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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

Bases da Socialização do Meio Rural (Aldeias comunais)

Nome: Gina Carlos João


Código: 708183854

Curso de Ensino de História


Disciplina: História das Sociedades
4º Ano
Docente: Dr. Felizardo Camões
Quelimane, Maio de 2021Critérios de avaliação (disciplinas teóricas)
Classificação
Categorias Indicadores Padrões Subtotal
Pontuaçã Nota
o máxima do
tutor
Capa 0.5
 Índice 0.5
Aspectos  Introdução 0.5
Estrutura organizacionais  Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(indicação clara do 1.0
problema)
Introdução  Descrição dos 1.0
objectivos
 Metodologia
adequada ao objecto 1.0
do trabalho
 Articulação e
domínio do discurso
académico 3.0
(expressão escrita
Conteúdo cuidada,
coerência/coesão
textual)
Análise e discussão  Revisão
bibliográfica 2.0
nacional e
internacionais
relevantes na área
de estudo
 Exploração dos
dados 2.0
Conclusão  Contributos teóricos
práticos 2.0
 Paginação, tipo e
Aspectos tamanho de letra,
gerais Formatação parágrafo, 1.0
espaçamento entre
linhas
Normas APA 6ª  Rigor e coerência
Referências edição em citações das 4.0
bibliográficas e bibliografia citações/referências
bibliográficas
Índice

1. Introdução................................................................................................................................3

1.1. Objectivos.............................................................................................................................4

1.1.1. Geral...................................................................................................................................4

1.1.2. Específicos.........................................................................................................................4

1.2. Metodologia..........................................................................................................................4

2. As bases da socialização do meio rural (aldeias comunais).....................................................5

2.1. A Produção nas Aldeias Comunais........................................................................................7

2.2. Globalização o seu reflexo em Moçambique.......................................................................9

2.2.1. Transformação da organização social em Moçambique...................................................10

2.3. Estratégias de Desenvolvimento Rural em Moçambique....................................................11

2.4. As transformações do rural..................................................................................................12

3. Conclusão................................................................................................................................15

4. Bibliografia.............................................................................................................................15
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1. Introdução

O presente trabalho da cadeira de História das Sociedades, abordar-se-á sobre Bases da


socialização do meio rural. Parte-se do pressuposto que segundo a histórica e estruturalmente
a base de sustentação e de acumulação de capital de toda a economia de Moçambique, com
excepção dos últimos 8 anos, tem residido nas zonas rurais.

Por um lado, foi do campo, e principalmente do campesinato pobre e médio, que provieram
cerca de 75% das exportações nacionais, os alimentos a baixo custo para manter a força de
trabalho barata e os excedentes de força de trabalho não-qualificada e barata para todos os
sectores de actividade económica.

Por outro lado, a principal acumulação económica foi feita com base nos monopólios e
oligopólios que organizavam e controlavam a produção, extensão, comercialização,
transporte, transformação e exportação dos excedentes agrícolas (em culturas como algodão,
caju, tabaco, açúcar, chá, sisal, entre outras), bem como organizavam e geriam o crédito aos
diferentes intervenientes nessa actividade económica.

Portanto, analisando as fontes documentais da administração colonial (sobretudo o Fundo de


Tete e o Serviço de Centralização e Coordenação da Informação de Moçambique) e da
administração pós-colonial (especialmente a Comissão Nacional das Aldeias Comunais), vê-
se que a dispersão é apresentada como impedimento do progresso, da evolução e do
desenvolvimento, termos reiteradamente utilizados no período tardo colonial, socialista e no
atual desenvolvimentista. Em suma, a aglomeração de pessoas foi sendo delineada como um
pré-requisito para viver adequadamente ou viver como gente. Assim sendo, o presente texto
analisa a persistência histórica em diferentes projetos de poder em Moçambique que se
valeram do combate à dispersão como um elemento para legitimar o reordenamento e o
consequente controle das populações deslocadas.
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1.1. Objectivos

1.1.1. Geral

 Compreender as bases da socialização do meio rural (aldeias comunais).

