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ECONOMIA POLÍTICA

ANTONIO PESCUMA JUNIOR

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-65-5821-038-2

59868 9 786558 210382


Economia Política

Antonio Pescuma Junior

IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
P563e

Pescuma Junior, Antonio


Economia política / Antonio Pescuma Junior. - 1. ed. - Curitiba [PR] :
IESDE, 2021.
106 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-038-2

1. Economia. 2. Política econômica. 3. Brasil - Política econômica. I.


Título.
CDD: 330
21-71250
CDU: 330

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Antonio Pescuma Doutor em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Economia
Junior Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP). Bacharel em Economia pela Universidade
Paulista. Professor nos cursos de MBA e consultor.
Participante do Grupo de Avaliação de Tecnologias em
Saúde (REPATS). Integrante do Comitê de Diálise junto à
Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).
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SUMÁRIO
1 A economia política 9
1.1 Conceito de economia política 9
1.2 História do pensamento econômico 18
1.3 As escolas da economia política 22

2 O neoliberalismo 31
2.1 O predomínio do mercado no liberalismo 31
2.2 O neoliberalismo e o delineamento das políticas públicas 39
2.3 Lógica do mercado e equilíbrio econômico 42

3 O marxismo e as relações econômico-políticas 49


3.1 A economia política de Karl Marx 49
3.2 Acumulação de capital e crise econômica 54
3.3 Os oligopólios e o processo de financeirização 60

4 Inovações e acumulação capitalista no mundo contemporâneo 66


4.1 O pensamento de Joseph Schumpeter 66
4.2 As inovações e o acúmulo de riqueza 71
4.3 O processo de destruição criativa no capitalismo 76

5 Os negócios no Brasil e seus reflexos no mundo 83


5.1 O modelo agroexportador brasileiro e suas implicações 83
5.2 A desindustrialização brasileira 89
5.3 Case: a vulnerabilidade produtiva na indústria da saúde 94

Resolução das atividades 101


Vídeo
APRESENTAÇÃO
Esta obra busca trazer o escopo teórico e prático da
economia política, tendo como principal objetivo a aplicação
dos conceitos para o entendimento da realidade social, política
e econômica. A partir de uma análise crítica, esta obra desperta
a importância sobre os aspectos que permeiam as sociedades,
como a relação dos principais problemas socioeconômicos com
os instrumentais da economia política. A Ciência Econômica não
é lógica, principalmente por lidar com os problemas que afetam
o ser humano em suas relações produtivas, tendo o elemento
subjetivo um papel muito importante nas análises econômicas.
Sendo assim, a economia política contribui para fornecer um
entendimento mais amplo e menos determinístico sobre as
circunstâncias que afetam a produção, comercialização e
distribuição de serviços e mercadorias em determinado contexto
econômico.
A partir dessa concepção, no primeiro capítulo comentamos
sobre a economia política, sua definição, sua história e os seus
principais pensadores. Constata-se que ela é um importante
elemento para a análise de organizações e instituições, em
diferentes formatos e com diversos objetivos relacionados ao
mercado e pertencentes ao ambiente macro e microeconômico.
No segundo capítulo discutimos sobre o Neoliberalismo, sendo
o seu precursor Adam Smith, um economista liberal que trouxe
esse formato de pensamento econômico e político como sendo
predominante no mundo. Apresentamos como é representado
um modelo liberal e o predomínio do mercado nessa aplicação
do conhecimento econômico. Partindo para o terceiro capítulo,
trabalhamos com a obra e o pensamento de Karl Marx e sua
importância para o entendimento da acumulação do capital
no capitalismo, trazendo considerações a respeito das crises
econômicas e os principais reflexos sociais. Para complementar
a análise sobre o papel do marxismo na economia política, é
ainda apresentada a elevada concentração financeira ocasionada
pelas empresas internacionais e suas principais repercussões no
mercado produtivo e especulativo.
Tendo como necessidade o aprimoramento do conhecimento da
economia política, no quarto capítulo trazemos o entendimento do processo
de desenvolvimento de tecnologias e das inovações. Joseph Schumpeter
contribui para o entendimento de como o mecanismo de desenvolvimento
tecnológico pode alterar os formatos produtivos e trazer um novo equilíbrio
econômico, e no quinto capítulo é desenvolvido um argumento sobre a
elevada fragilidade produtiva da economia brasileira, trazendo o pensamento
de Celso Furtado para o escopo da economia política. Considera-se como
fundamental a maior participação do Estado na economia, não somente
como regulador, mas como provedor de direitos adquiridos pelos cidadãos.
Ainda, para complementar a análise, é descrito um case na saúde, mostrando
a elevada dependência produtiva perante os grupos oligopolizados. Por
fim, esperamos que esta obra possa contribuir para o seu entendimento
da economia política e que proporcione uma aplicação prática para sua
realidade profissional e pessoal.
Bons estudos!

8 Economia Política
1
A economia política
A economia política corresponde a uma área do conhecimento
de elevada importância para a compreensão das circunstâncias
econômicas, políticas e sociais que estão presentes no atual mo-
mento do capitalismo. O entendimento da economia política
colabora para o aprimoramento argumentativo perante os proble-
mas que envolvem as ações no mercado, tanto pelas empresas
como pelo governo. Portanto, estudar sobre ela proporciona o
desenvolvimento de instrumentos analíticos importantes para os
gestores, os profissionais, os estudantes e as pessoas interessadas
no tema.
Neste capítulo, desenvolveremos pontos importantes com rela-
ção aos escopos teórico e prático da economia política. Inicialmente,
trabalharemos com o seu conceito, abordando os problemas e te-
mas fundamentais que esse campo do conhecimento investiga em
suas análises. Em seguida, veremos um pouco sobre a história do
pensamento econômico, com o delineamento das etapas que de-
ram subsídios para a elaboração das linhas de pensamento nessa
área. Por último, estudaremos as principais escolas da economia
política e suas principais características.

1.1 Conceito de economia política


Vídeo A economia política representa um campo de conhecimento teórico
e prático que colabora para a compreensão dos fenômenos relaciona-
dos à vida humana e em sociedade. Para sobreviver, o ser humano ne-
cessita de bens e serviços para a manutenção de um nível de satisfação
que possa proporcionar capacidade de trabalho no sentido de desen-
volver habilidades para a atuação no contexto social.

A economia política 9
Em um sistema capitalista de produção, as necessidades humanas
são infinitas, enquanto os recursos disponíveis para a obtenção de
mercadorias e serviços são finitos. Sob uma perspectiva individual, a
economia política incorpora elementos para entender esse problema
e, então, buscar soluções que possam oferecer um nível de qualidade
de vida satisfatório para as pessoas que vivem em um sistema produ-
tivo representado por instituições públicas e privadas e, também, por
um delineamento configurado por meio de uma lógica de mercado.

Portanto, a economia política tem como escopo central a preocu-


pação de solucionar o problema fundamental que permeia qualquer
sociedade: a escassez de recursos (BLAUG, 1993). Já no contexto capi-
talista, o desejo pelo consumo permeia as sociedades e apresenta um
desafio importante para a economia política, em especial no sentido de
tentar evidenciar uma solução plausível para uma elevada demanda de
bens e serviços, bem como uma oferta insuficiente para todos os indi-
víduos que atuam em um contexto de mercado. É importante dizer que
as necessidades infinitas não estão somente relacionadas aos desejos
individuais; as instituições estão imersas nesse contexto, principalmen-
te com a necessidade de utilização de matérias-primas para produção
e de recursos para concretização de serviços.

Ou seja, não há uma quantidade infinita de bens e serviços para


todos, configurando-se um cenário de escassez. A economia políti-
ca procura investigar esse aspecto, com considerações a respeito do
desenvolvimento de argumentos analíticos que possam trazer so-
luções para esse problema. A escassez de recursos – isto é, o pro-
blema econômico fundamental – permeia qualquer sociedade em
qualquer circunstância histórica, podendo ser delineada sob várias
perspectivas, especialmente com relação a como a oferta de bens e
serviços é configurada.

A economia política tem como pressuposto fundamental o entendi-


mento de como os recursos são utilizados para a produção de merca-
dorias e serviços e sua distribuição, além das quantidades e dos preços
que são determinados em uma circunstância de mercado. Podemos
argumentar que a escassez é algo relativo, sobretudo quando os re-
cursos são apropriados por instituições que centralizam os meios de
produção e toda a cadeia de distribuição de produtos para a sociedade.

10 Economia Política
Artigo

https://www.researchgate.net/publication/316155417_Lei_da_escassez_e_comportamento_
economico_ uma_leitura_institucional.

O artigo Lei da escassez e comportamento econômico: uma leitura institucional,


dos autores Adriano José Pereira e Solange Marin, publicado na Revista
Econômica, em 2017, é uma boa sugestão de leitura para a compreensão do
problema econômico fundamental. Um texto bastante interessante, princi-
palmente pelo entendimento do conceito de escassez e pelo delineamento
de uma proposta baseada nas instituições para compreender as questões
que envolvem o desenvolvimento econômico.

Acesso em: 23 fev. 2021.

Já os meios de produção são as técnicas utilizadas com equipamen-


tos e tecnologias nos processos produtivos que são organizados com
a capacidade física e intelectual do ser humano, a fim de disponibi-
lizar produtos e serviços para todos. Um exemplo prático é quando
um empreendedor tem a intenção de iniciar um negócio e ele perce-
be a necessidade de verificação das tecnologias que serão utilizadas
e, também, do grau de instrução das pessoas que irão colaborar para
a oferta de mercadorias e serviços aos consumidores. Quanto maior
o grau de inovação, maior a necessidade de conhecimento adquirido
pelos colaboradores do empreendimento.
Vídeo
Dessa forma, a economia política procura entender a relação en-
No vídeo Impressoras
tre a tecnologia e a força de trabalho nos processos produtivos, tendo
3D para a confecção
como justificativa o esclarecimento da perda de renda de certo grupo de próteses, do canal
MSFBrasil, é possível
populacional pertencente a determinado segmento no mercado.
perceber que a utilização
Quando há uma produção intensa em tecnologias, consequente- dessas impressoras para
a confecção de produtos
mente menos pessoas são empregadas, refletindo no emprego e na é um marco muito impor-
renda. A menor utilização de mão de obra ocasiona uma perda do po- tante para o desenvol-
vimento das empresas,
der aquisitivo, desencadeando uma circunstância de escassez a partir uma vez que promove a
do momento em que o indivíduo perde a capacidade de adquirir o que qualidade e o desenvol-
vimento científico. Um
deseja para suas necessidades da vida cotidiana. Portanto, é por meio exemplo interessante é
do processo de concentração de empresas, com a maior utilização de a utilização dessa tecno-
logia para a produção de
tecnologias para a produção de mercadorias e serviços, que o desem- próteses dentárias.
prego é evidenciado, tendo como resultado a perda da capacidade dos Disponível em: https://
indivíduos de adquirir aquilo que desejam consumir tanto para a sua www.youtube.com/
watch?v=y4HGOW7SkJo. Acesso
sobrevivência quanto para manter um nível adequado de satisfação em: 23 fev. 2021.
perante suas necessidades.

A economia política 11
A globalização – com a maior participação do capital internacional,
entendido como o conjunto de empresas internacionalizadas – intensi-
fica esse processo, resultando em uma escassez em escala coletiva. In-
clusive, no atual cenário do capitalismo contemporâneo, marcado pela
presença do capital internacional em todas as economias do mundo, o
desemprego se apresenta como um fator determinante para a configu-
ração de uma circunstância de escassez para todos os agentes econô-
micos, que são os indivíduos e as instituições. Sendo assim, a escassez
não é representada pela falta de recursos.

Desse modo, a economia política contribui para o aprofundamento


da análise referente à acumulação do capital no contexto do capitalis-
mo contemporâneo, principalmente pela ênfase dada à importância do
lucro em detrimento dos benefícios sociais para todo o conjunto da so-
ciedade (CHESNAIS, 1996). O conceito de economia política está atrelado
aos entendimentos das dimensões social, política e econômica que per-
tencem a qualquer âmbito produtivo, entendido como um espaço vivo,
com empresas, instituições públicas, infraestrutura e pessoas.

É com o delineamento das dimensões que as análises pertinentes


à economia política são implementadas, tanto com o enfoque prático
quanto com o teórico. Portanto, a economia política é compreendida
pela investigação de três dimensões.
• Dimensão econômica: toda sociedade está inserida em um
complexo conjunto de empresas, fornecedores e pessoas, de-
sempenhando um papel importante para a configuração de um
contexto econômico. Em tal contexto ocorre a oferta de máqui-
nas, tecnologias associadas e incorporadas, inovações, financia-
mento, aberturas de empresas e incorporações.
• Dimensão política: o âmbito político incorpora diversas institui-
ções, com diferentes atores: provedores, usuários, profissionais,
pagadores e governantes; análise de portarias; desempenho das
multinacionais; e considerações sobre o público e o privado no
segmento.
• Dimensão social: há a preocupação com o coletivo e com o di-
reito à saúde, educação e assistência oferecido pelo Estado e
complementado pelo mercado. Abrange os reflexos dos produ-
tos e serviços consumidos pelas pessoas e a preocupação com
a satisfação e qualidade dos bens ofertados e que impactam o
âmbito humano. A configuração do ambiente de trabalho, as

12 Economia Política
emoções, o nível de engajamento, o desenvolvimento da in-
teligência, entre outros aspectos que envolvam as pessoas no
ambiente produtivo colaboram para a compreensão dessa di-
mensão para as análises pertencentes ao escopo da economia
política (FREEMAN; MORAN, 2002).

O Quadro 1 mostra como foi construída a matriz de análise dessa


visão, com base nas principais perguntas elaboradas por dimensão de
análise, e esclarece sobre os pontos fundamentais que expressam cada
uma das dimensões e suas possíveis aplicações práticas.
Quadro 1
Metodologia da economia política

Dimensões Questões para investigação


1. Qual é a configuração dos atores na economia? Há predomi-
nância de indústrias nacionais ou estrangeiras?
2. Qual é o custo para as empresas operarem no país? Há bene- Glossário
fícios financeiros governamentais?
atores: entidades públicas,
Econômica 3. Qual é o impacto do câmbio para os negócios? E o da taxa privadas, governo e pessoas.
de juros?
inadimplência: representada
4. Há um elevado nível de inadimplência na economia? por um conjunto de pessoas
5. Qual o grau de desenvolvimento do país? E o dos setores? que não liquidam ou pagam
Há inovação? suas dívidas.
1. Como as decisões governamentais atuam no comportamento compliance: entendido como
das pessoas e instituições? a implementação de normas,
2. Qual é o nível de credibilidade governamental? tendo como objetivo a transpa-
rência nas negociações para os
Política 3. Como as decisões são tomadas nas empresas, por comissões?
acionistas de uma companhia.
4. Há uma maior participação das pessoas nas empresas com
relação aos futuros investimentos?
5. As empresas adotam políticas de compliance? Leitura
1. Os produtos e serviços ofertados pelas companhias são acei- A Associação Keynesiana
tos pelos consumidores sem efeitos negativos para a saúde? Brasileira traz uma
revista intitulada Brazilian
Proteção social 2. O nível de satisfação é otimizado para os clientes das empresas?
Keynesian Review, que
3. O governo é aceito pela população e os direitos são assegura- relaciona a realidade
dos, com saúde, educação e assistência social? econômica com o pen-
Fonte: Elaborado pelo autor. samento de Keynes. Os
estudos colaboram para
É importante constatar que as dimensões contribuem para o en- o aprofundamento dos
conhecimentos relativos
tendimento de qualquer problema que envolva o convívio em uma
aos temas da economia
sociedade capitalista. A economia política é definida como o estudo, política e sua aplicação na
realidade.
a análise e o delineamento de soluções que possam minimizar os
problemas econômicos, políticos e sociais. É com base na compreen- Disponível em: https://www.
braziliankeynesianreview.org/BKR/
são das dimensões que as soluções são configuradas e implementa- issue/view/11/28. Acesso em:
das ao longo do tempo. 23 fev. 2021.

A economia política 13
Compreender que a economia política não corresponde a uma ciên-
cia exata, determinística e com análises puramente lógicas ou dedu-
tivas é importante, pois a economia política tem uma argumentação
crítica e realiza o questionamento perante os fatos que circundam o
ambiente humano, com o objetivo fundamental de torná-lo um am-
biente de convívio aceitável para as pessoas e instituições. Para um
único problema há várias interpretações, com a utilização de diversos
dados e de diferentes ferramentas metodológicas.
Saiba mais
Para cada uma das dimensões é possível a utilização de
O portal da faculdade de
instrumentos para a análise dos dados e sua devida interpretação. O
economia disponibiliza
artigos e estudos com Quadro 2 ilustra os principais instrumentos metodológicos usados pela
várias aplicações metodo-
economia política.
lógicas dentro do escopo
da economia política.
Há diversas análises Quadro 2
relacionadas às políticas Instrumentos metodológicos da economia política
públicas, à relação entre
moeda e crédito, à saúde, Dimensões Metodologia
entre outros assuntos
muito interessantes. 1. 
Consulta em plataformas de dados públicos e utilização de
Inclusive, auxiliam para o análises estatísticas para a interpretação.
desenvolvimento da ca- 2. Construção de modelos econômicos para prever o futuro, com
pacidade argumentativa,
Econômica certo grau de probabilidade de ocorrência.
que é um forte requisito
para o profissional da 3. 
Interpretação de artigos e estudos privados e públicos e
atualidade! realização de conclusões lógicas a respeito de determinado
fenômeno econômico.
Disponível em: https://www.sep.
org.br/01_sites/01/index.php/ 1. 
Aplicação de entrevistas e levantamento de questões
enep-2/trabalhos-aprovados. para investigação.
Acesso em: 23 fev. 2021. 2. Implementação de questionários para análise comportamental e
para definição de critérios de decisão.
Política 3. Análise de portarias e leis e o seu impacto no mercado.
4. 
Acompanhamento do cenário político e desenvolvimento de
argumentos preditivos.
5. Utilização de teóricos representativos no campo da economia po-
lítica e análise de fatos representativos.
1 1. V
 erificação de estudos que mostram o impacto de ações de em-
presas nos consumidores, com danos ou benefícios.
Os estudos qualy são análises
econômicas que verificam quais Proteção 2. V
 erificação das consequências de determinadas ações governa-
são os benefícios potenciais que social mentais na população.
determinado remédio possui 3. Análise de medicamentos e realização de estudos qualy
1
para a
em uma população investiga- verificação da efetividade.
da. O estudo de tecnologias em
Fonte: Elaborado pelo autor.
saúde aplica muito esse tipo de
investigação. São denominados Dentre as análises relacionadas aos campos teórico e prático da
como avaliações de tecnologias
economia política, podemos destacar os elementos a seguir, que são
em saúde.
abordados por Singer (1988):

14 Economia Política
• a repartição da renda;
• o excedente econômico;
• a acumulação do capital;
• a concentração do capital;
• a moeda;
• o crédito;
• o nível do emprego. Livro
Com relação à repartição da renda, a economia política investiga o
nível de concentração do dinheiro nas economias, a sua distribuição
e as formas de alocação dos recursos nas sociedades. É uma tarefa
muito difícil tornar a renda, representada pelos rendimentos, em lu-
cros e dividendos dos empresários, pessoas e acionistas, de maneira
equitativa. Esse é um problema muito importante no cenário atual do
capitalismo: como tornar o dinheiro e a riqueza acessíveis para todos e
viabilizar a concretização de ações políticas e sociais para esse objetivo?

Existe uma forte tendência da concentração de renda para os mi- O livro O Capital no século
noritários, e o sistema capitalista não proporciona a igualdade perante XXI, de Thomas Piketty,
um economista francês,
o resultado econômico das atividades produtivas na economia. Para analisa o poder das gran-
dificultar ainda mais, o mercado especulativo, imerso na comercializa- des corporações de dar
apropriação da riqueza
ção de ações, intensifica a concentração da riqueza nas mãos de quem nas mãos de poucas
possui maior controle das operações financeiras, tendo o capital inter- famílias no mundo.

nacionalizado como um elemento de elevada importância. PIKETTY, T. São Paulo: Intrínseca, 2014.

O excedente econômico é outro tópico de muita importância, sendo


um tema de investigação da economia política; ele representa o ganho
dos produtores obtido após a remuneração dos fatores de produção Vídeo
(mão de obra, aluguéis, manutenção, entre outros). Pode ser com- No vídeo Thomas Piketty
preendido, também, por meio do consumidor e, mais especificamente, - 09/02/2015, do canal
Roda Viva, é possível
do ganho por unidade adquirida de algum produto ou serviço abaixo assistir a entrevista que
do preço de equilíbrio de mercado; dito de outra forma, representa a Piketty concedeu ao
programa da TV Cultura.
economia que os indivíduos possuem ao comprar por um preço mais Nela, ele fala sobre a
competitivo e atraente. Além disso, o excedente pode ser entendido economia e as contradi-
ções do capitalismo e das
com base na geração da mais-valia por unidade de trabalhador dispo- pesquisas em torno de
nível na economia. seu livro.

Disponível em: https://


A mais-valia é compreendida como o ganho do capitalista sobre o www.youtube.com/
empregado, pois o salário é sempre muito inferior ao ganho proporcio- watch?v=6pcGuqxyVJs&t=916s.
Acesso em: 23 fev. 2021.
nado pelo trabalhador em uma companhia. Há um questionamento, na

A economia política 15
economia política, sobre a utilização do excedente como investimento
produtivo, principalmente para assegurar a dinâmica da economia in-
terna, com o aumento de emprego e renda (BIANCONI, 2018).

A acumulação do capital tem total relação com o sistema capita-


lista de produção, com diversas formas de valorização do capital nos
investimentos, nas transações financeiras, na especulação e nas novas
formas produtivas. O capital, entendido como o montante de dinheiro,
tanto aquele em espécie quanto o virtual, tem que se direcionar para
atividades que possam proporcionar um retorno satisfatório para os
investidores, os capitalistas e os acionistas.

A acumulação do capital ocorre tanto em momentos de crise como


de prosperidade, visto que ele possui o seu direcionamento com o
objetivo de obter rendimentos satisfatórios para os envolvidos na
sua capitalização. É interessante observar que a acumulação do ca-
pital não agrega valor ao social, entendido como melhorias pautadas
nos direitos das pessoas e nos benefícios adquiridos após anos de
contribuição ao Estado.

Na economia política, há um questionamento a respeito desse pro-


blema, com o delineamento de soluções para a eliminação do Estado e
com a maior liberdade ao mercado para operar, principalmente, com
o intuito de proporcionar maior prosperidade para aqueles que detêm
os meios de produção, sendo as matérias-primas, a mão de obra e o
dinheiro necessários para investir em novos negócios (MARX, 1980).
Sendo assim, a força de trabalho bem como as tecnologias associadas
na produção sofrem alterações no processo de acumulação do capital.
Para Marx (1980), o desenvolvimento das forças produtivas leva a alte-
rações nas relações de produção. Ou seja, as tecnologias e o próprio
avanço do capitalismo colaboram para alterar a atuação das empresas
e das instituições no mercado.

Marx (1980, p. 91) enfatiza essas mudanças, particularmente em re-


lação ao enfoque produtivo:
ao adquirir novas forças produtivas, os homens mudam o modo
de produção, e, ao mudar o modo de produção e a maneira de
ganhar a vida, alteram-se todas as relações sociais. O moinho
movido manualmente nos dá a sociedade dos senhores feudais;
o moinho a vapor, a sociedade dos capitalistas industriais.

16 Economia Política
A acumulação do capital não ocorre sem o processo de concentração,
sobretudo por meio da atuação de empresas internacionalizadas no atual
cenário do capitalismo. Assim, com a intensificação do capital em novas
tecnologias da informação, a velocidade de processamento de dados pro-
porciona a centralidade dos recursos financeiros e tecnológicos nas gran-
des empresas de capital aberto. Por outro lado, apesar desses benefícios,
as empresas internacionais não conseguem empregar mais pessoas, pois
usam tecnologias que substituem a mão de obra utilizada nos processos
produtivos. Além disso, assumem uma posição estratégica na configura-
ção dos diversos setores na economia de todo o mundo. Com isso, são or-
ganizadas em um formato oligopolístico, com poucas empresas na oferta
de produtos e serviços (CHESNAIS, 1996).
Saiba mais
O oligopólio é um tema muito discutido na economia política, com
Oligopólio é uma estrutu-
diversas considerações a respeito do posicionamento do Estado peran- ra de mercado composta
te as empresas, a dinâmica do mercado e outros aspectos de relevân- de poucas empresas,
onde há o controle das
cia. A moeda e o crédito representam um outro tema de destaque na quantidades produzidas
economia política, com diversos posicionamentos, inclusive com a de- e preços praticados.

fesa de maiores subsídios às empresas para produzir e com recursos e


insumos nacionais para dinamizar a produção.
Saiba mais
A defesa da indústria nacional é um assunto muito importante nesse
O Centro Internacional
campo do conhecimento, pois o crédito corresponde a um instrumento
Celso Furtado de Políticas
que pode dinamizar o fluxo de operações no campo econômico, com para o Desenvolvimento
traz um acervo a respeito
mais emprego e renda (FURTADO, 2004). No atual cenário do capita-
da defesa da indústria
lismo, temos uma mudança na configuração da moeda, com a intensifi- nacional e da construção
de políticas que possam
cação das transações financeiras feitas de modo virtual, a utilização de
dinamizar a economia
plataformas de investimentos e todas as operações bancárias vincula- de determinado país. A
Teoria da Dependência
das com a internet. Esse fenômeno é denominado de financeirização,
foi um tema muito discu-
sendo um dos problemas que a economia política investiga com a ten- tido por Celso e colabora
para o entendimento
tativa de delinear qual será o cenário econômico futuro, dentro das
dos problemas sociais
dimensões sociais e políticas (CHESNAIS, 1996). que o Brasil apresenta,
principalmente por não
O nível de emprego é outro assunto muito debatido nessa área, com ter uma base econômica
e científica para o de-
estudos que tentam explicar uma solução para o desemprego, os tipos de
senvolvimento de novos
crises econômicas, seus reflexos na mão de obra, entre outras considera- projetos que possam
colaborar para a inovação
ções de muita importância dentro do campo político e econômico. Há uma
nos diversos setores
defesa a respeito de o pleno emprego ser possível de ocorrer, entendido produtivos.

como a utilização de todos os fatores de produção (força de trabalho e Disponível em: http://www.
tecnologias utilizadas) no meio produtivo, com a inexistência de seg- centrocelsofurtado.org.br/. Acesso
em: 23 fev. 2021.
mentos ociosos.

A economia política 17
Refletir a respeito da economia política é um tarefa que exige muita
leitura e vivência, especialmente no âmbito acadêmico e no desenvol-
vimento de consultorias aplicadas. O estudo das dimensões pode ser
aplicado em qualquer segmento ou empresa, tendo extrema utilida-
de para a concretização de pesquisas aplicadas no âmbito dos negó-
cios e para a percepção das operações produtivas. Enfim, a economia
política se transforma ao longo do tempo e traz sempre um novo en-
tendimento a respeito da pluralidade dos fatos e acontecimentos que
marcam toda a história do ser humano que vive em sociedade.

