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E
m todos os ramos da dos furacões, das enchentes, da ação da gravidade, dos in-
atividade humana, a cêndios, mas não de um vento moderado. Na época, pouco
natureza, os acon- se sabia de ressonância e frequência natural de uma estrutura.
tecimentos e as cir- A geometria e sua pouca rigidez permitiram oscilações do ta-
cunstâncias deixam lições. Às buleiro de até 36 ciclos por segundo com grandes amplitudes,
vezes duras lições como as que destruíram aquela ponte metálica.
que o planeta está vivencian-
do com o terremoto da Tur- Tremenda lição rapidamente aprendida pela engenharia civil e
quia e Síria, e no litoral norte incorporada aos novos projetos. A partir desse acontecimento
de São Paulo. No âmbito da nunca mais uma estrutura projetada e construída em conformi-
Engenharia Civil é razoável dade com as normas técnicas e com os procedimentos de bem
dizer que essas lições estejam construir viria a colapsar por ressonância e flutter aeroelástico.
entre as mais tristes porque
envolvem muitos indivíduos, Sobre os trágicos acidentes hidrológicos e geológicos a ABGE
além de expressivos prejuízos Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental,
econômicos. vem frequentemente se manifestando, explicando e recomen-
Paulo Helene, dando providências para mitigar os riscos. Vale a pena con-
Diretor Presidente
Essas tragédias, por outro sultar a carta aberta da ABGE publicada na edição 105 desta
lado, nos trazem grandes revista, e à recente carta de fevereiro de 2023.
aprendizados e permitem evoluir com mais segurança no futu-
ro. Por exemplo, a Engenharia empírica dos egípcios antes de Outra lição recente aprendeu-se com o Edifício Wilton Paes
construir a mais alta pirâmide do mundo, com 143m de altura, a de Almeida, obra emblemática dos anos 60, que colapsou
Grande Pirâmide de Queóps, uma das sete maravilhas da anti- em 2018, após sofrer um incêndio de apenas 80 minutos. Até
guidade, aprendeu com o colapso das fundações de 3 pirâmi- então a engenharia entendia que as estruturas de concreto
des. Ao longo dos anos os engenheiros e arquitetos construí- armado, quando adequadamente projetadas e bem cons-
ram centenas de milhares de pontes desde os tempos romanos, truídas, são muito seguras e capazes de resistir e suportar a
inclusive pontes emblemáticas como a Golden Gate em 1937 ação nefasta do calor, pelo menos por algumas horas, para
em São Francisco, hoje com 86 anos, e a ponte do Brooklin em viabilizar a evacuação dos residentes e o acesso e trabalho
Nova York, hoje com 140 anos, inaugurada em 1883. de salvamento dos bombeiros. Em caso similar de incêndio,
a estrutura metálica das Torres Gêmeas, no ano de 2001, em
No Brasil a ponte de grande porte considerada como a pio- Nova York, colapsou precocemente em cerca de 60 minutos,
neira foi a ponte do Recife, construída em rocha e madeira de acarretando a morte de mais de 400 bombeiros, além dos
lei e que serviu a cidade por 170 anos, de 1644 a 1815. Suce- milhares de usuários que não conseguiram sair a tempo.
deu uma nova ponte, desta vez em aço, denominada ponte
7 de Setembro, inaugurada em 1865, que sucumbiu devido Esses acontecimentos ensinaram duras lições de como me-
à elevada corrosão gerada pela atmosfera marinha. Em 1917 lhorar o projeto e construção de estruturas considerando a
foi então substituída pela atual ponte de concreto armado, possibilidade de um incêndio de grandes proporções. Ne-
uma das mais antigas do país, projetada por Emilio Baumgart, nhum edifício atual, projetado e construído dentro das nor-
atualmente denominada ponte Maurício de Nassau, em ope- mas e exigências nacionais e internacionais, corre risco de co-
ração, ora com 106 anos de idade. lapsar subitamente sob um incêndio.
Nenhuma dessas pontes históricas e mais centenas de milha- Agora vejamos o caso dos terremotos. Em 1755, ocorreu em
res de outras pontes construídas por séculos nos diferentes Lisboa, um grande terremoto que vitimou fatalmente cerca de
países, colapsaram por efeito da ressonância, até que houve 100 mil pessoas. Na China, em 1976, um tremor de 8,2 graus
o catastrófico colapso da ponte Tacoma Narrows. Inaugurada na escala Richter com duração de apenas 14 s, vitimou cer-
em 1940, a ponte colapsou poucos meses após, com um vento ca de 240 mil pessoas. No Chile, em 1960, ocorreu o abalo
moderado, mas constante, que surpreendeu a Engenharia do de maior intensidade já registrado na história da humanidade
mundo todo, pois esta apenas conhecia o poder destrutivo com 9,5 graus na escala Richter.
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Os sismos da Turquia e Síria ocorreram em 6 de fevereiro de estruturas e edifícios colapsem por sismos, por incêndios, por
2023. A estimativa de mortes até agora é de mais de 50.000 ventos moderados e furacões, porque aprendemos e incor-
pessoas, sendo desalojadas cerca de 1,3 milhões de pessoas poramos o conhecimento de forma democrática, consensual
e quase 7 mil edifícios colapsados. Não há como evitar que a e abrangente disponibilizando-o nas normas técnicas e nas
natureza se manifeste, através de sismos, furacões, maremo- práticas recomendadas.
tos, entre outros.
Todos os profissionais têm acesso ao conhecimento gerado e
Para nos proteger existe a Engenharia Civil que tem a res- devem segui-lo, sem subjugar-se a pressões comerciais de in-
ponsabilidade e o dever de dominar as forças da natureza, vestidores inescrupulosos. Da mesma forma hoje se conhece
protegendo e dando qualidade de vida aos povos a quem muito mais de áreas de risco e o poder público deve gerir o
serve. Vários edifícios permaneceram de pé, enquanto ou- uso e ocupação do solo respeitando o conhecimento geoló-
tros, vizinhos, colapsaram. Vale registrar as palavras de Mahir gico e geotécnico.
Ulutaş, Presidente do Conselho da Câmara de Engenheiros da
Turquia: “Ciência e engenharia são suficientes para construir O Instituto Brasileiro do Concreto, solidariza-se com todas as
estruturas que sobreviverão mesmo em um terremoto tão vítimas e famílias destes terríveis eventos, e reforça a impor-
grande, sem, nem sequer trincar os vidros.” tância da boa engenharia para diminuir perdas. Catástrofes,
infelizmente, continuarão acontecendo em todo o mundo, e
Concluindo cabe repetir que existe uma grande diferença é responsabilidade e desafio dos engenheiros, arquitetos e
entre acontecimentos desconhecidos, únicos e precursores, geólogos criar soluções que provoquem o mínimo impacto
portanto inevitáveis, dos acontecimentos previsíveis, frequen- ambiental, e que ao mesmo tempo, confiram segurança, pro-
tes, recorrentes, conhecidos e evitáveis. Não se pode creditar teção, durabilidade e robustez, ajudando na evolução dos ru-
todas as catástrofes a forças ocultas e desconhecidas da na- mos da humanidade.
tureza ou do acaso.
Vamos em frente.
A arquitetura, engenharia e geologia, sabem hoje muito mais
que há alguns anos atrás. Aprenderam a duras penas, muitas PAULO HELENE
vezes com calamidades. Mas atualmente é inadmissível que Diretor Presidente
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A atual não-classificação é um enorme (e incompreensível) pre- sua área de atuação. O aluno não precisa ir à biblioteca procurar
juízo que precisa ser corrigido. A expectativa é que esta revista (e disputar) o exemplar do livro que precisa para estudar de-
volte ao Qualis e seja classificada na melhor posição do grupo B. terminada disciplina. Basta que esse digitalmente faça parte do
acervo da biblioteca virtual.
Em ambas revistas, ISMJ e C&C, o IBRACON investe grande recur-
so financeiro para sua produção. Uma grande quantidade de pro- Nessa linha, o IBRACON acaba de realizar parceria com a Edito-
fissionais, nacionais e internacionais, dedica seu tempo de forma ra Oficina de Textos para disponibilizar digitalmente o livro “Es-
voluntária colaborando como editores, membros de comitê cientí- truturas de Concreto Armado – Volume 1” na biblioteca virtual da
fico, revisores, e também confiando seus trabalhos como autores. Pearson, da qual várias universidades possuem assinatura.
Todo esse trabalho, reconhecido e contínuo há quatro décadas,
não pode ser penalizado, ainda mais de supetão e sem justificativa, A Coleção Estruturas de Concreto foi projetada para servir de refe-
para o bem da pós-graduação brasileira e da engenharia civil. rência no ensino, conta com a dedicação e competência de cerca
de sessenta autores, renomados engenheiros (as), coordenadores
Entendemos e respeitamos os critérios da Área de Engenharias I, pa-
de norma ABNT, professores, pesquisadores (as) e profissionais atu-
rabenizamos toda a comissão que trabalhou nas avaliações, porém
antes em escritório. O segundo volume deve ser finalizado este ano.
entendemos que essa distorção precisa ser corrigida na atual classi-
ficação, e potencialmente eliminada em eventos futuros. Esperamos
que classificação do ISMJ possa ser revista para cima, e que a C&C Ao docente universitário fica nossa recomendação para que
tenha sua correta avaliação e classificação reincorporada ao Qualis. adote o livro em suas aulas, indique a todos alunos da turma que
podem consultá-lo de forma digital acessível (sem custo ao alu-
Outro assunto a comentar refere-se à evolução das formas de no no caso de várias universidades) para estudar para disciplina.
disponibilização de livros didáticos. Se, no passado, as grandes Aos alunos mais interessados em estruturas, indico a compra
universidades se orgulhavam de seus vistosos edifícios-biblioteca do livro impresso no custo de associado pelo site do IBRACON,
para guardar seu valoroso acervo de publicações impressas, hoje como forma de ter sempre a mão esse rico conteúdo!
o acervo é em sua maioria digital, acessível à comunidade acadê-
mica de qualquer lugar. Muito obrigado.
As bibliotecas virtuais são hoje de uso corrente, sendo comum GUILHERME PARSEKIAN
e necessário que a universidade assine o acervo específico de D iretor de P ublicações
PROMOÇÃO: Kit com 5 Práticas + Guia de Prevenção da Reação Álcali-Agregado SÓCIOS: R$ 300,00 | NÃO SÓCIOS: R$ 550,00
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Loja Virtual
8 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 do IBRACON:
& Construções
http//lojaibracon.org.br
Declaração de Sustentabilidade
Declaração IBRACON sobre a
Sustentabilidade do Concreto
A
sustentabilidade é um valor sempenho social, econômico e construção e demolição, em face
fundamental para a socie- ambiental da cadeia produtiva do da implementação da Resolução
dade atual e também para o concreto, visando a neutralização CONAMA 307, que requeria que os
IBRACON. do carbono, alinhada com os con- geradores dessem uma destinação
ceitos atuais e consagrados iden- adequada aos resíduos de seus
O IBRACON tem visão holística tificados pelas siglas ODS e ESG. processos industriais. Neste perío-
e foco na necessidade de desen- do, foram realizadas nove edições
volvimento de informações, do- O conhecimento desenvolvido do Seminário “Desenvolvimen-
cumentos e ferramentas a serem e compartilhado pelo IBRACON to Sustentável e Reciclagem na
utilizados pela cadeia produtiva do (livros, congressos, FEIBRACON, Construção Civil”, que trouxeram
concreto e pela sociedade em ge- cursos, concursos, seminários, ao Brasil um legado importante
ral para alcançar metas de susten- práticas recomendadas, revista de práticas realizadas na Europa e
tabilidade. científica e revista técnica) é intei- nos Estados Unidos no campo das
ramente resultado do trabalho de
O IBRACON é uma associação pesquisas, normalizações e políti-
voluntários dedicados à inovação
sem fins lucrativos, declarada de cas ambientais.
e desenvolvimento das estruturas
Interesse Público Estadual e Fede- de concreto. O IBRACON, por meio desse
ral, cuja missão é criar, divulgar e
Comitê Técnico, colaborou, deci-
defender o correto conhecimento Historicamente, o IBRACON ini- sivamente, para a elaboração das
sobre materiais, projeto, constru- ciou a discussão do tema da sus-
seguintes normas técnicas:
ção, uso e manutenção de obras tentabilidade no fim da década de
de concreto, desenvolvendo seu 80 e nos livros técnicos introduziu » ABNT NBR 15113:2004 Resíduos
mercado, articulando seus agen- o conceito de rendimento ou efici- Sólidos da Construção Civil e
tes e agindo em benefício dos ência ambiental através do índice Resíduos Inertes – Aterros: dire-
consumidores e da sociedade em de MPa/kg de cimento. Vem cola- trizes para projeto, implantação
harmonia com o meio ambiente. borando forte com a ABNT e, mais e operação;
recentemente, foi decisivo na al-
O IBRACON foi criado em 1972, teração das prescrições da norma » ABNT NBR 15114:2004 Resídu-
como uma sociedade indepen- ABNT NBR 6122, visando sustenta- os Sólidos da Construção Civil-
dente de profissionais que atuam bilidade. Áreas de Reciclagem: diretri-
no campo do concreto simples e zes para projeto, implantação e
estrutural, que inclui usuários das O IBRACON, em 1997, criou operação;
construções, concessionárias e um Comitê Técnico dedicado à
sustentabilidade do concreto es- » ABNT NBR 15115:2004 Agre-
empresas públicas, pesquisado-
res de várias áreas, arquitetos, trutural. Denominado CT 206, gados reciclados de resíduos
www.ibracon.org.br ibraconOffice office@ibracon.org.br ibraconOffice
sólidos da construção civil –
engenheiros, acadêmicos, em- posteriormente alterado para CT
presas de projeto, fabricantes, MAB e, atualmente, CT 101 Comi- Execução de camadas de pavi-
tê Técnico de Sustentabilidade mentação: procedimentos;
empresários, industriais do setor,
construtores, laboratoristas e até do Concreto. » ABNT NBR 15116:2004 Agrega-
outras Entidades. dos Reciclados para uso em ar-
Este CT, inicialmente, atuou dis-
Assim sendo, entende que deve seminando conhecimento, tecno- gamassa e concreto de cimento
investir na defesa e orientação de logia e as melhores práticas para a Portland: requisitos e métodos
atividades que promovam o de- de ensaios.
reciclagem e usos de resíduos de
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Há anos a sustentabilidade foi tinadora de todos os segmentos lidade durante a operação e uso
incorporada entre os temas dos da cadeia produtiva do concreto, ao longo da vida útil das estrutu-
trabalhos técnico-científicos para o IBRACON está em posição privi- ras de concreto;
as edições do Congresso Brasilei- legiada para promover uma visão
ro do Concreto CBC. Duas edições de sustentabilidade sistêmica e in- » Reutilização: endossar me-
do Congresso tiveram as constru- tegradora de todas as etapas do todologias e sistemas construtivos
ções sustentáveis como norte das processo construtivo: que viabilizem reutilização, reci-
discussões, o 52º CBC2010 e o 53º clagem e reaproveitamento e que
CBC2011, além de terem sido pro- » Concepção: subsidiar o se- sejam aderentes a uma visão de
movidas três edições do Seminá- tor com critérios e parâmetros
economia circular;
rio de Sustentabilidade na Cadeia orientativos e balizadores para a
Produtiva do Concreto nos CBCs correta concepção de estruturas » Normas: colaborar com a ABNT,
de 2009, 2010 e 2011. As revistas sustentáveis do concreto; propondo novas normas e
“CONCRETO & Construções” e apoiando a atualização de nor-
» Projeto: prover o setor com me-
“RIEM” também publicaram vários mas relativas ao concreto e suas
todologias para avaliação do
artigos técnicos e científicos so- consumo de energia, de água e estruturas tendo em vista a sus-
bre o tema da sustentabilidade das de insumos, e para quantificação tentabilidade como elemento
construções em concreto. da emissão de gases tipo estufa direcionador de parâmetros nor-
e de resíduos a partir de esco- mativos.
Em outras palavras, o tema da
sustentabilidade sempre esteve na lhas de tipologias de projeto e
O IBRACON entende que a su-
agenda das atividades do IBRA- sistemas construtivos. Construir
pressão de gargalos na cadeia do
CON, assim como todos os temas um banco de projetos em cola-
concreto com informação de qua-
correlatos: reaproveitar e reciclar boração com outras Entidades;
lidade que chegue aos seus inter-
materiais e componentes, reduzir » Materiais: aportar metodo- venientes é uma das condições
consumo de matérias-primas (hoje logias de produção e dosa- necessárias para se alcançar a sus-
conhecido por desmaterializar), gem de concretos com foco tentabilidade no setor.
declarações ambientais de produ- na sustentabilidade. Construir
tos e análise do ciclo de vida. um referencial de traço de Contribuir para disseminar fer-
concreto e as suas principais ramentas, metodologias e infor-
Este conjunto de ações tem
promovido o desenvolvimento de variáveis; mações sobre as melhores práticas
pesquisas científicas e tecnológi- sustentáveis no setor é o compro-
» Construção: promover proce- misso do IBRACON, que continuará
cas que buscam contribuir para dimentos construtivos de bai-
melhorar o desempenho ambiental e intensificará a colaboração com
xo consumo de energia, bai-
do uso do concreto na construção, empresas e entidades que visam à
xa emissão de gases estufa,
o que tem rendido a publicação de redução da emissão de carbono.
baixa geração de resíduos e
artigos em periódicos nacionais
alta durabilidade; Entre outras iniciativas, o IBRA-
e internacionais, impulsionando a
CON apoia o Global Consensus on
divulgação das melhores práticas » Durabilidade: investir em meto-
sustentáveis no setor construtivo. dologias que assegurem vida útil Sustainability in the Built Environ-
Elas contribuíram também para das estruturas de concreto com ment GLOBE (RILEM, cib, ECCS, fib
fornecer subsídios para que as nor- baixa ou desprezível manuten- (CEB.FIP), IABSE,iaSS), o Concrete
mas técnicas nacionais sustentem ção; Future (GCCA), o SIDAC (CBCS) e o
práticas construtivas ecoeficientes. CECarbon (SindusCon-SP).
» Uso: apoiar e valorizar as Entida-
Como entidade técnica aglu- des que trabalham a sustentabi- IBRACON | Setembro de 2022 C
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Personalidade Entrevistada
Paulo Fernando
Araújo da Silva
P
aulo Fernando Araújo da Silva é engenheiro
civil, formado pela Universidade Federal de Juiz
de Fora. Mestre em engenharia da construção
pela Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo (Poli-USP) e doutor em infraestrutura pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
IBRACON Quais motivações e episódios o levaram cursar Horizonte, como engenheiro fiscal de uma obra de mineração
engenharia civil na Universidade Federal de Juiz de Fora?
da MBR (Mineração Brasileira Reunida). Sete meses depois,
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Meu tio José Maria, fui ser fiscal de obra da barragem da Usina de Itacarambi, no
formado em engenharia civil, havia conquistado os cargos norte de Minas Gerais, passando a ganhar o dobro.
mais altos na Usiminas. Eu admirava aquilo! Como eu gostava Tempo depois, fui convidado a vir trabalhar na Concremat
de matemática, química e física, resolvi fazer engenharia civil. de São Paulo, como engenheiro de controle da qualidade de
Na época, eu morava em Juiz de Fora. Como venho de obras. A princípio, não queria vir, pois o custo da moradia era
uma família pobre, minha única opção era entrar numa alto, mas fui convencido por ser um profissional novato na
universidade federal ou estadual. Escolhi a Universidade de empresa, com um futuro pela frente.
Juiz de Fora. Após passar pelo cargo de engenheiro coordenador dos
Sou um exemplo de que o estudo pode mudar laboratórios da Concremat, assumi o cargo de gerente de
completamente a vida da pessoa. Por isso, avalio qualquer obras de concreto, prestando serviços para as obras do
governo por suas propostas na área da educação. Metrô, da Sabesp (Companhia de Saneamento de São Paulo),
do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transporte), bem como obras de barragem no sul do país.
