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ECONOMIA CRIATIVA NA CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE NAÇÃO:

REFLEXÕES À LUZ DA ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA

1 Introdução

Diversas reflexões têm sido propostas no meio acadêmico sobre a construção de


um projeto para o Brasil. O tema encontra-se presente em pesquisas de áreas como a
Economia, a Sociologia e as Ciências Sociais (GAIA et al., 2020). Neste contexto, as
pesquisas recentes em Administração Política, campo em progressivo amadurecimento
epistemológico (SANTOS, 2004), podem oferecer contribuições valiosas para enriquecer
o debate acerca do assunto. Especialmente relevantes são as discussões voltadas às
questões mais preocupantes do contexto capitalista atual, como o desemprego e a injusta
distribuição de renda. Afinal de contas, sem um profundo mergulho em busca de possíveis
soluções para estas questões, torna-se inviável o desenvolvimento de um projeto
minimamente consistente para um país profundamente desigual como o Brasil.

Entre os diversos temas que permeiam as discussões sobre projetos e planos para
os países em desenvolvimento, a Economia Criativa é um dos mais recorrentes.
Diretamente relacionada com o conceito de indústrias criativas, ou seja, indústrias
originadas na criatividade individual, habilidade e talento (COMUNIAN; FAGGIAN;
JEWELL, 2014), a economia criativa tem chamado a atenção pelo seu potencial para a
criação de empregos e geração de riquezas de maneira sustentável (DAVIES; GAUTI,
2013). Diante desta perspectiva, o conceito, já amadurecido em locais como o Reino
Unido e Austrália, foi absorvido rapidamente por diversos países emergentes, com amplo
apoio de diferentes setores (PAGLIOTO, 2016).

A discussão em torno da economia criativa como um elemento a ser considerado


na construção de um projeto de nação torna-se relevante, em especial para o Brasil, por
dois motivos principais. Primeiro, a criatividade, força primordial desta economia, eleita
como a principal competência do século XXI (UNCTAD, 2010), posiciona-se de forma
cada vez mais estratégica na atual sociedade do conhecimento (ou sociedade da
informação), caracterizada pela valorização do capital intelectual e uma constante
atualização tecnológica. Perpassa, ainda, o estímulo à inovação e à capacidade
empreendedora, formando os futuros agentes do crescimento econômico e transformação
social, por meio da prática empreendedora (ARAÚJO; DAVEL, 2019; MUZZIO, 2019;
ŚLEDZIK, 2013). O segundo motivo que justifica uma atenção à economia criativa é o
papel central da cultura. Embora não exista um consenso a respeito dos setores
pertencentes à economia criativa (JONES et al., 2015), em geral, todos os setores culturais
que integram as cadeias produtivas da cultura e suas transversalidades (música, moda,
games, festas, patrimônio, turismo, audiovisual e espaços urbanos) são considerados
essenciais em sua dinâmica. Em um país culturalmente exuberante e diverso como o
Brasil, não atentar para o potencial da cultura enquanto ferramenta de desenvolvimento
socioeconômico significa desperdiçar um recurso valioso de forma gratuita.

Entretanto, apesar de todo o potencial da economia criativa, é necessária uma


discussão mais aprofundada sobre a viabilidade real de sua integração a um projeto de
nação. Além de reflexões sobre certas peculiaridades do país, é preciso somar ao
pensamento que já vem sendo elaborado nos estudos de Cultura e Economia, outros
pontos de vista trazidos por campos como a Administração Política. Em consonância
com alguns autores da administração política, ressaltamos que dentro do sistema
capitalista, a função do estado, ao elaborar suas políticas, é estar atento a um projeto que
priorize o bem estar coletivo. Logo, a noção de desenvolvimento não pode estar associada
apenas à lógica econômica da produção e concentração de riquezas pura e simplesmente,
mas direcionada a uma melhoria da condição de vida das pessoas, o que passa
inevitavelmente por uma distribuição econômica menos injusta. Nesse sentido, embora a
Economia Criativa, especialmente no que tange à dimensão cultural a ela associada, possa
representar uma contribuição promissora para um projeto de país mais sensível às
necessidades sociais, esta não deve estar imune a um olhar mais crítico. Como
discutiremos adiante, a lógica de acumulação e má distribuição que tem dirigido as ações
administrativas tem sido também percebida nos diversos setores que compõem a
economia criativa (música, teatro, cinema, entre outros). Isso nos leva a questionar como
seria possível explorar o potencial da EC sem, no entanto, sucumbir à lógica de geração
de riqueza de forma concentrada, algo que não contribuiria para a resolução das questoes
materiais, nem tão pouco para a libertação das pessoas (o devir).

