Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 Introdução
Entre os diversos temas que permeiam as discussões sobre projetos e planos para
os países em desenvolvimento, a Economia Criativa é um dos mais recorrentes.
Diretamente relacionada com o conceito de indústrias criativas, ou seja, indústrias
originadas na criatividade individual, habilidade e talento (COMUNIAN; FAGGIAN;
JEWELL, 2014), a economia criativa tem chamado a atenção pelo seu potencial para a
criação de empregos e geração de riquezas de maneira sustentável (DAVIES; GAUTI,
2013). Diante desta perspectiva, o conceito, já amadurecido em locais como o Reino
Unido e Austrália, foi absorvido rapidamente por diversos países emergentes, com amplo
apoio de diferentes setores (PAGLIOTO, 2016).
2 Administração política
Muitas das ideias da Administração que regem as ações aplicadas pelos governos
ao longo dos anos, baseadas na teoria e análise econômica dos economistas neoclássicos,
se mostraram inadequadas e ineficazes. A despeito do que afirmam muitos pensadores
conservadores, estes problemas carecem de ações regidas por ideias que se libertem das
velhas teorias econômicas neoclássicas, uma vez que os paradigmas epistemológicos por
elas perpetuadas não foram capazes de oferecer soluções para estas mazelas (SANTOS et
al., 2008). Um desses paradigmas diz respeito à falsa premissa de que a economia tende
sempre ao equilíbrio em situação de pleno emprego (Adam Smith, David Ricardo) e a
teoria dos ciclos econômicos. Estes problemas escancaram o quanto a premissa do
equilíbrio da situação de pleno emprego defendida por autores como Adam Smith e Jean
Baptiste Say é distante da realidade.
A leitura também reflete a realidade das crises (e.g. as das décadas de 1920 e 1970,
esta última culminando no final da década de 2000) causadas pelo sistema capitalista com
seu principal efeito: o desemprego estrutural, fruto da natureza inerente à desigualdade
social e ineficaz e injusta distribuição de renda. O cerne do problema que perdura há
décadas, o desemprego. São refutadas pelos autores as premissas de que a situação de
pleno emprego tende ao equilíbrio, conforme já preconizado por Adam Smith e Jean
Baptiste Say e que as crises são próprias da natureza dos sistemas econômicos,
particularmente do sistema capitalista. Outro equívoco diz respeito a fomentar o consumo
em detrimento dos serviços de educação, saúde, saneamento, segurança, na ciência e
tecnologia e inovação.
Assim, as crises têm ocorrido ciclicamente e seus impactos percebidos por não se
ater ao cerne do problema: o combate do desemprego estrutural, ampliação da capacidade
de distribuição e o alcance da finalidade desenvolvimento/bem-estar igualitário ou melhor
distribuído. A administração política e a geografia política ajudam a elucidar os efeitos
do Neoliberalismo, e as razões para que ocorram, com raízes profundamente arraigadas
no capitalismo. Finalmente, o contexto em que a Administração Política se exerce é
caracterizado pela complexidade e a consciência da incerteza ao invés da subordinação
às exigências de certeza e previsões infalíveis. Um modelo de gestão objeto de
Administração Política reconhece e aceita que ordenamentos surgirão de turbulências e
flutuações, e que estas são efetivamente mais frequentes que os momentos de ordens
sociais que delas se originam, compreendendo que novos dados, acordos e compromissos
fundamentam a Gestão.
As razões pelas quais essas crises não são evitadas, bem como suas políticas de
recuperação não se mostram rapidamente eficazes são que não se ataca o cerne do
problema que perdura há décadas, o desemprego. E sim são tomadas medidas paliativas,
como reformas.
3 Economia criativa
3.2 Potencialidades
O potencial econômico das indústrias criativas pode ser observado pelos números.
Dados produzido pela Ernst & Young (EY, 2015) com o apoio da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), demonstram que o valor
de mercado das indústrias criativas e culturais no mundo foi estimado em US$ 2,25
trilhões em 2013, totalizando 3% do produto interno bruto (PIB) mundial naquele ano.
Em relação ao número de empregos, o estudo estimou que 29,5 milhões de pessoas (cerca
de 1% da população ativa no mundo) trabalhavam em alguma dessas indústrias, nesse
mesmo período. (NIKO, 2018). No Brasil, as indústrias criativas e culturais também
demonstram participação bastante relevante na economia. Segundo estimativas do estudo
publicado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN, 2016), as
indústrias criativas e culturais do Brasil foram responsáveis por gerar R$ 155,6 bilhões
em 2015, o que representou 2,64% do PIB brasileiro naquele ano. No mesmo ano, essas
indústrias empregaram 851,2 mil pessoas, ou 1,8% do total de empregos formais no
Brasil.
Diferentes casos podem ilustrar muito bem o potencial da Economia Criativa para
o desenvolvimento dos locais. Em alguns casos, um único equipamento ou instituição
cultural pode fornecer um estímulo ao crescimento econômico urbano. Entre eles,
podemos citar o museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha, frequentemente citado como
um caso paradigmático de um investimento cultural que levou à revitalização de um
espaço urbano deprimido. Edifícios e estruturas culturais icônicas, como a torre inclinada
de Pisa, o Taj Mahal ou a grande muralha da China, são verdadeiras ímãs para o turismo.
A identidade cultural de uma cidade também pode ser reforçada através da realização de
eventos e festivais artísticos. Por exemplo, festivais de longa data como os de Bayereuth,
Edimburgo ou Salzburgo estão intimamente ligados à imagem dessas cidades
(THROSBY, 2010).