1.2 História do pensamento econômico


Vídeo A história do pensamento econômico está relacionada ao processo
de compreensão da realidade, com a construção de estruturas teóricas
que interligavam a vida do ser humano em um ambiente coletivo com
as formas para minimizar as sequelas sociais que inviabilizam a sobre-
vivência na sociedade. Assim, sua história tem uma profunda ligação
com o delineamento das instituições ao longo do tempo e as ideolo-
gias associadas, com uma perspectiva histórica que pode proporcionar
um panorama das mudanças referentes às formas de produção e suas
alterações mediante as necessidades sociais.
Curiosidade A ética paternalista cristã trouxe os elementos para a organização
Os senhores feudais e as pessoas feudal e o início do delineamento de uma ideologia que pode configurar
da Igreja defendiam uma ideo- um sistema econômico, apesar de não apresentar nenhuma característi-
logia que pudesse legitimar o
poder e a hierarquia do sistema ca de mercado nem ser definida como uma forma capitalista de pro-
feudal. Os mais ricos tinham dução. O pensamento econômico feudal foi transformado mediante o
que agir de uma forma paterna,
surgimento das inovações agrícolas entre o século XI e o final do século
com o amparo às pessoas menos
privilegiadas. XIII. Essas alterações desencadearam o surgimento do sistema capitalis-
ta de produção. Houve, ainda, o advento do comércio de longa distância,
com a estruturação de um sistema manufatureiro (putting-out system).

Nesse mesmo período, houve o aumento da concentração urbana,


o cercamento dos campos e a exploração colonial, com a descoberta de
metais preciosos e sua comercialização monetária. A intervenção gover-
namental foi acentuada para assegurar o lucro das companhias orientais
que comercializavam os metais e tinham como objetivo adquirir a quan-
tidade máxima destes para os países de maior poderio econômico.

18 Economia Política
No entanto, a ética paternalista cristã continuou a ter uma grande
influência nas decisões do Estado, sendo fundamental a construção de
uma nova forma de ideologia, baseada no individualismo, a qual pode
colaborar para o processo de acúmulo de riquezas e de implementação
preliminar do sistema capitalista de produção. Surge, assim, o mercan-
tilismo, como uma nova maneira de comercialização de mercadorias e
serviços pelo mundo. Aparece, também, o protestantismo, sendo uma
filosofia individualista, como uma nova ideologia que legitimou o de-
sejo do lucro e trouxe um novo entendimento a respeito das relações
comerciais, principalmente com a ideia de obtenção de lucro.

A visão de mercado prevaleceu com uma enorme expansão da


demanda, com o crescimento das cidades e com um novo modo de
produção delineado pela Revolução Industrial, que se consolidou nos
séculos XVIII e XIX. A nova forma de pensamento econômico, delinea-
da por Adam Smith, defendia o individualismo sem a proteção social e
com a presença de homens de negócio egoístas e com forte preocupa-
ção em acumular riquezas. No mesmo período, a teoria populacional
de Malthus defendeu que os mais pobres eram a expressão do dese-
quilíbrio econômico e social, reforçando a ideia do individualismo.

Desse modo, os trabalhadores foram colocados na mais profunda


miséria, sem condições dignas de sobrevivência e com um número mi-
noritário de comerciantes e industriais que detinham o controle dos
meios de produção e não repartiam os lucros com os seus funcionários.
É nesse momento que surge o pensamento socialista, o qual priorizava 3
a repartição igualitária da renda e a distribuição dos frutos do trabalho Linha de pensamento na
aos assalariados, sendo totalmente oposto ao liberalismo econômico
3 economia política que prioriza
o indivíduo como sendo o
– este era defendido pelos liberais que assumiam o posicionamento elemento de maior importância
individualista nas relações produtivas. nas relações produtivas. Assim,
o coletivo é deixado de lado,
Marx, o mais influente entre todos os socialistas, desenvolveu seu com o fortalecimento das
pensamento baseado no estudo dos modos de produção de cada socie- atitudes individualistas.
dade, com uma perspectiva histórica, bem como nos conflitos de classe
existentes no sistema capitalista de produção. Defende, então, a abo-
lição da propriedade privada e a distribuição do resultado econômico
para todos, sem desigualdades (MARX, 1980). Um elemento relevante,
no final do século XIX, foi o surgimento de grandes corporações, com o
objetivo de maximizar o lucro de suas operações produtivas.

A economia política 19
Paralelamente a esse processo, a concentração da renda foi
acentuada, e o pensamento dominante foi o dos economistas neo-
clássicos que defendiam o livre mercado e a participação do governo
somente para otimizar os resultados das grandes empresas. Ainda
no século XIX, houve uma guerra entre as grandes indústrias, pela
concentração do poder e dos lucros. Muitas empresas de grande
porte solicitaram o apoio do governo para legitimar seu campo de
atuação, instaurando um ambiente de favorecimento do mercado.
Surge, dessa maneira, uma nova ética paternalista cristã, com o for-
talecimento dos homens de mercado e que influenciaram fortemen-
te o momento do New Deal no ano de 1930.

A primeira fase do New Deal correspondeu a uma série de pro-


gramas estabelecidos nos Estados Unidos da América (EUA), no pe-
ríodo entre 1933 e 1937, com a intenção de recuperar a economia e
auxiliar aqueles que sofreram com a crise econômica nesse período,
desencadeada pela quebra da bolsa de Nova York em 1929, com o
declínio dos valores das ações negociadas e as perdas financeiras
para os investidores.

A Crise de 1929 foi desencadeada por um excesso de produção


diante do consumo das pessoas, famílias e instituições. A quantidade
de mercadorias superava o consumo, tendo ocasionado o aumento
Biografia dos estoques e a diminuição do fluxo de produção das indústrias e,
com isso, o aumento do desemprego. Franklin Roosevelt assumiu
Racconish/Wikimedia Commons

o governo dos EUA, implementou medidas de apoio à economia,


com base no pensamento do economista John Maynard Keynes, e
aumentou os gastos governamentais em infraestrutura, estradas,
rodovias e hidrelétricas, como um estímulo ao emprego e à renda.

No período de 1939 a 1945, ocorreu a Segunda Guerra Mundial


John Maynard Keynes e houve a maior intensificação da concentração do capital expresso
(1883-1946) foi um economista
nas grandes corporações. O conceito de ética corporativa marcou
britânico que desenvolveu
teorias que incentivavam o esse período, com a implementação de medidas que pudessem ga-
aumento dos gastos governa- rantir os retornos dos acionistas dessas empresas.
mentais. Inclusive, reformulou
os conceitos relacionados ao As desigualdades sociais se intensificavam como reflexo das polí-
âmbito de conhecimento da ticas eficientes das companhias de capital aberto. A eficiência tinha
macroeconomia. Além disso,
escreveu o livro A teoria geral do como principal pressuposto a minimização da utilização da mão de
emprego, do juro e da moeda, em obra e a maior ênfase quanto ao uso de tecnologias nas cadeias pro-
1936, um grande marco históri- dutivas (MARTINS, 2001). A governança corporativa tem o seu início
co para a economia política.
com preceitos de transparência e medidas de compliance para otimizar

20 Economia Política
os retornos da empresa em todas as cadeias de produção, com refle- Vídeo
xos no mercado virtual de comercialização de ações (GOMES, 2016). No vídeo A crise de 29
e o New Deal, do canal
Nos anos de 1950 até o final da década de 1970, a economia Professor Julio Borbo, ve-
mos que a Crise de 1929
política investigou a respeito de os problemas relacionados ao ca- foi um marco histórico.
pitalismo serem expressos pela elevada concentração de renda e As ações no mercado
financeiro proporciona-
desigualdade social e com reflexos na diminuição dos direitos rela- ram fortunas, no entanto
cionados aos bens públicos, como a educação, saúde e assistência o entusiasmo teve o seu
fim. O descompasso
social. Nos anos 1990, tivemos a intensificação da globalização e a entre a produção de mer-
implementação de plataformas digitais para otimizar as transações cadorias e o consumo
fez com que os papéis
financeiras em todo o mundo. negociados diminuíssem
de valor, desencadeando
Foi nesse momento, então, que se intensificou o grau de depen- uma forte crise financeira.
dência dos países subdesenvolvidos perante os desenvolvidos, sobre- O entendimento das
crises é importante, prin-
tudo com relação ao desenvolvimento de tecnologias e às inovações cipalmente no momento
associadas aos diversos setores econômicos. No Brasil, a economia em que vivemos, no qual
4 há um elevado número
política investigou, com base na Teoria da Dependência , os argu- de acionistas no mercado
mentos em defesa da industrialização brasileira e a menor participa- de capitais.

ção de corporações financeiras e de empresas de capital aberto. Disponível em: https://


www.youtube.com/
Na atual fase do capitalismo, temos a intensificação dos pro- watch?v=mGVobpopNwA. Acesso
em: 23 fev. 2021.
cessos relacionados à otimização dos ganhos financeiros por par-
te das grandes corporações, com uma preocupação muito intensa
4
para proporcionar retorno aos acionistas dessas empresas de capi-
Teoria desenvolvida pelo
tal aberto. Assim, a economia política investiga o processo econômi-
economista Celso Furtado,
co, político e social chamado de financeirização, que é expresso pelo com forte apelo à investigação
uso excessivo de mecanismos virtuais de crédito e pela total trans- dos problemas atrelados ao
processo de desenvolvimento
formação da realidade em um ambiente virtual e interativo. Nesse
econômico dos países depen-
contexto, vamos observar como ocorreu o crescimento do capital: dentes ou periféricos.
Figura 1
Linha do tempo do crescimento do capital

Capitalismo
Intensificação 1950 a 1970: Anos 1990:
Inovações contemporâneo
Segunda Guerra da desigualdade e Teoria da
tecnológicas no até os dias
Mundial concentração concentração Dependência;
pós-guerra de hoje:
do capital de renda globalização
financeirização

Fonte: Elaborada pelo autor.

No Brasil e nos países em desenvolvimento, a elevada concentração


das grandes empresas na oferta de mercadorias e serviços desenca-
deia alguns problemas estruturais para a economia, como:

A economia política 21
• a intensificação da inflação, devido ao controle da oferta de pro-
dutos e à determinação dos preços;
• aumento do desemprego, em virtude da utilização de mais tecno-
logias que substituam a mão de obra;
• diminuição dos direitos sociais, devido ao encarecimento dos
serviços prestados ao Estado, como a terceirização na saúde etc.;
• o enfraquecimento da indústria local, em especial por atuar no
formato de mercado em oligopólio;
• a dificuldade da empregabilidade, em consequência do surgi-
mento de mecanismos para flexibilizar a mão de obra, como os
microempreendedores individuais.

A economia política incorpora vários elementos, e sua história é


permeada pelo crescente embate entre o capital e o trabalho. Alguns
economistas políticos defendem o capital e outros defendem os inte-
resses dos trabalhadores. A discussão sobre o predomínio do mercado
é um assunto que apresenta sua relevância histórica, principalmente
devido ao questionamento da maior ou menor presença do Estado na
economia. Portanto, a economia política tem imensa utilidade para in-
vestigar questões relacionadas ao âmbito coletivo das empresas, das
instituições e de toda a complexidade que envolve o ambiente imerso
no cenário capitalista de produção.

1.3 As escolas da economia política


Vídeo A economia política é um campo de conhecimento que investiga
os problemas relacionados ao sistema capitalista de produção e, tam-
bém, aos segmentos produtivos, às empresas e aos governos. As esco-
las dessa área dialogam para tentar solucionar problemas estruturais
que o capitalismo proporciona, como o desemprego, a inflação, a de-
sigualdade e as questões relacionadas aos governos, às empresas e
às pessoas. Não há um único entendimento a respeito dessas escolas,
mas alguns elementos são muito fortes em cada uma delas.

O principal aspecto é o respeito da compreensão do processo de


acumulação do capital, sendo muito importante para a geração de em-
prego e renda e, ao mesmo tempo, apresentando problemas relacio-
nados ao surgimento do desemprego. É uma tarefa difícil delimitar um
equilíbrio entre aquilo que é utilizado na produção e a sua disponibili-
dade na economia.

22 Economia Política
Sendo assim, quando pensamos no tema desemprego, é impossível
contratar ou empregar toda a quantidade de pessoas existentes em
determinado território ou região, especialmente porque o capitalismo
é desigual e proporciona retornos somente para os indivíduos ou as
instituições que possam ser competitivas e proporcionar retornos sa-
tisfatórios mediante as circunstâncias de mercado. Inclusive, nas esco-
las da economia política, há essa discussão a respeito de o equilíbrio
ser algo utópico ou um elemento de possível concretização.

Todos os modelos matemáticos pertencentes à economia matemá-


tica apresentam argumentações que fortalecem o conceito de equilí-
brio como sendo algo possível de ser concretizado. Para ilustrar, uma
empresa pode delinear um modelo por meio da construção de equa-
ções, como no exemplo a seguir:

L=R–C
ou
L=P·Q–C
onde:
L = lucro total
R = receitas
C = custos
P = preços
Q = quantidades

Como sabemos, a ciência econômica é um campo de conhecimento


social e o ser humano é uma entidade mutável, portanto não é possível
quantificar ou qualificar todos os elementos pertencentes a determina-
do assunto dentro do campo da economia política. Mediante a elevada 5
complexidade, temos algumas escolas da economia política que reali-
Oposição, conflito e contradição
zam estudos e pareceres a respeito da realidade, com argumentações, relacionados a fenômenos
5
deduções e uso da dialética e de toda uma gama de recursos metodo- empíricos (da experiência) e
teóricos.
lógicos para analisar os fatos da vida em sociedade.

Vejamos cada uma das escolas. A primeira delas, chamada de escola


neoclássica, possui sua origem e seu delineamento desenvolvidos por
Adam Smith, um filósofo britânico, economista e mentor do liberalis-
mo econômico. Ele publicou a obra Uma investigação sobre a natureza
e a causa da riqueza das nações, ou popularmente conhecida como

A economia política 23
A riqueza das nações, em Londres, em 1776, e trouxe o entendimento
de um importante conceito denominado de a mão invisível.

A mão invisível é expressa pelo poderio do mercado em se configu-


rar mediante as circunstâncias. Para o autor, os problemas estruturais
do capitalismo são corrigíveis pelo mercado, não sendo necessária a
intervenção do Estado na economia. Desse modo, para obter produ-
tividade no ambiente de mercado, o liberalismo econômico define o
trabalho sob duas circunstâncias: o produtivo e o improdutivo. Para
Smith (1996, p. 333), “existe um tipo de trabalho que acrescenta algo ao
valor do objeto sobre o qual é aplicado; e existe outro tipo, que não tem
tal efeito. O primeiro, pelo fato de produzir um valor, pode ser denomi-
nado produtivo; o segundo, trabalho improdutivo.”

A estabilidade do trabalhador é dada por meio do mercado, sendo


obtida pela capacidade do indivíduo de traçar metas e objetivos – o
mundo não tem limites para quem é produtivo. O mercado retribui re-
tornos satisfatórios para as pessoas e empresas que possam agregar
valor e, consequentemente, proporcionar lucro.

O individualismo é muito marcante nessa escola da economia polí-


tica, com uma maior importância à capacidade individual de conquista
perante os objetivos traçados ao longo de uma carreira profissional ou
relacionados às metas de uma firma, entendida como uma entidade
única e com particularidades específicas e interligadas ao segmento
que opera suas transações para a produção de mercadorias e serviços.
A análise dos problemas econômicos é tratada de maneira determinís-
tica, com uma metodologia específica para o levantamento de variá-
veis explicativas relacionadas a determinado fenômeno que deverá ser
investigado. Portanto, na escola neoclássica, a utilização de modelos
matemáticos é muito frequente, inclusive com o apoio metodológico
6 6
da econometria para a análise dos fatos.
Campo de estudo da ciência
econômica que utiliza tanto A escola neoclássica parte do princípio de que os fatos podem ser
a teoria quanto a ferramenta quantificáveis e interpretados mediante cálculos específicos, bem
estatística para a interpretação
dos fenômenos econômicos. como que podem ser explicados por meio de considerações lógicas. A
escola neoclássica, em sua metodologia analítica, realiza as seguintes
etapas para a realização de determinado estudo ou investigação:
• delimita o problema que deve ser analisado;
• fundamenta com autores representativos no âmbito da ciência
econômica;

24 Economia Política
• verifica quais são as variáveis que explicam o problema;
• realiza o levantamento dos dados relacionados a cada uma das
variáveis selecionadas;
• desenvolve equações matemáticas, com causa e efeito, com a in-
teração entre as variáveis;
• utiliza programas estatísticos para determinar o grau de confiabi-
lidade nas argumentações;
• apresenta os resultados.

Percebemos que a escola neoclássica utiliza o raciocínio dedutivo


para delinear os aspectos fundamentais para a solução de determina-
do problema que será investigado.

Outra escola de importância na economia política é a intitulada


schumpeteriana, tendo sido delineada graças a Joseph Alois Schumpeter,
um economista e cientista político austríaco. Essa escola defende que
as inovações correspondem a um mecanismo para o desenvolvimento
econômico de um país e para o acúmulo de riquezas. A elaboração de
alternativas produtivas e de pesquisas científicas proporciona a geração
de emprego e renda para determinada economia.

Defende também o conceito de destruição criativa, com base no en-


tendimento de que, no capitalismo, há um processo de autodestruição
com o aprimoramento de novas técnicas e formas produtivas ao longo
desse processo de transformação. As crises econômicas representam
esse movimento, com o aparecimento de novas empresas e negócios
que possam alterar o formato produtivo e proporcionar outras alterna-
tivas para o desenvolvimento econômico.

A argumentação em defesa das inovações é bastante importan-


te e prioriza o desenvolvimento de um parque produtivo nacional
para o delineamento de estratégias e políticas para esse objetivo.
Schumpeter (1961) menciona que as empresas, no processo de con-
corrência, desenvolvem novos bens, produtos, fontes de insumos e for-
mas de organização das companhias.

Os preços dos produtos e serviços não são fatores determinan-


tes, sendo o “novo” o elemento fundamental das análises dessa es-
cola. Schumpeter (1961, p. 110) menciona “o processo industrial que
revoluciona incessantemente a estrutura econômica a partir de den-
tro, destruindo incessantemente o antigo e criando elementos no-
vos”. Torna-se interessante observar que, quando uma firma elabora

A economia política 25
um produto com inovação, ela obtém um lucro extra superior ao das
concorrentes. Após esse momento, outras empresas irão tentar se
apropriar dessa inovação, tendo a dissipação do lucro entre várias
firmas concorrentes. Esse processo de inovação e incorporação do
novo é um elemento fundamental para o desenvolvimento econômico
(SCHUMPETER, 1982).

Artigo

https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/103734/000937164.pdf?sequence=1

O artigo Concepção de modelo de negócio de startup: um estudo sobre a aplica-


ção do modelo de desenvolvimento de clientes, das autoras Amanda Latosinski
Santos de Souza e Ângela de Moura Ferreira Danilevicz, publicado na Revista
Gestão e Produção, faz com que o leitor perceba que, dentro do processo
de inovação nas empresas, há um movimento de implementação de novos
negócios, com alternativas relacionadas ao desenvolvimento de opções cria-
tivas que possam maximizar o retorno dos empreendedores, dos colabora-
dores e da sociedade como um todo. As startups são empresas embrionárias
que trazem esse novo modelo de negócio atrelado ao movimento inovativo.
Muitas empresas inovadoras abrem seu capital no mercado de ações para a
realização de captações financeiras. O movimento de inovação traz o pensa-
mento da escola schumpeteriana, principalmente pela defesa das mudanças
nas formas e condutas empresariais.

Acesso em: 23 fev. 2021.

Uma outra escola da economia política que apresenta elevada re-


presentatividade no ambiente acadêmico e nos movimentos sociais é
a conhecida como marxista. A obra mais representativa desse movi-
mento é O Capital, de Karl Marx – sendo o primeiro exemplar publicado
em 1867, com várias versões mais atualizadas –, no qual o autor traz
uma crítica ao capitalismo, com uma visão socialista. Essa escola do
pensamento analisa o capital, entendido como o conjunto de recursos
monetários que se valorizam ao longo do tempo mediante a realização
de investimentos produtivos e especulativos.

Marx critica esse crescimento do capital, argumentando que há a


exploração da mão de obra pelo capitalista e a extração da mais-valia
nos processos produtivos. A mais-valia representa a diferença do ga-
nho do capitalista por trabalhador menos o salário pago, com uma
enorme disparidade. Dito de outra forma, para Marx, o salário é enten-
dido como o mínimo para a subsistência, sendo o trabalhador explora-
do em seu processo no trabalho. Além disso, o autor argumenta sobre
a exclusão social, própria do sistema capitalista, com elevada desigual-
dade e apropriação da renda por grupos minoritários.

26 Economia Política
A desigualdade social é representada pelo ganho dos capitalistas nos 7
processos produtivos e especulativos, isto é, o grande capital em um Um Estado que fornece
processo de valorização que minimiza os direitos sociais. A perda dos apenas a segurança e o mínimo
7 necessário para a população,
direitos adquiridos pelas pessoas e a presença de um Estado mínimo
sem benefícios sociais.
representam críticas ao sistema capitalista de produção, este trazido
pela obra O capital em seu escopo argumentativo. Karl Marx utiliza em
suas argumentações a dialética, sendo esta a expressão de um tipo de
raciocínio que traz o contraditório em suas análises. Diferentemente da
escola neoclássica, para o marxismo não há uma lógica nas relações so-
ciais, e os fenômenos somente podem ser analisados como um resul-
tado do movimento de classes e pelo processo contínuo de mudança
relacionada aos modos de produção (MARX, 1980).

De uma certa forma, Marx dialoga com a escola denominada de


schumpeteriana, principalmente pelo argumento a respeito das altera-
ções do capital no tempo e pela ruptura dos moldes de produção per-
tencentes ao sistema capitalista. As crises econômicas são investigadas
por essa escola, sendo representadas pelo movimento do capital para
perpetuar e manter o seu nível de concentração na realidade. O capi-
talismo somente se renova por meio da destruição dos modelos exis-
tentes e da implementação gradativa de novas alternativas produtivas.
No presente momento do capitalismo contemporâneo, é intensificado
o processo de exclusão social e de fortalecimento dos grandes grupos
empresariais que buscam somente o lucro e não têm preocupação
com o coletivo (CHESNAIS, 1996).

Vivenciamos a perda da legitimidade do Estado em detrimento aos


grandes grupos internacionais, bem como o aumento dos problemas
sociais em todo mundo. A Covid-19 é uma expressão do movimento
do capital na sua valorização, com a corrida pelas vacinas e devido à
interrupção dos processos produtivos e ao fortalecimento dos negó-
cios virtuais. Passamos por uma crise muito importante, com o au-
mento do número de desempregados, a escassez de recursos para
todos e a perda da legitimidade dos direitos das pessoas à educação,
saúde e aposentadoria digna. O meio ambiente é explorado, com fins
comerciais, sendo um forte reflexo do movimento do capital para se
valorizar. Dessa maneira, a escola marxista apresenta argumentações
a respeito desses temas, com críticas e sugestões de melhoria. Há uma
forte discussão entre a escola neoclássica e a marxista dentro dos am-
bientes profissional e acadêmico, e os liberais ganham essa batalha.

A economia política 27
Por fim, outra escola de elevada representatividade é a chama-
da de keynesiana. O principal mentor desse movimento foi o eco-
nomista John Maynard Keynes (1883- 1946), com o seu livro A teoria
geral do emprego, do juro e da moeda, no qual ele investiga a realidade e
defende a maior participação do Estado na economia. Essa escola tem
como principal argumentação que o fortalecimento dos gastos gover-
namentais é um elemento fundamental para o aumento do emprego
e da renda.

A maior participação estatal fortalece o direito das pessoas, indo ao


encontro da escola marxista, com forte apelo ao fortalecimento da dis-
tribuição dos recursos tributários para a população, por meio da imple-
mentação de políticas públicas que possam colaborar para o benefício
social das pessoas (KEYNES, 1996). Keynes argumenta, ainda, a respeito
do movimento empreendedor, como sendo definido como o “animal
spirits” – um sentimento relacionado ao ser humano que centraliza seu
desejo para inovar e implementar novas ideias e negócios.

De certa forma, a escola keynesiana dialoga com a neoclássica no


sentido de fortalecer o individualismo nesse processo empreendedor.
O Quadro 3 sintetiza as principais ideias das quatro escolas de pensa-
mento mais representativas da economia política.
Quadro 3
Escolas da economia política

Escolas Características
• Individualismo.
• Determinismo.
Neoclássica
• Fortalecimento do mercado.
• Defesa de um Estado mínimo.
• Defesa do movimento inovativo.
Shumpeteriana • Desenvolvimento técnico-científico.
• Efeito multiplicador na inovação.
• Crítica ao sistema capitalista de produção.
• Defesa dos direitos sociais.
• Fortalecimento do coletivo.
Marxista
• Defesa da igualdade.
• Diminuição da concentração financeira.
• Eliminação da exploração no trabalho.
• Defesa do aumento dos gastos governamentais.
Keynesiana • Fortalecimento do movimento empreendedor.
• Defesa do capitalismo.

Fonte: Elaborado pelo autor.

28 Economia Política
É importante verificar que todas as escolas contribuem para a com-
preensão da realidade, principalmente por trazerem análises a respeito
das relações produtivas e das pessoas no ambiente social. O conheci-
mento de cada uma delas favorece a elaboração de análises de merca-
do e o delineamento de políticas relacionadas ao âmbito social. A visão
abrangente é necessária para compreender as escolas de pensamento
na economia política.

Por outro lado, os economistas políticos passam por um importante


dilema: defender o capital ou o trabalhador? Portanto, é somente por
meio de leituras de artigos, estudos e pareceres que podemos delinear
os cenários possíveis relacionados aos diversos temas que possuem
representatividade no modo capitalista de produção. As escolas pro-
porcionam esse entendimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A economia política é um campo de conhecimento muito amplo, que
investiga diversos problemas relacionados ao convívio humano. Assim,
desenvolve pareceres e análises a respeito de problemas que alteram
a forma de produção das empresas e dos indivíduos. Ela colabora para
uma análise crítica do capitalismo contemporâneo, trazendo alternativas
e argumentações que possam minimizar os efeitos negativos para o meio
ambiente e para o âmbito social como um todo. Investiga o papel do Esta-
do na economia, mostrando os arranjos políticos e os interesses entre os
diversos atores, bem como contribuindo para a verificação dos resultados
econômicos nos diversos segmentos em uma determinada economia. Por
fim, aprimora seus recursos metodológicos com o objetivo de evidenciar
resultados satisfatórios em suas análises empíricas, ou seja, naquelas ba-
seadas na experiência e nas práticas.

ATIVIDADES
1. Quais são as principais dimensões investigadas na economia política?
Vídeo
Explique.

