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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE-UFCG

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL DO SEMIARIDO-CDSA


UNIDADE ACADÊMICA DE GESTÃO PÚBLICA - UAGESP
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO PÚBLICA
DISCIPLINA: GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR
PROFESSOR: DRº LUIZ ANTÔNIO COELHO DA SILVA

KATRYNE DANTARA PEREIRA LEÃO

DESAFIOS E EXPECTATIVAS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

SUMÉ – PB
2018
RESUMO

A economia solidária compõe diferentes ramos, que vão de pequenos


empreendimentos no meio urbano, e rural, baseados no critério da livre
associação. Constitui-se fortemente como uma rede de iniciativas, com o
objetivo de criar condições de enfrentamento à crise da vida social, através da
geração de formas consideradas inovadoras, no que tange ao processo de
produção, trabalho, de gerar renda e de provocar mudanças positivas, sempre
com base em medidas e ações de cunho coletivo, no trabalho pautado no viés
do cooperativismo e da autogestão. Sendo assim, este artigo apresenta como
pergunta norteadora, a seguinte indagação: Quais são os principais desafios e
expectativas da Economia Solidária no mundo do trabalho? E como objetivo
geral, debater o contexto histórico da economia solidária. Quanto ao tipo de
pesquisa, esse artigo é caracterizado como sendo de natureza bibliográfica,
descritiva e exploratória. Como resultados desse estudo bibliográfico ficou
constatado que, é nessa panaceia, em meio às empresas capitalistas e as
margens de mercado, que os empreendimentos solidários surgiram e buscam
bases de solidificação, para alicerçar o presente e construir elementos que
tornem as organizações de economia solidária também competitivas.

PALAVRAS-CHAVE: Empreendimentos. Economia Solidária. Desafio.