IBRACON A ssim que se formou, em 1986, você foi Uma obra que gostaria de destacar é a do Bank Boston, em
trabalhar na Concremat, empresa onde atualmente é diretor São Paulo. A obra foi concluída em 2000, com paredes de
executivo comercial . Como foi sua trajetória profissional
concreto espessas moldadas no local, com mais de 50cm de
dentro da empresa?
espessura. Como o projeto dessa obra era norte-americano, a
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | No dia seguinte à especificação do concreto seguiu a norma norte-americana.
minha diplomação, comecei a trabalhar na Concremat de Belo Quando a primeira parede de concreto ficou pronta, ela
apresentou fissuras verticais a cada E o que aconteceu? No dia da desforma do concreto, tinha cerca de 30 engenheiros
2,5m. Fizeram a segunda parede de na frente da parede para ver o resultado: a parede de concreto moldada no local
concreto e aconteceu a mesma coisa. não apresentou nenhuma fissura! Alguns ainda achavam que as fissuras apareceriam
Pararam a obra. Fui chamado para depois de um tempo. Mas, não apareceram. Porque eu usei a estratégia certa,
reunião com os engenheiros norte- informada pelo conhecimento correto.
americanos que questionavam as A partir daí, tudo o que eu falava, os engenheiros norte-americanos acreditavam.
causas das fissuras. Aí expliquei que Era Deus no céu e eu na Terra! Porque eu havia resolvido o problema e oferecido
o problema devia ser o excesso de uma solução mais barata, sem necessidade de reparação com injeção nas trincas.
cimento especificado no projeto (de
385 kg/m3), bem como a especificação IBRACON Como essas escolhas profissionais estão ligadas ao mestrado na Escola
errada do tipo de cimento, e que havia Politécnica da USP e ao doutorado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica?
faltado refrigeração na concretagem. | PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Para pessoas de origem pobre, como
Apesar de ter diagnosticado o eu, o mestrado era coisa fora de cogitação, pois o negócio era trabalhar, ganhar um
problema, não tinha certeza sobre sua pouco de dinheiro para comprar um apartamento para a família e ir tocando a vida.
solução, pois, até aquele momento, Uma vez perguntei a um profissional do IPT que visitava o laboratório da Concremat
não havia no país um único caso de o que era esse negócio de mestrado. Ele me explicou e me incentivou a fazer. Um
paredes de concreto moldadas no dia fui até a Escola Politécnica da USP e fiz minha inscrição.
local, em grandes obras, que não Durante o mestrado, eu trabalhava, não podia deixar o emprego, porque tinha que
apresentassem fissuras. Eu usava ajudar meus pais e tinha um compromisso com minha esposa. Estudava e trabalhava
meus conhecimentos adquiridos na Concremat como coordenador dos laboratórios. Não foi fácil! Pesquisei sobre
no mestrado, particularmente a durabilidade do concreto aparente, com a orientação do Prof. João Gaspar
com o Prof. Paulo Helene e o Prof. Djanikian. Aprendi muito: como pesquisar, quais fontes consultar, de modo que o
Selmo Kuperman, e os aplicava mestrado me ajudou a convencer os clientes, a dar os argumentos certos para suas
nas obras com às quais eu estava escolhas. Concluí o mestrado em 1993.
profissionalmente envolvido. Em seguida, comecei o doutorado na Poli, mas, como achei que não estava
Sugeri aos engenheiros norte- agregando, parei. Tinha terminado os créditos e parei.
americanos do projeto de construção Depois de um tempo, fui fazer o doutorado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica
do Bank Boston que autorizasse a (ITA), o que, para mim, era um sonho completamente distante. Lá, estudei com
Concremat a baixar o consumo de o melhor professor de pavimentação do Brasil, o Prof. Régis Martins. Pesquisei
cimento, mudasse a especificação do sobre durabilidade do pavimento flexível, como aumentar a vida útil do pavimento.
tipo de cimento e refrigerasse o concreto Terminei o doutorado em 2008.
no momento de seu lançamento. Eu sempre procuro ensinar as pessoas aqui na Concremat: primeiro, vai entender a
Autorizaram. Fiz novo estudo de teoria, consulte o livro tal, antes de lidarmos com o problema na obra. Eles têm uma
dosagem do concreto com as oportunidade que não tive.
novas especificações. Como havia
baixado a quantidade de cimento IBRACON Quando você terminou o doutorado, qual era seu cargo na Concremat?
(para menos de 330 kg/m3), para | PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Diretor. Em 1999 me tornei o mais novo
manter o mesmo fator água/ diretor da empresa, com 35 anos, devido ao meu extenso relacionamento comercial
cimento, precisei baixar o consumo e desempenho operacional.
de água. Com isso, se compromete Um tempo depois, o presidente da Concremat à época, Mauro Viegas Filho, me
o abatimento do concreto. Por isso, convidou para ser diretor de operações.
usei pela primeira vez no Brasil o
aditivo superplastificante à base de IBRACON Esta edição trata do concreto em grandes volumes, assunto em relação
policarboxilato, que foi importado. ao qual você presta consultoria .
Como orientação geral ao leitor da Revista, quais
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as recomendações mais importantes para durabilidade. Para isso, tem-se que escolher o cimento da região que apresenta o
assegurar que o concreto massa seja menor calor de hidratação.
mais durável? O segundo passo é reduzir o consumo de cimento, colocando o mínimo necessário
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA de cimento no concreto. Mas, não é reduzir de maneira arbitrária, ou copiando o
SILVA | Para registro, nos últimos que foi feito em outra região. É realmente fazer um estudo de dosagem.
quatro meses tenho dado consultoria O terceiro cuidado é fazer a adequada refrigeração do concreto. Pode-se fazer a
para a concretagem de lajes de fundo, concretagem em camadas menos espessas, para dispensar a refrigeração? Sim,
parte das obras da Linha 2 do Metro mas na prática o cliente quer concretagem de uma única vez, pois ele tem um
de São Paulo. São 5 mil metros cúbicos cronograma para cumprir.
de concreto em cada uma. Fizemos Em termos de custos, é melhor concretar de uma única vez. A concretagem em
também blocos de fundação de sete várias etapas requer fazer uma camada, verificar a temperatura, esperar a cura,
metros de altura, concretados de fazer tratamento de superfície para que haja aderência entre as camadas. Ou seja,
uma só vez, que não apresentaram se perde em tempo e produtividade.
fissuração. Como há preocupação No Metrô de São Paulo, a Concremat deu consultoria para a primeira concretagem
para a temperatura não ultrapassar com refrigeração com nitrogênio, que planejei. Era um bloco de fundação da Linha
65°C, para que não haja formação de 5 do Metrô.
etringita tardia, a temperatura máxima É melhor que a refrigeração do concreto com gelo? Com gelo, consegue-se
de hidratação chegou a 62°C. reduzir a temperatura de concretagem de 35°C para 23°C. Com o nitrogênio,
O primeiro cuidado é fazer uma leva-se a temperatura para 12°C.
dosagem do concreto que atenda O problema com a refrigeração do concreto com nitrogênio é o custo. Ele só se
às especificações de resistência e torna viável em grandes concretagens.
Em todas as obras que tenho
trabalhado na Concremat, não tenho
tido dificuldade para usar gelo para
refrigerar o concreto, pois os clientes
têm entendido os benefícios.
Quem faz o edital ou aprova o projeto, sabe de dimensionamento de estruturas, cálculos, para que a teoria faça sentido
mas geralmente não conhece teorias e normas relacionadas à durabilidade. Por para os profissionais do setor.
isso, a importância de se contratar um engenheiro especialista em durabilidade já
no momento de elaboração das normas do edital. Para que as diretrizes não sejam IBRACON Você tem uma participação
genéricas ou defasadas. ativa e frequente nas edições do
Congresso Brasileiro do Concreto.
IBRACON Quando as obras são entregues para a iniciativa privada construir, este Desde quando frequenta o evento?
problema de especificação da durabilidade no projeto não é resolvido? | PAULO FERNANDO ARAÚJO DA
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Não. Porque falta o conhecimento SILVA | Eu frequento desde 1988.
teórico-prático dos profissionais. A especificação da resistência mecânica é Faço minhas intervenções quando
o básico do básico. Se der problema de resistência na obra é porque muita vejo a disseminação errada de algum
bobagem foi feita. Outra coisa é a durabilidade da obra, cujas especificações conceito. Aí, eu tenho a preocupação
poucas empresas no setor construtivo dominam. Eu vi traços de concreto com de que o profissional novato vai ficar
mais de 700kg/m3. Quer dizer, a empresa exagera no traço para assegurar com aquele conceito errado.
resistência e esquece da durabilidade. Já vi professor fazendo avaliação errada
Na área rodoviária, as concessionárias focam na conservação, na manutenção da reação álcali-agregado no último
do pavimento flexível, aquele com revestimento de asfalto, que, na realidade, Congresso do IBRACON. Aí, falei: ‘Deixa
é concreto betuminoso usinado a quente (CBUQ), pois o asfalto, o betume, é eu fazer uma ponderação? Precisa fazer
apenas um dos componentes, ao lado da brita e da areia. Por que, então, tantos um ajuste nesta etapa”. Eu fiz parte do
defeitos são visíveis neste tipo de pavimento? A pista toda esburacada não é por grupo de trabalho que elaborou a Prática
causa das chuvas, mas por causa da carência de uma especificação adequada Recomendada IBRACON sobre a RAA,
do CBUQ. comandada pelo Cláudio Sbrighi, Arnaldo
Por sua vez, nas obras de arte – viadutos e túneis – faltam profissionais Battagin e Eduardo Quitete. Comentando
especializados em durabilidade do concreto, que tenham mestrado, doutorado e posteriormente com um profissional
experiência prática. da área química, ele me disse: “Paulo,
a sociedade espera isto de você, ela
As próprias normas do DNIT são muito genéricas quanto à durabilidade. precisa de seu conhecimento e espera
que você intervenha”. Aquilo mexeu
IBRACON Esses problemas ocorrem porque as construtoras não se interessam em comigo. Porque eu fui beneficiado com
frequentar eventos técnicos, como o
Congresso Brasileiro do Concreto? os impostos pagos pela sociedade, pois
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Sem dúvida, é um dos motivos. cursei numa universidade federal, fiz USP,
Mas, ocorre também porque tem consultor que gosta de agradar o cliente. fiz ITA. Então, realmente, eu preciso dar
Na Concremat, trabalhamos para ajudar o cliente com sua obra, para garantir um retorno para a sociedade, devolver
qualidade. Como consequência, ele ficará grato. Não se deve aceitar o que o para a sociedade o investimento que ela
cliente pensa ser o certo, quando se sabe que ele está errado. fez em mim.
Uma vez eu fiz uma previsão de resistência do concreto aos 28 dias,
recomendando ao empreiteiro mexer no traço do concreto. Num domingo, recebo IBRACON Você lançou recentemente
uma ligação durante a missa. Era o engenheiro da empreiteira que me disse que um novo livro? Qual é seu título? E seu
se fosse economista eu quebraria o país. Alertei-o que o estava prevenindo, propósito?
pois o valor estava muito próximo do limite, o que era um risco. Quer dizer: falta | PAULO FERNANDO ARAÚJO DA
qualificação para os profissionais das empreiteiras, eles têm que fazer cursos de SILVA | Lancei ano passado no
atualização profissional. Instituto de Engenharia de São Paulo,
Eu fui convidado pelo Tribunal de Contas de União para dar um curso sobre que lotou o auditório com cerca de
pavimento de concreto e vi que é preciso focar nos conceitos, ao invés dos 250 profissionais no dia do lançamento.
& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 15
É o único livro no Brasil sobre concreto com concreto projetado, onde busco responder as perguntas que me apareceram
projetado para túneis, taludes, piscinas nesses 30 anos de consultoria em concreto projetado. É um livro importante para
e solo grampeado. Colho frutos do desfazer conceitos errados ainda em voga sobre o concreto projetado, que pode
lançamento até hoje. ajudar a minimizar problemas em obras, como a fissuração.
Neste livro está toda minha experiência
IBRACON Quando você começou a trabalhar com concreto projetado?
| PAULO FERNANDO ARAÚJO DA SILVA | Na década de 1990, época das
obras do Metrô e da Prefeitura de São Paulo. A Concremat fazia o controle da
qualidade de um túnel em São Paulo. Havia um problema de não se conseguir
atingir a especificação máxima de absorção (porosidade) do concreto
projetado. Eu desenvolvi um traço de concreto, com estudo em laboratório,
aplicando meus conhecimentos teóricos aliados com minha experiência prática,
e consegui uma absorção menor que 8%, pela primeira vez no Brasil. Qual foi o
segredo? Mudar a quantidade de argamassa no traço do concreto projetado e
ajustar o fator água/cimento.
NO PRUMO
Compartilhar teoria e prática da construção civil, com leveza, didatismo e
criatividade. Esta é a proposta do livro “No Prumo”.
A publicação oferece uma leitura atual de temas que vão do projeto e da análise de
solo ao serviços de concretagem, sistemas construtivos e sustentabilidade.
FORMATO: 21 x 29 cm
PÁGINAS: 170
ANO: 2017
VENDAS: Loja virtual (www.ibracon.org.br)
O
s blocos de fundações das edifica- térmico ou físico-mecânico do concreto. do cimento da base de uma torre eólica.
ções atuais e as fundações de torres Estruturas massivas de concreto deman- Essa análise pode ser estendida à ava-
eólicas têm se tornado elementos de dam, em sua grande maioria, elevados liação do comportamento de blocos de
grande preocupação no meio técnico devido ao consumos de cimento e, dependendo do fundações de edificações, com o foco de
grande volume de concreto. Esses elementos, tipo e de suas características, fissurações esclarecer os principais pontos de análise
categorizados como concreto massa, exigem podem ocorrer. e os critérios adotados para a recomenda-
atenção quanto às manifestações patológicas O fenômeno da hidratação do cimen- ção de melhorias construtivas para a mini-
advindas do processo exotérmico de hidratação to Portland tem sido intensamente pes- mização do risco de fissurações.
do cimento. Nesse sentido, é recomendado o quisado nos últimos anos. Ele decorre de
controle da temperatura máxima do concreto reações exotérmicas, podendo ocasionar 2. COMPORTAMENTO TÉRMICO DA
de maneira a minimizar a ocorrência de DEF elevações consideráveis de temperatura. FUNDAÇÃO DE TORRE EÓLICA
(delayed ettringite formation) e a geração de No dia a dia do tecnologista de concre- No controle tecnológico de bases de
tensões de tração provenientes dos fenômenos to, é exigida a avaliação da temperatu- torres eólicas, cujas dimensões possuem
térmicos. Tais reações, com tensões em níveis ra máxima das estruturas com caracte- magnitude suficiente para exigir que se-
superiores à tração admissível do concreto, rísticas massivas, tendo como principal jam tomadas medidas para controlar a
podem causar fissurações. Neste contexto, objetivo a previsão de riscos e, a partir geração de calor e a variação de volume
este trabalho objetiva mostrar uma metodolo- disso, são recomendadas medidas ne- decorrente, o tecnologista pode se depa-
gia viável de ser empregada para a análise pa- cessárias para a mitigação de ocorrên- rar com diversos problemas relacionados
ramétrica do fenômeno térmico devido à hidra- cia de fissuras decorrentes do fenômeno aos fenômenos provenientes do processo
tação do cimento da base de uma torre eólica, térmico da estrutura. de hidratação do cimento. A fissuração
que pode ser adotada, também, para avaliação Dessa forma, o objetivo deste trabalho devido à geração de tensões de tração,
do comportamento térmico de blocos de funda- é apresentar uma metodologia que pode por fenômenos térmicos ou provenientes
ções de edificações. ser empregada para a análise paramétrica de reações expansivas como a DEF, pode
alcançar níveis superiores à
Palavras-chave: calor de hidra- tensão de tração admissível
tação, fissuras, concreto massa, do concreto. Essa situação
reações expansivas. torna extremamente relevante
o conhecimento dos métodos
100
1. INTRODUÇÃO de mitigação desses tipos de
95 O comportamento do manifestações patológicas no
concreto ao longo do tempo concreto massa.
75 é dependente de vários parâ- O aumento do consu-
metros, sendo que alguns têm mo de cimento, combinado
influência significativa no de- com uma baixa relação água/
sempenho e na durabilidade de FIGURA 1 cimento, tende a diminuir a
25
uma estrutura. Dessa forma, há Seção típica da malha com propagação bidirecional permeabilidade, o que é uma
5 de se considerar as influências
condição interessante para
& Construções
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o aumento da durabilidade do concreto. A atuação na análise da segurança
Por outro lado, esse aumento no consu- da estrutura de Norfork Dam (CLOUGH,
mo do cimento conduz a maior elevação 1962) registra uma das primeiras aplica-
de temperatura, que, em determinados ções conhecidas de utilização do método
níveis, pode prejudicar a formação da dos elementos finitos para resolver um
etringita “primária”, necessária para o de- problema da engenharia.
senvolvimento de pega e endurecimento
do concreto. Com isso, existe maior dispo- 2.2 Considerações para análise do
nibilidade de íons sulfatos na solução dos comportamento térmico da base
poros do concreto e, já no estado endure- de torre eólica
cido, contribui de forma mais expressiva
para a ocorrência da DEF. Segundo Melo As dimensões da fundação de uma
(2011), esse risco aumenta quando a estru- torre eólica permitem a análise da propa-
tura atinge temperaturas máximas supe- gação de calor considerando uma ou duas
riores a 60-65 °C. FIGURA 2 direções, basicamente. Poderia, até mes-
Dessa forma, pelos motivos expostos Modelo esquemático da malha do mo, ser considerada a avaliação tridimen-
anteriormente, é de suma importância que modelo unidirecional de propagação sional do seu comportamento por meio de
a temperatura interna do concreto não de calor ferramentas mais sofisticadas de análise,
exceda o limite de 60-65 °C. Caso sejam como o ANSYS®, por exemplo. Todavia, na
verificados riscos para que isso ocorra, prática da engenharia civil para esse tipo
medidas preventivas devem ser adotadas, talada no rio North Fork, norte do Arkan- de estrutura, considerando o lançamen-
tais como: o resfriamento dos agregados, sas — Estados Unidos. Nela foi observada to típico adotado para sua concretagem,
da água ou do próprio concreto e até a ocorrência de uma considerável trinca tem-se que a propagação de calor é pre-
mesmo interferências construtivas, como vertical, ao longo de praticamente toda ferencialmente unidimensional. Com isso,
a concretagem em camadas e adoção de sua altura, tipicamente decorrente do a forma de propagação inerente à peça
intervalos de lançamento mais prolonga- fenômeno térmico do concreto e que re- permite a análise a partir de qualquer um
dos, quando possível. partia a estrutura em duas. Dessa forma, dos modelos. Dessa forma, neste trabalho
buscou-se quantificar a segurança dessa foram contemplados os modelos de pro-
2.1 Modelo de simulações numéricas: barragem por meio da análise paramé- pagação de calor em uma e em duas dire-
o método de elementos finitos trica por elementos finitos, com enfoque ções, que atendem ao objetivo de análise
na solução de problemas decorrentes da dessa estrutura, considerando o concreto
De acordo com Carlson (1939), em variação volumétrica da estrutura a partir um material isotrópico.
meados da década de 1930, o pesquisa- de suas características geométricas, vis- Desses modelos de propagação de
dor Douglas McHenry havia iniciado seus coelásticas, térmicas e mecânicas. Além calor, sabe-se que:
estudos para proposição de um modelo disso, seria possível a consideração dos a. O modelo unidirecional de propagação
estrutural que pudesse ser avaliado ma- coeficientes de restrição existentes na de calor representa a situação mais
tematicamente. A partir daí, ele ideali- estrutura, provenientes das restrições próxima à condição real da estrutura;
zou o método da analogia das treliças, o externas ou internas às deformações b. O modelo bidirecional de propagação
que permitiu que diversos pesquisadores do concreto decorrentes das variações de calor demonstra o comportamen-
buscassem representar a estrutura em de temperatura. De acordo com o ACI to térmico da peça, com uma de suas
pequenos elementos, denominados de 207.2R, os coeficientes de restrição são dimensões — a altura — bem inferior
elementos finitos. Dessa forma, foi cria- resultantes de um ou mais fatores, que às demais.
do o Método dos Elementos Finitos, que podem ser a ligação da estrutura com as A seção típica tomada para as si-
hoje é largamente utilizado em diversos fundações ou com outras estruturas ou mulações demonstradas neste arti-
ramos da engenharia, como é apresenta- do concreto com as armaduras ou da co- go possui malha de elementos fini-
do por Gambale & Traboulsi (2015). esão interna do próprio concreto. tos para propagação bidirecional de
Segundo Carlson et al. (1979), muitos Com a consideração dos fatores men- temperatura, como a representada na
trabalhos foram escritos sobre o método cionados acima, é possível estabelecer Figura 1. Já o modelo de propagação de
dos elementos finitos a partir de 1953, uma análise capaz de promover a deter- calor unidirecional é representado na
mas não havia procura relevante des- minação das deformações e tensões tér- Figura 2.
se método para um emprego prático. micas atuantes e, assim, prever soluções É importante destacar que, para a re-
Contudo, no ano de 1962, Clough (1962) para a preservação da integridade da es- alização da análise do comportamento
apresentou uma utilização bem sucedida trutura, caso a avaliação seja realizada de térmico do concreto das fundações de
dessa metodologia para análise da segu- maneira prévia, ou permitir a proposta de torres eólicas, algumas ressalvas foram
rança da estrutura de Norfork Dam, uma correções em situações em que o dano já estabelecidas. A primeira é dada pela
barragem com 70 metros de altura, ins- tenha sido observado. limitação quanto à consideração da
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tica do concreto,
cujos cálculos TABELA 1
matemáticos e Simulações com propagação de
calor em duas direções:
banco de dados
Modelo Bidirecional
de apoio são
demonstrados
Temperatura Temperatura
no livro da Equi- Consumo
inicial máxima
pe de FURNAS (kg/m³)
(oC) (oC)
(1997); 15 47,80
b. Por meio de um 300 25 56,73
modelo de da- 35 66,02
dos baseado em 15 52,99
redes neurais ar- 350 25 61,93
tificiais apresen- 35 71,22
FIGURA 4 tado por Étore, 15 58,19
Elevação adiabática de temperatura pra diferentes F. F. (2004). 400 25 67,14
consumos de cimento
c. Por referências 35 76,43
bibliográficas, 15 63,39
onde alguns pa- 450 25 72,35
3.1. Predição da elevação adiabática râmetros, como a difusividade térmica 35 81,65
de temperatura e o calor específico, podem ser obtidos
através das características do tipo litoló-
A determinação da elevação adiabáti- gico de agregado utilizado no concreto Para as simulações indicadas neste
ca de temperatura do concreto é um dos (Gambale et al., 2008). artigo, foi tomado como base um cálculo
parâmetros mais importantes, podendo ser d. Alguns consultores e pesquisadores térmico realizado para concreto produzi-
obtida por meio de ensaio laboratorial reali- recorrem à moldagem de blocos expe- do com cimento CP IV-32 RS, com adição
zado em calorímetro adiabático, que forne- rimentais ou de instrumentação de pe- de pozolana de argila calcinada e com
ce a elevação da temperatura do concreto ças de concreto com termômetros no resultado de ensaio de calor de hidrata-
sem trocas de calor com o meio. Porém, início das concretagens, para que seja ção fornecido pelo fabricante, que indica
não existe disponibilidade suficiente de la- possível a obtenção da elevação de que o ligante possui baixo calor de hidra-
boratórios capazes de determinar essa pro- temperatura por meio da retroanálise tação conforme a norma NBR 16697:2018
priedade, restando a sua previsão a partir (Gambale et al., 2010). (≤ 270 J/g, na idade de 41 h). A elevação
das características do cimento e dos traços
de concreto estabelecidos para a estrutura.
