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RESUMO ABSTRACT
Este texto é resultado de trabalho de pesquisa teórica e empírica This text is the result of a theoretical and empirical research which
cuja finalidade foi investigar acerca dos elementos que constituem a objectived to investigate the elements that constitutes the origin and
origem e a evolução do cooperativismo no mundo e no Brasil e mostrar evolution of cooperativism around the world and in Brazil and also
sua contribuição para subsidiar a constituição do segmento shows its contribution to the Brazilian educational segment. It has a
educacional brasileiro. Está formado por uma parte específica e detailed and specific part that concerns about the birth of
detalhada a respeito do nascimento do cooperativismo no universo;
cooperativism; another point describes cooperativism practice in
outra parte descreve acerca de sua prática no Brasil, com destaque
Brazil, which prominences its legalization process such as the
para o processo de sua legalização em território brasileiro e a instituição
institution of a national politic of cooperativism, stimulating the
de uma política nacional de cooperativismo, incentivando o surgimento
de diversas modalidades de cooperativas. O texto é, ao mesmo tempo, appeareance of many segments of cooperatives. The text is, at the
informativo, crítico e esclarecedor de como essa política foi ganhando same time, informative, critical and enlightening, about how this politic
corpo e espaço no aspecto jurídico-legal brasileiro para embasar became powerful in the Brazilian judicial-legal aspect to embase a lot
diversas experiências que foram gestadas com base na legislação of experiences based on the pertinent legislation, inclusively the ones
pertinente, inclusive aquela ligada à educação formal. linked to formal education.
Palavras-chave: Brasil, cooperativismo, mundo, origem, educacional Key words: Brazil, cooperativism, world, origin, educational
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Encontrou-se uma divergência de gênero no que respeita à composição dos membros da cooperativa rochdaleana, pois existem publicações que
fazem referência a 27 tecelões e uma tecelã. Ao aprofundar-se a pesquisa nesse particular, foram encontrados os nomes dos Pioneiros de
Rochdale, que são: Benjamin Jordan, Benjamin Rudman, Charles Howarth (secretário e principal redator dos princípios rochdaleanos), David
Brooks, George Healey, James Bamford, James Daly (secretário), James Maden, James Manock, James Smithies, James Standrind, James
Tweedale, James Wilkinson, John Bent, John Collier, John Garsid, John Hill, John Holt (tesoureiro), John Kershaw, John Sconcroft, Joseph Smith,
Miles Ashworth (presidente), Robert Taylor, Samuel Ashworth, Samuel Tweedale, William Cooper, William Mallalieu e William Taylor. Pelos nomes
encontrados, tudo indica não haver uma mulher na composição da cooperativa, a menos que haja um homônimo tanto para o sexo masculino
quanto para o feminino. O secretário Charles Howarth, segundo Thenório Filho (1999), também foi considerado o autor da seguinte proposta:
distribuição dos lucros entre os associados, na proporção das compras feitas por cada um deles.
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Intelectuais considerados os precursores do cooperativismo organizado, que defendiam o ideal de justiça, fraternidade e liberdade, elementos
que passaram mais tarde a constituir os princípios cooperativistas: Charles Fourier, Charles Gide, Felipe Buchez, George Jacob Holyoake, John
Bellers, Louis Blanc, Pierre Joseph Proudhon, Robert Owen, William King e William Thompson.
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cooperados; em 1857, esse número aumen- ro serem necessárias, também, mudanças ge-
tou para 1.850 sócios; e em 1867, o total qua- rais da sociedade, por intermédio das forças
se triplicou e chegou a 5.300 associados. políticas organizadas, requerendo, ainda mais,
Fora do âmbito do quadro social da Co- a difusão e a aplicação dos princípios coope-
operativa dos Pioneiros de Rochdale, dados rativos. Assim sendo, a criação de mais e mais
numéricos mostraram também uma evolução cooperativas torna-se imperativo para contri-
quantitativa muita rápida do cooperativismo buir com o processo de transformação da so-
na Inglaterra, ficando patente que a iniciativa ciedade capitalista.
