A concepção de desenvolvimento sustentável tem diferentes
conotações segundo diversos autores. Para uns, falar de desenvolvimento sustentável é referir-se, exclusivamente, a uma sustentabilidade ecológica. Para outros, como a posição oficial dos organismos internacionais, o desenvolvimento sustentável implica uma sustentabilidade ecológica e social. Observa-se, ainda, que a sustentabilidade social interessa somente enquanto gera sustentabilidade ecológica, e não por si mesma. Neste sentido, o conceito de sustentabilidade social é limitado.
É preciso que seja reconhecida a dinâmica da economia, pois os
sistemas econômicos, por serem sistemas complexos, inseridos, por sua vez, em sistemas ecológicos e sociais, estão em contínua transformação. Portanto, a economia carece de uma estrutura conceitual multidisciplinar para que seja possível a compreensão dessa crise paradigmática vivenciada pelo mundo moderno.
A fragmentação da economia e a adoção de modelos quantitativos
implicam numa enorme defasagem entre a teoria e a realidade econômica. Isso é verificado por meio do alto índice de desemprego em todo o mundo, ocasionado pelo modelo econômico hegemônico do sistema capitalista, que ignora as variáveis socioambientais e a ética da dimensão do ser humano.
Logo, esse modelo de desenvolvimento hegemônico carece de uma
nova concepção, que seja capaz de reduzir as desigualdades e as contradições sociais que atingem o mundo. Ou melhor, a ciência econômica precisa se organizar e se estruturar de acordo com um novo método de análise da realidade social. Isso em conformidade com uma outra atitude perante os problemas, visando compreender o mundo complexo e marcado por contradições dramáticas. Entre estas, o aumento da utilidade do trabalho, que, resultante da evolução científica e tecnológica, cria expectativas até pouco tempo absolutamente insuspeitadas por parte dos mais otimistas.
Os estudos de cientistas renomados apontam que a humanidade é
hoje capaz de produzir alimentos, bens de saúde e de educação, habitação e os bens indispensáveis ao bem-estar social e à dignidade humana. No entanto, mais de dois terços da humanidade vivem em condições infra-humanas, morrendo em decorrência de doenças provocadas pela fome.
Esses problemas têm se acentuado no decorrer da chamada nova
ordem econômica hegemônica. As estatísticas da distribuição do rendimento mostram, por exemplo, os mais ricos em menor número e pobres em maior número. Essa diferença tem se acentuado nos últimos anos, e a ciência econômica dominante tem sido legitimadora desse estado de coisas. Evidencia-se, assim, que a fragilidade do sistema capitalista é ética, pois, na vigência desse modelo hegemônico, apenas 20% da população mundial tem direito a inclusão.
Segundo Dowbor “Torna-se muito menos sustentável, igualmente, o
dogma que nos governou durante dois séculos, de que da maximização dos interesses econômicos individuais resultará o melhor interesse da sociedade”. Para ele, esta visão utilitarista do homem econômico, que transforma o egoísmo individual em altruísmo social, e que serviu durante tanto tempo para sustentar a base hegemônica dos pressupostos capitalistas, “perde sentido frente ao gigantesco fato de 3,5 bilhões de pessoas que vivem com uma renda na faixa de 350 dólares por ano, não navegam nem sabem o que é a Internet, e geram uma situação cada vez mais explosiva.” Ainda conforme Dowbor, são os interesses sociais melhores para o empresário, e não os interesses empresariais os melhores para a sociedade. Assim, “É a lógica da reprodução social que está em questão”. Portanto, alguns autores recomendam que é necessário adequar a economia a um novo mundo, onde as variáveis social (socialmente justo) e ambiental (ambientalmente sustentável) estejam incluídas no âmbito dos processos de tomada de decisão empresarial e política. Um modelo de reprodução econômica e social que visa exclusivamente ao lucro, e, portanto, tudo instrumentaliza com este objetivo, acaba por reduzir tudo ao mercado, pois, segundo a sua concepção, todos os problemas são resolvidos pelo mercado.
Entretanto, o mercado não resolve todos os problemas; é um
instrumento de resolução de conflitos, mas não é “neutro”. Resolve os conflitos de acordo com uma certa lógica, e a da prevalência dos interesses dos mais poderosos. É preciso rever essa lógica conduzida pelos interesses do mercado, para que se possa resolver os problemas novos e velhos da economia. Para tanto, a ciência econômica dominante deve ser reformulada e partir de outras premissas. A vida não pode ser transformada numa mercadoria. É necessário retirar do mercado os valores essenciais do homem, a sua dignidade, o seu direito à vida, o seu direito ao bem-estar.