A estimativa nessas condições fornece um TABELA 2
resultado confiável e bastante aderente aos Simulações com propagação de calor em uma direção: Modelo Unidirecional
resultados obtidos nas leituras de campo. Lançamento em duas camadas de 2 metros
A elevação adiabática de temperatura
pode ser estimada, como segue: Propagação de calor em uma direção Intervalo de colocação (dia)
a. Por meio de resultados do calor de hi- Temperatura
dratação realizados em ensaios de labo- Temperatura máxima
Consumo
inicial (oC) 1 2 5
ratório ou pelos laudos fornecidos pelo (kg/m³)
(oC) Concretagem
fabricante. O ensaio pode ser realizado instantânea
por meio da garrafa de Langavant (ABNT 15 48,08 47,61 46,97 45,63
NBR 12006:1990), ou por outra metodo- 300 25 57,45 56,04 54,91 53,74
logia confiável (calorimetria isotérmica, 35 66,88 64,59 63,42 62,00
por exemplo), e fornece a evolução do 15 53,38 52,58 51,69 50,10
calor com o tempo, normalmente para as 350 25 62,80 61,01 59,63 58,32
idades de 24h, 41h, 72h e 168h, podendo 35 72,22 69,46 68,21 66,55
ser consideradas outras idades caso seja 15 58,72 57,54 56,42 54,68
necessário ou determinado pelo labora- 400 25 68,14 65,97 64,41 62,60
tório executor. Conhecendo a evolução 35 77,56 74,43 73,00 71,12
do calor nesse intervalo e os consumos 15 64,08 62,53 61,16 59,26
de cimento dos traços empregados na 450 25 73,49 70,95 69,20 67,48
estrutura, é possível estabelecer um pa- 35 82,92 79,40 77,79 75,70
râmetro para estimar a elevação adiabá-
FIGURA 5 FIGURA 6
Avaliação pelo modelo bidirecional de propagação Avaliação pelo modelo unidirecional de propagação
de calor de calor
FIGURA 7 FIGURA 8
Consumo de cimento de 300 kg/m³: camada de 1 metro Consumo de cimento de 300 kg/m³: camada de 2 metros
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FIGURA 9 FIGURA 10
Consumo de cimento de 350 kg/m³: camada de 1 metro Consumo de cimento de 350 kg/m³: camada de 2 metros
FIGURA 11 FIGURA 12
Consumo de cimento de 400 kg/m³: camada de 1 metro Consumo de cimento de 400 kg/m³: camada de 2 metros
Os resultados obtidos para as temperatu- na seção transversal para os consumos míni- cesso de cálculo. Em relação ao resultado
ras máximas na estrutura estão registrados nas mo e máximo do estudo, de 300 kg/m³ e de apresentado nessas figuras, observa-se
Tabelas 2 (modelo bidirecional), 3 (unidirecio- 450 kg/m³ de cimento. Para tanto são con- o comportamento linear da temperatura
nal em camadas de 2 metros) e 4 (unidirecio- sideradas as temperaturas mínima e má- máxima em função da temperatura inicial
nal em camadas de 1 metro). São destacadas xima iniciais do estudo, de 15 °C e 35 °C, do concreto. Esse comportamento facili-
em vermelho as temperaturas acima de 65 °C, com o intuito de observar a temperatura ta a definição de uma condição que não
para o melhor entendimento em relação ao re- máxima na estrutura conforme as simula- ultrapasse os limites das temperaturas
sultado obtido acima do nível recomendado. ções de propagação de calor pelo modelo máximas. Para ilustrar o que foi apresen-
Para melhor visualização dos resulta- bidirecional, em duas direções. tado nesses gráficos, pode-se tomar um
dos apresentados nas Tabelas 1 a 3, as Fi- A Figura 19 ilustra o resultado do mo- exemplo de uso: se a temperatura inicial
guras 5 e 6 demonstram o comportamen- nitoramento executado em uma base de do concreto for 27 °C, para um concreto
to da temperatura máxima em função do uma torre eólica implantada no Brasil. de 300 kg/m³, a sua temperatura máxima
consumo de cimento. não ultrapassa o limite de 60 °C, sendo
Já, nas Figuras 7 a 14, é apresentada a 5. CONCLUSÕES uma condição segura de concretagem.
influência do intervalo de colocação para Observa-se, nas Figuras 5 e 6, uma Em exemplo contrário, em lançamento de
duas camadas de 2 metros e para quatro grande semelhança entre as simulações, um concreto de 450 kg/m³, no caso deste
camadas de 1 metro. considerando a propagação de calor em artigo, para todas as situações a tempera-
Por fim, as Figuras 15 a 18 mostram o duas direções e em uma direção, o que é tura máxima ultrapassa o limite de 60 °C,
comportamento da propagação do calor importante para a simplificação do pro- sendo necessário recorrer a medidas que
FIGURA 13 FIGURA 14
Consumo de cimento de 450 kg/m³: camada de 1 metro Consumo de cimento de 450 kg/m³: camada de 2 metros
FIGURA 15 FIGURA 16
Consumo de 300 kg/m³: temperatura inicial de 15 oC Consumo de 300 kg/m³: temperatura inicial de 35 oC
FIGURA 17 FIGURA 18
Consumo de 450 kg/m³: temperatura inicial de 15 oC Consumo de 450 kg/m³: temperatura inicial de 35 oC
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da peça no que diz respeito ao seu com-
portamento térmico, considerando-se a
adequação dessa temperatura de lança-
mento com a minimização do risco de fis-
suração por origem térmica e do desenvol-
vimento da DEF. Logicamente que quanto
menor a altura de concretagem, menor o
nível de risco de fissuração de origem tér-
mica. Contudo, deve-se levar o bom sen-
so da prática construtiva e, nos casos que
indiquem riscos de fissuração de origem
térmica para uma determinada altura de
camada, tomar as medidas necessárias
para minimização dessas ocorrências, com
sugestões expostas ao longo deste artigo.
As isotermas apresentadas nas Figu-
ras 15 a 18 funcionam como um impor-
tante indicador para o posicionamento
de termômetros, objetivando monitorar a
FIGURA 19
evolução da temperatura de maneira mais
Monitoramento de uma fundação de torre eólica no Brasil. O eixo x
assertiva e contribuir com maior precisão
representa a idade (dias) e eixo y a evolução da temperatura ( C)
o
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] MELO, S. K. et al.. “Influência do calor de hidratação na formação da etringita tardia (DEF) em concreto de cimento Portland pozolânico”. 53º
Congresso Brasileiro do Concreto – Florianópolis – SC, 2011.
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[3] GAMBALE, E.A., TRABOULSI, M.A. “Avaliação da temperatura máxima em estruturas executadas com concreto massa”. In: 57º Congresso
Brasileiro do Concreto, 2015, Bonito–MS.
[4] CARLSON, R.W., HOUGHTON, D.L., POLIVKA, M. “Causes and control of cracking in reinforced mass concrete”, ACI Journal, 1979, pp.821–837
[5] CLOUGH, R.W. “The stress distribution of Norfork Dam”, Structures and Materials Research, Series 100, Issue 19 – Institute of Engineering
Research, University of California – Berkeley. Final Report to U.S. Engineer District, Little Rock Corps of Engineers. 1962, 152p.
[6] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI COMMITTEE. Report on thermal and volume change effects on cracking of mass concrete – ACI
207.2R–07. Michigan – USA, ACI, 2007.
[7] CALMON, J.L.N. “Estudio Termico y Tensional en Estruturas Macivas de Hormigon. Aplicacion a Las Presas Durante la etapa de Construccion”.
Tesis Doctoral dirigida por Mirambell Arrizabalaga, Barcelona, mayo de 1995, 649p.
[8] GAMBALE, E. A.CASTRO,A.,TRABOULSI M.A.,ANDRADE M.A.S. “Análise Estatística dos Parâmetros que intervêm no Fenômeno Térmico do
Concreto Massa”. 52º Congresso Brasileiro do Concreto – Fortaleza – CE, 2010.
[9] Equipe de FURNAS – Editor Walton Pacelli de Andrade – Concretos: Massa, Estrutural, Projetado e Compactado com Rolo – Ensaios e
Propriedades – Ed. Pini, São Paulo–SP, 1997.
[10] ÉTORE, F.F., “Predição da exotermia da reação hidratação do concreto através de modelo termo–químico e modelo de dados” 130p. Tese
(Mestre em Ciências) – COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 2004.
[11] GAMBALE, E.A., TRABOULSI, M.A., ANDRADE, M.A.S. “Análise paramétrica do fenômeno térmico do concreto massa”. In: 50º Congresso
Brasileiro do Concreto, 2008, Salvador–BA.
[12] GAMBALE, P,G. , “Estudo do calor de Hidratação do massa e contribuição ao cálculo térmico e à previsão de fissuras de retração”. Tese Mestre
em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil pela UFG, Goiânia,2017.
E
ste artigo apresenta detalhes de um ra- Palavras-chave: radier, concreto massa, forma- das questões estruturais, um rigoroso estu-
dier de concreto armado de grandes di- ção de etringita tardia, concreto armado. do tecnológico do concreto deve ser feito
mensões, pertencente a uma edificação para evitar fissurações de origem térmica
residencial localizada noMorumbi (São Paulo- 1. INTRODUÇÃO e a formação de etringita tardia (Delayed
-SP). A melhor solução necessitou diversas inte- Radiers são utilizados como solução Ettringite Formation — DEF).
rações entre as equipes envolvidas nos projetos para a fundação de edifícios de múltiplos O presente artigo discorre sobre o pro-
estrutural e de fundações. O cálculo estrutural pavimentos quando o solo possui boa re- jeto estrutural e o estudo térmico de um ra-
seguiu as normas ABNT NBR 6118: 2014 para o sistência na cota de assentamento, mas dier de grandes dimensões (36 m x 33 m e
cálculo da armadura de flexão e cisalhamen- a proximidade dos pilares implica numa altura de 2,8 m no trecho mais alto), que uti-
to, eACI 318: 2005 para o cálculo da arma- sobreposição dos elementos de fundação lizou 2986,8 m³ e 292,6 ton de aço CA-50.
dura de punção. Um extenso estudo térmico e isolados. O radier não estaqueado é uma O projeto estrutural do radier e do
a análise por meio do Método da Maturidade fundação rasa, apoiando-se diretamente edifício residencial ao qual pertence
(ASTM C1074-11) também foram conduzidos. no solo, compreendendo uma placa de (localizado no Bairro do Morumbi, em
Os projetos de fundação e de estruturas, além concreto armado recebendo o carrega- São Paulo–SP) foi desenvolvido pelo es-
das avaliações tecnológicas do concreto, re- mento de diversos pilares. critório França e Associados Projetos
sultaram em uma solução econômica, que não Hemsley (2000) e Gupta (1997) descre- Estruturais. Já, o projeto de fundações
apenas atendeu às necessidades de resistência vem considerações no dimensionamento foi elaborado pelo escritório Portella
do radier, mas garantiu o prazo de execução de radiers como, por exemplo, o desloca- Alarcon Engenheiros Associados e a
da obra. mento e a distorção máximos, a geometria DESEK foi responsável pelo estudo térmi-
co do concreto.
O detalhamento do projeto e o estudo
térmico do radier fornecem importantes
informações a respeito dessa solução para
fundação de torres altas.
2. DESENVOLVIMENTO DO
PROJETO ESTRUTURAL
O embasamento do edifício em
questão conta com 5 pavimentos (en-
tre subsolos e sobressolos), além de lo-
jas no nível de acesso do 2º subsolo. A
torre conta com dois conjuntos de pavi-
mentos-tipo (um com 26 pavimentos e
A B C outro com 14) e um pavimento técnico
(30º pavimento) com áreas técnicas e de
FIGURA 1 lazer, totalizando cerca de 143 m acima
(a) Modelo estrutural – Revit; (b) Modelo de cálculo – TQS; (c) Foto da do nível de acesso mais alto. A Figura 1
obra após a finalização da estrutura ilustra o edifício de múltiplos pavimen-
tos objeto do presente estudo.
& Construções
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2.1 Opções de fundação
3. MODELAGEM, CÁLCULO E
DETALHAMENTO DO RADIER FIGURA 3
O cálculo estrutural e detalhamento Geometria final do radier. (a) Planta e (b) Corte esquemático
das armações do radier iniciaram-se com
FIGURA 4 [1]
(a) Modelagem do radier e (b) Grelha de barras para cálculo dos deslocamentos
e esforços Em que:
Mx = momento fletor na direção x;
My = momento fletor na direção y;
3.1 Compatibilização feitas até se obter o resultado desejado Mxy = momento torsor.
dos deslocamentos (Figura 5), validados com os geotécnicos Caso Mx* ou My* resultem nulos ou ne-
responsáveis quanto ao deslocamento má- gativos, a Equação 1 assume a forma da
A compatibilização entre os desloca- ximo e à distorção máxima. Ao incorporar Equação 2:
mentos do modelo estrutural do radier e os o radier ao modelo do edifício, desloca-
deslocamentos previstos para o conjunto mentos diferenciais entre os pilares ou en-
radier + solo foi considerada por meio da tre diferentes trechos de um mesmo pilar
calibração de molas elásticas nos nós da foram analisados, de modo a confirmar o [2]
grelha, buscando igualar o deslocamento dimensionamento inicial dos elementos.
de todas as cargas gravitacionais na com- Outro modelo, utilizando-se elemen-
binação quase-permanente, com o des- tos sólidos, foi feito no programa STRAP Tanto a Equação 1 como a Equação 2 fo-
locamento previsto e aceitável. Para isso, 2010, permitindo a comparação e valida- ram apresentadas para momentos que tracio-
diversas iterações com alterações nos valo- ção dos resultados obtidos com o mode- nem as fibras inferiores da laje. A adição deve
res das molas verticais e horizontais foram lo de barras. ser substituída pela subtração no caso de mo-
mentos que tracionem as fibras superiores.
Após a obtenção dos valores dos mo-
mentos fletores atuantes, que chegaram à
FIGURA 6
Perímetro de controle para pilares
FIGURA 5 não retangulares
Deslocamentos [mm] para a combinação quase-permanente Fonte: ACI 318: 2005, traduzida e adaptada
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A B
FIGURA 7
Armadura contra punção: (a) Localização dos estribos no radier; (b) Detalhe da armadura
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TABELA 1 TABELA 2
Traços de concreto – quantidades expressas em kg/m3 Características mecânicas estimadas
para os traços de concreto
1ª etapa:
1ª etapa: entre 1,0 m até 1,8 m 1ª etapa:
Altura da camada
da base até 1,0 m 2ª etapa: entre 1 m
entre 1,8 m até 2,80 m 1ª etapa:
Altura da e 1,8 m
da base
fck (MPa) 35 45 camada 2ª etapa:
até 1 m
entre 1,8
Ecs (GPa) 29 30
e 2,8 m
Autoadensável Autoadensável
Tipo/Classe de espalhamento fck (MPa) 35 45
(SF2 – 660 a 750 mm) (SF2 – 660 a 750 mm)
Ecs (GPa) 29 30
Cimento CP III 40 RS 350 358
Coeficiente
Areia de quartzo 526 497 0,20 0,20
de Poisson
Areia artificial 448 331
Brita 0 388 412 Resistência à compressão, fcj (MPa)
Brita 1 474 618 Idade C35 C45
Água + gelo 180 170 1 9,2 8,6
Aditivo 1 1,40 2,45 3 18,7 10,7
Aditivo 2 2,45 2,80 7 28,7 39,8
Sílica ativa 28 28 28 41,6 51,6
Relação água/ligante 0,476 0,440
Massa específica teórica Resistência à tração, fct (MPa)
2398 2391 Idade C35 C45
(kg/m³)
1 1,3 1,3
3 2,1 1,5
4.1 Modelagem computacional pelo sões de origem térmica, considerou-se, 7 2,8 3,6
método dos elementos finitos também, o efeito da fluência dos concre- 28 3,6 4,2
tos. A Tabela 2 mostra as características
mecânicas adotadas. Módulo de elasticidade, Ecs (GPa)
Vários fatores integram o modelo
Idade C35 C45
computacional para os estudos de evolu-
4.1.2 Propriedades térmicas 3 20,9
ção tridimensional de temperaturas e ten-
7 27,1
sões como, por exemplo, a temperatura e
As características térmicas dos mate- 28 31,7
velocidade de lançamento do concreto,
riais constituintes do concreto utilizado na 28 3,6
condições ambientais (temperatura am-
biente e velocidade do vento), caracterís- simulação foram estimadas (Tabela 3) a
ticas do cimento, dosagem do concreto, partir das dosagens estudadas, conside- A elevação adiabática do concreto foi
características térmicas e mecânicas do rando agregado graúdo de granito e areia calculada através da equação de Rastrup
concreto, geometria da estrutura e condi- natural de quartzo. (Equação 6).