não agradou as classes dominantes da época, Sendo verdade que na Inglaterra a evo-
mas incentivou outros trabalhadores ingleses lução do cooperativismo não contribuiu para
que se encontravam em situações análogas superar o capitalismo, é mais verdadeiro que
de sobrevivência aos pioneiros de Rochdale, tal experiência colaborou para mudar a sua
pois a experiência contribuiu sobremaneira face, tendo em vista que, a partir de então, o
para influenciá-los fortemente a constituir gru- movimento passou a ter peso na economia
pos que organizaram várias sociedades coo- inglesa, no que respeita ao abastecimento do
perativas. O fato é que, a partir de 1860, país com produtos de primeira necessidade e
muitas cooperativas de consumo foram cons- na definição da política de preços, assim como
tituídas no território inglês, somando cerca de na modernização do comércio. Mas a conse-
500 unidades em 1864 e, 37 anos mais tarde, qüência considerada mais importante e pro-
ou seja, no ano de 1881, chegou a um total porcionada pelo movimento cooperativista
de 1.000 sociedades e 550 mil associados. inglês, sem dúvida, com base no know how
Desde essa época, o ideal cooperativista que essa experiência possibilitou, foi a parti-
se propagou por todos os continentes e até cipação política dos operários no processo de
mesmo em países socialistas, nos quais os tra- formação do Partido Trabalhista inglês.
balhadores eram separados do seu meio de Recorrendo a estudos publicados refe-
produção. Tal doutrina passou a ser reconhe- rentes ao cooperativismo, pôde-se observar
cida e aceita, se apresentando como forma que, segundo o trabalho organizado por
de organização do trabalho e de atendimento Sandroni (1994), são significativas contribui-
de necessidades e interesses das pessoas, ain- ções as formulações teóricas de Beatrice Potter
da que não tenha proporcionado a supera- Webb e de Charles Gide em trabalhos que
ção ou a transformação de qualquer sistema discutem o movimento cooperativista euro-
econômico. peu. Esses trabalhos mostraram que, com o
Nesse sentido, considera-se importante avançar dos anos, e em função de mudanças
registrar que Marx (1866), ao manifestar o seu políticas e econômicas ocorridas naquele con-
pensamento acerca do cooperativismo, elabo- tinente, o conteúdo socialista que deu origem,
rou um fundamento que o enaltece, afirman- forma e vida ao cooperativismo adquiriu ou-
do: “reconhecemos o movimento cooperati- tras características, sendo substituído por pro-
vo como uma das forças transformadoras da postas mais atenuadas de reforma social. As-
sociedade atual, baseada no antagonismo das sim sendo, Beatrice Potter Webb desenvolveu
classes” (MARX et alii [tradução de NAMO- um estudo específico a respeito do
RADO], 1973, p. 21). Mas consciente das li- cooperativismo na Grã Bretanha5 e Charles
mitações dessa forma de organização, concluiu Gide sistematizou a doutrina cooperativista
que “o sistema cooperativo é impotente para universal por meio de diversos escritos6.
transformar por si só a sociedade capitalista” Mas, a partir da experiência européia, a
(Idem, p. 22). Portanto, deixou bastante cla- proposta educativa de organização dos traba-
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The Co-operative Movement in Great Britain, 1891.
6
De la coopération et des transformation qu’elle est appellée a realizer dans l’ordre économique, 1889; Les associations coopératives de production
en France, 1900; La coopération, 1900; Les societés coopérative de consommation, 1917; Le coopérativisme, 1929; Le programme coopératiste,
1930; e Théoricien de la coopération, 1932.
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Os defensores e participantes do cooperativismo fundaram, em 1895, a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), que está sediada em Londres e é
a grande incentivadora do cooperativismo mundial.
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Os iniciadores do cooperativismo acreditavam e defendiam os valores éticos da honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação
pelo seu semelhante.
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cooperativismo; e preocupação com a comu- constituíam a base fundamental da ação dos
nidade – como prestadoras de serviços, as padres jesuítas durante o processo de
cooperativas devem realizar seus programas catequização do gentio no Brasil.