Como casos bem sucedidos no país, podemos citar o bloco carnavalesco Galo da
Madrugada, que sai todo sábado de carnaval do bairro de São José, um dos bairros da
região central da cidade do Recife. Além do carnaval, o bloco criou um programa ligado
a outras festividades e feriados como São João e Natal. Somado a isso, suas atividades
culturais estão se espalhando pelo mundo. Atualmente existem blocos inspirados no Galo
da Madrugada no Canadá, Japão e Berlim. O bloco apoia ainda a comunidade local de
várias maneiras. Nos últimos quatro anos, vem operando o projeto “Cultura e Cidadania”,
uma escola de música que atende crianças e adolescentes de comunidades carentes do
Recife e Região Metropolitana.
4 Contradições
Discussão e conclusões
Entre os diversos temas que permeiam as discussões sobre projetos e planos para
os países em desenvolvimento, a Economia Criativa é um dos mais recorrentes.
Diretamente relacionada com o conceito de indústrias criativas, ou seja, indústrias
originadas na criatividade individual, habilidade e talento (COMUNIAN; FAGGIAN;
JEWELL, 2014), a economia criativa tem chamado a atenção pelo seu potencial para
criação de empregos e geração de riquezas de maneira sustentável (DAVIES; GAUTI,
2013). As indústrias criativas são reconhecidas também pela capacidade de produzir
ideias inovadoras e benefícios sociais não monetizados (KUHLKE et al., 2015). Diante
desta perspectiva, o conceito, já amadurecido em locais como o Reino Unido e Austrália,
foi absorvido rapidamente por diversos países emergentes, com amplo apoio de diferentes
setores (PAGLIOTO, 2016).
A discussão em torno da economia criativa como um elemento a ser considerado
na construção de um projeto de país torna-se relevante, em especial para o Brasil, por dois
motivos principais. Primeiro, a criatividade, força primordial desta economia, eleita como
a principal competência do século XXI, posiciona-se de forma cada vez mais estratégica
na atual sociedade do conhecimento, caracterizada pela valorização do capital intelectual
e uma constante atualização tecnológica. Perpassa ainda o estímulo à inovação e à
capacidade empreendedora, formando os futuros agentes do crescimento econômico e
transformação social, por meio da prática empreendedora (ARAÚJO; DAVEL, 2019;
MUZZIO, 2019; ŚLEDZIK, 2013). O segundo motivo que justifica uma atenção à
economia criativa é o papel central da cultura. Embora não exista um consenso a respeito
dos setores pertencentes às indústrias criativas (JONES et al., 2015), em geral, todas as
áreas culturais que integram as cadeias produtivas da cultura e suas transversalidades
(música, moda, games, festas, patrimônio, turismo, audiovisual e espaços urbanos) são
consideradas essenciais em sua dinâmica. Em um país culturalmente exuberante e diverso
como o Brasil, não atentar para o potencial da cultura enquanto ferramenta de
desenvolvimento socioeconômico significa desperdiçar um recurso valioso de forma
gratuita. Entretanto, apesar de todo o potencial da economia criativa, é necessária uma
discussão mais aprofundada sobre a viabilidade real de sua integração a um projeto de
nação. Além de reflexões sobre certas peculiaridades do país, é preciso somar ao
pensamento que já vem sendo elaborado nos estudos de Cultura e Economia (BOLAÑO;
LOPES; SANTOS, 2016; PAGLIOTO, 2016), outros pontos de vista trazidos pelo campo
da Administração Política.
REFERÊNCIAS
COMUNIAN, R.; FAGGIAN, A.; JEWELL, S. Embedding arts and humanities in the
creative economy: The role of graduates in the UK. Environment and Planning C
Government and Policy, v. 32, n. 3, p. 426 – 450, 2014.
DAVIES, R.; GAUTI, S. Introducing the creative industries: From theory to practice.
London: London: Sage Publications, 2013.
FRANÇA, G. C. DE. Genauto Carvalho de França Filho. 2009.
GAIA, R. DA S. P. et al. A nova política dos velhos tempos: reflexões sobre a construção
de um projeto de nação. Áskesis - Revista de discentes do Programa de Pós-
Graduação em Sociologia da UFSCar, v. 8, n. 1, p. 40–55, 2020.
PAGLIOTO, B. F. Economia Criativa: mediação entre cultura e desenvolvimento. In:
LEITÃO, C.; MACHADO, A. F. (Eds.). [s.l: s.n.].
SANTOS, R. S. A Administração Política Como Campo Do Conhecimento. In: A
Administração Política Como Campo Do Conhecimento. São Paulo-Salvador: [s.n.].
SANTOS, R. S. et al. Bases teórico-metodológicas da administração política. v. 2, n. 1,
p. 19–43, 2008.
BOLAÑO, César; SANTOS, Verlane. Economia Criativa e desenvolvimento:
Perspectivas para Sergipe. | In: SANTANA, José Ricardo; HANSEN, Dean. (Orgs.).
Planejamento e estratégias para o desenvolvimento: A agenda econômica para
Sergipe. São Cristóvão: Editora UFS, 2014.
FURTADO, Celso. Criatividade e dependência na civilização industrial. São Paulo:
Companhia
das Letras, 1978.
_________ Cultura e desenvolvimento em época de crise. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1984.
_________ (1986). Pressupostos da política cultural. In: Ensaios sobre cultura e o
Ministério da Cultura. Rio de Janeiro: CICEF, 2012.
__________ (1987). Depoimento à Assembleia Nacional Constituinte. In: Cadernos do
Desenvolvimento.RiodeJaneiro,v. 8,n.12,jan./jul.2013.