Este capítulo tem como foco principal analisar a trajetória do movimento social
de economia solidária no Brasil. A economia solidária, que é uma abordagem tida
como uma característica social contra-hegemônica historicamente contextualizada para a reivindicação de demandas coletivas específicas, ganhou destaque nos anos recentes, tornando-se um paradigma mobilizador no Brasil que se organizou em torno do trabalho associado e das relações não restritas à esfera mercantil.O autor apresenta uma revisão de algumas das principais teorias de movimentos sociais apresentadas na literatura. As temáticas dos movimentos sociais é abordada inicialmente por Sandro Pereira Silva, como norteador para o entendimento de como surgem e se organizam os movimentos sociais. Dentre teorias abordadas para analise do surgimento dos movimentos sociais a mais relevante apresentada pelo autor, a teoria do processo político TPP é um conceito que baseia-se na observação histórica do processo político revelando como objetivo central os mecanismos de organização do processo políticos ocidentais. Dentro desse conceito desdobrou algumas outras abordagens dentre elas o conceito de estrutura de abordagens oportunidades políticas (EOPs) que: "indicam as dimensões do ambiente político que possibilitam maior grau de permeabilidade das instituições". Diversas teorias sociais são abordas dentro da lógica TPP que pretendeu observar as formas de aglutinação de organizações sociais humanas. Uma outra teoria relevante apresentada é a teoria dos novos movimentos sociais ( TNMS) em que seus teóricos (TNMS). A base empírica de seus principais teóricos (Touraine; 1985; Me-lucci, 1988; 2001) foram: ”as grandes mobilizações que surgiram a partir dos anos 1960 em diferentes partes do mundo, trazendo outros elementos para a discussão,com a emergência de um conjunto heterogêneo de agrupamentos coletivos que direcionam suas mobilizações para além das contradições existentes no mundo do trabalho." nos mostrando o surgimento de um novo movimento que sobrepõe-se a pauta exclusiva do trabalho. Críticas foram abordadas em relação a TNMS que mesmo com o avanço na abordagem das analise social a ideia inicial da TPP se restringe a um olhar das realidades de trabalho das classes médias européias, sem interpretar a heterogeneidade das relações e dos movimento sociais em outras esferas globais e culturais. Dessa falta, surge na atualidade autores como Boaventura de Souza Santos que traz um arcabouço de análise sociais contra hegemônicas. Após a ascensão do Neoliberalismo nos anos 1990 e do saber cientifico hegemônico. Surgem então novos conceitos que visam da destaque a necessidade de se validar as ações populares, os saberes populares como formas importantes do conhecimento e para formação dos movimentos sociais. Conceitos trazidos por Santos ( 2007 ) como a ecologia dos saberes, que visa integrar o conhecimento científico e o conhecimento popular, a ecologia do reconhecimento que pensa na não hierarquização, a ecologia da temporalidade, reconhecendo a analise da linearidade dos processos históricos e a ecologia do reconhecimento, que revoga qualquer hierarquização entre os fenômenos sociais. O texto trata da emergência do paradigma da economia solidária no Brasil, que teve início no século XX com mobilizações populares em diversos setores da sociedade. Ao longo da história, esse paradigma evoluiu consideravelmente, tornando-se uma lógica discursiva capaz de aglutinar diversos atores sob perspectivas sociais semelhantes, todos os encontros a construir projetos sob um novo paradigma mobilizatório, organizado em torno da defesa do trabalho associado e de relações econômicas não restritos à esfera mercantil. A economia solidária, segundo o texto, carrega consigo uma diversidade de manifestações sociais no campo da ação coletiva para o trabalho e outras dimensões da vida social, ancorada na luta pelas melhores condições de vida de amplos setores populares. Como uma manifestação social contra- hegemônica historicamente contextualizada, esse modelo busca contribuir para a reivindicação de demandas coletivas específicas e para a construção de novas relações sociais a partir de uma perspectiva mais justa e sustentável. O movimento de economia solidária é formado por diversos atores que constroem projetos sob perspectivas sociais similares. Nas últimas décadas, a economia solidária se consolidou como uma importante alternativa para a geração de trabalho e renda e para a promoção de desenvolvimento local. Ao longo dos anos, o movimento realizou diversas Plenárias Nacionais de Economia Solidária (PNES), uma importante ferramenta para a realização de diversos debates e decisões no campo. O texto busca explicar as particularidades contextuais do PNES, tais como a multiplicidade de atores envolvidos, as estratégias organizacionais e as interações políticas. Além disso, o texto aborda a relação do movimento social de economia solidária com políticas públicas, especialmente a partir da criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) em 2003. Desde então, houve uma intensificação das mobilizações do movimento, resultando na formulação e implementação de diversas políticas públicas específicas