sócio-culturais de modo que, além de favore- Mas foi no final do século XIX que sur-
cer seus cooperados, promovam também o giu no Brasil o cooperativismo propriamente
bem-estar de suas comunidades. dito, em uma economia predominantemente
Em nível internacional, as primeiras co- agroexportadora, como uma prática imposta
operativas criadas estão também ligadas ao e promovida pelas elites políticas e econômi-
cooperativismo de consumo. Em 1998, aque- cas brasileiras, localizando-se sobretudo na
las desse ramo, localizadas em vários países zona rural do País. Diferentemente do euro-
do continente europeu, com a finalidade de peu, o movimento cooperativista brasileiro
superarem dificuldades oriundas do processo teve sua origem, basicamente no Nordeste,
de globalização da economia, reuniram-se em adotado como uma política de controle social
uma central única de compras para a aquisi- desenvolvida pelo Estado e, por isso com um
ção de mercadorias em quantidade suficiente exercício fortemente caracterizado pela inter-
para serem repassadas com qualidade e pre- venção estatal. Ou seja, inicialmente, não se
ços acessíveis aos cooperados. Esse dado apresentou como busca de alternativa econô-
mostra que, mesmo com a organização dos mica e social para solucionar problemas de
trabalhadores em cooperativas, os problemas sobrevivência dos trabalhadores ou como ins-
não são de todo superados, pois a ordem eco- trumento de mudança social da população,
nômica mundial impõe situações que obriga muito menos de superação do modo de pro-
os cooperados a buscarem outras saídas, tan- dução e de transformação da economia bra-
to agregadas ao cooperativismo quanto fora sileira.
deste.
O cooperativismo no Brasil, sendo niti-
Portanto, na Europa, o movimento damente expressão de uma fórmula importa-
cooperativista, que teve o seu nascimento da para ser adaptada aos interesses das elites
naquele continente, iniciado com característi- políticas e agrárias do País, não possui sua
ca e expressão predominantemente urbanas, origem, portanto, nas lutas do movimento
mesmo com grande aceitação e expansão, operário brasileiro. Mas, à medida que foi se
inclusive para outras partes do mundo, não desenvolvendo passou a constituir-se possibi-
está imune às vicissitudes impostas pelo pro- lidade de organização social e de alternativa
cesso de globalização da economia, tendo que econômica dos trabalhadores brasileiros que
se adequar para sobreviver. começaram a fundar cooperativas em 1847.
Seu nascimento no País se caracteriza muito
O Cooperativismo no Brasil mais como cooperativismo de serviços do que
propriamente de produção. Com o tempo,
As primeiras indicações históricas da pre- ganhou importância no cenário político e eco-
sença de idéias cooperativistas no Brasil, mes- nômico nacionais sendo regulamentado pelo
mo sem a organização que o cooperativismo governo federal e, posteriormente constituiu-
apresenta atualmente, remontam a 1610, se em ‘política nacional de cooperativismo’,
quando os jesuítas iniciaram a construção de regulamentada legalmente desde o final de
um modelo de sociedade solidária, fundamen- 1971 pela Lei n. 5.764 e representada
tado no trabalho coletivo, que valorizava o institucionalmente pela Organização das Co-
bem-estar do indivíduo e da família em detri- operativas Brasileiras (OCB), sediada em
mento do interesse econômico de produção. Brasília–DF.
A persuasão aliada ao amor cristão e ao prin- Estudos acerca do cooperativismo bra-
cípio do auxílio mútuo, prática antiga da hu- sileiro mostraram que existe significativo vo-
manidade desde os povos primitivos, encon- lume de informações quanto à sua evolução,
trada, também, junto aos índios brasileiros, dispersas em diferentes publicações, muitas
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vezes apresentando antagonismos entre si. Empregados e Operários da Fábrica de Teci-
Silva (1992), por exemplo, afirmou no sua dos da Gávea, no Rio de Janeiro e a Coope-
obra que, exatamente três anos depois dos rativa de Consumo dos Empregados da Via-
Pioneiros de Rochdale – Inglaterra, foi criada ção Férrea (Coopfer), em Santa Maria, RS –
a primeira cooperativa brasileira, a Colônia 1913; esta última foi pioneira em possuir di-
Tereza Cristina, em 1847, no interior do versas iniciativas de cunho social, considera-
Paraná, pelo médico francês Jean Maurice da à época, a maior cooperativa de consumo
Faivre e um grupo de europeus que ali residi- da América Latina.
am, de breve existência mas de significativa Outros acontecimentos históricos ocor-
contribuição coletiva para a formação do reram desde a origem do cooperativismo bra-
cooperativismo no Brasil. Para Schneider sileiro, valiosos pelos subsídios que apresen-
(1982), o cooperativismo brasileiro teve sua taram e igualmente importantes para conhe-
origem e iniciou suas atividades em 1891, com cimento da temática, dentre os quais, no pla-
a fundação da Associação Cooperativa Inter- no organizacional podem ainda ser citados:
nacional da Companhia Telefônica de Limei- criação da Seção de Crédito Agrícola no Mi-
ra, primeira cooperativa de consumo, em Li- nistério da Agricultura, cuja finalidade foi tra-
meira–SP. balhar junto às cooperativas; aperfeiçoamen-
Analisando os trabalhos dos dois auto- to e consolidação da legislação cooperativista;
res, pôde-se constatar que, com relação à ori- criação da Caixa de Crédito Cooperativo, em
gem do cooperativismo no Brasil, há discre- 1943, empresa bancária que antecedeu ao
pância no que respeita à criação da primeira Banco Nacional de Crédito Cooperativo S. A.
