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2018
1ª Edição
Michaelly Amorim
DEDICATÓRIA
Para Matheus, que sempre apoia minhas loucuras literárias e me
inspira nas melhores cenas.
E para meus leitores do Wattpad, por sempre me pedirem mais um
capítulo.
PRÓLOGO
Londres, Inglaterra,
Cinco anos atrás.
Londres, Inglaterra
Dias atuais
Charlotte abraçava o irmão. Já fazia quase um ano desde a última vez
que ele esteve ali.
‒ Estava de saída? ‒ ele perguntou quando percebeu a roupa que ela
usava. ‒ Está linda.
‒ Eu estava sim, mas não era para nada importante. ‒ ela respondeu
dando de ombros. ‒ Por que não avisou que viria e que roupas são essas?
Seu irmão estava vestindo roupas comuns, nada condizentes com sua
posição de visconde. Ele parecia um plebeu.
‒ Porque decidi de última hora. E as roupas não importam, precisava
passar despercebido. Temos que conversar, tenho más notícias. ‒ ele disse
sério, fechando a porta atrás de si e ela o levou para a sala de visitas, onde
poderiam conversar em particular.
‒ Temo que os planos dele ao seu respeito tenham mudado. Nosso
pai anda diferente, parece mais obcecado por você que o normal. Ouvi que
ele recebeu no Ducado alguns detetives e logo entendi que ele está a sua
procura.
‒ Mas como ele descobriu? ‒ Charlotte perguntou assustada.
‒ Acredito que seu sucesso chegou à Escócia. Ouso até a pensar que
ele sempre soube, mas guardou a vingança para o momento propício. Sabe
como ele é calculista. Você não está mais segura aqui.
‒ Eu não posso deixar tudo que conquistei, James. Fugir não é uma
opção. ‒ Charlotte disse decidida. ‒ Se ele tentar me destruir, então que
tente. Não tenho mais medo dele.
‒ Deveria. Ele é um Duque e você, apenas uma costureira. Ele pode
acabar com tudo que criou em um piscar de olhos.
‒ Eu sei que não sou nada, mas não sou fraca. ‒ ela disse ofendida.
‒ Eu sei que não é e por isso estou aqui. Preciso ter certeza que vai
ficar bem. ‒ James disse. ‒ Ou não teria me vestido com essas roupas
horrorosas que pinicam e coçam a pele.
‒ Pelo menos ninguém o reconhecerá vestido assim. ‒ Charlotte riu
quando ele se coçou.
‒ Já que veio como um homem comum, acredito que possa ficar aqui.
A Brigitte vai lhe arrumar um quarto.
Naquela noite, o Duque de Norfall esperou a sua convidada aparecer,
mas, para a sua tristeza, nem sequer um bilhete ela mandou avisando que não
viria.
A decepção se misturou com a tristeza e uma mágoa começou a
germinar no seu coração. Tinha feito de tudo para que ela pudesse
comparecer e ela não tinha aparecido, muito pelo contrário, nem sequer tinha
mandado uma carta avisando, ou mesmo um bilhete.
Mas não ficaria assim. Quando voltasse a Londres iria exigir
satisfações. O convite de um Duque não era para ser recusado como se não
fosse nada.
Além do mais, tinha um debute para realizar. Não pensaria em
Charlotte essa noite, a única mulher que importava naquele momento seria
Phillipa.
Claro que querer não pensar em Charlotte apenas a fez permear de
forma incontrolável por seus pensamentos. Sua atenção, entretanto, logo se
focou em uma recém-chegada e não só a atenção dele, como a de todos do
baile.
A cada passo que a recém-chegada dava, a multidão lhe abria
caminho e se curvava diante da sua ilustre presença.
Princesa Agath Rudlan, filha do rei George V, também conhecida
como Agatha, a Fria, adentrava ao salão com a cabeça erguida e seu
semblante sempre sério. Ela ter vindo ao debute era, com certeza, uma
surpresa para todos, menos para Phillip que a observava sorrindo. Ele tinha
convidado a princesa de propósito e não foi apenas por querer a presença dela
por ali.
Sua entrada fez a música parar e a multidão abrir espaço para sua
passagem. Assim que ficou ao lado do duque, tudo recomeçou como se nada
tivesse acontecido.
‒ Bem-vinda, Alteza – ele a saudou, fazendo uma mesura
encantadora e com um sorriso no rosto.
‒ Obrigada, Lord Norfall. É bom vê-lo de novo. – A princesa foi
cortês. Não lhe deu um sorriso sequer, o que ele sabia ser apenas para manter
a fachada fria com a qual todos já estavam acostumados, mas atrás dos
óculos, Phillip viu um sorriso em seus olhos esverdeados tão expressivos.
‒ Igualmente, princesa. Fico muito feliz que tenha aceitado meu
convite.
‒ Agradeço por tê-lo enviado. Onde está sua irmã e sua m...? – A
princesa foi interrompida por uma Duquesa eufórica com a presença dela ali.
‒ Alteza! Que alegria em vê-la em nossa casa!
‒ Obrigada. ‒ A princesa acenou com a cabeça ‒ Linda festa.
A Duquesa ficou eufórica com o elogio e começou a falar sobre toda a
decoração e a quantidade enorme de libras que foram gastas para fazer
daquela ocasião uma festa memorável.
Enquanto a mãe falava, Phillip se percebeu tornando a pensar em
Charlotte, talvez houvesse muito trabalho e por isso ela não pudera estar ali.
Devia ser isso, ele pensou, ela deve ter ficado atarefada com o trabalho e
impossibilitada de comparecer. Mas isso não a impediria de enviar um bilhete
avisando que não iria comparecer.
‒ O que o frustra, Phillip? – a princesa lhe perguntou enquanto o
observava.
Ele estava tão distraído que nem percebeu quando a princesa
dispensou educadamente a mãe dele.
‒ Não é nada, Alteza. – ele respondeu, desviando os olhos para o
salão de baile. Então, viu sua mãe olhando para ele com um sorriso
pouco contido nos lábios, era quase como se ela estivesse vendo os dois
como um casal. ‒ Essa não.
‒ O que se passa? ‒ A princesa seguiu o olhar do Duque, que virou o
rosto assim que percebeu que a princesa procurava o que ele tanto olhava
‒ Não é nada. Diga-me como você está? ‒ Ele mudou de assunto.
‒ Eu estou bem e não aceito que mude de assunto. Não me obrigue a
lhe tirar a resposta das minhas perguntas contra a sua vontade. ‒ ela disse em
um único tom, como se tivesse falando algo trivial.
‒ Diga-me que seu pai já arrumou um marido para a senhorita ou eu
temo que minha mãe o fará. ‒ Phillip falou tão rápido e baixo que a princesa
demorou um pouco para entender e quando o fez riu, o que chamou a atenção
de todos ali presente.
‒ Não se preocupe, provavelmente meu casamento será com algum
escocês ignorante e selvagem. Meu pai tem tido muita audiência com alguns
nobres de lá e acredito que, em breve, ele anuncie meu noivado. ‒ Phillip
não deixou de notar a falta de entusiasmo na voz da princesa.
‒ Sinto muito por isso. ‒ Ele foi sincero.
‒ Eu sempre soube que isso ia acontecer, fosse com um inglês ou
com um estrangeiro. Fui criada para isso e assumirei de cabeça erguida minha
tarefa. Tenho responsabilidades que me são impostas pelo título que carrego
e eu seria tola e fraca por não as aceitar.
A princesa discursou sem sequer alterar a fisionomia e ele se
perguntou quantas vezes ela tinha dito aquilo para si mesma.
Conheceu Agatha quando era mais novo, em uma de suas visitas ao
palácio real com seu pai, que costumava ter audiências e caçadas com o rei
em manhãs de domingo, e em uma dessas visitas ele decidiu explorar os
jardins.
Várias outras crianças estavam por lá, pois o rei gostava que os nobres
levassem seus filhos para que estes pudessem fazer companhia aos seus.
Andando pelo castelo, Phillip encontrou Agatha chorando, ela tinha oito anos
e ele treze. Ao perguntar o motivo, a menina lhe explicou que não queriam
brincar com ela porque usava óculos e por ser menina. Ele não
se lembrava bem do que tinha dito a ela, mas lembrava de tê-la feito sorrir.
Desde então, sempre que visitava o castelo com o seu pai, preferia
fazer companhia à princesa. Até que as visitas ao palácio se tornaram cada
vez mais raras e os dois já não se viam tanto. Mesmo tendo se tornado uma
mulher fria e inalcançável, com ele, Agatha sempre manteve o carinho
fraternal que havia entre eles. O duque se orgulhava da mulher forte que ela
tinha se tornado. É por isso realmente desejava que ela fosse feliz.
‒ Ainda assim, eu sinto muito e espero que ele seja pelo menos um
homem honrado. ‒ o Duque se pronunciou, depois de minutos em silêncio e
viu a princesa sorrir sutilmente.
‒ Eu também espero. ‒ ela disse, encerrando o assunto.
CAPÍTULO 5 – VISITAS
Phillip não acreditava que tinha sido tão idiota por ter admitido algo
tão humilhante. A culpa é dela por me tirar do sério!, ele pensava tentando
diminuir a vergonha que sentia e justificar a declaração que tinha feito.
Não importava, já tinha dito o que não devia. As palavras não
retornariam só porque ele se arrependeu.
Phillip seguiu para sua casa. No dia seguinte, voltaria para Arondalle,
mas já tinha planos de voltar para Londres: seu navio tinha zarpado há mais
de um mês e, em breve, estaria de volta. Ele precisaria conferir a carga e
poderia usar a desculpa de ter tecidos novos para ir ao atelier encomendar
alguns vestidos para sua mãe e sua irmã.
Pensar no atelier, fê-lo lembrar imediatamente de Charlotte. Ele já
havia admito ter ciúmes. Realmente não gostava nem imaginar ela com outro
homem. Talvez gostasse dela. Se a modista fosse nobre, talvez até a
cortejasse.
Entretanto se Charlotte fosse nobre, talvez fosse afetada e dissimulada
como a maioria das as outras ladies, não seria a mulher incrivelmente
interessante e forte que conhecia agora.
A costureira permaneceu em seus pensamentos e cada dia que
passava, sentia uma saudade estranha e um desejo de tê-la ao seu lado, que
ele tentou a todo custo ignorar.
Não podia estar se apaixonando por ela, ou podia?
Ela conseguira!
Tinha passado aquelas noites em claro e despertava durante as poucas
horas que tinha tirado para dormir, pois precisava colocar uma ideia no papel.
E tinha conseguido se superar.
No início, Charlotte tinha se desesperado ao não ter nenhuma ideia
nova, então foi só pensar no Duque e no que ele gostaria de ver em um
vestido que as ideias apareceram. O desenho que Louise lhe enviara, com a
última moda parisiense, tinha lhe servido de inspiração para criar os próprios
modelos. Um pouco ousados, tinha que admitir, mas eram lindos.
