Você está na página 1de 15

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS/CUNTINS


FACULDADE DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO

ALONSO JUNIOR SILVA DE FREITAS


BENEDITO PEREIRA DOS SANTOS

A IMPORTÂNCIA DA ASSOCIAÇÃO DE PESCADORES PARA A EFETIVAÇÃO


DOS DIREITOS DOS PESCADORES ARTESANAIS

Cametá – PA
2023
ALONSO JUNIOR SILVA DE FREITAS
BENEDITO PEREIRA DOS SANTOS

A IMPORTÂNCIA DA ASSOCIAÇÃO DE PESCADORES PARA A EFETIVAÇÃO


DOS DIREITOS DOS PESCADORES ARTESANAIS

Trabalho apresentado como requisito de avaliação


parcial das disciplinas Estágio de Docência IV -
em Organizações Populares; Prática, Pesquisa
Socioeducacional IV e Seminário Integrador
(Tempo-Comunidade), da Faculdade de Educação
do Campo, Campus Universitário do
Tocantins/Cametá, da Universidade Federal do
Pará (UFPA).

Orientadores: Profa. Dra. Gisele do Socorro dos


Santos Pompeu e Profa. Dra. Jaomara Nascimento
da Silva.

Cametá – PA
2023
3

A IMPORTÂNCIA DA ASSOCIAÇÃO DE PESCADORES PARA A EFETIVAÇÃO


DOS DIREITOS DOS PESCADORES ARTESANAIS

Alonso Junior Silva de Freitas


Graduando do Curso de Licenciatura em Educação do Campo – UFPA – Fecampo.
E-mail: alonsojr444@gmail.com

Benedito Pereira dos Santos


Graduando do Curso de Licenciatura em Educação do Campo – UFPA – Fecampo.
E-mail: santosbenedito613@gmail.com

RESUMO
Este trabalho visou investigar a importância da associação de pescadores para a efetivação dos
direitos dos pescadores artesanais, com foco em identificar se os associados são ativos na
associação, compreender se os associados têm conhecimento de seus direitos enquanto
pescadores artesanais e analisar as atividades profissionais e sociais da associação. A
metodologia utilizada foi uma pesquisa de campo qualitativa e o tipo de pesquisa escolhido foi
uma pesquisa participante de caráter exploratório. Utilizou-se como instrumentos de pesquisa
as entrevistas com representantes e associados da associação. Constatou-se que a associação de
pescadores é essencial para que os pescadores a ela associados tenham os seus direitos
profissionais e trabalhistas efetivados. No entanto, a associação em estudo não promove os
esforços para que todos os direitos adquiridos por essa classe de trabalhadores sejam de fato
efetivados.

Palavras-chave: Organização popular; Efetivação; Direitos; Pescadores.

1 INTRODUÇÃO
A organização popular é um conceito que se refere à organização e participação ativa da
comunidade na busca por soluções para seus problemas e na defesa de seus interesses. Nesse
sentido, segundo Nogueira et al. (2008, p. 33), “as organizações populares baseadas na
associação de trabalhadores e na autogestão, buscam superar a exclusão, gerada pelo
capitalismo”. Além disso, elas se baseiam na participação ativa dos membros da organização e
na construção coletiva de conhecimento.
Destaca-se também que as organizações podem assumir diferentes formas e ter
diferentes focos de atuação, como associações de moradores, cooperativas, sindicatos, entre
outros.
4

Em vista disso, dentro dessas organizações populares existem as associações, que


consoante definido por Cotrim (2018 p. 56),

O conceito de associação refere-se a qualquer iniciativa – formal ou informal – de


reunião de pessoas com objetivos comuns, visando superar dificuldades e gerar
benefícios para seus associados. Essa união permite a construção de condições mais
amplas e melhores de chances de produção e/ou de oportunidades de renda do que as
que os indivíduos teriam isoladamente para a concretização de seus objetivos e de
seus interesses.

