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Madeline Hunter

Por Posse

#01 – Série Medieval


Sinopse
Uma dama comum

Durante anos ela pensou que ele estava morto. Porém,


quando Addis de Valence entrou na cabana de Moira Falkner, não
havia como confundir os planos acentuados de seu rosto e a cicatriz
que ela mesma ajudara a curar. O jovem escudeiro que outrora fora
seu herói era agora seu senhor, um homem endurecido que voltou
para reclamar o filho que ela criara como seu. Mas Moira não podia
negar que Addis despertou uma paixão que ela nunca pensou em
sentir, e uma perigosa esperança para um futuro que nunca poderia
ser…

Um amor incomum

Addis retornou das Cruzadas para encontrar suas terras


usurpadas pelo seu meio-irmão e seu país à beira da rebelião.
Determinado a reivindicar o seu direito de nascença, Addis não podia
se dar ao luxo de ser distraído por uma mulher, mesmo uma tão
tentadora quanto Moira. No entanto, a única parte viva de seu
passado feliz estava em Moira, e seu desejo por ela era mais
perigoso do que suas batalhas mortais com os homens do rei. Por
lei, Moira pertencia a ele..., mas possuir seu coração poderia ser
muito mais difícil.
Uma rendição à paixão

Moira virou a cabeça para encontrar Addis olhando para ela.


Apesar do luar sombrio, ela leu, ou melhor, ela sentiu, sua
expressão e seu coração reviraram com um sobressalto alarmante.
Seus lábios tomaram os dela antes que ela pudesse organizar
qualquer resistência. Suave, mas firme, aquele primeiro beijo falava
uma determinação que dizia que nada menos que uma luta pesada
o deteria. Objeções fracas brevemente flutuaram por sua mente
antes que ela sucumbisse a doce beleza disso. Aquele manto
invisível envolveu a ambos agora, tão reconfortantes em seu calor e
proteção. A deliciosa ligação a esmagou, e as explicações cuidadosas
recém-articuladas desapareceram juntamente com todos os seus
pensamentos, carregados pela brisa da noite.
Ele terminou o beijo e acariciou seu rosto, seus dedos
passando por trás de suas orelhas até os alfinetes segurando sua
touca. Ele deslizou o pano e pressionou a boca no pescoço dela
antes de cuidadosamente ir trabalhar em seu véu.
— Você perguntou o que eu quero com você, Moira — ele disse
enquanto beijava e mordia e lambia sua orelha de um jeito que a
fazia tremer. — Eu quero tudo.
Prólogo
+1324+

Addis foi surpreendido pela convocação da mulher bruxa. Ela


normalmente só o chamava para servi-la nas noites em que a lua se
elevava. Mesmo assim, ele obedeceu e deixou o curral, onde cuidava
dos cavalos de seu pai e caminhou até a casa dela, perto da borda
da floresta. Ele seria morto se o pai dela descobrisse a união furtiva
deles entre os pinheiros enquanto o disco branco pairava no céu,
mas ainda assim ele foi embora. Ele aprendera a aproveitar as raras
oportunidades para o calor humano, não importando o quão
estranhamente viessem a ele.
Ele a encontrou do lado de fora, segurando as rédeas de um
cavalo. Isso o surpreendeu mais do que a convocação. O ritual
normal era ela dar uma desculpa para sua presença, dando-lhe
trabalho para preencher as horas da noite de luz.
Durante o primeiro ano de sua escravidão, ela o chamara com
frequência e sentava-se à porta, observando-o enquanto ele
arrumava a casa e os caminhos dela. Ela lhe ensinou sua língua e
exigiu aprender a dele até que pudessem se comunicar de um modo
áspero e direto. E daquele jeito áspero e direto ela finalmente disse
a ele que suspeitava que ele fosse um cavalheiro e não um
cavalariço, e que para cumprir seu chamado como sacerdotisa ela
tinha uma necessidade especial dele. Ele esperava ser sacrificado
em meio àquelas árvores, que era o destino ocasional de cavalheiros
cristãos capturados por esses bárbaros pagãos, não despidos e
unidos à bruxa enquanto ela cantava encantamentos para seu deus
da lua lá de cima.
Seu rosto tinha uma expressão dura que não suavizou quando
ele se aproximou. A luz do fim da tarde mostrava linhas fracas
estampando sua pele perto dos olhos e da boca. Não era uma
mulher jovem e magra de um jeito esquelético que falava do jejum e
outras abnegações que faziam parte de sua magia.
— Eu não esperava isso — disse ele na língua báltica dela. As
formalidades entre eles diminuíram um pouco ao longo dos anos. Ele
podia ser um escravo e ela a filha de um kunigas, um sacerdote,
mas duas pessoas não podem fazer amor repetidamente e
permanecerem estranhas.
— Eu preciso de algumas plantas que crescem perto do rio.
Você vai me ajudar. — Outra surpresa. Ela pegou uma cesta grande
perto da porta e entregou a ele. Um pano cobria o topo, mas não
estava vazia.
Curioso agora, ele a ergueu na sela, depois pegou as rédeas e
a conduziu para o caminho da floresta que serpenteava até o rio. Ela
não falou o caminho todo, e ele se perguntou se alguém na casa
grande ou na dispersão de cabanas os tinha visto partir e os
seguiria. Ela nunca tinha sido tão descuidada com a vida dele antes.
Eles surgiram à beira do rio, onde as árvores caíram e as
margens pantanosas atingiam alturas com juncos e crescimento. Ele
ajudou-a a descer e amarrou as rédeas em uma árvore nova
comprida.
— Nosso rei recusará o batismo — disse ela abruptamente. —
Nós ouvimos esta manhã. Ele esperará até que os representantes
papais venham no outono para dizer isso, mas ele escolheu.
Seu peito de repente pareceu oco. Ele sabia que o rei dela
estava negociando com o papa. Seria uma barganha política garantir
que o papa parasse com a cruzada báltica liderada pelos cavaleiros
teutônicos. Exigia que o rei aceitasse a fé cristã de Roma e com ele
seu povo.
Ele se recusou a ter esperança, havia enterrado as sementes
do desesperado desejo em seu coração que ansiavam por crescer
em direção à luz da liberdade, mas mesmo assim algumas tinham
florescido e propagadas, muito parecidas com as flores silvestres
que começavam a nascer através da folhagem do fim do verão em
seus pés. A conversão poderia tê-lo libertado. Dedos em sua alma
agarraram o desapontamento e o arrastaram para dentro das
sombras, onde ele aprendeu a enterrar e esconder cada emoção.
— Haverá muita luta de novo, pior do que no ano passado —
disse ela.
— Os cavaleiros virão mais uma vez em sua cruzada. E haverá
outras repercussões. Muitos estão com raiva que nosso rei
considerou tal coisa. Eles vão querer apaziguar os deuses que foram
insultados, e os bajorianos não vão impedi-lo agora.
Ele ouviu uma nota em sua voz baixa, uma advertência, um
aviso. — Seu pai sabe?
— Sobre nós, não. Sobre você… talvez. Ele tem dito coisas às
vezes. Eu zombei da sugestão, e ele não procurou por isso, e ele
admira sua habilidade com cavalos, mas a habilidade em si, quando
você monta... ele se perguntou. E você não se parece com um
cavalariço. Muito grande. Eu lembrei a ele que o seu povo é maior,
mas...
Mas seu perigo era real, mais real do que tinha sido desde o
dia em que o encontraram, seis anos antes, em meio aos mortos
naquela jornada. Ele tinha estado consciente e os viu procurando e
conseguiu tirar sua túnica heráldica e a maior parte de sua
armadura. Se eles tivessem se perguntado, teriam deixado isso de
lado porque haviam encontrado outro cavaleiro, sem marcas e sem
cicatrizes, para queimar para seus deuses naquela noite. Ao longo
dos anos, sua habilidade com os cavalos tinha lhe adquirido favor e
segurança. Essas pessoas os consideravam animais sagrados.
A mulher bruxa chamada Eufemia se afastou, seu corpo um
pouco rígido, seus braços magros pressionados para os lados. —
Espere aqui. Vou reunir as plantas e volto logo. — Sua voz soou
baixa e áspera. O crescimento das plantas altas começou a absorver
sua forma. Ele olhou para baixo e percebeu que ela não levou a
cesta. Levantando a cesta, ele chamou por ela.
Ela se virou apenas a cabeça e o seio visíveis. Atrás dela o rio
bramia, quase absorvendo a sua voz, sua força vomitando o cheiro
fresco de água e terra. Ela olhou para ele, os olhos escuros
brilhando, e seu olhar lentamente desceu pelo seu comprimento.
Ignorando a cesta com a qual ele gesticulou, ela se virou, deixando-
o ali sozinho.
Sozinho. De repente, os sons da floresta e do rio se tornaram
ensurdecedores. O cavalo deu uns passos por si mesmo,
empurrando seu ombro. A cesta pesava em suas mãos. Ela não
iria...
Sua boca secou com medo e esperança. Ele olhou para o
cavalo e depois para o caminho que serpenteava ao lado do rio e
depois para o local onde o cabelo preto desaparecera. O sangue de
excitação bateu em sua cabeça, uma sensação dolorosa que ele não
sentia há anos. Agarrando o pano, ele descobriu a cesta.
Duas adagas, um pouco de pão e um pouco de carne de porco
salgada estavam dentro. Algo brilhou abaixo da comida e ele
remexeu e puxou para fora. Dois braceletes de ouro que Eufemia
usava durante as cerimônias deslizaram por seus dedos.
Ele olhou para ela novamente. Ela pagaria por isso? Ela era
filha de um kunigas e uma sacerdotisa de ritos mais antigos que o
deus da lua e o deus do céu. Talvez não se atrevessem a
desacreditar qualquer história que ela desse.
Ele desejou que ela tivesse dito alguma coisa. Nunca se
deixara importar-se com ela nem com ninguém durante todos esses
anos, porque seria uma forma de rendição, mas ela era a coisa mais
próxima de um amigo e, nesse instante, experimentou uma dor e
gratidão nostálgicas.
Ela podia estar arriscando muito por ele. A surpresa final,
desde que ela deixou muito claro que ele não estava realmente com
ela sob aquelas luas, que ele só forneceu um corpo que o deus
Menulius usava. Bem, por qualquer motivo, ela decidira dar-lhe uma
chance de liberdade, e ele aceitaria isso.
A esperança suprimida por muito tempo foi queimada, levando-
o à ação. Ele subiu no cavalo, notando que era um dos melhores do
pai dela. Ele rapidamente amarrou a cesta na sela, notando algumas
roupas enfiadas em uma bolsa de couro do outro lado. Eufemia
havia fornecido o bastante para ele.
Ele fez uma pausa, olhando mais uma vez para o rio. De sua
altura, ele podia ver o topo de sua cabeça negra se curvando em
direção à água. Com palavras silenciosas de despedida, ele enfiou os
calcanhares nos flancos do cavalo.
Capítulo I
Wiltshire, Inglaterra +1326+

Moira sentiu o perigo antes de ouvir. Ele retumbou do chão


por suas pernas e pelas suas costas enquanto ela se debruçava
sobre o fogão, colocando um pouco de água para aquecer. Ela
congelou quando um trovão distante começou a sacudir o ar frio da
madrugada entrando pela porta aberta. Ela disparou para a soleira
quando o som ficou mais forte. Pisando do lado de fora, ela viu os
homens se aproximarem através da neblina da manhã.
Eles desceram a colina da casa senhorial de Darwendon,
mirando a aldeia, quatro formas escuras voando em corcéis velozes
com mantos curtos acenando atrás deles. Eles pareciam falcões de
pernas voando pela névoa prateada.
Correndo para um catre no canto, ela se agachou e sacudiu o
pequeno corpo ali deitado. — Brian levanta agora! Rapidamente.
Braços e pernas bronzeados pelo Sol se sacudiram e se
esticaram e ela puxou um pulso enquanto se levantava. — Agora, de
uma vez criança! E em silêncio, como eu te disse.
Olhos azuis piscaram alerta com alarme e ele correu atrás dela
para uma janela de trás. Ela podia ouvir os cavaleiros galopando em
direção às casas agora. Brian parou no parapeito, com a cabeça loira
para fora e a traseira ainda para dentro, torcendo-se com apreensão
em direção a ela.
— Onde eu te mostrei e se proteja bem. Não saia, não importa
o que você ouvir — ela ordenou, dando-lhe um empurrão firme.
Mesmo se você ouvir meus gritos.
Ela observou até que ele desapareceu atrás do barracão em
que ela guardava suas cestas, depois fechou as venezianas e sentou
na cama estreita. Com movimentos rápidos, ela amarrou o cabelo
despenteado atrás do pescoço com um lenço, alisou o vestido
caseiro manchado e se esticou para mover a cesta de cerzir perto
dos seus pés. Levantando um véu rasgado, ela fingiu costurar.
Ela tentou manter a calma enquanto os cavalos clamavam em
direção a ela com um ruído violento. Eles não estavam parando na
aldeia. Eles estavam vindo para cá, para esta casa. A bile ácida de
medo subiu para sua boca e ela sugou nas suas bochechas e forçou-
a para baixo.
Dois cavalos pararam do lado de fora em uma mistura de
cascos e pernas e voltas giratórias. Dois homens se afastaram e se
dirigiram a ela. Eles entraram e espiaram ao redor do aposento
escuro.
— Onde está o menino? — perguntou um deles.
— Que menino? Não há nenhum menino aqui.
O homem caminhou a passos largos até o grande baú defronte
a parede, abriu-o e começou a vasculhar as vestimentas internas.
Ela não protestou. As coisas de Brian não estavam lá, ou em
qualquer lugar em que poderiam encontra-las facilmente. Ela havia
se preparado para este dia, embora os anos que passaram a tenham
levado a acreditar que ele estava seguro e esquecido.
O outro homem agarrou seu braço e puxou-a da cama. —
Diga-nos onde ele está ou vai ser pior para você.
— Eu não tenho menino. Nenhum filho. Eu não sei de quem
você está falando.
— Claro que você sabe — uma nova voz disse.
Ela virou-se para a porta e o homem alto e magro estava lá.
Seus longos cabelos loiros pareciam brancos no brilho do
amanhecer.
— Raymond!
O tio de Brian, Raymond Orrick, sorriu suavemente e entrou as
esporas de cavaleiro brilhando. Ele gesticulou preguiçosamente e a
mão apertando liberou seu braço. — Perdoe-os, Moira. Não era
minha intenção assustar você. Nós nos distraímos na aldeia e eles
seguiram em frente. Eles pensaram…
— Achavam que eu era uma aldeã e indigna de qualquer
cortesia.
Ele foi até o fogão, olhando ao redor do aposento simples,
observando seus dois baús, a cama, a mesa e os bancos. Seus olhos
finalmente pousaram no catre. — Ele está seguro?
Ela se aproximou dele, disparando olhares cautelosos para os
outros dois. Mesmo que fossem os homens do soberano, ele não
deveria falar disso na frente deles. — Sim, ele está seguro.
Raymond sorriu da maneira familiar que ele costumava fazer
com frequência desde seus quinze anos. Era o sorriso que um
senhor magnânimo poderia conceder a um servo favorito. Mas ela
não o servia muito menos do jeito que ele mais gostaria.
— Você tem feito o melhor por nós, mas nós viemos por ele —
disse ele.
— Vieram por ele?
— Está na hora.
Um revoltante martelar começou em seu peito. Ela desejou de
repente que ela tivesse afirmado que Brian havia morrido na febre
deste verão. Atrás dela, ela sentiu a presença de um quarto homem
entrar.
— Ele está em segurança aqui — ela disse.
— Chegou a hora — disse Raymond com mais firmeza.
— Não. É imprudente e você sabe disso. Sua irmã, Claire, me
pediu para cuidar de seu filho antes de morrer. Você concordou
porque sabia que Brian poderia ser escondido aqui. Se você o levar
de volta para sua casa em Hawkesford agora, os homens que o
desejarem mal vão descobrir e tirar ele de você. Você não pode se
opor àqueles que invocam o nome do rei quando cometem seus
crimes.
O último homem a chegar moveu-se. Ele veio ao redor dela,
tomando um lugar na sombra de Raymond perto do fogão. — Onde
está o menino? — ele perguntou em voz de comando que esperava
uma resposta.
Ela girou e olhou para ele. Ele era mais alto que Raymond, e
mais largo também, e ela conseguia distinguir cabelos longos
semelhantes, mas escuros, não loiros. Ele usava uma roupa peculiar
nas pernas e nenhuma armadura ou espada.
Ela não conseguia ver bem o rosto dele na sombra, mas ele
não parecia amigável.
Raymond olhou para o homem e pareceu encolher um pouco,
como se em deferência natural. Isso não era como Raymond em
tudo. Ele considerava seu próprio valor muito alto.
— O menino — o homem exigiu.
Raymond chamou sua atenção significativamente. Ele deu um
passo em direção a ela, sinalizando que ele renunciava à
responsabilidade pelo que ocorreu, ou para protegê-la, ela não podia
dizer. Com seu movimento, o brilho do fogão de repente iluminou o
estranho.
Ela sobressaltou. Certamente não. Era impossível!
Um belo rosto composto de planos acentuados emergiu das
sombras em retirada. Olhos escuros profundos encontraram seu
olhar pasmado, o fogo baixo destacando faíscas douradas que
brilhavam enquanto ele a considerava. Ele se virou um pouco e ela
engasgou novamente quando viu a cicatriz pálida cortando o lado
esquerdo do rosto da testa até a mandíbula, contrastando
fortemente com a pele bronzeada pelo sol.
Impossível!
—Você sabe quem eu sou?
Ela sabia quem ele parecia ser, quem a cicatriz e os olhos e
cabelos escuros disseram que ele deveria ser. Mas isso foi tudo que
a lembrou dele. Certamente, não a suspeita e o tremor de voz
perigoso que saíam dele e davam àquela face uma expressão severa
e vigilante. Especialmente não as roupas grosseiras que o faziam
parecer um bárbaro saqueador. Na luz do fogão, ela podia ver que
eram feitos de pele de camurça, não de tecido.
A túnica sem mangas na altura dos quadris exibia a força
vigorosa de seus braços. Mais couro cobria as pernas do chão em
dois tubos estreitos. A túnica estava decorada com colares laranja
que pegavam fogo.
— Você falou corajosamente antes, mulher. Você duvida dos
seus próprios olhos?
— Eu duvido, já que o homem que você parece ser está morto
há oito anos.
— Bem, eu não estou morto nem sou um fantasma.
— Se você é quem parece ser deveria me conhecer também.
A sobrancelha cortada pela cicatriz se levantou. — Venha até
aqui.
Ela se aproximou e ele examinou seu rosto. Ela conseguiu não
vacilar quando seu olhar perfurou o dela, invadindo e sondando com
uma contemplação nua. Ainda assim, ele não parecia tão apavorante
de perto, e seu próprio exame revelou algo do belo rapaz e
abençoado que ela lembrava. Mais magro e mais duro, mas as
mesmas maçãs do rosto salientes e mandíbula forte definiam o
rosto.
— Nos últimos anos em que servi o pai de Raymond, Bernard
Orrick, como escudeiro, Bernard manteve uma mulher serva
chamada Edith como lehman1 — disse ele. — Você é filha de Edith,
mas está bem crescida há oito anos, e não a criança gorducha que
era quando parti. — O olhar intenso dele desceu e depois voltou ao
rosto dela até que os olhos deles se encontraram numa franca
conexão de familiaridade. Ela viu reconhecimento e talvez algo mais
em sua expressão. Sua nuca arrepiou-se.
Mais uma contagem contra ele e ela duvidou de novo. O
homem que ele alegou ser nunca a olhou assim, e nunca o faria.
— Raymond, sem dúvida, disse a você quem eu sou — ela
disse.
— Então você não confia em Raymond? Não admira que você
tenha mantido o garoto em segurança. Nestes momentos você é
inteligente para suspeitar de todos. Mas Raymond não saberia o
nome que eu te chamei quando você estava sob meus pés e no
caminho, ele saberia?
Não, Raymond não saberia o nome que dizia muito sobre sua
juventude, sua aparência, seu status na casa dos Orrick. Sua
insignificância.
Ele estendeu a mão e tocou a ponta do seu nariz como fazia às
vezes quando ela era criança. — Você é a pequena Moira, a sombra
de Claire.
Uma aceitação atordoada a varreu, salpicada de alívio e alegria
e desgosto. O pai de Brian, considerado morto nos últimos oito anos,
tinha vindo para o filho.
— Agora, onde está o garoto?
O desgosto submergiu as outras emoções. Ela se virou, se
castigando. Ela estava mantendo Brian seguro por um motivo, não
estava? Ele não era realmente dela e não pertencia aqui. Esse
homem, acima de todos os outros, garantiria que um dia ele
sentasse em seu devido lugar e vivesse a vida que nasceu para
viver.
Ela deveria estar feliz, não devastada, mas seu espírito
começou um gemido de lamento silencioso quando ela percebeu que
iria perder Brian para sempre. — Eu vou te mostrar. Diga aos outros
para ficarem aqui. Eles podem assustá-lo.
Raymond e seus homens permaneceram na cabana enquanto
ela liderava o caminho para o galpão atrás. Ela chamou o nome de
Brian quando eles se aproximaram das pilhas de juncos secando
para suas cestas. Os fardos se deslocaram e uma cabeça loira ficou
presa. Jovens olhos azuis examinaram o estranho com cautela.
—Está tudo certo. Venha para fora agora.
Ele saiu correndo e se aproximou dela. Moira se afastou.
Homem e menino examinaram um ao outro. Ela estava feliz por
Brian ter tido o bom senso de não comentar sobre a cicatriz ou as
roupas, embora ambas obviamente o fascinassem. Ele parecia tão
pequeno e corajoso ali, lutando para não se encolher diante do duro
semblante acima dele. Seu coração inchou com a imagem deles
tomando suas medidas mútuas.
Ela regressou ao lado dele e se ajoelhou, colocando as mãos
nos ombros dele, fechando os olhos e saboreando a sensação de
sua pequena estrutura sob as palmas das mãos. Provavelmente
nunca mais. Ela desejou que ela soubesse que seria hoje. Ela o
levaria para o riacho para brincar ontem e prepararia uma refeição
especial para ele. Lágrimas turvaram em seus olhos e ela desviou o
olhar, mordendo o lábio por compostura. Então ela apertou os
ombros dele e sorriu para o rosto questionador dele.
— Este é Addis de Valence, Brian. Este é seu pai.
— Meu pai está morto. Ele morreu na cruzada do Báltico.
— Não.
Ele franziu a testa. A constatação começou a despertar. Medo
e pânico mascararam seu rosto e ele se lançou em seus braços,
enterrando seu rosto em seu peito. Ela o abraçou e embalou e
silenciosamente implorou com os olhos para que Addis fosse
paciente.
O rosto marcado virou-se para a casa e ela girou e viu que
Raymond e os outros os tinham seguido. Talvez eles achassem que
Addis de Valence precisava de ajuda para dominar um garoto de
sete anos. Ela tentou libertar Brian, mas ele se enterrou mais fundo.
Talvez eles estivessem certos.
Addis se abaixou e forçou a soltura do garoto. Brian se
contorceu em resistência, mas Addis levantou-o e deu um olhar
penetrante que reprimiu a rebelião. Ele começou a se afastar com os
olhos perturbados do pequeno Brian presos nela. Ela estendeu a
mão reconfortante para o menino que tinha sido seu filho por quatro
anos.
Addis andou como se indiferente às lágrimas do menino.
Quando ele passou por Raymond, ele olhou para trás. — Traga a
mulher.
O solar da mansão de Addis em Darwendon erguia-se acima da
metade leste do salão. Ele parou no patamar da escada em frente à
porta, olhando para a atividade abaixo. Esta propriedade tinha sido
o dote de sua esposa quando ele e Claire se casaram. Seu valor
estava nas fazendas vizinhas, não na velha casa protegida em sua
colina apenas por dois círculos de estacas de madeira.
O menino tinha ficado perto de Moira, mas agora algumas
crianças servas que ele conhecia se aproximaram e ele fugiu com
elas. A presença de Moira deveria tranquilizar a criança por um
tempo, mas Brian não podia ficar aqui, nem naquela casa fora da
aldeia. Addis teria que providenciar sua proteção e muito em breve.
— Ele se parece com a Claire — disse ele ao seu cunhado
Raymond, que estava ao lado dele. Addis nem sequer sabia que
Brian existia até várias horas atrás. A semelhança do garoto com
Claire o perturbou.
Ver o menino evocou memórias antigas, muitas delas
dolorosas.
Raymond assentiu. — Sim ele é — ele disse baixinho.
Addis olhou para a expressão nostálgica de Raymond. Eles se
conheciam desde a infância, ambos os meninos mais velhos de dois
velhos amigos que trocavam filhos para serem amparados e
treinados. Ele servira a Bernard como escudeiro e Raymond servira
seu próprio pai, Patrick. Seu casamento com a irmã de Raymond,
Claire, foi predeterminado desde o dia em que ela nasceu. Um par
perfeito, todos disseram, e ele e Claire concordaram. Uma linda
garota e um lindo garoto predestinado a viver um poema romântico.
Ele não pensaria em Claire agora, embora ele a tivesse
contemplado com frequência durante os dois anos desde que
Eufemia o libertara. Teriam sido pensamentos de Claire que
atrasaram seu retorno e o levaram a ir até a Noruega e ficar de fora
primeiro e depois dois longos invernos? Finalmente, ele se forçou a
voltar, apenas para descobrir que o problema que o havia mandado
embora fora resolvido por Deus, e que problemas maiores se
aproximavam. Talvez não tenha sido Claire em tudo. Eufemia teria
dito que sua alma previra o que se esperava.
Addis fez um gesto para Moira. Ela sentou-se presunçosamente
na cadeira do lorde perto da lareira, mas depois não havia
banquetas nem bancos. Ainda assim... — Como Brian veio para ficar
com ela?
— Quando seu pai morreu, Claire teve o bom senso de deixar a
casa da sua família em Barrowburgh. Ela voltou para nós em
Hawkesford. Moira a atendia como nos velhos tempos, e quando
Claire adoeceu ela pediu a Moira para cuidar do seu filho. Quando
seu meio-irmão, Simon, usurpou as terras de seu pai, todos sabiam
que Brian representava uma ameaça ao domínio de Simon na
propriedade e que ele poderia estar em perigo. Moira trouxe Brian
aqui quando Claire morreu. Seu meio-irmão não teria conhecido bem
a Moira e nunca imaginaria que Brian pudesse estar com ela.
Servos correram rapidamente, ocasionalmente olhando para o
seu lorde observando. Quando ele se aproximou do portão durante a
noite anterior, quase recusaram sua entrada. Eles enviaram
secretamente um mensageiro para Raymond, e o irmão de Claire
chegou antes do amanhecer determinado a expulsar o impostor.
Ele olhou para Moira. Ela apoiou a cabeça nas costas da
cadeira e fechou os olhos. Ela mudara muito em oito anos e ele
quase não a reconhecera. Raymond não contara quem estava
cuidando do garoto, mas ela pareceu vagamente familiar assim que
ele entrou naquela cabana mal iluminada.
Seu velho vestido verde pendia frouxamente dos ombros, mas
o tecido que fluía não podia esconder o impulsionar dos seus seios.
Quando muito a roupagem os enfatizava. Não usava touca ou véu, e
os cabelos castanhos despenteados caíam sobre os ombros,
parecendo à cabeleira de uma mulher que acabara de dormir bem.
Sua pele apresentava um bronze dourado claro do sol. Enquanto ela
ficou boquiaberta com ele perto do fogão, ele notou a incrível
clareza de seus olhos azuis claros e seu radiante e inteligente brilho.
Ele imaginou que, se ele cheirasse o cabelo dela, estaria cheio de
aromas de feno e trevo. Toda a sua aparência falava de
sensualidade, calor e conforto. Ele não se espantou que Brian não
queria deixar a segurança de seu seio.
Moira Falkner. A sombra de Claire. A filha quieta de Edith,
prostituta de Bernard Orrick. O pai de Moira tinha sido um falcoeiro
irlandês que aceitara silenciosamente o acordo até o dia em que ele
se afastou da propriedade para sempre. Moira... a companheira e
confidente facilmente ignorada e esquecida da perfeita e radiante
Claire.
Addis mal conseguia se lembrar de algo específico sobre Moira.
Ele raramente falara com ela durante aqueles anos em Hawkesford
enquanto servia a Bernard como escudeiro. Mas por alguma razão,
as memórias enterradas que não tomavam forma flutuavam em seu
caminho insubstancial em uma brisa pacífica através de seu espírito.
Ela era a única pessoa além de Raymond que ele tinha visto desde
que ele retornou que pertencia ao passado contente de sua
juventude.
Sim, ela não passara de uma sombra para o brilho pálido de
Claire. Se a adorável, ágil Claire entrasse no salão agora, Moira iria
se dissolver em um borrão escuro ao lado dela. Sempre fora assim
com a sua esposa e ele fora tão suscetível quanto os outros. Mas
agora mesmo, descansando na cadeira que ele deveria chicotear ela
por tocar, Moira parecia muito feminina e nada insubstancial.
— Ela ainda é uma serva?
— Aquela casa e um campo são dela. Você se lembra, quando
meu pai deu Darwendon a você como o dote de Claire, ele notou as
fazendas possuídas pelos proprietários. Essa foi uma, dada a Edith,
sua mãe. Quando Edith morreu, passou para Moira.
— Mas a mãe era uma serva, então ela também é proprietária
ou não.
— Ela afirma que meu pai libertou Edith e seus descendentes
em seu leito de morte. Eu não estava lá e o padre se foi. — As
pálpebras de Raymond baixaram de um jeito predatório. Addis
seguiu o olhar calculado até o destino. Bem, bem. Então o filho de
Bernard procurou continuar o que seu pai começou, mas com a
filha. Ele tentou atraí-la para a cama, mas ela recusou. Isso
explicava a falta de conforto naquela cabana. Raymond havia
retirado a generosidade de Orrick até ela procurar ele.
— A menos que ela possa fornecer provas, ela ainda é uma
serva e ligada a essa mansão — disse Addis. — Com o pouco que
resta para mim, não pretendo perder mais nada.
— Ainda há Barrowburgh, mas você terá que lutar por isso.
Sim, ele teria que lutar por isso e contra os homens
favorecidos pelo rei. Uma busca desesperada e improvável de
sucesso. De acordo com Raymond, o meio irmão de Addis, Simon,
estava firmemente no campo dos Despensers, a família que
controlava o rei, e com o apoio deles conseguiu tomar Barrowburgh
e suas terras após a morte de Patrick de Valence. Ele não
abandonaria um hectare com facilidade.
Seu espírito arfava de exaustão. Ele não tinha descoberto nada
além de más notícias desde que saiu do navio em Bristol. Ele
retornou a um reino dilacerado, barão competindo contra barão, leis
ignoradas impunemente pelos poderosos, as pessoas oprimidas por
bandidos descontrolados. O rei Eduardo continuava seu reinado do
jeito que ele havia começado, ineficaz, um monarca fraco que era
argila úmida nas mãos de homens ambiciosos que o lisonjeavam e
manipulavam.
Uma verdadeira rebelião ocorrera em sua ausência, liderada
pelo amigo de seu pai, Thomas de Lancaster. Quatro anos atrás,
Thomas havia sido derrotado e executado, e a mácula da traição
tinha manchado o nome de Patrick de Valence também, tornando o
arrebatamento de Simon muito mais fácil quando Patrick morreu de
repente.
Sua mandíbula se apertou. Todos eles morreram durante a sua
ausência. O pai dele. Claire. Bernard. Edith. Até mesmo o primo
Aymer, o conde de Pembroke, havia sido assassinado há dois anos
por homens aliados à família Despenser. Apenas Raymond
permaneceu, resistindo à reivindicação de Simon sobre Darwendon
argumentando que não tinha sido a terra de Patrick, mas a de Addis,
e antes a de Bernard Orrick. Ele insistiu que, com Addis morto, ele
deveria ser mantido pelo Orricks para Brian.
Seu olhar cambaleante pousou na mulher abaixo. Não, não era
somente Raymond que sobrevivera.
— Ela canta como eu me lembro. — A imagem nublada de uma
menina gorducha enchendo um salão com uma voz doce tomou
forma em sua mente.
— Sim, mas não para mim — murmurou Raymond. Addis
levantou uma sobrancelha e quase riu. Uma sensação estranha,
querendo rir. — Ela faz cestos — continuou Raymond. — Dizem que
são excepcionais.
Ele deu de ombros para indicar que ele não conhecia. — Ela
provavelmente vai querer sair agora que você voltou e levou o
menino. Ela falou uma vez de vender a casa e a terra e usá-la para
um dote.
— Ela ainda é solteira?
— Ela foi casada duas vezes. Meu pai organizou o primeiro. Um
homem velho. Da pequena nobreza, na verdade. Ele morreu logo
após o banquete de casamento. O segundo não era tão velho e
viveu um mês. — Um olhar malicioso contorceu suas feições. — Ela
é chamada de viúva virgem. Após duas mortes dessas, ninguém
perguntou por ela que eu saiba.
— Eles acham que ela os matou?
— Não. Eles acham que a visão de seu corpo nu parou seus
corações. Ela é muito... — Ele fez um gesto curvo.
Addis olhou para os volumes sob os panos do vestido. Sim, ela
era muito... Ela estava com o que, quinze anos quando ele partiu?
Ele não conseguia se lembrar de ter notado antes.
Ela se movimentou e abriu os olhos e olhou ao redor,
obstinadamente. Levantando-se, ela andou na frente da lareira com
os braços cruzados sobre o peito. O tecido ondulante insinuava uma
cintura estreita e quadris curvos e pernas de passos largos. Ele a
manteve esperando por muito tempo enquanto falava com Raymond
e descobria o pior daquilo que ele enfrentou. Ela jogou os braços
para cima em aborrecimento e retomou a cadeira.
— Vou mandar um recado para os villeins2 e inquilinos que
realizarei um tribunal sob a velha árvore amanhã — disse ele,
voltando-se para as escadas. — Quantos homens você pode deixar
comigo por agora?
— Os seis que eu trouxe e vou mandar mais seis, mas se
Simon descobrir que você está aqui e se mover contra você, isso
não será suficiente. E enviarei algumas vestes adequadas para que
você não pareça um bárbaro quando se encontrar com seu povo.
Seu povo. As poucas centenas de pessoas que ainda o serviam
neste pedaço de terra eram tudo o que restava das grandes
propriedades que eram dele por direito de nascimento.
Ele sabia o que era esperado fazer, o que sua honra familiar
exigia, o que seu meio-irmão, Simon, anteciparia e tentaria frustrar.
Mas ele descobriu que não tinha gosto por isso. Sentia-se
incrivelmente cansado e amargo pelo fato de seu mundo antigo não
estar aguardando seu retorno. Ele esperava simplesmente
atravessar o portão do castelo de sua família em Barrowburgh e ter
aqueles anos nas terras bálticas desaparecido. Levaria toda a
vontade que ele pudesse convocar para se apegar ao que restava,
quanto mais lutar pelo que se perdera.
Ele caminhou em direção a Moira, sentindo-se azedo sobre o
curso forçado sobre ele. Ela o viu aproximar-se e não se levantou.
Talvez ela não quisesse insultar, mas o incomodava mesmo assim. O
lugar de sua mãe na casa de Bernard e seu próprio lugar atrás de
Claire podiam ter lhe dado uma maneira de mulher, mas ela era uma
serva e nunca deveria esquecer seu verdadeiro lugar, que, no
momento, certamente não era em sua cadeira.
A tentação de pegar aquelas mechas marrons e força-la a se
ajoelhar quase o subjugou. Apenas a lembrança de uma vez ser
obrigado a se ajoelhar parou sua mão. Ele forçou para baixo o
rancor e sua voz interior castigada que não tinha surgido em reação
a ela em tudo, mas por causa de todos os outros insultos e
indignidades a sua pessoa e status.
Ela encontrou os olhos dele e ele notou que ela não desviou o
olhar do rosto dele como a maioria das mulheres. Mesmo na cabana,
o sobressalto dela vinha do choque do reconhecimento e não da
repulsa. Ele havia se acostumado com os olhos educados que
olhavam acima ou abaixo de sua cabeça ou por cima do ombro,
tinha chegado a antecipar a moeda extra exigida pelas prostitutas. E
assim seu olhar decidido tinha sido um pouco inquietante na cabana,
mas agora, em seu estado de espírito atual, parecia-lhe insolente.
Ele olhou severamente para a cadeira. Ela se agitou e se
levantou. — Você me mandou esperar aqui por você quando
chegarmos — explicou ela. — Já faz algumas horas e os juncos no
chão estão imundos.
Eles estavam imundos. Os servos haviam se tornado
desmazelados, sem nenhum senhor ou senhora vigiando-os. Seu
primeiro pedido foi que toda a mansão fosse limpa e eles
apressavam-se a fazê-lo.
Ele sentou na cadeira e ela ficou na frente dele, os braços
novamente cruzados sobre o peito como se ela tentasse escondê-lo.
— Você ficará aqui alguns dias até o menino se acostumar
comigo — disse ele.
Suas bochechas ficaram ocas quando ela mordeu o seu
interior. Ela não gostara do tom dele. No momento, com os contos
de Raymond ainda pesando sobre ele, ele não dava à mínima.
— Se ajudar Brian, suponho que poderia fazer isso, mas minha
casa não está longe.
— Você vai ficar aqui.
— Eu concordarei com isso, mas apenas por alguns dias.
Raymond estava certo sobre suas alegações de liberdade. Ele
poderia estar em dívida com ela por proteger Brian, mas era melhor
tratar disso agora. — Sua concordância não é necessária. Você fará
isso porque eu ordeno, e você fará isso enquanto eu disser. Quando
não tiver mais necessidade de você aqui, você pode voltar para sua
casa.
Sua cor tornou-se rosa. — Você se foi há muitos anos e pode
ser desculpado por entender mal como são as coisas comigo agora.
Eu sou proprietária absoluta dessa casa e propriedade.
— Você pode ter essa propriedade, mas não nasceu livre. Sua
mãe era uma serva dessas terras. Quando Bernard as deu para mim,
ele também te deu.
Ela lutou visivelmente para controlar sua raiva. Não era uma
mulher bonita, mas claramente espirituosa, e seus olhos brilhantes
compensavam quaisquer deficiências em seus outros traços. Quando
jovem, ele nunca tinha notado os olhos e o espírito da Sombra, mas
então seus próprios olhos só tinham permanecido em Claire.
— Sir Bernard libertou minha mãe depois que você saiu. Eu
estava presente e ouvi suas palavras e ele me incluiu.
— Raymond me disse que você afirma isso. Existe alguma
testemunha?
— O padre. A mulher Alice que serviu Claire. Eu.
— Raymond diz que o padre se foi. Onde está Alice?
— Ela foi embora... Londres, eu acho... depois que Claire
morreu. Havia documentos. Lembro-me de Bernard os assinando.
Mas se o padre os levou, eles teriam sido perdidos quando a capela
do solar queimou há alguns anos... — Ela falou distorcidamente,
verbalizando pensamentos e memórias dispersas. — Talvez
Raymond os tenha.
— Ele não falou como se ele tivesse.
Ela ainda parecia zangada, mas também perturbada. Seria fácil
aceitar sua reivindicação. Afinal, ela o servira bem, mesmo quando
acreditava que não tinha obrigação de fazê-lo. Mas algo se rebelou
com a ideia de liberá-la, e não apenas com a determinação de
manter o pouco que ainda era dele. Raymond havia dito que ela
planejava deixar a propriedade. Ela era do seu velho mundo e ele
não permitiria que outra parte dele desaparecesse.
Seus braços se desdobraram e seus punhos cerraram em seus
lados. — Pergunte na aldeia o que eu sou e quem eu sou. Todo
mundo sabe.
— Todos sabem que sua mãe morava na fortaleza de Bernard
e dormia na cama de Bernard. Todo mundo sabe que ela vivia como
uma dama e que sua filha era tratada como de Bernard. Mas isso
não é a mesma coisa que ter os laços do nascimento de alguém
quebrado.
— Você está me chamando de mentirosa.
— Não, estou chamando você de serva. Mesmo se Bernard
falou assim enquanto ele morria, não seria legal sem testemunhas e
documentos.
Seus olhos brilharam magnificamente. — Esse é o
agradecimento que recebo?
— Você tem minha gratidão, embora não tenha dado a Brian
atenção por minha causa. Por Claire, talvez, ou talvez por você
mesma, mas não por mim. Eu estava morto. Lembra?
— Eu me vejo desejando que você tivesse permanecido assim!
— Por estranho que parece, eu também. Agora vá e encontre o
menino e diga às mulheres para prepararem uma câmara para vocês
dois. Um homem a levará de volta a cabana mais tarde, para que
você possa obter tudo o que precisa para si mesma e para ele.
Ela começou a se afastar, rígida e furiosa. Ele se lembrou do
olhar predatório de Raymond.
Raymond era um velho amigo, mas ele conhecia a maneira
como o homem lidava com as mulheres, e ele imaginou que esta
havia resistido a suas coerções por anos. Talvez tenha sido por isso
que ela tentou sair.
— Raymond vai ficar para a refeição do meio-dia — disse ele,
recuando. — Você vai cantar para ele.
Ela congelou no meio do passo, e virou a cabeça ligeiramente
para que ele pudesse ver seu perfil. — Mesmo as mulheres escravas
têm direitos — disse ela bruscamente, seu olhar visível brilhando
como a água clara refletindo a luz do sol. — Nisso eu não sou filha
de minha mãe. Não espere que eu me prostitua para seu irmão ou
qualquer outro senhor ou cavaleiro.
A mensagem era inconfundível. Não espere que eu me
prostitua por você. Sem dúvida essa atraente e voluptuosa mulher
de status incerto havia lutado contra sua parcela de homens de
todos os níveis, de modo que não era realmente uma suposição
presunçosa.
Que isso aconteceu também era correto, mas ele sabia que
não havia dado nenhuma indicação disso. Um escravo aprende a
esconder seu desejo tão certo quanto aprende a enterrar suas
esperanças. Ela não podia saber que as imagens de a ter na cama
estavam se formando desde que ele tinha entrado em sua humilde
cabana.
— As servas têm direitos, mas também têm obrigações pelas
quais são pagas com proteção. Você vai cantar para ele, mas ao
meu comando, e ele vai entender o que isso significa. Depois de
hoje ele não vai incomodá-la novamente.
Ela se virou e o encarou diretamente, como na cabana e
quando ele se aproximou dela alguns minutos atrás naquele
corredor.
Seu olhar não parecia chocado ou insolente agora, mas familiar
e conhecido, como se ela estivesse acostumada a ver o bárbaro com
cicatrizes todos os dias e o conhecia muito bem para achá-lo
extraordinário ou assustador.
E, nesse momento, enquanto seus olhos se encontravam,
Addis não se sentiu como um estranho em sua terra natal pela
primeira vez desde que pusera os pés na Inglaterra.
Capítulo II
Passos soou atrás dela no crepúsculo, enquanto os passos
longos traziam os jovens mais próximos. Ela colocou o queixo para
baixo e curvou os ombros, tentando se tornar invisível, e andou um
pouco mais rápido em direção à aldeia. Eles riram e se contorceram
do jeito que os garotos fazem, cheios de brincadeiras que
sinalizavam os escudeiros libertados por algum tempo de suas
obrigações e procurando por problemas. Ela rezou para que eles
simplesmente passassem.
Eles se fecharam atrás dela, sua presença formigando sua
espinha. O silêncio caiu, quebrado apenas por sussurros e risinhos.
Botas e longas pernas se estendiam ao lado.
— O que você tem aí, garota?
Ela se curvou mais e o ignorou, segurando a cesta que
segurava os pedaços da fita antiga que Claire a havia dado.
— Estou falando com você, garota. O que você tem aí? Algo
que você roubou?
— É a filha do falcoeiro. Você tem um presente para o marido
da prostituta de Bernard nesta cesta? Pagamento do senhor? Algum
vinho ou carne?
— Se é vinho, vamos beber. Nos poupará o custo da cerveja.
Eles a cercaram e ela foi incapaz de andar para frente. Apesar
do medo de tremer como uma corda de harpa depenada, ela cravou
os calcanhares e olhou fixamente para eles: — Minha mãe não é
uma prostituta!
— Ooo! Espírito. Demais para o seu lugar, garota. E sua mãe
não visita Bernard para ler as Horas. Talvez ele a compartilhe com
todos nós. Faça dela um presente para nós quando ganharmos
nossas esporas.
— Por que esperar a mãe quando a filha está aqui?
—Sim. Ela se parece com uma torta, mas talvez haja mais
curvas sob esse manto do que parece.
Todos eles se aproximaram dela, o suficiente para fechar o
círculo e intimidá-la com seus tamanhos e força. Uma mão se
esticou e contraiu o tecido de sua roupa com uma insinuante
provocação.
Olhos brilhantes e sorrisos retorcidos olhavam para ela, ainda
apenas provocando, mas se aproximando de uma linha perigosa. —
Me deixe em paz!
Um mais ousado do que os outros, o primeiro que falou com
ela, alegremente cruzou a linha de uma forma que mostrava em
seus olhos. — Eu não gosto do jeito que você fala com a gente,
garota. Talvez você precise de uma lição do que você é.
— Deixe-a em paz, John — disse outra voz por trás. Ela se
retorceu e o viu caminhar na direção deles, um pouco sem fôlego de
correr para alcançar os outros, alto e bonito, com cabelos negros
caindo ao redor de seu rosto. Alguns disseram que ele era a imagem
de Adônis, quem quer que fosse. Seu coração deu um pequeno
alívio e depois subiu para sua garganta.
— É só uma garota serva, Addis. Não é uma donzela em
perigo.
— Ela é uma criança. Deixe-a a em paz. O que você acha que
Bernard vai fazer se descobrir que vocês molestaram a filha de
Edith?
No aviso de desagrado do seu senhor, todos, menos John,
recuaram. Eles deram passos apenas o suficiente para abrir o
círculo, de repente parecendo entediados e impacientes para sair.
Ela enfrentou John desafiadoramente, sentindo-se muito mais
corajosa e quase indignada agora que ela o tinha cara-a-cara com
Addis de Valence para apoiá-la. — Minha mãe não é uma prostituta
—sibilou ela.
John zombou com uma risada e se virou. Os outros saíram com
ele, deixando-a encarar suas costas. Addis seguiu, depois parou e
olhou diretamente para ela. Foi à primeira vez, ela foi muito positiva,
que ele já tinha feito isso. — Vá para casa do seu pai, garota. Está
quase escuro e você não deveria estar aqui.

Ela despertou da memória sonhadora que se materializou


enquanto esperava o amanhecer, aborrecida por ter surgido para
lembrá-la daquela admiração e paixão. Outras lembranças, de
observar qualquer sinal de seu reconhecimento durante as próximas
semanas, de elaborar seu resgate em sua imaginação até que ela
fosse de fato uma bela donzela em perigo, tentaram tomar forma,
mas ela as baniu para as sombras do tempo. Ela se virou na cama,
envergonhada pelas lembranças. Bem, se uma menina de doze anos
não pode ser tola, quem pode?
Talvez o jantar de ontem tenha provocado a lembrança. Ele a
fez sentar-se na mesa alta, dois lugares abaixo com Brian entre eles,
para que ela pudesse cuidar do garoto. Raymond se sentou do outro
lado, e ela e Brian foram ignorados até a refeição terminar, quando
Addis se virou e gentilmente a convidou para cantar.
Ela havia levantado e cantado uma velha melodia religiosa e
tinha visto a atenção de Raymond quando ele se inclinou para frente
para assistir. Foi a primeira vez que ela cantou publicamente em
anos, e um silêncio total desceu no corredor enquanto ela
continuava. Com o canto do olho, ela notou que Addis dizia algumas
palavras para Raymond que provocavam uma expressão aguda e,
em seguida, uma repentina e tediosa contemplação dela.
Talvez ele tivesse dado a Raymond a mensagem que ele
pretendia. Quando Raymond saiu depois da refeição, ela foi poupada
das insinuações usuais com as quais habitualmente se despedia
dela. Na verdade, ele não se despediu dela todo esse tempo, mas
um cavaleiro não se preocupa com cortesias para com um servo.
A primeira luz escoou pela abertura da janela e ela se sentou e
alcançou sua mudança. Se Addis pensasse que seu gesto de
proteção iria deixá-la contente, estava muito enganado. Ela havia
vivido como uma serva por tempo suficiente para aprender seus
poucos direitos sob os costumes da terra. Ela não precisava da ajuda
dele com Raymond. Ela lidava com aquele homem quase desde que
Addis tinha ido embora.
Ela acordou Brian e o fez se vestir como o filho de um senhor
em túnica e calça estreita. Assim que ele se lavou e se vestiu, saiu
correndo de seus aposentos em busca de amigos.
O salão já estava zumbindo de atividade quando ela entrou.
Ela viu Leonard, o oficial de justiça, e foi até ele. Leonard tinha sido
o homem de Bernard e a única autoridade na mansão durante os
últimos anos.
Ele cobrava os aluguéis e cuidava dos serviços dos villeins, mas
estava velho, com olhos velados que não enxergavam mais bem, e
nenhum administrador ou lorde vinha visitar para sustentar sua voz
como era costumeiro.
— Por que você está usando suas melhores roupas, Leonard?
Estes veludos verdes são muito quentes para um dia de verão.
— Vai haver um hallmote3. A informação foi enviada ontem.
— Tão cedo? Addis não perde tempo.
— Tarde demais. Não realizamos uma em anos. A maioria dos
casos é tão antiga que será uma maravilha se alguém se lembrar
dos fatos. Ainda assim, tenho meus registros, todos escritos. Para
aqueles que achavam que nunca seriam chamados para um acerto
de contas foi uma surpresa. — Ele sorriu contente, orgulhoso por ter
cumprido seu dever apesar da propriedade ambígua da mansão. —
Passei várias horas com ele ontem à noite, mostrando-lhe os
registros. Em boa ordem, ele disse. As multas devem trazer uma boa
renda hoje, mas eu acho que ele precisa de mais, desde que se
espalhou a notícia de que ele está disposto a vender a liberdade a
qualquer um com a recompensa.
Isso a surpreendeu. Tornara-se comum que os senhores
vendessem a liberdade a seus villeins, mas o tratamento que lhe
dera no dia anterior sugerira que preferia os velhos hábitos. Ainda
assim, se ele precisasse de moedas, fazia sentido.
Mesmo libertados, esses camponeses ainda trabalhariam na
terra e obteria renda para ele, pagando aluguéis de arrendatários
em vez de honorários de fiadores, e assim sua alforria significava
fundos extras em curto prazo e nenhuma perda real em longo prazo.
Sua insistência na condição do seu vínculo de repente também
fazia sentido. Seria irritante para ela pagar pelo que ela já possuía,
mas se isso desse um jeito nesse mal-entendido poderia ser a
escolha mais inteligente.
Se Addis queria apenas uma taxa de lorde, ele deveria
simplesmente ter nomeado seu preço.
— Quanto você acha que será a taxa?
Leonard deu de ombros. — Depende do homem e do seu
valor. Ele não vai colocá-los muito alto. Ninguém poderia pagar
então, poderiam? Não seria um ponto para isso.
O alívio substituiu a raiva indignada que estava pesando seu
humor. A questão da sua condição era uma coisa pequena, alguns
poderiam dizer. Havia villeins na aldeia que eram mais ricos e
respeitados do que a maioria dos homens livres. Mas, apesar de
todas as mudanças, um servo ainda pertencia ao senhor, e se esse
senhor se mostrasse cruel, até os direitos acumulados pelo tempo e
pelo costume lhe valeriam pouco. A liberdade tinha sido um dos três
presentes importantes de Bernard para Edith, e o maior de longe.
O hallmote foi mantido sob o velho carvalho do lado de fora da
aldeia. O povo da casa senhorial fluiu lá ao meio-dia para se juntar
aos villeins e aos proprietários que tinham viajado das outras partes
da propriedade.
Talvez duzentos se reuniram em torno dos bancos
estabelecidos para os doze jurados. A cadeira do senhor ficou de
lado.
Addis chegou por último, impressionante e assustador com sua
altura, força e cicatriz. Ele parecia muito o senhor na longa túnica
azul que Raymond havia mandado de manhã. Moira sentou-se na
grama com algumas mulheres.
Um fluxo de pequenas ofensas encheu as próximas horas.
Villeins se esquivando do dia de trabalho e os proprietários se
recusando a contribuir para a colheita. Mulheres acusadas de
preparar cerveja fraca, garotas solteiras pegas em acoplamento e
alguns casos de pequenos furtos. Os jurados avaliaram as multas
com as quais a maioria dos senhores há muito tempo atrás tinham
substituído às punições físicas.
Leonard falou pelos direitos do senhor e Addis sentou-se em
silêncio, só fazendo perguntas de vez em quando, quando as
explicações conflitavam. O sol pairava baixo no céu quando o detrito
legal dos anos foi finalmente varrido. Então chegou a hora de
petições diretamente ao senhor. Os fazendeiros, pastores e artesãos
se aproximaram e procuraram comprar sua liberdade.
Ela se aproximou, enquanto Addis determinou o valor de cada
homem para a terra e depois fixou a taxa. A maioria caiu entre três
e dez libras, mas isso seria um ano de renda ou mais para essas
pessoas.
Todos achavam que ele foi justo o suficiente. Ela esperou até
que todo o resto terminasse e então se aproximou.
Ela ajoelhou-se como era costumeiro, uma vez que ela
dificilmente poderia pedir para comprar uma liberdade que suas
ações sugeriam que não eram dele para vender. Doeu o orgulho
dela fazer isso. Ela ouviu alguns suspiros, pois ninguém a
considerava uma serva por muito tempo. Olhando para o chão, ela
esperou por seu reconhecimento. Demorou muito tempo.
— Você quer pedir um favor ou julgamento, Moira?
Ela olhou para cima e viu que ele não estava satisfeito. Um
humor perigoso acendeu em seus olhos. — Sim, meu senhor. Eu
também peço para comprar minha liberdade.
— Então você reconhece publicamente que você é de fato uma
serva? — Ela não respondeu e os olhos dele se fixaram nos dela. —
Você acha que tem moedas suficientes?
— Eu acho que sim. A taxa de uma mulher deve ser menor que
a de um homem e meu valor para você é insignificante.
— Você está errada aí, Moira. Seu valor para mim é muito alto.
Um zumbido baixo correu pela multidão. — Denomine a taxa e
eu pagarei — ela disse com firmeza, pensando que gostaria de
estrangulá-lo por aquela insinuação injustificada. Ele a considerou
com uma intensidade calorosa que a perturbou ainda mais. Um
pouco como Raymond, mas mais protegido e perigoso. Ele queria
envergonhá-la como uma punição por ousar isso. Addis de Valence
nunca teria um interesse nela assim. Mas a menina de doze anos
dentro dela se esvaiu de sua atenção e ela amaldiçoou aquela tola
criança interior.
— A taxa para você é de duzentas libras.
Duzentas libras! Ela quase o repreendeu com palavras
contundentes que poderiam ganhar uma chicotada pública. — Então
eu pergunto a quantia da multa para uma mulher que se casa.
— Na mansão ou fora?
— Fora.
— Quem é o homem?
— Eu encontrarei um.
— Não pelo que eu ouvi.
Risadas agitaram pela multidão. Seu rosto queimava. Deus
querido, ele já tinha ouvido falar disso. Provavelmente de Raymond.
— Nem todos os homens são supersticiosos.
— Na verdade não. Eu, por exemplo, não sou supersticioso em
absoluto. —Algumas mulheres cacarejaram suas línguas com essa
sugestão mais descarada. — Se você encontrar outro, na
propriedade ou fora, espero que ele seja rico e extremamente
fascinado, Moira. A multa para você é cem libras.
A fúria quase estrangulou sua voz. — Isso não está dentro dos
costumes da mansão.
— Não pretenda me instruir, mulher. Se você se casar fora da
propriedade, é o mesmo que perder seus serviços através da
liberdade. O preço deve ser duzentos então, mas desde que você vai
pagar uma taxa anual enquanto ausente eu decidi ser generoso. Nos
velhos tempos, eu poderia ter recusado a permissão para você se
casar, mas a Igreja interferiu nisso. Ainda assim, é meu direito
definir o valor.
Mais para a multidão remoer. Os comentários estrondosos
cresceram em um rugido baixo. Ela se levantou com exasperação
humilhada e voltou-se para os jurados. — Eu peço um julgamento
então. Minha mãe e eu fomos libertadas após a morte do último
lorde. Todos vocês sabem disso.
Os doze homens se contorceram. Addis ficou de pé. — A
mulher afirma isso, mas mesmo assim, isso não se aplica. Sua mãe
estava ligada a Darwendon e, embora Edith tenha se mudado para
Hawkesford quando se casou com o falcoeiro, seu vínculo era com
essa terra. E esta terra me foi dada antes de Sir Bernard morrer.
Essa liberdade, mesmo que a mulher fale a verdade, é inválida.
Sua mandíbula se apertou e ela enfrentou Addis no chão. —
Minha mãe nasceu aqui, mas eu não. A liberdade de Bernard pode
ter sido inválida para ela, mas não para mim.
— Na melhor das hipóteses, sua situação é ambígua e você
deve obrigações a Hawkesford e a Darwendon. Quanto à liberdade
de Bernard, há alguém aqui que irá testemunhar por você, Moira?
Alguém que vai jurar que eles sabem que você fala a verdade?
Mesmo se houvesse, dificilmente avançariam com aquele rosto
duro desafiando-os. — Eu vou encontrar um testemunho. Eu peço
tempo até o próximo tribunal para fazer isso.
Os jurados começaram a concordar com alívio, contentes pelo
atraso. Ela esperou tensa até que Addis assentiu. — Vai ser assim,
mas até então, você me servirá de qualquer maneira que eu ordene.
— Murmúrios sugestivos surgiram das mulheres para isso. Ele se
aproximou e falou apenas nos ouvidos dela. — Até você encontrar a
prova ou o testemunho, não me desafie novamente.
Ela se certificou de que somente ele pudesse ouvir sua
resposta. — Eu vou desafiar você de todas as maneiras que puder
sobre isso, meu senhor, até que eu quebre esses laços que você
colocou ilegalmente em mim.
— Estou dentro da lei e dos meus direitos e você sabe disso —
disse ele bruscamente. — Você deveria ficar feliz por minha
proteção. A liberdade tem seus perigos para uma mulher sozinha.
— Eu consegui bem o suficiente, e não tenho necessidade ou
interesse em qualquer proteção que você imagina que possa dar.
Até que eu possa desfazer esse ultraje, eu vou servi-lo de acordo
com as obrigações habituais de um villein, mas não interprete isso
como aceitação. E se você pensar que eu desafio seus direitos e
poder, então faça o seu pior.
As palavras saíram em um sussurro e quando ela terminou
olhou para ele. Ele olhou para ela por tempo suficiente para que sua
postura desafiadora começasse a parecer um pouco ridícula. Então
suas pálpebras baixaram sobre luzes de calor surpreendente. Ele
achou sua ousadia divertida!
— Estou satisfeito de encontrá-la tão disposta a se submeter.
Você continuará cuidando do menino e ajudará Leonard
supervisionando as mulheres na mansão.
Submeter! — Eu ficarei feliz em cuidar de Brian. Quanto ao
resto, esse é o dever da sua senhora.
— Eu não tenho nenhuma senhora, então você vai fazer isso, e
as mulheres vão te obedecer porque eu digo assim. Tenho certeza
que você sabe como isso é feito. Seus anos em Hawkesford como a
sombra de Claire devem ter te ensinado.
Ele a estava reduzindo a uma serva da mansão! Foi o insulto
final. Ela se virou sem esperar por sua dispensa.
Ela hesitou com o primeiro passo, assustada com o silêncio e
expressões de arrebatamento em torno dela. Um campo de olhos
estava observando seu confronto privado com fascinação.
Ele alegara que queria que ela cuidasse de Brian, mas isso se
tornou irrelevante quando, três manhãs depois, ele a instruiu a
arrumar as roupas do menino. Ela ouviu sua ordem abrupta e seu
coração se partiu.
— Você está levando-o embora?
— Ele não está seguro aqui.
— Para onde ele está indo?
— Somente eu saberei onde.
— Quando você sai?
— Agora mesmo.
Ele estava em pé na entrada da casa, olhando por cima do
jardim, com o perfil sem cicatriz voltado para ela. Uma antecipação
revoltante de perda esvaziou seu interior. Ela se ressentia de que
esse homem não sentisse a mesma coisa. Fácil para ele mandar
Brian embora. Ele mal tinha prestado atenção ao menino desde que
o encontrou. Ela examinou a expressão inabalável que dizia que ele
contemplava em particular muitas coisas, mas não seu filho ou a sua
tristeza.
Ele mudou mais do que o tempo poderia explicar. O jovem
sorridente e feliz ficara envolto em camadas impenetráveis,
parecidas com os insetos capturados em alguns dos cristais âmbar
que decoravam sua túnica primitiva.
E ainda assim ela podia ver aquele garoto nele ainda e podia
imaginar o rosto inteiro antes de amadurecer, podia se lembrar da
boca generosa quando era expressiva e rápida para rir e não de uma
linha intransigente mais assustadora do que a cicatriz. E os olhos,
como suas luzes douradas dançaram quando ele era jovem!
Agora eles brilhavam com perigo e cautela, cheios de
minúsculas fogueiras que ninguém podia ver atrás.
Eles estavam todos com medo dele. Os criados, os
camponeses, até Raymond. O olhar penetrante poderia reduzi-los a
poças de obediência. A expressão severa não tolerava nenhum
desafio. A força definida de seu corpo e a cicatriz pálida e eloquente
anunciava que ele havia sobrevivido muito pior do que qualquer um
deles poderia oferecer. Ainda usava as roupas de camurça às vezes,
mas mesmo quando usava túnica e mantos trançados, sua aura
permanecia um pouco estranha e misteriosa, como se os hábitos dos
bárbaros tivessem infiltrado nele de maneira que ele não podia
largar tão facilmente como roupas.
Eles estavam apavorados com ele, mas ela não estava. Pelo
menos não da maneira que os outros estavam. Isso, mais do que
suas ordens, estabeleceu sua autoridade com as mulheres. Isso
surpreendeu a todos. Às vezes, quando ele falava com ela e ela não
se perturbava e tremia, ela se perguntava se também o surpreendia.
Mas ela nunca poderia ter medo de um homem depois de ter
segurado sua dor e desespero em seus braços, mesmo que ele não
se lembrasse de que ela havia feito isso.
Ele se virou de repente. — Você acha que eu deveria ter te
contado antes. A dor não teria sido mais leve se você soubesse.
Não, não mais leve e certamente longa. Talvez tenha sido uma
misericórdia que ele não tivesse avisado. Ela fora capaz de
aproveitar os poucos dias de indulto.
— Quando ele for embora eu presumo que isso vai terminar?
— Terminar?
— Meu aprisionamento e escravidão aqui.
Ele a olhou tanto quanto no hallmote, com uma combinação de
raiva, diversão e curiosidade. Sua garganta secou. Não, ele não a
aterrorizou do jeito que ele fez com todo mundo, mas essa intensa
atenção a perturbou de maneira ruim e ela trabalhou para não o
mostrar.
Sua avaliação silenciosa se desenhou e se tornou invasiva,
como se ele tentasse aprender algo sobre ela que seus olhos não
conseguiam ver. Ela se ressentia dessa inspeção, mas ela não podia
se afastar e cortar a conexão peculiar criada entre eles.
— Você não sabe do que fala Moira. Talvez eu deva dizer-lhe o
que acontece com as mulheres que são verdadeiramente
aprisionadas e escravizadas. — Ele estendeu a mão e passou os
dedos pelos fios de cabelo que escapavam da frente do véu. —
Fique feliz por não te mostrar.
Por um momento eles ficaram ali, as pontas dos dedos apenas
roçando os cabelos macios, o braço abrangendo o espaço que os
separava. Uma tensão assustadora e emocionante pulsou naquele
instante. Então ele deu um passo à frente abruptamente, para longe
dela, de modo que ela mal via o rosto dele. Só então ela percebeu
que havia congelado numa imobilidade sem fôlego.
— Acabará quando eu disser que acabou. Agora prepare o
menino. Está na hora de ele sair daqui.
Está na hora. Raymond havia dito isso em seu chalé. Bem,
agora era realmente hora.
Ela embalou as coisas de Brian. Seus jovens olhos a olhavam
solenemente enquanto ele confortava a ambos em seu jeito infantil,
assegurando-lhe bravamente que seu pai havia prometido que ele a
veria novamente.
Addis esperava com dois cavalos. O privilégio de ser permitido
montar sua própria montaria apagou a tristeza de Brian. Ele
alegremente deixou seu pai levantá-lo e ficou absorvido com a sela,
mal olhando para ela até o beijo de despedida.
Ela observou-os cavalgarem com o coração partido e
permaneceu no portão quase uma hora, até que suas manchas
desapareceram no horizonte do sul.
E então Brian foi embora, e com ele seu propósito na vida.
Ela ficou lá por mais algum tempo, absorvendo a dor
entorpecente do que acabara de acontecer tão rapidamente.
Então, como ninguém parecia inclinado a detê-la, ela desceu a
estrada para a aldeia.
Chalés e Longhouse4 inclinavam-se de um lado para o outro do
caminho estreito, cada um com seu pequeno outeiro na frente
cercado por uma vala ou cerca e repleta de aves ciscando. Homens
estavam voltando dos campos para o jantar e suas mulheres
apareciam nas portas para cumprimentá-los. Ela fingiu não notar a
quantidade incomum de atenção que sua presença causou.
Paul, o tanoeiro, deu um passo ao lado dela quando ela passou
pela taberna. Um homem jovem e bonito, com uma força esbelta,
Paul tinha sido um dos que inventou o título, “a viúva virgem”. Certa
noite, alguns homens o desafiaram a testar a superstição que ele
ajudara a criar, e ele foi à sua casa bêbado, determinado a provar
seu destemor. Ela foi forçada a deixá-lo inconsciente com uma
panela de ferro.
— Então você é a protegida do senhor agora, não é?
— Não. Não comece com isso, Paul.
— 200 libras ele atribuiu para você. Faz um homem se
perguntar o que uma mulher poderia oferecer que vale tanto assim.
Não é de admirar que aqueles velhos maridos tenham morrido.
— Nós mal nos falamos. Ele não tem interesse em mim dessa
maneira, nem eu nele. Não há nada assim entre nós.
Ela falou com mais convicção do que sentiu. Com certeza,
Addis não fez nada específico para aumentar suas preocupações. Ao
contrário de Raymond, seus olhos não a despiram e ele não
encontrou desculpas para se aproximar demais.
E ainda assim, às vezes ela se virava e o encontrava lá,
olhando para ela com aquela intensidade que ele mostrara
novamente hoje, contemplando-a como se sua mente seguisse
algum debate em direção a um julgamento. Uma atração peculiar
poderia arrastar entre eles que a enervaria mais do que qualquer
olhar lascivo de Raymond jamais poderia.
Seus instintos de mulher haviam se tornados alertas mesmo
enquanto sua mente continuava rejeitando a possibilidade. Este era
Addis de Valence, afinal de contas, e ela era a sombra de Claire. Mas
todas essas atenções sutis a fizeram se sentir cautelosa quando ele
estava presente, e não tão destemida como parecia, mas por razões
que não tinham nada a ver com o seu poder como o senhor e tudo a
ver com aqueles velhos sentimentos que continuavam querendo vir
à tona.
— Todos nós o ouvimos debaixo do carvalho. Todos viram ele
e você e como as coisas estavam aconchegantes — disse Paul,
malicioso.
— Você está bêbado de novo.
— A informação é que ele tem você sentada na mesa com ele
e dirigindo sua casa. Muito a senhora da mansão, pelo que é dito.
— Eu cuido de Brian. Eu…
— Nós os homens da aldeia não somos bons o bastante para
uma bela dama como você, não é? Primeiro um cavaleiro nobre e
depois um homem da cidade e depois a imagem da virtude por
quatro anos, mas num piscar de olhos você vai se prostituir colina
acima.
Esse, é claro, era o ponto crucial e a razão para os olhares e
sussurros que a seguiram descendo o caminho estreito. Os aldeões
lidavam bem com essas coisas, se estivesse entre eles. Uma mulher
que se casasse fora do casamento com um homem de seu próprio
grau o fazia por amor ou prazer, mas se ela fosse para a cama de
um lorde ou cavaleiro era provavelmente para ganhar, e ela era uma
prostituta.
Essa tinha sido a suposição sobre Edith, apesar do afeto que
ela e Bernard tinham compartilhado, e parecia que estava se
tornando o julgamento sobre ela. Se alguma vez voltasse ao chalé,
os homens provavelmente começariam a se enfileirar no jardim dela,
tilintando a moeda em suas bolsas.
Bem, ela já havia decidido que não voltaria, nem permaneceria
na mansão. A razão para ficar tinha acabado de passar pelo portão.
Era hora de continuar com sua vida, e não a vida que Addis de
Valence havia decretado com a insistência de que ela lhe pertencia.
Ela simplesmente iria embora. Outros o fizeram. Seu pai e a
criada de Claire, Alice. Raro era o senhor que os perseguia.
Ela se livrou da companhia de Paul, e passou pelo resto do
vilarejo e seguiu para o chalé herdado de sua mãe. Era outro dos
três presentes de Bernard. Não havia tempo agora para vendê-lo ou
o campo, mas a terra fazia um dote tão bom quanto à moeda, então
isso não deveria importar.
Sim, ela iria embora e ela iria para longe. Longe dos rumores
estúpidos sobre as mortes de seus maridos, longe das memórias de
Brian que rasgou sua compostura, e muito longe de Addis de
Valence, que queria possuí-la por razões que ela não podia
compreender.
Lágrimas atrás eu teria aceitado grilhões de ferro, Addis. Mas
eu não sou aquela garota apavorada e você não é o garoto que eu
admirava.
Ela falaria com Tom Reeve esta noite, e trocaria com ele o uso
do seu virgate5 e esta casa em troca de seu burro e carroça. Ela iria
embora amanhã. Addis esperava voltar pelo menos em uma
semana, mas queria estar longe antes de ele voltar.
Ela se inclinou para o fogão e sondou algumas pedras perto de
sua base. Uma mudou e ela arrancou-a.
Sentindo dentro do recuo, sua mão se fechou ao redor de um
pequeno saco de couro. Ela puxou para fora, então sentou na cama
e o esvaziou.
Um monte de moedas caiu no tecido entre as coxas dela. Ela
não precisou contá-los para saber que eles equivaliam a oito libras,
cinco xelins e dez pences, os lucros de plantar em seu virgate e
vender suas cestas e viver frugalmente por quatro anos.
Ela retirou as moedas do que estava debaixo delas. Ela ergueu
o pequeno objeto e um raio de luz da janela irradiou seus planos
vermelhos e aquosos em uma demonstração de brilho.
Um rubi. Terceiro presente de Bernard, facilmente valia
duzentas libras. A tentação depois do hallmote de marchar até esta
cabana e recuperar essa joia e jogá-la no rosto de Addis de Valence
foi intensa.
Duzentas libras era um preço alto demais para satisfação
presunçosa, especialmente quando ela podia facilmente escapar por
nada. Ela estava guardando essa joia com um propósito, mas esse
propósito acabara de ser cortado de sua vida, e agora ela a usaria
para encontrar um novo.
Ela colocou as moedas de volta no saco, mas segurou o rubi
enquanto puxava a cesta de costura. Ela brilhava calorosamente em
sua mão. Ela sorriu. Se Edith não tinha sido nada além de uma
prostituta para Bernard, ela tinha sido a prostituta mais cara da
cristandade.
Capítulo III
Ela deslizou através do campo murado em direção ao riacho,
deliciando-se com os sons fracos de grilos e animais e galhos
raspando. Era uma noite perfeita, fresca e arejada depois de um dia
quente, tão clara que as estrelas salpicavam o céu até onde se podia
ver. Ela seguiu a linha do riacho borbulhante, mirando em seu local
favorito, a grande rocha plana onde ela podia estar em total
privacidade e sonhar. Em uma noite como essa uma garota poderia
ser qualquer um e estar em qualquer lugar naquela rocha.
Ela se aproximou da pequena clareira no crescimento onde o
riacho se alargava e a rocha se projetava. Algo se moveu e ela fez
uma pausa. Uma forma escura curvada em sua rocha tomou forma
nas sombras. Ela deu um passo à frente com curiosidade.
—Quem vem aí?
Ela reconheceu a voz e levou um momento para encontrar a
sua. Ela provavelmente deveria fugir, mas afinal era a sua rocha. —
Apenas uma garota da aldeia.
— Seu pai vai bater em você se ele souber que você está fora
tão tarde. — A voz, normalmente baixa e melódica, soava apertada
e estrangulada.
Seu pai não faria tal coisa, já que ele havia partido há três
dias. Finalmente lhe ocorrera que ele poderia não voltar, mas ela
ainda não havia contado a ninguém, nem mesmo a sua mãe, que
não havia descido do castelo por mais de uma semana dessa vez.
Ela se aproximou. Ele se sentou com as pernas levantadas, os
braços apoiados nos joelhos.
— Você não deveria ter saído tão tarde também — ela disse,
sabendo uma ou duas coisas sobre as regras para os escudeiros.
— Eles não vão sentir minha falta. Eles ainda estão celebrando
o aniversário de Claire.
Uma coisa estranha de se dizer. Claire pelo menos deveria
sentir falta dele. Ela própria estivera no banquete do meio-dia, mas
não fora convidada para a refeição da noite.
Ela pensou em sua expressão naquela comemoração anterior,
e seu afastamento sóbrio em meio à folia, e a irritação de Claire de
que ele não tinha sido tão divertido como de costume. Claire
imprudente.
— Eu lamento sobre sua mãe — ela sussurrou, querendo que
ele soubesse que ela entendia por que ele estava aqui. De certa
forma, foi por isso que ela também veio. Seu próprio coração estava
pesado com a percepção de que seu pai havia partido para sempre e
poderia também ter morrido.
Ele se virou para ela, as sombras mal mostrando suas feições,
exceto as luzes em seus olhos que queimavam como um animal na
noite. Seu respeito silencioso durou muito tempo, e ela se perguntou
se ela o irritara. — Você vai para casa? — ela perguntou.
— Não. Ela seria enterrada antes de eu chegar lá. — Ele
desviou o olhar e falou amargamente. — É uma coisa pequena para
eles. Eles mal a conheciam, exceto Bernard, mas até ele... uma
pessoa morre e a vida continua. O dia tem sido tão malditamente
normal. …
— É surpreendente, não é? Eu lembro quando meu irmãozinho
morreu. Eu senti que a terra, o ar, todas as plantas haviam mudado.
Depois que o enterramos, minha mãe chegou em casa e começou a
cozinhar e limpar como fazia todos os dias. Eu estava furiosa com
ela. Um acontecimento importante ocorreu, na minha opinião, um
que mudou tudo. Mas quase imediatamente o buraco que ele tinha
deixado apenas começou a ser preenchido.
— Pelo menos você estava entre pessoas que reconheciam seu
pequeno significado. Pelo menos, por algumas horas ou dias...
Bernard disse que a missa de amanhã será para ela, mas eu não sei
como posso comparecer. As pessoas vão tagarelar como se fosse
uma missa diária normal, e eu vou querer matá-las.
Ela pulou na pedra ao lado dele. Suas palavras se quebraram
em estranhos agrupamentos, como se seus pensamentos corressem
à frente de sua língua. Sua tristeza sutilmente sacudiu o ar ao redor
dele e rasgou seu coração. Ele tinha vindo aqui para ficar sozinho,
mas ele não insistiu que ela fosse embora. — Como ela era?
No começo, ela pensou que ele não responderia, ou o faria
com raiva e de fato lhe diria para ir embora. Em vez disso, ele
esticou uma perna e descansou a bochecha contra o joelho da outra
e falou dela. Ele descreveu imagens e memórias dispersas, como
uma criança tem de sua mãe, de pequenas gentilezas e confortos e
segurança. Ele falou muito tempo. No início, as palavras vieram de
forma hesitante, depois mais suave, mas finalmente com um tom
rouco e gutural que dizia que sua compostura estava quebrando.
Sem pensar ela colocou a mão em seu ombro.
Ela não se lembrava de como eles acabaram deitando naquela
pedra quente com os braços ao redor de sua grande estrutura,
embalando-o com o seu rosto contra seu peito como sua mãe a
confortara quando seu irmão morrera. Se ele chorou, foi em silêncio,
mais emotivo que físico. Sua própria tristeza pelo pai foi aliviada ao
absorver essa dor maior.
Eles ficaram lá por um longo tempo depois de ter passado com
o doce humor das emoções expostas ligando eles. Ela olhou para o
lindo céu e saboreou o som do riacho, pensando que era delicioso
estar perto de alguém assim, mesmo que ele fosse praticamente um
estranho e se no escuro ele nem soubesse quem ela era.
De maneira estranha, o clima mudou lentamente e ficou
imbuído de algo tenso que ela não entendia. Ele levantou-se no
braço e olhou para ela. — Quantos anos você tem, menina?
—Treze.
Ele olhou para a noite. — Muito jovem.
— Jovem pra quê?
Ele riu e seu coração pulou de alegria que ele não parecia mais
tão triste. — Definitivamente jovem demais. — Ele rolou para longe
e escorregou da rocha. — Corra para casa agora. Se seus pais
descobrirem que você se foi, eles vão causar um escândalo.