O objetivo deste artigo é fomentar algumas reflexões acerca do papel da Economia


Criativa na construção de um projeto de nação à luz da Administração Política. Para tanto,
partiremos de dois aspectos fundamentais inspirados no pensamento recente da
Administração Política (SANTOS et al., 2008): a) A intencionalidade e b) Atenção à
lógica não acumulativa (SANTOS et al., 2008)). Em seguida, analisaremos o
funcionamento da economia criativa no Brasil e no exterior, suas potencialidades e
contradições. A partir disso, discutiremos alguns aspectos cruciais para a elaboração de
políticas culturais que estejam alinhadas com o potencial da economia criativa, sem
perder de vista, entretanto, o objetivo essencial de preservar o bem estar social
(FRANÇA, 2009). Especificamente, argumentamos que um projeto de nação que
incorpore a economia criativa enquanto ferramenta estratégica deve estar pautado em uma
noção de desenvolvimento menos restrita à lógica econômica da produção, acumulação e
fomento desmedido ao consumo.

Como resultados, pretendemos propor, a partir de um debate com a Administração


Política, temas que podem gerar pesquisas futuras. Estes temas estão relacionados com a
problemática central de como explorar o potencial da criatividade e da cultura para um
projeto de desenvolvimento, sem, contudo, continuar obedecendo e perpetuando o ciclo
de concentração e desigualdade que se observa, inclusive, dentro das próprias indústrias
criativas.

2 Administração política

A administração política vem desenvolvendo reflexões teóricas que visam propor


novos caminhos para as discussões sobre alguns problemas crônicos do sistema
capitalista, observados ao longo das décadas. Essas reflexões fazem parte de um esforço
anterior em direção a um amadurecimento intelectual do campo da Administração que,
para além de uma área tecnicista e associada a atividades muito práticas, estritamente
voltadas para a gestão de organizações, pode contribuir muito para o debate filosófico.
Nesta busca por uma consolidação enquanto campo teórico, faz-se necessário suprir uma
lacuna em relação à carência de bases teórico-metodológicas mais consistentes. Entre
algumas das questões urgentes a serem debatidas, estão o desemprego estrutural, fruto da
natureza inerente à desigualdade social e ineficaz e injusta distribuição de renda que
permeiam as crises do sistema capitalista.

Criticável também é o entendimento de que o fomento ao consumo, e o estímulo


do crédito direto às empresas, em especial quando se põe em segundo plano necessidades
como educação, saúde, saneamento, segurança, na ciência e tecnologia e inovação é uma
estratégia inteligente. Em uma avaliação mais atenta, é possível perceber que, se o
aumento do consumo, capaz de gerar algum otimismo, leva de qualquer modo à uma má
distribuição, estamos apenas maquiando o problema com outras cores. O consumo, neste
caso, beneficia os mesmos grupos privilegiados, o que propicia que a lógica da
acumulação se perpetue.

Muitas das ideias da Administração que regem as ações aplicadas pelos governos
ao longo dos anos, baseadas na teoria e análise econômica dos economistas neoclássicos,
se mostraram inadequadas e ineficazes. A despeito do que afirmam muitos pensadores
conservadores, estes problemas carecem de ações regidas por ideias que se libertem das
velhas teorias econômicas neoclássicas, uma vez que os paradigmas epistemológicos por
elas perpetuadas não foram capazes de oferecer soluções para estas mazelas (SANTOS et
al., 2008). Um desses paradigmas diz respeito à falsa premissa de que a economia tende
sempre ao equilíbrio em situação de pleno emprego (Adam Smith, David Ricardo) e a
teoria dos ciclos econômicos. Estes problemas escancaram o quanto a premissa do
equilíbrio da situação de pleno emprego defendida por autores como Adam Smith e Jean
Baptiste Say é distante da realidade.

Em contraponto a esses entendimentos, autores da economia política sustentam


que os processos econômicos não são resultantes de uma autodeterminação, mas sim
dirigidos por uma intencionalidade. Em síntese, o resultado é fruto da intenção de quem
conduz o processo, dirigindo e administrando com intencionalidade. Essa direção
deliberada, de competência do Estado, deve ser fruto de análises cuidadosas. É preciso
atentar para as especificidades de cada local e não apenas repetir certas medidas aplicadas
em outros países, o que significa que cada realidade social requer formas específicas de
intervenção pública e social (SANTOS et al., 2008).

A Administração Política reflete uma preocupação anti-utilitarista em relação ao


conhecimento que se produz em ciências sociais e à definição simplista da Administração,
como um conjunto de atividades muito práticas estritamente voltadas para a gestão de
organizações. Sobretudo a partir da necessidade de uma ampliação dessa visão habitual e
de enfoque em temas preteridos, como as relações de poder, sua relação com a Economia.
Sua relativamente recente elaboração e consolidação reflete também a necessidade e
suprir a lacuna em relação às bases teórico-metodológicas que orientassem os estudos no
campo, a construção de uma epistemologia que possibilitasse melhorar o entendimento
empírico da trajetória do capitalismo e a proposição de uma ciência que redireciona os
resultados do trabalho social, permitindo a cada indivíduo menor jornada para a garantia
da sobrevivência, libertando-o de ter a existência justificada pela luta incessante por
garantir a sobrevivência.