1.1.2. Específicos

 Explicar o processo de Produção nas Aldeias Comunais;


 Descrever a Globalização e o seu reflexo em Moçambique;
 Identificar as Estratégias de Desenvolvimento Rural em Moçambique.

1.2. Metodologia

Para a efectivação deste trabalho com base nos objectivos traçados, usou-se a pesquisa
bibliográfica que consistiu na leitura de manuais que abordam sobre o trabalho em menção.
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2. As bases da socialização do meio rural (aldeias comunais)

O rural moçambicano passou por transformações na forma de organização do espaço residencial e


produtivo em função dos interesses do Estado, quer seja ele colonial como o que surgiu da luta
de libertação nacional. Comeste artigo pretendemos analisar como o domínio dos sistemas
de objectos e de acções no espaço foi fundamental para a materialização dos interesses dos
atores hegemónicos em cada fase da história moçambicana. Para sustentar as análises
efectuadas ao longo do texto, recorremos à pesquisa bibliográfica sobre o assunto, tanto de
autores moçambicanos como de estrangeiros. Foram consultados livros, artigos, teses e
relatórios que abordaram a realidade do país durante a última fase da presença colonial
portuguesa em Moçambique.

Analisou-se os primeiros dez anos de independência de Moçambique, ou seja, quando foi


implantada a socialização do campo como estratégia de desenvolvimento do espaço rural. O
rural moçambicano passou por transformações na forma de organização do espaço residencial
e produtivo em função dos interesses do Estado, quer seja ele colonial como o que surgiu da
luta de libertação nacional. Comeste artigo pretendemos analisar como o domínio dos
sistemas de objectos e de acções no espaço foi fundamental para a materialização dos
interesses dos atores hegemónicos em cada fase da história moçambicana

O rural moçambicano passou por transformações na forma de organização do espaço


residencial e produtivo em função dos interesses do Estado, quer seja ele colonial como o que
surgiu da luta de libertação nacional. Comeste artigo pretendemos analisar como o domínio
dos sistemas de objectos e de acções no espaço foi fundamental para a materialização dos
interesses dos atores hegemónicos em cada fase da história moçambicana.

Entre a chegada do primeiro navegador português a Moçambique (1498) e o controle efectivo


do território e a instalação da administração colonial, decorreu um processo difícil de
dominação das diversas organizações políticas africanas que detinham o poder no território. A
ocupação efectiva ocorreu em finais do século passado, com a dominação do Estado de Gaza
no sul do país, embora apenas na década de 20, a administração colonial tenha passado a
assumir um real controle do território.

O desenvolvimento do colonialismo Português em Moçambique, pode ser grosseiramente


dividido em três períodos:

 1885-1926: com uma economia dominada por grandes plantações exploradas por
companhias majestáticas não portuguesas onde se praticava a monocultura de produtos
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de exportação (sisal, açúcar e copra), no centro e norte do país, com base em mão-de-
obra barata. As companhias, por sua vez, também controlavam o mercado da venda de
força de trabalho para países como a Rodésia, Malawi (Niassalândia), Tanganhica,
Congo Belga e em alguns casos a África do Sul (WUYTS, 1980:12-13). No sul,
predominava a exportação de mão-de-obra para alimentar o capital mineiro da África
do Sul. Os acordos assinados entre Portugal e a África do Sul para a exportação da
mão-de-obra, traziam rendimentos específicos ao Estado colonial, quer através de
impostos, quer da utilização dos caminhos-de-ferro que ligavam o porto de Lourenço
Marques à África do Sul, quer ainda através da utilização do próprio porto, para o
trânsito de mercadorias;
 1926-1960: sob influência da construção do nacionalismo económico, este período é
marcado por uma intensificação do trabalho forçado e integração crescente da
economia de Moçambique numa economia regional dominada pela África do Sul. O
princípio do trabalho forçado e da introdução de culturas forçadas marcam este
período, como uma forma de proteger a burguesia portuguesa, incapaz de concorrer
com o capital mineiro e com as plantações, no acesso à mão de obra.
 1960-1973: As mudanças políticas mundiais e a crise do regime de Salazar durante
este período levaram a diversas reformas políticas e económicas, que conduziram,
entre outras medidas, à abolição do trabalho e das culturas forçadas e ao traçar de
novas estratégias de desenvolvimento para as colónias. Algumas das consequências
das reformas políticas levaram à modernização do capital, com a abertura da economia
ao investimento estrangeiro. É neste período e neste contexto de modernização do
capital que se fazem investimentos na indústria manufactureira.

