar sua ausência, e era especialmente
carinhoso. A cada vez que notava alguma mudança no corpo de Brianna,
chamava-lhe atenção.
Numa dessas ocasiões, ele tinha o rosto pousado obre a barriga levemente
arredondada da esposa, e o bebê resolveu dar seu primeiro chute. Damron quase
gritou de pura satisfação, segurando-lhe os quadris.
— Sentiu isso? É meu filho! Ele me reconheceu e me cumprimentou!
No dia seguinte, antes de o sol atingir seu ponto mais alto, Damron e Mereck
vinham do depósito de armas e pararam ao ouvir uma discussão acalorada. O
olhar de Damron se dirigiu à entrada principal, onde Spencer tentava impedir a
entrada de uma mulher.
— Mas que diabos está acontecendo aqui? — Damron gritou.
— Parece que a sua amante rejeitada está disposta a arrumar confusão —
disse Mereck.
— Seria bom se resolvesse esse problema o mais rápido possível. Vou
afastar Brianna daqui para que não fique perturbada. — Continuou caminhando.
Damron cobriu a distância até a francesa com passadas largas. Puxou-a
pelo braço com força, fazendo com que se soltasse da luta que tentava travar com
Spencer.
— Fale baixo, senão eu mesmo vou calar a sua boca! — disse ele num tom
ameaçador. Praticamente a arrastou pelo pátio e só parou em frente à oficina do
carpinteiro.
Ao ver uma sombra na entrada, o carpinteiro e seu aprendiz suspenderam
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 132
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
seu trabalho. Damron pediu-lhes que saíssem e, em seguida, levou sua ex-amante
para dentro. Asceline ergueu o queixo, empinou os seios para a frente e abriu o
manto que vestia.
— Estou grávida, Damron. — Ela sorriu, triunfante. — Usei a precaução que
ordenou, mas mesmo assim, você, meu garanhão, plantou um bastardo no meu
ventre. E não irá rejeitá-lo.
— Realmente espera que eu seja tolo em acreditar que esse filho é meu? —
perguntou ele, olhando para a barriga avantajada. — Por que não veio até mim
quando percebeu que o seu ciclo não tinha se completado? Tem estado ausente
da minha cama por meses, e eu sei que tem um amante aqui em Blackthorn. Como
tem a audácia de dizer que o bebê é meu?
— Minha lua já estava atrasada quando você chegou aqui com a sua
noivinha saxã! — Asceline gritou. — E eu soube esconder. Não iria tolerar tomar
uma dessas poções bárbaras para livrá-lo da sua obrigação. Além do mais, se a
sua mulherzinha morrer no parto, este será o único herdeiro que terá — ela con-
cluiu com um sorriso de escárnio.
— Não se atreva a mencionar o nome de Brianna! — vociferou Damron. —
Volte para a vila. Vou preparar a sua partida imediatamente.
Asceline se dirigiu lentamente à porta com um sorriso vitorioso nos lábios.
Ele a puxou de volta para as sombras, chamou Spencer e ordenou que a levasse
pessoalmente de volta à aldeia.
Mereck já relatara ter visto Asceline se esgueirando mais de uma vez para
dentro da floresta com um homem de cabelos loiros, mas estivera longe demais
para reconhecer quem era. Damron chegara a se perguntar se não era Eric quem
usufruía os favores sexuais da francesa. Porém, não mais se importava com quem
ela se deitava.
Depois de Spencer ter levado Asceline, Damron foi até o poço, puxou um
balde de água fria, respirou fundo e mergulhou a cabeça nele. Esse bebê poderia
ser seu? Pelo tamanho da barriga, era bem possível que ele tivesse plantado sua
semente naquela noite na Normandia. Ou seria o fruto do caso de Asceline com
aquele homem loiro?
Como poderia saber antes de o bebê nascer? Era uma pena que seus
planos de enviar Asceline de volta à Normandia tivessem que esperar, pois o
tempo úmido e sujeito a tempestades o impediam de mandar uma mulher em
estado adiantado de gravidez numa viagem tão longa e cansativa por terreno mon-
tanhoso. Embora achasse que ela estava mentindo, a culpa o consumia. Sempre
fora cuidadoso, para não gerar uma criança que não tivesse certeza que fosse sua.
Mas, e se esse bebê fosse de fato seu? Não podia abandoná-lo.
Brianna pressentiu sua inquietude, pois despertou sobressaltada, buscando
por ele. Assim que o sentiu a seu lado, suspirou e voltou a relaxar até adormecer
novamente.
Uma noite, após os servos terem limpado as mesas, Bleddyn levou para o
salão seu bodhran, e Malcolm uniu-se a ele com um saltério, uma espécie de
citara. Os dois tocaram belas melodias. Logo depois Meghan foi acompanhá-los
amado por sua esposa. Ao vê-lo retornar, ela lamentou ter mantido esse amor em
segredo, e jurou corresponder ao sentimento dele pelo restante de seus dias.
Ao final da música, Mereck sorriu e se levantou, unindo-se a eles. Quando
começou a entoar a canção que Galan compusera, Brianna fez menção de
protestar, mas ao ver que Damron os acompanhava, ela relaxou. Suas palavras
flutuavam para se fundir com as deles.
Com esses atos, Damron se esforçava para se redimir das atitudes
ciumentas que tivera em Ridley. Esta noite, eles se presentearam com algo
precioso: a união de suas vozes.
Damron pediu a Angus que tocasse na gaita de fole algo que pudessem
dançar. Mereck fez um aceno de cabeça para Meghan, que não gostou de ser
tirada do instrumento. Ele ignorou seus protestos e a puxou para o centro do salão.
Começaram a dançar, para que Brianna pudesse ver e aprender. Ela os observou
por alguns minutos antes que Damron a guiasse para ensinar-lhe os passos.
A maciez e o perfume inebriante da esposa faziam o corpo de Damron doer
de tanto amor. Quando ela finalmente afirmou estar exausta, ele se preocupou ao
notar as sombras escuras sob seus olhos. Aproximou-se dela e beijou-a na testa.
Para sua surpresa, ela ficou na ponta dos pés e beijou-o no queixo.
Seu coração se acelerou com aquele inesperado beijo em público. Ele a
tomou nos braços e carregou-a para o quarto.
lado dele e fez o mesmo exame. Virou-o de lado e encontrou um enorme he-
matoma em sua nuca.
— Damron, você ou Mereck fizeram isto? Conhece algum homem capaz de
fazer sexo após ter levado uma pancada forte o suficiente para matá-lo?
Damron segurou o lençol com tanta força que os nós de seus dedos ficaram
brancos. Queria desesperadamente acreditar nele. Lembrou-se de que Brianna
dissera que, ao quase ser raptada na cachoeira, vira o cabelo loiro de seu agressor
dentro da água. Olhou para os cabelos claros de Eric e para os vestígios de
sêmen.
— Explique-me como ele se satisfez, e como o seu jorro veio parar nas
coxas de minha esposa.
Bleddyn se curvou e pegou a xícara caída no chão. Cheirou o conteúdo e
testou o gosto das últimas gotas de leite com a ponta da língua.
— Alguém a drogou, e não vejo nenhuma marca de arranhão no corpo de
Eric. Aliás, nada que se assemelhe às marcas deixadas pelas unhas de Brianna.
Damron, tenso e imóvel, revelava o grande conflito que se desenrolava
dentro de si.
— Examine sua esposa. Verá que não há nenhum indício de que foi
possuída. — Bleddyn virou as costas quando Damron se inclinou sobre o corpo de
Brianna para examinar-lhe as partes íntimas.
Damron encontrou arranhões e pequeninos cortes, mas nada que indicasse
penetração ou vestígios de sêmen em sua entrada delicada. Sentiu-se aliviado,
mas logo depois, seu corpo ficou novamente rígido de ira. Correu para a porta e a
abriu.