A leitura também reflete a realidade das crises (e.g. as das décadas de 1920 e 1970,
esta última culminando no final da década de 2000) causadas pelo sistema capitalista com
seu principal efeito: o desemprego estrutural, fruto da natureza inerente à desigualdade
social e ineficaz e injusta distribuição de renda. O cerne do problema que perdura há
décadas, o desemprego. São refutadas pelos autores as premissas de que a situação de
pleno emprego tende ao equilíbrio, conforme já preconizado por Adam Smith e Jean
Baptiste Say e que as crises são próprias da natureza dos sistemas econômicos,
particularmente do sistema capitalista. Outro equívoco diz respeito a fomentar o consumo
em detrimento dos serviços de educação, saúde, saneamento, segurança, na ciência e
tecnologia e inovação.

Assim, as crises têm ocorrido ciclicamente e seus impactos percebidos por não se
ater ao cerne do problema: o combate do desemprego estrutural, ampliação da capacidade
de distribuição e o alcance da finalidade desenvolvimento/bem-estar igualitário ou melhor
distribuído. A administração política e a geografia política ajudam a elucidar os efeitos
do Neoliberalismo, e as razões para que ocorram, com raízes profundamente arraigadas
no capitalismo. Finalmente, o contexto em que a Administração Política se exerce é
caracterizado pela complexidade e a consciência da incerteza ao invés da subordinação
às exigências de certeza e previsões infalíveis. Um modelo de gestão objeto de
Administração Política reconhece e aceita que ordenamentos surgirão de turbulências e
flutuações, e que estas são efetivamente mais frequentes que os momentos de ordens
sociais que delas se originam, compreendendo que novos dados, acordos e compromissos
fundamentam a Gestão.

As razões pelas quais essas crises não são evitadas, bem como suas políticas de
recuperação não se mostram rapidamente eficazes são que não se ataca o cerne do
problema que perdura há décadas, o desemprego. E sim são tomadas medidas paliativas,
como reformas.
3 Economia criativa

3.1 Conceituação e importância

O conceito de economia criativa tem sido relacionado ao de indústrias criativas,


ou seja, indústrias originadas na criatividade individual, habilidade e talento
(COMUNIAN; FAGGIAN; JEWELL, 2014) cujos produtos e serviços são caracterizados
por um grande valor simbólico e apresentam potencial para criação de emprego e riqueza
por meio da geração e exploração da propriedade intelectual (DAVIES; GAUTI, 2013).
As indústrias criativas são reconhecidas também pela capacidade de produzir novas ideias
e benefícios sociais não monetizados (BALLEREAU et al., 2015).

A criatividade se destaca por estar no cerne das indústrias criativas, da economia


criativa e da economia cultural, tidas como forças propulsoras do desenvolvimento social
(BENDASSOLI et al., 2009; CANEDO; DANTAS, 2016, BANDEIRA; COSTA, 2015;
MUZZIO; 2019, UNESCO; 2013). Eleita pela UNESCO como a principal competência
do século XXI (UNCTAD, 2010), a criatividade posiciona-se de forma cada vez mais
estratégica na atual sociedade do conhecimento (ou sociedade da informação),
caracterizada pela valorização do capital intelectual, internacionalização, diversificação
na força de trabalho e uma constante atualização tecnológica, o que requer de seus atores
sociais a capacidade de formação de redes sociais e compartilhamento do conhecimento
(BENDASSOLI et al, 2009). A criatividade posiciona-se de forma cada vez mais
estratégica na atual sociedade do conhecimento (ou sociedade da informação),
caracterizada pela valorização do capital intelectual, internacionalização, diversificação
na força de trabalho e uma constante atualização tecnológica, o que requer de seus atores
sociais a capacidade de formação de redes sociais e compartilhamento do conhecimento
(BENDASSOLI et al, 2009). Perpassando o estímulo à inovação e à capacidade
empreendedora, formando os futuros agentes do crescimento econômico e transformação
social, por meio da prática empreendedora (ARAÚJO; DAVEL, 2019; MUZZIO, 2019;
ŚLEDZIK, 2013). Sua importância é inequívoca também pela interrelação com elementos
como as cadeias produtivas da cultura e suas transversalidades (música, moda, games,
festas, patrimônio, turismo, audiovisual e espaços urbanos), a economia criativa, a
indústria criativa e as políticas públicas (BENDASSOLI; BORGES-ANDRADE, 2011;
CANEDO; DANTAS, 2016, MUZZIO, 2019).