A economia colonial sobreviveu durante muitos anos na base de uma dependência de dois
sistemas, o trabalho migratório e o trabalho e agricultura coercivos, mesmo depois da abolição
formal das culturas e do trabalho forçado. O colonialismo português introduziu mecanismos
impeditivos do crescimento de uma burguesia negra, agrícola ou comercial. Assim, embora
houvesse uma diferenciação de classe e até mesmo alguns ‘koulaks’ e pequenos comerciantes,
o sistema de produção agrícola e industrial manteve-se nas mãos da burguesia portuguesa
(FIRST, R., MANGHEZI, A., et al, 1983; CEA, 1998; WUYTS, M. & O’LAUGHLIN, B.,
1981).

Um olhar sobre a rede de estradas e caminhos-de-ferro de Moçambique, no período colonial,


facilmente nos ajudará a avaliar a orientação destes para uma economia de serviços, que
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ligava os países do ‘hinterland’ ao exterior, através dos portos moçambicanos. Cerca de


metade das divisas de Moçambique eram geradas pelos serviços de transportes e portos para
os países vizinhos 

2.1. A Produção nas Aldeias Comunais

As aldeias mostram como as populações viveriam organizadas para desenvolverem a


produção colectiva, promovendo intercâmbio dos seus conhecimentos. Este discurso referido
na tomada de posse como Presidente da Republica, Samora Machel em 1975, sustentava que
era necessário que houvesse o sistema das Aldeias Comunais. Desta forma, se pretendia que
estas aldeias fossem acima de tudo, uma forma de organiza a população dispersas das zonas
rurais para que se estruturem em sociedade revolucionária, organizada para desenvolver o
trabalho colectivo, assim, promovendo o intercâmbio dos conhecimentos nos trabalhadores.
Assim sendo, as aldeias comunais, seria as cidades do campo, uma forma de combater os
vícios, o boato e a calúnia das cidades em contrapondo com a pureza e o espírito de sacrifício
dos camponeses164. Esta estratégia constituía o principal revelador das experiências teórica e
prática do desenvolvimento rural aprendida pela FRELIMO durante a guerrilha.

Entretanto, o enquadramento dos camponeses as aldeias comunais de formas econômicas e


sócio-políticas eram consideradas etapas para o desenvolvimento rural. Uma das experiências
“nacionais” que mais próximo estaria da concepção de um desenvolvimento rural endógeno,
baseado nos valores “tradicionais e nas relações “pré-capitalistas”, projectados após 10 anos
de independência na Argélia165. Um processo de enquadramento das relações socialistas no
campo, como um novo estilo de vida sustentado com base nas condições econômicas
racionais e assegurado pela fixação da população. O processo estava dentro de uma
plataforma estrutural agrário que enquadrava as cooperativas, formando um verdadeiro
complexo socioeconómico, que garantiam o conjunto das funções econômicas e serviços
administrativos, sociais e culturais.

A experiência de aldeamento nos moldes socialistas em Moçambique também vem das aldeias
ajumaa da Tanzânia. Um programa inseria na política de desenvolvimento rural entre 1962-
1966, na qual, outro projecto de colonização agrícola já haviam desenvolvido, com objectivo
principalmente de incentivar a produção agrícola entre os camponeses. Transformando
radicalmente o modo de produção familiar para uma produção agrícola de exportação. Para
tal, dever-se-ia criar empresas agrícolas modernas propulsionadas aos camponeses para a sua
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transformação em agricultores, com as vantagens do tipo urbano, onde teriam; água


canalizada, habitação melhorada, comunicação, comércio, educação e serviços sanitários.

