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Elisa Braden
SINOPSE
Para mamãe. Porque ‘hoje não’ nunca quis dizer para sempre.
Você me deu espaço para sonhar. Agora olhe onde estou.
*~*~*
CAPÍTULO 1
26 de outubro de 1819.
Londres
*~*~*
*~*~*
*~*~*
*~*~*
— Eu quero mantê-la.
As sobrancelhas de Shaw arquearam diante da
declaração de Reaver.
— Como sua amante?
— Não.
Abandonando o seu posto na janela, Shaw caminhou em
direção a mesa de Reaver e sentou-se na beira, examinando
preguiçosamente a pintura que Lady Tannenbrook dera a ele.
— Como sua esposa, então. Tem certeza disso?
— Se pudesse ter tido o casamento realizado esta
manhã, eu teria casado.
— Humm. O que ela diz a respeito?
Reaver exalou frustrado.
— Não perguntei ainda. Ela está focada no maldito
Glassington. Além do título, não posso imaginar o motivo. O
homem é um idiota imprudente.
— Sim, recordo. Companheiro animado. Um tipo de
encanto fanfarrão. Bêbado como um imperador depois da
segunda dose de conhaque. — Shaw franziu o cenho. —
Nunca vi um homem sofrer perdas acentuadas tão
rapidamente. Inesquecível.
Apertando e depois soltando os braços da cadeira, Reaver
se esforçou para permanecer calmo.
— Quebrarei cada osso daquele corpo sodomita antes de
permitir que ele a toque.
Os olhos de Shaw enrugaram de uma maneira irritante.
— Bem, você é naturalmente talentoso a esse respeito. E
faz muito tempo desde que eu o vi fazer um homem gritar por
sua mão. Um maldito entretenimento.
Reaver grunhiu uma concordância. Aye, ele já foi um
pugilista. E Shaw corria as apostas, exibindo um sorriso e
fingindo uma natureza servil para convidar apostas mais
altas. Naqueles dias, eles eram dois estivadores de bolsos
vazios e ambição voraz. Buscavam algo melhor do que
carregar engradados e cordas, fazendo o que quer que fosse
preciso para ganhar terreno, desde quebrar mandíbulas de
outros homens a jogar dados nos inferninhos e tavernas. As
vitórias frequentes trouxeram acusações de fraudes, mas o
sucesso deles vinha mais do cálculo do que de fraudes.
Os dois tinham boas cabeças para números. Foi como
eles ganharam o suficiente para comprar a primeira taverna.
Foi como eles construíram o Reaver’s. Foi como Reaver
aprendera que o motivo de uma mulher como Augusta
Widmore perseguir um janota como Glassington podia ser
apenas desespero. Mas desespero a respeito do que,
precisamente? Ele precisava de respostas.
Shaw cruzou os braços.
— Um soco seria divertido. No entanto, se seu objetivo é
seduzir a Srta. Widmore em casamento, deve usar as suas
mãos em empreendimentos mais produtivos.
— Tais como?
Shaw riu.
— Se devo explicar, talvez a situação esteja mais
deteriorada do que imaginei.
—Bastardo.
—Humm. Não, apenas um mestiço.
Reaver o encarou.
— Não gosto desse termo. Agora, diga-me o que devo
fazer.
Shaw ergueu uma sobrancelha.
— Para cortejar a Srta. Widmore? Maldito inferno,
Reaver, como eu devo saber?
— As mulheres parecem gostar de você.
— Mulheres preferem os descomplicados. O homem a
quem isto está atado é algo sem importância.
— Ela não. Ela é... diferente.
— Então por que ela está atrás de Glassington, se não for
pelo título? É apenas outro tipo de descomplicação, para dizer
a verdade.
— Não sei. — Reaver falou, suas entranhas se revirando.
— Drayton está correndo atrás da conexão entre eles, mas
está atrasado. — Reaver olhou pela janela, onde uma chuva
batia no vidro. — Tempestades, provavelmente.
— Elas não vão parar. — Concordou Shaw antes de se
levantar e arrumar as lapelas de seu casaco. — Devo retornar
ao piso. Quando eu saí, o Sr. Barnabus Malby estava
declarando sua admiração pelo broche que Lady Brannigan
usava no corpete ontem à noite. Lorde Branningan não estava
muito contente. Minha intuição me diz que Malby estaria
deitado na mesa do perigo em um quarto de hora. Devo
chamar Duff. Malby é bastante... corpulento.
