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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

O Duque em Negação

Sebastian Lewis jamais teve expectativa de se tornar um duque. Mas com a


morte repentina de seu primo e tio, a posição de Sebastian muda. Ele está
determinado a cumprir as suas novas responsabilidades com graça, mesmo que
isso signifique se casar novamente, e mesmo os atrativos das mulheres, tantas
vezes elogiado pelos poetas, não lhe interessa.

O Capitão William Carlisle, recentemente retornou da Índia, fica exaltado


quando conhece Sebastian. Ninguém sabe de suas inclinações, mas suas
experiências angustiantes na batalha já o levaram a alcançar o tipo de
companhia que ele anseia. Ele acha que Sebastian pode sentir uma atração assim
também, mas para seu espanto, ele descobre que Sebastian está cortejando sua
irmã Dorothea.

Depois de um noivado semiarranjado e um emaranhado desconcertantemente


romântico com William, Sebastian escapa para Londres para cuidar de sua
mansão, apenas para enfrentar roubos misteriosos, um fantasma sem cabeça, a
ameaça de uma invasão francesa e com a chegada de sua noiva, seu irmão e sua
família. Em meio a essa turbulência crescente, Sebastian deve resolver seus
sentimentos em relação ao irmão de sua noiva e manter sua casa segura... e
determinar se ele teria coragem de alcançar a sua própria felicidade no processo.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Comentário da revisora inicial Snowflake: Desde que me entendo como
"viciada em livros", sempre tive preferência pelos históricos e não seria
diferente com o gênero M/M. Talvez porque haja o toque do proibido mais
acentuadamente, quando o amor entre homens era impensável. Bem, esse livro
é quase um "florzinha", nada de sexo caliente, mas tem cenas fofas entre os
protagonistas. Parece que esse livro é o primeiro de uma série "Escândalos em
Sussex" e eu creio que promete. É uma história doce e bem escrita, que te
envolve e te comove. Boa leitura.

TM: Freya
Revisão Inicial: Snowflake
Revisão Final: Freya

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

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Londres, 1804

Sebastian Lewis rezou para que sua cartola não fosse varrida. Hoje à
noite, a tia Beatrice iria apresentá-lo para a mulher com quem ele iria se casar,
e chegar sem chapéu decididamente não era como ele desejava fazer uma
entrada. Talvez os fidalgos de Yorkshire não se importassem com a falta de
itens essenciais de um guarda-roupa, mas Sebastian era um duque agora, e ele
precisava agir corretamente. Somerset Hall dependia dele.

O vento fresco esbofeteava seu rosto, e as folhas caídas elevavam e


dançavam ao redor de suas pernas. Ele tirou o chapéu apertado e correu ao longo
do perímetro do Hyde Park1. As chamas bruxuleantes de lâmpadas de óleo de
baleia brilhavam fora das janelas dos edifícios circundantes e impregnavam a
área com um odor de peixe.

Poucos pedestres caminhavam pelas ruas; o vento e a possibilidade de


chuva provavelmente dissuadiram a todos, menos aqueles com negócios
urgentes. As carruagens passavam, suas decorações cada vez mais elaboradas,
com cristas douradas e rodas pintadas, enquanto se aproximavam das
festividades.
Ele se casaria com quem sua tia escolhesse. Ele nunca entendeu por que
algumas pessoas agonizavam com a decisão, mesmo casando por amor e
rompendo laços com sua família. Ele nunca tinha conhecido uma mulher que o
inspirasse a fazer isso. Era tão gratificante fazer o que era certo e fazer sua
família feliz.

O que poderia superar aquela sensação agradável?

Não que ele se sentisse agradável agora. Talvez isso viesse mais tarde.
Em vez disso, seu peito se apertou e seu estômago estremeceu.

1
Parque famoso no centro de Londres.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Casas de tijolos vermelhos pairavam em torno dele enquanto ele se
aproximava da casa de sua tia em Grosvenor Square 2 . A fumaça escura
transbordava das chaminés. Um soldado de uniforme escarlate caminhava pela
rua, sua poderosa forma movendo-se em passos confiantes. Sebastian forçou
sua atenção para outra coisa, enfocando nos sons de um violino bem afinado
vindo de uma janela aberta.

Ele esticou o pescoço para examinar o prédio, e uma rajada de vento


levantou o chapéu da cabeça. Ele subiu para o céu estrelado. Ele ergueu a mão,
seu estômago já caindo.

A cartola atravessou a rua.


Apressou seu passo atrás dela, consciente do quão tolo ele deveria parecer
para todas as pessoas que andavam em suas carruagens. O chapéu voou para a
praça, e ele correu por toda a rua.
― Saia da rua, tolo. ― Um condutor de aluguel gritou, seu sotaque
cockney3 amplificando as palavras abusivas.

Sebastian fez uma careta. A cartola não cooperou e enganchou em um


galho alto, insultando-o. Ele apertou a mandíbula e balançou a árvore com sua
bengala, banhando-se em um banho de folhas secas. O chapéu se recusou a cair.
As pessoas devem tê-lo visto correr atrás dele, e o pensamento de aparecer agora
no baile sem o seu chapéu o chocou.
Escalar vestido em trajes para noite era, talvez, não aconselhável, mas ele
só precisava alcançar o próximo galho, e então ele seria capaz de agarrar a besta
indescritível. Ele exalou, aliviado por ter um plano. Ele poderia fazer isso.
Ele subiu até o tronco e balançou sua mão para o menor ramo.
Conseguindo um aperto firme, ele moveu seu peso. Agora ele só precisava
passar o outro braço no ramo, e então ele poderia se levantar.

― Você não vai conseguir alcançá-lo dessa forma. ― Um acento rico do


norte rompeu a escuridão, quebrando a noite. A voz melódica varreu toda a
memória das sóbrias vozes polidas da alta sociedade e conduziu Sebastian para
2
Grosvenor Square é uma praça com jardim amplo no exclusivo bairro de Mayfair de Londres, Inglaterra. É a
peça central da propriedade Mayfair do duque de Westminster, e leva um dos nomes de seu sobrenome,
"Grosvenor".
3
Um cockney, no sentido menos estrito da palavra, é um habitante do East End de Londres.

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uma colina onde a falta de chapéus não causava alarme.

Ele tentou encontrar o dono da voz, esquecendo momentaneamente da


sua posição precária. Seus ombros relaxaram e sua mão escorregou. Ele
balançou-se solto, seus pés chutando no ar, sem o apoio anterior do tronco. Ele
amaldiçoou. Ele ainda podia balançar para cima, mas correria o risco de rasgar
suas vestes, e aparecer no baile com a roupa rasgada seria impossível. Ele olhou
para o chão, repleto de folhas, galhos e raízes. Ele suspeitava que fosse
encontrar-se lá em breve. Algo se moveu na escuridão, e um rosto erguido
apareceu abaixo.

― Você me assustou. ― Sebastian franziu a testa e se balançou no ramo,


sem saber se simplesmente se soltava ou tentava subir. Ambas as opções
levariam a repercussões negativas para o seu vestuário. O homem riu. ― Eu
acho que você precisa de ajuda.
― Eu estava indo muito bem antes de você chegar. ― Sebastian
murmurou. Ele podia ser atlético, mas se pendurar em árvores não era uma
ocupação comum para ele. Ele ergueu o outro braço. Se ele balançasse...
Sebastian caiu.

Ele manteve um pouco de dignidade ao cair em pé, suas roupas intactas.


Infelizmente, essa dignidade foi alcançada principalmente por causa dos braços
fortes que o pegaram em seu caminho para baixo, firmando-o.
Ele tomou nota dos longos dedos que ainda seguravam sua cintura. Ele
se inclinou contra o peito do homem e uma onda de calor o encheu. Muito calor.
Ele girou, enfrentando o desconhecido e criando alguma distância entre eles.
Obrigou-se a firmar o fôlego. A luz das moradias próximas iluminava a sua
vista.

Um homem alto, com mechas escuras onduladas e olhos castanhos


quentes, olhou para ele. Ombros largos enchiam seu uniforme e o olhar de
Sebastian permanecia nas feições do homem, que descansou em sua forte
mandíbula. Seu coração acelerou e sua respiração ficou presa, oprimido por um
desejo impróprio para traçar a suave barba rala.

Obrigando-se a desviar os olhos, se concentrou com os botões


requintados e fios de ouro adornando o traje do homem. Ele inalou. O homem

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cheirava maravilhosamente. Como agulhas de pinheiro. Como guirlandas de
Natal e todas as coisas boas.

Cascos dos cavalos tamborilavam sobre os paralelepípedos, sinalizando


a chegada de um novo grupo de convidados.
Os olhos do homem se lançaram para a rua. Ele afastou-se e ajeitou o
uniforme. Frequentadores de festas escorriam das moradias, as mulheres
levantavam as bainhas de seus vestidos para evitar manchá-los.

O oficial se abaixou e pegou uma pedra. Ele fez uma careta por um
momento e transferiu a rocha para a mão esquerda. O pedaço de granito brilhava
à luz do luar. ― Eu sempre achei que quando estiver lutando contra uma árvore,
uma pedra é a melhor arma.
Sebastian lutou para encontrar palavras. ― Você está dizendo que a
árvore é Golias?
― Se isso significar que eu possa ser David. ― A voz do homem repleta
de diversão quando se aproximou da árvore.

O coração de Sebastian bateu, sem dúvida, rivalizando com o som dos


cascos dos cavalos. ― Você é grande demais para ser um David adequado.
O homem sorriu e calor correu pelas bochechas de Sebastião. Certamente
o homem não achou que ele se referia a estátua de Michelangelo, não?

― No entanto, eu vou conquistar a árvore. ― Ele jogou a pedra no ramo.


A cartola deslizou, caindo em direção ao chão, e o estranho a pegou e passou
para ele.

Sebastian prendeu a respiração e passou os dedos contra a pele de feltro


de castor do chapéu. O alívio surgiu através dele, e ele exalou. ― Obrigado.

― Espero que a experiência não tenha prejudicado você?

Sebastian estremeceu com o tom agradável da voz profunda do homem.


Ele balançou a cabeça, sempre consciente dos ombros largos do estranho,
marcado por dragonas douradas.
O homem deu um passo mais perto e os seus pés agitaram as folhas. ― E quem

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eu tive o prazer de conhecer?

Sebastian fez uma pausa, não querendo compartilhar o seu nome. O


homem poderia reconhecê-lo, e ele não queria que o comportamento do homem
mudasse. A maioria das pessoas agia de forma diferente, uma vez que
descobriam que ele era um duque.

Algo sobre a grande quantidade de dinheiro e terras. ― Sebastian.

O homem sorriu e seu corpo esticou sob o suave brilho do luar. Ele
parecia real. ― E eu sou William.

Sebastian desviou o olhar. Seu coração batia quando se tornou consciente


de que ele estava agora em um nível de se tratar pelo primeiro nome com esse
estranho.
― Você é um oficial. ― Disse Sebastian, olhando fixamente para o peito
de William.
― De fato. Você é muito observador.
O sangue subiu ao rosto de Sebastian. Ele devia estar corando. Como ele
ainda não tinha superado isso? O homem estava vestindo um uniforme.
Provavelmente as listras douradas que o decoravam, exibiam o posto exato. Ele
suspirou. ― Na Espanha?

― Índia. E eu imagino que você está indo para o baile.

― Estou. E você? ― Sebastian percebeu que estava prendendo a


respiração, ansioso para a conversa continuar. A adrenalina pulsava por ele, e
ele se sentia vivo. As estrelas brilhavam acima como se para intensificar o
momento.
― Eu não perderia isso por nada. ― William sorriu, encontrando seu
olhar. ― Vou me juntar a minha irmã lá agora.

Sebastian assentiu. ― Que bom que você tem um parente próximo aqui.
Londres pode ser um pouco esmagador.
William sorriu. ― Isso é porque você tenta subir em todas as árvores. E
no meio de Grosvenor Square, nada menos.

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Sebastian sorriu. ― Se você não tivesse me assustado...

― Então ninguém teria pegado você.

Os cantos dos lábios de Sebastian se levantaram. Talvez William tivesse


razão.
― De qualquer forma. ― Continuou William, ― Eu encontrei o lugar
bastante aborrecido.

Sebastian trocou seus pés. Claro que William não acharia Londres
esmagadora. A perspectiva de perder a sua vida já não pendia sobre ele, agora
que ele não estava em guerra.
Eles se aproximaram do baile, em silêncio. Em algum momento eles se
separariam, cada um fazendo a ronda do evento social lotado.
Sebastian não gostava da ideia de passar mais tempo na sociedade de
Londres que o dever exigia. A dança e a conversa fiada não eram horríveis de
contemplar, mas ele se importava com os olhares orvalhados que recebia de
mulheres. Dedicando parte de seu tempo a atividades de fora, tinha dado a seu
corpo uma capacidade atlética que apreciava, e seu cabelo loiro encaracolado
naturalmente, emprestava-lhe um ar elegante. Um viúvo com um passado
trágico parecia simpático às mulheres, e ele às vezes se perguntou se deveria
estar parecendo para elas de uma forma semelhantemente obcecada.

William parou, parecendo incerto e Sebastian fez uma pausa.


― Para a minha paz de espírito. ― Disse William. ― Deixe-me lhe pegar
uma bebida. Eu lhe asseguro, eu não costumo passar minhas noites carregando
Lordes. Avistei uma taberna mais para trás. Por que não vamos até lá?
Sebastian assentiu, surpreso com a sugestão de William e consciente de
decepcionar sua tia se ele chegasse tarde. Ainda assim, mesmo se ele fosse
apresentado tardiamente a sua futura esposa, uma vez que eles se casassem eles
teriam uma vida inteira juntos. Ele não via nenhuma razão para apressar o
encontro. William e ele não teriam muita chance de falar, uma vez que
entrassem no salão de baile lotado.
Eles partiram da praça, o coração de Sebastian acelerado.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

*******

O Unicorn Inn situava-se no canto de uma rua estreita. Sebastian deve ter
passeado pelo pequeno prédio várias vezes e nunca o notou. William abriu a
porta, e uma explosão de conversa barulhenta se encontrou com eles. Sebastian
lutou para se lembrar da última vez que ele visitou uma taverna, possivelmente
visitando amigos em Cambridge. Suas roupas de noite se tornou visível entre as
pessoas mais casualmente vestidas. Ele pisou no chão de madeira escura,
abaixando a cabeça para evitar as vigas no teto; a taverna não tinha esquecido
seu passado Tudor4.
William levou Sebastian para uma mesa tranquila no canto, passando por
homens jogando cartas.
― O que você quer? ― Os olhos de William brilharam – olhos marrom
esfumaçados mais lindos do que os olhos que qualquer homem tinha o direito
de ter.

― Querer? ― Sebastian olhou para o companheiro. Por um momento,


ele imaginou William acariciando seu rosto, puxando-o para mais perto de seu
rosto. Ele estremeceu. É evidente que ele tinha estado muito tempo sem uma
mulher.
O casamento era mais importante do que nunca.

― Para beber? Pessoalmente, eu sou completamente apaixonado por


cerveja. ― Disse William.
― Cerveja então. ― Sebastian não queria admitir sua falta de
familiaridade com a bebida. Contentava-se com brandy durante o dia, o vinho
em sua refeição, e vinho do porto depois, como toneladas de outros faziam.

Alguns de sua classe bebiam cerveja com café da manhã, mas ele nunca
aprovou tal indulgência.

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Faz referência a era dos Tudor, que reinaram na Inglaterra por muito tempo. A era de ouro da monarquia
inglesa. (mais ou menos entre 1400 a 1600).

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― Duas jarras. ― William pediu para a garçonete.

Sebastian gostava que William assumisse o comando. O cabelo de seu


companheiro caiu sobre a testa e Sebastian lutou contra a vontade de escovar as
mechas dos rebeldes cachos de lado. Isso seria desnecessário. Sebastian
balançou a cabeça, imaginando como seus pensamentos tinham ficado tão
inadequados, consternado pelo efeito que William tinha sobre ele.

A garçonete se aproximou mais uma vez. Seu vestido castanho roçou as


bordas das cadeiras. Ela sorriu para William, os cílios vibraram. Sebastian olhou
para ele, perguntando se ele se sentia atraído por ela.
― Duas bebidas para os cavalheiros bonitos. ― Ela colocou as bebidas
sobre a mesa, revelando seu decote amplo quando se inclinou.
Alguns fregueses franziram o cenho para William, talvez insatisfeitos
com a atenção que ela derramou sobre ele. A garçonete seria um membro da
alta sociedade, sua beleza seria desfilada diante de todos os nobres como um
exemplo de futura esposa perfeita.

― Obrigado. ― William ergueu a bebida, olhando para Sebastian. ―


Saúde.

Sebastian sorriu e tocou sua caneca contra a de William, esperando que


seu rosto não se contorcesse no gosto amargo inevitável.

Em vez disso o rosto de William se contorceu, esfregando os dedos contra


o braço esquerdo.

Sebastian franziu a testa e seus olhos pousaram no braço de William.

― Onde você estava se escondendo? ― Perguntou William às pressas,


removendo seus dedos. ― Eu nunca vi você antes, em Londres.

― Administrando a minha propriedade. Isso me mantém ocupado. ―


Sebastian ficou sério pensando nas escuras colinas verdejantes e prados verdes
floridos nos vales. Ansiava voltar em breve. Mas primeiro, ele precisava visitar
Somerset Hall.

Quando ele olhou para cima, William estava sorrindo para ele.

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― O que o traz a Londres? ― William correu os dedos sobre a jarra. ―
Foi escolha de sua esposa em vir aqui?

― Sem esposa. ― Disse Sebastian.

― Sério? ― O brilho do sorriso de William irradiou sobre a mesa de


madeira.

― Não mais.

― Viúvo? ― Os olhos de William se arregalaram. ― Eu não sabia... Eu


sinto muito.

― Eu também, Henrietta morreu ao dar à luz.


No início, ele não soube o que fazer com a esposa e se perguntou por que
os poetas faziam um alarde tão grande do amor e fazer amor, quando parecia
apenas uma tarefa embaraçosa. Mas eles se tornaram amigos, e ele lamentou
sua morte.
― E a criança?

O peito de Sebastian apertou, a dor familiarizada roendo por dentro. ―


Charlie morreu quando ele tinha dois anos. A febre.
O rosto de William se contorceu. ― Eu sinto muito.
Sebastian assentiu. As memórias de seu filho, a paixão de sua vida, o
inundaram. A morte de Charlie tinha sido repentina, mas Sebastian se lembrava
de cada minuto em que ele assistiu, impotente, como seu filho lutava para
respirar, o médico finalmente derrotado.

Isso estava no passado. O futuro estava diante de Sebastian, no qual ele


ainda poderia fazer o seu dever, ainda ser honrado, ainda procurando fazer o
seu papel com o restante da família.

― Você está comprometido? ― Perguntou Sebastian.

Sem dúvida, William estaria noivo de uma das debutantes, uma dessas
jovens mulheres que se pareciam com a garçonete, mas que possuía todas as
riquezas e as habilidades sociais, como toneladas de outras. Provavelmente, ela
passava seu tempo decorando a mansão em que vivia, colocando flores onde se
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reuniam no conservatório e cantando canções em sua sala de estar. Ou, talvez,
William já estivesse casado. Talvez ele tivesse cinco filhos em casa.

― Eu não estou comprometido. ― Disse William. ― Embora. ― Ele fez


uma pausa, olhando nos olhos de Sebastian. ― Eu gostaria de estar.
William se inclinou para frente, e sua bota tocou a de Sebastian. A mesa
era pequena e as pernas de William eram longas. O toque deve ter sido acidental,
mas Sebastian não se mexeu. Ele pressionou seu pé para trás, apreciando a
sensação. O calor correu por ele, e, em seguida, uma parte muito particular dele
endureceu. Ele sacudiu o pé para longe do homem.
― Você está procurando por uma esposa, então? ― Sebastian brincou
com o guardanapo, um pano mais grosso do que o que ele estava acostumado.
― Este é o lugar certo para estar. Logo no auge da temporada. Muitas mulheres
qualificadas estão aqui.
William deixou cair os ombros antes de levantá-los e oferecer um sorriso
fraco. ― Eu apenas estou desfrutando em estar de volta à Inglaterra. Magnífica
Grã-Bretanha e tudo mais.
Provavelmente William tinha mulheres se jogando para ele e se divertia
com isso. Ou talvez ele fosse um desses homens que tinha adquirido uma
mulher casada para ser sua amante. O peito de Sebastian se apertou. ― Eu
imagino que você se diverte muito em Londres.
William inclinou a cabeça para o lado, observando Sebastian. ― Isso tem
suas vantagens, eu suponho. Mesmo que o local esteja cheio de pessoas com
títulos. Encontros inesperados...
― Você não gosta de pessoas com títulos? ― Um nó se formou na
garganta de Sebastian, e as palavras saíram mais roucas do que ele desejava.
Será que William sabia que Sebastian era um duque? Ele estava brincando com
ele?
William se inclinou para trás. ― Eu não acho nenhuma vantagem em dar
grandes quantidades de energia para certos indivíduos no momento do seu
nascimento.
― Oh. ― Sebastian parou. Ele olhou para a mesa, correndo os olhos
sobre as ranhuras da madeira. ― Eu tenho certeza que eles tentam o seu melhor.
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― Eles são todos pretensiosos. ― Continuou William. ― Eles não teriam
corrido atrás de seu chapéu.

Sebastian tossiu. Talvez agora não fosse o momento para divulgar sua
nova posição para William. Seu coração disparou. Ele saltou para a conversa,
tentando manter a voz firme enquanto ele lutava para outro assunto. ― Minha
tia adora a cidade. Ela adoraria mais que tudo residir aqui o ano inteiro agora
que seu marido faleceu.

― Meus pêsames.

Sebastian assentiu. ― Estou confiante de que ela vai voltar para Londres
no outono.
― E no meio do ano?
― Vamos ver o que acontece com os franceses. Esperemos que eles não
invadam.
― Se o fizerem, será na costa sul. ― Disse William. ― Brighton será
menos popular do que o habitual.

― A casa da minha tia está perto de Brighton. Bem, acho que é a minha
casa agora.
― Eu gostaria de conhecê-la. ― Disse William. ― Minha irmã já foi
noiva de alguém da pequena nobreza de Sussex, embora ele tenha morrido.

― Sinto muito. Eu ficaria feliz em apresentá-lo a minha tia. ― Disse


Sebastian. ― Prefiro pensar que ela está conspirando para me apresentar a
minha nova noiva hoje à noite.

William ficou tenso e descansou as mãos sobre a mesa. ― Ela o está


forçando a se casar novamente? Você é um homem adulto. Você não precisa
cumprir a sua vontade.

― Não, não. ― Disse Sebastian. ― Não é assim.

― Você quer se casar de novo? ― William suspirou e recostou-se. A


cadeira rangeu sob seu corpo, e o sangue sumiu de seu rosto. ― Isto é
certamente diferente. Parabéns.

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Se Sebastian não soubesse, ele teria pensado que William parecia
desapontado.

― Eu não a conheci ainda. Pode não acontecer. É apenas um pensamento.


― Sebastian lamentou sua declaração. William parecia chateado. Sebastian
terminou sua bebida, forçando para baixo as bolhas amargas.

― Talvez devêssemos fazer a nossa entrada no baile. ― Disse William,


franzindo a testa. Eles correram para fora, os frequentadores olhando para eles
enquanto saíam da taverna.

Sebastian tirou o casaco apertado em torno de si mesmo, se preparando


contra a noite fria. Ele correu os olhos para William, que olhava para frente.
Mesmo sem a sua leviandade anterior, Sebastian encontrou-se dando passos
pequenos, ansiosos para prolongar seu tempo juntos.

Eles se dirigiram para a casa, deixando seus casacos na entrada e


ziguezagueando entre os grupos de pessoas. Tudo parecia decidido a acolher
William de volta a Londres. Ele deve ter sido uma figura popular na sociedade
de Londres.
O salão de baile estava no segundo andar, e subiram as escadas de
mármore branco juntos. De tempos em tempos, Sebastian olhava para William,
admirando sua forma forte, o uniforme vermelho acentuado contra um mar de
vestidos creme e pastel. Caminharam através de grandes portas douradas,
congratulou-se pelas paredes cor de rosa pálido do salão decorado com gesso
barroco ouro. Um relevo da deusa romana Minerva olhava-os do teto, e por um
momento, Sebastian se sentiu desconfortável sob seu onisciente olhar.
― Você não deseja dançar com qualquer uma das belas mulheres aqui?
― Sebastian fez um gesto para os foliões que saltavam para um baile. Ele tinha
uma tendência a balbuciar sobre mulheres bonitas na presença de homens
bonitos. Se eles achavam que ele gaguejava, eles sempre considerariam que sua
reticência era o resultado das mulheres que os rodeavam, em vez de seus egos
masculinos.
O corpo de William ficou tenso, mas suas feições relaxaram. ― Eu vou
encontrar a minha irmã. Ela me disse que pode ter algumas novidades para
compartilhar comigo esta noite. Talvez eu te veja mais tarde.

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Sebastian balançou a cabeça e observou William desaparecer na multidão
de pessoas bem vestidas, se perguntando por que todas as cores pareciam
desbotar na sua ausência.

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William caminhou pelo salão lotado, roçando por convidados suados e


rebanhos de mulheres mergulhadas em confronto de perfumes enquanto ele
procurava sua irmã. Ele não oferecia uma bebida a todo homem desajeitado que
encontrava, e ele estava se lamentando que houvesse seguido seu impulso de
fazê-lo com Sebastian.
Um homem corpulento com um bigode, que se curvava em um gesto
ridículo interrompeu seus pensamentos. Ele reconheceu-o de imediato. Sir
Ambrose, o sabe-tudo da sociedade e o autoproclamado salvador dele e de sua
irmã depois que seus pais morreram. Sir Ambrose se pavoneava em direção a
ele, e ele ficou tenso, preparando-se.
― E como foi a guerra? ― Sir Ambrose perguntou depois de
cumprimentá-lo.

― Ela fez jus ao seu nome. ― Disse William.

O homem inclinou a cabeça. ― Seu nome?

― Muito guerreira. Sangue e tudo isso. Morte. ― William fez uma pausa.
Certamente, o homem não queria que ele seguisse em frente, não? Os olhos
granito entediados de Sir Ambrose nele. ― Matança. Tudo que se espera.
― Ah, ha. Você lutou na Índia, não é?

― De fato. Sob as ordens de Lord Arthur Wellesley. Nós derrotamos seis


mil Marathas 5 em Assaye 6 . ― William sorriu, ainda maravilhado com esse
triunfo inesperado.

5
O Império Maratha foi um estado hindu localizado geograficamente na actual Índia, que existiu entre 1674 e 1820.
6
A batalha de Assaye foi uma grande batalha da Segunda Guerra Anglo-Marata travada entre a Confederação Maratha e
a British East India Company. Ocorreu em 23 de setembro de 1803 perto de Assaye no oeste da Índia, onde uma força
indiana e britânica em desvantagem sob o comando do Major-general Arthur Wellesley (que mais tarde tornou-se o duque
de Wellington) derrotaram um exército confederado combinado de Daulat Scindia e Raguji II Bhonsle. A batalha foi a
primeira grande vitória de Wellington e que ele descreveu mais tarde como sua melhor realização no campo de batalha.

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― País sufocante. ― Disse Sir Ambrose. ― Não gostaria de lutar lá.

― Sim. ― O calor da Índia atraia o maior número de comentários. Ele


examinou o corpo corpulento de Sir Ambrose e suspeitava que o aristocrata não
gostasse de lutar de forma alguma.
― Devemos voltar para a guerra em breve. Caso contrário, os sapos7
virão para nós! Navegando ao longo de balões. ― O homem riu, o rosto
vermelho sob o brilho das velas de oito horas dispersas ao redor da sala em
candelabros formidáveis.

William sorriu, apesar de si mesmo, pela jovialidade do homem. ― Eu


acho que está provado que os ventos não permitiriam isso.
― Eles vão tentar, embora. É uma pena que as colônias deram todo o
dinheiro para Louisiana no ano passado.

William concordou. O fato de que um banco britânico havia emprestado


aos colonos o dinheiro em primeiro lugar não fez nada para corrigir o infortúnio.
― Mas não vamos nos debruçar sobre temas miseráveis. Como está a sua
irmã? ― Sir Ambrose lambeu os lábios.

William deu um passo atrás, as botas raspando no chão polido. A beleza


de sua irmã era famosa e ela recebeu mais atenção do que desejava.

― A morte de seu noivo deixou um terrível vazio, é claro, mas ela está
suportando.
― Algo deplorável a morte prematura de seu noivo. ― Sir Ambrose
ergueu os ombros e os deixou cair, sua expressão exagerada, fingindo uma
emoção que William estava certo que o barão não sentia. ― Ela se transformou
em uma mulher tão sedutora. Me diga, ela sairá de luto em breve? Imagino que
ela deva estar mais ansiosa para se casar. Eles dizem que as mulheres envolvidas
são arruinadas se seus noivados acabam.

William apertou os olhos e baixou a mão, meio que esperando encontrar


o punho de seu sabre.

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Qualquer um que é da França

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Talvez tenha sido melhor mesmo não ter trazido a arma com ele esta
noite. Sir Ambrose pode ter sido um amigo de seus pais, mas William nunca
gostou dele. ― Não diga que você está insinuando algo impróprio.

Sir Ambrose enfiou as mãos e ergueu o rosto para ele. ― Que tipo de
bárbaro você me toma? Você passou muito tempo em torno de pagãos na Índia.
Como você pôde suspeitar de mim por querer danificar a reputação da sua irmã
depois de tudo que eu fiz para a sua família?

William relaxou seus ombros. Sir Ambrose tinha sido útil nos meses
depois que seus pais morreram, organizando suas finanças quando se provou
que seus pais não eram tão prósperos como assumiram. Ele não devia esquecer
a generosidade de Sir Ambrose então. Ele correu o olhar ao redor da sala,
aliviado por ninguém parecer ter ouvido a insinuação de Sir Ambrose sobre a
castidade de sua irmã e baixou a voz. ― Eu não posso imaginar que ela pretenda
se casar tão cedo. Ela e Lewis se adoravam.
Ele se absteve de dizer que Dorothea estava particularmente
desinteressada em homens untuosos como Sir Ambrose.
― Ah, ela é voluntariosa. ― Sir Ambrose sorriu. ― Você não acha que
as mulheres sejam criaturas terrivelmente irracionais? ― Seu olhar fechou por
um momento. ― Pelo menos elas são lindas. Sua irmã deve perceber que ela
terá de se casar em breve. Coitada. Sem dúvida, ela pensou que estava destinada
a ser uma duquesa, e agora que seu noivo está morto, ela fica com tão pouco.
Ouvi que o novo duque herdou tudo, e ele a deixa viver em uma de suas casas
de Londres. A duquesa viúva vive na outra. Mais ortodoxo. Eles dizem que o
duque é compassivo, mas realmente, por que precisa ser tão gentil? Seu pai
realmente deveria ter fornecido mais para você. Sua mãe nunca deveria ter se
casado com ele.
A conversa parou, e, um silêncio desconfortável e espesso pairou entre
eles. O decoro ditava que William deveria conceder ao barão algum respeito,
mas ele se esforçou para manter a sua cortesia e conter-se de insultar o homem.
E ainda - parte dele reconheceu que Sir Ambrose estava correto. Seu pai tinha
morrido com pouco dinheiro, chocando a todos. Por que seus pais hospedavam
tantas festas? Por que eles não foram mais controlados?

Especulando após suas mortes não restauraria nada. Mudar de assunto era
o curso de ação mais apropriada. ― Como está seu sobrinho?

19
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Geoffrey está bem. Em Oxford agora.

William assentiu.

― Ele se preocupa com iluminar sua mente.

A cabeça de William virou. Será que Sir Ambrose estava implicando que
ele não deveria ter tomado uma comissão? Ele não podia se dar ao luxo de
estudar, e a perspectiva de desperdiçar seu tempo em uma biblioteca de
Cambridge o chocava. Seus olhos se estreitaram.

Seu ex-vizinho continuou: ― Seu conhecimento de clássicos e debate irá


servi-lo bem. Logo, ele só vai precisar de uma noiva.
William inclinou a cabeça educadamente, consciente de que ele nunca
permitiria que o sobrinho de Sir Ambrose se casasse com sua irmã. Ele não
tinha nenhum desejo de encontrar Sir Ambrose como convidado para reuniões
de família. O encontro com ele em Londres era suficientemente desagradável
para ele. A vida de sua irmã mais nova não seria melhorada pelo contato mais
frequente com o barão também.

Uma sombra caiu sobre eles e William estava grato ao ver um dos seus
colegas de classe, Harrow, se juntar a eles.
― Capitão Carlisle.

― Reynolds.

Os olhos do homem se iluminaram e ele bateu em William na parte de


trás. ― Como está o meu jogador favorito de raquete?

― Impossibilitado de jogar raquete, eu imagino. ― A voz nasal de Sir


Ambrose invadiu a conversa.

Os olhos de Reynolds se arregalaram e ele olhou para o membro ferido.


― Claro. Perdoe-me. É doloroso?

― Não muito. ― William mentiu.

Reynolds franziu a testa, olhando para ele com ceticismo. O homem era
casado com a melhor amiga da irmã de William, Penélope. Sem dúvida, ela lhe
dissera, a extensão de seus ferimentos.
20
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
William riu. ― Você não precisa se preocupar. Os médicos não
acreditaram em mim também.

― Mas isso vai melhorar?

― É o que dizem. ― Disse William, consciente que não havia nada tão
ridículo como um soldado cujo braço direito não funcionava de forma eficaz.

― Eu sei de um homem que teve os dois braços arrancados. ― Disse Sir


Ambrose.

William ergueu a sobrancelha. ― Você dá um toque sombrio à conversa,


não é?
Sir Ambrose olhou para ele, perplexidade evidente em seu rosto.
― Não importa. ― Disse William, tossindo. ― Como seus braços foram
arrancados?

Sir Ambrose olhou de soslaio. ― Contrabandistas. Muito perigoso na


costa sul. O governo está completamente incapacitado por causa deles.

Reynolds se virou, seus olhos preocupados. ― Esta é uma nova situação?


― É. ― Sir Ambrose deu de ombros. ― É mais perigoso lá embaixo.
Estou surpreso que o novo duque não queira vender Somerset Hall.
― Bem... ― Reynolds fez uma pausa. ― Seria uma grande vergonha.
Tantas relíquias de família lá.

― Essas heranças de família não vão ser muito boas uma vez que os
franceses invadirem e destruírem tudo. Para eles será brutal. Você viu o que eles
fizeram com a sua aristocracia. Destruíram todo o lote. Duvido que houvesse
mais gentis que aristocratas estrangeiros. Não que os Ingleses e Franceses já
fossem conhecidos pelas suas boas relações.

Todos os três homens riram fracamente.

― Mas você tem propriedade na costa sul. ― Disse Reynolds, voltando-


se para Sir Ambrose.
― Minha casa é muito melhor equipada para medidas defensivas. Não é

21
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
tão exposto como Somerset Hall. Eu imagino que eu poderia fugir a tempo.
Embora eu pudesse ser persuadido a comprar a mansão...

Reynolds empalideceu e apresentou suas desculpas. William ficou


olhando para ele, querendo saber mais sobre o novo duque.
Sir Ambrose voltou a falar de sua propriedade e William olhou ao redor
do salão, procurando identificar sua irmã entre as debutantes. Esperava que ela
estivesse superando. A morte de seu noivo a tinha afetado. O casamento não
poderia estar mais longe de sua mente, e agora ela estava em um baile, cercada
por pessoas que tentavam se casar com ela.
Ele não ficaria surpreso se a França invadisse; Bonaparte parecia ansioso
para mostrar o seu poderio militar. Circulavam rumores de que Bonaparte
planejava atacar Kent ou Sussex. Pelo menos Dorothea não passava mais tempo
lá. Sebastian disse que iria mudar-se para Sussex. O coração de William inchou
com preocupação. Seu braço doía, a dor agora familiar lembrando-lhe por que
ele não poderia se juntar às tropas na Índia nesse momento.

********

Os violinos cantarolavam, as mulheres giravam e Sebastian desejava


voltar para casa. Os bailarinos formavam um variado de formas, o tilintar fraco
de joias os acompanhava enquanto deslizavam pelo salão de azulejos em preto-
e-branco da tia Beatrice. Ele desejou ter passado mais tempo com William
quando teve a chance. O homem havia desaparecido no meio da multidão e
Sebastian viu-se limitado por um visconde de um lado e um barão do outro.

Esta era a sua nova vida, perdendo o norte ou não. Não mais caminhando
sobre o campo. Sua amada Dales8, repleta de pedras cobertas de musgo e flores
florescentes, agora estavam a centenas de quilômetros de distância. Quaisquer
flores aqui estavam presas em vasos de porcelana ou envoltas em seda.

Talvez William pudesse gostar de andar a cavalo? Apesar de Hyde Park

8 O Yorkshire Dales (também conhecido simplesmente como The Dales) é uma área de terras altas do norte da Inglaterra
dissecados por numerosos vales. A área encontra-se dentro dos limites do condado de Yorkshire histórico, embora
abrange os condados cerimoniais de North Yorkshire e Cumbria.

22
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
não oferecer as mesmas extensões de terra, como Yorkshire, algumas pessoas
iam regularmente lá, e ele muitas vezes considerou que seria agradável ter um
companheiro lá.

― Belos vales. ― O Lord Burgess acenou com a taça de conhaque, o


líquido âmbar balançava dentro do copo de cristal.

Espelhos dourados refletiam as debutantes, uma enxurrada de rosa


pálido, lavanda e magnólia. Os pastéis de luz diferente dos tecidos grossos de
ébano com os quais Sebastian se viu cercado nos últimos meses, enquanto
lamentava seu tio e primo. Ele sorriu, interrompendo seus pensamentos. ―
Muito bonita.
Lord Burgess sorriu. ― Particularmente seus peitos.
O calor correu para as bochechas de Sebastian, e ele tomou um gole de
conhaque. Ele não olhou para aquela região, mas agora que o visconde
mencionou, os vestidos pareciam cortar muito baixo. O longo tecido de gaze
fluía da cintura das mulheres, mas as costureiras não tinham pensado em colocar
muito material no topo. Ele supôs que tudo estava destinado a ser tentador. Ele
franziu a testa, à espera do momento em que ele iria ser cativado.

O Lord Reynolds riu. ― Você deve ignorar a mente comum de Burgess.


Burgess, o duque vai se casar em breve. Nós não podemos tê-lo admirando
outras mulheres.
Sebastian forçou uma risada. Ele evitou o olhar do homem alto, de
cabelos escuros que tinha varrido a prima Penélope. É evidente que ele tinha
andado no canto recém-casado. Por que ele não tinha pisado em direção a mesa
de cartas, povoada por aqueles que se escondiam de amantes ou esposas? Não
que ele deve mente a conversa. Ele iria se juntar a eles em breve, sem dúvida,
alardeando as qualidades admiráveis de sua noiva com o mesmo rigor que os
outros. Onde estava a tia Beatrice?

Os violinos mudaram-se para um carretel escocês. Com o ritmo


acelerado, o salão se cheio de alegria.

Homens giravam ao redor do salão, elevando-se sobre as mulheres, as


suas calças enfatizando suas coxas musculosas.
― E por falar em festas. ― O visconde esvaziou o brandy e abaixou o
23
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
copo com um baque. ― As mulheres prosperaram no planejamento delas. Você
deve encontrar alguém antes da temporada acabar. Você terá sorte se encontrar
outra para ir. Eu não me importaria de ir novamente. Reencontrar com Rosalind.
― O visconde suspirou, seu corpo se expandindo ainda mais a partir da forma
confortável que tinha chegado desde o seu casamento.― Os talentos das
mulheres são os mais variados.

Certamente, o visconde não está piscando, não?

Pelo menos Burgess não tinha mencionado a sua necessidade de um


herdeiro. A maioria das pessoas conseguia aludir a isso no início de uma
conversa com ele. Tendo o herdeiro do duque e, em seguida, o próprio duque
morrido em uma rápida sucessão não inspirava nas pessoas confiança na
linhagem dos Lewis. E Sebastian não tinha irmãos para assumir esse dever se
ele morresse.
Ele virou a cabeça, distraído por um grupo de homens jovens e a maneira
como seus coletes coloridos brilhavam à luz das velas. Ele não tinha sido
exposto a isto em Yorkshire, evitando situações que despertavam sentimentos
impossíveis de contemplar. Seus dedos formigavam, lembrando-se de William.
Qual seria a sensação de rastrear a minha mão sobre a sua figura firme? O
suor se formou na parte de trás de seu pescoço, e ele pegou a gravata, o dedo
roçando o nó de linho.
― A menos que... O Lord Reynolds disse.
― Sim? ― Sebastian se moveu, desconfortável sob o escrutínio. Algo
brilhou nos olhos do Lord Reynolds, como se conhecesse Sebastian melhor do
que ele mesmo.

― Se o casamento não combina com você...

Sebastian não estava certo o que Reynolds estava querendo dizer, mas
ressentia-se com a ideia de que ele, de alguma forma, era diferente dos outros
homens. Recompôs suas feições. ― O casamento me serve bem.

― Claro. ― O Lord Reynolds murmurou. ― Mas seu primo não está a


tanto tempo em seu túmulo; talvez você possa desfrutar da novidade de ser um
duque por mais algum tempo.
Lord Burgess sorriu, definitivamente piscando agora. ― Aproveite as
24
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
mulheres.

Um dos homens do grupo se virou para ele. Mais corpulento do que os


outros, o homem franziu a testa, olhando para ele com os olhos apertados.

A garganta de Sebastian secou, desacostumado à postura agressiva do


estranho. O homem sussurrou algo para seus companheiros e caminhou em
direção a Sebastian. Sua pele bronzeada complementava seu fraque escuro.
Reynolds e Burgess pararam a conversa quando o homem parou diante deles.

Reynolds fez um sinal para o outro homem e, em seguida, virou-se para


Sebastian. ― Sua Graça, deixe-me apresentar-lhe Geoffrey Hammerstead. Seu
tio, Sir Ambrose, é um de seus vizinhos em Somerset Hall.
Hammerstead assentiu. ― Eu era amigo de seu primo.
― Oh.

― Ele não deveria ter morrido. ― As palavras do homem eram prosaicas.


― Bem... ― Sebastian engoliu em seco e recuou. ― A guerra é brutal.

― Naturalmente. ― Os olhos de aço de Hammerstead permaneceram


fixos nele. ― Ainda que você deva concordar que as circunstâncias de sua morte
foram misteriosas. Especialmente desde que seu pai morreu logo depois.
Bastante conveniente para você.

O peito de Sebastian se apertou com a franqueza do homem. Outros


homens podiam instigar um duelo neste momento. Embora brandir uma pistola
pode não ser a melhor maneira de fazer o homem parar de pensar que ele estava
por trás das mortes recentes de seus parentes. ― Você não pode estar
sugerindo...
O homem sacudiu a cabeça. ― Eu só espero que você possa viver de
acordo com seu primo. Ele era um bom homem.

Sebastian hesitou, relutante em irritar mais um dos amigos de Lewis. ―


Eu vou aspirar a fazê-lo.
Hammerstead deu um breve aceno de cabeça. ― Foi um prazer conhecê-
lo, Sua Graça.

25
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Igualmente. ― Os olhos de Sebastian seguiram o homem até que ele
desaparecesse no meio da multidão.

Burgess falou primeiro. ― Um pouco rude. Ele não estava nem perto de
Lewis.
Reynolds deu de ombros. ― O tio de Hammerstead tem uma tendência
para a agressão também. Eu não me preocuparia som esse encontro. Ninguém
esperava que você se tornasse duque, isso é tudo. Eu não acho que ele realmente
suspeite que você o assassinasse.

O visconde riu, e Sebastian tentou juntar-se a ele, embora ele ainda


estivesse abalado. A ideia era ridícula. Seu primo não tinha sido morto por
meios nefastos. Bem, talvez a guerra sempre fosse nefasta, mas pelo menos isso
não tendia a ser pessoal.

Ele fechou os olhos, contemplando suas novas responsabilidades. Não


seria bom ser esmagado pelas grandes quantidades de terra que possuía e o
dever que ocupou a seus muitos inquilinos. Ele iria se esforçar para cumprir o
seu dever. Talvez a sua relutância em se casar fosse apenas uma relutância em
assumir sua nova função.

Talvez as coisas tivessem sido diferentes se ele quisesse se tornar um


duque, ou se já tivesse esperado herdar o título.

Certamente ele gostava de falar com as mulheres, mesmo que elas


usassem fitas de cor pastel absurdas em seus cabelos e insistiam em falar sobre
chapéus e bainhas na forma grave que Sebastian reservava para a discussão de
caça e pesca. Não que Sebastian não pudesse falar sobre chapéus e bainhas; se
esforçava para agradar.

Os homens eram um pouco mais difíceis de falar. Especialmente desde


que Sebastian tinha atingido a adolescência e encontrou-se se distraindo com
seus ombros largos, vozes melódicas e profundas, e da forma como as suas
bochechas magras chamavam a luz. As mulheres tinham maçãs do rosto
também, mas elas nunca afetaram Sebastian da mesma forma. Era engraçado
que, claramente, ele ainda tinha que encontrado a mulher certa.

― É uma vergonha Somerset Hall estar em desordem. O Lord Reynolds


balançou a cabeça. ― Trazer um pouco de ordem para o antigo local seria útil.

26
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Uma esposa traz ordem para a família. ― Disse Sebastian, um nó se
formando em seu peito, apertando com a eficiência do ciclo de um pescador.
Tudo o que ele buscava era ser obediente, e um de seus deveres incluía se casar
novamente. Afinal, o estilo de vida de um ancinho - movendo-se de mulher para
mulher – era um pouco apelativo para ele. Essa era a razão pela qual ele havia
concordado em instalar-se logo depois que sua tia sugeriu. Ele não tinha
nenhum desejo de adiar o inevitável, para gastar seu tempo explicando a sua
falta de circunstâncias conjugais. Ansiava por normalidade, especialmente
agora, quando tanta atenção estava dirigida a ele.

Reynolds sorriu. ― Vamos ver se podemos encontrar as mulheres. Eu


acho que avistei a duquesa viúva.
Sebastian seguiu, desacelerando o ritmo enquanto se aproximava deles.

27
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

A tia Beatrice comandava seu grupo de mulheres. A visão não era


incomum. Ela fazia gestos animados com as mãos, e o grupo de mulheres bem
vestidas a olhavam atentamente. O corpo minúsculo da matriarca da família
exalava competência e praticidade. Ela tinha conseguido arranjar casamentos
para uma filha e cinco sobrinhas em casamentos espetaculares que outras mães
só sonhavam replicar.
― Sebastian! ― A prima Penélope saltou de sua cadeira. Seus cachos
mogno saltaram junto com ela.
Suas outras primas, Lily e Caroline, inclinaram-se para trocarem
sussurros e acenarem a seus admiradores. Ele lutou para distingui-las.
Wallflowers9 há alguns anos atrás, elas tinham entrado em ação apenas tempo
suficiente para garantir maridos. Agora casadas, elas se contentavam em
retornar às suas posições, em relação à dança e fofoca.

Ele se curvou para suas primas e tia, e, em seguida, virou-se para


Dorothea. A mulher com quem ele iria se casar. Pois, por que mais ela estaria
aqui, sentada no meio das suas primas, junto à sua tia?

Ele deveria ter previsto que a tia Beatrice selecionaria a ex-noiva de seu
primo para ele. Ela vinha de uma boa família, mesmo que o escândalo seguido
da morte de seus pais tivesse manchado a reputação de sua família um pouco.
Seus grandes olhos, maçãs do rosto salientes e lábios em forma de botão, tudo
emoldurado por seu cabelo escuro e grosso, conferia a ela um ar requintado. O
que tinha feito uma boa combinação com seu primo iria fazer uma boa
combinação para ele.

Talvez a tia Beatrice se sentisse sentimental por ela. Ela havia perdido
seu marido, assim como Dorothea havia perdido o futuro marido. Ao contrário

9
Uma pessoa que não tem ninguém para dançar com ou que se sente tímido, desajeitado, ou excluídos em
uma festa.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
de William, o noivo de Dorothea, Lewis, não tinha deixado a guerra a tempo.

Sebastian estremeceu ao pensar no quanto ela deve ter sofrido quando


soube que seu noivo havia morrido, o seu corpo mutilado e irreconhecível,
exceto por sua identificação.
Sebastian ficaria feliz em fornecer apoio para ela de qualquer maneira,
mas o casamento seria mais conveniente, mesmo que se casar com a noiva de
seu falecido primo lhe parecesse antiquado. Talvez os costumes antiquados
devam ser esperados quando saem dos assuntos conjugais nas mãos de sua tia.

Sebastian olhou de primo para primo.


― Ele está sem palavras! ― Penelope plissou seu nariz sardento. Mesmo
como uma mulher casada, ela não tinha problemas para manter sua natureza
infantil, para o desconforto dos outros convidados, que se viravam para ela com
gargalhadas em perplexidade.
Dorothea teve a decência de corar pela comoção em torno dela.
― Você se importaria de me acompanhar? ― Ele se inclinou em sua
cintura e esticou o braço em seu melhor arco.

Penelope gritou e bateu as palmas enluvadas.


― Certamente, Vossa Graça. ― Dorothea levantou-se e pegou sua mão.
Seu vestido violeta sussurrava silenciosamente enquanto ela se movia para perto
dele. O perfume de rosas invadiu o ar ao seu redor, como se oferecendo uma
aura de uma vida idílica.

― Eu confio que minhas primas divertiram você?

― Elas foram muito envolventes, excelência.

― Eu não acho que eu posso tentá-la com um baile, não? ― Sebastian


olhou para onde os convidados dançavam. Ele odiava a ideia de juntar-se a eles.
As mulheres eram capazes de esconder seus pés em vestidos longos, enquanto
os erros cometidos pelos homens estavam em exposição para todos verem. Será
que Dorothea queria dançar? Seu traje indicava seu status de semi-luto, mas ele
queria dar-lhe a oportunidade de se divertir.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Os cílios escuros de Dorothea se agitaram para baixo. ― Ainda é muito
cedo.

Sebastian abaixou a voz, inclinando-se em direção a sua orelha. ― Você


não precisa se preocupar. Tenho a impressão de que um passeio ao redor do
salão de baile não iria chocar a multidão excessivamente.

Ela deu um sorriso hesitante, e seus ombros mantidos rigidamente


relaxaram uma fração.

Sebastian ofereceu o braço para ela, e eles começaram a sua caminhada.


― Diga-me, você está gostando de seu tempo em Londres?
― O máximo que eu posso. É uma cidade encantadora. Qualquer um se
esquece quando se está longe, lembrando-se apenas que é muito apressada,
muito povoada. Então se descobre que Londres também é maravilhosa, com
grandes edifícios e pessoas inteligentes e lojas atraentes.
― Estou feliz por você achar que é assim.
― E como você está lidando?

― Eu? ― A questão o assustou.


Dorothea sorriu. ― Isso é novo para você.
Ele acenou com a cabeça. Poucas pessoas lhe tinham perguntado isso.
Ele percebeu que Dorothea tinha tido mais tempo para ajustar-se à perspectiva
de ser uma duquesa que ele tinha de ser um duque.
Eles caminharam ao redor da sala, longe de sua tia e primos, e passou por
outros casais indo para a pista de dança lotada. Grandes lustres de cristal
pendiam acima, refletindo suas imagens em miniatura por mil vezes. Os
músicos tocavam encantadoramente, exemplificando o trabalho soberbo que a
tia Beatrice fez de colocar o baile junto.

Sebastian virou-se para sua acompanhante, que parecia focada na


multidão em torno deles. Seu olhar era inteligente, e ele sorriu para ela. Algo
sobre a maneira como o nariz se curvava lembrava William. Ele prendeu a
respiração em seu peito com a lembrança de seu encontro.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Ele a levou para a mesa de bebidas. Uma multidão se juntava ao redor
das bebidas. Vermelho Vivo, amarelo pálido e líquidos laranja brilhavam de
taças de poncheiras. Os homens e mulheres se detiveram quando Sebastian e
Dorothea se aproximaram. Ele forçou os ombros para relaxar, não desejando
que Dorothea percebesse seu desconforto.

Ele amaldiçoou o seu título. Tudo o que ele fazia, mesmo pegar um pouco
de ponche, estava imbuído de importância indevida. Alguns dos olhos se
estreitaram e Dorothea ficou tensa ao lado dele. Com uma sacudida, ele
percebeu que uma multidão estava focada em sua direção. Ele franziu a testa,
sem saber o que havia estimulado sua atenção.
— Negus10 ou ponche à la Romana? — Ele perguntou, mantendo o tom
leve.

— Você não precisa...


Ela franziu a testa, e ele seguiu seu olhar para um grupo de mulheres. As
idades variavam, mas o seu senso de importância e correspondente suntuosidade
de joias não.
— Eu quero. — Sua voz saiu rouca. Ele deu um passo em direção à mesa
e derramou Negus em dois copos de ponche.

— Sua Graça, permita-me. — A mão enluvada, embelezada por um


projeto complexo de rosetas, estendeu-se diante dele e pegou um dos copos.
Ele levantou os olhos e reconheceu a mulher imaculadamente vestida
diante dele. — Lady Arabella.

Ela sorriu e entregou-lhe o copo. Seus dedos tocaram quando ela deu a
ele, e ele se encolheu com um sentimento frio de pavor. Ele olhou para baixo,
surpreso ao descobrir que seu vestido se agarrava ao seu corpo, como se
umedecido. Seu peito curvou diante dele, destacando sua linha de cintura
elevada e a tensão de seu vestido. Ela tossiu e arqueou a sobrancelha.
— Eu vi você perseguindo a sua cartola lá fora?

Ele congelou. Claramente nada poderia iludi-la.

10
Coquetel à base de sherry.

31
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Ela se inclinou em direção a ele, revelando mais de seu decote. — Vai
ser o nosso segredo.

— Eu a recuperei. Quero dizer... — Ele fez uma pausa. Agora não era o
momento para contar a maneira como o capitão do exército a havia resgatado
por ele. Ele olhou para trás, esperando ver o rosto pálido de Dorothea, mas
percebeu que o espaço entre eles já havia sido preenchido com os espectadores.

— Você a recuperou? — Lady Arabella riu novamente. — Que herói.

— Não, não. O heroísmo não foi meu.

Sua sobrancelha levantou novamente, controlada, e murmurou: — Você


é muito modesto.
Ele baixou o olhar e pegou o segundo copo. A bebida estava quente ao
toque dele, e ele inalou o cheiro de vinho, limão e noz-moscada.

— Para mim?
Ele oscilou seu olhar para Lady Arabella.

Ela sorriu. — Você não deve parecer tão horrorizado com a perspectiva.
Eu vi você se aproximar com a senhorita Carlisle.
— Oh. — Ele relaxou os ombros e compôs seu rosto, irritou que ela o
tenha lido tão facilmente.
— Há um boato de que você pretende se casar com ela.

Seu olhar se lançou para cima.


— É claro, eu não poderia acreditar nisso. Você é muito sensível. Mesmo
que eu não consiga entender como você permitiu que ela e seu irmão vivessem
nessa casa. — Ela jogou a cabeça.
Por um momento, Sebastian pensou que o gesto violento pudesse
perturbar seu penteado elaborado, mas o cabelo dela permaneceu intacto.
Evidentemente, a empregada de sua senhora era talentosa.
Seu vestido balançava enquanto ela se movia mais perto dele. —
Senhorita Carlisle é encantadora. Mas ela era muito intima de seu ex-noivo. Há

32
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
rumores sobre ela. É meu dever avisá-lo, uma vez que sempre foram tão amigos.
Espero que possamos nos aproximar mais.

Ele piscou. — Rumores?

— Tenho certeza que você não iria querer uma noiva que foi muito bem
tratada. Você merece o melhor. Alguém com mais discrição e paciência.

— Eu vejo.

E ele viu. Embora se Dorothea realmente foi muito bem tratada, foi
porque o seu primo iria se casar com ela em breve. Ele não podia culpá-la disso.
Se controlar com as mulheres sempre foi fácil para ele, mas sabia que os outros
homens não possuem essa qualidade. Ele não ficaria surpreso se Reynolds e
Burgess tivessem agido sem cautela durante os seus compromissos.
— Eu nunca iria querer interferir. — Os cílios de Lady Arabella vibraram
quando ela olhou para ele.
Ele balançou a cabeça, consciente de que sua senhoria nunca teria olhado
para ele daquele jeito, quando ele ainda era um simples fazendeiro. — Apenas
o seu senso de dever obriga você a me dizer isso.

— De fato. — Ele ponderou suas palavras, ainda surpreso. Mas, então,


Lady Arabella não era conhecida por ser tímida.

Ao contrário de outras debutantes em sua temporada, Sebastian sabia que


ela tinha se abstido de procurar um marido ao mesmo tempo, sem dúvida,
confortada pela escala da fortuna de seu pai. Ela agora reinava sobre a
temporada. Seu status de solteira, experiência e juventude relativa daria a ela
um prêmio ainda maior.
Lady Arabella sorriu. — Eu vejo que nós nos compreendemos
perfeitamente.

— De fato. — Sebastian devolveu um sorriso tenso. Sua voz se


aprofundou quando ele disse: — Mas eu espero que eu possa confiar em você
para não espalhar quaisquer rumores sobre a senhorita Carlisle.

A mão de Lady Arabella correu para seu peito. — Naturalmente, Alteza.


Eu sou a imagem de discrição.

33
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
O canto dos lábios subiu em seu gesto indignado. Ele curvou-se, com
cuidado para não derramar suas bebidas, e voltou para Dorothea. Seu coração
martelou, ultrajado em seu nome. Ela precisava do casamento. Mais do que ele.
Ele considerou que isso o perturbava, mas a perspectiva de ajudar alguém
através do casamento o atraía.

— Dorothea!

Eles se voltaram para a voz. William caminhou em direção a eles, suas


longas pernas andando rapidamente. Suas sobrancelhas se ergueram quando
notou Sebastian e ele sorriu. — Como é notável. Vocês já se conheceram.
— Vocês se conhecem? — Dorothea olhou para William e Sebastian.
— Ele resgatou o meu chapéu. — Sebastian sorriu com a lembrança de
seu encontro sob as estrelas. Ele estava feliz de encontrar o capitão novamente.

William riu. — Ele não era tão grato na ocasião. Eu me lembro dele me
dizendo para ir embora.
— Eu já corrigi isso desde então.

Os olhos de William brilharam, rivalizando com os lustres, e Sebastian


desviou os olhos deles com relutância. Ele ficaria feliz de olhar para ele por
muito tempo.

— Eu vejo que a minha irmã já trabalhou sua boa influência. — Continuou


William. — Como vocês se conheceram?
— Sua irmã? O Peito de Sebastian apertou. Virou-se para Dorothea e
franziu a testa. Depois voltou-se para William.

Se pareciam muito. Claro. Ele sabia que Dorothea tinha um irmão que
havia se mudado com ela recentemente. — Quando você falou de sua irmã, eu
não sabia que ela era Dorothea de Lewis. Acho que é um nome bastante comum,
embora... — Sebastian gaguejou, em seguida acrescentou rapidamente: — Um
muito bonito. — Ele esteve prestes a insultar a sua futura esposa.
William piscou, e seu olhar nublou.
— Você não estava em sua festa de noivado. — Disse Sebastian. — Eu

34
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
teria me lembrado de você.

— Você conhecia Lewis?

— Ele é - era - meu primo.

O choque passou pelo rosto de William, e sua mandíbula apertou. —


Você não é...?

— Ele é um duque, William. — Disse a irmã dele suavemente. — O


Duque de Lansdowne.

William ficou tenso. — Perdoe-me, Vossa Graça, eu não estava ciente.


Sebastian se encolheu ao ouvir William usar o termo "Sua Graça". O
termo honorífico parecia afastá-los ainda mais, como se William estivesse
procurando exterminar qualquer memória de sua noite juntos.
— Eu deveria ter percebido. — Continuou William. — Eu não estou
familiarizado com os aristocratas de Sussex.
Dorothea franziu o cenho para ele. — O duque foi extremamente gentil.
Estamos vivendo em sua casa.
— Uma das minhas casas. — Sebastian se apressou a dizer. — Não foi
nenhum problema realmente. Lewis teria querido.
Um músculo tenso apareceu na têmpora de William. — Sim. Eu... nós...
somos muito gratos por tudo. Perdoe-me se falei levianamente antes.

O peito de Sebastian sofreu uma pontada de dor. A conversa fácil entre


eles tinha quebrado com a revelação de seu novo status, mais elevado.

William olhou entre Dorothea e Sebastian. Ele abriu a boca, finalmente,


dizendo: — É a minha irmã a senhora de quem você mencionou antes?
— Ela é, na verdade. — O calor de um rubor subiu no rosto de Sebastian,
e ele se moveu sem jeito.

— Oh. — William olhou para baixo.


Sebastian suspirou, esvaziado. William não parecia muito contente com

35
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
a perspectiva de um casamento entre ele e Dorothea. Talvez William tivesse
encontrado ele cansativo na taverna e desejado alguém na família. O capitão
parecia ansioso para deixá-lo.

— Como é maravilhoso que vocês já se conhecem. — Dorothea sorriu


timidamente para os dois, ou ambos, Sebastian supôs, como uma mulher
poderia sorrir quando na presença de seu irmão e um homem a quem ela poderia
se casar.

— De fato. — William deu um sorriso, seus lábios apertados. — Eu vou


deixar vocês dois em paz.
Sebastian piscou quando William se afastou. Seus olhos pousaram na
forma do homem.
Virou-se para Dorothea, consciente de que ele deveria ter prazer de estar
na presença de uma mulher tão esplêndida e saber que havia uma possibilidade
real de ele dedicar o resto de sua vida com ela. Ele só queria saber por que a
coloração que Dorothea e William compartilhavam parecia adequar muito
melhor em William.
Por que os maneirismos que compartilhavam pareciam ser muito mais
divertidos em William.

Balançando a cabeça, Sebastian forçou a espantar os pensamentos de


William de sua mente. O homem estava prestes a se tornar seu cunhado. Ainda
assim, depois que Sebastian conduziu Dorothea a seus parentes, ele vagou por
entre a multidão, esperando pegar mais um vislumbre de William. Talvez eles
pudessem continuar a conversa. Nenhum deles era de Londres, e embora ele
não pudesse descrever a si mesmo como estando confortável com William, ele
sentiu-se mais ele mesmo na companhia de William, como se o homem
realmente o visse.

Sua busca foi infrutífera. Muitos oficiais estavam espalhados pelo baile,
seus uniformes escarlates atuando como falsas balizas, mas William não estava
entre eles. O peito de Sebastian doeu ao perceber que o capitão tinha partido, e
ele se sentiu mais uma vez sozinho no meio da alegria.

*****
36
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

A acusação de Hammerstead de que seus parentes poderiam ter sido


assassinados preocupava Sebastian, e na manhã seguinte, ele separava os papéis
imobiliários. Lewis poderia estar morto, mas a propriedade de sua mãe não iria
se deteriorar. Sebastian estava determinada, mesmo que as cartas de seu gerente
de propriedade estavam lamentavelmente carentes de detalhes. Certamente elas
não mencionaram que circulavam rumores de que o ex-duque e seu filho tenham
morrido em circunstâncias misteriosas.

Ele bateu os dedos contra o departamento de noz. Ele precisava visitar o


lugar em breve, ou pelo menos se encontrar com o seu advogado em Brighton.
De todas as propriedades que ele agora possuía, Somerset Hall era a melhor e
mais valorizada. Que ele nunca tenha visitado afirmava sua inadequação para o
papel.
— Sua Alteza?
Seu servo, Grayson, cambaleou diante dele.

— Sua Graça, a duquesa viúva chegou.

— Aqui? — Sebastian endireitou-se e olhou ao redor da sala. —Tem


certeza?

Grayson assentiu, a expressão em seu rosto gravada em branco, apesar de


sua mão afastar momentaneamente para sua cabeça prateada.
Sebastian podia ser organizado, mas o apartamento não estava em
condições de ser visto por uma pessoa tão importante, mesmo que fosse sua tia.
Poucas pinturas decoravam as paredes e o piso de pinho permanecia nu.
— Muito bem, Grayson. Mande-a entrar. — Ele se preparou para a
chegada dela, e ela não demorou a aparecer. Os apartamentos de Sloane Square
11
não eram grandes, mesmo para jovens duques. Especialmente para os jovens
duques que não tinham planejado se tornar duques.
— Sebastian, mon cher12. — Tia Beatrice estendeu os braços para ele. A

11
Bairro de Londres.
12
Meu querido.

37
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
felicidade o inundou; ele adorava a tia.

Ele a abraçou, e seu vestido de crepe escuro esmagou contra ele. — Você
sabe que o francês não é uma linguagem apropriada para falar aqui. Estamos
em guerra.
— Oh, Sebastian. Que absurdo. Uma situação temporária. Como se a
França fosse capaz de resistir a nossas forças muito mais tempo. E então estará
em voga novamente.

— Você está apenas na vanguarda. — Disse Sebastian.

Sua tia tirou o gorro. Seu cabelo permaneceu ruivo em sua maioria,
embora um número crescente de fios cinzentos estivesse se juntando. —
Exactement.
Sebastian sorriu, tocando seu chapéu. — É novo? Que bonito. — Ele
correu as pontas dos dedos sobre as pétalas de uma flor de corvo de seda. —
Que tipo de flor é essa?
— Agora, Sebastian. Eu não sou uma mãe de sociedade que você tem que
mostrar seu charme para obter uma dança de uma filha. — Ela disse. — E você
sabe disso. Apesar de eu ter notado alguns outros homens fazendo esses
comprimentos para você falar com eles. Alguém poderia pensar que você
preferiu conversar com as mamas mais que dançar com as suas filhas.

Sebastian tossiu e acenou para o sofá de jacarandá. — Por favor, sente-


se.

Tia Beatrice balançou a cabeça. — Eu não vou me demorar muito.

Sua tia olhou ao redor da sala e fez uma pausa para uma pintura de um
soldado em um garanhão emergindo da batalha. Suas sobrancelhas se ergueram.

Sebastian tinha comprado o quadro em admiração pelo oficial e sua


postura heroica.

Vendo o retrato novamente através dos olhos de sua tia, o soldado parecia
ser um pouco mais musculoso do que a maioria, com a camisa rasgada exibindo
seu peito liso de uma forma atraente, com o rosto surpreendentemente bonito.

38
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Pelo esforço da guerra. — Ele apressou-se a dizer. — Eu não terminei
a decoração ainda.

— É claro. — Sua tia murmurou, examinando o resto da sala. — Foi


muito honrado de você dar suas novas residências de Londres para Dorothea e
eu.

Sebastian balançou a cabeça, descartando seu louvor. Ele não entendia


por que o gesto surpreendeu a todos tanto. — Lewis teria querido que eu
oferecesse para ela. E, claro, eu não podia tirá-la de sua casa.

— Foi muito gentil.


— Este lugar vai ficar melhor, eventualmente.
— Pode-se encontrar uma nova residência.
Sebastian deu de ombros. O pensamento de desperdiçar dinheiro, mesmo
que ele fosse muito mais rico agora, o consternava. — Eu vou precisar sair de
Londres logo, de qualquer maneira, para inspecionar as propriedades.
Sua tia balançou a cabeça e voltou à inspeção da pintura. Ela mordeu o
lábio e olhou ao redor da sala. — Não há fotos de mulheres dançando? No
apartamento de um bacharel? Muito nobre de sua parte.
Ele desviou a cabeça, fazendo o seu melhor para ignorar a sensação de
sangue correndo para seus ouvidos. Elas estavam provavelmente vermelhas
tomate. Ele esperava que ela não percebesse.
— Eu sempre aplaudi sua bravura. — Disse ela.

Sebastian balançou a cabeça, desconfortável com a forma como sua tia


continuava a olhar para a pintura. — Eu realmente resolvi me casar. Dorothea
foi muito agradável.

— Você está muito determinado?

— Sim. — Sebastian se perguntou se sua resposta foi dada com muita


pressa. — Um duque precisa de uma duquesa.
— Você parece uma mãe de sociedade. Sim, se passou vários anos desde
que a pobre Henrietta morreu. A sociedade espera que você se case novamente.
39
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Sua tia fez uma pausa, sua testa se enrugou. Sua voz se suavizou: — Você
acha que está totalmente pronto? É possível que Dorothea não fique muito
desapontada se você mudar de ideia.

O sol cintilou através da janela, lançando um olhar para ele por cima da
fileira de casas georgianas lá fora. Ele piscou na luz dura, encontrando o calor
sufocante. Ele deu um passo para a janela, desfez uma borla de ouro, e fechou
a cortina, os dedos apertaram no tecido pesado.