ções de restrição, entre outros. A seguir, O valor adotado para o coeficiente de
são expressos os traços adotados, as pro- dilatação térmica foi de 10x10-6/°C. A evo- [6]
priedades mecânicas e térmicas dos con- lução do calor de hidratação do cimento
cretos e as simulações térmicas e de ten- CP III 40 RS foi estimada a partir dos da- Em que:
sões realizadas no presente estudo. dos de ensaios realizados pela ABCP (As- ∆T = Elevação adiabática (°C);
sociação Brasileira de Cimento Portland) γ = Massa específica (kg/m³);
4.1.1 Concretos empregados (Figura 11). c = Calor específico (kJ/kg °C);
e propriedades mecânicas
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A B
FIGURA 14
Isotermas: (a) Seção transversal do bloco (x = 16,50 m) e (b) Seção em planta do radier (z = 0,90 m)
FIGURA 15 FIGURA 16
Resumo das máximas temperaturas – Concreto C35 – Resumo das tensões principais maiores máximas –
Pontos A, B, C, D e E – Pontos localizados na região Concreto C35 – Pontos A, B, C, D e E – Pontos
central do bloco – 1ª etapa localizados na região central do radier – 1ª etapa
FIGURA 17 FIGURA 18
Resumo das máximas temperaturas – Concreto C45 – Zoneamento de temperaturas máximas de lançamento
Pontos A, B, C, D e E – Pontos localizados na região do concreto – Seção longitudinal do radier [m]:
central do radier – 2ª etapa (a) 1ª etapa e (b) 2ª etapa
FIGURA 19
(a) Plataforma tipo torre para ajuste do concreto por meio de gelo e aditivo; (b) Identificação da amostra de concreto
para ensaios no estado fresco; (c) Cobertura para proteção dos corpos de prova contra as intempéries
A B C
FIGURA 20
(a) Data-logger; (b) Proteção dos equipamentos contra intempéries; (c) Termopares tipo “K” instalados no interior do
concreto da estrutura
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modelagem matemática-computacional menor risco de fissuras de origem tér- estruturais aprofundados, mas também
3D, com o emprego do método dos ele- mica e de DEF. mostram exemplos práticos fundamentais
mentos finitos e método da maturidade, Os detalhes apresentados aqui não a serem seguidos na execução de funda-
foi possível avaliar o plano executivo de apenas enfatizam a importância de estudos ções em radier de grandes dimensões.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RESUMO fck. Além disso, foram rea- em concreto massa podem resultar em
O
e zoneamento do
s riscos de ocorrência de fissuras lizados os monitoramentos das temperaturas elevado risco de fissuração. Dependendo
de origem térmica e DEF (Delayed internas dos concretos das estruturas, com- das dimensões de estruturas de blocos de
ettringite formation) em estruturas provando a importância da realização de estu- fundação e sapatas, pilares, lajes e vigas
de fundações de edifícios são cada vez mais dos térmicos prévios para elaboração do pla- espessas, as fissuras de origem térmica
comuns. Para controlar a elevação da tempe- no executivo com menor risco de fissuração. e etringita tardia (DEF, Delayed ettringite
ratura interna do concreto massa, devem ser formation) podem ocorrer devido à falta
elaborados planos executivos durante a fase Palavras-chave: fissuras de origem térmica, de controle do seu comportamento térmi-
inicial de projeto. Este trabalho apresenta DEF, alternativas executivas, nitrogênio líqui- co. Em alguns casos, a execução dessas es-
alternativas construtivas adotadas para em- do, gelo. truturas sem um planejamento adequado
preendimentos no Sudeste do Brasil, com con- pode resultar em riscos de fissuração, mes-
cretos de resistência de até 45 MPa. As al- 1. INTRODUÇÃO mo para aquelas de menor volume e altura.
ternativas foram definidas a partir de estudos Vem sendo cada vez mais comum a es- Concreto massa é, por definição do ACI
térmicos por meio de modelagens matemáticas pecificação de concretos de elevada resis- (2009), qualquer volume de concreto com
considerando as características logísticas e tência em projetos de edifícios residenciais dimensões grandes o suficiente que requei-
ambientais da obra, além dos tipos de mate- e comerciais nos grandes centros urbanos. ram meios especiais para controlar o calor
riais constituintes do concreto disponíveis na Na maioria das vezes, demandam maior gerado pela hidratação do cimento e a con-
região. Para os casos apresentados, foram consumo de cimento em sua produção. A sequente mudança de volume para minimi-
adotadas diferentes alternativas como a pré- utilização de dosagens de concreto sem zar a ocorrência de fissuração. Dependendo
-refrigeração do concreto com o uso de gelo estudos prévios, escolha inadequada dos do consumo e tipo de cimento, da geometria
e nitrogênio líquido, divisão da execução em seus materiais constituintes e a falta de um da estrutura, das condições ambientais lo-
etapas com previsão de juntas de concretagem planejamento executivo para as estruturas cais da obra e da temperatura de lançamen-
to do concreto, poderão resultar em tensões
de origem térmica superiores a resistência à
tração do concreto. Isto ocorre quando da
dissipação de calor para o meio ambiente
e posterior retração, dependendo do gra-
diente térmico entre as diferentes partes da
estrutura e condições de restrição. Além do
risco de fissuração por origem térmica, é de-
sejável evitar o risco de formação da DEF,
que pode ocorrer em estruturas de concreto
massa quando atingem temperaturas inter-
nas superiores a 65oC durante a hidratação
A B do cimento, uma vez que os sulfatos internos
podem incorporar outras fases do cimen-
FIGURA 1 to. Este tipo de ataque interno por sulfatos
Vista geral da concretagem do bloco de fundação – Caso 1 pode ocorrer meses ou alguns anos após a
execução da estrutura, ocasionando uma
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reação expansiva e progressiva que provoca
um intenso quadro fissuratório no tempo. No
caso da DEF, prejudica propriedades mecâ-
nicas, como o módulo de elasticidade e re-
sistências à compressão e à tração, já tendo
sido observadas inclusive reduções de mais
de 50% (Schovanz et al., 2021). A redução
nas resistências causadas por DEF pode ser
inclusive mais extrema que as causadas por
reação álcali-agregado (Godart & Wood,
2022). Em condições propícias, Hasparyk et
al. (2012) mostraram o ataque combinado de
RAA e DEF em concreto de bloco fundação
de edificação no Brasil.
É perfeitamente viável, no entanto, evi-
tar este tipo de problema (Hasparyk & Ku- A
perman, 2021) e, para isto, as alternativas
executivas podem ser avaliadas por meio de
estudos térmicos ainda na fase inicial de pro-
jeto. Funahashi et al. (2022) apresentaram
estudo de caso realizado para sapata com
volume de cerca de 1400 m3, executada em
etapas de menor altura, considerando juntas
de construção vertical e horizontal que pro-
piciou menor consumo de gelo no concreto.
Nesta fase é possível prever os custos para
a pré-refrigeração de algum material e/ou
pós-refrigeração do concreto, além da ava-
liação dos impactos no cronograma da obra,
caso seja necessária a sua concretagem em B
mais de uma etapa. A redução da altura da
camada, execução em etapas prevendo jun-
FIGURA 2
tas de construção verticais e/ou horizontais, (a) Resumo das máximas temperaturas calculadas para definição do
emprego de material pozolânico como subs- zoneamento das temperaturas de lançamento e (b) temperaturas monitoradas x
tituição parcial do cimento e escolha de ci- temperaturas simuladas para a primeira etapa de concretagem – Caso 1
mentos de baixo calor de hidratação contri-
buem para minimizar os riscos de fissuração
devido ao calor. Além desses, o aumento da b4cast, baseado no método dos elementos 2. ESTUDOS DE CASO
idade de controle do fck para idade superior a finitos. O cálculo tridimensional de tempera-
28 dias, uso de agregados de menor módulo turas, no elemento de concreto, pressupõe 2.1 Caso 1 – Ícone Planeta – Sorocaba | SP
de elasticidade, redução da resistência ca- que a propagação de calor ocorre na seção
racterística à compressão e/ou zoneamento transversal e longitudinal simultaneamente, O edifício Ícone (Figura 1) está em
das classes de concreto contribuem para re- aproximando-se de uma situação real. construção na cidade de Sorocaba – SP
duzir estes riscos.
Neste artigo são apresentados três es-
tudos de casos, onde foram empregadas
diferentes alternativas executivas em acordo
com as condições logísticas e ambientais de
cada obra, especificações de projeto, dosa-
gens de concretos previamente estudadas
com os materiais disponíveis na região e
cronogramas elaborados ainda na fase inicial
de projeto. As alternativas construtivas es- FIGURA 3
colhidas para cada caso foram baseadas em Zoneamento das temperaturas de lançamento do concreto da segunda etapa de
estudos de evolução tridimensional de tem- concretagem – Caso 1
peraturas e tensões, com o uso do software
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tada em duas camadas com altura igual a
0,90 m, cada), conforme mostra Figura 5.
A partir dos estudos térmicos, verificou-
-se que para a execução da Fase 1 com altura
de 1,80 m, a temperatura de lançamento do
concreto deveria ser de, no máximo, 18oC até
a altura de 1,2 m e de 25oC entre 1,20 m e 1,80
m de altura. Previamente à concretagem,
realizou-se teste com o concreto pré-refri-
gerado simulando o percurso do caminhão
betoneira até a obra empregando adição
total de gelo (140 kg/m³), desconsiderando
apenas a umidade dos agregados graúdos
FIGURA 5
(a) Seção em planta das fases executivas 1, 2 e 3 – Caso 2 e miúdos, além da água do corte igual a
10 litros/m³. Através do teste, compro-
vou-se que não seria possível lançar o
da estrutura em três fases distintas, pre- concreto apenas com substituição parcial da
2.2 Caso 2 – Hotel Marina – vendo juntas de construção verticais e ho- água por gelo, considerando o seu tempo de
Rio de Janeiro | RJ rizontais, sendo: Fase 1 (área da base igual transporte de 1h30 min, aproximadamente, e
a 63 m² e volume de 101 m³, executada em as altas temperaturas ambientes superiores
A edificação original é da década de única camada de concretagem com altura a 35°C no verão daquele ano. Para atender
1980. Durante as obras de retrofit do Ho- igual a 1,80 m); Fase 2 (área de 109 m² e o cronograma e especificação de proje-
tel Marina, da BHG, localizado na orla da volume de 172 m³, executada em duas ca- to, a execução da primeira fase foi realiza-
praia do Leblon e projetado pelo escritório madas de 0,90 m de altura, cada) e Fase 3 da com o uso de gelo e nitrogênio líquido
Pedreira Onix, foi realizada a execução de (área de 121 m² e volume de 185 m³, execu- adicionados diretamente no caminhão
um radier com concreto pré-refrigerado
com gelo e nitrogênio líquido. Este foi um
dos primeiros casos em que se utilizou a
pré-refrigeração do concreto por meio da
injeção de nitrogênio líquido associado ao
gelo em projetos de edificações no país.
Durante a fase inicial de projeto, foram
realizadas visitas técnicas em três possíveis
fornecedores de concreto da região para
avaliação das suas instalações, qualidade,
tipos de materiais e capacidade de forne-
cimento do concreto usinado. A partir das A B
visitas, foram classificados dois fornece-
dores de concreto para serem realizados
estudos laboratoriais para definição do
traço do concreto massa. Foram coletadas
amostras de cimentos diretamente dos si-
los das centrais escolhidas para realização
de ensaios de determinação do calor de hi-
dratação no laboratório da ABCP, em São
Paulo/SP. Com base nos traços de concre-
to dos fornecedores, resultados dos en-
saios mecânicos e de calor de hidratação, C D
condições logísticas e ambientais da obra
na época da construção, foram realizados
FIGURA 6
estudos térmicos para definição dos pla- (a) Injeção de nitrogênio líquido no interior do balão do caminhão
nos executivos. Devido ao maior tempo de (b) junta de construção vertical com fôrma de tela de metal expandido,
transporte entre a central e a obra, e a im- (c) determinação da temperatura do concreto na usina após a injeção de
possibilidade de se complementar a refri- nitrogênio líquido (3,2°C) e (d) refrigeração dos agregados graúdos nas
geração com gelo na região do empreen- baias com o emprego da aspersão de água
dimento, houve a necessidade da execução
FIGURA 7
(a) MaLha de elementos finitos em 3D (software b4cast) e (b) isotermas na seção transversal considerando temperatura
de lançamento igual a 30°C – Caso 2
betoneira. Para que o concreto fosse lança- camadas, respectivamente. Após período de realizado. A Figura 7 (a) mostra malha de
do com temperatura inferior à especificada, paralização da obra devido a pandemia da elementos finitos em 3D considerando si-
este era liberado, na central, com temperatu- Covid-19, a terceira e última etapa de concre- metria e, da Figura 7 (b), consta exemplo de
ra inferior a 7°C após a injeção de nitrogênio. tagem foi executada em maio de 2021 com isotermas considerando hipótese de lança-
A Figura 6 mostra registros feitos durante a outro fornecedor de concreto. Foi realizado mento do concreto a 30°C para a segunda
execução da primeira fase de concretagem. novo estudo térmico para definição do plano etapa da Fase 3.
A máxima temperatura monitorada atin- executivo, onde a concretagem foi executa-
gida pelo concreto da Fase 1 com utilização da em duas camadas de 0,90 m, cada, com 2.3 Caso 3 – Signature Eztec –
de nitrogênio líquido e gelo foi de 61°C. Para emprego de cimento CP III com adição de São Paulo | SP
a Fase 2, executada em duas camadas de sílica ativa no traço e pré-refrigeração com
concretagem de mesma altura, com empre- gelo, no qual as máximas temperaturas in- O empreendimento Signature em cons-
go de concreto pré-refrigerado com gelo, foi ternas no concreto da estrutura não ultra- trução pela Construtora Eztec em dezembro
de 56°C e 61°C para a primeira e segunda passaram 50°C segundo o monitoramento de 2021 na cidade de São Paulo – SP é um
edifício residencial de duas torres que pos-
suem 24 e 28 pavimentos, com altura de 90
m, aproximadamente, na maior torre. O em-
preendimento foi projetado pelo escritório
SRTC Engenharia e Projetos. Na fundação
(Figura 8), o maior bloco projetado possui
volume de 195 m³ com 3 m de altura, sendo
o concreto especificado com fck de 45 MPa.
A partir dos cálculos térmicos reali-
zados verificou-se que não seria possível
executar a estrutura em única etapa de
concretagem mesmo empregando cimento
A B
CP III e concreto pré-refrigerado com gelo,
considerando a sua execução em época do
FIGURA 8 ano com maiores temperaturas ambien-
(a) Vista geral do terreno do empreendimento e (b) lançamento do concreto te. Para viabilizar a execução do bloco de
no bloco de fundação com altura de 3 m – Caso 3
fundação em única etapa de concretagem,
foi adotado o zoneamento das classes de
resistência do concreto a partir de reava-
liação estrutural da Projetista, conforme a
Figura 9 (a). Com base no zoneamento de
fck e utilização de adição pozolânica e adi-
tivo superplastificante, foi possível redu-
A B zir o consumo de aglomerante em 26 kg/
m³ para o traço de fck = 45 MPa, em 42 kg/
FIGURA 9 m³ para o traço de fck = 40 MPa e em 20kg/
(a) Zoneamento das classes de concreto (fck) e (b) especificação das m³ para o traço de fck = 35 MPa em rela-
temperaturas de lançamento do concreto pré-refrigerado ção aos traços inicialmente propostos pelo
fornecedor de concreto. Esta alternativa
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A B C D
FIGURA 10
(a) Armazenamento de gelo no caminhão frigorífico em obra, para eventual ajuste; (b) proteção do equipamento
datalogger para monitoramento das temperaturas do concreto por meio de termopares (c) ensaio de abatimento com tronco
de cone (Slump) no recebimento do concreto para verificação da trabalhabilidade (18 cm) e (d) aferição da temperatura do
concreto no seu lançamento (17,5°C)
permitiu que houvesse uma redução de 4°C menor aumento de temperatura interna do dos estudos térmicos, o plano executivo
na elevação adiabática estimada para as concreto da estrutura. mais adequado para cada caso.
classes C40 e C45 e de 14°C para a classe O conhecimento das propriedades me- A elaboração do plano executivo na
C35, comparada a execução com único tra- cânicas e térmicas dos concretos, condições fase inicial de projeto com a participa-
ço de concreto com fck = 45 MPa. Através ambientais e de logística de execução, além ção do projetista, construtora, fornecedor
deste zoneamento, foi possível reduzir as do conhecimento do calor de hidratação dos de concreto e empresa de controle tec-
máximas temperaturas internas do concre- cimentos, possibilitaram definir, por meio nológico foi fundamental para reduzir os
to da estrutura e reduzir os riscos de fissura-
ção. Além do zoneamento das classes de fck,
foi realizado zoneamento das temperaturas TABELA 2
de lançamento do concreto fresco confor- Resumo dos casos estudados
me mostra a Figura 9 (b). A máxima tem-
peratura monitorada no bloco foi de 60°C Empreendimento Caso 1 Caso 2 Caso 3
após aproximadamente 75 horas do início Características de projeto
da concretagem, no centro da estrutura à Localização
São Paulo Rio de Janeiro São Paulo
1,50 m de altura em relação ao lastro. (2021) (2019)(1) (2021)(2) (2021)
Volume total (m³) 980 460 195
3. DISCUSSÃO SOBRE AS Altura total (m) 2,5 1,8 3,0
ALTERNATIVAS EXECUTIVAS fck (28 dias) 45 40 35(3), 40(4) e 45(5)
A Tabela 2 apresenta o resumo das al- Ecs (28 dias) 30 24 —
ternativas adotadas para a execução das Dosagem do concreto
fundações de cada um dos casos estuda- Tipo de cimento CP II CP II(1) CP III(2) CP III
dos para estruturas projetadas com fck de Fabricante A B(1) e C(2) D
40 MPa e 45 MPa. 318(3)
361 (1)
Consumo de aglomerante (kg/m³) 335 330(4)
A Tabela 3 apresenta informações 410(2)
385(5)
referentes aos cimentos utilizados para a 20(3)
31(1)
produção dos traços de concreto. Adição de material pozolânico (kg/m³) 25(6) 20(4)
35(2)
A Tabela 4 mostra o resumo das alter- 22(5)
nativas executivas definidas por meio dos —(3)
Consumo de material pozolânico como 8(1)
4 7(4)
estudos térmicos e a Tabela 5 mostra da- substituição parcial do cimento (%) 8(2)
6(5)
dos do monitoramento térmico realizada 46(3)
para os casos 1, 2 3. 51(1)
Elevação adiabática estimada (oC) 52 48(4)
55(2)
Para todos os casos estudados, a rea- 56(5)
lização de estudos de dosagens prévios 0,145(3)
Coeficiente de elevação da temperatura 0,130(1)
0,150 0,145(4)
para a definição do traço do concreto fo- teórico (oC/kg/m³) 0,123(2)
0,145(5)
cando na redução do consumo de cimento, Notas: (1) Fases 1 e 2 – Caso 2; (2) Fase 3 – Caso 2; (3) fck = 35MPa – Caso 3; (4) fck = 40MPa – Caso 3; (5) fck = 45MPa – Caso 3;
independentemente do tipo, resultou em (6) Sílica dispersa em água, sendo 50% em massa de água-Caso 1.
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u Estudos térmicos com o uso de mode- níveis de temperatura no lançamento mente às técnicas de pré-refrigeração
lagens matemáticas 3D pelo método do concreto; do concreto com gelo e/ou nitrogênio;
dos elementos finitos para definir pla- u Pré-refrigeração do concreto usinado u Redução da altura da camada de con-
no de concretagem ainda na fase inicial por meio substituição parcial da água cretagem, subdivisão da estrutura em
de projeto; de amassamento por gelo na central e/ segmentos de menor volume e altura,
u Quando possível, programação das ou no canteiro de obras; com previsão de juntas de construção
concretagens das fundações para u Pré-refrigeração do concreto com o verticais e/ou horizontais;
épocas do ano com menor tempera- uso de nitrogênio líquido adicionado u Emprego de pós-refrigeração com a
tura ambiente. A realização de con- diretamente ao balão do caminhão be- utilização de tubulação embutida no
cretagens em períodos noturnos, de- toneira e/ou na esteira dos agregados, interior do concreto com passagem de
pendendo da região, ou com início na podendo ser associado ao gelo depen- água gelada, além do emprego de pré-
madrugada, quando a temperatura dendo da distância entre a central e a -refrigeração do concreto associada
dos materiais e ambiente são ame- obra e temperatura ambiente; para viabilizar execuções de camadas
nas, contribuem para atingir menores u Emprego de água refrigerada adicional- de concretagem de maior altura.
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Mechanical, and Microstructural Assays. ACI Materials Journal, V. 118, 2021.