Reaver assentiu e o dispensou.
Na porta, Shaw se virou com um olhar pensativo.
— Talvez ela seja mesmo diferente como diz e não o tipo
que se encanta por bolsos cheios. Mas isso não quer dizer que
seja errado mostrar-lhe as vantagens de ser a Sra. Sebastian
Reaver.
— Ela é uma mulher respeitável, Shaw. Não posso fazer
estas coisas até que estejamos casados. É uma maldita
loucura.
Rindo, Shaw respondeu:
— Não estas coisas, homem. Leve-a aos lugares que ela
gostaria de ir. Compre coisas que ela deseja ter. Mime-a um
pouco. Virar a cabeça de uma solteirona do interior deve ser
fácil para um homem com seus meios.
— Você estava certo. — Reaver rosnou.
— Estava? Sobre o quê?
— Seus conselhos sobre seduzir mulheres são inúteis.
Pedirei a Frelling.
Mais uma vez ele riu enquanto fechava a porta.
O conselho de Frelling, quando aconteceu, foi igualmente
inútil. Seu secretário piscou como uma coruja atrás da
mesma em resposta à pergunta direta de Reaver minutos
atrás.
— Cortejar uma dama, Sr. Reaver? Receio não entender.
É um novo esquema para o clube?
— Você é casado, não é? — Reaver perguntou.
— Sim. — A palavra saiu cautelosa. — A Sra. Frelling e
eu celebramos um ano de casamento em janeiro.
— Como a convenceu a casar-se com você?
Frelling apertou os óculos e pigarreou.
— Bem. É uma história um pouco longa.
— Encurte-a.
— Gunter’s.
— Gunter’s?
— A loja de chá na Berkeley Square. É mais conhecida
por seus sorvetes, ouso dizer. A Sra. Frelling ama a variedade
dos de chocolate.
— Está chovendo torrencialmente, Frelling. Quando os
ventos sopram, o que acontece a cada segundo, o atinge de
um jeito que terá inveja das pedras da costa escocesa.
— Bem... Sim.
— Sua recomendação provavelmente terminará em uma
queixa pulmonar em vez de uma cerimônia de casamento.
— Meus encontros com a Sra. Frelling ocorreram no
verão do ano passado. Sorvetes são realmente bons no calor.
— Então por que o Gunter’s?
Frelling deu de ombros.
— Eu disse que era uma longa história. Eles servem chá
também. Não tão bons quanto os do clube, mas...
Reaver suspirou e esfregou a testa, levantando a outra
mão em um pedido de silêncio.
— Esqueça a pergunta. Estarei no prédio vizinho fazendo
algo útil. Você poderia considerar isso, Frelling. Ser útil.
Com um sorriso plácido, Frelling assentiu.
— Utilidade é, de fato, uma meta louvável, Sr. Reaver.
Murmurando entre os dentes, Reaver seguiu seu
caminho até o Número Cinco, o prédio que eles adquiriram na
primavera anterior para a expansão dos negócios.
Ao entrar pela porta dos fundos, o som de martelos e
risadas masculinas o atingiram.
Ele olhou ao redor do piso térreo onde eles haviam
removido muitas das paredes para criar salas amplas e uma
passagem de serviço para o Número Seis, a atual localização
do clube.
A construção nua com tijolos à vista ao lado de uma
chaminé revelava uma parede podre e deteriorada causada
por um vazamento do telhado. Ele inalou o cheiro de
argamassa, gesso, madeira e suor, antecipando a satisfação
de um trabalho real e honesto. Então, ele tirou o casaco,
dobrou as mangas de sua camisa e começou a encher uma
carrinho com tijolos.
Quando trabalhava nas docas, passava o tempo
planejando, movia uma caixa, calculava custos de locações.
Amarrava cordas, calculava margens de lucros. Carregava um
navio planejando ter uma equipe eficiente.
Seu corpo se movimentava, mas sua mente era mais
rápida. Ansiava pela hora, após o trabalho físico, que tivesse
fundos suficientes para viver onde lhe agradasse e ter que
responder apenas a si mesmo. Agora, ele pensava naqueles
sonhos na doca um milhão de vezes e, de alguma forma, eles
eram satisfatórios.