Ela emergiu de seu devaneio conforme ela se envolvia nisso,


observando o ritmo hipnotizante dos flancos do burro enquanto
puxava a carroça pela estrada. Ela olhou para trás para verificar até
onde ela tinha viajado sem ver. Seu ritmo deve ter diminuído,
porque a carroça do comerciante de vinhos que ela havia seguido a
maior parte da manhã desaparecera à frente.
Tudo estava voltando para ela em lembranças como essa,
pequenos desfiles de sua infância que se tornaram enterrados pelo
tempo e bloqueados pela tristeza. As pessoas morrem e a vida
continua e as lembranças delas são deixadas de lado, já que a
tristeza nunca diminui de outra forma. Ainda assim, detalhes
ignorados não são detalhes esquecidos. Se ela se permitisse pensar
em Claire ou Edith, ainda podia sentir a angústia de perdê-las como
se tivesse sido ontem.
E assim foi com Addis, exceto que agora ele havia retornado
dos mortos. Esses pensamentos continuavam insinuando-se em sua
mente, às vezes assumindo-a completamente até que corriam o
curso, forçando os velhos sentimentos a emergirem, mesmo que ele
não fosse mais o jovem em quem eles haviam morado.
Ela olhou para o carrinho cheio de baús, cestas, juncos e
bancos. As moedas foram amarradas em seu saco abaixo de suas
tábuas. O rubi foi costurado no forro de sua cesta de costura. As
emoções de suas lembranças pesavam sobre ela.
Uma coisa boa que ela havia deixado. Se isso continuasse, ela
teria sido incapaz de negar-lhe qualquer coisa, mesmo vendo agora
o que Claire tinha feito com ele e sabendo muito bem a vingança
que ele tinha cometido sobre ela.
Ela lembrava vagamente de passar pela estrada para o sul, até
Salisbury, enquanto ela sonhava acordada. Em seu antigo plano,
aquela cidade tinha sido seu destino quando ela finalmente fosse
embora. Agora estava muito perto e muito pequena. Ela se dirigiu
para mais longe do que isso.
A estrada esteve movimentada com os viajantes durante toda
a manhã, mas ficou deserta. Ela agitou o salgueiro no flanco do
burro, pensando que seria sensato alcançar aquele comerciante de
vinhos novamente.
Ela contornou uma curva e, como se convocada por seu vago
pressentimento, três homens se materializaram ao lado da estrada à
frente. A luz refletia-se em suas esporas, mas somente suas
posturas traziam a arrogância dos cavaleiros.
Um cruzou a estrada e eles esperaram pela aproximação dela.
Ela instigou o burro a andar mais rápido e olhou para frente,
esperando que eles a deixassem passar.
Os dois à esquerda pareciam inclinados a fazê-lo, mas o da
direita saiu e agarrou a rédea do burro. O instinto alertou sua
cautela.
— De onde você vem, mulher? — perguntou ele. A espessa
barba preta por fazer escurecia seu rosto e sua túnica parecia suja
de barro e comida.
— Minha casa está longe daqui. Eu acabei de ir aos mercados
de algumas cidades que conheço há tempos.
— Você parou em Darwendon? — outro perguntou enquanto
levantava uma das suas melhores cestas da carroça. Ela se
perguntou se ele poderia avaliar seu valor e, portanto, sua pergunta.
Uma cesta como essa, com suas várias cores e intrincada tecelagem,
não era do tipo vendida no mercado da cidade, mas sim para as
senhoras de uma mansão.
— Não. Se você gosta dessa, pode levá-la para a sua senhora
— ela ofereceu, esperando poder comprá-los.
— Ainda assim, você deve ter ouvido falar nas cidades. Sobre
Darwendon.
— Acho que me lembro de alguns comentários, mas eu estava
apenas passando e dando pouca atenção.
— Que tipo de comentários?
— Isso e aquilo. A condição das colheitas, o número de ovelhas
jovens…
— Nada mais? Sobre o lorde, talvez?
Um aperto de apreensão percorreu sua espinha. Esses
cavaleiros não usavam uniforme que proclamasse a comitiva de seu
senhor. Ou eles estavam sem um senhor soberano, e possivelmente
eram bandidos vivendo do roubo de viajantes, ou procuravam
esconder sua identidade. Em ambos os casos, eles eram perigosos.
— O lorde? Oh, você quer dizer aquele que retornou recentemente.
Sim, houve alguma conversa sobre ele. Um homem duro, eles
dizem.
— Ele está lá agora? Em Darwendon? — O cavaleiro que
segurava o burro olhou para ela. Seus olhos a lembraram de uma
raposa.
Qual seria a melhor resposta? Se eles soubessem que ele tinha
ido embora, talvez eles fossem e esperassem por ele. — Sim, ele
está lá.
A raposa soltou a rédea com um sorriso magro que dizia que
ela tinha escolhido errado. Mãos nos quadris, com uma autoridade
arrogante que fez seu estômago revirar, ele andou ao redor da
carroça olhando o conteúdo. — Outros que passaram disseram que
ele partiu ontem. Você está mentindo. Pergunto-me por que.
— Eu não minto. Como eu disse, não prestei atenção. O que
me importa sobre os feitos em Darwendon?
Ele retornou e lhe deu um olhar que sugeria que sua
veracidade não importava realmente, que ele havia passado para
outras considerações. Os olhos de raposa brilharam e desceram pelo
corpo dela. — Uma fabricante de cesta que visita os mercados
sempre traz seus baús e bancos? Talvez você tenha vindo de lá.
Talvez, enquanto o lorde duro se foi, você procurou escapar dele.
— Talvez, ou talvez eu venha de uma das outras mansões ou
cidades próximas. Que diferença faz?
Ele sorriu para seus amigos. — Nenhuma.
Ela agitou a vara de salgueiro e o burro deu um passo à frente.
— Então eu desejo-lhes um bom dia.
Seu tom indiferente visualmente funcionava com os homens.
Certamente sempre freava Raymond, mas Raymond em seu âmago
era um cavaleiro honrado. Esses três não eram. Uma mão disparou
e agarrou a rédea novamente. Ela observou os dedos perto do couro
e soube com certeza que estava em apuros. Medo cru a agarrou.
— Onde está o seu homem? — perguntou a raposa, olhando
para cima e para baixo na estrada, brincando com ela, enfatizando
seu isolamento.
Ela lutou contra o pânico que queria gritar. — Atrás, a poucos
metros. Apenas atrás da curva. Uma roda se soltou na outra
carroça. Ele estará aqui em breve.
Ele sorriu encantado que ela tentaria tal artifício. — A estrada
ficou muito quieta — disse ele aos outros. — Deve ser hora das
refeições.
Eles riram e olharam para ela como tantos lobos encurralando
uma galinha. Seu estômago revirou. O desespero cego se quebrou.
Ela agitou a vara ao redor, cortando todos os seus rostos, e depois
bateu com força no burro.
Ele avançou para um galope desajeitado, mas um burro
conduzindo uma carroça dificilmente poderia ultrapassá-los. Ainda
assim, ela chicoteava e chicoteava, rezando para que desistissem do
jogo. Em vez disso, botas batiam atrás dela e as mãos puxavam as
paredes da carroça. A raposa saltou ao lado dela e agarrou as
rédeas com uma mão enquanto ele torcia o véu e o cabelo com a
outra.
— Vadia! — Ele grunhiu, limpando a fina linha de sangue em
sua bochecha com o braço. Ele empurrou-a para fora do carrinho
nos braços que se esticavam para agarrá-la.
Ela lutou como um animal, terror e fúria lhe dando força. Ela
bateu e torceu e chutou e mordeu em uma confusão de
movimentos. Uma mão arqueada aterrissou forte contra o rosto
dela, batendo de volta, mas ela ainda resistiu. Um punho girou em
seu estômago e a dor se espalhou por todo o seu corpo.
Abandono quase a derrotou, mas, enquanto a carregavam para
as árvores, o pânico voltou e ela arranhou os olhos do homem que
segurava seus ombros. Sua rebelião os atrasou e levou muito tempo
para puxá-la para uma clareira.
Eles a puxaram para um tronco de árvore caído e a jogaram
sobre ele. A dura casca pressionou seu estômago dolorido.
— Mantenha-a abaixada. Cristo, ela é uma megera.
— Sim, é melhor desse jeito, no entanto.
— Segure-a ainda, droga!
Um passou por cima da árvore e se ajoelhou diante dela,
pressionando o peso sobre as costas dela com as mãos. Outras
mãos começaram a empurrar a saia dela. Sem sentidos com o
terror, ela torceu a cabeça e mordeu um braço acima dela e o
aperto se soltou.
— Maldita vadia!
Aproveitando-se ela chutou cegamente para trás e seu
calcanhar se conectou com uma virilha. Um grito gutural encheu a
clareira.
— Parece que você vai resistir — a raposa riu. As mãos a
pressionaram contra o tronco novamente e então o homem se
inclinou sobre ela, seu peito inteiro imobilizando seu torso e ombros.
— Levante sua saia. Eu vou amolecê-la um pouco para que ela
não dê tanto trabalho — disse a raposa.
Ela não conseguia se mexer. Sua cabeça foi esmagada no
estômago do homem que a segurava e ela mal conseguia respirar.
Os suspiros que ela conseguiu estavam cheios do mau cheiro dele.
Ele agarrou sua saia, expondo suas nádegas. Ela ainda lutava, mas
inutilmente.
O homem que ela havia chutado riu. — Deus, agora isso é uma
visão. Dê o seu melhor, assim ela aprende sua lição.
A dor aguda de uma correia pousou em suas nádegas. Ela
cerrou os dentes e sua mente ficou preta de raiva. Ela tentou
levantar o peito pressionando suas costas. Todos eles riram. A ponta
da cinta fez cócegas em sua pele, provocando-a, em seguida,
segundos depois, atingiu novamente.
— Inferno, está me deixando duro como uma rocha apenas
observando — seu captor gemeu. — Mais.
Ela se preparou. Ela iria matá-los, matá-los, mesmo que
demorasse toda a sua vida para fazê-lo.
De repente ele gemeu novamente. Mais um grito distorcido, na
verdade. O peso desabou de costas. Gritos e berros e atividade
furiosa colidiu ao redor dela. Ela empurrou contra seu estômago e
peito. Quando isso não funcionou, ela rolou seu corpo até que ele
deslizou.
Um caos de violência a assaltou. Espadas brilharam e tocaram
e gritos de dor ecoaram. A princípio, pareceu que dez homens
lutavam na clareira, mas sua mente confusa lentamente percebeu
que eram apenas três e depois apenas dois. Ela olhou para a cabeça
pendurada no tronco da árvore. Sangue escorria de seu pescoço em
uma poça na qual ela se sentava.
De repente, um horrível silêncio caiu. Ela olhou com os olhos
arregalados para a carnificina que enchia a clareira, incapaz de
absorver coerentemente. Sangue por toda parte, brilhante e
berrante, como feridas abertas na recompensa da natureza, brilhou
em seus sentidos. Com o perigo passado, ela sucumbiu ao terror e
começou a tremer por causa de um calafrio que surgiu de seu
âmago.
Braços fortes a levantaram, esmagando seu rosto contra um
peito largo enquanto as árvores passavam. Então ela foi embalada
em coxas duras perto do chão, envolta em calor humano e inundada
pela luz do sol que começou a banir o calafrio e acalmar seu tremor.
Seus sentidos lentamente se reabilitavam e ela se viu
encarando um pequeno cristal âmbar com um inseto preso dentro.
Ela levantou a cabeça para um insensível perfil com uma cicatriz
pálida cortando da linha do cabelo ao maxilar. — Por que você
demorou tanto? — ela murmurou.
Ele virou os olhos para ela. Pequenos tremores ainda a
sacudiam, mas o olhar dela parecia estar clareando. Sangue riscava
seu vestido, mas ele não podia dizer se vinha dela. O véu e a touca
pendiam frouxamente atrás de uma orelha e o cabelo estava meio
solto. — Eu decidi deixar que eles te chicoteassem para me salvar
do problema depois.
Ela franziu os lábios. Ele esperava por uma reação mais viva
que pudesse indicar que chicotear era tudo o que tinham feito.
— Como você…?
— Vi a carroça na estrada e fiquei curioso.
— Mas a estrada estava vazia até o Leste.
— Eu vim do Oeste, ao redor da curva.
Sua testa franziu. — Não estava voltando para Darwendon,
mas se afastando de lá?
Ela ainda parecia atordoada e chocada. Ele descansou a palma
da mão contra a bochecha dela. Ainda muito fria, mas o calor estava
fluindo de volta. Ela parecia alheia ao gesto, então ele deixou ali um
pouco mais do que o necessário. — Preciso ir a outro lugar antes de
voltar a Darwendon.
Ele quase passou por aquela carroça até os bens domésticos
chamarem sua atenção. E então as cestas.
Cestas excepcionais, como Raymond havia descrito. Não
acreditando realmente que ela seria tão estúpida ou tão ousada a
ponto de fugir sozinha assim que ele tivesse virado as costas, ele
deixara a curiosidade conduzi-lo para os sons nas árvores.
Ele sabia que era ela, embora não pudesse ver nada além de
nádegas macias e pernas nuas. Tinha acabado de saber e
enlouqueceu. Ele tinha deixado que eles a chicoteassem novamente
enquanto ele se movia para uma posição melhor para primeiro
matar aquele que a segurava. Ele se lembrava de pouco do resto. A
fúria ainda fervia em sua cabeça e na verdade ele não estava em
muito melhor forma do que ela quando ele a carregou para longe.
De repente, ela percebeu que ela se sentou em seus braços e
se empurrou para o chão. Ela fez uma careta quando seu traseiro
aterrissou, e então se balançou para frente com um braço sobre seu
estômago.
— Eles perguntaram sobre você — ela murmurou. — Talvez
eles estivessem esperando por você. — Com palavras desconexas,
ela contou a ele sobre as perguntas.
— Espere aqui. Não se mexa. Estarei de volta muito em breve.
— Ele deu a ela um olhar de preocupação antes de caminhar de
volta para a clareira.
Ele não conseguia se lembrar de metade do dano que estava
esperando lá. Não gostaria de perder sua cabeça daquele jeito, mas
desde que eram três contra um, foi melhor assim que ele fez. Ele
andou até o que restava do homem que ousara abusar dela com
aquela correia. Ele o conhecia. Um jovem naquela época, cheio de
conversa lasciva quando visitou Simon em Barrowburgh.
Ele duvidava que eles o estivessem esperando. Muito
provavelmente, a partir de suas perguntas, eles estavam apenas
coletando informações. Mas se ele tivesse virado a curva de
surpresa, ele não duvidava que eles tivessem aproveitado a
oportunidade de ganhar mais favor de Simon. Eles o teriam
reconhecido mais rapidamente do que ele também. A cicatriz era
como uma bandeira anunciando sua identidade.
Ele voltou para Moira. Ela descansava em suas mãos e joelhos,
ficando doente debaixo de um arbusto. Seu abuso provavelmente
salvou sua vida. Quanto tempo eles a tinham? Ele não podia dizer
sobre o comportamento dela. Ele tinha visto mulheres escravas
suficientes depois de seus estupros, para saber que diferentes
pessoas lidavam com isso de maneiras diferentes. Ela era obstinada
e poderia agir como se nada tivesse acontecido e por isso a
expressão calma dela quando ela lutou para ficar de pé não o
tranquilizou muito.
Ele pegou o braço dela e guiou-a para a estrada onde seu
palafrém estava amarrado na parte de trás da carroça. Ele entregou-
lhe uma cabaça de água e ela lavou a boca.
— Você está mancando — observou ela enquanto puxava o
véu e a touca da cabeça. — Você não fez isso antes. Eu pensei que
seu quadril estava totalmente curado e são.
— Normalmente isso não me incomoda, mas a costa de uma
espada pegou lá atrás. — Ele a colocou na carroça e subiu ao lado.
— Nós esperávamos pior, claro. Com o quadril. Quando eles
trouxeram você para Hawkesford, ele estava corrompido e parecia
que você poderia morrer ou nunca mais voltar a andar. Claro, você
não lembra de nada disso. Você estava a arder com febre.
Se falar de coisas comuns ajudaria, ele deixaria que ela fizesse
isso, embora preferisse qualquer assunto a esse. — Não, eu me
recordo muito pouco. Lembro-me de ir para a guerra recém-
condecorado e recém-noivo, determinado a conquistar a glória para
a minha dama. Eu me lembro do brilho do sol cintilando na espada
caindo. E lembro-me de me curar em Barrowburgh. — Na verdade,
ele se lembrava de muito mais.
— Eles trouxeram você para Hawkesford primeiro. Estava mais
perto.
Ele se lembrava de mais do que gostaria, mesmo que fossem
lembranças fragmentada perdidas na névoa negra e desesperada. —
Você estava lá?
— Onde mais eu estaria? Edith e eu morávamos lá então. Ela
cuidou de você. Reabriu seu quadril para que ele pudesse ser limpo.
Ela costurou seu rosto.
— Estou em dívida com ela então. Foi-me dito que eu poderia
ter perdido o olho e a maior parte do movimento daquele lado se
tivesse sido menos bem feito.
Ela olhou para a cicatriz com curiosidade. Estendendo a mão,
ela passou os dedos pelo comprimento, examinando-o como se
fosse um novo tecido de cesta. Ele quase recuou do gesto.
Ele não conseguia se lembrar de nenhuma mulher acolhendo
seu sinal e muito menos seu toque.
— Uma linha limpa, não se deformando de jeito nenhum. Mas
não foi muito profundo. Edith disse que fez toda a diferença. Você
teve sorte.
— Sim, eu tive muita sorte. Apenas cortou meu rosto ao meio.
Seu tom agudo a perturbou e ela afastou sua mão. Ela olhou
em volta, subitamente ciente de que ele também estava sentado na
carroça e planejava dirigir o burro. — Você não precisa me levar de
volta. Prometo voltar para a mansão.
— Você não vai viajar sozinha.
— Eu posso cuidar de mim mesma.
— Não há dúvida de que você pensa assim. É provavelmente
por isso que eu te encontrei inclinada sobre aquela árvore com sua
bunda nua para o céu menos de um dia depois que você saiu da
mansão.
Um rubor apareceu sob seu bronzeado. — Então continue seu
caminho. Quando passarmos a primeira carroça para oeste, eu me
juntarei a eles.
Ele não tinha intenção de voltar atrás e trocou o burro. —
Onde você estava indo?
— Para uma cidade.
— Uma cidade livre? Tão distante? Onde eu não poderia
encontrá-la para o ano e um dia é necessário romper o vínculo? —
Ele não conseguia manter o aborrecimento de sua voz.
Ela virou a cabeça para as árvores que passavam. Suas mãos
descansaram em seu vestido manchado de sangue. Mãos lindas, de
dedos longos e com delicados planos moldando a parte de trás das
palmas das mãos. Ele ainda podia sentir suas pontas quentes
traçando a cicatriz em seu rosto.
— O que você planejou fazer nesta cidade livre? Encontrar um
marido?
— Sim. — Seus olhos azuis brilharam e o retorno de sua
clareza brilhante o animou.
— Um homem em particular?
Ela balançou a cabeça.
— Quais são as suas exigências? Uma mulher orgulhosa como
você provavelmente tem uma lista inteira delas. Talvez eu encontre
um homem que se adapte às suas demandas. Eu posso reservá-lo
para você. Supondo, claro, que ele tenha cem libras para gastar.
Ela inclinou a cabeça. — Um pedreiro, eu decidi. Bem
estabelecido e altamente qualificado. De preferência em seu
caminho para se tornar um mestre construtor.
— Por que um pedreiro?
— Os que eu conheci são inteligentes. Eles têm bons salários,
são respeitados, pertencem a grandes empresas de artesãos e
quase sempre são empregados.
— Quando empregados, eles estão longe de casa a maior parte
do ano.
— Sim, há esse benefício também.
Bem. Bem. Assim, a viúva virgem não era virgem, mas decidira
que não gostava muito de cama. Sua escolha por um pedreiro fazia
um excelente sentido.
Ela parecia voltar ao normal. Ele tinha que saber. — De volta,
eles te machucaram mais do que eu vi antes de chegar?
— Não.
A resposta firme o aliviou mais do que ele esperava. Ele não
sabia o que teria feito se a resposta tivesse sido diferente. Ele já os
tinha matado, então ele dificilmente poderia encontrá-los e matá-los
novamente.
Eles cavalgaram em silêncio por algum tempo. Moira torceu e
pegou um saco com um pouco de pão e queijo e ofereceu-lhe um
pouco. Ela se forçou a morder, mas não tinha apetite. Seu estômago
ferido e suas nádegas ainda doíam e as experiências do dia haviam
lançado uma mortalha sobre tudo.
Aqueles homens haviam enfraquecido sua coragem. Logo ela
voltaria para Darwendon. Poderia demorar um bom tempo até que
ela encontrasse uma maneira de sair que não incluísse esse tipo de
perigo.
Talvez ela nunca encontrasse o coração para sair de novo. Ela
certamente não se sentia forte o suficiente para considerar isso
agora. Na verdade, a ideia de viver seus dias em Darwendon, a
distância de um grito da espada de Addis, atraia-a. O tamanho e a
força do homem sentado ao lado dela ofereciam um conforto
sedutor e seu resgate e o perigo compartilhado por eles produziam
uma intimidade crua.
Ela olhou para as manchas de sangue em sua roupa. Eles
nunca iriam se lavar. Não importava porque ela nunca iria usá-lo
novamente de qualquer maneira. Cheirava a aqueles homens. Ela
cheirava a eles.
— Eles eram de Simon? — ela perguntou.
— Sim. Eu reconheci um. Ele deve tê-los enviado quando
ouviu, para ver o que eles poderiam descobrir. Simon é astuto. Ele
levará seu tempo para decidir o que fazer.
— Como ele saberia?
— Alguém deve ter ido e contado a ele. Muitos me viram desde
que desembarquei em Bristol. Com esse rosto, não posso esconder
quem sou.
Sua atitude casual em relação ao perigo a irritou. — Ele tentará
te matar.
— Não necessariamente. Se ele está seguro com a proteção do
rei, ele pode decidir que eu sou um transtorno que pode ser
ignorado.
— Ele deve saber que você se moverá contra ele, com a
proteção do rei ou não.
— Por que ele deveria saber disso? Nem mesmo eu sei disso.
— Você não pode aceitar isso! Simon tomou o que pertence a
você, para o seu filho. Seria bom se eu passasse quatro anos
ensinando a Brian sobre o dever para o qual ele deve se preparar
apenas para que seu pai desse as costas à sua honra.
— Isso é o que você estava fazendo? Motivando o menino para
ser forte e verdadeiro para que ele pudesse lutar contra Simon
quando ele crescesse?
Seu tom caiu em algum lugar entre fascinação e sarcasmo.
Soou tolo quando ele colocou assim.
— Ele tinha o direito de saber quem ele era, o que por direito
lhe pertence. Você acha isso divertido?
Sua boca se suavizou em um sorriso. Foi o primeiro que ela viu
em todos esses dias. — Não é divertido. Eu acho isso irônico.
Ela notou movimento distante na estrada à frente. Uma grande
carroça puxada por cavalos se arrastava pesadamente na direção
deles, com um homem e uma mulher na frente. Eles pareciam
seguros o suficiente, e ela poderia segui-los a maior parte do
caminho de volta para casa. Ela levantou a mão para saudá-los.
— Não — disse Addis. — Se eu mandar você de volta, você
simplesmente fugirá novamente.
— Eu diria que aprendi minha lição.
— Por um dia ou dois, não mais. Você é uma mulher teimosa e
voluntariosa. Logo você vai se convencer de que isso não
aconteceria novamente. Eu posso estar fora por várias semanas, e
se você voltar, menos um villein estará lá quando eu voltar. Eu
decidi que você virá comigo.
— Você é um homem muito teimoso, se você se sobrecarregar
com a inconveniência de uma mulher...
— Será muito conveniente. Encontrar você provou se fortuito.
Você quer ir a uma cidade livre? Eu vou te levar para uma. Londres.
Minha mãe tinha uma casa lá e me ocorre que ela está vazia por
alguns anos. Vai precisar de atenção e duvido que qualquer servo
permaneceu lá. Enquanto você me serve lá, você pode procurar seu
pedreiro.
— Você vai a Londres? — Ela tentou manter a excitação de sua
voz. Londres, a maior cidade de todas. Londres, com sua carta régia
de liberdades, não devia a nenhum senhor. Londres, com tantas
pessoas e alamedas, que uma mulher poderia facilmente se esquivar
de qualquer um que procurasse por ela, por um ano e um dia, se
necessário.
A criada de Claire, Alice, fora para Londres, e era para Londres
que ela estava se dirigindo quando aqueles homens a atacaram.
Seu espírito se renovou imediatamente e todos os
pensamentos de encolher-se em Darwendon desapareceram. Ela
sorriu interiormente e olhou para o homem que afirmava ser seu
lorde. Ela deixaria Addis de Valence escoltá-la para Londres, mas
assim que chegasse lá, ela não o serviria.
— Sim, vamos a Londres — disse ele. — Mas primeiro vamos a
Barrowburgh.
Capítulo IV
Paz. Era o que ele sentia em sua presença. Ele não podia
explicar isso. Ela não precisava falar, nem precisava saber que ele
estava ali para o conforto fluir como água morna. Ele experimentara
uma estranheza peculiar desde seu retorno, como se andasse em
terra estrangeira durante um tempo distante.
Somente quando ela estava perto, ele se sentia devidamente
centrado dentro de seu próprio corpo e existindo no mundo da
maneira normal.
Ele quase tinha voltado para Darwendon por causa dela. Ele
havia parado onde a estrada de Salisbury se encontrava com essa e
debateu. A paz que aguardava em uma direção era muito mais
atraente do que o conflito prometido na outra. Ela não aceitaria seu
retorno ou suas exigências por sua presença, mas a paz ainda seria
dele enquanto se movia pela mansão e se sentava à mesa. Ele
duvidava que pudesse lisonjear ou suborná-la em mais do que isso.
Ela se ressentia de suas afirmações, e o deformado Addis de Valence
dificilmente conseguiria onde o belo Raymond Orrick havia falhado.
Ele guiou a carroça até o crepúsculo começar a cair, embora
seu quadril o afligisse e Moira estivesse cansada e desconfortável.
Ela não era uma inconveniência, mas a carroça e o burro eram.
Levaria muito mais tempo para fazer essa jornada agora. Mas ele
também insistiu porque queria que ambos ficassem exaustos antes
de acampar durante a noite. Ela dormiria apesar do que acontecera
naquele dia, e ele também dormiria, apesar da tentação da paz
definitiva a alguns passos de distância.
Não funcionou assim. O sono não chegou rapidamente. Deitou-
se junto do fogo, ouvindo a respiração suave que lhe era transmitida
pela noite do lugar que ele fizera para ela na carroça. Ele imaginou
aquela respiração em seu ouvido e em seu corpo e sentiu-se afundar
em sua suavidade e calor. Ele se levantou e caminhou para as
árvores, longe dela, e se forçou a reconsiderar as decisões que
tomara a respeito de Simon.
O homem não se moveria contra ele publicamente. Ele não
arriscaria a desaprovação do rei ao cometer um assassinato aberto
que poderia inflamar os barões opostos. Se a oportunidade
silenciosa surgisse no seu caminho, isso seria diferente, mas nisso
talvez nada tivesse mudado. A verdade em relação a essa suspeita
deveria ficar clara em breve, mas, salvo essa chance, Simon
aguardaria seu tempo.
Assim, o futuro imediato dependia do rei, da lei e dos costumes
do reino. Se essas falhassem com ele, então a escolha seria
enfrentar, mas ele suspeitava que seria uma escolha maior do que
Raymond ou Moira viam. Pelo menos ele enfrentaria em Londres,
onde ele poderia aprender melhor as possibilidades e os riscos. Ele
enfrentaria isso enquanto a paz de Moira o ajudaria a pensar com
mais clareza. E a oportunidade silenciosa de Simon seria mais difícil
de encontrar ou arranjar em Londres.
A contemplação do que o aguardava o perturbou e ele voltou
para o fogo. Ele parou na carroça e olhou para dentro.
Ela descansava de lado, uma mão com o punho frouxo pelo
seu rosto, como uma criança pode dormir, seu cabelo escuro
fazendo um ninho para sua cabeça.
Ele planejara fazer dessa uma jornada rápida, mas isso não
seria necessário agora. Ele poderia ficar em Londres o tempo que
fosse necessário, porque o motivo que o acenaria para voltar a
Darwendon estaria com ele.
Ele deveria deixá-la ir quando chegasse à cidade, libertá-la
para a vida que ela reivindicou como seu direito, mas ele não podia.
Se ela encontrasse seu pedreiro, ele deveria permitir que ela se
casasse, mas ele não o faria. Um homem que tinha sido escravizado
deveria ser simpático à sua busca, e ele era, mesmo que seu status
não fosse à de uma escrava e ele conhecia a diferença muito bem.
Por um lado, se ela fosse uma escrava, ela estaria em sua cama
desde a primeira noite, e ele não estaria espreitando por cima de
uma parede de carroça para ela, lutando contra seu desejo.
Ele poderia ser simpático, mas isso pesava pouco contra esse
desejo, ou a paz, ou a inexplicável possessividade que o fez matar
três homens por tentar profaná-la.
Ele a despertou ao amanhecer e os colocou de volta na estrada
em ordem rápida. Moira encontrou algumas ervas secas entre as
árvores para fazer uma almofada na qual se sentar. Parecia uma
deusa da colheita empoleirada numa cama de folhagens ao lado
dele, lembrando-o de cerimônias que vira nas terras bálticas. Era no
plantio e na colheita que os rituais mais antigos eram realizados pelo
povo de Eufemia, rituais que faziam alusão a uma época antiga em
que sua divindade suprema era uma mulher e não um homem,
quando a vitalidade física da terra possuía mais importância do que
a vasta abstração do céu.
Passaram por mais bosques e ele pensou naqueles anos no
meio do povo báltico. As experiências pareciam mais familiares para
ele agora do que as memórias de sua própria família e terra. Eles
acreditavam que cada arbusto e planta, cada riacho e lagoa, até
mesmo cada pedra, era o lar de um espírito.
Depois de alguns anos, ele chegou a entender. Depois que ele
se deitara com Eufemia, ele às vezes podia sentir os espíritos
estremecendo no desenvolvimento ao redor dele, falando uma
linguagem primitiva para sua alma.
As árvores que flanqueavam a estrada não continham nada
disso. Se alguma vez existiram espíritos na terra da Inglaterra, há
muito tempo eles haviam saído ou sido silenciados. Aqui as rochas
eram para mover ou esculpir, os riachos para lavar e beber, as
árvores para cortar e queimar. O povo de Eufemia realizava suas
cerimônias ao ar livre, cercado pelos espíritos. O Deus cristão era
adorado em edifícios construídos por pedreiros inteligentes e hábeis
que deformavam as pedras com ferramentas e lógica.
Ele olhou para a mulher que concluiu que ela deveria se casar
com um homem assim. Sua cabeça estava curvada e ela cheirava-
se, fazendo uma pequena careta. Dedos longos puxaram o tecido
sobre o peito, bombeando-o levemente para deixar o ar fluir. Ele
havia conduzido a carroça da estrada ao pôr-do-sol de ontem, sem
se preocupar se havia água por perto, mas sabia que não era o suor
do dia que ela cheirava tão desagradavelmente.
Ela notou que ele olhava para as ondas que apareciam e
desapareciam embaixo do pano estufado e se endireitou em seu
jeito feminino.
— Você ficou preso todos esses anos? — ela pediu para desviar
sua atenção.
— Não. — Ela foi a primeira pessoa a perguntar
imediatamente. Nem mesmo Raymond solicitara os detalhes.
Todos supunham que ele suportara torturas pagãs e horríveis,
impróprias para discussão.
— Então, por que você não voltou para casa ou mandou uma
mensagem? Todos achavam que você estava morto e veja os
problemas que isso criou. Cruzada de Deus ou não, você tinha
deveres e obrigações aqui.
— Para uma mulher determinada a escapar de seus deveres e
obrigações para comigo, você tem a língua afiada o bastante para
me lembrar dos meus para todo mundo.
— Não seja ridículo. Você nasceu para as suas
responsabilidades.
— Como você nasceu para as suas. Diga-me, como foi
descoberto que eu estava morto?
— Quando os outros voltaram para Barrowburgh. Os cavaleiros
que se juntaram a você. Eles voltaram com a história que você tinha
caído durante uma das lutas, durante um dos r… r…
Perdido naquele pântano, o idiota francês levando-os a não ter
ideia de para onde ir. — Durante um reise6. É uma palavra alemã.
Os cavaleiros teutônicos que lideraram a cruzada báltica eram em
sua maioria alemães.
— Eles disseram que você tinha sido abatido. Um viu você cair.
Cavalos correndo para eles de todas as direções. O inimigo de
quem eles estavam correndo há dias de repente se materializando
em massa, espadas e lanças prontas, possuindo uma determinação
que a coleção desordenada de cavaleiros da cruzada nunca poderia
igualar.
— Mas eles não podiam ter certeza de que eu estava morto. —
Qual deles o viu cair? Quem esteve com ele naquele dia?
— Apenas alguns escaparam daquele ataque. Eles disseram
que mesmo se você tivesse apenas sido ferido, os pagãos iriam
matá-lo como sempre fizeram com os cavaleiros da cruzada caídos.
— Eram os Cavaleiros Teutônicos que matavam todos os
derrotados. Mulheres e crianças também. Não os pagãos. —
Nenhuma de nossas lanças, havia dito Eufemia. A ferida é da forma
errada.
— Se eles simplesmente se convertessem isso terminaria —
disse Moira, articulando a lógica de toda a cristandade.
— Se eles se convertessem, eles não perderiam apenas seus
deuses. Essa cruzada não é apenas sobre o cristianismo, mas sobre
a terra. Os Cavaleiros Teutônicos têm um reino que se estende por
centenas de quilômetros fora de sua cidade de Marienburg, tudo isso
tomado quando eles derrotaram tribo após tribo, e eles procuram
mais. Eles dão a terra aos cruzados que lutam por eles. Eles até me
deram um pouco para compensar minha provação. Mas agora eles
encontraram um povo que não será facilmente conquistado, e um
rei tão perspicaz quanto qualquer cavaleiro teutônico ou papa
romano.
Simplesmente fluiu, inesperado, pensamentos nunca antes
articulados, libertado por Eufemia, ele de repente vira aquela
cruzada de um modo diferente. Na maneira de Eufemia. De volta
com os Cavaleiros, não precisando mais das ilusões que o tinha
sustentado durante seis anos, a balança tinha caído de seus olhos
durante a sua última reise no Wildnis. Tinha sido uma luta de
vingança pessoal quando ele embarcou, mas montando seu cavalo
através da carnificina de corpos naquela primeira vila indefesa, ele
sabia que nunca poderia fazer isso de novo.
Ele esperava que Moira parecesse mais chocada. Eles eram
pagãos e não os defendiam. Em vez disso, a curiosidade iluminou
seus olhos. — Que provação? Eles lhe deram terra, você disse, para
compensar sua provação. Se você não foi preso, não capturado...
— Eles são pessoas escravas. Eles se negociam, enviando a
maioria deles para o leste, na Rússia ou no Sul, até os sarracenos.
Eles fazem ataques de escravos em terras vizinhas. Fui capturado,
mas não preso do jeito que você pensa. Por seis anos eu era
escravo. Não fui negociado, mas mantido por um de seus padres. —
Ele jurou não contar a ninguém na Inglaterra sobre essa
degradação. Talvez essa paz tivesse seu lado perigoso.
Seus olhos azuis acenderam. — Você viveu como escravo sabe
o que significa, e a primeira coisa que faz ao voltar é me obrigar a
voltar à escravidão!
— Não é a mesma coisa. Eu não nasci para isso e você não é
uma escrava. Uma escrava não anda na carroça, mas a puxa. Uma
escrava não possui propriedade, mas é propriedade. Uma escrava
não fala com seu mestre como você faz comigo sem ser punida.
Ele não quis dizer isso como uma ameaça, mas ela recuou
como se ele tivesse, assim como ela. Um servo não falava com seu
lorde do jeito que ele permitiu que ela se dirigisse a ele também.
— Ainda assim, alguém poderia pensar...
— Alguém pensaria que após a sua libertação, um homem que
uma vez foi escravizado iria querer libertar o mundo? Isto não
funciona dessa forma. Um homem humilhado quer levantar-se e
tornar clara a distinção entre o passado e o presente.
— Então você me usa para se lembrar de que você não é mais
como eu sou. Eu aprimoro sua autoestima, tanto quanto
Darwendon. Eu confio que quando você conseguir Barrowburgh de
volta e estiver se afogando em status e propriedade e servos, você
não precisará mais de mim para alimentar seu orgulho e lembrá-lo
de quem você nasceu para ser!
Ele duvidava que fosse assim, porque ele não a manteve por
esses motivos. Sua explicação fazia muito mais sentido do que a
dele, no entanto, então ele não a corrigiu.
Ela virou o corpo e não falou por horas. Seu aborrecimento não
poderia afetar a paz, e ele não era muito dado a falar de qualquer
maneira. Com o olhar anguloso, ele podia olhá-la sem que ela visse,
por isso não perturbou os pensamentos que a ocupavam.
Ocasionalmente, ele a via repetir aquele fungar particular.
Ele deveria ter pensado nisso ontem. Quase todas as mulheres
escravas reagiram da mesma maneira sobre essa parte. Depois de
serem usadas, elas iriam querer se lavar. Ele ficou de olho em um
riacho ou lagoa.
— Você teve família lá? É permitido com os escravos? — ela
perguntou de repente, como se as horas não tivessem interrompido
a conversa.
— É permitido, mas não livremente escolhido, e claro que não
há casamento cristão. Outra maneira em que os escravos são
diferentes dos villeins.
— Como você disse no hallmote, só porque a Igreja interferiu.
O sol tinha atingido o pico e começara a cair quando ele deixou
a floresta para trás e examinou o campo. Ele viu o brilho da água
não muito longe e dirigiu a carroça em direção a ela, saindo da
estrada e descendo uma colina baixa em direção ao pequeno lago.
Moira desceu da carroça, espreguiçou-se e suspirou com
exagero para que ele soubesse que ele havia esperado muito tempo
para parar.
— O lago parece raso. Vá e lave se quiser. Eu ficarei aqui com
a sua carroça — disse ele.
Ela olhou para ele com surpresa e então suspeita. Ele se
esticou na colina atrás da carroça onde podia observar a estrada. Ela
deve ter percebido que ele não podia vê-la daquela posição, porque
ela remexeu em uma cesta e depois caminhou até o lago.
Ele despojou a túnica de camurça. O couro fino era mais frio
que a lã, mas ainda quente demais para o sol do verão. Deitado na
grama, ele fechou os olhos e tentou não imaginar o corpo
exuberante sendo descoberto a trinta passos de distância.
Isso se mostrou impossível, já que a manhã inteira parte de
sua mente estivera adivinhando as várias partes até que tivesse
construído uma imagem razoavelmente completa. Seios cheios, altos
e firmes, o suficiente para encher suas mãos, provavelmente com
pontas marrons aveludadas. O resto, de cor cremosa, como as
nádegas que ele tinha visto, muito mais claro que o bronzeado de
seu rosto. Elegantes linhas curvas onde o tronco afunilava até a
cintura e depois se curvavam para os quadris femininos. Pernas
compridas, com as coxas... Tê-la em Londres seria muito
desconfortável se a condição de seu corpo agora fosse uma
indicação. Sua presença poderia trazer paz para sua alma, mas o
preço seria uma tortura de um tipo diferente.
Bater da água juntou-se aos sons dos pássaros e da vida
selvagem. Moira não conseguia encontrar lugar no pequeno lago
que seria invisível da estrada, então ela se absteve de se despir
como queria fazer. Em vez disso, ela juntou as saias ao redor das
coxas e, virando as costas para a carroça, esfregou as pernas.
Desatando o laço no topo do corpete, ela tirou o vestido dos
braços e ombros. O cheiro daqueles homens havia chegado ao nariz
dela por mais de um dia, lembrando-a da experiência. Essa parada
iria atrasá-los por uma boa hora, mas ela estava grata por Addis ter
feito isso. Ele ainda mancava e, presumivelmente, precisava
descansar o quadril, mas ela suspeitava que ele tivesse adivinhado
que ela queria se lavar. De pequenas maneiras como essa, ela havia
visto algumas rachaduras na fachada dura.
Seria bom acreditar que um dia a casca inteira se
desmoronaria e o antigo Addis surgisse, mas ela duvidava que isso
pudesse acontecer. Ela não tinha certeza se ela iria querer. Ele podia
ter endurecido, e também sério e afiado, e isso poderia servir bem
para ele nos próximos meses. Sua própria maturidade também lhe
dera a sabedoria de admitir que o jovem Addis não estivera isento
de falhas.
A garota nela poderia desejar que o jovem escudeiro voltasse,
mas a mulher preferia o homem.
Ela jogou água nos braços e no pescoço. Olhando por cima do
ombro, não pôde vê-lo, então baixou o vestido e lavou os seios. Sim,
ela gostava muito do homem, mas ela podia passar sem o
autocontrole silencioso dele. Não foram apenas seus anos no Báltico
que fizeram isso com ele. Sua vida como escravo podia ter forjado a
dura privacidade que blindava sua pessoa, mas as mudanças
internas haviam começado antes de ele partir. Provavelmente era
por isso que ele havia partido, e Claire estava na raiz de tudo.
Bela Claire. Claire elegante, charmosa e radiante. Claire frívola,
mimada e vaidosa. Ela tinha amado Claire com aceitação do jeito
que uma irmã poderia, mas sempre soube o que ela tinha dentro
dela e se maravilhou de que ninguém mais notasse quão pouco de
essência estava sob a luz. Certamente não os homens.
Definitivamente não Addis, mas ele também tinha sido mimado e
vaidoso. Eles nasceram um para o outro, duas crianças perfeitas e
egocêntricas que assumiram que o mundo havia sido criado como
cenário para o amor idílico deles.
Ela se lembrava deles no noivado, parecendo figuras que
haviam saído de uma tapeçaria. Ela ficou impressionada como todo
mundo. Quem não ficaria? Addis estava tão alto e forte, o cavaleiro
perfeito, seus olhos escuros e profundos em chamas. Claire parecia
etérea, flutuando em seda e virtude, segura na convicção de que em
Addis ela tinha conseguido o que obviamente merecia.
Então o sonho terminou, o idílio se despedaçou e o mundo se
intrometeu com suas duras verdades. E Claire não conseguia sequer
olhar para os destroços resultantes, quanto mais para tocá-lo. Moira
sabia mais sobre Claire e Addis do que qualquer outra pessoa. Muito
mais do que Addis suspeitava. Muito mais do que ela gostaria.
Uma onda de atividade no lago colidiu através de seu
devaneio. Pássaros e aves aquáticas subitamente tomaram um voo
barulhento. Ela se virou para ver Addis caminhando pela água rasa,
nu até a cintura, criando violentos turbilhões e salpicos, vindo em
sua direção com uma expressão perigosa.
O instinto de mulher gritou um aviso. Ela olhou para baixo e
viu pernas e coxas nuas e uma roupa molhada agarrada aos seios,
mal os cobrindo. Frenética sobre sua vulnerabilidade, e não
gostando da determinação com que ele se apressava em direção a
ela, ela se virou e tentou correr, seus pensamentos embaralhados
por seu alarme.
Porque agora? Se ele planejasse forçá-la, ele poderia ter feito
isso a qualquer momento. Ontem à noite, ontem mesmo.
— Não fuja. — Ele não gritou, mas o comando foi claramente
transmitido sobre a água. Seu tom de voz não a tranquilizou.
Segurando o vestido fez um movimento estranho e ela deixou a saia
cair. Um erro, isso. O tecido serviu como um pavio e imediatamente
ela estava arrastando roupas pesadas e encharcadas.
Ele foi para cima dela em um instante, agarrando-a pela
cintura. Ela torceu e se contorceu e empurrou com o braço não
apertando o vestido para seu corpo. Ela abriu a boca para gritar,
mas uma palma áspera a amordaçou. — Grite e eu vou ferir você —
ele rosnou.
Ele começou a arrastá-la para a margem, dizendo algo que ela
não ouviu enquanto ela lutava cegamente.
Como ela poderia ter sido tão estúpida! Claro que ele queria
sua serva com ele. Mais conveniente do que procurar prostitutas.
Ela empurrou um cotovelo bruscamente em seu estômago e
ele cuspiu uma maldição. O lago e a margem passaram desfocados
enquanto ele a virava de lado, levantava e a pendurava por cima do
ombro.
Ela despejou argumentos desesperados nas costas dele. — Me
liberte! Não faça isso! Você é um cavalheiro honrado e nobre.
— Fique em silencio!
— Eu não vou! Pense na sua alma. Meu Deus, você foi a uma
cruzada. Você provavelmente já garantiu a salvação. Você arriscaria
isso por alguns momentos.
— Dentes do inferno, mulher, acabei de lhe contar... — Ele
subiu a margem e a jogou embaixo de um arbusto alto. Ela rolou e
se arrastou para rastejar para longe, ainda segurando o vestido
molhado no peito. Mãos firmes agarraram seus quadris e a
arrastaram para trás, depois a viraram. Ela assistiu com horror
quando ele desceu sobre ela, imobilizando-a com seu corpo.
— Abra suas pernas.
Ela bateu em seus ombros e rosto com a mão livre. — É
melhor você me matar, seu animal, porque se eu viver não vou ficar
em silêncio. Eu irei para as cortes reais! Eu vou te ver queimado ou
castrado!
— Abra-as! — Ele pressionou o braço dela sobre a cabeça dela
com uma das mãos e puxou as pernas dela com a outra e empurrou
a saia molhada até as coxas.
Oh santos! Como ela poderia estar tão errada? Como ela
poderia ter sido tão tola a ponto de ignorar o que ele era capaz?
Ele agarrou o cabelo dela, forçando o rosto a encontrar o dele.
— Eu disse que não vou te machucar! Ouça! — O tom e os olhos
dele a deixaram em pânico. Ele olhou por cima do ombro, do outro
lado do lago. — Ouça.
Respirando fundo, ela voltou sua atenção na direção do gesto
dele. Sons de cavalos e conversas ressoaram pela água. Um alarme
diferente substituiu seu medo.
— Quantos?
— Entre vinte e trinta.
— Cores?
— Branco e escarlate.
— Simon…
— Talvez não. Sem dúvida, você acha que eu deveria ter
parado na estrada e os saudado para ter certeza primeiro.
— No entanto, estamos muito longe de Barrowburgh.
— Mas estamos pertos o suficiente.
Ela podia ver a estrada por cima do ombro dele. Os primeiros
cavaleiros apareceram à vista. O que eles veriam se olhassem para o
lago? Uma carroça e um burro de uma fabricante de cestos, e um
homem e uma mulher se acasalando debaixo de um arbusto. Melhor
do que uma mulher seminua tomando banho e Addis de Valence
dormindo no morro, especialmente se viessem de Barrowburgh. Ou
uma carroça desacompanhada que poderia tentar o excesso. Uma
carroça com seu rubi nele.
— Você vê uma insígnia ou estandarte? — Addis perguntou
baixinho na curva do pescoço dela. Apesar de sua atenção na
estrada, seu calor e respiração a inquietavam.
— Sim. Um passa agora. Uma insígnia. Escarlate, depois
branco. Um falcão dourado cruza as cores.
— São de Simon.
— Você acha que eles se dirigem para Darwendon?
— Não há como saber. Você quer que eu vá lá e pergunte?
— O cavalo…
— Ele pasta nas proximidades, abaixo de uma elevação. Eles
podem não o ver e se o fizerem, não há nada para dizer que ele é
meu. A espada nem é arma de cavaleiro.
Ela abraçou os ombros dele com o braço livre. Duvidava que
muito mais fosse visível do que as formas emaranhadas de duas
pessoas e as pernas nuas de uma mulher, mas, se parecessem
assim, admitiriam que um artesão e sua esposa pararam para se
divertir.
Eles foram notados. Ela viu um ponto de mão e ouviu risadas
baixas e alguns comentários irreverentes. — Alguns estão parando.
— Então me perdoe senhora. — Ele alavancou ligeiramente o
peso e pressionou os quadris para frente. Ela fechou os olhos em
humilhação ante a evidência de que o estratagema não era
inteiramente uma invenção. Bem, se ele não reagisse ao ser
segurado entre as coxas de uma mulher, haveria algo errado com
ele.
— Eles estão se movendo. — Ela manteve os olhos abertos até
os sons começarem a enfraquecer e o último homem passar. — Eles
se foram — ela disse, sorrindo de alívio.
O rosto olhando para baixo a poucos centímetros do dela a fez
ficar muito quieta. Sua expressão parecia grave e decidida e
desprovida de qualquer preocupação com a passagem de soldados.
Sua conexão física bradou abruptamente por atenção.
Ela ficou agudamente ciente de seu braço abraçando os
ombros retos que pairavam acima dela e a sensação de sua pele
quente sob sua mão. Despojada do medo, ela o viu sob nova forma
caminhando pela água, os músculos escoriados em seu peito
brilhando ao sol, a roupa de camurça encharcada contra seus
quadris e coxas, seu cabelo escuro voando atrás dele. As imagens
carregavam um apelo perigoso.
O silêncio ficou pesado. Ela tentou ignorar a natureza erótica
de suas posições, mas em vez disso, ela estava incrivelmente
consciente de cada centímetro dele e a expressão nos olhos dele
falava de sua consciência também. Ele lentamente olhou para sua
testa, seu nariz, sua mandíbula, e então inclinou a cabeça para
examinar os ombros e o peito muito visíveis acima da mão ainda
segurando o vestido no peito. Sua pele corou sob seu olhar sinuoso,
tornando impossível fingir que ela era indiferente.
— Ainda quer ir para as cortes reais, Moira? Para me queimar
ou castrar? Você é uma mulher vingativa. — Ele sorriu. O segundo
que ela viu. — E eu que pensei que você pelo menos não tinha
medo de mim.
Não como os outros, mas estou com medo. Apreensão
expectante passou por ela com uma represália agora,
estranhamente deliciosa e cheia de uma qualidade estimulante. Ela
encheu sua barriga com uma curiosa leveza e fez todos os seus
sentidos anormalmente alertas. Nada além de problemas, nada além
de vergonha, alertou sua consciência, mas mesmo assim seu corpo
começou a relaxar embaixo dele por conta própria, moldando-se a
sua força, recebendo sua pressão. Ele poderia dizer? Ele sentiu o
calor formigando nela? Um poder derramou dele que dissesse
aquilo.
— Tenho essa tendência ridícula de ficar histérica sempre que
um homem se joga em mim e ordena que eu abra as minhas pernas
— disse ela secamente, na esperança de afastar os dois do abismo
para o qual pareciam estar se aproximando.
Ele removeu a parte inferior dele do corpo dela, liberando suas
pernas, mas ele não se afastou. Seus olhos examinaram os dela
pensativamente daquele modo invasivo, exigindo uma conexão
invisível. — Se você tivesse parado de lutar por um momento, teria
me ouvido explicar.
Ela poderia fugir agora. Ela só precisava empurrar aqueles
ombros e isso terminaria. Ela nunca seria capaz de fingir que fora
diferente. Mas sua masculinidade a intoxicou e seu poder e mistério
a compeliram, e todo o seu corpo se sentiu ansioso e esperando de
uma maneira que nunca havia experimentado antes.
Ele demorou uma eternidade. O tempo pulsava em silêncio
com seus sentimentos, um palmo de mão separado, seus olhos fixos
em um olhar mutuamente nu. Muito depois de sua respiração ter
acelerado e seu coração confuso ter aceitado, ele esperou. Ambos
sabiam que ela não iria impedi-lo antes que ele baixasse a boca para
a dela.
Quem teria pensado que aquela boca dura poderia beijar tão
suavemente? Seus lábios pressionaram e se moveram e morderam
em uma dança lenta e sedutora, como se ele testasse o gosto dela e
verificasse sua submissão. Pelo que Claire descrevera, ela esperava
uma explosão de paixão violenta, não essa moderação delicada e
quase infantil. Aqueles beijos deliciosos e reveladores invocaram a
melancolia lembrada de uma menina que assistia das sombras e o
desejo ofegante de uma mulher por muito tempo sem um homem, e
sua resposta complexa e pungente à união a surpreendeu. Era a
garota ou a mulher que impulsivamente abraçava seus ombros,
puxando-o para mais perto?
Seus braços circularam seu corpo e a arquearam para cima
dele e o próximo beijo não foi praticamente tão cuidadoso. Tomado
por possessividade que cresceu primitiva, sua língua seduziu uma
abertura e depois explorou com uma gentil intimidade que
rapidamente se transformou em exigência. O calor de seu peito
queimava através da umidade fria do vestido que mal cobria seus
seios, provocando sua pele com o contraste. Memórias, emoções e
sensações eletrizantes se fundiram em uma aceitação desamparada.
Ela estendeu sua mão no cabelo dele e juntou-se a ele em uma
paixão ascendente que apagou tudo, exceto o espantoso desejo de
dar e receber.
Ele terminou isso, não ela. A tensão do controle deslizou
através dele como um redemoinho de água. Ele afrouxou o abraço
e, separando-se ligeiramente, arrastou sua boca sobre o pescoço e
os ombros dela, fazendo pequenas amostras de calor em sua pele
esfriada pela água que parecia afundar em seu sangue. Um gemido
de afirmação quase escapou dela quando ele começou a explorar
seu corpo, descobrindo sua forma com uma mão firme que vagava
pelos quadris e barriga e encontrou as coxas enterradas sob a
roupagem encharcada.
Ela aprendera alguma coisa de namoro com o segundo marido,
mas nunca quisera dessa maneira, nunca tremera dos pequenos
toques ou esperara com tanta antecipação concentrada para aquela
mão possessiva seguir em frente. E aquele habitante da cidade
nunca demorou tanto para beijar e acariciar, e nunca fez seu corpo
experimentar um desejo tão delicioso e gotejante.
Ele removeu o tecido estampado engessado contra o peito,
expondo seus seios à luz do sol salpicado. Ele os acariciou e ela
rangeu os dentes ao desejo ofegante de seu toque e olhar gerado.
Quando um polegar se curvou e roçou um mamilo apertado, todo o
seu corpo reagiu com uma extensão instintiva de oferecimento.
Ele acariciou sua suavidade com o rosto e, em seguida,
ergueu-se em um braço reto.
— Não aqui — ele disse. Ele cobriu seu peito totalmente com a
mão, a palma pressionando o mamilo duro e os dedos se
espalhando pelos lados. Ele observou a mão dele descer pelo corpo
dela, curvando-se ao redor da cintura e do quadril, espalhando-se
sobre a barriga, alinhando-se para baixo e para cima das coxas. Ele
finalmente segurou nas mãos em concha o montículo de mulher com
uma pressão sutil que provocou emoções famintas de sensação. A
carícia longa e estudada pronunciou a posse reivindicada, mas
atrasada. — Agora não.
Ele a beijou, uma mera roçada de lábios e se virou para se
levantar. Os músculos das costas dele esticados e amarrados
enquanto ele se levantava, deixando seus braços vazios e o corpo
apertado de desconforto.
Emoções conflitantes a assaltaram. Uma gratidão vaga que ele
mostrara moderação, mas forte desapontamento por ele não ter ido
mais longe. Um ressentimento irritante que ele havia negado a ela
uma vez que ela queria isso.
Ela olhou para a água e a estrada e a realidade cortaram suas
percepções aturdidas. Ela percebeu com um choque como eles
estavam expostos.
Ele estendeu a mão e ela olhou para o comprimento de seu
braço. De repente, ela os viu como os outros, uma serva seminua
deitada aos pés de seu senhor. Na verdade, isso foi, sem dúvida,
como ele os viu. As suposições implícitas em suas últimas palavras
ecoaram. Um conhecimento devastador de que ela acabara de
cometer um erro horrível se aproximava dela.
Ela alcançou através dos ecos de anseio e encontrou seu bom
senso. Agora não? Nunca. Ela puxou o vestido para cima e tentou
duramente ficar de pé. Ela se afastou dele com vergonha.
— Você tem outras roupas? — ele perguntou.
— Na margem... perto de onde eu estava de pé...
Ele saiu e os trouxe para ela. Ele entrou na água e ela deu uma
ida até o bosque para se trocar, ouvindo as pancadas na água do
seu banho. Ela vestiu o vestido azul, pensando que no futuro ela
também usaria um tubinho apesar do calor. Ela colocou um véu
baixo sobre o cabelo e prendeu a touca em volta do pescoço,
embora a touca ficasse desconfortável enquanto viajavam.
Coberta da cabeça aos pés em tecido, ela caminhou ao redor
da beira do lago até se juntar a ele perto da carroça. A água
brilhava em seu cabelo e peito bronzeado e encharcava sua roupa
inferior contra suas pernas duras. Seus olhos escuros carregavam a
intensidade que a incomodava desde o começo. A mensagem deles
parecia muito óbvia agora, e ela se perguntou como poderia ter sido
tão ignorante.
Ele não tinha jogado de forma justa. Por que ele não poderia
ter olhado e tateado como os outros homens, então teria sido
evidente? Por que ele não podia ser um completo estranho e não
alguém que velhas lembranças insistiam ser incapaz de vê-la dessa
maneira? Ela teria insistido em voltar com aquela carroça que
passou em vez de ficar com ele. Agora eles estavam viajando para
Londres juntos, e esse outro assunto ficaria entre eles o tempo todo
criando santos que sabiam das dificuldades. Ele provavelmente
pretendia que ela servisse como sua lehman, no tempo lá e agora
ele supunha que ela concordara com isso. Seria muito embaraçoso,
muito difícil e talvez muito perigoso.
Ela começou a subir a colina. Os sons da carroça a seguiram. O
perigo, admitiu com pesar, veio de si mesma assim como dele. A
oferta de sonhos infantis realizados puxou as rédeas atrás dela. A
promessa de paixão e calor caminhou próximas, bonita em forma,
alisada pela água e brilhando ao sol.
A sugestão de que talvez valesse a vergonha e a ruína enfiou
um dedo em sua mente, horrorizando-a.
Queridos santos, o que ela tinha feito? Ela sabia a resposta
lamentando-se com certeza. Ela arriscara tudo, sua chance de um
futuro decente, seus planos para um casamento e família, seu
direito de respeitar, até mesmo sua própria determinação, por uma
onda imoderada de beijos e carícias.
— Vou andar um pouco — disse ela por cima do ombro quando
chegaram à estrada. A carroça seguiu. Ela olhou para trás e viu que
ele guiava na estrada. Ela olhou de novo algum tempo depois e
notou que ele havia colocado a túnica, o que ajudou um pouco, mas
aquele sol que brilhava lindamente em seu rosto, que não ajudava
em nada. Sob essa luz, sua aparência bronzeada era composta de
planos, cumes e ângulos esculpidos, e as sombras mais profundas
continham olhos que a estudavam.
Nada além de problemas. Ela suspirou. Ela estava carregando
uma tigela cheia de óleo emocional nos últimos dias e agora alguns
tinham derramado e ela não sabia como limpar isso.
Ela deve ter andado uma hora antes da carroça se aproximar e
a respiração do burro aquecer seu ombro. — Suba agora — disse
Addis. — Você está nos atrasando demais.
Ela apenas se arrastou para frente. A carroça parou. Alguns
momentos depois, braços a levantaram. Ele a levou pelo animal e a
largou no banco, depois subiu e tomou as rédeas. — Não seja
criança. Eu não vou te devorar.
Ela se empoleirou o mais longe possível dele e acomodou seu
vestido em montes ondulantes e abstratos.
Addis assistiu aos preparativos com tanto aborrecimento
quanto diversão. Será que ela realmente achava que se envolver
faria alguma diferença? Ele só tinha que olhar para ela e sua
memória substituía sua expressão cautelosa com a paixão cintilante
que ele tinha visto há pouco tempo atrás. Sua mente facilmente
arrancou a roupa azul e examinou novamente o corpo forte e os
seios cheios e suplicantes. Sua postura rígida e imóvel agora mal
conseguia apagar a sensação de seu espreguiçar lânguido e
tremores de prazer.
Sua boca séria só o lembrava de seus beijos quentes e
cativantes.
Beijos maravilhosos. Ele havia esquecido quanto tempo havia
passado desde que ele tinha gostado de beijar uma mulher.
Anos. Desde a sua juventude, agora que ele se perguntava
sobre isso. Houve pouco beijo com Eufemia e nenhum com as
prostitutas antes dela. Beijar era algo que ele fizera como escudeiro,
pequenos marcos no caminho de metas frequentemente não
alcançado com aquelas criadas e garotas da vila que substituíam a
virtuosa Claire.
Se eles não estivessem em plena vista da estrada, ele poderia
ter ficado lá por horas apenas beijando os lábios e o corpo de Moira.
Ela se arrependeu. Ela teria andado todo o caminho para
Londres se ele não a deixasse saber que ela se fez entender. Sua
irritação dizia que ele deveria ter lhe dado mais para se sentir tão
culpada. Acabara de reivindicá-la no chão junto ao lago, em vez de
se preocupar que ela se sentiria degradada por um rápido
acoplamento em plena vista da estrada. Ela era uma escrava, sua
serva, e ele recuou como se ela fosse uma dama virgem precisando
de colchões de penas e cortinas de veludo. Pela aparência das
coisas, deixá-la propensa novamente não seria fácil.
Ele olhou para os olhos azul-água fixos resolutamente na
estrada à frente. Nada fácil, mas cativante. Ele teria que seduzi-la
embora. Algo a mais que ele não tentava desde que ele tinha sido
um escudeiro. Ele poderia sequer se lembrar como era feito?
Ele esperaria até depois de Barrowburgh. Seu autocontrole
deveria tranquilizá-la, e o sucesso seria improvável com ela nervosa
assim. Também seria muito deselegante seduzi-la e depois ser
morto imediatamente.
Ela o pegou contemplando-a. Seu olhar se afastou e ela corou
como se tivesse lido seus cálculos. Ele sorriu um sorriso que ela não
viu.
Você teme que tenha cometido um erro estratégico, pequena
Sombra, e está certa. Eu teria assumido que você não me queria e
acomodou-se pelo conforto de sua presença, mas o desejo assim
encorajado nunca poderia ser realmente negado novamente. Agora
isso acabará apenas de um jeito. Mais cedo ou mais tarde, você será
completamente minha.
Capítulo V
― Corte isso.
Addis estendeu a faca bem afiada. Moira lamentavelmente
examinou os cachos negros que caíam em cascata sobre os ombros
e costas nuas, acenando ligeiramente, mais bonitos que a maioria
das mulheres. Foram as primeiras palavras que ele havia falado
durante toda a manhã, enquanto eles interromperam o jejum e se
prepararam para levantar acampamento. Ele mal a reconhecera,
como se toda a sua visão tivesse se voltado para dentro. A escuridão
tingiu seu humor.
— Você realmente precisa?
— Nenhum cavaleiro na Inglaterra se veste assim.
— Raymond se veste.
— Raymond sempre foi mais vaidoso do que Claire sobre seu
cabelo. Faça. Não vou cavalgar em Barrowburgh parecendo um
bárbaro.
A mão dela arrancou a lâmina. — Cavalgar em... você não
planeja...
— Você acha que eu vim apenas para olhar afetuosamente as
paredes da minha casa?
— Você está louco! Ele vai te matar!
— Você deveria esperar que sim. Você estará livre então. Brian
dificilmente insistirá em sua escravidão. — Ele pegou a mão dela e
bateu o cabo da faca nela. — Agora, corte.
Ela levantou uma espessa porção e a lâmina deslizou através
dela como se fosse de seda. Cabelo bonito. Tal como Deus para
desperdiçar isso em um homem. As ondas ficaram mais
pronunciadas enquanto os fios pesados caíam no chão. Quando ela
terminou, Addis correu os dedos para trás da testa. Sem uma
palavra, ele foi para a sela, retirou as roupas de uma sacola e
desapareceu nas árvores.
Ela começou a substituir os bancos e cestas na carroça de
onde Addis as havia removido para que ela pudesse dormir. Depois
do que acontecera no lago há dois dias, ela se preocupou com as
noites, mas ele agiu como se nada tivesse mudado quando
finalmente acamparam naquele dia. E assim ela foi poupada de ter
que bombardeá-lo com as negações que ela havia praticado a tarde
toda.
Na verdade, ele havia sido extremamente gentil nos últimos
dois dias, falando mais do que o normal, comportando-se com uma
polidez e atuação bastante indiferentes, se é que a verdade seja
dita, um pouco mais parecido com o velho Addis. Ficou claro que ele
também reconhecia que a intemperança tinha sido apenas uma
resposta imprudente ao abraço imposto a eles pelo perigo. Ontem
ela tinha se tornado lentamente menos cautelosa. Quando trocaram
algumas lembranças de dois guardas cômicos de Hawkesford, ela
finalmente riu em descontração e aceitou que sua transgressão não
criara o problema que temia.
Sua breve conversa sobre Hawkesford produziu uma nova
intimidade, nascida do reconhecimento de que anos atrás eles
tinham vivido vidas conectadas por aquela casa. A facilidade com
que ele falou disso assustou-a, uma vez que ele nunca mencionou
essas memórias antes. Ela tinha esperado dentro daquela conexão
quente por ele fazer as perguntas que certamente ele deveria ter
sobre Claire e Brian e todo o resto.
Em vez disso, ele mergulhou em seu silêncio pedregoso,
queimando a pequena ponte que haviam construído. Ele poderia
brincar com um guarda de pernas tortas, mas não discutiria as
coisas importantes. Se ele não tivesse acabado de mencionar Claire
antes de ela cortar o seu cabelo, alguém poderia facilmente se
perguntar se ele havia esquecido que ela existiu. Teria o seu nome
surgido agora porque eles estavam a uma milha de Barrowburgh, e
foi aí que o pior aconteceu?
Ela não deveria julgá-lo. A história de Claire nunca tinha soado
completamente verdadeira e mesmo que tivesse sido como ela
afirmou, Claire não tinha sido inocente. O que ela esperava? Moira
sabia a resposta para isso. Claire havia previsto a sua própria
maneira. Ela sempre tinha conseguido isso antes.
Ele emergiu das árvores. Seu coração fez um pequeno maldito
baque com a transformação. Ele não parecia mais o bárbaro
desalojado, mas sim o filho de Patrick de Valence. O cabelo caiu de
seu rosto em ondas grossas do jeito que tinha na sua juventude. O
próprio rosto de repente parecia dolorosamente familiar, apenas
desgastado e amadurecido e marcado para sempre pela experiência.
Ele usava uma calça estreita de couro preto e uma pequena túnica
azul amarrada por um cinto de cavaleiro, e esporas de ouro
cintilavam nos saltos de sua bota. Ela não tinha visto nenhum
símbolo de seu status antes, e imaginou que ele havia conseguido
isso em sua viagem com Brian. Os únicos outros sinais de riqueza
eram duas faixas de ouro circulando seus antebraços, mas cada
centímetro dele proclamava o nascimento e o sangue que
decretavam seu direito a Barrowburgh.
Ele começou a preparar seu cavalo. Ela observou, sentindo-se
estranhamente desconectada dele, como se a pequena amizade
tivesse evaporado com a névoa da manhã enquanto ele se vestia.
Ela sentiu a determinação nele, mas também ainda algo diferente
perturbador.
— A espada está aqui na carroça — ela disse, começando a
levantá-la.
— Não vou pegar isso.
— Você vai sem armas?
— Eu não precisarei delas.
— Você é um tolo.
Ele subiu no cavalo, lançando lhe um olhar de advertência que
a fez encolher. Muito mais difícil falar audaciosamente com esse
Addis do que com o homem que se sentara ao lado dela na carroça.
— Não tenho armadura e essa espada não é a lâmina de um
cavaleiro. Armas e armaduras me ajudarão pouco se Simon escolher
me matar. Que todos vejam que eu ando sem espada, então minha
morte será conhecida como assassinato. — Ele olhou para as copas
das árvores. — Venha aqui.
Ela se aproximou da perna dele. Ele se inclinou até que sua
cabeça estava perto da dela e apontou para cima. — Espere até o
sol se mover logo atrás daqueles ramos altos. Se eu não tiver
retornado, pegue a carroça e volte para a estrada Romana e siga
para o leste. Você deve chegar a Waverly ao anoitecer.
— Para um homem tão certo de que não está em perigo, você
certamente disfarça a eventualidade de sua morte com prudência.
Ele se endireitou. — Nunca se sabe.
— De fato. Então vamos ser cuidadosos. Se você não voltar, eu
vou para o oeste, não para o leste, para buscar Brian. Onde ele
está?
— Ele está seguro e não é mais sua preocupação.
— Não? Então, de quem será a preocupação dele? Aqueles que
cuidam dele sabem o que fazer se você morrer? Eles entenderão
que Simon nunca deve...
— Se eu morrer, ninguém jamais o encontrará.
— Ele ficará assustado e pensará que foi abandonado por
todos. Diga-me e eu vou deixar Raymond saber e vamos pegá-lo e
mantê-lo seguro. Vou morar em Hawkesford e cuidar dele.
— Você iria para a cama de Raymond pelo bem de Brian? Você
deve saber que é a única maneira de voltar a Hawkesford.
Ela iria? Raymond nunca usou seu amor pelo garoto contra ela,
mas se isso se tornasse uma condição de tê-lo de volta, ela
aceitaria?
— Se eu estiver morto de novo, as coisas não serão diferentes
do que era há um mês. Ele não estaria seguro em Hawkesford, e
Simon vai procurar em Darwendon também agora. É melhor que ele
cresça onde está. — Ele girou o cavalo e se dirigiu para o caminho
que ligaria a estrada à sua casa. Na beira da floresta ele parou e
olhou para ela. — Venha cá — ordenou ele outra vez.
Ela se aproximou. Ele parecia magnífico naquele cavalo.
Nenhum estandarte ou comitiva anunciaria sua honra, mas sua
presença comandava a atenção e conseguia exalar autoridade de
qualquer maneira.
— Não pense em fugir, Moira. Eu a encontrarei se você o fizer
e ficarei descontente com o tempo que isso levar.
— Santos, nós certamente não queremos que você fique
descontente, meu senhor. — Ela falou levianamente para esconder
sua preocupação com a segurança dele e seu aborrecimento com
Brian. E seu espanto por ela sequer considerar a possibilidade de
escapar que a ausência dele criaria.
O Senhor de Barrowburgh não achou divertido o sarcasmo de
sua serva. Dedos ásperos seguraram seu queixo e inclinaram sua
cabeça para cima. — Não, você não faria. Eu a favoreço muito, mas
não pense erroneamente a minha vontade sobre isso. Uma parte da
alma de seu senhor não mais vive pelo cavalheirismo cristão ou
adota os costumes desse reino. Ele sabe muito bem como impor a
obediência se for necessário. Você é inteligente o suficiente para
saber que este dia de todos os dias não é o momento de me
desafiar. Ore para que ele me mate se quiser, mas esteja esperando
aqui se ele não o fizer.
Ele chutou o palafrém e desapareceu na floresta.
Ela observou a floresta engoli-lo. Com uma intensidade
horrível, ela experimentou de novo aquela severa certeza de perda
que sentira quando ele e Brian se afastaram de Darwendon. Foi à
conversa do menino que fez isso com ela?
Ela se ocupou empacotando os itens restantes na carroça,
procurando distração do estranho humor.
Ela deveria rezar para que ele morresse. Ela não tinha deixado
Darwendon deliberadamente pretendendo terminar uma vida e
começar outra? Um sinal de Simon durante as próximas horas e ela
estaria livre.
De repente, ela imaginou isso acontecendo com uma clareza
sinistra. Ela viu em sua mente Simon saudando Addis como um
irmão, oferecendo-lhe vinho, sutilmente fazendo o sinal que trazia
uma espada para baixo. Um grito silencioso e visceral a sacudiu
enquanto a arma caía. Ela viu os olhos dele, plácidos e receptivos, e
algo como alívio passou neles enquanto as luzes se apagavam.
Ela piscou a imagem e girou para olhar o local onde ele havia
desaparecido.
De repente, ela reconheceu a emoção obscurecendo sua aura
toda à manhã. Uma pequena parte dele esperava que isso
acontecesse assim. Ela só sabia disso, mesmo que ele não soubesse.
Ela sentiu isso nele uma vez antes, como uma força incitando-o em
direção a um desespero que fez o abismo sedutor. Ele poderia
ganhar socorro do que encontraria em sua casa e se espalhar até
enfraquecer sua vigilância e entorpecer seus instintos. Ela deveria
saber disso antes, pelo que era, e disse ou fez algo para frustrar seu
poder insidioso.
Amaldiçoando sua estupidez, ela procurou uma faca em uma
de suas cestas. Ajoelhando-se, ela cortou as correias amarrando sua
bolsa de moedas abaixo das tábuas da carroça. Então ela puxou a
cesta de costura, enfiou o pequeno saco dentro e caminhou para as
árvores. Encontrando um trecho espesso de vegetação, ela o
enterrou.
Ele ordenou que ela ficasse aqui e ameaçou puni-la se ela não
o fizesse, mas ela não podia sentar e observar o sol se mover até a
passagem do tempo anunciar o pior. Ela tinha que estar lá. Ela não
poderia ajudá-lo se algo desse errado, mas ela poderia dar
testemunho. Deixe pelo menos uma pessoa em Barrowburgh estar
disposta a falar a verdade.
Ela rapidamente pegou uma variedade de cestas de sua
carroça, empilhando-as dentro de outras com alças que ela
pendurou no braço. Ela olhou para o vestido azul, adequadamente
desgastado e um pouco sujo dos últimos dois dias. Anônima em sua
identidade de artesã, ela correu pelo caminho atrás dele.
O porteiro da cidade se afastou sem uma palavra de desafio,
boquiaberto com espanto. Ninguém levantou um grito, nenhum
corredor o precedeu, mas quase que imediatamente as pessoas
começaram a aproximar da rua principal para dar uma olhadela
enquanto ele passava. Simon talvez já soubesse que ele ainda vivia,
mas as pessoas da cidade de Barrowburgh ficaram boquiabertas
com o ressuscitado Addis de Valence.
Ele tomou seu tempo, sabendo que a informação chegaria ao
castelo muito antes dele. Ele queria dar a Simon tempo para decidir
o que fazer. A rua ficou cheia com os espectadores enquanto as
casas e lojas se esvaziavam. Alguns na multidão começaram a segui-
lo. No momento em que ele passou pelos fornos e pombais do solar,
uma grande comitiva de moradores da cidade se juntou a ele.
O portão do castelo estava aberto. As carroças lotavam o pátio
externo, onde mercadores e artesãos vendiam suas mercadorias.
Escarlate e branco voaram das muralhas e coloriram a farda dos
guardas e cavaleiros que se misturavam com os vendedores. O
barulho da barganha diminuiu enquanto ele passava pela parede
interna.
Este portão permaneceu fechado. Ele trouxe seu cavalo para
perto e esperou. Um guarda examinou seu animal e corpo em busca
de armas e depois deu o sinal para permitir sua entrada.
As pessoas da cidade tinham seguido atrás dele e eles
sufocaram o pátio. Quando o portão subiu e ele passou por baixo,
eles avançaram, tornando impossível que a grade levadiça fosse
baixada novamente.
Ele foi até a escada da fortaleza do castelo. Seus olhos
imediatamente iluminaram o corpulento homem de cabelos escuros
que esperava em seu ápice com um manto vermelho rico decorado
com fios de ouro e joias amarelas. Ao lado dele estava uma mulher
de meia-idade e um belo cavaleiro de cabelos ruivos.
O rosto florido e barbado de Simon abriu um largo sorriso
quando Addis se aproximou. Levantando os braços em saudação, ele
desceu as escadas. — Um grande dia irmão e um abençoado por
Deus! Chorei de esperança com o boato de que você ainda vivia,
mas agora que vejo a evidência de sua verdade, estou tomado de
alegria!
Então era assim que seria. Addis desmontou e aceitou o abraço
de seu irmão de criação. — É bom andar em solo inglês e respirar ar
inglês de novo — ele disse, detectando o fingimento.
— Pelos santos, você parece bem! Mais magro, mas nada pior
para a sua provação.
— Como você, irmão. Mais gordo, mas contente e feliz. Traz-
me grande prazer encontrá-lo assim.
— Sim, um pouco gordo demais, receio. — Simon riu, batendo
em seu peito lardo. — Mas vem, vem. — Ele gesticulou para as
escadas. — Nossa mãe está ansiosa por novidades e me
incomodando há dias. Veja, ela fica impaciente.
Addis olhou para o sorriso forçado da mulher envolta em seda
rosa. Seu coração continha apenas aversão por Lady Mary, a viúva
manipuladora que brincara com a dor de Patrick de Valence depois
da morte da mãe de Addis. No momento em que Patrick saiu do
luto, Mary já havia se estabelecido com seu filho em Barrowburgh.
Dentro de um ano, Patrick compreendeu o erro que não podia ser
desfeito. Lady Mary deve ter ficado velha demais para uma boa
dissimulação, porque a sua própria saudação rígida não carregava
nenhuma efusão de Simon.
— E você se lembra de Owen — Simon acrescentou,
apresentando o homem ruivo. — Ele era o escudeiro de Sir Theo
naquela época.
Addis estudou o jovem cavaleiro. O escudeiro de Sir Theo
naquela época e o favorito de Simon agora. Sir Theo fora um dos
outros cavaleiros da cruzada báltica.
Simon passou um braço pelos ombros de Addis, virando-o para
a porta. — Temos muito que conversar irmão. Algumas coisas muito
tristes, eu receio, e tenho certeza de que você tem muitas
perguntas. Nossa mãe deu instruções para um banquete apropriado
para celebrar o seu retorno, mas vamos para o solar, onde podemos
conversar livremente.
Addis permitiu-se ser guiado para o grande salão, um espaço
que ele conhecia tão bem que ele poderia andar de um lado para o
outro com os olhos vendados e não tropeçar em um banquinho ou
pedra solta. Sua iluminação e seu aroma frio o assaltaram
parecendo um sonho lembrado de repente, cheio de fantasmas e
emoções cheias de nuances. Fragmentos de memórias brilhavam
enquanto ele se movia através dela, obscurecendo o fluxo de
amabilidades derramadas em seu ouvido pelo homem ao lado dele.
A sensação ficou mais forte no solar. Ele olhou ao redor da
câmara que tinha sido do pai dele.
Finalmente em pé aqui, novamente, continha a misteriosa
qualidade de ser ambos irreal e agudamente real ao mesmo tempo.
Somente quando Simon se sentou na cadeira do senhor suas
percepções se endireitaram.
Owen se acomodou contra a parede da lareira em frente a
Simon, atrás de uma cadeira vazia. Addis notou a vulnerabilidade da
posição atribuída a ele. Ele olhou para seu meio-irmão descansando
confortavelmente, sorrindo pacificamente, pedindo vinho. Ele está
bem contente sentado na cadeira do meu pai. Na minha cadeira.
Ele calmamente pegou a que estava de frente e começou a
ignorar a presença de Owen. — Eu não vi sua esposa. Como se
encontra Lady Blanche?
— Faleceu no ano passado no nascimento. Uma misericórdia,
talvez. Ela tinha sido uma menina doentia e fraca demais para levar
uma criança a termo. Perdeu quatro bebês ao longo dos anos. Bem,
essa é a vontade de Deus. Estou negociando um novo contrato de
casamento agora. Uma parenta de Hugh Despenser. Você deve
comparecer ao noivado.
Addis acenou com a cabeça como se Simon não tivesse
acabado de inserir uma lembrança nada sutil do poder por trás de
seu controle sobre Barrowburgh. Raymond não sabia dessa morte
conveniente de Lady Blanche.
— Fale-me sobre a morte do meu pai.
Simon teve a decência de parecer triste desta vez. — Houve
uma febre ruim na terra naquele ano. Levou muitos. Ele não sofreu
demasiadamente, e sua esposa cuidou dele, mas temo que, no final,
suas longas horas a enfraqueceram e podem ter levado a sua
própria doença depois que ela partiu. Meu coração se partiu quando
ele morreu, mas devo ser honesto com você, Addis, e dizer que
talvez isso tenha sido uma misericórdia também.
Tantas mortes misericordiosas. Deus foi muito compassivo
enquanto ele limpava os caminhos de Simon para ele. — Como
assim?
Os lábios de Simon se dobraram pensativamente. Ele se tornou
a imagem de um homem desconfortável em discutir verdades
desagradáveis. — Não fique zangado quando eu lhe disser isso, e
saiba que não digo isso para desonrar aquele homem bom. Mas a
rebelião de Lancaster foi à ação do diabo, e quando nosso rei
reprimiu, ele não conheceu misericórdia. Não havia quase uma
encruzilhada no reino sem um corpo pendurado em sua forca. Seu
pai havia sido muito generoso com os traidores em seu conselho
sobre como lidar com a insurreição, e a suspeita recaiu sobre ele. Se
Patrick tivesse vivido... Como foi o rei falou em confiscar as terras
por causa de traição. Foi somente por causa da minha amizade com
alguns de seus conselheiros que consegui manter isso na família.
— Mas você não é de Valence, Simon, nem o filho de Patrick.
Exceto pelo casamento de sua mãe, você não é de maneira alguma
família.
— É por isso que o rei foi receptivo. Se não fosse eu, teria sido
um barão distante sem qualquer relação, a quem ele devia um
favor. Pelo menos dessa maneira, sua esposa foi cuidada e seus
servidores mantidos. As terras permanecem inteiras e não separadas
e dispersas.
— Qual foi à prova contra o meu pai?
— Sua amizade com Lancaster. Algumas reuniões durante o
ano anterior à rebelião. Eu ouvi que havia mais, mas desde que
nenhum julgamento foi realizado...
— Ouvi dizer que nenhum julgamento foi realizado para
nenhum deles. Que os homens próximos do rei usaram isso como
uma desculpa para se livrar dos inimigos e pegar propriedades ricas.
— Os conselheiros do rei são homens honrados, que lhe
oferecem uma orientação muito necessária — disse Simon com
irritação. — Você sabe como é com Edward. Ele precisa de homens
fortes ao lado dele. Ele tem pouco interesse em questões de
governança.
— Todos os reis precisam de homens fortes ao lado deles e
bons conselhos. Mas ouvi dizer que Hugh Despenser é mais do que
isso e que sua influência sobre o rei é de natureza mais pessoal.
Dizem que ele é outro Piers Gaveston.
O rosto de Simon ficou vermelho com a menção do jovem
cavaleiro Gascon que se dizia ter sido amante de Edward quando o
rei era jovem. — Essas são mentiras indecentes e sempre foram.
— Se você diz. Eu só conheci Edward uma vez e não sabia.
Você está dizendo que Barrowburgh foi dado a você sem quaisquer
formalidades? Uma família não é tão descartada de seus direitos tão
facilmente.
Pela primeira vez Simon parecia menos do que totalmente
confiante. — O reino estava em alvoroço. Você estava morto...
— Eu estava em uma cruzada e os direitos e propriedades de
um cavaleiro são protegidos enquanto ele luta por Deus.
— Você foi visto derrubado. Não havia razão para acreditar...
— E o menino? O que aconteceu com o menino?
A expressão de Simon congelou. — O que aconteceu com o
menino?
— Sem meu corpo, quem poderia ter certeza de que eu morri?
Sob as circunstâncias, até que o fato ou o tempo provassem minha
morte, eu pensaria que as terras teriam sido mantidas para Brian.
Você pode ter sido nomeado guardião até ele atingir a maioridade,
mas é peculiar que o filho de um cruzado tenha sido tão facilmente
deserdado. Os costumes do reino não significam nada para o nosso
rei?
Simon nunca tinha sido um homem estúpido e sabia que Addis
estava expondo as ambiguidades que ameaçavam sua influência em
Barrowburgh. — Nosso rei enfrenta traição a cada momento, e seus
direitos substituem todos os costumes. Quanto ao menino, procurei
Brian, para lhe dar um lar e cuidados.
Addis sorriu. — Isso foi muito generoso da sua parte. Mas o
irmão da minha esposa cuidou dele. Você ficará aliviado ao saber
que ele está seguro e bem, escondido onde só eu sei e protegido de
qualquer conflito que possa se desenvolver.
Ele deixou suas palavras pairarem ali e observou Simon
absorver sua implicação. Um olhar penetrante e especulativo
encontrou o dele e uma tensão palpável fluiu no ar entre suas
cadeiras. O silêncio se estendeu com Simon examinando-o, tomando
sua avaliação. A presença silenciosa de Owen apareceu de repente
grande, alerta e à espera.
Quão confiante você está do favor do rei, Simon? O suficiente
para me matar aqui no seu solar? Addis sentiu a contemplação
perigosa do homem de frente para ele e a preparação tensa do que
estava por trás. Ele olhou ao redor da câmara, na mesa, na cama e
na tapeçaria, cada um no lugar que havia ocupado por gerações. A
sensação de irrealidade aumentou novamente, e com isso uma
indiferença entorpecente pelo perigo que o rodeava.
— Onde está a espada de Barrowburgh? — ele perguntou,
observando a parede vazia onde a arma pesada costumava se
pendurar. Quando o último rei insistiu que todos os seus ocupantes
principais documentassem seus títulos das terras de volta ao tempo
do rei Guilherme, o avô de Addis retirou a antiga espada da parede
e apresentou-a como prova.
— Perdida. Roubada.
Interessante. Como alguém perde uma espada? Ele ainda
sentia Owen atrás dele como um anjo pairando da morte.
Cautela ditou que ele apaziguasse as suspeitas de Simon por
enquanto, como planejara, mas de repente ele não se importava
muito com essas coisas. Em vez disso, sentiu uma vontade profunda
de provocá-lo.
— Você deve saber que não posso aceitar isso.
Os olhos de Simon piscaram com surpresa que o fingimento
seria tão ousadamente abandonado. Então eles se estreitaram da
maneira astuta e fria que Addis conhecia bem desde a juventude. —
Você não ganhará nada se não fizer.
— Não vou ganhar nada se o fizer. Ou é sua intenção se
afastar agora que você vê que eu estou vivo?
— Quando o rei me deu essas terras, a questão da sua morte
mal foi considerada. O fato de sua vida também não importará. A
traição de seu pai perdeu Barrowburgh.
Não mais “esse homem bom”, mas um traidor agora. — A
morte conveniente e misericordiosa do meu pai perdeu
Barrowburgh. Com minha ausência não havia ninguém para falar em
nome de nossa família, mas o que ocorreu pode ser desfeito. — Ele
se levantou. — Agora devo me despedir. Peço desculpas a lady Mary
por não poder comparecer às festividades que ela planejou em
minha honra.
Simon se levantou, não mais o afável irmão, mas um
adversário que acabara de receber um aviso justo. Addis se virou
para Owen. — Você estava com Sir Theo no reise onde eu caí. Theo
sobreviveu?
Owen balançou a cabeça.
— Mas você sim. Quão afortunado para você.
Owen corou com a insinuação de que a covardia salvara sua
vida em uma batalha em que a maioria morrera.
— Você volta para Darwendon? — perguntou Simon enquanto
desciam ao salão. Addis perversamente arranjou para que Owen
andasse atrás deles. Essa sensação de sonho se expandiu,
envolvendo-o com uma névoa extasiante. Uma pequena parte dele
desafiou Simon a dar o sinal ao seu escudeiro, porque isso
realmente não importaria. Ele dificilmente poderia ser morto se
nenhum deles realmente existisse neste tempo e lugar.
— Não. Não creio que estarei em Darwendon daqui a alguns
meses.
Ele flutuou pelo corredor sendo preparado para uma festa que
ele não iria comparecer. A luz do sol matinal o prendeu por um
momento quando saíram da fortaleza. Ele ficou olhando para as
pessoas da cidade e mercadores que perambulavam no pátio. As
cores de suas roupas pareciam muito brilhantes. Os detalhes das
paredes e muralhas pareciam muito afiados. Algo empurrou seu
cotovelo e ele olhou para ver Simon girando um pouco,
comunicando-se silenciosamente com o homem ruivo cuja presença
aquecia suas costas.
Ele conhecia seu risco com uma certeza calma, mas também
experimentou uma estranha irritação com a reticência de Simon.
Faça isso, um canto de sua mente sussurrou. Pense no
problema que vai nos poupar a ambos.
Ele ficou no topo da escada mais tempo do que deveria,
imobilizado por aquela pequena voz enquanto ondas de nostalgia e
cansaço e resignação o inundavam. A força formidável das
fortificações se erguia ao redor, as paredes da casa que ele teria que
destruir para recuperar. Olhares medrosos e protegidos de guardas
e habitantes da cidade encontraram seu olhar. Ele sentiu Owen se
mover e sentiu a mão se aproximando do cinto onde a adaga estava
pendurada. Ele não reagiu, tentando ainda, cegamente examinando
a multidão abaixo.
E então, como o sol atravessando o nevoeiro, ele se viu alerta
e consciente novamente em um instante. Seu olhar voltou para onde
acabara de passar, para uma mulher perto do portão, olhando para
ele por cima do ombro de um comerciante a quem ela mostrava
suas cestas.
O perigo uivou. A sonhadora letargia desapareceu. Pisando
abruptamente, ele colocou Simon entre Owen e ele mesmo.
— Até a próxima, Simon.
Ele se virou e caminhou até seu cavalo.
Capítulo VI
Ele ficou lá parado, um aceno de cabeça ou uma piscadela
da morte. Moira assistiu enquanto mostrava ao comerciante suas
melhores cestas. Ela desejou poder voar. Ela voaria por aqueles
degraus e dar-lhe-ia uma boa sacudida e o acordava para o perigo
que aumentava a cada momento de atraso.
Você podia sentir a morte no ar, como se a tensão crescente
entre os três homens tivesse se instalado no pátio inteiro,
acalmando a brisa e diminuindo o tempo. Até mesmo seu alheio
comerciante foi afetado. Ele se manteve espreitando para si mesmo
curiosamente, como se seu espírito soubesse que algo não estava
certo.
Addis parecia magnífico. Simon, por todas as suas joias e ouro,
não podia competir e parecia um homem vaidoso e pomposo que
não gostava nem compreendia a nobreza dominante ao seu lado
que atraía tanta atenção. Seu coração se encheu de orgulho e
tristeza com a imagem que Addis apresentou.
Tão certo. Tão inevitável.
Seu próprio lugar de direito entre o lago de plebeus que flui
abaixo dele também a atingiu com força. Ela não se ressentiu da
realidade disso. Alguém poderia se ressentir também do movimento
do sol ou a mudança das estações. Ela o observou inspecionar as
paredes e a multidão, estranhamente à vontade apesar de seu
perigo, confortável no lugar onde ele um dia se levantaria
novamente pela força de sua própria vontade. Quando aquele dia
chegasse, Moira, a fabricante de cestos, seria novamente uma
sombra, uma lembrança sombria de uma serva que o servira
enquanto ele decidia o caminho.
Seus olhos nunca o deixaram e ela respondeu às perguntas do
comerciante sem realmente ouvi-las. Ela pensou que sua cabeça se
separaria pelo suspense. Observou com apreensão a conversa
silenciosa entre Simon e o cavaleiro ruivo, notou a vacilação
hesitante de Simon, observou a postura de preparação do cavaleiro.
Se ele usasse um punhal, ele poderia arrastar Addis de volta para o
corredor antes que alguém soubesse o que tinha ocorrido.
Você foi longe demais, Addis. Ele vai fazer isso. Mexa-se agora!
Como se ouvisse seu pedido silencioso, seu olhar escuro
passou por ela, parou e retrocedeu. Por um instante, eles olharam
diretamente um para o outro. Assim como Simon fez o gesto mais
vago para o cavaleiro, Addis mudou-se para o outro lado de seu
irmão.
— Graças a Deus — Moira exclamou baixinho, exalando a
respiração que estava segurando.
Não muito suavemente, porque um cavaleiro de farda escarlate
se virou. Ela não havia notado ele tomar o seu lugar por perto.
Ele se aproximou, inclinando a cabeça careca para olhar para
ela. Moira tentou ignorá-lo, dando ao comerciante mais atenção,
mas manteve um olho no progresso de Addis para seu cavalo.
— Eu te conheço — disse o cavaleiro.
— Não, certamente não. Eu não sou dessas partes.
— Em Hawkesford. Eu vi você lá. — Seus olhos escuros
apertaram as maçãs do rosto enquanto ele procurava em sua
memória. O comerciante decidiu levar todas as cestas e ela juntou
as moedas na mão enquanto se afastava.
Uma mão pesada caiu no ombro dela. — Agora eu lembro. A
amiguinha de Lady Claire. Esses seus olhos e eles não mudaram.
Pode sempre se lembrar de uma pessoa pelos olhos.
— Você está enganado. — Addis estava em seu cavalo agora,
apontando para o portão. O cavaleiro agarrou seu braço e a puxou
para as sombras da parede. Enquanto ela resistia ao seu aperto,
olhou para as escadas. Simon ainda estava parado observando Addis
com uma expressão sombria, mas o cavaleiro ruivo desaparecera.
O homem pressionou-a contra as pedras, pairando em seu
corpo para que ela se tornasse invisível para qualquer pessoa no
pátio.
Não era um homem jovem, mas os anos não pareciam ter
embotado sua força. — Você está com ele? — ele perguntou.
— Quem?
— Não seja idiota comigo garota. Você veio com o senhor? Eu
vi vocês olharem um para o outro agora mesmo.
— Você viu errado.
Ele deu a seu braço um aperto firme que sacudiu seu corpo
inteiro. — Ouça você agora e ouça bem. Se você estiver com ele,
diga-lhe que Sir Richard aconselha que vá à aldeia de Whitly, perto
da abadia de St. Dominic. Nosso reeve7 ali, um homem chamado
Lucas, lhe dará abrigo esta noite, e eu virei pela manhã.
Addis estava passando a menos de cinco metros de distância.
Ele a procurou, mas não pôde vê-la contra a parede, com Sir Richard
bloqueando-a de vista. — Diga-lhe você mesmo.
— E ter aquele lobo olhando da escada me ver fazer isso? Não,
menina, aqueles leais a ele não servem se estiverem mortos.
Simon observava. Seus olhos poderiam ter perfurado buracos
em Addis do jeito que ele observou. Moira assentiu e empurrou
Richard para longe. Onde estava o cavaleiro ruivo?
Ela olhou para o portão pelo qual Addis acabara de passar. A
multidão no pátio exterior se separou, criando uma pista para ele.
Simon permaneceu na escada, como se esperasse que algo
acontecesse.
Ela examinou as pessoas, procurando por aquele cabelo ruivo.
Impossível ver muita coisa nessa multidão, mas aí ele não podia
fazer nada aqui embaixo. Ela olhou para as muralhas, empurrando
para o centro do pátio para uma melhor visão.
Uma cabeça vermelha se moveu ao longo da parede, voltando
para a fortaleza. Ela se virou na direção de onde viera. Um guarda
curvado na sombra onde a parede encontrava uma torre. O pânico
se dividiu através dela. Ela olhou para ele avistando sua balestra8, e
então girou para ver Addis se aproximando do portão externo, um
alvo lento.
Ela não hesitou. — Olhem! — ela gritou, apontando para o
arqueiro. — Lá em cima! Olhem! — Ela gritou desta vez, usando
toda a força de uma voz que cantou em grandes salas quando ela
era uma menina.
Corpos e rostos se voltaram. Ela continuou apontando e
gritando, e outras mãos e vozes se juntaram a ela.
Excitação e confusão ondulavam pelo pátio. Dezenas de dedos
levaram centenas de olhos para o guarda preparando seu tiro.
O barulho o distraiu. A flecha voou e Moira ouviu seu assobio
alto apesar do barulho. O cavalo de Addis se ergueu enquanto ele se
contorcia e olhava de volta para as muralhas. A flecha errou o alvo,
mas todos tinham visto e todo o caos se espalhou no pátio externo.
Mãos balançaram para bater na anca do cavalo e, de bom grado ou
não, Addis galopou por baixo da ponte levadiça.
Moira virou-se com alívio, apenas para encontrar os olhos
raivosos e astutos olhando para ela do alto das escadas.
Outra mão foi apontada, desta vez de Simon, desta vez para
ela. O cavaleiro ruivo começou a descer em direção a ela.
— Saia agora, e corra menina. — Sir Richard murmurou,
andando na frente dela. — Vou ver você passar pelos portões.
Sangue pulsando com medo, ela se virou e se esquivou na
multidão agitada. No pátio externo a multidão reduziu seu
progresso, mas ela deu uma cotovelada, apertou e espremeu para o
portão. Passando, ela não podia ver Addis na pista à frente. Apesar
do fluxo animado de pessoas da cidade que a cercavam, ela decidiu
que seria mais seguro sair pelas ruas secundárias caso o cavaleiro
ruivo ainda a seguisse.
Ela disparou atrás dos fornos e apontou para os edifícios da
cidade, tentando ficar nas sombras embaixo dos beirais. Simon
mandaria homens atrás de Addis agora? A cidade inteira estava em
alvoroço, e as pessoas entravam nas ruas laterais onde ela corria.
Gritos e exclamações começaram a perfurar o ruído geral.
Cascos de cavalo clamavam em pedras de pavimentação não muito
longe. Addis a cavalo poderia passar pelo portão da cidade antes de
Simon ordenar o fechamento, mas ela a pé não poderia. Ela se
perguntou o que Simon fez com as pessoas que frustraram seus
planos e sentiu uma nova onda de pânico.
Os sons de um cavalo ficaram mais altos, percorrendo uma
trilha lateral em sua direção. Ela correu por sua vida. Os cascos
seguiram em perseguição.
Ele estava em cima dela em momentos, cortando seu caminho
com a maior parte de seu animal. Ela soltou o ar de exaustão e
fechou os olhos em resignação.
Eles se abriram para encontrar um forte antebraço preso por
um bracelete de ouro que se estendia até ela. Ela olhou para a
cabeça escura iluminada pelo céu brilhante. — Suba rápido — ele
ordenou. — A menos que você queira envelhecer comigo em uma
das masmorras de Barrowburgh.
Ela agarrou o braço dele e ele a levantou atrás dele. Ela mal
havia aterrissado antes de estimular o cavalo a galopar. As pessoas
se espantaram e saíram do caminho enquanto voavam pelas ruas
estreitas.
— Eles seguiram? — ela gritou em suas costas enquanto a
anca do cavalo a empurrava.
— Maldição se eu sei. Você gostaria de parar e verificar? — ele
atirou de volta. Seu tom zangado lembrou a ela que seu atraso
enquanto ele procurava por ela aumentou seu perigo. — Ainda não
a cavalo, se o fizerem. Nenhum foi selado no pátio para eles
usarem.
Ele virou na rua principal e se dirigiu para o portão. A ponte
levadiça estava apenas começando a baixar. As pessoas os viram
chegando e muitos levantaram braços e aplausos enquanto
passavam. Addis passou em disparada abaixo da borda de ferro
descendente e saiu para o campo silencioso. Todo o corpo de Moira
ficou mole com alívio.
Ele não diminuiu a velocidade até entrar na floresta. Eles
trotaram ao longo de seus caminhos até chegarem à clareira onde
sua carroça esperava. Addis passou a perna por cima do pescoço do
cavalo e saltou depois a agarrou e puxou-a para baixo.
— Eu lhe disse para esperar aqui. — Uma forte fúria derramou
dele. Ele segurou-a firmemente pela cintura e ela se afastou em
resistência.
Com alívio, ela se aborreceu com sua insensata ousadia. Agora
seu tom fez sua paciência desabar.
— Você também me disse que ele não tentaria te matar. —
Sua mente viu tudo de novo e seu descuido a deixou lívida. Ela
bateu a mão em seu peito para aliviar sua exasperação. — O que
você estava fazendo lá em cima? Permanecendo para sempre assim?
Você conhece a mente dele! Tentando o diabo, é isso! Aposto que
você o desafiou diretamente quando falou também, não foi? Disse-
lhe abertamente que você viria buscá-lo um dia. Deu-lhe um aviso
justo, como o corajoso — tapa — nobre — tapa — estúpido homem
que você é!
Ele pegou a mão dela e bateu nas costas dela, puxando-a para
mais perto, arqueando seu corpo. — Você poderia ter nos deixado
presos lá!
Ela achatou a palma da mão livre contra o peito dele e
empurrou para trás dele. Um braço firme circulou sua cintura e
proibiu sua liberação. — Você estava seguro o suficiente uma vez
que passou pelos portões do castelo. E essa flecha foi sua própria
culpa, desafiando-o assim com sua ousada presunção. Não me culpe
por nenhum perigo que você enfrentou hoje.
— Deveria ter saído e te deixado dentro daquelas paredes? É
tudo o que preciso agora, para Simon descobrir quem você é e usar
a posse de você contra mim.
— Se ele me pegasse o que ele teria? Uma serva. Um servo
mais ou menos não afetará o resultado disso, e esse homem é
esperto o suficiente para saber disso.
Ela olhou para ele, quente de raiva. Ela queria bater nele
novamente, mas sua mão livre tinha sido aprisionada entre seu
corpo e seu peito. Luzes douradas queimavam para ela de olhos
absorventes embutidos em um rosto severo.
— Esse homem é esperto o suficiente para supor que você é
muito mais — ele murmurou, forçando-a mais perto, selando-a
contra seu corpo. Sua boca reivindicou a dela com um beijo de
punição.
A surpresa a fez resistir e ela virou a cabeça para longe. Sua
boca chamuscou seu pescoço, encontrando pontos onde seu calor
parecia fluir diretamente em seu sangue, despertando sensações
viscerais que canalizavam a raiva e a preocupação em emoções tão
tempestuosas, mas oferecendo uma liberação diferente. Ele liberou
a mão dela, mas capturou a cabeça dela, segurando-a ao seu
ataque, ordenando submissão. Sangue já enervado pela excitação
queimou mais forte, pulsou mais rápido. O perigo compartilhado e o
confronto acalorado a deixaram ferida e desprotegida. O alívio, a
preocupação e a raiva das últimas horas fundiram-se em uma
necessidade cega de segurança, e ela cedeu irracionalmente e
juntou-se à paixão dele e o desabafo que oferecia.
Ele tomou sua boca como se quisesse consumi-la, mas seu
próprio espírito respondeu com algo mais que consentimento
passivo. Ela soltou os braços de seu abraço dominador e circulou
seu pescoço, curvando-se contra ele. Sua língua e seus lábios
encontraram os dele em contenção, continuando a discussão com
uma disputa sem palavras, recusando a subjugação. O desejo
arrepiou sua pele, pesou sua barriga e pulsou acima de suas coxas.
Sua mente entorpecia tudo, exceto a sensação de tudo e a realidade
dele, vivo e inteiro. Sua paixão ascendeu a um pico selvagem antes
de afundar lentamente em um vale nublado de conexões
vulneráveis.
Ela encontrou sua cabeça contra o tórax dele, os braços dele
envolveram ao redor o corpo dela, os lábios dele apertaram contra a
têmpora dela. — Ofereça sua vida a ele ou a qualquer outra pessoa
assim e vou estrangulá-lo — ela sussurrou.
Ele riu baixinho. — Eu disse antes que você é uma mulher
vingativa. — Ele gentilmente se separou dela. — Precisamos ir
Moira.
Ela não queria deixar o abraço e perder aquela breve e sem
palavras junção de amizade e desejo.
Ela se afastou com relutância e forçou suas emoções em
ordem sensata. — Você conhece a aldeia de Whitly?
— Sim, é do outro lado da fronteira para as terras da vizinha
abadia dominicana. Alguns do nosso povo moram lá.
Ela contou a ele sobre Sir Richard e seu conselho. Addis
assentiu. — Richard era o administrador do meu pai. Se alguém em
Barrowburgh pode ser confiável, é ele. E se Simon for atrás, ele não
arriscará o alvoroço que um ataque a uma aldeia da abadia causaria.
— Ele olhou para a carroça. — Não podemos atrasar trazendo isto.
Pegue o que você precisa e tentaremos ter alguém buscando isto
mais tarde.
Ela mergulhou nas árvores e encontrou sua cesta de costura.
Ela arrancou alguns véus limpos e substituiu de um de seus baús e
enfiou-os dentro. Ele montou o cavalo e pegou a cesta dela, depois
estendeu o braço novamente. Uma vez instalada, montada atrás da
sela, ela deslizou a cesta por cima do braço. Segurando provou ser
um pouco precário com o seu peso, e ela cambaleou com o passo do
animal.
Addis pegou os caminhos que levavam à estrada para o sul e
depois seguiu para um ritmo mais rápido. Ela olhou para as costas
fortes na frente de seu rosto, sabendo que ela tinha complicado as
coisas novamente, permitindo aquele beijo.
Não deixe que esses sentimentos te dominem, ela repreendeu.
Lembre-se de quem ele é e será e o que deve acontecer daqui a
alguns meses. Imagine-o naquelas escadas e nunca esqueça o que
isso significa. Ele vai ficar lá novamente um dia, e ao seu lado terá
outra Claire. Seja qual for à paixão que ele mostra para você agora é
o resultado de perigo e proximidade e conveniência. Não tenha
ilusões sobre isso.
Ela continuou colocando tudo para fora, seu senso comum
forçando a dura realidade sobre o dilema de seu coração. Ela se
sentiu confusa e emocionalmente despida, e muito feliz por não ter
que falar ou encontrar os olhos dele por pelo menos algumas horas.
Depois de algumas milhas, Addis saiu da estrada e atravessou
a aldeia. Ela tinha certeza de que ela seria expulsa do cavalo agora.
Inesperadamente, ele chegou para trás e levantou a mão direita de
seu alcance na sela. Puxando gentilmente, ele a conduziu ao redor
de seu corpo e colocou a palma da mão em seu abdômen.
O movimento a levou para frente contra o apoio de suas
costas, e depois de alguns momentos ela deixou os ombros e a
cabeça relaxarem contra ele. Ela sucumbiu ao conforto de ouvir a
batida abafada de seu coração. A nova posição a estabilizou e
tornou o cavalgar do cavalo menos desconfortável. Ele não soltou a
mão dela, mas manteve-a rente sob a sua durante toda a jornada,
pressionada contra o corpo.