Sociedade.
1 INTRODUÇÃO

A economia solidária se caracteriza como sendo uma resposta


significativa dos trabalhadores excluídos, em sua maioria do mercado de
trabalho, é a típica e verdadeira representação da força de trabalho das
comunidades carentes, tendo a solidariedade como principal moeda de troca,
frente às inovações e transformações ocorridas no mundo capitalista.
Constitui-se fortemente como uma rede de iniciativas, com o objetivo de
criar condições de enfrentamento à crise da vida social, através da geração de
formas consideradas inovadoras, no que tange ao processo de produção,
trabalho, de gerar renda e de provocar mudanças positivas, sempre com base
em medidas e ações de cunho coletivo, no trabalho pautado no viés do
cooperativismo e da autogestão.
O cooperativismo tem no seu objetivo, a preocupação com as condições
de aperfeiçoamento do ser humano, no que diz respeito às suas dimensões de
ordem econômica, social e cultural. Consiste em um sistema baseado no
princípio da cooperação que, historicamente surgiu junto ao capitalismo,
porém, com bases teóricas e ações diferenciadas, o cooperativismo é
compreendido como um sistema mais adequado, pautado em medidas
participativas, democráticas e mais justas, do ponto de vista de atender aos
anseios e aos interesses específicos dos trabalhadores, por meio da
coletividade.
Sendo assim, fica claro que o cooperativismo funciona na sociedade
como um sistema e as cooperativas representam a efetivação das unidades
econômicas desse modelo, e também, espaço de convívio e de
transformações.
Esta economia compõe diferentes ramos, que vão de pequenos
empreendimentos no meio urbano, e rural, baseados no critério da livre
associação, o principal papel da economia solidária, conforme defende Paul
Singer (2002) é o de superar o modo de produção mais capitalista, onde ocorre
o enriquecimento livre dos mais poderosos, competição, desvalorização da
mão-de-obra qualificada em alguns setores do mercado, desigualdade social e
econômica, ou seja, romper com esse modelo elitizado e político é uma tarefa
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complexa, afinal, a inserção de novos modelos econômicos e a efetivação de
empreendimentos solidários, rompe as barreiras, ainda que de forma lenta, do
enraizado e tradicional modelo do capital.
Através da implementação de um ordenamento social caracterizado
como novo, que são os empreendimentos populares, que, na atualidade, esse
termo evoca um amplo conjunto de organizações pautadas nesse modelo
econômico de solidariedade, ou seja, são entidades representativas e de
organismos da sociedade civil e do Estado, que nomeia, um movimento social
e uma área de intervenção política, que são as cooperativas de trabalho,
pautados em um modelo solidário de produção, apoio e acesso às condições
de crédito.
Há também nesse parâmetro de empreendimentos inovadores, as
associações de trabalhadores, que apresentam ações de grande relevância
social e econômica, em diversas regiões do Brasil, e também, empresas com
equipes formadas por familiares, que são autogeridas, e ainda os clubes de
troca. Sendo que, este último ajusta de forma coletiva os elementos da
reciprocidade e as formas não monetárias de organização social. Todos
caracterizando assim, a chamada economia popular e solidária.
Sendo assim, este artigo apresenta como pergunta norteadora, a
seguinte indagação: Quais são os principais desafios e expectativas da
Economia Solidária no mundo do trabalho?
Como objetivo geral, estabeleceu-se: debater o contexto histórico da
economia solidária.
E como objetivos específicos, analisar os caminhos da economia
solidária frente às transformações do capitalismo na sociedade
contemporânea; Discutir os modos de produção e de trabalho a partir dos
empreendimentos da economia solidária; Apresentar a relação entre a
economia solidária e o cooperativismo.
Trata-se de um tema de grande relevância para o contexto, pois é um
tema que deve ser debatido por estudantes e pesquisadores de diversas áreas
do conhecimento, a saber: Gestão Pública, Administração, Ciências Sociais e
Políticas, entre outras. As pesquisas que abordam essa temática em questão,
revelam que há um constante crescimento desse campo em toda a América
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Latina, e que tais empreendimentos apresentam um impacto positivo na
economia dos países.
No Brasil, observa-se, especificamente que o grande desafio ainda é
romper com as barreiras políticas e fortemente econômicas impostas pelo
modelo tradicionalista do capitalismo. Endentar num mercado tão concorrido do
ponto de vista de capital financeiro injetado por grandes empresários, em prol
de grandes marcas e que excluí e marginaliza padrões sociais, não é de fato
uma tarefa fácil, porém é possível, principalmente quando o elemento mais
forte da economia solidária é trabalho pautado em bases coletivas e em prol da
solidariedade.
Quanto ao tipo de pesquisa, este artigo é caracterizado como sendo de
natureza bibliográfica, descritiva e exploratória. Marconi e Lakatos (1992),
afirmam que a pesquisa bibliográfica é o levantamento de toda a bibliografia já
foi publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa
escrita, com a finalidade de mediar entre o pesquisador e o material escrito, um
contato direto, acerca de um determinado assunto, tema, auxiliando o cientista
na busca de bases teóricas, bem como na análise de suas pesquisas.
Já Rampazzo (2005), aponta o viés da pesquisa descritiva, ou seja, é
um tipo de pesquisa que procura observar, analisar e correlacionar fatos ou
fenômenos sem manipulá-los. Moreira e Caleffe (2008, p. 69) discutem, por sua
vez, que “as pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de
proporcionar visão geral, do tipo aproximativo, acerca de determinado
fenômeno”.
Diante do exposto fica clara a utilização do método exploratório,
cumprindo a principal finalidade de desenvolver e esclarecer conceitos, visando
à formulação de problemas mais precisos ou de hipóteses pesquisáveis, ou
seja, se relacionam com o presente artigo estudo, uma vez que, as questões
debatidas no presente artigo trazem os pressupostos, princípios e os conceitos
da economia solidária.