— Mari, prepare um banho quente para a sua senhora — ordenou. Tinha o
rosto tenso, numa máscara de ódio.
Mari, pálida e trêmula, quase morreu de susto. Lady Phillipa fez menção de
entrar no quarto, mas o filho a impediu e fechou a porta. Quando a criada chegou
com a água, Damron bloqueou a porta com o corpo e passou os baldes de água
quente para Bleddyn.
Levou Brianna ainda desacordada para a tina. Banhou-a com todo o
cuidado, e suas mãos foram delicadas ao lavar a pele da esposa do toque nojento
do homem que tentara violentá-la. Sentiu um aperto no coração ao ver que não
conseguiria fazer desaparecer os ferimentos.
Depois de enfaixar a cabeça de Eric, Bleddyn virou-se para Damron e
balançou a cabeça, desolado pela cena que via diante de si.
— Pare amigo — pediu. — Se continuar esfregando a pele dela, irá
machucá-la.
Damron interrompeu-se e a embrulhou numa toalha aquecida. Sentou-se ao
lado da lareira com a esposa no colo. Bleddyn ajoelhou-se e encostou um pequeno
tubo no peito de Brianna para ouvir o lento batimento de seu coração. Por fim,
voltou a atenção para o ventre dilatado e, quando espalmou as mãos sobre a
barriga para sentir os movimentos do bebê, empalideceu.
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 138
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
De olhos fechados, Bleddyn agarrou seu talismã com a outra mão. Por
vários momentos, um fluxo de energia pareceu fluir de suas mãos para o corpo
dela. Cada vez que Damron começava a falar, Bleddyn balançava a cabeça,
impedindo-o. Depois de algum tempo, ele ergueu os olhos.
— Sinto movimentos leves — disse. — Como se o bebê tivesse acordado e
estivesse se espreguiçando. Senti um pequeno chute. — Ambos riram, mas
Bleddyn voltou a ficar muito sério. — Damron, os que drogaram a nossa Brianna e
o bebê drogaram também os guardas e o lobo, e bateram muito seriamente em
Eric. Mas a sua volta estragou os planos deles. Planejaram arruinar as vidas de
Brianna e de Eric diante dos seus olhos. — Ele suspirou e acrescentou:
— Alguém queria que você matasse Brianna, ou que pelo menos a
rechaçasse.
— Não tenho dúvida de que sou odiado por um bom número de pessoas —
disse Damron com amargura.
— Santo Deus, se Mereck e eu não tivéssemos desconfiado, o maldito a
teria estuprado! Certamente é o mesmo homem que tentou raptá-la durante a
nossa viagem de Ridley a Blackthorn.
Bleddyn preparou uma poção que não prejudicasse o bebê para anular o
efeito do sonífero com o qual Brianna fora drogada. Enquanto o galês e uma das
sentinelas levavam Eric para uma cama improvisada no quarto de Connor, Damron
dava a poção a Brianna em pequenas colheradas.
Mantinha-a aninhada nos braços, com a cabeça encaixada sob seu queixo.
Quando a poção começou a surtir o efeito desejado, ela foi ficando inquieta.
Relutante em tirá-la de seu colo, Damron a pôs na cama e cobriu-a com as
mantas. Sentou-se ao lado dela, enquanto esperava que acordasse e contasse
quem a havia atacado.
Mereck voltou trazendo Guardião nos braços e deitou-o no tapete ao lado da
cama.
— Este aqui estará muito aborrecido quando acordar — disse. — É melhor
que esteja ao lado dela, assim ficará mais calmo. Aqui dentro dos domínios do
castelo, somente os guardas mais próximos do quarto foram drogados. Connor
ainda tenta lutar contra os efeitos da poção, mas tanto Meghan quanto David estão
dormindo como crianças.
Bleddyn foi cuidar dos outros que ainda estavam drogados. Mereck serviu
dois canecos com vinho e deu um para Damron, convidando-o a sentar-se com ele
à mesa. Observou-o tomar o vinho e, ao mesmo tempo, olhar com o cenho
franzido para a cama.
— Irmão, não pode desconfiar de Brianna! Não acredito que seja capaz de
pensar que ela o tenha traído.
Damron não respondeu. Apenas estreitou os olhos e o encarou.
— O que aconteceu com Genevieve? — insistiu Mereck. — Sei que Connor
conhece a história, mas eu nunca lhe perguntei nada. Pressenti seus pensamentos
sobre isso, porém eu não iria bisbilhotar em sua mente e descobrir o que você não
quer que eu saiba. — Vendo que Damron tinha esvaziado o caneco, serviu-o de
novo e prosseguiu:
— Talvez se sinta melhor se desabafar.
Damron se inclinou para trás na cadeira, e uma careta distorceu-lhe o rosto.
— Sim, talvez ajude. — Ele esfregou as têmporas, como se quisesse apagar
os pensamentos perturbadores de sua mente. Suspirou e, em seguida, inclinou-se
para a frente, com os braços apoiados nos joelhos.
— Genevieve e eu estávamos casados havia quase um ano. O rei William
tinha me enviado para Rouen numa missão e, na volta, parei para visitar a família
de minha mãe. Voltei da corte uma semana antes do esperado... Cavalguei
rapidamente para surpreender Genevieve. Queria presenteá-la com um medalhão
cravejado de pedras azuis, suas favoritas, pois era o dia de Santa Genevieve, sua
santa protetora. — Respirou fundo antes de continuar: — Tomei cuidado para não
assustá-la ao abrir a porta do quarto. Quando a vi, os primeiros raios da aurora
entravam pela janela e faziam com que seus cabelos claros ficassem de um
dourado pálido... Estava de costas para mim e nua. Sua pele brilhava com o suor...
— A voz de Damron falhou, e ele respirou fundo outra vez.
— Ela estava sentada sobre o amante, e o beijava sensualmente; ele estava
com as mãos em suas nádegas. Até hoje não sei em que momento puxei a
espada, mas só percebi quando a ponta da lâmina resvalou na bainha. Genevieve
virou-se e ficou me olhando. Gritei para que saísse dali. Ela gritou que era eu quem
deveria sair dali. Xingou-me de "escocês filho de uma vadia" e perguntou por que
eu não estava em Rouen com a família da minha mãe. Incrível como a sua voz
estava carregada de ódio... e Genevieve usava o próprio corpo para proteger o
amante. — Ele fechou os olhos por um instante. — Eu a empurrei para o lado e
ergui a espada, mas quando vi quem era o amante, gelei. Naquele mesmo
instante, outra pessoa surgiu debaixo das cobertas ao lado deles. Fiquei tão
chocado que a minha espada caiu no chão.
— Está me dizendo, Damron, que ela estava com dois homens?! Quem
eram eles? — indagou Mereck.
— Não! Era apenas um homem. Genevieve estava sentada sobre Danielle, a
mulher mais bonita e libertina da corte do rei William. E ao lado dela, com os olhos
arregalados de medo, estava Robert. — Vendo o olhar estupefato de Mereck,
Damron confirmou a desconfiança do irmão. — Sim, ele mesmo, o filho mais velho
do rei William. Nenhum dos dois seria um oponente digno para mim... uma mulher
e um fraco...
— Esvaziou o caneco mais uma vez e o estendeu ao irmão, pedindo mais
uma dose. — Fiquei completamente atordoado. Danielle se levantou da cama,
enrolou-se num lençol e passou por mim com a serenidade de quem acaba de
acordar depois de uma noite bem-dormida. Ainda teve o desplante de me jogar um
beijo quando saiu pela porta. Uma pequena multidão tinha chegado até ali, atraída
pelos gritos de Genevieve, mas ela passou também por aquelas pessoas, rindo.