2. Comente, em linhas gerais, sobre a escola de pensamento marxista na


economia política.

3. Quais são as principais características da escola neoclássica dentro da


economia política?

A economia política 29
REFERÊNCIAS
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partir da obra de Celso Furtado. Cadernos do Desenvolvimento, Rio de Janeiro, v. 13,
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SMITH, A. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo:
Nova Cultural, 1996.

30 Economia Política
2
O neoliberalismo
Neste capítulo, desenvolveremos pontos importantes com
relação aos escopos teórico e prático do neoliberalismo. Na
primeira seção, estudaremos sobre o predomínio do mercado
no liberalismo, realizando considerações referentes a essa linha
de pensamento dentro do escopo da economia política. Em se-
guida, comentaremos a respeito do neoliberalismo e do delinea-
mento das políticas públicas, com uma abordagem crítica sobre
a influência neoliberal na implementação de ações governamen-
tais. Por fim, apresentaremos a lógica do mercado e o equilíbrio
econômico, realizando reflexões a respeito do mercado e uma
discussão sobre a possibilidade de um ambiente estável para a
concretização dos negócios.

2.1 O predomínio do mercado no liberalismo


Vídeo O liberalismo econômico é uma doutrina que surgiu no século XVIII,
e o principal responsável pelo delineamento das ideias liberais foi o
economista Adam Smith (1723-1790), que denominou o seu modelo
como sistema de liberdade natural – atualmente, os economistas o de-
finem como modelo clássico. Essa linha de pensamento pertencente à
economia política defende a intervenção mínima do Estado, a liberda-
de relacionada às atividades produtivas das empresas, o câmbio com
flexibilização e o predomínio da propriedade privada.

O liberalismo econômico defende a maior iniciativa das empresas,


principalmente relacionada às estratégias para a ampliação dos mer-
cados e para a otimização dos resultados em suas atividades. Particu-
larmente, o liberalismo ou modelo liberal preconiza a construção de
objetivos pautados na obtenção de retornos financeiros que possam
satisfazer os proprietários das empresas e os seus acionistas. Dessa
forma, as atividades produtivas devem estar pautadas com esse de-

O neoliberalismo 31
Livro lineamento, com redução de custos e ampliação das receitas. Além
disso, o mercado e todo o conjunto de instituições devem estar alinha-
dos com o estabelecimento de metas claras para a concretização dos
resultados no curto, médio e longo prazo.

O mercado no modelo liberal deve ter a capacidade de proporcio-


nar emprego e renda para a economia. Assim, pautado nas ideias do
liberalismo, defende o espírito empreendedor como “mola propulsora”
A obra intitulada A riqueza para as atividades produtivas. Dito de outra forma, a liberdade nas
das nações é indicada, ações relacionadas ao escopo empresarial deve ser intensificada, com
principalmente, para
compreender o funcio- a ampliação dos interesses que possam maximizar o lucro.
namento do mercado e
as suas características.
O pensamento de Adam Smith defende o predomínio do mercado
O liberalismo econômico no modelo liberal, caminhando no sentido inverso ao de um sistema
é muito influenciado por
este livro, principalmente
pautado na legitimação dos direitos adquiridos pelas pessoas para te-
pela defesa do “livre rem educação, saúde e assistência proporcionadas pelo Estado. Por-
mercado”.
tanto, nesse modelo, o mercado deve fornecer todos os bens e serviços
SMITH, A. São Paulo: Madras, 2009.
necessários para a sobrevivência das pessoas na sociedade, com o
máximo de bem-estar.

No entanto, os recursos não são suficientes para todos, com uma


limitada disponibilidade de produtos para satisfazer às necessidades
coletivas. A livre concorrência é uma circunstância que está inteiramen-
te relacionada ao liberalismo, sendo expressa pela total liberdade das
empresas em fixar os preços, controlar a produção e obter o equilíbrio
necessário para suas atividades produtivas. A maior abrangência, com
relação às estratégias adotadas pelas empresas no mercado, propor-
ciona o direcionamento das atividades produtivas para a obtenção de
retornos crescentes e a realização de novos investimentos ao longo da
cadeia produtiva. Adam Smith, em seu livro A riqueza da nações, pu-
blicado pela primeira vez em Londres, em 1776, delineia um cenário
em que o mercado pode auferir retornos crescentes para a concreti-
zação das atividades e a expansão dos negócios, deixando de lado os
aspectos relativos ao acontecimento de crises econômicas.

Uma crítica ao escopo liberal, preconizado por Adam Smith, enfatiza


1 que o predomínio do mercado no liberalismo não é perfeito, sobretudo
1
Interrupção de fluxos na pela ocorrência de gargalos durante os processos produtivos, sendo
produção relacionados à isso uma das causas para ocorrência das crises econômicas. O merca-
oferta de bens e serviços pelas
do inserido no modelo liberal deixa de lado os aspectos referentes à
empresas.
interrupção das atividades de produção de mercadorias e serviços na

32 Economia Política
economia. Ou seja, o mercado está sujeito a imperfeições que se rela-
cionam com os seguintes aspectos:

Não realização da totalidade Insuficiência para suprir toda a


1 das vendas em um setor 2 demanda.
produtivo.

Problemas relacionados ao Centralização da produção em


3 desenvolvimento de novas 4 grandes organizações.
tecnologias.

Falta de cooperação com Aumento de impactos negativos,


5 relação às estratégias adotadas 6 ou externalidades negativas, ao
pelas empresas. meio ambiente.

Diminuição de investimentos Acordos para a formação de preços


7 produtivos na economia e aumento de 8 abusivos, desencadeando-se inflação e
atividades especulativas. perda do poder aquisitivo das pessoas.

A perda da capacidade de realização das vendas em um cenário


produtivo é um aspecto que merece muita atenção, especialmente por
proporcionar o aumento de estoques indesejados nas empresas e a
incapacidade de escoamento da produção ao mercado. No liberalismo,
esse aspecto é deixado de lado, tendo como pressuposto a realização Vídeo
total das vendas; desse modo, existe o desenvolvimento de metodolo-
O vídeo Gestão de com-
gias de gestão de estoques, relacionadas ao âmbito da administração pras e estoques, do canal
Sebrae Minas, apresenta
financeira, com a construção de fluxos de processos, que são o delinea-
o conteúdo sobre o pla-
mento de alternativas para a concretização das ações produtivas em nejamento dos estoques,
um entendimento bas-
uma empresa – como tempo utilizado, insumos e tecnologias – para a
tante útil para minimizar
otimização dos resultados. os prejuízos das empre-
sas. No modelo liberal há
No entanto, qualquer tipo de solução relacionada à minimização uma preocupação sobre
dos estoques em um segmento produtivo não é capaz de lidar com as a otimização das vendas
como pressuposto para a
incertezas no mercado. A probabilidade de ocorrências adversas, como realização dos lucros.
a perda de poder aquisitivo dos consumidores, os problemas estrutu- Disponível em: https://www.
rais das empresas e a diminuição da demanda devido à concorrência youtube.com/watch?v=_aQf-
tKNrTs. Acesso em: 22 mar. 2021.
não são analisados no modelo liberal; portanto, o predomínio do mer-

O neoliberalismo 33
cado nesse sistema é imperfeito, sendo incapaz de solucionar os even-
tos inesperados associados às atividades produtivas.

O mercado no liberalismo apresenta um desenvolvimento


constante, utilizando novas tecnologias nos processos, visando alavan-
car os negócios com menos mão de obra para a oferta de bens e ser-
viços na economia. As tecnologias proporcionam maior rentabilidade
para as empresas, mas, por outro lado, ocasionam o desemprego, sen-
do uma falha estrutural do modelo liberal e do mercado. A ineficiência
dos fatores de produção é de extrema relevância, principalmente por
Atenção ser impossível a plena alocação de recursos nas atividades produtivas.
Fatores de produção são O mercado no liberalismo, na busca incessante por maiores lucros, de-
representados por capital e tra- lineia alternativas para a utilização de tecnologias que possam maxi-
balho, utilizados nas atividades
produtivas em uma empresa. mizar os resultados por meio de estruturas produtivas. No segmento
do agronegócio há uma quantidade intensiva de tecnologias utiliza-
das, sobretudo pela demanda crescente da população no mundo por
alimento.
2
2
No entanto, a produção em escala pode acarretar problemas re-
Utilização de tecnologias
associadas com mão de obra lacionados à qualidade dos alimentos e às sequelas para a saúde da
especializada, com o objetivo população, com ênfase nos vários adventos, como o aparecimento de
de obter maiores quantidades
e menores custos associados.
câncer e de outras enfermidades. A utilização de pesticidas é uma práti-
ca comum para obter uma maior quantidade de alimentos, porém com
3 um menor custo unitário. De fato, o mercado no liberalismo preconi-
3
za a intensificação da economia de escala para obtenção de ganhos
Retornos adicionais obtidos por
meio do uso de uma unidade marginais crescentes.
de tecnologia por etapa na
cadeia produtiva. Artigo

https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2019/10/07/por-que-a-producao-rural-depende-
tanto-de-agrotoxicos.ghtml.

O artigo Por que a produção de alimentos depende tanto de agrotóxicos?, de


Ricardy Tooge, publicado no site G1, em 2019, fala sobre a utilização de
agrotóxicos para a produção em larga escala na indústria alimentícia. Esse
é um fenômeno que preocupa a Organização Mundial da Saúde (OMS),
devido ao seu impacto negativo na saúde das pessoas. Por outro lado, a
produção artesanal ou orgânica apresenta limitações quanto à quantidade
ofertada no mercado.
Acesso em: 22 mar. 2021.

O predomínio do mercado no modelo liberal é excludente, isto é, as


empresas que não conseguem acompanhar as inovações são elimina-
das do mercado, com consequências drásticas para a economia como

34 Economia Política
um todo, provocando o aumento do desemprego e a incapacidade de
viabilização de empreendimento com menor custo de implementação.
Sendo assim, no modelo liberal há o maior incentivo quanto ao uso de
tecnologias para maximizar os resultados, de modo a eliminar as em-
presas que não possuem capacidade para disponibilizar seus produtos
com rapidez e eficiência.

De fato, o mercado no liberalismo concentrador, especialmente no


sentido de fortalecer grandes corporações com maior quantidade de di-
nheiro disponível para as transações financeiras e para o desenvolvimen-
to de tecnologias associadas à sua área de atuação, parte de uma atuação
de concorrência e caminha para uma maior centralização das atividades
produtivas. Temos vários exemplos nesse sentido; o mercado bancário
é concentrado, com grandes grupos financeiros no controle das opera-
ções financeiras, o que ocorre mesmo com o aparecimento de bancos de
menor porte, pois estes são associados e vinculados aos grandes grupos
financeiros. Verifica-se no segmento educacional uma elevada concentra-
ção de grandes grupos, internacionalizados e representados por outros
grupos de investimento, de acordo com Pereira (2017, p. 85):
no cenário brasileiro, até os anos 2000, as instituições de Ensino
Superior privadas (IESP) se encontravam predominantemente
sob o controle de mantenedores de natureza familiar. A partir de
2008, houve um aumento na quantidade de fusões e aquisições
realizadas no setor privado de ensino por intermédio de empre-
sários e de fundos de investimentos nacionais e internacionais.
Nesse contexto, enquanto o Estado promovia políticas públicas
de incentivo à expansão do Ensino Superior privado no país, as
IESP de pequeno e médio portes passaram a perder espaços e a
serem adquiridas pelas grandes empresas desse setor.

É importante dizer que essa concentração produtiva no mercado li-


beral faz parte do próprio processo de acumulação capitalista, sendo
a expressão direta do liberalismo na sua essência. Outro aspecto de
relevância é a diminuição da colaboração entre as empresas no merca-
do, sobretudo no âmbito do liberalismo. A concorrência, a obtenção de
4
maiores vantagens comparativas e a adoção de todo um conjunto de 4
estratégias pelas companhias têm como único objetivo dinamizar os ne-
Entendidas como um conjunto
gócios de modo prioritário para seus proprietários e os acionistas. Além de ações que buscam obter
disso, com o elevado movimento de abertura do capital no mercado vantagens em detrimento do
movimento colaborativo.
acionário, muitas empresas optam pelas políticas de compliance, ado-
tando metas e objetivos que maximizem os retornos para os acionistas.

O neoliberalismo 35
O compliance tem o objetivo de adequar as leis e os regulamentos
internos e externos de acordo com os padrões de conformidade. Dito
de outra forma, o compliance prioriza a adoção de práticas que possam
legitimar a transparência em todos os aspectos comportamentais, po-
líticos e econômicos. Dessa maneira, os relatórios financeiros devem
ser analisados por grupos de auditores externos e internos, principal-
mente para assegurar que as informações divulgadas aos acionistas
sejam verdadeiras e possam proporcionar critérios para a tomada de
decisões (ASSI, 2012).

Outro aspecto presente no mercado imerso no contexto liberal é


a relação entre a produção e o surgimento de externalidades positi-
vas. O conceito de externalidade está associado aos adventos positivos
ou negativos resultantes de processos produtivos. Particularmente, no
mercado liberal, as externalidades positivas estão ligadas ao aumento
dos lucros e de toda uma lógica que pertence ao âmbito dos negócios.
Por outro lado, as externalidades negativas possuem uma relação dire-
ta com os efeitos negativos relacionados ao meio ambiente, aos funcio-
nários e aos consumidores.

No modelo liberal, bastante preponderante no mercado, as exter-


nalidades negativas são muito frequentes, com forte impacto para as
empresas devido à diminuição da credibilidade e dos resultados finan-
ceiros. No entanto, dependendo do tamanho da organização, as exter-
nalidades negativas fazem parte do processo; dito de outra forma, os
prejuízos, causados pelas externalidades, são suprimidos pelo eleva-
do lucro que essas corporações obtêm ao longo do tempo. Assim, as
externalidades negativas estão muito presentes nos modelos de negó-
cio imersos no contexto do liberalismo de mercado, com efeitos desas-
trosos no meio ambiente e impactos negativos na qualidade de vida de
pessoas ao redor de todo o mundo.

O mercado, no modelo liberal, está sempre buscando alternativas


para os problemas que aparecem no decorrer das atividades produti-
vas. Atualmente, há uma teoria que envolve a economia circular, que
desenvolve metodologias para o uso adequado de recursos com menor
impacto ao meio ambiente. Entretanto, as tentativas para minimizar
os problemas relacionados aos processos de reciclagem não possuem
total eficácia, com resultados que são limitantes. A economia circular,

36 Economia Política
uma nova tendência para o mercado, envolve um conjunto de técnicas
que associam os custos e as externalidades negativas como tentativa
para quantificar os resultados, sobretudo com o uso de metodologia de
custo (ALBUQUERQUE, 2018).

No mercado liberal, predominante no liberalismo, as ideias de Adam


Smith influenciam o comportamento das empresas, principalmente com
o conceito de laissez-faire, que significa deixar de fazer, sendo um dos prin-
cipais pressupostos da economia política liberal. Esse modelo econômico
que delineia o mercado no liberalismo preconiza que o Estado deve garan-
tir a propriedade e proporcionar o mínimo necessário para a população,
dando total liberdade ao mercado. Desse modo, é evidente que o pensa-
mento de Adam Smith colaborou para a construção de todo o arcabouço
da microeconomia desenvolvido com base no modelo liberal, tendo como
objetivo fundamental organizar o mercado e as empresas por meio de
raciocínios deterministas, baseados em uma lógica fundamentada em da-
dos referentes aos insumos, à produção, à mão de obra e ao formato do
mercado em determinado contexto produtivo.

O modelo liberal que fortalece o mercado é delineado com ferra-


mentas que legitimam o lucro em detrimento do amparo social, sendo
um problema de relevância nesse modelo de pensamento pertencente
à economia política. As ferramentas utilizadas pelo mercado para oti-
mização dos lucros são as seguintes:
• preceitos relativos à governança corporativa para a legitimação Saiba mais
do market share; O market share corresponde a
uma fatia de mercado dominada
• instrumentos para intensificação das informações, como mode- por determinada empresa ou
los SAP (sistemas, aplicativos e produtos para processamento de grupo empresarial.
dados);
• modelagem de processos no âmbito produtivo;
• desenvolvimento de tecnologias para plataformas digitais;
• abertura do capital no mercado financeiro.

O mercado imerso na doutrina liberal não é capaz de solucionar os


problemas referentes ao fluxo da produção e à satisfação das necessi-
dades coletivas. Apesar de a ideia empreendedora do modelo liberal
ser muito útil para o fomento de novos negócios, há um elevado grau
de insuficiência no mercado para suprir as necessidades sociais e das

O neoliberalismo 37
instituições. Particularmente, o mercado no modelo liberal, preconiza-
do por Adam Smith, apresenta algumas características muito peculia-
Vídeo
res, tendo como ponto principal os seguintes aspectos:
O vídeo Luta do século –
Keynes x Hayek, do canal • aumento da concorrência e eliminação de empresas que não
Rocky trader, apresenta
são competitivas;
um debate entre dois
economistas com pensa- • individualismo nas atitudes relacionadas à gestão das compa-
mentos opostos; Keynes
defende a atuação do
nhias, tendo como ponto principal a obtenção de maiores vanta-
Estado na economia, gens para o comércio e de retornos financeiros;
enquanto Hayek defende
a liberdade do mercado. • desvinculação do Estado para o desenvolvimento de
É interessante constatar a políticas sociais;
diferença de pensamento
entre o keynesianismo, • privatização das instituições públicas.
com a defesa de uma
maior participação do Portanto, o modelo de mercado liberal deixa de lado a perspectiva
Estado na economia, e
o neoliberalismo, com o
da construção de um Estado de direito, com a promoção dos bens ne-
fortalecimento do merca- cessários para a população e a diminuição das sequelas sociais. O mo-
do. Seria, então, possível
chegar a um equilíbrio
delo liberal otimiza os resultados para aqueles que possuem renda e
entre essas posturas capacidade de gerir os seus próprios caminhos, com uma marca pro-
econômicas e políticas?
funda no pensamento individualista, este permeado pelo espírito em-
Disponível em: https://
preendedor. Por outro lado, o mercado no modelo liberal trouxe um
www.youtube.com/
watch?v=u0ypw6MXbpc&t maior entendimento a respeito de novas alternativas relacionadas às
=5s&ab_channel=Rockytrader.
inovações e ao desenvolvimento científico impulsionado pela garantia
Acesso em: 22 abr. 2021.
de maiores retornos financeiros.

2.2 O neoliberalismo e o delineamento


Vídeo das políticas públicas
O neoliberalismo pode ser compreendido como uma extensão do libe-
ralismo para o mundo contemporâneo. Esse aprofundamento na análise
está relacionado ao conjunto de fatores sociais, políticos e econômicos
que permeiam o capitalismo na atualidade, principalmente associados
ao movimento do capital e às suas formas de expansão. A acumulação
capitalista representa a principal razão das sociedades contemporâneas,
em virtude do aparecimento e da intensificação das formas produtivas
que possuem uma relação com a velocidade de processamento de dados,
bem como de um novo contexto que possui estreita relação com a força
do neoliberalismo perante o delineamento das políticas públicas. De fato,
presenciamos um Estado que é valor, sobretudo no sentido de fortalecer

38 Economia Política
o capital privado e de proporcionar mecanismos que tornem o mercado
capaz de suprir suas necessidades de obtenção de lucro.

A princípio, o fundo público, representado pelo montante de dinhei-


ro do Estado, deveria fornecer os direitos das pessoas e o acesso à
saúde, educação e assistência. No liberalismo há uma forte presença
do mercado para o suprimento das necessidades da população, com a
cobrança de serviços e o delineamento de estratégias para oferecer os
bens e produtos que o Estado deveria proporcionar para as pessoas.

Presenciamos um Estado liberal com características bastante pecu-


liares, delineando políticas públicas que possam legitimar o mercado no
mundo contemporâneo. O Estado liberal, permeado pelo neoliberalismo,
representa a expressão de um novo contexto no cenário capitalista de
produção. É por meio da construção de uma nova inteligência coletiva
que esse cenário é fortalecido. Assim, Prado (2005, p. 13), coloca que:
sustenta-se aqui que o capitalismo está saindo da etapa de gran-
de indústria para passar para a fase da pós-grande indústria e
que a matéria privilegiada da relação de capital – este, lembran-
do, só existe por meio de suas formas – está se modificando. Se
antes a matéria por excelência do capital era o sistema de má-
quinas, agora vem a ser o que Marx denominava de inteligência
coletiva (general intellect) – ou seja, uma força produtiva social
inerentemente desterritorializada que pode estar, em princípio,
em todos os lugares ao mesmo tempo. Se antes o capital pro-
dutivo aparecia, sobretudo, como ativo físico (máquina, fábrica
etc.), agora ele se configura de modo especial como ativo intangí-
vel (informação, conhecimento etc).

O delineamento das políticas públicas no neoliberalismo apresenta


uma profunda relação com uma nova forma de produção no sistema
capitalista, marcada pelo mundo virtual em todos os aspectos da vida
cotidiana. A intensificação das relações virtuais ou intangíveis apresen-
ta uma característica bastante singular: uma maior concentração das
atividades na distribuição de produtos, na fabricação de bens e no for-
necimento de serviços baseados na maior utilização de tecnologias em
detrimento da força de trabalho.

Para que esse movimento possa ocorrer com plena efetividade, o


Estado deve proporcionar o mínimo necessário para a população e o
máximo para o funcionamento das atividades relacionadas ao conheci-

O neoliberalismo 39
mento volátil, que é intensificado nesse novo momento do capitalismo
contemporâneo. O Estado liberal, dentro desse contexto, apresenta os
seguintes pontos:

Shutterstock
Aspectos políticos

Jane Kelly/
O estado liberal, com a defesa do mercado, a partir de uma atuação
5 minimizada no contexto econômico, apresenta características bastante
Individualismo metodológico peculiares relacionadas a diminuição dos custos e dos benefícios sociais:
é um conceito muito utilizado 5
no âmbito do neoliberalismo, • A intensificação do individualismo metodológico , muito presen-
com a maior intensificação te no delineamento das políticas públicas liberais. O indivíduo é
das habilidades individuais e a capaz de conseguir aquilo de que precisa, não sendo necessária a
diminuição do amparo coletivo
na sociedade. intervenção do Estado para suprir as demandas sociais.
• Uma maior liberdade nos meios de comunicação, com uma me-
Vídeo nor intervenção do Estado perante os veículos de empresa.
O vídeo Políticas neoli- • A construção de políticas que procurem somente fornecer o mínimo
berais, do canal TV UFG,
necessário, sendo uma característica marcante do Estado mínimo.
apresenta ao espectador
um debate, promovido • A ausência de privilégios perante as leis; todos são iguais, não há
pela TV da Universidade
Grande Dourados (UFG),
maiores benefícios para grupos na sociedade.
para uma melhor com- • Representatividade estatal, com a legitimação de uma constitui-
preensão da configuração
do neoliberalismo no ção que possa fortalecer um Estado liberal nas suas atribuições.
contexto do capitalismo
Aspectos sociais
Shutterstock

de mercado.
nexusby/

Disponível em: https:// A meritocracia é tida como algo preponderante, com a defesa de
www.youtube.com/
watch?v=cjd1waOXp6Y. Acesso em: que o lugar de cada indivíduo está inteiramente relacionado com a sua
22 mar. 2021. competência individual. O Estado, no neoliberalismo, defende que há
oportunidades para todos, mediante o grau de instrução, bem como
as capacidades e as habilidades específicas para o desenvolvimento do
trabalho e a promoção do empreendedorismo.

Sobre a meritocracia, é importante mencionar que o mérito é en-


tendido como as conquistas relacionadas aos indivíduos; assim, a vida
deve ser encarada como uma luta, e o retorno está associado ao sucesso
obtido nesse caminho movido pela capacidade individual. A fragmenta-
ção social é uma consequência representativa desse contexto neoliberal
permeado pela meritocracia, com diferenças nos padrões de renda e no
acesso aos bens e serviços necessários ao indivíduo. Quanto maior o
nível de qualificação, maior a capacidade de adquirir aquilo que é ne-
cessário para manter o status social e para fortalecer determinadas classes
em detrimento de outras em uma mesma sociedade (GAULEJAC, 2014).

40 Economia Política
É certo que os valores sociais são fortalecidos pelo desejo do consumo Vídeo
e pela aquisição de bens e serviços para a manutenção de uma situação O vídeo Políticas sociais
diante da pandemia, do
econômica dentro dos padrões neoliberais. Inclusive, o poder para nego- canal Esquerda Online,
ciação é acentuado nesse contexto, pois aqueles que possuem maiores apresenta importantes
considerações sobre o
bens são protegidos pelos mecanismos do Estado e pelo amparo legal. impacto da diminuição do
financiamento da saúde
O ser humano não consegue desenvolver suas habilidades e ter ca- no período neoliberal,
pacidades totalmente independentes, logo é fundamental abordar os que marca o delineamen-
to das políticas públicas
aspectos coletivos para o fomento do amparo social e para a concre- no Brasil. Com o advento
tização de políticas públicas condizentes com a população. No neoli- da pandemia, houve o
crescimento do trabalho
beralismo, o Estado não tem a preocupação com o aprofundamento remoto e a acentuação
de problemas sociais de relevância, como o desamparo e sequelas do distanciamento entre
as pessoas no mundo.
decorrentes da perda de autonomia. Portanto, a insegurança se torna O Estado marcou sua
coletiva, com reflexos no ambiente do trabalho: presença com a adoção
de políticas públicas que
sentimento de não estar ‘em casa’ no trabalho, de não poder se maximizam os resultados
fiar em suas rotinas profissionais, em suas redes, nos saberes sanitários e o aumento
dos contágios devido à
e habilidade acumulados graças à experiência ou transmitidos
pandemia de Covid-19.
pelos mais antigos; é o sentimento de não dominar seu trabalho Ao mesmo tempo, houve
e precisar esforçar-se permanentemente para adaptar-se, cum- o aumento do desem-
prego e do desemparo
prir os objetivos fixados, não arriscar-se física ou moralmente
social.
(no caso de interações com usuários ou cliente). É o sentimento
Disponível em: https://
de não ter a quem recorrer em caso de problemas graves no
www.youtube.com/
trabalho, nem aos superiores hierárquicos (cada vez mais raros e watch?v=fChHTn4t7-M. Acesso em:
cada vez menos disponíveis) nem aos coletivos de trabalho, que 22 mar. 2021.
se esgarçam com a individualização sistemática da gestão dos
assalariados e a concorrência entre eles. É o sentimento de iso-
lamento e abandono. É também a perda da autoestima, que está
ligada ao sentimento de não dominar totalmente o trabalho, de
não estar à altura, de fazer um trabalho ruim, de não estar segu-
ro de assumir seu posto. (LINHART, 2014, p. 46)

Ainda, no Estado neoliberal, os aspectos políticos representam uma


elevada importância no atual contexto do neoliberalismo e seus refle-
xos para a configuração das políticas públicas.