Sim, ele tinha que se casar. Sua mente se voltava para as coisas indizíveis
com muita frequência agora. Ele precisava restaurar a ordem, não convidar à
especulação. As pessoas já estavam questionando se seu primo e tio tinham sido
assassinados. Ele não poderia prejudicar a reputação de sua família mais.
— Eu acho melhor me casar muito em breve. Na verdade - eu acho que
eu vou propor a Dorothea de uma vez.
Sua tia sorriu. — Você é um cavalheiro. Agora, desculpe-me, mas eu
tenho uma lista de pessoas para visitar. Todo mundo gosta de cavalgar no Hyde
Park, e eu estou ansiosa para encontrar com as pessoas antes que elas o façam.
Sebastian seguiu sua tia até a porta, consciente de que sua vida iria mudar.
O nó que se formou na noite anterior apertou e esmagou contra seu peito.

40
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

A cabeça de William latejava e sua garganta ardia. Os servos agitavam


em outros quartos, e ele ainda estava deitado, seguindo o som de seus passos
sobre o piso de madeira. Orgulhava-se de sua capacidade de parar de beber, no
momento oportuno, enquanto outros soldados em licença se embriagavam em
torno dele. Não desta vez: ele tinha bebido demais depois que ele deixou o baile.
Seu estômago tremeu, exausto pelo álcool e fumo. A noite terminou
desagradavelmente apesar de seu início encorajador.

William ansiava por Sebastian.


O sentimento começou no momento em que Sebastian vagava pela rua,
seu cabelo loiro encaracolado derramando sobre seus olhos, seu olhar fixo nos
imponentes edifícios. Quando a cartola de Sebastian voou, William ansiava
chegar a ajudá-lo. O sentimento permaneceu quando deslizou para fora da cama
e correu para encontrar suas roupas, determinado a não ser um daqueles homens
que ficavam paralisados quando as coisas iam mal. Pelo menos na Inglaterra,
ele não estava mais sendo baleado. Isso era um consolo.
O fogo cintilava na lareira; ele ainda não tinha notado a empregada
entrando para acendê-lo. O lugar ofuscava, os raios brilhantes das chamas em
sua cabeça dolorida enquanto ele seguia seus saltos para cima e para baixo.

O papel de parede de rubi profundo forrava a sala, misturando-se com as


cortinas e colcha carmesim, esta última agora estendida em um emaranhado
enrugado no centro da enorme cama de dossel.

Tudo exalava opulência. Todo o luxo contrastando com sua barraca em


Maharashtra. Não havia mosquitos zumbindo carregando a ameaça da malária
e invadindo seu quarto, sem falar nas baratas que ele tropeçava. E pensar que
ele agora morava em uma das casas do Duque de Lansdown, e que Sebastian, o
nortista carinho, era o duque. William ficou surpreso ao saber que ele estava
morando em sua casa esse tempo todo.

41
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Vestiu-se para o café da manhã. Como sempre, ele evitou olhar para a
cicatriz, não precisando se lembrar da descoloração feia onde a bala tinha
entrado. O cirurgião, na pressa de ajudar a todos, não tinha conseguido remover
todos os pedaços de bala. Não que ele pudesse culpar o homem. Quase um terço
dos soldados morreu na batalha de Assaye. Ele teve sorte de escapar com apenas
um membro ruim.

William esfregou o braço, os dedos massageando a pele áspera, enrugada


- uma tentativa inútil para aliviar a dor insistente.

Ele temia falar com sua irmã, discutir sobre o duque com ela. Se ela fosse
se comprometer novamente, ela estaria ainda mais ansiosa para encontrar-lhe
uma esposa. Seu retorno ontem à noite não o havia despertado, claramente o
álcool lhe tinha colocado firmemente para dormir.

Ele caminhou para a sala de refeições, passando por um enorme relógio


de pêndulo. Pintado acima da face da peça barroca, um fazendeiro e uma jovem
leiteira abraçados sob o brilho rosado de um sol nascente. A cena pastoral e
figuras alegres zombavam dele. Os ponteiros mostravam que era 11:30. Tarde
demais para o café da manhã, mesmo para os padrões atrasados da alta
sociedade de Londres.

Dorothea estava sentada em um lado da mesa, já vestida para receber


visitas na parte da tarde em um vestido de musselina.
Ele se instalou em uma das cadeiras listradas esmeralda e topázio,
tentando relaxar contra a textura de veludo macio. Ele olhou para o café da
manhã. Sua irmã tinha esperado por ele. Os servos tinham colocado para fora
alguns pães, bolo de sementes e turtulongs13. ― Elegante, como sempre.

― Eu ou a comida? ― Dorothea sorriu. ― Ou não devo perguntar? Temo


que só temos chá agora, embora a Sra. Holmes possa trazer-lhe um pouco de
chocolate quente se você preferir.

William fez uma careta. O pensamento de chocolate quente da Sra.


Holmes, repleto de açúcar, noz-moscada, pistache e canela, afetava seu
estômago. ― Eu vou me contentar com o chá.

13
Uma espécie de pudim.

42
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Que espartano. A maioria dos homens escolheria algo doce.

Ele abriu seus lábios em um sorriso e lembrou-se de que ela não quis
dizer nada com o seu comentário. E ainda assim, as batidas do seu coração
aumentaram, consciente de que a forma como ele desejava viver sua vida não
tinha qualquer semelhança com o que os outros esperavam.

Ele bateu os dedos contra a toalha marfim suntuosos. As borlas douradas


pendiam sobre os lados, e as linhas de lírios decoravam o linho. Ele examinou
a sala, perguntando se Sebastian teria escolhido qualquer um dos móveis, ou se
a sua muito comentada tia a decorou.
― Você saiu correndo na noite passada. ― Disse Dorothea. ― Eu espero
que você esteja bem? ― Sua irmã nunca deixava de ser educada.
― Encontrei Sir Ambrose no baile. ― Talvez se ele falasse de seu antigo
vizinho, Dorothea fosse culpar o barão por sua mudança de comportamento. Ela
nunca deveria suspeitar dele de qualquer descontentamento sobre seu
envolvimento prático.

― Oh, William, é muito cedo para trazer falar sobre esse homem vil.

― Ele perguntou por você.


― Está quase melhorando a conversa. ― Dorothea serviu-lhe um pouco
de chá, as sobrancelhas franzidas enquanto se concentrava na tarefa.

Ele suspirou. ― Ele me preocupa.


― Ele quase foi um dos meus vizinhos novamente. Ele se mudou para
um castelo decadente perto... ― ela fez uma pausa, disfarçando a dor em seu
rosto.
― Perto de Lewis?

Ela assentiu com a cabeça e levantou um guardanapo de renda para o


rosto dela.

Ele limpou a garganta. ― Um castelo? Que grandioso. Ele está pensando


em atacar qualquer um?
― Eu gostaria de saber. ― Dorothea deu um sorriso tenso quando ela
43
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
passou a xícara e pires para ele. ― Sir Ambrose exibe um grande orgulho de
viver em um lugar com um fosso. Ele deu a Gregory e a mim uma turnê
completa antes de Gregory morrer. Eu não tive a impressão de que eles
pretendem.
― Que curioso. ― William pegou um pão, ansioso para se distrair dos
pensamentos de Sebastian. ― Eu gostaria que ele não tivesse ajudado muito
depois...

Dorothea balançou a cabeça, seu rosto sério. Eles evitavam falar da morte
de seus pais, mas ele pensava neles muitas vezes. Imaginou que sua irmã
também. Seu pai deveria estar aqui, provocando a sua mãe pela leitura de
Góticos, e sua mãe deveria estar aqui, brincando com seu marido por não ler
nada.

Em vez disso, era apenas Dorothea e ele, esforçando-se para uma


conversa em torno da mesa do café de grandes dimensões em uma casa que não
era a sua própria.

― Você tinha quinze anos. ― Disse Dorothea suavemente. ― Você não


estava nem mesmo em casa. O que você poderia ter feito?

Nada. William fechou os olhos, impotente.

― Sir Ambrose não é tão ruim. ― Sua irmã continuou.

― Eu sei. ― Ele respondeu. ― Só seu humor.


Sua irmã sorriu. ― Nem todos podem ter o seu bom gosto. Você deveria
sair com mais frequência. Por que você saiu cedo ontem à noite?

Ele rasgou um pedaço do pão e espalhou manteiga. ― Eu tive uma dor


de cabeça.

― Eu suponho que Sir Ambrose faça isso com um homem.

Ele levantou a cabeça, incapaz de evitar o assunto por mais tempo. ― Eu


não sabia que você planejava ficar noiva tão cedo.
As costas de Dorothea endireitaram. ― Nada foi decidido. A mãe de
Gregory veio para o chá no outro dia e parecia convencida de que o novo duque

44
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
seria uma possibilidade brilhante. Aparentemente, ele deseja uma esposa.

― Ele instigou a pesquisa? ― William sentiu como se alguém tivesse


deixado cair uma bala de canhão em seu peito.

― Eu acredito que sim. ― Dorothea franziu o cenho. ― Por quê?


― Nenhuma razão. ― William pousou as mãos sobre a mesa para que
sua irmã não as visse tremer. ― Estou certo de que você vai ser feliz com ele.
Ele é uma pessoa maravilhosa.

― Estou contente que você pense assim. Achei-o bastante reservado.

― Você também tende ao silêncio, minha querida irmã.


― Eu sei. Duas pessoas do tipo pode ser algo excessivo.
William fez uma careta, irritado que ela não elogiasse imediatamente
Sebastian. Ele mordeu o lábio para evitar replicar que sua irmã não fosse a
combinação certa para ele.
Sebastian daria um excelente marido, disso ele não tinha nenhuma
dúvida. Ele sintetizava tudo de bom e honrado. Por mais que ele desejasse que
Sebastian fosse completamente equivocado para ela, ele não achava que esse
fosse o caso. Se suas opções consistiam entre Sebastian e um homem como Sir
Ambrose, ele ficaria muito mais tranquilo se sua irmã estivesse com Sebastian.

Os olhos de Dorothea escureceram. ― Você parecia bem familiarizado


com a sua graça.
― O duque? ― William não podia se acostumar com a posição elevada
de Sebastian. Obrigando-se a encolher os ombros com indiferença, disso: ―
Nós nos simpatizamos um com outro ontem à noite. Isso é tudo.

Ele fechou os olhos, lembrando de sua noite juntos. Ele iria valorizar essa
memória. Como quando Sebastian não considerou importante mencionar que
ele era um duque. O homem era tão modesto. William suspirou, sua respiração
presa em seu peito. Ele teria jurado que Sebastian parecia interessado. Seu
coração tinha saltado quando Sebastian segurou seus pulsos, e tinha quase
galopado para longe quando Sebastian se inclinou contra ele por bastante mais
tempo do que ditava o protocolo antes de se virar e corar tão encantadoramente.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Mas Sebastian tinha falado da mulher, casualmente destruindo os anseios de
William.

― E você? ― A voz de Dorothea rompeu seu devaneio.

― Quanto a mim?
― Você vai se acalmar em breve?

William ficou tenso. ― Você quer dizer se eu pretendo me casar?

― Sim, eu suponho que eu quis dizer isso. ― Dorothea sorriu


encorajadora.
― Eu estou contente como as coisas estão.
― Contente? Que absurdo. Ouvi você andando em seu quarto. Não pense
que eu não tenho.
― Apenas para esticar as pernas, querida irmã.

― Hmph.

― E por que essa ânsia de me casar? Eu poderia muito bem morrer na


guerra. Meu braço vai melhorar e eu vou voltar para os campos de batalha. ―
Seu braço latejava, como se para refutá-lo.
― Será que isso importa? ― Perguntou Dorothea, com o rosto mais
pálido do que quando ele entrou pela primeira vez na sala do café da manhã.
― Você sabe que é importante. ― Ele rosnou. Ele enfiou a boa mão pelo
cabelo e puxou as raízes. O pensamento de viver fora de sua comissão já o
atormentava.

― Os braços não foram feitos para ter balas os rasgando.

― Eu não sou o primeiro homem a ser baleado.


― Claro que não. E eu tenho certeza que vai se curar. Você vai ver.

Ele acenou com a cabeça, querendo ser acalmado por sua segurança. Ele
deveria terminar a discussão aqui. Mas ele não podia. Ele tinha pensado sobre

46
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
isso por muito tempo, usava-o como uma desculpa para muitas pessoas. ― E se
eu me casar, minha esposa não pode acabar pior do que antes se eu for morto?
Ou ela poderia morrer. A primeira esposa de Sebastian morreu.

Dorothea congelou. Ela piscou várias vezes e parecia fascinada com a


visão de fora da janela.

― Sinto muito. Por favor, me perdoe. Eu não quis dizer isto. ― O suor
se formou entre as omoplatas dos ombros de William. Ele agarrou uma colher
de chá, mexendo o leite e açúcar em seu chá com mais força do que a tarefa
exigia. Ele derramou o chá sobre a xícara de chá para o pires modelado em jade
e dourado. Seu comportamento com sua irmã o apavorou, e ele desejou que as
marteladas em sua cabeça cessassem.
― Você não é você mesmo. ― Disse Dorothea.

― Não. ― Ele quase não podia encarar seus olhos, e ele continuou a
agitar o chá, desta vez mais lentamente.
― Não assuma... Disse Dorothea. ― Que lamento meu noivado com
Gregory, nem o mínimo. É verdade eu sinto falta dele, extraordinariamente, e
nosso noivado terminou muito cedo, mas eu não teria mudado essa experiência.

William resolveu dar mais apoio para sua irmã. Ele lamentava o fim de
um relacionamento que nunca tinha ocorrido; Ela lamentava o fim do que tinha
acontecido. Ele empurrou-se da cadeira, ignorando o pão comido pela metade e
derramou o chá, e beijou o topo de sua cabeça. ― Você é uma pessoa mais
corajosa que eu.

Dorothea sorriu. ― Vamos encontrar uma mulher que seja corajosa para
você. Estou certo de que podemos encontrar uma debutante agradável.

O mordomo entrou na sala, salvando William de responder. ― Você tem


uma visita, minha senhora.

― Para mim? ― Dorothea franziu o cenho. Levantou-se bem e alisou o


vestido, se preparando para seu visitante. ― Quem é?

O sol brilhava através da janela, com destaque para os círculos escuros


sob seus olhos, derivados de meses de falta de sono. A morte de seu noivo ainda
a afetava.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sem dúvida, o comportamento terrível de William não ajudava. Ele
suspirou.

― É a Sua Graça, o Duque de Lansdowne.

― Tão cedo? Que gentil da parte dele. ― Dorothea bateu levemente os


dedos sobre seu cabelo. Ela não precisava ter feito isso; seus cachos escuros
emolduravam seu rosto impecavelmente. Muito bem. O envie para a sala de
estar.

A respiração de William acelerou. ― Eu deveria ir.

― E me deixe desacompanhada? Que terrivelmente ousado. Não. ―


Dorothea agarrou sua mão e levou-o para a sala ao lado, sorrindo. ― Você vai
nos fazer companhia.
Dorothea apontou para o mordomo. ― Doyle? Antes acompanhar sua
graça, diga a Sra. Holmes para nos trazer chá e biscoitos. Estou certa de que o
capitão ainda está com fome, e o duque pode apreciar algo. ― Doyle fez uma
reverência antes de sair.

William e Dorothea se encaminharam até a sala contígua, decorada com


talha dourada e pinturas dos antepassados em perucas brancas que
administraram Somerset Hall, principal casa do duque. Deuses gregos em vários
estados de vestimenta empoleiravam em nuvens macias olhavam para ele do
teto pintado.
Um nó se formou em sua garganta; a perspectiva de ver Sebastian tão
cedo o enervava.

― Talvez o duque conheça alguém com quem você possa se casar.


Uma tonelada de jovens fervilhando, acostumadas a estar isoladas em
mansões de seus pais, não acostumadas com a companhia de homens. Seus
olhos se alargavam quando viam seu uniforme e as insígnias de ouro indicando
sua posição, na esperança de que ele fosse varrê-las para uma vida que
satisfizesse os seus pais. ― Há uma abundância de clientes potenciais.

― De fato. ― Dorothea sorriu.


― Não foi isso que eu quis dizer. ― William resmungou, colocando a

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
mão em sua testa ainda dolorida.

O casamento não provocava nenhum apelo para ele. Casamento pedia


fidelidade, e ele não conseguia entender ser fiel a uma mulher quando ele tinha
esses impulsos, que insistiam que ele poderia preencher por alguns trocados,
que insistiam que ele se rendesse a regularmente visitar várias casas de molly14,
nos arredores de Londres, e até mesmo em Brighton desde seu retorno da Índia.

Tais explorações podiam não ser a coisa mais saborosa a fazer, mas ele
havia prometido quando ele enfrentou a morte na Índia que ele iria satisfazer
essas inclinações em seu retorno. Ele tinha flertado com as mulheres o suficiente
para saber que elas não conseguiam lhe interessa. Ele tinha até compartilhado a
cama com algumas delas, onde muitos outros frequentaram, provavelmente
dotado por outros soldados. Colocar os braços em seus corpos curvados o
satisfez muito menos do que colocar os braços sobre os homens. Nada substitui
a sensação de peito duro de um homem pressionado contra o seu.
Ele sempre usava um pseudônimo quando ele saia. Ultimamente ele tinha
usado o nome de Ralph. Mas suas visitas a casas de Molly eram ridículas e
tinham que acabar; o risco constante de ser descoberto pairava sobre ele.

Os pensamentos de Sebastian minaram o seu desejo de fazer as coisas


indizíveis com um estranho. Quando ele poderia imaginar que um tombo com
um homem desconhecido poderia substituir os prazeres de um verdadeiro
companheiro?

********

O duque chegou, carregando um buquê gigante de rosas amarelas. Sua intenção


para cortejar Dorothea não poderia ter sido mais evidente.

Ele ainda era bonito, é claro. O cabelo loiro escuro ainda enrolado. Seus
olhos azuis e cílios longos ainda fazia o coração de William doer. Ansiava por
arrastá-lo para a próxima sala, retirar as roupas do homem, e colocar os lábios
14
Uma casa de Molly na Inglaterra do século 18 era uma taberna ou sala privada onde gays e cross-dressing
homens poderiam conhecer uns aos outros ou para socializar ou como possíveis parceiros sexuais. Casas
Molly foi um precursor de alguns tipos de bares gays.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
em cada centímetro de seu corpo.

Sebastian encontrou seus olhos, e um sorriso se espalhou no seu rosto. O


coração de William cerrou, apertando com cada milímetro do sorriso que
Sebastian abria. Seria tão fácil para ele acreditar que o sorriso de Sebastian era
para ele.

Sebastian fez uma reverência para Dorothea. ― Eu espero que você não
ache impróprio eu aparecer, logo após as festividades da noite passada.

― Nem um pouco. ― Dorothea sorriu, apontando para o sofá. ― Sente-


se, excelência. É um prazer vê-lo novamente.
― Estas são para você. ― Sebastian entregou o buquê para Dorothea,
que sorriu, enterrando o rosto no perfume doce.
William lutava para sufocar seu espanto, o seu corpo mais rígido e sua
respiração mais desigual do que nunca.
Enquanto Dorothea soou o sino para o pessoal da casa para encontrar um
vaso para as flores, Sebastian se instalou na cadeira ao lado dele, esticando suas
longas pernas na frente dele. William abaixou as suas e se contorceu na cadeira,
cruzando as pernas longe de Sebastian.
Quando a Sra. Holmes chegou com o chá, William pegou o bule de
porcelana e espirrou o líquido em uma xícara mais próxima decorada em roxo.

Dorothea engasgou, e seu rosto ficou vermelho.


― Você costuma fazer isso, querida. Eu pensei que era a minha vez. ―
Disse William.

Ela assentiu com a cabeça, os olhos arregalados.

William ocupou suas mãos, ansioso para evitar olhar o longo corpo
delgado de Sebastian. Ele adorava a maneira que a gravata de Sebastian
enrolava sob o queixo.

William empurrou o copo de Dorothea em sua direção. O líquido turvo


rodou, como um mar tempestuoso, e ele desejou-lhe que o braço se equilibrasse.
― Chá? ― William perguntou a Sebastian, ciente de que o homem estava
50
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
observando-o.

― Sim, por favor. ― Sebastian balançou a cabeça, a testa enrugada. ―


Com leite.

― Eu acabei me acostumando a fazer o meu próprio chá na guerra. ―


Disse William se desculpando. Passou a Sebastian a bebida antes de servir a si
mesmo.

― Você passou por esses tempos difíceis. ― Disse Sebastian baixinho.


― Estou muito impressionado com você. Sua irmã me contou sobre sua lesão.

A bajulação aqueceu o coração de William, como gravetos desesperados


para capturar a luz, não importando o quão insignificante era a faísca, e ele
desviou o olhar. Sebastian podia não dizer nada e ainda assim iria afetá-lo.
William se ergueu, quase tropeçando no tapete. ― Eu deveria ir. Por favor, me
perdoem.
Ele curvou-se, ignorando os rostos assustados e subiu a escada. Esse dia
não deveria seguir por este caminho. As vozes de Sebastian e Dorothea eram
murmúrios. Deixe que eles se surpreendam.

Ele fechou a porta de seu quarto. Passos subiram as escadas, Dorothea


provavelmente chegando para repreendê-lo. Ele iria fingir uma dor de cabeça
ou dor de estômago. Sim, a contaminação do bolo de semente. Isso deveria ser
possível, certo? William sabia que homens cuja saúde despencava depois de
comer peixe...
Ele saltou, o quarto ornamentado em toda sua dimensão, de repente
parecendo muito restritivo para acomodá-lo. Alguém bateu na porta, e ele parou
de caminhar pelo quarto.

― William? ― Ele reconheceu a voz masculina de imediato, mas ele


esperava estar enganado e que Doyle estivesse sendo excessivamente informal.

Ele congelou, com medo de se mover. Talvez ele pudesse apenas ficar
quieto, desejando que o assoalho de bordo não gemesse sob o seu peso.

― Sim? ― William respondeu, apesar de tudo. Não importa seu plano.


A porta se abriu e Sebastian estava diante dele. ― Você saiu.

51
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
As bochechas de William aqueceram. ― Sim, eu o fiz.

― Eu espero que você esteja bem? ― Os grandes olhos de Sebastian


avaliaram William. Ele colocou um pouco de cabelo atrás da orelha, como se
estivesse nervoso de estar no mesmo quarto que William.
― Eu estou bem. Peço que perdoe a minha grosseria. Receio ter
adoecido. Você deve retornar ao andar de baixo; Isso poderia ser contagioso. ―
Talvez intoxicação alimentar fosse a desculpa errada.

― Eu vou enfrentar esse risco. ― Sebastian sorriu. ― E sua irmã é muito


consciente das ramificações de estar em uma sala com um homem solteiro. Eu
acho que ela se retirou para o seu quarto, mas ela me disse onde encontrá-lo.
A respiração de William acelerou e ele deslizou para a cama. Ele tremia,
a dor no braço, no peito, envolvendo-o.

― Posso me juntar a você?


William balançou a cabeça, atônito quando Sebastian sentou ao lado dele
e não na poltrona oposta. Ele se permitiu ouvir o outro homem respirar,
saboreando a experiência.

― Eu costumava visitar este quarto, por vezes, quando criança. Eu amava


esta cama. Eu achava romântico as cortinas.

Sebastian inclinou a cabeça, com o olhar fixo no dossel de luxo. A última


coisa que William precisava era Sebastian em sua cama dizendo-lhe como era
romântico.

Rosa tingia as bochechas do homem, como se consciente da


impropriedade do sentimento.
William se imaginou empurrando Sebastian na cama, montando nele,
desatando a gravata e beijando seus lábios. Ele iria arrancar a camisa de
Sebastian, arrancar a calça... William se moveu, desperto a despeito de si
mesmo. Ele se inclinou para frente, protegendo-se de qualquer olhar curioso
que Sebastian pudesse dar a ele. A cama rangia, e ele fechou os olhos quando o
suor apareceu em seu corpo.
― Por que você veio? ― As palavras saíram mais rispidamente do que

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
William pretendia.

Sebastian, anjo que era, não se deteve. ― Eu estava preocupado com


você. Sua irmã estava preocupada também.

Claro. O bom pretendente. ― Eu sinto muito por ter cortado a sua visita
curta. Você queria ver Dorothea.

― Acho que sim. ― Sebastian pigarreou. ― Embora eu ainda não a


conheça. Eu conheço você. Um pouco. E espero conhecê-lo melhor.

William não conseguia pensar em todos os tipos de formas em que


Sebastian pudesse conhecê-lo melhor, mas ele não ia sugerir qualquer uma
delas.
― Você deixou o baile de forma abrupta.
― Eu estava doente. ― Disse William, no espírito de manter sua história
consistente.
Sebastian balançou a cabeça e desviou o olhar. ― Eu fiquei preocupado.

William engoliu em seco, a garganta seca. Certamente Sebastian não


tinha ideia de como isso soava, como ele era sugestivo.
Obrigado por deixar Dorothea viver aqui. E eu. ― A voz de William
estava rouca. Ele já devia tanto a Sebastian. ― Fiquei surpreso e agradecido
quando soubemos que você insistiu para que Dorothea usasse esta casa.

Sebastian deu de ombros. ― Lewis teria desejado isso.


― Ela teria sofrido da mesma maneira, Sua Graça.

Uma carranca se estendeu sobre o rosto de Sebastian. Ele inclinou a


cabeça. ― A morte dos seus pais deixou vocês com poucas opções.
― Eles eram bons pais. ― William se apressou a dizer. Ele desprezava
as palavras de pena das pessoas - muitas vezes os seus antigos amigos – usavam-
nas para se referir a eles. ― Eles só tinham menos dinheiro do que todos
pensavam.
Apesar de ser um eufemismo.

53
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Lewis planejava para fazer uma doação formal para Dorothea em seu
testamento. Eu só estou fazendo o que é certo.

William assentiu. Ele olhou para o braço mutilado, consciente de suas


imperfeições em comparação com o duque. Ele não tinha nada para oferecer a
um homem assim. Como podia ter sido tão tolo para permitir-se a acreditar no
contrário?

― Eu gostei de ontem à noite. ― Continuou Sebastian.

― Por conhecer a minha irmã?

― E você. ― Sebastian parecia tão sério, olhando nos olhos de William.


― Você é gentil. ― William sorriu, maravilhado com o comprimento
dos cílios longos de Sebastian. Lembrando-se, ele tossiu. ― Então, vamos ser
uma família.

― Sim.
O peito de William apertou, como se uma jiboia se envolvesse ao redor
de seu corpo, pressionando sua pele suave e fresca contra ele.

Sebastian se endireitou. ― Perdão. Eu entendo por que você está


chateado.
― Você entende?
O coração de William congelou, seu corpo rígido, como se uma equipe
de cavalaria aparecesse diante dele com tal brusquidão que ele se esforçou para
lembrar se ele tinha sequer ouvido o pisoteio de seus cascos. Sebastian tinha
descoberto o seu segredo? Certamente que não. Mas, talvez, quando seus pés se
tocaram na taberna... seu desejo foi provavelmente flagrante. O suor se formava
na parte de trás de seu pescoço, e ele se inclinou para longe de Sebastian,
esperando o mundo se quebrar a sua volta.

― Eu deveria ter perguntado primeiro.

― O que você quer dizer? ― William tentou controlar a respiração.


Talvez Sebastian não suspeitasse as horas que ele passava o cobiçando. ― O
que você deveria ter perguntado?

54
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Para pedir a mão de sua irmã. Você é o seu parente mais próximo. Eu
deveria ter pedido a sua permissão antes de encontrá-la esta manhã. Não é à toa
que você estava chateado. Eu peço desculpas. Já faz um tempo desde a última
vez que fiz isso, e eu tenho que me familiarizar com as maneiras da alta
sociedade.

― Sua mão? ― E então, ficou claro para ele. Ele estremeceu, percebendo
o que Sebastian estava prestes a perguntar. ― A mão de minha irmã em
casamento?

― Normalmente, eu teria me dirigido ao pai, mas...


― Nossos pais estão mortos. ― Concluiu William.
― Exatamente.
O ar pairava espesso entre eles. William suspirou e olhou para a lareira.
O fogo havia se consumido, e apenas cinzas permaneceram.
― Vocês estão noivos agora? ― Perguntou William, temendo a resposta.
Seu peito se apertou. ― Ela nunca mencionou...

― Não! Não, não estamos. Ainda não. ― Sebastian inclinou a cabeça.


― Você se importaria? Se eu fosse perguntar a ela? Gostaria de cuidar bem
dela, eu prometo isso.

― Você tem a minha permissão. ― Disse William apressadamente. Será


que Sebastian realmente achava que ele ficaria chateado porque ele queria que
Sebastian lhe pedisse a mão de Dorothea em casamento? Ele precisaria sair. O
pensamento de Sebastian listando todas as maneiras que ele seria um bom
marido para Dorothea seria demais para tolerar. A conversa continuou por
muito tempo. Ele pulou da cama, evitando a expressão confusa de Sebastian. ―
Temo que eu tenha um compromisso anterior, devo me preparar.

― Sinto muito. Eu não fazia ideia.

― Acabei de me lembrar. Devo encontrar um amigo no Hyde Park. ―


As palavras soaram falsas para seus ouvidos. Era uma declaração absurda.
Sebastian pensaria que ele era horrível.
― Oh. ― Sebastian se levantou da cama e caminhou para William. ―

55
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Mas você está doente. Você não deve se levantar. Eu não quero que você
prejudique a si mesmo.

― É de extrema importância, eu temo. Por favor, me desculpe. Doyle irá


mostrar-lhe a saída - Sua Graça.
Os olhos de Sebastian se arregalaram e ele engoliu em seco. Ele abaixou
a cabeça e William teve que se lembrar de que varrê-lo em seus braços seria a
última coisa que Sebastian desejaria.

56
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

William agarrou o cabo da pistola, dedilhando as curvas. Ansiava pela


Índia e a adrenalina da batalha. Mesmo que o perigo tivesse enchido a sua vida
lá, ele não se sentia preso. Todos esses anos ele passou antecipando seu retorno
à Inglaterra apenas para descobrir que vida na multidão era mais sufocante e
opressiva que o calor Oriental.
William desejava homens, embora só a ameaça de morte nas batalhas
sangrentas na Índia o obrigou a se reconciliar com esse anseio. Ele havia
sobrevivido ao choque de espadas e pistolas de tiro, e ele estava determinado a
encontrar a felicidade. Ele havia prometido que, uma vez na Inglaterra, longe
do cheiro de fumaça de canhão e moribundos, ele iria cumprir seus impulsos.
Ele tinha ouvido rumores de homens cuja amizade despertava a especulação, e
ele queria ser um desses homens, embora ele certamente não tinha admitido
suas inclinações para mais ninguém. Mesmo que ele não tivesse nenhum desejo
de ser o assunto de fofocas, esperava que pudesse encontrar um homem que se
tornaria algo mais. Sob o luar e as sombras da árvore, ele se permitiu imaginar
que Sebastian poderia ser esse homem.

― Se preparando para a batalha já? ― Uma voz divertida rompeu seu


devaneio, arremessando-o de volta ao presente.

Ele abaixou a arma, e uma onda de dor sacudiu através de seu braço
machucado. Sua irmã estava no batente da porta aberta de seu quarto. Ela sorriu,
sua expressão apaixonada. Ele trancou a arma para longe com cuidado,
demorando-se sobre os pergaminhos de prata que decoravam o cabo de
nogueira.

Dorothea caminhou até ele, seu longo vestido de tarde sibilando contra
os móveis em seu quarto. ― Você vai estar de volta lutando contra o inimigo
antes de se dar conta.
Ele balançou a cabeça, consciente da dor no braço que o seguia de sala
em sala, do amanhecer ao pôr do sol.
57
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Os olhos de sua irmã eram tristes. ― Eu sei que você anseia voltar.

― Eu gosto de viver com você.

― E ainda assim você se apressa todas as manhãs. ― Ela virou-se.

A culpa inundou a renúncia em seu tom de voz, a sua convicção de que


ele preferiria evitá-la.

― Dorothea...

Seus passos pararam, seus cabelos escuros esvoaçavam. ― Sim?

― Eu quero que você encontre o contentamento. ― Ele engoliu, se


esforçando a continuar. ― Estou feliz que você está encontrando a felicidade
com Sebastian. ― O homem tinha ido visitar sua irmã durante semanas.
Seus olhos se desviaram. ― Obrigada.
O ar ficou mais espesso entre eles. Ele temia ver seus olhos brilharem de
alegria, as faces coradas, mas, talvez, a possibilidade de não ver esses sinais de
afeição o antagonizavam mais.

Ele se virou para ela. A cor do seu rosto manteve-se inalterada, e seu
olhar era intranquilamente constante.
― Eu espero que você esteja feliz com ele?

Os lábios de Dorothea levantaram-se. ― Você não precisa se preocupar


tanto. Não há nenhum país para salvar.

Ele sorriu fracamente. Ele precisava que sua irmã mais nova fosse feliz.
Isso podia não estar no alcance para ele, mas ele queria que ela o possuísse, que
se agarrasse a ele com toda a força de sua estrutura pequena e desossada. ― O
amor é importante. Se você não pode encontrá-lo com ele...
Dorothea virou-se, com os olhos enrugados. Um sorriso desenvolvido no
rosto. ― Eu pensei que você não fosse romântico.

William tossiu.
Dorothea se aproximou dele. ― É por isso que você ainda não encontrou

58
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
alguém? Você é muito idealista.

Ele desviou os olhos. ― Idealista é a palavra errada.

Seu olhar se suavizou, mas seus olhos ficaram fixos nele. ― Você
gostaria de encontrar alguém, não gostaria?
― Você não precisa se fazer de cupido para mim.

Dorothea torceu um anel em seu dedo. O anel que uma vez foi de sua
mãe, o topázio brilhante brilhava enquanto ela girava lentamente a banda ao
redor. ― Eu espero que você possa me considerar uma amiga.

― Eu considero. ― William não precisava hesitar.


Sua irmã sorriu. ― Eu percebo que passamos muito tempo separados...
― A guerra...
Sua irmã balançou a cabeça. ― Eu sei. Isso não podia ser evitado. Eu só
espero que possamos passar mais tempo juntos a partir de agora.
Ele balançou a cabeça e desceu os degraus para o andar térreo.

Sua irmã o seguiu. ― Se você quiser me dizer alguma coisa, qualquer


coisa, bem, eu estou aqui.
Uma sensação de pavor maçante se formou. Ele engoliu em seco. Esta
seria a hora de confessar tudo. Os anseios. Os pensamentos que enchiam sua
mente, os que ele se recusava a negar a si mesmo, mas não podia suportar contar
a alguém. Como seria fácil sentar-se e dizer-lhe tudo. E ele desejava confessar,
sobrecarregado com o seu segredo. Ela podia ficar chateada se ela descobrisse
o contrário.

E, no entanto.
Era impossível.

Uma vez dito, ele não poderia levá-lo de volta. Ela sempre, sempre
pensou nele dessa forma. Este não era o tipo de segredo que pudesse ser
esquecido. E se ela se injuriasse?

59
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Ela nunca poderia entender que o seu desejo pelos homens nunca poderia
ser substituído por um desejo pelas mulheres. Os homens eram executados por
serem sodomitas, e essa natureza de William o colocava muito em risco.
Duvidava que a sociedade fosse boa para ela se seus gostos fossem descobertos.
Alguns poderiam considerá-lo com sorte se ele escapasse apenas sendo esfolado
e depenado, açoitado, preso, ou castrado.

Ele forçou um sorriso e se esforçou para afastar qualquer aparência de


infelicidade de seu rosto. ― Obrigado. Eu não gostaria de incomodá-la.

Ela olhou para cima, com uma expressão assustada. ― Você não vai me
incomodar.
― Bem, eu aprecio isso. ― Ele despediu-se dela e saiu correndo.
A porta de carvalho bateu atrás dele, e ele fez uma careta, consciente de
que sua irmã pensaria que ele a estava evitando.
Ele se arrastava pela rua, as fileiras de casas de marfim altas dominavam
ambos os lados. As colunas ornamentadas e estátuas mitológicas brilhavam sob
o sol brilhante da manhã, mostrando conhecimento da cultura dos arquitetos.
William rangeu os dentes e ignorou o aumento súbito da dor de seu braço. Ele
não seria bem-vindo aqui se os habitantes adivinhassem seus desejos.

A figura encapuzada se lançou até a rua, um chapéu escondendo boa parte


de sua cabeça. Suas roupas surradas destacavam-se no esplendor imaculado ao
seu redor. William olhou para a figura. Pelo menos ele não era a única pessoa
que não pertencia aqui.

Ele poderia deixar a área em breve. O General Hawtrey o havia


convidado para discutir as fortificações na costa sul.

Ele serpenteou ao longo de uma série de ruas, finalmente, chegando ao


seu destino. Colunas em estilo grego emolduravam a entrada. A porta estava
pintada de um vermelho vibrante, da mesma cor do seu uniforme. Um batente
de ferro assumindo a forma da cabeça de leão, adornando o meio da porta. Com
alguma apreensão, ele viu o anel gigante pendurado da boca do animal e bateu
contra a porta.
Ele não precisa disso.

60
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Lembrou-se novamente de sua conversa com sua irmã e seu sofrimento
por que ele a evitava.

Seu braço curaria eventualmente, e ele voltaria para a guerra. Tudo o que
poderia acontecer se ele fosse embora seria a de que ele não tinha dado a si
mesmo a oportunidade de conhecer sua irmã melhor. Esta era a sua
oportunidade. Em um ano, se não antes, ela poderia se casar com Sebastian.

O remorso corroeu William por dentro. Ele não deveria ter evitado passar
o tempo lá, sabendo que Sebastian visitaria sua irmã. Ele repreendeu a si mesmo
por sua ação covarde e apressou-se de volta. Ele subiu os degraus da casa, desta
vez tendo o cuidado de fechar a porta suavemente atrás dele.
Murmúrios de vozes ecoavam no salão. Sua irmã tinha planejado ir às
compras com Penelope antes de Sebastian chegar; talvez ela já estivesse aqui.
No entanto, essa voz era mais profunda e mais masculina do que a de Penélope
e William vacilou no chão de ladrilhos. Será que Sebastian se encontrava com
sua irmã sozinho? E se eles tivessem feito isso há semanas e ele não tinha notado
isso, também com sua intenção de abandonar a casa quando o duque planejava
visitá-la?

E ainda... o estrondo melodioso da voz, embora agradável, não era a de


Sebastian. Ele estava certo.

Suas costas se arquearam quando a compreensão o atingiu. Dorothea


estava se encontrando com um homem. Sozinha.
William esperou, intrigado.

É alguém de um banco? Mas sua propriedade, embora escassa, estava


arrumada agora. Sir Ambrose, com todas as suas dificuldades, tinha cuidado
disso.

Ele parou perto da porta. A gargalhada reverberou da sala. Seus punhos


se apertaram, e ele arremessou seu olhar em torno do salão, debatendo-se se
deveria intrometer entre eles.

Claro que ele confiava em Dorothea. Mas ela não deveria ficar sozinha
com um homem. Ela poderia prejudicar sua reputação, ela poderia se machucar.
Ele andou pelo corredor e olhou quando uma empregada se aventurou no

61
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
corredor estreito, de forma que ela saiu correndo, o rosto em chamas.

Ele sofria com a culpa, mas ele não podia, absolutamente não podia, ter
encontrado sua irmã em uma situação precária. O que ela estava pensando?

Mais risos flutuavam através da porta fechada. Ele inalou, furioso, e


agarrou a alça de cristal da porta.

Ele entrou.

Dorothea estava sentada, empoleirada em uma das poltronas de cor azul


céu que complementava as ricas paredes marinhas. O coração de William
apertou momentaneamente: ele tinha evitado com sucesso a sala desde que
encontrou Sebastian lá.
Suas bochechas estavam coradas quando ele correu para a sala de visitas,
e seus olhos se afundaram. — William. Você está de volta tão cedo.

Ele balançou a cabeça e virou para o jovem bem vestido sentado perto de
sua irmã. Ele respirou fundo. Não havia nenhuma razão para que Geoffrey
Hammerstead, sobrinho de Sir Ambrose, deveria estar aqui.

— Capitão Carlisle. — Os olhos do homem se moveram nervosamente


para Dorothea, e ele se levantou. — É um prazer vê-lo novamente depois de seu
tempo em guerra.

— Eu só estava fazendo companhia a Hammerstead. Ele veio para visitar


você. — Disse Dorothea apressadamente.
— Naturalmente. — Hammerstead nunca o tinha visitado antes. William
rangeu os dentes e varreu os olhos pela sala, aterrissando na bandeja de chá. —
Que agradável de sua parte lhe oferecer refresco quando você soube que eu
estava fora.

O rubor de Dorothea se aprofundou.

— Sua irmã é muito gentil. — Disse Hammerstead.

William cruzou os braços. — Muito gentil.


Sua irmã apontou para uma das poltronas. — Não quer se juntar a nós,
William. Hammerstead e eu estávamos apenas conversando.
62
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Ele se sentou e a cadeira rangeu sob o peso repentino. De nenhuma
maneira ele iria permitir-lhes continuar a conversa, se é que era só conversa, em
privado. Talvez por isso, sua irmã parecia alheia aos encantos de Sebastian; ela
estava saltando com outros homens.
— Chá, querido? — A voz de sua irmã tremia.

William deu um breve aceno de cabeça, fazendo uma careta quando a


mão trêmula de sua irmã balançou o pires e xícara de chá. Por que ele tem que
se sentir culpado por perturbá-la? Ele apenas não tinha sido pego em uma
situação inadequada. E pensar que ele tinha considerado confessar tudo para
ela. Talvez ela quisesse que ele compartilhasse seus segredos, para que ela
pudesse divulgar o seu.
Seu sangue batia-lhe nas veias, chateado em nome de Sebastian.
Sebastian merecia alguém que fosse adorá-lo. Sua irmã merecia o mesmo.
Como ela não podia ver que ela já tinha alguém que era a perfeição?
— Eu não vi você em um tempo. — Disse Hammerstead.

William fez beicinho. Certamente o homem não tinha a intenção de


estabelecer uma conversa com ele? Não depois de ser descoberto sozinho com
sua irmã?

Dorothea estendeu a mão para fora, passando-lhe o chá. Uma carranca


formando no rosto.
William inalou. Ele não podia suportar vê-la infeliz. Desistindo, William
tomou o chá de sua irmã, olhando para o líquido turvo. Ele dirigiu seu olhar
para o visitante. — Quantos anos tem sido?
— Dez.

William assentiu. Dez anos desde que seus pais morreram, dez anos
desde que ele morava em casa, dez anos desde que tudo mudou.

— Eu não sabia que você era tão bem familiarizado com a minha irmã.
— Sua irmã é uma amiga querida...
Dorothea tossiu e apertou um lenço de renda contra o rosto dela.

63
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
O olhar de Hammerstead disparou para Dorothea, como se finalmente
percebesse que ele poderia estar se comportando com impropriedade. O homem
não tinha nenhum charme de Sebastian. Dorothea franziu o cenho para William,
e ele esforçou-se para encontrar um tópico mais apropriado.
— Seu tio me diz que você está desfrutando de seus estudos. — Disse
William.

Hammerstead se iluminou. — Bem, sim. A matemática é fascinante.

— Não é retórica, então. — William murmurou.

Se Hammerstead ouviu, ele fingiu que não, dizendo: — Mas há uma


chance de que eu possa ir para Sussex. Perto de Somerset Hall.
— Eu entendo.
— Eu pensei que Dorothea pudesse me fornecer algumas dicas para as
pessoas de lá.
— Dicas? — William arqueou uma sobrancelha.

Dorothea olhou para ele. — Eu passei muito tempo lá.


— Uma grande parte do tempo acompanhada.
O rosto de sua irmã empalideceu e ela se levantou. E ele pensou em sua
postura impecável de antes. — Você não esteve aqui todos esses anos.
— Eu não poderia estar.

Hammerstead empurrou a xícara na mesa e se levantou. — Eu tenho que


ir. Foi um prazer vê-lo - muito.

William balançou a cabeça, desafiando sua irmã para acompanhá-lo.

Em vez disso, ela esperou até Hammerstead saísse da sala. — O que foi
aquilo? Você precisava ser tão rude?

— Você estava sozinha com ele.

— Eu pensei que você achasse sufocante a companhia de outras pessoas.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
E ainda assim você cita as suas regras para mim.

— Eu tenho que cuidar de você.

— Eu estive sozinha todo esse tempo.

— Então, você... — William ingestão. — Você entreteve convidados


masculinos sozinha antes?

— Como a melhor cortesã. — Disse Dorothea.

William girou a cabeça de volta. — Sério?

— Claro que não. — Sua irmã cruzou os braços.


Talvez Sir Ambrose tinha razão para chamá-la voluntariosa.
— Então por que você o convidou?
Dorothea revirou os olhos. — Eu te disse. Ele lhe disse. Ele veio me
visitar para perguntar sobre Sussex. Eu acredito que ele quer começar uma
investigação sobre alguma atividade duvidosa lá.

— E você é a especialista. — Ele zombou.

Os olhos de Dorothea umedeceram. — A minha opinião já foi respeitada.


O peito de William apertou. Ele não era mesmo bom em ser um irmão.
Ele só tentava protegê-la, e de alguma forma ele se comportou com toda a
animosidade e moral e autojustiça da sociedade. Ele correu para o lado dela e
pegou sua mão. — E ainda é. — Ele suspirou. — Eu sinto muito que eu me
comportei mal.
Sua irmã sorriu, despenteando seu cabelo. Por um momento, ele tinha
quinze anos, ela tinha doze anos, e tudo estava bem.

— Na verdade, eu queria que você falasse com ele. — Disse ela. — Eu


não esperava a sua visita, mas eu estava esperando que você pudesse voltar. Eu
acho que você pode ter algumas coisas em comum com ele.

William resmungou. Qualquer coisa que ele pudesse ter em comum com
o sobrinho corpulento de Sir Ambrose era improvável de ser lisonjeiro. —

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Vamos esperar que não.

Quando ele observou sua irmã de novo, ela estava olhando para ele. Ela
desviou o olhar rapidamente. — Penelope deverá estar aqui em breve.

— E também o duque. — William murmurou.


— Exatamente. — Dorothea o examinou novamente. — Mas você terá
ido embora, então, não é?

Ele não tinha certeza se a última foi uma pergunta ou um pedido. Apesar
da inocência que Dorothea afirmava do encontro que teve, William permaneceu
abalado. Suas ações não se assemelhavam a de uma mulher dedicada ao seu
pretendente. Talvez ele não conhecesse sua irmã tão bem depois de tudo.

*****

O sol brilhava através das cortinas da sala de Dorothea, refletindo uma


deslumbrante variedade de flores-de-lis perfeitamente formadas no chão de
madeira. Sebastian sorriu, consciente de que ele havia se afeiçoado a visitá-la.
Isso é amor?
Sebastian visitava Dorothea a cada dois dias, às duas horas. Às vezes, a
prima Penelope se juntava a eles e às vezes a tia Beatrice: ela estava sempre
bem acompanhada. Gostava que Dorothea se comportasse de forma tão sensata;
ela daria uma excelente duquesa.

Ele não tinha visto William desde que o homem correu de seu quarto para
cumprir com seu compromisso em Hyde Park.

Ansioso para aprender sobre a infância de William, ele havia dobrado


Dorothea com perguntas. A infância de Dorothea o intrigou, também, é claro,
mas de alguma forma eles sempre voltavam para William. Deve ser porque
William e ele eram os dois homens, e a infância de Dorothea, cercada por
bonecas e um fluxo de governantas ensinando-lhe os meandros do bordado, não
o divertia de forma consistente.

66
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Em contraste, o comportamento de William o perturbava, ocupando sua
mente. Mesmo que ele lhe dera permissão para casar-se com Dorothea,
Sebastian sentia que algo lhe desagradava.

Ele queria que William fosse feliz. Sebastian decidiu que iria pedir-lhe
para ser seu padrinho. Se Lewis tivesse vivo, ele teria sido o padrinho de
Sebastian. Mas se Lewis tivesse vivo, Dorothea iria se casar com ele e Sebastian
estaria vivendo em Yorkshire. Ele provavelmente teria conhecido William em
algum baile terrível da semana.

Hoje ele tinha chegado mais cedo.


O assoalho rangeu e Sebastian virou a cabeça para o barulho. A porta
pintada à creme estava entreaberta, a cornija coberta de louros emoldurava uma
figura alta na sala, em vez da porta de entrada com painéis.

William. Sebastian ingeriu e seus olhos se arregalaram ao ver o homem


que ele tinha acabado de contemplar. O capitão era alto e irradiava beleza.
O desconforto cintilou sobre o rosto do capitão e sua mandíbula parecia
mais definida. — Sua Graça.

— Capitão Carlisle. — Sebastian saltou da poltrona e se perdeu correndo


os olhos sobre o homem em apreço. Um casaco verde escuro circundava sobre
uma calça de couro apertada do capitão, acentuando as pernas perfeitamente
formadas. Suas botas pretas polidas brilhavam contra o chão de azulejos e um
chicote pendia de seus dedos longos, embrutecidos da guerra.
O calor subiu para seu rosto e ele esperava que William não visse o rubor
que o acompanhava.
William sorriu e entrou na sala. Seu humor parecia ter melhorado.

— Podemos voltar a nos chamar um ao outro pelo primeiro nome. —


William inclinou-se para Sebastian. — Há um rumor seremos irmãos em breve.

— Oh, sim. Claro.


A luz pegou as mãos de William, bronzeadas pelos dias quentes no sol
indiano. Os pelos escuros cobriam os pulsos. Qual seria a sensação de tocá-los?

67
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Você vai fazer a minha irmã uma mulher feliz? — Perguntou William.

Sebastian levantou a cabeça. — Você acha que ela iria se tornar infeliz,
amarrando-se a mim?

William olhou para ele, com um tom sério. — Ninguém pode ser infeliz
em sua companhia.

Por um momento, Sebastian se preocupou de que fosse se perder nos


olhos quentes e escuros de William, e ele moveu seus pés.

William fez uma careta. Ele fechou a porta grossa atrás deles e fez sinal
para Sebastian se sentar no sofá.
Sebastian ingeriu. Será que ele se sentaria ao lado dele? Ele não tinha
certeza se ele sentia alívio ou decepção quando William se instalou na poltrona
à sua frente.

Eles ficaram em silêncio. Em intervalos, William virou-se para ele e abriu


a boca antes de fechá-la, como se relutasse em dizer alguma coisa. Finalmente,
William enterrou seu rosto em suas mãos por um momento antes de olhar para
cima. — Eu não vou ficar com raiva de você, se você não casar com ela. Só
para você saber.
Sua declaração assustou Sebastian e a sensação de calor o abandonou. —
Você me concede permissão para não me casar com ela?

William assentiu solenemente. — Vocês não se comprometeram ainda.


Por favor, saiba que eu não vou ficar ofendido se você nunca o fizer.

Sebastian apertou sua mandíbula. William estava zombando dele. Ele se


parecia com todos que manifestavam surpresa com Sebastian cumprindo sua
expectativa social. Mesmo que Sebastian fosse apenas um fazendeiro, cuja
posição havia subido a proporções inconcebíveis, ele resolveu que seria um bom
duque. Ele podia lidar com a tarefa de ser um marido, assim como ele poderia
lidar com a tarefa de gerenciar uma enorme propriedade.
— Minha intenção permanece inalterada. Vejo que tive a sorte de adquirir
previamente o seu consentimento.
— Eu só quis dizer... — William franziu a testa. — Perdoe-me.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian duvidava que William proibisse Dorothea expressamente de se
casar com ele. Ele iria propor a Dorothea imediatamente. Ele tinha considerado
convidá-la para Somerset Hall em South Downs15 para fazer sua proposta lá.
Talvez ele pudesse simplesmente resolver as coisas agora. — Não foi nada. Eu
já esqueci.

William assentiu. — Outras opções existem...

— Alguém como você. — Disse ele, se esforçando ao máximo para


aparentar um aristocrata gelado. William não achava que ele fosse adequado
para se casar com sua irmã. Essa escolha era de Dorothea - não dele. Ele não
tinha nenhum desejo de ver William tropeçando para uma conversa. Sebastian
fez um gesto para a roupa de William. — Não importa. Eu acredito que você
está saindo para montar novamente?

A expressão de dor cintilou no rosto de William. Ele inclinou a cabeça


para baixo e franziu a testa.
— Desculpe-me. — Ele levantou-se e curvou-se bruscamente e saiu da
sala.
Sebastian permaneceu no sofá. Sua visão turva, as flores-de-lis fundindo
juntas. A porta principal bateu, indicando a saída de William, e seus ombros
caíram.

Poucos minutos depois, uma batida soou na porta pesada do lado de fora.
Dorothea.

O coração de Sebastian correu, e ele se apressou para acalmar sua


respiração, ainda errática pelo seu encontro com William. Ele iria propor agora.
Ele seria um marido. Não era sua indignação, sua respiração instável, um sinal
de que ele queria se casar com ela? E se a outra sugestão, não se casar com ela,
o horrorizava?

Ele ganharia uma família novamente e William deixaria de preencher


seus pensamentos. Ele inalou. Não seria bom para a sua futura noiva encontrá-
lo sem fôlego. Sentado em uma sala de estar muito bem decorada não deveria
15
O South Downs é uma cadeia de montanhas de giz que se estende por cerca de 260 quilômetros quadrados
(670 km2) [1] em todos os municípios do litoral do sudeste da Inglaterra do Vale do Itchen de Hampshire, no
oeste de Beachy Head, perto de Eastbourne, East Sussex , no leste.

69
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
ser fisicamente desafiador. Ele cambaleou aos seus pés.

A porta exterior se abriu e os baixos murmúrios indicavam que o


mordomo se aproximou.

— Eu tenho que vê-la em pessoa. — Gritou um homem do lado de fora,


sua voz carregada.

— Dorothea não está em casa.

— Leve-me para a sala de estar.

Sebastian se inclinou para frente. A voz do homem soava grosseira, mas


o sotaque era mais notável. Era francês. Por que um francês estaria tentando
entrar em contato com Dorothea? Suas palavras ásperas deixaram claro que não
era membro da aristocracia francesa. Pelo menos não como qualquer membro
que ele já conhecera.

Os que conhecia vagavam pelos bailes de Londres com expressões


ansiosas. Assuntos de fofocas, o seu estado dependia da possibilidade de
invasão relatado pelos jornais. Nenhum deles tinha soado semelhante a este
homem.

— Senhor, ela não está em casa. Posso levar uma mensagem?


— Não.

Quem quer que estivesse do lado de fora tinha desistido. Bom. O


pensamento de Dorothea ser incomodada o chocava.
Passos recuaram.

Sebastian bateu os dedos contra o tecido da cadeira. Ele deveria ter


trazido um livro com ele. Embora se Dorothea estivesse em casa, ele teria
parecido um tolo com um.

Sebastian considerou escapulir, incerto quando ela iria voltar. Mas, então,
William poderia pensar que ele tinha ganhado e Sebastian se recusava a permitir
isso. Ele iria colocar a opção de se casar com ele ou não inteiramente nas mãos
de Dorothea.
Os rumores a rodeavam, com ou sem William estar ciente. Lady Arabella
70
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
lhe tinha advertido que Dorothea iria encontrar dificuldade de encontrar um
noivo novamente, dada a sua proximidade ao seu falecido noivo. Ela tinha
pouco dinheiro; seus falecidos pais tinham garantido isso. Seu noivado com
Gregory Lewis foi um compromisso por amor; talvez a sociedade fosse mais
indulgente se fosse o contrário. Eles gostariam de atormentar a mulher que ainda
sem um tostão e bem-educada, tinha chegado tão perto de se casar com um
duque. A sociedade gostava de ordem, e Dorothea teve as regras da sociedade
desgrenhadas.

Como ele poderia condená-la a uma vida sem filhos, sem família?
Simplesmente por causa de fraquezas e inseguranças que sentia? Ele seria forte
por ela. Ele estava determinado a ser um bom marido. Eventualmente, ele
esperava ser um bom pai. Ele sorriu, imaginando pezinhos tamborilando sobre
a casa.
Se ela o rejeitasse, seria a sua escolha. Ele não pensaria mal dela por isso.
Mas ele não podia se retirar agora, não depois de cortejá-la. Ela não precisava
de mais atenção negativa sobre ela.
Suas costas endureceram, sua mente decidida.

Quando as mulheres finalmente chegaram na sala, ele ficou de pé. Ele


poderia muito bem resolver as coisas, e ele entrou em ação.

― Dorothea! Posso falar com você? ― Ele olhou para o resto da sala,
observando as expressões nos rostos assustados da prima Penelope e a criada
da de Dorothea. ―Em privado?

Os olhos de Penélope se arregalaram e da boca da criada caiu aberta.


Trinta segundos depois, elas fugiram da sala e Dorothea se acomodou no sofá,
arrumando seu vestido para que as rugas não aparecessem.

― Sua Graça. ― Dorothea sorriu e cruzou as mãos. Ela tinha feito isso
antes.
― Dorothea, minha querida. ― Sebastian se ajoelhou na frente dela, o
cuidado de colocar o joelho no tapete oriental e não no chão frio de madeira.
Ele tinha feito isso antes também.
― Eu seria muito privilegiado... ― Continuou ele. ― Se você me desse
a honra de se tornar minha esposa. Nosso tempo juntos foi mais agradável.
71
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Sua Graça. ― Ela apertou-lhe a mão sobre o coração, sua expressão
formal. ― Você me faz uma tremenda honra. Eu aceito com o maior prazer.

Ele olhou para ela. Suas feições lembrando as de William. Ele esperava
não compará-los constantemente e ele estava determinado a ser um bom marido.
Seja qual for a obsessão que ele tivesse com William, precisava acabar em
breve. Não era tempo para uma grande cura? Ele sorriu para sua noiva.

― Quando é que vamos casar? ― Perguntou Dorothea.

― Desculpe-me? ― A pergunta o surpreendeu. Henrietta nunca


perguntou a ele esses detalhes. ― Eu pensei que poderíamos desfrutar de um
daqueles longos compromissos.
― Por quê?
― Bem...

― Eu gostaria de me casar em breve. ― Dorothea ergueu o queixo e o


olhou diretamente. ― Nós poderíamos ter filhos.
O peito de Sebastian apertou e ele tentou empurrar a sensação de lado.
Afinal, ele aprovou seu instinto de pensar das crianças. Isso era o que ele queria.
Uma família.
― Vamos nos casar em breve, então. Você escolhe a data. ― Ele fez uma
pausa, sabendo que algo mais se esperava dele: ― minha querida. ― Disse ele,
triunfante. Era afetuoso. Ele deveria se lembrar desse detalhe carinhoso.
Ele sempre sentiria falta de Charlie, mas ele teria novas crianças, e ele
iria amá-los. Ele adoraria Dorothea. Talvez ele já o fizesse.

― Eu gostaria de me casar no final da temporada, antes de Londres se


esvaziar.

― Que plano maravilhoso, minha querida. ― Sebastian calculou que o


casamento seria dentro de três meses. ― Eu vou fazer o dia especial para você.
Devemos chamar Penelope de volta?
A porta se abriu, e as bochechas de Sebastian ficaram vermelhas quando
ele percebeu sua prima devia ter ouvido a sua conversa o tempo todo. Enquanto

72
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Penelope dava os parabéns, sua voz se intensificou em entusiasmo, o mordomo
atendeu a uma batida na porta.

Talvez uma das velhas amigas de Dorothea de Lancashire, ou uma de


suas novas amigas de Sussex tinha chegado. Ou talvez - talvez William havia
retornado. Ele ficou tenso em antecipação. A voz profunda de William
confirmou sua chegada.

― Boa tarde. Eu espero que você teve um dia agradável?

― De fato, meu querido irmão. ― Disse Dorothea. ― Na verdade, eu


tenho novidades para você.
― Você tem? ― William entrou na sala, retirando as luvas de equitação.
O frio deixou suas bochechas rosadas.
― Por favor, venha sentar-se. ― Os olhos de Dorothea brilharam.

Sebastian sorriu para sua felicidade, feliz que ele pudesse dar a ela.
― É claro. ― William olhou ao redor da sala, encontrando os olhos de
Sebastian. Ele virou-se, talvez ainda agitado por sua conversa anterior.

Dorothea virou-se para Sebastian. ― Talvez você deva compartilhar a


notícia.
Sebastian balançou a cabeça. Este momento pertencia a Dorothea.
Dorothea sorriu e, em seguida, abriu a boca para falar.

― Sebastian me propôs casamento. ― Penelope gritou. A tentação de


não falar, evidentemente, tinha sido muito desafiadora. ― Você ganhou um
irmão, e minha amiga ganhou um noivo maravilhoso!

― Oh. ― William piscou, e seus olhos nublaram. Seus ombros caíram.

Sebastian olhou para ele, mas no momento seguinte, William estava


sorrindo.

O capitão correu para sua irmã, estendendo os braços. Ele a puxou para
um abraço. ― Que notícia feliz.
― Feliz? É a coisa mais romântica que eu ouvi durante todo o ano. ―

73
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Penelope gritou, colocando a costura para baixo. ― Eu estava nesta mesma sala.

― Quando a Sua Graça propôs?

Sebastian teria preferido que William não se referisse a ele de maneira


tão formal.
― Achei a experiência a mais emocionante. ― Disse Penélope. ― Ele
resmungou que ele precisava que a sala se esvaziasse e seus olhos brilharam
com paixão indisfarçável.

As bochechas de Sebastião aqueceram em sua descrição.

― É mesmo? ― William olhou para Sebastian.


Sebastian abaixou os olhos. Ele tinha certeza de que tinha sido bem
dramático. Não havia falha na imaginação de Penélope.
Penelope bateu palmas. ― Nós temos um casamento para planejar agora.

Ela seguiu atrás de sua mãe.


― E agora eu tenho que ir para Brighton. ― Disse Sebastian. ― Eu devo
ver o meu advogado para tomar as providências.
― Brighton? ― Penelope espalhou suas mãos. ― Capitão Carlisle deve
acompanhá-lo.

― Acompanhar sua Graça? ― Os olhos de William se arregalaram.


― Oh, eu tenho certeza que o capitão deve estar muito ocupado. ―
Sebastian se apressou a dizer.
William balançou a cabeça, sua expressão incerta. Ele passou a mão pelo
cabelo escuro. A luz pegou seus cabelos, revelando fios de ruivo. ― Eu
dificilmente seria um bom guia.
― Bobagem. ― Disse Penélope. ― Você já esteve em Brighton várias
vezes este ano. O que você vê nessa cidade está além de mim.

William fez uma careta. ― Eu gosto da beira-mar.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Penelope se virou para ele. ― Sebastian, você deve levar o Capitão
Carlisle para encontrar a roupa de casamento. Suas roupas civis são mais
limitadas.

― O que você sabe do meu guarda-roupa? ― Perguntou William.


Penélope riu. ― Eu fui vê-lo regularmente, lembra? Você sempre sai
quase antes de Sebastian chegar.

O queixo de William mergulhou para baixo e os seus ouvidos se


avermelharam. ― Tenho certeza que isso não é verdade. Uma coincidência.

Dorothea olhou para eles. ― Talvez não fosse horrível se vocês


passassem algum tempo juntos.
Sebastian foi mais uma vez consciente de suas diferenças de posição.
William não iria insultar um duque.

Finalmente William deu de ombros e disse cortesmente: ― Eu vou me


resignar a esse prazer.
Sebastian fez uma careta. William não deveria se sentir forçado para estar
em sua presença. ― Tem certeza? Você não precisa, por minha causa.
William sorriu. ― Que gentil de sua parte. Mas minha irmã está certa.
Seremos uma família agora.

A pele de Sebastian se aqueceu, a perspectiva de passar um tempo com


William o agradava.

75
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

― Talvez eu devesse sentar-me com o motorista. ― William olhou para


a carruagem com uma expressão de angústia que Sebastian estava certo que o
veículo não merecia.

Sebastian ingeriu, relutantes em dispensar William. ― Bobagem. Você


tem que me fazer companhia. Pelo menos por um tempo. Dorothea me disse
que você gosta de visitar Brighton.
― Sim. ― William deslocou as pernas para longe de Sebastian. ― Eu
suponho que é verdade.
William entregou sua valise para o motorista e entrou no espaço fechado.
Ele cruzou os braços, o corpo tenso.
Sebastian suspirou. Os Hábitos de viagem de William não deviam
frustrá-lo. E, no entanto, quando o homem parecia chateado, tudo o que
Sebastian desejava era levá-lo em seus braços para confortá-lo. O melhor era
não continuar com essa linha de pensamento.

Sebastian lamentou a perda da camaradagem fácil que tinham


compartilhado na noite do baile. William parecia cada vez mais reservado desde
que descobriu seu título aristocrático. A coisa toda era enlouquecedora.
Comparando os dois, William merecia seu status muito mais. A comissão de
William não lhe garantia o título de capitão. O carro colidia pelas estradas,
empurrões como as rodas manobravam pelo caminho cada vez mais desigual,
desde que deixaram as casas senhoriais de Mayfair.

Sebastian entrou em conversa com William sobre o tempo, aliviado


quando os ombros de William relaxaram ao ponderarem sobre a ausência de
neve durante o inverno e os seus méritos e desvantagens relativas. Depois de
um tempo, os espaços entre os edifícios ficaram maiores, separados por
extensões de campo pontilhadas com ovelhas e vacas. A carruagem saltava
enquanto os cavalos trotavam sobre a estrada irregular.

76
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Seus ombros se tocaram. Só um momento, e ainda assim, a onda de calor
era inconfundível. A adrenalina avançou pelo meio de Sebastian com toda a
força de uma bala do exército, percorrendo seu caminho para sua alma. Seu
corpo observou a sensação exata dos ombros musculosos de William roçando
os seus, carimbando a sensação de calor em cima dele.

As pernas de William se esticaram, longas e resistentes. No próximo


solavanco, as pernas de Sebastian se juntaram a elas. Ele olhava para frente,
consciente de que William estava fazendo o mesmo. Ele deveria mover a perna,
mas ele descobriu que não podia mais se mover do mesmo jeito que ele não
podia mudar a estrutura do seu próprio ser. Em vez disso, ele gostava da
sensação de calor, como se seus corpos se comunicassem em uma linguagem
alheia a toda razão.

Em intervalos, o carro parava e Sam mudava os cavalos. Eles chegaram


em Brighton à tarde, ficaram em uma pousada. Os sons de William no quarto
ao lado flutuavam para Sebastian. Dorothea estava certo. O homem não parava.

*******

Onde Londres era cinza, seus edifícios dourados uma tentativa fútil de
exercer alguma beleza nas muitas vezes nublada, muitas vezes uma cidade
chuvosa, Brighton exalava leveza. O oceano, em toda a sua magnificência,
ultrapassava em muito as correntezas turvas do rio Thames que cortavam a
capital.
Sebastian estava ao lado do mar. As ondas jogavam espuma branca na
costa rochosa em intervalos rápidos. Atrás dele, estava a cidade, embora o céu
parecesse ansioso para replicar a energia do oceano. Nuvens de penas
avançavam acima, reorganizando em formatos cada vez mais novos. Gaivotas
sobrevoavam acima dele, de vez em quando batendo as asas vigorosamente
antes de se precipitarem para longe.

― Não é um dia para uma cartola. ― A voz de William soou atrás dele,
cortando o zumbido do vento e das ondas.
Sebastian se virou. ― Nenhuma árvore para eu subir.
77
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Ou para eu salvá-lo. ― William riu, seus olhos enrugando.

O coração de Sebastian inchou, e ele olhou para William,


momentaneamente paralisado.

― Então. ― William enfiou as mãos nos bolsos. ― Você foi capaz de


visitar o advogado?

Sebastian assentiu. Ele não queria admitir para o homem que seu
advogado confirmou que algumas pessoas estavam questionando como ele se
tornou duque.

A insinuação de Hammerstead de que Sebastian pode ter estado


envolvido na morte do ex-duque herdeiro ainda o abalava. ― Vamos caminhar
à beira-mar.
Suas botas rangiam sobre a costa rochosa. William moveu-se
rapidamente à luz brilhante, como se já não estivesse limitado pela mobília
solene na casa.
Eles mantiveram uma conversa fiada. Tanto Sebastian com William
preferiam o campo, e zombavam de algumas das formalidades da alta
sociedade.
― Bem, Duque... ― William disse finalmente. ― Onde vamos arriscar
agora?

Sebastian assentiu. ― Eu acho que sua irmã quer que a gente vá a um


alfaiate. Ela não parece confiante que seus anos como um soldado corretamente
o educaram para os meandros da moda moderna.

William fez uma careta. ― Você está me chamando fora de moda? Será
que você não percebe o fio de ouro no meu uniforme?

Sebastian balançou a cabeça para o capitão, seus ombros relaxaram


quando o homem piscou.

― Esse detalhe não escapou da minha atenção. ― As bochechas de


Sebastian aqueceram enquanto se lembrava de correr as mãos sobre o casaco de
William antes do baile. Ele levantou a cabeça em desafio. ― Acho que é mais
agradável aos olhos. É por isso que se alistou no exército?

78
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Naturalmente. ― William sorriu. ― Eu tive a escolha entre o clero e
o exército e o exército venceu. Você poderia me imaginar no clero?

― Eu posso imaginar você fazendo qualquer coisa. ― Disse Sebastian


solenemente.
As feições fervorosas de William e empatia exemplar não eram contrárias
ao que ele esperaria encontrar em um clérigo.