— Pelo amor de Deus, irmão! Você não a matou?! — Mereck perguntou sem
conseguir acreditar.
— Eu poderia ter matado para defender minha honra, e tinha todo o direito
de fazê-lo — respondeu Damron. — Mas a minha humilhação não terminou aí.
Nem mesmo com a vergonha de ver metade da corte no meu quarto e rindo à
minha custa. O pior golpe veio da própria Genevieve, quando despejou seu ódio
sobre mim, dizendo que eu não era homem o suficiente para satisfazê-la, que eu
lhe causava repulsa com os meus toques suaves e abraços carinhosos. Antes que
eu percebesse o que ela estava fazendo, Genevieve pegou a espada do chão e
investiu contra mim, provocando o corte que tenho, que vai desde a virilha até o
joelho. Fiquei sabendo mais tarde que ela queria me castrar. Só não o fez porque
Robert conseguiu desarmá-la.
— Se não estivesse ouvindo dos seus lábios, irmão, eu jamais suspeitaria
que foi uma mulher quem lhe fez esse ferimento. Como conseguiu escapar de mor-
rer? — O rosto de Mereck estava pálido.
— Foi Robert, mesmo naquela situação absurda, quem me ajudou.
Pressionou a mão sobre o ferimento e gritou por ajuda. O rei já estava a caminho e
chamou seu médico particular, que me salvou. Graças à influência do rei, a
anulação do casamento foi feita rapidamente e sem maiores escândalos.
Mereck ainda estava atordoado com aquelas informações.
— Damron, é realmente uma bênção que eu, e não você, seja conhecido
como impulsivo — comentou ele. — Se isso tivesse acontecido comigo, teria
matado a adúltera, a prostituta e provavelmente teria sido morto por haver
esquartejado o filho do rei. — Mereck meneou a cabeça. — E, baseando-me no
que acabei de ouvir, posso dizer com toda a certeza que Brianna é o extremo
oposto de Genevieve. É amável, gentil e muito, muito apaixonada por você para
nem sequer pensar em traí-lo. — Dito isso, ele se levantou. — Descanse agora,
irmão. Vou reunir os homens e inspecionar cada um deles, para verificar se alguém
tem algum tipo de arranhão que possa ter sido causado por unhas femininas.
Porém, como todos são leais a você, tenho certeza de que não encontrarei nada
além dos ferimentos provocados pelos exercícios. Fique tranqüilo, vamos descobrir
quem tramou isso tudo. — Deu um tapinha camarada no ombro de Damron e
deixou o quarto.
Damron se inclinou mais sobre Brianna para cobrir seus ombros nus. Ao
sentir-lhe o toque, ela gritou e tentou se arrastar para fora da cama.
— Acalme-se, sou eu — ele a tranqüilizou. Brianna tinha os olhos
arregalados e o agarrou pela túnica num gesto de pavor. Lançou os braços em
volta de seu pescoço, ofegando e tremendo.
— Conte-me o que aconteceu — pediu Damron.
— Alguém entrou no quarto, me segurou à força e me obrigou a tomar leite.
Quando tentei gritar, ele tapou minha boca com a mão.
— O sujeito disse alguma coisa? Você conseguiu ver o rosto dele? —
Damron a olhava intensamente, esperando que ela dissesse que conhecia quem
viera para a sua cama.
— Eu estava dormindo e ouvi alguém me chamando pelo nome. Quando
acordei, vi um homem com roupas escuras ao lado da cama.
volta em segurança.
Bleddyn e Damron correram pela porta de acesso, a mesma porta pela qual
Guardião agora passava para descer. Em menos de um minuto, o lobo já estava
no pátio, rosnando ferozmente.
Logo atrás dele, Mereck vinha a cavalo e, com um rápido movimento,
enlaçou Asceline e a trouxe para junto dele.
Mas não era só Asceline a quem Guardião buscava. O vento trouxera o
cheiro familiar do homem que atacara Brianna no quarto, semanas antes. O culpa-
do, vendo o animal correr em sua direção, montou o cavalo e tentou fugir, mas
havia uma carroça carregada de feno bem à sua frente. O cavalo empinou e jogou
o homem ao chão. No instante seguinte, Guardião já estava sobre ele, com a
perigosa mandíbula escancarada, pronta para o ataque. Ao mesmo tempo em que
as presas afiadas de Guardião se fechavam no pescoço do agressor, Cloud
Dancer jogava o falcão, morto, ao lado deles.
Damron correu para o quarto carregando Brianna nos braços. Deitou-a,
desmaiada, na cama. Meghan, que nunca demonstrara medo antes, estava pálida
e trêmula.
— David, vá buscar minha bolsa preta na cabana dos medicamentos —
ordenou Bleddyn. — Está sobre a mesa no fundo da cabana. Rápido!
David saiu correndo. Lady Phillipa tocou Meghan do ombro e levou-a para
outro quarto.
— Venha, meu bem, e diga a todos que esperem nos aposentos do seu avô
— disse a mãe de Damron. — Irei ter com você quando souber mais de Bleddyn.
Após todos terem saído, lady Phillipa se apressou em ajudar Damron. Ele
alisou os cabelos de Brianna, e os músculos em seu maxilar saltavam como se
estivesse fazendo um grande esforço para não chorar.
— O coração está batendo muito fraco — disse Bleddyn.
O rosto dele não mudou de expressão em momento algum enquanto
examinava Brianna e a tocava em locais específicos, buscando reações muscula-
res. Passou a mão por debaixo dos quadris dela, e, ao ver que não havia manchas
de sangue, indicando a possibilidade de um parto prematuro, suspirou aliviado.
David, arfando e quase sem fôlego, entrou correndo e entregou a bolsa para
o galês.
— David, vou lhe pedir mais um favor — disse Bleddyn ao rapaz. — Traga-
me duas pequenas toras de madeira resistente, pois precisamos calçar os pés da
cama. É importante mantermos a parte de baixo do corpo de Brianna num nível
acima da cabeça.
Bleddyn cuidou dos cortes e arranhões no braço e no rosto e, em seguida,
procurou por outros ferimentos. Não tendo encontrado nenhum, misturou algumas
ervas com água quente e verteu pequenas quantidades nos lábios dela.
— Devemos esperar até que acorde. — Ele se afastou da cama para que
lady Phillipa cobrisse Brianna com um cobertor grosso.
Damron assistia a tudo calado. Esse terrível atentado acontecera por sua
culpa. Teria sido melhor ter jogado Asceline de cima de um precipício a ter-lhe
dado a chance de ferir Brianna. Ergueu os olhos, ansioso, quando Mereck entrou.
— Coloquei Asceline sob forte guarda armada — disse ele. — Estão em
todas as entradas e janelas. Ela não tem por onde escapar, e nunca mais colocará
os pés em Blackthorn.
— E o homem que Guardião matou? Quem é ele? — indagou Damron.
— Nem eu nem Connor pudemos identificá-lo — respondeu Mereck. — O
lobo dilacerou o rosto dele de tal forma que não tínhamos certeza de quem era.
Mas quando vimos seus cabelos longos e loiros, perguntamos a Eric se o
conhecia.
— E? — Damron esperou pela resposta com a respiração em suspenso.
— Eric também teve dificuldade em reconhecê-lo. Os cabelos e o formato da
testa pareciam ser de Rollo, primo dele, porém não tinha certeza. Mas depois de
ver a fivela do cinto que o sujeito usava, Eric confirmou que de fato era seu primo
Rollo.
— Havia algo mais que pudesse identificá-lo?
— Hum... sim — respondeu o amigo. — Pequenas cicatrizes no alto de uma
das coxas. Marcas em forma de meia-lua. Encontramos o homem que tentou
raptar Brianna a caminho daqui.
