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ISSN: 2525-8761
RESUMO
Este artigo objetiva apresentar o associativismo rural como uma realidade difundida entre
muitos agricultores rurais no município de Piracanjuba, Goiás. No Brasil por razões
diversas cada vez mais o associativismo se consolida como uma prática de organização
no campo, dentre elas: o papel das políticas públicas para o campo; a busca pela
sobrevivência e pela geração de renda. A participação destes agricultores, pequenos e
médios, em associações, cooperativas e sindicatos torna-se uma alternativa frente o
desigual e contraditório processo de acumulação capitalista. Metodologicamente o texto
se estrutura em três etapas: a primeira refere-se à discussão teórica sobre o associativismo
rural e seus fundamentos; a segunda etapa apresenta resultados parciais do associativismo
rural difundido neste município, com destaque para a Associação de Moradores da Areia
e; por fim, a terceira refere-se às considerações finais sobre o associativismo rural e sua
importância neste município. Contudo, as reflexões apresentadas visam abrir novos
caminhos para pesquisas sobre o associativismo rural como alternativa de
representatividade dos agricultores, principalmente os familiares, no município de
Piracanjuba.
ABSTRACT
This article presents the rural associations as a reality widespread among many rural
farmers in the municipality of Piracanjuba, Goiás in Brazil for several reasons more and
more associations established itself as a practical organization in the field, such as: the
role of public policies to the field; the search for survival and income generation. The
participation of these farmers, small and medium, associations, cooperatives and trade
unions becomes an alternative front uneven and contradictory process of capitalist
accumulation. Methodologically the text is structured in three stages: the first refers to
theoretical discussion on rural associations and their foundations; the second stage
presents results of the rural associations widespread in this city, especially the Residents
Association of Sand and; Finally, the third refers to the final considerations on rural
associations and their importance in this county. However, the reflections presented aim
to open new avenues for research on rural associations as an alternative representation of
farmers, particularly family in the municipality of Piracanjuba.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo principal apresentar o associativismo rural
como uma prática social difundida entre muitos agricultores familiares no município de
Piracanjuba, Goiás, que imbuídos de uma realidade perversa no campo, se organizam
coletivamente em busca de direitos e superação das condições de reprodução
socioeconômica.
Dessa maneira, no Brasil por razões diversas cada vez mais o associativismo rural
se consolida como uma prática de organização social e coletiva no campo. Dentre as
razões que induzem a união entre agricultores familiares tem-se: busca pelo acesso as
políticas públicas para o campo e luta pela sobrevivência e geração de renda na
propriedade. Assim, a participação dos agricultores rurais, pequenos e médios, em
associações, cooperativas e até sindicatos tem se tornado uma prática alternativa
recorrente, diante do imperativo da acumulação capitalista, que expropria e exclui aqueles
que não tem condições econômicas e infraestruturais para atuar no segmento produtivo.
A discussão teórico-conceitual sobre associativismo rural respalda-se em alguns
referenciais, tais como: Guimarães (2010), Sabourin (1999), Beserra (2013) e outros
mais. Nas análises sobre o município de Piracanjuba destacam-se: Silva e Estevam
(2013), Silva e Rezende (2010) e coleta de informações documentais sobre a Associação
dos Moradores da Areia, dentre outras.
Metodologicamente este texto se estrutura em três etapas distintas e articuladas
cientificamente: a primeira refere-se a reflexões teóricas sobre o associativismo,
associativismo rural e seus fundamentos, obtidas através de leituras realizadas na
disciplina Ambiente, Sociedade e Tecnologia que integra o Programa de Pós-Graduação
em Ambiente e Sociedade da UEG/Câmpus Morrinhos em 2014; a segunda etapa
apresenta as associações de moradores e/ou trabalhadores rurais de Piracanjuba focando
das associações reafirma o elo de sociabilidade humana, ou seja, "As associações somam
serviços, atividades e conhecimentos na busca de um mesmo conjunto de interesses e
podem ser formais, legalmente organizadas, ou informais, sem valor legal". (CIELO,
2009, p. 1).
O associativismo pode ser organizado também de maneira informal, via ajuda
mútua estabelecidas nas relações da comunidade, conforme afirma Sabourin, (1999, p. 2)
“O funcionamento das organizações informais vem do reconhecimento pelo grupo local
de regras transmitidas de uma geração a outra e garantidas pela autoridade dos chefes de
família”.
