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Talionis apresenta:

Jennifer Ashley
Os numerosos pecados de Lorde Cameron
Highland Pleasures 3

Como libertino de renome, a Cameron Mackenzie importa pouco se Ainsley Douglas tem
uma desculpa virtuosa para penetrar em seu quarto. A única coisa que o interessa é que a
tem a sua mercê. Beijo a beijo, planeja seduzi-la. Mas o que começa sendo uma sedutora
distração pode levar Cam a romper suas próprias regras.

Disp em Esp: Bex, Celia, Elena, Eliana, Jane, Nora, Silvia y Mely
Envio do arquivo: Δίκη
Revisão Inicial: Tessy
Revisão Final: Matias Jr.
Formatação: Cynha
Imagem: Élica
Talionis
Jennifer Ashley
Highland Pleasure 03

Comentário da Revisora Tessy: Adorei a história, bem contada com uma mocinha
decidida e verdadeira e um mocinho cheio de traumas e cicatrizes (literalmente) juntos
conseguiria espantar seus fantasmas e viver uma linda história de amor... Há e tem cenas
hots que só os Mackenzie são capazes de protagonizar. Que venha o Hart Mackenzie!!

Comentário do Revisor Matias Jr.: Uma história onde os homens da família, apesar
da má fama, são extremamente dedicados e dependentes de suas mulheres. Incapazes até
de agir com dureza mesmo quando a mulher não passa de um monstro que tomou posse
de um corpo de mulher desejável e ninfomaníaca... Portanto, poderão contar com uma
história romântica, de superações e com momentos muito sensuais.

Boa leitura.

Capítulo 1

Escócia, Setembro 1882

Vi a Sra. Chase deslizar essa carta no bolso de Lorde Cameron. Fez-o quase sob meu
nariz. Maldita mulher.

Ainsley Douglas ficou de joelhos com seu vestido de baile e colocou os braços
profundamente no armário de Lorde Cameron Mackenzie.

Por que logo Cameron Mackenzie, de entre todos os outros? Saberia a Sra. Chase? O
coração de Ainsley retumbou antes que conseguisse se tranquilizar. Não, Phyllida Chase
não podia sabê-lo.

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Ninguém podia. Cameron não devia ter dito a ninguém, porque o conto teria
retornado até Ainsley de novo, com uma velocidade impressionante, era o que tinham as
intrigas de sociedade.

Portanto, cabia pensar que Cameron manteve a história para si mesmo.

Ainsley só se sentiu ligeiramente melhor ao constatar que a carta da Rainha não


estava nos bolsos de nenhum dos casacos do armário. No armário, Ainsley encontrou
camisas pulcramente dobradas, lenços para o pescoço empilhados em caixas, gravatas
cuidadosamente separadas e envoltas com papel de seda. Rica cambraia e seda e o mais
suave linho, todas elas caros tecidos que delatavam o gosto de um homem rico.

Ela apalpou, andando depressa, entre os objetos, mas em nenhum deles encontrou a
carta colocada descuidadamente em um bolso ou caída entre as camisas na estante. O
ajudante de câmara provavelmente teria inspecionado os bolsos de seu senhor e recolhido
qualquer papel estranho para devolver ao Lorde Cameron ou para guardá-lo em algum
lugar. Ou talvez Cameron já a tivesse encontrado, e pensando que eram tolices femininas a
tivesse queimado. Ainsley rezou rápido e com ardor pedindo que simplesmente a tivesse
queimado.

Não é que tal coisa resolvesse completamente o dilema de Ainsley. Phyllida, maldita
mulher, tinha mais cartas da Rainha, escondidas em algum lugar. A missão de Ainsley era
as recuperar a todo custo.

O custo imediato era o vestido de baile, de cor cinza pomba, de Ainsley, o primeiro
vestido novo que teve em anos, que não era de negro luto. Sem mencionar o custo para
seus joelhos, suas costas e sua prudência.

Sua prudência foi ainda mais perturbada pelo som da porta se abrindo atrás dela.

Ainsley se impulsionou rapidamente fora do armário e deu a volta, esperando


encontrar o ajudante de câmara, cigano e bastante aterrador, de Cameron olhando-a. Em
vez disso, a porta estava bloqueada por quem quer que a empurrou para abri-la, dando a
Ainsley uns poucos segundos mais para que aumentasse o pânico.

Precisava se esconder. Mas onde? A porta do armário estava do outro lado do


quarto, o armário atrás dela estava muito cheio para uma moça com um vestido de baile.

Sob a cama? Não, ela nunca conseguiria atravessar correndo o tapete e escapulir para

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baixo a tempo.

A janela com seu assento estava a dois passos mais à frente. Ainsley se lançou em
picado para ali, recolhendo suas saias debaixo dela e correndo as cortinas para as fechar.

Bem a tempo. Através de uma fresta nas cortinas, viu lorde Cameron entrando no
quarto com Phyllida Chase, ex—dama de honra da Rainha, pendurada ao redor de seu
pescoço.

A repentina queimação no coração de Ainsley a tomou de surpresa. Ela soube a


semanas que Phyllida colocara suas garras em Cameron Mackenzie. Por que deveria
importar a Ainsley?

Phyllida era a classe de mulher que o lorde Cameron preferia: encantadora,


experimentada, e não muito controlada por seu marido. Deste modo Cameron era do tipo
que Phyllida gostava: rico, bonito, e sem procurar uma relação profunda. Eles se
adaptavam bem mutuamente. O que tinha isto haver com Ainsley?

Ainda assim, um nó se formou em sua garganta quando Lorde Cameron fechou a


porta com uma mão e a outra deslizou pelas pequenas costas de Phyllida. Ela enrolou seus
braços ao redor dele, enquanto que Cameron se inclinava para baixo e depositava lentos
beijos por seu pescoço.

Havia desejo nesse abraço, desavergonhado, inconfundível desejo. Uma vez, há


muito tempo, Ainsley sentiu desejo por Cameron Mackenzie. Recordou uma onda de calor
suavizando seu corpo, o ponto ardente onde a beijou.

Haviam passado anos, mas ela ainda recordava a estampagem de sua boca em seus
lábios, em sua pele, suas mãos tão hábeis...

Phyllida se fundiu com Cameron com um som faminto, e Ainsley revirou seus olhos.
Ela sabia muito bem que o Sr. Chase estava ainda nos jardins, seguindo a festa da casa, nos
jardins com os passeios iluminados por faróis de papel sob o céu da meia-noite. Ainsley
sabia disto porque ela escapou da festa enquanto se mudavam do Salão de baile aos
jardins, para assim poder procurar o quarto de Lorde Cameron.

Eles não podiam tê-la deixado procurar em paz, não é? Não, a pesada da Phyllida
não podia manter-se longe de seu macho Mackenzie e o havia arrastado até aqui para ter
um caso. Vaca egoísta.

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A jaqueta de Cameron deslizou até o chão. O colete e a camisa debaixo dele


marcavam os músculos endurecidos por anos de montar e treinar cavalos. Lorde Cameron
se movia com facilidade para ser um homem tão grande, cômodo com sua altura e sua
força. Corria com a mesma graça, os cavalos sob ele respondiam ao toque mais leve. As
damas respondiam ao mesmo toque, ela tinha razões para sabê-lo.

A profunda cicatriz em sua face fazia que alguns dissessem que sua beleza estava
arruinada, mas Ainsley discordava. A cicatriz nunca a havia posto nervosa, mas sua altura
deixou sem fôlego Ainsley quando Isabella o apresentou, há seis anos, enquanto sua mão
enluvada engolia a sua menor. Cameron não parecia muito interessado em uma velha
amiga da velha escola de sua cunhada, mas mais tarde... OH, aquele mais tarde.

Neste momento, o olhar de Cameron estava reservado para a beleza magra e de


cabelo escuro de Phyllida Chase. Ainsley chegou a pensar que Phyllida mantinha seu
cabelo negro com a ajuda de um pouco de tintura, mas Ainsley nunca o diria. Ela não seria
tão mesquinha. Outra coisa era se Isabella e ela davam umas boas risadas sobre o tema,
que dano havia nisso?

O colete de Cameron desapareceu e, em seguida, seu lenço, dando a Ainsley uma


visão excelente de sua nua e úmida garganta.

Ela olhou para outro lado, com uma dor em seu peito. Perguntando-se quanto tempo
teria que esperar antes de tentar escapar. Certamente, quando o casal estivesse na cama,
estariam muito absortos um no outro para notar que alguém se arrastava até a porta.
Ainsley soltou um longo suspiro, tornando-se mais infeliz momentaneamente.

Quando controlou os nervos para voltar a inspecionar através das cortinas, o sutiã de
Phyllida estava aberto, revelando um bonito espartilho sobre umas curvas generosas.

Lorde Cameron se inclinou para beijar o seio que transbordava sobre a borda do
espartilho, e Phyllida gemeu de prazer.

A Ainsley chegou a visão de Lorde Cameron pressionando seus lábios em seu seio.
Recordou seu fôlego queimando sua pele, suas mãos em suas costas. E seu beijo. Um
profundo, quente beijo que despertou cada um dos desejos que Ainsley jamais teve.
Recordou a pressão exata do beijo, a forma e o sabor de sua boca, a rudeza de seus dedos
em sua pele.

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Também recordou o pulsar descompassado de seu coração quando a olhava... E


quando olhou através dela no dia seguinte. Por sua própria culpa. Ainsley era jovem e
permitiu a si mesma ser ingênua, e além disso, agravou o problema o insultando. A mão
de Phyllida estava agora sob o kilt de Cameron. Ele se afastou um pouco para deixá-la
brincar, e o plaid foi se movendo pouco a pouco para cima. As coxas fortes de Cameron
ficaram à vista e

Ainsley viu com surpresa como as cicatrizes marcavam da parte posterior de seus
joelhos à curva de suas nádegas.

Eram profundas, como navalhadas entrelaçadas, produzidas por velhas feridas que
se fecharam há muito tempo. Seguiu as linhas das cicatrizes para... vamos... Mais acima...
Céus benditos!

Ainsley não viu isso... Tão... Não pôde deter o grito sufocado que escapou de seus
lábios.

Phyllida levantou sua cabeça.

— Querido, ouviu algo?

— Não — Cameron tinha uma voz profunda, a palavra dita asperamente.

— Estou segura de que escutei um ruído. Seria um encanto e comprovaria essa janela
por mim?

Ainsley congelou.

— Maldita seja a janela. Isso provavelmente foi um dos cães.

— Querido, por favoooor — Seu tom enquanto fazia biquinhos foi realizado com
perfeição. Cameron grunhiu algo, e, em seguida, Ainsley escutou suas fortes pegadas.

Seu coração martelava. Havia duas janelas no quarto, uma a cada lado da cama. As
probabilidades eram dois a um que Lorde Cameron iria para a outra janela. Aposta, como
Steven, o irmão mais novo de Ainsley, diria.

Se Cameron abria a cortina e descobria Ainsley sentada ali, ou se não o faria.

O Steven não gostava de apostas. Não tinham suficientes variáveis para serem
interessantes, insistia. Isso era porque não era Steven o que estava apinhado no assento de
uma janela à espera de ser descoberto por Lorde Cameron e a mulher que estava

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chantageando à Rainha da Inglaterra.

As grandes mãos bronzeadas de Lorde Cameron pegaram as bordas das cortinas em


frente a Ainsley e as separaram uns poucos centímetros.

Ainsley elevou a vista até Cameron, encontrando seu olhar topázio pela primeira vez
em seis anos. Ele contemplou a ela plenamente, como um leão em uma caçada olhando
uma gazela, e a gazela nela queria correr, correr, correr. A desafiante Maria macho da
Seleta Academia da Senhorita Pringle, entretanto agora se transformou em uma dama
nobre à espera de sua sentença.

O silêncio se estendia. O grande corpo de Cameron a ocultava do quarto atrás dele,


mas poderia facilmente girar e descobri-la. Cameron não lhe devia nada. Devia conhecer
de sobra que ela se escondia em seu quarto por causa de outra intriga. Podia trair Ainsley,
entregando-a a Phyllida, pensando que isto serviria de castigo.

Atrás de Cameron, Phyllida falou...

— O que acontece, querido? — Sobressaltou-se.

— Nada — disse Cameron — Um camundongo.

— Não posso suportar os ratos. Mata-o, Cam.

Cameron deixou seu olhar enlaçado com a de Ainsley enquanto ela lutava para
respirar dentro dos cordões muito apertados de seu espartilho.

— Vou deixá-lo viver, — disse — por agora — Cameron correu as cortinas as


fechando, encerrando Ainsley de novo em seu espaço de cristal e veludo.

— Deveríamos ir para baixo.

— Por quê? Acabamos de chegar.

— Vi muita gente voltando para a casa, incluindo a seu marido. Iremos para baixo
em separado. Não quero envergonhar nem Beth nem Isabella.

— OH, muito bem.

Phyllida não parecia muito desgostada, então isso significava que provavelmente
assumia que poderia escapar com seu lorde Mackenzie a qualquer momento que quisesse
desfrutar de suas carícias.

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Por um momento, Ainsley experimentou uma profunda e dilaceradora inveja.

Os dois permaneceram em silêncio, sem dúvida colocando a roupa, e depois Phyllida


disse:

— Falarei com você mais tarde, querido.

Ainsley escutou a porta se abrir, mais conversas apagadas, e a seguir se fechar, e


tudo ficou em silêncio. Ela esperou uns minutos mais com seu coração golpeando para se
assegurar de que se foram, antes de abrir as cortinas e de se levantar do assento da janela.

Atravessou o quarto e alcançou a maçaneta da porta quando escutou clarear uma


garganta atrás dela. Lentamente, Ainsley girou. Lorde Cameron Mackenzie permanecia de
pé no meio do quarto com a camisa aberta e kilt, seu olhar dourado uma vez mais
deixando-a cravada no lugar. Ele sustentava uma chave com seus grandes dedos.

— Então, me diga Sra. Douglas — Disse, sua voz grave fluindo sobre ela. — Que
diabos está fazendo em meu quarto... Desta vez?

Capítulo 2

Seis Anos Antes

Bom, isto é malditamente agradável.

Há seis anos, quase no mesmo dia, Cameron Mackenzie permaneceu no marco da


porta deste quarto espiando uma formosa estranha fechando a gaveta de sua mesinha de
noite.

A dama se vestia de azul: um vestido de um profundo azul resplandecente que


deixava a descoberto seus ombros, atava-se em sua cintura e voltava a alargar-se sobre um
modesto busto. Rosas de cor rosa derramavam ao longo de seu cabelo e sobre o decote do
vestido. Tirou suas sapatilhas, talvez quisesse ser silenciosa, revelando delgados pés
embainhados em meias de seda brancas.

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Ela não o ouviu. Cameron se apoiou no marco da porta, desfrutando de vê-la tão
alegremente revistando sua mesinha.

Bêbado e aborrecido, Cameron deixara a interminável festa na casa de Hart, incapaz


de aguentar nem um minuto mais nela. Agora o calor despertou atravessando seu
aborrecimento. Não podia recordar quem era essa jovem, sabia que a apresentaram, mas já
há muito tempo que os convidados de Hart se apagaram de sua mente convertendo-se em
uma massa cinza de humanidade. Esta dama, agora separada dessa massa, estava se
tornando mais real para ele a cada segundo que passava.

Cameron cruzou o quarto silenciosamente, afastando o intumescimento em que vivia


quando não estava com seus cavalos ou quando não estava Daniel para levantar o ânimo.

Caminhou até colocar-se atrás da dama vestida de azul e a segurou por sua cintura
acetinada.

Era como apanhar um gatinho com suas mãos; um grito assustado, um batimento
rápido do coração, a respiração agitada. Ela olhou para trás e para cima até encontrar seu
olhar e apanhou seu coração em um par de enormes olhos cinza.

— Milord. Estava... Um... Estava só...

— Procurando algo — Proporcionou. As rosas em seu cabelo eram verdadeiras, a


fragrância delas se voltava mais profunda por seu próprio calor. Uma simples corrente de
prata com um medalhão adornava seu pescoço.

— ...Lápis e papel, finalizou.

Era uma má mentirosa. Mas era suave e cheirava bem, e Cameron estava o
suficientemente bêbado para não se preocupar pela mentira.

— Então, poderia me escrever uma carta?

— Sim. Suposto...

— Me diga o que diria essa carta.

— Não é... Estou segura...

Sua gagueira era íntima. Estava muito claro que ela queria ter um caso. Cameron
apertou a mão em sua cintura e pressionou suas costas suavemente contra ele. Suas
pequenas anquinhas pressionando sua virilha, impedindo de chegar até aquilo que queria

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sentir contra ele.

Quando ela olhou para cima uma vez mais, algo se quebrou dentro dele. O aroma
dela misturado com as rosas, a sensação dela na curva de seu braço, as cócegas de seu
formoso cabelo contra seu queixo, despertaram emoções que pensou que há muito tempo
haviam morrido.

Necessitava desta mulher, queria-a. Poderia afogar-se nela, fazê-la suspirar de


prazer, desfrutar do esquecimento com ela durante algum tempo.

Cameron tocou seu ombro com um beijo com a boca aberta, degustando sua pele.
Sal, doce, um pouco de especiarias. Não era suficiente, queria mais. Cameron não beijava
frequentemente às mulheres nos lábios. Beija-las levava a ter expectativas, esperanças de
um romance, e Cameron não queria romances com essas damas.

Mas queria saber a que sabor tinha esta jovem, que fingia tal inocência. Um nome
veio a sua memória: Sra... Douglas? Cameron recordava vagamente um marido
permanecendo junto a ela no andar de baixo, um homem claramente muito velho para ela.
Devia ter-se casado com ele por conveniência. O homem provavelmente não a havia
tocado em anos. Cameron a tocaria e a provaria e depois a enviaria de volta a seu ineficaz
marido satisfeito e feliz. Ao menos uma noite desta maldita festa não seria tão tediosa.

Ele inclinou a cabeça dela para trás e roçou seus lábios suavemente com sua boca. A
Sra. Douglas ao princípio se surpreendeu, mas não o rejeitou. Cameron a pressionou para
que abrisse os lábios, aprofundando o beijo.

Um prazenteiro fogo em espirais o atravessou quando a Sra. Douglas introduziu a


língua em sua boca, vacilante, mas belamente curiosa. Sua dama era inexperiente, pensou,
como se ela não tivesse beijado desta maneira durante muito tempo, mas Cameron podia
dizer que ela o fez ao menos uma vez. Cavou a cabeça dela em sua mão e permitiu
explorar.

Cameron rompeu o beijo para lamber entre seus lábios, encontrando a umidade entre
eles doce como o mel. Mudou a boca de lugar passando-a por sua garganta enquanto
desatava os ganchos na parte posterior de seu sutiã.

A seda se afastou facilmente, suas mãos empurraram para baixo o tecido para poder
pôr a boca em seu seio e beijar. Um som suave de prazer que saiu da Sra. Douglas fez que

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sua excitação desse um salto, a necessidade de se apressar golpeava através de seu


cérebro. Mas Cameron não queria pressa. Queria ir lentamente, para saborear cada
momento. Deixou o sutiã enrugado em sua cintura, e com a facilidade que dá a prática,
deslizou sua mão aos cordões de seu espartilho.

Ainsley pensava que arderia e morreria. Isto não era o que ela acreditava que
aconteceria, ela tinha intenção de estar longe deste quarto antes que Lorde Cameron
retornasse da noite. Mas agora Lorde Cameron a induziu a viver sensações que pensou
que nunca voltaria a sentir de novo.

O colar que ela tirou da penteadeira de Cameron estava certamente abotoado no


bolso de sua anágua. Ela esteve a ponto de colocá-lo entre seus seios, mas as Esmeraldas
eram volumosas, e ela temeu que seu contorno se marcaria contra seu sutiã. Felizmente
para ela, mudou de opinião, ou os dedos errantes de Cameron já o teriam encontrado.

O colar pertencia a uma tal senhora Jennings, uma viúva que era amiga do irmão de
Ainsley. A Sra. Jennings confessou a Ainsley entre lágrimas que deixou seu colar no
quarto de Cameron, e agora este homem, verdadeiramente mau, não queria devolvê-lo.
Ele a estava chantageando com isto, afirmou. A Sra. Jennings temia a exposição ao
escândalo.

Ainsley, indignada pelo comportamento de Cameron, ofereceu-se a recuperá-lo para


ela.

Entendia agora por que a Sra. Jennings caiu sob a sedução de Lorde Cameron. O alto
corpo de Cameron diminuíra o seu, suas mãos tão grandes que Ainsley se perdia nelas.
Mas em vez de estar assustada, Ainsley se sentia perfeitamente bem na curva de seus
braços, como se ela tivesse sido feita para encaixar ali.

Pensamentos perigosos, muito perigosos.

Cameron depositava beijos no pescoço de Ainsley. Ela acariciou seu cabelo,


maravilhada pelo tato de seda selvagem deste. Seu fôlego era como um forno quente, sua
boca uma fogueira, e Ainsley ardeu. Os cordões do espartilho se separaram, e Cameron
colocou sua mão por dentro de sua regata descendo por suas costas.

A realidade golpeou Ainsley como uma bofetada. O notório Cameron Mackenzie


estava tirando sua roupa com mãos peritas, sedutoras, preparando a para levá-la para a

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cama. Mas Ainsley Douglas não era uma cortesã ou nenhuma dama de vida alegre, livre
para tomar suas próprias decisões. Ela se casou respeitavelmente, graças à rapidez mental
de seu irmão, e seu velho marido a estava esperando em seu quarto.

John poderia estar sentado com suas sapatilhas nos pés estendidos para o fogo,
provavelmente já adormecido sob seu jornal. Sua revolta cabeça cinza desabada enquanto
dormia, seus óculos torcidos sobre seu nariz. Tão amável, tão paciente, esse era John
Douglas, sabendo que sua jovem esposa tinha coisas mais interessantes que fazer que estar
com ele. O coração de Ainsley se rompeu.

— Eu não posso — As palavras saíram arrastadas dela, tudo o que ela corretamente
pensava era as obrigar a sair — Não posso. Milord, sinto muito.

Cameron continuou com a boca em seu pescoço, as mãos em suas costas nua.

— Meu marido é um bom homem — Sussurrou. — Um homem muito bom. Ele não
merece isto.

Merda, algo dentro de Cameron gritou. Maldição, por todos os infernos!

Todo seu corpo se revelou contra ele enquanto retirava suas mãos. Cameron
conhecia as mulheres, sabia quando seus corpos ansiavam o toque de um homem. A Sra.
Douglas queria o que Cameron oferecia, isto era evidente, apesar da angústia que alagava
seus olhos cinza. Cam cheirava sua disposição ligeiramente debaixo das rosas e sabia que
se ele a tomasse, encontraria-a escorregadia e aberta para ele.

Seu marido obviamente não satisfazia suas necessidades. Inclusive não importava se
não queria ou não podia; não o fazia, ou esta dama não estaria tão disposta a procurar o
Cameron.

E entretanto, a Sra. Douglas estava dizendo que não pelo bem deste marido. Teve
uma rara coragem para tomar esta decisão, uma força que não tinham a maioria das
mulheres de Cam.

As mulheres queriam satisfação e não se preocupavam muito de quem feriam para


obtê-lo.

Cameron puxava o espartilho da Sra. Douglas para voltar a juntá-lo e atou os cordões
fechando-o e depois atou seu sutiã. Ele a girou para que o enfrentasse novamente e
desenhou sua face com o dorso de seus dedos.

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— Vá dizer a seu bom homem quão afortunado é, Sra. Douglas.

— Realmente o sinto, milord.

Bom Deus, Cameron tentou seduzi-la, e ela estava se desculpando diante dele.
Cameron quis prazer, puro e simples, o fogo do acoplamento com a mente em branco.
Nada mais. Ele assumiu que ela também procurava que fosse assim. Agora ela parecia
preocupada em lhe ter causado mal.

Cameron se inclinou e depositou outro beijo na comissura de seus lábios, persistindo


até o último momento possível.

— Vá, agora.

A Sra. Douglas assentiu, sorrindo com gratidão. Gratidão, Deus o ajudasse!

Cameron a acompanhou até a porta e a abriu, beijou uma vez mais seus lábios
úmidos e a guiou fora. Quando a Sra. Douglas se virou para dizer algo, ele sacudiu sua
cabeça e fechou a porta, girando a chave na fechadura.

Pressionou sua testa nos frios painéis da porta, escutando seus passos fora, no
corredor vazio." boa noite, neném" sussurrou.

Cameron passou o resto da noite em sua cama, completamente vestido, bebendo


copo após copo de uísque. Perdeu muito tempo tentando não fantasiar a respeito da
bonita e jovem Sra. Douglas.

Bastante jovem e até onde teria chegado a sedução. Fracassou completamente.

As fantasias o envolviam em um resplendor de bom calor no dia seguinte enquanto


Cameron olhava à Sra. Douglas. Seu marido era alto e ossudo, torpe com ela, embora
permanecesse a seu lado, como se precisasse ser tranquilizado por sua constante presença.
A Sra. Douglas era amável com ele, notou Cameron. Ela não o tratava com desdém. Notou
também que a Sra. Douglas de maneira estudada evitava qualquer contato visual com
Cameron.

Que selvagem romance poderia ter Cameron com ela, cada noite algo novo.
Compraria joias que cobrissem seu corpo nu e óleos essenciais para estendê-los sobre sua
pele. Ele seria discreto, algo pelo que Cameron raramente se incomodava. Convenceria à
Sra. Douglas de que seu marido nunca sairia ferido por nada do que fizessem.
Encontrariam-se em segredo, possivelmente só na carruagem de Cameron, enquanto

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exploravam e provavam e cuidadosamente aprendiam mutuamente. Seu enlace seria


glorioso, o tipo de assunto no que pensar nos anos vindouros.

A prazenteira fantasia veio abaixo na seguinte noite quando Cameron se encontrava


no terraço exterior do salão, bebendo uísque com seu irmão Mac. Uma das ex-amantes de
Cameron, Felicia Hardcastle, de corpo formoso mas mau temperamento, irrompeu no
terraço e se deteve diante de Cameron.

— Deu a ela meu colar!

Colar? Que colar? As pessoas dentro da sala de baile os olharam, e Mac o observava
com uma mistura de diversão e assombro.

— De que diabos está falando? — Exigiu Cameron.

Felicia assinalou com um dedo rígido através da porta do terraço à Sra. Jennings,
outra ex-amante. A dama em questão se encontrava no meio da sala de baile com um
vestido de noite de decote baixo que mostrava as esmeraldas rodeando seu pescoço.
Esmeraldas que Cameron comprou para Felicia, que Felicia deixou descuidadamente em
sua câmara no começo da semana. Cameron as guardou na gaveta de sua mesinha,
planejando que seu ajudante de câmara, Angelo, recuperasse-as e as devolvesse à donzela
de Felicia.

Agora as Esmeraldas penduravam ao redor do pescoço da senhora Jennings, que se


voltou para saudar Ainsley Douglas e tomou sua mão com um apertão carinhoso.

A Sra. Douglas, a dama que Cameron encontrou rondando perto de sua mesinha na
noite anterior.

Maldito inferno.

Felicia retornou para dentro para gritar acusatoriamente à Sra. Jennings e a Ainsley.
Cameron observou como a bonita boca de Ainsley ficava aberta e seu olhar se moveu
através da sala para encontrar o de Cameron.

Sua expressão falava de confusão, surpresa, traição. Autêntica? Ou eram mais


artimanhas?

Não importava. A Sra. Douglas mentiu, o utilizou, o enganou com sua chorosa
relutância em trair seu marido, tudo para roubar um estúpido colar por alguma ridícula
intriga feminina.

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E Cameron, como o tolo que era, caiu no pequeno engano.

Entrou no salão de baile e se moveu através da multidão, tentando ignorar Felicia, à


Sra. Jennings e à pasmada multidão que as observava. Ainsley Douglas se colocou no
caminho de Cameron e este quase caiu sobre ela. Seus olhos cinza suplicavam que a
compreendesse, que a perdoasse. O aroma das rosas sobre seus seios chegou a ele
misturado com o doce aroma dela, e Cameron se deu conta de que ainda a desejava.

Obrigou-se a olhar para baixo com pétrea indiferença, endurecendo seu coração às
lágrimas que adornavam suas pestanas. Deu a volta e continuou através da multidão, até
que chegou à porta do salão, depois deixou a casa e caminhou até os estábulos.

Os aromas quentes dos cavalos o tranquilizaram um pouco, mas Cameron disse a


Angelo que ia, montou em um cavalo e partiu. Essa noite tomou um trem para Londres e
partiu para o continente à manhã seguinte.

Seis anos que passaram voando para Cameron entre aquele dia e este. Retornou esta
noite a seu quarto no meio de outra aborrecida festa campestre, outra vez bêbado, para
encontrar à bonita Ainsley Douglas aqui uma vez mais.

Algo forte e cru levou sua meia embriaguez. Cameron jogou a chave ao alto e a
voltou a recolher, o pequeno som titilante retumbou no silêncio.

Capítulo 3

Ainsley Douglas passou a língua pelos lábios, deixando-os vermelhos, úmidos e mais
sedutores que nunca.

— Ah sim, claro... — disse. — Tenho dúzias de motivos para estar aqui...


Simplesmente estou tentando decidir qual me parece mais acreditável.

Estava apoiada contra a porta e usava um traje cinza que deixava a descoberto a
metade de seus seios, além do mesmo resplandecente colar de prata que usou ha seis anos

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sobre eles.

Estava com o cabelo em um desastre, e a parte de trás de seu vestido totalmente


esmagado. Olhou-o com os olhos muito abertos, inocentemente. Mas agora Cameron
aprendeu a não se deixar enganar por essa falsa inocência de Ainsley Douglas.

— Vou fazer um trato com você, pequena — disse. — Me diga a verdade, e abrirei a
porta e te deixarei sair.

Ainsley o olhou fixamente durante um momento com seus grandes olhos cinza,
então se aproximou da porta, tirou uma presilha do cabelo e se ajoelhou para examinar a
fechadura.

Cameron sentiu que seu coração se acelerava e seu sangue se espessava. Estava com

a camisa aberta e o colete ainda pendurava aberto aos lados, mas o ar da noite não o

refrescava. De fato, sua pele estava quente e sua boca seca como o espargo 1. Necessitava

de outro gole. Um grande. A posição de Ainsley mostrava a Cameron a parte traseira de

seu vestido, a cauda coberta com volantes cinzas e pequenos laços negros.

Seu cabelo era um pouco mais escuro, pelo que recordava, agora era loiro com
nervuras douradas. Era sabido que às loiras escurecia o cabelo com a idade, e Ainsley
devia ter já vinte e sete anos. Seu velho marido tinha morrido. E segundo Isabella, Ainsley
Douglas dividia seu tempo entre sua posição de dama da corte da rainha Vitória e as
temporadas que passava na casa de seu irmão mais velho e sua respeitável esposa.

Sem dúvida já não era tão ingênua. A Sra. Douglas se transformou em uma mulher
que dependia de outros para desempenhar um papel nesta vida. Pobrezinha.

Cameron se sentou na cama, apoiou as costas contra a cabeceira e tirou um charuto


de sua mesinha de noite.

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Os espargos, são lanças carnudas cobertas com cabeças compactas, muitas vezes amargosas e considerados

como um legume de luxo, prezado pelo sabor suculento e textura tenra. São colhidos na Primavera, quando atingem os 6 a 8

centímetros de altura. Embora a variedade mais comum seja o espargo de cor verde, existem outras duas variedades que são

comestíveis.

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— É uma fechadura muito antiga — Informou. — Boa sorte.

— Não se preocupe — disse sem se alterar. — Até agora não encontrei nenhuma
fechadura que resista.

Cameron acendeu o charuto.

— É uma delinquente, pelo que vejo. A última vez que esteve aqui foi para roubar
um colar. Qual é a causa nesta ocasião? Chantagem?

Ainsley ruborizou e olhou fugazmente por cima do ombro.

— Chantagem?

— Não te recomendo chantagear Phyllida Chase, pequena. Te comerá aos pedaços.

Ainsley o olhou com desaprovação e voltou a se dedicar à fechadura.

— Não vou chantagear à senhora Chase. E naquela época expliquei a Isabella sobre o
colar, disse que estava absolutamente convencida de que o colar era da Sra. Jennings.

Cameron atirou ao cinzeiro o fósforo apagado.

— Não me importa o maldito colar. Foi há muito tempo, e as mulheres intrigantes


não me atraem absolutamente.

— Estou encantada de ouvir isso, Lorde Cameron — disse Ainsley, concentrada na


fechadura.

Por que pronunciado por ela, seu nome soava como música a seus ouvidos?
Cameron se apoiou contra a cabeceira e deu uma tragada no charuto, deveria estar
apreciando o refinado sabor do charuto e em vez disso parecia que tinha um pau
enegrecido na boca. Se não estivesse tão bêbado, simplesmente abriria a porta para deixá-
la sair e a esqueceria, mas as lembranças da noite de seis anos antes, continuavam
perseguindo-o: o calor de sua pele, seu tato vacilante e ardente, ao mesmo tempo, sua
respiração entrecortada enquanto beijava os seios... Agora era seis anos mais velha e usava
um traje cinza que não a favorecia absolutamente, mas o tempo tinha acentuado sua
beleza: os suaves seios transbordavam pelo decote e os quadris preenchiam o vestido. Seu
rosto refletia uma maior experiência do mundo, seus olhos cinza pareciam um pouco mais
céticos e parecia ter maior autocontrole.

Se pudesse persuadi-la para passar a noite com ele, por fim poderia saber como era o

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Highland Pleasure 03

sabor da quente e sensual mulher que o manteve enfeitiçado durante os últimos seis anos.
Teria sabor de canela, cálida e suave. Apanharia-a contra a porta, lamberia toda sua pele
molhada pelo suor, e diria o que realmente queria em troca de deixá-la sair. E nesse
momento, abriria a porta libertando-a.

Cameron se obrigou a deixar de olhá-la e seguiu fumando o charuto. Seus olhos


pousaram na jaqueta que estava sobre a cama e no papel que se sobressaía de seu bolso.
Esqueceu-se da carta que Phyllida dera esse dia, incitando a guardá-la em lugar seguro
para ela. Cameron aceitou sem muito interesse, Angelo devia ter encontrado a carta e a
considerou o suficientemente importante para pô-la no bolso de sua jaqueta. Cameron
pegou o papel e o abriu: era parte de uma carta, mas carecia das saudações iniciais e a
assinatura final. Começou a ler e imediatamente franziu o cenho: a prosa era pomposa e
retórica, cheia de pontos de exclamação e sublinhados, elogiando um homem varonil com
um estilo sentimental e pomposo que não encaixava absolutamente com Ainsley Douglas.

Levantou a folha de papel.

— Era isto o que estava procurando, senhora Douglas?

A mulher se voltou e ficou de pé lentamente. A expressão de seu rosto chocado e


consternado o brindou uma explicação mais eloquente que as palavras.

— Não é seu — Declarou.

— Isso espero! — ...Sua testa está coroada por doce suor, seus músculos são dignos
dos músculos na forja do Vulcano...— Recitou Cameron. — Quanto tempo se necessita
para escrever tanta tolice?

Ainsley se aproximou, ficou ao lado da cama e estendeu uma mão.

— Entregue-me isso.

Cameron estava a ponto de explodir em gargalhadas.

— Espera que docilmente te entregue a carta, que te acompanhe à porta e talvez


inclusive te peça desculpas pelos incômodos?

— Me diga para quem é? — a carta era horrível, mas, fosse quem fosse o destinatário
com certeza que não merecia que essa formosa mulher escrevesse.

Ainsley se ruborizou.

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— Não é minha. É de uma... Uma amiga. Pode me dar isso, por favor?

Cameron dobrou a carta pela metade.

— Não.

Ela piscou.

— Por que não?

— Por que o deseja muito.

Ainsley sentiu uma pontada em seu coração; lorde Cameron ria dela, seus olhos
dourados brilhavam divertidos e os fortes dedos agarravam a carta. O colete e a camisa
continuavam abertos, mostrando seu musculoso peito e sob o kilt se podia ver uma
cicatriz que Ainsley descobriu quando Phyllida Chase o levantou.

Lorde Cameron era rude, grosseiro, brutal e perigoso. Dizia-se que colecionava
objetos eróticos, tanto livros como obras de arte. Ainsley não viu que estivessem a seu
redor, exceto uma pintura que pendurava em cima da mesa, representava a uma mulher
sentada na borda da cama, colocando as meias, e gotejava sensualidade. Uma verdadeira
dama deveria olhar o quadro com ansiedade e desaprovação, entretanto, este fez que
fervesse seu sangue, e despertou umas sensações mortas e enterradas desde há anos.

— Por favor, me dê essa carta, lorde Cameron. É muito importante para mim.

Ele deixou escapar uma baforada de fumaça de seu charuto e o enviou à cara.
Ainsley tossiu e fez um gesto de desagrado.

— Está um pouco bêbado — acusou a jovem.

— Não, estou bêbado e tenho a intenção de seguir bebendo. Acompanhará-me com


um bom uísque, da melhor reserva de Hart? — a família Mackenzie era proprietária de
uma pequena destilaria que enviava uísque a toda Escócia e a alguns exclusivos clientes
ingleses. Não tinha sido muito rentável até que Hart a herdou. Nesse momento, segundo
Isabella, Hart e Ian, dois dos irmãos de lorde

Cameron se uniram para transformá-lo em um negócio rentável. Ainsley imaginou


Cameron tomando um sorvo do licor e recolhendo com a língua uma gota perdida, e
quase se engasgou com a imagem.

— Se posso te demonstrar que não tenho medo de beber uísque, dará-me a carta e me

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deixará sair? — perguntou.

— Não.

— Que o diabo o confunda, Lorde Cameron! — gritou exasperada. — É o homem


mais irritante e...! — tentou se apoderar da carta, mas Cameron a pôs fora de seu alcance.

— De maneira nenhuma Senhora Douglas.

Ainsley entrecerrou os olhos e puxou, não a carta, mas sim o charuto aceso. Este
escapou dos dedos e ricocheteou na colcha. Cameron saltou a agarrá-lo.

— Maldição, mulher! — grunhiu.

Ainsley agora tinha um joelho sobre a cama e sustentava a carta que caiu em sua
pressa para alcançar no voo o charuto. Um momento depois se encontrava estendida sobre
o colchão, com Lorde

Cameron estendido sobre ela e segurando os pulsos sobre sua cabeça, imobilizados
por sua enorme mão. Podia estar bêbado, mas continuava sendo muito forte.

— Inteligente, muito inteligente, senhora Douglas, mas não o suficientemente rápida


— disse, sem soltar os pulsos, Cameron esmagou seu charuto no cinzeiro que estava sobre
a mesinha de noite, e depois arrancou a carta de seus dedos, guardando-a no bolso de seu
colete e se inclinou mais perto, seu fôlego queimava sua pele. Ia beijá-la.

Ela sonhou com seu beijo nos solitários anos entre seu primeiro encontro com ele e
este, revivendo a pressão quente de sua boca, o calor de sua língua. E agora, deixaria que a
beijasse de novo. Com muito prazer.

Mais perto. Mais perto. Cameron acariciou com seus lábios a linha do cabelo, sem
roçá-la quase.

— De quem é a carta? — sussurrou. Ainsley mal podia falar.

— De ninguém que te interesse.

Com seu sorriso mais pecador disse:

— Parece muito inocente para ter amantes. Mas sei que é uma boa mentirosa.

— Não estou mentindo, e não tenho nenhum amante. A carta pertence a uma amiga
— disse.

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— Deve ser uma amiga muito querida, para que se meta em todo este barulho por ela
— agarrou a chave do bolso e a beijou. — Quer isto, não?

— Eu gostaria de sair deste quarto, sim.

— Está segura?

— Sim. Ao menos isso acredito.

Cameron desenhou com seus lábios o metal duro e frio.

— O que faria para obter esta chave, senhora Douglas?

— Não sei — disse com sinceridade. De fato, temia que estaria de acordo com
qualquer pedido que Cameron fizesse.

— Beijaria-me?

Ainsley ficou olhando seus lábios e umedeceu os seus.

— Sim, acredito que sim.

— É realmente uma mulher atrevida e perversa?

— Ah, sim, não chorei, não te esbofeteei, nem te golpeei com meu joelho entre suas
pernas — recordou ela.

Cameron a olhou com surpresa, depois se pôs a rir com tanta força que sacudiu a
cama — ainda rindo, jogou para trás a cabeça e guardou a chave na boca.

— O que está fazendo...? — as palavras morreram em sua garganta quando Cameron


a beijou, abrindo seus lábios com força e insinuando a língua e a chave em sua boca. O
beijo era forte e dominante, sua língua convincente.

Cameron levantou o olhar e sorriu. Ainsley se viu com uma mão livre e rapidamente
tirou a chave de sua boca. — Poderia ter me sufocado com isto, milord.

— Nunca o teria permitido — de repente, seu tom era suave. O tom de um homem
capaz de domar os cavalos mais selvagens e recalcitrantes. Ainsley nesse momento pôde
ler em seus olhos uma imensa solidão e desolação.

Ela sabia o que era a solidão, apesar de viver em meio de muita gente, mas também
sabia que podia contar com familiares e amigos, dispostos a correr a seu lado em caso de
necessidade.

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Lorde Cameron tinha três irmãos, os famosos Mackenzie, homens fascinantes sempre
envoltos em algum escândalo, e um filho, Daniel, que passava a maior parte de seu tempo
na universidade.

Os dois irmãos mais novos, tinham esposas e uma nova família que os mantinha
ocupados e seu irmão mais velho, Hart era Duque, mas Cameron, o que tinha? Com o
coração cheio de compaixão, Ainsley se aproximou para acariciar sua face.

Cameron se afastou, e a levantou. De repente se viu sentada na borda da cama, com a


chave em sua mão, depois com puxão a pôs em pé.

— Vá — Ordenou, — quero dormir.

Ainsley estendeu uma mão.

— E a carta?

— Ao diabo com a carta, Saia agora, mulher, e me deixe em paz! — grunhiu.

Havia levantado uma vez mais as barreiras entre eles. Lorde Cameron era difícil e
imprevisível, trocava de amante cada poucos meses, estava disposto a fazer tudo para
ganhar uma corrida de cavalos e era terrivelmente protetor com seus cavalos e seu filho.
Os cavalos e as mulheres eram seus únicos interesses, nesta ordem, ouviu Ainsley muitas
vezes. Entretanto, vira um brilho de desejo em seus olhos de cor âmbar.

Cameron ainda sustentava a carta.

Ainsley sabia que perdera esse jogo, mas já veria o que acontecia no seguinte, porque
haveria outro round, isso era certo.

— Boa noite, então, lorde Cameron.

Cameron se levantou e a acompanhou até a porta, esperou que girasse a chave na


fechadura e a empurrou sem contemplações. Fechou a porta sem olhá-la e ouviu como
corria o ferrolho. Ainsley deixou escapar um profundo suspiro e se apoiou contra a parede
mais próxima. Tremia dos pés a cabeça, sentia uma opressão no peito e o espartilho a
sufocava. Parecia sentir ainda o peso de Cameron sobre ela, a força de sua mão ao redor de
seus pulsos e o rastro de sua boca na sua. Em seis anos não esqueceu seu tato, o calor de
seus beijos e sua força.

Era um homem fora de seu alcance, que não se preocupa com Ainsley Douglas e seus

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problemas, ainda estava com a carta. Precisava obter que a devolvesse antes que a
entregasse a Phyllida ou, pior ainda, que a pudesse dar a seu irmão Hart. Se soubesse que
tesouro guardava Cameron em seu bolso, o Duque não duvidaria em utilizá-lo. No
momento, Ainsley só podia pensar no imponente corpo de Cameron, esmagando-a contra
o colchão e o calor de seu fôlego quando a beijou. O que se sentiria sendo sua amante?

Seria maravilhoso e embriagador, estava segura. Então recordou que quando a


encontrou escondida atrás das cortinas da janela, ele a chamou de rato. Quando
finalmente teve a coragem de se afastar da parede e avançar para as escadas de trás,
lembrou-se de algo que viu enquanto ele mantinha suas mãos bloqueadas sobre sua
cabeça. A manga ao subir revelou uma série de cicatrizes redondas ao longo do antebraço.
Eram tão antigas, que se viam esbranquiçadas, mas não tanto para não fazê-la recordar a
queimadura que tinha um de seus irmãos no braço.

Sinclair só tinha uma, mas alguém, uma vez, divertiu-se sadicamente apagando
várias vezes um charuto aceso sobre a pele de Lorde Cameron.

À manhã seguinte o tempo era o suficientemente bom para permitir a Angelo montar
Jasmine, deixando-a galopar em um campo não muito lamacento. Cameron os seguia em
um cavalo que agora já não participava das corridas.

Ele sentia a força dos grandes músculos do animal, que com o ar na face e a
velocidade contribuíram a dissipar a letargia depois da ressaca. Só se sentia vivo quando
estava montando um cavalo ou ia olhar como outro corria, poder e graça. Às vezes sentia a
mesma emoção de estar vivo que ao chegar ao orgasmo com uma mulher, mas o resto do
tempo parecia estar meio morto e ir pela vida sem sequer dar-se conta.

As únicas exceções foram as duas vezes que encontrou Ainsley Douglas em seu
quarto, nessas duas ocasiões, sentiu uma onda de euforia e de excitação invadir todo seu
corpo. Depois que Ainsley se foi, a noite anterior, Cameron não pôde dormir. Tentou
acalmar a fúria e o desejo à força de uísque e de charutos, mas esses conhecidos remédios
não funcionaram desta vez.

E se viu na madrugada com a cabeça palpitante, e uma terrível secura na boca,


tentando domar o cavalo mais difícil de toda sua carreira. A prometedora égua, Jasmine,
tinha três anos e corria rápido, mas quase a arruinaram tentando que ganhasse as corridas
mais difíceis, quando inclusive não estava preparada.

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O proprietário, um visconde inglês estúpido e arrogante, Lorde Pierson, a pôs sob os


cuidados de muitos treinadores, passando de um a outro sem obter satisfação. Pierson
desprezava Cameron, por seu costume de treinar pessoalmente a seus cavalos, e às vezes
inclusive aos de outros proprietários. "Um Visconde de fato ou qualquer cavalheiro, não se
encarrega diretamente destas tarefas tão humildes", havia dito Pierson.

Cameron logo se deu conta desde muito jovem que tinha um verdadeiro dom com os
animais, não só podia tirar o melhor deles, mas também os cavalos o seguiam pelo prado
tão dóceis como se fossem cães, e se alegravam quando ele entrava nos estábulos.

Jasmine era um cavalo escuro, as crinas e a cauda de cor café, longas patas, coração
poderoso, e o dom da velocidade, que Pierson quase destruiu, fazendo que participasse de
corridas em Epsom, New market e Doncaster, as corridas mais importantes do ano. Em
Newmarket, Jasmine tinha caído, mas felizmente saiu ilesa e terminou a corrida graças ao
treinador. Em Epson, com um novo treinador e um novo jóquei, Jasmine o derrubou no
meio da corrida. Aborrecido, Pierson despedira o jóquei e o treinador, e se voltou para
Cameron como sua última esperança. Não estava feliz por ter que pedir ajuda a um dos
condenados escoceses MacKenzie, mas não restava outra opção: Jasmine precisava ganhar
a qualquer preço a corrida de St. Leger de Doncaster.

Cameron estava preparado para mandá-lo a tomar ventos, mas quando viu o corpo
magro e os olhos travessos da égua, esteve de acordo em treiná-la. Sabia que o cavalo
tinha algo que ele poderia tirar a superfície.

Precisava resgatá-la de Pierson, assim aceitou. Mas duvidava de que pudesse ganhar
em Doncaster e assim o havia dito com toda franqueza ao inglês: foi golpeada, estava
dolorida e cansada e necessitava muitos cuidados, até recuperar-se. A Pierson não gostou
do diagnóstico, mas por ele podia ir-se ao inferno.

Esse dia ao menos Jasmine corria bem, mostrando todo seu potencial. Alguns dos
convidados de Hart foram olhar, mantendo-se a uma distância respeitosa, como ordenou
Cameron.

Procurava entre eles a uma dama de cabelo dourado, sem alcançar a vê-la e negando
a si mesmo que a estava procurando. Provavelmente Ainsley Douglas estava ajudando
Isabella e Beth na casa. Sua cunhada passou a semana elogiando suas habilidades
organizativas e seus muitos talentos. Era óbvio que os possuía; se não queriam ser

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apanhados, os delinquentes precisavam ser muito cuidadosos.

O rangente papel em seu bolso o recordava...

Seu filho Daniel montava outro cavalo de corrida. Cameron pegou as rédeas e
observou com orgulho que também ele tinha seu toque mágico próprio com os cavalos. Se
escolhesse esse ramo, Danny se converteria em um grande treinador. Alto e desajeitado,
cresceu muito desde o verão, sua voz era mais profunda e era mais largo nos ombros. Fez-
se um homem sem que Cameron se desse conta e não sabia como o tratar.

Em qualquer caso, Daniel estava saindo muito bem adiante, com a influência de seus
irmãos e cunhadas.

Angelo e Daniel se reuniu com os cavalos perto de onde ele esperava.

— Hoje está em boa forma — comentou o cigano com um sorriso de satisfação.

— Sim — Daniel se aproximou e deu uma orgulhosa palmada no pescoço de


Jasmine. — Apesar dos problemas que nos ocasiona. Eu gostaria de ser jóquei e montá-la
em suas corridas, mas sou muito grande.

— A vida de um jóquei é muito dura, meu filho — recordou Cam. Entendia seu
desejo, mas não queria que quebrasse o pescoço.

— Sei, com certeza. Todo esse tema de cavalos, dinheiro e mulheres deve ser muito
duro de suportar — brincou Daniel. Angelo se pôs a rir.

Jasmine estirou o pescoço para Cameron. Este esfregou o nariz.

— Está-o fazendo bem, pequena.

— Não vai ganhar, entretanto — disse Angelo. — Faltam só três semanas para
Doncaster.

— Sei.

— E Pierson? — perguntou o cigano.

— Eu me encarrego de Pierson. Você, mantenha-se longe dele — Angelo se pôs a rir.

— Não peço mais.

Os hóspedes de Hart ainda se surpreendiam frequentemente, pela familiaridade com


que se tratavam os dois homens. Eram amigos, em vez de amo e criado. A Cameron

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gostava da franqueza do cigano.

A Angelo o bom senso de Cameron. Ambos sabiam de cavalos e sobre isso


construíram sua amizade. Os convidados começaram a se mover através da grama,
seguindo Isabella.

— O que fazem? — perguntou Cameron.

— Vão jogar criquet — disse Angelo.

— Mortalmente aborrecido! — exclamou Daniel.

Cameron já não os ouvia. Havia outra mulher junto à Isabella, usava um vestido
cinza e tinha o cabelo da cor do sol.

— Jasmine tem suficiente por hoje — disse Cameron. — Leve-a Angelo, deixa que
descanse — o cigano obedeceu com um sorriso e Daniel o seguiu sem dizer uma palavra.

Cameron desmontou, jogou as rédeas a um cavalariço e se dirigiu para a casa.

— Me deixe entrar no jogo, Izzi — disse a Isabella, quando conseguiu alcançá-la no


final do bem cuidado grama de Hart. Os casais de damas e cavalheiros esperavam o
começo do jogo, alguns dos homens se exibiam, movendo seus bastões e rodando seus
ombros. Isabella girou olhando surpreendida com seus grandes olhos verdes.

— Vamos jogar críquete — disse.

— Sei. Me dê um maldito bastão.

— Mas você odeia criquet — insistiu Isabella.

— Hoje, não. Me ponha de parceiro com a senhora Douglas.

Isabella passou da surpresa ao interesse. Os dois se voltaram para olhar Ainsley, esta
estava de pé sob uma árvore no meio da grama, com esse vestido cinza de gola alta e
mangas longas que Cameron não gostava nada, era como cobrir as asas de um pássaro de
brilhante plumagem. O conde italiano que estava a seu lado tentava chamar sua atenção.

— Me devia ter dito antes, já atribuí um parceiro — informou sua cunhada.

— Troca-o.

— Meu querido Cameron, ter que dividir os hóspedes de Hart em equipes, para um
jogo de criquet, é uma tarefa extremamente delicada. Todo o jogo é como a partilha de

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poder na Europa.

Se mudo uma equipe, preciso trocar todos, benzo ao Ansley por ser capaz de levar as
contas.

Mac se uniu a eles e agarrando pela cintura a sua esposa, esfregou sua face com a
sua.

— Hart e seus jogos políticos de críquete! — soprou. — Posso pensar em coisas muito
mais interessantes que fazer esta manhã, em vez de golpear uma bola pela grama —
Isabella ruborizou, mas não se separou da mão de seu marido quando ele começou a
acariciar o ventre arredondado, onde seu segundo filho estava crescendo.

— Prometi a Hart que o ajudaria.

— Por certo, onde está? — perguntou Mac.

— Trancado em seu melhor salão, para atrair os diplomatas e pessoas influentes, à


força de conhaque e charutos — disse Isabella.

— Nos deixando o trabalho mais tedioso — murmurou Mac.

Seu outro irmão, o mais jovem, tampouco estava, mas ninguém precisava perguntar
o porquê. Cameron falou com ele pela manhã. A Ian não gostava das multidões, nem os
jogos como o críquete, no que podia calcular a trajetória vencedora em dois minutos. Teria
se aborrecido, e teria escapado em busca de solidão, despertando comentários e intrigas
entre os convidados de Hart.

No passado, Cameron o teria seguido para assegurar-se de que não passasse horas
olhando um vaso Ming ou realizando complicados exercícios matemáticos, mas agora
sabia que Ian estava usando a desculpa de sua antipatia para a multidão para passar mais
tempo a sós com sua esposa Beth. Na cama. Ardiloso sacana!

— Se o que deseja é jogar, Cam, posso te pôr de equipe com a senhora Yardley —
sugeriu Isabella. — Ela estava disposta a assistir, mas sei que gosta muito de jogar.

— Perfeito — esteve de acordo. — Jogarei com a senhora Yardley.

— Muito bem. Estará encantada. Que se divirta, Cam — Isabella deu um bastão.

— Tenho toda a intenção — Cameron o pegou e se dirigiu para a grama. Perto


acompanhada do conde italiano, Ainsley Douglas não se dignou nem sequer a dar uma

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olhada.

Capítulo 4

A senhora Yardley, uma mulher gordinha, de cabelo cinza, que mal podia mover
suas pernas para caminhar, demonstrou ser inteligente e agradável. Cameron flertou com
ela ligeiramente enquanto levava seu bastão e uma cadeira dobradiça que instalou junto
aos aros do cricket. Disse que apreciava enormemente que Isabella a tivesse emparelhado
com a ovelha negra da família Mackenzie, já que uma dama de seus anos e circunferência
não tinha muita emoção em sua vida.

Cameron se inclinou sobre seu bastão, tentando manter a raia sua dor de cabeça
enquanto o tedioso jogo começava. Bebera muito na noite anterior, e embora tivesse se
sentido melhor enquanto montava nessa manhã, sua cabeça ainda estava espessa por
causa da ressaca.

Ainsley, por outro lado, parecia fresca e resplandecente, cada sedosa mecha de seu
cabelo colocado em seu lugar. A Cameron gostou muito mais despenteada.

Em sua cama na noite anterior, quis soltar seu dourado cabelo e estendê-lo com suas
mãos, acariciando com ele seus seios nus, e beijar esses lábios que falou tão
descaradamente com ele.

Deixou seus sentidos encherem com a essência dela, da sensação dela debaixo dele,
do sabor de sua boca quando empurrou a chave dentro.

— Ah — disse a senhora Yardley. — Vejo que um brilho primaveril capturou os


olhos de uma dama.

Cameron abriu os olhos e observou como o Conde tentava colocar as mãos de


Ainsley sobre seu bastão. Não era necessário que o Conde desse lições, Ainsley já
conseguiu um elevado número de pontos com seus competentes golpes.

— É outono — disse Cameron. As árvores que havia ao fundo do jardim se viam de

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cor escarlate e ouro, misturado com o verde escuro mais profundo dos pinheiros.

— Mas uma bela dama sempre leva a primavera no coração.

— Quero dizer que é outono para mim — Cameron observou como Ainsley se
inclinava para golpear a bola com precisão. A visão das mãos de Ainsley agarrando
firmemente seu bastão o fez sentir-se tonto.

— Tolices. Viveu só a metade dos anos que eu tenho, e ainda falta muito tempo até
que chegue na metade de sua vida. Que estranho matrimônio que fez a senhora Douglas.

John Douglas rondava os cinquenta e ela mal tinha dezoito. Imagino que foi um
acerto familiar, embora não posso imaginar que tipo de acordo foi. Douglas nunca teve
muito dinheiro e deixou Ainsley quase na indigência.

Digo tudo isto por uma razão, Lorde Cameron.

Certamente porque observou o obsessivo interesse de Cameron para Ainsley


Douglas. Merda, todos os convidados à festa se dariam conta se não estivessem tão
ocupados fazendo que a atenção recaísse sobre eles mesmos.

— Ela é jovem — disse Cameron. — Pode voltar a se casar.

— É verdade, ela é jovem e ainda muito bonita, mas permaneceu afastada da


companhia masculina durante muito tempo. Sua Majestade mantém à senhora Douglas
colada a seu lado, converteu-se há bastante tempo em sua favorita, e além disso a senhora
Douglas necessita o dinheiro que suporta o posto de dama de companhia da Rainha. O
irmão mais velho de Ainsley a ajuda, mas ele tem sua própria família e Ainsley sofria
estreitezas quando vivia em seu quarto de convidados. A mãe de Ainsley foi uma das
favoritas da Rainha antes que perdesse essa honra casando-se abaixo da posição dela.

O Sr. McBride não era o que a Rainha tinha em mente para a pobre e querida
Jeanette. Mas tudo isso foi esquecido quando a Rainha conheceu Ainsley. Ficou encantada
com a Ainsley e insistiu em leva-la a sua casa.

O posto foi um presente do céu. O irmão de Ainsley é amável, mas ela dependia
completamente dele. É obvio que aceitou o posto.

Tudo o que explicava a determinação obsessiva de Ainsley por recuperar a


vergonhosa carta das garras do malvado Lorde Cameron antes que ele a mostrasse a
alguém.

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Ainsley não podia se permitir o luxo de perder sua posição ao lado da Rainha.

— Mas a pobre garota nunca é vista durante a temporada — continuou a senhora


Yardley. — Ou em qualquer outro momento para o caso. À Rainha gosta de mantê-la
perto. Neste momento a Ainsley lhe permitiram umas férias, mas está muito cansada para
fazer uma grande vida social. Ela permanece com seu irmão durante seus escassos dias
livres, são pessoas encantadoras, como já disse, mas muito isoladas. Gostam dos jantares
familiares e a leitura em voz alta. E se sentem realmente frívolos, tocando o piano. Patrick
e sua esposa são um pouco super protetores, sempre o foram, mas isso é porque Patrick e
Rona criaram Ainsley e a seus outros três irmãos quando seus pais morreram. Estou feliz
de que Isabella tenha conseguido tirar Ainsley de sua monotonia, embora só seja durante
uma semana.

Cameron sentiu os amáveis olhos da senhora Yardley sobre ele.

— Está me escutando, milord? Eu não gosto de falar sozinha para passar o tempo,
sabe?

Cameron não podia olhar além de Ainsley, sua cabeça estava inclinada para o Conde
enquanto discutiam sobre seu próximo jogo.

— Sim, estou escutando.

— Não nasci velha, milord. Reconheço quando um homem quer uma mulher. E você
não é um monstro, apesar da reputação que tenta manter. Ainsley necessita um pouco de
emoção em sua vida, pobre cordeirinha.

Ela era uma jovem muito animada e então de repente se converteu em uma escrava.
Ela não parecia uma escrava agora mesmo. Ainsley estava rindo, sua faiscante risada
atravessava todo o jardim. Seu sorriso estava dedicado ao Conde e algo perigoso
despertou dentro de Cameron.

— Me perdoe, milord — disse a senhora Yardley. — Não tenho muito que fazer estes
dias salvo observar a meu próximo, tanto aos homens como às mulheres, e tenho grande
experiência em saber quem convém a cada qual.

Por que não tirar partido disso? Me diga se não, o que outra coisa pretende você
fazer com o resto de sua vida?

— Quão mesmo faço agora, suponho — Cameron esfregou o lábio superior enquanto

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Ainsley tocava o braço do conde elogiando-o. — Os cavalos requerem muita atenção, e o


calendário de corridas ocupa todo o ano.

— Isso é o que ouvi. Mas a felicidade é uma coisa diferente. Merece a pena fazer um
pequeno esforço.

— Já fiz esse esforço uma vez. Foi um maldito e grande esforço muito doloroso.

— Sim, querido, conheci sua esposa.

Uma olhada à senhora Yardley disse a Cameron que ela soube algo da verdade sobre
Lady Elizabeth. A lembrança do formoso rosto de Elizabeth, da loucura em seus olhos
quando vinha para ele, preparada para o golpear, fez que seu corpo se esticasse. A velha
dor e a velha escuridão atenuaram o brilho da manhã.

Cameron ouviu a risada de Ainsley novamente, e abriu os olhos, as visões


desapareceram.

— Se conheceu minha esposa, então compreenderá por que contemplo o matrimônio


como uma existência miserável — disse Cameron, ainda olhando Ainsley. — Eu não o
tentarei de novo.

— Pode ser uma existência miserável, não vou negá-lo. Mas com a pessoa adequada,
pode ser a melhor existência do mundo. Confie em mim, sei.

— É nossa vez — disse Cameron cortando-a. — Está preparada para atirar? — A


senhora Yardley sorriu.

— Estou bastante cansada, milord. Por favor, faça o tiro por mim.

Cameron sentiu o papel da carta roubada rangendo em seu bolso e viu como Ainsley
sorria ao Conde.

— É você uma mulher sábia, senhora Yardley — baixou o bastão que manteve
descansado sobre seu ombro e se aproximou da bola que estava esperando.

— Sei, querido — disse a senhora Yardley atrás dele.

Ainsley soube o momento preciso no qual Cameron saiu da sombra para realizar seu
tiro, enquanto que a senhora Yardley, que estava um pouco torpe, permanecia em seu
assento. Ainsley esteve consciente de cada movimento de Cameron desde que apareceu,
apesar de que ela evitou olhá-lo diretamente.

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Ela não perdeu como Cameron levava a senhora Yardley a cadeira e o bastão,
freando suas longas pernadas para adaptar-se ao passo dela enquanto se mudavam ao
terreno de jogo. Estava sendo paciente, amável inclusive, conversando com a mulher mais
velha, que sorria com satisfação.

Cameron era assim de paciente e gentil com seus cavalos, os guiando com um
cuidado que raramente utilizava com as pessoas, a menos que fossem como a senhora
Yardley.

Era um lado dele que ninguém reconhecia e Ainsley se perguntava se alguém além
dela sequer o notava. Ela não viu, entretanto, nenhum sinal dessa paciência quando
Cameron levantou seu olhar de sua bola para Ainsley. Seus olhos brilhavam com
determinação, como se estivesse preparado para ganhar a partida.

Tampouco ajudou que Lorde Cameron estivesse devastador vestido com suas roupas
de montar; suas suaves calças se ajustavam a suas fortes coxas, as botas estavam
manchadas de barro, a jaqueta informal pendurava aberta sobre uma camisa lisa. A
grande masculinidade de Cameron fazia que os esbeltos ingleses parecessem pálidos e
inúteis, como se um urso tivesse entrado em uma reunião de dóceis cervos.

Ele dirigia seu bastão com precisão, o que fazia que ele e a senhora Yardley já
tivessem conseguido um número de pontos considerável, e portanto de guinéos, porque
ninguém que devesse visitar o Duque do Kilmorgan ficaria sem apostar
escandalosamente.

Cameron balançou para trás seu bastão e golpeou sua bola com força. A bola saltou
com uma trajetória reta até uma pequena elevação e golpeou a de Ainsley com um
decidido click.

Seu coração deu um salto.

— Que chateação! — murmurou.

Seu companheiro, o Conde, carente de cérebro, exclamou:

— Excelente golpe, milord!

Cameron se aproximou dando pernadas para eles, o bastão sobre seu ombro. Não
disse nada a Ainsley enquanto colocava seu grande pé embainhado na bota sobre sua bola,
a de Ainsley ainda continuava tocando a dele e balançou de novo para trás o bastão. Sua

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jaqueta de montar ajustou-se aos ombros enquanto Cameron golpeava a bola sob seu pé, o
impacto enviando a de Ainsley rolando para atravessar a grama.

Ela observou com consternação como a esfera de um brilhante amarelo com listas
brancas rolava alegremente até a borda da pradaria e desaparecia dentro da vegetação do
bosque.

— Acredito que está fora dos limites, senhora Douglas — disse Cameron. Ainsley
rilhou os dentes.

— Já o vejo, milord.

O Conde disse em um inglês cultivado:

— Isto talvez não tenha sido como vocês os ingleses dizem, muito esportivo.

— Os jogos se jogam para ganhar — disse Cameron. — E nós somos escoceses.

O Conde olhou para a vegetação e depois para baixo para seus limpos e brilhantes
sapatos.

— Irei procurar a bola para você, signora — disse sem muito entusiasmo. O que
deixaria a Ainsley só com Cameron.

— Não, não, buscarei-a por mim mesma. Não serei uma carga.

Ainsley girou e correu para a vegetação antes que o Conde pudesse fazer algo mais
que protestar simbolicamente. Ela não perdeu o alívio na face do Conde ao não ter que
colocar seu traje imaculado entre os arbustos, nem perdeu tampouco o lento sorriso de
Cameron.

Fazia frio sob as árvores, a lama estava pegajosa. Ainsley caminhou uns dez metros
dentro do bosque antes que divisasse as listas pintadas na bola sob um grosso arbusto. Ela
colocou seu bastão no arbusto e o moveu ao redor tentando alcançá-la.

— Me permita — Cameron estava junto a ela, sem desculpas, sem explicações. Seu
comprido braço permitiu a seu bastão introduzir-se sob o arbusto, e em poucos segundos,
arrastou de volta a bola de Ainsley a lama.

— Obrigado — ela começou a retornar empurrando a bola com o pé, não querendo
pegá-la toda enlameada como estava, mas o corpo de Lorde Cameron estava em seu
caminho. Uma tela de árvores os impedia de ver a pradaria, os deixando eficazmente a

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sós.

— Por que está totalmente abotoada até acima desta maneira? — Cameron dirigiu
seu olhar abaixo para os botões com forma de amora de seu sutiã.

É um elegante vestido, Ainsley pensou quando Isabella a obrigou a comprar. Cinza


com bordados cinza escuro ao longo da saia e da jaqueta, a gola alta rodeava o queixo com
um pouco de renda negra.

— Estava melhor sem tudo isto a noite passada — disse Cameron. Deixando seu
bastão cair a uma polegada de distância de seu peito. — Seu sutiã baixava até aqui.

Ainsley clareou a garganta.

— Decote baixo para a noite, alto para a manhã. — Ela tentou dizer a Isabella que o
vestido de baile era muito revelador, mas Isabella dissera...

— Deve sê-lo, querida. Não vou ter minha mais querida amiga parecendo uma
desalinhada matrona.

— Isto não te senta bem — disse Cameron.

— Não posso evitar a moda, Lorde Cameron.

Cameron tocou o botão superior com seu dedo enluvado.

— Desfaça-se disto.

Ainsley saltou.

— O que?

— Desabotoa sua maldita roupa. Ela quase te sufoca.

— Por quê?

— Porque quero que o faça — o sorriso de Cameron se estendeu por sua face, lento e
pecaminoso, e sua voz foi baixa, perigosa. — E diga, senhora Douglas. Quantos botões
desabotoará para mim?

Capítulo 5

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Isto não podia estar acontecendo a ela. Lorde Cameron Mackenzie não podia estar
parado frente a Ainsley, pedindo que desabotoasse o sutiã para ele. Aqui no bosque, a só
uns passos de onde a nata da nata da Europa estava jogando cricket sobre a esplanada
dianteira da mansão de Duque de Kilmorgan.

— Quantos? — repetiu Cameron.

Todos eles. Ainsley queria rasgar até abri-lo completamente e lançá-lo a lama,
deixando que o novo vestido se arruinasse.