Teoricamente os processos de aldeias comunais desenvolvidas na Argélia e Tanzânia foram os


espelhos que se projetaram adulteradamente em termos de condições para ser ensaiado em
Moçambique. Esse processo pretendia definir a reestruturação da organização de produção do
meio rural nos moldes socialistas partindo das aldeias comunais e cooperativas, como as
formas colectivas de produção e de vida (MAFFESOLI, 2001 p.83).

A lutar contra o capitalismo e a dispersão do habitat rural, levou com que as cooperativas de
produção e comercialização dos produtos agrícolas surgissem de forma subalterna, tardia e
ambígua nas aldeias comunais.

Esse factor deveu-se a concepção e a estratégia das cooperativas agrícolas, quer nos discursos
dos dirigentes, quer nas práticas seguidas, primeiro nas “zonas libertadas” e posteriormente ao
nível do território nacional já independente, foram apresentados com soluções do recurso, mal
formada como dispositivos económicos, e muito valorizada como factor de organização
política.

A sua maior ambiguidade resulta da instrumentalização política a que esteve subordinada num
processo em que as expectativas económicas dos camponeses ainda constituíam o seu maior
impulso.

Os cooperativistas e cooperativas, ao ser introduzido nas aldeias comunais em Moçambique,


foram como uma força suplementar de consolidação das aldeias, em que se, buscava um
enquadramento administrativo, na socialização do campo “a luz das experiências”, pré-
cooperativas, já que elas não concentraram a atividade principal dos membros, nem
demonstraram o poder de mobilizar as vantagens de este tipo de propriedade socialista (Valá
Salim, 2009).

Porém, nas aldeias comunais as cooperativas de produção agrícola constituíam ainda, a base
para a transformação socialista que se pretende atingir. Para tal, a FRELIMO concebeu em
algumas partes do país, apoios técnicos, intervenção estatal para o trabalho cooperativo. Esta
cooperativa introduzida no Estatuto de princípio era posta em pratica por via administrativa,
tornando-se num instrumento privilegiado nas mãos do Estado, o que levou a sua evolução em
número.

As cooperativas agrícolas só começarem a ser realmente encorajadas, como dispositivos


económico, no preciso momento em que o movimento das aldeias comunais atingia o seu
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auge (2 milhões de camponeses aldeãos) e a economia familiar dos aldeões entrava em crise
aguda. Esta situação é bem demonstrada no quadro acima, quando mostra o desnível entre o
número total de cooperativas e o de aldeias comunais, apenas ¼ das aldeias dispunham de
cooperativas. Este encorajamento ao cooperativismo nas aldeias comunais faz-se por via de
ajudas financeiras, administrativas e técnicas por parte do Estado. Um processo que passo por
um plano de rentabilidade económica, onde as cooperativas receberam auxílios financeiros
mais significativos (MAFFESOLI, 2001 p.63).

Porém, a reestruturação económica rural com base nas cooperativas agrícolas teve
características diferentes na região norte e sul de Moçambique, marcadas pela distinção
quanto às origens e as motivações. Na região sul de Moçambique, principalmente nas
províncias de Maputo e Gaza, a grande maioria das aldeias foi criada nos anos 77-78, por
ocasião das inundações dos rios Incomáti e Limpopo. As populações foram transferidas dos
vales, onde viviam cultivando a terra de aluvião para as margens de “secano” e de terras
arenosas, mais elevadas, onde foram concentradas em aldeias comunais

2.2. Globalização o seu reflexo em Moçambique

“O grande desafio desemboca no como preservar a nossa identidade, no como cultivá-la e


compartilhá-la como uma rica contribuição ao mundo das civilizações”. (SANDER, 2008, p.
163)

A Educação deve se adequar a Globalização sem, no entanto, ser manipulada pela mesma e
cabe aos professores, construir e reforçar a própria identidade cultural, partindo de nós
mesmos para o mundo, do interno para o externo, do local para o global. “Nenhuma acção
educativa pode prescindir de uma reflexão sobre o homem e de uma análise sobre suas
condições culturais. Não há educação fora das sociedades humanas e não há homens isolados”
(FREIRE, 1979, p. 35).