Pouco antes de os primeiros raios de sol começarem a brilhar no horizonte
anunciando a chegada de mais uma manhã, as pálpebras de Brianna se agitaram.
Porém, ela se refugiou na escuridão de sua mente e resistiu às vozes que a
chamavam, especialmente a de Damron, que dizia seu nome enquanto lhe aca-
riciava o cabelo.
— Eu sinto muito, Brianna, não é o que está pensando — murmurou.
Ela afastou a cabeça e abriu os olhos.
— Não? O que exatamente não é o que estou pensando, Damron? — Sua
voz estava fraca.
— Eu vi a mulher que, teoricamente, você deveria ter mandado embora. Ou
será que não vi? Não é ela que está grávida e de mais tempo do que eu? —
Brianna meneou a cabeça. — O que Asceline fez só foi surpresa para você. Sua
crueldade vai além da dela. Você fez um juramento de me honrar e de me
proteger, e mesmo assim, a manteve aqui. — Fitou-o nos olhos. Uma enorme
tristeza se apossou de Damron, pois só agora percebia o tormento que enchia a
alma de Brianna.
— Beba isto, meu bem — Bleddyn falou suavemente ao lado de Damron. —
Vai fortalecer o sangue que sai de você e corre para o bebê. — Ele ergueu-lhe a
cabeça, e ela sorveu a bebida amarga.
Brianna estava muito cansada. Seus olhos se fecharam, e ela adormeceu.
— Vou cuidar para que Brianna durma bastante até que recupere todas as
suas forças. — A voz de Bleddyn era deliberadamente calma.
Brianna percebeu que Damron estava tenso atrás de si. Não importava onde
ele se encontrasse, sentia como se um fio invisível estivesse amarrado entre
ambos, e ondas fortíssimas de tensão fluíam de seu marido. Confusa sobre o que
poderia ter causado essa tensão, ela olhou por cima do ombro de Alana. Seu tio
Simon e tia Maud estavam à frente do grupo, mas havia alguém mais atrás deles.
Nesse instante, seus olhos encontraram os olhos azuis de Galan.
— Chega, Alana, já abraçou a minha Brianna por tempo demais — disse
Galan, estendendo os braços enquanto se aproximava.
Damron sibilou por entre os dentes, mas Galan não lhe deu atenção. Com os
braços fechados ao redor de Brianna, ele pousou o rosto sobre a cabeça de sua
amada de infância e fechou os olhos, trancando a dor dentro deles. Antes de se
afastar para falar com ela, colocou uma expressão cômica no rosto.
— Nunca imaginei que veria a minha Brianna tão gorda. Acho que não
consigo mais erguê-la nos braços sem destruir as minhas costas — ele falou, com
um riso igualmente ensaiado.
— Deve ter sido uma maçã o tanto que você comeu para ficar assim.
Brianna riu e, por alguns segundos, seus olhos se iluminaram.
— Que vergonha, Galan. E pensar que Elise e eu éramos duas tolas para
acreditar em você! — ela brincou. — Você e seus amigos devem ter rido muito a
cada vez que nos recusávamos a comer uma maçã!
— Venha cumprimentar seus tios, Brianna, e depois iremos para o salão —
Damron sugeriu a seu lado. — Está ficando cansada.
Após seus tios a cumprimentarem, emocionados, Damron tomou Brianna
nos braços e só a pôs no chão novamente quando chegaram perto da lareira
maior, no salão.
O tempo estava límpido, porém muito frio, e Damron colocou uma manta
grossa sobre as pernas de Brianna. Ela suspirou com prazer, sentindo o calor.
Galan sentou-se aos seus pés com os joelhos dobrados e os braços cruzados
sobre eles.
Damron notou então que a esposa estava usando o presente de despedida
que Galan tinha lhe dado antes de deixarem Ridley, a corrente de ouro com o
pingente dos dois pequenos cavalos, que repousavam entre seus seios. Sentiu os
músculos do maxilar saltando, mas decidiu engolir o ciúme. Não queria fazer nada
que pudesse tirar aquele sorriso do rosto da esposa.
— E como estão todos? — perguntou Brianna. — Eu sabia que Alana havia
planejado vir, mas esperava que Elise também viesse.
— Creio que Elise não agüentaria o ritmo da viagem. Você sabe que ela mal
consegue montar Buttercup — tia Maud respondeu com um sorriso. — Lynette de
Wycliffe foi a Ridley para uma visita. Cecilia estava muito feliz em ter as duas ali
para cuidar.
A noite prosseguiu agradavelmente, mas Damron não conseguia deixar de
perceber as expressões nos olhos de Bleddyn e Alana. O rosto doce da abadessa
tornou-se impassível quando ela o encarou. Ele ficou tão desconcertado que se
sentiu corar, algo que nunca acontecia. Não sabia como, mas sua cunhada de
certa forma parecia sentir tudo o que havia ocorrido desde a última visita.
Depois de algum tempo, o ambiente no salão começou a ficar tenso e
silencioso. Meghan se levantou e sugeriu que precisavam alegrar o ambiente com
música. Pegou sua gaita de fole ao lado da lareira, e Bleddyn sorriu ao pegar seu
bodhran.
— Venha, Brianna, cante comigo e me dê as boas-vindas à sua casa —
murmurou Galan. — Escolheremos apenas canções alegres e as músicas galesas
de que você tanto gosta.
Damron não podia acreditar que, com apenas algumas palavras gentis,
Galan conseguiu que Brianna se unisse a eles para cantar. Cerrou os punhos até
que os nós de seus dedos ficassem brancos. Forçou um sorriso agradável,
determinado a não deixar que seu ciúme arruinasse o momento. Levantou-se e
colocou um banquinho entre os músicos para a esposa.
Galan começou com uma canção alegre, que o obrigava a cantar
desafinado, fazendo Brianna rir bastante. Depois, ela cantou sozinha sua melodia
favorita. Mereck se uniu a Galan e colocou o braço sobre os ombros do rapaz.
— Galan, vamos cantar aquela balada que se tornou famosa até mesmo
aqui nas montanhas — ele pediu.
Bleddyn começou as primeiras batidas rítmicas, e todos reconheceram a
canção que Mereck apresentara quando viera pela primeira vez de Stonecrest. Era
a canção composta por Galan. Suas vozes se fundiram enquanto cantavam diante
de Brianna, prestando-lhe uma sincera homenagem.
Ela se juntou a eles no último verso. Tristeza e dor transpareceram em sua
voz. Damron percebeu a solidão e o medo que Brianna mantivera escondidos por
tanto tempo. Quando suas vozes se calaram, ele a tomou nos braços e a manteve
aninhada ao peito enquanto cantava a canção de amor alemã de que ela gostava
tanto.
Pouco mais tarde, Brianna se despediu da família ao seu redor.
— Estou com tanto sono que tenho receio de adormecer e começar a roncar
como Damron... — Ela riu. — Vou me retirar. Até amanhã.
— Roncar, Brianna?! Eu não ronco. É imaginação sua. — Damron sorriu
para ela e se virou para acompanhá-la.
Quando Bleddyn chegou ao quarto de Brianna com a poção que devia lhe
ministrar antes de dormir, Damron e Mari já a tinham acomodado sobre os
travesseiros macios, e ela só estava aguardando sua chegada. Conversaram sobre
a noite agradável que haviam tido, enquanto Brianna bebia a poção. Ao terminar,
Bleddyn beijou-a na testa.
— Nathaniel — ela sussurrou —, peça a Alana para nos encontrar na sua
cabana de ervas depois do desjejum. Eu tenho muito a dizer, e vou precisar de
vocês dois ao meu lado quando o fizer.