RESUMO cada vez com valores mais elevados, há avanço e utilizar soluções especiais ou
A
construção de edifícios altos muitas a tendência da concepção de edifícios pouco tradicionais.
vezes demanda blocos de fundações cada vez mais altos, para melhor apro- Em edifícios muito altos, os pilares aca-
de grande volume. O objetivo deste veitamento do espaço, o que desafiam bam sendo mais robustos e próximos. De-
trabalho foi realizar um levantamento das os engenheiros de todas as áreas da vido ao grande carregamento da estrutura
principais práticas de execução de blocos de construção civil. A esbeltez de um edifí- que os edifícios esbeltos provocam em suas
fundação de grandes dimensões, abordando as cio provoca grandes cargas a ser trans- fundações, o projeto de fundações inde-
etapas que envolvem esta execução. Para isso, mitidas para o solo em uma área restrita. pendentes para cada pilar se torna inviável,
elaborou-se um questionário estruturado que Com o avanço da tecnologia na enge- pois as fundações passariam a se sobrepor.
foi submetido aos engenheiros responsáveis das nharia civil e a possibilidade de construir No caso das fundações, particularmente, a
obras que utilizaram blocos de grandes dimen- edifícios cada vez mais altos, os projetos definição da tecnologia a ser utilizada en-
sões. A pesquisa foi aplicada em quatro obras de fundações precisam acompanhar este volve o estudo das características do solo,
de edifícios altos grandeza e natureza
construídos em Bal- das cargas a serem
neário Camboriú/SC. suportadas, tecno-
A pesquisa contempla logias disponíveis
dois edifícios que já e aspectos econô-
ocuparam a condição micos. Além disso,
de mais altos do Bra- deve-se chamar à
sil. Como resultados, atenção quanto ao
identificou-se que o dimensionamento
uso de gelo e aditi- das fundações, que
vos retardadores de deve atender não
hidratação, bem como apenas aos critérios
o uso de paredes dia- de resistência, mas
fragma, estão entre também aos limites
as principais práti- de recalques.
cas utilizadas nas A tendência de
obras de blocos de solução para as fun-
grande volume. dações desses edifí-
cios esbeltos são as
Palavras-chave: con- fundações mistas,
cretos de grandes unindo bloco de
volumes, bloco de fun- fundação sobre es-
dação, calor de hidra- A B C D tacas. Blocos sobre
tação, edifícios altos. estacas ou blocos
de coroamento são
FIGURA 1
1. INTRODUÇÃO elementos estru-
Edifícios estudados: (a) Infinity Coast Residence; (b) Yachthouse by Pininfarina
Com a escas- turais usados para
(Tower 1); (c) Olympo Tower; (d) Epic Tower
sez de terrenos em Fonte: Villanova, 2022
transferir as ações
regiões nobres e da superestrutura
& Construções
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para um conjunto de estacas (VELLOSO; dos blocos de transição concebidos em tacas por dia. Para a execução e finaliza-
LOPES, 2019). Quando, após todos os es- cada situação. ção das estacas, foram necessárias cerca
tudos necessários, chega-se a um projeto de 30 pessoas envolvidas e cinco meses
de fundação no qual a melhor solução téc- 3.1 Edifício Infinity Coast Residence de trabalho.
nica converge para um bloco de fundação Após o estaqueamento da área onde
de grandes dimensões, inicia-se, então, um Como solução para fundação do edi- foi alocado o bloco, iniciou-se a escavação,
desafio para a execução de tal elemento fício, foi concebido um bloco especial de que foi realizada concomitantemente com
de fundação. fundação com uma altura de 5 m e volu- o arrasamento das estacas. Foram utiliza-
Neste trabalho foram apresentadas as me de 5.450 m³ (volume de projeto). Para das três retroescavadeiras para realizar a
etapas para execução do bloco de funda- caracterização do solo, realizou-se son- escavação dos 5.450 m³ de solo. À medida
ção de grandes dimensões sobre estacas dagem a percussão (SPT), além de son- que as estacas eram desobstruídas pelo
através de estudos de caso que foram rea- dagem geofísica utilizando o método da solo, iniciava-se o arrasamento das cabe-
lizados por meio de questionários de qua- eletrorresistividade. ças, até chegar na armadura para a ancora-
tro obras já executadas, com o objetivo de A profundidade do lençol freático era gem no bloco. Foram utilizados marteletes
conseguir visualizar as diferenças e pecu- de 2,5 m abaixo da cota superior do bloco, rompedores pneumáticos, cerca de doze,
liaridades de cada execução. o que levou a um rebaixamento de 3,5 m a utilização do anel rompedor foi avaliada,
O objetivo desta pesquisa foi realizar de água (1,0 m a abaixo da cota inferior do porém, devido ao diâmetro das estacas,
um levantamento das principais práticas bloco). O método utilizado para o rebaixa- não foi possível a sua utilização. Para au-
de execução de blocos de fundação de mento foi o de ponteiras filtrantes. A con- xiliar na produtividade, o método utilizado
grandes dimensões, abordando as etapas tenção da escavação do bloco foi realizada foi a argamassa expansiva. Em dois meses
que envolvem esta execução. A pesquisa com parede diafragma. A parede diafrag- foram finalizadas essas etapas, de escava-
se delimita a edifícios construídos na cida- ma também serviu como fôrma perdida na ção e arrasamento das estacas, com cerca
de de Balneário Camboriú/SC. concretagem do bloco. de 50 pessoas envolvidas.
A fundação profunda do bloco empre- Finalizado a escavação e as estacas
2. APRESENTAÇÃO DOS EDIFÍCIOS gou 125 estacas do tipo escavadas com estando com as esperas na cota prevista,
Na Figura 1, são apresentados os edi- polímero, com diâmetro de 150 cm. Deste foi realizada a regularização do solo no
fícios estudados no presente trabalho, em total, 59 estacas foram apenas escavadas e fundo do bloco e lançado um lastro de
um total de 4 empreendimentos. Edifício obtiveram uma média de 23,5 m de profun- “concreto magro”, para que as armadu-
Infinity Coast Residence (a) foi o primei- didade, chegando ao topo da rocha; a arma- ras não entrassem em contato com o solo
ro edifício do Brasil a ultrapassar a altura dura foi colocada por toda a sua extensão. (Figura 2).
de 200 metros de altura. Sua altura total As 66 demais estacas tiveram comprimen- Na armação do bloco foram utilizadas
é de 234,8 m. O Edifício foi concluído no 625 toneladas de aço, uma grua e cerca de
tos inferiores e, por isso, receberam 3 esta-
ano de 2019 e executado pela Constru- cas raiz cada como reforço. Em cada estaca, 35 trabalhadores foram empregados para
tora FG Empreendimentos. O Edifício foram colocados 3 tubos de aço com 50 cm concluir a etapa em dois meses. Essa ar-
Yachthouse by Pininfarina (b) é compos- de diâmetro junto com a armadura da estaca mação tinha como característica uma den-
to por duas torres idênticas com altura de e, a partir desses 3 tubos, eram executadas sidade de armadura concentrada nas faces
280,3 m, tendo a Construtora Pasqualotto estacas raiz, perfu-
& GT Empreendimentos como responsável rando uma média de
pela sua execução. Este Edifício foi concluí- 12,8 m além do topo
do no ano de 2022 e tornou-se o edifício da rocha.
mais alto do Brasil de acordo como o portal Entre os pro-
skyscrapercenter (VILLANOVA, 2022). blemas encon-
O Edifício Olympo Tower (c) apresenta trados na etapa
uma altura total de 157 m e o Edifício Epic de execução das
Tower (d) apresenta altura total de 191,2 m, estacas, pode-se
sendo ambos construídos pela Construto- destacar a baixa
ra FG Empreendimentos e entregues em produtividade que
2020. a estaca raiz tem
em sua execução -
3. DESCRIÇÃO DAS SOLUÇÕES cerca de duas por
ADOTADAS NAS FUNDAÇÕES E dia de trabalho.
NOS ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO Após algum tempo
A seguir, são apresentadas (para cada com alguns ajustes
empreendimento) as soluções adotadas de produção, foi FIGURA 2
para as fundações, acompanhadas de possível chegar à Esperas das estacas para ancoragem no bloco
discussão, em especial voltada à execução execução de 3 es-
do bloco, produzindo uma concepção de de aplicação, optou-se pelo concreto au- ao gelo), mas o custo de sua aplicação
armação tipo “gaiola”. Devido à elevada al- toadensável. Também em função do volume é maior.
tura do bloco, um desafio foi a sustentação elevado, foi necessário o emprego de gelo O lançamento do concreto foi realiza-
da camada superior. e fibras para minimizar o calor de hidrata- do ao longo de 5 dias das 07:00 às 19:00
Na Figura 3, é mostrado o poço dos ção e o surgimento de fissuras. O bloco foi horas, em virtude da legislação da cidade
elevadores, para auxiliar no travamento das concretado no mês de fevereiro de 2014, de Balneário Camboriú. Para evitar a ocor-
fôrmas, além do atirantamento. A parte in- com temperaturas do ambiente próximas rência de juntas de concretagem, empre-
terna do poço também foi sendo preenchi- a 40°C. Além do gelo em escamas previsto gou-se aditivo estabilizador de hidratação
da com água para diminuir a possibilidade inicialmente, também foi empregado nitro- em porcentagens decrescentes para cada
de movimentação das fôrmas. gênio líquido (Figura 4) para ajudar no res- dia de concretagem para que o endureci-
A resistência característica do concreto friamento, de modo complementar (SALUM mento do concreto acontecesse apenas ao
utilizado foi de 30 MPa e 45 MPa. O volume et al., 2014). Sabe-se que é possível obter-se final do lançamento de todo o concreto.
total de concreto utilizado foi de 5.507 m³, temperaturas do concreto ainda mais bai- Para a concretagem, foram utilizados
sendo que, em função da maior facilidade xas com o uso do nitrogênio (em relação 10 pontos de descarga, sendo 9 calhas
FIGURA 5 FIGURA 6
Caminhões betoneira descarregando concreto Concretagem do bloco concluída
& Construções
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FIGURA 7 FIGURA 8
Execução das estacas de hélice contínua para contenção Utilização de perfis metálicos para suporte da camada
da escavação superior do bloco
metálicas distribuídas na borda do blo- de espessura e um volume de 4.440 m³ bloco de fundação (Figura 7) com estacas
co e uma bomba tipo lança para lançar o de concreto. A caracterização do solo foi de hélice contínua de 20 metros de profun-
concreto no centro do bloco (Figura 5). O realizada a partir sondagem a percussão didade assentadas sobre superfície rochosa.
canteiro foi preparado para o grande fluxo (SPT) e rotativa. O lençol freático foi iden- A execução das estacas durou 4 meses de
de caminhões, sendo utilizada brita n°4 e tificado a 1,0 m de profundidade a partir obra, onde trabalharam 10 operários.
concreto para regularização dos pontos da superfície do bloco. Para realização da O arrasamento das estacas foi reali-
manobra e descarga dos caminhões. Na Fi- obra, o lençol foi rebaixado com método zado com retroescavadeira com anel ar-
gura 6, apresenta-se o bloco de fundação de ponteiras filtrantes até a cota de 4,5 me- rasador, retroescavadeira com martelo
após a conclusão da concretagem. tros abaixo do topo de bloco. rompedor e, para o acabamento, cerca de
Para escavação do bloco de fundação, 12 rompedores pneumáticos manuais. Para
3.2 Edifício Yachthouse realizou-se a estabilização do terreno com esta etapa, que teve duração de 6 meses,
by Pininfarina — Tower 1 estacas de hélice contínua. Na fundação pro- foram utilizados cerca de 70 operários. Em
funda da torre foram utilizadas 308 estacas função da falta de regularidade das esta-
O bloco de fundação do Edifício de 100 cm de diâmetro. A escavação das cas de justapostas, houve a necessidade
Yachthouse by Pininfarina (Tower 1) tem 3,5 m estacas aconteceu a partir da escavação do de regularização das paredes internas do
FIGURA 9 FIGURA 10
Concretagem do bloco sendo finalizada Concretagem do bloco, utilizando 2 bombas lança
FIGURA 11 FIGURA 12
Armadura montada do bloco Concretagem do bloco sendo finalizada
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FIGURA 13 FIGURA 14
Logística para escavação Anel arrasador de estacas
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os blocos de fundação de edifícios al-
tos apresentam diversos desafios. Tendo
em vista as principais práticas de execução
empregadas, nos 4 estudos de caso relata-
dos, destacam-se:
FIGURA 16 u Uso de aditivos estabilizadores de hi-
Concretagem sendo finalizada com 2 bombas lança de em um lado, e uma bomba dratação do concreto visando a não
estacionária do outro ocorrência de juntas de concretagem;
u Uso de ponteiras filtrantes para rebai-
xamento do lençol freático durante a
arrasamento das estacas foi desafiadora, Foram utilizadas fôrmas convencionais escavação e atividades de armação e
devido às características do canteiro de nas extremidades do bloco e do poço do concretagem dos blocos;
obras (Figura 13). Ao serem finalizadas elevador, para combater a ação do empuxo u Emprego de parede diafragma na con-
as etapas de escavação e arrasamen- do concreto. Complementarmente, foram tenção de escavação, servindo tam-
to das cabeças das estacas (Figura 14), usadas escoras metálicas segurando as pa- bém de forma para a concretagem do
foi efetuada a regularização do solo no redes da forma, bem como a fôrma do fos- bloco de fundação;
fundo do bloco e, em seguida, lançado so do elevador foi preenchida com água. u Emprego de concreto com resistências
o lastro de concreto magro (Figura 15- Finalizada a armação do bloco, iniciou de 40 e 50 MPa, autoadensável para
a); após sua cura, foi iniciada a armação, a concretagem, totalizando um volume de concretagem dos elevados volumes,
totalizando 538 toneladas de aço (Figura 4.300 m³ de concreto. O fck do concreto bem como em função das elevadas
15–b). O suporte da camada superior do definido em projeto foi de 40 MPa e 50 densidades de armaduras localizadas
bloco foi feito com barras de aço dobra- MPa. Empregou-se aditivo superplastifi- nas faces dos blocos;
das de modo a escorar todo o peso das cante, produzindo um concreto autoaden- u Uso de gelo em escama no concreto
camadas de aço (Figura 15-c). Esta etapa sável, de forma a eliminar a necessidade auxiliando no controle da temperatura
durou dois meses e teve cerca de 70 pes- do uso de vibradores, tendo em vista a do calor de hidratação em virtude dos
soas envolvidas. alta densidade das armaduras inferiores e altos volumes de concreto.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] SALUM, P. L. et al. Estudos prévios para execução de bloco de coroamento de grande volume. In: CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO,
56, 2014. Natal. Anais. Florianópolis, 2014.
[2] SANTOS, M. E. C. Elaboração de roteiro para execução de blocos de fundação de grandes dimensões. Trabalho de Conclusão de Curso.
Engenharia Civil. FURB. Blumenau/SC. 2016.
[3] VILLANOVA, L. H. B. Council on Tall Buildings and Urban Habitat. Yachthouse por Pininfarina Tower 2. Balneário Camboriú. Disponível em
<https://www.skyscrapercenter.com/building/yachthouse-by-pininfarina-tower-2/16126> Acesso em 15/11/2022.
[4] VELLOSO, D.; LOPES, F. R. Concepção de Obras de Fundações. In Fundações, Teoria e Prática. Ed. HACHICH, Waldemar, et al. São Paulo:
ABMS/ABEF. Editora Oficina de textos. 2019.
[5] FURNAS, Equipe de; Laboratório de Concreto. Concretos massa, estrutural, projetado e compactado com rolo: ensaios e propriedades. Pacelli
de Andrade, W., ed. São Paulo, Pini, 1997.
& Construções
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Obras Emblemáticas DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.109.0005
RESUMO Mista Técnica Brasileira-Paraguaia (1967) e gem Principal e a Casa de Força. As obras
I
taipu foi construída dentro de um contexto conduzida a contratação do Consórcio de civis foram concluídas em outubro de 1982,
diplomático e se tornou uma referência para Consultores Internacionais para investigação quando foram fechadas as comportas do
engenharia de forma geral. A obra atualmen- do local da Obra (1970), que apresentaram o canal de desvio para permitir o enchimen-
te ainda causa impactos pelas dimensões das suas
relatório sobre alternativas de locais para a to do reservatório, que ocorreu em apenas
estruturas aos visitantes. Em função dos grandes obra e seus arranjos (1972). Em 26 de abril de 14 dias (eram previstos 90 dias). Em 5 de
1973, foi assinado o Tratado de Itaipu e a enti- novembro de 1982, as 14 comportas do
volumes de materiais necessários para a sua cons-
dade binacional foi constituída formalmente vertedouro liberaram o excedente da água
trução, uma ampla investigação foi feita sendo
em 17 de maio de 1974, com base legal no Di- represada e, assim, inauguram oficialmente
necessário o aproveitamento máximo dos materiais
reito Internacional, na forma de condomínio, a maior hidrelétrica do mundo, após mais
da escavação realizada no leito do Rio. Neste
onde Brasil e Paraguai participam em partes de 50 mil horas de trabalho.
trabalho, os autores apresentaram um resgate
iguais no capital do consórcio formado, na Neste artigo, além desse breve históri-
da história política e do projeto e execução das
época, por ELETROBRÁS e ANDE. (ITAIPU, co, tem-se o objetivo de resgatar o histórico
partes construídas das estruturas de concreto.
2009). A ENBPar – Empresa Brasileira de da execução das obras de concreto de uma
É importante registrar que em um artigo não é Participações em Energia Nuclear e Bina- obra com volumes e quantidades de en-
possível abranger toda a história de Itaipu. cional S.A., criada em 2021 (BRASIL, 2021), saios fora do comum na engenharia. A fonte
assumiu a parte da ELETROBRÁS, que foi mais utilizada neste trabalho foi o chama-
Palavras-chave: Itaipu, barragem , concreto , desestatizada em junho de 2022. do Livro Técnico de ITAIPU (ITAIPU, 2009).
gravidade aliviada , contraforte . A construção da Itaipu foi iniciada em Outras fontes também foram consultadas
2 de maio de 1975. Em 20 de outubro de no acervo do arquivo técnico da Empresa,
1. INTRODUÇÃO 1978, 58 toneladas de dinamite explodem assim como em outras publicações.
A obra da Usina Hidrelétrica de Itaipu as duas ensecadeiras que protegiam a
é notadamente uma referência da enge- construção do desvio do rio Paraná, alte- 2. O PROJETO DE ITAIPU –
nharia. Mas foi preciso uma engenharia po- rando o curso do rio para permitir a conti- ESTRUTURAS DE CONCRETO
lítica, diplomática e jurídica para viabilizar nuidade da construção, incluindo a Barra- O arranjo geral do projeto de Itaipu com-
essa maravilha do preende diversos
mundo moderno. tipos de estruturas
Itaipu permitiu re- de concreto (Figura
solver uma disputa 1). A Barragem La-
de fronteiras entre teral Direita – BLD
Brasil e Paraguai, e as Barragens de
de forma pacífica Ligação (Trechos E
e inteligente, in- e I) são estruturas
tegrando os dois em contrafortes, a
países e gerando Barragem Principal
energia para os seus (Trecho F) é uma
desenvolvimentos. barragem de gra-
As negociações di- vidade aliviada e a
plomáticas foram Estrutura de Desvio
consolidadas pela é uma estrutura de
Ata do Iguaçu, em gravidade maci-
FIGURA 1
22 de junho de 1966. ça. O vertedouro
Arranjo geral da UHE Itaipu
Na sequência, foi Fonte: Acervo pessoal (adaptado de imagem do Google Earth)
não será objeto
criada a Comissão deste artigo.
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dos por 9 fábricas localizadas nos esta-
dos do Paraná, São Paulo, Minas Gerais,
Goiás e de Puerto Vallemi, no Paraguai.
O transporte era feito em carretas-silos
(chamadas de cebolão), com capacida-
de igual a 30 t. O consumo de pico foi
de 70 carretas/dia. O consumo de cin-
za volante, quase 300.000 toneladas,
foi fornecida em carretas-contêiner de
30t, pela Usina Termelétrica Candiota –
Candiota/SC, e pela Usina Termelétrica
Jorge Lacerda – Tubarão/SC.