2 AS CONTRIBUIÇÕES DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

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A economia solidária ressurge como um fenômeno na década de 1980 e
tomou impulso determinantes ao seu crescimento em meados da segunda
metade dos anos 1990. É uma área do conhecimento fruto dos fortes
movimentos sociais que reagem às implicações do capitalismo, gerador das
crescentes e elevadas crises de desemprego em massa, que tem seu início em
1981 e se agrava com a abertura do mercado interno às importações, isto é, a
partir de 1990 os problemas sociais e econômicos se agravaram, e resultaram
em fortes mudanças na atual contemporaneidade.
Atualmente, é possível observar que o mundo está dividido em dois
contextos sociais: primeiro, a situação a desigualdade, da extrema pobreza e o
crescimento do número de pessoas vivendo na miséria. De outro contexto, com
características sociais fortemente diferenciadas, têm-se a individualização dos
postos de trabalho e a grande exploração em massa do trabalho, geradora da
superexclusão social, conforme debate Castells (1999a).
No entanto, é possível dizer que a grande maioria dos países do mundo
carrega no neoliberalismo as suas bases de política econômica, como conceito
primordial, seguindo os critérios de competitividade e lucratividade em toda a
economia, porém, como superação dos momentos de forte crise econômica, e
contrários as bases ideológicas desse modelo tão desigual, remetem à
economia solidária, como vicissitude para elevar os níveis de desenvolvimento
econômico e social.
Segundo aponta Souza (2009),

O neoliberalismo não consiste exclusivamente em uma


reação teórica e política contra o Estado de Bem Estar
Social, mas principalmente em uma rede de ordem
econômica, transferindo ao mercado a realização da
sociedade, justificando-se na necessidade de retornar a
um liberalismo radical como princípio organizador das
relações sociais. (SOUZA, 2009, p. 59).

Com base na discussão teórica defendida por Souza (2009),


compreende-se que o neoliberalismo preza pela valorização do mercado e do
lucro como condição principal do seu modelo econômico. Ou seja, trata-se de
um modelo que explora os trabalhadores através de seu sistema, aumenta o
individualismo no mundo do trabalho e corrobora com o aumento da
competição entre as empresas e as pessoas.
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Por outro, definida como um “conjunto de atividades econômicas – de
produção, distribuição, consumo e crédito – organizadas e realizadas
solidariamente por trabalhadores e trabalhadoras sob a forma coletiva e
autogestionária”. (SENAES, 2006, p. 11). Assim sendo, observa-se que a
economia solidária, tem colaborado e melhorado a vida de milhares de
trabalhadores, cidadãos de bem, através de um movimento, cujo sistema
econômico e social são de significante amplitude, pois baseiam-se na
solidariedade, na colaboração mútua e nunca na competição.
Singer (2002) afirma que um dos principais conceitos presentes nas
propostas da economia solidária é a proposta de uma competição vantajosa
para as duas as partes da relação comercial, isto é, permitir, ao mesmo tempo,
“a todos nós consumidores escolher o que mais nos satisfaz pelo menor
preço”. A concorrência, seguindo as bases da economia solidária, também
pode possibilitar “que o melhor vença, uma vez que as empresas que mais
vendem são as que mais lucram e mais crescem, ao passo que as que menos
vendem dão prejuízo e se não conseguirem mais clientes acabarão por fechar”.
(SINGER, 2002, p. 7).
O mercado é considerado, por Paul Singer (1998) que é o grande nome
da economia solidária, como o espaço mais propício para a realização da
liberdade humana, pois é lá e nele que cada indivíduo tem a oportunidade de
efetivar suas escolhas, com base na sua subjetividade. “O indivíduo tem o
direito de tomar uma iniciativa, abrir uma empresa ou vender o fruto do seu
trabalho. O mercado não é um mal, ele é uma forma de realização individual”.
(SINGER,1998, p. 113).
A economia solidária não considera o mercado como um inimigo ou um
vilão para a sua proposta ou modelo de atuação econômica. Mas, sim, como o
lugar de privilégio para se colocar em prática a iniciativa, as expectativas e traz
na prática os desafios de cada trabalhador, de cada cidadão que deseja
empreender.
Assim sendo, Singer (1998), afirma que o mercado de trabalho é,

[...] a condição de liberdade humana e alguns mercados


de bens e de serviços me parecem igualmente

7
essenciais, porque uma das liberdades interessantes é a
de iniciativa. (SINGER, 1998, p. 113).

