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109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 3
Editorial
Caro leitor,

Tragédias, forças da natureza


e a Engenharia Civil

E
m todos os ramos da dos furacões, das enchentes, da ação da gravidade, dos in-
atividade humana, a cêndios, mas não de um vento moderado. Na época, pouco
natureza, os acon- se sabia de ressonância e frequência natural de uma estrutura.
tecimentos e as cir- A geometria e sua pouca rigidez permitiram oscilações do ta-
cunstâncias deixam lições. Às buleiro de até 36 ciclos por segundo com grandes amplitudes,
vezes duras lições como as que destruíram aquela ponte metálica.
que o planeta está vivencian-
do com o terremoto da Tur- Tremenda lição rapidamente aprendida pela engenharia civil e
quia e Síria, e no litoral norte incorporada aos novos projetos. A partir desse acontecimento
de São Paulo. No âmbito da nunca mais uma estrutura projetada e construída em conformi-
Engenharia Civil é razoável dade com as normas técnicas e com os procedimentos de bem
dizer que essas lições estejam construir viria a colapsar por ressonância e flutter aeroelástico.
entre as mais tristes porque
envolvem muitos indivíduos, Sobre os trágicos acidentes hidrológicos e geológicos a ABGE
além de expressivos prejuízos Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental,
econômicos. vem frequentemente se manifestando, explicando e recomen-
Paulo Helene, dando providências para mitigar os riscos. Vale a pena con-
Diretor Presidente
Essas tragédias, por outro sultar a carta aberta da ABGE publicada na edição 105 desta
lado, nos trazem grandes revista, e à recente carta de fevereiro de 2023.
aprendizados e permitem evoluir com mais segurança no futu-
ro. Por exemplo, a Engenharia empírica dos egípcios antes de Outra lição recente aprendeu-se com o Edifício Wilton Paes
construir a mais alta pirâmide do mundo, com 143m de altura, a de Almeida, obra emblemática dos anos 60, que colapsou
Grande Pirâmide de Queóps, uma das sete maravilhas da anti- em 2018, após sofrer um incêndio de apenas 80 minutos. Até
guidade, aprendeu com o colapso das fundações de 3 pirâmi- então a engenharia entendia que as estruturas de concreto
des. Ao longo dos anos os engenheiros e arquitetos construí- armado, quando adequadamente projetadas e bem cons-
ram centenas de milhares de pontes desde os tempos romanos, truídas, são muito seguras e capazes de resistir e suportar a
inclusive pontes emblemáticas como a Golden Gate em 1937 ação nefasta do calor, pelo menos por algumas horas, para
em São Francisco, hoje com 86 anos, e a ponte do Brooklin em viabilizar a evacuação dos residentes e o acesso e trabalho
Nova York, hoje com 140 anos, inaugurada em 1883. de salvamento dos bombeiros. Em caso similar de incêndio,
a estrutura metálica das Torres Gêmeas, no ano de 2001, em
No Brasil a ponte de grande porte considerada como a pio- Nova York, colapsou precocemente em cerca de 60 minutos,
neira foi a ponte do Recife, construída em rocha e madeira de acarretando a morte de mais de 400 bombeiros, além dos
lei e que serviu a cidade por 170 anos, de 1644 a 1815. Suce- milhares de usuários que não conseguiram sair a tempo.
deu uma nova ponte, desta vez em aço, denominada ponte
7 de Setembro, inaugurada em 1865, que sucumbiu devido Esses acontecimentos ensinaram duras lições de como me-
à elevada corrosão gerada pela atmosfera marinha. Em 1917 lhorar o projeto e construção de estruturas considerando a
foi então substituída pela atual ponte de concreto armado, possibilidade de um incêndio de grandes proporções. Ne-
uma das mais antigas do país, projetada por Emilio Baumgart, nhum edifício atual, projetado e construído dentro das nor-
atualmente denominada ponte Maurício de Nassau, em ope- mas e exigências nacionais e internacionais, corre risco de co-
ração, ora com 106 anos de idade. lapsar subitamente sob um incêndio.

Nenhuma dessas pontes históricas e mais centenas de milha- Agora vejamos o caso dos terremotos. Em 1755, ocorreu em
res de outras pontes construídas por séculos nos diferentes Lisboa, um grande terremoto que vitimou fatalmente cerca de
países, colapsaram por efeito da ressonância, até que houve 100 mil pessoas. Na China, em 1976, um tremor de 8,2 graus
o catastrófico colapso da ponte Tacoma Narrows. Inaugurada na escala Richter com duração de apenas 14 s, vitimou cer-
em 1940, a ponte colapsou poucos meses após, com um vento ca de 240 mil pessoas. No Chile, em 1960, ocorreu o abalo
moderado, mas constante, que surpreendeu a Engenharia do de maior intensidade já registrado na história da humanidade
mundo todo, pois esta apenas conhecia o poder destrutivo com 9,5 graus na escala Richter.

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Os sismos da Turquia e Síria ocorreram em 6 de fevereiro de estruturas e edifícios colapsem por sismos, por incêndios, por
2023. A estimativa de mortes até agora é de mais de 50.000 ventos moderados e furacões, porque aprendemos e incor-
pessoas, sendo desalojadas cerca de 1,3 milhões de pessoas poramos o conhecimento de forma democrática, consensual
e quase 7 mil edifícios colapsados. Não há como evitar que a e abrangente disponibilizando-o nas normas técnicas e nas
natureza se manifeste, através de sismos, furacões, maremo- práticas recomendadas.
tos, entre outros.
Todos os profissionais têm acesso ao conhecimento gerado e
Para nos proteger existe a Engenharia Civil que tem a res- devem segui-lo, sem subjugar-se a pressões comerciais de in-
ponsabilidade e o dever de dominar as forças da natureza, vestidores inescrupulosos. Da mesma forma hoje se conhece
protegendo e dando qualidade de vida aos povos a quem muito mais de áreas de risco e o poder público deve gerir o
serve. Vários edifícios permaneceram de pé, enquanto ou- uso e ocupação do solo respeitando o conhecimento geoló-
tros, vizinhos, colapsaram. Vale registrar as palavras de Mahir gico e geotécnico.
Ulutaş, Presidente do Conselho da Câmara de Engenheiros da
Turquia: “Ciência e engenharia são suficientes para construir O Instituto Brasileiro do Concreto, solidariza-se com todas as
estruturas que sobreviverão mesmo em um terremoto tão vítimas e famílias destes terríveis eventos, e reforça a impor-
grande, sem, nem sequer trincar os vidros.” tância da boa engenharia para diminuir perdas. Catástrofes,
infelizmente, continuarão acontecendo em todo o mundo, e
Concluindo cabe repetir que existe uma grande diferença é responsabilidade e desafio dos engenheiros, arquitetos e
entre acontecimentos desconhecidos, únicos e precursores, geólogos criar soluções que provoquem o mínimo impacto
portanto inevitáveis, dos acontecimentos previsíveis, frequen- ambiental, e que ao mesmo tempo, confiram segurança, pro-
tes, recorrentes, conhecidos e evitáveis. Não se pode creditar teção, durabilidade e robustez, ajudando na evolução dos ru-
todas as catástrofes a forças ocultas e desconhecidas da na- mos da humanidade.
tureza ou do acaso.
Vamos em frente.
A arquitetura, engenharia e geologia, sabem hoje muito mais
que há alguns anos atrás. Aprenderam a duras penas, muitas PAULO HELENE
vezes com calamidades. Mas atualmente é inadmissível que Diretor Presidente

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Coluna Institucional
A Qualificação das Revistas
do IBRACON e a Biblioteca Virtual
O
IBRACON edita, sem benéfico que o pesquisador divulgue suas pesquisas em periódi-
custos aos autores e cos que tenham uma maior inserção nacional e internacional entre
leitores, duas revistas: os pares de sua área e não apenas busque uma classificação obti-
uma estritamente científica, da por critérios diferentes.
o IBRACON Structures and
Materials Journal (ISMJ), e Ao buscar a classificação atualizada da C&C, nos deparamos com
outra técnica-científica, esta a inusitada e surpreendente retirada desta revista no Qualis! Só
Revista CONCRETO & Cons- podemos entender que houve uma falha involuntária e que essa
truções (C&C). Juntas, essas deve ser corrigida.
revistas cumprem o papel de
estímulo à divulgação de no- Na Revista Concreto & Construções C&C, em levantamento reali-
vas fronteiras do conhecimen- zado entre 2017 e 2022, foram publicados artigos provenientes das
to internacional (ISMJ) e de seguintes universidades e institutos de pesquisa: USP, UFSCar, UFG,
inovações e técnicas aplicadas UNISINOS, PUC-Rio, PUC-Campinas, PUC-Goiás, PUC-Minas, UFMG,
já em uso ou que serão em UFABC, UNILA, IPT, UDF, ITA, UFES, UFPE, UTFPR, UNICAMP,
breve absorvidas pelo meio Mackenzie, UFRJ, UERJ, FURB, FADEP, e IFSP, UFT, URI, UFF, UFRN,
Guilherme Parsekian, Diretor
de Publicações
produtivo (C&C). UFU, UFAL, UFPR, Santa Cecília, São Judas Tadeu, UnB, UFERSA,
CEFET, UFMT, FANORTE, UFC, UFRGS, IFRS, UNIFEB, .UFAM, IMT,
Recentemente, a CAPES di- UEFS, FURG, UFSM, IF-Goiano, UNESP, UNIPAM, IFS, UFSC, UFBA,
vulgou nova classificação de periódicos para avaliação de UFV, UEM e IFCE. Estes dados dão uma noção da grande amplitude
programas de pós-graduação (PPG), o Qualis. O IBRACON de atuação e interesse da Revista, entre os entes da comunidade
Journal recebeu a classificação A3, honroso resultado quando científica nacional. É possível adicionar a essa lista autores interna-
se considera o correto rigor nos critérios definidos pela área cionais do Canadá, Argentina, México, Espanha, Estados Unidos,
de Engenharias I, na qual está incluída a maioria dos PPGs que Portugal, entre outros.
contribuem e se beneficiam de nossas revistas. Pelos critérios
definidos nessa área, as correspondentes revistas americanas Todos os artigos técnico-científicos são revisados por membros do
do ACI, o Structural Journal e o Materials Journal, receberam comitê editorial e do comitê científico e possuem uma identifica-
classificação A2 e A4, respectivamente. Esse resultado reforça ção digital única (DOI) desde 2020.
o reconhecimento do IBRACON Journal no meio científico, con-
tando ainda que estamos sempre em processo de melhoria, ca- Esta Revista, a C&C, é publicada regularmente há mais de 30 anos
minhando para maior internacionalização e indexação em bases (desde 1991), cumpre com louvor os requisitos para ser considera-
como Scopus e Web of Science. do um periódico do grupo B – “Revistas Brasileiras não dirigidas
prioritariamente à comunidade acadêmico-científica”, conforme
Ocorre que, na atual versão do Qualis, os periódicos têm a documento expedido pela CAPES em 30 de agosto de 2019 aos
classificação definida por uma área-mãe e válida para todas as coordenadores de Programas de Pós-Graduação, sobre a classifi-
áreas. Esse novo critério, que até onde entendemos tem por cação de revistas brasileiras. É uma das mais importantes e longe-
intenção padronizar avaliações, acabou por ter efeito inverso, vas revistas técnico-científicas brasileiras.
levando a grande discrepância. É possível a um pesquisador de
engenharia civil publicar em revistas A1 ou A2 que foi avalia- Posso registrar aqui dois recentes casos pessoais que corroboram a
da pela área de Arquitetura, Educação, Administração. Se essas importância da C&C para a pós-graduação brasileira. No final do ano
mesmas revistas fossem avaliadas pela área de Engenharias I, a passado, atuei como membro de uma banca de doutorado de um
classificação seria menor. PPG de excelência, nota 7. Durante sua apresentação sobre alvenaria
estrutural em situação de incêndio, o então candidato apresentou
Comparando a base de 2013-16 com a de 2017-20, é possível dados de um artigo da C&C, reconhecendo a importância do peri-
perceber caso de revista que saiu de B5 para A1, pelo fato da ódico como fonte de informação para seu trabalho. Em outro caso,
aplicação de critérios distintos. publicamos recentemente artigo sobre concreto reforçado com fi-
bras. Não muito tempo depois, recebemos contatos de colegas de
Do ponto da avalição do PPG, da avaliação individual do pesqui- outros PPGs sobre o trabalho e indicações para parceria. Esses dois
sador e da atratividade do periódico o A1/A2 vale mais que o A3. recentes relatos pessoais servem para ilustrar como é corriqueira a
Sob o ponto de vista do desenvolvimento científico, é muito mais participação e importância da C&C na engenharia civil nacional.

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A atual não-classificação é um enorme (e incompreensível) pre- sua área de atuação. O aluno não precisa ir à biblioteca procurar
juízo que precisa ser corrigido. A expectativa é que esta revista (e disputar) o exemplar do livro que precisa para estudar de-
volte ao Qualis e seja classificada na melhor posição do grupo B. terminada disciplina. Basta que esse digitalmente faça parte do
acervo da biblioteca virtual.
Em ambas revistas, ISMJ e C&C, o IBRACON investe grande recur-
so financeiro para sua produção. Uma grande quantidade de pro- Nessa linha, o IBRACON acaba de realizar parceria com a Edito-
fissionais, nacionais e internacionais, dedica seu tempo de forma ra Oficina de Textos para disponibilizar digitalmente o livro “Es-
voluntária colaborando como editores, membros de comitê cientí- truturas de Concreto Armado – Volume 1” na biblioteca virtual da
fico, revisores, e também confiando seus trabalhos como autores. Pearson, da qual várias universidades possuem assinatura.
Todo esse trabalho, reconhecido e contínuo há quatro décadas,
não pode ser penalizado, ainda mais de supetão e sem justificativa, A Coleção Estruturas de Concreto foi projetada para servir de refe-
para o bem da pós-graduação brasileira e da engenharia civil. rência no ensino, conta com a dedicação e competência de cerca
de sessenta autores, renomados engenheiros (as), coordenadores
Entendemos e respeitamos os critérios da Área de Engenharias I, pa-
de norma ABNT, professores, pesquisadores (as) e profissionais atu-
rabenizamos toda a comissão que trabalhou nas avaliações, porém
antes em escritório. O segundo volume deve ser finalizado este ano.
entendemos que essa distorção precisa ser corrigida na atual classi-
ficação, e potencialmente eliminada em eventos futuros. Esperamos
que classificação do ISMJ possa ser revista para cima, e que a C&C Ao docente universitário fica nossa recomendação para que
tenha sua correta avaliação e classificação reincorporada ao Qualis. adote o livro em suas aulas, indique a todos alunos da turma que
podem consultá-lo de forma digital acessível (sem custo ao alu-
Outro assunto a comentar refere-se à evolução das formas de no no caso de várias universidades) para estudar para disciplina.
disponibilização de livros didáticos. Se, no passado, as grandes Aos alunos mais interessados em estruturas, indico a compra
universidades se orgulhavam de seus vistosos edifícios-biblioteca do livro impresso no custo de associado pelo site do IBRACON,
para guardar seu valoroso acervo de publicações impressas, hoje como forma de ter sempre a mão esse rico conteúdo!
o acervo é em sua maioria digital, acessível à comunidade acadê-
mica de qualquer lugar. Muito obrigado.

As bibliotecas virtuais são hoje de uso corrente, sendo comum GUILHERME PARSEKIAN
e necessário que a universidade assine o acervo específico de D iretor de P ublicações

KIT de PRÁTICAS RECOMENDADAS sobre ENSAIOS


de DURABILIDADE das ESTRUTURAS de CONCRETO

O conjunto de Práticas Recomendadas Sobre os Ensaios de Durabilidade das Estruturas de


Concreto é fruto do trabalho do Comitê Técnico IBRACON/ALCONPAT 702 Procedimentos para Ensaios
de Avaliação da Durabilidade das Estruturas de Concreto.

PROMOÇÃO: Kit com 5 Práticas + Guia de Prevenção da Reação Álcali-Agregado SÓCIOS: R$ 300,00 | NÃO SÓCIOS: R$ 550,00

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8 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 do IBRACON:
& Construções
http//lojaibracon.org.br
Declaração de Sustentabilidade
Declaração IBRACON sobre a
Sustentabilidade do Concreto

A
sustentabilidade é um valor sempenho social, econômico e construção e demolição, em face
fundamental para a socie- ambiental da cadeia produtiva do da implementação da Resolução
dade atual e também para o concreto, visando a neutralização CONAMA 307, que requeria que os
IBRACON. do carbono, alinhada com os con- geradores dessem uma destinação
ceitos atuais e consagrados iden- adequada aos resíduos de seus
O IBRACON tem visão holística tificados pelas siglas ODS e ESG. processos industriais. Neste perío-
e foco na necessidade de desen- do, foram realizadas nove edições
volvimento de informações, do- O conhecimento desenvolvido do Seminário “Desenvolvimen-
cumentos e ferramentas a serem e compartilhado pelo IBRACON to Sustentável e Reciclagem na
utilizados pela cadeia produtiva do (livros, congressos, FEIBRACON, Construção Civil”, que trouxeram
concreto e pela sociedade em ge- cursos, concursos, seminários, ao Brasil um legado importante
ral para alcançar metas de susten- práticas recomendadas, revista de práticas realizadas na Europa e
tabilidade. científica e revista técnica) é intei- nos Estados Unidos no campo das
ramente resultado do trabalho de
O IBRACON é uma associação pesquisas, normalizações e políti-
voluntários dedicados à inovação
sem fins lucrativos, declarada de cas ambientais.
e desenvolvimento das estruturas
Interesse Público Estadual e Fede- de concreto. O IBRACON, por meio desse
ral, cuja missão é criar, divulgar e
Comitê Técnico, colaborou, deci-
defender o correto conhecimento Historicamente, o IBRACON ini- sivamente, para a elaboração das
sobre materiais, projeto, constru- ciou a discussão do tema da sus-
seguintes normas técnicas:
ção, uso e manutenção de obras tentabilidade no fim da década de
de concreto, desenvolvendo seu 80 e nos livros técnicos introduziu » ABNT NBR 15113:2004 Resíduos
mercado, articulando seus agen- o conceito de rendimento ou efici- Sólidos da Construção Civil e
tes e agindo em benefício dos ência ambiental através do índice Resíduos Inertes – Aterros: dire-
consumidores e da sociedade em de MPa/kg de cimento. Vem cola- trizes para projeto, implantação
harmonia com o meio ambiente. borando forte com a ABNT e, mais e operação;
recentemente, foi decisivo na al-
O IBRACON foi criado em 1972, teração das prescrições da norma » ABNT NBR 15114:2004 Resídu-
como uma sociedade indepen- ABNT NBR 6122, visando sustenta- os Sólidos da Construção Civil-
dente de profissionais que atuam bilidade. Áreas de Reciclagem: diretri-
no campo do concreto simples e zes para projeto, implantação e
estrutural, que inclui usuários das O IBRACON, em 1997, criou operação;
construções, concessionárias e um Comitê Técnico dedicado à
sustentabilidade do concreto es- » ABNT NBR 15115:2004 Agre-
empresas públicas, pesquisado-
res de várias áreas, arquitetos, trutural. Denominado CT 206, gados reciclados de resíduos
www.ibracon.org.br ibraconOffice office@ibracon.org.br ibraconOffice
sólidos da construção civil –
engenheiros, acadêmicos, em- posteriormente alterado para CT
presas de projeto, fabricantes, MAB e, atualmente, CT 101 Comi- Execução de camadas de pavi-
tê Técnico de Sustentabilidade mentação: procedimentos;
empresários, industriais do setor,
construtores, laboratoristas e até do Concreto. » ABNT NBR 15116:2004 Agrega-
outras Entidades. dos Reciclados para uso em ar-
Este CT, inicialmente, atuou dis-
Assim sendo, entende que deve seminando conhecimento, tecno- gamassa e concreto de cimento
investir na defesa e orientação de logia e as melhores práticas para a Portland: requisitos e métodos
atividades que promovam o de- de ensaios.
reciclagem e usos de resíduos de

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Há anos a sustentabilidade foi tinadora de todos os segmentos lidade durante a operação e uso
incorporada entre os temas dos da cadeia produtiva do concreto, ao longo da vida útil das estrutu-
trabalhos técnico-científicos para o IBRACON está em posição privi- ras de concreto;
as edições do Congresso Brasilei- legiada para promover uma visão
ro do Concreto CBC. Duas edições de sustentabilidade sistêmica e in- » Reutilização: endossar me-
do Congresso tiveram as constru- tegradora de todas as etapas do todologias e sistemas construtivos
ções sustentáveis como norte das processo construtivo: que viabilizem reutilização, reci-
discussões, o 52º CBC2010 e o 53º clagem e reaproveitamento e que
CBC2011, além de terem sido pro- » Concepção: subsidiar o se- sejam aderentes a uma visão de
movidas três edições do Seminá- tor com critérios e parâmetros
economia circular;
rio de Sustentabilidade na Cadeia orientativos e balizadores para a
Produtiva do Concreto nos CBCs correta concepção de estruturas » Normas: colaborar com a ABNT,
de 2009, 2010 e 2011. As revistas sustentáveis do concreto; propondo novas normas e
“CONCRETO & Construções” e apoiando a atualização de nor-
» Projeto: prover o setor com me-
“RIEM” também publicaram vários mas relativas ao concreto e suas
todologias para avaliação do
artigos técnicos e científicos so- consumo de energia, de água e estruturas tendo em vista a sus-
bre o tema da sustentabilidade das de insumos, e para quantificação tentabilidade como elemento
construções em concreto. da emissão de gases tipo estufa direcionador de parâmetros nor-
e de resíduos a partir de esco- mativos.
Em outras palavras, o tema da
sustentabilidade sempre esteve na lhas de tipologias de projeto e
O IBRACON entende que a su-
agenda das atividades do IBRA- sistemas construtivos. Construir
pressão de gargalos na cadeia do
CON, assim como todos os temas um banco de projetos em cola-
concreto com informação de qua-
correlatos: reaproveitar e reciclar boração com outras Entidades;
lidade que chegue aos seus inter-
materiais e componentes, reduzir » Materiais: aportar metodo- venientes é uma das condições
consumo de matérias-primas (hoje logias de produção e dosa- necessárias para se alcançar a sus-
conhecido por desmaterializar), gem de concretos com foco tentabilidade no setor.
declarações ambientais de produ- na sustentabilidade. Construir
tos e análise do ciclo de vida. um referencial de traço de Contribuir para disseminar fer-
concreto e as suas principais ramentas, metodologias e infor-
Este conjunto de ações tem
promovido o desenvolvimento de variáveis; mações sobre as melhores práticas
pesquisas científicas e tecnológi- sustentáveis no setor é o compro-
» Construção: promover proce- misso do IBRACON, que continuará
cas que buscam contribuir para dimentos construtivos de bai-
melhorar o desempenho ambiental e intensificará a colaboração com
xo consumo de energia, bai-
do uso do concreto na construção, empresas e entidades que visam à
xa emissão de gases estufa,
o que tem rendido a publicação de redução da emissão de carbono.
baixa geração de resíduos e
artigos em periódicos nacionais
alta durabilidade; Entre outras iniciativas, o IBRA-
e internacionais, impulsionando a
CON apoia o Global Consensus on
divulgação das melhores práticas » Durabilidade: investir em meto-
sustentáveis no setor construtivo. dologias que assegurem vida útil Sustainability in the Built Environ-
Elas contribuíram também para das estruturas de concreto com ment GLOBE (RILEM, cib, ECCS, fib
fornecer subsídios para que as nor- baixa ou desprezível manuten- (CEB.FIP), IABSE,iaSS), o Concrete
mas técnicas nacionais sustentem ção; Future (GCCA), o SIDAC (CBCS) e o
práticas construtivas ecoeficientes. CECarbon (SindusCon-SP).
» Uso: apoiar e valorizar as Entida-
Como entidade técnica aglu- des que trabalham a sustentabi- IBRACON | Setembro de 2022 C

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Converse com o IBRACON
Em relação ao cimento branco, pergunto: aplicações arquitetônicas, são utilizadas está correta, desde que atenda o item
Maytê Russo barreiras de concreto branco em auto- 8.2.3.1 da ABNT NBR 16868-2:
FAU-USP estradas, que, pela maior refletividade, c) Todos os lotes tenham “blocos ou
dão maior segurança aos motoristas. tijolos do mesmo fabricante, classe
1 — Como anda a produção no Brasil sobre A ausência de fabricação de cimento de resistência, espessura e família”.
esse material? branco no Brasil, a dependência de pro- Se forem edifícios de vários andares
dutos importados, seu maior preço por com especificação de fbk distinto por
Com o fechamento das fábricas de ci- exigirem condições muitos especiais de andar, o critério acima deve ser apli-
mento branco da Irajá, no Rio de Janei- fabricação e a perda da disseminação da cado individualmente para cada fbk.
ro, e da Intercement, em Minas Gerais, “cultura do conhecimento” do concreto Se mudar o fornecedor do bloco, de-
o cimento branco é praticamente todo branco têm desestimulado sua aplica- ve-se voltar a fazer ensaios de prisma
importado. Existem algumas iniciativas ção em concretos estruturais, restringin- até atender ao critério novamente.
da Provale, no Espírito Santo, e da Royal do, atualmente, seu uso nas aplicações
White Cement, em São Paulo, mas em mencionadas anteriormente. d) Respeitar “um ano de produção”.
volumes pequenos, menor que o consu- Se a construção do empreendimento
mo nacional. 4 — Quais cimenteiras no Brasil podem for- tomar um prazo maior que um ano,
necer esse material em quantidade suficiente deve-se voltar a fazer ensaios de
2 — Há demanda de mercado para seu uso? para grandes obras? prisma até atender ao critério nova-
mente, a cada novo ano.
O mercado variou muito nos últimos Antigamente, havia um ex-fabricante
anos, estimando-se que o consumo este- brasileiro de cimento branco que impor- e) Atender ao critério “e) alvenarias
ja por volta de 6 mil toneladas por mês. tava cimento e distribuía a seus clientes, que utilizem os mesmos materiais e
As empresas geralmente importam di- mas essa prática parece que cessou e procedimentos para a execução”.
retamente. Os principais fornecedores as empresas consumidoras de cimento Se mudar o fornecedor, a equipe de
são do Egito, México, Argélia, Dinamarca, branco em grandes quantidades fazem produção, a dosagem, o equipamento
Turquia e Espanha. O segmento de arga- uso da importação direta. Contudo, há, de mistura, ou qualquer outra altera-
massas industrializadas é o maior con- em São Paulo, uma empresa que dis- ção no recebimento e/ou produção da
sumidor, mas há aplicações do cimento tribui o cimento mexicano da marca argamassa e do graute, e também nas
branco em concretos estruturais e não Tolteca a seus potenciais clientes. equipes de construção das alvenarias,
estruturais, pavers (peças pré-fabricadas ARNALDO BATTAGIN deve-se voltar a fazer ensaios de pris-
de pavimentação), ladrilhos hidráulicos, Membro do Conselho Editorial ma até atender ao critério novamente.
telhas de concreto. Por responderem
melhor que o cimento cinza quando usa- A partir de estudos realizados acer- Uma vez atendido ao critério, não é
dos com pigmentos, oferecem muitas ca da ABNT NBR 16868-2:2020, item necessário ensaiar os prismas, porém
possibilidades arquitetônicas. “8.2.3 – Controle de resistência da alve- deve-se construir na obra amostras de
naria por ensaio de prisma: Após o ensaio prismas para cada lote. Se houver algu-
3 — Além do Museu Iberê Camargo, há ou- de pelo menos quatro lotes, com obten- ma não aceitação dos ensaios de blocos,
tras obras brasileiras que tenham usado ção do coeficiente de variação inferior graute e argamassa, que continuam sen-
esse material como estrutura em concreto a 15% em todos os lotes e atendidas as do feitos regularmente, então esses pris-
armado? condições em 8.2.3.1 c), d), e), pode ser mas devem ser ensaiados.
dispensada a realização de ensaios dos O critério de norma é especialmente
No Brasil, no início dos anos 2000, em prismas, já construídos. No caso de não interessante para algumas situações.
Sorocaba, São Paulo, foi executada a atendimento da resistência à compressão Como exemplo, imagine um empreen-
primeira edificação utilizando painéis de blocos ou tijolos, argamassa e grau- dimento com 10 edifícios de quatro an-
pré-moldados de concreto branco e, te, esses prismas devem ser ensaiados”, dares, onde todos os pavimentos têm as
em São Paulo, surgiu um condomínio chegamos à interpretação de que caso mesmas especificações de materiais. Se
totalmente em concreto branco. Mas ensaiarmos 4 lotes, ou seja, 26 amostras não for alterado nada nos fornecedores
as obras mais emblemáticas brasileiras do prisma oco e cheio e caso nosso coe- e procedimentos para produção, e se
indubitavelmente são o Museu Iberê ficiente de variação for inferior a 15% depois de quatro lotes ensaiados dos
Camargo, em Porto Alegre, inaugurado e nossos blocos, argamassa e grau- edifícios iniciais atendendo ao critério
em 2008, a Ponte Irineu Bornhausen, te atingirem a resistência mínima, não é acima, não haverá mais necessidade de
em Santa Catarina, o Museu da Ima- mais necessário a realização dos ensaios ensaios de prisma nessa obra. Essa dis-
gem e Som, no Rio de Janeiro e Museu de prisma. pensa se mantém caso todos os ensaios
do Amanhã, também no Rio de Janeiro, Nossa interpretação está de acordo com o de blocos, grautes e argamassas sejam
inaugurado em 2015. estabelecido pela norma? aceitos, a obra não dure mais de um
Na Europa, o concreto estrutural com ci- Laura Cristina Sousa Luiz ano, e não haja troca de fornecedores,
mento branco é mais difundido e arquitetos Excel Construtora e Incorporadora LTDA. equipes e procedimentos na construção
reconhecidos, entre os quais se destacam das alvenarias.
Santiago Calatrava, Richard Meyer e Álvaro Este item da norma foi pensado para Exemplos de planejamento do controle
Siza, entre outros, têm utilizado o concreto casos de empreendimentos que con- de obras em alvenaria estrutural
branco estrutural para imprimir um estilo templam vários edifícios iguais, possibili- segundo a ABNT NBR 16868-2
arquitetônico diferenciado. São exemplos: tando redução do número de ensaios de estão disponíveis em: https://abcp.
o conjunto da Ciudad de las artes e la Ci- prisma de forma criteriosa. org.br/wp-content/uploads/2021/11/
ência, em Valência, na Espanha; o Pavilhão A indicação de que não é necessário Alvenaria_Estrutural_Parametros_
da Expo 98, em Lisboa; a Igreja “Dives in mais ensaio de prisma depois de quatro Projeto_2ed.pdf .
Misericórdia”, em Roma, entre outras obras. lotes, cujo resultado das amostras tenha GUILHERME PARSEKIAN
Nos Estados Unidos, além dessas coeficiente de variação inferior a 15%, Diretor de publicações do IBRACON

& Construções
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Personalidade Entrevistada
Paulo Fernando
Araújo da Silva
P
aulo Fernando Araújo da Silva é engenheiro
civil, formado pela Universidade Federal de Juiz
de Fora. Mestre em engenharia da construção
pela Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo (Poli-USP) e doutor em infraestrutura pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

Atua na Concremat desde 1986, quando ingressou


como engenheiro logo após a graduação, passando
pelos cargos de fiscal de obra, engenheiro de
controle da qualidade, coordenador de laboratório,
gerente de obras, diretor adjunto, diretor de
operações, diretor técnico-comercial, sendo
atualmente diretor executivo-comercial na empresa,
com participação em projetos sobre pavimentação e
obras de infraestrutura.

Foi professor da disciplina de patologia das


construções na FAAP (1994-2010), tem artigos
publicados em revistas e congressos, atua nas
comissões de estudo da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT) e é autor de quatro
livros técnicos.