Como conceito de fundamental importância para o futuro da economia, das


sociedades e das organizações (AMABILE, 2017; GEORGE, 2017; MUZZIO, 2019;
NAKANO; WECHSLER, 2018; NEGUS; PICKERING, 2014; ROBINSON, 2011;
UNCTAD, 2010), bem como de habilidade para atuar em contextos cada vez mais
diversos e dinâmicos, a criatividade, portanto, é de grande interesse, tanto para
pesquisadores quanto para gestores, por estar ligada aos processos de inovação e
iniciativas empreendedoras, como forma de propor e implementar mudanças, rupturas e
inovação (HOWKINS, 2013). No Brasil, as pesquisas englobam um campo
multidisciplinar e sugerem como antecedentes e determinantes da criatividade aspectos
como: habilidades de pensamento criativo (i.e. fluência, flexibilidade, originalidade);
atributos de personalidade que favorecem a expressão da capacidade criadora (i.e.
iniciativa, independência, autoconfiança, persistência, flexibilidade); e promoção de um
clima psicológico que reflita valores de apoio à criatividade, e que traduza os princípios
de confiança na capacidade e competência individual e fomento à expressão de novas
idéias (Alencar, 1996; 2005; 2007; Alencar, Fleith & Bruno-Faria, 2010; Bruno-Faria,
Veiga & Macedo, 2008; Perez, 2014). As pesquisas se estruturam em centros e institutos
brasileiros. Por exemplo, os ambientes de inovação (como a Rio Criativo, o centro de
Criatividade em Curitiba e o Departamento de Criatividade na Escola Superior de
Propaganda e Marketing) e as incubadoras (como a Rede Brasil Criativo e a Rede de
Economia Criativa). No mundo, encontramos centros de pesquisa como o Institute for
Capitalizing on Creativity da Universidade de St. Andrews (Escócia), o Webster Center
for Creativity and Innovation, na Webster University Geneva (Suíça), o International
Centre for Cultural Psychology of Creativity e o Centre for the Culture Psychology
(ambos na Universidade de Aalborg, Dinamarca). Encontramos também incubadoras
como o Centro de Pesquisas Criativas Haier Global/DC Alliance + Snøhetta (que
desenvolve projetos arquitetônicos na China) e o Centro de Inovação da
Mouraria/Mouraria Creative Hub em Lisboa (que se dedica a apoiar projetos de negócio
provenientes das indústrias criativas). Trata-se, portanto, de um fenômeno
multidimensional e intersetorial.
Dentro deste contexto mais amplo e plural sobre a criatividade, o campo da
Administração tem sido palco prolongado e constante de pesquisas voltadas para a
criatividade. A revisão sistemática dessas pesquisas nos permite entender o campo por
meio de concepções da criatividade nas organizações: concepções tradicionais e
concepções contemporâneas. As concepções tradicionais focam no âmbito individual e
no ideal de genialidade. As concepções contemporâneas preocupam-se com questões
voltadas para o ambiente, o processo, a aprendizagem, a construção social e o
compartilhamento. Esse conjunto de concepções da criatividade nas pesquisas em
Administração nos ajudam a melhor mapear as diferenças teóricas que orientam as
pesquisas e melhor entender possibilidades de inovações futuras.

A criatividade é um ativo de essencial importância para os processos de inovação


e iniciativas empreendedoras, por meio da geração e implementação de novas ideias, e
como forma efetiva de propor e implementar mudanças, rupturas e inovação (AMABILE,
2017; GEORGE, 2007, NAKANO; WECHSLER, 2018). A criatividade é também
necessária para gerar ações de inovação, adaptação, formulação de estratégias
ambientalmente sustentáveis e resolução de conflitos. (MAINEMELIS et al, 2015;
AMABILE, 2017). Dela advém, portanto, os elementos essenciais para mudança,
inovação, sobrevivência organizacional e mesmo para a geração de novas soluções para
problemas preexistentes.