— Três — finalmente grunhiu. Algo peralta brilhou em seus olhos.

— Quinze.

— Quinze? — os botões de amoras estavam juntos, mas quinze a deixariam nua até a
metade de seu espartilho. — Quatro.

— Doze.

— Cinco — Ainsley replicou. — Isso é tudo o que pode esperar, e terei que fechá-los
de novo antes de que retornemos ao jogo.

— Não dou nem um maldito peni pelo que faça antes de que retorne ao jogo. Dez.

— Seis. Nenhum mais.

— Dez.

— Lorde Cameron...

— Dez, maldita fêmea teimosa — ele se inclinou mais perto, seu fôlego tocando sua
pele. — Estou pedindo isso amavelmente até que me canse de pedir e então te arrancarei
esses bonitos botões eu mesmo.

Seu mundo cambaleou.

— Não o faria?

— Faria-o.

Ainsley umedeceu seus lábios. Suas súplicas de decoro eram falsas, e ele sabia.

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— Dez então.

— Feito.

Devia estar louca. Ela não podia permanecer aqui e deixar que Lorde Cameron
desabotoasse suas roupas. Uma vez, há tempo, permitiu despi-la um pouco, e mal
conseguiu manter sua prudência intacta.

Mentira. Ela perdeu sua prudência essa noite e nunca a recuperou.

Ainsley o olhava, com o coração pulsando loucamente, enquanto Cameron tirava as


luvas e alcançava seu botão superior. Seu sorriso mostrava seu triunfo enquanto o botão se
deslizava através do buraco. O tecido abriu-se descaradamente, como descarada se sentia
Ainsley.

Cameron acariciou o pequeno pedaço de pele que despiu, enviando o calor para
baixo por todo seu corpo. Ela ia morrer antes que chegasse aos dez.

Nos botões dois e três. Cameron a tocou depois de abrir cada um, como se a estivesse
ensinando como derreter-se por ele.

Ainsley fechou os olhos enquanto ele desabotoava os botões quatro e cinco. Ele roçou
o vão de sua garganta, seu toque era como o fogo, antes de baixar ao botão seis. Era um
perito sedutor, disse a se mesma quando chegaram os botões sete e oito. Era um homem
que sabia como fazer que as mulheres desejassem que ele desse o que queria dar.

Ainsley, que para tudo aparentava certa temeridade, aprendeu a ser prudente, tudo o
fazia por uma razão, cada risco estava calculado em função de sua recompensa. Mas com
Cameron, a velha Ainsley imprudente voltava a aparecer, querendo que a desabotoasse o
sutiã, o baixasse até a cintura e tomasse o que quisesse dela.

Quase suplicou que fosse o botão nove. No botão dez, Ainsley abriu os olhos.

— Feito — Cameron disse suavemente, e empurrou o tecido abrindo-o.

Os seios de Ainsley se sobressaíam por cima de seu espartilho. Supunha-se que as


damas deviam ser magras, portanto usavam o espartilho como uma jaula, mas as curvas
de Ainsley parecia que sempre se sobressaíam do mesmo.

Cameron empurrou o tecido fora de seu caminho, sua mão indo quase
reverentemente para sua pele.

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— Ainsley — disse com voz rouca... — Sabe como formosa é?

Quando a tocava, quando sua voz flutuava sobre ela, sentia-se formosa.

— É muito amável ao dizê-lo.

— Isto não tem nada que ver com a amabilidade — ele soava irritado. Cameron
deslizou o polegar sobre seu seio e depois se inclinou e a beijou ali.

Inclusive com ele abaixado totalmente em cima dela não havia sentido tanto calor
como o que provocavam seus lábios agora. Os lugares femininos de Ainsley se
esquentaram e dilataram quando beijou sua pele, com beijos lentos, tomando seu tempo.
Seus lábios eram quentes, peritos, o áspero calor de seu cabelo acariciava seu queixo.
Queria empurrar para ela, embalar contra ela enquanto a tombava sobre a lama pegajosa,
inclusive com o som do toque das bolas de cricket não muito longe.

Cameron beijou a parte superior de seu decote, sua barba incipiente produzia uma
queimação agradável. Então se endireitou, afastando-se um pouco enquanto deslizava um
papel dobrado para baixo entre seus seios.

Os olhos de Ainsley se aumentaram, e colocou uma mão sobre seu espartilho.

— O que...

— Acredito que isto é seu, senhora Douglas.

Ainsley tirou a carta, desdobrou-a e viu os traços da escrita da Rainha, palavras


dirigidas a seu cavaleiro, John Brown.

— Decidi que não tenho nenhum interesse em suas cartas — disse Cameron. — Ou
em suas malditas intrigas.

Ainsley o olhou, com a boca aberta, então enrugou a folha e a guardou no bolso de
sua jaqueta.

— Muito obrigado — disse, sentindo-o realmente. — Não posso explicar isso, mas
obrigado.

— Ainda está desabotoada.

Ainsley olhou para baixo a seu sutiã aberto, os seios se sobressaindo por cima do
espartilho.

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O perverso sorriso de Cameron voltou.

— A mim não importa. Mas se outra bola vier rolando até aqui, poderia se sentir
envergonhada.

Ainsley se despojou de suas luvas e começou a se abotoar com dedos trêmulos.


Levou tanto tempo que pareceu que nunca terminaria, enquanto que Cameron não fez
nada mais que olhar, mas ao fim Ainsley fechou o botão superior.

Ela levantou o bastão que deixou cair, mas quando se voltou para ir, encontrou
Cameron ainda bloqueando seu caminho.

— Temos um assunto pendente, senhora Douglas.

— Temos? E que assunto poderia ser esse? — Cameron tocou seu queixo com o cabo
de seu bastão.

— O assunto começou quando veio a meu quarto há seis anos.

— Já disse isso, foi um engano. Pensei que estava retendo o colar de esmeraldas da
senhora Jennings.

— Esquece o maldito colar. Refiro-me ao que começou comigo essa noite. Me


seduziu para me manter distraído e não averiguar o que estava fazendo ali acima, e depois
escapou de mim com os rogos sobre o quão bom era seu marido. — Seus olhos eram
duros, cintilando com dourada irritação.

— Não planejei nada disso. Esperava ter terminado e ter ido antes de que voltasse.
Além disso, você estava perfeitamente disposto a me seduzir, apesar de saber que era
casada.

— Estou acostumado a que as mulheres me procurem como um modo de escapar de


seus aborrecidos maridos.

— Como Phyllida Chase? — Ainsley ouviu a amargura em sua voz, mas não pôde
ocultá-la.

— Exatamente como Phyllida Chase. Seu marido a ignora descaradamente, por isso
volta de vez em quando procurando diversão. Por que não? Outras mulheres fazem
virtualmente o mesmo.

— Você as despreza — disse Ainsley com surpresa.

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— O que?

— Despreza a estas mulheres que enganam a seus maridos. E ainda assim as seduz.
Por que deseja estar com mulheres que despreza?

As sobrancelhas de Cameron se afundaram, mas o olhar que deu a golpeou no


coração.

— Os homens desfrutam do prazer, senhora Douglas. Queremo-lo, desejamo-lo; mal


pensamos em nada mais. Inclusive os homens que pretendem ser retos e piedosos estão
dirigidos por isso.

A Besta se encontra muito perto da superfície. Se uma dama quer enganar a seu
marido para proporcionar esse prazer, que assim seja, mas me nego a admirá-la por isso.

— Parece tão solitário — disse suavemente Ainsley.

— Raramente estou sozinho.

— Sei — disse. — Isso o faz pior.

O olhar de Cameron se enfocou duramente sobre ela. Novamente as barreiras entre


ele e o mundo caíram, e de novo Ainsley viu sua profunda solidão. Aconteceu durante
uma fração de segundo somente.

Em seguida, restauraram-se as barreiras, sua máscara voltou para seu lugar.

— Abotoou errado.

Ainsley baixou o olhar para seu sutiã.

— Merda!

Cameron se inclinou para ela.

— Assunto inconcluso, senhora Douglas. Antes que parta no final da semana,


terminaremo-lo. Depende disto...

Atraiu-a até ele com um movimento brusco e capturou seu lábio inferior entre seus
dentes. Antes que Ainsley pudesse protestar ou empurrar, soltou-a, e colocando seu
bastão sobre seu ombro, partiu de volta dando grandes pernadas, através da cortina de
árvores.

Movia-se como um Deus a cargo de seu mundo, acostumado a deixar a ofegantes

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mulheres atrás dele. O lábio de Ainsley palpitava pela dentada de Cameron enquanto ela
tentava capturar os botões com seus dedos trêmulos, e ainda sentia seu toque na parte
posterior de seu pescoço. Lorde Cameron era forte e perigoso, e deveria ter medo. Mas a
temerária Ainsley só lamentava que ele se fosse muito cedo.

Ouviu como algo se arrastava entre o capim, seguido por uma voz que parecia o
balido de uma ovelha.

— Signora? Pode encontrar ou não a bola?

— Sim, sim, tenho-a!

Ainsley atraiu os extremos de seu sutiã e rapidamente o abotoou, então recolheu sua
bola cheia de lama. Quando saiu de entre a vegetação para onde estava o Conde
esperando-a, descobriu que Cameron Mackenzie já não estava à vista.

— Papai!

Sob os foguetes no escuro jardim, os pensamentos de Cameron voltavam para a


lembrança dos firmes seios de Ainsley sob seus lábios quando ele desabotoou seu vestido
no bosque. Seu pulso golpeou tão rápido como o de um coelho pulsaria se estivesse sob o
efeito da paixão...

— Papai!

Daniel Mackenzie se plantou diante de Cameron. O kilt caía de seus quadris, sua
camisa estava manchada e sua jaqueta torcida, como se tivesse estado correndo através do
bosque. O que provavelmente aconteceu.

Daniel herdara os olhos de Elizabeth, de um marrom profundo e rico, com apenas


um toque de ouro Mackenzie. Do mesmo modo, seu cabelo era muito escuro com meros
reflexos de vermelho.

Elizabeth foi uma mulher formosa, e Daniel refletia isto na tenaz estrutura de seu
rosto, as linhas retas e claras que nunca se apagariam pela idade.

Seus olhos agora continham uma mistura de raiva e de incerteza.

— Esqueceu?

— É obvio que não esqueci — Cameron escavou em seu cérebro tentando


desesperadamente recordar que demônios se supunha que devia recordar.

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— Sua tia Isabella me teve entretido toda a manhã.

— Sim, já sei, o cricket. Mas eu queria falar com você.

Ninguém explicou a Cameron quando este tinha vinte anos e estava orgulhoso como
o inferno de ter conseguido uma esposa e um filho, quão difícil seria para ele criar um
menino.

As babás, os tutores e as escolas se supunha que eram os que iam fazê-lo, não?

Mas os filhos necessitavam muito mais que comida, roupa e tutores. Eles esperavam
pais que soubessem coisas, que ensinassem tudo a respeito da vida, que estivessem ali
quando os necessitassem.

O próprio pai de Cameron não apresentou nenhum bom exemplo, por isso a maioria
do tempo Cameron se encontrava a se mesmo afundado em águas profundas, procurando
fazer pé. Fora um fodido e duro caminho, e Cameron sabia que não fez o suficiente.
Agradecia a Deus por ter a seus irmãos, porque mesmo indisciplinados como eram,
tomaram Daniel sob sua protetora asa coletiva.

Entre eles quatro e, depois com Isabella e Beth, de algum jeito conseguiram criar
Daniel.

— Agora estou aqui — disse Cameron.

Daniel soltou um suspiro ofendido, já era o suficientemente alto para olhar a seu pai
diretamente nos olhos.

— O que queria perguntar era... Quantos anos tinha a primeira vez que teve uma
amante?

Cameron sentiu como começava a afundar, mas Daniel estava perfeitamente sério. A
face do moço estava cheia de curiosidade e um pouco ansiosa enquanto esperava a
resposta de Cameron.

— Por que deseja sabê-lo? — Cameron estava com quinze, a dama em questão,
dezoito, sabendo que o filho de um homem rico ávido por seu primeiro encontro
provavelmente teria que pagar bem.

Cameron estava entusiasmado, mas sem nenhuma delicadeza, e não se iludiu por
que uma cortesã sofisticada pôs a vista nele.

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— Por que acha? Tenho 16 anos e já é hora de que tenha minha própria experiência.
O tio Hart e você, por não mencionar ao tio Mac, tinham amantes quando estavam ainda
na escola. Inclusive o tio Ian teve uma.

A reputação da família Mackenzie não é nenhum segredo. Eu sei. Vivo com um


maldito montão de caras como vocês.

Maldito inferno. Os conselhos do pai de Cameron sobre a questão das mulheres


foram: "mantenha seu pênis feliz com putas, toma a uma dama para criar seus herdeiros e
não misture às duas. As mulheres devem ser o molho, não a comida, ou farão que sua vida
seja um inferno". Não era o que Cameron queria dizer a seu filho.

— Uma prostituta que se fixa em um garoto tão jovem como você é que só quer seu
dinheiro — disse cuidadosamente. — Não é porque seja você, Danny. É a única maneira
em que sabem viver.

— Mas não estou falando de uma cortesã, papai. Refiro-me a uma autêntica dama.

Cameron se orgulhava de sua paciência.

— Uma autêntica dama, como você a chama, esperará um pedido de matrimônio. Se


deseja a alguém em sua cama, começa com prostitutas, mas tenha claro por que estão com
você. Então ambos saberão o terreno que pisam.

— OH, muito sábio, pai. Diz você que se casou antes inclusive de que tivesse
terminado em Cambridge. E mãe também era mais velha que você.

A cicatriz na face esquerda de Cameron empalideceu. Ele a esfregou.

— E foi um maldito pesadelo. Recorda-o.

— Sim, sei que odiava a mamãe.

— Eu não odiava a sua mãe... — Elizabeth estava louca, foi violenta e insaciável, Mas
foi ódio o que Cameron sentiu? Ou raiva, tristeza e desgosto?

— Já escolhi uma — dizia Daniel. — E não é uma cortesã — Cameron elevou uma
oração pedindo forças.

— Quem? A filha de algum hóspede de Hart? Por favor, Danny, me diga que não a
seduziu ainda. — Hart desataria uma fúria negra sobre este tema e jogaria a culpa
diretamente a Cameron.

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— Não, papai. É a amiga de tia Isabella, a senhora Douglas.

Cameron se sufocou tossiu, procurando desesperadamente ar para respirar.

— O que? Não!

— Por que não?

— Porque maldição, ela é muito velha para você, essa é a razão de por que não! —
alguns convidados se voltaram, estavam atraindo sua atenção, mesmo com o ruído dos
foguetes. Cameron tentou baixar a voz.

— Ela não é para você, Daniel.

— Tia Isabella diz que tem vinte e sete anos — disse Daniel, — escutei que sua
herança como viúva equivale a quase nada, assim acredito que ela se mostraria agradecida
diante de um garoto rico, não acha?

Cameron olhou para onde Ainsley se encontrava, não muito longe deles com a
senhora Yardley. Ainsley se vestia novamente de cinza. Ao menos desta vez não estava
abotoada até o queixo. Agora que o sol estava baixo, a noite de setembro escocês se
tornava fresca, ela levava manga curta e um sutiã cujo decote descia até a metade de seus
seios. Para evitar, de certa forma, a febre dos pulmões,

Ainsley complementou sua vestimenta com um fino xale de renda que tinha mais
buracos que tecido. Os pensamentos de Cameron se deslizaram para o passado, tal como o
estiveram fazendo durante todo o dia, justo no momento em que esteve com Ainsley no
bosque, sua pele avermelhando enquanto ele desabotoava o décimo botão de seu sutiã. Ele
havia separado os extremos do tecido, abrindo-o, E... OH que doce foi o que encontrou em
seu interior!

Formosa Ainsley que transbordava por cima de seu espartilho, com seus seios
exuberantes e amadurecidos. Ele quis lamber todo o caminho para baixo por seu decote,
desatando seu espartilho para despir seus mamilos, apanhando a aréola de veludo entre
seus dentes. Foi malditamente difícil retornar ao jogo, teve que caminhar dando voltas
sobre a lama durante um longo momento antes de poder retornar até a Sra. Yardley para
terminar a partida com ela. Este deve ter sido o jogo mais fodidamente comprido de
cricket na história do mundo.

— Ela não é para você, moço — Cameron repetiu com dificuldade. — Deixa-a

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tranquila.

— Por quê? É porque acaso está interessado nela?

Demônios, sim.

— Ela não é meu tipo de mulher, Danny.

Daniel apertou em punhos suas mãos magras de grandes ossos, que demonstravam
que continuava crescendo.

— Sei. E é por isso pelo que eu gosto. Porque ela não tem nada que ver com suas
mulheres, nada absolutamente. Assim que ela estará a salvo de que você goste... — deixou
no ar a última palavra, girou e entrou na escuridão.

— Daniel...

Daniel não se deteve nem voltou atrás, desaparecendo em um momento para ir-se
quem sabia aonde.

Ser pai era um total inferno. Cameron começou a perambular ao redor de novo e
encontrou sua vista bloqueada por seu irmão mais jovem, Ian.

Cam estava um pouco surpreso ao ver que Ian saiu fora, já que Ian odiava as
multidões, e o punha nervoso tão alta proporção deles. Sem embargo, estava escuro, e de
qualquer forma, a maioria dos convidados o evitava, e sua esposa, Beth, permanecia de pé
não muito afastada dele.

Ian era alguns centímetros mais baixo que Cameron, mas tão largo de ombros como
ele. Sua postura mostrava uma nova fortaleza, muito da qual era devida a jovem que
permanecia atrás dele conversando com um dos convidados.

— Ian, que demônios se supõe que devia recordar fazer com o Daniel esta tarde? —
Cameron perguntou.

Ian olhou para onde Daniel se foi. Ian nunca daria a Cam tranquilizadoras frases tal
como outros fariam.

— Ele te admira Cameron; só está tentando te agradar — Ian tomou as coisas como
eram e entendeu a verdade. Sabia que a frustração de Daniel com Cameron era
aproximadamente igual à frustração de Cameron com o Daniel.

— Passeia pelos limites da propriedade com ele — disse Ian.

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— Maldição — Daniel amava montar pelo perímetro das terras dos Mackenzie, que
conduziam através de bosques profundos a gargantas escarpadas. Cameron normalmente
estava muito ocupado com seus cavalos, mas assegurou a Daniel que hoje o fariam. —
Aceita este conselho, Ian. Não se fixe em mim como um modelo para a paternidade.
Observa o que faço e, faz exatamente o contrário.

Cameron se deu conta que perdera, literalmente, seu irmão mais novo. Ian estava
olhando ao longe para ver como a face de Beth se iluminava pelos brilhos dos foguetes.

— Ian, recorda o que tinha nessa carta que te mostrei esta manhã? — Cameron
perguntou.

Sem afastar o olhar de Beth, Ian começou a relatar a carta, repetindo as floridas
frases, rapidamente e de forma monótona.

Cameron levantou a mão.

— Bem. É suficiente. Obrigado.

Ian se deteve como se fechasse um grifo. Cameron sabia que Ian prestara pouca
atenção ao que a carta realmente dizia, mas podia repetir as palavras em sua ordem exata.
Seria capaz de fazê-lo durante anos.

— A Pergunta é, escreveu-a a senhora Douglas? — Cameron se perguntou.

— Não sei.

— Sei que não sabe. Só estava refletindo em voz alta — Ian o olhou de cima a baixo.

— A senhora Douglas escreve cartas para Isabella — tendo feito esta declaração, Ian
voltou para sua contemplação de Beth.

— Sim, são velhas amigas, mas isto não tem nada que ver com... — Cameron se
calou. — Ah, já vejo. Sinto muito, Ian, não tinha entendido.

Ian não respondeu. Cameron apertou o ombro de Ian, mas brevemente, sabendo que
seu irmão mais jovem não gostava de ser tocado por ninguém, exceto por Beth. Ou
Isabella. Só mulheres formosas para Ian Mackenzie, que maldito.

— Ian, sabe por que todo mundo pensa que está louco?

Ian olhou para Cameron, não realmente interessado, mas aprendeu a olhar às
pessoas quando falavam.

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Cameron continuou.

— Porque você nos dá a resposta, mas salta todos os passos que nós os meros mortais
necessitamos para alcançá-la. O que quer dizer é que deveria pedir a Isabella que me
mostrasse uma das cartas da senhora Douglas e comparar a escrita.

Ainda não havia respondido Ian. Como se tivesse esquecido completamente que eles
estavam conversando, deu a volta de novo, indo para onde estava Beth, a âncora de seu
mundo. Ian não estava olhando os foguetes, Cameron viu que Ian estava observando
como sua esposa os contemplava, compreendendo sua beleza através de Beth.

Cameron o deixou ir. Outro fogo artificial explodiu, o calor tocando a face de
Cameron.

À luz dos foguetes, Cameron viu Ainsley Douglas deslizar para fora do alcance da
Sra. Yardley e caminhar a passo regular por uma trilha que ia para o jardim principal,
perdendo-se na escuridão.

Enquanto os convidados aplaudiam ao espetáculo, Cameron deu a volta e a seguiu


entrando na noite.

Capítulo 6

— Então ele te deu a carta, não é? — Phyllida Chase encarou Ainsley sob o brilho
distante dos foguetes. Ainsley a encontrou, como se fosse um encontro preparado, na
fonte que havia no centro do jardim.

Os convidados estavam ainda aglutinados no lado oeste vendo a pirotecnia que era
disparada sobre a pradaria que havia mais à frente.

— Lorde Cameron me devolveu isso, sim — disse Ainsley. — Evidentemente a


entregou quando sabia que eu estava olhando. Por quê?

Os olhos de Phyllida brilhavam.

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— Porque queria que soubesse que poderia entregar as cartas a qualquer um que eu
quisesse, sempre que eu quisesse, se atrasasse muito com o dinheiro. Nunca esperei que
tentasse levar a cabo seu próprio trato com ele.

Este assunto é entre você e eu, querida. De ninguém mais.

— É uma ladra, senhora Chase — disse friamente Ainsley. — Farei o que for
necessário. Trouxe o dinheiro, agora me dê as cartas, conforme o combinado.

— Não deveria ter me seguido, senhora Douglas. Como o fez, o resto das cartas te
custará muito mais que o preço original. Mil guinéos.

Ainsley ficou olhando-a. — Mil guinéos? Combinamos quinhentos. Já foi difícil


convencê-la para que me desse essa quantia.

— Então, ela não deveria ter escrito essas cartas. Mil guinéos ao finalizar esta
semana, ou as venderei a um jornal.

Ainsley apertou seus punhos contra a saia.

— É impossível que possa conseguir mil guinéos. Não em quatro dias.

— Pois então melhor será que comece a enviar telegramas. Ela pode se permitir por
toda sua mesquinharia, e além disso, é tudo sua culpa por ter sido tão indiscreta. Uma
semana.

Ainsley queria gritar.

— Por que motivo está fazendo isto? Foi uma dama de companhia, alguém de
confiança. Por que se voltou contra ela?

— Porque me voltei contra ela? — os olhos de Phyllida brilharam, e pela primeira


vez, Ainsley viu uma emoção em Phyllida Chase diferente do frio cálculo. — Vá e
pergunte a ela por que se voltou contra mim.

Tudo o que queria era um pouco de felicidade. Merecia um pouco de felicidade. Ela
me arrebatou isso tudo e por isso nunca a perdoarei. Nunca.

A fúria na voz de Phyllida era autêntica, ira e desespero estavam arraigadas muito
profundamente. Phyllida já havia deixado o serviço da rainha antes que Ainsley chegasse,
há três anos, mas nunca chegou a saber por que foi despedida. Ela ouviu sussurros falando
sobre a senhora Chase, como suas famosas perseguições de homens mais jovens, mas a

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Rainha sempre permaneceu calada a respeito de Phyllida e proibiu as intrigas.

— Não tenho mil guinéos — disse Ainsley. — Tenho quinhentas. Pelo menos teria
isto.

— O preço original é coisa do passado. Considera os segundos quinhentos o custo de


me manter em silencio a respeito de como seduziu Lorde Cameron para conseguir a carta.

O rosto de Ainsley se esquentou.

— Eu não o seduzi para consegui-la.

Phyllida dedicou um duro sorriso.

— Minha querida senhora Douglas, Lorde Cameron não é só um homem nem um


aristocrata malcriado, ele é um Mackenzie. Ele simplesmente não te devolveria a carta sem
te exigir um preço por ela.

Pouco importa se ainda não pagou esse preço. Fará-o.

Ainsley agradeceu a escuridão, porque sabia que devia estar ruborizada até os dedos
dos pés. Recordou o calor da boca de Cameron pressionando a chave dentro da sua, o
mesmo calor de sua boca sobre seus seios no bosque.

— Antes que vá, no final da semana, teremos acabado isto — disse. — Depende de
você.

— Não fui a sua cama — disse Ainsley, — nem irei.

— É uma ingênua, querida. Lorde Cameron não toma a suas mulheres em uma cama.
Pode ser em qualquer lugar do quarto... Ou na carruagem, na pérgula, ou na pradaria
diante da casa... Nunca em uma cama.

É bastante conhecido por isso, nosso Lorde Cameron.

Os pensamentos de Ainsley foram para o rígido corpo de Cameron pressionando-a


contra seu colchão, sua grande mão em seu pulso. Ele estava preparado, sentiu-o através
de seu kilt, não parecendo importar absolutamente que estivessem em uma cama.

Mas ele a libertou. Poderia ter tomado o que quisesse então, poderia ter coagido
Ainsley para entregar-se, mas não o fez.

— Não o farei — disse Ainsley.

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Phyllida lhe jogou um olhar de desprezo.

— A ingênua senhora Douglas. Não é rival para Lorde Cameron Mackenzie. Ele terá
o que quer de você rapidamente, e você irá a ele. Cameron vê, deseja-o, pega e parte.

— Terminaremos isto.

O coração de Ainsley pulsou mais rápido.

— Parece muito otimista para ser sua amante.

— Entrei em minha relação com Lorde Cameron com os olhos muito abertos. Tem a
reputação de ser um amante muito complacente, e isso é o que procurava, para aliviar
meu aborrecimento nesta reunião tão terrivelmente tediosa.

Hart Mackenzie costumava celebrar orgias exóticas que fizeram furor, mas agora
convida a gente aborrecida para fazer coisas aborrecidas durante uma aborrecida semana
na congelada campina escocesa.

Cameron esta tão aborrecido como o estou eu, mas agora que viu seus bonitos olhos,
estou segura de que terminou comigo. Não importa, porque eu terminei com ele.

Ainsley escutava com crescente calor, dando-se conta de que tropeçara com um
mundo que só vislumbrou, maridos e esposas procurando outros casais pela novidade que
supunha, os amantes casualmente descartados por outros amantes.

No mundo de Ainsley, uma jovem senhorita poderia ficar arruinada em um abrir e


fechar de olhos; no de Phyllida, os votos não significavam nada e o prazer era tudo.

Ainsley pensou em Lorde Cameron, com seu olhar feroz e a paixão que fervia sob a
superfície. Ele temperava esta paixão com gentileza quando treinava a seus cavalos ou
acompanhava a frágil senhora Yardley, ao mesmo tempo que cuidava dela. Essa gentileza
deu a Ainsley a convicção de que, inclusive em seu mundo de amantes e amores secretos,
Cameron Mackenzie merecia algo melhor que Phyllida Chase.

— Posso te dar os quinhentos guinéos — disse Ainsley com firmeza. Phyllida moveu
rapidamente seus dedos.

— Quero mil. Ela pode permitir-se.

Sim, mas a pequena Rainha tinha as ideias muito claras sobre onde deveria gastar
dinheiro e quanto ao mesmo tempo. Ela encontrava insultante que tivesse que pagar por

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tudo.

Mas inclusive a Rainha se deu conta de que as cartas poderiam danificar gravemente
sua reputação se saísse à luz que ela escreveu essas tolices sentimentais ao Sr. Brown, sem
importar realmente que nunca as tivesse enviado.

As pessoas não estariam de acordo com a vida encerrada que Vitória levava se isto
acontecesse, e poderia ter vozes pedindo sua abdicação se pensassem que ficava em casa
só para jogar com seu súdito mais velho, que além disso era escocês. Phyllida decidiu
castigar à Rainha e a castigaria se pudesse. Por isso a Rainha enviara Ainsley, a dama a
quem ordenava fazer trabalhos encobertos que poderiam implicar algo sórdido, como
abrir cadeados ou revistar quartos, para tratar com Phyllida. Para recuperar as cartas sem
soltar um centavo se Ainsley pudesse evitá-lo.

— É otimista se pensa que te dará mil guinéos — disse Ainsley.

Fogo artificial após fogo artificial explodiram sobre a pradaria, enchendo o céu com
seu resplendor. Sob sua luz, Phyllida sorriu.

— Mil guinéos é o que quero — disse. — Consegue os de alguma forma para o final
da semana, e terá as cartas de volta. Se não...

Ela fez um gesto com a mão, depois girou e desapareceu pelo caminho de cascalho
sem olhar para trás.

— Maldita mulher — resmungou Ainsley.

Um frio nariz empurrou contra sua palma, e ela olhou para baixo para ver-se com o
McNab, um cão dos Mackenzie, olhando-a com seus simpáticos olhos. Cinco cães
rodeavam os Mackenzies em todo momento.

Dois deles, o sabujo Ruby e o terrier chamado Fergus, pertenciam a Ian e Beth e
viviam com eles quando retornavam a sua casa não longe daqui. Ben e Aquiles
permaneciam na casa principal, mas McNab, um springer spaniel, era mais ou menos de
Daniel e de Cameron.

Ainsley suspirou enquanto se inclinava para acariciar McNab.

— Que tranquilo deve sentir-se alguém sendo um cão! Você não precisa se preocupar
com intrigas nem de cartas ou de chantagem.

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A cauda de McNab se sacudiu feliz, roçando suas pernas. E a mesma cauda a


golpeou muito mais forte quando McNab se virou para saudar o enorme homem que o
seguiu e que nesse momento estava saindo da escuridão.

— Então Phyllida a esta chantageando — disse Cameron.

Ainsley rapidamente repassou a conversa em sua cabeça, relaxando ligeiramente


quando se deu conta de que nem ela nem a senhora Chase mencionaram à Rainha por seu
nome em nenhum momento.

— Temo-me que assim é.

Cameron acariciava a cabeça de McNab e o cão a empurrou sob a mão de Cameron.

— Phyllida pode ser o diabo. Quer que consiga tirar as cartas?

Os olhos de Ainsley se aumentaram com alarme.

— Por favor, não. Se a assustar, poderia ir correndo a um jornal, como ameaçou que
faria.

McNab rodeou Ainsley empurrando-a ao passar por trás, o que fez que desse um
passo adiante para o calor de Cameron. Cameron não se moveu. McNab se sentou contra
Ainsley, e ali estavam todos juntos tão felizes em um pequeno espaço.

— Posso resolver seu problema — disse Cameron. — Sabe que te darei os mil
guinéos se me pedir.

Ele não te entregaria simplesmente as cartas sem te exigir um preço em troca.

— Posso juntar o dinheiro — disse Ainsley. — Será difícil, mas posso fazê-lo.

Atravessando o jardim, sob a luz das lanternas chinesas, Phyllida se deteve junto a
seu marido e colocou sua mão debaixo do braço dele.

— Ela é uma mulher difícil — disse Cameron.

— Ela é um maldito espinho em meu flanco.

A risada de Cameron soava áspera como cascalho ao ser pisado.

— Se acha que mil guinéos farão que Phyllida desapareça, não o farão. Ela poderá
guardar algo ou encontrar alguma outra forma para voltar a cair sobre você. Os
chantagistas nunca estão satisfeitos. — sua risada desapareceu dentro da amargura.

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— Não o estão? Como sabe? — suas palavras estavam vazias, ocas.

— Quando é o irmão de um Duque e sua esposa morre em circunstâncias


misteriosas, os dentes afiados saem do armário.

— É uma curiosa metáfora.

— Fodida metáfora. São dentes humanos e saem das sombras quando menos espera
isso.

— Sinto muito — disse Ainsley.

Ela soava arrependida. Maldita fosse, por que precisava o olhar dessa forma?

Os olhos cinzas brilhando na escuridão, o olhar franco, o xale de renda deslizando de


seus ombros enquanto se agachava para acariciar o cão. Uma vez mais, Ainsley fazia que o
mundo de Cameron ganhasse vida, o enchendo com cor em vez do cinza mortal de sua
habitual existência.

— Todo mundo especula sobre se matei a minha esposa — disse, — inclusive você.

A chama da culpa em seus olhos disse que tinha razão. Mas por que Ainsley não ia
especular sobre isso? Ninguém sabia com certeza o que aconteceu neste quarto, só
Cameron.

Daniel era só um bebê, e salvo por ele, Cameron e Elizabeth estavam sozinhos.

Cameron se lembrou da investigação, todos o olhando enquanto dava sua declaração


com voz apagada, todos acreditando que ele assassinou Elizabeth. Os olhos dos aldeãos,
dos jornalistas, da família de Elizabeth, dos amantes dela, de seu próprio pai, do jurado,
do forense, duros e frios, esperando que confessasse. Só Hart acreditou, e Hart mentiu por
ele, dizendo que ele viu como Elizabeth conduzia a faca a sua garganta quando abriu de
repente a porta. Cameron estava do outro lado do quarto, sustentando Daniel, tentando
acalmar os tremendos soluços do menino. Hart relatou a história, utilizando a combinação
correta de encanto Mackenzie e horrorizada simpatia por seu irmão.

O que Hart disse era a verdade, mas ele não o viu. Elizabeth já estava morta antes
que Hart entrasse no quarto. Hart mentiu para salvar Cameron e Cameron estaria
eternamente agradecido.

Portanto, Cameron suportava as festas em casa de Hart e entretinha a seus

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convidados permitindo observar como treinava a seus cavalos de corridas.

Os dedos de Ainsley se apoiaram em seu braço, o trazendo de volta da escuridão.


Sua refrescante voz fluía sobre ele, junto com seu aroma de baunilha e canela, essa era
Ainsley.

— As pessoas falam dela, não posso negá-lo — estava dizendo, — mas eu não
acredito que seja certo.

— Como diabos pode sabê-lo? — Cameron ouviu o grunhido em sua voz, mas não
pôde detê-lo.

— Sou boa observando às pessoas, isso é tudo.

— Isso só significa que é muito Fodidamente confiada.

— Significa que é minha opinião, você goste ou não. Assim deixa de tentar me
insultar, ou me intimidar, ou o que seja que esteja fazendo.

Ela estava despertando de seu estado de meio adormecimento de novo, obrigando a


enfocar o mundo que o rodeava.

— Mas é uma mentirosa e uma ladra, senhora Douglas — disse , aliviando o tom, —
uma trapaceira. Como posso confiar em sua palavra?

Sua mão permaneceu em seu braço, e Cameron gostou que ela não a retirasse.

— Conheceu-me sob umas circunstâncias desafortunadas. Pelo geral sou mais de


confiança.

Cameron queria poder rir.

— Abre cadeados fechados como um ladrão profissional, revista quartos, trata com
chantagistas e depois me pede que acredite em você.

Ainsley dirigiu um olhar exasperado.

— Recordo-o que eu tampouco te vi nas melhores circunstâncias, milord. A última


vez que falamos, desabotoou minhas roupas.

Sim, recordou. Cada botão revelando mais dela, o calor de sua pele, o sopro de fôlego
em seus dedos. Cameron se aproximou dela de novo, procurando seu calor uma vez mais.

Tocou sua clavícula, estava fria, inclusive através da pele de suas luvas.

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— Maldição, mulher, está congelando.

Cameron tirou sua jaqueta e a pôs ao redor de seus ombros antes de que ela pudesse
protestar, e depois segurou as lapelas, não querendo deixá-la partir. Doce senhora
Douglas, o olhando à face e dizendo que acreditava nele.

Ninguém mais o fez. Só pela intervenção de Hart o veredicto da investigação foi


suicídio. E Cameron foi exonerado. Encerrando o caso. Oficialmente.

A opinião pública dizia o contrário, mas só em sussurros, porque Hart não toleraria
injúrias. As mulheres de duvidosa reputação, esposas e viúvas que queriam emoção,
procuravam Cameron pelo perigo que representava, enquanto que as respeitáveis
senhoritas eram separadas de seu caminho. A Cameron não importava. Nunca tentou se
casar de novo, com uma vez teve suficiente, mas duvidava de que alguém o quisesse,
mesmo que o tentasse.

E agora Ainsley Douglas o olhava com esses olhos cinza claro e dizia que acreditava
em sua inocência. Sem necessitar nenhuma prova.

Queria saborear a boca que havia dito tal coisa. Queria atraí-la para ele, sentir seu
corpo sob o seu, tirar sua roupa e beijar cada centímetro dela. Ainsley usava seu cabelo
recolhido em um apertado coque esta noite, imaginava desfazendo-o, deixando seu cabelo
fluir sobre seu corpo como seda quente.

A cauda de McNab açoitou as pernas de Cameron e Ainsley riu e se inclinou para


acariciar a cabeça do cão.

— Lorde Cameron, preciso pedir um favor.

Não sabia que era perigoso pedir favores? Só porque Cameron era inocente de
assassinato não significa que fosse amável.

— Que favor?

— Procurei no quarto da Sra. Chase, mas não encontrei as cartas. Tive a


oportunidade de dar uma olhada por cima ao resto da casa também, mas não pude as
encontrar.

Cameron imaginou Ainsley alegremente revistando a sua maneira a casa,


atravessando as portas fechadas de todos os quartos da mansão de Hart. Ajudar Isabella
com a festa teria dado uma desculpa para ir quase a qualquer lugar da casa. Hart

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Mackenzie, o homem mais cuidadoso e controlado que já nasceu, não era rival para
Ainsley e sua forquilha.

— É obvio que as procurou — disse, — está segura de que foi minuciosa?

— Eu sempre sou muito minuciosa, milord. Mas há um lugar no que não procurei —
ela tocou com sua língua seu lábio inferior, justo no pequeno hematoma que Cameron
deixou ali. Sua marca.

Ele que nunca gostou de beijar a suas mulheres não podia deixar de pensar em beijar
Ainsley.

— O único lugar no qual ela seria capaz de esconder lote — disse Ainsley, — onde
provavelmente eu não iria, seria seu quarto.

Seu coração saltou um batimento.

— Fez algum registro em meus aposentos, também. Angelo me disse que alguém
revolveu o armário.

— Mas não pude terminar.

Não, Cam e Phyllida entraram, torpemente, Cameron procurando refúgio para seu
aborrecimento em um desinteressado acoplamento.

Ainsley continuou.

— Poderia a Sra. Chase ter tido a possibilidade de ocultar o resto em algum lugar de
seu quarto?

Phyllida havia virtualmente colado a Cameron desde o momento em que chegou à


festa, e Cameron não a desalentou.

— Sim, ela teve a oportunidade de deixá-las. Mas não a possibilidade de recuperá-


las. Ele não convidou Phyllida a seu quarto depois da noite anterior, e ela entendeu o que
significava sua fria indiferença.

— Excelente. Talvez possa ir e as procurar enquanto você está treinando amanhã?


Seria capaz de manter os criados afastados?

O pensamento dela revoando por seu quarto o fez suar.

— Por que esperar até amanhã? Se tanto deseja encontrar as cartas, vá acima e

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procure-as.

Os olhos de Ainsley se ampliaram.

— O que? Agora?

— Por que demônios não? Os convidados estão cravados vendo a pirotecnia de Hart,
e a casa está vazia. Mostrarei os lugares mais prováveis para revistar.

Ainsley franziu seus lábios, a suave careta o fez desejar atraí-la perto e terminar o
que começou com ela no bosque. Teve que obrigar a si mesmo a retornar então, ou o
Conde ou Isabella ou alguém mais, teria ido procurá-la, e a teriam encontrado em uma
posição mais que comprometedora. Ninguém na partida de cricket parecia ter-se dado
conta de que ela se fora durante muito tempo com o notório Lorde Cameron, entretanto,
provavelmente pensaram que Cameron não teria nada haver com qualquer amiga de sua
cunhada. Poucos deles se deram conta da presença de Ainsley, os cegos e tolos.

Ela se mantinha nas sombras, sem dúvida, mas Cameron podia vê-la ali em todo seu
radiante esplendor.

Ainsley finalmente deixou escapar um comprido suspiro e assentiu.

— Muito bem, vamos procurar. Faz muito frio aqui de todos os modos — ela girou
sem dizer outra palavra e se dirigiu à casa, sua jaqueta ondulando atrás dela.

Capítulo 7

Cameron seguiu o balanço dos quadris de Ainsley Douglas uns passos até a
escuridão do final do terraço. Sua jaqueta deslizou de seus ombros, as sapatilhas dela
estavam enlameadas e uma mecha havia se soltado e deslizava por suas costas.

Por que Cameron se sentia tão vivo simplesmente por olhar a uma mulher que não
tinha nenhuma intenção de se deitar com ele? Não sabia. Só agradecia por isso. A única
coisa que podia se comparar era quando despertava no dia da inauguração de uma corrida
importante, sabendo que o dia estaria cheio de emoção, pressas e euforia. Passava o dia

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junto a Daniel e seus cavalos, e até as decepções eram atenuadas pela alegria do momento.

Cameron manteve aberta a porta do terraço e Ainsley entrou sigilosamente e cruzou


a sala às escuras sem o esperar.

— Você sabe se mover por aqui — disse Cameron quando estavam dentro e a sós.

— Conheço Balmoral e o Palácio de Buckingham como a palma de minha mão —


disse Ainsley. Ela continuou caminhando pela sala vazia até passar a sala de estar. — Esta
casa é fácil de percorrer em comparação com outras. Podemos ir daqui até sua ala privada
— assinalou.

Ainsley abriu outra porta, e se dirigiu para os degraus da escada de serviço, que
começou a subir sem hesitar.

— Como sabe que os criados não nos verão? — perguntou Cameron enquanto a
seguia. — Ou acaso os trancou na cozinha?

— O único criado que utiliza estas escadas é um homem, e neste momento está nos
estábulos — respondeu Ainsley em tom cansado enquanto sua saia fazia ruído ao subir
pelas escadas.

Isso era bastante certo. Angelo gostava de cuidar de Jasmine.

— Seria uma boa ladra de joias, excelente, conhecendo o interior das casas de campo
como esta — disse Cameron. — Poderia trabalhar em casas de qualquer parte do país.

Ainsley se virou e olhou para baixo do corrimão.

— Não seja tolo. Tenho um pouco de moral, Lorde Cameron.

Pena. Cameron a seguiu através de uma porta estreita para sair justo em seu andar.
Seu quarto estava duas portas mais abaixo, ele a adiantou para abrir a porta de seu quarto
com sua chave.

— Assim te economizo o tempo que demoraria para forçá-la — disse.

Sem fazer nenhum comentário, Ainsley tirou a jaqueta de Cameron, a entregou e


entrou no quarto. Dirigiu-se diretamente ao armário, abriu-o e começou a rebuscar.
Cameron jogou a jaqueta em uma cadeira e teve uma estupenda vista de seu redondo
traseiro enquanto ela estava inclinada dentro do armário, entreabriu os olhos e imaginou
através do tecido.

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Despojou-se de suas luvas e seu colete formal antes de servir-se um cálice de uísque.
Levando o cálice, recostou-se contra um poste da cama para seguir observando como se
movia.

Ainsley fechou o armário e se dirigiu à vitrine.

— É um homem estranho, Lorde Cameron. Bebe uísque e fuma charutos diante de


uma dama sem pedir permissão, por não falar do golpe que deu a minha bola no cricket
em vez de permitir que eu ganhasse.

Em meu mundo, simplesmente isso não se faz. Estaria mal visto.

— Sorte que não vivo em seu mundo então. Além disso, sei que não é uma dama.

Ela lançou um olhar de assombro ao mesmo tempo que abria a vitrine.

— O que? — Cameron fez um gesto com seu cálice.

— Você abre fechaduras e penetra em meu quarto, conhece os caminhos que existem
no lar de meus ancestrais, está revistando descaradamente meu quarto, e ontem à noite
lutou comigo em minha cama — tomou um sorvo de uísque deliberadamente.

— Eu diria que isso faz que não seja uma dama.

— As circunstâncias às vezes requerem um comportamento estranho, milord.

— As circunstâncias nos retêm aqui. Ainda não comprovou sob o colchão.

— Essa é a próxima coisa que pensei fazer. Ainsley agarrou um livro da estante e
começou a folheá-lo. Quando se deu conta da espécie de livro que era, — ruborizou.
Cameron reprimiu a risada ao ver como Ainsley ficou olhando uma página onde as
figuras de Courbert apareciam descaradamente nuas, e acopladas em umas posições
interessantes. Fez uma aposta consigo mesmo... — ou ela deixaria cair o livro com
repugnância, ou sua senhora Douglas seria valente e seguiria adiante.

Ganhou a aposta quando ela respirou profundamente decidida a seguir passando as


páginas.

Ao não encontrar nada, Ainsley colocou o livro na prateleira e abriu cautelosamente


outro, que era da mesma temática.

— Você lê isto?

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— É obvio que o faço. Coleciono-os.

— Está em francês.

— Não lê livros em francês? Isabella me disse que esteve com ela na Academia de
senhoritas.

— Aprendi, sim, mas duvido que qualquer uma destas palavras estivessem em nossa
cartilha de leitura.

Cameron deixou de tentar conter sua risada e pôs-se a rir. Sentiu-se bem por isso.

— Poderia terminar muito mais rapidamente se me ajudasse — disse.

Cameron se reclinou novamente na coluna.

— Mas é muito mais entretido te olhar.

Ainsley fez um ruído exasperado, tirando o livro de novo da estante e desatando-o


abriu uma folha. Estudou o primeiro desenho.

— Sei que sou ingênua, lorde Cameron , mas não estou segura de que o que estão
fazendo seja possível.

Cameron se inclinou sobre seu ombro para olhar o esboço sensual feito por Romano,
desenhado três séculos antes. É certo que as pessoas representadas se encontravam em
uma postura incomoda.

— Eu o compro pela beleza do mesmo, não pela instrução.

— Bem, isso é uma bênção, ou nunca teria tido um filho.

Cam soltou outra gargalhada, o poder da alegria verdadeira enchia seu corpo.
Poderia ter algo mais sensual que contemplar a uma encantadora jovem folheando página
após página de seus desenhos eróticos?

Não havia nada de dissimulada em Ainsley, não enviou um olhar sugestivo, nem
utilizou os desenhos como sedução. Ela olhou cada folha com cuidado, suas faces
docemente rosadas, seus seios inchados pressionando contra seu decote.

Quando pôs o último livro em sua prateleira, Ainsley se voltou para ele.

— Não estão aqui — disse, decepcionada.

Cameron tomou outro sorvo de uísque.

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— Tenho meu estúdio justo aqui ao lado.

— É uma possibilidade?

— Sim, é.

Não perdeu o rubor de Ainsley quando especulou sobre o porquê Cameron poderia
ter levado uma amante a seu estúdio privado.

— Muito bem, devemos procurar no estúdio.

O estúdio não se conectava com seu quarto. Cameron a levou pelo corredor uns
passos mais à frente à porta do lado, que ele abriu com chave. Normalmente não fechava
com chave suas portas quando estava em Kilmorgan, não havia necessidade, mas com
todas as idas e vindas de gente, hoje o fez.

Ainsley olhou com consternação quando percebeu a desordem que havia no estúdio.
Tratava-se da sala privada de Cameron, seu retiro da ocupada vida social que às vezes
precisava levar como irmão de Hart e herdeiro ao título.

Havia jornais esportivos por todos os lados, assim como livros especializados em
temas equinos. Cameron contribuíra em capitulos ou ensaios para alguns deles, e em
editoriais que pediram sua opinião sobre o tema.

Cam havia pendurado suas pinturas mais apreciadas aqui também: pinturas dos
cavalos com os quais cresceu, de seus melhores corredores, ou daqueles aos quais
simplesmente amava.

Mac pintou a maioria deles, embora Degas fez um esboço para ele de um cavalo em
movimento, todos os músculos em tensão e sacudindo as crinas.

Angelo era o único a quem permitia entrar nesta sala, e o homem sabia que não devia
tocar em nada. Tudo tinha um pouco de pó, mas a garrafa de uísque e decantador se
repunham sempre, os cinzeiros eram esvaziados e limpos, e as roupas, as botas e o
equipamento equestre uma vez limpos eram levados a seus lugares apropriados.

Cameron pegou um cálice limpo da bandeja, o encheu com uísque e o sustentou no


alto.

— Bebe? Quer prová-lo?

Ainsley olhou o cálice com certa inquietação. Cameron esperava que o recordasse

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que as damas não tomam bebidas alcoólicas, mas dedicou uma piscada.

— Sim, por que não? Eu o prefiro com soda. Não terá um pouco, não é?

Cameron levantou a tampa do decantador.

— Isto é uísque de malte Mackenzie. Hart morreria de apoplexia se alguém o


misturasse com soda. É só ou nada.

Ainsley começou a levantar os papéis de sua escrivaninha.

— Muito bem. Meus irmãos me ensinaram a desfrutá-lo com soda, porque nunca
pudemos nos permitir o uísque de malte Mackenzie. Poderia escutar os suspiros de inveja
de Steven se me visse neste momento.

Rapidamente Cameron encheu o cálice e o levou, Ainsley havia se sentado no chão,


suas saias eram uma mancha de cetim a seu redor, estava com uma pilha de documentos e
notas escritas a mão junto a sua saia.

Ela aceitou o uísque, olhando-o com seus brilhantes olhos cinzas.

Cameron chocou seu cálice contra o dela.

— Por uma frutífera busca.

Ela assentiu, tomou um sorvo provando-o e continuou ordenando os papéis em


montinhos.

— Nada? — Cameron perguntou, inclinando-se sobre seu ombro. Dali podia olhar
para baixo à fenda entre seus seios suaves e não importava absolutamente nada mais.

Ainsley pediu ao céu que não permanecesse muito tempo junto a ela desse modo. As
pernas de Cameron eram firmes e musculosas sob as meias que pôs para passear pelo
molhado jardim, a prega de seu kilt ficava ao nível de seus olhos.

Ela olhou a seus pés, grandes e fortes, pressionando a fina pele de seus muito bem
adaptados sapatos. O barro do jardim se agarrava a eles.

Por cima dos sapatos, os tornozelos eram grossos marcando-se através da grossa lã
cinza, as pernas eram as de um gigante.

Ainsley não podia deixar de subir o olhar, para a sombra que havia sob seu kilt, onde
ela podia vislumbrar um joelho fornido. Era quente, também suas pernas irradiavam calor

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a seu ombro nu.

Ela esteve terrivelmente gelada no jardim, mas permanecendo tão perto dele afastou
todo o frio.

Prosseguiu com a classificação dos documentos. Não havia nada erótico aqui, só
cavalos, raças e resultados, histórias e linhas de semem, relações de que cavalos foram
comprados e vendidos.

Foi empilhando, perguntando-se como podia ele encontrar algo.

— Quem é NightBlooming Jasmine? — perguntou Ainsley. — Este nome surge


frequentemente.

— É uma potra que estou treinando. É um cavalo que promete bons resultados.

Ainsley olhou para cima, incapaz de perder a visão da face interna de suas coxas, as
linhas das cicatrizes ficavam na sombra. Forçando seu olhar para cima, além da plana
parte dianteira de seu kilt, para sua camisa e a gravata da qual estava a ponto de
desprender-se. Sua garganta entrou em seu campo de visão, morena e forte. Ainsley sentiu
um bater de asas de prazer. Gostava que tivesse desabotoada a camisa.

— É sua? — Ainsley perguntou, sem que faltasse o orgulho em sua voz.

— Ainda não — Cameron havia tirado a gravata do pescoço e a jogou


descuidadamente à mesa. — Seu maldito proprietário não me vende.

— Por que não?

— Porque despreza os Mackenzies. Só me deixa treiná-la porque está desesperado.


Ela é mais que um fino bocado de carne de cavalo, e pode correr, Por Deus que pode
correr — sua voz era ardente, um homem falando do desejo de seu coração.

— Um homem bastante incômodo.

— Fodidamente estúpido — as sobrancelhas de Cameron assinalaram para baixo


quando bebeu. — Eu a quero, e eu gostaria de fazer o correto por ela, se só pudesse fazer
que Pierson criasse juízo.

— Meu Deus, quase soa como um homem propondo matrimônio.

Cameron estremeceu.

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— Por Deus, isso nunca. Inclusive odeio o som da palavra. Suponho que o
treinamento de um cavalo é similar, mas os cavalos são tão incômodos como as esposas.

O tom de desgosto em sua voz era real.

— Estou segura que para a Isabella será um prazer te ouvir dizer isso — disse
Ainsley leve.

— Isabella sabe que é um incômodo. Ela se deleita com isso. Pergunte a Mac.

Ainsley sorriu por sua ocorrência, mas não a enganou sobre sua opinião do
matrimônio. Ainsley afastou seu olhar e seguiu rapidamente com seu trabalho.

Ela encontrou muitas evidências de que Cameron era um mulherengo, lia leitura
erótica, bebia uísque, e era um louco cavalheiro, mas não havia cartas da rainha. Deixou a
um lado os últimos documentos, sacudiu suas saias e se levantou. Cameron se aproximou
dela, pondo sua mão firmemente em seu cotovelo.

— Agora duvido que a Sra. Chase as escondesse aqui — disse com um suspiro. —
Aposto tudo que nunca deixaram sua casa de Edimburgo, exceto a que trouxe para me
mostrar. Ela sabia que ia tentar encontrá-las.

— Furão. É um bom nome para você. Pensei em um camundongo quando te vi


escondida no assento da janela, mas posso ver a semelhança. Seus olhos brilham quando
está sobre a pista do que quer.

Gostava de seu meio sorriso, a diversão em seus olhos. Todo o ódio de sua conversa
sobre o matrimônio se foi.

— Que adulador é, milord. Não é de estranhar que as damas gostem.

Cameron tirou uma gaveta de uma mesa em que ela já havia procurado. Os
documentos que havia eram antigos, havia datas neles de há quinze ou vinte anos atrás.
Cameron os atirou ao chão, sobre os jornais que ela já havia recolhido, e começou a
apalpar dentro da gaveta.

— Tem um fundo falso se não recordo mal. Não o tocaram em muito tempo.

Ele puxava infrutivamente pela madeira. Ainsley tirou uma forquilha de sua trança e
entregou a ele.

— Experimenta com isto.

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— Ah, as ferramentas de seu negócio — Cameron a pegou, inserindo-a ao fundo em


um canto da fenda e puxou.

A parte inferior da gaveta revelou uma só carta dobrada, enrugada de estar


pressionada. Ainsley o arrebatou e o abriu, mas bufou de decepção antes de poder ler uma
palavra.

— Esta não é sua letra. Não é dela — ela devolveu o documento a Cameron e deu a
volta.

Ainsley se dirigiu para os livros que havia sobre a lareira, mas um ruído tênue atrás
dela fez dar a volta novamente. Cameron ainda estava onde o deixou, petrificado, com seu
olhar cravado na carta desdobrada em sua mão.

— Lorde Cameron?

Ele não parecia escutá-la. Cameron ficou olhando a carta, com os olhos fixos, como se
ao ler o que estava escrito não pudesse acreditá-lo.

Ainsley se aproximou dele.

— O que é?

Quando ela tocou sua mão, afastou-a e olhou para baixo, mas seus olhos estavam
vazios.

— Pertenceu a minha esposa.

— OH querido! — A Tristeza que Ainsley sentia por John Douglas se ativava quando
encontrava inesperadamente algo que tivesse pertencido. Embora Cameron fosse viúvo já
a muito tempo, sua dor devia ver-se intensificado pela morte violenta de Lady Elizabeth e
pelas suspeitas mórbidas das pessoas especulando sobre ela. — Sinto tanto — disse
Ainsley, pondo o coração em suas palavras.

Cameron só a olhou. Desapareceram sua alegre disposição e a camaradagem surtida


da busca.

Sem uma palavra, dirigiu-se para a lareira, onde ardia um bom fogo para combater a
fria noite de setembro e jogou a carta às chamas. Ainsley se aproximou dele quando
Cameron pegou o atiçador e cravou o papel profundamente nas brasas.

— Por que fez isso? A carta era de sua esposa...

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Cameron deixou cair o atiçador. Sua mão estava negra de fuligem, e tirou um lenço
para limpar-se.

— Minha esposa não a escreveu — sua voz era dura. — Era uma carta dirigida a ela,
escrita por um de seus amantes. Expressando sua paixão imortal.

Ainsley se deteve, ferida. Cameron...

Minha esposa tinha muitos amantes, tão antes como depois de nosso matrimônio. A
declaração era seca, carente de emoção, mas seus olhos contavam a Ainsley uma história
diferente. Lady Elizabeth fez muito mal e ainda doía profundamente.

Ainsley ouviu dizer que Lady Elizabeth Cavendish era nervosa, formosa e selvagem,
era uns anos mais velha que Cameron. Seu matrimônio foi um escândalo do princípio ao
fim, terminando com sua morte seis meses após o nascimento de Daniel.

Lady Elizabeth devia ter estado frequentemente nesta mesma sala, talvez um dia
ocultou a carta antes que Cameron ou um criado a descobrisse.

A ira de Ainsley cresceu.

— Não foi muito legal de sua parte.

— Eu continuo me envolvendo com mulheres casadas. Qual é a diferença?

A diferença era que ele não o desfrutava, e desprezava às mulheres que estavam com
ele.

— Imagino que as mulheres não escrevem cartas te expressando sua paixão imortal?

— Não.

Cameron esfregou seu pulso, onde afrouxou a camisa. E Ainsley viu uma vez mais as
cicatrizes ao redor do pulso.

— Quem te fez isso? — perguntou.

Cameron pressionou sua mão em um punho fechado.

— Me deixe sozinho.

— Por quê?

— Ainsley — a palavra era crua, cheia de dor.

— Milord?

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— Pare — Cameron tomou sua cabeça em suas mãos, seus dedos estendendo-se
entre seu cabelo. — Simplesmente... Pare — se inclinou para ela e tomou a boca em um
duro e desesperado beijo.

Capítulo 8

Cameron não se limitou a dar um beijo, abriu sua boca com força, obteve o que
queria, e fez que o seguisse no beijo. E o modo em que ela devolvia o beijo, fez que
desejasse muito mais.

O toque de suas mãos a imobilizou no lugar, embora Ainsley não queria ir a


nenhuma parte. Suas coxas esmagavam a saia, através da qual notava a óbvia e dura
amostra de sua excitação.

Cameron sabia como excitá-la só com sua boca, e não se incomodou em ocultar seu
desejo.

Ainsley apoiou as mãos sobre seu peito. Por debaixo da roupa notava sua pele
quente, sentia a um homem vivo, seu coração pulsava à mesma velocidade que o dela.

Cameron deslizou sua mão para a parte superior de seu sutiã.

— Não tem botões esta noite, senhora Douglas.

— São colchetes — murmurou enquanto o beijava. — E estão na parte de trás.

Cameron pôs suas mãos sobre o fechamento, seus dedos eram tão fortes que poderia
tê-lo rasgado sem nem sequer pensá-lo. Mas manteve ali sua mão, explorando o interior
de sua boca profundamente.

Ainsley não podia respirar. Cameron a saboreou em cada canto, com sua boca firme
e audaz, era o beijo de um amante. Não se tratava de momentos roubados em um canto,
nem de um flerte de apaixonados.

Só era um homem empenhado em satisfazer seu desejo, sem importar o que alguém

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pensasse. Ele lambia dentro de sua boca, com fome, dando-se um festim com Ainsley. E
ela terminou com as mãos ao redor de seu pescoço e acariciando suas costas.

Cameron levantou a cabeça.

— Se pedir esta noite, Ainsley Douglas, viria a minha cama? — As palavras de


Phyllida Chase voltaram para sua mente.

O lorde Cameron não toma a suas mulheres em uma cama...? É muito conhecido por
isso.

— Pensei que você não gostasse das camas.

Sentiu ele se esticar, seus olhos piscaram.

— Certo — sua voz mudou, de um tom suave a um duro e cortante. A voz de


Ainsley tremia.

— Eu diria que em uma cama seria mais cômodo.

— A comodidade será a última de suas preocupações, senhora Douglas.

O comichão se converteu em ondas de calor pela emoção. Ele estava certo: uma cama
era tranquila, um lugar para um marido conhecido e para uma esposa, que depois
colocariam o gorro de dormir e se voltariam cada um para um lado da cama para
descansar. Os amantes utilizariam uma cadeira, por exemplo, ou um tapete junto ao fogo.
Ou talvez Cameron quereria descobrir o que é o que poderia fazer em cima de uma mesa.

As palavras engasgaram na garganta. Ainsley, que podia falar de tudo, de repente se


encontrava incapaz de formar uma oração coerente. Então ficou nas pontas dos pés e o
beijou.

Ainsley sentiu a mudança nele imediatamente, passou de ser um homem que não
sabia o que ia ocorrer essa noite a um que sabia perfeitamente o que ia acontecer. Quando
ele a beijou de novo, seus competentes dedos desabotoavam o sutiã, e com suas grandes
mãos foram afastando o tecido.

Um calor selvagem queimou seu corpo. Nunca esqueceu o calor desde a primeira vez
que Cameron a beijou, há seis anos, e esse calor só aumentou. Ainsley se amoldou a ele
com avidez, procurando sua boca.

Devolveu o beijo, tomou seus lábios, com os dentes mordiscou o que já saboreou

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antes. Sua mão nas costas era um rastro ardente. Sentiu como o sutiã estava caindo. Ela
queria seu toque no seio, ardia por ele. Daria tudo o que quisesse, e esqueceria a correção.
Ela queria isto. Necessitava-o. Arqueou-se para ele, buscando-o.

O corpo de Cameron de repente se imobilizou. Seus beijos morreram em sua boca, e


sua mão se congelou em suas costas.

Ainsley no meio da loucura, não era capaz de saber o que aconteceu. Então sentiu o
ar frio em suas costas, ouviu o som das pernas de uma cadeira ao ser arrastada sobre o
chão, e soube que alguém abrira a porta.

— Daniel — disse Cameron com voz dura. — Dê a volta e saia.

— Que oportuno — Daniel entrou na sala, seguido por McNab e outro cão chamado
Ruby. Tanto os cães como Daniel rodearam os montões de documentos que Ainsley fez ao
ordená-los cuidadosamente.

— Vim salvar a virtude da senhora Douglas — disse Daniel. — A tia Isabella está
procurando-a, e eu pensei que seria melhor chegar antes que ela.

A franca expressão com a que o menino olhava Ainsley, com os olhos de seu pai, a
fez voltar para a realidade rapidamente.

Esteve a ponto de sucumbir diante da sedução de Cameron de novo. Mas Ainsley


Douglas não podia se permitir o luxo de desfrutar dessa alegria. Não era uma mulher
sofisticada, nem era amante de nenhum aristocrata, não era alguém que viajasse ao
continente e frequentasse os salões de Paris para deixar-se seduzir por indômitos
cavalheiros como Cameron. Ainsley era a depositária da confiança da Rainha para resolver
seus conflitos internacionais, oferecendo-se a suas amigas de alto berço para as ajudar na
organização de seus eventos sociais. Ela dependia de outros para poder sustentar-se.

Os homens exóticos como Lorde Cameron Mackenzie não eram para ela. Seu sonho
se fez em pedacinhos.

Cameron tirou sua mão das costas de Ainsley, endireitou-se em toda sua altura, e se
colocou um pouco na frente dela.

— Daniel — em sua voz se notava a frustração, mas ao mesmo tempo, Ainsley sabia
que Cameron mantinha um rígido controle sobre ela fazendo uso de sua paciência. —
Espera à Sra. Douglas na sala.

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Daniel pegou um jornal de um dos montões e se deixou cair em uma cadeira. Seu kilt
revoou sobre seus ossudos joelhos.

— Ela é uma dama, papai — disse, — Não vou te dar a oportunidade de violá-la
assim que eu te dê as costas.

O absurdo da situação fez Ainsley voltar a si. Saiu de trás de Cameron e resgatou seu
xale de renda da boca de Ruby.

— Não se preocupe Daniel — não me ocorreria deixar que me violasse — Ainsley


colocou o xale, agora um pouco úmido pela saliva do cão, em torno de suas costas nua. —
Diga a Isabella que estarei com ela imediatamente.

Daniel jogou o jornal e ficou em pé.

— Vou com você.

Ainsley olhou para trás enquanto saía da sala atrás de Daniel. Cameron se mantinha
junto à lareira, com a postura rígida, a camisa aberta revelando seu peito nu. Pela primeira
vez Ainsley viu algo em seus olhos, que não era a ira ou a frustração ou a dor, era um
desejo tão intenso que atravessou a sala e cravou muito profundamente.

Então Daniel fechou a porta, e a visão que Ainsley tinha dele se perdeu.

— O melhor que pode fazer é te cobrir as costas.

— Perdão? — Ainsley parou ao chegar às escadas e deixou que Daniel a adiantasse


um par de passos. Os cães correram com o passar do corredor para as escadas, e depois
voltaram correndo para averiguar o que retinha os humanos.

— Se alguém te vir desta forma, certamente vá correndo a comentá-lo — disse


Daniel. — Especialmente quando ambos desapareceram juntos tão repentinamente.

Ainsley esqueceu que levava os fechamentos da blusa desabotoados sob o xale, mas
Daniel tinha razão. Correndo por aí com a blusa sem fechar, faria que inclusive a pessoa
mais insossa soubesse o que esteve fazendo.

Sufocando um suspiro baixou o xale e deu as costas a Daniel para que a ajudasse.
Suas cabeças estavam à mesma altura, apesar de que ele estava dois degraus mais abaixo.
Sua intuição disse que, aos dezesseis anos, já tinha muita experiência com os vestidos
femininos. A maçã não cai longe da árvore, pensou.

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— Como soube que estava no estúdio de seu pai? — perguntou Ainsley quando
Daniel terminou.

— Vi entrando na casa com ele. Sempre a estou vigiando. Mas não se preocupe,
assegurei-me de que ninguém mais prestasse atenção.

Quando se voltou, Daniel a estudou com seus olhos Mackenzie, um pouco mais
escuros que os de seu pai, com seu rosto afilado e de ossos finos. Daniel podia olhar a uma
pessoa com uma notável perspicácia, vendo através das barreiras que encontrava em seu
caminho. Enquanto que Ian Mackenzie não gostava de encontrar diretamente com o olhar
de uma pessoa, Daniel cravava seus olhos nela de uma forma quase grosseira.

— Você gosta de meu pai? — perguntou Daniel sem reparos, só querendo saber.

— Quase não o conheço.

— Estava a ponto de deixar chegar até o final. Eu espero que você goste dele um
pouco.

Ainsley ruborizou.

— Bom, se o põe dessa maneira.

— Eu o vejo assim; eu gosto de você, e sei que o meu pai também gosta. Mas não
quero que brinque com você e um mês mais tarde lhe dê as costas com um bonito presente
de compensação. Esta noite disse que eu estava interessado em você. Teria que ter visto
me grunhir e me dizer que me mantivesse afastado de você — Daniel sorriu. — Eu só
disse que talvez você gostasse. Suponho que estou certo.

— Não deveria ter dito nada, Danny — disse. — É provável que acredite.

— Não, papai não escuta o que digo — Daniel cruzou os braços. — Mas não queria
que te levasse a horta, por dizê-lo de algum jeito.

Ainsley ajustou o xale.

— Bom, não tem por que se preocupar por isso. Não sou nenhuma ingênua, nem a
classe de mulher a que seu pai prefere.

— Não, mas estou pensando que é a classe de mulher que ele necessita.

Ainsley deixou escapar pouco a pouco o fôlego. Seu corpo cantava pelas carícias de
Cameron, e era difícil se concentrar nas palavras de seu filho.

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— Coloque isto na cabeça — disse. — Quando terminar a festa em sua casa, será o
momento de retornar a Balmoral e à Rainha. Meu caminho não vai se cruzar com o de seu
pai durante muito tempo.

— E não é isso uma pena?

Daniel não ocultou a decepção em seus olhos.

— Senhora Douglas, deve tentá-lo.