Um bom exemplo de políticas públicas influenciadas pela globalização foi o que aconteceu na
cidade de Três Rios – RJ, quando a Volkswagen do Brasil decidiu instalar-se na região. O
presidente da empresa visitou a cidade e o prefeito à época, o Sr. Celso Jacob, levou-o para
conhecer o terreno onde seria construída a fábrica, a infra-estrutura do local e da cidade, o
comércio, etc.

A globalização não é um fenómeno novo, entre a antiguidade e a contemporaneidade


existiram várias globalizações. A nível histórico, a globalização económica do mundo
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contemporâneo apresenta uma arqueologia e genealogia capitalista. Um dos grandes atores da


globalização económica contemporânea são as multinacionais, que, devido à sua capacidade
inovadora, organizativa e lucrativa, produzem bens e serviços, numa estrutura oligopolista de
mercado. As multinacionais extractivistas preferem investir os seus capitais nos países pobres,
que oferecem incentivos que facilitam a obtenção de lucro para os investidores, com o
objectivo de atrair o investimento externo, para a manutenção da sua economia.  

2.2.1. Transformação da organização social em Moçambique

Alguns desses estudos, a exemplo do relatório Transformação da organização social e do


sistema agrário do campesinato no distrito do Erati: processo de socialização do campo e
diferenciação social (1985) escrito por Christian Geffray vinculado ao Departamento de
Arqueologia da UEM e Mogens Pedersen do Departamento de Desenvolvimento Rural do
Ministério da Agricultura e também o projeto: Contribuição para o Estudo do habitat
tradicional de Moçambique. Belane-Vilanculos-Inhambane36 coordenado por o Adolfo Yánez
Casal e José Fialho, vinculados ao Instituto Nacional de Planificação em parceria com a
Habitat-Nações Unidas (1983) fomentaram uma série de críticas a respeito das ações
verticalizadas do governo, frente aos modos de vida dispersos dos povos moçambicanos.

Entre estas ressalta-se a medida em que a modernização da agricultura e a transformação dos


meios de produção nas aldeias comunais era diametralmente oposto as formas de organização
locais. Os relatórios são densos e mereceriam um artigo exclusivo, mas serve de reflexão a
conclusão do texto coordenado por Casal que, após se debruçar acerca da unidade básica da
habitação - os chamados mutis de Inhambane, caracterizadas por “um conjunto de espaços
organicamente estruturados, especialmente unitários e descontínuos, mas, social e
simbolicamente interdependentes e plurifuncionais”, se refere a situação das aldeias comunais
como um local em que:

Os aldeões são interpelados a aderir a um mundo de normas, concepções, palavras de ordem e


perspectivas socioeconómicas de carácter inovador e revolucionários em relação as
coordenadas e estilo de vida do habitat disperso. A apresentação da nova ordem é feita em
termos dualistas de verdade e progresso num caso e de erros e atraso para a ordem dita
tradicional até então praticadas (Wuyts,1978 p.34).

A mobilização assim feita leva em geral aos camponeses a ter também uma compreensão
dualista da mensagem: A nova ordem de relações sociais e de habitat seria então assumida
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pelos camponeses em termos de decreto, como um factor externo ao que será preciso adoptar
o seu modo de ser e de viver. A antiga ordem de relações sociais e de habitat seria em si
própria negativa e por tanto censurável o que conduziria à sua ocultação (ALBERT , 2010
p.75).

As respostas da maioria dos camponeses que seguem a este tipo de apelos e solicitações, não
podem deixar de ser dualistas e ambíguas, traduzindo-se por obediência passiva ás palavras de
ordem, por práticas provisórias, ao mesmo tempo que mantém e praticam (com reservas,
adaptações e estratégias) na ordem antiga ainda operatória e funcional no domínio da
reprodução social e material. Porém, assim como os aldeamentos coloniais, diversas foram as
estratégias elaboradas pela população para negar a aldeia comunal.