O alto consumo de areia exigido
para a execução dos filtros das barra-
gens de terra e para a produção de con-
creto levou a investigações numa exten-
são de 165 km no leito do rio Paraná, a
jusante, a partir do local de implantação
de Itaipu. Grandes depósitos de casca-
lho natural não foram encontrados nas
proximidades de Itaipu. Agregados bri-
tados a partir de basalto são e denso
foram estudados para o uso no concre-
to. As areias artificiais eram fisicamen-
te satisfatórias, mas eram muito finas
FIGURA 4 e uniformes e, por isso, foi necessário
Geometria da Barragem Principal, em gravidade aliviada melhorar a granulometria do agregado
Fonte: Arquivo técnico de Itaipu miúdo, adicionando-se areia natural. A
proporção foi de 70% de areia artificial
e 30% de areia natural fina de origem
diferentes: Itambé, Santa Rita e Votoran to e da cinza volante especificadas estão aluvial proveniente dos depósitos ao
no Brasil e Vallemi no Paraguai. A cinza apresentadas nas Tabelas 2 e 3. longo do rio Paraná, em peso. A Com-
volante era adquirida das usinas termelé- As características físicas principais panhia de Cimento Votoran Rio Branco
tricas de Candiota e Tubarão no Brasil. As dos cimentos e das cinzas volantes uti- (Rio Branco do Sul/PR) foi a que mais
propriedades mais importantes do cimen- lizados são apresentadas na Tabela 4. forneceu cimento para Itaipu (em torno
Foram consumi- de 50%).
dos aproximada- O agregado graúdo também foi
mente 2,5 milhões obtido pela britagem do basalto são e
de toneladas de os tamanhos máximos dos agregados
cimento forneci- (TMA) utilizados foram: 19 mm, 38 mm,
FIGURA 5 FIGURA 6
Geometria das barragens de contraforte Especificações dos tipos de concreto
Fonte: Arquivo técnico de Itaipu Fonte: Itaipu (2009)
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TABELA 4
Principais propriedades dos cimentos e das cinzas volantes utilizados
Material
Propriedades Cimento Cinza volante
Votoran Itambé Vallemi Santa Rita Candiota Tubarão
Finura Blaine (cm²/g) 3368 3259 3417 3586 3190 2830
Peneira 200 (%) 6,2 2,4 13,8 13,2 — —
Peneira 325 (%) 13,3 6,4 18,6 19,4 27,1 41,2
Expansão em autoclave (%) 0,09 0,02 0,03 0,08 — —
Equivalente alcalino (Na2O) 0,5 0,47 0,54 0,69 — —
Cal livre (%) 1,04 0,81 1,39 0,7 — —
C3S (%) 46,7 57,5 52,1 49,5 — —
C3A (%) 6,7 6,6 6,2 8,7 — —
Redução da expansão (%) — — — — 64,3 68,9
Reação à cal (kg/cm²) — — — — 36 31
Fonte: Itaipu, 2009
TABELA 6
Consumos de aditivos para
TABELA 5 concreto, em %
Consumos de areia e brita nos concretos
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ANDRIOLO, F.R., BETIOLI, I. Obras de Concreto de Itaipu – Desenvolvimento, controle, qualidade, durabilidade... 40 anos depois. Disponível
em: https://www.itaipu.gov.br/sites/default/files/publicacoes/livro_obras_de_concreto_itaipu/web/index.html. Acesso em: 19 jan. 2023. ISBN:
978-85-60064-61-8.
[2] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS - ASTM C-227. Standard Test Method for Potential Alkali Reactivity of Cement-Aggregate
Combinations (Mortar-Bar Method), ASTM International, West Conshohocken, PA, 2003, DOI: 10.1520/C0227-03.
[3] BRASIL. Decreto nº 10.791, de 10 de setembro de 2021. Cria a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A. Brasília,
DF: Presidência da República. Disponível em https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.791-de-10-de-setembro-de-2021-344145312.
Acesso em: 19 jan. 2023.
[4] FUKUROZAKI, Y., SILVA, R.R., BETIOLI, I., SONODA, A. Utilização de formas deslizantes na execução da Casa-de-Força da Hidroelétrica de
Itaipu. In: XIV SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS, 1981, Recife. Anais do evento. Re: CBDB, 1981, 1230 p.
[5] ITAIPU Binacional. Itaipu: usina hidrelétrica – projeto: aspectos de engenharia. Foz do Iguaçu: Itaipu Binacional, 2009, 790 p.
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Pesquisa e Desenvolvimento
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.109.0006
S
ão diversos os mecanismos de degrada- podem dar origem a reações expansivas podem ser o cimento, a água de amassa-
ção que podem agir em estruturas de deletérias durante a vida útil da estrutu- mento ou agregados contendo sulfetos
concreto, contudo, as reações expan- ra, podendo comprometer a segurança ou (pirrotita, pirita, calcopitita e marcassita),
sivas oriundas de agregados contendo mine- afetar as operações diárias das unidades que, ao oxidarem, originam íons sulfatos
rais susceptíveis à reação álcali-sílica (RAS) geradoras de energia. que reagem com os constituintes da pasta
em situações favoráveis a esse fenômeno, bem Nestas estruturas, as reações expan- cimentícia (Portlandita e C-S-H), gerando
como o ataque interno por sulfatos (RSI), sivas oriundas de agregados potencial- produtos com potencial expansivo como
são consideradas as mais preocupantes. Isto se mente reativos, como a álcali-sílica (RAS) gipsita e etringita.
deve às reações ainda não serem inteiramente e o ataque interno por sulfatos (RSI), são Neste sentido, a correta avaliação dos
compreendidas, ocorrerem de forma geralmen- consideradas as mais preocupantes, pois agregados é essencial para prevenir que
te lenta, e não haver métodos para sua miti- sua cinética de reação ainda não é inteira- reações expansivas ocorram nos elemen-
gação quando já instaladas em obras existen- mente compreendida, ocorrem geralmente tos de concreto, uma vez que, após a ocor-
tes. Este artigo apresenta um panorama geral de forma lenta e não homogênea nas es- rência, não existem soluções que possam
sobre alguns dos mecanismos das reações ex- truturas. Além disso, não existem méto- cessar por completo o dano causado. O
pansivas em concreto devido à ocorrência de dos efetivos para sua mitigação quando já estudo prévio dos agregados em laborató-
agregados potencialmente reativos, normas instaladas em obras existentes e possuem rio e a utilização de medidas preventivas,
brasileiras vigentes, técnicas complementares grande ocorrência em obras de infraestru- detalhadamente especificadas pela norma
para diagnóstico, lacunas existentes e estu- tura como barragens devido à presença ABNT NBR 15577-1, no caso da RAS, são
dos em andamento sobre o tema. Desta forma, constante de umidade. As tensões internas facilmente aplicáveis na prevenção dessas
são apresentadas informações relevantes para ocorridas nos elementos de concreto, devi- manifestações patológicas. Ao contrário,
o entendimento da severidade das reações e do às reações expansivas, contribuem para se tais ações forem negligenciadas, haverá
suas consequências, bem como possíveis méto- a redução do módulo de elasticidade, da necessidade de intervenção nas barragens
dos para mitigação de sua ocorrência e para o resistência à flexão e à compressão, além e seu monitoramento para detecção de
diagnóstico precoce em estruturas. de ativar/intensificar outros processos de deformações e deslocamentos no maci-
deterioração do concreto devido à propa- ço. O monitoramento do comportamento
Palavras-chave: expansão , álcali - sílica , gação de fissuras, facilitando assim a pene- estrutural pode detectar anomalias a tem-
álcali - agregado , sulfato , durabilidade . tração de agentes agressivos. po, permitindo a implementação de ações
Em termos simples, a reação álcali-síli- mais eficientes de manutenção e reparo.
1. INTRODUÇÃO ca (RAS) no concreto é uma reação quími- Além disso, o correto diagnóstico dessas
As barragens são edificações de gran- ca entre a sílica amorfa presente em certos estruturas impacta diretamente nos custos
de importância para a infraestrutura das agregados e íons presentes na solução de operacionais de manutenção das plantas.
cidades, pois permitem o abastecimento, poros do concreto (OH-, Na+ e K+), for- Neste contexto, este artigo apresen-
irrigação, produção de energia, controle de mando um gel que, na presença de água, ta um panorama geral sobre alguns dos
cheias, entre outros aspectos. Por razões torna-se expansivo. O ataque interno de mecanismos das reações expansivas em
técnicas e econômicas, agregados locais sulfatos, também conhecido como Reação concreto, como a RAS e a RSI, devido às
costumam ser utilizados na construção de Sulfática Interna (RSI), é um tipo de reação características dos agregados, discute as
barragens de concreto, contudo, a quali- expansiva menos frequente que a reação normas existentes sobre o tema, apresenta
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A B C
FIGURA 2
Ilustração do (a) ataque na borda do agregado, (b) fissuras preenchidas pelo gel e (c) do gel gretado típico
em concreto com RAS
Fonte: Autores
Quando a fonte de sulfatos for o cimen- ataque interno (RSI) e outros compostos de ferro. Alguns desses compostos podem
to, um possível mecanismo está relaciona- podem se formar como no caso de agre- ser expansivos e deletérios. Ainda, duran-
do a teores inadequados do regulador de gados, como se detalha a seguir. te esse processo de alteração do enxofre,
pega (sulfato de cálcio) no processo de Nos casos de ocorrência do mecanis- pode ocorrer a sua conversão para ácido
produção do cimento, associados a teo- mo pela presença de uma fonte de sulfeto sulfúrico, intensificando a deterioração no
res incompatíveis de aluminatos cálcicos nos agregados, foco deste estudo, o ata- concreto. A instabilidade dos sulfetos é
no clínquer. Em altas temperaturas (acima que é iniciado pela oxidação dos sulfetos, acelerada pela alcalinidade do meio e valo-
de 60-65 oC) ou mesmo com temperaturas na presença de água e oxigênio. Esse pro- res de pH acima de 10.
ordinárias, mas com elevadas umidades, cesso libera enxofre e ferro para o meio, Este processo pode ser considerado
há formação de gipsita e etringita tardia, produzindo tanto íons sulfatos quanto pro- como um dos mais nocivos ao concre-
esta última denominada de DEF, deriva- dutos secundários, oriundos do seu pró- to, uma vez que, nesse tipo de ataque, os
da do termo em inglês Delayed Ettringite prio processo de oxidação, como os hidró- produtos gerados reagem com os com-
Formation. Assim, a DEF sempre ocorre no xidos e óxidos ferrosos, além de sulfatos postos da pasta cimentícia, provocando
A B C
FIGURA 3
Ilustração de (a) agregado graúdo contendo incrustação de pirita, (b) mineral pirita, e (c) formação de
etringita no interior de poro devido ao ataque por sulfato
Fonte: Autores
A B
FIGURA 4
Ensaios para diagnóstico de reações expansivas. (a) Damage Rating Index (DRI) e (b) Stiffness Damage Test (SDT)
Fonte: Autores
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correta escolha dos constituintes do con-
QUADRO 1 creto. Uma vez utilizado material inade-
Casos de obras hidráulicas que se encontram afetadas pela RAA quado, a deterioração vai ocorrer e ainda
não existe uma solução técnica definida
Indícios e/ou para bloquear a ocorrência do mecanis-
UHE/ Barragens UF evidências Tipo de agregado mo de deterioração.
da RAA
Gnaisse; biotita
UHE Jurupará SP Diagnóstico 1997
granito 4. NORMALIZAÇÃO NO BRASIL
Barragem de Peti MG 1964 Granito – gnaisse
E ENSAIOS PARA DIAGNÓSTICO
No Brasil foram publicadas as normas
Barragem Guanhães – UHE Salto Grande MG 2001 Gnaisse
ABNT NBR 15577:2018, que estabelecem
UHE Jaguara SP 1996 Quartzito
os critérios para avaliação, classificação e
Indícios 1980 e Granito e biotita
UHE Apolônio Sales (Moxotó) AL mitigação da RAS em novas construções.
diagnóstico 1984 gnaisse
Granito, biotita gnaisse Ainda que a análise petrográfica seja capaz
UHE Paulo Afonso I BA 1978 de quantificar fases minerais cristalinas e
e biotita granito
Granito e anfibólio amorfas que possam gerar reações expan-
UHE Paulo Afonso II BA 1978
gnaisse sivas no concreto, técnicas complemen-
UHE Paulo Afonso III BA 1978
Granito e tares podem ser necessárias, tais como:
biotita granito coloração seletiva de minerais, análise por
Granito, biotita difração de raios X (DRX), análise termodi-
gnaisse, biotita granito,
UHE Paulo Afonso IV BA 1985
anfibolito e anfibólio
ferencial e termogravimétrica (DTA/DTG),
biotita gnaisse espectroscopia no infravermelho (FTIR),
UHE Pedra BA 1980 Granada granulito microscopia eletrônica de varredura (MEV),
UHE Sobradinho BA 2000 Quartzito análise por fluorescência de raios X (FRX),
Granito e gnaisse entre outras. Mesmo quando as fases reati-
UHE Tapacurá PE 1990 vas são identificadas pela análise petrográ-
cataclasados
UHE Piratininga SP 2002 Gnaisse fica, é necessário confirmar a relevância de
Barragem de Pirapora SP 1998 Granito – gnaisse sua presença no desenvolvimento de rea-
Barragem Reguladora Bilings-Pedras SP 1992 Granito ções por meio de testes de expansão em
Barragem Rio das Pedras SP 1992 Gnaisse – milonito prismas de concreto em função da forma-
Usina de Rasgão SP Nd Granito – filito ção do gel expansivo. Ainda que existam
Usina Elevatória de Pedreira SP 2000 Gnaisse – milonito diferentes métodos de avaliação, a ABNT
Usina Elevatória de Traição SP 1994 Milonito
NBR 15577:2018 considera os ensaios ace-
lerados como prévios na tentativa de indi-
Gnaisse, migmatito
Barragem de Joanes II BA 1988 cação mais rápida da reação (140 dias a
e granulito
UHE Mascarenhas ES Diagnóstico 2003 Nd 60 °C), mas não exclui a realização do en-
UHE Furnas MG 1976 Quartzito saio em prismas de concreto até a idade de
UHE Luiz Carlos Barreto de Carvalho SP 1994 Quartzito 365 dias. Na Tabela 2 são apresentadas as
UHE Mascarenhas de Moraes MG 1994 Quartzito
principais normas utilizadas para a avalia-
ção do potencial reativo de agregados por
Basalto – seixo
UHE Porto Colômbia MG 1985 testes de expansão.
de quartzo
Indícios 1985/1990 e Os limites de expansão apresentados
UHE Jaguari SP Gnaisse milonitizado
diagnóstico 2000 na Tabela 1 para a RAS sofrem pequenas
UHE Ilha dos Pombos RJ 1991 Gnaisse variações dependendo da normativa de
UHE Santa Branca SP 1995 Gnaisse cada país. De uma forma geral, os ensaios
UHE Sá Carvalho MG Diagnóstico 1997 Granito acelerados em barras de argamassa ainda
Biotita gnaisse são foco de discussão entre pesquisadores
Barragem Atibainha SP 1992
cataclástico devido à ocorrência de falsos positivos e
Barragem Cascata SP 1992 Granito – gnaisse negativos nos resultados. Parte das norma-
Barragem Jaguari SP 1992 Gnaisse milonitizado tivas costuma referenciar e adotar valores
Biotita de outras normas e países para a classifica-
Barragem Paiva Castro SP 1992
granito-gnaisse ção dos agregados, o que pode não repre-
Barragem Pedro Beitch SP 1992 Biotita gnaisse sentar a realidade local, e isso ocorre devi-
Barragem Ribeirão do Campo SP 1992
Biotita gnaisse do à falta de dados históricos sobre obras
cataclástico com a ocorrência da reação expansiva e de
Fonte: Adaptado de Hasparyk (2022)
campos experimentais.
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A B
FIGURA 6
(a) Processo de fabricação de sensores em fibra ótica e (b) amostras com sensores óticos na superfície e no
interior do concreto
Fonte: Autores
Macioski et al. (2020) utilizaram o sinal re- existem métodos efetivos que podem ces- cia Nacional de Águas e Saneamento
fletido por uma rede de Bragg inscrita com sar a expansão devido à reação. A melhor Básico). Este apoio financeiro é essencial
LASERS no núcleo de fibras óticas (Figura solução ainda é avaliar o potencial reativo para dar suporte para interações interna-
6) para medir a temperatura, deformação dos agregados antes da construção. cionais e implantação dos ensaios espe-
interna e externa de amostras de concre- Apesar do avanço nas pesquisas em re- cíficos para a investigação das reações
to afetadas por RAS, permitindo verificar lação a cinéticas dessas reações, ainda exis- expansivas no concreto com alto grau
que o surgimento de tensões internas dos tem muitas lacunas existentes, materiais a de aprofundamento.
agregados é elevado (0,11% em 55 dias) e serem entendidos por completo e técnicas
apenas parcialmente transmitido à pasta e promissoras a serem desenvolvidas e apli- AGRADECIMENTOS
ao concreto (amostras sem expansão sig- cadas. Nas normas vigentes no Brasil sobre Os autores agradecem à Universidade
nificativa na mesma idade). esses temas, faltam dados de estruturas Federal do Paraná (UFPR), ao Programa
reais para melhorar sua aplicação, visto de Pós-Graduação em Engenharia Civil
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS a dificuldade de simulação em laborató- (PPGEC-UFPR), ao Centro de Estudos
Este trabalho traz informações sobre rio da cinética das reações que ocorrem de Engenharia Civil (CESEC-UFPR) e ao
dois tipos de reações expansivas que po- nas barragens. Laboratório Multiusuário de Fotôni-
dem ocorrer nas estruturas de barragens Esta área temática das reações ex- ca (Multi-Foton) da UTFPR. Os autores
de concreto, a reação álcali-sílica (RAS) pansivas é de primordial importância também agradecem o suporte fornecido
e a reação sulfática interna (RSI). Ambas para a área de segurança de barragens pela CAPES (Coordenação de Aperfeiço-
são reações deletérias em relação às quais de concreto e os autores desenvolvem amento de Pessoal de Nível Superior) e
apenas tratamentos paliativos podem ser atualmente projetos neste campo com fi- pela ANA (Agência Nacional de Águas e
aplicados em obras existentes, ou seja, não nanciamento da CAPES e da ANA (Agên- Saneamento Básico).
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Federal do Paraná. Setor de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. 187 p. 2019.
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of fiber Bragg grating sensors. 16th International Conference on Alkali-Aggregate Reaction in Concrete. Lisboa, Portugal. 2020.
[5] OLIVEIRA, I.; CAVALARO, S. H. P.; AGUADO, A. Evolution of pyrrhotite oxidation in aggregates for concrete. Materiales de Construcción, v. 64, 2014.
N
os últimos anos, tem-se notado a ocor- ções induzidas por pessoas , controle de vi - levar a vibrações excessivas e até à
rência crescente de vibrações excessi- brações , estruturas de estádios . ressonância.
vas em estruturas civis provocadas, em A Copa do Mundo FIFA de 2014
parte, pelo uso de novos materiais e pela leveza 1. INTRODUÇÃO foi realizada no Brasil e muitos es-
e flexibilidade que caracteriza algumas dessas Em maior ou menor grau, estru- tádios foram remodelados ou de-
turas podem ser solicitadas por car- molidos, dando lugar a arenas no-
estruturas. Muitas das arenas de futebol bra-
gas dinâmicas. Esse fenômeno tor- vas. Nesse contexto, o novo Estádio
sileiras apresentaram problemas de vibração
na-se cada vez mais atual, uma vez Nacional de Brasília foi construído
excessiva, necessitando de monitoramento e até
que, em geral, as estruturas estão se (Figura 1). Este estádio substituiu
intervenção. Para a Copa do Mundo realizada
tornando mais leves e mais flexíveis o anterior demolido que havia sido
no Brasil (2014), esses estádios passaram por
devido aos novos padrões arquite- projetado nos anos 70. Naquela
mudanças estruturais e alguns foram demolidos
tônicos ou ainda pelo desenvolvi- época, as cargas dinâmicas e as vi-
para a construção de novas arenas, tornando-
mento de materiais mais resistentes. brações induzidas pelas multidões
-se necessária uma análise criteriosa do com- eram muito negligenciadas.