No entanto, segundo autores que debatem o viés da economia solidária,


apesar de apontarem inúmeros elementos positivos, tanto da competição justa,
quanto da sua efetivação pela instância do mercado, possuem qualidades que
precisariam ser atravessadas.
Essa discussão está intimamente ligada a existência das desigualdades
que são inseparáveis da natureza do sistema capitalista, isto é, de um lado
têm-se os que conseguem acumular grande capital; outros, por sua vez apenas
obtiveram maiores prejuízos, conforme esclarece Singer (2002),

[...] enquanto os primeiros acumulam capital, galgam


posições e avançam nas carreiras, os últimos acumulam
dívidas pelas quais devem pagar juros cada vez maiores,
são despedidos ou ficam desempregados até que se
tornam ‘inempregáveis’, o que significa que as derrotas
os marcaram tanto que ninguém mais quer empregá-los.
Vantagens e desvantagens são legadas de pais para
filhos e para netos. Os descendentes dos que
acumularam capital ou prestígio profissional, artístico etc,
entram na competição econômica com nítida vantagem
em relação aos descendentes dos que se arruinaram,
empobreceram e foram socialmente excluídos. O que
acaba produzindo sociedades profundamente desiguais.
(SINGER, 2002, p. 08-09).

As diferenças sociais derivadas dessas ações particulares, e que


passam posteriormente para outras gerações, promovem e aumentam as
desigualdades sociais, e estas se tornam pilares para o enraizamento das
contradições sociais entre os indivíduos que ganham, em detrimento daqueles
que perdem. Singer (2002, p. 08), explica que esse fenômeno é fruto da força
do capitalismo, que por longos anos produz em seu sistema, rastros de
desigualdade crescente, ou seja, uma verdadeira “polarização entre
ganhadores e perdedores”.
Apesar da necessidade do mercado como local de afirmação dos
interesses individuais, observa-se que se impor às regras impostas pelo
capitalismo, talvez seja de fato o grande desafio da economia solidária. Seria
necessário, portanto, encontrar um limite social para regular as desigualdades
sociais.
8
A ideia “de que o mercado é essencial ao socialismo” (SINGER, 1998, p.
113), se estabelece, portanto, negando aquilo que é próprio da especificidade
do mercado em sua concretude capitalista, ou seja, o lócus privilegiado de
atuação das forças do capital, tanto de aquisição de força de trabalho quanto
de realização de mais-valia. Logo, compreende-se que a expectativa principal
dos empreendimentos de economia solidária é a sua ampliação no mercado, e
incentivar um grande número de pessoas a expor seus potenciais, valorizar a
sua mão-de-obra e lutar por melhores condições sociais.
Como consequência dessa apreensão aparente da realidade, eis, que
surge, dentro das premissas da economia solidária, a possibilidade de que as
organizações integrantes desse projeto se localizem num espaço considerado
alheio, fortemente dominado pelo capital, ou seja, os empreendimentos
surgem, na maioria dos casos nas frestas do sistema capitalista.
No entender de Singer (2002, p. 88), o cooperativismo, mesmo situando-
se em terreno do sistema capitalista, consegue realizar um papel fundamental
e de grande valia no que se refere ao domínio do capital. Se “o cooperativismo
desempenhou e desempenha um papel de freio à centralização do capital ao
menos num setor, ele não passa de um modo de produção intersticial nas
formações capitalistas.” Sendo essa a principal relação do cooperativismo com
a economia solidária, que se fundamenta na tese de contradição do
capitalismo, e criam condições de desenvolvimento econômico, baseados na
lógica contrária ao modo de produção que ainda é fortemente dominante na
sociedade.
A natureza superficial dessa questão é justamente acreditar que alguma
camada da sociedade, por mais isolada ou estigmatizada que seja, estará
ausente das determinações capitalistas e, por essa razão pode ser passível de
não ser vista como área de promissora lucratividade.
As determinações e a natureza econômica provenientes do sistema do
capitalismo provocam impactos diretos na estrutura organizacional nos
empreendimentos de economia solidária, o que traz à tona a emergente
necessidade de refletir sobre as relações dessas organizações com o mercado.
Com base na discussão dos empreendimentos de economia solidária,
frente à concorrência do mercado capitalista, Birchall (apud SINGER, 2002, p.
9
71), afirma haver uma considerável vantagem competitiva das organizações de
economia solidária, diante das empresas capitalistas está ligada ao fato dos
empreendimentos solidários possuírem uma relação próxima com as
comunidades, e que o “segredo do sucesso do movimento é seu foco
primordial em comunidades locais e sua capacidade de reforçar o senso de
identidade étnica.”
Além disso, a comunidade aparece nas teses da economia solidária
como o elemento chave para garantir a emancipação humana, ou seja,
remediando para que a relação dialética entre indivíduo e sociedade torne-se
fraturada na medida em que se possa elevar a importância da autonomia
subjetiva nas organizações sociais.