Aspectos econômicos
Shutterstock
davooda/

A dimensão econômica tem importância fundamental, por estar re-


lacionada aos fluxos financeiros dentro do contexto produtivo, com rel-
fexos no desempenho da economia e com consequências para a renda
e emprego:
• A defesa da propriedade privada como mola propulsora para o
dinamismo da economia. A propriedade privada não deve ser
configurada para a promoção da função social.
O neoliberalismo 41
• A preponderância do livre mercado; a lei da oferta e procura rege
todo o mercado. O Estado não pode atuar em questões relacio-
nadas aos preços ou ao uso abusivo de vantagens comerciais
nos segmentos produtivos. Uma mão invisível deve permear os
Podcast mercados para a obtenção dos melhores resultados para todos.
Ganha quem é mais competitivo, lucra quem descobre novos “ni-
O podcast A desigualdade chos de mercado”, que são oportunidades pautadas na obtenção
no Brasil fala sobre os
aspectos tributários e a
de maiores retornos, mediante estratégias adotadas para esse
igualdade na distribuição objetivo, a fim de concretizar seus negócios.
de renda. É importante
compreender o impacto • A legitimização da utilização de políticas de tributação de maior
a respeito da aplicação intensidade para as populações mais carentes e de menor inten-
feita pelo Estado de
impostos sobre grandes sidade para os grupos de maior poder aquisitivo. Inclusive, os
fortunas. As políticas impostos sobre os alimentos apresentam um elevado impacto
públicas no neoliberalis-
mo não caminham nesse
sobre as populações carentes.
sentido, havendo uma
maior acentuação da O neoliberalismo influencia diretamente a construção das políticas
concentração de renda e públicas, com a acentuação dos gastos governamentais e a menor par-
dos privilégios das classes
de maior nível de renda. ticipação do Estado na economia. As políticas configuradas pelo Esta-
Disponível em: https://www1.folha. do assumem um papel de menor importância para os efeitos sociais,
uol.com.br/podcasts/2019/08/ com o mercado no controle da distribuição dos produtos e serviços
podcast-explica-a-desigualdade-
no-brasil-ouca.shtml. Acesso em: para a sociedade como um todo. No neoliberalismo, as políticas públi-
22 mar. 2021. cas devem ser configuradas com o mínimo necessário para a sobrevi-
vência humana.

2.3 A lógica do mercado e equilíbrio econômico


Vídeo O mercado pode ser compreendido como um conjunto de empre-
sas, instituições públicas e privadas e consumidores. Temos, então,
operações no âmbito produtivo e especulativo. Na esfera produtiva
há a comercialização de bens e serviços para a sociedade, e os pre-
ços são estipulados mediante a lógica da oferta e procura e por inte-
resses políticos, sociais e econômicos que estão inseridos em todo o
ambiente que envolve a circulação de mercadorias.

A lógica do mercado sempre foi entendida no neoliberalismo


como o equilíbrio entre a curva de oferta e procura. Sendo assim,
quando os preços sobem, há uma queda na quantidade demandada
(procura) e um maior estímulo em produzir (oferta). No sentido con-
trário, quanto os preços caem, temos um maior estímulo em deman-
dar (procura) e um menor estímulo em ofertar (oferta).

42 Economia Política
Os preços e as quantidades caminham pelas duas curvas, porém
há um momento em que o equilíbrio do mercado é estabelecido, pelo
igual estabelecimento de um preço e de uma quantidade de equilíbrio
estipulada pelo mercado (VARIAN, 2015). A Figura 1 exemplifica o com-
portamento da curva de oferta e demanda no mercado de imóveis, por
meio da concretização de um preço e de uma quantidade de equilíbrio
no mercado.

Figura 1
Curva de oferta e demanda no mercado imobiliário
Preço de
reserva Oferta Oferta
nova anterior

p*
Demanda
anterior

Demanda
nova

S S' Número de apartamentos

Fonte: Varian, 2015, p. 50.

É importante considerar que o modelo de equilíbrio de mercado


foi elaborado pela corrente neoliberal pertencente ao escopo teóri-
co e prático da economia política. Ainda, apresenta algumas limita-
ções importantes relacionadas aos fatores políticos e institucionais
que fazem parte de qualquer mercado, como acordos sobre preços,
limitações com relação à quantidade ofertada de imóveis, reajustes
dos aluguéis, políticas governamentais relativas aos financiamentos,
entre outros aspectos.

Apesar de ser um modelo de bastante relevância, não há a des-


crição de aspectos que envolvam o âmbito social e político que per-
meia qualquer segmento produtivo. Torna-se necessário dizer que
outra falha desse modelo consiste na afirmação de que há um equilí-
brio que é obtido por meio da interação entre as duas curvas, sendo
isso algo que nunca pode ser alcançado na prática. Os modelos eco-

O neoliberalismo 43
nômicos pertencentes ao modelo neoliberal apresentam restrições
Atenção em suas análises, sobretudo pelos efeitos adversos que qualquer
Efeitos adversos são entendidos mercado pode apresentar ao longo de suas operações.
como acontecimentos ines-
perados que podem alterar o É impossível obter um equilíbrio em qualquer mercado, principal-
planejamento de um negócio. mente devido aos efeitos adversos presentes em quaisquer ramos de
atuação. Os preços não podem permanecer em equilíbrio, especial-
mente pela incidência de novos arranjos produtivos, que podem surgir
ao longo da existência de qualquer mercado. Os arranjos produtivos
são definidos como o conjunto de alternativas disponíveis para a con-
cretização e efetivação de um mercado ao longo do tempo.

Os arranjos produtivos são instáveis e não podem assumir um po-


sicionamento constante durante a realização das atividades comerciais
e especulativas de um empreendimento. Os arranjos produtivos são
os responsáveis pela instabilidade dos mercados e apresentam uma
Saiba mais
relação com os seguintes aspectos:
A transformação da moe-
da em um produto virtual • os insumos e as mercadorias utilizadas na produção de bens e
é um fenômeno muito serviços sofrem alterações nos seus formatos, devido ao avanço
representativo no atual
momento do capitalismo das tecnologias;
contemporâneo. A ex-
trema rapidez com que
• os preços dos insumos apresentam oscilações, devido à inflação
as transações financeiras e aos acordos com fornecedores potenciais;
são realizadas desempe-
nha um importante papel • as tecnologias utilizadas na produção sofrem depreciação, com
no desenvolvimento de consequências diretas nos custos de fabricação e aumento do
novas estratégias no
mercado e na elevada
ônus financeiro para reposição de maquinário;
volatilidade dos negócios • a mão de obra deve acompanhar as inovações, em especial com
pertencentes ao cenário
de produção e ao relação ao grau de conhecimento técnico, com impactos na re-
mercado de capitais. As muneração dos trabalhadores e reflexos nos preços finais dos
criptomoedas ou moedas
virtuais apresentaram produtos oferecidos ao mercado;
uma valorização repre-
• a concorrência entre as empresas favorece a implementação de
sentativa em tempos
recentes. Saiba mais novas estratégias, com consequências na quantidade dos produ-
sobre a Bitcoin clicando tos ofertados e nos preços;
no link a seguir.
• as variáveis econômicas, como juros, câmbio e crédito, interfe-
Disponível em: https://
www.moneytimes.com.br/ rem nas empresas com efeitos nos preços praticados e nas quan-
jpmorgan-o-preco-do-bitcoin- tidades disponibilizadas ao mercado;
esta-insustentavel-e-volatilidade-
precisa-diminuir/. Acesso em: 22 • a menor ou maior intervenção estatal colabora para a promoção
mar. 2021.
de impactos associados ao mercado, como abertura ao capital

44 Economia Política
estrangeiro e cobrança de impostos ou subsídios, que são enten-
didos como taxas favoráveis para obtenção de crédito ou dimi-
nuição dos impostos praticados;
• os consumidores mudam suas preferências, com oscilações na
procura (demanda) e repercussões na oferta de produtos e pre-
ços praticados;
• o perfil de renda dos consumidores é alterado de acordo com
fatores relacionados ao ambiente econômico, como as ta-
xas de desemprego, inflação e remuneração oferecidas pelas
empresas.

É imprescindível compreender que o mercado nunca estará em


equilíbrio; portanto, o pensamento neoliberal ligado à defesa da li-
vre concorrência para obter um ambiente próspero para todos é uma
defesa sem fundamentação na realidade. A concorrência estimula
as empresas a obterem maiores vantagens comparativas relativas à
obtenção de uma maior participação no mercado, com a oferta de be-
nefícios aos consumidores e produtos e serviços que possam alcançar
as expectativas de consumo dentro do ambiente produtivo em profun-
da transformação.

O ambiente produtivo tem relação com o especulativo, inclu- 6


6
sive com o processo de transformação dos ativos associados às Bens com diferentes graus de
transações de curto prazo. Logo, a noção de equilíbrio está muito longe liquidez, isto é, produtos que
podem ser transformados em
de ser concretizada. moeda corrente e utilizados
para transações no mercado
Assim, o mercado apresenta uma estrutura muito complexa,
financeiro.
sendo investigada pelo campo teórico da microeconomia. No mer-
cado, temos que analisar o comportamento dos consumidores, das
empresas e dos governos, o efeito dos impostos na cadeia produ-
tiva, as inovações, o impacto nos preços e outras considerações
pertencentes ao âmbito das trocas de mercadorias, das suas co-
mercializações e da oferta de serviços.

A Figura 2 exemplifica a estrutura do mercado e a quantidade de


aspectos que merecem ser investigados para o seu delineamento.
A elevada complexidade dos mercados impossibilita a concretização de
um equilíbrio, portanto é fundamental verificar os condicionantes polí-
ticos, sociais e econômicos que permeiam a estrutura de um mercado
e sua relação com o âmbito econômico.

O neoliberalismo 45
Figura 2
Esquema neoliberal de mercado

O mercado

Orçamento

Preferências

Utilidade

Incerteza Escolha

Escolha intertemporal Demanda Preferência revelada

Mercado de ativos Excedente do consumidor Demanda de mercado Equação de Slutsky

Ativos de risco Compra e venda

Equilíbrio Troca

Leilões Tecnologia da
informação

Maximização de lucro Tecnologia Produção Bem-estar

Minimização dos custos

Curvas de custo

Oferta da empresa

Oferta da indústria

Comportamento monopolista Monopólio Oligopólio

Mercados fatoriais Externalidades


Teoria dos jogos

Bens públicos Aplicações da Teoria dos jogos

Informação assimétrica

Fonte: Varian, 2015, p. 11.

46 Economia Política
A Figura 2 demonstra todos os itens de funcionamento do mercado,
com o conceito do equilíbrio adotado como um fenômeno que pode
ser concretizado. Perceba que o item da incerteza é colocado no es-
quema analítico neoliberal, sendo algo de extrema importância relacio-
nado à volatilidade dos mercados e à possibilidade de acontecimentos
inesperados.

A maximização dos lucros expressa o desejo do capitalista de obter


maiores retornos financeiros, sendo um elemento fundamental para
a visualização de desequilíbrios no mercado, principalmente devido à
oscilação das estratégias adotadas pelos empreendedores e à realiza-
ção de maiores investimentos resultantes da acumulação no processo
de valorização do capital no tempo.

As externalidades estão presentes no modelo e correspondem a um


aspecto fundamental para o fortalecimento da argumentação sobre a
impossibilidade de se obter equilíbrio nos segmentos de mercado. Elas
impactam o meio social, tanto beneficamente como causando prejuízos
para populações ou outras instituições presentes na economia. Desse
modo, desastres, efeitos climáticos, dentre outros fenômenos, podem
acarretar desequilíbrios no mercado e proporcionar diferenças nas
quantidades demandadas e ofertadas em um certo intervalo de tempo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O neoliberalismo representa o pensamento dominante nas economias
em todo o mundo. Presenciamos a ampliação do poder de mercado em
detrimento dos direitos sociais adquiridos pelas pessoas por meio do paga-
mento de impostos durante suas atividades produtivas. O neoliberalismo
trouxe o avanço tecnológico, o aumento da concentração das empresas,
a desigualdade social e o desemprego. É fundamental compreender que
é possível ter um sistema capitalista mais igualitário, com uma distribuição
de renda mais igual e com o desenvolvimento de alternativas que possam
promover o bem-estar das pessoas para a sobrevivência e o convívio em
sociedade. Passamos por um momento de transformação, com o surgi-
mento de problemas ambientais, pandemias e todo um contexto que favo-
rece a construção de um cenário mais promissor para todos.

O neoliberalismo 47
ATIVIDADES
1. Escreva em linhas gerais o pensamento de Adam Smith e a sua
Vídeo
influência no delineamento do liberalismo.

2. Como as políticas públicas são delineadas por meio do pensamento


neoliberal? Explique.

3. Comente sobre o equilíbrio de mercado.

REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, T. L. M. Análise dos custos e externalidades no contexto da economia
circular. 2018. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Centro Universitário FEI,
São Bernardo do Campo. Disponível em: https://repositorio.fei.edu.br/handle/FEI/131.
Acesso em: 22 mar. 2021.
ASSI, M. Gestão de riscos com controles internos: ferramentas, certificações e métodos para
garantir a eficiência dos negócios. São Paulo: Saint Paul, 2012.
GAULEJAC, V. Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação
social. Aparecida: Ideias & Letras, 2014.
LINHART, D. Modernização e precarização da vida no trabalho. In: ANTUNES, R.
(org.). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil III. São Paulo: Boitempo, 2014.
PEREIRA, T. L. Monopolização do Ensino Superior privado no Brasil por meio de processos de
fusões e aquisições: o grupo UNIESP em questão. 2017. Tese (Doutorado em Educação) –
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande.
Disponível em: https://docplayer.com.br/86800017-Monopolizacao-do-ensino-superior-
privado-no-brasil-por-meio-de-processos-de-fusoes-e-aquisicoes-o-grupo-uniesp-em-
questao.html. Acesso em: 22 mar. 2021.
PRADO, E. F. S. Pós-grande indústria e neoliberalismo. Revista de Economia Política, v. 25,
n. 1, p. 11-27, 2005.
VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. São Paulo: Elsevier, 2015.

48 Economia Política
3
O marxismo e as relações
econômico-políticas
Neste capítulo, desenvolveremos pontos importantes rela-
tivos ao escopo teórico e prático relacionado ao neoliberalismo.
Abordaremos, inicialmente, o escopo teórico e prático da teoria de
Karl Marx. Em seguida, comentaremos o movimento de acumula-
ção do capital e, por fim, apresentaremos a lógica sobre o processo
de financeirização econômica.

3.1 A economia política de Karl Marx


Vídeo Karl Marx foi um filósofo com vastos conhecimentos a respeito de
sociologia, história, economia e no âmbito do jornalismo. Nasceu na
Prússia e posteriormente ficou a maior parte de sua existência em
Londres. A contribuição de Karl Marx na economia política é bastante
representativa para o entendimento do processo de acumulação ca-
pitalista. Além disso, ele publicou vária obras durante sua vida, sen-
do as mais representativas O manisfesto comunista (1848) e O capital
(1867-1894).

A economia política de Karl Marx tem uma profunda relação com a


compreensão a respeito do trabalho e do capital. Sendo que o traba-
lho se trata da quantidade necessária de tempo destinado para a con-
cretização de atividades laborais, tendo como objetivo fundamental
a sobrevivência relacionada à aquisição de bens e de serviços em um
sistema capitalista de produção. Já o capital é entendido como a quan-
tidade de dinheiro necessária para a realização de empreendimentos
e para a devida organização de mão de obra e de tecnologias, com
o intuito de delinear um processo produtivo relativo à produção de
uma mercadoria.

O marxismo e as relações econômico-políticas 49


Ou seja, o trabalho tem uma relação com o capital, principalmen-
te no sentido de assegurar os ganhos do capitalista em um processo
produtivo. Para compreender melhor essa relação, é fundamen-
tal entender como um processo produtivo é delineado e qual são
os papéis do trabalho e do capital nesse cenário (WELLEN, 2019).
Primeiramente, quando um capitalista deseja investir, é necessá-
rio que determinada quantidade de dinheiro seja destinada para a
concretização do negócio. Essa quantidade primária é denominada
capital inicial e possui uma relação direta com o desejo de investir
do capitalista.

Para que um empreendimento possa ocorrer, é fundamental a or-


ganização da mão de obra e das tecnologias para a produção de uma
mercadoria ou de serviço. Durante esse processo, chamado de pro-
cesso produtivo, o trabalhador dedica o seu tempo para as atividades
relacionadas à produção, tendo como objetivo obter o maior nível de
produtividade associada à elaboração da mercadoria vinculada ao ne-
gócio. É interessante entender que a produtividade está associada à
quantidade de tempo necessária para cada etapa produtiva e o resul-
tado está associado a cada etapa em um ambiente operacional ligado
ao empreendimento.

Quanto maior a produtividade, maior a quantidade de produto


ou de mercadoria associada e, consequentemente, maior será o lu-
cro auferido pelo capitalista. Agora, qual seria a origem do lucro?
Este, segundo Karl Marx, está relacionado ao processo da obtenção
da mais-valia gerada pelo trabalhador. A mais-valia pode ser com-
preendida como o ganho sobre o salário obtido ao longo de um pro-
cesso de trabalho. Dito de outra forma, a mais-valia representa o
ganho do capitalista.

Cada trabalhador recebe como remuneração um salário que corres-


ponde ao mínimo necessário para a sobrevivência e, no fluxo produ-
tivo, temos a realização das vendas das mercadorias ou dos serviços
com a obtenção dos lucros. Portanto, a mão de obra ou o trabalho ofe-
rece os requisitos fundamentais para a obtenção do lucro empresarial,
expresso pela diferença entre o preço de venda da mercadoria ou do
serviço menos os itens de custos e impostos.

50 Economia Política
De fato, o trabalho é remunerado por um preço natural de mercado,
associado ao mínimo necessário para a subsistência do trabalhador:
o trabalho, como todas as outras coisas que são compradas e
vendidas, e que podem ser aumentadas ou diminuídas em quan-
tidade, tem seu preço natural e de mercado. O preço natural do
trabalho é aquele preço que é necessário para permitir que os
trabalhadores, um depois do outro, subsistam e perpetuem sua
raça, sem aumento ou diminuição. (RICARDO, 2001, p. 58)

Sem o papel da mão de obra é impossível obter a realização da


mais-valia e a geração do lucro ao capitalista em um processo de pro-
dução. Por outro lado, a tecnologia é associada aos instrumentos ne-
cessários para o aumento da produtividade do trabalhador, sendo um
elemento importante para a intensificação da mais-valia associada ao
processo produtivo. É interessante observar que a Teoria da Mais-valia
elaborada por Karl Marx é muito representativa, até mesmo, no mundo
contemporâneo, o qual é marcado pela presença e pela intensificação
das tecnologias associadas ao ambiente do trabalho.

Artigo

https://www.periodicos.ufes.br/ppgadm/article/view/27901

No artigo Benefícios e desafios do ‘home office’ em empresas de tecnologia da


informação, das autoras Deise Bitencourt Haubrich e Cristeane Frohlich, pu-
blicado na Revista Gestão&Amp, percebemos que as tecnologias assumem
importância fundamental relacionada ao mundo dos negócios. As platafor-
mas digitais estão presentes nos serviços bancários, na educação e na área
da saúde. Inclusive com o crescimento das atividades de home office em
empresas no segmento da tecnologia de informação.

Acesso em: 19 abr. 2021.

Inclusive, no mundo contemporâneo, as tecnologias marcam sua


presença, principalmente como poupadoras da mão de obra. Karl Marx
comenta a respeito, em especial com a definição do conceito denomina-
do exército industrial de reserva, sendo muito importante para o delinea-
mento dos salários e para promover o lucro dos capitalistas, os donos e
proprietários dos meios de produção (trabalho e tecnologias). O exército
industrial de reserva representa a quantidade de pessoas economica-
mente ativas para desempenhar alguma função dentro da sociedade e
não empregadas nas empresas e nas instituições públicas ou privadas
que fazem parte de um cenário econômico.

O marxismo e as relações econômico-políticas 51


Quanto maior a quantidade de pessoas no exército industrial de
reserva, maior é a queda dos níveis salariais e, como consequência,
maior será o lucro dos capitalistas que aplicam dinheiro nos seus
negócios. É importante perceber que o exército industrial de re-
serva é indiretamente proporcional aos ciclos econômicos, enten-
didos como os pontos de pleno emprego ou de crises econômicas
decorrentes do sistema capitalista de produção. A figura a seguir
exemplifica esse movimento entre o exército industrial de reserva
e os ciclos econômicos.
Figura 1
Ciclo econômico sob a perspectiva marxista: cenário de prosperidade

Pleno
emprego

Menor o
Menor o lucro exército
dos capitalistas industrial de
reserva

Maior a
Menor a remuneração
mais-valia da mão de
obra (salários)

Fonte: Elaborada pelo autor.

A mais-valia em um cenário de pleno emprego é maior à medida


que novas tecnologias são inseridas nos processos produtivos, inten-
sificando a produtividade por trabalhador empregado na produção e
proporcionando maiores lucros aos capitalistas. A Figura 2 ilustra um
ciclo econômico recessivo e o impacto sobre o nível de salários e gera-
ção de excedente ao capitalista (mais-valia).

52 Economia Política
Figura 2
Ciclo econômico sob a perspectiva marxista: cenário de recessão

Desemprego

Maior o
Maior o lucro exército
dos capitalistas industrial de
reserva

Menor a
Maior a remuneração
mais-valia da mão de
obra (salários)

Fonte: Elaborada pelo autor.

A relação entre trabalho e tecnologia é um assunto muito im-


portante na obra de Karl Marx e para a contribuição ao escopo da
economia política, principalmente por tentar compreender o mo-
delo que o segmento produtivo assumiu em diferentes cenários e
circunstâncias relacionados à forma capitalista de produção. A mer-
cadoria, entendida como o resultado produtivo da interação entre
mão de obra e trabalho, expressa uma quantidade de recursos in-
corporados no processo produtivo e que somente são realizados
com a venda desse produto ao mercado.

De fato, a mais-valia é somente auferida na concretização da ven-


da final ao consumidor, sendo este um importante fator para a manu-
tenção da taxa de lucro do capitalista. Sobre esse aspecto, Karl Marx
comenta na sua obra O capital a respeito da composição orgânica do
capital, sendo uma importante relação para compreender como os se-
tores produtivos se comportam com relação à quantidade de tecnolo-
gias e de mão de obra empregadas na produção.

O marxismo e as relações econômico-políticas 53


A relação c/v é entendida como c = capital ou tecnologia e
v = quantidade de trabalho empregada na produção. Quanto maior
essa relação, mais intensivo é o segmento produtivo, isto é, uma maior
quantidade de tecnologia é aplicada na produção. Caso a relação seja
menor, significa que o segmento produtivo é mais extensivo, isto é, em-
prega um número maior de pessoas na produção (BEVILAQUA, 2015).

Essa relação, elaborada por Karl Marx, demonstra um importante


fenômeno no mundo contemporâneo, especialmente com o reflexo
do aumento da taxa de desemprego no mundo e pela maior utilização
de tecnologias no cenário virtual. De fato, o ambiente virtual intensi-
fica a falta de emprego, sobretudo pela otimização dos processos e
pela maior utilização de sistemas que proporcionam resultados mais
ágeis para a realização das transações financeiras entre as empresas,
o governo e os consumidores.

3.2 Acumulação de capital e crise econômica


Vídeo Karl Marx utiliza a dialética para o desenvolvimento das suas ar-
gumentações e, sem um raciocínio lógico ou determinista, procura
delinear as contradições existentes no capitalismo e no processo de
transformação do capital ao longo do tempo. A dialética tem como prin-
cípio a sobreposição de ideias e o desenvolvimento de argumentações
que refutam o pensamento com base em premissas interligadas aos
resultados pautados em evidências numéricas ou de cunho neoliberal.

Em um sentido amplo, a dialética proporciona uma oposição de


ideias, com a promoção do conflito entre princípios relacionados ao
escopo teórico da obra de Karl Marx. Entre os aspectos de relevância
na sua obra O Capital, há uma discussão a respeito do processo de
acumulação de capital em uma sociedade capitalista de produção.

O entendimento do capital no seu processo de acumulação é um


ponto fundamental relativo ao campo teórico e prático da teoria
marxista. Karl Marx, com base no conceito de luta de classes, delineia
o cenário para a acumulação por meio de preceitos da luta entre a
classe trabalhadora e os proprietários dos meios de produção (capi-
talistas) em um processo contraditório e histórico, com um reflexo
dialético em suas argumentações a respeito da evolução do lucro
relacionado ao processo de acumulação. A acumulação do capital

54 Economia Política
tem uma profunda relação com a taxa de lucro proporcionada pelo
acúmulo do excedente (mais-valia) provido pela classe trabalhadora.

O objetivo fundamental do capital é proporcionar taxas de renta-


bilidade que possam prover a expansão do capital no tempo e sua
perpetuação. É interessante perceber que o capital se transforma no
seu processo de acumulação, em etapas contínuas que expressam o
desejo de acúmulo de rentabilidade no decorrer do tempo. O capital
tem um processo de acumulação na produção de mercadorias e na
prestação de serviços com mecanismos relacionados à transforma-
ção da matéria-prima até o produto do mercado.

Ainda segundo Karl Marx, o processo de acumulação capitalista


ocorre por meio de mudanças no escopo da produção associadas
a melhorias e a adaptações das tecnologias no decorrer do ciclo
produtivo referente à produção de uma mercadoria. A acumulação
do capital corresponde a um processo histórico, tendo uma pro-
funda relação com o grau de desenvolvimento científico de um país
ou de uma região.

As inovações e a implementação de novos processos auxiliam na


concretização da acumulação do capital, inclusive com uma melhor
alocação dos recursos para a concretização do lucro do capitalista.
A acumulação do capital é delineada por um processo denominado
por Marx como metamorfose do capital com sua transformação por
meio de um processo de destruição criativa e de mudanças estru-
turais na sua composição. Esse processo de acumulação do capital Curiosidade
está relacionado diretamente com o volume de investimentos reali- Uma correlação negativa
expressa um movimento
zados por uma economia, tendo uma correlação negativa perante a contrário entre variáveis:
taxa de juros cobrada por créditos oferecidos aos empreendedores enquanto uma aumenta a
outra diminui.
dentro da perspectiva capitalista de produção.

Karl Marx defende a ideia de desenvolvimento baseado no au-


mento dos investimentos. Esse pensamento, muito presente no
seu escopo teórico e prático, corresponde a uma maior defesa do
Estado na economia para a promoção de aumentos do nível de em-
prego e renda (MARX, 1991). A Figura 3, a seguir, mostra a relação
entre o investimento e as taxas de juros, dentro de um cenário de
acumulação de capital.

O marxismo e as relações econômico-políticas 55


Figura 3
Investimento e sua relação com a acumulação

Diminuição da
Taxas elevadas Diminuição do Diminuição dos
acumulação do
de juros crédito investimentos
capital

Fonte: Elaborada pelo autor.