— Não, não devo fazê-lo. Preciso pôr meu vestido de festa e ir brincar de anfitriã com
sua tia. — Mas não seria magnífico ser uma importante dama vestida com brilhantes seda,
e diamantes em seus seios, dançando a valsa em um salão de baile suntuoso? Seu
companheiro é obvio seria Cameron, um homem grande e que entretanto se movia com
graça.

Daniel deixou de discutir, mas seu cenho franzido dizia tudo. Finalmente, virou-se e
abriu caminho pelas escadas, com os cães correndo junto a ele. Moveu-se tão rápido que
quando Ainsley o alcançou no início das escadas, ela já corria.

O uísque não o acalmou. Cameron tentou sentir-se melhor dando chutes aos montes
de papéis que Ainsley ordenou. Tampouco isso ajudou muito.

Voltou para seu quarto, colocou a camisa, e agarrou outra jaqueta, sem incomodar-se
em colocar a gravata. Nunca podia atar essas malditas coisas devidamente. Para isso
serviam as mulheres e os criados.

Bebeu enquanto se vestia, mas a metade de uma garrafa de uísque não pôde apagar o
sabor de Ainsley que ainda conservava na boca. Se Daniel não tivesse voltado a carga, ele
estaria neste momento dentro dela, e por fim aprenderia o que sentiria estando com ele.

Não estava seguro do que fazer a respeito da interrupção de Daniel. O olhar que
jogou a seu pai era de incômodo, mas não de raiva nem de ciúmes. A história de Daniel de
querer ser o amante de Ainsley desapareceu como a fumaça.

O menino o usou como algum tipo de estratégia.

Diabos, Cameron não sabia o que Daniel realmente pensava ou queria. Eles nunca
conversavam. Eles zombavam de algo ou discutiam. Daniel não era um mau moço, mas
sua ideia da obediência era fazer o que Cameron dizia só se Daniel pensasse que era o que
ele queria. Se Daniel não estava de acordo com o Cameron, fazia o que lhe dava vontade.

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Cameron se deu por vencido e o deixou. O próprio pai de Cameron foi o próprio demônio,
exerceu tal controle sobre seus filhos, que Cameron se surpreendia de que eles ainda
tivessem a capacidade de respirar por si mesmos.

Para Cameron a relação com o velho Duque foi mais fácil, já que ele estava
interessado nos cavalos e nas imagens eróticas... — Tal como deve ser um homem —
dissera seu pai.

O velho Duque golpeava regularmente Ian, sendo duro com ele quando não havia
ninguém de testemunha. Golpeou o Mac por seu amor à arte, com uma crueldade contra a
natureza. E a Hart todos os dias para fazer dele um homem.

Para que quando fosse Duque e ele perseguisse os néscios, fosse o suficientemente
forte.

Cameron fez uma pausa, zangado e preocupado, incapaz de impedir nenhuma das
duas coisas. Lembrou-se do dia em que retornou de Harrow quando terminou seus
estudos, o dia em que se deu conta de que se tornou maior e mais forte que seu pai. Esse
dia entrou na casa ao escutar os gritos aterrorizados de um Mac de onze anos e encontrou
o seu pai a ponto de quebrar seus dedos.

Cameron arrancou Mac de suas mãos e agarrou o seu pai e o lançou contra a parede.

Depois que seu pai saiu da sala grunhindo, Mac levantou a vista das belas imagens
que elaborou, com valentia e piscando para conter as lágrimas.

— Maldição Cam, esse foi um bom golpe — dissera. — Quer me ensinar ele?

Cameron prometeu que Daniel nunca conheceria essa dor. Daniel poderia estar
fazendo-se um pouco selvagem, mas esse era um pequeno preço que Cameron pagaria
pela felicidade de seu filho. Cameron teria se condenado antes de converter-se na espécie
de monstro capaz de quebrar os ossos a seu próprio filho sem pensar duas vezes. Cameron
desceu e chegou à sala principal da casa a tempo de escutar os acordes de música que
chegavam da sala de baile. Música escocesa, um reel. Hart Mackenzie sempre se
assegurava de que junto às valsas e polcas populares alemãs, os músicos contratados por
ele tocassem um montão de danças escocesas. Não permitia a ninguém esquecer que os
Mackenzie eram em primeiro lugar escoceses.

Todo o ramo de seu clã se extinguiu em 45, exceto o jovem Malcolm Mackenzie que

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sobreviveu até se casar e reconstruir a família. Conservou o titulo de Duque outorgado a


sua família desde 1300, mas viveu em um tugúrio nos subúrbios onde se alojaram Malcom
e seus quatro irmãos, até que Malcolm caiu sob as armas dos ingleses. Hart Mackenzie
desfrutava da prosperidade atual dos Mackenzies graças às compensações dos ingleses.

Quando Cameron se dirigia ao salão de baile, Phyllida Chase deslizou saindo do


corredor da ala de convidados, elegantemente tarde como de costume. Tentando ajustar as
luvas, não o viu até que quase se chocou com ele.

— Saia de meu caminho, Cam — disse com voz fria.

Cameron não se moveu.

— Devolva à Sra. Douglas suas cartas — disse. — Ela não te fez nenhum dano.

Phyllida deu em sua luva um último puxão.

— Que gracioso, e agora seu campeão?

— Simplesmente acho todos os chantagistas muito desagradáveis. — Sim, Ainsley


pedira a Cameron que não interviesse, mas se negava a ficar quieto enquanto Phyllida
levava a cabo sua extorsão.

— Dê as malditas cartas e deixa-a em paz, ou pensarei fazer que Hart te expulse.

— Hart não vai me expulsar. Está tentando conseguir o apoio de meu marido. Se não
tivesse sido tão obtuso para devolver à Sra. Douglas essa carta, ela teria podido pagar o
preço.

— Dê as cartas, ou farei um inferno de sua vida.

Os olhos da Phyllida piscaram, mas maldita se ela não recuperou sua expressão
tenaz.

— Duvido que pudesse fazer de minha vida um inferno maior do que já o é, milord.
Estou vendendo à Sra. Douglas as cartas porque necessito do dinheiro. Tão simples assim.

— Por quê? Por suas dívidas de jogo? Seu marido é rico. Peça a ele.

— Não tem nada haver com o jogo, e é meu assunto.

Maldita mulher.

— Se te der o dinheiro que necessita, deixará de causar problemas à Sra. Douglas?

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O olhar preocupado de Phyllida se dissolveu em um sorriso.

— Querido, está apaixonado, não é assim?

— Quanto quer?

Phyllida umedeceu seus lábios.

— Mil e quinhentas não estariam mau.

— Mil e quinhentas e devolverá as cartas e a deixará em paz.

Phyllida fez um pouco de teatro fazendo como se tivesse pensando, mas Cameron
pôde ver como babava diante da perspectiva de ter mil e quinhentos guinéos em suas
mãos.

— Trato feito.

— Bem. Vá buscar as cartas.

— Meu querido Cameron, não as tenho comigo. Não sou tão estúpida. Terei que
enviar alguém para buscá-las.

— Não haverá nenhum dinheiro até que as veja. — Phyllida fez uma careta.

— Bom, isso não é justo.

— Não estou interessado na justiça. Estou interessado em que você deixe à Sra.
Douglas em paz, maldita seja.

— Meu Deus, o que é que vê nessa pequena encrenqueira? Muito bem, mas terá que
fazer que a Sra. Douglas me entregue o dinheiro.

— Por quê? — Cameron estreitou os olhos com suspeita.

— Porque não confio em você. A Sra. Douglas é uma bajuladora de aluguel, mas ao
menos é uma bajuladora honesta. Ela fará uma troca justa sem fazer nenhum truque sujo.

— Será melhor que quem não faça nenhum truque sujo seja você — disse Cameron.
— Se tentar algo, arrancarei essas cartas. Compreende?

Phyllida sorriu.

— Isso é o que sempre gostei em você, Cam. Não tem medo de usar a força.

— Só dê as cartas — grunhiu Cameron. E se foi, afastando-se dela, sem perder sua

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risada de satisfação que chegou flutuando atrás dele.

Os violinos e tambores soavam forte dentro da sala de baile. Alguns convidados


ingleses faziam gestos de desgosto ou simplesmente zombavam abertamente da música,
mas os convidados escoceses formaram círculos para dançar com a alegria das Highlands.

No centro da sala de baile Isabella e Mac conduziam um círculo de dançantes.


Embora Isabella tenha nascido e se criado na Inglaterra, adotou todos os costumes
escoceses como vingança. Vestida com o plaid dos Mackenzie e seu cabelo vermelho
entrelaçado com rosas, Isabella parecia que fluía no círculo. Junto a ela estava Mac, que era
um maldito bom bailarino. Ele dirigia o amplo círculo para dentro e para fora, os pés
movendo-se em um ritmo rápido, mas seus olhos estavam fixos em Isabella.

O olhar que Mac dedicou a Isabella quando colocou seu braço ao redor de sua
cintura para fazê-la girar, foi a de um maldito apaixonado. Mac e Isabella lutaram durante
muito tempo para conseguir seu final feliz, e Cameron se alegrava de ver que o
conseguiram.

Hart não dançava, mas Hart nunca o fez. Gostava de juntar às pessoas e depois
permanecer de pé atrás deles e observá-los, como um general fiscalizando suas tropas.
Hart viu Cameron entrando e dirigindo-se para ele, vestido elegantemente e com o kilt, o
uísque de malte Mackenzie em sua mão.

— Aonde desapareceu esta noite? — perguntou Hart.

Cameron encolheu os ombros.

— Estava aborrecido — não havia nenhuma razão para mencionar Ainsley.

— Isabella se queixou que tenha recaído sobre suas costas a maior parte da carga
desta coisa — Hart assinalou com seu uísque para a multidão, — e quando Isabella se
queixa, Mac é o próprio diabo.

Embora estivesse distraído, Cameron teve que rir da exasperação que se escutava na
voz de Hart. Hart vivia para organizar as coisas, e Isabella e Beth estavam felizes de
ajudar. Mas Hart descobriu rapidamente que as esposas de seus irmãos não eram criaturas
dóceis que pudesse dirigir a sua vontade. E quando Beth e Isabella não estavam felizes,
Ian e Mac se convertiam em autênticos muros de proteção.

Um estudo rápido da sala disse a Cameron que Ian e Beth não estavam.

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— Beth não está te ajudando esta noite?

— A multidão que havia nos foguetes pôs nervoso ao Ian. E se retirou com a Beth.

Cameron procurou o dourado olhar de Hart, que continha o mesmo brilho de cética
diversão que sentia Cam.

— É obvio que o fez — disse Cam. — Ian Mackenzie é um maldito gênio.

— Eu não posso obrigá-lo a ficar aqui em baixo — disse Hart.

Não, quando Ian queria fazer algo, nem Deus nem todos seus Anjos poderiam
impedi-lo. Só Beth podia, e Beth geralmente tomava partido de Ian.

Ainsley e Daniel se apressaram, pegos pela mão, para unir-se à dança. Ainsley trocou
o vestido por outro confeccionado com o plaid dos Douglas, mais negro que outra coisa e
usava um grande diadema feito com o tecido do plaid no cabelo. Mac abriu o círculo para
os receber.

Mac gostava de Ainsley, e dissera a Cameron que era refrescante falar com uma
dama que costumava roubar bolo da despensa da escola e dividir o roubo entre suas
amigas. Daniel se lançou à dança com entusiasmo se não com graça. Arrastando Ainsley
ao redor do círculo até que ela sorriu, e a fez girar muito rápido quando o círculo se
rompeu em casais.

A risada prateada de Ainsley flutuou sobre a música, seu sorriso iluminava a sala.

Cameron observava sua flexível cintura movendo-se enquanto dançava, imaginando


seu próprio braço ao redor dela. Cam tiraria Ainsley da dança e manteria seu braço ao
redor dela, aproximaria-a para dar um beijo lento e ardente.

Sentia o olhar de falcão de Hart sobre ele.

— Se ocupe de seus malditos assuntos — Hart tomou um sorvo de uísque. —


Interessaria-o saber que vi a Sra. Douglas abrindo a fechadura da suíte dos Chase a outra
noite e penetrar dentro quando pensou que ninguém a veria?

Chase e eu estamos negociando sobre a questão alemã, mas não quero que o tema
seja debatido muito cedo, especialmente pela Rainha.

Hart estava preocupado pelos constantes avanços da Alemanha na indústria, vendo-


o como uma ameaça potencial para Grã-Bretanha, enquanto que muitos de seus

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camaradas políticos supunham que a Alemanha era seu mais firme aliado.

Cameron, cuja atenção estava imersa nas corridas, prestava pouca atenção a esses
detalhes, mas Hart não era tolo e Cam confiava nos instintos de seu irmão.

— Isso não tem nada que ver com a questão alemã — disse Cameron.

O olhar de Hart ficou afiado.

— Então isso quer dizer que sabe o que ela estava procurando. Interessante.
esclareça-me.

Cameron olhou as costas de Ainsley, que estava dançando, feliz e sorridente, e nesse
instante soube que nunca a trairia diante de Hart. Cam seria tão possessivo e protetor com
ela como Mac e Ian o eram a respeito da Isabella e Beth.

— Não posso dizer — disse Cameron. — Mas posso te assegurar que não tem nada
que ver com a política. Só se trata de tolices femininas.

O olhar de Hart poderia cortar o vidro.

— As tolices femininas podem ocultar um vagão cheio de segredos.

Cameron fez frente ao famoso olhar de Hart Mackenzie com seu próprio olhar
obstinado.

— Este não é o caso. Vai ter que confiar em mim, porque não vou dizer nenhuma
maldita palavra.

— Cam...

— Nem... Uma... Maldita... Palavra... Isto não tem nada haver com seus assuntos
políticos.

A boca de Hart se apertou, mas ele sabia exatamente quão longe podia empurrar a
seus irmãos. Ele empurrou Cameron mais além do limite, recordando exatamente quem
ganhara todas suas primeiras brigas e as topadas que tiveram quando eram jovens.

Mas Cameron sempre perdoou Hart por sua arbitrariedade. Hart salvou a vida de
Cameron depois da morte da Elizabeth, mas nunca reclamou nada em troca; nem sequer
falaram sobre isso. Hart faria tudo para manter à família a salvo e unida. Era por isso que
todos viviam tão bem, embora Hart nunca entraria nos detalhes do porquê do repentino
desejo de seu pai de outorgar fideicomissos generosos a seus filhos menores em vez de

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deixar que Hart herdasse a fortuna inteira.

— Bem, tomo sua palavra — disse Hart, quando a música chegou a seu fim. — Só
mantenha sob controle.

Os bailarinos se dispersaram sob os aplausos. A música começou de novo, e os


convidados se mudaram ao centro da sala para dançar a valsa. Cameron procurou Ainsley
e Daniel entre a multidão, mas ambos tinham desaparecido.

— Esta é a posse mais apreciada de meu pai. Embora ela não seja realmente sua
posse, razão pela qual está tão incomodado sobre o tema.

A apreciada posse pela qual Daniel havia arrastado Ainsley do Salão de baile para
que a visse, era um cavalo. Uma potranca de três anos para ser mais preciso e uma criatura
muito formosa.

O cavalo tinha as pernas esbeltas, e um delicado aspecto, mas havia poder em seu
corpo e fogo em seus olhos. Era de cor castanha, sua pelagem escura e rica, sua crina e
cauda eram mais escuras. A cor rosada de suas fossas nasais falava de sua fina criação e a
forma em que olhava como Ainsley e Daniel se aproximavam disse a Ainsley que ela era
perfeitamente consciente de quão formosa era.

— NightBlooming Jasmine, suponho — disse Ainsley. A égua tinha a cabeça sobre a


meia porta de sua baia, as orelhas alerta, o nariz expandindo-se enquanto farejava a
essência de Ainsley. — Não, não te trago açúcar, coisinha ambiciosa.

Quando Ainsley se aproximava para acariciá-la, um homem alto de cabelo negro se


materializou das sombras. Angelo, o romaní que aparentemente era o ajudante de câmara
de Cameron, mas que em realidade o ajudava em todos os aspectos da vida, inclinou-se
casualmente sobre a porta do seguinte compartimento.

— Tome cuidado com ela, senhora — disse, sua voz escura tinha tons de terras
longínquas. — Ela tem o Diabo dentro.

Ainsley esfregou a ponta do focinho de Jasmine, sorrindo diante da sensação cálida e


aveludada e as cócegas que produziam seus pelos.

— Ela só quer que prestem um pouco de atenção, não é verdade, amor? — disse
Ainsley. — Deseja que alguém te diga quão formosa é, e que a ama — Ainsley coçou sob a

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crina do cavalo e Jasmine entrecerrou os olhos desfrutando da carícia.

— É certo, ela faz isso — o romaní sorriu, os cantos de seus olhos enchendo-se de
rugas, era um suave olhar de aprovação.

Ainsley não falara com Angelo antes, mas sabia que Cameron mantinha um romaní
como seu acompanhante de mais confiança. O que surpreendia a muitas pessoas, que
ficavam nervosas pela terrível falta de maneiras de Angelo.

Ao vê-lo de perto, Ainsley percebeu o que queriam dizer quando falavam da falta de
deferência do homem. Angelo obviamente não considerava os aristocratas como
"melhores" e não via nenhuma razão para tratá-los de maneira diferente dos outros.
Ainsley precisava admirar a confiança absoluta de Angelo em quem era e na posição que
ocupava no mundo.

Daniel soprou.

— Jasmine é uma corredora muito boa, mas não gosta do freio. Ontem jogou o
melhor cavaleiro de papai e pôs-se a correr para as colinas. Levou-nos horas encontrá-la.

Ainsley imaginou a reação de Lorde Cameron diante disso. Não era de estranhar que
estivesse tão impaciente quando levou Phyllida Chase a seu quarto a noite anterior.

Era um homem tentando libertar sua mente dos problemas, e em seu lugar,
encontrou Ainsley escondida no assento da janela.

Jasmine mordeu com interesse o diadema feita do plaid que segurava o cabelo de
Ainsley, e então decidiu agarrá-la com seus dentes. Ainsley sufocou um grito quando tirou
o diadema, levando fios do cabelo de Ainsley junto com ele.

Jasmine o segurou entre os dentes e sacudiu sua cabeça até que o diadema trançado
se desfez convertendo-se em uma longa fita. Relinchou brincalhona e seguiu sacudindo a
cabeça, parecia que dançava tentando afastar-se da fita que a enredava nas patas. Os cães
dos Mackenzie que tinham seguido Ainsley e Daniel começaram a ladrar, querendo
brincar também.

— Tem razão, é uma diabinha — disse Ainsley. — Será melhor que a tire antes de
que a coma.

Os olhos escuros de Angelo estavam cheios de diversão.

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— Me deixe...

Mas quando Angelo abriu o portão da baia, Jasmine investiu, as orelhas rígidas sobre
sua cabeça, mostrando os dentes, a fita ainda entre eles. Angelo disse algo brandamente
em romaní, mas Jasmine o ignorou.

Ainsley sorriu.

— Não quer que tire seu brinquedo. Danny, me consiga um pouco de aveia.

Enquanto que Daniel trotava fora, Ainsley se aproximou rodeando Angelo e


levantou a ponta do diadema que não estava enredado. Tranquilamente começou a
enrolar a fita, terminando com a parte que Jasmine ainda segurava.

Daniel jogou um punhado de aveia sobre a porta da baia e Ainsley o apanhou em sua
palma nua e a ofereceu a Jasmine.

As fossas nasais de Jasmine se alargaram enquanto soltava o quente fôlego sobre a


mão de Ainsley. Depois vieram o nariz de veludo, a úmida língua e o toque dos dentes
enquanto Jasmine soltava a fita diante desse inesperado trato.

Ainsley recolheu o resto da fita e a meteu em seu bolso enquanto Jasmine mastigava
a aveia.

Uma vez que a aveia acabou, Ainsley tentou sair do compartimento, mas Jasmine, de
repente, moveu seus quartos traseiros, bloqueando o caminho.

Ainsley deu uns tapinhas no flanco da égua, sem se assustar.

— Se mova, besta tola.

Jasmine decidiu que não queria se afastar. Continuou ruminando a aveia em sua
boca, prendendo Ainsley entre ela e o canto do compartimento.

— Eu diria que gosta de você, senhora — disse Angelo.

Ele deslizou dentro do compartimento e fez uns suaves sons que soavam como um
clique entre seus dentes. Jasmine não prestou absolutamente nenhuma atenção.

Simplesmente se virou para bloquear Ainsley, fazendo que esta tivesse que voltar a
colar contra a parede.

Era algo bom gostar dela e ter a confiança de um cavalo, bastante mais que ficar

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presa por ela. Ainsley tentou passar rodeando-a, tentando mover-se lentamente, mas
Jasmine se virou de novo empurrando Ainsley para trás.

Os cães ladrando fora e a voz preocupada do Daniel não a estavam ajudando.

Então Jasmine um pouco assustada, balançou seus quartos traseiros para a Ainsley
enquanto suas fortes pisadas soavam em toda a cavalariça. Ainsley se dobrou sobre si
mesma para o caso da égua decidir golpeá-la, mas Jasmine não tinha intenção de dar
coices.

Então se lançou para a porta meio aberta e correu para sua liberdade, empurrando a
um lado Angelo, e deixando atrás Daniel, aos cães e a grande forma de Cameron
Mackenzie, que estava vindo para eles.

Capítulo 9

— Que diabos acha que está fazendo? — Cameron gritou na escuridão do pátio do
estábulo.

Angelo, montando sem sela em outro dos cavalos, saiu tranquilamente atrás de
Jasmine. Daniel e os cães seguiram Angelo a pé, enquanto que um cavalariço do estábulo
selou apressadamente um cavalo para Cameron.

As grandes mãos de Cameron seguravam os ombros de Ainsley, mas seu incômodo


ao ser maltratada foi atenuado pelo fato de que Cameron tinha todo o direito a estar
zangado. Jasmine era um cavalo de corrida que valia muito dinheiro e foi confiada aos
cuidados de Cameron. A planície escocesa estava cheia de buracos que poderiam quebrar
as patas de Jasmine, as correntes geladas também poderiam levá-la prendendo-a em um
redemoinho até que se afogasse.

— Não culpe Angelo — disse rapidamente Ainsley. — Nem ao Daniel. Fui eu quem
deixou o portão aberto.

— OH, não se preocupe, moça, culpo aos três disto. Angelo não devia te permitir

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entrar e Danny não devia te trazer aqui fora, depois de tudo — sua ira apagou qualquer
verniz inglês que pudesse ter tido, ele era um enfurecido Highlander disposto a
desembainhar sua claymore.

— Acredito que o cavalo não se espantou até que um enorme escocês chegou
avançando para ver o que estávamos fazendo.

Os olhos de Cameron brilharam.

— Nunca pensei que fosse tão tola para perambular dentro de uma baia com um
cavalo de corrida meio louco!

— Precisava recuperar minha fita.

Cameron a soltou, mas não diminuiu sua fúria.

— Fita? De que demônios está falando?

— Ela estava comendo minha fita do cabelo. Não acredito que quisesse que se
sufocasse com ela.

Ele olhou a cabeça de Ainsley.

— O que é que te possuiu para dá-la em primeiro lugar?

— Eu não a dei. Ela tem um pescoço comprido e fortes dentes.

A palma de Cameron pressionou onde Jasmine arrancou uma mecha de cabelo de


Ainsley. Sua voz se suavizou um pingo.

— Está bem, moça?

— Estou bem. Meu irmão Patrick teve uma égua que regularmente pegava pedaços
de quem estivesse perto dela. Ainda tenho as marcas de dentes para prová-lo. Se não
podia alcançar sua carne, felizmente mordia seu chapéu ou jaqueta, saia ou camisa.
Jasmine só tirou minha fita do cabelo.

Cameron não parecia estar escutando. Ele acariciava o cabelo de Ainsley com uma
mão suave.

— Jasmine escapou de Angelo antes — disse. — E nenhum cavalo escapa de Angelo.


Esta pequena doçura está nos dando muitos incômodos.

— Não deveria estar correndo atrás dela?

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— Primeiro queria me assegurar de que você estava bem — o coração de Ainsley se


acelerou diante da doçura de sua voz.

— Não esqueça mencionar o me gritar.

— E te gritar—seus olhos brilharam de novo.— Sempre entra nas baias tão


despreocupadamente?

— Desde que tinha três anos. Eu gostava de ficar sob suas barrigas.

— Senhor, moça, me compadeço de seus pais.

— Deve dizer, meus irmãos. Meus pais morreram quando eu era muito jovem. Meu
irmão mais velho tinha vinte anos e cuidava de todos nós. Que pena do pobre e querido
Patrick. Deixava-o louco. Ainda o faço.

— Não o duvido — a voz de Cameron perdera sua irritação, sua mão continuava
acariciando-a.

Ainsley queria dar um passo para ele, para absorver mais de seu calor para combater
o vento gelado que vinha cortante através da pradaria. Em sua existência bastante solitária
dos últimos seis anos, nunca havia se sentido tão cálida como esta noite.

— Seria melhor que fosses procurar seu cavalo — disse.

— Ela não é minha. É só emprestada.

— Razão suficiente.

— Angelo é o melhor cavaleiro e treinador do mundo, e não terminei com você


ainda.

Por que as palavras podiam fazê-la tremer de prazer?

— Não?

Estava se aproximando o cavalariço, levando o cavalo que selou. Cameron deslizou


sua grande mão por trás do pescoço de Ainsley e a segurou para dar um ardente beijo.

Foi um beijo cheio de promessas, um que disse que não esquecera o que começaram
em seu estúdio, nem sua intenção de terminá-lo.

Cameron a libertou, virando-se quando o menino do estábulo chegava até eles e


montou no cavalo com elegante facilidade. Ainsley cruzou seus braços para proteger-se

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contra o frio repentino enquanto Cameron cavalgava entrando na noite, o moço a saudou
ao longe.

Levou o resto da noite apanhar o maldito cavalo. Quando o conseguiram, Cameron


conduziu docilmente Jasmine para dentro, suarenta, arranhada pelas sarças, e se não a
conhecesse melhor, diria que bastante contente de si mesma.

O sol saiu, e seus dois treinadores já estavam fora com os cavalos formando linhas.
Cameron escovou Jasmine ele mesmo e Angelo a refrescou jogando água por cima quando
Cameron deixou as cavalariças para dirigir-se à casa.

Banhou-se, vestiu-se com roupa limpa e se dirigiu à ensolarada estadia que se


encontrava na ala onde vivia Mac. Que era onde se servia um café da manhã privado para
a família. Eram só as oito, mas enquanto durasse a festa em casa, Isabella e Beth se
levantavam cedo para coordenar as atividades do dia. Estes cafés da manhã envolviam a
qualquer membro da família que estivesse acordado e faminto. Irmãos, cunhadas, Daniel,
ajudantes de câmara, cães. Quando Cameron entrou, Isabella e Beth já estavam
conversando sobre a programação do dia.

Mac estava sentado perto de Isabella, lendo um jornal e segurando a mão de sua
esposa cada vez que podia. Ian comia lentamente e sem pausa, escutando Beth e a
ninguém mais.

O ajudante de câmara de Ian, Curry, comia com gosto, o ex-ladrão de carteira


reformado ainda estava se acostumando ao feito de que agora vivia corretamente.

Angelo estava ausente, o homem decidiu permanecer nos estábulos com a Jasmine,
estavam ausentes também Daniel, Hart e o ex—pugilista, que era o ajudante de câmara de
Mac, Bellamy. Curry se levantou da mesa para servir Cameron, mas Cameron indicou ao
homenzinho que voltasse para sua cadeira e ele mesmo se serviu ovos e salsichas, pão—
doces e café. Deixou o prato na mesa e ocupou seu lugar habitual em frente de Isabella e
arrebatou a parte do jornal de Mac dedicada às corridas.

Sem olhá-la, disse a Isabella:

— Me diga tudo o que saiba sobre a Sra. Douglas.

As sobrancelhas de Isabella se elevaram pela surpresa e, em seguida sorriu.

— E por que está tão interessado em Ainsley Douglas?

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— Porque ela está bastante ocupada corrompendo a meu filho, meu ajudante de
câmara e meus cavalos. Quero saber a quem estou enfrentando.

Cameron não perdeu o repentino sorriso cúmplice entre Beth e Mac.

— Perguntava-me quando o confessaria — disse Mac. — Notei a forma em que a


olhou quando a viu com a Isabella em seu salão o ano passado.

— Estava no salão de Isabella no ano passado?— perguntou Cameron.

Cameron sabia fodidamente bem que assim foi, embora a viu só por um momento.
Ele fora ao domicílio em Londres de Isabella, empenhado em ajudar a Isabella e Mac a
superar uma crise e viu a Ainsley ali, parecendo tão doce como era. A roçou quando se
moveu correntemente passando por seu lado ao sair pela porta, recolhendo a saia a um
lado como se tivesse medo de que se tocassem.

Mac só sorria.

— Cam, velho, vai ficar preso, tão seguro como o resto de nós.

Uma terrina de mel para os pães—doces estava depositado perto do prato de


Cameron, e levantou a colher, deixando que o mel voltasse a cair na terrina.

— Fala — disse a Isabella.

Isabella apoiou os cotovelos sobre a mesa colocando seu queixo sobre suas mãos.

— Me deixe ver, o pai de Ainsley era um McBride, sua mãe a única filha do Visconde
de Aberdere. Ambos, a mãe e o pai de Ainsley morreram de febre tifoide na Índia quando
Ainsley e seu irmão menor eram só uns bebês.

— Disse-me que seu irmão mais velho a criou — falou Cameron.

— Fez-o. Patrick McBride já estava com vinte anos. Ele conseguiu trazer Ainsley e a
seus outros três irmãos da Índia, e fez com eles todo o caminho de volta a seu lar familiar
na Escócia.

Patrick se casou pouco depois disso e ele e sua esposa, Rona, criaram os outros.
Enviaram Ainsley à Seleta Academia da Senhorita Pringle, querendo fazer uma dama
dela. E ali é onde a conheci e nos fizemos amigas rapidamente.

— Companheiras no delito — acrescentou Mac. — A Sra. Douglas ensinou a minha


querida esposa como abrir fechaduras e desprender-se dentro e fora das janelas.

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— Ooh! — disse Curry. — Isso soa interessante.

— Nunca dominei essa arte — disse Isabella. — Não como Ainsley. Ela era nossa
cabeça para organizar as festas de meia-noite e as brincadeiras. Fomos bastante terríveis.

— Posso imaginar — disse Cameron. — O que fez uma vez que terminou a
Academia?

— Ainsley nunca terminou — disse Isabella, parecendo surpreendida de que ele não
soubesse. — No verão antes de terminar o último ano, Patrick e sua esposa a levaram a
viajar pelo continente.

Decidiram ficar ali durante um ano, em Roma, acredito. Quando voltei a ver Ainsley,
foi em Londres, e estava já casada com o John Douglas. O Sr. Douglas era um homem
muito amável, mas ao menos trinta anos mais velho que ela.

Ainsley parecia bastante contente, mas sempre me perguntei por que se casou com
ele. Especulei sobre o tema, mas ela nunca me disse, e eu não gosto de farejar.

— Sim, você gosta — disse Beth. — Quando me conheceu, fez-me ir a sua casa com
você no momento em que mencionei Ian.

— Isso foi diferente, querida — disse Isabella. — Tratava-se da família.

Cameron levantou novamente a colherinha de mel. As dobras de âmbar que caíam


em cascata o fizeram imaginar redemoinhos de mel sobre o corpo nu de Ainsley.
Lentamente, muito lentamente a lamberia de sua pele, saboreando cada pegajosa gota.

Levantou o olhar para encontrar Ian o olhando, sem dúvida adivinhando os


pensamentos exatos de Cameron. Ian raramente olhava a alguém diretamente nos olhos e
quando o fazia, podia ser enervante.

Cameron voltou a deixar a colher.

— E desde a morte de seu marido, a Sra. Douglas esteve trabalhando para a Rainha?

— De fato, assim foi. A mãe de Ainsley e a mãe de Lady Eleanor Ramsay eram boas
amigas, e a Rainha adorava à mãe de Ainsley. Portanto no ano quando a Rainha estava em
Balmoral, Ainsley e Eleanor Ramsay se alojaram com um amigo mútuo bastante perto do
castelo. A Rainha os visitou, e quando a Rainha descobriu quem era Ainsley, não houve
nada que pudesse impedir que Ainsley fosse trabalhar para ela.

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A Rainha introduziu Ainsley em seu lar e de algum jeito a nomeou dama de


companhia.

A Sra. Yardley havia dito virtualmente o mesmo.

— Portanto, a rainha e ela são amigas?

— Não realmente. Ainsley está agradecida pela posição e o salário, mas se vê tendo
que suportar algumas vezes. À Rainha não gosta de deixá-la sair muito frequentemente.

Surpreende-me que permitisse a Ainsley passar duas semanas comigo aqui, mas
estou feliz por isso.

Isabella tomou seu café e deu um sorvo, claramente terminara com sua história.

— Isso é tudo? — Cameron perguntou.

— Não é suficiente? Tagarelei sobre a vida privada de minha amiga o tempo


suficiente, e te disse tudo isto só porque Daniel me disse que te pegou beijando-a.

Mac pôs-se a rir.

— Que descarado! E foi Curry quem levou uma bronca por espiar por debaixo da
escada.

— Parem já com esses condenados sorrisinhos — grunhiu Cameron. — Não tenho


intenção de me casar com ela. Simplesmente está transtornando minha vida.

Isabella perdeu seu sorriso.

— É uma amiga muito querida, Cameron. Não lhe faça mal.

— Não tenho nenhuma intenção de fazer mal. Quero que deixe de se meter em meus
assuntos e deixe de se misturar em minha vida.

— Então deixa de beijá-la.

Cameron viu pelos rostos voltados para ele que estavam na mesma linha contra ele.
Nenhum deles entendia o dano que uma mulher como Ainsley podia fazer a sua
prudência. A excitação de seu corpo não desaparecia quando a tinha a seu redor, e já
perdera duas noites de sono por sua culpa.

O que deveria fazer Cam era suas malas, atrelar os cavalos e se retirar a sua casa em
Berkshire, onde tinha seu principal estábulo de corridas. Poderia unir-se a seus outros

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treinadores e continuar com Jasmine em seu enorme e aberto cercado.

Mas Cameron já prometera a Hart ficar em Kilmorgan até as corridas em Doncaster,


e não gostava de quebrar as promessas que fazia a seus irmãos. Além disso, Jasmine
estava muito nervosa para fazer a longa viaje para o sul. Se ela fosse um cavalo de
Cameron, voltaria-a a pôr sob um treinamento leve, trabalhando com ela lentamente para
chegar a conhecê-la, ensinando a confiar.

Desta maneira, precisava trabalhar com ela muito cuidadosamente. Uma longa viaje
agora a destroçaria. Não, devia ficar em Kilmorgan e terminar isto. Uma vez que tivesse
tido Ainsley, tal como prometera, poderia esquecê-la e recuperar a prudência.

Ian deslizou a terrina de mel para seu prato.

— Deveríamos retornar acima — disse a Beth.

— O que? — Beth levantou a vista de uma lista que estava escrevendo... — Por quê?

Ian se levantou e retirou a cadeira de Beth sem responder. Ian tinha dificuldade para
mentir, assim quando sabia que não deveria dizer o que estava passando por sua mente,
aprendera a manter sua boca firmemente fechada.

Entretanto Beth o conhecia bem. Sem discutir, ela deixou que a puxasse pelo braço e
a ajudasse a se levantar da mesa. Antes de ir, Ian voltou para a mesa e pegou o pote de
mel, equilibrando-o na mão enquanto conduzia Beth para abandonar a sala.

Dois dias mais tarde Ainsley estava sentada entre muito custosos tecidos em uma
costureira em Edimburgo. A chuva caía fora, da espécie que obscurecia tudo sob seu
manto, mas dentro com Beth e Isabella, tudo estava seco e acolhedor.

Ainsley telegrafara a nova demanda da Phyllida à Rainha, e enquanto esperava a


resposta, revistou rapidamente a casa novamente, no caso de estar lá. Recrutara Daniel
para que a ajudasse a procurar e também Angelo, embora não havia dito exatamente o que
procurava nem por que o fazia. Mas ambos conheciam a casa melhor que ela,
surpreendentemente bem, de fato. O cigano e o jovem encontraram esconderijos que ela
apostaria que nem sequer Hart os conhecia. Mas Phyllida não os utilizou, porque as cartas
não apareceram.

A mesma Phyllida se negou por completo a falar com Ainsley. Partia quando via
Ainsley se aproximar, deliberadamente se rodeava de gente, ou se encerrava em seu

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quarto, alegando dor de cabeça. Uma resposta bastante exasperada veio da Rainha
dizendo que não podia enviar mais dinheiro a Ainsley. E que Ainsley simplesmente teria
que ser engenhosa, e que a Rainha a compensaria mais adiante.

Maldição! Ainsley se encontrava de novo no ponto de partida, e seu irmão Patrick


nunca emprestaria quinhentos guinéos sem exigir uma explicação completa de por que os
necessitava. Patrick não podia saber a verdade, e Ainsley tampouco queria mentir. Seu
irmão Sinclair, o advogado, teria a mesma curiosidade, Steven de qualquer maneira nunca
tinha dinheiro, e Elliot, que possuía mais recursos, estava longe, na Índia. A única coisa
que podia fazer era pedir emprestado o dinheiro a Cameron. Ele já sabia o que pedia
Phyllida e ofereceu o dinheiro efetivamente.

Ainsley poderia dar as joias de sua mãe como garantia e pagar uma vez que
recebesse o dinheiro da Rainha. Este tipo de situação era exatamente para o que a Rainha a
empregou, Ainsley pensou tristemente, porque sua Majestade sabia que Ainsley
terminaria o trabalho independentemente do que custasse.

Portanto, Ainsley não hesitou quando Isabella sugeriu que ela, Ainsley e Beth
tomassem uma tarde livre da festa para ir às compras em Edimburgo. Ela poderia ter a
oportunidade de avaliar as joias de sua mãe, para assim oferecer a Cameron uma troca
justa pelo empréstimo. Apesar do que afirmou Phyllida que Cameron exigiria por ajudá-
la, Ainsley estava decidida a manter isto como uma transação comercial. Precisava fazê-lo.

Ainsley sentia um calor agradável sentada na loja da costureira da Isabella e rodeada


de custosos e belos tecidos. Isabella instruiu às assistentes da costureira para que tirassem
cilindro após cilindro de moaré, tafetán, fina cambraia, veludo, e cachemira, e metros e
metros de cordões, fitas e luvas.

Ainsley acariciou uma seda da China tão fina que parecia como a névoa em sua mão.

— Isto é celestial. Pena que não a tenham de cor lavanda. Você poderá levá-la, Beth,
— seu tom de safira escura encaixaria perfeitamente com os olhos de Beth.

— Beth? — Isabella repetiu. — Minha querida Ainsley, tudo o que está tirando
Madame Claire é para você. Vai fazer um traje de passeio de cor azul escura, com este
tecido de riscas cor creme para a saia e a seda da China para a jaqueta — Isabella tirou um
cilindro de veludo azul e o estendeu sobre outro de cetim a risca creme e branco. — Com
seda azul claro para os volantes e o acabamento.

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Ainsley a olhou com alarme.

— Isabella, não posso. Ainda estou de luto. Ou de meio luto, pelo menos.

— E já é tempo de que o deixe. Já sei que a Rainha se deprime quando usa algo mais
claro que o cinza escuro, mas necessitará roupas mais elegantes para quando me visitar
em Londres, para ir à ópera, aos bailes e demais atos sociais. Tenho intenção de te mostrar,
querida e tenho um excelente gosto em roupa.

— Sua senhoria tem bom olho — disse a costureira, Madame Claire. Isabella não deu
importância ao elogio.

— Viver com um artista me ensinou muitas coisas. Concederei o malva ou o violeta,


Ainsley, mas nunca o lavanda — estremeceu diante de tal pensamento e alcançou uma
peça de moaré de cor Borgonha.

— Imagina este corte com renda negra e terá um vestido de dia encantador. Mas para
seu novo vestido de baile, usará este glorioso azul céu. Com seus olhos e suas cores, pode
fazer a esta malha cantar.

— O que opina, Beth?

Beth, que crescera mais pobre que pobre e não teve um bonito vestido em sua vida
até que completou os vinte e oito, assentiu, mas com cautela.

— É formoso, Isabella.

— Então nós ficamos. Agora, onde está o livro de padrões? — Isabella olhou ao redor
procurando o livro de moda que deixou enterrado sob os tecidos. — Sei que vi uma fina
seda prateada, Madame Claire.

— Quero-a para o vestido de baile de Ainsley.

Enquanto Isabella e Madame Claire procuravam o livro e o tecido, Ainsley sussurrou


a Beth.

— Ela sabe que não posso me permitir isto? Um traje, talvez, mas não um novo
vestido de baile. Acabei de comprar o cinza a semana passada.

— Já foi vista com ele uma vez — sussurrou Beth, seus lábios franzidos. — Isso é o
que diria Isabella.

— Mas não posso pagar tudo isto — Isabella, a mimada filha de um conde e agora a

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esposa do rico Mac Mackenzie, não poderia entender que a maioria das pessoas não
podiam comprar um novo guarda-roupa por capricho?

— Queridas, Estão discutindo sobre o sórdido dinheiro? — Isabella se sentou de


novo com o livro de moda estendido em seu colo. — Este é um presente que eu te faço,
Ainsley.

Estava morrendo por te tirar desses vestidos cinzas bons só para as velhas. Não me
estrague isso.

— Isabella, não posso te permitir...

— Sim, pode. Agora, deixa de protestar para que possamos ir ao cerne — ela passou
uma página. — Eu gosto deste desenho, usaremos a seda para a saia, com uma grande
rosa na cintura.

Então a de riscas azuis e prateadas para a sobre saia, e o sutiã com uma franja da
seda azul na parte dianteira.

Madame Claire e suas assistentes se apressaram para trazer mais tecidos, enquanto
Ainsley se despia para que tomassem medidas. Morag, uma das donzelas de Isabella,
seguiu Ainsley atrás de uma cortina e a ajudou a tirar seu vestido cinza. A malha agora
parecia monótona e aborrecida em comparação com as cores brilhantes que estavam
estendidas pelo chão.

— E o brilhante azul do tafetán para um vestido de manhã — Isabella seguiu. —


Estará esplêndida.

Ainsley mostrou a cabeça entre as cortinas.

— Por que tão azul?

— Porque é loira, e te senta bem. Além disso, Cameron é particularmente aficionado


ao azul.

Ainsley se congelou, as mãos agarrando as cortinas. Atrás dela Morag fez um som de
impaciência enquanto tentava chegar aos botões.

— O que tem haver a preferência de Lorde Cameron pelo azul comigo? — Isabella
lançou um olhar cúmplice.

— Realmente, Ainsley, acha que algo pode acontecer no lar dos Mackenzie sem que

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Beth ou eu saibamos? Cameron foi visto te beijando no pátio do estábulo e em seu estúdio
privado, tudo isso foi pontualmente informado pelo Daniel.

— Seu cunhado não me fala há dois dias — disse Ainsley. — Está muito zangado
comigo porque quase o fiz perder um cavalo.

— Ele não falou com ninguém porque esteve muito ocupado trabalhando com dito
cavalo — Isabella retornou ao tema. — Razão suficiente para que fiquemos bonita. Ele
voltará e quando Cam te veja brilhando como uma borboleta, não será capaz de resistir.

— As borboletas não brilham — disse Ainsley. — E por favor, não me diga que
quando me fizer desfilar diante de Cameron com minha nova roupa azul, ele cairá de
joelhos e me fará uma proposição.

Isabella encolheu os ombros.

— Tudo é possível.

Ainsley voltou a fechar a cortina.

— Isabella, amo-a como a uma irmã, mas me nego a continuar com esta conversa tão
absurda.

Isabella riu, mas Ainsley pensava que ela era muito otimista. Cameron deixou muito
claro que o matrimônio não era um estado no qual voluntariamente entraria de novo.
Além disso, um homem como Cameron não ficaria de joelhos e o proporia de maneira
convencional. John Douglas o fez, muito amavelmente por sua parte, porque seus joelhos
já estavam bastante reumáticos. Não, Cameron Mackenzie, se houvesse uma pequena
possibilidade de que propusesse a uma mulher, o faria a dita dama remando em um lago,
ou montando pelas colinas. Ele a agarraria de seu cavalo, pegaria seu rosto nas mãos e a
beijaria, seria um beijo comprido, profundo, ardente, e então ele diria com sua voz grave,
"Se case comigo, Ainsley." Ainsley teria que cabecear para dar sua resposta, incapaz de
falar. Então ele a beijaria mais profundamente enquanto os cavalos se afastavam trotando.
Eles consumariam o compromisso ali, sobre a grama, que milagrosamente não estaria
lamacenta nem seria pantanosa.

— Se isto for tão absurdo — continuou dizendo Isabella enquanto Ainsley saía de
trás das cortinas de combinação, pronta para que tomassem medidas. — Por que Cameron
te seguiu hoje a Edimburgo?

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Ainsley repentinamente teve dificuldade para respirar.

— É obvio que não o fez. Isabella, não invente coisas.

— Não o faço — Isabella se levantou e subiu o formoso veludo azul até o rosto de
Ainsley. — Vi-o esta manhã, abordando nosso trem e olhando furtivamente como um
diabo. Estava claro que não queria ser visto. Sim, este azul, acredito. Madame Claire, onde
está o prateado?

Não muitas ruas mais à frente, Cameron estava franzindo o cenho ao senhor Pierson,
o proprietário de NightBlooming Jasmine. O elegante salão de Pierson estava cheio de
fumaça de charuto e lembranças escocesas.

Claymores penduravam nas paredes em cima de peças de plaid, uma coleção de


bolsas se encontravam expostas em uma vitrine, e facas, que Pierson jurava que foram
recuperadas do campo de Culloden, descansavam dentro de uma mesa com a tampa de
cristal.

Pierson era do tipo de inglês que Cameron menos gostava, um que fingia ter paixão
por tudo o que era escocês, mas que em realidade desprezava ao povo escocês. O lixo que
havia nesta sala foi vendido por distribuidores ardilosos que capitalizaram a necessidade
de Pierson de abraçar o romance que pensou que envolvia as Highlands. Pierson sempre
falava com Cameron com desprezo em sua voz, ele acreditava absolutamente em sua
evidente superioridade.

— Espero que a tenha transformado em uma ganhadora, não me venha com


desculpas — disse Pierson. Verteu uísque escocês, de uma destilaria das trocas, não dos
Mackenzies, em cálices e estendeu um a Cameron.

— Necessito que ela me proporcione o preço mais elevado no leilão.

No leilão. Me dê força.

— Não tive o tempo suficiente para trabalhar com ela — disse Cameron. — É muito
nervosa para correr bem. Deixe-a comigo outro ano e ela correrá as quatro corridas mais
importantes do ano como uma tempestade.

E terminará na Ascot como uma rainha.

— Não, maldição, necessito-a para ganhar em Doncaster, assim a posso vender


quando terminar a temporada. Pensei que fosse o melhor treinador em Grã—Bretanha,

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Mackenzie.

— E quando o melhor treinador diz que não faça correr um cavalo, você deveria
escutar.

Pierson mordeu os lábios.

— Eu posso levá-la quando quiser de seus estábulos.

— Boa sorte para encontrar outro treinador nesta época. Não o fará e sabe.

Maldito homem. Se não fosse pelo bem de Jasmine, Cameron teria se afastado do
idiota, não havia nada que fazer com ele. Mas Pierson arruinaria Jasmine e Cameron não
tinha coração para deixá-lo fazer isso.

Jasmine esteve bem depois de sua selvagem corrida. Embora Angelo não houvesse
dito nada, Cameron sabia que o homem sentiu uma grande vergonha por deixar Jasmine
escapar dessa maneira.

A única explicação para o lapso de Angelo era que Ainsley o enfeitiçou. Por que não?
Ela enfeitiçou a todos os outros em seu lar.

— Deixe-me comprar Jasmine, como tenho proposto antes — disse Cameron. —


Darei por ela tudo o que conseguiria em um leilão se ela fosse uma ganhadora. É um bom
exemplar de raça. Seria uma boa aquisição para meus estábulos.

Pierson o olhou surpreso.

— É obvio que não. Ela é uma égua puro—sangue inglesa. Ela não pertence a uma
fazenda escocesa.

— Meus principais estábulos de treinamento estão em Berkshire. Eu poderia fazer


coisas magníficas com ela.

— Então por que não as está fazendo agora? — Pierson exigiu.

Cameron tinha inclinado seu copo de uísque. Era horrível, e isso que só tomou um
pequeno gole.

— Uma obrigação com meu irmão.

— E o que acontece com sua obrigação para mim e meu cavalo? Ela corre em
Doncaster, ou a tirarei e difundirei o rumor de sua incompetência. Está claro? Agora,

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tenho outros negócios. Tenha um bom dia, Mackenzie.

Cameron resistiu a golpear o homem, deixou seu copo e voltou a pegar seu casaco do
criado que o trouxe. Se golpeasse Pierson e desse rédea solta a seu temperamento, Jasmine
sofreria e Cameron não podia permitir que isso acontecesse.

O servo, que era inglês, como Cameron notou, acompanhou-o à porta e a abriu para
ele. Cameron tocou o chapéu e saiu à chuva. Caminhou pela rua, a brumosa chuva
obscurecia o céu, os edifícios e as pessoas, aliviando sua ira enquanto caminhava rápido e
forte.

Maldito bastardo arrogante. Em circunstâncias normais, um homem como esse não


conseguiria meter-se sob sua pele, mas Cam gostou de Jasmine e a queria. Pensou em
seduzir Pierson para jogar às cartas com ele e ganhar Jasmine, mas Pierson não era um
jogador. Nem sequer apostava nos cavalos.

Cameron poderia acalmar Jasmine o suficiente para correr em Doncaster, mas não
para ganhar. Se a empurrasse muito, arriscava sua saúde. Jasmine poderia ganhar mas
cairia morta de esgotamento na linha de chegada, ou, se Pierson fizesse a sua maneira, no
momento em que o comprador se fosse com ela. Esta era a forma em que Pierson fazia as
coisas.

Maldito filisteu inglês.

Os pensamentos do Cam se cortaram abruptamente quando viu a mulher vestida de


cinza, com o cabelo da cor do sol, saindo de uma joalheria. Ainsley deslizou uma pequena
bolsa em seu bolso, olhando suspeitosamente ao redor, abriu seu guarda-chuva e se
apressou indo-se pela rua brumosa.

Capítulo 10

Ainsley sentiu a presença de Cameron mesmo antes que sua grande mão enluvada se
fechasse ao redor do cabo de seu guarda-chuva.

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Com uma inclinação da ponta de seu chapéu, fez uma saudação educada. Acaso
estava oferecendo uma escolta para caminhar pela rua? Não, desmentia-o o fato de que a
estava olhando com zanga nos olhos e uma expressão de granito e, além disso, não soltava
o condenado guarda-chuva.

— Disse-te que daria o dinheiro para as cartas — disse.

Ainsley lhe dedicou uma divertida piscada.

— Boa tarde para você também, Lorde Cameron. Sei que o fez.

— Então por que estava em uma maldita joalheria? Não tem dinheiro para andar às
compras. Estava tentando vender as joias para pagar a Phyllida, não é assim?

E ele parecia zangado por isso? Escocês arbitrário e arrogante.

— Não estava tentando vender as joias, estava-as avaliando. Para oferecer como
garantia.

— Garantia? Que garantia?

Ainsley novamente tentou recuperar o guarda-chuva e se surpreendeu quando ele a


deixou levar.

— Para o empréstimo que me ofereceu. Ofereço-te uma garantia e quando minha


amiga me enviar o dinheiro, devolverá-me as joias.

Os olhos de Cameron se converteram em frestas de cor topázio.

— Nunca disse que fosse um empréstimo. Eu pago Phyllida e isso é o final do


assunto. Sua garantia, se insistir, é ter uma conversa comigo que não seja sobre as malditas
cartas. Estou farto até não poder mais delas.

— Não posso aceitar dinheiro oferecido por você e seguir sendo uma dama — disse
Ainsley. — A menos que seja um empréstimo, uma transação de negócios e ainda assim só
porque é família de uma amiga, da Isabella.

— Está complicando muito. Ninguém precisa saber quem te deu o dinheiro.

— Saberá a Sra. Chase, ou imaginará. E pode estar seguro de que ela o diria a todo
mundo.

Ainsley deu meia volta e continuou caminhando.

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Cameron precisou caminhar a grandes passos para alcançá-la. Demônios, se alguém


tivesse dito que um dia ele estaria correndo pelas ruas de Edimburgo, perseguindo uma
dama decidida a bater nele com um guarda-chuva, teria rido a gargalhadas. Cameron
Mackenzie não perseguia as mulheres, com guarda-chuva ou de qualquer outro modo.

— O joalheiro disse que os brincos e o broche de minha mãe seriam suficientes para
cobrir os quinhentos — disse Ainsley — O que é uma sorte porque são justamente os que
tenho aqui.

Cameron decidiu não dizer que Phyllida queria agora 1.500. Não necessitava que ela
escrevesse para casa pedindo que enviassem a prata da família.

— Eram de sua mãe?

— Sim. A única coisa que tenho dela, realmente. Sempre lamentei não tê-la
conhecido.

A tristeza em sua voz revolveu algo dentro dele. A mãe de Cameron era uma criatura
aterrorizada que foi advertida para que se mantivesse afastada de seus próprios filhos.

Morreu justo depois que Cameron cumprisse os 18 anos, enquanto ele estava
ausente, na Universidade, de uma queda, disseram.

Hart contou a verdade a Cameron depois, que seu pai a matou, bateu-lhe tão forte
enquanto discutia com ela que quebrou seu pescoço. Hart o deduziu com o tempo, a única
testemunha foi Ian e seu pai o encerrou quando estava com só dez anos em um manicômio
inclusive antes do funeral, para evitar de que o muito sincero Ian deixasse escapar o que
realmente havia acontecido.

Cameron não tinha nada de sua mãe, seu pai se livrou de todos os pertences de sua
mãe que havia na casa depois de sua morte. A forma em que Ainsley mencionou seu
arrependimento por não ter conhecido a sua mãe fez algo a seu coração.

Ainsley cortou a discussão entrando em outro estabelecimento, onde um empregado


bem vestido sorriu. Ainsley olhou a Cameron com surpresa quando a seguiu dentro.

— É a loja de uma costureira — disse.

— Sei o que é. Entendo que está aqui para comprar um guarda—roupa, não pão
assado. E baixa esse guarda-chuva antes que fira alguém com ele.

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Ainsley permitiu que o empregado pegasse o guarda-chuva, mas se desanimou ao


ver que Cameron a seguiu até a parte traseira. Madame Claire dedicou um sorriso de bem-
vinda.

— Por fim retornou, sua senhoria.

Isabella agitou suas mãos de sua cômoda cadeira.

— OH, Cameron, excelente. Justo a quem necessitávamos.

Parecendo tranquilo e estranhamente agradado, Cameron se livrou de seu casaco,


sentando-se em uma poltrona e aceitou uma taça de porto que o ajudante serviu.

— Se vê muito cômodo — disse Ainsley.

— Sou um bom cliente.

O que significava que Cameron enviava suas amantes aqui. Ainsley de um tapa abriu
um dos livros de moda e se entreteve olhando os coloridos vestidos, sem ver
absolutamente nenhuma linha deles.

— Estamos equipando Ainsley — disse Isabella. — Quero que esteja radiante.

Ainsley permaneceu calada, com sua garganta seca, enquanto Isabella mostrava a
Cameron os tecidos que escolheu e dizia em que classe de vestidos os usariam. Cameron
expressou sua aprovação a suas escolhas e parecia saber tudo sobre guarnições, meias
mangas e xales. Ainsley poderia não estar na sala e não perceberiam.

— Eu gostaria de vê-la com algo em vermelho — disse Cameron.

— Não com sua tez, seria um engano — respondeu Isabella. — O vermelho brilhante
deixaria sua pele mais clara em vez de ressaltá-la e a cor de seus olhos se perderia.

— Vermelho brilhante não. Escuro. Muito escuro. E veludo. Talvez em um quente


vestido de inverno.

Madame Claire se iluminou.

— Sua senhoria tem um gosto delicioso. Tenho justo o que mencionou.

Ainsley deveria gritar, protestar, dizer algo para que parassem. Mas só podia
observar, meio aturdida, como Madame Claire retornava com uma peça de veludo
vermelho tão escuro que seu brilho era quase negro.

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Cameron se levantou, pegou o veludo de Madame Claire e se aproximou de Ainsley


com a peça. Ainsley saltou ficando de pé, com certo temor de que simplesmente jogasse o
tecido a sua cabeça se permanecesse sentada no tamborete. Cameron emoldurou seu rosto
com as dobras, o veludo pressionando suavemente contra a pele de Ainsley.

— Vê? — Cameron disse a Isabella.

— Sim, realmente é excelente — Isabella juntou suas mãos. — Tem um olho


maravilhoso, Cam. Ela estará realmente formosa com isso.

Ainsley não podia falar. As mãos de Cameron eram firmes através do veludo, sentia
toda sua força ganha trabalhando duro com seus cavalos e que agora se suavizava ao
acariciar Ainsley. Ela encontrou o olhar de Beth além de Cameron. O olhar conhecedor dos
olhos azuis de Beth, e também pormenorizada. Beth foi presa por um bonito e irresistível
Mackenzie e sabia perfeitamente que Ainsley também fora presa por um deles.

Como à tarde seguinte continuava chovendo, isso só significava entretenimento


debaixo do teto em Kilmorgan, assim Isabella organizou um Jogo de Busca. Ela, Beth e
Ainsley elaboraram as listas dos elementos que teria que procurar e as repartiram aos
convidados. Aqueles que não tinha nenhum interesse no jogo se retiraram a sala de cartas
na ala principal e procederam a ganhar e a perder fortunas.

Daniel zombou do bastante inofensivo jogo e tentou Ainsley para que o


acompanhasse à sala de bilhar para jogar. Isabella estava aliviada de não ter
constantemente Daniel colado a seus calcanhares, e de que ambos conseguissem uma
pausa.

— Isabella diz que seus irmãos a ensinaram a jogar — disse Daniel a Ainsley. — Não
consigo acreditar que uma garota possa fazê-lo.

— Não? Se prepare para se surpreender, menino.

Ainsley deixou Daniel tirar o taco e as bolas vermelhas e brancas, enquanto ela
tocava a nota em seu bolso que a criada de Phyllida Chase havia trazido essa manhã.

Phyllida queria o dinheiro amanhã a noite, e dizia:

"Rowlindson, o vizinho mais próximo de Hart, será o anfitrião de uma elegante festa
de mascaras amanhã, sexta-feira de noite. Me encontre na sala de música de sua casa a
uma da manhã e faremos a troca ali. Só você, Sra. Douglas, sem Lorde Cameron".

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Ainsley leu a nota exasperada. Realmente, por que a mulher precisava ser tão
clandestina? Tudo o que Phyllida precisava fazer era visitar Ainsley em seu quarto e
terminaria todo o assunto.

Mas, de qualquer maneira, Ainsley se encontraria com Phyllida na festa de máscaras.


Ainsley não foi convidada e Isabella não o mencionou. Mas essa manhã, Morag entregou
em mãos uma nota do Secretário de Lorde Rowlindson que incluía um convite. Phyllida
era certamente meticulosa. Morag inclusive trouxe consigo uma fantasia para Ainsley.

Enquanto Daniel colocava as bolas, Ian Mackenzie entrava na sala e fechava a porta
atrás dele. Ian nunca falava muito com Ainsley, mas se achava cômodo durante suas
visitas a Isabella, o que significava que não a evitava.

Mas tampouco a procurava; simplesmente aceitava sua presença como o fazia sua
família.

Ainsley notou a mudança de Ian em relação a suas visitas em anos anteriores. Agora,
movia-se com mais confiança, seus nervosos e rápidos olhares foram substituídos por uma
observação tranquila.

Sempre que sustentava a seu pequeno, sua quietude se fazia ainda mais
pronunciada. Tranquilidade, isso é o que exsudava, o tipo de paz que provinha da
felicidade profunda, inquebrável.

— Não joga? — Ainsley perguntou a Ian enquanto ela alinhava o taco com a bola
branca.

Ian verteu uísque e se inclinou contra a mesa de bilhar.

— Não.

— Quer dizer que não joga porque ganharia muito rápido — disse Daniel. — É a
mesma razão pela qual não gosta de jogar às cartas.

— Lembro cada carta que há sobre a mesa — disse Ian.

Ainsley imaginava que os outros jogadores não gostariam tanto disso.

— É muito esportivo por sua parte se afastar então.

Ian não parecia interessado em ser esportivo e Ainsley compreendeu imediatamente


que permanecia afastado dos jogos de cartas porque não eram um desafio para ele.

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Possuía uma mente tão rápida que resolvia problemas antes que os outros se
inteirassem de que existia um problema.

Cameron era similar com seus cavalos, Ainsley meditou sobre isso. Sabia quando as
pessoas poderiam desabar antes que ocorresse e exatamente por que.

O viu deter uma sessão de treinamento e conduzir um cavalo ao veterinário, apesar


dos protestos dos moços que asseguravam que nada estava mau, só para que o médico
confirmasse que Cameron estava certo.

Enquanto Ainsley alinhava seu taco, Ian deu uns golpes duas polegadas a sua direita.

— Fixa o objetivo aqui. A bola vermelha cairá nesse buraco e a branca irá para lá,
assinalou.

— Ayyyy, tio Ian, ajudar não é justo.

Ian enviou ao Daniel o esboço de um sorriso.

— Sempre deve ajudar às damas, Danny.

Ainsley sabia o suficiente sobre as combinações matemáticas do bilhar para saber que
Ian dera um bom conselho. Disparou. Sua bola branca golpeou a vermelha, enviando-a
exatamente onde dissera Ian.

Ricocheteou contra a parede e caiu no buraco, a branca rodou suavemente de volta


até o taco de Ainsley.

Daniel sorriu.

— É boa para ser uma dama, vou conceder esse crédito.

— Devo te dizer que em várias ocasiões venci a meus irmãos — disse Ainsley. —
Lamentaram me ensinar todos estes jogos depois de que começaram a perder dinheiro por
minha causa.

Daniel sorriu.

— Que sorte para você. Que outras coisas sabe fazer?

Ainsley se preparou para outro disparo.

— Disparar uma pistola e acertar o alvo, quero dizer. Jogar às cartas e não falo dos
jogos femininos como o whist. Refiro-me ao poker.

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— Ai, eu adoraria ver isso. Há alguns que estão jogando no Salão.

Ainsley sacudiu sua cabeça. Ian, mais interessado no bilhar que na conversa,
aproveitou novamente para dar golpes para onde Ainsley deveria apontar.

— Não desejo envergonhar Isabella por deixar a seus convidados secos — Ainsley
disse com bom humor.

Ela pensou unir-se a um jogo de cartas para tentar ganhar o dinheiro necessário para
pagar a Phyllida, mas enquanto que seus irmãos Elliot e Steven ensinaram a ser uma boa
jogadora, ainda existia o risco de que outros jogadores pudessem ser melhores. Muitos dos
convidados de Hart eram jogadores aguerridos e as pessoas necessitam uma grande
quantidade de dinheiro, até mesmo para entrar nos jogos. Milhares de libras se moviam
nessas mesas de um só sopro. Ela não podia se arriscar.

Ainsley aproveitara sua bola. Esta bola golpeou a segunda, que ricocheteou contra o
lado onde a mão de Ian dissera e entrou em um buraco com um golpe definitivo.

Daniel assobiou.

— Desejaria que jogasse por dinheiro, Sra. Douglas. Nós dois poderíamos ganhar
muito juntos.

— Certamente, Daniel. Poderia obter uma carruagem e viajar agitando uma bandeira
que dissesse: "Exibição de Campeonato de Bilhar por uma dama e um moço. Surpreenda-
se! Prove suas habilidades e sua sorte."

— Uma carruagem cigana — disse Daniel. — Teremos a Angelo fazendo acrobacias e


papai mostrará seus cavalos treinados. E você pode disparar objetivos. Milhares de
pessoas virão nos ver.

Ainsley riu e Ian ignorou completamente. Quando Ainsley finalmente falhou seu
tiro, Daniel pegou as bolas nos buracos e as colocou para si mesmo. Ian abandonou a mesa
e se colocou diante de Ainsley.

O olhar de ouro que perambulou por seu rosto antes de assentar-se em sua face
esquerda foi tão intenso como qualquer dos Mackenzies, mesmo que Ian não a olhasse
diretamente nos olhos.

Ian havia passado sua infância em um manicômio e, mesmo que Ainsley soubesse
que Ian nunca esteve verdadeiramente louco, ele não era um homem comum tampouco.

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Possuía uma inteligência que brotava dele em rajadas incríveis e Ainsley sempre
tinha a sensação de que seu exterior enigmático escondia um homem que compreendia os
segredos de todos, possivelmente melhor que eles mesmos.

— A esposa de Cameron o odiava — disse Ian sem preliminares. — Fez de tudo para
machucá-lo. Converteu-o em um homem duro e infeliz.

Ainsley reteve seu fôlego.

— Que horrível.

— Ai — disse Daniel alegremente da mesa de bilhar. — Era uma verdadeira cadela. E


uma prostituta.

A resposta correta de Ainsley seria repreender Daniel por falar tão duramente de sua
mãe, especialmente quando esta havia falecido.

— Santo Céu, Daniel, isso não pode ser certo — mas segundo o que ouviu Ainsley
sobre Lady Elizabeth, Daniel provavelmente só dizia a verdade sem adornos.

— Nunca a conheci — disse Daniel. — Mas me falaram a respeito dela. Golpeei a


alunos na escola por dizer que minha mãe esteve na cama de cada aristocrata na Europa,
mas virtualmente era certo, assim deixei de fazê-lo.

O tom de voz pragmático de Daniel produzia uma dor em seu coração. A reputação
de Lady Elizabeth foi má, mas escutar os fatos dos lábios de seu filho era dilacerador.

— Daniel, sinto muito.

Daniel encolheu os ombros.

— Mamãe odiava a papai por não querer deixá-la continuar com suas atividades de
solteira, depois de ter se casado. Ela pensou que poderia continuar como antes, sabe, mas
com o dinheiro de papai respaldando-a.

Além disso, tinha a absurda ideia de que poderia ser uma Duquesa se Hart assim o
estabelecesse. Em represália por não deixá-la andar grosseiramente livre, ela tentou
convencer papai de que eu não era seu filho, mas como pode ver, sou todo um Mackenzie
— Daniel tinha esse engenhoso olhar Mackenzie. Não se podia negar.

— Como pôde fazê-lo? — Ainsley perguntou indignada. Que uma mãe pudesse
utilizar a seu filho como um peão em um jogo com seu marido fez que Ainsley se sentisse

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doente. A estúpida da Elizabeth teve o sorriso pícaro de Cam, o calor de seus escuros
olhos dourados, seus beijos de fogo, tudo para ela e não o havia entesourado.

— Como disse, ela era uma verdadeira cadela.

Ainsley não perguntou como Daniel sabia tudo isso a respeito de sua mãe.
Certamente haveria dito: pelos criados, por seus companheiros, ou amigos bem
intencionados, ou não tão bem intencionados conhecidos.

Ela imaginou a angústia de um menino pequeno dando-se conta de que a mãe a que
não recordava não foi o ser angélico que se supunha devia ser.

Ainsley tinha muito poucas lembranças de sua própria mãe, mas podia imaginar
como se sentiria se dissessem repetidamente a horrível pessoa que foi.

— Eu gostaria de poder dar uma boa reprimenda em Lady Elizabeth — disse


Ainsley. — Uma reprimenda a gritos seria mais preciso.

Daniel riu.

— Como tia Isabella e tia Beth. E meus tios. Mas papai nunca deixa que ninguém fale
mal dela. Bom, ninguém salvo ele.

Ian rompeu o silêncio.

— Nunca a conheci. Eu estava no asilo quando esteve casada com Cameron. Mas
ouvi tudo o que fez.

Ian não era um homem que mostrasse muitas emoções exceto seu amor por Beth,
entretanto, vislumbrava-se uma faísca de raiva em seus olhos.

— Daniel — a voz de Cameron retumbou do outro lado da sala. — Fora.

Daniel olhou a seu pai sem se surpreender.

— Só estava contando à Sra. Douglas algumas coisas que precisava saber.