A partir disso, surgiram no decorrer do tempo várias associações e colônias de


pescadores, visando conquistar direitos e efetivar aqueles que já foram garantidos para essa
classe de trabalhadores.
Vale lembrar que a pesca sempre foi um meio exercido pelas populações tradicionais
como um instrumento de obtenção de alimentos e renda. Isso se verifica quando os primeiros
povos habitaram o Brasil, onde a caça e a pesca eram as principais atividades que eles
praticavam para conseguirem se alimentar.
Dada sua importância, muitas pessoas que vivem em comunidades ribeirinhas e
camponesas ainda utilizam essas práticas como principais fontes de alimentos e de renda. E no
que se refere somente à pesca, continua sendo uma atividade fundamental para esses povos nos
dias de hoje.
Por conta disso e tendo em vista que um grande número de pescadores não tem pleno
conhecimento sobre seus direitos e deveres enquanto pescadores artesanais, muitos se
organizam em associações, a fim de exercerem os direitos e deveres que cabem a essa classe de
trabalhadores. Daí a importância das associações de pescadores para a efetivação dos direitos
que os pescadores artesanais adquiriram para exercer a sua profissão.
Diante disso, a problemática de pesquisa foi a seguinte: Qual é a importância das
associações de pescadores para a efetivação dos direitos profissionais e trabalhistas dos
pescadores artesanais?
Para responder a esse questionamento, este trabalho visou analisar a importância das
associações de pescadores para a efetivação dos direitos trabalhistas dos pescadores artesanais,
com foco na Associação de Pescadores e Pescadoras Artesanais e Aquicultores do Rio Tambaí
(ASPARTAM), com sede em Mocajuba, PA, levando em conta identificar se os associados são
ativos na associação, compreender se os associados têm conhecimento de seus direitos enquanto
pescadores artesanais e analisar as atividades profissionais e sociais da associação.
5

Além disso, destaca-se que as experiências vivenciadas durante o estágio


supervisionado na associação de pescadores ASPARTAM também são foco deste artigo.

2 METODOLOGIA
2.1 LÓCUS DE PESQUISA
A pesquisa e o Estágio Obrigatório Supervisionado foram realizados na Associação de
Pescadores e Pescadoras Artesanais e Aquicultores do Rio Tambaí (ASPARTAM), que fica
localizada em Mocajuba-PA, com uma filial em Vila do Carmo do Tocantins, Cametá-PA.
O lócus da pesquisa e estágio é apenas a filial em Vila do Carmo, uma vez que, por vários
motivos, não foi possível visitar a sede da associação em Mocajuba.
É importante destacar que a pesquisa ocorreu no período entre 01 de março de 2023 e 15
de junho do mesmo ano. Já no que se refere ao estágio, começou dia 01 de março de 2023 e
terminou dia 24 de abril deste mesmo ano.

2.2 SUJEITOS DA PESQUISA


Os sujeitos participantes desta pesquisa foram a presidente e funcionários da associação
que trabalham na filial, além dos associados desta instituição também desse mesmo local.
Vale ressaltar que esses sujeitos, enquanto agentes políticos e sociais, são essenciais para
que haja uma sociedade mais digna para todos; e isso se verifica não só pela luta por melhores
condições de vida e de trabalho que é o foco da organização, mas também por assumirem como
papel o incentivo e motivação para que outras pessoas, de maneira semelhante, assumam
também parte nessa luta, a fim de que haja melhoria não só para essa classe de trabalhadores,
mas principalmente para toda a sociedade desta localidade.

2.3 TIPO E TÉCNICAS DE PESQUISA


Esta pesquisa foi um estudo de campo (GIL, 2008), onde os pesquisadores foram na
organização popular já citada para coletar as informações necessárias para alcançar os objetivos
propostos no início deste texto. Aliado a isso, a pesquisa foi qualitativa, tendo em vista que esta
abordagem de pesquisa “se desenvolve em uma situação natural, é rico em dados descritivos,
tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada”
(LÜDKE; ANDRÉ, 2012, p. 18).
Além disso, o tipo de pesquisa escolhido foi uma pesquisa participante de caráter
exploratório. Para Severino (2013, p. 107), “a pesquisa exploratória busca apenas levantar
6

informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando


as condições de manifestação desse objeto”.