Portanto, considerando que o foco deste texto que é o associativismo rural,
principalmente aquele que se constitui a partir de ações coletivas de agricultores
familiares, ater-se-á na sequência sobre as concepções deste tipo de associativismo e
como os agricultores se organizam em prol de suas demandas.
Tendo em vista que as possibilidades das formas do associativismo se divide em
dois tipos: formal e informal, cabe dizer que o informal perfaz-se em ações temporárias,
organizadas por grupos sociais e realizadas de forma colaborativa entre os participantes
deste grupo social, as atividades envolve laços comunitários e de solidariedade entre os
envolvidos; já o associativismo formal se dá em torno de organizações sociais e civis que
possuem suas atividades legalizadas juridicamente (PAIS, 2009).
Dessa maneira, uma das práticas comum do associativismo informal no campo,
ocorre por meio da realização de mutirão e de troca de dias de serviço. O mutirão é
promovido eventualmente, a convite do interessado ou por iniciativa de liderança da
comunidade objetivando a realização de diversas formas de trabalho não remunerado.
Assim,
O termo mutirão pode designar dois tipos de ajuda mútua: uma tema ver com
os bens comuns e coletivos (construção ou manutenção de estradas, escolas,
barragens, cisternas); a outra com os convites de trabalho em benefício de uma
família, geralmente, para trabalhos pesados (desmatar uma parcela, fazer uma
cerca, construir uma casa [...] (SABOURIN, 1999, p.3, destaque do autor).
Essa união é importante, pois é uma estratégia que contribui para uma maior
inserção dos produtos agrícolas no mercado, como é o caso de Rio Verde, Goiás em que
a expansão da produção agrícola e processo de agroindustrialização permitiram a atuação
de associações e cooperativas de pequenos produtores agrícolas.
Muitos produtores se uniram e fundaram associações e cooperativas a fim de
organizar o processo de produção agrícola e assim conseguir serem fornecedores das
agroindústrias sediadas neste município, conforme afirma Guimarães (2010, p. 134):
processo orgânico do associativismo rural, conforme afirma Beserra (2013, p. 9): "A
discussão coloca em evidência o significado estratégico das associações para a
sustentabilidade das propostas do governo, aparecendo como suporte necessário nos
programas de combate à pobreza rural".
Contudo, é preciso destacar que a prática do associativismo rural não perfaz
homogeneamente no território nacional, alguns grupos sociais presentes em algumas
regiões agrícolas, devido as condições políticas e de acesso à informações conseguem se
organizarem melhor. Nessa condição, o município de Piracanjuba, Goiás possui uma
eminência para a organização associativa, notadamente de agricultores familiares,
conforme tratar-se-á na sequência.
1
Associação dos Moradores da Serra Negra e Região (AMSENE); Associação dos Moradores do Vale do
Rochedinho (AMOVAR); Associação dos Produtores da região São Mateus (ASMAT); Associação dos
Salário médio mensal das fundações privadas e associações sem fins 1,7 salários mínimos
lucrativos
Fonte: IBGE (2015) Org. AMORIM, R. F. de. 2015.
adjacências, cujas regiões estão situadas nos municípios de Piracanjuba, Bela Vista de
Goiás e Hidrolândia.
A AMAR inicia suas atividades em 1988 com apenas 20 associados, cuja sede
provisória localizava-se junto a venda do Barracão (pertencente ao senhor João Beraba),
na fazenda Areia, mas em 1989 constrói sua sede definitiva.
A AMAR recebeu a doação de um terreno, concedido pelo senhor Maurício
Barbosa com área total de 9.009,95 m², sendo 6.759,95 m², no qual deveria ser construída
sua sede definitiva. Em1989, por meio de mutirão - um tipo de associativismo informal -
envolvendo os associados e a comunidade representativa, construíram a sonhada sede
definitiva.
Da área desse terreno, 1.050 m² fora reservado à Prefeitura Municipal de
Piracanjuba para a construção de uma escola, também construída em regime de mutirão,
cuja denominação é Escola Municipal de Educação Básica Urbano Pedro Guimarães2. O
restante do terreno, 1.200 m² foi destinado para a instalação pela TELEGOIÁS de uma
torre telefônica destinada para uso da AMAR e da comunidade local (MAPA DA
FAZENDA AREIA, 1994).