O sol baixou quando se aproximaram da aldeia de Whitly.


Addis parou em sua periferia.
— Três mansões compartilham isto, mas está nas terras da
abadia — explicou ele. — Quase metade do povo é nosso.
Moira espreitou por cima do ombro as longhouses e os chalés.
— Ajude-me a descer, por favor. Estou dolorida de cavalgar.
Ele ofereceu o apoio de seu braço enquanto ela descia da
posição elevada. Ela alisou a saia e se afastou. Ele sabia que não era
a dor que a fez desmontar. Ela não queria andar atrás dele e
encarar as suposições que poderiam levantar. Ele olhou para ela
com cuidado enquanto eles se moviam para frente. Ele ainda teria
problemas com ela. Ela não aceitou isto ainda, não viu a
inevitabilidade disso.
As casas emitiam sons de famílias comendo seu jantar, mas
foram notados imediatamente. Homens apareciam nas portas e
mulheres nas janelas. Alguns garotos dispararam pela rua. No
momento em que ele parou seu cavalo perto da igreja, um grupo de
homens estava esperando.
— Eu procuro Lucas Reeve — ele disse enquanto desmontava.
Um homem de cabelos brancos saiu de um limiar próximo,
limpando a barba na manga. — Eu sou Lucas.
Addis se virou. Ele deixou os olhos cinzentos examiná-lo e
observou o choque de reconhecimento quando o olhar deslizou ao
longo da cicatriz. — Acabo de chegar de Barrowburgh. Sir Richard, o
antigo administrador do meu pai, sugeriu que eu parasse aqui esta
noite. Ele disse que eu seria bem recebido nesta vila.
— Santos sejam louvados, — Lucas murmurou com os olhos
arregalados. Um amplo sorriso lentamente atravessou sua pele
desgastada. — Santos sejam louvados! — ele gritou. Ele jogou os
braços para a multidão crescente. — É o filho do lorde, aquele que
morreu! — Ele deu um sorriso cheio de dentes e piscou. — Claro,
espero que você não morreu de verdade, uma vez que você está em
pé aqui e agora, se você está morto, isso faz de você um fantasma
ou demônio, não é?
Os aldeões invadiram e a informação passou pela rua. Lucas
gesticulou para Addis em direção a sua casa. — Venha e coma e
beba. Há comida esperando e haverá mais quando as mulheres
cozinharem novamente. Vamos festejar seu retorno e orar nossos
agradecimentos a Deus por te entregar e te mandar para casa. As
pessoas desta terra estão precisando muito de você, com certeza. —
Ele conduziu Addis para sua casa e o pressionou em um banquinho.
— Vindo de Barrowburgh, é? Eu teria dado os meus dentes caninos
para ver o rosto do diabo quando você cavalgava por aqueles
portões. — Ele empurrou uma tigela de sopa de madeira para ele. —
Comida, esposa! Mande o menino sair para matar algumas aves.
Homens seguiram e o aposento ficou apertado. As próximas
horas se encheram de cerveja e comida chegando de casas vizinhas.
A esposa de Lucas manteve a corte perto do fogão, supervisionando
a comemoração.
Addis sabia, pelas escassas ofertas, que a ganância de Simon
deixara esses camponeses com pouca sobra.
Ainda assim, sons de folia encheram a casa e seu sitio e lar. O
sol se pôs enquanto os aldeões se espremiam para a mesa para
encher os ouvidos de Addis com reclamações sobre Simon e seus
honorários opressivos e corrompidas cortes de justiça e desrespeito
pelos direitos comuns.
Recusar a hospitalidade seria um insulto para essas pessoas, e
assim ele suportou isso. Moira se dissipou do lado dele na igreja e
agora estava sentada entre as mulheres. Mais do que alguns olhares
curiosos se abriram a princípio, e Addis não teve dúvidas de que lera
a pergunta de todos na casa.
Ela respondeu ignorando-o. Suas roupas faziam parte delas,
mas os modos e a fala de sua dama a diferenciavam, e, por
segurança, eles finalmente decidiram que ela deveria ser a última.
A ambiguidade que ela estabeleceu com sucesso a respeito de
seu relacionamento com ele foi confirmada pelos sorrisos
eventualmente lançados em seu caminho por uma garota de cabelos
amarelo-acastanhado chamada Ann. Sorrisos convidativos e olhos
que se concentravam no lado direito de seu rosto e não se dirigiam
para ver o lado esquerdo. A prostituta da aldeia, ele presumiu.
— Minha filha e o marido foram a uma feira, e o chalé deles
está vazio — explicou Lucas a certa altura. — Eles ficariam
honrados, eu sei, se você fizesse disso seu. É o novo na extremidade
da rua, e tenho certeza de que tudo está certo, mas veremos se está
preparado para você.
A última coisa que Addis queria era que toda a aldeia o
acompanhasse àquela cabana. Tampouco queria o desinteresse de
Moira em convencê-los de que ela era tão separada dele que
precisava de uma cama em uma de suas casas. O desejo reprimido
fervia em seu corpo e ele mantinha sua paciência com esses
camponeses apenas através do esforço concentrado. — Minha
mulher vai cuidar disso — disse ele.
Lucas olhou para ela. A cerveja o deixou ousado. — Ela é…
— Ela é uma serva da minha mansão em Darwendon. Ela tem
negócios a leste e eu a acompanho desde que me dirijo para lá
também. — Era a sincera verdade de Deus, mas ele confiava em
Lucas para passar a mensagem.
Lucas absorveu isso sem comentários, mas seus olhos
cinzentos tremeram. Nenhum aldeão se aproximaria daquela cabana
esta noite ou na manhã seguinte. Um olhar penetrante da expressão
do reeve e da vagabunda entorpeceu. Addis voltou sua atenção para
um homem pedindo ao lorde para abençoar seus filhos.
Havia regras sobre hospitalidade em que se podia contar em
qualquer aldeia, e Moira esperava a oferta de uma cama ou catre
numa das casas das mulheres. Quando a noite avançou e a oferta
não chegou, ela admitiu que apesar de suas tentativas de convencê-
los do contrário, essas pessoas chegaram a certas conclusões sobre
ela e Addis. Seu próprio comportamento tinha sido indiferente a ele,
de modo que a única explicação era que Addis dissera alguma coisa
para o reeve e Lucas passara a informação em silêncio. Ela resistiu
acreditando no que isso implicava, mas a retirada petulante de Ann
de cabelos amarelo-acastanhado forneceu a evidência final.
Apesar de seus olhos desviados, ela esteve muito atenta a ele
o tempo todo e agora o cavaleiro na mesa começou a pressionar sua
consciência. O conhecimento do que ele planejava fazer com ela
começou a se intrometer em seus pensamentos com uma
explicitação surpreendente. Apesar das memórias sedutoras ligadas
a essas imagens, apesar do homem comandar sua atenção através
do poder absoluto de sua presença, a sombra e a serva
reconheceram tristemente o desastre para sua vida que suas
intenções criariam.
Ela tentou repassar as negações que havia resolvido há dois
dias, mas à luz daquele beijo de hoje ela duvidava que elas tivessem
muito peso. Ela poderia explicar a primeira transgressão como um
acidente. Hoje havia sido outra coisa. Bem-vindo. Necessário.
Nascido de uma euforia incontrolável que existia separada dos
planos práticos que ela fizera para a sua vida.
O que ela poderia dizer a ele? Eu perdi a cabeça porque fiquei
aliviada por sua segurança. Parcialmente verdade. Isso tinha
possibilidades. Se você pensar sobre isso, foi apenas um beijo de
amizade. Sim, e os porcos têm asas. Eu Não vou fazer essa coisa
com você, Addis, eu estou muito firme sobre isso. Minha resolução é
como aço. A menos, claro, que você me beije de novo, e nesse caso
eu vou me derreter em uma poça de desejo e abandonar cada
pedaço de bom senso.
A memória já a tinha derretido. Um calor inebriante formigou
em seus quadris e corou através de seus membros.
Sensações vazias e famintas percorriam seu âmago. Ela
rapidamente olhou para o rosto bonito e viu novamente acima dela,
enquanto ele convocava sua paixão como se fosse sua para solicitar
à vontade. Ele não lhe dera mais atenção do que ela o tinha feito
esta noite, mas ela sentiu sua consciência nela ao longo das horas,
como se ainda se enfrentassem naquele abraço.
Ela se virou e encontrou Ann olhando-a criticamente, como se
medisse a competição. Eu desisto. Moira respondeu com os olhos.
Verdadeiramente. Não dê ouvidos a Lucas. Seja ousada. Pense nos
benefícios para você e sua família se você agradar ao senhor. Ele
pode até deixar você morar no castelo até ele se casar novamente.
Moira olhou para ver Addis inclinando a cabeça para um
homem, mas seus olhos a encontraram. Seu olhar lhe pareceu tão
invasivo como sempre, apesar de seu calor protegido, e mais do que
um pouco perigoso. Por algumas batidas atemporais, todo o
aposento se esvaziou de todos, menos dos dois e de sua expectativa
do que estava por vir. Uma emoção indesejável se desenrolou do
seu pescoço até os quadris e uma excitação lenta e medonha a
percorreu.
Ann, decidindo que a generosidade do senhor valia alguns
riscos, terminou isso dando um passo entre eles, carregando um
pouco de cerveja. Sua atenção se deslocou para o jovem corpo ágil
que se aproximava. Moira se sentiu como um coelho encurralado de
repente liberado pela distração do caçador.
Ann era bem treinada para chamar a atenção de um homem, e
seus seios roçavam seu braço enquanto ela sorria animadamente e
enchia sua taça. As pálpebras de Addis baixaram. Alguns dos
homens sorriram afetadamente. O bom senso de Moira se encheu
de alívio, mas seu coração sentiu um tolo aumento de inveja.
— Pena, não é? — uma voz disse baixinho em seu ombro. A
esposa de Lucas, Joan, tinha se aproximado para algumas fofocas
confidenciais. — O rosto dele, isso é. Ele era o menino mais bonito.
Moira nunca notou aquela cicatriz, pelo menos não como algo
tão incomum. Era apenas uma parte dele, como seus olhos e
cabelos. Claro, ela o viu quando a ferida realmente cortou seu rosto
ao meio, então este remanescente pareceu-lhe uma coisa menor.
— Dizem que o quadril é pior — continuou Joan, curvando-se
para encorajar confidências. Ela bebeu sua porção de cerveja esta
noite. — Eu conheço algumas das mulheres que cuidaram dele
quando ele voltou. Horrível, elas disseram. Certeza que ele morreria,
elas tinham.
Ela também havia visto aquela ferida no pior momento. — Não
é tão horrível se ele ainda anda e luta.
— Sim, uma espécie de milagre. Talvez sua jovem noiva orou
por ele e Deus ouviu. Não fez muito mais, pelo que é dito.
Raramente o viu todos esses meses e nunca ajudou com seus
cuidados. Nos surpreendeu que o casamento foi realizado em tudo.
Uma garota orgulhosa e egoísta.
— Não tão orgulhosa. E jovem e assustada. Lady Claire era
minha amiga.
Joan franziu os lábios, lamentando perder o assunto para a
lealdade mal colocada. — Eles disseram que nunca mais voltaria a
andar.
Eu sei.
— Melhor matar, disseram alguns.
Sim. Incluindo Addis.
— Mas antes mesmo de ele ser curado, ele ordenou que eles o
ajudassem a se levantar. Assim que ele voltou aqui. Apesar da dor,
ele percorria o comprimento de sua câmara segurando os criados,
várias vezes por dia, para frente e para trás. Eles choraram
descrevendo, aqueles homens que o ajudaram a fazer. Como assistir
a um homem sendo torturado, eles disseram. Poderiam implorar
para ele parar, mas ele não faria. Alguns disseram que o quadril
curou diferente por causa disso, que o impediu de ser aleijado. Eu
digo que foram as orações de seu pai que fizeram isso, e talvez de
sua dama, se ela se incomodasse em orar por outra coisa que não
ela mesma. Ele foi nessa cruzada antes de estar inteiro, você sabe.
Ainda mais fraco do que deveria estar, e as feridas ainda estavam se
recuperando por dentro. Disse que ele foi para retribuir a Deus por
poupá-lo.
Foi o que ele disse.
Joan olhou para ela de maneira significativa, ávida por
detalhes.
Moira não podia atendê-la, mesmo que quisesse. Ela não
estivera em Barrowburgh naqueles meses, nem viera para o
casamento. O último que ela viu de Addis foi o corpo quebrado e
enfaixado dele, erguido na carroça que o levaria para casa. Ao lado
dele havia sentado Claire, seu rosto uma máscara de dever e
obrigação. Nada orgulhosa. Jovem e assustada.
Ela não queria falar sobre isso. Ela procurou um jeito de mudar
de assunto apenas para perceber que não queria falar sobre nada.
Na verdade, ela não queria mais ficar aqui. Ann conseguiu se
espremer entre os homens na mesa, onde poderia dar toda a
atenção a Addis. Lucas parecia um pouco envergonhado pela
ousadia da menina. Addis não incentivou nem a desencorajou.
— Você não se importa? — Joan perguntou, olhando para os
dois.
— Não é para eu fazer isso.
— Não, com um homem assim... ainda assim, uma mulher tem
sentimentos.
— Eu não me importo. — Isso não era verdade. Enquanto ela
não tinha intenção de dar a ele o que ele queria, ela ainda se
ressentia da ideia de ele ir para a cama com Ann em vez disso.
Bem, ela não podia ter as duas coisas. Seu bom senso tinha
sido orar por libertação desde que ela subiu naquele cavalo, mesmo
se outra parte dela não tivesse, e agora a redenção de sua própria
fraqueza havia sido enviada na forma de uma menina ansiosa com
cabelo amarelo-acastanhado.
Joan contara sobre o chalé da filha e Moira se levantou
abruptamente. — Vou preparar a casa. — Ela disse, perguntando-se
se Addis levaria Ann para lá e se ela deveria perguntar sem rodeios
a Joan se havia um catre em outra casa que ela pudesse usar.
— Ela e a mãe têm seu próprio lugar a algumas portas abaixo
— Joan explicou gentilmente, acendendo uma vela e entregando a
ela.
Moira escapou através da sala lotada em direção à porta. Na
soleira, uma conexão invisível a tocou como uma mão no ombro
dela. Ela olhou por cima do ombro para ver aqueles olhos escuros
notando sua partida.
Ela encontrou a pequena cabana sem dificuldade. Seu reboco
novo e palha limpa anunciou o lar de recém-casados. Ela abriu a
porta e a chama de sua vela perfurou o interior sombrio.
Encontrando a janela sobre a cama, ela abriu as persianas para o
luar.
Baldes ficavam no fogão. Depois de acender um fogo baixo, ela
pegou dois e voltou para o poço da aldeia. Sons de folia ainda saíam
da casa de Lucas. Ela carregou seu fardo de volta para o bem-vindo
silêncio da cabana e colocou a água perto do fogão.
A filha de Lucas era uma governanta impecável, e a casa não
precisava de preparação. Na verdade, possuía uma organização e
limpeza que deixavam Moira desconfortável. Lembrou-se de sua
própria cabana em Darwendon, e a nostalgia por aqueles quatro
anos com Brian inundou-a.
Foi quase como ter uma casa e uma família de verdade
durante esse tempo. Ela se sentou perto do fogão, usando um
pouco da água aquecida para se lavar, lutando contra o humor
agridoce que essas lembranças evocavam. Uma verdadeira casa. Um
lugar seguro. Ela não tinha desde os treze anos de idade. Uma
criança para amar e cuidar. Um ponto de estabilidade e calor num
mundo indiferente e irado.
Os pensamentos pesavam sobre ela, enfatizando a solidão que
ela conhecera em sua vida tantas vezes que se tornara previsível.
Pior depois que Edith morreu. Excruciante com o falecimento de
Claire. Não aliviada por aquele breve casamento, mas
maravilhosamente entorpecida por quatro anos cuidando de uma
criança.
Ela queria aquele bálsamo novamente. Ela ansiava por se
sentir centrada e aterrada em um só lugar, com um propósito que
importava e um pequeno mundo que pertencia a ela para sempre.
Não a Sombra, mas, pelo menos para algumas pessoas, para sua
família, uma fonte de luz.
As reflexões a entristeceram e ela tentou afastar o estado de
espirito. Quando isso não funcionou, ela saiu da casa para escapar
de seu estranho poder. A casinha ficava à beira de alguns campos e,
passando o campo murado, ela avistou o teto alto da estrutura
aberta que protegia o monte de feno. Ela pegou o caminho pelo
jardim limpo em direção a ele.
O cheiro doce de feno flutuou para ela na brisa fresca. Ela
deslocou alguns de um lado para o outro, fazendo uma saliência na
qual se sentar. Deitada em seu apoio macio, ela podia assistir a
meia lua e os pontos estrelados, polvilhando a escuridão aveludada.
Ela começou a contar aquelas pequenas marcas de brilho e sua
mente vagou por memórias recentes e antigas. Seu coração tornou-
se cheio e vulnerável. Ela ficou isolada de todos e de tudo, exceto
dessa pequena saliência de feno e daquele vasto céu que
impulsionava sua consciência livremente através do espaço e do
tempo.
Capítulo VII
Nada orgulhosa apenas jovem e assustada...
O corredor parecia fresco e úmido e as pedras absorveram o
leve ruído de seus sapatos.
Não há sons aqui, como tantos lugares no castelo neste dia.
Toda a casa ficou deprimida, prendendo a respiração, à espera da
morte.
Ela já havia tentado todos os outros esconderijos de Claire. A
capela, o telhado da torre leste, o canto ao lado da lareira do
vestíbulo. Agora ela olhou para a sombra sob as escadas que saíam
da cozinha.
Sua luz de vela refletia uma cascata de cabelos loiros cobrindo
um corpo encolhido.
Uma cabeça se moveu e olhos azuis olharam para cima,
arregalados, assustados e depois aliviados. — Obrigada aos santos
que é você.
Ela se inclinou sobre a amiga. Dois anos mais velha que ela,
mas de novo uma criança de repente. — Você deve vir.
— Eu não posso — Claire respirou, balançando a cabeça
lentamente, olhando para um ponto no chão.
— Você deve. Seu pai me mandou para te encontrar…
— Eu não posso! Ela olhou feio para cima. — Você o viu? Você
fez? Cortado em pedaços. Meu Deus, ele não tinha rosto, e seu
corpo... — As palavras cortadas, cheias de horror. O tom estava
quase histérico.
— Os ferimentos sempre parecem piores no começo. Minha
mãe diz que são os hematomas que deformam seu rosto, que
nenhum osso foi quebrado. Ela cuidará dele. Haverá uma cicatriz,
mas todos os cavaleiros têm cicatrizes…
— Ele será aleijado e ele parece monstruoso. — Ela disse
amargamente e seus olhos brilharam, olhando para dentro. O que
ela viu em sua alma? Uma garota prometida sem a força para
cumprir seu dever em relação ao seu pretendente? Uma menina
mimada irritada que o destino tinha jogado tal truque nela? Os dois
provavelmente, mas um homem sofria no andar de cima e Moira
descobriu que ela tinha pouca paciência, de repente, com a
delicadeza e o egoísmo de Claire.
— Ele está perguntando por você. Sempre que ele fica
consciente, ele diz seu nome. Você deve...
— Eu devo, devo! Quem é você para me dizer o que devo
fazer? Volte e diga que você não conseguiu me encontrar. Diga que
você fez, mas estou doente. Faça o que quiser, mas não irei com
você. Eu não suporto olhar para ele. — O corpo dela começou a
tremer, um arrepio lento a princípio, mas depois movimentos
bruscos que a fizeram cruzar os braços sobre a barriga. Ela balançou
a cabeça e se inclinou como uma enlutada, lançando soluçando
secos. — Ah, meu Addis. Meu lindo e lindo Addis…
Moira deu-lhe um último olhar. Então, isso era amor. Que coisa
fina, frágil e egocêntrica que poderia ser. Ela se virou e correu
escada acima.
Sir Bernard passeava do lado de fora da câmara, preocupado
como se o jovem atrás da porta fosse seu próprio filho. — Onde ela
está?
— Eu... ela está muito doente. Prostrada com dores no
estômago.
Seus olhos se estreitaram com raiva e ele olhou para a
passagem no vazio onde sua filha deveria estar se aproximando.
Balançando a cabeça, ele pegou o braço dela. — Sua mãe vai abrir e
purificar o seu quadril. Se Deus quiser o sofrimento dele vai acabar,
e ele está louco em sua cabeça pela febre, então talvez…
Ela resistiu, não querendo entrar tanto quanto Claire queria.
Seus dedos se fecharam com mais força. — Fique perto da
cabeça dele, garota, e fale com ele enquanto estiver sendo feito.
Talvez ele vá pensar que é ela.
Ela se viu puxada para dentro daquela câmara de tortura. Sua
mãe olhou para cima com expectativa, depois franziu os lábios
quando notou a ausência de Claire. Moira implorou com seus olhos
para ser poupada desse horror, mas de repente Edith estava toda
ocupada, colocando uma adaga nas brasas do fogo baixo.
O espaço inchava de decomposição e suor e o odor nocivo
revolvia seu estômago. Raymond e dois outros homens estavam ao
lado da cama. Ela se forçou a andar em volta deles e olhar para o
homem deitado ali.
Ataduras enfaixadas na metade do seu rosto, onde Edith havia
costurado o corte. Elas cobriam parte de sua boca inchada e assim
suas divagações febris vinham incoerentes. Dor e hematomas
distorciam o rosto que ela podia ver, mais magro do que se
lembrava, os ossos parecendo muito afiados, a juventude parecendo
subitamente velha. A simpatia por sua agonia despedaçou seu
coração e sua resistência.
Eles o despiram, e ela olhou para a ferida que estava cortando
diagonalmente de sua cintura até o alto de sua coxa. Alguém o
costurou grosseiramente no campo, para cobrir o osso exposto e
segurar o estômago, disseram. Edith suspeitou que a espada tivesse
cortado o intestino, causando a decomposição instalada
rapidamente.
Ela se aproximou da cabeça dele. Raymond lançou um olhar
interrogativo ao pai, que permaneceu estoicamente não expressivo.
Edith levantou-se da lareira e avançou com a adaga, o punho
envolto num pano grosso.
Alguém havia colocado um pouco de água em uma mesa perto
da cabeça. Ela umedeceu um pano e enxugou o rosto machucado
tão gentilmente quanto pôde, esperando poder dar um pequeno
alívio, sentindo a dor dele como se seu próprio corpo tivesse sido
devastado. Ah, Addis Meu lindo e lindo Addis.
Ele sentiu o toque dela e agarrou o seu braço. O olho sem
bandagem abriu para revelar uma piscina escura em chamas com
luzes douradas queimando fora de controle. Ele olhou para ela e
algo como consciência racional cintilou em sua expressão. Ele olhou
para o seu corpo e para os homens que o ladeavam e para a ferida
medonha, e Edith com sua adaga. Sua mandíbula endureceu.
Alguém trouxe um banquinho e ela se ajoelhou. Ela se inclinou
para frente e acariciou seus cabelos, embalando a cabeça dele
contra o peito. — Eu vou ficar com você — ela sussurrou, esperando
que ele pensasse que ela era Claire, mas sabendo por aquele olhar
que ele não iria. Ainda assim, o conforto parecia acalmá-lo.
Bernard assentiu com a cabeça e quatro pares de mãos
pressionaram para segurá-lo. Addis soltou a mão direita e procurou
a dela e segurou-a com força no peito. Edith se inclinou sobre o
quadril.
Ele torceu a cabeça para ela violentamente com o primeiro
corte quente e apertou a mão dela como um homem morrendo. Ela
pressionou os lábios contra a têmpora dele e lutou por compostura e
sussurrou orações e poemas e canções de amor enquanto ele
sufocava seus gritos em seu peito.

