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Cametá – PA
2023
ALONSO JUNIOR SILVA DE FREITAS
BENEDITO PEREIRA DOS SANTOS
Cametá – PA
2023
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RESUMO
Este trabalho visou investigar a importância da associação de pescadores para a efetivação dos
direitos dos pescadores artesanais, com foco em identificar se os associados são ativos na
associação, compreender se os associados têm conhecimento de seus direitos enquanto
pescadores artesanais e analisar as atividades profissionais e sociais da associação. A
metodologia utilizada foi uma pesquisa de campo qualitativa e o tipo de pesquisa escolhido foi
uma pesquisa participante de caráter exploratório. Utilizou-se como instrumentos de pesquisa
as entrevistas com representantes e associados da associação. Constatou-se que a associação de
pescadores é essencial para que os pescadores a ela associados tenham os seus direitos
profissionais e trabalhistas efetivados. No entanto, a associação em estudo não promove os
esforços para que todos os direitos adquiridos por essa classe de trabalhadores sejam de fato
efetivados.
1 INTRODUÇÃO
A organização popular é um conceito que se refere à organização e participação ativa da
comunidade na busca por soluções para seus problemas e na defesa de seus interesses. Nesse
sentido, segundo Nogueira et al. (2008, p. 33), “as organizações populares baseadas na
associação de trabalhadores e na autogestão, buscam superar a exclusão, gerada pelo
capitalismo”. Além disso, elas se baseiam na participação ativa dos membros da organização e
na construção coletiva de conhecimento.
Destaca-se também que as organizações podem assumir diferentes formas e ter
diferentes focos de atuação, como associações de moradores, cooperativas, sindicatos, entre
outros.
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2 METODOLOGIA
2.1 LÓCUS DE PESQUISA
A pesquisa e o Estágio Obrigatório Supervisionado foram realizados na Associação de
Pescadores e Pescadoras Artesanais e Aquicultores do Rio Tambaí (ASPARTAM), que fica
localizada em Mocajuba-PA, com uma filial em Vila do Carmo do Tocantins, Cametá-PA.
O lócus da pesquisa e estágio é apenas a filial em Vila do Carmo, uma vez que, por vários
motivos, não foi possível visitar a sede da associação em Mocajuba.
É importante destacar que a pesquisa ocorreu no período entre 01 de março de 2023 e 15
de junho do mesmo ano. Já no que se refere ao estágio, começou dia 01 de março de 2023 e
terminou dia 24 de abril deste mesmo ano.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo o artigo 4º, incisos I e II, da Portaria SAP/MAPA Nº 265, de 29 de junho de
2021, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Secretaria de Aquicultura e da
Pesca,
Pescador profissional: Pessoa física, brasileira ou estrangeira residente no País que,
licenciada pelo órgão público competente, exerce a pesca com fins comerciais.
Pescador profissional artesanal: pessoa física que exerce a atividade de pesca
profissional com fins comerciais de forma autônoma ou em regime de economia
familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato de parceria, podendo
atuar de forma desembarcada ou utilizar embarcação de pesca com Arqueação Bruta
- AB menor ou igual a 20 (vinte);
No entanto, apesar da portaria citada acima, ainda não existe uma definição perfeita para
o termo “pescador artesanal”, conforme afirma o site do Governo Federal, na página do
Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. Segundo este órgão,
Basicamente, a pesca artesanal é uma atividade realizada por pessoas que vivem em
comunidades e que realizam pesca em pequena escala, sem visão comercial e/ou de
exportação de grandes proporções. Eles pescam apenas para o consumo da própria
família e para vendas locais. Os equipamentos utilizados por esses pescadores são de
baixo nível tecnológico como linhas, anzóis, varas de pesca, pequenas canoas ou
botes, tarrafas e redes” (BRASIL, 2022).
Mocajuba, Pará, que atua junto aos pescadores com o objetivo, segundo definido em seu
estatuto, de garantir com que esses sujeitos tenham pleno conhecimento de seus direitos e
deveres enquanto profissionais da pesca e, desse, modo, possam lutar para que seus direitos
sejam todos efetivados.
A associação possui um estatuto que rege os direitos e deveres dos coordenadores,
funcionários e associados. Se não há o cumprimento do estatuto, poderá haver penalidades para
quem descumpri-lo.