Os modelos que criara causariam certo alvoroço e não tinha certeza se
conseguiria convencer alguma mulher a vesti-los, não com os ombros de fora
e o colo à mostra. Com certeza todos os homens adorariam os vestidos. Um
deles, em particular, iria ficar muito satisfeito ao ver como o colo ficava
evidenciado lindamente nos vestidos.
Foi pensando nisso que percebeu uma parte do plano que não tinha
pensado com antecedência. Quem usaria seus vestidos? Suas clientes não
eram ousadas o suficiente para usar algo que não estava ainda na
moda ou algo que beirasse o indecente. Talvez quando os tivesse
parcialmente prontos, ficasse mais fácil convencer algumas damas a usá-los.
Charlotte, então, dirigiu-se ao cais para ver os tecidos que iria precisar
comprar. Musselina, seda, renda, cetim: seriam só o começo.
Iria fazer sua melhor coleção.
A madame passou a manhã toda ali, analisando cores, texturas e
combinações e apenas por volta do meio dia foi que decidiu que por aquele
dia já estava bom.
Voltou a pé para casa, já que o atelier não ficava muito longe. Andar
sempre ajudava a organizar seus pensamentos e clarear suas ideias.
Estava absorta em sua própria mente quando uma carruagem parou ao
seu lado, ela olhou para cima e sorriu ao perceber a figura masculina
sorridente.
‒ Bom dia, Madame! ‒ Phillip disse educado de cima da carruagem.
‒ Bom dia, milord! ‒ Charlotte lhe sorriu e lhe fez uma mesura.
Aquele dia estava ficando cada vez melhor.
‒ Para onde vais? ‒ Ele tinha tirado o chapéu que usava e agora
cerrava os olhos por causa do Sol.
‒ Estou indo para o atelier. – ela respondeu segurando o seu próprio
chapéu, quando um vento assoprou forte.
‒ Permita-me, então, levá-la até o seu destino.
Charlotte sorriu para aquela gentileza e segurou a mão que ele
estendia para ajudá-la a subir.
‒ É muita gentileza, milord. ‒ disse em agradecimento.
‒ De onde vinha? ‒ ele perguntou enquanto colocava a carruagem
para rodar.
‒ Do cais. ‒ ela falou sem rodeios. ‒ Fui ver os tecidos que tinham
por lá e amanhã darei uma olhada em algumas lojas.
‒ Sobraram alguns tecidos do carregamento, se algum lhe for útil
fique à vontade para pegar.
‒ Eu agradeço. ‒ Ela sorriu para ele.
Charlotte parecia feliz e confiante, bem diferente da última vez que a
tinha visto, chorosa e desesperada. Gostava dela sorrindo, gostava ainda mais
de fazê-la sorrir.
‒ Conseguiu fazer os desenhos? Não tenho notícias suas há três dias,
então imaginei que estivesse focada nos desenhos. ‒ Ele apontou com a
cabeça para o caderno enorme que ela carregava protetora entre os braços.
‒ Sim! Eu terminei! ‒ ela confirmou orgulhosa de si mesma e
apertou com carinho o caderno em seus braços.
‒ Vai me permitir ver? ‒ ele perguntou curioso.
‒ Não sei, talvez sim, ainda não decidi. ‒ Charlotte sorriu. Gostava
do interesse do Duque.
‒ Não seja má. Eu mereço ver em que eu vou investir meu
dinheiro. ‒ ele tentou convencê-la.
‒ Tudo bem. Assim que chegarmos lá eu mostro. ‒ ela cedeu.
Não demorou quase nada para eles chegarem ao atelier. Charlotte
entrou sorridente, o que surpreendeu as suas costureiras. Ultimamente ela não
possuía muitos motivos para sorrir e chegar ali, sorridente e acompanhada
do Duque de Norfall, deixou todas elas animadas com as possibilidades.
‒ Bom dia, Madame. ‒ as meninas saudaram a sua senhora assim
que esta entrou e fizeram uma reverência ao verem o Duque.
‒ Bom dia, meninas. ‒ Charlotte respondeu a saudação com um
sorriso caloroso.
Eles seguiram para a sala particular. O Duque fechou a porta atrás
deles, o que fez Charlotte erguer a sobrancelha.
‒ Não gosto de conversar com terceiros ouvindo. ‒ ele se explicou
mesmo sem ela pedir.
‒ Claro. ‒ Charlotte sorriu irônica.
‒ Onde está o caderno? Estou curioso para saber o que desenhou.
Assim que o caderno foi mencionado, Charlotte sentiu a empolgação
retornar e logo estava mostrando seus desenhos ao Duque.
Ele observava cada desenho impressionado. O talento dela era
incrível, cada vestido era lindo e único, um pouco ousado, isso ele tinha
notado, mas nada comprometedor. O homem estava orgulhoso do trabalho
dela e a forma como ela lhe apresentava, mostrava que Charlotte estava ainda
mais orgulhosa do que tinha feito.
‒ São lindos. ‒ Phillip disse e ela sorriu com o elogio.
‒ Sim, mas não sei se alguém aceitará usar. A moda atual é com os
ombros cobertos, meus modelos fogem disso, então muitos vão achar o
vestido ofensivo e talvez até fora de moda. ‒ Charlotte ficou triste ao
perceber isso. ‒ Os modelos que a Rosanna tem seguem a moda, suas
inovações são nas mangas, onde retirei o excesso de tecidos, mas ainda assim
eles cobrem os ombros. São vestidos mais simples, porém originais a sua
maneira. Será muito mais fácil encontrar quem os vista. Esses que fiz são um
escândalo e eu não terei onde usá-los. Meus vestidos são todos de bailes e eu
não posso dar um baile só para mostrá-los.
‒ Na verdade, eu já tinha pensado nisso. Em breve será o aniversário
de minha mãe e, como todo ano, damos um baile. Acredito que esse seja o
momento perfeito e, quanto a quem vai usar, tenho certeza que Phillipa ficará
mais do que feliz em usar algo tão ousado... ‒ Phillip tinha um sorriso
travesso nos lábios e Charlotte não se conteve ao ver a empolgação dele.
‒ Pediria isso a Phillipa? ‒ ela perguntou sabendo quem era a pessoa
a qual ele se referia.
‒ Não será um pedido, tenho certeza que quando ela souber do
motivo do Baile, com certeza fará questão de dar sua contribuição.
‒ Será um escândalo! ‒ Charlotte sorriu ao se dar conta da proporção
que aquilo seria.
‒ Londres adora um escândalo! ‒ Phillip confidenciou colocando
uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.
‒ Não só Londres, mas seus Duques também, já que está sozinho em
uma sala fechada com uma mulher. ‒ Charlotte o provocou.
‒ O que posso dizer? Minha alma é londrina e um escândalo é
deveras excitante. A possibilidade de ser pego no meio do ato torna tudo mais
interessante, não acha? Um pouco de adrenalina faz bem.
‒ O proibido é mais gostoso, não? ‒ Charlotte sussurrou como se
confidenciasse algo devido à proximidade.
‒ Sim, bem mais gostoso. ‒ Phillip concordou com os olhos
escurecendo, aproximando-se cada vez mais.
O desejo que Charlotte sentia toda vez que ele estava próximo, e a
olhava daquele jeito, já estava se tornando familiar para ela. Quando o Duque
estava ali, tão próximo, prestes a beijá-la, era impossível resistir ao desejo de
unir seus lábios com os dele. E mesmo que soubesse que nunca passaria
disso, a mulher se via imaginando um futuro ao lado dele.
Apesar de tudo, ainda era filha de um Duque, ainda tinha sangue
nobre no corpo. Sabia que Phillip gostava da Madame Charlotte, mas iria
gostar também da Lady Sophia?
Ela estava pensando ainda sobre isso quando ele a beijou, fazendo-a
esquecer de todas as dúvidas e temores. A boca dele era ávida, quente e
macia. A mulher se sentia aquecer enquanto o nobre a envolvia com os
braços. Nada parecia tão certo quanto estar ali, aos beijos, com o Duque.
E pela primeira vez, ela quis mais que apenas aquilo e o pensamento
não a fez se afastar, em vez disso Charlotte passou os braços pelo pescoço
do Duque e aprofundou ainda mais o beijo.
Phillip grunhiu quando ela o puxou para si. Já estava difícil se
controlar com ela apenas permitindo que a beijasse, a modista o beijando de
volta com tanto ardor era impossível não desejar tomá-la para si de uma vez
por todas.
O pensamento guiou suas mãos, que tomaram mais liberdades e
começaram a explorar o corpo feminino tão quente em seus braços. Ele
desejava fazê-la sua.
Quando Phillip se aproximou de seus seios, contornando o formato
provocante daquela parte que tanto desejava no corpo dela, a mulher gemeu e
aquilo aumentou o seu já inflamado desejo.
Charlotte não conseguia ser racional quando ele a beijava daquela
forma e quando o homem contornou o seu seio ela sentiu um tremor
atravessar sua barriga e se alojar no meio de suas pernas. A modista ouviu um
gemido e um pouco tarde percebeu que era dela. O som a trouxe de volta a
realidade e mesmo que seu corpo quisesse aquilo, sabia que não poderia arcar
com as consequências, pelo menos não naquele momento, ainda não. Se o
fizesse poderia estragar tudo.
E por isso Charlotte buscou forças e o empurrou gentilmente antes
que as coisas ficassem fora de controle, mas ele se afastou apenas de sua
boca, descendo seus lábios para o pescoço dela.
‒ Espere... ‒ sussurrou arfante.
‒ Por quê? ‒ ele perguntou beijando seu pescoço delicado.
‒ Não pod... ‒ Charlotte tentou dizer, mas o que ele fazia em seu
pescoço a deixava impossibilitada de fazer qualquer coisa que não fosse
puxá-lo para que continuasse o que estava fazendo.
Ela devia afastá-lo, então por que seus braços faziam o contrário
disso?
‒ Claro que podemos, não há nada que nos impeça... Eu não estou
comprometido... E, pelo que sei, você também não. E não adianta dizer que
não me deseja. ‒ Phillip explicou beijando o pescoço dela a cada frase.
Sim, tudo aquilo era verdade. Mas ela não poderia se permitir tê-lo,
não estava pronta para compartilhar seus segredos com ele, por mais que o
desejasse. Phillip tinha entrado sorrateiramente em sua vida, com uma
conversa petulante, galante, tinha lhe ajudado quando foi atacada na rua,
tinha lhe feito sentir desejada como há muito tempo não era e agora lhe fazia
ter esperanças novamente. Devia tudo isso a ele, mas ainda não estava pronta
para contar seu segredo mais importante. E Charlotte sabia que se contasse
um, o Duque iria querer descobrir os outros.
‒ Phillip, pare. ‒ ela pediu voltando a empurrá-lo gentilmente.