cooperativa brasileira e ao ano em que foi (BNCC); criação do Banco Nacional de Cré-
fundada. Isto é, pelo estudo de Silva, reforça- dito Cooperativo S. A., em 1951, instituição
do com um trabalho publicado pela Organi- financeira especial que tinha a finalidade de
zação das Cooperativas Brasileiras (1996c), o estimular e apoiar os diversos projetos liga-
cooperativismo brasileiro surgiu mesmo, ofi- dos ao cooperativismo brasileiro, por meio da
cialmente, em 1847, no Paraná. É possível concessão de financiamentos, assim como
igualmente compreender por meio do estudo abrir linhas de crédito às cooperativas para
da OCB, que corrobora a afirmação de que pudessem desenvolver as suas atividades,
Schneider no que concerne à data, que a co- sendo extinto, em 1990, pelo então presiden-
operativa limeirense não é a primeira do País, te Fernando Collor.
pois foi criada somente em 1891, portanto, Prosseguindo no plano organizacional,
44 anos após a fundação da cooperativa podem ser citados também: instituição do
paranaense. Afora essa discrepância relativa Fundo Nacional de Cooperativismo
ao início oficial do cooperativismo nacional, (Funacoop), em 1966, com recursos do Mi-
os dois estudos coincidem nos demais acon- nistério da Agricultura, sediado junto ao ex-
tecimentos históricos referentes à sua evolu- tinto BNCC e destinado a prover recursos para
ção no Brasil. apoiar o movimento cooperativista nacional;
A partir de 1891 foram criadas outras criação do Conselho Nacional de
cooperativas no território nacional, de traba- Cooperativismo (CNC), em 1967, junto ao
lhadores brasileiros, descrevendo-se como as Instituto Nacional de Colonização e Reforma
mais antigas, as seguintes: Cooperativa Mili- Agrária (Incra), com autonomia administrati-
tar de Consumo, no Rio de Janeiro, antigo va e financeira que, a partir da edição da Lei
Distrito Federal – 1894; Cooperativa de Con- n. 5.764/71 passou a ser responsável pela
sumo de Camaragibe, PE – 1895; Coopera- aprovação de resoluções, que regulamenta-
tiva de Consumo dos Empregados da Com- vam e orientavam a política nacional de
panhia Paulista de Estrada de Ferro, em Cam- cooperativismo, sendo também extinto no
pinas, SP – 1897; Cooperativa de Consumo então governo Collor; criação da União Naci-
dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, em onal das Associações Cooperativas (Unasco)
Ouro Preto, MG – 1898; e Cooperativa dos e da Aliança Brasileira de Cooperativas
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(Abcoop), ambas fundidas em 02 de dezem- de junho de 1926, tratavam das Caixas Ru-
bro de 1969, no IV Congresso Brasileiro de rais Raiffeisen 10 e dos Bancos Populares
Cooperativismo, em Belo Horizonte, MG, para Luzzatti11, instituições financeiras criadas es-
constituir a Organização das Cooperativas pecificamente para financiar cooperativas; De-
Brasileiras (OCB), entidade de representação creto n. 22.239, de 19 de dezembro de 1932,
legal e nacional do sistema cooperativista e conhecido no Brasil como ‘Primeira Lei
órgão técnico-consultivo do governo federal, Rochdaleana’, dispôs acerca das característi-
que congregou as Organizações das Coope- cas e formas de organização e de funciona-
rativas Estaduais (OCEs), sediadas nos vários mento das cooperativas segundo os princípi-
estados brasileiros. os dos Pioneiros de Rochdale e consagrou os
A incorporação da Cooperativa de Con- postulados do sistema cooperativista; foi re-
sumo do Grande ABC pela Cooperativa de vogado em 1934, restabelecido em 1938, re-
Consumo da Rhodia, São Paulo, em 01 de abril vogado novamente em 1943 e reeditado em
de 1991, considerada a maior cooperativa bra- 1945, vigorando até 1966; Decreto n. 24.647,
sileira em dezembro de 1997, ocasião em que de 1934, dispôs acerca do cooperativismo sin-
possuía 535 mil cooperados ativos, a criação e dicalista12; Decreto-Lei n. 8.401, de 19 de de-
funcionamento do Banco Cooperativo do Bra- zembro de 1945, determinou que a fiscaliza-
sil S. A. (Bancoob), em 21 de julho de 1997, ção das cooperativas em geral era competên-
com sede em Brasília, DF e a realização do XI cia do Serviço de Economia Rural (SER), do
Congresso Brasileiro de Cooperativismo, no Ministério de Agricultura; Decreto n. 41.872,
período de 05 a 07 de setembro de 1997, que de 16 de julho de 1957, determinou que as
reafirmou a unicidade do Sistema OCB são cooperativas de crédito e aquelas com seção
fatos históricos relevantes que completam a de crédito, além de serem fiscalizadas pelo
organização aqui referida. SER, sujeitar-se-iam também à fiscalização da
Historicamente também, no plano da re- Superintendência da Moeda e do Crédito
gulamentação para o funcionamento do (Sumoc), do Ministério da Fazenda.