Cameron fez um gesto para a porta que estava aberta.

— Fora.

Capítulo 11

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Cameron olhou Ainsley, seu rosto ruborizado, seus olhos cintilantes pela irritação, e
foi plenamente consciente de que a desejava. Ele a tomaria nesse preciso momento sobre a
mesa de bilhar, sobre a cadeira próxima ou no sofá, não importava onde. Queria beijar os
lábios entreabertos pela indignação, percorrer com beijos seus seios enquanto respirava
agitadamente. Cam queria enterrar-se dentro dessa mulher que uma vez disse "Teria
gostado de dar uma boa reprimenda."

Podia imaginar Ainsley, com seus olhos francos e seu audaz olhar, dizer a Lady
Elizabeth Cavendish exatamente o que pensava dela. Elizabeth, a rica e malcriada filha de
um aristocrata, selvagem e brilhante como um pássaro tropical, não teria a menor chance
contra Ainsley. Ainsley era mais parecida com um pardal, uma mulher pragmática, mais
interessada nas questões práticas que em mostrar sua plumagem.

Não, não um pardal. Esse é um pássaro muito simples para alguém como Ainsley.
Ela é profundamente formosa, com uma beleza que brilha do mais profundo de seu
interior. Cameron queria estudar essa beleza, cada polegada dela.

— Sei que esse tema não é de minha incumbência — dizia Ainsley, sua voz era como
um bom vinho para seus sentidos. — Deveria ter detido o Daniel quando começou a falar
disso, mas reconheço que tenho uma mórbida curiosidade a respeito de sua falecida
esposa. Se alguma coisa das que disse Daniel é certa, sinto muito.

Ela o sentia, essa era a questão. Outras mulheres teriam fingido que Daniel exagerou
ou teria simulado desgosto com a Elizabeth, Cameron ou inclusive Daniel por contar a
história. Mas não Ainsley.

Ela vira a verdade tal qual era.

Houve razões pelas quais Cameron não se divorciou de Elizabeth, e todas elas
tinham que ver com o Daniel. Deu-se conta muito em breve de que não se podia confiar
em que Elizabeth não tentasse se livrar do bebê, e por isso Cameron se manteve perto,
apesar de provocar a fúria dela. Elizabeth afirmou repetidamente que o menino não era de
Cameron e Cameron sabia que existia o risco de que estivesse dizendo a verdade.
Elizabeth teve uma corrente de amantes, alguns regulares, outros breves encontros. Mas

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Cam estava disposto a se arriscar. Elizabeth se equivocara, Daniel era um Mackenzie em


todos os sentidos.

Cameron sabia agora que deveria ter enviado a Elizabeth para longe logo que deu a
luz a Daniel, mas então era jovem e sentimental. E realmente acreditava que uma vez que
Elizabeth tivesse um filho a quem cuidar, mudaria.

Mas não o fez; só se afundou em uma estranha melancolia, seus arranques de fúria se
agravaram e começou a tentar machucar Daniel.

Cameron tinha a estranha sensação que se explicasse tudo a Ainsley, ela o


compreenderia.

— Não estou aqui para falar de minha esposa — disse. Os olhos de Ainsley estavam
cheios de ira para ele.

— Muito bem, do que quer falar então?

Cameron tocou o botão superior de seu vestido de tarde cinza opaco e suavizou sua
voz.

— Vim perguntar quantos botões te desabotoaria para mim hoje.

A forte exalação de Ainsley fez que seus seios se pressionassem contra esses mesmos
botões que Cameron queria desabotoar. Suas faces estavam ruborizadas, seus olhos
sonhadores, Ainsley estava muito formosa.

— Pensei que havia esquecido esse jogo — disse.

— Nunca me esqueço dos jogos. Ou do que me deve.

Ele se aproximou mais ainda, inalando seu doce aroma. A moda atual ditava que as
saias das mulheres ficassem apertadas contra coxas e pernas e Cameron aproveitou
plenamente essa vantagem, de pé frente a ela.

Quando ela abrisse seu sutiã, seria capaz de observar fixamente seu decote suave.

Tocou de novo o botão superior, que era uma pequena bola de ônix.

— Quantos botões, Sra. Douglas?

— Foram dez a última vez. Desta vez, acredito que deveriam ser meia dúzia.

Cameron enrugou sua testa.

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— Por quê?

— Porque estamos no interior com gente percorrendo a casa em busca de objetos


escondidos. As bolas de bilhar estavam na lista do jogo.

— Vinte — Cameron disse firmemente. Ainsley surpreendida replicou:

— Vinte?

— Vinte botões me levarão até aqui — e baixou seu dedo da borda de seu sutiã até
quase sua cintura.

Cameron sentiu o coração dela golpeando atrás da rigidez de seu espartilho.

— Não é razoável — disse. — Estes botões estão mais separados entre eles que os do
último traje.

— Não estou interessado no desenho de sua costureira. Estou interessado em


quantos posso abrir.

— Muito bem, doze. É minha oferta final.

— Não é o final, absolutamente.

A mesa de bilhar impediu que Ainsley desse um passo atrás. Tudo o que Cameron
precisava fazer era levantá-la e estaria sobre ela. Poderia se rasgar a tapeçaria da mesa, o
que exasperaria a governanta

de Hart, mas substituir a maldita coisa valeria a pena para ter Ainsley.

— Concederei quatorze — disse.

— Vinte.

— Lorde Cameron, se alguém irromper aqui, não terei tempo de fechar vinte botões.

— Então fecharemos a porta.

Os olhos de Ainsley se ampliaram.

— Meu Deus, não. Passaria terrivelmente mal explicando por que estava trancada
com o notório Lorde Cameron Mackenzie. Deixa a porta aberta e assim eles pensarão que
estávamos jogando.

Cameron sorriu, pondo tanta tentação em seu pecaminoso sorriso como só ele podia
fazê-lo.

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— Estou me impacientando, senhora Douglas. Vinte botões.

— Quinze.

O sorriso de Cameron se tornou triunfante.

— Feito.

Ela avermelhou.

— OH, muito bem. 15. Mas sejamos rápidos.

— Dê a volta.

Ela o olhou com seus olhos cinzas alarmados. Sabia ela quão sensual era? Poderia
fazer a um homem desejar ver esses olhos adormecidos sobre seu travesseiro ao despertar.

E isso considerando que Cameron não gostava das mulheres em sua cama. A cama
era para dormir. Somente. Era o melhor para todos.

Ainsley virou de frente a mesa de bilhar, sua respiração ainda era rápida. A armação
da saia se interpunha em seu caminho, os arames mantinham sua saia sujeita atrás dela.
Uma moda idiota.

O tolo que desenhou aquilo obviamente não tinha nenhum interesse nas mulheres.

Cameron a colocou então a seu lado, sua coxa contra o quadril dela apertada
firmemente. A próxima vez que estivesse assim com a Ainsley, sua armação desapareceria,
era um juramento. Cameron depositou um beijo em sua face ao desfazer o primeiro botão.
Ainsley permanecia fiel ao jogo, sem virginais palpitações ou suplica. Ela concluiu a
negociação e a respeitaria.

Valente, formosa mulher.

Seus olhos se abatiam entrecerrados à medida que Cameron desfazia o segundo


botão e, em seguida depois do terceiro, relaxou contra seu corpo. Beijou-a na comissura
dos lábios e seu suspiro ofegante fez que doesse sua forte ereção.

No oitavo botão, Cameron foi beijando seu pescoço, provando seu sabor penetrante
com um pingo tênue de aroma a limão. Um dia, logo, Cameron a desprenderia de toda sua
roupa e lamberia todo seu corpo.

Então se ajoelharia diante dela e beberia e beberia dela, provocaria que seus dedos

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dos pés se curvassem, que suas mãos se enredassem em seu cabelo e além disso, ela
mostraria todos esses outros preciosos sinais de prazer.

Dez, onze e doze. Cameron tocou seu seio, o embriagador calor dentro de seu
espartilho. Também desapareceria o espartilho a próxima vez.

— Treze — sussurrou. — Quatorze — afundou uma mão em seu bolso e abriu o


botão quinze com a outra. — Não se mova.

Ainsley ficou muito quieta, com os olhos fechados. Cameron inalou sua essência,
beijou sua pele uma vez mais e depois deslizou o colar que tirou de seu bolso ao redor de
seu pescoço, fechando o pequeno broche na parte traseira.

Os olhos de Ainsley se abriram de repente. Ela olhou com assombro a corrente de


diamantes que agora descansava sobre seus seios, e foi subindo o olhar para ele.

Observando seu aberto sutiã com assombro, seus seios estavam levantados por cima
de um espartilho com aros pequenos e decorativos na frente.

— O que é isto? — perguntou.

Cameron respondeu com um tom indiferente.

— Comprei-o em uma joalheria em Edimburgo depois que você, Isabella e Beth


fossem. Pensei que iria bem com seus novos ornamentos.

Ainsley o olhou com puro assombro. Não refletiu nenhuma das emoções, nem das
berrantes demonstrações que a maioria das mulheres de Cam realizavam quando
comprava joias, nem nenhuma ardilosa tática prometendo uma recompensa mais tarde.
Ainsley Douglas estava estupefata.

— Por quê? — perguntou.

— O que quer dizer por quê? Vi o maldito colar e pensei que você gostaria.

— Eu gostei — Ainsley tocou os diamantes. — É formoso. Mas... — sua expressão


delatava saudade, solidão e uma dor repentina que o surpreendeu. — Não posso aceitá-lo.

— Por que diabos não?

Cameron parecia muito zangado com ela. Era o mesmo homem que interferiu com
seus entendimentos com Phyllida e invadiu sua sessão com a costureira, que quis dar
dinheiro sem aval e que comprou joias como ele faria com sua amante, e que agora a

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olhava muito zangado.

— Porque, meu querido Lorde Cameron, sabe como às pessoas gostam dos
mexericos. Haveria muitas especulações sobre por que me deu este colar.

— Por que alguém deveria saber que eu dei? — Ainsley queria rir.

— Porque não é discreto exatamente.

— Maldita discrição. É uma perda de tempo.

— Vê? Pode dizer isso porque é muito rico, por não mencionar que é um homem.
Pode se libertar de muitas coisas, entretanto, eu devo ser uma boa mulherzinha e seguir
todas as regras e convenções — E acaso as regras não eram um chateio?

— A Rainha deveria te valorizar mais do que o faz por se esforçar tanto por ela. Vale
mais do que ela acha.

Ainsley tremeu ao escutar sua voz profunda.

— Está me adulando e acredite, adoro que o faça, mas devo ser cuidadosa — ela
tocou o colar de novo. — Ninguém deve descobrir que o comprou para mim ou assumirão
que sou sua amante. Phyllida já acha.

Cameron se inclinou para ela, colocando suas mãos a ambos os lados dela sobre a
mesa de bilhar. Seu corpo estava envolvido por seus braços.

— Então seja minha amante de verdade, Ainsley.

Seu fôlego tocou seus lábios e ela ampliou seu olhar surpreendido, sua boca o seguiu.
O beijo rápido a queimou como uma marca de fogo.

— Posso te dar tanto — disse. — Quero te dar tanto. É isto tão mau?

Seria tão mau? Ainsley se aferrou a borda da mesa de bilhar e tentou manter-se
erguida. Não, não seria nada mau ser amante deste homem. Ela pularia preguiçosamente
em sua cama, ou em qualquer lugar que ele preferisse: enquanto ele desabotoava suas
roupas e provava sua pele. Entregar-se a Cameron a deixaria sem fôlego, daria uma
liberdade selvagem, seria embriagador.

Era um homem que tomava tudo o que queria, cujas mulheres ficavam muito
agradecidas e não importa que não quisesse compromissos. Mas, as amantes habituais de
Cameron eram cortesãs, viúvas alegres e mulheres cuja reputação foi manchada muito

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antes que ele tomasse. Não tinham nada que perder, entretanto, Ainsley tinha tudo a
perder. E não seria a queda celestial?

Mas já uma vez Ainsley sucumbiu às carícias peritas de um sedutor. Ela esteve a
borda da ruína completa, esteve aterrorizada de confessar seu pecado ao irmão que foi
tudo para ela.

Recordou o choque de Patrick quando ela por fim o havia dito, o ofego de
consternação de sua honrada esposa, Rona.

E, continuando, Patrick, em vez de jogá-la à rua como poderia ter feito, moveu-se
rápida e compassivamente para salvá-la. Só sua intervenção, a da Rona e a bondade de
John Douglas, evitaram que o mundo descobrisse sua vergonha.

Patrick, Rona e John ocultaram o que fez Ainsley e ela devia tudo.

— Milord...

— Meu nome é Cameron.

— Cameron — Ainsley fechou os olhos e inspirou para ganhar força. — Eu te desejo.


E eu gostaria muito de ser sua amante. Mas não posso — as palavras que saíram dela,
expressavam todo o pesar do mundo.

— Por que diabos não? Vive como uma criada e veste como um fantasma.
Poderíamos ir a Paris e assim não se preocuparia a respeito do que diriam as pessoas em
Londres.

A vestiria como uma rainha em vez de atender a suas chamadas e carregar com ela. E
eu te cobriria com joias que fariam que esta bagatela empalidecesse.

Ainsley evocou uma vívida imagem, ela com vestidos de cetim das cores que Isabel e
Cameron escolheram para ela, colares de diamantes ao redor de seu pescoço, e os rubis
brilhariam em suas orelhas.

— Teria safiras? — perguntou-se com nostalgia. — Iriam muito bem com todos esses
vestidos azuis.

O sorriso de Cameron fez que suas extremidades se debilitassem.

— Pode ter tudo o que deseje. Um novo vestido para cada dia, e joias que combinem
com ele. Uma carruagem para que possa sair, puxado pelos melhores cavalos. Sei de um

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homem na França que cria os mais assombrosos cavalos de carruagem. Poderá escolher os
que você gostar.

É obvio que para Ainsley daria os melhores cavalos. Os cavalos eram para ele o que
os diamantes eram para a maioria das mulheres. Preciosos, formosos, valia a pena
procurar os melhores.

— Há fogo em você, Ainsley Douglas. Deixa-o sair comigo.

Ela realmente queria. Poderia ter tudo isto, os braços fortes de Cameron ao redor
dela, o homem nele despertando à mulher que havia nela. Nunca conheceu alguém como
ele, um macho tão viril que a podia excitar simplesmente ao sussurrar seu nome.

— Por favor, não me tente assim — disse.

— Quero te tentar. Quero-a com cada onça de força que tenho e maldito seja o
escândalo. Isabella tem razão; já é hora que deixe as roupas de luto por sua viuvez e
desfrutes da vida.

— Não é o escândalo o que temo — Ainsley tomou fôlego, seu peito doendo. -me
acredite, estou sozinha no mundo, poderia mandar ao demônio o escândalo e fazer o que
quisesse — ela se deu conta fazia tempo, entretanto, que não era o escândalo o importante,
e sim as pessoas que machucaria com o escândalo.

Uma dor crua brilhava nos olhos de Cameron, uma velha ferida que nunca se fechou
completamente.

— Pelo menos me diga que pensará nisso. Passa o inverno comigo em Paris. Me
prometa que pensará, Ainsley?

Ainsley mordeu o lábio para evitar gritar sim! Ela poderia tomar o que ele oferecia e
espremer cada pedaço de felicidade e desfrutar disso antes que terminasse.

Porque ele o terminaria, mas ela pelo menos teria esse breve tempo para recordar.

Cameron se manteve quieto, lendo uma negativa em seu silêncio, e o que ela viu em
seu olhar quase a fez recuar. Solidão, ano após ano, oculto atrás da fachada de um
libertino.

A reputação de dissoluto de Cameron escondendo a um homem quebrado e


atormentado desde há muito tempo, um homem que procurava o prazer físico porque

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sabia que não obteria nada mais da vida. Uma oferta como esta de qualquer outro homem
poderia tê-la feito se zangar e ter insultado Ainsley, mas seus olhos se encheram de
lágrimas repentinas quando Cameron se afastou dela.

— Vista-se — disse com aspereza. — Os jogadores se aproximam.

Ainsley alcançou seus botões.

— Cameron, sinto muito.

— Não o sinta. Se não o quer, não tem porquê senti-lo.

Para sua surpresa, deu-se conta de que o machucou. Para ela, a decisão era romper
ou não novamente o coração de seu irmão, mas Cameron devia ver só a uma mulher que
não queria estar com ele.

Ela tocou sua manga.

— Minhas dúvidas nada têm que ver com você, Cam. Sobre que eu não goste, quero
dizer. Eu gosto muito e sinto te fazer zangar constantemente. Independentemente de tudo
isto, espero que possamos continuar como amigos.

— Amigos? — rapidamente e sem fôlego, Ainsley se encontrou enjaulada novamente


contra a mesa de bilhar. — Não quero ser seu amigo, Ainsley Douglas. Quero ser seu
amante.

Quero me enterrar dentro de você, quero saber que sabor tem aí abaixo, quero sentir
como me espreme e escutar seus gritos enquanto me recebe dentro.

Ah, sim, isso seria... Sim, absolutamente maravilhoso. Quero tanto ser sua amante,
Cameron. Quero-o com tudo o que sou.

— Ser amigos nunca me satisfará — concluiu Cameron.

— Nem a mim, francamente.

— Então, por que diabos o ofereceu?

Ainsley fez um pequeno encolhimento de ombros.

— É melhor que nada...

Cameron grunhiu. E a apanhou dentro de seus braços tão forte que nunca deixariam
que nada mau ocorresse e a espremeu dando um beijo breve e duro.

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— Ainsley, o que vou fazer com você?

— Me emprestar quinhentos guinéos?

— Diabos — Cameron a deixou ir. — Vou te dar o dinheiro, mas se anda insistindo
na elaboração de um documento de empréstimo, entenda que não vou dar. Phyllida
trouxe as cartas?

— Ela as terá amanhã — disse.

Cameron só assentiu.

— Bom. Dentro de pouco as terá e tudo terá terminado. Se tentar te enganar ou te


pede mais dinheiro, diga-me isso e eu tratarei com ela — seu sorriso era feroz. — Ela não
quererá ter que brigar comigo.

A firmeza em sua voz disse a Ainsley que Phyllida não ganharia essa briga.

— Obrigado por sua ajuda, Cameron. Digo-o a sério.

— E eu falo a sério quando digo que te desejo. Tenho a intenção de terminar o que há
entre nós. Depois se deseja convertê-lo em um longo romance, isso já depende de você.
Agora, arrume a roupa.

Ainsley começou a abotoar-se. Maldito homem! Que teve tanta pressa por despi-la,
mas quando chegava o momento de ajudá-la a se arrumar, afastava-se, deixando-a só para
terminá-lo.

Seus dedos roçaram os diamantes à medida que se abotoava.

— E com respeito ao colar...

— Fique-o. Vende-o. Merda! Não me importa o que faça com ele. Simplesmente não
o dê à Sra. Chase em troca dessas condenadas cartas.

Cameron falou descuidadamente, mas Ainsley o viu se preparar para a dor se por
acaso desse as costas aos diamantes. Ele os levaria de volta ao joalheiro ou os atiraria em
uma gaveta enquanto esperava para entregar a seguinte dama em sua lista... Não daria
nenhuma possibilidade para isso. Estes diamantes são meus. Má sorte para essas outras
damas.

— Não me ocorreria deixar que a Sra. Chase pusesse suas mãos ossudas sobre meu
colar — Ainsley enroscou seus dedos na corrente e levantou os diamantes a seus lábios. —

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Obrigado, Cameron. Entesourarei-os sempre.

A noite seguinte, Ainsley usava uma grande peruca branca de uma dama do século
XVIII e o rosto oculto atrás de uma máscara de papel dourada, e se achava esmagada
incomodamente dentro de uma carruagem entre a parede acolchoada e Phyllida Chase,
que devia levar meia garrafa de perfume posta.

Ainsley desfrutou fantasiando-se em sua juventude, inventando trajes que ganharam


os louvores de seus divertidos familiares e amigos. Ela se fantasiou de tudo, de uma
boneca chinesa a um dragão.

Para o dragão vestiu uma cabeça de papel maché que confeccionou ela mesma e
deixou que seu irmãozinho Steven a perseguisse ao redor da casa com uma espada. Para
esta festa a fantasias, o que queria Ainsley era o anonimato. Se alguém presenciasse o
intercâmbio de dinheiro pelas cartas, Ainsley não queria que alguém a reconhecesse.

Não assistiriam Isabella nem Beth, o que fazia sua tarefa um pouco mais fácil. Lorde
Cameron tampouco, até onde ela sabia, o que a fez soltar um suspiro de alívio.

Ela não vira absolutamente Cameron hoje, mas essa tarde Angelo se aproximou em
uma sala deserta e entregou o dinheiro tranquilamente, pressionando-o em sua palma. Era
engraçado que a maioria das pessoas não confiassem nos ciganos, mas Cameron
alegremente enviou um para entregar 1500 guinéos. 1.500! Ao que parece, Phyllida
persuadiu Cameron para dar muito mais.

A incômoda mulher esteve jogando com ambos os lados.

Entretanto, a soma impediria que Phyllida renegasse a negociação, por isso não
discutiu. Ela tentou explicar a Angelo que a Rainha havia emprestado os primeiros
quinhentos e que Cameron precisava renunciar só a mil, mas Angelo retomou seu
caminho, sem prestar atenção.

Morag, que jurou guardar o segredo, ajudou com o traje de Ainsley. Fizeram uma
armação com almofadas que prenderam à cintura de Ainsley, estendendo a saia fluída que
Morag encontrou no sótão.

A saia era de um vermelho brilhante, metros e metros de veludo vermelho que se


agitava à medida que Ainsley caminhava. Sentia um arrepiante desfrute vestindo esse
traje, mesmo que o sutiã de brocado estivesse muito apertado e a peruca picasse um

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pouco.

Phyllida insistiu em que Ainsley chegasse à festa em sua suntuosa carruagem junto
com umas damas e cavalheiros ingleses que a viram na festa na casa de Hart, mas não a
conheciam, e alegremente a ignoraram durante toda a semana e tampouco a reconheceram
agora.

Seis deles estavam apertados no transporte, a mulher junto à Phyllida vestida como
uma pastora, completando a fantasia com um longo bastão, e os três cavalheiros em frente
vestidos como um cardeal, um xeque e um toureiro espanhol. Phyllida escolheu a fantasia
de uma princesa egípcia, ou o que ela devia imaginar que era uma princesa egípcia, e se
vestia toda de seda brilhante e grossa joalheria de ouro com uma peruca negra.

Irradiava sensualidade e conforme o que podia sentir Ainsley presa ao lado de


Phyllida, deixara em casa seu espartilho.

Phyllida e a Pastora riram e flertavam com os senhores sem escrúpulos, durante o


longo trajeto pelo caminho rural. Insinuações sobre a fantasia e o bastão foram
prolificamente trocados.

Um cavalheiro decidiu que era uma ovelha travessa que precisava ser repreendida, e
ele e os outros dois senhores baliram durante o resto do caminho até a mansão de
Rowlindson.

Ainsley nunca foi mais feliz de descer de uma carruagem em sua vida.

Quando desceu Phyllida, Ainsley a afastou para um lado.

— Podemos fazer a troca agora? — as notas pesavam dentro de seu espartilho e


quanto antes obtivera as cartas, melhor.

Então poderia ir para casa, tirar essa peruca absurda e ocupar sua mente com outras
questões, como a malvada oferta de Lorde Cameron.

— Realmente não, querida — Phyllida ria de prazer, mais animada do que Ainsley
jamais a viu. — Estou aqui para desfrutar. E você se vê divina. Veem conhecer nosso
anfitrião.

Os dedos de Phyllida se curvaram ao redor do braço de Ainsley enquanto partiam


até a longa escada na sala aberta. Lorde Rowlindson, um inglês que, segundo Isabella,
comprou o imóvel de um

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Highlander empobrecido e a remodelou, esperava na parte superior. Era alto com


cabelo e olhos marrom escuro, uma cara comum e um sorriso amistoso. Os convidados se
pareciam com ele, inclusive a pastora e seu novo rebanho se comportou decentemente
quando o saudaram.

— Sra. Chase, que encantadora — Rowlindson pressionou a mão de Phyllida e sorriu


com calor genuíno. — Obrigado por honrar minha humilde casa. E por trazer esta
jovenzinha encantadora com você.

Dedicou a Ainsley um amplo sorriso.

— Sim, ela e eu somos grandes amigas — disse Phyllida. — Trata-se da Sra... um...

— Gisele — Ainsley a interrompeu e ofereceu sua mão. — Esta noite, sou Gisele —
ela tentou fazer que sua voz soasse rouca, e seu sotaque francês, mas saiu uma voz áspera.

— Bienvenue, Gisele — Rowlindson tomou sua mão, fez uma reverência e


pressionou um beijo ligeiro na parte posterior da mesma.

— Merci, monsieur — Ainsley fez uma pequena reverência ao mesmo tempo. Ao


menos foi cortês, e seu sorriso não era lascivo. Só amistoso com um toque de diversão.

Rowlindson se voltou para saudar o seguinte conjunto de hóspedes e Ainsley seguiu


Phyllida à sala de desenho similar a uma Catedral, com arcos góticos e repleta de gente.
Phyllida passeava de um lado ao outro, agitando suas mãos para saudar suas amigas
femininas, e fazendo caretas aos masculinos.

Os convidados falavam com vozes estridentes, o ruído tapava seus ouvidos. Perfume
e corpos quentes tornavam denso o ambiente. Phyllida deslizava através da multidão
como uma enguia através da água, deixando Ainsley com suas amplas saias desordenadas
para trás.

Phyllida havia dito que queria fazer a troca na sala de música. Que supunha seria
uma sala pacífica cheia de vasos de barro de plantas e lugares para se sentar. O que
significava uma solidão refrescante.

Ali Ainsley poderia esperar tranquilamente, longe de insinuações sobre ovelhas. O


Céu.

Ainsley abandonou essa sala, mas havia mais hóspedes no salão, que a arrastaram
com eles como uma maré. Foi golpeada e sentiu mais de uma mão em seus seios, antes que

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ela desse com um rincão relativamente vazio junto a uma janela. A janela estava aberta,
misericordiosamente e Ainsley aspirou o ar escocês úmido, mas refrescante.

Um movimento em um recanto próximo chamou sua atenção, e viu um homem e a


uma mulher entrelaçados ali. O vestuário da mulher estava aberto em um V quase até seu
umbigo e o cavalheiro tinha sua cara em seu seio.

A dama por sua vez, esfregava firmemente o meio da perna do homem.

Ainsley se afastou, só para ver o Xeque da carruagem em um divã circular ao redor


de um pilar, com uma dama a cada lado. As mãos das damas perambulando sob o lençol
que servia de túnica, e os três rindo tolamente.

OH, Deus.

Ainsley entendia agora por que Beth e Isabella não mencionaram a festa. Pensou
simplesmente que Hart tinha muito que fazer, mas a verdade é que eram muito
respeitáveis para que os incluísse na lista de convidados de Lorde Rowlindson.

Algumas das pessoas que estavam aqui visitaram também a casa de Hart, mas não
reconheceu à maioria. Muitas damas vestiam trajes como o de Phyllida: de corte solto, sem
espartilho, e com um escandalosamente decote baixo. Outra dama chegou vestida do
século XVIII, mas seu decote era tão baixo que mostrava a cor rosada de seus mamilos.

Maldita Phyllida. Era tão dela decidir fazer a troca em uma orgástica reunião. Se
Ainsley fizesse um alvoroço, possivelmente negando-se a pagar ou tentando roubar as
cartas, poderia expô-la diante de todos.

Que escândalo! A Sra. Douglas, a viúva recatada, uma das favoritas da Rainha, em
uma orgia.

— Cherie — um homem e uma mulher se detiveram diante de Ainsley, ambos


olhando-a de cima abaixo. — Gostaria de nos acompanhar?

A face de Ainsley flamejava.

— Não! Quer dizer, não, obrigado. Me desculpem.

Ela levantou sua saia muito larga e se apressou em se afastar deles. A sala de música.
Agora.

Ainsley caminhou através da multidão, ignorando as más caras daqueles a quem que

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empurrava com suas almofadas. Finalmente saiu da sala de desenho entrando na relativa
calma do vestíbulo e tomou fôlego junto às escadas.

Lorde Rowlindson estreitava ainda a mão dos recém chegados, viu-a e enviou um
sorriso. Era esse sorriso agora sinistro? Não podia decidi-lo. Rowlindson ainda parecia um
anfitrião benevolente, querendo que suas hóspedes passassem um bom momento.

Pensou que seria prudente não pedir a Lorde Rowlindson instruções para chegar à
sala de música e começou a procurá-la por si mesma. As salas de música, adições
modernas a casas antigas, costumavam estar no andar de baixo, provavelmente ao final de
uma ala. Ainsley sujeitando-se ao corrimão de frio ferro começou a descer pelas escadas.

Uma mão forte a deteve. Ela sufocou um grito ao ser arrastada e se viu olhando à
face de Lorde Cameron Mackenzie desmascarada e enfurecida.

Capítulo 12

— Maldição, Phyllida te pediu que se encontrassem aqui?

Quando Angelo informou que Phyllida levou Ainsley à casa de Rowlindson, a fúria
de Cameron foi tal que poderia ter queimado a casa. Rowlindson, era um tipo que
colecionava erotismo, possuía perversões tais, que encheriam volumes inteiros. O homem
desfrutava reunindo às pessoas mais escandalosa do país em sua casa, misturandos-os
com cortesãs tão femininas como masculinos e observava depois dos bastidores o que
acontecia. Observar era a palavra chave, porque Rowlindson vivia para observar o ato,
especialmente quando envolvia a três ou mais pessoas. Também gostava de tirar
fotografias.

Era um passatempo para ele e tinha uma grande coleção de fotos, a qual sempre
estava oferecendo mostrar a Cameron.

O fato de que Phyllida Chase se atreveu a trazer Ainsley aqui o adoecia. Ela o fez
para vingar-se de Cameron, não porque Cameron rompesse seu romance, mas sim porque

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Cam tomou partido de Ainsley com respeito às cartas.

Phyllida poderia ter prometido a Rowlindson acesso Ainsley em troca de permitir a


Phyllida trazê-la. Se Rowlindson tocasse em Ainsley, ou mais provavelmente, deixasse que
outros a tocassem, enquanto fotografava o ato, Cameron o mataria. Cameron poderia
matar Rowlindson simplesmente por contemplar o assunto.

Ainsley parecia mais ou menos intacta à medida que abria caminho até ele, deliciosa
com sua peruca e a máscara. Ela tinha se fantasiado bem, mas Cameron teria reconhecido
esses olhos cinzas em qualquer lugar.

Cameron a desviou de seu caminho descendo pelas escadas, seguindo ao longo de


um corredor e entrando em uma sala de espera. Felizmente, a câmara estava vazia. Cam
fechou a porta e a bloqueou atrás de si.

— O que está fazendo? — Ainsley protestou. — Preciso me encontrar com Phyllida


na sala de música.

— Querido Deus, Ainsley, que demônios te possuiu para vir até aqui?

Estava tão zangado e seus olhos eram tão ferozes. Na sala de bilhar de Kilmorgan,
Cameron a olhou com desejo, mas agora sua fúria era tão forte que toda a sensualidade
ficou esquecida.

— Não sabia que seria esse tipo de festa a fantasia — disse Ainsley. — Realmente
nunca soube que se fizessem este tipo de coisas.

— Fazem-se. As mascaradas de Rowlindson são famosas.

— Bom, não são famosas em meu canto do mundo. Perguntava-me por que Phyllida
queria reunir-se aqui comigo, mas supus que estaria preocupada de que não a pagasse se
não me trouxesse para um lugar onde me tivesse encurralada.

É uma víbora traidora.

— Que é pelo que vai voltar para casa.

— Não até obter essas cartas. Além disso, esse não é meu lar. É o seu. Eu não tenho
um lar.

As últimas palavras saíram mais pateticamente do que pretendia. Ela escutou seu
tom de dor e tentou ocultá-lo, mas já era muito tarde.

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Deu a volta, as amplas saias quase golpearam uma mesinha delicada com um relógio
dourado em sua parte superior.

Rowlindson tinha algumas peças muito finas e de bom gosto, o que era incongruente
com seus amigos e o entretenimento que gostava.

Os braços de Cameron se deslizaram ao redor dela antes de que tivesse dado dois
passos. Não havia nada que os mantivesse a distancia esta noite; seu kilt quente
pressionava sua parte traseira através das saias.

— É sempre bem-vinda em minha casa, Ainsley.

Ele a derreteria. E ela não poderia pagar Phyllida e conseguir as cartas se tornasse
uma poça de água no chão.

Cameron levantou um cacho da peruca e beijou seu pescoço.

— Tenho uma casa em Berkshire, onde treino os cavalos na primavera. Quero te


mostrar ela.

— Soa bonito.

— O terreno é lamacento e frio. Todo plano. Está cheio de ovelhas.

— Maravilhoso! Como se esta noite não tivesse tido suficientes ovelhas.

— O que?

— Não importa — disse Ainsley. — Estou segura de que seus cavalos estão
encantados.

— Estão-o.

Cameron seguiu beijando sua pele, seduzindo-a, o miserável. Voltou-se, suas


almofadas o manteriam afastado.

— Eu adoraria vê-la.

Ainsley não fazia ideia quando teria a oportunidade, mas ela queria conhecer cada
parte da vida de Cameron. Passava os invernos no continente, havia dito Isabella, Paris,
Roma, Mônaco, antes de retornar a seus treinamentos em Berkshire logo que terminava a
parte mais fria do inverno. Em Berkshire, Cameron passava todas suas horas de vigília
com seus cavalos, preparava-os para o início da temporada de corridas em Newmarket.

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Soava bem, uma rotina que cumprir, uma vida com um propósito. Assim por que,
quando ela o olhava, via esse desejo, um vazio?

Os olhos de Cameron se obscureceram quando cavou seu rosto.

— Desejo-a — sussurrou. — Ainsley, maldição, desejo-a tanto.

— Eu também te desejo, se tiver que ser sincera.

O olhar de seus olhos era de desespero e doía em Ainsley ver esse desejo. Mas o
pequeno relógio sobre a mesa estava marcando a hora acordada.

— Não há tempo — sussurrou. Haveria-o alguma vez?

Cameron se sentou em uma das pequenas cadeiras que ali havia e levantou Ainsley
sobre seu colo. A estúpida peruca seguia em seu lugar, mas a pôs a um lado e a beijou.

Ela tinha um gosto tão condenadamente bom. Arqueava-se contra ele


voluntariamente, sua necessidade era tão quente como a própria. Seu sutiã era muito
baixo, o que permitiu ao Cameron tomar um seio que transbordou de seu espartilho. Ele a
queria sem restrições. Queria fechar a boca sobre seu seio, prová-lo e sugá-lo. Cameron se
deu conta que a desejou, durante mais de seis anos e não só porque ela o deixou confuso
aquela noite.

Queria a ela, a Ainsley, à mulher formosa e valente.

Teria seu maldito vestido aberto antes que terminasse a noite e finalmente saberia
qual era seu sabor. Cameron deslizou uma mão até seu quadril, encontrando o recheio que
utilizou para preencher a saia.

— Quero isto fora.

— Será um grande alívio para mim também tirar isso, Ainsley disse enquanto o
beijava.

— Será-o. Completamente. Quero-a nua para mim, Ainsley — dedicou um sorriso.

— E eu quero ver o que leva debaixo de seu kilt — Ainsley estava movendo seus
quadris, acariciando seu pênis.

— Pequeno demônio.

— Não sou uma debutante inocente. Escutei muito sobre os Mackenzies e seus kilts.

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— Eu não gostaria que fosse uma debutante inocente — ele beijou novamente seus
lábios. — Vou corrompê-la completamente.

— OH, céus! — ela sorriu e a mão que tinha apoiado em seu peito se converteu em
um punho. — OH não, é malvado, não deve fazer isso!

Cameron atacava sua boca.

— Safadinha... Um homem poderia se apaixonar por você.

Esse preocupante pensamento foi interrompido pelo timbre do dourado relógio que
estava junto a eles. Cameron quis atirá-lo da sala pela janela.

Ainsley lutou para se desfazer de seu agarre, seu sorriso se esfumou.

— Preciso ir.

Cameron se levantou da cadeira e se pressionou contra as costas dela.

— Você ficará nesta sala. Vou eu a fazer a troca — Ainsley deu um pulo.

— Não seja tolo! Deve ser eu a ir. As instruções de Phyllida eram muito claras. "Só
você, Sra. Douglas, não Lorde Cameron" — Disse.

Cameron pressionou novamente suas costas.

— Vou buscar essas malditas cartas, cada página delas. Tem razão em que Phyllida
Chase é uma víbora. Vai tentar te enganar. Ela não confia em mim, porque sabe que a mim
não pode enganar.

Viu como refletia através de seus olhos cinzas, Ainsley estava calculando os riscos.

— Então devemos ir juntos, disse ao fim.

— Não te permitirei que saia desta sala, não em uma das malditas festas de
Rowlindson. É um homem perverso, Ainsley.

Ainsley se inclinou para ele com um sorriso que fez que seu sangue esquentasse.

— Mas isso é o que todo mundo diz a respeito de você, Lorde Cameron. — Cameron
devolveu o sorriso.

— É verdade, eu sou um homem mau, muito mau, mas de uma maneira diferente.
Quero te penetrar até que ambos fiquemos sem sentidos, e, em seguida, quero fazê-lo
outra vez e de novo.

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Ela se ruborizou em sua candura, mas não ficou nervosa nem se deprimiu. Não
Ainsley.

— Sei que tem razão sobre Phyllida, mas as cartas... — ela parecia infeliz. — Deve me
prometer não as olhar e sim as trazer diretamente até mim.

— Não tenho nenhum interesse nas cartas — Cameron se inclinou sobre ela,
acariciando com seu olhar a sombra entre seus seios. — Onde está escondido o dinheiro?

Ainsley colocou sua mão profundamente dentro do espartilho e extraiu o maço de


notas.

— Isto é tudo.

Cameron pegou as notas, que retinham o calor de seu corpo, coisas afortunadas.

— Não esperava que estivessem perdidas ali abaixo — pressionou um breve beijo em
sua boca e a endireitou. — Fique aqui. Voltarei com as cartas e voltaremos para casa em
minha carruagem.

Ainsley assentiu novamente. Via-se deliciosa, comestível inclusive, com essa peruca
de grande tamanho, seus olhos cinzas sensuais através da máscara. Parecia a melhor das
cortesãs, meio inocente, meio sedutora, o tipo de mulher que mais se demandava nos
bordéis de classe alta.

O tipo de mulher que Rowlindson mais gostava de fotografar sendo tomada por um
ou mais brutos. Ainsley poderia declarar que não era uma inocente, mas não fazia ideia a
respeito das coisas que

Rowlindson e mesmo seus amigos poderiam fazer.

A besta em Cameron despertou, violenta e perigosa, Cameron experimentou com o


álcool, as mulheres e os cavalos para mantê-la a raia. Mas esta noite a besta encontrou um
objetivo a quem dirigir sua ira, e Cameron sorriu. Vira os olhos de Rowlindson quando a
viu descer as escadas. Cameron poderia se divertir um momento quebrando o pescoço de
Rowlindson e talvez o de Phyllida também.

Depois que Cameron obtivesse as malditas cartas.

— Espera — Ainsley voltou a saltar da cadeira. Ela tirou o lenço de Cameron de seu
bolso e começou a limpar os lábios. — Tem carmim na face.

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Cameron dedicou-lhe um sorriso quente.

— Quero o ter por todo meu corpo — Ainsley avermelhou. Bela, bela Ainsley.

Cameron a beijou de novo e depois pegou o lenço e limpou o resto da pintura


escarlate de sua boca, virou e saiu da sala.

Quando escutou o clique da porta fechando-se, Ainsley soltou seu fôlego e caiu na
frágil cadeira.

Qualquer outra mulher vendo um cavalheiro ir ao encontro de sua antiga amante,


poderia sentir-se apreensiva, mas Ainsley só sentiu alívio. Se alguém podia obter que as
cartas fossem entregues, esse era Cameron Mackenzie.

Não era um homem sutil, obteria as cartas, quisesse Phyllida ou não.

Ainsley se sentia um pouco sufocada, mais do que o esteve em muito tempo.


Emocionada e preocupada, e só um pouco assustada a respeito do que pretendia fazer.
Mesmo antes que Cameron começasse a beijá-la nesta pequena sala, Ainsley já decidira
que permitiria a si mesma uma noite com ele antes de seu retorno a Balmoral.

Uma noite gloriosa sendo a amante de Lorde Cameron Mackenzie e depois se


retiraria e voltaria a ser a cinzenta Ainsley Douglas, a irmã obediente e a confidente
confiável da rainha.

Era mais velha, mais sábia e mais conhecedora que quando estava recém saída da
escola, raciocinava. Envolveria-se, como Phyllida havia dito, com os olhos bem abertos.

Ainsley seria prudente, mas por uma noite, seria feliz nos braços de Cameron e
entesouraria o romance para o resto de sua vida. Primeiro, devia esperar que Cameron
trouxesse as cartas. Ainsley observava como o relógio dava a 1:15, marcado com uma
breve badalada, depois a 1:20. A 1:30, renunciou e saltou da cadeira, mas antes de que
pudesse abrir a porta, esta se abriu para dar passagem a Lorde Rowlindson. Era um mau
homem, Cameron o havia dito com uma tranquila certeza. O que se podia dizer a respeito
de um cavalheiro quando alguém como Cameron, que era a ovelha negra da célebre
família Mackenzie, ridicularizava-o?

Lorde Rowlindson não parecia muito perigoso neste momento. Tinha sua mão sobre
a maçaneta da porta e enviou a Ainsley um olhar de preocupação.

— Gisele, não? Está bem?

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Highland Pleasure 03

Ainsley se sentou na cadeira de novo, abanando-se.

— A multidão era bastante entristecedora. Decidi que era uma boa ideia me sentar
em silêncio um momento.

— Acredito ter visto lorde Cameron abandonando esta sala.

— Fez-o. — Ainsley o olhou diretamente nos olhos. Foi ele quem me mostrou onde
podia me sentar tranquilamente.

A expressão de Lorde Rowlindson se tornou preocupada. Entrou completamente na


sala e fechou a porta.

— Gisele, devo dar este conselho por seu próprio bem. Tome cuidado com o
Cameron Mackenzie. Pode ser encantador quando quer, mas não é digno de confiança. Em
realidade, é um homem duro e desumano.

Utiliza às damas até que estas estão desesperadas pelo que ele oferece e depois as
descarta. Odiaria ver que aconteça isso a você.

Um calafrio passou através dela.

— Agradeço sua preocupação, milord. Realmente o faço. Mas estarei bem, não se
preocupe. "Agora, por favor, desapareça."

Não o fez.

— Perdoe minha intromissão. É simplesmente que não quero ver alguém tão jovem
como você ferida. Por favor, permaneça aqui e desfrute de minha festa. Ou, se não gostar
das multidões, podemos nos retirar a meu estúdio privado. Tenho um amigo, é todo um
cavalheiro e muito discreto, que pode unir-se a nós ou não, como desejar. Desfruta da
fotografia?

O que isso tinha que ver com tudo?

— Realmente não sei muito a respeito, exceto para me fazer um retrato. Mas isso foi
há muito tempo — exatamente depois de suas bodas, com o apressadamente
confeccionado vestido de bodas, junto ao John Douglas.

Ainsley descartara os suntuosos ornamentos de noiva para a breve cerimônia; não


houvera tempo.

— É meu hobby — disse Rowlindson. — Desfrutaria muito mostrar isso.

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Highland Pleasure 03

Ainsley ainda não determinara se Rowlindson era perigoso, mas era decididamente
estranho.

— Possivelmente em outra oportunidade.

— Sempre mostro aos novos hóspedes minhas imagens, é mais um prazer para mim.
E depois poderia tirar uma fotografia de você.

Definitivamente estranho.

— Não, obrigado, milord. Retornarei a casa diretamente — Rowlindson deixou


escapar um suspiro.

— Se acha necessário. Minha carruagem está ao seu dispor. Vou ordenar prepará-la.

— Não, não se incomode — Ainsley se acercava da cadeira outra vez. — Fiz outros
acertos. Vou sentar-me aqui até que o criado me chame.

Rowlindson a observou durante um momento, então, para seu grande alívio,


dedicou-lhe uma piscada.

— Uma ideia acertada. Mas se necessitar ajuda ou minha carruagem para levá-la a
casa, deve enviar-me imediatamente alguém para me buscar. Promete-o?

— OH, sim, milord. Farei-o. É você tão amável. "Por Deus, vá-se!"

— E preste atenção a meus conselhos sobre Lorde Cameron. Não importa como a
tente. "Muito tarde para isso."

— Sim, em efeito. Agradeço seu conselho.

A boca de Rowlindson se suavizou com um sorriso.

— Talvez você e eu possamos falar em alguma ocasião. Posso enviar uma mensagem
através da Sra. Chase?

— Não estou segura de que é apropriado — disse Ainsley, tentando soar afetada.

Sua preocupação sobre o decoro pareceu deleitá-lo.

— Serei muito discreto. Boa noite, Gisele.

Rowlindson deu uma piscada final, abriu a porta e por fim, deixou-a sozinha.

Ainsley esperou uns tormentosos dez minutos, dando tempo a Rowlindson para
chegar acima, antes que ela se deslizasse fora dos sapatos de baile e saísse da sala.

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Highland Pleasure 03

Phyllida chegava tarde, como de costume. Cameron esperava nas sombras,


certamente era a uma e meia, quando Phyllida casualmente entrou na Sala de música.
Estava vestida segundo sua ideia do que era uma rainha egípcia: túnica larga e reta que
mostrava cada curva de seu corpo, olhos pintados de negro, joalheria de ouro que
decorava seus braços, pescoço, tornozelos e orelhas.

Deteve-se no corredor, procurando Ainsley. Cameron se aproximou dela por trás.

— Phyllida.

Ela ofegou de maneira satisfeita e então avermelhou.

— Diabos, Cam, que deseja? Disse que só faria a troca com a Sra. Douglas.

Cameron tirou o cilindro de notas de seu bolso e o olhar de Phyllida se tornou


ambicioso.

— Mil e quinhentos? — perguntou. — Como me prometeu?

— Como prometi. Em troca me dá as cartas e nunca mais incomoda Ainsley.

Seus olhos pintados se ampliaram com deleite.

— Agora a chamas por seu nome de batismo. Tão rápido progridem as coisas?

— Tem as malditas cartas ou não?

— Isto é delicioso. A ratinha Ainsley Douglas e o decadente Cameron Mackenzie.


Como se deleitarão as pessoas!

Cameron sentiu que a raiva se intensificava dentro dele.

— Diga uma palavra sobre ela e te estrangularei.

— Sempre foi tão violento. Alguma vez te disse quão emocionante era?

— As cartas, Phyllida.

O olhar de Phyllida foi além de Cameron e seu rosto se iluminou com verdadeiro
prazer, uma expressão que Cameron nunca viu nela antes.

— Aí está, querido. Por favor, veem e me proteja das ameaças de Lorde Cameron.
Você já sabe o que te disse sobre os Mackenzies.

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Highland Pleasure 03

Cameron se voltou para ver a última pessoa que esperava; um jovem alto, de cabelo
negro com a pele escura e olhos escuros como os de um italiano do Sul. Cameron pensou
que vagamente o reconhecia de tê-lo visto no cenário. Na ópera, possivelmente.

— Peça perdão à dama — disse o italiano. Seu sotaque era muito leve, já que seu
inglês era muito bom. — Sei que era sua amante, mas isso agora está terminado.

— Estou de acordo — disse Cameron. — Tudo está terminado. Phyllida, que diabos
significa isto?

— Não é de sua incumbência — Phyllida disse sucintamente. — Ele está aqui para se
assegurar de que não seja enganada — ela se voltou para o italiano. — Carinho, trouxe as
cartas?

Cameron fechou seu punho ao redor do dinheiro, não permitiria a Phyllida pegá-lo
até que desse os preciosos documentos. O italiano rebuscou em seu bolso e tirou uma
pilha de papéis dobrados.

— Não falta nenhuma? — Cameron os olhou. — Ainsley disse que eram seis.

— Estão todas — o homem as sustentou com o braço estendido. — Pode confiar em


que a dama negocia justamente.

Confiar? Em Phyllida? O homem era um bom mentiroso ou Phyllida o enrolou.

Cameron quis pegar as cartas. O italiano as reteve indo para trás.

— Você deve dar à dama primeiro o pagamento. Sim, claro.

— Vamos fazer isto ao mesmo tempo. De acordo?

O homem lhe dedicou uma piscada. Deixou pendurando novamente as cartas e


Cameron fez o mesmo com o dinheiro. Phyllida arrebatou o efetivo e Cameron pegou as
cartas das mãos do homem italiano.

Phyllida deslizou seu polegar sobre o canto das notas.

— Obrigado, Cameron. Espero não voltar a vê-lo outra vez. — Cameron tirou a
primeira carta.

— Espera — disse firmemente. — Não sairá daqui até que saiba que as tenho todas.

— Eu disse...

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Highland Pleasure 03

O italiano ergueu a mão.

— Não. Deixa que as olhe. O traidor sempre acredita que outros o trairão.

Definitivamente da ópera. As frases do homem provinham diretamente dela.


Cameron se sentara em um banco de ferro e analisava a primeira página.

— Não vai ler todas, não? — disse Phyllida com exasperação.

Cameron não respondeu. Demônios, ele leria cada palavra daquelas cartas para se
assegurar de que tinha as cartas em sua totalidade e de que não houvesse páginas faltantes
com as quais Phyllida pudesse chantagear Ainsley mais tarde. Cam mentiu quando disse
que não tinha nenhum interesse nas cartas, mas nunca prometeu realmente não as ler. Era
necessário que as lesse, por seu próprio bem.

Sem dúvida, eram cartas de amor. A senhora que as escreveu as dirigiu a "Meu
amigo mais querido" e depois a missiva fluía com adjetivos altissonantes e frases floridas
que elogiavam o físico varonil deste amigo, sua destreza, sua resistência.

Apesar disso, Cameron pôde ver que o escritor tinha um excelente conhecimento do
vocabulário e a poesia, além de um estilo muito sentimental. A primeira carta era poética,
refrescante, e de frases floridas. Ela assinara, "Para sempre sua amada, Mrs. Brown." Mrs.
Brown?

OH, Maldição.

Cameron abriu a segunda carta a qual pareceu muito parecida com a primeira,
tomando nota das referências do escritor no meio da carta ao comportamento das crianças
e a outros temas domésticos. Mas se tratava em realidade de assuntos internos de um
palácio, e as crianças eram príncipes e princesas deste reino e governantes de outros.

Finalmente entendeu o secretismo e a preocupação furtiva de Ainsley. A amiga sem


nome que ela tentava desesperadamente proteger era a Rainha da Inglaterra.

— É escandaloso, não? — Phyllida disse quando ele guardou a última delas. —


Deveria envergonhar de si mesmo.

— Fez alguma cópia delas? — Cameron perguntou. Que arma poderiam ser se as
utilizasse! Entretanto exigira, olhando-o em retrospectiva, muito pouco. Algo não estava
bem.

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Highland Pleasure 03

— Por quê? — Phyllida se encolheu. — Não estou interessada nas patéticas fantasias
da Rainha.

Cameron se levantou e guardou as cartas em seu bolso.

— Estas cartas poderiam humilhar à Rainha e me entregou por tão pouco?

— Muito generoso de sua parte também. É suficiente para começar, acredito.

— Começar o que?

Phyllida riu e pela primeira vez desde que a conheceu viu a dureza se afastar dela.

— Para deixar meu marido, é obvio. — Ela deslizou desavergonhadamente sua mão
pelo braço do italiano. — Obrigado de novo. Giorgio, Vamos?

Giorgio. Agora Cameron o reconheceu. Era Juan de Giorgio, um tenor que causou
agitação recentemente em Londres. Isabella organizou uma noite para ajudar a lançar sua
carreira, uma dessas reuniões pequenas que a Isabella gostava e que Cameron evitava
como a peste.

Juan observou a Cameron com olhos de um marrom profundo e dedicou uma


cabeçada orgulhosa como despedida antes de se afastar. Phyllida o mantinha sob encanto,
pobre coitado.

Cameron os viu se afastar, Phyllida balançando-se junto ao corpo do homem grande.


Phyllida Chase, que amava seu conforto e sua posição social acima de tudo, estava
disposta a atirar tudo pela amurada para fugir com um jovem cantor de ópera. O mundo
estava se convertendo em um lugar estranho.

Ainda mais estranho para Cameron era sentir-se cada vez mais envolvido com a
senhorita de vermelho contra a qual trombou, sem fôlego e com o rosto rosado.

— Tem-nas? — perguntou.

Capítulo 13

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Highland Pleasure 03

Os olhos de Cameron delatavam sua cólera, mas não repreendeu Ainsley por não
esperar na sala de espera. Deveria ter sabido que ela nunca teria paciência.

Ainsley distendeu sua mão para que desse as cartas, mas Cameron não as entregou.

— Guardarei-as no momento. Não confio em que Phyllida não tente te abordar para
tentar voltar às roubar.

Ainsley manteve sua mão durante um momento, os dedos picavam por sentir as
cartas neles.

— Minha amiga estará muito agradecida pelo que fez.

— Sua amiga, a Sra. Brown? Por Deus, Ainsley! — Ainsley baixou o braço, e abriu
muito os olhos.

— Pedi que não as lesse — recordou-o claramente.

— Fiz-o para comprovar que Phyllida não ficava com nenhuma. Tenho-as todas,
inclusive a página desaparecida.

Era tão alto e parecia tão sério. E estava tão zangado.

— Cameron, por todos os Santos, por favor, não o conte a seu irmão. Hart Mackenzie
é célebre por opor-se a política da Rainha. Não quero imaginar o que faria com essas
cartas.

— Provavelmente as jogar ao fogo.

Ainsley piscou. — O que? Mas ele poderia envergonhá-la, influir na opinião das
pessoas sobre ela, derrubar suas defesas.

— Se acha isso, é porque tem uma visão errada de Hart — Cameron fechou sua
quente mão sobre a dela que estava muito fria. — Hart quer ganhar demonstrando que
tem razão em tudo, não com intrigas de salão e mexericos.

Hart quer ser Deus Todo-poderoso. Não, realmente ele acredita que é Deus Todo—
poderoso, e agora precisa demonstrar aos outros.

Ainsley acariciou com seu polegar os dedos de Cameron, que estavam endurecidos e
calosos por seu trabalho com os cavalos. Não eram as mãos cuidadas de um cavalheiro
que não sustentavam nada mais pesado que umas cartas ou um cálice de brandy.
Cameron trabalhava muito duro nos estábulos, e em qualquer lugar no que fosse

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Highland Pleasure 03

necessário.

Ela beijou um de seus grandes dedos.

— Por favor — disse. — Não conte. No caso de...

— Não tenho intenção. Este não é um maldito assunto de Hart.

Seus olhos brilharam com calor, e Ainsley ficou nas pontas dos pés e o beijou na
comissura de sua boca.

— Obrigado.

Cameron a abraçou e tomou sua boca em um beijo pleno. Enquanto devolvia o beijo,
Ainsley deslizou sua mão dentro da jaqueta de Cameron e tocou as cartas em seu bolso.

Os dedos fortes seguraram com força seu pulso.

— Diabresa.

Ainsley a contra gosto as soltou.

— Quando as recuperarei?

— Quando abandonar Kilmorgan. As entregarei quando entrar em sua carruagem —


Cameron a apertou entre seus braços. — Agora, deixa de jogar. Estou te beijando.

Estava de um humor pícaro, pensou. Beliscou e beijou seus lábios, e ela beliscou e
beijou os seus, mas quando olhou nos olhos, viu uma crua necessidade. Nenhuma alegria,
nada de jogos.

Conteve o fôlego, preparando-se para dizer o que decidiu.

— Quero passar esta noite com você — disse. O calor flamejou em seus olhos.

— Isso espero.

Como podia ele parecer tão despreocupado?

— Mas não entende, quero dizer, aqui?

— Meu Deus, não. Iremos a algum lugar muito mais cômodo e muito menos
asqueroso.

Ela tentou responder em seu mesmo tom ligeiro.

— Pensava que havia dito que a comodidade era a última coisa que teria que levar

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Highland Pleasure 03

em consideração.

— Descarada. Queria dizer que você estivesse cômoda.

— Enquanto me corrompe?

— Maldição, não me olhe assim. Ou não serei capaz de me deter, sem importar onde
estejamos.

O coração de Ainsley pulsou mais rápido. Por que a excitavam tais declarações?

Cameron depositou outro beijo em seus lábios.

— Desça comigo, e iremos em minha carruagem. Não quero te perder de vista —


Ainsley não queria perdê-lo de vista tampouco. Não nesta casa.

— Meus sapatos estão na sala de espera — se perguntou se poderiam recuar e


agarrá-los sem se encontrar com Rowlindson ou com alguém mais, mas seus pensamentos
se interromperam quando Cameron a agarrou em seus braços.

A força de Cameron a deixou sem fôlego. Não vacilou com seu peso, arrastando suas
saias inclusive com as almofadas e tudo. Conduziu-a até a porta da estufa para a
escuridão.

A noite era fria, mas Ainsley nunca teria frio abraçada a Cameron.

— Fez tanto por mim — disse tocando sua face. — Não estou segura de como posso...

— Se começar a falar de compensações, deixarei-a cair nos arbustos — sua voz soava
fria. — Não quero que me devolva o dinheiro, ou sua gratidão, ou que me pague com seu
corpo.

— Se não aceita minha gratidão, então o que é que quer? — sua voz perdeu todo o
humor.

— O que não posso ter.

Ainsley pensou em brincar que certamente um Mackenzie podia ter tudo o que
quisesse, mas algo em seu rosto fez que se calasse. Ainsley viveu suficiente tempo com a
Rainha para saber que o dinheiro e a posição não eram nenhuma garantia para a
felicidade. Faziam a vida mais cômoda e menos desesperada, mas ainda podia existir
tristeza, cólera e solidão.

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— Quero fazer algo — disse Ainsley. — Devo-lhe isso — ela se soltou e gritou
quando Cameron girou e andou a pernadas diretamente para uma fila de árvores.

— Muito bem, muito bem. Não farei nada — Cameron a pôs de pé sobre a grama.

— O assunto das cartas está encerrado. Não o quero entre nós.

— Não, já o vejo — Ainsley não o queria entre eles tampouco. — Mas não pode
evitar que esteja agradecida. Obrigado por sua ajuda, Cam.

Temeu que cumprisse sua ameaça e a arrastasse ao grupo mais próximo de arbustos,
mas Cameron só acariciou sua face com suavidade. Não tinha por que ajudá-la. Poderia
ter exigido o preço que Phyllida pediu, em vez de emprestar o dinheiro. Mas lutou essa
guerra por ela e agora queria retornar ao que existia entre eles.

O chofer de Cameron devia estar esperando, porque uma carruagem rodeou o


passeio aproximando-se com brilhantes luz. Cameron levantou de novo Ainsley e
caminhou com ela nos braços.

Uma multidão de estrelas brilhavam na fria e seca noite.

— Não consigo contemplar este céu, quando estou em Londres — disse Ainsley. —
Está impressionante.

— Está condenadamente frio.

— Como a maioria dos escoceses, queixa-se do tempo, enquanto estamos rodeados


desta beleza.

— De acordo, mas preferiria estar rodeado de calor.

Chegaram à carruagem. Um lacaio se materializou na escuridão e abriu a porta.

— Vamos — Cameron colocou Ainsley dentro, e esta se recostou até afundar-se nas
cômodas almofadas.

Cameron deixou cair uma gorjeta na mão do lacaio, e deu uma olhada a seu chofer,
fez um movimento dando voltas com seu dedo.

— De acordo, senhor — disse o chofer alegremente.

Cameron recolheu a escada e entrou na carruagem que se sacudiu para frente ao


arrancar. Deu uma portada e se sentou ao lado de Ainsley, cheirando a noite e o bom

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Highland Pleasure 03

aroma do ar fresco.

Sem uma palavra Cameron tirou sua peruca e a máscara e as atirou ao assento da
frente. O ar frio tocou a face de Ainsley, e sentiu sua cabeça repentinamente leve.

— Isso está melhor — disse Cameron. — Meu pequeno camundongo retornou.

— Dificilmente pode se considerar um elogio chamar camundongo a uma mulher,


sabe? — sabia que balbuciava nervosa, mas era incapaz de refrear sua língua.

— Esconde-se atrás de minhas cortinas e brinca de correr por meu quarto. O que
outra coisa deveria te chamar?

— Uma vez me chamou furão. Mas não daria um colar de diamantes a um


camundongo ou a um furão. Bom, a menos que fosse muito tolo. Eles tentariam comê-lo
ou o usariam para construir seus ninhos.

— Maldito que me importa para que usa os diamantes — Cameron deslizou seu
braço ao redor de seus ombros e a beijou nos cabelos. — Desde que você goste.

— Eu gostei. São preciosos.

— Sem mais discussões sobre devolvê-los ou aceitá-los?

— Não os aceitaria de nenhum outro cavalheiro — disse com voz decidida. — Mas
por você, farei uma exceção.

Faria condenadamente bem em não aceitá-los de nenhum outro cavalheiro. Golpearei


a qualquer homem que pretenda te dar de presente uma joia. Justo depois que golpei
Rowlindson por te deixar vir aqui esta noite.

Ela tremeu.

— É bastante estranho.

— É asqueroso. Só entende de crueldade. Não de beleza — Ainsley tocou a parede


aveludada da carruagem.

— É um carro muito cômodo. Bastante grande e quente.

— Viajo muito durante a temporada de corridas de cavalos. Eu gosto dos carros de


viagem grandes, sobre tudo se tiver que dormir neles.

— Poderia viajar de trem, certamente. Inclusive com os cavalos.

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Highland Pleasure 03

— Os cavalos não gostam do trem, e a fumaça de carvão é ruim para seus pulmões.

Parecia um pai preocupado.

— É muito amável com seus cavalos.

Cameron encolheu os ombros.

— São animais caros, e me dão tudo o que têm. Os idiotas os arruínam por não tomar
cuidado com eles.

— Também cuida muito bem de Jasmine, embora não seja sua.

— É um maldito cavalo delicado — sua voz denotava desejo.

— Realmente a quer, não é? — perguntou Ainsley.

— Sim — os dedos do Cameron pousaram sob seu queixo e inclinaram sua cabeça
para trás. — E realmente te quero.

— Espero que não pelos mesmos motivos. Não galopo muito rápido.

— Tem muito de diabresa em você, Ainsley.

— Então estava dizendo...

Cameron a fez calar com um beijo.

Lábios suaves, trêmulos e nervosos, mas seguros ao mesmo tempo. Cameron sentiu
sua necessidade de ser sustentada e tocada, seu sorriso. Nunca poderia, nunca, encontrar
outra mulher como ela.

Seu coração se acelerou, seu corpo começou a transpirar na quente carruagem.


Sempre que seduzia uma mulher, Cameron se mantinha tranquilo e sereno, sabia os
passos necessários que devia dar para chegar a breve parte do acoplamento que o
mantinha vivo. A faísca durava pouco tempo, mas era embriagador quando conseguia
chegar ali.

Ele sempre se assegurava de que as senhoras desfrutassem de um grande prazer, era


seu presente por libertá-lo do intumescimento. Pensou que as mulheres frequentemente o
passavam muito melhor que ele, durante o tempo que estavam juntos.

Esta noite estava impaciente, sentia-se torpe pela necessidade. Puxou a cintura da
saia de Ainsley.

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Highland Pleasure 03

— Quero isto fora.

Os alfinetes que mantinham a blusa unida à saia tilintaram no tapete. Quando


Ainsley se inclinou para frente para recolhê-los, Cameron desatou os broches de trás da
saia. Apareceram capas e capas de aveludadas anáguas.

Cameron se ajoelhou no chão diante dela quando tirou a última das anáguas, por
baixo encontrou a desaparecida almofada do sofá. Pôs-se a rir.

— Não tinha anquinhas — disse Ainsley. Puxou da fita que o segurava em sua
cintura.

— Foi ideia de Morag.

Cameron agarrou a almofada e a colocou atrás dela.

— Aí, agora estará mais cômoda.

Ele riu outra vez, sua risada era áspera, Cameron nunca teve os tons aveludados de
seus irmãos. O trabalho no ar frio fez desaparecer sua voz de barítono há muito.

Ainsley se ajeitou contra os velhos travesseiros do sofá com suas brancas meias e os
claros calções de algodão. A risada de Cameron desapareceu quando pôs sua mão em sua
blusa.

— Quantos botões, Sra. Douglas?

— São broches — notava seu quente fôlego no rosto. — Suponho que não soa muito
excitante.

— Não te perguntei como eram, perguntei quantos.

O sorriso travesso de Ainsley cintilou.

— Todos, acredito.

Cameron desfazia já os broches até que a antiquada blusa e o peitilho caíram em suas
mãos. Ainsley usava por baixo um modesto espartilho, e por baixo dele uma combinação
com seda nos ombros.

Cameron dirigiu sua mão sob o espartilho.

— Quero isto fora também.

— Seria um alívio, sim.

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Highland Pleasure 03

Ainsley tremeu quando Cameron afrouxou os cordões do espartilho, recordando a


outra vez, fazia já muito tempo, em que havia sentido sua grande mão como um fogo em
suas costas.

Cam atirou o espartilho longe e Ainsley se encontrou vestida só com sua


combinação, nua diante de um homem outra vez desde há muitos anos.

E que homem. Cameron se ajoelhou diante dela, seu corpo grande enchia todo o
espaço. Sua jaqueta seguiu a seu espartilho e sua blusa ao assento de trás, depois o colete e
o lenço. Desabotoou sua camisa, e contemplou já que era de noite quando deslizou outra
vez em seu quarto procurando as cartas: seu moreno e bem musculoso peito, o kilt que
envolvia seus estreitos quadris, apoiava-se sobre os punhos mostrando seus antebraços.

Fizeram-se evidentes as cicatrizes em seu grosso pulso, aquelas queimaduras que


alguém fez há muito, uma dor deliberadamente infligida. Ainsley odiava a quem quer que
o tivesse feito.

Sabia por seus irmãos, que os jovens na escola às vezes torturavam uns aos outros,
supunha que para demonstrar quão machos eram. Mas Cameron não parecia do tipo que
se deixava agarrar por valentões que apagavam seus charutos em sua pele.

Ainsley agarrou sua mão, levantando seu pulso, e beijou os sinais de queimaduras.
Sua pele era lisa exceto onde as cicatrizes a franziam.

Ele protestou.

— Não faça isso.

— Dói-me vê-lo ferido — disse ela suavemente. Cameron apoiou as mãos a ambos os
lados.

— Deixa de ser amável, Ainsley. Não enquanto estou tentando te deslumbrar.

Ainsley sorriu.

— Se quiser que seja pouco amável, certamente posso obtê-lo.

— Duvido-o. Mas eu gostaria que envolvesse suas pernas ao redor de minha cintura.

— Mas ainda levo minha combinação.

— Sei, condenada diabresa.

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Highland Pleasure 03

Cameron deslizou as mãos sob suas coxas, levantou suas pernas, e as envolveu ao
redor de seus quadris. Ainsley notava através de seus calções, a quente lã de seu kilt e sua
dura ereção sob ela.

— Esta é minha moça — notava quentes as mãos em suas pernas, enquanto as


deslizava até suas nádegas e se balançava contra ela.

Ainsley se sentiu estremecida e quente ao mesmo tempo, nervosa e feliz. Devia


ocorrer. Era uma cortesã dissoluta essa noite, como seu imaginário personagem, que
frequentava os salões de Paris e tinha aos homens mais bonitos da França atrás dela. Mas
não queria nenhum rico parisiense, queria Cameron, seu poderoso e difícil escocês.

— Deixa de rir — disse contra sua boca.

Ainsley acariciou sua face.

— Sem risadas. Pergunto-me como planeja me violar nesta estreita carruagem. O


calor que viu em seus olhos ao respondê-la, disparou seu coração.

— Não sei ainda. Nunca estive com uma senhora neste carro.

— Nunca? — o coração de Ainsley golpeou mais rápido.

— Nunca ninguém até que chegou você, diabresa

— Bem.

Cameron deslizou uma mão por seu cabelo, tirando as forquilhas, deixando as
mechas caírem livres sobre seus ombros.