‒ Por quê? ‒ Ele cerrou os olhos tentando decifrar por que ela o
afastava. ‒ Por que está me afastando, quando é evidente que sente o mesmo
desejo que eu?
O Duque estava frustrado e a modista percebia-o muito perto de se
ofender. Ela o queria tanto quanto ele, mas só em pensar em fazer algo ali
onde as meninas pudessem ver ou até presenciar, não a deixava muito
confortável. Não iria fazer aquilo agora, ali não era o lugar.
‒ Tem razão, eu o desejo também, mas não quero que seja aqui onde
minhas meninas podem ver e escutar.
Aquela frase pareceu amenizar a frustração dele e Phillip entendeu o
motivo da rejeição.
‒ Tem razão, aqui não é o lugar apropriado. Vamos para minha casa!
Aquelas palavras apavoraram Charlotte. Ela não estava pronta ainda
para as consequências que dormir com o Duque acarretaria.
‒ Phillip, eu preciso comprar os tecidos e fazer os vestidos,
convencer algumas clientes a comprá-los e você precisa organizar um
baile. ‒ Ela usou os afazeres como desculpas para não concordar em ir à casa
dele.
Phillip cerrou os olhos diante da desculpa que ela dera. Realmente
tinha tudo aquilo pra fazer, mas parecia que ela estava tentando evitar aquele
momento com ele.
‒ Acredito que possamos fazer isso tudo e ainda encontrar tempo
para nós. ‒ ele tentou persuadi-la.
‒ Por favor, Phillip, eu gostaria de me dedicar ao meu trabalho. ‒ ela
disse tentando não magoá-lo, mas Charlotte viu que não já era tarde demais.
A mágoa já estava ali no olhar dele.
‒ Como quiser, madame. ‒ ele falou sem demonstrar emoção. ‒ A
deixarei em paz com seu trabalho. Compre o que precisar no meu nome.
Voltarei agora para organizar o baile. De quantos dias precisa para fazer os
vestidos?
‒ Phillip, eu não o rejeitei, só não estou pronta ainda. ‒ ela mudou o
assunto tentando tocá-lo e tirar aquela expressão vazia do rosto dele.
Ele suspirou audivelmente. Sabia que teria que dar o tempo que ela
precisava. Seu corpo a desejava, mas Phillip ainda mandava nos próprios
instintos, e esperaria ela estar pronta para ele.
‒ Tudo bem. Quantos dias?
‒ São apenas alguns vestidos, acredito que um mês é suficiente.
‒ Certo. Organizarei tudo. ‒ Ele lhe beijou os lábios levemente e se
despediu. Não iria mais atrapalhar a modista em fazer seu trabalho.
Phillip tentava não pensar em Charlotte, ela tinha pedido para focar
em seu trabalho e ele tinha lhe dado espaço para tal, mas isso não significava
que a desejava menos. E por isso evitou aparecer por lá durante o período que
ela pediu para se dedicar aos seus vestidos.
O Duque tinha decidido se focar nos preparativos para o baile e isso
deixava sua mente ocupada. Ele desfrutava dessa ocupação até que sua mãe
chegou e tomou pra si o cargo de organizadora. Isso que o deixou sem quase
nada para fazer.
Disposto a fazer qualquer coisa que não fosse apenas pensar em
Charlotte, ele procurou algo para se ocupar. Foi então que a ideia surgiu. Para
a sua tristeza ou talvez alegria ‒ já que teria um motivo para visitar
Charlotte ‒ , ele iria precisar dos serviços de costureira da Madame.
Phillip daria de presente a uma velha amiga um vestido deslumbrante
feito por Charlotte, o que com certeza garantiria que esta se sobressaísse
como modista.
O Duque não estava preparado para a reação ciumenta que Charlotte
demonstrou quando ele apareceu no atelier para fazer a encomenda. Assim
que entrou no atelier, ela sorriu e ele tinha visto os olhos dela brilharem com
sua presença. A costureira tinha ficado feliz em vê-lo, mas foi só Phillip
informar o motivo pelo qual tinha ido ali que ela perdeu o sorriso e seu olhar
ficou desconfiado. Aquele sentimento lhe acariciou o ego e Lord Norfall
descobriu que ela também sentia ciúmes.
Phillip sabia que, provavelmente, a modista pensou que o pedido de
confecção daquele vestido, significasse que ele estaria cortejando outra
mulher, já que as medidas que ele deu não eram as de nenhuma das damas de
sua família, e Norfall sentiu uma pontada de satisfação ao notar que Charlotte
não gostava do pedido dele. Naquele momento ele entendeu que ela retribuía
o sentimento, apenas não estava preparada para reconhecer que também o
desejava.
O Duque daria o tempo que ela precisava para esquecer o marido e
poder se entregar a ele completamente, já que ele imaginava que era isso
que a impedia de se entregar a ele completamente. Acreditava que Charlotte
nunca tivera outro amante e por isso tinha receio de tudo que isso indicava.
Mas ele iria mostrar a ela as vantagens de tê-lo como amante.
Phillip gostaria muito de tê-la pra si por um longo tempo. Pelo menos
até a mãe obrigá-lo a se casar com alguma nobre enfadonha, cujo enlace
ele faria o máximo para adiar, com prazer.
Seria tão mais fácil se Charlotte fosse nobre como ele, ou se Phillip
fosse um simples homem sem títulos, herança e obrigações. Se assim
fosse, ele não teria dificuldade em pedi-la em casamento. Gostava dela e
sabia que isso era recíproco. Seriam felizes juntos, como Phillipa disse:
formavam um belo casal.
Mas ela não era nobre e ele era um Duque, de modo que não poderia
deixar de lado suas obrigações, por mais que estivesse tentado a tal ato.
Era muito cedo da manhã, o sol sequer tinha nascido, mas Charlotte
ainda estava acordada. Não tinha conseguido dormir, pois sua mente estava
muito barulhenta para que ela tivesse paz o suficiente para pegar no sono.
A lembrança de da conversa com a Duquesa lhe parecia um pesadelo
e ela não conseguia dormir. Sempre soube que ele nunca pensaria nela como
nada além de amante. E não estava disposta a largar tudo que lutou para
construir por uma noite de prazer. Mesmo que essa noite fosse com Phillip.
Quando tinha se apaixonado por ele? Era difícil dizer o momento
exato. Ele não foi nada parecido com o capitão John, que cuidava dela como
um pai, e nem como Sean.
Pensar em Sean a fez voltar no passado. Ele era seu melhor amigo
naquele navio, era divertido e estava do seu lado o tempo todo, mas ela nunca
o amou como o marinheiro a amava. Ele foi o primeiro homem que ela
beijou, mas beijá-lo não lhe causava as mesmas sensações que agora ela
sentia quando o Duque a beijava. E seu casamento, nunca foi um casamento
de verdade.
Quando Sean adoeceu no navio, ele tinha dito que se não estivesse
doente teria desejado poder desposá-la, e por isso ela mesma tinha pedido ao
capitão que os casasse. Depois do casamento, o homem faleceu. Mesmo que
nunca o tenha amado da forma que ele merecia, Charlotte o amou da melhor
forma que pode. E ele morreu com um sorriso no rosto.
Mas o que sentia por Phillip era diferente de tudo aquilo. Seu corpo o
desejava e sua mente não pensava em outra coisa a não ser no Duque. Ela o
queria tanto. Nutria um sentimento, sem nenhuma dúvida, bem mais forte que
tudo que já sentira. Não sabia o que fazer com o vazio que agora se instalava
eu seu íntimo. Não queria ser a amante dele, porque sabia que a um dia
Phillip teria que se casar com uma mulher e ela não suportaria dividi-lo com
ninguém. E, sendo apenas uma modista, ele nunca a pediria em casamento.
Mas, mesmo enquanto tinha certeza de todas essas coisas, ainda o desejava,
seu corpo o desejava, sua alma ansiava por ele.
Maldição, talvez estivesse mesmo apaixonada.
Como se não bastasse, ainda estava apaixonada por um homem que
jamais seria seu, era um amor impossível, e não era bonito como nos contos
de fadas, doía como o inferno aquele vazio e ela sabia que não teria um final
feliz, como nas histórias infantis.
Aquilo a deixou à beira das lágrimas novamente. A mulher odiava
aquele sentimento de tristeza e solidão, mas parecia que quanto mais o
evitava, mais vontade tinha de se chorar ao perceber que seria assim a sua
vida por um bom tempo.
Mas não podia ficar assim, não era uma adolescente apaixonada. Pelo
amor de Deus, era uma mulher feita! Uma mulher independente, não se
deixaria abater por causa de um sentimento! Por isso, para ocupar a mente
com outra coisa além do Duque, ela decidiu se levantar.
Brigitte dormia em seus aposentos ao lado dos dela, de modo que
Charlotte se levantou na ponta dos pés para não fazer nenhum barulho que
interrompesse o sono da amiga. Desceu o mais silenciosa que pôde e foi para
a cozinha preparar algum chá para tentar se acalmar.
Aprendera muita coisa durante suas viagens, alguns chás, remédios, e
poções que poderiam ser úteis em um navio e fora dele. Estava colocando a
água para ferver quando escutou algumas batidas na porta. Uma hora
daquelas, quem poderia ser?
Ela se dirigiu para a porta, cautelosa, pegou um atiçador de lareira e
foi ver quem tinha batido. Abriu a porta lentamente apenas para poder ver
quem estava do outro lado. Seus olhos se abriram quando ela viu Phillip do
lado de fora e ele parecia triste.
Charlotte abriu a porta completamente e o homem entrou
rapidamente.
‒ Milord, está tudo bem? – ela perguntou assim que ele estava a
dentro.
‒ O que faz acordada tão cedo? – ele perguntou se atentando a hora.
‒ Eu não consegui dormir. – ela respondeu cabisbaixa. ‒ E milord?
‒ Não poderia ir dormir sem antes saber como está. – ele respondeu e
ela suspirou cansada.
‒ Venha até a lareira, estou fazendo um chá.
Eles seguiram até a sala onde uma lareira estava acesa e esquentava a
sala de forma aconchegante. Um pequeno caldeirão era lambido pelas chamas
e logo estaria fumegando.
Charlotte se virou para olhar para o Duque e a sua expressão triste lhe
chamou a atenção.
‒ Agora me conte o que aconteceu. – ela pediu se aproximando e
colocando a mão nas suas para lhe mostrar que estava ali.
‒ Eu conversei com minha mãe... – Ele começou um pouco perdido
sobre o que dizer. ‒ Sinto muito por ela ter dito aquelas coisas odiosas.
Você não merecia passar por aquilo. Diga que me perdoa, Charlotte. Eu lhe
imploro, não deixe que minha mãe a mande para longe de mim.
Phillip parecia um homem perdido e a olhava com tanto medo que a
única ação que Charlotte teve foi tocar o rosto dele e lhe sorrir compreensiva.