Porém, com todo conhecimento sobre probabilidades,
não previra essa inquietação. Isso o comia como um inseto
enterrado, coçando debaixo de sua pele.
Shaw sabia, mas ele não entendia, não de verdade. O
trabalho de Shaw como mordomo exigia constante movimento
e reação imediata. Ele não tinha tempo para se preocupar
com a quietude com apenas o tique-taque de um relógio
ormolu quebrando o silêncio. Sempre muito o que fazer.
Não para Reaver. Até Augusta Widmore invadir seu
escritório com seu sorriso empertigado e suas exigências
absurdas, Reaver não sabia o que fazer com ele mesmo. Ele
trabalhava na expansão e o trabalho físico o ajudava, mas
aquele inseto que cavava mais profundamente até o
pensamento enlouquecê-lo.
Agora, ela estava em todos seus pensamentos, um
assunto bem mais cativante do que as fantasias de riqueza de
um pugilista de vinte anos de idade ou esquemas de negócios
de um proprietário de taverna de vinte e cinco anos. Aye. Ao
agarrar os tijolos, dois em cada mão e empilhá-los no alto,
viu-se sorrindo. Por Deus, aquela mulher era extraordinária.
Fazer as coisas pela metade não leva para nenhum lugar, ela
dissera. Outras pessoas fazendo essa afirmação soaria
arrogante. No caso dela, era simplesmente um fato.
Ele a observara com Beauchamp, notou sua maneira
firme e decidida. Ela selecionou cadeiras, sofás, mesas, mesas
de escritório como se tivesse tirando itens do sótão, sem
hesitação, sem perder tempo.
Acima de tudo, Augusta Widmore assumiu o comando.
Não esperou ser instruída. Ela não se incomodou em
amenizar ou ser cautelosa. Era sincera, mas exigia padrões
altos de si mesma e dos outros.
Antes de Augusta, se alguém lhe perguntasse se tal tipo
de mulher o atrairia, ele teria atirado o tolo para fora de seu
escritório. Há muito tempo ele presumira que se um dia se
casasse, sua esposa seria do tipo calmo. Dócil e fácil de lidar.
Augusta era tudo, menos fácil. Era um problema. Desde seus
espetaculares cabelos ruivos até a bainha marrom desfiada.
Ele a desejava tanto que doía desde seus joelhos até seus
dentes.
A razão pela qual ele estava atualmente carregando uma
carga de tijolos para o lado oposto do piso térreo, onde dois
pedreiros lhe aceram seus agradecimentos e continuaram a
reconstruir a lareira da cozinha. Ele não precisava mais de
trabalho físico para conter sua inquietação, mas isso ajudava
quando seu desejo por ela se tornou insuportável.
— Sua argamassa está muito dura. — Veio uma voz,
profunda e familiar, detrás dele enquanto ele começava a
carregar outra carga. — Precisa ser mais úmida.
Reaver olhou por cima do ombro e ergueu uma
sobrancelha.
— Tannenbrook. Pensei que trabalhava mais com pedras
do que com tijolo.
Seu primo estava parado com uma mão no quadril,
olhando para a chaminé e deslizando o polegar sobre uma
junção desalinhada.
— Ter conhecimento em uma área não faz de você um
ignorante em outras.
Grunhindo sua concordância, Reaver voltou a empilhar
tijolos.
— O que o traz aqui?
— Viola pretende oferecer um jantar. Ela gostaria de sua
presença.
Reaver suspirou e parou. Esfregou a testa com as costas
de seus pulsos e depois se virou para encarar Tannenbrook.
— Por quê?
— Ela gosta de você. Um pouco misterioso, isso. Nossa
semelhança provavelmente é a culpada. — A maioria das
vezes, Tannenbrook falava como um típico nobre inglês. Mas
às vezes, quando alguma emoção o tomava, uma sugestão de
escocês escapava. Isso acontecia muito quando Viola entrava
na conversa. Naquele momento, a afeição aumentava seu
sotaque.