Nesse sentido, observou-se no período do estágio supervisionado que muitos associados
procuraram a associação com o intuito de receber o seguro defeso. Desse modo, a associação
exerce um papel fundamental na vida dos pescadores desta região, principalmente em relação
à efetivação dos direitos adquiridos por essa classe de trabalhadores.
Além disso, muitos associados não conhecem todos os seus direitos enquanto
pescadores; a maioria dessas pessoas se preocupa apenas em receber o seguro defeso. Nesse
sentido, é essencial que a associação promova encontros, reuniões e debates acerca dos direitos
de seus associados.
No entanto, na associação em que foi feito o estágio, nunca houve formações nesse
sentido. Isso se verifica na fala de um dos entrevistados: “Se ela já promoveu, eu não fui
comunicado, porque eu nunca ouvi dizer que foi feito isso”.
Isso é preocupante, tendo em vista que a associação é o meio pelo qual os pescadores
buscam garantir e efetivar seus direitos, a fim de possuírem melhores condições e mecanismos
para realizar suas atividades profissionais e, desse modo, adquirirem condições de vida
satisfatórios.
É importante salientar que nem todos os associados são ativos na associação, e isso se
verifica uma vez que eles procuram a associação apenas para a assinatura do recebimento do
seguro-defeso. Além disso, muitos estão apenas preocupados em receber esse recurso. Algo
ainda mais preocupante é que muitas pessoas se associam apenas e exclusivamente com o
intuito de receber o seguro defeso.
Para além disso, muitas pessoas que usufruem desse benefício não se enquadram nos
requisitos legais para o seu recebimento. Além do mais, algumas pessoas não são nem
pescadores e nunca exerceram essa profissão, mas mesmo assim conseguem ter esse benefício
deferido e, desse modo, usufruem desse recurso que, em primeiro lugar, é dinheiro público, e
deveria ser concedido apenas aos profissionais que a lei contempla.
De acordo com o art. 1º da lei nº. 10.779, de 25 de novembro de 2003,
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Além disso, conforme o parágrafo 1º, do mesmo artigo e da mesma lei, “considera-se
profissão habitual ou principal meio de vida a atividade exercida durante o período
compreendido entre o defeso anterior e o em curso, ou nos 12 (doze) meses imediatamente
anteriores ao do defeso em curso, o que for menor” (BRASIL, 2003).
Entretanto, percebe-se que esta lei é desobedecida em muitos casos. E, o que é mais
grave, não há ações efetivas para que essa prática seja abolida.
Segundo o que foi observado na associação, muitas pessoas, inclusive desta instituição,
recebem esse recurso indevidamente, o que prova que estas ações ainda ocorrem com muita
frequência.
Como consequência disso, as pessoas que têm o direito de receber o benefício do seguro-
defeso se sentem prejudicadas, haja vista que, quando os pescadores artesanais enviam seus
documentos para pedir o benefício, há muita demora na análise desse processo; isso acontece
devido à grande demanda de pedidos feitos para esse recurso.
Vale ressaltar que esse recurso é de grande importância para a economia local, uma vez
que os pescadores realizam suas compras no comércio local, o que proporciona que o dinheiro
circule entre os mesmos.
O mais aterrador é que algumas associações, inclusive aquela que é foco deste estudo,
compactuam com esse tipo de ilegalidade, tendo em vista que, mesmo a associação conhecedora
de que o sujeito não é pescador ou não cumpre os requisitos legais, mesmo assim ela faz com
que o sujeito se enquadre naqueles requisitos, agindo de má fé e cometendo fraude contra o
órgão responsável por conceder esse benefício e contra a sociedade.
Vale ressaltar ainda que a percepção que as pessoas e os associados dessa região têm
das associações de pescadores ainda é muito relacionado a receber recursos e benefícios do
governo, principalmente o seguro defeso. Isso se comprova na fala de um entrevistado, que
afirma que, na sua interpretação, a associação “é um órgão que tem bastante associados e dá
alguns documentos para os associados terem alguns direitos, como: auxílio maternidade, seguro
defeso, auxílio doença, etc.”.