‒ Eu não tenho o que lhe perdoar. As ações de sua mãe não são
culpa sua. – ela sussurrou. ‒ E eu não vou a lugar nenhum.
‒ Eu a quero, Charlotte, e não suporto a simples ideia de te perder.
Adoro sua língua ferina, seu jeito petulante e sua pose de mulher
independente. ‒ ele enumerou a puxando para si em um abraço. ‒ Você me
tem cativo como nenhuma outra mulher teve. E acredito que posso estar
apaixonado por você.
A modista sentia o coração aquecer diante de todas aquelas palavras e
por um momento, esqueceu-se que não queria ser amante dele, que Phillip
nunca a desposaria e esqueceu, inclusive, de seus próprios problemas. Ali nos
braços do Duque, ela era apenas uma mulher desejada por um homem e que o
desejava com a mesma intensidade. E talvez, só talvez, pudesse se permitir
sentir o que era ser amada uma noite.
Charlotte vestia apenas una camisola de algodão e ele tinha notado
que ela estava nua por baixo do tecido ao ver as curvas de seu corpo enquanto
ela caminhava a sua frente, aquilo o deixou louco para tê-la. Quando ela o
beijou, isso acabou com todo o controle que ele tinha sobre seu corpo. E logo
ele estava querendo bem mais que isso.
Os beijos se tornaram quentes e provocantes. Phillip a tocava por
cima da camisola, mas parecia que nem existia a proteção do vestido, uma
vez que o toque dele levava Charlotte à loucura.
‒ Eu a quero, Charlotte. Eu a desejo tanto. ‒ ele disse em seu ouvido
enquanto mordia sua orelha de forma provocante. A voz rouca dele fez seu
corpo se arrepiar e ela sentiu uma fisgada em baixo ventre. ‒ Diga que ainda
me quer.
Ela não conseguia pensar com clareza quando ele a beijava daquela
forma. Sim, queria-o como nunca desejou ninguém. E agora que ele a tocava
de forma tão provocante só queria que nunca parasse.
‒ Eu também o quero. ‒ ela sussurrou e Phillip grunhiu com a
resposta. Era tudo que precisava para tomá-la de uma vez por todas, mas não
faria isso no chão e nem em uma cadeira.
‒ Onde fica o quarto? ‒ ele perguntou entre um beijo e outro.
‒ Lá em cima. ‒ a mulher disse e ele a pegou no colo para subir as
escadas rapidamente.
Charlotte apontou para uma das portas.
‒ Brigitte está naquele, então vamos para o do fim do corredor. É o
de hóspedes. ‒ Charlotte sussurrou direcionando o Duque e eles entraram
tentando não fazer barulho.
Assim que entraram no quarto, ele a beijou novamente e ela retribuiu
o beijo completamente desejosa.
Phillip beijou seu pescoço enquanto desatava o laço que prendia a
camisola de Charlotte. Deu graças por ela não ser uma virgem inocente e ter
que fazer tudo devagar. Não sabia se conseguiria ter paciência para uma
virgem diante da necessidade que sentia em possuí-la e fazê-la sua de uma
vez por todas.
Assim que o Duque desfez o laço de sua camisola, ele puxou o tecido
sobre a cabeça de Charlotte expondo seu corpo e se admirou com a beleza de
suas curvas macias. Mal podia esperar para explorar aquele corpo delicioso.
Charlotte sentiu o vento frio passar por seu corpo nu e foi instintivo
cobrir o corpo quando sua camisola foi em direção ao chão. .
‒ Não se cubra. ‒ Ele tocou seus braços gentilmente, afastando-os de
seu corpo e a olhou com tanto desejo que ela corou. ‒ Você é tão linda.
Charlotte devia sentir medo pelo que estava por vir, até porque nunca
tinha estado com homem algum, seu casamento e sua viuvez eram apenas no
papel. Mas ali, nos braços dele, nua, ela só queria que ele continuasse a tocá-
la. Desejava-o de tal forma que não conseguiria afastá-lo, mesmo que
quisesse, e Charlotte não queria.
Ele observou seus seios generosos e sua boca salivou querendo provar
cada um deles. Phillip a tocou com os dedos e ela arfou com o toque, seus
mamilos se retesando entre seus dedos.
A modista nunca tinha sentido algo tão gostoso e tão forte. Os dedos
dele se moviam provocando-a e a fazendo gemer. Mesmo nua e com o clima
frio, ela se sentia aquecida, o toque de Phillip era suficiente para deixá-la
pegando fogo.
Phillip a pegou novamente no colo, dessa vez colocando as pernas
dela em volta de sua cintura, e a colocou na cama enquanto beijava seu
pescoço para logo descer os seus beijos para o lugar que ele desejava colocar
a boca desde a primeira vez que a vira.
Charlotte gemia com o toque da boca dele em seu corpo. Tentava não
fazer barulho para não acordar Brigitte, mas era uma tarefa muito difícil,
ainda mais quando ele a provocava tanto. Por isso, quando o Duque colocou
um de seus mamilos na boca, ela não conseguiu segurar o som que saiu de
seus lábios.
A costureira mordeu os lábios tentando ser mais silenciosa e ele sorriu
ao ver o quanto a provocava.
‒ Você é deliciosa! ‒ ele sussurrou enquanto saboreava seus seios
sem pressa. ‒ Adoro tocar sua pele macia.
‒ Eu quero tocá-lo também. ‒ ela sussurrou tímida.
Phillip gemeu de forma rouca e então se levantou. A mulher o olhou
confusa quando ele se afastou, mas logo entendeu o que fazia quando
começou a tirar a própria roupa. Ela mordeu os lábios em antecipação e
admirou enquanto ele ficava nu a sua frente.
O Duque era perfeito, ombros largos, braços fortes, barriga e quadris
estreitos e ela arregalou os olhos quando viu o membro rijo dele. Como
aquilo ia caber nela?
‒ Gosta do que vê? ‒ ele perguntou presunçoso.
Charlotte sorriu para ele de forma lasciva e antes que pudesse
responder algo, ele estava de volta, em cima de si, ocupando sua boca com a
dele.
O lord permitiu que ela lhe explorasse o corpo. Ela tocava seus braços
fortes, seu pescoço e seu peito e quando ele voltou a devorar sua boca ela lhe
arranhou instintivamente as costas.
Charlotte gemeu e se contorceu quando a mão de Phillip encontrou
seu sexo. Ele procurou seu ponto que estava rígido de prazer e começou a
tocá-lo com movimentos circulares. Aquilo a estava fazendo chegar perto do
abismo e ela não conseguiu pensar em mais nada. Suas mãos agarraram o
braço de Phillip instintivamente e ele acelerou os movimentos quando
percebeu que estava perto da liberação que a mulher tinha.
‒ Oh, Phillip. ‒ ela gritou e cravou as unhas em sua pele quando a
onda de prazer a tomou por inteiro.
Assim que voltou a si, Phillip a beijou. Estava quase explodindo de
prazer depois da cena excitante de Charlotte tendo sua liberação. Não podia
esperar mais, precisava se enterrar dentro dela. Então se posicionou em sua
entrada e antes que ela pudesse falar algo, penetrou com força de uma única
fez.
O grito sufocado de dor o deixou paralisado. Imediatamente procurou
o rosto de Charlotte. Nunca tinha tirado a virgindade de uma mulher, mas
sabia o suficiente que a mulher só sentia dor se fosse virgem.
‒ Meu Deus, você é... Virgem? ‒ ele perguntou evitando se mover
para não machucá-la. ‒ Como?
‒ Não importa. Já chegamos até aqui. Não pare agora. ‒ ela
suplicou. ‒ Por favor, Phillip.
Ele analisou o rosto dela procurando expressões de dor, mas em seus
olhos ainda havia desejo e ela ainda estava corada. Ele grunhiu e se
movimentou para ver se ela ainda sentiria dor, mas quando ouviu um gemido
de prazer, entendeu que poderia continuar.
Phillip se movimentava lentamente para que ela pudesse se acostumar
com o tamanho dele, mas estava difícil se concentrar quando Charlotte era
tão deliciosamente apertada ao seu redor.
A Madame gemeu desgostosa com a velocidade que ele se insistia em
lhe penetrar. Suas unhas arranharam as costas dele pedindo
instintivamente a liberação que ela nem sequer sabia que teria. E então vendo
o que ela queria, Phillip não conseguiu se segurar mais. Acelerou os
movimentos, levando os dois à beira do precipício. Quando Charlotte
alcançou o seu prazer, ele se derramou dentro dela.
Phillip a puxou para seu peito e a abraçou.
‒ Você está bem? ‒ ele perguntou preocupado e um pouco irritado.
‒ Sim. ‒ ela sussurrou envergonhada.
‒ Como pode ser virgem? ‒ ele perguntou, não conseguindo
esconder a confusão e a irritação da voz.
‒ Meu casamento não foi consumado. Ele morreu na mesma noite
que nos casamos.
‒ Você o amava? ‒ O Duque perguntou e ficou apreensivo quando
ela demorou a responder.
Havia uma pontada de ciúme na sua voz.
‒ Não, eu não o amava, mas ele me amava e quando em seu leito de
morte ele disse que queria ter se casado comigo, pedi para que o capitão nos
casasse. Após o casamento, ele ficou muito mal e faleceu. Então eu não fui
realmente casada de verdade, já que não foi um Ministro Ordenado que nos
casou.
‒ Sinto muito pela perda do seu amigo. ‒ Phillip disse sincero. ‒
Mas fico feliz que não seja casada de verdade.
‒ Está com ciúme de um homem morto, milord? ‒ Charlotte não
podia deixar a chance de provocá-lo passar.
‒ Claro que não, estou feliz que ele não tenha consumado o
casamento e chateado por você não ter me dito. Eu teria ido com mais
gentileza. ‒ Phillip alisou as costas dela com o polegar e a mulher se
aconchegou ainda mais no corpo dele.
‒ Ia doer de qualquer forma, então fico feliz que tenha sido
rápido. ‒ Charlotte deu de ombros.
‒ Ainda bem que pelo menos foi na cama, quase que eu te possuo no
chão da sua sala.
Charlotte sorriu com o comentário e ele sorriu para ela para lhe beijar
a testa.
‒ Por que veio aqui? – ela perguntou curiosa depois de um tempo
descansados.
‒ Eu vim ver você... – ele disse olhando-a nos olhos, queria ver todas
as reações que ela teria.
‒ E seu eu tivesse dormindo? – Ela sorriu
debochada. ‒ Ainda é madrugada.
‒ Bom, então eu a acordaria de tanto bater na porta. – ele disse
divertido. Em seguida, o Duque ficou um tempo em silêncio, como se
medisse as próximas palavras que usaria. ‒ Você me ama?