― Eu aprecio um uniforme. ― Disse Sebastian, preocupado que a


conversa tinha escalado a um nível excessivamente íntimo.

― Como eu. ― William murmurou.


― Eu acho que você ficaria maravilhoso nas vestes de um clérigo. ―
Disse Sebastian. ― Eu posso simplesmente imaginar você varrendo em torno
dos corredores nelas. Todas aquelas mulheres idosas olhando para você com
admiração.
― Eu seria um clérigo terrível.
― Eu não penso assim. ― Disse Sebastian. ― Eu não posso imaginar
você sendo terrível em nada. Você é assustadoramente bom em resgatar itens
de guarda-roupa.
― Ou talvez você é simplesmente muito bom em perdê-los.

Sebastian riu. Seu peito cheio de calor novamente, e ele voltou seu olhar
para as ondas do oceano batendo. A estrada à beira-mar se estreitava e eles se
moveram para andar em fila única. Seus ombros escovaram juntos e Sebastian
pigarreou. Ele abaixou-se para uma rua estreita, longe da beira-mar e William
seguiu. A área era mais pobre do que o centro de Brighton.
― O que há abaixo das estradas?

William olhou para a rua. Seu rosto empalideceu um pouco. ― Nada de


mais. Nada de agradável.

― Então é bom eu tenha um capitão do exército comigo. ― Disse


Sebastian. ― Venha. As chances são de que eu vou estar com o advogado
durante toda a tarde, e eu quero ver um pouco da cidade antes.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
William empalideceu e Sebastian riu para si mesmo. Nada deve assustá-
lo aqui. É verdade, a área provavelmente não era a parte mais legal de Brighton,
mas não era a viagem a parte mais importante?

Sebastian tinha se vestido discretamente e ele não acreditava que pudesse


ser alvo de ladrões ou bandidos. E, na verdade, a área não era tão ruim.

― Oh, bem. O queixo de William se contraiu. ― Acho que eu deveria ir


com você. ― Ele puxou o chapéu para baixo na frente de seu rosto e correu para
frente, sem um olhar para o seu entorno.

Sebastian ficou para trás, olhando a cidade. A área não tinha glamour, e
talvez o instinto de William para se apressar estava correto.
― O que devemos fazer durante uma hora inteira aqui? ― William olhou
ao redor.

Se Sebastian não soubesse, ele teria dito que William parecia nervoso.
Mas William lutou contra soldados em outro continente, e ele não tinha
nenhuma razão para ter medo de nada aqui.

― Nós podemos apenas passear.

― Passear? ― Os olhos de William se arregalaram. ― Aqui? Oh, não.


Sebastian parou. ― Por quê?

― Não é adequado para alguém de sua posição.

Sebastian parou. ― A minha posição?


Sebastian começou a andar. Se William não quer ser visto com ele, ele
não precisava seguir.

― Oh, tudo bem. ― Disse William enquanto corria atrás dele.


― Olha onde estamos. ― Sebastian indicou a praça à frente deles. Seus
ombros relaxaram.

Talvez William estivesse correto para dissuadi-lo de vir aqui. Ele tinha
estado em lugares mais gloriosos do que Brighton. York era mais glorioso. Bem,

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
mesmo Hull16 era mais gloriosa do que isso. E ela não estava em sua melhor
forma desde que a Hanseatic League17 se dissolveu.

Galinhas vagavam pela praça lamacenta. Os cavalos próximos pareciam


mais cansados e menos preparados. As crianças brincavam ao longo da rua.
Algumas mulheres, vestidas com rostos vibrantemente pintados, inclinavam-se
contra uma parede de canto.

Mais notável era a pousada do outro lado da rua - The Cock’s Head18.

― Um nome incomum para uma taberna. ― Disse Sebastian.

― Sim. ― Disse William.


― Eu suponho que eles comem muitas galinhas aqui.
William virou-se para Sebastian. ― Vamos partir.
Sebastian hesitou. William olhou ao redor, seus olhos preocupados. Ele
se inclinou mais perto de Sebastian. ― Ou eu vou. Eu... Tenho outras coisas
para fazer. Mas você deve sair em breve também.

Sebastian balançou a cabeça e, em seguida, amaldiçoou-se quando


William se afastou. Isso não tinha sido o que ele pretendia. Ele só queria
conhecer o homem melhor. Mas parecia que era impossível.
Ele estava indo na direção do mar, vislumbrando as ondas de entre os
edifícios da rua estreita.

― Senhor? ― Uma voz baixa e rouca interrompeu seus pensamentos.


Sebastian girou a cabeça. Um homem mais velho, talvez em seus
quarenta anos, sorriu para ele. ― A sua primeira vez aqui?

― Sim. Eu nunca estive em Brighton antes.


― Oh, isso não é apenas Brighton.

16
Cidade no litoral do nordeste da Inglaterra.
17
Foi uma confederação comercial e de defesa de guildas mercantis e suas cidades de mercado que dominava
o comércio ao longo da costa Norte da Europa. Estendia-se desde o Báltico até o Mar do Norte e no interior
durante a Baixa Idade Média e início da Idade Moderna (c. Séculos 13 a 17).
18
“A cabeça do caralho” e também pode ser “A cabeça do galo”

81
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian piscou, sem saber o que o homem queria dizer.

― Permita-me mostrar-lhe ao redor. É fácil ter estranhos se perdendo


aqui.

― Oh. ― Sebastian se virou para ver se ele poderia visualizar William.


Mas a multidão tinha se fechado e William tinha desaparecido.

O homem riu. ― Deixe eu te pagar uma bebida.

Ele dirigiu-se para uma taberna próxima, com tal autoridade que
Sebastian não queria decepcioná-lo por não comparecer. Com um suspiro,
Sebastian o seguiu. Ele iria sair em breve, mas seria rude não se juntar a ele. E,
talvez, seria útil para aprender mais sobre Sussex.
A pousada fervilhava de vida, mesmo durante a tarde. Muitas pessoas
entravam e saiam. Sebastian olhou inquieto para a dispersão das mulheres no
pub, algumas que pareciam tanto quanto Sebastian imaginava que ele poderia
aparecer se estivesse em trajes femininos. Risos derramavam da pousada.
― Então me diga sobre o seu amigo. ― Disse o estranho, quando ambos
estavam sentados.
Sebastian olhou para ele, com vergonha de ter sido distraído pelos rostos
pintados de outros clientes. ― Meu amigo?

― O companheiro alto. Cabelo escuro, ombros largos - não me diga que


você se esqueceu dele já. ― O homem piscou.
― Eu não me esqueci dele.

O homem riu e apertou-lhe o coração. ― Difícil competir com um


homem tão bonito.

― Você o achou bonito? ― As bochechas de Sebastian se aqueceram.

O homem acenou com a cabeça e se inclinou mais perto. ― Não era? Eu


vi o jeito que você olhou para ele.
As bochechas de Sebastião queimaram. Que a sua admiração por William
pudesse ser visível para um estranho na rua o mortificava.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Eu suponho que ele não queria vir a esta parte da cidade. Talvez ele
não compartilhe dos seus gostos. Mas você é muito bonito sem ele.

Os olhos de Sebastian se arregalaram. Ele estremeceu quando o homem


passou os olhos sobre ele. Os homens não elogiavam os homens dessa maneira.
Eles podem elogiar um homem na maneira que ele amarrava a gravata ou o
tecido de suas roupas, mas... Sebastian balançou a cabeça em torno, examinando
os outros clientes mais profundamente.

― Sua primeira vez em uma casa de molly? ― A voz do homem era mais
suave, muito suave.
Sebastian balançou a cabeça, o termo era novo para ele.
― Eu me lembro da minha primeira vez. Isso pode ser esmagador. ―
Disse o homem. ― Mas muito agradável. Isto é viver.

Sebastian considerou a taverna. Nada em sua aparência a distinguia de


qualquer outra pousada.
A maioria de sua clientela parecia ser de homens; nada sobre um
patrocínio dominantemente masculino o tornava único em comparação a
qualquer outro. Exceto, talvez, pelos homens travestidos que circulavam dentro
e fora dele.

― O que é uma casa de molly?

― Você não sabe? ― O homem olhou novamente para Sebastian curioso.


Sebastian olhou para ele, perplexo.

O homem inalou. ― Aonde os homens vão para conhecer outros homens.

Sebastian piscou. E, em seguida, engoliu em seco. ― Um lugar onde os


homens se encontram com outros homens... romanticamente?

O homem apertou os lábios como se estivesse tentando esconder um


sorriso. ― Talvez alguns deles.

Sebastian girou a cabeça para avaliar a taberna novamente. Mesmo as


pessoas vestidas com roupas femininas pareciam masculinas.

83
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Eles eram homens. Homens fortes e robustos. E, provavelmente,
pequenos homens magros, também, mas todos os homens.

Com peitos firmes e quadris que não possuíam curvas definitivamente.


Aqui, em Brighton, afastado de todos, exceto os mais aventureiros da sociedade,
era um estabelecimento dedicado a homens que desejavam outros homens.

Homens como ele mesmo.

Não que ele pudesse admitir a alguém. Ele estava noivo. E tudo isso era
ilegal. Seu corpo ficou tenso, e sua respiração lutava para manter a normalidade.

― Senhor? ― O homem parecia preocupado.


Sebastian piscou. A mão do homem, longa e pálida se estendeu em
direção a ele sobre a mesa. Ele observou enquanto ela se aproximava da sua
própria. O homem iria tocá-lo? Será que os homens tocam as mãos de outros
homens? Ele engoliu em seco, sua garganta secou.
― Sebastian. ― Um sussurro áspero interrompeu.
Ele virou-se. William. Os olhos do capitão brilhavam e seu rosto estava
vermelho. Ele parecia muito, muito zangado.
― William? ― Sebastian se ergueu, derrubando a cadeira de madeira em
sua pressa. Ela caiu no chão e Sebastian fez uma careta quando os fregueses se
viraram para olhar.

― O que diabos você está fazendo aqui?


― Eu... ― Sebastian balbuciou, olhando impotente ao redor. A vergonha
o inundou. O que devia William pensar sobre os rostos de homens pintados de
forma berrantes sentados em pares? Seu companheiro se levantou de seu
assento. ― Você precisa de ajuda?

― Ajuda? ― Contra William? ― Não!

Sebastian estava consciente de outras pessoas no bar olhando para eles.

― Vamos. ― Disse William, com a voz rouca.


No momento seguinte, William agarrou o braço dele e puxou-o em

84
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
direção à saída, soltando apenas quando as pesadas portas do pub fecharam atrás
deles. Os joelhos de Sebastião tremiam e a tontura tomou conta dele.

― Vamos para o mar. ― Disse William, sua voz cortante. Eles


caminharam juntos, embora William parecesse cuidadoso em manter uma
distância entre eles. ― Não faça isso de novo. E se eu não tivesse encontrado
você? Ele ia tocar em você. O que você estava pensando? Entrando em um
estabelecimento como esse...

As bochechas de Sebastião queimavam. ― Eu não sabia...

― Você parece tão inocente. E então eu encontro você sentado em uma


casa de molly, entre os prostitutos.
― Sinto muito. Ele parecia agradável. Ele apenas pediu uma bebida, e
você se foi e...

Os ombros de William ficaram tensos. ― Ele pode muito bem ter sido
bom. Mas você não deve estar em tais áreas. Por muitas razões. Preciso lembrá-
lo de que você está se casando? Com a minha irmã? E se alguém tivesse visto
você?

― Foi um acidente, William. ― Sebastian pediu. ― Nunca tive a


intenção...

― Você... ― William ingeriu, a dor evidente em seus olhos. ― Talvez


você achasse que o homem era atraente?
Sebastian desviou os olhos, consciente da descoberta que tinha feito na
taberna. Mas William tinha pensado que ele tinha ido para a taberna
deliberadamente para desfrutar da companhia do homem, e isso, certamente,
que não tinha sido sua intenção. Ele balançou a cabeça com veemência. ― Não,
você não precisa pensar isso.

William balançou a cabeça lentamente, embora seus olhos não deixasse


o rosto de Sebastian. Ele engoliu em seco. ― Talvez você só precisava ser
resgatado.

Sebastian revirou os olhos ao ver a expressão de William. Ele relaxou os


ombros e examinou a área novamente. O sol brilhava e além do pouco menos
glamour dos edifícios de Brighton, o oceano espiava isso. Sebastian gostava de

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
ficar longe de Londres, a salvo de olhares perscrutadores.

Tudo era privado.

― Ralph. ― Uma voz masculina ecoou.

William empalideceu. Sebastian se perguntou como ele mantinha sua


beleza, mesmo com pouco sangue em seu rosto. William era incrível. Mesmo
que ele parecesse infeliz agora. Muito infeliz agora.

William virou-se para ele. ― Pensando bem, vamos descer esta trilha,
Sebastian.

― Ralph. ― Uma voz chamou novamente.


― Podemos até fazer um pouco de corrida. Como exercício.
― Exercício? Aqui?
― Sim. Você pode tirar o soldado da guerra, mas não pode tirá-lo do seu
exercício.
― Isso é terrível. ― Sebastian balançou a cabeça. William não parecia
estar em sua melhor forma hoje.
― Ralph!
― Para quem está gritando? ― Sebastian começou a girar em volta.

― Não! Exercício - isso é o que devemos fazer. ― William começou


uma corrida.

― Raaalph!
Sebastian se moveu. Seja qual for a comoção que estava acontecendo, ele
queria ser uma testemunha.

O homem gritando acenou para ele. Bem - talvez ele estivesse acenando
para William, que parecia horrorizado.

― Eu senti sua falta. ― Disse o estranho homem. Ele estava vestido com
uma compilação de cores brilhantes. Sua sobrecasaca de veludo vermelha

86
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
brilhava contra seu cabelo loiro. Sebastian decidiu que algumas pessoas
poderiam até achá-lo atraente. Suas roupas eram pobres, no entanto. O
revestimento do homem pendia sobre ele, sua bainha desfiada. Se Sebastian não
tivesse conhecido melhor, ele o teria chamado de prostituto. Ele se parecia com
os outros homens que ele tinha visto, a quem William tinha se referido como
prostitutos. Só que este homem parecia mais bonito.

Mas isso era impossível. O que William sabe sobre prostitutos?

A menos que... ele balançou a cabeça. Certamente William não tinha


desejos de estar com um homem? As memórias de seus próprios impulsos
corriam em direção a ele.
William falou com o homem. ― Eu não conheço você. Você deve estar
enganado.

― Você está dizendo que você me esqueceu? ― O homem olhou de


soslaio e inclinou-se para William, batendo os cílios.
Sebastian pensou que o homem era bastante desagradável. Deve ser o
bairro: não admira que William tivesse fugido antes.

― Ou você está com outra pessoa? ― O homem passou os olhos sobre


Sebastian, procurando seu rosto.

Sebastian se sentiu exposto. ― Vocês são um casal?

― O quê? Com ele? Que absurdo. ― Sebastian se endireitou, ampliando


seus ombros.

William ficou tenso ao lado dele, com o rosto pálido. Sebastian se


esforçou ao máximo para se impor ao estranho, querendo proteger William dele.
― Eu devo me casar em breve.

― Você? ― O homem riu, examinando-o. ― Quando?

― Bem, nós não definimos uma data ainda, mas eu lhe garanto, não vou
convidá-lo.
― Muito bem, então. ― O homem piscou. ― Ralph, espero que você me
visite novamente. Você pode trazer um presente. ― Ele riu. ― Ele é um rapaz

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
bonito.

― Quem é ele? ― Sebastian perguntou quando o homem se afastou. Não


que ele precisasse perguntar. O homem era um prostituto, e ele conhecia
William. Isso explicava por que William não estava ligado a nenhuma mulher.
William procurava a companhia de homens. O admirável e nobre
William que lutou por seu país gostava de homens. Mesmo que fosse ilegal.
Mesmo que a sociedade o condenasse.

― Ninguém. ― A palavra de William saiu bruscamente, e ele não


encontrar seus olhos. ― Eu não acabei de dizer que eu não o conhecia? O
homem deve ter se confundido. Talvez devêssemos voltar ao escritório do
advogado.
O batimento cardíaco de Sebastian batia em rajadas rápidas enquanto o
seguia de volta pelas ruas, observando William espiar em volta da rua, como se
com medo de encontrar alguém. Sebastian queria perguntar a William mais
sobre o encontro, mas a ansiedade nos olhos de William o deteve. Sebastian iria
ponderar a reunião mais tarde. Neste momento, ele queria que William fosse
feliz, e se isso significava não discutir o encontro com William, que estava tudo
bem com ele. Só porque William dormia com homens não significava que
William estava interessado em Sebastian. E Sebastian estava comprometido, ele
não deveria estar pensando sobre as atividades de William. Ele se esforçou
para distrair o capitão o resto do caminho para o centro da cidade.

88
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

William tocou o grosso papel creme e fez uma careta para as letras
douradas impressas no convite. O prazer da sua companhia é solicitado em um
baile formal, por ocasião do noivado de Sua Graça, o Duque de Lansdowne,
com a Srta. Dorothea Carlisle na casa de Lady Caroline Dobson. As letras
faziam curvas através do papel em linhas elaboradas. Tudo irradiava elegância
apesar da missiva intragável.
Ele amassou o convite na mão antes de lembrar que alguém podia
solicitá-lo na entrada. Deixe-os pedir. Ele era irmão da noiva; não havia
nenhuma maneira que ele pudesse evitar frequentar o baile. Ele ficaria feliz se
não fosse chamado para fornecer um discurso proclamando o fortuito de sua
irmã em fazer um par com Sebastian e comentando sobre a grande
probabilidade de uma vida feliz para ambos.

― William. ― Sua irmã entrou na sala de desenho. Seus olhos corriam


pelo envelope creme, e ele apertou seu punho em torno do convite enrugado. ―
Você não está satisfeito? Não era para a prima Caroline organizar o baile para
Sebastian e eu?

― Muito próprio dela. Eu imagino que ela se sinta aliviada por não ter
mais que bancar sua acompanhante.

― Você sempre tem que soar como um irmão mais velho?


― É claro. ― William resmungou, chateado que sua irmã não tivesse
descartado a ideia de precisar de um acompanhante. O pensamento de Sebastian
como um pretendente vigoroso que precisava ser monitorado fez o seu coração
parar.

― De qualquer forma, não vamos nos casar até o final da temporada.


Ainda precisaremos de alguma acompanhante.
William mordeu o lábio para parar de gemer. Ele disse adeus a sua irmã,

89
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
pegou o casaco e chapéu e saiu pela porta para Hyde Park. Às vezes cavalgar
era exatamente o que ele precisava. Ele desceu os degraus da casa.

Ele não entendia por que Sebastian estava fazendo um negócio tão grande
sobre o casamento; em sua experiência, a maioria das pessoas só se casavam
pela manhã e tinham um casamento com uma ceia agradável juntos.

William logo montou Gabriel, mais confortável agora que ele estava um
metro acima do resto da sociedade. Ele sentiu falta de montar cavalos
regularmente. Ele supôs que até mesmo sentiu falda da guerra. Bem, se Sir
Ambrose estava certo, os franceses logo invadiriam, os ingleses gostando ou
não. William podia andar a cavalo, e também empunhar uma pistola. Ele
apertou suas coxas, iniciando um trote.
Quando William virou a esquina, ele viu Sir Ambrose. Simplesmente o
homem que ele não queria encontrar. Ele virou o cavalo para longe, mas uma
carruagem veio correndo, carregando um jovem nobre que procurava
impressionar a debutante estrela da temporada, que estava andando ao lado dele.
Se seus gritos indicassem algo, seu estratagema parecia ser bem sucedido.
Sir Ambrose acenou. A tentativa de William evitar ser visto tinha
falhado. Ele considerou fingir cegueira temporária, mas decidiu contra isso,
uma vez que grande parte da sociedade agora estava no parque. Era difícil fingir
ser cego com sucesso ao montar um cavalo.
Logo, Sir Ambrose tinha manobrado o seu cavalo branco ao lado de
William. Sem dúvida, o barão se imaginava heroico. Como é que o homem
insistia em ver a si mesmo como um campeão de tudo de bom e nobre quando
alguém poderia dizer que ele se comportava abominavelmente?

― Você está aproveitando o clima agradável?

William olhou para ele. Certamente o homem não tinha a intenção de ser
amigável, não é? A última vez que o tinha encontrado, Sir Ambrose tinha
implicitamente questionado a castidade de Dorothea. Ele suspirou,
perguntando-se se Sir Ambrose sabia sobre a natureza da amizade de Dorothea
com seu sobrinho.

William forçou seu olhar para o céu. Nuvens em flocos se deslocavam


acima. Ele as achou muito mais interessantes do que falar com o barão.

90
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Eu imaginei que eu pudesse encontrá-lo aqui. Cavalos - e tudo
relacionado a eles - sempre fascinou você. ― Sir Ambrose se inclinou mais
perto e seus olhos de aço escureceram. ― Diga-me, sua irmã verdadeiramente
pretende se comprometer novamente?
― Ela já está comprometida. ― William não gostou da insinuação de
que Sir Ambrose o tinha procurado. Talvez a rispidez pudesse ter sucesso em
afastá-lo.

― Ah. ― Os olhos de Sir Ambrose se estreitaram. ― Você me deu a


impressão de que ela permanecia em luto.
― Ela está.
Até agora, o plano de ser conciso não conseguiu afastá-lo.
― E já comprometida? Que estranho. Espero que ela não esteja
simplesmente desejando ser uma duquesa. Tal aspiração iria fazê-la parecer
mais comum. Eu tenho certeza que as pessoas vão fofocar. Casar-se com o
herdeiro do título do primo morto. É tudo muito decadente.

― Ele morreu antes de obter o título.

― É verdade. Ele nunca chegou ao seu potencial. Tão trágico.


William desejava que o homem não sorrisse sempre quando falava com
ele sobre os eventos infelizes. Ele achava desconcertante. Sua irmã não iria se
aproximar de Sir Ambrose, ele poderia articular isso, mas não havia muito
sentido. Ele não queria fazer a eventual vida de Dorothea em Sussex difícil por
insultar seu vizinho mais próximo. ― Eu tenho que ir agora.

― Sim, eu suponho que você deve se preparar para o evento de hoje à


noite. Será que vamos encontrá-lo com uma mulher em seu braço? Sua irmã já
ficou noiva duas vezes antes de ter exibido qualquer interesse pelo sexo oposto.
Sua relutância está começando a se tornar misteriosa. Eu não quero que as
pessoas falem sobre você. Você sabe como a sociedade é.
William respirou fundo e decidiu ignorar a declaração de Sir Ambrose.
― Eu vou te ver hoje à noite, então.
― Você certamente o fará.

91
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
William deu um curto aceno e, em seguida, virou o cavalo para longe,
galopando pelo parque.

*******

Sebastian levou sua carruagem para a casa de sua prima Caroline, as luzes
de Londres piscando por ele.

A visita a Brighton e o encontro com o cavalheiro excessivamente


familiar, o abalara. Será que o capitão prefere homens? Sebastian tinha ouvido
rumores de meninos na escola que faziam coisas indizíveis, mas sempre pensou
que era para substituir a falta de companhia feminina. O fado de William, um
adulto com o acesso às mulheres, ainda procurar os homens foi uma revelação.

William deu uma desculpa para correr de volta para Londres na


carruagem do correio enquanto Sebastian via seu advogado. O homem o tinha
chamado por causa de reclamações, a mansão estava assombrada e Sebastian
continuava a se preocupar com Somerset Hall. Os comentários de Hammerstead
sobre a morte do herdeiro ainda o abalava.
Seu motorista tossiu.

― Sinto muito, Sam. Eu estava perdido em seus pensamentos.

Sebastian correu da carruagem. Muita coisa havia mudado desde o seu


encontro com a tia Beatrice no início daquele mês. Casar com Dorothea seria a
coisa certa a fazer?

Ele entrou na casa da prima Caroline, saudado por uma multidão de


pessoas, as quais pareciam ter a intenção de parabenizá-lo. Ele forçou um
sorriso enquanto os convidados se juntavam ao redor dele, apertando sua mão e
batendo suas costas. Alguns deles elogiaram a beleza de Dorothea e piscaram
para ele.
O cabelo castanho de Penélope brilhava contra seu vestido esmeralda.
― Desculpe-me. ― Disse ele, afastando-se de seus simpatizantes para se

92
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
aproximar dela. Seu vestido balançava quando ela virou-se para cumprimentá-
lo.

― Você vai me dar a honra irresistível de reservar uma dança?

Sua prima revirou os olhos. ― Claro. Você sabe que seu noivado vai
quebrar corações de algumas mulheres.

― Você me lisonjeia.

― Não é minha intenção; é a verdade. Você é bastante irresistível. ― Os


olhos de Penélope brilhavam, e ela tomou um gole de seu soco.

Sebastian deu de ombros e concentrou-se em selecionar uma dança para


eles. ― É só por causa do título.
― E porque você é bastante bonito. Não negue. Lembre-se, eu estou
relacionada a você. É uma maneira de eu me elogiar sem ser completamente
revoltante.
Sebastian riu. ― Você é mais charmosa.

Ele examinou o salão de baile, correndo os olhos sobre o rosa pálido das
paredes, com molduras creme e enormes lustres. Cristais pendurados até mesmo
nos castiçais. Tudo exalava leveza e delicadeza.
As pessoas continuavam a transpor as grandes portas creme e douradas.
Talvez a sua chegada tivesse sido deselegantemente cedo.

Algumas das mães agressivas da sociedade, a Sra. Hayworth e Lady


Woodlock, entraram com as suas filhas. Ele acenou para elas. Ele precisaria
convidá-las e suas filhas para danças. Passar uma noite conversando com sua
prima seria desaprovado. Ele suspirou. O final da temporada seria uma alegria.

― Você já viu William? ― Perguntou Sebastian.

― Está é uma forma tímida de perguntar se eu já vi Dorothea? Você, seu


espertalhão. Você sabe que eles vão entrar juntos. ― Penélope riu, e o sorriso
esticou sobre seu rosto sardento.
O coração de Sebastian sofreu uma pontada de culpa; ele deveria ter
perguntado sobre Dorothea. Que tipo de marido ele seria para ela?
93
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Eu não vi nenhum deles ainda. ― Disse Penélope. ― Eu percebi que
você teve uma excursão agradável?

― Preparativos do casamento são demorados.

Sebastian esperava que Penélope não perguntasse mais nada; ela sabia
que, assim como ele, que um homem tinha pouco a fazer para se preparar para
seu casamento. Ir para alfaiates era a extensão das suas funções, e como um
duque, Sebastian já tinha feito um pouco disso. Era uma das coisas atraentes
sobre a vida em Londres, mesmo que isso significasse correr o risco de conhecer
o caráter estranho ou duvidoso na ocasião. Se Sebastian não fosse o novo duque,
ele não teria se importado muito também, mas ele tinha uma reputação para
cuidar e um casamento era tão bom como qualquer outra ocasião com a qual
começar. Mesmo que o casamento não fosse grande, ele queria que a celebração
recebesse o devido respeito.
Ele não queria preocupar sua prima sobre o estado da mansão.
E então ele apareceu. Sua cabeça escura surgiu pela primeira vez,
aparecendo acima dos homens de meia-idade e mulheres jovens que permeavam
o salão. O novo casaco que usava complementava sua forma enquanto passeava
ao redor do salão. Seus olhos escuros brilhavam. Sebastian percebeu que ele
estava olhando, admirando os contornos de seu rosto cinzelado.

Penelope disse algo a ele, mas tudo o que conseguia focar era William.
Sebastian tremeu quando William se virou para ele. Seus joelhos se
dobraram, com a garganta seca e suor umedecendo suas mãos. Toda a umidade
na minha garganta é por querer correr e ir até lá?
William caminhou na direção deles. Ele evitou os olhos de Sebastian;
eles não se falavam desde a sua excursão. Sebastian se levantou do banco.

― Boa noite, Lansdowne. ― William fez uma reverência.

― Boa noite, capitão Carlisle.


Os foliões passavam esvoaçando. Sebastian já os tinha percebido antes -
na verdade, ele já tinha achado o salão barulhento, mas, neste momento, o lugar
consistia unicamente de William e de si mesmo. O ruído surdo de seu coração
parecia inimaginavelmente alto, e ele esperava que William não pudesse ouvi-

94
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
lo.

― Sua Graça. ― Dorothea fez uma reverência.

Sebastian fez uma reverência para ela, esperando que ela não tivesse
percebido que ele não a tinha visto até então. Provavelmente ela esteve ao lado
de seu irmão o tempo todo.

William comentou: ― Você parece ter atraído muitos adeptos.

― Minha prima Caroline é habilidosa em organizar bailes. Ela se parece


com a mãe. Eu não estou convencido de que ela goze das festividades. ― Ele
apontou para sua prima, sentada com sua irmã.
― Eu imagino que ela esteja contente. Nós todos temos nossos caminhos
diferentes na vida. ― Disse William.
As palavras estavam tingidas com insinuações. Agora que Sebastian
suspeitava que William tinha algum interesse nos homens, tudo tinha mudado.
Ele lutava para abster-se de olhar para ele, explorar as feições de seu belo rosto.
Ele logo foi interrompido de seu devaneio.

― Posso ser o primeiro a dar os parabéns, Sua Alteza?


Sebastian olhou para um homem mais velho com um bigode.
― Eu sou um amigo da família. Tenho certeza que você vai ver um monte
de mim em breve.

― Eu vou? ― Sebastian olhou para William, que tinha uma expressão


tensa no rosto. Dorothea tinha uma expressão similar.

William tossiu. ― Posso apresentar Sir Ambrose para você? Sir Ambrose
conhecia meus pais em Lancashire. Sua propriedade é vizinha a deles.
Sebastian sorriu. ― Como vai?

― Eu entendo que você é o novo duque de Lansdowne. ― Disse Sir


Ambrose.
― Eu sou de fato.

95
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Uma tragédia sobre o duque anterior. Mas espionagem? Você pode
imaginar? O que mais ele deveria ter pensado? Com a confusão de jovens
entrando. ― Sir Ambrose voltou-se para Dorothea. ― Estou surpreso que uma
mulher bonita como você não opte por ir para um homem mais maduro neste
momento.

Dorothea empalideceu. A tensão encheu o ar.

― Meu primo falecido era um bom homem. ― Disse Sebastian. ― Vou


me esforçar para imitá-lo.

― Esperamos que você tome maiores precauções. Eu odiaria que a


senhorita Carlisle sofresse novamente.
― Sua Graça é plenamente capaz de proporcionar isso a minha irmã. ―
Disse William. ― Lewis só procurou proteger seu país.

Sir Ambrose examinou William. ― Como é fascinante ver você se


apressar para defender o novo duque. Mas eu espero que você não interprete
mal as minhas intenções. Quero dizer que vou continuar a ser um excelente
vizinho à sua irmã e seu marido.

― Que amável de sua parte. ― Disse William, embora ele não parecia
satisfeito. ― Desculpe-me, mas a Lady Hayworth está apontando para mim.

Os outros se viraram para olhar, mas William já tinha desaparecido e a


Sra. Hayworth estava longe de ser vista.
― Sir Ambrose recentemente comprou uma mansão ao lado da
propriedade de Sussex. ― Disse Dorothea.

― Um castelo. ― Corrigiu Sir Ambrose. ― Eu gosto de fazer as coisas


bem.

Sebastian estremeceu sob o olhar de avaliação de Sir Ambrose. ― Poucos


outros nobres estão no distrito. Vamos precisar familiarizar um com o outro.
Coisas estranhas estão acontecendo na área.
― Que tipo de coisas? ― Dorothea agarrou o braço de Sebastian para
apoio; ela nunca tinha feito isso antes.

96
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sir Ambrose sorriu, dando toda indicação de que ele gostava de deixá-la
desconfortável. ― Ah... apenas coisas. Você vai descobrir. E você? ― Ele se
virou para Sebastian. ― O que você acha de Sussex?

― Bem...
― Você não gosta de South Downs? As colinas colidindo com o céu e o
oceano abaixo de seus penhascos calcários? ― Sir Ambrose se inclinou mais
perto.

Sebastian puxou a gravata, consciente de que uma camada de suor agora


cobria a parte de trás do seu pescoço.
― Essa é uma descrição muito poética.
― Você acha? ― Sir Ambrose sorriu. ― Mas diga-me, qual é a sua parte
favorita de Sussex?

Sebastian moveu seus pés, desconfortável sob o escrutínio.


Sir Ambrose continuou especulando. ― Os penhascos brancos? O castelo
com vista para o canal em Hastings? Eu gosto de ambos. Ou você prefere a
cidade?
Sir Ambrose novamente olhou seu rosto de perto e Sebastian deslocou
sob o olhar do outro homem.

― Você gosta de Brighton? O Príncipe Regente expressa um carinho


definitivo para isso. Talvez você compartilhe seus pensamentos?
― Devo confessar. ― Sebastian disse, quebrando Sir Ambrose de seu
solilóquio dos méritos de Sussex. ― Que eu só a visitei...

― Oh, vamos. ― Sir Ambrose interrompeu. ― Certamente você não


pode dizer que você está completamente familiarizado com o nosso vizinho do
sul?

― Visitei Brighton. ― Sebastian ficou reto e se esforçou para recuperar


sua dignidade. Sua falta de conhecimento o tinha frustrado antes; sua ignorância
o envergonhava agora. Ele sabia tão pouco da região em que a sua nova casa
estava localizada, e a expressão alegre de Sir Ambrose o machucava. Muitas

97
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
vezes as pessoas se aproximavam dele em bailes e em clubes com
reminiscências sobre a área. Sussex era vizinha de Londres, e muitos
aristocratas possuíam imóvel de propriedade do município, a tendência
continuou quando Brighton cresceu em importância, só parando agora pela
ameaça de Bonaparte.

― Mas... ― Continuou Sebastian. ― Mesmo eu tendo sido criado em


Yorkshire e novo em Londres, eu lhe garanto que eu levo os meus deveres como
duque e proprietário de terras de Somerset Hall a sério. Na verdade, estou
pensando em visitar a propriedade em breve.

― De fato. ― Sir Ambrose olhou para Dorothea.


― Estou certo de Dorothea se juntará a mim, quando o tempo for
apropriado e um acompanhante adequado puder ser arranjado. ― Sebastian
encontrou os olhos de Dorothea, perguntando se ele tinha falado demais. Um
sorriso se formou em seus lábios.
― Nosso dever está em Sussex. ― Dorothea ergueu o queixo. Por um
momento, a semelhança com o irmão dela ficou mais evidente quando os olhos
escuros encontraram os de Sir Ambrose desafiadoramente. Vestida em
Antuérpia azul e branco gelo, ela parecia mais forte, mais distinta das outras
jovens.

Já era a hora. Sebastian preferia voltar para Yorkshire, mas ele precisava
visitar Sussex para criar um lar adequado.
Dorothea virou-se para ele depois de Sir Ambrose partir. Sua voz era
baixa quando perguntou: ― Você tem certeza que deseja visitar Somerset Hall
tão cedo?

― Certamente. ― E ele estava certo disso. Ele desejava cumprir as suas


responsabilidades. Toda uma propriedade o esperava, muito maior do que a que
ele tinha deixado para trás em Yorkshire. Participar de bailes, enquanto
levemente agradável, não ajudava a propriedade, no mínimo, e Sir Ambrose
tinha deixado implícito que problemas o aguardava. ― Vamos para a Somerset
Hall na próxima semana.

― Você não acha também que retirar-se da sociedade tentador, não é?


― Você não precisa ficar tão surpresa. ― Disse Sebastian. ― Sussex vai
98
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
ser a minha casa. E a sua também. É crucial que a visitemos, mesmo que a
temporada continue.

Dorothea sorriu. ― Meu tempo lá não foi muito feliz. Você vai desfrutar
da área.
Sebastian sorriu. Dorothea já havia imaginado uma vida maravilhosa com
Lewis lá. Ele nunca poderia ocupar o lugar de seu primo, mas ele vai tentar fazê-
la feliz. O comentário de Sir Ambrose sobre os acontecimentos misteriosos na
propriedade o preocupava. Ele queria assegurar-se de que tudo estava em
ordem.
― Eu gostaria de levá-la para Yorkshire.
― Eu sempre quis visitar o lugar.
― Você? ― Sebastian sorriu; talvez o casamento com Dorothea fosse
realmente a coisa certa para ele.
― Tudo do meu país me fascina. Eu tenho o maior orgulho em ter nascido
Inglesa. ― Sebastian não seria tão indelicado para fazer Dorothea listar as
razões pelas quais ela queria visitar Yorkshire especificamente. Ele suspeitava
que ela estivesse simplesmente sendo cordial. A maioria das pessoas, exceto os
de Yorkshire, não expressavam uma preferência pelo local. Era tudo muito
longe. Pelo menos ela tinha fingido interesse. Certamente isso deveria indicar
um futuro casamento feliz.
― Vamos sair em breve para a propriedade. ― Ainda que ele não
pudesse controlar tudo, como suas reações com outros homens, ele poderia se
dedicar a fazer o seu dever: ele seria um bom marido e duque.
Só então, Penelope reapareceu.

― Eu vou dizer aos outros. Eles ficarão satisfeitos. ― Disse Sebastian à


sua noiva. Dorothea balançou a cabeça, desculpando-se.

Penelope não conseguiu expressar prazer no plano de Sebastian. ― Você


não pode estar querendo ir para Sussex agora. ― Penelope levantou as mãos.
Nós ainda estamos no meio da temporada! Há muito para desfrutar aqui.
Quando você terá a oportunidade de ser um novo jovem duque em Londres
novamente?

99
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Eu fui pai, Penelope. ― Disse Sebastian. ― Dificilmente eu sou
jovem.

― Bobagem. Você tem vinte e seis.

― Mesmo assim, eu preciso visitar Somerset Hall e a aldeia que a rodeia.


É, afinal, a minha casa ancestral. ― Ele sorriu, sabendo que ser um duque de
um determinado lugar, por vezes, era ridículo.

― É escandaloso que você nunca o visitou. ― Penelope admitiu.

― Como é que a família acaba ficando dividida entre Yorkshire e Sussex,


afinal?
― Eu acho que seus pais não gostavam dos meus pais.
― Hmph. ― Sebastian levou sua prima para a pista de baile. ― Eu não
posso imaginar o porquê.

― Oh, você é horrível, Sebastian. ― Ela bateu-lhe levemente.


Eles caminhavam ao redor do salão. Sebastian lembrou que Penelope
tinha mencionado visitar um amigo na propriedade amanhã. Se ela abandonasse
a temporada, com certeza ele poderia também, não? Ele decidiu ignorar o fato
de que Penelope só iria visitar sua amiga por um breve tempo.
Sebastian ficava esperando para vislumbrar o cabelo encaracolado escuro
de William, deslizando pelo chão, tecendo os padrões de um minueto, mas ele
parecia ter desaparecido.
― Você notou onde William foi? ― Perguntou Sebastian.

Os olhos de Penélope piscaram. ― É este o código para Dorothea


novamente? Ela está perto das bebidas. Estou surpreso que você não a observou,
com toda a multidão em torno discutindo o noivado.

― Não. ― Disse Sebastian. Ele não tinha certeza de por que perguntava
tanto sobre William, ele só sabia que desejava falar com ele novamente. Ele se
sentia tão vivo, simplesmente sabendo que William estava no baile.
― Eu...

100
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Oh, eu entendo. ― Penelope sorriu. ― Você quer pedir-lhe para fazer
um brinde.

Sebastian mordeu o lábio e aproveitou a desculpa. ― Exatamente.

― Eu o vi sair para o pátio. Ele estava franzindo a testa mais


violentamente. Talvez você o tenha ofendido por não pedir mais cedo.

Sebastian balançou a cabeça, em direção à porta.

101
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

Sebastian empurrou as portas francesas do salão de baile, saudado pelo


ar fresco de março. Provavelmente o jardim iria atrair mais pessoas nos
próximos meses mais quentes, mas por agora, Sebastian estava feliz por estar
livre do barulho da multidão.

Ele desceu os degraus de mármore, o aroma cítrico dos arbustos


daphnes19 perfumava o ar. Estátuas gregas forravam o meio do pátio, com as
mãos congeladas levantados para o céu, torcendo para revelar suas figuras
seminuas.
Lilases adornavam o pátio, criando recantos para o refúgio de William.
Os arbustos arqueavam para fora, deixando espaço para as flores pesadas
florescerem. Por enquanto, o local permanecia em estado de expectativa, à
espera da magia da primavera para transformá-lo. Uma borboleta esvoaçava na
frente de Sebastian, um toque de cor na luz da noite.

Quando ele chegou a uma estátua de Afrodite, uma voz profunda chamou
o seu nome. Seus batimentos cardíacos aceleraram.
William estava sentado em um pagode 20 pintado no canto do jardim.
Sebastian se aproximou, as botas moendo no caminho de cascalho. Dedaleiras21
altas espiavam por entre os arbustos densamente, os fios de flores em formato
de sinos esvoaçavam enquanto se moviam ao passar. William parecia perdido

19

20
21
Um tipo de flor em formato de sinos.

102
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
no meio das esculturas orientais do pagode, e Sebastian teve uma súbita vontade
de confortá-lo.

Em vez disso, ele examinou a estrutura. ― Chinês?

― Indiano, eu acho. ― William acariciou a madeira pintada, expondo


suas largas mãos. Eram as mãos de um guerreiro, embrutecidas pelas
experiências de que Sebastian não conhecia nada.

Ele estremeceu.

― Eles tinham estes na Índia. ― Continuou William. ― Embora aqueles


fossem maiores. Como é estranho encontrar um aqui.
― Minha prima Caroline me diz que esse tipo de construção no jardim é
um movimento crescente em decoração.
― Ela está na vanguarda.

― Sem dúvida. ― Sebastian sorriu. ― Diga-me, é um bom pagode?


― A vista é mais favorável quando sentado.

― Devo me juntar a você?


William olhou para ele. Seus olhos pareciam cansados, e ele passou a
mão pelo cabelo. ― Eu suponho que você está ansioso para voltar para a festa
e para Dorothea.
Eles não se falavam desde sua reunião em Brighton, e Sebastian hesitou,
relutante em sair agora.
William segurava um copo de cristal na mão, e o cheiro de uísque
flutuava para fora. Ele ergueu o copo e Sebastian olhou, paralisado pela cor rosa
dos lábios. Por um momento, ele foi consumido pelo desejo de tocá-los.
Qual seria a sensação de tocar os lábios do homem com os seus próprios?
Seriam macios ou firmes? Por um momento, ele se permitiu imaginar chupando
o lábio inferior, e provocando a boca para se abrir. Ele imaginou descansando
o peito contra William e envolvendo seus braços ao redor dele.
Sebastian piscou. A magnitude da inadequação de seus pensamentos

103
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
quase o dominou. Suas pernas tremiam quando ele entrou no pagode. Instalou-
se no banco ao lado de William. Apenas um pé os separando. Ele poderia chegar
e tocar William, ou William podia tocá-lo. A força de seu desejo o assustou.
Suas mãos tremiam e ele as colocou no assento. Ele focou os olhos no painel
pintado na frente dele, como se ele pudesse fingir que William não estava ao
lado dele.

Sebastian pigarreou. ― Será que a festa não o agrada?

― Muitas coisas destinadas a encantar não podem acontecer, enquanto


aqueles estão proibidos de fazer.
Eles ficaram em silêncio. O cheiro de William pesava como agulhas de
pinheiro, distraindo Sebastian. Ele ficou tenso e se esforçou para lembrar-se de
respirar. Dentro e fora, dentro e fora, ele lembrou a si mesmo, se certificando
de que sua respiração não fosse muito barulhenta. Sebastian tinha a estranha
sensação de que esse momento era de extrema importância, e quaisquer palavras
ditas seriam gravadas em sua mente para sempre.

― Por que você deixou as festividades? ― Perguntou William.


― Eu queria encontrá-lo. ― Sebastian confessou.

― Você queria?

O ar ficou quente e desconfortável. Agora era o momento de perguntar-


lhe sobre seus encontros com homens. William pode ter negado conhecer o
homem espalhafatoso e colorido, mas Sebastian tinha testemunhado seu
desconcerto. E ainda assim ele não podia suportar o pensamento de deixar
William desconfortável, e ele resistiu à tentação de bisbilhotar. Se ele insistisse
com William para revelar seus próprios segredos, William pode perguntar sobre
seus sentimentos. Ele não queria revelar segredos que levariam à sua própria
humilhação.

Em vez disso, ele disse abruptamente. ― Eu decidi ir para Sussex.


William ficou tenso ao lado dele. ― O que te inspirou a tomar essa ação
incomum?
Sebastian endireitou-se, consciente da desaprovação de William. ― É
meu dever. Eu sou o duque, e eu pertenço a minha propriedade, especialmente

104
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
se o lugar estiver em necessidade.

― Eu duvido que a maioria dos nobres possua o mesmo compromisso


que você, mesmo quando já familiarizado com o lugar.

O calor subiu para o rosto de Sebastian. ― Não zombe do meu desejo de


ajudar.

William olhou para ele. ― Eu espero que você espere até depois da
ameaça desaparecer?

― Você quer dizer Bonaparte?

― Sim. Você está consciente de que ele planeja atacar Sussex?


Sebastian deu de ombros. ― Um rumor.
Ele se recusava a ficar em Londres por mais tempo. As pessoas tinham
previsto uma invasão por anos e isso nunca tinha ocorrido. Por que deveria
acontecer agora? Sebastian não poderia adiar o início da sua nova vida por mais
tempo.

William cruzou os braços, e sua carranca se aprofundou. ― Invasões


planejadas não são confirmadas pelo outro lado de antemão.
― Então eu deveria deixar os criados por si mesmos? Só porque eu não
tenho sido um duque por muito tempo, não significa que eu não reconheça que
tenho um dever.

― Este não é o momento para descobrir isso.


― Por que você está agitado?

Eu não estou. Mas pelo meu - eu quero dizer, por amor a Dorothea...
William ingeriu. ― Ela, sem dúvida, sentiria a sua falta se algum mal lhe
sucedesse. Ela nunca poderia se recuperar.

Sebastian desviou o olhar.

― Querido Senhor, você não pode querer dizer que Dorothea tem a
intenção de se juntar a você?

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Ela estava muito receptiva à ideia. Eu acredito que ela sente a
responsabilidade sobre Somerset Hall - uma qualidade muito admirável.

― Então eu acho que vocês vão ser felizes um com o outro. ― Disse
William duramente.
Sebastian piscou, assustado com a força da ira de William. ― Você acha
que é tão plausível Bonaparte pode atacar?

― Eu não sei se ele vai. ― William suspirou. ― A nossa marinha, graças


a Deus, é forte, embora a França não esteja longe. Se eles conseguirem um
ataque furtivo, eles nos demolirão. Há pouca proteção contra os franceses em
terra. Eles podem marchar direto. E eles iriam começar em Sussex.
― Ou Kent.
― Sim. ― William admitiu. ― Talvez eles fossem para Kent em
primeiro lugar.
Sebastian inclinou-se contra a parede do pagode. A opinião de William
era influenciada por sua época recente que passou lutando na Índia, em parte,
porque os seus generais estavam preocupados que a França pudesse ganhar
influência indevida, se os britânicos partissem. Para ele, a França seria uma
ameaça pesada mesmo. ― Talvez você esteja correto.

― Eu certamente estou.

― Quando falei com Sir Ambrose, ele me inspirou a ir para Sussex.


― Sir Ambrose não é uma fonte confiável de informações. ― As
palavras saíram laconicamente.

Sebastian ficou tenso novamente no silêncio, abalado pela convicção de


William. ― Você vai se casar em breve. ― Disse William.

Ele olhou o olhou, deixando seus olhos perderem tempo nas curvas de
seu rosto. Sebastian lutou contra a vontade de traçar os dedos sobre a barba rala
no queixo.
O Quarteto de Haydn era transmitido de uma janela aberta e lembrou a
Sebastian que ele deveria voltar para as festividades.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian fechou os olhos. Ele deveria ter crescido fora desses impulsos.
Ele levou-se a acreditar que ele simplesmente formava laços emocionais com
os homens de vez em quando, porque ele tendia a estar cercado por homens. Ele
havia vivido tão isolado em Yorkshire após Henrietta morrer, e tão consumido
em criar Charlie durante aqueles primeiros dois anos que ele tinha conseguido
ignorar estes pensamentos e emoções. Sua mente voltou de forma consistente
em admirar os homens, uma admiração que se estendia para o aspecto físico.

Seus olhos pousaram naturalmente em suas feições. Ele já não podia


negar isso.

Ele engoliu em seco. William olhou-o atentamente. O que ele estava


pensando?
― Você queria falar comigo sobre qualquer outra coisa? ― Perguntou
William.
Sebastian olhou nos olhos de William. Havia tantas coisas que queria
dizer, tantas perguntas em sua mente. Teria William beijado algum homem? Só
porque William parecia familiarizado com a casa de Molly em Brighton não
significava que ele a frequentava. Embora parecesse muito provável.

― Não havia nada mais? William repetiu.

Sebastian balançou a cabeça.

― Não?
― Bem. ― Ele inalou, não possuindo coragem suficiente para falar com
William. Ele não devia esquecer Dorothea. ― Eu pensei que talvez, já que seu
pai está morto, você poderia fazer um discurso.
― Um discurso? — O queixo de William apertou.

― Bem, só uma apresentação. Para Dorothea. Ela ficaria agradecida. Eu


tenho certeza. ― William vacilou.

A dor no rosto de William era inconfundível. Sebastian nunca deveria ter


feito a sugestão. ― Não? Bem, não é necessário que você possa diga qualquer
coisa. Perdoe-me, eu não deveria ter pedido.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Bobagem. Estou feliz em fazer um brinde. ― A voz de William
rachou. ― Eu gosto de minha irmã. Haveria alguma coisa em especial que você
queria que eu dissesse?

Sebastian balançou a cabeça. William sentado assim perto, muito perto,


ofuscava o mundo ao seu redor. Sua mente estava distraída com a proximidade
do corpo de William. O que era exatamente o que ele não deveria se concentrar.
Ele abriu e fechou a boca, mas nada saiu.

William sorriu. Sebastian percebeu mesmo à luz do luar. ― Você está


sorrindo.
― Eu não estou sorrindo.
― Você é demais. ― Sebastian protestou. William pode ser mais difícil,
às vezes.

― Você pode ter me divertido. ― Disse William. ― A maneira como


você me olha algumas vezes. Isso só... não importa.
Nada sobre a explicação o tranquilizou. Será que ele olhou para William
de forma inadequada? Será que William adivinhou? Ele hesitou ao pensar na
palavra sodomita, empurrando o termo em sua mente. Ele não via a si mesmo
como depravado, mas não era assim como seu vigário descrevia seus impulsos?

O governo executava sodomitas. Ele passou a mão pelos cabelos e


encostou-se no banco. A cena na frente dele enevoada, as árvores e plantas
fundindo em distorção.

― O que há de errado? ― William inclinou-se em preocupação, seus


olhos escuros piscando.
― Eu...

O som de um gemido, vindo de trás de um arbusto no jardim, o


interrompeu.

Sebastian endireitou, aliviado por concentrar suas atenções em outra


coisa.
― Alguém está aproveitando o isolamento. ― Disse William, sua voz

108
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
cheia de diversão.

― De fato. ― Sebastian olhou ao redor, mas não podia ver ninguém. ―


Talvez devêssemos dizer a Caroline. Pode ser uma das debutantes.

― É uma das debutantes. As pessoas casadas não fazem essas coisas.


Eles possuem camas em suas casas para tais fins.

― Oh. ― Sebastian se perguntou novamente se ele devia chamar sua


prima. Como anfitriã, ela era responsável pelo bem-estar de seus convidados.

― Deixe-os ter a sua diversão. ― Disse William, como se lesse seus


pensamentos. ― Quem sabe quando eles vão ter a chance de encontrar um ao
outro em particular novamente? Você não pode imaginar o que é ser tentado
pela luxúria?
Isso era exatamente o que Sebastian imaginava. Ele olhou para William.
Seus lábios se separaram.
Os gemidos, intercalados com respiração ofegante, continuaram,
crescendo em volume.

Sebastian puxou a gravata, envergonhado com o som. William olhou para


ele curiosamente novamente. ― Tem certeza de que quer se casar com a minha
irmã?

Sebastian endureceu. Será que William o estava provocando, usando-o


para desempenhar o papel fraternal? Ele iria apresentar um relatório à
Dorothea? Se apenas William não fosse irmão de Dorothea.

― Estou feliz com a sua irmã. ― Ele se moveu sob o olhar firme de
William. ― Eu posso fornecer isso para ela com facilidade.
― Perdoe-me. Eu não tive a intenção de questionar a sua adequação.

Sebastian virou-se para William, cujos olhos, firme e sério, não tinha
qualquer traço de humor. ― É meu dever.

― Chega de conversa sobre dever. Por favor. Não há necessidade.


Um galho estalou, e eles viraram. Uma mulher escorregou de volta para
o salão de baile, reorganizando seu cabelo despenteado. Tudo ainda permanecia
109
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
no jardim. O baile se ouvia de uma janela aberta. Poucos minutos depois, outra
mulher seguiu. Os olhos de Sebastian se arregalaram em choque.

― Duas debutantes, então. ― Os lábios de William enrolaram.

Sebastian tossiu. ― Quando fomos para Brighton no outro dia e o homem


veio... ― Ele parou, não querendo ferir William. ― Os homens, alguns homens
realmente...

― Você quer saber se os homens podem estar com os homens? — A boca


de William curvou com diversão.

A vergonha encheu Sebastian. Ele tinha acabado de dar a William uma


anedota interessante para um brinde de noivado. William não dava a aparência
de um homem contemplando piadas ridículas para um discurso, e seus olhos
pousaram mais uma vez em cima de Sebastian.

― Você é muito inocente. ― William coçou o queixo.


Sebastian não sabia o que dizer. Ele supôs que ele era. Sua única
experiência tinha sido com Henrietta, e isso não tinha nem durado muito tempo,
nem foi memorável.

― Por que você não se casou novamente antes de agora?


Sebastian deu de ombros. ― A morte de Henrietta veio tão de repente
que eu estava distraído. Ela não merecia morrer.

― E outras mulheres?
O coração de Sebastian parou. E se ele confessasse que tinha pouco
interesse por elas? Seria deselegante?

Talvez William lesse algo em seu mal-estar, pois ele sorriu para
Sebastian. ― Você não precisa dizer nada.

Algo sobre a beleza de William... Sebastian abaixou os olhos, preocupado


por estar olhando abertamente.

William inclinou-se para Sebastian, sua voz baixa e sedutora. ― Você


tem praticado a sua dança de casamento?

110
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian olhou para ele.

― Eu sou um excelente dançarino. ― Disse William, confiante.

O peito de Sebastian cerrou, e suas pernas enfraqueceram. ― Eu espero


que você não queira oferecer seus serviços.
William sorriu e deslizou o braço ao longo do banco de trás do ombro de
Sebastian. ― Estou aqui para tudo o que precisar. ― Ele sussurrou. ― Você
merece ser feliz.

O coração de Sebastian goleou em seu peito, como se sentisse a presença


do braço de William, embora William não o tocasse.
― Posso assegurar-lhe, porém, de uma coisa.
― O quê? ― Sebastian atraiu os olhos de volta para William.
― Os homens podem certamente estar com os homens; é só a sociedade
que não tolera a prática. Você não se lembra de aprender sobre como era comum
na Grécia Antiga?

Sebastian abaixou a cabeça. Lembrou-se dos grupos de pessoas que


entravam na casa de Molly em Brighton. Que tantos homens quisessem o toque
de outro homem, que havia negócios reais para atender às suas necessidades o
confundiam. Ele cruzou os braços. ― É ilegal.

William tirou a mão.

― Alguma vez você já... ― Sebastian gaguejou, rasgado por um medo


de a pergunta fosse presunçosa, mas desesperado para saber a resposta.

― Já o quê? ― William fechou os olhos e respirou.

― Beijou um homem?
Os olhos de William se arregalaram, e calor correu pelo rosto de
Sebastian. ― Perdoe-me. ― Sebastian gaguejou. ― Eu não deveria ter
perguntado. Foi imperdoável.
― Bem. ― William levantou-se e esfregou a testa. ― Não é uma
pergunta que se ouve muitas vezes em festas.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
O coração de Sebastian correu, e ele levantou os olhos enquanto William
passeava pelo pequeno pagode.

― Eu acho que você já sabe. ― Disse William suavemente antes de


vasculhar o jardim abandonado. Ele amaldiçoou e murmurou: ― Eu posso ser
louco. Mas você pode se casar em breve e que eu preciso...

Ele olhou nos olhos de Sebastian. A espinha de Sebastian vibrou quando


William inclinou perto, levantou um dedo e arrastou-o contra o rosto de
Sebastian. O mundo parou quando William traçou a curva de seu maxilar.

Sebastian pensou ter ouvido passos e endureceu. O som logo


desapareceu, evidentemente pertencia exclusivamente à sua imaginação, e com
um pequeno gemido, ele relaxou sob o toque de William.
― Os homens podem fazer isso. ― William agarrou a mão de Sebastian
e puxou-o para cima.
Sebastian segurou a respiração com o contato entre eles. Seus dedos
formigavam.

― Os homens podem fazer isso. ― William passou os braços ao redor


dele e guiou seus corpos para perto. O calor inundou-lhe quando os dedos de
William agarraram sua cintura para puxá-lo para mais perto. Seu coração batia
forte dentro do peito.

― E os homens podem fazer isso. ― Os olhos de William se suavizaram


e ele inclinou a cabeça em direção a ele. Então aconteceu.

William fechou a distância entre eles até que sua cabeça encheu a visão
de Sebastian.
Quentes lábios macios pressionavam ao lado do pescoço de Sebastian, e
ele engasgou enquanto a boca de William arrastava até seu ouvido.

Seus dedos doíam, e, de repente, suas mãos estavam em cima de William,


tocando a textura grossa do casaco.
Os lábios de William puxaram o lóbulo de sua orelha e Sebastian
estremeceu quando a barba do queixo de William escovou contra ele. Ele
inalou, oprimido pela sensação de ter William tão perto.

112
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― E, finalmente. ― William continuou. ― Os homens podem fazer isso.
― Ele moveu a boca pelo rosto de Sebastian, que levantou a cabeça, congelando
quando William beijou-o levemente, desta vez nos lábios. O mundo acabou;
nenhuma normalidade poderia existir depois disso.
O prazer sacudiu através de seu corpo e ele ficou quente e tonto.

A língua de William brincou com a beirada de seus lábios, e os seus


joelhos tremeram quando William sondou mais longe em sua boca. William
gemeu e Sebastian agarrou com mais força contra ele, flutuando.

Eles ficaram juntos, abraçados, as sombras do pagode protegendo-os.


Lentamente William afastou-se de Sebastian. Primeiro, ele deixou cair as mãos
para os lados e Sebastian estremeceu com a falta de contato, suprimindo o
desejo de tocá-lo novamente. Então William recuou. ― Perdoe-me.

Sebastian balançou a cabeça, com medo de encontrar os olhos de


William. Será que eles zombariam? Isto foi apenas um jogo de estudante, do
tipo que ele tinha ouvido rumores, mas nunca presenciado? Sebastian não
pensava assim, mas temia olhar para William de todo modo.
― Eu deveria ir para dentro. ― Disse ele. O noivado será anunciado em
breve. Você não tem que fazer um discurso.

Ele fugiu do jardim antes que William pudesse responder, suas emoções
a mil. Ele piscou, esforçando-se para manter a respiração constante enquanto
voltava para o salão de baile. Seu corpo doía para voltar a William, mas a
impossibilidade de qualquer futuro com ele apareceu diante dele, seguido de um
pensamento alarmante: Se alguém os tivesse observado? Assim, apressou-se,
vertiginosamente, para a casa.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

William passeava pela sala de refeição, sua impaciência crescendo. Os


funcionários assustados tinham acendido às pressas a lareira e colocado para
fora pão e chá quando desceu cedo. Uma dispersão de cinzas, pela pressa da
empregada, manchava a lareira.

Seus pensamentos voltaram para Sebastian. Isto era exatamente o que ele
não queria que acontecesse. Se apaixonar por um homem à beira de se casar
com sua irmã. De todos os homens do mundo, por que tinha que ser logo ele?

Aquele beijo... tão apaixonado. E a resposta de Sebastian ao beijo


indicava que se sentia da mesma forma. O homem tinha gemido e se agarrado
a ele, como um mergulhador descobrindo oxigênio depois de ficar preso em
uma caverna.

O coração de William torceu. Mesmo que Sebastian o desejasse, ele fugiu


do jardim como se ele o detestasse. Talvez Sebastian o detestasse mesmo.
Talvez ele não devesse tê-lo instigado ao beijo.

Ele estava cansado de sonhar com Sebastian. Aquele beijo. O que isso
significava? Ele precisa descobrir. Antes de Sebastian partir para Sussex, e
certamente antes de ele se casar com sua irmã.
Os passos propositais clicavam em todo o piso de madeira. Virou-se,
preparando-se. Dorothea planejava encontrar a Lady Reynolds na parte da
manhã, e provavelmente ela estava se preparando para o encontro.

Sua irmã entrou na sala. O rosto dela piscou por um momento quando o
viu. Ela falou com calma, e seu tom era suave. ― Como é raro encontrá-lo aqui
a esta hora. São oito horas.

― Ainda assim, você parece impecável. ― William acenou para seu


vestido tangerina e beijou sua mão. ― Você sempre está.
Dorothea suspirou. ― Como você.
114
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
William contemplou sua roupa. Talvez o nó matemático da gravata
tivesse sido extremo.― Custei a dormir.

― Eu também. ― O sorriso de Dorothea parecia triste e William


estendeu a mão para confortá-la. Ela desviou os olhos e sentou-se.
William voltou a mão para o seu lado e apertou os lábios, fingindo que
ela não o tinha evitado. ― Será que você aproveitou as festividades na noite
passada? Você está feliz por estar noiva?

― Claro que eu sou. É por isso que aceitei a proposta do duque.

William descansou os dedos sobre a mesa, sem saber o que ele queria
dizer. ― Tem certeza de que quer se casar com ele? Talvez você queira procurar
mais...
― Eu não preciso procurar mais. Dado seus hábitos, você não entenderia.

O calor correu para seu rosto, e ele lançou-lhe um olhar penetrante.


Certamente ela não suspeitava de suas inclinações?
Eles passaram muito tempo brincado juntos, quando crianças, mas quase
nada desde que ele deixou Harrow. Ele entrou para o exército diretamente da
escola.
Dorothea franziu o cenho. ― Você deve se casar em breve.

― Eu sou muito jovem para casar. Você sabe disso. Tenho apenas vinte
e cinco anos.
― Sebastian se casou pela primeira vez quando era mais jovem do que
você.

William suspirou. ― Ele o fez.

Dada a sua capacidade de resposta ao beijo na noite passada, William


pensou que Sebastian tinha sido levado às pressas para o seu casamento, ansioso
para provar que ele era algo que ele nunca deveria ter fingido ser.

― Por que você deve arrumar um casamento com tanta pressa? Outros
homens estão disponíveis. E você ainda deveria estar de luto.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Dorothea corou. ― O período necessário já passou; Gregory e eu nunca
nos casamos. Posso assegurar-lhe que eu estou sofrendo, mas eu não gosto de
ficar sozinha. Estou pronta para me tornar uma mãe. ― Ela fez uma pausa. ―
Estou pronta para me tornar uma duquesa.
― Então você pode bancar as brincadeiras com a autoridade da querida
matrona da sociedade. ― Ele suspirou. ― Ouça você. Você parece tão
desesperada para se juntar ao monde haut22!

― Porque eu devo ser! Nem todos nós podemos comprar a comissão de


um funcionário de £ 800 e passar o resto do tempo viajando.
― A guerra é trabalho.
― Claro que é, mas, por favor, abstenha-se de julgar minhas escolhas.
Suas opções não são as minhas opções.

William se encolheu. Ele estava agindo irracionalmente, impulsionado


por pensamentos em Sebastian. O encontro com a irmã dele estava procedendo
horrivelmente. Eles haviam desfrutado esses momentos agradáveis juntos
quando crianças. O que tinha acontecido? Toda vez que ele voltava em visitas,
ela parecia mais alterada. Ela conversava mais sobre roupas e homens. William
não tinha nada contra a falar de nenhuma dessas coisas, mas ele não estava
autorizado a falar sobre eles, da mesma forma como ela. Assim, ele não o fez.
E eles cresceram mais distantes.
― Eu deixei você por muito tempo. Eu deveria tê-la visitado mais.
― Talvez. ― Dorothea dirigiu seus olhos para longe dele. ― Eu duvido
que você já tenha tido algum encontro.
William não entendia o que tinha suscitado esse humor. Ele suspirou. ―
Talvez você me imagine saindo com cada prostituta na cidade.

― Isso não é o que eu penso. ― Dorothea endureceu. ― Eu quero saber


como eu estou no meu segundo compromisso e você nunca sequer esteve ligado
a alguém.

― Você não precisa se preocupar com isso. ― William estremeceu com

22
Alta sociedade.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
a perspectiva de sua irmã descobrir seu segredo.

Ele recusou-se a explicar que as mulheres nunca iriam recorrer a ele, ou


que sua ocasional ida a casas Molly o fez sentir-se mais vivo do que lutar em
uma guerra o fez sentir, mesmo quando o fazia se sentir em conflito e o fazia
desprezar a si mesmo por ser tão íntimo com estranhos.

Era, afinal, contra a lei. Homens eram enforcados por fazer essas coisas,
mas não muitas vezes. Ultimamente, só acontecia quando alguém estuprava
outra pessoa.

― Você está dizendo que desaprova Sebastian? ― Seus olhos tinham um


olhar significativo.
― Sebastian é um bom homem. ― William ignorou o fato de que ele
podia ter uma melhor chance de parar o casamento, se ele dissesse a ela algumas
de suas falhas. Mas as únicas coisas que vieram à sua mente foram atos
impróprios que ele queria fazer com Sebastian. Seria uma explosão. Ele não
queria destruir o casamento. E se Sebastian amava a sua irmã? Ele havia fugido
do jardim depois do beijo, afinal.
― Você continua elogiando Sebastian enquanto tenta me dissuadir do
jogo. Se ele é tão bom, por que você está tão convencido de que não devemos
ficar juntos?

A discussão foi interrompida. A voz do mordomo soou da porta da frente,


sua voz ficando mais alta pela briga com um desconhecido.
Dorothea olhou para ele, assustada.

William apertou os dentes e se levantou da mesa para investigar. ―


Espere aqui.

Proibindo-se a sentir remorso. Ele fugiu da sala, quase tropeçando no


tapete persa que Dorothea tinha colocado na casa. Ele bateu a porta da sala de
refeições atrás dele, assustando o mordomo.
Ótimo. Que ele fique assustado. William seria o irmão com o passado
obscuro. Ele não queria estragar as coisas para sua irmã ou de seu futuro marido.
Sebastian era um duque. Se uma palavra de escândalo saísse, toda a sociedade
iria falar sobre isso. Ele não queria isso para ninguém, certamente não para

117
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian.

William correu pelo corredor de azulejos preto-e-branco, evitando os


olhares severos dos retratos dos antepassados de Sebastian, e juntou-se a Doyle
e o misterioso estranho. Seu coração batia rapidamente, e ele correu os dedos
pelos cabelos, desesperado para se recompor.

Ele segurou a respiração e um vislumbre do lado de fora. Cada casa na


rua estava preservada; arranjos de narcisos em floreiros delicados. A cena só foi
marcada pela visão de um homem em um manto empoeirado que se encostava
na porta, puxando a aba do chapéu sobre o seu cabelo.
― O que está acontecendo aqui? ― Perguntou William.
― Capitão Carlisle? ― O homem aproximou-se dele. Um considerável
tipo robusto, a sombra de sua barba cobria o rosto bem proporcionado.

William se esforçou para reconhecê-lo, perguntando se ele tinha sido um


soldado sob seu comando.
O homem estendeu a mão. ― Eu tenho uma carta para sua irmã.

William parou. O sotaque do homem era francês. William não conhecia


muitos franceses em Londres. Não ajudava que seus respectivos países
estivessem à beira da guerra. Ele olhou para o homem, perguntando se ele
deveria ter vergonha de que seu primeiro pensamento ao descobrir sua
nacionalidade fosse pensar se ele poderia ser um espião.
O homem moveu seus pés, e com um suspiro, William pegou a carta
selada. O homem devia apenas passar a mensagem para o mordomo como
qualquer outra pessoa. Doyle fez uma careta quando William aceitou.
― Percebi que você gostaria de me entregá-la pessoalmente?

O homem acenou com a cabeça e deixou cair a nota em sua mão. ― Eu


iria entregar a nota para ela pessoalmente, mas ela nunca sai de casa sozinha. A
carta é altamente sensível. Crucial.
William revirou os olhos. Ele dificilmente iria se solidarizar com esse
estranho sobre a dificuldade que o homem teve em aproximar-se dela; ele estava
bastante satisfeito que sua irmã não vagasse sozinha por aí, pelo menos nisto,

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
ela manteve sua respeitabilidade.