2.4 INSTRUMENTOS DE PESQUISA


Como instrumentos de pesquisa, foram utilizadas entrevistas com a presidente da
organização popular e com os associados desta organização.
É importante destacar que todos os entrevistados estavam cientes do objetivo da
pesquisa e, desse modo, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando
os investigadores a utilizarem suas entrevistas.
Além disso, houve investigação em outras fontes como documentos, livros, artigos, sites
dos governos municipal, estadual e federal sobre o funcionamento de uma organização popular,
leis e diretrizes que devem ser seguidas.
Associado a isso, foi levado em conta também a observação dos pesquisadores, uma vez
que proporciona “a possibilidade de um contato pessoal do pesquisador com o objeto de
investigação, permitindo acompanhar as experiências diárias dos sujeitos e aprender os
significados que atribuem à realidade e às suas ações” (LIMA; ALMEIDA; LIMA, 1999, p.
131).

2.5 ANÁLISE DOS DADOS


A análise dos dados foi feita com base em autores que que estudam o tema proposto
neste texto. Outras pesquisas realizadas na área também foram importantes para esse estudo e
serviram de base para a análise dos dados. Além do mais, algumas legislações e documentos
vigentes também foram analisados para esse propósito.
Fundamentado nesses autores e estudos, os pesquisadores fizeram cruzamento de dados
entre as entrevistas, com o intuito de verificar em que as respostas dos entrevistados se
assemelham e em que se diferem. Desse modo, foi possível conhecer o número de associados
que fazem parte da organização popular que vivem em comunidades do campo e em que eles
trabalham,
Além disso, as observações dos pesquisadores também foram consideradas para a
análise dos dados, mais especificamente o que Correia (1999 apud MÓNICO et al., 2017, p.
725) considera como observação participante, onde, para ela,

é realizada em contacto direto, frequente e prolongado do investigador, com os atores


sociais, nos seus contextos culturais, sendo o próprio investigador instrumento de
pesquisa. Requer a necessidade de eliminar deformações subjetivas para que possa
7

haver a compreensão de factos e de interações entre sujeitos em observação, no seu


contexto. É por isso desejável que o investigador possa ter adquirido treino nas suas
habilidades e capacidades para utilizar a técnica.

A partir disso, a observação participante foi importante para que os pesquisadores


tivessem condições de analisar, a partir das entrevistas e da investigação no campo de pesquisa,
o que foi ou não importante para a pesquisa.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo o artigo 4º, incisos I e II, da Portaria SAP/MAPA Nº 265, de 29 de junho de
2021, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Secretaria de Aquicultura e da
Pesca,
Pescador profissional: Pessoa física, brasileira ou estrangeira residente no País que,
licenciada pelo órgão público competente, exerce a pesca com fins comerciais.
Pescador profissional artesanal: pessoa física que exerce a atividade de pesca
profissional com fins comerciais de forma autônoma ou em regime de economia
familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato de parceria, podendo
atuar de forma desembarcada ou utilizar embarcação de pesca com Arqueação Bruta
- AB menor ou igual a 20 (vinte);

No entanto, apesar da portaria citada acima, ainda não existe uma definição perfeita para
o termo “pescador artesanal”, conforme afirma o site do Governo Federal, na página do
Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. Segundo este órgão,

Basicamente, a pesca artesanal é uma atividade realizada por pessoas que vivem em
comunidades e que realizam pesca em pequena escala, sem visão comercial e/ou de
exportação de grandes proporções. Eles pescam apenas para o consumo da própria
família e para vendas locais. Os equipamentos utilizados por esses pescadores são de
baixo nível tecnológico como linhas, anzóis, varas de pesca, pequenas canoas ou
botes, tarrafas e redes” (BRASIL, 2022).