Charlotte tinha passado a noite pensando naquilo. Mas ainda assim
aquela pergunta a pegou desprevenida. Ela o amava? Bom, tinha acabado de
se entregar a ele, e sabia que sentia algo por ele. Mas seria amor?
‒ Por favor, Charlotte, seu silêncio me deixa louco. Eu preciso
saber. ‒ Ele sussurrou preocupado.
‒ Ah, Phillip, o que importa o que eu sinto por você? Mesmo que eu
o ame com todo o meu corpo e minha alma, eu não posso ser sua amante, não
sabendo que um dia teria que compartilhar você, que um dia você se casaria
com outra mulher e isso partiria meu coração. – ela disse, com um sorriso
entristecido. — Eu não sirvo para ser sua amante.
‒ Você me ama, Charlotte? ‒ ele tornou a perguntar, mas dessa vez
tinha um brilho alegre nos olhos.
‒ Eu o amo. – a modista lhe sorriu triste, com a verdade lhe
aquecendo a alma, ao mesmo tempo que sentia o medo lhe atravessar. ‒ Eu
o amo, e por isso não posso ser sua amante. Eu sinto muito.
‒ Então não vou pedir que seja minha amante. ‒ Phillip tocou o
rosto de Charlotte para que ela olhasse para ela e quando o fitou, ele
acrescentou: ‒ Vou pedir que seja minha esposa.
Charlotte o olhou, confusa e surpresa.
‒ Não pode se casar comigo, eu sou uma modista. ‒ ela franziu o
cenho o analisando bem.
‒ Se eu pedir ao rei, posso. E eu pretendo desposá-la. ‒ o homem
lhe informou.
‒ Vai se casar comigo mesmo eu sendo uma simples plebeia? ‒ Ela
se admirou.
‒ É o que pretendo, só espero que o rei seja favorável a isso. ‒
Phillip sorria lindamente para ela.
‒ Você me ama. ‒ Ela se admirou ao perceber isso.
‒ Claro que sim, não a pediria em casamento se não a amasse. ‒ Ele
fingiu ofender-se com o que ela disse.
‒ Mas não disse isso, ainda. ‒ ela apontou.
‒ Pensei que estava implícito na palavra “esposa”. ‒ o Duque
respondeu brincalhão e ela sorriu se aconchegando mais em seu peito nu.
‒ Você está falando sério? ‒ Charlotte perguntou ainda sem
acreditar que ele iria se casar com ela.
‒ Nunca falei tão sério na minha vida. ‒ ele respondeu sério. ‒
Quero me casar com você, Charlotte.
A verdade daquilo a assolou. O Duque ia realmente se casar com ela e
não estava brincando. Mas se aceitasse se casar com ele, teria que contar-lhe
seus segredos, e se Phillip não quisesse se casar com ela depois que contasse
que não era uma plebeia? E que aconteceria quando seu pai decidisse
interferir na sua vida? Ele já tinha se aliado a Madame Rosanna para atingi-
la... E se tentasse atingir o Duque por sua causa?
‒ Eu não posso. – ela sussurrou segurando as lágrimas.
‒ Não pode ou não quer? – ele perguntou confuso a afastando para
poder olhá-la nos olhos.
‒ Isso seria mais do que eu me atreveria a sonhar. Eu daria tudo para
me casar com você. Eu te amo mais do que eu deveria – Ela tocou o rosto
dele e viu que ele ficou ofendido. ‒ Mas eu não sou a mulher que
você pensa. Não posso lhe colocar na minha vida como meu marido, não
quando ele pode tentar me atingir através de você.
‒ Quem é ele, Charlotte? – ele perguntou sério e quando ela ficou em
silêncio, Phillip continuou. – Por que tem tanto medo dele? Pelo amor de
Deus! Eu sou um Duque, posso muito bem lhe defender!
Charlotte se retesou quando ele falou mais alto que o normal, mas ele
ainda esperava uma resposta.
‒ Meu pai. – ela sussurrou.
Ele ficou alguns minutos em silêncio absorvendo todas aquelas
informações. Ele olhava para o teto, evitando olhar a mulher nua em seus
braços que esperava ansiosa qualquer palavra dele.
‒ O que está me escondendo, Charlotte? ‒ o Duque perguntou
apreensivo.
‒ Meu passado inteiro. ‒ Charlotte respondeu triste e se preparou
para contar tudo, ele merecia que ela lhe contasse seus segredos. ‒ Não me
odeie...
A modista foi interrompida quando a porta se abriu bruscamente.
Charlotte se assustou quando Brigitte abriu a porta e ficou
envergonhada quando a realidade da situação lhe tirou o susto da entrada
abrupta da amiga.
‒ Mas o que... ‒ Brigitte olhou espantada para o casal na
cama. ‒ Desculpe, eu não sabia que estava... Tem um homem na sua cama...
Quer dizer, tem um homem na sua porta.
‒ A essa hora da manhã? ‒ Phillip ergueu a sobrancelha não
gostando da intromissão da criada e muito menos da mensagem que ela
trazia.
‒ Milord, já passa da hora do desjejum. Toda Londres já está
acordada. ‒ Brigitte informou para o Duque revirando os olhos.
Phillip estava à vontade com a situação. Ia se casar com Charlotte,
então não se importava que alguém o visse ali na cama com ela, muito pelo
contrário, aquilo apenas garantiria seu enlace matrimonial com a mulher ao
seu lado.
‒ Não gosto de homens a visitando. ‒ Phillip disse possessivo para
Charlotte.
‒ Será que você poderia nos dar licença? Eu gostaria de me vestir.
‒ Charlotte pediu a Brigitte, ainda corada de vergonha por estarem
conversando com ela nua na cama com o Duque, que estava igualmente nu
sob as cobertas.
‒ Claro, mas peço que se apresse, ele não me parece um homem que
sabe esperar. ‒ Brigitte informou fechando a porta e dando-lhes privacidade.
Charlotte começou então a se vestir e percebeu que não tinha roupas
suas ali, vestiu a camisola e seguiu para o seu quarto para que pudesse se
vestir apropriadamente para receber a visita que estava a sua espera.
Deixou Phillip no outro quarto e seguiu para o seu próprio. Assim que
terminou de se arrumar, ela desceu para encontrar quem quer que estivesse
lhe esperando.
‒ Ele está esperando na sala, Madame. Não disse seu nome, apenas
que você o conhecia.
‒ Tudo bem, irei vê-lo agora. ‒ ela informou e em seguida entrou na
sala.
Seus olhos procuraram o homem que a estava esperando. Encontrou-o
em frente à lareira, observando as chamas que lambiam um caldeirão que ela
sabia estar seco pelo tempo que estava no fogo. As costas dele pareciam
estranhamente familiares, a cor do cabelo era grisalha, mas o corte ainda era
o mesmo. Assim que reconheceu o homem na sala, Charlotte
estremeceu. Não, não era possível. Ele não.
‒ Vai fugir apavorada de seu próprio pai? ‒ o homem perguntou
ainda de costas e ela pode ouvir o deboche em sua voz. ‒ Não seria a
primeira vez, não é?
‒ O que faz aqui? ‒ Charlotte fechou as mãos em punhos, precisava
de toda sua coragem para encarar o pai.
‒ Eu vim lhe levar de volta pra casa e acabar com essa farsa tola e
imprudente. ‒ O Duque de Antholl se virou e a olhou nos olhos.
‒ O quê? ‒ Charlotte balbuciou dando alguns passos para trás.
‒ Achava mesmo que ia fugir de mim para sempre? ‒ ele perguntou
sério, sua sobrancelha erguida de forma arrogante.
‒ Essa era a ideia. ‒ Charlotte se forçou a soar firme e colocou ironia
para disfarçar o tremor na voz.
‒ Aqui não é lugar para uma herdeira. ‒ ele disse fazendo uma careta
ao olhar ao redor
‒ Não sou uma herdeira. ‒ Charlotte negou.
‒ Claro que é. Você é a única que carrega meu sangue e eu não vou
permitir que minha linhagem se perca por um capricho mimado de uma
criança. ‒ O duque ergueu o queixo num gesto típico de quem não aceitava
ser desobedecido. ‒ Você é uma Murray, comece a agir como tal.
‒ Eu não vou voltar. ‒ ela disse encarando o homem. ‒ Você tentou
me arruinar.
‒ Uma tentativa falha de fazer você voltar para casa. Acreditei que
quando não pudesse continuar com essa loucura de vestidos, voltaria
para onde devia estar, mas eu me esqueci de como pode ser obstinada quando
coloca algo assim na cabeça. Um traço meu em você.
‒ Se o senhor acha que isso vai me fazer voltar, está muito enganado.
Eu rejeitei minha origem quando fugi de casa. ‒ Charlotte estava furiosa com
ele.
‒ Não seja tola. Eu estou disposto a ignorar seus escândalos e sua
desgraça para que possa retornar à sua casa e à sua herança. ‒ o Duque disse
ignorando os protestos dela. ‒ Arranjei um casamento com um Conde que
está disposto a ignorar o seu passado.
‒ O senhor não pode me obrigar, eu já me casei, sou dona de meu
futuro agora. ‒ ela disse entre dentes e o Duque de Antholl sorriu
debochado.
‒ Aquela certidão de casamento e aquele visto? ‒ Havia ironia e
deboche na voz do homem e ela o odiou por isso. ‒ São tão verdadeiras
quanto o nome que usa: Charlotte.
Charlotte empalideceu. Seu pai sabia que ela não era casada de
verdade e iria usar qualquer coisa para que a vontade dele prevalecesse. A
modista podia ver a determinação em seus olhos.
‒ Você não acha que eu vim aqui para voltar de mãos vazias? ‒ seu
pai continuou diante do silêncio dela. ‒ Eu sei de tudo que você fez nos
últimos dez anos.
‒ Eu não sou mais pura. Seu Conde não irá me querer. ‒ ela disse
procurando alguma coisa que pudesse usar contra o pai.
‒ Ele estará disposto a ignorar esse fato diante dos benefícios. ‒ O
seu pai deu de ombros diante de sua tentativa falha de convencê-lo que não
iria voltar. ‒ Não vê que eu estou lhe dando a chance de lhe trazer de volta
um pouco de dignidade para sua vida. Devia estar grata por eu ainda vê-la
como minha filha. ‒ ele grunhiu, perdendo um pouco a paciência.
‒ Eu não vou voltar. ‒ ela respondeu no mesmo tom. ‒ E se tentar
me levar à força, eu fugirei novamente.
‒ Por que você é tão teimosa? ‒ ele reclamou impaciente, e em
seguida teve um acesso de tosse.
Ela o viu como se fosse a primeira vez, tantos anos tendo medo de
que o seu pai a encontrasse a fez vê-lo como um monstro que lhe
atormentava os sonhos, mas ali, tendo um acesso de tosse e se dobrando
fragilmente, ela o enxergou de verdade. O homem estava mais magro, parecia
cansado e havia olheiras profundas sob seus olhos. Gotas de suor desciam por
sua face, apesar do clima agradável, e seu rosto estava avermelhado.