O processo de acumulação do capital apresenta uma relação di-


reta com o volume de investimentos, tendo forte dependência de
avanços tecnológicos para o dinamismo do processo de acúmulo de
riquezas pelos empreendedores. A quebra na sequência relativa ao
processo de acumulação corresponde ao processo de crise econô-
mica, sendo uma circunstância muito importante para os dias atuais,
com a qual as sociedades no mundo se deparam no decorrer dos
acontecimentos econômicos, políticos e sociais.
Vídeo
A crise econômica pode ser compreendida como a ruptura
O vídeo O ano em que
do processo de acumulação do capital no tempo, sendo uma ex-
a economia entrou em
crise, do canal The History pressão direta da diminuição da taxa de lucro dos capitalistas no
Channel Brasil, fala sobre
decorrer de suas atividades produtivas e especulativas. A crise eco-
a Crise de 2008, a qual foi
um acontecimento que nômica tem um aspecto muito peculiar: a diminuição do nível das
teve implicações muito
atividades, do emprego e da renda, com consequências muito sé-
sérias para as famílias
que não conseguiram rias para o contexto social.
quitar os débitos relacio-
nados à aquisição de mo- Particularmente, a crise econômica ocorre quando o capital, ex-
radia. O surgimento sem presso pela riqueza acumulada no mundo, decide mudar de direção ou
controle das dívidas hi-
potecárias desencadeou procura novas formas de acumular mediante um cenário de incerteza
um cenário marcado pela tanto na produção como na comercialização de produtos financeiros
escassez de recursos e
pelo desemparo social. no mercado de capitais. Marx comenta a respeito das crises como um
Disponível em: https:// fenômeno inerente ao sistema capitalista de produção, com acentua-
www.youtube.com/ ções periódicas e movimentos de recessão e de crescimento no de-
watch?v=UPlK7MLK8Bc. Acesso
em: 19 abr. 2021. correr do funcionamento do sistema capitalista.

A Crise de 2008 configura um importante acontecimento para o


entendimento de uma situação de escassez em uma circunstância
1 produtiva, com reflexos na taxa de lucro dos capitalistas. Essa crise
Hipotecas ou títulos de foi fortemente causada por empréstimos hipotecários de alto risco
dívida relacionadas à com- 1
pra de imóveis.
ou do tipo subprime (dívidas imobiliárias) emitidas no momento
da compra de imóveis direcionados para as famílias e instituições.

56 Economia Política
A economia norte americana é marcada pelo princípio de que o cré-
dito corresponde a um instrumento eficaz para promover o dinamismo
econômico. Antes da Crise de 2008, muitas linhas de crédito foram ofe-
recidas pelo sistema financeiro para promover o dinamismo do seg-
mento imobiliário e para o aumento das vendas, com consequências
diretas no emprego e na renda. Havia uma enorme liberdade para ob-
tenção de crédito e um mutuário podia comprar um imóvel financia-
do e em seguida obter outro imóvel com perspectivas de valorização
(SOTIROPOULOS; MILIOS; LAPATSIORAS, 2013).

Na verdade, o movimento financeiro era marcado pelo otimismo,


com previsões positivas sobre os retornos futuros, dito de outra forma,
o custo do financiamento não comprometia a valorização do imóvel,
sendo um elemento fundamental para o aumento da emissão de tí-
tulos da dívida imobiliária ao mercado financeiro. A Figura 4 ilustra a
relação do custo do financiamento e do movimento especulativo no
mercado de ações.
Figura 4
Acumulação do capital no contexto da Crise de 2008

Custo da obtenção
Acumulação
de financiamento
do capital
bancário

Liberdade para
Expectativa de
negociação
valorização
dos imóveis

Acúmulo de dívidas
Expectativa de
valorização dos
títulos imobiliários
Juros cumulativos ao
(debêntures)
mutuário

Fonte: Elaborada pelo autor.

Na realidade, o custo de aquisição de financiamentos imobiliários


era inferior à valorização imobiliária, com uma perspectiva sem limites
de acumulação do capital e de retornos no mercado real e virtual.
O ambiente real é expresso pelas casas, edifícios e todos os ativos co-

O marxismo e as relações econômico-políticas 57


mercializados no cenário pré-crise, já o mercado virtual ou especulativo
é delineado com a venda e compra de títulos de dívida imobiliária.

Os títulos eram comercializados com a promessa de maiores rendi-


mentos futuros e os bens imóveis eram financiados e comercializados
com a expectativa de aumento dos preços negociados. Dessa forma,
verificou-se uma “bolha especulativa”, marcada pela existência do pro-
cesso de acumulação no cenário econômico e do aumento do endivida-
mento das famílias e das instituições atreladas ao mercado imobiliário
(CARNEIRO et al., 2015). O mercado acionário ou de capitais era marca-
do pela existência de um capital que Karl Marx chama de capital fictício
(CHESNAIS, 2016).

O capital fictício é tratado na obra de Marx como um volume de


dinheiro irreal que não apresenta na sua essência aplicações para a
realidade física e concreta, estando relacionado à sua valorização no
mercado acionário. De fato, a excessiva expectativa de valorização dos
imóveis desencadeou um processo de acumulação em escala global,
com a negociação de títulos da dívida hipotecária sem lastro e sem
garantias. Inclusive, o nível de risco desses títulos era subestimado
para facilitar o processo de valorização do capital fictício no mercado
acionário.

Para Karl Marx, o capital se transforma no tempo com o delinea-


mento de um processo que se inicia com a promessa de um valor ex-
presso pela moeda ou dinheiro e se concretiza no capital fictício, que é
o montante financeiro de títulos comercializados no mercado de capi-
tais. A figura a seguir ilustra o pensamento de Karl Marx na perspectiva
de acumulação e o processo de surgimento do capital fictício.

Figura 5
O nascimento do capital fictício

Mercadoria
Obtenção do Capital Capital
e realização Capital
dinheiro industrial portador
das vendas ao fictício
(papel moeda) ou comercial de juros
mercado

Fonte: Elaborada pelo autor.

No contexto da Crise de 2008, a mercadoria pode ser representada


pelos imóveis comercializados no mercado imobiliário. O dinheiro ob-
tido é investido na produção de outras mercadorias e serviços, incluin-

58 Economia Política
do no aumento do estoque de imóveis para serem disponibilizados ao
mercado real de comercialização imobiliária. Paralelamente, o capital
portador de juros é representado pelos empréstimos e financiamentos
bancários para obtenção de imóveis, com um processo de acumulação
Glossário
marcado pela securitização da dívida imobiliária, expressa pela emis-
Securitização: agrupa-
são de debêntures no mercado acionário e a respectiva valorização. mento de vários tipos de
Sobre o capital fictício é importante considerar que: títulos comercializados no
mercado financeiro.
na medida em que o acúmulo desses títulos expressa um acúmu-
lo de ferrovias, minas, navios a vapor etc., expressa uma expan-
são do próprio processo de reprodução, assim como a expansão
de uma lista de impostos sobre bens pessoais, por exemplo, indi-
ca uma expansão dessa propriedade em si. Mas como duplicatas
que podem ser trocadas como mercadorias e, portanto, circular
como valores de capital, são ilusórios. (MARX, 1991, p. 608)

O surgimento da Crise de 2008 foi evidenciado a partir do momento 3


que os agentes econômicos (investidores, mutuários, sistema financeiro) Bolha imobiliária é o
movimento de valoriza-
perceberam que o valor real de um bem imóvel não correspondia ao ção contínua de imóveis
preço estipulado no mercado. Dito de outra forma, o custo de produ- e títulos financeiros no
mercado de capitais.
ção para construir uma “casa” não correspondia à valorização obtida no
mercado real e virtual. Consequentemente, iniciou-se um processo de
Leitura
interrupção do pagamento dos financiamentos imobiliários e de remu-
3 No artigo Securitização e a
neração dos títulos (debêntures) com o estouro da bolha imobiliária .
Crise Imobiliária de 2007-
A Crise de 2008 é um importante marco para a compreensão do 08, escrito por Guilherme
Lapo e publicado no
fenômeno denominado crise econômica e tem uma profunda relação site RExperts, é possível
com o processo de acumulação do capital no tempo. Qualquer tipo de compreender os títulos de
dívida imobiliária e toda a
interrupção do fluxo de rendimentos, tanto reais como especulativos, movimentação financeira
delineia-se uma crise, com reflexos nos ambientes econômico, político relacionada às perspec-
tivas de valorização dos
e social. Particularmente os reflexos da crise são entendidos das se- títulos no cenário da Crise
guintes formas: de 2008. É importante
entender esse fenôme-
• Reflexos econômicos: diminuição dos investimentos produtivos; no principalmente com
base na compreensão do
perda do poder aquisitivos das pessoas; diminuição do otimismo; conceito de bolha imobi-
diminuição do consumo; aumento do desemprego; queda no ní- liária e do capital fictício
no cenário do ambiente
vel de atividade econômica; entre outros reflexos que se relacio- econômico
nam com o ambiente econômico.
Disponível em: https://rexperts.
• Reflexos políticos: aumento da austeridade governamental, com.br/securitizacao-e-a-crise-
principalmente com a elevação dos impostos e a conferência de imobiliaria-de-2007-08/. Acesso
em: 19 abr. 2021.
maior arrecadação tributária; perda da confiança dos investido-

O marxismo e as relações econômico-políticas 59


res; aumento dos riscos para as operações financeiras; perda de
efetividade do planejamento governamental.
• Reflexos sociais: aumento de sequelas relacionadas à saúde;
diminuição da qualidade de vida; danos para as famílias; entre
outros.

O capital, no seu processo de acumulação, recorre às crises para


se fortalecer, em um movimento contínuo de destruição e de novos
formatos, mediante o contexto histórico e os interesses dos detentores
da renda e da propriedade em escala global.

3.3 Os oligopólios e o processo de financeirização


Vídeo Os oligopólios são empresas de grande porte que têm uma impor-
tância fundamental no processo de concentração do capital no mundo
com a comercialização de títulos no mercado de ações e de sua estru-
tura produtiva. Particularmente, o formato de mercado em oligopólio é
delineado por um conjunto de empresas que controlam a produção e
os preços dos produtos comercializados no mundo, com operações as
quais otimizam o uso de tecnologias objetivando garantir os lucros dos
acionistas. Karl Marx comenta a respeito do processo de concentração
de capital e colabora para o entendimento do processo de transformação
do capital no tempo por meio da sua reconfiguração e da acentua-
ção do formato oligopolístico nas economias.

As empresas internacionalizadas realizam a captação financeira


para suas operações fazendo a apropriação de recursos públicos para
os fornecimentos de serviços à população e para a comercialização de
insumos e tecnologias de alto valor monetário e de um acentuado con-
trole de patentes (VAN DER ZWAN, 2014).

De uma forma bastante sucinta, esse movimento de valorização


do capital proporcionado pelas empresas em oligopólio marca sua
presença em economias pouco desenvolvidas que possuem uma es-
trutura precária para o desenvolvimento de tecnologias e de serviços,
tendo forte dependência de organizações estrangeiras. Este é o caso
do Brasil: apresenta elevada vulnerabilidade produtiva para a elabo-
ração de produtos para saúde, educação e assistência, fazendo com
que empresas internacionais, em oligopólio, marquem sua presença
com a oferta de produtos e de serviços em um processo inflacionário, o

60 Economia Política
qual compromete o financiamento público e encarece os serviços para
a população.

Marx delineia esse cenário afirmando que as empresas estrangeiras


possuem um elevado poder de concentração, com forte impacto nos
preços dos produtos e em uma acentuada perda do poder aquisitivo
das famílias. O encarecimento dos produtos e dos serviços é acentuado
com a cobrança realizada por meio da intensificação do uso de car-
tões de crédito e de débito e de um conjunto vasto de mecanismos de
crédito que diminuem a renda das pessoas e acentuam o quadro de
pobreza nos países com maior nível de fragilidade.

A financeirização é expressa por esse movimento de endivida-


mento das famílias ocasionado pelo uso de instrumentos de crédito
e de mecanismos para a acumulação da riqueza dessas companhias.
O segmento imobiliário é uma forte expressão desse movimento por
meio da manutenção dos preços dos imóveis acima do seu valor real
e da intensificação de parcerias com o sistema financeiro para a oferta
de crédito às famílias e consequentemente o aumento dos níveis do
endividamento coletivo (CHESNAIS, 1996).

De fato, a riqueza financeira é marcada pelo endividamento e pela


criação de mecanismos financeiros, títulos de dívida, que intensificam
o processo de financeirização no mundo. Esse processo é relacionado
às famílias e às instituições com reflexos globais, sendo que as grandes
corporações têm um importante papel nele (UNCTAD, 2013).

A financeirização tem um aspecto empírico com base nas suas im-


plicações sobre a realidade, em diversas circunstâncias que permeiam
a vida do cotidiano.
Entretanto, há outras abordagens que partem de modelos cau-
sais multidirecionais, admitindo a influência mútua e recíproca
entre ações institucionais de governos, empresas e demais agen-
tes econômicos e sociais. Suas premissas são baseadas preci-
samente no entendimento de que a dominância financeira se
constitui em um novo modo de ser da riqueza global indissociá-
vel das atividades de produção industrial, de serviços ou da esfe-
ra de manutenção e reprodução da vida social em geral. (ESTELO
et al., 2018, p. 1.098)

As implicações sobre a realidade na qual a financeirização marca


sua presença estão delineadas nos segmentos a seguir.

O marxismo e as relações econômico-políticas 61


Educação:
a presença de
Saúde: forte grupos internacionalizados
presença de grupos de capital aberto iniciou a

Krittapol Ingpanjalap/Shutterstock
internacionais oligopolizados compra de universidades, além Assistência social:
com oferta de bens e de disso, passou a ocorrer a oferta o crescimento de planos de
serviços para a saúde, os de serviços educacionais, isso seguros para previdência, entre
quais têm domínio sobre em decorrência da forte pressão outros serviços, intensifica o papel
as tecnologias e os preços para melhorias no setor. Os dos grupos financeiros na proteção
praticados aos serviços desse reflexos nesse segmento são aos indivíduos.
segmento, resultando em fortes incertos, devido às circunstâncias
impactos na oferta do cuidado relacionadas ao dimensionamento
para a população. da educação no Brasil.

Saiba mais
As companhias internacionais no formato oligopólio representam um
As empresas estrangeiras
movimento para o fortalecimento da governança corporativa, a qual incor-
de saneamento básico
estão iniciando sua pora os conceitos de transparência, para o fornecimento das informações
participação no mercado
aos acionistas, e da otimização dos processos, para a acentuação dos lu-
interno brasileiro, o que
é um reflexo do processo cros. Segundo a teoria marxista, a legitimação do capital é delineada com
de acumulação do capital
base na moldagem comportamental expressa pelo aspecto corporativo
nos bens públicos. É mui-
to interessante analisar a e suas consequências, principalmente atreladas ao movimento individual
contribuição de Karl Marx
pautado nos critérios de decisão e no ambiente social. De fato, a financei-
para o entendimento do
processo de privatiza- rização corresponde a um processo marcado pelo desejo do consumo,
ções e da acentuada
do supérfluo e da diminuição do espírito coletivo. Sendo um pressuposto
participação de empresas
em formato oligopolístico. para o fortalecimento do processo de acumulação.
Para saber mais, acesse o
link a seguir. Artigo
Disponível em: https://www.
cimentoitambe.com.br/massa- http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/empresas-de-capital-internacional-e-o-sistema-de-
cinzenta/saneamento-basico-vira- saude-brasileiro-um-estudo-sobre-terapia-renal-substitutiva/17688
foco-de-estrangeiros-no-brasil/.
Acesso em: 20 abr. 2021. O artigo Empresas de capital internacional e o sistema de saúde brasileiro: um
estudo sobre terapia renal substitutiva, escrito por Antonio Pescuma Jr. et al.,
publicado na Revista Ciência & Saúde Coletiva, nos mostra que a presença
dos grandes grupos oligopolizados é muito forte na saúde. Muitos serviços de
medicina diagnóstica e de diálise foram incorporados por essas companhias.
É importante compreender esse processo sob um olhar da teoria de Karl
Marx, principalmente pelo entendimento da acumulação do capital, tanto no
cenário produtivo como no movimento do dinheiro no mercado de ações.

Acesso em: 20 abr. 2021.

62 Economia Política
É importante considerar que a financeirização foi acentuada de-
vido à pandemia de Covid-19 com a intensificação das plataformas
digitais e de todas as mídias utilizadas na internet, as quais auxiliam Leitura
o processo de otimização dos dados financeiros e da transmissão A financeirização é
expressa pelo aumento
das informações corporativas, com o delineamento de políticas de da circulação do dinheiro
marketing, estratégias para o aumento das vendas, entre outros as- no meio virtual. Para
Marx, esse processo é a
pectos que permitem o processo de acumulação na sua essência expressão do crescimento
do capital fictício, isto
produtiva e especulativa. é, do dinheiro que é ne-
gociado no mercado de
A financeirização é excludente, especialmente no sentido de não ações somente para fins
proporcionar emprego e renda para todos, sobretudo, pela intensifi- especulativos. O texto
O que é financeirização é
cação da presença das tecnologias em detrimento da mão de obra, um muito importante para
compreendermos esse
reflexo direto das políticas de governança dessas companhias. O ca- processo econômico sob
pital, segundo Karl Marx, transforma-se, e na atualidade atingiu o seu a perspectiva marxista.

mais alto valor, tornando o ar atmosférico um produto que deverá ser Disponível em: https://
eleuterioprado.files.wordpress.
elaborado para minimizar as sequelas causadas pela pandemia. com/2013/07/o-que-c3a9-
financeirizac3a7c3a3o1.pdf. Acesso
O oxigênio se tornou o produto mais consumido para o tratamento em: 20 abr. 2021.
de enfermos com Covid-19, o que evidencia o desejo do capital em se
perpetuar, inclusive com as disputas pela produção das vacinas e de
ações do mercado para melhorar as condições de saneamento bási- Biografia
co. Ou seja, quanto maior o desastre, maiores serão as oportunidades

Beao/Wikimedia Commons
para o capital crescer no seu processo de valorização, sendo que a fi-
nanceirização colabora para acentuar esse caminho da riqueza fictícia
na sua forma nas regiões do planeta.

É interessante observar que a financeirização é um resultado direto


do processo de concentração das empresas, tanto no ambiente indus-
trial como no especulativo, com consequências diretas para a geração David Harvey é um
importante pesquisador
de emprego e de renda. A intensificação da concentração está no pro- e geógrafo que investiga
cesso de exploração da força de trabalho, denominada por Karl Marx os limites do capital e sua
influência no mundo glo-
extração da mais-valia, sendo um elemento importante para a perpe- balizado. Esse pensador
tem influência marxista
tuação dessas companhias. e apresenta elevada
contribuição para o
Por outro lado, a intensificação desse processo pode ocasionar escopo teórico e prático
da economia política,
externalidades negativas para os oligopólios, sobretudo pelo aumen-
principalmente sobre a
to das sequelas sociais e da destruição do ambiente para a oferta de dinâmica do capital em
um ambiente globalizado,
mercadorias e de serviços nas economias em desenvolvimento. Apesar sob uma perspectiva de
ganhos extremamente
de o mundo digital minimizar esse impacto, vivemos em um ambiente
acentuados e marcados
humano, com características naturais, e o meio ambiente possui uma por crises econômicas
constantes.
forte influência no desempenho dessas companhias.

O marxismo e as relações econômico-políticas 63


A intensificação da concentração pode trazer à tona um “elitismo”
relacionado ao aspecto de manutenção da vida. Isto é, há uma forte
tendência para uma exclusão social de maneira muito ampla, aspecto
muito discutido por Karl Marx em sua obra O capital.

Por fim, é imprescindível lembrar que as grandes corporações de-


sempenham um importante papel para o desenvolvimento, um aspec-
to que Marx deixou de comentar, sendo um elemento relevante para o
desenvolvimento dos países que possuem um maior nível tecnológico.
Um ponto que merece atenção especial é a discussão entre a intensi-
ficação das tecnologias em detrimento das melhorias ao meio ambiente.
Veremos, segundo a teoria marxista, qual será o desfecho desse caminho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão da teoria marxista é um elemento muito importan-
te para o entendimento da realidade que circunda as economias no
mundo. O processo de acumulação do capital, delineado por Karl Marx,
apresenta uma importante fonte para a compreensão do mundo glo-
balizado, marcado pela presença de grandes corporações em formato
oligopolístico, que concentram toda a riqueza e controlam a oferta de
mercadorias e serviços no globo.

A exploração da mão de obra, em detrimento do capital, é um fenô-


meno que Marx investiga nas suas obras com um conhecimento que
proporciona o real dimensionamento das crises econômicas, as quais
permeiam as sociedades do capitalismo contemporâneo.

O capital se perpetua no seu processo de acumulação e não possui


reflexos que possam proporcionar o aumento do bem-estar das pessoas,
das instituições e de toda a relação internacional que permeia os países
e continentes no planeta.

ATIVIDADES
1. Qual é a influência de Karl Marx para a economia política?
Vídeo
2. Qual é a relação entre a acumulação do capital e a crise econômica?

3. Como os oligopólios intensificam o processo de financeirização na


economia no mundo?

64 Economia Política
REFERÊNCIAS
BEVILAQUA, A. P. A crise orgânica do capital: o valor, a ciência e a educação. 2015.
Dissertação (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação
Brasileira, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.
CARNEIRO, R. et al. The fourth dimension: derivatives and financial dominance. Review of
Radical Political Economics, p. 1-22, abr. 2015. Disponível em: https://journals.sagepub.
com/doi/abs/10.1177/0486613415574268. Acesso em: 20 abr. 2021.
CHESNAIS, F. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.
CHESNAIS, F. Finance capital today: corporations and banks in the Lasting Global Slump.
London: Brill, 2016.
ESTELO, J. A. et al. Financeirização das políticas sociais e da saúde no Brasil do século
XXI: elementos para uma aproximação inicial. Economia e Sociedade, Campinas, SP, v. 26,
p. 1.097–1.126, 2018. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/
ecos/article/view/8652322. Acesso em: 20 abr. 2021.
MARX, K. O capital. v. 3. London: Penguin Books, 1894.
RICARDO, D. On the principles of political economy and taxation. 3. ed. Ontario: Batoche
Books, 2001.
SOTIROPOULOS, D. P.; MILIOS, J.; LAPATSIORAS, S. A political economy of contemporary
capitalism and its crisis. London: Routledge, 2013.
UNCTAD. 80% of trade takes place in ‘value chains’ linked to transnational corporations, 2013.
Disponível em: https://unctad.org/press-material/80-trade-takes-place-value-chains-
linked-transnational-corporations-unctad-report. Acesso em: 20 abr. 2021.
VAN DER ZWAN, N. Making sense of financialization. Socio-Economic Review, v. 12, n. 1,
p. 99–129, 2014.
WELLEN, H. 1843-44: Marx e Engels e a rejeição filosófica e moral da economia política.
Revista Novos Rumos. v. 56, n. 1, p. 1-22, 2019.

O marxismo e as relações econômico-políticas 65


4
Inovações e acumulação
capitalista no mundo
contemporâneo
Neste capítulo, desenvolveremos pontos importantes sobre as
inovações e a acumulação capitalista no mundo contemporâneo.
Na primeira seção, aprenderemos o pensamento do economista
Joseph Schumpeter e as inovações no capitalismo. Em seguida,
abordaremos as inovações e o acúmulo de riqueza, com base nas
suas principais alterações do formato produtivo das empresas e
nas consequências para o meio produtivo. Por fim, estudaremos o
movimento de destruição criativa e as principais repercussões para
as mudanças estruturais no mundo contemporâneo.

4.1 O pensamento de Joseph Schumpeter


Vídeo Schumpeter foi um dos principais economistas do século XX, des-
tacando-se nos estudos a respeito do processo de inovação e re-
percussões econômicas no capitalismo.

Biografia
Gaeanautes/WikimediaCommons

Nascido em 1883, em Triest – atualmente, Trest, Morávia (parte


da República Checa) –, o economista Joseph Alois Schumpeter
(1883-1950) teve significativa representatividade no século XX,
principalmente com relação aos seus estudos do processo de inovação
e das repercussões econômicas no capitalismo. Entre as obras de
maior representatividade, podemos destacar A natureza e a essência
da economia política, de 1908; Teoria do desenvolvimento econômico,
de 1911; Ciclos econômicos, de 1939; Capitalismo, Socialismo e
Democracia, de 1942; e História da Análise econômica, publicada após
sua morte, em 1954.

66 Economia Política
Um ponto fundamental nas obras de Schumpeter se refere ao pro- Leitura
cesso de inovação e os principais impactos para a intensificação do lu- É muito importante
entendermos a teoria do
cro. A inovação, segundo o autor (2015), pode ocorrer de várias formas, desenvolvimento elabo-
como a oferta de uma nova mercadoria ou serviço ao mercado, poden- rada por Schumpeter,
principalmente quanto
do chegar a uma nova estrutura de mercado e até mesmo à mudança aos aspectos relacio-
em um processo produtivo, além da busca alternativa de matérias-pri- nados aos juros, ao
crédito e à dinâmica da
mas e o desenvolvimento de novas técnicas produtivas. economia. Na resenha
do texto Teoria do desen-
Uma nova mercadoria ou serviço pode ser disponibilizada ao merca-
volvimento econômico:
do com objetivos muito relacionados à obtenção de uma maior parcela uma investigação sobre
lucros, capital, crédito, juro
das receitas, tendo-se uma maior aderência dos consumidores perante
e o ciclo econômico, de
a inovação. Ou seja, o surgimento de um produto ou serviço que seja Marcos Paulo Fuck, temos
considerações a respeito
atrelado a uma novidade desperta o interesse das pessoas, com nova
dessa temática, com im-
procura (demanda). Em qualquer mercado, com produtos ofertados e portantes implicações ao
entendimento do mundo
demandados, há tendência ao equilíbrio econômico, isto é, um nível de
contemporâneo.
preços e quantidades que possam satisfazer tanto os empreendedores
Disponível em: https://www.
quanto os consumidores de modo geral, com preços e quantidades de comciencia.br/dossies-1-72/
resenhas/2004/08/resenha1.htm.
mercadorias definidas, mediante uma igualdade entre oferta e deman-
Acesso em: 3 maio 2021.
da (STARR, 2011).

No entanto, o “espírito empreendedor” é descrito por Schumpeter


(2015) como um movimento intimamente ligado ao ser humano, pelo
desejo de maiores lucros para o desenvolvimento de novos investi-
mentos e o delineamento de projetos. Quando uma nova mercadoria
é lançada no mercado, com mudanças relacionadas à qualidade, há o
maior desejo pelo consumo e, consequentemente, os lucros são otimi-
zados. Schumpeter (2015) menciona o conceito de lucro extraordinário,
que tem profunda relação com o ganho acima da média de mercado,
com reflexos na distribuição dos lucros atrelados aos empreendedores
no segmento.