O que fez Reaver pensar se Tannenbrook não seria o
conselheiro ideal. Shaw e Frelling foram inúteis, mas James
Kilbrenner conquistara a beldade da década, e, como ele
fizera a observação, ele se parecia com Reaver, o que queria
dizer que não confiara na aparência para conquistá-la. Viola
poderia ter tido o marido que quisesse, príncipe, duque,
bonito, rico, mas ela escolheu Tannenbrook. Além do título, o
homem era um marmoreio escocês de tamanho intimidador e
feições feias. Dificilmente um prêmio a se obter. Não, ele era
um escocês sortudo ou possuía um segredo que não
compartilhara ainda, um que Reaver pretendia descobrir.
— Esqueça a argamassa, homem. Preciso de um
conselho.
Franzindo a testa, Tannenbrook cruzou os braços.
— Sobre?
— Persuasão.
— Se pretende mudar a ideia de Viola, devo alertá-lo...
— Não Lady Tannenbrook. Preciso... — Reaver soltou o
ar e passou a mão pela cabeça. — Há uma mulher que eu
devo... cortejar.
Olhos verdes enrugaram. Um sorriso curvou um lado da
boca de seu primo.
— Uma mulher. Inferno, Reaver, por que não disse isso?
— Uma risada profunda e um tapa dolorido em seu ombro fez
Reaver se perguntar se não cometera um erro.
— Esta conversa fica entre nós, entendeu? — Reaver o
fulminou em alerta. — Sem levar histórias a sua esposa. A
próxima coisa que terei, será ela com uma lista de instruções
para a noite de núpcias.
Outra risada profunda.
— Aye. Ela faria isso. Muito bem, o que quer saber?
— Como eu convenço uma dama a se casar comigo?
— Antes, deve me contar quem ela é.
Reaver franziu o cenho.
— Uma solteirona. De Hampshire.
— Mais, Reaver. O que o fez contemplar o casamento?
Avaliando o seu primo de cima a baixo, Reaver decidiu
ser franco. Tannenbrook fora um tipo rude, uma vez.
— Eu a desejo até não ser capaz de não pensar em nada
mais.
Tannenbrook bufou.
— Isso é tudo?
— Isso é malditamente demais.
— Não é o bastante para uma vida inteira. Nem o
suficiente para ser pai dos filhos dela.
Reaver soltou o ar e colocou as mãos nos quadris.
— Ela me enlouquece. Nunca conheci uma mulher mais
determinada. Ou uma com tanta coragem. Tola, mas
terrivelmente corajosa. Eu não a vejo se casando com outro,
Tannenbrook. Eu o quebrarei em cem pedaços antes...
— Ah. — Seu primo disse em um tom irritado. — Outro
homem. Quem é?
— Um maldito nobre.
— Disse que ela é uma solteirona?
— Aye.
Tannenbrook apoiou uma mão na parede de tijolo.
— Então, deve descobrir o que ela quer. Se ela deseja se
casar com outro homem...
— Mil pedaços.
— ... então não é ao casamento que ela resiste. Se o
título importa, deve dizer-lhe que é meu herdeiro.
— Possível herdeiro. No momento em que for pai de um
menino, essa besteira acaba.
Tannenbrook lhe lançou um olhar estranho, depois se
afastou da parede. Ele pegou uma pilha de tijolos e começou,
silenciosamente, a carregar o carrinho.
Reaver se juntou a ele.
— Como você conseguiu persuadir Lady Tannenbrook a
casar-se com você?
O primo sorriu.
— Eu não fiz. Ela me persuadiu. Bastante para dizer a
verdade.
Imaginar a jovial e bela Viola perseguindo o grande e
taciturno James Kilbrenner o fez rir. Tannenbrook
prosseguiu.
— Eu precisei cortejá-la um pouco depois do casamento.
Segui o conselho de um amigo a princípio, a cobri de elogios e
coisas assim. Se fosse melhor com palavras, deveria ter
funcionado melhor. Mas tudo o que fiz foi isso. — Ele ergueu
sua mão. — Então eu lhe dei um presente. — O sorriso dele
foi lento e cheio de segredos. — Ela gostou muito.
— Por que foi necessário cortejar a sua esposa depois do
casamento? — Reaver franziu o cenho. — Ela já era sua.
Seu primo riu de novo, sacudindo a cabeça.
— Você e eu somos muito parecidos, Reaver. Não
consegue adivinhar?
Reaver grunhiu e empilhou outro par de tijolos.
— Eu alertei Augusta que sou um homem rude.