E então ela entendeu tudo.
‒ O senhor está doente. ‒ ela expôs o que ele tentou esconder esse
tempo todo. ‒ Por isso quer que eu volte, por isso quer que eu me case.
‒ Saber disso fará você voltar? ‒ ele perguntou erguendo uma
sobrancelha incrédulo e um pouco esperançoso. Ele começou a tossir
novamente e se sentou ao sentir as pernas cansadas.
‒ Não, eu não posso voltar, papai. ‒ Charlotte disse mais calma,
sentando ao lado de seu pai e lhe tocando a mão. Apesar de tudo, não o
odiava, o temia, era verdade, mas não o odiava.
‒ E por que não? ‒ o Duque perguntou cansado.
‒ Porque ela vai se casar comigo. ‒ Phillip estava na porta com os
braços cruzados olhando sem nenhuma expressão para o homem próximo à
lareira, que assim que escutou a sua voz se virou para ele.
O Duque de Norfall tinha ouvido boa parte da conversa entre eles e só
não interrompeu antes porque ficou interessante demais para ser
interrompida, até aquele momento.
O Duque de Antholl o observou com os olhos cerrados e furiosos.
‒ Quem é você? ‒ o pai de Charlotte exigiu saber e Charlotte
empalideceu com o que estava por vir.
Phillip se empertigou e encheu a boca.
‒ Sou Lord Phillip Gregory Howland, décimo quinto Duque de
Norfall. ‒ ele anunciou orgulhoso.
O Duque de Antholl apenas ergueu a sobrancelha ao ouvir o título,
não esboçando nenhuma outra reação, mas em seus olhos, dava para ver a sua
mente fazendo maquinações.
‒ Isso é verdade? ‒ O Duque olhou para a filha para confirmar.
‒ Sim, ele é o que diz ser. – Charlotte disse confusa.
‒ Não pergunto sobre isso e sim se vai se casar com ele. ‒ o Duque
perguntou para a filha e essa apenas baixou a cabeça sem ter certeza do que
dizer.
‒ Milord, se não me engano, ouvi o senhor dizer que queria que ela
se casasse. Eu a deflorei, então acredito que isso me torne seu pretendente por
uma questão de honra.
‒ Você o quê? ‒ O duque se levantou furioso olhando para o jovem a
sua frente que não se permitia intimidar por ele. Apesar de saber que sua filha
não era mais virgem, não ficou feliz em encontrar o bastardo que a deflorou.
‒ Se lhe deixa mais calmo, ela escondeu a virgindade de mim, mas eu
já planejava me casar com ela antes mesmo de dividirmos a cama. ‒ Phillip
dizia sem nenhuma vergonha, como se fosse algo corriqueiro.
‒ Como ousa desrespeitá-la dessa forma? ‒ o pai de Charlotte
exigiu ao ver que sua filha não tomava nenhuma posição a respeito do
Duque. ‒ Eu devia enfiar uma bala em seu peito, seu desgraçado.
‒ Eu não vou voltar para me casar com um homem que não conheço.
‒ Charlotte finalmente se pronunciou.
‒ Então quer dizer que vai se casar com esse homem? ‒ o Duque
de Antholl perguntou incrédulo.
Charlotte assentiu, tentando entender a expressão de Phillip. Ele não a
olhou em momento nenhum e a mulher temia que ele estivesse ofendido por
descobrir que ela era uma nobre daquela forma.
‒ Agora que estamos entendidos, eu vou voltar para minha casa.
Tenho um casamento para anunciar. Em breve, mandarei uma carruagem para
que transporte Vossa Graça e sua filha para meu ducado. Se for do seu
agrado, continuaremos o acordo lá.
Phillip foi o mais educado que seu orgulho lhe permitiu e quando o
outro homem concordou, ele os saudou e se direcionou para a saída.
Charlotte percebeu que Phillip não olharia para ela e por baixo
daquele semblante calmo, a modista podia ver a raiva que ele estava dela.
Quando viu que Phillip ia embora sem falar com ela, Charlotte se levantou
para ir atrás dele. Não poderia deixar que ele saísse dali a odiando.
Phillip ergueu a mão quando avistou uma carruagem de aluguel e
entrou sem olhar para trás. Deu o endereço para o cocheiro e se sentou. Antes
que o cocheiro fechasse a porta Charlotte entrou, sentando-se na frente dele.
‒ Desça. ‒ ele ordenou sem olhá-la.
‒ Não. ‒ Charlotte negou irredutível. Não iria embora enquanto o
homem não falasse com ela. A carruagem começou a andar.
‒ O que você quer, Charlotte? ‒ ele pediu a olhando e ela percebeu a
mágoa em seu olhar.
‒ Eu só quero conversar. Nem posso imaginar o que deve estar
pensando de mim. ‒ ela suspirou triste. ‒ Nem sei como ainda quer se casar
comigo.
‒ O que mais você está escondendo de mim, Charlotte? ‒ Phillip
ignorou o que ela disse. ‒ Eu não estou interessado em descobrir por
terceiros. Então, conte-me a verdade.
‒ É complicado explicar. ‒ Charlotte se encolheu ao ver que ele
estava ficando furioso.
‒ Tente. ‒ ele grunhiu. ‒ Odeio segredos.
‒ Tudo bem. ‒ ela suspirou. ‒ Quanto ouviu da conversa?
‒ Não importa, conte-me tudo. ‒ ele ainda estava irado, mas tentou
abrandar o tom. ‒ Por que fugiu, para início de conversa? Já que, ao que me
parece, não foi para se casar.
‒ Tudo bem... Desde pequena, eu amava desenhar, mas meu pai não
achava que aquilo era algo para uma lady fazer. Ele tinha me prometido em
casamento e queria que eu me preparasse para isso, para ser a esposa perfeita,
mas eu queria ser modista e por isso comecei a aprender a costurar
escondido. Um dia, papai descobriu e disse que ia me mandar de volta para o
convento, onde eu havia passado um tempo por causa da primeira vez que eu
o tinha desobedecido. Eu não consigo respirar em locais pequenos e fechados
e só a ideia de voltar para lá me aterrorizava. Então eu fugi.
‒ Continue. ‒ Phillip insistiu, pois não queria nenhum segredo entre
eles.
‒ Meu pai não ficou feliz por eu ter estragado os planos dele. Pensei
até que ele tinha me esquecido, mas vejo que me enganei. Ele está doente,
Phillip, por isso decidiu me procurar, pois James não é filho de papai, não de
sangue. Ele é meu irmão somente por parte de mãe e por isso não é herdeiro
de Antholl.
‒ E por isso seu pai veio atrás de você e não de seu irmão. Essa parte
eu já entendi.
‒ Então diga o que quer saber, assim eu não me repito. – Charlotte
resmungou irritada. ‒ Você que pediu para eu contar tudo.
‒ Tem razão... – Phillip concordou e ficou um momento em silêncio
pensando sobre o que iria perguntar, mas nada mais lhe vinha a mente.
O lord ergueu os olhos para o teto, demonstrando cansaço. Charlotte
não se admirou: ambos estavam desde o dia anterior sem dormir.
‒ Eu sinto muito que isso tenha lhe chateado. – ela se desculpou de
cabeça baixa.
‒ Chateado? – ele bufou com a palavra que não representava nem
metade do que sentia. ‒ Chateado é pouco para como eu me senti.
‒ Me desculpe. – ela pediu novamente, torcendo as mãos no colo e de
repente, Charlotte pareceu frágil aos olhos do Duque.
‒ Você ia me contar essas coisas, Charlotte? ‒ ele perguntou
respirando fundo.
‒ Ia sim.
‒ Isso é verdade ou é mais de suas mentiras? ‒ Phillip perguntou
ainda ofendido.
‒ Eu ia lhe dizer hoje mais cedo, antes que a Brigitte aparecesse na
porta nos interrompendo. Eu nunca pretendi te enganar. Eu juro. ‒ Charlotte
disse corando ao se lembrar do que tinham feito antes da sua governanta
aparecer. ‒ Por isso, eu tentei fugir do que sentia por você, não queria ter que
te enganar.
‒ Mas enganou, mentiu para mim! – ele disse ainda irritado.
‒ Não coloque dessa forma, eu não escondi de você, apenas não tinha
motivos para contar. ‒ Charlotte disse chateada por ele chamá-la de
mentirosa. ‒ Eu não esperava ter que contar para alguém. Já estava
conformada em viver minha vida solitária, sem casamento ou descendência.
Mas ai você apareceu e mudou tudo, me fez perceber o que eu estava
perdendo ao abrir mão do amor.
Os olhos de Charlotte ficaram marejados e ela segurou as lágrimas da
melhor forma que pôde.
‒ Eu estava disposta a não amar você, lutei contra o sentimento, mas
parecia que quanto mais eu lutava, mais forte ele se tornava. – ela
acrescentou, suspirando derrotada. ‒ Tentar não te amar só me fazia te amar
mais. Eu não sabia que meu pai queria que eu casasse, pensei que ele estava
atrás de mim apenas para se vingar. Eu queria te proteger dele e não
te envolver ainda mais nos meus problemas. – Ela foi sincera. ‒ Mas quando
pediu para casar comigo eu sabia que devia te contar, e ia te contar, mesmo
correndo o risco de você desistir da ideia de me fazer sua esposa.
‒ Você estava apenas tentando evitar me envolver em seus
problemas... ‒ Phillip resumiu o que Charlotte havia dito.
‒ Sim, e sinto muito que tenha descoberto dessa forma, eu entenderei
se não quiser mais se casar comigo... – ela suspirou triste e apreensiva que ele
dissesse que não queria mais.
A mulher o esperou em expectativa e rezou para que o Duque ainda a
amasse.
Ele a olhou fundo nos olhos, e sorriu.
‒ Apesar de tudo, eu ainda te amo. Amo você, Charlotte, amo sua
língua ferina e seu jeito petulante. Continuo querendo você, mas me prometa
que nunca mais vai esconder nada de mim. Você pode me prometer isso,
Charlotte?
‒ Sophia. ‒ ela sussurrou envergonhada.
‒ O quê? ‒ ele perguntou, sem entender.
‒ Meu nome de batismo é Sophia.
CAPÍTULO 13 – ESCÂNDALOS
‒ Então ela é uma nobre? – Phillipa perguntou para ter certeza que
tinha ouvido direito. Seu irmão tinha lhe contado tudo sobre Sophia. Ela
estava feliz que no fim Sophia fosse nobre, isso facilitaria a vida do irmão,
mas um sentimento egoísta a impedia de ficar plenamente feliz pelo irmão ao
descobrir a nobreza de Charlotte.
‒ Sim, ela é filha de um Duque e eles estarão indo
para Arondalle ainda hoje.
‒ Ah... – Phillipa murmurou.