É interessante observarmos ainda que o impacto de uma nova mer-


cadoria ou serviço é intensificado em um mercado concorrencial, com
muitas empresas e consumidores. Quanto maior o grau de diferencia-
ção de um produto, mantendo o padrão de preço, maior será a chance
para o aumento dos lucros. A Figura 1 elucida os principais reflexos que
uma nova mercadoria ou serviço exerce em um mercado com estrutu-
ra competitiva.

Inovações e acumulação capitalista no mundo contemporâneo 67


Figura 1
Mercadorias e serviços com inovação

Inovação Impacto na Mudanças


Saída de
Nova mercadoria redistribuição dos na oferta do
empreendedores
ou serviço lucros segmento

Fonte: Elaborada pelo autor.

Os lucros em um mercado competitivo, na maioria das vezes, são


distribuídos considerando a realização das vendas ou dos serviços
prestados relacionados ao próprio movimento do mercado. Ou seja,
há tendência ao equilíbrio econômico, entendido como uma quantida-
de final determinada e um preço de equilíbrio em um dado contexto
econômico. Quando uma nova mercadoria é lançada no mercado com
diferenciais, o lucro extraordinário consequentemente é auferido pelo
empreendedor.
Saiba mais
Schumpeter (2015) afirma que a busca de novas formas para o de-
A Apple é uma empresa
norte-americana criada lineamento de produtos proporciona a otimização e o grau de satisfa-
no dia 1º de abril de 1976
ção dos consumidores. Na realidade, a inovação, quando está ligada ao
por Steve Jobs e Ronald
Wayne, com elevado nível lançamento de uma nova mercadoria ou serviço, deve apresentar um
de inovação e praticidade
grau de atratividade e ter associação direta com as funcionalidades e o
oferecidos ao mercado.
Nova tecnologia deli- design do novo produto.
neada em um mercado
competitivo teve papel As inovações não estão somente relacionadas a um produto ou ser-
decisivo para o aumento viço, a configuração de um mercado pode apresentar inovações. Um
dos lucros dessa com-
panhia ao longo de toda exemplo muito representativo é a expansão dos negócios virtuais no
sua história, inclusive, período da pandemia de Covid-19. Presenciamos uma alteração produ-
com repercussões no
mercado acionário. Para tiva, com o fechamento de muitas lojas reais e uma nova configuração
saber mais sobre inova- de mercado marcado pela presença de empreendimentos digitais. In-
ção associada à oferta de
nova mercadoria, acesse clusive, os aspectos logísticos foram alterados com o fortalecimento de
o link a seguir. empresas como Mercado Livre e OLX.
Disponível em: https://
segredosdomundo.r7.com/apple/. Além disso, há maior intensificação das transações financeiras
Acesso em: 3 maio 2021. eletrônicas em detrimento das trocas monetárias realizadas com di-
nheiro (papel moeda). Schumpeter (2015) afirma que as alterações
no mercado são ocasionadas por mudanças nos padrões tecnológi-
cos atrelados aos processos produtivos, tanto pertencentes à elabo-
ração de produtos quanto ao dimensionamento do mercado como
um todo (SWAN, 2015).

68 Economia Política
Os diferentes arranjos relativos à oferta de produtos e serviços
apresentam estreita relação com a configuração do mercado, podendo
ter maior número de empresas (mercado concorrencial) ou pequeno
número de companhias (oligopólio).

Atualmente, no novo cenário do capitalismo e associando ao pen-


samento de Schumpeter, temos um mercado concorrencial no mundo
virtual com a presença de microempreendedores que desempenham
importante papel no resultado para a economia. Apesar do elevado de-
semprego, o formato virtual é uma tendência muito forte para o delinea-
mento da oferta de novos produtos ao mercado.

Por outro lado, há a presença de grandes companhias que centrali-


zam a oferta das tecnologias e do conhecimento técnico, sendo todas
internacionais com forte presença no Brasil e no exterior (OECD, 2019).
A inovação relacionada ao mercado está nessa nova configuração, com
maior presença do mundo virtual em detrimento do real. A Figura 2
delineia a inovação como elemento determinante para o mercado.

Figura 2
Inovação na estrutura de mercado

Mercado
domínio de
empresas
internacionais

Virtual
Real

Melhorias dos as- Eliminação de


pectos logísticos, estruturas físicas
lucratividade e e aumento do
microempreende- desemprego
dores estrutural

Fonte: Elaborada pelo autor.

Inovações e acumulação capitalista no mundo contemporâneo 69


A inovação no processo produtivo está associada às mudanças nos
padrões tecnológicos relacionados à perspectiva de diminuição do custo
de fabricação e para a expansão da oferta das mercadorias em escala.
Schumpeter (2015) afirma que esse processo de inovação ligado ao modo
operante das empresas, isto é, a forma pela qual desenvolvem seus for-
matos de produção, é um movimento inerente ao capitalismo, com o ob-
jetivo de proporcionar ganhos financeiros para futuros reinvestimentos
no segmento de mercado e para a economia de modo geral.

O efeito multiplicador que as inovações nos processos produtivos


desencadeiam é algo de extrema relevância, principalmente com rela-
ção à distribuição das tecnologias e dos recursos produtivos em cada
uma das unidades produtivas em determinado mercado. A intensifica-
ção do uso de computadores no uso doméstico é uma mudança com-
portamental de relevância, com impacto nos processos produtivos das
empresas, especialmente por meio de um novo formato operacional
referente à gestão empresarial das companhias, com o advento da eco-
nomia digital. Há maior descentralização das ações corporativas, com
um novo desenho produtivo ocasionado pelo fenômeno da pandemia
de Covid-19.

O processo produtivo passa pela intensificação do uso de tecnolo-


gias quanto à mão de obra. Schumpeter (2015) afirma que o desenvolvi-
mento da capacidade criativa está atrelado ao movimento da inovação,
sendo fundamental o desenvolvimento de tecnologias e o treinamen-
to e capacitação constante da capacidade de trabalho. A busca por
matérias-primas alternativas é um movimento de extrema importân-
cia no atual cenário relacionado aos recursos naturais, inclusive com a
escassez da água, dos alimentos e o aumento dos índices de poluição
atmosférica.

Como tornar abundante os recursos necessários para a produção


das empresas e distribuí-los de maneira igualitária? Esse é um pro-
blema econômico que Schumpeter (2015) afirma que somente com
o processo de inovações é possível superar as barreiras tecnológicas
e proporcionar uma nova etapa produtiva. Na realidade, segundo o
autor, é fundamental alterar o conjunto de necessidades das organi-
zações e a implementação de mudanças significativas no formato pro-
dutivo, com a introdução de estruturas que possam proporcionar o
movimento da inovação em todas as esferas produtivas.

70 Economia Política
Com a reutilização de recursos naturais – como a água –, a reformu-
lação dos espaços urbanos é um processo natural do desenvolvimento
tecnológico, bem como o delineamento de estruturas inteligentes nas
residências e nas empresas. Na realidade, a otimização dos espaços ur- Leitura

banos é uma tendência muito relacionada ao movimento das empresas A restruturação do es-
paço urbano é um tema
para otimizar os custos e melhorar os aspectos logísticos. Infelizmente, muito importante atual-
esse movimento está tardio no Brasil. Por fim, a tecnologia tem o papel mente, principalmente
devido ao desenvolvimen-
de alterar o formato e trazer mudança e ruptura tecnológica, denomina- to de novas alternativas
da por Schumpeter (2015) de destruição criativa. associadas ao transporte
urbano, à locomoção e à
Schumpeter (1961) menciona na sua obra Capitalismo, Socialismo e infraestrutura. É de extre-
ma relevância a alteração
Democracia que as alterações produtivas e o movimento de destruição do formato das cidades,
do capital pertencem à própria lógica da acumulação em um cenário sobretudo por meio da
mudança do funciona-
capitalista. mento do transporte de
mercadorias e da busca
O capitalismo é, por natureza, uma forma ou método de trans-
de alternativas sustentá-
formação econômica e não, apenas, reveste caráter estacio- veis relacionadas ao meio
nário, pois jamais poderia tê-lo. [...] O impulso fundamental ambiente. Por isso, suge-
rimos a leitura do artigo
que põe e mantém em funcionamento a máquina capitalista
Reestruturação urbana
procede dos novos bens de consumo, dos novos métodos de em tempos de pandemia,
produção ou transporte, dos novos mercados e das novas for- de Lidiane Alves, que
mas de organização industrial criadas pela empresa capitalista. trata da urbanidade con-
temporânea, expressão
(SCHUMPETER, 1961, p. 106) direta de um processo de
mudança estrutural.
O escopo das inovações é elemento fundamental na obra de
Disponível em: https://rppc.
Schumpeter (1961), com base no entendimento de que para uma eco- emnuvens.com.br/urbanismo/
nomia se desenvolver é importante aprimorar periodicamente as téc- article/view/458. Acesso em: 3
maio 2021.
nicas referentes às tecnologias, com aporte de recursos financeiros nos
âmbitos público e privado.

4.2 As inovações e o acúmulo de riqueza


Vídeo O acúmulo de riqueza associa-se com alguns condicionantes im-
portantes, tanto no âmbito individual quanto no ambiente das orga-
nizações. Quando pensamos o acúmulo da riqueza de um indivíduo,
associamos que, ao longo da vida produtiva, uma pessoa conseguirá
acumular dinheiro e bens que possam legitimar o seu estado de rique-
za. Por outro lado, a riqueza não pode ter somente relação com a quan-
tidade de bens adquiridos e a quantidade de dinheiro ao longo da vida.
A riqueza tem peso maior quando associada à qualidade de vida de
uma pessoa durante a vida.

Inovações e acumulação capitalista no mundo contemporâneo 71


Assim, de acordo com Rodrigues (2014), as inovações caminham
para o sentido de proporcionar o aumento do bem-estar, trazendo
melhorias associadas ao âmbito do estilo de vida. Quanto à relação
entre trabalho e qualidade de vida, sob uma perspectiva de aumento
do bem-estar, Gil (2001, p. 46) afirma:
durante muito tempo, ao falar-se em qualidade nas empresas,
enfatizava-se principalmente a produção. Hoje, fala-se não ape-
nas em qualidade no trabalho, mas também em qualidade de
vida dos empregados. Isso significa que os empregados preci-
sam ser felizes [...]. Não se pode esquecer que parte significativa
da vida das pessoas é dedicada ao trabalho e que para muitos o
trabalho constitui a maior forma de identificação pessoal.

Particularmente no mundo contemporâneo, presenciamos uma


busca incessante de recursos financeiros com quantidade de trabalho
intensificada e maior número de horas dedicadas às atividades labo-
rais. É importante considerarmos que quando nos deparamos com um
indivíduo, o conceito de riqueza precisa ser entendido como o conjunto
de benefícios associados ao ganho adquirido pelo aumento do bem-
-estar ao longo da vida.

Nesse sentido, as inovações, além de atuarem no espaço físico, no


ambiente, relacionam-se com uma mudança na forma de pensar e en-
tender o contexto relativo à vida, de um outro jeito, com nova circuns-
tância. A percepção de um indivíduo associada ao ganho ilimitado de
recursos materiais e financeiros não apresenta relação direta com o
conceito de riqueza.

É primordial às pessoas o entendimento de que a riqueza é asso-


ciada às melhorias proporcionadas pelo aumento da felicidade. Assim,
a inovação está na nova forma de associação mental com a realida-
de, trazendo nova perspectiva de vida perante o mundo subjetivo e o
ambiente externo expresso pelo convívio social. No mundo contempo-
râneo, há um comportamento individualista perante a realidade, cada
indivíduo deseja o melhor para si e para os seus familiares.

O pensamento individualista afirma que o ser humano é capaz de


conseguir o que deseja com mérito e atitudes que priorizem uma tra-
jetória de vida individualizada. Por outro lado, mediante as circunstân-
cias relacionadas ao aumento do desemprego no mundo, problemas
sanitários, pandemias, fome, instabilidade financeira dos governos, en-

72 Economia Política
tre outros aspectos, é fundamental que ocorra uma mudança no modo Saiba mais
de pensar e agir. Para a compreensão do
impacto dos benefícios
Nesse sentido, a inteligência emocional traz esse novo olhar, relacionados ao aumento
do bem-estar nas socie-
com o desenvolvimento de habilidades relacionadas ao âmbito cria- dades e nos indivíduos,
tivo (GOLEMAN, 2011). Portanto a inovação no escopo individual foi desenvolvido o indi-
cador Felicidade Interna
encontra-se associada a um novo formato mental, a uma nova associa- Bruta (FIB), medido pelo
ção com a realidade. A riqueza, considerando a construção dessa linha ganho de felicidade de
determinado país em
de pensamento, é adquirida por meio do desenvolvimento de habilida- um período. Vale muito a
des cognitivas, criativas e ligadas aos aspectos técnicos, tão necessá- pena compreendermos
esse conceito para o
rios no momento atual, marcada pelo uso intensivo de tecnologias nos delineamento de políticas
processos de produção das empresas no mundo todo. públicas. Para saber mais,
acesse o link a seguir.
Para complementarmos a análise a respeito da realização da rique-
Disponível em: https://
za no âmbito individual, nada melhor do que analisarmos a Figura 3 coworkingbrasil.org/news/fib-
felicidade-interna-bruta/. Acesso
para melhor entendimento a respeito dos condicionantes da felicidade
em: 3 maio 2021.
coletiva e da conquista do aumento do bem-estar.

Figura 3
Geração de riqueza no âmbito individual

Riqueza

Felicidade

Inteligência
Padrões mentais Bem-estar
emocional

Fonte: Elaborada pelo autor.

A riqueza no âmbito das organizações relaciona-se com a capaci-


dade de as empresas captarem recursos, administrá-los e reinvestir os
montantes financeiros para os projetos de expansão da empresa. As
inovações contribuem para o aumento da riqueza nas organizações,
principalmente pelo elemento inovador associado às melhorias nos
processos de produção e pelos aperfeiçoamentos tecnológicos asso-
ciados ao âmbito produtivo.

Inovações e acumulação capitalista no mundo contemporâneo 73


No que se refere ao planejamento, as organizações devem se preo-
cupar com os aspectos relacionados ao âmbito financeiro, de pessoas
e de processos descritos a seguir.

Os aspectos financeiros devem proporcionar melhor distribuição


dos recursos para o aperfeiçoamento das técnicas produtivas associa-
das com melhorias relativas às tecnologias aplicadas na produção. O aper-
feiçoamento tecnológico proporciona mais rapidez na concretização
do ciclo operacional da companhia e redução dos custos de elaboração
dos produtos direcionados ao mercado.

A implementação de novas tecnologias e inovações associadas con-


tribuem para a diminuição do uso de mão de obra, com consequências
positivas para a diminuição do custo para as organizações. Portanto
um dos determinantes para a realização da riqueza em uma organi-
zação é o uso de tecnologias que proporcionem melhor alocação dos
recursos produtivos, tanto máquinas quanto pessoas.
Saiba mais
É importante mencionarmos ainda que o elemento de inovação Go-
É importante enten-
vernança Corporativa proporcionou o aumento dos ganhos financeiros
dermos a Governança
Corporativa, principal- das empresas, sendo uma nova forma de entender, planejar, relacio-
mente com relação aos
nar e implementar mecanismos que possam tornar os resultados da
seus princípios e códigos.
De certo modo, o plane- organização dentro de patamares razoáveis para os acionistas. Pode-
jamento das empresas
mos dizer que a Governança Corporativa colaborou para o processo de
de capital aberto está
moldado nos princípios otimização dos resultados das empresas, principalmente por meio de
de Governança, sendo
mecanismos de controle e transparência.
um assunto de extrema
importância para a
No atual cenário do capitalismo contemporâneo, ocorre um novo
atuação profissional nas
empresas internacionais. formato relacionado ao processo de gestão empresarial, especialmen-
Disponível em: https://www.ibgc. te com os preceitos da Governança Corporativa. A riqueza no contexto
org.br/conhecimento/governan- das empresas internacionais é associada aos movimentos de interna-
ca-corporativa#:~:text=Gover-
nan%C3%A7a%20corporativa%20 cionalização das empresas, que são expressos com base nas seguintes
%C3%A9%20o%20sistema,- circunstâncias:
controle%20e%20demais%20
partes%20interessadas. Acesso em: • valorização especulativa no mercado de capitais;
3 maio 2021.
• captação de recursos financeiros com a emissão de ações no
mercado acionário;
• otimização na produção com o uso intensivo de tecnologias que
melhorem o desempenho das organizações;
• políticas relativas à transparência, com a publicação de relatórios;

74 Economia Política
• aquisição e incorporação de outras empresas para aumentar o
nível de concentração produtiva no mercado.

As inovações nas organizações estão relacionadas ao acúmulo de


conhecimento técnico e científico associado ao lançamento de novos
produtos e atratividades ao mercado consumidor. Isso significa que as
empresas internacionais utilizam recursos tecnológicos com o objetivo
fundamental de manter o nível de satisfação dos consumidores em seu
grau máximo. Em economia, esse movimento é entendido com base na
Teoria da Utilidade Decrescente.

De modo geral, a curva de utilidade expressa a diminuição do nível de


satisfação do consumidor com base em novas unidades de produtos ad-
quiridas. Quando compramos uma roupa ou um computador novo, por
exemplo, nossa satisfação e utilidade é máxima; à medida que vamos
adquirindo mais roupas e mais computadores, a utilidade associada ao
consumo diminui ao longo das compras. Dito de outra forma, a utilidade
atinge seu ponto mais alto na primeira aquisição e diminui com as novas
compras associadas a determinado produto.

Um exemplo bem simples é quando compramos uma pizza, o pri-


meiro pedaço é maravilhoso, o segundo é ótimo, o terceiro é bom, o
quarto é razoável, o quinto já um exagero, e assim por diante. A utilida-
de é decrescente à medida que o consumo aumenta ao longo do tem-
po. Para as corporações de capital aberto, esse é um grande desafio,
principalmente por terem o objetivo de manter os níveis de utilidade
dos consumidores em patamares elevados.

As inovações têm o intuito de fornecer mecanismos atrativos para


os consumidores, considerando um conjunto de medidas que tornam a
fabricação ou a prestação de determinado serviço mais atrativa. A indús-
tria automobilística utiliza essa estratégia, lançando novos carros, com
diferentes acessórios e tecnologias. Os celulares incorporam inovações
para manter o interesse dos consumidores, inclusive com um tempo
para o uso de aplicativos e atualizações.

A indústria alimentícia desenvolve novos produtos, com novos


designs, embalagens, sabores que proporcionam maior grau de satis-
fação. Afinal, as inovações no mercado são fundamentais para gerar
riqueza às corporações e manter o interesse contínuo relacionado à
aquisição de novos produtos ou serviços. Inclusive, no atual cenário da
pandemia, esse movimento é muito intenso, com a introdução de no-

Inovações e acumulação capitalista no mundo contemporâneo 75


vas plataformas de comunicação, novos produtos on-line e toda gama
de artifícios para gerar maior atenção e, consequentemente, para ga-
rantir o aumento dos lucros.

4.3 O processo de destruição


Vídeo criativa no capitalismo
As tecnologias e as inovações associadas pertencem à própria ló-
gica do sistema capitalista de produção. As empresas e todo o merca-
do têm como principal objetivo o aprimoramento técnico e científico
nas atividades produtivas, com o intuito de manter o posicionamento
no mercado e obter vantagem competitiva diante dos concorrentes
(PELEGRIN; ANTUNES JR., 2013).

No capitalismo, há constante transformação com relação aos in-


sumos utilizados na cadeia produtiva, nos recursos tecnológicos e na
capacitação dos indivíduos no mercado. Considerando essas altera-
ções, a destruição criativa foi um conceito elaborado pelo economista
Schumpeter (1883-1950), com base no entendimento relacionado ao
equilíbrio no contexto econômico. Ou seja, segundo esse pensador, o
equilíbrio é obtido por meio da alocação eficiente dos recursos pro-
dutivos, da mão de obra e das tecnologias, com a utilização plena dos
fatores e realização de toda a oferta nos setores econômicos.

O equilíbrio econômico é uma situação ideal que não presencia uma


capacidade ociosa na economia, todo o fluxo de dinheiro é realizado,
por meio do pagamento de salários, remunerações, investimentos,
aplicações no mercado, entre outros fatores. A destruição criativa re-
presenta mudança de um estado natural representado pelo equilíbrio
e a constatação de um novo patamar produtivo, marcado por mudan-
ças estruturais, de comportamento e políticas em determinado perío-
do histórico. De uma certa forma, Schumpeter foi influenciado por Karl
Marx, principalmente a respeito do processo de acumulação capitalista
e da transformações do capital, com movimentos cíclicos na cadeia de
produção.

A situação de equilíbrio é meramente teórica, não é possível atingir


equilíbrio entre a demanda de mercado e a oferta, com a plena utiliza-

76 Economia Política
ção dos fatores produtivos, sempre haverá o fenômeno da incerteza
no processo de produção. A economia é repleta de eventos incertos,
portanto é impossível ter um Estado estacionário que representa equi-
líbrio econômico.

Schumpeter, quando trouxe o conceito de destruição criativa, cola-


borou para o entendimento de que no capitalismo há transformação
constante por meio da destruição de um modo de produção estabe-
lecido e da implementação de nova circunstância econômica, política e
social, com base em um conjunto de mudanças técnicas associadas ao
novo modo de representação produtiva na economia.

Dessa forma, qualquer sociedade é representada por “um modo


operante”, que expressa a forma pela qual as pessoas trabalham, acu-
mulam, investem e realizam suas transações comerciais e financeiras.
Quando o fenômeno da destruição criativa é delineado, presencia-se
uma transformação no âmbito econômico, com nova lógica associada
à interação entre os governos, os mercados e as instituições no mundo.

Na realidade, a destruição criativa evidencia uma teoria dinâmica


da economia em detrimento de uma teoria estática fundamentada na
noção de equilíbrio econômico. Para complementarmos, o fenômeno
da destruição criativa somente é evidenciado em sociedade capitalista
de produção expressa pelos seguintes condicionantes estruturais:
• propriedade privada dos meios de produção sem a repartição
dos bens adquiridos;
• interesse incessante de todos os atores na economia pelo desejo
do lucro e pela manutenção de níveis satisfatórios de acumula-
ção de dinheiro;
• aumento do volume de crédito para a ampliação dos empreendi-
mentos e movimentação do capital.

A destruição criativa denota um movimento dinâmico, com a amplia-


ção das possibilidades associadas à produção e prestação de serviços,
com a intensificação de mudanças estruturais, operacionais e logísticas
em toda a cadeia produtiva. A Figura 4 ilustra as áreas de mudança no
processo de transformação do capital mediado pela destruição criativa.

Inovações e acumulação capitalista no mundo contemporâneo 77


Figura 4
Etapas para a concretização do fenômeno da destruição criativa

Equilíbrio

Novo patamar Mudanças


produtivo estruturais

Mudanças
na cadeia de Mudanças
distribuição operacionais
(logística)

Fonte: Elaborada pelo autor.

O novo patamar produtivo é representado por um novo conjun-


to de técnicas, aperfeiçoamentos produtivos e nova configuração do
cenário econômico para determinado período. O cenário é entendido
como o conjunto de alternativas relacionadas ao fluxo produtivo, com
novas formas de produção e reflexos no modo de vida das pessoas.
Schumpeter associa a Teoria do Desenvolvimento com o fenômeno da
destruição criativa, considerando mudanças estruturais intensificadas
por meio do espírito empreendedor.

Para o autor, o empreendedor – capitalista – é o responsável pela


implementação das inovações no sistema produtivo, com o delinea-
mento de alternativas que possam otimizar a produção. O movimen-
to do empreendedorismo é um fenômeno que marca sua Teoria do
Desenvolvimento, sendo elemento fundamental para o surgimento de
um novo patamar produtivo. Portanto, para uma economia se desen-
volver, necessita inovar, aprimorar as técnicas e trazer um novo enten-
dimento a respeito da produção de mercadorias e oferta de serviços
na economia.

78 Economia Política
A destruição criativa no ambiente capitalista é extremamente de- Vídeo
pendente do espírito empreendedor, principalmente com o movimen- O vídeo O que é empreen-
dedorismo? 5 elementos
to de implementação de inovações associadas a mudanças estruturais fundamentais, do canal
e ao modo de vida das pessoas. O empreendedor é o responsável por Ecommerce na Prática,
mostra como o fenômeno
nova visão e nova compreensão na realidade. Por outro lado, ter uma do empreendedorismo
ideia inovadora não é suficiente para alterar o modo de produção de é importante para o en-
tendimento da dinâmica
determinada mercadoria ou qualquer outra alteração relacionada ao do sistema capitalista de
mercado. produção. Inovar é funda-
mental para a geração de
O principal determinante é tentar verificar a viabilidade econômi- valor para as empresas,
com repercussões nos re-
ca de um novo empreendimento com base na análise dos elementos sultados financeiros e na
fundamentais que possam garantir uma alteração do estado atual de gestão como um todo.

equilíbrio e a busca de um novo patamar de produção com criatividade Disponível em: https://
www.youtube.com/
e inovação. A viabilidade econômica não está somente associada às watch?v=ryISEgXkCac. Acesso em:
análises de custos e à verificação de quanto será gasto em um novo 3 maio 2021.
projeto, é importante considerarmos o ambiente social no qual será
implementada a inovação e verificar se haverá demanda e aceitabilida-
de, tendo em vista o suprimento de necessidades fundamentais asso-
ciadas às empresas e pessoas (GITMAN, 2014).

Antigamente, os computadores eram somente utilizados pelas


grandes empresas, Steve Jobs apostou na ideia de assegurar que os
computadores fossem disponibilizados para as pessoas com maior Biografia
descentralização da tecnologia, logo, ter visão de futuro é inovar. Por

Jacek Halick/WikimediaCommons
outro lado, toda alteração pode ocasionar distúrbios no processo de
implementação de uma nova ideia em determinado mercado. Para ter-
mos noção dos impactos negativos referentes aos processos inovado-
res, vejamos o caso da indústria.

O setor de cosméticos lança o tempo todo novos produtos, fra-


grâncias, tratamentos de pele, entre outras inovações. O movimento
inovador nesse segmento é marcado pelo impacto negativo ao meio
ambiente, com o acúmulo de despejos nos rios e maior poluição. Ape- Nikolai Kondratiev (1892-1938)
foi economista russo e teórico
sar da argumentação a respeito da sustentabilidade ser uma pauta nas
da Nova Economia Política.
empresas globalizadas, não há viabilidade na prática. O mundo conti- Seu maior reconhecimento é
nua a ser destruído pelas corporações e pelas empresas que produzem por ter sido o primeiro a tentar
provar o fenômeno das ondas
em larga escala, com elevadas quantidades de produtos e resíduos longas e os movimentos cíclicos,
emitidos ao meio ambiente. que foram posteriormente
conhecidos na Economia como
Passamos por um momento de elevadas demandas das socieda- ciclos de Kondratiev.
des, com a oferta de grande quantidade de produtos, das mais variadas

Inovações e acumulação capitalista no mundo contemporâneo 79


formas, mas por outro lado ocorre impacto negativo ao meio externo,
1 1
com consequências desastrosas ao ambiente. As externalidades ne-
Impactos positivos ou negativos
ao meio exterior com a produção gativas fazem parte do processo de produção capitalista, sendo tarefa
de determinada empresa. árdua eliminar esse fenômeno, principalmente devido ao movimento
de captação de maiores recursos financeiros pelas companhias.