2.1 A Autogestão na Economia Solidária

Neste quadro atual, em que o mundo vive crises econômicas e em que a


única alternativa para o trabalhador é buscar inovar nas formas de produção,
surge a possibilidade inovadora de economia, contrária aos pressupostos do
capitalismo, a economia solidária. Assim sendo, Wellen (2012), já no início da
sua obra intitulada: “Para a crítica da Economia Solidária”, enfatiza, que,

Como o quadro social estava marcado por baixos níveis


de crescimento econômico e, em especial, por taxas de
lucratividade sem expressão, os representantes do
capital buscaram alternativas para reverter essa situação
e, para tanto, o projeto neoliberal centrou esforços na
destruição de conquistas trabalhistas e na defesa da
supremacia do capital. (WELLEN, 2012, p. 34).

A Autogestão é a base da economia solidária, pois é um modelo de


gestão que trata de romper com a tradicional hierarquização de cargos, formas
individuais de ganho e lucros, exploração dos trabalhadores, e parte do
princípio da partilha igual para todos, bem como ocorre com a divisão das
tarefas, a rotatividade das funções desempenhadas, e uma menor exploração
da força de trabalho possível.

A exclusão tem sido definida com o uso de diferentes


conceitos, porém todos procuram dar conta de fenômeno
10
semelhante e em geral o concebem além de termos
puramente econômicos. Pode-se afirmar que a economia
solidária guarda grandes vínculos com as abordagens de
tradição durkheimiana da escola francesa de sociologia
política, onde a exclusão é vista como quebra da
sociabilidade (SOUZA, CUNHA e DAKUZAKU, 2003, p.
51-52).

Com base nos pressupostos defendidos pelos autores citados, é


possível compreender que o capitalismo industrial é o verdadeiro reflexo das
exclusões e dos conflitos sofridos pela classe trabalhadora. Compreende-se,
portanto, que tais problemas consistem na colisão histórica e política, entre
trabalhadores que sofriam com as condições precárias de trabalho, frente aos
desmandos e autoritarismo dos donos do poder, e também à ameaça da
inserção tecnológica que viria a substituir o homem, como têm-se observado as
fortes mudanças na sociedade, sobretudo no setor agrícola e industrial.
Partindo desse pressuposto teórico e que reflete o atual modelo de
trabalho e as mudanças impostas pelo capitalismo na sociedade, Singer (2002)
aponta o conceito de economia solidária como sendo o,

[...] modo de produção, cujos princípios básicos são a


propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à
liberdade individual. A aplicação desses princípios une todos os
eu produzem numa única classe de trabalhadores que são
possuidores de capital por igual em cada cooperativa ou
sociedade econômica. O resultado natural é a solidariedade e a
igualdade, cuja produção, no entanto, exige mecanismos
estatais de redistribuição solidária da renda. (SINGER, 2002, p.
11).