Phillip logo percebeu que algo estava errado. Phillipa não tinha ficado
entusiasmada com a revelação, muito pelo contrário, parecia decepcionada.
‒ Phillipa, o que se passa? – o Duque perguntou preocupado.
‒ Não é nada. ‒ Phillipa tentou esconder-se atrás de seu sorriso e
falhou miseravelmente. Seu irmão lhe conhecia bem demais para conseguir
enganá-lo.
‒ Lipa, sabe que pode confiar em mim. O que a perturba?
‒ Não é nada, foi só um pensamento egoísta que eu tive. – ela
explicou dando de ombros e desdenhando o pensamento para que ele não
insistisse.
‒ Insisto que me diga. – Phillip exigiu. ‒ Sempre fomos
confidentes, Lipa, não mude isso agora.
Ela ponderou por um momento, mas sabia que seu irmão tinha razão.
‒ Eu preferia quando Char...Sophia era apenas Madame Charlotte. Eu
achava que quando você se casasse com uma plebeia, mamãe não poderia me
negar um casamento assim também. Ou talvez não iria me culpar tanto por
não querer me casar com um nobre, mas a mamãe vai ter o que sempre quis
de qualquer forma: um casamento com alguém da nobreza.
‒ Você acha que por Sophia ser nobre, facilitou que ela ficasse
comigo? ‒ Phillip perguntou tentando entender.
‒ Não exatamente, mas ela ser nobre tornará tudo mais fácil
agora. ‒ Phillipa tentou explicar.
‒ Eu já iria me casar com ela, mesmo sem saber que ela era uma
Lady. O fato dela ser nobre não muda nada, Lipa. Não é o título que define a
nobreza do espírito de um homem. Veja o Henry, ele não tem título, mas isso
não torna menos nobre para mim. Eu o respeito como um igual e confio mais
nele do que em muitos lords que conheço.
‒ Eu sei disso, Phillip. ‒ Phillipa disse corando ‒ É só que se ela não
fosse nobre, tornaria mais fácil eu me casar com alguém que também não é
da nobreza.
‒ Você deseja se casar com alguém que não é nobre? ‒ Phillip
perguntou, suspeitando de algo que estava debaixo de seu nariz.
‒ Não! ‒ ela respondeu um pouco rápido demais. ‒ É uma
suposição apenas. Porque pode aparecer alguém por quem eu me interesse, só
isso. ‒ Ela deu de ombros. ‒ Até agora conheço praticamente todos os
nobres e por mim, todos sumiriam de minhas vistas, não suporto a maioria.
‒ Entendo. – Phillip observava o movimento nervoso que ela fazia ao
apertar uma mão na outra. Sempre fazia isso quando queria esconder
algo. ‒ Você já sabe o que a mamãe diz sobre isso, mas a palavra final é
minha. Então quero que saiba que eu a deixarei escolher o homem com quem
se casará, independente de título ou riqueza... Desde que eu veja que ele a
ama, e que a protegerá tanto quanto eu. Não aceitarei nenhum caça-dotes ou
alguém que não a respeite. Quero que seja feliz, Phillipa, e se casar com um
homem sem título a fará feliz, então terá minha benção.
Phillipa olhava para seu irmão maravilhada.
‒ Você mudou. – foi o que saiu de sua boca enquanto lágrimas
caíram de seus olhos. ‒ Obrigada, Phillip. Eu te amo!
O Duque abraçou a irmã e percebeu o quanto ela também estava
diferente, parecia mais madura.
‒ Você também mudou, Lipa. – ele disse a segurando apertado. ‒ E
eu também te amo.
Quando finalmente o soltou, Phillipa olhou para o irmão séria.
‒ Eu estou orgulhosa do homem que se tornou e da mulher que
escolheu. Acredito que você precisava de Charlotte para ter de volta o
controle de sua vida. Toda a coragem e a força dela em ir atrás do que queria
fizeram você perceber que também precisava ser assim às vezes. Você
precisava dela, e ela precisava de você também, para se sentir cuidada e
protegida. Pelo que me contou, a madame vem cuidando de si mesma por um
bom tempo. Fico feliz que agora Charlotte tenha você agora para cuidar dela
e a proteger. Sua futura duquesa não poderia encontrar um homem melhor em
toda Inglaterra, nem mais gentil, ou mais bondoso. Mas acredito que ela saiba
o homem que tem, caso contrário não teria aceitado casar contigo, afinal a
modista sempre foi atrás do que acreditava, então se ela vai se casar contigo é
porque acredita em vocês dois. Só de saber tudo que a mulher que ama
passou para realizar seu sonho, me mostra que ela não medirá esforços para
ser feliz e te fazer feliz. Espero um dia ter a força dela. Sua noiva é uma
mulher admirável.
‒ Sim, ela o é. ‒ Phillip respondeu orgulhoso, enquanto sua irmã lhe
sorria e saía de seu escritório.
Assim que Phillipa saiu, o Duque ficou pensando na sua noiva. Ele
realmente era um homem afortunado por ter uma mulher tão forte como ela e
Phillipa tinha razão ao dizer que Charlotte o tinha mudado. Se não fosse ela
nunca teria ido atrás do que queria. Tudo isso devia a Charlotte e por isso,
faria de tudo para torná-la a mulher mais feliz do mundo.
O jornal em sua mesa com a notícia do baile e a palavra escândalo em
destaque o fez ter uma ideia de como diminuir o que seu casamento causaria.
A ideia o fez sorrir.
Ele precisaria anunciar seu noivado no “Lord Inglês”, no “Londrino”
e provavelmente, no “Chá das Cinco” também seria interessante, já que nesse
as mulheres obtinham as fofocas em primeira mão. Não seria problema
convidar os editores dos jornais. Uma carta e eles estariam ali, como cães
farejadores. Se é que já não estivessem redigindo algo completamente
diferente da verdade. Já tinha em mente o que contaria para eles para tornar a
história menos escandalosa.
Phillip escreveu uma nota e mandou um de seus criados entregá-la na
sede de cada um dos jornais. Logo estariam ali para ouvir o que ele teria a
dizer. E o Duque tinha muito o que falar.
Uma carruagem parou à porta da casa de Sophia e alguns criados a
ajudaram com as bagagens. A modista insistiu que Brigitte a acompanhasse
naquele momento, mas essa disse que iria arrumar as coisas antes de ir com
ela. Sabendo que seria impossível dissuadir a amiga e governanta,
Sophia suspirou e entrou na carruagem mandada por Phillip junto com seu
pai.
Sophia o tinha evitado desde que Phillip a deixou em casa. Não queria
conversar com ele e nem mesmo olhar para seu pai. Por isso, evitou ao
máximo que pôde, dentro da carruagem.
Seu pai a olhava tentando decifrar o seu silêncio. Ele não era homem
de demonstrar, mesmo com ela olhando pela janela, podia sentir que o Duque
a perscrutava com seu olhar. Então, Sophia lembrou-se que ele estava
doente.
‒ Como me encontrou? – ela perguntou tentando soar indiferente.
O seu pai ficou um tempo em silêncio antes de responder.
‒ Eu já estava a sua procura desde o dia que saiu de casa e quando o
médico disse que meu coração não funcionava direito há alguns meses, eu
intensifiquei as buscas. Mas não sabia onde estava, podia estar em qualquer
lugar do mundo, seria como encontrar uma agulha no palheiro. Um dia, eu
encontrei um jornal que falava de uma modista que estava conquistando toda
Londres e nele tinha um desenho de seus vestidos. Eu reconheci os traços, eu
o via todos os dias quando era mais nova, e então imaginei que fosse você.
Coloquei alguns homens para confirmarem que era você e procurei descobrir
sobre os anos que esteve desaparecida. Foi assim que eu descobri sobre a
outra modista. O plano para tentar falir você era apenas para que aceitasse
minha ajuda quando eu a oferecesse, mas você resolveu sozinha com seu
Duque e eu percebi que não daria certo tentar lhe persuadir dessa forma.
Então, lembrei que seu coração sempre foi bondoso como o de sua mãe,
então talvez saber que eu estava morrendo lhe trouxesse de volta para casa.
A sinceridade do Duque lhe surpreendeu.
‒ Ah... Papai...
‒ Espere, deixe-me terminar. – o Duque pediu e ela acenou com a
cabeça. ‒ Eu errei com você, Sophia. Eu nunca devia ter tentado lhe mandar
para o convento, sabendo como aquilo lhe assombrava. Eu não deveria ter lhe
obrigado a desistir daquilo que mais amava. Eu nunca superei a morte de sua
mãe, eu a amava demais e quando Nicole morreu para lhe dar à luz, uma
parte de mim morreu com ela. Você era uma lembrança constante da minha
perda, no entanto, quando foi embora eu fiquei furioso. Passei anos lhe
odiando, meu ódio me consumia e eu fingi que você nunca existiu. Mas então
eu soube que estava morrendo. Ver a morte se aproximar muda muitas coisas
em um homem. Eu percebi que quando minha filhinha foi embora, a minha
Nicole foi embora com ela, você tinha tanto de sua mãe que me assustei
quando entendi que na verdade você não era a lembrança que ela tinha
partido e sim uma parte dela que tinha ficado comigo para sempre. E então eu
vim atrás de você. Meu orgulho me impediu de vir implorar o seu perdão. Eu
acreditava que quando a tivesse de volta em casa, o passado ficaria para trás.
Mas agora, a vendo tão distante e me desprezando, eu não quero fazer nada
além de pedir o seu perdão e ter a minha menina de volta em meus
braços. Me perdoe, minha criança.
‒ Oh! Papai! Não tenho o que perdoar. – Charlotte disse se jogando
nos braços dele como há dez anos não fazia, enquanto chorava de felicidade
por não precisar mais ter medo do pai.
‒ E te amo, Sophia.
‒ Eu também te amo, papai.
Phillip esperava Sophia e seu pai se unirem a ele para jantar, Phillipa
já estava ali. Logo o Duque de Antholl e Sophia se juntaram a eles, faltando
apenas a Duquesa se fazer presente.
Um criado avisou a Phillip que a mãe dele ainda estava indisposta e
pedia desculpas por não poder descer. Phillip cerrou os dentes, pois sabia que
a mãe tinha uma saúde exemplar para a sua idade, e nunca, jamais estivera
indisposta para receber nenhum convidado.
Apesar disso, ele repassou as desculpas de sua mãe para os
convidados e percebeu que Phillipa compartilhava os mesmos pensamentos.
Ele teria que ter outra conversa com a Duquesa, mas não naquele
momento. Por hora, iria apenas jantar e desfrutar de sua noiva o máximo que
pudesse.
A Duquesa tinha observado a chegada de Lord Antholl e sua filha
pela janela do quarto. Tinha vindo, durante todo o trajeto de Londres até o
castelo, tentando encontrar sentido para o que seu filho tinha lhe dito. Phillip
estava apaixonado pela modista e tinha dito que se casaria com a Madame
Charlotte, portanto era impossível que tivesse desistido tão fácil dela.