— Fique tranqüila, meu amor, estaremos lá com você. Agora precisa
descansar. — Ele a tocou na face e deixou o quarto.
mãos.
— Chegou a hora de ouvir você, minha irmã — disse Alana com sua habitual
voz serena.
— Conte-nos tudo, pois eu suspeito que haja muita coisa se passando com
você sobre as quais não sabemos.
Brianna estendeu a mão e segurou a de Alana. Respirou fundo e começou.
Seu olhar permanecia desfocado enquanto falava sobre a viagem de sua alma do
século XXI.
— Tudo começou no dia em que fugi de Saint Anne e caí, batendo minha
cabeça numa rocha. O dia em que Damron me trouxe a Ridley... — Ela contou o
que havia acontecido nos últimos meses. A voz tremia e seus olhos estavam turvos
enquanto fitava a irmã e seu protetor. — Algo aconteceu com o bebê naquela noite
em que alguém tentou desonrar a mim e a Eric. Percebi isso quando recobrei a
consciência. O bebê estava quieto e seus movimentos ficavam mais fracos a cada
dia. Eu abraçava a barriga e cantava para a minha filha, dizia o quanto a amava.
Tentei lhe dar meu apoio em todos os sentidos. — Seu rosto espelhava a agonia
da mente quando descreveu o dia em que Asceline enviara o falcão para cima
dela. — Naquela ocasião, eu senti o exato instante em que minha filha perdeu as
forças para continuar. E ela não se moveu novamente. — Ela respirou fundo e
alisou a barriga com carinho. — Eu sei que vão dizer que não tenho como saber o
que acontece dentro do meu corpo, mas o fato é que eu sei. Na minha vida como
Lydia, sofri exatamente a mesma terrível experiência. Esperei, rezando para que
estivesse errada, porém não estou. Minha barriga continua aumentando porque o
ninho do bebê se descolou do meu ventre. — Ao ver o olhar chocado dos dois,
ergueu a mão, pedindo que a esperassem terminar. — A barriga está aumentando
porque estou sangrando por dentro. O bebê, ou o ninho, bloqueou a saída do meu
ventre e impede que todo o sangue se derrame. — Apertou os olhos para segurar
as lágrimas. — Meu organismo está sendo envenenado aos poucos. Em breve,
minha barriga vai inchar de tal forma que parecerá que é o bebê querendo nascer.
Eu terei uma reação de brotoejas e pruridos pelo corpo, que vai parecer com
alguma doença contagiosa. Por fim, meu organismo vai querer expelir o conteúdo
do meu ventre para tentar me salvar. — Ela se acomodou melhor na cama. — Vou
dizer tudo o que precisam saber para que possam me ajudar quando chegar a
hora.
Alana e Bleddyn continuavam calados, pela primeira vez sem saber o que
dizer.
— Eu agradeço a Galan de todo o coração pelas laranjas — Brianna
continuou. — A parte interior da casca dessa fruta possui um remédio natural que
fortalece os vasos sangüíneos. Vai me ajudar muito para tentar sobreviver. —
Inspirou profundamente e estremeceu. — Na minha vida no futuro, eu estudei a
história de Blackthorn e descobri que darei dois filhos a Damron, e assim será. —
Cerrou os dentes para sufocar a vontade de chorar com o pavor de passar pela
angústia de perder outro filho.
Pela primeira vez desde que Brianna começara a falar, Bleddyn fez um
aceno de cabeça, compreendendo o que ela dissera.
— O que Brianna falou é verdade — declarou ele, com os belos olhos cheios
de sofrimento.
— Vi em sua mente tudo o que dizia, assim como o que devemos fazer
quando chegar a hora. Devo acrescentar, porém, que vamos fazer mais por ela do
que o médico que quase a matou como Lydia.
A porta se abriu com um estrondo, soprando uma corrente de ar frio pela
cabana. A silhueta de Damron surgiu na soleira, delineada contra a luz vinda de
fora. Ele entrou rapidamente e fechou a porta.
— Vim me certificar que minha esposa não está se cansando demais —
disse. Seu olhar tenso varreu o cômodo, mas relaxou ao constatar que Brianna es-
tava bem acomodada e seu rosto era banhado pela luz do sol. Seus lábios se
curvaram num leve sorriso quando a viu morder a parte branca da casca da la-
ranja. — Que desejo estranho você tem, Brianna.
— Para mim, é a melhor parte da laranja, Damron. — Ela sorriu.
Damron se sentou no chão e puxou-a para o colo. Tirou a laranja de suas
mãos e terminou de descascá-la com grande destreza. Ao limpar a casca com os
dentes, Brianna fez uma careta, e ele riu. Enlaçou-a com um braço, enquanto a
outra mão percorria-lhe a barriga dilatada, disfarçadamente apalpando para
perceber os movimentos do bebê.
O coração de Damron disparou. Quase em pânico de tanta preocupação,
fitou Bleddyn nos olhos.
— Bem, minha querida — disse Damron —, acho que Alana concorda
comigo que está na hora de regressarmos e de você descansar. Está aqui por
tempo demais, e eu preciso voltar para as minhas obrigações.
Brianna se perguntou por que a voz dele subitamente revelava tensão. Será
que suspeitava de que o bebê já estava morto? Iria culpá-la por isso? Seus
pensamentos correram soltos enquanto ela se levantava, e Damron a tomava nos
braços.
— O quê? Não vai reclamar do meu peso? — perguntou ela, brincando. —
Quero ver quando estiver em idade mais avançada, se não irá reclamar. —
Cutucou-o no peito e sorriu para ele.
— Você realmente acredita que eu não ouvi quando resmungou uma vez
que "o maldito homem tem uma queda por carregar mulheres"? — Damron riu
baixinho. — Eu gosto de ter minha mulher perto de mim, não notou? — Antes que
ela pudesse responder, baixou a cabeça e beijou-a. — Hum... o sabor dessas
laranjas nos seus lábios os torna ainda mais doces.
Damron saiu para o pátio principal e virou-se para Alana.
— Vamos levar Brianna para visitar seus lugares favoritos. — Ao chegarem
ao topo da escadaria que conduzia às muralhas externas, ele a colocou no chão.
— Que vista linda, não acha? — Damron esperou que admirassem o pequeno lago
onde Brianna ia todos os dias.
Percebendo que ela já tinha visto o suficiente, colocou o braço em torno de
sua cintura e seguiu para o local seguinte, de onde se tinha uma visão ampla do
campo aberto e dos caminhos que levavam à Inglaterra. A cada parada, Damron a
surpreendia por saber a localização de seus lugares favoritos.
Quando estavam no meio do caminho sobre as muralhas, ele insistiu que
Brianna voltasse para o quarto e descansasse um pouco antes que o restante de
sua família voltasse da caçada. Carregou-a para descer as escadas de madeira, e
pediu que Alana trouxesse o próprio almoço para o quarto de Brianna e lhe fizesse
companhia. Com os braços em volta do pescoço de Damron, Brianna beijou-lhe o
ponto sensível abaixo do maxilar.
— Se não lhe der muito trabalho, milorde, poderia levar a mim e a esta
barriga enorme para o nosso quarto? — ela pediu com um sorriso.
— Acho então que Bleddyn terá que me preparar um tônico, milady —
respondeu ele. — Meus pobres músculos mal conseguem agüentar o esforço.
— Pobres músculos? Nem no inferno, meu senhor — falou Alana, rindo. —
Você a carrega como se ela fosse uma pluma!
Damron parou por um instante e voltou-se para encará-la, incrédulo.
— "Nem no inferno"?! — ele repetiu. — Que linguagem é essa, irmã?
— Acho que assustei meu cunhado — disse Alana com um suspiro
exagerado.