— Eu gosto de seu cabelo — disse Cameron. — Sempre quis vê-lo solto.

— Sempre o encontrei um pouco difícil de domar.

— Não o quero domado — Cameron estirou um cacho de cabelo, beijando-o. —


Quero-o selvagem. Quero-a selvagem, Ainsley. Sei que está aí em seu interior — ele pôs
sua mão entre seus seios, diretamente sobre seu coração.

— Selvagem? Eu? — disse tentando parecer inocente.

— Trabalho com cavalos todo o dia, cada dia. Sei os que estão contentes de andar a
passo lento e quais se arrebentam para romper suas correntes e correr livres.

— Como Jasmine.

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Highland Pleasure 03

— Exatamente como Jasmine. Eu te olho e vejo o fogo, carinho. Esconde-o atrás da


roupa apagada, e pretendendo ser muito obediente, mas o fogo transpira de seu interior. É
uma mulher apaixonada, quer correr — a voz de Cameron se abrandou, mas ainda era
áspera e profunda. — Por que não te permite correr?

— Ninguém me quer — disse ela. — Ninguém exceto você.

Cameron apertou ambas as mãos com a sua.

— Reconsidera minha oferta, Ainsley. Veem a Paris comigo. Levarei-a a Nice, a


Monte Carlo, a Roma se quiser.

Vestirei-a com roupa formosa e passearemos em uma carruagem puxadas por


elegantes cavalos, e deslumbrará a qualquer um que nos veja.

Ainsley suspirou feliz.

— Não seria magnífico? Ser convertida em uma dama sofisticada e brilhante?

— Me diga que virá comigo — seu repentino sorriso era perverso. — Diga-o ou farei
que meu chofer pare e te deixarei em um prado escocês de combinação.

— Como se tal coisa me assustasse, milord. Voltaria para casa atravessando bosques
e pântanos, sem me ver obstaculizada por meu apertado espartilho e a falsa anquinhas.

A risada de Cameron encheu o carro.

— Ainsley, deve vir comigo. Diga que virá. Prometa-me isso?

Ela tocou sua face.

— Cameron.

— Merda, não diga que não.

Ainsley começou a falar, mas Cameron pôs sua mão sobre seus lábios.

— Não, agora não. Não me rejeite agora. Pensa nisso. Estarei no trem de Doncaster a
Londres depois da última corrida de St. Leger, para ir ao continente. Se quer vir comigo,
diga-me isso então.

— Agora, deixa de falar, mulher, e me deixe te violar.

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Highland Pleasure 03

Capítulo 14

Precisava tê-la, tocá-la, prová-la. Tudo o que pudesse dela.

Esta noite, em nenhum outro momento. Faria tudo o que pudesse para persuadi-la
que fosse com ele, mas este momento, o desfrutaria.

Desatou o formoso laço que atava a parte superior de sua combinação e deslizou a
renda por seus ombros. Seus seios apareceram à vista, globos redondos, firmes e
apertados. Não os seios pequenos de uma virgem, e sim os maravilhosamente plenos de
uma mulher que cresceram junto com seu corpo.

Ainsley era tão formosa como Cameron sonhou. Segurou um seio reverencialmente
antes de inclinar-se e chupá-lo.

Provou o fogo, sentiu como seu coração pulsava rapidamente. Cameron acariciou
sua pele e golpeou com sua língua a cúpula tensa de seus mamilos. Ela ofegou. Cameron a
tocou com sua língua uma e outra vez, era deliciosa.

— Nenhum homem te provou, Ainsley?

— Não — a palavra saiu ofegante. — Não assim.

— Tolos. São tão bons — Cameron chupou riscando um círculo ao redor da aréola. —
É como o melhor vinho; Ainsley, moça.

Amamentou-se dela gentilmente, depois levou um mamilo entre seus dentes. Ela se
reclinara no assento entre as almofadas, seus olhos meio fechados, os seios nus à luz da
lanterna, as pernas estendidas para ele. Não tinha visto uma vista tão formosa em muito
tempo.

Cameron a beijou entre seus seios, movendo-se para baixo. O ventre dela era suave,
um pouco arredondado, apesar do constante aperto de seu espartilho. Havia cicatrizes aí,
linhas rosas em sua pele, sinais que seu ventre esteve mais cheio que isto.

Levantou o olhar para sua face, e Ainsley ficou quieta. Ela sabia o que ele vira e o
entendeu.

Isabella nunca mencionou que Ainsley dera a luz um filho. Onde estava esse filho

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agora?

A tristeza nos olhos de Ainsley deu a resposta. O bebê não sobreviveu.

Era muito comum, ainda nestes dias, que os filhos morressem ao nascer ou pouco
tempo depois. Mas isso não queria dizer que cada morte não fosse chorada, era uma dor
que embargava a todos.

John Douglas era um velho, talvez sua semente não tivesse sido forte.

Cameron recordou a conversa com Isabella no café da manhã, sua história de que
Ainsley se foi ao continente e retornou um ano depois, casada, para surpresa de Isabella.

Não houve nenhum anúncio, nem sequer uma carta, simplesmente Ainsley McBride
retornou como Ainsley Douglas. Interessante. Não é que fosse perguntar a respeito de
seus segredos nesse momento. Todo mundo os tinha, segredos escuros do coração. A
única maneira de tratar com eles era viver e tentar esquecer.

Cameron deu beijos suaves como plumas ao longo das linhas, as riscando com sua
língua. Desfrutando, provando sua pele, inalando sua essência salgada e doce. Colocou a
língua em seu umbigo, e ela soltou uma gargalhada.

Ela agarrou sua camisa aberta.

— Não é justo que eu seja a única nua. Quero vê-lo.

— Não há necessidade — Cameron podia dar um festim com seus olhos durante
toda a noite com Ainsley. E quando chegasse o momento de culminar, não precisava
despir seu espantoso corpo. Raramente se despia completamente para suas mulheres.

— Sim há necessidade, minha necessidade — Ainsley estava recostada contra as


almofadas, eroticamente nua, deliciosa. — Eu não te escondi nada, meu Cam.

Meu Cam. Maldição. Minha Ainsley.

Podia dar algo, mas não tudo, e a carruagem estava o suficientemente escuro.

Pressionando outro beijo em seu ventre, Cameron se ajoelhou e tirou a camisa.

Ainsley conteve a respiração, seu coração pulsando rápido e forte. Seu homem
MacKenzie era grande, forte... Delicioso.

Só dera uma olhada a seu peito antes, e agora via o Cameron em sua totalidade, era

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um homem enorme, esculpido com firmes músculos, sua pele brilhando suarenta. Era
perfeito, exceto por uma fina cicatriz na clavícula que percorria seu ombro direito. Ainsley
riscou a cicatriz com seus dedos, depois se agachou para beijá-lo. Chupá-lo.

— Ainsley, está ardendo — murmurou. — Quero sentir esse fogo ao meu redor.

Ainsley beijou sua cicatriz uma vez mais, levantou o rosto, e beijou ligeiramente a
cicatriz de sua face.

O seguinte beijo de Cameron foi duro, quente, conquistador. Seus dedos fortes
desabotoaram os botões que mantinham fechados seus calções, e o algodão se deslizou
caindo por suas pernas.

Ainsley pensou que a levantaria e a poria ao redor dele aí nesse momento, mas
Cameron a pressionou de novo contra as almofadas. Separando suas pernas e inclinando-
se sobre seu colo.

E então sentiu sua boca. Ainsley se sacudiu quando Cameron fechou seus lábios e
língua sobre seu mais íntimo lugar. Subiu as pernas, flexionando os joelhos até que seus
pés descansaram no assento. Estava completamente aberta para ele, mas não se sentia
envergonhada, só sentia calor e se queimava de necessidade.

A carruagem se inclinou, mas Cameron não se deteve. Ainsley puxou seu cabelo
enquanto ele continuava lambendo e chupando mais forte. Estava dolorida por ele e a
fricção de sua língua era gloriosa.

Sua boca era quente, sua língua hábil e rápida, e roçava as coxas com suas perversas
costeletas.

Ela estava desmoronando, os ruídos que fazia se amorteciam nas paredes


acolchoadas.

Cameron continuava e continuava, Ainsley não podia ver, ouvir nem respirar. A
única coisa que existia no mundo para ela era a boca de Cameron, o calor de sua
corpulência tão perto dela, fogo escuro se expandiu através dela.

— Cam, por favor.

Ainsley não sabia por que rogava, somente sabia que o queria contra ela, dentro dela.
Para sempre.

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Cameron levantou a cabeça e acariciou seus lábios com seus dedos.

— Doce Ainsley. Ninguém fez isto tampouco?

Ela sacudiu sua cabeça, estava além das palavras.

— Os homens são uns tolos — disse. — Deixar ir quando poderiam ter isto.

Cameron passou os dedos pelos cachos entre suas pernas.

— Esta doce e molhada para mim, minha Ainsley. Molhada e pronta.

Colocou para um lado as dobras de seu Kilt, e não, não vestia nada debaixo deste.
Somente seu pênis longo e escuro.

As dobras do tartán se interpuseram no caminho de Ainsley, mas facilmente o


encontrou. Sorriu e colocou sua mão a seu redor, sem esconder seu prazer pelo quente,
duro e grande que era.

Cameron era um homem grande, tudo nele era grande, até aí em baixo. Cameron
gemeu quando Ainsley o apertou, um homem estreitamente controlado como ele, estava
se desmanchando por ela. Ele a estudava com os olhos meio fechados, suas faces
ruborizadas.

Desfrutando do que o fazia, e permitindo-se desfrutá-lo.

— É bastante... longo — disse. — Alguma vez o mediu?

Uma faísca brilhou nos olhos de Cameron.

— Não.

— Deveria trazer uma fita para medi-lo então.

Cameron se apoderou de seu pulso em um forte agarre.

— Não vai a nenhuma parte para procurar nada, não neste momento.

Ele tirou a mão e a levantou do assento.

A lã de seu Kilt a picou quando Cameron se moveu entre suas pernas. A ponta de
seu pênis tocava sua entrada, e Ainsley se revolvia de necessidade. Seu corpo queria
apertá-lo, queria levá-lo dentro, ter tudo.

— Não tão rápido, amor — disse Cameron. — Não quero te machucar.

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Ainsley sacudiu a cabeça. Estava além de se importar, além de recordar o que era a
dor.

— Estou preparada — esteve pronta durante seis anos.

— Me para se te machucar. Promete-o.

Seus olhos continham angústia misturada com necessidade, e Ainsley se deu conta
de que sua resposta era muito, muito importante para ele.

Assentiu.

— Prometo-o.

Cameron relaxou, Ainsley pensou que havia dito o correto. Embalou-a em seus fortes
braços, sustentou seu olhar e deslizou dentro dela.

Pertenço aqui.

Pertenço ao interior desta formosa mulher que tem sabor como os sonhos.

Os pensamentos de Cameron se dispersaram, e tudo o que podia sentir era Ainsley,


seu calor e sua essência. Mais e mais fundo dentro dela. Ainsley, te necessito.

Sua respiração se fez rápida, os ruídos abafados em sua garganta, Cameron que
nunca perdia o controle.

Cameron não podia permitir-se perder o controle, nunca, jamais. Mas Ainsley o
roubava. Era estreita, tão malditamente estreita, e ele se deslizava dentro dela tão
profundo que não queria sair jamais.

Beijava seu pescoço, sentindo seus gemidos com seus lábios. Beijava seu rosto, acima
sob seu cabelo. Ainsley fazia formosos sons e Cameron a beijou de novo no pescoço. Sentia
o ligeiro arranhão de

suas unhas em suas costas, Ainsley não se dava conta de que o arranhava.

— Ainsley — dizer seu nome era um prazer.

Cameron não podia se mover muito dentro dela nesta posição, mas seus corpos
estavam apertados um contra o outro. Mais tarde a levaria às almofadas no chão de seus
aposentos, e poderia se mover.

Acariciando dentro e fora da formosa Ainsley. Esse pensamento o excitou ainda

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mais.

Agora mesmo também estava bem. Ainsley tocava seu rosto, olhando diretamente a
seus olhos com seus formosos olhos cinzas. Ela o rodeava, era parte dele e ele dela.

Ainsley não podia acreditar no que sentia. Cameron era grosso e firme dentro dela,
estirando-a, não sentia dor, somente bem-estar. Ele a sustentava suavemente, mas seu
corpo tinha tal poder que a desfazia.

— Se soubesse que sentiria este prazer há seis anos — disse Ainsley. — Não teria
esperado tanto. Teria te procurado — ouviu-se dizer. — Teria te perseguido por toda
Londres como uma tola, e teria rogado que me fizesse isto.

O sorriso de Cameron era quente.

— Malvada, perversa mulher. Darei tudo o que queira, darei isso tudo. Tudo o que
precisa fazer é pedir.

Moveu-se dentro dela, e Ainsley cedeu diante da brilhante e dura sensação.

— Faria-me isto? — gemeu quando deu outro duro impulso. — Cada vez que eu
quiser? Se fosse a Paris com você?

— Infernos, sim — sua voz era grave. — Uma e outra vez, cada maldita noite.
Conheço o prazer Ainsley, e te ensinarei cada pedacinho como nunca o sonhou.

Ela conteve o fôlego conforme pressionava com mais força dentro dela, estendendo-a
mais amplamente.

— Isso estaria bem.

— Há muito, muito mais. Ainsley meu amor — cavou sua cabeça em sua grande
mão, sua respiração enredada com a dela. — Muitíssimo mais. Mas Deus agora... É
formosa. Minha Ainsley. Sempre minha.

Cameron via chegar o final, muito rápido, maldito, maldito. Mas Ainsley o apertava
fortemente, enviando pequenas vibrações acima e abaixo de seu membro. Sua natureza
condenadamente controladora,

queria que enterrasse sua semente profundamente dentro dela. Agora.

— Não — lutava. Não, não, não, não quero parar. Não quero parar nunca.

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— Cameron — era um gemido sussurrado. — Cam, sinto-me tão bem. O que é que...?

As palavras desapareceram conforme alcançou o clímax, seus doces e femininos sons


se perderam. Cameron soltou um grunhido selvagem. Baixou Ainsley rapidamente ao
assento e se deslizou fora dela, seu membro protestando todo o tempo. Puxou um lenço
do casaco atrás dele, envolveu sua dureza, e derramou sua semente neste inocente pedaço
de tecido.

Ainsley não podia recuperar o fôlego. Jazia sem forças contra as almofadas,
agarrando-se a borda do assento para não cair.

Cameron permanecia sem se mover no piso atapetado, sua cabeça inclinada,


pressionando contra si o lenço, seu peito subindo e baixando.

— Cameron, encontra-se bem?

Levantou sua cabeça e mostrou um amplo e quente sorriso. Cameron se levantou


sobre ela, os punhos a cada lado dela, encerrando-a no assento.

— Se estou bem? — seu sotaque das terras altas ressoou. — Claro que estou bem,
moça. Estou melhor do que jamais estive.

— Mas você...

— Saí de você? Sim dessa maneira não te farei um bebê.

— OH, sim, claro — Ainsley não estava segura de se sentir agradecida ou


decepcionada. — Isso foi...

— Muito pouco — seu sorriso se ampliou. — Sei que quero mais. Quero-a toda a
noite, amor.

— Cameron, deixa de me interromper — se sentou com ele, encontrou seus olhos


dourados escuros que continham muito calor. — O que queria dizer é que foi formoso.

— Mas muito rápido. Quero-a toda a noite.

— Sim — Ainsley se dissolveu em um sorriso. — Acredito que isso seria excelente.

Cameron a observava de cima abaixo, seus olhos fixando-se em tudo, o homem


gostava do que via.

— É formosa, moça.

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Seu olhar era como um toque, suas palavras queimavam. Ela ria nervosa.

— Com os dedos muito compridos.

— Se esqueça disso, agora. Quando te vi esta noite, Ainsley, quando me olhou


através dessa máscara e passou sua língua sobre esses lábios pintados de vermelho,
queria-a com tanta força.

Teria te tomado ali mesmo, nas escadas, se tivesse podido. Mostrei uma maldita força
de vontade por não ter sequer te beijado até que te levei a sala de espera.

Ainsley estirou seu corpo flexível.

— Então preciso esconder meu rosto com uma máscara para atrair sua atenção?

— Cuidado comigo, mulher. Mal estou me contendo de te violar de novo.

Cameron grunhiu e depositou um beijo em seus lábios. Ainsley apoiou suas mãos
contra seu peito, sentindo seu coração tamborilando tão rapidamente como o seu. Amava
o quão grande era, poderoso. O quão segura se sentia com as almofadas em suas costas, e
o corpo de Cameron entre ela e o mundo.

— Maldição, Ainsley — disse. — É a mais tentadora e sensual mulher que jamais vi.
Quero permanecer deitado com você toda a noite e todo o dia seguinte. Quero te fazer
coisas e que você me faça o mesmo.

Há palavras mais cruas para o que quero, mas tento recordar que é uma dama.

O coração de Ainsley tropeçou, mas sorriu.

— Agora sinto curiosidade. Diga-me Cameron. Não sou uma frágil florzinha. —
Cameron pôs sua boca em seu ouvido. As rudes silabas pulsando através dela... — foder?
Chupar? Pau, caralho...

Ainsley sentiu uma ligeireza em seus membros, sentia-se flutuar, quente e liberada.

Cameron levantou a cabeça, seu sorriso era tão quente que pensou que escorregaria
do assento.

— Era o que queria ouvir? — perguntou.

— Não me arrependo da pergunta — disse Ainsley sem fôlego.

— Bem — Cameron chupou entre seus seios. puxou suas pernas ao redor dele de

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novo, mas em vez de empurrar dentro dela, manteve-a perto, os dois entrelaçados, cara a
cara.

Ainsley o beijou assim, tal como ele a beijava, ambos provando, chupando,
beliscando, explorando. Muitas sensações sob sua língua, a rugosidade de suas costeletas,
a suavidade de sua cicatriz, o ponto quente e úmido de sua boca firme e perita, de seus
lábios.

Ela beijou suas faces, alisou seus olhos fechados com beijos, mordiscou sua garganta.
Cameron murmurava com prazer e o fazia tudo isto a ela também.

A carruagem cambaleou quando encontrou um buraco no caminho. Cameron a


sustentou tão protetoramente que não sentiu o golpe, mas a carruagem abruptamente
reduziu a velocidade.

— Maldição — grunhiu Cameron.

Ainsley não queria se separar dele.

— Que acontece?

Suavemente Cameron se separou dela e se moveu ao assento do lado do dela.

— Quase estamos em casa.

— OH — Ainsley lutou contra a onda de desilusão.

Cameron alcançou sua combinação e a colocou sobre sua pele nua, depois golpeou o
teto. O chofer, graças ao céu, não os olhou pelo pequeno visor para ver a Ainsley em sua
gloriosa nudez. Só parou a carruagem.

— Por que paramos? — sentiu frio sem ele a seu redor, abraçou a combinação de
algodão sobre seu peito. — Ainda não entramos no caminho, não é? — não havia sentido a
volta de qualquer modo.

— Desço aqui — Cameron colocou sua camisa depois o colete. Fez uma pausa para
beijá-la, deteve-se, e voltou a beijá-la de novo. — Não podemos nos arriscar a que nos
vejam chegando juntos.

Caminharei através do campo e você irá na carruagem até a casa. Vá para cima direto
a seus aposentos. A encontrarei aí.

Ainsley viu de novo o suave cuidado deste homem que parecia tosco, bruto.

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Cameron ia agora para protegê-la e a sua reputação, não desaparecendo simplesmente na


noite, depois de terminar, após obter seu prazer.

— Em meus aposentos? — perguntou. — Não seria melhor nos seus? — sua ala da
casa estava quase deserta, enquanto que Ainsley estava hospedada em um canto da muita
concorrida asa de convidados.

Cameron enredou sua gravata por seu pescoço mas não a amarrou.

— É mais fácil para mim explicar porquê estou na ala de convidados se algo
acontecer.

Ainsley abriu sua boca para protestar, mas Cameron grunhiu.

— Não pode fazer nada sem discutir, mulher?

— Em realidade não. Não estou acostumada a seguir ordens sem as questionar.

— A Rainha da Inglaterra deve ter muito que aguentar, então. Se vire.

Ainsley decidiu fazê-lo sem perguntar por que, e Cameron atou seu espartilho. Fez-o
com grande habilidade, como uma perita dama de companhia.

Cameron a virou e a voltou a beijar, um beijo prolongado e lento.

— É formosa, muito formosa mulher, Ainsley Douglas. E quero te beber toda.

E a ela isso não adoraria? Tocou sua face.

— Breve.

— Muito em breve — outro beijo, e Cameron agarrou sua jaqueta e abriu a porta.

Uma rajada de ar gelado encheu a carruagem, bloqueado um pouco pelo corpo de


Cameron enquanto descia.

— Fodidamente breve — disse.

Empurrou a língua, prometedora e sensual, e depois fechou a porta e se foi.

Antes que Ainsley pudesse recuperar sua alterada respiração, a carruagem


cambaleou para frente. Procurou sua roupa. Fora escutou Cameron partir, seu alegre
assobio ressoava na noite.

Cameron passeou por seu quarto, serviu um uísque, passeou um pouco mais e
pousou seus olhos no relógio. McNab estava estendido na cama de Cameron, como em

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sua casa. McNab golpeava sua cauda quando Cameron passava; logo seus olhos se
fechavam e começava a roncar. Esse ronco soava como uma serra oxidada. Cameron bebia
e caminhava, sem enfocar-se em nada. Precisava dar a Ainsley tempo suficiente para subir
as escadas, dar oportunidade a sua donzela a fazer dramalhões no que a despia e a
ajudava a deitar-se.

Outro quarto de hora talvez. Seu sangue queimava pela impaciência.

Sentindo uma e outra vez o calor de Ainsley a seu redor, ouvindo sua risada. Seu
assombro quando alcançou o clímax disse que nunca teve um orgasmo antes.

Cameron não podia mais que sorrir contente de saber que foi o primeiro em obter
que o tivesse.

Sabia que deveria terminar com ela, tendo por fim obtido o que queria desde essa
noite há seis anos nesse mesmo quarto. Provocação alcançada, jogo ganho.

Pelo menos deveria terminar por essa noite, satisfeito e adormecido, preparado para
fazer planos para o treinamento da manhã. Mas passeava e queria de novo Ainsley. Não
só esta noite, mas também noite após noite.

A convenceu de ir a Paris com ele. Não existia nada que a retivesse, mais que um
trabalho penoso para a Rainha e deveres para com seu irmão e sua cunhada, isso
significava esconder-se enquanto ia apagando e ia sendo esquecida.

Ainsley era muito vibrante para ser esquecida. Cameron a levaria a Paris depois a
Mônaco. Vestiria-a com os vestidos mais custosos, daria joias que adoeceriam de inveja a
qualquer outra mulher no continente. Levaria-a aos mais finos restaurantes, aos melhores
teatros e a deixaria divertir-se. Depois se retirariam à casa que teriam alugada no melhor
distrito e observariam as luzes da cidade.

Ainsley era encantadora, entregava-se de todo coração ao que fazia, estivesse


ajudando a Isabella a organizar os hóspedes para o Hart ou procurando cartas
comprometedoras para a Rainha da Inglaterra.

Cameron a veria tomar Paris como uma tempestade. Daria elegância às brilhantes
noites em Paris, estaria a seu lado nas mesas de jogo em Monte Carlo. Era uma formosa,
tentadora mulher, e Cameron queria estar com ela tudo o que pudesse.

— Que se vá tudo ao inferno. Deixa-me louco. E Merda, não posso deixar de desejá-

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la.

McNab abriu um olho, viu que nada interessante aconteceu, e o fechou de novo.

O cão ficou alerta um momento depois ao mesmo tempo que Cameron escutou
passos apurados no corredor, McNab deu um latido esperançado, então alguém golpeou a
porta.

Maldição, disse que ficasse ali.

— Senhor — Angelo o chamou através da porta. — É Jasmine. Acredito que deveria


vir.

Capítulo 15

Jasmine estava no meio de sua baia, com suas patas dianteiras dobradas, agitada.
Cameron deslizou dentro, o calor de seu corpo se foi evaporando e transformando-se em
medo.

Não eram cólicas ou gases, se fossem Jasmine estaria dando voltas em agonia ou
tentando rodar sobre si mesma. Em vez disso, estava abatida, sem levantar a cabeça
quando Cameron percorreu seu corpo com mãos peritas.

— O que acontece, garota? O que acontece minha moça, em?

Agarrou um esporão, e Jasmine levantou rapidamente a pata. Cameron a sustentou,


Jasmine aproveitou a oportunidade para recarregar todo seu corpo sobre ele. A pata não
estava nem quente, nem suave ou cheia de pus. O casco parecia sólido e estava bem.
Examinou suas outras patas, mas as quatro pareciam estar bem.

Cameron a colocou sob a última, Jasmine suspirou desiludida de que ele não a
sustentasse por mais tempo. Quando levantou sua cabeça, caíam mucos do nariz e a boca
que gotejaram na camisa branca de Cameron. Era a viva imagem da miséria.

Cam acariciou seu nariz e girou para os ajudantes do estábulo que apareciam sobre a

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cerca.

— Não são gases ou cólica, e parece que nada está quebrado.

Angelo deixou que seu escuro olhar cigano escorregasse sobre o cavalo, a examinou
assim que notou o problema, mas não se ofendia que Cameron a examinasse de novo.

— Pode ser veneno — disse um dos ajudantes.

O coração de Cameron se contraiu.

— Deus não o queira. Esteve alguém por aqui esta noite?

— Não, senhor — disse Angelo. — Mantemos uma boa vigilância.

Os outros ajudantes assentiram. Os homens trabalhavam para Cameron ou Hart há


anos e Cameron duvidava de que alguém os tivesse subornado, ambos os irmãos, Hart e
Cameron pagavam altos salários e os homens se orgulhavam de sua lealdade. Amavam os
cavalos tanto como Cameron.

— Não há nada a fazer, só esperar — disse. — O que comeu?

Angelo sacudiu a cabeça.

— Nada esta noite. Tentei dar um pouco de aveia e não a quis, nem feno de boa
qualidade.

Sempre era um mau sinal quando um cavalo não comia. Adoravam comer, era sua
razão de existir.

Os humanos poderiam pensar que domavam cavalos, refletiu Cameron, mas os


cavalos sabiam que eles treinavam aos humanos para que os alimentassem.

— Poderia ser uma pneumonia — disse Angelo, com olhos tristes. — Ou gripe. Não
sabemos o que pôde pegar quando escapou e percorreu os limites da propriedade.

A explicação de Angelo era a mais provável. As colinas escocesas eram mais frias que
as do lar de Jasmine perto de Bath, e se pegou frio em suas aventuras podia ter se
complicado com algo pior.

— O que acontece com os outros cavalos? A gripe era uma enfermidade que fazia aos
cavalos tossir e espirrar, similar à gripe humana, poderia-se estender rapidamente, e
embora não fosse mortal, os cavalos não podiam correr até que a enfermidade não se

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curasse. A pneumonia era outra questão. Jasmine poderia morrer essa noite se a tivesse
contraído.

— Os outros estão bem — disse Angelo.

— Tragam água morna — disse Cameron. — Eu a esfregarei.

— Já estão trazendo água morna — é obvio, Angelo enviou alguém já.

Cameron tirou a jaqueta, enrolou suas mangas e alcançou a escova.

Escovar os cavalos era bom para a circulação e para mantê-los quentes. Podiam ir
buscar o veterinário, mas sem dúvida diria o mesmo que Angelo e Cameron concluíram.

Grandes garrafas de tônico esperavam na sala de fornecimentos, mas Cameron não


queria dar medicamento até saber com o que estavam tratando. Mantê-la morna era a
primeira coisa a ter em conta.

Jasmine não reagiu muito enquanto Cameron a escovava, exceto para descansar a
cabeça em seu ombro. Angelo chegou com mantas, que colocaram a seu redor. Tiveram
que dar a água através de uma sonda, porque se negava a tomá-la.

A noite a princípio estava fresca e depois fria, e Cameron recordou com pesar o
quarto quente com o fogo e o corpo de Ainsley junto a ele. Mas também sabia que quando
contasse a Ainsley amanhã porquê não fora, o entenderia.

Não só o entenderia, exigiria que a mantivesse informada do estado de Jasmine.

Não podia pensar em nenhuma outra mulher que não se zangasse por ser eclipsada
por um cavalo, mas sabia que Ainsley pensaria que estava bem que ficasse com Jasmine.

Cameron terminou e saiu do cubículo. Jasmine mostrou a cabeça sobre a porta,


procurando o Cameron, e ele a acariciou o pescoço.

— Tudo está bem, moça. Não te deixarei.

Angelo fora buscar uma manta, uma camisa limpa e outra jaqueta para Cameron.
Cam se perguntava o que faria sem Angelo. O cigano a quem resgatou de uma morte
segura uma noite perto de seu imóvel de Berkshire.

Um grupo de homens de Hungerford haviam encurralado Angelo quando tinha 18


anos e o encontraram roubando comida para levar a sua família, que esperava em um
navio no canal.

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Tiraram a comida e começaram a bater, sacando facas para se assegurar de que o


cigano ladrão não vivesse para ver a manhã.

Isto havia acontecido não muito depois da morte de Elizabeth, quando Cameron
acabava de comprar o imóvel. Cameron montava ao amanhecer, bêbado, sem poder
dormir.

Dera bem-vinda à oportunidade de unir-se a uma briga, fez fugir os aldeãos, levou
Angelo a casa e deu comida para sua família de sua própria cozinha.

Levou Angelo ao navio que o esperava em Kennet, no canal Avon, que estava
transbordante de gente, os pais de Angelo, avós, irmãos e irmãs e uma dúzia de crianças.

Cameron o deixou ali, assumindo que seria a última vez que o veria, mas Angelo
retornara aos estábulos de Cameron não muitas semanas depois. Não havia um melhor
treinador de corridas no país que ele, afirmou Angelo. Além disso, conhecia todos os
truques. Ele protegeria os cavalos de Cameron em troca de um lugar para dormir e
ocasionalmente de dinheiro para dar a sua família.

Assim foi como começou, mas Angelo provou ser mais competente e leal que
qualquer pessoa que Cameron tivesse conhecido. Agora Angelo cuidava de Cameron com
a mesma intensidade. Angelo conhecia os estados de ânimo de Cameron e o que os
provocava, sabia de seus pesadelos e escuras lembranças, e estava sempre aí com uma
bebida ou uma beberagem para dormir ou somente um ouvido para escutar.

Sem Angelo, Cameron sabia que teria se tornado louco fazia tempo.

Angelo entregou a manta e uma caneca de brandy para Cameron e se envolveu em


outra, sentando-se no canto a observar.

Apesar de sua preocupação pelo cavalo, Cameron se sentiu livre, morno ainda, cheio
com a sensação de Ainsley. Estava meio tonto com o uísque que bebeu enquanto ia e
vinha, e quando se deslizava em uma sonolência, chegou-lhe o aroma e a alegria de
Ainsley.

Mas a que teve foi o recorrente pesadelo a respeito de Elizabeth. Depois do


nascimento de Daniel, Elizabeth caiu em uma severa melancolia. Quando saía dela, a
primeira coisa que tentava fazer era machucar Daniel.

A babá e as donzelas em Kilmorgan o protegiam ferozmente, mas Elizabeth podia ser

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muito ardilosa.

O sonho de Cameron se dirigiu ao fatídico dia quando se apressou em seu quarto ao


ouvir os gritos de Daniel, e a viu se aproximar com a faca na mão. Elizabeth a roubara
cedo esse dia da coleção do pai de Cameron, o que queria dizer que o planejou. Sentou-se
a esperar no quarto de Cameron com o Daniel como refém, tentando matar a ambos.

O sonho trocou do golpe à dor quando Elizabeth cortou com a faca a face de
Cameron e se voltou para o indefeso Daniel na cama.

Cameron recordou o ataque de pânico enquanto se dirigia para Daniel e rolava pela
cama com ele. Teve que lutar com Elizabeth quando se levantou, tentando manter a já
sangrenta faca longe de Daniel. Não recordava o que gritou ou o que fez, mas Elizabeth
tropeçara para trás, gritando obscenidades a todo pulmão. Cameron levara Daniel para
longe ao outro lado do quarto.

Elizabeth havia virado a faca para ela. Cameron escutou de novo o horrível gorjeio
enquanto a faca deslizava dentro de sua garganta, viu o sangue escarlate que se vertia de
seu pescoço para seu vestido.

Ela ficou o olhando fixamente em choque, por último o olhou com uma mistura de
fúria e traição, antes de cair ao chão.

Depois chegaram os gritos quando os ocupantes da casa tentaram entrar no quarto,


os gritos infantis de Daniel, a brusca voz de Hart gritando a Cameron que abrisse a
maldita porta.

Hart quebrara a porta para encontrar Cameron embalando Daniel em seus braços,
desesperadamente tentando tranquilizá-lo, e a Elizabeth no chão em uma poça de seu
próprio sangue.

O sonho de Cameron saltou para frente, ao funeral. Cameron vestido de negro


rigoroso, o vento agitando a braçadeira de luto que pendurava de seu alto chapéu. De pé,
rígido, diante de seu pai e de

Hart enquanto o vigário escocês resmungava a respeito da crueldade desta vida


transitiva, e como Elizabeth recebera a alegre bem-vinda como uma irmã na seguinte.
Recordava como grunhiu seu pai, assim que o vigário terminou, que Cameron fazia um
mau negócio. Perder a sua esposa antes que pudesse parir mais bebês.

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Se Cameron tivesse controlado Elizabeth, disse o velho duque, teria sido mais
obediente e não uma maldita puta.

Hart havia se voltado e acertado seu punho na cara de seu pai, enquanto o vigário
observava tudo com horror. A voz de Hart estava cheia de ira enquanto dizia a seu pai:

— Esta morto para mim.

Cameron estava aturdido, sem importar em realidade um caralho. Depois subiu as


escadas e disse à babá de Daniel que recolhesse suas coisas, e pegara Daniel e à babá e
foram para Londres essa mesma tarde.

Os sonhos de Cameron foram interrompidos por uma gargalhada feminina e um


perfume que já amava. Abriu os olhos para ver Ainsley, vestida uma vez mais com um
recatado vestido cinza, abotoada até o queixo de novo, dando a Jasmine um bocado. O
cavalo farejou, agarrou-o entre seus lábios da mão de Ainsley e o mastigou.

— Daniel, outro — disse.

Daniel pegou uma segunda torta de aveia de uma cesta e a passou a Ainsley. Ainsley
alimentava Jasmine, que comia com entusiasmo e procurava mais. Angelo se sentou com
as pernas cruzadas em seu canto, os braços em seus joelhos, observando com interesse.

As imagens e sonhos flutuaram fora na fria noite, os pássaros despertavam fora no


jardim. Os olhos de Cameron estavam avermelhados, mas se sentia estranhamente alerta e
descansado.

— Não seria esse meu café da manhã? — perguntou. Ainsley voltou seus formosos
olhos cinzas para ele.

— Foi o que disse a sua cozinheira. Os cavalos de meu irmão Patrick adoram comer
tortas de aveia quando adoecem. É mais efetivo que qualquer beberagem em uma garrafa
negra.

— Se ver que está se animando, papai — Daniel aproximou outra torta ao focinho de
Jasmine, que a comeu com avidez. De seu nariz ainda caía muco, mas seu estado em geral
já não parecia o de uma moribunda.

Os cavalos eram exasperantes. Podiam estar tão bem como a chuva da manhã ou cair
mortos de noite, ou estar perto das portas da morte e se recuperar completamente umas
horas depois.

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Highland Pleasure 03

Jasmine não poderia se sentir melhor alimentada que pela mão de Ainsley. O cavalo
mastigava o seguinte bocado quando Cameron se levantou.

— Está acordado agora — disse Ainsley. — Retorcia-se um pouco quando chegamos.


Pesadelos?

— Nada importante — Cameron se levantou e se colocou ao lado de Ainsley,


absorvendo seu calor. Não podia dizer, sinto por não ir a seu quarto terminar nossa
sedução em frente a seu filho, Angelo e o resto dos homens, mas o olhar que lhe dirigiu
disse que não precisava dizer nenhuma palavra.

— Estão as cartas seguras? — murmurou.

Ele acariciou o lóbulo da orelha quando respondeu.

— Encerradas em meu quarto, e a ninguém está permitido entrar, exceto Angelo, que
é incorruptível — dirigiu um olhar carregado de intenção. Recorda-o.

Ainsley dedicou-lhe um sorriso descarado.

— Terei-o em conta.

Jasmine passou seu nariz pelo peitilho de Ainsley e fechou seus dentes sobre um de
seus botões. Ainsley gritou enquanto Jasmine arrancava o botão. Cameron habilmente o
retirou da boca antes que o engolisse e afastou Ainsley antes que Jasmine alcançasse os
outros.

— Vê? — disse Cameron, passando os braços ao redor de Ainsley por trás.

— Sabe exatamente o que se deve fazer com todos esses botões.

Ainsley e Daniel retornaram para dentro para tomar o café da manhã pouco depois
disso, mas Cameron ficou. O treinamento precisava começar, estivessem doentes ou não
os cavalos.

A rotina nunca parava e Cameron devia levar em conta os outros cavalos


competidores.

Mas se sentia bem. Seus loucos sonhos se dissolveram como a bruma com a luz do
sol, e voltou a recordar como era estar dentro de Ainsley. Jasmine parecia ter superado a
crise, e se, realmente estivesse melhor, Cameron poderia arranjar para passar a noite com
Ainsley. E a noite seguinte, e a seguinte. Todo o inverno em realidade.

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Highland Pleasure 03

Enviaria cabogramas a seus representantes em Paris para alugar a casa que


usualmente usava e contrataria uma donzela para Ainsley.

Esperava que Ainsley retornasse aos estábulos enquanto ele trabalhava, mas não o
fez.

Cameron cavalgou com o Angelo e os outros e não a viu entre os convidados que
foram ver o treinamento. Ao que parece estava de novo trabalhando com a Isabella.

Quando Cameron retornou a casa horas depois para se lavar e se trocar, quase choca
com Beth entrando pela porta principal com gorro e luvas. A casa estava em silencio sem
nenhum convidado à vista.

— Está Ainsley com a Isabella? — perguntou Cameron a Beth. Beth piscou


surpreendida.

— Com a Isabella? Não, Ainsley se foi. Acabo de voltar de deixá-la no trem.

Capítulo 16

Cameron contemplou Beth enquanto a cor abandonava seu mundo.

— Foi? O que quer dizer com que se foi?

— Retornou a Balmoral. Recebeu um cabograma da Rainha esta manhã — sua voz se


abrandou. — Sinto muito, Cam. Não sabia?

— Não, maldição! Não sabia — sem um adeus, sem se incomodar em enviar uma
mensagem.

— Não teve nem tempo para fazer as malas — disse Beth, tirando as luvas. —
Recolheu umas poucas coisas e me pediu que enviasse todo o resto.

— E deixou que se fosse? — gritou Cameron.

O fixo olhar azul escuro de Beth transpassou sua cólera.

— Era uma citação da Rainha. Não podia se negar — ela vacilou. — Recorda quando

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Highland Pleasure 03

me ensinou como montar a cavalo?

— Que demônios tem isso a ver agora? — o mundo caiu aos pés de Cameron, e ele
caía, e caía.

— Foi muito paciente comigo, embora fosse completamente ignorante sobre cavalos.
Encontrou-me um cavalo tranquilo, que fez que me resultasse muito fácil aprender a
montar, e foi devagar. Aprendi a confiar em que não deixaria que caísse. E não só porque
Ian te estrangularia se o fizesse.

— Recordo-o.

— Então confia em mim quando te digo que voltará a ver Ainsley outra vez. E que
tudo voltará a ser como é devido.

Beth assim parecia acreditar, mas tudo estava mau, muito mal.

— Deixou ela alguma mensagem para mim?

— Não — disse Beth compungida. — Mal teve tempo para dizer adeus a Isabella e
me pedir que beijasse aos bebês por ela.

Nenhum adeus para Cameron, nenhuma resposta a sua patética súplica.

Ainsley, deve vir comigo. Me diga que o fará. Prometa-me isso...

— Merda.

Beth tocou seu braço.

— Cameron, sinto-o tanto.

Cameron baixou seu olhar a Beth, sua amável cunhada, mas ainda assim forte e que
fazia ao Ian tão feliz. Começou a responder, mas nesse momento seus confusos
pensamentos se clarificaram em um só.

As cartas.

A exasperante Ainsley nunca teria ido correndo a Balmoral sem as cartas. Se Angelo
as entregou... Cameron deveria ter recordado que ela obteve já que Angelo estivesse de
seu lado.

Sem uma palavra mais, Cameron se dirigiu dando grandes pernadas a sua ala da
casa, subiu a escada de dois em dois degraus, e irrompeu em seu quarto. Tudo estava

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Highland Pleasure 03

como Cam o deixou a noite anterior, inclusive a mancha que o pelo de McNab deixou na
cama. O cão em questão retornava ao quarto agora com ele.

Cameron se lançou através do quarto para sua mesinha de noite. Uma pintura de
uma mulher alegre estava pendurada em cima dela, estava sentada na borda de uma cama
vestida com apenas uma camisa, e sorria abertamente enquanto punha suas meias. Mac
pintara o quadro para ele fazia tempo. Embora Cameron nunca conheceu a modelo que
usou, gostava do modo em que o atrevido sorriso da mulher o saudava a cada manhã.

Agora ria dele, Cameron puxou a gaveta para abri-la. A fechou com chave, mas a
pequena fechadura não era nenhum obstáculo para a habilidade de Ainsley.

A pilha de cartas havia desaparecido.

— Merda — disse Cameron. McNab se sentou a seu lado. — Maldito cão guardião.

McNab moveu a cauda.

Cameron tirou um pequeno papel da gaveta, que não estava ali a noite anterior.
Desdobrando-o, encontrou-se com a letra clara de Ainsley.

"No trem, depois de St. Leger. Darei-te minha resposta".

Não o assinou.

— Papai! — O grito obteve que a cauda de McNab se movesse mais rápido. Cameron
deslizou a nota em seu bolso.

— Papai!

— Ouvi-o da primeira vez — Cameron empurrou a gaveta fechando-a e se virou


para seu filho, que chegava correndo, com seu kilt sujo como de costume.

— Papai, a Sra. Douglas se foi.

— Sei.

— Bom, pois vá atrás dela. Traga-a de volta!

Cameron o fulminou com o olhar, e Daniel recuou preocupado. Cameron controlou


sua raiva, não gostava da violenta frustração que fervia em seu interior.

— Voltou para a Rainha — disse tão tranquilamente como pôde. — Precisou ir.

— Por quê? O que necessita a maldita Rainha dela de todos os modos? Tem muitas

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Highland Pleasure 03

pessoas que a cuidem sem Ainsley.

Cameron estava de acordo. A besta dentro dele queria correr para Balmoral e matar a
qualquer um que ficasse em seu caminho.

— Sei.

— É sua culpa — grunhiu Daniel. — Foi-se, nunca a veremos outra vez, e é tudo por
sua culpa.

— Daniel?

Daniel girou e fugiu do quarto, McNab trotava despreocupadamente atrás dele.

Inferno e condenação. Cameron se afundou na cama sem força. Não dormira em toda
a noite, e sua cabeça estava dolorida pelo uísque, e se esforçava em recordar Ainsley.

"No trem, depois de St. Leger. Darei-te minha resposta".

Cameron mal podia respirar.

Não deixaria que se fosse. Os homens Mackenzie obtinham sempre o que desejavam,
e Cameron teria Ainsley. Não a deixaria partir outra vez, nem pela Rainha da Inglaterra,
nem por qualquer outra razão sobre a face da terra.

A determinação não devolveu a cor a seu mundo, mas se agarrou a ela, enquanto
tirava sua roupa manchada e bramava aos lacaios para que procurassem o Angelo.

A Rainha Vitória abriu a caixa de lembranças que Ainsley havia trazido e deslizou o
pacote de cartas dentro. Fechou a caixa com uma pequena chave que pendurava de uma
fita e a guardou depois em seu bolso.

— Tem-no feito bem, querida — disse a Rainha, com um sorriso tranquilo e satisfeito.

— Desculpe, senhora, mas não deveria as queimar? — a fechadura da caixa de


lembranças era fraca, e a aduladora Phyllida não teve nenhuma dificuldade para roubar as
cartas na primeira vez.

— Tolices. Isso não importa agora que a Sra. Chase está longe.

Sim, mas poderia haver outros com essa mesma vergonhosa intenção, rebateu
silenciosamente Ainsley.

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Highland Pleasure 03

Entretanto, a Rainha tinha razão em que Phyllida Chase já não era uma ameaça. logo
que Ainsley desceu do trem essa tarde, a criada que foi buscá-la, contou a Ainsley o
encantador rumor de que a Sra. Chase fugira ao continente com um jovem tenor italiano.

O rumor foi confirmado em Balmoral por um colega do Sr. Chase. Phyllida escreveu
uma carta a seu marido, declarando francamente que o abandonou e declarando o por
que. O ultrajado Sr. Chase, preparava-se para processá-la, e culpava totalmente o Duque
de Kilmorgan por suas licenciosas festas de vários dias. Ainsley se perguntou como teria
reagido Hart Mackenzie a isto.

Vitória continuou:

— Ouvi que devolveu meus quinhentos guinéos a meu secretário?

— Sim, fui capaz de recuperar as cartas e não gastar seu dinheiro, senhora.

— Muito inteligente de sua parte — a Rainha acariciou sua face. — Tão frugal, tão
escocesa. Sempre teve criatividade, querida, como sua mãe, Deus guarde sua alma.

— Obrigado, senhora.

Ainsley se alarmou ao ver como recuperava seu papel de confidente da Rainha com
facilidade. Vestia de novo de luto, mas não podia deixar de tocar os botões de ônix de sua
blusa e imaginar o malvado sorriso de Cam, enquanto perguntava quantos deixaria
desabotoar.

Ainsley pensou na nota que deixou, pobre recompensa por toda sua ajuda. Mas
quando Ainsley enviou um cabograma à Rainha que conseguiu recuperar as cartas,
recebeu quase imediatamente a resposta de que voltasse ao Balmoral imediatamente.

Cameron estava montando pelos campos com o Angelo e seus treinadores, e Ainsley
sabia que não tinha tempo para esperá-lo e poder dizer adeus. Quando a Rainha dizia
imediatamente, queria-o justo assim. Além disso, Cameron poderia ter exigido uma
resposta nesse mesmo momento, e a mente de Ainsley estava dando voltas à pergunta. Ele
queria que fugisse ao continente com ele, como Phyllida fez com seu tenor, e Ainsley não
fazia a menor ideia do que responder.

Se realmente fugisse com Cameron, como diabos explicaria a Patrick e a Rona? Como
ela tentou dizer a Cameron, não se preocupava tanto pelo escândalo, como a quem faria
mal.

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Highland Pleasure 03

Se estivesse sozinha no mundo, esqueceria-se do escândalo e faria o que quisesse.

Mas Cameron tentava Ainsley. Não era simplesmente a luxúria do quarto, era seu
sorriso, o calor em seus olhos, o modo em que se preocupava com Jasmine, como ajudou a
manca Sra. Yardley levando-a com suavidade pela grama enquanto jogavam criquet.
Ainsley queria tudo de Cameron, ao homem completo.

— Penso ir a Paris, senhora — disse Ainsley. A Rainha piscou.

— O próximo verão, com sua família? É obvio, deve ir. Paris é encantador no verão.

— Não, quero dizer em umas semanas.

— Tolices, querida, não é possível. Temos o baile dos Ghillies no final do mês e há
muito que fazer depois, e depois o Natal.

Ainsley mordeu o lábio.

— Sim, senhora.

À Rainha, nada importava mais que seu real entretenimento, e Ainsley sabia que
Vitória não quereria que se afastasse de seu lado. Vitória sorriu a Ainsley.

— Toca para mim, querida — disse a Rainha. — Me acalma te escutar.

Segurava com suas mãos sua caixa, a cara redonda da Rainha luzia serena agora que
recuperou as provas de seu amor secreto. Ainsley escondeu um suspiro, sentou-se ao
piano, e começou a tocar.

Dois dias mais tarde, Ainsley entrou em um comprido salão e encontrou Lorde
Cameron Mackenzie que estava ali, de pé, de costas esquentando suas mãos na lareira.
Antes que ela pudesse escolher entre escapar ou o enfrentar, Cameron se virou. Seu olhar
afiado a percorreu e não dissimulou que estava zangado. Muito zangado.

— Deixei uma nota — disse Ainsley.

— Maldita nota. Fecha a porta.

Ainsley atravessou a sala sem obedecer a ordem de fechar a porta.

— O que faz aqui?

E por que pareceu tão maravilhoso com o kilt que utilizava para montar a cavalo e
com as botas sujas?

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Highland Pleasure 03

— Vim para visitar minha amante.

Ainsley se deteve.

— Ah.

— A você, Ainsley.

Ainsley ficou sem respiração.

— Não sou sua amante.

— Minha querida, então. — Cameron se sentou em um sofá sem convidá-la a que se


sentasse primeiro, tirou uma cigarreira do bolso de sua jaqueta, e deu um longo trago.

Ainsley se sentou em uma cadeira próxima.

— Faz que tudo pareça uma farsa. Com certeza que não disse a Sua Majestade que
veio visitar aqui a sua amante.

Cameron encolheu os ombros e deu outro trago.

— Ela pediu meu conselho sobre um cavalo, e decidi dar em pessoa.

— Muito inteligente.

— A Rainha gosta de falar de cavalos.

Ainsley sacudiu a cabeça.

— Sim, gosta. Disse que te comunicaria minha decisão depois de St. Leger. Necessito
tempo para pensar.

Cameron cruzou seus pés.

— Mudei de opinião. Quero minha resposta agora.

— Significa isso que veio aqui para me levar com você? Aqui realmente há guardas.

— Não, maldição. Vim aqui para te persuadir.

— É um homem muito arrogante, Cameron Mackenzie.

Cameron guardou a cigarreira em seu bolso.

— Sou um homem fodidamente impaciente. Não entendo por que diabos teve que
voltar aqui para ser a melhor criada da Rainha.

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Highland Pleasure 03

Ainsley estendeu suas mãos.

— Necessito do dinheiro. Não sou uma mulher rica, e não posso esperar que meu
irmão me acolha para sempre.

— Disse isso, darei todo o dinheiro que necessite — Cameron repassou seu vestido
com seu olhar. — Odeio o negro. Por que continua usando-o?

— É o que visto quando trabalho para a Rainha — disse Ainsley. — E o uso porque
John Douglas era um homem amável e carinhoso, que não merece ser esquecido.

— Amável e carinhoso — justo o contrário de Cameron Mackenzie. Algo em seus


olhos conteve sua cólera.

— Você pode ser amável e carinhoso. Vi-o.

— Por que escolheu se casar com o John Douglas? Parece que ninguém entende o por
que, nem seus amigos íntimos, nem sequer Isabella.

Ainsley não queria falar de John com o Cameron.

— Você gosta das intrigas e especulações, não é?

— Apanhei-a camundongo, porque não responderá a uma pergunta direta? Mas me


responda a isto. — Cameron sustentou seu olhar fixo. — Estava grávida dele?

Capítulo 17

Ainsley ficou sem respiração outra vez.

— O que?

— Vi os sinais em seu ventre, Ainsley. Sei o que significam. Teve um bebê.

Ninguém sabia. Só Patrick e Rona, e John. Inclusive os outros três irmãos de Ainsley,
que se encontravam em alguma parte perto de Roma no momento do precipitado
matrimônio de Ainsley, não souberam da história completa.

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Highland Pleasure 03

Ainsley se levantou de sua cadeira, caminhou através da sala, fechou e passou a


chave na porta. Cameron a olhou, sem se mover, quando voltou para seu assento.

— O menino viveu só durante um dia — disse com uma voz tranquila. — Mas não
era de John.

Cameron se manteve sentado muito rígido.

— De quem, então?

— Conheci um jovem em Roma. Apaixonei-me por ele e permiti que me seduzisse.


Acreditei que se alegraria de saber que estava grávida e que se casaria comigo — se
perguntava como fora tão ingênua alguma vez.

— Então me disse que já estava casado, e que tinha dois filhos próprios.

Cameron a contemplou enquanto uma vermelha fúria crescia dentro dele.

Ainsley, a formosa, valente e inocente Ainsley, usada e desprezada por um gigolô.

— Quem era ele? — perguntou.

Ainsley o olhou com as faces vermelhas.

— Foi há tempo, e estou segura de que me deu um nome falso. Era muito jovem e
estúpida, e acreditei em cada palavra que me disse.

— Maldição, Ainsley...

Cameron estava furioso. Queria correr ao continente, encontrar ao canalha e o


estrangular. O tolo egoísta arruinou a vida de Ainsley antes de que tivesse provado algo
do mundo.

— Esse é o motivo pelo qual se casou com um ancião e enterrou a si mesma — disse.

Seu sorriso era triste, cheio de tristeza.

— Patrick e Rona me levaram a Roma para ampliar minha mente com arte e música.
Educavam-me para ser a esposa de um homem escolhido. E depois...

Recordou a face de Patrick quando Ainsley o havia dito... Recordava-o como se


tivesse na sua frente. Mas Patrick, seu bom irmão, deixou a um lado sua desilusão e
cuidou dela.

Ainsley recordou suas noites de pranto, a vergonha, a traição a seu frágil e jovem

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Highland Pleasure 03

amor, e como seu inteligente irmão a emparelhou com um homem quase três vezes mais
velho que ela para salvar sua reputação. Patrick era amável, mas firme, e sabia, porque era
muito realista, a que mundo pertenciam. Rona, embora atenciosa, apoiou Patrick. Ainsley
devia se casar com o John Douglas, e se casar rapidamente.

E devia mostrar ao mundo que estava contente com sua opção.

John Douglas fora à casa que Patrick alugou em Roma, era um homem alto cujo
cabelo loiro estava ficando cinza, seus olhos azuis eram quentes mas mostravam
preocupação.

Ainsley o conheceu antes, mas não prestara muita atenção, era para ela simplesmente
um conhecido de Patrick. Agora ele devia ser seu marido.

John foi muito paciente, e quando Patrick e Rona os deixaram sozinhos, John
Douglas pegou sua mão e a apoiou sobre seu joelho. Seu agarre era quente, estável,
consolador.

"Sei que não sou o que você quer", havia dito. "Uma senhorita quer a um marido
jovem e distinto, não é? E sei o por que de tudo isto. Mas prometo, Ainsley, que por você
farei todo o possível.

Não posso prometer fazê-la feliz, porque ninguém pode prometer isso, não é? Mas o
tentarei. Permitirá-me isso?"

Foi tão amável, tão consciente de que com apenas dezoito anos, Ainsley preferiria se
atirar de uma carruagem que casar-se com um velho, que ela pôs-se a chorar, e acabou em
seus braços que a consolavam e acalmavam.

Compreendeu que era um partido muito estranho, mas era um bom homem, não um
bandido.

Realmente se sentiu protegida com John Douglas. Patrick fazia uma sábia escolha.
Ainsley havia dito a John que é obvio estaria feliz de se casar com ele, e jurou ser tão boa
para ele como pudesse.

Pobre homem, não era culpa dele.

John havia limpado as lágrimas de Ainsley, tirou um colar de prata de seu bolso, "era
de minha mãe", disse, e o colocou ao redor de seu pescoço. Estava ali agora mesmo, sob
seu alto vestido negro bordado.

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Highland Pleasure 03

John pegou a mão de Ainsley e a levou até Patrick e Rona, que tentavam não entrar
na sala. Assim, Ainsley McBride se viu prometida e, na semana seguinte, casada.

— John Douglas deve ter sido um homem admirável — disse Cameron suavemente.

Ainsley elevou a vista, os olhos turvados com lágrimas.

— Era — John aceitou uma jovem grávida como sua esposa, disposto a tratar o filho
de outro homem como dele, e não dizer uma palavra. Sabia que não teria provavelmente
outra possibilidade de se casar e ser pai, esteve por isso de acordo em fazer um favor a
Patrick. — Disse-me isso.

Ainsley não podia ler a face de Cameron. O que pensava ele? Desprezava-a por sua
fraqueza? No John? Entendia o que fez? Tornou-se para frente no sofá, com suas mãos
apertadas diante dele, seus dourados olhos a olhavam.

— Por isso me deixou aquela noite, há seis anos — disse. — Não quis o enganar.

Ainsley assentiu com sua cabeça.

— John não o merecia. Por mais que desejasse ficar com você, ele não merecia a
traição.

— Admirei-a por isso, sabe. Até que soube que era uma ladra e uma bandida — disse
enquanto sorria com cumplicidade.

— Confessei-me culpada de roubar o colar, por uns motivos equivocados. Pensava


que era um chantagista.

— Então estamos nos motivos equivocados.

— Foi difícil te afastar. Me acredite Cameron, quando te digo quão difícil foi.

A voz de Cameron se endureceu.

— Espero que ele tenha apreciado o meu sacrifício dessa noite.

— Nunca soube, é obvio. Devia ter se perguntado, entretanto, se alguma vez o


enganei. Não o fiz.

— Não, sempre foi fiel, estava agradecida.

— Não seja tão condescendente. Estava realmente agradecida. John era bondoso
comigo.

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Highland Pleasure 03

Cameron a olhou com tristeza.

— Ainsley, confia em mim, não era só bondade.

— Sobre tudo foi amável quando minha filha... — as lágrimas corriam por suas faces.
Havia passado muito tempo, mas a perda doía profundamente.

— Sinto muito, Ainsley — a voz de Cameron era amável. — Realmente o sinto.

— Chamei-a de Gavina — levantou sua cabeça, mas não podia vê-lo por entre as
lágrimas.

— Sabe como me senti quando estava tão triste, e todos ao redor me diziam que sua
morte era o melhor? Acreditavam que me faziam me sentir melhor, assim nunca teria que
responder a perguntas difíceis sobre por que minha filha tinha cachos negros enquanto
que John e eu éramos ambos muito loiros... sua voz se quebrou.

Cameron se levantou, elevou-a, apertando-a contra ele com força. Ainsley se recostou
em seu amplo peito e deixou que suas lágrimas caíssem.

Gavina era tão formosa, tão perfeita. Esteve nos braços de Ainsley com o
conhecimento de que ela pertencia a esse lugar. Viveu um dia, um dia maravilhoso, e
depois se debilitou e se foi.

Seu pequeno corpo agora estava em um pequeno cemitério escocês perto dos pais de
Ainsley.

Suas mãos eram cálidas, consoladoras, Cameron era tão alto e tão forte. O homem
que podia obter que o corpo de Ainsley vibrasse na paixão agora sabia como sustentá-la e
consolá-la, permitindo que soubesse que entendia seu pesar. Poderia ficar aí para o resto
de sua vida, nessa sala, em seus braços e ser absolutamente feliz.

A maçaneta se moveu, depois soou um golpe, seguido da voz oca de uns lacaios.

— Milord? Sua Majestade o receberá agora.

— Maldição — sussurrou Cameron.

Ainsley quis dizer o mesmo. Afastou-se de Cameron, limpando os olhos.

— Me procure aqui pela manhã — disse Cameron rapidamente. — Às nove. Poderá


fazê-lo? Sem um maldito protesto?

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Highland Pleasure 03

Queria continuar indagando sobre sua vida, exigindo que explicasse por que não
fugia simplesmente com ele. Mas merecia sabê-lo. Ainsley assentiu com a cabeça.

Cameron se inclinou, deu um beijo duro, e se dirigiu para a porta onde o lacaio ainda
chamava.

— Sim, sim, já vou.

Ele abriu a porta, protegendo Ainsley da vista do lacaio, depois a fechou, e se foi,
deixando Ainsley em paz com suas lágrimas.

Cinco minutos antes das nove da manhã seguinte, Ainsley retornou ao salão, estava
sozinha. Ainda continuava só cinco minutos depois, e quando o relógio do suporte da
lareira tiquetaqueou pesadamente, e os pesados carrilhões marcaram quinze minutos após
as nove.

Cameron não chegou.

Quando o relógio marcava cinco minutos antes das dez, uma criada entrou.
Aproximou-se de Ainsley, fez uma reverência. Ela sustentava um pedaço de papel
dobrado, e disse:

— Para você, senhora.

Sem mostrar nenhum interesse pela nota, o relógio, ou Ainsley, a criada fez uma
reverência outra vez e saiu da sala.

Ainsley desdobrou o grosso papel para encontrar umas palavras escritas com uma
mão firme.

"Daniel nunca fica onde digo que fique. Preciso ir a Glasgow para tirá-lo de um
problema. Você ganhou, camundongo. No trem de Doncaster, depois da última corrida de
St. Leger. O condutor saberá como me encontrar. À bientôt".

Ainsley dobrou o papel, pressionando seus lábios nele, e o guardou em seu peito.

Quando se retirou a seu quarto essa noite, uma vez que a Rainha a dispensou pela
tarde, Ainsley se sentou e escreveu uma longa carta. Enviaria-a à Senhora Eleanor Ramsay
pela manhã, à ruinosa casa do pai de Eleanor perto de Aberdeen. Ainsley enviava bastante
dinheiro para um bilhete de trem de Aberdeen a Edimburgo e disse a Eleanor,
completamente a sério, que devia usá-lo.

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Highland Pleasure 03

Ainsley Douglas e a Senhora Eleanor Ramsay se sentaram uma em frente da outra


em uma mesa que se encontrava em um canto do salão de chá na estação principal de
Edimburgo uns dias mais tarde, o salão estava um pouco vazio tão cedo. Um trem estava
preparado para partir, chiando o vapor, o vulto negro de sua locomotiva parecia um
grande navio.

Ainsley não via Eleanor a bastante tempo, embora as duas se escreviam com
regularidade. Suas mães foram amigas íntimas, enquanto ambas serviam à Rainha. A
Rainha desejou que também Eleanor, de mais alto berço que Ainsley, estivesse a seu
serviço no palácio, mas um choroso Senhor Ramsay pediu a sua filha que ficasse em casa,
e Eleanor não pôde recusar.

O pai da Eleanor não era fraco, mas Ainsley estava de acordo em que o homem
estaria completamente perdido sem Eleanor. Aquele fato poderia explicar por que Eleanor
não recebeu mais pedidos de mão depois de ter deixado plantado sem olhar para trás,
Hart Mackenzie, Duque de Kilmorgan, anos antes.

Eleanor nunca revelou a razão porque quebrou seu compromisso com Hart, embora
Ainsley, conhecendo Hart Mackenzie, fazia alguma ideia. Hart se enfureceu que o
abandonassem e se casou pouco depois com a filha de um marquês inglês.

Sarah Graham morreu tentando trazer o filho de Hart ao mundo, o menino morreu
também. Hart nunca falava de Sarah, nem fazia nenhuma referência a se tinha alguma
intenção de voltar a se casar outra vez.

Eleanor permaneceu silenciosamente em sua casa.

— Obrigado por fazer a viagem — disse Ainsley com carinho.

Eleanor jogou um montão de açúcar em seu chá, moveu-o, e lambeu a colher até
deixá-la limpa.

— Absolutamente, querida Ainsley. Um encontro em Edimburgo para me inflar a


comer bolos é uma das coisas mais emocionantes que me aconteceu no último ano. Todos
vieram comigo à estação para se despedir, o cozinheiro, a criada, o jardineiro. Inclusive
meu querido pai deixou seus livros para nos escoltar, embora teve que deter-se para
recolher cada espécime botânico que via. Colocaram-me no trem e se despediram

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enquanto me afastava, agitando como loucos seus lenços e aplaudindo. Senti-me como
uma princesa.

Eleanor fez uma pausa para beber um sorvo de seu chá, e Ainsley riu, sentindo-se já
melhor.

Nos últimos dez anos, o pai de Eleanor, o conde Ramsay, cujas finanças sempre
foram instáveis, foi se deslizando para a pobreza. Lorde Ramsay escrevia livros sobre
ciência e filosofia, e Eleanor o ajudava.

Mas embora os livros fossem muito elogiados pelos eruditos, não reportavam
nenhum dinheiro.

Nada disto trocou a sincera disposição de Eleanor ou seu senso de humor. Seu cabelo
era dourado com um pouco de vermelho, elegantemente penteado sob seu chapéu
antiquado, e seus olhos eram azuis como a espora do cavalheiro. Olhou a Ainsley com
seus penetrantes e inteligentes olhos, enquanto colocava um bolo com seus longos dedos
em seu prato.

— Bom — disse Eleanor, — em sua carta me dizia que queria meu conselho sobre um
dos enlouquecedores homens Mackenzie. Mas Ainsley, querida, omitiu me dizer de que
Mackenzie se tratava. Não me diga que é Daniel — Falou ligeiramente, mas com os olhos
entreabertos.

Ainsley sentiu um repentino remorso.

— Ah, Eleanor, sinto muito. Supus que deduziria de quem falava. Nunca seria tão
insensível para te pedir conselho sobre Hart.

Eleanor respirou.

— Bem, é um alívio. Eu me preparei para ser generosa e te dizer que te desejava toda
a felicidade do mundo, mas realmente, Ainsley, acredito que teria te arrancado os olhos.

— Sinto muito — disse Ainsley. — Deveria ter esclarecido isso. Não pensei que ainda
sentisse carinho por ele.

— A pessoa nunca esquece o amor de sua vida, Ainsley Douglas, sem importar o que
fizesse para te zangar ou o tempo que tenha passado — Eleanor tomou outro sorvo do chá,
fazendo que sua voz soasse leve.

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— Sobre tudo não quando é mencionado por cada jornal e revista que lê. Mas
deixemos de falar de mim; convidou-me para falar de você. O único homem Mackenzie
sem compromisso é Cameron, assim concluo que é ele. Agora, conta-me tudo.

Ainsley o fez, inclinando-se para frente e relatando toda a história em voz baixa.
Eleanor a escutou enquanto comia uma torta de sementes, avidamente interessada.
Ainsley terminou com a visita repentina de Cameron a Balmoral, e sua promessa de dar
uma resposta depois das corridas em Doncaster.

Quando terminou, Eleanor bebeu a sorvos o chá em um pensativo silêncio. Ainsley


agarrou seu chá, já frio, e bebeu, sem notar sua frieza.

Finalmente, Eleanor deixou sua xícara e olhou Ainsley fixamente com um olhar
afiado.

— O fato é que falamos do pedido de Cameron, sem que tenha se referido a tê-lo
esbofeteado ou mandado ao inferno. Assim, querida, a pergunta é... Quer que te persuada
ou que te dela dissuada?

— Não sei — Ainsley colocou as mãos sobre a face. — Eleanor, não posso partir com
ele, mas ah, se não o fizer... Correrá aos braços da seguinte, não é? Não me faço ilusões de
que queira se casar comigo. Disse uma vez que até odiava o som da palavra matrimônio.
Entendo-o, acredito. Não conheci sua esposa, mas me parece que era horrorosa.

— Era algo mais que horrorosa, querida — disse Eleanor tomando outro sorvo de
chá. — Lady Elizabeth costumava bater nele.

Capítulo 18

A boca de Ainsley se abriu.

— A bater?

— Com um atiçador principalmente — a voz de Eleanor soava tranquila mas


continha uma grande raiva. — Cameron é um homem grande e forte, naturalmente

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poderia tê-la detido, mas geralmente levava a pior parte sobre si mesmo porque tentava
manter afastado o Daniel. Ou, Elizabeth esperava até que Cameron estava bêbado e
dormindo, e então o procurava. Inclusive deu-lhe láudano uma ou duas vezes, disse-me
Hart.

Cameron teve que começar a assegurar-se de não ficar adormecido perto dela.

Isso explicava por que Phyllida Chase dizia que Cameron nunca fodia com uma
mulher na sua cama. O fazia em qualquer lugar exceto em uma cama. Devia ter cultivado
esse hábito, para evitar a possibilidade de que a mulher com quem dormisse despertasse
com um atiçador golpeando suas costas. As cicatrizes de suas coxas de repente ganharam
um significado novo e horrível.

Ainsley se deu conta de que estava apertando com muita força a asa de sua delicada
xícara de porcelana. Depositou-a na mesa.

— Deus Santo!

Eleanor sacudiu a cabeça.