― Bem, é melhor eu sair agora. ― O homem moveu o peso novamente.

O homem deve ter esperado que ele entrasse novamente na casa. Ele
olhou para a carta, selada vagamente por um selo preto. Relutantemente, ele
voltou para dentro, pensando por que sua irmã recebia tais mensagens. Ela
parecia mais como uma estranha para ele do que nunca.

― Dorothea! ― Ele voltou para a sala de refeições. ― Uma mensagem


veio para você.

― Oh? ― Dorothea olhou para cima da mesa, com os olhos um pouco


vermelhos.
― Sim, de um misterioso cavalheiro. ― Ele fez uma pausa. ― Bem, ele
não deu inteiramente a aparência de um cavalheiro. Mais como um
contrabandista moreno. ― Ele riu, incapaz de imaginar Dorothea como parte
de uma aliança com um contrabandista. ― Quer que eu leia para você?
― Devo entender que você está assumindo um papel protetor?

― Estou sempre em um papel protetor. ― Disse William irritado. Ele


ainda era o homem da casa.
Ele abriu a carta, avaliando o conteúdo, ignorando o grito de sua irmã.

Minha querida Dorothea, luz dos meus olhos. Sou eu, seu amado, o seu
tesouro. Por favor retorne para Sussex em breve. Vou encontrá-la na Somerset
Hall.

William rangeu os dentes. Uma carta de amor.

Dorothea, que sempre parecia ser perfeita, tinha um amante. Ou, mais
provavelmente, um admirador efusivo que se considerava de uma forma
narcisista. Será que o homem queria dizer que ele era o tesouro do destinatário?
Nenhuma assinatura concluía a carta.

O que sua irmã fez para incentivar este homem? Ele parecia tão pobre.
Ou era apenas um mensageiro de Hammerstead? Dorothea e ele pareciam muito
acolhedores. Era por isso que Dorothea queria voltar para Sussex? Assim, ela

119
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
poderia conduzir os negócios debaixo do nariz de Sebastian ao invés do nariz
de seu irmão? Isso era mais confortável para ela?

― Por favor, me dê a minha carta. ― Ela estendeu a mão.

― Não se preocupe. ― William gaguejou. ― O remetente cometeu um


erro. Era dirigida a mim. Nós temos o mesmo sobrenome.

Os olhos de Dorothea tremulavam ao pé da carta e ele enfiou-a no bolso


do casaco. ― Eu vou sair agora.

Os olhos dela se moveram para seu bolso. ― Nós temos mais o que
discutir.
Ele vacilou. ― O que mais eu poderia dizer para você?
― Eu poderia ter algo a dizer para você. ― Dorothea olhou para seu
prato, ainda evitando seus olhos. Ela bateu os dedos contra a toalha.

O relógio marcava em um segundo plano, e o temor dominou William.


― Dorothea?

Ela olhou para cima, sua mandíbula apertada. ― Você perguntou se eu


gostei da festa. E eu gostei. Até que eu cometi o erro de vaguear pelo jardim.
― Você? ― Ele engoliu em seco, recusando-se a pensar em tudo o que
ela poderia ter visto. ― Você não já viu as extravagantes novas estátuas de Lady
Caroline? Achei-as muito encantadoras.

― Elas não eram as únicas coisas para capturar meu interesse.


― Não?

Dorothea suspirou. Ela cruzou as mãos. ― Hesito em falar disso. Você é


meu irmão, e eu amo você. Mas eu sinto que devo dizer alguma coisa.
Suas costas estavam tensas. Ficou claro o que Dorothea iria dizer em
seguida: ela diria as palavras que ele tinha sempre esperado que ela nunca
tivesse certeza absoluta. Ela diria que sabia o seu segredo. Nada de conjecturas.
Nada de rumor de infância. Mas uma recente prova, inconfundível.
― Eu vi você. Você sabe quando. Por que você fez isso? É imoral.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Quando tinha quinze anos era uma coisa, mas você é um adulto agora.

― Quando eu tinha quinze anos? ― O peito de William apertou, as


palavras saindo com a voz rouca. Ele fez uma pausa, pensando naqueles
primeiros beijos que ele compartilhou com Edward, um dos jovens cavalariços
na propriedade de seus pais, antes de suas mortes. Esses dias foram
maravilhosamente inocentes. Como Dorothea saberia sobre isso? Tudo deveria
ser conjectura. Intuição feminina.

― Por que você acha que o nosso pai o enviou para fora de Harrow?

Os joelhos de William se dobraram. Ele puxou uma cadeira da mesa do


café e se sentou.
Dorothea ergueu o queixo. ― Posso assegurar-lhe, ele não o moveu por
causa de um súbito interesse na sua educação.

― Não? ― William alcançou sobre a mesa e pegou um pouco de pão.


Ele evitou os olhos de Dorothea, ocupando-se com a manteiga, esperando que
ela não notasse como suas mãos tremiam.

― Você e aquele cavalariço eram muito íntimos. O pai esperava que o


incidente ocorresse porque estávamos em um lugar tão isolado. Ele esperava
que, dando-lhe uma visão mais mundana isso não se tornaria um desvio.

― Oh. ― Um nó se formou em seu peito, e ele lutava por respirar. Sua


sexualidade florescente, o que ele achava que tinha escondido com tanto
cuidado, não só tinha sido testemunhado, mas discutido por membros de sua
família. ― Eu...

― Você não vai destruir isso para mim, não é?


― O quê? Destruir? Como você pode dizer isso? William esperava que
ele soasse desdenhoso. Ele pode ter feito, mas ele duvidava que ele parecesse
assim. Ou confiável.

O rosto de Dorothea endureceu. ― Eu não sou alheia a suas inclinações.


Você deve entender que isso significa querer que algo ocorra bem.

― Por que, você pode dizer o que significam qualquer dessas


inclinações? ― A voz de William tremia. Ele se forçou a soar forte.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Coisas sórdidas.

― Eu não posso imaginar a que você está se referindo. ― Ele falou


lentamente, mas seu batimento cardíaco aumentou. Qual a velocidade que seria
preciso antes que ele desmaiasse? Ele tinha certeza de que estava batendo muito
depressa agora.

― Homens.

William estremeceu como se um bloco de gelo tivesse batido contra ele.

― Bobagem. Você sabe que eu admiro as mulheres. ― Esperava que ele


transmitisse autoridade em seu tom.
― É o que você sempre fica me dizendo, e eu ainda não vi nenhuma
mulher em seu braço. Eu vi você. No pagode. ― Ela apoiou as mãos nos quadris
e os olhos escuros brilhavam. ― Você beijou meu noivo ontem à noite no
pagode. Na nossa festa de noivado. Como você pôde?
― Eu não sei. ― Disse William rispidamente. Ele não quis dizer a ela
que Sebastian correspondeu ao beijo.

William tinha aproveitado o momento, consciente de que Sebastian e


Dorothea logo se casariam e então tais beijos seriam uma impossibilidade.
William nunca iria querer que Sebastian fosse um marido infiel, nunca iria
querer Dorothea sofrendo com isso.

Mas Dorothea realmente precisava se casar com Sebastian?


A tensão encheu o ar entre eles. A sala aqueceu, como se o fogo da lareira
que os criados haviam criado tivesse se espalhado pelos móveis.

― Talvez isso não importe. ― Disse Dorothea. ― Será que Sebastian


lhes disse que estamos indo para Sussex em breve? Você vai ver menos ele,
então.

― Ele disse. Aparentemente, você era a mais favorável à ideia.

― Eu posso ter expressado esse sentimento.


― Você pode estar se posicionando no meio de um campo de batalha.
Somerset Hall margeia o canal.
122
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― É evidente que sua prestes ausência o entristece muito.

O calor subiu para o seu rosto e seu peito se apertou. ― Esta é a sua
segurança também. Você é tudo que me resta.

― Que bela maneira que você escolheu para mostrar seus respeitos para
mim. ― Os lábios dela se apertaram.

― Eu me importo com você.

― E eu com você. Mas você beijou meu noivo. Você colocou em perigo
a todos.

William perguntou com voz rouca: ― Como você nos encontrou? Foi
apenas uma coincidência?
Dorothea ficou vermelha.
William piscou. ― Você nos seguiu?

― Você parecia tenso ao seu redor. Gostaria de saber se poderia haver


algo entre vocês dois.

William apertou sua mandíbula. Ele pensou que tinha sido sutil. E ela
soube o tempo todo, talvez tivesse estado analisando todas as suas interações
com outros homens.
― Essa foi a primeira vez, Dorothea. Eu juro.
Sua irmã assentiu. ― Não danifique a minha relação com Sebastian.

― Mesmo e se ele não se importa com você?


Dorothea empalideceu. ― Não se esqueça que eu possa prejudicar a sua
carreira. Eu duvido que você se mantenha bem se seus superiores souberem.
Você não seria autorizado a voltar para o exército. Você pode ser forçado a
encontrar uma rica esposa para apoiá-lo. Dada a natureza do que esse escândalo
seria, eu duvido que qualquer uma das mais desesperadas iria aceitá-lo. Eu estou
convencida de que você não iria encontrar qualquer casamento agradável, muito
menos aquele em que você se estabeleceria para a escória da alta sociedade.
William engoliu em seco, a garganta seca. Seu coração batia em seu peito.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Quão verdadeiro. William não tinha dúvida de que seu coronel não
aceitaria de bom grado quaisquer histórias desagradáveis sobre ele. Ele seria
barrado do exército. Era considerado aceitável que os soldados fizessem todo
tipo de coisas ruins com as mulheres da noite. O exército perdoava profanar
mulheres em cidades que haviam conquistado após batalhas. Fazer as mulheres
gritarem de agonia era admitido como um comportamento normal para
soldados, mas ser descoberto fazendo amor com outro homem de forma
consensual poderia levar a ambos a forca.

William tinha pouca vontade de discutir com ela mais. O desejo de visitar
Sebastian o consumia e ele retirou a nota do bolso.
Ele jogou a nota na lareira. Ele observou com satisfação como as chamas
murchavam as bordas e movia-se rapidamente para o centro da nota.

― Que pensativo. ― Dorothea apertou os lábios.


William olhou para ela, irritado por ela não ter tido uma reação mais forte.
Ele ficaria furioso se ela tivesse queimado uma carta de Sebastian.

Ele saiu da casa de novo, só que desta vez ele virou a esquina e correu.
Ele duvidava que fosse mais de 08:30 agora, e as ruas estavam tranquilas, exceto
pelos comerciantes e funcionários ocupados com suas funções. A sociedade iria
dormir por mais tempo, não se aventurando a suas atividades habituais de
passeios a cavalo e observação de pessoas no Hyde Park até a tarde. Seus pés
batiam contra as pedras, e ele ignorou os olhares de todos que ele encontrava.
Dorothea não tivesse agido com elegância. Apenas preocupada com o seu
título e a segurança que isso oferecia, ela não amava Sebastian. Se ele estivesse
comprometido com Sebastian, ele iria gastar cada momento com ele. Ele iria
olhar para ele com adoração aberta. William se condenaria se ele permitisse que
Sebastian se casasse com uma mulher que não se importava com ele. Mesmo se
a dita mulher fosse sua irmã e ameaçasse a carreira de William. Sebastian era
simplesmente muito maravilhoso; o homem merecia ser adorado.

Sebastian poderia levar uma vida de prazer, mas ele deu a Dorothea e
William sua principal residência em Londres, porque o testamento de seu primo
não tinha mencionado Dorothea. Ele até mesmo teve a intenção de se casar com
ela, resgatando-a dos rumores que giravam em torno dela sobre seu
relacionamento com Gregory Lewis.

124
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian estava determinado a fazer o bem por todos, exceto para si
mesmo.

William passou correndo por alguns espectadores assustados em direção


a Sloane Square e Sebastian.

125
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

10

William subiu a escada de mármore para o apartamento de Sebastian dois


passos de cada vez. Ele nunca tinha visitado Sebastian antes, e seu batimento
cardíaco acelerou ao saber que o homem estava tão próximo. Ele golpeou a
porta carmesim, roçou na empregada assustada e marchou para o apartamento.

— Sua Graça. — Ele chamou, atacando para a sala vazia. William


vasculhou o conteúdo da sala: a decoração cuidadosamente escolhida, os
travesseiros prímula e as cadeiras antigas. Uma pintura de um homem do
exército pairava sobre um bureau de noz. Os olhos de William se estreitaram,
observando o tema da camisa rasgada e peito exposto. Esta não era a imagem
que um homem que se interessa por mulheres colocaria em suas paredes.
— Sebastian. — Sua voz se levantou. Ele pegou a pintura da parede e
levou-a com ele. — O que é isso?

O som de passos intencionais correu em direção a ele. Ele deu a volta,


esperançoso de ver Sebastian. Ele precisava ver Sebastian.

Não era Sebastian.


Um homem em um terno escuro o enfrentou. A pessoa piscou e desviou
os olhos da pintura.
William suspirou, a adrenalina escapando dele. Ele relaxou seus ombros,
consciente da imagem ridícula que ele devia evocar. Com os enfeites florais da
moldura dourada pendurados em seus dedos, ele descansou a pintura contra sua
perna. — Você deve ser o servo de Sebastian.

— E você deve ser o capitão Carlisle.


Ele balançou a cabeça, animado que Sebastian o houvesse mencionado a
alguém em sua casa. Isso deveria significar que ele não estava totalmente
desprovido de importância para Sebastian.

126
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
O servo olhou para a pintura, e o rosto de William aqueceu.

— Eu tenho uma consulta sobre o artista. — William resmungou.

O servo balançou a cabeça, e seus olhos se suavizaram.

— Onde ele está? — Perguntou William.


— Talvez, se você se sentar...

William passou por ele. O homem não tinha negado que Sebastian estava
em casa. A vontade de falar com ele oprimia William. Ele procurou pelo resto
do apartamento, irrompendo na cozinha, e depois apertou a maçaneta da porta
para outra sala.
— Senhor!
William ignorou as expressões indignadas dos servos e abriu a porta.
O quarto de Sebastian. William levantou o nariz, o cheiro de algodão
doce flutuava sobre ele. Ele examinou o quarto, admirando as linhas limpas. O
mobiliário simples carente da opulência de tantos lugares da alta sociedade.

Uma silhueta estava no meio da cama. William engasgou. Podia ser


Sebastian. Ele esperava que fosse Sebastian. Inclinou a pintura contra a parede
e foi até a cama, lutando para resistir à tentação de correr os dedos sobre os
lençóis brancos.
Ele pegou um banquinho e sussurrou: — Sebastian.

A silhueta se mexeu e William respirou fundo quando um braço saiu de


debaixo da coberta.

— Grayson? — A voz de Sebastian, abafada por cobertores, respondeu.

William se encolheu. Ele esperava que fosse o nome do servo.


— É William. Eu... Eu preciso falar com você.

— William? — Desta vez, a voz estava mais alta, e as colchas da cama


se moveram violentamente quando a cabeça desgrenhada de Sebastian
apareceu. Ele piscou, confusão evidente em seus olhos azuis vívidos. — Você

127
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
está aqui.

— Perdoe-me. Eu sei que é pouco convencional...

— Pouco convencional! — Sebastian sentou-se na cama, revelando um


camisolão marfim que William desejava arrancar. O cabelo despenteado e
brilhante de Sebastian emoldurava seu rosto, dando-lhe a aparência de um anjo
perdido. William desejava desabotoar a gola do pescoço e tocar os babados
brancos.

William mordeu o lábio. — Bem. Talvez nada convencional. Mas eu


precisava falar com você em particular.
Ele fez uma pausa. Dorothea havia ameaçado sua comissão. E ela estava
se correspondendo com outro homem. E talvez ela estivesse vendo
Hammerstead também. Mas ele não tinha vontade de bombardear Sebastian
com ataques contra o caráter de sua noiva. Tudo o que ele desejava era perguntar
se Sebastian se importava com ele, mas as palavras eram muito tolas para
proferir.

— Então, fale comigo.

William ficou maravilhado com tom solene de Sebastian. Os olhos de


Sebastian eram grandes e cheios. Como eram seus lábios. William queria beijá-
los. Desesperadamente.

— Você quer falar sobre a festa de noivado?


William balançou a cabeça, seu peito doeu. Agachando-se mais perto de
Sebastian, percebeu que os olhos do homem estavam ansiosos, esperando que
ele não tivesse interpretado mal as coisas. Talvez William não lhe agradasse.
Talvez ele realmente amasse Dorothea, e William estava arruinando a vida de
duas famílias; talvez ele fosse quebrar o coração de William.

Sebastian empalideceu. — Foi inapropriado. Eu sei. Perdoe-me.

As palavras atingiram William com a força do maior canhão indiano.


— Você deve me desprezar. — Sebastian abaixou a cabeça e seus cílios,
tão escuros e longos, vibraram.

128
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Eu nunca poderia desprezá-lo.

Os cílios de Sebastian piscaram para cima. — Vou me esforçar para ser


um bom marido para sua irmã. Eu... Não sei o que deu em mim.

— Eu acho que eu sei. — Ele olhou para a pintura. — Talvez você sempre
tenha sido atraído por homens. — Sebastian congelou.

— Talvez. — Sebastian sussurrou, os olhos arregalados de medo.

William sentiu que ele estava à beira de alguma coisa vital, uma
descoberta que poderia tornar sua vida gloriosa. Tinha sido um risco vir a casa
de Sebastian, um que ele precisava assumir. Ele quase morreu no campo de
batalha na Índia, e ele poderia morrer uma vez que ele voltasse a lutar. Ele
poderia morrer antes disso - Lewis tinha. Em uma vida cheia de riscos, ele
poderia muito bem arriscar a possibilidade de uma enorme recompensa.

William tocou a mão de Sebastian, encolhendo-se quando o homem se


encolheu. Ele respirou fundo e confessou: — Eu estou muito apaixonado por
você.

Ele segurou o rosto de Sebastian e correu os dedos sobre seus cabelos


sedosos, sorrindo quando um rubor de prazer apareceu sob o cume elegante de
maçãs do rosto de Sebastian.

Desta vez, Sebastian não se afastou.

— Você é tão bonito. — Disse William em reverência. — Você não tem


ideia. Não faz ideia realmente.

A respiração de Sebastian acelerou, e seu peito subia e descia. — O que


você está fazendo?
— Cuidando de você. — Anunciou William. Ao deitar-se na cama, seus
nervos formigavam quando ele roçou em Sebastian.

Os olhos de Sebastian escureceram, mas ele permaneceu em silêncio.

A visão de Sebastian perto dele trouxe uma alegria inimaginável. — Eu


estou aqui para lhe dar a atenção que você merece.
Sebastian engasgou.
129
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Seu peito inchou e ele pegou os pulsos de Sebastião nas mãos, segurando-
os sobre os lençóis suaves, sentindo a batida do pulso do outro homem contra
ele. — Diga-me que o beijo na noite passada não significou algo para você.
Você me beijou de volta.
— Por que você me quer? — Sebastian virou a cabeça. — Eu sou um
homem. Um homem comprometido. Com uma mulher. Com sua irmã!

Por um momento, a vergonha inundou William, consumindo-o. Sua


garganta engrossou e ele deixou o queixo cair para o peito. O sangue bateu em
suas veias, e ele relaxou o controle sobre o outro homem.
A sala ficou em silêncio para além dos sons da calça de William e de
Sebastian, misturando-se juntos, unindo-se em uníssono como a melhor
orquestra no Almack.

Ele passou os dedos pelo cabelo de Sebastian, úmido de suor e rolou em


cima dele.
Dorothea.

Seu coração torceu ao pensar em sua irmã, uma espiral de lembranças


dolorosas e de arrependimento o atravessou. Em suas memórias, ela permanecia
perpetuamente jovem, seus cabelos encaracolados fluindo sob a palha dos
chapéus, e seus vestidos de linho branco adornado por amarantos de grandes
dimensões ou colorido. Mas essa Dorothea, ele lembrou a si mesmo, já não
existia. Ele não conseguia encontrá-la na mulher na mesa de café da manhã de
hoje, que ameaçava sua ruína, seus cachos mantidos artisticamente em um
penteado elaborado, e um broche ornamentado adornando seu vestido, joias
cuidadosamente colocadas escondendo o pino que segurava a joia lá.

A irmã que ele conheceu tinha ido embora. Talvez a dor pela morte de
seu noivo a tinha levado para substituir a decência com ambição, ou talvez ela
estivesse simplesmente chocada com o quão mal ele mediu a bondade da
sociedade.

Talvez a culpa seja toda minha.

Ele cerrou os punhos e fechou os olhos. Cem depreciativas observações


sobre os sodomitas, proferidas por aqueles ao redor dele, correram em direção
a ele, e milhares de momentos de auto angústia e desgosto os seguiu.
130
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian se agitou debaixo dele, despertando-o de suas dúvidas.
Lembrando-o da noite anterior e das perguntas de Sebastian. — Você não quer
se comprometer. Não realmente.

Sebastian continuava a evitar os olhos de William, o olhar fixo longe.


William duvidava que a parede fosse tão fascinante como Sebastian parecia
achá-la.

Sebastian não estava empurrando-o embora. Seu dedo circulava a mão de


William, fazendo com que os nervos de William saltassem com cada escovada
macia e doce.
Ele suspirou, permitindo-se ceder à sensação. O calor do corpo de
Sebastian o aqueceu e seu pau encontrou um prazer especial, se tornando mais
completo com o milagre de Sebastian ao lado dele.

Era isso. Isso era o que a vida era. Isso era o que ele ansiava por toda a
sua vida.
Na verdade, se a dureza cutucando William fosse qualquer indicação, os
pensamentos de Sebastião estavam muito alinhados com o seu.

O fogo queimou por todo o corpo de William.


Ele virou-se para Sebastian. O homem piscou, seus longos e grossos
cílios provocando-o. William desceu e beijou o oco da garganta de Sebastian,
movendo-se em seu rosto, ao longo do seu rosto, em seguida, parando em seu
ouvido direito, onde os beijos dele se intensificaram. Ele mordiscou a orelha de
Sebastian, acariciando-o com a língua.

Ele se inclinou para frente. Ele queria beijar cada centímetro deste
homem. Ele queria que este homem fosse feliz. Ele estremeceu com a sensação
do corpo de Sebastian contra o dele, e seu coração saltou quando o pênis de
Sebastian levantou-se para encontrá-lo.

— Você me lisonjeia. — Disse William. — Não diga que não.


A voz de Sebastian era áspera: — Os servos...

William assentiu. Ele saltou da cama e trancou as duas portas que davam
acesso ao quarto de Sebastian.

131
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Não se preocupe. — Disse William, subindo de volta em cima de
Sebastian, aninhada contra seu corpo. — Você está seguro comigo.

Ele precisava tocar a pele de Sebastian. Ele puxou-o para cima e


febrilmente deslizou o camisolão para fora.
Ele era lindo.

Ele festejava a pele cremosa de Sebastian e seus rígidos mamilos rosados.


Os cabelos loiros estavam espalhados nos planos duros de seu peito, e ele
passou os dedos através dele, apreciando a sensação espinhosa e o calor que
emanava do belo homem embaixo dele. Ele abaixou-se e envolveu um dos
mamilos de Sebastião com a língua. Ele deslizou-o na boca, ainda sem acreditar
que o seu anseio por Sebastian tinha sido correspondido. O peito de Sebastian
tinha um gosto salgado; um brilho de suor o cobria. William chupou com mais
força, ansioso para que ele sentisse as coisas maravilhosas. Um gemido baixo
respondeu-lhe.
As costas de Sebastian arquearam e William passou o braço por baixo
das costas. Ele se moveu para outro mamilo de Sebastian e sorriu quando o
homem estremeceu e gemeu debaixo dele.

Ele baixou o rosto para Sebastian, saudado por lábios macios ainda
inchados de quando William o tinha beijado.

Um choque de prazer percorreu-o quando ele percebeu que Sebastian o


estava beijando. Os beijos eram gentis, hesitantes, mas inconfundíveis. Ele
suspirou quando Sebastian brincou com seus lábios abertos e afundou no abraço
de Sebastian.
Um calor percorreu pelo seu rosto e seu pau latejava. A língua de
Sebastian pressionou contra ele e William correu os dedos pelos cabelos
sedosos.

Ele se estabeleceu contra Sebastian e cutucou seu pênis ao lado do seu.


Uma onda de satisfação correu através dele. Ele sorriu, querendo, precisando
ver e tocar este homem.

E agora ele podia.


Sebastian estava animado; Sebastian o desejava. O que ele considerava

132
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
impossível não era tão impossível assim.

Ele rolou para o lado e acariciou o pênis de Sebastian, que era magnífico,
assim como ele. Ele poderia ter olhado para ele por mais tempo e admirado a
sua forma, mas uma mão o interrompeu.
Sebastian deu uma risadinha. A felicidade consumiu William. A mão de
Sebastian estava em suas costas e, em seguida, ele persuadiu William de volta
para ele.

— Você é forte. — William engasgou.

— Você não precisa agir tão chocado. — Disse Sebastian com a voz
rouca.
As mãos de Sebastian estavam sobre ele, tocando-o. Tocando seu pênis.
Sebastian gemeu e empurrou contra ele.

William sorriu quando ele agarrou ambos os galos. Ele os forrou juntos,
curtindo a sensação de sentir Sebastian tão intimamente.
— William. — Sebastian pediu.

A respiração de Sebastian aqueceu seu pescoço. William passou os


braços ao redor dele novamente e mordiscou a orelha. E então ele começou a
empurrar contra ele, as sensações ampliadas por causa da paixão que
compartilhavam.

Por um momento, Sebastian ficou imóvel. Seus suspiros irregulares


cresceram em murmúrios de satisfação e Sebastian se moveu debaixo dele,
refletindo as ações de William.

William beijou um rastro da orelha de Sebastian para os lábios e afundou


na boca quente e molhada de Sebastian.

O calor inundou enquanto se moviam um contra o outro. William não


tinha noção do tempo, sentindo-se como se flutuasse, sua felicidade levantando-
o às alturas das águias, tão facilmente como se lhe tivesse brotado asas
emplumadas. Ele deslizou o braço mais profundamente para baixo das cobertas,
agarrando Sebastian apertado e sorrindo enquanto Sebastian gemia baixinho. —
William.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Uma batida soou. Os dois homens pararam, olhando um para o outro.
Sebastian desembaraçou-se dos braços de William, e sua orelha virou-se para a
porta. William estremeceu com a repentina falta de contato com os olhos
atraídos para longa figura delgada de Sebastian e na maneira em que o cabelo
de Sebastian pairava sobre sua testa.

A tensão de vozes de soprano feminina derivava para dentro, quebrando


sua solidão. Dorothea e Penélope. Eles estavam falando com o criado.

A culpa o encheu. Isso só poderia pressagiar o desastre. Aqui ele estava


deitado, um Sebastian nu ao lado dele, com sua irmã, a noiva do homem, lá fora.
Apesar do decoro jamais permitir a Dorothea e Penélope violassem o quarto de
Sebastian, ele poderia ser descoberto, nenhuma explicação seria possível para
descartar sua presença com inocência. Especialmente quando Dorothea o tinha
visto abraçando-o na noite anterior.
E se o servo de Sebastian mencionasse que William estava com ele, ou
se ele mentisse e dissesse que William não estava lá, e elas mais tarde vissem
William... isso seria mais suspeito.
Será que o servo reconhecia o que estava acontecendo? Talvez ele
suspeitasse? Seu coração estremeceu, e ele agarrou Sebastian.

Com um acesso de raiva, Sebastian empurrou William para longe. — Nós


não podemos fazer isso. Os homens não podem estar com os homens, e eu não
posso ser infiel a sua irmã.
Ele saltou da cama e se esforçou para encontrar suas roupas. Vestiu-se
com pressa. William fez o mesmo, seu peito apertado. Seus membros
formigavam e ele esforçou-se para abotoar a camisa; seus braços se deixaram
levar.

— Não diga a ninguém que você esteve aqui. — Sebastian sussurrou.


Seus olhos brilhavam, cheios pelo medo. — Você precisa ir embora.
William balançou a cabeça, amaldiçoando-se por colocar esse desespero
na voz de Sebastian, e eles continuaram a se vestir rapidamente. William enfiou
o pênis em suas calças, desejando que ele murchasse.
— Há uma saída por trás. — Sebastian sussurrou. — Para a área de
serviço. Vem.
134
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
William seguiu pela outra porta, levando através do que deveria ser o
quarto do seu servo e entrando pelos quartos dos empregados. A área não tinha
o luxo do resto do apartamento. A pintura descascada nos cantos das paredes
nuas.
Seu coração disparou. Descobrir que Sebastian definitivamente estava
fisicamente atraído por ele o havia feito se sentir capaz de conquistar o mundo,
e ter essa descoberta dificultada pela sua irmã rasgou o seu coração. Sentia-se
inseguro, com medo de repente pela frieza de Sebastian, embora pudesse ser
explicável.

Sebastian não poderia casar-se com Dorothea. Ela não o amava. Ela
estava, afinal, apenas recentemente fora de luto. E Sebastian, ele parecia certo,
não a amava. Eles fariam o outro miserável.

William seguiu Sebastian descendo as escadas na ponta dos pés, com o


coração batendo e sua mente cheia. Eles precisavam conversar. Mas primeiro,
eles teriam que sair do apartamento sem que ninguém descobrisse.

135
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

11

O coração de Sebastian martelava enquanto corria pelos corredores dos


empregados com William. O cheiro de fumaça de velas de sebo, uma vez
iluminados o sufocou. Ele penteou o cabelo com os dedos, ansioso para
apresentar uma aparência de respeitabilidade. William precisava escapar antes
que seus visitantes o notassem e ele faria o possível para ajudá-lo. Ele não podia
deixar William destruir seu relacionamento com sua irmã.
Dorothea era tudo o que William tinha.

Sebastian tremeu, pensando sobre o que eles quase tinham feito.


Ele olhou para trás para ter certeza de que William o seguia. Mesmo
agora, ele mal acreditou que William estava com ele e ele lutou contra a tentação
de esgueirar-se em um armário de vassouras e terminar o que tinham começado.
Seu corpo desejava correr para os braços de William, pressionar contra a sua
forma grande, musculosa e correr os dedos sobre as feições cinzeladas de seu
rosto.

Mas ele tinha responsabilidades e, tanto quanto ele queria esquecê-las,


ele não podia. E ele não iria permitir que William arriscasse sua carreira e
família por ele.
Ele abriu a porta, quase colidindo com Sam, seu cocheiro, que estava do
lado de fora da entrada de serviço. Os olhos de Sam se arregalaram e sua boca
se abriu. Sebastian diminuiu o ritmo, tentando controlar sua respiração e forçar
as pernas em um passeio casual.

— Só examinando os salões dos criados. — Sua voz soou muito alta em


seus ouvidos. Ele se virou para William, desviando os olhos apressadamente da
silhueta do homem, a gravata agora desfeita não teve sucesso em fazer dele
menos bonito. — Tudo em ordem, você não diria?
— Hum, sim. — Disse William, que se esforçava para sustentar sua

136
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
afirmação. — Os quartos são bastante encantadores. Eu gostei muito do tom de
branco nas paredes.

Os olhos de Sam se estreitaram. Eles deviam parecer ridículos. Como era


que, mesmo agora, na frente de seu servo, tudo o que ele queria era conduzir
William de volta para seu quarto? Nada de bom viria dessa inclinação. Seus
momentos de prazer já haviam produzido mais dor de cabeça do que ele estava
preparado.

— Sam. — Sebastian pigarreou. — Você é exatamente o homem que eu


queria. Por favor, prepare a carruagem para a partida.
— É claro. — Os olhos de Sam vagaram para William mais uma vez.
— Não se preocupe com ele. — Sebastian forçou sua voz para soar
indiferente. — Provavelmente é melhor se ninguém saiba que ele estava aqui.

Os olhos de William brilharam pela primeira vez desde que as senhoras


os interromperam. — Eu sou muito tímido.
Os lábios de Sebastian se levantaram. Seu coração saltou em seu peito e
ele desejava lançar-se contra William. Em vez disso, ele fez uma pausa, os olhos
no cocheiro a espera.
Sam assentiu. Ele inclinou a cabeça e depois sorriu. — Você é o duque.
Eu vou preparar o carro.

— Ótimo. — Os ombros de Sebastian caíram e sua volta começou a


perder sua rigidez. Ele gostava de Sam e estava feliz que ele o havia levado para
Londres de Yorkshire. O homem lhe havia conhecido quando ele ainda era um
fazendeiro e ele estava satisfeito por não ter que elaborar cada grama de poder
aristocrático que pudesse fingir possuir, em um esforço para conter um
escândalo. Ele exalou. Talvez pensando bem, não era completamente impróprio
para um duque levar um oficial do exército de Sua Majestade para inspecionar
os quartos dos empregados.
— Para onde vamos? — William sussurrou quando a cabeça de Sam
estava de costas. — Em outros lugares em Londres? Minha casa está ocupada,
mas...
Sebastian teve uma súbita visão deles partilhando uma carruagem junto

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
à costa sul, as suas coxas pressionadas umas contra as outras, durante a jornada
de um dia inteiro - mas a imagem era impossível, relegada para outros sonhos
não realizados. Eles quase tinham sido descobertos. Sua voz tremeu: — Você
deveria voltar para casa.
— Bem. — Disse William, talvez ansioso para não perturbar ainda mais
Sebastian ou atrair a atenção de Sam. — Adeus por agora, então.

Sebastian assentiu. O rosto de William torceu e ele se virou, seus passos


soando nos paralelepípedos.

Sebastian negou a si mesmo um último vislumbre da forma masculina de


William, com medo que ele nunca tirasse os olhos.
— Sam? — Perguntou Sebastian.
O cocheiro parou movendo suas pernas. — Sim, Vossa Graça?

— Eu quero ir para Sussex hoje. Na verdade, eu gostaria de ir o mais


rápido possível.
— Hoje? — Sam engoliu em seco e passou os dedos sobre seu colete
listrado verticalmente. — Muito bem, excelência.
— Você não precisa trabalhar tão duro para esconder a surpresa em sua
voz. — Disse Sebastian.

— Sim, excelência. — O cocheiro deu alguns acenos vigorosos e tocou-


lhe o chapéu. — Os cavalos estão descansados.
— Tudo bem. — Disse Sebastian, impaciente para partir. — Eu vou
esperar por você na carruagem.

— De fato? Você terá tempo de sobra para sentar-se nela mais tarde.

— Eu gostaria de começar a diversão.

Sam assentiu. — Você precisa de bagagem?

Sebastian pensou em William. Ele poderia ter voltado ao apartamento.


Ele não podia imaginar encontrá-lo novamente. E se William tentasse abraçá-
lo novamente? E se William não tentasse abraçá-lo? Se eles simplesmente

138
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
movessem seus pés desajeitadamente e evitassem os olhos um do outro, como
Penélope e Dorothea olhariam? O pensamento era intolerável.

— Grayson já embalou algumas malas para mim. Você pode carregar os


da carruagem e tudo o que você precisa trazer. Caso contrário, estou certo de
que Lewis deixou algumas roupas. Grayson pode continuar embalando o resto
em seu tempo livre. Você pode buscar o resto amanhã.

— Amanhã? — Sam engasgou.

— No final desta semana. — Talvez ele estivesse sendo irrealista, sua


ânsia deixar de consumi-lo. — Temos que ir. Agora.
— Sim, Vossa Graça. — Disse Sam. — Eu vou informar a Grayson.
Sebastian se irritou com a forma como as suas palavras chocaram Sam.
— Você vai precisar levá-lo ainda esta semana também. Eu não poderei
aparentar respeitável sem ele.
— Ele ficaria satisfeito com o elogio. — Disse Sam.
— E Sam? Eu acredito que eu possa ter alguns convidados no
apartamento. Pode pedir a Grayson para apresentar minhas desculpas? Eu tenho
negócios urgentes em Sussex.
— Claro.

Sebastian se arrastava para o veículo. Ele havia planejado ir para


Somerset Hall em breve, embora não desse jeito.
Depois de um curto período de tempo, Sam enganchou os cavalos para o
transporte. Sebastian relaxou contra o suntuoso interior de veludo vermelho,
grato que as cortinas o protegiam, embalado pelo som dos cascos dos cavalos.

Sua mente voltou para William. Ele tinha feito parecer que estar juntos
fosse tão fácil, como se realmente pudessem ficar juntos. William havia lhe
dado momentos de pura felicidade, momentos que nunca deviam ser repetidos.

Fazer amor nunca tinha sido tão frenético e alegre como isto antes, e ele
tinha certeza que nunca seria novamente.
A carruagem virou, acelerando quando pegou seu caminho para fora da
139
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
cidade. Ele forçou-se a cair no sono e parar de reviver os acontecimentos da
tarde. Mais e mais William entrou em seu quarto, deslizando seu corpo quente
sobre Sebastian, e mais e mais as vozes de Dorothea e Penélope no outro quarto
os interrompeu.
O que Sebastian teria feito se elas não tivessem chegado? E por que
Dorothea e Penélope foram visitá-lo também? O horário tradicional de visitas
não começava até o meio-dia. Seu coração se apertou com o pensamento de que
elas pudessem tê-lo ouvido. Dorothea não merecia seu comportamento
libertino.

E William. Ele se ergueu. O que William pensará?


Ele ponderou os eventos da manhã, ponderou a sua vida, repensando suas
interações com homens e mulheres. A culpa tomou conta dele. Ele falhou. O
que ele ansiava era um crime capital. Seu próprio ser foi manchado. E, no
entanto, o que ele poderia fazer? Dorothea precisava estar casada de novo, e ele
nunca poderia planejar uma vida com William. Se William realmente desejasse
isso. Provavelmente Sebastian estava sendo excessivamente romântico.
A carruagem tinha deixado de balançar. Na verdade, ela tinha parado por
completo. Seu pescoço doía e as costas latejavam pela rigidez. Ele abriu as
cortinas escuras da carruagem. Luzes piscaram, e ele viu Sam com os cavalos
perto de uma pequena taverna. Ele reprimiu um bocejo e abriu a porta da
carruagem para sair e se juntar ao seu cocheiro.
— Onde estamos? — Sebastian perguntou a Sam.

— Sussex. — Sam sorriu. — Eles dizem que esta é a parte mais


ensolarada da Inglaterra.

— Bem, está escuro agora. — Sebastian resmungou. Ele se endireitou e


esfregou as mãos contra os olhos inchados. Ele esperava que seu rosto não
parecesse vermelho e manchado.
Se Sam notou algo incomum sobre o rosto de Sebastian na penumbra, ele
não disse nada, e ele voltou para a alimentação dos cavalos.

— Este parece ser um lugar muito bonito. — Disse Sam. — Nós só temos
mais poucos quilômetros restantes. Vou ver se consigo arranjar uma sala
privada para você.
140
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Uma sala privada?

— Bem. — Sam olhou para o chão. — Agora que você é um duque,


Vossa Graça, você não gostaria de comer com todos. Acho que as pessoas
bastante comuns poderiam estar lá.
— Oh.

Sebastian olhou ansiosamente para a taverna. Seu isolamento auto


imposto após a morte de sua família em Yorkshire continuaria. Risos viam da
parede do estabelecimento. A última vez que ele visitou um pub adequado tinha
sido quando ele estava com William. Sam estava certo. Os prazeres que os
outros gozavam não seriam para ele. Ele tinha responsabilidades e uma imagem
a manter. Outros poderiam achar escandaloso saber que o duque tinha
confraternizado com plebeus.

Sebastian balançou a cabeça. — Vamos continuar até Somerset Hall.


Quando saíram do estabelecimento, Sebastian abriu as cortinas para ver
sua nova casa. As copas das árvores se inclinavam sobre a pista, tocando uma a
outra. Era, ele supôs, romântico. A área também seria um lugar brilhante para
os ladrões de emboscada de carruagens. A costa de Sussex era conhecida pelos
seus contrabandistas, e o canal estava nas proximidades.

Tudo estava calmo agora. A lua cheia aparecia em cima. Cabanas de


palhas e lojas pontilhavam a paisagem, os aglomerados cada vez maiores. Esta
deve ser a vila que pertencia ao espólio. Ele encontraria os moradores mais
tarde; agora não era o momento. Ele se inclinou contra seu assento, ansioso para
afastar-se de olhares indiscretos. Embora, ele não tenha detectado qualquer
pessoa. Nenhuma criança gritava e as janelas estavam fechadas em todos os
edifícios.

O carro atravessou um portão imponente. Leões de pedra apareciam em


ambos os lados da entrada.
Sebastian estremeceu com a opulência e a responsabilidade que ele havia
adquirido. A carruagem se inclinou quando os cavalos se arrastaram para cima,
percorrendo seu caminho na estrada. A mansão ficava no topo, com a melhor
vista para o campo. Talvez nos velhos tempos, um castelo defensivo estivesse
em seu lugar, protegendo contra todos os inimigos. Ele esperava que sua nova

141
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
casa pudesse protegê-lo dos demônios selvagens correndo em sua imaginação,
abrigando-o em segurança nos seus grandes salões.

O topo da colina era grande e plano. Perfeito para uma propriedade. A


carruagem se dirigiu por um lago cheio de patos e cisnes. Uma ponte de pedra
atravessava a água, levando até à mansão.

O luar brilhava sobre as colunas e estátuas que embelezavam a fachada.

Tudo era lindo, tudo era idílico. Ele levaria a sua vida em um lugar de
perfeição, e ele iria se esforçar para imitá-lo.

Sam puxou o carro em frente à porta principal. — Chegamos, excelência.


— Excelente, Sam. — Sebastian abriu a porta, desceu os degraus da
carruagem para o caminho de terra. Ele ficaria feliz em descansar em breve e
suavizar a sua dor nas costas. Talvez ele pudesse desfrutar de um brandy na
biblioteca do falecido duque. Sua biblioteca.
Sam descarregou a bagagem, puxando os troncos quadrados da
carruagem. — Eu posso ajudar. — Disse ele.

— Isso não é necessário, excelência.


— Bobagem. Fico feliz em ser útil, e ninguém mais está à vista. —
Sebastian balançou a última bagagem da carruagem, consciente da
tranquilidade inesperada em torno deles.

Não que ele esperasse que os servos viessem cumprimentá-lo; ele não
lhes tinha dito para esperar por ele naquele dia. Ainda assim, seria bom se
alguém saísse. Certamente eles teriam ouvido a carruagem, não? Os cavalos
pisavam as patas, ansiosos para ser desatrelados. Um dos cavalos relinchou,
arqueando as costas. Eles não poderiam ser acusados de serem excessivamente
tranquilos.

Sussex era ainda mais remota do que ele imaginava. Pelo menos ele não
estaria susceptível de vagar à presença de William tão cedo.
Sebastian pegou uma bagagem em sua mão e subiu os degraus. — Sam,
você cuide dos cavalos.

142
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sam assentiu.

Sebastian segurou o grande batente da porta, tornando sua presença


conhecida. Ele fez uma pausa, esperando o tamborilar de pés correndo para abri-
lo. O silêncio o cumprimentou. Ele bateu novamente, desta vez com mais força.
Ele olhou para Sam, que deu de ombros. Sebastian se arrastou até a janela e
olhou para dentro, ou, pelo menos, ele tentou olhar. Cortinas de renda
obscureciam a vista, embora ele conseguisse distinguir as formas do mobiliário.
Lençóis marfim drapejavam sobre os móveis, e apenas as curvas inclinadas das
pernas em estilo Rainha Anna 23indicavam seu conteúdo.

Ele circulou a parte de trás da casa, batendo nas janelas, lamentando


chegar inesperadamente. Ainda assim, esta era para ser sua casa e os
funcionários deviam estar vivendo aqui. Ele lhes pagava para fazê-lo, e o
silêncio o intrigava.
Ninguém estava em casa. Ele precisaria entrar.
— Você acha que sábio? — Perguntou Sam.

— Particularmente não. — Disse Sebastian. — Mas eu estou ansioso para


entrar.

Ele pegou uma das pedras na entrada, foi até a janela ao lado da porta e
jogou a pedra completamente. — Aí está. — Disse ele triunfante quando o vidro
rachou, espatifando no chão. Ele enfiou o braço através da abertura, evitando os
painéis irregulares de vidro, e virou a fechadura. Ele puxou o braço e girou a
maçaneta. A porta se abriu.

Sebastian entrou na casa, tomado por incertezas. Sam seguiu de perto por
trás.

— Olá? — Sebastian atravessou o piso térreo e as tábuas de madeira


rangeram abaixo dele. Ele evitou os lençóis cobertos de poeira que visavam
proteger o mobiliário, lembrando-o de gigantes fantasmas disformes.
Ele deveria ter avisado os servos de sua chegada. Esta não era a maneira

23
Denotando um estilo de mobiliário Inglês ou arquitetura característica do início do século 18. O mobiliário
é conhecido por seu estilo simples, proporcionado e por suas pernas cabriolé e nogueira; a arquitetura é
caracterizada pelo uso de tijolo vermelho em desenhos simples, basicamente retangulares.

143
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
de fazer uma boa impressão sobre eles.

Ele saiu da sala, entrando na parte principal da casa. Sua casa. Ele olhou
ao redor, pisando no chão de mármore. À esquerda, em frente à porta principal,
uma longa escadaria levava por dois lances de escadas. Ele ficou maravilhado
com a altura do teto. As moradias em Londres utilizavam o espaço de forma
mais eficiente, e sua casa de Yorkshire foi construída mais cedo, antes dos tetos
altos se tornarem populares fora das catedrais e igrejas.

— Olá. — Ele ligou novamente.

Um estrondo quebrou o silêncio.


— Quem está aí? — Uma voz grave ecoou. —Vocês estão invadindo a
propriedade do Duque de Lansdowne.
No patamar, um pequeno e redondo homem idoso brandia um atiçador.

— O magistrado foi chamado. — Disse o homem. — Por favor, saiam


agora, antes que ele chegue.
Sebastian sorriu, não acreditando que o homem tivesse chamado o
magistrado. O lugar estava vazio. Eles teriam notado um cavalo a galope de
longe. Ainda assim, ele gostou que o homem defendesse a propriedade tão
ferozmente.

— Você é o mordomo? — Perguntou Sebastian, aproximando-se dele. —


Sr. Crowley, eu presumo?
— E o que te interessa isso? — Respondeu o homem. Ele parecia menos
confiante do que antes.

— Eu sou Sebastian Lewis, Duque de Lansdowne. — Sebastian usou sua


voz mais autoritária. Ele não gostava de brincar com um homem com um
atiçador, não importa quão idoso ele possa parecer.

O homem empalideceu. — Sua Graça! Rogo que me perdoe. Eu sou o Sr.


Crowley, seu mordomo.
— Por que você não atendeu a porta? Certamente você deve ter nos
ouvido. — Mesmo que o homem tivesse cabelos grisalhos, ele não parecia com

144
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
dificuldade de audição e Sebastian tinha batido a porta com vigor, e os relinchos
altos dos cavalos deveriam ter sido perceptíveis.

— Eu ouvi. — Disse Crowley, baixando o atiçador. — Eu estou mais


apologético. Cook e eu temos ouvido barulhos estranhos recentemente. Temo
que o bater nas janelas não foi o som mais reconfortante. Com as ameaças de
Bonaparte invadindo e coisas desaparecendo...

— Coisas desaparecendo? — Perguntou Sebastian.

— Sim. Pequenas coisas. Alimentos.

— Provavelmente ratos. — Disse Sam, entrando na conversa. — Havia


muitos na casa dos meus pais. Essas coisas são desagradáveis.
— Posso assegurar-lhe que não eram ratos. — O queixo do Sr. Crowley
cerrou. — Nós não temos ratos nesta casa. Quem é este homem?

— Peço desculpas. — Disse Sebastian. — Este é o meu cocheiro, Sam.


Se você pudesse encontrar alguém para lhe mostrar os estábulos e designar um
espaço para ele...

— Eu vou lhe mostrar eu mesmo. — Disse Crowley. — Temo que a


maioria dos outros empregados partiram. Foi um pouco estranha aqui, e nós não
estávamos esperando por você.

O calor subiu para o rosto de Sebastian. — Vim em circunstâncias


apressadas, mas devo admitir certo alívio em vir aqui e, finalmente, ver o lugar.
Isto aqui é impressionante.

— Ótimo. — Disse Crowley.

Sebastian supôs que ele poderia dizer pouco mais. Queixar-se na


presença de Sebastian pode não ser apropriado. E ele parecia muito feliz com o
elogio.

— Sobre os ratos, embora, devo dizer que mão há ratos. Mantemos uma
casa arrumada. Imaculada.
—Tenho certeza disso. —Disse Sebastian, não querendo insultar o Sr.
Crowley, logo após tê-lo conhecido. Ele olhou ao redor. Ignorando a poeira, o

145
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
lugar parecia arrumado. Talvez alguma outra coisa estivesse acontecendo.

— E algumas roupas desapareceram. Os ratos não gostam de roupas.

— Não. — Concordou Sam. — Eu nunca notei uma inclinação deles para


a roupa. O Sr. Crowley sorriu.
— Que tipo de roupa? — Perguntou Sebastian.

— A mais imprópria. — Disse Crowley. — Mas algumas das roupas do


filho do falecido duque desapareceram.

— De Lewis? — Sebastian perguntou. — E nada mais?


Vasos orientais e pinturas a óleo espalhavam-se pela sala. Algumas
destas coisas, muitas dessas coisas, deveriam ser valiosas. Se ele fosse um
ladrão, ele não correria o risco de subir para um quarto para roubar algumas
roupas.

— O ladrão deve ter vindo cinco vezes até agora. — Continuou Crowley.
— A maioria das experiências foram desagradáveis.

— Bem. — Disse Sebastian. — Estou feliz por estar aqui agora. Você
pode usar alguns habitantes adequados.
Crowley conduziu Sebastian para o seu quarto, enquanto Sam esperava
do lado de fora com os cavalos.
Enquanto subiam as escadas, Sebastian admirava a escultura de madeira
de flores e borboletas nos degraus.
— A escadaria foi criada quando Sua Majestade anunciou planos para
visitar a casa. — Disse Crowley.

— Ele deve ter achado surpreendente. — Disse Sebastian.


Crowley deu de ombros. — Ele nunca apareceu.

— A saúde do rei não é a melhor. Ainda assim, a escada é magnífica. —


Sebastian seguiu Crowley pelo corredor, pisando em azulejos pretos e brancos.
Lustres decoravam as paredes, iluminando o quarto. O lugar parecia
infinitamente mais impressionante do que a sua casa em Yorkshire.

146
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— A senhorita Carlisle, por vezes, se hospedava no quarto. — Disse
Crowley, indicando uma sala à direita.

Sebastian vislumbrou um quarto cor de rosa, com uma cama dossel ao


lado de uma penteadeira feminina.
— E estes são seus aposentos. — Crowley apontou para o próximo
quarto.

Sebastian entrou em um quarto enorme. Tecido de veludo pesado


envolvia a cama de dossel e uma lareira dominava uma parede. Pintado de verde
garrafa, o quarto exalava opulência e masculinidade. Lewis tinha sido um
homem masculino.
— Será que isso é suficiente? — Perguntou Crowley.
— Vai ser mais satisfatório.

— Eu só espero que não haja mais roubo.


Sebastian estremeceu. Ele não tinha nenhuma vontade que o intruso
invadisse enquanto ele ocupava o quarto. — Estou confiante de que eu saberei
lidar com qualquer intruso. — Disse Sebastian.
Enquanto falavam, os cavalos relincharam novamente, batendo as patas
na terra. Sebastian e Crowley se encararam quando um som inconfundível de
vidro triturado e passos os assustou.

— O intruso. — Sebastian correu para o corredor, Crowley logo atrás.


Ele saiu em disparada para a escada. Onde está o atiçador?

— Na minha mão, Sua Alteza. — Disse Crowley.

É um bom homem.

Eles correram pelas escadas e atravessaram a sala de estar, antes de abrir


a porta para o seu destino.

147
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

12

Sebastian engasgou.

Penelope estava na frente dele, usando um pelisse24 topázio pesado e um


chapéu de palha. Vincos forravam seu traje, e fios de seu cabelo estavam para
fora de seu capô em uma forma nada artística, mas lá estava ela, de pé diante
dele: era inegável.
Sebastian arrastou de volta alguns passos. — O que você está fazendo
aqui?
— Eu sou sua prima. — Penelope passou por ele. — Eu tenho todo o
direito de estar aqui.

Ela passeou pelo corredor de azulejos, mal olhando para a escadaria


impressionante, e entrou na sala de desenho. Ela examinou os arredores,
acenando para o mordomo, cuja boca estava boquiaberta. — Você vai precisar
retirar os revestimentos de móveis, Crowley. E limpar esse vidro quebrado.
Temos a intenção de ficar aqui.
— Você não está satisfeita com Londres? — Sebastian correu atrás dela,
perplexo com sua presença. — A temporada não vai durar para sempre. Você
não estava gostando?

— Talvez. — Penelope desamarrou a touca, as fitas de cetim penduradas


sobre os ombros. — Mas a sua saída repentina me assustou. Eu me preocupo

24

148
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
com você.

— Você deve ter partido logo depois que eu.

Penelope deu de ombros. — Eu estava pensando em visitar amigos no


campo de qualquer maneira. Após o seu cocheiro informar ao teu servo de sua
partida repentina, ao invés disso, decidi visitá-lo.

— Que impulsivo.

Ela sorriu. — Marcus diz que serei a morte dele.

— Ele está aqui? — Sebastian olhou para a carruagem das janelas de


guilhotina, meio que esperando seu primo corpulento sair, seu cabelo escuro
encaracolados pela viagem.
— Não, não. Embora ele esteja a caminho. Eu enviei uma mensagem a
ele.

— Certo. — Sebastian inalou. Ele realmente não tinha escapado de


Londres, depois de tudo. — Bem, você é muito bem-vinda aqui.

Ele não se devia se esquecer que Somerset Hall foi sua uma vez, e que a
única razão pela qual era dele agora era porque seu irmão havia morrido. Vir
aqui era natural para ela, e quem era ele para negar-lhe isso?
— Então eu posso ficar? — Penelope gritou e bateu palmas enluvadas.
— Que maravilhoso. Vou escrever a Dorothea para que ela possa vir também.

— Dorothea? Isso não seria inapropriado? — Depois de seu


comportamento pouco convencional com o irmão dela, ele não estava ansioso
para vê-la.

— Bem, talvez um pouco inapropriado. A maioria das mulheres não se


muda para a casa dos seus noivos até casar. Vou precisar exercer o papel de
acompanhante de vocês dois. No entanto... — Os olhos de Penélope brilharam.
— Eu prefiro pensar que eu poderia ser uma dama de companhia um tanto
negligente. — Ela riu. — Eu considero meu dever como uma boa convidada.
— Penelope. — Sebastian se esforçou para parecer severo. Seu coração
se apertou com o pensamento de Dorothea chegando na mansão, já tendo

149
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
falhado com ela de forma tão espetacular. —Isso é o mais impróprio. Eu lhe
asseguro que Dorothea e eu não temos nenhuma intenção de nos escondermos
ao redor da casa. Não haverá necessidade de você fechar os olhos para qualquer
coisa.
Penelope fez beicinho. — Você sempre foi respeitável, Sebastian.
Mesmo com todas essas meninas se jogando em você. Eu não sei como você
conseguiu.

Sebastian ficou em silêncio, pensando naqueles minutos com William.


Ele mal tinha agido cavalheiresco então. No entanto, neste caso, nem William.
Por que foi que, mesmo depois de horas de solidão para contemplar a sua má
conduta, ele não podia ter certeza de que ele ainda lamentou aquela manhã? Ele
não deveria sentir repulsa? E por que ele se preocupa em como William pode
ter pensado de sua saída precipitada?
— Vou escrever a Dorothea logo para convidá-la. — Disse Penélope. —
Tenho certeza que ela ficará feliz por vir. Sem precisar ficar presa em Londres,
dizendo às pessoas que ela está noiva, mas o cavalheiro com quem ela está
envolvida desapareceu para Sussex. De todos os lugares. Ficamos mais
assustadas quando descobrimos. Você deve ter partido pouco antes de
chegarmos a visitá-lo. Dorothea parecia bastante chateada, coitada. Você deve
ter feito com que ela goste muito de você. Você e seus cachos loiros.
Penélope riu e deixou cair seu chapéu em um dos sofás. Sebastian o
pegou, ansioso para ocupar suas mãos.

— Não se preocupe, eu não lhe disse por que você foi embora.
O coração de Sebastian parou. Será que ela tinha ouvido alguma coisa
quando William visitou seu quarto? Eles tentaram ficar quietos enquanto se
deixavam levar, mas...

Penelope dá a volta em torno de William. Talvez o seu desejo tivesse sido


óbvio. E talvez ela tenha ouvido alguma coisa quando William visitou seu
quarto.

— Não fique tão assustado. — Penélope riu. — O mundo não acabou. O


juízo final não está sobre nós.
Sebastian ingeriu, seu coração martelando um ritmo inquieto, como se
150
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
não existisse nenhum padrão para desonrar sua família. — Perdoe-me,
Penelope. Eu... Nunca tive intenção de incomodá-lo. Minhas emoções, talvez
porque faz tempo que perdi minha esposa, talvez eu tenha me empolgado...

Ele estava falando besteiras. Um total absurdo.


Penelope inclinou a cabeça, observando-o. — Bem, é evidente que você
se deixou levar.

— Oh? — O ar engrossou e o suor se reuniu na parte de trás do pescoço


de Sebastian.

— Eu acho que é doce, no entanto.


— Você sabe? — Sebastian olhou para sua prima em perplexidade. Por
um momento, ele se permitiu ter esperança. Talvez William estivesse certo.
Talvez ele se preocupasse muito. Talvez ele pudesse ter uma vida com William
realmente.
— Claro. Você quer preparar a propriedade para a chegada de Dorothea.
É muito romântico. Embora você não precisasse se apressar vindo para cá tão
rapidamente.

— Bem, você me conhece. — Sebastian obrigou-se a rir, imaginando


como ele tinha imaginado que Penelope poderia saber. Se ela soubesse, ela não
estaria falando com ele agora. Seu comportamento seria o de repelir, e ela ficaria
furiosa com ele por colocar sua reputação e a de sua família em perigo.
Eu nunca iria vê-la novamente.

— Você não sabe que Bonaparte está planejando invadir aqui? —


Perguntou Penelope, alheia ao seu sofrimento. — Pode ser a qualquer momento.
Qualquer momento realmente. Acho que é mais emocionante.

— Eu não posso permitir que você esteja em perigo. — Disse Sebastian.

Talvez Bonaparte pudesse assustar sua prima se ele não podia. E então ele
poderia permanecer na propriedade sozinho, se recuperando de seu encontro
com William no conforto e privacidade de seu quarto e biblioteca. Ele desejava
deitar em sua cama agora e se cobrir com as cobertas.

151
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Como eu poderia permitir que você corresse perigo! — Penelope
colocou as mãos nos quadris. — Eu sempre fui muito mais corajosa que você.
Estou certa de que você precisa de mim.

— Se você quer dizer por corajoso o seu hábito surpreendente de pular


cercas altas, eu prefiro pensar que a sua falta de sentido necessita bastante a
minha presença.

— Exatamente. Então, você vai cuidar de mim. E em breve, espero,


Marcus vai chegar e vocês dois podem cuidar de mim juntos.

— Não há como argumentar com você, não é? — Sebastian suspirou.


— Não, não mesmo. Você não vai pedir a Crowley para me mostrar um
quarto? Ele vai precisar ter uma empregada para prepará-lo para mim. Já está
ficando tarde; e nós não gostaríamos de ser desconsiderados com ninguém.

— Não, claro que não. — Disse Sebastian, observando como Penelope


passava correndo por ele em busca do mordomo. Ele admirava, em muitos
aspectos, a personagem de sua prima. Talvez ela pudesse distraí-lo com as
experiências dos últimos dias.

— O capitão Carlisle virá também, é claro. — Penelope gritou do


corredor.

Sebastian congelou, esquecendo como respirar. Imagens de William em


cima dele e ao lado dele invadiu sua mente.
Sebastian lutou para firmar a voz. — O capitão? Ele disse alguma coisa
para você?

— Oh, não. Saí logo depois que ouvi que estava vindo aqui. Felizmente
eu já estava com a bagagem pronta. Eu imagino que a criada de minha dama de
companhia pode ficar aqui também?

— É claro. — Disse Sebastian, assustado, sem saber se ele estava aliviado


ou arrependido que ela não tivesse falado com William. Ele espiou pela janela.
A empregada delgada da dama de Penélope estava sentada na varanda da
carruagem, lendo.
— Fique longe dela. — Penélope riu, pegando-o olhando para fora da

152
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
janela quando ela voltou para a sala com Crowley atrás dela. — Você é de
Dorothea agora.

— Naturalmente. — A pele de Sebastian aqueceu e ele afastou-se da


janela.
Crowley olhou para ele com desconfiança. Ele não tinha certeza se estava
encarando a empregada da dama de Penélope. Como era fácil para algumas
pessoas atribuir-lhe os desejos típicos.

Ele limpou a garganta. — Eu não estou certo sobre convidar William. A


casa está desordenada. Muitos dos funcionários partiram por causa da ameaça
iminente de Bonaparte e os furtos na casa.
— Furtos? Tem havido roubos na casa? — Penelope virou-se.
— Sim. — Sebastian cruzou os braços. — Mais um motivo para você
voltar para a segurança de Londres.
— Oh, mas que emocionante. Eu sempre desejei um verdadeiro mistério.
Tal como em um daqueles livros maravilhosos de Ann Radcliffe.

Sebastian estremeceu. — Este não é um romance gótico, Penélope. —


Ele tentou falar com sua voz severa, mas foi recebido apenas pelo riso.
— Oh, mas pode ser quando a sua amada Dorothea vier. — Penelope deu
uma risadinha. Ela olhou ao redor, seus olhos se decidindo sobre o teto alto. —
Eu imagino que este lugar pode ser bastante assustador à noite.
— Por favor, não diga isso. — Sebastian estremeceu, olhando para a
lareira de mármore que se estendia até o teto, imagens mitológicas de ouro
cobrindo-o. — Eu já acho que é traumático não estar em Yorkshire.
— Onde tudo é seguro e chato. — Disse Penélope. — Yorkshire não
mudou, Deus sabe-se lá desde quando. Pior ainda, a província se orgulha de sua
inépcia pela mudança. Na verdade, estou muito contente que você esteja aqui.
Eu só espero que Marcus e Dorothea se juntem a nós em breve.
Sebastian estava grato que ela não dissesse William também. Talvez ela
o tenha esquecido. Eles caminhavam para fora da casa juntos, como a
empregada preparando seus quartos.

153
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Qual é a sensação de ser um duque? — Penélope olhou para a visão
de fora do jardim. Esculturas clássicas guardando o caminho principal em
intervalos regulares, e um enorme relógio de sol esticado diante do céu, inútil
no dia cinzento de março. — Tudo isso pertence a você agora.
— Eu gostaria que isso não viesse com mortes prematuras de nossos
parentes. — Sebastian respondeu.

O sorriso de Penélope vacilou. — Claro. Mas você deve encontrar tudo


um pouco atraente, não é?

A ternura fluiu através dele. Ele suspirou. — Eu não fui criado para
esperar essas coisas. Eu não teria sentido falta disso se o destino não tivesse
interferido.
— Oh, Sebastian. E você dificilmente passou uma grande parte do tempo
gerindo o seu patrimônio. Seus cavalos ainda estavam amarrados à carruagem,
quando cheguei. — Ela fez uma pausa. — Além disso, você não deve se referir
a Londres de uma maneira tão negativa. Eu não podia imaginar que o processo
de encontrar uma nova esposa para você fosse tão tentador. Eu gostei muito
mais do que o de encontrar o meu marido.

Sebastian sorriu. Ele não tinha dúvidas de que sua prima gostava de um
flerte. Ela deve ter achado sua temporada imensamente agradável.

— Ah, mas como é emocionante. — Disse Penélope. — Devemos


explorar a propriedade, especialmente porque não há jardineiros ao redor.
Podemos encontrar um soldado francês.

— Por que nós possivelmente quereríamos encontrar um, querida


Penelope? — Perguntou Sebastian.

— Você é realmente muito sensível. — Disse Penélope. — Um dia


vamos descobrir uma paixão para você. Imagine, um soldado francês, seu
uniforme imerso da chuva, tremendo e com medo, separado de seus
companheiros - Quero dizer, eles são franceses, então como eles podem ser
organizados?

— Você acha que devemos convertê-lo para uma identidade inglesa?


— Claro. Esta é a terra da grandeza e glória. — Penelope varreu seus

154
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
braços enquanto ela elogiava o país e Sebastian tinha pouca dúvida de que ela
acreditava na veracidade da sua declaração.

*****

O vento uivava e ramos da árvore de castanha batiam contra a janela.


Talvez Penelope estivesse correta ao se referir a Ann Radcliffe. Sebastian
estremeceu, despindo-se com pressa e lutando debaixo das nítidas cobertas que
a empregada tinha conseguido encontrar para ele.
Sebastian temia dormir no antigo quarto de Lewis. Apesar de suntuoso,
o quarto não tinha conforto, pelo menos, dada a comoção recente. Talvez ele
pudesse cobrar de Dorothea para redecorá-lo depois que eles se casassem.
Mulheres gostavam disso, não é?
Ele fechou os olhos, fixando-se na cama. Ela era confortável, muito mais
do que o seu passeio de carruagem tinha sido apesar da condução suave de Sam
e do interior de veludo. Ele se permitiu relaxar, rezando para poder dormir. Sua
mente se voltou para William e, por alguns momentos, ele mais uma vez correu
os dedos sobre sua pele sedosa, roçando sua bochecha contra a barba por fazer
de William, jogando os braços sobre ele – então ele abriu os olhos.

Ele não deveria pensar em William. Não assim. E, certamente, não em


seu estado meio vestido, imaginando-o entrar. A Bíblia de capa vermelha estava
em sua mesa de cabeceira. Já havia condenado a sua alma por toda a eternidade,
ou ele ainda poderia se redimir?
Logo ele iria se casar. Ele deveria se focar nisso. Mesmo que ele não
pudesse deixar de notar que Dorothea era uma mulher bonita. Forçou-se a
pensar em seu corpo arredondado e voz doce, mas sua mente zombava dele,
voltando para os eventos da manhã com consistência perniciosa.
Poucas horas depois, a voz de sua prima ecoou pela porta. — Sebastian.

Ele procurou um relógio no quarto. Certamente era muito cedo para ela
ligar para ele. Ele rolou, alcançando seu manto e pisando no chão frio. Ele abriu
a porta.

155
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Ele franziu o cenho, observando sua prima, vestida com vestido informal.
— Você sabe que esta não é uma decente, não?

A pele de Penelope corou, mas suas costas rapidamente se endireitaram.


— Você não está vivendo em Londres sozinho agora. Você deve entreter seus
convidados.

— Mesmo que você seja minha única convidada? Ele gemeu.

— Especialmente por causa disso. Sou bastante importante. — Disse


Penélope. — O sol está brilhando agora, e eu não gostaria de perder isso. Quem
sabe quando o tempo vai estar tão magnífico?
— Oh, Penelope, você não precisa ser tão dramática. — Disse Sebastian.
— Sussex tem uma excelente reputação pela luz do sul. Você deve ser um pouco
mais paciente.

— Por favor? — Perguntou Penelope, fazendo beicinho.


Sebastian não podia resistir a satisfazer sua prima e logo se encontrou
fora depois de colocar algumas roupas decentes. Outros podiam resistir a
satisfazê-la, mas ele achava seu entusiasmo cativante. Ele odiava a ideia de
negar-lhe a oportunidade de revisitar sua casa de infância. Lewis não teria feito
isso, ele tinha certeza.

A propriedade parecia mais agradável ao sol. Os montes podem não


manter a mesma majestade como aqueles em Yorkshire: eles eram menores, e
a grama pode não ser tão verde quanto em seu município de origem, mas ainda
era um tom vibrante de verde claro. Penelope estava certo para arrastá-lo para
fora.
Ele a seguiu pelos jardins, parando com ela quando ela exclamava sobre
os lilases.

— Como é estranho ver uma propriedade tão vazia. — Disse Penélope.


— Quando é que você vai arrumar o pessoal para cuidar dela?
— Se eles temem Bonaparte, eu não posso fazê-los trabalhar aqui.
Também me sentiria desconfortável dando seus empregos a outras pessoas. Os
jardins vão sobreviver a alguma negligência. Isso pode ser remediado mais
tarde. Estes são tempos difíceis.

156
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Você tem medo de Bonaparte? — Penelope perguntou a ele.

Sebastian fez uma pausa. Os camponeses da França tinham atacado seus


colegas lá com pouco aviso, em grandes levantes. Lewis tinha morrido no
exterior, seu corpo mutilado e irreconhecível. E mesmo William, o forte
William, tinha sido ferido.