Saiba mais A Teoria do Desenvolvimento delineada por Schumpeter (2015) as-


Será que estamos em socia o fenômeno da destruição criativa aos ciclos de Kondratiev. Estes
uma nova onda de inova-
demonstram as oscilações associadas à produção de determinada eco-
ção? Com a presença in-
tensa de tecnologias nos nomia, com altos e baixos.
meios de comunicação,
na produção e na dis- De acordo com Korotayev e Tsirel (2010), a economia pode ser
tribuição dos produtos, compreendida com base em ciclos de tempos distintos de duração.
deparamo-nos com um
novo cenário marcado Atualmente, presenciamos o desenvolvimento de um novo padrão eco-
pela presença do virtual nômico, fundamentado na economia digital, com o aprimoramento das
em detrimento do real.
É muito importante plataformas digitais e o aperfeiçoamento dos profissionais nesse novo
entendermos os ciclos contexto. Portanto, durante essa fase de mudança, novos elementos
de Kondratiev, principal-
mente para analisarmos a produtivos são introduzidos, com diferentes tecnologias, proporcio-
situação em que vivemos, nando destruição cumulativa das antigas formas de produção e distri-
o modo de vida do futuro
e para onde será destina- buição adotadas pelo mercado.
da a produção.
A atual crise econômica, política e social, em 2021, com repercussões
Disponível em: https://andrebona.
com.br/ondas-de-kondratiev-o- mundiais, é o resultado de um conjunto de fatores que estavam laten-
que-sao-e-como-podem-ajudar- tes, esperando o momento certo para ocorrer no cenário produtivo.
voce-a-entender-a-economia/.
Acesso em: 3 maio 2021. Presenciamos no capitalismo contemporâneo os seguintes determi-
nantes para uma nova fase proporcionada pelo fenômeno da destrui-
ção criativa:
• uso intenso de tecnologias como substitutas de mão de obra,
com o aumento do desemprego;
2 • financeirização da economia, com o maior uso de dinheiro digital
Novos negócios, como os bancos e da transformação das transações comerciais em virtuais;
de menor porte, que trouxeram
inovações no atendimento ao • implementação de uma nova lógica de negócio associada aos
2
cliente e formas alternativas para empreendimentos na internet e nas start-ups ;
obter e investir dinheiro.
• reformulação dos espaços urbanos como consequência direta do
fechamento de empresas no mundo real;
• intensificação do campo da logística com novas técnicas para dis-
tribuição de produtos.
• novo formato para a educação on-line, com a interação do aluno
e professor em novo formato, marcado pelo uso de plataformas
digitais;

80 Economia Política
• otimização dos espaços produtivos com o advento e a intensifica-
ção do home office;
• intensificação do uso da telemedicina para os atendimentos de
menor urgência;
• melhor entendimento de riqueza, com mudanças de atitudes
e comportamentos, principalmente com o surgimento da in-
teligência emocional, que trouxe novo conceito a respeito de Curiosidade
como as pessoas devem aprimorar suas habilidades e técnicas A inteligência emocional faz
emocionais; parte de um novo padrão
comportamental exigido pelas
• intensificação da presença de empresas estrangeiras no domínio organizações. Com ela é possível
da produção e nos preços de produtos e serviços em países em observarmos o desenvolvimento
de habilidades e técnicas
desenvolvimento.
socioemocionais.
É importante destacarmos que as mudanças estruturais causadas
pelo fenômeno da destruição criativa no capitalismo proporcionaram
o aumento das sequelas sociais, com o aumento do desemprego e da
fome. A pandemia de Covid-19 intensificou as mudanças, com novo
patamar produtivo e com o delineamento de novo cenário, marcado
pela intensificação das incertezas relacionadas ao modo de vida das
pessoas em sociedade. Por outro lado, em especial com o movimento
inovativo, é fundamental o desenvolvimento e a criação de alternati-
vas para assegurar retornos que possam proporcionar o aumento do
bem-estar das pessoas como um todo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inovação é um elemento imprescindível para o processo de acumu-
lação capitalista. Com melhores técnicas e o aprimoramento tecnológico,
as economias atingem novos patamares produtivos, com o delineamento
de um novo cenário perante o futuro. O processo de transformação das
tecnologias envolve a destruição do formato econômico e o surgimento de
novas alternativas produtivas, com repercussão no modo de vida das pes-
soas, no formato do mercado e no papel das instituições. Especialmente
no mundo contemporâneo, presenciamos alteração do modo de opera-
ção relacionado ao âmbito econômico com o surgimento da economia
digital e todo um conjunto de consequências para o processo de desen-
volvimento econômico.

Inovações e acumulação capitalista no mundo contemporâneo 81


ATIVIDADES
1. Comente sobre o pensamento de Schumpeter relacionado ao
Vídeo
desenvolvimento de tecnologias no capitalismo.

2. Como as inovações contribuem para o acúmulo da riqueza?

3. Descreva o processo de destruição criativa no capitalismo.

REFERÊNCIAS
GIL, A. C. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas, 2001.
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 10. ed. São Paulo: Harbra, 2014.
GOLEMAN, D. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
KOROTAYEV, A. V.; TSIREL, S. V. A spectral analysis of world GDP dynamics: Kondratieff
Waves, Kuznets Swings, Juglar and Kitchin Cycles in global economic development, and the
2008-2009 economic crisis. Structure and Dynamics, v. 4, n. 1, 2010.
OECD. Industry Concentration in Europe and North America. OECD Productivity Working
Papers, Paris, n. 18, p. 48. 2019.
PELEGRIN, I.; ANTUNES JR., J. A. V. Inovação: uma discussão conceitual a partir da perspectiva
da cadeia de valor. In: PROENÇA, D. P. et al. (org.). Gestão da inovação e competitividade no
Brasil: da teoria à prática. Porto Alegre: Bookman, 2013.
RODRIGUES, M. V. Qualidade de vida no trabalho: evolução e análise no nível gerencial.
14. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.
SCHUMPETER, J. A. O fenômeno fundamental do desenvolvimento econômico. In:
SCHUMPETER, J. A teoria do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Nova Cultural, 2015.
STARR, R. M. General equilibrium theory: an introduction. 2. ed. Cambridge: Cambridge
University Press, 2011.
SWAN, M. Blockchain: blueprint for a new economy. Sebastopol: O’Reilly Media, 2015.

82 Economia Política
5
Os negócios no Brasil e seus
reflexos no mundo
Neste capítulo, iremos desenvolver pontos importantes com
relação às inovações e à acumulação capitalista no mundo contem-
porâneo. Primeiramente, vamos entender a respeito da economia
brasileira e sua relação agroexportadora no âmbito internacional.
Em seguida, iremos compreender o processo da desindustrializa-
ção brasileira, com base em variáveis econômicas e seus reflexos
para o segmento produtivo. Por fim, estudaremos a respeito da
vulnerabilidade produtiva na saúde, com o delineamento de um
cenário produtivo internacionalizado.

5.1 O modelo agroexportador


Vídeo brasileiro e suas implicações
A economia brasileira sempre foi, predominantemente,
agroexportadora, sem um fortalecimento da indústria nacional
para a produção de bens, com representatividade no Produto
Interno Bruto (PIB) da economia. Devido à elevada extensão
territorial e à abundância de recursos naturais, a configuração
do aparato produtivo brasileiro tem como base a produção e
Glossário
a oferta de bens de consumo relacionados à alimentação de
commodities: produtos
relacionados à alimen- modo geral. A geração de receitas, por meio de exportações
tação, ao petróleo e ao
de commodities, proporciona a garantia de entrada de recur-
minério. No Brasil, há
a predominância de sos para a economia, com os superavits na balança comercial
commodities agríco-
e o delineamento de uma performance positiva, em termos fi-
las e minerais.
nanceiros, perante o mundo.

Os negócios no Brasil e seus reflexos no mundo 83


No entanto, a predominância de um modelo agroexportador não
proporciona o desenvolvimento da indústria nacional, com a diversifi-
cação da economia como um todo, apresentando extrema dependên-
cia de produtos importados e um risco acentuado perante o câmbio.
Nesse sentido, ressalta-se que o movimento do câmbio é uma implica-
ção que sinaliza a intensificação do modelo agroexportador, sobretudo
com o objetivo de proporcionar o aumento dos recebíveis, referente às
1 vendas de produtos primários
1
ao exterior.
Produtos primários são
matérias-primas e bens Sendo assim, o câmbio desvalorizado favorece o aumento das
produzidos diretamente exportações e dos investimentos na produção de commodities, além de
de recursos naturais.
facilitar a entrada de recursos em dólares para o país. Ressalta-se que
o processo de entrada de divisas é fundamental para fazer a manuten-
ção de um nível de reservas internacionais e manter um câmbio den-
tro de patamares que não proporcionem problemas estruturais para a
economia, especialmente quando este está muito desvalorizado, invia-
bilizando a importação de produtos para indústria devido à queda do
valor da moeda nacional (VEIGA FILHO, 2013).

Quando uma empresa exportadora realiza a venda de commodities


ao exterior, ocorre, a princípio, a entrada de dólares e o aumento das
reservas internacionais. Hipoteticamente, deveríamos ter uma valoriza-
ção da moeda brasileira, pelo aumento de dólares; porém, em virtude
2 do elevado Risco-Brasil
2
, particularmente relacionado à instabilidade
Risco-país ou Risco-Brasil política e à grande fragilidade da economia brasileira, a quantidade de
é um indicador eco-
dólares que entra no país migra para mercados com maiores taxas de ren-
nômico que mostra a
investidores estrangeiros tabilidade. Na realidade, a moeda estrangeira é atraída por taxas de ju-
os riscos para investir no
ros que possam remunerá-la e trazer retorno aos investidores.
país, indicando se o risco
de calote é alto ou baixo.
Assim, o movimento agroexportador, de elevada predominância
Quanto mais alto o índice,
maior o risco e menor a na economia brasileira, proporciona a entrada de recursos financeiros
confiança dos investidores
atrelados ao dólar, mas não possibilita a permanência efetiva desses
com relação ao país.
montantes financeiros no país. O motivo da especulação é a principal
causa para esse movimento, ocasionando uma forte pressão no câm-
bio e sérias implicações para a moeda nacional.

De certa forma, o modelo agroexportador brasileiro intensifica uma


indústria agroexportadora capaz de produzir commodities e viabilizar a en-
trada de recursos com extrema volatilidade na economia brasileira, prin-
cipalmente porque os dólares, obtidos rapidamente, saem do país para
buscar maior rentabilidade no mercado externo. Logo, a taxa de perma-

84 Economia Política
nência dos recursos internacionais e do dólar, proporcionada pela venda
de commodities ao exterior, não possui um tempo adequado, tendo uma
forte tendência de saída a outros mercados no mundo (OLIVEIRA, 2020).

Apesar de a balança comercial brasileira apresentar um desempe-


nho satisfatório, a repercussão para a economia não traz um reflexo
positivo, especialmente em virtude da extrema volatilidade da moeda
estrangeira perante a nacional. É importante considerar que o modelo
agroexportador brasileiro é representado pela produção de commodities
e os seus preços são influenciados pela demanda e oferta mundial. Dito
de outra forma, caso a soja esteja abundante no mundo, mesmo com a
desvalorização do real diante do dólar, a entrada de recursos não será
otimizada, devido à queda do valor da soja no mercado internacional.

Para compreender essa relação, é interessante investigar que o va-


lor de uma commodity é afetado pela variação do câmbio, pelo preço
no mercado exterior e pela capacidade do país de produzir em elevada
quantidade. Com isso, quanto menor o preço da commodity no exterior,
maior será o esforço de produção para obter o mesmo rendimento em
momentos anteriores à desvalorização do produto primário comer-
cializado; ou seja, o preço das commodities, no mercado internacional,
interfere na geração de receita do país perante o exterior. A Figura 1
exemplifica esse movimento de geração de receitas e, também, o efeito
especulativo do movimento de dólares no mundo.
Figura 1
Modelo agroexportador brasileiro e principais implicações

Entrada de
Venda de
Saldo positivo dólares e Saída de Desvalorização
produtos para Aumento das
na balança aumento dólares (efeito da moeda
exportação exportações
comercial das reservas especulativo) nacional
(commodities)
internacionais

Fonte: Elaborada pelo autor.

Perceba que, mesmo com a intensificação da venda de produtos


primários (commodities) e a entrada de dólares no país, o movimen-
to de entrada de divisas financeiras não é capaz de conter a desva-
lorização do câmbio, com forte intensificação do valor do dólar e
reflexos para a economia nacional. Dentre os motivos para essa inten-
sa valorização da moeda americana, no Brasil, podemos citar, segundo
Stoffel, Theis e Schreiber (2019):

Os negócios no Brasil e seus reflexos no mundo 85


• taxas de juros internacionais mais atrativas para aplicação em dólar;

• preços das commodities no exterior com forte impacto no Brasil e na


rentabilidade das empresas agroexportadoras;

• saída de dólares do país devido ao Risco-Brasil e à instabilidade política.

Quanto às taxas de juros, o movimento especulativo de entrada e


saída de dólares é muito acentuado. Isso porque a taxa de juros que
os bancos centrais ofertam no mundo proporciona maior atratividade
para as reservas em dólar, com consequências para as diversas taxas
de câmbio existentes. Especialmente no Brasil, a saída de dólares é
causada pela instabilidade política e perda de credibilidade do país no
3 mercado internacional.

O mercado futuro é deli- Levando isso em consideração, o Brasil apresenta baixa vantagem
neado com base na nego-
competitiva perante outros países, por ter uma indústria nacional in-
ciação de ativos (títulos)
sobre um preço futuro, cipiente e forte dependência do câmbio diante do movimento do se-
principalmente para evitar
tor agroexportador. Para complementar, outra implicação de elevada
perdas relacionadas a
dívidas contraídas ou por importância para a economia brasileira, fortemente dependente do
motivo especulativo.
modelo agroexportador, é o grau de atratividade dos investidores, nas
3
operações de mercado futuro , na bolsa de valores.

As commodities, além de serem negociadas com base na oferta e


Site
procura no mercado internacional, possuem seus preços delineados
As taxas de juros repre-
sentam um importante no mercado especulativo. Assim, em decorrência da forte crise econô-
instrumento para a
mica causada pela pandemia de Covid-19, as taxas de juros internacio-
tomada de decisão, tanto
para o mercado interno nais apresentam valores com tendência baixa, sobretudo com o intuito
quanto para o externo.
de dinamizar as economias no mundo; consequentemente, o mercado
Dessa forma, o dinheiro
especulativo é atraído futuro representa uma boa opção de investimento.
pelas remunerações
associadas a taxas de Nesse sentido, o capital internacional é atraído pelos títulos que re-
juros, com fortes impli- presentam as commodities no mercado de ações, particularmente no
cações ao movimento de
capitais no mundo. Para do futuro. Desse modo, quanto mais baixas forem as taxas de juros
saber mais sobre esse praticadas no mundo, maior será o grau de atratividade do capital para
aspecto e o seu impacto
nas commodities, acesse o aplicações em títulos, com lastro em commodities, nesse futuro merca-
site Canal Rural. do. Esse movimento especulativo é de forte importância para a saída
Disponível em: https://www.
de dólares do Brasil e a realização de aplicações especulativas, ao redor
canalrural.com.br/economia/
juros-internacional-alta-preco-com- do mundo, atreladas à negociação de títulos no mercado futuro, com
modities-miguel-daoud/. Acesso
as commodities servindo de alicerce para as negociações futuras. Na
em: 31 maio 2021.
verdade, esse mercado futuro sinaliza o preço das commodities, basea-

86 Economia Política
do nos valores futuros do câmbio e da taxa de juros, dentro do raciocí-
nio delineado na Figura 2.
Figura 2
Mercado futuro e o mecanismo de proteção cambial

Expectativa de
alta do dólar

Proteção cambial Previsão


(mercado futuro); otimista para a
preço estipulado de exportação de
modo antecipado commodities

Aumento do risco,
Aumento dos
atrelado a uma
estoques para
desvalorização
venda futura
do dólar

Fonte: Elaborada pelo autor.

Para compreender a Figura 2, é importante salientar que o mo-


vimento de proteção atrelado ao mercado futuro, particularmente
relacionado aos produtos oferecidos pelo modelo agroexportador,
tem implicações nos contratos comercializados entre as partes, que
são o produtor e o mercado. Caso a expectativa do dólar seja de,
futuramente, uma valorização, o produtor realiza contratos futuros
para assegurar sua rentabilidade, com base na projeção do dólar.
Logo, se, na data acordada, o real se valorizar, o produtor deverá
vender ao preço estipulado no ato da realização do contrato futuro,
assegurando sua rentabilidade.

Todos os contratos no mercado futuro são negociados, tanto visan-


do aos especulativos quanto à proteção (hedge), delineando um cená-
rio que retrata a realidade comercial entre os países. Esse “diálogo”
entre o movimento especulativo e o mercado real, ligado ao segmento
agroexportador, reflete uma implicação de suma importância para a

Os negócios no Brasil e seus reflexos no mundo 87


configuração de uma elevada fragilidade produtiva na economia brasi-
leira, sobretudo pelo encarecimento das importações.

Os ganhos financeiros, focados em um modelo agroexportador,


se baseiam em um câmbio valorizado perante o dólar e por um
mercado especulativo que possa proporcionar retornos financeiros
substanciais aos investidores, atrelados aos fundos de investimento
em commodities no mercado futuro (PEDROZO, 2021).

Além disso, o movimento especulativo no mercado futuro pode


ser feito com base nas taxas de juros. Para um melhor entendimen-
to disso, vejamos a Figura 3.
Figura 3
Mercado futuro como mecanismo de proteção atrelado à taxa de juros

Perspectiva de
elevação da
taxa de juros

Negociação dos Encarecimento das


contratos no dívidas contraídas
mercado futuro dos produtores

Realização de
Diminuição dos
contratos, com
investimentos
uma taxa de juros
produtivos
predeterminada

Fonte: Elaborada pelo autor.

Caso a taxa de juros tenha uma perspectiva de aumento, todos


os produtores, no segmento agroexportador, atrelados às dívidas
contraídas nessa taxa terão o aumento do endividamento futuro,
Glossário
com a consequência de que não são favoráveis ao escopo do ne-
solvência: capacidade
gócio. Como uma forma de proteção, os produtores realizam con-
de liquidez, medida pela
quantidade de dinheiro tratos com taxas de juros preestipuladas, objetivando proteger a
disponível em caixa para
solvência financeira e não ter comprometimento futuro no que diz
saldar as dívidas.
respeito a dívidas contraídas no médio prazo.

88 Economia Política
Desse modo, os instrumentos de proteção, tanto de câmbio quan-
to aqueles atrelados às taxas de juros, são denominados derivativos.
O segmento agroexportador tem uma forte implicação nesse mercado,
proporcionando ganhos especulativos e aumento da rentabilidade dos
grupos internacionalizados no setor, especialmente pela interatividade
do âmbito produtivo e do especulativo (mercado futuro).

5.2 A desindustrialização brasileira


Vídeo A estrutura da economia brasileira é marcada por grandes grupos
empresariais, os quais concentram a produção e atuam no merca-
do acionário, tendo como objetivo a manutenção de suas operações
no mercado mundial. Atualmente, passamos por um processo de
internacionalização da produção, com a forte presença de grupos es-
trangeiros na oferta de produtos e serviços na economia. No Brasil,
não há uma infraestrutura para promover a dinâmica da indústria na-
cional, pois depende fortemente de tecnologias e insumos vindos do
exterior. Para agravar a situação econômica, o impacto nos preços
prejudica a implementação de novas indústrias no país, inviabilizando
a dinâmica da cadeia produtiva.

Os preços são afetados, majoritariamente, pelo encarecimento das


importações e pela escassez de produtos no mundo, sobretudo após
o advento da pandemia de Covid-19, em 2020, que trouxe consequên-
cias para a geração de emprego e renda. É importante destacar que
a crise estrutural da economia brasileira já ocorria muito antes dessa
pandemia (MEREB; ZILBERMAN, 2017) – portanto, esta apenas intensifi-
cou o processo de desindustrialização brasileira. Com o fechamento do
comércio internacional, por efeito da Covid-19, muitos produtos que o
Brasil importava se tornaram escassos, de modo a comprometer inten-
samente a economia interna. De fato, nunca houve, no país, um pro-
cesso de interiorização econômica, no sentido de promover a indústria
nacional e o desenvolvimento econômico.

Quando analisamos produtos e serviços ofertados na econo-


mia brasileira, percebemos que a maior parte dos setores de maior
magnitude é internacional, sendo intensa em tecnologias e possuindo
uma vasta rede logística, no mundo, para a oferta de seus produtos
e serviços. A elevada centralidade dos investimentos em poucas com-
panhias favorece uma produção que é destinada ao mercado, com o

Os negócios no Brasil e seus reflexos no mundo 89


delineamento de preços satisfatórios para as companhias e quantida-
des determinadas conforme o interesse de auferir maior lucros para as
empresas internacionalizadas.

O câmbio favorece essa situação de dependência, com a desvalori-


zação do real e o encarecimento das importações, trazendo forte im-
pacto para a oferta interna e a sustentabilidade da economia. Inclusive,
as políticas econômicas implementadas pelo governo não surtem o
efeito desejado, e o motivo é a elevada internacionalização, bem como
a perda do poder do Estado para a concretização das políticas fiscais e
monetárias (MENDONÇA; HOLLAND; PRINCE, 2016).

A pandemia de Covid-19, iniciada no Brasil em 2020, trouxe um


cenário desesperador para a sociedade, com demandas relaciona-
das à sobrevivência da população, em detrimento de uma política
governamental que pudesse promover a criação de emprego e ren-
da com a implementação de uma indústria local. A desindustriali-
zação brasileira favorece uma situação de precariedade produtiva,
com a forte dependência de insumos importados e sem a constru-
ção de um cenário promissor para a promoção do desenvolvimento
econômico (CANO, 2012).

Com a pandemia, agravamos o risco de uma desestruturação do


contexto produtivo no Brasil, com problemas relativos à oferta de
produtos e serviços e ao encarecimento do petróleo para a econo-
mia interna. No Brasil, 40% da população disposta a trabalhar sobre-
vive em um cenário informal, representando 38 milhões de pessoas,
sendo que 13 milhões de pessoas, ou seja, 25% da população re-
sidente no país, estão em extrema situação de fragilidade social.
Nesse sentido, a situação de calamidade pública intensificada pela
pandemia desfavorece a criação de políticas para o desenvolvimen-
to da indústria no país, tendo como consequência direta o agrava-
mento da crise (BRASIL, 2020).

A piora na situação fiscal no país, sobretudo pelo aumento do deficit


público, impossibilita o desenvolvimento de estratégias que possam
proporcionar o delineamento de políticas para o desenvolvimento
da indústria local. Dessa forma, os mecanismos proporcionados pelo
Estado, como subsídios financeiros, crédito e infraestrutura, não são
realizados para a concretização de políticas públicas, com o intuito de
promover o desenvolvimento econômico.

90 Economia Política
Assim, o pagamento de juros aos investidores especulativos agrava
a situação fiscal, inviabilizando a formação de caixa para as necessida-
des correntes e para os investimentos produtivos de cunho estatal. Os
títulos da dívida pública – expressos pelas Letra Financeira do Tesouro
Nacional (LFT), Letra do Tesouro Nacional (LTN), Título Híbrido do Te-
souro (NTN-B, NTN-C, NTN-F), entre outros – apresentam uma evolução
crescente, com forte comprometimento do Estado para o pagamento
de juros para esses investidores e, consequentemente, sem recursos
para subsidiar a indústria nacional, delineando uma economia com for-
te dependência de empresas internacionalizadas (SALVADOR, 2011).

O impacto desse processo de endividamento tem reflexo na dimi-


nuição das receitas governamentais correntes e na perda da capacida-
de estatal de dinamizar a economia por meio de investimentos para
a indústria, desencadeando problemas conjunturais de forte impacto
para o setor da economia e delineando uma crise econômica de eleva-
da magnitude. Logo, a perda da capacidade de pagamento para a rea-
lização de investimentos, por parte do Estado, resulta em uma quebra
do fluxo produtivo, com a interrupção dos processos e o surgimento de
gargalos no âmbito da produção.

Diante disso, a desindustrialização brasileira é intensificada, principal-


mente mediante os seguintes aspectos conjunturais (relacionados aos
aspectos econômicos, como juros, inflação, investimentos, entre outros):

• câmbio desvalorizado, inviabilizando importações, com o


encarecimento dos produtos;

• inflação interna, causada pela presença de grandes grupos


empresariais que controlam preços e quantidades disponibilizadas ao
mercado interno;

• aumento do deficit público, com o pagamento de juros da dívida,


diminuindo a capacidade governamental para a realização de novos
investimentos na economia;

• inviabilidade política, com a ausência de um conjunto de medidas para


o fomento da indústria nacional;

• pandemia de Covid-19, com o aumento dos gastos governamentais


para o suprimento de necessidades imediatas da população.

Os negócios no Brasil e seus reflexos no mundo 91


Saiba mais Uma consequência muito importante, nesse processo, é o au-
A fragilidade produtiva mento do Risco-Brasil, entendido como a saída de investimentos
representa um impor-
tante elemento para o produtivos no país, devido ao elevado risco para a viabilidade de
entendimento do au- novos empreendimentos. Dito de outra forma, a estrutura do Brasil
mento do Risco-Brasil e a
forte presença de capitais para o desenvolvimento de novos produtos é incipiente, tendo con-
especulativos, sem um sequências indiretas para a realização de novos investimentos por
direcionamento para a
concretização de ações empresas internacionais.
que promovam o desen-
volvimento econômico. É
Dessa maneira, é intensificado o aumento de investimentos espe-
possível aprofundar o co- culativos, justamente por serem remunerados por taxas governamen-
nhecimento a respeito da
importância do Estado na
tais atrativas, minimizando o risco para os investimentos pertencentes
promoção do desenvol- tanto à economia interna quanto à externa. Sendo assim, para o ca-
vimento econômico por
meio do site Associação
pital, expresso pela quantia em movimento, não é viável a criação de
Keynesiana, sendo mecanismos que estimulem a capacidade produtiva real da economia,
importante conhecer os
estudos pertencentes
com consequências diretas para o aumento do desemprego estrutu-
à economia política e à ral, vinculado ao processo de desindustrialização brasileira. De acordo
escola keynesiana, os
quais defendem o papel
com a FGV IBRE (2021, p. 1):
do Estado para a promo-
com relação ao comportamento dos mercados, o desempenho
ção de políticas para a
industrialização. da bolsa, da taxa de juros e do câmbio sugere uma deteriora-
Disponível em: https://associacao- ção da confiança dos agentes. A frustração com o descontrole da
keynesianabrasileira.org/ Acesso em: pandemia e, consequentemente, a piora do cenário econômico
31 maio 2021. reforçam o ambiente de alta incerteza. Apesar de o cenário inter-
nacional ser de retomada da economia mundial, com destaque
para o forte crescimento dos EUA, superior ao de outros países
desenvolvidos, o Brasil não tem se beneficiado desse ambiente.
Pelo contrário, pode sofrer com pressões inflacionárias e uma
menor capacidade de atrair capitais externos.