IBRACON Quais motivações e episódios o levaram cursar Horizonte, como engenheiro fiscal de uma obra de mineração
engenharia civil na Universidade Federal de Juiz de Fora?
da MBR (Mineração Brasileira Reunida). Sete meses depois,
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Meu tio José Maria, fui ser fiscal de obra da barragem da Usina de Itacarambi, no
formado em engenharia civil, havia conquistado os cargos norte de Minas Gerais, passando a ganhar o dobro.
mais altos na Usiminas. Eu admirava aquilo! Como eu gostava Tempo depois, fui convidado a vir trabalhar na Concremat
de matemática, química e física, resolvi fazer engenharia civil. de São Paulo, como engenheiro de controle da qualidade de
Na época, eu morava em Juiz de Fora. Como venho de obras. A princípio, não queria vir, pois o custo da moradia era
uma família pobre, minha única opção era entrar numa alto, mas fui convencido por ser um profissional novato na
universidade federal ou estadual. Escolhi a Universidade de empresa, com um futuro pela frente.
Juiz de Fora. Após passar pelo cargo de engenheiro coordenador dos
Sou um exemplo de que o estudo pode mudar laboratórios da Concremat, assumi o cargo de gerente de
completamente a vida da pessoa. Por isso, avalio qualquer obras de concreto, prestando serviços para as obras do
governo por suas propostas na área da educação. Metrô, da Sabesp (Companhia de Saneamento de São Paulo),
do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transporte), bem como obras de barragem no sul do país.
IBRACON A ssim que se formou, em 1986, você foi Uma obra que gostaria de destacar é a do Bank Boston, em
trabalhar na Concremat, empresa onde atualmente é diretor São Paulo. A obra foi concluída em 2000, com paredes de
executivo comercial . Como foi sua trajetória profissional
concreto espessas moldadas no local, com mais de 50cm de
dentro da empresa?
espessura. Como o projeto dessa obra era norte-americano, a
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | No dia seguinte à especificação do concreto seguiu a norma norte-americana.
minha diplomação, comecei a trabalhar na Concremat de Belo Quando a primeira parede de concreto ficou pronta, ela

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“ NO DIA DA DESFORMA DO CONCRETO [BANK BOSTON],
TINHA CERCA DE 30 ENGENHEIROS NA FRENTE DA PAREDE
PARA VER O RESULTADO: A PAREDE DE CONCRETO MOLDADA

NO LOCAL NÃO APRESENTOU NENHUMA FISSURA!

apresentou fissuras verticais a cada E o que aconteceu? No dia da desforma do concreto, tinha cerca de 30 engenheiros
2,5m. Fizeram a segunda parede de na frente da parede para ver o resultado: a parede de concreto moldada no local
concreto e aconteceu a mesma coisa. não apresentou nenhuma fissura! Alguns ainda achavam que as fissuras apareceriam
Pararam a obra. Fui chamado para depois de um tempo. Mas, não apareceram. Porque eu usei a estratégia certa,
reunião com os engenheiros norte- informada pelo conhecimento correto.
americanos que questionavam as A partir daí, tudo o que eu falava, os engenheiros norte-americanos acreditavam.
causas das fissuras. Aí expliquei que Era Deus no céu e eu na Terra! Porque eu havia resolvido o problema e oferecido
o problema devia ser o excesso de uma solução mais barata, sem necessidade de reparação com injeção nas trincas.
cimento especificado no projeto (de
385 kg/m3), bem como a especificação IBRACON Como essas escolhas profissionais estão ligadas ao mestrado na Escola
errada do tipo de cimento, e que havia Politécnica da USP e ao doutorado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica?
faltado refrigeração na concretagem. | PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Para pessoas de origem pobre, como
Apesar de ter diagnosticado o eu, o mestrado era coisa fora de cogitação, pois o negócio era trabalhar, ganhar um
problema, não tinha certeza sobre sua pouco de dinheiro para comprar um apartamento para a família e ir tocando a vida.
solução, pois, até aquele momento, Uma vez perguntei a um profissional do IPT que visitava o laboratório da Concremat
não havia no país um único caso de o que era esse negócio de mestrado. Ele me explicou e me incentivou a fazer. Um
paredes de concreto moldadas no dia fui até a Escola Politécnica da USP e fiz minha inscrição.
local, em grandes obras, que não Durante o mestrado, eu trabalhava, não podia deixar o emprego, porque tinha que
apresentassem fissuras. Eu usava ajudar meus pais e tinha um compromisso com minha esposa. Estudava e trabalhava
meus conhecimentos adquiridos na Concremat como coordenador dos laboratórios. Não foi fácil! Pesquisei sobre
no mestrado, particularmente a durabilidade do concreto aparente, com a orientação do Prof. João Gaspar
com o Prof. Paulo Helene e o Prof. Djanikian. Aprendi muito: como pesquisar, quais fontes consultar, de modo que o
Selmo Kuperman, e os aplicava mestrado me ajudou a convencer os clientes, a dar os argumentos certos para suas
nas obras com às quais eu estava escolhas. Concluí o mestrado em 1993.
profissionalmente envolvido. Em seguida, comecei o doutorado na Poli, mas, como achei que não estava
Sugeri aos engenheiros norte- agregando, parei. Tinha terminado os créditos e parei.
americanos do projeto de construção Depois de um tempo, fui fazer o doutorado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica
do Bank Boston que autorizasse a (ITA), o que, para mim, era um sonho completamente distante. Lá, estudei com
Concremat a baixar o consumo de o melhor professor de pavimentação do Brasil, o Prof. Régis Martins. Pesquisei
cimento, mudasse a especificação do sobre durabilidade do pavimento flexível, como aumentar a vida útil do pavimento.
tipo de cimento e refrigerasse o concreto Terminei o doutorado em 2008.
no momento de seu lançamento. Eu sempre procuro ensinar as pessoas aqui na Concremat: primeiro, vai entender a
Autorizaram. Fiz novo estudo de teoria, consulte o livro tal, antes de lidarmos com o problema na obra. Eles têm uma
dosagem do concreto com as oportunidade que não tive.
novas especificações. Como havia
baixado a quantidade de cimento IBRACON Quando você terminou o doutorado, qual era seu cargo na Concremat?
(para menos de 330 kg/m3), para | PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Diretor. Em 1999 me tornei o mais novo
manter o mesmo fator água/ diretor da empresa, com 35 anos, devido ao meu extenso relacionamento comercial
cimento, precisei baixar o consumo e desempenho operacional.
de água. Com isso, se compromete Um tempo depois, o presidente da Concremat à época, Mauro Viegas Filho, me
o abatimento do concreto. Por isso, convidou para ser diretor de operações.
usei pela primeira vez no Brasil o
aditivo superplastificante à base de IBRACON Esta edição trata do concreto em grandes volumes, assunto em relação
policarboxilato, que foi importado. ao qual você presta consultoria .
Como orientação geral ao leitor da Revista, quais

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as recomendações mais importantes para durabilidade. Para isso, tem-se que escolher o cimento da região que apresenta o
assegurar que o concreto massa seja menor calor de hidratação.
mais durável? O segundo passo é reduzir o consumo de cimento, colocando o mínimo necessário
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA de cimento no concreto. Mas, não é reduzir de maneira arbitrária, ou copiando o
SILVA | Para registro, nos últimos que foi feito em outra região. É realmente fazer um estudo de dosagem.
quatro meses tenho dado consultoria O terceiro cuidado é fazer a adequada refrigeração do concreto. Pode-se fazer a
para a concretagem de lajes de fundo, concretagem em camadas menos espessas, para dispensar a refrigeração? Sim,
parte das obras da Linha 2 do Metro mas na prática o cliente quer concretagem de uma única vez, pois ele tem um
de São Paulo. São 5 mil metros cúbicos cronograma para cumprir.
de concreto em cada uma. Fizemos Em termos de custos, é melhor concretar de uma única vez. A concretagem em
também blocos de fundação de sete várias etapas requer fazer uma camada, verificar a temperatura, esperar a cura,
metros de altura, concretados de fazer tratamento de superfície para que haja aderência entre as camadas. Ou seja,
uma só vez, que não apresentaram se perde em tempo e produtividade.
fissuração. Como há preocupação No Metrô de São Paulo, a Concremat deu consultoria para a primeira concretagem
para a temperatura não ultrapassar com refrigeração com nitrogênio, que planejei. Era um bloco de fundação da Linha
65°C, para que não haja formação de 5 do Metrô.
etringita tardia, a temperatura máxima É melhor que a refrigeração do concreto com gelo? Com gelo, consegue-se
de hidratação chegou a 62°C. reduzir a temperatura de concretagem de 35°C para 23°C. Com o nitrogênio,
O primeiro cuidado é fazer uma leva-se a temperatura para 12°C.
dosagem do concreto que atenda O problema com a refrigeração do concreto com nitrogênio é o custo. Ele só se
às especificações de resistência e torna viável em grandes concretagens.
Em todas as obras que tenho
trabalhado na Concremat, não tenho
tido dificuldade para usar gelo para
refrigerar o concreto, pois os clientes
têm entendido os benefícios.

IBRACON Atuando há mais de


40 anos em empresa especializada no
gerenciamento de grandes obras de
infraestrutura e no controle tecnológico
de materiais, como você analisa as
medidas praticadas nas diferentes esferas
de governo para que tenhamos obras
mais duráveis e com menor incidência de
manifestações patológicas?
| PAULO FERNANDO ARAÚJO
DA SILVA | Precisa melhorar. As
especificações são muito gerais e
frequentemente não são específicas
para a obra que se está contratando.
Elas deveriam levar em conta o tipo
de estrutura e o meio em que ela
Concretagem da laje de fundo de túnel de acesso da Linha 2 do Metrô de São Paulo ficará inserida.

“ COM GELO, CONSEGUE-SE REDUZIR


A TEMPERATURA DE CONCRETAGEM DE 35°C PARA 23°C.

COM NITROGÊNIO, LEVA-SE A TEMPERATURA PARA 12°C

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“ QUEM FAZ O EDITAL OU APROVA O PROJETO
[DE OBRAS LICITADAS], SABE DE DIMENSIONAMENTO
DE ESTRUTURAS, MAS GERALMENTE NÃO CONHECE

TEORIAS E NORMAS RELACIONADAS À DURABILIDADE

Quem faz o edital ou aprova o projeto, sabe de dimensionamento de estruturas, cálculos, para que a teoria faça sentido
mas geralmente não conhece teorias e normas relacionadas à durabilidade. Por para os profissionais do setor.
isso, a importância de se contratar um engenheiro especialista em durabilidade já
no momento de elaboração das normas do edital. Para que as diretrizes não sejam IBRACON Você tem uma participação
genéricas ou defasadas. ativa e frequente nas edições do
Congresso Brasileiro do Concreto.
IBRACON Quando as obras são entregues para a iniciativa privada construir, este Desde quando frequenta o evento?
problema de especificação da durabilidade no projeto não é resolvido? | PAULO FERNANDO ARAÚJO DA
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Não. Porque falta o conhecimento SILVA | Eu frequento desde 1988.
teórico-prático dos profissionais. A especificação da resistência mecânica é Faço minhas intervenções quando
o básico do básico. Se der problema de resistência na obra é porque muita vejo a disseminação errada de algum
bobagem foi feita. Outra coisa é a durabilidade da obra, cujas especificações conceito. Aí, eu tenho a preocupação
poucas empresas no setor construtivo dominam. Eu vi traços de concreto com de que o profissional novato vai ficar
mais de 700kg/m3. Quer dizer, a empresa exagera no traço para assegurar com aquele conceito errado.
resistência e esquece da durabilidade. Já vi professor fazendo avaliação errada
Na área rodoviária, as concessionárias focam na conservação, na manutenção da reação álcali-agregado no último
do pavimento flexível, aquele com revestimento de asfalto, que, na realidade, Congresso do IBRACON. Aí, falei: ‘Deixa
é concreto betuminoso usinado a quente (CBUQ), pois o asfalto, o betume, é eu fazer uma ponderação? Precisa fazer
apenas um dos componentes, ao lado da brita e da areia. Por que, então, tantos um ajuste nesta etapa”. Eu fiz parte do
defeitos são visíveis neste tipo de pavimento? A pista toda esburacada não é por grupo de trabalho que elaborou a Prática
causa das chuvas, mas por causa da carência de uma especificação adequada Recomendada IBRACON sobre a RAA,
do CBUQ. comandada pelo Cláudio Sbrighi, Arnaldo
Por sua vez, nas obras de arte – viadutos e túneis – faltam profissionais Battagin e Eduardo Quitete. Comentando
especializados em durabilidade do concreto, que tenham mestrado, doutorado e posteriormente com um profissional
experiência prática. da área química, ele me disse: “Paulo,
a sociedade espera isto de você, ela
As próprias normas do DNIT são muito genéricas quanto à durabilidade. precisa de seu conhecimento e espera
que você intervenha”. Aquilo mexeu
IBRACON Esses problemas ocorrem porque as construtoras não se interessam em comigo. Porque eu fui beneficiado com
frequentar eventos técnicos, como o
Congresso Brasileiro do Concreto? os impostos pagos pela sociedade, pois
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Sem dúvida, é um dos motivos. cursei numa universidade federal, fiz USP,
Mas, ocorre também porque tem consultor que gosta de agradar o cliente. fiz ITA. Então, realmente, eu preciso dar
Na Concremat, trabalhamos para ajudar o cliente com sua obra, para garantir um retorno para a sociedade, devolver
qualidade. Como consequência, ele ficará grato. Não se deve aceitar o que o para a sociedade o investimento que ela
cliente pensa ser o certo, quando se sabe que ele está errado. fez em mim.
Uma vez eu fiz uma previsão de resistência do concreto aos 28 dias,
recomendando ao empreiteiro mexer no traço do concreto. Num domingo, recebo IBRACON Você lançou recentemente
uma ligação durante a missa. Era o engenheiro da empreiteira que me disse que um novo livro? Qual é seu título? E seu
se fosse economista eu quebraria o país. Alertei-o que o estava prevenindo, propósito?
pois o valor estava muito próximo do limite, o que era um risco. Quer dizer: falta | PAULO FERNANDO ARAÚJO DA
qualificação para os profissionais das empreiteiras, eles têm que fazer cursos de SILVA | Lancei ano passado no
atualização profissional. Instituto de Engenharia de São Paulo,
Eu fui convidado pelo Tribunal de Contas de União para dar um curso sobre que lotou o auditório com cerca de
pavimento de concreto e vi que é preciso focar nos conceitos, ao invés dos 250 profissionais no dia do lançamento.

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É o único livro no Brasil sobre concreto com concreto projetado, onde busco responder as perguntas que me apareceram
projetado para túneis, taludes, piscinas nesses 30 anos de consultoria em concreto projetado. É um livro importante para
e solo grampeado. Colho frutos do desfazer conceitos errados ainda em voga sobre o concreto projetado, que pode
lançamento até hoje. ajudar a minimizar problemas em obras, como a fissuração.
Neste livro está toda minha experiência
IBRACON Quando você começou a trabalhar com concreto projetado?
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Na década de 1990, época das
obras do Metrô e da Prefeitura de São Paulo. A Concremat fazia o controle da
qualidade de um túnel em São Paulo. Havia um problema de não se conseguir
atingir a especificação máxima de absorção (porosidade) do concreto
projetado. Eu desenvolvi um traço de concreto, com estudo em laboratório,
aplicando meus conhecimentos teóricos aliados com minha experiência prática,
e consegui uma absorção menor que 8%, pela primeira vez no Brasil. Qual foi o
segredo? Mudar a quantidade de argamassa no traço do concreto projetado e
ajustar o fator água/cimento.

IBRACON O que faz no seu tempo fora do trabalho?


| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Primeiro, eu sou fã do ser humano, eu
gosto de uma conversa fiada. Mas, não para falar mal dos outros, e sim para contar
piadas, causos. Gosto de encontrar com os verdadeiros amigos.
Nos finais de semana, saio com minha esposa para ir dançar as músicas dos anos
70 e 80, como as do filme “Embalos de sábado à noite”.
Gosto de caminhar aos domingos no Parque do Ibirapuera.
Gosto de estudar, de ler artigos técnicos. E também de assistir séries no streaming,
Capa do último livro lançado por Paulo Fernando principalmente as séries mexicanas, com tiros para todo lado.

NO PRUMO
Compartilhar teoria e prática da construção civil, com leveza, didatismo e
criatividade. Esta é a proposta do livro “No Prumo”.

O livro é dividido em duas partes. A primeira traça a história da construção no Brasil


e sua relação com a cultura. A segunda revela, na prática, os conceitos e as técnicas
consolidadas ao longo dessa história.

A publicação oferece uma leitura atual de temas que vão do projeto e da análise de
solo ao serviços de concretagem, sistemas construtivos e sustentabilidade.

Com textos de Paulo Helene, professor aposentado da Escola Politécnica da USP e


diretor da PhD Engenharia, e de Guilherme Aragão, jornalista e escritor, especialista
em formação política e econômica do Brasil.

FORMATO: 21 x 29 cm
PÁGINAS: 170
ANO: 2017
VENDAS: Loja virtual (www.ibracon.org.br)

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Estruturas em Detalhes DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.109.0001

Metodologia para análise


paramétrica do fenômeno térmico
do concreto massa de uma
fundação de torre eólica
EDUARDO DE AQUINO GAMBALE – Eng. – ORCID https://orcid.org/0000-0002-2351-7147 | Eletrobrás Furnas;
LUCIANA DOS A. FARIAS – ORCID https://orcid.org/0000-0002-3830-4611 (luciana.farias@rheoworks.eng.br) | Rheoworks Tec. da Construção;
PATRÍCIA G. GAMBALE – https://orcid.org/0000-0001-8219-3616 (patrícia.gambale@concrecon.com.br) | Concrecon Concr. e Construções

RESUMO relacionadas ao comportamento químico, do fenômeno térmico devido à hidratação

O
s blocos de fundações das edifica- térmico ou físico-mecânico do concreto. do cimento da base de uma torre eólica.
ções atuais e as fundações de torres Estruturas massivas de concreto deman- Essa análise pode ser estendida à ava-
eólicas têm se tornado elementos de dam, em sua grande maioria, elevados liação do comportamento de blocos de
grande preocupação no meio técnico devido ao consumos de cimento e, dependendo do fundações de edificações, com o foco de
grande volume de concreto. Esses elementos, tipo e de suas características, fissurações esclarecer os principais pontos de análise
categorizados como concreto massa, exigem podem ocorrer. e os critérios adotados para a recomenda-
atenção quanto às manifestações patológicas O fenômeno da hidratação do cimen- ção de melhorias construtivas para a mini-
advindas do processo exotérmico de hidratação to Portland tem sido intensamente pes- mização do risco de fissurações.
do cimento. Nesse sentido, é recomendado o quisado nos últimos anos. Ele decorre de
controle da temperatura máxima do concreto reações exotérmicas, podendo ocasionar 2. COMPORTAMENTO TÉRMICO DA
de maneira a minimizar a ocorrência de DEF elevações consideráveis de temperatura. FUNDAÇÃO DE TORRE EÓLICA
(delayed ettringite formation) e a geração de No dia a dia do tecnologista de concre- No controle tecnológico de bases de
tensões de tração provenientes dos fenômenos to, é exigida a avaliação da temperatu- torres eólicas, cujas dimensões possuem
térmicos. Tais reações, com tensões em níveis ra máxima das estruturas com caracte- magnitude suficiente para exigir que se-
superiores à tração admissível do concreto, rísticas massivas, tendo como principal jam tomadas medidas para controlar a
podem causar fissurações. Neste contexto, objetivo a previsão de riscos e, a partir geração de calor e a variação de volume
este trabalho objetiva mostrar uma metodolo- disso, são recomendadas medidas ne- decorrente, o tecnologista pode se depa-
gia viável de ser empregada para a análise pa- cessárias para a mitigação de ocorrên- rar com diversos problemas relacionados
ramétrica do fenômeno térmico devido à hidra- cia de fissuras decorrentes do fenômeno aos fenômenos provenientes do processo
tação do cimento da base de uma torre eólica, térmico da estrutura. de hidratação do cimento. A fissuração
que pode ser adotada, também, para avaliação Dessa forma, o objetivo deste trabalho devido à geração de tensões de tração,
do comportamento térmico de blocos de funda- é apresentar uma metodologia que pode por fenômenos térmicos ou provenientes
ções de edificações. ser empregada para a análise paramétrica de reações expansivas como a DEF, pode
alcançar níveis superiores à
Palavras-chave: calor de hidra- tensão de tração admissível
tação, fissuras, concreto massa, do concreto. Essa situação
reações expansivas. torna extremamente relevante
o conhecimento dos métodos
100
1. INTRODUÇÃO de mitigação desses tipos de
95 O comportamento do manifestações patológicas no
concreto ao longo do tempo concreto massa.
75 é dependente de vários parâ- O aumento do consu-
metros, sendo que alguns têm mo de cimento, combinado
influência significativa no de- com uma baixa relação água/
sempenho e na durabilidade de FIGURA 1 cimento, tende a diminuir a
25
uma estrutura. Dessa forma, há Seção típica da malha com propagação bidirecional permeabilidade, o que é uma
5 de se considerar as influências
condição interessante para

& Construções
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o aumento da durabilidade do concreto. A atuação na análise da segurança
Por outro lado, esse aumento no consu- da estrutura de Norfork Dam (CLOUGH,
mo do cimento conduz a maior elevação 1962) registra uma das primeiras aplica-
de temperatura, que, em determinados ções conhecidas de utilização do método
níveis, pode prejudicar a formação da dos elementos finitos para resolver um
etringita “primária”, necessária para o de- problema da engenharia.
senvolvimento de pega e endurecimento
do concreto. Com isso, existe maior dispo- 2.2 Considerações para análise do
nibilidade de íons sulfatos na solução dos comportamento térmico da base
poros do concreto e, já no estado endure- de torre eólica
cido, contribui de forma mais expressiva
para a ocorrência da DEF. Segundo Melo As dimensões da fundação de uma
(2011), esse risco aumenta quando a estru- torre eólica permitem a análise da propa-
tura atinge temperaturas máximas supe- gação de calor considerando uma ou duas
riores a 60-65 °C. FIGURA 2 direções, basicamente. Poderia, até mes-
Dessa forma, pelos motivos expostos Modelo esquemático da malha do mo, ser considerada a avaliação tridimen-
anteriormente, é de suma importância que modelo unidirecional de propagação sional do seu comportamento por meio de
a temperatura interna do concreto não de calor ferramentas mais sofisticadas de análise,
exceda o limite de 60-65 °C. Caso sejam como o ANSYS®, por exemplo. Todavia, na
verificados riscos para que isso ocorra, prática da engenharia civil para esse tipo
medidas preventivas devem ser adotadas, talada no rio North Fork, norte do Arkan- de estrutura, considerando o lançamen-
tais como: o resfriamento dos agregados, sas — Estados Unidos. Nela foi observada to típico adotado para sua concretagem,
da água ou do próprio concreto e até a ocorrência de uma considerável trinca tem-se que a propagação de calor é pre-
mesmo interferências construtivas, como vertical, ao longo de praticamente toda ferencialmente unidimensional. Com isso,
a concretagem em camadas e adoção de sua altura, tipicamente decorrente do a forma de propagação inerente à peça
intervalos de lançamento mais prolonga- fenômeno térmico do concreto e que re- permite a análise a partir de qualquer um
dos, quando possível. partia a estrutura em duas. Dessa forma, dos modelos. Dessa forma, neste trabalho
buscou-se quantificar a segurança dessa foram contemplados os modelos de pro-
2.1 Modelo de simulações numéricas: barragem por meio da análise paramé- pagação de calor em uma e em duas dire-
o método de elementos finitos trica por elementos finitos, com enfoque ções, que atendem ao objetivo de análise
na solução de problemas decorrentes da dessa estrutura, considerando o concreto
De acordo com Carlson (1939), em variação volumétrica da estrutura a partir um material isotrópico.
meados da década de 1930, o pesquisa- de suas características geométricas, vis- Desses modelos de propagação de
dor Douglas McHenry havia iniciado seus coelásticas, térmicas e mecânicas. Além calor, sabe-se que:
estudos para proposição de um modelo disso, seria possível a consideração dos a. O modelo unidirecional de propagação
estrutural que pudesse ser avaliado ma- coeficientes de restrição existentes na de calor representa a situação mais
tematicamente. A partir daí, ele ideali- estrutura, provenientes das restrições próxima à condição real da estrutura;
zou o método da analogia das treliças, o externas ou internas às deformações b. O modelo bidirecional de propagação
que permitiu que diversos pesquisadores do concreto decorrentes das variações de calor demonstra o comportamen-
buscassem representar a estrutura em de temperatura. De acordo com o ACI to térmico da peça, com uma de suas
pequenos elementos, denominados de 207.2R, os coeficientes de restrição são dimensões — a altura — bem inferior
elementos finitos. Dessa forma, foi cria- resultantes de um ou mais fatores, que às demais.
do o Método dos Elementos Finitos, que podem ser a ligação da estrutura com as A seção típica tomada para as si-
hoje é largamente utilizado em diversos fundações ou com outras estruturas ou mulações demonstradas neste arti-
ramos da engenharia, como é apresenta- do concreto com as armaduras ou da co- go possui malha de elementos fini-
do por Gambale & Traboulsi (2015). esão interna do próprio concreto. tos para propagação bidirecional de
Segundo Carlson et al. (1979), muitos Com a consideração dos fatores men- temperatura, como a representada na
trabalhos foram escritos sobre o método cionados acima, é possível estabelecer Figura 1. Já o modelo de propagação de
dos elementos finitos a partir de 1953, uma análise capaz de promover a deter- calor unidirecional é representado na
mas não havia procura relevante des- minação das deformações e tensões tér- Figura 2.
se método para um emprego prático. micas atuantes e, assim, prever soluções É importante destacar que, para a re-
Contudo, no ano de 1962, Clough (1962) para a preservação da integridade da es- alização da análise do comportamento
apresentou uma utilização bem sucedida trutura, caso a avaliação seja realizada de térmico do concreto das fundações de
dessa metodologia para análise da segu- maneira prévia, ou permitir a proposta de torres eólicas, algumas ressalvas foram
rança da estrutura de Norfork Dam, uma correções em situações em que o dano já estabelecidas. A primeira é dada pela
barragem com 70 metros de altura, ins- tenha sido observado. limitação quanto à consideração da

18 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


energia de ativação, que, neste caso, é 3. PROPRIEDADES DO CONCRETO consumo de cimento, a temperatura de
desprezada devido à complexidade das EMPREGADAS NA ANÁLISE colocação do concreto e a altura das
equações que representam o fenômeno. TÉRMICA camadas de colocação do concreto na
Outro fator não considerado nos cál- A distribuição de calor está direta- praça. Devido a isso, este artigo se con-
culos é a influência do vento nesse tipo de mente ligada às propriedades térmicas do centrou principalmente nestes fatores
estrutura, principalmente no que diz res- concreto. Por isso, o conhecimento sobre relacionados.
peito a uma eventual contribuição para elas é de fundamental importância para Ressalta-se que as propriedades sig-
minimização do risco térmico no concre- os estudos da propagação de calor gera- nificativas relacionadas acima são sufi-
to. Para fins desse tipo de análise, consi- do durante o processo de hidratação. De cientes para a previsão do desenvolvi-
dera-se que a influência desse fenômeno acordo com Calmon (1995), os parâme- mento de calor na estrutura. Contudo,
da natureza é desprezível, mesmo saben- tros básicos que influenciam na análise no para a análise de tensões provenientes
do que esse tipo de concretagem ocorre campo da temperatura do concreto são: do efeito térmico, é necessário o conhe-
em regiões com grandes movimentos de a. Consumo e tipo de cimento, além do cimento das propriedades viscoelásticas
vento, já que normalmente são recomen- tipo de adição mineral componente do do concreto, como a fluência e o mó-
dadas proteções à estrutura após a con- ligante, que influencia na elevação adia- dulo de elasticidade, e da resistência à
cretagem justamente para que não surjam bática da temperatura do concreto; tração do concreto, preferencialmente,
fissuras de retração nas peças e causem b. Temperatura de colocação do concre- à flexão. O resultado tensional obtido é
maiores problemas no concreto em seu to na praça e temperatura ambiente; comparado à resistência à tração e, as-
estado endurecido. c. Altura e intervalo de lançamento das sim, é possível observar se o concreto
Em trabalhos de consultoria realiza- camadas de concretagem; tem propensão ou não de fissurar em
dos pelos engenheiros Walton Pacelli de d. Geometria da estrutura a ser analisada; decorrência do fenômeno térmico e em
Andrade, Eduardo de Aquino Gambale e e. Calor específico, condutividade térmica que momento do resfriamento essa ma-
Luciana dos Anjos Farias para diversos e difusividade térmica do concreto; nifestação ocorrerá (Fig 3).
complexos eólicos do nordeste do Bra- f. Tipo litológico de agregado; No entanto, na realidade dos em-
sil, as retroanálises realizadas indicaram g. Transmissão superficial de temperatura. preendimentos eólicos, dificilmente são
efetiva aderência do comportamento tér- Em análises estatísticas conduzidas realizados os ensaios para determina-
mico do concreto analisado previamente por Gambale et al. (2010), foi avaliada a ção das propriedades necessárias para a
à concretagem com as leituras de tem- distribuição dos valores e os parâmetros análise tensional. Em alguns casos, ten-
peratura realizadas no canteiro após a significativos das propriedades térmicas do as informações do traço, cimento e
concretagem, com respostas similares às do concreto. Para tanto, foram realiza- agregado, elas até podem ser estimadas,
observadas na Figura 19. Essa constata- dos teste de normalidade, análise de va- baseando-se em um banco de dados
ção respalda a confiabilidade da resposta riância e agrupamento de médias homo- confiável, como o constante no livro de
do cálculo térmico, mesmo ao desconsi- gêneas. Como resultado, foi observado Furnas (1997). Contudo, em alguns ca-
derar qualquer influência que os fatores que os fatores mais significativos foram sos, a estimativa pode incorrer em uma
mencionados acima possam promover a elevação adiabática de temperatura, o imprecisão, principalmente pelo tipo de
ao concreto. concreto normalmente empregado nes-
se tipo de estrutura – com elevado teor
de argamassa - e prejudicar a análise
tensional. Dessa forma, para efeitos de
fundações de torres eólicas, tem-se que,
ao limitar a temperatura à necessária
para minimização da ocorrência da DEF
e considerando que se trata de uma es-
trutura densamente armada, o risco de
fissuração por origem térmica, conse-
quentemente, é bastante diminuído.
Com isso, para fins deste artigo, o en-
tendimento é que a limitação existente é
a temperatura necessária para minimi-
zação da ocorrência de DEF e a análise
tensional, quando necessária, é realiza-
da com as propriedades determinadas
a partir de uma condição favorável, seja
FIGURA 3 por ensaios laboratoriais, seja por esti-
Exemplo gráfico do resultado de uma análise tensional do concreto mativa das propriedades em condições
próximas ao concreto lançado.

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 19
tica do concreto,
cujos cálculos TABELA 1
matemáticos e Simulações com propagação de
calor em duas direções:
banco de dados
Modelo Bidirecional
de apoio são
demonstrados
Temperatura Temperatura
no livro da Equi- Consumo
inicial máxima
pe de FURNAS (kg/m³)
(oC) (oC)
(1997); 15 47,80
b. Por meio de um 300 25 56,73
modelo de da- 35 66,02
dos baseado em 15 52,99
redes neurais ar- 350 25 61,93
tificiais apresen- 35 71,22
FIGURA 4 tado por Étore, 15 58,19
Elevação adiabática de temperatura pra diferentes F. F. (2004). 400 25 67,14
consumos de cimento
c. Por referências 35 76,43
bibliográficas, 15 63,39
onde alguns pa- 450 25 72,35
3.1. Predição da elevação adiabática râmetros, como a difusividade térmica 35 81,65
de temperatura e o calor específico, podem ser obtidos
através das características do tipo litoló-
A determinação da elevação adiabáti- gico de agregado utilizado no concreto Para as simulações indicadas neste
ca de temperatura do concreto é um dos (Gambale et al., 2008). artigo, foi tomado como base um cálculo
parâmetros mais importantes, podendo ser d. Alguns consultores e pesquisadores térmico realizado para concreto produzi-
obtida por meio de ensaio laboratorial reali- recorrem à moldagem de blocos expe- do com cimento CP IV-32 RS, com adição
zado em calorímetro adiabático, que forne- rimentais ou de instrumentação de pe- de pozolana de argila calcinada e com
ce a elevação da temperatura do concreto ças de concreto com termômetros no resultado de ensaio de calor de hidrata-
sem trocas de calor com o meio. Porém, início das concretagens, para que seja ção fornecido pelo fabricante, que indica
não existe disponibilidade suficiente de la- possível a obtenção da elevação de que o ligante possui baixo calor de hidra-
boratórios capazes de determinar essa pro- temperatura por meio da retroanálise tação conforme a norma NBR 16697:2018
priedade, restando a sua previsão a partir (Gambale et al., 2010). (≤ 270 J/g, na idade de 41 h). A elevação
das características do cimento e dos traços
de concreto estabelecidos para a estrutura.
A estimativa nessas condições fornece um TABELA 2
resultado confiável e bastante aderente aos Simulações com propagação de calor em uma direção: Modelo Unidirecional
resultados obtidos nas leituras de campo. Lançamento em duas camadas de 2 metros
A elevação adiabática de temperatura
pode ser estimada, como segue: Propagação de calor em uma direção Intervalo de colocação (dia)
a. Por meio de resultados do calor de hi- Temperatura
dratação realizados em ensaios de labo- Temperatura máxima
Consumo
inicial (oC) 1 2 5
ratório ou pelos laudos fornecidos pelo (kg/m³)
(oC) Concretagem
fabricante. O ensaio pode ser realizado instantânea
por meio da garrafa de Langavant (ABNT 15 48,08 47,61 46,97 45,63
NBR 12006:1990), ou por outra metodo- 300 25 57,45 56,04 54,91 53,74
logia confiável (calorimetria isotérmica, 35 66,88 64,59 63,42 62,00
por exemplo), e fornece a evolução do 15 53,38 52,58 51,69 50,10
calor com o tempo, normalmente para as 350 25 62,80 61,01 59,63 58,32
idades de 24h, 41h, 72h e 168h, podendo 35 72,22 69,46 68,21 66,55
ser consideradas outras idades caso seja 15 58,72 57,54 56,42 54,68
necessário ou determinado pelo labora- 400 25 68,14 65,97 64,41 62,60
tório executor. Conhecendo a evolução 35 77,56 74,43 73,00 71,12
do calor nesse intervalo e os consumos 15 64,08 62,53 61,16 59,26
de cimento dos traços empregados na 450 25 73,49 70,95 69,20 67,48
estrutura, é possível estabelecer um pa- 35 82,92 79,40 77,79 75,70
râmetro para estimar a elevação adiabá-

20 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


TABELA 3
Simulações com propagação de calor em uma direção: Modelo Unidirecional adiabática de temperatura para esse caso
Lançamento em quatro camadas de 1 metro é estimada conforme a condição a.
Na Figura 4, é apresentada a evolução
Propagação de calor em uma direção Intervalo de colocação (dia) da elevação adiabática de temperatura em
Temperatura função do tempo obtida para concretos
Temperatura máxima com consumos de cimento de 300, 350,
Consumo
inicial (oC) 1 2 5
(kg/m³) 400 e 450 kg/m³. As simulações foram
(oC) Concretagem
instantânea realizadas considerando uma temperatura
15 48,08 47,35 45,04 41,67 ambiente média de 30 °C.
300 25 57,45 54,73 51,14 47,65
35 66,88 62,17 57,39 54,31 4. HIPÓTESES SIMULADAS E
15 53,38 51,95 48,90 44,46 TEMPERATURAS MÁXIMAS OBTIDAS
350 25 62,80 59,34 55,03 50,94 Foram simuladas as condições de propa-
35 72,22 66,77 61,27 57,63 gação de calor em uma e em duas direções,
15 58,72 56,52 56,42 48,25 com concreto sendo lançado a tempera-
400 25 68,14 63,95 58,91 54,23 turas iniciais de 15, 25 e 35 °C e consumos
35 77,56 71,39 65,16 60,95 de cimento de 300, 350, 400 e 450 kg/m³.
15 64,08 61,14 56,63 51,54 Além disso, foi considerado o lançamento do
450 25 73,49 68,57 62,80 57,53 concreto em camadas de 2 metros de altura,
35 82,92 76,01 69,05 64,27 com intervalos de colocação de 1, 2 e 5 dias.