Quando se trata de vibrações indu-
portamento dinâmico dessas novas estruturas. Houve registro de um grande nú-
zidas pelo homem, à medida que
Este trabalho foca no estudo do comportamen- essas estruturas ficam mais flexíveis, mero de reclamações sobre vibra-
to dinâmico do Estádio Nacional de Brasília por suas frequências naturais ficam mais ções excessivas feita pelo público
meio da análise numérica de diferentes cenários baixas e podem se aproximar da fre- que assistiu aos jogos nesses antigos
de cargas dinâmicas estádios. Alguns
geradas por atividades deles precisaram
humanas em arquiban- ser monitorados
cadas, como saltos e e necessitaram
movimentos laterais
de recuperação
sincronizados. As res-
estrutural, como
os estádios Mara-
postas dinâmicas do
canã, Morumbi e
estádio são comparadas
Olímpico.
com as sugeridas como
Todo o ex-
limites por normas in-
posto sugere que
ternacionais. Uma vez
esses tipos de es-
que se verifica alguns
truturas precisam
resultados excedem os
ser analisados
limites normativos, é dinamicamente,
proposto um sistema de pois multidões sal-
controle estrutural tando nas arqui-
baseado em amortece- bancadas podem
FIGURA 1
dores de massa sinto- induzir vibrações
Estádio Nacional de Brasília
nizados para reduzir a
Fonte: https://www.cultuga.com.br/estadios-que-receberao-jogos-de-portugal-na-copa-do-mundo/ em 10/3/2022
excessivas nessas
resposta dinâmica. estruturas levando
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a um problema de conforto em um a cobertura do estádio. A cobertura
primeiro momento e, posteriormente, do estádio tem uma coroa externa de
a um problema estrutural. concreto e uma estrutura interna em
Uma alternativa para reduzir vi- treliça de aço coberta por uma mem-
brações excessivas em estruturas brana especial que protege as arqui-
civis é o controle estrutural (Saeed bancadas e parcialmente o campo.
et al, 2015). Dispositivos externos são
adicionados ao sistema estrutural de 2.2 Modelo numérico
forma a fornecer amortecimento ou
proporcionar uma transferência de Para definir o modelo numérico,
energia mecânica. Um dos disposi- foi selecionado um pórtico de lar-
tivos de controle estrutural mais co- gura intermediária, dos quatro dife-
nhecidos é o amortecedor de massa FIGURA 2 rentes tipos de setores. Elementos
Pórticos que sustentam
sintonizado (AMS), que consiste em finitos de casca foram usados para
as arquibancadas
uma massa auxiliar que, quando sin- modelar lajes, degraus, paredes, pi-
tonizada de forma adequada, trans- lares e vigas principais, e elementos
fere a energia da estrutura principal finitos de barra para a simulação das
para o amortecedor, fazendo com transversais que formam seis pavi- vigas internas.
que esta vibre fora de fase, reduzin- mentos internos. Ao redor das arqui- Os elementos de casca utilizados
do assim a amplitude de resposta da bancadas existe uma estrutura inde- possuem 4 nós cada e seis graus de
estrutura principal. pendente formada por três fileiras liberdade em cada nó. Os elemen-
Neste trabalho foi realizado um circulares de colunas que sustentam tos de barra são elementos de dois
estudo numérico de uma arquiban-
cada do Estádio Nacional de Bra-
sília, para avaliar seu desempenho
dinâmico e conforto, comparando
os níveis de vibração obtidos com
os limites recomendados das nor-
mas internacionais. É apresentada
uma proposta de controle estru-
tural utilizando amortecedores de
massa sintonizados.
2. FERRAMENTAS E MÉTODOS
& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 65
Em relação à ocupação das arqui-
TABELA 3 bancadas são considerados cinco ce-
Parâmetros usados na definição das cargas dinâmicas nários distintos (Figura 6). O primeiro
modelo de carregamento, denomina-
fs (Hz) Tp (s) tc/Tp tc (s) CD.kp do MC1, considera que apenas um lado,
2,10 0,476 0,730 0,348 2,15 que representa 25% da área das arqui-
2,15 0,465 0,735 0,342 2,14 bancadas, é ocupado pelo público. O
2,20 0,455 0,740 0,336 2,12 segundo modelo de carregamento,
2,25 0,444 0,746 0,332 2,11 denominado MC2, considera que os
2,30 0,435 0,753 0,328 2,09 dois lados das arquibancadas são ocu-
2,35 0,426 0,762 0,324 2,06 pados pelo público, representando
2,40 0,417 0,772 0,322 2,03 50% da carga da estrutura. O terceiro
2,45 0,408 0,785 0,320 2,00 modelo de carregamento, MC3, consi-
2,50 0,400 0,800 0,320 1,96 dera a metade da área ocupada pelos
2,55 0,392 0,817 0,321 1,92 torcedores, mas em um dos lados. O
2,60 0,385 0,838 0,322 1,87 quarto modelo de carregamento, MC4,
2,65 0,377 0,863 0,325 1,82 considera que apenas as arquibanca-
2,70 0,370 0,891 0,330 1,76 das superior e intermediária são ocu-
2,75 0,364 0,923 0,336 1,70 padas pelo púbico, enquanto para o
2,80 0,357 0,960 0,343 1,64 quinto modelo, MC5, a estrutura é con-
siderada totalmente carregada.
(2013). Em seu trabalho, o autor Para as intermediárias, utiliza-se 2.4 Limites estabelecidos pelos códigos
apresenta a curva de variação da 1kN/m², por se tratar de uma área de
taxa dada pelo tempo de contato e camarotes e salas de imprensa com Existem alguns códigos interna-
o período da função (tp) em função menor ocupação pelo público. cionais que tratam das vibrações,
da frequência característica, confor-
me mostra a Figura 5. Para obter a
curva, o autor utilizou os dados ob-
tidos experimentalmente por Faísca
(2003) apresentados de forma resu-
mida na Tabela 2.
Para a simulação da magnitude
dada pelo produto do fator de im-
pacto dinâmico (kp) e o coeficiente
de defasagem (CD), foi adotada a
formulação proposta por Sim (2006).
Intervalo de 3. RESULTADOS
frequência A Tabela 5 mostra as 8 primeiras
Descrição 1-10 Hz
Acelerações frequências naturais e as descrições
de pico (m/s²) dos modos de maior interesse. Os
Apenas perceptível 0,034 primeiros modos de vibração têm
Claramente frequências naturais baixas, entre
0,10
perceptível 1Hz e 3Hz, próximas às frequências
Desconfortável 0,55 das atividades humanas.
Intolerável 1,80 Para verificar em quais pontos e
Fonte: CEB (1991)
para quais tipos de carregamento a ar-
quibancada apresenta acelerações ex- FIGURA 7
cessivas, a estrutura foi submetida a 75 Pontos de aceleração considerados
considerando o conforto humano.
Entre eles, o código CEB (1991) foi condições de carregamento conside-
escolhido para verificar as respostas rando as cinco diferentes distribuições
de audiência nas arquibancadas expli- estudos com 16 configurações dife-
dinâmicas deste trabalho em termos
cadas anteriormente, e quinze frequ- rentes de amortecedores de massa
de aceleração de pico.
ências de excitação variando de 2,10Hz sintonizados (AMS), a fim de reduzir
No Anexo I do CEB (1991), o có-
a 2,80Hz em passos de 0,05Hz para as acelerações nas arquibancadas a
digo aborda as respostas humanas
cada tipo de distribuição. Os pontos níveis aceitáveis e considerando uma
às vibrações focando a atenção na
de leitura são mostrados na Figura 7. massa que não leve a grandes aumen-
sensibilidade humana a elas. Nesse
A resposta de aceleração mais tos nos esforços estruturais. Assim,
sentido, lista alguns parâmetros que
alta ocorre no ponto 2 quando a fre- são utilizados AMSs com massas pró-
influenciam essa sensibilidade e a
quência de excitação é de 2,55Hz e ximas a 4t, 2t, 1t e 0,5t, sintonizados
perceptibilidade das vibrações. Em
para o MC5 (Figuras 8, 9 e 10). em frequências escolhidas, levando
seguida, associa essa percepção hu-
Para o projeto do sistema de con- em consideração o pico observado
mana às faixas de aceleração e velo-
trole de vibrações, foram realizados no espectro de acelerações (segun-
cidade, conforme Tabela 4.
do harmônico do carregamento –
f2h = 5,10Hz, quinta frequência natural
– f5 = 4,95Hz, sexta frequência natu-
TABELA 5 ral – f6 = 5,07 Hz e sétima frequência
Descrição dos modos de vibração
natural – f7 = 5,12 Hz).
Os dispositivos são inseridos nos
Modo Frequência (Hz) Descrição
pontos de deslocamento vertical
1 1.02 Flexão na direção tangente máximo dos modos com os quais
2 2.27 Flexão na direção radial estão sintonizados. Os estudos apre-
3 2.48 Torsão no plano “xy” sentam resultados positivos apenas
4 2.78 Flexão na direção tangente nos casos em que o AMS se situa no
5 4.95 Flexão na direção tangente ponto crítico, não mostrando eficácia
6 5.07 Flexão na arquibancada superior quando se analisa a quinta frequên-
7 5.12 Flexão na arquibancada superior cia natural. Os estudos mostram que
8 5.48 Flexão na arquibancada superior na direção radial somente a consideração de dispositi-
vos com massa próxima ou superior
a 1 t podem reduzir as acelerações
a valores aceitáveis. Os parâmetros
mais adequados de cada AMS po-
dem ser verificados na Tabela 6.
Uma vez que as arquibancadas
são simétricas, optou-se pela ins-
talação de dois AMS, um de cada
lado da estrutura, ao invés de ape-
nas um concentrando toda a massa.
A modelagem deste dispositivo no
software SAP2000 é feita através do
FIGURA 8 elemento link que ligará um de seus
Acelerações verticais máximas — Ponto 2 nós à estrutura e o outro à massa do
AMS. Conforme o manual, a massa
& Construções
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para os modelos com e sem a in-
serção dos dispositivos de controle
e a redução da aceleração obtida
podem ser verificados na Tabela 8.
Para as acelerações de pico, o limite
de 1.000 m/s2 foi considerado acei-
tável, com base nos valores apre-
sentados anteriormente.
Para todos os modelos e verifi-
cações realizadas, a redução alcan-
çada é suficiente para que as vibra-
FIGURA 9 ções da estrutura estejam dentro de
Histórico de acelerações — Ponto 2 — MC5 níveis aceitáveis.
4. CONCLUSÕES
do amortecedor deverá atuar ape- com a inserção dos dispositivos de Em geral, as arquibancadas do
nas no sentido em que houver movi- controle pode ser visto na Figura Estádio Nacional de Brasília não
mento (translação e/ou rotação), le- 12, enquanto a comparação das res- apresentam problemas consideráveis
vando em conta o sistema global de postas em termos de acelerações de vibração excessiva, porém, em
coordenadas. Já, o amortecimento e verticais para as arquibancadas com pontos específicos e para determina-
a rigidez da mola deverão ser inse- controle e sem controle está apre- das frequências de carga as pessoas
ridos nas propriedades do link que sentada na Figura 13. Os valores de podem sentir algum desconforto.
fará a ligação da massa à estrutura, pico de aceleração e o limite acei- A análise modal das arquiban-
levando em conta os deslocamentos tável para as duas situações encon- cadas mostra que os modos de vi-
que poderão ocorrer, porém, utili- tram-se na Tabela 7. bração possuem frequências rela-
zando o sistema local de coordena- A estrutura é também verifica- tivamente baixas, o que a princípio
das. A localização dos amortecedo- da para os demais casos de carga pode ser bastante preocupante. Para
res pode ser vista na Figura 11. estudados, levando em considera- efeito de comparação, a frequência
O espectro de acelerações mos- ção a frequência de carga de 2,55
trando os picos de transferência de Hz, que apresenta as maiores taxas
TABELA 7
energia para a estrutura principal de vibração. Os resultados obtidos
Comparação das acelerações
estruturais sem e com dispositivos
de controle
TABELA 6
Parâmetros otimizados para cada AMS Acelerações verticais máximas
(m/s2)
M μ m αotimizado f k Ɛ c Sem Com Red.
Limite (%)
(kN*s2/m) (%) (kN*s2/m) (%) (Hz) (kN/m) (%) (kN*s/m) AMS AMS
8247,910 0,0125 1,031 1,000 5,069 1045,803 0,559 0,367 1,336 0,836 1,000 37,407
FIGURA 10 FIGURA 11
Espectro de acelerações — Ponto 2 — MC5 Localização dos AMS — medidas em cm
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] CEB. Vibration Problems in Structures. Practical Guidelines. Bulletin d’Information N 209.Comité European du Béton, Switzerland, 1991.
[2] FAISCA R. G. Caracterização de Cargas Dinâmicas geradas por Atividades Humanas. Tese de doutorado. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Brasil, 2003.
[3] LIMA, G. V. F., Análise Dinâmica via Método dos Elementos Finitos do Estádio Nacional de Brasília. Dissertação de mestrado. Universidade de
Brasilia, Brasil, 2013.
[4] SAAED T.E. et al. A state-of-the-art review of structural control systems. Journal of Vibration and Control. Volume 21, 919-937, 2015.
[5] SIM J. H. H., Human-Structure Interaction in Cantilever Grandstands. Doctor’s degree Thesis. University of Oxford, England, 2006.
& Construções
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Jubileu de Ouro
Laboratórios de controle tecnológico do
concreto foram pioneiros na gestão da
qualidade de obras no Brasil
FÁBIO LUÍS PEDROSO – Editor – ORCID https://orcid.org/0000-0002-5848-8710 (fabio@ibracon.org.br)
M
uito antes de haver no Brasil nor- desempenho e qualidade das edificações na época. Isto muito antes da publicação
mas técnicas para assegurar a se- construídas no país. da série de normas da Organização Inter-
gurança, qualidade, desempenho e Depois que a primeira norma técnica nacional de Padronização (ISO) sobre os
mais recentemente a sustentabilidade de para cálculo e execução de obras de con- sistemas de gestão da qualidade, em 1987.
produtos, serviços e processos, como hoje creto armado foi publicada, em 1940, bus- Depois que o conjunto de normas ISO
fazem as normas da Associação Brasileira cando oferecer padronização de critérios 9000 entrou em vigor mundialmente, os
de Normas Técnicas (ABNT), os laborató- para o projeto e a construção de obras ci- laboratórios brasileiros de controle tecnoló-
rios tecnológicos desempenharam um im- vis no país, surgiram uns poucos escritórios gico e outras empresas do setor construtivo
portante papel para assegurar segurança, privados para a prestação de serviços de buscaram sua certificação da qualidade e,
controle tecnológico do com isso, continuaram a prestar seus servi-
concreto, que ofereciam ços com excelência, de modo que a gestão
Divulgação IPT
Divulgação IPT
turais do primeiro edifício de concreto ar-
mado com sete andares e vigas de 12m de
vão, o Edifício Guinle, construído em São
Paulo de 1913 a 1916. Houve o apoio tec-
nológico para desenvolvimento do projeto
e verificação da estabilidade da estrutura,
com a realização de ensaios dos materiais
Figura 2 — O engenheiro-arquiteto Hippolyto utilizados e ensaio de prova de carga.
Pujol Júnior chefiando ensaio de resistência do Já, o Laboratório de Ensaios de Materiais
concreto no GRM, em 1905
— LEM, em 1927, que sucedeu o GRM, dirigido
pelo engenheiro Ary Frederico Torres, reali-
(VASCONCELOS, 1992). O trabalho pio- zou pesquisas das propriedades de cimen-
neiro ensejou a publicação, em 1905, pelo tos de fabricação nacional e de dosagem de
Grêmio Politécnico, do “Manual de Resis- concretos usados nas obras, o que levou à
tência dos Materiais” (Figura 1), primeira publicação do Boletim nº 1 “Método racional
compilação dos resultados de ensaios para de dosagem dos concretos”, que buscou
avaliação da qualidade e resistência dos adaptar os trabalhos clássicos do americano
materiais de construção empregados na Duff Abrams e os métodos de dosagem de
cidade de São Paulo e interior do estado outros países baseados no módulo de finu-
(pedras, tijolos, telhas, madeiras, metais, ra dos agregados ao contexto brasileiro. O
cales, cimentos). Foi o primeiro manual Boletim, que ajudou o setor construtivo a
do gênero editado na América do Sul, que melhorar a qualidade dos concretos produ-
passou a ser amplamente utilizado pelos zidos, foi um passo embrionário do controle
construtores e indústria da construção da tecnológico do concreto no Brasil.
época (INSTITUTO PEDRA, 2022). O LEM participou dos estudos dos ma-
Como houve um intenso intercâmbio teriais para a construção do Edifício Marti-
com pesquisadores da Europa – Ludwig nelli, inaugurado em 1929, na cidade de São
Von Tetmajer, professor do Instituto de Paulo. Em 1933, o laboratório iniciou um Figura 4 — Edifícios Azevedo Villares e Altino
Tecnologia de Zurique, na Suíça, e quem Arantes — antiga sede do Banco do Estado de
projeto pioneiro de controle tecnológico São Paulo — construídos com base em estudos
projetou o GRM; Wilhem Fischer, pesquisa- do concreto de longa duração, em parceria realizados pela Seção de Solos e Fundações do IPT
& Construções
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continuou realizando moldagens de traços ração do engenheiro Fernando Luiz Lobo SURGIMENTO DOS PRIMEIROS
de concreto até 1965, com a participação de Carneiro, que havia estagiado com Gilberto LABORATÓRIOS PRIVADOS DE
mais quatro cimenteiras (Votoran, Itaú, Marin- Molinari, no IPT. CONTROLE TECNOLÓGICO
gá e Santa Rita). Ao todo foram confecciona- Em 1936, um grupo composto por cin- Nos anos 1940, o IPT era frequente-
dos mais de 15 mil corpos de prova que foram co companhias nacionais de cimento cria a mente procurado por empresas da indús-
ensaiados ao longo dos anos (Figura 3). Associação Brasileira de Cimento Portland tria para desenvolver soluções, fazer testes
Os laboratórios do IPT atuaram no (ABCP), para atender à expectativa de de- e análises. Ele participou do projeto e exe-
apoio tecnológico para obras de pavimen- senvolvimento técnico da emergente indús- cução das primeiras autoestradas brasilei-
tação das ruas da cidade de São Paulo, tria nacional de cimento, atuante havia cerca ras (Anchieta, Anhanguera e Rio-Santos)
bem como nos estudos para a execução de 10 anos. Seu primeiro diretor-presidente e deu apoio geológico e geotécnico para
das estruturas da marquise do Jóquei Clu- foi o empresário José Ermírio de Moraes. os projetos de construção de barragens de
be de São Paulo, e dos edifícios Azevedo “Como metas gerais, a ABCP esta- usinas hidrelétricas (Paulo Afonso e Jupiá).
Villares e Altino Arantes (Figura 4), antigas beleceu a promoção de estudos sobre o Já, o laboratório de solo-cimento da
sedes do Banco do Estado de São Pau- cimento e sua utilização, a constituição ABCP apoiou nesta época obras impor-
lo, como as provas de carga com estacas e organização de laboratórios para o de- tantes para o sistema rodoviário brasilei-
Franklin nas fundações desses edifícios. senvolvimento tecnológico e o controle ro, como a nova rodovia Rio-Petrópolis,
Um ano antes do surgimento do IPT, a da qualidade; e a organização de cursos”, no Rio de Janeiro, a segunda pista da Via
Estação Experimental de Combustíveis e relata o chefe de laboratórios da entidade, Anchieta, em São Paulo, a rodovia Reci-
Minérios, ligada à Escola Politécnica do Rio geólogo Arnaldo Battagin. fe-Moreno, em Pernambuco, e a nova ro-
de Janeiro desde 1920, foi convertida no Dos esforços do representante da dovia Rio-São Paulo, hoje Via Dutra. Além
Instituto Nacional de Tecnologia (INT), que ABCP, professor da Poli-USP, Telemaco disso, a estrutura laboratorial da ABCP era
estatutariamente tinha os seguintes obje- van Langendonck, e do representante do usada para aulas práticas em seus cursos
tivos: estudar matérias-primas e produtos INT, o professor da UFRJ, Lobo Carneiro, técnicos intensivos.
nacionais para se obter conhecimento de- na 2ª Reunião dos Laboratórios Nacionais O laboratório de solo-cimento da
les; promover a obtenção e o emprego, nas de Ensaios de Materiais, realizada em São ABCP foi o primeiro do tipo no Brasil, sen-
condições mais favoráveis, dessas maté- Paulo, em 1939, resultou a elaboração da do usado nos estudos técnicos para aplica-
rias-primas e produtos; e auxiliar, por todos primeira norma brasileira oficialmente ção desta tecnologia nas bases aéreas de
os meios, a indústria nacional (MOUTINHO, reconhecida, a NB-1 Cálculo e Execução Petrolina, em Pernambuco (Figura 5), do
2022). A Divisão de Indústria de Constru- de Obras de Concreto Armado, lançada Galeão e Campo dos Afonsos, no Rio de
ção, chefiada pelo engenheiro Paulo Sá, em 1940, quando foi fundada a Asso- Janeiro, e de Bom Jesus da Lapa, na Bahia,
iniciou os ensaios de cimentos, agregados ciação Brasileira de Normas Técnicas — em 1942. Em razão da importação da tec-
e concretos nessa época, com a colabo- ABNT (MOUTINHO, 2022). nologia do solo-cimento dos Estados Uni-
dos para o país, iniciativa da ABCP, a ABNT
editou, em 1941, as primeiras normas brasi-
Divulgação ABCP
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do concreto, aliando a qualidade técnica e
a economia construtiva. “Ninguém queria
colocar a cabeça no travesseiro preocu-
pado com uma obra que poderia desabar!
Então, o mestre de obras aumentava por
sua conta o volume de cimento por metro
cúbico de concreto. Cimento demais pre-
judica, e, de menos, nem se fala, é malé-
fico. A proposta do Mauro era ensinar os
construtores a usarem os materiais de for-
ma racional. E aí ele criou uma sólida base.
Ele passou a ser necessário”, explicou seu
ex-aluno e braço-direito na empresa des-
de o início, o engenheiro Walmor Prudên-
cio, no livro “A construção de uma vida”,
da editora Réptil, lançado em 2008.