2.3. Estratégias de Desenvolvimento Rural em Moçambique

Para promover, coordenar, planificar, monitorar e apoiar a realização de ações prioritárias que
conduzam à melhoria das condições de vida da população dos Distritos o Governo de
Moçambique apresentou em 2007 o documento sobre a Estratégia de Desenvolvimento Rural
(EDR). Foi feito com base num outro intitulado Abordagem do Desenvolvimento Rural
aprovado pelo Conselho de Ministros em 2000. A EDR é o documento que melhor aborda o
meio rural, de uma forma mais global e integrada no conjunto da economia e da sociedade e
procura reflectir algumas dinâmicas das sociedades rurais.

Para esta estratégia o “desenvolvimento rural significa transformação da composição da


estrutura social, económica, política cultural e ambiental das áreas rurais”... O
desenvolvimento rural não é uma etapa curta de curto prazo, nem um mérito somatório de
objectivos e intenções, ou simples acumulação de recursos e capacidades no campo.

É um processo de mudança de longo prazo, cheio de variados conflitos, compromissos e


opções, muitos dos quais mutuamente exclusivos, que requerem decisões
selectivas”(MOSCA, 2011). “Desenvolvimento rural é entendido na EDR como o processo da
melhoria das condições de vida, trabalho, lazer e bem-estar das pessoas que habitam nas áreas
rurais” (MOSCA, 2005).

O documento refere a necessidade de alteração do padrão dominante da acumulação, em que


se verifica uma transparência de recursos do campo para a cidade, afirmando que “o padrão
de acumulação de capital financeiro e produtivo na família rural necessita de ser alterado,
tomando em consideração a complexa mas crucial relação entre os sistemas de (re)produção
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familiar e trabalho assalariado agrícola e não agrícola. A relação emprego/trabalho por conta
própria tem que passar para o centro das políticas, evitando-se a visão voluntarista e ilusória
de que todo o produtor familiar vive na subsistência ou pode ser empresário”.

Acrescenta a dependência do mercado rural em relação ao urbano, enfatiza que o


investimento no capital humano e capital social deve ir além do tradicional capital financeiro
e comercial, incluindo a melhoria da participação das comunidades, a descentralização do
poder de decisão e a responsabilização individual e social, o capital intelectual e cultural.
Defende ainda maior equidade na criação da capacidade produtiva tomando em conta a
diversidade regional e distrital na base das vantagens comparativas. Sugere a importância de
melhorar as infra-estruturas físicas e institucionais.

O documento considera que as diversas estratégias aplicadas nas últimas décadas, não foram
capazes de “mudar o padrão de acumulação no sentido de tornar as áreas rurais
economicamente competitivas, ambientalmente equilibradas e socialmente estáveis e
atractivas”. Segundo o mesmo Moçambique ainda continua num nível atrasado em termos de
desenvolvimento rural. As políticas e estratégias de desenvolvimento em vigência no país
continuam surtindo pouco efeito prático conforme salientam (ORAM; ROSA, 2010).

Assim, apesar de todos os recursos naturais que Moçambique dispõe, com uma população
muito jovem, activa e trabalhadora, o seu posicionamento na escala mundial não é nada
agradável. Dos 177 países constantes na lista do PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento), publicada em 2005, Moçambique encontrava-se no 168º lugar.

2.4. As transformações do rural

O espaço rural tem sofrido um conjunto de mudanças estruturais resultantes


fundamentalmente do processo de urbanização que se estendem e penetram em áreas
significativas das zonas rurais. No entanto, as influências da urbanização não podem ser vistas
de forma homogénea, elas não se generalizam e não são apropriadas da mesma maneira pelas
diferentes localidades e comunidades. Pelo contrário, todos esses processos compreendem
uma série de modalidades advindas de diferentes relações estabelecidas entre a tradição e a
modernização.

A modernização e a urbanização que penetram em espaços considerados rurais resultam de


processos activos e dinâmicos, desencadeados paralelamente pelas próprias comunidades
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locais, que interpretam e se apropriam singularmente de uma série de factores de ordem


socioeconómica e sociocultural.