FIGURA 5 FIGURA 6
Avaliação pelo modelo bidirecional de propagação Avaliação pelo modelo unidirecional de propagação
de calor de calor

FIGURA 7 FIGURA 8
Consumo de cimento de 300 kg/m³: camada de 1 metro Consumo de cimento de 300 kg/m³: camada de 2 metros

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 21
FIGURA 9 FIGURA 10
Consumo de cimento de 350 kg/m³: camada de 1 metro Consumo de cimento de 350 kg/m³: camada de 2 metros

FIGURA 11 FIGURA 12
Consumo de cimento de 400 kg/m³: camada de 1 metro Consumo de cimento de 400 kg/m³: camada de 2 metros

Os resultados obtidos para as temperatu- na seção transversal para os consumos míni- cesso de cálculo. Em relação ao resultado
ras máximas na estrutura estão registrados nas mo e máximo do estudo, de 300 kg/m³ e de apresentado nessas figuras, observa-se
Tabelas 2 (modelo bidirecional), 3 (unidirecio- 450 kg/m³ de cimento. Para tanto são con- o comportamento linear da temperatura
nal em camadas de 2 metros) e 4 (unidirecio- sideradas as temperaturas mínima e má- máxima em função da temperatura inicial
nal em camadas de 1 metro). São destacadas xima iniciais do estudo, de 15 °C e 35 °C, do concreto. Esse comportamento facili-
em vermelho as temperaturas acima de 65 °C, com o intuito de observar a temperatura ta a definição de uma condição que não
para o melhor entendimento em relação ao re- máxima na estrutura conforme as simula- ultrapasse os limites das temperaturas
sultado obtido acima do nível recomendado. ções de propagação de calor pelo modelo máximas. Para ilustrar o que foi apresen-
Para melhor visualização dos resulta- bidirecional, em duas direções. tado nesses gráficos, pode-se tomar um
dos apresentados nas Tabelas 1 a 3, as Fi- A Figura 19 ilustra o resultado do mo- exemplo de uso: se a temperatura inicial
guras 5 e 6 demonstram o comportamen- nitoramento executado em uma base de do concreto for 27 °C, para um concreto
to da temperatura máxima em função do uma torre eólica implantada no Brasil. de 300 kg/m³, a sua temperatura máxima
consumo de cimento. não ultrapassa o limite de 60 °C, sendo
Já, nas Figuras 7 a 14, é apresentada a 5. CONCLUSÕES uma condição segura de concretagem.
influência do intervalo de colocação para Observa-se, nas Figuras 5 e 6, uma Em exemplo contrário, em lançamento de
duas camadas de 2 metros e para quatro grande semelhança entre as simulações, um concreto de 450 kg/m³, no caso deste
camadas de 1 metro. considerando a propagação de calor em artigo, para todas as situações a tempera-
Por fim, as Figuras 15 a 18 mostram o duas direções e em uma direção, o que é tura máxima ultrapassa o limite de 60 °C,
comportamento da propagação do calor importante para a simplificação do pro- sendo necessário recorrer a medidas que

22 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


possibilitem a redução de temperatura pode-se fazer estudos paramétricos mais crítica à medida que aumenta a altura de
como refrigeração, uso de adições mine- rápidos e com rápida implementação para concretagem. Considerando as tempera-
rais, redução do consumo de cimento, di- decisões em campo. turas de colocação indicadas, de 15 °C a
minuição de camada de concretagem, en- Nas Figuras 7 a 14, é possível observar 35 °C, é possível minimizar os efeitos ad-
tre outros. Com a facilidade de simulações claramente a influência da altura de con- versos provenientes das camadas de altu-
de propagação de calor em uma direção, cretagem em camadas, tornando-se mais ras maiores e contribuir com a segurança

FIGURA 13 FIGURA 14
Consumo de cimento de 450 kg/m³: camada de 1 metro Consumo de cimento de 450 kg/m³: camada de 2 metros

FIGURA 15 FIGURA 16
Consumo de 300 kg/m³: temperatura inicial de 15 oC Consumo de 300 kg/m³: temperatura inicial de 35 oC

FIGURA 17 FIGURA 18
Consumo de 450 kg/m³: temperatura inicial de 15 oC Consumo de 450 kg/m³: temperatura inicial de 35 oC

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 23
da peça no que diz respeito ao seu com-
portamento térmico, considerando-se a
adequação dessa temperatura de lança-
mento com a minimização do risco de fis-
suração por origem térmica e do desenvol-
vimento da DEF. Logicamente que quanto
menor a altura de concretagem, menor o
nível de risco de fissuração de origem tér-
mica. Contudo, deve-se levar o bom sen-
so da prática construtiva e, nos casos que
indiquem riscos de fissuração de origem
térmica para uma determinada altura de
camada, tomar as medidas necessárias
para minimização dessas ocorrências, com
sugestões expostas ao longo deste artigo.
As isotermas apresentadas nas Figu-
ras 15 a 18 funcionam como um impor-
tante indicador para o posicionamento
de termômetros, objetivando monitorar a
FIGURA 19
evolução da temperatura de maneira mais
Monitoramento de uma fundação de torre eólica no Brasil. O eixo x
assertiva e contribuir com maior precisão
representa a idade (dias) e eixo y a evolução da temperatura ( C)
o

com os resultados de uma possível retro-


análise. Esse recurso permite que o usuá-
rio empregue tantos termômetros forem
necessários, principalmente nas regiões resultados, observar a aderência da aná- delo matemático e, a partir daí, traçar a
em que são visualizadas as previsões de lise matemática da previsão de tempera- curva correspondente obtida pelo cálculo
maiores temperaturas e facilitar a toma- turas com os resultados reais obtidos em realizado. Com isso, com uso de gráficos
da de decisões para minimização de ris- campo. Para observação dessa aderência, comparativos, é possível demonstrar a
cos, caso seja necessário. As leituras dos basta tomar as condições ambientais e correlação existente entre a teoria e a prá-
termômetros podem ser plotadas, como de lançamento do concreto, inserir essas tica, garantindo, assim, a confiabilidade do
apresentado na Figura 19, e, partir desses entradas nos resultados obtidos no mo- modelo empregado para a análise.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] MELO, S. K. et al.. “Influência do calor de hidratação na formação da etringita tardia (DEF) em concreto de cimento Portland pozolânico”. 53º
Congresso Brasileiro do Concreto – Florianópolis – SC, 2011.
[2] CARLSON, R.W., “A simple method for the computation of temperatures in concrete structures”, ACI Journal, V.34, 1937, pp.89–102
[3] GAMBALE, E.A., TRABOULSI, M.A. “Avaliação da temperatura máxima em estruturas executadas com concreto massa”. In: 57º Congresso
Brasileiro do Concreto, 2015, Bonito–MS.
[4] CARLSON, R.W., HOUGHTON, D.L., POLIVKA, M. “Causes and control of cracking in reinforced mass concrete”, ACI Journal, 1979, pp.821–837
[5] CLOUGH, R.W. “The stress distribution of Norfork Dam”, Structures and Materials Research, Series 100, Issue 19 – Institute of Engineering
Research, University of California – Berkeley. Final Report to U.S. Engineer District, Little Rock Corps of Engineers. 1962, 152p.
[6] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI COMMITTEE. Report on thermal and volume change effects on cracking of mass concrete – ACI
207.2R–07. Michigan – USA, ACI, 2007.
[7] CALMON, J.L.N. “Estudio Termico y Tensional en Estruturas Macivas de Hormigon. Aplicacion a Las Presas Durante la etapa de Construccion”.
Tesis Doctoral dirigida por Mirambell Arrizabalaga, Barcelona, mayo de 1995, 649p.
[8] GAMBALE, E. A.CASTRO,A.,TRABOULSI M.A.,ANDRADE M.A.S. “Análise Estatística dos Parâmetros que intervêm no Fenômeno Térmico do
Concreto Massa”. 52º Congresso Brasileiro do Concreto – Fortaleza – CE, 2010.
[9] Equipe de FURNAS – Editor Walton Pacelli de Andrade – Concretos: Massa, Estrutural, Projetado e Compactado com Rolo – Ensaios e
Propriedades – Ed. Pini, São Paulo–SP, 1997.
[10] ÉTORE, F.F., “Predição da exotermia da reação hidratação do concreto através de modelo termo–químico e modelo de dados” 130p. Tese
(Mestre em Ciências) – COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 2004.
[11] GAMBALE, E.A., TRABOULSI, M.A., ANDRADE, M.A.S. “Análise paramétrica do fenômeno térmico do concreto massa”. In: 50º Congresso
Brasileiro do Concreto, 2008, Salvador–BA.
[12] GAMBALE, P,G. , “Estudo do calor de Hidratação do massa e contribuição ao cálculo térmico e à previsão de fissuras de retração”. Tese Mestre
em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil pela UFG, Goiânia,2017.

24 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


Estruturas em Detalhes DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.109.0002

Fundação em radier de grandes


dimensões: projeto estrutural e
estudo térmico
GUSTAVO LICHT FORTES – Eng. – ORCID https://orcid.org/0000-0002-7303-9702; JULIANO CARIA – Eng. | França e Associados Projetos Estruturais
EDUARDO ISSAMU FUNAHASHI JR – Eng. – ORCID https://orcid.org/0000-0002-7516-4195;
SELMO CHAPIRA KUPERMAN – Eng. – ORCID https://orcid.org/0000-0003-4186-2216 | Desek Ltda.

RESUMO uniforme e o fenômeno da punção. Além

E
ste artigo apresenta detalhes de um ra- Palavras-chave: radier, concreto massa, forma- das questões estruturais, um rigoroso estu-
dier de concreto armado de grandes di- ção de etringita tardia, concreto armado. do tecnológico do concreto deve ser feito
mensões, pertencente a uma edificação para evitar fissurações de origem térmica
residencial localizada noMorumbi (São Paulo- 1. INTRODUÇÃO e a formação de etringita tardia (Delayed
-SP). A melhor solução necessitou diversas inte- Radiers são utilizados como solução Ettringite Formation — DEF).
rações entre as equipes envolvidas nos projetos para a fundação de edifícios de múltiplos O presente artigo discorre sobre o pro-
estrutural e de fundações. O cálculo estrutural pavimentos quando o solo possui boa re- jeto estrutural e o estudo térmico de um ra-
seguiu as normas ABNT NBR 6118: 2014 para o sistência na cota de assentamento, mas dier de grandes dimensões (36 m x 33 m e
cálculo da armadura de flexão e cisalhamen- a proximidade dos pilares implica numa altura de 2,8 m no trecho mais alto), que uti-
to, eACI 318: 2005 para o cálculo da arma- sobreposição dos elementos de fundação lizou 2986,8 m³ e 292,6 ton de aço CA-50.
dura de punção. Um extenso estudo térmico e isolados. O radier não estaqueado é uma O projeto estrutural do radier e do
a análise por meio do Método da Maturidade fundação rasa, apoiando-se diretamente edifício residencial ao qual pertence
(ASTM C1074-11) também foram conduzidos. no solo, compreendendo uma placa de (localizado no Bairro do Morumbi, em
Os projetos de fundação e de estruturas, além concreto armado recebendo o carrega- São Paulo–SP) foi desenvolvido pelo es-
das avaliações tecnológicas do concreto, re- mento de diversos pilares. critório França e Associados Projetos
sultaram em uma solução econômica, que não Hemsley (2000) e Gupta (1997) descre- Estruturais. Já, o projeto de fundações
apenas atendeu às necessidades de resistência vem considerações no dimensionamento foi elaborado pelo escritório Portella
do radier, mas garantiu o prazo de execução de radiers como, por exemplo, o desloca- Alarcon Engenheiros Associados e a
da obra. mento e a distorção máximos, a geometria DESEK foi responsável pelo estudo térmi-
co do concreto.
O detalhamento do projeto e o estudo
térmico do radier fornecem importantes
informações a respeito dessa solução para
fundação de torres altas.

2. DESENVOLVIMENTO DO
PROJETO ESTRUTURAL
O embasamento do edifício em
questão conta com 5 pavimentos (en-
tre subsolos e sobressolos), além de lo-
jas no nível de acesso do 2º subsolo. A
torre conta com dois conjuntos de pavi-
mentos-tipo (um com 26 pavimentos e
A B C outro com 14) e um pavimento técnico
(30º pavimento) com áreas técnicas e de
FIGURA 1 lazer, totalizando cerca de 143 m acima
(a) Modelo estrutural – Revit; (b) Modelo de cálculo – TQS; (c) Foto da do nível de acesso mais alto. A Figura 1
obra após a finalização da estrutura ilustra o edifício de múltiplos pavimen-
tos objeto do presente estudo.

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 25
2.1 Opções de fundação

A partir do primeiro estudo de cargas na


fundação, ainda sem o ensaio em túnel de
vento, foram feitas 3 opções de fundação:
a) em radier (solução adotada);
b) em estaca escavada com fluido estabi-
lizante e barretes;
c) em estaca em hélice contínua.
Na opção em hélice contínua (Figura
2a), a distribuição das estacas projetou-se
em quase toda a área da torre, o que exigi-
ria um bloco de coroamento com dimen-
A B
sões próximas à da solução com radier.
A opção em estaca escavada e barretes
(Figura 2b) apresentou uma distribuição FIGURA 2
de elementos de fundação mais racional. Opções de fundação. (a) Opção em hélice contínua; (b) Opção em estaca
No entanto, a opção em radier foi to- escavada e barretes

mada devido a menores custos e tempo


de execução.
a confecção do modelo computacional, tendo-se os deslocamentos nodais e os es-
2.2 Geometria final do radier incorporando-o ao modelo da edificação. forços (momentos fletores, forças cortan-
O radier foi modelado como uma placa de tes e normais) por meio de uma grelha de
O projetista de fundações definiu grande espessura sobre base elástica, ob- elementos de barras (Figura 4).
36 m x 33 m como as dimensões em plan-
ta do radier. Para a pré-definição de suas
alturas, foram consideradas distâncias en-
tre pilares, regiões com maiores esforços e
distâncias entre pilares e bordas do radier.
A seguir, foi feita a modelagem do radier
no software TQS V20.7.11, conforme item 3,
resultando nas seguintes alturas:
a) Altura geral de 2,8 m;
b) Altura nas laterais de 1,8 m;
c) Altura nos poços de elevadores de 1,0 m.
A altura reduzida nas laterais possibili-
tou a redução de cerca de 273 m³. A redu-
ção da altura na região dos poços, além de
resultar em menor consumo de concreto,
possibilitou uma grande redução no volu-
me de escavação.
As Figuras 3a e 3b mostram a geome-
tria final do radier. A geometria não con-
vencional dos pilares decorre da geometria
não convencional dos pavimentos-tipo e A
da altura da edificação.
Para concretar esse grande volume de
concreto, o estudo tecnológico do concre-
to permitiu que a execução fosse feita em 2
etapas (ao invés das 3 etapas inicialmente
previstas), conforme descrito no item 4. B

3. MODELAGEM, CÁLCULO E
DETALHAMENTO DO RADIER FIGURA 3
O cálculo estrutural e detalhamento Geometria final do radier. (a) Planta e (b) Corte esquemático
das armações do radier iniciaram-se com

26 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


3.2 Dimensionamento
ao momento fletor

Após as iterações, o modelo, adequado


ao dimensionamento do radier e compatibi-
lizado com os deslocamentos previstos, foi
analisado em relação aos esforços solicitan-
tes. 98 combinações foram analisadas para
a obtenção dos momentos fletores máxi-
mos e mínimos nas seções do radier. Utili-
zou-se a formulação (Equação 1) proposta
por Wood (1968), que considera o momen-
to torsor na determinação do momento
A B
fletor atuante em duas direções ortogonais.

FIGURA 4 [1]
(a) Modelagem do radier e (b) Grelha de barras para cálculo dos deslocamentos
e esforços Em que:
Mx = momento fletor na direção x;
My = momento fletor na direção y;
3.1 Compatibilização feitas até se obter o resultado desejado Mxy = momento torsor.
dos deslocamentos (Figura 5), validados com os geotécnicos Caso Mx* ou My* resultem nulos ou ne-
responsáveis quanto ao deslocamento má- gativos, a Equação 1 assume a forma da
A compatibilização entre os desloca- ximo e à distorção máxima. Ao incorporar Equação 2:
mentos do modelo estrutural do radier e os o radier ao modelo do edifício, desloca-
deslocamentos previstos para o conjunto mentos diferenciais entre os pilares ou en-
radier + solo foi considerada por meio da tre diferentes trechos de um mesmo pilar
calibração de molas elásticas nos nós da foram analisados, de modo a confirmar o [2]
grelha, buscando igualar o deslocamento dimensionamento inicial dos elementos.
de todas as cargas gravitacionais na com- Outro modelo, utilizando-se elemen-
binação quase-permanente, com o des- tos sólidos, foi feito no programa STRAP Tanto a Equação 1 como a Equação 2 fo-
locamento previsto e aceitável. Para isso, 2010, permitindo a comparação e valida- ram apresentadas para momentos que tracio-
diversas iterações com alterações nos valo- ção dos resultados obtidos com o mode- nem as fibras inferiores da laje. A adição deve
res das molas verticais e horizontais foram lo de barras. ser substituída pela subtração no caso de mo-
mentos que tracionem as fibras superiores.
Após a obtenção dos valores dos mo-
mentos fletores atuantes, que chegaram à

FIGURA 6
Perímetro de controle para pilares
FIGURA 5 não retangulares
Deslocamentos [mm] para a combinação quase-permanente Fonte: ACI 318: 2005, traduzida e adaptada

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 27
A B

FIGURA 7
Armadura contra punção: (a) Localização dos estribos no radier; (b) Detalhe da armadura

ordem de 22,5 MN ∙ m, já em valor majora- nc = resistência proporcionada pelo concreto;


do, o radier foi calculado como uma laje, ns = resistência proporcionada pela armação; [5]
com a área de aço necessária determinada nu = é a tensão solicitante
conforme a ABNT NBR 6118: 2014. já majorada; e Em que:
fc [MPa] é a resistência à compressão carac- A v = soma de toda área dos ramos verticais
3.3 DIMENSIONAMENTO À PUNÇÃO terística do concreto para o quantil de 1%. dos estribos em uma linha perimetral ho-
Conforme a ABNT NBR 6118: 2014, motética ao perímetro de controle bo;
Devido à grande altura do radier e a resistência à compressão característi- fywd = resistência de cálculo do aço (435 MPa);
ao confinamento proveniente do maciço ca do concreto (fck) é determinada para s = espaçamento das linhas perimétricas de ar-
de concreto ao redor da introdução de um quantil de 5%. Todavia, como se tinha mação na direção perpendicular à face do pilar.
carga do pilar, optou-se pelo dimensio- fck ≥ 45 MPa para o radier (posteriormen- A armação contra punção foi calcula-
namento da punção conforme a norma te, a primeira camada de concretagem da a partir das Equações 3 a 5 e detalhada
americana ACI 318: 2005. O perímetro foi alterada para fck ≥ 35 MPa), a simples com estribos abertos (Figura 7).
de controle (bo) para o cálculo da tensão substituição de fc’ por fck não resulta em
atuante estende-se a uma distância de diferenças significativas, segundo Souza e 3.4 Detalhamento para montagem
d/2 do pilar, sendo d a altura útil média Bittencourt (2003). A Equação 4 apresen- e economia
da laje. Para pilares não retangulares, a ta o valor máximo da parcela resistente do
Figura 6 ilustra a determinação do perí- concreto, segundo o ACI 318: 2005. Buscou-se facilitar a montagem do ra-
metro de controle. dier por meio:
De posse dos perímetros de controle a) Do espaçamento da armadura inferior
dos pilares e de suas forças normais ma- múltiplo de 11 em todas as camadas;
joradas, foi verificada a necessidade de ar- [4] b) Da dimensão horizontal dos estribos
maduras de combate à punção conforme para combate à punção também múlti-
as Equações 3 e 4, apresentadas em rela- pla de 11, permitindo que barras fossem
ção às tensões solicitantes e resistentes. posicionadas nos cantos dos estribos,
Em que: β = relação entre o maior e o sem a necessidade de mudança locali-
[3] menor lado do pilar; αs = fator devido à po- zada no espaçamento;
sição do pilar (αs é 40 para pilares internos, c) Da marcação das cotas a partir de ei-
Em que: 30 para pilares de borda e 20 para pilares xos de locação;
nn = resistência nominal da laje; de canto). d) E da nomenclatura das camadas de
Φ = fator de redução (0,75 para esforços A parcela do esforço resistido pela ar- acordo com a sequência de montagem
cisalhantes); mação é obtida por meio da Equação 5. (Figura 8).

28 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


Entre as etapas, foi adotado intervalo
de lançamento de 7 dias. A junta de cons-
trução entre as etapas foi tratada com corte
verde do concreto de modo que não fossem
ocasionadas juntas frias entre elas. Para isto
foi utilizado retardador de pega superficial
aplicado por meio de pulverizador sobre a
superfície do concreto fresco da junta após
o fim da concretagem. No dia seguinte foi
utilizado jato d’água sob pressão controlada
de modo a remover toda a pasta de cimen-
to e expor adequadamente os agregados
do concreto.
Foi empregado cimento CP III 40 RS de
baixo calor de hidratação fabricado com
aproximadamente 60% de escória de alto
forno, além da adição de 8% de sílica ativa
FIGURA 8 em relação ao seu consumo no traço.
Detalhe em corte da armação do radier indicando a sequência de montagem As simulações computacionais para
definição do plano executivo foram realiza-
das com o uso do software b4cast v. 6.14,
tura do concreto, por modelagem 3D baseado no Método
surjam tensões de de Elementos Finitos (MEF) e Método da
tração. Para reduzir Maturidade, com o intuito de aproximar-se
a probabilidade de das condições reais da execução.
DEF, adotou-se o Os estudos térmicos possibilitaram
limite de tempera- definir as temperaturas máximas de lan-
tura interna do con- çamento do concreto pré-refrigerado com
FIGURA 9 creto de 65ºC. Li- gelo. A quantidade de gelo em cubos para
Plano de concretagem do radier (dimensões em cm) mitaram-se tensões atender a temperatura especificada foi es-
de origem térmica timada por meio de balanço térmico dos
a valores menores traços, conforme Furnas (1997), e variou de
Além disso, foi possível dispensar o uso que a resistência à tração do concreto para 110 até 130kg/m³ dependendo da camada
de ganchos nas barras, devido à baixa tra- evitar fissuração. Para reduzir o consumo de concretagem e temperatura dos mate-
ção nos trechos de barras próximas às bor- de cimento do traço e a geração de calor, riais e do ambiente durante a sua execução.
das do radier, o que resultou na redução do foi feita uma reavaliação estrutural, possibi- Para atender à especificação do zonea-
comprimento total das barras e, assim, na litando o uso de concreto com com fck =35 mento de temperaturas de lançamento do
economia no consumo de aço. MPa no primeiro metro de altura da 1a etapa concreto pré-refrigerado, 4 centrais forne-
de concretagem (Figura 9). ceram o concreto na 1a etapa (Figura 10).
4. ESTUDOS TÉRMICOS
Concreto massa é qualquer volume de
concreto com dimensões grandes o sufi-
ciente para requerer meios especiais para
controlar o calor gerado pela hidratação
do cimento e a mudança de volume para
minimizar a fissuração. Devido às dimen-
sões do radier, resistência característica
de projeto (fck) e consumo de cimento da
dosagem, foram realizados estudos térmi-
cos para evitar fissuras de origem térmica
e eventual DEF.
A B
As mudanças de temperaturas têm
como origem as reações exotérmicas de hi-
dratação do cimento que, em razão das di- FIGURA 10
mensões da estrutura, criam condições para Montagem das armaduras (a) e Execução da 1ª etapa de concretagem (b)
que, durante o arrefecimento da tempera-

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 29
TABELA 1 TABELA 2
Traços de concreto – quantidades expressas em kg/m3 Características mecânicas estimadas
para os traços de concreto

1ª etapa:
1ª etapa: entre 1,0 m até 1,8 m 1ª etapa:
Altura da camada
da base até 1,0 m 2ª etapa: entre 1 m
entre 1,8 m até 2,80 m 1ª etapa:
Altura da e 1,8 m
da base
fck (MPa) 35 45 camada 2ª etapa:
até 1 m
entre 1,8
Ecs (GPa) 29 30
e 2,8 m
Autoadensável Autoadensável
Tipo/Classe de espalhamento fck (MPa) 35 45
(SF2 – 660 a 750 mm) (SF2 – 660 a 750 mm)
Ecs (GPa) 29 30
Cimento CP III 40 RS 350 358
Coeficiente
Areia de quartzo 526 497 0,20 0,20
de Poisson
Areia artificial 448 331
Brita 0 388 412 Resistência à compressão, fcj (MPa)
Brita 1 474 618 Idade C35 C45
Água + gelo 180 170 1 9,2 8,6
Aditivo 1 1,40 2,45 3 18,7 10,7
Aditivo 2 2,45 2,80 7 28,7 39,8
Sílica ativa 28 28 28 41,6 51,6
Relação água/ligante 0,476 0,440
Massa específica teórica Resistência à tração, fct (MPa)
2398 2391 Idade C35 C45
(kg/m³)
1 1,3 1,3
3 2,1 1,5
4.1 Modelagem computacional pelo sões de origem térmica, considerou-se, 7 2,8 3,6
método dos elementos finitos também, o efeito da fluência dos concre- 28 3,6 4,2
tos. A Tabela 2 mostra as características
mecânicas adotadas. Módulo de elasticidade, Ecs (GPa)
Vários fatores integram o modelo
Idade C35 C45
computacional para os estudos de evolu-
4.1.2 Propriedades térmicas 3 20,9
ção tridimensional de temperaturas e ten-
7 27,1
sões como, por exemplo, a temperatura e
As características térmicas dos mate- 28 31,7
velocidade de lançamento do concreto,
riais constituintes do concreto utilizado na 28 3,6
condições ambientais (temperatura am-
biente e velocidade do vento), caracterís- simulação foram estimadas (Tabela 3) a
ticas do cimento, dosagem do concreto, partir das dosagens estudadas, conside- A elevação adiabática do concreto foi
características térmicas e mecânicas do rando agregado graúdo de granito e areia calculada através da equação de Rastrup
concreto, geometria da estrutura e condi- natural de quartzo. (Equação 6).
ções de restrição, entre outros. A seguir, O valor adotado para o coeficiente de
são expressos os traços adotados, as pro- dilatação térmica foi de 10x10-6/°C. A evo- [6]
priedades mecânicas e térmicas dos con- lução do calor de hidratação do cimento
cretos e as simulações térmicas e de ten- CP III 40 RS foi estimada a partir dos da- Em que:
sões realizadas no presente estudo. dos de ensaios realizados pela ABCP (As- ∆T = Elevação adiabática (°C);
sociação Brasileira de Cimento Portland) γ = Massa específica (kg/m³);
4.1.1 Concretos empregados (Figura 11). c = Calor específico (kJ/kg °C);
e propriedades mecânicas

Os traços adotados na modelagem TABELA 3


Calor específico e condutividade térmica estimados
constam da Tabela 1.
Os valores da evolução da resistência
à compressão e do módulo de elastici- Condutividade
Consumo de Calor específico
Concreto térmica
dade secante foram estimados com base cimento (kg/m³) (kJ/kg°C)
(kJ/m.h.°C)
em ensaios de laboratório. Adotaram-se C35 350 0,94 (1) 10,4 (2)
os valores de resistência à tração calcu- C45 358 0,94 (1) 10,5 (2)
lados a partir dos resultados de resistên- (1) Gambale et al. (2010); (2) Furnas (1997).
cia à compressão. Para o cálculo das ten-

30 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


3,0 m/s até 4 m/s de fissuração de origem térmica, para
e a concretagem o zoneamento das temperaturas má-
“contra-barranco” ximas de lançamento do concreto em
(restrição lateral). cada etapa de concretagem. Para as
análises das tensões de origem térmica,
4.1.3 Modelo considerou-se um Fator de Segurança
matemático 3D (FS) de 1,2.
(MEF) Sendo a menor temperatura de lan-
çamento, até 1 m de altura, de 20°C, as
FIGURA 11 Foram simula- máximas seriam inferiores a 65 °C (Fi-
Calor de hidratação pelo método da garrafa de Langavant das as evoluções gura 15). No entanto, para esta mesma
Fonte: ABCP de temperaturas e camada, as menores temperaturas no
tensões que ocor- lançamento foram definidas a partir das
reriam em modelo análises das máximas tensões de ori-
tridimensional de gem térmica (Figura 16).
elementos finitos, As máximas tensões verificadas
nas seções mais para a camada com concreto C45 (2ª
críticas da estru- etapa), considerando as hipóteses de
tura. A malha de lançamento com concreto à temperatu-
elementos finitos ra de 15°C e 25°C, variaram de 1,7 até
(Figura 13) é auto- 2,7 MPa, resultando em menor risco de
maticamente for- fissuras de origem térmica (Figura 17).
mada por elemen- A Figura 18 mostra o zoneamento
tos tetraédricos. das temperaturas de lançamento do
FIGURA 12 A Figura 14 concreto pré-refrigerado.
Elevação adiabática do concreto autoadensável com apresenta as iso- Para a estimativa da temperatura de
consumo de cimento igual a 358 kg/m³ e de sílica ativa termas referentes lançamento do concreto pré-refrigera-
igual 28 kg/m³ (C45) a 32 horas após do com gelo, a temperatura do cimento
o início do lança- foi considerada 50°C e, dos demais ma-
mento do con- teriais, 30°C. Considerou-se a umidade
C = Consumo de ligante (kg/m³). creto, com a hipótese de temperatura de da areia natural igual a 6,0% e da areia
A elevação adiabática máxima estima- lançamento igual a 25°C para a 1a etapa artificial de 3,1%.
da para o concreto C35 foi de 47,8°C. Para de concretagem. A Tabela 4 apresenta um resumo
o concreto C45, foi estimada a elevação da concretagem e a Figura 19 ilustra os
adiabática de 48,4°C, conforme mostra a 4.2 Especificação das temperaturas procedimentos.
Figura 12. de lançamento Foi realizado monitoramento térmi-
Foram consideradas a temperatu- co das 2 etapas de concretagem, com
ra ambiente média variável ao longo do A partir das isotermas e isotensões, utilização de data-logger para aquisição
ano a partir de dezembro de 2019 (20°C foram adotadas as regiões mais críticas automatizada das leituras a cada 1 hora
a 35°C), a velocidade do vento variável de da estrutura e com maior probabilidade (Figura 20).
A Figura 21 mostra os resultados do
monitoramento térmico realizado para a
2a etapa de concretagem, onde as tem-
peraturas máximas variaram de 58,4°C
a 65,8°C após 30-40 horas do início do
lançamento do concreto, dependendo
do local da instalação do termopar.
Segundo dados do monitoramento,
o termopar T2 apresentou máxima tem-
peratura 0,8°C superior ao limite espe-
A B cificado. Segundo ISA-MC96.1 (1982),
pode ocorrer um erro nas medições
FIGURA 13 para o termopar tipo “K” de ±1,1°C até
Exemplo de malha de elementos finitos com simetria gerada considerando 1/4 da ±2,2°C. Comenta-se ainda que diante
estrutura: (a) 1ª etapa e (b) 2ª etapa das condições de umidade do meio e
considerando a composição química

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 31
A B

FIGURA 14
Isotermas: (a) Seção transversal do bloco (x = 16,50 m) e (b) Seção em planta do radier (z = 0,90 m)

FIGURA 15 FIGURA 16
Resumo das máximas temperaturas – Concreto C35 – Resumo das tensões principais maiores máximas –
Pontos A, B, C, D e E – Pontos localizados na região Concreto C35 – Pontos A, B, C, D e E – Pontos
central do bloco – 1ª etapa localizados na região central do radier – 1ª etapa

do cimento - com reduzido teor de SO 3


TABELA 4 (igual a 2,05%) e menor relação SO 3/
Dados da concretagem do radier Al 2O 3 (igual a 0,27) —, o risco de even-
tual formação de DEF, para este caso
Consumo Velocidade específico, foi reduzido.
Volume Consumo Número de Duração da
total de média de
Etapa de concreto de gelo caminhões concretagem
gelo concretagem
[m³] [kg/m³]
[ton]
betoneiras
[m³/h]
[h] 5. CONCLUSÕES
1 2050 100 a 125 235 269 160 12 A partir de interações e da análise do
2 920 104 a 116 100 116 115 8 comportamento conjunto da estrutura e

FIGURA 17 FIGURA 18
Resumo das máximas temperaturas – Concreto C45 – Zoneamento de temperaturas máximas de lançamento
Pontos A, B, C, D e E – Pontos localizados na região do concreto – Seção longitudinal do radier [m]:
central do radier – 2ª etapa (a) 1ª etapa e (b) 2ª etapa

32 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


A B C

FIGURA 19
(a) Plataforma tipo torre para ajuste do concreto por meio de gelo e aditivo; (b) Identificação da amostra de concreto
para ensaios no estado fresco; (c) Cobertura para proteção dos corpos de prova contra as intempéries

A B C

FIGURA 20
(a) Data-logger; (b) Proteção dos equipamentos contra intempéries; (c) Termopares tipo “K” instalados no interior do
concreto da estrutura

do solo, foi possível a definição da geometria em planta, bem


como a altura do radier de grandes dimensões em questão, de
modo a garantir, além da estabilidade e capacidade resistente
do elemento, economia no consumo de material.
A modelagem computacional permitiu a análise dos impac-
tos dos deslocamentos diferenciais ao longo do elemento de
fundação. A determinação dos esforços solicitantes foi feita
por meio de uma modelo tridimensional de barras e os cálcu-
los da armadura necessária foram feitos com base nas normas
ABNT NBR 6118: 2014 e ACI318: 2005. Buscou-se uma solução
de armadura que, além de garantir os Estados Limites Últimos
e de Serviço, fosse econômica e facilitasse a montagem.
FIGURA 21
Monitoramento térmico realizado para a 2ª etapa de Além das preocupações com o desempenho estrutu-
concretagem com C45 ral, um extenso estudo foi feito para minimizar problemas
com o concreto fresco. A partir dos estudos térmicos por

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 33
modelagem matemática-computacional menor risco de fissuras de origem tér- estruturais aprofundados, mas também
3D, com o emprego do método dos ele- mica e de DEF. mostram exemplos práticos fundamentais
mentos finitos e método da maturidade, Os detalhes apresentados aqui não a serem seguidos na execução de funda-
foi possível avaliar o plano executivo de apenas enfatizam a importância de estudos ções em radier de grandes dimensões.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI 318—05: Building Code Requirements for Structural Concrete and Commentary (ACI 318R—05).
Farmington Hills, Michigan, 2005.
[2] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING MATERIALS. ASTM C1074—11: Standard practice for estimating concrete strength by the maturity
method. West Conshohocken. ASTM, 2011.
[3] International Society of Automation. ISA-MC96.1: Temperature Measurement Thermocouples. ISBN 0-87664-708-5, 1982.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118: Projeto de Estruturas de Concreto Armado. Rio de Janeiro, 2014.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12006: Cimento — Determinação do calor de hidratação pelo método da
garrafa de Langavant — Método de Ensaio. Rio de Janeiro, 1990.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 16697: Cimento Portland - Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
[7] Equipe de FURNAS — Editor Walton Pacelli de Andrade. Concretos: Massa, Estrutural, Projetado e Compactado com Rolo — Ensaios e
Propriedades — Ed. Pini, São Paulo—SP, 1997.
[8] GAMBALE, E. A.; CASTRO, A.; ANDRADE, M. A. S.; TRABOULSI, M. A.. Análise estatística dos parâmetros que intervêm no fenômeno
térmico do concreto massa. 52o Congresso Brasileiro do Concreto, IBRACON. Fortaleza, 2010.
[9] GUPTA, S. C. Raft Foundations Design and Analysis with a Pratical Approach. New Delhi, India: New Age International (P) Limited,
Publishers, 1997.
[10] HEMSLEY, J.A. (editor). Design applications of raft foundations. London, UK: Thomas Telford, 2000.
[11] SOUZA, R. A. de; BITTENCOURT, T. N. Definição de expressões visando relacionar f’c e fck. In: Iv Encontro Tecnológico da Engenharia Civil
e Arquitetura, 2003, Maringá. ENTECA 2003: Caderno de Resumos. Maringá, Universidade Estadual de Maringá, 2003.
[12] WOOD, R. H. The reinforcement of slabs in accordance with a pre-determined field of moments, Concrete, USA, Vol. 2, nº 2, 1968.