Ela percebeu sua presença lentamente, sentindo-a antes que o


corpo encostado no poste se formasse nas sombras. Ele não a
surpreendeu. Sua realidade simplesmente emergiu de seus
pensamentos como uma continuação de repente dada substância.
Quanto tempo ele esteva lá?
Agora não. Eu terei pouca força agora.
Seu ombro pressionou contra o poste e seus braços cruzaram o
peito. Ela poderia estar sonhando no céu, mas ele a estava
contemplando e sua atenção criou um distúrbio na brisa que a
alertou para ele. Ela não falou para deixa-lo saber que ela o tinha
visto, mas esperou desesperadamente pelo mau humor de sua
memória passar.
— Achei que você poderia ter adormecido — ele disse.
Como ele poderia ter certeza que ela não tinha? Ele não podia
ver seu rosto bem nesta escuridão. Talvez ele tenha ouvido a batida
lenta e dura do coração dela.
— Você pensa em ficar aqui a noite toda?
— Eu não tinha planejado, mas desde... por que você não está
com Ann? — Apenas deixou escapar, soando mais petulante do que
ela se sentia.
Ele não respondeu imediatamente. Ele apenas ficou lá,
enchendo a noite com um perigo sutil, tornando este monte de feno
um lugar muito menos pacífico, de repente. — Eu não estou com ela
porque não quero estar.
— Simplificaria as coisas se você o fizesse.
— Isso? Acho que não. Por esta noite talvez. Não mais.
Ela sentou-se na borda do feno e olhou para os campos
escuros. Sua chegada tinha começado um pulsar visceral nela que
parecia afetar a noite inteira, como se o ar e as colheitas
absorvessem um ritmo dela. A sensação era inquietante e sedutora.
Ele não se moveu, mas seu próprio pulso tornou-se perceptível no
espaço entre eles, como se sua força vital estivesse se ajustando à
dela, procurando juntar-se a ela batida por batida. O instinto
resmungou advertências em seu ouvido, mas seu espírito, faminto
por unidade de qualquer tipo, respondeu com um surpreendente
anseio.
— O que você quer comigo, meu senhor? — Ela disse
suspirando a pergunta, enfatizando o comigo.
— Você não me chamava assim antes. Não comece agora.
— Acho melhor se eu fizer. É uma realidade que esqueço com
grande custo.
— Como seu senhor, proíbo isso. — Ele andou na direção dela.
O bom senso exigia que ela se afastasse dele. Ela não fez.
Ele se acomodou no feno ao lado dela e todos os seus sentidos
se alertaram. Ela deveria ter feito à borda maior para que ela
pudesse fugir e seu quadril e ombro não roçariam os dela assim,
levantando aquela terrível e maravilhosa fricção.
— Agora mesmo, quero apenas sentar com você nesta noite
perfeita sob este glorioso céu. Foi uma vida desde que eu
compartilhei tal paz com um amigo. — Ele inclinou um pouco para
trás, relaxando contra o feno. Ela não podia ver o rosto dele agora,
mas ela sentiu o calor dele apenas duas mãos se afastando de suas
costas.
— Quando eu estava no Báltico, sentava-me debaixo de céus
como aquele, sabendo que a mesma lua e estrelas brilhavam acima
da Inglaterra. Havia conforto e dor na noção.
Ela podia imaginar a solidão que ele suportara ali e a empatia
revirou seu coração. — Funciona do outro jeito também? Tanto
reconfortante e doloroso por saber que este céu olha para baixo
sobre essas pessoas?
— Um pouco.
Ela imaginou isso. — Eles te escravizaram.
Ela sentiu o menor puxão em seu couro cabeludo. Ele havia
encontrado um de seus fios errantes de cabelo caindo de baixo do
véu e devia estar tocando nele. Ela não conseguia sentir os dedos
dele, mas seus movimentos casuais se arrepiavam em sua cabeça,
fazendo com que os pequenos arrepios ecoassem através da pele
ali.
— Sim, e isso não faz sentido. É uma coisa estranha, o que
acontece com alguém nessa situação. No primeiro ano, todo o meu
ser estava cheio de ódio, raiva e desprezo. Eu planejei escapar
depois fugir em minha mente à noite. Eu vi apenas sua barbárie e
todas as diferenças de nós. Mas pode-se viver assim por muito
tempo. Com o tempo, o estranho se torna familiar. A vida encontra
um padrão. Eu nunca me rendi à escravidão, mas não pude
permanecer separado e irritado por seis anos. As semelhanças
começaram a se tornar aparentes. Nós temos nossos barões, eles
têm seus bajorai. Nós temos nossos padres, eles têm o seu kunigas.
Nós queimamos nossos hereges, eles queimam seus sacrifícios.
— Temos um só Deus e eles adoram muitos.
— Seus deuses e nossos santos têm muito em comum. A
distinção que fazemos é perdida neles.
— E em você? Isso é heresia, Addis.
— Eu simplesmente cheguei a ver como eles viam isto.
Curiosamente, voltando para casa que me fez entendê-los com mais
clareza. Eu descobri que ando pela terra que nasci como fiz a
princípio por aquela terra, como um estranho que se depara com
coisas estranhas. Costumes e ideais que tomei como certo de
repente vejo de novo.
Ele ainda distraidamente tocava seu cabelo. Seu pescoço se
tornara vivo pelas sensações que emanavam. Seu pulso havia
encontrado o dela agora, como se o sangue batesse no tempo
juntos e toda a noite se juntasse. A conexão intangível era mais
perigosa do que uma carícia e seu poder irresistível a hipnotizava. —
E você, Moira. E quanto à sua vida durante esses anos?
— Minha vida? Que pergunta! Nenhuma aventura aí. Eu vivi
uma vida típica, nada notável.
— Raymond disse que você se casou com um cavalheiro de
pequena nobreza.
Ainda aquele jogo gentil. Seus ombros estremeceram do
contato sutil. Ela sentiu um desejo terrível de circular a cabeça e
ronronar como um gato. — Você o conhecia. Sir Ralf, que tinha uma
participação menor de Bernard. Bernard providenciou para que eu
fosse cuidada. Ele até me deu um dote. Bernard recuperou, é claro,
em troca do meu juramento distante do dote da viúva. Era justo
lidar com isso assim, desde que Ralf morreu no banquete de
casamento, por isso não tinha sido um casamento verdadeiro.
— Bernard também te deu o segundo homem?
— Não. Isso foi depois que ele morreu. Então Raymond era o
senhor e... bem, decidi que era melhor deixar Hawkesford, embora
Raymond permitisse que eu e minha mãe ficássemos. Edith já
estava doente e meu próprio lugar havia se tornado estranho. James
era um comerciante de lã de Salisbury. Ele viria depois que as
ovelhas fossem tosquiadas todos os anos. Ele parecia um homem
decente e não exigia dote, embora soubesse da casa e do campo de
Edith e esperasse que viesse a ele através de mim. Ele tinha um
filho adulto, então o contrato deixou pouco para mim se ele
morresse e eu não tivesse filhos. Ainda assim, sem dote...
— Raymond disse que você não estava casada muito antes de
ele também morrer.
— Sim. Ele adoeceu um mês depois e morreu logo depois. Eu
tentei lamentar e me sentir culpada por não conseguir, mas ele era
muito mais estranho ainda. E se meus motivos foram práticos, os
dele tinham sido mais. Acho que ele calculou que o custo de manter
uma esposa era mais barato do que a contratação de uma
empregada e a compra de prostitutas. Mas pelo fato de eu querer
filhos, eu poderia ter encontrado um jeito de continuar fazendo o
último.
— Ele te machucou?
— Não. Ele me entediava. Que coisa terrível a dizer dos
mortos, mas era verdade. Ele procurou ser um homem muito
piedoso. Ele orava toda a noite e depois se deitava determinado a
não sucumbir aos pecados da carne, mas sua piedade às vezes
falhava. Compartilhar sua cama não era detestável, apenas...
tedioso. — Por que ela estava dizendo isso? Agora ela era a única
que estava sendo tediosa. E ainda assim, de alguma forma, nesta
noite com o ritmo do mundo inteiro os unindo, parecia natural falar
disso. — Eu aguentei porque era esposa dele e porque queria filhos.
Não por causa da segurança que o nascimento deles me traria
quando ele morresse. Eu queria uma família. E minha própria casa,
eu gostava de ter isso também. Coisas simples, realmente, o que
toda mulher tem. Havia pouco carinho entre nós em tão pouco
tempo, mas eu estava satisfeita. Eu gostaria de conhecer esse
contentamento novamente.
Então aqui estava ela, afinal, abordando os argumentos que
sustentariam sua negação de sua paixão, e ele a levara pelo
caminho para fazê-lo. Saiu fácil, porém, uma confiança entre
amigos.
— Cuidar de Brian fez você atrasar isso.
— Sim, mas não me arrependo. Eu não me ressinto com
aqueles quatro anos. Mas agora é hora de fazer uma vida para mim
mesma.
Ela esperava uma retirada dele com essa implicação mais
óbvia, mas, em vez disso, sua mão ficou mais óbvia na longa mecha
de cabelo.
— Com um pedreiro.
— Ou outro homem assim. Um bom homem, que será um bom
marido e pai e fará um lar comigo. Tal homem não me terá se eu
estiver na cama de outro.
Tinha que ser dito e enfrentado, mas ela sentiu algo na aura
por trás de sua mudança em resposta à franqueza disso. Uma
pequena explosão de poder que fez sua presença surgir e cercá-la,
estremecendo com... o que? Proteção? Posse? Raiva? Ela não
entendeu, mas sentiu como se ele tivesse jogado um manto invisível
sobre ela. Dentro daquele casulo, seu ritmo mútuo continuava, mas
seu ritmo batia cada vez mais forte, assumindo o controle,
sincronizando o pulso e exigindo que o dela se conformasse. A
súbita mudança a surpreendeu e ela procurou em vão a força para
abandonar seu efeito.
— Nem todos os homens são tão piedosos quanto James — ele
disse como se nada tivesse mudado.
Por que a entristeceu explicar isso? Ela hesitou, divertindo-se
por um momento de fome no modo como seus espíritos aderiam um
ao outro. — Não, mas todos os homens são orgulhosos. Eles não
querem esposas que os outros sussurram. Não querem uma mulher
que tenha sido a prostituta do senhor. Quem quer que ele seja
provavelmente perguntará sobre você, assim como James perguntou
sobre Raymond. Eu quero ser capaz de responder com sinceridade
na próxima vez, como fiz com ele.
Ele se endireitou e sentou se jogando ao lado dela. O
movimento a assustou e ela quase saltou para longe do corpo
quente que se erguia ao lado dela agora.
— E o que você disse a James quando ele perguntou? — Seu
tom soava leve e curioso, mas algo mais estava acontecendo
embaixo das brincadeiras dessa conversa e seu corpo e alma sabiam
disso. A cautela aumentou, obrigando-a a fugir. Seus pés pendiam a
poucos centímetros do chão, e seria fácil descer e correr. Correr
para onde embora? Aquela capa invisível parecia envolvê-la com
mais força, segurando-a no lugar ao lado dele. Ela não conseguia se
mexer. Ela mal conseguia encontrar sua voz, muito menos
responder em seu próprio tom casual.
— Eu disse que nunca tinha estado na cama de Raymond.
— Isso parece muito impreciso. Um homem inteligente
identificará as outras possibilidades. Considerando o tempo que
teremos passado juntos, você terá que ser mais direta com o seu
pedreiro.
Ela sentiu sua cor subir. — Eu direi... Addis de Valence nunca
foi meu amante.
Ele riu baixinho. — Ainda um pouco vago, Moira, e em parte
um pouco falso. Não, você terá que deixar isso bem claro. Você
poderia dizer, por exemplo, que, meu senhor, nunca me teve.
Aquela risada encorajou-a e tranquilizou-a um pouco. Talvez a
cautela dela tivesse tirado o melhor dela. — Ou torne mais preciso
ainda. Jure que nunca forniquei com você. Isso deve resolver.
Ela riu de si mesma. — Você é um homem gentil, Addis. Para
entender e até fazer piada sobre isso.
Ele não respondeu. Ela virou a cabeça para encontra-lo
olhando para ela. Apesar do luar sombrio que ela leu, ou melhor, ela
sentiu a expressão dele, e seu coração se revirou com um
sobressalto alarmante.
— Isso é o que você acha que tem sido Moira? Uma
brincadeira? — Seu braço escorregou pelas costas dela e a
empurrou para ele. — Não, adorável senhora. Foi uma negociação.
Seus lábios tomaram os dela antes que ela pudesse mobilizar
qualquer resistência. Suave, mas firme, aquele primeiro beijo falava
duma determinação que dizia que nada menos que uma luta pesada
o deteria. Objeções fracas brevemente passaram por sua mente
antes que ela sucumbisse a doce beleza daquilo. Aquele manto
invisível envolvia os dois agora, tão reconfortantes em seu calor e
proteção. A deliciosa conexão a sobrecarregou, e as explicações
cuidadosas que acabaram de ser articuladas desapareceram junto
com todos os seus pensamentos, carregados pela brisa da noite.
Sua língua entrou nela, sondando, saboreando, controlando.
Ele dominou aquela pulsação, atraindo a dela para o dele.
Ondas de calor cascateavam através dela, queimando
quaisquer remanescentes de negação e determinação. Ela o abraçou
ansiosa pela sensação de sua solidez, e ele a pressionou mais perto
até que seus seios esmagaram seu peito com um contato tentador.
A velocidade com que sua paixão derrotou seu senso sólido assustou
mesmo quando se divertia. Ela perdeu o controle, impotente às
sensações perigosas e anseios que tremiam através de seu corpo.
Ele terminou o beijo e acariciou seu rosto, seus dedos
passando por trás de suas orelhas até os alfinetes segurando sua
touca. Ele deslizou o pano e pressionou a boca no pescoço dela
antes de cuidadosamente ir trabalhar em seu véu.
— Você perguntou o que eu quero com você, Moira — ele disse
enquanto beijava e mordia e lambia sua orelha de um jeito que a
fazia tremer. — Eu quero tudo. Quero descobrir cada centímetro de
você, cada parte e pensamento. Quero te levar de todas as maneiras
que um homem pode ter uma mulher, e não vou fingir o contrário.
— Sua mão desceu por seu corpo com uma carícia firme que
articulou seu desejo. — Mas eu não procuro seduzi-la para algo
contra sua vontade. Eu não nego que quero você completamente,
mas vou me contentar com menos.
Suas palavras ousadas invocaram estridentes raios de desejo.
Ela mal ouviu a oferta de repressão quando ele a mergulhou em
outro beijo. Longo. Absorvente. Exigente. Sua mão pressionou seu
estômago como se pudesse sentir o sangue batendo lá.
Seu braço rodeava seu pescoço, sua mão deslizando até o laço
de seu vestido, encontrando o outro no nó. Ele beijou sua têmpora e
cabelo enquanto seus dedos trabalhavam. Ela olhou para os cordões
cruzados sendo puxados através de seus orifícios, nível por nível,
passando por seus seios. A memória que ela não deveria permitir
isso brilhou e ela endureceu.
— Não, Moira — ele repreendeu, deslizando os dedos pela
clavícula e debaixo do peito dela. — Eu só estou tomando o que
você já me deu.
A mão dele deslizou por baixo do tecido para cobrir o seio e
todos os seus sentidos giraram com o contato quente.
Beijos envolventes e carícias seguras corroeram
metodicamente suas defesas lamentáveis. Ela ficou tensa, lutando
para não perder tudo no prazer absorvente que a inundava. Seus
dedos começaram a brincar com seus mamilos de maneiras
devastadoras. Uma fome latejante despertou entre suas coxas. Um
gemido baixo escapou dela e ela perdeu o controle e ficou à deriva
em crescentes ondas de paixão. Só Addis existia nesse mundo de
sensualidade, sua presença mais real que a dela, sua força uma
balsa à qual ela se amarrava.
Ele deslizou a roupa por seus ombros, facilitando as faixas do
ombro de seu tubinho junto com ela. Ele empurrou o tecido pelos
braços até os cotovelos para que seus seios fossem expostos. A
brisa fresca fazia cócegas em sua pele como uma respiração
provocante. A roupa restringia seus braços, amarrando-os contra
seus lados, deixando-a aceitar seus beijos e carícias sem um abraço
de retorno. O seu cativeiro do corpo dela tanto despertado quanto
frustrado.
Ele se inclinou seu corpo obscurecendo o céu noturno. Sua
respiração se misturou com a brisa fresca antes de sua boca aquecer
seu seio. Seu braço apoiou seu sensual arco de oferenda. Seu corpo
inteiro estremeceu com desejos indescritíveis enquanto ele lambia e
beijava e atraía sobre ela.
Nenhum pensamento agora. Nenhum passado ou futuro.
Nenhum sentido e nenhum plano. Apenas a doce ligação e prazer
agudo e necessidade crescente e penetrante.
Ele roçou seu mamilo com os dentes e seu pequeno gemido se
derreteu com os sons da noite. Ele a tomou em sua boca e chupou e
sua respiração rápida e frenética encheu sua orelha como uma voz
audível contando a batida de seu coração. Toda a noite se juntou.
Os sons dos insetos, o fluxo de ar, os espíritos das rochas e das
árvores reconheciam sua intimidade primitiva.
Ele moveu ambos, descansando contra o feno e levantando-a
em seu colo com as costas contra o peito para que ambos pudessem
assistir o céu noturno e ele pudesse ver seu rosto iluminado pela
lua. Ele levou os dois seios nas mãos e as pálpebras abaixadas e os
lábios entreabertos. Ele provocou aquelas pontas escuras e sentiu
cada movimento da resposta de seu corpo. A pressão rítmica de
seus quadris e nádegas. O alongamento sinuoso que pedia mais.
Sua alegria em seu prazer o surpreendeu. O conforto e a paz de
segurá-la o impressionaram. As estrelas pareciam brilhar com o
padrão de seus suspiros. No meio deles, a meia-lua brilhava. Vá
encontrar sua própria mulher, Menulius. Esta uma é totalmente
minha.
Sua crescente paixão produziu pequenos gemidos de
necessidade. Suas pernas se separaram e ele dobrou o joelho para
que ela montasse sua coxa. A pressão íntima a desimpediu
completamente. As roupas ainda a prendiam, mas uma das mãos
agitava, procurando contato. Ela agarrou sua outra coxa enquanto
todo o seu corpo se pressionava contra o dele e um grito implorando
tremeu em sua garganta.
Ele passou os braços ao redor dela, segurando-a com os lábios
apertados contra a bochecha e as mãos cruzadas ainda despertando
seus seios. Sanidade debatida com fome. Se ele a tomasse, ela não
o negaria agora.
O suave tremor sob seus braços dizia isso. Tinha sido sua
intenção, mesmo enquanto ele a bajulava com promessas de
restrição. De repente, porém, ele não queria estragar a perfeição de
compartilhar sua paixão. Ele precisava dela completamente disposta.
Ele não queria encarar seus arrependimentos depois.
As estrelas e a brisa nadavam em torno dele. Os espíritos
insistiram para que ele terminasse o ritual de posse. Seu próprio
corpo ecoou a demanda. Menulius olhou para baixo, suas vagas
sombras formando um meio sorriso zombeteiro.
Ele se mexeu e deslizou o braço sob as pernas dela. — Vou
levá-la para a cama agora, Moira. — Ele a ergueu e levou-a através
do terreno até a cabana, longe dos espíritos e elementos que lhe
diziam para usá-la.
Luzes baixas, frescas e quentes da lua e da lareira, filtradas
pelas sombras. Ele a deitou na cama embaixo da janela e ela parecia
etérea naquela luz. Ele se sentou ao lado dela e a beijou enquanto
suas mãos foram trabalhar em suas roupas. Um pequeno som de
protesto emergiu enquanto ele puxava o vestido por suas pernas. A
menor carranca franziu a testa, como se a cama e a roupa a
fizessem lembrar suas objeções. Ele a acariciou descaradamente da
negação intrusa, brincando nos picos sensíveis de seus seios até que
ela deslizou as alças de seu tubinho de seus braços para que ela
pudesse abraçá-lo.
A sensação de suas mãos em seus ombros e costas o imergiu
em êxtase. Ele descansou o rosto contra os seios dela por um
momento, deleitando-se com a serenidade que ela trouxe. Então ele
empurrou o tubinho para baixo, seus beijos seguindo a roupa
interior sobre o estômago e quadris e coxas. Ele parou ali, a
centímetros do cheiro de sua excitação, e resolveu querer
desmoronar. De alguma forma ele controlou a fome de animais e se
levantou da cama.
Ele olhou para ela enquanto tirava o cinto e a túnica. Ela
parecia tão bonita. O luar lavou sua forma pálida e refletiu a clareza
de seus olhos. Apesar das sombras, ele viu confusão olhando para
ele. Ele tirou a camisa e deitou ao lado dela.
Se ela pedisse, ele encontraria contentamento apenas
dormindo com ela em seus braços. Ele tentaria segurá-la com essa
intimidade sozinho, mas queria laços mais seguros. Ele aprendeu
uma coisa ou duas durante aqueles anos de competir com um deus
pela paixão de Eufemia. Ele sabia algo sobre o poder do prazer e
como isso funcionava na alma de uma mulher.
Ela o abraçou, mas ele sentiu hesitação naqueles braços. Ele
acariciou seu comprimento e cautela e constrangimento tingiu seu
estremecimento e suspiro. Se ele deixasse a escolha para ela, ela
poderia muito bem dormir de palha no chão. Ela não sabia o que
queria e precisava, não compreendia o que os esperava se apenas o
aceitasse. Ele tomou a decisão por ela com finalidade possessiva. Ele
não a tomaria, mas ele a teria.
Ele usou suas mãos e boca até que ela balançou contra ele,
apertando suas costas, enterrando seus gritos em seu ombro. Ele
tomou seu tempo, desfrutando de beijos sem fim, guiando o prazer
tortuoso com ela. Com as mãos que procuravam, ele explorou o
corpo dela, firme e tenso, suave e maleável. Em sua dolorida
necessidade, suas próprias mãos se moviam primeiro timidamente,
mas depois com mais confiança. Suas carícias esvoaçantes
queimavam dentro dele e o calor de seu sangue subiu a um nível
ofuscante.
Ele apertou-a contra o seu comprimento e acariciou o topo de
suas coxas. Com o primeiro toque, perdeu todo o controle. Belos
sons de prazer e necessidade jorraram dela até que ela abriu as
pernas com abandono.
Ela ficou pendurada no pescoço dele e arranhou e agarrou os
ombros dele quando o final convulsivo se aproximava. Um tremor
violento oscilou e um grito chocado irrompeu. Ela agarrou-o como
uma criança assustada em busca de abrigo quando a libertação a
sacudiu.
Ele segurou seu corpo encolhido e enterrou o rosto em seu
cabelo enquanto sua respiração lenta acalmava sua própria
necessidade dolorosa. Ela ficou em silêncio, aninhada em seus
braços, com o ar da noite esfriando seu ardor.
— Por que você não...? — ela finalmente murmurou contra o
peito dele.
— Eu disse que não iria.
Ela se enterrou mais fundo, como se encarar ele a
embaraçasse. — No final... por que você fez isso?
— Para mostrar a você que dividir minha cama não será...
tedioso. Você não gostou?
— Sim. Demais. Mas mesmo assim, não vou compartilhar sua
cama, Addis.
— Você está compartilhando agora.
Ela levantou a cabeça e olhou ao redor da cabana. — Não é
sua cama. Não a cama do senhor. Muito mais parecida com a minha
cama em Darwendon.
Ela parecia tão cativante com o luar fazendo um pouco de
brilho ao longo de seu perfil. Se ela queria acreditar que ela poderia
conter isso dentro desta casa e esta noite, ele iria deixá-la pensar
assim por agora.
— Sim, não a cama do senhor. Esta noite é apenas Addis
encontrando consolo com Moira.
Ele se sentou e tirou a calça estreita de couro e as jogou de
lado. Ele se esticou vestindo apenas seu calção, deixando a brisa
esfriar sua pele. Seu calor contrastou delirantemente e ele a puxou
contra seu peito e pernas, alerta para cada centímetro de conexão.
Sua palma acariciou seu rosto, acariciando com firmeza ao longo da
cicatriz, como se aquele cume espesso de carne danificada não
existisse. Mudando ligeiramente, ela abraçou o ombro dele com um
braço.
Instintivamente, naturalmente, como se ele tivesse feito isso
centenas de vezes antes, ele descansou sua cabeça contra o seio
dela e uma paz indescritível lavou sua alma.
Ele dormiu profundamente, mas ela não dormiu. Ela estava
segurando seu corpo, olhando por cima do ombro para fora da
janela para o lindo céu, pensando que era dolorosamente doce estar
perto de alguém assim, mesmo que por um curto período de tempo.
Seus dedos percorreram os músculos de seus ombros. Um
homem estranho e uma noite estranha. Ela duvidava que este ato
de fazer amor lhe trouxesse muito consolo apesar de suas últimas
palavras, mesmo que ele dormisse como os mortos agora. Ela o
havia dado toda a vida e ela reconheceu dando assim que o viu.
Embora não altruísta. Não, não sem uma acusação. Ele
provavelmente já sabia o que ela aceitou lentamente enquanto ela o
segurava. Uma mulher não pode fazer isso com um homem e
permanecer indiferente. Ela não pode dormir nua assim depois,
segurando-o a noite toda, e fingir que nada os ligava de manhã.
Esse estranho ato de amor insinuou que ele esperava algo muito
mais perigoso do que seus serviços como sua lehman. Seria preciso
toda a sua força para recusá-lo agora, seja o que for que ele queria
dela.
As razões para isso pareciam muito distantes. O bom senso e
os planos cuidadosamente planejados contavam pouco nesta
intimidade. Pensamentos confusos passaram pelo sono intermitente
que finalmente a conquistou.
A luz do amanhecer a acordou. Deitou-se de bruços sob o
cobertor de lã que Addis devia ter jogado sobre os dois. Seu braço
estava pendurado nas costas dela. Ela abriu os olhos para encontrá-
lo acordado ao seu lado, cabeça apoiada na mão, observando-a.
Seus cabelos negros caíram ao redor de sua cabeça em uma nuvem
espessa desgrenhada do sono. Os ombros e o peito bronzeados
encostando um dedo em seu nariz. A luz cinzenta projetava seu
rosto em planos severos, enfatizando o corte da boca e o longo
cume da cicatriz, fazendo-o parecer severo. Ela permaneceu imóvel
e sua alma instantaneamente entendeu sua expressão.
Ele levantou-se em seu antebraço e tirou o cobertor do corpo
dela revelando sua nudez completa à luz precoce e aos olhos dele.
Ele deu beijos nas costas dela, criando uma trilha emocionante de
calor. Ele acariciou suas nádegas e seus dedos roçaram a fenda com
surpreendente intimidade. Seus olhos encontraram os dela. — Eu
tive seis anos para aprender lições de continência, mas ver você
hoje de manhã destrói a minha decisão da noite passada. Eu vou
tomar você desta vez. Se você quiser me negar, é melhor você fugir
agora.
Negar ele? Isso tomaria uma voz e a dela desaparecera porque
o coração dela estava em sua garganta. Ela precisaria de um corpo
que pudesse se mover, e o dela se tornou imóvel com uma
antecipação gritante. Ele não esperou muito tempo para ela decidir.
Virando-a, ele se moveu em cima dela, dominando-a com força
morna e carne dura.
Nenhuma moderação neste momento. Um Addis diferente com
uma intenção diferente. Beijos e carícias que indicavam sua
necessidade e a preparavam para acomodá-lo. Ele conduziu-a numa
espiral rápida a uma paixão primitiva e faminta.
Tambores discretamente ecoaram em sua cabeça. Demorou
um pouco para perceber que não era a batida de seu coração ou o
pulso de seu poder. Nem sequer emanava de dentro da cabana, mas
se derramava pela janela acima deles. Ela tentou bloqueá-lo, mas só
ficou mais alto.
— Inferno — disse Addis, olhando para frente da cabana e os
sons de uma pequena tropa dominando a pista.
A aura de felicidade separou-se como se alguém a tivesse
cortado com uma faca. A porta se abriu e um jovem loiro apareceu
em sua luz. — Sim, é isso! — ele chamou, recuando com uma
risada. — Mas nós chegamos cedo demais. Ele ainda está no topo de
uma prostituta.
Os homens estavam animados e gritos de encorajamento
preenchiam o ar. Moira fechou os olhos para a realidade saltando
seus sons ao redor das paredes. Esta noite de beleza deveria ser
seguida por um alvorecer de vergonha. Seu bom senso de repente
subiu alto, duro de sua longa subjugação aos seus impulsos, e
encheu-a de repreensões. Não foi realmente justo. Ela nem tinha
cometido o crime, mas ainda pagaria o preço.
Ela encontrou alguma compostura e levantou as pálpebras
para encontrar Addis olhando para ela, lendo seu constrangimento.
Ele descansou a palma da mão na bochecha dela para acalmar e
tranquilizá-la.
— Parece que Sir Richard não veio sozinho. — Ele se levantou
e pegou a calça estreita de couro.
Ela vestiu-se rapidamente, puxando o tubinho e o vestido e
escondendo o cabelo desgrenhado sob um véu. Longe de seu
abraço e da cama, ela experimentou uma crescente falta de jeito
com ele. O ar matinal começou a diluir os aromas de sua intimidade.
O sol nascente queimou essas conexões doces. Ela observou Addis
vestir suas roupas e apertar o cinto do cavaleiro na cintura,
assumindo novamente a presença senhorial de ontem. Ela olhou ao
redor da pequena cabana, estranha agora à luz do dia e parecendo
cruelmente, implacavelmente real.
Ele se virou para a porta, mas ela ficou para trás. Ele se
aproximou e segurou a cabeça para um beijo. — Você quer sair do
meu lado como minha mulher ou na minha sombra como minha
puta, Moira. Deixe ser o primeiro caminho. Eles te mostrarão
respeito para me honrar.
Ele pegou a mão dela e levou-a através do limiar. O sol
brilhava em armaduras e armas. Homens, cavalos e carroças
entupiram a pista. Um rápido silêncio caiu quando eles emergiram.
Sete pares de olhos olharam rapidamente onde Addis ainda
segurava a mão dela.
Sir Richard deu um passo à frente, piscando um olhar de
desculpas para ela. Enquanto passava pelos homens, a mão dele
balançou para fora e, mesmo sem olhar, ele estalou o rosto do
escudeiro loiro com tanta força que o jovem cambaleou. Não
perdendo um passo, ele avançou até que ele ficou um braço de
distância e sorriu para Addis.
— Bem, agora esta é uma manhã gloriosa, não é verdade, meu
senhor.
Addis a liberou para aceitar o abraço do administrador de seu
pai. Ela passou pela sombra da casa, longe do drama masculino.
Richard gesticulou para os outros. — Alan e Marcus insistiram
em vir. E isso é o pequeno John, o filho do Grande John. Tão
verdadeiro quanto seu pai, eu prometo a você. Há outros, mas nós
os deixamos lá atrás. Pode ser mais útil por dentro, e eu gosto da
ideia daquele desgraçado se preocupar com quem ele pode confiar.
— Ele caminhou até as carroças. — Venha ver o que nós trouxemos
para você.
Moira percebeu que a de trás era a dela. — Encontramos
alguns aldeões trazendo isto aqui esta manhã — Richard explicou
com um ponto. —, mas olhe para você aqui. A armadura do seu pai
e tal. E alguma moeda. Não muito, desde que aquele bastardo
achou a maioria disto apesar de eu esconder isto em dez lugares
diferentes. E os patrulheiros de Patrick descem a pista um pouco.
Ainda os demônios que eles já foram e tão difíceis de controlar. Ah,
e tem isso... — Ele enfiou a mão na carroça e tirou uma arma longa
e pesada. — A espada da família. Eu peguei isso quando seu pai
morreu. Pensei que talvez Simon tentasse algo, com você morto e o
menino apenas um bebê. Imaginei que ele poderia tomar a terra,
mas eu não deixaria que ele tivesse os direitos.
Addis pegou a velha espada normanda em suas mãos. Seu
rosto era uma máscara severa de compostura, mas Richard não
estava tão contido. Ele agarrou o cabo abaixo dos dedos de Addis.
— Nós aqui nunca juramos a ele, não em nossos corações. Apenas
para o senhor, e ele nunca foi isso.
Addis hesitou. Todos eles pareciam uma imagem congelada.
Ele olhou através dos cavaleiros e escudeiros, procurando até que
seus olhos se encontraram com os dela. Ele olhou para a casa,
através de sua porta em suas profundezas escuras, e depois de volta
para a espada apontando para o chão. Determinação definiu sua
expressão. Determinação e talvez resignação.
Ele abaixou a arma. Sir Richard seguiu, ajoelhando-se para
fazer seu juramento de fidelidade.
Ela deslizou de volta para a cabana, piscando as lágrimas
ardendo. Bem, era isso. Tinha começado, e tudo terminaria com ele
morto ou triunfante. Ela estava feliz por Sir Richard estar ao seu
lado. Ele pareceu um homem em quem Addis poderia depender. Ele
precisaria de um amigo assim com ele.
Os sons de outros juramentos se dirigiam a ela enquanto ela se
ocupava de arrumar o chalé, tentando preencher seu repentino
vazio com praticidades. Quando ela terminou, olhou em volta do
pequeno espaço. Um jarro quebrado segurava algumas flores
murchas na mesa bruta, e ela saiu correndo para pegar algumas
novas sem que ninguém percebesse. Ela alisou o cobertor sobre a
cama, notando a costura cuidadosa de sua peça. Outros detalhes,
como o chão cuidadosamente esfregado e a louça cuidadosamente
empilhada, absorveram sua atenção.
Ela não teve problemas em imaginar o jovem casal que morava
ali. Eles amavam-se um ao outro. Podia-se apenas sentir isso. Feliz
apesar de sua pobreza de bens. Seguros em seu domínio um do
outro. Foi o fantasma deste amor que a inquietou quando ela entrou
pela primeira vez na noite passada.
Ela encontrou sua cesta e tirou um xelim do saco de couro e
enfiou-o debaixo do travesseiro. Um corpo obscureceu a luz da porta
e ela se virou para ver o escudeiro loiro parado ali.
— Minha senhora, meu senhor disse para lhe dizer que
estamos prontos para partir.
Ela o encarou, segurando sua cesta contra seu estômago. Ele
havia se dirigido a ela da maneira mais segura, mas ele a olhou com
curiosidade, imaginando quem e o que ela realmente era.
— Eu não sou uma dama — corrigiu ela, lembrando-se do fato
essencial de seu relacionamento com Addis. — Meu nome é Moira
Falkner e minha mãe foi nascida serva.
Capítulo VIII
A estrada ficou lotada quando se aproximaram de Londres.
Viajantes moviam-se em ambas as direções, forçando sua comitiva a
uma longa fila. Moira guiou sua carroça na retaguarda e Addis
cavalgou longe na frente. Ela planejara desta maneira.
A jornada de quatro dias tinha sido um inferno silencioso,
pressagiando seu futuro como a prostituta do lorde. Addis deixara
claro seu interesse, e os cavaleiros e escudeiros mostravam respeito
por ele, ignorando-a. Eles a ajudaram de maneira formal e
cautelosa, mas ninguém falou muito com ela. Isso parecia o modo
como os homens trataram Edith quando Bernard estava por perto e
lembrou-lhe a maneira muito diferente como a tratavam quando não
estava.
Às vezes, ela encontrava um dos cavaleiros olhando para ela
com uma expressão que indicava que o respeito por Addis não se
estendia verdadeiramente a ela. Era assim porque ele queria assim,
aqueles olhos diriam, mas você e eu sabemos o que você realmente
é. Uma mulher como você poderia tão facilmente ser minha esta
noite como dele, e quando ele se cansar de você ainda pode ser
assim.
Sir Richard exigiu toda a atenção de Addis, mas nesse grupo
de homens ela não esperava que ele se importasse muito com ela.
Eles trocavam não mais do que algumas palavras a cada dia, e
desde o amanhecer até o acampamento todas as noites nada a
distraía de pensamentos que debatiam as alternativas que a
aguardavam no final desta jornada.
Se ele a tivesse deixado completamente sozinha, ela poderia
ter se sentido mais calma sobre o que decidira fazer. Mas no
segundo dia ela acordou para encontrá-lo ao seu lado na carroça
onde ela dormia, espremido a seu lado sob o cobertor enquanto ele
a segurava. Toda noite ele voltava novamente para se deitar ao lado
dela. Ela tinha se agarrado a ele na noite passada sob o céu sem
estrelas, desejando que ela pudesse segurá-lo para sempre, mas
sabendo em seu coração que ela não podia. Seu mundo nunca
permitiria isso, nem ele jamais indicou que ele desejasse isso.
Será muito pior depois se eu esperar, ela lembrou a si mesma
com firmeza enquanto guiava cuidadosamente seu burro em meio às
outras carroças que se aglomeravam em seus lados enquanto a
estrada se alargava.
As muralhas da cidade podiam ser vistas agora e ela examinou
sua amplitude infinita com espanto. Londres era enorme. Ela tinha
ouvido falar muito, mas nunca esperou nada assim. A cidade
superara suas muralhas e se espalhara por sua estrada em uma
coleção de hospedarias e casas de todos os tamanhos e descrições.
Ruídos e cheiros aumentaram a cada passo, até que todos os seus
sentidos foram assaltados pela densidade de pessoas e atividades.
Um enorme portão esculpido apareceu no final da estrada.
Addis e Richard se aproximaram do portão e alguns guardas
surgiram para encontrá-los. A fila de viajantes começou a parar e se
amontoar. Uma carroça parou ao lado dela e o velho dirigindo-a
revirou os olhos para o congestionamento em desenvolvimento. —
Malditos cavaleiros — ele murmurou.
— O que está acontecendo?
— Não gosto de comitivas armadas chegando, mesmo
pequenas. A cidade está no limite com o rei e não quer muitos de
seus homens dentro de uma só vez. Apenas espere seu tempo,
mulher. Eles vão tirá-los do caminho em breve.
Os guardas apontaram Addis e Richard para a parede das
fortificações. — Eles vão recusar sua entrada? — ela perguntou
enquanto a multidão avançava.
— Depende de quem eles são, não é? Tem que fazer as
perguntas primeiro e tal.
Mais guardas haviam chegado. Uma confusão geral apertou a
estrada. Moira olhou para Addis sendo bombardeado com perguntas.
Um anseio ofuscante varreu-a. Emoções que ela tinha abrigado por
metade da vida quase a fez virar seu burro. Ela trancou seu olhar
nele e marcou sua mente com a visão, perdendo-se em pesar
angustiado.
O choque de sua carroça a alertou novamente. Viajantes a
cercaram, separando-a dos escudeiros, e a fila começou a se
aproximar do portão.
Ela forçou os olhos para longe dele e enfrentou o buraco
quadrado da liberdade. Seus cavaleiros e escudeiros se afastaram
para se juntar a Addis e Richard. Ela ficou na fila e deixou a
multidão movê-la, longe dele e da paixão sedutora e desastrosa que
ele oferecia.
A sombra do portão caiu sobre ela e ela enfrentou um guarda,
mas sua atenção encontrou a pequena discussão ao lado da parede
mais interessante que ela. Seu braço balançou e ela passou pela
parede.
A incrível confusão do outro lado a surpreendeu e ela quase
virou a carroça e voltou para Addis. Tantas pessoas e ruas e lojas e
animais. Crianças gritando e porcos guinchando e cachorros latindo
continuavam correndo em seu caminho. Placas coloridas balançavam
sobre sua cabeça e prédios assomavam e projetavam-se acima
deles, uns três ou quatro níveis acima. Carroças e barracas
misturadas com alimentos de jardins e fornos com trabalhos
artesanais e couro, entupiam os pontos onde a estrada principal
absorvia pequenas faixas laterais.
Ela se sentiu imediatamente perdida e oprimida, e suspirou de
alívio quando avistou o alto pináculo erguendo-se acima de tudo à
distância. Em Salisbury, a catedral servia de capela geral e mercado,
e ela supôs que seria assim em Londres.
A rua se alargou em frente à catedral. A praça estava cheia de
vendedores e pessoas de todos os níveis fazendo comércio ou
apenas passando o tempo. Ela pulou e levou o burro para os
arredores. Ela contornou as bordas, procurando por um rosto
amigável.
Uma mulher gorda vendendo cestas olhou sua carroça e
franziu a testa. — Não perto de mim, você não.
Moira examinou os produtos simples, mas primorosamente
tecidos da mulher. — Não, não vim negociar hoje.
A curiosidade da mulher levou a melhor sobre ela. Ela bufou
em torno de sua própria carroça e olhou para Moira.
— Elegante trançado. Este é interessante. Não exatamente
redondo, ele é, mas deliberadamente não. — Ela levantou e virou de
cabeça para baixo. — Como você consegue as cores? O vermelho e
o roxo?
— Bagas. Eu faço um tonel de suco e água e molho os juncos.
— Ah! Bem, sem bagas crescendo em Londres, com certeza,
ou por milhas ao redor, exceto nas áreas de caça do rei,
provavelmente. O que há é escolhido e comido. Você vai querer uma
boa quantia para estes. Terá mais sorte em Westminster, onde as
senhoras da corte andam. Elas vêm aqui também às vezes, e há
esposas de mercadores que pagariam seu preço, mas estas são
cestas de damas se você me perguntar.
Moira guardou o conselho. Seu comércio comum havia
formado uma ponte e a mulher parecia bastante gentil. — Você
pode me dizer de uma hospedaria onde eu possa encontrar um
quarto.
— Há muitas hospedarias em Londres e do outro lado da ponte
em Southwark. Depende do tipo que você quer. Algumas são para
senhoras e outras para peregrinos e outras intermediárias.
— Um lugar limpo, onde posso ter meu próprio quarto.
Conduzido por pessoas honestas.
— Bem, se você tiver a moeda, há uma pequena administrada
pela esposa do Mestre Edmund. Ele é um curtidor, e o lugar cheira
um pouco desde que seu comércio está lá, mas então toda a cidade
cheira, não é? Ela é uma mulher temente a Deus e administra um
lugar limpo. Normalmente a pequena nobreza fica lá quando estão
na cidade, mas você fala e anda como uma então talvez eles a
aceitem.
Moira pediu instruções para a casa do Mestre Edmund. —
Tome cuidado — a mulher avisou na despedida. — Coisa bonita
como você nesta cidade, melhor tomar cuidado por onde anda. Há
muitos lobos nesta cidade satisfeitos por dar uma mordida na
galinha do campo.
Dentro de uma hora, Moira acomodou-se no pequeno e
simples quarto alugado pela dona da casa Elsbeth.
Sua carroça e seus pertences estavam guardados em um
estábulo atrás. Edmund assegurara que estariam seguros desde que
a cidade rapidamente enforcara ladrões, de modo que poucos
assumiram a vocação.
Sentada em seu colchão de palha, ela reuniu seus
pensamentos. Ela duvidava que Addis a procurasse e, se o fizesse,
nunca a encontraria em uma cidade tão grande. Não seria
necessário que ela se escondesse, mas talvez por um dia ou dois ela
devesse evitar as principais ruas e mercados apenas por precaução.
Ela tentou não imaginar o rosto dele quando percebeu que ela
havia fugido. Como ele reagiu? Com a raiva que ele prometera? Com
surpresa? Com indiferença? Talvez o último. Barrowburgh o ocuparia
agora, e nesta cidade ele não teria problemas em encontrar uma
mulher disposta a dividir a cama de um cavaleiro.
O barulho da cidade passou pela janela dela e ela o imaginou
do mesmo jeito. Não com raiva ou indiferença, mas olhando para
ela, seus olhos brilhando de calor, virando a cabeça para beijá-la.
Um vazio dolorido esvaziou-a. Tinha sido um sonho delicioso,
compartilhar sua amizade, saborear aquela paixão, tocar aquele
espírito. Teria sido assim para ele também? Se assim fosse, ele
entenderia que ela rejeitou o céu para evitar o inferno? Ela duvidou
disso. Os homens nunca entenderam o custo dessas coisas para as
mulheres, porque ninguém lhes pediu que pagassem o mesmo
preço.
O vazio se encheu de uma onda de solidão e medo. Seu bom
senso nunca a fez tão infeliz antes.
Elsbeth chamou, convidando-a para compartilhar um pouco de
cerveja e ela foi até a cozinha, grata pela distração.
— Você planeja morar aqui então? — perguntou Elsbeth
enquanto servia a cerveja.
— Sim.
— Você trouxe mais moedas do que eu vi, espero. Esta é uma
cidade difícil para aqueles que são estrangeiros, não cidadãos da lei,
e duplamente duros com uma mulher sozinha. Nenhuma loja para
você. Se você pretende vender essas cestas, estará na rua.
— Tenho mais moedas. Não muito, mas o suficiente espero. —
O saco de couro e o rubi foram guardados em sua cesta de costura
em sua carroça. Mais seguro ali, onde Edmund podia ver quem
entrava no estábulo do que em seu quarto. — Essa sua hospedaria é
muito atraente. Quanto pode custar essa propriedade nessa cidade?
Elsbeth se acomodou em um banquinho. — Você pensa em
comprar uma propriedade? Seu marido deve ter sido bom em seu
ofício.
— James era um mercador de lã em Salisbury.
— Comerciante de lã ou não, duvido que ele tenha te deixado
o suficiente para comprar uma casa como esta. Cento e cinquenta
libras isso custa. Meu homem salvou muito tempo para isso, perto
de vinte anos.
Moira achou que o rubi valesse muito. Ela sempre teve a
intenção de usar essa joia para ajudar Brian a se estabelecer. O
plano tinha sido simples. Ele treinaria para ser um cavaleiro com
Raymond, e ela forneceria os fundos para seu cavalo e armadura
quando ele ganhasse suas esporas. Agora ela usaria o rubi para se
estabelecer, e a propriedade fazia mais sentido. Um homem
entenderia o valor de uma hospedaria que ganhava mais dinheiro do
que o valor vago de uma pequena pedra vermelha.
— Agora, uma casa de artesão em uma ala norte ou leste,
talvez você consiga uma desses por cinquenta. Estamos perto do
Cheap e do rio, o que faz a diferença. E se você quiser hospedar
peregrinos, sua melhor opção é atravessar o rio para Southwark. É
aí que os peregrinos param a caminho de Canterbury.
— Eu conheci uma mulher que veio aqui há alguns anos atrás.
Ela falou em trabalhar em uma taverna de peregrinos pertencente a
sua prima. Isso também estaria do outro lado do rio?
— Sim. A cidade desencoraja os peregrinos a entrar. Muitos
deles. Eles ficam principalmente em Southwark.
Ela pretendia procurar por Alice depois de se acomodar, mas
se encontrá-la fosse fácil, talvez ela fizesse isso primeiro. No raro
caso de Addis encontrá-la, seria bom ter o testemunho de Alice
sobre a libertação de Bernard. E, embora ela e Alice não fossem
amigas íntimas, seria reconfortante ter uma pessoa familiar a quem
recorrer nessa cidade estranha e movimentada.
— Você vem procurando um marido? — perguntou Elsbeth sem
rodeios. — Se assim for, há muitos homens à procura de uma
esposa. Com moeda ou propriedade suficiente, você pode até
conseguir um com a liberdade da cidade, um cidadão. O dote que
vai é cem libras com eles, mas você tem um ofício próprio e é
bastante bonito, então para você talvez fosse menos.
— Não estou à procura de um marido. — A sua resposta a
surpreendeu. Claro que ela estava. Muito especificamente.
Confiar tanto garantiria um fluxo constante de homens
elegíveis para esta casa. A ideia de enfrentar isso agora, a própria
insinuação do que o casamento significava com aquele homem
desconhecido, repeliu-a vagamente. Ela sempre presumiu que ela
poderia tolerar a cama do próximo marido, assim como ela havia
tolerado James, mas agora... Ela iria encontrar Alice e depois uma
propriedade e fazer mais algumas cestas. Mais tarde, ela se
colocaria no mercado de casamentos. Até então talvez Addis
estivesse morto para ela novamente.
Ela voltou para o quarto, sentindo-se cansada, mas também
tranquilizada. As coisas deveriam funcionar bem. Ela tinha
conseguido em Salisbury, não tinha? Não tão grande, mas uma
cidade era uma cidade. Ela se deitou para descansar, pondo em
ordem seus planos para o dia seguinte. Imagens de Addis no portão
entraram em sua cabeça, e ela se perguntou se ele teria sequer
obtido acesso a cidade.
Southwark não era Londres. Possuía um humor transitório e
instável, como se ninguém nas ruas tivesse nascido lá ou planejado
ficar por muito tempo. Os peregrinos abatidos apinhavam-se em
meio a escudeiros e aprendizes que buscavam uma bebida forte.
Não demorou muito para que Moira adivinhasse a profissão das
muitas mulheres que passeavam pelas ruas e se sentavam às
janelas de certas casas.
Elsbeth havia explicado que Southwark não era parte de
Londres, mas uma cidade separada, e uma com leis frouxas e uma
má reputação. Ela havia aconselhado Moira a não ir mesmo e
guardar sua bolsa se ela o fizesse.
Pensando que não poderia ser tão ruim, Moira tinha vindo de
qualquer maneira, mas trouxe apenas alguns centavos com ela.
Ela pensou que encontraria Alice em um piscar de olhos. Afinal,
quantas tabernas ela poderia precisar visitar?
Dezenas descobriu. Ela saiu de uma tarde da noite, pensando
que deveria ter começado essa busca no começo do dia. Ela tinha
esperado até o final da tarde na esperança de que cruzar caminhos
com Addis ou um de seus homens seria menos provável então. Mas
levou mais tempo para chegar a Southwark do que ela esperava, em
parte porque continuava parando para examinar casas que poderiam
servir como prováveis pousadas. Agora ela hesitou na rua e notou a
chegada do crepúsculo. Ela teria que voltar amanhã.
Ela voltou para a ponte de pedra e fez a longa travessia.
Guardas estavam fechando o portão da cidade assim que ela
deslizou.
Ela retornou à sua estalagem, perdida em seus pensamentos,
seguindo seu caminho sem muita consciência real de algo mais do
que a escuridão e o silêncio. E assim, quando ela virou uma esquina
e entrou em uma piscina de brilho deslumbrante, ela engasgou de
surpresa.
Três homens carregando tochas estavam conversando ao lado
da rua. Eles a ouviram e se viraram.
— Bem, agora, o que temos aqui? — um deles disse.
Ela tentou passar, mas eles bloquearam seu caminho.
— Vindo para um trabalho então?
— Você está muito longe de Cock Lane, garota — disse outro.
Ela olhou de rosto a rosto em confusão. Eles olharam para ela
à luz das tochas, parecendo muito severo e oficial.
— Deixe-me passar, por favor.
— Agora não podemos fazer isso. É nosso trabalho patrulhar
esta ala e ter certeza de que semelhantes como você fiquem onde a
cidade colocou vocês. Quando você passou pelos portões, sabia o
risco se fosse encontrada — o primeiro dizia.
— Acabei de voltar de Southwark. Eu moro dentro dos portões.
— Tem ideia? Os guardiões vão querer ouvir sobre isso. As
prostitutas não são permitidas em nenhum lugar da cidade, a não
ser em Cock Lane. — Ele segurou seu braço com firmeza.
Eles pensaram que ela era uma... era ridículo demais! Ela vira
putas o suficiente para saber que nem lembrava remotamente uma.
— Meus bons homens, vocês estão muito enganados. Eu estou
simplesmente tentando voltar para a minha hospedaria.
— Ooo! Ela é uma dessas pessoas de fala chique que vai ao
trabalho em vez dele ir até ela.
— Não seja absurdo. Eu pareço... como uma...
— No escuro todas as mulheres parecem iguais. Você deveria
saber disso.
Isso estava tomando um desvio absurdo. — Veja aqui —
começou ela aborrecida.
— Não, você vê aqui — ele disse. — Você está andando pela
rua sozinha depois do toque de recolher que é contra a lei da cidade
e, na minha experiência, há apenas uma razão pela qual uma
mulher faz isso. É a prisão de Tun para você.
— Prisão! Isso é ultrajante.
O homem que apertou o braço dela a olhou mais de perto. Ele
hesitou, depois encolheu os ombros. — Bem, você explica sua
história ao magistrado amanhã. Meu trabalho é coletar os andadores
noturnos e prostitutas fora da rua e você é ambos os casos, eu vejo
isso. Então vamos. É um bocado de caminho para o Tun.
— Você não pode estar falando sério — ela exclamou quando
ele começou a arrastá-la para longe.
— Não me cause problemas agora.
— Me solta — ela disse baixinho. — Eu vou andar com você.
Não se atreva a me tocar novamente.
O homem olhou para os companheiros e riu. — Ela é boa. Ela é
muito boa. Tem aquele tom arrogante embaixo. Eu aposto que esta
é caríssima.
Moira olhou para os olhos brilhando a luz das tochas. Eles
pertenciam à guarda principal da prisão Tun, a fortaleza circular
onde Londres encarcerava os presos por crimes noturnos. O guarda
deu uma olhada para ela e ordenou que ela fosse trazida para esta
câmara sem janelas em vez de uma cela de prisão.
Grata por sua consideração, ela aceitou a cerveja que ele
ofereceu a ela e depois derramou sua explicação de por que ela
estava andando pelas ruas depois do toque de recolher da cidade. —
Eu disse ao policial da noite sobre Elsbeth e pedi que ele mandasse
chamar ela — concluiu ela. — Ela sabe que sou nova na cidade e em
seus caminhos.
— Ele vai dizer se ele pode encontrá-la. Não significa que ela
virá, não é? Você tem parente ou tal aqui? Qualquer outra pessoa
que possa se comprometer por você, ou trazer a moeda para que
você possa ficar segura?
Ela apodreceria neste lugar antes de pedir a alguém para
procurar por Addis. Além disso, ele poderia nem ter sido autorizado
a passar pelo portão.
O guarda encostou-se à parede atrás do banco e deu um
tapinha na cintura grossa, pensativo. — A coisa é, e é incrível, eu
digo, mas nenhuma das mulheres trazidas para cá são realmente
prostitutas. Noite após noite a cidade comete o mesmo erro e
arredonda algumas fêmeas e todas elas, cada uma, tem histórias
muito parecidas com as suas. Me entristece ver o que lhes é feito no
dia seguinte, àquelas que não podem sair durante a noite.
— O que acontece com elas?
— Bem, se o magistrado não acredita nelas, e ele quase nunca
o faz por algum motivo, a mulher é colocada em uma carroça e
arrastada pelas ruas para a zombaria do público. Todo o caminho
até Newgate, que fica do outro lado da cidade. A multidão pode ficar
um pouco áspera, eu te digo. Então ela é deixada em Cock Lane do
lado de fora do portão com as outras cafetinas.
Isso não parece tão ruim. Não como uma flagelação pública ou
ser trancada neste lugar úmido e fedorento por meses.
— É pior do que se pensaria ser humilhada desse jeito.
Marcada uma prostituta para sempre, ela é. A cidade inteira viu seu
rosto. E há registros mantidos também. A cidade gosta de manter
registros de tudo. É um longo caminho até Newgate, e os homens às
vezes ficam obscenos no caminho, especialmente os mais jovens,
embora as mulheres não sejam muito melhores para os meus olhos.
E ela não pode voltar para a cidade. Se uma mulher é encontrada
mais do que uma vez exercendo a profissão aqui, a próxima vez sua
cabeça é raspada antes de ser carregada. — Seus olhos brilhantes a
avaliaram. — Nós, os guardas daqui, odiamos ver isso. Fazemos o
que podemos pelas pobres criaturas.
Moira reconheceu o truque de abertura de um suborno quando
o ouviu. — Você disse que algumas mulheres saem durante a noite.
Como isso é permitido?
Ele piscou um olhar apreciativo. — Algumas vezes alguém vem
e faz uma promessa e se oferece para pagar uma multa. Do jeito
que vemos isso poupa à cidade muita despesa e problemas.
— Quanto é a multa? — Ela tinha três centavos.
— Para você, eu diria que seria cerca de dois xelins.
Dois xelins!
— Você parece ser um tipo caro. Você me diz o nome do seu
homem e eu mandarei uma mensagem para ele. Ele vai pagar. É
seu trabalho fazer isso. Não adianta compartilhar com um homem se
ele não vier com a moeda quando isso acontece.
Ele não acreditou em uma palavra que ela disse a ele. A porta
da câmara estava fechada, mas o cheiro acre da prisão conseguia
permear as paredes. A náusea agitou seu estômago e o desamparo
a dominou. — Eu não tenho homem. Eu não sou uma prostituta —
disse ela, enterrando o rosto nas mãos.
Ela esperou com resignação que ele chamasse os outros
guardas e a levasse embora. De alguma forma, ela passaria por essa
noite e amanhã.
— Bem, agora — o guarda disse em um tom suave que
acariciava o silêncio. — Se você não tem moedas e não manda
buscar o seu homem, há outro jeito. Você tem as maneiras de uma
dama e um corpo que a maioria dos homens só toca em seus
sonhos. Pode valer dois xelins nisso.
Seu estômago vazio subiu com desgosto. Ela forçou a bile
antes de levantar a cabeça. — Não.
Duas faíscas de luxúria cintilaram à luz da tocha. Se este
homem decidisse força-la, não teria como escapar.
Recolhendo-se, ela enfrentou-o com um dos nobres olhares de
Claire. Absorver aquela maneira lhe servira bem ao longo dos anos
com homens de todos os níveis, mas temia que, se este sonhasse
com a cama de uma dama, isso só poderia ser provocativo.
Raiva e insulto explodiram, mas logo se acalmaram. Ele se
levantou e pegou o braço dela e arrastou-a para a porta.
— É do seu jeito, mulher. Vamos ver como você ainda estará
orgulhosa quando chegar a Cock Lane.
Capítulo IX
Elsbeth veio na próxima manhã, mas com um olhar que
Moira se preocupou por ter sido um erro pedir para ela. A esposa do
curtidor tinha uma expressão dura que falava da vergonha de ser
convocada para o julgamento de uma prostituta.
Nenhum hallmote a julgaria ela e os outros à espera de justiça
rápida. Apenas dois magistrados entediados que pareciam ter ouvido
todas as histórias antes esperavam para decidir seu destino.
Eles mal olhavam para ela e, considerando sua condição, ela
estava igualmente feliz. Uma noite na prisão de Tun a reduzira a
uma imagem mal-humorada, meio quebrada e fedorenta do tipo
mais básico de pessoa. A prisão mantinha uma grande caverna para
todas as mulheres, sem assentos ou bancos para sentar, apenas
palha fétida no chão imundo.
Durante a noite, uma a uma, as verdadeiras prostitutas
desapareceram quando seus homens pagaram seus subornos. De
manhã só ela e uma outra mulher permaneceram.
Eles a deixaram implorar, mas ninguém fez nenhuma pergunta.
Ela terminou sua história e até soou escassa para ela. Ela
esperançosamente identificou Elsbeth como alguém que poderia
garantir que ela falou a verdade. Os magistrados chamaram a dona
de casa para frente.
— É como ela me disse — admitiu Elsbeth.
— Você tem algum conhecimento independente de que é
verdade?
— Soou bem verdade no momento. De uma maneira estranha,
pensei. Demasiado refinada para o seu nível. Sozinha, isso era certo.
Perguntou-me como chegar a Southwark. Disse que conhecia uma
mulher que havia ido lá há alguns anos.
Um magistrado franziu os lábios e olhou para o outro.
— Perguntou sobre comprar uma casa na cidade — continuou
Elsbeth. — Uma com quartos suficientes para servir como uma
estalagem.
— Na verdade, — o magistrado pensou amargamente.
Moira gemeu com as conclusões que esses homens estavam
tirando. Melhor se a dona de casa tivesse ficado em casa.
Elsbeth reconheceu o interesse que suas revelações
provocaram. Ela aqueceu a atenção. — Disse que não estava
procurando por nenhum marido. Tenho certeza sobre isso.
Moira teve a impressão de que esse fato, mais do que qualquer
outro, selou seu destino. Ela ouviu a punição infligida, tão cansada
que quase não se importou.
Eles a levaram para uma câmara até que o resto dos casos
fosse ouvido. Ao meio-dia, um guarda a levou e a verdadeira
prostituta para o pátio, onde duas carroças aguardavam. Um grupo
de homens carregando timbres, flâmulas e tambores reunidos perto
da parede.
O portão estava aberto e as pessoas entraram para assistir aos
preparativos. Enquanto uma multidão se reunia, alguém colocou um
roupão fedorento de listras amarelas e brancas sobre seus ombros e
colocou uma vela apagada na mão antes de empurrá-la para dentro
da carroça.
Um mar de rostos atentos a agrediu. Expressões hostis de
desprezo e interesse zombeteiro a examinaram. Olhos encapuzados
brilhavam com autojustiça e especulação lasciva.
Um horror desconhecido despertou seu espírito entorpecido.
Isso ia ser muito pior do que ela imaginara.
Eles eram todos estranhos, mas no momento em que
terminasse, a humilhação poderia ser devastadora. Um açoitamento
público poderia ser preferido.
Ela tentou se endurecer, mas a noite sem dormir a deixou com
pouca força. Os dedos apontando e sabendo assentimentos da
multidão pareciam mais próximos. A carroça não se moveu, mas ela
já sentiu algo dentro dela desmoronar.
— Você deveria ter me dito que só precisava de uma moeda
para garantir sua submissão, Moira. Eu poderia estar usando você
há semanas e nem percebi isso.
Addis. Ela se virou e seu coração pulou de alívio e, em seguida,
bateu com medo quando viu a expressão dele. Sua garganta se
apertou em resposta à fúria ao lado dela.
Ela suspeitava que o humor dele tinha pouco a ver com
encontrá-la assim e tudo a ver com ela fugindo em primeiro lugar.
Seu espírito esgotado não suportaria isso agora.
— Você vai gostar de ver a mulher que se recusou a ser sua
prostituta exibida como uma para o mundo? Eu tive a noite toda
para contemplar a brincadeira e ela deixou de me divertir muitas
horas atrás.
— Sua memória falha em você. Eu nunca lhe ofereci o preço de
uma prostituta. E você não me recusou nada.
— Vá embora, Addis.
Ele segurou o queixo dela. — Neste momento não é sábio falar
com desrespeito ao seu senhor, mulher.
Ela não precisava de lembranças do problema que enfrentou
com ele. Isso transpirava do seu corpo e atirava de seus olhos. Ela
se virou para ver a prostituta pronta na carroça atrás dela. Um
guarda se aproximou e reuniu as rédeas de seu burro, preparando-
se para liderar o pequeno espetáculo de vergonha. Os mummers9
com seus timbres e flâmulas assumiram posições.
Addis avançou e sua mão pousou no ombro do guarda. O
homem se encolheu quando os dedos fortes esmagaram sua carne.
— Vá e traga o magistrado, — Addis ordenou.
O guarda saiu apressado. Addis voltou para ela. — Você
realmente pensou em se esconder de mim nesta cidade?
— É uma cidade muito grande.
— Não grande o suficiente. Nem será da próxima vez que você
pensar em tentar novamente. — A multidão começou a protestar
contra o atraso. — Talvez eu deva dar você para eles, Moira. Eu me
canso de sua rebelião. Talvez este dia eu deva deixar você provar
que a liberdade que você insiste é o que você deve. Será mais fácil
do que convencer o magistrado de que um erro foi cometido.
— Você poderia fazer isso?
— Te dar para eles?
— Convencer o magistrado.
— O sangue nobre conta para alguma coisa, mesmo nesta
cidade. — Ele inclinou seu queixo para cima com um dedo, então ela
olhou para ele. — Você terá que se comportar como a serva que lhe
digo que é. E você deve jurar que não vai fugir novamente.
Os mummers brandiram flâmulas e tocaram timbres para
apaziguar a multidão. Através dos portões, Moira viu corpos ao
longo da rua, deixando apenas um caminho estreito para as
carroças. Alguns guardas separaram a multidão para permitir a
passagem de um magistrado muito irritado.
— Jure, — Addis ordenou.
— Eu não vou fugir novamente. Eu juro — ela sussurrou.
O magistrado bufou ao lado do carrinho. — O que é isso? Foi-
me dito que um cavaleiro exigiu que eu viesse. Qual é o seu
interesse na prostituta?
— Sou Addis de Valence, senhor de Barrowburgh e parente do
falecido conde de Pembroke. Essa mulher pertence a mim. Ela é
serva nascida e ligada à minha terra em Darwendon.
— Então você pode tê-la depois que a cidade acabar com ela.
— A cidade pune mulheres inocentes apenas para entreter o
seu povo? Ela chegou aqui ontem na minha companhia e se separou
quando estávamos atrasados no portão. Ela não é uma prostituta,
mas apenas uma mulher do campo que não conhece os caminhos da
cidade.
O magistrado zombou. — Separada, eh? Fugiu, mais
provavelmente, e procurando encontrar uma cama da maneira mais
fácil que as mulheres sabem. — Ele se virou para ela. — O que você
diz mulher? Você não falou sobre isso antes, nem para ser punida.
Esta carroça pode não parecer tão ruim se você fugisse e ele a
levasse agora.
As pessoas próximas haviam se acalmado enquanto se
esforçavam para ouvir a conversa no carrinho. Se ela não estivesse
tão suja, cansada e entorpecida, poderia ter recusado essa
declaração pública, mas, em sua condição atual, a proteção
oferecida por Addis apresentava um apelo infeliz. — Ele é meu
senhor — ela sussurrou sua garganta queimando com lágrimas
reprimidas.
O magistrado puxou o manto de seus ombros. — Então mostre
a essas pessoas que ele é, então eu não terei um tumulto em
minhas mãos por elas acharem que nós deixamos algum cavaleiro
comprar a liberdade de uma prostituta.
Demorou um momento para entender o que ele queria dizer.
Muito esgotada para se importar demais, desesperada para acabar
com tudo isso, ela largou a vela, saiu da carroça e andou até Addis.
Bloqueando os olhos fixos e recusando-se a olhar para o próprio
Addis, ela se ajoelhou na frente dele.
— Leve-a e assegure-se de que ela se comporte enquanto está
dentro dessas paredes — disse o juiz, franzindo o cenho. Addis a
colocou de pé. Sir Richard apareceu do nada para pegar seu outro
braço. Os dois arrastaram-na através da multidão.
Alguns na multidão não deveriam ter seu esporte negado.
Gritos de “prostituta” e “meretriz” soaram, e outras vozes pediram a
Addis para puni-la com uma vara ou cinta. Frutas maduras voaram e
uma caiu com um baque esmagador nas suas costas. Só depois de
passarem pelo portão a multidão a esqueceu, e só porque a outra
carroça começou a rolar.
Eles a puxaram para uma faixa lateral onde dois cavalos
esperavam. Addis agarrou sua cintura e a jogou na sela e depois se
virou para trás. Richard montou o outro cavalo, mas virou-se para
andar em uma direção diferente.
Eles começaram a andar pelas ruas secundárias.
— Como você me achou?
— Falei com vendedores de cesta nos mercados. — O tom frio
dele a fez estremecer. O Senhor de Barrowburgh não esqueceria
rapidamente o problema que ela causara e o insulto que ela lhe
dera. Certamente não antes de chegarem a sua casa. — Presumi
que seus produtos teriam sido notados por eles e encontrei uma
mulher que falara com você ontem. Ela me mandou para a casa do
Mestre Edmund e ele me contou onde a esposa havia ido hoje de
manhã.
Que simples. Estúpido dela pensar que ela poderia desaparecer
mesmo em uma cidade deste tamanho. — Minha carroça ainda está
com Edmund e sua esposa — disse ela, de repente preocupada com
seus pertences e especialmente com a cesta de costura. O maior
perigo de ser levado para Cock Lane a atingiu. Se ela nunca pudesse
reentrar na cidade, ela teria perdido tudo, inclusive o rubi.
— Quando Richard voltar vou mandá-lo para isto. A cidade só
permitiu a entrada de nós dois. Os outros ficaram do outro lado do
rio na noite passada e ele precisa resolver a hospedagem deles.
Ele atravessou o portão baixo de uma longa casa de dois níveis
e entrou em um pequeno pátio. Os estábulos flanqueavam a quadra
pavimentada à direita e um longo corredor revestia à esquerda. A
bagunça de um jardim negligenciado se erguia atrás, cercada pelos
restos de um muro de pedra.
Ela se virou para olhar para o bloco da casa de frente para a
rua. De bom tamanho, com pelo menos cinco ou seis quartos, ela
julgou. Sua primeira reação foi que depois de algum reparo
desesperadamente necessário, seria uma bela hospedaria.
Addis puxou-a do cavalo e arrastou-a pela mão para o
corredor. Ela tropeçou atrás dele enquanto ele caminhava até o fim
e atravessou uma porta. Ele a empurrou para frente e ela tropeçou
na cozinha.
Uma mulher magra e velha, mexendo uma panela no grande
forno, levantou-se surpreendida com a entrada abrupta.
— Dê-lhe um banho, depois mande-a para mim. Queime o
vestido — ordenou ele.
E então ele se foi, seus passos de bota se retirando ecoando
pelo corredor.
A velha enrugou o nariz. — Onde ele te encontrou?
— Prisão de Tun.
— Isso explica isso. Você cheira como um peido do diabo.
— Como passei a noite no inferno, não me surpreendo.
— Causou muitos problemas, Moira Falkner. Meu homem ainda
está fora procurando na cidade por você. — Ela enfiou o polegar na
direção da porta. — Ele está pronto para te matar, eu acho. Valentia
a sua irritar um homem como ele.
Estupidez é mais parecido com isso, sua expressão dizia.
— Quem é você?
— Eu sou Jane, o nome do meu homem é Henry. Nós éramos
o povo de sua mãe. Ficamos aqui depois que Sir Patrick morreu,
embora todo mundo tenha partido. Não do vínculo de Barrowburgh,
mas das terras da família dela, e, além disso, estivemos aqui o
tempo suficiente para a liberdade. — Ela inclinou seu corpo rígido
para alguns baldes. — Venha e pegue um pouco de água comigo
para este banho. Não vai te ajudar muito se o deixarmos esperando
por você a tarde toda.
Moira pegou vários baldes e seguiu Jane por uma porta lateral
que dava acesso ao jardim. Um poço ficava a alguns metros de
distância e elas encheram os baldes e voltaram. Juntas, elas rolaram
a grande banheira de madeira para longe da parede, em direção ao
fogão. Jane colocou seus baldes para aquecer pela chama baixa
enquanto Moira esvaziava os dela na banheira. Ela fez várias outras
viagens por água, depois esperou com Jane que a água
esquentasse.
— Como vocês viveram? — ela perguntou a Jane.
— Foi escondido, um pouco de moeda e nós a encontramos.
Isso durou um tempo. Principalmente temos vendido móveis. Havia
algumas cadeiras bonitas no vestíbulo com encostos e trouxeram
boa moeda. Vivemos à custa de cada uma delas por quatro meses.
Não queríamos esvaziar o lugar, mas tínhamos que comer.
Vendemos coisas que não fariam muita falta. Não há vergonha em
sentar em bancos, mesmo nos melhores salões. Eu continuei
dizendo a Henry, qual é o sentido? A casa tinha sido esquecida. Ele
não me ouviu. Insistiu em fazer o melhor que podia para manter
isso, mas ele está velho e a parede está meio abaixada e o estábulo
precisa de um telhado e... bem, você verá em breve o que é o quê.
Ela olhou na direção da casa. — Ele ainda não percebeu.
Apareceu em um estado de espírito negro porque eles não deixaram
seus homens entrar, mas principalmente porque você estava
perdida. Preocupado no início, depois com raiva de um jeito frio
quando decidiu que você tinha fugido. Você está pronta para isso,
Moira Falkner. Foi uma coisa imprudente que você fez.
Moira fez uma careta concordando e testou a água nos baldes.
Ela os derramou na banheira e começou a tirar suas roupas, feliz por
se livrar da sujeira e do mau cheiro delas.
Jane avaliou seu corpo enquanto Moira subia na banheira. —
Bem, com essa roupa solta desaparecida, faz mais sentido, não é?
Perguntávamos por que ele trouxera uma escrava desde
Darwendon, Henry e eu. Estávamos curiosos que ele parou tudo
para te encontrar.
Moira afundou na água tépida. — Você tem algum sabonete?
— Um pedaço. Você vai querer lavar esse cabelo. Parece um
ninho de rato. Nós vamos te limpar e ficará bonita de novo e talvez
isso não seja muito mal para você.
Moira não queria contemplar o que aguardava com Addis, nem
quão mal poderia ser. Talvez muito mal, mas ela sentia pouco medo.
As únicas emoções que seu espírito maltratado poderia reunir eram
um ressentimento nervoso e uma triste resignação. Ela o declarou
publicamente como seu senhor e jurou não fugir, e assim aceitou as
algemas que jurara nunca mais usar. Ela tinha entrado na prisão de
Tun ainda segura de quem Moira Falkner realmente era, mas saiu
com essa identidade repudiada. Ele havia explorado sua fraqueza e
vulnerabilidade para fazê-la fazer isso, e isso dizia muito, muito,
sobre o que existia entre eles e o que não existia.
Viver na sombra de Claire lhe dera uma ampla oportunidade de
observar como homens como Adis tratavam mulheres pelas quais
tinham afeição, e como tratavam todo o resto que meramente
chamava a atenção deles, nobres ou de base, esposas ou villeins. A
afeição temperava a inclinação de um cavaleiro de dominar e
possuir, de subjugar e vencer. Ela quase esperou que ele a
espancasse como a plebe havia pedido. Isso colocaria essa noite
firmemente atrás deles. Talvez isso a forçasse a odiá-lo um pouco.
Ela estava contando que ele a ajudasse a fazer isso e, pelo seu
humor, suspeitava que ele não a desapontaria. A única questão era
o meio pelo qual ele planejava demonstrar sua submissão.
Ela esfregou o cabelo e se abaixou sob a água para enxaguar.
A cabeça dela surgiu justamente quando Jane pegou o vestido e se
afastou do chão e os jogou na lareira.
— Não!
— Ele disse para queimá-los.
— São tudo que tenho até que alguém pegue minha carroça.
— Vou pegar um cobertor para você. Pouco quente para isso
hoje, mas melhor do que isso. Não são adequados nem para um
mendigo, eles não são.
— Você poderia me emprestar um vestido só por hoje? Eu sou
maior, mas se é solto, pelo menos...
Jane se virou com as mãos nos quadris. — Olhe aqui. Você
pode desobedecer e fugir, mas isso é entre você e ele. Eu não vejo
esse homem desde que ele era um menino, mas eu sei algo de
senhores e que ele não é um para cruzar. Para onde Henry e eu
iríamos se ele ficasse bravo e nos expulsasse? Se ele disser queime
as roupas, eu as queimo. A menos que ele diga para lhe dar um dos
meus vestidos, eu não faço isso. Só tenho três e como eu vejo isso,
uma das duas coisas vai acontecer quando você subir as escadas.
Ele vai bater em você ou força-la e, de qualquer forma, qualquer
vestido não sairá inteiro.
Ela podia fazer sem a velha Jane tão bruscamente expor as
opções que ela mesma se recusou a enfrentar.
Talvez não seja necessário chegar a esse ponto. Certamente
ela não o julgara mal quando viu um lado mais gentil.
Jane trouxe um pouco de cerveja e pão. — Você come alguma
coisa. Vai fazer você se sentir melhor.
A comida a ressuscitou um pouco. — Diga-lhe que — Jane
abrandou enquanto lhe entregava uma velha toalha de linho. —,
tem alguns morangos no jardim que encontrei ontem. Você vem
aqui depois e nós teremos alguns. Eu tenho algumas salgas também
se você precisar delas. Você se seca agora e eu usarei meu pente
nesse cabelo.
Ela se sentou em um banquinho e olhou para os restos
carbonizados de seu vestido enquanto Jane trabalhava no pente.
Fazia mais de uma hora desde que chegou, mas duvidava que Addis
tivesse se esquecido dela.
Jane pegou um cobertor da casa. Moira se envolveu nele. A lã
ondulante a tranquilizou um pouco, e o banho e a comida haviam
retornado um pouco de força. Decidindo que ela não poderia evitar
esse confronto por mais tempo, ela seguiu as instruções de Jane
através do corredor e até o solar.
Ele não estava ali. Ela suspirou uma oração de agradecimento.
Decidindo que ela esperaria alguns minutos apenas para que
pudesse honestamente reivindicar mais tarde o que ela tinha, ela
entrou.
O solar era realmente mais um grande quarto de dormir. Pelo
menos uma cadeira não havia sido vendida por Jane e Henry, e ela
estava de frente para uma mesa perto da janela com vista para a
rua. Uma cama com cortinas e alguns bancos e baús formavam os
outros móveis.
Ela deslizou para a janela e olhou para a cidade. Ela desejou
estar de volta a Darwendon, onde as pessoas a conheciam. Londres
era grande demais, ocupada demais, cruel demais. Mas ela estava
presa aqui agora, cortada de toda vida que ela já conheceu. Ela
jurara não fugir.
Se ela desse o rubi a Addis e comprasse sua liberdade pelo alto
preço que ele havia estabelecido, ele concordaria que terminaria o
juramento que ela fizera? Mulheres livres não fogem, elas
simplesmente saem. E depois? Livre nesta cidade sem propriedade e
pouca moeda, como ela viveria? Como ela poderia voltar para
Darwendon sozinha, e se ela o fizesse, que tipo de vida a esperava
lá? Darwendon tinha sido um lugar para proteger Brian e planejar o
futuro. Ela poderia viver naquela cabana para sempre, sem a
esperança que a joia vermelha sempre forneceu?
Ele não insistiria em mantê-la para sempre. Com apenas dois
antigos empregados nessa casa, ele precisava dela agora, mas isso
terminaria um dia. Talvez com o tempo...
Um som rompeu seus pensamentos. Ela balançou a cabeça e
depois deu um pulo para trás quando o viu de pé no limiar. Ela se
moveu da janela para a sombra da parede, como se pudesse
desaparecer como havia feito tantas vezes em sua vida.
— Você não precisa ter medo — disse ele.
Sim, eu preciso, ela pensou desesperadamente. Pois ela tinha
visto a expressão em seu rosto enquanto a observava, e soubera
naquele instante que, se não tomasse muito cuidado, jamais poderia
voltar a ser livre.
Capítulo X
― Você não tem que ter medo — ele disse, mas ela não
acreditou nele. Ela o pegou observando-a e viu as emoções que o
alívio de a ter de volta não podia apaziguar completamente.
Ela puxou o cobertor para mais perto e agarrou a parede. Ele
cheirou seu medo e adoeceu-o admitir que ela não se preocupava
sem razão.
Ele passou a última hora tentando expurgar o perigoso tumulto
que queria controlá-lo. Um dia e uma noite se preocupando com sua
segurança e fervendo sobre a fuga dela, enfrentando os fantasmas
desta casa sem a âncora de sua paz, quase o tornara um louco. Nas
horas mais sombrias, seu ressentimento por ela tê-lo abandonado
reavivara a lembrança mordaz de outro abandono de outra mulher.
Encontrá-la no Tun o incitou novamente com a evidência de
que ela escolhera enfrentar o escárnio da cidade, em vez de pedir
sua ajuda.
Não confiando em si mesmo perto dela, ele a deixou na
cozinha e caminhou para a cidade, na esperança de afastar o pior
disto. Seu passo o levara a uma pequena praça diante da igreja
paroquial. Era um edifício antigo com paredes grossas. Entrara na
nave fria e deserta, pouco iluminada por algumas manchas de luz
que caíam pelas altas janelas pequenas.
Cheirava a incenso e aos rituais de sua juventude, cortejo de fé
e reconciliação naqueles dias.
Desesperado por uma brisa de graça para acalmar sua
agitação, ele foi até o altar e esperou.
O que ele esperava? Luz para romper a pedra e uma mão
fantasmagórica para alcançar seu coração? A visão do santo da
igreja dizendo-lhe que tudo ficaria bem? Ele não sabia, mas contava
deixar aquele espaço sombrio menos despedaçado do que quando
entrou. Isso não aconteceu dessa maneira. Ele ficou lá ansioso pelas
antigas palavras tranquilizadoras. Em vez disso, ele só experimentou
aquela estranha sensação de ser um homem fora do lugar e do
tempo, agora visitando o templo de um culto estrangeiro.
Ele havia voltado para a cozinha e escutou pela porta fechada
os sons de salpicos de água. Ele imaginou o corpo exuberante
encolhido na banheira, lustroso com água, olhos claros virando-se
para sua aproximação. E então outras imagens mostrando atos de
amor e punição, de ternura e duras profanidades, surgiram em sua
mente. Ele quase tinha entrado e expulsado Jane para afirmar sua
possessão e exigir sua submissão como seu sangue se enfurecia
para fazer.
Em vez disso, ele se forçou a sair da porta e saiu para o lugar
onde o jardim uma vez se estendia em camas limpas e pomares
podados. Em sua condição atual, podia-se imaginar que era um
campo distante dessa cidade.
Erva daninha alcançou suas coxas enquanto ele caminhava
para os fundos, o mais longe dela possível. Os sons da vida da
cidade entorpeciam aqui, e o zumbido de abelhas e arranhões de
roedores podia ser ouvido. Deitou-se em um pouco de grama e
flores silvestres e olhou para cima, como fizera em dias durante sua
escravidão, quando tentava fingir que estava em casa.
O infinito domínio do deus celeste Perkunas se estendia sem
nuvens como um lago sereno, uma eternidade fria que poderia
absorver qualquer conflito terreno. Lentamente, imperceptivelmente,
como tantos murmúrios inaudíveis, os espíritos do jardim
começaram seu coro rítmico. Não morreu ou foi silenciado nesta
terra, afinal, como ele havia aprendido naquela noite no monte de
feno. Apenas tão contido que apenas uma alma aberta a eles
sentiria sua presença. Seus sussurros o acalmavam, como velhos
amigos aceitando sua fúria sem discutir e, assim, gentilmente
desarmá-lo.
Não foi um abandono, ele finalmente reconheceu. Não foi
como Claire. Esta não lhe devia nada além das obrigações de uma
serva que ela nunca aceitara como devidas. Uma voz calma,
carregada pela brisa, disse para deixá-la ir, que ele não poderia
amarrá-la mais do que as paredes do jardim poderiam manter esses
espíritos, mas as últimas horas haviam provado que ele não podia
fazer isso agora. Sua fome física poderia ser aliviada por alguma
outra mulher, mas sua alma não encontraria consolo com ninguém
mais. Reconhecer a fraqueza de sua necessidade o alarmou. Ele
sobrevivera a seis anos de escravidão porque aprendera a não
precisar de ninguém e nada, e agora que estava livre e restaurado
em sua terra natal, correntes inesperadas pesavam mais do que
qualquer laço de escravos.
Ele finalmente subiu os degraus deste solar, seguindo as
pegadas molhadas que marcaram sua passagem recente.
A fome e a raiva ainda tremiam, mas seu rugido era baixo e
contido agora. Ele a encontrara de pé perto da janela, iluminada por
luz suave enquanto observava a rua da cidade, coberta como um
mendigo em sua manta marrom. Ele a observou enquanto ela
contemplava seus pensamentos particulares, percebendo que ele
não sabia o que dizer a ela. E então ela se virou de repente e pegou
seu olhar nu e viu mais do que ele gostaria.
Ela parecia tão bonita e vulnerável lá com ondas úmidas em
cascata até os quadris. Ela uniu o cobertor acima do peito e apenas
um pequeno triângulo de pele apareceu na parte inferior do
pescoço. Pés e tornozelos descalços surgiam abaixo das dobras
fluidas. Ele nunca havia notado antes como seus pés eram
adoráveis. Delgado e delicado como as mãos dela. Seus claros olhos
azuis o observavam cautelosamente das sombras.
Parte dele ainda queria desabafar sua indignação por ela tê-lo
insultado e traído. Outra parte queria perguntar como ela poderia tê-
lo deixado sem conforto e paz. Mas o homem que era escravo já
sabia a resposta para isso, não que admitisse a dependência que a
questão revelava.
O ressurreto Senhor de Barrowburgh poderia estar furioso, e o
cavaleiro à deriva em sua terra natal poderia estar ferido, mas o
escravo dos kunigas a compreendia muito bem. Ela tinha visto sua
chance de liberdade e tinha tomado.
Ela deu um passo à frente, uma mulher corajosa preparada
para o pior. — Vamos acabar com isso, meu senhor.
— Acabar logo com o que?
— Seja qual for a sua razão para exigir minha presença aqui.
Se você pretende me punir, vamos acabar com isso.
— Eu disse que você não tem que me temer. Nunca pensei em
castigar você — mentiu ele.
— Não? Então você talvez queira me comandar em meu
serviço para você. Eu posso ver que esta casa precisa de trabalho
como você pensou que poderia. Vai levar tempo, mas com a ajuda
de Jane e Henry eu vou colocá-la em ordem para que ela se
convenha a você. Não se preocupe se eu não entender meus
deveres. Eu conheço o meu lugar.
— É bom que um de nós faça. É por isso que você acha que eu
tenho você aqui? Para punir ou comandar?
— Eu oro assim.
— Você reza em vão.
Desânimo quebrou a compostura dela. Ela lambeu os lábios e
baixou os olhos. — Sim. Eu temia tanto. Peço-lhe, então, que não
me abuse, meu senhor — ela disse suavemente.
Sua súbita fragilidade e deferência arrancaram algo dentro
dele. Seu apelo havia sido um antigo discurso desde o início dos
tempos pelos fracos para os poderosos, mas ouvi-lo dessa mulher
orgulhosa o atacou.
— O que faz você temer que eu planeje isso Moira? Eu não fiz
isso antes.
Ela passou a mão sobre os olhos, como se sua vulnerabilidade
a envergonhasse. — Talvez seja porque estou de pé aqui nua,
exceto por esse cobertor, por sua insistência. Jane não me
emprestaria um de seus vestidos depois que ela queimou minhas
roupas.
Ele estava tão absorvido em apenas olhar para ela que não
percebeu que ela estava nua, nem se perguntou por que ela havia
se enrolado em um cobertor em um dia de verão. — Vou ter a sua
carroça chegando em breve. Há roupas nela?
— Há um vestido. Entre hoje e aquele dia em que aqueles
homens... meus outros foram arruinados, mas eu tenho um pouco
de moeda e comprarei alguns tecidos.
Com o custo do tecido, seria necessário tudo o que ela tivesse
para comprar. Ele caminhou até os baús ao longo da parede e abriu
um. — Venha aqui.
Ela hesitou, então emergiu das sombras e obedeceu.
— Esse baú contém algumas das coisas da minha mãe. Pegue
o que você precisa. Tome tudo.
Ela se ajoelhou ao lado dele. Ela curiosamente levantou as
bordas do tecido dobrado, depois se inclinou e começou a empilhar
metodicamente as roupas, examinando-as uma a uma. O movimento
fez a lã deslizar por seu ombro, expondo a parte superior de suas
costas cremosas a um centímetro de seu joelho.
— É tudo muito belo. Sedas e tal.
Eu te veria em sedas e joias todos os dias. — Melhor que eles
sejam usados do que eles apodrecerem.
— Eles não apodrecerão se forem cuidados. Quando você se
casar, sua senhora ficará feliz em tê-los. — Ela começou a colocá-los
de volta em ordem. Ela ainda segurava o cobertor com uma mão,
mas o outro braço movia-se para frente e para trás, formando uma
brecha. Pequenos lampejos de seios e coxas tremulavam sob as
bordas móveis de lã, inflamando-o.
— Se eu me casar, terei a riqueza de Barrowburgh com a qual
comprar mais. Pegue-os. Eu não tenho dinheiro para desperdiçar
com a compra de coisas mais simples se pudermos usar o que já
temos.
Ela se ajoelhou com um vestido de linho na mão,
considerando-o. O cobertor solto caiu de seus ombros. Pele e cabelo
castanho pairavam ao lado de sua coxa, hipnotizando-o. Ele
acariciou levemente o ombro nu com as pontas dos dedos.
— Eu não penso em punir, comandar ou abusar de você,
Moira. Eu quero ter você ao meu lado durante o dia e em meus
braços à noite.
Ela enrijeceu então se levantou rapidamente e encarou-o,
jogando o vestido de lado. — Melhor punir, meu senhor. A dor da
correia acaba.
— Você fala friamente para alguém que tão recentemente era
uma amante afetuosa. Um dia de liberdade mudou tanto o seu
coração?
— Não, porque no meu coração eu sempre fui livre. São
algumas horas de escravidão que me esfriaram.
Sua mão ainda descansava em seu ombro. Ele a puxou para
frente. — Então deixa eu te aquecer.
Algo em seu âmago gemeu de alívio quando seus braços se
fecharam ao redor dela. Sua suavidade feminina parecia absorver as
piores emoções que o estavam impulsionando naquele dia. Ele
espalmou as mãos sobre as colinas de suas curvas e provou a
limpeza fresca de seu ombro puro.
Ela estava gelada, seja do banho ou do cansaço ela não podia
dizer. A força e o calor de seus braços prometiam um conforto
sedutor. Ela tentou se contorcer em resistência contra o súbito
abraço, mas de alguma forma o movimento se transformou em um
molde flexível contra o peito dele.
Os lábios roçavam o cabelo, a têmpora e a bochecha com
delicadeza cuidadosa, como se ele tentasse provar que o perigo que
ela vislumbrara não existia realmente nele. Um anseio de alma
chorou dentro dela quando ele a puxou para mais perto. Palmas
firmes acariciaram suas costas nuas e encontraram sua pele através
da abertura na frente enquanto ele pressionava beijos em seu
pescoço e finalmente em sua boca.
Ela o deixou, deleitando-se com um gosto glorioso e final do
que nunca poderia ser. Ela deixou as sensações correrem pelo seu
corpo, evocando o desejo agridoce que se sente em qualquer
despedida.
— Eu passei as horas desde que entrei por aquele portão para
descobrir que você desapareceu e perguntei se eu tinha entendido
mal de alguma forma — ele murmurou em seu cabelo.
Ela fechou os olhos para saborear os golpes de sua mão
levantando um calor maravilhoso em suas coxas e nádegas,
lamentando que ele tivesse falado tão cedo. — Você não entendeu
nada errado, mas eu quero que paremos com isso — ela sussurrou,
piscando para conter as lágrimas.
Ele se afastou para olhá-la, mas não a soltou. — Você pode
dizer que essas mãos abusam de você, Moira, e que você não está
disposta?
Ela se soltou tristemente do aperto dele e recuou. Ela colocou
o cobertor de volta nos ombros e o segurou. — Eu sou fraca para o
prazer, mas o que você me oferece algum dia trará infelicidade e eu
não suportarei isso. Eu jurei quando era apenas uma menina que eu
não seria a prostituta de nenhum homem, muito menos uma de um
cavaleiro ou senhor.
Faíscas de ouro ardiam. Faíscas perigosas, que falavam de
mais do que um desejo frustrado. — Você diz isso com frequência e
insulta-me com isso. É você quem entende mal e que pensa o pior
de mim sem causa. Essas roupas não são um suborno para comprar
uma companheira de cama por algumas noites. Eu não procuro fazer
de você uma prostituta.
Ela suspeitava disso quando o viu na porta. Melhor se ele
apenas a quisesse por breve prazer. — O que você chama isso não
importa. Todos os outros conhecem essas mulheres pelo que são.
Ele se afastou, com o rosto em planos severos de
aborrecimento confuso. Ele lançou lhe um olhar por cima do ombro
que brilhou com aquelas emoções que ela vislumbrara quando ele
entrou. — E Edith? Ela viveu com seu senhor em afeição. Todos
puderam ver o que havia entre eles. Era assim que você reconhecia
sua mãe? Como a puta de Bernard?
— É como você a conheceu, não negue. O que você e todos os
outros a chamaram, se não na frente dela, então entre vocês. Minha
mãe sabia mais do que carinho, ela conhecia o amor com Bernard.
Ela era sua lehman, mas ela tinha mais do que a maioria das
esposas do coração de seu homem. Ela tinha o melhor que uma
mulher assim poderia ter, mas ainda assim ela estava
envergonhada.
— Ninguém vai envergonhar você se eles quiserem manter
suas línguas.
— Eles nunca precisam dizer uma palavra para eu conhecer
suas mentes. Por favor, ouça o que eu digo e tente entender. Você
não pode nem mesmo me dar o que Bernard deu à minha mãe.
Bernard teve seu filho e estava envelhecendo. Ele cumpriu seu dever
com sua família e honra e optou por não se casar novamente. Ele
poderia tratar minha mãe como sua dama porque nenhuma dama
de verdade presidia em Hawkesford. Não será assim para você e
você sabe disso. O Senhor de Barrowburgh não é o Senhor de
Hawkesford, mas o homem do rei com uma posição de prestígio
superior e nenhuma mulher nascida de servos pode sentar-se à sua
mesa alta. E você ainda é jovem. Se não for para mais filhos, então
por uma aliança que garantirá e manterá a sua honra, você se
casará novamente, Addis.
Ele não podia refutar a verdade e ela estava grata por ele não
ter tentado.
— Ela vai aceitar isso. Ela terá que aceitar.
— Eu não vou aceitar isso. Eu não serei a mulher mantida na
torre sul, esperando o senhor roubar o tempo de sua família e
deveres para dormir comigo. Eu não serei a lehman cujos filhos são
bastardos, desesperados pelo reconhecimento do senhor.
— Você pode duvidar que eu cuidaria de qualquer criança do
meu sangue?
— Não serei a escrava aflita enquanto ela envelhece, e o olho
do lorde será pego por uma mulher mais jovem, ou ficando com
ciúmes do afeto que ele demonstra por sua esposa.
— Eu também estarei envelhecendo, Moira.
Sua insistência ameaçava corroer sua determinação. — Não me
será negada uma casa própria, um lugar em que conheço amor e
segurança. Eu vivi à margem da vida de outras pessoas por muito
tempo, Addis. Não irei, conscientemente, optar por fazê-lo
novamente, nem mesmo se essa vida for sua e nem mesmo pela
paixão que você pode me fazer sentir. Estou cansada de ser a
sombra.
Ele caminhou até a janela e olhou para fora, cruzando os
braços sobre o peito. Quando ele finalmente se virou para ela, ela
olhou naqueles olhos profundos e soube que ele entendia, mas que
isso valia muito pouco em qualquer coisa que o compelisse.
— Você espera que eu aceite isso, Moira? Para esquecer a paz
e o contentamento que encontro com você em meus braços?
Ignorar a fome que tive desde a primeira vez que a vi naquela
cabana de campo?
— Se você não puder aceitar, me deixe sair! Envie-me de volta
para Darwendon pelo menos. Libere-me para sempre e esqueça-se
de mim! Algumas outras lhe darão esse contentamento em breve.
— Você não vai a lugar nenhum a não ser comigo!
— Então, meu senhor? Você nos coloca em uma posição
impossível. Ou você vai me forçar e assim corromper o carinho que
temos compartilhado?
Ele não ofereceu a garantia que ela esperava
desesperadamente. Ele só olhou para ela por tanto tempo que ela
começou a se sentir nua apesar do cobertor. Seus argumentos
pareciam repentinamente insignificantes à medida que aquele olhar
se tornava invasivo à maneira antiga, invocando lembranças antigas
e novas, exigindo que ela se lembrasse de sua intimidade e paixão,
levantando imagens e sensações que seu espírito cansado tentava
rejeitar com pouco sucesso.
Ela estava travando uma batalha que uma parte dela
realmente não queria ganhar. Seu corpo respondeu àquela conexão
de sondagem com uma onda de calor e antecipação que tanto
amedrontaram como seduziram. Sua fortaleza começou a
desmoronar. O anseio encheu seu coração imprudente.
— Não creio que venha a forçar — disse ele, como se tivesse
visto em sua mente e avaliado as forças fracas comandadas por seu
bom senso. Ele estendeu a mão. — Fique comigo agora, Moira. Você
verá que tudo ficará bem.
A ordem a sacudiu com choque e algo terrivelmente parecido
com excitação. Ela desviou o olhar da mão forte que a alcançava. —
Não.
— Retire o cobertor e venha deitar comigo. Eu te veria e te
levaria na plena luz do dia.
Santos a ajudem, ela quase soltou sua mão da lã. — Não vou
convidar o que acabei de rejeitar.
— Devo ordenar você como seu senhor para que possa culpar
o cumprimento por obediência em vez de desejo?
Um pequeno sinal de ressentimento reprimiu sua prudência. —
Sou grata a você por me lembrar de quem nós dois somos, meu
senhor. Como eu disse uma vez, eu esqueço isso por minha conta e
risco. A mulher livre sucumbiu tolamente, mas a serva não.
— Elas são a mesma pessoa.
— Não, elas não são aos meus olhos. Eu não nego que senti o
prazer mais doce com você. Mas o céu que você oferece é uma
forma de inferno, especialmente com essas correntes ligadas. Você
me ligou a você com um juramento e submissão que não posso
desfazer, mas não será como você pensa. A menos que você me
force, não será assim.
Ela realmente pensou que ele viria e testaria a verdade de suas
palavras corajosas. A tensão gritou entre eles e seu corpo respondeu
de um modo chocante que dizia que o futuro estava fora de suas
mãos, porque se ele cruzasse esse espaço, haveria pouco esforço
para isso.
Ele se virou e ela quase desmaiou de alívio. — Então, vamos
orar para que eu tenha aprendido a continência no Báltico, assim
como eu pensava, Moira. Pegue algumas roupas e vá embora.
Ela ouviu um aviso em sua ordem e não esperou por outro.
Arrancando o vestido de linho do peito, ela saiu correndo da câmara.
O último vestígio de força a abandonou nos degraus. Ela agarrou a
parede, lutando para sufocar o soluço estrangulando sua garganta.
Ela não viu muito de Addis nos próximos dias. Ele saia de casa
cedo com Sir Richard para ir a Westminster em missões diárias para
ver o rei. Às vezes nem sequer voltavam para a refeição do meio-
dia, e ela, Jane e Henry comiam o jantar sozinho em uma mesa no
salão cavernoso enquanto descansavam das tarefas do dia.
Eles trabalharam do nascer do sol ao anoitecer. Jane e ela
esfregaram todos os aposentos e colocou novos juncos. Ela e Henry
conseguiram consertar os buracos no telhado e na cerca do estábulo
e pintar o gesso da casa, mas a parede de pedra e a lareira
precisavam da mão de um artesão. Ela decidiu adiar o pedido de
moeda para Addis, já que seu tempo em Westminster geralmente o
deixava irritado e silencioso. Ele não falava dessas visitas com
ninguém, a não ser com Sir Richard, mas ela sabia pelo humor dele
que eles não estavam indo bem.
A casa tinha quatro quartos além do solar. Para seu próprio
espaço, ela pegou um pequeno no primeiro nível, longe de onde
Addis dormia. Sir Richard recuperou a sua carroça e ela colocou seus
poucos pertences nas paredes. Seus trabalhos esgotavam-na o
suficiente para que o sono a reivindicasse instantaneamente quando
ela se retirava. Ela estava grata por isso. Teria sido horrível deitar ali
pensando no homem acima debatendo suas opções em relação a
Barrowburgh e Simon e todo o resto.
Uma semana depois de sua chegada, ele voltou de
Westminster a tempo para o jantar. Ele entrou na cozinha com
Richard, procurando por alguma cerveja.
— Ele evita isso, eu digo — comentou Richard, continuando a
conversa como se ela não estivesse presente.
— Possivelmente. Ou ele nunca foi informado.
— Você acredita nisso? Você vai e espera todos os dias por
uma semana e o homem nem sabe que você está lá? Você não é um
cavalheiro bacharelado que seus funcionários podem ignorar.
— Os Despensers e seu povo são numerosos ao redor dele,
como círculos de paredes guardando uma fortaleza. Eu acho que
ninguém entra nos portões a menos que a família permita. Se Hugh
Despenser é amigo de Simon, posso apodrecer sentado naquela
antessala.
Richard sacudiu a cabeça. — Bela coisa que temos nesse reino,
se o filho de Patrick de Valence...
— É porque eu sou o filho que vou apodrecer. Quem sabe que
histórias Hugh despejou nos ouvidos de Edward quando ele arranjou
para Simon conseguir Barrowburgh? Quem sabe se Edward está
ciente de que isso aconteceu? Dizem que ele não tem amor pelo
governo, que prefere lavrar o solo como um homem e remar nos
pântanos para participar do estado.
— Bela coisa que temos neste reino... — Richard murmurou
novamente com desgosto.
— Vou ter que encontrar outro jeito de encontrar com ele, isso
é tudo.
— Impossível se esses portões estiverem armados como você
diz.
— Tenho de encontrar um meio para o rei mandar abrir.
— Você poderia peticionar quando o próximo Parlamento se
reunir.
— Eu não vou esperar por um parlamento. Eu vou saber onde
Edward está antes.
Moira e Jane se apressaram a preparar a refeição no salão.
Addis e Richard sentaram-se com eles, continuando a conversa em
uma extremidade da mesa. Moira mastigou seu pão e ensopado de
salmão e examinou as paredes luminosas do aposento. Ela e Henry
terminaram de pintá-lo esta manhã e ele brilhava fresco e limpo. Ela
duvidava que Addis tivesse notado as mudanças na propriedade.
— Haverá um torneio daqui a sete dias — acrescentou Addis.
— Edward procura apaziguar os barões com esporte e uma
grande bolsa. Estúpido, se você me perguntar. Uma chance para
homens com ideias semelhantes se encontrarem.
— Mas sob seus olhos e com os espiões dos Despenser em
todo lugar. Não é tão estúpido, talvez.
— Você acha que entra?
— Eu já fiz isso.
— Será bom esporte, mas tudo por nada se você não vencer.
Você será apenas um dos muitos combatentes então. Mesmo se
você for o campeão, não há como dizer que isso chamará a atenção
de Edward. Ele não se importa muito com armamento, e terá pouca
atenção, mesmo que esteja presente. Uma vez terminado o
espetáculo, ele provavelmente vai tirar um cochilo.
— Se o rei gosta de pompa, talvez devesse tentar chamar sua
atenção durante o desfile — Moira interveio.
— Ah, sim — Richard zombou. —, haverá riquezas em grande
quantidade, garota. Um torneio real não é um confronto do campo.
Os cavaleiros trazem suas melhores roupas e armaduras pintadas de
ouro e longas sessões de escudeiros e noivos. O próprio papa se
perderia em tal festa, e Addis nem sequer tem um escudeiro para
liderar seu cavalo de guerra.
— Então talvez não se deva competir com tamanha riqueza —
disse ela. — Talvez a simplicidade seja o caminho para se destacar.
Ou novidade.
— Você sugere que, se eu andar naquele concurso vestido
como um cavaleiro simples, o rei notará? Eu acho que não — Addis
disse.
— Não como um cavaleiro simples. Como um cruzado báltico.
Addis olhou interrogativamente para Richard. O velho
mordomo deu de ombros. — Poderia funcionar, não poderia? Os
homens sempre falam em aderir à cruzada, mas nunca fazem isso.
Há prestígio e glória nisso, e histórias de aventura para serem
contadas. Edward pode ficar intrigado.
— A pergunta é: como mostro que sou um homem assim?
Moira descobriu a resposta no dia seguinte quando Addis
enviou Henry para buscá-la ao solar. Ela o encontrou de pé perto da
cama, vestindo as roupas de camurça que ele não usava desde
Barrowburgh. Tecido colorido estava espalhado ao redor do
aposento. Ela reconheceu as sedas e lãs do baú de sua mãe.
Ele levantou um surcotte10 vermelho. — Você não as usou
como eu te disse.
— Eu peguei algumas das coisas mais simples. Não se limpam
os estábulos de veludo.
Sua mandíbula se contraiu. — Você não deveria estar limpando
estábulos.
— Se não eu, quem? Henry está velho demais para fazer tudo
sozinho. Por favor, meu senhor, chega disso. Os servos trabalham, é
por isso que os senhores nos têm. Agora, há alguma maneira que eu
possa atendê-lo?
A seda vermelha fluía de seu punho. — Eu não preciso de você
para me servir, mas para me ajudar. Você sugeriu que a novidade
poderia chamar a atenção do rei. Quando eu comparecer ao torneio,
serei realmente muito novo. Um cavaleiro vestido como um bárbaro
deveria ao menos levantar alguma conversa e especulação.
— Você vai assim?
— Sim. Richard me honrou oferecendo-se para carregar
minhas armas, mas preciso de alguém para guiar meu cavalo.
Ele levantou em questão a sobrancelha marcada.
— As damas farão isso para os outros?
— Não dessa vez. Mais novidade.
— Eu não sou uma dama e todos saberão disso. Eu vou
parecer uma tola, como você vai.
— Você ficará linda e, quando terminarmos, você também
parecerá exótica. Será um espetáculo que o rei não pode ignorar. —
Ele estendeu a seda. — Coloque isso, Moira.
Ela pegou a roupa e segurou-a. Ela não tinha intenção de
trocar as roupas na frente dele. — Não é um vestido, mas apenas
um surcotte.
— Sim. Sem mangas. As filhas dos bajorai se vestem assim nos
meses quentes. — Ele olhou para ela pensativo. — Seu cabelo solto,
eu acho. Você cortará um pouco do âmbar dessa túnica para fazer
um adereço de cabeça para pendurar na testa.
Ela pareceria mais bárbara que ele. Muito provavelmente ela se
pareceria com um prêmio de guerra trazido para casa pelo
conquistador cruzado.
— Você vai fazer isso?
Quando ela propôs a ideia, ela nunca pensou em ser convidada
a desempenhar um papel nisso. Ainda assim, poderia funcionar e
conseguir uma audiência com o rei. Até que isso acontecesse, as
coisas estavam em um impasse, pois Addis nunca se moveria de
forma independente até que ele soubesse com certeza que Edward
havia abandonado sua família.
— Eu farei.
Ele deu um passo à frente e deslizou as braçadeiras de ouro,
então pegou as mãos dela e empurrou uma, depois a outra, para os
braços dela. — Você também vai usar isso.
Ela olhou para as faixas grossas gravadas com serpentes
entrelaçadas. Imagens pagãs em ouro bárbaro.
Seu valor a sustentaria mais do que o rubi se ela
desaparecesse durante o torneio. Incomodava-a perceber que ele
acreditava em seu juramento o suficiente para confiar nela. — Eles
são lindos. Onde você conseguiu?
— A filha de um sacerdote me deu.
Não um padre cristão se ele tivesse uma filha. Ele disse que foi
escravizado por um kunigas. A filha daquele homem então.
— Ela me ajudou a fugir — acrescentou ele.
O significado das faixas de ouro parecia muito claro. — Ela
deve ter te amado muito.
— A filha de um kunigas não pode amar um escravo cristão.
Ela levantou a seda das mãos dele. Ele tirou a túnica para que
ela pudesse pegá-la para cortar o âmbar. Ele parecia muito primitivo
de repente com o couro de camurça embainhando suas pernas e seu
peito de bronze descoberto. A longa cicatriz marcava-o como uma
linha pintada usada para aumentar sua aparência feroz.
A filha do sacerdote o via assim todos os dias. Eles tinham sido
amantes? Ele falou da continência aprendida no Báltico, não da
abstinência. Ela sentiu um ciúme peculiar em relação àquela mulher
desconhecida, mas também profunda gratidão por ele não ter
estado completamente sozinho durante aqueles longos anos.
Memórias de sua reunião e jornada, daquele dia perto do lago
quando ela o viu pela última vez, invadiram-na. Os músculos lisos do
peito, a força vigorosa de seus braços, os cordões de seu
abdômen... ela percebeu que estava olhando para ele por muito
tempo, e que ele havia notado. Um calor brilhou em seus olhos,
convidando-a, ousando desafiá-la, a estender a mão e tocar o corpo
com uma pala de distância.
— Vou tentar parecer tão bárbara quanto possível —
murmurou ela, afastando-se dele e da tentação. Tão fácil de
entender mal o significado da paixão. A alma de uma mulher ansiava
por isso. Os homens provavelmente exploraram isso desde o início
do tempo.
Ele estava certo. A filha de um kunigas não poderia amar um
escravo cristão. E o filho de um barão inglês não poderia amar uma
serva.
Capítulo XI
Addis se esquivou através do limiar da taverna e inspecionou
a multidão de peregrinos. Cerveja estava fluindo por várias horas
nessa noite quente. A multidão de suplicantes em direção ao túmulo
de São Thomas, em Canterbury, há muito tempo afogara as
restrições de suas posições sociais diferentes e amontoavam-se em
uma festa barulhenta e animada.
Ele caminhou até o barril. O homem que o guardava jogou
uma taça de barro em suas mãos. — Dois pences.
Addis pagou. — Estou à procura de uma mulher. Foi-me dito
que ela mora e trabalha aqui. O nome dela é Alice. Eu gostaria de
falar com ela. Vale a pena o seu tempo.
— Ela está lá atrás, através daquela porta lá, lavando.
Ele levou sua cerveja para o aposento dos fundos. Uma mulher
corpulenta debruçada sobre uma pia de água escura, copos e
canecas sibilando. Sobrancelhas escuras e pesadas preenchiam um
nariz proeminente. Fios de cabelo preto escapavam do seu lenço de
cabeça. Richard levara quase uma semana para encontrá-la em meio
às tavernas de Southwark.
Ela se endireitou e se virou e olhou para ele. Ele se aproximou
de uma das velas que iluminavam o aposento. Choque arregalou os
olhos.
Ela cruzou a si mesma três vezes seguidas. — Santa Mãe!
— Eu não sou um fantasma, Alice.
— Santa Mãe!
— Eu desejo algum tempo com você.
Ela recuou. — Eu estive aqui o ano e um dia!
— Não pretendo fazer você voltar para Hawkesford, mas, se o
fizesse você poderia ter morado aqui dez anos e não importaria uma
vez que voltasse para lá. — Ele deixou a ameaça afundar, depois
colocou uma marca de prata sobre a mesa ao lado da vela.
— Eu não faço mais isso. Eu tenho um homem agora, e ele
não gostaria disso. Há mulheres na taverna embora...
— Só desejo conversar.
Ela fez uma careta indicando que soava mais peculiar para ela.
Addis se acomodou em um banquinho e depois de uma hesitação
cautelosa ela tomou outro.
— Você saiu de Hawkesford depois que Claire morreu?
— Pareceu um bom momento como qualquer outro. Meu primo
tinha ido alguns anos antes e eu sabia que ele estava aqui.
Raymond não é um mau senhor, mas com Claire falecida eu não
estaria mais servindo a uma dama, apenas seria uma das mulheres
normais de novo, muito esforço.
— Você esteve presente na morte de Bernard?
— Sim. Claire foi para casa para vê-lo antes que ele passasse.
Eu viajei com ela de Barrowburgh.
— E o que ele disse enquanto estava morrendo? Sobre Edith?
— Foi trágico ver o amor e a tristeza deles. Eu fui puxada para
testemunhar suas palavras para ela. Deu a ela e a sua gente a
liberdade. Já era tempo, o que com ele a colocou acima de todos
como uma dama quando todos nós sabíamos que ela não era
diferente do resto de nós. Deveria ter feito isso anos antes, se
quisesse. De que adianta a liberdade, já doente e sem muito tempo
para o mundo?
— Estava um padre presente?
— Sim. E todos nós fizemos nossas marcas em algum
pergaminho.
— Você tem certeza de que ele incluiu o pessoal de Edith? Sua
filha?
Ela assentiu. — Falou de Moira como se fosse dele. Queria ela
livre. Faz sentido. Ela não viveu como nós por alguns anos, ela
viveu? Difícil voltar a isso depois de saber melhor. Eu certamente
não poderia, por todo o trabalho aqui.
Ele folheou sua bolsa e colocou um xelim ao lado da marca. —
Tem certeza de que ele incluiu a filha?
Alice olhou surpresa.
Outro xelim encabeçou o outro. — Positivo? Você poderia jurar
isso?
Ela lambeu os lábios. — Foi há alguns anos atrás. Se eu
poderia jurar...
Um terceiro xelim se juntou à pilha.
— Parece que não foi tão claro, agora que me lembro. Falei
disso, mas não estava naquele pergaminho, não acredito.
Addis assentiu. Ela deslizou uma mão gorda para pegar as
moedas.
Ele agarrou seu pulso antes que ela os pegasse. — Acho que
você deveria se juntar aos peregrinos viajando para Canterbury.
— Fazer uma peregrinação! Há muito a ser feito aqui. Eu
poderia estar fora um mês, andando todo o caminho até o santuário
e de volta.
— Pense no benefício para sua alma. Há moedas suficientes
para pagar alguém para ajudar seu primo enquanto você estiver
fora.
Ela considerou isso. — Bem, sempre quis fazer a peregrinação,
se é verdade. Alguém ouve tais maravilhas dos outros. Dizem que a
catedral é como o próprio céu.
Addis acrescentou outro xelim à pilha. — Talvez você faça uma
prece por mim no santuário de São Thomas.
— Certamente, meu senhor. — Ela olhou para as moedas. —
Isso será tudo? Eu tenho esses copos para lavar e...
Ele empurrou a vela para mais perto dela. Não era uma mulher
inteligente e muito assustada para mentir com eficiência. — Isso não
é tudo. Eu quero que você me conte sobre o tempo de Claire em
Barrowburgh depois que eu saí. Eu quero ouvir sobre o nascimento
de Brian e a morte de meu pai.
As sobrancelhas grossas subiram em meio círculo. Ela
encontrou seu olhar cautelosamente. — Não há muito para contar.
— Da mesma forma, eu vou ouvir.
— Melhor deixar os mortos em paz.
— Comece com o garoto. Ela mostrou afeição a ele enquanto
vivia?
Seus olhos se estreitaram em fendas. — Tanto quanto se
poderia esperar. Ele foi concebido em violência, não foi?
Ele ouviu a condenação que nem o medo dela podia esconder.
— Foi isso que ela disse? Se minha esposa lhe confidenciou isso,
talvez precisemos começar antes. Quero ouvir o que Claire lhe
contou. Eu me informaria sobre tudo isso.
Addis olhou para a pilha de moedas na mesa do solar. Ele os
encontrou debaixo de uma pedra na lareira, no esconderijo que sua
mãe lhe mostrara quando menino. Joan e Henry deixaram escapar
esse pequeno esconderijo.
Trinta libras. Não iria longe a contratar um exército.
Seus pensamentos voltaram para as moedas deixadas na
taverna com Alice. Um preço alto a pagar por uma mulher que ele
não conseguia dormir. A marca sozinha teria contratado um
cavaleiro por um mês. Valia a pena, no entanto, se Alice saísse de
Southwark por mais ou menos um mês. Ele deveria se sentir culpado
por subornar o testemunho de Moira sobre Bernard, mas sua
necessidade por ela não o deixaria. A história não a liberava de suas
obrigações para com Darwendon pelas razões que ele havia
explicado no hallmotte, mas ele não queria se meter com legalidades
com ela agora.
Alice não queria falar de Claire. Ela poderia facilmente trair
Moira, a serva que tinha sido criada acima de seu lugar natural, mas
não queria discutir sua dama. Nem ele queria ouvir isso.
Ele só suportou isso porque precisava saber disso agora. Ele já
havia imaginado grande parte da história e pouco que ele tinha
ouvido esta noite o surpreendeu. Ele deveria ter sentido mais
simpatia quando Alice descreveu a solidão e o isolamento de Claire,
mas uma parte dele ficara feliz em saber que a mulher que o deixara
enfrentar o inferno por conta própria também vira algo disso.
Ele se deixou imaginá-la pela primeira vez em anos e a
lembrança de sua beleza quase o seduziu a entender. Uma mulher
cuja aparência poderia devastar os fortes tinha pouca necessidade
de força interna. As Claire do mundo tomavam sem pedir porque
todos insistiam em fornecer o que quisessem. Não é de se admirar
que ela não tivesse prática em dar e fosse incapaz de fazê-lo,
mesmo sob as exigências do dever.
As lembranças criaram um gosto amargo em sua boca. Ele
voltou para as moedas e seus cálculos de quantos homens eles iriam
contratar e por quanto tempo. Vender os braceletes de ouro faria
uma diferença considerável, mas se o rei o desapontasse e ele
precisasse sitiar Barrowburgh, ele precisaria de máquinas de guerra
e uma grande força e possivelmente muitos meses. Mesmo assim,
suas chances de sucesso eram mínimas, e qualquer vitória poderia
durar pouco se Simon conseguisse ajuda dos Despensers.
O grito agudo de uma mulher repentinamente quebrou sua
contemplação. Ele ouviu atentamente, mas não ouviu mais nada.
Soava como Moira. Ele estava fora do quarto e desceu as escadas
antes mesmo de decidir se mudar.
À luz das tochas do pátio, ele a viu junto ao portão. Ela se
torcia de um jeito não natural e levou um momento para perceber
que um homem segurava seu corpo, com a mão sobre a boca. Addis
caminhou em direção a eles, instintivamente procurando por sua
espada ausente.
— Solte-a — ele ordenou.
O homem olhou de onde ele estava falando em seu ouvido. Ele
usava longos cabelos escuros amarrados na nuca e as roupas
simples de um cidadão londrino.
— Eu não podia arriscar que ela batesse o portão — o homem
explicou. — Minhas desculpas por amedrontar você, senhora, mas os
negócios desta noite não vão esperar pela manhã.
— Liberte-a — Addis avisou de novo, apertando o punho para
o caso de o homem recusar.
Um sorriso brilhante sorriu. — Lamento ser forçado a isso. Ela
tem uma boa braçada nisso. Você não vai gritar de novo, vai,
senhora?
Ela balançou a cabeça e o homem se afastou. — Você é Sir
Addis? Preciso pedir que você espere aqui por um tempo. Eu preciso
pegar os outros.
O homem deslizou de volta pelo portão. Vários minutos depois,
ele voltou conduzindo cinco homens. Um vestido em trajes clericais
levava os outros. — Adis de Valence?
— Sou eu.
— Meu nome é Michael. Sou funcionário de John Stratford,
bispo de Winchester. Eu e os outros gostaríamos de falar com você.
Peço desculpas pela hora, mas é essencial que ninguém saiba que
estou em Londres.
— Vamos para o salão. Moira, peça a Jane para servir uma
cerveja para esses homens.
— Ela se recolheu. Eu levarei.
Addis levou os homens para o salão. Eles se acomodaram em
volta de uma mesa. — Gostaria de saber seus nomes — ele disse. —
Se vocês me procuram à noite, presumo que suas razões não são
amigáveis para o rei.
Michael assentiu. — Você é um homem inteligente, Sir Addis. É
um alívio lidar com um para uma mudança. Não, nossa missão não é
amigável para o rei, mas é mais amigável para o reino. Não há
nenhum mal em você saber nossos nomes, mas devo pedir-lhe que
jure não falar com ninguém sobre essa reunião e sobre o que
discutiremos aqui.
Se eles queriam um juramento, seria traição que eles
discutissem. Ele deveria mandá-los embora imediatamente, mas
seus dias de espera pela atenção do rei não o deixaram com um
humor muito leal. Ele jurou como eles queriam.
Michael apontou para a mesa. — Este é Sir Robert, Lorde de
Cavenleigh, em Yorkshire. Thomas Wake, filho por casamento a
Thomas de Lancaster. Peter Comyn, primo de Elizabeth Comyn, que
é um dos herdeiros de Lancaster. Sir Matthew Warewell, que já foi
da família real do rei.
Addis notou que o homem que segurava Moira não foi
apresentado e sentou-se um pouco para o lado, como se não fosse
realmente parte do grupo. Quando Moira chegou com a cerveja, ele
se levantou para ajudá-la. O servo do clérigo, ele adivinhou.
— Há muitos outros — disse Michael. — Você não está sozinho
em sua insatisfação com os eventos deste reino. Robert aqui foi
forçado a assinar uma nota comprometendo-se que ele devia a
Hugh Despenser vinte mil libras para manter sua terra. A prima de
Pedro foi aprisionada até que ela assumiu uma obrigação
semelhante e renunciou a duas propriedades. O irmão de Sir
Matthew foi executado apesar de não ter participado da rebelião.
Infelizmente suas terras continham as de um favorito de Despenser.
Os homens do rei ignoram todo o senso de lei e costume e não
conhecem vergonha. Será o mesmo para você.
— Possivelmente. Ainda não falei com o rei.
— Você tentou por vários dias. Nós sabemos dos seus esforços.
Isso vai dar em nada. Veja o que aconteceu com seu parente
Aymer. O conde de Pembroke falou em favor e tentou influenciar o
rei para o caminho certo. Ele se tornou um inconveniente e foi
assassinado enquanto estava sentado em uma privada.
— Estou ciente de tudo o que você descreve. Eu não sentei na
antessala do rei e caminhei por esta cidade com as orelhas cobertas.
Eu também sei que não são apenas os barões que estão enojados,
mas os burgueses da cidade e as pessoas comuns também.
Ninguém está satisfeito com a escolha de amigos de Edward e a
influência que eles exercem sobre ele. Se você veio me contar sobre
o meu país e me avisar sobre esses homens, não se preocupe.
Michael abriu as mãos. — Eu posso ver que você é um homem
que gosta de ir direto ao assunto. Assim seja. Eu acabo de chegar
de Hainault, onde o bispo está exilado com a rainha Isabelle. Ele
está lá como os bispos de Hereford e Norwich, porque sua vida
estava em perigo quando ele foi nomeado bispo por escolha do rei e
porque falava por um governo decente para homens que não
conhecem o significado da palavra.
Addis sabia tudo sobre os bispos exilados. Stratford era um
homem ambicioso, mas ele era conhecido por bons conselhos. Ele
tentou apoiar o rei até que as circunstâncias e a consciência
exigissem que ele falasse.
— A rainha prometeu seu filho, o príncipe Eduardo, a Filipa de
Hainaut, filha do conde. Em retribuição, o conde prometeu ajudar a
Isabelle. Ela disse que ela e o menino não voltarão enquanto os
Despensers estiverem no poder. Nós nos livramos deles uma vez,
mas quando a rebelião falhou, o rei os trouxe de volta e sua
influência é maior do que nunca. O retorno da rainha e do príncipe
não pode ser efetuado até que os Despensers sejam novamente
removidos, mas um parlamento não o conseguirá desta vez.
Agora eles estavam indo direto ao assunto. Cinco pares de
olhos procuraram para ver sua reação a essa proposta.
O homem de cabelos compridos ainda estava sentado de lado,
bebendo sua cerveja. Moira entrou na cozinha e colocou algumas
frutas na mesa, depois desapareceu pela porta. A perturbação no
portão deve tê-la arrancado de seu quarto enquanto ela se
preparava para se retirar, porque seu cabelo estava solto e
descoberto. Ela usava um dos vestidos de linho de sua mãe, um
simples e verde que cobria o pescoço e se estendia sobre os seios
antes de fluir livremente. O exame quieto do servo não perdeu nada
disso.
— Confio que você não vai me pedir para matar Hugh
Despenser — disse Addis, tentando ignorar a atenção que Moira
estava provocando. —, seria quase impossível e não resolve nada.
— Não — disse o senhor Matthew. —, se alguém o matar, serei
eu e o irmão de Lancaster, Henry, afiará o machado.
— Perguntamos apenas se você está conosco, caso outras
medidas sejam tomadas — disse Michael.
— Isso depende das medidas.
— Isabelle está criando um exército. O conde de Hainault está
ajudando-a. Em breve estará pronto.
— Você fala de uma invasão? É melhor que seja o maior
exército conhecido pelo homem.
— Talvez não. Edward perdeu a confiança dos barões e dos
moradores da cidade. É um pequeno grupo que ainda é leal a ele.
Se o país receber Isabelle...
— Você acha que Edward não vai lutar?
— Não há exército permanente. Ele não terá tempo de chamar
uma imposição e, se ele fizer, poucos virão.
— Você fala em depor um rei.
— Falamos em deixar de lado um governante incompetente e
corrupto e colocar seu legítimo herdeiro em seu lugar.
— Vamos considerar francamente o que isso significa. O
príncipe é menor de idade. Se for encontrado um meio de depor o
rei e coroar seu filho, deve haver um regente. Dizem que Isabelle
tomou abertamente Roger Mortimer como seu amante. Mesmo
quando eu era jovem, ele era conhecido como um homem
ganancioso e ambicioso. Se ele é regente, ou ela, poderíamos ter
outro Hugh Despenser.
— Será um conselho, não um homem, que aconselha o jovem
rei. Qualquer poder que Mortimer acumule será de curta duração. O
príncipe tem quinze anos — disse Thomas Wake.
— É uma coisa precipitada que você propõe.
— Já foi feito antes. Existe um precedente. Seu pai não deixou
de lado um rei da Escócia? — Thomas perguntou.
Addis considerou o plano audacioso. Se as pessoas o
apoiassem, poderia funcionar. Se fracassasse, todos que tocassem
seriam cortados em pedaços e pendurados em forcas. Eles deveriam
ler melhor o humor do país corretamente.
— Nós viemos por um motivo — disse Michael. — Você não é
conhecido como um de nós e vemos que você nunca será. Nós
precisamos de alguém que possa se mover sem ser seguido. Em
duas semanas, Isabelle mandará uma mensagem dizendo onde e
quando ela vai pousar. O mensageiro precisa ser encontrado na
costa e as instruções trazidas de volta aqui. Nós pensamos que você
poderia fazer isso.
— Por que eu?
— Haverá um homem de Hainault. Um comerciante. Ele não
conhecerá nenhum de nós. Sua cicatriz... não pode ser falsificada.
Se eu disser apenas para falar com você, ele saberá que é o homem
certo.
Então, alguém finalmente encontrou utilidade para seu
distintivo de identidade.
Eles não o pressionaram por uma decisão. A conversa mudou
para mais descrições dos excessos dos Despenser e histórias de
famílias destruídas por sua ganância e injustiça. Todo o tempo Addis
contemplou seu pedido. Seu pai não teria aprovado. Patrick
acreditava na diplomacia e tomaria seu juramento de fidelidade ao
coração. Mas Addis nunca tinha jurado a Edward, e não faria isso a
menos que Barrowburgh fosse devolvido a ele.
Moira chegou com um pouco de pão e queijo. O homem de
cabelos compridos observou-a sutilmente quando ela se inclinou
para colocá-lo na mesa. Addis lançou ao homem um olhar de
advertência que ele não viu enquanto ele a observava caminhar de
volta através do salão.
— Você vai fazer isso? — perguntou Thomas Wake.
— Eu vou considerar isso.
— Quando você vai saber? Michael deve sair em três dias.
Ele daria a Edward o pouco tempo que restava. — Vou avisá-lo
antes disso.
Michael parecia insatisfeito com isso. Com o canto do olho,
Addis viu o homem sem nome se erguer casualmente e se afastar
em direção à cozinha.
— Quem é ele? — ele perguntou a Thomas Wake, apontando
para o banquinho agora vazio.
— O nome dele é Rhys. Um cidadão de Londres. Ele conhece
bem as ruas e nos movimenta à noite. O prefeito está conosco, mas
não conhecemos todos os policiais e ele pode nos levar para cá e
para lá sem tochas e coisas assim.
— Ele provou ser útil de outras maneiras — acrescentou Sir
Peter. — Ele trabalha em Westminster e tem uma maneira de ouvir
as coisas enquanto pratica seu ofício. Há aqueles que não notam
servos e tal e as coisas são ditas. Ele ouviu o próprio rei jurar matar
Isabelle quando ele a ver novamente. Carrega uma faca na bota só
para isso.
Addis deu uma olhada para a porta fechada onde Rhys havia
perseguido Moira. — Ele é um artesão?
— Ele trabalha na construção dos novos aposentos em
Westminster. Serve o construtor mestre e faz o arabesco da janela.
Serve o construtor mestre. Esculpe o arabesco da janela. Addis
se virou e olhou para a porta novamente.
Droga. O homem era um pedreiro.
Moira contemplava metade de uma torta de carne deixada no
jantar, imaginando se haveria alguma maneira de cortá-la em sete
pedaços sem que a oferta parecesse muito pobre. Era embaraçoso
ter cavaleiros e barões chegando à casa e não ter nada com o que
mostrar hospitalidade.
— Sua água está boa? — perguntou uma voz. — Já tomei
cerveja suficiente para o dia.
Ela olhou para os olhos azuis e sorriso amigável do homem que
havia atravessado o portão. Ela se inclinou para um balde. — Sim,
está boa. Eu vou pegar um pouco para você.
Ele pegou o balde das mãos dela com um olhar interrogativo.
Ela apontou para a porta que dava para o jardim e voltou para a
deliberação da torta.
— Você é uma patroa gentil para deixar sua serva dormir e
fazer seu trabalho por ela — disse ele quando retornou.
Por conta própria, ele encontrou uma xícara de louça e
mergulhou a água.
— Você entendeu errado. Eu também sou serva.
Ele se apoiou em um banquinho, como se planejasse ficar por
algum tempo. Ele a examinou com olhos curiosos e ela se perguntou
como poderia explicar a peculiar e confusa vida que a trouxera aqui
como serva, mas também lhe dera a maneira que o fazia pensar que
ela era a patroa da casa.
— Meu nome é Rhys. Qual é o seu?
— Moira.
— Você é nova em Londres.
— Isso é tão óbvio?
— Eu moro nesse distrito. Eu não te vi antes.
— Eu saio para ir a mercado, pouco além disso. Eu não gosto
muito da sua cidade, Mestre Rhys. — Ela não tinha ideia se ele era
um mestre, mas contava com a correção dele se ele não fosse. Ele
parecia velho o suficiente para isso, perto de trinta anos de idade.
— É grande e barulhenta, mas cheia de coisas interessantes.
Com o tempo talvez não te assuste e você possa desfrutar de seus
prazeres.
— Eu não acho que vou ter tempo para isso. É somente eu e
dois velhos criados aqui, e há muito trabalho a fazer. — Ela
considerou a torta e, em seguida, o bom homem mantendo sua
companhia. — Você gostaria de um pouco? Não há o suficiente para
todos.
— Obrigado.
Ela cortou uma fatia grande e entregou a ele. — Você poderia
somente ter pedido para entrar hoje à noite. Você não precisava
forçar uma maneira de entrar.
— Eu não queria ser visto no portão por muito tempo. Tenho
certeza de que Sir Addis lhe explicará mais tarde que essa visita
nunca aconteceu e que aqueles homens nunca estiveram aqui. —
Ele sorriu encantadoramente. Um homem de boa aparência, ela
decidiu, com ombros e um peito que falava de trabalho físico.
Enquanto ele a segurava, ela sentiu a força nele. Não era um
comerciante então.
— Esta casa estava vazia há vários anos — disse ele, olhando
ao redor. — Houve alguns no distrito que procuraram comprá-la,
mas o velho aqui disse que não poderia ser vendido.
— Foi negligenciada. Addis tinha ido embora à cruzada do
Báltico, você vê, e então... — Ela parou e corou.
Rhys havia piscado um sutil reconhecimento de que ela não se
referira a Addis como "meu senhor" ou "Sir Addis", mas de uma
maneira familiar. — Eu o conheço desde que era pequena —
acrescentou depressa demais.
Ele se levantou e se aproximou dela. — Posso comer mais um
pedaço da torta? Está muito boa.
Ela lhe deu outra fatia, grata por ele ter cortado os murmúrios
e desculpas e explicações confusas e desordenadas que queriam sair
de sua boca.
— Se você mora neste distrito, deve conhecer os comerciantes
aqui — disse ela, movendo-se para um banco perto do dele.
— Quase todos eles.
— Então talvez você possa me aconselhar. As pedras na
parede e na lareira precisam de trabalho, e o estábulo requer um
telhado totalmente novo. Você pode me dar alguns nomes de
homens que fariam isso por nós?
— A madeira é cara. Provavelmente melhor proteger a
estrutura e depois cobrir o telhado. Eu conheço alguns garotos que
farão isso por você. Quanto à parede, será necessário um pedreiro.
Esse é o meu ofício, por acaso.
Um pedreiro. — Se você se desloca com homens como os que
estão no salão, você deve estar bem estabelecido. Um trabalho tão
simples como este...
— Estou estabelecido o suficiente e empregado agora em
Westminster. Mas à noite tenho algum tempo antes de escurecer. Eu
virei amanhã e verei o que precisa ser feito. — Ele engoliu o último
pedaço da torta. — Se Sir Addis só tem você e dois velhos
empregados, ele deve estar sem dinheiro. Mas uma casa como esta
não deve ser deixada em ruínas. Diga a ele que vou fazer isso pelo
jantar. Alguém aqui é uma boa cozinheira.
— E sua esposa, não é? Ela não vai apreciar você ficar longe
porque nossas tortas de carne são melhores.
Ele sorriu e roçou as mãos, depois se levantou. Um homem
simpático e de fala mansa. — Não tenho esposa e me canso de
comer em tabernas. Eu virei amanhã.
Ele começou a sair, mas Addis entrou primeiro. Ele avaliou
Rhys e o pedreiro devolveu seu próprio exame de avaliação. Um
estranho silêncio pulsou que fez Moira se sentir um pouco ridícula.
— Eles estão prontos para ir — disse Addis.
Rhys foi até a porta e depois hesitou na entrada. — Sir Addis,
uma pequena comitiva chegou este dia em Westminster. Bandeira
branca e escarlate, com um falcão de ouro. Foi-me dito que era
liderado por um Simon de Barrowburgh.
— Quão grande a comitiva?
— Apenas quatro cavaleiros que eu vi. Sem dúvida eles vieram
para o torneio.
— Sem dúvida. Um dos cavaleiros tinha cabelo ruivo?
— Como chamas.
— Eu agradeço por me dizer isso.
Rhys deu de ombros, deu um sorriso caloroso para Moira e
saiu com Addis em seu encalço.
Addis viu seus visitantes sair e depois retornou para a cozinha.
Moira estava limpando as xícaras e fingiu não o notar.
— Ele sabe quem você é? — ele finalmente perguntou.
— Ele perguntou meu nome e ele sabe que sou serva aqui.
— Ele sabe que você é minha?
Ela levou as xícaras para a prateleira da parede. — Ele
consertará a parede e a lareira e só pedirá o jantar em troca.
— Muito generoso para um pedreiro que já ajuda mestres
construtores.
— Sim, é generoso.
— Você dirá a ele que não preciso dos serviços dele.
Ela o encarou do outro lado da cozinha, de costas contra a
parede. — Você precisa dos serviços dele. As pedras estão meio
abaixadas e qualquer um pode entrar. Se esses homens vieram
discutir o que eu acho que eles vieram, você pode precisar de um
forte muro alto em volta dessa propriedade. Se Simon seguiu você
até aqui, você certamente precisará. Posso limpar estábulos e
remendar gesso, mas não posso cimentar a pedra.
Três passos o levaram até ela. — Você vai dizer a ele quem
você é.
Ela olhou em desafio para ele. — Direi a ele que sou uma
serva, se é isso que você quer dizer. Ele já pensa assim mesmo, já
que eu não sou de Londres.
Ele pressionou a mão contra a parede perto da cabeça dela e
aproximou-se mais, com o rosto a uma extensão da mão dela.
Algo cintilou nos olhos dela. Precaução à sua proximidade.
Medo disso. Depois de vê-la sorrindo para aquele pedreiro, ele não
dava à mínima.
— Você vai dizer-lhe que você é minha.
— Eu não direi. Não é assim.
— É assim. — A outra mão dele apoiou a parede para que ele a
prendesse. Nenhuma parte de seus corpos se tocou, mas seu calor
facilmente preencheu o pequeno espaço entre eles, alertando sua
pele, evocando respostas que ele mal mantinha em xeque, mesmo
sem essa proximidade.
Ele olhou para ela, forçando seu olhar para encontrar o dele. O
interesse demonstrado pelo pedreiro provocou uma possessividade
primitiva e ele a deixou ver. Ela voltou seu olhar beligerantemente,
como se ela o desafiasse a tentar fazê-la se submeter. Isso inflamou
seu corpo e sangue com um desejo furioso e ele manteve seu
controle por apenas um único fio fino.
Sua expressão mudou, suavizando-se. Um tremor vago passou
por ela. De repente, ela parecia frágil e vulnerável. Ele sentiu sua
própria excitação e o medo dela disso. Isso só fez com que ele a
desejasse mais.
— Você acha que eu vou ficar de lado e deixar algum homem
te cortejar?
— Você fala bobagem. Ele só queria um pouco de água.
— Ele observou todos os seus movimentos. Ele já encontrou
um caminho para voltar.
— Mesmo se você estiver correto, você não tem o direito de
interferir.
— Tenho todo o direito.
— Você não tem!
Ele não pôde se conter. Ele mergulhou e seus lábios roçaram
os dela. Uma carícia suave, não mais, mas todo o seu corpo gritou
uma afirmação que o desconcertou. A necessidade de esclarecer sua
posse rasgou com uma determinação cortante. — Tenho todo o
direito. Você é minha. Sua paixão é minha. Você acha que minha
paciência significa que, não é? Eu só espero que você aceite isso.
— Não.
— Não? Vamos testar a verdade disso. Vamos ver quão
indiferente a orgulhosa Moira se tornou.
Ele a beijou de novo, saboreando e mordendo e insistindo para
que ela abrisse. Ela tentou se desvencilhar e ele segurou sua cabeça
com as duas mãos para que ela não pudesse. Algo quebrou nela,
como se uma vara de resolução tivesse arrebentado. Com um som
angustiado de protesto mortal, ela o aceitou, abrindo os lábios.
Ele explorou sua boca macia e puxou-a para ele e se agarrou
ao seu calor suave. Uma inundação submersa de necessidades
passou por ele. Ele colocou as mãos sobre as curvas de suas
nádegas e puxou-a contra seu falo11 inchado e tomou sua boca
novamente em exploração desenfreada.
— Por favor, não…
Seu protesto sussurrado suspirou entre a respiração ofegante
de seus beijos febris. Sua paixão juntou-se a ele mesmo enquanto
suas palavras o negavam, e sua fome ignorou o pequeno apelo.
Segurando seu corpo flácido em um braço, ele procurou a maciez
total de seus seios com a mão. Os picos duros pressionaram sua
palma. Ele circulou suavemente e seus quadris se flexionaram contra
ele. Sua excitação rugiu ao ritmo familiar.
Pouca consideração agora e sem restrição. Ele se inclinou e
roçou um mamilo com os dentes. Seu corpo inteiro, todo o ser, se
enrijeceu em resposta. Sua boca molhou o tecido até que ele aderiu
a ela, uma fina obstrução através da qual ele chupou até que seus
gemidos baixos e encantadores cantaram.
Ele levou-a para a mesa e sentou-a em sua borda. Sua cabeça
descansou contra o peito dele enquanto ele desamarrava as costas
do vestido. O brilho do fogo brilhava em sua pele quando o tecido
caiu até a cintura. Ele empurrou o cabelo dela para trás e olhou para
ela.
Linda. Adorável. Pele esticada sobre ombros e seios
convidativos. A paixão fez aqueles olhos claros brilharem com luzes
incríveis. Ele deslizou as mãos pelas pernas pendentes dela,
trazendo a saia para o alto, e acariciou a suavidade de suas coxas
expostas. Ele roçou os cachos de seu monte e retratou-a deitada de
costas nesta mesa na luz da fogueira. Dobrando aqueles joelhos
para aceitar seu corpo. Agarrando-se a ele com prazer, como em
Whitly, apenas com ele enterrado dentro dela.
Aceitando-o, todo ele, e a união ainda ficaria incompleta pelo
orgulho dela. Totalmente dele.
Ele segurou seus seios e sacudiu carícias com os polegares até
que ela fechou os olhos e mordeu o lábio contra as sensações.
Ele curvou suas costas e brincou com sua língua enquanto sua
mão procurava suas coxas novamente.
Ele começou a abaixá-la, levantando sua saia ainda mais.
Ela resistiu, agarrando-se a seus braços.
— Então suba para a cama ou para o jardim.
Ela olhou para cima com os lábios entreabertos e os olhos
borrados, a imagem de uma mulher em transe. Mesmo assim, ela
balançou a cabeça.
— Aquele mercador deixou você com medo disso? Há prazer
em se juntar também, Moira. Eu não vou te machucar.
Sua testa afundou contra seu peito e ele a segurou com um
braço enquanto ele acariciava perto de seu calor íntimo com a outra
mão. A umidade tocou seus dedos e o cheiro se espalhou ao redor
deles como uma névoa almiscarada.
— Não é isso. Você sabe. Não finja que não sabe isso — ela
murmurou com uma voz vacilante. —, você disse em Whitly que não
ia procurar me seduzir contra a minha vontade, mas faz isso agora.
Ele ouviu sua acusação e admitiu sua verdade, mas uma parte
dele se enfureceu e escureceu com essa negação. Ele a queria ao
ponto da loucura e, ainda assim, quando estava obcecada pelo
prazer, ela mantinha seu maldito orgulho. A fome enrolou
perigosamente dentro dele. Ele acariciou a fenda de seu monte.
Apesar de sua inspiração aguda, a mão dela parou a dele e
tentou afastá-lo. Ele pressionou os lábios no topo de sua cabeça e
sentiu seu coração rápido contra o peito. Ele manteve a mão para
ela, gentilmente explorando e sondando as dobras suaves. Arrepios
de prazer se espalharam através dela com seu toque.
Ela realmente não podia detê-lo, a menos que ele a deixasse.
Depois, ela veria a firmeza disso. Deles juntos. Ela pertencia a ele,
afinal de contas. No momento que ele terminasse, ela não chamaria
isso de força ou mesmo de sedução.
Sua melhor metade se reafirmou, horrorizada pelo caminho
que ele se justificava. Um antigo, bem trilhado ao longo dos tempos
por senhores e suas servas. Esta era Moira, não alguma empregada
de serviço sem importância.
Se você fizer dessa maneira, você nunca realmente a terá.
Ele se ressentia dessa voz da razão. Ele olhou para os braços
esticados contra ele com sua fraca resistência.
De repente, ele odiou os nascimentos e o sangue e o orgulho e
as realidades que os separavam. Ele poderia varrê-los e fazer uma
nova realidade. Ela não podia detê-lo e realmente não queria. Ela
aceitaria isso.
Duas mentes e duas almas lutaram dentro dele, e a vontade de
tê-la e possuí-la para sempre começou a ganhar.
Ela levantou a cabeça e olhos úmidos e claros olharam
diretamente para os dele. Um sorriso arrependido apareceu em sua
boca com uma expressão que dizia que não se preocupava com o
caminho que ele seguiria. Sua confiança o lembrou forçosamente de
quem ela era, e o que ela significava para ele, e o que ele realmente
queria dela.
O perigo começou a se desenrolar.
— Deixe o pedreiro vir — ele murmurou. — Deixe-o conhecer
você e ver a verdade disso, mesmo que você não saiba.
Ele se virou e saiu abruptamente como se anjos o levassem
embora.
Capítulo XII
Richard estava certo sobre a riqueza e as honras reunidas
para o torneio. Surcotte cheios de joias, selas pintadas, flâmulas
coloridas, armaduras reluzentes... a riqueza oprimia os olhos. No
meio disso tudo, as peles de animais e a mulher exótica de Addis
destacavam-se como uma singularidade distinta, deixando curiosos
os cavaleiros e a multidão.
Moira tinha praticado com o perigoso destruidor cujas rédeas
ela segurava. Addis havia decidido abrir mão de um palafrém e
assim se sentou sobre ele, controlando o animal com as pernas mais
do que ela fazia com suas mãos. Atrás dele, Richard carregava as
armas e o escudo de Barrowburgh, um cavalheiro de alto status,
assumindo orgulhosamente o papel de escudeiro de seu lorde.
No meio dos combatentes e a multidão próxima, isso estava
funcionando. Se um rei cansado de novidades notaria era outra
coisa.
— Fique por perto depois de passarmos pelas arquibancadas —
Addis disse. — Do jeito que está metade desses homens vai te
seguir para casa como tantos cães.
Ele parecia irritado. Ela achava que isso era um tanto
audacioso da parte dele, já que tinha sido ideia dele exibi-la assim.
O surcotte vermelho alcançava a metade da panturrilha, deixando
parte de suas pernas nuas expostas. O fluxo suave da seda sugeria
mais do seu corpo do que era imediatamente aparente, e o decote
do pescoço e o corte sem mangas pareciam indecentes sem um
vestido por baixo. Todas as outras mulheres usavam véus sobre o
cabelo preso, de modo que seus cabelos soltos eram
surpreendentes. Pequenas linhas de contas de âmbar batiam em sua
testa, uma fina corrente de ouro esticada sobre o peito, e os
braceletes circulavam seus braços. Addis tinha colocado toda a
riqueza sobre ela, e ela olhou em um prato polido e admitiu que ela
parecia muito exótica.
O espetáculo avançou e eles tomaram seu lugar entre as
comitivas. Ela passou na frente da multidão. Um par de olhos azuis a
várias cabeças para trás pegou seu olhar e ela percebeu que Rhys
estava aqui.
Ele tinha vindo para a casa por duas noites agora, trabalhando
a pedra antes de participar de um jantar na cozinha. Ontem ela lhe
contara sobre seu papel hoje e ele havia expressado um choque
exagerado e zombeteiro quando ela descreveu o traje. Agora ele
sorria de uma maneira reconfortante e ela estava agradecida por
isso.
Eles se moveram lentamente em direção aos arcos da tribuna
elevada, onde a família real e os partidários sentavam. Um choque
de cabelo vermelho chamou sua atenção. Moveu-se e mergulhou na
parte de trás da plataforma e ela se esticou para ver melhor.
O sangue dela pulsou quando ela reconheceu o cavaleiro de
Barrowburgh, e ao lado dele ninguém menos que o próprio Simon.
Ela olhou ansiosamente para Addis e ele lhe deu um aceno de
cabeça que dizia que ele também tinha visto. Então ele se virou e
reconheceu formalmente seu rei.
Edward parecia real o suficiente, mas ela esperava um homem
monumental, não o rosto comum, a barba curta e o cabelo castanho
normal. Suas vestes eram suntuosas, mas também todas as vestes e
túnicas que o cercavam. Ele estava sentado com nenhuma dama,
mas entre dois homens que estavam claramente relacionados. Um
era de meia-idade e o outro parecia ser seu pai. Ela imaginou que
eles eram os Despensers sobre quem Addis havia falado. Edward
examinou o cavaleiro de aparência bárbara que passava com óbvio
interesse, apontando e falando com curiosidade para o homem mais
jovem à sua direita.
Eles seguiram para as tendas no campo onde os cavaleiros se
preparariam para os combates. Richard já havia conseguido uma e a
armadura e as lanças esperavam lá dentro. Addis pulou do cavalo e
Moira de bom grado abandonou as rédeas.
— Acha que deu certo? — ela perguntou.
— Sim. Se funcionou o suficiente para ele me pedir, veremos
mais tarde.
Seu papel terminou, ela se virou para ir embora.
— Fique aqui, Moira.
— Eu quero assistir ao torneio.
— Antes da minha vez, Richard ou eu a levaremos até lá, mas
não vá sozinha.
— Se você se preocupa com o ouro, posso deixá-lo aqui.
— Não é o ouro que pode ser roubado.
Ela foi se sentar à sombra da tenda. Ela não tinha despertado
muita atenção e interesse. Este era seu primeiro torneio, mas não
parecia que ela teria o dia de diversão que ela havia antecipado. Ela
contava misturar-se à multidão e apreciar os vendedores e
animadores que rodeavam o campo, não ficar sentada durante horas
sob o olhar vigilante de Addis.
Ela se perguntou se ele tinha visto Rhys no meio da multidão.
Que ele viesse, ele dissera, mas ela nunca estava sozinha com o
pedreiro na cozinha. Jane ou Henry sempre conseguiram algum
trabalho que exigia a presença deles. Ela suspeitava fortemente que
Addis os havia instruído a agir como guardiões.
Ela olhou para cima e pegou-o olhando para ela. De repente,
ela se sentiu muito exposta na seda vermelha. Desde aquela noite
na cozinha ele a tinha tratado com cortesia contida, mas seu olhar
profundo a pegava às vezes assim e convocava aquela conexão
intensa que parecia carregar o ar entre eles. Ela deveria se ressentir
com essa outra posse que ele tinha nela. Ela deveria se ressentir
especialmente do conhecimento que ele havia demonstrado naquela
noite de quão pouco dela realmente se interpunha entre ele e a
paixão que ele queria dela.
Ele se virou. Ela confessou pesarosamente que seu rosto
ardente e o coração palpitante não tinham nada a ver com
ressentimento.
Ele havia escolhido a paciência naquela noite. Ele sabia que as
mãos que detinham suas carícias não o fariam por muito tempo com
aquele prazer doloroso seduzindo-a. Ele havia parado, mas esses
olhares diziam que ele simplesmente decidira esperar que ela
aceitasse que ela era dele. Sua contemplação daquilo enchia a casa
sempre que ele cruzava seu limite.
Foi um dia longo e quente. Por causa das horas necessárias
para ajustar a armadura de Addis antes de sua vez, ela só conseguiu
ver quatro cavaleiros se encontrarem nas arenas. Ela seguiu junto
quando o próprio Addis lutou e assistiu de entre os escudeiros com
Richard ao lado dela. Ele bateu em alguns mais ousados que
tentaram falar com ela.
— Você não precisa ficar perto de mim como uma babá, Sir
Richard. Esses garotos dificilmente são perigosos — ela murmurou
enquanto observava a posição de Addis e enfrentava seu primeiro
adversário.
Ele limpou a cabeça careca suada com a manga. — Não, mas
meu senhor é. Quase não deixou você vir quando ele te viu hoje.
Chegou perto de desistir do plano ali mesmo. Se o dia não estivesse
tão quente, ele a teria embrulhado em um manto, ele teria, ou
dentro da tenda. Não faria nada se visse algo de que não gostasse e
cavalgasse até aqui com essa lança, ao invés de onde ele é suposto
lutar.
— Ele exagera o fascínio de algumas miçangas e um pouco de
seda vermelha.
— Ele não exagera nada, mulher. Acredite em um homem que
não está velho demais para perceber. Agora você fica comigo ou
esses jovens garanhões estarão realizando um tipo diferente de
torneio para impressionar você.
Addis destronou seu adversário no segundo passe e Richard
assentiu com aprovação. — Reze para que ele se mantenha assim,
ou será preciso um desses braceletes para comprar de volta a perda
de seu cavalo e sua armadura.
Ele continuou assim. Ela observou orgulhosamente enquanto
ele triunfava em luta após luta. Eventualmente acabou e seu nome
foi colocado entre os finalistas que iriam competir no dia seguinte.
Um escudeiro real se aproximou da tenda deles enquanto
Richard terminava de soltar a armadura de Addis. Moira estava
voltando com um pouco de água para ele se lavar e observou a
breve conversa. Ela colocou o balde no chão assim que o escudeiro
foi embora. Addis jogou água na cabeça dele.
— Então? — ela finalmente perguntou com impaciência.
Ele sacudiu a água e aceitou uma toalha de Richard. — O rei
enviou uma convocação para visitá-lo antes das justas de amanhã.
— Funcionou então. São boas notícias.
— Sim, funcionou.
— Você não parece muito feliz.
— Eu vou pedir justiça a um rei que não entende o que a
palavra significa, Moira. Hugh Despenser estará ao seu lado, falando
em seu ouvido, e Simon ficará atrás de Hugh. O rei pode não saber
por que eu vim a Westminster, mas Hugh e Simon sim, e eles estão
trabalhando em sua mente. Edward pode me dar justiça, mas acho
que ele não fará isso.
— Ainda assim é preciso tentar.
— Sim, devo tentar.
— E se ele te abandonar?
Ele gesticulou ao redor do campo. — Há muito
descontentamento aqui. Sente-se isso no ar. Reuniões estão sendo
realizadas em algumas dessas tendas. Os rumores se espalharam
entre os escudeiros e cavalariços. O conflito é profundo e muitos
têm histórias como a minha. Hugh Despenser e seu pai foi longe
demais em sua ganância e Edward está indefeso sob sua influência.
Ouvi dizer que em algumas regiões há aqueles que rezam a Tomás
de Lancaster como um santo martirizado. Se o rei me abandonar,
terei muita companhia.
— Eu tenho ouvido resmungos quando vou ao mercado buscar
comida. Parece que ninguém fala de Edward com qualquer calor ou
lealdade.
— Ele reduziu algumas das liberdades da cidade — explicou
Addis. — Um homem estúpido e fraco. Os londrinos estão inclinados
a apoiar o seu rei contra os barões, a menos que se encontrem
ameaçados. Veremos o que o amanhã traz, Moira, mas não estou
otimista.
Ele não falaria disso com ela. Perigo o esperava se o rei
recusasse sua petição. Perigo horrível. Ele não contou a ela o que
aconteceu naquela noite em que esses homens vieram, mas ela
tinha ouvido o suficiente e imaginou ainda mais. A situação com o
rei havia chegado ao ponto em que alternativas impensáveis se
tornavam aceitáveis. Alguém cheirava isso nas ruas e se entendia
nas palavras não ditas subjacentes aos comentários vagos no
mercado. Todos estavam esperando por algo, tanto quanto ela
esperara naquele dia no pátio de Barrowburgh.
Ele se juntaria a esses homens? Ela o observou se preparar
para partir, contemplando pensamentos que ele não compartilhava
com ela. Se Edward rejeitasse sua reivindicação, ele poderia decidir
que não tinha nada a perder.
Ela tentou não pensar no custo se ele se juntasse a um
movimento contra o rei e perdesse. Ela ouvira falar das mortes
horríveis que tais homens enfrentavam e vira as partes de corpos
pendurados em forcas após a rebelião.
O pavor doentio revirou seu estômago com a imagem deles
profanando seu corpo dessa maneira.
Richard saiu da tenda com algumas armaduras e armas e
começou a empacotá-las nos cavalos extras que haviam trazido.
Addis movimentou nos ombros uma túnica sobre o enchimento que
ele usava sob sua armadura. Ele a suspendeu em uma sela para
começar a viagem para casa.
— Você estava linda hoje, Moira. Foi você quem capturou a
atenção do rei. — Ele pegou a mão dela e beijou-a, surpreendendo-
a. — Eu te agradeço. Por todas as maneiras que você me ajuda.
Addis se torceu na cama, incapaz de encontrar descanso. A
escolha que ele sempre suspeitara que ele enfrentaria seria
encontrada amanhã. De certa forma, isso já havia sido feito, exceto
pela decisão do rei. Somente se Edward provasse ser digno de
lealdade, ele poderia dar.
Amanhã uma das duas portas se abriria, e um homem que ele
não conhecia, um homem considerado impróprio para a coroa que
usava, segurava as duas chaves. Seu espírito agitou-se com
deliberações sobre a decisão iminente que o encarava. Em
momentos como esse, ele desejava que as antigas orações ainda o
sustentassem.
A noite estava quente como o dia tinha sido. Ele tirou o lençol
do corpo e deitou nu, procurando uma brisa. Ele esticou um braço
pelo espaço vazio ao lado dele para onde a roupa parecia mais fria.
Pensou na mulher que deveria estar deitada onde sua mão
descansava e seu corpo se enrijeceu, acrescentando uma nova
tortura a esta noite sem dormir.
Ele a queria. Sangue do inferno, como ele a queria. Ele tentou
se satisfazer de novo com o contentamento que sentia por tê-la por
perto, mas não era mais suficiente. Ele sentava-se à mesa dela,
comendo sua refeição enquanto sua mente se envolvia em
elaborada e detalhada brincadeira de amor. Ele mentalmente a
tomara em todos os aposentos desta casa, no jardim, no poço, no
banho, em todo lugar. Ele construiu argumentos sofisticados para
refutar as realidades práticas que ela lhe lançara, mas não eram
suficientes para convencê-la, de modo que ele não as pronunciou.
Ela havia decidido que o custo do que ele queria era muito alto para
ela e sua consciência reconheceu a verdade disso. Ele suspeitava
que, mesmo que tivesse Barrowburgh novamente e pudesse
oferecê-la com pérolas e joias, ela ainda acharia o custo muito alto.
Azar o dele, ter anseios por uma mulher orgulhosa com tanto bom
senso.
Quem teria esperado que a menina quieta e gordinha visse
tanto de suas sombras? As crianças não devem ser tão perceptivas.
Ela deveria ter ficado encantada com a melhoria de sua vida e
encantada com o luxo trazido pelo lugar de Edith com Bernard. Em
vez disso, viu os olhares encapuzados, o escárnio silencioso, o
isolamento de uma mulher arrancada de um mundo e colocada em
outro simplesmente porque agradava a um homem.
Prostituta de Bernard. Ele já havia chamado à mãe dela assim?
Provavelmente. Mas a filha não lera todas as mentes e olhado
cuidadosamente. Ela vira a desaprovação velada e ouvira os risinhos
lascivos dos escudeiros, mas ela tinha perdido a inveja que muitos
sentiam quando viam a alegria que Bernard compartilhava com sua
escrava.
Ele olhou para a evidência proeminente de sua excitação e se
jogou da cama. Ele puxou as calças de camurça e com passos largos
no aposento saiu para o pátio. O silêncio absoluto da cidade o
assaltou. Tão estranho que a confusão infernal pudesse desaparecer
com o sol.
Luzes fracas brilhavam através de algumas janelas da casa das
velas noturnas nos aposentos. Ele deliberadamente não tinha
descoberto qual era o dela porque não precisava imaginá-la ali, mas
agora andava de volta para a casa e para a pequena passagem no
térreo.
Ele sabia instintivamente que ela estava no final, o mais longe
dele possível. A escolha de uma mulher com medo, mas de que?
Que o senhor poderia reivindicar seu serviço da maneira antiga?
Nesse caso, aquela noite na cozinha provavelmente não a
tranquilizou muito. Nem ele. O filho de Barrowburgh às vezes ainda
estava tentado.
Com uma mulher diferente, isso poderia resolver as coisas,
mas esta só ficaria amargurada, mesmo que ele a seduzisse por
prazer e paixão. Ele a queria com disposição o que poderia nunca
acontecer com ela.
Ele empurrou a porta baixa para o pequeno aposento. Seus
peitos e base apertavam as paredes, e seu catre estava na posição
que sua cama tinha em Darwendon, com o pé perto da porta. Um
pedaço vazio do chão se estendia perto de sua cabeça, onde Brian
teria dormido. Ela estava deitava serenamente, nua sob o velho
lençol que fazia vales sombreados entre os seios e as pernas na
penumbra.
Ela dormia profundamente, sem se mexer. Ela sonhava com
aquele pedreiro? Inteligente e habilidoso e a caminho de se tornar
um mestre construtor. Apenas o homem que ela descrevera como
seu ideal. Ele estava se mostrando suave e habilidoso de outras
maneiras também, cronometrando seu trabalho para acabar depois
que a casa tivesse comido, para que ele pudesse ter sua atenção na
privacidade da cozinha, onde Addis não encontrava desculpa para
estar. Ele havia resistido ao impulso de alertar o homem, mas toda
vez que via os cabelos escuros saindo do jardim para se lavar no
poço, ele queria fazer. Rhys a cortejava para casamento, e Addis
não tinha dúvidas disso.
O surcotte de seda estava dobrado em cima de um baú. Ela
parecia deslumbrante e ele esperava que ela ficasse com ele. Seus
passos não a perturbaram enquanto ele andava ao redor do catre
para olhar para o rosto dela.
Deslizando as costas pela parede de gesso, ele se sentou no
chão no lugar de Brian e se acalmou com a serenidade que ela deu
sem saber e ele aceitou sem perguntas.