— Elizabeth era uma mulher cruel e enlouquecida, e estava ressentida com o


Cameron por tê-la apanhado no matrimônio. Ela era alguns anos mais velha que Cameron
e segundo Hart, Cam se apaixonou perdidamente por ela.

Imagino que ao ser Cameron filho de um dos homens mais ricos da Inglaterra, que
podia herdar o título se algo acontecesse a Hart, era muito tentador para que Elizabeth
resistisse.

Seus pais não fizeram nada para advertir Cameron sobre ela, estavam felizes de se
livrar da garota. Elizabeth pensou que simplesmente faria o que quisesse, sabe, depois de
casada, com qualquer homem que quisesse e o fez a princípio. Quando Cameron insistiu
em que Elizabeth fosse fiel, ficou incontrolável. Foi um casal desafortunado desde o
começo.

Ainsley pensou no Cameron que conhecia, solitário, pensativo, persistente, sabendo


o que queria e sem permitir que nada se interpusesse em seu caminho. Podia rir, mas
sempre havia um fundo amargo na sua risada.

Cameron tinha uma reputação de foder com mulheres aqui, ali, e em todas partes,
mas nunca se relacionou persistentemente com nenhuma mulher depois da morte de sua

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esposa.

Ainsley assumiu que agia como libertino por aborrecimento, mas a explicação que
Eleanor dava era uma história diferente. Depois dessa esposa tão horrível, que destruiu
toda sua confiança, Cameron não correria ansioso para o altar. Assim era como via
Cameron às mulheres: ambiciosas e egoístas como Phyllida Chase, ou cruéis e
atormentadoras como Lady Elizabeth Cavendish.

— Pobre Cameron — disse Ainsley.

Eleanor sorriu quando levantou sua xícara de chá.

— Tome cuidado, Ainsley. Eles conseguem te atrair, os Mackenzies, primeiro com


sua maldade e, em seguida, com todo seu quebrado coração.

— Por que não se divorciou Cameron? — perguntou Ainsley. — Certamente tinha


motivos. Ou ao menos poderia tê-la encerrado em uma remota casa em algum lugar, longe
dele e de Daniel.

— Precisamente por causa do Daniel — Eleanor preencheu suas xícaras e depois


colocou cinco torrões de açúcar na xícara de chá cheia. — Elizabeth ficou grávida muito
pouco depois de que se casassem, isso a enfureceu.

Nunca quis ser mãe. Estava raivosa, ameaçava fazer mal a si mesma ou tentar se
livrar do bebê. Cameron não queria que se separasse de sua vista, teve que proteger
Daniel, inclusive dela.

Elizabeth tentou dizer a Cameron, repetidamente, que Daniel não era seu filho,
alegando um grande número de homens que poderiam ser seu pai. O problema era, sabe,
que algum deles poderia ter sido. Elizabeth foi muito generosa com seu corpo.

Ainsley recordou o olhar no rosto de Cameron quando encontrou a carta do amante


de sua esposa na gaveta oculta. A ira, a indignação e a velha dor que não conseguiu
acalmar.

Beijou Ainsley justo depois, com desespero, com necessidade de esquecer.

— Acredito que a odeio — disse Ainsley.

— A mim não gostava tampouco — disse decididamente Eleanor. — Cameron tem


um grande coração, e não merece o ter quebrado por alguém como Elizabeth — parecia

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pensativa. — Embora tenha chegado a acreditar que sua necessidade de deitar-se com
outros homens era uma espécie de enfermidade. Meu pai me leu um artigo de uma revista
científica que explicava como algumas pessoas se obcecavam com o sexo, como outros têm
uma fixação pelos jogos de azar ou o álcool. Não podem evitá-lo. Precisam estar com
alguém e experimentar o... Êxtase, vamos pensar que são ou estão um pouco loucos. Meu
pai e eu, decidimos que possivelmente Elizabeth fosse uma dessas pessoas.

Ainsley piscou.

— Santo Céu! Eleanor, seu pai falou disto com você?

— É obvio. Meu querido pai não faz ideia de que essas coisas não deveriam
mencionar-se em presença de uma jovem dama. Tem muito interesse em todos os ramos
da ciência e uma mente aberta, o que significa que podia analisar os hábitos de
emparelhamento das rãs ou dos seres humanos sem sequer suspeitar que possa existir
uma diferença entre eles. Por exemplo, vá.

As rãs se reproduzem de forma bastante diferente dos seres humanos, é obvio.

Ainsley não podia parar de rir. Certamente não podia imaginar que ninguém falasse
dos hábitos de emparelhamento das rãs, não digamos dos seres humanos, sentados à mesa
de Patrick na hora do jantar.

Enfrentaria o silêncio horrorizado de Patrick e Rona. Seu irmão e sua cunhada não
eram gente antipática, mas tinham ideias muito rígidas sobre maneiras e temas adequados
de conversas.

A risada acabou em um suspiro, e Ainsley despencou em sua cadeira.

— O que posso fazer, Eleanor? Penso que Cameron pode aparecer no hotel de Monte
Carlo com diamantes e agarrar minhas mãos me apressando a subir ao trem com ele.

Eleanor sorriu com simpatia.

— Cameron está acostumado a que as mulheres se rendam a seus pés quando dá de


presente colares de diamantes. Não querem a ele, querem seu dinheiro, e ele sabe.

Ele sabia. Cameron era um homem generoso, mas não um estúpido. Sabia
exatamente por que as damas iam a ele.

— Não me importa seu dinheiro — disse Ainsley.

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— Entendo-o, mas apostaria que Cameron não tem a menor ideia de como apaixonar
a uma dama sem suborná-la. Nenhum dos Mackenzies sabe.

Eleanor falava com conhecimento de causa. Hart devia ter sufocado Eleanor com
presentes até que quase não pudesse ver, mas ainda assim o rejeitou.

Ainsley deixou escapar seu fôlego.

— Se rejeito Cameron, sei que o lamentarei o resto de minha vida. Mas se for com ele,
arruinarei minha reputação e desonrarei a minha família — uma vez mais, disse-se. —
Meus irmãos nunca me perdoariam isso.

— Bom, não precisa anunciar que vai com ele, já sabe. Se me desculpar por dizê-lo,
não é a moça mais socialmente proeminente da Grã—Bretanha. Vá incógnita.

Ainsley riu, pensando em seu traje na festa de Rowlindson.

— Com uma peruca e uma máscara?

— Nada tão teatral. Simplesmente deixa que pensem que vai fazer uma excursão ao
continente por seus próprios meios. As damas fazem essas coisas hoje em dia todo o
tempo. Viajam a países longínquos por si mesmas e escrevem livros sobre suas aventuras.
Não é uma senhorita solteira, a não ser uma respeitável viúva. E se encontra com Cameron
em suas viagens, que aconteceria?

Ainsley olhou por cima da mesa a Eleanor, e Eleanor olhou para trás imperturbável.

— Elle... Está me dizendo que fuja com um homem para me converter em sua
amante?

— Estou dizendo que seja feliz. Inclusive se dura só um tempo. Nós devemos agarrar
o que pudermos, quando temos a oportunidade. A vida é muito solitária quando não o
fazemos.

Ainsley se reclinou para trás, dando-se conta de que Eleanor provavelmente não foi a
melhor escolha para se assessorar sobre esta questão. Ainsley esperava uma visão
clarividente da família Mackenzie, mas Eleanor não a possuía, ainda amava com tanta
força um Mackenzie como faziam Beth ou Isabella. Ainsley não quis perguntar a Isabella
ou a Beth, porque sabia que a oferta de Cameron se converteria em uma discussão
familiar, Ainsley não queria isso e sabia que Cameron tampouco.

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Mas ela sabia que Eleanor, embora tivesse rejeitado Hart, não era exatamente
imparcial. Eleanor obviamente lamentava sua decisão de ter deixado plantado Hart,
embora fosse provável que houvesse uma boa razão para isso.

Há dez anos, Hart Mackenzie não tinha uma reputação que digamos boa... Ainsley
ouviu Beth falar sobre a casa que comprou para sua amante, uma mulher chamada Sra.
Palmer.

Visitou a Sra. Palmer nesta casa durante muitos anos, e as coisas que fizeram ali não
foram exatamente convencionais. Depois de que sua esposa e seu filho morreram, Hart
começou a ter um comportamento muito mais tranquilo e mais discreto. Embora havia
permanecido com a Sra. Palmer, até a morte da dama.

Eleanor levantou sua xícara de chá.

— Não é uma ingênua, Ainsley. Sabe exatamente o que conseguirá. Conhece os


homens e o que querem. Conhece os Mackenzies.

Ainsley deixou a torta no prato. Gostava dos doces, mas no momento perdera o
apetite.

— Me diga, Elle. Se fosse você, se Hart te pedisse que te convertesse em sua amante,
poderia fazê-lo?

Eleanor piscou.

— Ele nunca o faria.

— Mas saiamos do reino real e suponhamos que o fizesse. Iria com ele?

Eleanor brilhou com um sorriso.

— Permitir a Hart Mackenzie me encher o pescoço de joias e mendigar por


compartilhar minha cama de noite? Estaria muito tentada. Mas minhas circunstâncias são
um pouco diferentes às suas.

Ainsley soprou impaciente.

— Mas em um castelo no ar, onde todas essas coisas não fossem importantes, Faria-
o?

Eleanor estudou sua xícara de chá por um momento, e quando a olhou, seus olhos
estavam tranquilos.

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— É obvio que eu faria — disse. — Eu faria num instante.

O trem de volta de Eleanor a Aberdeen saía da estação não muito mais tarde, e ela e
Ainsley deixaram o salão de chá para a plataforma.

Eleanor não sabia o que Ainsley faria, mas ela via uma jovem solitária que
necessitava urgentemente de um momento de felicidade em sua vida. Se Ainsley seria o
suficientemente valente para agarrar esse momento, ficava por ver.

Ainsley pressionou a torta que pediu a criada que empacotasse na mão da Eleanor,
agradeceu a visita e deu um beijo de despedida. Eleanor pensou que era próprio de
Ainsley disfarçar a generosidade como gratidão.

Eleanor não era tão orgulhosa para evitar o bolo. Levaria-o a casa de seu pai e o
repartiriam.

Ainsley se apressou pela estação depois de despedir-se, provavelmente tirou o tempo


de qualquer dos muitos recados que precisava fazer para a Rainha. A pobre Ainsley tinha
menos liberdade que Eleanor.

Eleanor ao menos conseguiu manter um círculo de amigos, aqueles que não davam
importância ao dinheiro. Só os muito ricos ou os muito pobres poderiam ser tão
arrogantes, por isso os amigos de Eleanor eram bastante díspares. Eleanor depois da saída
da Ainsley, dirigiu-se pela plataforma até seu compartimento do trem. Escorregou e
quando caía ao chão, agarrou-a uma mão grande e forte.

Todo o ar escapou de seus pulmões, quando ao olhar para trás se encontrou com o
rosto de Hart Mackenzie. O dourado olhar que a estudava era mais amadurecido, um
pouco mais difícil e mais severo, com experiência. Hart tinha um corpo largo e fortes
ombros, cobertos por uma jaqueta perfeitamente adaptada, debaixo da qual levava seu kilt
Mackenzie. A mandíbula de Hart mostrava uma sombra de barba, sinal de que esteve
trabalhando todo o dia, como de costume, mas nem o esgotamento matizava a intensidade
de seu olhar.

Eleanor sentiu algo novo nele, entretanto, uma concentração que não existia antes.
Sabia que a ambição de Hart era tão afiada como sempre, tinha-o lido nos jornais, mas a
esperança e o humor que uma vez aliviaram seus olhos se foram. Era um homem que
sofreu grandes perdas, primeiro sua esposa e seu único filho, depois a de quem foi sua

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amante durante muito tempo.

Parecia que agora só restava a ambição.

— Ouvi falar a respeito da Sra. Palmer — disse Eleanor suavemente. — Hart, sinto
muito.

Seus olhos piscaram surpreendidos, e nesse momento, Eleanor viu o verdadeiro Hart
Mackenzie, o homem que se sacrificou para que sua família não sofresse. Foi Hart quem
forçou o velho Duque a fazer concessões generosas para seus três irmãos menores, para
que pudessem viver independentemente. A seu pai não teria importado que Cam, Mac e
Ian, passassem fome se com isso mantivesse todo seu dinheiro para o Ducado. Como
conseguiu Hart persuadir a seu pai para fazer isso? Eleanor nunca conseguiu descobrir.
Ela era uma das poucas pessoas que sabiam o que fez.

E agora Hart, um homem com tanto poder, tanta riqueza e tanta capacidade, chorava
por uma simples cortesã.

Seu olhar disse que ele não estava seguro de seus motivos, mas assentiu.

— Obrigado.

Eleanor apertou a mão com o coração batendo as asas, sentindo sua força através de
suas luvas.

Hart sorriu de repente, um sorriso que parecia a de um predador a ponto de matar.


Poderia ser um leão a ponto de saltar sobre uma gazela, que não poderia correr o
suficientemente rápido para escapar.

Eleanor tentou recuperar sua mão, mas Hart fechou seus dedos sobre ela com força
inquebrável. O chefe da estação soprou um apito, indicando que o trem estava a ponto de
sair. Hart transferiu seu agarre ao cotovelo de Eleanor e quase a empurrou para cima,
subindo-a ao compartimento, seguindo-a ele a seu interior.

— Este é seu trem? — perguntou Eleanor nervosamente. OH, minha mãe, isso
significa que fará todo o caminho comigo até Aberdeen!

— Não — Hart se colocou no marco da porta aberta até que ela se sentou, o pacote
com a rica torta aterrissou junto a ela.

Ouviram o estridente assobio da máquina e uma coluna de fumaça negra cobriu toda

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a longitude do trem. O vagão se moveu.

— Estamos indo — disse Eleanor agitada.

— Já vejo — Hart meteu a mão em seu bolso, tirou um papel dobrado e a empurrou
em sua mão.

Mas não era um papel, e sim uma nota de cem libras esterlinas. Eleanor abriu sua
mão e o dinheiro caiu no piso.

— Hart, não.

Hart recolheu a nota e o colocou sob o cordão que envolvia a torta.

— Para seu pai, para que investigue sobre seu próximo livro.

Sem se incomodar em andar depressa, tirou uma pequena caixa de ouro, extraiu um
reluzente cartão e o deu a ela. Quando Eleanor não o pegou, Hart o colocou pela alta gola
de seu vestido.

O calor de seus dedos a percorreu, e Eleanor se deu conta de que poderia arder por
esse homem o resto de sua vida.

— Se necessitar me ver por qualquer motivo, dê esse cartão a meu mordomo — disse
Hart. — Ele saberá o que fazer.

Eleanor tentava recuperar o controle.

— Muito, muito, muito amável de sua parte, Sua Graça — a fria fachada do Duque
rachou e desapareceu.

— Eleanor — Hart embalou sua face com as mãos enluvadas e o coração de Eleanor
acelerou, mais rápido do que nunca iria esse trem. — O que vou fazer com você?

Ela não podia respirar. Sua boca estava tão perto dela, seu fôlego queimava sua pele.
Gostaria que a beijasse, mas Eleanor desabaria, e ele saberia a verdade.

Hart tocou a comissura de sua boca, o movimento foi tão suave que ela pensou que
morreria.

O trem se balançou. Hart sorriu a Eleanor, afastou-se dela e saltou à plataforma justo
quando o trem começou a deslizar para frente.

Fechou de repente a porta do compartimento e deu a Eleanor uma saudação vaga

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através da janela quando o trem arrancou. Eleanor não podia afastar a vista dele. Hart
manteve seu olhar fixo no de Eleanor até que o trem saiu da estação e se perdeu de vista.

Uma semana mais tarde, Cameron Mackenzie levantou a cortina da janela do trem
para deixá-la cair a seguir. Não viu nenhuma mulher correndo pela escura plataforma,
ninguém parecido a Ainsley correndo para alcançar o último trem de Doncaster.

— Condenado perfeito final para um dia podre.

Jasmine chegara em sexto em sua corrida, e Lorde Pierson ficara furioso. Acusou
Cameron de perder deliberadamente a corrida e montou uma grande cena, ameaçando
expulsar o Cameron do Jóquei Clube.

Uma vazia ameaça, porque Cam tinha muito melhor reputação no clube que Pierson.

Mesmo assim, um dos treinadores de Cam precisou impedir que Cameron desse um
murro no queixo de Pierson. Cameron fez a oferta uma vez mais, entre dentes,
simplesmente queria comprar Jasmine, mas Pierson se negou.

Fez que seus cavalariços recolhessem Jasmine e a levou.

Jasmine olhou para trás para Cameron como um menino perguntando por que não
podia ficar onde queria. O coração de Cameron ardeu; Merda, apaixonei-me por um
cavalo!

Daniel também estava aflito, mas aceitou docilmente permanecer atrás com Angelo,
enquanto Cameron resolvia em Londres alguns assuntos das corridas, sabia que Cameron
estava ainda zangado por sua aventura em Glasgow. Daniel decidiu, quando seu pai se
afastou de Balmoral, ir a Glasgow por razões que Daniel ainda não havia esclarecido. Ali
uma turma de jovens de rua tentou roubá-lo. Daniel lutou corajosamente contra os cinco,
mas quando chegou a polícia para detê-los, Daniel permitiu que o detivessem em vez de
dizer que era a vítima. Ao que parece ganhou a admiração dos jovens e alegremente
compartilhou seus charutos e o uísque de contrabando nas celas, até que Cameron chegara
para resgatá-lo.

Em vez de sentir remorso por ter deixado Cameron só depois de sua briga com a
Ainsley, Daniel se zangara com ele por não ter trazido Ainsley sobre um ombro e ter
fugido com ela.

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Cameron estava começando a estar de acordo com Daniel, porque não via Ainsley
vir. A Rainha era famosa por manter suas garras sobre as damas que gostava, sem permitir
que se afastassem.

A maldita mulher tinha uns setecentos filhos e netos, mas mantinha a suas damas
favoritas coladas a seu lado, zangando-se quando queriam se afastar para se casar ou
voltar com seus maridos e famílias.

Pouco a pouco todos eles estavam condenados a congelar em vida nessa


monstruosidade que era Balmoral, o recentemente construído castelo da Rainha, que era
tão escocês como o Strudel.

O motor do trem deu um esticão, soprou o apito, as portas golpearam acima e


abaixo. Cameron deu um último olhar à plataforma e, em seguida, deixou cair a cortina de
novo.

Seu vagão de primeira classe era cômodo, por isso poderia dormir bem na viagem
noturna. Sozinho.

O trem deu outro esticão e começou a sair da estação. Seis anos haviam passado
desde o primeiro encontro de Cameron com Ainsley e este, E... Merda! Não podia esperar
outros seis anos.

Cameron se levantou, preparado para abrir a porta e descer. Iria a Balmoral,


procuraria Ainsley e ao inferno com ela.

Abriu-se a porta do corredor, e o revisor se retirou da mesma, permitindo que


alguém entrasse.

— É este, senhora?

— Sim, obrigado — Ainsley falou com uma voz sem fôlego, pôs uma gorjeta na mão
do homem e disse. — Vigiará minha bagagem, não é? Temo que levo muita.

O revisor, olhando-a distraidamente, levou a mão à boina e disse:

— Está bem, senhora.

Saiu e fechou de repente a porta. Ainsley fechou as cortinas das janelas que davam ao
corredor, tirou as luvas e desabou em um assento.

Cameron permanecia de pé enquanto o trem se perdia na noite. Ainsley parecia

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fresca e brilhante, apesar de sua pressa, diferente de algum jeito. Deu-se conta depois de
um momento de que o vestido que usava era de um vibrante azul em vez de seu habitual
cinza ou negro, era um dos conjuntos que Isabella comprou para ela em Edimburgo.
Embora o sutiã estava abotoado ainda até o queixo, a malha a envolvia como uma
segunda pele e seu chapéu e véu combinando, faziam que seus olhos cinzas parecessem
quase de prata.

— Quase perco o trem — disse. — Tive que correr desde Edimburgo, porque a roupa
que Isabella ordenou para mim estava preparada e ocupa três baús, todos tiveram que ser
embalados no último minuto.

Isabella e Mac amavelmente me permitiram usar a casa que têm ali, então temo que
sabem que fugi com você. Mac estava bastante satisfeito.

— Com certeza — o método de Mac de persuadir uma mulher para que ficasse com
ele era sequestrá-la e fazê-la pensar que era sua própria ideia.

— Suponho que faremos uma parada em Londres — disse Ainsley. — Não posso
imaginar ir diretamente a Paris esta noite, não? Poderia encontrar um quarto em um hotel
respeitável, ordenar de novo minhas coisas e decidir o que realmente preciso levar.
Isabella pensou em tudo, mas acredito que é muito exagerada.

Cameron por fim separou a língua do teto de sua boca.

— Pararemos em Londres — disse, com voz brusca. — Mas não em um hotel. Na


casa de Hart. Ele arrumou tudo. Pela manhã poderemos nos casar.

Capítulo 19

— Nos casar? — Ainsley se sentiu repentinamente leve, flutuando, irreal. Mas não,
Cameron estava firmemente situado sobre seus pés por cima dela, dizendo que amanhã se
casariam.

— Troca de votos, uma licença — disse. — Terá ouvido falar sobre isso não?

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Seus olhos mostravam fúria e também algo que Ainsley não entendia.

— Mas se já estou fugindo com você.

Cameron a levantou do assento e se sentou com ela em seu colo.

— Está louca, mulher? Tinha razão ao me rejeitar. Não podia me permitir destruir
sua vida para minha conveniência.

Ainsley olhou seu duro rosto e se deu conta de que o que via em seus olhos era
medo. Não eram os nervos de um homem próximo ao matrimônio, a não ser cru pânico.

— Não prometo ser um marido modelo — disse Cameron. — Em casa às seis para o
chá e coisas similares. Trabalho com os cavalos todo o dia durante a temporada de corrida
e passo fora toda a noite na temporada baixa.

Bebo, jogo às cartas e meus amigos não são respeitáveis. Pode ser que te trate como a
uma amante, porque seguro como que existe o inferno que não sei como se trata a uma
esposa.

Se não for o que quer, diga-me isso agora e volta com sua Rainha.

Sua voz era grave, a de um homem dizendo coisas que não sabia como dizer. Ainsley
riu.

— Sabe, eu pensava que um pedido de matrimônio seria tremendamente romântico,


possivelmente em um navio em um lago de cristal azul. Ele a levantaria em seus braços,
enquanto ela desmaiava agradada.

— Não sou romântico, Ainsley. Só te quero comigo.

Suas palavras acendiam fogo em seu interior, esquentando-a no frio setembro.

— Está dizendo que quer que nos comportemos como amantes, mas estando casados,
para evitar o escândalo?

— Desta forma, se cansar de mim, não correrá o risco de que seu irmão te rejeite em
sua casa. Sempre terá dinheiro e um lugar para viver como minha esposa. Proporcionarei
isso sem importar o que pensar de mim.

Ela piscou.

— Deus, está acabando com o matrimônio antes que comece!

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— Fui um péssimo marido antes, e não posso prometer que não volte a sê-lo desta
vez. Se não quiser isto, pode descer do trem na seguinte parada.

Foram pegando velocidade, correndo através da noite.

— Todos meus baús estão no trem — disse Ainsley. — Então, devo me casar com
você ou me arriscar a ter que fazer um novo vestuário.

Novamente viu esse brilho de pânico, que ele mascarava com ira.

— No momento que não queira viver comigo, diz-me isso. Entende? Sem divórcio,
sem separação, sem malditos escândalos. Diz-me isso, e te conseguirei uma casa para viver
e dinheiro para que possa fazer o que quiser.

— Vou me lembrar...

Cameron grunhiu. Deslizou sua forte mão atrás de seu pescoço e pressionou sua
boca abrindo seus lábios.

Quente, alegre, forte. Ainsley envolveu seus braços ao redor dele e se entregou.
Decidir aceitar fugir com ele, foi a escolha mais difícil que fez. Mas ao final, teve a certeza
de que se não fosse, poderia se arrepender para sempre. O destino dera uma
oportunidade, e não podia virar as costas a essa oportunidade. Ou a Cameron. Mudar a
decisão para se casar com ele era ridiculamente fácil. Pertencia a esse homem, fugia como
sua amante, podia fazer o que quisesse com ela.

Ainsley recuou, o arrastando com ela, e terminou deitada no assento. Seu peso sobre
ela fazia que seu coração martelasse com emoção. Ainsley atrevida, acariciou suas costas
até os quadris e embalou seu apertado traseiro sob o kilt. De repente a porta se abriu.
Ainsley tentou se levantar, mas Cameron a empurrou protetoramente atrás dele enquanto
se preparava para arremeter contra o intruso.

Daniel fechou a porta com um golpe e despencou no assento oposto. Sorriu a


Ainsley, ignorando seu pai.

— Então por fim está aqui, não? Excelente. Agora teremos alguma diversão.

Na manhã seguinte, Ainsley Douglas estava no Salão da casa de Londres de Hart


Mackenzie e se casava com Lorde Cameron Mackenzie, com a licença especial que este

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conseguiu antes mesmo de ir a Doncaster.

As testemunhas foram a governanta e o mordomo de Hart e a esposa do vigário.


Daniel estava ao lado de seu pai, sorrindo como um louco.

Ainsley notava os olhos irritados porque haviam passado a noite no trem e tinham
chegado a Londres de madrugada. Antes que Ainsley pudesse se recuperar do choque do
vigário declarando a ela e a Cameron marido e mulher, Ainsley estava de novo em um
trem com Cameron, Daniel e um pesado anel de ouro em seu dedo, rumo a Dover.

Cameron queria iniciar imediatamente a viagem a Paris.

Ainsley estava feliz de deixar a Inglaterra, porque, embora ela e Cameron tivessem se
casado legalmente, sua fuga seria um escândalo durante décadas.

Um romance de Ainsley poderia manter-se discretamente oculto, como Eleanor


sugeriu, mas o repentino matrimônio da ovelha negra da família Mackenzie estaria em
todos os jornais.

Cameron não era só o irmão do Duque, era o herdeiro do título enquanto Hart não
tivesse filhos. Só a mãe de Ainsley, era filha de um visconde, porque a família McBride
não era proeminente nem poderosa, nem particularmente rica. O matrimônio seria
desprezado como um enlace desigual. Prestando-se especial atenção a como Ainsley
conseguira enganar Lorde Cameron, mulherengo notório, que prometera não se casar
nunca.

A Rainha teria uma apoplexia. Portanto, Ainsley ia feliz a bordo do trem fugindo
para o continente. Patrick e Rona, quando recebessem seu cabograma, estariam tão
aturdidos e desconcertados como a Rainha.

Mas Eleonor tinha razão: Ainsley não era uma ingênua debutante. Era uma
respeitável viúva com suficiente experiência no mundo para tomar decisões com a cabeça
fria.

Bom, ao menos uma cabeça quase fria. Pensava Ainsley quando Cameron, depois de
ocupar-se dos bilhetes, sentou-se junto a ela no compartimento. Seu grande corpo ocupava
a maior parte do assento, sem permitir que ficasse uma polegada de espaço entre eles.
Com Cameron, era difícil para ela ser sensata.

Daniel viajava com eles, em seu lado do vagão. Cameron habitualmente deixava

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Daniel com Angelo em Berkshire até que o primeiro trimestre começasse e retornasse à
escola.

Chegaram a esse acordo há anos. Angelo não queria sair da Inglaterra e deixar a sua
família para trás, e Cameron não confiava a ninguém seus cavalos enquanto estava longe.

De todos os modos, era arriscado para um cigano viajar ao estrangeiro.

Mas Daniel tinha rogado acompanhá-los. Ainsley, vendo o desespero nos olhos do
moço, pôs-se de seu lado. Cameron, olhando nos olhos, esteve de acordo.

Chegaram esse dia a Havre, onde Cameron reservou três quartos no hotel mais caro,
para ele, para Ainsley e para Daniel. Quando Ainsley assinalou que agora que estavam
casados, podiam compartilhar um quarto, Cameron dirigiu-lhe um olhar insondável e
disse que os quartos eram pequenos e que ele ocupava muito espaço.

Ainsley pensava que não importava que Cameron ocupasse espaço em seu quarto,
mas não deu nenhuma oportunidade de discutir. No restaurante essa noite, Daniel comeu
com gosto e Cameron consumiu sua comida ritmicamente com determinação. Ainsley se
encontrava agitada e sem apetite.

Mais tarde, quando Ainsley escovava seu cabelo para ir para cama, Cameron entrou
em seu quarto, fechou a porta e passou o ferrolho.

Ainsley se deteve com a escova no ar. Não esteve sozinha com Cameron, já que
Daniel viajava com eles no compartimento do trem desde Doncaster. Como se o jovem
fosse sua dama de companhia, pegou-se a eles até depois do jantar dessa noite, quando ao
sair da sala de jantar se despediu deles com um alegre boa noite.

Não para ir à cama, pensou Ainsley. Daniel entrou no salão, provavelmente para
fumar e jogar às cartas. Cameron o permitiu sem dizer uma palavra e Ainsley pensou que
era melhor não interferir

em sua primeira noite como Lady Cameron Mackenzie.

Lady Cameron. Demoraria para se acostumar.

— Instalou-se? — perguntou com voz alegre.

Cameron chegou a ela, agarrou a escova de sua mão e a pôs sobre a mesa enquanto
sua quente boca depositava beijos em seu pescoço e começava a desabotoar sua camisola.

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Ainsley entrecerrou os olhos e se recostou contra ele.

— Acredito que todos os botões desta noite, não?

Cameron acariciou sua face. Seus dedos fizeram um trabalho rápido com os botões, e
pôs suas mãos sob a quente camisola.

— Acreditei morrer por você.

Morrer. Sim. Ainsley esteve ardendo de desejo por ele durante semanas. Sentaram-se
erguidos, juntos, no trem a Dover, com o Daniel em frente a eles, e no navio tinham visto
afastar-se a

Inglaterra da cobertura, de pé ao lado um do outro, mas sem tocar-se. Uma agonia.

O sangue de Cameron se esquentou ao saborear sua pele, tão doce e deliciosa. Olhou-
a, com um meio sorriso, seus olhos brilhando com um brilho malvado. Estou sofrendo por
você, esposa.

Esposa.

Seus seios estavam pesados em suas mãos. Ainsley soprou contra sua boca enquanto
brincava com ela, depois sua mão baixou, cavando-se entre suas pernas para encontrar ali
os cachos úmidos e quentes.

Ainsley gemeu o excitando, tanto como seu aroma quente e incitante.

Cameron distendeu a mão até o abajur de gás atenuando sua luz até quase a
escuridão, como queria. Tinha muitas cicatrizes, muitas velhas feridas, que não queria que
visse.

Levantou a Ainsley e tirou a camisola. Ainsley apoiou uma mão sobre a penteadeira,
sua serena amante, nua, esperando para ver seu homem despir-se.

Cameron se desfez da jaqueta, a gravata, o colete, a dura camisa, muitas camadas


entre eles. Tirou a camiseta, tirou os sapatos e as meias com os pés. Então hesitou, ficou
com apenas seu kilt posto. Podia ficar com o saiote posto se tirasse os calções antes de ir.
Se já importava muito que visse as cicatrizes da parte de trás de suas coxas, ainda estava
mais inseguro das terríveis cicatrize de suas nádegas.

Ainsley enganchou seu dedo ao redor de sua cintura e puxou.

— Agora isto, moço, não seja vergonhoso.

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Cameron riu. Cameron Mackenzie nunca foi considerado vergonhoso em sua vida.

Que diabos! Tirou o kilt e o deixou cair ao mesmo tempo que se sentava na cadeira.
Era uma cadeira delicada, da penteadeira de uma dama, e Cameron sentiu suas finas
pernas cambalear.

Ainsley sorriu com astúcia quando percorreu com seus dedos seu membro comprido
e já palpitante. Cameron gemeu pelo incêndio que corria a partir de seu caralho.
"Morrendo por você", deixou de ser um exagero. Cameron agarrando-a pela cintura a
desceu para ele, encaixando-a sobre ele na cadeira. Ainsley entrecerrou os olhos, seu
sorriso se converteu em um gesto de paixão quando Cameron guiou a si mesmo em seu
interior. Ah, voltar aonde pertenço. A posição permitia se introduzir profundamente
dentro dela, sentia Ainsley fechada como um punho. E como um punho, ela apertou.

Cameron afrouxou suas mãos de seus quadris, beijando seu pescoço, tendo a pele
entre seus dentes. Ele chupou e ela gemeu suavemente. Cameron chupou com mais força,
marcando-a. Minha. Consegui-a, superei os outros.

Merda, que bem se sentiu pensando nisso.

Ainsley se balançou sobre ele. Seu corpo procurava instintivamente unir-se com ele
tanto como fosse possível. Cameron a guiou ao movimento que proporcionaria a ambos a
maior satisfação.

Seus seios estavam esmagados contra seu torso, os mamilos pressionavam com uma
prazenteira fricção. Beijou na boca, os beijos resultavam torpes na paixão.

— Assim Ainsley — sussurrou Cameron, mordiscando o lóbulo de sua orelha. — Isto


é o que eu adoro, Ainsley.

Sua resposta foi um suave gemido de prazer.

— Está tão apertada e úmida — disse. — Perversa Ainsley, tão úmida para seu
amante.

Seu pequeno...

— Umm — fez que seu coração pulsasse grosseiramente.

Balançaram-se juntos, a cadeira rangia protestando. As pernas de Ainsley estavam


firmemente envoltas ao redor dele. Cameron cravou os dedos dos pés no tapete, as mãos

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acariciando o sedoso cabelo de Ainsley e perdeu-se em si mesmo.

Ia terminar muito breve. Cameron gemeu, não estava preparado, queria se mover
com ela toda a noite. Mas estava muito excitado, Ainsley era muito suave e formosa, seu
aroma de mulher e a sexo o desfez.

Os gemidos de Ainsley se fizeram mais rápidos quando alcançou o clímax, seus


quadris se balançavam com um ritmo que não teve que ensinar.

Cameron se foi voluntariamente com ela. Suas nádegas se levantavam da cadeira


com seus arremessos duros e fortes, segurando-a pelos quadris. As palavras que saíam de
sua boca eram contundentes e sujas elogiando seu corpo e o que fez com ele. Ainsley
avermelhou, seus olhos brilhavam e seus gritos de prazer foram aumentando à medida
que ele falava.

E disse com voz quebrada:

— Sim, sim, Cameron, por favor! — Cameron culminou. Estava com a metade de seu
traseiro fora da cadeira. Ainsley gritava de prazer, o grito de Cameron se uniu ao dela.

Recostou-se na cadeira uma vez mais, as pernas rangeram de novo, mas resistiram.

— Doeu? — beijou-a no cabelo. — Amor, Doeu? Está bem?

Ainsley sossegou suas palavras com seus dedos.

— Cam, estou bem. Foi formoso. Muito formoso.

— Você é formosa, Ainsley — Cameron a abraçou aproximando-a, respirava com


dificuldade. Ela era suave e cálida e, cheirava e tinha tão bom sabor.

Até que esteve novamente excitado, duro e preparado, não se deu conta de que
verteu sua semente dentro dela. Não o ocorreu se retirar, e não porque tivesse recordado
que era sua esposa.

A cerimônia do matrimônio e tudo o que significava, ainda não fizeram brecha em


seus sentidos.

Quis estar dentro de Ainsley e permanecer ali, onde tudo era seguro e esplêndido,
sua ternura o envolvia, aliviando cada ferida de sua alma. Cameron fez o amor duas vezes
mais na cadeira, depois a levou a cama. Ainsley despertou quando cobriu com as mantas
seu corpo nu e o agarrou pelo pulso quando ia partir.

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— Fique aqui comigo — sussurrou.

Olhou-a durante um comprido momento, sem protestar. Ainsley pensou que lutava
contra algo dentro dele mesmo. Não falava porque não podia.

Cameron apertou seus punhos, um tic ressaltava em seu pescoço, um grande e


delicioso homem descuidadamente envolto com uma saia escocesa em torno de sua
cintura. Viu como conseguia controlar sua fúria, segundo a segundo, enquanto ele fixava
seu olhar nela. Sem vê-la, mas sem afastar seus olhos em nenhum momento.

— É quase de dia — disse com voz cuidadosa. — Nosso trem sai cedo. Irei dormir.

Voltou-se e saiu pela porta, fechando-a com tanta força que as cortinas da cama se
moveram. Ouviu-o mover-se por seu próprio quarto, escutou o golpe com o que fechou a
porta e depois o ligeiro som que fez a fechadura.

Ainsley se recostou de novo, respirando entrecortadamente. Seu corpo recordava o


quente e doce amor que compartilharam sobre a cadeira. Cameron era um amante perito
que conseguiu que cada parte de seu corpo participasse no ato.

Era um homem grande, que a havia sustentado para que não caísse, e suportou o
peso dos dois sobre si mesmo. Como podia um homem com tão crua brutalidade ser tão
terno? Ainsley não sabia, mas Cameron o obtinha.

Mas o medo quando pediu que ficasse, foi real. Um profundo pânico brilhou em seus
olhos, e lutou contra si mesmo para conseguir afastar-se dela. Zangou-a que um homem
tão forte tivesse medo. Ainsley decidiu nesse momento indagar no interior de Cameron,
entender o que havia acontecido e tentar apagar essa lembrança o melhor que pudesse.
Faria-o.

A dualidade de suas emoções: euforia pelo amor e a preocupação pelo Cameron


misturadas, mantiveram-na com os olhos abertos. Mesmo estando muito cansada, não
pôde dormir até que ia no oscilante trem a Paris sob o brilhante sol da manhã.

Uma vez que chegaram a Paris, uma fastuosa carruagem os levou a casa que
Cameron alugou em uma travessa da Rué de Rívoli. A casa tinha seis andares, com uma
escada de ferro forjado desde seu grande vestíbulo à cúpula na parte superior.

Ainsley tinha seu próprio quarto, com janelas que davam ao jardim de trás da casa. O
quarto de Cameron se situava na frente da casa, Daniel dormia no andar de cima.

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A casa era elegantemente formosa, moderna e bastante diferente a todos os lugares


nos quais Ainsley viveu. As habitações privadas da Rainha tendiam a estar concorridas,
desordenadas e cheias de fotos familiares, suas salas públicas eram grandes e luxuosas. A
casa de Cameron tinha chão de mármore e painéis de madeira de cor clara e estava cheia
de pinturas dos novos jovens pintores Degas, Manet e Renoir.

Os móveis eram de linhas puras, artesanais, como reação contra a fabricação de


móveis profusamente esculpidos e tremendamente incômodos. Era a casa de alguém com
dinheiro e bom gosto: Mac provavelmente sugerira as pinturas e Isabella a decoração, mas
era ainda a casa de um solteiro. Fria e elegante, mas um pouco nua.

Quando Ainsley sugeriu que poderia fazer umas almofadas para o salão, Cameron a
olhou como se tivesse se tornado louca. E a levou às compras. Ainsley visitara Paris uma
vez, em sua fatídica viagem ao continente com o Patrick e Rona, mas reservaram quartos
em um hotel pequeno em um bairro barato.

Rona ficou tão assustada na cidade que não quis se aventurar muito longe do hotel,
assim Ainsley viu pouco de Paris.

Cameron mostrou um mundo novo. A levou a lojas que vendiam tudo o que pudesse
desejar uma dona-de-casa, os vendedores de arte desejosas de vender a Cameron o melhor
e às lojas mais caras de objetos de arte.

Ainsley podia comprar almofadas já feitas ou encarregar que as fizessem a seu gosto.

Fez-o, mas também foi a uma loja especializada em luxuosos novelos para bordados
e se equipou com uma nova cesta de costura, cheia com tudo o que necessitava. Era o céu.

Entraram em uma cafeteria para almoçar e Ainsley descobriu algo que em Paris
faziam muito bem: os bolos. A Ainsley adorava os bolos, muitas finas capas doces com
chocolate, geleia ou cremes enchiam sua alma.

Comeu um pedaço extra grande durante sua quarta expedição comercial e lambia o
garfo, enquanto Cameron a olhava com olhos divertidos.

Ainsley encolheu os ombros.

— Eu gosto dos doces.

— Paris tem os melhores bolos — disse Daniel, enquanto atacava sua segunda
porção. — Cada café nesta alameda tem sua própria especialidade. Poderíamos ir

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percorrendo-os e provar um diferente cada dia.

Ainsley sorriu.

— Sim, faremo-lo.

Cameron ria. Era um quente som. Era a primeira vez que ria desde que ela se uniu a
ele em Doncaster. Ainsley saboreou sua risada tanto como saboreava o último bocado de
creme de chocolate de seu prato.

Essa noite, Cameron a levou a outro mundo novo, um que Ainsley só vislumbrou
nos jornais da alta sociedade. O próprio Cameron escolheu o que usaria. Um vestido de
cor vermelha escuro e prata, escolhido por Isabella que ia bem com os diamantes que
Cameron a presenteou em Kilmorgan.

— Quase não parece de senhora — disse enquanto Cameron punha os diamantes


sobre seus seios e fechava o broche.

O olhar de Cameron se reuniu com o seu no espelho de sua penteadeira.

— Nada de senhora para você, Ainsley Mackenzie. É uma mulher formosa. Quero
que todos vejam quão formosa é e me invejem.

— Estava brincando — beijou seu pescoço.

— Eu não.

Ainsley encontrou embriagador ver essa noite parisiense tão diferente que Cameron
mostrava, inundados no torvelinho da vanguarda. Mais ainda tendo ao Cameron junto a
ela com sua jaqueta negra e o kilt quadriculado dos Mackenzie.

Era um homem poderoso de formosura crua e pertencia a ela. As mulheres a


olhavam com inveja e curiosidade, perguntando-se quem era essa desconhecida loira que
jogou o laço ao muito desejável Lorde Cameron.

— Devemos comer um bolo depois — disse Ainsley enquanto bebia champanha no


restaurante Drouant. — Um de chocolate com creme no meio. Acredito que é meu
favorito, embora não estou segura. Preciso provar muitos mais.

Os bolos eram um tema seguro. Apesar de sua determinação, sempre que Ainsley
tentou expor a questão dos dois compartilhando uma cama, os olhos do Cameron se
endureceram, e mudou de tema.

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Normalmente mal—humorado. Começava a fazê-lo tão logo Ainsley mencionasse a


palavra cama. Suas conversas se reduziram a necessidades, faziam o amor intensamente
mas sem palavras.

— A maioria das mulheres querem percorrer os bulevares comprando joias e


chapéus — disse Cameron. — Mas você vai direta às confeitarias.

Ainsley percebeu seu tom descuidado.

— Talvez seja porque eram muito miseráveis com os pedaços de bolo na Academia
da Senhorita Pringle. Aprendi que se queria bolo, precisava roubá-los.

— Isso explica sua vida de delinquente.

— O bolo era uma coisa valiosa. A cozinheira era francesa, e sabia como fazer bolos
com camadas e camadas de caramelo e creme entre eles. Dou-me conta agora que nos
iniciou no gosto pelos prazeres franceses.

— Levarei-a por todo o país para que possa provar o doce típico de cada região —
disse Cameron.

— De verdade? Isso seria fantástico.

As palavras de Ainsley se perderam em um grito surpreso quando uma mulher se


sentou na cadeira junto a ela e pegou a taça de champanha de Ainsley.

— Lady Cameron Mackenzie, tenho entendido — disse Phyllida Chase e riu. —


Realmente, querida, é muito mau para você.

Capítulo 20

— OH! Não pareça tão alarmada! — Phyllida deixou a taça e pegou uma das ostras
do prato de Cameron e a levou para sua boca.

— Acredito que é maravilhoso que tenha escapado com o fugitivo lorde Cameron.
Estou feliz por você, embora ele tenha me deixado por uma mulher mais jovem.

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Seus olhos brilhavam contentes, sem a amargura que havia em sua risada. O gelo de
Phyllida se derreteu.

— Você gostaria de se unir a nós, Phyllida? — perguntou friamente Ainsley. — Se


pedir te trarão seu próprio prato, e taça.

Phyllida dedicou-lhe um doce sorriso.

— Isso eu adoraria — se voltou e saudou alguém entre a multidão. — Estou aqui


Giorgio, encontrei uns amigos.

Um homem largo de costas, de cabelo escuro, dirigiu-se para eles entre as mesas e
Cameron se levantou a seu encontro.

Phyllida pegou a mão do homem quando chegou.

— Olhe, carinho, eles são Lorde Cameron e sua nova esposa. Ainsley, Giorgio Prario,
o famoso tenor. Giorgio, amor, convidaram-nos para jantar com eles.

O homem italiano era alarmantemente alto, e ficou frente a frente com o Cameron.
Mas o senhor Prario estendeu a mão de uma maneira amável e apertou a de Cameron em
um agarre firme.

— Sim, o senhor escocês que nos proporcionou os meios para nos mudar a um lugar
mais feliz. Eu agradeço — fez uma reverência a Ainsley. — Milady, também o agradeço a
você.

Ainsley piscou.

— Cameron lhes proporcionou os meios?

Os dois homens se sentaram e os garçons apareceram com pratos, talheres, taças, e


guardanapos adicionais. Mais champanha foi servido, e o maître do hotel em pessoa
ofereceu o melhor da cozinha.

Cameron era um homem muito rico, e cada restaurante em Paris sabia.

— O dinheiro pelas cartas, carinho — disse Phyllida quando os garçons finalmente se


foram. — Não pensou que realmente me preocupasse com a Rainha para com seu
cavaleiro, não é? Só me importava que ela pagasse muito caro para salvar-se da vergonha
— sorriu a Cameron. — A generosidade de Cam me deu a última coisa que necessitava
para que Giorgio e eu pudéssemos ter uma casa aqui... Meu marido está muito ocupado

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divorciando-se de mim em Londres, e quando tudo estiver feito, Giorgio e eu nos


casaremos.

Phyllida irradiava felicidade. Seu sorriso era amplo, com os olhos suaves, e se via
muito mais jovem que a mulher fria e sem remorsos a quem Ainsley enfrentou nos jardins
do Kilmorgan.

— Giorgio é agora o tenor mais cobiçado no continente — continuou Phyllida, com


voz cheia de orgulho. — Todos os reis o estão reclamando. Vai dar um concerto amanhã
de noite no teatro da ópera.

— Querida, deve vir. Assim entenderá meu amor quando o ouvir cantar.

— Mas, Phyllida — Ainsley comentou mal Phyllida calou um momento para


respirar. — Por que toda essa intriga pelas cartas? Por que não foi somente a um lugar
melhor? Me diga para que queria o dinheiro? Eu poderia ter sido um pouco mais
simpática, ou inclusive tentar te ajudar a consegui-lo.

Os olhos de Phyllida aumentaram.

— Confessar a confidente da Rainha que queria fugir de meu legítimo marido? Você,
que foi famosamente devota a um velho que te aborrecia incrivelmente? — Phyllida
levantou sua taça de champanha.

— Estou encantada ao ver que deixou que Cameron te corrompesse.

Giorgio havia se voltado para fazer uma pergunta a Cameron a respeito de cavalos, e
estavam muito concentrados na conversa. Ainsley viu como Cameron começava a se
interessar em sua discussão sobre diferenças em variadas corridas.

— Já estava corrompida, querida Phyllida. Cameron simplesmente fez que o


reconhecesse. Certamente poderia ter conseguido o dinheiro sem recorrer à chantagem —
disse Ainsley.

— Para nada. Meus chamados amigos eram tão corretos e de mente tão fechada
como você. Eles preferiam obedecer as leis e viver na miséria que corajosamente alcançar
alguns momentos de felicidade.

À parte queria castigar a sua pequena majestade por me levar a um matrimônio com
um homem de gelo. Para o Sr Chace, uma esposa era pouco mais que uma boneca para
ficar a seu lado e dizer as coisas corretas no momento adequado, para seu benefício. Estou

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surpreendida que não me metesse em um armário todas as noites e me tirasse pelas


manhãs.

— Foi o senhor Prario a felicidade que a Rainha tirou? — perguntou Ainsley,


recordando sua conversa no jardim. — A razão pela qual se casou com o senhor Chase?

— Não, não. Conheci o Giorgio faz um ano. Mas foi algo similar, há dez anos, o mais
incrível homem do mundo me pediu que me casasse com ele, mas a Rainha me impediu.
Não era o suficientemente rico ou humilde para aguentar as objeções da Rainha, e
persuadiu a minha família para apoiá-la. Eu era muito jovem e sentia muito medo para
fugir com ele. Foi há muito tempo a América, provavelmente se casou com outra. O
senhor Chase procurava por esse momento uma esposa, e a Rainha influenciou a minha
família para que me casasse com ele. Nossa Vitória me condenou a passar dez anos de
misérias. Decidi que ela precisava sofrer um pouco por isso, embora nunca entenda
completamente o que me fez.

Ainsley pensou que a compreendia um pouco. Phyllida era uma mulher de fortes
emoções, e estar presa por um homem que não se interessava por ela devia ter sido muito
difícil. O matrimônio de Ainsley tampouco foi sua escolha, mas ao menos John Douglas
fora um homem quente, um amável companheiro. Esforçou-se ao máximo para fazer a sua
esposa feliz. O fato de não tê-lo obtido não foi sua culpa.

Entretanto havia uma coisa que Ainsley não entendia.

— Se estava realmente tão apaixonada pelo senhor Prario, por que se atou com
Cameron?

Phyllida minimizou o assunto.

— Porque Cameron tinha a reputação de ser muito generoso com suas amantes. —
Phyllida olhou diretamente os diamantes de Ainsley, e Ainsley se conteve de tocá-los. —
Giorgio e eu queríamos fugir, mas não tínhamos nada. Ele conseguiu dinheiro cantando e
eu da única maneira que sabia, dos homens. Precisa admitir que Cameron é muito
generoso.

— E isso não importava ao senhor Prario?

Agora os homens estavam concentradíssimos em sua conversa, que havia passado a


ser sobre os esportes. Não parecia importar que Cameron tivesse sido amante de Phyllida.

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— Ele entende que o amo com paixão e sabe que as pessoas como nós necessitamos
um benfeitor, os cantores não são diferente destas damas. Agora atraiu a uma benfeitora,
uma francesa entrada em anos muito rica que se fixa em tenores jovens. Portanto não
temos preocupações pelo dinheiro.

Phyllida olhou a Ainsley diretamente.

— Não sabe querida, o que é dormir de noite com um homem que te adora. Abrir os
olhos pela manhã e o olhar, sabendo que seu dia estará cheio de satisfações. É uma
felicidade absoluta.

Não, Ainsley não sabia o que era isto, teve que afastar o olhar, e fingir interesse na
última gota de champanha de sua taça.

Phyllida continuou conversando sem saber que havia dito algo que a incomodou.

— Posso te dizer que é boa para Cameron... Céus, se casou com você, o homem que
declarou em alto e claro que nunca passaria pelo altar outra vez. Os Mackenzie são
homens muito duros, mas parece ter abrandado a este um pouquinho — apertou a mão de
Ainsley. — Venham ao concerto, os dois, não se arrependerão.

Havia muita gente a seu redor. Cameron se moveu no assento do abarrotado


camarote, que estava em cima do cenário, onde Prario cantava. O fato de que Phyllida
tivesse enchido de gente o camarote de Prario, fazia que Ainsley se sentasse colada a ele.
Isso estava bem, mas a presença de tanta gente significava que não podia aproveitar-se da
circunstância. Precisava se sentar, duro e dolorido, com a fragrância de Ainsley em seu
nariz, e sem poder fazer nada a respeito. Phyllida estava ao outro lado, com seus amigos
parisiense sentados a seu redor. O camarote era pequeno em comparação com os outros
camarotes do teatro e Phyllida se sentava direita olhando a Prario, com seu olhar
transbordando amor.

Cam precisava admitir que Prario era bom, sua voz enchia o teatro com sons
profundos, suas notas eram firmes. Tentou perder-se na beleza da música, enquanto
notava sua calça muito apertada.

Deveria ter se imposto ao horror de seu valete parisiense e usado seu kilt.

Ainsley se inclinou para ele, seu calor embriagador, e sua doce voz chegaram a seu
ouvido.

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— Quantos botões, Lorde Cameron?

Sua respiração se deteve. Sentiu uma mão em sua cintura, mas o canto do camarote
era muito escuro para que visse seu próprio colo. O cabelo e os olhos de Ainsley
brilhavam com a luz do cenário e seu sorriso era sensual.

— Diabresa — murmurou ele.

— Diria que quatro — sua respiração estremeceu pelos nervos.

— Oito — isso abriria todo o caminho, — toda a maldita coisa.

— Está me desafiando, milord?

— Não acredito que o faça — sussurrou.

Ainsley abriu o primeiro botão, audaz. Manteve os olhos no cenário, sentada com
modéstia na cadeira enquanto seus dedos abriam lentamente os botões muito devagar
para seu gosto. O coração de Cameron martelava enquanto abria um a um e se encontrou
sentado na ópera com as calças abertas.

Cameron usava roupa interior grossa para proteger do frio de outubro, mas maldito
se Ainsley não encontrou a maneira de chegar ao interior. Ela havia tirado as luvas, notou
enquanto seus dedos nus se fechavam a seu redor.

No cenário, Prario se lançou a um ária. A multidão se pendurava de cada nota. A


mão de Ainsley deslizou pela imensa e quente dureza de Cameron e a apertou. Ele
escondeu um gemido.

A música aumentou, e o ruído liberado da garganta de Cameron se afogou nas notas


de Giorgio.

Cameron apoiou a testa em sua mão enquanto Ainsley o trabalhava. Ainsley, a


descarada, manteve seu olhar no cenário, inclusive movia seu leque languidamente, ao
mesmo tempo que sua mão esquerda o apertava, puxava, acariciava, retorcia... Quando
seus dedos tocaram as pesadas bolas, Cameron quase caiu da cadeira. Concentrou-se em
ficar quieto, com a mão fechada sobre sua coxa, enquanto que a mão dela se agarrava a ele.

O que ela fazia o deixou selvagem. Queria subir Ainsley em cima dele levantar sua
saia e enterrar-se profundamente nela até ficar satisfeito. Desejava atraí-la para um
comprido beijo, queria arrancar os botões de sua blusa e deleitar-se com seu conteúdo.

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— Maldita seja — sussurrou.

Ainsley sorriu. Deslizando sua mão acima e abaixo de forma suave e quente. Deus,
estava caindo. Apertou os dentes para abafar seus gemidos, mas queria gritar ao mundo o
que sua pequena e doce amante estava fazendo com ele na escuridão do camarote.

Debaixo deles, Prario chegou à parte alta do ária, com sua voz clara e veraz
escalando as notas. Chegou ao topo e a manteve, e Cameron gozou.

Cam tirou um lenço do bolso e o pôs sobre si mesmo, Ainsley retirou sua mão bem a
tempo. A semente de Cameron se derramou em um êxtase de sentimento e música,
sentindo a satisfação do calor de Ainsley a seu lado.

— Quero fazer isto dentro de você — disse grosseiramente em seu ouvido. — Quero
a sentir tomando, sabendo que é minha.

— Eu gostaria disso — sussurrou ela.

Cameron saiu de seu clímax enquanto a voz de Prario desaparecia paulatinamente...


Ao final, Prario estendeu os braços e cantou sua última nota, forte. A multidão rugiu seu
reconhecimento, e Phyllida se inclinou para Ainsley, com os olhos brilhantes.

— Não disse que era uma maravilha?

— Certamente — disse Ainsley tranquilamente enquanto Phyllida se levantava do


assento. Ainsley colocou as luvas e se levantou para unir-se à ovação, deixando Cameron
arrumar as calças na escuridão.

Mal a porta se fechou atrás deles em casa, Cameron disse ao criado que os Deixasse.

Bem treinado, o lacaio apagou a última luz de gás e discretamente desapareceu. O


coração de Ainsley pulsava com entusiasmo. Cameron recusara o convite de Phyllida para
uma noite depois da grande apresentação e esteve a ponto de arrastar a Ainsley dentro de
sua carruagem, disse ao chofer que chegasse rapidamente a casa.

Agora Cameron empurrava e pressionava a Ainsley para a parede na escuridão,


segurando-a com os pulsos por cima de sua cabeça. Ele a beijou sem dizer uma palavra,
nem deixar que ela falasse ou fizesse perguntas.

Agarrou-a, elevando a até que seus rostos ficaram à mesma altura. Seus beijos eram
brutais, ardentes. Cameron pôde controlar seu desejo depois de que ela brincou com ele no

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teatro, mas agora o controle se rompera.

— Safadinha — sussurrou. — Me acariciando em público...

Ainsley lambeu a boca.

— Eu gostei. E acredito que você também.

Sua voz era suave, mas selvagem enquanto usava palavras que deveriam ofendê-la,
mas que a excitavam sobremaneira. Disse o que queria fazer com ela, e que apelidos poria.
Nenhuma dama deveria escutar essas coisas, mas, como Cameron disse semanas atrás,
Ainsley não era uma dama. Beijou-a no peito, apanhando um dos diamantes com os
dentes.

Suas mãos foram aos fechamentos na parte posterior de seu sutiã, e ele soltou um
grunhido de frustração enquanto puxava.

— Rasgue-o — sussurrou. — Não me importa.

Não se importava. Por que parar esta sensação quando umas simples agulhas e fio
podiam reparar o dano? Cameron esboçou um sorriso selvagem, e deixou de ser aprazível.
Arrancou todo seu sutiã, beijando e lambendo sua pele à medida que a malha caía. Com o
afresco da parede pressionando suas costas, e a quente dureza de Cameron em sua frente.
Ainsley se sentiu tonta, decadente, perversa.

Ele foi despindo-a, uma camada de cada vez, ali mesmo, na sala debaixo da escada
de caracol. Eram tantas as camadas de roupa que uma dama devia levar, e Cameron as
beijou e tocou todas à medida que ia tirando...

Ainsley não protestou até que ele puxou suas calças, sem se incomodar sequer em
tirar a jaqueta.

— Estamos no vestíbulo — disse.

— Estávamos em um camarote no teatro. E não se preocupou pelo decoro então.

— Estava escuro.

— Está escuro aqui, e meus criados sabem muito bem que é melhor que não me
incomodem.

Enquanto Cameron falava, levantou Ainsley contra a parede, amortecendo a dura


superfície com os braços. Apoiou seus quadris, e então ela sabia como envolver suas

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pernas ao redor dele enquanto Cameron entrava nela com um golpe suave.

O sentimento erótico dele a despertou, excitou-a. Suas palavras chegaram a ser


sussurros suaves ao respirar, e sua força evitou que Ainsley caísse. Nada existia nesse
momento, exceto ela e ele.

A crua sensualidade de Cameron, as lisas paredes, os sons de sua garganta, e como


ele a amava.

Era uma sensação quente e forte. Ainsley se arqueou contra seu amante, o toque de
sua jaqueta excitava sua pele nua. Cameron recolheu em sua boca os sons de sua dolorosa
necessidade. Balançaram-se contra a parede de madeira, e depois os olhos dele se
apagaram, suas pupilas se dilataram, e sentiu como se libertava dentro dela.

Cameron continuava empurrando, seus beijos eram mais quentes e mais relaxados, o
frenesi se foi transformando em calor. Cameron levou Ainsley para cima, onde a estufa de
carvão esquentava o quarto, e a pôs sobre a cadeira enquanto rapidamente tirava a roupa.
Deixaram a roupa dela por todo o saguão.

Começou a protestar dizendo que deveriam recuperá-la, mas a fez calar com um
beijo. Para isso contratou os malditos criados, grunhiu.

Cameron queria amar, não falar. A cadeira sem braços era perfeita para ter Ainsley
em cima dele, e em seguida, Cameron estava enterrado dentro dela outra vez, enquanto
Ainsley suspirava de prazer.

Maldição, era muito formosa. Os seios de Ainsley se moviam enquanto o montava,


os mamilos rosa escuro ressaltavam sobre sua pálida pele escocesa. Seu cabelo ainda
estava recolhido na parte superior de sua cabeça, alguns pequenos cachos caíam pelo
pescoço.

Quando Ainsley deu um pequeno sorriso, com seus olhos meio fechados, Cameron
soube que nenhuma mulher poderia ser mais formosa que ela. A suavidade de seu corpo,
inclusive as evanescentes estrias, que serpenteavam seu ventre, faziam-na parecer muito
bela. Pertencia a ele para sempre, sempre. Gostou que o masturbasse com a mão, mas estar
dentro dela era dez vezes melhor. Era tão apertada, tão malditamente apertada. Amava-o.
E ele a amava.

Esse último pensamento fez que Cameron perdesse todo o controle. Aproximou-a de

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Highland Pleasure 03

seu corpo, suas mãos sobre suas coxas, acariciava os seios enquanto se balançavam. Ela fez
uns ruídos doces em seu clímax, mas o clímax de Cameron foi forte. Agarrou-se a ela,
apertado, ajustado, e seu "OH, Merda"! Ressoou no quarto.

Nunca, vá, nunca. Necessito isto. Necessito-te.

Abraçou Ainsley ainda mais perto dele e relaxaram cansados depois do orgasmo,
abrigados pelo fogo. Apoiou a face sobre o cabelo de Ainsley enquanto ela acariciava seu
peito, ambos esgotados pela paixão. Não se permitiu pensar muito enquanto se abraçavam
juntos. Este momento era muito importante para os pensamentos profundos. Só estavam
Ainsley, ele próprio, e o agora.

Cameron descansou a seu lado até que a janela se iluminou de cor cinza. Ainsley
dormia sobre seu peito enquanto ele a sustentava, com seu fôlego sobre sua pele. Por
último, levantou-se e a levou até a cama, enquanto ainda dormia. Deitou-a e cobriu com
tanta ternura como o fez com o Daniel, quando o moço era um menino no berço.

Os olhos de Ainsley se abriram.

— Fica comigo — sussurrou. — Por favor, Cam.

Capítulo 21

Ela não pediu durante algum tempo. Cameron estava quente e duro de novo por ela,
mas algo escuro se retorceu dentro dele, envolvendo-o com tanta força que não podia
respirar.

Ainsley o olhava com desejo, mas Cameron se afastou da cama, sacudindo a cabeça.

— Eleanor Ramsey me explicou o que te fez sua esposa — disse Ainsley atrás dele. —
Entendo porque não se permite dormir no mesmo quarto com uma mulher.

Cameron deu a volta. Ainsley estava sentada na cama, com os lençóis sob o queixo, o
observando.

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— Com ninguém — disse Cameron. — E Eleanor não te contou tudo — ninguém


sabia exceto Cam. Cameron não pôde confessar toda a verdade, nem sequer a Hart, e não
queria dizer à formosa e desejável Ainsley que sua esposa não só o golpeou com esse
atiçador, mas sim em duas ocasiões tentou o violar com ele.

Ainda quando havia passado muito tempo, recordava os incidentes com clareza. A
intensa dor que o tirou de seu profundo sono, a risada de Elizabeth, mais dor, sangue,
seus próprios gritos.

Empurrou para longe a Elizabeth, e mesmo assim ria.

Só podia dormir quando estava sozinho, atrás de uma porta fechada. Mas a
condenada Elizabeth, conseguiu enganar um criado para que a deixasse entrar nos
aposentos de Cameron uma noite e poder o atacar de novo. A única coisa que funcionou
depois disso foi pôr guarda em sua própria porta e na de Elizabeth. Também o criticou por
isso.

A escuridão clareou um pouco para permitir ver os cinzas olhos de Ainsley,


brilhando no amanhecer cinza.

— Não é só o que ela me fez — disse Cameron com dificuldade. — É o que eu


poderia te fazer se despertasse de repente, poderia te bater e te machucar.

Percebeu que não o entendia, retornou à cama e se inclinou sobre ela, apoiando seus
punhos no colchão.

— Daniel me despertou uma vez quando tinha dez anos — disse. — Joguei-o através
do quarto, a meu próprio filho! Poderia tê-lo matado.

O horror desse momento jamais se foi, Daniel ficou caído sem se mover no chão,
inconsciente, enquanto Cameron corria apressado para ele, levantando seu corpo inerte
em seus braços. Graças a Deus não saiu gravemente machucado. Daniel disse alegremente
que foi sua culpa, esquecera que seu papai estava um pouco louco. Que Daniel se culpasse
pelo incidente queimou Cameron nas vísceras. Depois Angelo tentou se culpar pelo
incidente, por não perceber que Daniel subira ao quarto de seu pai. Cameron quis gritar a
ambos e terminou mudando-se a um hotel, sem confiar em si mesmo para viver ao redor
dos que se importavam.

— Ao Daniel não aconteceu nada, não? — perguntou Ainsley.

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— Não, mas essa não é a questão, não é? — Cameron apertou os punhos. — Era só
um menino pequeno. Poderia tê-lo machucado. Acha que quero despertar e ver que fiz o
mesmo a você?

Ainsley o olhou, sem poder ler em seus olhos. Cameron nunca a entenderia.
Justamente quando pensou que a conhecia, a moça cheia de vida que abria cadeados e saía
correndo por Paris procurando um bolo, decidiu o acariciar em público e depois tentar se
entremeter nos segredos de sua alma.

— Talvez se te acostuma...— começou ela.

— Maldição! Não escutou nada? Há algo errado em mim, entende? Não posso nem
pensar em tentar me deitar para dormir com você sem que o mundo fique escuro.

Quando acordo empurrando às pessoas, a escuridão não me deixa até que já é muito
tarde.

Ainsley escutou em silêncio. Supunha-se que deveria temê-lo, ter medo da aterradora
fúria dentro dele. Algumas mulheres desfrutavam tendo medo de Cameron, agradando o
perigo, mas sem entender

verdadeiramente do que em realidade era capaz Cameron. Ele nunca permitiu sabê-
lo.

Afastou-se recolhendo suas roupas.

— Realmente odeio a essa mulher — disse Ainsley atrás dele. — Refiro-me a sua
esposa.

Cameron sorriu com amargura, enquanto colocava as calças.

— Eu gosto que o faça, ela me destruiu, queria vingança e a obteve.

— Cam?

Cameron sacudiu a cabeça.

— Sem mais conversa, durma.

Cameron deu as costas à formosa mulher pela qual faria tudo no mundo, encolheu os
ombros e saiu de repente.

Ainsley abraçou seus joelhos, limpando suas lágrimas com os lençóis.

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— Espero que esteja quente aonde esteja, Lady Elizabeth Cavendish — murmurou.
— Muito, muito quente.

Ainsley entrou na antecâmara de Cameron na tarde seguinte enquanto seu criado


parisiense o ajudava a se vestir, para outra noite de restaurantes e cabarés. Cam observou
o simples vestido que Ainsley usava e franziu o cenho.

— Não virá comigo?

— Vestirei-me em um momento. Felipe pode nos deixar?

O criado nem sequer girou procurando confirmação de Cameron. Ambos os criados,


o escocês e o francês, obedeciam agora Ainsley sem perguntar. Felipe simplesmente
deixou o quarto.

Cameron terminou de fechar o botão da gola que Felipe estava acomodando em seu
lugar.

— Disse isso, não quero falar disso.

— Como sabe o que é que quero dizer?

Dirigiu-lhe um olhar impaciente antes de virar-se ao espelho para colocar a gravata.

— Porque é muito teimosa e não pode deixar as coisas como estão.

Ainsley se aproximou, pegou os extremos da gravata de entre suas mãos e começou a


fazer o nó.

— Venho te falar de meu irmão.

Cameron jogou a cabeça para trás para que pudesse trabalhar.

— Que irmão? Há tantos condenados McBrides como Mackenzies.

— Só há quatro. Patrick, Sinclair, Elliot e Steven. Quero te falar a respeito de Elliot.

— Quem é ele, o advogado?

Cameron sábia de sobra quem era cada irmão, porque Ainsley falou o suficiente a
respeito de cada um deles. Seus irmãos eram um tema seguro de conversa, e além disso
estava orgulhosa de seus feitos.

Ainsley estava disposta a apostar que Hart falou a Cameron de seus irmãos,

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provavelmente dando um relatório detalhado de cada um deles. Cameron tentava se fazer


de difícil.

— Elliot foi à Índia com o exército — disse. — Quando deixou o exército, ficou na
Índia para iniciar um negócio, ajudando a outros colonizadores a estabelecer-se, uma vez
enquanto viajava por negócios ao norte da região, foi capturado. Mantiveram-no tanto
tempo preso, que estávamos seguros de que havia morrido. Mas ao fim conseguiu escapar
e chegar a casa.

A voz de Cameron se suavizou.