para a economia solidária, como a criação de centros públicos de economia solidária e a formulação do Projeto de Lei das Cooperativas de Trabalho. Nesta trajetória, o movimento intercalou diferentes repertórios de ação coletiva e estratégias de interação com o poder público. Isso propôs à temática da economia solidária uma institucionalidade que não havia à época do I PNES em 2002, consolidando-se nos últimos anos como um paradigma de mobilização social que envolve diferentes reivindicações e projetos de grupos contra-hegemônicos na sociedade. As fontes documentais utilizadas foram as atas, as sistematizações, e os relatórios finais das plenárias; além de relatos orais de participantes. A construção do movimento de economia solidária no Brasil, tendo como principal referência os processos de construção sociopolítica das plenárias nacionais, ocorridas entre 2002 e 2012. A ideia desses encontros foi proporcionar espaços de proposições, debates e compartilhamentos de idéias para elaborar uma pauta unificada de projetos com perspectivas sociais similares e dialogar com o poder público. Na história da economia solidária, percebe-se uma multiplicidade de assuntos, estratégias organizacionais e interações. Na primeira fase, a construção da identidade coletiva nacional e institucionalizada teve como foco a defesa do trabalho associado e de relações econômicas não restritas à esfera mercantil. Nessa foram realizados os primeiros workshops de formação sobre o tema, resultando na fase de criação da Carta ao Lula: Economia Solidária como Estratégia Política de Desenvolvimento, com as principais diretrizes e reivindicações do setor. Uma das demandas dessa carta foi a criação de uma Secretaria Nacional de Economia Solidária. A partir da articulação, decorreram a II Plenária Nacional de Economia Solidária, na qual foram constituídos quatro grupos temáticos: produção, circulação e consumo; sistema de comércio justo e solidário (SCJS); comunicação; e políticas públicas. A realização da III Plenária Brasileira de Economia Solidária oficializou a criação do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), que tinha como tarefa articular as bases sociais do movimento. Nesta fase foi realizada a primeira Campanha Nacional de Divulgação da Economia Solidária e intensificou-se o diálogo com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) desenvolvendo a construção em conjunto de uma proposta de Organização da Economia Solidária. A fase seguinte foi marcada pela realização da IV Plenária Nacional de Economia Solidária, que foi concluída na Carta de Recife, documento-base para a constituição da política nacional de economia solidária. Nessa fase, houve definição de diretrizes para o reconhecimento de um empreendimento de economia solidária e foram formuladas formas de interação com o poder público, criação de uma incubadora nacional de empreendimentos de economia solidária, além da elaboração da proposta de instrumento normativo para o sistema de economia solidária, além da elaboração da proposta de instrumento normativo para o sistema de economia solidária comércio justo e solidário. O seu marco com a realização da V Plenária Nacional de Economia Solidária, que reforçou a importância de se manter a articulação do movimento. O capítulo conclui destacando que a dinâmica social, sobretudo quando se tem em vista um instrumento que envolve em torno de si uma gama tão complexa de atores, tem como situações normais avanços e refluxos, porém, mesmo com os desafios enfrentados ao longo dos anos, a temática da economia solidária consolidada uma institucionalidade graças à sua trajetória de organização e articulação política. É possível aqui iniciarmos uma relação contida na historia da associação APAEB no sertão baiano e o movimento nacional de economia solidária. Experiência que se origina da necessidade regional de se fortalecer as comunidades rurais do sertão que sofriam de inúmeros desafios, desde a seca severa, ao êxodo rural para as grandes metrópoles. APAEB surge como uma experiência associativa que tem como pontos centrais a autogestão e a melhoria de vida das pessoas no sertão da Bahia. Se organizou em torno da produção e beneficiamento do Sisal, e da auto gestão para se criar um empreendimento social de sucesso, para a melhoria da qualidade de vida das pessoas de Valente-BA e cidades Circunvizinhas. Tendo que utilizar as diversas formas de mobilização e organização absorvidas do conceito cooperativismo popular e associativismo a historia da APAEB nos revela as faces de inovação, criatividade e adaptação a realidade vigente para se transformar em um empreendimento social bem sucedido. Adaptando- se ao mercado e ao mesmo tempo formando sua base no modelo autogestionário e divisão justa dos resultados obtidos ao longo dos quarenta anos da associação, é possível observar as diferentes fases e as diferentes ações adotadas pela instituição. Desde a criação da primeira fábrica de beneficiamento do sisal, às escolas família agrícola EFA implantadas na região, a criação de poupança, cooperativa de créditos, novas fábricas, galpões e o beneficiamento do leite de cabra, são ações da associação que revela o poder do movimento cooperativo associado.