Não se verifica na fala dos entrevistados, principalmente no que se refere à associação
ASPARTAM, objeto de estudo deste artigo, a atuação desta instituição para que haja formação,
atividades, dinâmicas e ações que favoreçam que os pescadores associados melhorem suas
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haver poucos funcionários, houve demora no atendimento das pessoas, o que às vezes
acarretava filas para que todos fossem atendidos.
Em vista disso, os estagiários ajudavam também no atendimento dessas pessoas, naquilo
que lhe competiam e conforme as demandas da associação. Ou seja, ajudavam a organizar as
filas para o atendimento, organização, impressão e xerox de documentos dos associados, além
de ajudar naquilo que associação solicitava.
Destaca-se que não houve nenhuma formação, palestra, oficina, reunião ou encontros
desse gênero na associação enquanto os estagiários estavam presentes na instituição, exceto o
que foi realizado por estes, como parte do projeto de intervenção exigido pelo curso superior
que eles fazem parte.
Diante dos fatos supracitados, compreende-se que este o estágio foi de grande
importância para os estagiários, principalmente em razão de poder entender como funciona uma
organização popular, suas dificuldades, progressos, projetos e potencialidades luta diária por
melhores condições de vida, de trabalho e dignidade para os sujeitos do campo.
O estágio possibilita também que, a partir do conhecimento de como atua uma
organização popular, os estagiários possam “trabalhar” futuramente nessa área, com o intuito
de não só olhar como uma possiblidade de atuação profissional, mas acima de tudo, se enxergar
como sujeitos do campo, que é afetado também pelas organizações populares e, por isso, devem
estar lado a lado com elas, com o intuito de que suas realidades e de outras pessoas também
possam ser transformadas e melhoradas.
depois de os presentes aprovarem a proposta, para traçar planos e estratégias para cumprir os
objetivos e, além disso, definir prazos para que isso pudesse começar a ocorrer.
Por fim, a associação, juntamente com os associados e os estagiários também
planejaram implantar uma feira em dias específicos, onde os produtos comercializados fossem
apenas de pescadores da associação.
As reuniões foram importantes para que os associados pudessem se fortalecer enquanto
organização popular, para conseguir superar desafios e suprir as necessidades que demandam a
atenção da instituição.
Vale mencionar que, mesmo não estando presentes todos os associados, depois de
muitos debates e ponderações não houve muitos avanços para que a atuação dos pescadores na
feira e mercado local pudessem ocorrer a curto prazo; no entanto, traçou-se estratégias para que
a longo prazo pudessem ser cumpridos esses objetivos.
Ressalta-se, entretanto, que os presentes comprometeram a implantar a feira dos
pescadores da associação, para que ocorra ocasionalmente até se tornar mais frequente ao longo
do tempo.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como se verificou ao logo da pesquisa, a associação de pescadores é essencial para que
os pescadores a ela associados tenham os seus direitos profissionais e trabalhistas efetivados.
Além disso, percebeu-se que os pescadores distantes de associações não conseguem atuar
ativamente na sociedade, enquanto sujeitos políticos e sociais.
Entretanto, a associação em estudo não promove os esforços para que todos os direitos
adquiridos por essa classe de trabalhadores sejam efetivados em sua forma plena, exceto quando
se trata do seguro defeso.
O estágio possibilitou que os estagiários pudessem conhecer de perto as lutas,
dificuldades e avanços das organizações populares ao longo dos anos e de sua importância para
a sociedade local e de todo o país.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Secretaria de Aquicultura e da
Pesca. Portaria SAP/MAPA Nº 265, de 29 de junho de 2021. Estabelece as normas, os critérios
e os procedimentos administrativos para inscrição de pessoas físicas no Registro Geral da
Atividade Pesqueira, na categoria de Pescador e Pescadora Profissional, e para a concessão da
Licença de Pescador e Pescadora Profissional. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF, n.º 121, 30 jun. 2021, Seção 1. p. 6.
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COTRIM, Décio Souza. Organização social e associativismo rural. In: GEHLEN, Ivaldo;
MOCELIN, Daniel Gustavo (org.). Organização social e movimentos sociais rurais [recurso
eletrônico]. SEAD/UFRGS, dados eletrônicos, 2. ed. rev. e ampl, Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2018. p. 55-63.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
ANEXOS