Com esse propósito, o escritório par-
ticipou do controle tecnológico de ma-
teriais e do concreto das obras do Ae-
roporto do Galeão, inaugurado em 1952.
Em São Paulo, em 1953, o enge- Figura 7 — Técnicos realizam a caracterização de materiais no laboratório do Escritório Técnico
nheiro formado na Escola Politécnica Professor Mauro Ribeiro Viegas
& Construções
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Divulgação Falcão Bauer
Logo os empreiteiros e construtores cão Bauer: o Estádio do Morumbi, um dos LABORATÓRIOS DE CONTROLE
perceberam a necessidade e importância principais estádios de futebol do Brasil, TECNOLÓGICO E A FUNDAÇÃO
dessa atividade sistematizada de controle inaugurado em 1960; e o Edifício Copan, DO IBRACON
da qualidade dos materiais de construção e projetado por Niemeyer e um dos ícones Na década de 1970, o Produto Interno
do concreto, tanto para assegurar qualidade da arquitetura moderna de São Paulo, inau- Bruto do Brasil crescia vertiginosamente
construtiva quanto para reduzir custos com gurado em 1966. Nessas obras, a Falcão chegando à casa de dois dígitos, com a
execução, de modo que o laboratório Falcão Bauer realizou ensaios nos materiais utili- construção civil crescendo 15% ao ano.
Bauer constituiu uma sede fixa no prédio do zados na sua construção. O IPT participava de diversas obras
projetista Sérgio Vieira e do arquiteto Villa- Por sua vez, em 1958, o Escritório Téc- de infraestrutura no país, como pontes,
nova Artigas, além de ampliar o número de nico Prof. Mauro Ribeiro Viegas muda sua estradas, túneis e obras de saneamento.
peruas-laboratório, seguindo seu slogan de razão social para Sociedade Civil de Con- O Instituto colaborou com todas as etapas
fundação “O laboratório vai à obra”. trole de Concreto e Ensaios de Materiais, de construção da Rodovia dos Imigrantes,
Duas obras importantes no final da quando passou a assessorar as construto- que liga a capital paulista às praias da Bai-
década de 1950 e no período seguinte ti- ras no controle tecnológico de materiais e xada Santista, e realizou prova de carga
veram sua execução assessorada pela Fal- do concreto das obras de Brasília, inaugu- na Ponte Rio-Niterói, que foi inaugurada
Divulgação Falcão Bauer
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Figura 9 — Veículo no qual era montado o laboratório básico da Falcão Figura 10 — Estruturas de concreto das obras civis da Refinaria Duque de
Bauer para controle tecnológico dos materiais nas obras Caxias, onde o Escritório Técnico Prof. Mauro Ribeiro Viegas montou um
laboratório de campo
em 1974. Nesta obra, a Falcão Bauer reali- pois havia muitas obras em construção no viços também na época para a construção
zou ensaios de laboratório e campo. estado, a exemplo do Palácio da Abolição, do Banco Central de Fortaleza (Figura 14) e
Dois anos antes, os dois laboratórios sede do governo estadual. Inicialmente, o do Aeroporto Internacional de Fortaleza.
participaram da execução da Ponte das escritório usou a estrutura do laboratório Os engenheiros Afrodízio Pamplona,
Bandeiras, uma importante ligação viária da universidade onde o professor Afrodízio Mauro Viegas Ribeiro, Walmor Prudêncio,
entre o centro de São Paulo e sua zona Pamplona lecionava para prestar os serviços Luiz Alfredo Falcão Bauer, Francisco de As-
norte (Figura 11). de controle tecnológico do concreto. “Como sis Basílio participaram dos colóquios sobre
A ABCP firmou, em 1973, um convê- naquela época, os equipamentos para o con- a permeabilidade e durabilidade do concre-
nio com a USP para a construção de um trole tecnológico dos materiais de constru- to, ocorridos em 1971 e 1972, no IPT, que cul-
centro de pesquisas sobre cimento e con- ção não eram tão acessíveis em nossa região, minaram na fundação do IBRACON.
creto na Cidade Universitária. A Universi- meu avô e meu tio, Carlito Pamplona, utiliza- Em 1972, a Sociedade Civil de Controle
dade de São Paulo cedeu, em regime de ram das instalações da antiga Escola Técnica de Concreto e Ensaios de Materiais mudou
comodato, um terreno de 15.000 m2 para (IFCE) como um suporte para serviços de sua razão social para Concremat — Enge-
as instalações do Centro Tecnológico do caracterização dos materiais de construção, nharia e Tecnologia, com vistas a desen-
Cimento (CTC), um projeto de 6.450 m2 de dosagem do concreto e ensaio de resistên- volver estudos e projetos, bem como para
área construída, que abrangia laboratórios, cia à compressão do concreto”, relata Rafael prestar serviços de recuperação de estrutu-
administração e auditório, custeado pelas Pamplona e Souza, diretor atual da Beton. ras e de geotecnia. A empresa montou tam-
empresas associadas a ABCP (Figura 12). Uma das primeiras obras atendidas pela bém um pequeno escritório em São Paulo,
O secretário-executivo da ABCP na oca- Beton foi o controle tecnológico do concreto para atender às obras do porto de Santos
sião era o coronel Argos Menna Barreto, que de todas as etapas de construção do Está- e do Pólo Petroquímico de Cubatão, como
viria a presidir anos depois o Instituto Brasi- dio Governador Plácido Castelo, o Castelão, a Refinaria de Petróleo União. A empresa
leiro do Concreto – IBRACON. Foi a partici- inaugurado em 1973. A empresa prestou ser- contratou o engenheiro Ronaldo Tartuce
pação de funcionários do IPT em trabalhos
de controle tecnológico do concreto para
Divulgação Beton
obras de saneamento do órgão que viria a
ser a Sabesp (Companhia de Saneamento
de São Paulo) e para estruturas enterradas
do Metrô de São Paulo e do Rio de Janeiro,
que trouxe à tona questões técnicas relativas
à permeabilidade e à durabilidade do con-
creto, que foram discutidas em colóquios
que levaram à fundação do IBRACON, em
1972. A ABCP e o IPT integraram desde o iní-
cio o quadro societário do IBRACON.
Neste mesmo ano, foi criado o escri-
tório técnico de controle tecnológico do
concreto Beton, em Fortaleza, no Ceará,
pelo professor da Universidade Federal do
Ceará, Afrodízio Durval Gondim Pamplona
(Figura 13), que também foi um dos funda-
dores do IBRACON.
O engenheiro viu na criação do es- Figura 13 — Prof. Afrodísio Durval Gondim Pamplona, fundador da Beton Engenharia, posa ao lado de sua
critório uma oportunidade de negócio, filha, Hilda Pamplona, em evento do setor construtivo
& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 75
para a filial paulista, que assumiu pouco a execução de reparo do elevado Paulo de LABORATÓRIOS BUSCAM
depois sua direção. Anos depois, Ronaldo Frontin, viaduto que desabou em 1971, ma- ACREDITAÇÃO E QUALIFICAÇÃO
Tartuce se tornaria presidente do IBRACON. tando 48 pessoas, ela foi convidada pelo A economia brasileira entrou em reces-
Como a empresa havia acompanhado governo estadual paulista para recuperar são na década de 1980 e o setor construti-
a Ponte de Bertioga, que balançava dema- vo viu reduzir o número de obras públicas
siadamente com a passagem de veículos. em andamento. Nos três primeiros anos da
Divulgação Beton
No reforço desta obra foram utilizados, década, a indústria cimenteira nacional con-
pela primeira vez no Brasil, cabos externos viveu com ociosidade de 50% de sua capaci-
de protensão (FONTES, 2008). dade produtiva.
No Rio de Janeiro, a Concremat atuava Para reduzir custos de fabricação do
para viabilizar a excelência, durabilidade e cimento, a ABCP desenvolveu estudos
economia da aplicação do concreto aparente para o emprego em larga escala de ma-
em fachadas de edifícios, como no caso da térias-primas alternativas ao clínquer no
Universidade do Estado da Guanabara (hoje, cimento, como argila calcinada, escórias
Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e granuladas de alto-forno, cinzas volantes,
do prédio-sede da Petrobras (Figura 15). o que viabilizou a produção nacional de
Por sua vez, o laboratório Falcão Bauer cimentos com adições de suas associadas.
fez o controle tecnológico do concreto usa- Em parceria com a Dersa (Desenvolvi-
do na Ponte Rio-Niterói, a maior do hemis- mento Rodoviário S/A), a ABCP participou
fério sul, com comprimento de 13km, com desde a definição dos procedimentos de
construção iniciada em 1969 e concluída em projeto e dimensionamento, passando pela
1974. Em São Paulo, a empresa realizou o análise de viabilidade econômica, até a ca-
controle da qualidade de todo o concreto racterização dos materiais, dosagem dos
usado no trecho norte-sul do metrô e nas concretos, fiscalização da obra e oferta de
estações Sé e São Bento. Na Bahia, a em- cursos para a construtora Queiroz Galvão,
presa realizou ensaios e análises em mate- responsável pela execução da duplicação
riais utilizados na construção do Complexo em pavimento de concreto de um trecho de
Petroquímico de Camaçari, inaugurado em 20 km da Rodovia Pedro Taques.
1978. Também foi pioneira nos estudos de A Falcão Bauer – Centro Tecnológico de
estruturas deterioradas por incêndio tendo Controle da Qualidade foi o primeiro labora-
tido expressivo protagonismo nos casos de tório privado a obter acreditação do INME-
Figura 14 — Banco Central de Fortaleza, cujo reabilitação estrutural do Edificio Andraus TRO - Instituto Nacional de Metrologia e Qua-
concreto foi controlado pela Beton (1972) e Edificio Joelma (1974). lidade Industrial, em 1983, para certificação de
materiais voltados para a construção civil.
Segundo Patrícia Bauer, a acreditação
Divulgação CONCREMAT
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] FONTES, Lilian. “A construção de uma vida”. Rio de Janeiro: Editora Réptil, 2008.
[2] INSTITUTO PEDRA. “O acervo do IPT: catálogo do acervo histórico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Rio de
Janeiro: Versal Editores, 2022.
[3] MOUTINHO, Maurício. “INT: um século de inovações para o Brasil”. Rio de Janeiro: INT, 2022.
[4] VARGAS, Milton. “História da técnica e da tecnologia no Brasil”. São Paulo: Editora Unesp, 1994.
[5] VASCONCELOS, Augusto Carlos de. “O concreto no Brasil: recordes — realizações — história”. São Paulo: PINI Editora, 2ª edição, 1992
& Construções
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Encontros & Notícias
Profissionais brasileiros no Fall Convention 2022
O
Fall Convention do American PhD Engenharia, Eng. Douglas Couto,
Concrete Institute (ACI) ocorreu associada coletiva do IBRACON, apre-
de 23 a 27 de outubro, no hotel sentou palestra sobre o Edifício Leo-
Hyatt Regency, em Dallas, no Texas, reu- poldo 1201, obra premiada no 2021 ACI
nindo os profissionais da cadeia produ- Excellence Concrete Construction
tiva mundial do concreto para reuniões Awards, na categoria “Edifícios Altos”.
e apresentações dos diversos comitês O Edifício Leopoldo 1201, com projeto
da entidade. estrutural da Ávila Engenharia, projeto
Precedendo o evento, o ACI promoveu, arquitetônico da Aflalo & Gasperini Ar-
no dia 22, o Internacional Workshop on quitetos, possui fachadas em concreto
Structural Concrete, no qual o diretor da aparente, com visual e textura imitando
ripas de madeira. O concreto foi forne- Vice-presidente do IBRACON, Eng. Julio
Timerman, em primeiro plano, com associados
cido pela Engemix, associada mantene- do IBRACON
dora do IBRACON, com consultoria da
PhD Engenharia. cipou como congressistas e palestrante
O ACI Excellence in Concrete Construction do Congresso Brasileiro do Concreto –
Awards é uma premiação promovida pelo Jubileu de Ouro, realizado em Brasília,
ACI para homenagear as obras de concre- em 2022, “rasgou elogios ao evento do
to mais inovadoras no mundo. Na 7ª edi- IBRACON”, comentou o vice-presidente
ção do prêmio, ocorrida no ano passado, do Instituto, Eng. Júlio Timerman.
outra obra brasileira foi premiada – o Faria Associados ao IBRACON participaram
Lima Building, cujo projeto estrutural é do ativamente das reuniões dos Comitês Téc-
escritório Pasqua & Graziano. nicos do ACI, entre os quais Selmo Kuper-
Eng. Francisco Graziano apresentando o Faria Na abertura do Fall Convention, o presi- man, Francisco Graziano, Douglas Couto,
Lima Building dente do ACI, Charles Nmai, que parti- Julio Timerman e Rafael Timerman.
IMPERMEABILIZAÇÕES
PISOS INDUSTRIAIS
TECNOLOGIA DO CONCRETO
ENGENHARIA DIAGNÓSTICA
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Telefone: (92) 98117-7532
E-mail: amtech.manaus@gmail.com
Instagram: @amtechmao
78 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 & Construções
Eventos
A
nualmente, o American Concrete leiras é o Instituto Brasileiro do Concreto As submissões podem ser feitas até
Instituto — ACI promove o Prêmio — IBRACON. 25 de abril.
Excelência em Construção de Os associados do IBRACON podem candi- As submissões serão julgadas por uma
Concreto, que prestigia as construções datar suas obras para concorrer ao Prêmio. comissão do IBRACON, que escolherá
em concreto reconhecidos por sua ino- Para atender ao regulamento, as obras pre- uma obra por categoria da premiação.
vação, complexidade, realização e valor cisam ter sido concluídas entre 29 de abril
agregado ao concreto. de 2020 e 30 de março de 2023, e devem Mais informações:
Quem faz as indicações das obras brasi- destacar o uso inovador do concreto. www.ibracon.org.br
& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 79
Encontros & Notícias
Comitê IBRACON de Argamassa Estabilizada
realiza sua primeira reunião
N
o último dia 1º de fevereiro, o nais de vários segmentos da constru- alvenarias (estrutural e de vedação) e
Comitê IBRACON de Argamassa ção, representando diversas empresas contrapisos (secos, fluidos e autonive-
Estabilizada realizou sua primei- e instituições. lantes) e para revestimento de pare-
ra reunião, na qual escolheu sua secre- O Comitê foi recentemente instalado des e tetos.
tária, a Eng. Cíntia Slaiffer (Bennter), para discutir o uso da argamassa esta- Ele deve lançar práticas recomenda-
e definiu seu cronograma de trabalho. bilizada, tecnologia cada vez mais uti- das sobre argamassa estabilizada e
A reunião contou com 30 profissio- lizada no país para assentamento de realizar seminários sobre o tema.
O
Third North American UHPC Symposium
acontece de 4 a 7 de junho, em Wilmington,
em Delaware, nos Estados Unidos.
O evento vai abordar a dosagem, produção, com-
portamento estrutural, procedimentos de ensaio,
durabilidade e impressão aditiva do concreto de
ultra-alto desempenho (UHPC), bem como a aná-
lise, projeto estrutural e modelagem das estrutu-
ras e componentes feitos com UHPC.
Mais informações:
www.uhpcsymposium.com
O
Seminário Internacional sobre
Desempenho e Durabilidade
das Estruturas de Concreto
(Durar) será realizado nos dias 27 e 28
de junho, em Goiânia.
Em sua quinta edição, o evento vai tra-
tar dos mecanismos de deterioração
das estruturas de concreto, com foco
no desempenho dos sistemas estrutu-
rais em concreto.
Durante a realização do evento, have-
rá o Encontro RILEM sobre indicadores
de durabilidade e modelos preditivos
de vida útil das estruturas de concreto.
Realização da Universidade Federal de
Goiás e de Furnas, o evento conta com
o apoio do IBRACON.
Mais informações:
www.durar2023.com
A
Rilem Week 2023, um dos mais lhos técnico-científicos até 31 de março. construção. As inscrições para a Rilem
importantes eventos da enti- O evento vai trazer os mais recentes Week 2023 estão abertas e com preços
dade, que vai ser realizado de avanços no desenvolvimento de ma- promocionais.
4 a 8 de Setembro, no hotel Sheraton, teriais de construção e reunirá pesqui- Mais informações:
em Vancouver, no Canadá, recebe traba- sadores e profissionais da indústria da www.rilemweek2023.com
O
5º Encontro Luso-Brasileiro
de Degradação em Estruturas
de Concreto vai acontecer em
Goiânia, de 23 a 24 de agosto de 2023.
O evento, realizado pela Universi-
dade Federal de Goiás, receberá
submissões de trabalhos até 23 de abril.
Mais informações:
degrada2023.com.br
S
erá realizado em 27 de março o curso concreto em situação de incêndio e elucidar
“Comportamento do concreto em situa- as melhores práticas em proteção passiva
ção de incêndio (parte 1) e desempenho contra incêndio em estruturas de concreto
de revestimentos contrafogo – aplicações em de edifícios.
concreto armado (parte 2)”, nas modalidades O instrutor é o Eng. Carlos Britez, diretor técnico
presencial (sede do IBRACON) e virtual. do IBRACON, com pós-doutorado na área pela
O curso vai explicar o comportamento do Poli-USP.
Cursos de Inspetor I e II
O
curso “Inspeção de Estruturas de do os profissionais a conhecer os diferentes datas mostradas na tabela abaixo.
Concreto segundo a ABNT NBR tipos de inspeção, diagnosticar o quadro Associados do IBRACON tem 15% de des-
16230” apresenta conteúdos técni- patológico das estruturas de concreto, es- contos na inscrição.
cos para a formação de inspetores I e II de pecificar a metodologia de reabilitação e O curso integra o Programa MasterPEC
estruturas de concreto. elaborar relatório técnico visando manter (Programa Master em Produção de Estru-
Além da atribuição dos inspetores de es- ou restabelecer requisitos de segurança turas de Concreto), sendo organizada con-
truturas, o curso aborda os conteúdos da estrutural, funcionalidade e durabilidade. juntamente pelo IBRACON e IDD.
ABNT NBR 9452 Inspeção de pontes, via- Com carga horária de 25 horas, Informações:
dutos e passarelas de concreto, capacitan- o curso será ministrado on-line, nas www.idd.edu.br
& Construções
Ed. 109 | Jan – Mar | 2023 | 81
Acontece nas Regionais
3º Sem. Nac. de Obras Civis na Regional do Paraná
N
o último dia 14 de fevereiro, ocorreu do IBRACON, Prof. Paulo Helene e do ex- ao vivo e contou com a participação de
a abertura do 3º Seminário Nacional -presidente, Prof. José Marques Filho. mais de 1.900 engenheiros civis e arquite-
de Obras Civis, com as presenças A noite foi de muito conhecimento e troca tos que, além de terem acesso a um con-
do Diretor da Regional Paraná, Prof. Luís de informações sobre as lições aprendidas teúdo exclusivo, participaram do sorteio
Cesar De Luca, o Diretor de Relações Insti- com os tristes acidentes nas construções. de livros do IBRACON e da assinatura da
tucionais, Prof. Cesar Daher, do Presidente O evento gratuito e social, foi transmitido Revista CONCRETO & Construções.
V
ai acontecer no dia 23 de março o Realização conjunta do IBRACON e da que vai trazer as boas práticas do uso do
VII Encontro sobre Tecnologia do UFMS, o evento vai discutir a estanqueidade concreto no saneamento; e Emílio Takagi,
Concreto no espaço multiuso da e seus desafios. Os palestrantes são: Andrés que vai tratar do concreto com cristalizante.
Universidade Federal do Mato Grosso Cheung, que vai abordar o controle de fis- Mais informações:
do Sul. suração em reservatório; Sandra Bertocini, http://encurtador.com.br/hkBFY
O
28º Encontro Regional no Pará vai No evento, que abordará o tema “O uso workshops, minicursos, concursos estu-
acontecer de 14 a 16 de junho, no de concretos sustentáveis e sua influência dantis, feira e visitas técnicas.
campus de Belém do Instituto Fe- no clima da Amazônia”, haverá apresenta- Mais informações:
deral do Pará. ções de trabalhos submetidos, palestras, https://beacons.ai/ibraconpa
MAIS INFORMAÇÕES
www.ibracon.org.br ibracon_oficial ibraconOffice ibraconOffice office@ibracon.org.br
84 | Ed. 109 | Jan – Mar | 2023
Av. Queiroz Filho, 1.700 – sala 407/408 – Torre D – Villa Lobos Office Park – 05319-000 – Vila Hamburguesa – São Paulo – SP – Tel. (11) 3735-0202
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