A economia solidária e a autogestão nos empreendimentos solidários,


são a representação máxima do importante trabalho desenvolvido pelos
pequenos produtores, pelos trabalhadores de bairros, das pequenas
comunidades, ou até mesmo por aqueles considerados esquecidos,
socialmente marginalizados.
Seguindo o viés dos pensamentos de Paul Singer, esses trabalhadores
e trabalhadoras, desempenham, na atual sociedade, um papel distinto no
reforço das formas de solidariedade coletiva, ou seja, essa é a maneira
moderna de viver em comunidade e assegurar legitimidade a cooperação,

11
permitindo que os indivíduos serem parte e tenham voz ativa na relação social
maior, que a relação de/com o trabalho, e, assim, integrarem-se com a
comunidade, numa espécie de sociedade em miniatura, representada pelos
empreendimentos solidários.
Para tanto, fica claro que o desafio da economia solidária é também de
promover a inclusão de milhares de pessoas que estão desempregadas, dos
jovens que não tiveram oportunidade de acesso à escolaridade, àquelas
mulheres excluídas do sistema produtivo, mas com grande potencial de
empreendimentos, para os negros e as demais minorias desprivilegiadas e
excluídas da produção capitalista. (CASTEL, 1998).
O crescimento da economia solidária e da autogestão nessa área do
conhecimento, e que rompe com o sistema capitalista, visa a integralização
coletiva que é construída a partir do trabalho desenvolvido nas organizações
solidárias, conforme esclarece Singer (2002),

A solidariedade na economia só pode se realizar se ela


for organizada igualitariamente pelos que se associam
para produzir, comerciar, consumir ou poupar. A chave
dessa proposta é a associação entre iguais em vez do
contrato entre desiguais. Na cooperativa de produção,
protótipo de empresa solidária, todos os sócios têm a
mesma parcela do capital e, por decorrência, o mesmo
direito de voto em todas as decisões. Este é o seu
princípio básico. [...] E não há competição entre os
sócios: se a cooperativa progredir, acumula capital, todos
ganham por igual. Se ela for mal, acumular dívidas, todos
participam por igual nos prejuízos e nos esforços para
saldar os débitos assumidos. (SINGER, 2002, p. 10).

Diferentemente do que ocorre nas empresas capitalistas que se dirigem


a um público seletivo ou homogeneizado, a economia solidária busca o seu
enfoque nos nichos de mercado dos clientes que buscam algo mais do que
apenas o valor de troca das mercadorias, ou seja, que não procuram o local de
comprar as suas mercadorias apenas pelo atributo do preço atribuído, mas que
seja também pela valorização do capital humano, e que este seja libertador das
práticas mercadológicas que tanto aprisionam a classe trabalhadora.
A literatura analisada permite entender que esse é o grande desafio e
consequentemente também a grande expectativa da economia solidária: não
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competir com as mercadorias massificadas das grandes nomes do mercado
capitalistas, mas sim, adequar empreendimentos, empoderar para o trabalho,
outros trabalhadores valorizados, que possam comercializar, produzir um tipo
de produto ou serviço que tenha outros ações/especialidades e que sejam
diferenciais, a saber: produtos sustentáveis, mercadorias que estejam em
perfeita harmonia com o meio ambiente, não de obra que seja oposição a
qualquer condição ainda que mínima e análoga ao trabalho escravo,
atendimento personalizado, uma relação mais humana entre a organização e
seu cliente, e claro, cooperação entre os membros associados.
No lugar de aguçar a competição, os empreendimentos de economia
solidária tem como objetivo a sua causa no processo de produtividade, que
acontece na totalidade social, e essa passaria a ser superada de forma
individual.
A condição primordial para a superação dessa lógica competitiva pode
ocorrer com base na redefinição das formas de ver o trabalho; de um novo
sentido ao mundo do trabalho, ou seja, conforme aponta Nardi (et al., 2006, p.
321-322) efetivar estes princípios dependeria de um processo de
transformação das formas pelas quais se atribuem sentido ao trabalho “para
que os valores da autogestão e da solidariedade possam reconfigurar os
modos de subjetivação associados à competitividade, ao modelo de gestão e
ao individualismo no capitalismo contemporâneo”.
A solidariedade que é apresentada como uma qualidade, e que se
diferencia como sendo a proposta central das organizações de economia
solidária, frente às empresas capitalistas serve, na verdade, muito mais como
valor agregado à publicidade do que representa uma prática concreta.
Observa-se, portanto, que, a utilização dessa qualidade como valor de
troca é mais utilizada para alcançar maior quantidade de valores de troca do
que para efetivar as qualidades subjetivas dos cidadãos que diretamente
gerenciam e que se dedicam à luz dos empreendimentos solidários.
Nesse contexto, a solidariedade passa a representar uma mercadoria,
tal como qualquer outra, utilizada para atribuir valor econômico à empresa,
porém, diferentemente do cenário capitalista, nos empreendimentos solidários