34 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


Estruturas em Detalhes DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.109.0003

Alternativas executivas para controle


da elevação da temperatura do
concreto massa de edificações
EDUARDO ISSAMU FUNAHASHI JR. – Eng. – ORCID https://orcid.org/0000-0002-7516-4195;
THOMAS HIDEKI KUNINARI – Eng. – ORCID https://orcid.org/0000-0002-7632-5069;
SELMO CHAPIRA KUPERMAN – Eng. – ORCID https://orcid.org/0000-0003-4186-2216;
GRAZIELLE RIBEIRO VICENTE – Eng. – ORCID https://orcid.org/0000-0002-1349-1377;
CAIO FARTO FARINACIO – Eng. – ORCID https://orcid.org/0000-0001-5590-796X | Desek Ltda.

RESUMO fck. Além disso, foram rea- em concreto massa podem resultar em

O
e zoneamento do

s riscos de ocorrência de fissuras lizados os monitoramentos das temperaturas elevado risco de fissuração. Dependendo
de origem térmica e DEF (Delayed internas dos concretos das estruturas, com- das dimensões de estruturas de blocos de
ettringite formation) em estruturas provando a importância da realização de estu- fundação e sapatas, pilares, lajes e vigas
de fundações de edifícios são cada vez mais dos térmicos prévios para elaboração do pla- espessas, as fissuras de origem térmica
comuns. Para controlar a elevação da tempe- no executivo com menor risco de fissuração. e etringita tardia (DEF, Delayed ettringite
ratura interna do concreto massa, devem ser formation) podem ocorrer devido à falta
elaborados planos executivos durante a fase Palavras-chave: fissuras de origem térmica, de controle do seu comportamento térmi-
inicial de projeto. Este trabalho apresenta DEF, alternativas executivas, nitrogênio líqui- co. Em alguns casos, a execução dessas es-
alternativas construtivas adotadas para em- do, gelo. truturas sem um planejamento adequado
preendimentos no Sudeste do Brasil, com con- pode resultar em riscos de fissuração, mes-
cretos de resistência de até 45 MPa. As al- 1. INTRODUÇÃO mo para aquelas de menor volume e altura.
ternativas foram definidas a partir de estudos Vem sendo cada vez mais comum a es- Concreto massa é, por definição do ACI
térmicos por meio de modelagens matemáticas pecificação de concretos de elevada resis- (2009), qualquer volume de concreto com
considerando as características logísticas e tência em projetos de edifícios residenciais dimensões grandes o suficiente que requei-
ambientais da obra, além dos tipos de mate- e comerciais nos grandes centros urbanos. ram meios especiais para controlar o calor
riais constituintes do concreto disponíveis na Na maioria das vezes, demandam maior gerado pela hidratação do cimento e a con-
região. Para os casos apresentados, foram consumo de cimento em sua produção. A sequente mudança de volume para minimi-
adotadas diferentes alternativas como a pré- utilização de dosagens de concreto sem zar a ocorrência de fissuração. Dependendo
-refrigeração do concreto com o uso de gelo estudos prévios, escolha inadequada dos do consumo e tipo de cimento, da geometria
e nitrogênio líquido, divisão da execução em seus materiais constituintes e a falta de um da estrutura, das condições ambientais lo-
etapas com previsão de juntas de concretagem planejamento executivo para as estruturas cais da obra e da temperatura de lançamen-
to do concreto, poderão resultar em tensões
de origem térmica superiores a resistência à
tração do concreto. Isto ocorre quando da
dissipação de calor para o meio ambiente
e posterior retração, dependendo do gra-
diente térmico entre as diferentes partes da
estrutura e condições de restrição. Além do
risco de fissuração por origem térmica, é de-
sejável evitar o risco de formação da DEF,
que pode ocorrer em estruturas de concreto
massa quando atingem temperaturas inter-
nas superiores a 65oC durante a hidratação
A B do cimento, uma vez que os sulfatos internos
podem incorporar outras fases do cimen-
FIGURA 1 to. Este tipo de ataque interno por sulfatos
Vista geral da concretagem do bloco de fundação – Caso 1 pode ocorrer meses ou alguns anos após a
execução da estrutura, ocasionando uma

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 35
reação expansiva e progressiva que provoca
um intenso quadro fissuratório no tempo. No
caso da DEF, prejudica propriedades mecâ-
nicas, como o módulo de elasticidade e re-
sistências à compressão e à tração, já tendo
sido observadas inclusive reduções de mais
de 50% (Schovanz et al., 2021). A redução
nas resistências causadas por DEF pode ser
inclusive mais extrema que as causadas por
reação álcali-agregado (Godart & Wood,
2022). Em condições propícias, Hasparyk et
al. (2012) mostraram o ataque combinado de
RAA e DEF em concreto de bloco fundação
de edificação no Brasil.
É perfeitamente viável, no entanto, evi-
tar este tipo de problema (Hasparyk & Ku- A
perman, 2021) e, para isto, as alternativas
executivas podem ser avaliadas por meio de
estudos térmicos ainda na fase inicial de pro-
jeto. Funahashi et al. (2022) apresentaram
estudo de caso realizado para sapata com
volume de cerca de 1400 m3, executada em
etapas de menor altura, considerando juntas
de construção vertical e horizontal que pro-
piciou menor consumo de gelo no concreto.
Nesta fase é possível prever os custos para
a pré-refrigeração de algum material e/ou
pós-refrigeração do concreto, além da ava-
liação dos impactos no cronograma da obra,
caso seja necessária a sua concretagem em B
mais de uma etapa. A redução da altura da
camada, execução em etapas prevendo jun-
FIGURA 2
tas de construção verticais e/ou horizontais, (a) Resumo das máximas temperaturas calculadas para definição do
emprego de material pozolânico como subs- zoneamento das temperaturas de lançamento e (b) temperaturas monitoradas x
tituição parcial do cimento e escolha de ci- temperaturas simuladas para a primeira etapa de concretagem – Caso 1
mentos de baixo calor de hidratação contri-
buem para minimizar os riscos de fissuração
devido ao calor. Além desses, o aumento da b4cast, baseado no método dos elementos 2. ESTUDOS DE CASO
idade de controle do fck para idade superior a finitos. O cálculo tridimensional de tempera-
28 dias, uso de agregados de menor módulo turas, no elemento de concreto, pressupõe 2.1 Caso 1 – Ícone Planeta – Sorocaba | SP
de elasticidade, redução da resistência ca- que a propagação de calor ocorre na seção
racterística à compressão e/ou zoneamento transversal e longitudinal simultaneamente, O edifício Ícone (Figura 1) está em
das classes de concreto contribuem para re- aproximando-se de uma situação real. construção na cidade de Sorocaba – SP
duzir estes riscos.
Neste artigo são apresentados três es-
tudos de casos, onde foram empregadas
diferentes alternativas executivas em acordo
com as condições logísticas e ambientais de
cada obra, especificações de projeto, dosa-
gens de concretos previamente estudadas
com os materiais disponíveis na região e
cronogramas elaborados ainda na fase inicial
de projeto. As alternativas construtivas es- FIGURA 3
colhidas para cada caso foram baseadas em Zoneamento das temperaturas de lançamento do concreto da segunda etapa de
estudos de evolução tridimensional de tem- concretagem – Caso 1
peraturas e tensões, com o uso do software

36 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


com maior altura da camada (Figura 3).
TABELA 1 Assim, definiu-se o plano executivo para a
Especificações para a concretagem da segunda etapa do radier – Caso 1 segunda etapa de concretagem, com volu-
me de 560 m³, lançada após sete dias da
Etapa 1 Etapa 2 execução da primeira etapa.
Temperatura de lançamento Para garantir as menores temperatu-
≤ 22oC ≤ 17oC ≤ 23oC
do concreto fresco ras no lançamento, a operação de concre-
Altura de concretagem (m)
Da base Entre 1,00 m Entre 1,86 m tagem da segunda etapa foi iniciada às
até 1,0 m e 1,86 m e 2,5 m 4h30 da manhã, quando a temperatura
Volume aproximado (m³) 420 315 245 ambiente e dos materiais são mais ame-
Quantidade estimada nas e contribuem para alcançar os me-
60 45 35
de caminhões-betoneira
nores níveis de refrigeração do concreto.
Consumo de gelo estimado por meio
94 108 95 A menor temperatura especificada foi
de balanço térmico (kg/m³)
Temperatura dos agregados ( C)
o
22 25 30 de 17oC até a altura de 86 cm em relação
Tempo de concretagem estimado ao topo da camada anterior. As máximas
6 horas 4 horas 3 horas
com 3 bombas temperaturas monitoradas no interior do
Alvenaria com tijolos 1,00 1,25 1,25 concreto variaram de 56oC até 65oC, de-
pendendo do seu local de instalação. Para
o monitoramento, foi utilizado equipa-
pela Construtora Planeta. A edificação resi- A partir da alteração do plano executi- mento datalogger e termopares tipo “K”
dencial foi projetada pelo escritório França vo, foi definido novo zoneamento de tem- com aquisição automática das leituras a
& Associados com 44 pavimentos e pouco peraturas de lançamento do concreto, me- cada 1 hora. A Figura 4 mostra detalhes da
mais de 140 m de altura, sendo considera- nores que as consideradas anteriormente, execução da estrutura.
do o edifício mais alto em construção no
interior do estado.
Para a execução do radier com volume
de cerca de 980 m³, no final de janeiro de
2021, foram estudados planos executivos
em acordo com a capacidade de forneci-
mento da concreteira da região. Para ga-
rantir a maior velocidade de execução, o
concreto foi fornecido por duas centrais
e três pontos de carga, com fornecimento
exclusivo neste dia.
Considerando as altas temperaturas
para a época, inicialmente foi prevista a sua
A B
execução em três etapas distintas com ca-
madas de 1 m de altura, cada, com interva-
lo de 7 dias, entre elas, e volumes iguais a
330 m³, aproximadamente. Após reavaliação
estrutural ainda na fase inicial de projeto, foi
possível uma redução da altura total do ra-
dier de 3 m para 2,5 m. Com isso, a primei-
ra etapa com altura de camada igual a 1 m
foi executada com concreto pré-refrigerado
com substituição parcial da água por gelo,
lançado a 22oC, no máximo, resultando
em temperatura máxima monitorada igual
a 62oC (Figura 2). A Tabela 1 mostra as C D
especificações para concretagem do blo-
co. Com base na retroanálise a partir dos
FIGURA 4
dados de monitoramento realizado para a
(a) Carregamento de gelo no caminhão betoneira, (b) vista geral da execução
primeira camada, verificou-se a possibili- com início na madrugada, (c) retardador de pega superficial para realização do
dade da sua execução em mais uma etapa corte verde do concreto e (d) termopares instalados para monitoramento das
de 1,5 m de altura, ao invés de mais duas, temperaturas no concreto – Caso 1
como previsto inicialmente.

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 37
tada em duas camadas com altura igual a
0,90 m, cada), conforme mostra Figura 5.
A partir dos estudos térmicos, verificou-
-se que para a execução da Fase 1 com altura
de 1,80 m, a temperatura de lançamento do
concreto deveria ser de, no máximo, 18oC até
a altura de 1,2 m e de 25oC entre 1,20 m e 1,80
m de altura. Previamente à concretagem,
realizou-se teste com o concreto pré-refri-
gerado simulando o percurso do caminhão
betoneira até a obra empregando adição
total de gelo (140 kg/m³), desconsiderando
apenas a umidade dos agregados graúdos
FIGURA 5
(a) Seção em planta das fases executivas 1, 2 e 3 – Caso 2 e miúdos, além da água do corte igual a
10 litros/m³. Através do teste, compro-
vou-se que não seria possível lançar o
da estrutura em três fases distintas, pre- concreto apenas com substituição parcial da
2.2 Caso 2 – Hotel Marina – vendo juntas de construção verticais e ho- água por gelo, considerando o seu tempo de
Rio de Janeiro | RJ rizontais, sendo: Fase 1 (área da base igual transporte de 1h30 min, aproximadamente, e
a 63 m² e volume de 101 m³, executada em as altas temperaturas ambientes superiores
A edificação original é da década de única camada de concretagem com altura a 35°C no verão daquele ano. Para atender
1980. Durante as obras de retrofit do Ho- igual a 1,80 m); Fase 2 (área de 109 m² e o cronograma e especificação de proje-
tel Marina, da BHG, localizado na orla da volume de 172 m³, executada em duas ca- to, a execução da primeira fase foi realiza-
praia do Leblon e projetado pelo escritório madas de 0,90 m de altura, cada) e Fase 3 da com o uso de gelo e nitrogênio líquido
Pedreira Onix, foi realizada a execução de (área de 121 m² e volume de 185 m³, execu- adicionados diretamente no caminhão
um radier com concreto pré-refrigerado
com gelo e nitrogênio líquido. Este foi um
dos primeiros casos em que se utilizou a
pré-refrigeração do concreto por meio da
injeção de nitrogênio líquido associado ao
gelo em projetos de edificações no país.
Durante a fase inicial de projeto, foram
realizadas visitas técnicas em três possíveis
fornecedores de concreto da região para
avaliação das suas instalações, qualidade,
tipos de materiais e capacidade de forne-
cimento do concreto usinado. A partir das A B
visitas, foram classificados dois fornece-
dores de concreto para serem realizados
estudos laboratoriais para definição do
traço do concreto massa. Foram coletadas
amostras de cimentos diretamente dos si-
los das centrais escolhidas para realização
de ensaios de determinação do calor de hi-
dratação no laboratório da ABCP, em São
Paulo/SP. Com base nos traços de concre-
to dos fornecedores, resultados dos en-
saios mecânicos e de calor de hidratação, C D
condições logísticas e ambientais da obra
na época da construção, foram realizados
FIGURA 6
estudos térmicos para definição dos pla- (a) Injeção de nitrogênio líquido no interior do balão do caminhão
nos executivos. Devido ao maior tempo de (b) junta de construção vertical com fôrma de tela de metal expandido,
transporte entre a central e a obra, e a im- (c) determinação da temperatura do concreto na usina após a injeção de
possibilidade de se complementar a refri- nitrogênio líquido (3,2°C) e (d) refrigeração dos agregados graúdos nas
geração com gelo na região do empreen- baias com o emprego da aspersão de água
dimento, houve a necessidade da execução

38 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


A B

FIGURA 7
(a) MaLha de elementos finitos em 3D (software b4cast) e (b) isotermas na seção transversal considerando temperatura
de lançamento igual a 30°C – Caso 2

betoneira. Para que o concreto fosse lança- camadas, respectivamente. Após período de realizado. A Figura 7 (a) mostra malha de
do com temperatura inferior à especificada, paralização da obra devido a pandemia da elementos finitos em 3D considerando si-
este era liberado, na central, com temperatu- Covid-19, a terceira e última etapa de concre- metria e, da Figura 7 (b), consta exemplo de
ra inferior a 7°C após a injeção de nitrogênio. tagem foi executada em maio de 2021 com isotermas considerando hipótese de lança-
A Figura 6 mostra registros feitos durante a outro fornecedor de concreto. Foi realizado mento do concreto a 30°C para a segunda
execução da primeira fase de concretagem. novo estudo térmico para definição do plano etapa da Fase 3.
A máxima temperatura monitorada atin- executivo, onde a concretagem foi executa-
gida pelo concreto da Fase 1 com utilização da em duas camadas de 0,90 m, cada, com 2.3 Caso 3 – Signature Eztec –
de nitrogênio líquido e gelo foi de 61°C. Para emprego de cimento CP III com adição de São Paulo | SP
a Fase 2, executada em duas camadas de sílica ativa no traço e pré-refrigeração com
concretagem de mesma altura, com empre- gelo, no qual as máximas temperaturas in- O empreendimento Signature em cons-
go de concreto pré-refrigerado com gelo, foi ternas no concreto da estrutura não ultra- trução pela Construtora Eztec em dezembro
de 56°C e 61°C para a primeira e segunda passaram 50°C segundo o monitoramento de 2021 na cidade de São Paulo – SP é um
edifício residencial de duas torres que pos-
suem 24 e 28 pavimentos, com altura de 90
m, aproximadamente, na maior torre. O em-
preendimento foi projetado pelo escritório
SRTC Engenharia e Projetos. Na fundação
(Figura 8), o maior bloco projetado possui
volume de 195 m³ com 3 m de altura, sendo
o concreto especificado com fck de 45 MPa.
A partir dos cálculos térmicos reali-
zados verificou-se que não seria possível
executar a estrutura em única etapa de
concretagem mesmo empregando cimento
A B
CP III e concreto pré-refrigerado com gelo,
considerando a sua execução em época do
FIGURA 8 ano com maiores temperaturas ambien-
(a) Vista geral do terreno do empreendimento e (b) lançamento do concreto te. Para viabilizar a execução do bloco de
no bloco de fundação com altura de 3 m – Caso 3
fundação em única etapa de concretagem,
foi adotado o zoneamento das classes de
resistência do concreto a partir de reava-
liação estrutural da Projetista, conforme a
Figura 9 (a). Com base no zoneamento de
fck e utilização de adição pozolânica e adi-
tivo superplastificante, foi possível redu-
A B zir o consumo de aglomerante em 26 kg/
m³ para o traço de fck = 45 MPa, em 42 kg/
FIGURA 9 m³ para o traço de fck = 40 MPa e em 20kg/
(a) Zoneamento das classes de concreto (fck) e (b) especificação das m³ para o traço de fck = 35 MPa em rela-
temperaturas de lançamento do concreto pré-refrigerado ção aos traços inicialmente propostos pelo
fornecedor de concreto. Esta alternativa

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A B C D

FIGURA 10
(a) Armazenamento de gelo no caminhão frigorífico em obra, para eventual ajuste; (b) proteção do equipamento
datalogger para monitoramento das temperaturas do concreto por meio de termopares (c) ensaio de abatimento com tronco
de cone (Slump) no recebimento do concreto para verificação da trabalhabilidade (18 cm) e (d) aferição da temperatura do
concreto no seu lançamento (17,5°C)

permitiu que houvesse uma redução de 4°C menor aumento de temperatura interna do dos estudos térmicos, o plano executivo
na elevação adiabática estimada para as concreto da estrutura. mais adequado para cada caso.
classes C40 e C45 e de 14°C para a classe O conhecimento das propriedades me- A elaboração do plano executivo na
C35, comparada a execução com único tra- cânicas e térmicas dos concretos, condições fase inicial de projeto com a participa-
ço de concreto com fck = 45 MPa. Através ambientais e de logística de execução, além ção do projetista, construtora, fornecedor
deste zoneamento, foi possível reduzir as do conhecimento do calor de hidratação dos de concreto e empresa de controle tec-
máximas temperaturas internas do concre- cimentos, possibilitaram definir, por meio nológico foi fundamental para reduzir os
to da estrutura e reduzir os riscos de fissura-
ção. Além do zoneamento das classes de fck,
foi realizado zoneamento das temperaturas TABELA 2
de lançamento do concreto fresco confor- Resumo dos casos estudados
me mostra a Figura 9 (b). A máxima tem-
peratura monitorada no bloco foi de 60°C Empreendimento Caso 1 Caso 2 Caso 3
após aproximadamente 75 horas do início Características de projeto
da concretagem, no centro da estrutura à Localização
São Paulo Rio de Janeiro São Paulo
1,50 m de altura em relação ao lastro. (2021) (2019)(1) (2021)(2) (2021)
Volume total (m³) 980 460 195
3. DISCUSSÃO SOBRE AS Altura total (m) 2,5 1,8 3,0
ALTERNATIVAS EXECUTIVAS fck (28 dias) 45 40 35(3), 40(4) e 45(5)
A Tabela 2 apresenta o resumo das al- Ecs (28 dias) 30 24 —
ternativas adotadas para a execução das Dosagem do concreto
fundações de cada um dos casos estuda- Tipo de cimento CP II CP II(1) CP III(2) CP III
dos para estruturas projetadas com fck de Fabricante A B(1) e C(2) D
40 MPa e 45 MPa. 318(3)
361 (1)
Consumo de aglomerante (kg/m³) 335 330(4)
A Tabela 3 apresenta informações 410(2)
385(5)
referentes aos cimentos utilizados para a 20(3)
31(1)
produção dos traços de concreto. Adição de material pozolânico (kg/m³) 25(6) 20(4)
35(2)
A Tabela 4 mostra o resumo das alter- 22(5)
nativas executivas definidas por meio dos —(3)
Consumo de material pozolânico como 8(1)
4 7(4)
estudos térmicos e a Tabela 5 mostra da- substituição parcial do cimento (%) 8(2)
6(5)
dos do monitoramento térmico realizada 46(3)
para os casos 1, 2 3. 51(1)
Elevação adiabática estimada (oC) 52 48(4)
55(2)
Para todos os casos estudados, a rea- 56(5)
lização de estudos de dosagens prévios 0,145(3)
Coeficiente de elevação da temperatura 0,130(1)
0,150 0,145(4)
para a definição do traço do concreto fo- teórico (oC/kg/m³) 0,123(2)
0,145(5)
cando na redução do consumo de cimento, Notas: (1) Fases 1 e 2 – Caso 2; (2) Fase 3 – Caso 2; (3) fck = 35MPa – Caso 3; (4) fck = 40MPa – Caso 3; (5) fck = 45MPa – Caso 3;
independentemente do tipo, resultou em (6) Sílica dispersa em água, sendo 50% em massa de água-Caso 1.

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cronogramas das obras e atender às espe- bilitou a alteração dos planos executivos, podem ser associadas dependendo das
cificações de projeto, além de reduzir os viabilizando menos etapas de concretagem. condições ambientais locais, tempo de
riscos de fissuração de origem térmica e A utilização de nitrogênio líquido adi- transporte entre a central e obra e altura
formação da DEF. A realização de retroaná- cionado diretamente no balão do caminhão da camada de concretagem.
lises por modelagens matemáticas, com os betoneira e/ou na esteira dos agregados é Quando possível, o zoneamento das
dados de monitoramento das temperaturas uma solução eficiente para a pré-refrigera- classes de concreto, permitindo lançamen-
de estruturas de menor volume ou quando ção do concreto a níveis mais baixos que to de concreto com menor fck próximo à
da primeira etapa de concretagem, possi- os possíveis com gelo. Estas alternativas sua base, onde geralmente a restrição é
maior, diminui a probabilidade de fissura-
ção de origem térmica, além de reduzir as
TABELA 3 máximas temperaturas internas no con-
Informações sobre os cimentos utilizados
creto devido à redução do consumo de
cimento para os traços de classes de resis-
Empreendimento Caso 1 Caso 2 Caso 3
tência menores.
Características do cimento
CP II(1)
Tipo de cimento CP II
CP III(2)
CP III 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As metodologias para avaliar o risco
Fabricante A B(1) e C(2) D
térmico para execução de estruturas de
4284(1)
Área específica (cm²/g) 5225 4366 concreto massa em edificações vêm sendo
4229(2)
Calor de hidratação 289(1) aprimoradas e levam em conta diversos fa-
323 265
às 41h de idade (J/g) 262(2) tores intrínsecos ao concreto, a geometria,
Calor de hidratação
332
297 (1)
304 logística e as condições ambientais locais.
às 168h de idade (J/g) 292(2) Além destas metodologias de avaliação, as
Data da coleta da amostra para ago/2019 (1)
próprias técnicas construtivas para mitiga-
Jun/2020 Set/2020
ensaio de calor de hidratação jul/2020(2)
Notas: (1) Fases 1 e 2 – Caso 2; (2) Fase 1 – Caso 2
ção de problemas de origem térmica es-
tão sendo aperfeiçoadas considerando as
maiores resistências mecânicas atualmente
especificadas e maior finura do cimento
TABELA 4
que resultam em maior geração de calor.
Resumo das alternativas executivas definidas por meio dos estudos térmicos
Em alguns casos, apenas a utilização de
gelo como substituição parcial da água de
Empreendimento Caso 1 Caso 2 Caso 3
amassamento para a sua pré-refrigeração
Não(1)
Redução da altura das camadas? Sim
Sim(2)
Não não é suficiente.
Divisão em etapas de menor volume As seguintes alternativas podem ser
Sim Sim Não consideradas para execução das estruturas
(juntas de construção)?
Gelo+Nitrogênio(2) de concreto com menor risco de fissuras
Pré-refrigeração do concreto Gelo Gelo
Gelo(3) de origem térmica e DEF:
Notas: (1) Fase 1 da execução – Caso 2; (2) Fases 2 e 3 da execução – Caso 2
u Estudos prévios de dosagens para defi-
nição daquela com menor consumo de
cimento: para a sua redução podem ser
TABELA 5 utilizados materiais pozolânicos como
Controle tecnológico do concreto – monitoramento das temperaturas substituição parcial do cimento, além
por instrumentação de aditivos redutores de água e/ou su-
perplastificantes;
Empreendimento Caso 1 Caso 2 Caso 3 u Utilização de cimentos de baixo calor
Temperatura local(12) (oC) 20 – 35 25 – 35 18-34 de hidratação, quando disponíveis na
1,0(1) 1,80(3) região, além do controle dos teores de
Altura da camada (m) 3
1,5(2) 0,90(4) C3A, SO3 e álcalis na sua fabricação;
17(3) 15(9) u Aumento da idade de controle da re-
Temperatura de lançamento 20(1)
21(5) e 22(6) 18(10)
média do concreto (oC) 15(2)
20(7) e 22(8) 20(11) sistência característica (fck) para 63 ou
61(3) 90 dias dependendo do tipo cimento a
Temperatura máxima monitorada 61(1) ser adotado;
56(5) e 61(6) 60
no interior da estrutura (oC) 65(2)
44(7) e 48(8) u Zoneamento das classes de resistência
Notas: (1) Primeira etapa de concretagem – Caso 1; (2) Segunda etapa de concretagem, – Caso 1; (3) Fase 1 – Única etapa – Caso 2;
(4) Fases 1 e 2 – Etapas 1 e 2 – Caso 2; (5) Fase 2 – Primeira etapa – Caso 2; (6) Fase 2 – Segunda etapa – Caso 2; (7) Fase 3 – Primeira etapa
do concreto e especificação de menor
– Caso 2; (8) Fase 3 – Segunda etapa – Caso 2; (9) fck = 35 MPa – (altura = 1 m) – Caso 3; (10) fck = 40 MPa – (altura = 1m) – Caso 3; módulo de elasticidade a partir de rea-
(11) fck = 45 MPa – (altura = 1 m) - Caso 3; (12) Temperatura local monitorada por instrumentação
valiação estrutural da Projetista;

& Construções
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u Estudos térmicos com o uso de mode- níveis de temperatura no lançamento mente às técnicas de pré-refrigeração
lagens matemáticas 3D pelo método do concreto; do concreto com gelo e/ou nitrogênio;
dos elementos finitos para definir pla- u Pré-refrigeração do concreto usinado u Redução da altura da camada de con-
no de concretagem ainda na fase inicial por meio substituição parcial da água cretagem, subdivisão da estrutura em
de projeto; de amassamento por gelo na central e/ segmentos de menor volume e altura,
u Quando possível, programação das ou no canteiro de obras; com previsão de juntas de construção
concretagens das fundações para u Pré-refrigeração do concreto com o verticais e/ou horizontais;
épocas do ano com menor tempera- uso de nitrogênio líquido adicionado u Emprego de pós-refrigeração com a
tura ambiente. A realização de con- diretamente ao balão do caminhão be- utilização de tubulação embutida no
cretagens em períodos noturnos, de- toneira e/ou na esteira dos agregados, interior do concreto com passagem de
pendendo da região, ou com início na podendo ser associado ao gelo depen- água gelada, além do emprego de pré-
madrugada, quando a temperatura dendo da distância entre a central e a -refrigeração do concreto associada
dos materiais e ambiente são ame- obra e temperatura ambiente; para viabilizar execuções de camadas
nas, contribuem para atingir menores u Emprego de água refrigerada adicional- de concretagem de maior altura.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ACI Committee 207, Mass and Thermally Controlled Concrete. American Concrete Institute, 2009.
[2] GODART, B.; WOOD, J. Interaction of DEF and AAR, a review. 16th ICAAR – International Conference of Alkali-Aggregates Reaction in Concrete,
First Book of Proceedings of the 16th ICAAR. Lisboa, 2021.
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do Concreto, Maceió, AL, 2012;
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[5] FUNAHASHI JR, E. I.; KUPERMAN, S.C; VICENTE, G. R.; GRAZIANO, F.; MENDES, S.; NAPOLITANO, R. Plano de execução da sapata do edifício
Faria Lima Plaza. In: Anais do Jubileu de Ouro do Congresso Brasileiro do Concreto, Brasília, DF, 2022;
[6] SCHOVANZ, D.; TIECHER, F.; HASPARYK, N.P.; KUPERMAN, S.; LERMEN, R.T. Evaluation of Delayed Ettringite Formation through the Physical,
Mechanical, and Microstructural Assays. ACI Materials Journal, V. 118, 2021.