Vislumbra-se que estes direitos e interesses têm que ser uma
conjugação dos esforços dos homens, diferentemente do que tem sido praticado até agora. Os atuais debates políticos, econômicos, sociais e ambientais giram em torno dos problemas inerentes à degradação ambiental e da exclusão social. Antigamente, debatiam-se questões a respeito de exploradores e explorados. Os explorados ainda estavam dentro do sistema, eram considerados; hoje, os excluídos estão fora do sistema, não contam para nada, são absolutamente marginalizados, não entram nas estatísticas econômicas.
Segundo Buarque ,no mundo inteiro uma cortina separa os seres
humanos entre os que têm e os que não têm acesso às maravilhas da técnica. Portanto “no lugar da cortina de ferro que separava países, uma cortina de ouro separa os ricos e os pobres. Não mais como desigualdade contínua, mas como um corte, entre os incluídos e os excluídos. No lugar da desigualdade surge a apartação, um apartheid social.”
Para Buarque ,o subdesenvolvimento deixou de ser um problema da
economia e passou a ser um assunto da ética. Com o surgimento do conceito de exclusão, a pobreza não é mais um conceito econômico, medido pela renda das famílias, mas sim ético: no lugar de estratégias de desenvolvimento, a opção entre incluir ou não incluir as massas excluídas.
Observa-se que a proposta de desenvolvimento sustentável, como
alternativa ao desenvolvimento atual, pretende apontar um novo paradigma, cuja fundamentação passa pelo crescimento econômico aliado aos princípios de sustentabilidade econômica, social, ambiental, ecológica, cultural e política. Ainda que seus pressupostos sejam viáveis, essa proposta é considerada por muitos como utópica, já que busca a conciliação de interesses contraditórios sem que a ordem estabelecida no âmbito da economia mundial seja modificada.
Mesmo assim, não há razão para centrar-se no crescimento
econômico e aguardar o processo mágico do equilíbrio natural, preconizado pelos liberais. Para Dawbor (1998d), “Da eficiência econômica não decorre naturalmente a justiça social, ou o respeito ao meio ambiente. Da mesma forma, tentar centrar tudo na justiça social sem assegurar os recursos econômicos dos investimentos sociais tem pouco sentido”. O autor prossegue, afirmando que uma das soluções recomendada é seguir à risca a fórmula contida nos textos das Nações Unidas, que preconiza o desenvolvimento economicamente viável, socialmente justo, e sustentável em termos ambientais. Vale ressaltar que de nada resolveria tratar individualmente cada integrante dessa trilogia.
Os pressupostos que alicerçam a base da teoria do desenvolvimento
sustentável configuram pequenas modificações sob a lógica econômica do modelo dominante, ressalvadas as questões de cunho socioambiental, que não garantem a equidade e a justiça social, no bojo das contradições que abrangem esse pretenso modelo de desenvolvimento. Portanto, observa-se o surgimento de um novo paradigma no seio da economia que nos afeta diretamente, especialmente se abordarmos sob a ótica do desenvolvimento sustentável, pois este modelo de capitalismo natural aponta para o estabelecimento de uma economia em que se use cada vez menos materiais e energia ao produzir produtos cada vez mais eficazes e acessíveis.
Segundo Paul Hawken e Amory e Hunter Lovins (1999) o mundo
está às vésperas de uma nova revolução industrial que promete transformar nossas noções fundamentais de comércio e seu papel na configuração do nosso futuro. Para eles, o capitalismo tradicional jamais soube atribuir valor monetário ao seu estoque de capital: os recursos do ecossistema que possibilitam toda a atividade econômica e a própria vida. O capitalismo natural, ao contrário, contabiliza esses custos adequadamente.
PERGUNTAS : - Por favor para as respostas 1 e 2 mínimo 8 linhas cada. A
resposta 3 não é necessário um número mínimo de linhas.
1 – Se não fizermos absolutamente nada para mudarmos esse quadro,
dentro de mais ou menos uns 15 anos estaremos tendo sérios problemas climático-ambientais em nossa vida, talvez afetando principalmente nossos filhos que ainda serão pequenos, ou nós mesmos. Como podemos mudar isso rapidamente? Quais seriam as principais mudanças ou alternativas necessárias para essa rápida mudança? Sejamos sinceros com nós mesmos, estamos fazendo nossa parte hoje?