13
não existe em evidência ou trava-se uma luta constante pelo ranking de
ganhadores e perdedores.
Logo, fica claro que de fato, a sociedade está passando por
transformações que demudam as estruturas e as relações de poder, bem como
altera os processos de produção e a liberdade dos sujeitos, os quais, com o
capitalismo em evidência, ou pautados apenas nos pressupostos desse
modelo, possuíram novo enfoque, onde foram diminuídos ou até extraídos
direitos sociais e trabalhistas alcançados, o que acarretou no aumento do
número de empreendimentos solidários, que buscam preencher as lacunas
deixadas pelo capitalismo, e construir um novo retrato social, dessa vez sem
que a dominação seja a competitividade entre os indivíduos, mas, que está dê
lugar a solidariedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mundo real se tornou o maior espaço de competições, uma espécie


de palco da vida, atrelado ao modo de produção da sociedade, as cobranças e
imposições da vida em sociedade. É nesse contexto que as organizações de
economia solidária surgem e dão uma repaginada, uma verdadeira luz para
aqueles que estão sem esperança, que não sabem como sobreviver diante do
caos que é estar desamparado, se sentindo figurinha repetida de álbum que
parece completo, mas, que ao mesmo tempo anseia por novas figuras.
É nessa panaceia, em meio às empresas capitalistas e as margens de
mercado, que os empreendimentos solidários surgiram e buscam bases de
solidificação, para alicerçar o presente e construir elementos que tornem as
organizações de economia solidária também competitivas.
Tal fato remete à necessidade destas organizações ampliarem o apelo à
solidariedade como diferencial competitivo. Se para aquelas organizações a
vantagem competitiva era fato resultante da fase embrionária do capitalismo,
para estas, por sua vez, a grande de diferença está no uso de recurso
intensificado com características fortemente solidárias, e que são
transformadas em valor de troca.

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A grande diferença competitiva imposta, e até mesmo debatida por
tantos pesquisadores e teóricos, inerente entre as empresas capitalistas e as
organizações da economia solidária, é de fato um dos grandes desafios desses
dois campos econômicos, e que poderia ser eliminada, nesse sentido, pela
adesão de sentimentos que conduzissem a processos motivacionais de
trabalho.
É justamente com base no melhor aproveitamento dessas qualidades
subjetivas, potencialmente presentes nas organizações, que a economia
solidária pode se fortalecer, ganhar mercados internacionais, e se utilizar de
importantes recursos típicos da fase atual capitalismo, ou seja, os
empreendimentos solidários encontram força no trabalho coletivo e na
motivação dos trabalhadores que compartilham dessa luta, desses objetivos,
sendo essa, uma importante forma de competição reconhecida no capitalismo
contemporâneo.

REFERÊNCIAS

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