— Recordo-o, sinto muito. O que acontece com ele?

— Elliot ficou com Patrick durante um tempo enquanto estava convalescente, e


parece que melhorou, mas poderia dizer-se que algo ia muito mal. Elliot quase não falava
a respeito de seus ossos quebrados nem da tortura que sofreu, mas sim quase brincava a
respeito de tudo isso.

— Entendo porque — disse Cameron. — Não queria pensar muito a respeito disso.
Ou nem sequer falar disso.

Ainsley deu ao nó de Cameron um último toque.

— Dou-me conta disso. Pelo que passou, deve ter sido horrível. Uma noite, quando
fui vê-lo, encontrei-o enroscado na cama, tremendo e sem poder falar. Quando tentei que
me dissesse o que acontecia, Elliot não podia me responder, nem sequer me olhava. Ia sair
correndo a procurar a Rona e Patrick quando voltou a si. Disse-me que estava bem e me
rogou que não dissesse nada.

— Isso havia acontecido anteriormente, então?

Ainsley assentiu.

— Disse-me que algumas vezes, de repente, até sentado no salão em frente da Rona,
o mundo parecia... Ir-se. Sentia que flutuava e retornava ao pequeno buraco onde seus
captores o mantiveram. Algumas vezes não davam comida nem visitavam durante
semanas. Logicamente Elliot sabia que estava a salvo na casa do Patrick na Escócia, mas
sua mente o fazia reviver todo o horror pelo que passou. Disse-me que o preocupava que
essas visões o tornassem um covarde, mas isso não podia ser certo. Elliot é um dos
homens mais valentes que conheço. Mesmo assim, retornou à Índia, e até se encontra ali,

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porque temia ficar acovardado para sempre no quarto de convidados do Patrick se não o
fizesse.

Cameron a olhou com uma expressão inescrutável. Estava muito bonito com seu kilt,
camisa e colete, tão despido como somente seu criado ou sua esposa podiam ver.

— Conta-me esta história porque pensa que me sinto a respeito de Elizabeth da


mesma maneira que seu irmão se sente por ter sido capturado e torturado.

— Bom, não igual, mas deve ser algo similar.

Cameron se virou ao outro lado.

— Pelo que te pedi que não falássemos, segundo lembro.

— Penso que devemos falar disso. É nosso matrimônio, Cam. É nossa vida.

Mesmo assim não se voltou para olhá-la.

— Disse que não queria dormir com você, levamo-nos bem ou não?

— Então ignoraremos o fato que meu próprio marido recuse a dormir na cama
comigo.

Cam passou uma mão pelo cabelo.

— Muitos matrimônios não compartilham a cama. Deus sabe que meus pais nunca o
fizeram. Tinham quartos separados, espaços separados, não é algo incomum.

— É em minha família. Patrick e Rona dormem juntos cada noite, e meus pais
também o faziam.

— Me alegro que tenha tido uma educação tão idília.

— Também compartilhava a cama com John.

Os olhos de Cameron brilharam ao dar a volta.

— Não quero te ouvir falar do que fazia com o John Douglas.

— Mas devemos falar de você.

— Por quê? — fechou suas grandes mãos. — Por que deveríamos, Ainsley? Veio a
minha vida a arrumar cada pequeno problema? Não necessito de uma maldita babá, quero
uma amante.

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— Também eu.

— Pelo amor de Deus, Ainsley, que quer que te diga? Que Elizabeth estava louca? Já
escutou as histórias. Eleanor deve ter dado toda a informação que Hart derramou nela
sobre todos os segredos familiares.

E Eleanor se afastou correndo de nós, sábia mulher.

— Ela me disse que Lady Elizabeth te machucou.

— Sim, fez. — Cameron arrancou o botão da manga de sua camisa e arregaçou. —


Tão interessada está? Muito bem, então direi isso. Elizabeth estava em meu quarto,
fumando um charuto. Os seus amantes gostava que os fumasse, assim me recordava que
não me pertencia por inteiro. Daniel estava aí, e pareceu interessante ver que espécie de
cicatrizes deixaria na pele de um bebê.

A boca de Ainsley se abriu por completo. Eleanor não mencionou isso. Pensou no
formoso bebê que embalou em seu seio por um dia, e uma fúria sem fim a encheu.

— Como pôde?

— Agarrei Danny e enquanto lutava para afastar meu filho dela, queimou-me com o
charuto. Disse que deixaria Daniel em paz se a deixasse fazer um desenho em meu braço,
então a deixei. Desfrutou-o. Depois levei o Daniel de volta a seu quarto e fiquei com ele,
em caso de que decidisse ir até aí e experimentar outra coisa mais horrível. Elizabeth
odiava Daniel, porque sabia que era meu. Comecei a fazer acertos desde esse dia para
enviá-la longe, mas antes de ter a oportunidade... — fez um gesto vazio e baixou o olhar.

Ainsley pressionou seus braços sobre seu peito, tentando controlar seus tremores.

— Cam, sinto tanto.

— Dói, Ainsley. Eu a detestava, e mesmo assim dói — baixou a manga e fechou o


arruinado punho da camisa. — Por isso não quero falar disso.

Ainsley agarrou o botão que arrancou e rebuscou em silencio pela penteadeira fio e
agulha.

Milagrosamente ficou quieto enquanto ela costurava o botão em seu lugar e


começava a chorar, o que dificultava ver a agulha através das lágrimas. O punho da
camisa se fechou, escondendo as redondas cicatrizes de novo.

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— Cam — disse suavemente. Uma lágrima caiu em seu pulso.

Os dedos de Cameron subiram até sua face. Havia fogo em seus olhos, e fúria e dor.

— Me deixe ser como sou, Ainsley. Não tente me mudar em uma noite. Disse que
sou uma ruína de homem.

Um homem por quem estou apaixonada. Ainsley beijou a palma de sua mão.

Cameron ficou olhando por um momento, seu dedo polegar acariciava os cachos da
nuca. Depois embalou sua cabeça em suas mãos e rapidamente a beijou. O beijo continha
paixão, fome, necessidade. Ele a abraçou, o beijo se tornou profundo. Não sairiam aquela
noite.

Cameron não voltou a falar do assunto outra vez, mas Ainsley se negou a esquecê-lo.
Cameron disse que não queria dormir, e Ainsley tampouco, mas tampouco queria afastar
o problema. Enquanto isso, durante o torvelinho da vida em Paris, Daniel foi enviado a
Cambridge para começar em San Miguel. Não estava contente de partir, mas se despediu
de Ainsley com um beijo, estreitou a mão de seu pai e a contra gosto subiu no trem.

A Ainsley doeu o coração ao vê-lo partir e notou que Cameron estava brusco e
carrancudo. Sentiria saudades de seu filho, o filho pelo qual suportou até a tortura para
proteger.

Mas apenas duas semanas depois, Daniel estava de volta.

Capítulo 22

Daniel entrou enquanto chovia forte, encharcado, sem a mala com a qual se foi. E
sem o criado tampouco. Deixou a ambos, conforme disse, em Cambridge.

Cameron estava cheio de ira, o sotaque escocês das terras altas voltava a sua voz
quando se zangava.

— Maldição, moço, não pôde ficar onde estava?

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— Em uma putana e aborrecida universidade inglesa? — Daniel se deixou cair em


um sofá, sua jaqueta molhada encharcando uma das almofadas que Ainsley terminou de
bordar.

— Enquanto você está aqui em Paris com Ainsley? Não acredito. Não preciso ir à
universidade, papai, especialmente com os mesmos tipos que conheci em Harrow me
dizendo o que farão quando dirigirem o país.

Deus nos livre. De todos os modos vou ajudá-lo a treinar os cavalos.

Cameron se aproximou da janela e o fulminou com o olhar, respirando


profundamente. Controlando-se, notou Ainsley. Não queria explodir diante de seu filho.

Ainsley se sentou junto ao Daniel e resgatou sua almofada.

— Danny, Os conhecidos que fizer na universidade poderão ser os homens que


enviarão seus cavalos a treinar depois.

Daniel revirou os olhos.

— Não quero fazer conhecidos, quero aprender algo. Os professores no Corpus


Christi são ruidosos e falam muito sobre filosofia e outras bobagens. É ridículo. Quero
aprender boa engenharia escocesa.

— Talvez, mas imagino que seu pai pagou muito dinheiro para te enviar a
Cambridge.

Daniel parecia ligeiramente envergonhado.

— O devolverei.

Cameron se voltou para ele, escassamente sob controle.

— Essa não é a questão, filho. A questão é que o envio e você foge uma e outra vez.

— Não quero que me envie longe, quero estar com você. O que tem isso de errado?

— Porque minha vida aqui, não é a vida que deve viver um jovem, maldição —
Cameron estava perto de gritar. — Meus amigos são difíceis, e não te quero perto deles.

— Sei — disse Daniel. — Conheço-os. Então por que quer Ainsley perto deles?

— Não o faço.

Observando a fúria de Cameron, Ainsley se deu conta de que na verdade não o fazia.

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Os conhecidos parisiense de Cameron, eram gente que vivia a vida ociosamente chegando
tão longe como era possível, permanecendo fora toda a noite, dormindo todo o dia e
gastando o dinheiro sem se importar.

Ela pensou que era emocionante a princípio, mas logo se deu conta de que não havia
tranquilidade nessa vida, sem objetivos, sem atrativo para ser boa e sem amor. O que os
amigos de Cameron chamavam amor era algo aflitivo e obsessivo, que começava com
ferocidade e terminava em problemas e dramas e algumas vezes em violência.

Estas eram pessoas de sangue quente e Cameron era de sangue quente como eles.
Não parava a pensar quando beijava Ainsley em público ou a mantinha a seu lado
abraçada, seus amigos simplesmente o olhavam divertidos mais que escandalizados. Cada
noite havia outra nova obra ou ópera, ou alguma festa que durava até o amanhecer. Cada
noite Ainsley estreava um novo vestido e Cameron a cobria com mais e mais joias
custosas.

Mas não havia nenhum pingo de singela felicidade entre essa gente. Sem ter amigos
verdadeiros nem poder encontrar calor e consolo neles.

— Deveríamos ir então — disse Ainsley.

— Por quê? — Cameron exigiu. — Já esta cansada?

— Não, mas você sim.

Cameron franziu o cenho aos maliciosos olhos cinzas de Ainsley. Precisava entender
tudo a respeito dele?

— Quem demônios disse isso?

— Ninguém precisa me dizer isso — disse. — Não está a gosto com esta vida, e sabe.
Quando está fora montando a cavalo ou observando-os, como fizemos na feira de cavalos
o outro dia, está de melhor humor e mas sociável.

Algumas noites mais sob os abajures de gás e começará a grunhir.

Cameron grunhiu em resposta, o que a fez sorrir.

— Assim exatamente. Não fique aqui por mim, Cam. Vá aonde esteja seu coração e
eu te seguirei.

Cameron olhou pela janela de novo, estudando os telhados parisiense. Daniel

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esperava no sofá tão tenso como seu pai.

Daniel fazia mal em fugir da escola, mas Cameron secretamente estava de acordo
com suas razões para fazê-lo. Cameron enviou Daniel a Cambridge porque todos os
Mackenzie foram aí e reservara um lugar quando nasceu.

Para falar a verdade, Cameron não se importou que Daniel retornasse, desfrutava
vendo ele e Ainsley rir a gargalhadas sobre qualquer coisa que encontrassem engraçado
esse dia, os dois provando cada confeitaria em Paris ou arrastando Cameron a cada parte
escura da cidade para saber o que havia ali. Cameron sábia que deveria ser mais rígido
com o Daniel e Cambridge.

Um menino precisava ir à Universidade, e Cameron deveria ser um pai que


controlasse a vida de seu filho. Mas não tinha coração. Se Daniel era realmente infeliz,
pensariam em algo diferente.

Cameron olhou em direção aos dois sentados lado a lado no sofá esperando sua
resposta, seu filho e sua esposa o olhando com a mesma intensidade.

— Monte Carlo — disse.

Ainsley piscou.

— Seu coração está em Monte Carlo?

Cameron não sorriu.

— Estou cansado de Paris e artistas satisfeitos deles mesmos, cheios de seus próprios
gênios. Em Monte Carlo conhecerá uma mistura mais interessante de gente.

— Farei-o?

Cameron se virou para eles, observando ambos com seu olhar cor topázio.

— Você gostará, Ainsley. Ninguém tem motivos puros em mente. Um ladrão


encontraria sorte e corrupção entretida.

— Isso soa mais interessante que artistas satisfeitos deles mesmos, cheios de seu
gênio.

— E a saída do sol sobre o mar, do alto da cidade é formoso — isso era certo.
Cameron queria mostrar o panorama a Ainsley, ver ela adorando quando o visse.

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Recordava Ian olhando Beth enquanto esta via os foguetes, encontrando mais prazer
nela que no show de luzes. Agora o entendia.

Ainsley piscou um olho a Daniel e estirou seus pés em suas botas de pele novas.

— Tenho só uma pergunta a respeito desta "OH tão emocionante Monte Carlo" —
disse.

O olhar de Cameron se dirigiu aos canos de suas botas, abotoadas sobre suas meias
de seda. Imaginou desabotoando cada botão, chupando seus tornozelos que apareceriam à
vista, levando sua língua para cima até atrás de seu joelho. Ainsley e seus botões.

— Que pergunta é essa? — conseguiu dizer.

Dirigiu um sorriso a ele e uma piscada ao Daniel.

— Em Monte Carlo, há bolos?

Sim, tinham bolos e também o cassino, ao que sua moralista majestade, a Rainha
Vitória, desaprovaria amplamente. Quando chegaram a seu hotel em Mônaco, Cameron
pediu a Ainsley que colocasse o vestido vermelho escuro de veludo que escolheu para ela
em Edimburgo e a levou diretamente ao cassino.

Ainsley se encontrou em um grande edifício, elegante, cheio de brilhantes pessoas. O


vestíbulo se erguia para uma gigantesca janela retangular de cristal talhado com pinturas
clássicas e estátuas ao redor. As salas de jogos se abriam a partir desta rotunda, e Cameron
passeou por elas com desenvoltura. Davam a bem-vinda os croupier por seu nome e sorriu
às formosas mulheres que revoavam, contratadas para entreter os jogadores nas mesas.
Mais de um olhar interessado da multidão se fixou em Ainsley, a sociedade aí também se
inteirou do assombroso e repentino matrimônio de Cameron Mackenzie.

Ainsley percebeu rapidamente que Cameron não gostava de Monte Carlo mais do
que gostava de Paris. Podia falar e rir com seus amigos, beber uísque e fumar cigarros
jogando às cartas, mas seu coração não estava aí.

Ainsley chegou a conhecer melhor o verdadeiro Cameron conforme foram passando


os dias, deslizando para um inverno tão suave, que era estranho para ela acostumada ao
frio inverno escocês.

Deu-se conta que podia falar facilmente com o Cameron a respeito de muitas coisas.
Notícias do mundo, esporte, jogos, suas opiniões sobre a história da Escócia e suas relações

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com a Inglaterra, livros, música, drama, arte. Cameron leu e viajou, brincava que absorveu
um pouco de conhecimento em Cambridge, mas que foi através de seus sonhos.

Porque passou seu tempo acordado, bebendo, jogando, montando a cavalo e


perseguindo mulheres.

Era bastante aberto a respeito de sua corrupta vida, pensando que Ainsley merecia
saber tudo e além disso desprezava os hipócritas. Mas ainda com esta franqueza, Cameron
ocultava alguma parte dele, nunca permitia entrever muito.

Sentia-se excluída, solitária, mesmo que Cameron fizesse amor apaixonadamente


cada noite.

A maior parte das tardes, os três jantavam fora ou iam ao teatro ou a ópera juntos, e
não voltou a surgir o tema de enviar Daniel outra vez a Cambridge. Ainsley via que
Cameron mesmo assim não sabia o que fazer com o menino, gostava de tê-lo por perto.
Durante o dia visitavam museus e jardins ou simplesmente percorriam as ladeiras de
Mônaco. Caminhavam do cais até o topo das colinas com tanta frequência que Ainsley
declarou que esse devia ser o inverno mais saudável que já passou.

Mas Cameron nunca, nunca se deitava com Ainsley em sua cama.

Um só incidente estragou a brilhante estadia em Monte Carlo. Daniel retornou ao


hotel uma tarde depois do ano novo com um olho arroxeado e a metade de sua cara
ensanguentada.

Ainsley armou uma cena enquanto o tratava, mas Cameron o observava franzindo o
cenho.

— Terminaram com isso? — perguntou Cameron, — ou virá a polícia a minha porta


a te prender?

— Eu não me meti em uma briga, papai. Um cara fez que seus valentões me dessem
uma surra.

Ainsley olhou a Daniel alarmada.

— Então nós somos os que deveríamos ir à polícia.

Daniel encolheu os ombros.

— Estou bem, escapei deles.

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— Que cara? — perguntou Cameron. — O que aconteceu?

Daniel se mostrava evasivo.

— Irá se vingar quando disser isso. Talvez não deveria fazê-lo com a Ainsley aqui.

— Sou feita de material duro, Daniel — disse Ainsley. — Quero saber a respeito
desse cara, e ainda penso que devemos mandar deter seus valentões. Que espécie de
homem manda a outro homem golpear a um menino?

— O Conde Durand.

Ainsley não fazia ideia de quem era, mas Cameron ficou em alerta.

— Durand continua vivo? Pensei que a gonorreia o tivesse matado.

Daniel soprou, relaxando.

— Não, está aqui, mas não tem bom aspecto. Gasto diria eu. Talvez tenha gonorreia.

— Enviou a seus homens contra você? — as palavras do Cameron soaram tranquilas,


mas Ainsley sentia como aumentava a fúria nele como um gêiser.

— Eu golpeei primeiro Durand, admito-o. Porque ele começou outra vez dizendo
que era meu pai. Disse a Durand que isso era impossível, porque seu caralho esteve
flácido durante décadas. Depois me disse que se eu pretendia ser um cachorrinho
Mackenzie, é porque estava tão louco como minha mãe, então o derrubei. Ele gritou e seus
valentões me separaram dele, disse que me dessem uma boa surra. Durand disse que os
pararia se admitisse que era seu filho, mas maldito se eu o fiz. Escapei deles.

Ainsley escutava chocada, o trapo que estava utilizando para limpar a face de Daniel,
jorrava sangue no tapete.

— Cameron?

— Eu tratarei com Durand. Danny, você se mantenha o mais longe possível dele.
Sem planos de vingança. Entendeu? Não quero que traga dez valentões a próxima vez.

Daniel se sentiu incomodado, mas assentiu.

— Quem é este Conde Durand? — perguntou Ainsley.

Daniel lançou um olhar a seu pai.

— Disse que deveríamos tê-la enviado fora da sala.

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— Se Ainsley escolheu viver conosco, merece saber o pior. O Conde Durand era o
amante de minha esposa — disse Cameron a Ainsley. — Um dos mais persistentes.

— OH — a explicação de Cameron era mais dilaceradora pela calma com a que a


deu.

— Estava com Durand quando se casou com papai — disse Daniel. — Ela continuava
voltando com ele até depois de se casar, e deu muito dinheiro de papai. Durand é um
desses velhos aristocratas franceses de uma família emigrada. Não tem lar, vive de seus
amigos e suas mulheres. Provavelmente de seus amantes masculinos também.

— Daniel — disse Cameron.

— Bom, queria que ela soubesse. De algum jeito, o homem meteu na cabeça que me
engendrou.

Pelo aspecto do olhar nos olhos de Cameron, a dúvida disso o obcecou. Daniel, alto,
fornido, sua atitude era um reflexo da de Cameron, era indubitavelmente um Mackenzie.
Mas Cameron deve ter vivido com a agonia de não saber com certeza antes de seu
nascimento. Essa era outra razão pela qual Cameron não enviou a Elizabeth longe, deu-se
conta Ainsley. Cameron precisava saber se o menino que Elizabeth levava era em efeito
dele.

— Mas o Conde Durand não te engendrou — disse Ainsley. — É óbvio.

— Sei, mas não pode tirar a ideia da sua cabeça. Ameaça ir à polícia por isso, ou tenta
chantagear a papai por me manter afastado dele — Daniel riu, seu olho machucado
inflamado quase fechado.

— Durand não quer realmente um filho pendurado nele, só quer causar problemas e
obter dinheiro de papai. Durand não pode manter meus gastos.

Cameron fez que Daniel deixasse o tema, mas esteve calado o resto do dia.

Essa noite, no cassino, Cameron abruptamente abandonou uma mão ganhadora de


baccarat para sair a grandes pernadas do salão até um homem esbelto e de cabelo escuro
cuja capa de ópera de cetim e linho pendurava em dobras flácidas sobre seu corpo ossudo.

Os clientes do cassino se apressaram fora do caminho de Cameron, abrindo uma


trilha entre ele e o homem de cabelo escuro.

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Cameron agarrou o homem pelo pescoço, levou-o para a entrada e o tirou pela porta
principal. Ninguém o deteve, os discretos guardas e até as mariposas fingiram prestar
atenção a outra coisa. Cameron arrastou Durand pela entrada do pseudoclássico edifício,
Ainsley repicava atrás deles com seu vestido de noite ajustado e seus sapatos de salto alto.
Cameron empurrou o homem até que chegaram a um lugar onde uma das tortuosas ruas
passava por cima de uma ruela.

Ainsley os seguiu, com o coração na garganta. Não culpava Cameron por seu
aborrecimento, mas quem sabia o que Cameron faria a Durand? Ou Quantos valentões de
Durand esperavam nas sombras para golpear a Cameron e transformá-lo em mingau?

Rodeou a esquina no momento em que Cameron lançava Durand contra a parede. O


homem tentou se defender, mas Cameron içou Durand por sua capa.

— Se voltar a tocar em meu filho — disse Cameron claramente. — Vou Matá-lo.

— Seu filho? — Durand respondeu em francês ao inglês de Cameron, mas Ainsley o


entendeu suficientemente bem. — Minha Elizabeth dizia que não podia fazer que seu
pênis dançasse o suficiente para dar um filho.

Dizia que te enganou muito bem com minha semente. O menino é meu.

— Era uma mentirosa de Merda, Durand.

Durand lançou um golpe nele e Cameron facilmente capturou seu punho.

— Disse-me o que te fez, lixo — gritou Durand. — Devia estar com ela para te deter
quando se vingou da única maneira que sabia. Elizabeth te deu seu castigo, mas se eu
tivesse estado aí, teria metido esse atiçador por seu traseiro até ter arrancado seu coração
por trás.

Cameron estrelou o homem contra a parede de novo e sua cabeça golpeou contra os
tabiques.

— Importa-me uma merda o que me diz, mas se tocar em Daniel de novo, se tentar,
sequer, voltar a vê-lo, quebrarei seu maldito pescoço. Entendeu?

Durand tentou cuspir, mas Cameron golpeou sua cabeça contra a parede de novo.

— Diga, entendeu?

Durand finalmente assentiu, ofegando. Cameron arrastou o homem que lutava, pelo

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pescoço através da estreita rua e o deixou cair por sobre um muro lateral à rua de baixo. O
conde gritou ao cair, depois os gritos cessaram abruptamente.

Capítulo 23

Ainsley se apressou a ir para Cameron.

— Deus meu, Não o matou, não é?

Cameron a olhou por cima de seu ombro.

— Não, caiu em um carro cheio de merda.

Ainsley pressionou a mão sobre sua boca, sossegando uma risada histérica. Cameron
se centrou nela como se acabasse de vê-la.

— Ainsley, que demônios está fazendo aqui?

— Te seguindo, tinha medo de que seus valentões o espreitassem.

— E se o tivessem feito, o que teria feito você? Teria os golpeado com seu leque?

— Ia gritar chamando à polícia. Posso gritar muito alto.

Cameron pegou Ainsley pelo braço e se dirigiu de retorno rumo ao cassino, onde
juntara uma multidão que simulava não estar interessada no que acontecia.

— Partimo-nos.

— É uma boa ideia.

Cameron chamou seu criado para que trouxesse sua carruagem. Outro se apressou
dentro a ir buscar o casaco de Ainsley, saindo justo quando a carruagem partia.

Ainsley e Cameron viajavam em silêncio enquanto o chofer os levava rumo ao hotel.


Cameron olhava pela janela. Ela sentia sua inquietação e sabia que devido a sua presença,
não passeava de cima a baixo pelas ruas de Monte Carlo para queimar sua fúria. Cameron
a escoltava a casa para protegê-la, não porque ele quisesse ir.

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— Pensei que o mataria — disse na escuridão.

Cameron a olhou.

— Mmmm?

— Durand, não podia saber que essa carroça estaria aí.

Seus olhos brilharam.

— A queda não era tão alta. Queria assustá-lo. Posso ser muitas coisas, minha esposa,
mas não sou um assassino.

— Não quando há uma carreta de esterco à mão, por certo. Espero que estrague sua
capa de ópera, odeio essas coisas.

Ainsley pôs seus dedos sob a curva de seu braço, sentindo sua rigidez, sabia que ela
ouviu cada palavra que Durand disse.

— Incomoda-me ter que te fazer uma pergunta tão óbvia — disse. — Mas por que se
casou com Lady Elizabeth?

Cameron grunhiu.

— Ela me deslumbrou, suponho. Ainda estava na universidade, vi uma mulher


atraente e sofisticada e a sequestrei. Dei-me conta muito tarde de como era e então já
levava Daniel em seu ventre.

E Cameron quis mantê-la perto para proteger Daniel.

— Sei que não quer que diga isso — disse, — mas sinto muito o que te aconteceu, não
devia ter sido assim.

Cameron descansou suas grandes mãos sobre as dela.

— Mas aconteceu e vivo com os fantasmas — a olhou, seus olhos com mais calor. —
Os fantasmas não me atormentaram muito ultimamente.

Atreveu-se a aconchegar-se em seus braços, ainda sustentava sua mão.

— Tenho outras notícias — disse Cameron depois de um momento. — Do Pierson,


pensava dizer isso mas Daniel...

Ainsley sentiu um calafrio.

— A respeito de Jasmine? Encontra-se bem?

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— Está bem ou pelo menos isso acredito. Escrevi a Pierson e hoje recebi sua resposta.
Maldito homem, não entra em razão. Quero esse cavalo, Ainsley.

— E não o venderá?

— Não, mas pelo menos o intimidei para que me deixe treiná-la outra vez. Agora me
diz que o farei sem me pagar honorários por treiná-la em compensação pelo dinheiro que
perdeu porque não pude fazê-la ganhar no Doncaster — Fez um ruído de desgosto. —
Com certeza que todos os outros treinadores lhe deram as costas e está desesperado. Quer
fingir que não está, que ainda tem a frigideira pelo cabo. Ingrato.

— Dará as costas então?

Cameron a olhou. Seus olhos ainda queimavam com raiva.

— Diabos não. Não necessito o dinheiro, necessito Jasmine.

Ainsley esfregou seus ombros.

— Quer retornar a Inglaterra, não é Cam? Agora mesmo, quero dizer.

Não a olhou.

— Quero treiná-la, Ainsley. Farei-a uma boa corredora. Tem muito potencial, tudo
desperdiçado por Pierson.

— Me refiro a que odeia estar aqui. Não importa quantos amanheceres observemos
do topo da colina, ou quantas vezes ganhe nas cartas. Seu coração não está nisso. Foi feito
para estar parado nos portões de um paddock, não sentado na mesa de bacará.

Cameron se agachou par a alisar um de seus cachos.

— E que diabos fará enquanto estou de pé nos portões do paddock?

— Observar. Montar. Serei a senhora da casa. Confia em mim, terei muito que fazer.

Cameron passou seu dedo sobre o fino bracelete de ouro que deu de presente de ano
novo.

— Meu imóvel em Berkshire está longe de qualquer cidade. Ali não há nada a fazer,
só há cavalos. E meus irmãos passarão pelo imóvel quando começar a treinar. Utilizam-no
como desculpa para escapar do que se supõe que estejam fazendo.

— Soa perfeito — o animou Ainsley. — Podemos convidar a todos, e a Beth e Isabella

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e aos meninos, se pode arrumar. As duas esperam para fim da primavera. Ou depois se
não poderem vir na primavera. Estou segura que poderemos ter uma formosa festa de
verão com todos ali.

Ainsley se separou dele quando viu o olhar de Cameron. Era a de um homem


contemplando seu lar de solteiro invadido por mulheres, bebês e babás.

— É só uma ideia — disse rapidamente. — Cam, está me dizendo que estivemos aqui
todo este tempo porque pensou que eu gostava?

— Sim, você gosta de estar aqui.

— Bom, sim, é emocionante, mas não é o que quero fazer para sempre. Cameron a
observava com um olhar pensativo.

— É mulher, Ainsley.

— Sim, sei, fui-o por muitos anos.

— Se supõe que quer um constante fluxo de vestidos e joias e ser vista com eles todas
as noites.

— Um eterno desfile de modas pode chegar a ser um pouco aborrecido.

— Está aborrecida? — seu cenho se aprofundou. — Devia me ter dito. Posso te levar
a qualquer parte. Roma, Veneza, até ao Egito se quiser.

Ainsley pousou os dedos sobre seus lábios.

— Por que devemos revoar ao redor do mundo? Não desejo fazê-lo se isso significa
que te verei infeliz e impaciente.

Cameron deu um suspiro de inquietação.

— Não entendo o que é que quer, Ainsley.

— Quero estar com você.

— Enquanto estou com a lama até os joelhos? O imóvel está a milhas de distância de
qualquer restaurante.

— Bem. Eu adoraria um pouco de cozinha tradicional escocesa. Sua cozinheira em


Berkshire sabe fazer bolos e papa de aveia, não?

— É escocesa.

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— Bom, então está tudo arrumado.

— Ainsley, para. Deixa de estar tão malditamente animada a respeito de tudo isto.

— Posso ficar resmungona se quiser — fez uma ameaça de franzir o cenho.

Cameron não riu.

— Não posso te dar o que quer se não me diz o que é.

Ainsley levantou seu punho que descansava em sua coxa e beijou seus grandes
dedos.

— Estou tentando dizer isso. É um homem generoso, e não posso mentir e te dizer
que eu não gosto dos formosos vestidos e joias que me compra. Mas realmente fugi de
minha respeitável vida para estar com você. Com você, Cameron Mackenzie. Não me
importa se estivermos no hotel mais caro em Monte Carlo ou em uma choça com nada
mais que tortas de aveia para jantar.

O olhar que dirigiu a envolvia na angústia.

— Por que demônios ia querer isso?

— Eu gosto das tortas de aveia. Especialmente com um pouco de mel.

— Maldição, refiro-me A... Por que me quer? Se olhe. Apresentei-a ao mais corrupto
de meu mundo, e você se senta aqui toda virginal e inocente, sorrindo-me, pelo amor de
Deus!

— O que deveria estar fazendo? Te exigindo mais joias? Quebrando pratos e gritando
se não as consigo? Ameaçando te deixar por algum homem que me compre mais?

— Isso é o que todas fazem — sua voz soava vazia.

— Vê? Despreza às mulheres. Disse isso, recorda?

— Sim, desprezo às mulheres como as que descreve.

— Então não tenha nada mais haver com elas. Vamos a Berkshire e ao diabo com
todas elas — Cam a olhou com cepticismo, Ainsley enredou as mãos a seu redor e
alvoroçou o cabelo de sua nuca.

— É o que realmente quero, Cameron. Os cavalos, a lama e você. — E o beijou.

E... Foram a Berkshire.

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Cameron nunca levou uma mulher a seu imóvel de Berkshire, a Waterbury Grange,
que estava ao sul de Hungerford.

Comprou o lugar depois da morte de Elizabeth, necessitava um lugar de retiro longe


de Kilmorgan, de seu pai e da tumba de Elizabeth. Comprou uma casa cheia de criados.
Deixou Daniel correr como um selvagem e se concentrou nas corridas de cavalos.
Newmarket, Epsom, Ascot, e St. Leger, eram os eventos ao redor dos quais girava seu
mundo.

As amantes necessitadas não cabiam nesse mundo. Ainsley por outra parte, deslizou
nela sem perder o passo. Encarregou-se do funcionamento da casa desde o momento em
que chegou, em seguida descobriu e restringiu a prática dos criados de ficar com a melhor
parte das comidas para eles enquanto serviam descortesmente as sobras a Cameron.

Cameron achou divertida sua indignação pela forma que se aproveitavam dele.

— Esta gente me manteve vivo quando me mudei para viver aqui, e cuidaram de
Danny por mim. Não os invejo.

— Há um mundo de diferença entre invejá-los e comer porco salgado cartilaginoso


enquanto eles se davam um festim com tenros filetes de vitela.

Cameron encolheu os ombros.

— Faz o que queira. Não sou bom com os assuntos domésticos.

— Obviamente não — disse Ainsley com o cenho franzido.

Cameron não podia negar que Ainsley fazia bem em o levar de volta. O vento de
janeiro era fresco e duro, mas o pior do inverno logo passaria, e ele e Angelo, com o Daniel
nas costas, começariam a treinar a sério. Cameron se deu conta que esperava levantar-se
antes do amanhecer cada manhã e tirar os cavalos com o Daniel enquanto o sol saía.

Pierson não havia chegado de Bath com Jasmine, e Cam se perguntava se na verdade
a levaria. Além disso, os treinamentos se desenvolviam de maneira satisfatória.

Nos estábulos de Cameron se trabalhava de verdade, com vários treinadores, gente


indo e vindo. Angelo era o segundo no comando e qualquer treinador, ajudante de
estábulo ou jóquei que tivesse algum problema com isto pedia que se fossem. Angelo

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conhecia os cavalos tanto como Cameron e podia montá-los a pelo e correr no circuito. Os
treinadores que levavam muito tempo com o Cam chegaram a respeitar o Angelo. E
diziam "esse cigano sabe o que faz".

Quanto a Cameron, uma vez que bateu o vento de Berkshire no cabelo e sentiu a
emoção dos cavalos jovens chegando para ele da linha de partida, seu tédio voou. Uma
vez mais, estava acordado e vivo.

Quando Daniel e ele retornavam à casa pela tarde, Cameron tinha outro ponto de luz
em sua vida: Ainsley. Adaptou-se à casa como se tivesse vivido ali toda sua vida. A
governanta, que nunca falou muito com Cameron exceto para o absolutamente necessário,
mantinha uma constante conversa com Ainsley, quando perguntava sobre todos os
aspectos do trabalho doméstico. Ainsley tinha seu próprio jogo de chaves, e a governanta
começou a dizer "deixe perguntar a sua Senhoria", quando alguém fazia alguma pergunta.

O pessoal era tranquilo, pouco efusivo, criados bem treinados, além de seu hábito
agora terminado de levar os mantimentos. Embora não adoravam a Ainsley, ao menos a
respeitavam. Restava um único ponto de tensão entre Cameron e Ainsley. O fato de que
Cameron a deixava para dormir em sua própria cama todas as noites. Isto pareceu aliviar
um pouco no início da primavera.

Ou isso foi o que Cameron pensou. Deveria ter recordado que Ainsley era cautelosa.

As fechaduras na antiga casa solário eram fáceis de abrir. As portas e as fechaduras


tinham centenas de anos, eram de quando a construíram e algumas delas abriam com a
mesma chave.

Ainsley praticou a abrir as fechaduras desde o dia que chegou, assim foi como
descobriu os mantimentos escondidos que os criados guardavam para eles.

Uma noite sem lua, deslizou pelo corredor, percorrendo a curta distância entre seu
quarto e o de Cameron, preparada com uma forquilha. Ficou de joelhos suavemente no
tapete, escutando seus roncos durante um momento antes de mover a antiga fechadura
com sua pequena dobradiça. Encontrou-se de frente com uma nova e brilhante fechadura.
Ele a trocara. Que contrariedade.

Ainsley soltou o fôlego, mas se negou a render-se. Teria que trabalhar um pouco
mais nesta fechadura e ao final necessitou duas forquilhas, mas finalmente a abriu.

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Levantou-se, com o coração pulsando rapidamente e sem fazer ruído abriu a porta.

O quarto estava escuro salvo pelo carvão que brilhava na lareira. Assegurou-se de
visitar o quarto de Cameron frequentemente, assim tinha estudado a disposição das
coisas. A menos que tivesse reorganizado os móveis às onze dessa noite, sua cama deveria
estar nessa direção. Os contínuos roncos disseram que estava correta.

Suavemente fechou a porta atrás dela e cruzou o quarto.

— Ainsley.

A palavra foi dura, clara e indicou que Cameron estava completamente acordado.

— Caramba — disse. — Só fingia estar dormindo.

Raspou um fósforo e um abajur de querosene brilhou. Mostrando Cameron sentado


em sua cama, com o colo coberto com um lençol, e o resto dele deliciosamente nu.

— Estava dormindo, quando escutei o inconfundível arranhão de um ladrão


tentando abrir minha fechadura.

— Deve ter muito bom ouvido então.

— Assim é.

Ainsley deu outro passo.

— Se assustou? — havia dito que despertava com violência quando se sobressaltava


e planejou despertar tão delicadamente como pudesse, para mostrar que nada terrível
poderia acontecer.

O sorriso de Cameron era quente.

— Quando ouvi alguém abrindo a fechadura, imediatamente pensei em você. Sem


mencionar os murmúrios de frustração que fez quando a fechadura foi uma provocação. O
que faz aqui?

Ainsley cobriu a distância entre a porta e a cama.

— Vim dormir com meu marido.

— Ainsley.

Pôs sua perna no colchão.

— Nega-se a falar disto, mas me nego a deixar que as coisas continuem assim. As

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camas são para compartilhar. Especialmente as camas tão grandes como esta.

Cameron se lançou para ela. Antes de poder escapulir, Ainsley se encontrou


arrastada à cama e cravada no colchão, como esteve a noite que entrou em seu quarto a
procurar as cartas da Rainha. A diferença era que, da ultima vez, ele estava mais ou menos
vestido. Agora, só um lençol se interpunha entre o corpo nu de Cameron e Ainsley.

Ela sentia cada polegada de seu corpo duro, cada polegada, a força de suas mãos, o
calor de seu fôlego.

— Necessita que te recorde quão perigoso sou? — grunhiu.

— Não é perigoso.

Cameron cravou seus pulsos no colchão com seu peso e dirigiu seu quente e perverso
sorriso.

— Não? Talvez deveria demonstrar isso.

Queria ou não? Uma mulher judiciosa estaria aterrada de um gigante elevando-se


sobre ela na escuridão, preparado para violá-la, mas Ainsley não era judiciosa. Ou talvez o
fosse. Casou-se com ele.

— Não é necessário — disse. Cameron chupou seus lábios.

— É necessário. Não quero que as coisas fiquem muito domésticas.

Isso mesmo disse no trem quando propôs matrimônio. Queria uma amante, não uma
esposa.

— Bom — disse. — Talvez alguém deva te dar uma pequena demonstração.

Cameron se levantou abruptamente da cama levando-a com ele e os lençóis caíram.

Estava nu à pouca luz, seu pênis grande e duro desejava-a sem se deixar abater.

Da posição de Ainsley na borda da cama, foi fácil agarrá-lo com sua mão, e atraí-lo
um pouco para ela. Cameron se esticou quando sentiu os doces lábios e a boca de Ainsley
esfregar a ponta de seu membro.

— Deus me ajude — esteve a ponto de deitá-la no chão e fazer amor profunda e


duramente em represália por entrar às escondidas em seu quarto, mas ela lhe dera as
voltas, outra vez.

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Nunca o fez antes, mas vira seus desenhos eróticos e ouviu as coisas pícaras que
Cameron murmurou ao seu ouvido. Não era ingênua, e obviamente queria brincar. Quase
gozou ao vê-la abrir seus lábios e deslizar sua dureza entre eles. Cameron apertou os
punhos, seu corpo inteiro estava rígido ao conter-se. Se gozasse, perderia a sensação de
estar dentro de Ainsley, a sensação dela lambendo-o, beliscando, o maravilhoso puxão
quando o chupava.

— Ainsley — a palavra soava rota, sua respiração rouca. Pôs a mão em sua cabeça,
sacudiu seus quadris. — Ainsley, O que está me fazendo?

Alegremente, ela não respondeu. Mantinha sua boca ocupada com ele, suas mãos
estabilizando-se sobre suas coxas.

— Diabo de mulher — sussurrou. — Eu deveria estar te fazendo pagar — como


resposta, trabalhou-o mais duro. Cameron escutava as palavras sair de sua boca, pícaras
silabas que os levou a esta situação em primeiro lugar.

Preciosa, Preciosa Ainsley... maldição!

Gritou forte enquanto sua semente se derramava de seu corpo e não queria parar,
quando ela recatadamente se afastou e limpou seus lábios com a ponta de seus dedos.

Cameron grunhiu, um som animal. Quando Ainsley simplesmente sorriu, levantou-a


em seus braços e a levou através do quarto, onde procedeu a fazer amor profundamente
no grosso tapete em frente ao fogo. Ele a amou tão profundamente que ela rapidamente
dormiu, então a levou nos braços até seu quarto e a deixou ali.

Lorde Pierson levou Jasmine a primeira semana de fevereiro. Cameron o observou


conduzindo pela estrada a passo de caracol, seguindo a carreta que trazia Jasmine.

Cameron desmontou do cavalo que estava montando e jogou as rédeas ao jóquei, que
saltou agilmente sobre a sela. Caminhou à porta a encontrar a carreta e encaminhá-la aos
estábulos, mas se deteve surpreso quando outra carreta entrou.

Pierson desceu de sua carruagem, assegurando-se que suas limpas botas não
aterrissavam na lama ou no molhado. Suas roupas perfeitamente engomadas faziam um
marcado contraste com a tosca jaqueta e as calças de montar de Cameron.

— Bom, Mackenzie — disse Pierson. — A trouxe de volta. Não a estragará desta vez,

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não é?

Cameron observava a segunda carreta se aproximar e deter-se.

— E então, que há aí?

— Um garanhão. Chama-se o Anjo de Rafael, e está me dando problemas. Quero que


me tire isso de cima.

— E por que deveria fazê-lo?

— Por me fazer perder em St. Leger. Ninguém quer Anjo de Rafael, mas todos dizem
que se alguém o pode mudar e fazê-lo vendável esse é você. Pensei que me faria esse
favor.

A carreta de Jasmine tinha chegado até os estábulos. Daniel e Ainsley apareceram


como por arte de magia quando Angelo começou a descarregá-la.

— E não quero o cigano perto de meus cavalos — disse Pierson em voz alta. — Não
me surpreenderia que fosse culpa dele que o fizesse tão mal.

Ainsley se virou ao escutar e abriu sua boca. Cameron levantou a mão para detê-la.

— Angelo não tem nada de mau, nem tampouco Jasmine — disse Cameron.

Teria preferido golpear na boca de Pierson, jogá-lo na carruagem e enviar de volta a


sua casa, mas se controlou. Queria treinar Jasmine, queria salvá-la desse bastardo, mas se o
fizesse se zangar, o homem poderia simplesmente levar Jasmine de novo.

Cameron se virou para fazer gestos a Angelo para que se afastasse, mas ele já se
movera deixando Jasmine com um cavalariço de Pierson. Angelo o fez sem rancor, por
isso Cameron confiava nele.

— Bom — disse Cameron. — Deixa-os a ambos, vemo-nos no Newmarket.

Pierson nem sequer se regozijou. Simplesmente baixou seu grande nariz e se virou
para sua carruagem, preparado para retornar a sua vistosa casa em Bath.

Ainsley apertou os lábios. Sabia o esforço que estava fazendo Cameron para não
gritar o que pensava a Pierson. Escolheu conter seu temperamento pelo bem de Jasmine.
Pobre Jasmine, se via tonta pela viagem. Sua pele estava salpicada pelo suor e seus olhos
muito abertos. Uma boa massagem e correr pelo prado para que relaxasse, era o que
necessitava.

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O Cavalariço de quadra de Pierson, entretanto, levou-a direto a uma quadra no pátio


em forma de U dos estábulos. Jasmine obviamente não queria ir. Fugiria assim que tivesse
oportunidade.

— Deixa-a correr — disse Ainsley. — Angelo.

Angelo não disse nada, recostando-se contra a porta de outra quadra a observar. O
cavalariço sacudiu a cabeça.

— São ordens de milord, milady. Não nos deixará voltar para casa até que não esteja
segura e presa.

Os cavalos não gostam de estar presos. Ainsley aprendeu isso desde menina, e o viu
todos os dias observando Cameron. Se tivesse um cavalo nervoso, devia deixá-lo passear
pelo prado para que investigasse as espantosas novas marcas, preferivelmente junto a um
cavalo que estivesse calmo e sedado. O novo cavalo precisava sentir-se seguro, precisava
acostumar-se às coisas.

O moço suspirou.

— Bom, Lorde Pierson gosta assim, e eu gosto de meu trabalho, assim vai para
dentro, rogo que me perdoe, milady.

Ainsley cruzou os braços e o deixou ir. O que acontecesse depois de que Lorde
Pierson se fosse seria diferente.

Jasmine não lutou com o moço, embora se revolvesse nervosa. Tudo teria estado
bem, se não tivesse sido pelo garanhão. Ele não queria estar preso de noite. Mal desceram
Anjo de Rafael de sua carreta, soprou, revolveu-se e se desfez dos dois cavalariços que
tentavam mantê-lo tranquilo.

Cameron se dirigiu para ele e Angelo fechou os punhos enquanto via o que
acontecia, não atrevendo-se a interferir.

Jasmine escutou o garanhão e se virou para ver o que estava acontecendo. Sem medo,
mas com os olhos calculadores de um menino travesso.

— Vigia-a — advertiu Ainsley.

O cavalariço dirigiu um gesto irritado. Ela, uma simples senhora da casa, pretendia
dizer a um experiente cavalariço como conduzir um cavalo.

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Highland Pleasure 03

O garanhão dançou escapando, olhou Jasmine e se dirigiu para ela. Jasmine balançou
seus quartos traseiros e levantou a cauda, o equivalente de uma dama pavoneando seus
quadris diante de um homem excitado. O garanhão relinchou baixo e correu para ela, mil
quilos de cavalo negro disparados pelo estreito pátio. Os ajudantes do estábulo saíram do
caminho e Ainsley se moveu afastando-se a um lado, enquanto Jasmine, no último minuto
perdeu os nervos.

Jasmine levantou a cabeça rompendo a corda da focinheira e deu a volta procurando


freneticamente uma saída. O garanhão correu para encurralá-la, e ambos os cavalos
giraram para Ainsley.

Capítulo 24

Ainsley via o mundo passar lentamente. Viu o assombro nos olhos de Angelo, o
cavalariço se equilibrando para o garanhão. A suarenta Jasmine aproximando-se muito e a
égua virando-se, enquanto resistia.

O garanhão, um imenso monte de carne de cavalo, esquivando os cascos da égua e


desviando-se direto para Ainsley.

Ainsley escutou seu próprio grito. Tentou assustá-lo levantando os braços, notou o
azedo cheiro que desprendia o cavalo excitado, viu os quartos traseiros e os cascos no ar,
seu enorme peito, seu fôlego quente, as longas e vermelhas fossas do nariz, seus brancos
olhos. Confusa escutou os ajudantes do estábulo e Daniel gritando, os relinchos dos outros
cavalos e por cima de tudo isso, a voz de Cameron, terrível e severa.

Um instante antes que a égua e o garanhão chegassem a esmagá-la viva, Ainsley


sentiu que a erguiam no ar. Uma corda justa oprimindo seu peito, asfixiando-a, mas que a
subiu rapidamente sobre a parte superior do barracão que estava atrás dela. Ambos os
cavalos se chocaram contra a parede em que Ainsley esteve de pé, rompendo as pranchas.
Ainsley aterrissou no suave feno da parte de trás do barracão rolando com Angelo, que
parecia enredado com ela.

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Highland Pleasure 03

Jasmine e o garanhão se afastaram dos estábulos e saltando a cerca do pátio,


lançaram-se aos campos, até que se converteram em duas listas na lonjura do prado.

Angelo se revolveu e ficou de pé.

— Você está bem, milady? — estendeu a mão a Ainsley, que se agarrou à bronzeada
palma.

Assim acredito. Ainsley abriu a boca para falar e não pôde dizer nada. Cameron
retirou a porta quebrada e a levantou. Ainsley se encontrou esmagada contra ele, os fortes
braços de Cameron pareciam de ferro.

— Ainsley — sua voz estava quebrada. — Meu Deus...

Estou bem. De novo as palavras não saíram. Não podia respirar, não podia engoli,
não podia sentir. Tentou pôr suas mãos em seus ombros, mas escorregavam. Chocada,
pensou. Estarei bem uma vez que meu coração comece a pulsar de novo.

Cameron aproximou um frasco aos lábios de Ainsley, de frio metal, o uísque


queimou a boca. Ainsley tossiu, engoliu e tossiu mais.

— Cam — murmurou. Os olhos encheram-se de lágrimas que se derramaram.

Cameron a sustentou. Ainsley se afundou nele, fechando os olhos quando o terror


frio se apoderou dela. Esteve muito perto.

— Se assegure de que Jasmine está bem — disse preocupada.

— Angelo foi atrás dela.

— Angelo — a palavra se obstruía na garganta de Ainsley. — Ele me afastou do


caminho.

— Sim, e preciso dar uma medalha. Maldição, Ainsley — Cameron segurou seu rosto
em suas mãos. — Pensei... — sua garganta engoliu e os olhos umedeceram. — Pensei que
tivesse te perdido...

— Angelo pensa rápido — seus murmúrios eram ainda muito débeis e as palavras se
perdiam.

Os lábios de Cameron tremiam enquanto a beijava. Ainsley se agarrava a ele.


Cameron era sua âncora em um mundo que girava. Era o único que evitava que caísse e se
agarrou a ele, o amando com força.

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— Mackenzie! — a voz de Lorde Pierson ressoou através do pátio...

— Disse que mantivesse esse cigano longe de meus cavalos.

Cameron colocou a um lado Ainsley com delicadeza, e depois sacudiu a porta do


barracão e foi até Lorde Pierson. Os fortes e sujos chingamentos escoceses alagaram o
pátio e abafaram os gemidos de protesto de Pierson.

Quando Ainsley conseguiu abrir caminho até o pátio com seus joelhos trêmulos,
Cameron estava jogando Pierson dentro de sua carruagem.

Um círculo de homens os rodearam, mas nem o chofer nem os cavalariços de Pierson


fizeram algo para ajudar a seu senhor. As caras dos cavalariços e jóqueis de Cameron
mostravam sua irritação e desgosto. O indomável garanhão foi pego pelo Angelo, o cigano
falava, enquanto que ele baixava sua grande cabeça às mãos do Angelo.

Jasmine ainda era esquiva, rodearam-na no prado um grupo de cavalariço e Daniel


tentou abordá-la.

— Leve seu maldito garanhão e vá daqui — bramou Cameron. Sua voz era rouca,
sua besta interior estava incontrolada.

Incrivelmente, Pierson ainda o desafiou.

— Se o garanhão se for, não terá Jasmine.

— Então leve-a. Leve seus cavalos de merda fora de minha vista.

— Cam — Ainsley tentava apressar-se para chegar até ele, mas seus pés a levavam
muito devagar, sua voz era muito suave. — Não, não perca Jasmine.

Os cavalariços se moveram para deixá-la passar, os homens estavam furiosos, mas


não com ela.

— Encontra-se bem, milady? — perguntou mais de um.

— Sim, obrigado — sua voz estava sem fôlego. — Cam...

— Não se incomodou sequer em perguntar se minha esposa se encontra bem.

— Nem sequer deveria estar aqui — disse Pierson. — As mulheres devem estar na
cama, não no pátio do estábulo.

O punho de Cam se moveu e Pierson caiu para trás na carruagem, com a cara

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sangrando.

Cameron bateu a porta da carruagem, o chofer saltou à boleia dando a volta ao


veículo rapidamente. As rodas da carruagem giraram velozmente, salpicando lama sobre
Cameron, mas ele já se virava para Ainsley sem notá-lo. Conforme a carruagem de Pierson
se movia para o caminho, Angelo arrumou para colocar o garanhão em sua carreta.

Um cavalariço o colocou e Angelo saiu para o campo para rodear a Jasmine.

— Cameron — disse Ainsley quando os braços do Cameron a rodearam de novo. —


Não pode perder Jasmine. Ama a esse cavalo.

— Quase te perco. Pierson pode ir ao inferno.

— Mas Jasmine não quer ir com ele — Ainsley sentia que por fim estava reagindo.
Em sua mente via o corpo do negro cavalo e os cascos esmagando sua vida.

Cameron a segurou quando suas pernas cederam. Levantou-a em seus braços e a


levou rapidamente à casa, passando diante dos criados que se limitaram a observar, e
subiu pela escada direto ao quarto de Ainsley.

Deixou-a no sofá perto do fogo, ela agitou sua débil mão em frente ao seu rosto.

— Quando se tornou tão dramática minha vida?

— Quando aceitou se casar comigo. Faz um condenado frio aqui — o grande quarto
de Ainsley tinha uma estufa, não uma lareira. Cameron arruinou sua camisa colocando
mais carvão no fogo.

O fogo se avivou, e o quarto se esquentou tanto que Ainsley estava suando. Ou


talvez fosse o calor pelo choque recebido.

— Não vá — murmurou.

— Não irei a nenhuma parte, amor.

— Mas Jasmine... — os dentes de Ainsley batiam. — Não fez de propósito. Só estava


se comportando como cavalo. Eu me pus no lugar errado.

— Ainsley, se cale.

Cameron verteu água de uma grande jarra a uma bacia e molhou uma toalha. Ele
tirou as luvas rasgadas e começou a limpar as mãos cheias de sujeira. Suas mãos picavam

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onde suas palmas se cortaram ao cair.

— Suas mãos estão igualmente sujas — disse Ainsley. Viu seu reflexo no espelho e
começou a rir. — E também está meu rosto. Pareço horrível.

— Cala.

Escutaram vozes fora da porta. Duas criadas e um lacaio entraram com uma banheira
e baldes de água quente. Mesmo quando Ainsley não recordava Cameron solicitando-o. A
sujeira do pátio do estábulo mais a queda ao cair do barracão, deixaram seu vestido cheio
de sujeira e esterco.

Teria que falar com Cameron a respeito de instalar grifos em sua casa, as criadas
precisavam levar a água pelas escadas de trás. Estava realmente muito longe para elas.
Tentou se separar de Cameron para as ajudar, mas ele a reteve.

— Apressem-se antes que se esfrie — foi tudo o que ele disse.

O som da água ao cair era maravilhoso. As criadas rapidamente encheram a tina e


depois todos os servos saíram, incluindo a donzela da senhora que tentou ficar para despi-
la.

Ainsley puxou os botões de seu traje de montar, mas não pôde abrir nenhum.
Cameron a virou de frente para o rugente fogo e ele mesmo desabotoou os botões.

— Está ficando um perito nisto — disse.

Cameron retirou o sutiã de fino pano das costas e esfregou seus pulsos nus.

— Está muito fria. Está segura de que não está ferida?

— Alguns hematomas, acredito.

— Mais que alguns — Cameron afrouxou o espartilho e o tirou, suas mãos tocando
os pontos sensíveis em suas costas. — Mas foram por causa do seu resgate. Não há nada
quebrado, graças a Deus.

— Graças a Deus e a Angelo. Muito inteligente de sua parte, subir até o teto da
cavalariça por trás.

Tinha visto as partes que se removiam entre as baias, eram paredes de madeira
desenhadas para serem movidas em caso de que Cameron necessitasse um compartimento
maior em lugar de dois pequenos.

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Ainsley notou sua ausência enquanto Angelo a ajudava a subir, não havia percebido.

— Beijaria-o — disse Cameron, — se isso não adoecesse a ambos. Mas aumentarei o


seu salário.

— Falou-me a respeito das embarcações do canal nas quais vivem seus familiares, —
disse Ainsley. — Eu adoraria as ver. Nunca estive em um barco cigano. Ou em nenhum
barco de qualquer espécie. Não é algo que uma dama deva fazer, conforme me disseram.

— Levarei-a a seu barco, e nos deslizaremos com sua família do Támesis ao Avon e
de volta, mas depois de que consiga que se aqueça.

Cameron se ajoelhou diante dela, puxando suas meias, o resto de seu corpo estava já
nu. Ainsley se perguntou como havia acontecido isso, então Cameron a levantou em seus
braços e a depositou dentro da água quente.

A água queimava, picava e se sentia muito bem. Ainsley se afundou, deixando que o
calor embotasse seus sentidos. Não temia os cavalos, pensou. Eram animais que se
comportavam como animais, mas nunca esteve tão perto de morrer por culpa de um. Se
Angelo se atrasasse um momento...

— Maldito Pierson — grunhia Cameron. — Não pedi que trouxesse esse condenado
garanhão. Quis matá-lo. Se tivesse se machucado, o teria matado. Não me poderia ter
detido.

Ainsley pôs uma mão molhada no braço de seu marido. A camisa de Cameron já
estava molhada, a puxou com impaciência. Ainsley esfregou sua cabeça no ombro nu de
Cameron, se agradando com o sólido e quente que era. Este homem forte e formoso
pertencia a ela. O vigário em Londres o fez dizê-lo. Eu te adoro com meu corpo.

Cameron a soltou, mas só para pegar a barra de sabão e começar a lavá-la por todos
os lados. Esfregou com sabão as costas e os braços, deslizando depois as mãos ensaboadas
por seu ventre.

— Venha comigo — sugeriu Ainsley. Cameron grunhiu um sorriso.

— Sou muito grande.

— Deveríamos fazer construir uma banheira maior então. Uma tão grande que
caibamos os dois. Em nosso novo banheiro. Deveria contratar a alguns construtores para
começar a modernizá-lo.

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— Cala — Cameron beliscou sua orelha. — Me deixe te cuidar, amor.

A Ainsley gostava que a cuidassem. Cameron deslizou suas mãos em torno de sua
cintura de novo ensaboando sobre e sob seus seios, e Ainsley se recostou feliz.

— Amo-o — murmurou.

Provavelmente não devia tê-lo dito. Quereria ele esses sentimentos? Mas não havia
nada que pudesse fazer. Amava-o e isso era tudo.

Cameron terminou com suas especulações beijando-a.

Notou sua fúria, a raiva e o medo que manteve refreado, tudo isso o deixou sair no
beijo, a boca tremia. Cameron soergueu Ainsley da tina e a água transbordou pelos lados e
sobre ele.

— Minha Ainsley — murmurava entre beijos. — Minha.

— Su...— Ainsley tentou dizer. Sua.

O fôlego de Cameron esquentava sua pele melhor que a água quente. Seus duros
dedos se deslizavam por seu corpo, que ainda estava coberto pelo sabão. Cameron abriu a
boca dela com a sua, beijando-a duramente e mordendo-a.

Tirou-a completamente da água. Embalando-a contra ele, Levou-a a sua cama, e


começou a esfregá-la com toalhas que a criada deixara esquentando perto da estufa para
secá-la. A pele de Ainsley se enfraqueceu.

Gostou especialmente de sentir a toalha contra seus mamilos, que se endureceram.


Cameron se agachou e tomou o ponto escuro em sua boca, e Ainsley gemeu. Ela se
recostou na cama enquanto Cameron brincava com seu mamilo com a ponta de sua língua
e o chupava de novo.

Ainsley puxou a toalha que estava envolta de suas pernas. Fechou seus olhos e
deixou sair outro gemido, mais fricção em um lugar perversamente sensual.

Os olhos de Cameron se obscureceram. Pegou os extremos da toalha dela e a moveu


com pequenos puxões que passaram através de suas partes femininas. Um gemido
escapou. Cameron manteve a pressão, e Ainsley continuou fazendo isso, seus medos se
dissolveram.

Cameron empunhava a toalha magistralmente. O colchão era suave em suas costas.

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O corpo morno de Cameron sobre o dela, pesava, seu peito firme à aprisionava, a toalha
estava entre eles.

Cameron moveu a toalha de novo e o fogo a levou para o orgasmo.

Ainsley envolveu as pernas ao redor dele, seus pés molhados contra suas botas. Não
podia parar os sons que saíam de sua boca, seus gemidos e seus fortes gritos na penumbra
do final da tarde.

Quando Cameron se separou dela, levando-a toalha com ele, Ainsley gemeu. A boca
de Cameron estava apertada em uma firme linha, as sobrancelhas para baixo. Tirou o resto
da roupa e deu um passo dentro da banheira ainda cheia.

De pé, verteu água e sabão sobre seu corpo, lavando a sujeira dos estábulos.

Ainsley se levantou sobre seus cotovelos e desfrutou da vista. O corpo de Cameron


brilhava com a água, e o sabão se aferrava a seu peito, ombros e a sua grande e escura
ereção.

Enxaguou-se, levantando suas bolas despreocupadamente para lavar o sabão daí. A


espuma escorregava por suas pernas, depois Cameron se agachou a enxaguar suas mãos e
jogar água sobre seu rosto. Saiu da água, agarrando outra toalha para secar-se. Ainsley o
observou ir para ela, seu glorioso e alto marido, com a água obscurecendo seu cabelo e
gotejando por seus ombros nus. Suas mãos, antebraços, pescoço e face estavam muito
bronzeadas, assim como a parte baixa de suas pernas, a pele que o kilt cobria estava mais
branca.

Ainsley assumiu que Cameron a levantaria da cama para fazer amor em uma
cadeira, no sofá, ou no chão em frente ao fogo. Mas Cameron atirou a toalha e esmagou
Ainsley contra o colchão. Cameron chupou sua boca, seu úmido e morno corpo se sentia
maravilhosamente pesado sobre ela.

— Quase te perco — disse com voz áspera. — Não quero te perder nunca. Nunca.

O coração de Ainsley pulsava rapidamente. "Ele se cansará dela em seis meses",


escutou às pessoas dizer em Paris e Monte Carlo.

Mas Cameron não se cansou dela. Dava beijos como plumas no queixo e o pescoço
antes de se mover para baixo a seus seios. Ele a chupou com sua boca quente e úmida,
depois afastou suas pernas e deslizou dentro dela.

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A toalha a tinha esfregado e secado, mas quando Cameron empurrou em seu


interior, tudo estava úmido e escorregadio. Deteve-se, seus rostos juntos, Cameron a olhou
nos olhos. Ela viu necessidade neles, dor e muita solidão. E medo. O poderoso e perigoso
Lorde Cameron Mackenzie tinha medo.

Ainsley não podia falar, a sensação de senti-lo rígido dentro dela a deixava sem
palavras.

Respondeu a seu marcado medo da única maneira que podia, o amando.

Cameron se movia lentamente, o primeiro impulso seguido por outro igualmente


lento. Era muito grande, mas gostava de senti-lo dentro dela. A grande cama estava a suas
costas e o morno e sólido corpo de Cameron sobre ela. Como sempre, continha-se, seus
músculos se esticavam enquanto apoiava seu peso nos punhos.

Nada existia exceto o calor da pele de Cameron contra ela, sua excitação estendendo-
a maravilhosamente, seu úmido cabelo gotejando água em sua face. Balançavam-se juntos,
atrás e frente, Cameron movendo-se mais e mais rápido. Finalmente a estava levando ao
desespero, seus corpos colados, unidos com força. O selvagem cheiro do clímax a
envolveram e a levaram para ele. Cameron gemeu, e o prazer de Ainsley ressoou pelo
quarto.

— Minha Ainsley — Cameron murmurava com voz entrecortada. — Não posso te


perder. Nunca. Nunca, nunca... — suas palavras se moviam com seu corpo, Cameron
perdeu o controle. — Minha doce, apertada e formosa esposa.

Ainsley gritou seu nome, recreando-se no som. Cameron continuou, seus corpos
chegaram juntos ao orgasmo, as palavras de Cameron se converteram em gemidos.

Depois caíram juntos, corpo contra corpo, abraçados na ampla e reconfortante cama
matrimonial.

Cameron acariciou a pele de Ainsley, maravilhando-se pelo incrivelmente suave que


era. Era uma mulher forte, mas não havia nada tosco nela. Sua pele era como o cetim, lisa e
brilhante pelo suor e a água do banho.

Quase a perdeu esse dia. Quando Cameron viu o garanhão girar seu grande corpo
para Ainsley e ela presa no canto, seu mundo inteiro caiu.

Sabia que nunca a alcançaria a tempo. Devia ficar parado e ver a mulher que amava

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pisoteada até morrer e tudo porque Cameron Mackenzie cobiçara um cavalo.

Só a rapidez de Angelo a salvou, uma façanha que Cameron nunca poderia pagar.

Cameron gritou a Lorde Pierce, mas sabia que a culpa era dele. Se não tivesse
intimidado Pierson para que trouxesse de retorno Jasmine, Ainsley nunca estaria aí,
opinando sobre a égua, enquanto uma tonelada de perigosa carne de cavalo se dispunha a
matá-la.

A mão de Cameron tremia quando acomodou as mantas em torno dela, Ainsley


sorria adormecida. O sorriso que poderia não ver de novo, por seu egoísmo.

Quando Pierce gritou que levaria Jasmine assim como o garanhão, a decisão de
deixá-los ir foi fácil, Ainsley valia muito mais que um maldito cavalo e sempre seria assim.

O sorriso de Ainsley permanecia enquanto seus olhos se fechavam. Cameron sentiu


seu corpo relaxando, o choque do esgotamento depois do pânico e do emparelhamento ao
amá-la intensamente.

Suas pálpebras pesavam, tudo nele disposto a deixar-se levar, descer ao


esquecimento, dormir... O pânico o alcançou. Cameron começou a deslizar fora da cama,
mas os olhos de Ainsley se abriram. Capturou sua mão.

— Não, ainda não — disse alarmada. Cameron beijou sua testa.

— Preciso ir, carinho. Não quero te machucar — não estava seguro de confiar em
seus reflexos essa noite, nem sequer com Ainsley.

Ainsley o apertou forte.

— Por favor, ainda não. Ainda estou tremendo. Só até que durma, por favor.

Cameron viu o absoluto temor em sua face. Ainsley podia dizer que estava bem, que
tudo estava bem, que Angelo chegou a tempo, mas Cameron viu que o incidente a
assustou como o inferno.

Pedia que a consolasse. Mesmo que um fio frio descesse por sua coluna, sabia que
não podia deixá-la sozinha, não agora. Neste momento, se precisava escolher entre sua
paz mental e a dela, escolheria a dela. Sem palavras, Cameron assentiu.

Ainsley relaxou visivelmente. Cameron subiu as mantas sobre ambos, apertando-se


contra o calor dela e atraindo-a contra ele. Ainsley fechou seus olhos. Docemente confiada.

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Cameron esperou enquanto o fogo rangia e a janela se obscurecia com a noite.


Ainsley deslizou no sono. Ele a sustentava, seu corpo movendo-se suavemente com o dela,
com lentas respirações. Poderia ir nesse momento. Cameron poderia deslizar fora da cama
e caminhar para a porta, deslizar para seu próprio quarto e se arrastar dentro de sua cama
e dar a bem-vinda ao sono, exausto.

Não se moveu. O silêncio do quarto era tranquilizador assim como o chiar do carvão
ardendo e o ruído do vento sob os beirais da casa. Ele e Ainsley estavam seguros juntos
nesse ninho, mornos e reconfortando um ao outro. Tranquilidade, isso era o que Cameron
necessitava. Tranquilidade para estar com Ainsley.

Seu corpo relaxou conforme o quarto se obscurecia. Depois Cameron não saberia de
nada mais que o calor de Ainsley, de sua presença, sua essência. Depois, o esquecimento.

Ainsley abriu os olhos com a luz do sol e encontrou a si mesma cara a cara com seu
marido. Cameron estendido de lado, sua bochecha no travesseiro, as mantas chutadas no
abafadiço quarto. Seus olhos estavam fechados, seu cabelo revolto. Um ligeiro ronco saía
de sua boca ligeiramente aberta.

Lorde Cameron Mackenzie estava dormindo com ela.

Capítulo 25

Ainsley se apoiou sobre seu cotovelo, levantando a cabeça para o estudar. Cameron
parecia um animal recostado, os braços curvados debaixo do travesseiro, as pernas nuas
estendidas.

O sol da manhã iluminava o dorso de suas coxas, destacando os fortes cachos de pelo
entre as cicatrizes de sua pele.

Nunca viu seu corpo tão exposto como agora, mostrando claramente onde
golpearam e rasgaram a pele. As cicatrizes serpenteavam por suas coxas, para cima até
suas nádegas, penetrando inclusive entre os dois apertados montículos de seu traseiro. Na

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fenda, a pele foi rasgada por completo.