Além disso, de acordo com o chefe do Serviço de Controle e Monitoramento Estatístico


do DNOCS, Crisanto Lopes de Oliveira, citado por esse mesmo site, “esse tipo de pescador não
pesca em grande quantidade e não possui linha de produção, é algo artesanal mesmo, porque
eles não sabem qual peixe vão pescar no dia, pode ser tilápia, curimatã (...) pescam no açude
depois vendem o peixe para quem quer comprar (BRASIL, 2022).
Diante desse quadro e conforme os conceitos discutidos, a Associação de Pescadores e
Pescadoras Artesanais e Aquicultores do Rio Tambaí (ASPARTAM), do município de
Mocajuba, PA, fundada em 09 de setembro de 2016, é uma instituição jurídica de direito
privado, sem fins econômicos, sem distinção de cor, sexo, nacionalidade, profissão ou credo
político ou religioso, com prazo de duração indeterminado, com sede no município de
8

Mocajuba, Pará, que atua junto aos pescadores com o objetivo, segundo definido em seu
estatuto, de garantir com que esses sujeitos tenham pleno conhecimento de seus direitos e
deveres enquanto profissionais da pesca e, desse, modo, possam lutar para que seus direitos
sejam todos efetivados.
A associação possui um estatuto que rege os direitos e deveres dos coordenadores,
funcionários e associados. Se não há o cumprimento do estatuto, poderá haver penalidades para
quem descumpri-lo.
Nesse sentido, observou-se no período do estágio supervisionado que muitos associados
procuraram a associação com o intuito de receber o seguro defeso. Desse modo, a associação
exerce um papel fundamental na vida dos pescadores desta região, principalmente em relação
à efetivação dos direitos adquiridos por essa classe de trabalhadores.
Além disso, muitos associados não conhecem todos os seus direitos enquanto
pescadores; a maioria dessas pessoas se preocupa apenas em receber o seguro defeso. Nesse
sentido, é essencial que a associação promova encontros, reuniões e debates acerca dos direitos
de seus associados.
No entanto, na associação em que foi feito o estágio, nunca houve formações nesse
sentido. Isso se verifica na fala de um dos entrevistados: “Se ela já promoveu, eu não fui
comunicado, porque eu nunca ouvi dizer que foi feito isso”.
Isso é preocupante, tendo em vista que a associação é o meio pelo qual os pescadores
buscam garantir e efetivar seus direitos, a fim de possuírem melhores condições e mecanismos
para realizar suas atividades profissionais e, desse modo, adquirirem condições de vida
satisfatórios.
É importante salientar que nem todos os associados são ativos na associação, e isso se
verifica uma vez que eles procuram a associação apenas para a assinatura do recebimento do
seguro-defeso. Além disso, muitos estão apenas preocupados em receber esse recurso. Algo
ainda mais preocupante é que muitas pessoas se associam apenas e exclusivamente com o
intuito de receber o seguro defeso.
Para além disso, muitas pessoas que usufruem desse benefício não se enquadram nos
requisitos legais para o seu recebimento. Além do mais, algumas pessoas não são nem
pescadores e nunca exerceram essa profissão, mas mesmo assim conseguem ter esse benefício
deferido e, desse modo, usufruem desse recurso que, em primeiro lugar, é dinheiro público, e
deveria ser concedido apenas aos profissionais que a lei contempla.
De acordo com o art. 1º da lei nº. 10.779, de 25 de novembro de 2003,
9

O pescador artesanal [...] que exerça sua atividade profissional ininterruptamente, de


forma artesanal e individualmente ou em regime de economia familiar, fará jus ao
benefício do seguro-desemprego, no valor de 1 (um) salário-mínimo mensal, durante
o período de defeso de atividade pesqueira para a preservação da espécie (BRASIL,
2003).