Os objetivos que fundamentam essa associação são de caráter reivindicatórios da
coletividade que a compõe, dentre eles destacam-se: 1) defesa dos interesses coletivos
dos moradores; 2) busca por meios legais da promoção do bem social; 3) reivindicação
junto aos órgãos competentes melhoria para os moradores; 4) promoção de atividades
culturais, esportivas, sociais e recreativas para os moradores e seus dependentes; 5)
prestação de assistência médico-odontológico e educacional gratuita (GOIÁS, 1988, p.
14).
Atualmente, a AMAR conta com sede própria e está em pleno funcionamento,
possuindo 120 associados. Tem desempenhado papel importante através da prestação de
relevantes serviços comunitários aos seus associados e a comunidade em geral nas suas
diversas áreas de atuação. Conforme informações contidas no Jornal da AMAR (1992)
dentre os serviços prestados, destacam-se os mais importantes:
2
Objeto de estudo deste pós-graduando junto ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Sociedade-
UEG/Câmpus Morrinhos.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constata-se que o associativismo é uma realidade difundida no município de
Piracanjuba, por razões diversas cada vez mais se consolida como prática de organização
coletiva no campo, caso comprovado pela existência das 14 associações representativas
de produtores agrícolas.
A AMAR, associação pesquisada, denota a importância do associativismo rural
na organização coletiva e na adoção de medidas e ações voltadas para beneficiar a
comunidade que representa. O papel da AMAR em Piracanjuba mostra que a união entre
os produtores via associações específicas constitui-se em uma alternativa de
sobrevivência e de geração de renda aos produtores rurais, em especial dos pequenos e
médios, frente a avassaladora sede de acumulação do capitalismo, que entre os seus
desdobramentos, expropria e exclui aqueles que não tem perfil econômico para atuar no
segmento produtivo conforme as exigências de elevados investimentos em tecnologia,
implementos e insumos.
Dessa forma, o associativismo rural torna-se de um lado, uma alternativa em busca
de superar parte dessas dificuldade e da exclusão estrutural do processo de produção no
campo, mas por outro, é um mecanismo que tem contribuído de forma expressiva às
comunidade camponesas em conseguir representatividade legítima e por meio dela
reivindicarem e ter acesso aos serviços públicos e as políticas públicas assegurando
direitos de cidadania, benefícios que lhes são negados no exercício da ação
individualizada.
No Brasil e em especial no estado de Goiás necessita, assim como seus
municípios, dado a vocação econômica, de ações estatais mais contundente de forma a
instituir políticas públicas com interface nos três níveis de governo para a difusão do
associativismo rural, como alternativa de melhorar as condições de vida e de produção
no campo, haja visto a desigual distribuição de renda, o persistente alto índice de pobreza
e a elevada taxa de analfabetismo entre os agricultores rurais.
Dessa forma, viabilizar a intensificação do associativismo como instrumento de
inclusão social e não como prática assistencialista e clientelista dos ditos programas de
distribuição de renda implantados no e para o campo. No combate da pobreza no campo
o Estado necessita instituir políticas públicas de formação profissional e de geração de
renda por meio do estímulo ao empreendedorismo ligado a vocação regional produtiva.
Portanto, o presente artigo almejou apontar a importância do associativismo rural
para a sociedade campesina, através de ações coletivas respaldadas por associações, cujas
REFERÊNCIAS
CIELO, Ivanete Daga; et al. Associativismo: união de pessoas por um objetivo comum.
Projeto Gerart 2009. Governo do Paraná, 2009. 11p. Disponível em:
<http://projetos.unioeste.br/projetos/gerart/apostilas/apostila2.pdf.>. Acesso em: 05 jan.
2015.
GOIÁS. Estatuto da Associação dos Moradores da Areia - Amar. In: Diário Oficial
do Estado de Goiás, nº 15.493, de 13 de julho de 1988.
SILVA, Margot Riemann Costa; ESTEVAM, Luis Antônio. O esvaziamento das regiões
rurais: o caso da bacia leiteira de Piracanjuba-GO (2000-2010). REDES - Rev. Des.
Regional, Santa Cruz do Sul, v. 18, n. 3, p. 62 - 81, set/dez 2013. Disponível em:
<http://online.unisc.br/seer/index.php/redes/article/view/3383.>. Acesso em: 05 jan.
2015.