3.2 Potencialidades

A cultura e a criatividade são elementos de grande importância como mecanismo


de crescimento econômico no mundo pós-industrial (ABBING, 2016). É reconhecido há
algum tempo que as artes criativas e a cultura contribuem para a vida urbana e para o
desenvolvimento econômico das cidades de várias maneiras, incluindo as seguintes
(THROSBY, 2010): a) atividades artísticas e culturais em nível local proporcionam
engajamento social e criação de empregos, que podem ser úteis como meio de reengajar
grupos sociais deslocados, como os jovens marginalizados e b) Uma infraestrutura
cultural forte e uma vida artística ativa podem ser importantes na criação de cidades
sustentáveis e na atração de investimentos internos para uma região urbana,
proporcionando condições de trabalho agradáveis.
Alguns setores criativos, além disso, apresentam a vantagem de não sofrerem com
a depreciação pela obsolescência ou pelo desgaste do uso do mesmo modo que os bens
de capital e de consumo duráveis (COSTA & JUNIOR, 2012). Se uma máquina, por
exemplo, tende a ser substituída por uma outra mais moderna, um roteiro turístico como
a Rute Del Pisco, na região do Valle del Elqui no Chile, no entanto, é um bem que nunca
será obsoleto. Esta mesma lógica pode ser aplicada para diversos roteiros turísticos como
Amazônia, Patagônia, e as Ruínas Incas (MORAES, 2018).

O potencial econômico das indústrias criativas pode ser observado pelos números.
Dados produzido pela Ernst & Young (EY, 2015) com o apoio da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), demonstram que o valor
de mercado das indústrias criativas e culturais no mundo foi estimado em US$ 2,25
trilhões em 2013, totalizando 3% do produto interno bruto (PIB) mundial naquele ano.
Em relação ao número de empregos, o estudo estimou que 29,5 milhões de pessoas (cerca
de 1% da população ativa no mundo) trabalhavam em alguma dessas indústrias, nesse
mesmo período. (NIKO, 2018). No Brasil, as indústrias criativas e culturais também
demonstram participação bastante relevante na economia. Segundo estimativas do estudo
publicado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN, 2016), as
indústrias criativas e culturais do Brasil foram responsáveis por gerar R$ 155,6 bilhões
em 2015, o que representou 2,64% do PIB brasileiro naquele ano. No mesmo ano, essas
indústrias empregaram 851,2 mil pessoas, ou 1,8% do total de empregos formais no
Brasil.

3.3 Casos de Economia Criativa no Brasil e no Mundo

Diferentes casos podem ilustrar muito bem o potencial da Economia Criativa para
o desenvolvimento dos locais. Em alguns casos, um único equipamento ou instituição
cultural pode fornecer um estímulo ao crescimento econômico urbano. Entre eles,
podemos citar o museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha, frequentemente citado como
um caso paradigmático de um investimento cultural que levou à revitalização de um
espaço urbano deprimido. Edifícios e estruturas culturais icônicas, como a torre inclinada
de Pisa, o Taj Mahal ou a grande muralha da China, são verdadeiras ímãs para o turismo.
A identidade cultural de uma cidade também pode ser reforçada através da realização de
eventos e festivais artísticos. Por exemplo, festivais de longa data como os de Bayereuth,
Edimburgo ou Salzburgo estão intimamente ligados à imagem dessas cidades
(THROSBY, 2010).

O Brasil, com sua exuberante diversidade cultural, artística e geográfica é um país


com grande potencial para a Economia Criativa. Algumas iniciativas têm sido realizadas
no país pelos governos estaduais. Em Alagoas, existem projetos relacionados à Serra da
Barriga (Patrimônio Cultural do Mercosul), possivelmente, o local de patrimônio
histórico mais importante no estado, embora ainda considerado sub-explorado, em termos
de valor econômico e cultural. Pernambuco tem na cultura de Caruaru um de seus pontos
fortes, com destaque para os trabalhos de cerâmica e na música. A Fundação para Cultura
e Turismo de Pernambuco tenta promover diferentes atividades artísticas durante todo o
ano, sendo a festa de São João a principal celebração cultural.

Como casos bem sucedidos no país, podemos citar o bloco carnavalesco Galo da
Madrugada, que sai todo sábado de carnaval do bairro de São José, um dos bairros da
região central da cidade do Recife. Além do carnaval, o bloco criou um programa ligado
a outras festividades e feriados como São João e Natal. Somado a isso, suas atividades
culturais estão se espalhando pelo mundo. Atualmente existem blocos inspirados no Galo
da Madrugada no Canadá, Japão e Berlim. O bloco apoia ainda a comunidade local de
várias maneiras. Nos últimos quatro anos, vem operando o projeto “Cultura e Cidadania”,
uma escola de música que atende crianças e adolescentes de comunidades carentes do
Recife e Região Metropolitana.