— Esse é o nome dela? Augusta?
— Aye. — Murmurou. — Augusta Widmore. — Apenas
falar o nome dela fazia seu coração forte, completo e pesado.
Com um aceno, Tannenbrook retomou o carregamento.
— Um alerta não é o bastante. Deve ser melhor, tratá-la
melhor do que faria com qualquer outra pessoa. Em retorno,
se ela for uma mulher de valor, ela o amará mais do que
qualquer outro.
Ele pensou nas vezes em que falou com aspereza e como
uma ruga de dor surgiu ao redor dos olhos dela.
— E se eu machuquei os sentimentos dela? Ela é uma
mulher forte, mas eu posso ser... desagradável.
Tannenbrook parou, limpou as mãos esfregando uma na
outra e bateu no ombro de Reaver.
— Implore pelo perdão dela. Não espere. Não hesite. Um
pedido de desculpa é um feitiço mágico, homem. Use-o com
rapidez e frequência, para as mulheres, tais medidas nunca
perdem o encanto.
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25 de julho de 1820
Derbyshire
16 de Fevereiro de 1825
Meu querido Mr. Kilbrenner,
Você parece estar em um torneio de fertilidade. Eu tenho
uma boa autoridade — não a sua, claro, já que sua
correspondência pode ser descrita como esparsa — de que você
e a Sra Kilbrenner estão novamente esperando uma criança.
Espera-se que seja uma filha, pois quatro filhos de tamanho
gigantesco não é tão grande quando o cerco do exército.
Da mesma forma, espera-se que a mais nova gestação de
Lady Tannenbrook seja um menino. Dada a disposição de
Lorde Tannenbrook por suas filhas, tal eventualidade poderia
salvar uma quinta menina de ser mais uma solteirona de
coração partido.
A propósito, o tio da Sra. Kilbrenner parece ter encontrado
com a má sorte. Após ter terrivelmente empobrecido com um
esquema fracassado de investimento, Sir Phillip e Lady
Widmore devem achar ainda mais perplexo terem sido
roubados pelo menos quinze vezes em cinco anos. Este
incidente, pelo menos, não envolveu ferimentos como os catorze
anteriores, embora Lady Widmore tenha reportado que entrou
em desespero. O ladrão pegou as últimas joias dela e até
mesmo o vestido, veja, forçando a pobre coitada a retornar a
Binchley Manor em um severo estado de nudez em uma
carroça puxada por um asno. Tal grau de humilhação tem sido
frequente para Sir Phillip e sua esposa. Muito incomum, embora
o Destino tenha suas razões.
Mais notícias: um conhecido seu, Lorde Holstoke pretende
voltar a Londres para a temporada. Entendo que esteja
procurando uma esposa. Dado o histórico familiar de loucuras
e sua própria natureza peculiar, alguém pode supor que
encontrará muita dificuldade. Espero que os procedimentos
provem-se mais interessantes para serem assistidos. Talvez
possa oferecer-lhe meus conselhos. Parece que eles o ajudaram
enormemente.
Dê os melhores cumprimentos à Sra. Kilbrenner. A espero
para almoçar quando ela chegar à cidade.
Sua,
Dorothea, A Marquesa Viúva de Wallingham
[←1]
Bonnet são chapéus amarrados embaixo do queixo.
[←2]
Cravat é a antecessora da gravata atual,
[←3]
Faro, Faraó, Faraó ou Farobank é um jogo de cartas francês do final do
século XVII. É descendente de Basset.
[←4]
post-chaise eram carruagens rápidas, fechadas e possuíam quatro rodas e
eram puxadas por dois ou quatro cavalos normalmente usadas para viagens.
[←5]
Regalo – agasalho para as mãos, de formato cilíndrico, normalmente feito de
lã. Também era usado como uma pequena bolsa.
[←6]
Ash Cole é uma expressão que indica alguém que só se interessa por
dinheiro, ganancioso, interesseiro.
[←7]
A frase é uma alusão à palavra gentleman que, em português, é cavalheiro.
Como não há como traduzir o jogo de palavras, optou-se por manter o
sentido original.
[←8]
Staccato é uma articulação musical na qual as notas e os motivos das frases
musicais devem ser executadas com suspensões entre elas, ficando as notas
com curta duração.