O escudeiro levou-o através de passagens de pedra e


aposentos para uma porta dando em um jardim fechado.
Os cortesãos jantavam pratos de frutas e faisões debaixo de
árvores podadas e ao lado de sebes arrumadas. Algumas mulheres
desfrutavam da refeição, mas apenas homens pairavam em volta do
rei, que se sentava em um banco baixo coberto de grama.
Edward olhou para cima com sua aproximação, a princípio com
confusão e depois decepção quando percebeu que Addis não usava
as roupas bárbaras. Ele compareceu a essa reunião como filho de
Patrick de Valence e seu surcotte carregava seu brasão de armas.
Hugh Despenser estava falando com um homem perto da
parede, mas ele se moveu para chegar perto do rei quando Addis
chegou. Edward aceitou a saudação de Addis e examinou sua
aparência com os olhos.
— Seu rosto. É uma cicatriz cruel. Você conseguiu isso com os
Cavaleiros?
— Não. Eu tenho marcas suficientes daqueles anos, mas trouxe
está comigo...
— É um distintivo de honra se ganho em batalha, mas suponho
que as mulheres não gostem muito.
— Como as crianças, a maioria das mulheres acha isso
assustador, mas algumas não se importaram muito.
— Sim, mas algumas mulheres gostam de se assustar. —
Alguns cortesãos riram gentilmente quando Edward sorriu como se
tivesse feito uma piada. — Sente-se e conte-nos sobre isso. Como
vai a cruzada contra os pagãos? Hugh aqui fala de ir no ano que
vem, mas expliquei que o reino não pode permitir sua ausência.
— Os Cavaleiros ficariam gratos pelo valor de Sir Hugh — disse
Addis. Homens como Hugh Despenser nunca foram a cruzadas,
especialmente aquelas no Báltico, onde os Cavaleiros Teutônicos
levaram todos os despojos e terras. Ele se acomodou na grama na
frente de Edward e contou meia hora de aventuras, terminando com
a bravura fatal dos cruzados no reise que levou à sua captura.
— Você foi detido por eles? Os pagãos? — A ideia fascinou
Edward. Ele abaixou as pálpebras com desconfiança. — Você
renunciou à sua fé para ser poupado do martírio?
— Eles nunca me pediram. São os cristãos que procuram
converter os conquistados.
— Ainda assim, você deve ter visto coisas. Testemunhado ritos
que nenhum cristão deveria. — A ideia de rituais proibidos o
excitava.
— Alguns ritos simples. Ninguém exigiu que eu participasse de
qualquer ritual ou oferenda.
— Dizem que eles queimam homens. Cavaleiros a quem eles
capturam.
— Eu vi um desses sacrifícios. O cavaleiro estava em sua
armadura e em seu cavalo. Ele havia sido drogado e não conhecia
seu próprio fim.
— Mas eles não te queimaram.
— Não. Seus deuses não gostam mais de cicatrizes do que
mulheres e crianças.
Edward olhou em volta para sua comitiva. — Temos que
encontrar um jeito de homenagear Sir Addis. Ele sofreu muito pela
guerra de Deus.
— Não busco nova honra, mas apenas aquilo que é meu pelo
meu sangue e meu nascimento — Addis disse cuidadosamente.
Edward pareceu confuso. Hugh Despenser se inclinou e
sussurrou em seu ouvido. Suas palavras só deixaram o rei pouco à
vontade.
— Seu pai, Patrick, foi um dos contrários que se rebelaram
contra nós — disse Edward com simpatia, como se estivesse dando
a má notícia de que Addis nunca tinha ouvido falar. — Suas terras
foram confiscadas.
— Ele não estendeu bandeiras contra o seu rei.
— Há testemunhas que dizem que ele fez — interrompeu
Hugh.
— Por moeda e terra, os homens geralmente dão falso
testemunho. Eles juraram isso perante os nobres?
— Seu pai morreu. Não havia necessidade, não que tais
formalidades fossem necessárias com tão flagrante traição — Hugh
friamente instruiu.
— O título diz que sempre são necessárias — Addis respondeu
diretamente ao rei, ignorando a usurpação da conversa por parte de
Hugh.
— Não se um homem pegar em armas contra seu suserano —
Hugh inseriu sarcasticamente.
— É isso mesmo — Edward assentiu. — A rebelião ameaçou
nossa pessoa e o reino. Os barões receberam a justiça de Deus. Meu
conselheiro diz que as terras não foram desmembradas, que
permaneceram inteiras e foram dadas a seu irmão. Nós fomos mais
generosos do que o necessário.
— Ele não é meu irmão, mas o filho da segunda mulher de
meu pai e não do nosso sangue. Eu suplico a você para desfazer a
injustiça.
Os olhos de Edward olharam com raiva súbita. — Injustiça?
Injustiça? Esses barões pretendiam exigir que eu renunciasse às
prerrogativas reais. Eles se atrevem a instruir-me quem eu escolho
como meus conselheiros. Eles elaboram contratos e listas de regras
para mim e procuram colocar homens que eu não gosto nem confio
como meu braço direito. Sopro de Deus, eles assassinam meus
queridos amigos em nome dos direitos que recebem de mim. Eles
fermentam rebeliões e levantam exércitos contra mim, e depois
falam comigo de justiça? Lancaster e os outros receberam a justiça
ordenada por Deus quando fui ungido rei!
Sua própria explosão pareceu surpreendê-lo. Ele se acalmou
sob a mão de Hugh em seu ombro e continuou sussurrando em seu
ouvido.
— É uma grave desgraça que seu pai tenha abandonado seus
juramentos ao rei enquanto seu filho lutava por Deus. Um homem
corajoso não deve sofrer pelos pecados de seu pai, mas é sempre
assim. Darwendon é seu, no entanto, garantido pelo seu casamento.
E há uma mansão no País de Gales que lhes daremos, para honrar
seu valor e provação na Santa Guerra de Deus.
País de Gales. Território de Despenser. Addis duvidava que ele
fosse autorizado a entrar nos portões da mansão.
Ele se recusaria a fazê-lo se isso significasse jurar fidelidade ao
homem satisfeito, puxando as cordas do rei.
Ele se levantou, experimentando uma nova tranquilidade em
seu curso. Ele havia descoberto o que precisava saber e a decisão
do rei libertou sua consciência. — Você é muito generoso, pois um
verdadeiro cruzado não pede recompensa, mas o que Deus pode lhe
entregar quando morre. — Ele sorriu. — Sou grato por ter ouvido
minha petição. Preciso pedir para ir embora agora, com sua
permissão. Eu devo me preparar para o torneio.
Sua cortesia trouxe um sorriso caloroso de volta ao rosto de
Edward. — Passar bem, senhor Addis. Vou observar seu
desempenho hoje.
Ele se virou e viu Simon em pé perto do portal do jardim,
esticando-se para observar a conversa perto do banco da grama. —
Você veio para o torneio, Simon? — Addis o cumprimentou quando
ele se aproximou.
— Sim, e quem pensou em te ver aqui, Addis? Na verdade,
venho visitar minha futura esposa, mas as festividades também me
atraíram.
— Você não compete, no entanto. Nem Owen.
— Owen desejou, mas eu tenho outros deveres para ele.
— Tenho certeza de que você tem.
— Quem era a mulher sedutora que liderou o seu cavalo
ontem? Uma peça atraente.
— Apenas uma mulher que eu conheço.
Simon gesticulou para o rei e olhou maliciosamente com um
sorriso. — Ele não falou de mais nada na refeição da noite. Você
deveria tê-la trazido hoje.
— Eu não acho que Edward a achou tão sedutora assim,
Simon. Ele poderia ter quatro filhos de sua esposa, mas essa
provação acabou.
O rosto de Simon caiu. — É traição insinuar algo desta
maneira.
— Então todo o reino é traidor. Não me importo com quem ou
o que qualquer homem faz, mas isso não deve afetar seu
julgamento.
— Você está descontente com o julgamento dele?
— Como você sabia que eu estaria. Seu amigo Hugh dirá tudo
a você, tenho certeza.
Simon estendeu as mãos. — Você parece calmo mesmo assim.
Vamos deixar isso para trás, Addis, e juntar as mãos como irmãos.
Não foi coisa minha ou minha culpa que as coisas aconteceram
assim.
Addis olhou para as palmas das mãos estendidas que
seguravam com facilidade uma adaga como oferta de reconciliação.
— Vá e encontre sua noiva, Simon. A amizade de um homem
como Hugh Despenser precisa de vigilância constante.
— Esse dinheiro vai ajudar — disse Richard, enquanto
conduziam os cavalos pelas ruelas em direção a casa. — Apropriado
que um cruzado venceu. Talvez Deus finalmente tenha decidido
retribuir um pouco a você nesta terra.
— Eles organizaram para que eu fizesse isso e você sabe disso.
— Agora, eu não tenho tanta certeza sobre isso...
— Eles permitiram ao campeão do rei avançar para a rodada
final, embora três cavaleiros pudessem tê-lo derrotado antes. Ele
ainda estava meio bêbado de uma noite de deboche, e meu palpite
é que eles também organizaram isso. Eles queriam que o homem do
rei caísse para o filho de uma família que Edward havia destruído. A
mensagem pode ter sido perdida no rei, mas não em Hugh
Despenser.
— Se eles escolheram fazer isso, melhor assim foi para você.
Como eu disse, esse dinheiro vai ajudar, e pagar a perda do cavalo e
armadura certamente não o faria.
— Exatamente. Outra mensagem. Um de amizade e desta vez
para mim.
O velho Henry correu para pegar os cavalos quando eles
entraram no pátio. Ambos Addis e Richard se juntaram a ele para
desempacotar e cuidar dos animais. O crepúsculo estava diminuindo
quando Addis finalmente saiu do estábulo. Ele e Richard haviam
jantado em um banquete no campo, e na casa já teriam comido
agora. — Veja se o pedreiro está na cozinha — instruiu a Henry. —
Diga-lhe que eu gostaria de falar com ele.
Enquanto ele esperava, ele caminhou até o jardim. Alguém
começou a tentar limpar o cultivo. Um canteiro perto da frente tinha
sido arrancado para que as flores de verão se espalhassem e a sebe
circundante tivesse sido limpa de ervas. Moira, tentando impor
alguma ordem à selvageria, da mesma maneira que mantinha a
menor das suas próprias inclinações em cheque.
Rhys demorou a chegar. Deliberado isso. Um lembrete sem
palavras de que, como cidadão de Londres, ele não precisava
responder ao chamado de nenhum senhor. Ele finalmente emergiu
do salão e foi até a beira do jardim.
— Você sabe como encontrar Michael, o homem de Stratford?
— perguntou Addis.
— Ele está na cidade. Eu sei aonde ir.
— Diga-lhe que eu concordei.
Rhys se virou para sair.
— Por que você faz isso? — Addis perguntou.
— Fazer o que? Ajudar esses homens ou conquistar a mulher
que você quer?
Agora isso foi contundente e também muito corajoso ou muito
estúpido. — Ajudar esses homens. A cidade não pode protegê-lo se
as coisas derem errado.
— Nem você. Antes de virem até mim, metade dos barões no
reino será atraída e esquartejada.
— Nossas queixas são pesadas.
— E as nossas não são? Posso não ter perdido uma grande
propriedade para esses homens, mas tenho minhas razões para
querer que sejam derrubados. Todos nós temos.
Eles ficaram de frente um para o outro, a crescente escuridão
dissolvendo suas formas. Rhys não se mexeu, como se esperasse o
resto disso. Por alguma razão, ele havia convidado o confronto e
Addis não conseguiu segurar a língua.
— Você sabe que ela é escravizada — disse ele.
Um sorriso brilhou na noite. — Assim ela diz. Um acidente de
nascimento, assim como o seu e o meu. Ela é uma mulher orgulhosa
com um coração forte. Um homem poderia fazer pior.
Muito pior. — Quando eu sair daqui ela voltará comigo.
— Talvez.
— Não vou libertá-la.
— Eu não penso assim. Ainda assim, há coisas que você pode
controlar e coisas que você não pode mesmo como um nobre e um
barão. O nascimento dela e o seu são dois dos últimos, e assim é
seu caráter. É o corpo dela e os olhos que chamam a atenção de um
homem, exceto seu orgulho e honestidade que o fazem voltar. Essas
são as que irão formar sua decisão, e isso não é bom para você, não
é? Seu nascimento significa que você não pode oferecer a ela a
dignidade que ela considera mais valiosa do que as pérolas. Eu não
acho que você tenha comprado ela ainda, nem quando isso acabar.
Tal mulher não seria influenciada pela metade de Barrowburgh como
preço.
Ela já tem metade da minha alma. Metade de Barrowburgh
seria um presente fácil.
— Uma parte de mim espera que você a force — disse Rhys,
virando-se para sair. — Isso vai acabar com qualquer domínio que
você tenha sobre ela mais seguramente do que a morte.
Ele desapareceu na noite. Addis circulou o jardim e entrou na
cozinha pela porta do poço aberta.
Moira estava sentada de costas contra a parede do fogão,
perdida em pensamentos de Brian. Ela usava uma expressão
cansada, como se contemplasse algo que a entristecesse. Cabelos
escuros caíram ao redor de seu corpo e ele se perguntou se ela
sempre exibia sua glória enquanto o pedreiro comia aqui. Jane não
estava em nenhum lugar para ser vista.
Ela ouviu o passo dele e olhou com um olhar ressentido. De
repente, Addis entendeu. O homem a tinha tocado, a beijou. Isso vai
acabar com qualquer domínio que você tenha sobre ela. Rhys sentiu
o que existia entre eles.
Ele largou a bolsa de dinheiro do rei na mesa. Um sorriso
iluminou sua expressão. — Você ganhou? Você foi o campeão?
Houve pouca satisfação na competição, mas ele sentiu prazer
no brilho que a notícia lhe trouxe aos olhos. — Sim. Pegue o que é
necessário para pagar o pedreiro.
— Você vai precisar da moeda e ele disse...
— Eu sei o que ele disse, mas não ficarei em dívida com ele.
Use um pouco disso para comprar o que é necessário para tornar
esta uma casa apropriada para a honra de Barrowburgh. Podemos
ter visitantes no futuro. E contrate outro servo.
— Jane e eu podemos administrar.
— Contrate um. Contrate dez, droga.
— E o rei?
Ele balançou sua cabeça. — Ele me ofereceu uma mansão no
País de Gales como alternativa.
—Tão grande e rica como Barrowburgh?
— Você pode ter certeza que não é. Ainda assim, se ele não
tivesse acusado meu pai de uma traição que ele não cometeu, se eu
não sentisse os fantasmas de meu pai e meu avô lembrando-me do
meu dever...
Ele sentiu uma necessidade profunda de segurá-la em seus
braços a noite toda e contar a ela sobre isso. Escolher um dos
cursos não significa que a jornada seria fácil.
Ela veio e levantou a bolsa. — Quanto foi isso?
Ela estava tão perto que ele podia sentir o cheiro dela. E o do
outro. — Cinquenta marcas.
— Muito. Mas não o suficiente?
Ela não perdeu muito observando das sombras. — Não o
suficiente.
Ela abriu a bolsa e pegou três moedas. — Haverá um caminho.
Uma aliança matrimonial talvez.
Ele cerrou os dentes. Moira orgulhosa e prática. — Se chegar a
esse ponto, não me culpe por isso — murmurou ele.
— Seria mais sensato culpar o vento por mover as folhas, meu
senhor. É sempre assim para aqueles de sua posição. De certa
forma, você é menos livre que os villeins que cultivam seus campos.
Ela falou como se articulasse um argumento que sua mente
estava pesando. Ela estava debatendo as realidades de seus
respectivos nascimentos quando ele entrou? Ele desejou que ele
soubesse o que tinha acontecido nesta cozinha entre ela e o
pedreiro esta noite. Quão prático ela decidiu ser?
— Você vai fazer isso? Ajudar aqueles homens que vieram aqui
com Rhys?
— Sim.
Ela inspirou profundamente, compondo a respiração. — Temo
por você, Addis.
Addis. Por fim, seu nome novamente. — Não tenho nada a
perder agora. Toda a moeda no reino não protegeria Barrowburgh
enquanto os Despensers governam no lugar do rei.
Ela ficou olhando para a bolsa, cutucando-a distraidamente
com o dedo. — Ainda assim... — Ela o encarou abruptamente com
os olhos brilhantes de calor e preocupação. De repente, eles eram
apenas Moira e Addis novamente, separados do mundo, dirigindo
uma carroça pelo país. — Você vai me dizer? Quando você precisar
fazer algo perigoso, se você não puder voltar...
Ele roçou o cabelo perto do rosto dela com a palma da mão,
saboreando o momento que ela não deixaria passar, mas que
ansiava por estender-se à eternidade. — Eu direi a você.
Ela olhou para ele com um lábio trêmulo e franziu a testa. Ele
teve tanta alegria em sua preocupação que ele pensou que seu
coração iria explodir. — Você não vai fazer nada estúpido, vai?
Precipitado e nobre e valente como em Barrowburgh? Você não vai…
— Não. — E era verdade. Ele não iria. Ele levava a expressão
nos olhos dela para afastar a insidiosa tentação que sentira em
Barrowburgh. Não importa o quão cansado seu espírito pudesse
estar, ele não poderia reconhecer tal desespero imprudente
novamente enquanto ela estivesse em seu mundo.
Sentiu que ela se afastava da doce harmonia que os unia.
Como se ela temesse isso. Ele lutou contra o desejo de abraça-la e
exigir a continuação da sua vida. É assim. Eu sei disso e o pedreiro
sabe disso. Por que você não?
Ela estendeu a bolsa. — Eu tenho o que vou precisar por
agora. — Quando ele não fez nenhum movimento para tirar isso
dela, ela deixou cair de volta na mesa e foi embora.
Capítulo XIII
Moira sentou cercada pela manifestação de cores do fim do
verão enchendo o jardim. Ela puxou um junco de um barril de água
e agilmente a colocou na cesta tomando forma em seu colo. O
pedaço de terra onde ela descansava ainda estava alto, com grama
alta demais, mas o resto do jardim tinha sido limpo, suas sebes
podadas e seus caminhos reduzidos.
Addis havia trabalhado nessa transformação. Não mais
obrigado a passar seus dias na antessala do rei, ele se juntou aos
esforços para melhorar a casa. Na manhã seguinte à justa ela se
levantara cedo para ajudar Henry nos estábulos, apenas para
descobrir o trabalho já feito. Dia após dia, o jardim emergira das
ervas daninhas.
Não era um trabalho adequado para um cavaleiro e Sir Richard
estava chocado, mas Addis não parecia se importar. Suspeitava que
ele apenas buscasse atividade para ocupar seu corpo e sua mente,
mas isso a livrava das tarefas mais extenuantes e por isso estava
agradecida.
Ela tinha tempo agora para fazer algumas cestas e vir aqui fora
depois do almoço para descansar. Ela se viu atraída por essa parte
de trás que Addis inexplicavelmente deixara selvagem. Parecia
removida da casa e da cidade, um pequeno local de campo aberto
dentro do jardim civilizado.
Ela virou a cesta e trabalhou o desenho, cantando para si
mesma, perdendo a consciência dos sons da cidade fora da parede
enquanto os cordões de sua arte e voz giravam em um mundo
particular. E assim ela não o notou imediatamente.
Ele ficou na sombra de uma árvore perto da parede. Ele estava
vestido para cavalgar. Ela olhou para o pátio e viu Henry e Richard e
dois cavalos. O dia de repente perdeu um pouco do seu calor. Sua
voz morreu.
Ele parecia preocupado com pensamentos distantes e um
ligeiro franzir de testa encobriu seus olhos. Ele não poderia estar lá
há muito tempo, mas ela sabia que ele estava observando e ouvindo
por um tempo.
— Você não canta muito mais — disse ele, aproximando-se e
sentando-se no chão ao lado dela. Seu tom carregava tons
especulativos, como se ele tivesse acabado de perceber essa
mudança dos anos passados.
— Isso não é verdade. Eu costumo cantar. Eu costumava
cantar para Brian dormir todas as noites. Eu canto para mim mesma
enquanto trabalho.
— Mas não para os outros.
— Eu cantei em Darwendon.
— Uma música religiosa. Não as românticas como você
costumavam fazer em Hawkesford. E só porque eu ordenei isso.
— Eu cantava em Hawkesford porque Bernard queria, mas
nunca gostei de fazê-lo. — Essa era uma mentira descarada.
Aqueles momentos no salão tinham sido o único
reconhecimento que ela recebera naquela casa e ela os saboreara.
Mas ela não queria que ele pedisse para ela os entreter durante seus
jantares aqui. Ela não queria cantar canções de amor enquanto
Addis de Valence se sentava à mesa.
— Então, é uma coisa privada agora, algo que você possui que
não pode ser tirado de você.
—Sim. Uma coisa particular — Com memórias particulares
ligadas a essas melodias e palavras. Anseios ocultos e sonhos
infantis, principalmente, mas também algumas emoções de cortar o
coração que os sons poderiam evocar e acalmar.
Ela podia ver Richard os espreitando. — Você está saindo?
— Sim. Eu disse que te diria.
— Quanto tempo?
— Três dias. Quatro. Não mais que uma semana.
— Fico feliz que Sir Richard também vai.
— Ele insistiu.
Ela levantou um junco e começou a usá-lo para que ele não
visse sua preocupação. — Se alguém descobrir... se esta jornada se
tornar conhecida pelo rei...
— Ninguém deve saber. Poucos foram informados e sua
própria segurança estaria em risco se fossem indiscretos. Existe
algum perigo, mas não muito.
Ela desejou que ela pudesse acreditar nisso. — Você não vai
me dizer onde Brian está, você vai?
— Não. Ele está mais seguro do que você jamais poderia fazê-
lo e eu não quero que você viva sua vida protegendo uma criança
que não é sua.
— A escolha deveria ser minha.
— Talvez, mas eu fiz isso por você de qualquer maneira.
Ela forçou um sorriso. — Posso viver minha vida ressentida
com as escolhas que você continua fazendo por mim.
Ele riu. — Pouca coisa, Moira. Para uma escrava, você não é
tão fácil de controlar. — Ele se inclinou para frente e a beijou,
segurando a cabeça para que seus lábios pudessem se demorar. Foi
um doce beijo de despedida e nuances de anseio que poderia
quebrar o coração de uma mulher. — Se algo der errado, você não
será prejudicada. Escravos não são punidos pelas ações de seu
senhor — ele disse enquanto sua boca roçava sua bochecha. Soava
mais como uma garantia para si mesmo do que para ela.
Ele se levantou.
— Tudo de bom, Addis. Tome cuidado e fique seguro.
Ele olhou por um momento, depois saiu para se juntar a Sir
Richard.
Ela o observou até que ele atravessou o portão, e então pegou
sua cesta e retomou seu trabalho. Cheia de emoções e medos que
ela não ousava reconhecer, começou a cantar distraidamente uma
canção de amor de sua juventude. Era uma antiga que ela não
cantava em muitos anos. Ela pensou que havia esquecido as
palavras, mas elas simplesmente emergiram sem pensar,
desmerecendo as lembranças pungentes ligadas a elas.
Ela sentou-se nas sombras, meio alerta mesmo enquanto
cochilava. Movimentos inquietos na cama tinham se tornado sons
normais, e então ela acordou quando eles pararam.
Ela olhou em direção ao corpo mal iluminado em ouro da única
vela, o joelho esquerdo dobrado e apoiado sobre um travesseiro.
Seu olhar subiu para os olhos que brilhavam em sua direção, e a
alegria aumentou.
Finalmente, depois de quatro dias, ele acordou.
— Quem está aí? Venha aqui onde eu posso te ver.
Ela se aproximou da cama e ele fez um gesto para ela
aproximar a vela. Fazer isso reprimiu sua felicidade. O brilho aguado
de seus olhos dizia que ele estava consciente, mas não muito
acordado. A secura avermelhada de sua pele indicava que a febre
alta continuava enfurecida. Esta recuperação repentina era uma
ilusão, apenas a breve tranquilidade no centro de uma tempestade.
Se ele sobrevivesse, ele poderia nem se lembrar disso.
— Ah, é a Sombra de Claire. Minha esposa temia que suas
orações perturbassem meu descanso?
— Ela acabou de sair. Eu tomei seu lugar enquanto ela foi para
dormir um pouco.
— Não minta para mim, pequenina.
— De verdade, ela tem.
— Ela nunca esteve aqui. Você achou que eu não saberia?
Mesmo quando eles me massacraram, uma serva segurou minha
cabeça e minha mão. Não me lembro de quem era, mas sei que não
era Claire.
Ela não encontrou resposta para isso, então ela serviu um
pouco de cerveja e se moveu para levantar a cabeça dele para o
copo.
— Ajude-me a sentar.
— Você não pode. A ferida...
— Eu estou duro de deitar aqui, droga! Eu vou sentar.
— Talvez eu possa levantar sua cabeça pelo menos. — Ela
encontrou um cobertor e juntos eles amontoaram sob seus ombros,
então ele apenas inclinou-se um pouco. Ele olhou para o corpo
envolto em lençol e empurrou a cobertura para o lado.
Ela o viu nu muitas vezes enquanto ajudava Edith a cuidar
dele, mas não com ele consciente disso. Sua presença tornou-se
insignificante, no entanto. Ele examinou a bandagem amarrada no
torso e coxa, cobrindo a maior parte do quadril esquerdo. Ele
sacudiu o lençol de volta com um som de desgosto.
—Sente-se. Não, não lá. Pegue o banquinho e sente-se aqui.
Ela obedeceu e se acomodou ao lado da cama. Seu olhar
parecia tanto ver como não ver, examinar e vagar. Olhos meio
conscientes e meio loucos espiavam a borda do mar febril que tinha
submergido nele. Ambos existiam como parte de um sonho
acordado. Quanto tempo antes das ondas puxarem ele de volta para
baixo?
— Como vai a adorável Claire?
Seu tom amargo a deixou cautelosa. — Ela não está tão bem,
Sir Addis. Enfraquecida de se preocupar e orando por você.
— Você mente bem, pequena Sombra, mas não bem o
suficiente. Se ela orar, é pela minha morte.
— Isso não é justo.
— Tanta lealdade. Ela tem a sorte de ter uma amiga assim,
mas espero que você não aguarde semelhante lealdade retornada.
Ela já falou com o seu pai?
Claire havia de fato falado com Bernard e puxado Moira para
apoio. Imagens dessa reunião horrível chamejou através de sua
mente, cenas de Claire imperiosa, então implorando, finalmente
histérica quando Bernard pela primeira vez em sua vida recusou à
sua filha o seu pedido.
Addis leu a conclusão em seus olhos. — Ele não concordou em
anular o noivado? — A bandagem fora removida de seu rosto e o
corte cru costurado se contorcia com sua careta vaga. — Não,
Bernard não procurará desfazer o que já foi consumado.
Ela piscou em confusão, o que o divertiu. — Eu me deitei com
ela. Antes de partir. Nenhum de nós foi muito discreto. Bernard
sabe. Toda a casa sabe. A única vez em sua vida que Claire foi
generosa, e levou-a diretamente para o inferno. — Ele olhou para a
destruição escondida pelo lençol, em seguida, levantou as pontas
dos dedos e traçou a linha grossa em seu rosto. — Pobre Claire. —
Amargura novamente, mas uma nota de simpatia também.
Ele olhou para longe com os olhos brilhando tão intensamente
que ela temia que ele fosse sucumbir à loucura. Tempo suficiente
passou e sua voz a surpreendeu quando ele falou de novo. — Isso
eu posso viver com... — Ele gesticulou para a cara dele. — Mas o
quadril... puxa, então não posso endireitar minha perna. Será
sempre assim? Eu estou condenado a andar curvado para sempre?
— Ninguém sabe. Nenhum osso foi quebrado, mas a fibra...
— Retire o travesseiro.
— Ainda não está curado.
Ele se esticou para se abaixar e seu rosto se contraiu de dor.
Ela rapidamente puxou o travesseiro de debaixo do joelho.
Ele arrancou o lençol de novo e arrancou a atadura, expondo a
horrível ferida escarlate, que lhe esculpia o estômago e a barriga ao
longo da linha do quadril, da cintura até o meio da coxa.
A visão disso o fez parar. — Não posso dizer que a culpo —
murmurou ele. Rangendo os dentes ele lentamente pressionou a
perna para endireitá-la. Ela podia ver os fios ao longo da ferida
esticando, puxando, resistindo a seus esforços. Seus olhos
escureceram, mas ele persistiu até que ela não podia aguentar mais.
— Não! Você vai rasgá-la! — Ela correu para o final da cama e
pressionou seu peso contra sua canela, forçando-o a parar.
Ele afundou de volta, fechando os olhos contra a derrota. Ela
esperou até acreditar que ele não tentaria novamente, então
recolocou o travesseiro sob o joelho e o cobriu.
As respirações estressadas se acalmaram e seus olhos
permaneceram fechados. Ela esperava que ele tivesse adormecido,
mas com o tempo as luzes brilhavam para ela novamente. Nem todo
dourado dessa vez, mas misturado com fogos negros em uma
expressão que a perturbou.
— Ele já teve você?
A pergunta a surpreendeu. — Me teve?
— Raymond. Você ainda é uma empregada?
— Claro. Você está demente por causa da febre. Raymond é
como um irmão para mim.
— Ele pode ser como um irmão para você, mas você não é
uma irmã para ele e ele sabe disso. Ele te viu com novos olhos
quando ele voltou para casa no ano passado.
Addis de Valence mal tinha falado com ela durante todos esses
anos, e essa repentina conversa pessoal a perturbou. Ele estava em
um delírio, afinal, apenas articulado em vez de incoerente. Ele falou
o que entrou em sua mente, inconsciente das restrições normais.
Algo em sua aura a incomodava também. Um estranho humor
emanou dele, como uma pesada presença nascida de emoções
sombrias. Ódio por Claire?
— Ele vai se casar em breve — ela disse, tentando abalar sua
inquietação repentina.
— Sim, mas a dama não combina com ele. Ele fará como
Bernard pede, mas ela não é sua escolha. Ele pensa em encontrar
melhor prazer com você, pequena Sombra. Ele gostaria de ter você
assim como Bernard tem Edith.
— Você está enganado.
— Ele observa e espera Moira, mas você tem o que, 15 agora?
Você terá que decidir em breve. Ele disse aos escudeiros e aos
meninos da aldeia que você é dele.
Ela notou Raymond avisando os garotos, mas assumiu que era
a proteção de um irmão. — Você está errado, mas se você não
estiver não será assim.
Ele encolheu os ombros. — Você provavelmente é sábia.
Raymond é um bom homem, mas tais mulheres não têm direitos. A
mente de um homem muda e sua lehman está à deriva, desprezada
por seu próprio povo e esquecida pelo dele.
Ela não precisava de instruções sobre isso. A filha de uma
lehman conhecia a mesma insegurança.
— Você não deveria reenfaixar isso? — ele perguntou,
apontando para o quadril.
Ela foi buscar a cesta de trapos limpos. Ele viu quando ela
lavou o corte e pressionou panos ao longo dela. Ele segurou a cesta,
enquanto ela encontrava comprimentos para cortar para enfaixar e
pegou a faca dela quando ela terminou. Essa presença escura
indefinível parecia crescer, como algo grosso e enevoado
transpirando dele. Ela se inclinou para amarrar a atadura em torno
de sua coxa e seu falo inchou com seu toque de perto.
— Droga — ele murmurou. — Ainda assim, é bom saber que a
espada não me desvirilizou.
Rosto queimando, ela rapidamente terminou seu trabalho e
cobriu-o. Ele não parecia nada envergonhado.
— Muito a esperar que minha esposa viesse me aliviar. — Ele
sorriu. Um sorriso estranho. Oco. Ele a observava com cuidado e ela
não gostava dos fogos escuros que tomavam conta agora. — Você
conhece Eva, a prostituta que mora na fundição? Vá e diga a ela que
eu peço para ela vir.
— Você não pode...
— Vá e busque-a, garota. Não encontrarei descanso agora.
— Você está muito doente.
— Eu estou muito desconfortável e já que Claire está rezando e
você é uma empregada... vá buscá-la.
A febre o tornara irracional. — Você não pode se mover. Como
você pode…
— Ela vai usar a boca dela, pequena tola — ele retrucou.
Ela se afastou com choque e vergonha.
— Sinto muito. Eu não sou eu mesmo e esqueço que você é
uma boa menina. Mas vá e busque-a, Moira. Isso é minha ordem.
Se isso iria aliviá-lo e trazer descanso, quem era ela para
ensinar sobre virtude? Relutantemente ela assentiu e saiu do
aposento. Na porta ela olhou para trás e o viu olhando cegamente
para o teto com uma expressão peculiar e determinada.
Na passagem, livre do ar opressivo do aposento, ela viu aquela
expressão novamente. Isso pareceu bruscamente em sua cabeça
enquanto ela começava a descer as escadas. De repente, como se
uma porta se abrisse ela entendeu isso, e entendeu também aquele
estranho humor que vinha emanando dele. Ele realmente não queria
Eva. Ele queria que ela fosse embora para ficar sozinho!
Girando nos calcanhares, ela correu de volta.
Ela o encontrou alavancado em um braço, o lençol jogado de
lado, a faca enfaixada agarrada enquanto ele pressionava os dedos
na carne interna no topo de sua perna torta, procurando a veia
mortal.
— Você não vai! — ela exclamou.
Ele olhou para ela, em seguida, continuou sua busca. — Vá
embora, menina.
— Não! — Ela se lançou, jogando seu peso contra o braço que
o segurava, agarrando a mão que segurava o aço. Ele se afastou e a
lâmina voou, deslizando pelo chão quando aterrissou.
Ele a empurrou e caiu, amaldiçoando-a.
Ela se encolheu no chão ao lado da cama, engasgando com
lágrimas de choque. Um silêncio horrível encheu o aposento.
Uma mão tocou a cabeça dela. — Vá e pegue para mim —
ordenou ele suavemente.
— Não — ela murmurou em seus joelhos.
— É melhor assim. Normalmente, essas coisas são tratadas por
companheiros no campo. Quantos cavaleiros aleijados você viu?
— Você não sabe que está tão machucado. Sua perna estava
reta quando Edith costurou a ferida. Uma vez que a pele esteja
curada, talvez ela possa ficar reta novamente.
— Você não vai me ajudar? Então vá e pegue Claire e diga a
ela o que eu quero. Para isso ela virá.
Ela ergueu os olhos para ele e balançou a cabeça. Incêndios
escuros o consumiram. Ele empurrou apesar da dor e balançou a
perna boa no chão. Ela pulou e forçou-o para baixo e ele se mostrou
fraco demais para resistir ao fogo por muito tempo.
— Eu não vou pegá-la. Nem vou sair daqui novamente, a
menos que minha mãe tome o meu lugar. Você está muito doente
para conhecer sua mente e fraco demais para combater o
desespero. — Ela se sentou na cama ao lado dele, seus braços
aprisionando seus ombros. — Descanse agora.
— Maldita você!
— Descanse.
Ele olhou com raiva, mas lentamente, sob o olhar conectado,
do qual ela não se esquivava e com o qual ela anunciou sua
determinação, os fogos escuros se extinguiram um por um. Pareceu
que metade da noite tinha ido antes que o último morresse.
— Talvez possa ficar reto de novo — ele disse no silêncio. —
Vamos ver. — Ele fechou os olhos. — Cante Moira. Não uma música
religiosa, entretanto. Não estou me sentindo amigo de Deus esta
noite. Deite-se ao meu lado e cante. Talvez eu descanse então.
Sua voz podia encher um salão, mas agora viajava apenas pelo
pequeno espaço entre suas cabeças. Ela se esticou ao seu lado e
abraçou seus ombros e cantou sobre o amor até que seu rosto febril
assentiu contra seu peito e ele afundou de volta em seu
esquecimento.
Ela tremeu em consciência. A cesta em suas mãos estava
terminada e ela nem se lembrava de tê-la completado. Através dos
olhos embaçados, ela examinou isso por erros.
Um movimento. Uma presença. Um homem se intrometeu em
seu humor sonhador. Ela olhou para os olhos azuis gentis.
O homem errado.
Seu sorriso de boas-vindas escondeu seu suspiro. Ela nunca
soube que viver poderia ser tão difícil.
Rhys entregou-lhe um pequeno saco e ela olhou
inquisitivamente para dentro. — Cerejas! Onde você as achou?
— Melhor não perguntar. Elas devem manchar seus juncos e
também as bagas.
— Não me atrevo a desperdiçá-las assim. Jane e eu vamos
transformá-las em uma torta e você deve ter algumas.
— Elas eram para as suas cestas, mas uma torta seria boa.
Ele sentou ao lado dela. — Você não descansa aos domingos,
Moira? Até os camponeses fazem.
Ele sutilmente criticou Addis com a pergunta. — Homens
camponeses descansam. Alguém ainda deve cozinhar e limpar. Além
disso, estou descansando agora. Essas cestas não são trabalho.
Ele se esticou de costas, sua força magra apoiada nos
cotovelos. Pela centésima vez, ela o examinou e disse a si mesma
como seria feliz por ter um marido assim. Decente e bom e sóbrio e
habilidoso. Ela deveria dar as boas-vindas à sua atenção e aguardar
com expectativa essas visitas que continuaram mesmo depois que
os reparos foram concluídos. Ele ainda veio apesar daquela noite na
cozinha.
Seu abraço e beijo a transformaram em pedra. Ela queria
desesperadamente desejar ele, que ela o tinha convidado para a
intimidade, apenas para não sentir nenhum calor quando isso
aconteceu. Ela poderia ter sido a noiva virgem na cama de James
novamente, passiva, objetiva e envergonhada. Sentir alguma
excitação teria simplificado muitas coisas, mas sua falta de resposta
foi tão óbvia que ela nem precisou pedir que ele tirasse a mão do
seio. Ele simplesmente fez isso, separando-se exatamente quando
Henry entrou com a convocação de Addis.
Eles nunca falaram sobre isso, mas ainda assim ele retornou.
— Ele partiu?
— Sim. Você sabia que seria hoje?
Ele assentiu. — Vai ser perigoso a partir de agora, e essa
jornada é a menor delas. O que você fará se algo acontecer com
ele?
— Tenho terras em Darwendon. Talvez eu volte para lá. Eu
provavelmente procurarei por Brian. Ele é uma criança que eu cuidei
quando pensávamos que Addis estava morto. Ele o escondeu e não
me dirá onde…
— O filho de Sir Addis?
— Sim.
Ele hesitou pensativo. — E seu?
— Não. — Ela contou a ele sobre seu lugar na ameaça de
Hawkesford e Simon, e como ela veio morar com Brian.
— Isso explica muito, mas não tudo — ele disse. — Eu vim
aqui hoje por um motivo, Moira. Eu sabia que ele iria embora e
pensei que você poderia falar livremente. Tenho pensado que você
seria uma boa esposa, mas sinto que o seu lugar aqui não é o
normal. Eu queria saber a verdade para não me fazer de tolo. O que
há entre você e Sir Addis?
Uma maneira gentil de fazer a pergunta, muito mais gentil do
que a pergunta franca de James. Ela respondeu com indignação a
James, mas ela não poderia fazê-lo com Rhys.
Ela pensou nas respostas que ela e Addis haviam testado
naquela noite no monte de feno. Apenas a última seria suficiente. —
Nós não fornicamos.
Ele pareceu divertido, o que a aliviou tremendamente. — Uma
resposta estranha. Surpreendentemente precisa.
— É, não é? — Eles talvez nunca se casassem, mas ela não
podia mentir para esse homem.
Ele se levantou para sentar de pernas cruzadas na frente dela.
— Moira você não é uma menina e eu não sou um menino. Não é
falta de uma casa ou trabalho que me deixou solteiro, nem ganância
em relação a um dote. Eu esperei meu tempo porque não procurei
uma mulher comum. Eu gosto de sua maneira e honestidade e acho
que poderíamos fazer um bom casamento. Eu já teria oferecido,
exceto por Sir Addis.
— Também não parece que você oferece agora.
— Não, eu não. Não é um julgamento, Moira. Não espero
explicações e não lhe culpo. — Ele pegou a mão dela. Eram fortes
por pegar as ferramentas de um pedreiro. — Para o bem ou para o
mal, o que começa com sua jornada hoje será resolvido muito
rapidamente. Daqui a um mês estaremos mortos ou vitoriosos. A
chance para o primeiro é a razão por si só para não oferecer. Se por
algum destino eu viver e ele não, isso pode ser uma coisa mais fácil.
Vou até aceitar o menino Brian em nossa casa, se você quiser. Mas
se ele viver, ele vai sair daqui logo depois e você pode ter que fazer
uma escolha, porque então eu provavelmente vou oferecer. Eu farei
este casamento acontecer se você me aceitar, não importam quais
sejam as reivindicações dele sobre você.
Ela sorriu para ele com verdadeiro carinho. Um homem
inteligente, honesto e compreensivo. Ele quis dizer o que ele disse.
Ele faria acontecer de alguma forma, mesmo que isso significasse
dar a Addis cem libras. Nenhuma palavra de amor embora. Não,
Rhys não mentiria para ela mais do que ela mentiria para ele.
Não havia nada para ela dizer. Ela apenas balançou a cabeça, e
ele deitou-se e conversou com ela sobre coisas simples, um homem
prático cultivando solo para o qual ele poderia um dia ter sementes.
Um homem paciente aguardando seu tempo, contando que seu
orgulho a levaria à única decisão sensata.
Capítulo XIV
Moira estava amassando a massa de pão quando Richard
entrou pela porta do jardim. Ela olhou para ele e depois para o
limiar vazio, esforçando-se para ouvir a aproximação de outro
homem.
— Onde ele está?
Sua voz transmitiu sua preocupação. Ele tinha partido há mais
tempo do que ela esperava, mais do que a semana que ele disse
que seria o limite da jornada. Ela não havia dormido bem nas
últimas noites enquanto sofria de fantasias sobre ele ser derrubado
na estrada ou ser torturado nas masmorras de Westminster.
Richard levantou a mão reconfortante. — Ele foi ferido, mas ele
vive.
— Ferido!
— Nós fomos atacados na estrada de volta.
— Por que você não o trouxe aqui? Se você o deixar eu vou...
— Ele está em uma casa em Southwark. Ele achou melhor não
entrar nos portões da cidade agora. Ele pediu que você viesse.
Pediu para ela ir! Como se toda a Guarda do Rei pudesse
mantê-la longe!
— Arrume uma cesta e finja que vai ao mercado, Moira. Eu vou
esperar por você no cais a oeste da ponte.
Ele saiu e ela apressadamente lavou as mãos e se esforçou
para decidir o que deveria carregar. Suas feridas foram cuidadas?
Havia unguento naquela casa? Ele precisava de roupas limpas? Ela
amaldiçoou Richard por desaparecer antes que ela pudesse
interrogá-lo.
Enchendo algumas roupas lavadas na cesta junto com um
unguento para evitar a corrupção em cortes, ela correu para o pátio.
Ferido. Quão mal? Não muito mal se ele estivesse dando ordens. Ela
sabia que isso não era verdade, que um homem poderia sofrer
ferimentos mortais e ainda estar consciente, mas ela se agarrava ao
pedaço de conforto ilógico da mesma forma. Não que isso ajudasse
muito. No momento em que encontrou Richard no píer, ela havia se
tornado uma bagunça de excitação agitada.
Ela pulou no barco antes mesmo de estar ancorado nas docas
de Southwark. Richard a acompanhou passando pelas pequenas
casas dos bordeis nos quais as prostitutas conduziam seu ofício.
Marcus descansava do lado de fora perto do final e se afastou para
que eles pudessem entrar.
— Pequeno John e Marcus sabiam deste lugar — explicou
Richard. — É um caminho da cidade e mais fácil de defender.
— Ele está em perigo então?
— Nós não sabemos ainda.
A casa estava cheia de cavaleiros e escudeiros e duas
mulheres, todos relaxando com bebida e jogos.
Sons apaixonados vieram de trás de um canto com cortinas.
Richard corou e olhou por um pedido de desculpas e gesticulou para
uma porta que levava a um aposento nos fundos.
Addis estava reclinado em uma cama e uma mulher loura
magra de meia idade sentada ao lado dele, alimentando-o com
sopa.
O braço dele estava enfaixado e a perna esquerda levantada
dobrada sob o lençol.
A mulher colocou a tigela de lado, levantou-se para testar o
aquecimento da água no fogão e depois voltou para continuar a
refeição. Ela se inclinou e sussurrou algo para Addis que provocou
um sorriso duro. Alguma sopa escorria da colher em seu peito nu e
ela se abaixou com um sorriso malicioso e lambeu-a.
Moira imediatamente se sentiu ridícula por aquelas noites de
preocupação.
Richard pigarreou alto.
Addis olhou e murmurou alguma coisa para a mulher. A
prostituta examinou Moira com os olhos e se levantou. Quando ela e
Richard saíram, Moira foi até a cama.
— Você parece confortável o suficiente, meu senhor. Muito
confortável, na verdade. Eu temia que você não estivesse recebendo
os devidos cuidados, mas eu posso ver que me preocupei em vão. —
Ela cruzou os braços sobre o peito e andou ao redor dele,
assentindo com aprovação. — Sim. Bem alimentado, bem banhado e
bem descansado.
Ele sorriu. — Bem o suficiente.
— Na verdade, essas mulheres parecem ter você muito bem
sob controle. Completamente assim. Há alguma razão então, por
que você me chamou?
— Não para me banhar e me alimentar.
— Claramente não. — Ela o encarou com as mãos nos quadris.
— Se eu descobrir que você estava deitado nesta casa de prazer há
dias, enquanto eu me preocupava do outro lado do rio, esse braço
não será tudo o que precisa de cura.
Com uma risada, ele agarrou seu pulso e a puxou para sentar
na cama ao lado dele. — Eu só cheguei esta manhã e a chamei
porque essas mulheres são de fala mansa, delicadas e gentis, que
temia que pudessem ser anjos. Sua língua afiada me assegura que
ainda estou na terra entre os vivos.
— Não há dúvida de que tal lugar é uma ideia de cavaleiro do
céu.
Ele deu a ela o sorriso mais caloroso que ela já tinha visto. —
Não minha.
Isso a confundiu tanto que ela perdeu o sustento do seu
aborrecimento. Alívio e alegria inundaram para tomar seu lugar e ela
se sentiu envergonhada por tê-lo cumprimentado tão mal.
— Estou animada em vê-lo vivo e inteiro.
— Não inteiramente inteiro.
— Você disse uma semana e quando não voltou...
— A ferida nos retardou.
Ela gentilmente tocou o braço esquerdo superior enfaixado.
Tinha sido amarrado com tiras de pano ao lado de seu torso. — O
que aconteceu?
— Uma flecha. Alguns homens esperavam quando voltamos.
— Então é sabido porque você foi? Se assim for, mesmo esta
casa não será segura. Talvez deva voltar para Darwendon.
— Nos informaremos em breve o que era conhecido. Ninguém
em Londres foi apanhado, o que é estranho. É possível que Edward
planeje uma armadilha elaborada, mas talvez algum outro jogo
esteja sendo jogado. Eu vou ficar aqui um dia ou mais e depois
voltar para a cidade se nada se desenvolver. Quem está por trás
disso recebeu a notícia que eu não tinha morrido, vários dias antes
de Richard e eu voltarmos. Tempo suficiente para enviar guardas
para me prender na estrada.
— Você não está fazendo muito sentido.
— Quanto mais eu penso sobre isso, menos sentido isso faz.
Os homens que nos atacaram pretendiam me matar. Edward deveria
me querer vivo, para se informar o que me disseram sobre a invasão
da rainha. Então talvez não tenha nada a ver com o rei.
— Simon?
— Ou outra pessoa.
— Quantos estavam lá?
— Cinco que eu vi. Mas senti um sexto se escondendo nas
árvores.
— Você está ferido, mas Richard não está. — As implicações
disso foram entendidas. Richard lutaria até a morte para poupar seu
lorde de um arranhão. Ela estreitou os olhos para ele. — Você os
encontrou sozinho, não foi?
— Não me censure Moira. Eu não tive escolha. Eu mandei
Richard embora. Um de nós tinha que tentar e voltar com a
mensagem e advertir Thomas Wake e os outros de que poderiam ter
sido traídos.
— É um milagre que você esteja vivo, não é? Você entrou em
uma armadilha sem saber o que seria enfrentado. Nobre e estúpido
e corajoso. Você me prometeu…
— Não foi assim. Não como Barrowburgh — ele disse
suavemente, tocando sua bochecha. —, não foi.
O impacto total do perigo que ele arriscou nesse esquema a
atingiu. Cinco contra um. Realmente foi um milagre que ele
estivesse vivo.
O calor da mão dele tocou mais do que a pele dela,
acrescentando uma angústia ao seu alívio com sua lembrança
tangível do que quase se perdera. Ela havia chorado por ele uma
vez. Ela quase teve que lamentar por ele novamente. Ela ainda
poderia sofrer nos próximos dias. Seus olhos começaram a ficar
embaçados. Ela escondeu sua reação em um exame do braço dele.
— Ele foi limpo e costurado?
— Um médico cuidou disso. Tornou-se tão inútil que pensei
que o osso tivesse sido atingido, mas ele disse que não. Ele me
enfaixou porque não confiava em mim para mantê-lo imóvel.
— Ele deve ser um bom médico se conhece tão bem a mente
de um cavaleiro. — Ela se virou para o joelho dobrado.
— Outra flecha?
— Não. Apenas um golpe como na estrada de Darwendon, mas
pior. Minhas entranhas estão amarradas. Isso já aconteceu antes. Eu
não posso endireitá-lo, e será assim por alguns dias. O calor ajuda.
— Então vamos dar-lhe calor. — Ela buscou a água aquecida e
alguns panos e moveu um banquinho ao lado do lado esquerdo da
cama, contente de encontrar alguma maneira de ajudá-lo, que
também ocuparia as mãos que queriam apenas tocá-lo e se deleitar
na realidade da sua segurança.
Ela empurrou o lençol para o lado do quadril dele. Pela
primeira vez ela viu o remanescente da ferida que ela cuidara no
pior momento. Como a cicatriz em seu rosto, poderia tê-la chocado
se ela não tivesse visto seu nascimento cru e corrompido. Agora, o
longo e achatado retalho de carne machucada não a desanimou,
mas o grande hematoma descolorido que o envolvia o fez. Ela
gentilmente acariciou o dano com as pontas dos dedos.
A mão do seu braço enfaixado agarrou seu pulso, impedindo-a.
Ela corou e estendeu a mão para mergulhar uma compressa na
água quente. — Não estou surpresa por não poder andar.
— Não é a contusão, mas o músculo embaixo.
Ela colocou uma toalha ao lado de seu quadril, em seguida,
pressionou o calor em sua pele. — O golpe poderia ter quebrado o
osso, assim como a flecha poderia ter quebrado o seu braço. Para
todas as suas cicatrizes, Addis, você teve sorte em suas feridas.
— Isso é verdade, Moira. Eu tenho sorte.
Ela mergulhou a compressa novamente para renovar seu calor.
Ele a observou com uma expressão séria. Ela sorriu, apenas
apreciando o prazer de estar com ele novamente.
— Ele já teve você?
A pergunta a surpreendeu. Demorou um momento para
lembrar-se da hora e do lugar atuais. — Você não tem o direito.
— Ele já teve?
— Você mora aqui em uma casa de cafetinas sendo lambido
por uma prostituta e você questiona minha virtude? Você tem
muito...
Ele agarrou o pulso dela novamente. — Já teve?
— Não.
Ele a soltou. — Não pela falta de querer você embora. Ele tirou
total proveito da minha ausência?
Sua insistência exasperou-a. — Ele só visitou algumas vezes.
Uma vez no dia em que você saiu e depois recentemente. Como eu
tinha certeza de que você estava morto, achei a distração bem-
vinda.
Ele sentia falta do sarcasmo dela. Ele inclinou a cabeça com
uma expressão curiosa. — Quantos dias se passaram sem que você
o visse?
— Cinco... seis... — De repente, ela viu o significado da
pergunta dele. — Você não pode pensar... Não, Addis, certamente
não.
— Ele sabia quando eu parti e para onde fui. Ele sabia tudo. Os
homens que me atacaram eram espadachins contratados e não
muito habilidosos. O homem que os enviou não lutou contra si
mesmo. Hugh Despenser podia pagar melhor e saber onde
encontrá-los.
Se eu deveria viver e ele morrer, isso tornará isso mais fácil. —
Você está errado. Ele é um homem bom e não trairia os planos que
estão sendo colocados por causa disso.
— Mesmo homens bons ousarão muito para abrir caminho para
seus objetivos.
Eu vou encontrar uma maneira de fazer esse casamento
acontecer. — Você não entende. Não é assim. Não existe tal entre
nós que o faria matar. O objetivo não é tão importante para ele.
— Nós saberemos em breve.
— Eu não vou ter você o ofendendo por minha causa.
— Se ele pagou aqueles homens para interferir com meu
retorno, quaisquer que sejam seus motivos, eu serei o menor de seu
perigo. Eu não vou acusá-lo, mas Wake vai descobrir em breve se
ele deixou a cidade.
— Ele esteve aqui? Thomas Wake?
De repente, ele parecia pouco à vontade. Ele olhou para longe
também deliberadamente. — Ele veio para ficar sabendo da
mensagem que eu trouxe de volta.
O mais estranho vazio escorreu através dela, como um breve
eco do que ela sentiu quando Brian partiu.
— Só por isso?
Ele olhou para baixo, lábios entreabertos, e permaneceu em
silêncio por tanto tempo que ela achou que ele não responderia.
A sensação escorria de novo e de novo, como riachos de perda
querendo formar um mar oco. Finalmente ele ergueu os olhos para
os dela.
— Ele também veio em amizade e com uma oferta de ajuda.
O vazio a envolveu, enchendo todo o seu peito, sufocando a
respiração. — Com o vínculo selado da maneira usual? Com um
casamento?
— Moira...
— É uma coisa maravilhosa, meu senhor. Tal homem e
família... Eu disse que algum caminho seria encontrado, não é?
Thomas Wake é casado com a família de Lancaster, não é? Se este
plano for bem sucedido, eles serão tão poderosos quanto antes.
Estou aliviada em saber que você terá a aliança necessária para
recuperar Barrowburgh.
Ela preparou a compressa novamente, embora a água tivesse
esfriado. Suas ações metódicas mascararam a devastação
inesperada que a rasgou em parte.
Esta era a última vez que ela iria ajudá-lo. Ela o serviria na
casa, mas isso não era o mesmo.
Quando ele saísse de Londres, ela lhe pediria para deixá-la
ficar, e até recorrer a Rhys, se fosse o caso, mas ele não era tão
cruel a ponto de esperar que ela o servisse em seu casamento. Em
questão de semanas, ele estaria morto novamente para ela, e desta
vez ela nem teria Brian para cuidar de sua memória.
Seus olhos ardiam e ela olhou para as mãos segurando o pano
em sua carne, rangendo os dentes e desejando compostura. Talvez,
se ela não estivesse tão irritada com a preocupação, não reagisse
tão fortemente. Ela sabia que isso deveria acontecer eventualmente.
Ela tinha sido a única a lembrá-los disso. Mas eventualmente era
mais tarde e isso foi agora.
Sua mão se fechou sobre a dela. — Chega agora. A
sensibilidade está muito melhor, mas não sei se do calor da água ou
do conforto de sua amizade.
E foi ela quem negou a ambos o total conforto que a amizade
poderia ter trazido. Foi uma decisão acertada, como esta notícia
claramente provou. Ela deixou o pano cair no balde e sentou-se
miseravelmente em seu banquinho, olhando cegamente para seu
colo, imaginando se não tinha sido muito sensata. Mas quanto mais
difícil ouvir essas palavras se ela tivesse agido de forma diferente?
Então, novamente, talvez não seja mais difícil. Ela nunca imaginou
que a dor dessa realidade inevitável a cortaria em pedaços assim.
— Venha e sente-se ao meu lado, Moira. Por aqui do meu lado
bom. Eu me regozijaria em estar vivo com você por um tempo.
Ela olhou para cima para encontrá-lo sorrindo. Ela realmente
pensou que iria chorar então. Forçando um sorriso, circulou a cama
e se acomodou ao lado dele.
Parecia o mais natural aliviar o braço que circundava seus
ombros e deitar ao lado dele na tarde tranquila. Eles estavam na
doce conexão que ela não conhecia desde a noite anterior a
Londres, e sua pungência facilitou e aprofundou a dor.
— Acho que invejo o seu pedreiro — disse ele.
— Às vezes você fala bobagem.
— Sua vida mais simples tem uma espécie de liberdade.
Nenhum fantasma de ancestral sussurra em seu ouvido. Suas
escolhas são por agora, não pelo passado e não pelo futuro. Mas
não é só isso. Eu o invejo porque ele é inteiro.
— Você dá muito valor para algumas cicatrizes.
— Não estou falando de cicatrizes ou feridas. Acho que fiquei
amargurado com elas uma vez, no começo, mas isso foi há muito
tempo. Não, ele é inteiro de outras maneiras. Completo em si
mesmo. É isso que eu invejo.
Ela virou de lado para poder ver o rosto dele. Isso também a
aproximou de seu corpo e pressionou a pele de seu ombro contra o
de sua bochecha, o que pareceu muito bom. — Você está completo.
— Não. Eu sinto como se houvesse dois meios homens dentro
de mim, dois mundos e duas almas. Eu sou só inteiro às vezes,
como agora. Não há paz sem essa perfeição.
Ela só parcialmente o entendeu, mas ela sentiu a paz da qual
ele falou. Eles se deitaram juntos com um contentamento silencioso
que produziu um tipo de felicidade. Até mesmo a antecipação da
perda que obscurecia seu coração possuía certa beleza. Ele dissera
que queria se alegrar por estar vivo com ela e ela se sentia muito
viva e artificialmente alerta para cada momento precioso específico.
Ela virou a cabeça e pressionou os lábios contra a pele dele,
querendo provar sua realidade tangível. Ela colocou a mão no peito
dele, tocando o batimento cardíaco dele. Ela inalou profundamente,
memorizando o cheiro dele. Provavelmente nunca novamente. Ela se
aconchegou mais perto, saboreando sua proximidade física. Sim, ela
se alegrava mesmo enquanto chorava.
Sua mão se moveu ao longo das faixas amarrando seu braço
ao seu corpo. Sua carícia procurou os músculos duros dos ombros,
peito e abdômen, marcando os detalhes em seus sentidos. Ela se
levantou absorta em seu futuro, sem passado ou futuro sussurrando
em seu ouvido, livre em sua escolha de conhecê-lo o mais
completamente possível antes de perdê-lo novamente.
— Moira...
Ela o ignorou e inclinou-se para beijar seu peito, deixando seus
lábios seguirem as explorações sinuosas de sua mão. Ela lambeu
como a prostituta fez para que a mulher não soubesse mais dele do
que ela.
Uma profunda agitação a saturou, mais rica que a mera
excitação, um prazer que enchia seu coração e exultava sua alma.
Ela se moveu e sentiu e beijou e absorveu, não pensando em
nada, exceto conhecê-lo, tê-lo pela primeira e última vez. Seus
dedos acariciavam tensos em seu cabelo. Ela olhou para seus olhos
atentos e voltou para suas descobertas.
Ela deslizou o lençol para longe enquanto sua boca seguia a
linha da cicatriz para baixo e o calor de sua respiração oferecia
conforto como as compressas tinham. Ela beijou o dano como uma
mãe pode ao tentar aliviar a dor de uma criança. Seus dedos
pressionaram e descobriram os tendões de suas coxas e joelhos, sua
barriga dura e seus quadris, finalmente a superfície lisa de seu falo
ereto.
Total conhecimento. Plenitude. Breve possessão. Ela não
pensou ou questionou ou considerou. Ela explorou e descobriu a
evidência do prazer dele trazendo a felicidade surpreendente dela.
Ela sentiu o desejo derramando dele, faminto e esperando, e sua
própria excitação aumentou. Sim, total conhecimento. Seus beijos
seguiram sua mão como se a progressão fosse essencial.
Sua respiração aguda penetrou sua consciência restrita. Ela
deixou suas reações sutis guiá-la e penetrá-la. Sua tensão a
envolveu, puxando-se sob seu aperto em seu ombro. Ela sentiu que
tremia, desmoronando. — Suficiente — ele engasgou, puxando-a
para cima, pressionando sua boca para um beijo feroz enquanto a
liberação flexionava através dele.
Ela flutuou no momento, saboreando-o, ainda imersa na paixão
inebriante dele, sentindo sua tensão se esvair.
Uma inclinação de cabeça separou suas bocas. Ela abriu os
olhos para ver fogos brilhando para ela.
Ele estava furioso.
Ele manteve a cabeça tão perto que seus narizes quase se
tocaram. — O que é que foi isso? Meu presente de noivado?
— Eu só queria... eu precisava...
— Você queria? Você precisava? Estou querendo e precisando
há semanas, Moira, e agora, quando metade do meu corpo está
aleijado, você me serve esse prazer passivo e solitário. Eu não
aceitarei presentes de você mais do que você recebe o pagamento
de mim.
Sua raiva não podia fazê-la se arrepender. — Não grite comigo,
Addis. O presente foi para mim mesma. Além disso, você poderia ter
me parado.
— Um homem não impede que um sonho ganhe vida, mesmo
que seja incompleto. — Sua mão pressionou sua cabeça,
aproximando-a ainda mais de seu rosto severo e decidido. — Então,
vamos terminar isso, na medida em que você me deixou capaz.
Você parece bem contente com seu controle deste desejo e
necessidade que você teve. Eu não planejo deixar sua paixão tão
contida.
Ele a beijou novamente com lenta deliberação, provocando seu
estupor sensual a um estado de alerta mais aguçado. Ele não
permitiu que ela se movesse, mas manteve seus seios esmagados
contra o seu peito e os dedos esticados no couro cabeludo,
segurando-a enquanto ele cuidadosamente violava sua boca,
pescoço e orelha. Ele estava certo. Ela estava contente em sua
contenção de sua necessidade. Ela não tinha certeza se queria isso.
Ela temia a dor esperando do outro lado do êxtase.
— Melhor se você não... — ela disse.
— Você quer que eu tenha prazer e não dê? Você é generosa
demais, Moira — ele sussurrou em seu ouvido enquanto seus dentes
e língua exploravam maneiras de fazer seu corpo tremer.
— Não foi generosidade. Nem tanto.
— Não é isso. Nem tanto. Não se preocupe. Você está a salvo
de mim por um tempo, pelo menos. Sua boca cuidou disso muito
bem.
— Então não faz sentido para você...
— Ah, mas eu quero. Preciso. Como você... — Ele acariciou o
braço dela até a parte externa de seu seio, derrotando seus
protestos com movimentos sugestivos que levantaram antecipações
de sensações que ela lembrava muito bem.
Ela capitulou. Inclinando-se sobre o seu peito, ela aceitou os
beijos virados para sua boca. Movendo-se de lado, ela convidou os
hábeis toques em seu seio. Seu corpo tratava os deliciosos
sentimentos como se mordiscasse um petisco. Logo ela estava
pensando em nada e apenas experimentando o desenvolvimento da
intensidade disso.
— Tire o seu vestido.
— Eu não acho que...
— Faça isso.
Ele ajudou-a a sentar-se na beira da cama e desamarrou o laço
nas costas dela. Ela deslizou o vestido solto pelo corpo até que ele
afundou em uma pilha a seus pés. Ela ficou sentada por um
momento, os olhos fechados, tremendo com uma expectativa que
perfurava através dela.
Ele acariciou ao longo de sua coxa para a bainha de seu
tubinho. — Isto também.
Ela olhou para ele. Seus olhos ardiam de desejo de um tipo
diferente, com uma paixão apenas parcialmente física.
Ela entendeu isso. Reconheceu isso. Não generosidade. Nem
tanto.
Ela deslizou o tubinho e sentou-se nua ao lado dele, a parte
baixa de suas costas contra sua cintura. Ele gentilmente acariciou
suas costas e ela se curvou no contato inebriante. Com dois
movimentos desajeitados, ele movimentou seu corpo, deixando um
pouco mais de espaço para ela.
— Você é tão linda, Moira. Ajoelhe-se aqui para que eu possa
te ver e tocar você.
Ela subiu ao lado dele e se ajoelhou, sentando-se nos seus
pés. Examinando-a como ela o tinha, ele traçou ao longo de suas
bordas e curvas, desenhando seu corpo, explorando colinas e vales,
fendas e ondulações. A jornada de sua mão levantou tanto prazer
que seus olhos se turvaram e sua garganta secou. O desejo
impaciente estremeceu sua demanda em seus seios. Uma umidade
espessa amortecia a fome pulsante que crescia entre suas coxas.
Ele movimentou-a gentilmente em direção a ele até que ela
teve que apoiar seu peso nas mãos que flanqueavam sua cabeça.
Ela deu um beijo nele enquanto ele continuava a excitar seu corpo
flutuando, sacudindo e esfregando seus mamilos como se ele
ouvisse sua demanda por atenção.
Seu mundo consciente começou a se restringir apenas a ele e
a ela e o desejo de chorar a excitava com sua doce tortura. Sua
paixão rompeu de qualquer contenção. Ele sentiu isso e começou a
dirigir-se impiedosamente para cima, até que ela,
inconscientemente, proferiu pequenos gritos que marcaram a
necessidade rítmica pulsando através dela. A passividade de sua
posição frustrou e excitou-a. Apenas o braço imóvel e a perna
dobrada a impediam de se apoiar nele e se pressionar contra o
comprimento dele. Exceto pela lembrança embotada de que ela o
tornara incapaz, ela teria procurado a união que seu corpo exigia.
Ele pressionou as costas dela, movendo-a para baixo e para
frente até que ele pudesse tomar seu peito em sua boca. Ela
engasgou de alívio e depois se dissolveu em suspiros e gritos. O
prazer tornou-se torcido, tenso e agudo. Ele lambeu e chupou e
brincou enquanto suas carícias se moviam para as nádegas e coxas,
para a barriga e para as costas e ela ficava desesperada por mais.
Ele deu a ela, deslizando a mão entre as coxas dela. Ela separou-as
para ele e gemeu quando ele se aventurou onde todo o seu corpo
implorou que ele fosse.
Desenhando em seus seios e atormentando com a mão, levou-
a de frenética a desesperada e delirante até que o desejo e a
necessidade a subjugaram. O desejo começou a se alongar,
procurando, alcançando... Ele a soltou e ela balançou para trás,
enterrando seus gemidos em seu ombro. Ele usou um toque que
enviou a liberação requintada quebrando através dela como um
cataclismo.
Ela desmoronou, conseguindo se lembrar de que metade do
seu corpo estava enfermo. Ele puxou-a para o conforto do seu
braço, a bochecha e a mão selada contra o peito dele.
Ficaram ali por horas, sem dormir nem se mexer, à deriva em
um pequeno mundo de doce conforto e paz.
Eles mal falavam o tempo todo, como se ambos soubessem
que as palavras não tinham lugar ou razão neste precioso “agora”.
É amor, ela pensou. Negar seu nome não embota a beleza
nem a dor.
Ela se aninhou mais perto e olhou através de seu peito
enquanto o sol da tarde produzia longas sombras nas paredes do
aposento.
Capítulo XV
Mathilda Wake era linda, pequena e frágil, com um brilho
pálido que iluminava o local do pátio onde ela estava. Ela manteve
os olhos baixos modestamente enquanto Thomas a apresentava.
Addis franziu a testa desanimado para sua elegante cabeça loira.
Sua primeira reação foi que a garota aceitou seu dever, mas
conhecer ela valia demasiado bem.
A segunda dele foi que ela o lembrou de Claire.
Suas pálpebras cremosas flutuaram e ela examinou seu
tamanho. Foi uma longa e lenta jornada antes que sua linda cabeça
se inclinasse para trás e ela visse o rosto dele. Thomas deve tê-la
alertado sobre a cicatriz, mas seu sorriso ainda oscilava.
— Você é muito alto, senhor Addis.
Ele teve que admirar sua recuperação inteligente. — E você é
bem pequena, minha senhora.
— Acredita-se que eu ainda possa crescer, mas não acho que
você vai encolher.
— Se preferir, tentarei. — A brincadeira fluiu com facilidade.
Ele sabia como esse jogo era jogado.
Ele já foi um campeão nisso, uma vida inteira atrás.
— Ah, não acho que me importaria com um pequeno cavaleiro,
Sir Addis.
Thomas sorriu ao lado dela. O orgulho óbvio do pai o
interessou mais do que o comportamento obediente da menina.
Thomas a favoreceu? Ela poderia dobrá-lo à sua vontade? Se ela
implorasse para ser poupada desse casamento, Thomas se
compadeceria?
A possibilidade deveria deixá-lo preocupado, mas ele se viu
esperando que fosse assim. O lado dele que reconheceu a
necessidade dessa aliança continuou lutando contra o lado que se
ressentia da coerção do dever. Uma tentação perversa de encontrar
maneiras de amedrontá-la continuava aguçando suas melhores
intenções.
Ele liderou o caminho para o salão. Cheiros agradáveis
flutuavam quando seus pés esmagavam as ervas misturada com os
juncos. Flores de verão pendiam em aglomerados abundantes das
estacas e das vigas das janelas. Um pano novo e fresco cobria a
mesa principal e a cadeira do solar tinha sido movida para o lugar do
lorde. Pilhas de frutas coloridas substituíam os adornos mais caros,
mas acrescentavam frescor do salão e efeito tranquilo, como se
alguém tivesse decidido que a prata seria muito pesada e formal
naquele dia de final de verão. Três músicos sentados em banquetas
em um canto.
Ele ignorou a visita iminente, mas Moira não o fez. Ela exigira
saber o dia e depois se preparara para isso, pedindo-lhe as moedas
para comprar comida, objetos e serviços condizentes com um jantar
em que encontrasse uma parenta de uma grande família,
economizando onde pudesse e gastando onde deveria. Ela sabia,
desde seus anos em Hawkesford, que ninguém restringia em tal
ocasião. Cada detalhe seria uma manifestação de sua honra. Ele
examinou os resultados deliciosos e se perguntou se a criança ao
seu lado poderia até apreciar os esforços que uma serva fez em seu
nome.
Ela não estava à vista, nem estaria. Ela supervisionava a
cozinha, ele imaginou, ou talvez descansasse no jardim agora que
tudo estava preparado.
Ele desejou que ela estivesse presente. Se Thomas visse seu
corpo exuberante e olhos claros, ele ficaria curioso e,
eventualmente, poderia perguntar. Então ele poderia deixar o pai
saber o que a filha deveria eventualmente aceitar, que a serva que o
servira em Londres estaria sempre com ele. Que quando ele buscava
amizade e conforto, seria com a Sombra e não com a pequena lasca
de luz a quem ele estava obrigado. Se ele tivesse o seu caminho, ele
procuraria mais do que isso dela, não que ele esperasse sucesso lá.
Um humor agridoce tingiu sua última semana juntos. Ela
visitou a casa de Southwark todos os dias que ele ficava lá, mas a
intimidade nunca mais se tornou física. Na noite em que ele
retornou a Londres, ele havia esperado, esperando que ela fosse até
ele, sabendo o tempo todo que ela não o faria. Ele supôs que ele
sabia, mesmo quando aconteceu que sua paixão tinha sido um
reconhecimento final e doce do que ocorrera e do que poderia ter
sido.
Thomas havia explicado que Mathilda tinha catorze anos, mas
ela mal parecia tão velha, apesar do cabelo elaboradamente
trançado e do vestido caro. Addis esperava que Deus não esperasse
um rápido casamento entre ele e essa criança. Talvez ele a
entretivesse com descrições explícitas de suas cicatrizes e como ele
as atingira. Isso deveria ajudar a atrasar as coisas até que ela
amadurecesse mais. Talvez isso atrasasse as coisas para sempre.
Henry e uma empregada contratada entregaram a comida em
etapas e os escudeiros de Thomas a serviram. Os músicos tocaram
suavemente. Richard e uma viúva que ele estava cortejando se
juntaram a eles na mesa. Mathilda aceitou graciosamente as carnes
escolhidas que Addis lhe ofereceu junto com sua atenção.
Ela falou muito. Ela conseguiu transformar cada tópico de volta
para si mesma. Claire tinha sido assim quando uma menina jovem.
Mais tarde, ela adquiriu a fineses para fazer os outros fazerem o
trabalho com prazer por ela. Ele se perguntou se essa criança era
inteligente o bastante para descobrir a astúcia de permitir isso.
Ele aprendeu tudo sobre seu pônei, que fugiu na primavera, e
como metade da propriedade tinha procurado por cinco dias antes
de encontrá-lo. Ele foi tratado com uma descrição elaborada das
novas sedas que sua mãe comprou recentemente. Ela assegurou-lhe
que rezava frequentemente aos seus santos favoritos, mas que a
sua especial devoção era pela Virgem Mãe.
Entre suas histórias desorganizadas e o comentário de
Thomas, ele conseguiu receber uma lista completa de suas muitas
virtudes e habilidades femininas. Ele refletiu que ele havia aprendido
mais sobre Moira durante os longos silêncios de sua jornada de
Darwendon do que ele poderia adquirir sobre a pequena Mathilda de
todas essas palavras.
Moira. O que ela estava fazendo agora? Ele considerou
reclamar sobre algum prato para que ela fosse obrigada a se
mostrar. Ele poderia usar sua presença calmante. Pequenos
estrondos de ressentimento em uma de suas almas ameaçavam
fraturar a compostura cortês da outra.
— Os músicos são habilidosos — comentou Thomas ao final da
refeição.
— Sim, eles são — Mathilda concordou. — É muito ruim não
haver menestrel. Eu amo muito ouvir música.
— Então da próxima vez eu vou ter certeza de roubar o melhor
da corte do rei — Addis disse sorrindo.
— Me parece que um dos melhores está bem aqui nesta casa
— disse um escudeiro distraidamente enquanto servia vinho.
Seu senhor olhou bruscamente para o lapso de etiqueta e o
jovem corou.
— Você tem um menestrel, mas ele não se apresenta? —
perguntou Mathilda. Uma carranca petulante mostrou sua dor que o
homem tentando impressioná-la não ofereceria todo prazer à sua
disposição.
— Eu não tenho menestrel, eu te garanto.
Thomas pareceu confuso e virou-se para o escudeiro. No local
agora, o jovem corou mais profundamente.
— Não é um menestrel. Minhas desculpas, meu senhor, mas
ouvi a dama cantando no jardim e foi muito doce e eu...
— Uma dama?
— Na verdade não é uma dama. A criada da cozinha.
Mathilda decidiu testar a sinceridade do interesse de Addis com
este ponto. Ele entendia bem o beicinho, as insinuações de
infelicidade, os sinais de uma garota verificando o quão maleável
seu charme poderia fazer um homem. Uma especialista havia usado
essas técnicas nele muitas vezes.
Foi Thomas quem sucumbiu. Ele deu um tapinha no braço
dela. — Se é um cantor que você quer, tenho certeza de que esta
serva concordará com isso. Não é assim, Addis?
Ele olhou para a sua pretendida. Depois de se casarem, ela
teria algumas surpresas chocantes em relação à sua suscetibilidade
às artimanhas das mulheres. — Ela não é uma intérprete.
— Mas nós somos um pequeno grupo — Mathilda adulou,
arriscando um toque em sua mão. — Se você pedir, ela deve fazê-lo.
Thomas sorriu com expectativa e Mathilda arregalou os olhos
de um jeito suplicante. Para eles, era uma coisa pequena.
Recusando a criança seu simples prazer pareceria grosseiro e
insultuoso. Ele teve a sensação de que o futuro de Barrowburgh
dependia de sua entrega à garota mimada nesse primeiro pedido
pequeno.
O ressentimento vociferou. Se Moira estivesse disposta a
cantar, teria planejado fazê-lo. Era uma coisa privada para ela
agora. Ele hesitou por tempo suficiente para que a expressão de
Thomas mudasse. No outro extremo da mesa, Richard se
manifestou. — Suponho que seja a mulher Moira quem você quer,
meu senhor.
Addis lançou um olhar para ele e Richard retornou um dos
seus. Você arriscará tanto por isso? Os olhos do administrador
censuraram.
Ele iria?
Richard não esperou por sua concordância. Ele caminhou até a
cozinha. Thomas reassumiu seu comportamento sorridente. Mathilda
parecia muito satisfeita com sua pequena vitória.
Richard voltou sozinho e Addis se perguntou se Moira havia se
recusado. Sem dúvida, Mathilda esperaria que ele fosse espancá-la.
— Ela quer se lavar primeiro — explicou Richard.
A conversa mudou para outras coisas e, assim, quando Moira
finalmente entrou na sala, ninguém a notou inicialmente, exceto
Addis. Ela prendera o cabelo numa trança grossa que pendia das
costas por baixo do véu. Não usava touca e a cor clara de seu
adereço de cabeça e de linho contrastava com o bronze de sua pele.
Olhos claros como água ondulante perfuraram-no com
ressentimento.
— É o prazer de Lady Mathilda ouvir você cantar — disse ele
quando ela se aproximou da mesa.
— Estou honrada, meu senhor.
— Ela é dedicada à Virgem Mãe. Você conhece uma música
sobre Nossa Senhora?
— Claro. Pelo menos vinte. Existe uma preferência, ou posso
escolher sozinha?
— Como preferir.
Ela recuou para os músicos e falou com o tocador de alaúde.
— Achei que ela fosse uma camponesa — disse Mathilda. —
Ela não parece uma. Ela também não se parece muito com uma
criada.
— As mulheres que te servem parecem camponesas e servas?
— Isso é verdade. Mas então, elas servem uma dama e não há
nenhuma dama aqui.
Sim, existe. Tão nobre como você jamais será. — Em sua vida,
ela esteve mais próxima das damas do que suas empregadas estão
para você.
Mathilda ponderou isso, enquanto sua mente tentava conciliar
a decência e o vestido de linho da empregada da cozinha
preparando-se para cantar. Addis voltou-se para Thomas Wake e
sabia que o homem tirara certas conclusões que explicariam tudo.
Ele lançou a Addis uma expressão homem-a-homem de tolerância e
compreensão.
Moira cantou lindamente, apesar de não se esforçar muito para
isso. Ele podia dizer que ela estava desconfortável e ressentida por
ter a atenção focada nela. Ela cantou duas canções para a
Santíssima Virgem, a segunda muito longa, que certamente deveria
satisfazer a devoção de Mathilda.
— Precisamos de uma cantora — disse Mathilda a Thomas. —
Os menestréis não são tão amáveis de voz. — Ela olhou
astuciosamente para Addis. — Ela só conhece as religiosas? Algo
alegre seria legal. Uma canção de amor talvez.
— Eu não acho…
Mathilda levantou-se e gesticulou. — Uma música de amor
agora, Moira. Para elevar nossos espíritos.
— Eu não acho que a mulher saiba de nada. Veja como ela
hesita minha querida — disse Thomas em voz baixa.
— Claro que ela conhece. Todos conhecem.
Moira assentiu. — Se lhe agradar, minha senhora. — Ela disse
algo ao tocador de alaúde e eles começaram.
Exceto por ouvi-la brevemente no jardim naquele dia, Addis
não tinha ouvido Moira cantar as românticas em anos. Ela não olhou
para ninguém no aposento. Em vez disso, ela fixou os olhos em um
ponto perto das janelas enquanto deixava sua voz fluir.
Mais emoção e expressão coloriram essa música. Exibia a
beleza de sua voz de maneira que as obras religiosas não tinham.
Addis escutou e uma sensação muito estranha o inundou. Fazia
anos, mas ainda assim ele sentia que a ouvira cantar muito
recentemente e com muita frequência, que ele conhecia todas as
nuances e detalhes no modo como sua voz tocava as notas e
pronunciava as palavras.
Em algum lugar, tentadoramente fora de alcance, ideias vagas
e imagens fantasmagóricas queriam se apegar a essa melodia.
Memórias reconfortantes se agitaram em algum canto
escondido onde dormiam. Isso não fazia sentido algum. Moira
cantou em Hawkesford nas refeições que ele participou com Claire, e
lembrando que Claire nunca trouxe a paz. A experiência o perturbou
com uma sensação de corroer e tatear que ele deveria estar se
lembrando de algo.
Sua voz declamando aquelas frases amorosas desatou uma
serenidade intenda. Ele sentiu o rosto dele contra o seio dela, o
calor nos braços dela e o consolo satisfeito de carinho e amor. Ele
olhou para o perfil dela apontando para a janela, toda a sua
essência se estendendo para as memórias que explicariam se a
música dela invocava fantasias ou fatos.
Cante para mim. Em algum lugar dos meus sonhos ou da
minha vida você já fez isso. Eu posso sentir isso. Esqueça os outros
e faça isso de novo. Apenas um olhar, então eu sei que você sente o
que eu sinto, então eu sei que você aceita que é assim.
Ela terminou sem virar o rosto, deixando-o com uma profunda
decepção. Ele havia perdido a consciência de seus convidados e,
assim, a voz infantil à sua direita o surpreendeu. — A voz dela faz
alguém querer chorar ou desmaiar. — Mathilda bateu palmas de
prazer. — Outra!
Moira ficou tensa.
— Tenho certeza de que a mulher tem outros deveres — disse
Thomas.
— Oh, certamente mais uma.
— É o suficiente, filha. Estou farto de música agora.
Ela tentou um beicinho hesitante, mas decidiu não se
incomodar. — Por favor, alguma moeda para que eu possa
presenteá-la.
Thomas tirou dez centavos da bolsa e Mathilda chamou Moira.
— Isto é para você, em agradecimento por compartilhar sua linda
voz. — Ela apertou as moedas na mão de Moira. — Talvez eu tenha
muitas oportunidades para ouvi-la no futuro — ela acrescentou num
sussurro que todos ouviram.
Moira olhou para o dinheiro e depois para a adorável criança
que sorria para ela. Ela sorriu gentilmente. — Você é generosa
demais. Foi minha honra. — Ela se dirigiu a Addis sem olhar para
ele. — Posso me despedir agora, meu senhor?
Ele concedeu de bom grado, desejando que a música o tivesse
deixado tão confiante quanto aparentemente tinha Moira.
Ela se aconchegou no jardim, enrolada atrás da maior árvore,
ouvindo os sons no pátio da partida de Lady Mathilda. Soluços
incontroláveis sacudiram seu corpo e ela enterrou o rosto nos
joelhos para sufocá-los.
Ela havia terminado seus deveres antes de desmoronar nessa
dor avassaladora. De alguma forma, ela se manteve unida através
do pesadelo de cantar aquela canção de amor para os dois. Ela
havia supervisionado o serviço final e até ajudado Jane na lavagem.
Ela havia deixado os sons de conversa e riso no salão enquanto os
convidados se despediam e caminhavam sob o sol da tarde, em
direção à parede, sem dizer a ninguém para onde ela havia ido.
Não pararia. O choro a devastou até onde ela teve dificuldade
em respirar. Seu peito certamente explodiria.
Ela agarrou as pernas com tanta força que se machucou e
tentou controlar seu corpo.
Ela havia preparado este dia para ele, embora ele tivesse
resistido. Ela cuidou da comida, das flores e dos músicos, mas jurou
que não veria isso. Ela tinha organizado as coisas para que ela
nunca precisasse entrar naquele salão e conhecer a jovem donzela
que poderia lhe devolver sua honra. Ela o ajudaria como sempre
fazia quando podia, mas se recusava a assistir com o sofrimento das
sombras novamente.
Ela olhou por cima dos joelhos para as mãos e, lentamente,
abriu a que continha os dez centavos. As moedas marcaram a palma
de sua mão de tanto ser agarrada. Ela olhou para elas através de
borrões de lágrimas e pensou nas palavras de Mathilda para ela.
Ela não podia fazer isso. Não apenas o canto. Ela não podia
fazer nada disso. Servi-los. Vê-los. Assistir seus filhos nascerem.
Ele não pretendia libertá-la. Ela apenas sabia disso. Lehman ou
não, ele planejava mantê-la com ele. Não fazia sentido. A garota era
linda, radiante, alegre. Ele nunca olhou para as sombras além da luz
de Claire. Por que ele deveria querer agora?
Os soluços acalmaram-se a rajadas sufocantes em meio a
respirações profundas. Do pátio ela ouviu os sons dos cavalos
finalmente se movendo. Alguns degraus de botas rasparam as
pedras e o silêncio caiu.
Ela confiava que ele não iria procurá-la. Ele tinha planos para
fazer e um casamento para considerar. Ela rezou para que a
expressão arrependida no rosto de Richard, quando ele veio para
ela, fosse o único pedido de desculpas que ela receberia por ter sido
ordenada a cantar neste banquete. Se ela enfrentasse Addis
novamente hoje ela cairia em pedaços mais uma vez e ele a veria.
Ela não suportaria aquela humilhação.
Mais calma agora, ela se levantou e espreitou ao redor da
árvore. O jardim e o pátio estavam vazios. Ela contornou os
canteiros e caminhou até a casa, buscando a privacidade de seu
quarto.
Talvez mais tarde ele mudasse de ideia. Talvez, depois que ele
se casasse, depois que ele tivesse Barrowburgh, ele iria ceder. Mas
ela não podia suportar isso por muito tempo. Quando menina, ela
tinha feito isso, mas ela tinha pouca escolha então.
Ela não era mais uma garota e tinha os meios para acabar com
isso.
Ela sentou-se no catre e puxou a cesta de costura para o colo.
Rasgando o forro, ela arrancou o rubi. Ela havia pensado em
comprar uma hospedaria e um marido com ela, mas seu pedreiro
havia falado em casamento sem pedir seu dote. Rhys não sentiria
falta daquilo que nunca esperou receber.
Ela olhou para o brilho suave da joia. Tão cara e tão pequena.
Valiosa porque era rara.
Desejada porque era linda. Como algumas mulheres.
Já chega então. Muitos anos haviam sido gastos em uma
paixão infantil. Muitas memórias a aprisionaram. Basta do passado.
Deixe ir.
Addis olhou para ela na cozinha e no jardim e concluiu que ela
provavelmente tinha ido ao mercado para reabastecer as provisões
de alimentos. Ele deixou recado com Jane para informá-lo quando
ela voltasse e depois se retirou para o solar. Ele esperava que ela
não demorasse muito. Ele queria agradecer-lhe e pedir desculpas.
A festa o cansara de maneiras indefiníveis. A garota o fez se
sentir velho e cansado do mundo. Mais do que anos os separavam.
Uma vida inteira de experiências sobre as quais ela nunca
aprenderia, ficava como um abismo entre eles. Ele duvidava que a
paixão, o tempo ou mesmo as crianças pudessem superá-lo,
principalmente porque ele não desejava fazê-lo. Seu corpo poderia
juntar-se ao dela para gerar filhos, mas sua alma nunca seria capaz
de se unir a ela. Não porque ela era jovem e vaidosa e muito
parecida com Claire. Não por causa de quem ela era.
O problema real estava em quem ela não era.
Ele andou até a janela com vista para o pátio, esperando a
agitação do linho leve que diria que ela estava de volta. Ele viu
novamente sua aceitação graciosa da moeda de Mathilda e sua
rigidez enquanto ela cantava aquela música. Ela não olhou para ele
durante essas letras de amor, mesmo que cada fibra de seu ser
tivesse pedido a ela. Melhor assim. Isso teria chamado a atenção
para a reação dele. Como era de esperar, Thomas notara.
Ele se jogou na cama. Sentia-se vazio, à deriva, como se não
pudesse ligar sua mente ao corpo e o corpo a este quarto. A
pequena tempestade de ressentimento continuou se agitando e
retumbando. De certa forma, ele era um homem mais livre quando
era escravo. Nenhum dever estabeleceu seu curso para ele lá. Jugos
colocados sobre seus ombros eram mais fáceis de suportar do que
responsabilidades nascidas em seu sangue.
Ele encontrou-se desejando que tivesse conhecido Moira então,
que ela tivesse sido capturada em uma incursão na Polônia e levada
para o complexo dos escravos. Ele teria sido capaz de amá-la
durante esses anos cautelosos?
A paz estaria lá então, removendo o coração endurecido para a
sobrevivência tão facilmente quanto havia feito quando retornou? Se
lhe oferecessem sua chance de liberdade, ele teria renunciado se
isso significasse deixá-la?
Um raspão na porta quebrou seu devaneio. Jane enfiou a
cabeça para dentro.
— Ela está de volta? — Ele saiu da cama para ir até ela.
— Não. — Jane ficou perto da porta, torcendo as mãos na saia.
— Ela disse para esperar até amanhã antes de dar a você, para dizer
que ela descansava em seu quarto esta noite, mas eu pensei como
você poderia querer saber agora.
— Saber o que? Me dar o que?
Ela parecia temerosa o suficiente para que os pressentimentos
começassem a pingar por ele. Ela se aproximou e deixou cair
alguma coisa na mesa.
— Ela disse para dizer que está comprando sua liberdade. Com
isso. Ela disse para dizer que deveria cobrir o preço que você
definiu. Disse que não está renegando seu juramento porque uma
mulher livre não precisa fugir.
Ele caminhou rapidamente para a mesa. Um rubi duas vezes o
tamanho do ovo de passarinho estava no topo dos pergaminhos.
Jane lambeu os lábios. — Ela disse que seria mais útil para
você do que para ela agora. Disse que você poderia usá-lo para
contratar arqueiros e tais coisas.
— Onde ela está?
— Disse para dizer que não pode fazer isso, o que quer que
isso signifique. Disse até mesmo em amizade e amor que ela não
podia, e que...
— Onde ela está?
Ela pulou para trás. — Não sei. Eu juro, meu senhor, eu não
sei. Ela saiu há algum tempo atrás e disse que buscaria suas coisas
mais tarde. Apenas levou uma grande cesta só isso. Eu deveria ter
vindo imediatamente, eu sei, mas levei um tempo para perceber o
que ela queria dizer e o que ela planejava fazer, e então Henry disse
que eu deveria...
Ele olhou para o rubi, sem ouvir as explicações que fluíam de
Jane ao seu lado. Uma dor surpreendente o estrangulou.
Ele gesticulou cegamente. — Saia.
— Você quer que Henry e eu olhemos...
— Vá agora.
Ela fugiu. Ele tocou a joia. Seu brilho profundo e plano
sombreado hipnotizava-o. Cores ricas, profundidades escuras, luzes
sutis. Bonita. Sólida apesar de sua clareza. Como ela.
Onde ela obteve isso? De Edith, sem dúvida. De Bernard. Ela
possuía isso todo esse tempo.
Enquanto em Darwendon e na viagem aqui. Era seu dote, mas
deixá-lo tornou-se mais importante do que ir para um marido com
um prêmio de casamento como esse.
Diga a ele que não posso fazer isso.
Não, ela não podia mais do que ele podia. Se alguém dissesse
que ele deveria observá-la diariamente com outro homem, ele não
poderia fazê-lo. Nem mesmo se ela precisasse dele por perto. Nem
mesmo em amizade e definitivamente não em amor. Talvez até
mesmo quando ele exigiu que ela admitisse o amor que
compartilhavam, ele estava contando com ela nunca aceitando isto.
Ele podia ignorar a dor que planejava dar a ela se ela continuasse
negando.
Admitir isso o deixou cru. Ele levou o rubi até o baú onde ele
guardou a moeda. Ele ergueu a tampa e os dois braceletes de ouro
brilhavam para ele, brilhando como se exigissem sua atenção. Ele
pegou um e tocou, examinando as serpentes gravadas. As palavras
de Moira neste quarto o assombraram de repente. Ela deve ter te
amado muito, ela havia dito da filha do padre.
O rosto de Eufemia apareceu em sua mente. Ela tinha? Ele a
viu sentada em sua casa e sua paixão iluminada pela lua. Ele se
lembrou de sua estrutura magra indo embora e seu último olhar de
entre os juncos.
Depois de seis anos olhando para ela, ele a viu
verdadeiramente pela primeira vez. E em suas expressões solenes e
controladas que obscureciam as emoções que ele não
compartilhava, ele também viu Moira, mas não apenas a mulher.
Moira a garota, observando das sombras.
Sua garganta queimava como fogo e o rubi estava ofuscando
em sua mão. Ele sabia de tudo, apenas sentia, mesmo que a história
e os detalhes estivessem perdidos para ele. Santo Deus, em sua
necessidade egoísta, o que ele estava fazendo com ela?
Quando ele fantasiava sobre encontrá-la quando era escrava,
ele fez a pergunta errada quando se perguntou se teria renunciado a
liberdade se isso significasse deixá-la para trás. Eufemia havia
demonstrado a verdadeira força do amor e da amizade. O
verdadeiro teste teria sido se ele poderia tê-la mandado embora
para sua liberdade se quisesse ficar atrás de si mesmo.
Jane não sabia onde Moira tinha ido. Bem, ele sabia. Ele
caminhou até a porta. Não faria nada se uma bruxa pagã mostrasse
mais força do que um cavaleiro cristão.
Capítulo XVI
Todos no distrito conheciam Rhys e ela encontrou sua casa
facilmente, pedindo direções. Era uma moradia modesta em um
curto esporear de estrada. Ninguém respondeu seu raspão e ela se
acomodou na porta da varanda para esperar.
Casas altas e magras se amontoavam lado a lado ao redor do
pequeno pedaço de chão. Um peleiro e um tecelão trabalhavam nas
janelas do outro lado do caminho. Eles a examinaram, assim como
as mulheres e crianças que se aproximavam. Ela esperava que Rhys
voltasse antes do anoitecer. Ela certamente não queria que a polícia
a encontrasse aqui.
Ele virou na pista uma hora depois, carregando suas
ferramentas em um saco sobre as costas. Ele a notou
imediatamente e ela ficou de pé.
Ele mostrou prazer em vê-la, o que ajudou enormemente. As
emoções que a levaram para cá haviam entorpecido um pouco e a
lógica da vinda não parecia tão clara agora. Ele não a tinha visitado
desde que Addis retornou, e ela sabia que ele havia sido
questionado sobre o ataque na estrada de Mastins. Se o
interrogatório tivesse sido violento, ele poderia culpá-la por isso.
— Eu trouxe um pouco de ceia para você — disse ela,
levantando a cesta.
Ele pegou isso dela e abriu a porta.
Ele não precisava do aposento da frente para um oficio e,
portanto, a mesa e as banquetas estavam lá. A casa parecia
confortável o suficiente, mas estava mobiliada com moderação.
Pareceu-lhe exatamente o que ela esperava de um pedreiro
estabelecido que ainda não se casara, mas que pretendia um dia.
Sem palavras e de repente tímida, ela retirou a comida da cesta.
— Parece que alguém fez um banquete — observou ele
enquanto preparava o pão branco, o ensopado de lebre e a torta de
veado.
— Sim. — Ela levou o cozido até o fogão. Rhys acendeu um
fogo baixo e colocou a tigela de barro nas proximidades para
aquecer.
— Thomas Wake visitou. — Ela sabia que não precisava dizer
mais nada. Ele tinha ido à casa de Wake. Ele saberia sobre Mathilda
e adivinharia o motivo da festa.
— Eu confio que as feridas do seu senhor estão se curando?
Sir Thomas me procurou na semana passada. Queria saber onde eu
estava nos últimos dias.
— Ele perguntou a todos vocês que sabiam onde Addis tinha
ido.
— Mas o senhor Addis pensou que fui eu quem seguiu, não
foi?
Ela assentiu.
— E o que você achou, Moira?
— Eu disse a ele que não poderia ser você. Que você não
tentaria vê-lo machucado.
— Você me dá mais crédito do que eu mereço. Não vou dizer
que não passou pela minha cabeça.
— Eu sei que você não fez isso. — Na verdade, ela não sabia
disso com certeza, já que as evidências não indicavam que fora o rei
ou os Despensers que mandavam homens atrás de Addis. Ela
simplesmente não acreditava que ele se importasse com ela da
maneira que poderia levar um homem a matar.
Ele encolheu os ombros. — Não. Ele carregava informações
importantes. Essa chance pode não vir novamente.
— Acha que alguém traiu a todos? Que o rei sabe?
— Possivelmente. Pode ser que, quando deixarmos esta cidade
para nos juntar à rainha, todo um exército nos espere na estrada.
Ela não queria contemplar esse perigo novamente. Não estava
longe de sua mente na última semana enquanto ela cuidava de
Addis em Southwark e ficava acordada nas noites ouvindo os sons
dos soldados no portão.
Quando se sentaram para a refeição, ela não comeu muito. Ela
continuou tentando se imaginar aqui, sentada com ele todas as
noites, vivendo neste espaço, ligada a ele.
— Você vai me dizer por que está aqui? — ele perguntou
enquanto servia um pouco de cerveja.
— Talvez eu só quisesse compartilhar meu jantar com um
amigo.
— Talvez. Mas você não está compartilhando a ceia e você
parece distraída.
— Estou cansada, isso é tudo.
— Você preparou este banquete hoje?
— Eu estava feliz em fazer. É uma aliança importante que ele
faz com Thomas Wake. Isso vai lhe dar a ajuda que ele vai precisar.
— Ela tentou dizer isso levemente, mas as palavras tremeram o
suficiente para que ele olhasse para ela com muita atenção.
Ela ainda caminhava em um estreito precipício, mantendo a
compostura. Ela tomou um gole de cerveja. — Eu comprei a
liberdade hoje. Ele estabeleceu um preço alto, mas eu paguei. Eu
tinha guardado o suficiente... eu esperava...
— Quão alto?
— Muito alto.
— Você não precisava ter feito isso.
Ele queria dizer que não se importava se ela estava ligada ou
livre e se sentia grata por isso. — Eu precisei. Eu jurei não fugir. De
qualquer forma, isso está feito.
— Acha que ele aceitará isso?
— Ele fixou o preço e eu paguei. Um filho de Barrowburgh não
volta atrás em sua palavra.
— Eu me pergunto se ele vai ver isso tão claramente, Moira.
Você vê um homem diferente do que eu, se você acredita nisso.
Ela não queria debater o caráter de Addis. Seria melhor não
pensar sobre ele agora.
Até mesmo a menção de seu nome a deixava cambaleante à
beira das lágrimas.
Ela repreendeu seu coração insensato e mergulhou para frente
com determinação. — Apesar do que paguei, ainda tenho umas
moedas. Eu também tenho minha terra em Darwendon. É um
virgate inteiro, e um chalé e seu campo. — Não parecia muito agora
que ela o listou.
Ele cutucou um pouco de pão no guisado. — Você está
explicando seu dote, Moira? Você veio propor um casamento?
— Ouvi dizer que o dote dos cidadãos é cem libras. Eu duvido
que o virgate valha muito. Para um pedreiro como você que possui
uma casa e trabalha em Westminster é provavelmente muito maior.
Muitos pais provavelmente se aproximam de você o tempo todo.
— Sim. Muitos. — Ele sorriu. — Centenas.
— Mas também tenho meu ofício. As senhoras pagam uma boa
moeda pelos meus cestos. E se você se casar não teria que comer
mais em tabernas.
— Isso certamente vale alguma coisa.
— E enquanto esta é uma bela casa, não é realmente um lar
para você. Você pode até aceitar aprendizes se tiver uma esposa
para cuidar das coisas.
Ele apoiou a cabeça na mão, divertido com o recital dela. —
Você não precisa me convencer do seu valor. Eu te disse que eu
estava pensando em propor a você eu mesmo. Eu já havia decidido
que qualquer dote que você trouxesse seria suficiente e que eu
poderia usar uma esposa. Não, o único problema que vejo é
diferente.
— O que é isso?
— Você não quer dormir comigo. Há poucas coisas que
transformarão um casamento ruim tão depressa quanto isso.
A declaração contundente a deixou sem palavras. Ela não
esperava falar realmente disso. Ela baixou o olhar para as tábuas da
mesa.
— Eu não fui casada muito tempo e ainda sou inexperiente
nessas coisas. O toque de um novo homem ainda me assusta. Mas
eu era uma esposa obediente a James, mesmo em nossa cama.
— Eu não quero obediência. Se esse é o dote que você me
traz, eu não vou aceitar.
O dia a esgotara e agora o fim de sua força cambaleante
quebrava sob uma rajada de desencorajamento. Foi um erro vir
aqui. Ele não a queria. Ela deveria ter percebido que o fim de suas
visitas significava que ele havia reconsiderado.
Ela se levantou para ir temendo voltar para a casa de Addis.
Talvez ela pudesse evitá-lo e depois que ela dormisse seria capaz de
pensar claramente sobre como viver nesta cidade sozinha.
Ele pegou o braço dela e parou-a. — Essa é a única maneira de
ser possível conhecer um marido, Moira? Em obediência?
— É o que os homens querem.
— Eu não.
Não. Se este homem buscasse apenas uma esposa obediente,
ele teria se casado anos atrás. Muito entorpecida emocionalmente
para saber constrangimento, ela falou o que pensava.
— Estou aqui, não estou? Eu vim hoje por minha escolha. Não
sei se tenho o que você quer, ou se podemos ter uma boa vida.
Nenhum de nós ama o outro, mas temos amizade que é tanto
quanto a maioria dos casais já encontrou. Eu pensei que poderíamos
começar a ver o que poderia crescer entre nós. Eu não pretendia
voltar, mas o farei se for necessário.
Simplesmente falou sem parar, soando mais desesperada do
que ela queria. Ele examinou-a pensativamente, depois se levantou
e aproximou-se dela. — Não. Você vai ficar e eu vou acolhê-la.
Sua cabeça curvou-se e ele a beijou. Era uma oferta de
amizade mais que paixão. Ela aceitou a breve cordialidade e tentou
ignorar o grito silencioso que enchia seu peito.
Ele abraçou-a cuidadosamente e ela se deixou relaxar em seus
braços. Os braços errados, mas ela tirou algum conforto de sua
força. Ela meio que esperava e meio temia que ele fizesse mais do
que beijar e abraçar. Ela começaria a descobrir prazer com ele, ela
resolveu. Com o tempo, ela poderia encontrar uma paixão que
apagaria todas aquelas lembranças.
Uma sombra deslizou sobre eles, distraindo-o de outro beijo.
Os dois viraram a cabeça para a porta.
Addis estava lá, parecendo perigosamente tenso. Seus olhos
brilharam sobre eles e o que quer que estivesse enrolado dentro
dele parecia subitamente girar mais forte.
Rhys a soltou, mas só para poder empurrá-la para trás. — Seja
violento nesta casa e você responderá aos tribunais da cidade.
— Eu só vim pelo que é meu.
— Ela é uma mulher livre agora.
— Ainda não.
Ela podia ver Addis e não teve dificuldade em ler seu humor.
Ela conhecia aquela convicção tensa e onde isso poderia levar e um
alarme sem fôlego se apoderou dela. — Não, Rhys, não...
Seu braço balançou para evitar que ela andasse em volta dele.
— Se você voltar, ele não vai deixar você partir de novo.
Mesmo que isso signifique a sua morte, penso.
Ela colocou a mão no braço dele. — Isso não é verdade. Você
não o conhece. Ele não é perigoso para mim.
— Não, eu não sou — Addis concordou, entrando e
desembainhando a espada. Ele a ergueu até ao ponto que
descansou na garganta de Rhys. — Mas eu sou perigoso para você.
Não interfira. Você pode tê-la quando eu terminar com ela.
— Você já terminou com ela. Ela terminou com você.
—Ainda não. Venha Moira.
Agitação despejava dele e ela temia o que ele faria se Rhys
continuasse esse confronto. — Guarde a espada, Addis. — Ela
afastou o braço de Rhys e caminhou até ele. — Você não tem nada
contra esse homem. Você sabe que eu vim aqui por minha própria
escolha. Você não vai fazer mal a ele por minha causa.
Ele olhou para Rhys com uma hostilidade primitiva. Ela se
aproximou e colocou a mão no braço da espada.
Pressionando contra sua resistência, ela persuadiu-o a abaixar
a arma.
O pior de sua fúria se desenrolou de seu corpo. Ela podia sentir
isso se soltando. Depois de alguns instantes, ele embainhou a
espada.
Ele ainda olhava ameaçadoramente o pedreiro, que ainda se
mantinha firme.
— Você virá comigo, Moira. Durma onde você desejar esta
noite, mas você virá comigo agora.
Rhys lançou-lhe um olhar de advertência. Ela retornou de
confiança. Ele quer dizer isso, ela tentou transmitir.
— Confie em mim. Eu o conheço. A reação de Rhys não
demonstrou compreensão nem aceitação.
Seu olhar voltou para Addis. Ele desviou o olhar de Rhys e seus
olhos se encontraram. Sua expressão quase parou seu coração.
Raiva ainda, mas também uma dor que ela nunca pensou em ver
nele novamente. Uma consciência emotiva e profunda de perda que
combinava com sua própria dor feroz.
Rhys deixou de existir. Havia apenas os dois olhando um para
o outro, reconhecendo o que tinha sido e o que deveria terminar. As
declarações nunca ditas agora fluíam inaudivelmente entre eles. Ela
sabia que quaisquer que fossem suas razões para segui-la aqui, não
tinha sido para obrigá-la a voltar para ele. Ela pesarosamente
admitiu tanto gratidão e desapontamento nisso.
Ela deu um passo em direção à porta. Um movimento rápido
fez com que ela se virasse a tempo de ver Rhys atacar Addis. Seu
braço balançou e Addis respondeu ao desafio, pousando um golpe
no rosto do pedreiro que o fez tropeçar de volta contra a mesa.
Ele agarrou a mão dela e puxou-a para a rua. Com passos
largos ele arrastou-a para a pista principal.
Ela tropeçou atrás dele, lutando para levantar a saia para que
ela não tropeçasse.
— Você não tinha que bater nele — ela retrucou.
— Estou feliz que ele tenha me dado uma desculpa. Ele saiu de
leve. Eu quase cortei a cabeça dele quando o vi te abraçando.
Ela resistiu à sua atração, mas com pouco benefício. — Você
mentiu então. Você disse que eu poderia ir aonde quisesse.
— Eu não menti. Quando terminar, você está livre para voltar
para ele. Mas saber que ele tem você é diferente de ver isso, Moira.
Eu posso ser desculpado por algum ciúme, eu acho.
Ele a arrastou junto, nunca afrouxando seu ritmo determinado.
Ela percebeu que ele não voltou para a casa.
A rua desapareceu em uma praça aberta. Ela olhou confusa
para as altas torres que se erguiam em seu centro da enorme massa
da catedral. Addis puxou-a através das pedras em direção aos
portais, através dos restos de vendedores que fechavam suas
barracas.
Dentro da nave ele parou, examinando as mesas nas quais
escribas e advogados ofereciam suas habilidades. Ele gesticulou
para um clérigo passando por perto. — Vá e peça a um dos
sacerdotes para vir.
Ele a levou até uma mesa contra a parede leste. O homem que
trabalhava ali começou a recolher seus pergaminhos.
— Você conhece a lei? — perguntou Addis.
O homem gordo e calvo assentiu. — Eu conheço.
— Eu quero alguns documentos. Legal e vinculativo.
O advogado apressou-se a soltar as penas novamente. —