O Galo da Madrugada é apenas um exemplo isolado que pode explicitar o


potencial do Carnaval para a Economia Criativa brasileira. A festa é uma das fontes de
receita mais expressivas entre as festas populares do Brasil. De acordo com dados
publicados pelo Ministério do Turismo (2013) o carnaval gerou R$5,7 bilhões de receita
no ano, atraindo 6,2 milhões de turistas. A realização do carnaval também gera um
impacto positivo no comércio local devido aos gastos realizados pelos turistas atraídos
pelas festividades. O carnaval brasileiro é tido como um dos atrativos turísticos mais
importante em diversas cidades, tanto nacional como internacionalmente, como é o caso
de Recife, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, dentre outras. O Rio de Janeiro, estado
da região sudeste do Brasil, além de fornecer empregos diretos e indiretos para quase 500
mil pessoas, o carnaval contribui significativamente para o desenvolvimento da economia
local (SALDANHA; GONÇALVES, 2019)

4 Contradições

Apesar de todo o potencial da Economia Criativa para o desenvolvimento das


regiões, existem algumas contradições que podem ser identificadas. Na prática, o poder
das artes, cultura e criatividade pode ser subaproveitado ou mesmo servir para alimentar
a lógica de concentração de riquezas.

Existe uma ausência de políticas públicas prioritárias destinadas à Economia


Criativa. A maioria dos países emergentes têm uma cultura muito rica. Entretanto, devido
à falta de estrutura, muitos artistas não sabem como fornecer seus produtos aos mercados.
Segundo Toghraee (2017), diversos estudos apontam para a necessidade de oferta de
empréstimos adequados e treinamento de habilidades gerenciais na formação dos
empreendedores culturais.

Nesse contexto, muitas vezes, o potencial econômico da criatividade termina


sendo explorado por empresas capazes de realizar a conversão da capacidade criativa em
produtos tangíveis e comercializáveis. A mercantilização da cultura já preocupava autores
como Adorno e Horkheimer, que viam neste fenômeno uma abertura para uma
subordinação dos propósitos culturais às demandas do mercado (THROSBY, 2009).

Uma outra preocupação, especialmente dos países em desenvolvimento, é que as


formas locais de expressão cultural e a afirmação de identidades culturais nacionais ou
regionais sejam superadas pela expansão do mercado cultural globalizado (THROSBY,
2009). Por exemplo, se houver a massificação de um festival, ele perde sua exclusividade
e parte de sua originalidade. Em outras palavras, não pode haver Festival da Cúmbia em
El Banco, Colômbia e nem o Festival de Barriletes gigantes de Santiago Sacatepéquez na
Guatemala todos os meses. É possível haver diversificação do calendário festivo das
cidades e das sociedades, mas nunca sua transformação em produto de massa e oferta em
escala. A economia criativa tem o potencial de promover a diversificação cultural e de
atividades, não, devendo prestar-se à homogeneização e massificação (MORAES, 2018).
No caso do Brasil, é possível observar certas contradições, por exemplo, na
maneira pela qual os editais possibilitam a concentração de renda. Enquanto alguns
artistas, já pertencentes a grandes gravadoras do setor musical podem ser beneficiados ao
ter seus projetos patrocinados por grandes empresas, artistas de menor projeção não
conseguem, muitas vezes, patrocinadores para seus projetos culturais, ainda que estes
tenham sido aprovados. A lógica é que as empresas não se interessam em patrocinar
artistas que não desenvolvam trabalhos artísticos de fácil comercialização, pois estes não
beneficiariam as vendas dos produtos.

5 A Interseção entre a Economia criativa e a administração política - possibilidades


de pesquisa

Devido ao potencial da economia criativa, ela vem se firmando como um dos


temas mais atuais quando se trata de novas estratégias de desenvolvimento. De fato, o
discurso em torno da economia criativa traz um otimismo generalizado. A princípio, o
seu potencial para um projeto de desenvolvimento que leve em consideração o bem estar
social parece promissor e tem sido adotado pelas estratégias de desenvolvimento para
países periféricos (PAGLIOTO, 2016). Entretanto, se nos utilizarmos das lentes críticas
do pensamento mais recente da administração política, podemos perceber que a solução
mágica que o fenômeno da economia criativa pode representar para alguns entusiastas,
ganha um formato menos idealizado. Especificamente, se jogarmos à mesa as
preocupações existentes em relação a uma condução administrativa que há muito tempo
beneficia grupos específicos, percebemos que esse é um equívoco que permeia os setores
da economia criativa em proporção semelhante.