Além disso, conforme o parágrafo 1º, do mesmo artigo e da mesma lei, “considera-se
profissão habitual ou principal meio de vida a atividade exercida durante o período
compreendido entre o defeso anterior e o em curso, ou nos 12 (doze) meses imediatamente
anteriores ao do defeso em curso, o que for menor” (BRASIL, 2003).
Entretanto, percebe-se que esta lei é desobedecida em muitos casos. E, o que é mais
grave, não há ações efetivas para que essa prática seja abolida.
Segundo o que foi observado na associação, muitas pessoas, inclusive desta instituição,
recebem esse recurso indevidamente, o que prova que estas ações ainda ocorrem com muita
frequência.
Como consequência disso, as pessoas que têm o direito de receber o benefício do seguro-
defeso se sentem prejudicadas, haja vista que, quando os pescadores artesanais enviam seus
documentos para pedir o benefício, há muita demora na análise desse processo; isso acontece
devido à grande demanda de pedidos feitos para esse recurso.
Vale ressaltar que esse recurso é de grande importância para a economia local, uma vez
que os pescadores realizam suas compras no comércio local, o que proporciona que o dinheiro
circule entre os mesmos.
O mais aterrador é que algumas associações, inclusive aquela que é foco deste estudo,
compactuam com esse tipo de ilegalidade, tendo em vista que, mesmo a associação conhecedora
de que o sujeito não é pescador ou não cumpre os requisitos legais, mesmo assim ela faz com
que o sujeito se enquadre naqueles requisitos, agindo de má fé e cometendo fraude contra o
órgão responsável por conceder esse benefício e contra a sociedade.
Vale ressaltar ainda que a percepção que as pessoas e os associados dessa região têm
das associações de pescadores ainda é muito relacionado a receber recursos e benefícios do
governo, principalmente o seguro defeso. Isso se comprova na fala de um entrevistado, que
afirma que, na sua interpretação, a associação “é um órgão que tem bastante associados e dá
alguns documentos para os associados terem alguns direitos, como: auxílio maternidade, seguro
defeso, auxílio doença, etc.”.
Não se verifica na fala dos entrevistados, principalmente no que se refere à associação
ASPARTAM, objeto de estudo deste artigo, a atuação desta instituição para que haja formação,
atividades, dinâmicas e ações que favoreçam que os pescadores associados melhorem suas
10

condições de trabalho e vida. Há, portanto, apenas a preocupação da instituição em conceder o


benefício do seguro defeso para seus associados, sem julgar se seus associados se enquadram
ou não nos requisitos legais para o recebimento desse recurso.
Percebe-se ainda pouco interesse da associação na formação social e política de seus
associados. Poucos associados, por desincentivo da associação, se preocupam com causas
sociais, na luta por melhorar a realidade em que vivem.
Segundo um dos entrevistados, a associação não incentiva seus associados a
permanecerem e transformarem suas comunidades. Há apenas o interesse de conceder
benefícios para os associados.
Existiu um projeto de implantar uma escola particular para a sociedade em geral, que
funcionaria com as séries iniciais e finais do ensino fundamental, além do ensino
profissionalizante de informática e de música, no qual a mesma funcionaria em uma filial da
associação. No entanto, apesar do projeto ter sido implantado, durou apenas poucos meses, por
falta de estrutura e planejamento da instituição.
Devido a isso, as partes social, política, educacional e ambiental da associação, que é
previsto em seu estatuto, não estão sendo cumpridos de forma plana. Nesse sentido, faz-se
necessário que a instituição faça campanhas para que seus associados tenham mais engajamento
e participação ativa dentro da mesma, uma vez que isso é fundamental para o pleno
funcionamento de uma organização popular.

3.1 VIVÊNCIA NO ESTÁGIO


No que tange ao estágio supervisionado, os estagiários foram bem recebidos pela
presidente da associação e seus funcionários.
A organização popular tem sede na cidade de Mocajuba-PA, na qual funciona na
residência da presidente da associação. Em Vila do Carmo, município de Cametá-PA, há uma
filial, que opera em prédio alugado. Essa filial foi implantada, tendo em vista a grande demanda
de pessoas que se associaram nessa vila e localidades vizinhas, daí a necessidade de haver um
prédio para o atendimento desse grupo de pessoas. Constatou-se, desse modo, que não há uma
grande estrutura física para o funcionamento da associação.
A estrutura de pessoal é composta de uma presidente e de alguns funcionários, que
auxiliam no atendimento das pessoas. Entretanto, há poucos funcionários que trabalham na
associação. Tanto na sede quanto na filial há apenas dois funcionários em cada.
O pouco número de funcionários acontece por motivos de que a associação não tem
estrutura financeira suficiente para custear o salário de muitos funcionários. E, por conta de
11