— Eu não vou deixar Bonaparte ditar meus medos, quando ele ainda nem
cruzou o canal. Se a notícia se tornar horrível, podemos sempre nos mudar para
Yorkshire. Temos a sorte de ter essa opção. A maioria das pessoas não é tão
afortunada e não tem um cavalo e carruagem instalada em sua casa para que
eles possam recorrer caso precisem sair apressadamente.
Penelope sorriu. — Você é um bom homem, Sebastian.
Eles andaram mais para dentro dos jardins. Uma estrutura de tijolo
vermelha espiava entre os troncos robustos das castanheiras.
— Será esse o velho portão? — Perguntou Sebastian.
— Oh, sim. Assim é. Antes de Capability Brown 25
reorganizar o jardim
e criar o lago.

Sebastian assentiu. Contratar Capability Brown para projetar os jardins


tinha sido uma história de sucesso para as gerações passadas. Embora Sebastian
preferisse as paisagens selvagens favorecidas por paisagistas de influência
italiana, ele se viu forçado a apreciar a organização e cenas pastorais idílicas de
estilo georgiano, mesmo que isso significasse mudar a entrada do edifício.

— Vamos entrar. — Disse Penélope.

Sebastian seguiu. A portaria podia funcionar como um bom espaço de


esconderijo temporário para um ladrão. — Você acha que isso é sábio,
Penelope?

— Shhh.

25
Lancelot Brown, mais conhecido por Capability Brown, foi um paisagista e arquitecto britânico,
considerado como o pai da jardinagem paisagista inglesa. Desenhava paisagens para os aristocratas do seu
tempo

157
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian possuía pouca vontade de perturbar qualquer ladrão.

Ele seguiu o exemplo de Penélope, caminhando para a portaria,


retardando, colocando cada passada o mais silenciosamente que pôde. Ele
penetrou direto para uma janela, passando por cima de plantas, não querendo
assustar qualquer ladrão, abrindo a porta. Ele olhou para o velho portão, seus
olhos se ajustando ao escuro, observando duas cadeiras e uma mesa de madeira
com uma tigela cheia de algumas maçãs. Uma pequena cama ficava perto da
mesa.

Tudo estava quieto. Ninguém estava lá. Ele deu um passo para trás.
— Vamos, Penelope. Não há nada aqui para nós.
Os olhos de Penélope se arregalaram e ela voltou correndo atrás dele. —
Você viu isso?

— Sim. — Disse Sebastian. — Parece que não há ninguém morando lá.


Sinto muito, Penelope. Sem espião francês dessa vez.
— Você deve estar de brincadeira. — Disse Penélope.

Sebastian piscou.
— Oh, você é grosso às vezes. — Penélope suspirou. — Por que uma
cama feita se a portaria não tem sido usada desde que Capability Brown mudou
as coisas aqui em cima?

Sebastian ponderou sobre a questão.


— Exatamente. Isto não podia estar aqui. Nós já sabemos que não há
outros funcionários além da equipe da casa aqui. Por isso, não pode ser por eles.
Eu duvido que esses lençóis estejam lá desde 1770.

— Não, eu acho que seria muito estranho. — Sua prima tinha razão.

— Precisamente. E por que haviam maçãs sobre a mesa? Quem teria as


teria colocado lá? Não animais.

" — Vamos voltar para a mansão. — Disse Sebastian. Ele não achava
muito extravagante viver perto de pessoas tão desagradáveis. — Devemos ficar
longe dos jardins no futuro.
158
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Você não acha que devemos chamar o magistrado?

— E dizer o quê? Que existem algumas maçãs sobre a mesa e que não
sabemos como elas chegaram lá? Não, obrigado. Eu prefiro me misturar mais
em minha comunidade. O magistrado tem coisas maiores para se preocupar. E
não, eu espero, passear nos jardins somente. — Disse Sebastian severamente.

— Como quiser. — Penelope estremeceu.

Sebastian percebeu que ela provavelmente não estaria disposta a voltar à


portaria sozinha. Penelope pode ser teimosa, mas ela não era tola.

159
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

13

William já se arrependeu de se aventurar em sua primeira excursão desde


o incidente com Sebastian. Ele bateu os dedos contra a poltrona de couro
exuberante. Seu brandy permanecia na mesa, insultando-o, lembrando-o de
tempos melhores. Ele não tinha vontade de fazer qualquer coisa, até mesmo
beber. Seus pés afundaram no tapete grosso. Se ele ignorasse a sensação de dor
em seu peito, ele poderia alegar que ele estava confortável.
Alguns homens sentaram dispersos sobre o clube, discutindo suas últimas
excursões por toda a Europa, os seus murmúrios sobre amantes parisienses e
jogos de azar quebrados por rajadas ocasionais de riso.

Ele mudou de posição sob o seu olhar, reconhecendo alguns de Harrow.


Ele tendia a evitar White26.

Associando-se a senhores conservadores de origem aristocrática não era


como ele preferia passar seu tempo. Mesmo agora, sua visita não era de sua
própria vontade. Ele suspirou. Se seu pai não tivesse se mostrado praticamente
falido após sua morte, ele teria se sentido mais à vontade lá. Como estava, a sua
adesão ao White, garantida em tempos mais felizes, era suportava como uma
das poucas lembranças do legado de seu pai. Ele pegou sua bebida e deslizou
os dedos sobre o vidro de cristal. Ele imaginou a vida que ele nunca viveu, a
que seu pai tinha imaginado para ele, onde ele estaria na mesa de jogo, contando
histórias e brincado com as cortesãs.

Uma sombra caiu sobre seu assento.

— Você já viu dias melhores, meu caro capitão. — Seu companheiro


escorregou na cadeira em frente a ele.

Os punhos de William se apertaram, não estava pronto para uma


conversa. — Você trouxe o seu charme famoso, Reynolds.

26
Clube londrino.

160
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
O Lord Reynolds deu de ombros. — Eu simplesmente não gosto de vê-
lo tão perturbado.

William fez uma careta, sua mão tocando seu rosto, encontrando a textura
áspera da barba. O problema com a manutenção da higiene excepcional durante
anos era o de que no momento em que ficava mais negligente em seus esforços,
todo mundo comentava. — Estou mal. Eu dificilmente estou parecendo
perturbado.

— Os círculos sob seus olhos não conseguem sugerir vivacidade. É óbvio


que você está doente.
A mente de William voltou para a escola, onde ele conheceu pela
primeira vez esse senhor. Ele e Reynolds praticavam o tênis de parede, ambos
agressivos. Reynolds ainda praticava esportes, agora vestindo roupas
requintadas na forma típica de Corinto, sua esposa ao seu lado. E William foi
relegado para a Índia, precisando de sua comissão para se sustentar e deixando
sua irmã para cuidar de si mesma.

A mandíbula de William se apertou. Sem dúvida, Sebastian tinha sido


correto ao fugir dele.

E agora Dorothea, a irmã que amava, o abominava.

— Penelope está ansiosa para que nós dois vamos para Somerset Hall.
Ela escreveu que achava prazerosa a caça a espiões franceses na nova
propriedade de Sebastian. — Os olhos de Reynolds brilharam, sua adoração
óbvia.

William endireitou as costas, inconsciente, com a menção do nome de


Sebastian. Certamente Sebastian não toleraria essa atividade, não?

— Mas ela também é inflexível. — Reynolds continuou. — Ela gostaria


que nós dois nos juntássemos a ela. Assim como a senhorita Carlisle, é claro.

William considerou a oferta de visitar a nova casa de Sebastian. Por um


momento, ele se viu deitado na cama de Sebastian novamente, com as pernas
roçando as pernas de Sebastião, com as mãos que atravessavam o peito de
Sebastian, demorando-se em seus mamilos e dispersando o cabelo que os
rodeava. Por um momento, ele estava fazendo Sebastian rir, e tudo foi
maravilhoso. Ele balançou a cabeça. Essa visão era impossível.
161
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Temo que devo declinar. — William cruzou os braços, irritado que
Reynolds houvesse lhe convencido a encontrá-lo. Ele amaldiçoou o seu
desespero por notícias de Sebastian, desprezando que tudo o que Reynolds disse
a ele foi que ele não parecia bem. Como se ele não soubesse disso. — Estou
ocupado aqui.

— Fazendo o quê? Você não precisa nem jogar. Eu estaria sacrificando


muito para ir até Somerset Hall nesta época do ano.

— Estou certo de que sua conta bancária vai apreciar o intervalo. — Disse
William.
— Por que todo mundo acha que eu não jogo bem?
— Você está dizendo que são rumores maliciosos? — Perguntou
William.

— Algo assim. — Lord Reynolds resmungou.


Dorothea escreveu a Sebastião longas cartas diariamente, e pelo tempo
que ela passou debruçada sobre as cartas que recebeu dele, Sebastian estava
despachando suas longas cartas em troca. O homem não tinha escrito uma única
vez a William. Dorothea e Sebastian planejavam um grande casamento e, pelo
que William podia ver, apenas existia para dar a Lady Reynolds e Dorothea algo
para fazer.

William e Reynolds caminharam até a porta e pegaram seus casacos.


Mesmo que ele recusasse a oferta insistente de Reynolds para um descanso em
Sussex, ele resolveu sair de Londres. Lesão ou sem lesão, ele era um soldado.

Napoleão pode estar invadindo, e ele seria condenado se fosse descansar


em Somerset Hall, lançando olhares de cachorro sem dono para o novo duque.

*****

William estava na sala, brincando com as luvas.


— Você está indo embora? — Dorothea deixou de lado seu bordado e
162
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
ergueu as sobrancelhas. — Para ir para onde?

— Será que isso importa? — William se mexeu, encostado na porta da


sala de desenho. Ele olhou para a bandeja de carta, observando que uma nova
carta elegante de Sebastian tinha chegado.
William tinha evitado Dorothea, mas ele precisava dizer-lhe que ele não
estaria mais por aí.

— Não diga que você vai voltar para a Índia.

— Você sentiria minha falta se eu fosse?

Dorothea permaneceu em silêncio. Considerando o noivo que não os


tinham deixado mais próximos. — Eu não poderia ficar no caminho do exército
de Sua Majestade...
— Bem, eu não estou. — William fez uma careta.

— Oh?
— Eu não estou voltando para a Índia.

Os olhos de Dorothea se arregalaram, e ela se levantou do sofá. — Você


não está planejando visitar Somerset Salão!
— Se você quer saber. — Disse William, irritado de que essa fosse sua
única preocupação. — Eu entrei para reforço para defender a Grã-Bretanha em
casa. Eles estão construindo um forte em Lyngate.

— Isso não é muito longe de Somerset Hall.


— Talvez. — A pele de William corou. — Eu não sei. — É claro que ele
sabia. Lyngate estava na ponta da costa de Sussex, ao lado de South Downs27,
praticamente na fronteira com Somerset Hall.
— Ele evitou avaliar o olhar de Dorothea. — Eu quero ajudar a proteger
a defesa.

27
É uma cadeia de montanhas de giz que se estende por cerca de 260 quilômetros quadrados (670 km2) [1]
em todos os municípios do litoral do sudeste da Inglaterra do Vale do Itchen de Hampshire, no oeste de
Beachy Head, perto de Eastbourne, East Sussex , no leste.

163
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Que nobre.

William assentiu. A causa era nobre. Não havia nada - bem, quase nada
– que ele preferisse fazer. Ele não era contra a ideia de voltar ao exterior, mas
ele seria mais útil perto de casa. Quando um de seus colegas policiais havia
mencionado a necessidade de construir uma torre Martello28 em Lyngate para
proteger a região, ele agarrou a oportunidade.

Desde seu encontro com Sebastian novamente, seu coração disparou e


caiu, descobrindo que a vida continha mais emoções do que ele jamais imaginou
ser possível. Em seus momentos mais escuros, ele tinha medo de que
simplesmente não possuísse as emoções que os outros possuíam, preocupado se
a ausência de envolvimento emocional fez os homens apelarem para ele.
Homens como Reynolds eram simplesmente homens melhores, capazes de
amar uma boa mulher?
Nas últimas semanas, ele se agarrou à inocência de Sebastian, sua
confiabilidade, como um homem se afogando aproveitando-se de uma boia.
Agora que Sebastian tinha escolhido uma vida mais digna – para qual, depois
de tudo, as boias tinham a ver com o peso de um homem depravado - ele poderia
pelo menos servir seu país. Ele poderia, pelo menos, aspirar à nobreza de
Sebastian, com seus sonhos de melhorar sua propriedade e dedicar-se à sua
família.
— Eu suponho que você vai partir em breve? — Dorothea se acomodou
em sua poltrona, pegando seu bordado novamente.

— Sim. — Não havia nenhuma vantagem em prolongar a estadia.


Algumas horas mais tarde, William sentou-se à frente de uma diligência
pintada com o nome “The Sapphire”. Duas equipes de cavalos arrastaram-na e
uma dúzia de passageiros atraídos por Londres. Um guarda montou na parte de
trás. A experiência da lotação não era digna de ser ligada com uma joia preciosa,
embora ele apreciasse a tentativa.

O vento roçava seu rosto quando os passageiros se acotovelavam juntos.

28
Torres Martello, também conhecido simplesmente como Martellos, são pequenas fortalezas defensivas que
foram construídas em todo o Império Britânico no século 19, da época das guerras revolucionárias francesas
em diante.

164
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
O cocheiro corpulento estava entretendo o homem ao lado de William, um
comerciante que havia tomado o assento ao lado do motorista, provavelmente
pelo simples propósito de ser entretido. Os dois homens caiam na gargalhada
de vez em quando.
William não sentiria falta de Londres. Ele desejava mergulhar em uma
nova vida, desta vez na costa sul. Talvez ele tenha se aproximado do exército
de forma toda errada, concentrando-se nas injustiças e indignidades da guerra e
da pompa e esplendor do campo de batalha, em vez de na nobre causa da própria
guerra. Como ele tinha se apaixonado tão rapidamente pelo êxtase de estar com
Sebastian? William suspirou. Sua cabeça doía, exausto pela falta de sono.
William tinha pensado que ele iria falar sobre tudo com Sebastian depois.
Eles tinham compartilhado algo especial. Pelo menos ele achou a experiência
especial. Agora, ele se esforçava para entender o que Sebastian pensava.
O homem tinha simplesmente desaparecido. Provavelmente Dorothea
achasse imensamente prazeroso que ela soubesse onde Sebastian estava antes
dele.
Roncos suaves dos passageiros embalavam William. O calor o derrotou,
sua mente acalmou pelos efeitos da cerveja e da distração de paradas regulares
da carruagem quando o condutor mudava os cavalos e conduzia a todos para a
estalagem. As duas equipes de cavalos trotavam sobre a estrada de cascalho,
balançando a carruagem através do campo cada vez mais pastoral.
A grama se estendia e as cercas se espalhavam pela estrada. Um turbilhão
de nuvens marchava através do céu. Alguém mais jovem que William talvez
pudesse tentar encontrar formas nelas. Neste momento, ele mesmo reconheceu
nunca entrar significado nelas, contente apenas por assistir a mudança de cores.
Lacunas em azul infiltravam no céu cinzento, finalmente sobrecarregando-a.
Manchas rosa e laranja logo em seguida polvilhavam os céus até que a escuridão
o conquistasse.

O cocheiro passou pela aldeia de Hensley e William se perguntou onde a


mansão de Sebastian estava localizada. Ele olhou ao redor da aldeia, meio que
esperando ver Sebastian aparecer. Cada sombra, cada árvore, cada esquina era
Sebastian. Seu coração doía pela necessidade de ver o cabelo loiro e os olhos
azul do outro homem.

165
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— As pessoas aqui se recolhem mais cedo. — Disse o comerciante, rindo.
E, de fato, as casas estavam escuras e sem uma vela de sebo à vista.

— Sim, esse lugar foi praticamente abandonado. — O cocheiro se


inclinou conspiratório para o comerciante. — Algumas pessoas dizem que um
espírito vingativo assombra este lugar.

O homem riu. — Contos da carochinha sem dúvida. Bom para manter as


crianças desobedientes em cheque.

— Talvez. — Disse o cocheiro. — Mas há alguns que contam que já o


viram.
William franziu a testa, a sua mente sobre a aldeia abandonada. —
Certamente eles não poderiam estar todos com medo de um espírito.
Os outros franziram o cenho para ele. Talvez duvidar da história do
cocheiro não fosse a melhor maneira de iniciar uma conversa.
— Eu só sei que mais pessoas costumavam estar aqui há um ano. — Disse
o cocheiro.

— Você acredita que o espírito os prejudica? — Os olhos do comerciante


se arregalaram, e ele inclinou-se para o cocheiro.
O cocheiro deu de ombros. — É algo misterioso. Isso é tudo que posso
dizer.

William estremeceu. Ele não acreditava em fantasmas. No entanto, o


brilho prateado das bétulas sob o luar, o farfalhar das folhas e dos animais que
se deslocavam sobre elas, evocava uma atmosfera misteriosa. Um nó se apertou
em seu peito e ele repreendeu a si mesmo por não conseguir convencer a
Sebastian para ficar onde estava seguro.

A carruagem vagueava para fora de Hensley e ia em direção a Lyngate.

A pista estreitou até que os galhos das árvores em ambos os lados os


tocava. Provavelmente a área era muito bonita à luz do dia. Os cavalos,
ofegantes, esforçavam-se para puxar a carruagem pesada e os passageiros.
— Só mais uma parada antes Lyngate. —Disse o cocheiro.

166
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— The Sapphire nunca parou em Lyngate antes. O comerciante observou.

— É para acomodar esses tipos. — O cocheiro apontou com o polegar


para William. — Eles estão trazendo os militares para fortalecer a região.

As rodas do ônibus rangiam. Um animal gritou, interrompido por sons de


buzinas. William deu um salto.

A estalagem estava longe de ser vista. William puxou seu casaco mais
firmemente em torno dele. Esta área isolada seria um lugar perfeito para
atividades nefastas. Sua mão pegou sua pistola. Os passageiros estavam todos
em silêncio, talvez ouvindo os sons de salteadores.
— Maldita coruja. — O cocheiro murmurou. — Deve ter saltado em sua
presa.
O comerciante riu fracamente.

A carruagem fez uma curva e os cavalos relincharam, arqueando as costas


e batendo os cascos. O cocheiro puxou as rédeas, sua expressão amável
desaparecendo pelo nervosismo dos cavalos.

Um cavalo e cavaleiro estavam no centro da estrada. Atrás deles, uma


árvore caída bloqueava o caminho. Os cavalos não poderiam reverter. A
carruagem não tinha para onde ir. Eles estavam presos.

O peito de William apertou e doeu, como se o cavaleiro já tivesse atacado.


Será que eu sobrevivi a Índia para isso?
Ele pegou sua arma, animado quando a mão do cocheiro alcançou a dele.

O salteador se aproximou da carruagem, brandindo uma pistola. — Vocês


estão cercados.

As palavras foram ditas alegremente.

Galhos racharam, a terra bateu e logo outros dois cavalos romperam por
entre as árvores, os seus cavaleiros apontando pistolas.

Um tiro disparou.
Os passageiros congelaram e então, no silêncio, uma mulher gritou,

167
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
perfurando o silêncio.

Apenas o que William não precisava que acontecesse. O grito era inútil.
No campo desolado, as únicas pessoas para ouvi-la já estavam lá. Neste
momento, tarde da noite, não havia camponês lá fora para resgatá-los, com
forcados na mão.

Toda a gritaria só irritou os assaltantes. E os cavalos. Especialmente os


cavalos.

Em pânico, os cavalos viraram, empurrando a carruagem. William desceu


da carruagem, sua mão apertou a sua pistola. Seria este o fim? Talvez seus
temores sobre a costa sul não tinham sido premonições do destino de Sebastian,
mas do seu próprio. Ele não tinha nenhum desejo de acabar com a sua vida aqui,
desta forma, com esses estranhos, sua irmã ainda irritada com ele e Sebastian
ainda o rejeitando.
Os olhos do assaltante brilharam e ele dirigiu-se para a mulher que gritou.
— Vamos começar com você.

— Por favor... — A mulher implorou, e o assaltante disparou um tiro no


chão.

Desta vez, ninguém se atreveu a gritar.

O sangue de William subiu.

— Talvez você possa dizer ao condutor que não há lugar para uma
carruagem. Você pode me dar o seu dinheiro. — O ladrão flexionou os dedos.
— Pague-me para o problema de ter de dizer.

O guarda não estava à vista. William esperava que o tiro anterior não
tivesse sido dirigido a ele.

O coração de William bateu aceleradamente. Ele iria distrair os


assaltantes. Se o guarda estivesse vivo, ele seria, então, capaz de proteger a
carruagem. Resolveu não pensar que aconteceria o contrário.
Ele saltou para fora da carruagem. O chão se moveu em direção a ele,
mas ele se endireitou antes que colidisse com o solo úmido.

168
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Os assaltantes o cercaram.

Ora, temos um fugitivo. — Um dos homens exclamou através do lenço


cobrindo a boca.

— Você está tentando lutar para encontrar uma rota de fuga? — Um dos
assaltantes conduziu seu cavalo para mais perto de William; o animal
corpulento relinchou, bufando e batendo de forma deselegante, condizente com
o criminoso que transportava.

— Eu não sonharia com isso. Eu caí. — Ele piscou para os salteadores e


estufou o peito, esperando que o guarda fosse pegá-los de surpresa.
— Isso é uma linguagem um pouco sofisticada para nós aqui, não é
meninos? — Os outros homens riram, aproximando-se dele, da mesma forma
que uma matilha de lobos inspecionando sua presa.

William examinou-os. Se eles se aproximassem mais dele, talvez ele


pudesse identificá-los mais tarde.
Se ele sobrevivesse a esta noite. William leu bastante artigos em jornais
sobre salteadores saberem que sua segurança não estava garantida.

Os homens pareciam ter mais ou menos a sua idade. Um tinha o cabelo


encaracolado escuro, outro tinha cabelo ruivo – o que era bom -, talvez ele
pudesse ser rastreado depois, enquanto o outro homem... o outro homem se
afastou, evitando o olhar de William.
Que estranho. Claro que todo o incidente foi estranho. Ainda assim, ele
teria pensado que o homem iria querer manter sua posição um pouco mais. Ele
olhou para as mãos do homem. Nenhuma arma. Em um segundo, William
estava sobre ele, empurrando-o para uma cerca. Os ramos rasgaram o uniforme
de William, cortando seu pescoço e mãos. William pegou o ladrão de estradas,
jogando-o ao chão.

O outro homem gritou. Ele parecia familiar.


William relaxou seu aperto, olhando para seus olhos escuros. — Já nos
encontramos antes?
O homem empalideceu.

169
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Eu tenho certeza que eu o conheço. — William repetiu.

Os outros dois cavaleiros olhavam nervosamente para o terceiro


salteador. Um deles perguntou: — É verdade?

O homem balançou a cabeça em um movimento furioso, e os outros


assaltantes riram. ― Eu não acho que ele gostaria de consorciar com tipos como
nós. ― Disse o homem de cabelos gengibre.

Algo brilhava em sua visão periférica. O guarda. Graças a Deus. Ele se


arrastou para fora e deslizou contra a lateral da diligência.

William esperava que os outros passageiros permanecessem em silêncio.


Felizmente, eles eram adequadamente cuidadosos para os perigos de
salteadores.
― Alto! ― O guarda gritou, atirando contra os homens. William
empurrou o salteador de cima dele e tirou sua pistola.
Os homens olharam assustados. O ruivo perguntou: ― De onde é que ele
veio?

― Não importa. Nós estamos indo. ― Disse o homem de cabelos


escuros. Eles saltaram para seus cavalos, galopando para longe. O guarda voltou
ao seu posto na parte de trás da carruagem e William guardou a pistola para o
seu lugar. ― Eu esperava mais violência.

― Conte suas bênçãos, sem perguntas. ― O cocheiro apontou para


William. ― Sorte que este homem ajudou.

― Podemos agradecer ao guarda. ― O coração de William correu, ainda


sem acreditar o que ele havia testemunhado.
― Bem, ele parecia ter aproveitado seu tempo ajudando. ― Disse o
cocheiro resmungando. ― Eu sou grato a você, senhor. Você realmente o
conhece, não é?

― Eu não tenho certeza. ― Disse William. O homem parecia familiar.


― Você já o viu antes?
― Nunca. Embora esta é uma nova adição à rota. Alguns da nobreza local

170
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
reclamaram sobre termos adicionado esse caminho. Eles não sabem o que é bom
para eles. Deveria ter tido uma parada no Lyngate há muito tempo.

A diligência manobrou para uma estalagem. William suspirou.


Assaltantes de estrada. Ele não podia acreditar que Sebastian tinha se mudado
para essa região.

*******

Sebastian retirou-se para seu quarto, percorrendo as escadas rangentes até


seu quarto, ainda desacostumado com sua nova casa. Ele tremia e seus dentes
batiam.
Uma das janelas deve ter sido deixada aberta. Ele atravessou a sala e
inclinou-se para fechar a janela.
Estrelas iluminavam o céu escuro. Uma figura escura se aproximou a
cavalo.

Seu coração deu um salto. Talvez William estivesse chegando.


Ele estava perto da janela, observando o cavaleiro desmontar e amarrar o
cavalo na grade da entrada.
O homem dirigiu-se à porta da frente. Era William. Ele estava certo.

Ele começou a suar e os seus joelhos enfraqueceram, sem saber o que ele
diria a ele. Nada tinha mudado depois de tudo.

Mas então - ao vê-lo novamente. Seu peito inchou e as lembranças de


William o inundaram. Talvez as emoções não devessem ser racionais.
Ele esperava que William fosse perdoá-lo.

Uma batida forte na porta da frente ecoou do outro lado da parede, e ele
fechou a janela, batendo os painéis e correu para fora do quarto para o corredor.
O som de passos o seguiu.

171
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Sebastian!

Ele virou-se.

Penelope correu atrás, um robe de seda puxado sobre a camisola. Seu


cabelo fluía pelas costas.
― Você viu quem é?

Ele deu de ombros, formando um sorriso no rosto.

― Talvez o fantasma tenha vindo chamar! ― Ela piscou.

Sebastian sorriu. A figura muscular não parecia ser fantasmagórica. Eles


correram pelas escadas. Sebastian iria pedir desculpas por ter partido de forma
tão abrupta. Ele esperava que William pudesse perdoá-lo, imaginando o seu
encontro.
Ele abriu a porta, com o coração batendo.

Não era William.


Lord Reynolds estava diante deles.

― Querido! ― Penelope gritou, jogando os braços em torno de seu


marido.
― Boa noite. ― Sebastian se esticou, esperando que o seu hóspede não
pudesse ler a decepção no rosto. ― Você nos deu uma entrada dramática.
― Eu sei. ― Disse Reynolds. ― Agora, o meu cavalo...

― Será que você montou todo o caminho desde Londres?


― Eu fiz de fato.

― Meu herói. ― Penelope olhou para o marido com admiração


extasiada, os longos cílios esvoaçantes famintos.

Sebastian percebeu que enquanto Reynolds tinha qualidades libertinas


definidas, ele tinha uma esposa que o adorava. Ele até parecia adorá-la também.

O cavalo relinchou, batendo suas patas contra o cascalho.


172
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Meu cavalariço vai alimentar o seu cavalo e colocá-lo no estábulo. ―
Sebastian odiava fazer seu pessoal trabalhar até tarde da noite. Ainda assim, ele
iria se esforçar para ser um bom anfitrião. ― Gostaria de tomar uma bebida?

― Você deve estar exausto. ― Disse Penélope.


― Gostaria muito de um brandy. ― Reynolds sorriu enquanto Penelope
enfiava a mão na dobra do cotovelo. ― Vamos para a biblioteca.

Reynolds mostrou o caminho. Sebastian esqueceu que Reynolds


conhecia a casa melhor do que ele. Ele suspirou, irritado que o homem tinha
chegado.
― Eu pensei que você poderia ser o capitão Carlisle. ― Disse Penélope.
― Por que você teria pensado isso? ― Reynolds se serviu de um brandy,
oferecendo um a Sebastian. ― Você acha que eu poderia ficar separado de você
por muito tempo?
― Além disso. ― Reynolds disse: ― Você não estava ciente? O capitão
Carlisle passou a trabalhar com o general Hawtrey em Lyngate. ― Sebastian
respirou fundo. Assim, William não tinha nada contra estar em Sussex, afinal.
William só tinha algo contra ele.
― Você não pode estar falando sério? ― Disse Penélope. ― Dorothea
teria dito alguma coisa para mim. Estou certa. Ora, ela tem escrito a Sebastian
sempre. Ela mencionou algo, Sebastian?
Sebastian balançou a cabeça. As cartas de Dorothea pareciam compostas
unicamente com a intenção de finalizar os preparativos do casamento. Ela nunca
tinha mencionado William e Sebastian não podia pedir a sua noiva para
qualquer informação sobre ele.

― Eu imagino que ele não comentou com ela. ― Disse Reynolds.

― Dorothea sempre reclamou que William escondia as coisas dela. ―


Disse Penélope. ― Eu não tinha ideia de que poderia ser algo tão grave. O que
o General Hawtrey iria querer fazer em Lyngate? É apenas uma cidade do
condado. Praticamente uma aldeia. O lugar não contém sequer uma igreja
decente.

173
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Eu acredito que eles estão querendo construir torres Martello ao longo
da costa de Kent e Sussex. Eles estão à procura de bons lugares.

― Assim, a ameaça de guerra é real, então?

― Temo que sim, Penelope. Esta não é uma região segura para uma
senhora ficar. Então, eu tinha que vir para protegê-la. ― Reynolds pegou
Penelope pela cintura, girando-a sobre o ambiente, os fios de castanha de seu
cabelo voaram.

Sebastian ignorou as efusões românticas de Reynolds com sua esposa. ―


Então, William estará na linha de frente?
― É uma maneira de falar. ― Disse Reynolds, soltando sua esposa, que
olhou para ele com admiração.
― Mas ele está ferido!

― Ele se ofereceu. ― Disse Reynolds. ― E Sussex não está neste


momento sob ataque, embora os franceses possam vir a qualquer momento.
Aparentemente, você pode ver a França de Dover em um dia claro.

― Que reconfortante. ― Sebastian fingiu um bocejo. ― Eu temo que


deve me recolher. Por favor, aceite minhas desculpas.
Ele subiu os degraus para o seu quarto, ignorando o espancamento
instável de seu próprio coração. Ele cerrou os punhos, tentando impedir o
tremor de suas mãos.
William estava aqui. Em Sussex. Em uma cidade bem próxima.

Sebastian despiu-se e deitou na sua cama dossel. Ele tinha sido tão tolo.
William iria continuar com sua carreira militar como se nada tivesse acontecido
entre eles.

174
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

14

William vagou frente ao mar de Lyngate, sentindo o prazer de voltar ao


trabalho, seus passos mais leves do que em Londres.

As gaivotas disparavam sobre ele, suas asas batendo, seus gritos


estridentes carregados pela brisa.

No final da cidade, penhascos brancos de calcário cobertos por grama


verde exuberante se projetavam sobre o oceano: esta era a famosa South
Downs29. Alguns dos soldados de folga passeavam, os punhos de suas espadas
brilhando ao sol poente. Seus uniformes vermelhos brilhavam contra a grama,
parecendo por um momento como um campo de papoulas balançando. Somerset
Hall estava do outro lado da colina, e por alguns momentos, ele imaginou
Sebastian vagando por sua propriedade, mais ordenada e pura do que as colinas
irregulares que apareciam diante de William.

Ele tinha passado o dia com o General Hawtrey, em busca de um bom


lugar para fortificar a costa contra Bonaparte. O general, um homem forte e
exuberante, lançou-se na tarefa de encontrar um local promissor e então, quando
eles descobriram um a oeste da principal cidade, atirou-se para a tarefa de
celebrar a descoberta de forma adequada com o vinho.
O céu azul berilo acima refletia sobre as ondas que caiam sobre a costa
em batimentos regulares. William lembrou-se de um relógio, contando os
momentos até que Bonaparte atravessasse, levado pela força rítmica.

Ele caminhou ao longo da costa, cumprimentado aquele ou outro soldado


ocasional que ele encontrava. Ele não tinha receios sobre a sua capacidade para
esconder seus desejos deles, acostumado a estar em torno dos homens, mesmo

29

175
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
os mais bonitos e musculosos que povoavam o exército.

Ele gostava de trabalhar para fortalecer a Inglaterra. A Grã-Bretanha


declarou guerra novamente a Bonaparte em maio passado, o que era uma sorte
que, depois de quase um ano, Bonaparte ainda não tinha invadido pelo canal.
A Inglaterra estava apenas seis horas da França. Se o Primeiro Cônsul
conseguisse romper a marinha Inglesa, o exército Inglês iria lutar para impedir
que as forças francesas invadissem para o interior.

William permaneceu na parte inferior da colina que separava Sebastian


dele. Ele suspirou e se afastou da beira-mar, subindo outro morro menor que
conduzia ao centro da cidade. Ele precisava livrar seus pensamentos desses
cachos loiros.
30
Seu olhar repousou sobre os edifícios em enxaimel enquanto
caminhava passando pelas pequenas portas das casas.
Lyngate pode ter permanecido pequena - havia uma razão pela qual a
cidade não tinha ganhado uma parada de diligência até agora -, mas alguns dos
edifícios Tudor possuíam grande charme.

De vez em quando, ele olhava para trás, sua pele formigando com a
sensação de que alguém o estava seguindo. Ele estremeceu. Vários bares
estavam a vista e ele entrou em um, ávido por uma distração de sua paranoia.

Ele abriu a porta e foi até o bar lotado em busca de um assento disponível.
Um dos voluntários, um jovem chamado Joshua, acenou com a cabeça e
William sentou-se à sua frente. Sua nova vida acenava; ele deveria familiarizar-
se com ela.
Após a troca de saudações, Joshua se inclinou sobre a mesa. ― Diga-me,
é verdade que Bonaparte pode atacar?

William sorriu, consciente de que o voluntário o tinha visto passar o dia


inteiro com o general. Sem dúvida, pensou William, ele apoderou de toda a
melhor informação. Ele deu de ombros. ― Infelizmente, Bonaparte parece ter
pouca coisa para focar agora.

30
Ter paredes com uma estrutura de madeira e um enchimento de tijolo ou gesso.

176
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Joshua assentiu, o rosto solene. ― A França não está muito longe.

― Não, não está. E agora a maior parte de nosso exército está no exterior.
Somos um alvo tentador.

― Eu imagino que podemos fortalecer nossas defesas terrestres mais


rápido do que ele pode construir uma marinha melhor.

― É claro. ― William sorriu. Eles se esforçariam para fazer tudo o que


pudessem. Eles iriam construir melhores defesas.

― Meus pais enviaram a minha irmã para morar com uma tia e um tio
em Birmingham. ― Disse Joshua. ― Eles acham que a cidade seria atingida
menos duramente.
― De fato, a região central dificilmente seria o primeiro lugar de ataque
de Bonaparte. Você é dessa região?

― Eu vivi aqui toda a minha vida. Eu odiaria que qualquer coisa para
estragasse isso. Minha menina está aqui. ― Joshua voltou-se para William. ―
Você é casado?

― Eu estive longe, na Índia, e agora eu estou aqui.


― Você tem estado em torno de muitos homens. ÷ Disse Joshua. ― Você
precisa estar em torno de algumas mulheres para uma mudança.

― Bem. Nenhuma está aqui. Você mesmo disse. Mesmo sua irmã teve
que ir para Birmingham.
― Uma vergonha. Vocês poderiam ter saído juntos. Jemima é muito
bonita.

― Tenho certeza de que ela é linda. ― William não se debruçou sobre a


desgraça que a irmã de Joshua vivia em Birmingham.

― Casamento. Esse é um assunto complicado. Minha irmã, Jemima, não


se casou no ano passado, quando ela poderia, e agora todos os homens estão
fora. Só voluntários aqui. Vejo-os mais do que Jemima.
William queria ter certeza de que a conversa não se demorasse na
disponibilidade de Jemima. ― Que predileção por nomes do Velho Testamento
177
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
por parte dos seus pais.

― É algo que vem com a profissão do meu pai.

― A sua profissão?

― Ministro. ― Joshua tomou um gole de cerveja. ― Na paróquia de


Santa Catarina. Ele não está satisfeito com a ideia de eu servir no exterior. É
por isso que estou aqui. Talvez eu vá participar de qualquer maneira, se ele não
me convencer a tornar-me um ministro também.

William balançou a cabeça, não querendo discutir o mérito do exército e


influenciar o homem para afastar-se de sua vocação. Ele não precisava de mais
razões para o céu estar chateada com ele.
William se inclinou em direção a ele. ― Se você notar alguma coisa
estranha, eu estaria interessado em saber sobre isso. Minha irmã planeja se
mudar para a mansão em breve.
Joshua inclinou a cabeça. ― Sua irmã é Dorothea Carlisle?
― Sim.

― Noiva do novo duque?


William assentiu, surpreso que Joshua estava tão familiarizado com o
noivado de Sebastian.
― Oh. ― Joshua moveu sua caneca para longe. ― Eu não sabia que eu
estava falando com o cunhado de um duque.
― Futuro cunhado.

― Você deve ter sido bem nascido.

William deu de ombros. ― Bem nascido suficiente. Na verdade, a minha


irmã fez um bom jogo. Meus pais não possuíam muito dinheiro, afinal, mas
fomos educados o suficiente.

Ele estava compartilhando muito. Mas talvez isso estivesse bem. Joshua
parecia mais propenso a confiar nele.

178
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― O novo duque não carece de recursos. ― Um sorriso apareceu no rosto
de Joshua. ― Então é um compromisso por amor.

― Alguns poderiam descrevê-lo assim. ― Disse William. O romantismo


de Joshua o enervava. Será que parecia para os outros que Sebastian tinha feito
isso por amor? Seu peito se apertou e ele pegou sua bebida.

― Diga-me, eu ouvi que a maior parte dos criados de Somerset Hall


partiu, alegando que o lugar era assombrado.

Joshua endureceu. ― Só se você considerar fantasmas sem cabeça como


sendo incomum. Algo não está certo sobre Somerset Hall. ― Joshua se levantou
e o saudou.
William balançou a cabeça, contemplando a partida repentina de Josué.
Eu preciso proteger Sebastian.

******

Sebastian examinou a vista de sua varanda. Ou melhor, ele estudou uma


coisa particular em sua opinião. Ele não tentou encontrar cisnes e espadas nas
nuvens se deslocando acima dele, em suas formas que apareciam no brilho rosa
de um sol nascente. Seus olhos não me debruçaram sobre a grama, imaginando-
se deitado sobre o seu calor cada vez maior. Nem ele descansava os olhos no
lago ajardinado e nas fileiras de árvores, uma vez tão bem cuidadas, ou nos
vários ramos que espreitavam para fora, fugindo depois de anos de poda na
negligência recente.
Ele se concentrava exclusivamente na portaria.

Na casa secular medieval aninhada contra os castanheiros e salgueiros


pesados, seus gastos tijolos vermelhos ofuscados pelo ataque da natureza que a
rodeava. Talvez as árvores não tivessem dominado a área de uma só vez, mas
os ramos esticaram e os troncos engrossaram quando a portaria caiu em desuso.

Será que alguém vive lá? Sem fumaça saindo da chaminé. Mas a
primavera chegou, e um vagabundo se escondendo não gostaria de chamar a

179
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
atenção para si mesmo. Ele suspirou. E se ele pedisse a Reynolds para vasculhar
o lugar com ele? Ou ele poderia simplesmente investigar sozinho. Agora,
quando ainda era cedo, quando apenas pessoas incapazes de dormir estavam
acordadas.
Reynolds, muito provavelmente, estava gostando de estar reunido com
sua esposa, e Sebastian não queria que Penelope soubesse de qualquer tentativa
de explorar a propriedade: ela poderia declarar a intenção de acompanhá-los.
Ela dificilmente poderia ser contida. Agora era a hora de ir embora, antes que o
céu rosado ficasse azul e o dia começasse oficialmente. Sebastian foi para fora,
qualquer coisa para evitar pensar sobre as atividades de William, lá do outro
lado das colinas.
Sebastian seguiu o rio ao longo da encosta, vagando mais profundamente
pelo jardim. Apressando o passo, determinado a chegar ao portão antes que
qualquer habitante acordasse, ou, pelo menos, fizesse a cama. Ele olhou por
cima do ombro, satisfeito que ninguém o seguisse. Ele correu pelos jardins,
além das coberturas que necessitavam uma poda e as ervas daninhas jorrando
dos canteiros de flores. Como poderia Penelope sonhar em convidar as pessoas
até aqui?

Seguindo seu caminho em direção à guarita na antiga entrada da


propriedade, dirigiu-se para a porta, com cuidado para pisar levemente. Ele deu
um passo fora do caminho, evitando as pedras cuidadosamente colocadas -
muito barulhento para seus propósitos. Seus pés se afundaram no solo macio e
bolor se agarrou a suas botas. Oh, bem. Grayson não ficaria satisfeito quando
ele chegasse.

Algo soou. Um baque. Algo que não chegou a soar como se não
pertencesse ao lugar. Algo como passos pisando sobre uma superfície sólida.
Ele inspecionou a área, certificando-se que não se tratava de ninguém. Satisfeito
que ele estava sozinho, ele pressionou sua orelha contra a porta de madeira.
Metal tilintava.
Seu coração disparou. Talvez ele devesse ter esperado Reynolds acordar.
Ele deveria pelo menos ter dito a alguém. Depois de explicar a Penelope sobre
os perigos de visitar o lugar, ela dificilmente acharia que ele tivesse vindo
sozinho, quando ele não fosse encontrado. Se ele não fosse encontrado, ele se
esforçaria para lembrar a si mesmo. Talvez fosse simplesmente sua imaginação.

180
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
No entanto, os ruídos pareciam ficar mais altos, mais fortes. Por um
momento, Sebastian se perguntou se ele deveria deixar sua posição. A maçaneta
da porta girou. No momento seguinte, ele estava em queda livre na portaria.

Ele engasgou. Braços fortes o levantaram antes que ele batesse no chão.
Braços que lhe pareciam familiar, cheirava familiar: como folhas de pinheiro.

Ele olhou para cima, piscando e estremeceu, consciente do alcance


quente das mãos de William enquanto ele o firmava. O que William está
fazendo aqui? Meros centímetros separavam o seu rosto de William, e ele
observou a curva familiar de sua mandíbula. Seu rosto permanecia tão bonito,
apesar de anéis escuros agora enquadrados em seus olhos magnéticos. Um rubor
rosado se espalhou no rosto de William. Sua barba brotava, com a cabeça
enfeitada em seus cachos escuros, e Sebastian desejava tocar seus cabelos.

Ele estava também quase certo que William estava sorrindo para ele.
― Você fez isso de propósito. ― Sebastian escovou suas roupas e se
esforçou para recuperar a sua postura.

― Talvez. ― William sorriu, seus olhos brilhando com humor. ― Ou


talvez você seja estranhamente desajeitado.

Sebastian inalou, lutando para recuperar o controle. Ele ainda sentia o


toque quente de William em cima dele. ― Você abriu a porta rapidamente.

― E você pressionou o ouvido contra ela.


Sebastian se encolheu.

― Algo o compeliu a fazê-lo? ― Perguntou William.

― Eu pensei que você fosse um intruso nas minhas terras. Exatamente o


que você é. Você deveria estar na Lyngate.

― Da próxima vez, faça suas investigações com mais discrição. Você era
visível da janela da guarita.

― Oh. ― Sebastian franziu o cenho. Sim, William certamente está


sorrindo agora.
― Não importa. ― Disse ele. Como réplica, faltava-lhe a eficácia.
181
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Espere. Como você sabia que eu deveria estar em Lyngate?

Sebastian olhou para baixo. As folhas secas cobriam o chão, todos os


vários tons de castanho. ― Talvez eu não seja a única pessoa ruim em manter
segredos.
Sebastian ansiava pular nos braços de William. Lhe custou um grande
esforço não fazer isso.

― Então nos encontramos de novo, capitão Carlisle. ― Sebastian recuou


e endireitou os ombros. Isso não estava se transformando em um bom dia.

O rosto de William nublou e ele fez uma reverência. ― Um


acontecimento inesperado, excelência.
― Certamente você não pode se surpreender ao encontrar um homem em
sua própria propriedade.

― Tenho notado uma tendência em você a abandonar sua casa com


pouco aviso prévio. É um prazer incomum encontrá-lo assim tão estabelecido.
Sebastian corou com o insulto velado. Na verdade, ele havia deixado
Londres repentinamente. William tinha se preocupado com ele? Ele empurrou
o pensamento de sua mente. William não tinha direito de preocupar-se com ele.
Então Sebastian lembrou-se de onde eles estavam. Ele franziu o cenho.
― Você já chegou a avisar sua irmã? Ela não está aqui.

William suspirou. ― Você não precisa se preocupar. Eu não vou ficar


muito tempo. Eu queria falar com você.

Sebastian entrou na pequena guarita e examinou o interior. A cama


parecia mais convidativa.

Mais convidativa do que qualquer cama deveria ser, especialmente


quando sequer tinha sido feita durante o tempo de Capability Brown há quarenta
anos ou tinha sido usada por um ladrão.

A menos que William tenha sido o responsável pelas maçãs


abandonadas.
Seus olhos se focaram na cama. ― Capitão?
182
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
William se moveu. A tensão encheu o ar. Mais uma vez a sensação do
toque de William, a memória de envolver as pernas e os braços em volta de
William dominou Sebastian.

― Vamos lá para fora. ― Disse William.


Caminharam em silêncio. O que William queria falar? Ele queria discutir
o incidente no quarto de Sebastian? Como ele responderia?

Sebastian se lembrou de William empurrando-o para baixo na cama,


desabotoando a camisa. Beijando-o. Em todos os lugares. Ele revivia aqueles
momentos muitas vezes desde então, entre horrorizado e saudoso. Talvez
William quisesse continuar fazendo essas coisas.
― Se isto é sobre o outro dia... ― Sebastian inalou. As palavras que ele
estava prestes a dizer, que ele precisava dizer, ficaram presas em sua garganta.
Ainda assim, ele insistiu: ― Temo que fui pego de surpresa. Eu estava
dormindo quando você entrou, eu... Eu não era eu mesmo.
― Eu entendo. ― O rosto de William endureceu, mas sua voz tremeu
quando ele perguntou: ― Eu suponho que você vai dizer que eu o forcei?

Sebastian observou os músculos se contraindo na mandíbula de William.


O homem exalava força e capacidade. Ainda assim, os dois sabiam que
Sebastian poderia arruiná-lo se quisesse.

― Não. Não, claro que não. ― Apressou-se a dizer Sebastian, ansioso


para acalmar os receios que William pudesse ter. ― O incidente foi um mal-
entendido. Eu não vou contar a ninguém o que ocorreu. Espero, porém, que
nunca falemos sobre isso novamente.
A testa de William franziu. ― Como quiser.

Sebastian perguntou por que William não parecia mais aliviado. Ele
deveria estar mais feliz sabendo que sua reputação não estava em perigo.

William limpou a garganta. ― Eu esperava discutir outro assunto.


Sebastian assentiu. Ele deu um passo sobre os galhos caídos e esperava
que o som de seus pés esmaga-os não chamasse a atenção. Como foi que,
mesmo nesta floresta deserta, numa propriedade privada com poucos

183
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
funcionários, ele ainda temia que alguém fosse encontrá-lo com William? Uma
árvore tinha caído, e ele caminhou em direção ao seu tronco, espalhado no chão
sobre um pequeno riacho. William fez um gesto e Sebastian subiu em cima dele
e sentou-se, com os pés balançando no ar. O espaço entre eles pareciam muito
grande.

William sorriu e se acomodou ao lado dele.

― Você já ouviu falar sobre o fantasma que mora aqui?

Isto não era o que Sebastian esperava. De modo nenhum. ― Eu ouvi...

― Você o viu? Ou a ela? ― William o examinou.


Sebastian levantou a sobrancelha.
Isto definitivamente não era o que ele esperava que William discutisse
em seu primeiro encontro após o incidente. Mesmo que ele houvesse proibido
William de abordar o tema, ele desejou que William tinha indicado que os
minutos arrebatados que passaram juntos no apartamento de Sebastian tinham
significado algo para ele. Sentia-se tolo, por trazer o assunto à tona.
Provavelmente os homens do exército faziam todos os tipos de coisas estranhas
juntos quando não havia mulheres ao redor, que não significavam nada.
Provavelmente Sebastian foi o único que deu demasiada importância ao evento.

Sebastian contemplou a declaração de William. ― Eu imagino que você


esteja familiarizado com a crença de que os fantasmas só existem em histórias?
Pessoalmente, eu sempre tive essa noção.

William corou. ― Algumas pessoas acreditam que elas sejam reais.

― Você é uma delas? ― Esta era uma nova impressão de William. O


capitão do exército britânico, que acreditava em fantasmas, ponderando seu
gênero.

― Não! ― William parecia ofendido e depois relaxou, correndo os dedos


contra a casca de musgo. ― Tenho razões para acreditar que alguém pode estar
dizendo que Somerset Hall está assombrado deliberadamente para afastar as
pessoas.
― Oh. Isso é diferente, mais compreensível.

184
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Sim.

― Mas há um problema com isso. ― Disse Sebastian.

― De fato?

― Algo estranho vem acontecendo. As coisas foram roubadas e as


pessoas ouviram barulhos estranhos durante a noite. Eu tenho ouvido barulhos
estranhos durante a noite.

― O que foi roubado?

― Bem, aí é que está. Nada de muita importância. Algumas roupas


velhas. Você pode imaginar?
―Sério?
― E Lady Reynolds está convencida de que alguém está vivendo na
antiga portaria.

― Por que? ― Perguntou William. Parecendo assustado. ― Era por isso


que você estava encostado na porta?

Sebastian endureceu. ― Eu estava tentando ouvir barulhos misteriosos.


Se você tivesse prestado mais atenção...
― Mas isso é perigoso. ― A expressão de William escureceu. ― Você
nunca deve fazer isso de novo. E se eu fosse alguém perigoso?
Sebastian pensou William lhe tinha parecido mais perigoso do que
qualquer outra pessoa que ele já conhecera, mas decidiu apenas respondê-lo. ―
Foi apenas uma ideia que Penelope teve... não pode ser verdade.

― O que lhe deu a ideia?

― Bem, ela viu um pouco de comida na mesa e a cama tinha lençóis


frescos sobre ela.

William assentiu.

― Quero dizer, isso poderia estar lá apenas para um dos servos. ―


Continuou Sebastian. ― Mas não temos um funcionário que trabalha na

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
portaria. Nós nem sequer a usamos mais. Capability Brown mudou a entrada da
propriedade, por isso não vale a pena. Acho que eu poderia perguntar ao
mordomo.

― Não pergunte ao mordomo. ― A voz de William aprofundou com


autoridade.

Sebastian levantou a sobrancelha para a assertividade de William. ―


Gostaria de lembrar que você não detém quaisquer reivindicações para esta
propriedade ou a qualquer dos seus servos?

― Perdoe-me. Estou ultrapassando os limites. Eu só quis dizer que você


não sabe com quem ele pode falar. Pelo que sabemos, ele mesmo pode ser o
responsável.
― Eu duvido que o mordomo se disfarce como um fantasma.

― Talvez não.
― Nem eu acredito que seja capaz de roubar coisas.
― Mas quem pode garantir isso? ― Perguntou William. ― Você sabia
que essas coisas estavam acontecendo antes que você chegar?
― Isso não tem nada a ver com o mordomo.
― Tem tudo a ver com ele. Ele deveria ter informado mais cedo sobre os
distúrbios.

― Oh. ― Sebastian contemplou a sua declaração. Será que ele nem


mesmo confiava no mordomo? A responsabilidade de assumir a propriedade
apareceu diante dele.

William suspirou. ― Em verdade, é improvável que ele seja culpado.


Talvez ele não visse uma necessidade suficientemente grande para contatá-lo.
Ele não conhecia você, e o ladrão levou apenas pequenos itens. Mas você não
pode atestar a sua inocência. As pessoas nem sempre são o que parecem. Você
tem que entender.
Sebastian assentiu.
― Será que Dorothea nunca mencionar um Hammerstead para você?
186
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian ficou tenso e sua respiração parou, lembrando-se de seu
encontro no baile. ― Eu tive o prazer de conhecê-lo uma vez. Eu não o
encontrei excessivamente amigável.

― Não? ― Os olhos de William o estudaram. ― Então, talvez ele não


seja confiável também. Sir Ambrose pediu-lhe para se tornar o magistrado para
esta região. Ele é seu sobrinho...

― Não se preocupe. ― Disse Sebastian. Ele colocou a mão no braço de


William, removendo-a quando William se enrijeceu.

Ele se comportou terrivelmente quando abandonou Londres. Era


compreensível que William se confundisse com suas ações.
Por que, então, tinha William insistido em vir para Somerset Hall para
falar com ele? Algo deve estar preocupando-o. O fantasma. ― Você está
convencido de que o fantasma é uma pessoa?
― Os sinais apontam para isso, sim. Quem, no entanto, gostaria que a
mansão ficasse desprovida de funcionários e visitantes?

― Contrabandistas? ― Sebastian sugeriu.

― Talvez. ― Disse William. ― A prática tornou a região famosa.


William abriu a boca como se para continuar. Sebastian permanecia em
seus olhos, paralisado pela riqueza de seus olhos castanhos cheios de fumo. Ele
quebrou o silêncio. ― Reynolds montou seu cavalo de Londres até aqui sem
encontrar ninguém.

― Que sorte o homem tem. ― William mordeu o lábio. ― Ele está aqui?

― Ele acabou de chegar.

― Interessante. ― William levantou-se para partir, parecendo estranho.


― Eu deveria voltar para Lyngate agora.

O pensamento de William andando todo o caminho de volta para Lyngate


quando ele tinha acabado de chegar era demais para Sebastian suportar. Cada
momento de seu encontro lhe doía, mas o pensamento de não vê-lo parecia pior.
― Fique. ― Disse Sebastian. ― Perdoe-me. Vem para dentro. Você
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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
pode encontrar os outros. Não me diga que o quartel Lyngate é mais atraentes
para você em seu dia de folga.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

15

Sebastian levou William pelo jardim para Somerset Hall, consciente dos
olhos do capitão sobre ele.

Embora os jardineiros estivessem ausentes, as indicações de que o lugar


tinha sido majestoso uma vez, permaneciam. As plantas perenes floresceram.
Prímulas inglesas brotaram, espalhando suas flores de cobalto. Em pouco tempo
as rosas se juntaram a elas. Subiram o morro, passando pelo pomar de maçã e
riacho, até que a mansão apareceu diante deles.

No momento em que chegaram à casa, toda a força do sol brilhava,


irradiando seu esplendor.

Penélope e seu marido descansavam fora, protegidos do sol por uma


castanheira frondosa que lançavam sombras sobre a casa.

― Capitão Carlisle? ― Sua prima se levantou, escovando o vestido


branco da manhã.

― Que prazer em vê-lo. ― A voz profunda de Reynolds se ergueu e ele


se mexeu da cadeira e fez uma reverência. ― Uma surpresa bem-vinda.
― Nós estávamos justamente discutindo como seria bom para você se
juntar a nós. ― Penelope se superava em fazer qualquer um se sentir em casa,
mesmo quando a casa era um conjunto de cadeiras dispostas em uma superfície
plana gramada.

― De fato? ― Perguntou William.

― Eu recebi um bilhete de sua querida irmã. Dirigida a Sebastian, e eu


não tive coragem de abri-lo.
― Não que ela não tenha considerado seriamente a ideia. ― Disse
Reynolds. ― Fiz de tudo, menos impedi-la de invadir a cozinha para ver se o
vapor saindo dos potes iria abrir a carta.
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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Penelope bateu no marido com carinho.

Reynolds esfregou o ombro na dor fingida. ― Você deve ler isso agora.
Eu duvido que sua senhoria possa aguentar o suspense por muito mais tempo.
Eu certamente não posso.
Sebastian pegou a carta de Penelope, abrindo-a com ansiedade. Ele olhou
para as letras perfeitamente formadas que sua noiva tinha feito.

Penelope bateu o pé com impaciência enquanto Sebastian examinava a


carta. ― E então?

― Ela diz que fez arranjos para vir nos visitar. Ela deverá estar aqui em
poucos dias.
― Que maravilha! Estou muito satisfeita. ― Ela bateu palmas de
excitação. ― Estou certa de que você está muito contente também. Olha como
você está corando!
Os outros se voltaram para ele. Dorothea estava chegando. Logo. Viveria
em sua casa. Apesar de que era bobagem, ela estaria vivendo com ele para o
resto de sua vida. Alguns dias a partir de agora seria o começo do resto de sua
vida.
― Estou muito contente. ― Disse Sebastian, ignorando a onda de dor
súbita. ― Quanto mais companhia, melhor, certo?

― Que pombinhos. ― Disse Penélope.


― Francamente, Lewis acabou de morrer. ― Disse o marido.

― Tudo o mais alegre! ― Penelope sorriu. ― E, além disso, Dorothea


ficou de luto por ele. É apropriado que ela encontre um marido, e como é
maravilhoso que seja justamente o Sebastian.

Sebastian achou toda a conversa uma consternação. Anteriormente as


mulheres comprometidas possuíam poucas opções, e Dorothea e seu casamento
seria apenas para aliviar a sua situação. Por que todo mundo assumia que
estávamos apaixonados?
Ele olhou para William, que tinha um sorriso tenso no rosto.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Desculpe-me. ― Sebastian se encaminhou através das portas
francesas para a sala.

Ele vagou por dentro, ansioso para encontrar um lugar para pensar. Lá
fora, ouviu William entabulando uma conversa com Reynolds sobre a
construção de fortificações. Como o homem estava calmo.

Sebastian afundou em uma poltrona. Depois de um tempo, um sussurro


soou. Penelope estava diante dele.

― Você está infeliz. ― Disse Penélope.

― Bobagem. ― Ele se esforçou para sorrir, na esperança de convencê-


la.
Sua prima franziu o cenho, mordendo o lábio enquanto olhava para ele.
Suas habilidades de atuação precisavam de melhoria.

― William me disse que pessoas poderiam estar fingindo ser um


fantasma aqui de propósito, para afastar as pessoas. ― Disse Sebastian, ansioso
para mudar de assunto, ignorando os apelos anteriores de William por sigilo.

― É por isso que você está preocupado?


Ele acenou com a cabeça. Pode não ter sido a principal coisa que o estava
preocupando, mas era algo que o preocupava. Penelope não precisava saber
todas as suas preocupações.

― Eu acho que lhe faria bem visitar a aldeia Hensley. Pode aliviar
algumas das suas preocupações. ― Disse Penélope.

― Como você é sábia.

― Naturalmente. ― Seus olhos brilharam. ― É bom que alguém seja um


exemplo para que você possa aspirar seguir.

― Você vai me acompanhar?

― Eu imagino que Marcus e o Capitão Carlisle iriam encontrar a


excursão igualmente prazerosa.
― Então vamos todos. ― Sebastian tentou novamente sorrir.

191
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
*******

A visita não foi bem sucedida.

Eles chegaram de volta na propriedade, exaustos e preocupados por não


encontrar um único habitante para falar.
O mordomo deu uma carta a Sebastian. Será que um de seus amigos da
sociedade descobriu que ele estava em Sussex? Ele abriu o convite.

― Sir Ambrose nos convidou para jantar em sua casa.

― Eu não acho que Sir Ambrose seja uma companhia que você deve
aspirar para manter. ― Disse William.
Sebastian fez uma careta. ― Primeiro você praticamente nos proibiu de
vir para Sussex, e agora você quer influenciar sobre a nossa companhia?
― Caro capitão Carlisle. ― Penelope disse. ― O barão pode não ser para
todos os gostos, mas o seu apoio será vital para nós.
Sebastian considerou isso. Talvez Sir Ambrose fosse exatamente a pessoa
que queria falar. Talvez ele pudesse ajudá-los. Ele esperava que sim.
― Eu temo que você pode restringir as nossas companhias como também
nossos movimentos. ― Disse Sebastian. ― Nós, os Lewises, somos altamente
independentes.
William corou com o insulto velado.

― Vem, capitão Carlisle. Sir Ambrose convidou você também. Ele não
sustenta uma opinião negativa de você como você parece ter dele. ― Disse
Penélope.

― A natureza desconfiada do nosso capitão serviu-lhe bem ao lutar na


Índia e convenceu-o a dedicar seu tempo para fortificar a costa, mas ele deve
saber que Sir Ambrose dificilmente o dominará com uma arma. ― Disse
Reynolds.

Os outros riram com o pensamento, enquanto o rosto de William


escureceu. ― Perdoe-me. Naturalmente, será uma honra visitar seu vizinho.

192
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
*****

William achou o seu tempo com o novo duque agridoce. Após a reunião
estranha na portaria, um padrão constante de visitas tinha evoluído. William e
Sebastian evitavam um ao outro, mas William não conseguia parar as visitas
inteiramente. Sem dúvida, ele era tolo ao regressar.

Somerset Hall o atraía. A chance de ver Sebastian, estar em sua


companhia, oprimia qualquer sentido que ele mantinha durante o trabalho. Seu
destino parecia sempre lembrá-lo dos encantos do outro homem.
Um dia, as rodas de uma carruagem rasparam na calçada em frente.
William ficou tenso.
― Sua noiva. ― Penélope sorriu para Sebastian e acenou para William.
― E a sua irmã.
Eles se levantaram de suas cadeiras, em direção à entrada principal. Os
criados já haviam se reunido em frente. Embora eles ainda não fossem casados,
Sebastian desejava que sua noiva fosse recebida adequadamente.

Dorothea desembarcou da carruagem, protegendo os olhos do sol


nascente. Ela parecia frágil contra a grande carruagem.

Qualquer esperança que William tivesse para uma estadia curta foi
frustrada quando os servos descarregaram muitas malas da carruagem.
Provavelmente ela carregava uma mala separada apenas para suas joias. Esta
não era uma mulher que pretendia uma breve visita.

William sabia que ela tinha visitado Somerset Hall quando noiva de
Lewis e, apesar de tudo, ele sentiu uma pontada de ciúme quando os servos
brilhavam sorrisos largos em saudação. Sebastian se aproximou dela em
primeiro lugar, seus cachos loiros brilhando ao sol.

― Senhorita Carlisle. ― Sebastian fez uma reverência para ela.


― Sua Graça. ― Ela fez uma reverência.
― Que prazer em vê-la. ― Disse Sebastian. ― Eu espero que sua viagem

193
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
tenha sido agradável?

― Tão agradável quanto poderia ser. Estou ansiosa para me familiarizar


com a mansão. ― Ela olhou para a casa.

― Parece que você é bastante popular com o pessoal. ― Sebastian


indicou a fila de serviçais que esperavam por ela.

Dorothea sorriu. ― Certa vez eu estava para ser sua senhora.

― E então você deverá ser novamente.

― Eu ficaria honrada.
Cada minúcia apertou o coração de William. Bem. Não era como se
Dorothea pudesse admitir que tivesse corrido para garantir que o casamento
acontecesse ou ver seu admirador secreto. Seus dedos cerraram, irritado
novamente com o pensamento.

Dorothea deu a volta, seus olhos escuros olhando para ele debaixo de seus
cachos. Ela endureceu.

William olhou para ela com desafio. ― Como foi a sua viagem?
― Quão delicioso passeio de carruagem de doze horas pode ser.
― Eu quase levei um tiro em minha viagem. ― Disse William.

― Você? ― Os olhos de Sebastian se arregalaram. Mesmo Dorothea


parecia chocada.

― Eu vejo que os salteadores não optaram por fazer uma aparição para
você.

Dorothea balançou a cabeça.

― Muito apropriado. Está muito imponente para eles. Uma qualidade


admirável. ― Disse William.

Sua irmã corou. ― A que devo a honra de sua presença?

― Eu mal podia manter-me afastado. ― William não tinha visto

194
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Dorothea desde a sua discussão, e ele podia que não havia mudado muita coisa
entre eles.

― Trata-se de sua primeira visita à mansão? Devo lhe mostrar a


propriedade? ― A pergunta parecia inocente, mas William sabia que a resposta
seguramente era de suma importância para a irmã.

Ele fez uma pausa, movendo-se, não querendo confessar que não era a
primeira vez dele na mansão. No final, ele não precisou.

― Seu irmão? Ele já esteve aqui várias vezes. Ele deve ter desenvolvido
um grande carinho por vir aqui, dada a quantidade de vezes que ele passeou por
aqui. ― Disse Penélope.
― As colinas do Sul são mais agradáveis. ― Disse William. ― As
falésias calcárias e colinas agradam aos olhos.

― Você vê? ― Penélope riu. ― Ele deveria ter sido um pintor. Ou um


poeta.
Dorothea estremeceu. ―Meu irmão sempre exibe as mais estranhas
tendências românticas.

― Como é doce. ― Disse Penélope. ― É uma vergonha que ele esteja


solteiro. Ele vai ser um lindo marido para uma mulher algum dia.

― Você conhece todas as mulheres elegíveis na área? ― Dorothea virou-


se para Penelope ansiosamente.
William percebeu que Sebastian observava a interação. Penélope
suspirou. ― Eu temo que elas estejam todas em Londres.

William sorriu. ― Que pena.

Dorothea franziu a testa, seguindo Penelope para dentro.

― Deve ser um prazer para você ter sua irmã aqui. ― Disse Reynolds
para William.

William assentiu. ― Nós nos encontramos muito pouco.


― De fato. ― Reynolds olhou para ele atentamente.

195
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
William se mexeu, desconfortável. Talvez fosse porque o homem jogasse
cartas. Talvez ele tivesse desenvolvido o hábito de ler os outros muito bem.

― Vamos? ― William apontou para a biblioteca. ― Talvez possamos


tomar uma bebida enquanto Dorothea se instala em seu quarto.
― É claro. ― Reynolds murmurou. ― Você conhece o caminho.

196
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

16

Dorothea e Lady Reynolds ocupavam o seu tempo no planejamento de


um casamento extravagante. Sua irmã adquiriu um prazer distinto em torturá-
lo, pedindo a sua opinião sobre tudo, desde as decorações de modas.

Ele não poderia se importar menos se sua irmã optasse por usar um
vestido de noiva branco, como estava ficando popular, ou uma cor mais
aventureira.
William subiu até o morro da Lyngate.

Esta noite seria diferente. A noite não seria gasta roubando olhares sub-
reptícios de Sebastian na sala de jantar e biblioteca.

William temia visitar Sir Ambrose. O homem o enervava. Se Dorothea


também não estivesse indo, ele pode considerar em ficar em casa. Mas Dorothea
não gostava do homem mais do que ele, e ele não podia permitir-lhe visitá-lo
sem ele. Ele não podia vê-la sofrer. O suor se formava na parte de trás do seu
pescoço e seu ritmo acelerou.

Sua rota para a mansão passou pela guarita onde ele tinha encontrado pela
primeira vez Sebastian. O pequeno prédio de tijolos parecia inofensivo e ele
sorriu, lembrando-se da convicção de Sebastian de que isto estava ligado aos
acontecimentos estranhos.

Como se a presença de um vagabundo fosse uma circunstância incomum.

Ele inalou. Sua frequência cardíaca acelerou quando ele olhou sobre ele.
Ninguém estava à vista. Ele não precisava estar na mansão por um tempo -
muito tempo para fazer um pouco de investigação. Talvez ele possa até distrair-
se do desconforto da próxima noite.

A floresta se estendia por trás do portão, e ele penetrou em folhas e galhos


espalhados, sua crise aludindo às memórias de tempestades passadas e dias
tempestuosos. Ele avançou, pressionando o calcanhar no chão primeiro para
197
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
evitar quebrar um galho.

Ele segurou a pistola escondida dentro de seu casaco, pronto para


qualquer salteador. Ele sempre mantinha uma faca escondida na bota também.
Xingando a cor visível de seu uniforme, ele passou pela janela. A cor carmesim
não era facilmente escondida, mesmo na vegetação espessa.

Ele pressionou seu corpo contra a parede de tijolos do portão e olhou para
dentro da janela.

Tudo permaneceu como tinha visto pela última vez: uma cama, uma mesa
e duas cadeiras. Tirando isso, o lugar estava vazio.
Ele se arrastou em torno da portaria, empurrando a porta com força
súbita. Ninguém saltou, ninguém gritou. Ele suspirou. Ele estava esperando por
uma aventura? Fortalecendo uma costa que nenhum inimigo poderia se arriscar
a enfrentar, em contraste com a agitação de uma guerra real. Visitas regulares a
um homem que ele nunca mais tocaria o agonizava, assim como observar sua
irmã e Sebastian formarem uma união que condenaria todos eles à infelicidade.

Talvez uma distração fosse suficiente. Ele entrou na casa, abaixando a


cabeça sob as vigas em estilo Tudor e abaixou-se sobre a cama impecavelmente
feita. Se um ladrão vivesse aqui, ele era muito arrumado. Na verdade...
Agachou-se debaixo da mesa e examinou seus olhos ao longo dos cantos da sala
e fez uma careta. Às vezes, o que não estava lá era significativo.
Teias de aranha. Nem uma teia de aranha.
Não que William tivesse uma grande admiração por aranhas. Mas ele
notou sua ausência. Alguém passou um tempo neste lugar. Não alguém que
andava lá acidentalmente - alguém que ficou o tempo suficiente para arrumar o
lugar. Talvez o vagabundo tivesse montado uma casa lá.