42 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


Estruturas em Detalhes DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.109.0004

Desafios e práticas adotadas na


execução de blocos de fundação
de grandes volumes no Brasil
ABRAHÃO BERNARDO ROHDEN – Prof. – ORCID https://orcid.org/0000-0002-8652-5064 (abrcivil@gmail.com);
MARIA EDUARDA CORBELLA SANTOS – Eng. | FURB

RESUMO cada vez com valores mais elevados, há avanço e utilizar soluções especiais ou

A
construção de edifícios altos muitas a tendência da concepção de edifícios pouco tradicionais.
vezes demanda blocos de fundações cada vez mais altos, para melhor apro- Em edifícios muito altos, os pilares aca-
de grande volume. O objetivo deste veitamento do espaço, o que desafiam bam sendo mais robustos e próximos. De-
trabalho foi realizar um levantamento das os engenheiros de todas as áreas da vido ao grande carregamento da estrutura
principais práticas de execução de blocos de construção civil. A esbeltez de um edifí- que os edifícios esbeltos provocam em suas
fundação de grandes dimensões, abordando as cio provoca grandes cargas a ser trans- fundações, o projeto de fundações inde-
etapas que envolvem esta execução. Para isso, mitidas para o solo em uma área restrita. pendentes para cada pilar se torna inviável,
elaborou-se um questionário estruturado que Com o avanço da tecnologia na enge- pois as fundações passariam a se sobrepor.
foi submetido aos engenheiros responsáveis das nharia civil e a possibilidade de construir No caso das fundações, particularmente, a
obras que utilizaram blocos de grandes dimen- edifícios cada vez mais altos, os projetos definição da tecnologia a ser utilizada en-
sões. A pesquisa foi aplicada em quatro obras de fundações precisam acompanhar este volve o estudo das características do solo,
de edifícios altos grandeza e natureza
construídos em Bal- das cargas a serem
neário Camboriú/SC. suportadas, tecno-
A pesquisa contempla logias disponíveis
dois edifícios que já e aspectos econô-
ocuparam a condição micos. Além disso,
de mais altos do Bra- deve-se chamar à
sil. Como resultados, atenção quanto ao
identificou-se que o dimensionamento
uso de gelo e aditi- das fundações, que
vos retardadores de deve atender não
hidratação, bem como apenas aos critérios
o uso de paredes dia- de resistência, mas
fragma, estão entre também aos limites
as principais práti- de recalques.
cas utilizadas nas A tendência de
obras de blocos de solução para as fun-
grande volume. dações desses edifí-
cios esbeltos são as
Palavras-chave: con- fundações mistas,
cretos de grandes unindo bloco de
volumes, bloco de fun- fundação sobre es-
dação, calor de hidra- A B C D tacas. Blocos sobre
tação, edifícios altos. estacas ou blocos
de coroamento são
FIGURA 1
1. INTRODUÇÃO elementos estru-
Edifícios estudados: (a) Infinity Coast Residence; (b) Yachthouse by Pininfarina
Com a escas- turais usados para
(Tower 1); (c) Olympo Tower; (d) Epic Tower
sez de terrenos em Fonte: Villanova, 2022
transferir as ações
regiões nobres e da superestrutura

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 43
para um conjunto de estacas (VELLOSO; dos blocos de transição concebidos em tacas por dia. Para a execução e finaliza-
LOPES, 2019). Quando, após todos os es- cada situação. ção das estacas, foram necessárias cerca
tudos necessários, chega-se a um projeto de 30 pessoas envolvidas e cinco meses
de fundação no qual a melhor solução téc- 3.1 Edifício Infinity Coast Residence de trabalho.
nica converge para um bloco de fundação Após o estaqueamento da área onde
de grandes dimensões, inicia-se, então, um Como solução para fundação do edi- foi alocado o bloco, iniciou-se a escavação,
desafio para a execução de tal elemento fício, foi concebido um bloco especial de que foi realizada concomitantemente com
de fundação. fundação com uma altura de 5 m e volu- o arrasamento das estacas. Foram utiliza-
Neste trabalho foram apresentadas as me de 5.450 m³ (volume de projeto). Para das três retroescavadeiras para realizar a
etapas para execução do bloco de funda- caracterização do solo, realizou-se son- escavação dos 5.450 m³ de solo. À medida
ção de grandes dimensões sobre estacas dagem a percussão (SPT), além de son- que as estacas eram desobstruídas pelo
através de estudos de caso que foram rea- dagem geofísica utilizando o método da solo, iniciava-se o arrasamento das cabe-
lizados por meio de questionários de qua- eletrorresistividade. ças, até chegar na armadura para a ancora-
tro obras já executadas, com o objetivo de A profundidade do lençol freático era gem no bloco. Foram utilizados marteletes
conseguir visualizar as diferenças e pecu- de 2,5 m abaixo da cota superior do bloco, rompedores pneumáticos, cerca de doze,
liaridades de cada execução. o que levou a um rebaixamento de 3,5 m a utilização do anel rompedor foi avaliada,
O objetivo desta pesquisa foi realizar de água (1,0 m a abaixo da cota inferior do porém, devido ao diâmetro das estacas,
um levantamento das principais práticas bloco). O método utilizado para o rebaixa- não foi possível a sua utilização. Para au-
de execução de blocos de fundação de mento foi o de ponteiras filtrantes. A con- xiliar na produtividade, o método utilizado
grandes dimensões, abordando as etapas tenção da escavação do bloco foi realizada foi a argamassa expansiva. Em dois meses
que envolvem esta execução. A pesquisa com parede diafragma. A parede diafrag- foram finalizadas essas etapas, de escava-
se delimita a edifícios construídos na cida- ma também serviu como fôrma perdida na ção e arrasamento das estacas, com cerca
de de Balneário Camboriú/SC. concretagem do bloco. de 50 pessoas envolvidas.
A fundação profunda do bloco empre- Finalizado a escavação e as estacas
2. APRESENTAÇÃO DOS EDIFÍCIOS gou 125 estacas do tipo escavadas com estando com as esperas na cota prevista,
Na Figura 1, são apresentados os edi- polímero, com diâmetro de 150 cm. Deste foi realizada a regularização do solo no
fícios estudados no presente trabalho, em total, 59 estacas foram apenas escavadas e fundo do bloco e lançado um lastro de
um total de 4 empreendimentos. Edifício obtiveram uma média de 23,5 m de profun- “concreto magro”, para que as armadu-
Infinity Coast Residence (a) foi o primei- didade, chegando ao topo da rocha; a arma- ras não entrassem em contato com o solo
ro edifício do Brasil a ultrapassar a altura dura foi colocada por toda a sua extensão. (Figura 2).
de 200 metros de altura. Sua altura total As 66 demais estacas tiveram comprimen- Na armação do bloco foram utilizadas
é de 234,8 m. O Edifício foi concluído no 625 toneladas de aço, uma grua e cerca de
tos inferiores e, por isso, receberam 3 esta-
ano de 2019 e executado pela Constru- cas raiz cada como reforço. Em cada estaca, 35 trabalhadores foram empregados para
tora FG Empreendimentos. O Edifício foram colocados 3 tubos de aço com 50 cm concluir a etapa em dois meses. Essa ar-
Yachthouse by Pininfarina (b) é compos- de diâmetro junto com a armadura da estaca mação tinha como característica uma den-
to por duas torres idênticas com altura de e, a partir desses 3 tubos, eram executadas sidade de armadura concentrada nas faces
280,3 m, tendo a Construtora Pasqualotto estacas raiz, perfu-
& GT Empreendimentos como responsável rando uma média de
pela sua execução. Este Edifício foi concluí- 12,8 m além do topo
do no ano de 2022 e tornou-se o edifício da rocha.
mais alto do Brasil de acordo como o portal Entre os pro-
skyscrapercenter (VILLANOVA, 2022). blemas encon-
O Edifício Olympo Tower (c) apresenta trados na etapa
uma altura total de 157 m e o Edifício Epic de execução das
Tower (d) apresenta altura total de 191,2 m, estacas, pode-se
sendo ambos construídos pela Construto- destacar a baixa
ra FG Empreendimentos e entregues em produtividade que
2020. a estaca raiz tem
em sua execução -
3. DESCRIÇÃO DAS SOLUÇÕES cerca de duas por
ADOTADAS NAS FUNDAÇÕES E dia de trabalho.
NOS ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO Após algum tempo
A seguir, são apresentadas (para cada com alguns ajustes
empreendimento) as soluções adotadas de produção, foi FIGURA 2
para as fundações, acompanhadas de possível chegar à Esperas das estacas para ancoragem no bloco
discussão, em especial voltada à execução execução de 3 es-

44 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


FIGURA 3 FIGURA 4
Poço do elevador reforçado e preenchido com água Uso de nitrogênio líquido para manter o gelo em estado
para resistir ao empuxo sólido por mais tempo
Fonte: Salum et al., 2014 Fonte: Salum et al., 2014

do bloco, produzindo uma concepção de de aplicação, optou-se pelo concreto au- ao gelo), mas o custo de sua aplicação
armação tipo “gaiola”. Devido à elevada al- toadensável. Também em função do volume é maior.
tura do bloco, um desafio foi a sustentação elevado, foi necessário o emprego de gelo O lançamento do concreto foi realiza-
da camada superior. e fibras para minimizar o calor de hidrata- do ao longo de 5 dias das 07:00 às 19:00
Na Figura 3, é mostrado o poço dos ção e o surgimento de fissuras. O bloco foi horas, em virtude da legislação da cidade
elevadores, para auxiliar no travamento das concretado no mês de fevereiro de 2014, de Balneário Camboriú. Para evitar a ocor-
fôrmas, além do atirantamento. A parte in- com temperaturas do ambiente próximas rência de juntas de concretagem, empre-
terna do poço também foi sendo preenchi- a 40°C. Além do gelo em escamas previsto gou-se aditivo estabilizador de hidratação
da com água para diminuir a possibilidade inicialmente, também foi empregado nitro- em porcentagens decrescentes para cada
de movimentação das fôrmas. gênio líquido (Figura 4) para ajudar no res- dia de concretagem para que o endureci-
A resistência característica do concreto friamento, de modo complementar (SALUM mento do concreto acontecesse apenas ao
utilizado foi de 30 MPa e 45 MPa. O volume et al., 2014). Sabe-se que é possível obter-se final do lançamento de todo o concreto.
total de concreto utilizado foi de 5.507 m³, temperaturas do concreto ainda mais bai- Para a concretagem, foram utilizados
sendo que, em função da maior facilidade xas com o uso do nitrogênio (em relação 10 pontos de descarga, sendo 9 calhas

FIGURA 5 FIGURA 6
Caminhões betoneira descarregando concreto Concretagem do bloco concluída

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 45
FIGURA 7 FIGURA 8
Execução das estacas de hélice contínua para contenção Utilização de perfis metálicos para suporte da camada
da escavação superior do bloco

metálicas distribuídas na borda do blo- de espessura e um volume de 4.440 m³ bloco de fundação (Figura 7) com estacas
co e uma bomba tipo lança para lançar o de concreto. A caracterização do solo foi de hélice contínua de 20 metros de profun-
concreto no centro do bloco (Figura 5). O realizada a partir sondagem a percussão didade assentadas sobre superfície rochosa.
canteiro foi preparado para o grande fluxo (SPT) e rotativa. O lençol freático foi iden- A execução das estacas durou 4 meses de
de caminhões, sendo utilizada brita n°4 e tificado a 1,0 m de profundidade a partir obra, onde trabalharam 10 operários.
concreto para regularização dos pontos da superfície do bloco. Para realização da O arrasamento das estacas foi reali-
manobra e descarga dos caminhões. Na Fi- obra, o lençol foi rebaixado com método zado com retroescavadeira com anel ar-
gura 6, apresenta-se o bloco de fundação de ponteiras filtrantes até a cota de 4,5 me- rasador, retroescavadeira com martelo
após a conclusão da concretagem. tros abaixo do topo de bloco. rompedor e, para o acabamento, cerca de
Para escavação do bloco de fundação, 12 rompedores pneumáticos manuais. Para
3.2 Edifício Yachthouse realizou-se a estabilização do terreno com esta etapa, que teve duração de 6 meses,
by Pininfarina — Tower 1 estacas de hélice contínua. Na fundação pro- foram utilizados cerca de 70 operários. Em
funda da torre foram utilizadas 308 estacas função da falta de regularidade das esta-
O bloco de fundação do Edifício de 100 cm de diâmetro. A escavação das cas de justapostas, houve a necessidade
Yachthouse by Pininfarina (Tower 1) tem 3,5 m estacas aconteceu a partir da escavação do de regularização das paredes internas do

FIGURA 9 FIGURA 10
Concretagem do bloco sendo finalizada Concretagem do bloco, utilizando 2 bombas lança

46 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


bloco com formas de madeira, etapa que elevador, uma altura da ordem de 3,5 m, to- estacas, foram necessários duas retroes-
durou um mês e demandou 10 operários. talizando um volume nominal de 1.090 m³. cavadeiras e uma miniescavadeira para
A regularização do solo na base do A investigação do solo, etapa para fazer toda a escavação, com cerca de 10
bloco foi realizada com lastro de “con- reconhecimento inicial, deu-se através operários realizando os trabalhos em um
creto magro”. Foram utilizadas 530 to- de ensaios SPT e sondagem rotativa. mês. Para o arrasamento das estacas os
neladas de aço na armadura do bloco de Os ensaios indicaram, entre outras in- equipamentos utilizados foram uma re-
fundação, incluindo barras de aço com formações, o nível do lençol freático de troescavadeira com anel arrasador e uma
diâmetro de 40 mm. A armadura do blo- 2,6 m abaixo da cota superior do bloco miniescavadeira com rompedor acopla-
co de função em formato de “gaiola” foi a ser executado; portanto foi realizado do. Para acabamento do arrasamento das
realizada com auxílio de perfis metálicos um rebaixamento de 1,5 m a partir da estacas, foram empregados rompedores
e grua, além de 30 operários, tendo-se cota superior do nível de água, rebaixa- pneumáticos manuais. Cerca de 20 ope-
uma duração de 2 meses (Figura 8). mento realizado através do método de rários estavam envolvidos nesta etapa
O concreto utilizado na concretagem ponteiras filtrantes. com duração de dois meses.
do bloco de fundação foi um concreto Para a contenção do solo das laterais As fôrmas laterais do bloco não fo-
usual na região, com fck de 40 e 50 MPa. do bloco, foi utilizado o método executi- ram executadas em virtude dos vãos das
O concreto foi dosado com superplasti- vo de estacas justapostas feitas em hé- estacas de contenção já terem sido con-
ficante e aditivos estabilizador de hidra- lice contínua, sendo que a facilidade na cretados, sendo assim já regularizadas as
tação para evitar a formação de junta de execução foi o que determinou a escolha paredes do bloco, servindo como forma.
concretagem. Para controle da tempe- desta solução de contenção. Durante a Em seguida, foi realizada a etapa de ar-
ratura, foi utilizado gelo na dosagem do etapa de escavação, no entanto, consta- mação do bloco (Figura 11), em que cerca
concreto. O concreto foi vibrado (Figura tou-se que, entre as estacas justapostas, de 130 toneladas de aço formaram a ar-
9), sendo utilizado 5 vibradores de imer- não houve uma vedação total e muita madura do bloco.
são em toda a concretagem. O volume água percolava entre as estacas, obrigan- A concretagem foi realizada com a
total de concreto lançado foi de 4.176 m³. do que, a cada metro escavado dentro do combinação de concreto autoadensável
A concretagem foi realizada ao longo de bloco, fosse feita uma concretagem en- com concreto comum. Na região mais
5 dias em novembro de 2014. Foram utili- tre as estacas para impedir a passagem profunda do bloco no primeiro metro de
zados dois pontos de descarga, contando da água. espessura, foi utilizado o concreto au-
com duas bombas tipo lança (Figura 10). Para a fundação profunda do bloco toadensável, em função da densidade de
foram executadas 103 estacas de 80 cm armadura desta região ser muito alta. No
3.3 Edifício Olympo Tower de diâmetro, realizadas com perfuratriz restante da altura do bloco empregou-
hélice contínua, atingindo a rocha com -se concreto com um abatimento alto
Este edifício conta também com um sis- uma média de 12 m de cota de ponta. A (maior que 15 cm), sendo então aden-
tema de fundação misto, ou seja, bloco de etapa foi concluída em quatro meses en- sado com vibrador de imersão. O lança-
fundação (transição) sobre estacas. O bloco volvendo 10 operários. mento do concreto levou 5 dias, nos dois
em questão tem 2,5 m de altura nas regiões Seguindo para a escavação do terre- primeiros dias foi empregada uma bom-
periféricas e na região central, do poço do no onde estavam localizados o bloco e as ba com lança. A partir do terceiro dia de

FIGURA 11 FIGURA 12
Armadura montada do bloco Concretagem do bloco sendo finalizada

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 47
FIGURA 13 FIGURA 14
Logística para escavação Anel arrasador de estacas

concretagem, foram empregados dois


pontos de descarga.

3.4 Edifício Epic Tower

A solução de fundação do Edifício


Epic Tower também foi um bloco com es-
pessura de 3,5 m e um volume de 4.455
m³. Após os estudos preliminares de aná-
lise do terreno por meio de ensaios SPT,
foi constatada a necessidade do rebaixa-
mento do lençol freático em 1,0 m abaixo
da cota inferior do bloco para que não
houvesse problemas com água durante
os trabalhos, o que foi realizado pelo mé-
todo de ponteiras filtrantes.
Para a estabilização do terreno das
laterais do bloco, foram feitas pare-
des diafragma, visto que o bloco ocu-
pa metade do terreno e faz divisa com
outros terrenos, e que as edificações
vizinhas são muito próximas do bloco,
portanto esta escolha foi a mais ade-
quada para suportar as cargas atuantes
na contenção.
Na fundação profunda do edifício
foram utilizadas 277 estacas de hélice A B C

contínua, sendo 54 estacas de 100 cm de


diâmetro e as restantes com 80 cm de FIGURA 15
diâmetro. A etapa foi concluída em cerca Evolução da armação do bloco (a) regularização da base do bloco com
de quatro meses com o envolvimento de concreto magro; (b) armadura da base do bloco; (c) armadura do topo do bloco
aproximadamente 10 pessoas. A etapa de

48 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


as elevadas dimensões do bloco, optou-
-se por esta alternativa visando à redução
do cronograma de concretagem. Foram
utilizados aditivos retardadores de pega,
cada dia uma quantidade para possibilitar
a que a concretagem fosse realizada em
diferentes dias, sem a formação de junta
fria. Como ação preventiva aos potenciais
danos do calor de hidratação, empregou-
-se gelo para resfriamento do concreto no
lançamento. A concretagem foi realizada
ao longo de 5 dias de operação, de forma
contínua (sem a adoção de camadas par-
ciais) (Figura 16).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os blocos de fundação de edifícios al-
tos apresentam diversos desafios. Tendo
em vista as principais práticas de execução
empregadas, nos 4 estudos de caso relata-
dos, destacam-se:
FIGURA 16 u Uso de aditivos estabilizadores de hi-
Concretagem sendo finalizada com 2 bombas lança de em um lado, e uma bomba dratação do concreto visando a não
estacionária do outro ocorrência de juntas de concretagem;
u Uso de ponteiras filtrantes para rebai-
xamento do lençol freático durante a
arrasamento das estacas foi desafiadora, Foram utilizadas fôrmas convencionais escavação e atividades de armação e
devido às características do canteiro de nas extremidades do bloco e do poço do concretagem dos blocos;
obras (Figura 13). Ao serem finalizadas elevador, para combater a ação do empuxo u Emprego de parede diafragma na con-
as etapas de escavação e arrasamen- do concreto. Complementarmente, foram tenção de escavação, servindo tam-
to das cabeças das estacas (Figura 14), usadas escoras metálicas segurando as pa- bém de forma para a concretagem do
foi efetuada a regularização do solo no redes da forma, bem como a fôrma do fos- bloco de fundação;
fundo do bloco e, em seguida, lançado so do elevador foi preenchida com água. u Emprego de concreto com resistências
o lastro de concreto magro (Figura 15- Finalizada a armação do bloco, iniciou de 40 e 50 MPa, autoadensável para
a); após sua cura, foi iniciada a armação, a concretagem, totalizando um volume de concretagem dos elevados volumes,
totalizando 538 toneladas de aço (Figura 4.300 m³ de concreto. O fck do concreto bem como em função das elevadas
15–b). O suporte da camada superior do definido em projeto foi de 40 MPa e 50 densidades de armaduras localizadas
bloco foi feito com barras de aço dobra- MPa. Empregou-se aditivo superplastifi- nas faces dos blocos;
das de modo a escorar todo o peso das cante, produzindo um concreto autoaden- u Uso de gelo em escama no concreto
camadas de aço (Figura 15-c). Esta etapa sável, de forma a eliminar a necessidade auxiliando no controle da temperatura
durou dois meses e teve cerca de 70 pes- do uso de vibradores, tendo em vista a do calor de hidratação em virtude dos
soas envolvidas. alta densidade das armaduras inferiores e altos volumes de concreto.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] SALUM, P. L. et al. Estudos prévios para execução de bloco de coroamento de grande volume. In: CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO,
56, 2014. Natal. Anais. Florianópolis, 2014.
[2] SANTOS, M. E. C. Elaboração de roteiro para execução de blocos de fundação de grandes dimensões. Trabalho de Conclusão de Curso.
Engenharia Civil. FURB. Blumenau/SC. 2016.
[3] VILLANOVA, L. H. B. Council on Tall Buildings and Urban Habitat. Yachthouse por Pininfarina Tower 2. Balneário Camboriú. Disponível em
<https://www.skyscrapercenter.com/building/yachthouse-by-pininfarina-tower-2/16126> Acesso em 15/11/2022.
[4] VELLOSO, D.; LOPES, F. R. Concepção de Obras de Fundações. In Fundações, Teoria e Prática. Ed. HACHICH, Waldemar, et al. São Paulo:
ABMS/ABEF. Editora Oficina de textos. 2019.
[5] FURNAS, Equipe de; Laboratório de Concreto. Concretos massa, estrutural, projetado e compactado com rolo: ensaios e propriedades. Pacelli
de Andrade, W., ed. São Paulo, Pini, 1997.

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 49
Obras Emblemáticas DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.109.0005

UHE Itaipu: 40 anos — um resgate


da história
ÉTORE FUNCHAL DE FARIA – Eng. – ORCID https://orcid.org/0000-0002-0864-5423 (etore@itaipu.gov.br);
FÁBIO LUIZ WILLRICH – Eng. – ORCID https://orcid.org/0000-0003-0215-6044
MAURICIO KAZUTO ICHIKAWA – Téc. de Obras | Divisão de Obras Civis, Superintendência de Obras, ITAIPU Binacional

RESUMO Mista Técnica Brasileira-Paraguaia (1967) e gem Principal e a Casa de Força. As obras

I
taipu foi construída dentro de um contexto conduzida a contratação do Consórcio de civis foram concluídas em outubro de 1982,
diplomático e se tornou uma referência para Consultores Internacionais para investigação quando foram fechadas as comportas do
engenharia de forma geral. A obra atualmen- do local da Obra (1970), que apresentaram o canal de desvio para permitir o enchimen-
te ainda causa impactos pelas dimensões das suas
relatório sobre alternativas de locais para a to do reservatório, que ocorreu em apenas
estruturas aos visitantes. Em função dos grandes obra e seus arranjos (1972). Em 26 de abril de 14 dias (eram previstos 90 dias). Em 5 de
1973, foi assinado o Tratado de Itaipu e a enti- novembro de 1982, as 14 comportas do
volumes de materiais necessários para a sua cons-
dade binacional foi constituída formalmente vertedouro liberaram o excedente da água
trução, uma ampla investigação foi feita sendo
em 17 de maio de 1974, com base legal no Di- represada e, assim, inauguram oficialmente
necessário o aproveitamento máximo dos materiais
reito Internacional, na forma de condomínio, a maior hidrelétrica do mundo, após mais
da escavação realizada no leito do Rio. Neste
onde Brasil e Paraguai participam em partes de 50 mil horas de trabalho.
trabalho, os autores apresentaram um resgate
iguais no capital do consórcio formado, na Neste artigo, além desse breve históri-
da história política e do projeto e execução das
época, por ELETROBRÁS e ANDE. (ITAIPU, co, tem-se o objetivo de resgatar o histórico
partes construídas das estruturas de concreto.
2009). A ENBPar – Empresa Brasileira de da execução das obras de concreto de uma
É importante registrar que em um artigo não é Participações em Energia Nuclear e Bina- obra com volumes e quantidades de en-
possível abranger toda a história de Itaipu. cional S.A., criada em 2021 (BRASIL, 2021), saios fora do comum na engenharia. A fonte
assumiu a parte da ELETROBRÁS, que foi mais utilizada neste trabalho foi o chama-
Palavras-chave: Itaipu, barragem , concreto , desestatizada em junho de 2022. do Livro Técnico de ITAIPU (ITAIPU, 2009).
gravidade aliviada , contraforte . A construção da Itaipu foi iniciada em Outras fontes também foram consultadas
2 de maio de 1975. Em 20 de outubro de no acervo do arquivo técnico da Empresa,
1. INTRODUÇÃO 1978, 58 toneladas de dinamite explodem assim como em outras publicações.
A obra da Usina Hidrelétrica de Itaipu as duas ensecadeiras que protegiam a
é notadamente uma referência da enge- construção do desvio do rio Paraná, alte- 2. O PROJETO DE ITAIPU –
nharia. Mas foi preciso uma engenharia po- rando o curso do rio para permitir a conti- ESTRUTURAS DE CONCRETO
lítica, diplomática e jurídica para viabilizar nuidade da construção, incluindo a Barra- O arranjo geral do projeto de Itaipu com-
essa maravilha do preende diversos
mundo moderno. tipos de estruturas
Itaipu permitiu re- de concreto (Figura
solver uma disputa 1). A Barragem La-
de fronteiras entre teral Direita – BLD
Brasil e Paraguai, e as Barragens de
de forma pacífica Ligação (Trechos E
e inteligente, in- e I) são estruturas
tegrando os dois em contrafortes, a
países e gerando Barragem Principal
energia para os seus (Trecho F) é uma
desenvolvimentos. barragem de gra-
As negociações di- vidade aliviada e a
plomáticas foram Estrutura de Desvio
consolidadas pela é uma estrutura de
Ata do Iguaçu, em gravidade maci-
FIGURA 1
22 de junho de 1966. ça. O vertedouro
Arranjo geral da UHE Itaipu
Na sequência, foi Fonte: Acervo pessoal (adaptado de imagem do Google Earth)
não será objeto
criada a Comissão deste artigo.

50 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


apenas por métodos convencionais, mas
também por Método dos Elementos Fi-
nitos (MEF) e por ensaios em modelo es-
trutural. Além disso, foram feitos estudos
comparativos do projeto e do desempenho
com outras barragens existentes do mes-
mo tipo.
As geometrias das barragens de con-
traforte (Figura 5) visaram manter a con-
tinuidade visual da barragem de gravidade
aliviada. Num bloco típico da barragem de
contrafortes, foi especificado o concreto
de 210 kg/cm² aos 365 dias, com agrega-
do de 76 mm, para os primeiros 5 m acima
das fundações, com aumento nas camadas
de 50 cm até 2,5 m de altura. Acima disto,
foi usado concreto de 180 kg/cm² aos 365
dias, com agregado de 76 mm nas cabeças
e de 140 kg/cm² aos 365 dias, com agre-
gado de 152 mm, para as almas e a altura
padrão da camada foi de 2,5 m.

3. A OBRA DE ITAIPU – CONCRETO


MASSA E CONCRETO ARMADO
A Tabela 1 apresenta as quantidades
principais registradas para as produções de
concreto e para a execução da obra. Além
do volume total de concreto, houve recor-
FIGURA 2 des de produção de 14.940,5 m³ (diária, em
Geometria da Estrutura de Desvio, em gravidade maciça 23/11/1979), de 338.415,0 m³ (mensal, em
Fonte: Arquivo técnico de Itaipu
11/1979) e de 3.055.725,5 m³ (em 1980).
Os cimentos usados para o concreto
A estrutura de concreto da barragem aliviada: no primeiro, uma grande abertura eram equivalentes ao tipo II da ASTM. Eles
no canal de desvio tem a geometria da Fi- ou cavidade longitudinal é formada dentro eram adquiridos de quatro fabricantes
gura 2. É uma barragem de gravidade ma- de uma barragem
ciça, com altura máxima de 162 m. O con- de gravidade ma-
creto massa principal especificado deveria ciça convencional;
ter uma resistência mínima à compressão o segundo consiste
de 140 kg/cm² aos 365 dias, com agregado em diversas varia-
graúdo de 152 mm (classe A-140-f, confor- ções na barragem
me indicado na Figura 6). Análises de ten- de contrafortes. O
são e estabilidade foram efetuadas pelos formato celular da
métodos convencionais. Foram realizadas barragem de gra-
análises pelo método dos elementos finitos vidade aliviada de
para a porção que continha as adufas. Um contraforte duplo
modelo estrutural da estrutura de desvio com uma estrutura
(Figura 3) foi testado no IPT (Instituto de superior monolítica
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São foi o mais conve-
Paulo). O modelo, chamado modelo 2, fa- niente e econômico
zia parte de uma série de testes que inclu- para o alinhamen-
íam modelos similares para os blocos da to transversal da
barragem de gravidade aliviada. tomada d’água e
A estrutura da Barragem Principal, dos blocos da casa FIGURA 3
em gravidade aliviada, tem a geometria de força. Modelo da Estrutura de Desvio
da Figura 4. Segundo ITAIPU (2009), há Foram reque- Fonte: Itaipu (2009)

dois subtipos de barragens de gravidade ridos estudos não

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 51
dos por 9 fábricas localizadas nos esta-
dos do Paraná, São Paulo, Minas Gerais,
Goiás e de Puerto Vallemi, no Paraguai.
O transporte era feito em carretas-silos
(chamadas de cebolão), com capacida-
de igual a 30 t. O consumo de pico foi
de 70 carretas/dia. O consumo de cin-
za volante, quase 300.000 toneladas,
foi fornecida em carretas-contêiner de
30t, pela Usina Termelétrica Candiota –
Candiota/SC, e pela Usina Termelétrica
Jorge Lacerda – Tubarão/SC.
O alto consumo de areia exigido
para a execução dos filtros das barra-
gens de terra e para a produção de con-
creto levou a investigações numa exten-
são de 165 km no leito do rio Paraná, a
jusante, a partir do local de implantação
de Itaipu. Grandes depósitos de casca-
lho natural não foram encontrados nas
proximidades de Itaipu. Agregados bri-
tados a partir de basalto são e denso
foram estudados para o uso no concre-
to. As areias artificiais eram fisicamen-
te satisfatórias, mas eram muito finas
FIGURA 4 e uniformes e, por isso, foi necessário
Geometria da Barragem Principal, em gravidade aliviada melhorar a granulometria do agregado
Fonte: Arquivo técnico de Itaipu miúdo, adicionando-se areia natural. A
proporção foi de 70% de areia artificial
e 30% de areia natural fina de origem
diferentes: Itambé, Santa Rita e Votoran to e da cinza volante especificadas estão aluvial proveniente dos depósitos ao
no Brasil e Vallemi no Paraguai. A cinza apresentadas nas Tabelas 2 e 3. longo do rio Paraná, em peso. A Com-
volante era adquirida das usinas termelé- As características físicas principais panhia de Cimento Votoran Rio Branco
tricas de Candiota e Tubarão no Brasil. As dos cimentos e das cinzas volantes uti- (Rio Branco do Sul/PR) foi a que mais
propriedades mais importantes do cimen- lizados são apresentadas na Tabela 4. forneceu cimento para Itaipu (em torno
Foram consumi- de 50%).
dos aproximada- O agregado graúdo também foi
mente 2,5 milhões obtido pela britagem do basalto são e
de toneladas de os tamanhos máximos dos agregados
cimento forneci- (TMA) utilizados foram: 19 mm, 38 mm,

FIGURA 5 FIGURA 6
Geometria das barragens de contraforte Especificações dos tipos de concreto
Fonte: Arquivo técnico de Itaipu Fonte: Itaipu (2009)

52 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


de 2,5 m e a temperatura de lançamento as camadas foram reduzidas para 1,25 m.
TABELA 1 do concreto prescrita foi de 7 °C. Para A água consumida nos concretos “ge-
Quantidades principais chegar nesta temperatura, a pré-refri- lados” foi em média 170 kg/m³, sendo
geração teve vantagens decisivas do 80% em gelo e 20% in natura.
Quantidade ponto de vista técnico-econômico e de Na Casa de Força, nas barragens de
Material
final
programação sobre o método de pós- contraforte, e em outras partes da es-
Concreto 12.750.000 m³
-refrigeração com tubulações embuti- trutura, foram utilizadas, ainda, aproxi-
Aço 481.074 t
das. (ITAIPU, 2009). Perto da fundação, madamente 480.000 t de aço.
Escavação comum 23.600.000 m³
Escavação em rocha 32.000.000 m³
Enrocamento 15.000.000 m³
Argila, agregados, etc. 16.700.000 m³
TABELA 2
Principais propriedades especificadas do cimento

76 mm e 152 mm. Os consumos desses Propriedade


materiais estão indicados na Tabela 5. Superfície específica, Blaine mínima 3200 cm²/g
Os testes especificados para o con- Material retido na peneira nº 200, máximo 15%
trole da qualidade física do agregado Tempo de pega inicial, mínimo 60 min
britado eram: densidade, absorção, Tempo de pega final, máximo 10 horas
abrasão Los Angeles, envelhecimento Expansão em autoclave, máximo 0,8 %
natural e artificial (ciclos de satura- Calor de hidratação aos 7 dias, máximo 314 kJ/kg
ção e secagem), ciclos de etileno de Calor de hidratação aos 28 dias, máximo 356 kJ/kg
glicol, sanidade ao ataque do sulfato Resistência à compressão aos 3 dias, mínimo 0,8 kN/cm²
de sódio e reatividade álcali-agrega- Resistência à compressão aos 7 dias, mínimo 1,5 kN/cm²
do. Foi dada uma atenção especial à Resistência à compressão aos 28 dias, mínimo 2,5 kN/cm²
reatividade potencial álcali-agregado. MgO máximo 6,5 %
Ela foi verificada não apenas por tes- SO3 máximo 3%
tes químicos, mas também pelo teste Equivalente alcalino (Na2O) máximo 0,6 %
de expansão das barras de argamassa C3S máximo 35%
(ASTM C-227). C3A máximo 8%
Os aditivos utilizados e seus consu- Fonte: Itaipu, 2009
mos estão na Tabela 6. Otto Baumgart,
Sika Aer S.A. e MBT Brasil foram as em-
presas fornecedoras dos aditivos. TABELA 3
Os concretos receberam nomencla- Principais propriedades especificadas da cinza volante
turas conforme mostra a Figura 6. As
resistências à compressão utilizadas fo-
Propriedade
ram 100, 140, 180, 210, 240 e 280 kg/
Superfície específica, Blaine mínima 3500 cm²/g
cm². A Tabela 7 apresenta os concretos
Material retido na peneira nº 325, máximo 34%
utilizados nas obras de Itaipu.
Expansão ou retração em autoclave, máximo 0,8 %
Um programa abrangente de en-
Calor de hidratação aos 7 dias, máximo 314 kJ/kg
saios de laboratório para a determina-
Calor de hidratação aos 28 dias, máximo 356 kJ/kg
ção das diversas propriedades do con-
Resistência à compressão aos 3 dias, mínimo 0,8 kN/cm²
creto foi iniciado antes do começo do
Resistência à compressão aos 7 dias, mínimo 1,5 kN/cm²
lançamento do concreto e continuou
Resistência à compressão aos 28 dias, mínimo 2,5 kN/cm²
em paralelo com a construção: resis-
MgO máximo 6,5 %
tência à compressão, modulo de elas-
SO3 máximo 3%
ticidade, calor de hidratação, calor es-
Equivalente alcalino (Na2O) máximo 0,6 %
pecífico, difusividade térmica, expansão
C3S máximo 35%
térmica, resistência à tração, deforma-
C3A máximo 8%
ção última de tração, fluência e relaxa-
mento e variação autógena de volume. Índice de atividade pozolânica
(ITAIPU, 2009) Água requerida, máximo 105%
Grandes volumes de concreto lança- Com cimento aos 28 dias, mínimo 75%
dos exigem o controle de temperatura Com cal aos 7 dias, mínimo 560 N/cm²
durante a pega para evitar fissuração. Fonte: Itaipu, 2009