haver poucos funcionários, houve demora no atendimento das pessoas, o que às vezes
acarretava filas para que todos fossem atendidos.
Em vista disso, os estagiários ajudavam também no atendimento dessas pessoas, naquilo
que lhe competiam e conforme as demandas da associação. Ou seja, ajudavam a organizar as
filas para o atendimento, organização, impressão e xerox de documentos dos associados, além
de ajudar naquilo que associação solicitava.
Destaca-se que não houve nenhuma formação, palestra, oficina, reunião ou encontros
desse gênero na associação enquanto os estagiários estavam presentes na instituição, exceto o
que foi realizado por estes, como parte do projeto de intervenção exigido pelo curso superior
que eles fazem parte.
Diante dos fatos supracitados, compreende-se que este o estágio foi de grande
importância para os estagiários, principalmente em razão de poder entender como funciona uma
organização popular, suas dificuldades, progressos, projetos e potencialidades luta diária por
melhores condições de vida, de trabalho e dignidade para os sujeitos do campo.
O estágio possibilita também que, a partir do conhecimento de como atua uma
organização popular, os estagiários possam “trabalhar” futuramente nessa área, com o intuito
de não só olhar como uma possiblidade de atuação profissional, mas acima de tudo, se enxergar
como sujeitos do campo, que é afetado também pelas organizações populares e, por isso, devem
estar lado a lado com elas, com o intuito de que suas realidades e de outras pessoas também
possam ser transformadas e melhoradas.

3.2 PROJETO DE INTERVENÇÃO


O projeto de intervenção foi realizado na associação de pescadores ASPARTAM por
meio de reuniões com os coordenadores, funcionários e associados da instituição. As reuniões,
organizadas pelos estagiários, tinham como objetivo apresentar propostas à associação
ASPARTAM e seus associados, para que haja participação ativa dos pescadores artesanais dessa
instituição na feira, mercado e comércio de peixes e derivados da pesca na localidade de Vila
do Carmo do Tocantins.
A partir disso, foram realizadas três reuniões com esses sujeitos, a fim de que pudessem
apresentar propostas e traçar estratégias para que que o objetivo deste projeto fosse cumprido,
isto é, que os pescadores artesanais da associação obtivessem maior participação nas feiras e
mercados de peixes da vila.
Nesta lógica, a primeira reunião ocorreu com o intuito de apresentar a proposta e ouvir
o que os presentes pensam sobre o tema. Já a segunda e terceira reuniões foram utilizadas,
12

depois de os presentes aprovarem a proposta, para traçar planos e estratégias para cumprir os
objetivos e, além disso, definir prazos para que isso pudesse começar a ocorrer.
Por fim, a associação, juntamente com os associados e os estagiários também
planejaram implantar uma feira em dias específicos, onde os produtos comercializados fossem
apenas de pescadores da associação.
As reuniões foram importantes para que os associados pudessem se fortalecer enquanto
organização popular, para conseguir superar desafios e suprir as necessidades que demandam a
atenção da instituição.
Vale mencionar que, mesmo não estando presentes todos os associados, depois de
muitos debates e ponderações não houve muitos avanços para que a atuação dos pescadores na
feira e mercado local pudessem ocorrer a curto prazo; no entanto, traçou-se estratégias para que
a longo prazo pudessem ser cumpridos esses objetivos.
Ressalta-se, entretanto, que os presentes comprometeram a implantar a feira dos
pescadores da associação, para que ocorra ocasionalmente até se tornar mais frequente ao longo
do tempo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como se verificou ao logo da pesquisa, a associação de pescadores é essencial para que
os pescadores a ela associados tenham os seus direitos profissionais e trabalhistas efetivados.
Além disso, percebeu-se que os pescadores distantes de associações não conseguem atuar
ativamente na sociedade, enquanto sujeitos políticos e sociais.
Entretanto, a associação em estudo não promove os esforços para que todos os direitos
adquiridos por essa classe de trabalhadores sejam efetivados em sua forma plena, exceto quando
se trata do seguro defeso.
O estágio possibilitou que os estagiários pudessem conhecer de perto as lutas,
dificuldades e avanços das organizações populares ao longo dos anos e de sua importância para
a sociedade local e de todo o país.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Secretaria de Aquicultura e da
Pesca. Portaria SAP/MAPA Nº 265, de 29 de junho de 2021. Estabelece as normas, os critérios
e os procedimentos administrativos para inscrição de pessoas físicas no Registro Geral da
Atividade Pesqueira, na categoria de Pescador e Pescadora Profissional, e para a concessão da
Licença de Pescador e Pescadora Profissional. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF, n.º 121, 30 jun. 2021, Seção 1. p. 6.
13

BRASIL. Lei Nº 10.779, de 25 de novembro de 2003. Dispõe sobre a concessão do benefício


de seguro desemprego, durante o período de defeso, ao pescador profissional que exerce a
atividade pesqueira de forma artesanal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 nov. 2003.