A cultura, dimensão primordial da economia criativa, possui uma enorme


relevância tanto do ponto de vista simbólico e social quanto do ponto de vista econômico.
A questão é que essa dimensão econômica abre uma porta para que a cultura venha a ser
subordinada à mesma lógica de acumulação e má distribuição que permeia os diversos
setores dentro de uma economia capitalista. Entre o discurso de diversidade cultural e
valorização do potencial humano e a lógica economicista e a mercantilização da cultura
sobre a qual repousa o conceito de indústrias culturais discutida por Adorno, existe uma
tensão marcante (BOLAÑO; LOPES; SANTOS, 2016).
A economia criativa se firma como conceito em locais de tradição econômica
capitalista, a exemplo da Inglaterra. Deste modo, a tendência é a utilização da cultura
segundo os moldes industriais para produzir e comercializar produtos culturais que
atendam às demandas massivas. É exatamente esta perspectiva inglesa que se consolidou
no imaginário dos defensores do tema mundo afora. O problema com essa lógica é que,
ao contrário da diversidade cultural e participação social ampla, a tendência é que ocorra
uma monopolização da cultura em torno de grandes grupos empresariais (PAGLIOTO,
2016). Esta tendência já se materializa na prática e pode ser observada com o domínio
das grandes companhias de teatro, as mega produtoras de audiovisual e as grandes
gravadoras do setor musical. É possível observarmos também a predominância desta
lógica monopolista em festas populares como o carnaval de Salvador, no qual os
camarotes e blocos associados às grandes empresas, especialmente do ramo cervejeiro,
exploram todo o potencial econômico cultural. O resultado, na prática, leva ao mesmo
resultado: concentração e acumulação de renda.

Propomos uma reflexão no sentido de um projeto de nação que contemple o


potencial da economia criativa a partir de dois aspectos fundamentais inspirados no
pensamento recente da Administração Política (SANTOS et al., 2008) a) A
intencionalidade b) Atenção à lógica não acumulativa A construção de um projeto de
nação passa inevitavelmente pela intencionalidade. Mais especificamente, é através da
gestão intencional por parte do Estado, guiado pelo objetivo maior do bem estar social
(FRANÇA, 2009) que um projeto consistente pode ser elaborado. Uma utilização racional
dos recursos nacionais depende da escolha do direcionamento e de programas
econômicos e sociais adequados (SANTOS; RIBEIRO, 1993) Com os recursos culturais,
insumos fundamentais na engrenagem da economia criativa, isso não seria diferente. No
que tange à economia criativa, a elaboração de políticas culturais deve ser direcionada
como uma extensão da política social. Isso deve ocorrer por meio de um projeto
politicamente conduzido, no qual cabe ao Estado mais do que abrir caminhos para as
forças do mercado (BOLAÑO; LOPES; SANTOS, 2016). Nesse sentido, uma política
cultural seria, na verdade, um aprofundamento da política social (FURTADO, 1986, P.
63).
O segundo aspecto diz respeito a uma Atenção à lógica não acumulativa. Como
demonstramos anteriormente, a concentração de recursos nas mãos de pequenos
oligopólios culturais pode ser observado em diversas indústrias da economia criativa.
Neste sentido...

Discussão e conclusões

Diversas reflexões têm sido propostas no meio acadêmico sobre a construção de


um projeto para o Brasil. O tema encontra-se presente nas pesquisas de áreas como a
Economia, Sociologia e Ciências Sociais (GAIA et al., 2020). Neste contexto, as
pesquisas recentes em Administração Política, campo em progressivo amadurecimento
epistemológico (SANTOS, 2004), podem oferecer contribuições valiosas para enriquecer
o debate acerca do assunto. Especialmente relevantes são as discussões voltadas às
questões mais preocupantes do contexto capitalista atual, como o desemprego e a injusta
distribuição de renda. Afinal de contas, sem um profundo mergulho em busca de possíveis
soluções para estas questões, torna-se inviável o desenvolvimento de um projeto
minimamente consistente para um país profundamente desigual como o Brasil. A despeito
do que afirmam muitos pensadores conservadores, estes problemas carecem de ações
regidas por ideias que se libertem das velhas teorias econômicas neoclássicas, uma vez
que os paradigmas epistemológicos por elas perpetuadas não foram capazes de oferecer
soluções para estas mazelas (SANTOS et al., 2008).