Brianna aninhou o rosto no tórax de Damron para desfrutar do som da
risada. Ele tinha uma voz bonita de barítono e uma risada que ela ouvia muito
raramente. Quando chegaram ao quarto, Damron a acomodou confortavelmente
na cama, e as duas irmãs começaram uma discussão bem-humorada sobre o que
seria melhor comer num dia frio como aquele: mingau quente com creme ou uma
tigela fumegante de sopa de carne com legumes.
Damron fechou a porta e voltou imediatamente para a cabana de Bleddyn.
Damron e o galês adentraram a floresta e só pararam onde Damron achou
seguro. Desceu do cavalo e, ainda sem dizer nada, amarrou o animal numa árvore.
Só então se voltou para Bleddyn. Estava cansado das meias-verdades do protetor
de Brianna. O que mais ele sabia sobre ela e ainda estava escondendo? Seus
alertas de que Brianna não era como as outras mulheres, que ela poderia deixá-lo,
mas, mesmo assim, ainda estaria ao lado dele não faziam o menor sentido. Como
ela poderia se tornar uma esposa mansa e dócil e, apesar disso, continuar sendo
Brianna? Damron queria respostas. E as queria agora.
— Vamos. Quero que me conte tudo. — Damron andava ao redor de
Bleddyn como se fosse um lobo à espreita de uma presa. Cada músculo em seu
corpo estava tenso. — Você disse que Brianna não é como as outras mulheres e,
contudo, tanto você quanto ela têm escondido a verdade. Eu ainda não terminei. —
Ele o interrompeu quando Bleddyn fez menção de falar.
— Esta manhã, quando a tive no meu colo, toquei sua barriga e senti que há
algo terrivelmente errado. Como posso ajudá-la se não sei contra o que estou
lutando?
— Brianna tem medo de lhe contar tudo — Bleddyn disse.
— Medo? Não... Brianna não tem medo de homem nenhum — respondeu
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 155
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
incansavelmente.
Toda essa atenção especial do marido às vezes a embaraçava, pois ele
insistia em dar-lhe pessoalmente o banho antes de dormir. Não confiava em mais
ninguém para ajudá-la com a tarefa e tinha até dispensado Mari disso. Damron a
banhava, observando silenciosamente as mudanças em seu corpo. O rosto de
Brianna estava mais pálido, suas veias eram visíveis. Embora o ventre e os seios
estivessem maiores, o restante de seu corpo estava mais magro e enfraquecido.
Uma noite, enquanto a enxugava, Damron viu uma pequena erupção nas
costas dela, e sua mão praticamente congelou com o susto. Ele engoliu o medo
que ameaçava travar-lhe a garganta e continuou a secá-la com a toalha macia.
Vestiu-a com uma camisola leve e a deitou na cama, pedindo ainda que não se
mexesse. Saiu do quarto em passadas largas para ir chamar o galês, mas quase
colidiu com ele do lado de fora. Os dois se comunicaram com apenas um olhar, e
Damron sentiu o sangue gelar nas veias. Deixou que o místico entrasse primeiro e
depois ficou ao lado de Brianna, na cama. Ela mostrou um braço, e eles viram que
as erupções já tinham se espalhado até ali. Alana chegou segundos depois.
Damron se ajoelhou ao lado da cama, segurando a mão da esposa contra o peito e
fitando-a nos olhos.
— Não tenha medo de mim, meu amor — pediu ele. — Bleddyn me contou o
seu segredo, mas eu sabia que você não queria falar sobre isso. Sei há vários dias
que algo terrível está acontecendo com o seu corpo, e quero ajudá-la a enfrentar
isso. Por favor, não me exclua.
— Meu querido — disse Brianna, engolindo o nó na garganta —, eu sei que
já percebeu que o nosso bebê não se mexe mais há mais de quinze dias. A culpa é
toda minha, e o meu corpo não quer se render. Eu queria tanto a nossa filha que o
meu organismo se recusou a deixá-la partir. Mas não posso lutar contra isso por
mais tempo. Estará tudo acabado pela manhã.
— Há quanto tempo sabe disso, meu amor? — Damron perguntou.
— Desde o dia em que fui atacada pelo falcão. — A voz baixa de Brianna
estava cheia de tristeza, e lágrimas grossas rolaram por sua face quando ergueu o
rosto para ele.
— Eu peço perdão por isso, meu amor, mas naquele dia o nosso bebê nos
deixou, e foi minha culpa! Prometa-me que irá enterrá-la em solo sagrado. Peça ao
padre Matthew que reze pela sua alma, e que Nathaniel faça a cerimônia antiga
para que ela encontre o seu lugar no céu... Nossa filha, Faith, precisa ter o registro
que cada geração manterá vivo. Quando cada um de vocês se for, terão ensinado
suas famílias a manter intactos os nomes, datas de nascimento e morte para que
todos possam saber, mesmo séculos depois. Ninguém será esquecido.
Brianna gemeu quando seu ventre sofreu uma grande contração. Vinha
sentindo espasmos menores nos últimos dias, e sabia que o momento estava
chegando. Bleddyn foi até a porta, onde Connor e Malcolm estavam de guarda.
David já o esperava com uma mesa coberta com um pequeno colchão feito de
ervas. Bleddyn trouxe a peça para o centro do quarto, e lady Phillipa cobriu o
colchão com um tecido macio. Alana trouxe uma mesa menor, com pilhas de
panos limpos que já tinham sido preparados para esse dia.
— Obrigada por me amar como se eu fosse sua filha, lady Phillipa — disse
Brianna. — Nathaniel e Alana irão lhe explicar tudo depois, mas seria melhor que
ninguém mais entrasse no quarto. — Ela gemeu com outro espasmo. — Diga a
todos que eu os amo muito. Por favor, chame Mereck; preciso falar com ele. —
Beijou a face da sogra e sentiu o gosto salgado de lágrimas.
Logo depois, Mereck entrou e foi direto até ela.
— Minha irmãzinha, como posso ajudá-la? — perguntou ele.
— Damron precisará da sua força — disse Brianna. — Saiba que o amo
como a um irmão, quando peço que fique aqui conosco. É contra os costumes dos
homens assistirem às mulheres no parto, mas eu não sou como as outras
mulheres.
— Farei o que puder para ajudá-los — Mereck prometeu.
Brianna tentou sorrir em meio a uma nova onda de dor. Cerrando os dentes,
segurou a mão de Damron com força.
— Precisamos mover você, minha pequena — disse Bleddyn.
Damron ergueu Brianna nos braços, sem saber ao certo como colocá-la
sobre a mesa, de forma que nem a cabeça nem as pernas ficassem penduradas,
pois a superfície era curta demais.
Bleddyn indicou como queria que a deitasse, com apenas a cabeça e o
tronco sobre o colchão. Ele colocou um travesseiro macio embaixo do pescoço de
Brianna e acomodou as pernas em estranhas extensões encaixadas no final da
mesa, cobrindo-a depois com um dos lençóis já previamente esterilizados.
Damron começou a protestar, mas Brianna o impediu.
— Nathaniel fez esta mesa seguindo minhas instruções e meus desenhos,
meu amor — disse ela. — Acredite, isso vai me ajudar.
Bleddyn trabalhava rapidamente e organizava tudo no quarto. Embora
soubesse que Brianna iria recusar, havia preparado um forte chá de papoula para
quando a pior parte do parto chegasse, e ela precisasse lutar contra a dor. Tanto
ele quanto Alana tinham tudo pronto. Damron ficou horrorizado quando viu o
equipamento que o galês mantinha protegido sob os panos esterilizados. Ele os
olhou como se fossem instrumentos de tortura.
— Alana — Brianna sussurrou, e a irmã imediatamente se aproximou. —
Quer saber de uma coisa maravilhosa?