BRASIL. Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. Pescadores artesanais:


conheça o trabalho desses profissionais que vivem da pesca e mantêm uma relação de
carinho com a natureza. Brasília, DF, 27 jul. 2022. Disponível em:
<https://www.gov.br/dnocs/pt-br/assuntos/noticias/pescadores-artesanais-conheca-o-trabalho-
desses-profissionais-que-vivem-da-pesca-e-mantem-uma-relacao-de-carinho-com-a-
natureza>. Acesso em: 15 jun. 2023.

COTRIM, Décio Souza. Organização social e associativismo rural. In: GEHLEN, Ivaldo;
MOCELIN, Daniel Gustavo (org.). Organização social e movimentos sociais rurais [recurso
eletrônico]. SEAD/UFRGS, dados eletrônicos, 2. ed. rev. e ampl, Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2018. p. 55-63.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

LIMA, M. A. D. S.; ALMEIDA, M. C. P.; LIMA, C. C. A utilização da observação participante


e da entrevista semi-estruturada na pesquisa em Enfermagem. Revista Gaúcha Enfermagem,
Porto Alegre, v. 20, n. esp., p. 130-142, 1999.

LÚDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.


São Pauto: E.P.U, 2012.

MÓNICO, L.; ALFERES, V.; PARREIRA, P.; CASTRO, P. A. A Observação Participante


enquanto metodologia de investigação qualitativa. Atas - Investigação Qualitativa em
Ciências Sociais, v. 3, p. 724-733, 04 jul. 2017.

NOGUEIRA, K. C. et al. Formação de organização popular, e os desafios da prática. Revista


Conexão UEPG, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, vol. 4, n. 1, 2008, p.
32-35.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico [livro eletrônico]. 1. ed.


São Paulo: Cortez, 2013.
14

ANEXOS

ANEXO A – Roteiro de entrevista semiestruturada com os associados da associação


ASPARTAM

1. Qual sua visão em relação à OP?


2. De que forma a OP vem atuando em prol dos associados e da comunidade em geral?
3. De que forma a OP ajuda na comercialização dos produtos oriundos da agricultura familiar?
4. A organização popular promove eventos de formação e informação sobre direitos e deveres
dos associados?
5. Qual seu entendimento sobre agroecologia?
6. A organização popular realiza ações educativas sobre a agroecologia com a comunidade?
7. A OP trabalha em uma perspectiva agroecológica?
8. Quais ações são desenvolvidas voltadas para a conscientização da preservação dos recursos
naturais?
9. A OP discute sobre segurança alimentar? Como se dá essa abordagem?
10. Qual a importância dos saberes tradicionais dentro da organização? De que maneira a OP
valoriza esses saberes?
11. Qual é a importância do recurso do seguro defeso para você se manter durante esse período
em que não pode haver pesca?
12. A OP incentiva os seus associados a permanecerem na comunidade?

ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após
ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine
ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador
responsável.
Desde logo fica garantido o sigilo das informações. Em caso de recusa você não será
penalizado(a) de forma alguma.

CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO

Eu, ____________________________________________________________, abaixo


assinado, concordo em participar do estudo __________________________________. Fui
devidamente informado e esclarecido pelo pesquisador responsável sobre a pesquisa, os
15

procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de


minha participação. Foi-me garantido o sigilo das informações e que posso retirar meu
consentimento a qualquer momento, sem que isto leve à qualquer penalidade ou interrupção de
meu acompanhamento/ assistência/tratamento.

Local e data _______________/_______/_______/__________

Assinatura do sujeito ou responsável:


___________________________________________

Você também pode gostar