R: O sistema capitalista atualmente vem degradando cada vez mais a economia
ambiental e social. De um lado, grandes empresas com visão direcionada somente aos seus lucros financeiros, sem se importar em como sua busca obcecada por nome e poder no mercado, tem prejudicado a sustentabilidade do ambiente onde habita, e até mesmo do cenário mundial. Por outro lado, o egoísmo. Pessoas, que normalmente só conseguem enxergar o próprio bem-estar, nas melhorias condições de vida. E por tal motivo, também nem fazem questão de enxergar o mundo ao seu redor, a desigualdade e a brusca divisão social, a falta de ética e empatia. Coisas que estão muito escassas hoje em dia. O que nos resta como solução, é nos conscientizar sobre esses agravantes e pôr em prática métodos sustentáveis, mesmos que pequenos, sempre temos que ter um começo. Seja em casa, na rua ou no trabalho. Seja com a economia e reutilização de água, em descarte correto de lixo ou até diminuindo o trânsito de gases e resíduos poluentes no meio-ambiente. Assim, como de grande importância leis e uma metodologia rigorosa, para pessoas e empresas que contribuírem para a degradação do meio-ambiente. Ainda, levando em consideração a economia social, onde devemos sempre ter a consciência que todos somos iguais e temos os mesmos direitos. Os “excluídos” devem ter as mesmas oportunidades dos “incluídos”.
2 – Sabemos que o custo de todo processo ambiental não é barato, exige
mudanças de gestão, normas, licenças, adequações das empresas, e muitos outros itens. Por ser “economicamente” um processo com muitos custos, vocês acham que o governo deveria dar algum incentivo a mais para as empresas implantarem a ISO 14000? Qual (ais) seria (m) em sua opinião, lembrando que uma empresa exportadora, praticamente necessita da ISO 14000 para poder vender seus produtos no exterior, pois lá fora os seus clientes exigem esta certificação.
R: Sim, o Governo deveria dar incentivo às empresas, principalmente, por ser
uma série de normas muito importantes, não deveria ser vista apenas como uma obrigação, em casos de venda para o exterior. Mesmo que os custos do processo sejam altos, o sistema da ISO 14000, além de permitir, que uma organização adote ações positivas para questões ambientais, ações que por acaso ainda chamam atenção no mercado, por contribuir com a sustentabilidade. Também, proporciona a identificação precoce de problemas e as perspectivas de melhoria, alcançando padrões melhores de desempenho e contribuição sustentável/ambiental. Sendo assim, deveria ser uma obrigação governo fornecer esse incentivo. Inicialmente, com métodos de ajuda nos custos da implantação da ISO 14000 na empresa, por exemplo. 3 – Cite ao menos 3 diferenças entre a ISO 14000 e a ISO 14001 ? Explique pelo menos 01 delas.
R: A serie de normas ISO 14000 apresenta um enfoque estratégico na
organização, implementa a definição e realização dinâmica de uma política ambiental, identifica, examina e avalia de forma sistemática as mudanças ambientais causadas por elementos de produtos, serviços ou atividade da organização. Corresponde a um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Esta série de normas apresenta diretrizes para Auditorias Ambientais, Avaliação do Desempenho Ambiental, Rotulagem Ambiental e Análise do Ciclo de Vida dos Produtos. E tem por finalidade, equilibrar a proteção ambiental e a prevenção de poluição com as necessidades sociais e econômicas. Já a norma ISO 14001 orienta e contribui para a implantação do Sistema de Gestão Ambiental, sendo assim, a norma mais importante da série ISO 14000. A ISO 14001 fornece um mecanismo de gestão ambiental responsável, em locais onde as normas são mínimas ou não existentes. Oferecendo métodos consistentes para as preocupações ambientais. Oferece também, a certificação pela ISO 14001, qual permite às empresas identificarem-se com parcerias comerciais e com preocupações ambientais. Em resumo, a principal diferença entre a ISO 14000 e a ISO 14001, é basicamente suas colocações, onde respectivamente, a primeira é uma serie de normas e a segunda é uma das normas contidas nessa serie, sendo considerada a principal entre as outras. REFERÊNCIAS
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