— O que, meu amor? — Alana perguntou, tirando os cabelos grudados da
testa da irmã.
— Você será minha mãe no futuro. Eu a reconheci da primeira vez em que a
vi, e eu te amei no mesmo instante — disse ela com lágrimas nos olhos. — Pro-
meta que, se qualquer coisa ameaçar a sua abadia, você vai desistir dessa vida
que teve de abraçar por minha causa. Papai não tinha o direito de enclausurá-la
naquele lugar, e eu tenho certeza de que ele iria querer que você e Nathaniel
fossem felizes juntos.
— Eu prometo, meu bem. :— Alana se virou para Bleddyn com uma
expressão preocupada.
— Ela está queimando de febre.
— Mereck, por favor, fique atrás de mim e não se preocupe com os meus
gritos — Brianna pediu. — Alana e Damron, fiquem um de cada lado, e façam o
que eu disser, sem questionar.
Os três mal tinham se colocado em posição quando Brianna foi acometida
de mais um espasmo. O lado direito de seu ventre inchou e ficou duro como pedra,
enquanto o esquerdo estava flácido e murcho.
— Damron, massageie o lado esquerdo da minha barriga. Alana, pressione o
direito. — Quando eles obedeceram, Brianna ofegou até o espasmo diminuir e a
barriga voltar à forma arredondada.
Damron sentiu uma enorme ânsia de vômito, mas respirou fundo até se
sentir melhor e perceber que Mereck tinha o braço em volta de seu ombro para
confortá-lo. Damron o olhou sem dizer nada e, antes que alguém soubesse o que
ele pretendia fazer, retirou os travesseiros das costas de Brianna e jogou-os no
chão. Sentou-se atrás dela, com as pernas pendentes para os lados e aconchegou
o corpo da esposa junto ao seu. Segurou as mãos dela nas suas e pediu a Mereck
que ocupasse seu lugar ao lado de Brianna. Damron sentia cada dolorosa
contração que a assolava em seu próprio corpo, e tentava transmitir-lhe suas
forças.
Um grito de agonia surgiu de seu corpo, de sua alma. Um grito que Lydia
nunca se permitira dar, mas que Brianna liberou. O clamor reverberou por todo o
quarto e pelas profundezas da floresta. Era um som tão primitivo que Guardião e
os cães do castelo começaram a uivar. Os lobos e outros animais da floresta
silenciaram e depois ecoaram com suas vozes primitivas a dor que a alma de
Brianna sentia.
Os gritos não diminuíram até o momento em que ela percebeu que seu
corpo não tinha nada mais a fazer. Abriu os olhos e fitou Bleddyn. Estava ofegante,
mas precisava falar.
— Por favor, Nathaniel, deixe que Alana limpe o bebê, pois quero segurá-lo
nos meus braços essa única vez — ela pediu com voz entrecortada.
Bleddyn concordou e entregou carinhosamente o pequenino corpo para
Alana, que mordeu o lábio, mas fez como Brianna pedira. Quando terminou de
limpá-lo, enrolou-o num pano.
Lutando contra os soluços que a sacudiam, Brianna piscou ao ver o pequeno
embrulho em seus braços. Era uma menina, perfeitamente formada, de cabelos
negros como os do pai. Encostou seu rosto no dela e a beijou, murmurando
palavras que emocionaram a todos ali presentes.
— Oh, meu amorzinho... Eu amei você desde o momento em que foi
colocada no meu corpo. Estou tão triste por não ter conseguido mantê-la segura...
Mas não se preocupe. Espere por mim, que em breve estaremos juntas
novamente. Eu prometo. — Brianna gemeu e sussurrou para Damron: — Eu sinto
muito, meu amor. Ela teria sido uma filha maravilhosa... Sua alma vai agora
encontrar outra, e eu rezo para que ela espere para ser sua filha.
Damron tocou a cabeça pequenina e o corpinho miúdo, e o beijou
ternamente, com lágrimas nos olhos antes de devolvê-lo à esposa. Alana tomou o
bebê dos braços de Brianna quando ela ficou inconsciente.
Os ombros de Damron começaram a tremer com os soluços que ele não
mais conseguia evitar. Mereck segurou Brianna para que Damron pudesse se
levantar da mesa, pois agora Bleddyn a queria completamente deitada. Damron se
pôs ao lado da esposa, tocando-a nos cabelos, enquanto Mereck mantinha um
braço em seu ombro.
Bleddyn e Alana trabalharam rapidamente. O galês costurou o corte que
havia feito no corpo dela e, quando terminou, não usou nenhum dos tratamentos
conhecidos, como lama, teias de aranha ou outras misturas estranhas de ervas.
Brianna possuía um vasto conhecimento dos medicamentos do futuro, e lhe
transmitira tudo o que sabia. Assim, Bleddyn já tinha prontas poções de arnica,
beladona, alecrim e outras ervas, que a ajudariam na recuperação. Apesar de
saber pouco ou quase nada sobre muitas delas, fez o que aprendera com Brianna.
Quando terminaram, substituíram o colchão ensangüentado por outro limpo,
e Alana a banhou da cintura para baixo, enrolando depois panos esterilizados em
seu corpo e trocando as compressas com freqüência. Manteve esse ritmo até que
o sangue de dentro de seu ventre diminuísse.
Enquanto isso, Damron e Mereck ergueram os pés da cama de Brianna mais
alto do que na primeira vez, semanas antes. Quando tudo estava pronto, eles
levaram a mesa onde ela estava deitada para o lado da cama e, com grande
cuidado, a acomodaram sobre o colchão elevado. Brianna permaneceu
inconsciente por todo o tempo.
Depois, Damron tomou o corpo de sua filha nos braços e a encarou por
longos momentos para depois erguer os olhos marejados para o céu. Ele tremia
como um homem que havia muito tempo estava nesta terra, com a dor e os
arrependimentos atormentando-lhe a alma.
Por fim, Alana o convenceu a deixá-la levar a pequenina para ser sepultada.
Ela saiu do quarto e foi se encontrar com as mulheres da família, que a esperavam
no quarto de Meghan. Elas banhariam o bebê e o vestiriam com as roupas que
Brianna fizera meses antes. Quando o sol surgisse, o levariam para descansar ao
lado do pai e dos irmãos de Damron. O padre Matthew era um homem bom e não
faria qualquer objeção, pois não acreditava que os natimortos não deveriam ser
enterrados em solo sagrado, como outras pessoas.
O primeiro vislumbre da aurora surgiu, e Mereck conseguiu persuadir
Damron a sair do lado de Brianna por algum tempo. Lady Phillipa ficou com ela. No
cemitério do clã dos Morgan, uma rocha de meio metro de altura marcaria a
presença do bebê.
As gaitas de fole de Meghan e Angus entoaram o lamento pela perda da
criança. Padre Matthew rezou uma missa em intenção de sua alma e abençoou o
pequeno pedaço de terra onde ela seria colocada. Em seguida, Bleddyn fez o ritual
galês, conforme Brianna pedira. O místico tocou seu bodhran e cantou suas
ADORO ROMANCES EM E-BOOK 160
SOPHIA JOHNSON - UM AMOR INFINITO
orações para a pequena alma a quem Brianna nomeara Faith, que significava "fé".
A cada vez que Brianna abria os olhos, Damron levava a seus lábios elixires
ou poções que Bleddyn havia preparado, de acordo com as orientações dela, para
aliviar as dores pós-parto. Na tarde do terceiro dia, Damron se permitiu dar um
suspiro de esperança, pois as erupções na pele da esposa começaram a
desaparecer.
Ele só saía de seu lado quando era estritamente necessário e a viu começar
a esboçar os primeiros sinais de melhora.