Certamente, a pessoa não seria o admirador secreto de Dorothea, não?

William correu para Somerset Hall, determinado a criação de vigilância


para prender o culpado em breve. Por um momento, ele esperava que os outros
fossem esquecer a visita de Sir Ambrose.
Eles não esqueceram. Às quatro e meia, todos se dispersaram para se
trocarem. William permaneceu na sala.

198
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Lord Reynolds veio primeiro, enfeitado em calça e um casaco de cobalto.
Mas o coração de William saltou quando Sebastian apareceu no topo da escada,
vestido com um casaco de ébano e calça de cetim preta com uma gravata
marfim. Seu cabelo dourado brilhava.
Dorothea e Lady Reynolds vieram logo depois.

Dorothea parecia régia em um vestido de alta costura em roxo profundo,


seus cachos escuros emoldurando seu rosto. Lady Reynolds tinha vestido um
vestido simples creme de renda drapeado.

― Você se assemelha a uma deusa. ― Reynolds respirou ao ver sua


esposa. Ele estendeu a mão e disse: ― Minha mulher grega.
William sorriu, seu coração balançando pela expressão de felicidade que
ele nunca iria experimentar.

― Vocês dois são mais charmosos.


Lady Reynolds sorriu para ele e seus olhos se enrugaram nos cantos. ―
Caro capitão Carlisle, agora que você voltou para a Inglaterra, quando você vai
se casar?

― Sim, William, nos diga. ― Dorothea fixou seus olhos castanhos


escuros nele.

Ele franziu a testa, seu estômago se apertou. Ele virou-se para determinar
se os outros haviam notado a conversa. Eles tinham.
Lord Reynolds inclinou a cabeça, parecendo muito intrigado com a troca.
Sebastian virou as costas, prestando enorme atenção às pinturas que revestiam
o hall.
― Eu duvido que eu seja do tipo que se case. ― Disse William.

― Mas isso não pode ser verdade. Você é amável e gentil. Você é
exatamente o tipo que se casa. Estou certa disso. ― Exclamou Lady Reynolds.
― Por que, se você tiver uma falha, essa seria a humildade. Você não percebe
a grande captura que você seria para uma mulher de sorte.
― William sofre de extrema modéstia. Eu não acredito que eu já o tenha

199
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
visto em algum envolvimento. — Dorothea alisou as dobras de seu vestido.

― Seria indecoroso no exército. ― William esperava que o assunto fosse


desaparecer. Isso não aconteceu.

— Você é muito atencioso para o seu próprio bem. — Disse Lady


Reynolds. — Muitos oficiais se casam. Todo mundo precisa para formar uma
família.

— Então, eu simplesmente não encontrei a mulher correta. Sua senhoria


já havia se casado com você. — William acenou para Reynolds.

Lady Reynolds riu e escondeu a boca atrás de seu leque de renda.


Sebastian se virou, seu rosto escurecido.
— Nem todo mundo é tão feliz como eu por encontrar a pessoa certa. —
Reynolds colocou a mão na parte inferior das costas de sua esposa e guiou-a
para fora. William estava grato a Lord Reynolds por resgatá-lo.
— Vamos? — Sebastian levou Dorothea para fora, onde a carruagem os
aguardava. A mão enluvada de sua irmã agarrou o braço de Sebastian.

O sol brilhava contra o rosto e os cabelos de Sebastian. O homem


praticamente brilhava. William estremeceu apesar de si mesmo, desejando
poder levar o homem em seus braços novamente, de fato, em algum momento
ele tinha.

— Tem alguma coisa errada? — Perguntou Lady Reynolds.


— Só frio. — Disse William quando a carruagem se aproximou. — Estou
ansioso para sentar lá dentro.

— Você deve adquirir uma nova carruagem. — Disse Lady Reynolds


para Sebastian, franzindo o nariz. — Este é mais ao gosto da minha mãe.

Floreios rococó cobriam a carruagem colorida.

— Eu recomendo uma barouche31. — Disse Lord Reynolds. — É mais

31

200
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
elegante.

— Bobagem. A parte superior não chega nem perto. — Sebastian esticou


o braço para guiar Dorothea na carruagem.

Paralisado pelo casal deslumbrante, a dor agora familiar no estômago de


William retornou. A irmã dele deslizou sua mão em Sebastian.

— Que belo casal vocês fazem. — Disse Lady Reynolds, olhando para
eles. William também subiu.

Dorothea sorriu, entrando na carruagem. Sebastian seguiu atrás dela,


estabelecendo-se a seu lado.
Os outros empilhados do outro lado, e a carruagem seguiu o caminho.
William obrigou a refletir sobre a paisagem, se concentrando em qualquer lugar
que não fosse descansando os olhos em sua irmã e Sebastian. Eles faziam um
casal elegante. Ele agarrou seu chapéu nas mãos, correndo os dedos sobre a
borda de cetim, esperando que pudesse se distrair.
Lady Reynolds lançou um olhar crítico sobre os ocupantes da carruagem.
— Pare.

O cocheiro, sempre obediente, assim o fez. A carruagem parou, jogando


Sebastian e Dorothea nos assentos em frente deles. Os cavalos pisotearam em
confusão.

— Qualquer coisa que seja importante, Penelope? — Lord Reynolds


agarrou sua esposa.

— Os pombinhos não podem sentar-se um ao lado do outro. Eu levo meus


deveres de acompanhante muito a sério. Dorothea, você se move para o meu
lado. William, você se senta ao lado de Sebastian.

William evitou os olhos de Sebastian, relutante em sentar-se ao lado dele,


consciente da proximidade a que seria submetido. Tinham evitado estar
próximos um do outro, depois que tinham conversado no jardim.
— Eu duvido que Sua Graça tire proveito de minha irmã na frente de
todos nós. — Disse William.

201
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Apenas troquem de lugar. — Penelope cruzou os braços.

— É melhor fazer o que ela diz. — Lord Reynolds deu de ombros. — Eu


sei disso por experiência.

— Porque eu estou sempre certa. — Disse Penélope.


— A maioria de forma consistente. — Lord Reynolds sorriu.

Estar na mesma carruagem que Sebastian e compartilhar do mesmo


banco, nada menos, fazia com que a frequência cardíaca de William decolasse.
O homem o deslumbrava. Ainda assim, ele já havia protestado, não podia
continuar a fazê-lo sem incorrer na ira de Lady Reynolds e o possível desdém
de seu marido. Não havia nenhuma boa razão para que ele não pudesse sentar-
se ao lado de Sebastian.
Dorothea franziu a testa, mas não discutiu.

William mudou de assento com sua irmã, deslizando para o assento rosa
ao lado de Sebastian, ficando o mais longe possível dele, rezando para que o
passeio fosse suave.

A carruagem começou a se movimentar novamente com um solavanco e


William agarrou seu chapéu. Sua irmã olhou para fora da janela. Ele tinha
certeza de que ela tinha sentimentos mistos sobre estar de volta em Somerset
Hall sem Lewis.

A mão de Sebastian estava casualmente no assento entre eles.


Desesperado para seguir a trilha de pelos loiros ao longo da mão de Sebastian
até seu pulso para – e que os céus o ajudasse, muito mais longe - William se
moveu, consciente das outras e ainda mais interessantes partes do corpo a
poucos centímetros dele.

Seu pênis inchou. Droga. Ele mexeu no assento. Sebastian virou a cabeça
para ele, os olhos arregalados.

Tudo o que William podia ver eram os lábios cheios de Sebastian. Tudo
o que ele se lembrava era a sensação de sua boca sobre Sebastian e tudo o que
ele imaginava era os lábios de Sebastian quando estavam sobre ele. Tudo sobre
ele.

202
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Ele evitou contato visual com Sebastian.

William fixou os olhos nas borlas de ouro pendurados em todos os


lugares e os bordados de ouro que decoravam as cortinas rosa. O carro era tão
horrível como Lady Reynolds alegou.
― Esta carruagem me faz lembrar de tudo o que a Revolução Francesa
lutou contra. ― Disse Sebastian.

William percebeu um tremor na voz de Sebastian, como se Sebastian


também estivesse tentando distrair-se.

― De fato. ― Disse Penélope. ― Não que isso signifique simpatizar-se


com os revolucionários franceses.
Sebastian deu uma risada aguda. ― Pelo menos agora eles não mais
realizam execuções em massa em uma base diária, embora seu plano agora,
liderado por Bonaparte e atacar todas as nações ao seu redor, parece pouco
melhorada.
― Mas isto está funcionando. ― Disse William.

― Funcionando? Ora, é horrível. ― Uma emoção cintilou no rosto de


Penelope, e ela franziu as sobrancelhas juntas.
Dorothea lançou-lhe um olhar de advertência. William assentiu,
consciente de que tanto Penelope e Dorothea tinham perdido alguém querido
para elas na guerra.
― Eu só quero dizer. ―Continuou William. ― Que Bonaparte tem sido
muito bem sucedido. Ele está conquistando todos estes países e ele pode
conquistar-nos em breve.
Reynolds concordou. ― Tem havido muitos rumores de espiões
franceses.

― E os barcos franceses na costa, se os jornais podem ser uma fonte


confiável. ― Disse Dorothea.
William franziu a testa, lembrou-se do francês que tinha insistido em
enviar um bilhete de amor para Dorothea. Talvez Dorothea soubesse mais do

203
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
que indicava.

― Então Bonaparte está fazendo um bom trabalho? ― Perguntou


Penelope.

― Para ele. ― Disse William. ― Ele percorreu um longo caminho.


― Então é bom que tenhamos você para nos proteger. ― Disse Sebastian.

As palavras aqueceram William.

― Eu me lembro de passear de carruagem com Marcus quando nos


casamos. ― Disse Lady Reynolds, quebrando o silêncio. ― Cada vez era uma
excitação. Nossas coxas escovando juntas. Esse choque de calor. Você se
lembra disso, querido?
A carruagem deu uma guinada em torno de uma curva da estrada,
forçando Sebastian e William a se aproximarem. Ele escondeu um suspiro
quando o calor da perna de Sebastian pressionou contra a dele e fez o pau de
William inchar novamente.
Por um momento feliz, Willam sentiu se como seus corpos se
comunicassem em segredo. Ele moveu a perna mais perto de Sebastian. Um
gemido coberto por uma tosse rápida escapou do duque. Ele olhou para
Sebastian. Um rubor apareceu no rosto do homem, tal como o rubor que
apareceu quando eles estavam juntos na cama.

Nus, se contorcendo.
William engrossou e esticou mais. Droga. Em um movimento rápido, ele
colocou o chapéu sobre o seu colo e balançou a cabeça para a janela.

Ele amaldiçoou a si mesmo. Cercas. Trevas verdes que obscureciam


qualquer campo. Mesmo o céu não era visível. Como ele poderia fingir interesse
em cercas vivas?

O riso do Lord Reynolds interrompeu seus pensamentos.

Reynolds sorriu para sua esposa. ― Eu temo que você vai ter que ser
menos chocante. A maioria das pessoas não consideram referências para coxas
como sendo elegantes. Você parece ter deixado tanto o capitão Carlisle e Sua

204
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Graça sem palavras.

Sua esposa riu. ― Eu duvido disso.

Pelo menos o desconforto de William parecia visível apenas para


Reynolds. Ele desesperadamente esperava que Reynolds não tivesse
presenciado tudo. Felizmente, os olhos de Dorothea se concentravam na janela.

A mente de William se desviou novamente para Sebastian. Era


impossível para ele não fazer isso. O próprio Sebastian parecia mover-se
constantemente em seu assento, saltando pela estrada áspera de Sussex. Ou
talvez fosse porque Dorothea, Lady Reynolds e Lord Reynolds estavam todos
amontoados em um banco destinado a duas pessoas e não estavam se movendo.
― Marcus tinha uma carruagem. ― Disse Lady Reynolds. ― Foi tudo
incrivelmente romântico. Eu nunca poderia permitir Dorothea andar ao lado de
Sebastian. Toda essa vista ao redor...
William não se conteve. Ele olhou para Sebastian com o canto do olho,
com a esperança de ter um vislumbre de seu rosto bonito. Sebastian também se
virou para ele. Olharam-se rapidamente e o coração de William martelou contra
seu peito. Sebastian parecia decidido a examinar as cortinas do seu lado do
carro.

― Talvez eu possa instalar novas cortinas. ― Sebastian meditou. ―


Estas parecem desgastadas.
― E a cor é horrível. ― Disse Lady Reynolds.

― Sim. ― William agarrou a oportunidade de recuperar a sua mente da


visão das coxas firmes de Sebastian e a deliciosa maneira pela qual elas se
curvavam no assento. ― Eu sou muito fã da cor marrom ou até mesmo verde.

Lady Reynolds revirou os olhos. ― Verde garrafa, sem dúvida. Que


masculino de sua parte. Você deveria ver o quarto de Sebastian. Tudo verde
garrafa. O que você acha, Dorothea? Talvez vermelho papoula ou mesmo roxo
marrom.

― Eu - eu não sabia disso. ― William gaguejou.


― Saber o quê? ― Perguntou Lady Reynolds.

205
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Que o quarto de Sebastian era verde garrafa. Quero dizer... ― William
fez uma pausa, consciente de uma espessa tensão na carruagem quando todo
mundo olhou para ele.

― Bem, por que você saberia a cor do seu quarto? ― Lady Reynolds riu.
― Não precisa pedir desculpas, eu tenho certeza.

― Não é por isso que disse isso. ― William resmungou, puxando o


colarinho.

― Ele só gosta da cor. ― Disse Reynolds. ― Assim como Sebastian.

William podia jurar que os olhos de Reynolds brilharam com mais


diversão do que necessitava.
― Oh, isso foi a escolha de Gregory. ― Disse Dorothea. ― É onde
Sebastian está dormindo agora.

William balançou a cabeça para ela, perguntando-se como sua irmã mais
nova sabia a cor do quarto de Lewis. Assim, então, era verdade os rumores sobre
Lewis e ela?

― Sebastian e você não têm uma grande afinidade de gostos só porque


você gosta de verde garrafa.
― Eu imagino que Sebastian gosta de verde garrafa também. ― Lady
Reynolds meditou. ― O que você acha, Sebastian?

― Eu? ― A voz de Sebastian tremia.


― Você é a favor do verde garrafa como William é?

O ar engrossado na carruagem novamente. William prendeu a respiração


enquanto esperava Sebastian responder.

― Bem... ― Sebastian virou-se para ele por um momento. ― Na


verdade, eu sempre gostei mais do marrom.

Os ombros de William afundaram. Claro que Sebastian não gostaria de


reivindicar uma opção de cor semelhante a dele.
― Marrom esfumaçado. ― Sebastian disse, com a voz rouca, como se

206
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
despertasse de um sonho. ― Marrom esfumaçado é a cor mais linda que existe.

Lady Reynolds bufou. ― Eu tenho certeza que eu não entendo os


homens. Marrom esfumaçado de fato. Isso é mesmo uma cor?

A carruagem desviou novamente quando escalou uma colina.


― Vamos começar a descer em qualquer ponto agora. ― Lord Reynolds
sorriu.

― Como você sabe? ― Perguntou Lady Reynolds.

― Eu sou um especialista. ― Disse Lord Reynolds. ― E eu tive a


infelicidade de falar com Sir Ambrose. Sua casa o agrada muito.
―Ele não dá a impressão de ser um proprietário de casa feliz. ― Disse
Dorothea, continuando olhava para fora da janela.
― Será que essas cercas fazem fronteira com a propriedade do barão? ―
William perguntou, lembrando-se de sua jornada para Lyngate e os salteadores
que quase o tinha feito refém na diligência. Isso teria sido perto de onde o crime
aconteceu.

― Oh, sim. ― Disse Reynolds. ― Propriedade de Sir Ambrose é muito


grande. Tudo isso pertence a ele.
― Eu vejo. ―William refletia sobre as novas informações. Talvez os
salteadores trabalhassem para Sir Ambrose. Isso poderia explicar por que eles
só pareciam procurar assustar os passageiros. Talvez o barão não quisesse um
comboio de soldados perto de sua propriedade em busca de crimes.

Ele resolveu procurar pelo castelo de Sir Ambrose. Certamente ele


poderia encontrar um tempo para passear longe dos outros convidados. Ele não
seria o convidado ideal, embora ajudasse que seu anfitrião fosse uma pessoa
particularmente desagradável. Ele não sabia o que Sir Ambrose planejava, mas
ele achava completamente coincidência demais que ele havia se mudado de
Lancashire para ir para Sussex, assim como Dorothea.
A carruagem desceu, empurrando William e Sebastian para frente. Suas
coxas se tocaram novamente e eles rapidamente se afastaram. William focou na
paisagem, espiando através das cortinas de ouro e rosa da condessa viúva.

207
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Roseiras enormes e árvores do pomar estavam do lado de fora. Tudo estava
cheio de mato. Plantas selvagens cutucavam fora da grama, estragando a beleza.

― Parece que não somos os únicos que tiveram dificuldade em encontrar


pessoal. ― Disse Sebastian.
― Eu tenho a sensação de que Sir Ambrose gosta desse jeito. ―
Dorothea murmurou.

― Eu vejo que o barão tem um histórico de não receber visitantes. ―


Reynolds observou.

― Então, nós devemos nos sentir muito honrados por termos sido
convidados para vir aqui. ― Disse Lady Reynolds.
― Certamente. ― Disse Sebastian. ― Capitão Carlisle, Sir Ambrose está
nos dando boas-vindas. Isso não é o tipo dele? Ele será capaz de compartilhar a
sua impressão sobre a área do ponto de vista aristocrático, enquanto a tia
Beatrice está em Londres.
― Sir Ambrose não vem de uma longa linhagem de aristocratas. ―
William estava desconfortável com a distinção entre aristocratas e não
aristocratas.
― Ele foi enobrecido alguns anos atrás. ― Disse Sebastian. ― Ele
conseguiu fazer-se bastante rico. E eu tenho pouco a dizer contra ele. Você deve
se lembrar de que eu não seria um duque se as circunstâncias não me levassem
a isso.

Sebastian parou, vendo o horror de Dorothea. Ela havia sido prometida


em casamento a um homem que deveria ter sido o duque.
Sua irmã ergueu o queixo e sorriu. ― Não precisa se preocupar por minha
causa. Você está completamente correto. Tanto a sua posição como a de Sir
Ambrose subiram inesperadamente.

― Aparentemente, o castelo é bastante impressionante. ― Disse o Lord


Reynolds, mudando de assunto.

― É um castelo realmente? ― Perguntou Lady Reynolds.

208
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― É de fato.

E então eles viram. O carro fez uma curva e o primeiro vislumbre do


castelo apareceu. Ele não podia deixar de ficar impressionado. Construído de
tijolo vermelho, o castelo fazia um contraste com o céu azul e a grama verde.
― Parece um castelo de conto de fadas. ― Lady Reynolds esticou o
pescoço para ver melhor.

― Exceto que Sir Ambrose não é o príncipe encantado. ― Disse


William.

― O que você tem contra o homem. ― Perguntou Lady Reynolds.


William trocou olhares com Dorothea. Ele iria abster-se de revelar toda
a sua história com o homem, contando todas as vezes que Sir Ambrose tinha
feito sua irmã desconfortável com sua aparente malícia e elogios de duplo
sentido.
A carruagem parou em frente ao castelo, em frente a um fosso grande
cheio de cisnes, gansos e vitórias-régias. A ponte levadiça estava para baixo. As
portas, guardadas por leões de pedra, erguiam-se sobre eles, de pé três vezes
mais alta que William.
O próprio castelo tinha muitas torres, todas com fendas de seta. William
estremeceu.

Eles saíram da carruagem. William olhou para o imponente edifício


diante dele. Ele virou-se para apreciar a paisagem circundante, mas nenhuma
outra casa era visível, embora a visão do castelo se estendesse por quilômetros.

― Vou procurar os estábulos, Sua Graça. ― Disse o cocheiro para


Sebastian. Sebastian balançou a cabeça e os outros observavam a carruagem
desaparecer ao virar da esquina.

Eles estavam sozinhos, exceto por um pássaro cantando longe.

― Vamos? ― Lady Reynolds, sempre em destaque, passeou pela ponte


levadiça de madeira.
Os outros seguiram até a porta. Bateram e todos eles esperaram. Eles

209
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
olharam em volta, acostumados a ter um lacaio ou mordomo abrindo a porta
mais prontamente.

Poucos minutos depois, um homem grande e musculoso com um


uniforme de mordomo espreitou a cabeça para fora, dirigindo-se a Sebastian.
― Eu presumo que você seja o Duque de Lansdowne?

― Eu sou de fato. ― Disse Sebastian.

William exalou. Será que o homem pensava que seria possível as pessoas
aparecerem em roupas de noite no castelo errado?

― Por aqui. ― Disse o homem, conduzindo-os através da porta. William


pensou que o homem provavelmente estaria mais confortável no exército do
que em traje de noite e se admirava pela escolha não convencional do mordomo
por Sir Ambrose. Caminharam por um pátio, o caminho forrado com arbustos
altos.
― Nessa direção. ― O mordomo conduziu-os até um lance pouco
decorado de escadas de madeira.

Sir Ambrose e Hammerstead estavam diante deles.

― Saudações. ― Sir Ambrose fez uma reverência, a cintura de seu


uniforme militar esticando ao seu redor. William perguntou-se quando ele tinha
servido realmente. ― Bem-vindo ao meu lar!

Os outros riram sem jeito, olhando ao redor da sala com painéis escuros.
Armas medievais penduradas nas paredes, sombras de formas estranhas.
William estremeceu, trocando um olhar preocupado com Dorothea.

210
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

17

Sebastian falou primeiro. ― Eu tenho que agradecer a você por nos


convidar.

― Você é muito bem-vindo. ― Sir Ambrose se inclinou em direção a


ele. ― Nós, os vizinhos precisamos ficar juntos.

Sebastian sorriu.
O pavor tomou conta de William. Sebastian estava determinado a
construir uma forte amizade com seu anfitrião. Talvez isso apenas fosse
adequado, mas a aparente necessidade de Sebastian para ter a visão de Sir
Ambrose como um aristocrata local sobre como as coisas eram feitas era
equivocada. Ele fez uma careta, certamente Sir Ambrose ficaria muito ansioso
para oferecer um mau conselho, e ele estava por trás de todos os ladrões que
cercavam de medo e fantasmas. Ele só precisava de provas.
― Você tem uma magnífica propriedade. ― Disse Sebastian. ― Devo
confessar que é um pouco sobrecarregado com a grandeza deste lugar. Eu não
esperava que o castelo fosse tão antigo. É muito impressionante.
― Sim, é sim. Deixo os outros nobres com suas casas senhoriais.

Se Sebastian percebeu que ele tinha sido menosprezado, ele não


demonstrou. ― Quando ela foi construída?

― No século XV. O peito de Sir Ambrose estava estufado como um


pavão. O homem praticamente desfilava com orgulho.

William inclinou a cabeça, examinando o teto Tudor. Ele estremeceu com


as vigas de madeira escura expostas. Comparado a Somerset Hall, o lugar
parecia pesado e restritivo.
Ele evitou o sobrinho abominável de Sir Ambrose, que estava lançando
olhares preocupados para ele. Lord e Lady Reynolds ficaram quietos; ele não
211
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
era a única pessoa a quem Sir Ambrose exasperava.

― Minha querida Senhorita Carlisle. ― Disse Sir Ambrose, voltando-se


para Dorothea. ― Isto não parece um castelo digno de uma rainha?

― Certamente, Sir Ambrose. ― Dorothea empalideceu.


― Alguém que entende o valor de um lugar como este. ― Seu anfitrião
continuou, olhando para Dorothea. Seus olhos correram sobre seu corpo,
devorando-a. Ele lambeu os lábios. O peito de William apertou.

Lady Reynolds riu nervosamente. ― Tenho certeza que muitas pessoas


apreciariam o valor deste lugar. Que bom que alguém pensou que seria
importante construir um castelo aqui.
Sir Ambrose sorriu. ― Eu aprecio viver em tal lugar de defesa. As
alegrias de Sussex mentem parcialmente em seu passado desagradável.

Os olhos de Penélope se arregalaram. ― Como é conveniente para você.


Diga-me, Sir Ambrose, você pretende voltar a Londres para o fim da
temporada? Há ainda muitas jovens elegíveis de lá.

Sir Ambrose sorriu. ― Não este ano. Minhas atenções estão voltadas em
outro lugar.
― Para administrar o seu espólio? ― Perguntou Lord Reynolds.

― De certa forma sim.

― Você deve precisar de uma grande equipe para administrá-lo.


― Prefiro manter uma pequena equipe leal. Talvez, se eu me casar, eu
poderia ser convencido a empreender a sua atenção de forma diferente.

― Mas, certamente, o dono anterior deve ter tido uma grande equipe. ―
Disse Sebastian, se aproximando.

Sir Ambrose deu de ombros. ― Eu não os mantive.

Os olhos de Sebastian se arregalaram.


― Você não precisa parecer tão chocado. Muitas pessoas estão sob a

212
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
impressão de que os franceses vão atacar a qualquer momento. Por que eu
deveria mantê-los aqui?

― Você não acha que os franceses vão invadir? ― Perguntou William,


juntando-se a conversa.
Sir Ambrose olhou para ele. ― Você também adotou essa impressão, não
é verdade, meu caro capitão Carlisle? Todo o esforço que você gasta em sua
torre Martello em Lyngate?

William corou sob o escrutínio.

― Meu irmão está fazendo um trabalho importante. ― Disse Dorothea.


Seus punhos estavam cerrados ao lado do corpo.
A gratidão por sua irmã defendendo-o percorreu William. Talvez ela
pudesse aprender a perdoá-lo.

― É claro que nós sabemos sobre o desejo do capitão Carlisle em ser


herói. Por que, você se esqueceu que a minha casa costumava fazer fronteira
com a dele, em Lancashire. Os dias que passou pulando sobre o quintal,
bancando um cavaleiro medieval. ― Sir Ambrose riu, virando-se para os outros.
― Vocês deveriam tê-lo visto. Ele sempre foi muito ansioso para ajudar os
cocheiros também.

Os olhos de Hammerstead se estreitaram, e ele se inclinou para frente.

William apertou a mandíbula.


Dorothea estreitou os olhos enquanto observava Sir Ambrose.

Antes que William pudesse refletir sobre a reação de sua irmã, um criado
musculoso reapareceu, carregando uma bandeja de bebidas. Os outros
expressaram sua gratidão, os homens beberam os seus copos de conhaque com
entusiasmo, o prazer em se concentrar no sabor forte, enquanto as mulheres se
concentravam em suas limonadas.

― Eu devo pedir desculpas, Lady Reynolds. ―Disse Sir Ambrose. ―


Mas eu não permito que as mulheres bebam álcool em minha casa. Você deve
me achar muito à moda antiga.

213
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Nem um pouco. ― Disse Lady Reynolds, arregalando os olhos. ― As
pessoas pensam que eu preciso beber álcool?

― Silêncio. ― Disse o marido.

Sir Ambrose simplesmente sorriu para a cena.


― Há quanto tempo você tem essa propriedade? ― Perguntou William,
obrigando-se a ser educado.

― Você não acreditaria se eu dissesse que tem estado na família? ―


Perguntou Sir Ambrose.

― Não. ― Disse William, pensando na casa que Sir Ambrose tinha


chamado casa em Lancashire. ― Devo confessar que ouvi que foi uma compra
recente.
Sir Ambrose sorriu. ― A guerra, ou melhor, a ameaça de guerra, permitiu
que algumas pessoas fossem, como devo dizer - mais facilmente influenciadas.
― E você está feliz em influenciá-los? ― Dorothea virou-se para seu
anfitrião.

― Acho que é uma ocupação agradável. As pessoas gostam de ouvir o


que devem fazer, e, felizmente, eu gosto de lhes contar. É uma combinação
muito agradável. ― Ele sorriu. ― Venham, vamos jantar agora.

Submeter-se aos gostos alimentares de Sir Ambrose preocupava William.


Ele esperava que a falta de jardinagem não indicasse uma falta de alimentos. A
visão de bandejas de comida, levada pelos jovens lacaios morenos, o aliviou.
Na verdade, todos os homens pareciam peculiarmente musculosos. Talvez Sir
Ambrose quisesse que sua equipe fosse capaz de transportar coisas pesadas.
A sala de jantar pintada de preto manteve uma sensação de espaço através
de uma série de grandes espelhos com molduras barrocas de ouro. Um lustre
escuro pendurado no meio da sala, sobre a mesa da sala de jantar, e os cristais
refletiam os convidados. Tudo era elegante, mas William sentiu como se
estivesse sob o escrutínio rodeado por espelhos. Isso tornaria difícil para ele se
deslocar para fora da sala, sem que fosse notado.
Sebastian e Sir Ambrose conversavam sobre a área local, e os outros

214
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
voltados para o prato de coelho servido para eles, seus rostos tristes.

William examinou a sala. Ele engoliu em seco. Agora era sua chance. Se
suas premonições sobre o seu anfitrião estivessem corretas, ele não aceitaria de
bom grado a ideia de ser investigado.
Ele inalou profundamente. Ele não ia deixar a mesa sem atrair alguma
especulação. Ele pegou um pedaço de coelho e fingiu engasgar, cobrindo a boca
com as mãos.

Sebastian e Sir Ambrose pararam sua discussão. Os olhos de Sebastian


se arregalaram e ele se levantou. Por um momento, William pensou que ele
poderia pular sobre a mesa.
― Um pouco de ar fresco. ― William se apressou a dizer no que ele
esperava fossem os seus tons mais apologéticos.

Sir Ambrose levantou uma sobrancelha, voltando-se para os outros. ―


Temo que o coelho possa ser muito difícil para alguns membros do exército
comer. Soldados não deveriam se acostumar à delicadeza. Pessoalmente, eu sou
completamente apaixonado por eles. Definitivamente o prazer vem com comer
coisas que parecem selvagens em sua propriedade.

William levantou-se e saiu da sala. O homem era horrível. Como ele


podia ser pior a cada vez que se encontravam? E por que ninguém, exceto
Dorothea parecia perceber isso?
Ele fechou a porta atrás dele, encontrando-se no escuro e silêncio. As
portas e as paredes deviam ser muito grossas. William sabia que a sala que ele
tinha acabado de sair era barulhenta, mas ele não ouviu nada. Todos os sons de
conversação e a raspagem de utensílios desapareceram. Ele examinou o salão
com ansiedade, ciente de que qualquer um poderia estar por trás de qualquer
uma das portas, e ele não teria nenhuma ideia. Tomara que, pelo menos, eles
não fossem capazes de ouvi-lo.
William caminhou pelo corredor escuro, movendo-se em ou outro
corredor que o mordomo não os tinham feito passar. Ele não tinha nenhuma
vela com ele, mas a luz da lua iluminava a sala através das janelas de vidro
colorido e sombras coloridas.
Homens como Sir Ambrose sempre pensavam que eram muito
215
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
inteligentes e não eram tão cuidadosos como deveriam ser. Ele havia aprendido
isso no exército. Ainda assim, ele precisava encontrar algo para incriminá-lo.
Ele partiu em busca da biblioteca.

Ele deu passos largos. Sempre que o assoalho rangia, indicando tanto
uma pessoa que se aproximava ou a idade avançada do castelo, ele fez uma
pausa diante da pintura ou escultura mais próxima dele. Muitas pinturas e
esculturas estavam alinhadas no corredor. Na verdade, a sala estava muito
lotada e, embora William não imaginava-se tendo dons artísticos, a arte parecia
notável.

O que Sir Ambrose estava fazendo com tanta arte? E por que ele estava
escondendo-os em um corredor escuro? William teria pensado que um homem
orgulhoso como Sir Ambrose insistiria em mostrá-los para seus convidados.

William olhou para algumas das assinaturas nas obras: David, Fragonard,
Vien. Ele parou. Estes eram todos nomes franceses. E Sir Ambrose professava
abominar os franceses. ― Eu vejo que você tem um gosto pela arte.

William deu um salto. Ele girou, temendo ver a pessoa por trás dele.
Na verdade era Sir Ambrose.

― Na verdade não. ― William deu de ombros, fazendo o seu melhor


para fingir desinteresse.

― Acho difícil de imaginar. Um homem inteligente como você.


― Você nunca me chamou de inteligente antes.

― Eu não estou aqui para oferecer elogios a você. Eu não sou seu pai.
Ou você sente falta de seu pai? Você gostaria que ele estivesse aqui agora para
lhe dar tal elogio? Ou será que ele não fez isso da última vez que o viu? Ele o
enviou até Harrow, não foi? Você provavelmente nem sequer disse um
adequado adeus.

Ele riu.
William cerrou os punhos. O que Sir Ambrose sabia sobre sua chegada
súbita em Harrow?

216
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Você deixou o jantar.

― Você está insultando minhas habilidades como anfitrião? ― O barão


aproximou-se, sussurrando em seu ouvido: ― Eu prefiro pensar que suas
habilidades como um convidado podem estar em falta. Deixando a sala de
jantar, percorrendo corredores que você não tem nenhum direito a visitar.

― Eu não deveria andar por aqui? ― William olhou em volta, mantendo


uma expressão neutra. ― Eu peço desculpas. Devo ter tomado um rumo errado.
Esta é a minha primeira vez aqui.

― E vai ser a sua última. ― Disse Sir Ambrose. ― Você é um soldado.


Você não iria se perder. Não por acaso.
William ficou em silêncio, pensando se Sir Ambrose demonstrou uma
opinião mais elevada dele do que tinha mostrado todos esses anos. ― Você tem
muitas pinturas aqui.
― Então você está interessado? ― Sir Ambrose sorriu.
― Eu não me lembro de você tendo um interesse pela arte.

― Eu sou um homem nobre. ― Disse Sir Ambrose. ― Você não é. Eu


tenho o dever de pensar sobre cultura. Alguém precisa fazer isso.
William tinha pouco interesse em se envolver com Sir Ambrose em uma
conversa filosófica sobre o lugar dos aristocratas na sociedade. Ele tinha outras
preocupações.
― Eu não tenho mais interesse em espionagem. ― Disse William,
forçando sua voz para soar calma.

― Você quer se tornar um espião? ― Sir Ambrose soou divertido. ―


Você sabe que o segredo é um requisito necessário para isso?

― É uma maneira de servir a seu país, não é?

― Em tão honrosa forma como escutas. Eu teria esperado mais de você.


― Disse Sir Ambrose, franzindo a testa.
― De fato? Para dizer a verdade, eu estou mais interessado na prática da
espionagem. Eu quero saber por que algumas pessoas fazem isso. E, em
217
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
seguida, desaparecem.

Sir Ambrose não parecia perturbado pelas declarações de William. Ele


suspirou profundamente.

― Eu acredito que você está sentindo a falta da guerra. ― Disse Sir


Ambrose. ― Todas essas lutas. Faz com que você queira mais, não é?

― Mais? ― William levantou uma sobrancelha.

― Perigo. ― Sir Ambrose riu. ― Talvez seja responsável por seu gosto
não natural.

William corou e moveu seu peso. William se esforçou para ser todo
correto e justo, a não ser, possivelmente, que Sir Ambrose estivesse aludindo
seus gostos dentro do quarto. Eles poderiam ser classificados como não naturais.
William não gostava, mas eles poderiam ser. Algumas pessoas, muitas pessoas,
os descreveriam como tais.
Como tinha Sir Ambrose descoberto isso?
― Está escrito em seu rosto. ― Disse Sir Ambrose. ― Você implora por
ele. Você espera por ele. Eu posso ver isso.
Ele sabia.
William abriu a boca, mas as palavras não saíam. O que seria apropriado
para um comentário como esse?

― Você sabe que é contra a lei. Você poderia ser enforcado. Você merece
ser enforcado. ― Sir Ambrose se inclinou em direção a ele. ― Você sabe, isso
poderia ser o meu dever de informar as pessoas sobre os seus interesses. Talvez
o seu comandante em Lyngate? O general? Ele pode achar isso muito
interessante. Ou eu deveria ir direto para o meu sobrinho, o magistrado? No
interesse da segurança pública?

― Que absurdo você está falando. ― William limpou a garganta, sua voz
rouca. ― Só porque eu não sou casado. Muitos homens não são casados na
minha idade. Você não tem nenhuma prova do que você diz.
― Você não precisa se preocupar comigo. ― Disse Sir Ambrose. ―

218
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Encontrar a prova é um desafio e eu aceito. Eu gosto de jogos.

As náuseas oprimiam William. Seus joelhos tremiam, e ele lutava para


manter-se de pé. O que levou Sir Ambrose para agir de modo abominável? E
então ocorreu-lhe. ― Dorothea recusou você.
Sir Ambrose se encolheu.

― É por isso, não é? Você queria se casar com ela, mesmo que ela seja
jovem suficiente para ser sua filha.

O rosto de Sir Ambrose escureceu. William estava certo de que ele tinha
acertado.
Passos ecoaram no corredor escuro. Provavelmente o estranho mordomo
tinha vindo a defender seu mestre.
William suspirou, virando-se.

Sebastian estava a poucos metros atrás deles. Ele mordeu o lábio,


observando-os. Suas sobrancelhas se juntaram. ― Eu espero que você
tenha se recuperado?

William olhou para ele. Como ele parecia preocupado. Mas ele não
deveria estar aqui. Ele não deveria ser tão adorável na frente de Sir Ambrose,
especialmente depois do que ele disse.

Sir Ambrose olhou para ele. ― Se eu fosse você, eu estaria ao lado de


sua noiva, não cuidando deste homem.
― Eu estava preocupado. ― Sebastian pareceu perceber onde estavam
pela primeira vez. ― Que pinturas lindas. É esse um Fragonard? Ele é bastante
difícil de obter...

― Venha, vamos voltar para a sala de jantar. ― Disse Sir Ambrose, sua
voz afiada. O capitão Carlisle não parece estar se sufocando mais.

William nunca tinha precisava tanto de ar fresco como agora, mas ele
balançou a cabeça, seguindo Sir Ambrose de volta para a sala de jantar, longe
das magníficas pinturas e esculturas francesas. Seu coração batia rapidamente,
e ele lutou para manter um senso de compostura.

219
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

18

Sir Ambrose serviu creme de chocolate para o seu último prato. Ao invés
de saborear sua doçura, a sobremesa parecia pesada e pastosa na boca de
Sebastian. Ele ponderou o estranho encontro com seu anfitrião e William no
corredor.

Sebastian já não perguntou a Sir Ambrose sobre a área local, passando o


resto da noite meditando sobre o que ele tinha encontrado. A retirada de William
persistia e Sebastian fixou os olhos nele. O anfitrião tagarelava com Dorothea,
ignorando suas respostas curtas e a falta de conversa em torno deles. Mesmo
Hammerstead, com seu modo agressivo a primeira vez que se encontraram,
parecia taciturno, trocando sorrisos com Dorothea na ocasião.
Sebastian sorriu de alívio quando agradeceu a seu anfitrião e se preparou
para partir. O ar fresco bateu-lhes quando saíram do castelo. Eles entraram na
carruagem e, desta vez, Penélope não expressou nenhuma preocupação sobre a
disposição dos assentos. A volta para casa foi subjugada, embora Sebastian só
se permitisse relaxar os ombros quando o carro puxou para mais perto da
mansão marfim silenciada.

― Eu vou partir para Lyngate agora. ― Disse William. ― Poderia me


emprestar um cavalo?

― Oh, você não deve ir. É tão tarde agora. ― Disse Penélope. ― Há uma
abundância de quartos na mansão, não é assim, Sebastian?

― Sim, claro. ― Disse Sebastian, distraído.

A perspectiva de passar a noite na mansão não parecia apelar para


William, pois ele balançou a cabeça.

Sebastian precisava falar com ele. O que tinha acontecido entre Sir
Ambrose e William? ― Eu vou tomar um pouco de ar.
Os outros assentiram e disseram boa noite. Os lábios de Dorothea
220
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
estavam pálidos, e ela entrou na mansão rapidamente.

Nuvens cobriam o céu; eles estavam sozinhos, nem mesmo as estrelas


mantinham companhia. Ele respirou o perfume de William: folhas de pinheiro
novamente. Gotas de suor se reuniram em seu pescoço, e os seus joelhos
tremiam. O ar parecia espesso com a tensão.

― O que diabos aconteceu no castelo? ― Perguntou Sebastian, quando


se certificou de que os outros tinham ido embora.

― Eu não tenho certeza do que você quer dizer. ― William arrastou os


pés, evitando o olhar dele.
Sebastian sentiu sua apreensão e resistiu ao desejo de confortá-lo.
― Você sabe o que eu quero dizer. Sir Ambrose. Por que você demorou
tanto tempo? Quanto tempo leva para se recuperar de asfixia?

William suspirou. ― Sir Ambrose sempre foi beligerante. Devo


reconhecer, ele parecia ainda mais cruel do que o normal.
Os olhos de Sebastian se estreitaram. ― Você não está me contando tudo.

― E por que eu deveria? Você já deixou claro que não quer nada a ver
comigo. Você nem sequer disse adeus para mim em Londres.
Sebastian suspirou. ― Eu só não quero que você se machuque. Estou
preocupado com você. Eu sempre me preocupo com você. Vivendo em
Lyngate. Você não tem que fazer nada disso. Você pode ficar aqui até que você
seja chamado para longe após se curar de seu ferimento. Gostaria de tê-lo aqui,
você sabe.

― Eu não gosto de ser inútil. ― William resmungou.

― Você não precisa ser um herói o tempo todo.

― Oh, tudo bem. Suponho que a questão diz respeito a você também. Eu
poderia muito bem dizer. Você deve prometer que não vai compartilhar isso
com ninguém. Nem Lady Reynolds, a quem você parece tão próximo.
― Eu não sonharia com isso. ― Disse Sebastian, ficando ainda mais
curioso.
221
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Excelente. Podemos adicioná-lo às coisas que você não sonharia em
fazer. ― Disse William bruscamente.

Os olhos de Sebastian arregalaram; ele sentiu como se tivesse sido


atingido no estômago.
William cedeu. ― Sinto muito. Eu não deveria ter dito isso. Perdoe-me.

Sebastian assentiu.

― Se você quer saber, eu tenho razões para acreditar que Sir Ambrose
está por trás dos acontecimentos estranhos na propriedade. ― Ele se sentou em
um banco e Sebastian se juntou a ele.
― Até hoje, eu teria descartado suas suspeitas. Embora ele pareça ter
alguma coisa contra você.
― Você pôde perceber isso, não pôde? ― William sorriu amargamente.
― Ele nunca se esforçou para evitar uma frase direta de menosprezo diante de
mim. Eu não gostei de crescer ao lado dele.
― Mas você não tem nada a ver com a propriedade. Eu não vejo o que
ele ganharia aterrorizando as pessoas na aldeia.
William deu de ombros. ― Eu acho que ele é muito apaixonado por
Dorothea. Eu também acho que ele deveria automaticamente não gostar de
você.

― Eu imagino que ele não favoreceu Lewis muito.


Eles ficaram em silêncio, pensando na pessoa cujo lugar Sebastian
parecia ter tomado tão plenamente.

― Pergunto-me se o ladrão é alguém contratado por Sir Ambrose para


assustá-lo. ― Disse William.

― Ele não foi tão assustador.

― Ele levou comida da casa e as roupas de seu quarto. Você não pode
alegar que ele seja agradável.
― Não. ― Disse Sebastian. ― Ele não parece ser.

222
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Precisamos pegá-lo.

― Eu me pergunto... ― Disse Sebastian.

― Você tem uma ideia? ― Perguntou William.

― Talvez. É que Penélope pensa que ele esteja passando um tempo na


antiga portaria. Talvez pudéssemos prendê-lo?

Os olhos de William brilharam. ― Eu fui mais cedo hoje. Alguém tem


vivido na portaria. Talvez a pessoa volte.

― Então, vamos lá.


― Eu não quero você lá.
― Oh. ― As palavras afiadas picaram e os ombros de Sebastian caíram.
Ele lutou para se concentrar na conversa, ciente da mão de William no calcário,
traçando o pergaminho esculpido no braço.

― Quero dizer. ― William se virou para ele, com o olhar mais suave. ―
Isso pode não ser seguro. Você não deve arriscar sua vida.

― E a sua vida vale a pena arriscar? É menos valiosa do que a minha?


― Estou acostumado a arriscar a minha vida.
― E você tem uma ferida para provar isso.

Sebastian percebeu como William poupava seu braço esquerdo. O


homem sofria, muitas vezes com dor, mesmo que ele não admitisse isso. O
pensamento de William dormindo na portaria sozinho, à espera do criminoso
chegar, o afligia.

Ele balançou a cabeça. ― Eu não vou permitir. Esta é minha propriedade.


Eu não vou colocar você em perigo. Esta não é uma responsabilidade sua.
― Minha irmã vai ser a senhora daqui. Claro que é a minha
responsabilidade. E eu ficaria preocupado, mesmo que ela não fosse ser a
senhora.
― Então, nós dois vamos investigar. ― Sebastian não tinha certeza de

223
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
como ele conseguiria passar uma noite inteira no mesmo lugar com William. A
ideia era uma tortura. Mas ele se recusava a deixá-lo dormir lá sozinho, onde
ele podia ficar em perigo. Ninguém poderia ouvi-lo gritar da antiga portaria
abandonada.
― Muito bem. ― Disse William. ― Mas eu acho que você está sendo
tolo.

Eles fizeram planos de se encontrar na portaria em uma hora mais tarde.


Ele retirou-se para o seu quarto. Seu estômago vibrando, e ele não conseguiu
concentrar-se em qualquer um dos seus livros.
Quando o relógio de pêndulo do lado oposto da cama mostrou que era
meia-noite, Sebastian pisou cuidadosamente no chão de madeira, fazendo uma
careta quando o assoalho rangeu. Ele não tinha se despido, e ele correu para fora
do quarto, na esperança de não agitar Dorothea, que compartilhava uma parede
com ele.
― Sua Graça. ― As palavras, sussurradas por um homem, interrompeu
seu voo.
Sebastian virou-se, enchendo-o de pavor. Como tinha sido descoberto tão
cedo? William o acharia muito infantil, se ele não aparecesse.

Crowley estava diante dele, com o rosto sombrio. Sebastian percebeu que
ele nunca havia ponderado quantos anos o mordomo tinha. A camisola fina que
usava revelava os músculos. Mesmo que o homem tivesse cabelos grisalhos, ele
ainda possuía força.

― Posso ajudá-lo? ― Disse Crowley. Desta vez, a voz do servo era mais
alta, e Sebastian o silenciou.

E, em seguida, se desculpou. Por que Crowley saberia que era para ficar
quieto?

― Você não está querendo se aventurar lá fora, não é? ― Crowley,


acalmou, falando mais suavemente e olhou as roupas de Sebastian. ― Eu não
sei por que Grayson se preocupou em despir você, se você vai se vestir-se mais
tarde.
― Eu...

224
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Os olhos de Crowley se estreitaram. ― Esta não é uma trama pelo jovem
capitão, não é?

Sebastian endireitou as costas, levantando o peito em indignação. ― Ele


não é jovem. Ele é muito capaz.
― Hmm...

― E isso não é da sua conta. ― Sebastian se apressou a acrescentar,


lembrando-se de que não era. Crowley fez uma pausa. O relógio do avô no
corredor seguiu os segundos, os barulhentos tique-taques constantes durante a
noite tranquila. ― Você acha que é sensato, Sua Alteza?
Sebastian cruzou os braços, sussurrando: ― Por favor, fique quieto. Fala-
se de ladrões nesta área. Estamos apenas indo para monitorá-los.
― Eu vejo. Então vou me recolher e desejo-lhe boa sorte.

― Você não vai dizer nada, não é?


Crowley sorriu. ― Eu sou capaz de guardar segredos, excelência.

Sebastian deixou a casa, frustrado por ter encontrado Crowley. Pelo


menos o servo exibia lealdade. Ele não diria nada, ele havia prometido. O tempo
nublado que começou naquela noite estava diminuindo. Grossas nuvens
navegavam ao longo do céu iluminado pela lua, mas a lua cheia ainda conseguiu
iluminar seu entorno.

Quando ele se aproximou do portão, ele passou por cima do canteiro para
espiar através das finas cortinas de renda, como Penelope tinha feito. William
estava em um canto da sala. Ele usava seu uniforme; ele deve ter vindo
diretamente de Lyngate.
Sebastian girou a maçaneta da porta, pisando dentro.

― Você está aqui. ― Disse William.

― Eu estou. ― Apesar de si mesmo, os olhos de Sebastian caíram sobre


o corpo de William, detendo-se em sua forma resistente. O luar entrava pelas
cortinas frágeis. William parecia grande demais para a pequena guarita.
O calor subiu para as bochechas de Sebastião; sua atração devia ser óbvia.
225
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Ele desejava correr as mãos pelo cabelo ondulado e escuro de William.

― Está frio. ― Disse William, apontando para seu casaco.

― Você não precisa se desculpar. ― Sebastian considerou a lareira. É


claro que eles não podem acender a lareira. A fumaça seria muito visível, e a
visibilidade era o que eles precisavam evitar.

Ele abaixou a cabeça quando entrou no quarto, evitando as vigas Tudor


no teto. Ele encontrou um lugar na pequena mesa de madeira.

William sentou-se no outro lado.

― E agora vamos esperar. ― Disse William, batendo seus longos dedos.


Sebastian desviou o olhar, lembrando-se de sua manhã em Londres. Ele
limpou a garganta. ― Será que os outros sentiram sua falta em Lyngate?
William deu de ombros. ― Eu não sou vital para o seu funcionamento à
noite. Talvez o próprio fato de Lyngate agora ter uma torre Martello irá salvá-
lo dos franceses.

Sebastian esfregou as mãos, esforçando-se para alcançar o calor. Mesmo


para Sussex sendo a parte mais ensolarada da Inglaterra. Era frio à noite em
todos os lugares. Ele enfiou as mãos nos bolsos, inalando profundamente. Ele
sentiu o cheiro de William. Como é que o homem sempre conseguia cheirar a
folhas de pinheiro?

Ele correu os olhos disfarçadamente sobre a silhueta de William,


admirando o nariz reto e régio do homem e seus longos e grossos cílios. Seu
queixo se projetava para fora, e Sebastian desejava tocá-lo. O ar parecia espesso
com a tensão.
Ele lamentou ter fugido de William em Londres. Mas era impossível para
eles ficarem juntos, os homens não podiam ficar juntos. A ideia era
indescritível.

Sentaram-se em silêncio.
― Alguém sabe que você está aqui?
Sebastian balançou a cabeça.
226
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Ficaram em silêncio novamente. O que estava lá para eles para discutir?
Ocasionalmente, um animal gritou do lado de fora. Como as pessoas eram
estranhas ao considerar a paisagem tranquila e mansa quando as noites eram
preenchidas com os animais abatendo os outros. Ele estremeceu. ― Isso pode
levar a noite toda.

― Sim.

Eles permaneceram, esperando o intruso chegar. Minutos se passaram, e


em seguida, Sebastian estava certo, horas. Seu corpo doía por estar sentado,
tenso na presença de William.
Ele reprimiu um bocejo.
― Eu não acho que ele está vindo. ― Disse William. ― Se você deseja
partir...

Sebastian balançou a cabeça. Ele se recusava a abandonar William na


portaria sozinho. ― Eu não gostaria de perturbar qualquer servo, entrando na
mansão tão tarde.

William assentiu.

Sebastian bocejou apesar disso. ― Talvez pudéssemos descansar um


pouco.

William observou-o com curiosidade, apontando para a cama estreita na


portaria. ― Suponho que podemos nos revezar para dormir na cama.
Sebastian balançou a cabeça, decepcionado por algum motivo. Ele
apertou os lábios. ― Vá em frente. ― Disse William.

Sebastian levantou-se. Sentou-se na cama e puxou as botas. Elas mal se


mexeram. Grayson normalmente tirava as botas.

― Oh, vamos lá. Eu vou fazer isso. ― William suspirou, agachando-se


a seus pés e, em seguida, agarrou o calcanhar da bota direita de Sebastian.
Sebastian aproveitou o toque de William. A ação parecia sensual enquanto o
outro homem agarrava a bota, segurando-o firmemente em sua mão antes de
puxar. ― Você não pode viajar para qualquer lugar sem o seu valete, não é?
Nem mesmo para o jardim.

227
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
O sangue subiu ao rosto. Ele não tinha pensado que dependia tanto de
Grayson. Talvez ele dependesse de fato. Ele mordeu o lábio, pensando.

― Adorável. ― William sussurrou tão baixinho que Sebastian não tinha


certeza se tinha ouvido corretamente. ― Agora, o outro pé. ― William
encontrou seu rosto enquanto ele se concentrava na tarefa pela frente.

― Você não precisa fazer isso. ― Disse Sebastian, impotente.

― E deixá-lo com uma bota apenas? É esse o tipo de vilão que você me
vê? ― O modo como William tocou suas pernas enviou uma explosão de
adrenalina através de Sebastian, e apesar de si mesmo, seu pau engrossou.
Ele inclinou-se, na tentativa de protegê-lo de William. O homem estava
apenas ajudando-o a tirar as botas e, no entanto, Sebastian pensava em mais
nada do que ele ajudando a tirar outros itens de vestuário e como ele poderia
tocar outras partes de seu corpo com as mãos firmes e fortes.
Ele estava desesperado.
― Pare de se contorcer. ― Disse William e Sebastian sentou quieto,
observando-o.

O suor umedeceu a testa de Sebastian, como se ele estivesse no Adriático


no verão e não em uma guarita abandonada no meio da noite. Ele passou a mão
pelo cabelo.

― Obrigado. ― Disse Sebastian quando as botas estavam fora.


― Foi um prazer. ― Disse William com a voz rouca, voltando para a
mesa e sentando-se na cadeira. Seu rosto parecia corado e ele cruzou a perna
longe de Sebastian, absorvido em examinar o conteúdo do armário de canto ao
lado dele.

Sebastian estremeceu. Ele deslizou por baixo do cobertor xadrez e fechou


os olhos. O resto de suas roupas permaneceu. Ele se despiu o quanto pôde na
frente de William. Ele tentou fingir que a presença de William no quarto não o
afetava, que cada parte do seu corpo não desejava que William se juntasse a ele.
Seu pênis esticava contra a calça, insuportavelmente duro, desejando o toque de
William. Ele mordeu o lábio, esperando que o ladrão não escolhesse fazer sua
entrada agora; ele preferia não compartilhar esse segredo com ninguém.

228
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sua virilha doía e ele passou o cobertor firmemente ao redor dela. Ele
rolou de costas para William, buscando a adormecer.

Ele deve ter sido bem-sucedido, pois um tempo mais tarde, William
sacudiu-o acordando-o. Ele se inclinou para frente, pronto para trocar de lugar
com William. Seus braços roçavam os braços de William. Foi um acidente, mas
algo despertou entre eles.

Será que ele estava sonhando? A próxima coisa que ele soube foi que
estava puxando William em direção a ele, agarrando-lhe os pulsos.

― Pare. ― Disse William. Ele disse suavemente, porém, e Sebastian o


ignorou, puxando os braços quentes de William para ele, revelando como o
cabelo arrepiava contra ele.
― Você tem certeza que quer isso? ― Perguntou William.

Sebastian não estava com disposição para pensar. Agarrando William


novamente, sorrindo quando o outro homem gemeu e desabou sobre ele.
Ele passou os braços em torno de William, suspirando com o peso de
William em cima dele e gemendo quando uma parte muito importante de
William veio vivo e pressionando contra ele através do cobertor e suas roupas.
William ainda usava seu casaco. Sebastian estendeu a mão para desabotoá-lo,
desejando deslizar as mãos sobre a pele nua de William.

William arqueou as costas e olhou nos olhos de Sebastian. ― Não me


provoque. ― Disse ele com voz rouca.

Sebastian olhou para ele, perguntando o que tinha acontecido entre eles.
Ele estava dormindo, ele não tinha pensado. O que eu quero?
Ele abriu a boca para falar, mas no momento seguinte, o rosto de William
chegou mais perto dele. William abaixou-se, roçando seus lábios em toda a
mandíbula de Sebastian.

Sebastian se ergueu para beijar William, se perguntando se ao beijá-lo


significaria que algo estava errado com ele oficialmente. Sentia-se nervoso. Mas
quando seus lábios roçaram timidamente a de William, a boca dele se abriu. A
língua de William debateu-se com a de Sebastian, enviando choques de prazer
através de todo o corpo de Sebastian.

229
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
O pau de Sebastian puxou contra a calça. Ele suspirou, aliviado quando
as mãos de William tocaram seu peito, lutando para desfazer sua camisa.
Sebastian copiou os movimentos de William, desabotoando a camisa de
William e revelando seu peito e o pelo luxuriante o amortecendo. Ele acariciou
o largo peito de William, deleitando-se com a nova textura.

Sebastian engasgou quando o hálito quente de William inchou em seu


pescoço, e ele suspirou enquanto sua língua se movia para sua orelha, chupando
seu lóbulo, criando sensações que Sebastian só tinha conhecido uma vez antes,
quando ele ainda estava nos braços de William.

William moveu-se para os dedos de Sebastian, chupando cada um deles


com tal força que o pênis de Sebastian ficou ainda mais duro.
― E se alguém nos vir? ― Perguntou Sebastian, ofegante.

Mas as cortinas estavam fechadas, o quarto escuro, o portão afastado do


resto da casa. Ninguém iria ver. Desejos que Sebastian nem sabia que possuía
estavam sendo cumpridos.

― Quieto. ― William sussurrou.

Sebastian olhou para cima, tocando o torso de William com as mãos. Sua
camisa estava agora aberta e Sebastian correu os dedos sobre o peito firme e as
costas fortes e amplas. Ele estremeceu quando tocou o corpo musculoso de
William. Sua mão roçou contra o ferimento de William, e ele beijou a pele
áspera que a bala tinha perfurado.
― Você é tão bonito. ― William sussurrou. William brincou com a boca
de Sebastian aberta, chupando seus lábios, antes que suas línguas se
encontrassem. Sebastian choramingou. William amaldiçoou e, em seguida, a
língua do outro homem deslizou em sua boca, correndo sobre os lábios de
Sebastian e levemente fazendo cócegas no céu da boca, antes de pagar a atenção
para a língua mais plenamente. As mãos de William exploravam o corpo de
Sebastião e seu peito agora nu.

Eles não estavam em um pagode com o medo de possíveis espectadores.


Eles não estavam no quarto de Sebastian, lutando com a grande necessidade de
ficar em silêncio. Estavam sozinhos, seus corpos moldando juntos.
As coxas de William aninhadas entre as dele, e Sebastian arqueou as
230
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
costas de prazer quando seus galos friccionaram; a vida nunca pareceu tão boa.

As mãos de William estavam em sua calça e ele percebeu que William


estava deslizando-a, levantando a parte de trás de Sebastian. De repente,
autoconsciente, o sangue correu para seu rosto, apesar de sua ereção ficar
satisfeita ao ser libertada. Ela levantou-se, apontando para a barriga de
Sebastian. Os olhos de William ficaram fixos nela. As nuvens deviam ter
desaparecido, a luz brilhava através das cortinas. Ele se perguntou se deveria
mencionar a William, mas fechou os olhos em vez disso, ansioso pelo prazer de
continuar.

E então a sensação mais agradável que se possa imaginar percorreu por


Sebastian, a que ele ansiava experimentar novamente. A mão de William tocou
sua ereção. William acariciou, deslizando seus dedos longos cima e para baixo
e circundando a borda. Sua outra mão em concha nas bolas de Sebastian.
Sebastian gemeu de forma desigual e estendeu a mão para William. E então ele
estava acariciando-o, maravilhado novamente pela textura aveludada e suave e
seu peso e tamanho.
William ofegou e Sebastian tocou o suor no corpo do outro homem. Ele
respirava com dificuldade também, e ele lutou para distinguir seus sons. Eles
estavam mesclados; Sebastian não estava mais frio.

― Eu tenho uma ideia. ― William sussurrou. O outro homem não


esperou por uma resposta, e rapidamente William levantou as cobertas,
deslizando as mãos sobre o torso de Sebastian. A cabeça de William
desapareceu debaixo das cobertas e Sebastian se perguntou por um momento se
deveria perguntar o que ele estava fazendo.

E então o pau de Sebastian se tornou úmido e algo molhado enrolou


contra ele. Ele percebeu com choque que a sensação era a língua de William,
deslizando sobre ele. William começou em sua base e lambeu-o de cima a baixo,
dedicando deliciosa atenção para sua cabeça. Uma mão acariciou suas bolas,
enquanto a outra acariciava seu peito.
Ele não sabia que essas coisas eram possíveis. Henrietta nunca tinha feito
isso. Ele se contorcia de prazer, mordendo o lábio para não gemer. Ele poderia
facilmente acordar todos em Somerset Hall, em sua excitação.

William riu debaixo das cobertas, e em seguida, todo o seu galo estava

231
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
submerso na boca de William.

Ele se contorcia com a sensação quente da boca molhada de William


puxando seu pênis. As mãos do outro homem moveram-se para os quadris,
massageando-os. Uma mão se moveu para suas bolas, que estavam inchadas.
Sebastian percebeu com horror que ele estava perto de explodir. ― William...
― Disse ele.

Mas William parecia decidido a trazer prazer para ele e não relaxar suas
atenções. Ele gemeu e o coração de Sebastian inchou pelo sinal de prazer de
William. Talvez tenha sido pensar nisso, ou talvez tenha sido a sensação da
língua de William, mas no momento seguinte, Sebastian arqueou-se e
estremeceu quando ele se contraiu em gozo.
Em seguida, ele quase flutuou para longe, sorrindo quando William se
rendeu, balançando em sua mão. Foi maravilhoso.
Sebastian se abaixou e pegou o pau de William na mão, perguntando-se
o seu peso, esfregando o traço de umidade na ponta. William gemeu e Sebastian
deslizou em cima dele. Ele arqueou as costas e olhou para William. Ele
massageou o torso do homem e beijou o corpo do homem, chupando a quente
carne salgada e sorrindo quando William arquejou. Ele passou os dedos pelo
seu corpo, maravilhado com as curvas dos músculos do homem e se arrastou
entre suas coxas. Ele olhou para o pinto duro de William e, em seguida, passou
os dedos pelo seu comprimento.
A respiração de William pegou. ― Você não precisa...

― Silêncio. ― Disse Sebastian.


A adrenalina o percorreu, consciente de que poderia tocar em qualquer
lugar que ele quisesse. Ele se deliciava em sentir o quão duro William estava,
em saber que o homem o desejava.

Ele moveu os lábios para o pau de William e esfregou sua língua contra
ele. William gemia e se contorcia debaixo dele e ele ficou mais ousado e
colocou sua boca sobre a cabeça. Ele chupou e moveu sua língua, inalando o
cheiro de William e provando do homem.
Ele aumentou a velocidade e a força de sua atenção para o pau de
William, removendo sua cabeça apenas quando os suspiros de William
232
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
tornavam-se mais erráticas. Ele acariciou William quando o homem explodiu.

― Você é incrível. ― William o puxou para o lado dele. William beijou


a nuca de seu pescoço, e passou os braços quentes em volta dele, puxando-o
para um abraço profundo. ― Nós podemos ficar juntos. Você não precisa se
casar. Nós podemos ficar juntos, se não contarmos a ninguém.

O coração de Sebastian acelerou enquanto ele estava deitado nos braços


de William, ouvindo como as respirações de William ficavam mais e mais
estáveis, o que indicava que ele tinha adormecido.

Bom. O homem precisava descansar.


Sebastian se inclinou para William, suspirando quando o pênis do homem
enfiou em sua anca. William era tão grande e masculino, tudo que Sebastian
sempre tinha desejado apesar de nunca admitir, até para si mesmo.

Suas pálpebras pesavam e ele se aninhou mais profundamente no abraço


de William.
Em algum momento durante a noite ele acordou. Ele se lembrou de que
ele havia se deitado com outro homem.

Ele havia cometido um ato vil que seu ministro teria vergonha de ouvir.
Ele havia cometido um ato que ele teria vergonha de contar a alguém: seus
amigos, sua família, seus servos, mesmo a estranhos na rua.

Ele se perguntou o que tinha dado nele que o fez agir de uma forma tão
deplorável.

E então ele pensou em Dorothea. Ele ia se casar em breve. E ele tinha


sido infiel a ela de uma maneira indescritível.
Seu coração disparou quando William se moveu em seu sono, cruzando
os braços com mais força em torno de Sebastian.

233
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

19

William deslizou por baixo do braço de Sebastian, roçando sua pele


quente, maravilhado novamente com o que tinham feito e com a forma como
Sebastian foi maravilhoso. A luz da manhã brilhava na pele de Sebastian e
William traçou o dedo sobre as sardas pálidas que pontilhavam seu antebraço.
O rosto de Sebastian não tinha sardas. William sorriu, sentindo-se como se
soubesse um segredo.
A porta bateu.

William se ergueu. As janelas chacoalhando confirmou que ele não tinha


imaginado.

Uma única porta da guarita levava para fora. O que significava que alguém tinha
aberto a porta. Droga. Ele se permitiu adormecer, seus braços em volta de
Sebastian.
Ele desejava permanecer na cama estreita. Isso não importa agora.
Alguém os tinha visto.

Alguém poderia destruí-los. Sir Ambrose tinha dito que ele só precisava
de provas. Será que ele as tinha agora? Ele não permitiria que o ladrão fugisse.
O pensamento de Sebastian sozinho em sua propriedade com um criminoso a
solta o enfureceu. O pensamento de alguém que poderia chantagear Sebastian,
levá-lo ao tribunal e humilhá-lo o aterrorizava.
Ele pegou o casaco e botas, seus dedos tremendo os colocava. Ele olhou
para sua arma. Sem tempo para preparar e carregá-la. Ele pegou sua faca,
escondida em sua bota, e deslizou para fora, fechando a porta atrás de si.
Sebastian parecia tão contente enquanto ele dormia, e a pressa era de tal
importância que acordá-lo só iria fazê-los perder tempo.

Suas pernas roçavam a grama orvalhada. Tempo inglês. Pelo menos a


Índia tinha a decência de concentrar toda a chuva em poucas semanas horríveis.

234
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Ele tentou identificar o ladrão no meio das árvores úmidas.

A paisagem estaria bonita no próximo mês, mas por agora, em abril, a


natureza ainda estava lutando para se recuperar de suas agonias de inverno.
Algumas flores empurravam suas cabeças brilhantes através do solo, mas em
sua maior parte, a paisagem prendia a respiração, esperando por algo melhor.
Ele fez uma careta, pensando na boa cama quente que ele tinha abandonado.

Um galho estalou. Um animal? Tanto veados como raposas poderiam


estar espreitando no início da manhã. Ainda assim, um ser humano pode ter
criado o som. William não conseguia afastar a ideia. Ele se arrastou na direção
do barulho, que se esforçava para passar despercebido.
Ele o viu: um homem vagando pela floresta em uma capa escura. William
o seguiu, saltando sobre troncos caídos e rochas musgosas.

― Pare! Em nome do Rei. ―A voz de William se elevou. ― Eu sou um


oficial do Exército Real e você está invadindo esta propriedade.
O homem virou-se, com o rosto coberto por seu manto escuro como se
ele levantasse a mão para roçar seus olhos. William correu atrás dele,
abandonando sua tentativa de permanecer invisível. Ele não era um homem
admirando a paisagem em seu passeio matinal - ele era um soldado, protegendo
a terra.

O homem desapareceu em uma área arborizada perto da mansão,


correndo na direção do Canal Inglês. Talvez ele fosse um traficante. Era
simplesmente um homem local tentando ganhar algum dinheiro, colocando
armadilhas de coelho na propriedade? Ele balançou a cabeça. Algo mais
organizado, mais sinistro estava acontecendo.

William parou de correr, esperando que ele pudesse ouvir alguma coisa.
Sem dúvida, ele já havia assustado o ladrão para longe. Ele amaldiçoou. O
homem estava longe de ser encontrada. Tudo o que ele havia determinado era
que o ladrão de fato existia.

Ele se arrastou de volta para a portaria, a sua cabeça baixa. Certamente o


ladrão tinha visto William. Com seus braços em volta de Sebastian.
Este não era o tipo de informação degradante que ele queria ter. Este não
era o tipo de informação que ele queria que alguém tivesse. Ele poderia ser
235
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
expulso do exército. Sebastian não precisava de um escândalo como novo duque
de Lansdowne. E se o ladrão tivesse algo a ver com Sir Ambrose, se ele era um
de seus empregados morenos, se ele estava disposto a testemunhar o que tinha
visto... Ele estremeceu, lutando para conter a náusea.
O dia seria menos agradável do que o anterior. Ele temia informar a
Sebastian o que tinha acontecido; ele não queria ver o pânico em seu rosto.

Ele se aproximou do portão com ansiedade. A casa Tudor, que teve uma
qualidade de conto de fadas na noite passada parecia mais sinistra, como uma
armadilha. Lembrou-se da casa de gengibre de Joãozinho e Maria. Pelo menos
ele iria ver Sebastian. Isso era um consolo.
Ele abriu a porta. Sebastian estava ausente na cama já feita. Seu coração
deu uma guinada.

― Entre. ― A voz profunda de Sebastian veio de dentro.