Em Itaipu, as camadas de concreto são

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 53
TABELA 4
Principais propriedades dos cimentos e das cinzas volantes utilizados

Material
Propriedades Cimento Cinza volante
Votoran Itambé Vallemi Santa Rita Candiota Tubarão
Finura Blaine (cm²/g) 3368 3259 3417 3586 3190 2830
Peneira 200 (%) 6,2 2,4 13,8 13,2 — —
Peneira 325 (%) 13,3 6,4 18,6 19,4 27,1 41,2
Expansão em autoclave (%) 0,09 0,02 0,03 0,08 — —
Equivalente alcalino (Na2O) 0,5 0,47 0,54 0,69 — —
Cal livre (%) 1,04 0,81 1,39 0,7 — —
C3S (%) 46,7 57,5 52,1 49,5 — —
C3A (%) 6,7 6,6 6,2 8,7 — —
Redução da expansão (%) — — — — 64,3 68,9
Reação à cal (kg/cm²) — — — — 36 31
Fonte: Itaipu, 2009

3.1 Formas deslizantes

Em Itaipu, as formas deslizantes foram


usadas para concreto massa com agregados
graúdos a uma temperatura de lançamento
de 7 °C, como também em condições rela-
tivamente desfavoráveis de temperatura e
umidade relativa. Por exemplo, nos pilares
maciços das adufas da estrutura de desvio,
para minimizar os problemas de estabilida-
de, foi usado concreto com agregado de 76
mm e abatimento de 2 cm e aditivo redutor
do teor de água. Esse concreto, lançado a
7 °C, possuía uma boa trabalhabilidade e
consistência e muito pouca exsudação. O
concreto era lançado nas formas deslizan-
tes em camadas quase horizontais de 30
cm e adensado por vibradores de imersão.
Tomava-se o máximo cuidado para garan-
tir que os vibradores não tocassem as fôr-
mas para não “danificar” o concreto fresco.
FIGURA 7 A velocidade das formas variava de acordo
Visão geral dos módulos e deslizantes, onde se observa também com a dimensão e a complexidade da es-
a armadura do bloco trutura. As velocidades efetivas máximas e
Fonte: Fukurozaki et al. (1981) mínimas realizadas em Itaipu foram 6,97 e

TABELA 6
Consumos de aditivos para
TABELA 5 concreto, em %
Consumos de areia e brita nos concretos

Tipo de aditivo Consumo


Substrato Revestimento com argamassa cimentícia Incorporador de ar 0,05 a 0,15
Tipo de agregado Consumo Plastificante 0,20 a 0,30
Areia natural ≅ 3.250.000 t (≅ 2.200.000 m³) Plastificante redutor
0,20 a 0,30
Areia artificial ≅ 5.810.000 t (≅ 3.600.000 m³) de água
Brita 1 (19 mm) ≅ 7.760.000 t (≅ 4.880.000 m³) Super plastificante 0,20 a 3,00
Brita 2 (38 mm) ≅ 4.600.000 t (≅ 3.100.000 m³) Fluidificante 0,20 a 3,00
Brita 3 (76 mm) ≅ 3.580.000 t (≅ 2.470.000 m³) Super fluidificante 0,20 a 3,00
Brita 4 (152 mm) ≅ 2.820.000 t (≅ 2.015.000 m³) Retardador de pega 0,20 a 0,40

54 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


TABELA 7
Tipos de concreto e aplicação

Máxima relação água:


2,53 m/dia. Tomou-se um cuidado especial Tamanho cimento e concreto
Tipo de máximo do cinza volante
no controle das ondulações e rugosidades Utilização típica
concreto agregado
das lajes acabadas nas superfícies hidráuli- (mm) Concreto Concreto
com ar sem ar
cas expostas a elevadas velocidades da água
Concreto não estrutural
como, por exemplo, nas calhas do vertedou- A-100-f
de enchimento
152 0,75 0,85
ro que podem estar sujeitas a velocidades A-140-f Concreto massa para barragens 152 0,65 0,80
máximas de escoamento de 37 m/s. O uso A-180-f Concreto massa para barragens 152 0,55 0,75
de gabarito de nivelamento de aço, de 6 t A-210-f Concreto massa para barragens 152 0,43 0,70
de peso, que se deslocava sobre guias me- A-240-f Concreto massa para barragens 152 0,42 0,68
tálicas, resultou numa superfície hidráulica A-280-f Concreto massa para barragens 152 0,40 0,65
praticamente isenta de irregularidades. Concreto massa nas camadas
Segundo FUKUROZAKI et al. (1981), B-140-f 76 0,64 0,70
próximas da fundação
a experiência obtida durante a constru- Concreto massa, barragens
B-180-f 76 0,55 0,68
ção dos pilares da estrutura de desvio foi e muros maciços
aproveitada para a construção das pare- Concreto massa e estrutural
B-210-f 76 0,50 0,65
para muros maciços
des e contrafortes das estruturas da casa
B-240-f Idem como acima 76 0,45 0,70
de força, cuja geometria é bastante com-
Concreto massa, próximo da
plexa e de grandes dimensões. Os autores
B-280-f face de montante da barragem, 76 0,40 0,65
concluíram ainda que a aplicabilidade do pilares da estrutura de desvio
processo em estruturas com grandes di- Concreto estrutural,
C-140-c 38 0,55 0,65
mensões, de geometria vazada e contor- estruturas esbeltas
no recortado, sem comprometimento dos C-180-c Idem 38 0,47 0,60
requisitos técnicos de qualidade e prazos Concreto estrutural ou exposto
C-210-c 38 0,48 0,55
a altas velocidades de água
executivos, foi evidenciado. A Figura 7
C-280-c Idem 38 0,40 0,58
mostra uma particularidade da aplicação
de formas deslizantes independentes de- C-350-c Idem 38 0,35 0,50
vido à impossibilidade de utilização das D-100-f Concreto poroso 19 0,85
cangas para o travamento das formas D-210-c
Concreto para estruturas
19 0,45 0,55
moldantes paralelas. finas e blockouts
Concreto para vigas e lajes
D-280-c 19 0,40 0,52
pré-moldadas
4. CONCLUSÕES
Concreto para vigas e lajes pré-
Neste trabalho foi possível apresentar D-350-c 19 0,35 0,50
-moldadas e protendidas
uma parte de todo o histórico de uma en- E-210-c Concreto projetado (Gunite) 13 0,50 0,65
genharia brilhante desenvolvida em par-
ceria por 2 países, Brasil e Paraguai. As
informações trazidas são limitadas, pois limitaram a abordar os aspectos principais AGRADECIMENTOS
Itaipu abrangeu uma quantidade extrema- das estruturas construídas em concreto Os autores agradecem à ITAIPU Binacio-
mente grande de documentos de proje- massa e em concreto armado, mostran- nal pela disponibilidade de informações e pelo
to e de ações executivas que podem ser do etapas construtivas e como foi feito o incentivo à publicação de estudos e artigos
consideradas como um curso completo controle de qualidade dos materiais e des- desenvolvidos com as experiências vividas
de engenharia na prática. Os autores se sas estruturas. com a construção da sua hidrelétrica.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ANDRIOLO, F.R., BETIOLI, I. Obras de Concreto de Itaipu – Desenvolvimento, controle, qualidade, durabilidade... 40 anos depois. Disponível
em: https://www.itaipu.gov.br/sites/default/files/publicacoes/livro_obras_de_concreto_itaipu/web/index.html. Acesso em: 19 jan. 2023. ISBN:
978-85-60064-61-8.
[2] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS - ASTM C-227. Standard Test Method for Potential Alkali Reactivity of Cement-Aggregate
Combinations (Mortar-Bar Method), ASTM International, West Conshohocken, PA, 2003, DOI: 10.1520/C0227-03.
[3] BRASIL. Decreto nº 10.791, de 10 de setembro de 2021. Cria a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A. Brasília,
DF: Presidência da República. Disponível em https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.791-de-10-de-setembro-de-2021-344145312.
Acesso em: 19 jan. 2023.
[4] FUKUROZAKI, Y., SILVA, R.R., BETIOLI, I., SONODA, A. Utilização de formas deslizantes na execução da Casa-de-Força da Hidroelétrica de
Itaipu. In: XIV SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS, 1981, Recife. Anais do evento. Re: CBDB, 1981, 1230 p.
[5] ITAIPU Binacional. Itaipu: usina hidrelétrica – projeto: aspectos de engenharia. Foz do Iguaçu: Itaipu Binacional, 2009, 790 p.

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 55
Pesquisa e Desenvolvimento
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.109.0006

Reações expansivas em barragens


de concreto causadas por
agregados reativos
GUSTAVO MACIOSKI – Mestre – ORCID https://orcid.org/0000-0001-8489-4328 (gmacioski@gmail.com);
ELOISE APARECIDA LANGARO – Mestre – ORCID https://orcid.org/0000-0002-0694-3531;
ANDRESSA GOBBI – Prof. – ORCID https://orcid.org/0000-0002-6696-3331;
ANA PAULA BRANDÃO CAPRARO – Prof. – ORCID https://orcid.org/0000-0001-6270-6568;
MARCELO HENRIQUE FARIAS DE MEDEIROS – Prof. – ORCID https://orcid.org/0000-0003-3112-9715 | UFPR

RESUMO dade e composição mineralógica destes álcali-sílica. As fontes internas de sulfatos

S
ão diversos os mecanismos de degrada- podem dar origem a reações expansivas podem ser o cimento, a água de amassa-
ção que podem agir em estruturas de deletérias durante a vida útil da estrutu- mento ou agregados contendo sulfetos
concreto, contudo, as reações expan- ra, podendo comprometer a segurança ou (pirrotita, pirita, calcopitita e marcassita),
sivas oriundas de agregados contendo mine- afetar as operações diárias das unidades que, ao oxidarem, originam íons sulfatos
rais susceptíveis à reação álcali-sílica (RAS) geradoras de energia. que reagem com os constituintes da pasta
em situações favoráveis a esse fenômeno, bem Nestas estruturas, as reações expan- cimentícia (Portlandita e C-S-H), gerando
como o ataque interno por sulfatos (RSI), sivas oriundas de agregados potencial- produtos com potencial expansivo como
são consideradas as mais preocupantes. Isto se mente reativos, como a álcali-sílica (RAS) gipsita e etringita.
deve às reações ainda não serem inteiramente e o ataque interno por sulfatos (RSI), são Neste sentido, a correta avaliação dos
compreendidas, ocorrerem de forma geralmen- consideradas as mais preocupantes, pois agregados é essencial para prevenir que
te lenta, e não haver métodos para sua miti- sua cinética de reação ainda não é inteira- reações expansivas ocorram nos elemen-
gação quando já instaladas em obras existen- mente compreendida, ocorrem geralmente tos de concreto, uma vez que, após a ocor-
tes. Este artigo apresenta um panorama geral de forma lenta e não homogênea nas es- rência, não existem soluções que possam
sobre alguns dos mecanismos das reações ex- truturas. Além disso, não existem méto- cessar por completo o dano causado. O
pansivas em concreto devido à ocorrência de dos efetivos para sua mitigação quando já estudo prévio dos agregados em laborató-
agregados potencialmente reativos, normas instaladas em obras existentes e possuem rio e a utilização de medidas preventivas,
brasileiras vigentes, técnicas complementares grande ocorrência em obras de infraestru- detalhadamente especificadas pela norma
para diagnóstico, lacunas existentes e estu- tura como barragens devido à presença ABNT NBR 15577-1, no caso da RAS, são
dos em andamento sobre o tema. Desta forma, constante de umidade. As tensões internas facilmente aplicáveis na prevenção dessas
são apresentadas informações relevantes para ocorridas nos elementos de concreto, devi- manifestações patológicas. Ao contrário,
o entendimento da severidade das reações e do às reações expansivas, contribuem para se tais ações forem negligenciadas, haverá
suas consequências, bem como possíveis méto- a redução do módulo de elasticidade, da necessidade de intervenção nas barragens
dos para mitigação de sua ocorrência e para o resistência à flexão e à compressão, além e seu monitoramento para detecção de
diagnóstico precoce em estruturas. de ativar/intensificar outros processos de deformações e deslocamentos no maci-
deterioração do concreto devido à propa- ço. O monitoramento do comportamento
Palavras-chave: expansão , álcali - sílica , gação de fissuras, facilitando assim a pene- estrutural pode detectar anomalias a tem-
álcali - agregado , sulfato , durabilidade . tração de agentes agressivos. po, permitindo a implementação de ações
Em termos simples, a reação álcali-síli- mais eficientes de manutenção e reparo.
1. INTRODUÇÃO ca (RAS) no concreto é uma reação quími- Além disso, o correto diagnóstico dessas
As barragens são edificações de gran- ca entre a sílica amorfa presente em certos estruturas impacta diretamente nos custos
de importância para a infraestrutura das agregados e íons presentes na solução de operacionais de manutenção das plantas.
cidades, pois permitem o abastecimento, poros do concreto (OH-, Na+ e K+), for- Neste contexto, este artigo apresen-
irrigação, produção de energia, controle de mando um gel que, na presença de água, ta um panorama geral sobre alguns dos
cheias, entre outros aspectos. Por razões torna-se expansivo. O ataque interno de mecanismos das reações expansivas em
técnicas e econômicas, agregados locais sulfatos, também conhecido como Reação concreto, como a RAS e a RSI, devido às
costumam ser utilizados na construção de Sulfática Interna (RSI), é um tipo de reação características dos agregados, discute as
barragens de concreto, contudo, a quali- expansiva menos frequente que a reação normas existentes sobre o tema, apresenta

56 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


deformado, vidro vulcânico e vidros re-
TABELA 1 ciclados. O mecanismo de formação do
Levantamento nacional sobre o potencial reativo dos agregados gel expansivo da RAS em um agregado é
exemplificado na Figura 1. Em investiga-
Número de Potencial reativo ções por microscopia eletrônica de varre-
Publicação Estado agregados das amostras
dura (MEV), a RAS é identificada por meio
testados testadas
de ocorrência de um gel na borda de agre-
Valduga (2002) São Paulo 36 60%
gados e fissuras, como ilustra a Figura 2.
Paraná, Santa
Tiecher (2006) Catarina e 40 100% O uso de adições minerais ativas, como
Rio Grande do Sul metacaulim, cinzas volantes, escória gra-
Couto (2008) Goiás 22 60% nulada de alto-forno e sílica ativa, em te-
Portella et al. (2021) Paraná 11 73% ores a depender do grau de reatividade
Fonte: Dados compilados por Hasparyk (2022) dos agregados, podem mitigar a RAS. Os
mecanismos envolvidos são a redução da
quantidade de álcalis disponíveis no con-
algumas técnicas complementares para apresentaram resultados potencialmente creto devido à redução do teor de cimento
diagnóstico de estruturas afetadas, aborda reativos. O Rio Grande do Sul (RS) foi o Portland na mistura, o que contribui para
também lacunas existentes e estudos em estado com o maior número de casos posi- uma menor concentração de íons Na+, K+
andamento sobre a temática na Universida- tivos para reatividade de agregados. Além e OH- na solução de poros. A concentra-
de Federal do Paraná (UFPR). disso, 10% dos agregados graúdos ava- ção de íons Na+ e K+ na solução de poros
liados no Brasil apresentaram expansões é também fortemente diminuída, pois os
2. REAÇÃO ÁLCALI-SÍLICA (RAS) superiores a 0,6% no ensaio acelerado em íons alcalinos são incorporados no C-S-H
A reação álcali-agregado (RAA) pode argamassa e, atualmente, estariam classi- gerados na reação. Desta forma, o uso de
ser dividida em dois tipos: reação álca- ficados pela ABNT NBR 15577:2018 como adições é ainda a forma mais efetiva para
li-sílica (RAS) e reação álcali-carbonato grau 3 e exigiriam forte ação preventiva. prevenção da RAS em novas construções.
(RAC). No Brasil, a reação álcali-sílica cos- A recente publicação de Hasparyk
tuma ocorrer em rochas contendo minerais (2022) apresenta diversos estudos que 3. REAÇÃO SULFÁTICA INTERNA (RSI)
silicosos potencialmente reativos e produz levantaram dados nacionais sobre o po- O ataque por sulfatos em estruturas
o gel álcali-sílica, que pode causar expan- tencial reativo dos agregados. A Tabela 1 de concreto pode acontecer de duas ma-
são anormal e fissuração do concreto em apresenta essas informações. neiras diferentes: externo, quando a fonte
serviço. Já a reação álcali-carbonato, re- Essas estatísticas, contudo, devem ser agressiva está no meio em que está inseri-
conhecida atualmente como um tipo lento observadas com as devidas ressalvas, pois da a estrutura, como solos e águas agressi-
da reação álcali-agregado, envolve a des- geralmente os agregados utilizados nesses vas, ingressando por sua rede de poros; ou
dolomitização dos calcários dolomíticos estudos costumam ser suspeitos de serem interno, quando a fonte agressiva faz parte
argilosos sem formação de gel, que pode potencialmente reativos, não se podendo de sua composição.
causar expansão. Dada a especificidade da afirmar, por exemplo, que todos os agrega- No caso do ataque interno, conheci-
reação álcali-carbonato, além de sua baixa dos do Paraná, Santa Catarina e Rio Gran- do também como reação sulfática interna
ocorrência, essa reação não é tratada pe- de do Sul são potencialmente reativos. (RSI), os sulfatos podem ser encontrados
las normas brasileiras da série ABNT NBR No Brasil, a reação álcali-sílica costuma nos constituintes do concreto, sendo eles:
15577:2018. ocorrer em agregados contendo opalas, agregados, cimento, aditivos ou adições,
A adoção de medidas sistemáticas de cherts, quartzo microcristalino, quartzo ou na água de amassamento.
prevenção à RAS no Brasil já ocorreu nas
barragens de Jupiá (1963), Água Vermelha
(1979), Salto Osório (1975), Tucuruí (1984),
Itaipu (1982), dentre outras - onde foram
utilizados materiais pozolânicos para inibir
a expansão devido ao uso de agregados re-
ativos locais. A partir de 1985, o meio técni-
co brasileiro tomou conhecimento da ocor-
rência desse fenômeno nas barragens de
Moxotó e Joanes II, ambas localizadas na
Região Nordeste. De acordo com os dados
publicados por Battagin et al. (2016), das
FIGURA 1
1994 amostras analisadas rotineiramente
Mecanismo da RAS no concreto
pela ABCP até 2016, 42% dos agregados Fonte: Autores
graúdos e 26% dos agregados miúdos

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 57
A B C

FIGURA 2
Ilustração do (a) ataque na borda do agregado, (b) fissuras preenchidas pelo gel e (c) do gel gretado típico
em concreto com RAS
Fonte: Autores

Quando a fonte de sulfatos for o cimen- ataque interno (RSI) e outros compostos de ferro. Alguns desses compostos podem
to, um possível mecanismo está relaciona- podem se formar como no caso de agre- ser expansivos e deletérios. Ainda, duran-
do a teores inadequados do regulador de gados, como se detalha a seguir. te esse processo de alteração do enxofre,
pega (sulfato de cálcio) no processo de Nos casos de ocorrência do mecanis- pode ocorrer a sua conversão para ácido
produção do cimento, associados a teo- mo pela presença de uma fonte de sulfeto sulfúrico, intensificando a deterioração no
res incompatíveis de aluminatos cálcicos nos agregados, foco deste estudo, o ata- concreto. A instabilidade dos sulfetos é
no clínquer. Em altas temperaturas (acima que é iniciado pela oxidação dos sulfetos, acelerada pela alcalinidade do meio e valo-
de 60-65 oC) ou mesmo com temperaturas na presença de água e oxigênio. Esse pro- res de pH acima de 10.
ordinárias, mas com elevadas umidades, cesso libera enxofre e ferro para o meio, Este processo pode ser considerado
há formação de gipsita e etringita tardia, produzindo tanto íons sulfatos quanto pro- como um dos mais nocivos ao concre-
esta última denominada de DEF, deriva- dutos secundários, oriundos do seu pró- to, uma vez que, nesse tipo de ataque, os
da do termo em inglês Delayed Ettringite prio processo de oxidação, como os hidró- produtos gerados reagem com os com-
Formation. Assim, a DEF sempre ocorre no xidos e óxidos ferrosos, além de sulfatos postos da pasta cimentícia, provocando

A B C

FIGURA 3
Ilustração de (a) agregado graúdo contendo incrustação de pirita, (b) mineral pirita, e (c) formação de
etringita no interior de poro devido ao ataque por sulfato
Fonte: Autores

58 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


consequências físicas, como: variação di-
mensional, fissuração, desplacamento e de- TABELA 2
sintegração; e químicas, como a redução do Testes para diagnóstico da RAS em concretos e argamassas
pH da matriz. Em virtude da constatação da
existência de rochas com a presença de sul- Condição Limite de
Normativa Ensaio Amostras
do ensaio expansão
fetos em sítios geológicos brasileiros, existe
uma motivação para o estudo da contami- Potencial reativo Solução 1N NaOH 3 barras
NBR 15577-4
acelerado em a 80 °C por de argamassa < 0,19%
nação de agregados empregados no país. (RAS)
argamassa 30 dias 25 x 25 x 285 mm
Um caso de ocorrência de RSI no Brasil Potencial reativo 1,25% Na2Oeq 3 prismas
NBR 15577-6
relativa à contaminação de agregados é a (RAS)
em concreto a 38 °C por de concreto < 0,04%
Barragem do Rio Descoberto, em Brasília. (CPT) 365 dias 75 x 75 x 285 mm
Anos após a conclusão de sua construção Potencial reativo 1,25% Na2Oeq a 3 prismas de
NBR 15577-7
acelerado em 60 °C por concreto < 0,03%
(1974), a barragem começou a apresentar (RAS)
concreto 140 dias 75 x 75 x 285 mm
vazamentos no seu paramento de jusan- Fonte: Autores
te. Após diversas intervenções, a CAESB
(Companhia de Saneamento do Distrito
Federal) investigou as causas e desco- mica é causada, principalmente, pelo con- existir um ensaio padronizado que indique
briu que a origem do problema se devia à sumo da portlandita, disponível na matriz, a ocorrência. Sinais que podem levar a uma
combinação da ação da água com a pirita e pela formação dos subprodutos gerados investigação química do concreto e seus
(FeS2) do agregado presente no concreto. pelo ataque (OLIVEIRA; CAVALARO; AGUA- constituintes são: quadros de fissuração
Dentre os minerais sulfetados existentes DO, 2014). As Figuras 3A e 3B apresentam generalizada, desplacamentos e mancha-
na superfície terrestre, a pirita é o mineral agregados com presença de pirita. Já, a mentos, normalmente na cor ocre, origina-
mais comum. Figura 3C apresenta uma imagem de MEV dos pela oxidação do mineral sulfetado.
As alterações físicas ocorrem principal- evidenciando o principal produto gerado no Como neste ataque o agente agres-
mente pela tensão interna causada pela cris- ataque, etringita, em uma pasta cimentícia sor já está interno ao concreto, medidas
talização dos novos produtos, os quais pos- com pirita. de proteção externa não são as mais efi-
suem volume superior ao volume do sulfeto O diagnóstico de uma estrutura com cazes nesse caso. Assim sendo, as medi-
mineral que lhes originou. Já, a alteração quí- a RSI não é simples, em especial por não das de prevenção devem ser pautadas na

A B

FIGURA 4
Ensaios para diagnóstico de reações expansivas. (a) Damage Rating Index (DRI) e (b) Stiffness Damage Test (SDT)
Fonte: Autores

& Construções
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correta escolha dos constituintes do con-
QUADRO 1 creto. Uma vez utilizado material inade-
Casos de obras hidráulicas que se encontram afetadas pela RAA quado, a deterioração vai ocorrer e ainda
não existe uma solução técnica definida
Indícios e/ou para bloquear a ocorrência do mecanis-
UHE/ Barragens UF evidências Tipo de agregado mo de deterioração.
da RAA
Gnaisse; biotita
UHE Jurupará SP Diagnóstico 1997
granito 4. NORMALIZAÇÃO NO BRASIL
Barragem de Peti MG 1964 Granito – gnaisse
E ENSAIOS PARA DIAGNÓSTICO
No Brasil foram publicadas as normas
Barragem Guanhães – UHE Salto Grande MG 2001 Gnaisse
ABNT NBR 15577:2018, que estabelecem
UHE Jaguara SP 1996 Quartzito
os critérios para avaliação, classificação e
Indícios 1980 e Granito e biotita
UHE Apolônio Sales (Moxotó) AL mitigação da RAS em novas construções.
diagnóstico 1984 gnaisse
Granito, biotita gnaisse Ainda que a análise petrográfica seja capaz
UHE Paulo Afonso I BA 1978 de quantificar fases minerais cristalinas e
e biotita granito
Granito e anfibólio amorfas que possam gerar reações expan-
UHE Paulo Afonso II BA 1978
gnaisse sivas no concreto, técnicas complemen-
UHE Paulo Afonso III BA 1978
Granito e tares podem ser necessárias, tais como:
biotita granito coloração seletiva de minerais, análise por
Granito, biotita difração de raios X (DRX), análise termodi-
gnaisse, biotita granito,
UHE Paulo Afonso IV BA 1985
anfibolito e anfibólio
ferencial e termogravimétrica (DTA/DTG),
biotita gnaisse espectroscopia no infravermelho (FTIR),
UHE Pedra BA 1980 Granada granulito microscopia eletrônica de varredura (MEV),
UHE Sobradinho BA 2000 Quartzito análise por fluorescência de raios X (FRX),
Granito e gnaisse entre outras. Mesmo quando as fases reati-
UHE Tapacurá PE 1990 vas são identificadas pela análise petrográ-
cataclasados
UHE Piratininga SP 2002 Gnaisse fica, é necessário confirmar a relevância de
Barragem de Pirapora SP 1998 Granito – gnaisse sua presença no desenvolvimento de rea-
Barragem Reguladora Bilings-Pedras SP 1992 Granito ções por meio de testes de expansão em
Barragem Rio das Pedras SP 1992 Gnaisse – milonito prismas de concreto em função da forma-
Usina de Rasgão SP Nd Granito – filito ção do gel expansivo. Ainda que existam
Usina Elevatória de Pedreira SP 2000 Gnaisse – milonito diferentes métodos de avaliação, a ABNT
Usina Elevatória de Traição SP 1994 Milonito
NBR 15577:2018 considera os ensaios ace-
lerados como prévios na tentativa de indi-
Gnaisse, migmatito
Barragem de Joanes II BA 1988 cação mais rápida da reação (140 dias a
e granulito
UHE Mascarenhas ES Diagnóstico 2003 Nd 60 °C), mas não exclui a realização do en-
UHE Furnas MG 1976 Quartzito saio em prismas de concreto até a idade de
UHE Luiz Carlos Barreto de Carvalho SP 1994 Quartzito 365 dias. Na Tabela 2 são apresentadas as
UHE Mascarenhas de Moraes MG 1994 Quartzito
principais normas utilizadas para a avalia-
ção do potencial reativo de agregados por
Basalto – seixo
UHE Porto Colômbia MG 1985 testes de expansão.
de quartzo
Indícios 1985/1990 e Os limites de expansão apresentados
UHE Jaguari SP Gnaisse milonitizado
diagnóstico 2000 na Tabela 1 para a RAS sofrem pequenas
UHE Ilha dos Pombos RJ 1991 Gnaisse variações dependendo da normativa de
UHE Santa Branca SP 1995 Gnaisse cada país. De uma forma geral, os ensaios
UHE Sá Carvalho MG Diagnóstico 1997 Granito acelerados em barras de argamassa ainda
Biotita gnaisse são foco de discussão entre pesquisadores
Barragem Atibainha SP 1992
cataclástico devido à ocorrência de falsos positivos e
Barragem Cascata SP 1992 Granito – gnaisse negativos nos resultados. Parte das norma-
Barragem Jaguari SP 1992 Gnaisse milonitizado tivas costuma referenciar e adotar valores
Biotita de outras normas e países para a classifica-
Barragem Paiva Castro SP 1992
granito-gnaisse ção dos agregados, o que pode não repre-
Barragem Pedro Beitch SP 1992 Biotita gnaisse sentar a realidade local, e isso ocorre devi-
Barragem Ribeirão do Campo SP 1992
Biotita gnaisse do à falta de dados históricos sobre obras
cataclástico com a ocorrência da reação expansiva e de
Fonte: Adaptado de Hasparyk (2022)
campos experimentais.

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No caso dos ensaios para RSI, as normas ção química, métodos de moldagem, cura carbonatação e corrosão das armaduras são
vigentes apenas limitam os valores máximos e instrumento de medição. Essas caracte- também acelerados e sofrem influência dire-
de concentração de sulfatos no concreto. A rísticas variam em cada laboratório e país, ta das reações expansivas.
ABNT NBR 7211:2022 regulamenta o limite influenciando as leituras realizadas. Apenas Neste sentido, diversas pesquisas têm
máximo de sulfatos expresso em SO42- nos recentemente, Hasparyk (2022) compilou sido desenvolvidas pelo grupo de pesquisa
agregados para a produção de concreto em os casos de obras hidráulicas no Brasil já em Patologia e Reabilitação das Constru-
0,1% em massa. Assim, fica subentendido que diagnosticadas com RAA (Quadro 1). ções da Universidade Federal do Paraná,
os agregados contendo enxofre podem ser Além disso, no Brasil quase não se tem tais como: avaliação de diferentes teores e
utilizados desde que não ultrapassem esse mapeamento de obras diagnosticadas com tipos de sulfatos no grau de expansão; de-
limite. Mesmo quando este limite for exce- RSI e faltam dados históricos de campos ex- senvolvimento de sistema de monitoramen-
dido, os agregados ainda podem ser usados, perimentais de ambas as reações deletérias. to para expansão baseados em sensores de
desde que o teor total presente no concreto Dessa forma, faltam dados de desempenho fibra ótica; mitigação de reações expansivas
proveniente de todos os seus componentes em campo para balizar a construção de no- em barragens de concreto com resíduos in-
(água, agregados, cimento, adições e aditi- vas estruturas, calibrar métodos de ensaios dustriais, adições minerais e uso de trata-
vos químicos) não exceda 0,2% de SO42- da e orientar o uso de materiais considerando mentos de superfície; desenvolvimento de
massa total, ou que fique comprovado a utili- o variado clima e agregados brasileiros. técnicas de inspeção, diagnóstico e prog-
zação de cimento Portland resistente a sulfa- As condições dos ensaios (temperatura nóstico para reações expansivas; desenvol-
tos (verificado pela ABNT NBR 13583:2014). e duração) e os limites de expansão estabe- vimento de modelos de vida útil para barra-
Diversos ensaios têm sido desenvolvi- lecidos para a classificação dos agregados gens; avaliação de técnicas de reparo e auto
dos com o objetivo de diagnosticar estru- se encontram em constantes discussões. cicatrização para fissuras; entre outros.
turas já afetadas por reações expansivas: Uma maior preocupação existe com relação Capraro (2019), por meio de uma simu-
como emissão acústica, ultrassom, espec- ao ataque por sulfatos, que carece de nor- lação numérica em método dos elementos
troscopia, indentação, microscopia e testes mativas mais aprofundadas para classifica- finitos, analisou a movimentação de uma bar-
de expansão residual realizados em tes- ção e mitigação da reação. Além disso, de- ragem (Figura 5) quando submetida ao de-
temunhos extraídos de estruturas danifi- pendendo do tipo de sulfato e sua origem, senvolvimento de RSI. Esta modelagem levou
cadas. As metodologias costumam se ba- diferentes limites de classificação precisam em consideração a ocorrência do ataque em
sear no aumento de descontinuidades no ser desenvolvidos. A aplicação de modelos uma camada de cerca de 1,5 m de profundi-
interior do concreto, gerado pela expansão de expansão e vida útil é tarefa complexa, dade na face de jusante, pois as reações de-
e fissuração das amostras que, de forma ge- pois costumam ser baseados em resulta- pendem do acesso de oxigênio nesta região.
ral, reduzem a rigidez das peças e dificultam dos obtidos em laboratório, em condições O modelo demonstrou que a potencial conta-
a propagação de ondas no interior dos só- ambientais diferentes daquelas em que as minação de 5% de SO3 nos agregados pode
lidos. Dentre os métodos mais eficazes no barragens se encontram. gerar um deslocamento horizontal superior
diagnóstico pode-se citar o ensaio DRI ou É comum a ocorrência de reações dele- a 60 cm no topo da barragem, no sentido
Damage Rating Index (Figura 4A), que clas- térias de forma combinada, envolvendo duas contrário ao deslocamento gerado somente
sifica diferentes tipos de fissuras em uma se- ou mais reações como RAS, RSI, DEF (for- pelas cargas do empuxo hidrostático.
ção polida de concreto; e o ensaio SDT ou mação de etringita tardia), o que dificulta o No desenvolvimento de sensores para
Stiffness Damage Test (Figura 4B), que ava- diagnóstico e prognóstico dessas estruturas. monitoramento de reações expansivas,
lia a perda de rigidez do concreto durante Assim, técnicas de
ciclos de carregamentos e avalia parâmetros microscopia, como
como área de histerese, deformação plástica o DRI, auxiliam na
e módulo de elasticidade. identificação de
diferentes reações
5. LACUNAS E ESTUDOS EM CURSO deletérias, uma vez
NA ÁREA que é possível veri-
Ainda que diversos estudos tenham ficar o local da rea-
sido realizados nas últimas décadas, a ciné- ção (pasta ou borda
tica das reações expansivas ainda não é in- de agregados) e seu
teiramente compreendida e muitas são as avanço no concre-
lacunas que necessitam de investigações to (tipo de produto
mais aprofundadas. formado e avanço
Ainda não existem técnicas confiáveis na amostra). Com
disponíveis para avaliação da presença de a fissuração e for- FIGURA 5
minerais reativos em agregados em um mação de produtos Modelo de movimentação de barragem por
ensaio de curto prazo de forma dissociada dentro dos poros, desenvolvimento de Reação Sulfática Interna (RSI)
do concreto - sem que haja interferências outros processos Fonte: Capraro (2019)
do tipo de cimento usado, sua composi- deletérios como a

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A B

FIGURA 6
(a) Processo de fabricação de sensores em fibra ótica e (b) amostras com sensores óticos na superfície e no
interior do concreto
Fonte: Autores

Macioski et al. (2020) utilizaram o sinal re- existem métodos efetivos que podem ces- cia Nacional de Águas e Saneamento
fletido por uma rede de Bragg inscrita com sar a expansão devido à reação. A melhor Básico). Este apoio financeiro é essencial
LASERS no núcleo de fibras óticas (Figura solução ainda é avaliar o potencial reativo para dar suporte para interações interna-
6) para medir a temperatura, deformação dos agregados antes da construção. cionais e implantação dos ensaios espe-
interna e externa de amostras de concre- Apesar do avanço nas pesquisas em re- cíficos para a investigação das reações
to afetadas por RAS, permitindo verificar lação a cinéticas dessas reações, ainda exis- expansivas no concreto com alto grau
que o surgimento de tensões internas dos tem muitas lacunas existentes, materiais a de aprofundamento.
agregados é elevado (0,11% em 55 dias) e serem entendidos por completo e técnicas
apenas parcialmente transmitido à pasta e promissoras a serem desenvolvidas e apli- AGRADECIMENTOS
ao concreto (amostras sem expansão sig- cadas. Nas normas vigentes no Brasil sobre Os autores agradecem à Universidade
nificativa na mesma idade). esses temas, faltam dados de estruturas Federal do Paraná (UFPR), ao Programa
reais para melhorar sua aplicação, visto de Pós-Graduação em Engenharia Civil
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS a dificuldade de simulação em laborató- (PPGEC-UFPR), ao Centro de Estudos
Este trabalho traz informações sobre rio da cinética das reações que ocorrem de Engenharia Civil (CESEC-UFPR) e ao
dois tipos de reações expansivas que po- nas barragens. Laboratório Multiusuário de Fotôni-
dem ocorrer nas estruturas de barragens Esta área temática das reações ex- ca (Multi-Foton) da UTFPR. Os autores
de concreto, a reação álcali-sílica (RAS) pansivas é de primordial importância também agradecem o suporte fornecido
e a reação sulfática interna (RSI). Ambas para a área de segurança de barragens pela CAPES (Coordenação de Aperfeiço-
são reações deletérias em relação às quais de concreto e os autores desenvolvem amento de Pessoal de Nível Superior) e
apenas tratamentos paliativos podem ser atualmente projetos neste campo com fi- pela ANA (Agência Nacional de Águas e
aplicados em obras existentes, ou seja, não nanciamento da CAPES e da ANA (Agên- Saneamento Básico).