É fundamental que seja implementado, no país, um programa para


o desenvolvimento econômico, que abranja medidas que possam di-
minuir os gargalos estruturais da economia, repercutindo na logística
para a distribuição dos produtos para a população, com a diminuição
4 dos impactos inflacionários. De fato, quando é adotada uma política
Os termos de troca que pode regionalizar os setores produtivos, com base nas necessi-
designam a relação entre
dades de cada região, as quantidades de produtos e serviços disponi-
o valor das importações
e o das exportações de bilizadas para as pessoas não são oneradas, especialmente devido a
um país em determina-
uma menor dependência estrutural e ao aprimoramento do acesso aos
do período. Com a sua
deterioração, são gerados bens e serviços disponibilizados por empresas nacionais.
o encarecimento de
4
produtos importados e A deterioração dos termos de troca do Brasil, perante o exterior,
a diminuição dos preços
é intensificada mediante a ausência de um conjunto de medidas que
para exportação.
possa dinamizar a indústria brasileira.

92 Economia Política
Então, a fragilidade cambial, expressa pela diminuição do poder de
compra da moeda nacional, faz com que o segmento para a exportação
tenha um menor esforço produtivo, sobretudo no sentido de adquirir
recursos financeiros para as operações com o resto do mundo. Ou seja,
para cada valor cambial, medido pela relação entre duas moedas, te-
mos uma produção associada. Se o valor da moeda nacional cai, o es-
forço para atingir a mesma rentabilidade é menor, de modo a aumentar
a rentabilidade da produção, principalmente pela redução dos custos.
É por isso que o setor de exportação é muito intenso em tecnolo-
gia, tendo como objetivo atingir economias de escala, ocasionadas pela
desvalorização da moeda nacional. Para exemplificar:

o segmento exportador, em um determinado momento t1(tempo 1),


oferta uma quantidade de produtos (Q1), ao preço p1 e a um valor
de câmbio associado, auferindo uma receita R1. Quando a moeda
nacional se desvaloriza, o segmento exportador tem que produzir uma
quantidade Q2 superior à Q1, para auferir uma receita R2 superior à R1
e manter os preços.

Celso Furtado (1920-2004), um importante economista pertencente


à economia política, escreveu o livro Formação econômica do Brasil
(1986) e investigou esse formato produtivo, buscando como solução a
implementação de um Modelo de Substituição de Importações (MSI).
Assim, Furtado investigou a matriz produ-
Figura 4
tiva da economia e estabeleceu relações im-
Celso Furtado no Correio da Manhã
portantes para a criação de políticas visando

Arquivo Nacional/Wikimedia Commons


ao desenvolvimento sustentável. O MSI pode
ser aplicado até hoje, especialmente pela ve-
rificação das oportunidades produtivas que
a economia brasileira pode proporcionar em
um ambiente amplamente internacionaliza-
do como o Brasil. De fato, a perda da iden-
tidade nacional, em especial pelo processo
de desindustrialização, traz elevados custos
para a economia, com forte impacto social
e diminuição dos direitos sociais para a po-
pulação em geral. Diante disso, enquanto o
segmento exportador aufere rendimentos
crescentes, a indústria nacional passa por
um processo de deterioração produtiva.

Os negócios no Brasil e seus reflexos no mundo 93


A desindustrialização, na economia brasileira, é um processo
de difícil solução. Isso porque o contexto econômico está inter-
nacionalizado, com fortes barreiras de entrada e elevado nível
de incorporação tecnológica, dificultando a entrada de empre-
sas nacionais. Seria importante, então, a criação de parcerias
público-privadas para a concretização da implementação de uma
indústria nacional; mas, por outro lado, o custo dessa estratégia é
superior às necessidades sociais que o Brasil enfrenta, almejando
superar o cenário de crise econômica, desencadeado pela pande-
mia de Covid-19 e forte instabilidade política.

5.3 Case: a vulnerabilidade produtiva


Vídeo na indústria da saúde
É muito importante considerar que o segmento da saúde pode
ser entendido como um complexo industrial. Da mesma forma que
uma indústria contrata pessoas, tem fornecedores e utiliza tecno-
Glossário logias, a saúde apresenta características muito similares. No en-
comorbidade: junção de
tanto, apesar de ser uma indústria, a saúde não apresenta uma
duas ou mais doenças em lógica econômica, pois lida com o cuidado das pessoas e demanda
um mesmo indivíduo, sen-
do problemas de saúde
recursos infinitos para o atendimento da população.
associados a tratamentos.
A incerteza é um fenômeno muito presente na saúde, em es-
pecial no que diz respeito às comorbidades nos pacientes e aos
principais desfechos (resultados) relacionados aos procedimentos
Site
clínicos. Toda estratégia adotada na saúde apresenta um nível de
O site Centro Celso
probabilidade, associado à ocorrência de fenômenos aleatórios.
Furtado é uma impor-
tante instituição para a Na maior parte dos procedimentos de alta complexidade, repre-
divulgação desse grande
sentados por linhas de cuidado, há um maior uso de tecnologias
pensador, pertencente ao
âmbito da economia po- (ARAGÃO; ABREU; LOUREIRO, 2015).
lítica. Vale muito a pena
conferir suas ideias e sua O corpo clínico, com o objetivo de tornar mais lógica a saú-
aplicabilidade na atuali-
de, desenvolve protocolos de tratamento, com diretrizes clínicas
dade, sobretudo devido
ao cenário de forte de- associadas e descrição de insumos e tecnologias para cada tipo
pendência produtiva ao
de procedimento. A alta complexidade, entendida como a área de
qual o Brasil é submetido,
em razão da ausência de maior quantidade de tecnologias e profissionais qualificados, ne-
políticas governamentais
cessita de recursos crescentes para a concretização do atendimen-
estruturadas.
to aos pacientes no âmbito hospitalar. Os recursos para o cuidado
Disponível em: http://www.
centrocelsofurtado.org.br/. Acesso dos pacientes são todos importados, de modo a se delinear um
em: 31 maio 2021. elevado nível de vulnerabilidade produtiva na saúde.

94 Economia Política
Para a percepção dessa fragilidade, é importante entender que
a saúde pode ser compreendida pelos escopos micro e macroe-
conômicos. Assim, o âmbito microeconômico investiga como os
funcionários são contratados e o custo associado à produção ou
à oferta de procedimentos em saúde, inclusive mediante a relação
entre as empresas no segmento – tudo isso visto por meio de uma
perspectiva micro. Por outro lado, o macroeconômico investiga
como a saúde contribui para o PIB, na formação de profissionais
no sistema de saúde, na relação entre as instituições públicas e
privadas, entre outras considerações importantes, relacionadas ao
escopo da economia (BOLZAN, 2010).

Por fim, a economia política é responsável pelo entendimento


dos aspectos que interferem no planejamento de saúde, sob uma
perspectiva política, delineando os principais atores representati-
vos na gestão e a sua relação com a operacionalização dos serviços.
Desse modo, a Figura 5 delineia os principais elementos constituti-
vos para a realização de uma análise econômica em saúde, com o
objetivo de constatar a vulnerabilidade produtiva.
Figura 5
Elementos constitutivos para a análise econômica na saúde

Macroeconomia

Microeconomia

Economia política

Fonte: Elaborada pelo autor.

Já a Figura 6 apresenta os elementos constitutivos presentes no


Complexo Industrial da Saúde (CEIS), com o segmento de produção
de bens e o de prestação de serviços.

Os negócios no Brasil e seus reflexos no mundo 95


Figura 6
Complexo Industrial da Saúde e os seus elementos constitutivos

Indústria protetora de bens

Indústria de farmacêutica
Fármacos/Medicamentos hemoderivados Equipamentos
médicos e
insumos; aparelhos
não eletrônicos;
aparelhos eletrônicos;
aparelhos de prótese
Indústria de
Indústria de Indústria de e órtese; material de
reagentes para
vacinas homoderivados consumo.
diagnósticos
ESTADO -
PRODUÇÃO E
REGULAÇÃO

Setores prestadores de serviço

Serviços de diagnósticos e
Hospitais Ambulatórios
tratamento

Fonte: Adaptada de Gadelha, 2003.

Quando adotamos a perspectiva macroeconômica na análise da


saúde, verificamos que o Estado tem um papel fundamental no desen-
volvimento do complexo industrial da saúde, com a promoção de polí-
ticas para esse objetivo e para a regulação do segmento, priorizando as
empresas que sejam brasileiras e que possam proporcionar a geração
de emprego e renda no país.

No entanto, o que é verificado, na realidade, é a presença de em-


presas internacionalizadas, como DASA, Fresenius, Baxer, entre outras,
que compram os serviços de saúde nacionais e prestam serviço à po-
pulação tanto do Sistema Único de Saúde (SUS) como da rede privada.
Dessa forma, percebe-se um elevado nível de dependência produtiva,
principalmente com relação ao planejamento em saúde e ao forneci-
mento de insumos e tecnologias para o segmento.

96 Economia Política
Inclusive, todos os sistemas de informatização, implementados nos
serviços, obedecem a padrões internacionais, visando uniformizar o
atendimento no mundo, sendo o Brasil mais uma extensão desse processo
de vulnerabilidade produtiva com características internacionalizadas.
Para complementar, a elevada vulnerabilidade produtiva da indústria da
saúde é intensificada devido à escassez no financiamento na saúde.

Nesse âmbito, a disparidade entre o financiamento e os custos ope-


racionais dos serviços de saúde se torna fundamental, sobretudo pela
necessidade crescente de mais recursos financeiros para esse setor e
pela incapacidade do Estado de fornecer um financiamento adequado
às demandas do sistema de saúde. Por outro lado, o financiamento
privado, representado pelos convênios e seguradoras, está atrelado
ao conjunto de certificações obtidas pelos serviços de saúde, princi-
palmente por assegurar uma maior credibilidade e diminuir os riscos
atrelados aos repasses financeiros privados.

Em suma, os convênios e as seguradoras enviam maiores volumes


de recursos financeiros para os serviços de saúde, possuindo uma su-
perior capacidade de pagamento, certificações e mais credibilidade
no mercado. Aliás, as áreas de superior complexidade tecnológica são
aquelas que possuem maior vulnerabilidade produtiva e dependência
das empresas internacionais.

Nesse sentido, a elevação dos custos em saúde onera os serviços e


favorece a aquisição e incorporação de entidades de saúde nacionais
por empresas privadas. Ainda, a vulnerabilidade produtiva tem forte
associação com a falta de dinamismo para o desenvolvimento técnico e
científico na saúde, proporcionando maior vantagem comparativa para
as empresas internacionais.

Portanto, o planejamento em saúde, executado pelas empresas es-


trangeiras, colabora para o desenvolvimento de alternativas que otimi-
zam os custos com rapidez e agilidade, tendo melhores perspectivas
quanto aos rendimentos financeiros auferidos pelas companhias inter-
nacionais. Sob a perspectiva microeconômica, a vulnerabilidade pro-
dutiva é expressa pelo encarecimento dos insumos e das tecnologias
associadas e, majoritariamente, pela adoção de novos protocolos clíni-
cos para o atendimento dos pacientes (PEDUZZI, 2020).

Em outras palavras, as necessidades em saúde, com o objetivo de


cura, proporcionam a incorporação de tecnologias, com direitos adqui-

Os negócios no Brasil e seus reflexos no mundo 97


ridos pelas empresas internacionais, encarecendo o sistema de saúde
e os serviços – inclusive, com a acentuação da defasagem do financia-
mento público e do privado na saúde.

Para complementar, a economia política na saúde colabora para o


entendimento a respeito dessa vulnerabilidade produtiva, com a veri-
ficação dos principais atores representativos na gestão dos serviços e
do próprio sistema de saúde, principalmente com a compreensão das
portarias publicadas e da forma de atuação dos gestores diante dos
serviços e o próprio sistema de saúde, incluindo o privado e o públi-
co. Até mesmo a vulnerabilidade produtiva na saúde colaborou para a
perda do poderio médico nas decisões relacionadas à gestão da saúde,
tornando os médicos dependentes das empresas internacionalizadas.

Sendo assim, o formato de negócio era delineado com base na deci-


são médica no que diz respeito à adoção de tecnologias; porém, com a
entrada das empresas, verificou-se que a classe médica é menos repre-
sentativa com relação aos aspectos de gestão em saúde.

Nesse contexto, a vulnerabilidade produtiva na saúde desencadeou


um critério de escolha para a contratação de profissionais, pautado na
obtenção de menores custos operacionais – ou seja, para as empresas
internacionalizadas, é mais relevante produzir cada vez mais e com o
menor custo unitário associado.

Artigo

https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2016001405002&script=sci_arttext&tlng=pt

A internacionalização da saúde é muito presente nos planos de saúde e nas


seguradoras, com a intensificação da vulnerabilidade produtiva. As empresas
desse segmento atuam em um processo de acumulação, com o objetivo de
melhorar o desempenho no mercado. Para se aprofundar no assunto, leia
o artigo Das empresas médicas às seguradoras internacionais: mudanças no
regime de acumulação e repercussões sobre o sistema de saúde no Brasil, de
Bahia et al., de 2016.

Acesso em: 31 maio 2021.

Dessa maneira, a vulnerabilidade na saúde representa um proble-


ma estrutural, com várias consequências para a economia e o segmen-
to de modo geral. Apresenta, com isso, a inflação na saúde e a elevada
fragilidade produtiva, expressa por um processo de desenvolvimento
científico incipiente. Ademais, a diminuição dos recursos para a saúde,
expressa por um financiamento governamental defasado, favorece o
grau de dependência produtiva.

98 Economia Política
Levando isso em consideração, é muito importante que sejam cria-
dos mecanismos para o aprimoramento das políticas relacionadas ao
desenvolvimento do parque industrial da saúde, com a aplicação de
subsídios governamentais e maiores oportunidades para as empresas
brasileiras atuarem nesse cenário globalizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A vulnerabilidade produtiva brasileira é um fenômeno econômico de
elevada representatividade na economia, sobretudo por desencadear
problemas estruturais de elevado vulto, como a inflação, o baixo desen-
volvimento científico e tecnológico e a forte dependência de empresas in-
ternacionais. Assim, a fragilidade da economia brasileira representa uma
perda da competitividade externa, majoritariamente devido à baixa ade-
são de novos empreendimentos no país.
A formação de grandes grupos que controlam os preços e as quan-
tidades ofertadas de mercadorias e serviços intensifica uma situação de
elevada instabilidade econômica, principalmente pelo aumento do risco
relacionado aos capitais produtivos na economia, que poderiam ser apli-
cados para a criação de novos negócios, com reflexos para a geração de
emprego e renda.

ATIVIDADES
1. Quais são as principais consequências de um modelo agroexportador
Vídeo
no Brasil?

2. Qual é o principal elemento para a eliminação do processo de


desindustrialização brasileira?

3. Como a indústria da saúde é afetada pela vulnerabilidade produtiva?

REFERÊNCIAS
ARAGÃO, E.; ABREU, G.; LOUREIRO, S. Inovações tecnológicas em saúde e suas implicações
para a equidade: evidências da desigualdade na distribuição de equipamentos de
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Os negócios no Brasil e seus reflexos no mundo 99


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FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 22. ed. São Paulo: Nacional, 1986.
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VEIGA FILHO, L. Modelo agroexportador, distorções e dependência. Safra, 14 out.
2013. Disponível em: http://revistasafra.com.br/modelo-agroexportador-distorcoes-e-
dependencia/. Acesso em: 31 maio 2021.

100 Economia Política


Resolução das atividades
1 A economia política
1. Quais são as principais dimensões investigadas na economia
política? Explique.
As dimensões são a econômica, a política e a social. A dimensão
econômica engloba as argumentações e as análises a respeito dos
resultados econômicos, como o nível de produção, emprego e
utilização de insumos nos processos produtivos; investiga a respeito
do movimento especulativo na economia por meio do estudo do
mercado de capitais. A dimensão política investiga os arranjos entre
os diversos atores nos segmentos produtivos e na máquina estatal,
mostrando todo o conjunto de decisões que afetam as pessoas,
sob um ponto de vista público e privado. Por fim, a dimensão social
estuda o impacto nos consumidores, os efeitos humanos, a qualidade
de vida e todo o conjunto de medidas que afetam o social como um
todo, sendo entendida como o amparo às famílias e à construção de
uma sociedade mais justa com relação à legitimação de um patamar
razoável de qualidade de vida para as pessoas.

2. Comente, em linhas gerais, sobre a escola de pensamento


marxista na economia política.
A escola marxista tem como principal escopo a crítica ao capitalismo.
Questiona a respeito da elevada concentração de renda, com fortes
desigualdades sociais. Ainda, comenta sobre a grande concentração
de grupos empresariais no segmento produtivo e especulativo,
ocasionando desemprego pela utilização acentuada de tecnologias e
diminuição do uso de mão de obra. Traz o entendimento das crises
econômicas como uma circunstância que pertence ao processo de
valorização do capital no tempo.

3. Quais são as principais características da escola neoclássica


dentro da economia política?
A escola neoclássica tem como pressuposto fundamental a utilização
de modelos determinísticos em suas análises, com o estabelecimento
de raciocínios lógicos relacionados aos contextos econômico, social e
político. O individualismo é uma característica muito marcante dessa
escola de pensamento, com o fortalecimento da ação individual em
detrimento do coletivo. Defende, assim, a minimização da participação
do Estado e o fortalecimento do mercado, o que é um elemento
fundamental para a dinâmica econômica.
Resolução das atividades 101
2 O neoliberalismo
1. Escreva em linhas gerais o pensamento de Adam Smith e a sua
influência no delineamento do liberalismo.
Adam Smith foi um pensador dentro do escopo teórico e prático da
economia política que colaborou para o estudo do mercado e para
o entendimento da lógica entre a força de trabalho em um ambiente
produtivo. Delineou uma defesa ao livre mercado com a justificativa de
que poderia haver um equilíbrio nas transações comerciais entre as
empresas. Por meio desse “equilíbrio”, poderia ser possível a obtenção
de riqueza e bem-estar para todos. Assim, a mão invisível do mercado
poderia fomentar uma melhor distribuição de renda para todos e
viabilizar a implementação de negócios rentáveis.

2. Como as políticas públicas são delineadas por meio do


pensamento neoliberal? Explique.
O pensamento neoliberal colabora para o fortalecimento de uma
defesa a favor do corte de gastos governamentais e de uma menor
participação do Estado na economia, tendo como consequência a
diminuição da implementação de políticas públicas para a população.
O neoliberalismo defende um Estado mínimo, com o fornecimento
de segurança e o básico para o atendimento das necessidades
coletivas. A proteção social é deixada de lado para abrir espaço para
o fortalecimento do mercado. As privatizações devem assegurar a
otimização dos custos governamentais e garantir a provisão de bens
necessários para todos, mediante uma ótica relacionada ao poder
de compra de bens e serviços. Dito de outra forma, o indivíduo tem
o poder de conseguir aquilo que deseja por meio de seu mérito e
esforço individual.

3. Comente sobre o equilíbrio de mercado.


O equilíbrio de mercado é entendido pela corrente neoliberal como a
obtenção de um preço e uma quantidade de equilíbrio no mercado,
por meio da interação entre a curva de oferta e demanda. Por outro
lado, o equilíbrio de mercado, defendido pela corrente neoliberal,
não pode ser atingido, devido a diversas circunstâncias econômicas,
políticas e sociais que delineiam qualquer tipo de segmento produtivo.
Aspectos econômicos relacionados à inflação, a alterações no câmbio
ou à diminuição de tributos podem acarretar mudanças no mercado
e promover o desequilíbrio. Arranjos políticos, com diferentes atores
representativos no governo, refletem em mudanças no mercado e
alteram a situação de um possível equilíbrio. As pessoas estão imersas
em diferentes circunstâncias sociais, com preferências distintas, tendo

102 Economia Política


reflexos no equilíbrio de mercado. Portanto, o equilíbrio é expresso
por um desequilíbrio constante no tempo.

3 O marxismo e as relações econômico-políticas


1. Qual é a influência de Karl Marx para a economia política?
Karl Marx tem uma importante influência para a economia política,
principalmente no que diz respeito ao funcionalismo do capitalismo
e às suas particularidades relacionadas à relação entre o capital e o
trabalho, às crises econômicas e aos reflexos para todo o funcionamento
de uma sociedade capitalista. Questões sobre o exército industrial de
reserva e o impacto no nível de desemprego refletem o entendimento
a respeito do processo de geração de lucro pelos empreendedores e
para o funcionamento da produção de mercadorias e serviços.

2. Qual é a relação entre a acumulação do capital e a crise


econômica?
A acumulação do capital é um fenômeno inteiramente relacionado
aos processos de crise econômica. O capital, no seu processo de
valorização, necessita de movimentos para realizar os seus lucros
e garantir uma taxa de rentabilidade favorável aos acionistas e aos
detentores de riqueza. O processo de acumulação é marcado por
otimismo e desejo de lucros, com interrupções periódicas ao longo do
capitalismo. Particularmente, a Crise de 2008 evidenciou uma ruptura
do processo de valorização do capital no tempo, com a quebra de
muitas famílias e instituições, desencadeando uma crise sem limites e
interrompendo o movimento de valorização do capital na sua essência
de reprodução.

3. Como os oligopólios intensificam o processo de financeirização


na economia no mundo?
Os oligopólios representam empresas de elevada composição em
estrutura e abrangência acionária. Eles operam em escala global, com
a oferta de produtos e serviços de elevada densidade tecnológica;
controlam os preços e as quantidades dos produtos disponibilizados
ao mercado, tendo um imenso poder sobre as transações comerciais
e com forte papel no processo de financeirização; e, particularmente,
desenvolvem estruturas logística de transmissão de dados financeiros
que otimizam os retornos dos acionistas e favorecem o ganho do
capital fictício em escala mundial. A financeirização é um reflexo desse
processo na realidade das sociedades e de todas as instituições,
com o delineamento de uma nova estrutura de comercialização de
mercadorias e de serviços, marcada pelo uso de instrumentos digitais,

Resolução das atividades 103


de cartões e de toda uma estrutura que possa fortalecer a perpetuação
do capital fictício produzido por essas companhias de capital aberto.

4 Inovações e acumulação capitalista no mundo


contemporâneo
1. Comente sobre o pensamento de Shumpeter relacionado ao
desenvolvimento de tecnologias no capitalismo.
O pensamento de Schumpeter é marcado pelo entendimento da
dinâmica capitalista de produção e da influência do processo inovativo
nas cadeias produtivas. Segundo o autor, há uma relação entre as
mudanças tecnológicas e o processo de desenvolvimento econômico. A
implementação de novas tecnologias colabora para o aperfeiçoamento
das técnicas relacionadas à produção com consequências positivas
para o aumento do valor proporcionado pelas atividades das empresas
e instituições. Por outro lado, Schumpeter associa esse movimento
aos ciclos econômicos, trazendo um entendimento muito evidente a
respeito das oscilações da produção no mundo capitalista.

2. Como as inovações contribuem para o acúmulo da riqueza?


A riqueza na maioria das vezes é associada ao desenvolvimento de
novas tecnologias e à sua aplicação no mundo corporativo. As empresas
sempre almejam o lucro, tendo as tecnologias um importante papel
nesse processo. Com a implementação de inovações, as companhias
conseguem auferir níveis de produção com base em uma redução dos
custos e ampliação da oferta disponibilizada ao mercado consumidor.

3. Qual o seu entendimento a respeito do processo de destruição


criativa no capitalismo?
A destruição criativa é um fenômeno elaborado por Schumpeter para
tentar compreender as transformações no sistema capitalista de
produção. Com alterações nas relações entre tecnologia e trabalho,
com o aprimoramento técnico e a concretização de um novo ponto
de equilíbrio econômico, o processo de destruição criativa molda
as sociedades e traz um novo cenário para o formato produtivo das
empresas, com a implementação de novas técnicas e aprimoramento
de pessoas para a execução de tarefas relacionadas ao âmbito
produtivo. Por outro lado, o fenômeno da destruição criativa traz
resultados negativos, como o aumento do desemprego, incertezas
e concentração da oferta, principalmente associada às grandes
companhias de capital aberto.

104 Economia Política


5 Os negócios no Brasil e seus reflexos no mundo
1. Quais são as principais consequências de um modelo
agroexportador no Brasil?
O modelo agroexportador brasileiro desempenha um importante papel
para a geração de divisas e para o desenvolvimento do setor produtor
de commodities. Por outro lado, a centralidade no desenvolvimento
de um único segmento proporciona o aumento de vulnerabilidade
produtiva do país perante o exterior, devido à deterioração dos termos
de troca entre o comércio do Brasil e o externo. Assim, o câmbio
intensifica a dependência, mas a grande fragilidade da indústria
brasileira é um elemento que proporciona a perda da competitividade
da economia, com consequências desastrosas para o âmbito interno,
refletindo nos preços e em todo fluxo produtivo.

2. Qual é o principal elemento para a eliminação do processo de


desindustrialização brasileira?
O papel governamental é de suma importância na criação de
mecanismos para o aumento da renda e de emprego na economia,
principalmente com a adoção de políticas fiscais que possam
assegurar o desenvolvimento econômico no Brasil. A criação de
subsídios para empresas, por meio de mecanismos de crédito, e o
desenvolvimento de polos industriais estratégicos, que possam ter
reflexos multiplicadores em outros segmentos, seriam alternativas
viáveis para minimizar o impacto da desindustrialização no país. No
entanto, com a desvalorização da moeda, percebe-se a acentuada
perda da capacidade de pagamento por bens importados, tendo
um forte impacto para a produção nacional, que é extremamente
dependente de produtos do exterior.

3. Como a indústria da saúde é afetada pela vulnerabilidade


produtiva?
O encarecimento de produtos importados para a saúde ocasiona um
problema estrutural de forte impacto para o segmento, aumentando
os preços das tecnologias para o cuidado em todas as áreas de
atenção, principalmente na alta complexidade, com o maior uso de
equipamento de alto custo. Consequentemente, há uma grande
necessidade de financiamento público e privado para os serviços
de saúde, com consequências para o agravamento da crise no
setor. Paralelamente, as empresas internacionalizadas, detentoras
dos conhecimentos técnico e científico e da maior capacidade de
pagamento, atuam na compra de serviços de saúde brasileiros e no
aumento da participação do capital internacional na saúde.

Resolução das atividades 105


ECONOMIA POLÍTICA
ANTONIO PESCUMA JUNIOR

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-65-5821-038-2

59868 9 786558 210382

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