William se moveu. Só as mechas despenteadas de Sebastian traíam sua
noite. Ele acariciou seu cabelo para baixo autoconsciente, penteando com os
dedos.

William ficou aliviado que Sebastian não tinha deixado a portaria. Ele
queria mais tempo com ele. ― Eu devo estar horrível.

― Onde você estava? ― Sebastian perguntou, de braços cruzados e a


mandíbula apertada. Ele olhou fixamente para William.
― Eu pensei ter ouvido o ladrão.

― E você saiu sozinho? Você poderia ter se machucado. Por que você
não me acordou? Algo poderia ter acontecido com você, e eu nunca teria sabido.
― Sinto muito. Eu não acho que...

― Exatamente. ― Sebastian ergueu o queixo. Em qualquer outro dia,


William teria pensado que ele era adorável. Ele ainda achava isso, mas ele não
gostaria de entrar em uma discussão com Sebastian. Especialmente depois de
tudo que havia acontecido na noite anterior.
Ele moveu as pernas desajeitadamente.

236
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― O que há de errado? ― Perguntou Sebastian, seu rosto se contraindo
com preocupação novamente. Senhor, o homem poderia lê-lo.

― Estou preocupado que quem me acordou possa ter nos visto. ― Ele
evitou os olhos de Sebastian, odiando a perspectiva de ver a sua dor.
― Oh. Os ombros de Sebastian de repente pareciam menos resistentes.
― O que você realmente ouviu?

― A porta bateu. Tenho certeza. E então eu percebi um homem em


roupas escuras fugindo. Eu tentei correr atrás. Realmente, eu fiz. Mas ele me
iludiu.
Sebastian enxugou a testa. ― Então alguém nos viu na cama juntos?
― Acho que sim.
― Mas como pode ser isso? A porta estava trancada. Será que o homem
tem a chave? Foi - foi o Sr... Crowley, você acha?
― O mordomo idoso? ― William balançou a cabeça. ― Não, não é ele.

― Oh. ― Para Sebastian parecia que o mundo tinha acabado de desabar


sobre ele. ― Acho que vou me sentar.
William assentiu, engolindo. Ele precisava dizer-lhe tudo. Sebastian
poderia estar em perigo. Ambos poderiam estar.
― Além disso...

― Tem mais? ― Os olhos de Sebastian se estreitaram.


― Sim. Quando Sir Ambrose e eu conversávamos, ele deixou implícito
que sabia sobre minhas inclinações.

― Ele fez isso?


― Sim.

― Eu suponho que ele gostou de atormentá-lo.

― Sim. Acho que ele gostou. ― William fez uma pausa. ― Ele também

237
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
parecia pensar que minhas afeições estavam em sua direção.

― Oh. ― Sebastian tocou a toalha de mesa. ― Será que ele acha que
seus sentimentos são correspondidos?

― Eu não sei. Ele não disse.


― E então eu fui encontrá-lo no castelo. ― Disse Sebastian. ― Eu queria
que você tivesse me dito de antemão que tipo de homem que ele era.

― Eu tentei. Você não quis me ouvir.

― Se Sir Ambrose diz a alguém, isso, nós dois poderemos ser


enforcados.
― É uma lei idiota.
― Mas é a lei.
― Raramente é aplicada.

― Mas as pessoas são enforcadas algumas vezes.

― Eu suponho que sim.

Sebastian estremeceu, sem dúvida, imaginando que está sendo enviado


para a prisão, à espera do laço do carrasco.
― Você não poderia imaginá-los querendo dar um exemplo?

William ficou em silêncio. Se não forem enforcados, eles podem ser


marcados, castrados ou cobertos de piche e penas.

― Meu Deus. E se houver um julgamento, todo mundo saberia.

William assentiu tristemente. ― Você acha que eu não sei disso?


― Então, por quê? ― Sebastian parecia desconcertado.

― Porque você é irresistível. ― William se aproximou de Sebastian. ―


Porque você é bom e gentil e maravilhoso. E, ocasionalmente, muito frustrante.
Porque eu te adoro. Nós poderíamos estar juntos. Alguns homens são capazes
de fazer isso, eles apenas não dizem às pessoas a verdadeira natureza de sua
238
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
amizade. Se...

― Pare com isso. Eu não posso fazer isso. Tenho responsabilidades pelo
amor de Deus. ― Sebastian ergueu os olhos para William. Sua voz tremeu. ―
Eu deveria voltar para a casa. Se assim o desejar o toque de outro homem, volte
para a casa de Molly. Deixe-me fora disso.

― Você acha que entrar em um casamento sem amor vai fazer as pessoas
felizes? Você está condenando a si mesmo a tornar-se um homem reprimido e
amargo. Não, espere... você já é.

William girou longe, com o coração doendo, quando Sebastian passou


por ele. Realmente ele esteve prestes a confessar seu amor por Sebastian?
Certamente ele não poderia ter sido tão tolo. Sebastian estava certo, William
teria que aprender a resistir a ele. Quão bobo que ele tinha sido ao imaginar a
possibilidade de os dois se amando.

******

Sebastian correu para a mansão, tentando manter-se sereno. William era


impossível. Atraente, talvez. Mesmo bem intencionado. Mas impossível. Como
ele esqueceu de mencionar que Sir Ambrose suspeita deles? Como ele poderia
tê-los colocado em tal risco?
― Bom dia, Sebastian. ― Penelope disse, sentada do lado de fora. Um
livro estava em seu colo. ― Você já fez o seu passeio da manhã?

― Sim, eu tenho estado a estudar as novas flores silvestres.


― Será que elas concordam com você?

Sebastian considerou sua manhã. ― Espero aproveitar o resto do meu dia


abrigado na segurança de minha casa.

Penélope riu. ― Flores silvestres não são destinadas a ser realmente


ferozes
― Então, eu estou certo que sou particularmente propenso a buscar o
239
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
conforto familiar, para antagonizar com as últimas 12 horas. ― Ele continuou
passado por sua prima, ignorando sua expressão perplexa.

Ele chegou à porta da casa senhorial, agarrou o punho de bronze frio e


abriu-a.
― Bom dia, Excelência. ― A voz de baixo de Crowley se elevou para
ele quando a porta se abriu. O mordomo de Sebastian entrou.

Sebastian deu um passo para trás, surpreso. ― Eu cresci acostumado a


não ter você me cumprimentando.

Uma expressão de desconforto atravessou o rosto do mordomo. ― Esta


é a primeira vez que eu fui capaz de fazê-lo. Eu sou um homem ocupado. ―
Crowley se inclinou mais perto. ― Eu queria ter certeza de que você chegou
em segurança.

― Eu entendo. ― Ele nunca deveria ter saído de casa.


Sebastian passou por ele.
Ele passou o resto do dia em sua biblioteca. Cada som fora das pesadas
portas de madeira de nogueira o sacudiam. Alguém tinha descoberto suas
inclinações. E agora ele tinha que esperar para ver o que a pessoa iria fazer com
a informação, se a pessoa iria tentar rasgar a sua vida à parte, forçando o
escândalo sobre sua família.

Ele sonhava com a forma como as coisas tinham sido antes. Se ele nunca
tivesse conhecido William, mesmo que ele nunca pudesse ter desfrutado dos
benefícios de uma aliança verdadeiramente romântica, ele poderia ter se
concentrou em ser um bom gerente da propriedade. Ele poderia ter tomado o
lugar do ex-duque na Câmara dos Lordes e se jogado na política. Embora ele
nunca ter apreciado a ideia de falar em público, ele poderia ter trabalhado na
criação de políticas dignas.

Talvez ele ainda pudesse fazer essas coisas, talvez ele pudesse extinguir
qualquer rumor. Ele poderia encontrar coisas para distrair-se da dor em seu peito
quando ele pensava em William.
Como é que ele tinha imaginado que merecia a felicidade? Quando ele já
havia sido abençoado com riqueza, status e uma família carinhosa? Que

240
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
presunção desejar mais de sua vida. Dorothea desejava casamento. Como ele
poderia tirar isso dela? E como poderia ele ter arriscado a vida de William, o
seu sustento, por entreter noções que eles nunca poderiam estar juntos? Talvez
um duque pudesse escapar da forca, mas o status de William era menor e menos
imunes aos cortes ferozes.

E agora William estava ferido, e ele era o único culpado. Ele, que só
queria adorar William. A Bíblia estava correta: a natureza de Sebastian era vil,
intrinsecamente falha.

Ele se jogou em sua cama, preocupado que sua noiva pudesse ouvi-lo do
outro lado da parede. Ela não gostaria que ele andasse pelo quarto. Mas a
estimulação era o que ele queria fazer.
Um arranhão soava lá fora.

William.
Seu coração sacudiu. Talvez William estivesse tentando vê-lo. Ele vestiu
seu roupão, seguindo o som na varanda. Ele não sabia o que ele diria para
William, mas ele desejava vê-lo novamente.

William já havia enriquecido sua vida tanto. Eles nunca deveriam ter
brigado.

Um estrondo e um grito estridente o detiveram. O som vinha do quarto


ao lado. Do quarto de Dorothea.
Ele saltou para o corredor, os pés descalços afundando no pesado tapete
oriental. Ele lutou para encontrar uma vela na escuridão e amaldiçoou que
tivesse apagado a sua antes. Outro grito o abalou. Não importava a luz agora.
Ele correu para o quarto de Dorothea, engolindo enquanto empurrava a porta
para abrir, superando seus receios ao entrar no quarto de uma senhora.

― Sebastian? ― A voz de Dorothea tremeu. Doía-lhe ouvir o seu som


tão miserável. ― É você?
― O que aconteceu?

― Alguém entrou pela varanda. Eu acho que eu o espantei para fora.

241
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian correu pela sala. Ele notou com uma carranca que a porta que
dava para a varanda ainda estava aberta, deixando que o ar frio entrasse. Ele
saiu e examinou o horizonte, procurando o assaltante. Um céu nublado
obscurecia a visão, e ele não viu ninguém.
Com relutância, ele voltou para dentro. Dorothea acendeu uma vela,
iluminando o quarto. O que era uma confusão. Muita confusão. A cadeira da
penteadeira estava derrubada, e sua maquiagem estava espalhada pelo quarto.
Ele abaixou-se para pegar os rouges e pós.

― Eu acho que o ladrão colidiu com a penteadeira.


― Ele também parece ter colidido com um vaso. ― Disse Sebastian,
olhando para os cacos de coral e jade de porcelana amplamente espalhados pelo
quarto.

― Não, eu - eu joguei nele. E então ele esbarrou na penteadeira. ―


Dorothea riu fracamente.
O coração de Sebastian afundou. Sua noiva não devia se defender contra
os criminosos. Foi apenas uma questão de sorte ela ter saído vitoriosa. Ele tinha
ouvido os barulhos. Ele deveria ter impedido o intruso. Ele teria sido capaz de
impedi-lo se ele não tivesse sido esmagado por seus próprios pensamentos
lascivos que ignorou todo o raciocínio lógico.

― Devemos nos casar em breve.


― Oh? ― Dorothea inclinou a cabeça enquanto olhava para ele. ― Você
está insinuando que vamos ser um daqueles casais escandalosos que
compartilham quartos?
Sebastian fez uma careta. ― Eu vou fazer o que for preciso para te
proteger. Receio ter sido lamentavelmente negligente em meus deveres até
agora.

― Você não tinha deveres em tudo.


― Exatamente. Eu não quero que nenhum mal aconteça com você.

Dorothea sorriu. ― Isso é muito gentil da sua parte, embora eu não o


considero ter sido de qualquer forma negligente.

242
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Isso pode ser verdade. ― Disse Sebastian. Ele sabia em seu coração
que ele tinha falhado com ela. ― Talvez devêssemos fazer o casamento mais
cedo do que o planejado.

Dorothea ergueu as sobrancelhas e sorriu. ― Isso me agradaria muito,


excelência.

Alguém bateu na porta. ― Senhorita Carlisle! Senhorita Carlisle! Você


está bem?

― Estou bem. ― Disse Dorothea. ― Você pode entrar, Crowley.

Crowley correu para o quarto, torcendo as mãos.


― Eu ouvi uma tal comoção. Eu pensei que se tratava do seu quarto... ―
Seus olhos se arregalaram enquanto ele examinava a aparência desgrenhada do
quarto, finalmente se decidiu por Sebastian, que moveu sob os olhos cada vez
mais acusatórios de seu empregado.
― Eu não sabia que isso era um assunto privado. ― Disse Crowley.
― Não é. ― Disse Dorothea. ― Meu quarto foi invadido da varanda e o
duque foi gentil o suficiente para cuidar de mim.
― Como é nobre. ― Disse Crowley, estreitando os olhos para Sebastian.
O calor correu pelo rosto de Sebastian.
― O novo duque é muito cavalheiresco. ― Disse Dorothea. ― Ora, ele
acabou de prometer realizar o casamento mais cedo.
― Mas agora eu tenho que ir. ― Sebastian se afastou, consciente dos
olhos de Crowley sobre ele. ― Por favor, chame-me se o intruso retornar.

― Você gostaria que eu chamasse uma das empregadas para conseguir


um novo quarto para você? ― Crowley perguntou a Dorothea.

Ela balançou a cabeça. ― Eu não vou manter mais ninguém acordado a


esta hora tardia. Por favor, envie alguém no início da manhã. Eu odiaria ser
lembrada desse intruso mais tarde.
Sebastian saiu do quarto, evitando Crowley. Ele estava sozinho em seu

243
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
quarto, e ainda não lhe tinha ocorrido tentar tirar proveito da situação. Ele teria
que aprender a fazê-lo mais tarde. Eles teriam de se casar com a máxima pressa:
ele não iria deixá-la vulnerável a intrusos indesejados, nem deixar que seu irmão
arriscasse sua carreira e vida por atrair sua atenção.
As mãos de Sebastian balançaram quando ele abriu a porta de seu quarto.
Ele tinha feito a coisa certa, ele estava confiante, mas ele sentiu como se ele
fosse o único que tinha sido atacado pelo intruso.

244
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

20

O pub era perfeito. Escuro e quase barulhento o suficiente para


obscurecer seus pensamentos, que continuavam a reviver a noite gloriosa com
Sebastian e os dias muito piores que se seguiram. William se acomodou na
poltrona de veludo desbotada, segurando sua bebida. Seus ombros caíram.
Neste momento, o conhaque era a única coisa que ele possuía.
Sebastian estava para se casar. Amanhã de manhã. Esta noite era uma
festa de pré-casamento. A Duquesa viúva ia assistir as festividades.

O admirador de Dorothea, o homem robusto que entregou uma nota para


ele dar para ela na casa em Londres, não conseguiu separá-los. William sentiu
uma pontada de culpa por não ter entregado a carta de amor do homem para ela.
Bem, ele não teria sua irmã se envolvendo com rufiões. O estrangeiro não seria
capaz de estragar o casamento.

A celebração era um fato. Seu coração pesou pela culpa naquela mesma
forma peculiar que teve após seu primeiro dia de guerra, quando os canhões e
granadas rasgaram alguns dos homens dos quais ele estava perto. Uma sensação
maçante que ele havia superado junto com a percepção de que o mundo que ele
conhecia simplesmente não existia.
― Anime-se, companheiro.

William levantou os olhos, franzindo o cenho para quem ousava falar


com ele. Ele não gostava de ser perturbado quando bebia.

― Lembra-se de mim, capitão?

Ele ponderou o homem que estava diante dele exibindo um sorriso cheio
de dentes. As pessoas no sul da Inglaterra tendiam a assemelhar-se a seus
vizinhos dinamarqueses e alemães. O homem, com seu cabelo loiro e
constituição alta, não parecia diferente.
― Joshua!
245
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
William lhe tinha notado algumas vezes desde o seu primeiro bate-papo,
mas não tinham falado desde então. William sempre correu para Somerset Hall
em cada oportunidade. Ele tinha sido completamente tolo. Obcecado.

O homem deu uma pequena risada, seus olhos azuis brilhando. ― Eu


sabia que você ia lembrar.

―Isso não significa que eu quero você perto de mim. Vá para casa.
Converse com sua família. Estou feliz aqui. ― A voz de William estava rouca
e ele fechou os olhos, desejando que o homem desaparecesse. Sua cabeça doía.

Falar era uma tarefa muito grande agora. Ele não se importava se ele fosse
rude.
― Você tem um jeito engraçado de demonstrar prazer. ― Os olhos de
Joshua se lançaram do fogo aceso na lareira de pedra para os milicianos em pé
no bar e para os outros homens sentados em mesas como William. Ninguém
estava perto deles e ele empurrou uma cadeira perto de William. Sentou-se e
colocou sua caneca sobre a mesa. ― Na verdade, você não foi fácil de encontrar,
capitão. Já esteve gastando muito tempo na casa grande, eu tenho ouvido.
― Somerset Hall? ― William estremeceu, a dor no peito retornou. ― Eu
não vou passar mais tempo lá.

― Teve uma discussão com um dos habitantes, capitão?

William passou a mão pelos cabelos, os fios umedecidos pelo suor. ―


Pode se dizer que sim.

― Não, não. A bebida vai curar isso. Ou, pelo menos, atenuar a dor.

William endireitou, erguendo o queixo. ― Eu não bebi excessivamente.


― Não, não. Claro que não. Deixe isso para o príncipe regente. Isso é o
que eu sempre digo.

William sorriu. O Príncipe Regente demonstrava grande talento para a


indulgência.
Joshua tornou-se mais grave. ― Eu queria ver você, porém, senhor.
― Então, você é a única pessoa que o quer. ― William lembrou com
246
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
tristeza como sua irmã havia lhe informado que Sebastian tinha pedido para
adiantar a data do casamento em sua última visita a Somerset Hall. Tudo por
sua noite na portaria.

― Bem, eu recordei como você disse que queria que eu lhe dissesse se
eu visse quaisquer coisas estranha.

― E você viu? ― William olhou para cima, um pouco entediado. Ele sim
achava que deveria parar de gastar seu tempo se preocupando com a segurança
de Sebastian.

― Eu não tenho certeza. Eu acho que sim, embora. Eu estava andando


em Lyngate Cove no outro dia com a minha menina. Você entende como é. Eu
não a vejo muitas vezes.
― Eu lembro.

― Sim, então é ela. ― Joshua sorriu. ― Veja, você vai para a casa
grande, colocando-se ares de grande, mas você é como nós. Você se lembrou
da minha menina.

― O que você quer me dizer? ― Perguntou William. Joshua finalmente


tirou os olhos da chama da vela para responder.
― Vi com meus próprios olhos. ― Joshua fez uma pausa e seu rosto
ficou vermelho. ― Eu estava tendo sentindo o desejo, você sabe.

William assentiu, sem saber se Josué referiu-se à vontade para levar para
cama a sua pequena ou atender uma chamada ainda mais básica, menos
romantizada da natureza.

― E há esta caverna em Lyngate Cove...


― Eu ouvi que a área tem muitas cavernas. ― Sir Ambrose tinha
mencionado essa mesmo no jantar. O que ele disse? As alegrias de Sussex
desmentiam parcialmente pelo seu passado desagradável. William tinha
pensado que Sir Ambrose estava querendo dizer simplesmente que admirava a
forma como o município tradicionalmente lutou contra os franceses. Talvez a
história de contrabando o intrigou.
― Sim tem. Bom para os contrabandistas no passado. Eles mantiveram

247
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
sua presa lá.

― Que emocionante.

Joshua deu de ombros. ― Todo mundo deve ganhar a vida.

― Mas isso foi no passado. ― Ele não supunha que Joshua confessaria
o contrabando para um oficial superior.

― Sim. E uma coisa boa também. Ter contrabandistas nas proximidades


não é vida outras pessoas. Nenhuma boa vida, pelo menos. ― Disse Joshua.

Assim, ele não era um contrabandista.


― E a caverna? ― William incentivou Joshua, inclinando-se em direção
a ele.
O jovem sorriu e bateu com os dedos na mesa redonda. ― Bem, você vê.
Essa foi a parte interessante. A caverna não parecia saber que deveria estar no
passado.
― Você viu alguém? ― William olhou ao redor da sala, verificando se
alguém seguia a conversa.
― Não é alguém. Mas eu vi algumas coisas. Garrafas de vinho abertas,
caixas de carga...
― Que tipo de carga?
Joshua baixou os olhos. ― Eu não quis olhar. Eu deveria ter olhado.

―Não, não, isso não é o seu trabalho. ― A última coisa que William
queria era que seu comandante o descobrisse recrutamento uma equipe de
espiões entre os soldados que defendiam a torre Martello.

― Mas eu posso te dizer uma coisa. ― Disse Joshua.


― O quê?

― O vinho era francês.

William revirou os olhos. Sem dúvida, ele e sua namorada tinham

248
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
gostado muito. Ainda assim, o país de origem era interessante. Vinho francês
tinha-se tornado raro.

― Onde está essa caverna, Joshua?

― Logo à direita de Lyngate Cove. ― Joshua tomou um longo gole de


cerveja. ― Você acha que a caverna possa ser utilizada por espiões?

― Talvez. Poderia ser usado para todos os tipos de uso doentios,


incluindo como um refúgio para jovens, homens e mulheres em um encontro
particular.

Joshua teve a decência de corar.


Talvez algo estranho estivesse acontecendo. Isso não queria dizer que
tinha alguma coisa a ver com Sir Ambrose. Ele suspirou, ponderando as
informações de Joshua.

― Você notou alguma coisa diferente?


― Na caverna? ― Joshua fez uma careta.

― Ou apenas no geral? Na área? Homens com sotaque francês? Luzes


piscando à noite?
Joshua balançou a cabeça. ― Eu não passei o tempo lá durante a noite.
― Claro que não. Eu imagino que o lugar não tinha os prazeres da cidade.
― Oh, eu não me importo com o local. Os Downs32 são bonitas em todas
as horas. As estrelas brilhando acima, os penhascos de giz branco reluzente...
Eu costumava visitar o vale durante a noite. Ou, pelo menos, eu nunca me
importei se eu não chegasse em casa antes do anoitecer.

Bem. Joshua parecia ser um homem leal de Sussex.


― Mas o fantasma está lá.

― O fantasma? ― William balançou para cima, olhando para o

32
As penas são um ancoradouro ou área de mar no sul do Mar do Norte, perto do Canal Inglês ao largo da
costa leste Kent, entre o Norte eo Sul Foreland no sul da Inglaterra.

249
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
companheiro. O homem não parecia o tipo de se preocupar com fantasmas.

― Quero dizer, é claro que eu não acredito em fantasmas. ― Joshua se


contorcia. William achou que poderia parecer mais convincente. ― Mas muitas
pessoas têm medo disso.
― De fato?

Joshua inclinou-se para William, com os olhos brilhando. ―


Aparentemente, ele vagueia pelas pistas em um cavalo branco. Como um dos
cinzentos que o próprio diabo andava.

― É um diabo? ― Perguntou William maliciosamente. Sentia-se muito


melhor agora.
Joshua empalideceu. ― Você acha que poderia ser, Capitão Carlisle?
William balançou a cabeça, cedendo. Ele não deveria esquecer que ele
estava falando com o filho de um vigário. Demônios eram provavelmente uma
possibilidade muito real para ele. ― Eu tenho bastante com que me preocupar
no presente para me preocupar com conjecturas.

Joshua parecia desapontado. ― Dizem que ele anda com uma capa escura
sobre os ombros. Eles ainda dizem que ele não tem cabeça.
― Sem cabeça?

Joshua balançou a cabeça. ― Nenhuma.

― Oh. ― William tinha ouvido falar de outros fantasmas sem cabeça.


Talvez cada área tinha um no local. ― Então ele não pode ser apenas alguém
da região cavalgando, desfrutando da brisa do mar.

― Não, eu não acho isso. ― Disse Joshua. ― Não sem a cabeça.

William coçou o queixo. Quem montava o cavalo parecia determinado a


assustar as pessoas. ―Diga-me, há algum padrão nos passeios do fantasma?

―Padrão?
― Ele vem em um determinado momento?

250
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Bem. ― Joshua franziu as sobrancelhas. ― Ele veio na semana
passada, em uma terça-feira e quarta-feira, e eu suponho que, sim. ― Joshua
sorriu, olhando para William. ― Eu suponho que ele também veio na semana
anterior nos mesmos dias.
― Agora isso é interessante. ― William sorriu, batendo os dedos no
trilho da poltrona. Ele colocou sua bebida em cima da mesa, perdendo o
interesse nela enquanto ponderava quando o fantasma pudesse vir.

― Que dia é hoje?

Joshua olhou para ele estranhamente. ― Terça-feira.


William deu de ombros. ― Eu acho que nós deveríamos fazer uma
excursão até Lyngate Cove. Você está pronto para isso?
Joshua parecia preocupado. ― Eu suponho...

― Vai ser maravilhoso. Você vai ver. ―Ele se inclinou mais perto de
Joshua. ― A coisa é: o fantasma não é um fantasma real.
― Eu não tenho certeza se encontrar um homem que finge ser um
fantasma sem cabeça é preferível. ― Joshua murmurou.
William sorriu. A adrenalina correu por ele, e ele se viu ansioso para se
mover para fora. Sentia-se um pouco menos enérgico algumas horas mais tarde
quando ele atravessou os Downs33. Seus pés se arrastavam contra a grama longa.
Flores silvestres floresciam. Era tudo encantador. No entanto, ele não viu
nenhum fantasma.

Joshua não parecia se importar, apontando as flores para William com


alegria. ― Eu não acho que ele vai aparecer até que esteja escuro.
― Você quer dizer até que seja difícil dizer se ele tem uma cabeça ou
não?

Joshua corou. ― Eu suponho que isso é certo.

― Obviamente. ― William esquadrinhou o horizonte. Alguns barcos

33
São um ancoradouro ou área de mar no sul do Mar do Norte, perto do Canal Inglês ao largo da costa leste
Kent, entre o Norte eo Sul Foreland no sul da Inglaterra.

251
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
subiam e desciam sobre o mar, mas sem sinais indicado contrabandistas ou
espiões. Talvez ainda fosse muito claro. ― Onde está a caverna que você
mencionou?

― Lá em baixo.
― É claro. ― William olhou para o precipício. Ondas colidiam contra as
rochas calcárias e um arrepio o percorreu.

Ele seguiu Joshua até a borda, descansando a mão contra o rochedo. A


trilha de Joshua se curvava ao longo do rochedo. A caverna que Joshua usou
para seus interlúdios românticos era talvez menos provável de ser vista por
outros do que ele tinha imaginado.
Joshua se abaixou dentro da caverna escura e William o seguiu. ―
Quando a maré estiver alta, você tem que ir para a parte superior da caverna.

William balançou a cabeça, não querendo ser apanhado na maré alta em


qualquer lugar perto da caverna.
― É realmente muito bom. ― Joshua moveu mais para a escuridão, a
voz profunda ecoando nas câmaras internas.

Um fedor encheu a caverna que por anos teve a maré jogando seja lá o
que for nela.

A decepção inundou William quando ele olhou em volta da caverna. Ele


tinha metade esperado encontrar caixas de pinturas e esculturas francesas.
Duvidava que Sir Ambrose estivesse os armazenando nesta caverna úmida,
mesmo que o nível superior fosse protegido da água.

Ele vagava mais longe para dentro, o bater das ondas amainando. O som
de sua respiração ecoava de costas para ele, como se a própria caverna estivesse
respirando. Ele nunca tinha estado em uma deste tamanho antes; Lancashire não
era famoso por cavernas.

Os degraus feitos pelo homem tinham sido esculpidos na parede da


caverna. Esses eram novos? Ele suspirou e subiu-os, não se importando que a
calça ficasse mais enlameada. A chance de descobrir algo novo o impelia para
frente. Ele havia passado tanto tempo desejando Sebastian. Ele precisava de
uma distração, porém insuficiente. Ele abaixou a cabeça quando o teto fechou

252
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
em cima dele. ― Há muitas cavernas como esta, Joshua?

― Grandes como essa?

― Bons esconderijos perto deste vale.

― Existem alguns. Um está no centro da enseada, mas a entrada é alta.


Não é o melhor lugar romântico. Eu gosto de fazer as coisas mais fáceis para as
mulheres.

William se encolheu. ― Que cortês. Vamos fazer alguma exploração,


Joshua. ― William limpou um pouco de lama de sua calça. Mesmo se ele não
encontrasse uma pista clara qualquer de Sir Ambrose ou seus homens, talvez
eles pudessem descobrir um bom espaço para se esconder a fim de investigá-lo.
William certamente estava interessado em acompanhar o baronete.
Ele respirou fundo quando saiu da caverna, feliz por estar na luz do sol
novamente.
― Você quer voltar agora? ― Perguntou Joshua.
― Em breve. Você vai em frente. Podemos nos encontrar hoje à noite.
― William precisava de um tempo para si mesmo antes da festa.
Joshua se virou para ele, balançando a cabeça.
William levantou a mão para se proteger do sol de Sussex, que batia em
cima deles. Ele não precisava fazer isso na caverna.

― Às dez horas. Eu vou estar aqui, então. ― Disse William. Isso deve
dar-lhe tempo suficiente para fazer uma aparição. Ele não podia evitar a festa
do pré-casamento de sua irmã.

― Nós podemos nos encontrar por essas rochas, capitão. ― Joshua


apontou para um grande aglomerado.

William sorriu. ― Exatamente. Agora, não conte a ninguém.

― Eu não ousaria. ― Disse Joshua solenemente antes de ir de volta para


Lyngate.
O jovem desapareceu. Para um filho de um vigário, o homem possuía um

253
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
espírito aventureiro. Talvez ele pudesse explorar mais uma caverna antes de
voltar para Lyngate e se vestir para o encontro. Ele desceu a colina, em direção
à caverna à sua direita. Ele agarrou-se aos arbustos próximos enquanto escalava.
Pedaços de giz caiam enquanto descia do penhasco.
Ele suspirou de alívio quando ele chegou à praia, as botas escovando-se
contra as pedras. A luz brilhava mais forte aqui, refletindo na água. Ele
amaldiçoou quando viu seus soldados. Ele certamente precisa se trocar quando
ele voltasse. Ele se aproximou de um túnel estreito e esperou que seus olhos se
ajustassem à luz diminuída. Talvez essa não fosse a caverna que Joshua tinha
indicado depois de tudo. Bem, ele não tinha vontade de desistir tão cedo.
Ele cambaleou para frente, curvando as costas, evitando tocar as mãos ou
a cabeça sobre a textura viscosa das paredes da caverna. Ele amaldiçoou quando
o túnel curvou para baixo. Ele realmente esperava que Joshua soubesse o que
ele estava falando.
Enquanto descia, ocorreu-lhe que ele não sabia nada sobre Joshua. Por
tudo o que sabia, ele era um dos assaltantes que tinha encontrado primeiro.
Ele se aproximou de uma abertura na caverna e rastejou para dentro.
Enfim. Ele olhou para o teto primeiro, aliviado por não precisar dobrar mais as
costas. O teto se estendia até 40 pés. Ele examinou a própria caverna, correndo
os olhos em toda a longa câmara. As paredes da caverna permaneciam molhadas
e depósitos negros misteriosos pontilhavam nas paredes. Poças aspergiam o
chão. Um baú parecendo bastante interessante, de madeira com vigas de metal
pesado, estava em um canto da sala. Ele deu um passo para frente.
― Alto. ― Uma voz profunda interrompeu, cortando o silêncio da
caverna.

William agarrou sua pistola e deu meia volta.

254
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

21

Imagens de quem ele encontraria brilhavam diante dos olhos de William


quando ele se virou. Imagens de assaltantes mascarados e espiões franceses.
Imagens de ladrões e contrabandistas. Imagens de fantasmas sem cabeça. Ele
não imaginava o que veria.

Pois era apenas uma pessoa. Um homem segurando uma faca. Graças a
Deus que o homem tinha uma cabeça.
Sardas gengibre pontilhavam o rosto do homem, e seu cabelo castanho
estava puxado para trás em uma fila, aumentando os ângulos agudos de suas
maçãs do rosto. Mesmo na penumbra da caverna, seu cabelo brilhava com
sombras profundas vermelhas. William olhou para ele. O homem olhou para ele
de volta, aparentemente fascinado com sua aparência.

― Seus olhos... ― O estranho deu um passo atrás contra a parede curva


da caverna. ― Seus cabelos...

― Eles são familiares? ― William esperou a resposta. Ele abaixou a


pistola.
O homem acenou com a cabeça.

― Nós nunca nos conhecemos, excelência. ― William acrescentou a


última frase como uma reflexão tardia.

― Não. ― Disse o homem. ― Você estava na Índia.

― E então você deveria estar morto. ― William olhou ao redor da


caverna, perguntando-se se Joshua tinha estado correto ao falar de fantasmas. A
caverna era tão etérea: o teto tinha uma forma côncava, e sua posição, no meio
de um penhasco de giz, parecia em si mesmo inacreditável.
― Então eu estava. Como ela está?

255
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
William apertou a mandíbula, a descrença transformando em raiva. ―
Ela sofreu por você.

― Não mais. ― O duque, o verdadeiro duque, disse. ― Ela não


respondia às minhas cartas.
― Suas cartas? ― O coração de William bateu.

Tudo fazia sentido. O amante de Dorothea, seu admirador, tinha sido


Gregory Lewis, o supostamente falecido noivo. Gregory Lewis, que estava
muito vivo.

― Eu nunca dei a ela. ― Disse William, olhando ao redor. Ele queria


uma poltrona para um colapso agora.
― O quê? ― Olhos de Lewis se arregalaram.
― Nunca.

― Mas Etienne disse que ele as deu pessoalmente.


O peito de William apertou. Lembrou-se do belo estranho fora da casa,
empurrando uma nota em sua mão. Ele tinha discutido com Dorothea antes. Ele
queria acreditar nas coisas ruins sobre ela. Ele nunca poderia ter ido até
Sebastian se ele não tivesse acreditado. O suor se formou na parte de trás do
pescoço e na testa. Ele enxugou a testa. De repente, a caverna parecia
claustrofóbica. ― Eu pensei que ela tinha um amante. Eu pensei que a pessoa
que deu a ela era seu amante.
― Etienne? ― O duque riu, o som ecoando por toda a caverna. ― Muito
improvável.

― Então por que você não apareceu? Ela está vivendo em Somerset Hall.

― Eu sei.

― Você sabe? ― William esperava que Lewis tivesse alguma desculpa


para não ver sua irmã. Será que ele simplesmente tinha mudado de lado?

― Eu estava vivendo lá também, na portaria, até que algumas pessoas


ficaram curiosas.

256
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Oh. ― A mão de William subiu para a garganta, tocando o pano
crocante. Sua pele formigava com o peso do anúncio.

Lewis plissou seu nariz, lembrando a William de Penélope. A semelhança


entre os dois era marcante, não permitindo nenhuma incerteza de quem estava
diante dele. ― E agora você me descobriu. Eu pensei que tinha encontrado a
segurança aqui.

― Por que você não contou a ninguém? Por que você iria deixar todo
mundo pensar que você tinha morrido? Minha pobre irmã... ― Ele parou,
lembrando os olhos avermelhados de Dorothea e sua luta para melhorar a sua
situação aos olhos da sociedade.
Como ela deve ter sofrido. Ele tinha sido tão horrível como todos os
outros. Tudo em vão. Ele não tinha Sebastian, e ela não tinha nenhuma
necessidade de se preocupar: o noivo estava diante dele, vivo e bem.
― Eu queria dizer... Senhor, eu tentei dizer. Eu até tentei entrar em seu
quarto naquela noite. Mas ela me expulsou, pedindo ajuda antes que eu tivesse
a chance de me revelar. ― Lewis sorriu, sua expressão suavizando. ― Ela é
uma mulher mal-humorada.

William gemeu. Ele não tinha tempo para isso. Lewis ainda parecia
adorar Dorothea. Não se importava com o homem com quem ela ia se casar
amanhã? Ou será que ele não tinha ideia? E a sua própria família?
O pai de Lewis tinha morrido enquanto lamentava o filho. Um calor
liberou pelo corpo de William. ― Por que você permitiu que todos pensassem
que você tinha morrido?
― Eu não tinha a intenção. ― Os olhos de Lewis ficaram distantes.

William cruzou os braços, batendo o pé contra o solo de calcário da


caverna. A luz esmaecida, as sombras fundindo juntas. ― Esse tipo de coisa
não acontece.
Lewis suspirou, passando os dedos pelo cabelo. ― Eu não posso dizer-
lhe tudo. Algumas dessas coisas são confidenciais.
― Não se esqueça que eu sou irmão de Dorothea e única relação
masculina. Melhor que a razão seja boa.

257
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Lewis o avaliou. Por um momento, William pensou que o outro homem
pudesse simplesmente sair. Mas então ele falou, e William esperava que tudo
fosse revelado.

― O governo britânico estava desconfiado de Sir Ambrose.


― E você trabalhava para o governo britânico?

― Trabalho para eles. ― Lewis enfatizou o tempo presente.

― Como você começou?

Lewis deu de ombros. ― Oxford. Meus estudos vieram fácil para mim.
Eu sou atlético. Eles me encontram. Soou emocionante. Eu gostei disso.
William assentiu. A explicação soou tão banal, tão ridiculamente
verdadeira. Oxford parecia o lugar ideal para o governo pegar um grupo de
entediados, espiões potenciais bem colocados.

― Sir Ambrose se mudou para cá no ano passado.


― Então eles colocaram você sobre o caso.

Lewis concordou. ― O Escritório Central não podia acreditar na sua


sorte. Eu não podia acreditar na minha fortuna - ele é um homem poderoso,
encontrar algo contra ele teria significado uma promoção. Eu tinha acabado de
concluir uma missão; tudo parecia estar indo bem.
― Mesmo que ninguém soubesse o que você fazia no seu tempo livre?

― O que eu posso dizer? Eu adoro o meu país. ― Lewis sorriu, mas seus
olhos tinham ficado incendiados. A ousadia e patriotismo de Penélope parecia
ser uma característica familiar.

― O que aconteceu?
― Eu o convidei para Somerset Hall; ele me convidou para Ashbury
Castle. Eu mesmo levei Dorothea uma vez.

― E depois?
― Eu pensei ter chegado perto de encontrar algumas informações sobre

258
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
ele, mas uma noite eu estava em cima quando eu estava explorando a fronteira
perto de Ashbury Castle, e quando eu acordei, eu tinha sido espancado. Foram
os homens de Sir Ambrose. Eu tinha certeza.

― Alguém do escritório do governo estava investigado comigo. Ele


conseguiu obter ajuda, e o escritório decidiu anunciar que eu tinha me juntado
à batalha na França e morrido ali. Dado que Sir Ambrose e eu éramos vizinhos,
eles pensaram que assim seria mais seguro. Não era para durar muito tempo, e
eu estava inconsciente quando tomaram a decisão. As pessoas estavam me
declarando morto o tempo todo lá e, em seguida, descobriu-se que eu estava
vivo. Um general, que trabalha com eles, concordou em identificar o meu corpo
como morto.
Os olhos de Lewis pareciam tristes e, por um momento, William se
permitiu sentir pena de seu quase cunhado. Ele entendia que as coisas não foram
como planejadas. O duque estava morando em uma caverna, provavelmente não
o tipo de aventura que ele havia sonhado.

— Mas eles não têm sido capazes de encontrar qualquer coisa contra o
barão? — Perguntou William, seu tom de voz suave.

Lewis balançou a cabeça.

—Eu venho fazendo o meu trabalho. Se eu pegar Sir Ambrose, posso


anunciar a minha presença mais cedo.
—Você terá que fazer isso mais cedo de qualquer maneira. — Respondeu
William. — Dorothea vai se casar amanhã de manhã.

Lewis sacudiu a cabeça para trás, atordoado. Então ele sorriu. —


Certamente você está brincando. Sei de seu noivado, mas eu pensei que o
casamento fosse em Maio.

— Eles decidiram adiantar o casamento. — William sorriu amargamente.


Os casamentos raramente avançavam tão rapidamente, a menos que fosse no
caso de uma paixão avassaladora ou a falta de dinheiro para o planejamento. As
mulheres pareciam achar muito prazer em planejar o casamento para alterar a
data sem razão. A falta de dinheiro era impossível e William estremeceu ao
pensar que a paixão tivesse sido responsável para adiantar o casamento. O mais
provável é que tivesse sido o desgosto de Sebastian na noite que passaram

259
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
juntos.

As ondas caiam abaixo, seu som se intensificando. A maré devia estar


chegando, envolvendo a baía com seus poderosos golpes.

— A menos que nós queiramos passar a noite na caverna, teremos de sair


agora. — Disse William.

******

Os ruídos começaram pela manhã. Sebastian tinha despertado com o


arranhar de móveis pesados sendo movimentados nas salas abaixo. Ele esperava
que o piso de madeira sobrevivesse. Era inútil para o mobiliário resistir ao
próximo casamento e os preparativos que Dorothea e Penelope tinham feito.

Sebastian simpatizava bastante com a situação delas, estremecendo pelas


batidas que vinham do andar de baixo, agora substituído pelos sons dos
hóspedes que chegavam.

Passos suaves soaram da sala adjacente. Grayson.


Sebastian envolveu-se em um robe de seda ao redor de seu corpo. A
textura suave não poderia protegê-lo do aumento da frequência do seu coração
batendo. Ele deveria ter reconhecido isso há muito tempo: ele não era normal,
ele não voltaria a ser normal. As alegrias que enchiam outros homens com
prazer, o próximo casamento com uma mulher bonita e talentosa, serviu apenas
para atormentá-lo.

Grayson veio para ajudá-lo a vestir-se. O calor correu para seu rosto
quando o homem ajudou-o a colocar suas botas, lembrando quando William os
removeu.

Sebastian ajeitou a gravata, examinando sua aparência no espelho.

Ele se arrastou para baixo nas escadas, correndo os dedos ao longo do


corrimão de carvalho polido. Guirlandas de lilases penduradas no teto alto
transformaram as salas de recepção. Vasos transbordantes decoravam cada

260
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
superfície plana. O casamento seria amanhã de manhã, mas Penelope tinha
convidado os membros mais corajosos da alta sociedade, cujas casas estavam
em Sussex ou simplesmente queriam uma fuga de Londres, a Somerset Hall.
Servos, os aldeões que haviam retornado, espalhados, cantarolavam com a
atividade.

Era justo casar-se com Dorothea? Será que ela não merecia alguém que
a faria feliz? Será que um dia ele a faria feliz?

Sebastian teceu através da multidão. Seus olhos se voltavam para a porta


com frequência. Será que William já chegou?
Penélope e Dorothea tinham arranjado uma mesa de bebida em um dos
lados da sala. A área era constantemente reabastecida, com os homens tímidos
e mulheres que se aproximavam e as pessoas mais confiantes que saíam. Ter
algo na mão era em si gratificante. Eles acenavam seus copos pela sala com o
entusiasmo de cavaleiros medievais agitando espadas em um jogo de duelos, os
líquidos patinando dentro.

Sebastian suspirou quando o riso se intensificou. Seria uma longa noite.


Os músicos locais atacaram os seus instrumentos com alegria, batendo
no piano e balançando os arcos de violino enquanto tocavam. Sem dúvida, eles
ficaram encantados com a oportunidade de tocar para um duque, e ter sucesso
em ser memorável.
— Sebastian! — Uma voz forte chamou alto.
Sebastian se virou para ver uma figura familiar envolta em seda vívida e
veludo. Um colar de rubis pendia sobre o peito.
— Tia Beatrice! Estou muito contente em vê-la. — E ele estava. Alguma
familiaridade, independentemente das excentricidades, era muito desejada.

— Portanto, o seu sonho está se tornando realidade. Você está para se


casar novamente. — Sua tia apertou as mãos, os anéis de joias prementes em
sua pele.

— De fato. — Sebastian sorriu firmemente. — Suas habilidades de


casamenteira mais uma vez triunfou.

261
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sua tia encolheu os ombros. — Você desejava. Você não precisava ter
casado novamente de qualquer forma.

— A sociedade teria querido me ver casado novamente, mais cedo ou


mais tarde.
— Você não precisa cumprir tudo o que a sociedade exige. Poucas
pessoas atendem suas demandas, e a sociedade sabe disso.

As palavras, ditas tão casualmente, bateu em Sebastian como uma das


armas medievais que ele tinha visto em Ashbury Castle. Seu peito doía. O
noivado, o casamento, tudo tinha sido seu empenho. Ele ansiava normalidade.
Ele quis exorcizar seus pecados com Henrietta. Ele queria um novo começo
com Dorothea, uma nova propriedade e um novo título.
Ele tinha escondido suas inclinações antes de conhecer William. As
embalou e as envolveu em um pano branco. Mas seu coração não seria
embalado longe como uma peça de mobiliário evitando poeira.
Ele poderia ter evitado tudo isso. Se ao menos ele não tivesse contado a
sua tia que queria encontrar uma esposa. Então, quando ele conheceu William
em Grosvenor Square, algo mais poderia ter acontecido entre eles.

E agora ele estava se casando com a irmã do homem. Ele nunca poderia
estar com ele novamente. Ele se dedicaria a uma mulher que ele nunca poderia
amar, que se esforçaria para ser um marido que nunca poderia ser.
Tia Beatrice olhou para ele estranhamente. — Quão pálido você ficou.

Ele estremeceu sob o olhar avaliador e desviou os olhos, forçando uma


risada. — Como o fantasma que assombra nesta área, segundo os rumores, sem
dúvida. Simplesmente assimilando.

— Bem. — Disse sua tia, seus olhos se movendo sobre a sala. — Tem
feito um trabalho muito bom por revigorar este lugar. Está bastante adequado
para um duque.
Obrigado. — E ele estava feliz e grato por ela ter notado todas as
mudanças. Ele provou que ele podia ter sucesso como duque. Mas o triunfo que
ele havia sonhado o fazia se sentir oco. Isto não era o suficiente. Isso não era o
que seu corpo ansiava, acordando-o com os seus anseios no meio da noite. Isto

262
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
não era o que sua alma exigia.

Ele precisava de William. Ele deveria ter escolhido William. Deveria ter
ficado muito feliz por ter encontrado uma pessoa tão parecida a ele, ter ficado
feliz por essa pessoa ser tão maravilhosa como William... Ele tinha jogado tudo
fora, lançando-o da mesma maneira que Sir Ambrose demitiu seus servos. Seus
joelhos tremiam.

Onde está William?

Ele olhou ao redor, não vendo nenhum sinal dele. Ele desejava ver o
casaco vermelho abotoado do capitão. Em vez disso, ele foi confrontado com
vestidos de mulheres deslizando por ele.
Por que William iria querer participar? Sebastian desculpou-se com sua
tia, andando rapidamente pela sala, procurando os cantos e recantos pela figura
imponente de William.
Ele confirmou a ausência de William, apesar de ter assustado alguns
casais improváveis. Ele pegou Lady Burgess abraçada a um estrangeiro moreno.
O coração de Sebastian se condoeu pelo visconde, que sempre falou muito de
sua esposa. E o coronel March definitivamente não era para estar em um
relacionamento com a baronesa de Brambury, seu marido dela e sua esposa não
aprovariam. No entanto, seus braços tinham estado distintamente ao seu redor,
quase coberto pela cortina de veludo que os blindavam.
Sua tia Beatrice estava correta: a sociedade tinha seus próprios pecados
com que se preocupar. Seu pecado não era algo que pudesse ser compartilhado,
mas talvez eles pudessem perdoar-lhe por não estar determinado a se casar
novamente.

— Aproveitando as festividades? — Dorothea o cutucou com o cotovelo.


Ele não tinha notado sua chegada. Ela alisou o cabelo, colocando um cacho
escuro sob sua orelha.
— De fato. — Ele balançou a cabeça, os olhos fixos na grande porta
almofadada que separava o salão de baile do hall.

A porta se abriu; seu coração pulou, consumido pelo desejo de William


aparecer.

263
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Em vez disso, Crowley atravessou e Sebastian lutou para evitar que os
ombros se curvassem. — Você acha que ele tem uma nota de William? Ele está
atrasado.

Dorothea agarrou seu braço com mais força, deslizando a mão enluvada
sobre o cotovelo. Ela também devia estar preocupada com seu irmão. —
Crowley tem todos os tipos de negócios para atender esta noite. Eu não me
preocuparia com William. Ele tende a ser mais independente.

— Mas não devemos nos preocupar? — Sebastian olhou para o relógio


de pêndulo de mogno no salão de baile. Eram oito horas e William estaria
cavalgando para fora no escuro. Ele fechou os olhos, imaginando todos os
buracos de coelho e as raízes das árvores em que o cavalo pudesse mutilar-se,
as rochas pontiagudas nas quais William pudesse ser jogado. Para não falar das
próprias falésias.
E se o cavalo perdesse o controle e galopasse para fora do penhasco?
Um cavalo pode se assustar, como podiam saber que criaturas perambulavam
pelo escuro.
— Sebastian? — Dorothea balançou o braço e mordeu o lábio. — Talvez
devêssemos dançar agora.

Sebastian olhou para Dorothea. Seus olhos tinham ficado maiores, e os


cílios se agitaram. Suas bochechas estavam rosadas. Ele correu os olhos para
baixo de seu vestido marfim. A curva de cima de seu seio aparecia e Sebastian
tinha espiado outros homens olhando para essa área de perto com interesse. Os
fios de seu cabelo escuro e encaracolado vibravam em cada lado do seu rosto;
ela usava o resto em um coque dramático.

Ela era linda. Espetacularmente bela. Ela não era para ele.

Alguém mais poderia apreciá-la. Casar com ela não iria resgatar a sua
experiência com Henrietta, seria repeti-la. Dorothea não merecia isso. E
William não merecia ver o casamento acontecer. William sempre foi bom e
gentil com ele.

— Devemos falar. — Disse ele, voltando-se para sua noiva.


— Este não é o momento. — Suas sobrancelhas se juntaram.

264
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
A vergonha fluiu através dele. Não, este não era o momento. Talvez
nunca houvesse um momento apropriado. Mas amanhã eles iriam se casar, e
eles precisavam falar antes disso. Ele tomou seu cotovelo e caminhou com ela
pelas portas francesas.
Ela gritou, e ele a silenciou. Um homem piscou quando viu Sebastian
conduzir Dorothea para fora, assustando os espectadores enquanto passavam.

Eles devem parecer muito românticos.

O ar fresco os saudou. O vento soprou da costa.

Dorothea bateu o pé. — Leve-me de volta.


— Não.
— Não? — Dorothea olhou para ele, confusa.
— Não. — Uma onda de emoção correu por Sebastian. Ele deveria ter
dito essa palavra há muito tempo ao invés de se deixar levar por todos. — Nós
precisamos conversar.

Dorothea franziu o cenho. — Nós não devemos negligenciar os nossos


hóspedes. Podemos falar depois do casamento.
— Não haverá casamento. — Aí estava. Sua vida seria diferente agora.
Talvez não melhorasse, mas Dorothea seria livre. O alívio correu através dele.
Sua ex-noiva não parecia satisfeita. Seus olhos se arregalaram e depois
escureceram. — Nós certamente vamos nos casar.
Mas eles não o fariam. A mente de Sebastian estava decidida. Eles
ficaram em silêncio. Os murmúrios de uma quadrilha que estava sendo tocada
soaram através das portas francesas, acompanhadas de sons de risos; no jardim,
uma coruja piou.

— É por causa do meu irmão?

A mente de Sebastian correu, perguntando por que ela havia trazido seu
irmão na conversa. Ela sabia sobre a noite na portaria? Talvez tivesse sido o
intruso que William tinha seguido.

265
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
— Eu - eu não estava esperando um casamento por amor. — Continuou
Dorothea. — Eu espero que você saiba disso. Você não tem que ser tudo para
mim. Você simplesmente tem que ser o meu marido. — Ela olhou para baixo.
— Se, é claro, você ainda tiver a mim.
Seu peito se apertou. — Eu não te mereço, Dorothea. Eu não posso te
fazer feliz.

— Eu não espero ser feliz. Eu não sou ingênua. Não depois da morte de
Lewis.

— Ele teria feito você feliz.


— Mas ele não está vivo. — Dorothea sentou em um banco, escondendo
o rosto entre as mãos. Ela parecia frágil sob luz modesta da lua.
— Você merece alguém melhor do que eu.

Ela se encolheu ao ouvir suas palavras. — Você ainda podia vê-lo, você
sabe.
— O que é que você está querendo dizer? — Sua voz soava estranha,
mesmo para ele. Esperava que ela não estivesse sugerindo o que ele pensava.
— Eu seria uma boa esposa. E eu não espero que você seja fiel.
Ela estava simplesmente sugerindo que ele fosse infiel? Sebastian
estremeceu, considerando-se todas as vezes que ele já havia traído Dorothea em
seus pensamentos e ações. Ele não podia continuar a fazer isso, não importa o
que pensava Dorothea. Sua honra o proibia de sentenciá-la a um simples
casamento de conveniência.

— Mas você deve esperar isso.

— Eu suponho que você não vai reconsiderar? — A voz de Dorothea


tremeu.

— Não. ― Ele suspirou. — Mas eu prometo a você, eu vou fornecer tudo


para você. Se Lewis tivesse vivido o suficiente para casar com você, tudo isso
teria sido seu. Você pode continuar a ter a casa em Londres e vou dar-lhe uma
mesada.

266
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Dorothea concordou. — Isso é muito generoso.

As vozes do salão de baile continuaram a subir. Os tons alegres de uma


dança local começaram a tocar lá dentro. Seu estômago afundou pelo que
precisava fazer agora. — Eu vou fazer um anúncio.
Dorothea balançou a cabeça. — Amanhã, por favor. Vamos deixá-los ter
a sua noite. — Ela se levantou e foi em direção ao salão de baile.

Sebastian perguntou se ela também se referiu a si mesma. Ele não poderia


agradar a todo mundo; ele deveria ter aprendido isso há muito tempo.

Ele precisava encontrar William. Ele não sabia se o homem ainda o


queria, mas ele precisava descobrir. A adrenalina o percorria; já era hora de ele
estar no controle de seu próprio destino, de uma vez por todas.

267
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

22

Lewis e William estavam no topo do penhasco. A lama manchava as


roupas e botas de William. Em algum lugar entre a caverna e a saída, a camisa
tinha rasgado. Ele não podia fazer uma chegada tardia na festa em seu estado
atual.

Lewis tinha outras preocupações. Ele gritou: — Casamento? Amanhã de


manhã?
— Isso é o que eu lhe disse. Pelo menos cinco vezes antes. — William
inalou, aliviado por estar fora da caverna úmida. Eles tinham escapado na hora
certa. Por mais tempo e eles teriam de nadar. O que Lewis dizia não ser
realmente nenhum problema, mas William tinha nadado na Índia e tinha
confirmado que a água, na Inglaterra, até mesmo no sul da Inglaterra, era muito
fria.

Os olhos de Lewis corriam para trás e para frente. — Nós temos que fazer
alguma coisa.

— Você está pensando em desembarcar no salão? Você vai assustar a


todos até a morte. Sua mãe vai estar lá. Você não quer que ela pense que você
é o fantasma que vem assombrando a todos.
— As pessoas achavam que eu era um fantasma de qualquer maneira. —
Lewis se acomodou sobre a grama e cruzou os braços. — Qual é o plano?
— O plano é... — William parou. Ele deveria ter aparecido no baile. Sua
irmã ficaria furiosa. Bem, talvez ela fosse perdoá-lo agora que ele tinha
encontrado Lewis - se ela perdoasse Lewis. — Como você acha que a minha
irmã vai encarar a sua aparição?

Ultraje estourou no rosto de Lewis. — Você quer dizer que ela prefere se
casar com um viúvo de Yorkshire, usurpando o meu papel?
William foi para cima. — Você não deve falar sobre ele de tal maneira.
268
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian fez um trabalho maravilhoso com a propriedade.

— Não quis ofender. — Os olhos de Lewis se estreitaram. — Eu não


sabia que você era tão íntimo dele a ponto de tratá-lo pelo primeiro nome.

— Passamos muito tempo juntos. — William resmungou, xingando a si


mesmo. O homem suspeitava de algo. Bem, ele estava certo de fazê-lo.

— Oh? — Lewis deu de ombros. — Eu não sabia. Eu fui para Eton.

Isso não o surpreendeu. Lewis sintetizava o privilégio ainda melhor do


que as crianças em Harrow.

Ainda assim, William não tinha dúvidas de que Lewis parecia dedicado
a Dorothea. Isso tinha que ser algum tipo de teste de amor verdadeiro - vivendo
em uma caverna por algumas semanas e ser espancado ao visitar sua ex-noiva
em seu agradável quarto e ainda ser ferido.

O céu escureceu. Talvez William não fosse capaz de ver o cavaleiro sem
cabeça como planejado.
William mudou de assunto. — Você já percebeu movimentos estranhos
do lado de fora? Luzes piscando?
— Um cavaleiro galopando sem cabeça?
William assentiu, feliz que Lewis, pelo menos, tinha ouvido os rumores.
— Eu pensei que ele poderia voltar hoje à noite.

Lewis balançou a cabeça, esfregando as mãos. — Ele estará aqui em


breve. Esta é a noite que eu estava esperando. A chance de pegar Sir Ambrose.

William estremeceu. — Você deve ir, Lewis. Você precisa ver Dorothea.
Se, é claro, você ainda quiser se casar com ela.

— Claro que eu quero casar com ela. Eu a adoro. — Lewis parecia


genuinamente ofendido.

— Então vá.

269
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
*****

Sebastian correu para seu quarto e pegou seu casaco.

Dorothea iria encontrar uma desculpa para sua ausência, uma agradável
para ela. Talvez ela alegasse que ele tinha desenvolvido uma doença e os
convidados iriam supor que ele estava tentando apressar o fim das festividades,
a fim de violentá-la; talvez eles não notassem sua ausência afinal de contas. A
aristocracia de Sussex pensaria que o casamento não poderia ocorrer em breve.

— Sua Alteza? — Grayson enfiou a cabeça prateada no quarto, seu


cabelo brilhante pelo brilho de uma vela. — Eu ouvi você entrando. Você já se
despiu?
Sebastian amaldiçoou, desconfiado de qualquer interrupção. — Eu estou
me vestindo.
— Oh. Os olhos de Grayson vagaram para o relógio na mesa do quarto
de Sebastian, a confusão evidente.

— Eu estou saindo. — Sebastian embolsou algum dinheiro, sem saber se


ele iria precisar de algum. — Diga a Sam para preparar a carruagem.
Grayson saiu correndo. Um pensamento ocorreu a Sebastian, e ele abriu
uma gaveta, tirou uma pistola de prata e colocou-a no bolso do casaco.

Quando a carruagem parou, Sebastian hesitou, lançando seus olhos de


volta na mansão onde as figuras dançavam, visível através das grandes janelas
de vidros. Se Dorothea havia anunciado algo, a festa não foi interrompida.

Na frente da casa, filas de carruagens se alinhavam na entrada, suas


cristas coloridas e enfeites dourados refletindo sobre a lagoa. Sebastian estava
em meio ao mar de cores vivas, aliviado quando Sam finalmente apareceu.

Ele saltou para a carruagem, empurrando as cortinas de lado em ambas


as janelas. William havia mencionado salteadores frequentando a estrada para
Lyngate, e Sebastian não quis esconder de todas as surpresas.
Quando a carruagem puxou para fora, uma enorme sombra negra, uma

270
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
mistura de rodas e cavalos, acelerou mais perto, pastando a carruagem,
empurrando Sebastian contra o lado almofadado. Por um momento ele se
perguntou se toda carruagem poderia virar quando os cavalos relincharam e
pisaram seus cascos e travesseiros com franjas de sua tia caíram no chão.
Sebastian preparou-se para a queda, suspirando quando a carruagem recuperou
sua posição precária e os cavalos puxaram para uma posição segura. Graças a
Deus pelas habilidades de Sam como condutor.

Tremendo, Sebastian pressionou o rosto contra o vidro. Ele podia


distinguir Sir Ambrose que estava na outra carruagem enquanto ele fugia.

— Você quer que eu pare? — Sam perguntou, sua voz descendo pela
frente da carruagem.
— Não. — Respondeu Sebastian, erguendo a voz sobre os sons dos
cavalos trotando. — Siga em frente. — William era sua prioridade, ele precisava
encontrá-lo.
A carruagem balançava, percorrendo as curvas ao longo de South Downs
que levava à Lyngate. Uma diligência viajava na frente deles e Sebastian ouviu
as vozes dos passageiros empoleirados no telhado.

Sebastian nunca se aventurou a Lyngate antes, consumindo-se pela falta


de William para ir passear.

A carruagem começou a descer, encerrando a estrada estreita, com um


lado exposto para o mar e o outro ofuscado por árvores altas que lançavam
sombras ferozes do outro lado da pista de terra. Os cavalos bufaram, lutando
contra seus colares. Os cabelos no pescoço de Sebastian arrepiaram.
Algo não estava certo, e mais uma vez, lembrou-se de William
mencionando os salteadores.

— Devagar. — O carro parou e as rodas arranharam o caminho. O vento


empurrava a carruagem, balançando-a ligeiramente.
Um tiro ecoou.

Sebastian saltou e os cavalos relincharam. Desta vez, ele agarrou a parede


da carruagem.

271
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Por um momento, tudo ficou em silêncio e depois gritos irromperam da
diligência. — O fantasma sem cabeça!

O bater dos cascos soaram.

— Ele desapareceu na floresta, excelência. Devo continuar?


— Sim, Sam.

Sebastian estremeceu quando Sam persuadiu os cavalos para continuar.


O fantasma tinha feito uma aparição, isso estava claro. Será que William foi
procurar o fantasma? Por isso o atraso? O peito de Sebastian apertou,
consumido com preocupação enquanto continuavam a sua viagem.
Que a milícia estava presente na cidade litorânea, outrora remota, era
evidente; voluntários robustos e oficiais suaves com cabelos ao vento
balançavam sobre a cidade, os seus passos vacilantes indicavam visitas recentes
a pubs da cidade.
Era tudo muito masculino.
Será que sua presença poderia prejudicar William? Será que seu
supervisor e os colegas soldados de William perceberiam a afeição de Sebastian
por ele? Sebastian balançou a cabeça. Muitas razões existiam para que ele não
fosse ver William; ele não precisava adicionar mais um à lista. Ele fechou os
olhos, esforçando-se para recordar a sua noite na portaria. William tinha
desejado que a sua amizade se fortalecesse, tinha desejado um relacionamento
real.

Suas palavras pareciam tão implausíveis na época, mas agora Sebastian


as acalentava.
Eles iriam encontrar um caminho.

Mas, primeiro, ele precisava encontrar William. Apesar da insistência de


Dorothea sobre a natureza independente de William, Sebastian duvidava que o
homem fosse pular a festa pré-casamento de sua irmã de boa vontade, tão
desconfortável quanto a ocasião pudesse ser. William foi honrado e cuidou de
Dorothea demais para evitá-lo por completo.
Algo o deve estar detendo. Algo desagradável. A carruagem deu uma

272
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
guinada, girando ao longo do caminho estreito que seguia a inclinação da curva
da linha da costa. A chuva começou a cair, e as ondas colidiam contra a praia,
empurrando os barcos de pesca de cócoras sobre o oceano. Sebastian não sabia
como alguém poderia suportar estar no mar em uma noite como esta. Ele
esperava que a carruagem fosse rápida para que ele pudesse se certificar de que
William estava a salvo em suas acomodações e não fora no vento tempestuoso
de Sussex.

A carruagem parou e Sebastian a mandou embora. Sam não precisava vê-


lo em busca de William.

Dirigiu-se para o quartel.


― Ele não está, excelência. Ele não esteve aqui o dia todo. ― A
governanta franziu a testa, olhando para Sebastian com desconfiança. Ele ainda
usava suas roupas de noite sob o casaco e era bem visível em sua calça de cetim
preta.
― Você sabe onde ele está?

A governanta cruzou os braços sobre o peito e balançou a cabeça, sua


touca se deslocava de um lado para outro. ― Eu não sei o que os homens gostam
de fazer em seu tempo livre. Eu não gosto de pensar nisso, não, eu não.

― Será que alguém aqui sabe? ― Sebastian se recusou a ser descartado


com tanta facilidade.
― Você pode tentar os pubs. O capitão Carlisle gosta de uma bebida.
Logo ali sobre a colina. ― A governanta projetou o polegar antes de bater a
porta.
Outro lugar não era encantado por aristocratas.

Sebastian apressou o passo, ansioso para ter um destino. Passando por


cima das poças, ponderou suas palavras. O William que conhecia não bebia
excessivamente. O conhecimento desta possível falha, fez o coração de
Sebastian inchar. William não era perfeito; ele lutou como Sebastian. De
alguma forma, essa compreensão fez William mais acessível, o capitão não era
simplesmente um homem bonito e capaz, ele poderia pertencer a Sebastian.
O anfitrião do primeiro pub não tinha notícias do capitão, mas no segundo

273
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
pub o identificaram instantaneamente. ― Moreno, tipo alto, com cabelos
encaracolados? Temos muitos deles aqui. Mas o capitão Carlisle, ele vem aqui
muitas vezes. Gosta de se sentar na poltrona bem ali.

O anfitrião apontou para uma poltrona cor de vinho em um recanto de


canto, e os olhos de Sebastian embaçaram quando imaginou onde William
descansava os dedos robustos na capa de veludo e onde ele colocaria suas longas
pernas. Elas não iriam caber debaixo da mesa; teria de curva-las para um lado.
E ele teria uma visão do resto do pub; o homem gostava de ser bem informado.

― Sim, ele vem aqui com bastante frequência. ― O dono do bar


continuou. ― Muito triste.
Sebastian sentiu uma pontada de culpa. A discussão deles.
― Embora ele parecia mais jovial hoje. Outro homem veio e o animou.
Eles saíram em torno de meio-dia.
William saiu com outro homem? Um homem que o fez sorrir? Era
Sebastian que deveria estar lá. Seus joelhos se dobraram.

Talvez fosse tarde demais. William tinha encontrado alguém. Afinal de


contas, pensou Sebastian, ele estava se casando pela manhã. Por que ele não ia
sair com outra pessoa? Como podia ter sido tão tolo? Por ter deixado William
ir?

A porta bateu. Ele suspirou e perguntou: ― Você sabe quem era o seu
companheiro?

― Sim, sim, eu sei. Um homem da região. Filho do vigário. Joshua


Smutton.
― Que nome incomum.

O dono do bar sorriu. ― O nome de sua irmã é Jemima Smutton.

Sebastian sorriu, gostando do calor e companheirismo do pub. Ele bateu


os dedos contra o rico mogno do balcão. O aroma de cedro e tabaco invadia o
local.
― Você está falando do capitão Carlisle? ― Um homem rotundo com

274
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
um rosto rosado caminhou em direção a ele. Ele olhou as roupas de Sebastian.
― Você não está vestido para uma típica noite no pub.

― Eu estou vestido para uma noite típica de baile. ― Disse Sebastian.

O homem riu, abanando a cabeça. O uniforme do homem o fazia mais


notável do que os outros, uma fileira de medalhas adornava seu tórax. A prata
e o ouro refletiam a luz, exalando importância.

O homem acenou com a cabeça para Sebastian. ― General Hartley,


excelência.

― Você me conhece?
― É o meu dever conhecer as pessoas. Você está comprometido para se
casar com a irmã de um dos meus capitães.
― Bem, sim. ― Disse Sebastian, não querendo dizer que o compromisso
tinha sido quebrado, sem o consentimento de Dorothea. ― Eu suponho que
você pode ter ouvido.
O general inclinou a cabeça. ― Vamos encontrar o capitão?

Os olhos de Sebastian se arregalaram. ― Sim.


― Esse é o motivo para que veio, não é? ― Sebastian assentiu.
Tinha o general sentido sua adoração por William?
― Veio romper o noivado, eu imagino. ― O general dirigiu para a porta
do pub.
Sebastian acenou um adeus para o dono do pub, abaixando-se sob a
madeira escura segurando o teto. ― Não quero me casar com ela, preciso ver
seu irmão, pois é o mais próximo parente do sexo masculino. Talvez seu único
parente - Eu não o conheço muito bem.

― Eles têm alguns primos em Lancashire.

― Ha, como se Lancashire contasse. Primos distantes demais, garanto.


― Bem ...

275
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― É melhor você falar com Carlisle pessoalmente. Eu suspeitava que
algo fosse dar errado com esse casamento. A maneira como ele pairava sobre
isso.

Sebastian ergueu as sobrancelhas. ― Ele falou com você sobre isso?


― Claro que não. Eu não me intrometo em seus assuntos pessoais. Talvez
civis tenham o hábito disso, mas os oficiais não consideram que estes sejam
assuntos de importância. ― O general parecia vexado. ― Mas eu vi seu mau
humor depois que ele recebeu o convite de casamento. Você não pode esconder
qualquer coisa por mim.
― Oh.
― Vamos lá, o que há de errado com a senhora?
― Não há nada de errado com ela. ― Disse Sebastian, ofendido.

― Oh, vamos lá, alguma coisa deve haver. Eu a vi, ela é uma coisa bonita.
Sebastian balançou a cabeça com veemência. ― Eu nunca iria depreciá-
la na frente de ninguém.

O general riu. ― Bem, ora, ora. Não é que você possui espírito. Só
brincando com você, você deve me conceder um pouco de prazer na minha
velhice. Depois de lutar contra os americanos, eu agarro qualquer prazer que eu
posso alcançar.