Certamente senhor. O que os documentos devem transmitir?
— Eu sou Addis de Valence, Senhor de Darwendon, e esta é
Moira Falkner, uma serva dessas terras. Escreva a linguagem que
lhe dá a liberdade.
O advogado começou a rabiscar. — Você precisará de três
cópias. Uma para cada um de vocês e uma para a Igreja.
— Faça isso então.
O clérigo retornou, conduzindo um membro do comitê da
catedral. O padre avançou com curiosidade. — Estou dando a essa
mulher a liberdade — explicou Addis. — Eu queria ter um sacerdote
para testemunhar isso.
Todos esperaram em silêncio pela meia hora que o advogado
levou para escrever os documentos.
— Será legal dessa maneira — Addis murmurou em um ponto.
— Sim. Melhor se for legal — ela murmurou de volta. Ela
evitou os olhos dele e estudou cuidadosamente as decorações da
catedral. Estar perto dele continuava desmantelando seu frágil
domínio de seu autocontrole. Ela tinha conhecido muitas despedidas
dele, mas essa última voluntária prometia ser a pior. Uma sensação
horrível a encheu, semelhante ao que se experimentava durante
uma vigília da morte.
O advogado apresentou as cópias para a aceitação de Addis.
Ele leu cada palavra de cada uma, depois colocou seu nome nelas. O
padre e o advogado testemunharam e Addis enrolou uma e colocou-
a nas mãos dela, declarando formalmente o fim de seu domínio
sobre ela.
Ela olhou para ele e as lágrimas queriam fluir tanto que ela não
ousou se mexer. O padre se afastou, mas Addis voltou-se para o
advogado.
— Preciso de outro documento agora. Uma escritura desta vez,
para propriedade. É para transferir a propriedade de uma casa em
Londres de mim para Moira Falkner em troca de uma joia, um rubi,
que ela me deu.
Sua boca se abriu. — Isso foi para...
— O preço foi cruelmente alto e, mesmo assim, seu propósito
fracassou. Eu solicitei uma quantia que não fosse possível você
obter. Desde que você o obteve de qualquer maneira, não faz
sentido insistir nisso.
— Ainda assim, era seu para definir. Você não precisa me dar a
casa.
— Eu poderia simplesmente devolver a joia, suponho, mas será
mais fácil vender do que a casa e, para você, a propriedade faz um
melhor dote.
— Ambos são seu direito de manter.
— Eu não vou tomar um único centavo por sua liberdade,
Moira. Se eu não tivesse forçado você a retomar os laços, você
nunca os teria conhecido novamente. E eu não vou ver você ficar
com ele com menos do que outras mulheres poderiam oferecer. A
casa será sua para manter ou vender. — Ele se voltou para o
advogado. — Escreva.
Parece que eles esperaram muito tempo por este documento.
O advogado consultava Addis de vez em quando e ela esperou de
lado, amedrontada com uma melancolia angustiada que se recusava
a permitir qualquer outra emoção.
Ela olhou para o rosto dele enquanto ele se inclinava sobre o
pergaminho, e considerou que ela viu dor nele também. Isso só
piorou as coisas. Ele estava dando a ela a liberdade e sua
hospedaria e um pedreiro esperava para tomá-la por esposa. Tudo o
que ela planejou e queria se tornaria realidade em breve. Em vez de
satisfação, ela conhecia apenas nostalgia e mágoa.
Finalmente foi feito e ela desejou que não fosse. Ela viveria
nessa nave para sempre, se isso significasse não ter que sair por
aquelas portas e realmente terminar para sempre. De certa forma,
sua morte foi mais fácil de absorver do que isso.
Ele caminhou ao lado dela para os portais. Ela tentou se
deleitar com a realidade dele uma última vez, mas a consciência era
tão colorida pela dor que ela não podia suportar. Eles pararam na
varanda, tão perto que seus corpos se tocaram, segurando os rolos
de pergaminho que documentavam os laços que ele havia cortado.
Ele olhou para ela. Ela viu o rosto dele através de uma
lavagem de lágrimas. Tão bonito. Não uma boca cruel, mas gentil e
generosa e suave em seus beijos. Se apenas... Ela suspirou. Tantos
“se” permaneciam entre eles.
— Você não precisa ficar com ele — disse ele. — Você não
precisa se não quiser.
— É tempo de construir uma vida para mim mesma. Para
começar de novo.
Ele olhou em volta com uma expressão cega e frustrada. Algo
quebrou em seu rosto, como se uma batalha interna tivesse acabado
de ser decidida e ele estivesse aliviado pelo vencedor.
— Comece de novo comigo então. Diga as palavras e faça sua
vida comigo.
Ela olhou para ele confusa.
Ele sorriu e gesticulou para os portais. — É onde isso é feito,
não é? Pelos camponeses e moradores da cidade. Na porta da
igreja. Há um padre dentro se você quiser seu testemunho, mas nós
não precisamos dele. Nós só temos que dar as mãos e dizer às
palavras que fazem o sacramento.
Ela pensou que iria se separar do amor e da tristeza que
rasgou e colidiu através dela.
As lágrimas corriam, rios de água salgada escorrendo por suas
bochechas.
Ele gentilmente limpou a umidade com a mão. — Diga as
palavras comigo, Moira.
Ela apertou sua mão na dela, virando o rosto para provar suas
lágrimas e a pele dele. — Você sabe que nunca pode ser. Significa
virar as costas para o seu lugar, o seu sangue, os meios para
recuperar tudo.
— Eu vou viver com isso.
— Eu não vou permitir. Os arrependimentos serão um peso
toda a sua vida. Você não poderia estar satisfeito com Darwendon
mais do que eu poderia estar satisfeita na escravidão.
Ele começou a discutir. Ela colocou a mão na boca dele para
detê-lo. — É impossível, Addis. Mas eu vou amar você para sempre
por pedir.
Ela virou-se rapidamente. Seus pés se moviam embaixo dela.
De alguma forma o corpo dela seguiu. Ela se retirou do portal e dos
degraus. Dele.
Ela vagou por algum tempo antes de procurar o caminho de
volta para Rhys. Ela lambeu o amor enchendo-a, saboreando tanto a
sua alegria silenciosa e tristeza pungente. Ela mergulhou nela
enquanto andava cegamente pelas ruas. Finalmente, quando a noite
ficou velha e os prédios projetaram longas sombras, ela beijou a
doce lembrança e, em seguida, colocou-a cuidadosamente em uma
câmara de seu coração e fechou a porta.
Rhys não estava sozinho. Ela entrou em sua casa para
encontrar uma mulher loira enxugando seu rosto com um pano
molhado enquanto ele se sentava à mesa. Ela parou no limiar e
ambos a notaram. Com um olhar penetrante na direção de Moira, a
mulher entregou a Rhys o pano e caminhou em direção aos fundos
da casa.
— Ela é uma viúva que mora na casa ao lado — explicou ele
brandamente, pressionando o pano no rosto. — Ela ouviu a
discussão.
Moira decidiu aceitar isso, embora o olhar da mulher tivesse
implicado mais do que uma parede entre os vizinhos. Ela sentou ao
lado dele no banco e colocou os pergaminhos na mesa. — Ele não
aceitará nenhum pagamento pela minha liberdade. Ele me deu a
casa em troca do preço que paguei.
— Deve ter sido um preço muito alto.
— Foi.
Ele colocou o pano de lado e tocou os pergaminhos. O golpe
levantou um inchaço ruim em seu rosto.
— Sinto muito que ele tenha batido em você. Você só procurou
me proteger.
— Você continua me dando mais crédito do que eu mereço. Eu
não fui para ele apenas para protegê-la.
Eles se sentaram em um silêncio que a perturbou. Ela começou
a se sentir como uma intrusa indesejável na casa de um estranho.
Ele olhou para ela de um jeito determinado e duro que a deixou
ainda mais desconfortável.
— Por que você voltou aqui?
A pergunta a surpreendeu. — Eu pensei que nós...
— Eu também. Mas eu vi o jeito que você olhou para ele,
Moira, e agora não acho que podemos. Quando lhe perguntei o que
havia entre ele e você, você não respondeu com a mesma precisão
que eu pensava. Eu não tinha visto você com ele muito, e isso foi
um erro, penso eu.
Ela começou a esvaziar-se, como se tudo entre o pescoço e os
dedos dos pés começasse a desaparecer. — Acabou.
Completamente. — Ela levantou os pergaminhos em um aperto
esmagador. — Tenho a liberdade! Eu tenho mais propriedade do
que qualquer um desses pais já ofereceu. Ele se foi da minha vida e
não tem controle sobre mim!
— Ele tem? Não tem? — Ele levantou-se com uma deliberação
perturbadoramente fria e deu um passo atrás dela. Ela sentiu o calor
dele perto de suas costas e depois as mãos dele em seus ombros.
Ela endureceu contra a intimidade. Ele acariciou e segurou seus
seios e ela rangeu os dentes.
— Ele não tem? O homem errado, Moira. As mãos erradas.
Ele falou às palavras que o coração dela sentia. Ela quebrou.
Desmoronando com uma terrível desgraça, ela enterrou a cabeça
em seus braços sobre a mesa e sucumbiu aos soluços que venceram
seu controle exausto.
Ele se sentou ao lado dela e deu um tapinha no ombro dela e
disse algo calmante que ela não ouviu. A onda de emoção começou
a recuar. Ela se endireitou e enxugou o rosto com as mãos.
— Você não está sendo justo. Com o tempo eu tenho certeza.
— Talvez, mas não estou inclinado a aceitar essa chance. Eu
não esperava amor, mas preferiria me casar onde isso é pelo menos
uma possibilidade. É uma vida da qual falamos. Não sou tão tolo a
ponto de casar com uma mulher cujo coração pertence a outro
homem.
Ela desejou que ela pudesse refutá-lo. Ela não pode. Ele estava
certo. Addis possuía seu coração. Ele tinha metade da vida dela.
Oito anos de morte não afrouxaram os laços e ela não podia alegar
que o tempo os destruiria agora.
Uma desolação esmagadora imobilizava seu corpo vazio. Ela
previa um futuro de semivida existente, de se mover e comer e
cuidar de sua hospedaria enquanto uma parte dela, a parte capaz de
amar e alegrar-se, dormiria um descanso eterno.
Rhys estava certo. Mesmo se ela fizesse um casamento e desse
a um homem seu corpo, uma parte dela nunca seria tocada
novamente.
— Eu não sei o que fazer — ela murmurou.
Ele encolheu os ombros. — Você é livre e é abastada. Você não
precisa de um casamento para garantir o seu futuro. Você não
precisa de homem para alimentar você. Você pode fazer o que
quiser.
— O que eu quiser.
— Eu não posso imaginar você sendo mais infeliz do que você
está agora, Moira. Se eu fosse conhecer essa dor, eu gostaria que
fosse por uma razão.
Por uma razão.
Passos pisou nos assoalhos da cozinha. Os sons da viúva
movendo uma panela soaram no silêncio.
Ela se virou para ele, seus lábios ainda tremiam das lágrimas
que queriam derramar. Mas lentamente o vazio começou a se
encher de uma possibilidade pacífica e gloriosa.
Ele sorriu gentilmente para ela. — Caso descubra que está
grávida, você pode suportar isso. Esta cidade aceita essas coisas
com calma. Você não será a primeira mulher a viver assim.
Uma mancha de umidade serpenteou por sua bochecha. Ela
queria chorar ainda, mas por razões diferentes. Uma maravilhosa
leveza a inundou quando ela fechou a porta da dor por um tempo, e
reabriu outra que daria à razão do arrependimento e significado
quando ela emergisse novamente. Um amor compartilhado, pelo
menos por um tempo.
Memórias para completar as outras. Talvez bastante felicidade
para sustentar uma vida inteira.
Ele colocou os documentos nas mãos dela e se levantou. Ele
caminhou até a passagem que levava à cozinha, onde a viúva
esperava. Parando, ele falou sem olhar para ela.
— Vá para casa, Moira.
Capítulo XVII
― Eu disse aos homens para virem um por um nos
próximos dias, e agora você está dizendo que vamos partir e vamos
até eles. Você não está fazendo nenhum sentido — disse Richard.
Addis continuou empacotando seus pertences em sacos de
cavalo, tentando suprimir os pensamentos caóticos e a frustração
fervilhante que o atormentava.
Maldito orgulho dela. Maldito realismo implacável. Maldita seja
ela!
A escuridão havia caído. Ele estava a despindo agora?
Segurando seus seios cheios e perfeitos? Lambendo suas pontas
duras, ou outros lugares onde sua própria língua só se aventurou em
sua imaginação? Será que aquele pedreiro teria tempo para dar-lhe
prazer, ou apenas usá-la como o vendedor de lã tinha? Ela
realmente se entregaria a ele, ou apenas permitiria que seu corpo
fosse reivindicado?
— Por que pagar por uma hospedaria de Southwark quando
tem todo esse espaço aqui? Se for porque você quer evitar ver a
criança Mathilda, não precisa se preocupar. Wake está enviando sua
família para fora da cidade até que tudo isso acabe.
Ele viu as lágrimas dela brilhando, aumentando a clareza de
seus olhos azul-água. Como pequenos poços puros, olhavam para
ele, refletindo sua própria percepção da perda. Tão triste e tão feliz
que o último olhar tinha sido. Ele viu o sorriso trêmulo dela
enquanto ela apertava a mão dele com os lábios que ele queria
tanto beijar. Ela tinha saído reta e forte, levando consigo a única
coisa que realmente importava para ele, deixando-o com a primeira
declaração do que eles deveriam ter admitido semanas atrás. Eu
sempre vou te amar por pedir.
Ele limpou a mente das imagens torturantes, desejando poder
limpar seu coração com a mesma facilidade. Nada mais além do
dever. Nenhum rumo, mas para completar suas responsabilidades
para o mesmo sangue e honra que formou uma parede de ferro
entre eles. Ele iria ver através do nome de seu pai, mas ele
realmente não se importava se ele tivesse sucesso ou fracasso
agora.
Ele abriu o baú com os braceletes. — É hora de negociá-los por
moedas. Sua senhora conhece alguns comerciantes que dariam um
preço honesto?
— Perguntei a ela, como você queria. Eu tenho os nomes.
Agora, sobre essa noção repentina de atravessar o rio, não é
inteligente. Pense nisso. No mínimo, significa que temos que cruzar
de volta assim que as coisas começarem somente para cavalgar
para o norte e há apenas algumas pontes e elas podem ser
bloqueadas. Melhor estar na cidade de qualquer maneira,
especialmente se algo der errado.
— Eu não sou um escudeiro inexperiente que precisa de lições
de estratégia.
— Claro que não, meu senhor. Só não entendo essa decisão
repentina.
Ele entregou a Richard os braceletes, depois soltou o rubi entre
eles. A tentação de mantê-lo, como um sinal dela, atingiu-o. Melhor
deixar as lembranças e ir embora. — Isto também. Amanhã à
primeira luz, venda todos.
Richard franziu a testa para as riquezas em sua mão. Ele
pegou o rubi. — Uma das joias da sua mãe? Deveria ter me dito que
você tinha. Eu tenho recrutado os homens para pagar com o ouro e
tudo. Isso fará uma grande diferença.
— Não era da minha mãe. De Moira. Eu negociei esta casa por
isso.
— De Moira! Quem pensaria que uma serva possuiria tal coisa!
Não parece certo, de alguma forma.
— Ela não é uma serva. Eu dei a ela a liberdade hoje. E a casa.
Eu acho que ela planeja fazer uma hospedaria.
— Se assim for, ela deveria ficar feliz por nós ficarmos. Com os
outros, vamos encher o lugar.
— Duvido que ela ficaria feliz em me deixar ficar e sei que seu
futuro marido não o faria.
— Futuro marido... você quer dizer o pedreiro?
— Sim.
Richard meditou sob essa revelação. — Parece-me que você
está fazendo planos como se conhecesse a mente daquela mulher
de um jeito que você não faria. Talvez você complique as coisas por
nada. Melhor ficar aqui e você saberá disso.
— Eu conheço sua mente sobre isso, eu prometo a você. Nós
partimos à primeira luz.
— Bem, se você não se importar, acho que vou checar com ela
só para ter certeza. Se ela pretende fazer disso uma hospedaria,
seus sentimentos podem ser feridos se você levar seu negócio para
outro lugar.
— Você não vai encontrá-la. Ela partiu.
— Do que você está falando?
Addis misturou os pergaminhos na mesa. Sua mão parou nos
mais novos. — Ela está com ele.
— Não, ela não está. Inferno, eu a vi pouco antes de chegar
aqui.
Ele congelou. — Onde?
— No pátio. Ela tinha acabado de entrar e brincamos sobre
como ela quase foi pega depois do toque de recolher novamente e...
— Ela estava sozinha?
— Pelo que pude ver, mas estava passando pelo portão.
— Como ela estava?
— Inferno, ela parecia com a Moira. Como ela deveria estar?
Era anoitecer e difícil de ver, mas ela parecia normal o suficiente
para mim. Pouco sem fôlego só isso. O que se passa?
Addis andou a passos largos até a porta, argumentando contra
uma esperança desesperada. O lugar era dela, afinal de contas. Ela
tinha todo o direito de voltar. Ele era o intruso e ela provavelmente
esperava que ele fosse embora agora. Rhys provavelmente veio com
ela. Eles provavelmente planejaram aproveitar o luxo da cama do
solar hoje à noite. Ele não teve dificuldade em encontrar muitas
razões para o reaparecimento dela, nenhuma das quais tinha nada a
ver com ele.
Ainda assim, a esperança se espalhou como uma excitação
infantil que ele não podia controlar. Ele provavelmente não deveria ir
até ela, mas é claro que ele precisava.
A voz de Richard seguiu-o pelas escadas. No pátio silencioso,
ele olhou em volta. Instintivamente, ele sabia que ela não estava em
seu quarto nem na cozinha. Ele andou até a beira do jardim e olhou
para a escuridão.
Uma figura leve se moveu no fundo, deslizando como um
fantasma entre as árvores. Ele caminhou silenciosamente ao longo
da parede, tentando ver se um homem passeava ao lado dela.
Ela estava sozinha. Ele parou e a observou das sombras
enquanto ela passeava pensativa, tocando uma folha aqui e
arrancando uma flor ali. Seu cabelo caiu ao redor de seu corpo,
fazendo listras escuras em seu vestido pálido, oscilando para cobrir
seu rosto quando ela se inclinou para cheirar uma rosa.
Ela parecia muito serena em sua solidão. Ela parecia uma
mulher bem contente com a forma como as coisas aconteceram. A
esperança caiu em uma parede de decepção.
Mesmo assim, sua presença o acalmou e o tumulto e
arrependimentos da última hora recuaram. Ele ficaria aqui por um
tempo e saborearia o presente da paz uma última vez e depois
buscaria Richard e partiria.
O fluxo suave do manto pálido parou. Por vários segundos ela
não se mexeu. Ele teve a sensação de que todo o jardim havia
parado no tempo. Então ela arrancou outra flor.
— Estou apaixonada por você desde os doze anos de idade.
Ela falou como se simplesmente continuasse uma conversa que
precisava terminar antes de se separarem.
Ele se aproximou dela, grato por ter uma desculpa para estar
mais perto. Ela parou no caminho até que ele chegou ao lado dela.
Nem esperança nem decepção agora, apenas conforto em caminhar
ao lado dela por um tempo.
— Foi cruel da minha parte não ver isso naquela época, Moira.
Temo que te magoei sem nem saber.
— Havia mais alegria do que dor nisso. Não vou negar a dor de
ver você e Claire às vezes, mas fiquei feliz por sua felicidade. E por
ela. Mesmo com a mágoa, abracei o amor. Deu para minha jovem
vida um pouco de propósito.
— Eu me vejo desejando que você tenha dito algo.
— A sombra de Claire declarando seu amor? Você teria rido ou
tratado como a coisa infantil que provavelmente era a princípio.
— Talvez. Eu gostaria de pensar que teria sido mais gentil do
que isso.
Eles alcançaram a parede mais distante e ela descansou as
costas contra ela. Ela tocou as flores do pequeno buquê que ela
reunira. — O tempo todo que você se foi, eu te amei. Eu não
contemplei muito, mas estava lá. Estranho, não é? Eu esperava que
isso desaparecesse depois que você morresse, mas quando você
voltou eu sabia que ainda estava em mim. Uma coisa perigosa,
amor. É por isso que eu fugi tanto quanto os vínculos da morte.
E por que ela fugia ainda.
— Ele veio com você?
— Rhys? Não. Ele decidiu que não me queria. Até mesmo o
valor desta casa não podia influenciá-lo.
— Ele é um tolo.
— De modo nenhum. Na verdade, ele pode ser o homem mais
sensato que já conheci. Ele sabe que ainda te amo. Ele sabe que
nenhuma joia pode comprar a liberdade disso.
Ele apoiou o ombro contra a parede, desejando poder ver suas
expressões. Ele sentiu angústia e orgulho em ouvi-la falar com tanta
calma em amá-lo. Sua voz soava equilibrada e controlada, como se
falasse de alguma resolução interior. Seu próprio sangue e emoções
estavam agitados. — Se o documento de um advogado pudesse
resolver a liberdade da maneira que você queria, eu ficaria feliz em
obter um para você.
Ela riu e cutucou as flores no nariz dele. — Eu acho que você
faria.
— Haverá outro homem. Você é linda e agora está com muitos
bens. E você tem um bom coração. Haverá muitos homens que se
considerarão afortunados por ter você.
— Eu não acho que vou me casar com ninguém, Addis.
Então era assim. A declaração que matou a pequena chance
que ela reconsiderou sua oferta na catedral. Ele não podia acreditar
em quão vazio isso o fez novamente. Moira orgulhosa e prática.
Descrevendo de um só fôlego um amor infinito e reafirmando no
próximo a sua impossibilidade.
Seria um inferno ir embora, mas ficar por mais tempo prometia
uma tortura pior.
— Eu pensei que você não voltaria hoje à noite. Eu tinha
planejado sair antes de você voltar amanhã, mas Richard e eu
iremos agora.
— Não há necessidade. O solar é seu, agora e sempre que
você estiver em Londres. Além disso, seria muito deselegante de sua
parte partir depois que eu deixei de lado meu orgulho e bom senso
e voltei.
Ele olhou para o perfil cheirando as flores, tentando ver seu
rosto na escuridão.
Ele quase não ousou perguntar por que temia a resposta. —
Você voltou por sua propriedade ou por mim?
Ela virou a cabeça, surpresa, como se a resposta fosse óbvia.
— Oh, eu definitivamente voltei por você. — Ela colocou a mão no
peito dele. — Para todo o tempo que nos resta.
Gratidão e alívio banharam em uma torrente. Ele levantou a
mão dela e beijou-a, em seguida, agarrou-a em seus braços.
Perfume doce subiu como as flores esmagadas entre seus
corpos. Ele enterrou o rosto no cabelo dela e saboreou a sensação
dos dedos dela contra o peito dele. Suas últimas palavras
diminuíram sua alegria por um momento, antes que o puro prazer
de segurá-la novamente banisse a preocupação para um tempo
posterior.
Ela inclinou a cabeça para convidar um beijo e o gesto de
vontade o acabou. Uma fome mais emotiva do que física levou sua
dura resposta. O doce sabor de seus lábios enviou um desejo feroz
enrijecendo através dele. A ponta de sua língua varreu a sua
aceitação simbólica.
Ele a rodeava, com medo de que ela desaparecesse se ele
afrouxasse o aperto. Ele queria amarrá-la a ele, selar seus corpos,
absorvê-la nele. Seu falo exalante pressionou contra sua barriga e
ele sondou sua boca em um simulacro da união que ele ansiava.
Com um suspiro agudo, ela quebrou o beijo devorador, mas deslizou
os braços entre eles para se juntar ao abraço.
Ele comeu o pescoço dela até encontrar o pulso pesado sob
sua orelha. Sua boca se fechou na batida quente, conectando seu
ritmo de vida a ambos os corações. Ela engasgou novamente,
subindo na ponta dos pés com um exagerado abandono.
— Eu quero você. Preciso de você. Completamente. Agora —
ele murmurou contra sua pele.
— Sim.
Sua afirmação sem fôlego o fez queimar. Ele quase a puxou
para o chão. — Onde? Seu quarto?
— O solar. Sua cama.
— Sua cama agora.
— Nossa cama agora.
Ele teve que libertá-la para levá-la até lá. Ele pegou a mão dela
e conduziu-a pelo jardim, sem se incomodar com os caminhos,
pisoteando flores e empurrando através de sebes.
Ela tropeçou atrás de seu passo determinado, assim como no
caminho para a catedral. Seu vestido pegou em um arbusto e uma
tocha de pátio mal iluminou sua expressão quando ele se virou e
quebrou o ramo com os dedos. Seu coração balançou. Ela se sentiu
muito ousada e segura enquanto corria de volta para cá e falava de
seu amor no jardim. Vendo seu desejo e expectativa a deixou
excitada e nervosa e não muito autoconfiante.
Ele a auxiliou escada acima e seguiu um passo para trás, sua
tensão quente nas suas costas e uma mão guiando em seu quadril.
Ela entrou no solar e caminhou até o centro, notando os sacos
embalados e as armas amarradas. Apesar de sua decisão, ela se
sentiu consciente de repente e um pouco assustada. Ele fechou a
porta e olhou para ela, em seguida, pegou a vela da mesa e
mergulhou a chama em vários outros no quarto.
— Você não precisa ter medo — disse ele com um sorriso
vago. — Eu não vou devorar você.
— Tenho sua palavra de honra sobre isso? — Ela riu.
Ele inclinou a cabeça pensativamente, depois a sacudiu. —
Não.
— Bem, ninguém pode acusá-lo de não dar um aviso justo. —
Tonta e vacilante, ela se sentou na beirada da cama e viu chama
após chama iluminar brevemente seu rosto, exagerando os planos
duros e os olhos dourados. Ele usava as peles de animais do Báltico
e ela estava feliz por ele ter mudado as vestimentas do banquete.
— Você me lembra de minhas obrigações sob o cavalheirismo.
Suponho que, desde que você se rendeu isso significa que eu
deveria lhe dar as condições. — Ele substituiu a vela na mesa. —
Mas acho que não me sinto muito como um cavaleiro cristão no
momento.
Nem ele parecia um. — Depois de um cerco tão longo e
paciente, não espero conseguir misericórdia.
— Bom.
Ele despiu a túnica e ela ficou devorando-o, com os olhos.
Ele andou até ficar na frente dela. Cada passo acelerou seu
sangue, deixando-a excitada.
Os músculos esculpidos de seu peito pairavam a um palmo de
seu nariz. O menor espaço separava suas pernas das coxas dele. Ela
olhou para sua intensidade severa. A antecipação do baque tremeu
através dela.
Ela alcançou com as mãos trêmulas e acariciou seu peito,
admirando sua força magra, amando a sensação de sua pele sob as
palmas das mãos. Ele a deixou olhando para baixo. Ela se deliciava
com a sensação do abdômen e da cintura tensos, e passava as mãos
pelos lados dos quadris, espalmando os dedos sobre a camurça.
Inclinando-se para frente, ela pressionou os lábios contra ele,
fechando os olhos, apertando com uma expectativa de afagar.
Ele esticou os dedos pelos cabelos dela, segurando o rosto dela
em seu corpo, beijando o topo de sua cabeça. — Eu nunca tomei
uma mulher apaixonado antes. De verdade não.
Isso não era verdade, mas se o tempo e a raiva tivessem
entorpecido sua memória da última vez ela não o lembraria agora.
— Você está dizendo que me ama, Addis?
— Sim, e isso precisa ser dito. Eu te amo com minhas duas
almas. Eu sou completo somente com você.
Ele levantou-a e virou-a para que ele pudesse desfazer os
fechos do vestido verde. Ele abaixou sua roupa, as mãos dele
passando levemente nela com roçadas provocantes enquanto ele
deslizava pelo corpo dela. Ele reuniu seus longos cabelos em suas
costas e virou-a para encará-lo. Ele deslizou o tubinho de seus
ombros e deslizou por suas curvas até que ela ficou nua à luz das
velas. Ele mal a tocou enquanto olhava para ela, apenas a roçou
suavemente com as palmas das mãos. Finalmente, tratando-a como
uma possessão frágil, ele a conduziu para a cama e descartou o
resto de suas roupas até que eles se deitassem lado a lado.
Pontas dos dedos e olhar passaram por seus seios, quadris e
coxas. — Você é muito linda, Moira.
Ela se sentiu bonita. A mulher mais bonita do mundo. Valiosa e
rara e perfeita aos olhos dele.
Igual a todas as Claires e Mathildas do reino. O amor de meia
vida intensificou, enchendo-a de felicidade.
Ele a abordou com beijos suaves e saborosos e carícias lentas
e contemplativas. Suas mãos e boca se moveram sobre o corpo dela
como se ele saboreasse a exploração e memorizasse as passagens
de prazer que ele descobriu. Desejo aumentou em pequenas faíscas
e tremores, um estímulo gradual e delicioso. Ela se esticou e
arqueou, empurrando seus seios em direção à atenção dele.
— Eu planejava passar a metade da noite nesse amor, vivendo
meu sonho, mas parece que você não vai me deixar. — Ele sorriu,
dando a carícia que ela procurava. Seu toque circulante provocou
prazer celestial. — Nem minha necessidade, eu acho.
— Da próxima vez — ela mal respirou.
Ele gentilmente apertou o mamilo entre o polegar e o dedo e
se inclinou para pincelar a ponta com a língua. Uma flecha de
excitação tensa chegou até a umidade que já pulsava em sua
tortura. — Sim, da próxima vez. E a próxima. E a próxima. Eu tive
muitos sonhos.
Mesmo assim, ele levou uma eternidade, honrando-a com
carícias íntimas, provocando seus seios com a língua e os lábios,
beijando-a com um fervor controlado. Ele a guiou em um tumulto
frenético de sensualidade. Ela agarrou-o a ela e cada ponto de seu
corpo e consciência implorou por mais. Ela estendeu a mão para ele,
tomando o comprimento duro de seu falo em sua mão, usando seu
conhecimento de seu próprio corpo como um desafio contra sua
contenção. Ele respondeu acariciando a fenda entre as pernas dela.
Um calor concentrado e a fome explodiram com sua suave
massagem na parte interna das coxas. Ela perdeu o controle
consciente de seu corpo. Ela ondulou com abandono, implorando
freneticamente pelo que ele reteve.
Ele abriu e dobrou as pernas dela, alargando-as até que as
palmas de seus pés se encontrassem. O ar frio e a voracidade
desesperada produziram arrepios deliciosos. Ele tocou sua
vulnerabilidade aberta e um gemido de admiração e gratidão
escapou dela. Ele se levantou e olhou para ela e seus dedos
começaram a enlouquecê-la. Ela se balançou nos toques suaves e
esfregadas, corpo e mente conhecendo apenas um único desejo que
aumentava cada vez mais. As deliciosas sensações aprofundaram a
fome oca que exigia o preenchimento. Como se ele ouvisse sua
insistência, ele deslizou um dedo dentro dela e ela gritou uma
afirmação, curvando seu corpo em aceitação grata. O alívio foi breve
demais. Quase instantaneamente, tornou-se uma promessa
tentadora mais do que um preenchimento, piorando a fome.
— Eu gosto de ver sua necessidade de mim — ele disse. — Eu
gosto de ver você sentir o que sinto e querer o que quero.
Ele chupou o seio e usou a mão deliberadamente. Ela resistiu e
gritou com uma explosão delirante. Certamente ela não aguentava
mais.
Ele se moveu sobre ela, acomodando-se entre as pernas dela,
pegando seu peso em seus braços. Ela se abaixou e o guiou até ela,
impaciente por sua conclusão, quase perturbada por um desejo que
ameaçava despedaçá-la.
Ela agarrou suas nádegas e levantou os quadris para absorvê-
lo. Um fio de controle se rompeu acima dela. Ele empurrou com uma
força que sacudiu ambos os corpos e ela gritou pela sensação
surpreendente de que ela havia sido dividida. O choque clareou seus
sentidos.
Ele pairou sobre ela, ombros e braços tensos e expressão séria.
Seu corpo começou a relaxar, acomodando a invasão. Ele deve ter
sentido isso porque o véu de preocupação deixou seus olhos.
— Vou me retirar no final para que você não fique grávida.
A sensação de arrebatamento desapareceu, deixando apenas
uma plenitude alegremente apertada, como se ele fisicamente
impregnasse cada vazio nela. Ela acariciou seu rosto e abaixou sua
cabeça para um beijo alegre e acolhedor. — Não. Não faça. Depois
de todo esse tempo, deixe ser completo.
Ele moveu-se com cuidado, facilitando a plenitude dentro e
fora dela, enfatizando sua posse com recuos e avanços controlados,
parando às vezes até que seu corpo se movesse com pedidos para
mais. A sensação dele dentro e ao seu redor, as conexões de corpo
e pele e intimidade, deixaram suas emoções tão saturadas que ela
queria chorar. Ela se agarrou a força dele, aceitando, implorando,
absorvendo, imersa na preciosa realidade deste longo amor tão
esperado.
Ela pensou que ele havia alimentado sua fome, mas
lentamente seu calor insistente ressurgiu, tremendo através de seus
membros, despertando sensações onde eles se juntavam. Seus
suspiros de contentamento diminuíram para arfadas conforme seu
desejo se intensificava novamente. Ele procurou sua boca em um
beijo aprofundado que combinava com os ritmos de seu corpo, em
seguida, abaixou a cabeça para tomar seu seio em sua boca,
sugando com força enquanto ele a atraía para uma paixão maior.
Ele dobrou suas pernas e alavancou para se mover
profundamente. Menos gentilmente agora, ele deu prazer a ela
enquanto encontrava o seu. Ele respondeu sua própria necessidade
enquanto convocava a dela novamente. Seu corpo arrebatou o dela
com ritmo acelerado e força crescente. A liberação do poder a
deixou sem fôlego e sua consciência se concentrou no ápice que
eles conduziram. Ele empurrou mais e mais rápido. Exigente.
Reivindicando. Sensações profundas tremeram através dela em
resposta. A tensão jorrou dele, dentro dela, descendo em espiral até
a sua união.
Sua excitação estremeceu com uma sensualidade intensa que
então subiu, se dividiu e se espalhou, sacudindo-a com alegria
sobrenatural. Ele se juntou a ela, se rendendo com um clímax que
devastou os dois.
Seu corpo exausto a cobriu e ela o cercou de braços e pernas,
segurando a união e saboreando o êxtase ondulante, percebendo
que ela nunca tinha conhecido tal paz e realização. Essa totalidade.
Eu sinto como se estivesse em um mundo novo. Eu sinto como
se a terra, o ar, cada planta tivessem mudado.
Ele levantou-se ligeiramente com um olhar peculiar e ela
percebeu que tinha falado em voz alta. Sua expressão procurando
intimamente passou rapidamente. Ela sorriu para o que viu nos
olhos dele então. Definitivamente amor. Certamente contentamento.
Sem dúvida, felicidade. Mas também algo mais. Domínio e posse.
Minha, aqueles olhos declararam.
E foi assim. Dele. Não por laços de nascimento, mas por livre
escolha.
Ele se moveu para o lado dela e puxou-a para um abraço
envolvente. Ela se aconchegou contra ele, ainda segurando-o com
um braço e uma perna. Eles ficaram em paz por um longo tempo
antes de ele falar.
— Acho que o comerciante de lã rezou muito bem. Exceto pela
virgindade, você pode realmente ter sido a viúva virgem. Você não
deveria ter sido tão impaciente. Eu não teria que machucar você.
— Você dificilmente encorajou a paciência. — Ela riu. — James
e eu nos casamos durante a Quaresma. É por isso que eu fui
chamada assim. Ele morreu logo após a Semana Santa e se assumiu
que nós havíamos renunciado a consumação até a Páscoa, como é
habitual. Ele não era tão piedoso assim, entretanto.
— Não, não com você na cama dele. Então ele sucumbiu em
algumas ocasiões ao prazer irreverente, mas garantiu que você não
gostasse do pecado. Eu não gosto muito do homem. Não só porque
ele teve você primeiro, embora eu admita algum ressentimento por
isso. Apesar do que você disse no monte de feno, acho que ele te
machucou, e não porque você estava impaciente.
— Eu era sua esposa.
— Outra razão para não gostar dele. — Ele deu-lhe um olhar
malicioso. — Devo avisá-la de que não sou muito dado à oração. De
fato, você pode se arrepender de levar um cruzado e um prisioneiro
para a sua cama.
— Eu nunca vou me arrepender de ficar com esse. Além disso,
você não vai me convencer de que faz oito anos.
— Não. Só dois. O que é muito longo para qualquer homem.
Mas, pelo seu presente em Southwark, eu poderia ter espetado você
contra a parede do jardim hoje à noite.
Ela olhou para o perfil bonito dele. Ele teve a oportunidade
para todos os tipos de presentes, enquanto ele permaneceu naquela
casa da cafetina. Ela tinha acabado de assumir...
Ele se levantou em seu braço. Ele acariciou seu corpo e seu
olhar pensativo seguiu sua mão. — Se alguma vez duas pessoas
pertencerem uma a outra, somos você e eu, Moira. Mas você não vai
ficar comigo, vai?
— Eu estou aqui agora.
— Você não pretende vir comigo para Barrowburgh embora.
— Eu vou ver você entrar em seus portões, mas não, eu não
vou morar lá com você. Eu não mudei de ideia sobre isso, Addis. Eu
serei sua amante até você retomar ou casar, mas eu farei minha
própria vida aqui.
— E se você gerar meu filho?
— Então eu vou criar seu filho e ficar feliz por isso.
— Se é um filho...
— Se é um filho, ele pode preferir a vida de um artesão ou
comerciante. Nem todos nascidos no sangue são adequados para
serem cavaleiros. Nosso rei é uma evidência disso.
— Você deve deixá-lo decidir isso, Moira. E eu.
— Quando ele for maior de idade para o serviço, ele e você
podem decidir. Na idade em que ele iria sair para o aprendizado em
qualquer caso. Mas eu não vou desistir de uma criança antes disso,
Addis. Não espere que eu... Não espere que eu desista de tudo o
que resta de você antes de ser absolutamente necessário.
Ele murmurou uma maldição. — Eu não entendo seu orgulho
em tudo isso. Você se entrega a mim, mas com condições de tempo
e lugar. Você compartilhará uma cama comigo, mas não me deixará
cuidar de você como esposa ou amante. Você diz que me ama, mas
na próxima respiração diz que vai me deixar. Eu não sei se posso
aceitar isso.
— Você deve me prometer que vai. Você deve me deixar ir
quando for a hora. O que eu lhe disse naquele dia neste quarto não
mudou. Nem tampouco o seu dever e a vida que você nasceu para
viver. — Ela acariciou seu rosto carrancudo e sorriu. — Deixe-nos
desfrutar da paz de estarmos inteiros estes dias que temos.
Completos neste tempo e lugar, sem o passado nem o futuro
sussurrando em nossos ouvidos. Por um tempo, pelo menos, sou
totalmente sua. Enquanto podemos, vamos ser apenas Addis e
Moira amando um ao outro. Eu estou tão feliz. Não deixe que o que
deve ocorrer em um mês ou mais, arruinar isso.
— Então, reconquistar minha honra significa perder você. Será
uma vitória amarga então.
Ela teria problemas com ele quando chegasse a hora. Ainda
assim, ele pareceu aceitar, e o beijo que ele lhe deu selou o acordo.
A intimidade se aprofundou e ele endureceu contra o quadril dela.
— Eu disse em Whitly que queria te conhecer completamente,
cada parte de você. Quando eu disse que queria tomar você de
todas as maneiras que um homem pode ter uma mulher, eu
esperava ter uma vida inteira, não algumas semanas. Se você só
será minha por uma breve paixão, então que seja. Mas sem
negociações desta vez, Moira. Nenhuma misericórdia.
Ele gentilmente virou o corpo dela e inclinou-a para frente, de
modo que seu traseiro se aconchegou contra seus quadris. Ele
cuidadosamente entrou nela novamente e a encheu sem
movimento. Ele inclinou seu corpo ao redor dela enquanto sua mão
segurava seu seio.
— Estar dentro de você é tão certo. Perfeito. Melhor que
qualquer sonho — murmurou contra o ombro dela. — Diga-me de
novo, Moira. Diga que você é completamente minha.
Isso estava certo e perfeito. — Eu sou completamente sua,
Addis.
Seus beijos em suas costas e nuca e seus dedos brincando em
seus seios rapidamente fizeram seu desejo se torcer novamente,
buscando satisfação. As sensações de viajar o caminho para a
paixão com ele dentro de si desde o início a surpreenderam. Com
um gemido necessário, ela se mexeu contra seus quadris,
encorajando a plenitude a se mover.
Uma mão firme acalmou seu quadril. — Não, amor. Deixe-me
ir devagar para que dure.
E foi devagar. Um longo e doce amor cheio de alerta um para
o outro, seu corpo se curvou como se fizessem uma forma. A união
tornou-se normal e a separação foi um romper impensável. A beleza
disso a embalou para algo muito mais profundo do que o prazer,
mesmo quando ele alcançou a região para acariciar o lugar certo
para sua liberação.
Três vezes ele a tomou antes que eles dormissem, cada união
um sonho diferente com seu próprio prazer. Depois do último, ela
desmoronou em cima dele, mole com exaustão saciada. Sua última
lembrança feliz estava deitada com a bochecha contra o peito dele,
os braços fortes segurando-a com força.
Capítulo XVIII
Moira se comprimiu entre os corpos que esmagavam as
ameias da muralha e olhou abaixo para Addis.
Ele estava ao lado do prefeito de Londres, cercado por
vereadores e nobres, olhando pacientemente a costa, em direção a
Westminster. Os londrinos lotavam o muro que flanqueava Newgate,
restringindo os arqueiros posicionados para dar aos seus líderes
proteção por baixo.
Ela estava grata por ele não ter cavalgado para o norte como
planejado, quando chegou a notícia de que Isabelle havia chegado.
O prefeito descobrira que Richard recrutara mais de duzentos
homens dos condados que cercavam a cidade e decidiu que esse
pequeno exército inesperado seria mais útil para proteger Londres
do que se juntar aos barões que se precipitavam para o lado da
rainha. Quando ele e Thomas Wake pediram a Addis que
permanecesse e prestasse sua ajuda a guarda civil, Addis
concordara.
Provou ser um pedido inteligente, mas não pelas razões
imaginadas. A cidade recebera a notícia da queda iminente de seu
rei com uma orgia de júbilo. Mas um povo triunfante pode
facilmente transformar-se em uma plebe tumultuada, e apenas os
muitos homens armados que usavam as cores da cidade em suas
mangas ajudaram a manter qualquer aparência de ordem.
Periodicamente, o exército de Addis de Valence foi forçado a
subjugar a violência.
Ele passara longas horas nos últimos dois dias ajudando a
comandar e mobilizar a vigilância, retornando apenas à casa em
barricada em busca de curtos bocados de sono. Quando ele
chegava, dia ou noite, ela aproveitava a oportunidade para se deitar
ao lado dele enquanto ele cochilava.
A costa, a rua que ligava Newgate a Westminster, parecia
deserta. Moira se aproximou de um arqueiro alto.
— Você consegue ver alguma coisa?
— Não. Ainda não. Se ele vier, terá que ser em breve. O último
mensageiro disse que a rainha está a apenas meio dia de distância
agora.
— Talvez o rei não conheça o perigo dele.
— Ele sabe. Ele tem espiões e mensageiros iguais a nós.
— Talvez ele vá lutar no castelo.
O arqueiro sorriu. — Com quem? Aqueles que trabalham na
cidade dizem que assim que a notícia do desembarque da rainha
chegou até nós, os cortesãos começaram a esvair-se de Westminster
como se as instalações estivessem em chamas. Dificilmente alguém
restou com ele agora e não há exército esperando por seu comando.
Não, ele tentará encontrar refúgio nesta cidade.
Ela olhou para a cabeça do homem alto, de pé, pacientemente
ao lado do prefeito. Ele não usava armadura e sua única arma era a
antiga espada de Barrowburgh amarrada ao seu corpo.
— O prefeito e os outros estão seguros, você acha?
Ele deu de ombros e deu um tapinha na balestra. — Os
portões não abrem, não importa o que aconteça embaixo. Nós aqui
em cima somos os melhores que a cidade tem, minha senhora, e
temos ordens para derrubar todos eles, exceto o rei, se o prefeito e
os lordes forem atacados.
Saber que Addis seria prontamente vingado não a tranquilizava
muito. Ela sabia por que o prefeito o queria lá embaixo. Tinha
menos a ver com o fato de ter comandado duzentos homens que
ajudaram a proteger as muralhas da cidade, e mais a ver com o fato
de ser filho de Patrick de Valence e parente do falecido conde de
Pembroke, ambos nobres com explorações diretamente da coroa.
Seu sangue fez dele uma presença formidável em qualquer
confronto com o rei Edward. Ainda assim, ela desejou que ele não
estivesse na casa quando a convocação chegou e que ele agora
monitorasse os acontecimentos em algum outro portão além
daquele.
— Lá estão eles, minha senhora. Chegando lentamente, como
se o diabo não estivesse atrás deles do jeito que está.
Ela não se incomodou em corrigir o modo como ele continuava
se dirigindo a ela. Ela parecia parte de uma dama há mais de uma
semana, porque Addis havia ordenado que ela usasse as sedas e os
veludos dobrados dentro do baú de sua mãe. Ela olhou para a
comitiva à distância.
O grupo do lado de fora do portão havia notado os cavaleiros.
Addis se virou e olhou para cima, encontrou-a no meio da multidão
e fez um movimento instruindo-a a se afastar das muralhas.
Ela o ignorou. Ela não planejou perdê-lo de vista por um
instante. Seu coração se encheu de amor e preocupação enquanto
observava o rei e seus conselheiros ricamente adornados.
Foi uma linda semana de amor antes de a cidade começar a
romper. Por dois dias foram apenas os dois, antes que Richard
começasse a enviar os homens de Southwark. Mesmo assim, eles
tiveram tempo juntos, aproveitando as longas noites frias nos braços
um do outro, espremendo a vida de paixão e conversando sobre o
tempo precioso que lhes era atribuído.
Certas lembranças a fizeram corar e sorrir. Aquelas noites
tinham sido cheias de prazer incrível como Addis na verdade
procurou conhecê-la de todas as maneiras que um homem poderia
ter uma mulher. Às vezes cortesmente, às vezes primitivo.
Frequentemente surpreendente. Sempre com cuidado. Ele nunca a
machucou, mas ele não fez nenhum pedido qualquer enquanto ele
comandava seu corpo e sua paixão, e explorou os direitos cedidos a
ele durante esta posse temporária.
Ela sentiu falta dele nos últimos dois dias. Ela sentiria muito
mais falta dele muito em breve. Mesmo estando ali, Richard fez os
preparativos para o exército deixar a cidade.
Ela podia ver o rei agora. Ele cavalgava entre os Despensers,
resplandecente em um longo manto de joias da cor das safiras. Ele
se manteve firme em sua montaria, mas mesmo de longe podia-se
praticamente ver o medo e o ultraje estremecendo através dele.
A muralha inteira foi silenciada. Talvez cinquenta cavaleiros
pararam a seis metros de Addis. A notícia se espalhou e, nas ruas
atrás dela, o barulho da comemoração visivelmente entorpeceu. Ao
lado dela, o arqueiro pressionou um espaço de manobra e mirou sua
arma.
Um arauto saudou o prefeito. — O rei exige entrada na cidade.
— Eu não aconselho isso — respondeu o prefeito. — Desordem
se instalou. Sua pessoa pode não estar segura.
— Dentro da sua casa ele estará seguro o suficiente.
— Eu não posso garantir isso. Uma multidão matou seu amigo,
o bispo de Exte ontem. Arrastou-o do cavalo e decapitou-o com uma
faca de açougueiro. Temo que nenhuma casa seja segura o
suficiente, nem mesmo a minha.
Edward empalideceu com esta notícia. O velho Despenser ficou
furioso. — Abra os portões! Seu rei manda! Eu vou encontrar e lidar
com os assassinos de Exte!
— A cidade vai lidar com eles — o prefeito disse suavemente.
— E esses portões não abrem. Se uma guerra deve ser travada, que
seja combatida em outro lugar.
Hugh Despenser examinou as muralhas. — Há soldados lá
dentro. Eu vejo alguns — disse ele ao rei. Ele examinou os lordes
dispostos diante dele e seu olhar se fixou em Addis. — Seus
homens?
— Meus homens.
— Você se atreve a criar um exército sem a permissão do rei?
— Eu esperava ter um bom uso para um.
Hugh mordeu o lábio inferior. — Quantos?
— Mais do que o suficiente para lidar com as proezas
cavalheirescas dos cinquenta administradores da corte.
— Sem dúvida, também o suficiente para lidar com um guarda
civil composta de artesãos e aprendizes. Venha ficar ao lado do seu
rei, Sir Addis, onde você pertence. Seu exército já está dentro dos
portões. Ordene a esses mercadores que cumpram seu dever com o
rei deles.
O prefeito se assustou e olhou para Addis com preocupação.
— Meu rei preferiu ter outro apoio ao seu lado, mas não o vejo
aí agora — disse Addis.
Hugh fez uma cara de desgosto. — Simon é um covarde. Não
conseguiu fugir rápido o suficiente. Reconheça o seu sangue e
coloque um final curto neste tolo espetáculo. Seu parente, o conde,
nunca abandonou seu rei.
— Nem meu pai. E é verdade que Aymer escolheu a lealdade
quando a oposição se moveu para a rebelião, e até comandou o
exército que os esmagou. Sua lealdade deu-lhe uma adaga no
coração.
— Por Deus, homem, cumpra o seu dever com o seu rei! É
traição se você não o fizer. Ele exige isso de você!
— Eu não o ouvi exigir nada de mim.
Edward ficou em silêncio durante essas negociações por seu
refúgio, mas agora ele falou. — Barrowburgh é sua novamente, Sir
Addis, e muito mais se você nos ajudar. Eu conheço lealdade para
com meus amigos.
— Eu não duvido disso. Mas o pai e o filho que estão ao seu
lado agora conhecem lealdade apenas para si mesmos. Veja o que
eles trouxeram para você. Solicitando entrada na cidade da coroa. —
Ele deu um passo à frente. — Mande-os embora. Eles são homens
mortos, mas você ainda é o rei. Entregue-se à minha proteção e eu
garantirei que nada de mal acontecerá a você. Há duzentos homens
dentro que me ajudarão no meu pedido. Nós o acompanharemos
até os barões reunidos.
— Não o ouça — sussurrou Hugh. — Homens fiéis a você se
preparam. Eles se levantarão e deterão esse ultraje blasfemo.
— Ninguém se levantará. Nós recebemos mensageiros muitas
vezes por dia. Nenhum exército se reúne para você a oeste ou ao
sul e sua rainha cavalga com um exército próprio do Norte.
— A francesa, mulher leoa! — Edward gritou. — Vou tê-la
queimada por tamanha traição!
— Ofereça a si próprio a minha proteção. Você estará a salvo
até vê-la e eu o entregarei aos bispos e não à própria rainha.
Edward pareceu contemplar a oferta.
— Sim, ele lhe dará proteção — desdenhou Hugh Despenser.
— Como seu parente Aymer protegeu Gaveston.
— O rei não é quem precisa temer o destino de Gaveston —
disse Addis.
Mas Hugh havia atingido sua marca com a referência ao
amante há muito falecido do rei e seu rapto da proteção de Aymer e
posterior execução catorze anos antes. A expressão de Edward se
apertou em algo que quase se aproximou de força.
— Deixaremos esses portões e nos lembraremos bem do
insulto a nossa pessoa por esta cidade — disse ele. — Nos uniremos
às pessoas e aos barões leais a nós e esmagaremos essa rebelião
como a última. Todo homem que bloqueia este portão sofrerá o
destino que escolheu com sua traição.
Ele virou o cavalo. Sua comitiva se dividiu para permitir sua
passagem e depois se afunilou atrás dele. Somente quando a última
túnica opulenta desapareceu entre as casas flanqueando a costa, a
ponte levadiça pesada de Newgate começou a se erguer.
Moira esperou por Addis dentro do portão. O prefeito o
manteve conversando por um longo tempo antes que ele pudesse se
libertar e ir atrás dela.
— Ele não quer que nós partamos, mas expliquei que o pior já
passou. As pessoas retornarão aos seus negócios agora — explicou
ele enquanto caminhavam para a casa. — Este dia fez a diferença.
Se Londres tivesse apoiado Edward, a posição da rainha teria se
tornado mais difícil. É um rei tolo que não entende o valor desta
cidade ao seu poder, e diz que Edward antagonizou seus cidadãos
durante todo o seu reinado.
— Então acabou?
— Não acabado, mas feito. Não terminará até que os barões
decidam o que fazer com ele.
— Você vai segui-lo?
— Alguns sugeriram que sim, mas não há necessidade. Seu
caminho para o oeste pode ser mapeado pelas mansões de lordes
em dívida com ele e Hugh. Só podemos esperar que quem quer que
o encontre, lembre-se de que eles lidam com um homem que ainda
é o rei legítimo.
Eles entraram no pátio. Ele estava cheio de homens
preparando armas e empacotando pertences. No centro, Sir Richard
gritava ordens aos escudeiros e servos sobre os preparativos para
levar alimentos e equipamentos. A cidade encontrara leitos para
muitos dos recrutas de Addis, mas cinquenta homens haviam
espremido os aposentos e o salão e acamparam no pátio nos últimos
dias.
Richard se aproximou. — Eu mandei uma mensagem para os
outros. Podemos estar fora daqui a algumas horas.
Ela virou-se para Addis em estado de choque. Ela sabia que ele
estava indo embora, mas achava que seria daqui a um ou dois dias.
O braço que segurava seus ombros se apertou em segurança.
— Chame por mim quando tudo estiver preparado. Eu estarei no
solar.
Quando eles estavam fora de vista nas escadas, ele parou e
segurou seu rosto com as palmas das mãos. — Não será mais fácil
amanhã. Tanto é, que eu poderia encontrar cem desculpas para
nunca sair daqui se eu permitisse a mim mesmo essa liberdade.
Ela deveria saber que ele faria assim para tentar poupá-la da
antecipação da dor. Ele fez o mesmo quando levou Brian embora.
— Você não esteve aqui nos últimos dois dias. Você não
dormiu uma noite sólida, mas apenas em pedaços enquanto ajudava
esta cidade. Certamente não faz mal esperar.
— Vamos cavalgar para nos juntar à rainha hoje. Eu gostaria
que ela e o príncipe vissem que Barrowburgh está com eles.
Ela aceitou a sensação disso, mas ainda assim se sentia infeliz.
Ele pegou a mão dela e levou-a para cima.
— Venha deitar comigo, Moira. Foi uma felicidade segurar você
enquanto eu dormia meus curtos descansos nestes últimos dias,
mas agora eu quero amar você antes de partir.
Foi um amor de partir o coração. Doce e lento, com o prazer
suprimido por outras emoções. Sua alma saboreava cada toque e
sensação tanto quanto seu corpo. Quando finalmente se juntaram,
ele se moveu como se o prazer da conexão significasse mais do que
a conclusão.
Ela não encontrou sua liberação com ele, mas ela não se
importou. Ela manteve a cabeça dele no seu seio quando ele
terminou, os braços dela rodeando os ombros dele, e apenas
absorveu a falta dele.
Ele se mexeu e acariciou suas coxas, mas ela parou a mão
dele. Ele se levantou e olhou para ela. — Seria inaceitável de minha
parte deixar você assim.
— Eu só preciso segurar você. Eu estou contente.
— Mas eu não estou. — Ele torceu a mão dela fora do seu
pulso e acariciou seu cabelo inferior. — Por favor, gostaria de vê-la
com prazer, como fiz naquela noite no chalé e naquele dia em
Southwark.
Ela abriu as pernas. — Bem, nós não queremos que você fique
descontente, meu senhor.
— Nem queremos que você fique mal satisfeita.
Ele a observou, mas ela não o observou. Seus olhos se
fecharam de surpresa ao primeiro toque. Ele não acariciou aquele
ponto de prazer, mas a carne mais abaixo, onde eles se juntaram.
Ainda pulsava da pressão dele. O êxtase rápido a chocou e fez com
que seus sentidos cambaleassem até que ela estava se agarrando a
ele, tentando se esticar para dentro e para longe da intensidade
dele, suspirando apelos para ele e para o céu.
A liberação veio violentamente, sacudindo através dela,
evocando um grito que toda a casa deve ter ouvido. As
extraordinárias contrações ecoaram por sua barriga muito depois de
seu corpo ter relaxado.
— Isso foi realmente maravilhoso — ela suspirou,
aconchegando-se contra ele.
— Sim, não foi? Tenho que me lembrar disso para mais tarde
— ele disse rindo. — Agora me dê a paz do seu amor, Moira. Talvez
eu possa dormir um pouco antes de ter que entrar na sela.
Ele dormiu, mas ela não dormiu. Ela abraçou os ombros dele e
concentrou-se no peso da cabeça dele sobre o seio, nunca
afrouxando o aperto, tentando esticar cada momento em uma vida.
E assim o tempo passou devagar, mas passou assim mesmo. Duas
horas depois, ela estava ao seu lado enquanto homens de armas
montavam.
— Richard ouviu que ele se dirigiu para o oeste como
esperado. Não tem mais para onde ele ir, a não ser no País de Gales
e nas terras dos Despensers, — Addis disse enquanto inspecionava
os cavalos amontoados no pátio. Seus soldados de infantaria se
amontoaram do lado de fora na alameda, esperando para marchar
da cidade. — Henry de Lancaster antecipará isso e estará esperando
por ele.
Ele falava de coisas práticas, como se isso tornasse essa
partida menos significativa, mas Moira viu em seus olhos que ele
sentia o que ela sentia.
— Você vai segui-lo depois de tudo? — Ela se aninhou sob o
braço dele no limiar do salão, desejando que essa despedida
pudesse ser mais privativa. Ela queria se pendurar toda em cima
dele e chorar e dar vazão às emoções que gritavam debaixo do
comportamento calmo que ela tentava manter.
— Ainda vamos para o norte para ver a rainha primeiro, mas
depois vamos para o oeste para nos juntar a Lancaster. Henry tem
fome de vingança por causa da execução de seu irmão. Eu me
sentirei melhor sabendo que há uma voz calma presente quando o
rei for levado. Temos que convencer Edward a abdicar. Não há
precedente para a execução de um rei e, se ele for morto, todo o
reino será dilacerado pela guerra. E enquanto no Oeste eu devo
parar em Hawkesford e Darwendon e ver como as coisas estão lá. —
Ele olhou em volta das casas e sorriu.
— A sua hospedaria ficará subitamente vazia depois de estar
abarrotada de homens. Depois de todo o trabalho da semana
passada, talvez você deva descansar antes de alugar qualquer
quarto.
— Algumas boas noites de sono para variar e eu devo
recuperar minhas forças. — Ela sorriu fracamente, tentando
amenizar sua iminente despedida. Sua intimidade a deixou sentindo-
se sonhadora e saciada, mas isso só acrescentou pungência à
tristeza. Ela temia aquelas noites sozinha sem o amor dele a
abraçando. Noites solitárias e dias vazios do som dos passos de sua
bota.
Ele a puxou de volta para as sombras do salão e a ergueu em
um abraço. — Eu voltarei assim que puder. Você disse que você é
minha até eu retomar Barrowburgh e eu vou cobrá-la por isso. Você
virá comigo quando eu for lá, então faça arranjos para que outra
pessoa administre sua hospedaria.
Sim, ele voltaria, mas muitas semanas entre agora e depois
passariam com ele desaparecido. Houve tão pouco tempo para a
felicidade até agora, e não muito mais permaneceu. Seria o
suficiente para durar a vida que ela enfrentaria sem ele?
— Você vai trazer Brian de volta com você?
— Eu não tinha pensado.
— Ele deveria ver o triunfo de seu pai quando acontecer. Ele
não vai atrapalhar. Eu vou cuidar dele.
Uma careta enrugou sua expressão. — Ele está mais seguro
onde está.
— Por favor, Addis. Eu não vou vê-lo novamente depois... Ele é
o seu herdeiro. Eu pensaria que você o desejaria ao seu lado
quando entrasse de novo naqueles portões. — Ele não pareceu
satisfeito com o pedido dela e ela hesitou antes de prosseguir. —
Talvez, se você compartilhar isso com ele possa descobrir um pouco
de amor por ele.
Seu rosto se apertou, mas o mesmo aconteceu com o abraço
dele. — Não me culpe se não puder me aquecer com ele. Quando
olho para o rosto dele, vejo traição.
Ele via Claire era o que ele queria dizer. Brian tinha sua
coloração, rosto e brilho. Todos os outros respondiam à beleza com
um sorriso, mas ela sabia as razões para as carrancas de Addis. Seu
coração se fechou em Claire oito anos atrás, e ele aprendeu a nunca
pensar nela. Nestes últimos dias ele falou de muitas coisas, de sua
cruzada e escravidão, da mulher Eufemia, de seu pai e família, mas
nunca mencionou Claire e o que havia ocorrido entre eles. Nem ele
tinha sido receptivo às discussões de Brian, que era um lembrete
dessa dor. Esperançosamente lady Mathilda poderia amar a criança,
porque seu pai nunca poderia.
— Prometo que você o verá novamente, Moira, mas não o
levarei para um campo de cerco. É perigoso. Eu não te traria
também, exceto por minha necessidade de você.
Ela colocou a cabeça contra o peito dele e inalou o cheiro dele
e saboreou a respiração dele em seus cabelos. — Eu receberei
informação de você?
— Vou pedir que seja contado a você qualquer coisa que
fiquem sabendo de mim, mas enfrento pouco perigo. Todo o reino
abandonou Edward. Nós só temos a tragédia de um rei escondido
em seu próprio país agora.
— Ainda assim, é um país grande. Você pode ficar ausente por
um longo tempo.
— Sim, muito tempo.
Ele ergueu seu queixo para um beijo de tristeza gentil. —
Deixo todo meu coração com você, Moira. Meu corpo estará em
Wiltshire e País de Gales, mas meus pensamentos estarão aqui com
você.
Ela abandonou qualquer pretensão de dignidade e se agarrou a
ele enquanto suas lágrimas silenciosas fluíam. Ela olhou para os
olhos ardentes úmidos de saudade. Ele sorriu, acariciou o rosto dela
e se afastou. Assumindo a expressão de dever e determinação de
um guerreiro, ele caminhou para o pátio.
Foi Rhys quem trouxe notícias para ela nas próximas semanas.
Ele veio como portador da mensagem, mas na segunda vez ela
pediu que ele ficasse para jantar como amigo. Enquanto esperavam
a refeição, ela mostrou-lhe a hospedaria e as mudanças que fizera
nos aposentos. Quando saíram novamente para o pátio, ele notou
Henry carregando água para o cocho junto aos estábulos.
— Você deveria pensar em afundar outro poço aqui. Se essas
dez camas encherem de visitantes, trazer água para todos os
cavalos será um fardo.
— Sim, e estou economizando para expandir os estábulos
também. No próximo verão para ambos, eu acho, se eu tiver a
moeda. Agora, com a corte dissolvida, não há muito comércio para
as hospedarias.
— Isso vai mudar e em breve. A informação é que Lancaster
impediu Edward de entrar no País de Gales. Ele e os Despensers
estão nos condados ocidentais e a rede está se fechando sobre eles.
— Eles têm um exército com eles?
— Você se preocupa com o seu cavaleiro? Não, apenas um
pequeno grupo, não o suficiente para uma batalha. Não mais do que
setenta, é relatado, e com o País de Gales fechado eles perdem
alguns a cada dia. Addis voltará com nenhum ferimento.
Ela se se encostou à parede da hospedaria, feliz por ele falar
tão facilmente de Addis. Ele hesitou em aceitar o convite dela, mas
ela estava feliz que ele tivesse. Suspeitava que ele se oferecera para
lhe trazer as mensagens, para verificar como ela se arranjava
sozinha e, talvez, para ver se ela precisava de um amigo. Ela
precisava.
— Você parece feliz — ele disse.
— Eu estou feliz. E triste. Mas você estava certo. A felicidade
dá à tristeza alguma razão. Ele voltará, e eu anseio vê-lo, mas seu
retorno dá início ao fim, não é? Traz um sofrimento profundo pensar
sobre isso.
— Você decidiu permanecer aqui?
— Eu vou com ele enquanto ele luta por seu lar. Ele vai dizer a
Thomas Wake que ele não quer nenhum noivado até que isso seja
reconquistado, que ele não vai amarrar Mathilda a um pobre
cavaleiro, mas o casamento foi acordado e Wake vai emprestar sua
ajuda por causa disso. Mas uma vez feito isso, uma vez que ele se
sentar na cadeira do lorde novamente, voltarei aqui.
— Certamente ele visitará Londres.
— Quando ele fizer, o solar será dele. E minha amizade sempre
estará aqui para ele. Mas ele sabe que isso termina em Barrowburgh
e com seu casamento.
— É um curso difícil que você definiu Moira. Tem certeza de
que é o que você quer?
Ela vinha se fazendo a mesma pergunta com frequência nas
últimas semanas. — É o único caminho que me permite desejar sua
felicidade na vida que nunca verei. Nosso amor tem sido lindo e
completo e eu não vou viver meus anos ávida por seus restos. Nem
deixarei que a sombra desse amor interfira no contentamento que
ele possa encontrar com sua nova família. Sim, é o que eu quero...
— Ela se afastou da parede.
— Agora venha e veja como o cozinheiro que contratei
combina com você. É um homem, e ele recentemente veio de uma
mansão em Kent.
Rhys levantou uma sobrancelha. — Um fugitivo?
Ela fingiu surpresa. — Céus, eu não saberia! Você acha que
isso é possível? Eu nunca pensei em perguntar. Eu só notei que as
tortas de carne dele superam as minhas e sabia que você nunca me
perdoaria se eu não o aceitasse.
Ele veio novamente na semana seguinte para dizer que o velho
Despenser havia se rendido em Bristol, mas que o rei e Hugh tinham
chegado ao mar de Chepstow, pouco antes do avanço do exército. A
notícia veio logo depois que ambos foram capturados quando
desembarcaram em Glamorgan. Hugh Despenser fora enviado para
o norte para Hereford, mas Lancaster estava levando o rei para o
leste.
Ela estava vivendo como se estivesse em um sonho acordado,
cumprindo seus deveres com um espírito monótono e uma
consciência inativa. Agora seu coração e corpo acordaram. Ela não
sabia quanto tempo levaria para aquele exército viajar pela extensão
do reino, nem se eles viriam a Londres, nem se Addis teria outros
deveres que poderiam atrasá-lo depois que entregassem o rei aos
barões. Ela só sabia que ele estava voltando. Depois de dois longos
meses, ela o veria novamente em breve.
Ela esperou duas semanas antes de se permitir esperá-lo.
Então ela preparou o solar e cuidou de sua aparência todos os dias,
e seu olhar se dirigia para o portão sempre que ela entrava no
quintal. O tempo ficou mais lento por causa do quanto ela esperou.
As últimas folhas caíram das macieiras. Geada murchava as
flores. A primeira neve caiu. A cidade entrou em erupção com
histórias sobre a execução de Hugh Despenser e o aprisionamento
de Edward.
Ela esperou mais um pouco.
Capítulo XIX
Matthew, o novo criado, encontrou-a no poço.
— Há quatro cavaleiros no pátio perguntando se temos camas.
Eu disse a eles que estamos cheios, mas eles disseram que iriam
dormir no salão, se necessário.
Moira colocou o balde no chão e puxou seu manto contra o
vento cortante. Rhys estava certo sobre o seu comércio melhorar.
Com o rei Edward preso em Kenilworth, os barões começaram a se
reunir em Westminster para debater seu destino assim que o feriado
da Natividade passou. Um parlamento fora chamado para começar
em quinze dias. Todas as hospedarias de Londres e Southwark
tinham sido preenchidas há muito tempo.
Ela olhou para o jardim despojado de flores e folhas e cheio de
frio do inverno. Estéril, como a vida dela.
Ela mordeu o lábio e valentemente tomou uma decisão.
— Vamos colocá-los no solar e vou usar um catre na cozinha.
Ela resistira a abrir mão daquele aposento, mas finalmente
aceitara que o homem por quem ela guardava isso, não voltaria.
Sua excitação desafiou desesperadamente essa realidade. Ela
não tinha entorpecido durante as semanas adicionais de espera por
ele, de procurar por seu corpo alto toda vez que ouvia um barulho
perto do portão. Mas nunca fora ele, nem Richard, nem ninguém
com a notícia de sua chegada esperada.
A antecipação se transformara em preocupação quando soube
que ele não acompanhara o rei a Kenilworth. Depois de
repetidamente incomodar Rhys por informações, o pedreiro admitiu
com relutância que ouvira dizer que Addis passava os dias sagrados
em uma das mansões de Wake em Yorkshire. Tanto a excitação
quanto a preocupação haviam desaparecido em um horrível
batimento cardíaco. Com uma aceitação doentia, ela havia tirado a
conclusão óbvia.
Thomas Wake deve ter pressionado pelo noivado no final das
contas. Quando Addis prometera voltar, ele não previra isso. Seria
loucura contrariar Wake para aproveitar mais algumas semanas com
Moira, a dona da hospedaria. Ela havia decretado que haveria um
fim e não poderia culpá-lo se as circunstâncias o tivessem forçado
mais cedo do que ela esperava.
Afinal, que escolha ele tinha? O curso era óbvio, sensato e
prático. Se perguntado, ela teria insistido com ele. Claro.
Certamente. Se ela mergulhava do céu no inferno mais cedo do que
ela esperava, esse era o custo de tais coisas.
Seu coração não admitia raiva, apenas um vazio de perda.
Aceitar o sentido disso, a inevitabilidade, não tornava a decepção
mais fácil de absorver. Ela carregava uma dor dentro dela como um
peso, e começou a se perguntar se algum dia ela iria aliviar.
— Deve haver espaço no estábulo se tiverem cavalos — disse
ela, forçando sua mente aos detalhes práticos nos quais ela agora
dependia de sua vida. — Diga a Jane e Henry para fazer catres para
o solar.
— Quando você disse que aquele aposento seria sempre meu,
eu não esperava compartilhá-lo com alguém além de você — disse
uma voz calma da porta.
Ela se virou o coração dela girando com uma onda de alegria
que ela lutou para conter. Ela mal suprimiu o impulso de se jogar
em seus braços.
Ela nunca esperara que ele voltasse para cá tão cedo depois de
ligar-se a Mathilda. Ela o encarou desajeitadamente, determinada a
manter sua dignidade.
Ele estava alto e escuro, um simples manto flutuando sobre as
roupas de camurça. Ele parecia um pouco mais magro de suas
viagens, assim como quando voltou pela primeira vez. Luzes
douradas dançavam em seus olhos profundos enquanto ele
inspecionava sua reação com cuidado.
— Diga aos meus homens que vamos ficar aqui, no salão, se
for necessário. E diga a Henry para verificar que um banho é
preparado no solar — ordenou ao criado.
Matthew se afastou e Addis se virou para ela. — Nós dois
sabíamos que demoraria muito tempo, Moira.
— Sim. Eu não sabia que seria assim por muito tempo.
— Nem eu, mas os deveres me mantiveram a oeste.
Deveres.
— Eu não recebi nenhuma informação sua no mês passado.
Apenas rumores.
— Que rumores?
— Que você estava com Wake e passou a Natividade com ele
e...
Ela arrancou o som amargo de suas palavras e bloqueou sua
mente de memórias de seu próprio dia de festa solitária, gasto com
os servos enquanto ela o imaginava encantando a pequena Mathilda
na frente de uma feliz família.
Isso era exatamente o que ela esperava evitar. O ciúme. O
desejo desesperado de sondar por garantias. Isso humilhava os dois.
Ela não tinha percebido o quão difícil isso seria, mas ela esperava ter
mais tempo para se preparar para isso.
— Ela é apenas uma criança. Uma garota bonita e frívola. Eu a
achei... tediosa.
— Ela é sua dama. — E ela terá você toda a sua vida! Seria tão
egoísta esperar algumas semanas antes disso?
Ela se odiava assim. A combinação de alívio surpreso e
ressentimento fervente a manteve imóvel. Addis a observou com
aborrecimento perplexo.
— Você está ferida e sinto muito por isso, Moira. Vamos para o
solar e eu direi a você porque eu estava atrasado.
A última coisa que ela precisava era ouvir os detalhes. — O
solar é seu como prometi. Você sabe onde fica. — Ela levantou o
balde e se virou para levá-lo aos estábulos.
Três passos a fizeram bloquear seu caminho. Ele tirou o balde
do aperto dela e jogou-o de lado.
— O que é isso? Três meses te tornaram insensível?
— Eu não estou insensível. Estou feliz em ver você, mas...
— Algum homem esteve te cortejando? O pedreiro de novo? Se
assim ele pode muito bem esperar...
— Rhys provou ser um amigo melhor para você do que para
mim. Ele ouviu onde você estava, com quem você estava e tentou
não me dizer.
— Eu não podia me recusar a ir com Wake, não importava o
que meu coração preferisse.
— Eu sei disso. Eu sei. Mas esses deveres no ocidente, como
você os chama, mudaram as coisas, não mudaram? Não espere que
eu vivesse como se eles não tivessem ocorrido. Ela é sua dama
agora. Não espere que eu finja que ela não é, e continue como se...
Ele estendeu a mão para ela e a cortou com um beijo firme. —
Você ainda é minha, Moira. — Não era uma pergunta. Uma
afirmação. Na verdade, uma ordem.
— Eu te disse que eu não iria...
Ele a beijou novamente. — Venha para o solar. Você verá que
nada mudou.
Típico de um homem, pensar que o prazer poderia curar todas
as feridas. — Eu não farei. Você garantiu o casamento, Addis.
Ele se afastou com uma carranca. — Eu posso ver que tenho
alguma explicação para fazer.
— De modo nenhum. Você não precisa explicar nada... Oh!
Ela confrontou o rosto dele um momento e as costas dele no
momento em que ele a puxou para cima e a pendurou por cima do
ombro. Eles entraram na cozinha antes dela perceber o que havia
acontecido.
— Ponha-me no chão, Addis!
— Não. Eu posso ver que vamos falar em círculos e se o
fizermos, será em um aposento onde há pelo menos uma lareira.
— Eu vou andar.
— Você vai discutir.
— Isso é embaraçoso.
— Isso é eficiente.
Ele andou a passos largos pelo corredor e ela fechou os olhos
dela contra os olhares aturdidos nos criados e cavaleiros.
Jane veio correndo logo atrás e levantou o rosto.
— Matthew disse que você está querendo um catre na cozinha.
— Sim.
— Ela não vai — disse Addis, não perdendo um passo.
O homem havia esquecido quem era a dona desta casa. —
Faça um.
— Você desperdiça seu trabalho — aconselhou Addis.
— Faça isso. — Moira ordenou, tentando levantar-se para não
se balançar tão vergonhosamente.
No quintal agora. O novo criado e cozinheiro ficaram olhando
boquiabertos. — Água para um banho — Addis ordenou enquanto
ele passava.
No solar, ele a jogou na cama. — Assim parece melhor. Se esta
cidade não fechasse seus portões à noite, eu teria chegado
enquanto você estava na cama, nua como minha mente via você
durante todos os últimos dias de cavalgada.
— Talvez você não tivesse me encontrado sozinha.
Era uma coisa rancorosa deixar escapar, revelando que talvez
ela o culpasse por esses deveres no Oeste depois de tudo.
Bem, droga, ela fez!
Sua expressão endureceu. — Eu teria matado o homem, Moira.
Não duvide disso. Se eu descobrir que algum amante vem roubando
o que é meu, eu vou.
— Eu não fui infiel — ela admitiu miseravelmente.
Os criados chegaram com baldes de água a tempo de ver sua
raiva tremeluzindo. Henry sorriu com uma saudação nervosa, olhou
para Moira para ter certeza e rapidamente supervisionou os
preparativos. Eles não conseguiram sair rápido o suficiente e
deixaram um pouco de água aquecendo pelo crepitar da lareira.
Moira começou a se levantar.
Addis soltou o cinto da espada. — Fique aí.
— Você não vai — anunciou ela irritada, muito aborrecida com
suas suposições. Ela esperava que ele argumentasse contra o
acordo deles quando a hora chegasse não simplesmente ignorá-lo
como se ele tivesse algum direito vitalício a ela.
Permitindo-se culpa-lo por não atrasar Wake ajudou-a a
manter sua raiva. E ignorar a latente excitação de mentir sobre esta
cama com ele debruçado sobre ela.
— Ainda não. Eu estou sujo com uma semana de cavalo e vida
de acampamento. Vou me banhar e depois vou lidar com você.
Assim sem mais nem menos.
De modo nenhum.
Ele tirou a capa e a túnica.
Três meses de abstinência e múltiplas lembranças e a
felicidade oculta de vê-lo novamente se combinaram para
estremecer o desejo através dela. Ela mentalmente acariciou os
músculos expostos de suas costas.
Ele esticou as mãos para o fogo. — Eu não estou noivo, Moira.
Eu não visitei Wake para garantir o casamento.
Explosão de alívio. O amor se libertou das restrições que ela
havia cuidadosamente forjado no mês passado. Apenas um
adiamento, mas ela o acolheu com exuberância vertiginosa.
— Ele concordou que a garota não deveria ser amarrada antes
de eu tomar Barrowburgh. Mesmo com sua ajuda, posso falhar. Fui
discutir e planejar essa ajuda, mas antes disso visitei Darwendon e
Hawkesford. Eu falei com Raymond.
— Como está Raymond?
— Bravo. Eu disse a ele sobre nós. Se ele se juntar a mim no
campo, eu não queria que ele descobrisse lá.
— E ele vai se juntar a você?
— Eu não sei. Quando saí, não pareceu assim. Na verdade, não
me surpreenderia encontrá-lo sob as cores de Simon.
— Duvido que ele esteja tão zangado quanto isso, Addis.
— Ele queria você há dez anos. A luxúria da juventude se
transformou em outra coisa há muito tempo.
— Não amor.
Ele encolheu os ombros. — Ele nunca chamaria assim.
— Não, Raymond Orrick nunca chamaria sentimentos por uma
mulher nascida de servos disso.
— Eu não posso falar pelo seu coração. Somente pelo meu. Se
ele sente apenas um décimo do que eu sinto, então é amor, seja o
que for que ele chama, e ele pode não me perdoar.
— Seria uma pena se eu fizesse com que você perdesse sua
amizade e sua ajuda.
— Não é sua culpa se isso acontecer. De qualquer forma,
veremos. — Ele levantou um balde e despejou sua água quente na
banheira. Ela se preparou para ir e ajudá-lo.
— Fique aí.
Fazendo uma cara de obediência recatada, ela manteve seu
lugar. Ele esvaziou o resto da água, olhando para ela de um modo
considerado. — Não consigo decidir — disse ele rindo.
— Decidir o quê?
— Se ter você me servindo no banho ou deitada na cama onde
eu possa te observar.
A ideia de acariciá-lo com sabão parecia uma ótima ideia para
ela. — O banho.
Ele estudou a banheira. — Acho que deve ser uma longa
imersão, mas pouca lavagem, e não parece grande o suficiente para
nós dois.
Parecia muito grande para ela. Agora que suas dúvidas foram
vencidas, ela ansiava pelo abraço dele.
Ele começou a tirar as perneiras. — A cama, eu acho. Nua.
Ele se despiu e ela observou o corpo duro emergir, imaginando
sua força sob suas mãos e sobre seu comprimento. As lembranças
estimulavam formigamentos por seus membros.
Ele se instalou na banheira e lavou o cabelo. Ele penteou as
mechas molhadas de volta com os dedos e levantou uma
sobrancelha para ela. — Você ainda está vestida. Eu disse nua.
Ela se ajoelhou e puxou o laço ao longo da frente de seu
vestido de lã. Seus seios ansiavam para se libertar das vestes e
aquecidos por algo além do tecido.
Ele ensaboou um braço e seus sentidos experimentaram
indiretamente o progresso de sua mão em sua pele. A antecipação
de tocar tudo dele, de senti-lo com ela e nela... era quase delicioso
demais e a deixou tremendo. Ele espalhou sabão em seu peito. A
umidade branca brilhava em carne esculpida. Ela ansiava para
desenhar marcas nele.
Ela deslizou o vestido por seu corpo e seu olhar seguiu a
jornada do tecido como uma carícia firme ao longo de seu
comprimento. Ela se sentou e tirou a calça estreita de inverno,
primeiro uma perna e depois a outra, e os olhos dele percorreram
lentamente a longa descida das meias de malha até os pés.
Ele apoiou um pé na borda da banheira, sem prestar atenção
em suas ações enquanto a observava. Ela invejava os dedos
esfregando a perna bem formada e curvada, movendo-se mais para
o joelho e a coxa. Servir ele no banho realmente teria sido muito
agradável.
Suas mãos subiram para as alças do tubinho e as pálpebras
dele se abaixaram. Ela reconheceu essa intensidade séria. Ela se
rendeu ao desejo de provocá-lo. Ela tirou as alças uma de cada vez
para que ela pudesse manter seu corpo coberto. Ela baixou o tecido
pelos seios o mais lentamente possível.
— Você realmente pode ser uma mulher cruel, Moira — disse
ele.
Ela sorriu e não fez nenhum esforço para acelerar o processo.
Acariciá-lo no banho teria trazido uma satisfação mais rápida, mas
esse prazer distante era incrivelmente excitante.
Finalmente nua, ela se ajoelhou e levantou os braços para
desfazer o cabelo. Seus seios se espalharam e se elevaram com o
movimento e ela levou seu tempo, observando-o assistir, apreciando
o efeito tão óbvio em seus olhos. As longas tranças cobriam o corpo
dela como um manto esfarrapado através do qual seus seios e
quadris encostavam. Ela se arrastou para um travesseiro e seu
cabelo desceu, revelando outra visão erótica. Ela pegou um
travesseiro, colocou-o na beira da cama e se esticou de bruços na
frente dele.
Movimentos de lavagem a três metros de distância
continuaram, mas sua atenção nunca a deixou. — Ouviu alguma
novidade sobre Kenilworth? — perguntou ele, como se eles
mentalmente não fizeram amor no intervalo que os separava.
— Rumores da saúde e do espírito do rei. Nada mais. Dizem
que ele está em profunda melancolia.
Seu olhar serpenteou ao longo de seus ombros e costas, sobre
suas nádegas e para baixo de suas pernas. Ela apoiou os cotovelos e
ele não perdeu o lado do peito que ela expôs.
— Pelo menos existem rumores. Isso é um bom sinal.
Ele molhou o peito com um pano. Ela fantasiou que sua língua
lambeu ao longo do seu peito. Então abaixo.
— Ainda se preocupa com a segurança dele?
— A morte dele seria conveniente. Se vire.
Ela virou, deitando e observando-o assistir. — O que farão os
barões com ele? — Foi preciso esforço para manter um tom de
conversa. Tremores torcidos de excitação ocupavam sua atenção.
— Isso vai depender dele, eu acho. Ele deve estar muito
assustado. Eu estaria. Ele sem dúvida ouviu como Hereford
executou Hugh. Foi tão brutal quanto às indignidades que Gaveston
sofreu. O arcebispo de Canterbury finalmente concordou com o
inevitável e deu seu apoio à rainha. Ele não será rei daqui a um
mês. Sente-se agora.
Ela mal o ouviu, mas seu corpo obedeceu. Suas pernas
pendiam do lado da cama alta. Ele lavou o corpo invisível sob a água
e a imaginação dela auxiliou. Não muito tempo agora. Ela não
achava possível ficar com essa fome sem um único toque.
Ele deixou a banheira e se secou antes do fogo. Ela se deleitou
com a visão de seu corpo brilhando ao lado da lareira e ardendo
deliciosamente a magnífica evidência de seu desejo. Ela podia dizer
pela expressão dele que os problemas de Edward tinham
desaparecido de seus pensamentos.
— Na minha mente eu te segurei todas as noites enquanto
estava fora. Eu imaginei você assim, nessa cama, seus olhos
brilhantes e seus seios cheios e duros, esperando por mim. Não fez
muito pelo meu descanso, mas durante todo o dia ansiava por isso.
Você sonhou comigo?
— Sim. — Ela olhou para os dois mamilos duros apontando
eroticamente, acenando para ele. Ela segurou seus seios inchados
por baixo, direcionando sua plenitude em oferta. — Eu sonhei com
você. Suas mãos, sua boca. Aqui. Em toda parte. Eu sonhei com
tudo. Tudo isso.
Ele deixou de lado a toalha e se aproximou.
Ela ainda segurava seus seios desejosos. Ele passou uma ponta
protuberante com os dedos. — Como isso, amor?
A sensação quase a levantou da cama. — Sim.
Seu polegar esfregou suavemente. — E isto?
Tensão quente torceu abaixo de sua barriga. — Sim.
Sua palma levemente brincou enquanto ele se inclinou para
beijar seus lábios, cuidadosamente mordendo e sondando em uma
exibição da restrição que ele pretendia. Toda essa indicação do
longo ato sexual esperando apenas fez sua excitação se espalhar
com uma explosão deliciosa.
Sua cabeça mergulhou para o pedido elevado. — E isso? —
Sua língua passou por cima de cada mamilo, depois circulou um
sedutoramente.
Ela pensou que morreria. Abraçando sua cintura, ela o
aproximou mais. — Sim. E isto.
Antecipando-a, ele inflou. Ainda o surpreendeu quando ela
envolveu seu desejo duro no vale entre seus seios, segurando-o ao
lado de seu batimento cardíaco.
— E isto. — Sua língua brincou com ele como ele tinha feito
com ela.
— Ah, Moira, você é cruel — disse ele suspirando, e ele usou
as mãos para mostrar a ela os seios embalados com mais atenção.
Eles deram um ao outro prazer até que ela estava bamboleante
com a necessidade. Ela soltou e abraçou-o, esfregando a bochecha
contra o abdômen dele e colocando as mãos nas costas dele. — Não
posso esperar mais — murmurou ela.
Ele se ajoelhou, abrindo suas pernas para que seus corpos
estivessem próximos. A exposição de onde ela pulsava só piorou e
ela agarrou sua cabeça e ombros em um abraço entrelaçado e beijo
feroz.
— Acho que você terá que esperar apesar de tudo. Eu tive
todos esses sonhos, você vê. Meses deles. Você me negaria a
chance de fazer até mesmo um deles real? — Ele segurou seus seios
dessa vez, levantando-os para uma boca e língua que a despertou
sem piedade. A impaciência deu lugar a uma aceitação delirante e
ela fechou os olhos e experimentou a sensação por si mesma.
— Você é tão quente, Moira. — Ele acariciou os quadris e as
coxas dela, roçando os cachos úmidos que quase pressionavam seu
peito. — Molhada. Pronta. Diga-me que você é completamente
minha.
Mais que preparada. Morrendo de fome. Seu corpo pulsava
com uma demanda surpreendente, deixando-a consciente um pouco
demais.
Ela disse a ele, mal ouvindo suas próprias palavras.
Ele espalhou suas coxas mais amplas. — Deite-se.
Ela o fez com prazer, agarrando seus ombros, empurrando-o
para ela. Ele riu baixinho e soltou-a.
— Ainda não. Não até você estar gritando por mim.
Sua boca e mãos encontraram o caminho para obrigá-la a fazer
isso. Logo, sons ansiosos e necessários saíam dela, um coro de
paixão abafado pela sua audição entorpecida. Sons primitivos
transformados em gritos de súplica.
Eles escalaram até que ele veio até ela para dar a união para a
qual seu corpo gritou.
Ele se acomodou e depois dobrou os joelhos até o peito dela.
Estendendo os braços, ele se levantou e olhou para o espaço entre
eles, observando sua entrada. Seus suspiros simultâneos
estremeceram seus corpos.
— Tão bom te tocar, Moira. Perfeita.
De novo e de novo, ele se retirou completamente antes de
penetrar novamente. Ondas fortes de alívio e antecipação se
alternavam, levando-a para perto da borda da resistência. As
primeiras rugas de liberação começaram a se espalhar e ela o
empurrou para baixo, querendo mais.
— Fico feliz que você esteja comigo no final desta vez — disse
ele, sua voz baixa e rouca pelo ouvido dela.
— Completamente juntos.
Sua paixão quebrou em uma explosão de intensidade,
incitando a sua própria, puxando-os em um esquecimento de
sensação compartilhada.
Ele permaneceu nela depois. Seus seios pressionando contra
seu peito e suas pernas abraçando sua cintura e ele saboreou o
contato de seu corpo úmido embaixo e ao redor dele. Ele não fez
nenhum esforço para se afastar dela e ela não sinalizou desconforto
com o peso dele.
Ele enfiou o rosto na curva do pescoço dela e respirou
profundamente, inalando a euforia junto com o cheiro dela. Isso
levou o ato de fazer amor tanto quanto o prazer. Era como um sabor
do céu e a glória da calma e do amor que os sacerdotes diziam que
se encontrava ali.
Ele passou a mão nos longos cachos de cabelo que fluíam
sobre a cama. Amor, sim, mas com suas condições. Lembrou-se de
sua fria determinação quando a encontrou no poço e sentiu-se
menos tranquilo de repente. Ele havia confiado, ou melhor, ele havia
rezado, para que ela não fosse capaz de se afastar dele quando
chegasse a hora. Hoje havia mostrado que ela queria dizer o que ela
dissera, ela iria mantê-lo para o acordo que ela havia forçado.
Ele se levantou em seus antebraços e olhou para ela. Pálpebras
macias flutuaram e olhos azuis se estreitaram enquanto ela sorria.
Seus braços estendidos, ainda envolvendo seu pescoço, esfregaram
sua mandíbula. Ele se virou para beijar sua pele macia e depois
acariciou seu rosto ao longo do vale de seus seios.
Ela não sabia o quanto ele precisava dela. Se ele pudesse
encontrar as palavras para explicar, ele tentaria, mas o que existia
dentro dele não tinha nomes que ele conhecia. O tempo todo que
ele havia cavalgado com o exército de Lancaster, ele havia sentido
um homem à parte, assistindo a um sonho se desdobrar. Seu corpo
conhecia os movimentos certos, sua voz dizia as palavras certas,
mas sua alma sentia que por alguma magia havia sido colocada no
corpo errado. A sensação de ser estrangeiro em sua terra natal
havia diminuído ao longo dos meses enquanto ele estava com ela.
Cavalgar a frente de um exército, sendo tratado como o Lorde de
Barrowburgh, ficando separado dela, fizera isso surgir novamente.
O tempo não trouxe a familiaridade que ele pensara. Isso ficou
claro quando ele deixou esta casa e a cidade e ela.
A pior parte era que sua alma não sabia em qual corpo
realmente pertencia. Não Addis, o escravo, embora os espíritos
ainda vivessem para ele. Não o filho de Patrick de Valence, embora
o costume e a honra ditassem suas decisões.
Apenas com Moira ele possuía qualquer noção segura de quem
ele era e, em seguida, porque sua imagem refletia o amor dela. Ele
até aceitou seu dever principalmente porque ela esperava isso dele,
mesmo que o sucesso em recuperar sua honra significasse perdê-la.
As duas metades não se fundiram totalmente em uma quando ele
estava com ela, mas a divisão deixou de importar muito.
Perder ela. Sua essência se rebelou contra a expectativa disso.
Seria como ser esfolado. Ele segurou o rosto dela com as mãos e
tentou perscrutar através daqueles olhos claros em sua alma e
descobrir se ela realmente encontraria forças para partir quando
chegasse a hora. Ele viu apenas o puro amor de uma mulher nascida
serva que fora ensinada pela vida a não esperar nada.
O jeito aberto que ela olhou para trás o tocou como tantas
vezes desde que ele entrou em seu chalé em Darwendon. Algo
inominável provocante tocou-o, como se uma amizade mais antiga
do que os últimos meses e uma conexão mais profunda do que esse
amor e prazer os atasse. Isso o perturbou agora, cutucando
persistentemente.
Ele a beijou com uma paixão e posse que nada tinha a ver com
o desejo, depois se afastou e, como quase sempre fazia, encostou a
cabeça no seio dela.
Ele não podia deixá-la ir, é claro. Quando chegasse a hora, ele
encontraria uma maneira de mantê-la. Quando ela estava por perto,
ele vivia em um mundo diferente. Tudo mudou. A terra, as pedras,
todas as plantas...
Seus braços firmes abraçaram seus ombros naquele hábito
reconfortante dela. Seu rosto pressionou contra a suavidade de seu
peito cheio. Eu sinto como se a terra, o ar, cada planta tivessem
mudado. Suas palavras, sussurradas naquela noite depois de terem
feito amor pela primeira vez, confundiram-no porque pareciam tão
familiares.
Sua mente se esticou para algo perdido por trás do nevoeiro.
Ele notou novamente este abraço frequente.
Ela o segurava do jeito que alguém poderia segurar uma
criança.
Ou uma pessoa que lamentava.
Ou alguém quebrado pela dor ou pelo desespero.
Capítulo XX
― Isto não vai funcionar.
— Parece que não. A cama é pequena demais.
— Não é a cama, Addis. Mesmo no chão... — Ela começou a
rir. — Onde você tira essas ideias?
— Nos meus sonhos. — Ele riu, desembaraçando a confusão
de membros que ele havia criado. Deu algum trabalho.
Ela se esticou e abraçou-o sobre seu corpo e coração. Ela
gostava de seus experimentos lúdicos, mas na verdade ambos
tiveram um prazer especial nessa forma mais simples de fazer amor.
Ele se acomodou, enchendo-a. Os primeiros cheiros da
primavera penetraram na tenda com a primeira luz do amanhecer.
— Vi o abade falando com você ontem. Ele te repreendeu de novo?
— Uma bronca muito leve. Como o seu exército acampa em
suas terras, ele se sente obrigado a cumprir seu dever de condenar
o pecado. Ele salva o pior para as prostitutas do campo, mas mesmo
assim seu coração não está nele.
O profundo contentamento de estar dentro dela o inundava
como sempre fazia, e ele resistiu à vontade de se mexer. — Ele quer
se livrar de Simon como vizinho, o bastante para ignorar muito, eu
garanto. Ele não discutiu quando eu trouxe a carta de Stratford
ordenando à abadia que me deixasse usar suas terras.
Ela correu um dedo pelas costas dele, fazendo-o sugar o ar
entre os dentes. — Foi uma sorte que o bispo tenha escolhido ajudá-
lo.
— Não é só boa sorte, Moira.
— Como assim?
Desejo ardente conquistou sua paciência. — Vou explicar outra
hora.
Mais tarde ela caminhou com ele pelo campo úmido e ar fresco
até o topo da colina onde seis sentinelas esperavam. Eles pegaram
um dos homens de Simon na noite passada. Espiões de
Barrowburgh espalhavam-se diariamente pela região para tentar
localizar o exército que Simon sabia que deveria estar chegando. Até
o momento nenhum dos homens que encontrou o acampamento
tinha sido autorizado a retornar e Simon não sabia que esse destino
literalmente esperava em seu limiar.
Addis enviou o prisioneiro para a masmorra da abadia depois
de interrogar, depois se virou e olhou para o acampamento.
— É impressionante — disse Moira, examinando as tendas e os
incêndios que se estendiam à distância. Ele a abraçou e ela aninhou
suas costas contra o peito dele e se aconchegou sob o seu manto ao
redor. Juntos, eles assistiram o borrão brilhante do sol nascente
queimar a névoa baixa.
— Impressionante, mas não decisivamente assim.
— Ainda não é suficiente? Mesmo com os soldados da rainha?
— Barrowburgh é formidável. Wake deve chegar em breve,
mas mesmo com o exército que ele traz e com os arqueiros
enviados por Lancaster, nada é certo.
— A ajuda de muitos é uma honra para sua família.
— Em parte. Mas, como a ajuda de Stratford, também é para
me pagar e também, principalmente, uma oferta pelo meu apoio,
caso eu tenha sucesso. Já os poderes no reino se realinham e novas
facções se formam. Será assim até que o jovem Edward possa usar
a coroa por conta própria.
— Então, mesmo com um rei indo e outro coroado, nada
mudou. — Ela balançou a cabeça. — Eu sinto pena de ambos, o pai
enfrentando o fim e o garoto enfrentando o desconhecido.
Ela sentiu pena porque ela tinha visto os dois. Ele a trouxe
consigo quando foi escolhido para se juntar à comitiva que viajou
para Kenilworth para pressionar pela abdicação. Não só nobres
enfrentaram Edward naquele dia, mas representantes de todo o
reino. Sacerdotes e monges, camponeses e mercadores, magnatas e
artesãos haviam pedido ao rei isolado que se afastasse para o filho.
Edward felizmente concordara, mas Moira não fora a única a
lamentar ao ver um homem destruído porque o destino o condenara
a ter uma vida para a qual não era adequado.
— O menino enfrenta o desconhecido, mas acho que ele tem
coração para isso — disse Addis.
— Sim. Apenas 15 anos, mas pode-se ver isso. Eu o vi
observando sua mãe e Roger Mortimer e a maneira como eles
assumiram que a coroa era deles, embora ele a usasse. Ele não
parecia sentir muita falta.
Nem Moira. Ele também a trouxera para a coroação, vestida
com os veludos de sua mãe e parecendo tanto uma dama em
elegância e comportamento quanto a esposa de qualquer senhor.
Ela não queria ir, mas uma vez lá, a empolgação de assistir a um
evento tão grande havia destruído qualquer constrangimento. Um
acidente de nascimento, Rhys tinha chamado o status de uma
pessoa, e nunca tinha sido mais verdadeiro do que naquele grande
salão ou foi provado mais claramente do que pelos eventos das
últimas semanas.
— Ele é muito parecido com o seu avô. Logo ele vai crescer
para governar por conta própria. Até lá, a rainha e seu amante terão
um conselho para lidar.
— Eu não acho que eles vão ouvir o conselho — ela disse.
— Nem eu. Nem nosso novo rei. Ele falou comigo e alguns
outros. Ele encontrou uma maneira de passar algumas palavras em
particular.
Ela se virou surpresa. — Você nunca me disse isso antes.
— Ele falou muito pouco. Era mais sua expressão e tom. Na
verdade, ele começou admirando sua forma. Ele pode ter apenas 15
anos, mas aprecia uma bela mulher quando encontra uma.
Ela riu e empurrou-o com o cotovelo. — Sério o que ele disse?
— Que, minha senhora, parece ter os seios mais magníficos
que um homem...
— Addis!
— Eu juro que o cito diretamente. E então ele olhou para sua
pequena Philippa e disse que Mortimer lhe assegurou que, embora
ela não viesse de uma grande casa e não fosse uma beleza, seus
quadris largos significavam que ela seria fértil. Ele sorriu como um
homem idoso e acrescentou que Mortimer julgara mal o verdadeiro
valor da filha do conde, que residiria em sua lealdade e amor, e que
sua esposa seria sua primeira e mais formidável aliada. E então,
depois de mencionar aliados, ele perguntou como meus preparativos
progrediam para Barrowburgh e ofereceu-se para pedir ajuda à
mãe.
Ela olhou para as tendas que voavam as cores reais. — Você
quer dizer que foi o jovem Edward e não a rainha...
— Foi a rainha, mas por sugestão dele. Eu duvido que ela saiba
que ele mencionou isso para mim. Então ela acha que comprou
minha lealdade quando na verdade eu conheço a verdadeira fonte.
Ele a conduziu morro abaixo e pelo acampamento
despertando. Eles ficaram ao lado do fogo do lado de fora da tenda
deles e ele a envolveu sob o manto novamente. Ela se sentia tão
bem e adequada ao lado dele. Ele se perguntou se ela tinha
experimentado o mesmo humor agridoce quando eles fizeram amor
esta manhã. Logo este exército iria se mover.
Eles nunca falaram da separação que ela ainda supunha que
ocorreria quando Barrowburgh caísse, mas nunca estava longe de
sua mente. Ele saudara a chegada de todos os homens com uma
combinação de alívio e ressentimento.
Um cavalo de repente clamou pela manhã quieta. Um sentinela
parou ao lado deles e apontou para o sul. — Uma tropa. Talvez a
um quilômetro de distância. Parece ter dado a volta pelo Oeste.
Deveria ser Wake. — Quantos?
— Talvez cinquenta a setenta.
Addis franziu a testa. Thomas deveria trazer duzentos pelo
menos. Wake não gostara da visibilidade de Moira durante as
últimas semanas em Londres, mas deixara que Addis soubesse que
ele entendia. Ainda assim, embora as alianças matrimoniais fossem
arranjos práticos e muitos homens mantivessem amantes, Wake
poderia ter repensado tudo se concluísse que a devoção de Addis
parecia muito forte.
Em caso afirmativo, por que se preocupar em vir? Não, é mais
provável que ele tenha dividido seus homens para atrair menos
atenção. Parte dele se sentiu desapontado com essa explicação
óbvia. Ele precisava de Wake, mas se o próprio homem se retirasse
do acordo...
Ele gesticulou para o cavalo da sentinela e a parte que
secretamente desejava que isso acontecesse e condenava
consequências desenhadas por Moira para isso.
Ela resistiu. — Vou esperar na tenda.
— Você virá. Ele já sabe sobre nós. Ele estará neste
acampamento por vários dias antes de nos movermos e eu não vou
ter você se escondendo. — Ele montou e puxou-a para trás.
— Você é um tolo de fazer tal afirmação através da minha
presença atrás de você — ela sussurrou em suas costas.
Possivelmente. Mas, durante o tempo que restava, ele seria
amaldiçoado se ele a negasse, ou deixasse a discrição criar qualquer
separação, ou tratá-la como menos do que ela era para ele.
Eles trotaram pelo acampamento e ele esperou na borda sul. A
tropa que chegava apareceu à vista no topo de uma pequena
elevação de terra. O líder os viu e galopou à frente.
Longos cabelos loiros voaram para trás da cabeça do cavaleiro.
Ele desacelerou quando se aproximou e marchou até ele estar
paralelo ao lado de Addis. Olhos azuis examinaram, parando em
Moira, e vários batimentos cardíacos de absoluta quietude passaram.
Raymond sorriu e jogou o braço de volta para os homens que
se aproximavam. — Pude apenas levantar sessenta, com o tempo de
plantio próximo, mas pelo menos esses homens são experientes em
batalha. Você pode pensar em travar sua próxima guerra durante os
meses de crescimento como todos os outros, irmão.
Addis não perdeu a reação contida naquele olhar abrangente.
Não mais irritado, mas não aprovando também. Ele estendeu o
braço e Raymond fez o mesmo, juntando-se a um abraço de
amizade. — Sou grato por você ter vindo.
— Não poderia deixar passar a chance de ver aquela cobra
sendo esfolada. Muito astuto até demais. Nunca gostei dele, mesmo
quando jovem, e temi sempre que nos encontrávamos juntos no
conselho de seu pai. Além disso, ambos sabemos que Bernard
deixaria seu túmulo para me assombrar se nossa família não
cumprisse seu dever com os seus.
— É bom ver você de novo, Raymond — Moira disse quando se
viraram para voltar ao acampamento.
— E você. O amor faz seus olhos ainda mais brilhantes, Moira.
Eu posso ver que este cavaleiro combina com você.
Foi dito com uma jovialidade forçada, mas quebrou o
constrangimento da mesma forma.
— Sim, ele combina comigo bem — ela disse rindo.
Na tenda, Moira deu uma desculpa para sair. Raymond a
observou se afastar. — Você deve se adequar muito bem se ela
permite que você lhe dê vestidos de veludo. Ela não usaria nada de
mim.
— São as coisas da minha mãe.
— Não se aborreça. Não estou sugerindo que você tenha
comprado ela. Se alguns vestidos fossem tudo o que ela levasse...
Ela é uma mulher orgulhosa, e tudo. Deve ser um amor verdadeiro
se ela deixa esse orgulho de lado.
Ela tinha colocado o seu orgulho de lado. Ela caminhou por
este acampamento como se viver com um homem que não era seu
marido não carregasse vergonha alguma para ela. De alguma forma,
ela decidira que esse tempo e lugar específicos existiam fora do
mundo normal e de suas regras. Foi ele quem se ressentiu dos
olhares ocasionais de desaprovação que lhe enviaram e das
advertências penitenciais do abade.
— Eu não achei que você viria por causa disso.
Raymond encolheu os ombros. — Ela sempre dizia que
pensava em mim como um irmão. Se essas não são as palavras mais
desalentadoras que as mulheres já falaram com os homens, não sei
o que são. E suspeitei que ela jurou nunca ser como a mãe dela.
Mas se ela mudou isso por você, decidi que talvez seja o melhor.
Lady Mathilda naturalmente preferirá seus próprios filhos quando
eles vierem. Será bom que Brian tenha o amor de Moira em sua
casa.
— Ela não mudou. Ela pretende voltar a Londres quando eu
terminar aqui.
Raymond olhou surpreso. — Com qualquer outra mulher, eu
diria que foi apenas conversa. Você vai permitir isso?
— Eu mal posso aprisioná-la. — Não que o pensamento não
tenha entrado em sua mente.
Raymond sorriu. — Deixe-a grávida e ela esquecerá esse
absurdo.
Deus sabia que ele estava se esforçando, e apenas em parte
pela manobra de barganha que isso poderia lhe dar. Ele sentiu que
ela também esperava, como se uma criança fosse uma manifestação
da união que eles conheciam. Continuaria então, e continuaria
mesmo se eles se separassem para sempre. Quando seu fluxo veio
na semana passada, ele compartilhou silenciosamente sua decepção.
Os guerreiros nunca falavam muito sobre as mulheres, e
Raymond passou para questões e discussões sobre as estratégias
que Addis planejava. Mas o tempo todo ele aproveitou a
camaradagem de seu velho amigo, uma pequena parte de sua
mente seguiu-a através do acampamento. Conhecia seu padrão de
atividade com tanta certeza quanto conhecia o seu, e mentalmente
se juntava a ela todos os dias enquanto o sol se movia
implacavelmente e os homens continuavam a chegar, todas as
rotinas levando-o à vitória que tanto ansiava e temia.