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BATTAGIN, A.; SILVEIRA, A. L.; MUNHOZ, F.; BATTAGIN, I. A evolução da cultura da prevenção da reação álcali-agregado no mercado nacional.
Concreto & Construções, 39–43. 2016.
[2] HASPARYK, N. P. Reação Álcali-Agregado no Concreto. Concreto: Ciência e Tecnologia. vol. 2. 3 ed. São Paulo: IBRACON, 2022.
[3] CAPRARO, A. P. B. Ataque interno de sulfatos: mudanças nas propriedades de compostos cimentícios. Tese de doutorado. Universidade
Federal do Paraná. Setor de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. 187 p. 2019.
[4] MACIOSKI, G.; SANCHEZ, L. F. M.; BAO, X.; MEDEIROS, M. H. F. Monitoring alkali-aggregate reaction (AAR) induced expansion through the use
of fiber Bragg grating sensors. 16th International Conference on Alkali-Aggregate Reaction in Concrete. Lisboa, Portugal. 2020.
[5] OLIVEIRA, I.; CAVALARO, S. H. P.; AGUADO, A. Evolution of pyrrhotite oxidation in aggregates for concrete. Materiales de Construcción, v. 64, 2014.

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Pesquisa e Desenvolvimento
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.109.0007

Estádio Nacional de Brasília: análise


dinâmica por meio do método dos
elementos finitos
GUSTAVO V. FIUZA LIMA – Engenheiro (fiuzagustavo@hotmail.com); LEONARDO J. GUIMARÃES RABELO – Engenheiro (leotdz@yahoo.com.br);
SUZANA MOREIRA AVILA – Professor – ORCID https://orcid.org/0000-0002-3181-685X (avilas@unb.br);
GRACIELA DOZ – Professor – ORCID https://orcid.org/0000-0001-6428-4012 (graciela@unb.br) – UNB

RESUMO Palavras-chave: dinâmica estrutural, vibra- quência de excitação, o que pode

N
os últimos anos, tem-se notado a ocor- ções induzidas por pessoas , controle de vi - levar a vibrações excessivas e até à
rência crescente de vibrações excessi- brações , estruturas de estádios . ressonância.
vas em estruturas civis provocadas, em A Copa do Mundo FIFA de 2014
parte, pelo uso de novos materiais e pela leveza 1. INTRODUÇÃO foi realizada no Brasil e muitos es-
e flexibilidade que caracteriza algumas dessas Em maior ou menor grau, estru- tádios foram remodelados ou de-
turas podem ser solicitadas por car- molidos, dando lugar a arenas no-
estruturas. Muitas das arenas de futebol bra-
gas dinâmicas. Esse fenômeno tor- vas. Nesse contexto, o novo Estádio
sileiras apresentaram problemas de vibração
na-se cada vez mais atual, uma vez Nacional de Brasília foi construído
excessiva, necessitando de monitoramento e até
que, em geral, as estruturas estão se (Figura 1). Este estádio substituiu
intervenção. Para a Copa do Mundo realizada
tornando mais leves e mais flexíveis o anterior demolido que havia sido
no Brasil (2014), esses estádios passaram por
devido aos novos padrões arquite- projetado nos anos 70. Naquela
mudanças estruturais e alguns foram demolidos
tônicos ou ainda pelo desenvolvi- época, as cargas dinâmicas e as vi-
para a construção de novas arenas, tornando-
mento de materiais mais resistentes. brações induzidas pelas multidões
-se necessária uma análise criteriosa do com- eram muito negligenciadas.
Quando se trata de vibrações indu-
portamento dinâmico dessas novas estruturas. Houve registro de um grande nú-
zidas pelo homem, à medida que
Este trabalho foca no estudo do comportamen- essas estruturas ficam mais flexíveis, mero de reclamações sobre vibra-
to dinâmico do Estádio Nacional de Brasília por suas frequências naturais ficam mais ções excessivas feita pelo público
meio da análise numérica de diferentes cenários baixas e podem se aproximar da fre- que assistiu aos jogos nesses antigos
de cargas dinâmicas estádios. Alguns
geradas por atividades deles precisaram
humanas em arquiban- ser monitorados
cadas, como saltos e e necessitaram
movimentos laterais
de recuperação
sincronizados. As res-
estrutural, como
os estádios Mara-
postas dinâmicas do
canã, Morumbi e
estádio são comparadas
Olímpico.
com as sugeridas como
Todo o ex-
limites por normas in-
posto sugere que
ternacionais. Uma vez
esses tipos de es-
que se verifica alguns
truturas precisam
resultados excedem os
ser analisados
limites normativos, é dinamicamente,
proposto um sistema de pois multidões sal-
controle estrutural tando nas arqui-
baseado em amortece- bancadas podem
FIGURA 1
dores de massa sinto- induzir vibrações
Estádio Nacional de Brasília
nizados para reduzir a
Fonte: https://www.cultuga.com.br/estadios-que-receberao-jogos-de-portugal-na-copa-do-mundo/ em 10/3/2022
excessivas nessas
resposta dinâmica. estruturas levando

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a um problema de conforto em um a cobertura do estádio. A cobertura
primeiro momento e, posteriormente, do estádio tem uma coroa externa de
a um problema estrutural. concreto e uma estrutura interna em
Uma alternativa para reduzir vi- treliça de aço coberta por uma mem-
brações excessivas em estruturas brana especial que protege as arqui-
civis é o controle estrutural (Saeed bancadas e parcialmente o campo.
et al, 2015). Dispositivos externos são
adicionados ao sistema estrutural de 2.2 Modelo numérico
forma a fornecer amortecimento ou
proporcionar uma transferência de Para definir o modelo numérico,
energia mecânica. Um dos disposi- foi selecionado um pórtico de lar-
tivos de controle estrutural mais co- gura intermediária, dos quatro dife-
nhecidos é o amortecedor de massa FIGURA 2 rentes tipos de setores. ​​Elementos
Pórticos que sustentam
sintonizado (AMS), que consiste em finitos de casca foram usados para
as arquibancadas
uma massa auxiliar que, quando sin- modelar lajes, degraus, paredes, pi-
tonizada de forma adequada, trans- lares e vigas principais, e elementos
fere a energia da estrutura principal finitos de barra para a simulação das
para o amortecedor, fazendo com transversais que formam seis pavi- vigas internas.
que esta vibre fora de fase, reduzin- mentos internos. Ao redor das arqui- Os elementos de casca utilizados
do assim a amplitude de resposta da bancadas existe uma estrutura inde- possuem 4 nós cada e seis graus de
estrutura principal. pendente formada por três fileiras liberdade em cada nó. Os elemen-
Neste trabalho foi realizado um circulares de colunas que sustentam tos de barra são elementos de dois
estudo numérico de uma arquiban-
cada do Estádio Nacional de Bra-
sília, para avaliar seu desempenho
dinâmico e conforto, comparando
os níveis de vibração obtidos com
os limites recomendados das nor-
mas internacionais. É apresentada
uma proposta de controle estru-
tural utilizando amortecedores de
massa sintonizados.

2. FERRAMENTAS E MÉTODOS

2.1 Estrutura do Estádio

O estádio foi projetado como um


conjunto de pórticos de quatro co-
lunas conectados por vigas inclina-
das, que sustentam os degraus das
arquibancadas. As arquibancadas
são separadas em três níveis: infe-
rior, intermediário e superior (Figura
2). Radialmente a estrutura está di-
vidida em 12 setores independentes,
3 de cada lado, um atrás de cada gol
e um em cada canto, conforme mos-
tra a Figura 3. Todos os setores são
formados pela estrutura de pórticos
mostrada na Figura 2, repetidas pa-
ralelamente entre si nos setores la-
terais e atrás dos gols e distribuídos FIGURA 3
radialmente nos cantos. Vista superior do estádio
Sobre as arquibancadas, há la- Fonte: https://www.redecol.com.br/2013/06/veja-os-mapas-explicativos-e-de-acesso.html/ em 25/1/2023
jes de concreto apoiadas em vigas

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internas. A discretização em ele-
mentos finitos obtida no SAP2000 é TABELA 2
mostrada na Figura 4. Tempo de contato obtido
experimentalmente
Para o amortecimento estrutural,
algumas normas sugerem valores que
variam de 1% a 3% do valor crítico de Fs Tp tc
tc/Tp
(Hz) (s) (s)
amortecimento ( para estruturas de
2,00 0,50 0,36 0,72
concreto armado. Desta forma, o va-
2,27 0,44 0,33 0,75
lor de 2% de é adotado. Importante
2,50 0,40 0,32 0,80
ressaltar que o amortecimento crítico
2,70 0,37 0,33 0,89
depende da massa e da rigidez da
Fonte: Faísca (2003)
estrutura e serve de referência para
saber se a estrutura apresentará os-
cilações quando vibrando livremente lores em torno de 2,5Hz. Com esse
(amortecimentos inferiores ao crítico). valor como referência inicial, foram
analisados alguns vídeos de torce-
FIGURA 4 2.3 Modelo de carregamento dores durante partidas de futebol,
Discretização em elementos para tipificar suas frequências de
finitos de um setor intermediário O modelo matemático conside- salto. Como resultado desta pesqui-
doEstádio Nacional de Brasília rado para simular a ação de torcidas sa, algumas das músicas das torci-
(SAP2000) pulando é descrito na Equação (1), das mais populares na América La-
proposta por Faísca (2003) para um tina e suas frequências de salto são
único indivíduo em movimento. mostradas na Tabela 1.
nós com seis graus de liberdade em Ao analisar os dados apresenta-
cada nó. dos na Tabela 1, percebe-se que as
O material considerado foi o [1] músicas das torcidas brasileiras in-
concreto armado, com módulo de duzem movimentos que se caracte-
elasticidade de 30 GPa. Em cada su- rizam por frequências de salto mais
porte de coluna, as restrições foram Na qual: altas, em torno de 2,4 e 2,7Hz. Já as
aplicadas em todas as seis direções, F(t) = carga modelada; músicas das torcidas argentinas e
incluindo deslocamentos e rotações. CD = coeficiente de defasagem; mexicanas levam a uma frequência
O setor modelado possui 5 fileiras kp = fator de impacto dinâmico; de salto entre 1,7Hz e 2,4Hz.
de colunas, portanto são 4 vãos de G = peso de uma pessoa; Desta forma, para simular as
degraus de arquibancadas e lajes tc = tempo de duração do contato possíveis variações dos pulos dos
com o solo; torcedores, foi realizado um estudo
Tp = período do ritmo. com 15 frequências de carga (Fs)
TABELA 1 Para definir a frequência ade- variando de 2,10Hz a 2,80Hz. Neste
Frequências de pulo de torcidas quada do pulo, foram consulta- estudo, o tempo de contato (tc) en-
dos estudos prévios realizados por tre o torcedor e as arquibancadas é
Faísca, (2003) que estabelece va- calculado de acordo com Lima
Clube de Música da fs
futebol torcida (Hz)
“Festa na
2.7
favela”
Flamengo
“Sai do
2.4
chão”
“Boca mi
2.4
buen amigo”
Boca Juniors “Y dale
2.4
Argentina Boca”
“Vamos
1.9
xeneizes”
“Chivas de
1.7
Chivas mi vida”
México “Te alentaré
1.8
de corazon”
Pumas FIGURA 5
“Olele, olalá” 2.4
Mexico Relação entre o tempo de contato e o período, em função da frequência

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Em relação à ocupação das arqui-
TABELA 3 bancadas são considerados cinco ce-
Parâmetros usados na definição das cargas dinâmicas nários distintos (Figura 6). O primeiro
modelo de carregamento, denomina-
fs (Hz) Tp (s) tc/Tp tc (s) CD.kp do MC1, considera que apenas um lado,
2,10 0,476 0,730 0,348 2,15 que representa 25% da área das arqui-
2,15 0,465 0,735 0,342 2,14 bancadas, é ocupado pelo público. O
2,20 0,455 0,740 0,336 2,12 segundo modelo de carregamento,
2,25 0,444 0,746 0,332 2,11 denominado MC2, considera que os
2,30 0,435 0,753 0,328 2,09 dois lados das arquibancadas são ocu-
2,35 0,426 0,762 0,324 2,06 pados pelo público, representando
2,40 0,417 0,772 0,322 2,03 50% da carga da estrutura. O terceiro
2,45 0,408 0,785 0,320 2,00 modelo de carregamento, MC3, consi-
2,50 0,400 0,800 0,320 1,96 dera a metade da área ocupada pelos
2,55 0,392 0,817 0,321 1,92 torcedores, mas em um dos lados. O
2,60 0,385 0,838 0,322 1,87 quarto modelo de carregamento, MC4,
2,65 0,377 0,863 0,325 1,82 considera que apenas as arquibanca-
2,70 0,370 0,891 0,330 1,76 das superior e intermediária são ocu-
2,75 0,364 0,923 0,336 1,70 padas pelo púbico, enquanto para o
2,80 0,357 0,960 0,343 1,64 quinto modelo, MC5, a estrutura é con-
siderada totalmente carregada.

(2013). Em seu trabalho, o autor Para as intermediárias, utiliza-se 2.4 Limites estabelecidos pelos códigos
apresenta a curva de variação da 1kN/m², por se tratar de uma área de
taxa dada pelo tempo de contato e camarotes e salas de imprensa com Existem alguns códigos interna-
o período da função (tp) em função menor ocupação pelo público. cionais que tratam das vibrações,
da frequência característica, confor-
me mostra a Figura 5. Para obter a
curva, o autor utilizou os dados ob-
tidos experimentalmente por Faísca
(2003) apresentados de forma resu-
mida na Tabela 2.
Para a simulação da magnitude
dada pelo produto do fator de im-
pacto dinâmico (kp) e o coeficiente
de defasagem (CD), foi adotada a
formulação proposta por Sim (2006).

[2] a MC1 b MC2 c MC3

A Tabela 3 apresenta os parâme-


tros utilizados na definição das car-
gas que atuam na estrutura.
A consideração de G é feita da
seguinte forma: para as arquiban-
cadas inferiores, adota-se o valor
médio de 1,6kN/m² considerando o
peso médio de todos igual a 800N, o
total de assentos no estádio e a área
total das arquibancadas. Para as ar-
quibancadas superiores, assume-se d MC4 e MC5
conservadoramente a possibilidade
de haver uma ocupação maior que FIGURA 6
o número de lugares disponíveis, Ocupação das arquibancadas
sendo adotada a carga de 1,8kN/m².

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TABELA 4
Percepção humana associada
a vibrações verticais

Intervalo de 3. RESULTADOS
frequência A Tabela 5 mostra as 8 primeiras
Descrição 1-10 Hz
Acelerações frequências naturais e as descrições
de pico (m/s²) dos modos de maior interesse. Os
Apenas perceptível 0,034 primeiros modos de vibração têm
Claramente frequências naturais baixas, entre
0,10
perceptível 1Hz e 3Hz, próximas às frequências
Desconfortável 0,55 das atividades humanas.
Intolerável 1,80 Para verificar em quais pontos e
Fonte: CEB (1991)
para quais tipos de carregamento a ar-
quibancada apresenta acelerações ex- FIGURA 7
cessivas, a estrutura foi submetida a 75 Pontos de aceleração considerados
considerando o conforto humano.
Entre eles, o código CEB (1991) foi condições de carregamento conside-
escolhido para verificar as respostas rando as cinco diferentes distribuições
de audiência nas arquibancadas expli- estudos com 16 configurações dife-
dinâmicas deste trabalho em termos
cadas anteriormente, e quinze frequ- rentes de amortecedores de massa
de aceleração de pico.
ências de excitação variando de 2,10Hz sintonizados (AMS), a fim de reduzir
No Anexo I do CEB (1991), o có-
a 2,80Hz em passos de 0,05Hz para as acelerações nas arquibancadas a
digo aborda as respostas humanas
cada tipo de distribuição. Os pontos níveis aceitáveis e​​ considerando uma
às vibrações focando a atenção na
de leitura são mostrados na Figura 7. massa que não leve a grandes aumen-
sensibilidade humana a elas. Nesse
A resposta de aceleração mais tos nos esforços estruturais. Assim,
sentido, lista alguns parâmetros que
alta ocorre no ponto 2 quando a fre- são utilizados AMSs com massas pró-
influenciam essa sensibilidade e a
quência de excitação é de 2,55Hz e ximas a 4t, 2t, 1t e 0,5t, sintonizados
perceptibilidade das vibrações. Em
para o MC5 (Figuras 8, 9 e 10). em frequências escolhidas, levando
seguida, associa essa percepção hu-
Para o projeto do sistema de con- em consideração o pico observado
mana às faixas de aceleração e velo-
trole de vibrações, foram realizados no espectro de acelerações (segun-
cidade, conforme Tabela 4.
do harmônico do carregamento –
f2h = 5,10Hz, quinta frequência natural
– f5 = 4,95Hz, sexta frequência natu-
TABELA 5 ral – f6 = 5,07 Hz e sétima frequência
Descrição dos modos de vibração
natural – f7 = 5,12 Hz).
Os dispositivos são inseridos nos
Modo Frequência (Hz) Descrição
pontos de deslocamento vertical
1 1.02 Flexão na direção tangente máximo dos modos com os quais
2 2.27 Flexão na direção radial estão sintonizados. Os estudos apre-
3 2.48 Torsão no plano “xy” sentam resultados positivos apenas
4 2.78 Flexão na direção tangente nos casos em que o AMS se situa no
5 4.95 Flexão na direção tangente ponto crítico, não mostrando eficácia
6 5.07 Flexão na arquibancada superior quando se analisa a quinta frequên-
7 5.12 Flexão na arquibancada superior cia natural. Os estudos mostram que
8 5.48 Flexão na arquibancada superior na direção radial somente a consideração de dispositi-
vos com massa próxima ou superior
a 1 t podem reduzir as acelerações
a valores aceitáveis. Os parâmetros
mais adequados de cada AMS po-
dem ser verificados na Tabela 6.
Uma vez que as arquibancadas
são simétricas, optou-se pela ins-
talação de dois AMS, um de cada
lado da estrutura, ao invés de ape-
nas um concentrando toda a massa.
A modelagem deste dispositivo no
software SAP2000 é feita através do
FIGURA 8 elemento link que ligará um de seus
Acelerações verticais máximas — Ponto 2 nós à estrutura e o outro à massa do
AMS. Conforme o manual, a massa

& Construções
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para os modelos com e sem a in-
serção dos dispositivos de controle
e a redução da aceleração obtida
podem ser verificados na Tabela 8.
Para as acelerações de pico, o limite
de 1.000 m/s2 foi considerado acei-
tável, com base nos valores apre-
sentados anteriormente.
Para todos os modelos e verifi-
cações realizadas, a redução alcan-
çada é suficiente para que as vibra-
FIGURA 9 ções da estrutura estejam dentro de
Histórico de acelerações — Ponto 2 — MC5 níveis aceitáveis.

4. CONCLUSÕES
do amortecedor deverá atuar ape- com a inserção dos dispositivos de Em geral, as arquibancadas do
nas no sentido em que houver movi- controle pode ser visto na Figura Estádio Nacional de Brasília não
mento (translação e/ou rotação), le- 12, enquanto a comparação das res- apresentam problemas consideráveis
vando em conta o sistema global de postas em termos de acelerações de vibração excessiva, porém, em
coordenadas. Já, o amortecimento e verticais para as arquibancadas com pontos específicos e para determina-
a rigidez da mola deverão ser inse- controle e sem controle está apre- das frequências de carga as pessoas
ridos nas propriedades do link que sentada na Figura 13. Os valores de podem sentir algum desconforto.
fará a ligação da massa à estrutura, pico de aceleração e o limite acei- A análise modal das arquiban-
levando em conta os deslocamentos tável para as duas situações encon- cadas mostra que os modos de vi-
que poderão ocorrer, porém, utili- tram-se na Tabela 7. bração possuem frequências rela-
zando o sistema local de coordena- A estrutura é também verifica- tivamente baixas, o que a princípio
das. A localização dos amortecedo- da para os demais casos de carga pode ser bastante preocupante. Para
res pode ser vista na Figura 11. estudados, levando em considera- efeito de comparação, a frequência
O espectro de acelerações mos- ção a frequência de carga de 2,55
trando os picos de transferência de Hz, que apresenta as maiores taxas
TABELA 7
energia para a estrutura principal de vibração. Os resultados obtidos
Comparação das acelerações
estruturais sem e com dispositivos
de controle
TABELA 6
Parâmetros otimizados para cada AMS Acelerações verticais máximas
(m/s2)
M μ m αotimizado f k Ɛ c Sem Com Red.
Limite (%)
(kN*s2/m) (%) (kN*s2/m) (%) (Hz) (kN/m) (%) (kN*s/m) AMS AMS
8247,910 0,0125 1,031 1,000 5,069 1045,803 0,559 0,367 1,336 0,836 1,000 37,407

FIGURA 10 FIGURA 11
Espectro de acelerações — Ponto 2 — MC5 Localização dos AMS — medidas em cm

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FIGURA 12 FIGURA 13
Espectro das acelerações verticais no ponto 2 da estrutura Sobreposição dos históricos de acelerações verticais
com AMS com e sem controle

fundamental encontrada, f1= 1,02Hz, é


muito inferior à proposta pela NBR- TABELA 8
6118/2014, que sugere um valor míni- Comparação das acelerações máximas para os modelos estudados

mo de 9,6 Hz. O critério de aumento


da frequência fundamental pode ser a-peak (m/s2) Redução
Modelo Aceitabilidade
uma boa solução. Em situações es- Sem AMS Com AMS (%)
pecíficas, porém, nem sempre é o MC1 1,269 0,700 44,838 Sim
melhor, principalmente em estruturas MC2 1,229 0,718 41,579 Sim
grandes e complexas. MC3 1,222 0,784 35,843 Sim
Além disso, pode-se verificar que MC4 1,275 0,870 31,765 Sim
a maioria dos modos de vibração MC5 1,336 0,836 37,407 Sim
apresenta deslocamentos no plano
horizontal que não seriam excitados
na maioria das situações. No entan- na mesma faixa da carga ou seus riações consideráveis nas acelerações
to, quando o público balança o cor- harmônicos próximos e podem ser para os cinco modelos estudados.
po lateralmente, equilibra o corpo, facilmente excitadas. Desta forma, é Embora as arquibancadas do es-
ou mesmo se está situado de forma importante avaliar as situações reais tádio não apresentem vibrações ex-
desequilibrada, a estrutura também que resultem nas maiores taxas de cessivas, o público que as frequenta
é carregada na direção tangencial e vibração. Neste trabalho, isso acon- deve sentir conforto onde quer que
é excitada nos modos que possuem teceu ao considerar o carregamento esteja. Conforme mostrado, um dos
deslocamentos nessa direção. com frequência intermediária asso- pontos analisados apresenta
​​ acelera-
A aplicação de diferentes frequ- ciada entre o sexto e sétimo modos ções acima do aceitável para deter-
ências de carga apresenta outra si- de vibração, que é o que acarreta as minadas situações de carga. Os es-
tuação a ser avaliada. Conforme co- maiores taxas de vibração. tudos mostram que a instalação de
mentado anteriormente, estruturas A distribuição do público nas arqui- dois AMSs com massa relativamente
complexas como esta podem apre- bancadas é outra questão importante a baixa, cerca de uma tonelada cada,
sentar diferentes tipos de modos de ser analisada. Os estudos mostram que é suficiente para resolver o problema
vibração, com frequências naturais os resultados podem apresentar va- de forma satisfatória.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] CEB. Vibration Problems in Structures. Practical Guidelines. Bulletin d’Information N 209.Comité European du Béton, Switzerland, 1991.
[2] FAISCA R. G. Caracterização de Cargas Dinâmicas geradas por Atividades Humanas. Tese de doutorado. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Brasil, 2003.
[3] LIMA, G. V. F., Análise Dinâmica via Método dos Elementos Finitos do Estádio Nacional de Brasília. Dissertação de mestrado. Universidade de
Brasilia, Brasil, 2013.
[4] SAAED T.E. et al. A state-of-the-art review of structural control systems. Journal of Vibration and Control. Volume 21, 919-937, 2015.
[5] SIM J. H. H., Human-Structure Interaction in Cantilever Grandstands. Doctor’s degree Thesis. University of Oxford, England, 2006.

& Construções
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Jubileu de Ouro
Laboratórios de controle tecnológico do
concreto foram pioneiros na gestão da
qualidade de obras no Brasil
FÁBIO LUÍS PEDROSO – Editor – ORCID https://orcid.org/0000-0002-5848-8710 (fabio@ibracon.org.br)

M
uito antes de haver no Brasil nor- desempenho e qualidade das edificações na época. Isto muito antes da publicação
mas técnicas para assegurar a se- construídas no país. da série de normas da Organização Inter-
gurança, qualidade, desempenho e Depois que a primeira norma técnica nacional de Padronização (ISO) sobre os
mais recentemente a sustentabilidade de para cálculo e execução de obras de con- sistemas de gestão da qualidade, em 1987.
produtos, serviços e processos, como hoje creto armado foi publicada, em 1940, bus- Depois que o conjunto de normas ISO
fazem as normas da Associação Brasileira cando oferecer padronização de critérios 9000 entrou em vigor mundialmente, os
de Normas Técnicas (ABNT), os laborató- para o projeto e a construção de obras ci- laboratórios brasileiros de controle tecnoló-
rios tecnológicos desempenharam um im- vis no país, surgiram uns poucos escritórios gico e outras empresas do setor construtivo
portante papel para assegurar segurança, privados para a prestação de serviços de buscaram sua certificação da qualidade e,
controle tecnológico do com isso, continuaram a prestar seus servi-
concreto, que ofereciam ços com excelência, de modo que a gestão
Divulgação IPT

aos contratantes de obras da qualidade das obras fosse assegurada.


a garantia de que o pro- A seguir são traçadas linhas gerais so-
jeto fora executado com bre a origem e contribuições desses labo-
qualidade, obedecendo ratórios pioneiros do controle tecnológico
aos requisitos mínimos de do concreto, nas quais é percorrido quase
segurança da época. um século de história do desenvolvimento
Esses laboratórios pri- tecnológico brasileiro no setor construtivo.
vados de controle tecno-
lógico do concreto foram PRIMÓRDIOS DO CONTROLE
pioneiros em assegurar a TECNOLÓGICO NO BRASIL
qualidade das constru- Com o advento do concreto armado
ções, uma vez que pro- no início do século XX, a indústria da cons-
piciaram a correta e ade- trução civil se constituiu no Brasil, o que
quada qualificação dos reclamou, para seu sucesso, a participação
materiais construtivos, da tecnologia civil, pois, “no caso do con-
a dosagem racional do creto armado, é muito importante tanto o
concreto e a fiscalização conhecimento das propriedades tecnológi-
das obras para que aten- cas do cimento e do aço utilizados, como
dessem aos requisitos das a perfeita organização da obra e o controle
normas técnicas em vigor. tecnológico da mesma” (VARGAS, 1994).
Nesta perspectiva, Neste contexto, é montado o Gabine-
eles foram importantes te de Resistência dos Materiais (GRM), em
para garantir que os ma- 1899, inicialmente para dar suporte ao cur-
teriais usados e os pro- so de Resistência de Materiais Escola Po-
cessos envolvidos nas litécnica de São Paulo, mas logo voltado
construções fossem os para atender às necessidades da incipiente
mais adequados e esti- indústria da construção civil.
vessem em conformidade Dirigido pelo engenheiro Francisco
com as diretrizes e requi- de Paula Souza, no GRM foram realizados
Figura 1 — Manual Manual de Resistência dos Materiais, publicado pelo
sitos previamente estabe- os primeiros ensaios de resistência de di-
Gabinete de Resistência dos Materiais, em 1905 lecidos e normatizados versos materiais de construção do país

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Divulgação IPT
dor do Laboratório de Materiais de Viena, com a única fábrica de cimento Portland
na Áustria, que chegou a chefiar o GRM na época (Cimento Perus), confeccionando
— este conseguiu se estruturar com equi- diversos traços de concreto para analisar
pamentos modernos e equipe capacitada a evolução de sua resistência mecânica ao
para a realização dos ensaios (Figura 2). longo de 50 anos.
O Gabinete de Resistência dos Mate- Em 1934, em face da crescente in-
riais realizou um estudo experimental com dustrialização e urbanização do país, o
os elementos em concreto armado dos re- LEM foi transformado na autarquia Insti-
servatórios de água da Mooca e de Araçá, tuto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que
em São Paulo, em 1907, e fez o estudo ex-
perimental completo dos elementos estru-

Divulgação IPT
turais do primeiro edifício de concreto ar-
mado com sete andares e vigas de 12m de
vão, o Edifício Guinle, construído em São
Paulo de 1913 a 1916. Houve o apoio tec-
nológico para desenvolvimento do projeto
e verificação da estabilidade da estrutura,
com a realização de ensaios dos materiais
Figura 2 — O engenheiro-arquiteto Hippolyto utilizados e ensaio de prova de carga.
Pujol Júnior chefiando ensaio de resistência do Já, o Laboratório de Ensaios de Materiais
concreto no GRM, em 1905
— LEM, em 1927, que sucedeu o GRM, dirigido
pelo engenheiro Ary Frederico Torres, reali-
(VASCONCELOS, 1992). O trabalho pio- zou pesquisas das propriedades de cimen-
neiro ensejou a publicação, em 1905, pelo tos de fabricação nacional e de dosagem de
Grêmio Politécnico, do “Manual de Resis- concretos usados nas obras, o que levou à
tência dos Materiais” (Figura 1), primeira publicação do Boletim nº 1 “Método racional
compilação dos resultados de ensaios para de dosagem dos concretos”, que buscou
avaliação da qualidade e resistência dos adaptar os trabalhos clássicos do americano
materiais de construção empregados na Duff Abrams e os métodos de dosagem de
cidade de São Paulo e interior do estado outros países baseados no módulo de finu-
(pedras, tijolos, telhas, madeiras, metais, ra dos agregados ao contexto brasileiro. O
cales, cimentos). Foi o primeiro manual Boletim, que ajudou o setor construtivo a
do gênero editado na América do Sul, que melhorar a qualidade dos concretos produ-
passou a ser amplamente utilizado pelos zidos, foi um passo embrionário do controle
construtores e indústria da construção da tecnológico do concreto no Brasil.
época (INSTITUTO PEDRA, 2022). O LEM participou dos estudos dos ma-
Como houve um intenso intercâmbio teriais para a construção do Edifício Marti-
com pesquisadores da Europa – Ludwig nelli, inaugurado em 1929, na cidade de São
Von Tetmajer, professor do Instituto de Paulo. Em 1933, o laboratório iniciou um Figura 4 — Edifícios Azevedo Villares e Altino
Tecnologia de Zurique, na Suíça, e quem Arantes — antiga sede do Banco do Estado de
projeto pioneiro de controle tecnológico São Paulo — construídos com base em estudos
projetou o GRM; Wilhem Fischer, pesquisa- do concreto de longa duração, em parceria realizados pela Seção de Solos e Fundações do IPT

Figura 3 — Linha do tempo da história do IPT

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 71
continuou realizando moldagens de traços ração do engenheiro Fernando Luiz Lobo SURGIMENTO DOS PRIMEIROS
de concreto até 1965, com a participação de Carneiro, que havia estagiado com Gilberto LABORATÓRIOS PRIVADOS DE
mais quatro cimenteiras (Votoran, Itaú, Marin- Molinari, no IPT. CONTROLE TECNOLÓGICO
gá e Santa Rita). Ao todo foram confecciona- Em 1936, um grupo composto por cin- Nos anos 1940, o IPT era frequente-
dos mais de 15 mil corpos de prova que foram co companhias nacionais de cimento cria a mente procurado por empresas da indús-
ensaiados ao longo dos anos (Figura 3). Associação Brasileira de Cimento Portland tria para desenvolver soluções, fazer testes
Os laboratórios do IPT atuaram no (ABCP), para atender à expectativa de de- e análises. Ele participou do projeto e exe-
apoio tecnológico para obras de pavimen- senvolvimento técnico da emergente indús- cução das primeiras autoestradas brasilei-
tação das ruas da cidade de São Paulo, tria nacional de cimento, atuante havia cerca ras (Anchieta, Anhanguera e Rio-Santos)
bem como nos estudos para a execução de 10 anos. Seu primeiro diretor-presidente e deu apoio geológico e geotécnico para
das estruturas da marquise do Jóquei Clu- foi o empresário José Ermírio de Moraes. os projetos de construção de barragens de
be de São Paulo, e dos edifícios Azevedo “Como metas gerais, a ABCP esta- usinas hidrelétricas (Paulo Afonso e Jupiá).
Villares e Altino Arantes (Figura 4), antigas beleceu a promoção de estudos sobre o Já, o laboratório de solo-cimento da
sedes do Banco do Estado de São Pau- cimento e sua utilização, a constituição ABCP apoiou nesta época obras impor-
lo, como as provas de carga com estacas e organização de laboratórios para o de- tantes para o sistema rodoviário brasilei-
Franklin nas fundações desses edifícios. senvolvimento tecnológico e o controle ro, como a nova rodovia Rio-Petrópolis,
Um ano antes do surgimento do IPT, a da qualidade; e a organização de cursos”, no Rio de Janeiro, a segunda pista da Via
Estação Experimental de Combustíveis e relata o chefe de laboratórios da entidade, Anchieta, em São Paulo, a rodovia Reci-
Minérios, ligada à Escola Politécnica do Rio geólogo Arnaldo Battagin. fe-Moreno, em Pernambuco, e a nova ro-
de Janeiro desde 1920, foi convertida no Dos esforços do representante da dovia Rio-São Paulo, hoje Via Dutra. Além
Instituto Nacional de Tecnologia (INT), que ABCP, professor da Poli-USP, Telemaco disso, a estrutura laboratorial da ABCP era
estatutariamente tinha os seguintes obje- van Langendonck, e do representante do usada para aulas práticas em seus cursos
tivos: estudar matérias-primas e produtos INT, o professor da UFRJ, Lobo Carneiro, técnicos intensivos.
nacionais para se obter conhecimento de- na 2ª Reunião dos Laboratórios Nacionais O laboratório de solo-cimento da
les; promover a obtenção e o emprego, nas de Ensaios de Materiais, realizada em São ABCP foi o primeiro do tipo no Brasil, sen-
condições mais favoráveis, dessas maté- Paulo, em 1939, resultou a elaboração da do usado nos estudos técnicos para aplica-
rias-primas e produtos; e auxiliar, por todos primeira norma brasileira oficialmente ção desta tecnologia nas bases aéreas de
os meios, a indústria nacional (MOUTINHO, reconhecida, a NB-1 Cálculo e Execução Petrolina, em Pernambuco (Figura 5), do
2022). A Divisão de Indústria de Constru- de Obras de Concreto Armado, lançada Galeão e Campo dos Afonsos, no Rio de
ção, chefiada pelo engenheiro Paulo Sá, em 1940, quando foi fundada a Asso- Janeiro, e de Bom Jesus da Lapa, na Bahia,
iniciou os ensaios de cimentos, agregados ciação Brasileira de Normas Técnicas — em 1942. Em razão da importação da tec-
e concretos nessa época, com a colabo- ABNT (MOUTINHO, 2022). nologia do solo-cimento dos Estados Uni-
dos para o país, iniciativa da ABCP, a ABNT
editou, em 1941, as primeiras normas brasi-
Divulgação ABCP

leiras sobre solo-cimento.