Cameron devia ter estado em uma posição muito parecida, aquele horrível dia do
qual zombava o Conde Durand, de barriga para baixo, dormindo estirado. Ainsley se
perguntou quanto tempo teria demorado para poder voltar a dormir nessa posição,
inclusive depois da porta fechada de seu quarto. Muito tempo, pensou.

Agora estava profundamente adormecido, seu corpo relaxado, inclusive as rugas que
apareciam nos cantos de seus olhos se suavizaram. Ainsley não o tocou. Deitou-se de novo
olhando a seu marido, até que aquecida pelo sol voltou a dormir.

Algo deslizou por sua coxa, e fez que Cameron abrisse os olhos de repente. O quarto
brilhava iluminado pelo sol, excessivamente esquentado. Cameron estava em um
amontoado morno de lençóis e mantas com Ainsley aconchegada junto a ele. O que o
golpeou foi seu joelho.

Seu corpo suavemente perfumado se ajustava a ele, seu calor o abraçava. A luz do sol
tingia de ouro suas pestanas e seu cabelo derramado sobre o travesseiro. Um macio braço
colocado sob sua cabeça, o outro ao longo de seu corpo com a palma descansando sobre o
colchão.

Estava profundamente bela.

A realidade alcançou o cérebro de Cameron. Embora tivesse despertado ao lado de


Ainsley, não se assustou, não reagiu mau, não a golpeou nem tentou lançá-la longe.
Despertou em paz em seu quente e brilhante quarto.

Ainsley dormia, ignorante do fato, e uma estranha tranquilidade embargou


Cameron. Um por um, seus temores se desataram e se libertou deles. Ali na cama com
Ainsley, estava a salvo da besta que vivia dentro dele, a salvo da crueldade dos outros.
Devia ter instintivamente suavizado sua reação diante dela, sabendo que, inclusive em seu
sono, precisava protegê-la. Algo de Ainsley, seu aroma talvez, acalmava-o e o sustentava.

Cameron deixou escapar seu fôlego. Seu alívio era tão grande que o mundo inteiro
não podia contê-lo. Ainsley conseguiu de novo, despertá-lo, desterrá-lo da cinza, permitir
viver.

Levantou a mão e acariciou seu cabelo com dedos trêmulos.

Ainsley fez um ruído com a garganta, e abriu os olhos pestanejando.

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Observou-a confusa pelo sono até que um cálido sorriso floresceu em seu rosto.

— Cam — sussurrou. — Ficou.

Cameron escorregou sua mão pelo corpo nu até embalar seu seio quente pelas
mantas.

— Decidi que há uma grande vantagem em despertar com você.

Seu sorriso se tornou pícaro.

— Ah, sim?

Cameron acariciou seus lábios separando-os com sua língua. Ainsley mordeu seu
lábio inferior, e Cameron notou como vibrava dura sua excitação.

— Uma decidida vantagem — disse. Cameron rolou em cima dela. — Estou tirando
proveito.

O sorriso de Ainsley aumentou quando Cameron se deslizou facilmente dentro dela.

— Já vejo — disse.

Cameron a silenciou começando a fazer amor com renovado vigor, na segurança e o


calor de sua cama.

— Angelo.

Angelo acabava de soltar a cilha do cavalo depois de montar, e tirar a sela. Pendurou
a sela em um gancho da parede, recolheu os estribos, para limpá-los depois de ter
atendido ao cavalo.

Cameron viu como Angelo agarrava uma escova e começava a esfregar ao suarento
cavalo. O premiado cavalo entrecerrou os olhos agradado.

Angelo não disse nada, como de costume, à espera de ver o que Cameron tinha em
mente. Continuou esfregando com movimentos circulares, eliminando a sujeira do pelo e
o suor das costas do cavalo.

— Quero te dar todo o dinheiro do mundo, Angelo — disse Cam. — Quero te fazer o

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rei da Inglaterra. Merda, um cigano seria um rei melhor que os malditos Sajonia Coburgo 2.

Angelo sorriu.

— Por favor, não. Não quero permanecer preso todo o dia.

— Todo o dinheiro do mundo, então. Merece isso.

— O dinheiro é bom para manter a pança cheia e o fogo aceso — admitiu Angelo. —
Mas é mais divertido roubá-lo.

— Não tire importância. Salvou a vida de Ainsley, ontem. Isso vale tudo o que tenho.

Angelo manteve a escova em movimento.

— Estava o suficientemente perto para fazer algo, isso é tudo. Sei como pensa, assim
sei que está culpando a você mesmo, mas o que vi foi a instabilidade desse garanhão.
Devia ter ignorado Pierson e devolvê-lo de todos os modos.

— E Pierson te teria sentado em um tribunal hoje por roubo de cavalos. Não nos
importaria nos desfazer desse homem. Mas Ainsley não teria que sofrer por isso.

— Isso é bastante certo — Angelo o olhou tranquilo. — Não me dê seu reino. Não o
quero e sei que se minha irmã, minha mãe ou minha amante estivessem em perigo e você
estivesse o suficientemente perto, faria o mesmo.

— Sim.

Angelo terminou com a escova de cerdas duras e trocou a outra mais macia. Passava-
a na direção em que nascia o pelo do cavalo. Este campeão, que ficou em primeiro em seu
ano em Newmarket, Epsom e Doncaster, levantou uma pata e relinchou com prazer.

— Ainsley quer ver seu barco no canal — disse Cameron. O sorriso de Angelo
iluminou seus olhos.

— Me permitam enviar primeiro recado a minha mãe para que possa fazer uma boa
limpeza. Mataria-me se levasse a sua Senhoria a bordo sem prévio aviso.

Cameron, que conhecia a mãe do Angelo, compreendeu-o. A mãe de Angelo media


um metro e meio de altura, se muito, e governava a vasta família do Angelo com punho de
2
Alberto de Sajonia Coburgo Gotha, foi o marido e consorte da rainha Vitória. Foi o único cônjuge de uma soberana britânica teve,

que recebeu formalmente o título de príncipe consorte. Ao morrer a rainha Vitória em 1901, a casa de Sajonia Coburgo Gotha,

passou à Casa de Hannover no trono do Reino Unido.

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ferro.

Deixaram-no assim. Angelo percebeu a gratidão de Cameron, e Cameron sabia que o


homem tomaria com calma.

Cameron deixou o estábulo, ainda muito agitado para montar, os cavalos não
necessitam um ansioso e vacilante cavaleiro, e olhou da borda dos paddocks, como os
cavaleiros faziam corridas de treinamento. Sentiu como chegava Daniel e se situava junto
a ele. Daniel crescera ainda mais desde que estiveram em Kilmorgan, e já então era muito
alto.

Cameron não podia esquecer ao comprido menino que o seguia por todos os lados,
exigindo saber tudo a respeito dos cavalos. Apesar de que Cameron foi displicente com o
Daniel, sempre esteve muito consciente de onde estava seu filho e do que estava fazendo
em todo momento, foi atrás dele quando se separou do bom caminho em Glasgow. Ele e
seus irmãos conseguiram entre todos que crescesse de forma ordenada.

— Bom, vou — disse Daniel.

— Vai? Neste momento?

Daniel meteu as mãos nos bolsos e olhou Cameron inexpressivo.

— Vou à Universidade. Não é ali, onde vem tentando me mandar estes últimos
meses?

— Pensei que odiava Cambridge.

— Odeio. Por isso não vou a Cambridge. Vou a Edimburgo. Pensei em ir talvez a
Glasgow, por isso me encontrou ali esse dia.

Exasperado Cameron disse:

— Isso era tudo? Maldição, Danny! Por que não podia me dizer isso?

Ele encolheu os ombros.

— Queria ver o lugar antes de te rogar que me enviasse ali. Não esperava acabar
metido em uma briga. Fui decentemente vestido para que o reitor não pudesse me criticar,
mas fui muito tentador para os moços. Queriam me despir! Pode acreditar? Se
necessitavam dinheiro, só precisavam pedi-lo. Disse.

— Então foi a prisão com eles? Muito nobre, filho.

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— Não pensaram que poderia contra-atacar. Estava brigando tão duro como eles,
não os vi vir e não pude escapar. Seu líder, sabe? Não é tão mau. Para ser um duro cara da
rua.

Deus nos ajude.

— Escolheu Edimburgo, entretanto. Por quê? Menos caras duros nas ruas?

— Muito engraçado, papai! Eu gosto de um professor, que vai ensinar engenharia. E


há outro que vai ensinar arquitetura. Não mais filosofia, muito obrigado.

— Se não queria estudar filosofia, Danny, só precisava dizê-lo.

Novamente ele encolheu com descuido os ombros.

— Devia ter sabido, papai, teria contado isso. Tive que perambular, averiguar por
mim mesmo. Mas estou seguro agora. Perdi parte do segundo trimestre, mas dizem que
me darão aula privadas para que comece a partir do zero. Terei que me esquecer dos
campos e as calças de montar, e ver como vai. Voltarei aqui nas férias entre trimestres e
quando acabar o terceiro. Pegarei o trem hoje, enviarei um cabograma quando chegar. Tio
Mac diz que posso ficar em sua casa.

A dor que rasgava o coração de Cameron o sobressaltou. Estava acostumado a ter


Daniel sempre perto dele todo o tempo. Comprou seu imóvel em Berkshire em parte
porque estaria perto do Daniel quando estava em Harrow.

Agora seus caminhos se separavam. O filho pelo qual Cameron lutou tão
arduamente estava preparado para voar por si mesmo.

— Por que esse repentino desejo de sair correndo? — perguntou Cameron em voz
baixa. — Sempre posso necessitar mais ajuda com os cavalos. As corridas de Newmarket
começarão logo e você pode te incorporar no trimestre da Trindade.

Daniel olhou a seu pai diretamente nos olhos.

— Porque sei que estará bem sem mim. Não me necessita mais, papai. Tem Ainsley
para que cuide de você, agora.

— Pensei que eu estava cuidando dela.

Daniel soprou.

— Ela poderia te deixar acreditar nisso. Mas passou toda a última noite com ela, não?

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Dormiu e tudo?

A face de Cameron se avermelhou.

— Essa é a questão agora, não?

— A casa inteira sabe, papai. Estão contentes de que tenham uma oportunidade para
um bom matrimônio, e eu também.

— Meu Deus! Não terão outra coisa melhor sobre o que falar?

— Realmente não. Todos gostam de Ainsley e querem assegurar-se de a trate bem.


Também eu gosto e desejo o mesmo. Mas você já o demonstrou.

Cameron piscou os olhos.

— Por isso veio conosco todo o inverno? Para poder vigiar Ainsley e a mim?

— Em parte. Por isso sei que agora posso ir.

Cameron queria rir. Queria abraçar Daniel, dizer ao moço que era um maldito tolo e
depois dizer que o amava. Nunca se sentiu cômodo com esse tipo de sentimentalismo, por
isso se viraram para olhar os cavalos. A potranca chamada Chase Daughter, que Cameron
comprou quando Beth e Ian se casaram, corria com graça e entusiasmo.

Faria-o bem este ano na corrida dos cavalos de três anos.

— Daniel — disse Cameron depois de um tempo. — Sei que fui o pior pai que um
moço pode ter.

— Não é sua culpa, papai. É um Mackenzie.

— Você também o é. Não o esqueça — os cavalos trovejaram por eles, Chase


Daughter ia ligeiramente adiantada. — Não cometa os mesmos enganos que eu.

— Vou cometer muitos, garanto. Mas tenho uma grande vantagem, sabe? Tudo o que
você tinha era um pai que o golpeava e que estava muito ciumento de vocês. Eu tenho um
pai que tenta fazer sempre o correto, inclusive quando o chateia a maior parte do tempo. E
além disso, estão minhas doces tias e minha madrasta para me mostrar que algumas
mulheres não são tão más. Nem todas querem nosso dinheiro. Algumas das garotas
inclusive nós gostamos.

Cameron deixou escapar uma gargalhada.

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— Sim, algumas delas. Agora, vou fazer algo para te envergonhar.

Agarrou Daniel e o atraiu para ele dando um enorme abraço de urso. Em vez de ficar
quieto, Daniel riu e abraçou seu pai. O abraço foi fazendo-se mais e mais apertado até que
Cameron não podia respirar. Realmente Daniel se fez forte.

Os dois se separaram.

— Voltará logo conosco, não é? — perguntou Cameron.

— É obvio. Precisa me ensinar tudo o que sabe sobre o trabalho com os cavalos,
porque quando acabar na Universidade, serei seu sócio. Vamos ser mundialmente
famosos, papai!

— Tem tudo planejado? O que acontece com a engenharia e a arquitetura?

— Posso fazê-lo também. Inclusive posso inventar um transporte melhor para os


cavalos ou construir um estábulo melhor. Além disso, vou obter que meus companheiros
da Universidade e seus pais enviem seus cavalos para serem treinados por nós.

Golpeou a seu pai no ombro.

— Já disse adeus a Ainsley. Chorou e me beijou na bochecha e depois me deu um


pacote de bolos. Se casar com ela foi a coisa mais inteligente que já fez, papai. Ainda há
esperanças para você.

Com esse discurso, Daniel abraçou seu pai outra vez. Cameron devolveu o abraço, e
a contra gosto o soltou.

Daniel saudou o Angelo, que vinha a reunir-se com Cam e depois se voltou para a
casa e a carruagem que estava esperando para levá-lo a estação. Olhava o Daniel conforme
caminhava. Tão alto e forte como Ian ou Mac, ou inclusive Hart.

— Crescem tão rápido — disse Angelo quando alcançou Cam. Cameron o olhou,
pensando que o homem estava brincando, mas seus olhos estavam sérios. — A infância se
passa em uma piscada e então precisam ser homens. Vocês os brancos são estranhos,
enviam a seus filhos para o mundo mal são o suficientemente altos. Minha família esteve
sempre unida.

— Você não vive com eles, Angelo, não fique sentimental. Além disso, minha família
está unida. Só que um pouco dispersada.

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Highland Pleasure 03

— Os brancos ricos necessitam muito espaço.

— Isso é certo, mas evita que nos matemos uns aos outros.

Angelo sorriu. Daniel subiu na carruagem, e Cameron viu como se afastava com uma
pontada em seu coração. Sentia perder Daniel. Entendeu que as palavras de Angelo,
mostravam como eram importantes para ele. Seria agradável para Cameron ter Daniel
sempre com ele, isso é o que queria, mas fez o impossível para conseguir que seu filho
nunca tivesse medo de voltar para sua casa.

E com esse esforço, Cameron sabia que superou seu próprio pai.

Ainsley achava a casa vazia sem Daniel. Cameron agora permanecia todas as noites
com ela, o que significava que Ainsley conseguia dormir muito pouco.

Ele despertava pela manhã fazendo amor, ambos tinham os olhos avermelhados pela
falta de sono, quando se separavam para suas atividades da manhã.

Cameron estava triste pela perda de Jasmine, Ainsley podia ver, embora
rotundamente afirmou que não se importava quando o perguntou. Tinha muitos outros
cavalos bons e Chase Daughter provavelmente ganharia as cinco corridas mais
importantes do ano.

Ainsley desejava que Cameron fizesse as pazes com Lorde Pierson, ou melhor
dizendo, que esse Lorde Pierson não fosse um tolo pomposo. Jasmine era a que saía
perdendo pelo enfrentamento e isso incomodava Ainsley. Mas Ainsley tinha algumas
ideias para resolver o problema. Legalmente é obvio. Escreveu a seu irmão Steven, com a
esperança de recrutá-lo, mas Steven respondeu que não podia conseguir permissão de seu
regimento.

Sinclair estava muito ocupado com suas práticas, Elliot estava fora de seu alcance na
Índia, é obvio, e Patrick... Hmm, talvez Patrick o faria muito bem.

Entretanto, antes que Ainsley pudesse pôr seus planos em marcha, um cabograma
chegou para alterar sua nova e agradável vida.

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Highland Pleasure 03

Capítulo 26

Cameron caminhava enquanto Ainsley fazia a bagagem. Seus quartos de cima eram
um caos de caixas e bolsas, as criadas entravam e saíam constantemente com roupa.
Ainsley sabia que teria que enfrentar Cameron cedo ou tarde, mas preferia que esperasse
um pouco mais do outro lado da porta.

Tirou o cabograma de seu bolso e o estendeu.

— Antes que pergunte, disto é do que se trata.

Cameron piscou e leu.

"O Sr. Brown se foi. Veem ver-me outra vez."

— Brown? — disse Cameron surpreso. — Morreu?

— Aparentemente — Ainsley deteve uma criada. — Não, o azul não. Necessito o


cinza e o negro. A Rainha espera me ver de luto.

Cameron sustentou o cabograma entre dois dedos.

— Por que quer que vá? Deve ter outras damas que possam consolá-la.

— Confiou profundamente em mim a respeito de John Brown e de quanto o amava.


Salvou sua vida, em realidade. Posso entender melhor que ninguém como se sente.

— O que quero dizer, Ainsley, é por que diabos vai?

— Não será por muito tempo — disse Ainsley. — Umas poucas semanas, talvez um
mês.

— Não — Cameron o soltou tão rápido que Ainsley o olhou com surpresa. — Um
mês é muito tempo.

— Isto me dará a oportunidade de terminar um par de coisas que deixei penduradas.


Para as rematar limpamente.

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Highland Pleasure 03

— Que coisas?

— Coisas de minha antiga vida. Fiz a bagagem e me mudei muito repentinamente,


como bem sabe, uma vez que conseguiu me convencer.

Cameron golpeou com sua mão a tampa do baú aberto e o fechou. A donzela o olhou
assustada e discretamente saiu pela porta.

— A Rainha tem a casa cheia de criados e damas ao seu dispor — disse Cameron. —
Por que deve ir você?

Ainsley tinha visto vitória chorar antes, quando se sentia mau. A Rainha era uma
mulher robusta, mas não controlava a perda muito bem. Amava muito e chorava
copiosamente, parecia-se bastante a Cameron nesse sentido.

— Recebi outro cabograma, de uma de suas damas — disse Ainsley. — A Rainha não
pode caminhar, é incapaz de inclusive de levantar-se de sua cadeira de rodas. Se posso
aliviar algo disso, se posso ajudá-la novamente, despedirei-me dela como uma amiga e
então poderei voltar e começar minha vida.

— Começar com sua vida? Que diabos foram então os últimos cinco meses?

— Por favor, Cam, isto é importante. Ela me necessita.

— Maldição, eu também te necessito!

Ainsley o observou em silêncio. Cameron se mantinha rigidamente estirado, as mãos


apertadas em punhos dentro de umas poeirentas luvas.

— Cam — disse Ainsley. — Voltarei.

— Fará-o? — as palavras soaram amargas.

— É obvio. Estamos casados.

— Isso é tudo?

— Isso é muito, para mim.

Cameron sabia que ela não o entendia. Seus olhos cinzas ainda o olhavam, enquanto
em suas mãos sustentava um xale para dobrá-lo. Era prateado e de cetim, caía de seus
braços como seu cabelo caía sobre seu peito quando eles faziam o amor.

Ainsley ia, Cameron ia perdê-la. O pensamento provocava um suor frio.

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Highland Pleasure 03

— Quando retornar, Daniel terá voltado para casa de férias — disse Ainsley. —
Seremos uma família outra vez.

Uma família. Outra vez. Soava tão segura, como se tudo fosse muito simples.
Cameron e Daniel foram como satélites, girando um em torno do outro sem nunca ter
chegado a se conhecer. Até que chegou Ainsley.

Daniel tentou em todo momento empurrar Ainsley para a órbita de Cameron,


retornou no inverno para estar com eles, só para se assegurar de que seu pai e Ainsley
tinham combinado.

Daniel desaparecera depois, convencido de que tudo estava bem.

— Não retornará — disse Cameron.

— Sim, farei-o. Eu disse.

— Tentará-o. Mas a Rainha te apanhará em suas garras, arrastará a seu mundo, onde
ela é o sol e a Lua. Não gosta dos Mackenzies, e fará tudo o que possa para conseguir te
afastar de nós.

Ainsley parecia perplexa.

— A Rainha segue seus conselhos sobre cavalos. Inclusive retornou a Balmoral para
falar com ela sobre esse tema.

— Porque ela quer que seus cavalos ganhem. Isso não significa que goste ou
inclusive que me respeite. Vitória conhecia minha mãe, acreditava que estava louca por se
casar com meu pai. Compadecia-se de minha mãe e a desprezava ao mesmo tempo. Pensa
que os filhos Mackenzie estão cortados pelo patrão de nosso pai. E não está
completamente equivocada.

— Sim, está. Sei. Isabella me falou sobre seu pai. Era uma pessoa horrível.

— Mas ele está aqui — Cameron se golpeou no peito. — Está aqui. O valentão que
nos golpeava, que matou a minha mãe, que encerrou ao Ian em um manicômio, está aqui
comigo. Em todos nós. Talvez já tenha notado que não estamos completamente cordatos.

Ela sorriu.

— Isso é porque são excêntricos, sem dúvida.

— Loucos de arremate. Minha loucura são os cavalos, mas entre uma temporada e

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outra de corridas, mal consigo mantê-la a raia. Até este ano com você. Em vez de beber e
foder até que não podia recordar nem que dia era, passeei por parques e fui a museus e
jardins, Pelo amor de Deus! Estive olhando como Daniel e você jogavam às damas juntos
nas noites chuvosas ou como discutiam as virtudes dos bolos. Meus amigos em Monte
Carlo me disseram que fui amansado, e eu ri, porque não me importava.

Ainsley o olhou outra vez perplexa.

— Estava melancólico em Monte Carlo?

— Inquieto, sim. Melancólico, não. Infernos, não! Ali e em Paris, desfrutei de todas as
coisas como se fossem novas. Tudo o que tive durante anos ganhou repentinamente cor e
substância. Por quê? Porque o vi de novo, através de seus olhos.

Ainsley não podia saber que formosa estava, ali de pé o escutando, com as
sobrancelhas elevadas mostrando sua confusão.

— Mas seu coração está aqui — disse, — em Berkshire. Com seus cavalos no
Waterbury Grange. Não estou equivocada a respeito disso.

— Meu coração está onde você está, Ainsley. Quando me deixar... — Cameron fez
um gesto vazio.

— Vou voltar — disse obstinadamente.

— A esta ruína de homem? Por quê?

— Porque te amo.

Cameron se deteve. Ela o confessou antes, embora não frequentemente, como se


temesse sua resposta. Mas maldição! Ainsley podia dizê-lo tão frequentemente como
quisesse. Muitas mulheres disseram a Cameron que o amava, inclusive Elizabeth o fez.
Normalmente depois que desse de presente algo caro. Mas Ainsley estava de pé,
tristemente, no meio do quarto quando o disse.

Com Ainsley, sussurrava o subconsciente que só podia ser certo.

— Então por que vai? — perguntou.

— Porque há coisas que preciso fazer. Coisas importantes. Pediria que me


acompanhasse, mas sei que não pode deixar os cavalos, e que me complicaria as coisas.

— Que coisas?

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— Cameron...

Cameron soltou seus braços e se aproximou da janela. Fora, no prado, Angelo estava
deixando que o cavalo que montava fosse se tranquilizando depois de um galope.

Sentiu como se colocava atrás dele e tocava suavemente o ombro.

— Essa noite em seu quarto, há seis anos — disse com voz suave, — quando me
tentou tão desesperadamente, e te rejeitei...

— Recordo-o — o cavalo ia bem, Angelo montava como se fosse um único ser com o
animal. — O que tem isso?

— Rejeitei-o por não trair John, meu marido. E não te trairei agora. Voltarei,
Cameron. Prometo-o.

Cameron girou e a abraçou. Ficaram de pé juntos, balançando-se ao sol. Sentiu como


Ainsley ia relaxando, aliviada ao pensar que ele deixou de lutar. Mas Cameron estava
longe de ceder.

— Não quero que volte porque se sinta obrigada, amor — disse. — Ao diabo os votos
matrimoniais! Fazem-no fazer coisas que possivelmente não deseje fazer. Volta porque me
quer, não porque acha que deva fazê-lo. Entende?

Ainsley o olhou, com olhos misteriosos.

— Acredito que te entendo, Cameron.

Cameron acreditou ouvir mais na frase que as simples palavras verbalizadas, mas
não pôde decidir o que. Beijou-a, embargado por seu calor, e a deixou ir. Cameron insistiu
em que Angelo fosse com ela. Cameron disse que embora confiasse em Ainsley, ela podia
encontrar qualquer tolo em sua viagem. Uma donzela e um lacaio, não eram suficientes
para protegê-la.

Angelo, sim, não permitiria que nada mau acontecesse. Assim Angelo foi sem
discussão possível.

Uma vez que chegaram a Windsor, Angelo a deixou para unir-se a sua família, que
vagava em seu barco pelos Canais de Avon e Kennet próximos.

Ainsley entregou a Angelo pacotes de mantimentos e roupa, brinquedos para suas


sobrinhas e sobrinhos e disse adeus. Encontrou Windsor frio, úmido e triste.

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Highland Pleasure 03

Meu querido Cameron:

A Rainha está muito angustiada e a maioria dos dias não pode caminhar sem ajuda.
Expressou seu alívio de que esteja aqui e diz que depende absolutamente de mim.

Alegra-me ter vindo, porque o resto dos ocupantes da casa, embora se sintam tristes porque a
Rainha sofre, não sentiam muita admiração pelo Sr. Brown. Não estão contentes com a tristeza de
sua Majestade e sua conversa sobre mausoléus e monumentos para ele. Pensam que o Sr. Brown era
só um criado e que embora, sim merece um enterro adequado, mas nada mais. Mas se esquecem de
que o Sr. Brown foi um verdadeiro amigo para a Rainha depois da morte de seu marido, quando seu
coração se rompeu e se isolou do mundo. Foi o Sr. Brown quem a convenceu de cumprir com seu
dever como Rainha novamente e deu a vontade de continuar. Ao menos terá que o recordar por isso.

Duvido, apesar das intrigas e dessas cartas com as quais a Sra. Chase quis chantageá-la, que a
Rainha e o Sr. Brown fossem amantes. Um casal pode ser bastante íntimo sem compartilhar sexo,
embora você provavelmente não me acredite, Cam. Mas pode ser certo. O que sinto por você é muito
intenso, esteja junto a mim ou a cem milhas. Não preciso estar te tocando continuamente para
experimentar o que sinto.

A Rainha e eu saímos raramente, e olho ao longe através dos campos de minha alta janela,
desejando estar em Waterbury com você. Aqui os cordeiros vagam nos verdes campos e os canteiros
florescem com as cores da primavera. Imagino que Waterbury deve parecer-se muito, tudo brumoso
e suave. Desgraçadamente não desfruto muito da primavera, passado a maior parte do tempo atrás
das cortinas que ocultam as janelas com seus grandes drapeados, sem outra coisa a fazer, exceto ler
para sua Majestade, bordar ou talvez tocar o piano. Ao menos tenho tempo para trabalhar nas
almofadas, que estou fazendo para nosso salão, em cores muito brilhantes e alegres. Desfruto
pensando em como ficarão em nossa casa.

Vou escrever tão frequentemente como possa, mas devo te dizer que tenho escassos momentos
para mim. A Rainha tem muito má disposição e necessita de todos os que possam estar a seu lado.
Mas sempre que me dispo para ir à cama, penso em você, imagino me desabotoando os botões.
Imagino seus dedos me tirando o vestido, abrindo ele pouco a pouco como se fosse um presente de
Natal.

Inclusive agora tremo ao pensar nisso, e penso que vou pegar fogo e queimar o papel.

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Por favor, saúda todos em casa por mim, os treinadores, os cavalariços, aos cavalos e McNab.
Sinto saudade de todos!

Com meu mais profundo amor, querido marido,

Sua Ainsley

— Agora, querida, vou falar a respeito de seu desafortunado matrimônio com os


Mackenzies.

A Rainha devia sentir-se melhor, pensou Ainsley, se é capaz de tratar o tema de


minha fuga.

Ainsley manteve seu olhar nas violetas de seu bordado, azuis sobre um fundo creme.
Costurava-as para uma sala de Waterbury decorada em tons de azuis e amarelos,
luminosa segundo o esquema de decoração que dispôs Cameron para a casa quando a
comprou.

Parece que ela pensa que me casei com um montão deles, embora possivelmente
tenha sido assim.

— Seu pai era um bruto — disse decididamente Vitória. — Eu conheci o duque e era
horrível. De tal pau tal lasca, sabe? O matrimônio com um Mackenzie não é para uma
dama bem educada, jovem, e especialmente uma criada assim como você foi.

Isabella e Beth foram senhoritas bem educadas também, refletiu Ainsley. A Rainha,
entretanto, não fez menção a elas.

— Lorde Cameron e eu estamos solucionando nossas dificuldades bastante bem —


disse Ainsley. — Nos verá em Ascot, é obvio, mas imagino que vai ganhar os mil Guinéos
de Newmarket com sua nova potranca.

Deve apostar por ela. Chance Daughter, é uma excelente corredora.

A Rainha a olhou zangada.

— Não troque de tema. Fugiu. Desonrou a si mesma. Por uma vez, me alegro de que
sua querida pobre mãe não esteja viva. Teria partido seu coração.

Embora Ainsley não tivesse conhecido a sua mãe, negava-se a acreditar que Jeanette
McBride pensasse mal por ver sua única filha casada e feliz, embora pouco

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convencionalmente.

— O fato, feito está — disse Ainsley. — Água passada não move moinho. Devo
aproveitar todo o bom, — fez uma careta de tristeza quando a frase saiu de seus lábios,
mas como todos os refrãos, tinham um pingo de verdade.

— Escutei falar de suas façanhas no continente — continuou a Rainha. — Cabarés e


cassinos, durante toda a noite. Seu irmão e sua cunhada ocultavam suas caras,
envergonhados.

Ainsley duvidava o bastante. Patrick, embora respaldasse o trabalho duro e honesto,


podia entender um pouco de prazer pelo prazer agora e sempre. Além disso, Patrick era
muito mais aberto do que seu semblante muito sério sugeria. Como ela havia dito a
Cameron, Patrick e Rona definitivamente não tinham quartos separados.

— E não é certo que o fato, feito está — disse Vitória. — O matrimônio pode ser
anulado. Estou segura de que Lorde Cameron te enganou te fazendo acreditar que
casaram legalmente.

Ele sabia que não te deixaria seduzir enquanto não tivesse posto um anel em seu
dedo.

Ainsley decidiu guardar silêncio sobre o fato de que Cameron a seduziu muito antes
que o anel estivesse em seu dedo.

— Senhora, Lorde Cameron não se comportou como o vilão da novela, tínhamos


uma licença. Vi-a. E nos casamos diante de um vigário e com testemunhas.

— Atores contratados e uma falsificação. Escrevi umas cartas para enviar a Hart
Mackenzie, insistindo a tomar medidas legais para declarar o matrimônio nulo.

Ainsley podia imaginar a reação de Hart Mackenzie ao receber essas instruções.

Mas a presunção da Rainha de que podia interferir friamente na vida de Ainsley, e


obrigá-la a obedecê-la, fez que por fim, perdesse sua passividade.

— Como se atreve? — disse em voz baixa mas com ferocidade. Os olhos de Vitória se
abriram assombrados, mas Ainsley arremeteu corajosamente contra a Rainha da Inglaterra
e Imperatriz de Grã-Bretanha.

— Depois de tudo o que fiz por você. Arrisquei-me para recuperar essas cartas para

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você, porque a respeito e não queria vê-la envergonhada. E Lorde Cameron me ajudou.
Sabia?

Deu-me o dinheiro para as cartas, por isso você não teve que pagar nem um penique
por elas.

— Você contou? — sussurrou a rainha, olhando ao outro lado da sala, para ver se as
outras senhoras podiam as escutar. — Quer dizer, Ainsley Douglas, que Cameron
Mackenzie, de entre todas as pessoas no mundo, conhece minhas cartas?

— Se não tivesse sido por ele, teria tido grandes problemas para conseguir as
recuperar.

Vitória a olhou fixamente indignada.

— Idiota. Lorde Cameron o haverá dito ao Duque, e circularão cópias por todo o
país.

— Cameron não o disse a ninguém. Pedi que mantivesse o segredo, e o cumpriu.

— Não seja ridícula. Ele é um Mackenzie. Não pode ser de confiança.

— Pode ser perfeitamente de confiança — disse Ainsley. — Mas se tenta romper


nosso matrimônio, não acredita que Lorde Cameron poderia tomar represálias com o que
sabe?

Realmente acreditava Ainsley que Cameron poderia ser tão mesquinho para se
vingar? Mas por outro lado, Quem sabia do que era capaz Cameron? Recordou seu olhar
quando a viu sair de Waterbury: esmigalhado, vazio, zangado.

Vitória, por outro lado, acreditava.

— Isso é chantagem.

— Sim, é. Parece ser a única coisa que todo mundo entende.

Ainsley repentinamente estava cansada desta vida, a Corte, as intrigas, a venda de


segredos e os mexericos. A ela sempre a olharam como forasteira, uma dom ninguém,
filha de um cavalheiro dom ninguém, que foi contratada pela Rainha pela recomendação
da mãe de Ainsley. Nunca foi o suficientemente importante para ser subornada por
favores ou chantageada por eles; Só viu outros fazê-lo entre si. Alguns nem se inteiraram
de sua presença. Agora, como esposa de um dos importantes e potentes Mackenzies,

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podia se deixar avassalar ou ser perigosa. Preferia ser perigosa.

— Certamente, acredito que continuarei casada com lorde Cameron — terminou


Ainsley.

A Rainha a olhou com interesse, mas Ainsley viu nesse olhar fixo de Vitória algo
novo: já não era uma dama que poderia enviar a delicados recados, e sim uma mulher a
ter em conta.

— Seu pobre querido marido estará se revolvendo em sua tumba — disse Vitória. —
O Sr. Douglas era um homem respeitável.

— Meu pobre querido marido era bastante generoso, e acredito que gostaria de me
ver feliz — John foi amável com ela até o final e Ainsley sempre esteve muito, muito
contente de permanecer junto a ele.

A Rainha a olhou friamente.

— Pretendo pensar que nunca escutei esta explosão. Esta conversa nunca teve lugar
— levantou a costura de seu colo. — Se não tivesse sido tão grosseira, Ainsley, teria dito
que seu irmão chegou. Arranjei que ele te levasse a sua casa enquanto esperava a
anulação, mas agora, é obvio, pode fazer o que desejar. Acabamos. Mas há um dito, minha
querida, que bem deveria aprender, quem faz o pagamento... Já teve bastante de refrãos
antigos para vários dias. Mas devia pagar algo, estaria encantada de que fosse a Cameron
Mackenzie, estaria feliz junto a ele.

Ainsley pôs seu bordado em sua cesta de trabalhos.

— Patrick está aqui? Posso ir vê-lo?

— Por favor, faça-o. E me envie a Beatriz. Não acredito que possamos voltar a nos
ver novamente.

Ainsley se levantou e fez uma reverência, aliviada em vez de desgostada por ser
despedida.

Em um impulso, inclinou-se e beijou a face da Rainha.

— Espero que você possa estar orgulhosa de mim algum dia — disse. — E asseguro
que seus segredos estão seguros comigo.

Vitória piscou surpreendida. Ainsley sentiu o olhar da Rainha sobre ela quando

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caminhou ao longo da sala e saiu. O clique que soou quando os lacaios fecharam a porta
atrás dela, parecia assinalar o final da antiga vida de Ainsley.

Patrick McBride esperava em um corredor não muito longe, olhando incômodo e um


pouco aborrecido os esplendores de Windsor. Ainsley deixou cair sua cesta de costura e
correu para seus braços estendidos. O sorriso com que a recebeu Patrick, fez que
esquecesse cada uma das desagradáveis palavras que dirigiu a Rainha.

— Estou tão contente de vê-lo — disse Ainsley, sorrindo. — Necessito um parceiro


para delinquência, Pat, e você, meu respeitável irmão, vai ser perfeito.

Capítulo 27

Os Mackenzies começaram a chegar a Waterbury Grange em abril, tempos depois de


que as cartas de Ainsley deixassem de chegar. Cameron logo teria que ir a Newmarket, a
temporada das corridas de cavalos ia começar e ocupariam todo seu tempo.

Os primeiros em chegar foram Isabella e Mac, com seus dois filhos a reboque. Mac se
mostrava com seu habitual entusiasmo. Felizmente a casa era o suficientemente grande
para alojar a todos, e além disso reservar um lugar para que Mac montasse seu estúdio.

Mac havia pintado com entusiasmo este último ano, vestido como habitualmente o
fazia, com um velho kilt, umas botas manchadas e um lenço para proteger o cabelo, o que
o fazia parecer um cigano.

Agora estava assim vestido pintando esboços preliminares da potranca Chance


Daughter, enquanto sua esposa tentava manter a seus robustos filhos afastados das patas
dos cavalos, uma árdua tarefa.

Uns dias mais tarde, Ian e Beth e seu filho chegaram acompanhados por Daniel, que
fez a viagem com eles. Em anos anteriores quando Ian visitou Waterbury, desenvolveu
uma rígida rotina, permitindo-se só estar em algumas salas e dar alguns passeios ao redor
da desconhecida casa e seus campos.

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Estava bem enquanto podia seguir com essa rotina, mas no momento que algo o
perturbava, Ian caía em um estado de fúria e confusão, o que ele chamava sua "desordem".
Só Curry, seu ajudante de câmara, podia então acalmar Ian, o reconduzindo para sua
reconfortante rotina.

Este ano, Curry parecia ter sido recrutado como babá improvisada. Com dez meses
de idade, Jamie Mackenzie saltava em seus braços enquanto Ian ajudava Beth a descer da
carruagem. Ian o chamou quando chegaram e passou seu filho a Curry. Ele caminhou
mais devagar compassando seus passos aos de Beth, a que já notava sua gravidez, até que
entraram na casa.

Beth não havia ido a Waterbury antes, o ano passado por causa da gravidez de seu
primeiro filho, estava muito avançada, e Ian não quis que ela viajasse. Este ano, Beth
insistiu.

Cameron os saudou e, em seguida, colocou-se junto a Mac, enquanto Isabella


abraçava Beth e tagarelava com ela sobre a viagem. Os dois cães que acompanharam Ian e
Beth pululavam agora, ao redor de McNab, os três provavelmente também comentavam a
viagem.

Ian puxou a mão de Beth e começou a conduzi-la para as escadas, a governanta de


Cameron bloqueou seu caminho.

— Temo que os coloquei em um quarto diferente este ano, milord — disse a


governanta. — Sua Senhoria, isto é... A Senhora de Lorde Cameron, pensou que estaria
mais cômodo em um quarto maior. Dá para fachada, milord... — sorriu estreitamente,
familiarizada com o Ian. — Tem umas vistas muito agradáveis.

Atrás de Ian, Curry se deteve, o olhando preocupado. Beth sorriu olhando a Ian e
apertou seu braço.

Ian não olhou a governanta, mas sim olhou a Cameron brevemente nos olhos.

— O outro quarto na parte superior da escada? Ia perguntar por ele, Cam. O meu
habitual era muito pequeno. Ainsley tinha razão ao trocá-lo. Por aqui, Beth.

Ele começou a subir as escadas, com o bebê em um braço e Beth no outro. Seguido de
Curry, com um óbvio olhar de alívio em seu rosto. A governanta relaxou também e Mac se
dirigiu a Cameron elevando as sobrancelhas.

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— Nosso irmão pequeno cresceu — disse Mac.

O fez. Beth recolhera os ruinosos restos do que antes era Ian e deu-lhe uma vida.

— Ainsley é muito perceptiva — disse Isabella, apoiando-se no ombro de Mac.

— Acredito ter mencionado que tem uma excelente capacidade de organização. Sem
dúvida fez maravilha com este velho lugar poeirento. Quando vai retornar?

— Não posso dizer quando — A voz de Cameron soou dura.

— Estou segura de que a Rainha tem-na ocupada com algum louco recado — disse
Isabella. — Ainsley o terminará e voará até aqui antes de que se dê conta — agarrando o
pulso de Cameron, acrescentou: — Mas nunca te perdoarei por se casar com ela dessa
maneira oculta, sem me dizer isso.

Os pensamentos de Cameron voltaram para a Ainsley no salão de Londres de Hart,


prometendo com sua voz inquebrável honrar a seu marido e o adorar com seu corpo.

— Foi necessário.

Mac riu.

— Porque Ainsley não teria aceito se Cam tivesse dado tempo para ela pensar — ele
Beijou a face de sua esposa. — É a única maneira de conseguir que uma mulher se case
com um Mackenzie.

— Sim, mas alguma noiva nesta família deveria ter umas bodas suntuosas — disse
Isabel. — Poderíamos fazer umas segundas bodas, como Beth fez com o Ian.

Cameron não respondeu. Por agora, sua esquiva noiva estava encerrada com a
Rainha em Windsor, enquanto que, em Cameron crescia o mau humor dia a dia.

Daniel saiu com Cameron aos prados pela manhã para ver correr os cavalos.
Cameron gostava de ter Daniel ali, desfrutava de pé junto a seu sólido filho da ideia de
Daniel, associando-se com ele quando terminasse a universidade.

Depois olhando como Chance Daughter deixava atrás os outros cavalos que corriam,
Daniel disse.

— Deve confiar nela, papai.

— Em quem, em Chance Daughter?

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— Muito engraçado. Sabe que me refiro a Ainsley — a voz do Daniel e sua postura
mostraram maior segurança. — Se Ainsley disser que ela fará uma coisa, fará-a.

O seguinte grupo de cavalos chegou correndo pelo prado, as patas amassando, o


barro voando. O ruído trepidante e as corridas tinham enchido a vida de Cameron, mas
sem Ainsley para vê-lo com ele, esse mundo era plano e aborrecido.

— As mulheres mudam de ideia como o voo de uma borboleta, filho — disse. —


Aprende isto.

Daniel o olhou com paciência.

— Ela não é qualquer mulher, papai. Ela é Ainsley.

Ele abriu a cerca e caminhou para os estábulos, gritando aos moços no caminho, mas
suas palavras ressoavam.

Ela é Ainsley.

O mundo ganhou cor de repente. Ainsley ia voltar. Ela havia dito que o faria, e essa
verdade golpeou Cameron com força.

Nunca acreditou antes em uma mulher. Elizabeth o roubou fazia tempo essa
confiança e Cameron manteve às mulheres afastadas após. Sempre acabava com elas
muito antes que a dama em questão tivesse a oportunidade de trair e ferir, tendo
aprendido, dolorosamente, que precisava controlar qualquer relação que cercasse. Então
Ainsley chegou à vida de Cameron e ficou. Não, não ficou. Ela se converteu em parte dele,
estava atada a seu coração.

Cameron considerou que agora essa união se estendia entre eles, através das milhas
que os separavam até Windsor, ou em qualquer lugar que estivesse agora. Esse vínculo
permitiria puxá-la e ela a ele, e nunca a perderia. Uma grande paz o alagou, algo que ele
não sentiu em... Merda, que nunca experimentou nada como isto em sua vida. se Parecia
bastante ao que sentiu quando sustentou em seus braços pela primeira vez a seu filho,
prometendo protegê-lo com tudo o que tinha, nunca mais sentiu algo parecido.

Cameron olhou ao jovem que crescera muito após e seu coração se encheu de
orgulho. Não por nada que Cameron fizesse, mas sim pelo que Daniel chegou a ser. Um
bom moço, inteligente e valente, que amava sem ressentimento, e que era tão
descuidadamente generoso como o resto dos Mackenzies.

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Ela é Ainsley.

Cameron pensou em Ainsley: em seu formoso cabelo derramando-se sobre seu corpo
enquanto dormia, seu olhar cinza franco que despia seu coração, sua risada que
esquentava seu sangue. Sentia tantas saudades que doía.

Quando retornasse Ainsley, e ela voltaria, Cameron mostraria quanta saudade


sentiu, a cada instante. E nunca deixaria que se afastasse novamente. Estar sem ela era
condenadamente duro.

Quando Ainsley disse a Patrick, em que parte de sua estratégia, estava


comprometido acompanhando-a em um barco pelo canal cheio de ciganos, ficou
totalmente perplexo.

— Ainsley, para.

Ainsley deixou sua mala no caminho junto ao canal de Avon e Kennet. Um comprido
barco estava junto a eles, balançando-se suavemente. Os meninos os observavam da
cobertura, como os adultos, um homem fumava um longo cachimbo.

Angelo foi dizer a sua mãe que tinham chegado.

Patrick estava sem fôlego pelo passeio da aldeia, um pouco ao oeste de Reading,
onde deixou o chofer. O irmão de Ainsley, tinha quarenta e cinco anos, embora um pouco
barrigudo, via-se tão absolutamente respeitável com seu traje escuro, o chapéu e a bengala,
que Ainsley queria o abraçar de novo. Ela sentiu saudades.

Patrick tirou um lenço dobrado em um quadrado perfeito e o ergueu até sua


sobrancelha.

— Nunca discutimos o que vamos fazer neste barco.

— Nada. Levará-nos, discretamente, a Bath.

— Um barco cigano do canal é discreto?

— Surpreendentemente, assim é. Preciso chegar a Bath sem nenhuma publicidade,


sem que ninguém saiba que estamos indo.

— Ali serei seu cúmplice no delito?

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— A palavra delito não é literalmente exata — disse Ainsley. — Explicarei isso tudo
no barco.

— Ainsley...

O tom de Patrick se tornou grave e Ainsley lançou um suspiro. Desde que saíram de
Windsor, com o chofer contratado, manteve-se tagarelando sem cessar sobre sua vida em
Waterbury, os cavalos, Daniel, sobre redecorar sua casa, como montavam a cavalo. Tudo
para evitar a conversa que sabia que devia enfrentar agora.

— Ainsley, não me deixou discutir sua fuga — disse Patrick.

— Sei. E estou tentando evitar a repreensão que sei que vou levar.

— Teria gostado simplesmente que me tivesse consultado primeiro. Foi um choque


quando recebemos seu cabograma! Minha irmã casada com um Lorde. E semelhante
Lorde.

— Sei. Sinto muito, Patrick, mas tive que decidir rapidamente. Não houve tempo
para te consultar. Sabia que a fuga te decepcionaria, mas não sabe quanto me doía te
enganar. Muito.

Mas Cameron tinha razão quando me disse que deliberadamente me converti em


uma escrava. Sabe? Pensei que, se você e Rona soubessem como estou arrependida, quão
agradecida estou de que me aguentassem quando estava sendo tão tola, e o bom que seria
o resto de minha vida, talvez você, irmão meu, poderia me perdoar — falou tão rápido
que ficou sem fôlego.

— Ainsley — os olhos cinzas de Patrick olhavam-na com assombro... — É obvio que


te perdoei. Perdoei-a faz anos. E de todos os modos, não havia nada que perdoar. Tem um
coração tão grande, que é obvio confiou nesse canalha na Itália. Por que não? Foi minha
culpa, por estar tão centrado em meus próprios assuntos que não pude te observar e te
advertir a tempo. Você deve me perdoar por não cuidar de você.

— Mas nunca culpei você, Patrick. Não poderia te culpar de nada do que ocorreu.

— Bom, culpo-me eu. Era tão jovem e tão confiada, que deveria ter te vigiado
melhor.

Ainsley se deteve. Não fazia ideia de que Patrick tivesse se sentido assim.
Possivelmente esteve tão ocupada culpando a si mesma, que não se deu conta de que seu

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Highland Pleasure 03

irmão estava fazendo o mesmo.

— Meu querido Patrick, podemos estar aqui neste caminho e trocar declarações de
culpa por horas, mas talvez deveríamos estar de acordo em esquecer todo o ocorrido.
Simplesmente te direi que sempre estive muito agradecida.

Manteve-se a meu lado, quando não tinha porquê fazê-lo.

— É minha irmã. Nunca poderia sonhar em te abandonar ou te lançar aos lobos. E


está evitando minhas perguntas de novo. Essa fuga com Lorde Cameron Mackenzie?

— Precisei seguir o caminho que ditava meu coração — disse Ainsley.

Patrick franziu o sobrecenho de novo.

— Me deixe terminar, querida menina. No princípio suspeitei que Mackenzie te


sequestrou, te enganou para que fosse com ele, dizendo que iria se casar com você. Sua
Majestade certamente pensava assim, e fez que sua secretária me escrevesse, me contando
suas suspeitas. Eu estava decidido a investigar. Perguntei a meus amigos em Paris, que
pensavam de seu matrimônio. Contaram-me quão feliz era, como estava radiante,
descreveram-me como Lorde Cameron te tratava como uma rainha.

Patrick sorriu.

— Melhor que a uma rainha, em realidade.

Ainsley sufocou sua surpresa. Patrick raramente criticava a alguém, nem sequer de
forma indireta, e sobre tudo nunca à Rainha da Inglaterra.

Patrick encolheu os ombros.

— Deus a benza, ela é Hannover. Não uma Stuart. Concordo com Hart Mackenzie,
em que a Escócia deve ser independente, embora seja cético sobre suas possibilidades para
obtê-lo.

Ainsley olhou a seu irmão, com o coração transbordando.

— Então me perdoa? Ou ao menos me entende?

— Já disse isso, não há nada que perdoar. Seguiu seu coração, e além disso, foi o
suficientemente sábia para tomar a decisão pensando com a cabeça. Eu gostaria de
conhecer lorde Cameron antes de fazer uma ideia completa, mas confio em você — Patrick
deixou escapar um suspiro. — Agora, Qual é o maldito delito que quer que te ajude a

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Highland Pleasure 03

cometer?

— Não é um delito. Só um pequeno engano.

Antes de que pudesse responder a Patrick, Angelo saiu a cobertura, seguido por uma
diminuta mulher vestida de negro, com a cabeça coberta com um lenço. Ela olhou da
cobertura a Patrick e a Ainsley com olhos vivos.

— E então? — disse com voz forte, muito acentuada. — Por que estão ainda eles ali?
Os ajudem vagos caipiras!

O homem da proa saltou o seu lado da cobertura para recolher a mala de Ainsley.

— Milady — disse Angelo, mostrando os dentes em um sorriso. — Senhor.


Apresento a minha mãe.

A mulher se aproximou de Ainsley, que subira ao convés.

— Bem-vinda, querida. Deus, seu cabelo é muito amarelo! O tinge, não? — Patrick a
olhou surpreso.

— É puro ouro escocês, senhora.

— Hummm, pensava que o ouro escocês era o uísque — seu olhar se suavizou para
Ainsley. — É muito formosa, querida. Seu lorde recuperou o juízo ao final, conforme vejo.
Agora venha aqui e se sente comigo. Preparei um agradável lugar para que possa ver o
mundo enquanto navegamos.

Patrick colocou seu lenço no bolso e seguiu Ainsley e a mulher pela cobertura.
Quando o cigano da popa subiu as malas de Ainsley e as de Patrick, Angelo soltou as
amarras.

— Espero que não se mova muito — disse Patrick enquanto se sentava, os meninos o
olhavam com curiosidade. — Não sabe como posso me enjoar em um barco.

Quando o chofer de Ainsley se deteve, uma semana mais tarde, em Waterbury


Grange em Berkshire, a porta da carruagem foi bruscamente aberta por Hart Mackenzie.

— Sua graça — Ainsley disse surpreendida de como Hart a tinha elevado e


depositado no chão. — O que faz aqui?

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— Cuidar da família — o Duque saudou Patrick com a cabeça, que permanecia na


carruagem segurando seu chapéu. — Onde está Angelo?

— Vem atrás — disse Ainsley. — Onde está Cam?

— Amaldiçoando a própria família e a estranhos — Hart fixou em Ainsley um olhar


afiado. — Não escreveu. Não ultimamente.

Ainsley alcançou sua mala.

— Não. Em primeiro lugar, estive vivendo em um barco no canal, e nunca se deteve


o suficientemente perto de uma aldeia para poder enviar uma carta. Em segundo lugar,
tenho uma surpresa para Cameron, e sabia que não poderia me conter se escrevesse.
Minha pluma me trairia.

Hart não entendeu claramente a última parte, mas a conduziu à casa sem mais
admoestações. Patrick, assistido por lacaios, conseguiu descer da carruagem e os seguiu.
Os criados abarrotaram a carruagem para descarregar a bagagem.

Ainsley se separou de Hart quando chegaram ao amplo vestíbulo da casa.

— Cam — gritou, deixando cair sua mala. — Estou em casa.

Ouviu um grito quando Isabella correu fora do salão, com os braços estendidos.
Isabella que estava encantadoramente redonda por sua gravidez, abraçou-a suavemente.
Mac saiu do salão atrás dela, e também Beth, feliz e gordinha, apressava-se pelas escadas
com Ian e Daniel.

Daniel envolveu Ainsley em um forte abraço.

— Sabia que voltaria. Não disse? Papai! — rugiu subindo as escadas, depois de
deixar Ainsley no chão. — É Ainsley!

— Sabe, moço — riu Mac. — Acredito que o condado inteiro sabe.

Cameron chegou estrepitosamente da parte traseira, o caminho mais próximo aos


estábulos e todos ficaram em silêncio. Cameron se deteve na soleira quando viu Ainsley,
suas botas e calças de montar estavam cheios de barro. Ainsley se conteve para não correr
para ele, seu bonito e alto cavalheiro, de olhos cor topázio.

— Olá, Cam — disse.

Só a face com a cicatriz de Cameron tremeu, o resto permaneceu completamente

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imóvel.

— Trouxe meu irmão comigo. Cam, este é Patrick McBrides.

Patrick fez uma pequena reverência.

— Como vai, milord?

Cameron deslocou seu olhar a Patrick, fez uma rígida e cortês inclinação e voltou a
olhar a Ainsley.

Hart pôs sua mão sobre o ombro de Patrick.

— Sr. McBride, por que não refrescamos a garganta com um pouco de uísque
Mackenzie?

Patrick se ergueu e seguiu Hart à sala de estar, depois de que entrasse Hart
intencionadamente fechou as portas. Os outros começaram a se afastar pelas escadas ou
para fora, Beth agarrou o braço de Ian e o conduziu para a frente.

Só Daniel permaneceu obstinadamente ao pé das escadas.

— Não diga nada estúpido, papai.

— Daniel — disse Cameron.

— Fica todo o tempo que queira, Danny — Ainsley tirou seu chapéu e o jogou em
uma mesa, depois procurou dentro de sua mala e tirou uns papéis. — Peço desculpas,
Cameron, por demorar tanto tempo em retornar para casa. Mas Lorde Pierson é um
maldito teimoso. Custou-me bastante o convencer — Patrick o fez extraordinariamente
bem, pensou. Deveria ter sido ator.

Cameron soltou seus braços, era difícil centrar-se em algo que não fosse o sorriso de
Ainsley.

— Pierson?

— Angelo levou Patrick e a mim a Bath, aos banhos. Ali Patrick visitou lorde Pierson
e o convenceu a vender Jasmine. Que a vendesse a Patrick, quero dizer. Fiquei no barco no
canal, por isso Lorde Pierson não pôde me ver, nem me reconhecer, Patrick fez tudo.
Esteve absolutamente maravilhoso. Sabe que no canal os barcos podem deslizar tão
suavemente como a seda? Pareceu-me muito relaxante. Embora, os sobrinhos e as
sobrinhas de Angelo sabem como conseguir que o barco se balance na água. Ensinaram-

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me.

— Ainsley — Cameron cortou o fluxo vertiginoso de seu falatório. — Está me


dizendo que... Convenceu Pierson... Para que vendesse Jasmine?

— Fez-o Patrick. Dei a Patrick o dinheiro, e simulou ser um rico empresário


interessado em cavalos. Patrick quase desmaiou quando disse o quanto podia oferecer por
Jasmine, mas me mantive firme. Patrick disse a Lorde Pierson que era novo nisto das
corridas, o que é certo, e que ouviu que Lorde Pierson poderia ter um cavalo a venda,
também certo. Lorde Pierson quase lambeu seus sapatos, disse-me Patrick. Lorde Pierson
mostrou Jasmine e Patrick a elogiou. Uma vez mais, é certo, porque Patrick está de acordo
em que é uma égua maravilhosa. Jasmine se alegrou quando me viu, ao chegar Patrick
com ela no canal. Acredito que sabia que estava retornando a casa. A sua casa real, quero
dizer. Aqui.

Ainsley parecia tão malditamente agradada com ela mesma, que Cameron só podia
olhá-la fixamente e banhar-se em seu sorriso.

Daniel ria.

— E Pierson descobriu?

— Lorde Pierson estava feliz por vender Jasmine a Patrick McBride, o ingênuo
empresário — Ainsley se aproximou de Cameron, com o pacote de documentos na mão.

— À manhã seguinte, Patrick McBride vendeu Jasmine, por uma libra esterlina. Tudo
foi legalmente feito. Empurrou os documentos sobre o peito de Cameron e disse. — E,
agora, Lorde Cameron, eu dou isso a você.

Cameron apertou as folhas de cor marfim claro contra sua jaqueta.

— Por quê?

— Porque deseja tê-la — disse Ainsley.

Cameron estava tão surpreso que mal podia respirar. Queria alcançá-la, apertá-la em
um abraço, esmagá-la com seu corpo e nunca deixá-la ir.

Não podia se mover. O som de umas rodas fora interrompeu. Cameron ouviu um
familiar relincho. Ainsley girou para ele emocionada.

— Está aqui.

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Cameron segurou a mão de Ainsley. Não podia ir-se. Agora não. Ainda não. Daniel
ria e correu fora, chamando Angelo. Cameron havia arrastado Ainsley contra ele,
tranquilo como quando chegou. Ela estava em casa, com ele, onde pertencia. Seu mundo
tinha cor de novo.

— Não pode estar zangado comigo por comprar Jasmine — os olhos de Ainsley
brilharam peraltas. — Sempre posso devolvê-la, sabe?

— Não estou zangado com você, diabresa. Estou loucamente apaixonado por você —
Ainsley pareceu se assustar e, em seguida, seu sorriso floresceu.

— Está-o? Isso é fantástico, porque te amo muito, Cameron Mackenzie.

As palavras foram direto ao seu coração. Os documentos caíram no chão, esquecidos,


quando Cameron a beijou. Necessitava seu sabor. Necessitava-a cada dia em sua vida. Os
lábios de Ainsley estavam quentes, sua boca era maravilhosa.

Ela deslizou suas mãos por suas costas, sob sua jaqueta as colocando dentro de suas
apertadas calças de equitação.

— Safadinha — disse Cameron contra sua boca.

— Os outros estão nos dando um momento a sós. Estou me aproveitando.

— Não — a voz de Cameron era selvagem. — Quero que seja muito mais que um
momento. Quero tomar lentamente, durante muito tempo, em um lugar onde ninguém vá
interromper-nos.

— Estaríamos melhor em seu quarto, certamente. Essa porta tem uma robusta
fechadura, e que eu saiba, sou a única pessoa que sabe como dirigi-la.

Antes que tivesse terminado, Cameron a agarrou em seus braços, e a levou até as
escadas. Queria andar depressa, mas não podia resistir a parar no patamar para beijá-la,
mordiscar seu pescoço e seus lábios. Quando fechou a porta do quarto dando um golpe
atrás deles, Cameron deixou Ainsley de pé e começou a despi-la.

— Nunca volte a desaparecer — disse. — Quando sair desta casa, irei com você. Não
suporto estar longe de você. Entende-o?

Foi tirando e jogando todas suas camadas: o xale e o sutiã, a saia e as anáguas, as
anquinhas e o espartilho, a combinação e as meias. O belo corpo de Ainsley ficou à vista.

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Seus escuros mamilos duros, o dourado pelo entre as pernas suavemente úmidos. Era tão
bela que doía em Cameron.

— Não deveria viajar muito longe de todos modos — disse Ainsley enquanto
Cameron arrancava sua própria roupa, sua esposa nua o olhava muito séria.

— Vou engordar bastante logo, mas posso usá-lo como desculpa para comer tantos
doces como queira.

Cameron tirou sua camisa e se despojou de sua roupa interior.

— Do que está falando?

— Estou falando a respeito de dar a Daniel um irmão ou irmã. Não estava segura
antes de ir, por isso não quis dizer, mas se fez evidente durante minha visita à Rainha. Seu
médico o confirmou.

Cameron se deteve. Ainsley deu seu sorriso secreto, suas faces ruborizadas, enquanto
se elevava nua frente a ele. Encantadora, impossível Ainsley.

— Não me olhe tão surpreso, marido. Era inevitável, com as coisas que fazemos.
Surpreende-me só que não acontecesse antes, mas não se podem predizer estas coisas.

— Nosso filho — a voz de Cameron se converteu em um sussurro assombrado. Seu


mundo escuro girou a seu redor uma vez mais, ressurgindo luminoso como o sol. —
Nosso filho.

— Sem dúvida — o sorriso de Ainsley desapareceu, mas não o amor nos olhos. —
Estou completamente feliz e honrada de levá-la, ou a ele.

Cameron leu a preocupação em sua face, o temor que não desapareceu


completamente, desde a morte de seu primeiro bebê. Embalou seu rosto entre suas mãos.

— Vou cuidar de você — disse. — Pode estar segura. Não terá nada que temer.

— Muito obrigado — sussurrou.

— Maldição, Ainsley, amo-a tanto que me dói. Apaixonei-me por você a primeira
noite que te vi em meu quarto, minha pequena ladra. Estava tão bêbado, e você estava tão
bonita, que te quis como nunca quis a nenhuma mulher antes em minha vida. Como
diabos pude viver tanto tempo sem você?

— Aproximadamente, o mesmo que eu vivi sem você — Ainsley tocou seu rosto. —

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Nunca mais vamos viver separados, de acordo?

— Isso é o que estive tentando dizer — Cameron se ergueu sobre ela. — À cama.
Agora.

Levantou suas sobrancelhas.

— Está me ordenando isso?

— Estou perto disso. Desfila — aplaudiu seu traseiro com uma mão, enquanto que
com a outra a empurrava para a cama. Ainsley ia rindo todo o caminho.

Enquanto a deitava, grunhia essas coisas travessas que ela gostava de escutar.
Ainsley o beijou, e Cameron deslizou dentro dela, completando sua união, completando a
si mesmo.

Fez amor até que acabaram ofegando, suando, gritando sua felicidade. Cameron a
manteve abraçada com força durante todo o momento, e ainda a sustentava fortemente
abraçada quando estavam totalmente esgotados.

— Amo-a — sussurrou.

— Amo-o, Cam — a voz de Ainsley era suave, terna. Acreditou.

Cameron deitado junto a ela, cobriu sua nudez com os lençóis, sabendo que poderia
dormir em completa segurança e consolo. Sabia que poderia despertar novamente em paz
como mostrou, não mais negrume, não mais dor.

— Muito obrigado — disse. — Obrigado por devolver minha vida.

— Haverá muito mais disto, Cam — Ainsley tocou sua face, soprou seu fôlego
perfumado de canela sobre ele. — Ano após ano disto.

Ele Faria que assim fosse.

Cameron começou a murmurar esse terno pensamento quando saltou, ao sentir uma
mão muito decidida fechando-se ao redor de seu membro ainda duro.

— Diabresa — grunhiu.

Ainsley riu e as gargalhadas retumbaram no teto, quando Cameron voltou a deitá-la


no colchão e começou a fazer o amor outra vez.

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Epílogo

Ascot, Junho de 1883

Os cascos golpeavam sobre a pista, o barro voava por todos os lados, viam-se as
costas marrons, negras e cinzas inclinadas dos jóqueis.

Ainsley gritou e elevou os punhos, quando Jasmine se colocou na cabeça da corrida


nos últimos duzentos metros.

O camarote dos Mackenzie era uma loucura. Daniel ficou de pé sobre a cerca e
vociferou; Beth, Isabel e Mac aclamavam a todo pulmão. A multidão que abarrotava os
outros boxes os olhavam de esguelha e Ainsley esperava que Lorde Pierson estivesse entre
eles. Era culpa dele. O homem não entendia de cavalos.

Hart acrescentou sua aclamação à alegria.

— Chupe essa, Pierson! — Mac ria. — Não deve necessitar de seu voto...

— Se cale Mac! — disse Hart.

Ian não se uniu as vibrações, mas apertou os punhos sobre a cerca diante dele e viu
como Jasmine saltava orgulhosa para sua vitória. Beth tinha plantado um beijo na face de
Ian e Ian sorriu olhando para baixo, muito mais interessado em Beth que nos cavalos.

Só Cameron não disse uma palavra, nem se moveu. Simplesmente observava, sem
assombrar-se, como o cavalo ao qual prodigalizou toda sua atenção durante a primavera
se comportava exatamente como esperava.

Daniel saltou para baixo da cerca.

— Ganhei uma fortuna. Isso ensinará às casas de apostas que não devem apostar
contra os cavalos de papai.

— Sabiam do passado de Jasmine — disse Ainsley. — Não puderam acreditar que


Cameron conseguiria dar a volta. Mais tolos foram eles.

Cameron ofereceu seu braço a Ainsley.

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Highland Pleasure 03

— Tempo de ir abaixo.

— Antes de que o faça — Hart disse. — Tenho algo a dizer.

Cameron se deteve, sem estar realmente interessado, mas Mac pareceu ver algo no
tom de Hart.

— O que? — perguntou bruscamente.

— Nada desastroso — disse Hart. — Agora que os vejo felizes e casados, estou
pensando em tomar uma esposa.

O silêncio foi instantâneo, assombrado e pesado. Ian olhou a Hart e se manteve


assim, o olhando diretamente aos olhos. E então todo mundo começou a falar ao mesmo
tempo.

— Refere-se a Eleanor? — perguntou Ainsley, elevando a voz sobre o clamor.

Hart rompeu seu olhar com Ian e olhou Ainsley.

— Não disse que escolhi alguma candidata.

— Sim, o fez — gritou Daniel. — Simplesmente não nos quer dizer isso no caso dela
o rejeitar de novo.

— Cameron — disse Hart. — Amordaça seu filho.

— Por quê? — disse Cameron encolhendo os ombros. — Danny tem razão. Eu digo o
mesmo, Hart, meu cavalo está esperando. Vamos, Daniel. Esta é também sua vitória.

Daniel pegou Ainsley no outro braço, e assim entre o pai e o filho saiu do camarote.

— O que pensa, madrasta? — perguntou Daniel. — Seis peniques por Lady Eleanor?
A favor ou contra? Eu digo que o chutará de novo.

— Não, de fato, Danny, moço — disse Ainsley. — Vinte a que ela aceita.

— Feito. Papai?

Cameron sacudiu sua cabeça.

— Nunca aposto sobre um Mackenzie. É muito arriscado e Hart pode ter um ás sob a
manga.

— Ainda assim, acredito que Eleanor ganhará, aconteça o que acontecer — disse
Ainsley. — Agora, vamos ver Jasmine.

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Daniel soltou o braço de Ainsley e correu na frente, descendo as escadas. Atrás deles,
os restantes Mackenzies continuaram vociferando, cruzando também aposta sobre Hart. A
voz de Ian se elevou por cima de todos eles.

— Trinta por Eleanor — disse. — Ela dirá que sim.

Ainsley riu.

— Pobre Hart.

— É culpa dele. Soltou a notícia de propósito, quando todo mundo estava


entusiasmado com Jasmine. Ele tentava fazer passar como uma brincadeira, não como algo
sério. Mas Hart é tão mortalmente sério.

Ainsley sabia que era.

— Sinto-me tentada de advertir a Eleanor — disse. — Mas não, devem descobrir por
si mesmos.

— Como nós o fizemos.

— Hmmm — Ainsley olhou os amplos ombros de seu bonito marido, sua jaqueta
negra e o kilt dos Mackenzie e fixou nele seu brilhante olhar, subitamente interessada.

— Cam — disse. — Esperam-nos abaixo no prado, não?

— Provavelmente. A menos que Danny recolha o troféu.

— Bom — Ainsley se foi para uma lateral e arrastou com ela Cameron sob a tribuna.

— O que faz, safada? — perguntou Cameron enquanto se agachava fora da vista. —


Deseja me contar um segredo?

— Te fazer uma pergunta — Ainsley acariciava o botão superior de sua blusa. —


Quantos botões pode abrir, milord, antes de que tenhamos que ir e resgatar o troféu?

Seus olhos se obscureceram.

— Pequena diabresa.

Ainsley ria enquanto Cameron a apertava contra ele, beijava-a com força e começava
a desabotoar seu vestido.

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Fim

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