A urbanização deve ser encarada como um fenómeno complexo e pluridimensional, que


assume diferentes formas sociais e configurações espaciais. As relações que se desenvolvem
entre o urbano e o rural constituem um sem-número de valências difíceis de classificar
(KAYSER, 1990). Por este motivo, não é nosso intuito propor uma tipologia de classificação.
No entanto, pensamos ser de toda a pertinência salientar a multiplicidade de processos que
caracterizam as formas diferenciadas de urbanização.

Assim, para além dos processos de periurbanização, as sociedades conhecem novas


modalidades de urbanização e de industrialização difusa que se implantam e se localizam em
regiões consideradas rurais (KAYSER, 1990, 1996; REIS E LIMA, 1998).

Estes nódulos de desenvolvimento constituem-se em torno de uma série de factores de


atracção relacionados nomeadamente com o melhoramento das acessibilidades, o baixo custo
dos terrenos, a mão-de-obra barata.

A este respeito, devemos também referir o caso de certas cidades de média dimensão,
localizadas em regiões com uma forte componente rural, que têm conhecido algum
dinamismo socioeconómico resultante essencialmente de processos ligados à industrialização
e à terciarização (LABORIE, 1996; GASPAR, 2000).

No entanto, em face desses focos de dinamismo assiste-se, simultaneamente, à marginalização


de parte substancial das localidades rurais que sofrem processos complexos de esvaziamento
populacional, envelhecimento e desmantelamento das estruturas e dos sistemas tradicionais,
que não são substituídos por novas formas de organização social. Estas localidades, que se
perdem no tempo e no espaço, estão e são cada vez mais excluídas dos mecanismos de
modernização e de urbanização. Todos esses fenómenos contribuem para a complexificação
das formas de urbanização das áreas rurais e para uma efectiva desconcentração dos focos de
urbanização, que tendem a proliferar e a penetrar nas várias zonas de cariz rural.

3. Conclusão
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Chegado a este ponto conclui-se que as aldeias mostram como as populações viveriam
organizadas para desenvolverem a produção colectiva, promovendo intercâmbio dos seus
conhecimentos. Este discurso referido na tomada de posse como Presidente da Republica,
Samora Machel em 1975, sustentava que era necessário que houvesse o sistema das Aldeias
Comunais. Desta forma, se pretendia que estas aldeias fossem acima de tudo, uma forma de
organiza a população dispersas das zonas rurais para que se estruturem em sociedade
revolucionária, organizada para desenvolver o trabalho colectivo, assim, promovendo o
intercâmbio dos conhecimentos nos trabalhadores. Assim sendo, as aldeias comunais, seria as
cidades do campo, uma forma de combater os vícios, o boato e a calúnia das cidades em
contrapondo com a pureza e o espírito de sacrifício dos camponeses. Esta estratégia constituía
o principal revelador das experiências teóricas e prática do desenvolvimento rural aprendida
pela FRELIMO durante a guerrilha.

A economia colonial sobreviveu durante muitos anos na base de uma dependência de dois
sistemas, o trabalho migratório e o trabalho e agricultura coercivos, mesmo depois da abolição
formal das culturas e do trabalho forçado.

4. Bibliografia
13

Albert Ad (Ed.). (2010). História Geral da África VII: África sob dominação colonial, 1880-
1935. Brasília: UNESCO.

Maffesoli, Michel. (2001) Sobre o nomadismo e outras vagabundagens pós-modernas. SP e


RJ: Ed Record.

Moçambique, Comissão das Aldeias Comunais, 1ªReunião nacional das aldeias comunais-
Resolução sobre questões sociais e culturais. Maputo, Arquivo Histórico de Moçambique,
Documento Avulso, 1980.

MOSCA, João (2005). Economia de Moçambique, Século XX. Lisboa: Instituto Piaget.

MOSCA, João (2011). Políticas Agrárias de (em) Moçambique, 1975-2009, Maputo: Editora
Escolar.

Valá, Salim. (2009) Desenvolvimento rural em Moçambique. Um desafio ao nosso alcance.


Maputo: Tipografia Peres.

Wuyts, Marc. (1978). Camponeses e Economia Rural em Moçambique. Estudos


Moçambicanos, Estudos Moçambicanos. n.° 1. Maputo, Centro de Estudos Africanos.

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