― Isso deve significar muitos anos de prazer, então. ― Os colonos


haviam declarado vitória décadas antes.

O general piou. ― Ouso dizer que você está certo. Vamos, vamos para
os seus aposentos.

― Eu tentei seus aposentos. ― Disse Sebastian timidamente.

― É mesmo? ― O general levantou uma sobrancelha. ― Que eficiente.

O calor subiu para o rosto de Sebastian.


― Eu suponho que você precisa para ser, com o casamento se
aproximando.

276
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Não há nada de errado com Dorothea.

― Ainda não significa que você quer se casar com ela. Na verdade... ―
O general inclinou-se para ele. ― Você não deve se casar com ela. Eu estava
prestes a contatá-lo eu mesmo.
Os olhos de Sebastian arregalaram novamente. William tinha dito alguma
coisa? Para o seu comandante? A ideia era impensável, mas ele nunca poderia
ter certeza com William.

― Eu tenho algo para lhe mostrar. Me siga.

Sebastian hesitou. Era fácil seguir alguém acostumado a dar ordens, mas
ele se perguntou se isso não era apenas uma distração para atraí-lo para longe
de William. O general poderia ser a pessoa que planejava atividades nefastas na
área circundante? Ele era novo para a região também e Sebastian tinha ouvido
falar de corrupção nas forças armadas antes.
― Não se preocupe, não há nada para você ter medo aqui.
― Eu não estou com medo.

O general fitou-o com um longo olhar. ― Vamos. Eu tenho alguém que


eu quero que você conheça.

277
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

23

O oceano estava escuro e as estrelas brilhavam nas ondas escuras. Barcos


de pesca Ebony balançavam sobre as ondas cada vez mais fortes. Talvez alguns
dos barcos pertencessem a traficantes. Ele apurou os ouvidos para o som de
cavalos, considerando o suposto cavaleiro sem cabeça.

Ele apontou sua pistola e olhou ao redor, meio esperando um saqueador


saltar para ele. Ele estava muito exposto. O vento batia em seu rosto, jogando o
cabelo para trás. As ondas alongando, a espuma creme crepitava contra as
falésias calcárias. O terreno plano não fornecia nenhum abrigo.
Ele protegeu os olhos contra o vento refrescante e avistou um abrigo no
caminho íngreme colina abaixo. Ele correu para ele e deslizou para a terra,
ignorando a terra e grama manchando seu uniforme. Sua mente voltou-se para
a festa. Ele fechou os olhos e lutou para não imaginar Sebastian girando
Dorothea sobre o salão. Ele resistiu aos pensamentos de como os cachos
dourados de Sebastian provavelmente brilhavam à luz das velas e como seu
rosto coraria no salão aquecido. Em vão, ele esforçou-se para não imaginar a
forma como o corpo do homem se sentiria contra o seu próprio se ele roubasse
Sebastian do baile.
Ele não iria roubar Sebastian, o homem tinha feito sua escolha. Mesmo
que Lewis conseguisse convencer Dorothea para quebrar seu noivado e William
não estava certo de que ele poderia, Sebastian tinha claramente indicado sua
preferência, ele desejava um casamento, seja romântico ou não. Os prazeres que
William poderia dar-lhe, e ele não duvidava das inclinações de Sebastian a esse
respeito, não se comparam com os de uma mulher agraciada com o seu sexo.
Sebastian precisava de um companheiro público. William nunca poderia ser
essa pessoa.
O mistério. Ele precisava pensar no mistério. Se ele pudesse verificar a
segurança de Sebastian, talvez William pudesse um dia ser capaz de encontrar
algum contentamento.

278
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
O barulho de um cavalo a galope pelos campos abaixo interrompeu seus
pensamentos. Ele se situou mais perto do arbusto, as folhas ásperas picavam e
perfuravam suas mãos.

― Capitão! Capitão!
Ele girou, seu batimento cardíaco escalou e ele arregalou os olhos, vendo
a pessoa em pé diante dele. ― Joshua. Você me assustou.

― Eu? Assustar um capitão? ― Joshua riu.

William juntou-se ao divertimento. Seu coração ainda batia um ritmo


vacilante.
― Você já viu o fantasma?
― Já estou há um longo tempo esperando por essa visão. ― William
apontou para as roupas sujas. ― Saber que eu não arruinei o meu uniforme
inutilmente me traria grande prazer.
Joshua revirou os olhos. ― Como se você se importasse, capitão.

William sorriu. Joshua estava correto: o estado de seu uniforme não o


atormentava, mas ele não estava disposto a admitir uma falta de reverência a
um miliciano.
Ele relaxou, sua respiração se acalmou. O vento escovava através das
samambaias e longos fios de grama e ervas daninha. Uma rajada separou as
samambaias e revelou jacintos delicados, protegidos pelas plantas mais altas.
Uma faixa branca passou brilhando e tudo mudou.

William caiu no chão, achatando-se, tanto quanto podia. Ele puxou


Joshua com ele, com o rosto congelado. Ele acenou com a cabeça para o
companheiro, e eles rolaram para os arbustos. De entre as folhas, William viu
um homem montado num cavalo branco, sua capa cobalto contrastando com a
pele pálida. O cavaleiro foi direto para eles, e peito de William apertou. Será
que eles tinham sido vistos?
A crina prateada do garanhão balançava ao vento, já que continuou a
galope, puxando suas pernas para frente, mesmo em longas passadas.

279
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Um capuz cobria a cabeça do cavaleiro e quando ele se inclinou para
frente, ele parecia quase sem cabeça. Quase, mas não completamente.

O cavaleiro desviou e segurou-se, uma cabeça sem corpo ensanguentado


na mão. William inalou, sua respiração ficou presa em seu peito. O cavalo
galopava mais perto, suas poderosas pernas socavam a terra.

William desejava recuar, fechar os olhos e voltar ao mundo feliz de


jacintos e Sebastian. Ele forçou seu olhar para permanecer na face macabra
salpicada de vermelho.

O cavalo avançou e o couro cabeludo mórbido se tornou ridículo quando


o material do objeto foi exibido: madeira. E o sangue estava apenas pintado.
― A cabeça. ― Joshua sussurrou. Ele exalou como se decepcionado.
O cavalo pisoteou sobre o campo e desapareceu em uma área arborizada
perto da estrada principal. As nuvens se reuniram, e as rajadas de vento ficaram
mais frias. A chuva começou a escorrer de novo e as estrelas desapareceram na
noite.

Por que o cavaleiro se esforçava tanto para assustar todo mundo? O que
ele queria esconder?
― Até que ponto os túneis se estendem? ― Perguntou William.

Joshua deu de ombros. ― Vagar em túneis subterrâneos escuros nunca


me intrigou. Muito parecido com o inferno que o pai sempre adverte em seus
sermões.

William bateu os dedos em um galho. Possivelmente os túneis se


estendiam para a casa de Sir Ambrose. Ele olhou para o campo inclinado, na
parte inferior dele, onde o barão residia. Ele correu para as árvores, seguindo o
cavalo e cavaleiro. Os ramos dariam algum abrigo da chuva que aumentava.

Era o tipo de noite onde os únicos homens que se destacava eram os que
precisavam estar ali: os cavaleiros selvagens assustando os transeuntes para
manter uma área protegida, homens espionando o cavaleiro selvagem e os
contrabandistas navegando da França, em busca de uma enseada particular,
porque essa era o único lugar seguro para eles.

280
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
O cavaleiro selvagem protegia a área em dois dias, não um. Claro.

― Vamos descer até a enseada. ― William gritou.

Joshua olhou de volta para o abrigo da floresta. ― Como quiser, capitão.

William balançou a cabeça, correndo em direção a borda do penhasco. A


caverna era apenas um local de armazenamento. Talvez os túneis ligavam à
propriedade de Sir Ambrose, talvez a construção dos túneis foi o que manteve
os homens de Sir Ambrose tão musculosos.

Ele agarrou as plantas mais altas, mais resistentes enquanto escalava as


rochas, agora escorregadias da enseada, de costas para o oceano. Espinhos
cortavam suas mãos. A chuva o encharcava; suas roupas estavam coladas a ele
e a água de seu cabelo escorria em seus olhos. A água salgada espalhada das
ondas fez mais poderoso o aguaceiro repentino. A Poeira e sujeira escoavam em
seus cortes enquanto deslizava para baixo da encosta lamacenta, queimando
suas mãos.
Joshua seguia logo abaixo. Os pés de William bateram no chão de pedras
e ele sorriu. Essa parte, pelo menos, estava completa. Joshua chegou ao patamar
e pulou ao lado dele.

Ele hesitou, ponderando se ia para a caverna maior com suas cavernas e


túneis complexos ou para a menor que, pelo menos, servia como um lugar para
os traficantes esconderem a sua carga. Dirigiu-se para a menor; Joshua tinha
encontrado vinho francês lá uma vez.
Ele começou a correr, o vento esmagando contra seu rosto.

― Um barco está vindo para a praia. ― Joshua chamou entre resmungos.


Ele gemeu. Eles estavam atrasados. Eles deveriam estar se escondendo
na caverna. Não na praia aberta. Se eles fossem pegos...

William virou-se para Joshua ― Você vai. Eu vou ficar aqui.

― Nunca. Você é o meu capitão.


William gemeu. Joshua não parecia perceber que ele estava apenas na
milícia. Mas o perigo existia de toda forma.

281
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Ele continuou para frente e subiu para dentro da caverna. Ele exalou
quando entrou, protegido da chuva pesada.

Joshua seguiu William e eles escolheram o seu caminho sobre o terreno


irregular. Ele conduziu Joshua para uma cavidade na caverna que oferecia
alguma proteção. Ele poderia ficar seguro lá.

Um sotaque francês encheu a caverna e Joshua e William congelaram,


suas respirações suspensas na câmara de eco.

Bem, em sua maioria franceses - uma voz tinha um sotaque peculiar que
soou mais como um turista inglês antes da guerra.
Os homens içavam caixas sobre suas costas, e o homem que soava como
inglês os conduziu na caverna. Os olhares dos bandidos voltavam muitas vezes
para a entrada da caverna e o brilho do luar perfurava o buraco escuro,
iluminado agora por uma única tocha. O clima piorou lá fora e os homens
colocaram as caixas no chão da caverna.
Os murmúrios franceses enchiam a caverna, ricocheteando nas paredes
estreitas.

― Faites attention34. ― O inglês acenou com as mãos, ordenando-lhes


com o entusiasmo de um regente de orquestra. Ele deu um passo para a luz e
William estremeceu.

Sir Ambrose.
Ele cerrou os punhos, uma onda de medo endureceu suas costas.

Esse era o mordomo? E o lacaio? Eles arrancaram as grades abertas,


inspecionando os vasos e esculturas. Finalmente Sir Ambrose manifestou a sua
satisfação, e os franceses partiram, voltando para o mar tempestuoso.

Sir Ambrose ficou com alguns outros homens. Eles trabalharam perto de
William, descarregando as caixas em pacotes gerenciáveis.

William encolheu mais para trás no canto, pressionando em superfície


fria e molhada da caverna, desesperado para as sombras protegê-lo.

34
Tenham cuidado.

282
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Mas tudo acabou.

Um objeto frio e redondo pressionou contra ele. O cabelo no pescoço de


William levantou-se e os músculos ficaram tensos, preparado para fugir, ainda
otimista de que ele pudesse se salvar.
― Olha o que eu tenho aqui. ― Uma voz profunda rompeu a escuridão.

― O que é, Barnesley? ― Perguntou Sir Ambrose, e o coração e


estômago de William despencaram.

Os pés de Sir Ambrose trituraram contra o interior rochoso, parando a


centímetros diante de William. Sir Ambrose estava diante dele e sorriu. ― Eu
vejo que você encontrou meu esquema.
O suor arrepiou as costas de William e seu coração disparou. Ele deu um
passo em direção à luz, longe de Joshua, que ainda estava escondido.

― Nenhum movimento. ― Barnesley resmungou.


Sir Ambrose riu. ― Não há nenhuma esperança de fuga para ele. E pensar
que ele veio até mim.

― Então, você não tem desculpa. ― William apontou para os vasos e


pinturas que os homens haviam trazido para a costa.
― Eu não preciso de uma. Você vai estar morto em breve! ― Sir
Ambrose pisou mais perto, o cheiro do seu perfume impregnava o ar,
incongruente com esse contexto.
Sir Ambrose deu um breve aceno de cabeça para Barnesley. William
estremeceu com a dor em seus ombros quando os dedos grossos do mordomo
arrastaram-no para o aberto.

Sir Ambrose riu. ― Você não esperava ser pego, não é? ― O coração de
William martelava.

― Você pensou que me pegou em flagrante. ― Os olhos de Sir Ambrose


brilhavam.
Ele riu de novo, como se regalando em um jantar. ― Você é igualzinho
ao seu pai. Ele também me subestimou. E veja o que aconteceu com ele!
283
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
O estômago de William doeu e ele lutou para inalar. Ele forçou as
palavras a saírem controladas. ― O que aconteceu com ele?

― Oh, você está interessado nisso, agora, não é? Não era assim quando
você era pequeno. Você, seu sodomita. Era tudo “Tenham pena de mim, sou a
favor de homens”.

William mordeu o lábio. Ele não discutia suas preferências com ninguém.

― O que aconteceu com meu pai? ― William repetiu. Seu peito apertou,
como se soubesse que ele estava à beira de uma terrível revelação.

― Era tudo tão fácil. Você nunca questionou. Eu me preocupava, mas na


verdade eu não deveria.
A adrenalina percorreu William e ele empurrou Sir Ambrose contra a
borda da caverna, com as mãos entrelaçadas no pescoço do barão. Ele sacudiu-
o, desejando ver algum medo nos olhos do homem.
O chapéu de Sir Ambrose derrubou no chão. ― O que você fez? ― O
mordomo musculoso puxou William para longe.

Sir Ambrose escovou a calça e zombou. ― Você quer detalhes?


― Sim! ― William expressou, ecoando na caverna.
Sir Ambrose deu a volta. ― Barnesley, cuide das caixas. Comece a movê-
las.

― Tem certeza? ― Os olhos de Barnesley dispararam para William.


Sir Ambrose tirou uma pistola prata, apontando-a para William. ― Fora.

O mordomo desapareceu. William esperou, sem saber o que o barão faria.

Sir Ambrose conduziu William para sair da caverna e começou a subir a


falésia, seguindo depois. Eles marcharam até o terreno rochoso, William sempre
consciente da arma apontada para ele.

Finalmente pararam sob o céu deserto.


― Eu quero que você aproveite os últimos quinze minutos da sua vida.

284
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Disse Sir Ambrose. ― Eu vou dizer-lhe sobre o seu pai. Você vê, eu
realmente sou uma boa pessoa.

― Você é o próprio diabo. ― William cruzou os braços.

― Você não concorda? Talvez não. ― Sir Ambrose suspirou e inclinou-


se contra uma laje de pedra. ― Mas você vê, eu poderia ter sido uma boa pessoa.
Se ao menos sua mãe não tivesse me deixado.

― Minha mãe?

― Bianca. ― Sir Ambrose sorriu e seus olhos estavam vidrados. ― Ela


era tão bonita. Eu a adorava. A versão mais bonita de Dorothea. Embora
Dorothea vá ficar igual. Talvez depois que Sebastian estiver morto, eu vá me
casar com ela.
William estava consciente de pouco mais do que o seu batimento
cardíaco martelando. Primeiro ele iria morrer, e então Sebastian? O doce
Sebastian, que nunca tinha feito uma coisa errada em sua vida, exceto, talvez, a
escolha de não viver de uma maneira que o fazia feliz? Sir Ambrose tinha amado
a sua mãe? E ele estava determinado a se casar com a sua irmã? Ele examinou
o horizonte. Talvez ele pudesse parar Sir Ambrose, de alguma forma. O homem
acenou com a pistola e William temia que disparasse mesmo antes que ele
apontasse para ele. Talvez isso fosse uma maneira pela qual ele descarregava as
balas, mas William achou a tática imperfeita.
― Eu vou ter que subir até chegar ao topo do penhasco. ― Sir Ambrose
apontou para a direita de William. ― E então eu vou atirar em você. Eu tenho
pouca vontade de atirar em você perto da caverna.
― Você não pode fugir com isso.

Sir Ambrose sorriu. ― Tenho conseguido escapar com muitas coisas na


minha vida. Eu, certamente, ficaria longe de ser suspeito de matar você.
Contrabandistas são, afinal, um problema muito grande em Sussex. Certamente
você pode entender como eles podem entrar em pânico e atirar em você. Que
tragédia. ― Ele balançou a cabeça com tristeza fingida. ― Ou talvez eu devesse
culpar os espiões franceses? Isso funcionou da última vez.
William apertou os punhos. ― O que você disse sobre o meu pai?

285
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
As nuvens se abriram e o luar brilhava sobre eles. Os últimos minutos de
William seriam gastos em clareza. As sombras das poucas árvores estendiam
em formas irregulares ao longo dos Downs.

― Eu não perderia em compartilhar isso com você para o mundo. ― Os


olhos de Sir Ambrose brilharam. ― Há muito tempo o desprezava. Me trouxe
grande prazer destruí-lo, e vai me trazer ainda maior prazer em destruir você,
seu marica.

As últimas palavras foram pouco mais do que um silvo. William desejou


que ele não tivesse ouvido isso, mas não havia nenhum motivo para negá-las.
Sir Ambrose sabia de suas preferências.
― Você trouxe tanta vergonha para sua mãe. Cara Bianca. ― Ele
acariciou sua arma, seus cumes de ferro brilhavam sob a luz da lua.

― Você disse a eles. ― Disse William. ― Sobre o cavalariço. Eu não


contei. Henry não contou a ninguém. Foi você.
― Eu era o seu vizinho. ― Disse Sir Ambrose. ― Eu queria estar perto
de sua mãe. Eu a amava. Se nada mais, eu queria estar perto dela. Ser convidado
para festas. Como seu vizinho mais próximo, ela dificilmente poderia não me
convidar. Teria sido inadequado. Então, eu tinha que vê-la. E isso era
maravilhoso. Ela era tão linda. Algumas pessoas pensariam que Bianca era um
nome muito afetado, mas eu achava esse nome o mais lindo do mundo.
Sir Ambrose riu amargamente.
― E então ela teve você e Dorothea. William. Um nome tão vil. O nome
do seu pai. Sem imaginação. Eu odiei você desde o início. Você sabe sobre
William, o Conquistador?

William assentiu.

― Ele atracou seus barcos um pouco mais para baixo da costa. E então
fez coisas desprezíveis para a população e declarou-se o rei da Inglaterra, apesar
de os saxões já terem um rei perfeitamente bom. Bem, pelo menos até que os
homens de William lhe atiraram no olho com uma flecha. ― Ele fez uma pausa.
― Talvez eu devesse atirar em você no olho. Com uma arma. Isso não seria
apropriado? Eu poderia dizer definitivamente que os franceses devem ter
capturado você.
286
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
William pensou que espiões franceses não iriam sair por aí atirando nas
pessoas nos olhos. Só os loucos faziam isso e Sir Ambrose certamente parecia
carente de sanidade.

― Porque é isso que seu pai fez. Ele entrou na temporada de Londres e
mergulhou diretamente em cima de sua mãe, apesar de toda gente dizer que ela
iria se casar comigo, seu inteligente vizinho. Eu possuía um título. Não um
duque, é claro, mas ainda assim muito especial. Muito mais especial do que a
sua família. E infinitamente mais especial do que a sua família.

― Eu entendo. ― Disse William, incentivando Sir Ambrose a seguir em


diante.
― Seu pai conquistou minha Bianca. Ele a fez se apaixonar por ele, com
a sua altura e seus escuros olhos bonitos. Sua aparência. Você acha que eu gosto
de ver você?
Sir Ambrose apontou a arma para William.
― Mas você era mais inteligente? ― William provocou.

Sir Ambrose sorriu. ― Eu sempre fui mais esperto. Seu pai costumava
vir a mim para me perguntar sobre sua propriedade. Ele confiava em meu
julgamento. Ha! E como um amigo de sua esposa, ele imaginou que eu ficaria
feliz em ajudar. ― Ele encolheu os ombros. ― Então eu ajudei. Encontrei-me
com ele na sua biblioteca e recomendei investimentos por ele. Durante todo o
tempo fazendo-o investir em meus projetos. Ele derramou o seu dinheiro neles
e eu, em seguida, disse que os projetos não funcionaram. Eu sou muito
inteligente. Meus projetos sempre funcionaram. Assim como a sua morte agora
vai funcionar. ― Ele sorriu para William.

William engoliu em seco, a garganta ressecada. Todo o sangue drenado


de sua cabeça. ― Você roubou dele.

Sir Ambrose deu de ombros. ― Você poderia dizer isso. Você poderia
dizer que eu fiz uma carreira. Eu realmente deveria creditar seu pai com tudo.
Ele me deu seu dinheiro para investir, e eu disse a ele que os investimentos
tinham falhado. Eu usei isso para construir o meu espólio ainda maior. Eu
mesmo possuo o meu próprio castelo agora!
Por um momento, William pensou que o homem iria bater palmas de
287
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
alegria. ― Como você pôde?

― Ele tirou de mim, eu tirei dele. Eu digo que é tudo justo. Você não?
Olho por olho?

Sir Ambrose o olhou com curiosidade e William esperava que Sir


Ambrose não decidisse matá-lo agora.

― E eu vi você. Não se esqueça. Vi o filho de Bianca correr para o celeiro


que faz fronteira com minha propriedade. Eu vi o cavalariço segui-lo. Você fez
isso durante a noite. Quem vai a um celeiro à noite? E você passeava com um
casaco enrugado e o cabelo amassado.
― Você nos espionou?
― Realmente, capitão Carlisle. Você diz isso tão cruelmente. Quando é
você quem deveria ter vergonha! Vocês eram tão tolos. Assim, no amor.

Sir Ambrose se aproximou de William, com os olhos piscando. ― Era


natural. Isso só provou que seu pai nunca deveria ter casado a sua mãe. Isso
também não era natural. Se ela tivesse se casado comigo, isso nunca teria
acontecido. Você nunca teria acontecido.

― O que você fez? ― William o olhou.


― Bem. Como um bom vizinho, eu fiz o meu dever. Eu disse. Eu fiz tudo
o que era adequado.

As pernas de William balançaram e ele lutou para ficar em pé. Seu pai
tinha descoberto a respeito dele e do cavalariço. Ele sempre achou estranho -
seu pai tão inflexível que ele partisse. Seu pai tinha praticamente implorado ao
diretor em Harrow para deixá-lo entrar na escola no meio do ano. E foi por isso.
Ele adorava seu pai e seu pai o enviou para longe. Seu pai o tinha
repelido. Ele havia envergonhado a família.

― Não que o seu pai se importasse. Ele me proibiu de entrar na


propriedade novamente. Dá para acreditar?
William congelou. Talvez seu pai ainda o amasse. Sir Ambrose riu. ―
Ele era um homem muito tolo. Se eu não pudesse entrar na propriedade, eu

288
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
certamente não seria convidado para jantares e bailes lá. E então eu não podia
ver sua mãe mais. Você entende que eu não podia permitir isso? E eu não fiz.

A voz de William balançou, mas ele tinha que saber. ― Será que você
causou a morte dos meus pais?
― A carruagem desabou. Isso era para ser apenas para o seu pai. Mas sua
mãe entrou na carruagem também.

― As rodas que caíram? O tombamento da carruagem? Foi você?

― E nunca houve qualquer investigação. Você estava muito preocupado


com seu estado de espírito não natural para perguntar. E o magistrado nunca fez
quaisquer perguntas também. Ele provavelmente pensou que ninguém teria
qualquer razão para prejudicar os seus pais. Ele pensou que eles eram bons,
pessoas íntegras da comunidade a quem todo mundo gostava. Isso não poderia
ser qualquer outra coisa, exceto um acidente. ― Ele riu novamente.
― Você os matou. ― William repetiu. Todo o seu mundo tinha mudado.
Seu pai sabia sobre ele e ainda o tinha amado. Ele o havia enviado para Harrow,
mas para protegê-lo, não para puni-lo. A razão pela qual eles não tinham
dinheiro era porque tinha sido roubado dele.

― E agora é hora de você ir também. ― Sir Ambrose dirigido a pistola


para William. ― Caminhe até o penhasco. Eu não quero o seu corpo sendo
encontrado perto da caverna.

289
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

24

William escalou o penhasco. Sua mente corria, não querendo declarar a


derrota ainda sem saber como evitá-la.

Talvez, se ele abordasse Sir Ambrose... mas Sir Ambrose ainda carregava
uma pistola, e uma bala viajava rapidamente, cortando carne e osso, sem
discriminação.
Sir Ambrose tinha matado antes e ameaçou fazê-lo novamente. Sem
dúvida, os ajudantes do homem correriam para protegê-lo também.

Quando chegassem ao precipício, William iria agarrá-lo. Talvez ambos


morressem, talvez isso fosse o melhor cenário. Pelo menos, em seguida, Sir
Ambrose não mataria Sebastian, o querido Sebastian. Pelo menos, então, ele
não iria tentar se casar com Dorothea.

William estremeceu. Todos aqueles anos ele tinha pensado que Sir Ambrose
simplesmente era um aborrecimento, quando, na verdade, ele havia assassinado
seus pais e roubado o dinheiro do seu pai.

Seus olhos corriam ao redor. Alguns arbustos forravam o caminho.


Talvez, se ele empurrasse Sir Ambrose em um desses. Teria que ser mais sábio?
Havia uma chance de que ele pudesse viver se isso acontecesse? Ou havia
apenas mais uma chance de Sir Ambrose sobreviver?

Sua cabeça doía e suas mãos estavam úmidas. Sir Ambrose se arrastou
atrás dele.

Ele examinou a geografia e reprimiu um suspiro. Dois pares de olhos


olhavam de um arbusto, com os olhos brilhando sob a luz da lua. Lewis. E ao
lado dele agachado, Sebastian. Seu querido! Ele reconheceria seus cachos
dourados em qualquer lugar. A confusão bateu nele. Ele não deveria estar em
seu baile? Ele teria vindo para resgatá-lo? Ele esperava que eles não fizessem
nada tolo. Sir Ambrose era a sua responsabilidade e ele não seria capaz de

290
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
suportar se mais pessoas morressem.

Um tiro ecoou. Lewis tinha atirado. William se jogou na grama molhada.

Lewis e Sebastian pularam dos arbustos, prendendo Sir Ambrose contra


o chão.
Sir Ambrose olhou para Lewis com horror. ― Mas você está morto!

Lewis sorriu sombriamente. ― De certa forma sim.

Sir Ambrose empalideceu, arregalando os olhos e abrindo a boca. ― É


este o fim?
― É. ― Lewis colocou o pé no peito de Sir Ambrose.
Os olhos de Sir Ambrose se estreitaram. ― Você deveria estar morto.
― Foi tudo um ardil. ― Lewis sorriu.
― Mas Dorothea estava para se casar de novo! Ela estava de luto. ― Sir
Ambrose estudou Lewis.

― O governo ligou a minha identificação com outro soldado. Ele morreu.


Não eu. ― Lewis sorriu, puxando uma pistola, direcionando-a para Sir
Ambrose.
― Oh. ― Sir Ambrose empalideceu e bateu os dedos contra o chão. ―
Que inteligente. Talvez você possa me matar, talvez eu possa me reunir com
Bianca em vida após a morte.

― Você nunca esteve unido com ela. ― Respondeu William com


desprezo.

Os homens o viram. Sir Ambrose balançou sob os pés de Lewis, mas o


duque apertou sua posição sobre ele.
― Vamos levá-lo para o magistrado. ― Disse Sebastian.

O coração de William inchou. O homem era tão bom; Sebastian não podia
imaginar matando o barão.

291
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Lewis se abaixou e puxou Sir Ambrose, empurrando-o contra uma parede
de pedra.

― Gregory!

Sebastian virou-se ao som do grito feminino.


Dorothea, Penélope e Reynolds estavam à distância, olhando para a cena
diante deles. Xales cobriram os seus vestidos de baile e atrás deles, Joshua e
Sam estavam com expressões de culpa em seus rostos. A carruagem estava atrás
deles, os ruídos dos cavalos obscurecidos em meio à comoção e os sons das
ondas e do vento.
― Querida. A voz de Lewis tremeu e ele correu para Dorothea.
Ela olhou para ele, não fazendo nenhum movimento para tocá-lo.
Os ombros de Lewis caíram. ― Meu rosto está um pouco mais robusto
do que o normal.
― Como - como pode ser? Você está vivo. O general nos exortou a vir,
mas eu não esperava isso... ― Dorothea envolveu seu xale apertado, parecendo
distraída. ― Ou eu estou sonhando?
Ela olhou para a amiga para confirmação. A boca de Penelope aberta.
― Eu certamente estou vivo, querida. ― Disse Lewis, sua voz trêmula
de emoção.

― Mas como pode ser isso? Disseram-me que tinha morrido. ―


Dorothea caminhou em direção a ele, seu vestido amortecendo nos longos fios
de grama molhada. Ela passou a mão sobre a testa, o rosto corado.

Lewis se ajoelhou diante dela. ― Eu sinto muito, Dorothea. Eu nunca


quis fazer com que você se preocupasse. Foi uma agonia saber que você sofreu.

― Preocupada! Eu estava fora de mim de tristeza. Eu te amei.

― Você pode me perdoar? Por favor, diga que você pode me perdoar. ―
Lewis segurou suas mãos.
― Eu não sei. ― Os olhos de Dorothea ficaram mais redondos e ela olhou

292
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
para Penélope e Sebastian, como se pedindo ajuda.

― Eu estava indo para vê-la esta noite, mas eu me atrasei. ― Ele fez um
gesto para Sir Ambrose, que se sentou sorrindo. William apontou a pistola de
Sir Ambrose para ele.
Ela se virou para Lewis. ― Por que você fingiu estar morto?

O homem ficou vermelho. ―Minha querida. Não é minha culpa que o


governo preferiu que eu fingisse estar morto. Eu estava ferido e quando eu
acordei, me avisaram para não retomar a minha identidade atual.

― Você poderia ter me dito. ― Dorothea puxou as mãos longe dele e


cruzou os braços, franzindo a testa. Ela balançou, sua respiração pesada.
― Eu tentei, eu juro, eu...
― Quão emocional estamos hoje à noite. ― Disse Sir Ambrose do seu
poleiro.
― Você! ― William cerrou os punhos. ― Você deveria ficar quieto. Isso
é tudo o que deve fazer.

― Eu temo que tenha pouca paciência para seus casos de amor. ― Sir
Ambrose voltou-se para enfrentar Dorothea. ― Temo que você tenha o gosto
mais abominável por homens. Você poderia ter tido a mim. Eu teria feito de
você uma mulher rica.

― Eu vou também. ― Lewis se ergueu. ― Se ela me aceitar de novo. ―


Ele virou-se para Dorothea. ― Quer se casar comigo, meu amor?

Dorothea ficou em silêncio, e o rosto de Lewis, tão esperançoso


inicialmente, escureceu. ― Claro. Você não pode querer se casar comigo.
Sebastian me disse que o seu noivado com ele foi quebrado, mas... Perdoe-me.

Dorothea tossiu. ― Eu vou me casar com você.

― De verdade? ― Perguntou Lewis, elevando a voz.

― De verdade. ― Disse Dorothea.


Lewis sorriu.

293
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sir Ambrose riu. ― Você pretende mantê-la em sua mansão decrépita?

Lewis fez uma careta. ― Não é decrépita. Se você não tivesse deixado
todo mundo com medo com seus rumores maliciosos...

― Nem tudo o que eu digo é um boato. Muita coisa é a verdade.


Ele tinha um brilho estranho nos olhos. O peito de William apertou
quando viu o barão olhar diretamente para Sebastian. Ele encaminhou-se para
Sir Ambrose, na esperança de acalmá-lo. A pistola não parecia ser obstáculo
suficiente.

― Seu ex noivo. ― Sir Ambrose considerou Dorothea: ― Eu poderia


contar algumas histórias sobre ele. ― Ele iria revelar seu segredo.
― Por favor, não. ― William gritou. ― Você não deve.
― Oh, sério? ― Sir Ambrose sorriu. ― Dorothea, minha querida, você
quer ouvir algumas histórias?
Ela balançou a cabeça, seus cachos escuros desmanchando de seu coque.

― Não? Eu acho que eu iria surpreendê-la.


― Não, fique quieto. ― Dorothea gritou.
Sir Ambrose sorriu. ― Você sabia que seu noivo - ex-noivo - tem
afeições não naturais pelo seu irmão?
William congelou com as palavras, observando o rosto de sua irmã se
contraindo. É claro que ela sabia, mas ela não queria que seus amigos mais
próximos soubessem também. A vergonha, uma companhia tão constante para
ele, surgiu através dele mais uma vez. Ele evitou os olhos de Sebastian.

― Não natural? Eles são amigos ― Penelope exclamou. ― O que você


pode, possivelmente, querer dizer?

― Isso não lhe diz respeito. ― Lord Reynolds cruzou as mãos em torno
de sua esposa, puxando-a contra seu peito.
Talvez a ação foi feita para o bem, mas William sentiu como se ele não
fosse digno de ser olhado.

294
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Mas o que pode o homem querer dizer com isso? ― Disse Penélope,
sua voz abafada.

― Eu vejo que a sua curiosidade foi aguçada. Devo elogiá-la por isso. ―
Disse Sir Ambrose. ― Uma pessoa curiosa é uma pessoa inteligente.
― Eu teria cuidado ao se dirigir a minha esposa. ― Lord Reynolds virou-
se para Lewis. ― Será que temos alguma coisa que podemos amordaçá-lo? Um
pano?

― Vamos lá, você não negaria um homem suas últimas palavras. Não
seria cristão de vocês. Tenho ilusão de que a minha vida está chegando ao fim.
― Ele sorriu. Sua voz tornou-se mais profunda e mais estável. ― Seu noivo,
Sebastian, é um sodomita. E você ousa me chamar de doente.
― Isso é o suficiente. ― William investiu contra seu ex vizinho. ― Você
é um assassino.
― Como você ousa manchar o nome do meu primo, só porque você tem
uma fixação mórbida em sua noiva. Por que ele era casado antes. Só porque sua
mulher teve a infelicidade de morrer, você acha que pode criar histórias
escandalosas. ― Penelope levantou a cabeça, seus olhos piscando. ― Diga a
eles, Sebastian!

― Sim, nós todos devemos ser iluminados, excelência. ― Sir Ambrose


sorriu e deu um passo em direção a Sebastian, longe da beira do precipício. ―
Oh, eu não posso chamá-lo mais assim, agora que o legítimo duque se
apresentou. Agora você é apenas um fazendeiro e um sodomita. Não pense que
eu não sei sobre a noite que passou na portaria com o capitão Carlisle.
― Isso é o suficiente. ― Os olhos de Lewis permaneceram fixos em Sir
Ambrose. ― Você vai ser enforcado.

Sir Ambrose suspirou. ― Eu suponho que a cortesia é algo que a sua


família carece inteiramente. Forçando o silêncio de mim. Suponho que quando
alguns membros sentirem o desejo de...

― Isso é o bastante. Disse Lord Reynolds, seus olhos escuros. ― Eu não


vou deixar você distribuir mais nenhum insulto. Penelope, leve Dorothea para
a carruagem. Diga a Sam para levarem vocês de volta rapidamente e vir direto
para cá, para que possamos parar pelo magistrado.
295
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Penelope assentiu e agarrou Dorothea.

― Não. ― Disse Dorothea. ― Eu vou ficar com Gregory. Eu não tenho


nenhum desejo de sair do seu lado.

― Lewis estará aqui. Nós prometemos. ― Disse Reynolds.


― Eu vou estar aqui, minha querida. ― Disse Lewis.

Penélope agarrou o braço de Dorothea, puxando-a. William olhou,


distraído, quando Dorothea desembaraçou-lhe o braço, levantou o vestido e
correu de volta para eles.

― Que devoção. ― Disse Sir Ambrose amargamente.


William virou, o vento impetuoso ardia os olhos. Os penhascos de giz
não era o lugar mais firme da terra.
― O precipício.

Teria Sir Ambrose ouvido? William não queria que ele a caísse no
oceano.

Sir Ambrose franziu o cenho para William. ― Não se preocupe, eu sei


quando fazer uma saída. Vou antecipar meu encontrou com a mãe de Dorothea
na vida após a morte. Aquela criatura doce e inocente.
William observou com horror quando Sir Ambrose se aproximou da beira
do precipício. Talvez ele sempre tivesse visto a si mesmo como invencível,
maior do que todos os outros, apesar de suas atividades perigosas.
― O precipício. William repetiu quando Sir Ambrose recuou mais ainda.
Desta vez, William deu um passo adiante para adverti-lo, cego pelo vento
furioso.

― O precipício. ― Ele repetiu mais uma vez antes que, de repente, sentiu
as mãos de Sir Ambrose sobre ele, agarrando-o, uma vez que ambos caíram
juntos. A próxima coisa que William sentiu foi o ar sob seus pés.

296
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
*****

O coração de Sebastian despencou.

William caiu.
Seu corpo tombou para o lado. Sebastian piscou, esperando que ele não
tivesse visto corretamente. Que o corpo de William caindo era um cílio caindo,
ou que sua mente imaginou como seria horrível se algo assim acontecesse.

Mas esse algo horrível havia acontecido.


Sir Ambrose triunfou. William e o barão tinha mergulhado fora do
penhasco. Sir Ambrose lhe apertou em seus braços, e eles tinham desaparecido.
Sir Ambrose tinha matado William, da mesma forma como ele havia se matado.
Os outros choraram. Sebastian não esperou falar alguma coisa. Eles
deveriam ter amarrado Sir Ambrose ou algo melhor. Ele não deveria ter sido
autorizado a ficar ali, pistolas apontadas ou não. Sebastian devia ter dito alguma
coisa, e ele não tinha, também paralisado pela língua cáustica de Sir Ambrose.

Sebastian correu para a borda, agachando-se enquanto o vento lhe batia,


ignorando as advertências dos outros. Ele deslizou de bruços, olhando para
baixo do penhasco.

Seu coração saltou quando viu William, imóvel, em uma borda estreita
oito pés abaixo. O rosto do homem resplandecia, refletido pela lua. Suas mãos
e pés foram arremessados para fora em ângulos esquisitos, espalhados na orla.
Sir Ambrose estava longe de ser visto. As ondas escuras continuaram suas
batidas rítmicas contra a parede rochosa. Sebastian engoliu em seco, consciente
do destino de Sir Ambrose, de quão perto William tinha estado para ter seu
corpo arrastado para o maciço, movendo-se contra o musgo colorido.

Ele ainda poderia estar morto.

Sebastian procurou o rosto de William por um lampejo de movimento,


esperando por suas pálpebras tremerem ou a boca abrir. Como ele pôde ter
desprezado os momentos que teve com William? Por que eles discutiram? Por
que eles não passaram cada noite juntos? Por que eles não planejaram passar a

297
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
vida juntos?

Ele correu os olhos em todo o terreno. Ele precisava pegar William volta.
Se havia uma chance de que o homem sobrevivesse... Ele balançou de volta
para a clareira.
Reynolds, Dorothea e Penélope olhavam para ele. Ele perguntou para
onde Lewis tinha desaparecido.

― Seus xales. ― Disse ele, apontando para as duas mulheres.

― É claro. ― Penelope passou o xale e removeu o de Dorothea de seus


ombros. Ela entregou a Sebastian. ― Será que eles vão ser fortes o suficiente?
Você já o encontrou? Será que ele vai viver?
― Nós só podemos esperar. ― Sebastian tomou o tecido colorido,
amarrando os padrões orientais juntos. Os xales eram de lã cashmere espesso.
Ele suspirou de alívio. Eles não iriam quebrar.
― Será que o seu comprimento é o suficiente? Temos saias... ― Penelope
começou a caminhar para o precipício, como se querendo avistar o corpo de
William.

Reynolds estava ao lado de Penélope ao mesmo tempo. ― É perigoso,


meu amor. Volte para Dorothea. ― Ele beijou sua cabeça, a demonstração de
carinho apunhalou o coração de Sebastian.

― Como eu posso ser útil? ― Disse Reynolds solenemente quando


Penelope saiu correndo.

Sebastian sorriu firmemente. ― Você pode me segurar.

Os olhos de Reynolds piscaram em confusão. Ele não tinha segredos para


aquele homem.

― Não assim. ― Sebastian resmungou, jogando uma ponta em


Reynolds. ― Você segura uma ponta e me segure enquanto eu baixo.

Reynolds concordou, envolvendo uma ponta em torno de uma árvore


perto da borda do penhasco. ― Nós não podemos vê-lo desaparecer também.
Seja cuidadoso.

298
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian piscou em sinal de gratidão. Ele pegou a outra ponta do xale,
abaixando-se lentamente, movendo os pés ao longo da superfície escorregadia
da rocha. Ele abriria mão de tudo se William vivesse. Ele voltaria para casa e
nunca se envolveria em mais um ato ilícito. Ele seria bom.
Sebastian suspirou de alívio quando seus pés tocaram o chão. Calcário.
Isso deve mantê-los. Se não, era um risco que valia a pena. Agachou-se,
rastejando em direção a William. Seus olhos se encheram de lágrimas quando
o viu deitado tão rígido sobre a superfície dura.

Se ao menos ele tivesse cancelado o casamento mais cedo. Por que ele
não o fez? Por que William tentou derrotar Sir Ambrose sozinho? Ou ele tinha
se deparado com a trama de Sir Ambrose por acidente? Com Joshua?
O coração de Sebastian cerrou, sabendo que a última coisa que William
tinha feito era deixar o pub com outro homem.
― Por favor, deixe-o viver. Senhor, por favor, deixe William viver.
Ele agarrou William mais perto dele, puxando seu corpo mole contra seu
peito. Ele colocou a mão sobre a boca de William e ficou aliviado ao descobrir
que William ainda estava respirando. As roupas do homem estavam em
frangalhos. Sebastian não viu nenhum sangue, e ele orou para que o homem
sobrevivesse.

Ele observou o homem em seus braços e correu um dedo sobre o rosto


esculpido de William. Ele teria que tentar carregá-lo até a montanha em breve,
mas agora ele não podia resistir a dar-lhe um beijo suave nos lábios, curvando-
se para tocar seu rosto, dizendo, tristemente: ― Eu te amo.
― Sebastian?

Sebastian virou-se e viu os rostos chocados de Penelope, Lord Reynolds,


Lewis e Dorothea de pé sobre outra borda. A boca de Penelope se abriu e Lord
Reynolds deu uma cotovelada nela. Mesmo depois que ela a fechou, tentando
parecer menos chocada, sua surpresa era evidente. Lord Reynolds olhou para
ele com piedade.

Sebastian desenrolou-se de William, empurrando-o. Ele tirou os dedos


do casaco de William com relutância, percebendo que ele estava tremendo. Ele
engoliu em seco, mas sua boca estava seca.
299
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Quão vil devia parecer! Eles não sabiam o que dizer. Ninguém sabia o
que dizer. Ele era uma criatura vil, fazendo as coisas não naturais em um
momento em que William precisava de ajuda.

Não era como se ele não soubesse de nada: ele sabia. Ele leu a Bíblia e ia
à igreja. Ele não era um pagão, a quem os missionários necessitavam a explicar
a vida. Definitivamente não era apropriado se apaixonar por outro homem, mas
isso era o que ele tinha feito. Ele amava William. Amava-o com todo o poder e
emoção que deveria ser reservado para uma mulher.

Ele era depravado. Mesmo agora, ele ansiava por William.


― Nós encontramos outro caminho. ― Disse Reynolds se desculpando.
― Nós estávamos preocupados, pois estava demorando tanto. ― Disse
Penélope, seu rosto corou. ― Quero dizer, você não pode puxá-lo sozinho.

― Eu passei a conhecer bem este penhasco. ― Disse Lewis. ― William


teve a sorte de cair onde caiu.
― Eu suponho que Sir Ambrose esteja morto. ―Disse Reynolds, fazendo
uma careta para as ondas.

― Mandei Sam enviar um grupo de busca para ir atrás dele. Se o homem


tinha ajudantes, vamos querer pegá-los.

Lewis pisou na borda, levantando William facilmente em seus braços. O


homem era forte. Lewis passou o corpo de William para Reynolds.
― Ele está respirando. ― Disse Reynolds. ― Acho que ele vai viver.

― Graças a Deus. ― Disse Dorothea.

Os outros habilmente manipularam William, trazendo seu corpo para a


segurança. Eles conversaram rapidamente entre si e Sebastian estava grato pela
sua confiança na sobrevivência de William.

Ele seguiu-os até o precipício. Eles colocaram William no chão.

― Sam vai estar de volta aqui com a ajuda. ― Disse Reynolds.


― Com o general. ― Disse Lewis.

300
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Ele tinha esquecido o general. O general tinha apresentado Lewis para
Sebastian. Lewis tinha ido para Lyngate primeiro para entrar em contato com
ele. Se o homem tivesse testemunhado as carícias de Sebastian, ele poderia ter
arruinado a carreira de William. Se ele vivesse.
― Sinto muito. ― Disse Sebastian, abordando Penelope, Lord Reynolds
e Dorothea. ― Eu sinto muito.

Ele não conseguia olhar para William. Ele não podia suportar olhar para
essa figura bonita. Se ele fizesse, ele poderia ficar. E isso seria terrível.
Totalmente terrível.
― Eu tenho que ir. ― Sebastian marchou em direção a seu cavalo.
― Fique. ― Disse Lewis.
Sebastian tinha demonstrado suas emoções já, e agora todo mundo - todo
mundo importante - sabia. Esta não era uma maneira de viver a vida.
― Eu tenho que ir. ― Disse Sebastian, olhando para Lewis. Ele engoliu
em seco, seu coração quebrado. ― Você vai ser o novo duque. Tenho certeza
que você vai ficar feliz em assumir o papel que você sempre esteve preparado.
E eu vou voltar para a minha propriedade em Yorkshire. Tenho certeza de que
não sou necessário mais aqui.

― Eu acho. ― Lewis disse, olhando para Dorothea. ― Eu acho que você


ainda é bem-vindo aqui.
Sebastian deu um sorriso apertado. ― Obrigado por pensar isso.

Sentia-se como se o mundo tivesse chegado ao fim e talvez o seu mundo


tivesse realmente, ele não tinha certeza de como iria enfrentar essas pessoas de
novo, e ele estava deixando a única pessoa a quem ele realmente amou.

Ele não podia sair agora, não assim. Havia uma coisa que precisava dizer.

― Isto foi um acidente. Por favor, tente esquecê-lo. E isso é culpa minha.
Não de William. Ele era inocente. Ele não compartilha minhas inclinações.
Ele piscou para conter as lágrimas, agarrando o cavalo que havia sido
emprestado do general, balançando-se para cima dele. Ele não ia esperar para

301
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
ouvir o que eles diriam. Ele não podia suportar a ideia de que ele lhes havia
decepcionado.

Sir Ambrose estava morto. Pelo menos isso era bom.

Ele esperava que William fosse sobreviver à queda. William era um


soldado, mais forte do que ele. Os riscos se alguém descobrisse sobre ele eram
muito maiores para William. Se alguém mais descobrir sobre ele... Sebastian
estremeceu. William poderia ser dispensado do exército, ou ainda pior.

Ele iria voltar para sua antiga casa. Ele não teria uma nova esposa. Ele
falhou em todos os sentidos. Ele baixou a cabeça. A Vergonha o permeava. O
que mais os outros pensariam dele?
Montou até Somerset Hall. Esta não era mais a sua casa. Quanto mais
cedo ele pudesse sair, melhor seria para todos. Dorothea poderia voltar com o
marido.
Ele iria desaparecer para Yorkshire. Ele desejou que não fosse tão longe.
Ansiava por voltar para casa.

Esperava que pudesse esquecer sua amizade com Penélope e Lord


Reynolds. Esperava que Dorothea pudesse perdoá-lo. Mesmo que ela agora
tinha Lewis para cuidar dela, e isso era em si um milagre. Se isso não tivesse
acontecido, ele teria sido um marido péssimo. Ele não sabia que a paixão
pudesse ser tão forte, ou tão destrutiva.

302
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

25

Sebastian estava sentado na biblioteca de sua casa em Yorkshire,


abrigada com seus livros cobertos de couro em sua paisagem familiar. Seu
retorno realizou em um mês longo de sonho, embora a sua chegada não tivesse
a alegria que ele já imaginou que o regresso a casa traria enquanto esperava que
o escândalo de suas inclinações viesse à superfície.
Apenas a sorte manteve as notícias de salpicar nos jornais que Grayson
trazia para ele, recém impressas. Todas as manhãs ele os agarrava de seu servo,
saia a procura das grandes folhas por seu nome e de William. O nome de Lewis
apareceu no jornal em algumas ocasiões em artigos elogiando o duque por sua
bravura.
Sebastian tinha recebido uma carta oficial anunciando que o seu direito
ao título de duque iria desaparecer por causa do retorno o legítimo herdeiro,
esperando que ele fosse entender.

Sebastian leu que Lewis e Dorothea tinham casado poucos dias depois de
sua partida. Sem dúvida, eles tinham apenas esperado que o arcebispo emitisse
uma licença especial para eles. Ele os imaginou felizes explorando Somerset
Hall juntos, gratos por Dorothea ter escapado do casamento com Sebastian.
Ele estava feliz por eles, mas consciente de ser substituído de forma tão
completa.
Ele olhou para fora da janela, olhando para os vales verdes escuros,
subindo em formas mais íngremes, mais dramáticas que o South Downs. Eles
se assemelhavam às agitações de sua vida. Talvez a ascensão e queda suave das
colinas vizinhas de Somerset Hall lhe tinham induzido a pensar que seus
problemas poderiam ser resolvidos facilmente, que ele poderia imaginar uma
vida junto com alguém que lhe trouxe alegria.
Ele suspirou. Ele precisava parar de comparar sua vida com o que poderia
ter sido. Estes últimos meses, ele ficava deitado na cama por horas a cada dia,

303
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
almoçando lá, tentando ler, as letras pretas e brancas fundindo quando seus
pensamentos se voltavam mais e mais para o que poderia ter sido.

Um fogo ardia na biblioteca, causando umidade na janela e obscurecendo


a visão. Ele se aproximou de sua poltrona de couro e limpou o vidro com um
pano.

Mas era sempre frio lá fora, e a vista seria embaçada novamente em


breve.

Alguém bateu na porta. Grayson entrou na sala, levantando as


sobrancelhas ao vê-lo. A batida foi superficial, não se esperava para ser
atendida. ― Desculpe-me, senhor. É bom encontrar com você.
Sebastian deu um sorriso tenso. No ano passado, a esta hora, ele estaria
vagando sobre o jardim com sua vara de pesca pendurada no ombro, ignorando
os apelos de seu coração.
Sebastian balançou a cabeça. Ele sonhava que a dor em seu coração iria
desaparecer. Ele queria ver William mais uma vez, para saber que ele não tinha
arruinado sua carreira. E o seu maior desejo era realmente estar com William,
para sempre. Sebastian suspirou.

― Você tem um visitante, senhor.

― Um visitante? ― Sebastian pensou em seus vizinhos, imaginando


quem poderia ser. Sebastian teve as matronas de meia-idade suficientes vindo
visitá-lo porta durante o seu primeiro mês de volta. Tinham estalado com
simpatia sobre seu noivado fracassado, murmurando sobre o horror que noivo
morto de sua noiva não estivesse morto e depois de tudo, ele nem sequer teve o
título de duque para confortá-lo. Lembraram-lhe que suas filhas ainda eram
elegíveis e era pouco provável que tivessem um noivo morto para jogá-lo fora
do casamento.

E assim começou Sebastian fingindo dores de cabeça, o seu servo


dizendo que ele não estava em casa para os visitantes, apesar de toda a
vizinhança saber que ele estava em casa. Eles teriam visto sua carruagem ou seu
cavalo, se ele saísse. O bairro inteiro sabia de tudo.
― É a Sra. Hughes? ― Perguntou Sebastian, respirando fundo. A Sra.
Hughes tinha quatro filhas solteiras.
304
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Oh, não, senhor. ― Disse Grayson.

Sebastian suspirou de alívio até que outro pensamento lhe ocorreu. ―


Certamente, não pode ser Lady Matilda?

Sua senhoria tinha sido abençoada com apenas uma filha, mas ela fazia
campanha de seus méritos com vigor. Sebastian suspeitava que sua senhoria não
podia suportar a ideia de sua filha se mudando para longe de casa.

Se não tivesse conhecido William, Sebastian talvez tivesse concordado


que era o melhor para eles se casarem, embora a perspectiva de entrar em uma
amizade constante com sua senhoria dificilmente o agradaria.
Grayson balançou a cabeça, sorrindo. ― Há uma mulher embora.
Sebastian perguntou se Grayson pensava que as palavras deveriam
confortá-lo.

Grayson sorriu de forma mais ampla, uma espécie vertiginosa de olhar


que o seu servo tinha quando alguém queria se aproximar.
― Não é um parente? ― Seu coração gelou com a perspectiva de que um
de seus parentes pudesse visitá-lo, que se esforçaria para entabular uma
conversa, fingindo que ele nunca havia confessado seus desejos. Isso era o que
ele temia.

Uma das coisas que ele temia.

― Senhor, por que você não vê por si mesmo?


Sebastian sempre tinha ouvido falar sobre servidores dedicados que não
se intrometiam na vida do seu empregador, mas ele sempre percebeu que seus
servos tinham uma opinião muito clara sobre a sua vida e não tinham medo de
partilhar. Grayson mesmo tinha lhe contou sobre a grande variedade de clubes
de cavalheiros que existiam em York - para atender todos os seus desejos.

Um uivo interrompeu essa linha de pensamento. Um som gutural distinto.


Um som que ele reconheceu como o seu próprio nome, enfatizando: ―
Sebaaastiaan.
Tia Beatrice.

305
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Grayson sorriu, mas Sebastian sabia que sua visita não ia ser feliz. Ele se
preparou para o ataque de seu abuso. Por mais próximos que tinham sido uma
vez, ele tinha desonrado sua família, privadamente, se não publicamente.

Tia Beatrice entrou na sala, com as mãos vibrando de emoção. ― Sou


muito grata por estar em terra firme, Sebastian. O transporte era muito
inquietante.

― Muito balanço, minha querida tia? ― Perguntou Sebastian, assumindo


o seu papel de sobrinho obediente. Ele evitou seus olhos, não querendo ver
qualquer sinal de mudança em si, qualquer conhecimento que ela soubesse que
ele diferia de outros homens.
― Muitos buracos na estrada. Pergunto-me sobre esta região rural,
Sebastian. Tem certeza que é bastante civilizada?

Sebastian suspirou. ― Isso mantém todos para fora.


― Eu não. ― Seus olhos brilharam. ― E, felizmente, eu tive alguém
para me fazer companhia.

Ela deve estar se referindo a empregada de sua dama. Tia Beatrice sempre
foi dada a explicação mais dramática; ela tinha visto demasiadas produções
teatrais em sua vida.

Sua tia observou a sala. ― Você esqueceu a sua parafernália de guerreiro.

― Meu guerreiro...? ― Seus olhos se arregalaram e depois fechou em


entendimento. ― A pintura?

― De fato. Com aquele bonito jovem robusto com a camisa rasgada.

― Acho que está em Londres. ― Disse Sebastian. A última coisa que


recordava era William trazendo a pintura em seu quarto antes de...

Ele fechou os olhos. Ele realmente precisava parar de pensar em William.


Não porque ele negasse que se preocupava com ele, o amava, mas porque ele
não tinha certeza se ele poderia enfrentar o pensamento que ele nunca iria vê-lo
novamente.
― É claro que você vai precisar substituí-lo.

306
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Tia Beatrice! ― Sebastian engasgou. Ela não podia estar provocando-
o, ela poderia? Ela era muito inocente. Ela era sua tia.

― Você não deve se preocupar. Eu já trouxe um substituto.

― Mas...
― Eu sei como você está isolado aqui. Por que uma parte da família
insistiu em viver aqui quando há lugares mais agradáveis e mais quentes está
além da minha compreensão.

Sua tia fez um gesto para Grayson. ― Você pode trazer o presente de
Sebastian? Você saberá o que é quando você o vir.
― Você só traz presentes notáveis, querida tia.
Tia Beatrice riu, franzindo os olhos. ― Eu suponho que sim. ― Ela
apertou as mãos, olhando-o gravemente. ― Eu espero que você aceite o
presente.
― Você não quer levá-lo de volta com você para Sussex?

Tia Beatrice balançou a cabeça. ― Eu não. Mas você deve escolher se


quer ou não aceitar o presente. Se o presente se sentir da mesma maneira, é
claro.
― Tia... ― Sebastian fez uma pausa, considerando as palavras de sua tia.
Ela expressou a frase de uma forma muito estranha.

― O amor é uma coisa muito preciosa. ― Disse a tia.


Ele olhou para ela, ouvindo a abordagem de passos. Ele não queria olhar.
Provavelmente era apenas Grayson, transportando uma pintura ainda maior de
uma cena de guerra. Talvez algo com os navios desta vez.

A marinha da Inglaterra estava ficando mais forte. Isso não poderia ser...

― Sebastian? ― A voz era profunda e calorosa e familiar. Sebastian


virou-se para a porta, com o coração parando quando viu William encostado
nela, o rosto pálido. Seus olhos pareciam preocupados. Será que William achava
que ele não ficaria feliz em vê-lo? William estava caminhando em direção a ele.
Ele tinha curado de seus ferimentos e queria vê-lo. Sebastian levantou-se.
307
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Tia Beatrice levantou-se também. ― Oh, nossa, eu tenho que
supervisionar a remoção da bagagem da carruagem. Que rude de minha parte.
Você tem que me perdoar.

Sua tia se apressou a sair do quarto, as botas clicando sobre as tábuas de


madeira do chão.

― Sua tia insistiu para que eu acompanhá-la para visitar um parente. Eu


não sabia que era você. ― William estava rígido. Como uma declaração
romântica, talvez não foi o mais gratificante.

― Você não sabia que estava em Yorkshire? ― Sebastian se aproximou


do outro homem.
William sorriu. ― Eu não sabia que era você até que o carro atravessou
Tunbridge Wells.

Sebastian levantou uma sobrancelha. ― Você sabe que está em nenhum


lugar perto daqui?
― Trezentos quilômetros daqui. ― William se aproximou mais. ― A
minha geografia não é tão atroz. Lembre-se, eu sou aquele que esteve do outro
lado do muno.
Sebastian sorriu. ― Você esteve. E pensar que agora você está na minha
biblioteca.

― Você se importa? ― Perguntou William. ― Eu sei que você queria


forjar uma vida mais convencional, e aqui estou eu invadindo a sua propriedade.

O coração de Sebastian latejava. ― Eu estava sendo tolo. Não há nenhum


lugar que eu preferiria estar que não com você.
William ingeriu. ― Em nenhum outro lugar?

― Se, é claro, você não se importa. ― Disse Sebastian, consciente do


cheiro do outro homem. ― Você parece ter sido sequestrado.

William sorriu. ― Eu não sabia que estávamos visitando você até


Tunbridge Wells, porque eu sabia que não estávamos indo para Londres, e eu
sabia, então, que não íamos visitar qualquer de seus parentes, em Hampshire.

308
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Eu esperava que fosse você o tempo todo.

― Então, isso me deixa muito feliz. ― Disse Sebastian, ainda não tendo
certeza se William estava apenas em uma visita amigável ou algo mais.

As coisas tornaram-se mais clara quando William se aproximou dele, tão


perto que seus peitos quase se tocaram e olhou em seus olhos. William puxou o
rosto de Sebastian mais perto do seu. Sua pele arrepiou e seu batimento cardíaco
acelerou. Sempre tão suavemente, os lábios de William encontraram os de
Sebastian, e os seus joelhos tremeram quando a língua de William encontrou a
sua própria.
Sebastian estremeceu e agarrou o casaco de William. Seus olhos se
fecharam, sem vontade de abrir, e ele temia tanto que tinha evocado a presença
de William em sua mente.

As tábuas de madeira rangeram e assustado, Sebastian pulou para longe.


A preocupação lavou o rosto de William. Mas o homem não precisava se
preocupar mais. Eles teriam de ser discretos, mas Sebastian não iria deixá-lo ir.
― Talvez agora seria o momento para mostrar os seus aposentos.
O rosto de William se abriu em um sorriso.

******

As velas tremulavam na sala de jantar, banhando todos em seu brilho


especial. William encostou-se na cadeira, mais à vontade do que se sentira em
muito tempo. Sebastian sentou-se em uma das extremidades da mesa, com o
cenho franzido enquanto partia o assado. Seus servos tinham conseguido às
pressas organizar um jantar, e pratos de porcelana estavam espalhados sobre a
mesa.

― O que compeliu você a convidar o capitão Carlisle para vir até aqui?
― Perguntou Sebastian, voltando-se para a tia.

― Eu pensei que ele poderia trazer-lhe prazer. ― Disse ela. ― Será que
ele não trouxe?

309
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Sebastian tossiu.

― Eu não sou tão inocente. ― A viúva olhou ao redor da sala e abaixou


a voz. ― Penélope me disse sobre os acontecimentos em torno da morte de Sir
Ambrose. Sua declaração de amor e tudo.
― Amor? ― Perguntou William, sua voz rouca. Seu peito se expandiu e
aqueceu, pairando à beira de uma revelação.

As bochechas de Sebastião ficaram rosadas, mas ele balançou a cabeça e


não desviou os olhos.

Os olhos da duquesa se iluminaram. ― Eu esqueci, capitão Carlisle, você


não tinha conhecimento. Você estava inconsciente. E, em seguida, se curando.
Desde o tempo que você levou para ficar melhor, eu pensei que o seu coração
pudesse estar quebrado também.

― Não mais. ― O coração de William continuou a vibrar e inchar, como


se todas as peças de sua vida estivessem finalmente se encaixando. ― Você está
aceitando notavelmente bem.

― Você acha que eu não sei sobre os homens que preferem outros
homens? E que eu não me perguntei sobre as próprias inclinações de Sebastian?
Depois de todos os meus anos de observação da sociedade, hospedando e
frequentando bailes? Eu vivi por várias guerras e um rei louco. Há pouco que
vai me chocar. ― William e Sebastian sorriram.
― Mas você não pode dizer que a sociedade não iria julgar... ― Disse
Sebastian.

― Oh, eu não sei. Asseguro-vos de que a sociedade gostaria muito de


julgar você. Eles têm prazer em fazê-lo, e se o magistrado descobrir, eles podem
se sentir compelidos a puni-lo. O que vocês são, claro, é contra a lei. ― A viúva
olhou com severidade para eles.

― Ainda assim, eu não vejo nenhuma razão, Sebastian... ― Tia Beatrice


continuou. ― Para que não possamos dizer às pessoas que você ficou tão
abalado quando descobriu que o ex-noivo de sua noiva ainda estava vivo que
você não tinha mais vontade de se casar novamente. Você é um viúvo. William,
contanto que você evite ir a Londres para a temporada, você também deve estar
bem. Acho que você ainda está planejando ficar no exército, não?
310
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
― Sim, muito. ― Disse William. ― Eu não poderia parar de trabalhar.
Especialmente quando o meu país está em jogo.

― Então você está ocupado demais para atender as mulheres e passando


o seu tempo livre caçando e pescando com seu bom amigo, o fazendeiro.
Conforme você vai envelhecendo, haverá cada vez menos perguntas.

― Por que, então, você queria que Sebastian se casasse com Dorothea?
― Perguntou William.

― Você deve se lembrar que Sebastian, o homem que estava confuso,


queria se casar. Eu pensei que seria muito melhor lhe dar uma mulher que
precisava de seu dinheiro - não negue, ela precisava. Do que uma virgem
primaveril idealista.
― Então, nós não temos nenhuma razão para nos preocuparmos? ―
Perguntou Sebastian.
― Vocês não precisam ter medo de mim. Dito isso, vocês não devem
revelar a sua disposição para qualquer outra pessoa. É melhor para eles não
saberem muito.

Sebastian e William agradeceram sua tia Beatrice.


Depois do jantar, William seguiu Sebastian até seu quarto, passando por
cima de tábuas de carvalho e tapetes orientais. William puxou Sebastian para
ele e beijou-lhe a cabeça. ― Você tem uma família maravilhosa.
Sebastian sorriu. ― Você é uma família para mim.

William acariciou sua mão através dos cachos reluzentes de Sebastian


com um movimento hesitante. ― Eu ainda estou com medo que eu possa estar
imaginando isso.

Os olhos de Sebastian se entristeceram. ― Eu preciso me desculpar com


você. Eu não deveria tê-lo empurrado para longe.

― Você estava com medo.


―Eu fui horrível. ― Sebastian agarrou sua mão e William olhou para
ele, surpreso. ― Tia Beatrice estava correta. Eu - Eu me importo com você.

311
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
Você é tudo para mim.

O coração de William martelava em seu peito quando Sebastian passou


os braços ao redor dele e apertou seus lábios contra os dele. Ele encostou a
cabeça em Sebastian, sentindo calor do homem se propagando sobre seu corpo,
consciente que tinha encontrado o companheiro que ele desejava.

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O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth

Epílogo

― E quando os convidados chegam? ― William colocou a mão na parte


inferior das costas de Sebastian que relaxou contra ele.

Sebastian nunca se cansava desse sentimento. ― E pensar que eu nunca


teria conhecido você, se o vento não estivesse forte e se você não tivesse
resgatado o meu chapéu.
William empurrou-o contra a parede da biblioteca, beijando-o, sorrindo
enquanto Sebastian gemia contra ele. Ele sussurrou: ― Ninguém poderia ser
tão feliz como eu sou.
Sebastian olhou para o outro homem, com os olhos rodando sobre o rosto
de William, para as feições que ele conhecia tão bem. Ele passou os dedos pelo
cabelo de William, ele passou as mãos sobre sua pele, e ele beijou-lhe a boca.

Os servos estavam fora, fazendo fila para cumprimentar seus visitantes,


Lord e Lady Reynolds e o duque e a duquesa de Lansdowne, que estavam
chegando para a sua visita anual a Yorkshire Dales.

William tinha se mudado com Sebastian com cautela no início, tendo o


cuidado de desarrumar sua cama antes da camareira vir todas as manhãs, para
que ela não suspeitasse que ele não tinha passado a noite lá.
Sebastian tinha proibido os funcionários de visitar os quartos no andar de
cima na parte da manhã, dizendo que as experiências de guerra de William e a
consequente propensão para terrores noturnos podiam tornar perigoso para
qualquer um acordá-lo de forma inesperada. Grayson era inflexível no
cumprimento disto.
Inicialmente, Sebastian ainda estava sitiado pelos jogos de casamento em
perspectiva, mas ele estava firme sobre seu desgosto por outro casamento.
Quem poderia culpá-lo? Sua primeira esposa tinha morrido de repente, e na
véspera do seu casamento com sua nova esposa, seu presumido noivo morto

313
O Duque em Negação – Alexandra Ainsworth
tinha aparecido para reclamá-la. O homem tinha má sorte com as mulheres. E
talvez ele estivesse certo em alertar as pessoas que ele era um mau presságio.

Eles estavam sempre conscientes de que tinham que se manter afastados.


A luz em seus olhos quando um via o outro poderia ser suficiente para
desencadear uma enxurrada de fofocas negativas. Embora só muito poucos
homens fossem realmente executados por sodomia, até rumores negativos
poderiam manchar sua reputação e a de seus familiares. Nenhum dos dois tinha
qualquer desejo de ter o desprezo da sociedade ou de seus vizinhos em cima
deles.

William mantinha um pequeno apartamento em Londres, mas se juntava


a Sebastian sempre que podia. Havia época de faisão, estação dos cervos e
temporada de pesca. Nada era tão viril como perambular por aí com uma arma
ou vara de pesca, e qualquer um podia ver que tais atividades eram impossíveis
em Londres.
No verão, eles muitas vezes tinham convidados em casa, ao mesmo
tempo em que visitavam Dorothea e Lewis.
A estranheza inicial entre Dorotéia e eles se dissipou, e eles estavam
conscientes de que a sua própria infelicidade tinha aumentado as tensões entre
si. Sebastian e William viajavam a Somerset Hall separadamente, mas Dorothea
e Lewis sempre lhes davam quartos comunicantes, que eles sempre trancavam.
Evitavam Londres na época, mas faziam breves aparições para além de
deter qualquer fofoca por gastar todo o seu tempo juntos. Na primavera, eles
iriam viajar, visitar a França e a Itália, ficando em quartos juntos como era
comum para os cavalheiros. Eles nunca mais voltavam para o mesmo lugar, mas
isso significava que eles tinham muito para ver.

Embora seu coração doesse quando via outros casais vivendo juntos
abertamente, suas vidas eram mais do que jamais poderiam ter esperado, e eles
estavam contentes.

Sebastian iria passar o resto de sua vida com William. Eram bons tempos.
O rei podia ser louco, as guerras poderiam se esticar, mas através de tudo isso,
ele teria William. Ele nunca tinha sido tão feliz.

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