Entretanto, mais cedo naquele dia, ele lhe disse que se casaria com Lady
Sophia de Antholl.
Ele não poderia se casar com duas mulheres diferentes! E quem
diabos era essa Lady Sophia? Porque nunca a tinha visto em nenhuma
temporada, ou nos bailes sociais? Ela não poderia ser um fantasma.
A não ser que seu filho tenha mentido sobre a existência de tal Lady.
Nesse momento o Duque de Antholl desceu da carruagem. A Duquesa
observou seus cabelos cor de cobre, e sua suspeita tomou outro rumo. Será
possível que as duas mulheres eram a mesma pessoa? Assim que Charlotte
desceu da carruagem a Duquesa teve a resposta: Sim, elas eram a mesma
pessoa!
A modista a qual ela tinha se tornado cliente era uma nobre e tinha
enganado todo mundo. Toda Inglaterra tinha caído na lábia daquela mulher.
Que tipo de pessoa esconderia sua descendência aristocrática para trabalhar
em uma loja de vestidos? Isso era um escândalo. Como se não bastasse o fato
de seu filho estar apaixonado por uma simples modista, ainda teria o
escândalo da modista ser uma farsa!
Como ela pôde enganar a todos daquele jeito? Aquela mulher
mancharia a reputação de todos que estavam ali. Seria uma praga em sua
família, um escândalo aonde quer que fosse.
Como ela pôde enfeitiçar seu filho daquela forma? Ele era um homem
tão bom... e agora, por culpa da Madame, seu Phillip tinha mudado, não lhe
respeitava mais. Era isso que aquela mulherzinha queria: tirar o amor que
seu filho tinha por sua própria mãe. E estava conseguindo. Phillip nem
sequer dava ouvidos a si e já tinha tomado o lado da modista, tanto que iria
se casar com Madame Charlotte, mesmo sabendo que a Duquesa não
concordava com isso.
CAPÍTULO 15 ‒ NOIVADO
Phillip viu sua mãe saindo dos jardins e respirou fundo. Sua mãe não
iria deixá-lo em paz. Ele a interceptou assim que a Duquesa entrou no
castelo.
‒ Mãe, eu preciso do Diamante Howland. ‒ ele
anunciou. ‒ Ele não está no seu cofre particular.
‒ Não vai dar minha joia a ela. ‒ a Duquesa se negou. ‒ Não
permitirei.
‒ Me dê apenas um motivo para justificar seu ódio pela minha noiva
e que não seja “ela não é boa o suficiente para você”. ‒ ele pediu contendo a
vontade de quebrar alguma coisa. Não permitiria que ninguém falasse mal de
Sophia. ‒ Eu estou cansado disso, dessa guerra entre as duas mulheres que
eu mais amo. Ela nunca a tratou da mesma forma que a trata. Então me dê um
único motivo para justificar seu ódio.
O silêncio constrangido da Duquesa foi mais revelador do que se ela
tivesse falado mil motivos.
‒ Eu não preciso de um motivo para não gostar dela. – a Duquesa se
defendeu depois de minutos calada. – Uma mãe sabe quando uma mulher
quer tirar seu filho dela. Pode chamar do que quiser: instinto materno, sexto
sentido...
‒ Ciúme... – o Duque acrescentou.
‒ Eu com ciúmes? Não seja tolo. Não tenho ciúmes dela.
‒ Mãe, a senhora já pensou que em vez de perder um filho vai ganhar
uma filha? Gostaria que Phillipa fosse tratada da mesma forma que a senhora
trata Sophia? ‒ a Duquesa ficou cabisbaixa e pela primeira vez, parecia
envergonhada. ‒ Ela não teve a presença de uma mãe. A dela morreu ao lhe
dar à luz e a senhora está tirando dela a chance de se sentir amada por uma
mãe. A senhora sempre foi uma mulher amorosa tanto comigo quanto com
Phillipa, não custa nada colocar a Sophia em seu coração também. Não deixe
que seu orgulho endureça o seu coração.
‒ Humpf. – A Duquesa bufou depois de um tempo em silêncio e
virou a cabeça elevando o nariz, como se nada daquilo fosse para si, mas
tirou um colar de seu pescoço e no lugar do pingente, estava o anel com o
diamante. Ela o entregou ao seu filho e subiu as escadas, sem olhar para
Phillip.
Phillip conhecia a sua mãe o suficiente para saber que o ato de lhe
entregar o anel era a trégua que ele tanto queria.
Madame Rosanna iria fugir. Assim que viu seu plano falhar, percebeu
que teria que fugir. Tinha que ir para o mais longe que pudesse. Tinha certeza
que o Duque a tinha visto e que se acordasse iria atrás dela e ele poderia
condená-la por tentar assassiná-lo. Então precisava ir o quanto antes.
Estava em seu atelier e arrumava tudo apressadamente. Tinha perdido
tempo quando a carruagem quebrou na metade do caminho de volta
e demorou as ser consertada. Então só chegou ali naquela manhã. E esse
tempo todo esteve arrumando suas malas. Tinha mandado todos embora. Não
queria ninguém lhe fazendo perguntas ou tentando impedi-la, precisava ficar
sozinha.
A modista, sentia o desespero lhe tomar, se sentia perseguida,
observada e como se todos olhassem para ela. Olhava o tempo todo para a
porta, com medo que a qualquer momento os guardas arrombassem-na para
prendê-la. A sensação de que a qualquer momento isso poderia acontecer a
estava deixando maluca.
Nunca devia ter executado a maldita ideia, mas seu ódio e o desejo de
vingança a tinha cegado. Agora, Rosanna teria que fugir e viver se
escondendo, mas ela não queria isso. Nunca mais teria uma vida decente ou
luxuosa, nunca mais poderia ser famosa. Ainda assim, no entanto, isso era
melhor que a forca ou a prisão.
Apressou seus passos. Mais cedo, naquele dia, soube que tinha um
navio partindo para Portugal e iria pegá-lo. Ele sairia às dez da noite e isso
era perfeito: não poderia sair durante o dia com todas aquelas coisas, iria
gerar muitas perguntas e todos saberiam para onde ela foi. A noite era o
horário perfeito para uma fuga.
Rosanna colocou uma capa para que ninguém a reconhecesse. Pegou
uma bolsa com todo dinheiro que tinha, outra com tudo que lhe era precioso e
abriu a porta. Seus olhos quase saltaram das órbitas quando se deparou com a
Duquesa.
‒ O que faz aqui? – a Madame perguntou.
Lady Catherine ficou em silêncio, encarando a mulher que um dia
quase considerou uma amiga.
‒ Fiquei pensando se ainda estaria aqui... Que bom que ainda está.
‒ O que quer comigo? ‒ perguntou Rosanna apreensiva.
‒ Foi você, não foi? ‒ a Duquesa perguntou.
‒ Do que está falando? ‒ Rosanna franziu o cenho, fingindo não
saber de nada.
‒ Você envenenou meu filho.
‒ Eu jamais faria algo assim. Não com alguém que eu considero uma
amiga. Jamais machucaria o seu filho! A acusação que me faz é muito séria,
me ofende você acreditar que eu faria uma coisa
dessas. ‒ Rosanna respondeu se passando por inocente.
‒ Era para Sophia, eu sei. – a Duquesa deu de ombros
e Rosanna cerrou os olhos tentando saber onde a mulher queria
chegar. ‒ Talvez se ela tivesse bebido, eu não estivesse aqui e sim, o meu
filho. Phillip estaria furioso por você ter tocado na esposa dele, mas só sairia
do lado dela quando ela morresse ou acordasse. Então isso teria dado tempo
para você fugir. Bom, claro que se ela morresse, ele iria implacavelmente
atrás de você, aonde quer que estivesse, até obter justiça. Mas se ela
sobrevivesse, talvez você pudesse viver o resto de seus dias escondida. No
entanto, infelizmente, foi o meu filho o envenenado e como a esposa dele está
garantindo que ele viva, eu garantirei a vingança por ter tocado em minha
família.
‒ M-mas eu não fiz nada, não fui eu! ‒ Rosanna exclamou se
encolhendo ao ver o olhar assassino que a mulher lhe lançava.
‒ Murex... ‒ a Duquesa disse e viu a palidez se espalhar pelo rosto de
Madame Rosanna, que dava passos para trás. ‒ Quando eu ouvi esse nome,
não entendi nada, mas acho que você conhece. É o nome de uma tinta usada
para conseguir a cor púrpura. Ela é bem interessante. É rara, cara e usada
principalmente em tecidos nobres, mas se ingerida, pode ser letal em
pequenas doses. Para retirar esse veneno das vestes que são tingidas com ela,
é necessário passar três dias embebida no álcool e depois colocar para secar
por mais um dia. O álcool irá evaporar, levando consigo o veneno e deixando
a tinta completamente presa ao tecido. A cor diferente das outras fica mais
viva a cada lavagem, o que fez muitos reis tingirem suas capas reais com essa
tinta. Estou certa, não?
‒ Eu não quis atingir seu filho! ‒ Rosanna chorava ao perceber que a
mulher sabia de tudo. ‒ Foi sem querer, eu nunca quis causar mal a você!
‒ Sabe o que mais eu descobri? ‒ a nobre perguntou com um sorriso
diabólico nos lábios sem se importar com o que a mulher dizia. ‒ Descobri
que ela é vendida no cais. Entretanto, somente um homem vende esse veneno
e ele me disse que você comprou um frasco recentemente. Por sorte, ele tinha
um último frasco e esse eu comprei.
A Duquesa retirou o frasco de suas vestes e mostrou a Rosanna, que
tremia da cabeça aos pés.
‒ Por favor, eu juro que nunca mais farei nada
assim! ‒ Rosanna implorou.
‒ Eu sei disso. Não precisa ficar com medo. Não lhe farei nenhum
mal, não sou tão baixa ao ponto de fazer o mesmo que você. ‒ A Duquesa
colocou o frasco na mesa ao lado da mulher. ‒ Mas você não vai sair disso
impune, não vai fugir da justiça, isso eu lhe garanto. Os guardas já devem
estar chegando e eles a prenderão e a acusarão de tentar envenenar um nobre.
Eu estarei lá no seu julgamento para garantir que a justiça seja feita.
Adeus, Rosanna.
ENVENENAMENTO
No dia de seu casamento, Lord Phillip Gregory Howland, Duque de
Norfall, sofreu uma tentativa de envenenamento. A culpada pelo crime
foi a senhora Rosanna Wanderhugh Lavern, também conhecida como
Madame Rosanna. A mesma foi encontrada morta em seu atelier em Londres.
Tudo indica que a mulher se matou ao ingerir Murex, o mesmo veneno com o
qual tentou envenenar o Duque. E diferente de sua vítima, ela não
sobreviveu.