O primeiro escritório privado de con-
trole tecnológico do concreto surgiu em
1942, fundado pelo engenheiro Abílio de
Azevedo Caldas Branco. Ele veio contribuir
para que os métodos de dosagem desen-
volvidos pelos laboratórios brasileiros de
pesquisa tecnológica nas universidades
fossem compreendidos e usados pelos
mestres de obras e engenheiros pouco fa-
miliarizados em acompanhar os estudos
teóricos na área (VASCONCELOS, 1992).
Era prática comum entre os mestres de
obras aumentar o consumo de cimento por
metro cúbico de concreto, muito além do
necessário para conferir segurança à obra.
Para fazer frente a este desperdício, falta
de controle da qualidade nos canteiros de
obras e outras atitudes antieconômicas, o
professor da Universidade Federal do Rio
Figura 5 — Tecnologia do solo-cimento sendo aplicada na pavimentaçao do Aeroporto de Petrolina, de Janeiro (UFRJ), Mauro Ribeiro Viegas
na década de 1940 (Figura 6), criou, em 1952, seu escritório

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“Meu avô passou a ir às obras para mos-
trar a necessidade e as vantagens de se fazer
o controle tecnológico dos materiais de cons-
trução, para reduzir o consumo de cimento e,
portanto, o custo das edificações”, comenta
Patrícia Bauer, diretora da Falcão Bauer.
No princípio desta iniciativa, o concreto
era coletado junto às betoneiras na obra e
transportado até os laboratórios especia-
lizados do IPT ou da Universidade Pres-
biteriana Mackenzie. “Muitas vezes, junto
com o Liberato Bernardo, tecnologista do
IPT, tomávamos ônibus, levando cada um,
debaixo dos braços, dois corpos de prova,
com peso de 25 quilos”, revelou Luiz Al-
fredo Falcão Bauer em entrevista para sua
biografia, que será lançada brevemente.
A motivação para fundar um labo-
Figura 6 — Prof. Mauro Ribeiro Viegas, fundador da Concremat, em 2008 ratório de controle da qualidade do con-
creto era o de auxiliar os construtores e
técnico de controle tecnológico do concre- da Universidade de São Paulo, Luiz Al- empreiteiros a reduzir custos e desperdí-
to, para prestar assistência às obras (FON- fredo Falcão Bauer (Figura 8), teve a cios, sem descuidar da resistência mecâni-
TES, 2008). “Sua primeira empreitada foi ideia inovadora de equipar uma perua ca. Ele confessa: “a economia em cimento
realizar o controle tecnológico do concreto Kombi com os equipamentos neces- era dividida em duas partes iguais – uma
das edificações habitacionais do Instituto sários para caracterização de concre- para o construtor e outra para nós!”.
de Aposentadorias e Pensões dos Empre- to e solos, excetuando-se as prensas, Os primeiros clientes do laboratório L.A.
gados em Transportes de Carga, no Rio de para o pronto atendimento às obras Falcão Bauer foram a Construtora Adol-
Janeiro”, conta seu filho, Mauro Ribeiro Vie- (Figura 9). Sua finalidade foi auxiliar o pho Lindenberg e o escritório de arquite-
gas Filho. engenheiro responsável pela constru- tura Botti-Rubin. Foram prestados serviços
A criação do Escritório Técnico Pro- ção na seleção de materiais e na aná- de caracterização de solos e agregados,
fessor Mauro Ribeiro Viegas — Controle de lise do concreto entregue na obra pelo estudo de traço de concreto e ensaios de
Concreto e Ensaios de Materiais (Figura 7) caminhão-betoneira. resistência pelo método da esclerometria.
veio ao socorro das empresas construto-
ras, orientando-as na dosagem adequada

Divulgação CONCREMAT
do concreto, aliando a qualidade técnica e
a economia construtiva. “Ninguém queria
colocar a cabeça no travesseiro preocu-
pado com uma obra que poderia desabar!
Então, o mestre de obras aumentava por
sua conta o volume de cimento por metro
cúbico de concreto. Cimento demais pre-
judica, e, de menos, nem se fala, é malé-
fico. A proposta do Mauro era ensinar os
construtores a usarem os materiais de for-
ma racional. E aí ele criou uma sólida base.
Ele passou a ser necessário”, explicou seu
ex-aluno e braço-direito na empresa des-
de o início, o engenheiro Walmor Prudên-
cio, no livro “A construção de uma vida”,
da editora Réptil, lançado em 2008.
Com esse propósito, o escritório par-
ticipou do controle tecnológico de ma-
teriais e do concreto das obras do Ae-
roporto do Galeão, inaugurado em 1952.
Em São Paulo, em 1953, o enge- Figura 7 — Técnicos realizam a caracterização de materiais no laboratório do Escritório Técnico
nheiro formado na Escola Politécnica Professor Mauro Ribeiro Viegas

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 73
Divulgação Falcão Bauer

rada em 1960, com um laboratório pionei-


ro em campo.
Outro trabalho importante desse escri-
tório foi o apoio técnico às obras da Refi-
naria Duque de Caixas (REDUC), onde foi
montado um laboratório de campo para
estudos de solo, o que possibilitou ao es-
critório convencer a firma americana Fos-
ter Weller a mudar as especificações dos
materiais no projeto para usar granitos bra-
sileiros (Figura 10).
Já, o IPT realizou ensaios de resistência
e adensamento para a linha norte-sul do
metrô de São Paulo e ensaio de agressivi-
dade de águas ao concreto para o Metro
Figura 8 — Eng. Luiz Alfredo Falcao Bauer em seu laboratório
do Rio de Janeiro.

Logo os empreiteiros e construtores cão Bauer: o Estádio do Morumbi, um dos LABORATÓRIOS DE CONTROLE
perceberam a necessidade e importância principais estádios de futebol do Brasil, TECNOLÓGICO E A FUNDAÇÃO
dessa atividade sistematizada de controle inaugurado em 1960; e o Edifício Copan, DO IBRACON
da qualidade dos materiais de construção e projetado por Niemeyer e um dos ícones Na década de 1970, o Produto Interno
do concreto, tanto para assegurar qualidade da arquitetura moderna de São Paulo, inau- Bruto do Brasil crescia vertiginosamente
construtiva quanto para reduzir custos com gurado em 1966. Nessas obras, a Falcão chegando à casa de dois dígitos, com a
execução, de modo que o laboratório Falcão Bauer realizou ensaios nos materiais utili- construção civil crescendo 15% ao ano.
Bauer constituiu uma sede fixa no prédio do zados na sua construção. O IPT participava de diversas obras
projetista Sérgio Vieira e do arquiteto Villa- Por sua vez, em 1958, o Escritório Téc- de infraestrutura no país, como pontes,
nova Artigas, além de ampliar o número de nico Prof. Mauro Ribeiro Viegas muda sua estradas, túneis e obras de saneamento.
peruas-laboratório, seguindo seu slogan de razão social para Sociedade Civil de Con- O Instituto colaborou com todas as etapas
fundação “O laboratório vai à obra”. trole de Concreto e Ensaios de Materiais, de construção da Rodovia dos Imigrantes,
Duas obras importantes no final da quando passou a assessorar as construto- que liga a capital paulista às praias da Bai-
década de 1950 e no período seguinte ti- ras no controle tecnológico de materiais e xada Santista, e realizou prova de carga
veram sua execução assessorada pela Fal- do concreto das obras de Brasília, inaugu- na Ponte Rio-Niterói, que foi inaugurada
Divulgação Falcão Bauer
Divulgação CONCREMAT

Figura 9 — Veículo no qual era montado o laboratório básico da Falcão Figura 10 — Estruturas de concreto das obras civis da Refinaria Duque de
Bauer para controle tecnológico dos materiais nas obras Caxias, onde o Escritório Técnico Prof. Mauro Ribeiro Viegas montou um
laboratório de campo

74 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


Divulgação IPT
Divulgação ABCP
Figura 11 — Ponte das Bandeiras Figura 12 — Centro Tecnológico do Cimento, futura sede da ABCP, em
construção em 1976

em 1974. Nesta obra, a Falcão Bauer reali- pois havia muitas obras em construção no viços também na época para a construção
zou ensaios de laboratório e campo. estado, a exemplo do Palácio da Abolição, do Banco Central de Fortaleza (Figura 14) e
Dois anos antes, os dois laboratórios sede do governo estadual. Inicialmente, o do Aeroporto Internacional de Fortaleza.
participaram da execução da Ponte das escritório usou a estrutura do laboratório Os engenheiros Afrodízio Pamplona,
Bandeiras, uma importante ligação viária da universidade onde o professor Afrodízio Mauro Viegas Ribeiro, Walmor Prudêncio,
entre o centro de São Paulo e sua zona Pamplona lecionava para prestar os serviços Luiz Alfredo Falcão Bauer, Francisco de As-
norte (Figura 11). de controle tecnológico do concreto. “Como sis Basílio participaram dos colóquios sobre
A ABCP firmou, em 1973, um convê- naquela época, os equipamentos para o con- a permeabilidade e durabilidade do concre-
nio com a USP para a construção de um trole tecnológico dos materiais de constru- to, ocorridos em 1971 e 1972, no IPT, que cul-
centro de pesquisas sobre cimento e con- ção não eram tão acessíveis em nossa região, minaram na fundação do IBRACON.
creto na Cidade Universitária. A Universi- meu avô e meu tio, Carlito Pamplona, utiliza- Em 1972, a Sociedade Civil de Controle
dade de São Paulo cedeu, em regime de ram das instalações da antiga Escola Técnica de Concreto e Ensaios de Materiais mudou
comodato, um terreno de 15.000 m2 para (IFCE) como um suporte para serviços de sua razão social para Concremat — Enge-
as instalações do Centro Tecnológico do caracterização dos materiais de construção, nharia e Tecnologia, com vistas a desen-
Cimento (CTC), um projeto de 6.450 m2 de dosagem do concreto e ensaio de resistên- volver estudos e projetos, bem como para
área construída, que abrangia laboratórios, cia à compressão do concreto”, relata Rafael prestar serviços de recuperação de estrutu-
administração e auditório, custeado pelas Pamplona e Souza, diretor atual da Beton. ras e de geotecnia. A empresa montou tam-
empresas associadas a ABCP (Figura 12). Uma das primeiras obras atendidas pela bém um pequeno escritório em São Paulo,
O secretário-executivo da ABCP na oca- Beton foi o controle tecnológico do concreto para atender às obras do porto de Santos
sião era o coronel Argos Menna Barreto, que de todas as etapas de construção do Está- e do Pólo Petroquímico de Cubatão, como
viria a presidir anos depois o Instituto Brasi- dio Governador Plácido Castelo, o Castelão, a Refinaria de Petróleo União. A empresa
leiro do Concreto – IBRACON. Foi a partici- inaugurado em 1973. A empresa prestou ser- contratou o engenheiro Ronaldo Tartuce
pação de funcionários do IPT em trabalhos
de controle tecnológico do concreto para

Divulgação Beton
obras de saneamento do órgão que viria a
ser a Sabesp (Companhia de Saneamento
de São Paulo) e para estruturas enterradas
do Metrô de São Paulo e do Rio de Janeiro,
que trouxe à tona questões técnicas relativas
à permeabilidade e à durabilidade do con-
creto, que foram discutidas em colóquios
que levaram à fundação do IBRACON, em
1972. A ABCP e o IPT integraram desde o iní-
cio o quadro societário do IBRACON.
Neste mesmo ano, foi criado o escri-
tório técnico de controle tecnológico do
concreto Beton, em Fortaleza, no Ceará,
pelo professor da Universidade Federal do
Ceará, Afrodízio Durval Gondim Pamplona
(Figura 13), que também foi um dos funda-
dores do IBRACON.
O engenheiro viu na criação do es- Figura 13 — Prof. Afrodísio Durval Gondim Pamplona, fundador da Beton Engenharia, posa ao lado de sua
critório uma oportunidade de negócio, filha, Hilda Pamplona, em evento do setor construtivo

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 75
para a filial paulista, que assumiu pouco a execução de reparo do elevado Paulo de LABORATÓRIOS BUSCAM
depois sua direção. Anos depois, Ronaldo Frontin, viaduto que desabou em 1971, ma- ACREDITAÇÃO E QUALIFICAÇÃO
Tartuce se tornaria presidente do IBRACON. tando 48 pessoas, ela foi convidada pelo A economia brasileira entrou em reces-
Como a empresa havia acompanhado governo estadual paulista para recuperar são na década de 1980 e o setor construti-
a Ponte de Bertioga, que balançava dema- vo viu reduzir o número de obras públicas
siadamente com a passagem de veículos. em andamento. Nos três primeiros anos da
Divulgação Beton

No reforço desta obra foram utilizados, década, a indústria cimenteira nacional con-
pela primeira vez no Brasil, cabos externos viveu com ociosidade de 50% de sua capaci-
de protensão (FONTES, 2008). dade produtiva.
No Rio de Janeiro, a Concremat atuava Para reduzir custos de fabricação do
para viabilizar a excelência, durabilidade e cimento, a ABCP desenvolveu estudos
economia da aplicação do concreto aparente para o emprego em larga escala de ma-
em fachadas de edifícios, como no caso da térias-primas alternativas ao clínquer no
Universidade do Estado da Guanabara (hoje, cimento, como argila calcinada, escórias
Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e granuladas de alto-forno, cinzas volantes,
do prédio-sede da Petrobras (Figura 15). o que viabilizou a produção nacional de
Por sua vez, o laboratório Falcão Bauer cimentos com adições de suas associadas.
fez o controle tecnológico do concreto usa- Em parceria com a Dersa (Desenvolvi-
do na Ponte Rio-Niterói, a maior do hemis- mento Rodoviário S/A), a ABCP participou
fério sul, com comprimento de 13km, com desde a definição dos procedimentos de
construção iniciada em 1969 e concluída em projeto e dimensionamento, passando pela
1974. Em São Paulo, a empresa realizou o análise de viabilidade econômica, até a ca-
controle da qualidade de todo o concreto racterização dos materiais, dosagem dos
usado no trecho norte-sul do metrô e nas concretos, fiscalização da obra e oferta de
estações Sé e São Bento. Na Bahia, a em- cursos para a construtora Queiroz Galvão,
presa realizou ensaios e análises em mate- responsável pela execução da duplicação
riais utilizados na construção do Complexo em pavimento de concreto de um trecho de
Petroquímico de Camaçari, inaugurado em 20 km da Rodovia Pedro Taques.
1978. Também foi pioneira nos estudos de A Falcão Bauer – Centro Tecnológico de
estruturas deterioradas por incêndio tendo Controle da Qualidade foi o primeiro labora-
tido expressivo protagonismo nos casos de tório privado a obter acreditação do INME-
Figura 14 — Banco Central de Fortaleza, cujo reabilitação estrutural do Edificio Andraus TRO - Instituto Nacional de Metrologia e Qua-
concreto foi controlado pela Beton (1972) e Edificio Joelma (1974). lidade Industrial, em 1983, para certificação de
materiais voltados para a construção civil.
Segundo Patrícia Bauer, a acreditação
Divulgação CONCREMAT

é importante porque vincula o laboratório à


Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaios
(LBLE), que busca padronizar os ensaios dos
laboratórios participantes, contribui para a
melhoria contínua da qualidade dos serviços
prestados pelos laboratórios e promove a tro-
ca de informações e conhecimentos entre os
laboratórios participantes, “o que pode con-
tribuir para a atualização tecnológica e apri-
moramento dos processos e equipamentos
utilizados pelos laboratórios”.
A empresa realizou ensaios e análises em
materiais utilizados na construção da Usina
Nuclear de Angra, na Baixada Fluminense,
que começou a operar em 1985.
A Concremat reduziu seu quadro de
funcionários de 1500, em 1979, para 800, em
1982. A companhia aproveitou o momento de
recessão para implantar internamente seu sis-
tema da qualidade. Os laboratórios no Rio de
Figura 15 — Edifício-sede da Petrobras, cujo concreto foi controlado pela Concremat Janeiro e de São Paulo foram acreditados no

76 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


INMETRO em 1989, que passaram a integrar Foi nesta década que o IPT parou de segundo os melhores padrões internacionais.
a Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaio. oferecer os serviços de controle tecnológico Os processos organizacionais e produtivos
A empresa realizou no período do concreto em obras, que já eram realiza- das empresas certificadas na ISO 9000 aca-
(1979-1986) a fiscalização das obras civis do dos com qualidade por diversos laboratórios baram por otimizar custos e uso de recursos
projeto Ferro-Carajás da Companhia Vale do acreditados. O Instituto focou suas atividades na produção, bem como melhoraram a cultura
Rio Doce, no Pará. em pesquisas e estudos experimentais, inspe- organizacional e o desempenho dos produtos
Já, a Beton conseguiu o contrato do go- ção, auditorias, fiscalização e recuperação de e serviços prestados por essas empresas.
verno estadual para realizar o controle tec- estruturas de concreto, além da avaliação do Essa nova cultura em torno da gestão
nológico do concreto usado em todos os desempenho das estruturas de concreto. da qualidade teve impacto nas empresas do
viadutos a serem construídos na rodovia BR Em 1987, a ISO, fundada em 1947, iniciou setor construtivo, incluindo os laboratórios
116, no Ceará. Esta rodovia inicia em Fortale- o lançamento da série de normas (ISO 9000) de controle tecnológico, as construtoras de
za e corta longitudinalmente o país (do nor- com o objetivo de promover diretrizes a serem obras e os fabricantes de materiais. Ela veio
deste ao sul), paralelamente à BR 101. Com implementadas em empresas para assegurar a a preencher uma carência nas construções
este contrato, a empresa experimentou um qualidade de processos, produtos e serviços. das obras, em parte suprida pela atuação
aumento de sua capacidade operacional e A ISO 9000 promoveu a instauração de pioneira dos laboratórios de controle tecno-
se reestruturou organizacionalmente. sistemas da qualidade nas empresas brasileiras lógico do concreto no país.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] FONTES, Lilian. “A construção de uma vida”. Rio de Janeiro: Editora Réptil, 2008.
[2] INSTITUTO PEDRA. “O acervo do IPT: catálogo do acervo histórico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Rio de
Janeiro: Versal Editores, 2022.
[3] MOUTINHO, Maurício. “INT: um século de inovações para o Brasil”. Rio de Janeiro: INT, 2022.
[4] VARGAS, Milton. “História da técnica e da tecnologia no Brasil”. São Paulo: Editora Unesp, 1994.
[5] VASCONCELOS, Augusto Carlos de. “O concreto no Brasil: recordes — realizações — história”. São Paulo: PINI Editora, 2ª edição, 1992

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 77
Encontros & Notícias
Profissionais brasileiros no Fall Convention 2022

O
Fall Convention do American PhD Engenharia, Eng. Douglas Couto,
Concrete Institute (ACI) ocorreu associada coletiva do IBRACON, apre-
de 23 a 27 de outubro, no hotel sentou palestra sobre o Edifício Leo-
Hyatt Regency, em Dallas, no Texas, reu- poldo 1201, obra premiada no 2021 ACI
nindo os profissionais da cadeia produ- Excellence Concrete Construction
tiva mundial do concreto para reuniões Awards, na categoria “Edifícios Altos”.
e apresentações dos diversos comitês O Edifício Leopoldo 1201, com projeto
da entidade. estrutural da Ávila Engenharia, projeto
Precedendo o evento, o ACI promoveu, arquitetônico da Aflalo & Gasperini Ar-
no dia 22, o Internacional Workshop on quitetos, possui fachadas em concreto
Structural Concrete, no qual o diretor da aparente, com visual e textura imitando
ripas de madeira. O concreto foi forne- Vice-presidente do IBRACON, Eng. Julio
Timerman, em primeiro plano, com associados
cido pela Engemix, associada mantene- do IBRACON
dora do IBRACON, com consultoria da
PhD Engenharia. cipou como congressistas e palestrante
O ACI Excellence in Concrete Construction do Congresso Brasileiro do Concreto –
Awards é uma premiação promovida pelo Jubileu de Ouro, realizado em Brasília,
ACI para homenagear as obras de concre- em 2022, “rasgou elogios ao evento do
to mais inovadoras no mundo. Na 7ª edi- IBRACON”, comentou o vice-presidente
ção do prêmio, ocorrida no ano passado, do Instituto, Eng. Júlio Timerman.
outra obra brasileira foi premiada – o Faria Associados ao IBRACON participaram
Lima Building, cujo projeto estrutural é do ativamente das reuniões dos Comitês Téc-
escritório Pasqua & Graziano. nicos do ACI, entre os quais Selmo Kuper-
Eng. Francisco Graziano apresentando o Faria Na abertura do Fall Convention, o presi- man, Francisco Graziano, Douglas Couto,
Lima Building dente do ACI, Charles Nmai, que parti- Julio Timerman e Rafael Timerman.

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78 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções
Eventos

Prêmio ACI de Excelência em Construções


em Concreto 2023

A
nualmente, o American Concrete leiras é o Instituto Brasileiro do Concreto As submissões podem ser feitas até
Instituto — ACI promove o Prêmio — IBRACON. 25 de abril.
Excelência em Construção de Os associados do IBRACON podem candi- As submissões serão julgadas por uma
Concreto, que prestigia as construções datar suas obras para concorrer ao Prêmio. comissão do IBRACON, que escolherá
em concreto reconhecidos por sua ino- Para atender ao regulamento, as obras pre- uma obra por categoria da premiação.
vação, complexidade, realização e valor cisam ter sido concluídas entre 29 de abril
agregado ao concreto. de 2020 e 30 de março de 2023, e devem Mais informações:
Quem faz as indicações das obras brasi- destacar o uso inovador do concreto. www.ibracon.org.br

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 79
Encontros & Notícias
Comitê IBRACON de Argamassa Estabilizada
realiza sua primeira reunião

N
o último dia 1º de fevereiro, o nais de vários segmentos da constru- alvenarias (estrutural e de vedação) e
Comitê IBRACON de Argamassa ção, representando diversas empresas contrapisos (secos, fluidos e autonive-
Estabilizada realizou sua primei- e instituições. lantes) e para revestimento de pare-
ra reunião, na qual escolheu sua secre- O Comitê foi recentemente instalado des e tetos.
tária, a Eng. Cíntia Slaiffer (Bennter), para discutir o uso da argamassa esta- Ele deve lançar práticas recomenda-
e definiu seu cronograma de trabalho. bilizada, tecnologia cada vez mais uti- das sobre argamassa estabilizada e
A reunião contou com 30 profissio- lizada no país para assentamento de realizar seminários sobre o tema.

Simpósio sobre concreto de ultra-alto desempenho

O
Third North American UHPC Symposium
acontece de 4 a 7 de junho, em Wilmington,
em Delaware, nos Estados Unidos.
O evento vai abordar a dosagem, produção, com-
portamento estrutural, procedimentos de ensaio,
durabilidade e impressão aditiva do concreto de
ultra-alto desempenho (UHPC), bem como a aná-
lise, projeto estrutural e modelagem das estrutu-
ras e componentes feitos com UHPC.
Mais informações:
www.uhpcsymposium.com

Seminário sobre desempenho e durabilidade


das estruturas de concreto

O
Seminário Internacional sobre
Desempenho e Durabilidade
das Estruturas de Concreto
(Durar) será realizado nos dias 27 e 28
de junho, em Goiânia.
Em sua quinta edição, o evento vai tra-
tar dos mecanismos de deterioração
das estruturas de concreto, com foco
no desempenho dos sistemas estrutu-
rais em concreto.
Durante a realização do evento, have-
rá o Encontro RILEM sobre indicadores
de durabilidade e modelos preditivos
de vida útil das estruturas de concreto.
Realização da Universidade Federal de
Goiás e de Furnas, o evento conta com
o apoio do IBRACON.
Mais informações:
www.durar2023.com

80 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


Eventos e Cursos

Rilem Week 2023 recebe trabalhos

A
Rilem Week 2023, um dos mais lhos técnico-científicos até 31 de março. construção. As inscrições para a Rilem
importantes eventos da enti- O evento vai trazer os mais recentes Week 2023 estão abertas e com preços
dade, que vai ser realizado de avanços no desenvolvimento de ma- promocionais.
4 a 8 de Setembro, no hotel Sheraton, teriais de construção e reunirá pesqui- Mais informações:
em Vancouver, no Canadá, recebe traba- sadores e profissionais da indústria da www.rilemweek2023.com

5º Degrada recebe trabalhos

O
5º Encontro Luso-Brasileiro
de Degradação em Estruturas
de Concreto vai acontecer em
Goiânia, de 23 a 24 de agosto de 2023.
O evento, realizado pela Universi-
dade Federal de Goiás, receberá
submissões de trabalhos até 23 de abril.
Mais informações:
degrada2023.com.br

Curso sobre concreto em situação de incêndio

S
erá realizado em 27 de março o curso concreto em situação de incêndio e elucidar
“Comportamento do concreto em situa- as melhores práticas em proteção passiva
ção de incêndio (parte 1) e desempenho contra incêndio em estruturas de concreto
de revestimentos contrafogo – aplicações em de edifícios.
concreto armado (parte 2)”, nas modalidades O instrutor é o Eng. Carlos Britez, diretor técnico
presencial (sede do IBRACON) e virtual. do IBRACON, com pós-doutorado na área pela
O curso vai explicar o comportamento do Poli-USP.

Cursos de Inspetor I e II

O
curso “Inspeção de Estruturas de do os profissionais a conhecer os diferentes datas mostradas na tabela abaixo.
Concreto segundo a ABNT NBR tipos de inspeção, diagnosticar o quadro Associados do IBRACON tem 15% de des-
16230” apresenta conteúdos técni- patológico das estruturas de concreto, es- contos na inscrição.
cos para a formação de inspetores I e II de pecificar a metodologia de reabilitação e O curso integra o Programa MasterPEC
estruturas de concreto. elaborar relatório técnico visando manter (Programa Master em Produção de Estru-
Além da atribuição dos inspetores de es- ou restabelecer requisitos de segurança turas de Concreto), sendo organizada con-
truturas, o curso aborda os conteúdos da estrutural, funcionalidade e durabilidade. juntamente pelo IBRACON e IDD.
ABNT NBR 9452 Inspeção de pontes, via- Com carga horária de 25 horas, Informações:
dutos e passarelas de concreto, capacitan- o curso será ministrado on-line, nas www.idd.edu.br

Curso Mai/22 Jun/22 Jul/22 ago/22 set/22 out/22 nov/22 dez/22


INSPETOR I 8 a 12/5/2023 — — 7 a 11/8/2023 — — 6 a 10/11/2023 —
INSPETOR II — 12 a 16/6/2023 — — 11 a 15/9/2023 — — 4 a 8/12/2023

& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 81
Acontece nas Regionais
3º Sem. Nac. de Obras Civis na Regional do Paraná

N
o último dia 14 de fevereiro, ocorreu do IBRACON, Prof. Paulo Helene e do ex- ao vivo e contou com a participação de
a abertura do 3º Seminário Nacional -presidente, Prof. José Marques Filho. mais de 1.900 engenheiros civis e arquite-
de Obras Civis, com as presenças A noite foi de muito conhecimento e troca tos que, além de terem acesso a um con-
do Diretor da Regional Paraná, Prof. Luís de informações sobre as lições aprendidas teúdo exclusivo, participaram do sorteio
Cesar De Luca, o Diretor de Relações Insti- com os tristes acidentes nas construções. de livros do IBRACON e da assinatura da
tucionais, Prof. Cesar Daher, do Presidente O evento gratuito e social, foi transmitido Revista CONCRETO & Construções.

VII Encontro sobre Tecnologia do Concreto

V
ai acontecer no dia 23 de março o Realização conjunta do IBRACON e da que vai trazer as boas práticas do uso do
VII Encontro sobre Tecnologia do UFMS, o evento vai discutir a estanqueidade concreto no saneamento; e Emílio Takagi,
Concreto no espaço multiuso da e seus desafios. Os palestrantes são: Andrés que vai tratar do concreto com cristalizante.
Universidade Federal do Mato Grosso Cheung, que vai abordar o controle de fis- Mais informações:
do Sul. suração em reservatório; Sandra Bertocini, http://encurtador.com.br/hkBFY

Encontro Regional no Pará

O
28º Encontro Regional no Pará vai No evento, que abordará o tema “O uso workshops, minicursos, concursos estu-
acontecer de 14 a 16 de junho, no de concretos sustentáveis e sua influência dantis, feira e visitas técnicas.
campus de Belém do Instituto Fe- no clima da Amazônia”, haverá apresenta- Mais informações:
deral do Pará. ções de trabalhos submetidos, palestras, https://beacons.ai/ibraconpa

82 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções


& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 83
CONCRETIZANDO A INOVAÇÃO
E A SUSTENTABILIDADE
Participe do Maior Fórum Técnico Nacional de Debates sobre
a Tecnologia do Concreto e Seus Sistemas Construtivos

Patrocínio e Exposição Palestrantes Internacionais


(Centrosul)
n Estreite relacionamentos na XVIII Feibracon n Prof. Dr. Venkatesh K. R. Kodur
– Feira Brasileira da Construção em Concreto (Michigan State University)
n Associe sua marca ao conjunto de empresas n Dr. Ahmad A. Hamid
comprometidas com a qualidade na (Drexel University)
construção e sustentabilidade do setor

n Cative seu público com uma apresentação Concursos Estudantis


técnico-comercial no Seminário de
n Aparato de Proteção ao Ovo – APO
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