Entre os diversos temas que permeiam as discussões sobre projetos e planos para
os países em desenvolvimento, a Economia Criativa é um dos mais recorrentes.
Diretamente relacionada com o conceito de indústrias criativas, ou seja, indústrias
originadas na criatividade individual, habilidade e talento (COMUNIAN; FAGGIAN;
JEWELL, 2014), a economia criativa tem chamado a atenção pelo seu potencial para
criação de empregos e geração de riquezas de maneira sustentável (DAVIES; GAUTI,
2013). As indústrias criativas são reconhecidas também pela capacidade de produzir
ideias inovadoras e benefícios sociais não monetizados (KUHLKE et al., 2015). Diante
desta perspectiva, o conceito, já amadurecido em locais como o Reino Unido e Austrália,
foi absorvido rapidamente por diversos países emergentes, com amplo apoio de diferentes
setores (PAGLIOTO, 2016).
A discussão em torno da economia criativa como um elemento a ser considerado
na construção de um projeto de país torna-se relevante, em especial para o Brasil, por dois
motivos principais. Primeiro, a criatividade, força primordial desta economia, eleita como
a principal competência do século XXI, posiciona-se de forma cada vez mais estratégica
na atual sociedade do conhecimento, caracterizada pela valorização do capital intelectual
e uma constante atualização tecnológica. Perpassa ainda o estímulo à inovação e à
capacidade empreendedora, formando os futuros agentes do crescimento econômico e
transformação social, por meio da prática empreendedora (ARAÚJO; DAVEL, 2019;
MUZZIO, 2019; ŚLEDZIK, 2013). O segundo motivo que justifica uma atenção à
economia criativa é o papel central da cultura. Embora não exista um consenso a respeito
dos setores pertencentes às indústrias criativas (JONES et al., 2015), em geral, todas as
áreas culturais que integram as cadeias produtivas da cultura e suas transversalidades
(música, moda, games, festas, patrimônio, turismo, audiovisual e espaços urbanos) são
consideradas essenciais em sua dinâmica. Em um país culturalmente exuberante e diverso
como o Brasil, não atentar para o potencial da cultura enquanto ferramenta de
desenvolvimento socioeconômico significa desperdiçar um recurso valioso de forma
gratuita. Entretanto, apesar de todo o potencial da economia criativa, é necessária uma
discussão mais aprofundada sobre a viabilidade real de sua integração a um projeto de
nação. Além de reflexões sobre certas peculiaridades do país, é preciso somar ao
pensamento que já vem sendo elaborado nos estudos de Cultura e Economia (BOLAÑO;
LOPES; SANTOS, 2016; PAGLIOTO, 2016), outros pontos de vista trazidos pelo campo
da Administração Política.

O objetivo deste artigo foi de fomentar algumas reflexões acerca do papel da


Economia Criativa na construção de um projeto de nação à luz da Administração Política.
Para tanto, partiremos de dois aspectos fundamentais inspirados no pensamento atual de
autores do campo (SANTOS et al., 2008): a) A intencionalidade e b) Atenção à lógica
não acumulativa. Em seguida, ilustramos as potencialidades e contradições da economia
criativa, bem como o seu o papel para a construção de um projeto de nação, com casos
do Brasil e do exterior. A partir das lições depreendidas dos casos apresentados,
discutiremos alguns aspectos cruciais para a elaboração de políticas culturais que estejam
alinhadas com o potencial da economia criativa, sem perder de vista, entretanto, o
objetivo essencial de preservar o bem estar social (FRANÇA, 2009). Especificamente,
argumentamos que um projeto de nação que incorpore a economia criativa enquanto
ferramenta estratégica deve estar pautado em uma noção de desenvolvimento menos
restrita à lógica economicista da produção, acumulação e fomento desmedido ao
consumo.

Como resultados, a partir de um debate entre a Administração Política e a


Economia Criativa, e dos aprendizados obtidos com os casos apresentados, propomos
elementos que merecem ser considerados na construção de políticas culturais. Estes
possíveis caminhos de pesquisa convergem para a problemática central de: como explorar
o potencial da criatividade e da cultura para um projeto de desenvolvimento, sem,
contudo, continuar obedecendo e perpetuando o ciclo de concentração e desigualdade que
se observa, inclusive, dentro das próprias indústrias criativas.

REFERÊNCIAS

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creative economy: The role of graduates in the UK. Environment and Planning C
Government and Policy, v. 32, n. 3, p. 426 – 450, 2014.
DAVIES, R.; GAUTI, S. Introducing the creative industries: From theory to practice.
London: London: Sage Publications, 2013.
FRANÇA, G. C. DE. Genauto Carvalho de França Filho. 2009.
GAIA, R. DA S. P. et al. A nova política dos velhos tempos: reflexões sobre a construção
de um projeto de nação. Áskesis - Revista de discentes do Programa de Pós-
Graduação em Sociologia da UFSCar, v. 8, n. 1, p. 40–55, 2020.
PAGLIOTO, B. F. Economia Criativa: mediação entre cultura e desenvolvimento. In:
LEITÃO, C.; MACHADO, A. F. (Eds.). [s.l: s.n.].
SANTOS, R. S. A Administração Política Como Campo Do Conhecimento. In: A
Administração Política Como Campo Do Conhecimento. São Paulo-Salvador: [s.n.].
SANTOS, R. S. et al. Bases teórico-metodológicas da administração política. v. 2, n. 1,
p. 19–43, 2008.
BOLAÑO, César; SANTOS, Verlane. Economia Criativa e desenvolvimento:
Perspectivas para Sergipe. | In: SANTANA, José Ricardo; HANSEN, Dean. (Orgs.).
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Sergipe. São Cristóvão: Editora UFS, 2014.
FURTADO, Celso. Criatividade e dependência na civilização industrial. São Paulo:
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_________ Cultura e desenvolvimento em época de crise. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1984.
_________ (1986). Pressupostos da política cultural. In: Ensaios sobre cultura e o
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