Ela esperou até que ele se vestisse e saísse da tenda na manhã


seguinte antes de se levantar. A noite tinha sido doce e tocante,
apenas horas de feliz intimidade enquanto eles se abraçavam e
conversavam. Ele falou de seus planos para os próximos dias, mas o
assunto não importava tanto quanto o compartilhamento de calor e
palavras. Suspeitava que fosse a maneira de homem dele tentar
aliviar as tensões que surgiram com a chegada primeiro de
Raymond, e depois de Thomas Wake. Ontem, tanto o passado
quanto o futuro haviam se intrometido no “agora” deles.
Várias vezes ontem à noite ela viu aquele olhar em seus olhos
que apareceu com mais frequência com o passar dos dias. Continha
a pergunta que ele não faria e que ela não poderia responder. Você
vai realmente partir e acabar com isso?
Sua mente ainda mantinha sua decisão, mas seu coração
estava travando uma feroz batalha contra o bom senso com o qual
tinha sido feito. Na verdade, ela estivera ignorando a antecipada
separação, para que sua sombra não diminuísse a glória do que eles
tinham agora. A chegada de Thomas Wake a lembrara de que
chegaria o momento em que sua determinação seria colocada à
prova. Seria um momento específico, ela não duvidava disso. Um
ponto preciso no tempo em que ficaria claro que ela deveria partir
ou seguir em frente com ele.
Ela colocou um simples vestido de lã e capa e quebrou seu
jejum com um pouco de pão e queijo. Na noite anterior, Addis
insistiu para que ela ceasse com ele e com os outros, mas sabia que
sua companhia, a companhia de qualquer mulher, se tornara
inadequada. Ela se manteria afastada hoje e aproveitaria essa
oportunidade para fazer algo que vinha planejando há algum tempo.
Trouxe uma cesta e parou nas carroças de suprimentos para
pegar um jarro de vinho, depois caminhou até os currais onde os
animais eram mantidos. Um cavalariço a notou e se aproximou. Ela
explicou suas necessidades. Quando o sol já havia subido, ela estava
a caminho, indo em direção à estrada da abadia em uma pequena
carroça puxada por um burro.
Demorou a maior parte da manhã para chegar ao seu destino
porque o exército de Addis acampava no extremo sul das terras da
abadia. Ela chegou ao vilarejo de Whitly exatamente quando os
homens chegavam dos campos para o jantar.
Lucas Reeve se aproximou da porta ao ouvir o som de sua
carroça se aproximando. Surpresa encantada iluminou seus olhos.
— Joana, é a mulher do lorde aqui! — Ele amarrou as rédeas
em um poste e ajudou-a a descer. — Na hora de comer, Moira.
Entre e nos diga como Sir Addis está.
Ela presenteou o vinho e aceitou o lugar de honra em sua
mesa humilde, mas comeu com moderação para que os dois filhos
de Lucas não sofressem com sua visita inesperada. Quando
souberam que ela passara os últimos meses em Londres, encheram-
na de perguntas sobre os importantes acontecimentos ali.
— Bem, agora, parece-me que com o rei e seus amigos fora,
essas terras terão o senhor a quem Deus pretendia. — Lucas sorriu
com satisfação.
— O conselho do rei devolveu a propriedade a Addis, mas
Simon não aceitou a decisão — explicou Moira.
—Tenho certeza. Ele está vivendo como um conde, sangrando
as pessoas e a terra para alimentar seu luxo. Se ele entregar tudo
de volta, ele é um pobre cavaleiro novamente, sem nada. E se
houver retaliações contra os porcos que se juntaram a Despenser
nos cochos do reino, ele estará melhor atrás dessas muralhas.
— Isso explica a informação que recebemos das outras aldeias
— disse o filho mais velho. — Simon está chamando aqueles com
obrigações de guarda. Deve estar se preparando para um cerco.
Seus olhos se voltaram para Moira com expectativa.
— Não é segredo que Addis virá — disse ela. — Ele disse a
Simon que ele faria.
— Sim, mas a questão é quando — Lucas refletiu com um
sorriso. — E se você está sentada aqui agora, me pergunto onde o
senhor está sentado.
Foi por isso que ela veio, mas ela escolheu suas palavras
cuidadosamente. — Não em terras de Barrowburgh, mas perto o
suficiente.
A informação aumentou sua empolgação. — Deus seja louvado
— Lucas murmurou. — Ele trouxe o suficiente? Seu avô construiu
um inferno de fortaleza lá.
— Ele diz que com pessoas como Barrowburgh nunca há o
suficiente.
— Diga-nos onde ele está e todo homem que puder levar um
cajado irá até ele. Eu servi como uma barreira nas guerras
escocesas e posso fazê-lo novamente apesar desse cabelo branco.
Maldição, ele deveria ter chamado por nós.
— Ele não vai arriscar vocês. Se ele falhar, vocês estarão à
mercê de Simon.
— Preferimos morrer como homens a morrer de fome. Inferno,
uma febre poderia nos levar a todos amanhã. A notícia da queda do
rei veio semanas atrás, e as pessoas estão ansiosas para sair com o
bastardo escondido naquela fortaleza. Aponte-nos para Sir Addis e,
pela manhã, haverá centenas de pessoas na estrada oferecendo-se
para derrubar essas muralhas com as próprias mãos.
— Eu não posso te contar. Se a notícia se espalhar, Simon
ouviria e Addis quer que sua marcha seja uma surpresa. Mas quando
ele vier você saberá, e se a notícia for enviada para as outras
aldeias...
— Isso será feito, Moira. Podemos não ser de muita utilidade
para ele escalar muralhas e tal, mas cada par de armas pode ajudar
e um extra de mil homens preenchendo esse campo colocará o
medo de deus em Simon, o que por si só faz valer a pena. Todo
agricultor carregando cascalho libertará um soldado treinado para as
muralhas.
Ela mergulhou uma casca de pão na sopa. — Ele não sabe que
vim aqui. Ele pode não gostar da minha interferência.
Ele sorriu e deu um tapinha no braço dela. — Ninguém nesta
mesa dirá que alguém nos disse para nos prepararmos. Quem deve
saber que armas temos afiadas com antecedência? Os senhores não
nos contam como homens inteiros em suas guerras, mas nós
fizemos a diferença antes. Você é uma de nós, Moira, e sabe que até
os homens escravos têm direitos pelos quais vale a pena lutar. —
Será uma boa vingança ficar ao lado do filho de Patrick, seja o
resultado da vitória ou da morte. Ele pode não nos esperar ou
pensar que precisa de nós, mas quando chegarmos, ele ficará
contente por isso.
Lucas e seus filhos começaram a planejar mensageiros e Moira
se voltou para Joan para uma conversa mais simples.
Os homens começaram a passar a casa para retornar aos
campos, mas uma repentina comoção de cavalos interrompeu a
alameda.
Vozes de comando chamavam as famílias de suas casas. Todos
na mesa silenciaram e ficaram tensos.
Lucas olhou ao redor de uma persiana e amaldiçoou. — De
Barrowburgh. Seis deles, com aquele demônio vermelho Owen à
frente deles.
Owen! Ele poderia reconhecê-la. Ela olhou freneticamente ao
redor da pequena cabana, mas não havia lugar para se esconder.
— Todos os escravos de Barrowburgh fora na alameda. Vozes
duras gritaram a ordem repetidas vezes. — Na alameda ou sua casa
será queimada. — Juntando-se aos comandos, ouviram-se sons de
pessoas sendo empurradas e mulheres gritando.
— Fique atrás de todos nós, Moira — disse Lucas. — O que
eles quiserem, deve acabar logo.
Ele e seus filhos saíram e formaram uma parede para proteger
as mulheres. Moira se posicionou atrás de Lucas e manteve os olhos
baixos. Ela rezou para que ela se parecesse com qualquer outro
servo, apesar de sua touca de linho e véu e a lã fina de seu vestido.
Com sorte, nenhum desses homens a veria.
Sua garganta secou quando a alameda ficou quieta e Owen
percorreu o seu comprimento. Ele parou na frente de seu pequeno
grupo, mas Lucas era o reeve de Barrowburgh nessa aldeia. Ela
olhou rapidamente para o cabelo flamejante e os olhos cinzentos de
aço e tentou encolher ainda mais na obscuridade.
— Bom dia para você, Sir Owen, — Lucas cumprimentou
amistosamente, como se seis cavaleiros despertassem os aldeões
todos os dias.
— Eu vim com uma mensagem do seu senhor — disse Owen.
— Os homens desta aldeia devem trazer todos os cavalos, burros e
gado para Barrowburgh antes do anoitecer. Também todos os grãos
da colheita do ano passado que ainda estão armazenados aqui.
— É um pedido estranho, senhor.
— Não é um pedido — rosnou Owen.
— Não está dentro dos costumes e obrigações.
O balanço do punho de Owen cortou suas palavras com um
impacto que dobrou o reeve sobre seus joelhos. Brevemente
exposta, Moira abaixou a cabeça ainda mais.
— Tudo o que está aqui é dele. Sua vida é dele se ele exigir
isso. Qualquer aldeão encontrado armazenando perderá a mão que
ousou roubá-lo.
Ele falou com Lucas, mas os aldeões se aproximaram para
ouvir. Um círculo espesso de olhos atentos espiou por cima das
espadas que os seguravam.
Lucas se endireitou e encontrou o olhar de Owen. — E o que
Sir Simon estaria querendo com todos os grãos e animais? Ele
planeja uma festa que significará a fome de todo homem que o
serve?
— Suas razões não são da sua conta. Preocupe-se apenas com
a obediência de seus vizinhos. Como o homem do senhor aqui, você
será considerado responsável por verificar que isto é feito.
— Sim, isso será feito. E você está certo. Eu sou
definitivamente o homem do Senhor de Barrowburgh nesta aldeia, e
honrado por ser assim considerado.
Moira mordeu a língua ao verdadeiro significado daquela
declaração. A aquiescência de Lucas aliviou a beligerância de Owen.
— Ao cair da noite — repetiu ele com uma voz mais calma.
Ela podia ver as botas dele no chão. Eles começaram a se
afastar. Segurando o fôlego, ela esperou, com um alívio, que o
perigo passasse.
Ele fez uma pausa. Parecia que Lucas e seu filho mais velho
tentaram imperceptivelmente aproximar seus corpos. As botas
voltaram e avançaram. Coração batendo com medo renovado, ela
rangeu os dentes e rezou para desaparecer.
As botas pararam mais próximo. Lucas e seu filho foram
arrancados, criando um abismo de perigo estridente que de repente
ela enfrentou sozinha. Uma mão agarrou seu queixo e empurrou até
que os olhos cinzentos espiaram dentro dela.
Sua outra mão tirou o véu tão abruptamente que os alfinetes
voaram no ar. Um sorriso divertido atravessou seu rosto hostil.
— Bem agora. Eu me pergunto o que a princesa escrava
báltica está fazendo tão longe de Londres e seu mestre.