Nas longas horas dentro do quarto, Damron soube por Bleddyn dos detalhes
da vida de Brianna no futuro. Embora ela raramente abrisse os olhos, falava
durante o sono com as pessoas de sua outra vida, e ele logo começou a
reconhecer os nomes. O corpo de Brianna estava se curando, mas sua mente
parecia estar se afastando deles.
— Não nos abandone, Brianna — Bleddyn ordenou com voz firme. —
Apesar de Asceline não ser mais amante de Damron, e de você não ter morrido ao
cair do parapeito, você ainda não terminou de cumprir a tarefa que Deus lhe
designou aqui.
Brianna balançou a cabeça e agitou os braços, como se estivesse
conversando com ele em seu sono.
— Vai virar uma covarde e fugir? — Bleddyn a provocava para tentar acordá-
la. — No seu século, você leu que Brianna daria dois filhos fortes para Damron e
Blackthorn. Filhos homens. Nunca houve menção a uma filha. Embora isso quase
parta o seu coração, você sabia que esta criança não estava predestinada a
sobreviver.
— Eu sei que todos aqui me amam, mas não é suficiente — disse ela em
seu sono. — Sem um laço que prenda a minha alma, jamais serei feliz aqui. —
Brianna suspirou. — Damron, eu peço perdão por havê-lo decepcionado. Achei
que uma mulher forte poderia lhe proporcionar a felicidade de que tanto precisa.
Damron a tomou nos braços e começou a niná-la.
— Por Deus, Brianna — disse ele. — Você nunca foi uma decepção para
mim. Você é a mulher que todo homem sonha para si.
— E mesmo assim você manteve a sua amante! — Ela bufou, mais parecida
com a mulher que Damron amava. — Não. Eu desafiei os séculos e perdi. Você
sabia que eu te amei por todos estes anos? — Seu rosto mantinha uma expressão
melancólica. — Olhe o esboço que vovô fez de você, quando não sabia que estava
sendo observado, e verá a amargura em seu rosto. No meu tempo, eu vou ver
esse desenho de novo. Jamais me esquecerei de você, meu marido.
Bleddyn explicara o que deveriam fazer se ela começasse a se afastar
novamente. Deitado na cama, ele segurava a mão direita de Brianna. Damron
levou a mão esquerda dela até seu coração, enquanto os dedos de Mereck se
fecharam sobre o pulso esquerdo do irmão.
Bleddyn a levaria até seu tempo futuro, pois, se a forçasse a permanecer ali,
ela nunca seria feliz. Brianna precisaria decidir se queria ficar no futuro ou retornar
com ele. Quando ela começasse a partir, Damron deveria tentar convencê-la a
ficar. Se ele falhasse, e ela o levasse junto, Mereck não deveria romper o elo com
o irmão até que eles retornassem em segurança.
Alana e Mereck iriam vigiá-los e impedir que qualquer pessoa entrasse no
quarto.
Brianna fitou profundamente Damron, deu um suspiro profundo e fechou os
olhos mais uma vez.
— Não, Brianna, não vá! Eu não posso viver sem você! — Damron gritou. —
Prometa-me! Prometa-me que nunca irá me deixar!
— Pelo amor de Deus, Damron — Bleddyn o repreendeu. — Mantenha a
alma de Brianna dentro do alcance de sua voz! Quanto mais baixo falar, mais perto
ela terá de ficar para ouvi-lo.
O estômago de Damron se contraiu quando ele viu uma aura azul subindo
lentamente do corpo de Brianna, cercada pela aura arroxeada de Bleddyn. Sentiu
como se o seu coração estivesse sendo apunhalado. Com lágrimas nos olhos e a
voz trêmula, colocou sua alma numa canção. Pouco depois, o som da gaita de fole
de Meghan veio através da porta. A luz azul parou de subir, oscilou, e Brianna
mexeu as pálpebras.
A voz de Damron, de início rouca de dor, ficou mais forte à medida que
entoava a canção de amor favorita da esposa. Ela gemeu com a angústia de tentar
fazer sua aura azul passar pela essência de Bleddyn, mais poderosa. O corpo do
místico estava calmo e sereno ao seu lado na cama. Damron estava determinado.
Deitou-se do outro lado de Brianna e apertou-lhe a mão. Queria que sua mente
lutasse por ela da mesma forma que Bleddyn fazia.
Aonde quer que Brianna fosse, ele também iria.
Ao lado da cama, Alana rezava, e Mereck implorava para que eles ficassem.
As três auras se uniram, decididas a permanecer juntas. A aura púrpura da alma
avançada de Bleddyn e a azul-clara de Damron envolviam a aura azul-escura de
Brianna. Os três corpos ainda se encontravam na cama. A voz de Damron flutuou
pelas paredes do castelo enquanto as três lindas luzes desapareciam.
percebia-se o medo.
Mas a atenção de Damron dirigia-se a Brianna.
— Brianna, meu amor. Fique comigo! Você será sempre minha — ele
gritava, segurando-a pelos ombros.
Ela respirou profundamente e estremeceu de leve. Estava tão cansada! Sua
mente queria apenas escapar de todas aquelas memórias e sentimentos. Manteria
aquela "Brianna" trancada na parte mais obscura de sua mente, até que achasse
seguro trazê-la de volta.
— Com mil demônios, abram esta maldita porta! — uma voz bradou do lado
de fora do quarto. — Vocês não têm o direito de nos manter longe de Brianna! —
Era Meghan, que batia na porta com algum tipo de objeto pesado.
— Meghan, abaixe esse martelo antes que se machuque! — Connor
ordenou. — Não vai conseguir quebrar esta porta de carvalho!
Quando a voz de lorde Douglas surgiu, acalmando a todos e pedindo para
que abrissem a porta, Bleddyn olhou ao redor do quarto para se certificar de que
nada ali pudesse denunciar a viagem que suas almas tinham acabado de fazer.
Verificou Brianna uma vez mais e colocou a mão no ombro de Damron.
— Não aperte a mão dela com tanta força, ou irá machucá-la — disse ele, e
foi abrir a porta.
Meghan entrou correndo no quarto e foi para o lado de Damron. Tirou
mechas de cabelo da testa de Brianna e olhou para as pessoas dentro do
aposento, com os lábios apertados. Eles não a deixariam de fora do que
acontecera ali.
— Damron, você parece ter ido ao inferno e voltado — Connor disse cheio
de compreensão, ao olhar para o rosto exaurido do primo. — Se o seu grande
corpo cair em cima de sua pequena esposa, vai prejudicá-la mais do que se
descansar no meu quarto por algumas horas.
— Não vou sair daqui até que Brianna esboce algum movimento — Damron
teimou.
Porém, o esforço que fizera para encontrar a alma de Brianna e trazê-la de
volta havia sugado todas as suas energias. Mereck o pegou pelo braço e o levou
para o quarto de Connor, que ficava ao lado, evitando que desmoronasse em cima
de Brianna. Damron dormiu antes que o irmão terminasse de tirar suas botas.
Nos três dias que se seguiram, Damron dormiu pouco e não saiu do quarto.
Por várias vezes, Brianna gritava, pedindo para que alguém cuidasse de sua
filhinha. Ele acariciava-lhe os cabelos, corria os dedos por seu rosto e murmurava
palavras de carinho.
— A febre cedeu, não há motivos para ela não acordar — disse Bleddyn, alto
o suficiente para que Brianna pudesse ouvi-lo se assim o quisesse. — Acho que
ela está se escondendo da própria dor. Já lhe dei várias poções para secar seu
leite, mas nenhuma delas surtiu efeito. Estamos amarrando panos em seus seios
para conter o leite. — Fez um sinal para que Damron o seguisse a um canto do
quarto. — Se quiser trazê-la de volta mais depressa, tente acalmar sua mente