cooperativismo brasileiro, o poder público A partir da década de 60 e em virtude
sancionou vasta legislação desde 1903, estan- de mudanças que começaram a ocorrer na
do boa parte sobrestada e substituída por no- sociedade brasileira, o cooperativismo conti-
vas leis, decretos etc., tendo em vista a neces- nuou em processo de regulamentação, sendo
sidade de organização do movimento aprovado o seguinte: Lei n. 4.595, de 31 de
cooperativista face às mudanças ocorridas na dezembro de 1964, procedeu à reforma ban-
sociedade brasileira. Assim foram aprovados: cária daquele ano, definiu a estrutura do Sis-
Decreto n. 799, de 06 de janeiro de 1903, tema Financeiro Nacional, criou o Conselho
primeiro que mencionou o cooperativismo Monetário Nacional (CMN) e o Banco Cen-
inserindo-o no contexto legal brasileiro e per- tral da República do Brasil, posteriormente
mitia aos sindicatos e às cooperativas de pro- denominado Banco Central do Brasil (Bacen),
dução e de consumo organizarem caixas ru- que passou a ter como uma de suas atribui-
rais de crédito; Decreto n. 1.637, de 05 de ções a normatização e a fiscalização das coo-
janeiro de 1907, reconheceu a utilidade das perativas de crédito; Decreto-Lei n. 59, de 21
cooperativas sem forma jurídica distinta de de novembro de 1966, revogou o Decreto n.
outras empresas; Lei n. 4.948, de 21 de de- 22.239/32, e criou o Funacoop e o CNC; De-
zembro de 1925 e Decreto n. 17.339, de 02 creto n. 60.597, de 19 de abril de 1967, regu-
10
Homenagem a Friedrich Wilhelm Raiffeisen, ex-prefeito de uma pequena comunidade rural da Alemanha no século XIX e idealizador do modelo
alemão de cooperativas de crédito transplantado para ao Brasil, cuja concepção básica de cooperativismo se estruturou por meio de três princí-
pios: auto-ajuda, autogestão e auto-responsabilidade. Existe no Brasil a cartilha Diretrizes para cooperativas, publicada pela União Internacional
Raiffeisen, em Bonn (IRU), da República Federal da Alemanha, de autoria de Raiffeisen e com os princípios por ele elaborados, e tradução de
André Gil Teixeira Pires, editada em 1995 pela Coopermídia, com a colaboração da OCB/Denacoop/SDR/Maara.
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Igual homenagem a Luigi Luzzatti, que desenvolveu o modelo italiano de cooperativas de crédito, também trazido para o Brasil.
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Nas fontes bibliográficas consultadas para este estudo, não foram encontradas informações complementares referentes ao citado Decreto.
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Ao ser elaborada e conseqüentemente sancionada, a Lei que regulamenta o cooperativismo brasileiro organizado levou em consideração os
princípios da doutrina cooperativista aprovados no congresso da ACI realizado em 1966, em Viena, Áustria, traduzidos em características e
estabelecidos no seu Capítulo II – Das Sociedades Cooperativas, art. 4º. e incisos.
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É uma instituição privada, sem fins lucrativo e está vinculada à Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), responsável pelo desenvolvi-
mento educacional dos integrantes do cooperativismo brasileiro.
REFERÊNCIAS