+++
Era meio da tarde, antes que Addis percebesse que Moira não
estava no acampamento. Quando ela não se juntou a ele no jantar,
ele assumiu que ela havia decidido deixar os cavaleiros para discutir
a guerra sem uma mulher presente. Como era seu hábito, seus
olhos procuravam por ela depois disso sempre que ele caminhava
pelo acampamento, mas ela nunca aparecia. Disse a si mesmo que
ela rezava na abadia ou visitava os doentes, mas a cada hora crescia
uma inquietante preocupação. Finalmente o levou aos homens que
cuidavam dos animais.
Lá ele descobriu que ela havia cavalgado de manhã cedo.
O torpor imediatamente o absorveu. Bem ali, na frente do
cavalariço nervoso, seu corpo tornou-se uma casca desprovida de
sentimentos ou sensação. A pequena parte de sua mente que não
sucumbia existia separada de qualquer consciência física.
Ela não voltaria. Ele apenas sabia disso. Ela havia saído como
dissera, mas antes do que havia avisado.
Ele esperava sentir raiva ou dor quando acontecesse não esse
vazio horrível. Ele olhou para o cavalariço, percebendo vagamente o
crescente desconforto do homem. Seus sentidos se dispersaram e
sua mente entorpecida tentou entender por que ela não havia
esperado os poucos dias restantes.
Ele não deveria ter deixado ela esta manhã. Ele vira como a
presença de Raymond e Thomas Wake a incomodara na última
refeição da noite e passara a noite tentando acalmá-la. Os dois
homens tinham sido muito corteses, mas cada um representava algo
em sua mente e ele podia senti-la espiritualmente recuando para as
sombras, embora ela continuasse com a compostura sorridente até
o final do jantar.
Pelo menos, pensou ele, os dois homens tinham sido corteses.
Se ele soubesse que Raymond ou Thomas haviam dito algo para
apressar sua partida, ele mataria o homem.
Fazê-lo agora não levantaria seu sangue. Porque ele não tinha
sangue. Ou ossos. Ou substância.
O cavalariço aliviou o peso de um pé para o outro, ansioso por
ser dispensado. O movimento o trouxe de volta para alguma
compreensão de onde ele estava. — Ela levou alguma coisa com
ela?
— Apenas uma cesta.
Nenhum baú ou roupas. Não, eles eram coisas da mãe dele.
Ela não os levaria com ela. Apenas uma cesta. Conhecendo Moira
prática, ela poderia viver por um mês fora com uma cesta.
— Ela disse onde ela estava indo?
O cavalariço deveria ter perguntado, e agora ele se encolheu
enquanto sacudia a cabeça.
Addis se afastou e suas pernas desincorporadas o levaram para
o topo da colina. Ele examinou cegamente, sabendo que não havia
nada para ver de qualquer maneira. Ela estava fora há horas. Ele
mandaria um homem para a abadia na pequena chance de ela ter
ido falar com o abade, mas ele sabia que ela não estaria lá.
Seus sentidos começaram a endireitar-se. As partes de seu
corpo começaram a despertar, encontrando uma a outra.
Emoção escorria no vazio. Ele estreitou os olhos e olhou para a
estrada que ela deveria ter tomado.
Uma fúria profana repentinamente se dividiu, como raios se
espalhando pelo chão. Nenhuma palavra. Nenhum sinal. Ela lhe
devia isso, droga! Eles deviam um ao outro isso. Mesmo que ela
tivesse adivinhado que ele lutaria para dissuadi-la, ela lhe devia a
chance de fazê-lo. Ela achava que isso era apenas sobre sua vida e
seu futuro e suas escolhas?
Ele se agarrou à raiva porque sabia do perigo do mar em que
servia como jangada. Ele sentiu aquele torpor antes. Recentemente
em Barrowburgh. Uma vez nas terras do Báltico. Há muito tempo
atrás, em sonhos, lembrados apenas como jornadas em desespero.
Não era um mar tempestuoso, mas de calma sedutora, calorosa e
acolhedora, com redemoinhos tão reconfortantes que podiam levar a
pessoa a um sono eterno.
Ele se lembrou de olhar para ela antes de sair da barraca de
manhã. Ela parecia calma e serena, sua pele luminosa sob o
abundante cabelo castanho. Ela havia se mexido e notado ele lá, e
levantou uma hesitante mão que ele beijou...
Se esse fosse o último toque e visão dela, ele tinha o direito de
saber. Se a noite passada fosse as últimas horas, ela deveria ter dito
a ele para ele poder falar de coisas que tinham significado.
Ele olhou para as centenas de homens espalhados abaixo dele.
Ele estava temendo essa batalha porque a vitória significava perdê-
la, mas agora ele ansiava por tê-la feito. Ele rasgaria essas muralhas
se isso significasse acabar com isso. Ele se sentaria na cadeira do
seu pai e reivindicaria os direitos de seu nascimento. Ele garantiria
seu poder e tornaria seu poder conhecido.
E então, quando ele cumprisse seu dever, ele a encontraria.
Ele pisou no acampamento e despertou alguns homens para
procurá-la e enviou outro para a abadia.
Sem esperança, claro, mas ele se asseguraria de que ela não
voltasse. Fervendo com frustração e desapontamento, ele circulou
pelo acampamento, informando aos cavaleiros e séquitos que eles
iriam se mover no dia seguinte. Como uma colher mexendo uma
panela, seu progresso transformou o exército em uma atividade de
preparação.
A raiva o sustentou até a noite, quando ele se encontrou
sentado com Raymond pelo fogo do lado de fora de sua tenda. Seu
velho amigo tinha sido inteligente o suficiente para não comentar
sobre a ausência de Moira ou sua mudança de temperamento.
Eles falaram do amanhã e do plano a ser executado, até que
Raymond partiu.
Addis ficou ao lado do fogo. Ele não entrara na tenda o dia
todo e não queria agora. Continha roupas que traziam seu perfume
e outros objetos de sua vida. Se ele visse e tocasse aqueles
remanescentes de sua presença, ele poderia perder a jangada.
À distância, uma pequena comoção descia a colina. Como um
redemoinho minúsculo, entrou no acampamento e correu entre os
fogos e as tendas. Addis observou, distraído por um momento de
seus pensamentos. À medida que se aproximava, se materializou em
Richard e Pequeno John puxando um camponês entre eles.
— Pegamos outro — Richard se regozijou, jogando o homem
no chão. —, Simon deve estar com poucos espiões se ele estiver
usando seus fazendeiros. Não respondeu nossas perguntas. Disse
que ele era do vínculo de Barrowburgh e falaria apenas para você.
O homem olhou ao redor com os olhos arregalados, seu olhar
finalmente travando em Addis. Ele era um jovem, não muito mais do
que um garoto, e Addis achou que ele parecia familiar. Para sua
surpresa, o espião se arrastou para frente e se ajoelhou.
— Eu não sou de Simon, meu senhor. Eu sou Gerald, filho de
Lucas, da aldeia de Whitly.
— Eu me lembro de você. O que você está fazendo aqui?
— Procurando por você e seu exército.
Essa não foi uma resposta bem-vinda. — Como você sabia que
o exército estava aqui?
— Eu não sabia, meu senhor. Não tinha certeza. Ela disse que
estava perto e que saberíamos quando você se movesse e eu pensei
sobre isso e decidi que deveria estar ao sul de Whitly se
soubéssemos primeiro...
Ele congelou quando as palavras apressadas fizeram sentido.
— Ela?
— Sim. A mulher Moira. — Gerald enfiou a mão por baixo da
túnica e tirou um pano.
Addis abriu-o sobre os joelhos. Um véu. Um dos dela. Alívio e
medo afogaram os vestígios de sua raiva.
— Onde ela está?
— É por isso que vim procurá-lo, meu senhor. Ela estava na
aldeia quando Owen chegou e ele a reconheceu e a levou. Meu pai
também...
Addis levantou-se e entrou na noite antes de Gerald terminar.
Ele pressionou o véu contra o rosto e inalou o cheiro sombrio de seu
cabelo. Ela não havia partido, mas só tinha ido visitar a aldeia onde
tudo começara.
E Owen a encontrou lá. Simon tinha Moira e ela sabia a
localização do exército. Ele poderia usar tortura para obter essa
informação se achasse que ela a possuía.
Uma alegria profunda se agitou nele, misturada com culpa
sincera que ele tinha tão rapidamente julgado mal e um terror
alucinante por seu perigo.
Ele chamou por Richard.
— Quanto tempo demora para chegarmos a Barrowburgh?
Apenas os homens. As carroças e suprimentos podem seguir. Uma
marcha forçada.
— Cinco horas aproximadamente.
Ele examinou os céus. A noite começara a escurecer com as
nuvens, mas elas se romperam para revelar o disco brilhante da lua
cheia. — Antes do amanhecer, então, se saíssemos logo.
— Certamente antes do amanhecer, mas com certeza você não
pode pensar em marchar à noite.
— Eu penso. Espalhe a informação. Quero todo homem pronto
o mais breve possível. Nós não esperaremos pelo dia seguinte. Nós
vamos agora e carregamos o que precisamos.
— Tem estado a ameaçar a chuva e, mesmo que se detenha,
podemos perder metade dos homens no escuro.
— A lua saiu. Não nos faltará a luz.
Richard parecia perto de exasperação. — As nuvens poderiam
cobri-lo novamente em um piscar de olhos.
Addis olhou para Menulius. — Elas não vão. — Ele se virou e
sorriu para o administrador perplexo. — A lua vai brilhar para nós
esta noite. Acontece que ela me deve esse pequeno favor.
Capítulo XXI
Ela se ajoelhou no solar como uma suplicante. Simon andou
em volta dela em frustração furiosa.
— Ele ainda está em Londres — ela disse novamente. As
palavras vieram como um murmúrio através de seus lábios inchados.
Seu temperamento se acendeu e ele olhou significativamente
para Owen. Ela se preparou. O cavaleiro balançou e outro tapa
aterrou em seu rosto, desequilibrando-a com sua força.
Logo seria um punho em vez de uma palma. Eles passaram
horas tentando ganhar a informação de Lucas enquanto ela assistia.
Ela chegou perto de falar para poupá-lo, mas os olhos do reeve
imploraram para ela ficar em silêncio.
Eles haviam levado seu corpo inconsciente para longe e então
se voltaram para ela.
— Ela sabe onde ele está — disse Owen sem rodeios. Ele
estava gostando disso. Um brilho doentio iluminou seus olhos
mesmo quando ele agia quase entediado com seu dever. — Ela era
sua prostituta em Londres e se ela está aqui agora, ela veio com ele.
— Não — ela argumentou, lutando contra um medo miserável
que a incitou a rastejar por misericórdia. — Ele está cansado de mim
e eu voltei para Darwendon e para minha casa. Parei para visitar na
aldeia, é tudo, e procurar abrigo até de manhã...
Outro golpe estalou em seu rosto. A dor se dividiu em sua
cabeça e ela sentiu o gosto do sangue.
Quanto tempo até o amanhecer? Se ela resistisse por tempo
suficiente, talvez qualquer movimento que Simon fizesse não
pegasse Addis de surpresa. O exército na abadia superava em muito
as forças de Simon, até mesmo inchado como eles estavam por sua
antecipação de problemas, mas um exército despreparado poderia
ser devastado por muitos menos homens.
Os olhos de Simon a varreram. — Darwendon, eh? Você é
escrava dele então, mas você não parece ser uma serva. Se ele
tivesse jogado sua escrava puta de lado, ela não estaria ainda
usando aquele manto de lã, mulher, ou linho em seu pescoço.
— Eles eram presentes. Ele me deixou ficar com eles. Ele não é
mesquinho.
— Bem satisfeito, ele foi? Sim, imagino que ele foi.
Seu sangue gelou com os sorrisos maliciosos que manchavam
os dois rostos dos homens. — Aparentemente não satisfeito o
suficiente, já que fui deixada para fazer o meu próprio caminho
através do reino sem nada a não ser as roupas nas minhas costas.
— Ela tentou parecer ressentida e irritada. — E esse vestido é uma
pequena compensação pelo que ele me custou. Perdi uma colheita
inteira por causa de sua insistência em servi-lo em Londres. Se ele
estivesse em qualquer lugar neste condado, eu ficaria feliz em
aponta-lo para você.
Simon a estudou de maneira astuta. — Onde aprendeu a falar
assim? Sua maneira está muito acima do seu lugar.
Ela não conseguia decidir se explicar poderia ajudar ou
machucar, então ela não disse nada. Owen deu um passo à frente e
puxou seu cabelo tão cruelmente que ela achou que seu pescoço iria
quebrar. Ele levantou até que os joelhos dela deixaram o chão.
— Hawkesford — ela suspirou. — Eu morava em Hawkesford
quando menina.
— Hawkesford? — A resposta surpreendeu Simon. Ele agarrou
seu queixo e levantou seu rosto. Olhos perigosos e perspicazes a
inspecionaram. Ele olhou o tempo suficiente para que ela visse algo
dentro daquele olhar. Medo.
Por baixo de sua violência e raiva, dentro dessas muralhas e
seu poder, Simon tentou esconder o terror de um homem caçado. O
conhecimento deu a ela coragem.
— Hawkesford — ele refletiu novamente. — Lady Claire teve
uma amiga lá nascida de servos. Ela falava dela às vezes. Essa seria
você?
Ela se recusou a responder. Ele recuou e sorriu. — Sim, é você.
Se você fosse daquela casa e sua amiga, eu acho que você sabe
sobre o garoto. Onde ele está?
— Que garoto?
Owen a colocou de pé e a jogou contra a parede. Dois rostos,
um pálido e impassível, o outro corado e impaciente, olhou para ela.
— O menino dela. Brian. Onde ele está?
Ela se sentiu grata por Addis nunca ter dito a ela onde a doce
criança se escondia. Eles poderiam quebrá-la, mas sua fraqueza
nunca poderia ajudá-los a enredar Brian. — Eu não sei.
Owen bateu com o punho em seu corpo e sua consciência
cambaleou. Se não fosse pelo apoio da parede, ela teria caído. —
Você perde seu tempo — ela respirou. — Eu não sou ninguém.
Ninguém. Uma escrava sem importância. Addis de Valence não
confidencia para sua prostituta quando seu exército se move e onde
seu filho está escondido. Você sabe como é com as designadas
como eu. Se eu soubesse alguma coisa, eu diria a você e, no
máximo, barganharia por alguma moeda.
O rosto de Simon se aproximou mais. O cheiro de cebola em
sua respiração e de medo em seu corpo fez seu estômago
contorcido levantar. — Você sabe. Claire falou de sua lealdade.
Quando ela foi para a cama para o nascimento daquele menino, ela
pediu que você fosse chamada para cuidar dele, se ela morresse.
Nascida ou não de servo, acho que você conhecia os feitos nas
casas de Valence e Orrick. Eu acho que você ainda os conhece. E se
você mentir para ajudá-lo agora, eu me pergunto se você não é
mais que uma prostituta para ele.
— Você fala bobagem e bate em uma mulher indefesa por
nada. Uma mulher como eu poderia ser mais que uma prostituta
para você? Seu nascimento é ainda maior que o seu. Um filho de
Barrowburgh tem apenas um uso para mulheres nascida de pais
humildes.
— Ela fala demais enquanto não responde nada — disse Owen.
— Deixe-me lidar com ela. Se ele vier, ela me dirá.
Simon a considerou, debatendo suas opções. Uma esperança
piedosa tomou conta dela, perigosa porque reconhecia e liberava o
terror que vinha lutando por horas. Uma mudança na opinião de
Owen dizia que os instintos de seu predador haviam percebido a
nova vulnerabilidade que a chance de suspensão havia criado.
— Ela vai me dizer — repetiu Owen.
Simon assentiu e se virou. — Não a mate, no entanto. Ela pode
ser útil.
Sim, ele apreciava isso. Demais. Ele mostrou-se bem treinado
em criar sofrimento sem causar o dano que a faria cair. Ela rezou
por inconsciência, mas nunca chegou. Golpes rasos e metódicos e
tapas rapidamente a levaram à beira da resistência. Descrições
obscenas do que aconteceria em seguida atacavam ainda mais sua
firmeza. Dor e fraqueza começaram a empurrá-la ao ponto em que
ela poderia vender sua alma para parar isso. Sabendo que ela estava
prestes a quebrar, vendo isso chegando, ela encontrou uma gota
final de coragem rebelde. Franzindo os lábios rachados, ela deixou a
bile que a sufocou aumentar e ela cuspiu em seu rosto.
Um punho de retaliação colidiu com ela. O aposento rodou e o
chão de pedra veio correndo. Sua mente distinguiu vermelho e
depois branco e depois nada.

+++

Menulius iluminou o caminho deles, segurando as nuvens que


tentavam obscurecer seu brilho. Não usavam tochas, mas os pés e
cavalos de seiscentos homens faziam barulho suficiente na noite
silenciosa que qualquer um que olhasse poderia encontra-los
facilmente. Quando milha após milha passou e nenhum grupo de
ataque de Barrowburgh atacou, Addis aceitou severamente que
Moira se recusou a dizer a Simon o que ele queria.
Ele tentou não contemplar o que poderia estar acontecendo
com ela naquela fortaleza. O abuso não viria do Simon. Seria de
Owen. Os Simons do mundo sempre encontravam os Owens que
apreciavam fazer o trabalho sujo. A imagem brilhou daquele homem
de cabelos flamejantes machucando-a, e ele mal resistiu à vontade
de estimular seu cavalo e deixar que este exército o alcançasse.
Ele olhou para a esquerda e para a direita, nas sombras
espessas que os acompanhavam. Os homens haviam se enquadrado
silenciosamente aos passos quando passaram por Whitly,
caminhando ao lado dos campos. Ao longo de todo o caminho havia
surgido mais das árvores e colinas. Ninguém pediu sua permissão.
Um mar crescente de corpos simplesmente se formou em ambos os
lados da estrada. Alguns carregavam cajados ou lanças ásperas ou
até foices, mas a maioria simplesmente trazia suas duas mãos e
pernas.
— Eles ouviram falar do reeve e da mulher, você acha? —
Thomas Wake perguntou do cavalo ao lado dele.
— Possivelmente. Seria a injustiça final para um povo que
sofreu muitas.
— Você deveria mandá-los para casa. Eles vão atrapalhar.
— Eu não acho que eles obedeceriam se eu fizesse isso. Eles
não estão em desordem e parecem determinados. Simon é o Hugh
Despenser deles. Cada um deles fez uma escolha difícil, como você e
eu não fazemos há muito tempo.
— Mas quando chegamos a Barrowburgh...
— Eles não vão atrapalhar o plano e podemos nos alegrar com
o número deles se falharmos.
Um cavalo trôpego rompeu o ritmo das botas de marcha e
Richard parou ao lado. — Mais de um quilômetro e meio sobre
aquela colina, se passarmos pelos bosques. — Ele apontou. — Isso
nos conduzirá para o oeste. Há tempo para descansar aqui por um
tempo.
Addis olhou para o céu. Três horas até o amanhecer, ele
julgou. Seu olhar pousou nas sombras que flanqueavam, parando e
se juntando para formar um grande fantasma disforme.
— Um breve descanso. Nós não vamos parar por muito tempo.
— Você está mudando o plano? Se continuarmos, chegaremos
cedo demais e, ao amanhecer, ele terá enviado seus homens. Você
decidiu fazer acampamento depois de tudo?
— Não, ainda vamos marchar diretamente para um ataque.
Raymond andou em volta de Wake para se juntar ao conselho.
— Você está com raiva, Addis. Mesmo com a lua, um ataque
noturno é suicídio. Nós não vamos ver com quem estamos lutando
e...
— Nós vamos em frente. Ele não espera isso, mesmo que
tenha descoberto que estamos chegando, especialmente à noite.
— Sua preocupação com a mulher está prejudicando seu
julgamento. Se ele planejou matá-la, ela já está morta, — Thomas
disse.
— E se ele não planejasse matá-la?
— Tudo o que ele pretendia está feito.
Raymond levantou um braço. — Isso não a ajudará em nada
se falharmos porque você agiu precipitadamente.
— Você sabe que atacar no escuro é uma estratégia idiota —
Richard ponderou.
Addis virou o cavalo e começou a andar em direção às sombras
ao lado da estrada. — Isso é verdade, mas não atacaremos no
escuro, velho amigo. Nosso caminho será iluminado por todos os
lares de Barrowburgh.

O que diabos você está dizendo? Faça sentido, homem.


A voz áspera penetrou a névoa de longe.
Há movimento lá fora, perto das árvores distantes a oeste.
Homens e cavalos.
Você diz que viu homens perto das árvores? Quantos?
Mais perto agora. Uma voz familiar. A voz de Simon.
Não vi, exatamente, meu senhor, não com a lua passando
repentinamente. Senti mais do que enxerguei, embora pareça haver
sombras mais escuras ali, maiores do que deveriam ser.
Provavelmente apenas a noite brincando com você.
Não só eu. Os outros guardas também sentiram isso. Eu não
teria vindo se não concordássemos...
Envie mais homens para os portões então.
Você virá, meu senhor?
Consciência do aposento voltou e ela de repente sentiu o
cheiro da lareira. Sua bochecha reconheceu a textura dura da pedra
sobre a qual estava. Gemidos de dor gritando através de seu corpo
dos pontos onde ela tinha sido atingida. Deslizar de volta para a
inconsciência, teve um enorme apelo. Ela ouviu movimentos, mas a
consciência suficiente retornou para ela resistir à vontade de olhar.
— Eu vou para o topo da fortaleza e vejo o que é — Simon
disse bruscamente. — Volte para a muralha.
— E quanto a ela? — perguntou Owen enquanto o guarda saía.
Ela ficou imóvel e esperou que eles a deixassem no monte onde ela
havia caído.
— Veja de novo se você consegue acordá-la.
Líquido espirrou em seu rosto e ela lutou contra sua reação
chocada, mesmo que ela tenha inalado um pouco. Vinho escorria
pelo seu rosto imóvel, queimando seus lábios machucados.
— Tem certeza de que ela não está morta? Eu lhe disse para
não a matar.
— Ela ainda respira.
— Deixe-a. Vamos ver sobre esse exército fantasma que os
guardas sentiram e depois ver se ela pode ser despertada.
Ela esperou até que o silêncio a envolvesse antes de tentar se
levantar. Todo o corpo dela, do pescoço até as pernas, estava
profundamente dolorido e doía mover a boca. Apesar da dor, ela
alcançou a parede e se levantou.
Ela dificilmente poderia escapar, mas não esperaria neste
aposento pela tortura planejada por Owen. O relatório do guarda lhe
dera esperança. Talvez Addis estivesse vindo.
Ela tateou ao longo da parede e espiou pela porta. Homens
para o oeste, o guarda dissera. Ela contornou a passagem para um
aposento perto do fim. Tentando ignorar a agonia de seu torso
amarrado, ela tateou o caminho para a janela.
Ela estava alta o suficiente para ver as paredes dos campos
distantes e flanquear a terra de caça. Uma brisa viva movia nuvens
através da lua, quebrando-as de vez em quando para permitir que a
luz cinzenta se espalhasse. Durante essas breves iluminações,
parecia que o movimento ocorria perto das árvores, mas
provavelmente era apenas a noite brincando com os olhos, como
Simon havia dito.
Ela descansou contra a borda da janela e fechou os olhos com
desapontamento. É claro que ele não poderia vir até que estivesse
pronto, e mesmo assim ele não o faria à noite. Seria imprudente
arriscar tanto, mesmo que ele soubesse que ela estava aqui.
Talvez ele não soubesse mesmo. Quando ele descobriu que ela
tinha ido, ele provavelmente concluiu que ela havia voltado para
Londres. Ele poderia ter pensado nela tão desleal? Diante de sua
ausência, ele poderia ter encontrado a única explicação.
Seu peito se encheu de uma dor horrível. Ela não queria
imaginar isso. Voltou-se para a janela e examinou as muralhas da
parede interna para distrair sua mente das imagens dele com raiva e
mágoa, acreditando que o abandonara tão cruelmente antes de sua
perigosa tarefa. Os campos distantes ficaram muito negros quando
as nuvens obscureceram completamente a lua.
Uma cintilação chamou sua atenção e um pequeno ponto de
ouro apareceu longe. Mexeu-se. Dois pontos agora. Ela apertou os
olhos. De repente, quatro. Agora dez ou mais. Observou
assombrada quando as partículas se multiplicaram e aumentaram
rapidamente, como estrelas surgindo e crescendo não no céu, mas
no horizonte.
O barulho da casa e dos guardas de repente se acalmou e a
fortaleza ficou completamente silenciosa. Outros tinham visto.
O ritmo mais fraco se esvaia dela na brisa, e as estrelas, não
tão pequenas agora, continuaram aumentando em número e
tamanho. Eles encheram o campo e começaram a se espalhar para a
direita e para a esquerda, cercando todo o Barrowburgh.
Ela se esticou na janela, sem se importar com suas feridas, e
os pontos mais próximos se materializaram em tochas e depois
desapareceram sob a massa da muralha. A luz deles lançava um
brilho amarelo em todas as direções, exibindo centenas de corpos. O
aglomerado mais brilhante cercava um cavaleiro flanqueado pelas
bandeiras de Valence.
Seu coração se alojou em sua garganta enquanto o observava
chegar. Os sons de seu exército colidiram com a quietude da
fortaleza. Ele ergueu o braço e o movimento cessou e ele examinou
a largura das fortificações. Em vez de se agrupar para acampar, o
exército e os portadores da tocha acendendo o caminho apenas
aguardavam.
Outro gesto e o exército subitamente se dividiram e homens
avançaram levando escadas para escalar. Seus gritos chocaram toda
a fortaleza. Ela ficou boquiaberta quando o inferno da guerra
substituiu instantaneamente o silêncio misterioso. Ele estava
atacando!
Ele montou seu cavalo de um lado para o outro, gritando
ordens perdidas para seus ouvidos no barulho. As tochas
transformaram sua armadura em laranja, como se ele usasse aço
ainda quente da fornalha. Outro homem se juntou a ele e ela
reconheceu a cabeça careca de Sir Richard. O administrador assumiu
o comando do ataque ocidental e Addis galopou para o sul, onde a
muralha se estendia para cercar a cidade.
Ela arrancou os olhos do espetáculo, o pulso acelerado. Ele
tinha vindo, mas sua chegada poderia ter aumentado seu perigo. Ela
confiava que Simon estaria preocupado com suas defesas agora,
mas ela não podia contar com isso. Ela precisava de um lugar para
se esconder.
Ela se virou para correr, mas uma figura espessa atravessou o
limiar. Simon se aproximou e agarrou seu braço, torcendo-a de volta
para a janela. Seu corpo pressionado obscenamente ao longo de
suas costas e um cheiro azedo a agrediu. Medo. Ele cheirava a isso.
— Você deveria estar se lamentando. Você deve tê-lo satisfeito
muito bem com o seu corpo. Ele veio por você — sibilou ele.
— Não. Ele veio por você.
— Estas paredes resistiram mais do que ele pode ter.
— Ele tem mais de seiscentos homens todos endurecidos pela
batalha. E parece que todo camponês capaz de andar e segurar uma
tocha lá fora. Você deve ceder e, se não, você deve se armar.
— Owen vai lidar com ele. Ele o matou antes. Ele fará
novamente.
— Ele falhou antes e provou ser um covarde ao fazê-lo.
Quando se tratar de enfrentar Addis, ele fugirá ou se renderá e
deixará você para enfrentá-lo sozinho.
— Ele não vai. Owen é mais um irmão para mim do que Addis
sempre foi.
— Se ele nunca lhe mostrou o amor de um irmão foi porque
ele sabia o que ele tinha em você.
— Ele era orgulhoso demais para ser meu amigo! Para
compartilhar a riqueza de Barrowburgh. Eu vi imediatamente que eu
não receberia nada dele. Owen também viu. Nós éramos todos
apenas jovens, mas estava claro que o filho de Patrick me
desprezava.
— Então você roubou o que não seria dado livremente!
— Um homem ou toma ou ele morre em um campo sangrento
para a honra de outra pessoa. — Ele a puxou através do aposento.
— Você virá comigo enquanto assistimos a este exército naufragar.
Ele não vai romper a parede interna. Ninguém nunca conseguiu.
Quando isso estiver acabado, vou aproveitar você, já que tomei tudo
o que é dele.
Seu aperto a arrancou e ela tentou acompanhar. — Ele não
precisa romper a parede interna. Os animais e grãos estão fora do
primeiro portão. Ele tem apenas que esperar até que as provisões
internas desapareçam.
Torcendo o braço atrás das costas, ele a empurrou pelas
escadas até o telhado. — E deixar você morrer de fome conosco?
Foi por isso que eu não deixei Owen te matar. Por sua causa,
mulher, espero que você tenha satisfeito ele bem realmente.

— Nós entramos? — Raymond perguntou quando o portão da


cidade se abriu. Vultos correram precipitadamente para longe e as
tochas mostraram cinco guardas deitados entrelaçados sem vida. —
Pode não ser uma boa ideia ser pego lá dentro. Pode ser uma
armadilha.
— Aqueles não eram soldados fugindo, mas artesãos. A cidade
abriu o portão, não Simon.
— Ainda…
Addis caminhou com seu corcel de batalha para frente. — O
caminho mais fácil para qualquer fortaleza é pelos portões,
Raymond.
— Há mais dois depois deste e nenhum cidadão da cidade para
abri-los. Estamos perto de romper no Leste. Melhor esperar.
Sons ásperos e estridentes se espalharam ao redor deles. A
muralha externa cairia, uma vítima do ataque surpresa, mas a parte
interna não estaria tão certa. O círculo denso de tochas iluminando a
batalha fez parecer que toda a cena acontecia dentro de uma lareira
gigante.
— Se atacarmos o portão mesmo enquanto eles defenderem as
muralhas, isso pode encorajá-los a se retirar. E isso os forçará a
cobrir o Sul também. — Ele fez um gesto para Marcus e disse a ele
para permitir que cem camponeses o seguissem com o aríete12 de
rodas, depois liderar uma pequena força de cavaleiros e homens de
armas para a cidade.
As ruas estavam desertas e as casas fechadas. Mais perto do
portão, ele podia ver o progresso na muralha mais claramente. Os
homens de Simon estavam em muita desvantagem e nenhum
reforço havia chegado. Simon decidira sacrificar a muralha exterior e
a guarda. Parecia que uma seção ao leste havia sido tomada e
garantida, mas mesmo assim a posição superior dos defensores
significava que isso poderia durar muitas horas.
Ele chamou o aríete para frente e desmontou. Ele e os outros
fizeram uma cobertura de escudos erguidos para proteger os
fazendeiros que puxavam o enorme cilindro de madeira. O restante
dos fazendeiros ficou fora do alcance das flechas, preparado para
substituir seus vizinhos conforme necessário.
O impacto repetido do aríete criou um som como o maior
tambor do mundo, quebrando a noite. O mar de camponeses que
cercava a muralha começou a aplaudir — Valence! — a cada golpe e
a enorme onda de barulho parecia suficiente para desmoronar as
paredes por si só. Uma chuva de setas e flechas golpeava os
escudos com cada impulso para frente, sua melodia assobiada
absorvida na canção de batalha rítmica.
De repente, as flechas pararam. Addis olhou para cima e viu
Thomas Wake e seus homens lutando nas muralhas do portão, mas
alguns guardas se reposicionaram e se moveram. Ele chamou por
escadas e levou Marcus e cinco outros até que o aríete continuasse
seu trabalho.
Ele não sabia quanto tempo ele lutou. Sua presença na
muralha foi notada, no entanto, e pelo menos dois arqueiros
chegaram perto de derrubá-lo. A certa altura, ele olhou para o alto
da fortaleza e viu Simon lá, com uma mulher ao lado dele. Moira.
Algo parecido com a loucura na floresta o agarrou então e ele não
sabia nada a não ser o caos de sangue e espadas até que uma
calmaria caiu que dizia que o portão era deles.
O som da ponte levadiça ergueu a vitória, e quaisquer guardas
ainda de pé se renderam. Addis correu para o pátio exterior
enquanto seus homens entravam.
Richard o encontrou e gesticulou ao redor do pátio. — Você viu
algo assim?
O pátio estava abarrotado de animais e carroças e provisões,
recolhidos para sustentar a fortaleza em caso de cerco e para
garantir que Addis não encontrasse provisões no campo circundante.
Simon teria queimado as florestas ao lado para sair do jogo.
— Tenha isso removido. Mova-o para a cidade. Rapidamente,
ou será disparado de cima.
Richard gritou a ordem e os homens começaram a puxar os
animais para fora enquanto os arqueiros ajudavam a cobri-los.
— Você pensa em continuar agora? Amanhã será cedo e
podemos escolher o nosso tempo — perguntou Richard.
— O que você recomenda?
Richard limpou um pouco de sangue da cabeça e riu. — Como
se você precisasse do meu conselho, ou escutasse quando eu dou.
Bem, sim, eu aproveitaria a confusão. Os homens ainda estão
revigorados e podem saborear a vitória. E se houver ajuda por
dentro, será mais fácil para eles se nos movermos antes que Simon
tenha tempo para considerar o que é, o que foi agora, e pensar
muito sobre quem está aonde.
Addis olhou para as altas muralhas cheias de cavaleiros e
soldados. A ponte levadiça interna era de ferro maciço e nenhum
aríete quebraria. Ele poderia matá-los de fome, mas isso poderia
levar meses. E Moira sofreria junto com os outros.
— Vamos terminar. Agora.
Ele deu a ordem e Richard foi organizar o ataque. Ele olhou
para a fortaleza, mas não conseguiu mais ver onde Simon e Moira
estavam. Ele murmurou uma oração por sua proteção. Os santos
cristãos a ajudariam, considerando o pecado de seu amor?
Só por segurança, ele fez o mesmo pedido a Kovas, o deus da
guerra.
Eles podiam ver tudo do telhado da torre. Como deuses
observando de uma alta montanha, eles viram o pico da batalha e
então de repente terminar quando o portão se abriu. Os homens de
Simon pressionaram ombro a ombro ao longo das ameias da
muralha interna e atiraram flechas no exército que invadiu o pátio
externo, mas Moira percebeu pela expressão de Simon que ele
esperava não mais lutar naquela noite.
Seus olhos nunca deixaram Addis, mesmo enquanto ele lutava
no topo do portão. Ela viu o momento em que ele a notou e depois
o caos selvagem que se seguiu.
— Ele vai pelo menos esperar até a manhã para atacar
novamente. Espero que ele queira falar primeiro — Simon disse
enquanto observavam as provisões sendo retiradas do portão. —
Vou me dar alguma hora para descobrir o que te faz tão valiosa.
Ela fixou-o com um dos olhares arrogantes de Claire, mas isso
não embotou seu olhar malicioso. — Ele não luta por mim, Simon.
Não haverá conversa e nenhum termo, e ele não esperará até de
manhã. Você vê algum acampamento se formando no campo? Olhe
para Owen. Ele sabe que não acabou.
O cavaleiro ruivo andava em volta da calçada da muralha,
verificando o desdobramento do inimigo. O olhar de Simon
encontrou-o. — Ele vai observar para que Addis não entre, ou não
viva muito se ele faz.
— Você tem muita fé no seu amigo. Você realmente acha que
ele vai morrer para proteger seu poder sobre Barrowburgh?
— Não, provavelmente não. Mas ele lutará até a morte para se
proteger da vingança de Addis.
Uma repentina efusão de berros e gritos atraiu a atenção deles
de volta para o pátio. Uma fila de homens ressoando explodiu
avançando e retomou o ataque.
A luta estava mais próxima agora, e o sangue e a dor pairavam
horrivelmente reais. Ela podia ver rostos subindo acima da muralha
e suas expressões quando espadas desferiram os golpes da morte.
Porém mais continuavam chegando, e mais ainda, até que alguns
corpos quebraram a muralha e as brigas se espalharam ao longo da
caminhada.
Foi como uma cena do inferno. Seu sangue esmagou e seus
olhos se romperam das cenas de carnificina.
Ao lado dela, Simon observou como se ele apreciasse um
entretenimento interessante, mas ela ainda podia sentir o medo
dele. Ela procurou por Addis até que viu as cores de Valence e sua
espada balançando, onde ele lutou por uma posição na muralha
perto do portão. Raymond lutou ao lado dele e o Pequeno John
também. Eles estavam tentando tomar esta entrada como eles
tomaram a última, mas Owen notou e levou reforços em sua
direção.
Addis e os outros que tinham rompido a muralha se viram
isolados enquanto os homens de Owen frustravam qualquer outra
escalada. Em menor número agora, eles valentemente detiveram os
ataques de ambos os lados.
Ele seria morto. Ela apenas sabia disso. Sua espada caia com
precisão metódica, mas havia muitos.
Ela implorou silenciosamente que ele recuasse, encontrasse
uma maneira de recuar e desviou o olhar para evitar ver o golpe
fatal que o encontraria em breve.
Seu olhar caiu no pátio interno. Em meio às sombras
oscilantes, um grupo de nove homens se movia em formação
espessa, todos vestindo o escarlate dos cavaleiros de Simon. Eles
facilitavam ao longo da muralha com as espadas desembainhadas.
Eles deslizaram para frente. Três desapareceram no portão e
os outros seis montaram para a muralha. Seu coração quase
explodiu de desespero quando percebeu que se dirigiam para Addis.
Não haveria esperança agora.
Eles se juntaram à batalha, mas não da maneira esperada. De
repente, aqueles braços blindados estavam empurrando homens
para fora da muralha, batendo as cabeças dos arqueiros contra as
ameias, abrindo caminho para a luta de espadas. Owen olhou por
cima do ombro e pareceu supor que estavam com ele. Quando uma
espada por trás derrubou o homem ao seu lado, ele percebeu a
verdade.
Ela havia se esquecido de Simon, mas suas maldições vívidas
atraíram seus olhos para sua expressão atônita.
— Sir Richard disse que alguns ficaram para trás — disse ela.
— Víboras na minha própria cama! Eu vou tê-los torrados
vivos!
— Não parece que você terá a chance. Até eu posso dizer que
a ajuda deles virou a maré naquela muralha e que o portão será
tomado logo.
Mesmo enquanto falava, os sons rangentes de correntes e
rodas filtravam-se no estrondo da batalha. Os olhos de Simon
brilharam.
— Três entraram. Você estava tão ocupado assistindo Addis
que você não percebeu.
Seu olhar se fixou em Owen lutando desesperadamente, sua
posição tão desesperada quanto a de Addis havia sido momentos
antes.
— Renda-se. Ele não pode ajudar você ou até mesmo a si
mesmo. Dê-se por vencido. Addis não está livre de misericórdia.
Gotas de suor pontilhavam a testa de Simon e o cabelo do
bigode. Um desespero furioso iluminou seus olhos e ele se virou,
puxando-a com ele. — Não vou contar com a misericórdia dele.
Ele puxou-a com força para o solar, onde ele arrancou duas
bolsas gordas de um baú. Com um aperto de ferro no seu braço, ele
a forçou a descer a escada. Os sons flutuando do pátio mudaram
abruptamente. Ela podia ouvir centenas de corpos se movendo e
gritando, mas não mais os gritos de morte e dor.
— Acabou. Ele está dentro — ela disse, imaginando se Simon
havia notado.
Ele a empurrou para baixo com determinação. — Sim, mas
estarei do lado de fora.
— Você pode se mover mais depressa sem mim.
— Acho que você é um escudo melhor que o aço e, portanto,
vale a pena.
— Você pensa em atravessar essas terras e não ser
encontrado?
— Cavalos esperam não muito longe. Eu tinha muita fé em
Owen, mas não sou um homem estúpido.
Ele abriu uma pequena porta na base norte da fortaleza. O
quintal era raso ali e cheio de barracos para galinhas e porcos. Bem
acima na muralha, os homens de Addis estavam aceitando a
rendição de Simon.
Simon a rodeou em um braço e amordaçou-a com a mão.
Permanecendo nas sombras dos barracos, ele arrastou-a para a
muralha. Sua manipulação áspera reacendeu suas feridas e ela se
submeteu para evitar mais dor.
Se ele a levasse para fora, o perigo poderia ser ainda pior do
que antes. Desesperado e vingativo, ele poderia matá-la quando não
tivesse mais utilidade para ela. Um medo rebelde se espalhou. Ela
debateu-se e lutou e ele torceu sua cabeça cruelmente em resposta.
Pressionando contra a muralha, ele tateou para a porta poterna13.
Uma fileira de luzes começou a se mover gradualmente ao
redor da fortaleza. Simon se encolheu nas sombras, mas o brilho se
espalhou até que nenhuma outra sombra existisse, deixando os dois
completamente expostos. Uma figura alta de armadura caminhou
entre as tochas em direção a eles. Sangue manchava o justilho
drapejando seu corpo e coloriu a espada apertada em sua mão. Ele
parou a dez passos de distância.
— Você vai a algum lugar, Simon? Eu poderia considerar
permitir isso se você não tentasse tomar o que era meu com você.
Ela podia sentir o corpo pressionando atrás dela tremer.
A mão de Simon empurrou para o lado e as duas bolsas
voaram para o chão aos pés de Addis. Um dos portadores da tocha
se agachou e derramou seu conteúdo. Moedas de ouro e joias
reluzentes cintilavam em uma pilha.
— Eu não estava falando da riqueza que você reuniu e
acumulou nos últimos anos.
Seu braço a abraçou com mais força e a pressão sobre as
feridas a deixou tonta. — Ela vai ficar comigo até eu estar bem
longe.
— Ela vai ficar aqui e você também. Você tem muito que
responder.
— Foi um rei que me deu Barrowburgh e um conselho do rei
que tirou de mim. Eu irei e responderei a eles por não obedecer,
mas não aceitarei nenhum julgamento seu!
— Sua desobediência ao conselho é a menor delas.
Todo o corpo de Simon flexionou, como se tentasse reprimir
um tremor enorme. Moira não podia culpá-lo. Addis ficou ali resoluto
e perigoso, um guerreiro excitado pelo sangue que tinha acabado de
conseguir uma vitória impossível. Havia pouco do gentil cavaleiro
que ela conhecia neste homem. Ele havia tirado o capacete e a fúria
ardia em seus olhos.
— Onde está Owen? — Simon exigiu. — Ele está morto?
— Você reza para que ele esteja, tenho certeza, mas quando
confrontado com a escolha, ele tomou o caminho covarde como
sempre fez. Nenhuma árvore ou assassino contratado para se
esconder atrás daquela muralha. Nenhum exército inimigo em quem
culpar a espada ou a lança. Quando desmoronou para ele e a mim
em uma luta justa, ele cedeu. E então ele falou como se sua vida
dependesse disso, como de fato aconteceu.
Ele andou para frente e Simon tentou puxá-la para a muralha.
— Quando meu pai se casou com sua mãe, ele não tinha que levá-lo
para sua casa como ele fez. Mas sua generosidade apenas plantou a
ganância em você e planos para tomar o meu lugar como filho dele.
Moira disse uma vez que eu tive sorte com minhas feridas e ela
estava certa. Em sua juventude, Owen se mostrou incapaz. Um
escudeiro entre meus companheiros deveria ter sido capaz de me
matar, na segunda vez, se não na primeira.
Ela engasgou e se torceu até que ela pudesse ver o rosto de
Simon pelo canto do olho. Ele olhava com os olhos arregalados de
terror, suor escorrendo pelo rosto. Era verdade. Foi Owen quem
marcou esse corpo, Owen, cuja lança deixou Addis morto na
cruzada.
Seu grito estrangulado ecoou seus pensamentos. — Foi o
Owen!
— Sua espada. As mãos dele. Mas sua ideia e sua ganância. O
plano impaciente de um jovem faminto. Mas mesmo morto, meu pai
não te abraçou como seu novo filho, não é? E assim a rebelião de
Lancaster ofereceu uma maneira de fazer seu próprio destino, sem o
favor de meu pai. — Addis traçou a cicatriz rugosa em seu rosto. —
Isso eu posso perdoar. Mesmo aqueles anos de escravidão. Mas a
morte do meu pai não foi de febre natural, eu acho. Owen também
não pensa assim.
O braço de Simon se tornou um aperto de morte, espremendo
a respiração para fora dela, esmagando suas costelas e torso
doloridos.
Pequenas manchas de escuridão pontilhavam sua visão. A
outra mão dele tateava. Uma ponta afiada pressionou seu pescoço e
um cabo de punhal bateu em seu queixo.
— Você vai libertá-la — disse Addis.
— Não. Você está falando loucura e não vou conseguir justiça
aqui. Você não tem provas sobre Patrick, mas isso não importará
durante o poder de sua vitória.
— Solte ela.
— Ela vem comigo. Se você quiser vê-la viva novamente, não
nos seguirá.
Addis desviou o olhar por um momento e depois se aproximou
ainda. O terror de Simon surgiu de maneira palpável.
A lâmina pressionou, o braço apertou e ela quase desmaiou de
dor.
— Você não está esquecendo alguma coisa? — Addis
perguntou baixinho. — Ela não sabe onde Brian está. Você pode ter
minha mulher, mas eu tenho seu filho.
Suas palavras a surpreenderam. Ela tentou se torcer para ver a
reação de Simon, mas o gesto fez a lâmina arder seu pescoço. Ela
olhou para Addis, esperando por um sinal de que ele blefou, mas ele
nem sequer reconheceu sua reação. Toda a sua atenção centrava-se
no rosto arfando e respiração ofegante ao lado de sua orelha.
— Você nunca vai machucar o garoto que pode ser seu —
Simon bufou.
— Não é meu. E um cavaleiro cristão não deve prejudicar
nenhuma criança, mas me sinto menos à vontade a cada momento
que passa. Machuque Moira e pode não haver um pingo de tal
misericórdia em mim.
Ela podia sentir o pânico de Simon. Sua própria mente desviou
de pensamento em pensamento, tentando desesperadamente
acomodar o que Addis disse e a maneira fria como ele mencionou
isso. O filho de Simon! Ele usara Brian como peão desde o início.
Sua garganta se apertou de uma pesarosa tristeza, estrangulando
sua respiração.
— Claire disse que o menino era seu!
— Ela mentiu, mesmo para você pelo visto. Mas você suspeitou
da verdade. Ele não teria sobrevivido se você não tivesse, não
importa o quão bem Raymond e Moira tentassem escondê-lo.
— Você não pode ter certeza...
— Tenho certeza.
Simon agarrou com mais força, o último alcance de um homem
desesperado. A dor a deixou tonta. Através de sua consciência
entorpecente, sentiu-o resistir, pairar e depois mergulhar no
desespero.
Um violento empurrão a enviou voando para Addis. Os sentidos
borrados dela absorveram o impacto do corpo dele, o apoio do braço
forte dele, e então o próprio empurrão dele quando ele a lançou
para longe. Ela flutuou até o chão em um repouso de
semiconsciência, apenas vagamente consciente da atividade furiosa
que derramava ao seu redor.
De repente, um silêncio mortal caiu. Braços fortes a levantaram
e sua cabeça descansou à vontade contra um peito de metal. Suas
entranhas pareciam ter sido massacradas pelo aríete. A escuridão se
acelerou e ela se viu delicadamente deitada em uma cama macia.
Sua tênue ligação com a realidade se fortaleceu, mas ela
resistiu totalmente alerta total e às dores que traria.
Vozes e movimentos giravam em torno dela, mas sua mente se
envolveu sobre si mesma e seguiu seus próprios caminhos através
de memórias e emoções cheias de alegria e tristeza. Ela viu Addis
em todos os seus rostos, mas mais fortemente no novo revelado a
ela hoje à noite no quintal. Uma profunda desilusão a fez manter os
olhos fechados, mesmo quando uma mulher veio enxugar o rosto e
verificar suas feridas.
Ela imaginou Brian cavalgando ao lado do homem que ela
achava ser seu pai. Mas ele era filho de Simon e Addis sabia disso.
Que ela viveu quatro anos pensando que protegia o filho de um
homem, quando na verdade o menino não precisava de proteção
alguma, não a desanimou. A alegria que ela conhecera ao dar amor
a Brian podia sobreviver ao conhecimento de que seu grande
propósito tinha sido uma fraude. Mas o fato de Addis ter tirado
aquela criança dela e escondido ele entre estranhos, arriscou deixar
Brian abandonado e sozinho se ele morresse, tinha rompido aquele
ponto de luz de sua vida, tudo para segurar uma ameaça sobre
Simon... seu coração se virou contra o que isso significava sobre ele.
Ela não achava que poderia perdoá-lo por usar a criança assim.
Sons se intrometeram com mais insistência e ela percebeu que
estava deitada no solar. Ela podia ouvir homens falando, entrando e
saindo, e a voz baixa de Addis dando ordens. Ela virou a cabeça
para ele e forçou os olhos a abrirem uma fenda.
Ele havia removido sua armadura e jogado uma túnica. Ele
sentava-se na cadeira do lorde discutindo algo com Sir Richard. Ele
parecia como se a cadeira tivesse sido construída para ele.
Orgulhoso e forte e poderoso. Uma família como Valence não se
apegou à sua honra por ser fraco de coração, e ele era, sem dúvida,
o filho de Patrick. Ela estava amando partes ocultas dele que não
podiam mais ser reconhecidas. O homem que todos os outros viram
e temiam dominaria agora.
Ele a notou olhando e gesticulou para Richard à parte. Ela o viu
chegar até ele ficar ao lado da cama. Ele acariciou sua bochecha. —
Você está gravemente ferida, Moira, mas as mulheres dizem que
não pensam que você sangra por dentro. Você estará se sentindo
melhor em breve.
Ela não achava que se sentiria melhor de novo. — Simon?
— Ele veio para nós dois com aquela adaga. Uma loucura,
desde que eu usava aço. A lâmina pegou seu ombro, mas não é
profundo.
— Você o matou?
— Os camponeses o mataram. Eles se moveram assim que ele
fez, e ele estava morto quando eu cheguei até ele. — Ele se abaixou
e beijou sua testa. — Preciso ir ao pátio agora e ver que as pessoas
recuperam seus animais e de maneira justa. Descanse amor.
— Você vai pedir para Raymond vir? Eu quero falar com ele.
Ele assentiu e se virou para sair.
Ela levantou a mão para detê-lo. — Beije-me, Addis.
— Eu machucarei você.
— Por favor, me beije.
Ele cuidadosamente roçou seus lábios rachados e inchados
com a boca, e pressionou o beijo mais gentil sobre eles.
Lágrimas ardiam em seus olhos fechados, e não por causa de
qualquer dor. Ele permaneceu lá, seu Addis, o Addis vulnerável de
confusão e solidão que havia encontrado o amor com uma serva. O
calor deles os conectou por tempo suficiente para que ela quase
perdesse a compostura. Ela saboreou, marcando sua mente com
essa memória final.
Um som os interrompeu. Ela olhou através dos olhos úmidos
para Thomas Wake parado na porta. Addis se endireitou, de repente
o Senhor de Barrowburgh novamente, o guerreiro temível que
poderia conquistar uma fortaleza em três horas da noite e manter
uma criança refém em um jogo de poder. Os dois homens a
deixaram sozinha no solar.
Era como ela sabia que seria. A corda de sua vida havia sido
reatada. Ele não precisava mais dela, não de verdade. E chegou o
momento, aquele momento específico que ela temia, quando ela
deveria partir ou voltar para as sombras.
As respirações profundas com as quais ela lutava contra as
lágrimas esgotaram seu corpo machucado. Ela só encontrou algum
conforto quando forçou seus pensamentos do passado para o
futuro, e para a busca que a aguardava.
Quando Raymond chegou, ela tomou sua decisão.
— Você tinha ouvido falar? — ela perguntou.
Ele franziu a testa e assentiu. — Ele diz que tem certeza.
— Ele vai dar Brian para você? Você é o tio dele.
— Eu ainda não perguntei, mas temo que não. A verdade do
seu nascimento será sempre ambígua. Addis pode repudiá-lo, mas
não há prova, exceto a palavra de Addis. Quando ele for maior de
idade, Brian pode desafiá-lo e será uma ameaça para o futuro
seguro de qualquer filho.
— Um homem não repudiaria seu próprio sangue. Certamente
Addis está certo.
Raymond encolheu os ombros. — Presumivelmente. Mas pode
ser sua vingança final por Claire. Dizem que ela o abandonou e sei
que ela lutou contra o casamento. Se ele a odiasse por isso, ele
poderia não querer o filho dela como herdeiro.
Ele poderia fazer isso? Ele não se aqueceu para o garoto e
disse que sempre que via Brian, via a traição.
— Você sabe onde ele está?
— Não.
Nem ela. Mas ela sabia a direção que tinham seguido e o
tempo que levou para levar Brian ao seu esconderijo.
— Eu quero sair daqui agora, Raymond. Você vai me ajudar?
Isso o assustou. — Você não está em condições de viajar,
Moira. E Addis.
— Raymond. Agora. Assim que você puder arrumar uma
carroça. Alguns dos camponeses vão me levar para onde eu quero
ir. Você não precisa me acompanhar.
— Moira você está ferida e chocada. Você amou o garoto e
essa notícia perturbou você. Espere para falar com Addis.
— Sim, essa notícia me perturbou, assim como a percepção de
que ele vai querer deixar Brian onde quer que esteja, uma criança
sozinha sem o amor da família. Mas eu sempre pretendi partir. Eu
disse que o veria entrar nesses portões e sentar naquela cadeira e
assim fiz. As notícias sobre Brian apenas reforçam minha decisão.
Raymond suspirou e balançou a cabeça. — Você sempre teve
orgulho suficiente de três mulheres, e é uma coisa infernal que você
faz. Ele não perdoará nem você nem eu por ajudá-la.
— Você vai fazer isso?
— Eu farei. Em nome da amizade de minha irmã por você e
porque você sacrificou parte de sua vida para ajudar meu sobrinho,
eu devo isso a você. Mas você não vai esperar para vê-lo novamente
em primeiro lugar? Para se despedir?
Se o visse de novo, talvez nunca fosse embora, mesmo com os
desapontamentos e dúvidas que enchiam seu coração. — Eu já disse
adeus aos Addis que eu amo.
Capítulo XXII
Ela não o notou entrar no quarto. Ela estava debruçada
sobre a pequena janela, a luz dourada do final da tarde colorindo
seu véu e inundando sua forma, a fina lã de seu vestido cobrindo-se
atraentemente sobre seus quadris arredondados. Ele podia ver o
perfil dela da porta e observava em silêncio enquanto seus olhos
azuis olhavam com expectativa, em seguida, brilhavam quando um
sorriso adorável animou seu rosto. Ela levantou uma mão do peitoril
e acenou, em seguida, endireitou-se e silenciosamente se levantou
como uma sentinela.
Ela parecia-lhe um oásis de suavidade em um mundo cruel, um
raio de luz iluminando o quarto mais do que os raios de sol. Suas
duas almas começaram a se acomodar, mas sua presença produziu
a antiga serenidade e ele acolheu a graça calmante tornada ainda
mais potente pelas memórias ligadas a ela.
Ela não se mexeu, mas ele sabia o momento exato em que
percebeu que não estava sozinha. Mesmo assim, o olhar dela não
deixou o que ela observava.
— Como você me achou?
Ele foi até ela. — Você não estava em Londres e seu povo não
a via desde que partimos juntos na primavera. Você não estava em
Darwendon, e Raymond finalmente me convenceu de que ele não
escondeu você em Hawkesford. Então me lembrei de que você
morava em Salisbury quando se casara e imaginei se talvez tivesse
percebido que Brian também estava aqui.
Ele olhou pela janela. A casa se apoiava contra a parede da
abadia e, a partir daqui ela podia ver o quintal. Um grupo de
meninos chutava uma bola entre eles. O cabelo do menor brilhava
pálido e loiro.
— Os frades não me deixaram falar com ele, mas eu o observo
todos os dias desta janela. Ele sabe que estou aqui agora e me
procura quando eles saem para brincar. Seu rostinho se ilumina com
um sorriso que diz que ele sabe que não está mais sozinho.
Ele desprezou a criança cuja existência simbolizava traições
muito pior do que o ato que a concebeu. Isso realmente não
importava mais. Nada daquela época, exceto o amor, a lealdade e a
força que a Sombra tinha dado abnegadamente.
— Ele não é meu, Moira. Eu não estou punindo Claire por
repudiá-lo. Raymond me acusou disso, mas não é verdade.
— Não, não é. Não há nada de você nele. Eu vejo isso agora.
Pouco de Simon também. Ele é totalmente o filho de Claire. Ela
mentiu para mim sobre ele. Sobre você. Ela disse que você tinha
exigido... antes de você ir na cruzada que você tinha...
— Forçado ela. E você acreditou nisso?
— Na época, não foi tão difícil de acreditar. Era um jovem
amargo que eles trouxeram de volta a Barrowburgh, com uma
garota amarga ao seu lado. Você a odiava então, penso eu, mesmo
que você não se lembre.
Ele se lembrava disso. Essa parte ele nunca tinha esquecido.
— Eu conhecia Claire desde que ela nasceu. Sim, eu a odiava,
mas não porque ela se afastou de mim como esposa e mulher. Ela
se afastou de mim como amiga também. Aqueles anos deveriam ter
nos deixado pelo menos isso.
— Ela era jovem e assustada.
— Ela era superficial e vaidosa e só amava a si mesma. Uma
mulher com suas profundezas e coração provavelmente não pode
entender que as pessoas podem ser assim. Eu tinha começado a ver
isso enquanto superava minha juventude. Seu brilho não poderia me
cegar para sempre. Seu comportamento quando eu estava ferido só
me fez encarar o que meu coração já sabia há algum tempo. — Ela
não olhou para ele. Ela ainda observava a criança. — Me incomoda
pensar que sempre que você olha para aquele menino, você vê uma
criança nascida da violência. Que a lembrança que você teve de mim
naqueles anos era de um homem que machucaria sua esposa.
Um pequeno cenho franziu a testa enquanto seu olhar se
voltava para dentro. — Na verdade não. Ela descreveu assim, mas
eu não acreditei que você tivesse usado a violência. Ela era sua
esposa e presumi que exigira seu dever para com você. Na cabeça
dela, poderia ter sido força, mas pensei que talvez tivesse sido como
James e eu.
— Não era nem como James e você. Eu sei que ele não é meu
filho porque, apesar do casamento, eu nunca deitei com ela depois
do meu retorno. Eu não podia desfazer o casamento, mas ela estava
morta para mim e eu não a queria na minha cama.
Ela assentiu, como se ele tivesse acabado de confirmar seus
próprios pensamentos. — Eu me perguntei por que ela mentiu sobre
isso. Afirmar que a criança era sua fazia sentido, claro. Mas por que
acusá-lo dessa crueldade?
— Toda a casa sabia como as coisas estavam entre nós. Talvez
ela temesse que, se não desse uma história que encaixasse nos
fatos, alguns se perguntariam sobre a paternidade da criança.
Certamente meu pai acharia curioso, pois sabia que raramente
conversávamos e que eu não a tocara. Um marido enfurecido,
forçando seus direitos na véspera de sua partida, explicaria a criança
que ninguém esperava ver concebida.
— Como você sabia que ele era do Simon?
— Suspeitei quando ficou claro que ele não procurara muito
por Brian. Ele sabia sobre Darwendon, mesmo que ele não soubesse
sobre você.
Brian deu a bola um chute selvagem. Os garotos correram em
torno de um canto do prédio para pegá-lo. Ela o viu desaparecer e
finalmente se virou, aqueles olhos claros procurando os dele. —
Você poderia ter feito isso? Usá-lo em vingança contra o pai?
— Na verdade, eu não sei. Se Simon tivesse te matado, talvez
sim. O que você acha, Moira?
— Acho que não, mas também não sei. Você é uma pessoa
complexa, Addis. Uma vez você disse que sente como se duas almas
existissem em você, mas às vezes eu sinto muitas mais, e algumas
delas me assustam. Há momentos em que não acho que conheço
você e que realmente nunca poderei.
— Você me conhece, Moira. Se alguém faz, você faz. Você me
conhece tanto quanto eu me conheço, o que admitirei que não seja
muito bom.
Ela baixou o olhar para o chão entre eles. — Fico feliz que você
veio me explicar isso, Addis.
— Não foi só por isso que eu vim.
Ela parecia um pouco assustada, e lançou um olhar cego ao
redor da sala como se ele a encurralasse e ela buscasse uma fuga.
— Este quarto está superaquecido. Desça ao jardim comigo
para que possamos falar.
— Eu acho que não, Addis.
Ele pegou a mão dela na sua. O delicado calor fez seu coração
inchar de alívio e amor. Ele temia que nunca mais sentisse o toque
dela.
Ela resistiu cautelosamente. Ele persuadiu-a com um puxão
firme, preparando-se para uma batalha mais vital para sua vida do
que a de Barrowburgh.
Ela não deveria ir. Ela deveria mandá-lo embora e não ouvir as
palavras que ele tinha para ela. Seu bom senso cantou isso
enquanto ele a levava descendo as escadas e entrando no pequeno
jardim murado cheio de plantas jovens.
Sim, ela não deveria ir, mas ela olhava para as costas magras e
fortes sob a sua túnica marrom, e o braço fino e bronzeado se
estendendo para o dela, e o rosto bonito arrependido. Seu coração
se agitava desde que ela era uma menina, e a parte dela que há
muito tempo abandonara o bom senso com ele não negaria este
breve e final momento, não importando a dor crua que se
renovasse.
Ele encontrou um banco contra uma parede onde uma cerca os
escondia dos olhos curiosos da mulher do ourives que possuía a
casa. Ela soltou a mão e alisou incansavelmente as dobras da saia.
Ela o sentiu a observando. Sentado ao lado dele, deixou-a um pouco
sem fôlego.
— Está tudo bem em Barrowburgh? — ela perguntou
debilmente.
— Bem o suficiente. As colheitas parecem boas e as pessoas
estão contentes. Lucas Reeve se recuperou, embora tenha perdido a
visão em um olho naquela noite. Dei a cada um de seus filhos um
virgate e disse que eles não precisam pagar a heriot14 quando o pai
deles morrer.
— Você é um senhor generoso e justo. Os villeins em
Darwendon pensavam assim também.
— Foi uma generosidade fácil.
— E Owen. O que aconteceu?
— Em meu encorajamento, Owen decidiu expurgar seus
pecados com outra cruzada. Uma cruzada muito longa. E a mãe de
Simon perguntou se poderia se retirar para um convento e eu dei
minha permissão.
— Tudo está feito, então. Você tem sua vida de volta. É como
deveria ser. Estou feliz por você, Addis.
Ele inclinou a cabeça pensativamente. — Está feito. Eu deveria
estar mais do que contente. E ainda sinto pouca alegria, Moira. Eu
tenho minha vida de volta, e não sou tão tolo ou ingrato a ponto de
esquecer o valor disso. Mas aquele castelo é um lugar frio, cheio de
sombras sem vida. Eu faço o meu dever como fui ensinado desde o
nascimento, mas meu coração não pode se aquecer. Às vezes me
sinto novamente como escravo, agora servindo aos fantasmas de
meus ancestrais.
Ela podia imaginar isso e seu coração doía por ele. A solidão
era algo que ela entendia e viera a conhecer de novo muito bem. —
Vai mudar. Quando você se casar e tiver uma família, será uma
verdadeira casa novamente. Lady Mathilda trará vida e calor para
Barrowburgh.
— Quando eu casar, não será com lady Mathilda. Thomas
Wake lamentavelmente me disse que a garota não acha que nos
adequamos um ao outro. Ele sabia mesmo quando ele trouxe o
exército que não haveria casamento. Mathilda acha que eu não sou
refinado e cortês o suficiente. Ela quer um cavalheiro que escreva
sua poesia e pendure em cada uma de suas muitas palavras como
se fossem pérolas que caíssem de sua boca.
— Ela é uma pequena pateta boba!
Ele estendeu a mão e afastou alguns cabelos errantes que
haviam escapado do seu véu. — Talvez ela suspeitasse que durante
todo o tempo em que ela tagarelou em Yorkshire, eu estava fazendo
amor com você em minha mente.
O leve toque e o olhar em seus olhos a fizeram tremer. Ela mal
encontrou uma voz. — Se é assim, isso foi realmente descortês.
Seus dedos deslizaram para acariciar seu rosto, movendo-se
suavemente sobre a carne como se ele estivesse aprendendo sua
estrutura. Ele convocou um amor angustiado cheio de anseios
pungentes e impossíveis, que diziam que ela pagaria caro nos
próximos dias por essa visita. Nos três meses desde que ela o
deixou, ela finalmente aprendeu a aliviar a dor, mas também
aprendeu que a punição de amar a pessoa errada dura uma vida
inteira.
— Quero que você volte comigo.
— Ah, Addis...
Ele abraçou-a com um braço e beijou-a em silêncio, a palma da
mão dele descansando calorosamente em sua bochecha. — Você
virá. Você deve.
Tão tentador afundar naquele abraço para sempre. — Haverá
outro noivado, outra Mathilda. Você fala apenas de um adiamento, e
meu coração não consegue aguentar tantas dessas despedidas
antes que ele se quebre para sempre. Você é prova suficiente de
que cada um de nós vive várias vidas antes de morrermos. Há
sabedoria em aceitar quando uma termina e outra começa. Eu te
amo, Addis. Eu sempre amarei. Mas não há lugar para mim na vida
que você tem agora.
— Se isso é sabedoria, então nunca serei sábio. Eu não quero
uma vida que não tenha lugar para você nela. Você voltará comigo e
tomará o lugar que é seu em meu coração. Não há obrigações para
com o passado no caminho. Nós vamos nos casar.
Ele parecia tão sério, tão determinado, como se falasse de
lógica em vez de absurdo. Ela acariciou seu rosto e sua cabeça
inclinou-se ao seu toque até que se sentaram com as testas
pressionadas e as palmas das mãos no rosto um do outro.
— É impossível. Você sabe disso melhor do que eu.
— Não é proibido. Uma vez feito, ninguém pode desfazer isso.
— Você será desprezado por você mesmo e ridicularizado por
sua escolha de esposa. Até os camponeses vão pensar que você é
louco.
— Aqueles que te conhecem não vão me desprezar, mas me
invejar, e eu não me importo com o que é dito ou pensado.
— Eu sou nascida de servos, Addis. Também poderia ser
proibido.
— Sim, você viveu como serva, Moira, com tudo o que
significa. Mas eu vivi como escravo. Meu grau foi ainda mais baixo
que o seu.
— Isso foi um acidente. Um erro.
— Todos os nossos nascimentos são acidentes e o seu é um
erro. Eu sei que somos ensinados que é ordenado por Deus, mas eu
não acredito nisso. De todas as crenças e costumes que eu
questionei desde que voltei, este eu sei que está errado e eu não
ficarei preso a isso. Parece-me que se um rei ungido pode ser posto
de lado, uma mulher nascida em servos pode se casar com o filho
de um barão. Quando as rebeliões contra a ordem legal de Deus
forem cumpridas, as nossas serão pequenas.
Ela não sabia como responder. A oferta na porta da igreja fora
um impulso precipitado, mas isso fora contemplado e planejado. A
ideia era absurda demais. Certamente ele viu isso.
Ele franziu a testa. — Você está pensando que não poderia
suportar, Moira? Se formos ridicularizados ou há desaprovação? As
mulheres podem ser duras umas com as outras, eu sei, e pode ser
pior para você do que para mim. Se você não acha que pode viver
na minha vida, eu sempre posso viver na sua. Eu posso devolver
Barrowburgh ao rei e me tornar um hospedeiro com você.
Deus querido, ele estava falando sério. — Não. Oh, Addis, você
está falando mais loucura. Pense. Seus filhos terão uma serva por
mãe e avó. O que acontecerá com eles?
— Eles terão uma mãe que eles vão amar como eu e vão
querer proteger. Uma mulher amada pelo marido e uma avó amada
pelo seu senhor.
Sua insistência estava esgotando seu espírito e fazendo com
que ela perdesse as sólidas verdades de seu próprio argumento.
Suas emoções se embaralharam e seu olhar amoroso e
tolerante a destruiu. Ela balançou a cabeça com uma negação final e
vaga antes de afundar em seus braços.
Ele a segurou contra o peito com a cabeça enfiada sob o
queixo, gentilmente acariciando suas costas. — Você voltará comigo
e trará vida a essas sombras e calor ao meu coração como sempre
fez, Moira. E vou aprender a dar a você como você sempre me deu.
— Eu só lhe traria problemas e vergonha. Você é muito
teimoso e obstinado para ver isso. Há algumas coisas que o Senhor
de Barrowburgh não pode ordenar ao seu gosto — ela murmurou,
escondendo os olhos cheios de lágrimas em sua túnica. Ele não
podia saber o quanto ele a torturou com esse sonho sem esperança.
Ele fez parecer tão possível, tão real, mas o sangue que corria em
seu corpo tinha sido ensinado por séculos que nunca poderia ser
assim. Ele veria isso em breve e ficaria grato por ela não ter
concordado. Mas, oh, o pensamento disso, suspenso fora de
alcance, tentando-a para uma excitação ridícula que a verdade e o
bom senso mal podiam suprimir...
Ele inclinou o rosto para o dele e afastou uma lágrima da
bochecha dela. — Você está me recusando, Moira?
Sua garganta queimava e seus lábios tremiam. Ele parecia tão
triste quando leu a decisão em seus olhos.
— Então eu peço um presente final antes de nos separarmos.
Eu quero que você cante para mim. Uma das canções de amor,
como você fez no jantar. Eu gostaria que a música fosse sobre você
e eu, de modo que eu pense em você sempre que a ouvir
novamente.
— Não, Addis. Por favor…
— Você também me recusaria isso? Esta memória final? É uma
coisa pequena.
Não era uma coisa pequena. Isso iria despedaçá-la e ela
poderia nunca estar inteira novamente.
Ela cheirou e lambeu os lábios e descansou a bochecha contra
o peito dele. Apenas seu batimento cardíaco a acompanharia. Ela
encontrou um ponto de compostura tênue e se agarrou a ele e, de
alguma forma, milagrosamente, a melodia e as palavras
sussurravam adiante.
Sua voz podia encher um salão, mas agora viajava a curta
distância até os ouvidos dele. Seus lábios pressionaram o topo de
sua cabeça e ficaram lá. A canção angustiou e exaltou-a, e seu
abraço apoiou um corpo que não conhecia força. As imagens
voaram por trás de seus olhos embaçados enquanto velhas
lembranças apareciam agudamente no clima pesado da música. Um
jovem de luto em seus braços. Um cavaleiro gritando de dor. Um
homem de olhos de fogo despojado de ilusões e vontade.
Sua voz vacilou várias vezes antes do final. As últimas palavras
foram perdidas em um soluço que ela enterrou em seu peito. Ele
segurou-a ao peito enquanto ela gritava seu coração, e esfregou sua
bochecha contra seu cabelo como um pai poderia confortar uma
criança.
Sua própria voz veio baixa e rouca de emoção. — Você se
pergunta por que não vou viver sem você? Seu amor e lealdade me
sustentaram e confortaram de maneiras que eu nem conhecia.
Mesmo na escravidão, acho que foi você que meu espírito procurava
quando olhava para as estrelas. Você tem sido minha melhor aliada
há anos, ajudando-me até mesmo na morte quando cuidou do
menino, protegendo-me naquela noite escura quando perdi a
vontade de me proteger.
Ela se amontoou no santuário reconfortante de seus braços e
lutou para conter o fluxo que a canção desencadeara. — Quando
você se lembrou?
— Meu coração soube assim que te vi de novo. As lembranças
vieram lentamente, em bocados e pedaços. Elas começaram a tomar
forma uma vez que eu tinha Barrowburgh novamente. Mas eu tinha
começado a entender onde eu tinha que procurá-las antes disso.
Ela se sentia tão perto dele que achava que sua própria
essência havia se fundido com a dele. Ela encontrou uma serenidade
feliz lá, e um calor amoroso que acariciou suas emoções agitadas
como uma carícia reconfortante.
— Olhe para mim, Moira.
Ela se afastou até poder ver o rosto marcado e a outra metade
perfeita.
— Pertencemos um ao outro. Você voltará comigo e vai se
casar e o resto do mundo pode ir para o inferno se eles não
gostarem. E quando nossos filhos chegarem, contarei a história da
serva que amava das sombras e não esperava nada em troca.
Ele não estava realmente pedindo que ela concordasse. É
assim que deve ser, sua expressão dizia. E ele estava certo.
Rejeitar o que eles compartilhavam seria um tipo de pecado.
Um traço de tristeza dividiu a euforia que se derramou através
dela. Seu olhar desviou-se para a parede mais distante que continha
a abadia. Ele virou o rosto para trás e a beijou. — Brian virá
conosco. Não será o sangue de Simon que formará o homem que
ele se torna, mas o seu amor. Ele não é meu filho e eu não o terei
substituindo nossos próprios filhos embora. Ele deve ser informado
da verdade, mas eu vou aceitá-lo como meu próprio sangue. Ele
pode decidir mais tarde que ele é adequado para a abadia e escolher
retornar aqui, mas se não, eu lhe darei a mansão báltica que é
minha.
Ela quase chorou de novo. — Isso não é generosidade fácil,
Addis. E eu te amo ainda mais por isso.
— Ele é inocente e eu não posso permanecer insensível para
alguém que você ama. — Ele se levantou. — Nós vamos buscá-lo
agora, se você quiser. Mas espero que haja um catre sobressalente
nesta casa para ele. Eu não quero tê-lo em nossa cama hoje à noite.
— Acho que podemos encontrar um lugar em outro aposento
para ele. — Ela se certificaria de que eles fizessem. Um amor muito
especial os esperava quando a noite caísse.
Ele olhou para ela com tanto amor que ela pensou que poderia
voar para o céu.
— Então vamos falar com os frades, mas primeiro vamos parar
na porta da igreja. — Ele estendeu a mão para ela. — Venha e diga
as palavras comigo, Moira. Seja minha para sempre.
Ela olhou para aquele gesto chamando-a para o futuro
impossível. Somente o maior amor e lealdade sobreviveriam ao que
os esperava. Sua alma de serva sabia disso, mesmo que nenhuma
de suas almas soubesse.
Ela colocou a mão completamente na dele.

Ela se castigou por sua tola confiança em sua bondade. Podia-


se conhecer um homem por quem ele servia e ele servia o pior. Ele
sem dúvida esperava que ela lhe pagasse, e não com louça. Ele
gostava dela daquela maneira. Foi nos olhares quentes que ele deu
a ela.
Isso a preocupou. Ela não queria o interesse de um homem
que atravessasse Mortimer todos os dias. Ela não queria que ele se
lembrasse de nada sobre ela, muito menos onde ela poderia ser
encontrada.
No portão ela parou e olhou para ele.
— Eu agradeço — ela disse, tentando tornar amigável, mas
desdenhosa.
— Essas são as únicas palavras que você conhece? Além da
conversa cortante que é perigosa e insultante?
— Que outras palavras você quer?
— Não a oferta de seus favores como você teme. No entanto,
desde que eu arrisquei uma briga com um punhal, descobrir o seu
nome seria bom.
— Me perdoe. É apenas…
— Eu sei como é, linda pomba. Você é sábia por ter cuidado.
— Joan. Meu nome é Joan. — Não havia perigo em dar isso.
Havia milhares de Joans em Londres.
Mark chamou impaciente do portão. Rhys recuou e fez uma
vaga reverência. — Até que nos encontremos de novo, Joan. E tente
ficar de fora das brigas de rua.
Ela assistiu com alívio enquanto ele voltava para a cidade. Ela
também experimentou uma pequena pontada de arrependimento
melancólico. Houve alguns minutos deliciosos lá quando ele a fez se
sentir como a garota que ela tinha sido uma vez.
Eles nunca se encontrariam novamente, se ela pudesse ajudar.

Fim
Sobre a Autora
Madeline Hunter trabalhou como balconista de
supermercado, funcionária de escritório, revendedora de arte e
escritora freelancer. Ela é Ph.D. na história da arte, que ela
atualmente leciona em uma universidade do leste. Ela mora na
Pensilvânia com seu marido, seus dois filhos adolescentes, um vira-
lata gordinho e adorável e um gato preto com uma atitude
importante.

Ela pode ser contatada através de seu site,


www.MadelineHunter.com, onde os leitores também podem
encontrar mais informações sobre os eventos históricos e
personagens usados neste romance.
Notas

[←1]
Lehmann: sobrenome poligenético que significa vassalo, isto é, possuidor de feudo
outorgado por outrem. É a aglutinação das palavras alemãs lehngut (feudo) e mann
(homem). Originalmente aparece relacionado a região sudeste de Brandemburgo.
Aparece também com alguma frequência em torno da região da Floresta Negra, na
porção ocidental de Baden-Württemberg. De qualquer maneira, o sobrenome e suas
variantes aparecem em todas as regiões da Alemanha, mesmo que com menor
frequência.
Variantes: Lehman - variante simples, comum nas Américas.
[←2]
Villein: (na Inglaterra medieval) um inquilino feudal inteiramente sujeito a um senhor
ou senhorio a quem ele pagava dívidas e serviços em troca de terras.
[←3]
Hallmote: um tribunal entre os Saxões, tendo jurisdição civil e criminal. Um tribunal
mantido pelo governo de um feudo dentro de seu salão.
[←4]
Longhouse: é um tipo de casa de uma sala longa, proporcionalmente estreita e
construída por povos em várias partes do mundo, incluindo Ásia, Europa e América
do Norte. Muitos foram construídos a partir da madeira e muitas vezes representam a
forma mais antiga de estrutura permanente em muitas culturas. Os tipos incluem a
longa casa neolítica da Europa, a casa medieval de pedra Dartmoor, que também
abrigava gado, e os vários tipos de Longhouses construídos por diferentes culturas
entre os povos indígenas das Américas.
[←5]
Virgate: Uma medida inglesa antiga de área de terra de valor variável, muitas vezes
igual à cerca de 30 acres (12 hectares).
[←6]
Reise: palavra alemã que significa jornada, viagem
[←7]
Reeve: (na Inglaterra medieval) um administrador senhorial que supervisionava os
assuntos diários do feudo: muitas vezes um servo feudal eleito por seus
companheiros.
[←8]
Balestra: Arma medieval consistente em um arco de aço ou de madeira, usado na
posição horizontal, preso a uma corda que se retesa ao ser puxada, e dispara dardos
ou flechas. Também é chamada de besta.
[←9]
Mummer: ator em uma mímica mascarada tradicional, especialmente de um tipo
associado ao Natal e popular na Inglaterra no século XVIII e inicio do século XIX.
[←10]
Surcotte: Um sobretudo ou surcote inicialmente era uma vestimenta externa
comumente usada na Idade Média por homens e mulheres na Europa Ocidental.
Pode referir-se a um casaco usado sobre outras roupas ou a própria roupa mais
externa.
[←11]
Falo: Os termos falo e fálus, usualmente, remetem à simbologia dada às
representações da imagem de um pênis ereto. O falo era adorado pelos povos
antigos como um símbolo da fecundidade da natureza.
[←12]
Aríete: é uma antiga máquina de guerra que foi largamente utilizado nas Idades
Antiga e Média, para romper muralhas ou portões de castelos, fortalezas e
povoações fortificadas.
[←13]
Poterna: em arquitetura militar, é uma porta secundária, dissimulada nas muralhas
de um castelo ou fortaleza, conduzindo para o exterior, permitindo aos ocupantes das
instalações, sair ou entrar sem atrair as atenções nem serem vistos.
[←14]
Heriot: (na Inglaterra medieval) um dever de morte pago pelos villeins e inquilinos
livres ao seu lorde, freqüentemente consistindo no melhor animal ou propriedade do
homem morto.

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